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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO THAÍS COELHO VILLAR AYAHUASCA: USO TERAPÊUTICO DO CHÁ NO TRATAMENTO DA DEPENDENCIA E DEPRESSÃO Revisão bibliográfica RIO DE JANEIRO 2017

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THAÍS COELHO VILLAR

AYAHUASCA: USO TERAPÊUTICO DO CHÁ NO TRATAMENTO DA

DEPENDÊNCIA E DEPRESSÃO

Revisão bibliográfica

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Faculdade de Farmácia da Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do grau de bacharel em

Farmácia.

Orientadora: Virgínia Martins Carvalho

Rio de Janeiro

2017

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AGRADECIMENTOS

Aos meus Anjos da Guarda, por me protegerem e me darem forças nos momentos de aflição e

desespero.

A minha Família, por tudo.

A meu namorado, Gabriel, por me fazer acreditar em mim e ser meu fiel companheiro nessa

jornada.

Aos amigos que a UFRJ me deu, e que compartilharam comigo momentos de alegrias e

desesperos. Em especial a Karolline, Nathália, Cláudia e Juliana.

A minha orientadora Virgínia, por me ajudar na escolha do tema e ser fundamental para que

eu pudesse realizar este trabalho.

A UFRJ, pela eterna relação de “amor e ódio”.

Por fim, a todos que passaram pelo meu caminho e contribuíram para que eu chegasse até

aqui.

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“Não vim até aqui

Pra desistir agora

(...)

Se depender de mim

Eu vou até o fim.”

(Humberto Gessinger)

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RESUMO

VILLAR, T. H. Ayahuasca: uso terapêutico do chá no tratamento da dependência e

depressão: revisão bibliográfica. 2017. Rio de Janeiro. Trabalho de Conclusão de Curso

(Bacharelado em Farmácia) – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

A Ayahuasca é uma bebida psicoativa conhecida por diversos nomes, utilizada pelos grupos

indígenas por toda a Amazônia e também por religiões e grupos independentes no Brasil para

rituais religiosos. Atualmente, a bebida está sendo cada vez mais estudada no tratamento da

dependência e depressão. Nesse contexto, enquadra-se a importância de avaliar aspectos

toxicológicos e farmacológicos das substâncias presentes no chá, visto que existem poucas

informações relacionadas ao que diz respeito a estudos pré-clínicos e clínicos acumulados no

sentido de fornecer provas científicas que confirmem o potencial terapêutico da Ayahuasca.

Originada a partir da decocção de duas plantas, Banisteriopsis caapi e Psycotria viridis, a

bebida possui como princípios ativos mais importantes as betacarbolinas (harmalina, harmina

e tetraidroharmina), que são inibidoras reversíveis da enzima monoaminoxidase (MAO) e a

dimetiltriptamina (DMT), na qual atua nos mesmos receptores da serotonina e é metabolizada

pela MAO. Dessa forma, tais substâncias quando administradas juntas, proporcionam um

aumento nos níveis de serotonina no cérebro, estando à regulação deste neurotransmissor

diretamente relacionado com o tratamento da dependência e depressão. O objetivo de realizar

este estudo está na necessidade de avaliar o uso da bebida, sua possível eficácia terapêutica e

segurança toxicológica, além de revisar na literatura as propriedades farmacêuticas e os

efeitos de seus principais componentes. Para compor o trabalho, pesquisou-se artigos desde

1964, início dos estudos com ayahuasca, até o final do ano de 2016, sendo este último o ano

mais produtivo, com um aumento significativo de publicações sobre o tema. Portanto, as

pesquisas sobre a segurança toxicológica, suas indicações terapêuticas, bem como relatos dos

próprios usuários, levou a conclusão de que o uso da Ayahuasca pode ser uma terapia eficaz

para o tratamento da dependência e depressão, no entanto muitos especialistas dizem que não

há estudos que comprovam seus efeitos.

Palavras-chave: Depressão. Ayahuasca. Harmina. Harmalina. THH. DMT. Dependência.

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ABSTRACT

VILLAR, T. H. Ayahuasca: Therapeutic use of tea in the treatment of addiction and

depression: literature review. 2017. Rio de Janeiro. Trabalho de Conclusão de Curso

(Bacharelado em Farmácia) – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

Ayahuasca tea is a psychoactive drink known by several names, used by indigenous groups

throughout the Amazon and also by religions and independent groups in Brazil for religious

rituals. Currently, the drink is being increasingly studied in the treatment of addiction and

depression. In this context, it is important to evaluate the toxicological and pharmacological

aspects of the substances present in tea, since there are little informations related to pre-

clinical and clinical studies accumulated in order to provide scientific evidence to confirm the

potential use of Ayahasca. Originally from the cooking of two plants, Banisteriopsis caapi

and Psycotria viridis, the most important active principle present in the drink are the

betacarbolines (harmaline, harmine and tetrahydroharmine) with are reversible inhibitors of

the MAO enzyme and the dimethyltryptamine (DMT), which acts on the same serotonin

receptor and can be metabolized by MAO. In this way, both substances when administered

together, provides an increase in the levels of serotonin in the brain, and the regulation of this

neurotransmitter is directly related with the treatment of addiction and depression. The

objective of this study is to evaluate the use of drink, the possible therapeutic efficacy and

toxicological safety, in addition to review in the literature the pharmaceutical properties and

the effects of the main components. In order to compose this work, researched articles since

1964, beginning of ayahuasca studies, until the end of 2016, the last year researched and more

productive, with a significant increase of publications on the subject. Therefore, the research

on the toxicological safety and therapeutic indications, as well as reports from users, led to the

conclusion that the use of ayahuasca may be an effective therapy for the treatment of

dependence and depression, however, many specialists says that there are not studies that

prove these effects, being this subject the central focus of the work.

Keywords: Depression. Ayahuasca. Harmine. Harmaline. THH. DMT. Dependency.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Foto P. viridis. Uma das plantas que compõe a ayahuasca .................................... 16

Figura 2 - Foto B. caapi. Uma das plantas que compõe a ayahuasca ...................................... 17

Figura 3 - Representação dos processos envolvidos na neurotransmissão serotoninérgica ..... 19

Gráfico 1 - Publicações entre os anos de 1960 a 2016, sobre o termo “Ayahuasca” com base

na base de dados ScienceDirect ............................................................................................... 25

Gráfico 2 - Publicações entre os anos de 2010 a 2016, sobre o termo “Ayahuasca Depression”

e “Ayahuasca Addiction” com base na base de dados ScienceDirect ...................................... 26

Gráfico 3 - Obtenção do número total de documentos encontrados, incluídos no trabalho,

incluídos nos resultados e seleção dos mais relevantes. ........................................................... 27

Figura 4 - Similaridade entre as estruturas moleculares dos principais compostos presentes na

ayahuasca com a serotonina ..................................................................................................... 29

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Toxicidade da Harmina ........................................................................................... 35

Tabela 2 - Toxicidade da Harmalina ........................................................................................ 36

Tabela 3 - Toxicidade da DMT ................................................................................................ 37

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DMT - N,N-dimetiltriptamina

HRL - Harmalina

HRM - Harmina

THH - Tetrahidroharmina

IMAO - Inibidores Da Monoamina Oxidase

MAO - Monoamina Oxidase

SNC - Sistema Nervoso Central

UDV - União do Vegetal

5-HT - 5-hidroxitriptamina

CONAD - Conselho Nacional Antidrogas

DIMED - Divisão de Medicamentos do Ministério da Saúde

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

HAM-D - Escala de avaliação para depressão de Hamilton

MADRS - Escala de depressão de Montgomery-Asberg

BPRS - Escala breve de avaliação Psiquiátrica

USP - Universidade de São Paulo

β-carbolinas – Harmina, Harmalina e Tetrahidroharmina

LCD - Ácido Lisérgico

FST - Estudo de Natação Forçada

SSRI - Inibidor Seletivo de Recaptação de Serotonina

DL50 - Dose Letal necessária para matar 50%

LDLo - Menor Dose Letal

TDLo - Menor Dose Tóxica

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 12

1.1 USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS NO CONTEXTO HISTÓRICO -

RELIGIOSO ......................................................................................................................... 12

1.2 RELIGIÕES DA AYAHUASCA ................................................................................... 13

1.3 LEGISLAÇÃO E LEGALIDADE ................................................................................. 14

1.4 A AYAHUASCA ............................................................................................................ 15

1.4.1 Psychotria viridis ...................................................................................................... 16

1.4.2 Banisteriopsis caapi .................................................................................................. 17

1.5 A QUÍMICA E A FARMACOLOGIA DA AYAHUASCA .......................................... 18

1.5.1 A neurotransmissão serotoninérgica ......................................................................... 18

1.6 USO DA AYAHUASCA NA DEPRESSÃO ................................................................. 20

2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................. 21

3. OBJETIVO ....................................................................................................................................... 22

3.1 GERAL ........................................................................................................................... 22

3.2 ESPECÍFICOS ................................................................................................................ 22

4. METODOLOGIA ............................................................................................................................ 23

4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 23

4.2 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO ............................................................................. 23

4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ............................................................... 23

4.4 CONSTRUÇÃO DO TEXTO ......................................................................................... 24

5. RESULTADOS ................................................................................................................................. 25

5.1 PESQUISA CRONOLÓGICA ....................................................................................... 25

5.1.1 Seleção dos estudos .................................................................................................. 27

5.2 AYAHUASCA: FARMACOLOGIA, MECANISMO DE AÇÃO E SEUS

COMPONENTES ................................................................................................................. 27

5.2.1 Harmina (HRM)....... ................................................................................................ 29

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5.2.2 Harmalina (HRL) ...................................................................................................... 30

5.2.3 Tetrahidroharmina (THH) ........................................................................................ 30

5.2.4 Dimetiltriptamina (DMT) ......................................................................................... 31

5.3 PROPRIEDADES DOS ANTIDEPRESSIVOS (PROZAC E IPRONIAZIDA) E

COMPARAÇÃO DA SEGURANÇA TOXICOLÓGICA COM OS COMPONENTES DA

AYAHUASCA ..................................................................................................................... 31

5.3.1 Antidepressivos ........................................................................................................ 32

5.3.2 Potencial toxicológico da Ayahuasca ....................................................................... 34

5.4 AS INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS E A AYAHUASCA ...................................... 40

6. CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 42

7. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 43

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente, a dependência é um distúrbio psiquiátrico bastante divulgado e discutido,

visto que o abuso de substâncias psicoativas é percebido pela sociedade moderna como um

problema grave que afeta diretamente nossa realidade e a saúde pública (PRATTA et al.

2009). As substâncias psicoativas, também conhecidas como psicotrópicas, atuam no cérebro

e regulam funções de humor e motivação (WHO et al. 2003). Paralelamente, existem estudos

e evidências que sugerem que essas substâncias apresentam aplicações potenciais e podem ser

ferramentas seguras e eficazes no tratamento da dependência. Deste modo, a Ayahuasca vem

se apresentando como um possível tratamento utilizado na dependência e na depressão sendo

seus componentes capazes de possibilitar novos estudos sobre sua eficácia terapêutica

(WINKELMAN, 2014).

1.1 USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS NO CONTEXTO HISTÓRICO

RELIGIOSO

O uso de substâncias denominadas psicodélicas, enteógenas ou alucinógenas é uma

prática que acompanha a humanidade há milhares de anos (WINKELMAN, 2014). No

presente estudo destaco que, “quando digo substâncias psicoativas, me refiro àquelas que se

encontram de forma livre na natureza e que suas propriedades tornam-se ativas através de

tratamentos simples como: maceração e cocção. Razão pelas quais pesquisadores chamam-nas

de “enteógenos”, que significa substâncias que despertam a divindade quando ingeridas e

curandeiros chamam-nas de “plantas mestre” e usam esse termo até hoje (CHÁVEZ, 2012)”.

No final do século XX e início do século XXI o consumo da ayahuasca foi difundido,

da Amazônia para as grandes cidades e, a partir do Brasil, para diversos países do mundo

(THOMAS, 2013). Religiosamente, os grupos indígenas da Amazônia associados ao

xamanismo tinham o costume de utilizar a Ayahuasca para aprimorar a saúde física e

psicológica dos indivíduos. A globalização contribuiu para a expansão da utilização do chá

(além dos círculos amazônicos nativos) e a aproximação de outros povos facilitou a difusão

das práticas indígenas e ocidentais, o que levou a um crescente interesse do uso da Ayahuasca

em um contexto religioso e terapêutico pelo mundo (SÁNCHEZ Y BOUSO, 2015).

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O contato dos povos não-indígenas com a ayahuasca resultou na criação de grupos

religiosos que incorporam o uso da Ayahuasca em seus rituais e cerimônias, sendo

influenciados principalmente pelas crenças do espiritismo, catolicismo e as tradições afro-

brasileiras (PIRES et al., 2010). Junto com a expansão do ritual, tem crescido o interesse de

pessoas em participar das cerimônias assim como o número de curandeiros indígenas que se

prontificam a oferecer sessões de ayahuasca em público (SÁNCHEZ Y BOUSO, 2015).

1.2 RELIGIÕES DA AYAHUASCA1

De acordo com McKenna et al. (1998), o uso da ayahuasca pode ser

convencionalmente dividido entre populações mestiças e indígenas e por recentes

movimentos religiosos brasileiros, como o Santo Daime, a Barquinha e a União do Vegetal

(UDV). É no contexto de grupos como estes que as questões relativas aos aspectos

psicológicos e médicos do uso da ayahuasca tornaram-se relevantes e passíveis de serem

estudadas. Essas três linhas são parecidas em relação ao preparo da bebida, à cerimônia e as

regras para adesão dos membros. E também se assemelham por pertencerem a uma tradição

de religiosidade não-indígena no Brasil (PIRES et al. 2010).

O Santo Daime é considerado a primeira dessas religiões, fundado em 1930 por

Raimundo Irineu Serra (ALBUQUERQUE, 2015), cuja principal característica era a ingestão

da bebida ayahuasca, chamada de Daime, dando então origem ao nome da religião (PIRES et

al. 2010). A palavra “Daime”, além de ser pronunciada facilmente, refere-se ao termo “dar”,

representando um pedido que deve ser feito ao espírito da bebida na hora de ingerir o chá

(ALBUQUERQUE, 2015).

A Barquinha foi fundada no ano de 1945 por Daniel Pereira de Mattos, também

chamado Mestre Daniel (Barquinha.org.br). Considerada a menor das três religiões

ayahuasqueiras, a Barquinha está praticamente restrita a cidade de Rio Branco (TROMBONI

et al. 2003), na qual apresenta uma estrutura organizada e complexa que é formada através da

influência de vários elementos, como: cristianismo, umbanda com os símbolos de pretos

____________________________

1 Categoria utilizada no livro O uso ritual da ayahuasca (2002), na qual refere-se as religiões

originadas no Brasil (União do Vegetal (UDV), Santo Daime e Barquinha) que tem por base o uso

religioso da ayahuasca.

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velhos, caboclos e, ainda o xamanismo (OLIVEIRA, 2016). Segundo Oliveira (2009), a

bebida é considerada pela maioria de seus adeptos como um sacramento, onde todas as linhas

religiosas possuem um fator comum que é não classificar a ayahuasca como uma “droga”,

mas sim como um sacramento, um ser divino.

A União do Vegetal (UDV) é a mais nova das religiões mencionadas, surgiu na década

de 1960, fundada por José Gabriel da Costa, também conhecido como Mestre Gabriel

(BRISSAC, 2004). Aproximadamente cinco mil pessoas fazem parte dessa religião em

diversos locais do país (COSTA, 2005). Diferente das outras organizações, a UDV apresenta

um perfil mais sóbrio, sem práticas de cantos ou instrumentos, cujos ensinamentos são

baseados na doutrina espírita kardecista e de outras manifestações urbanas religiosas

(SANTOS, 2006).

Dentre as igrejas ayahuasqueiras, considera-se a UDV a mais importante por ter sido

capaz de convencer o governo a remover a ayahuasca da lista de drogas proibidas, aprovando

o uso da bebida no contexto religioso. Considera-se essa decisão bastante significativa, pois

foi a primeira vez, após mais de 1.600 anos, em que cidadãos não indígenas possuíram

permissão de usar um psicodélico no contexto de práticas religiosas (MCKENNA et

al.,1998). No entanto, ainda não existem avaliações clínicas e pré-clínicas formais para

avaliar o uso da bebida. Porém, estudos feitos por Winkelman (2014), mostram que há uma

série de evidências que estabelece que os rituais da ayahuasca são capazes de afetar

positivamente a vida dos membros que participam.

1.3 LEGISLAÇÃO E LEGALIDADE

A expansão internacional do uso da bebida ayahuasca propiciou, nas últimas décadas,

a formação de sistemas sociais legais que se manifestaram a favor da repressão do uso do chá

por alegarem a presença de uma substância proibida presente no mesmo: a DMT, que será

estudada posteriormente (ARAUJO, 2015).

No Brasil, surgiu em 1985 pela Divisão de Medicamentos do Ministério da Saúde

(DIMED) a primeira política importante que classificava as plantas que compõe a ayahuasca

como sendo substancias proibidas que foram posteriormente listadas pela Portaria Nº 344/98

da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (LABATE; FEENEY, 2012).

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Entretanto, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) aprovou em 2010 a

regulamentação de práticas que utilizam a ayahuasca para fins religiosos (VOLCOV et al,

2011).

De acordo com a resolução Nº 26 da ANVISA, o Presidente do CONAD permite o uso

ritualístico do chá ayahuasca desde que sejam respeitadas algumas considerações:

Considerando que os responsáveis pelas diversas confissões religiosas

usuárias do “chá ayahuasca” estão cientes da proibição de sua

comercialização, bem como das ervas que o compõem, em razão de seu

alcance estritamente religioso (Resolução Nº 26, Dezembro 2002).

O fenômeno da expansão da ayahuasca implica em amplas transformações nas quais

seu uso deve estar associado a um ritual (ARAUJO, 2015). No contexto religioso não há

evidências cientificas de que o uso do chá seja perigoso (LABATE; FEENEY, 2012), embora

existam poucos estudos acumulados que forneçam bases científicas sólidas para provar que o

uso da ayahuasca seja seguro (PIRES et. al., 2010). Dessa forma, a segurança de uma

potencial farmacoterapia com a Ayahuasca ainda necessita ser estudada.

1.4 A AYAHUASCA

A Ayahuasca é uma bebida conhecida por diversos nomes, dentre os quais destaca-se:

yagé, nepe, kabi, caapi e natema (MACRAE, 1998), cujo significado é aya: espírito, pessoa,

alma, e waska: trepadeira, cipó, que poderia ser entendido como “cipó dos espíritos”

(MARTINEZ, 2010). Sabe-se que existem cerca de 42 nomes diferentes para a bebida e

aproximadamente 72 tribos diferentes que possuem conhecimento sobre o chá (TEIXEIRA,

2008).

O chá alucinógeno é obtido a partir da decocção, ou seja, do cozimento de duas

plantas primordiais, a Psychotria viridis, também conhecida pelo nome de chacrona ou rainha,

pertencente à família rubiaceae. E o Banisteriopsis caapi, também conhecido como Caapi ou

Yagé, considerado um cipó nativo da Amazônia, pertencente à família das malpighiaceae

(ZUBEN, 2015).

O preparo e uso da bebida consiste em um ritual sagrado, somente homens manipulam

o Caapi. A chacrona, por sua vez, tem suas folhas limpas e colhidas exclusivamente por

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mulheres (GARRIDO, 2009). Seu preparo ocorre em grandes fornalhas que funcionam a

lenha, onde a quantidade de substrato e água podem variar de acordo com o grau da bebida, os

quais são utilizados em ocasiões diferentes (TEIXEIRA, 2008).

Vale destacar que, popularmente a ayahuasca é denominada de chá, porém como já

mencionado, sua preparação se dá a partir do cozimento prolongado de ambas as plantas que a

compõe. E para melhor compreensão, nesse trabalho a ayahuasca será denominada como chá,

mas a rigor (quimicamente), a ayahuasca é proveniente de uma decocção.

1.4.1 Psychotria viridis

Figura 1: Foto P. viridis. Uma das plantas que compõe a ayahuasca

Fonte: <http://www.neurosoup.com/dmt/dmt-plants/psychotria-viridis/>

A P. viridis é um arbusto que atinge aproximadamente 3 metros de altura e 2,5 metros

de diâmetro, sendo uma das suas características possuir folhas completas que possuem, em

média, de 4 a 5 cm de largura e 12 a 15 cm de comprimento (TEIXEIRA, 2008).

P. viridis é uma planta nativa da Amazônia que vem sendo cultivada em diferentes

regiões do Brasil (QUINTEIRO, 2006), suas folhas contêm um potente alcalóide alucinógeno

denominado DMT (N,N-dimetiltriptamina), cuja concentração varia de 0,1 a 0,66% e que age

nos receptores de serotonina. Existem também muitas outras espécies morfologicamente

semelhantes que são provavelmente usadas no preparo da ayahuasca (MCKENNA,

CALLAWAY & GROB, 1998).

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1.4.2 Banisteriopsis caapi

Figura 2: Foto B. caapi. Uma das plantas que compõe e ayahuasca

Fonte: <http://www.maps.org/research/ayahuasca>

Os estudos botânicos do B. caapi começaram entre os anos de 1849 e 1864 pelo inglês

Richard Spurce, na qual trata-se de um cipó robusto e lenhoso, que pode alcançar 10 metros

de comprimento e 0,60 metros de diâmetro (GARRIDO, 2009).

O cipó B. caapi por sua vez, possui alcalóides β-carbolínicos, sendo a harmina

(HRM), harmalina (HRL) e tetraidroharmina (THH) as principais β-carbolinas, cuja

concentração pode variar de 0,05 a 1,95% (MCKENNA, CALLAWAY & GROB, 1998).

O uso da bebida possibilita que seus usuários relatem uma experiência que se

aproxima de uma “alucinação”. Embora existam diversas definições na literatura acadêmica,

muitas descrevem as alucinações como sendo “falsas” percepções, descritas como:

Alterações de cor, tamanho, forma e movimento. Falsa percepção sensorial,

as imagens geralmente são abstratas, podendo associar-se a uma

interpretação delirante com formas visuais ainda não formadas

(CHAUDHURY, 2010).

Ou ainda, podemos comparar a definição acima com a do autor Winkelman (2014), que

descreve o uso da ayahuasca como:

Alteração de consciência e de funções racionais que fornece acesso a níveis

profundos da inconsciência pessoal, particularmente de lembranças

reprimidas (WINKELMAN, 2014).

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Nos últimos anos, já existem estudos que tentam comprovar o uso da Ayahuasca nos

casos de convulsão, depressão e dependência de drogas. Um desses estudos feitos pela USP

(Universidade de São Paulo) foi publicado no Jornal Folha de São Paulo (em 19/11/2008), e

que, mesmo ainda estando em andamento, os resultados parecem comprovar certo grau de

eficiência no uso do chá contra a depressão. Esta eficiência pode ser explicada, pois, como

dito anteriormente, a ayahuasca contém duas substâncias – harmina e dimetiltriptamina –

capazes de gerar um aumento de serotonina no cérebro (COISSI, 2008).

1.5 A QUÍMICA E A FARMACOLOGIA DA AYAHUASCA

As análises químicas revelaram que, o alcalóide alucinógeno DMT quando tomado

isoladamente é inativado por via oral, mesmo em altas doses, este fato é explicado porque a

DMT é degradada pela enzima monoaminoxidase (MAO), presente no sistema

gastrointestinal, tornando-a inativa. Estudos mostram que, as β-carbolinas encontradas no chá

normalmente apresentam-se em doses baixas, entretanto a dose contida na bebida é suficiente

para desempenhar um papel de inibição temporária da MAO, livrando a DMT de ser

degradada e permitindo-lhe exercer suas propriedades psicotrópicas quando ingerida

oralmente (MACRAE, 1998). De acordo com Mckenna (2004), essa interação é à base da

ação psicotrópica da ayahuasca e a discrepância existente na concentração dos alcalóides

presentes em cada bebida preparada é facilmente explicada pela diferença nos métodos de

preparação.

Para melhor compreensão e aprofundamento do tema, faz-se necessário algumas

informações cruciais sobre a neurotransmissão serotoninérgica.

1.5.1 A neurotransmissão serotoninérgica

A serotonina, também conhecida como 5-hidroxitriptamina (5-HT), é um hormônio e

neurotransmissor que está presente nos tecidos animais e é amplamente distribuída na

natureza (KATZUNG, 2013, p. 281) . Os hormônios serotoninérgicos cerebrais são capazes

de propiciar diversas funções fisiológicas diferentes, como sono, apetite e humor. Suspeita-se

que a serotonina também esteja envolvida em condições clínicas patológicas como a

depressão e ansiedade (KATZUNG, 2013, p. 282). Após sua síntese, a serotonina pode ser

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degradada ou inativada pela monoaminoxidase (MAO) (KATZUNG, 2013). Entretanto,

existem os chamados inibidores da MAO, que reduzem a metabolização da serotonina e

impede que ela seja degradada, promovendo um acumulo e, posteriormente, um aumento de

serotonina no cérebro, capaz de gerar efeitos psicoativos. Além disso, conhecem-se sete

diferentes tipos de receptores da 5HT, sendo os subtipos 5HT1A e 5HT1D os mais importantes

terapeuticamente (MAVC, DM., 2003).

Sabe-se que a 5-HT é responsável pelo humor e ansiedade, e, quando liberada na fenda

sináptica, a serotonina é capaz de se ligar nos seus receptores presentes na fibra pré e pós-

sináptica, promovendo seu efeito através da abertura dos canais de cálcio. A estimulação do

neurônio faz com que a serotonina seja liberada de seus terminais, sendo capaz de ativar

receptores disponíveis (SILVA, 2008).

É importante ressaltar que existem mecanismos de feedback capazes de modular a

estimulação do neurônio e a liberação da serotonina. Um deles ocorre através da recaptação

de serotonina, na qual a serotonina é capaz de retornar para dentro do neurônio, via

mecanismo de captação. Este processo é muito importante para que a célula volte à sua

condição de descanso, podendo ser novamente estimulada, evitando a super-estimulação de

receptores (OLIVER, 2005).

Figura 3: Representação dos processos envolvidos na neurotransmissão serotoninérgica.

Fonte: < http://neuromed95.blogspot.com.br/2012/09/>

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1.6 USO DA AYAHUASCA NA DEPRESSÃO

Atualmente, a depressão pode ser considerada o mais comum dos transtornos de

humor (BAHLS, Saint-Clair. 2000), sendo um distúrbio que está altamente associado a um

intenso sofrimento pessoal, aumento da mortalidade e alta morbidade (OSÓRIO et al., 2011).

Em estudos realizados por Flávia et. al. (2015), existem teorias nas quais relatam que a

depressão ocorre devido a um desequilíbrio das monoaminas cerebrais, de modo que o

distúrbio seria causado pela diminuição de noradrenalina e, principalmente, serotonina no

cérebro. A hipótese da monoamina é a teoria na qual baseia-se os principais antidepressivos

comercialmente disponíveis no mercado.

Estudos realizados por Thomas et al. (2013) e Grob et. al. (1996), indicam que o uso

da bebida no contexto religioso está relacionado a uma diminuição do uso de substâncias que

causam dependência. Essa informação é relatada por membros participantes da União do

Vegetal (UDV), na qual relatam histórico prévio de alcoolismo, uso de drogas de abuso e

depressão. E que, após a utilização do chá, os membros alcançavam remissão, obtendo maior

confiança e otimismo em comparação ao grupo controle, sem o uso da bebida.

Winkelman M. (2015) relatou que, pessoas adeptas da UDV com histórico de

alcoolismo, ansiedade, depressão e sintomas psíquicos fazem uso da bebida como um

instrumento de cura que permite acesso ao reino divino, revelando que passam por profundas

mudanças de vida pouco tempo depois de entrarem para a Igreja. Entretanto, a falta de estudos

científicos gera argumentos sobre seus possíveis efeitos.

Deste modo, podemos compreender que patologias como ansiedade e depressão estão

ligadas a um déficit de serotonina. Além disso, de acordo com as informações lidas e demais

estudos publicados na literatura, podemos sugerir a importância das β-carbolinas contidas no

chá na modulação de serotonina, visto que o aumento da mesma ocorre devido a presença da

DMT na bebida, capaz de mimetizar a ação deste neurotransmissor. Por essas razões, a

ayahuasca é capaz de atuar em aspectos psicológicos dos indivíduos, tornando a bebida foco

deste trabalho devido sua capacidade de proporcionar tratamentos físicos e mentais,

promovendo novos estudos sobre sua eficácia terapêutica.

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2 JUSTIFICATIVA

A dependência e a depressão são doenças com um alto impacto na vida de muitas

pessoas e de seus familiares, com enorme comprometimento no quesito social, ocupacional e

em outras áreas de funcionamento (POWELL, 2008). Estudos mostram que das dez principais

causas de incapacidade em todo o mundo, cinco eram condições psiquiátricas. E que, até

2020, a depressão irá se destacar como uma das três principais causas de doenças no mundo

(MURRAY, 1996). E a dependência, como por exemplo o álcool, foi considerado o mais

sério problema de saúde quando o assunto é dependência de drogas (CARLINI, 2006).

Apesar da existência de tratamentos, é muito comum que ocorra a dificuldade de

aceitação da própria tristeza ou do vício (CENCI, 2004). As pessoas que procuram por ajuda,

encontram principalmente duas abordagens farmacológicas: os medicamentos antidepressivos

e ansiolíticos (SOUZA, 1999), onde os antidepressivos muitas vezes demoram a fazer efeito

terapêutico e produzem eventos adversos. Sendo assim, novas opções devem ser exploradas a

fim de que sejam descobertos novos tratamentos para a depressão, que atuem com maior

eficácia e menos efeitos adversos, e contra a dependência de drogas, já que este último não é

visto como um problema de saúde de acordo com os critérios da medicina acadêmica.

A motivação para realizar esta pesquisa se deu através da leitura de assuntos sobre o

tema, prestando atenção aos membros dos estudos que se referiam ao uso da ayahuasca como

tendo um possível efeito positivo para tratar casos de dependência ou depressão.

Considerando os estudos que revelam o potencial dos componentes da ayahuasca, uma outra

motivação se dá pelo fato dos resultados dos membros participantes das religiões instigarem

pesquisadores, psicólogos ou até mesmo cientistas para analisar os benefícios da bebida para

tratar problemas de saúde mental. Fazendo com que este trabalho apresente uma análise

crítica dos componentes da bebida e do seu potencial para um possível tratamento dos temas

abordados.

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3 OBJETIVO

3.1 GERAL

Avaliar o potencial terapêutico e a segurança da ayahuasca no tratamento da

dependência e da depressão.

3.2 ESPECÍFICOS

Revisar as propriedades do chá e os efeitos dos seus principais componentes;

Verificar os trabalhos publicados em ordem cronológica sobre o uso do chá

destacando os resultados dos artigos com maior relevância ao tema.

Especular com base nas evidências descritas em literatura um mecanismo

farmacológico que embase o tratamento da dependência e depressão;

Comparar os antidepressivos de uso padrão com a toxicidade dos princípios ativos da

ayahuasca.

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4 METODOLOGIA

4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Trata-se de uma revisão bibliográfica acerca do potencial da ayahuasca e seu possível

envolvimento no tratamento da dependência e depressão, selecionando artigos que atendem

aos objetivos do trabalho (sessão 3.1 e 3.2). Para compor a revisão, realizou-se uma análise

crítica e minuciosa dos documentos disponibilizados incluindo somente os trabalhos que estão

de acordo com os critérios de inclusão.

4.2 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO

Os artigos selecionados para efetuação do presente trabalho foram pesquisados em

revistas eletrônicas públicas, a saber: Science Direct, Pubmed, SciELO, Portal CAPES,

Google acadêmico, LILACS, TOXNET permitindo assim abranger trabalhos nacionais e

internacionais. A pesquisa limitou-se a trabalhos publicados desde 1964, início dos estudos

com ayahuasca, até o final do ano de 2016. A seleção dos artigos obedeceu à busca nos

idiomas inglês e português, utilizando os seguintes descritores: “Depression Ayahuasca”,

“Ayahuasca”, “DMT”, “Harmina”, “Harmalina”, “THH”, “Ayahuasca Substâncias

Psicoativas”, “Ayahuasca Dependence”, “Ayahuasca Addiction”.

4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Para seleção dos artigos foram adotados como critérios de inclusão:

Seleção dos trabalhos que obedeceram aos descritores pré-definidos na sessão 4.2;

Artigos científicos encontrados em revistas eletrônicas públicas assim como capítulos de

livros que abordam informações relevantes sobre o tema;

Artigos científicos de estudos clínicos e pré-clínicos onde foi possível avaliar a

ocorrência de relação causal entre as substâncias contidas na ayahuasca e seus efeitos no

tratamento da dependência e depressão.

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Os critérios de exclusão foram:

Estudos que não obedeceram à pesquisa através dos descritores e que não atendiam o

foco do trabalho;

Exclusão de artigos que sejam exclusivamente de cunho antropológico ou religioso.

4.4 CONSTRUÇÃO DO TEXTO

Após seleção dos artigos respeitando os critérios de inclusão e exclusão e acurada

leitura dos mesmos, deu-se a construção do texto final.

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5 RESULTADOS

5.1 PESQUISA CRONOLÓGICA

Tomando por base os trabalhos procurados nas revistas eletrônicas públicas descritas

na sessão 4.2, foi possível verificar o crescimento de pesquisas e publicações referentes ao

termo “ayahuasca” nos últimos anos, mas que não se compara à quantidade de estudos

publicados no ano 2000 (Gráfico 1).

A base de dados Google Acadêmico apresentou aproximadamente 14.000 documentos

totais com o descritor “Ayahuasca” e forneceu o maior número de resultados. Junto desta,

tivemos as bases Portal CAPES e ScienceDirect, que forneceram como resultado os números

totais de 3.760 e 440 documentos, respectivamente, enquanto que a base Pubmed apresentou

um resultado de 211 documentos com o mesmo descritor. Nas bases de dados SciELO e

LILACS foram obtidos 45 e 33 documentos, apresentando números totais de resultados sem

diferenças significativas.

Em quantidades absolutas, embora a base Pubmed tenha fornecido uma menor

quantidade de documentos totais quando comparada as demais, esta foi a base mais assertiva,

com menor variedade de resultados.

Gráfico 1 – Publicações entre os anos de 1960 a 2016, sobre o termo “Ayahuasca” com base

na base de dados ScienceDirect.

2 5

33 38

138

1960 1970 1980 1990 2000

22 19

24 25 23

34

60

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

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Apesar de considerarmos 1960 o ano em que começaram os primeiros trabalhos, onde

as pesquisas surgiram a partir das publicações de Rios (1962) e Naranjo (1967), o Centro

Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), menciona publicações

científicas referentes ao termo “Ayahausca” que nos permite concluir que as primeiras

pesquisas tiveram início a partir da década de 1930, como por exemplo, com a publicação de

Costa, O.A. & Faria, L, na Revista da Flora Medicinal (RJ), cujo título é “A planta que faz

sonhar – Yage”, em 1936. A pesquisa mencionada está disponível na sua versão online na

rede mundial de computadores. (https://omaciel.wordpress.com/2009/11/13/publicacoes-

cientificas-que-mencionam-a-ayahuasca/).

A fim de restringir somente os documentos que se referem ao tema proposto neste

trabalho, gerou-se os gráficos abaixo, cujos números dos resultados totais foram obtidos com

a utilização dos descritores “Ayahuasca Depression” e “Ayahuasca Addiction”,

respectivamente.

Gráfico 2 - Publicações entre os anos de 2010 a 2016, sobre o termo “Ayahuasca Depression”

e “Ayahuasca Addiction” (respectivamente) com base na base de dados ScienceDirect.

Na base de dados ScienceDirect, após avaliação mais detalhada, foi possível analisar

que esta base apresentou uma maior variedade de resultados, com um pequeno número de

estudos sobre o tema proposto e um elevado grau de heterogeneidade entre eles. De acordo

com o tema proposto para o trabalho, a média de publicações entre os anos de 2010 a 2015

relacionadas ao tema se manteve baixa, apresentando, entretanto um aumento do número de

publicações bastante significativo no ano de 2016.

7 5 8 7

9 8

27

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

4 4 9 11

8 8

29

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

“Ayahuasca Depression” “Ayahuasca Addiction”

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5.1.1 Seleção dos estudos

A figura abaixo ilustra o número total de artigos encontrados, considerando todos os

descritores, bases de dados e documentos repetidos, totalizando cerca de 18.489 documentos,

e destes, após análise dos artigos, apenas 78 foram incluídos no presente trabalho, 25

documentos foram incluídos nos resultados, sendo 13 o número de documentos de maior

relevância (Gráfico 3).

Gráfico 3 – Obtenção do número total de documentos encontrados, incluídos no trabalho,

incluídos nos resultados e seleção dos mais relevantes.

5.2 AYAHUASCA: FARMACOLOGIA, MECANISMO DE AÇÃO E SEUS

COMPONENTES

A ayahuasca é composta, normalmente, pela associação de duas plantas primordiais:

as cascas e caules da Banisteriopsis Caapi, junto com as folhas da Psychotria viridis. Esta

combinação é capaz de formar uma associação sinérgica, onde o B. Caapi possui no seu caule

as β-carbolinas, inibidoras reversíveis da enzima monoaminoxidase (MAO). E a P. viridis

contém em suas folhas a dimetiltriptamina (DMT), que é um potente alucinógeno

(CALLAWAY et al., 1994).

As concentrações dos alcalóides presentes na bebida podem variar de acordo com o

método de preparação, bem como a quantidade e proporção das partes das plantas utilizadas

durante o preparo do chá. Ao avaliar a concentração aproximada dos alcalóides na bebida em

diferentes preparações, obtiveram-se em média os seguintes teores: 0,31 a 0,73 mg/mL de

18.489 Documentosencontrados

78 Documentos incluídos

25 Documentos incluídosnos resultados

13 documentos de maiorrelevância

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DMT; 0,21 a 0,67 mg/mL de THH; 0,64 a 1,72 mg/mL de HRL e 0,37 a 0,83 mg/mL de

HRM (PIRES et al., 2010).

A DMT quando administrada por via parenteral é um potente alucinógeno na dosagem

de aproximadamente 25 mg. Devido a sua semelhança estrutural com a serotonina, a DMT

tem ação agonista nos receptores: 5-HT1A e 1B e 5-HT2A e 2C (YRITIA, 2002). Embora por via

oral a DMT administrada sozinha em doses de até 1000 mg apresenta-se inativa,

provavelmente devido sua desaminação proveniente da função da enzima MAO hepática e

intestinal (MCKENNA, CALLAWAY & GROB, 1998).

Dentre as β-carbolinas, a harmina encontra-se presente no chá em maior concentração.

Por serem inibidoras da MAO, as β-carbolinas são capazes de aumentar os níveis de

serotonina no cérebro e seus efeitos sedativos ocorrem principalmente devido ao bloqueio da

desaminação de serotonina. Deve-se frisar que a ação primária dessas três importantes

substâncias acontece devido a inibição da MAO-A periférica, que protege e impede a

degradação periférica da DMT, tornando-a ativa oralmente. A tetraidroharmina (THH),

segunda β-carbolina mais abundante na bebida, atua como um fraco inibidor da recaptação de

serotonina e inibidor da MAO (IMAO), assim, existem evidências de que a THH pode atuar

prolongando a meia vida da DMT devido a um bloqueio intraneural e também bloquear a

recaptação de serotonina no neurônio resultando em níveis elevados de 5HT na fenda

sináptica, aumentando os efeitos subjetivos da DMT quando ingerida oralmente (COSTA et

al., 2005).

Um estudo observou que a inibição periférica da MAO possibilitou que níveis

adequados de DMT presentes na bebida chegassem ao SNC, causando alterações perceptuais,

cognitivas e afetivas intensas, porém de pequena duração. Esses efeitos subjetivos começaram

de 35 a 40 minutos após ingestão e terminaram após cerca de 4 horas (OSÓRIO et al., 2011).

As principais substâncias contidas na preparação da ayahuasca (as β-carbolinas e a

dimetiltriptamina) são estruturalmente semelhantes ao neurotransmissor de serotonina (5HT)

(Figura 3) e que, assim como o ácido lisérgico de dietilamina (LCD) e a mescalina, que

também são potentes alucinógenos, a DMT atua como agonista dos receptores

serotoninérgicos no sistema nervoso central (SNC) (RIBA et al., 2003). É evidente que esse

conjunto de alcalóides presentes na Ayahuasca atuam no SNC induzindo estados alterados de

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consciência, promovendo alterações emocionais e mudanças na percepção da “realidade”

(SOUZA, 2011).

Figura 4: Similaridade entre as estruturas moleculares dos principais compostos presentes na

ayahuasca com a serotonina.

Os estudos apresentados adiante analisam separadamente cada um dos componentes

da ayahuasca, permitindo obter uma visão mais detalhada a respeito dos componentes que

compõem o chá e sua possível correlação com a depressão e com outros efeitos.

5.2.1 Harmina (HRM)

A HRM apresenta alta afinidade pela MAO-A, afinidade moderada pelo receptor 5-

HT2A e modesta afinidade para os receptores 5-HT2C (BRIERLEY, 2012).

O modelo farmacocinético clássico da ayahuasca sugere que a harmina inibe a MAO-

A no intestino e no fígado, e como já mencionado, esta ação impede a degradação da DMT,

facilitando assim seus efeitos psicoativos (FRISON, 2008).

Os efeitos antidepressivos da harmina, foi avaliado em estudo de natação forçada

(FST) utilizando modelos animal, quando administrada dose de 5 a 15 mg/kg por via

intraperitoneal, houve redução do tempo de imobilidade do animal, o que indica um efeito

antidepressivo, capaz de reverter os sintomas de anedonia (SANTOS et al. 2016).

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Os estudos conduzidos por Fortunato et al. (2009), utilizou o teste de natação forçada

em roedores para investigar os efeitos antidepressivos da harmina. Comparando os efeitos

comportamentais da administração de harmina, imipramina e placebo. Ao observar seus

resultados, foi possível avaliar que os tratamentos com harmina e imipramina foram

associados com menor tempo de imobilidade, onde ambos apresentaram resultados

antidepressivos positivos. Outro estudo conduzido por Fortunato et al. (2010) objetivou

avaliar a melhora de anedonia induzida em roedores, onde após 40 dias a administração da

harmina foi capaz de reverter os efeitos de perda de interesse ou prazer.

Essas descobertas sustentam ainda mais a hipótese de que a harmina pode ser um novo

alvo farmacológico a ser estudado para o tratamento da depressão.

5.2.2 Harmalina (HRL)

A HRL tem demonstrado ser um potente inibidor da MAO, na qual sua inibição foi

capaz de atingir 50% do metabolismo de serotonina, sendo esta inibição de forma reversível

tanto em estudos in vitro quanto in vivo (UDENFRIEND, 1958).

Estudo em camundongo verificou que baixas doses de harmalina (5 a 10 mg/kg)

aumentaram a ansiedade dos animais, enquanto que doses mais elevadas (20 mg/kg)

produziam efeitos ansiolíticos devido sua ação como inibidor da MAO-A, que resultou em

aumento nas concentrações de serotonina no cérebro. (SANTOS et al, 2016).

5.2.3 Tetrahidroharmina (THH)

Embora não seja um forte inibidor da MAO foi demonstrado que, a THH, segunda β-

carbolina mais abundante na bebida, possui uma possível contribuição para a neuroatividade

inibindo fracamente a recaptação de serotonina nas vias pré-sinapticas resultando no aumento

das concentrações de serotonina devido à ação conjunta com os demais alcalóides presentes

na Ayahuasca (AIRAKSINEN, 1980).

Portanto, a THH pode atuar prolongando a meia vida da DMT através do bloqueio da

sua recaptação intraneural. Por outro lado, a THH também é capaz de bloquear a recaptação

neuronal de serotonina, resultando em níveis mais elevados de serotonina na fenda sináptica,

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aumentando os efeitos subjetivos da DMT ingerida oralmente por competir com os sítios

receptores pós-sinápticos (MCKENNA et al., 1998).

5.2.4 Dimetiltriptamina (DMT)

A maioria dos alucinógenos leva ao fenômeno de tolerância, destacando-se aqueles

que atuam sobre o receptor de serotonina, sendo necessárias doses cada vez maiores pra

conseguir suprir os mesmos efeitos iniciais. Entretanto, a DMT destacou-se por ser uma

exceção, onde esta substância durante seu uso isolado não resultou no desenvolvimento de

tolerância crescente após doses utilizadas (LABIGALINI, 1998).

A DMT, substância de maior efeito psicoativo da ayahuasca, apresenta ação agonista

no receptor serotoninérgico 5-HT2A (BRIERLEY, 2012). Há evidências de que este composto

é capaz de modular o processo emocional, reduzir a ansiedade e sintomas depressivos, além

de aumentar o humor positivo (SANTOS, 2016).

Nos estudos de Strassman e Qualls (1994), a DMT quando administrado em humanos

por via intravenosa resulta em efeitos subjetivos que ocorrem após dois minutos, utilizando

doses em torno de 0,2 mg/kg. Por outro lado, a cinética da DMT é muito mais lenta quando

consumida oralmente em preparações tradicionais, com tempo máximo em média de 107

minutos e um tempo de meia vida de aproximadamente 259 minutos (CALLAWAY et al.,

1999).

5.3 PROPRIEDADES DOS ANTIDEPRESSIVOS (PROZAC E IPRONIAZIDA) E

COMPARAÇÃO DA SEGURANÇA TOXICOLÓGICA COM OS COMPONENTES DA

AYAHUASCA

Apesar de alguns pesquisadores e uma longa história e tradição de uso indígena

considerem que a preparação da ayahuasca pode ser utilizada com segurança, poucos dados

clínicos foram sistematizados (MCKENNA, 2004) Visto isso, em algumas situações a

utilização da bebida deve ser usada cautelosamente. Como já mencionado, as β-carbolinas

possuem uma ação inibidora e seletiva da MAO, onde este bloqueio está associado ao

acumulo de uma alta quantidade de serotonina nas terminações nervosas. Por serem potentes

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inibidores da MAO, as β-carbolinas podem ocasionar efeitos adversos denominados

“síndrome serotoninérgica” (GARRIDO et. al. 2009), nas quais podemos destacar agitação,

tremor, diarréia, taquicardia e até mesmo a morte (BASU, 2005).

Ao que tudo indica, o uso regular do chá da ayahuasca proporciona uma modulação a

longo prazo dos sistemas serotoninérgicos no cérebro (LABATE, & CAYNAR, Eds. 2013).

Este fato foi esclarecido no estudo realizado por Callaway et. al. (1994), onde o parâmetro

medido no estudo realizado com os membros participantes foi uma elevação na densidade de

transportadores serotoninérgicos em plaquetas, na qual esse efeito pode ser correlacionado a

presença de uma das β-carbolinas presentes na mistura de ayahuasca. É importante destacar

que no presente estudo não foi medido diretamente os níveis cerebrais, pois é utilizado há

muito tempo as plaquetas como sendo um marcador bioquímico que apresentam resultados

semelhantes ao que ocorre no cérebro, embora exista controvérsia sobre a correlação entre as

alterações dos transportadores de plaquetas e as mudanças nos transportadores presentes no

sistema nervoso central.

Idealmente, o estudo poderia ser realizado em cérebros pós-morte. Uma vez que isso

não foi possível, os pesquisadores resolveram correlacionar e observar os locais de transporte

de serotonina em plaquetas sanguíneas, visto que os ensaios de ligação as plaquetas foram

considerados adequados para o estudo proposto, já que o objetivo era identificar a presença de

marcadores bioquímicos a longo prazo que pudessem ser identificados e que estivessem

correlacionados com o consumo da ayahuasca (MCKENNA, 2004).

Sendo assim, o uso da ayahuasca quando combinado com determinados medicamentos

antidepressivos, incluindo os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (SSRIs), pode

resultar em uma crise serotoninérgica (SANTOS, 2007). E devido ao aumento do consumo de

medicamentos antidepressivos (GARCIAS, 2008) junto com o crescente interesse no chá de

ayahuasca (SÁNCHEZ Y BOUSO, 2015), isso faz com que se aumente o risco de toxicidade.

5.3.1 Antidepressivos

Atualmente, uma série de alternativas estão disponíveis para tratar a depressão, tais

como: drogas antidepressivas, psicoterapia, terapia eletroconvulsiva, dentre outros

tratamentos somáticos. Em relação aos tratamentos farmacológicos, a descoberta dos

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antidepressivos destacou-se entre as outras terapias disponíveis, provocando uma revolução

no tratamento da depressão (OSÓRIO et al., 2011).

Existem diversas classes de antidepressivos disponíveis, sendo classificados de acordo

com seus efeitos na sinapse neural, sua ação na enzima monoaminaoxigenase (MAO) ou de

acordo com sua estrutura química. Dentre as classes existentes, temos: os antidepressivos

tricíclicos (TCA) e inibidores da MAO (IMAO) – conhecidos como antidepressivos de

primeira geração ou clássicos. Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs),

inibidores seletivos da reabsorção de noradrenalina e os inibidores da recaptação de

serotonina e noradrenalina – na qual correspondem aos antidepressivos mais recentes e

seletivos (MORENO, 1999). O presente trabalho destacou as principais classes que

apresentam uma correlação com os possíveis mecanismos de ação da ayahuasca, sendo elas:

os ISRSs e os IMAO.

O primeiro antidepressivo a ser estudado e posteriormente comparado com os

componentes e efeitos da ayahuasca foi a fluoxetina comercializada como éter (cloridrato de

fluoxetina) de nome comercial Prozac®, considerado um medicamento de nova geração que

garante eficácia no tratamento da depressão e ansiedade com menor risco de efeitos adversos

(LEMOS, 2005). Por ser um ISRSs, a fluoxetina inibe de forma eficaz e seletiva a recaptação

de serotonina, promovendo um aumento de potencial da neurotransmissão serotoninérgica

(MORENO, 1999). Pertencente a mesma classe da fluoxetina, também é possível designar a

paroxetina, a sertralina, a fluvoxamina e o citalopram, na qual possuem o mesmo mecanismo

de ação, inibindo seletivamente a recaptação de serotonina (SOARES, 2005).

Sabe-se que o transportador de serotonina é uma proteína ligada a neurônios que

controla a recaptação deste neurotransmissor a partir de sinapses, sendo este o local de ação

da fluoxetina e de outros inibidores seletivos da recaptação de serotonina. Deste modo, este

transportador está envolvido com síndromes como depressão e outras que ocasionam

mudanças de humor, o que fez com que pesquisadores levantassem a hipótese de que há uma

correlação entre o uso de ayahuasca em longo prazo e as mudanças comportamentais

ocasionadas com o aumento dos transportadores de serotonina (MCKENNA, 2004). Ao

revisar publicações anteriores foram encontrados déficits graves na densidade desses

transportadores em indivíduos com transtornos comportamentais, destacando-se pacientes

com histórias de alcoolismo, violência e com possível comportamento suicida

(HALLIKAINEN et al. 1999).

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Os IMAOs é a segunda classe de antidepressivo a ser estudada. Apesar de comprovada

sua eficácia, os IMAOs não são mais considerados de primeira linha devido as suas restrições

e efeitos colaterais que, no geral, não são bem tolerados (HOLLANDER, 2009). Nesse

trabalho foi destacado a iproniazida, entretanto, para representar essa classe, também é

possível destacar a isocarboxazida, a fenelzina, a tranilcipromina, dentre outros classificados

como inibidores não seletivos e irreversíveis (SOUZA, 2013).

Sabe-se que os efeitos da iproniazida podem durar por dias após o desaparecimento do

fármaco no corpo. Entretanto, tanto do ponto de vista experimental quanto terapêutico é

desejável a obtenção de inibidores reversíveis da MAO com uma curta duração, onde os

alcalóides presentes no chá, com destaque principalmente para a harmalina, caracterizam-se

por serem inibidores da MAO muito mais potentes do que a iproniazida (SIDNEY, 1958).

O estudo de Sidney (1958) destaca que, tanto inibidores reversíveis quanto

irreversíveis da MAO são úteis, entretanto sabe-se pouco sobre as possíveis conseqüências

clínicas da inativação da MAO por longos períodos de tempo. Além disso, compostos como a

iproniazida podem reagir irreversivelmente com outros sítios biológicos. Dessa forma, o

estudo demonstrou que, inibidores reversíveis da MAO, como por exemplo a harmalina, são

clinicamente muito mais seguros terapeuticamente.

Devido a ayahuasca possuir compostos químicos que são capazes de inibir

reversivelmente a MAO, inibir a recaptação de serotonina e conseguir mimetizar os efeitos

deste neurotransmissor, levantou-se a hipótese do seu uso ser utilizado na melhora da

depressão, visto que suas propriedades apresentam similaridade com determinadas

substâncias utilizadas no tratamento de patologias como a depressão (SANTOS, 2006).

Os tratamentos farmacológicos atualmente disponíveis para depressão apresentam

limitações associadas, que são: baixa taxa de resposta, efeitos secundários e tempo

prolongado para atingir os efeitos terapêuticos desejados (OSÓRIO et al., 2011), bem como

efeitos adversos mais freqüentes, que são: náuseas, vômitos, dores abdominais, agitação,

insônia, diarréia, etc (SOARES, 2005). Visto isso, estudar os componentes ayahuasca pode

ser considerado uma nova estratégia farmacológica com um grande impacto no tratamento da

depressão.

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5.3.2 Potencial toxicológico da Ayahuasca

Dependendo das condições de exposição, todos nós estamos expostos a substâncias

químicas tóxicas (FONSECA et. al. 2008). Entretanto, a avaliação da toxicidade é realizada

com o objetivo de determinar o potencial das substâncias e suas possíveis condições de causar

dano no que se refere à saúde humana (VALADARES, 2006).

Considerar o critério de letalidade avaliado em experimentos com animais utilizando

uma única dose do chá pode ser uma estimativa limitada quando comparada com a toxicidade

humana, pois não são incluídas algumas variáveis, tais quais: condições ambientais,

diferenças interespécies e fatores fisiológicos, por exemplo. (PIRES et. al. 2010). Visto isso,

foi introduzido no ano de 1927 o teste da DL50 com o intuito de avaliar a dose letal de uma

substância para metade do grupo testado (VALADARES, 2006), sendo uma variável que

representa uma relação de dose-resposta estabelecida, destacando-se como um importante

indicador de toxicidade que representa a morte de 50% do total determinado (GABLE, 2007).

As tabelas abaixo foram feitas com base no site TOXNET, avaliando para cada

componente a sua respectiva toxicidade, com base nos parâmetros LDLo, TDLo e DL50. Bem

como a dose reportada e a via na qual foi administrada.

A toxicidade aguda da harmina, harmalina e DMT é apresentada nas Tabelas 1, 2 e 3,

respectivamente.

Tabela 1: Toxicidade da Harmina.

Organismo Teste Via Dose

reportada

Efeitos Referência

Gato LDLo

Intravenosa 10 mg/kg - Naunyn-

Schmiedeberg's

Archiv fuer

Experimentelle

Pathologie und

Pharmakologie.

Vol. 129, Pg. 133,

1928

Homem TDLo Intramuscular 3 mg/kg Tremor,

sono,

náuseas ou

vômitos.

Naunyn-

Schmiedeberg's

Archiv fuer

Experimentelle

Pathologie und

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Pharmakologie.

Vol. 129, Pg. 133,

1928.

Camundongo DL50 Subcutânea 243 mg/kg Excitação,

Agitação.

Pharmaceutical

Chemistry Journal

Vol. 10, Pg. 1171,

1976.

Camundongo LDLo Intravenosa 50 mg/kg - Naunyn-

Schmiedeberg's

Archiv fuer

Experimentelle

Pathologie und

Pharmakologie.

Vol. 129, Pg. 133,

1928.

Coelho LDLo Intravenosa 60 mg/kg Excitação,

Dilatação

da pupila,

ataxia.

Neuropharmacology

. Vol. 10, Pg. 15,

1971.

Fonte: TOXNET, disponível em: <https://chem.nlm.nih.gov/chemidplus/rn/442-51-3>

Legenda: DL50= Dose letal necessária para matar 50%; LDLo= Menor dose letal; TDLo= Menor dose

tóxica;

Tabela 2: Toxicidade da Harmalina.

Organismo Teste Via Dose reportada

(Normalizada)

Efeitos Referência

Camundongo DL50

Subcutânea 120 mg/kg - Psychopharmacolo

gy Service Center,

Bulletin. Vol. 2,

Pg. 17, 1963.

Coelho LDLo Intravenosa 20 mg/kg Dilatação

da pupila,

ataxia,

excitação.

Neuropharmacolo

gy . Vol. 10, Pg.

15, 1971.

Fonte: TOXNET, disponível em: <https://chem.nlm.nih.gov/chemidplus/rn/304-21-2>

Legenda: DL50= Dose letal necessária para matar 50%; LDLo= Menor dose letal;

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Tabela 3: Toxicidade da DMT.

Organismo Teste Via Dose

reportada

Efeitos Referência

Homem TDLo

Intramuscular 1 mg/kg Dilatação da

pupila,

Alucinações e

percepções

distorcidas

Psychopharmaco

logia Vol. 4, Pg.

39, 1963.

Camundongo DL50 Intraperitone-

al

47 mg/kg - Yakugaku

Zasshi. Journal

of Pharmacy.

Vol. 94, Pg.

1620, 1994.

Camundongo DL50 Intravenoso 32 mg/kg - U.S. Army

Armament

Research &

Development

Command,

Chemical

Systems

Laboratory,

NIOSH

Exchange

Chemicals. Vol.

NX#00740,

Fonte: TOXNET, disponível em: <https://chem.nlm.nih.gov/chemidplus/rn/61-50-7>

Legenda: DL50= Dose letal necessária para matar 50%; TDLo= Menor dose tóxica;

De acordo com Lamchouri et al. (2002), um extrato aquoso contendo as β-carbolinas

presentes no chá, quando administradas oralmente em camundongos resultou em uma DL50 de

2g/kg. E como as β-carbolinas aparentemente são menos tóxicas, tomou-se como base os

estudos focados na DMT.

Tomando por base a DMT, observou-se que a DL50 em camundongos é relatada como

47mg/kg por via intraperitoneal e 32 mg/kg pela via intravenosa.

A tentativa de extrapolar dados de letalidade de camundongos para humanos pode ser

uma estimativa limitada, e devido a isso torna-se importante pressupor alguns dados, mas que

não são originais. Uma extrapolação da letalidade da DMT através de informações obtidas de

camundongos para humanos foi exemplificada nos estudos de Gable (2007), onde o

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pesquisador tomou por base uma regra tradicional na qual assume que os seres humanos são

10 vezes mais sensíveis (com base no seu peso corporal) do que camundongos. Entretanto,

quando não existem informações sobre a DL50 de determinada substância (como é no caso da

DMT), deve-se assumir o princípio da precaução, onde o autor presumiu, através de dados

coletados, que humanos são 20 vezes mais sensíveis do que camundongos, o que resultaria em

uma DL50 humana de 1,6 mg/kg (32mg/kg divididos por 20 vezes) para a DMT quando

administrada pela via intravenosa.

De acordo com Gable (2007), ao extrapolar os dados avaliados para uma pessoa cujo

peso corpóreo é de aproximadamente 70 kg, nota-se que a DL50 é de 112 mg, considerando a

via intravenosa. Tomando por base a via oral, é importante realçar que a biodisponibilidade é

significativamente menor, onde 112 mg administrados pela via intravenosa corresponderia

aproximadamente a uma dose letal de 560 mg quando administrado pela via oral, assumindo

uma conversão de 1:5 para uma pessoa de aproximadamente 70 kg. É importante destacar

que, a conversão de 1:5 foi feita com base na hipótese de Gable (2007) onde o pesquisador

considera que a administração de 0,4 mg/kg de uma dose intravenosa de DMT é equivalente a

aproximadamente 2,0 mg/kg de DMT administrados pela via oral, onde ambas as doses foram

capaz de provocar efeitos “altamente psicodélicos”.

Para discutir sobre a toxicologia da bebida, suas doses e possíveis riscos, é importante

mencionar o Projeto de Farmacologia Humana da Hoasca (“Hoasca Project”), dedicado a

investigação dos usos médicos e terapêuticos da bebida. No estudo realizado em humanos,

cada indivíduo recebeu uma dose média de 35,5 mg de DMT, 29,7 mg de harmalina, 158,8

mg de THH e 252,3 mg de harmina, presentes na bebida. Destacando que, para o DMT, a

dose mencionada está acima do limite de atividade que o considera um psicodélico; a harmina

e THH também apresentam valores acima do seu limite como inibidores da MAO, a

harmalina não apresenta valores consideráveis, podendo caracterizá-la como um componente

traço do chá (MCKENNA, 2004).

Ao comparar os dados pressupostos acima com os valores de DMT administrados no

“Hoasca Project”, observamos que o valor da DL50 obtida no estudo de Gable (2007) pela via

oral é aproximadamente 16 vezes maior (560 mg dividido por 35,5 mg) do que a dose

administrada oralmente durante um ritual religioso da ayahuasca.

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Grob et al. (1996) relatou que, durante estudos de longo e curto prazo, não haviam

evidências de toxicidade durante as sessões ou outros efeitos adversos. Entretanto, todos os

resultados mencionados em relação segurança da ayahuasca devem ser analisados com

cautela.

Segundo Gable (2007), a probabilidade de uma overdose causada pelos componentes

presentes no chá é minimizada pela estimulação da serotonina que, por sua vez, induz a êmese

quando atingido uma dose considerável de ayahuasca. Por sua vez, o risco de super dosagem

ou efeito indesejável parece estar relacionado principalmente ao uso concomitante de

substâncias serotoninérgicas, ou pessoas cujo metabolismo considera-se anormal ou

comprometido. Estas devem evitar com prudência o uso da ayahuasca.

Um grupo de pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona realizou

investigações clínicas visando examinar aspectos farmacológicos do chá em voluntários

sadios. Em seus estudos, os mesmos documentaram alterações subjetivas e fisiológicas

induzidas pelo preparo da ayahuasca liofilizada, o que fez com os pesquisadores envolvidos

concluíssem que o chá é bem tolerado e apresenta um perfil aceitável de efeitos colaterais.

Um fator ainda mais relevante sobre o uso da ayahuasca em seres humanos foi que nenhuma

reação adversa grave, evidência de toxicidade ou falta de tolerabilidade ocorreu ao longo dos

estudos com humanos, proporcionando uma maior segurança quanto ao uso do chá (RIBA et

al., 2002).

De acordo com Santos, Rafael G. et al. (2016), responsável pelo primeiro ensaio

clínico em pacientes com sintomas de depressão recorrente, a administração de uma dose de

ayahuasca após aproximadamente 21 dias sugeriu efeitos ansiolíticos e antidepressivos, sendo

estes resultados baseados nas escalas HAM-D, MADRS e BPRS, principais escalas utilizadas

para avaliar a depressão.

A Escala de Hamilton para Depressão (HAM-D) foi desenvolvida no final da década

de 50, sendo a escala de depressão mais utilizada mundialmente. Considerada como “padrão

ouro” para avaliar a gravidade da depressão, esta escala é utilizada para avaliar e quantificar

pacientes com diagnóstico prévio de transtorno depressivo (NETO, 2001).

A Escala de Avaliação para Depressão de Montgomery-Åsberg (MADRS), foi

desenvolvida no ano de 1979, na qual baseia-se em uma entrevista clínica com questões

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formuladas sobre sintomas que permitem uma classificação precisa da gravidade da depressão

(MONTGOMERY, 1979).

A Escala Breve de Avaliação Psiquiátrica (BPRS), tem sido um dos instrumentos mais

utilizados para avaliar pacientes com sintomas de esquizofrenia (LEUCHT, 2005). Embora

suas propriedades em relação à confiabilidade e sensibilidade tenham sido examinadas, suas

implicações clínicas nem sempre são claras. Dentre os sintomas avaliados, destacam-se:

desordens de pensamento e depressão ansiosa (OSÓRIO et al., 2015).

É importante destacar que os estudos com seres humanos foram principalmente de

natureza observacional, o que limitou a investigação dos estudos feitos com o uso da

ayahuasca devido a dificuldade de conseguir diferenciar se as melhoras observadas foram

decorrentes da ingestão do chá ou da adesão a um grupo religioso. O que faz com que as

evidências disponíveis em seres humanos sejam consideradas preliminares (SANTOS et al.,

2016).

5.4 AS INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS E A AYAHUASCA

A revista Interviú no ano de 2015 publicou uma reportagem cujo tema era “Ayahuasca

contra la depresión”, na qual afirmou que, em um estudo realizado em 2010 com três

mulheres que possuem diagnostico de ansiedade e episódios depressivos, após tomarem uma

única dose, as mesmas apresentaram uma diminuição significativa dos seus sintomas. E

apesar de todas as evidências comentadas e debatidas, os estudos ainda são escassos.

O senso comum indica que as indústrias farmacêuticas protegem seus mercados de

antidepressivos de uso duradouro ou, até mesmo, de uso vitalício, como é o caso do Prozac®.

De acordo com Josep María Fericgla (presidente da Sociedade de Etnopsicologia Aplicada),

ele questiona:

“Como os laboratórios vão querer experimentar a ayahuasca se em uma ou

duas sessões se pode resolver muitos problemas? Não é interessante

economicamente.“

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Tendo em vista a ambição das indústrias farmacêuticas, é possível imaginar que a

utilização do chá ganhe cada vez mais destaque como uma futura terapia alternativa, embora

ainda possa demorar mais alguns anos.

Ao considerar a necessidade de novas drogas no mercado que produz menor

quantidade de efeitos adversos com maior eficácia na redução da ansiedade e sintomatologia

depressiva, isso faz com que os efeitos descritos da ayahuasca e seus alcalóides sejam cada

vez mais investigados. Logo, ao considerar o tempo médio necessário para o início da ação

terapêutica de um antidepressivo comercialmente disponível ser de aproximadamente 2

semanas, estudos e ensaios clínicos relatam que a ação antidepressiva rápida da ayahuasca é

um estudo bastante promissor (SANTOS, et al. 2016).

Ao levar em consideração os resultados dessa pesquisa os mesmos sugerem que a

quantidade de artigos publicados que influenciam positivamente à questão da ayahuasca como

uma possível alternativa terapêutica para tratar dependência e depressão é superior àqueles

que acreditam que seu uso agrava os problemas de depressão e ansiedade. No entanto, sabe-se

que o número de artigos correlacionados ao tema ainda é pequeno, e visto isso se faz

necessário realizar mais estudos com um número maior de populações para que se possam ter

melhores avaliações clínicas com o foco do tema proposto.

É importante ressaltar que o uso da Ayahuasca sempre se dá em um contexto

ritualístico que talvez tenha grande influência no tratamento devido às questões psicossociais

trabalhadas nesse contexto comunitário.

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6 CONCLUSÃO

O presente trabalho trouxe uma revisão sobre o uso da ayahuasca, seja este ritualístico

ou terapêutico, bem como o estudo de seus componentes, que contribuem na investigação de

um possível efeito benéfico no tratamento de pacientes com dependência e depressão,

avaliando sua segurança toxicológica.

O presente trabalho apontou que:

A maioria dos estudos e artigos refere-se o uso da ayahausca, em um contexto ritualístico,

como sendo benéfico por parte dos adeptos.

Nos estudos e experimentos, a ingestão do chá proporciona um aumento de serotonina no

cérebro, onde o déficit desse neurotransmissor está associado a doenças, como por

exemplo, depressão.

Embora haja muitos relatos positivos sobre a ingestão do chá, deve-se levar em

consideração a falta de informações sobre a segurança do uso e os possíveis efeitos

indesejáveis não totalmente esclarecidos.

Em relação aos estudos com efeitos positivos da ingestão do chá documentados nos

artigos, é importante considerar a hipótese de que, indivíduos que tiveram conseqüências

negativas do chá podem ter desistido do estudo e, consequentemente, os pesquisadores

não obtiveram acesso a tais resultados.

A maioria dos artigos científicos que possuem estudos pré-clínicos e clínicos são antigos

e utilizam técnicas obsoletas, sendo necessário realizar estudos recentes com técnicas

mais modernas afim de obter novos resultados.

É evidente que a ayahuasca apresenta potencial terapêutico para tratar dependência e

depressão, entretanto, não se pode negar a importância da sua utilização dentro de um

contexto histórico-religioso ou mesmo, na era moderna, num contexto com

acompanhamento psicoterapêutico, considerando que a presença de um guia (xamã) é

geralmente constante nessas cerimônias.

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