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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES
LICENCIATURA EM DANÇA
GUSTAVO BONIFÁCIO DOS SANTOS SILVA
OS PÚBLICOS DA DANÇA CÊNICA:
UMA ANÁLISE CONTRA A ENTIDADE O PÚBLICO
NATAL/RN
2013
GUSTAVO BONIFÁCIO DOS SANTOS SILVA
OS PÚBLICOS DA DANÇA CÊNICA:
UMA ANÁLISE CONTRA A ENTIDADE O PÚBLICO
Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC) apresentado à Licenciatura em Dança
da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial à obtenção do
grau de Licenciado em Dança.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Marcos Bragato.
NATAL/RN
2013
GUSTAVO BONIFÁCIO DOS SANTOS SILVA
OS PÚBLICOS DA DANÇA CÊNICA: UMA ANÁLISE CONTRA A ENTIDADE O
PÚBLICO
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
apresentado à Licenciatura em Dança da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial à obtenção do
grau de Licenciado em Dança.
Aprovado em: ___/___/_____
__________________________________________________
Prof. Dr. MARCOS BRAGATO
LICENCIATURA EM DANÇA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Orientador
__________________________________________________
Prof. Dra. MARIA DE LURDES BARROS DA PAIXÃO
LICENCIATURA EM DANÇA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Examinadora Interna
_________________________________________________
Prof. Dr. ALEX BEIGUI
LICENCIATURA EM TEATRO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Examinador Interno
DEDICATÓRIA
Dedico primeiramente a Deus, por iluminar esse meu caminho de muita luta dentro
da arte, aos meus pais pelo carinho e por ter contribuído em minha educação, a
meus irmãos que dos quais, às vezes, orgulho-me em outras, enchem-me de
preocupação, à capoeira que foi o pontapé inicial para que me tornasse o artista e o
professor que hoje sou. Aos meus queridos professores da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, que foram de grande importância para essa minha formação
acadêmica, à minha esposa por sempre caminhar ao meu lado, e acima de tudo à
DANÇA, dedico imensamente a essa arte maravilhosa, pois é ela que transpira
diariamente em meu corpo, sendo mais uma aliada nas dificuldades que
encontramos dia após dia dentro da sociedade.
AGRADECIMENTOS
Considerando este TCC como resultado de minha passagem pela UFRN, venho
agora agradecer a todos que fizeram parte dessa minha gloriosa conquista. Aos
amigos que conviveram comigo nesses frutíferos quatro anos de universidade, à
minha Mãe, Josefa dos Santos Silva e aos meus irmãos Gisele Bonifácio e
Guilherme Bonifácio. Agradeço, também, ao professor Marcos Bragato, pela
orientação que ajudou no caminhar e no desenvolver deste estudo, e a participação
da professora Maria de Lurdes Barros da Paixão e do professor Alex Beigui na
Banca deste TCC. Menciono também aqui toda a CDTAM (Cia de Dança do Teatro
Alberto Maranhão) que foi uma grande incentivadora da minha vida acadêmica, em
especial a Wanie Rosie Medeiros atual diretora da companhia. E, em especial, a
minha esposa Leila de Freitas Barretto Lins, por fazer parte da minha vida e ao meu
lado estar em minhas escolhas.
SUMÁRIO
1- Introdução .................................................................................................. 8
2- A Dança Teatral e o Conceito de Público .............................................. 10
3- O que é da diversão e o que é da especialidade. .................................. 16
4- Entreato .................................................................................................... 18
5- Os Públicos e o Paradoxo do Espectador ............................................. 19
6- O Deslocamento da Cena e a Cena do Deslocamento ......................... 20
7- Considerações Finais .............................................................................. 23
8- Referências .............................................................................................. 26
RESUMO
Há um público garantido para cada espetáculo ou cada tipo de espetáculo? Como
pode se dar um público ou o público se subdivide em públicos? Tais dúvidas se
fazem presentes nas mentes dos profissionais das artes cênicas e, em especial, os
da dança, quando tomam como parâmetro a abstrata e genérica entidade o Público.
Uma entidade que se molda com o surgimento no ocidente das companhias oficiais
de balé clássico, a partir do século 18, e pavimenta a noção popular de o Público.
Este estudo argui pela incompatibilidade da noção de Público com as iniciativas de
artistas do corpo no século 20. Intentamos analisar e questionar o conceito
tradicional da existência de “Um Público” e propor correlações com a realidade da
existência de Públicos, dada a natureza dos tipos de entendimentos de dança.
Discutimos questões sobre a noção tradicional de público e apresentamos a
hipótese da existência dos diversos públicos da mesma forma como são diversos os
seguimentos de dança para esse publico.
PALAVRAS-CHAVE: O Público, Os Públicos, Segmentação de Ideias de Dança.
ABSTRACT
There is a guaranteed audience for each spectacle or each type of spectacle? How
come an audience or the audience is divided into audiences? Such questions are on
the minds of professionals in the performing arts and, in particular, the professionals
in dance, when they take as a parameter the abstract and generic entity the
Audience. An entity framed with the emergence of the official classical ballet
companies in the West, from the 18th century, that paves the popular notion of the
audience. This study let us reason together by the incompatibility of the notion of
Audience with the body artists initiatives in the 20th century. We intend to analyze
and question the traditional concept of the existence of "an audience" and propose
correlations with the reality of the existence of Audiences, given the nature of the
understanding of the types of dance. We discuss issues about the traditional notion
of audience and present the hypothesis that there are various audiences just as there
are various segments of dance for this audience.
KEYWORDS: Audience, Audiences, Dance Ideas.
8
1- Introdução
Desde cedo quando inicio-me na cena, como capoeirista e bailarino, em
shows, e, depois, em espetáculos com conteúdos diferenciados, um tema me toma
de assalto e me leva a algumas perguntas que não cessam de se fazer presente em
minha mente: Por que muitas vezes os públicos da dança mínguam-se? Há um
público garantido para cada espetáculo ou cada tipo de espetáculo? Como pode se
dar um público ou o “público” se subdivide em “públicos”? Tais dúvidas devem
assombrar igualmente as mentes dos profissionais das artes cênicas e, em especial,
os da dança. No entanto, tem-se a impressão de que são poucos os estudos
dedicados a um assunto candente, e que pode se desdobrar em diversos temas.
Os estudos sobre públicos e plateias são raros e diminutos dadas às
dificuldades de discernimento temático e das necessidades de pesquisas
quantitativas conduzidas em longos períodos sobre as questões que se quer arguir.
No entanto, na área da dança cênica profissional algumas iniciativas podem ser
apontadas especialmente entre os franceses graças ao fomento dirigido à área
datar-se dos anos 1980. Observar quem observa dança e seus produtos é tarefa
ardilosa dada à voluptuosidade das escolhas da assistência.
Os Programas de políticas públicas educacionais têm tentado atrair crianças e
jovens, potenciais espectadores para o tipo de dança praticado por quem o leva,
especialmente por conjuntos que se encaixam no modelo de companhia de
repertório moldado a partir das experiências na Corte de Luís 14 na França, no
século 17. No entanto, um desafio maior se impõe quando tratamos do que
comumente se tem chamado de “artista independente”. Quando ele mesmo assume
tarefas múltiplas como a da divulgação de seu trabalho, e não apenas o da criação e
execução.
Quando criança me sentia um pouco diferente dos meus colegas de classe,
pois sempre gostei de atividades voltadas às artes como música, dança, teatro e
cinema. Tinha especial atenção às aulas de educação artística da professora
Elimaura. Lembro-me das dificuldades da estrutura de uma escola pública, e da
resistência dos alunos com relação às aulas de artes.
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Quando me interesso a procurar por algo a preencher a rotina, deparo-me
com a oportunidade de praticar capoeira em um projeto comunitário gratuito; ao
saber, inscrevo-me e começo a praticar. Para minha surpresa, enquanto algumas
pessoas questionam a dança ou a religiosidade que supostamente a capoeira possa
ter, a professora de artes Elimaura é fiel incentivadora.
Ao a me dedicar a pratica da capoeira, não somente como um esporte, mas
sim como uma arte na qual pudesse sondar um primeiro contato com a dança, a
música, a luta e o teatro. Experimento, então, uma expressividade corporal, ao
participar de espetáculo de maculelê e capoeira. Nesse momento, passo a ter as
primeiras impressões com o público, e a notar diferenças em suas atitudes, e a me
questionar sobre o silêncio e atenção na hora em que me apresento num espetáculo
musical profissional, ao contrário de quando participo das apresentações na escola.
Essa mudança do espaço teatral para um espaço onde não trabalha esse tipo de
informação cultural educacional, às vezes, gera um pequeno desconforto ao artista,
principalmente se ele for um iniciante.
Ao ingressar na Cia. de Dança do Teatro Alberto Maranhão tenho
oportunidade de me apresentar em outras localidades no Brasil e no exterior, e
passo a notar as diferenças entre o público de uma companhia estatal e o público de
um festival, por exemplo. A partir de então, a curiosidade sobre tais diferenças ao
perceber o tipo de público da CDTAM, nas apresentações que se realizam, e dos
shows musicais diários, em casas noturnas e restaurantes, aguça em mim a questão
de que não se pode pensar no Público, genericamente, como única entidade
apreciadora de espetáculos porque não há correspondência com o que se observa
no entorno das manifestações cênicas das artes do corpo embebido por Públicos.
Portanto, Intentamos analisar e questionar o conceito tradicional da existência
de “Um Público” e propor correlações com a realidade da existência de Públicos,
dadas a natureza dos tipos de entendimentos de dança. Discutimos questões sobre
a noção tradicional de público e apresentamos a hipótese da existência dos diversos
públicos da mesma forma como são diversos os seguimentos de dança para esse
público.
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2- A Dança Teatral e o Conceito de Público: Dos Primórdios a Modernidade
A dança teatral, no formato que hoje está disposta, é produto de um
deslocamento e transformações pelas quais as artes experimentaram no mundo
ocidental. Sugere-se que uma origem da dança se localiza entre caçadores e
coletores no ambiente da savana africana, provavelmente há 80 mil anos atrás como
parte de uma coordenada atividade mágica de deciframento da natureza, por meio
de uma repetida gestualidade sonoro-corpórea.
As pinturas rupestres dispostas em cavernas francesas, datadas a partir de
40 mil anos atrás, oferecem a possibilidade de como tal deciframento pode se dar. A
dúvida crucial que afeta a esse conjuro mágico é se esse ritual é iniciativa individual
ou se há participação coletiva, dada a localização das pinturas em regiões lúgubres
das cavernas. De todo modo, a dança é parte da percepção do homem do
paleolítico frente a sua solidão em mundo povoado de animais diferentes. No
paleolítico, especificamente no período da Cultura Magdaleniana, numerosas figuras
zooantropomórficas são encontradas nas cavernas, como as do Feitiçeiro de Les
Trois-Fréres e O Homem de Gabillou.
Caverna de Gabillou (Dordogne, França) Homem-de-Boi.
11
As ações do homem primitivo como gritar, pisar, agitar galhos e tochas contra
a manada de animais em movimentos sincronizados, inserem-se dentro de seus
rituais, e alguns desses rituais têm origens em reencarnações de duelos bem-
sucedidos com animais, quando aumenta coesão grupal e instrui os jovens sobre
como sobreviver. A dança é, portanto, parte de um coordenado ritual especialmente
relacionado à sobrevivência, é a dança que existe em função de sua fonte de
comida e de eventuais predadores.
O semicírculo de ossos de Dez mil anos atrás, chamado de Mas-d`Azil, em
Saint Germain, e também, uma roda de aproximadamente nove personagens na
gruta número dois de Addaura na Sicília (Itália), datada de oito mil anos atrás,
pertencente ao mesolítico, período que se situa entre o Paleolítico e o Neolítico, são
evidências de como os nossos ancestrais caçadores-coletores mobilizam ou
controlam seus movimentos corporais com a dança que se realiza em seus rituais
(BOURCIER, 1987).
A dança, uma forma de arte que utiliza movimentos corporais e gestos para
expressar imagens artísticas, tem o desenvolvimento inicial de sua gramática entre
os primeiros agricultores do Neolítico, que se espraiam com a formação de
assentamentos e a vida sedentária. Os públicos são os próprios participantes de
rituais relacionados à nova vida sazonal, da plantação à colheita.
No mundo antigo, entre egípcios e gregos, há uma nova conformação: a
dança tem seu uso crescente como parte de ritos religiosos e fúnebres, entre os
primeiros, e se acentua com os gregos, quando ela é um dos principais ingredientes
na formação e na sociabilidade do homem. Como produto desse incremento, temos
a fundação do teatro e o surgimento de um tipo de público, relativo sempre a uma
dada comemoração.
A dança na antiguidade passa a desenhar uma tradição, especialmente entre
as danças vistas como parte de cerimônias de reforçamento da panóplia mitológica
que pavimentam as sociedades antigas do Egito e da Grécia. Neste caso, há uma
expansão das práticas de dança como uma das atividades principais na vida das
cidades-estados gregas.
São diversas as danças da Grécia: como uma arte, simultaneamente,
comunal e de assistência, quando nasce o teatro; como celebração mútua entre os
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que realizam e observam, podendo participar; como plateia que reage e que pode
interferir na condução da encenação. Quando o teatro se populariza entre os gregos
antigos, alteram-se os arranjos entre artistas e plateias; nasce o theatron, o espaço
formal da encenação, e o theatra, os espaços dos assentos, quando se amplia as
fronteiras entre um e outro.
Os movimentos tornaram-se gradualmente estilizados ao longo da história, e
a arte da dança evolui como um dos primeiros exemplos de arte popular.
Inicialmente, ligada à fala e ao canto, como parte de eventos de um determinado
grupo social, em cerimônias civis e religiosas, a dança adquire gradualmente
importância como uma forma de arte independente.
Danças tradicionais têm se desenvolvido entre todos os povos do mundo
como as tradicionais e persistentes milenares indianas Kathak e kathakali, como
igualmente as danças camponesas a partir do medievo europeu que constituem a
base das danças de salão do ocidente, as danças nobres.
Na Europa ocidental, o percurso da dança está recheado de alterações e
deslocamentos. Com o século 12, o que é estritamente parte de um conjunto de
boas-maneiras e que se traduz em uma dança metrificada e geometrizada é produto
da separação das danças populares, que em seguida, aparecem no chamado
Quattrocento italiano instalando-se como uma atividade exclusiva no ambiente da
corte, uma dança erudita que requer, além da habilidade com a métrica, a retenção
de passos e de suas possíveis combinações (BOURCIER, 1987; SORELL, 1986).
The Art of Dancing Explained by Reading and Figures, Kellom Tomlinson (London, 1724/1735)
13
A publicação dos primeiros manuais carrega as experiências dos primeiros
mestres-autores. Com eles não apenas a exposição dos passos e de suas
combinatórias, mas como fazer os passos. A consolidação da dança teatral com os
primeiros manuais, os primeiros livros, ou seja, as primeiras teorias são
desenvolvidas pelos práticos. Aqueles que ensinam são os que escrevem a teoria.
A dança teatral é uma das artes em que teoria e prática estão completamente
vinculadas na sua própria história. Os grandes manuais, desde o século 14, são
desses maîtres e professores não somente do passo, mas da etiqueta do passo.
Com a metrificação e geometrização dessas danças no ambiente dos salões da
corte, temos como substrato o nascimento de uma nova preocupação: a técnica da
exposição ao público que ali circula.
Os balés de corte, dentro do modelo de métrica e da geometrização, são
apresentados para serem apreciados do alto e por cima, pelos nobres. Os
dançarinos realizam evoluções numa parte da sala, todos no mesmo nível; na outra
parte eram montadas bancadas para os espectadores.
The Art of Dancing Explained by Reading and Figures, Kellom Tomlinson (London,
1724/1735)
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As aristocracias das cidades-estado italianas e a francesa se divertem,
festejam em casamentos e alianças políticas nas quais a dança é parte de uma
apresentação com poesia, canto e música. Portanto, é dada à partida a uma etapa
de configuração das danças de corte, e mais tarde nas monarquias francesas se
configuram como danças barrocas como fruto da organização e da ação de mestres
e publicações de estudiosos dessas danças.
Na etapa posterior, como parte das atividades artísticas da corte de Luís 14
(1638-1715), e trechos das óperas, temos o passo substancial à formatação dos
balés de corte, que diferem das danças de corte pelos modos e fins a que estão
destinados. O reinado de Luís 14 se torna a quintessência da cultura europeia.
Durante seu regime e sob seu entusiasmado comando nasce o balé com estrutura
similar a que hoje conhecemos.
O cenário se altera substancialmente a partir da França nos séculos 16 e 17,
e, posteriormente, dissemina-se pela Europa, como Rússia, Itália e Dinamarca. Com
a fundação da Academia Real de Dança, em 1661, embora ainda simbolicamente,
por iniciativa do rei Luís 14, o balé passa a ser tratado como espetáculo, quando ela
se instala nos primeiros palcos que a abriga e que requer as primeiras levas de
indivíduos treinados.
Nesse momento, moldam-se os primeiros grupos de profissionais da dança,
mestres/coreógrafos e bailarinos. Há uma crescente percepção “de expressão
estética do corpo humano e da utilidade das regras para explorá-lo” (BOURCIER,
1987: 64). O profissionalismo se refere aqui às novas exigências para uma
especialidade, antes parte de um grande consórcio religioso e político, e que
pressupõe novos formatos de treinamento.
“A mudança gradual do dançarino amador ao artista profissional teve sua
contraparte na composição da plateia” (SORELL, 1986: 126). A aristocracia possui
seus próprios teatros a partir do século 16, forçosamente de acesso restrito a outros
segmentos sociais. No entanto, com a sucessiva construção de teatros o final do
século 16, os teatros de corte se defrontam com a obrigação de abertura de suas
portas ao público pagante (Ibid.: 126). Simultanemente, no século 17, embora
mantenha suas produções restritas aos ambientes dos Palácios do Louvre e de
Versalles para seus cortesãos, Luís 14 possibilita o acesso por meio de dois teatros
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públicos às companhias atuantes, o Palais-Royal e o Petit-Bourbon com a
transferência das óperas-ballets de Jean-Batis Luly.
Temos, agora, uma disposição cênica semelhante ao teatro italiano – uma
frente e o palco elevado – com importantes consequências às definições estruturais
da linguagem e funcionamento do balé clássico e à formação do conceito de casa
oficial de espetáculos motivador, da noção da entidade o Público. Os espectadores
sentam-se lado a lado, e não mais no entorno, como ocorre nas apresentações nos
salões da corte, e o bailarino se posiciona de frente mesmo quando realiza mudança
de direções. O em dehors, a rotação da coxa-femural, instala-se como uma
obrigatoriedade.
O início da expansão do profissionalismo da dança teatral coincide com a
abertura dos teatros oficiais, como casas de espetáculos de companhias de balés, o
nascimento da figura do bailarino e da renovação do papel do coreógrafo com o balé
de ação de Jean-Georges Noverre (1727-1810). A abertura, em 1713, da Escola de
Balé da Ópera de Paris garante a formação permanente de bailarinos, o
desenvolvimento de companhias oficiais de balé e a sedimentação da entidade o
Público. Com o balé romântico, ao refinar o balé da ação, consolida a noção da
entidade o Público.
No entanto, os pioneiros da dança moderna americana como Isadora
Duncan (1877–1927), e seus construtores como Martha Graham (1894–1991), Doris
Humphrey (1895-1958) e os expressionistas alemães como a Mary Wigman (1866–
1973) no alvorecer do século 20, são algumas das evidências do conceito de que
políticas públicas são tantas quanto às mensagens de construtos artísticos em
dança. São deles os primeiros a pavimentarem o entendimento de que Público deve
comportar novas assistências para o que se constrói como dança para a cena.
Nasce a noção de Público como seguidores de um determinado contexto
artístico em dança. No entanto, com os chamados pós-modernistas americanos uma
nova realidade se impõe, a que descortina, não apenas a radicalização do
entendimento de Públicos, mas, também, as possibilidades de outras cenas de
dança: as paredes de prédios, dentro de carros em circulação, os halls dos teatros,
galerias, igrejas, a rua e a praça.
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Surge agora um novo desafio face ao cenário de criadores-intérpretes. Uma
alternativa ao modelo de criação de vínculo e manutenção dessa vinculação
proporcionada pelo Rei. Este modelo não desaparece: as companhias estatais. O
conceito de assistência como um conjunto de indivíduos observadores de um
determinado espetáculo, circunscrito frente a um palco italiano, aparentemente sem
poder ativar a constituir seu próprio entendimento, passa a ser questionado entre os
artistas da Judson Church Theater, a partir dos anos de 1960.
Neste estudo, como se pode constatar, alude-se a períodos chaves no
processo de estruturação da dança como uma linguagem conexa a outras ações,
como nos primórdios da dança, como uma linguagem que altera substancialmente
seus meios e fins no período das monarquias europeias, e, finalmente, com o inicio
do século 20 com os modernistas, e os pós-modernistas entre os anos 1960 e 1970,
por considerá-los o material fundamental e simultâneo da evolução histórica da
dança na formação dos públicos da dança cênica.
3- O que é da diversão e o que é da especialidade.
Se a dança para a cena é do domínio da especialidade então ela exige uma
iniciação para quem a observa? Esta é uma pergunta recorrente junto aos artistas
quando as artes da cena passam a sofrer a concorrência dos meios audiovisuais.
Com o advento e desenvolvimento de meios massivos de comunicação se
impõe novos desafios às artes da cena, em especial à dança. A ida ao teatro passa
a ter outros eventos concorrentes. Provavelmente, os artistas e pioneiros do
movimento da Judson Church Theater, nos anos de 1960, concentrados no galpão
de uma igreja protestante, em Nova York, podem ter percebido a necessidade de
alteração de estratégias, como a de se deslocar para a rua para capturar uma nova
geração de espectadores; porque para um novo entendimento de dança há que se
construir outra noção de espetáculo de dança e, consequentemente, outros jeitos de
entender o que até então é nomeado como produto artístico em dança (BANES,
1987).
Há que se pensar na inteireza do “pacote” porque a relação existente entre
palco e plateia pode não oferecer a solução à formação de públicos. Para outras
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danças e outras plateias, em um mundo que se molda pela segmentação sócio-
econômica e pela concorrência com os chamados meios massivos de comunicação.
Nesse sentido, o modelo de plateia fundado a partir do ambiente das cortes
europeias e que se difunde entre o estamento médio da população, na metade do
século 20, pode não atender aos desafios da presença da televisão e do cinema.
O modelo de Público é pavimentado dentro do ambiente da corte e se
desdobra na representação oficial de sustentação estatal. Correlaciona-se ao
entendimento de única companhia para único teatro, o local a ser sede da produção
e apresentação do trabalho. Passa-se, então a constituir, a partir do século 19 o
entendimento senso comum do que é dança; e, aqui, dança é balé.
Hoje, quando encenamos carregamos obrigatoriamente a noção segmentada
de Públicos. Na pré-história, quando observamos uma pintura rupestre
representando o que imaginamos ser uma cena de dança, como, por exemplo, um
semicírculo que mostra pessoas voltadas para um ritual, pode-se imaginar que
indivíduos estavam ali a observar e, talvez, participar de um determinado ritual como
o ancestral do entendimento de plateia. No ambiente de qualquer civilização, nas
cortes do mundo antigo ou nas cortes modernas europeias, florescem danças como
divertimento e comunhão social ainda vivas entre nós.
Comumente, os autores creditam à televisão os males das dificuldades de
constituição de Públicos. Em uma das raras discussões sobre o papel do
espectador, em língua portuguesa, Desgranges acusa a televisão como o principal
responsável, grosso modo, pela existência dessas dificuldades pois ela “cria um
hábito mental fundado na ruptura e na segmentação, um hábito calcado na sedução
imediata, desencorajando, quando o flash deixa de ser fascinante”. (DESGRANGES,
2010: 39). Embora a televisão possa ter seu papel na criação de tais dificuldades, o
cerne do problema pode se encontrar justamente na crença do mito da existência do
Público.
A discussão sobre a fragmentação e da segmentação das informações pode
ser resolvida por outra explicação. Não é a televisão a causadora do hábito mental
de segmentação e ruptura. Há variáveis discerníveis nas transformações históricas
que são conformadas por diversos tipos de informação audiovisual e digital, e não
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podem ser imputadas a ela. A televisão é parte da conformação dos novos meios de
comunicação em operação.
Entendemos se tratar de um dilema antigo com nova roupagem: O que é da
diversão e o que é da especialidade. Similarmente às outras artes, a dança teatral
ocidental se altera de modo substancial no século 20 ao agregar ao modelo de
dança feita para o Público, diferentes modos de criar e de desenvolver estratégias
cênicas e de entendimento de quem as observa. Especialmente com os pós-
modernistas estadunidenses, esses modos se expandem substancialmente na
Europa continental nos anos de 1980 e parecem capturar o ambiente em que eles
(sobre)vivem.
Um dos aspectos importantes dessas alterações é o entendimento do lugar
em que a dança deve se realizar e o modelo, desde então, de espectador que
compõe o conjunto do Público como uma entidade passiva quanto à recepção
daquilo que vê.
4- Entreato
Ao procurarmos uma definição sobre a palavra público no dicionário Aurélio,
encontramos respostas tais como: adj. Que se refere ao povo em geral: interesse
público. / Manifesto, conhecido por todos: rumor público. / A que todas as pessoas
podem comparecer: reunião pública. No âmbito do significado da palavra, não há
coerência se considerarmos a Dança como uma entidade, já que não existe
somente um tipo de dança. Não podemos deixar de mencionar que existem danças
desconhecidas por muitos, e outras que ainda irão surgir, e na mesma proporção
temos segmentos de públicos como os que se formatam a partir de padrões de
entendimentos de dança.
Os públicos me inquietam desde quando praticante iniciante de capoeira, aos
12 anos de idade, embora sem uma consciência das questões concernentes à
temática. Na adolescência, tornava-me eufórico nos dias de roda. Mas quando era
diminuta a frequência, desanimava e me incomodava a não observância do coro
frente ao dialogo corporal da capoeira. E como cita-se anteriormente, a capoeira é o
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meu primeiro contato com as artes cênicas em geral e com as quais tenho minhas
primeiras impressões com o que possa ser o Público.
Uma roda de capoeira é uma espécie de microcosmo que reflete o
macrocosmo da vida que nos cerca. Diversos são os elementos que interagem em
nossas relações com o mundo, e no jogo da Capoeira esses elementos podem se
condensar de modo intenso: respeito, malícia, maldade, brincadeira,
responsabilidade, provocação, disputa, liberdade, se assim pudermos elencar. E se
realiza como um jogo executado no centro da roda por dois capoeiristas, uma
orquestra de instrumento dita a ritmicidade, e o coro, que além de bater palmas e
responder o coral, testemunha o jogo a sua frente.
As pessoas que estão em volta da roda de capoeira são o público que assiste
ao diálogo corporal do jogo que se realiza à sua frente. E cada participante que
observa essa cena consequentemente trava um diálogo com as duas pessoas que
jogam no centro. As que fazem parte do coro são participantes ativos, pois eles além
de observar, dialogam com a cena. O público que não faz parte da roda, aqueles
que estão apenas olhando do lado de fora, podemos pensar que são espectadores,
pois eles atuam como observadores do jogo que ali se instaura.
A relação que se estabelece entre o público de dança teatral e a percepção
que se extrai dos espetáculos e das rodas de capoeira fazem-se importante porque
se constitui como um dos norteadores essenciais no desenvolvimento desse artigo.
5- Os Públicos e o Paradoxo do Espectador
Um dos entendimentos propostos sobre a hipótese da existência dos públicos
pode se encontrar no debate movido pelo filósofo francês Jacques Ranciére. O alvo
da crítica de Ranciére é justamente a resistência de se manter o entendimento da
existência de única entidade, a do Público, como se ali estivesse concentrada toda a
força operativa da recepção às artes da cena. Desse modo, se há tão somente uma
entidade, outras forças podem não operar e, consequentemente, teremos a noção
do espectador como um ente em passividade.
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Talvez o paradoxo do espectador possa ser equacionado como o tipo de
motivação que uma determinada dança produz em quem a vê. A crítica de Ranciére
se dá especialmente quando opera o debate entre olhar e agir:
Mas a condição do espectador é uma coisa ruim. Ser um espectador significa olhar para um espetáculo. E olhar é uma coisa ruim, por duas razões. Primeiro, olhar é considerado o oposto de conhecer. Olhar significa estar diante de uma aparência sem conhecer as condições que produziram aquela aparência ou a realidade que está por trás dela. Segundo, olhar é considerado o oposto de agir. Aquele que olha para o espetáculo permanece imóvel na sua cadeira, desprovido de qualquer poder de intervenção. Ser um espectador significa ser passivo. O espectador está separado da capacidade de conhecer, assim como ele está separado da possibilidade de agir (RANCIÉRE, 2010: 02,03).
O aspecto de que trata a crítica de Ranciére sobre a oposição entre o olhar e
o agir pode ser suscetível de revisão porque embora sentado, aparentemente
imóvel, enquanto se assiste a um espetáculo de dança, isso não corresponde à
inatividade de nosso equipamento biológico e a desvinculação dos processos
racionais de julgamento ao que se observa.
O interesse para quem vai assistir ao espetáculo é um fator importante, pois
ele faz diminuir certo distanciamento que existe entre o público e a cena, já o
desinteresse cria um abismo enorme entre o plano de ficção e o plano da realidade
do espectador; por não conseguir participar do jogo, o espectador se exclui, começa
a olhar no relógio, prestar atenção nos vizinhos, contar os minutos e pensar em
outras coisas, menos no espetáculo que está a sua frente. (CAMARGO, 2003).
Ao se debruçar sobre esse debate, pensa-se, também que as plateias não
são eternas, e a única garantia é a atualização do show ou do espetáculo em
quaisquer das circunstâncias. Na plateia sempre haverá pessoas diferentes, até
porque o público muda com frequência.
6- O Deslocamento da Cena e a Cena do Deslocamento
Quando música, pintura, escultura e literatura se hibridizam com a dança, de
um modo diferente até então reconhecido na história das artes ocidentais, os
produtos são o happening, a instalação que se cunha, posteriormente, como artes
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perfomativas. Não há mais privilégio da díade theatron- theatra, que converte no
olhar dos artistas o conceito do palco italiano. Há a procura de um espaço comum
no qual as artes se despregam de seus suportes habituais e se tocam nas galerias
de arte, hall dos teatros, nos muros, em telhados, em possíveis lugares de se moldar
um determinado ambiente da cena. Desse modo, irá requerer diferentes assistências
em diferentes modos participativos, os públicos.
O questionamento da noção da entidade Público é parte do pacote de radical
alteração do significado, conceito e função da dança, uma empresa que se
desenvolve entre os anos 1960 e 1970, entre artistas de dança estadunidense como
Steve Paxton, Simone Forti, Yvonne Rainner, Trisha Brown, David Gordon, Deborah
Hay e Lucinda Childs (BANNES, 1987). Não é apenas “suplantada” a danse de
l´école ou o chamado balé clássico de repertório, com seu estrito cânone de beleza,
graça e harmonia, justamente o responsável pelo fomento da entidade o Público,
como as linhagens da dança moderna que tentam formular outras regras de
composição coreográfica.
Tais artistas recebem a alcunha de pós-modernistas por pleitear alterações do
entendimento da cena e do espaço da cena, ao rejeitarem elementos como
atmosferas, caracterizações, psicologismos e a noção de treino entendido como o
molde para se encaixar a temática. Propõem-se o entendimento que o movimento
“não é pré-selecionado por suas características, mas produto de certas decisões,
metas, planos, esquemas ou problemas” (BANNES, 1987: XIV).
Os pós-modernistas, cujas ideias ecoam e se dissipam com uma nova leitura
pelos europeus nos anos 1990, postulam o processo em detrimento do produto, a
aproximação entre arte e vida e, especialmente, novas motivações e relações entre
artista e assistência, entre quem organiza a dança e quem a observa.
Presentifica-se especialmente como o que se chama instalação. Primeiro,
artistas plásticos, performers e dançarinos experimentam como uma arte da
configuração de um ambiente. Historicamente, em um segundo momento, instalação
ganha força como, além de se preocupar com a experiência imediata de apreensão
do trabalho artístico, a tentativa de motivar a conscientização dos que ali estão e do
que ali ocorre. Desenvolvem tipos de reciprocidades de criação entre a
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espacialidade, observadores e obra, em tempo real. Em um constante diálogo entre
linguagens artísticas.
TRISHA BROWN - GALERIA
Portanto, face ao deslocamento da cena, que se desgarra dos suportes
habituais – palco italiano, telas, esculturas fixas - dificilmente é aceitável as análises
que consideram a existência da entidade Público. Esse deslocamento se dá como
um pacote de alterações conceituais e artísticas, quando se inaugura tipos de cena
de deslocamento, os materiais com os quais se constrói dança em confluência com
outras artes, as tarefas de dança/task dances, o Contact Improvisation, a incidência
sobre as partes do corpo, e não somente sobre o todo, e assim por diante.
Trisha Brown, Man Walking Down the Side of a Building, SoHo, 1970 Photo ©Carol Goodden
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Os deslocamentos chegam com a tentativa de democratização de acesso aos
meios com o que se faz arte e aos meios de observá-la. Desanuviam a rígida
separação entre os que dançam e os que não dançam. Paradoxalmente, aprofunda
a especialidade, mas igualmente aprofunda e diversifica os que constroem essa
especialidade porque o artista não mais depende de um rei ou de uma linha de ação
da política estatal. O artista tem a possibilidade de desenvolver seu próprio material,
o que aumenta substancialmente a população de criadores da área.
Trisha Brown, Man Walking Down the Side of a Building, Walker Art Center, 2008 Photo: Gene Pittman
7- Considerações Finais
Tratamos em propor correlações com a realidade existente aos Públicos na
dança e sobre a importância de se pensar nessa pluralidade ao invés de
relacionarmos apenas como a entidade o Público, unificada na dança teatral no
século 19. Desde já, o que na mesma proporção há diversos tipos de públicos na
dança, também, há diversos tipos de segmentos de dança para esses públicos.
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Atentamos, também, para o fato das transformações históricas na dança e
na dança teatral da relação, feitura e apresentação com seus respectivos
observadores-partícipes para os da exclusiva assistência que se suplanta com o
aparecimento do criador-intérprete e da diversidade de ideias de dança no século
20.
A primeira bifurcação se dá no quattrocento renascentista italiano quando as
danças de salão da corte se instrumentalizam e se desgrudam das danças
populares. As danças dos salões da corte, que ainda se realizam no regime de
coparticipação, especializam em balés de corte quando experimentam seu auge na
monarquia de Luís 14, na França. Encontra-se aqui uma segunda bifurcação: surge
a preocupação com a técnica, agora codificada em sua estrutura geral, para a
exposição com o público, já que os balés de corte dentro de sua métrica são
apresentados para serem apreciados do alto e por cima, pelos nobres.
A entidade o Público, uma abstração fortemente arraigada no imaginário
senso comum, com a profusão do romantismo no balé, não corresponde à realidade
desde as primeiras iniciativas dos pioneiros da dança moderna ocidental e o
conceito inaugural de que são tantos os públicos quanto são tantas as mensagens
de construtos artísticos em dança. No entanto, com os chamados pós-modernistas
americanos uma nova realidade se impõe, a que descortina, não apenas a
radicalização do entendimento de Públicos, mas, também, as possibilidades de
outras cenas de dança: as paredes de prédios, dentro de carros em circulação, os
halls dos teatros, galerias, igrejas, a rua e a praça.
Por isso, nos leva a pensar e concluir que quaisquer iniciativas individuais e
políticas culturais voltadas à construção da assistência devem considerar a
existência da noção da fragmentação da informação, de certa “liberdade” criativa
presente entre os artistas de dança contemporânea, das diversas possibilidades de
relações entre quem faz e quem observa e da existência de um ambiente
multifacetado e hibridizado entre artes.
A leniência face aos prováveis desinteresses em conhecer a produção
artística de cada um dos profissionais pode advir não somente da existência da
abstração de senso comum da entidade o público, já que o mesmo muitas vezes
não se faz acostumado com a pluralidade inserida dentro da dança, e também do
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entendimento de que muitos dos profissionais alimentam uma única entidade de
assistência.
Como podemos exigir ou reclamar que não temos públicos se não
entendemos que somos parte dessa pluralidade! Quando o meu lugar não é o
palco, ele deve ser o da assistência; não sou somente o artista da dança; faço parte
também do público da dança e do público que dança.
Os limites deste estudo se encontram na ausência de uma pesquisa empírica
ou uma pesquisa de campo que possam corroborarem o entendimento da
pluralidade de Públicos e não o da entidade genérica O Público. No entanto, como
propusemos, este é um estudo cujo foco se centra na tentativa de alimentar a
discussão sobre o inadequado conceito de Público e motivar o entendimento das
pluralidades de assistências, cujos lugares ultrapassam os lugares tradicionais do
palco italiano, e a pluralidade de ideias de criação em dança. Por essa perspectiva,
o espaço no qual a dança se realiza não é neutro. A neutralidade é o sonho que se
acalenta na entidade O Público.
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