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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FERNANDA DE OLIVEIRA CAIRES CILINDROSPERMOPSINA (TOXINA DE CIANOBACTÉRIA) E SEU POTENCIAL COMO DISRUPTOR ENDÓCRINO EM MURINOS DO SEXO MASCULINO RIO DE JANEIRO 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FERNANDA DE OLIVEIRA CAIRES

CILINDROSPERMOPSINA (TOXINA DE CIANOBACTÉRIA) E SEU

POTENCIAL COMO DISRUPTOR ENDÓCRINO EM MURINOS DO SEXO

MASCULINO

RIO DE JANEIRO

2015

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Fernanda de Oliveira Caires

CILINDROSPERMOPSINA (TOXINA DE

CIANOBACTÉRIA) E SEU POTENCIAL COMO

DISRUPTOR ENDÓCRINO EM MURINOS DO

SEXO MASCULINO

Volume 1.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Biofísica), Instituto de Biofísica Carlos Chagas

Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Biofísica).

Orientadora: Dra. Valéria Freitas de Magalhães

Co-orientadora: Dra. Tania Maria Ruffoni Ortiga

RIO DE JANEIRO

2015

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Caires, Fernanda de Oliveira.

Cilindrospermopsina (toxina de cianobactéria) e seu potencial como disruptor endócrino em murinos do sexo masculino / Fernanda de Oliveira Caires. – 2015.

Rio de Janeiro: UFRJ/ IBCCF, 2015. 75f.

Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Rio de Janeiro, 2015.

Orientadora: Dra. Valéria Freitas de Magalhães Co-orientadora: Dra. Tania Maria Ruffoni Ortiga

1. Cilindrospermopsina. 2. Sistema Reprodutor. 3. Toxicologia. 4. Cianotoxina.

– Teses.

I. Magalhães, Valéria Freitas (Orient.). II. Ortiga, Tania Maria Ruffoni III.Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho. III. Título.

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Fernanda de Oliveira Caires

CILINDROSPERMOPSINA (TOXINA DE CIANOBACTÉRIA) E SEU POTENCIAL

COMO DISRUPTOR ENDÓCRINO EM MURINOS DO SEXO MASCULINO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Biofísica), Instituto de Biofísica Carlos Chagas

Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Biofísica).

Aprovada em 24 de fevereiro de 2015.

________________________________________________

Drª. Valéria Freitas de Magalhães

Professora Adjunta IV, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ

________________________________________________

Drª. Tania Maria Ruffoni Ortiga

Professora Associada, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ

_______________________________________________

Drª. Isis Hara Trevenzoli

Professora Adjunta, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ

______________________________________________

Drª. Jennifer Lowe

Professora Adjunta 4, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ

______________________________________________

Dr. Olaf Malm

Professor Titular, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao CNPq pela bolsa de mestrado fornecida e ao Instituto de

Biofísica Carlos Chagas Filho pela honrosa oportunidade.

Vejo muitos conflitos na relação orientador-orientando que não condizem com

a minha realidade, e, por isso, concluo: eu tive a melhor orientadora possível! Então

agradeço de coração à professora Valéria Magalhães, que, mesmo com sua

memória ruim (rs) se empenha tanto para ajudar. Agradeço por todos os incentivos,

elogios, ensinamentos, amizade, esforços, pelo exemplo de pessoa e por acreditar

tanto em mim!

Agradeço também à toda equipe do Laboratório de Ecofisiologia e Toxicologia

de Cianobactérias pela disposição em ajudar, pelos toques e pelas risadas, que

sempre me proporcionaram dias tão agradáveis e um ótimo ambiente.

Agradeço à professora Sandra Azevedo por seus conhecimentos transmitidos

e à professora Raquel Moraes Soares pelo crédito ao trabalho e disponibilidade de

acrescentar conhecimento e revisar meu trabalho.

Agradeço à professora Tania Ortiga pela colaboração, por toda ajuda

prestada, conhecimento passado e empenho para que essa dissertação se torna-se

real. Acrescento o agradecimento à toda equipe do Laboratório de Endocrinologia

Molecular que sempre me tratou muito bem. Agradeço em especial ao Enrrico pela

ajuda e à, querida, Güínever pela ajuda e por seu bom humor contagiante.

Agradeço ao meu namorado, Ricardo Schwab, pela paciência nos momentos

difíceis, por ser todo ouvidos mesmo sem entender nada (rs), pela força, por

acreditar muito no meu potencial e pelo companheirismo de sempre.

Agradeço a minha família por compreenderem a importância desse momento

e valorizarem, com orgulho, o que faço.

Por fim, agradeço aos meus amigos, todos, que, perto ou longe, me ajudam a

caminhar na vida. Prefiro não citar nomes para não ser injusta com ninguém.

Obrigada por entenderem os meus furos e obrigada pelos momentos de distração e

por toda felicidade que me proporcionam, companhias sem as quais não chegaria

aqui.

Termino o meu agradecimento com uma citação:

“Se enxerguei mais longe foi porque eu

estava sobre os ombros de gigantes.”

Isaac Newton

Muito obrigada!

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“Alguns homens veem as coisas como são, e dizem ‘Por quê?’

Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo ‘Por que não?’”

(George Bernard Shaw)

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RESUMO

CAIRES, Fernanda de Oliveira. Cilindrospermopsina (toxina de cianobactéria) e

seu potencial como disruptor endócrino em murinos do sexo masculino. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) – Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

A cilindrospermopsina (CYN) - uma cianotoxina (toxina produzida por cianobactérias)

- é um potente inibidor da síntese de proteínas, capaz de provocar graves danos em

vários órgãos. Possui o potencial papel de disruptor endócrino por ser capaz de inibir

a síntese de progesterona e alterar o ciclo estral de fêmeas. Portanto, para analisar

possíveis efeitos em machos, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito subcrônico

de CYN no sistema reprodutivo masculino murino. Foi realizado um ensaio

subcrônico com 20 camundongos, com protocolo aprovado (CEUA122/14). Os

animais foram divididos em quatro grupos: controle, grupo 1, 2 e 3 (5 animais/grupo).

As injeções intraperitoneais na dose de 20 μg de CYN/Kg de peso corpóreo

ocorreram no início do experimento para todos os grupos. O grupo 1 foi eutanasiado

e os grupos 2 e 3 foram reinjetados 7 dias após a exposição à dose inicial. No 14º

dia ocorreu a eutanásia do grupo 2 e reinjeção do grupo 3. O grupo 3 foi re-injetado

no 21º dia e no 28º dia ocorreu a eutanásia. Da mesma forma que o grupo 3, o

grupo controle permaneceu até o 28o dia recebendo injeções semanais apenas da

solução veículo, água ultra pura (miliQ). Nos dias das eutanásias (7º, 14º ou 28º), o

sangue foi coletado e os tecidos (fígado, hipófise, testículos e epidídimos) coletados

e pesados. As análises estatísticas foram realizadas com a análise de variância

simples (One way ANOVA) seguida do teste de comparação múltipla de Tukey.

Nossos resultados indicam que uma ou duas doses baixas de CYN semanais

(grupo 1 e 2) causaram aumento significativo nos níveis de testosterona, associado

a um aumento na quantidade de espermatozoides no grupo 3. Por outro lado, a

toxina não causou alterações nos pesos dos tecidos, assim como na expressão dos

genes hipofisários (LHb e FSHb) e testiculares (LHcgr, StAR e CYP11A1). As

alterações observadas mostraram uma importante interferência no sistema

reprodutivo masculino, embora não se saiba o mecanismo pelo qual cause as

alterações. Portanto, mais estudos precisam ser realizados para compreender o

papel da CYN como um disruptor endócrino.

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ABSTRACT

CAIRES, Fernanda de Oliveira. Cilindrospermopsina (toxina de cianobactéria) e

seu potencial como disruptor endócrino em murinos do sexo masculino. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) – Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

The cylindrospermopsin (CYN) - a cyanotoxin (toxin produced by cyanobacteria) - is

a potent inhibitor of protein synthesis, able to cause serious damage to various

organs It has the potential role of endocrine disruptor, able to inhibit the synthesis of

progesterone and change the estrous cycle of females. Therefore, to analyze

possible effects on males, the aim of this study was to evaluate the subchronic effect

of CYN in murine male reproductive system. A subchronic assay was performed with

20 mice, with approved protocol (CEUA122/14). The animals were divided into four

groups: 1, 2, 3 and control group (5 animals / group). The intraperitoneal injections at

a dose of 20 μg of CYN / kg body weight occurred at the beginning of the experiment

for all groups. Group 1 was euthanized and the groups 2 and 3 were re-injected 7

days after exposure to the initial dose. On the 14th day the group 2 euthanasia and

reinjection of group 3 was realized. The group 3 was re-injected at 21th day and at

28th day occurred the euthanasia. Like Group 3, the control group remained until the

28th day receiving weekly injections only vehicle, ultra pure water solution (MilliQ). In

the days of euthanasia (7th, 14th and 28th), blood was collected and tissues (liver,

pituitary, testis and epididymis) collected and weighed. Statistical analyzes were

performed with the simple analysis of variance (One way ANOVA) followed by

Tukey's multiple comparison test were chosen. Our results indicate that one or two

weekly low dose of CYN (groups 1 and 2) caused a significant increase in

testosterone levels and there is a significant increase of sperm quantity in group 3.

On the other hand, the toxin did not cause changes in the weights of the tissues as

well as in the expression of pituitary (LHb and FSHb) and testicular (LHcgr, StAR and

CYP11A1) genes. The changes observed have shown significant interference in the

male reproductive system, although it is not known the mechanism whereby causes

changes. Therefore, further studies are needed to understand the role of CYN as an

endocrine disruptor.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura química da cilindrospermopsina.................................................20

Figura 2 - Esquema do eixo hipotálamo-hipófise-testículo.........................................25

Figura 3 - Transdução de sinal induzida por LH na biossíntese de testosterona nos

testículos....................................................................................................................28

Figura 4 - Representação da circulação acoplada a proteínas, conversão em DHT ou

estradiol e via clássica de ação da testosterona........................................................30

Figura 5 - Representação esquemática da espermatogênese..................................31

Figura 6 - Representação esquemática do desenho experimental............................36

Figura 7 - Esquema das análises realizadas com os tecidos após excisão e com o

sangue dos animais....................................................................................................37

Figura 8 - Peso por grupo, em gramas, de cada animal nos diferentes dias

experimentais.............................................................................................................41

Figura 9 – Box plot do peso do fígado dos animais controle e experimentais...........42

Figura 10 - Box plot do peso dos testículos (direito e esquerdo somados)...............43

Figura 11 - Box plot do peso dos Epidídimos (direito e esquerdo)............................44

Figura 12 - Box plot da dosagem sérica de testosterona...........................................45

Figura 13 - Box plot da quantidade de espermatozoides na cabeça dos

epidídimos..................................................................................................................46

Figura 14 - Box plot da expressão gênica da StAR no testículo................................47

Figura 15 - Box plot da expressão gênica do receptor do hormônio LH (LHcgr) no

testículo......................................................................................................................48

Figura 16 - Box plot da expressão gênica de CYP11A1 no testículo.........................48

Figura 17 - Box plot da expressão hipofisária do hormônio LH.................................49

Figura 18 - Box plot da expressão de FSH na hipófise..............................................50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Exemplos da presença de cianobactérias em reservatórios do Brasil nos

últimos anos...............................................................................................................16

Tabela 2 - Informações dos primers utilizados no PCR em tempo real para

amplificação dos genes alvo......................................................................................39

Tabela 3 - Sequência do primer para amplificação do gene GAPDH, utilizado como

controle interno...........................................................................................................39

Tabela 4 - Peso dos animais em cada dia experimental............................................41

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA - Ácido aracdônico

ABP - Proteína ligadora dos androgênios (do inglês Androgen-binding protein)

AC - Adenilato ciclase

AMPc - Adenosina 3',5'-monofosfato cíclico

AR - Receptor de Andrógeno (do inglês Androgen Receptor)

BPA - Bisfenol A

cDNA - DNA complementar (do inglês complementary DNA)

CEUA - Comissão de Ética no Uso de Animais

CYN - Cilindrospermopsina

CYP11A1 - Enzima de clivagem da cadeia lateral do colesterol

CYP17 - 17α-Hidroxilase

CYP450 - Citocromo P450

DAG - Diacilglicerol

DBO -Demanda Bioquímica de Oxigênio

17βHSD - 17 β-Hidroesteróide desidrogenase

DHEA - Deidroepiandrosterona

DHT - 5α-dihidrotestosterona

dNTP - Desoxirribonucleotídeos Fosfatados (do inglês deoxynucleoside

triphosphates)

E2 - Estradiol

FSH - Hormônio folículo estimulante (do inglês Follicle-stimulating hormone)

GAPDH - Gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase

GnRH - Hormônio liberador de gonadotrofinas

GSH - Glutationa

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hCG - Gonadotropina coriônica humana

HSDs - Hidroxiesteróides desidrogenases

i.p. - Intraperitoneal

IP3 - Inositol trifosfato

LDL - Lipoproteínas de baixa densidade

LH - Hormônio luteinizante (do inglês Luteinizing hormone)

LHcgr - Receptor do hormônio luteinizante/coriogonadotropina (do inglês Luteinizing

hormone/choriogonadotropin receptor)

MAPK - Proteína cinase ativada por mitógeno (do inglês Mitogen-activated protein

kinases)

MCs - Microcistinas

MS - Ministério da Saúde

NOAEL - Dose sem nenhum efeito adverso observável (do inglês no observed

adverse effect level)

PKA - Proteína cinase A

PKC - Proteína cinase C

PLC - Fosfolipase C

PBS - Tampão fosfato-salino (do inglês Phosphate buffered saline)

RE - Retículo Endoplasmático

RNAm - RNA mensageiro (do inglês Messenger RNA)

RT-PCR - Reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (do inglês

Reverse transcription Polymerase Chain Reaction)

SHBG - Globulina Ligadora de Hormônios Sexuais

SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

sptzs - Espermatozoides

StAR - Proteína reguladora aguda esteroidogênica

STXs - Saxitoxinas

3βHSD - 3 β-Hidroesteróide desidrogenase

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UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância (do inglês United Nations

Children's Fund)

VMP - Valor Máximo Permitido

WHO - Organização Mundial da Saúde (do inglês World Health Organization)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

1.1 ASPECTOS GERAIS: POLUIÇÃO E QUALIDADE DA ÁGUA........................................... 14

1.2 FLORAÇÕES DE CIANOBACTÉRIAS .......................................................................... 15

1.3 CIANOBACTÉRIAS .................................................................................................. 17

1.4 CIANOTOXINAS ...................................................................................................... 18

1.5 CILINDROSPERMOPSINA (CYN).............................................................................. 20

1.6 CYN E A POSSÍVEL DISFUNÇÃO ENDÓCRINA .......................................................... 22

1.7 EIXO HIPOTÁLAMO - HIPÓFISE - GÔNADAS ............................................................. 24

1.8 VIA DE TRANSDUÇÃO DO SINAL NA ESTEROIDOGÊNESE .......................................... 26

1.9 ESTEROIDOGÊNESE ............................................................................................... 27

1.10 METABOLISMO DA TESTOSTERONA E ESPERMATOGÊNESE ................................... 28

2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 3

3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 34

3.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 34

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................................... 34

4 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 35

4.1 CILINDROSPERMOPSINA ......................................................................................... 35

4.2 ANIMAIS ................................................................................................................ 35

4.3 DESENHO EXPERIMENTAL ...................................................................................... 35

4.4 CONTAGEM DE ESPERMATOZOIDES ........................................................................ 37

4.5 AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA ....................................................................... 37

4.6 DOSAGEM HORMONAL ........................................................................................... 40

4.7 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ........................................................................................ 40

5 RESULTADOS .......................................................................................................... 40

5.1 PESO DOS ANIMAIS.............................................................................................40

5.2 PESO DOS TECIDOS............................................................................................42

5.3 DOSAGEM HORMONAL......................................................................................... 44

5.4 CONTAGEM DE ESPERMATOZOIDES. ....................................................................... 45

5.5 EXPRESSÃO GÊNICA ............................................................................................. 46

6 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 51

7 CONCLUSÕES ......................................................................................................... 63

8 PERSPECTIVAS…………………………………………………………………………64

9 REFERÊNCIAS.......................................................................................................65

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Aspectos Gerais: Poluição e Qualidade da Água

A água, essencial para a sobrevivência humana e parte do patrimônio do

planeta, vem se tornando foco nos últimos anos devido ao descaso na preservação

ambiental que leva à crescente dificuldade de obtenção de água potável no mundo.

Segundo dados de WHO e UNICEF (2012), aproximadamente uma em cada nove

pessoas no mundo (mais de 780 milhões) não possui acesso à água de qualidade

para o consumo. Números que se tornam ainda mais preocupantes, pois estima-se

que 80% da população mundial viva em áreas com altos níveis de ameaça à

segurança da água (WHO & UNICEF 2008).

A qualidade da água é diretamente ligada à falta de saneamento básico. No

Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS,

2012), 48,3% da população possui acesso à coleta de esgoto, sendo que entre o

que é coletado, somente 38,7% é tratado. Esses dados são alarmantes, pois essa

porção não tratada vai parar diretamente nos corpos hídricos do país.

Além do crescimento acelerado da população, que, por ser muitas vezes

desordenado e causar um desequilíbrio ambiental com ocupação não planejada do

solo e desmatamentos, há ainda a crescente contaminação da água associada ao

processo de urbanização, visto que já foi observada uma forte relação entre o grau

de poluição desses ambientes e a densidade populacional (STRAšKRABA &

TUNDISI, 2008). Diversos fatores podem ser associados à deterioração da

qualidade da água mundial, dentre eles estão: mineração, erosão, percolação do

chorume de lixões próximos aos corpos d’água, recepção da água da chuva que

escoa por áreas de atividades agropecuárias, falta de tratamento de esgotos

(lançados in natura) e o lançamento de resíduos industriais.

A qualidade da água é determinante no desenvolvimento ou controle de

doenças. Mais de 3,4 milhões de pessoas morrem no mundo devido a

consequências da ingestão da água contaminada e da falta de saneamento (WHO,

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2008). A contaminação dos sistemas hídricos tem o potencial de causar um extenso

número de doenças, como mostram as estatísticas: 80% das pessoas com

enfermidades são relacionadas à água (BATTERMAN et al., 2009). Por isso, a

questão da degradação ambiental se tornou uma temática tão discutida, não apenas

por questões políticas, mas devido à preocupação com a saúde pública.

Uma consequência relevante da poluição, com o aporte excessivo de

nutrientes nos corpos hídricos superficiais, é o elevado grau de trofia verificado

nesses ambientes. O estado trófico pode ser definido como uma resposta biológica

dos ambientes aquáticos à introdução de nutrientes. O aumento de nutrientes,

principalmente nitrogênio e fósforo, em níveis maiores que a capacidade de

assimilação do ambiente aquático é denominado eutrofização (REYNOLDS, 2006),

que pode ser um fenômeno natural ou antropogênico. De maneira natural, esse

processo possui escala geológica, enquanto que a ação humana pode acelerar para

uma escala de tempo mais curta, causando o aumento da produção biológica. As

consequências são depleção de oxigênio dissolvido (aumento da demanda

bioquímica de oxigênio – DBO), elevação do pH, desequilíbrio do ecossistema, com

grande mortandade de peixe associada e inviabilização de fontes de água para

consumo. O favorecimento da ocorrência de intensas proliferações (florações) de

algas, principalmente cianobactérias, é um resultado importante da aceleração da

eutrofização dos ambientes.

1.2 Florações de Cianobactérias

As florações de cianobactérias têm sido destaque durante as últimas décadas

não só no meio científico, mas para toda a população, visto que as proliferações

podem interferir na biota local (ao diminuir a biodiversidade fitoplanctônica), causar

odores e gosto desagradáveis e interferir nos recursos pesqueiros. No Brasil, há 14

anos, segundo Sant’anna & Azevedo (2000), em quase metade dos estados (11 de

26) existiam registros da ocorrência de cianobactérias. A Tabela 1 mostra uma

compilação de trabalhos que destacam a presença de cianobactérias em

reservatórios, evidenciando a importância da temática para a saúde pública, já que a

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presença de toxinas produzidas por muitos desses organismos pode levar a

alterações na saúde pela ingestão diária de água contaminada. Há um grande

favorecimento de proliferações dessas microalgas em reservatórios brasileiros, pois

muitos desses ambientes associam o fato de que os compostos demoram mais

tempo para deixarem o sistema (longos tempos de residência) à oferta de nutrientes

e às altas temperaturas encontradas no país.

Tabela 1: Exemplos da dominância de cianobactérias em reservatórios do Brasil nos últimos anos.

AMBIENTE USO GÊNEROS

DOMINANTES

MUNICÍPIO (s)

(ESTADO)

REFERÊ

NCIA

Levantamento em 10 reservatórios

Abastecimento Microcystis, Anabaena,

Cylindrospermopsis, Aphanacapsa, Planktothrix e

Oscillatoria

Rio Grande do

Norte (RN)

Lampare

lli, 2004

Reservatório de Ribeirão das Lajes

Produção de energia elétrica

e abastecimento

Leptolyngbya, Cyanodictyon e

Chlorella

Rio Claro e

Piraí (RJ)

Gomes,

2005

Reservatório da usina hidroelétrica

Luiz Eduardo Magalhães

(UHE Lajeado)

Pesca, piscicultura, navegação, irrigação, turismo e recreação

Cylindrospermopsis Palmas - TO Silva,

2009

Reservatórios da Estação Ecológica e

Experimental de Assis e do Clube de Campo da Usina Santa Rita

Recreação e pesca

Cylindrospermopsis e Anabaena

Assis e

Maracaí - SP

Cordeiro

-Araújo

et al.,

2010

Reservatório do Funil Produção de energia elétrica,

abastecimento, pesca e

recreação

Dolichospermum, Sphaerocavun,

Cylindrospermopsis, Eucapsis e Microcystis

Resende-RJ Rocha,

2012

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1.3 Cianobactérias

Cianobactérias são microrganismos procarióticos fotossintetizantes

associados aos primórdios do planeta Terra, pois se estima que tenham surgido há,

pelo menos, 2,7 bilhões de anos (ZANCHETT & OLIVEIRA-FILHO, 2013).

Denominadas também como algas azuis ou cianofíceas, acredita-se que sejam

responsáveis pela liberação de oxigênio elementar na atmosfera (BADGER &

PRICE, 2003). Como grupo, possuem alta capacidade adaptativa, se distribuem nos

mais diversos habitats, como solo, pântanos, desertos, rochas e substratos

vulcânicos, embora estejam mais comumente presentes em ambientes aquáticos

(límnico e marinho). Morfologicamente, compreendem organismos unicelulares,

coloniais ou formas filamentosas multicelulares (CHORUS & BARTRAN, 1999). De

acordo com Moreira et al. (2013), existem mais de 1000 espécies e 150 gêneros,

muitas das quais são potenciais produtoras de toxinas (cianotoxinas).

Em um levantamento realizado em 39 açudes do Estado de Pernambuco em

1998, Bouvy et al. (2000), verificaram que a maioria desses ambientes (70%)

desenvolvia florações de cianobactérias potencialmente tóxicas com a presença,

principalmente, das espécies Microcystis aeruginosa e Cilyndrospermopsis

raciborskii. Lei et al. (2014) analisaram 26 reservatórios de abastecimento urbano na

China e constataram a presença da cianotoxina cilindrospermopsina (CYN)

dissolvida em metade deles. Estudos mostram dados preocupantes, pois

particularmente as florações tóxicas de cianobactérias vêm se expandindo

geograficamente, aumentando suas frequências, magnitudes e durações; e já

causaram alterações em diversos corpos d’água de grandes extensões e

importância no mundo, como Lago Vitória na África, Taihu na China e Erie nos

Estados Unidos e Canadá (PAERL et al., 2011). Wiedner et al. (2007) mostraram

que a espécie tóxica C. raciborskii, produtora das cianotoxinas saxitoxinas (STXs) ou

CYN e conhecida como uma espécie tropical, tem se expandido em direção aos

pólos, em latitudes médias da Europa, América do Norte e América do Sul, onde

prolifera em lagos e reservatórios eutrofizados. Tem sido mostrado que parâmetros

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como luz e temperatura mais elevados (fatores alterados em um contexto de

mudanças climáticas) podem aumentar o crescimento e a seleção de espécies

tóxicas de cianobactérias (YAMAMOTO & NAKAHARA, 2005; IMAI et al., 2009).

Sendo que alguns fatores podem ser capazes de intensificar a problemática de

intoxicações com cianotoxinas, como, por exemplo, à alta intensidade luminosa

também se mostrou capaz de aumentar a toxicidade das microcistinas – MCs

(cianotoxinas) e, juntamente com a temperatura, de aumentar a produção de CYN

(TONK et al., 2005; PREUßEL et al., 2009).

1.4 Cianotoxinas

As cianotoxinas são metabólitos produzidos pelas cianobactérias conhecidos

por sua associação a diversos casos de intoxicação em todos os níveis tróficos,

capazes de causar efeitos em protozoários, bactérias, zooplâncton, peixes, aves e

mamíferos (MEREL et al., 2013), através de exposições agudas ou crônicas. Esses

metabólitos diferem uns dos outros na estrutura química e podem ser classificados

de acordo com seus alvos toxicológicos em mamíferos como: hepatotoxinas

(microcistinas e nodularinas), neurotoxinas (anatoxina-a, anatoxina-a (s) e saxitoxina

(s)) e citotoxina (CYN) (DITTMANN et al., 2013).

Alguns fatores, como densidade populacional de cianobactérias (RAPALA et

al., 1997), condições ambientais (WIEDNER et al., 2003) e interações ecológicas

(FIGUEIREDO et al., 2004), são conhecidos por influenciarem a produção de

cianotoxinas. No entanto, ainda não foram totalmente esclarecidas as funções e o

porquê da grande variedade de toxinas produzidas, mas Holland & Kinnear (2013)

sugerem dois papéis: auxiliar na função fisiológica (através de benefícios para a

homeostase, eficiência fotossintética e as taxas de crescimento acelerado) e/ou um

papel anti-herbivoria, o que lhes concederia vantagens competitivas. Estudo recente

mostra que, por exemplo, as MCs parecem ter um importante papel de adaptação

das cianobactérias à alta intensidade luminosa (MEISSNER et al., 2014).

O primeiro registro de intoxicação associado a cianotoxinas ocorreu em 1878

na Austrália, onde foram descritas mortes de animais após o consumo de água de

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um corpo d’água com notável presença de cianobactérias (FRANCIS, 1878). Desde

então, diversos outros casos foram relatados como consequências do efeito de

cianobactérias tóxicas. Por exemplo, em 1931, oito mil pessoas adoeceram pela

ingestão de água com floração de cianobactérias (CHEUNG et al., 2013) e em 1978,

em Palm Island (Austrália), 148 pessoas, entre elas 138 crianças, precisaram ser

internalizadas devido a severas hepatoenterites (BYTH, 1980). Posteriormente, esse

último foi relacionado à ingestão de água de um reservatório com intensa floração de

cianobactérias, principalmente da espécie C. raciborskii (HAWKINS et al., 1985). No

Brasil, em 1988, duas mil pessoas adoeceram e 88 vieram a óbito, possivelmente

devido à floração de cianobactérias tóxicas no Reservatório de Itaparica, Bahia

(TEIXEIRA et al., 1993). Em 2010, na China, mais de dois milhões de pessoas

também foram afetadas pela ingestão de água contaminada com esses

microrganismos (QIN et al, 2010).

Corpos d’água utilizados para abastecimento público ou recreação e

dominados por cianobactérias representam um risco a saúde pública. A população

pode estar exposta a cianotoxinas através da ingestão ou inalação de água

contaminada com as toxinas. A exposição pode, por exemplo, ocorrer em atividade

recreativa em ambiente contaminado, assim como por exposição intravenosa como

no caso mais grave que ocorreu no Brasil, em Caruaru – PE, no ano de 1996,

quando 116 pessoas de uma clínica de hemodiálise, de um total de 131,

apresentaram vômitos, sinais de confusão mental, distúrbios visuais, entre outros

sintomas. Destes, 100 desenvolveram falência hepática aguda e 76 faleceram

posteriormente (JOCHIMSEN et al., 1998). A CYN foi associada ao caso de Caruaru,

quando foi encontrada, juntamente com MCs, no carvão ativado do sistema de

tratamento da água (ineficiente) da clínica (CARMICHAEL et al., 2001). Após o

incidente de Caruaru, foi inserido na legislação brasileira um valor máximo permitido

(VMP) de MCs em água para consumo humano (MS n.º 1469/2000). Após duas

revisões de legislação, o Ministério da Saúde, através da Portaria MS n.º 2.914 de

2011, estabelece um VMP para as toxinas de cianobactérias MCs e STXs de 1 µg/L

e 3 µg/L, respectivamente. É recomendada a análise de CYN, com valor máximo

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recomendado de 1 µg/L e inclui-se a análise da presença de anatoxina-a(s) quando

forem detectados gêneros potencialmente produtores dessa toxina.

1.5 Cilindrospermopsina (CYN)

Por ter sido associada aos casos de hepatoenterites que ocorreram em Palm

Island - Austrália e no Brasil, assim como por seu efeito citotóxico ainda não

plenamente estudado, a CYN tornou-se alvo do presente estudo. Essa toxina foi

primeiramente isolada, em 1992, de uma cultura de C. raciborskii (OHTANI et al.,

1992). Nesse estudo, os autores elucidaram que a CYN consiste em um alcaloide

guanidínico cíclico que apresenta um anel uracil ligado a um anel tricíclico de

guanidina (Figura 1).

Figura 1: Estrutura química da cilindrospermopsina: um alcaloide guanidínico cíclico sulfatado

(OHTANI et al., 1992).

Chiswell et al. (1999) analisaram a estabilidade da CYN em diversas

condições de intensidade luminosa, temperatura e pH. A toxina mostrou estabilidade

em temperaturas variando de 4 a 50°C por mais de 8 semanas em pH 7, no escuro

ou em variações de intensidades luminosas, e com meia-vida de 15 dias em

amostras de água de uma represa. CYN é uma substância de baixo peso molecular

(415 daltons) altamente solúvel em água e é produzida por diversas espécies, tais

como: Cylindrospermopsis raciborskii, Umezakia natans, Aphanizomenon sp.,

Lyngbya wollei, Raphidiopsis curvata, Anabaena bergii (DITTMANN et al., 2013).

Por ter efeitos hepáticos muito proeminentes que levam a letalidade em

intoxicação aguda, CYN foi primeiramente classificada como uma toxina

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hepatotóxica. Porém, atualmente, a toxina é dita citotóxica por já ter sido

caracterizada como indutora de danos em diversos órgãos de mamíferos como

necrose nos rins de camundongos, necrose linfocitária no timo e no baço, atrofia do

timo, hemorragias e necrose no coração e ulcerações na mucosa gástrica (TERAO

et al., 1994; SEAWRIGHT et al., 1999). Em uma cultura de hepatócitos de ratos,

doses baixas desta toxina levaram a diminuição dos níveis de glutationa (GSH),

enquanto que doses maiores causaram lesões coagulativas e necrose dos

hepatócitos (RUNNEGAR et al., 1994). Nesse estudo, os autores mostraram que os

níveis de GSH, molécula importante no processo de destoxificação de xenobióticos,

diminuíam antes do começo da toxicidade, indicando um papel desta molécula na

detoxificação da toxina. Posteriormente, Runnegar et al. (1995), concluíram que a

CYN inibe, diretamente, a síntese de GSH e que o citocromo P450 (CYP450) tem

papel importante na atividade da toxina, visto que inibidores desse complexo

enzimático levaram a diminuição parcial do efeito na produção de GSH e na

resposta tóxica. Linhagens celulares específicas, com atividades menores do

CYP450 sofreram uma toxicidade menor, evidenciando o papel crucial desse

complexo para a ativação metabólica da toxina (FROSCIO et al., 2003). Em adição,

a CYN também induz o aumento na transcrição de alguns genes relacionados ao

complexo enzimático CYP450 (ZEGURA et al., 2011), o que poderia ser a maneira

pelo qual esse complexo age ativamente na toxicidade dessa toxina.

Não são muitas as informações acerca do mecanismo de ação da CYN, mas

sabe-se que é um potente inibidor da síntese proteica, capaz de inibir a síntese de

globina em reticulócitos de coelhos (TERAO et al., 1994), provavelmente através do

bloqueio do processo de alongamento da cadeia polipeptídica (FROSCIO et al.,

2008). Terao et al. (1994) observaram que a CYN também causa a dissociação dos

ribossomos do retículo endoplasmático (RE) e proliferação acentuada das

membranas de hepatócitos de camundongos. Segundo Runnegar et al. (2002), a

retirada do anel tricíclico da toxina, diminui a inibição da síntese proteica em mais de

cem vezes e o grupamento uracil da molécula tem um papel importante em sua

atividade biológica, sugerindo que poderia causar a inibição através da interação

com o RNA ribossômico. Possivelmente também através da ligação do seu

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grupamento uracil, cause danos na estrutura do DNA, possuindo grande potencial

genotóxico (SHEN et al., 2002) e possível efeito carcinogênico (FALCONER &

HUMPAGE, 2001). Adicionalmente, foi detectado significativo dano no cólon de

camundongos, com quebra simples do DNA, depois da injeção i.p. das doses de 100

e 200 µg de CYN/kg de peso corpóreo (BAZIN et al., 2010). ŽEGURA et al. (2011)

verificaram que 0,5 µg de CYN/ml foi capaz de causar aumento na expressão do

RNAm de genes envolvidos na resposta ao dano celular responsivos ao P53, genes

apoptóticos e associados a resposta ao estresse oxidativo em linfócitos de sangue

periférico humano.

Efeitos a longo prazo da exposição à CYN foram melhores estudados em

peixes. Sabe-se que em tilápias a toxina é capaz de causar estresse oxidativo e

mudanças histopatológicas com exposições a doses de 10 e 100 μg de CYN/ litro

(GUZMÁN-GUILLÉN et al., 2013, 2013A; RÍOS et al., 2014). No entanto, pouco se

sabe sobre efeitos crônicos em mamíferos. E em relação aos efeitos crônicos no

sistema reprodutor, não se tem conhecimento de nenhum estudo até o presente

momento. Embora seja um efeito comumente observado com a exposição a

diversos contaminantes ambientais e, inclusive, na exposição às cianotoxinas MCs,

com diminuição dos níveis do hormônio progesterona, distúrbios no ciclo estral de

fêmeas, decréscimo no peso dos testículos e níveis de testosterona em machos (WU

et al., 2014; LI et al., 2008).

1.6 CYN e a Possível Disfunção Endócrina

Atualmente, existe uma grande preocupação em relação aos efeitos da

exposição a compostos (sintéticos ou naturais) no sistema reprodutor, visto que

muitos vêm sendo reportados como potenciais disruptores endócrinos

(KORTENKAMP, 2007). Alguns contaminantes ambientais, tais como dibenzo-p-

dioxina, dibenzofuranos, e bisfenilas policloradas) possuem a capacidade de alterar

os ciclos estrais (ciclos reprodutivos), tanto em ratos quanto humanos (CHAO et al.,

2007), gerando uma preocupação quanto às consequências de alterações no

sistema reprodutor. Particularmente, há uma importante atuação dos contaminantes

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na produção hormonal e na qualidade e quantidade do sêmen humano, com

consequências sobre o sucesso reprodutivo das espécies (COLBORN et al., 1993).

A CYN é um composto biologicamente ativo por ser capaz de interferir em

diversas vias metabólicas. Gácsi et al. (2009), observaram a indução de apoptose

em linhagens celulares de ovários de hamster (CHO-K1) causada pela exposição

por um curto período de tempo e a baixas concentrações da toxina (1-2 μM por 12

horas). Nesse mesmo estudo, a CYN causou necrose celular quando as células

foram expostas a concentrações mais altas e por períodos mais longos. Reisner et

al. (2004) sugeriram que a ingestão de água contaminada com a CYN por

camundongos machos poderia causar efeitos diretos ou indiretos no metabolismo do

colesterol, já que a toxina causou a diminuição nos níveis de colesterol hepático. A

injeção diária intraperitoneal de CYN em camundongos fêmeas gestantes causou

uma grande mortalidade materna, diminuição no tamanho dos filhotes e antecipação

do nascimento (ROGERS et al., 2007). Chernoff et al. (2011) expuseram

camundongos em diferentes períodos gestacionais a doses i.p. diárias (50 μg de

CYN/kg) durante 4 dias seguidos. Os autores encontraram como resposta à

exposição à toxina uma redução de peso dos filhotes no dia do nascimento,

letalidade fetal, sangramento vaginal nas mães e diminuição na sobrevivência dos

recém nascidos na primeira semana pós-parto.

Em ensaios in vitro Young et al. (2008) constataram que a CYN inibe a

produção de progesterona, mesmo com uma pequena concentração (0,0625 µg/ml),

em cultura de células da granulosa humana retiradas de mulheres realizando

tratamentos de fertilização. Porém, a toxina não se mostrou capaz de alterar os

níveis de produção de estrogênio. A exposição à toxina teve um papel citotóxico

nessas células após 24h. Esse trabalho evidenciou o papel de interferente endócrino

dessa cianotoxina, tendo em vista seu potencial para alterar a relação entre os

níveis séricos de progesterona: estrogênio. Por outro lado, o mesmo grupo

encontrou que mulheres com a fisiologia reprodutiva normal se mostram mais

resistentes aos efeitos citotóxicos e de desregulador endócrina da CYN (YOUNG et

al., 2012).

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Em estudo anterior (CAIRES, 2013) realizado no Laboratório de Ecofisiologia

e Toxicologia de Cianobactérias (LETC_UFRJ) e no Laboratório de Endocrinologia

Molecular (LEM-UFRJ), a exposição i.p. aguda à dose de 64 µg de CYN

purificada/Kg de peso corpóreo fez com que as fêmeas experimentais parassem de

ciclar. Os animais expostos deixaram de apresentar as quatro fases fisiológicas do

ciclo estral ou, quando voltaram a ciclar, tiveram um prolongamento intenso da

duração no tempo total, isto é, o ciclo que durava em média seis dias antes da

injeção, passou a durar nove ou treze dias nas duas fêmeas que recuperaram a

ciclagem.

1.7 Eixo Hipotálamo - Hipófise - Gônadas

O sistema reprodutor masculino é composto por testículos, epidídimos, ductos

deferentes, glândulas sexuais acessórias e pênis, sendo semelhante na maioria dos

mamíferos (SOKOL, 1997), como camundongos e humanos. Da mesma forma, a

esteroidogênese, isto é, a síntese de hormônios esteroides, é um processo similar

entre mamíferos, sendo fundamental para funções fisiológicas essenciais, tais como

adaptação ao estresse, balanço eletrolítico, metabolismo de carboidratos e

reprodução.

O sistema reprodutor é regulado, de maneira geral, pelo eixo hipotálamo –

hipófise – gônadas (Figura 2) (SOKOL, 1997). Células neurais peptidérgicas

hipotalâmicas sintetizam e secretam o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH)

que estimula síntese e a liberação dos hormônios gonadotróficos (hormônio

luteinizante – LH e hormônio folículo estimulante – FSH). LH e FSH apresentam uma

estrutura única de cada hormônio, a cadeia beta, que lhes dá especificidade à

ligação aos seus receptores e uma estrutura heterodimérica comum (cadeia alfa). A

regulação desse eixo depende dos níveis séricos dos próprios hormônios que o

compõem. Os esteróides sexuais atuam sobre o hipotálamo e a hipófise,

promovendo a redução da síntese e secreção de GnRH e LH/FSH. Em adição, a

inibina, glicoproteína secretada pelas células de Sertoli, também inibe a síntese de

FSH e sensibilidade hipofisária à GnRH (SPRITZER & REIS, 2012).

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LH e FSH estimulam a produção dos hormônios esteróides e a maturação das

células germinativas em indivíduos principalmente nas gônadas de ambos os sexos.

O LH estimula a síntese e secreção de testosterona pelas células de Leydig,

componente celular mais abundante do compartimento intersticial do parênquima

testicular, com retículo endoplasmático liso bem desenvolvido, numerosas gotículas

lipídicas e mitocôndrias com cristas tubulares (COUTO, 2011). O FSH estimula a

espermatogênese, agindo nas células de Sertoli, que ficam no compartimento dos

túbulos seminíferos (SPRITZER & REIS, 2012).

Figura 2: Esquema do eixo hipotálamo-hipófise-testículo. T: Testosterona; GnRH: hormônio liberador de gonadotrofinas; LH: hormônio luteinizante; FSH: hormônio folículo-estimulante (SPRITZER & REIS, 2012).

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A regulação hormonal se dá por feedback negativo, uma grande concentração

de testosterona inibe, principalmente, a produção de GnRH no hipotálamo e, direta

ou indiretamente, a síntese e secreção de LH e FSH na hipófise (SWERDLOFF &

WANG, 1998). Da mesma forma, quando há diminuição da testosterona, a

retroalimentação negativa diminui, levando a maiores níveis de LH e FSH e os níveis

testosterona são novamente restabelecidos. Além disso, existe ainda a ação da

inibina, produzida pelas células de Sertoli, que promove uma maior ou menor

síntese e liberação de FSH e altera a sensibilidade hipofisária à GnRH (LUISI et al.,

2005). Segundo Peter & Dubuis, (2000), a produção dos hormônios esteróides

possui ainda um controle agudo (no qual a StAR, proteína reguladora aguda

esteroidogênica, possui papel central) e uma regulação a longo prazo, da transcrição

de genes associados a síntese de outras enzimas esteroidogênicas.

1.8 Via de Transdução do Sinal na Esteroidogênese

Segundo Papadopoulos, (2010), a síntese dos hormônios esteróides tem

início quando o LH se liga ao seu receptor LHcgr, acoplado a proteína G na

membrana das células de Leydig e induz a ativação da adenilato ciclase (AC),

responsável pela formação de AMPc a partir de ATP, como mostra a Figura 3A. O

AMPc ativa a proteína cinase A (PKA), que, por sua vez, induz a fosforilação de

fatores de transcrição que regulam a transcrição do gene da proteína StAR e uma

série de eventos que incluem a de-esterificação do colesterol de gotículas de

gordura.

Existe ainda outras duas vias que regulam a expressão da StAR. A primeira

(representada na Figura 3A) é mediada pelo ácido aracdônico (AA), que é liberado a

partir de fosfolipídeos e ativada pelo AMPc. O AA metaboliza duas famílias de

enzimas lipoxigenases, que aumentam a expressão da StAR e uma família de ciclo-

oxigenases que inibe a expressão. A segunda, consiste em uma via de sinalização

via proteína cinase ativada por mitógeno (MAPK), que tem sido associada a uma

cascata de ativação de sinalizadores transmembranares e proteínas cinases

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citoplasmáticas que culminam na regulação de diversos processos, entre eles, a

expressão da proteína StAR (MANNA & STOCCO, 2011).

Além das vias relacionadas, também é descrita a via da proteína cinase C

(PKC) como participante da regulação da biossíntese de esteróides (DEVLIN, 2007).

A fosfolipase C é ativada pela proteína G e hidrolisa o fosfatidil inositol bifosfato,

gerando Inositol trifosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG). O DAG ativa a PKC, enquanto

o IP3 ativa o canal de cálcio, o que, em conjunto com a StAR, levam a elevação da

clivagem das cadeias laterais do colesterol (ação das enzimas esteroidogênicas) e,

com isso, a síntese dos hormônios.

1.9 Esteroidogênese

A StAR se localiza na membrana externa das mitocôndrias e interage com os

lipídios da membrana mitocondrial externa para promover a passagem do colesterol

para a membrana interna onde o complexo enzimático do citocromo P450

(CYP11A1 - clivagem da cadeia lateral do colesterol) está localizado. CYP11A1, nas

células de Leydig de adultos, tem a expressão regulada por AMPc e LH (LAVOIE &

KING, 2009). Sua regulação é importante visto que é responsável pelo primeiro

passo de conversão enzimática, isto é, converte o colesterol internalizado em

pregnonolona (PARKER & SCHIMMER, 1995).

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Figura 3: Transdução de sinal induzida por LH na biossíntese de testosterona nos testículos. A Esquema das etapas envolvidas na síntese de testosterona nas células de Leydig. Transporte de colesterol para o interior da mitocôndria: StAR, proteína reguladora aguda esteroidogênica). AC: Adenilato ciclase; AA: Ácido Aracdônico; REL: Retículo Endoplasmático Liso. B Via esteroidogênica

simplificada (DHEA, deidroepiandrosterona; 3βHSD, 3β -Hidroesteróide desidrogenase; 17βHSD, 17 β-Hidroesteróide desidrogenase (COUTO, 2011; FROMENT et al., 2006 – modificados).

Em seguida, uma série de enzimas de três classes principais de proteínas:

enzimas do complexo citocromo P450 específicas, hidroxiesteróides desidrogenases

(HSDs) e esteroides redutases (MILLER, 1998), são responsáveis pelas etapas da

esteroidogênese. Já no retículo endoplasmático liso, a pregnonolona é convertida a

progesterona pela 3 β-Hidroesteróide desidrogenase (3βHSD) ou em 17- OH-

pregnenolona, que pode ser convertida através de diversos passos em testosterona

(ação da 17 β-Hidroesteróide desidrogenase - 17βHSD) e estradiol (Figura 3B).

1.10 Metabolismo da Testosterona e Espermatogênese

Após sua síntese, a testosterona é liberada e cai na corrente sanguínea ou é

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lançada no espaço intersticial entre os túbulos seminíferos, onde vai difundir-se para

realizar sua ação parácrina. Nos vasos sanguíneos, é transportada por carreadores

proteicos até atingir os órgãos periféricos (Figura 4). Segundo Kapoor et al. (2008), a

testosterona circulante está presente em três frações: livre (2-3%), ligada à

Globulina Ligadora de Hormônios Sexuais – SHBG (50-80%) e ligada a albumina

(20-50%). Nos testículos, a proteína de ligação dos androgênios (ABP), secretada

por influência do FSH, liga-se com grande afinidade à testosterona e 5α-

dihidrotestosterona (DHT) para diminuir sua solubilidade (DADOUNE & DEMOULIN,

1993). Já nas células alvo, segundo Spritzer & Reis, (2012), os efeitos poderão ser

diretamente pela testosterona ou poderá ser metabolizada em DHT pela ação da 5

α-redutase ou em estradiol (E2) pela ação da enzima aromatase, como mostra a

Figura 4.

A ação de andrógenos (hormônios sexuais masculinos) promove o

desenvolvimento sexual, incluindo formação dos órgãos sexuais, descida dos

testículos e aumento de tamanho após o início da puberdade (quando a secreção de

GnRH aumenta e induz sua síntese). Esse andrógeno promove o desenvolvimento

das características secundárias masculinas, como a distribuição de pelos, hipertrofia

da mucosa laríngea juntamente com um alargamento da laringe, aumento do

desenvolvimento muscular, entre outros.

Os andrógenos ligam-se a proteínas específicas no núcleo e induzem as

alterações no metabolismo e na expressão gênica (NELSON & COX, 2011).

Segundo Walker, (2010), em um processo conhecido como a via clássica de ação, a

testosterona, após se difundir pela membrana plasmática das células de Sertoli, se

liga ao receptor de andrógeno (AR), que, no núcleo, se liga ao elemento responsivo

de andrógenos, permitindo o recrutamento de fatores de transcrição que alteram a

função de genes e, consequentemente, a função celular (Figura 4).

Porém, a necessidade fisiológica de níveis de testosterona mais altos do que

os necessários para via clássica levaram à descoberta de uma via alternativa de

ação da testosterona, que não fosse através do AR. Foi descrita, então, que esse

hormônio interage com um receptor na membrana plasmática e assim ativa a

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fosfolipase C (PLC). A PLC, por sua vez, cliva PIP2, que em baixas concentrações

inibe canais de K+, culminando na despolarização da membrana e influxo de Ca2+

(WALKER, 2010).

Figura 4: Representação da circulação acoplada a proteínas, conversão em DHT (ação da 5

α-redutase) ou em estradiol (E2) (pela ação da aromatase) e via clássica de ação da testosterona (T)

(WALKER, 2010; WEINBAUER et al., 2010- modificados).

A testosterona, nas células de Sertoli (que envolvem e nutrem as células

germinativas), estimula a produção de numerosos fatores importantes para as

células espermatogênicas, a maturação dos espermatozoides no epidídimo, além da

manutenção quantitativa da espermatogênese (DE GENDT et al., 2004). Altos níveis

de testosterona intratesticulares são necessários para que a espermatogênese

ocorra via regulação da expressão gênica pelo receptor intracelular de andrógeno

(JAROW et al., 2005). Diversos estudos demonstraram que esse hormônio é

importante na formação e manutenção de conexões entre as células de Sertoli e

germinativas e liberação dos espermatozoides (LUI et al., 2003; WONG & CHENG,

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31

2005).

Do ponto de vista toxicológico, xenobióticos afetam também a

espermatogênese, um processo contínuo de divisão celular, diferenciação e

maturação. Na espermatogênese, um processo cíclico ocorre nos túbulos

seminíferos, no qual espermatogônias diplóides se dividem e se diferenciam para

dar origem a espermatozoides (sptzs), como mostra a Figura 5.

Figura 5: Representação esquemática da espermatogênese (SALADIN, 2003. – modificado).

Ao ligar-se aos seus receptores nas células de Sertoli, o FSH estimula a via

do segundo mensageiro AMPc, ativando, assim, vários fatores necessários para a

produção de sptzs especializados. Essa produção ocorre a partir das células tronco

indiferenciadas, também chamadas de espermatogônias. A espermatogônia divide-

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se por mitose dando origem a dois tipos de células: espermatogônia do tipo A (que

permanece em estado inicial de diferenciação e serve como substituta para a célula

parental) e do tipo B (STANBENFELDT & EDQVIST, 1996). Na segunda fase da

espermatogênese, a fase meiótica, os espermatócitos primários (diplóides) dão

origem a espermatócitos secundários (haploides) e, posteriormente, espermátides. A

fase pós-meiótica é a fase conhecida como espermiogênese, quando ocorre a

diferenciação das espermátides arredondadas em espermatozoides, com

condensação nuclear, redução do citoplasma, desenvolvimento da cauda e

formação do acrossoma. Segundo Stanbenfeldt & Edqvist, (1996), essa fase se

inicia nos túbulos seminíferos e termina na cabeça dos epidídimos. Espermiação, a

quarta fase, é o nome dado ao processo de liberação dos sptzs para o lúmen tubular

seminífero (WALKER, 2010). Os sptzs (ainda sem movimento), posteriormente,

seguem para a cabeça do epidídimo, onde, durante a passagem, sofrem o processo

de maturação, que confere motilidade progressiva e a habilidade necessária para

sofrer a reação acrossômica, interagir com a zona pelúcida, reconhecer e fundir-se

com a membrana plasmática do ovócito II (SULLIVAN et al., 2005). O transporte dos

espermatozoides pelo epidídimo é mediado pela contração de músculos lisos que

contornam o ducto. O epidídimo, de camundongos e humanos, é dividido em

cabeça, corpo e cauda, e também é responsável pela estocagem e proteção dos

gametas (SULLIVAN et al., 2005).

Sendo assim, compostos que interferiram morfológica e/ou fisiologicamente

nas células dos testículos ou no epidídimo muito possivelmente causarão alterações

na capacidade reprodutiva e produção hormonal, afetando, consequentemente, o

bom funcionamento do organismo como um todo.

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33

2 JUSTIFICATIVA

A grande demanda por água potável resulta na obtenção desta a partir de

corpos hídricos com florações de cianobactérias. Além disso, o aumento das

florações tóxicas que vem ocorrendo em reservatórios de todo mundo pode levar a

um aumento da exposição humana e animal às toxinas de cianobactérias.

Sabe-se sobre o efeito da CYN em exposição aguda, porém, poucos estudos

focaram nos efeitos de uma exposição contínua à toxina. Estudo subcrônico

realizado em camundongos machos mostrou que a ingestão de água contaminada

com CYN em três diferentes doses foi capaz de aumentar o peso dos testículos dos

animais (HUMPAGE & FALCONER, 2003), mas a diferença não se manteve após a

normalização com o peso dos animais. Da mesma forma, Sukenik et al. (2006)

também observaram um aumento no peso desses órgãos quando não normalizados,

e, em adição, corroboraram os resultados de Reisner et al. (2004) sobre as

alterações no metabolismo de colesterol (precursor hormonal) induzidas pela

exposição à CYN.

Por haver uma crescente ameaça à qualidade dos corpos d’água, a produção

de cianotoxinas favorecida tornam-se importantes fatores de ameaça a qualidade da

saúde pública. Porém, análises de efeitos a longo prazo da CYN são escassos ou

inexistentes para machos, até onde se tem conhecimento. Logo, os efeitos já

observados da CYN como potencial disruptor endócrino precisam ser melhor

investigados, já que podem gerar consequências para o crescimento evolutivo e

sucesso reprodutivo de todas espécies. Por isso, realizamos o presente estudo com

a finalidade de ampliar o conhecimento acerca dos efeitos tóxicos da CYN e melhor

entendê-los.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Avaliar o efeito da cilindrospermopsina com um número crescente de injeções

intraperitoneais semanais (de uma a quatro doses) em alguns parâmetros

fisiológicos e moleculares do sistema reprodutor de camundongos do sexo

masculino.

3.2 Objetivos Específicos

Verificar o efeito de CYN sobre:

O peso dos animais;

O peso do fígado (alvo primário da toxina) dos animais;

O peso dos testículos e epidídimos;

Os níveis séricos de testosterona;

A quantidade de espermatozoides na cabeça do epidídimo;

A expressão gênica de genes hipofisários: LHb e FSHb;

A expressão gênica de genes testiculares: StAR, CYP11A1 e LHcgr.

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35

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Cilindrospermopsina

A toxina utilizada no experimento deste estudo foi obtida de uma solução

padrão (10 µg/ml) fornecida pela Abraxis (Warminster, USA).

4.2 Animais

Todos os camundongos utilizados eram do sexo masculino e apresentavam

um background genético híbrido de duas linhagens distintas (129sv/C57BL6), peso

aproximado de 20 a 30 g e idades de 12 a 18 semanas. Os animais foram mantidos

em biotério em fotoperíodo de 12 h (ciclos controlados de claro/escuro, com início do

ciclo claro às sete horas da manhã), à temperatura de 23 ± 2°C, com dieta alimentar

padrão (ração comercial) e água ad libitum.

O experimento, aprovado pela Comissão de Ética com Uso de Animais em

Experimentação Científica do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ (referência:

122/14), foi realizado de acordo com o Guide for the Care and Use of Laboratory

Animals (BAYNE, 1996).

4.3 Desenho Experimental

Foi realizado um ensaio subcrônico com 20 animais durante um período total

de 28 dias. Os animais foram divididos em 4 grupos: controle, grupo 1, 2 e 3 (5

machos/grupo). A divisão em grupos baseou-se no tempo entre a primeira exposição

à toxina e o dia do sacrifício (7, 14 e 28 dias). As injeções intraperitoneais da dose

de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo ocorreram a cada sete dias, isto é, o grupo 1

recebeu apenas uma dose, o 2 recebeu duas e o 3 um total de quatro doses (Figura

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6). Da mesma forma, o grupo controle recebeu até o 28º dia injeções semanais

contendo apenas 200 µl da solução veículo: água ultra pura (miliQ).

Figura 6: Representação esquemática do desenho experimental. Os animais foram pesados e expostos semanalmente a dose i.p. de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo exposto a apenas uma dose (no 1º dia), o grupo 2 a duas (no 1º e 7º dia) e o grupo 3 a quatro doses da toxina (1º, 7º, 14º e 21º dia). O grupo controle foi exposto apenas à solução veículo em injeções nos mesmos dias do grupo 3. A eutanásia ocorreu em atmosfera de CO2 uma semana após a última injeção de CYN de cada grupo; o sangue foi coletado e os tecidos excisados.

Os animais foram submetidos à eutanásia em atmosfera de CO2 e tiveram os

tecidos excisados e sangue coletados para posteriores análises, conforme

esquematizado na Figura 7. O sangue obtido foi centrifugado a 600 x g a 4°C por 15

minutos e o soro armazenado em freezer -20°C. Os tecidos (fígado, testículos e

hipófise) foram pesados e congelados em nitrogênio líquido e armazenados em

seguida em freezer – 70°C, enquanto que a cabeça de cada epidídimo foi separada,

teve o peso aferido e imediatamente foi colocada em solução para a contagem dos

espermatozoides.

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37

Figura 7: Esquema das análises realizadas com os tecidos após excisão e com o sangue dos

animais.

4.4 Contagem de Espermatozoides

A contagem foi realizada segundo método adaptado de Wang, (2003). As

cabeças dos epidídimos excisados foram colocadas individualmente em 1 ml de

solução tampão fosfato-salino (PBS, do inglês phosphate buffered saline) de pH 7,4

pré-aquecida à 35°C – 37°C, picotadas com tesoura cirúrgica (para permitir a

liberação dos espermatozoides) e, então, incubadas por 15 minutos. Após o período

de incubação, a contagem dos espermatozoides íntegros se deu em câmara de

Fuchs-Rosenthal em microscópio binocular Olympus BX-51.

4.5 Avaliação da Expressão Gênica

A expressão dos genes LHb e FSHb (hipófise), StAR, CYP11A1 e LHcgr

(testículos) foi quantificada por RT-PCR (do inglês Reverse transcription Polymerase

Chain Reaction) em tempo real. Para isso, primeiramente, a extração do RNA total

de uma porção do testículo esquerdo foi executada através do método do TRIzol

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(TRIzol Reagent, Invitrogen, USA) de acordo com as informações do fabricante,

utilizando-se o Tissue Lyser LT (Qiagen) com 40 oscilações por 2 minutos para o

rompimento do tecido. A verificação da integridade do RNA obtido foi realizada por

eletroforese em gel de agarose 2% em TAE 1X (0,04 M Trisacetato + 1 mM EDTA).

A avaliação da pureza e a quantificação foram realizadas em nanofotômetro

(NanophotometerTM Pearl Implen). A partir do RNA isolado, para obtenção do cDNA

(DNA complementar), realizou-se a transcrição reversa com kit fornecido pela

Applied Biosystems (High Capacity cDNA Reverser Transcription Kit, Applied

BiosystemsTM, USA). Com base na quantificação realizada, 1 μg do RNA avolumado

para um volume de 10 μl com água ultra pura tratada com pirocarbonato de dietila

(água DEPC, livre de DNase e RNase) foi incubado a 70 °C por 10 minutos e

resfriado durante 1 minuto em gelo. Posteriormente, 0,8 μL dNTP 25X

(deoxinucleotídeos trifosfato, 10 mM), 2 μL Tampão 10X, 2 μL de Random Primers

10X, 1,0 μL de enzima (Transcriptase Reversa, 15 u) e 4,2 μL de água DEPC foram

adicionados. Após um spin (Interprise Minispin Centrifuge), a reação foi colocada no

termocilador (Applied Biosystems Veriti 96 Well Thermal Cycler) com as seguintes

condições de ciclagem: 1 ciclo de 25°C por 10 minutos, seguido de 1 ciclo de 37ºC

por 120 minutos, 1 ciclo de 85°C por 5 minutos e hold final a 4°C. Controles

negativos de reagentes (Ctrl-, sem a presença de amostra do tecido) e da enzima

(RT-, sem a presença da enzima transcriptase reversa) foram preparados nas

mesmas condições. O cDNA resultante permaneceu armazenado a 4°C.

Foi realizada a padronização do ensaio com diluições em série de cDNA para

calcular a eficiência do ensaio. A amplificação no PCR das amostras de cDNA na

diluição de 1:160 (testículo) ou 1:640 (hipófise) e dos controles foi realizada em

duplicata na máquina Mastercycler Ep 5 Realplex (Eppendorf, Hamburg, Germany).

As amostras foram adicionadas (5 μL) com 7,5 μL do mix com água DEPC, Maxima

SYBR Green/ROX qPCR Master Mix 2X (Thermo Scientific, Waltham, USA) e

primers específicos IDT (Integrated DNA Technologies, Coralville, USA),

identificados na Tabela 2. O protocolo utilizado consiste em uma incubação inicial a

50°C por 2 minutos, seguida de 10 minutos a 95°C, 40 ciclos (95°C por 15

segundos, 60°C por 30 segundos e 72°C por 45 segundos). No fim de cada ciclo

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foram adquiridos os dados de fluorescência. A curva de dissociação (melting curve)

seguiu os ciclos sob as condições: 95ºC por 15 segundos, seguida de 60°C por 15

segundos, aquisição por 20 minutos e 95°C por 15 segundos.

Tabela 2: Informações dos primers utilizados no PCR em tempo real para amplificação dos

genes alvo.

Primer Código de Identificação Tecido

LHb Mm.PT.58.42092877 Hipófise

FSHb Mm.PT.58.32556598 Hipófise

StAR Mm.PT. 58.23462722 Testículo

CYP11A1 Mm.PT.58.16276181 Testículo

LHCGR Mm.PT.58.16745023 Testículo

A amplificação do gene GAPDH (gene de expressão constitutiva que codifica

um membro da família da proteína gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase) foi

utilizada como o controle interno. A expressão gênica de cada gene alvo foi

normalizada com a expressão do GAPDH, fornecido pela IDT ( Integrated DNA

Technologies, Coralville, USA), cuja sequência encontra-se na Tabela 3. Após a

normalização, a quantificação foi realizada pelo método da curva padrão, que produz

uma relação linear entre os valores de CT (do inglês cycle threshold) e a quantidade

inicial da amostra e, assim, permite determinar a concentração com base nos

valores de CT (WONG & MEDRANO, 2005).

Tabela 3: Sequência do primer para amplificação do gene GAPDH, utilizado como controle

interno.

Primer Sequência

GAPDH forward

GAPDH reverse

GTGACCAGGCGCCCAATAC

TCTCTGCTCCTCCCTGTTC

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40

4.6 Dosagem Hormonal

A dosagem sérica de testosterona foi realizada por kits de ELISA (do inglês,

enzyme-linked immunosorbent assay), seguindo o protocolo do fabricante (USCN

Life Science, Houston, USA).

4.7 Análises Estatísticas

As análises foram realizadas com o uso do programa GraphPad Prism 5.0

(GraphPad Software Inc, USA). A normalidade das variáveis foi verificada pelo teste

Kolmogorov-Smirnov. Em casos de distribuição normal, foi escolhida a análise de

variância simples (One way ANOVA) seguida do teste de comparação múltipla de

Tukey para identificar possíveis diferenças. Foi utilizado o teste de Mann Whitney

para variáveis não pareadas. Os pesos dos animais foram expressos em média ±

desvio padrão e os demais resultados em box plot. Foi considerado significativo o

grau mínimo de significância de 95% (p inferior a 0,05).

5 RESULTADOS

5.1 Peso dos Animais

Todos os animais foram pesados em balança semi-analítica antes do início do

experimento e antes de cada injeção ou do sacrifício. A Figura 8 representa os

pesos de cada animal em todos os dias experimentais: antes do início do

experimento (dia 0); no sétimo dia após a primeira injeção (Dia 7); no décimo quarto

dia, após duas injeções (Dia 14); no vigésimo primeiro (Dia 21) e após três injeções,

no vigésimo oitavo dia (dia 28). Os resultados indicam que a maioria dos animais

tende a uma pequena variação positiva de peso. Porém, sem nenhuma diferença

significativa entre o peso de cada animal nos diferentes dias e sem relação com as

injeções da toxina.

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Figura 8: Peso por grupo, em gramas, de cada animal (1, 2, 3, 4 e 5) nos diferentes dias

experimentais. A Peso dos animais do Grupo 1 (expostos a apenas uma dose de CYN) antes do

início do experimento (dia 0) e antes da eutanásia (dia 7). B Peso dos animais expostos a duas doses

da toxina (Grupo 2) no dia 0, antes da segunda injeção (7 dias) e antes da eutanásia (14 dias). C

Peso semanal (obtido antes das injeções e da eutanásia) dos animais do Grupo 3, que foram

expostos a três doses de CYN. D Peso dos animais do grupo controle nos diferentes dias

experimentais, sempre antes das injeções apenas da solução veículo (água ultra pura). *Dose da

toxina = injeção i.p. de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo.

Tabela 4: Peso dos animais em cada dia experimental.

Grupo 0 7 dias 14 dias 21 dias 28 dias

1 26,78 ± 0,8

27,46 ± 0,9

- - -

2 27,22 ± 1,3

27,28 ± 1,4

27,94 ± 1,5

- -

3

26,3 ± 1,6

25,9 ± 1,8

26,76 ± 1,9

27,66 ± 2,2

27,38 ±2,1

Controle

26,1 ± 0,8

26,1 ± 1,1

25,7 ± 1,4

26,1 ± 1,3

27,1 ± 1,5

* Valores em média ± desvio padrão.

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42

Em resumo, a Tabela 4 mostra a média dos pesos dos animais de cada grupo

e o desvio padrão, explicitando que a CYN, neste experimento, não interferiu no

peso corpóreo, visto que foi observada uma baixa oscilação entre todos os animais e

entre os grupos experimentais.

5.2 Peso dos Tecidos

A massa de todos os tecidos excisados foi determinada no dia do sacrifício

em balança semi-analítica e normalizado em relação ao peso de cada animal. O

fígado não apresentou diferença significativa de peso entre os diferentes grupos

experimentais em relação ao grupo controle (Figura 9).

Figura 9: Box plot do peso do fígado de animais expostos semanalmente (i.p.) a dose de 20 µg de

CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo exposto a apenas uma dose, o grupo 2 a duas e o

grupo 3 a quatro doses da toxina. O sacrifício dos animais ocorreu uma semana após a única ou

última injeção de CYN. Nenhuma diferença significativa observada entre os grupos.

O peso de cada testículo do animal foi obtido individualmente e somado,

como mostrado na Figura 10. Não houve nenhuma diferença significativa, embora

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haja uma tendência a diminuição dos pesos no grupo 1 (expostos a apenas uma

dose de CYN).

Figura 10: Box plot do peso dos testículos somados de animais expostos semanalmente (i.p.) a dose

de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo exposto a apenas uma dose, o grupo 2

a duas e o grupo 3 a quatro doses da toxina. O sacrifício dos animais ocorreu uma semana após a

única ou última injeção de CYN. Nenhuma diferença significativa observada entre os grupos.

Da mesma forma, os pesos dos epidídimos esquerdo e direito, obtidos

separadamente, foram somados e analisados estatisticamente em relação aos

outros grupos. Nenhuma diferença significativa foi observada em relação ao peso

desse tecido (Figura 11). Porém, há uma clara tendência de diminuição no peso dos

epidídimos dos animais do grupo 1.

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Figura 11: Box plot do peso dos Epidídimos (direito e esquerdo) de animais expostos semanalmente

(i.p.) a dose de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo exposto a apenas uma

dose, o grupo 2 a duas e o grupo 3 a quatro doses da toxina. O sacrifício dos animais ocorreu uma

semana após a única ou última injeção de CYN.

5.3 Dosagem Hormonal

A dosagem sérica de testosterona reforçou o papel de disruptor endócrino da

CYN, pois a toxina aumentou a concentração de testosterona sérica em relação ao

grupo controle tanto no grupo 1, quanto no grupo 2, indicando um efeito rápido no

sistema reprodutor (Figura 12). Embora não se observe diferença significativa no

grupo 3, quando observada a média, pode-se sugerir que parece ter havido uma

recuperação nos níveis com o tempo, com os valores se mantendo ainda maiores

que os dos animais do grupo controle. O aumento dos níveis hormonais podem

corroborar os dados encontrados para a quantidade de espermatozoides encontrada

no presente estudo (mostrado a seguir).

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Contr

ole

Gru

po 1

Gru

po 2

Gru

po 3

0

100

200

300

Dosagem Sérica

** **

Grupos experimentais

Testo

ste

ron

a (

ng

/dl)

Figura 12: Box plot da dosagem sérica de testosterona de animais expostos semanalmente (i.p.) a

dose de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo exposto a apenas uma dose, o

grupo 2 a duas e o grupo 3 a quatro doses da toxina. O sacrifício dos animais ocorreu uma semana

após a única ou última injeção de CYN. Foi observado aumento significativo (p < 0,01) nos níveis

hormonais dos animais do grupo 1 e 2 em relação ao grupo controle.

5.4 Contagem de Espermatozoides

O número total de espermatozoides por animal foi obtido através da soma da

contagem em cada epidídimo individualmente. A Figura 13 mostra uma importante

diferença entre os grupos, com um aumento aparentemente progressivo à medida

que os animais foram expostos a mais injeções da toxina. A análise estatística

mostrou um aumento significativo na quantidade de espermatozoides da cabeça do

epidídimo no grupo de 28 dias em relação aos animais do grupo controle e aos

animais do grupo de 7 dias.

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46

Contr

ole

Gru

po 1

Gru

po 2

Gru

po 3

0

10

20

30 **

Espermatozoides

Grupos experimentais

mero

de E

sp

erm

ato

ides (

x 1

06 /

ml)

Figura 13: Box plot da quantidade de espermatozoides na cabeça dos epidídimos dos animais do

grupo controle e dos grupo 1 (expostos a uma dose), grupo 2 (expostos a duas doses) e grupo 3

(expostos a quatro doses). A injeção i.p. semanal da dose de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo

levou a um aumento significativo na quantidade de espermatozoides dos animais do grupo de 28 dias

em relação ao grupo controle e grupo de 7 dias (p < 0,01).

5.5 Expressão Gênica

5.5.1 Testículo

A toxina não causou alterações significativas na expressão de nenhum dos

genes avaliados no testículo, visto que a análise estatística não resultou em

nenhuma diferença significativa da expressão em relação ao controle e entre os

grupos experimentais. A expressão da StAR, essencial para o transporte de

colesterol para a membrana mitocondrial interna, parece ter uma tendência de

diminuição da expressão nos animais expostos a duas doses (Grupo 2, Figura 14).

Enquanto que os resultados em relação à expressão do receptor de LH (Figura 15) e

do gene da proteína CYP11A1 responsável pela conversão de colesterol em

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pregnenolona (Figura 16) aparentam se manter semelhantes a expressão nos

animais do grupo controle. No entanto, em todos os ensaios, houve uma importante

variação da expressão desses genes entre os animais, com grande variação,

principalmente nos resultados do grupo 1, expostos a apenas uma dose de CYN.

StAR Testículo

Contr

ole

Gru

po 1

Gru

po 2

Gru

po 3

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0Exp

ressão

deS

tAR

testi

cu

lar

(rela

tiva a

o G

AP

DH

)

Figura 14: Box plot da expressão gênica da StAR no testículo de animais expostos semanalmente

(i.p.) a dose de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo exposto a apenas uma

dose, o grupo 2 a duas e o grupo 3 a quatro doses da toxina. O sacrifício dos animais ocorreu uma

semana após a única ou última injeção de CYN. Não foi encontrada nenhuma diferença significativa

entre os grupos.

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48

LHcgr Testículo

Contr

ole

Gru

po 1

Gru

po 2

Gru

po 3

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0Exp

ressão

LH

cg

r te

sti

cu

lar

(rela

tiva a

o G

AP

DH

)

Figura 15: Box plot da expressão gênica do receptor do hormônio LH (LHcgr) no testículo de animais

expostos semanalmente (i.p.) a dose de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo

exposto a apenas uma dose, o grupo 2 a duas e o grupo 3 a quatro doses da toxina. O sacrifício dos

animais ocorreu uma semana após a única ou última injeção de CYN. Não foi encontrada nenhuma

diferença significativa entre os grupos.

CYP11A1 Testículo

Contr

ole

Gru

po 1

Gru

po 2

Gru

po 3

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0

Exp

essão

de C

YP

11A

1 t

esti

cu

lar

(rela

tiva a

o G

AP

DH

)

Figura 16: Box plot da expressão gênica de CYP11A1 de animais expostos semanalmente (i.p.) a

dose de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo exposto a apenas uma dose, o

grupo 2 a duas e o grupo 3 a quatro doses da toxina. O sacrifício dos animais ocorreu uma semana

após a única ou última injeção de CYN. Não foi encontrada nenhuma diferença significativa entre os

grupos.

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49

5.5.2 Hipófise

Assim como observado no testículo na expressão dos genes StAR, LHcgr e

CYP11A1, a expressão gênica dos hormônios hipofisários LH e FSH não diferiram

dos resultados encontrados no grupo controle (Figuras 17 e 18, respectivamente).

LHb Hipófise

Contr

ole

Gru

po 1

Gru

po 2

Gru

po 3

1,6

1,4

1,2

1,0

0,8

0,6

Exp

ressão

hip

ofisári

a d

e L

Hb

(rela

tiva a

o G

AP

DH

)

Figura 17: Box plot da expressão hipofisária do hormônio LH de animais expostos semanalmente

(i.p.) a dose de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo exposto a apenas uma

dose, o grupo 2 a duas e o grupo 3 a quatro doses da toxina. O sacrifício dos animais ocorreu uma

semana após a única ou última injeção de CYN. Não foi encontrada nenhuma diferença significativa

entre os grupos.

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50

FSHb Hipófise

Contr

ole

Gru

po 1

Gru

po 2

Gru

po 3

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0

Exp

ressão

hip

ofisári

a d

e F

SH

b

(rela

tiva a

o G

AP

DH

)

Figura 18: Box plot da expressão da gonadotrofina FSH na hipófise de animais expostos

semanalmente (i.p.) a dose de 20 µg de CYN/Kg de peso corpóreo, com o grupo 1 sendo exposto a

apenas uma dose, o grupo 2 a duas e o grupo 3 a quatro doses da toxina. O sacrifício dos animais

ocorreu uma semana após a única ou última injeção de CYN. Não foi encontrada nenhuma diferença

significativa entre os grupos.

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6 DISCUSSÃO

Embora a exposição humana se dê, em sua maioria, por via oral, comparando

as vias i.p. e oral, Falconer et al. (1999) e Seawright et al. (1999) verificaram que os

padrões de danos observados não são afetados pela via de administração. Os

efeitos encontrados se refletem em ambas, embora a exposição i.p. seja mais tóxica

que a via oral. Por isso, os autores sugerem que os estudos dos efeitos da injeção

i.p. possuem ligação direta com efeitos causados pela intoxicação oral na saúde

animal e humana.

A cilindrospermopsina não se mostrou capaz de interferir no peso dos animais

expostos a doses semanais baixas. Humpage & Falconer, (2003) mostraram que a

exposição a concentrações altas da toxina por via oral durante 10 semanas (432 e

657 µg/kg de peso corpóreo/dia) diminuiu significativamente o peso dos animais,

possivelmente devido a alteração do metabolismo dos mesmos, segundo os autores.

Enquanto Reisner et al. (2004), não encontraram efeito da toxina no peso dos

animais do sexo masculino expostos a 66 µg de CYN /Kg de peso corpóreo/dia

durante 3 semanas. Da mesma forma, em um estudo realizado com camundongos

machos e fêmeas com exposição a concentrações crescentes da toxina na água,

porém mais baixas do que as utilizadas no trabalho citado de Humpage & Falconer,

(2003) (variando de 10 a 55 µg/kg de peso corpóreo/dia), por 42 semanas, também

não foi verificada diferença significativa no peso corporal dos animais (SUKENIK et

al., 2006), corroborando com o presente estudo e indicando que doses baixas da

CYN, em exposição subcrônica, não possuem efeito direto no peso de

camundongos. Logo, a toxina não parece ter efeito direto no peso dos animais.

A exposição a CYN já foi amplamente associada a alterações patológicas no

fígado de mamíferos, inclusive, nos humanos que ingeriram água com floração de

Cylindrospermopsis raciborskii na Austrália (BYTH, 1980). Tais alterações envolvem,

comumente, hepatomegalia, cor amarelada e necrose (TERAO et al., 1994;

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HAWKINS et al., 1997; FALCONER et al., 1999). Porém, no presente estudo, não foi

observada nenhuma alteração significativa no peso ou houve mudança aparente na

coloração do fígado dos animais experimentais e controle. Apesar de Humpage &

Falconer, (2003) terem registrado o aumento do fígado de animais expostos pela via

oral por 10 semanas a doses altas de CYN (216, 432 e 657 µg/kg de peso

corpóreo/dia), quando foram utilizadas doses mais baixas da toxina, isto é, 30, 60 e

120 µg/kg de peso corpóreo/dia durante 11 semanas por gavagem, o peso do fígado

permaneceu inalterado nos animais expostos. Sukenik et al. (2006) mostraram que a

exposição crônica à toxina com concentrações crescentes na água, atingindo doses

de 10 a 30 µg/kg de peso corpóreo/dia o aumento do fígado dos camundongos

(machos e fêmeas) só ocorreu após 42 semanas de exposição. Enquanto que com

20 semanas, nenhuma diferença significativa foi encontrada. Os efeitos não

observados podem ser relacionados a baixas doses utilizadas.

No presente estudo, foi utilizada uma dose semanal baixa de 20 µg de

CYN/kg de peso corpóreo mesmo que não tenha sido administrada pela via oral (via

que não permite a absorção completa da dose da toxina pelo trato digestivo devido

ao efeito de primeira passagem) como nos trabalhos citados. Já os efeitos

associados no fígado, classicamente relatado como órgão-alvo da toxina, podem

não ter sido encontrados pela falta de análises histológicas ou de função hepática.

Embora a hipótese de que tais alterações seriam encontradas apenas com doses

maiores ou por períodos mais longos de exposição seja sustentada por DUY et al.

(2000), que relatam que a dose i.p. diária de 20 µg/kg de peso corpóreo/dia durante

12 dias seguidos não causou alterações patológicas em diversos órgãos de

camundongos, incluindo o fígado. Os autores também sugerem esta como a dose

sem nenhum efeito adverso observável (NOAEL) para essa via de exposição.

Porém, mesmo sem alterações visíveis importantes na aparência macroscópica do

fígado, foram vistos tais efeitos específicos no sistema reprodutor (aumento de

testosterona e do número de sptzs).

Também não houve nenhuma diferença significativa no peso dos testículos e

dos epidídimos dos animais experimentais em relação aos animais do grupo

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controle. Segundo Reisner et al. (2004), a ingestão diária de água com CYN por três

semanas causou um aumento no peso dos testículos dos camundongos. Por outro

lado, posteriormente, o mesmo grupo não encontrou alterações no peso dos

testículos relativos ao peso corporal de cada animal em camundongos expostos em

um ensaio crônico de um total de 42 semanas, com concentrações crescentes de

CYN na água consumida diariamente (SUKENIK et al., 2006). Humpage & Falconer,

(2003), não observaram diferença no peso dos epidídimos dos camundongos e

encontraram aumento significativo no peso dos testículos dos animais que, após os

órgãos serem normalizados com o peso corporal, não se manteve. Os autores

sugerem que seja uma consequência do baixo peso desse tecido e,

consequentemente, do maior erro associado a pesagem. Tal explicação também

pode ser inferida para os resultados do presente estudo, tanto para o peso dos

testículos, quanto para o peso dos epidídimos. Uma outra explicação pode ser a não

geração de efeitos visíveis nos tecidos devido à baixa dose utilizada, como já foi

ressaltado no parágrafo anterior. Maiores investigações em relação do efeito da

exposição à CYN, com análises histopatológicas nos testículos e epidídimos de

camundongos precisam ser realizadas, visto que pouco se sabe acerca da possível

ação da toxina nesses tecidos.

Disruptores endócrinos são substâncias que podem antagonizar os

hormônios, bloquear a sua ação natural ou, ainda, aumentar ou diminuir a

quantidade hormonal original (SANTAMARTA, 2001). Porém, devido ao sistema

endócrino envolver muitas etapas de regulação e ações enzimáticas no eixo

hipotálamo-hipófise-gônadas, os alvos de possíveis alterações são variados.

Anteriormente, a CYN já se mostrou como uma molécula disruptora em potencial,

visto que já foi capaz de causar a inibição da síntese de progesterona em células da

granulosa humana (YOUNG et al., 2008). Em adição, sua capacidade de interromper

ou prolongar o ciclo estral de fêmeas também foi relacionado à exposição aguda à

toxina em estudo realizado no LETC/LEM da UFRJ (CAIRES, 2013). Porém, não há

nenhuma informação detalhada em relação ao mecanismo de ação da toxina que

gere essas consequências.

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Neste estudo, a exposição à toxina causou o aumento significativo dos níveis

de testosterona de animais expostos a uma ou duas doses (grupos 1 e 2,

respectivamente). A causa desse aumento é desconhecida. Diversas outras

substâncias, de diferentes classes, também podem alterar os níveis de testosterona.

O Bisfenol A (BPA), por exemplo, um composto utilizado na fabricação do

policarbonato, embora tenha ainda efeitos controversos, Galloway et al. (2010),

mostraram a associação da quantidade de BPA excretada com elevadas

concentrações de testosterona em homens adultos italianos. Possivelmente, essa

substância causaria um aumento nos níveis por uma atividade antiandrogenica que

alteraria os mecanismos de controle de feedback ou devido à redução da atividade

da aromatase. Nitrofurazona é um composto com peso molecular semelhante à CYN

que possui ação semelhante de causar antecipação do parto de camundongos

(CHERNOFF et al., 2011) e, em adição, também causa um aumento nos níveis

séricos de testosterona logo após a exposição (SHODA et al., 2001).

A produção de testosterona pelas células de Leydig localizadas nos testículos

é feita a partir do colesterol. A fonte de colesterol pode ser a partir de síntese de

novo realizada pelas próprias células que capturam ésteres de colesterol

armazenados ou a obtenção direta de lipoproteínas de baixa densidade, ou LDL

(GEBARA et al., 2002). Segundo Reisner et al. (2004), a ingestão de água com

concentração subletal de CYN por três semanas, alterou significativamente o

metabolismo do colesterol, diminuindo os níveis encontrados no fígado e

aumentando o conteúdo plasmático. Do mesmo modo, Sukenik et al. (2006),

observaram um aumento significativo do colesterol no plasma de camundongos

após a ingestão diária de água com baixas concentrações de CYN durante 42

semanas. Possivelmente, a toxina induz essa alteração através da redução nos

níveis de GSH no fígado, o que leva a uma maior quantidade de lipoproteínas

oxidadas, fazendo com que a reabsorção hepática destas seja prejudicada

(REISNER et al., 2004). Tais resultados indicam que a CYN levaria a aumento do

colesterol circulante, que é utilizado para síntese dos hormônios esteroides nos

testículos.

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O colesterol carreado pelo LDL é liberado no citosol e pode ser armazenado

em ésteres de colesterol que também podem ser utilizados para a síntese hormonal.

Logo, assim como a toxina aumenta os níveis de gotículas de gordura no fígado

(SEAWRIGHT et al., 1999), poderia causar o mesmo efeito nas células de Leydig,

que já são células que contêm abundância em gotículas de gordura (COUTO, 2011),

favorecendo ainda mais essa maior disponibilidade de colesterol para síntese de

hormônios esteroides.

A desregulação da síntese de testosterona pode ser, ainda, por uma alteração

na regulação da expressão de proteínas importantes do processo de síntese e/ou na

disponibilização do receptor de LH (LHcgr), visto que todas as vias responsáveis

pela síntese dos hormônios só se iniciam com a sua ativação. Porém, uma

expressão maior do receptor (que poderia levar a uma maior ligação de LH e,

consequentemente ao aumento na síntese dos hormônios) não foi observada como

efeito da exposição à CYN em nenhum grupo experimental no presente estudo.

Logo, o aumento de testosterona não está relacionado a essa etapa da

esteroidogênese.

A proteína StAR medeia o transporte do colesterol para o interior da

membrana mitocondrial, e, por isso, é responsável por uma etapa limitante da

síntese de hormônios esteroides e um alvo em potencial de disruptores endócrinos.

Sua expressão é regulada por três vias. Uma via de transdução de sinal que envolve

a produção de AMPc e ativação da PKA que induzem a expressão do gene da

proteína. Outra via mediada pelo AA, que aumenta a expressão da StAR como

consequência da ativação pelo AMPc. Além da ação da sinalização da MAPK,

também associada a regulação da proteína. A alteração nos níveis séricos de

testosterona poderia ser devido a um aumento de estímulo em qualquer uma das

vias de regulação. Assim, esperaríamos que a expressão gênica da StAR fosse

positivamente influenciada, o que não foi visto no presente estudo. Isto corrobora

com os dados encontrados por Young et al. (2012), que realizaram estudos in vitro

com a exposição de células da granulosa luteínicas humanas estimuladas com

gonadotropina da coriônica humana – hCG a diferentes concentrações de CYN. Na

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ocasião, os resultados obtidos não indicaram alteração da atividade esteroidogênica,

sugerindo que a síntese da proteína StAR não seria alterada pela CYN. Porém, foi

mencionado que o ensaio não possuía sensibilidade suficiente para detectar

pequenas alterações na síntese da StAR.

No lúmen mitocondrial, o colesterol é convertido em pregnenolona, que será,

posteriormente, transportada para o RE, onde ocorrerão as etapas de síntese da

testosterona a partir da progesterona ou da própria pregnenolona. Na mitocôndria, a

etapa inicial é catalisada pela enzima de clivagem da cadeia lateral, a CYP11A1,

que consiste em uma enzima citocromo P450 de classe I. O aumento na atividade

de enzimas citocromo P450 pode resultar da indução da síntese de citocromo P450

por exposição a fatores ambientais, como compostos xenobióticos. Segundo Zegura

et al. (2011), a concentração de 0,5 µg de CYN/ml levou a um aumento na

expressão de genes do CYP450, o que pode indicar uma possível modificação da

função dessa enzima envolvida na síntese de hormônios esteroides. O resultado do

efeito da exposição semanal à toxina na expressão gênica da CYP11A1, entretanto,

não apresentou diferença significativa nos camundongos do presente estudo.

A progesterona também serve como precursor para a síntese de testosterona,

através da conversão, catalisada pela enzima 17α-Hidroxilase (CYP17) a

androstenediona, que é convertida a testosterona pela ação da enzima específica

para a produção de andrógenos, 17βHSD (KOSTIC et al., 2011). Young et al. (2008)

sugeriram um papel de disruptor endócrino da CYN após uma exposição de células

da granulosa humana à concentração baixa da toxina purificada (0,0625 µg/ml) ter

causado a inibição da síntese de progesterona em células da granulosa humana.

Dessa forma, através da diminuição dos níveis normais de progesterona, as células

de Leydig podem induzir e regular positivamente a síntese de testosterona, de

maneira compensatória. Ao passo que, por exemplo, a atividade da enzima CYP17

aumentada poderia levar a um favorecimento nesta etapa da via esteroidogênica, já

que tal enzima também catalisa a conversão de pregnenolona em 17-OH-

pregnenolona, que pode ser convertida à 17α-OH-progesterona ou DHEA (atividade

das enzimas 3βHSD e CYP17, respectivamente), ambas precursoras diretas de

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testosterona. Isto é, a atividade de CYP17 aumentada, poderia também privilegiar a

síntese de testosterona a partir de DHEA pela via Δ5, uma via bem utilizada em

testículos humanos (MOLINA, 2007), sugerindo um possível efeito correspondente

em humanos expostos à toxina.

Embora tenha sido observado que os fígados dos animais não tenham

alterado seu peso, há ainda uma possível relação entre uma maior disponibilidade

de testosterona sérica e outros efeitos (não analisados) no fígado dos

camundongos. Terao et al. (1994) realizaram a injeção i.p. em camundongos

machos de uma dose dez vezes maior que a dose desse estudo e concluíram que a

toxina gera quatro fases de alterações patológicas, em períodos diferentes. A

primeira interação não envolve grande alteração no tamanho do fígado dos animais,

porém, há a presença de alterações morfológicas nos hepatócitos dos animais.

Considerando-se que a metabolização hepática é responsável pela maior parte da

inativação da testosterona (GEBARA et al., 2002), caso a dose tenha sido pequena

a ponto de não causar hepatomegalia, mas grande a ponto de gerar problemas na

morfologia e no funcionamento das células hepáticas, pode ter resultado em uma

diminuição de inativação com consequentes maiores níveis séricos do hormônio em

questão. Análises histopatológicas do fígado seriam importantes meios para

entender os efeitos causados pela exposição à toxina nesse experimento.

Por mais que todos os mecanismos de resposta mencionados anteriormente

possam estar relacionados com os níveis altos de testosterona encontrados, a

regulação da síntese hormonal é, primariamente, regulada pelo LH produzido na

hipófise (VELDHUIS et al., 1988). O LH é transportado na circulação até os

testículos onde atuam nas células de Leydig (células-alvo), ativando a transdução de

sinais e aumentando substrato para síntese hormonal. Por isso, resultados que

aumentam os níveis de testosterona podem ser efeitos diretos de uma maior

estimulação pelo LH. O que não parece ser o caso nesse trabalho, visto que a

expressão gênica hipofisária do LH não apresentou aumento significativo entre os

animais estudados. Embora ainda assim a secreção possa estar alterada, já que,

por dificuldades metodológicas, esta não foi medida nesse estudo. Por outro lado,

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como o eixo hipotálamo-hipófise-testículos é regulado por um mecanismo de

feedback negativo hormonal, os níveis altos de testosterona em situações de

homeostase, levariam a uma inibição das secreções de LH como uma tentativa de

recuperar os níveis séricos normais. Logo, sugere-se que tenha sido causado algum

problema de comunicação nesse processo de retroalimentação.

O GnRH hipotalâmico é secretado e conduzido no sistema porta hipofisário

para a hipófise anterior, onde se liga a receptores específicos e atua estimulando e

regulando a secreção das gonadotropinas, entre elas o LH. A testosterona, por sua

vez, exerce retroalimentação negativa, inibindo a secreção de GnRH, e age na

produção hormonal hipofisária reduzindo a sensibilidade desta a GnRH (SALADIN,

2003). Com isso, pode-se interpretar que a problemática no mecanismo de

regulação estaria na resposta do tecido hipotalâmico e não propriamente na síntese

direta de LH na hipófise.

Segundo Gebara et al. (2002), no cérebro, a aromatização da testosterona em

estradiol tem importante efeito na regulação da secreção de gonadotrofina e na

função sexual. Sendo assim, um processo defeituoso de aromatização, que seria

catalisado pela enzima aromatase em condições normais, pode não só causar um

acúmulo de testosterona, já que esta não seria convertida, assim como pode levar a

um defeito de regulação de GnRH.

A testosterona é igualmente convertida em DHT, o mais ativo agonista do

receptor de testosterona (KRONENBERG et al., 2008). Um defeito no processo de

conversão de testosterona em outras moléculas, isto é, na atividade da enzima 5 α-

redutase poderia, de certa maneira, ter levado a um aumento ainda maior de

testosterona circulante pelo fato de não haver reação.

Segundo Terao et al. (1994), a CYN é um potente inibidor da síntese proteica.

Por isso, a toxina poderia agir diminuindo a síntese de proteínas responsáveis por se

ligarem à andrógenos na corrente sanguínea (SHBG) e nos testículos (ABP) (assim

como, é importante ressaltar, na síntese proteica das enzimas cujas expressões

foram medidas). Assim, considerando que alterações na concentração do SHBG

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podem conduzir a variações nos níveis circulantes de testosterona e que tal proteína

é sintetizada no fígado (MARCONDES, 2002), que é um importante alvo da toxina,

esse torna-se um mecanismo em potencial de ação da CYN. Por outro lado, a ABP

possui importante função na manutenção da elevada concentração de testosterona

no testículo necessária para a espermatogênese. Logo, se sua síntese prejudicada

fosse um efeito da exposição à CYN, a quantidade de sptzs produzida

provavelmente estaria diminuída, o que não foi visto no presente estudo.

O excesso de testosterona sérica pode, por fim, ter causado um processo de

dessensibilização do AR, isto é, a diminuição do número de receptores, assim como

ocorre em vários outros sistemas biológicos de sinalização após estimulação intensa

de agonistas. Dessa forma, o organismo pode ser capaz de responder de maneira

compensatória e normalizar a síntese de testosterona (como o que pode ser visto no

grupo experimental 3), por mais que possa ter tido alguma alteração patológica

induzida pela CYN.

Chernoff et al. (2011), após a exposição diária via i.p. de camundongos

fêmeas grávidas (em diferentes períodos gestacionais) durante cinco dias à dose de

50 µg de CYN/kg de peso corpóreo/dia observaram alterações em parâmetros

histológicos, em marcadores de alterações hepáticas e na expressão de genes

envolvidos no metabolismo lipídico, resposta inflamatória e estresse oxidativo.

Porém, mesmo com doses consideravelmente maiores do que as utilizadas no

presente estudo, houve uma recuperação em todos os efeitos observados,

evidenciando que esses animais parecem ter um mecanismo de depuração e

recuperação eficiente em relação a essas doses de CYN utilizadas.

Sabe-se que a testosterona secretada atua como agente parácrino na

espermatogênese. Sabe-se que sua função parácrina é necessária para formação e

manutenção de conexões entre as células de Sertoli e germinativas, além da

liberação dos sptzs para a porção da cabeça do epidídimo (WONG & CHENG,

2005). Além disso, a falta de testosterona causa falha na espermiação em ratos e

humanos, problemas no processo de espermiogênese e comprometimento da

barreira hemato-testicular (HAYWOOD et al., 2003; CHANG et al., 2004), reforçando

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60

o papel crucial que possui nesse processo. Por isso, o aumento significativo no

número de sptzs observado como resposta à exposição à CYN no grupo 3, isto é, o

grupo cuja eutanásia foi realizada 28 dias após a primeira injeção, muito

provavelmente possui ligação direta com o aumento de testosterona e AR. A

espermatogênese consiste em um processo dinâmico e muito bem organizado, e,

por isso, torna-se um processo longo e complexo, com várias fases de

transformação. Segundo Adler, (2000), as fases proliferativa e meiótica, isto é, de

diferenciação da espermatogônia até o desenvolvimento dos espermatócitos em

espermátides, dura em torno de 20 dias em camundongos. Já o processo completo

de diferenciação das espermátides em sptzs dura cerca de 9 dias em camundongos.

Considerando que, segundo Stabenfeldt & Edqvist, (1996), essa etapa se inicia nos

túbulos seminíferos, mas tem fim no epidídimo e que a porção da cabeça dos

epidídimos foi a utilizada para a contagem de spzts no presente estudo, esse

período total que ocorre em camundongos justifica o atraso observado na resposta

da produção de sptzs induzida por testosterona.

O aumento significativo no número de sptzs poderia também estar associado

a um aumento na expressão de FSH, já que este hormônio hipofisário atua nas

células de Sertoli para estimular a secreção de agentes parácrinos que são

essenciais para a espermatogênese. Porém, nenhuma alteração significativa na sua

expressão foi encontrada, indicando a possível existência de outro alvo de alteração

ou que apenas a síntese da proteína poderia estar alterada. Em adição, a explicação

utilizada de problemas no feedback negativo também se encaixa para FSH. Outra

hipótese é de alteração da ação da glicoproteína inibina, que é fisiologicamente

secretada pelas células de Sertoli e responsável pela síntese e liberação de FSH,

assim como pela alteração da resposta da hipófise a presença de GnRH. Ou seja, a

inibina em organismos normais participa do feedback negativo na hipófise, baixando

os níveis de FSH, controlando a taxa de produção de sptzs (LUISI et al., 2005).

Os resultados da expressão gênica dos genes no presente estudo mostram

uma importante variação individual das respostas, visto que a dispersão dos

resultados apresentou-se, muitas vezes, com uma amplitude grande nos grupos

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61

experimentais. Chernoff et al. (2011), ao analisarem a toxicidade em diferentes

períodos gestacionais de camundongos, encontraram um aumento significativo na

variância nos grupos expostos à CYN, indicando ser uma característica de resposta

induzida pela toxina. Da mesma forma, outros autores também já encontraram uma

tendência de variabilidade de respostas individuais à toxina (SEAWRIGHT et al.,

1999; NORRIS et al., 2001). Dessa forma, torna-se interessante estudar fatores que

poderiam levar a uma variação de respostas possivelmente causadas pela CYN.

De maneira geral, supostamente, a toxina pode causar um aumento reversível

(como possível resultado de adaptação do organismo, através de dessensibilização

de receptores, por exemplo) nos níveis de testosterona por aumentar a

disponibilidade de colesterol, assim como pode estar interferindo na expressão de

enzimas esteroidogênicas não analisadas no presente estudo. Alterações na

esteroidogênese mediadas por interferência na expressão gênica podem ser vistas

rapidamente (LIN et al., 2014), por isso, existe a possibilidade da interferência da

toxina na atividade ou expressão das proteínas não ter sido observada pela análise

realizada apenas dias depois da exposição. Além disso, a CYN pode, ainda, estar

interferindo no mecanismo de regulação, o que justificaria a falta de resposta

imediata em hormônios envolvidos na regulação negativa. A alteração parcial da

conversão em DHT ou E2 pode ter influenciado a falta de regulação momentânea e

contribuído para aumentar os níveis de testosterona circulante, assim como a

inibição da síntese da SHBG. Por fim, os níveis mais altos de testosterona,

provavelmente por ação direta, levaram a um aumento significativo na quantidade de

sptzs presentes na cabeça do epidídimo. Porém, esse aumento quantitativo não

está, necessariamente, relacionado ao aumento da capacidade reprodutiva, já que a

análise qualitativa não foi realizada.

De acordo com Rodrigues (2013), a testosterona é o esteroide mais

abundante no organismo masculino. Níveis basais de testosterona são associados

ao correto desenvolvimento e atividade reprodutiva dos indivíduos. Por isso,

qualquer alteração na síntese desse hormônio e/ou na regulação envolvida, como

especula-se nesse estudo, pode levar a interferências na normalidade do sistema

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reprodutor. Por exemplo, Furman et al. (2014), encontraram relações diretas entre

níveis altos de testosterona e imunossupressão, isto é, enfraquecimento da resposta

do sistema imunológico em homens de diferentes idades. O efeito da exposição à

toxina aumentando significativamente os níveis de testosterona torna-se ainda mais

preocupantes, visto que estudo recente indica que esse hormônio é um potente

promotor de tumor na próstata de ratos (que foram anteriormente injetados com

agente cancerígeno) mesmo em pequenas doses (BOSLAND, 2014). Além disso, a

testosterona também foi capaz de causar o aparecimento de tumores malignos em

outros sítios. Por isso, a ingestão crônica da toxina gerando aumento de

testosterona poderia ser extremamente crítica, particularmente, para pacientes com

câncer de próstata, intensificando os riscos à saúde pública causados pela CYN.

Os resultados reforçam os previamente encontrados que sugerem o papel

disruptor endócrino dessa toxina. No entanto, existem diversas possibilidades de

mecanismo de ação endócrina da CYN. Seus efeitos podem ser em vias e alvos

variados, com ações sinérgicas ou não, de maneira que ainda não podem ser bem

esclarecidos. Por isso, para entender melhor o papel disruptor endócrino da toxina,

mais estudos se fazem necessários.

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7 CONCLUSÕES

A exposição i.p. semanal de CYN não foi capaz de causar alterações

nos pesos dos animais de nenhum dos grupos experimentais.

Os pesos do fígado, testículos e epidídimos também não apresentaram

diferença significativa entre os grupos expostos à toxina.

Por outro lado, a injeção i.p. de CYN foi capaz de causar:

o Aumento significativo nos níveis séricos de testosterona em dois

grupos experimentais: 1 e 2 (expostos a uma ou duas doses

semanais, respectivamente);

o Crescimento significativo na quantidade de espermatozoides na

cabeça do epidídimo no grupo de animais expostos a quatro

doses de CYN i.p. (grupo 3);

Porém, no presente estudo, os aumentos encontrados não tiveram

ligação com a expressão gênica dos genes testiculares (LHcgr, StAR e

CYP11A1) e hipofisários (LHb e FSHb), visto que nenhum foi expresso

com diferença significativa em relação ao grupo controle.

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8 PERSPECTIVAS

Os resultados encontrados no presente estudo mostram que a CYN é capaz

de interferir no sistema reprodutor masculino, porém, novos experimentos se fazem

necessários para responder de que maneira seria essa interferência. Primeiramente,

é importante analisar o efeito também nos níveis de colesterol, visto que esse efeito

da CYN é embasado na literatura e por consistir no precursor dos hormônios

esteroides. Pretende-se avaliar a expressão de outras enzimas esteroidogênicas e

de conversão da testosterona (aromatase e 5 α-redutase), além da síntese dessas

mesmas enzimas. Além de fazer as análises histológicas dos tecidos, é preciso

estudar qualitativamente os sptzs em quantidade aumentada e a fertilidade desses

animais.

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