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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
(UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
ETNOBIOLOGIA DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS URBANOS
DO BAIRRO POTI VELHO, TERESINA/PI, BRASIL
ALEXANDRE NOJOZA AMORIM
TERESINA/PI
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
ALEXANDRE NOJOZA AMORIM
ETNOBIOLOGIA DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS URBANOS
DO BAIRRO POTI VELHO, TERESINA/PI, BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-
Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN),
como requisito à obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de Concentração:
Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste. Linha de
Pesquisa: Biodiversidade e Utilização Sustentável dos Recursos
Naturais.
Orientadora: Profª Dra. Roseli Farias Melo de Barros
Co-Orientador: Prof. Dr. João Batista Lopes
TERESINA/PI
2010
FICHA CATALOGRÁFICA
Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco
A524e Amorim, Alexandre Nojoza
Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais
urbanos do bairro Poti Velho, Teresina/PI, Brasil / Alexan-
dre Nojoza Amorim. – Teresina, 2010.
122f. il.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente) - Universidade Federal do Piauí.
Orientadora: Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros.
1. Etnobiologia. 2. Pesca artesanal. 3. Conhecimento
tradicional. I. Título.
CDD 574.52
ALEXANDRE NOJOZA AMORIM
ETNOBIOLOGIA DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS URBANOS
DO BAIRRO POTI VELHO, TERESINA/PI, BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente da Universidade Federal do
Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como
requisito à obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de
Concentração: Desenvolvimento do Trópico
Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:
Biodiversidade e Utilização Sustentável dos
Recursos Naturais.
_______________________________________
Profª Dra. Roseli Farias Melo de Barros
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA/UFPI/PRPPG/TROPEN)
_______________________________________
Prof. Dr. José Luís Lopes Araújo
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA/UFPI/TROPEN)
_______________________________________
Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Membro externo
_______________________________________
Profª Dra. Maria do Socorro Lira Monteiro
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA/UFPI/PRPPG/TROPEN)
(Suplente)
AGRADECIMENTOS
A Deus, sustentáculo da vida.
À Universidade Federal do Piauí, ao Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) e à Coordenação do Mestrado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, pela oportunidade de desenvolvimento pessoal e
crescimento profissional, através desta grande experiência vivida.
Ao Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (Deutscher Akademischer
Austausch Dienst – DAAD), pela concessão da bolsa de estudo, oportunidade ímpar de
desenvolvimento pessoal e profissional.
À minha orientadora, Profª Dra. Roseli Farias Melo de Barros, que iluminou nos
momentos necessários os caminhos corretos para a boa conclusão desta jornada.
Aos moradores e amigos que fiz do bairro Poti velho, pela receptividade e atenção
durante as entrevistas e coletas, especialmente ao Sr. João Paulo (Paulo Preto), Sr. Valdemar
Salvino de Macedo (Seu Jerimum), D. Graça, D. Francisca, Sr. Cessé, Sr. Lisboa e família,
Sr. Luís do Peixe, que tanto colaboraram com seus ensinamentos, experiência de vida e de
humildade.
Ao Prof. Dr. João Batista Lopes, co-orientador, pelas contribuições e
direcionamentos e por suas sempre grandiosas educação e disponibilidade em orientar e
discutir a melhor forma de coletar e trabalhar os dados.
Aos Professores do MDMA, turma 2008-2010, pelo companheirismo, amizade e
compartilhamento de bibliografias e conhecimentos.
Ao Professor M.Sc. Romildo Ribeiro Soares, pela presteza e ajuda nas
identificações ictiológicas.
À minha família, na pessoa da minha mãe, Maria de Fátima Nojoza, meu muito
brigado por tudo. Todo o apoio e incentivo.
À minha tia Miriam Nojosa, que também ajudou a me criar, pelo apoio e estímulo,
exemplo de simplicidade e retidão.
Aos meus irmãos Henrique e Roberto, pela amizade e momentos de descontração.
À minha irmã, Lívia, companheira de estudos, de infância... única irmã, a quem
devo muito por sempre me apoiar, sobretudo nos meus estudos, e servir de exemplo para
aqueles que desejam conquistas maiores.
Aos compadres Eryson Thiago e Ana Dulce, com os quais passei muitos
momentos de alegria e que sempre estiveram dispostos a incentivar e ajudar.
Aos companheiros e amigos do MDMA/UFPI, turma 2008-2010, Rosemary
Sousa, Yuri Cláudio, Stella Carvalho e em especial, Maria Pessoa da Silva e Socorro Barbosa
que me ajudaram nas entrevistas e coletas finais.
A todos os amigos de outras turmas, que ajudaram e/ou torceram pela conclusão
deste trabalho.
Aos grandes amigos, Lúcia Gomes Pereira dos Santos e Fábio José Vieira, que
sempre me ajudaram e aconselharam nas horas mais difíceis desta caminhada.
À estagiária do Herbário Graziela Barroso, Maria da Conceição Sousa, pela ajuda
na preparação do material botânico.
Aos amigos Maxim Jaffe e Marcos Antonio Araújo, pela disponibilidade em
ajudar-me com o entendimento dos cálculos estatísticos.
Aos funcionários do Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico
Ecotonal do Nordeste (TROPEN), Maridete Alcobaça, João Batista Araújo e Raimundo
Oliveira, pela presteza, atenção e amizade.
Aos taxonomistas e/ou curadores dos herbários das mais diversas Instituições de
Ensino e Pesquisa, pela relevante colaboração.
Aos demais familiares e amigos a minha gratidão e carinho, pelo estímulo e
confiança.
Por fim, agradeço a todos, que de alguma forma e em algum momento
contribuíram para que eu continuasse adiante até a conclusão desta pesquisa.
―Se vi mais longe, foi porque me apoiei em ombros de gigantes.‖
Sir Isaac Newton
RESUMO
A Etnobotânica e a Etnozoologia são ramos da ciência que integram a Etnobiologia e
emergem como mediadoras entre aspectos culturais e naturais, numa tentativa de
compreensão dos modos de vida, códigos e costumes das relações entre o homem e a
natureza, fazendo a complementaridade entre o saber tradicional e o saber acadêmico. A pesca
em regiões de foz gera demanda por embarcações que auxiliam tal atividade no leito do rio e
em suas margens. Quintal é o espaço que colabora para a subsistência da família, exercendo
considerável papel econômico, social e cultural na vida das pessoas. Objetivou-se caracterizar
a etnobotânica de quintais e modos e artes de pesca, e a construção de embarcações na
comunidade de pescadores artesanais do bairro Poti Velho, visando conhecer e registrar seus
costumes e tradições. A comunidade de pescadores artesanais do bairro Poti Velho, na capital
do Piauí, localiza-se entre as coordenadas 05°02‘09‘‘S e 42°50‘02‘‘O e 05°02‘03‘‘S e
42°49‘43‖O. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, observação direta, registro
fotográfico e conversas informais registradas em diário de campo. Entrevistou-se 82
pescadores artesanais, em suas residências, em cujos quintais estudados (60), identificaram-se
82 espécies, distribuídas em 44 famílias. Lamiaceae (8 espécies) e Euphorbiaceae (7) foram as
mais representativas, seguidas de Anacardiaceae (6), Malvaceae e Leguminosae-
Caesalpinioideae (5), Combretaceae, Cucurbitaceae, Leguminosae-Faboideae, Leguminosae-
Mimosoideae, Myrtaceae, Poaceae e Rutaceae (3). O material botânico encontra-se
incorporado ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB), da Universidade Federal do
Piauí. As espécies foram distribuídas em seis categorias de uso: medicinal, alimentícia,
místico-religiosa, ornamental, cosmético e artefatos de pesca. Cocus nucifera L. e Alpinia
nutans Rosc. foram as espécies com maior multiplicidade de usos, estando incluídas em três
categorias. Jatropha curcas L. e Hibiscus esculentus L. apresentaram os maiores valores de
uso (5,0). Das espécies coletadas, 65% são exóticas e 35% nativas. Nos quintais estudados, a
mulher e o homem dividem as responsabilidades com o manejo e introdução de novas
espécies. O universo de plantas indicadas como importantes para a população e cultivadas nos
quintais apresentam considerável diversidade (Shannon-Wiener = 1,60). As plantas
medicinais cultivadas têm grande importância (69,3%). As artes de pesca utilizadas são o
engancho, tarrafa, anzol, curral e garrafas do tipo PET. A pesca ocorre principalmente com o
uso de redes de espera: enganchos (54%) e tarrafas (37%). Branquinha-do-oião (Curimata
macrops Eigenmann & Eigenmann, 1889), branquinha-do-oin (Psectogaster rhomboide
Einmann & Einmann,1889) e o curimatá (Prochilodus lacustris Steindachner, 1907, 30%)
foram os peixes mais comuns na foz do rio Poti. A construção de embarcações é realizada
apenas por duas famílias, utilizando espécies vegetais na carpintaria naval: o pequi (Caryocar
coriaceum Wittm.), o pau-d‘arco (Tabebuia spp), o cedro (Cedrella odorata L.) e a
embiratanha (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin). A maioria dos entrevistados
são mulheres adultas (30 a 49 anos, 42%) e casados ou vivem em unidão estável. Existem
mais homens do que mulheres com Ensino Fundamental (34% e 24%, respectivamente),
valores que se invertem quando se fala de Ensino Médio (20% mulheres e 14% homens). O
conhecimento deve ser registrado para que não se perca diante da falta de interesse dos mais
novos e das pressões de tecnologias do modo de vida urbano. Os quintais dos pescadores
artesanais do bairro Poti Velho são espaços de convivência e de cultivo, na maioria, de plantas
medicinais, sendo a grande quantidade de plantas exóticas um reflexo da perda gradual do
conhecimento botânico tradicional, provavelmente gerado pelas pressões do ambiente urbano.
Palavras-chave: Etnozoologia. Etnobotânica. Comunidade Pesqueira. Conhecimento
Tradicional. Quintais urbanos.
ABSTRACT
Ethnobotany and Ethnozoology are science branches integrating Ethnobiology and they rise
as mediators between natural and cultural aspects, in an attempt to understand the lifestyles,
codes, and customs of the relations between man and nature, complementing the traditional
lore and the academic knowledge. Fishing in outfalls regions generates a demand of vessels
which support such activity on the river bed and on its margins. Backyard is the space which
helps to the family‘s subsistence, playing an important economic, social and cultural role on
people‘s lives. The objective was to characterize the backyard ethnobotany and fishing
manners and arts, and the construction of fishing vessels in the artisanal fishing communities
of the Poti Velho district, aiming to know and record their customs and traditions. The
artisanal fishing community of the Poti Velho district, in the capital city of Piauí, is situated
between the coordinates 05°02‘09‘‘S and 42°50‘02‘‘W, and 05°02‘03‘‘S and 42°49‘43‖W.
Semi-structured interviews were carried out, as well as direct observation, photographic
recording, and informal talks recorded in filed diaries. Eighty-two (82) artisanal fishermen
were interviewed, in their houses in whose studied backyards (60), 82 species were identified,
distributed in 44 families. Lamiaceae (8 species) and Euphorbiaceae (7) were the most
representative ones, followed by Anacardiaceae (6), Malvaceae and Leguminosae-
Caesalpinioideae (5), Combretaceae, Cucurbitaceae, Leguminosae-Faboideae, Leguminosae-
Mimosoideae, Myrtaceae, Poaceae and Rutaceae (3). The botanic material is incorporated to
the collection of Graziela Barroso Herbarium (TEPB), from the Federal University of Piauí.
The species were distributed into six use categories: medicinal, nourishing, mystical-religious,
ornamental, cosmetic and fishing artifacts. Cocus nucifera L. and Alpinia nutans Rosc. were
the species with the greatest use variety, and they are included into three categories. Jatropha
curcas L. and Hibiscus esculentus L. presented the highest use values (5.0). From the species
picked up, 65% are exotic and 35% are indigenous. In the backyards studied, woman and man
share the responsibilities in management and introduction of new species. The universe of
plants indicated as important for the population and cultivated in the backyards show a
considerable diversity (Shannon-Wiener = 1.60). The cultivated medicinal plants are highly
important (69.3%). The fishing arts used are the surrounding net, cast net, fishing hook, trap
net and the PET bottles. Fishing occurs especially with the use of gill nets: surrounding nets
(54%) and cast nets (37%). ―Branquinha-do-oião‖ (Curimata macrops Eigenmann &
Eigenmann, 1889), ―branquinha-do-oin‖ (Psectogaster rhomboide Einmann & Einmann,
1889) and the ―Curimatá‖ (Prochilodus lacustris Steindachner, 1907, 30%) were the most
common fish in the Poti River mouth. The building of vessels is carried out only by two
families, using vegetal species in naval carpentry: the Souari nut, or ―pequi-sem-espinho‖
(Caryocar coriaceum Wittm.), the trumpet tree, or bow wood/tree (Tabebuia spp), the cedar
(Cedrella odorata L.) and the ―embiratanha‖ (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A.
Robin). Most of the interviewees are adult females (30 to 49 years old, 42%) and they are
married or live under the common-law marriage. There are more men than women with the
Ensino Fundamental, equivalent to Elementary School (34% and 24%, respectively), values
which are inverted when we talk about the Ensino Médio, or American High School
equivalent (20% of women and 14% of men). The lore must be recorded lest it be lost because
of the lack of interest of the young and because of the technological demands of the urban
lifestyle. The backyards of the artisanal fishermen of the Poti Velho district are conviviality
and cultivation areas, mostly, of medicinal plants, with the great majority of exotic plants a
reflection of the gradual loss of the traditional botanical lore, probably generated by the urban
environment demands.
Keywords: Ethnozoology. Ethnobotany. Fishing Community. Traditional Lore. Urban
Backyards.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Distribuição da população de pescadores do bairro Poti Velho, Teresina (PI), por
gênero e faixas etárias. Fonte: Pesquisa de Campo (2008-2009). ............................................ 31
Figura 2: Distribuição da população de pescadores do bairro Poti Velho, Teresina (PI), com
relação ao gênero e escolaridade. Fonte: Pesquisa de Campo (2008-2009). ............................ 32
Figura 3: Mapa do percurso da procissão fluvial de São Pedro que parte do Cáis do Troca-
troca até chegar ao Caís do Pesqueirinho. ................................................................................ 34
Figura 4: Mapa da localização do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Elaborado
pelo autor através do Software GPS Trackmaker© para windows (software livre), versão 13.2
de Odilon Ferreira Junior, Belo Horizonte (MG), 1998-2007. ................................................. 37
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 14
2.1 Etnobotânica no Piauí e Maranhão ................................................................................ 14
2.2 Etnobotânica em Quintais ............................................................................................... 18
2.3 Etnozoologia ...................................................................................................................... 24
2.4 A Pesca Tradicional .......................................................................................................... 26
3 HISTÓRICO, PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DA COMUNIDADE
DO POTI VELHO .................................................................................................................. 30
3.1 Histórico ............................................................................................................................ 30
3.2 Perfil Socioeconômico....................................................................................................... 31
3.3 Aspectos Culturais e Religiosos ....................................................................................... 33
4 METODOLOGIA GERAL ................................................................................................ 37
4.1. Área de Estudo ................................................................................................................. 37
4.2 Levantamento dos Dados ................................................................................................. 39
5 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 42
6 ARTIGOS ............................................................................................................................. 50
6.1 Espécies vegetais cultivadas em quintais de pescadores artesanais em Teresina/PI,
Brasil. A ser enviado à revista Economic Botany. ............................................................... 50
6.2 Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações na
comunidade de pescadores do Poti Velho, Teresina-PI, Brasil. A ser enviado ao
Brazilian Journal of Biology. ................................................................................................. 50
7 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 99
APÊNDICES ......................................................................................................................... 101
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista semiestruturada ......................................................... 102
APÊNDICE B – Espécies encontradas nos quintais dos pescadores artesanais do bairro Poti
Velho, Teresina, Piauí, Brasil. ................................................................................................ 107
APÊNDICE C – Espécies encontradas nos quintais dos pescadores artesanais do bairro Poti
Velho, Teresina, Piauí, Brasil. ................................................................................................ 108
APÊNDICE D – Entrevista e atividades socioculturais na comunidade de pescadores do
bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. .............................................................................. 109
APÊNDICE E – Construção e reparo de canoas no bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil.
................................................................................................................................................ 110
APÊNDICE F - Artesanato criado pelos pescadores artesanais do bairro Poti Velho, Teresina,
Piauí, Brasil. ........................................................................................................................... 111
APÊNDICE G – Artes de pesca utilizadas pelos pescadores artesanais do bairro Poti Velho,
Teresina, Piauí, Brasil. ............................................................................................................ 112
ANEXOS ............................................................................................................................... 113
ANEXO A – Normas da Economic Botany ........................................................................ 114
ANEXO B – Normas do Brazilian Journal of Biology ...................................................... 119
1 INTRODUÇÃO
O conhecimento tradicional é construído por meio das relações que as populações
estabelecem com o meio e com os outros seres. Sua base empirista está calcada nas
experiências de vivência e transmissão do conhecimento de geração a geração1. Assim, o
conceito de tradição permeia esse sentido de identificação de um modo de vida e crenças
específicas. Portanto, pode se aproximar de concepções históricas ou identitárias de um grupo
(MORTUREUX, 2000).
O saber local é caracterizado pelo conhecimento empírico construído e acumulado
por uma população que considera ciclos naturais, processos reprodutivos da flora e da fauna,
processos migratórios, influências solar e lunar na extração de vegetais (madeira) e de animais
(pesca); períodos de cheias, secas e marés. Relacionam também o manejo dos bens naturais,
bem como efeitos adversos de determinadas práticas antrópicas relacionadas à forma, período
e local onde acontecem; que encerram a reprodução de práticas, sua transcendência a cada
geração (SILVANO, 2004).
Moreira (2007) destaca que o que caracteriza um grupo social como tradicional
não é a localidade onde se estabeleceu, seja uma unidade de conservação, terra indígena ou
centro urbano, mas sim seu modo de vida e as formas de lidar com a biodiversidade,
estreitada por uma dependência não só por subsistência, mas que pode ser também material,
econômica, cultural, religiosa, espiritual, etc. Assim, não é o local que os define, mas suas
relações com o(s) meio(s) em que vivem.
As "culturas tradicionais"2 são aquelas que se desenvolvem dentro do modo de
produção da pequena produção mercantil (DIEGUES, 1983). Essas culturas se distinguem
daquelas associadas ao modo de produção capitalista em que não só a força de trabalho, como
também a própria natureza, se transformam em objetos mercantis.
Dentro dessa visão, "culturas tradicionais" são padrões de comportamento
transmitidos socialmente; modelos mentais usados para perceber, relatar e interpretar o
mundo, símbolos e significados socialmente compartilhados, além de seus produtos materiais,
próprios do modo de produção mercantil. Na medida em que os processos fundamentais de
1 Discussão mais aprofundada por Richerson (Peter J.), Boyd (Robert) e Bettinger (Robert L.) em Cultural
Innovations and Demographic Change. Human Biology, v. 81, nº 2–3, 2009. pp. 211–235. 2 Num certo sentido todas as culturas são tradicionais, pois por tradição pode-se considerar a repetição de
práticas e costumes que sejam criados e transmitidos de pai para filho em apenas uma ou mesmo em várias
gerações (DIEGUES, 2000b; MOREIRA, 2007).
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 12
produção e reprodução ecológica, social, econômica e cultural funcionam, pode-se afirmar
que são sociedades sustentáveis.
Discussões sobre o manejo da biodiversidade e a conservação ambiental têm se
destacado ao longo dos últimos anos, como também outras questões que as orbitam, criando
pressupostos necessários ao desenvolvimento sustentável (DIEGUES, 2000).
Populações tradicionais englobam uma gama de etnias e modos de vida que
variam desde caiçaras, quilombolas até indígenas, passando pelos pescadores artesanais, foco
deste estudo.
Os pescadores fazem parte de uma rede ecossistêmica e suas interações não
podem ser observadas apenas do ponto de vista do uso e apropriação dos recursos, mas no
contexto das relações sociais. As relações entre populações humanas e os recursos hídricos
afetam de modo direto e indireto todo o ecossistema, sobremaneira no ambiente sob
influência urbana, quando tais relações devem ser consideradas nos planos de manejo dos
recursos naturais (MONTENEGRO et al., 2001). A integração de conhecimentos construídos
pelos pescadores com os conhecimentos gerados pela ciência ocidental permite uma análise
contextualizada, com olhar multidisciplinar e interdisciplinar, conectada à realidade dos
pescadores.
Segundo Diegues (2001), a categoria de população tradicional dos pescadores
artesanais está espalhada majoritariamente pelo litoral, também pelos rios e lagos e tem um
modo de vida baseado principalmente na pesca, ainda que exerça outras atividades
econômicas complementares, como o extrativismo vegetal, a pequena agricultura e o
artesanato. Segundo Diegues (2001), no Brasil entre a população não-indígena, pelo menos
nove tipos populacionais são descritos: caiçaras, jangadeiros, caboclos/ribeirinhos
amazônicos, açorianos, pantaneiros, pescadores, sitiantes, praieiros e varjeiros, têm na pesca a
principal ou uma das principais fontes de subsistência e renda.
No bairro Poti Velho, há tradicionalmente a atividade de artesanato com barro,
com a confecção de tijolos artesanais, peças decorativas e rústicas, como também artefatos
úteis como filtros e potes para reservar água potável. Fato que torna o artesanato em barro do
bairro uma forma de expressão cultural com notório reconhecimento cultural, tanto em âmbito
regional como nacionalmente.
A maioria dos estudos etnobiológicos com pescadores é realizada em
comunidades que são, até certa proporção, isoladas em ambientes costeiros (açorianos e
caiçaras) ou rurais. Diegues (2001) afirma que povos que são submetidos às pressões do
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 13
capitalismo sofrem mudanças radicais, induzidas por externalidades, mas sempre criadas sob
conceitos nativos. Tais estudos são ainda muitos escassos no estado do Piauí.
No Poti Velho evidencia-se uma importância cultural, reforçada pela presença de
comunidades estabelecidas que apresentam histórico de (sobre)vivência através do uso
sustentável dos recursos naturais, como oleiros e pescadores artesanais. Assim, propô-se um
estudo com os pescadores, buscando o conhecimento etnobiológico e as práticas ambientais,
culturais e a realidade socioeconômica da comunidade de pescadores do Poti Velho, visando
alternativas à sustentabilidade econômica, concomitante ao uso dos recursos naturais.
Este estudo teve por objetivo caracterizar a etnobotânica em quintais de
pescadores da comunidade do bairro Poti Velho (Teresina-PI, Brasil), bem como a
etnozoologia e relação com os peixes e a pesca, visando conhecer e registrar os costumes e
tradições da comunidade, além do modo de uso e diversidade dos recursos animais e vegetais,
podendo contribuir na preservação e conservação destes.
O presente trabalho foi estruturado em três partes: a primeira corresponde a
informações gerais organizadas em tópicos de Introdução, Revisão de Literatura, Metodologia
Geral e Referências. A segunda segue-se em forma de Artigos Científicos a serem submetidos
a periódicos especializados, com organização baseada em normas específicas desses. O
primeiro artigo intitlu-se ―Espécies Vegetais Cultivadas em Quintais de Pescadores Artesanais
em Teresina/PI, Brasil.”; o segundo, ―Modos, Artes de Pesca e Construção de Embarcações
na Comunidade de Pescadores do Poti Velho, Teresina-PI, Brasil‖, por último, seguem-se as
conclusões, apêndices e anexos.
2 REVISÃO DE LITERATURA
A Etnobiologia estuda como diferentes sociedades/culturas concebem e percebem
os sistemas naturais nos quais estão inseridas. Posey (1986) sugere que esta ciência seja
essencialmente o estudo do conhecimento e conceituações criados por qualquer sociedade a
respeito da Biologia. Assim, seria o estudo do papel da natureza no sistema de adaptações e
crenças humanas em determinados ambientes.
Adams (2000) descreve que a Etnobiologia valoriza e registra o saber acumulado
pelas populações, fornecendo argumentos importantes à preservação destes povos e de seus
habitats, permitindo a criação de políticas sociais e ecologicamente mais justas.
2.1 Etnobotânica no Piauí e Maranhão
A Etnobotânica possui destaque nos estudos das etnociências no Brasil. Guarim
Neto, Santana e Silva (2000) citam que esta ciência objetiva a busca de conhecimento e o
resgate do saber botânico tradicional, principalmente relacionado ao uso dos recursos da flora.
Costa (2005) realizou levantamento da flora e melissofauna associada de
vegetação de cerrado rupestre na região setentrional do Piauí. Esses levantamentos florístico,
fitossociológico e ambiental da flora melífera da região ocorreram no município de Castelo do
Piauí (PI). Foram identificadas 173 espécies, com hábitos variando desde ervas a subarbustos,
arbustos, árvores, cipós e hemiparasitas. Concluiu que região estudada detém boas condições
para implantação de projetos sociais que visem o desenvolvimento local sustentável através
da produção melífera.
Pinheiro, Santos e Ferreira (2005) estudaram os usos de subsistência de espécies
vegetais na região da baixada maranhense. Fizeram levantamento das espécies vegetais úteis,
sua identificação botânica e classificação de importância quanto ao uso. Amostraram as
espécies vegetais de uso na subsistência em cinco povoados do município de Penalva (MA).
As espécies foram identificadas quanto à sua identidade botânica. Identificaram oito
categorias de uso: Material de Construção (MC), Utensílio Doméstico (UT), Alimentação
Humana (AH), Alimentação Animal (AA), Item de Trabalho (IT), Uso Social (US), Uso
Cultural (UC) e Produto Comercial (PC). São 25 espécies vegetais em 45 diferentes
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 15
modalidades de uso, para um total de 123 registros. Construção de cercas, uso de esteios,
fibras para amarrilho, portas e cofos apareceram como as categorias mais frequentes. O
babaçu (Orbignya phalerata Mart.) aparece como a de mais frequente utilização. A família
Palmae destaca-se entre as demais, sendo que o caule é a parte mais usada, tendo o material
de construção como categoria de uso mais frequente. Alguns usos são peculiares a algumas
comunidades e estão relacionados com as atividades principais dos moradores: pesca,
agricultura e extrativismo.
Chaves (2005) fez levantamento da vegetação caducifólia conhecida como
carrasco, no município de Cocal (PI). Objetivou identificar a flora, espectro biológico,
síndromes de dispersão e conhecer as potencialidades das espécies, bem como categorias e
valores de uso. Identificou 250 morfoespécies, tendo como famílias mais representativas
Leguminosae (44) e Euphorbiaceae (23). Foram identificadas as espécies com formas de vida
terófitas (47), caméfitas (27), hemicriptófitas (13), hemiparasitas (3), geófitas (2),
holoparasitas (1) e epífitas (1), que corresponderam a 37,6%; espécies fanerófitas (156),
equivalendo a 62,4%, que por sua vez, podem ser distribuídos em micro (89), nano (51), meso
(15) e macrofanerófitas (1). Espécies com hábitos arbustivos e subarbustivos foram maioria
(45,2%) e trepadeiras e escandentes foram representadas em menor número (18,4%). Espécies
com dispersão autocórica somaram 47,6%, anemocórica (25,6%), zoocórica (24,0%) e
indeterminadas (3,2%). Os maiores valores de uso foram encontrados em Croton sonderianus
Müll. Arg. (1,92), Mimosa caesalpiniaefolia Benth. (1,70), Rollinia leptopetala (R. E. Fr.)
Saff. (1,66), Ximenia americana L. (1,59), e Bauhinia ungulata L./Piptadenia moniliformis
Benth. (1,58).
Franco (2005) realizou estudo no Quilombo Olho D‘água dos Pires, localizado em
uma área rural de Esperantina (PI), buscando o conhecimento etnobotânico e estratégias de
desenvolvimento sustentável. Aplicou questionários com 33 famílias da comunidade, sendo
que, apenas nove membros dominam o saber sobre o uso das plantas para os diversos fins.
Identificaram 177 etnoespécies, pertencentes a 58 famílias botânicas, sendo catalogadas em
12 categorias de uso, destacando-se a medicinal (34,7%), alimentar (27,3%), desdobramento
em madeira (11,6%) e forrageira (10,2%), considerando-se o maior número de espécies
citadas.
Chaves, Barros e Araújo (2006) realizaram levantamento da vegetação caducifólia
de carrasco, na Bacia do Meio Norte e Chapada do Araripe. Objetivaram conhecer a flora
apícola local. Coletaram 29 espécies melíferas, dispostas em 15 famílias e 23 gêneros.
Preferencialmente as abelhas visitam espécies como: Campomanesia aromatica (Aubl.)
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 16
Griseb., Croton blanchetianus Baill., Hyptis suaveolens (L.) Poit., Hyptis atrorubens Poit.,
Pterocarpus vilosus Mart., Tabebuia impetiginosa (Mart.) Standl., Tabebuia serrratifolia
(Vahl) G. Nicholson, Croton. campestris A.St.-Hil. Mitracarpus hirtus (L.) DC., Spermacoce
densiflora (DC.) A.H. Liogier e Spermacoce verticillata L. Segundo os autores, a área
apresenta grande potencial florístico, importante para a manutenção do produção de mel
durante todo o ano.
Monteles e Pinheiro (2007) realizaram estudo etnobotânico no Quilombo do
Sangrador, município de Presidente Juscelino (MA), quando identificaram 121 espécies
vegetais, distribuídas em 56 famílias e 101 gêneros. Lamiaceae, Rutaceae, Asteraceae,
Leguminosae e Euphorbiaceae foram as famílias mais representativas, em ordem decrescente.
Seguindo essa ordem, os hábitos herbáceo, arbóreo, arbustivo, das lianas e palmeiras foram
representados. Quanto às indicações de uso das espécies, a categoria males e estados de saúde,
associados ao aparelho respiratório e digestivo foram as mais citadas. Folhas, cascas e látex
foram as partes vegetais mais utilizadas nos medicamentos locais. Os autores consideraram
que a terapêutica local é fruto de um sincretismo de práticas africanas influenciadas por
práticas indígenas.
Torquato (2006) realizou estudo sobre o potencial da vegetação melitófila e
abelhas associadas da Área Olho D´água dos Pires, Esperantina (PI). Relatou a ocorrência de
93 espécies, dispostas em 74 gêneros e 34 famílias botânicas. As famílias mais representativas
foram Leguminosae (22,5%), Asteraceae (10,7%), Euphorbiaceae (6,4%) e Lamiaceae
(5,3%), e para abelhas, 31 espécies identificadas, com 18 gêneros e cinco famílias de abelhas
representadas por: Apidae (17 espécies), Anthophoridae e Megachilidae (4), Andrenidae e
Halictidae (3). Constataram que, o número de indivíduos por família de abelhas foram iguais
a: Apidae, 62; Andrenidae, 12; Megachilidae, 9; Halictidae, 8 e Anthophoridae 7, que
somaram 98 indivíduos coletados. Destes, 68 na vegetação de cerrado e 30 na floresta semi-
decidual.
Santos, Barros e Araújo (2007) realizaram levantamento etnobotânico em áreas de
cerrado da zona rural no município de Monsenhor Gil (PI), visando catalogar a flora e o
conhecimento botânico tradicional. Utilizaram entrevistas semi-estruturadas, baseadas em
formulários padronizados, constando os dados gerais dos entrevistados e informações sobre as
plantas nativas, que foram realizadas com moradores locais, de notório saber, e indicados por
líderes comunitários. As plantas foram classificadas em categorias de uso medicinal,
madeireiro, alimentar, ornamental, para produção de energia, forrageiro e melífero,.com as
duas últimas, obtendo o maior número de indicações com 76 e 55 espécies, respectivamente.
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 17
As plantas com maiores valores de uso foram Mimosa caesalpiniifolia Benth. e Caryocar
coriaceum Wittm.
Santos (2008) realizou estudo etnobotânico no município de Monsenhor Gil (PI),
coletou 304 espécimes, representando 211 espécies, 62 famílias e 158 gêneros, sendo que
Leguminosae (34 espécies); Asteraceae (17); Poaceae (11); Myrtaceae e Cyperaceae (9);
Rubiaceae (8), Bignoniaceae (7) e Combretaceae e Apocynaceae (6) foram as famílias mais
representativas. Foram amostradas 112 espécies botânicas úteis, dentre elas, Caesalpinia
ferrea Mart. ex Tul., Cenostigma macrophyllum Tul. e Dimorphandra gardneriana Tul. A
categoria de uso que obteve o maior número de indicações foi a forrageira, com 76 espécies,
seguida pela melífera (55). Mimosa caesalpiniifolia Benth. e Caryocar coriaceum Wittm.
apresentaram os maiores valores de uso.
Vieira (2008) realizou levantamento etnobotânico na Comunidade Quilombola
dos Macacos, São Miguel do Tapuio (PI), objetivando resgatar o conhecimento tradicional da
comunidade dos Macacos. Foram identificadas 225 etnoespécies, distribuídas em 13
categorias de uso. As que mais se destacaram foram: medicinal (73 espécies), forrageira (62)
e alimentação (58); artesanal e fibras (7), tóxica (7), mágico-religioso (5) e higiene e limpeza
(5), obtiveram o menor número de espécies. Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore
(carnaúba) foi considerada a mais versátil, estando incluída em seis categorias de uso. 161
espécies (72,85%) possuem valor de uso abaixo de 0,50 e apenas uma espécie Himatanthus
drasticus (Mart.) Plumel (janaguba) obteve valor de uso maior que 2,00 (2,40). O autor
concluiu que, apesar do conhecimento estar com as pessoas mais velhas da comunidade, e do
processo de aculturação sofrido ao longo dos anos, observa-se que ainda há o uso das práticas
herdadas pelos seus antepassados, garantindo assim, o uso dos recursos vegetais para as
gerações futuras.
Vieira et al. (2008) estudaram a Comunidade Quilombola dos Macacos, em zona
rural do município de São Miguel do Tapuio (PI), disposta em uma área de transição, onde
predomina a caatinga, com elementos de cerrado e mata semi-decídua. Objetivaram resgatar o
conhecimento tradicional. Foram identificadas 225 etnoespécies, distribuídas em 13
categorias de uso: medicinal, madeireira, forrageira, produção de energia, limpeza-higiene,
melífera, ornamental, artesanal e fibras, alucinógena, alimentícia, mágico-religiosa, tóxicas e
utensílios. As categorias medicinal (73) e forrageira (62) foram aquelas com que maior
número de espécies. A carnaúba, Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore, foi considerada a
mais versátil, estando incluída em seis categorias de uso.
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 18
Oliveira (2008) estudou comunidades tradicionais no semiárido piauiense.
Identificou 378 espécies, distribuídas em 78 famílias e 236 gêneros. Destas, 343 foram citadas
como úteis. Leguminosae (62 espécies), Euphorbiaceae (22) e Malvaceae e Solanaceae (12)
foram as famílias botânicas mais representativas. As categorias de uso de maior destaque
foram medicinal (191 espécies) e forrageira (107). Magonia pubescens A. St.-Hil. (tingui) foi
a espécie mais versátil com oito categorias de uso. Byrsonima correifolia A. Juss., Copernicia
prunifera (Mill.) H.E. Moore, Dimorphandra gardneriana Tul., Luetzelburgia auriculata
(Allem.) Ducke, Mimosa caesalpiniifolia Benth., Myracrodruon urundeuva Allem. e Ziziphus
joazeiro Mart. foram referidas em sete usos. M. pubescens e Z. joazeiro obtiveram maior
valor de uso (VU=3,5). Citações de espécies de uso terapêutico foram para gripe (39
espécies), diarréia (31), febre (13) e dor no corpo e diabetes (10) como mais citadas. A autora
concluiu que os moradores locais demonstraram ter um grande conhecimento acerca da
vegetação, utilizando-a para diversas finalidades e adotando medidas apropriadas para o
manejo e conservação das espécies vegetais úteis.
2.2 Etnobotânica em Quintais
Os quintais são uma das formas mais antigas de manejo da terra. Nestes espaços
as relações mantidas entre o homem e a biodiversidade agregam às culturas elementos
adaptativos que servirão de base para a subsistência das populações locais.
Sablayrolles (2004) realizou estudo etnobotânico em 11 quintais ribeirinhos de
Brasília Legal (PA). Estes apresentaram tamanho, forma, número de indivíduos e de espécies
variados. Foram amostradas 237 espécies distribuídas nos hábitos arbóreo, arbustivo,
herbáceo e trepadeiras, pertencentes a 64 famílias e 164 gêneros. Predominaram as famílias
Leguminosae (36 espécies), Arecaceae (15), Euphorbiaceae, Rubiaceae / Rutaceae (9) e
Myrtaceae (8). Índices de diversidade de Shannon-Wiener variaram entre 2,30 e 4,00
nats/indivíduo, e de similaridade de Sorensen entre 0,127 e 0,515, sendo muito diversos e
pouco similares entre si. Espécies mais frequentes foram Citrus sinensis Osbeck, Mangifera
indica L. e Psidium guajava L. Quanto às plantas com uso alimentício, foi referido o uso de
136 espécies, com 69 exclusivas para consumo humano, 22 somente para animais e 45 para
ambos. Registraram 49 famílias, como: Areacaceae, Mimosaceae, Rutaceae, Solanaceae e
Caesalpiniaceae que se destacaram pelo numero de espécies. A autora concluiu que os
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 19
agricultores elaboram seus quintais preferencialmente com espécies cultivadas, todavia alguns
deles possuem quintais ricos em espécies silvestres, o que demonstra conhecimento sobre a
flora local e suas potencialidades.
Albuquerque, Andrade e Caballero (2005) estudaram 31 quintais em Alagoinha
(PE), demonstrando sua composição e estrutura, quanto ao uso das plantas. Entrevistaram um
total de 31 indivíduos (13 mulheres e 18 homens) entre 25 e 70 anos. Ao todo, 54 árvores têm
variados usos, especialmente para uso alimentício. Prosopis julifora DC. é a principal espécie
de árvore dos quintais locais e constitui a espécie com maior citação pela população.
Observaram que os quintais variam grandemente de tamanho, mas relacionado somente ao
número de plantas individuais, não a riqueza de espécies. A estrutura florística dos quintais é
igualmente muito variável, mas há um grupo central de espécie muito frequente, com
representação significativa da flora local. Isto sugere que os quintais possam contribuir à
conservação das espécies nativas.
Das e Das (2005), visando compreender o sistema, os aspectos socioeconômicos e
biofísicos dos quintais na vila de Dorgakona, vale de Barak, Índia, estudaram 50 deles, os
quais se apresentaram como locais de conservação in situ de espécies. Para eles, quintais são
formados por um pedaço de terra com limites definitivos que o cercam, sendo cultivados com
uma mistura diversa de espécies vegetais perenes e anuais, arranjadas numa estrutura vertical
multicamada, frequentemente em combinação com a criação de rebanhos animais, e
controlado principalmente por membros da família para a produção da subsistência. O
tamanho variou de 0,02 a 1,20 ha (0,30ha de média). O número total de espécies vegetais
encontradas nos quintais foi de 122, com frutíferas como tipo dominante. Em quintais
pequenos, oito espécies foram encontradas, com predomínio de árvores frutíferas com usos
múltiplos tais como: Artocarpus heterophyllus Lamk., Mangifera indica L., Musa sp. etc. Nos
maiores, 39 espécies foram registradas sendo importante esses locais para a conservação de
espécies selvagens/raras como Aquilaria malaccensis Lamk., Vatica lanceaefolia Bl., etc.
Bambusa cacharensis Majumdar esteve presente na maioria dos quintais estudados.
Pasa, Soares e Guarim Neto (2005) realizaram levantamento na comunidade de
Conceição-Açu (MT) e identificaram as unidades de paisagem: quintais, roças e matas de
galeria; o número total de espécies utilizadas foi de 180. Dessas, 86 espécies ocorrem nos
quintais das residências, pertencentes a 43 famílias, a maioria cultivada e utilizada como
alimento (48,1%) e como remédio (44,5%). Quanto ao valor de uso, Copaifera langsdorffii
Desf. (2,5), Aspidosperma polyneuron Muell. Arg. (2,5), Hymenaea stignocarpa Mart. (2,33),
Diptychandra aurantiaca Tul. (2,0), Cariniana rubra Gardner ex. Miers (20). As famílias
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 20
botânicas Mimosaceae, Bignoniaceae, Caesalpiniaceae, Fabaceae e Sapindaceae foram
classificadas conforme o valor de uso de cada uma. Os resultados demonstraram que a
população possui vasto conhecimento das plantas e de suas propriedades de cura.
Trinh et al. (2005) realizaram estudos sobre quintais o Vietnã, nos quais
enfatizaram a importância dos quintais como áreas de plantações, apresentando alto potencial
agrícola. Foram escolhidos quintais com potenciais socioeconômico, cultural e agroecológico.
Foram estudados parâmetros como: diversidade de agroecossistemas, diversidade cultural e
socioeconômica, tradições relacionadas aos quintais, importância dos quintais para a vida da
comunidade, grau de participação da comunidade no uso dos quintais, capacidade
institucional e acessibilidade. Foram listadas densidade de espécies por metro quadrado, com
valor igual a 2,7 espécies/100 m², com quintais variando de 10 a 39,8 anos de idade. Os
autores concluíram que os quintais são espaços multifacetados, e que quando não possuem
cunho financeiro ou comercial, contribuem grandemente com a segurança alimentar. Os
quintais do Vietnã provêm o desenvolvimento social e serviços que suprem as necessidades
por alimento dos vietnamitas. Os quintais mais biodiversos foram encontrados no delta do rio
Mekong. Concluem que há a necessidade de conhecer melhor os quintais do Vietnã, pois
atuam na conservação da biodiversidade e dos recursos fitogenéticos.
Sthapit, Gautam e Eyzaguirre (2006) realizaram estudo com quintais
agroflorestais em Pokhara, Nepal. Mostraram a importância desses espaços para a produção
de alimentos, socialização familiar, produção econômica e preservação ambiental. O objetivo
era reavaliar o valor dos quintais como espaços que contribuem não somente com a nutrição,
mas traz benefícios sociais, econômicos e ambientais. Também relata a importância dos
benefícios e serviços inerentes à relação entre a biodiversidade de quintais agroflorestais e
ecossistemas naturais. Sugerem que os quintais podem se configurar o ponto de partida para a
comunidade realizar o manejo da biodiversidade agricultural enquanto promove a diversidade
de dietas que promovem a saúde das famílias e ecossistema.
Pulami e Poudel (2006) estudaram quintais agroflorestais do Nepal onde esse tipo
de estrutura é mantida em torno das residências em conjunto com a criação de animais. Em
seu estudos, os pesquisadores detectaram a adoção de políticas públicas de incentivo à criação
e manutenção dos quintais, como a diversificação da agricultura, o desenvolvimento de
tecnologias para a agricultura, conservação e proteção da diversidade agrocultural e ambiental
para a sustentabilidade da agricultura direcionada à pessoas marginalizadas como dálites,
mulheres e comunidades rurais de áreas remotas. Apresentam resultados de ações
governamentais do Departamento de Agricultura daquele país que incentiva programas de
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 21
hortas para alimentação, cultivo de plantas frutíferas, criatório de abelhas para consumo
familiar e cultivo de peixes, todos agregados ao quintal de forma integrada, prevendo também
a criação de suínos e ovelhas para agricultores pobres, mulheres e grupos ou comunidades
desfavorecidas. Segundo os autores, os quintais devem estar integrados em programas de
desenvolvimento que possam contribuir para a segurança alimentar, propiciando a geração e
provimento de alimentos para os nepaleses.
Moura e Andrade (2007) buscaram identificar a importância dos quintais urbanos
de Jaboatão dos Guararapes (PE) e suas funções ecológicas, socioculturais e econômicas,
além da realização de levantamento das espécies vegetais ocorrentes. Identificaram-se 220
espécies vegetais, distribuídas em 64 famílias. Quanto ao uso, alimentícias, ornamentais,
medicinais e de valor comercial com destaque para as segundas. Espécies mais frequentes
utilizadas como ornamentais foram: rosa (Rosa sp)., café-roxo (Leea rubra Blume ex Spreng)
e comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia amoena Bull.); como medicinais: capim-santo
(Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), coco (Cocos nucifera L.); e como comercial: erva-
cidreira (Lippia alba (Mill.) N.E.Br. e a pimenta (Solanum sp). Concluem que os quintais
representam um espaço de estoque de plantas prioritariamente alimentícias. A riqueza de
espécies tem relação somente com o tempo e o uso que o dono do quintal faz da planta.
Florentino, Araújo e Albuquerque (2007) estudaram uma área da zona rural com
vegetação de Caatinga, em Caruaru (PE) e reconhecendo a diversidade florística e a
contribuição de quintais agroflorestais para a conservação da diversidade local. Identificaram
84 espécies, pertencentes a 68 gêneros e 35 famílias. Visitaram 25 quintais, nos quais
destacaram-se as famílias Euphorbiaceae (10 espécies), Anacardiaceae (7), Caesalpiniaceae,
Mimosaceae e Myrtaceae (6). Há mais espécies introduzidas (55 espécies) do que nativas,
sendo estas últimas importantes para conservação da diversidade local, principalmente pelo
uso madeireiro que pode gerar grande impacto na vegetação local, o que indica, segundo os
autores, que com um plano de manejo adequado os quintais agroflorestais se configuram
numa alternativa para a conservação da diversidade local.
Amorozo (2008) realizou estudo sobre as funções, importância e perspectivas
futuras para os quintais. O quintal compreenderia espaço de usos múltiplos que ficam
próximos à residência do grupo familiar. Segundo a autora, quintais de zonas rurais mantém
espécies nativas consideradas úteis como açaí (Euterpe oleracea Mart.), ingás (Inga spp.),
pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.) e taperabá (Spondias mobin L.), bem como espécies
introduzidas pelo colonizador português, capim-cidreira (Cymbonpogon citratus (DC) Stapf.)
e hortelã (Mentha spp.). Esses espaços podem desempenhar múltiplas funções e servir a
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 22
diversos fins como a domesticação e aclimatação de espécies botânicas, a conservação da
agrobiodiversiade, prover serviços ambientais de aumento da umidade e diminuição do calor
irradiado e da poluição, servir de locais de convivência e socialização configurando-se num
locus para a manutenção e transmissão do saber local ou tradicional. A dificuldade em manter
quintais em zonas urbanas de cidades grandes é verificada pela eminente necessidade de
espaços e incentivo à verticalização. A autora conclui que, para perpetuar a existência de
espaços como os quintais são necessários que sua importância e potencial tornem-se evidentes
para os cidadãos e planejadores urbanos.
Guarim Neto e Novais (2008) estudaram quintais da região noroeste do estado de
Mato Grosso, objetivando caracterizar os quintais de Castanheira-MT quanto à composição
vegetal, uso dos recursos, identificar espécies vegetais e respectivas categorias de uso,
conhecer o conceito de quintal dado pela população local, e conhecer a biodiversidade
florística regional com seus potenciais etnobotânicos. Analisaram 40 propriedades sob o
ponto de vista etnobotânico, classificando as plantas em categorias de uso, como: alimentar,
medicinal, ornamental, sombreamento, místico e limpeza/embelezamento. Os entrevistados
estavam na faixa etária entre 19 e 73 anos, com a grande maioria (57,5%) apenas com ensino
fundamental. Catalogaram as 248 espécies (89 famílias) distribuídas por categorias de uso em:
alimentar (97 espécies, 41 famílias), medicinal (85 espécies, 45 famílias), ornamental (90
espécies, 45 famílias), sombreamento (11 espécies, 9 famílias), mítica (4 espécies, 4 famílias)
e limpeza/embelezamento (2 espécies, 2 famílias). Famílias mais representativas foram:
Asteraceae (22 espécies), Lamiaceae (14), Liliaceae (11), Araceeae, Myrtaceae e Solanaceae
(9 cada). Verificaram que as plantas cultivadas nos quintais tiveram origem na troca de mudas
com vizinhos, amigos ou parentes. Os autores concluíram que as espécies alimentares são
importantes para a subsistência das famílias. A mulher é a principal mantenedora dos quintais
e estes são espaços múltiplos, podendo ser utilizados para plantio, criação de animais, lazer,
cultura e descanso.
Amaral e Guarim Neto (2008) realizaram estudo etnobotânico em quintais de
Rosário do Oeste (MG). Para eles, quintal seriam sistemas que consistem em uma
combinação de árvores, arbustos e ervas, algumas vezes associados a pequenos animais
domésticos, crescendo próximos à residência. No estudo identificaram 94 espécies vegetais,
utilizadas especialmente na alimentação das famílias. Apesar de terem importante função
ecológica e de conservarem alta diversidade de plantas na sua composição, garantindo a
variabilidade genética de muitas espécies, esses quintais, enquanto sistemas agrícolas
tradicionais, voltados para a subsistência, estão se desarticulando e perdendo espaço para a
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 23
agroindústria e para outras atividades comerciais que ganham, cada vez mais, impulso no
campo. A idade média dos informantes que participaram da pesquisa foi de cinquenta anos,
sendo 51 do sexo feminino e 11 do masculino. A área média dos quintais analisados foi de
622m², incluindo a área do domicílio, sendo que todos os terrenos possuíam o formato
retangular. Os cuidados que os moradores apresentam com seus quintais inclui a utilização de
técnicas simples de manejo, como capinas periódicas, irrigação, limpeza e adubação. No
estudo dos quintais rosarienses, as espécies exóticas foram as mais frequentes.
Aguiar (2009) realizou estudo em quintais da zona rural do município de
Demerval Lobão/PI, objetivando identificar a composição florística e resgatar o conhecimento
tradicional acumulado, acerca da utilização dos recursos disponíveis pela população. Nos 21
quintais estudados foram identificadas 245 espécies, distribuídas em 73 famílias.
Leguminosae foi a mais representativa (37 espécies), seguida de Euphorbiaceae (19),
Asteraceae e Lamiaceae (10). O material botânico encontra-se incorporado ao acervo do
Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. As espécies foram
distribuídas em 10 categorias de uso: medicinal, alimentícia, madeireira, melífera, forrageira,
produção de energia, místico-religiosa, ornamental, tóxica e higiene-limpeza. As categorias
que mais se destacaram em número de espécies foram: medicinal (100 espécies), ornamental
(79) e alimentícia (71). Ziziphus joazeiro Mart. (juá) é a espécie com maior multiplicidade de
usos, estando incluída em oito categorias de uso. Myracrodruon urundeuva M. Allemão
(aroeira) e Mimosa caesalpinifolia Benth. (unha-de-gato) apresentaram os maiores valores de
uso (2,3). Das espécies coletadas, exóticas somaram 51% e 49% nativas. Nos quintais
estudados a mulher possui posição de destaque na conservação da biodiversidade, por ser a
maior responsável pelo manejo e introdução de novas espécies nos quintais. O quintal é um
espaço considerado para a realização de diversas atividades, como o plantio, criação de
animais, lazer, cultura ou descanso. A autora conclui que o universo de plantas indicadas
apresentou alta diversidade e baixa densidade por espécie, concluindo-se que constituem um
importante espaço para a conservação da diversidade biológica e sociocultural dessas
populações. Relata ainda que as plantas alimentícias cultivadas têm grande importância como
suplemento nutricional.
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 24
2.3 Etnozoologia
Costa-Neto e Marques (2000) registraram o conhecimento etnoictiológico dos
pescadores de Siribinha, litoral norte do estado da Bahia. A percepção nativa sobre o
comportamento dos peixes foi observada, especialmente quanto à produção de som, a
reprodução e a ecologia trófica. Foram realizadas entrevistas livres e semiestruturadas e
questionários com 84 informantes. Coletaram e identificaram peixes que foram depositados
no Laboratório de Ictiologia do Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Feira
de Santana (UEFS). Os pescadores percebem o comportamento dos peixes, classificando-o
em 18 etnocategorias etológicas, tais como ―peixe que pula‖, ―peixe que viaja‖, ―peixe que
imanta‖ e ―peixe que faz cama‖. Os autores concluíram que o conhecimento ictiológico
tradicional é consistente com o conhecimento ictiológico científico. Tal conhecimento sobre
os caracteres etológicos dos peixes é um recurso importante que os pescadores utilizam
durante suas atividades de pesca e deveria ser incorporado em estudos de manejo,
conservação e utilização racional dos recursos pesqueiros.
Casatti, Langeani e Castro (2001) estudaram as espécies de peixes de riachos que
ocorrem no Parque Estadual Morro do Diabo (SP). Quatro riachos foram amostrados, de
primeira a segunda ordem, onde foram coletadas 22 espécies, pertencentes a cinco ordens e 11
famílias, num total de 1.573 indivíduos. Foi registrado o predomínio de espécies da Ordem
Siluriformes, seguida por Characiformes. Com base em aspectos gerais da biologia das
espécies de peixes, as mesmas foram classificadas em oito guildas. Os autores concluíram
que, de modo geral, as espécies estudadas são capazes de utilizar diversos recursos
alimentares e micro-habitats disponíveis nesses ambientes, sendo particularmente favorecidas
pelo pequeno porte apresentado. Chave de identificação e fotos de exemplares recém-
coletados de todas as espécies de peixes foram fornecidas.
Costa-Neto, Dias e Melo (2002) discutem o conhecimento ictiológico de uma
comunidade da cidade de Barra (BA), cujos pescadores desenvolveram suas atividades às
margens dos rios São Francisco e Grande. Objetivaram registrar o conhecimento
etnoictiológico dos pescadores relacionados à taxonomia, comportamento e ecologia dos
peixes, como também os usos na medicina popular. Durante seis meses (jan-jun/2000) foram
consultados 15 informantes (10 homens e 5 mulheres) através de entrevistas livres e
semiestruturadas, para registrar aspectos cognitivos e culturais sobre as espécies de peixes
locais. Dezoito espécies foram identificadas, dentre elas, cruvina (Plagioscion
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 25
squamosissimus), tucunaré (Cichla ocellaris), piau (Schizodon sp. e Leporinus sp.), surubim
(Pseudoplastytoma coruscans), sarapó (Gymnotus cf. carapo), traíra (Hoplias cf.
malabaricus) e matrinchã (Brycon reinhardtii). Destacam o conhecimento dos pescadores
como relevante diante de práticas de manejo, conservação e uso sustentável dos recursos
pesqueiros. Problemas antrópicos como pesca predatória e introdução de espécies exóticas são
problemas que afetam a área estudada.
Costa-Neto (2004) discutiu a importância da etnoentomologia como campo de
pesquisa, utilizando os trabalhos realizados em diferentes contextos socioculturais do estado
da Bahia. Os estudos etnoentomológicos variam desde a percepção da categoria ―inseto‖, a
utilização de insetos como recursos medicinais e alimentares, passando pelo uso da imagem
desses animais na arte filatélica e na propaganda. Comenta, ainda, que estudos nessa área
podem estimular novas idéias a serem pesquisadas pela ciência, especialmente aquelas que
enfatizem o potencial terapêutico e protéico dos insetos, o qual representaria uma contribuição
importante à questão da biodiversidade e abriria possibilidades para a valorização econômica
de espécies tidas como daninhas ou sem valor.
Hanazaki e Begossi (2006) estudaram as preferências, as vacâncias, os tabus
alimentares e da proteína animal entre três comunidades caiçaras da costa sudeste brasileira.
Foram discutidos dois aspectos sobre a escolha dos alimentos pelos caiçaras, suas preferências
e tabus no consumo do peixe-gato (Ariidae) e de espécies diferentes de salmonetes
(Mugilidae). A categorização pode ser explicada ecológica e culturalmente pela
disponibilidade ambiental da espécie, sua posição na cadeia de alimento, ou sua importância
na economia e nas relações sociais da comunidade. Uma conexão entre a conservação do
recurso e os tabus alimentares sobre determinadas espécies dos peixes é improvável quando
comparada às relações possíveis sobre os tabus da caça e conservação da fauna terrestre. Os
autores concluíram que, para as comunidades estudadas, não havia nenhuma privação
nutritiva resultando dos tabus do alimento quanto às espécies de peixes.
Santos-Fita e Costa-Neto (2007) realizaram trabalho de revisão da variedade de
interações que as culturas humanas mantêm com os animais. Comentam que a Etnozoologia
investiga os conhecimentos, significados e usos dos animais nas sociedades humanas. No
trabalho os autores discutem definição, fundamentos e histórico da Etnozoologia; áreas de
estudo; aplicabilidade do conhecimento etnozoológico; e aspectos éticos da pesquisa
etnozoológica. Os autores concluem que é importante ressaltar que o conhecimento zoológico
tradicional é sempre situacional e modificável, e que como abordagem científica, esta ciência
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 26
pode ser uma ferramenta interpretativa valiosa quando se estudam as interações entre
humanos e animais em uma determinada região.
Alves et al. (2008) realizaram estudo no município de Santa Cruz do Capibaribe
(PE) com animais e as plantas que são amplamente utilizados na medicina tradicional e em
práticas de curas, objetivando caracterizar o uso e comercialização dos animais para
finalidades medicinais. Segundo os autores, a informação medicinal sobre animais é passados
da geração à geração com o folclore oral. De um total de 37 espécies animais (29 famílias),
distribuído entre sete categorias taxonômicas foram encontrados com usos para tratar 51
doenças diferentes. Os tratamentos mais frequentemente mencionados relacionavam-se ao
sistema respiratório (asma). Os remédios zooterápicos podem incluir diversos animais
medicinais individuais ou em misturas associados com ―simpatias‖. Os autores concluem que
há uma grande variedade de animais sendo usada em práticas de medicina tradicional no
semiárido do Nordeste além da necessidade de investigações farmacológicas para confirmar a
eficácia destes remédios.
2.4 A Pesca Tradicional
Batista (2002) realizou levantamento da frota pesqueira de Manacapuru,
Itacoatiara e Parintins (AM). As canoas isoladas variaram de tamanho entre os locais
analisados em que ocorrem. As canoas maiores foram encontradas em Manacapuru e
Itacoatiara. Os barcos de pesca de Parintins foram significativamente menores que os barcos
de pesca de Manaus, Manacapuru e Itacoatiara. O uso de motores considera uma relação
linear entre a potência e o tamanho do barco. Manacapuru apresenta barcos mais velhos,
seguido da frota de Itacoatiara. As frotas de Parintins e Manaus foram as mais jovens, tendo
esta última maior amplitude de idades. Foram encontrados entre cinco e seis pescadores por
barco de pesca e dois a três por canoa isolada. A duração das pescarias em barcos é crescente
descendo o rio, mas não difere para canoas isoladas entre os centros urbanos. O rendimento da
pesca foi menor para os barcos de pesca de Parintins, sendo o rendimento por pescador dos
barcos de pesca melhor que o das canoas no período de safra. A partir dos resultados
concluíram que há diferenciação nas características da frota que desembarca em Parintins
(Médio Amazonas) em relação aquela desembarcando em Itacoatiara e Manacapuru e que a
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 27
pesca efetuada com canoas isoladas deve ser tratada diferenciadamente daquela efetuada com
barcos de pesca.
Mendes (2002) objetivou reconstruir a memória ambiental da comunidade de
marisqueiras da Vila do Guarapuá (BA) através do resgate do conhecimento e das práticas de
manejo e as tecnologias tradicionais da pesca no local. Foram feitas observações, entrevistas
semiestruturadas, construção de guias êmicos e fotografias. O conhecimento local tem reflexo
nas práticas produtivas, servindo como base para um plano de manejo da região. A autora
destaca as relações entre pescadores e ambientes, bem como os artefatos e pescados. Cita,
ainda, a importância do (re)conhecimento dos ambientes e fatores ambientais (marés, lua,
etc.) pelos pescadores como estratégias para a pesca.
Cunha (2003) discute a visão das sociedades sobre os pescadores artesanais, nas
suas relações com os ambientes, integrado com a natureza. Questiona a tradicionalidade como
uma questão estanque, e dinâmica que reflete a passagem de uma geração à outra de
conhecimentos. Segundo o mesmo autor, há que se considerar que os pescadores têm uma
forma de ordenação temporal e espacial dissonante daquela do contexto urbano-industrial e
um conjunto de saberes decorrentes de sua interação com a natureza. O tempo é contado
conforme as manifestações da natureza, o período de pesca e o de floração. Os pescadores
artesanais têm uma visão tridimensional do espaço, abrangendo águas, terra e céu. Dentro
desse contexto, os pescadores desenvolvem situações que servem como ―sistemas de alerta‖
para evitar exploração excessiva em um lugar ou a não captura de espécies em determinado
estádio reprodutivo. Também revelam conhecimentos de substâncias que podem ser úteis para
tratar enfermidades, rituais, alimentação e na confecção de utensílios. O estudo se concentra
nas observações de pescadores e na extração da brejaúva – uma palmeira robusta, com grande
quantidade de espinhos negros, utilizada para o artesanato.
Chaves e Robert (2003) estudaram os tipos de embarcações e as artes de pesca
utilizadas pelos pescadores profissionais e comunidades do litoral sul do Paraná e Santa
Catarina. Foram catalogados sete tipos de embarcações e sete tipos principais de artes de
pesca. Constataram-se diferenças entre comunidades quanto ao tipo predominante de
embarcação, fato em parte explicável pelas condições locais de navegabilidade. Camarões e
peixes são explotados de forma diferenciada ao longo do ano, em função da legislação e do
tipo de apetrecho utilizado. O monitoramento visual revelou que a plataforma rasa não é
utilizada apenas pelas embarcações das comunidades, mas também por embarcações
provenientes de outras regiões. Na época de defeso contra a pesca de arrasto, a proporção de
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 28
embarcações de pequeno porte aumenta concomitante ao uso de outras artes de pesca, mas o
arrasto continua ocorrendo.
Piorski, Castro e Pinheiro (2003) estudaram as atividades de pesca e o
processamento do pescado em aldeias indígenas dos povos Tenetehara/Guajajara, Ka‘após e
Awá/Guajá, na bacia dos rios Pindaré e Turiaçu (MA). Através de entrevistas informais e
semiestruturadas, os autores identificaram 36 espécies de peixes, distribuídas em seis ordens e
17 famílias. Sugeriram a possibilidade de encontrar espécies novas na área estudada. As artes
de pesca listadas foram o arco e flecha, o anzol e o timbó, liana pertencente ao gênero Derris
sp (Leguminosae), do qual também se extrai a retenona, que produz efeitos narcóticos em
peixes. O método de conservação dos peixes varia desde uma forma de defumação
(mosqueado), até mesmo o uso de gelo e sal. O tucunaré é a espécie que pode ter sido
introduzida de forma acidental. Os peixes capturados destinam-se somente à subsistência.
Mourão e Nordi (2003) estudaram a pesca artesanal em duas comunidades de
pescadores artesanais do estuário do rio Mamanguape (PB), comunidade da Barra de
Mamanguape e Tramataia (APA do Mamanguape). Buscaram desvendar os modelos
cognitivos que auxiliam os pescadores a decidirem sobre as estratégias a serem utilizadas para
obtenção dos recursos. Utilizaram entrevistas livres, inicialmente, e semiestruturadas e
questionários (100), num segundo momento, com pescadores experientes (20). Segundo os
relatos dos pescadores, os autores identificaram categorias tróficas conforme o hábito
alimentar, disposição do cardume, produção de ruídos, modo de incubação e emissão de
odores. Os dados construídos refletem a necessidade de preservação da área.
Santos (2005) realizou estudo sobre a cadeia produtiva da pesca artesanal em sete
municípios do estado do Pará: Augusto Corrêa, Bragança, Curuçá, Maracanã, Marapanim,
São João de Pirabas e Viseu que, atualmente, respondem por um quarto da produção estadual
de pescado. No estudo, foram aplicados questionários em 34 comunidades pertencentes aos
municípios supracitados. No âmbito da cadeia produtiva são identificadas as características
socioeconômicas, tecnológicas e produtivas da pesca artesanal e analisado o processo e as
relações de comercialização. Apresentam-se as análises referentes à dimensão institucional e
organizacional da cadeia produtiva com ênfase na organização social, assistência técnica e o
acesso a crédito. No caso da pesca artesanal, as funções de armazenamento são executadas
pelo próprio pescador que acondiciona o pescado em recipientes com gelo e/ou, em menor
proporção, efetua a salga do produto para posterior consumo e/ou comercialização.
Almeida et al. (2006) realizaram estudo no litoral maranhense durante os anos de
2004 e 2005, quando, através de entrevistas e observações, identificaram dez tipos de
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 29
embarcações diferentes: cúter, bote, bianas, igarité, boião, casquinho, catamarã, MAR,
lagosteiros e pargueiros. Descreveram caracteres físicos e de distribuição espacial no litoral.
Segundo os autores, são 7.114 embarcações, onde predominam aquelas à remo e à vela.
Destacam, também, o aumento no número de embarcações motorizadas e o impacto na pesca.
3 HISTÓRICO, PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DA COMUNIDADE
DO POTI VELHO
3.1 Histórico
Comunidades de populações tradicionais costumam manter o conhecimento local
acumulado e construído durante os anos, que lhes permitem uma convivência com a natureza,
fazendo uso do que ela pode oferecer, até mesmo quando remetem a comunidades inclusas em
zona urbana, quando o ambiente ainda que modificado, permite sustentar modos de vida
calcados no uso de parcos recursos naturais. Esse conhecimento sofre constantes pressões
oriundas do modo de vida urbano, o que leva à suspeição de que esteja sendo perdido com o
tempo devido à característica da transmissão pela oralidade e pelo confronto de práticas
tradicionais de manejo com tecnologias que o meio urbano disponibiliza.
Os pescadores, sobretudo os artesanais, como no caso dos ocorrentes no bairro
Poti Velho (Teresina-PI), praticam a pesca em pequena escala, cuja produção em parte é
consumida pela família e em parte é comercializada na própria comunidade. A produção é
familiar, incluindo na tripulação conhecidos e parentes. Tal atividade acontece
tradicionalmente desde 1760, quando, na Barra do Poti, formaram-se os primeiros pequenos
aglomerados de casas habitadas por plantadores de fumo, mandioca, canoeiros e pescadores.
Dali surgia o núcleo populacional que mais tarde formaria a capital Teresina (TERESINA,
2005). Em novembro de 1850, o Conselheiro Saraiva criava a Vila Nova do Poti, a seis
quilômetros ao sul, e a antiga ficou conhecida como Poti Velho.
O primeiro núcleo de povoamento que originou a cidade de Teresina se fixou à
margem esquerda da foz do rio Poti, que deságua no rio Parnaíba.
Em torno de 1697 a 1762, a população do Piauí apresentou um crescimento
estagnado, distribuída em algumas fazendas e apenas seis vilas: Oeiras, a então capital, na
Vila da Mocha; Marvão (hoje Castelo do Piauí); Parnaguá; Jerumenha; Valença (hoje Valença
do Piauí); e São João da Parnaíba (hoje Parnaíba). No entanto, nessa época, somente a
povoação do Poti e as vilas de Campo Maior e Parnaíba tiveram algum progresso
(SANTANA, 1995).
Ainda de acordo com Santana (1995) a Vila do Poti, antigo reduto de índios, era
um local privilegiado para a agricultura. Era uma passagem entre o norte da Capitania do
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 31
Piauí e o restante do Brasil. O movimento para a mudança da capital para a Vila do Poti
culminou com a mudança para a Vila, localizada nas terras da fazenda Chapada do Corisco;
um ato eminentemente político envolvendo as elites agrárias do norte do Piauí, os políticos de
Campo Maior e os notáveis de Oeiras. Já em 1852, foi criada a Vila Nova do Poti, instalando-
se no mesmo local a capital da Província do Piauí, já com o nome de Teresina. Quanto à
antiga Vila do Poti, passou a ser denominada de Poti Velho, que hoje situa-se em meio
urbano, como um bairro da Capital (SANTANA, 1995).
3.2 Perfil Socioeconômico
A população amostrada compõe-se de 82 indivíduos, pescadores artesanais
cadastrados no Sindicato dos Pescadores e Pescadoras Artesanais de Teresina, Palmeirais no
Estado do Piauí e Parnarama no Estado do Maranhão – SINDIPESCA/THE-PI. Esta
apresentou uma proporção de 55% de pescadores homens e 45% de mulheres. Na
comunidade, consideram-se jovens indivíduos com idades entre 18 e 29 anos; adultos, entre
30 e 49 anos; e idosos, com idade igual ou acima de 60 anos. Assim, pode-se afirmar que há
um predomínio de adultos (73%) em relação aos jovens (14%) e aos idosos (13%) (Figura 1).
Figura 1: Distribuição da população de pescadores do bairro Poti Velho, Teresina
(PI), por gênero e faixas etárias. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).
12
31
12
2
42
1 0
20
40
60
80
100
JOVENS(18 a 29 anos)
ADULTOS(30 a 59 anos)
IDOSOS (≥ 60 anos)
Val
ore
s e
m %
Faixas Etárias
HOMENS
MULHERES
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 32
Quanto ao estado civil, 71% são casados ou vivem em união estável; 26% são
solteiros e 4% são viúvos. Para o ensino formal, 58% têm o Ensino Fundamental, 34%, o
Ensino Médio e 8% são não-escolarizados. Pode-se observar que as mulheres buscam mais o
ensino formal, visto que há poucas não-escolarizadas e muitas que chegam ao ensino médio
em comparação com a população masculina (Figura 2).
Figura 2: Distribuição da população de pescadores do bairro Poti Velho, Teresina
(PI), com relação ao gênero e escolaridade. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).
A renda mensal média é de R$ 395,55, valor superior 37% do que a renda per
capita do bairro no ano 2000, que era de R$ 250,69 (TERESINA, 2005), sendo maior também
em relação à renda média mensal das pessoas responsáveis pelo domicilio, que em 2000 era
de R$ 324,83 (TERESINA, 2002).
O tempo de experiência na pesca pode ser considerado grande, visto que, em
média, os pescadores amostrados pescam há 23 anos. Aqueles que pescam há menos tempo o
fazem há dois anos; aqueles que pescam há mais tempo, o fazem há 72 anos. A média de
tempo de pesca por faixa etária foi 8 anos para os jovens; 19 anos para os adultos e 41 anos
para os idosos. Tais dados demonstram a grande experiência acumulada pelos pescadores do
Poti Velho, principalmente quando se considera pescadores adultos e idosos.
A maioria dos pescadores reside em casas com até cinco cômodos pequenos, de
alvenaria, sendo a maior parte reformada. Os recursos para tal são oriundos de atividades
secundárias ou paralelas à pesca, como atividades de artesanato (17%) e serviços gerais
(12%), renda média mensal de R$ 395,55, e também recebimento do seguro mensalmente por
7
34
14
1
24 20
0
20
40
60
80
100
NÃO-
ESCOLARIZADO
ENSINO
FUNDAMENTAL
ENSINO MÉDIO
Va
lore
s em
%
Escolaridade
HOMENS
MULHERES
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 33
aqueles sindicalizados, na época da piracema, período que segue de 15 de novembro a 16 de
março, no qual é proibida a pesca. Observou-se que 98% das residências apresentam fossa
séptica; 99% têm cobertura por telhas; em 95% delas as paredes são de tijolos (em 5% são de
taipa); em 48% o piso é de cerâmica, em 35%, de cimento e em 6%, de barro (chão batido).
Além disso, em 100% das residências há coleta pública de lixo e em 99%, energia elétrica e
abastecimento de água tratada.
O bairro Poti Velho possui uma unidade escolar municipal, duas estaduais e um
hospital público municipal.
3.3 Aspectos Culturais e Religiosos
As festas do Poti Velho estão intimamente relacionadas aos eventos religiosos.
São as festas católicas de São Pedro, padroeiro dos pescadores, de Nossa Senhora do Amparo
e de São Francisco.
A festa de São Pedro é a festa mais tradicional para os pescadores artesanais do
Poti Velho. No dia 29 de junho de cada ano, acontece na sede do SINDIPESCA/THE a
comemoração das festividades de São Pedro, com um almoço oferecido aos pescadores. A
imagem do santo sai do Poti Velho até a igreja matriz de Teresina, a Igreja de Nossa Senhora
do Amparo, acerca de 3 km do Bairro. Nesta, acontece uma missa e logo após, inicia-se uma
procissão até o caís do Troca-troca3. Do Caís, a procissão segue pelo rio Parnaíba até a foz do
rio Poti, desembarcando no caís do que atualmente é o restaurante Pesqueirinho. A partir de
então, a Procissão segue por terra até a igreja de Nossa Senhora do Amparo, no bairro Poti
Velho, onde acontece outra missa em meio aos festejos compostos por barraquinhas em torno
da praça.
3 Mercado popular onde predominantemente as negociações acontecem por meio da troca de produtos, sendo
secundário mas também corrente o uso de dinheiro.
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 34
Figura 3: Percurso da procissão fluvial de São Pedro que parte do Cais do
Troca-troca até chegar ao Cais do Pesqueirinho. Fonte: Adpatado de
Google Maps, 2010.
As lendas citadas pelos pescadores artesanais foram: a lenda do Cabeça-de-Cuia,
do Boitatá, do Num-se-Pode, do Caipora (Curupira), da Mula-sem-Cabeça, da Mãe-D‘água e
do Saci Pererê.
A lenda do Cabeça-de-Cuia conta a história de um pescador de nome Crispim, que
morava na antiga Vila do Poti com sua mãe. Um dia teria pescado um curimatá e pedido à sua
mãe para assá-lo. Quando retornou, Crispim viu que sua mãe teria oferecido o peixe a uma tia
e ele, enraivecido, teria matado sua mãe espancada com um osso. Antes de morrer ela teria lhe
desferido uma maldição que ele viveria vagando pelo rio Poti com a cabeça parecendo uma
cuia até conseguir devorar três Marias virgens.
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 35
Boitatá é a lenda que contam sobre uma cobra que tem olhos incandescentes e
cospe fogo, porém poucos pescadores citaram a lenda.
Outra importante lenda da cultura de Teresina, conta que nas ruas da cidade
haveria uma mulher que se aproximava dos homens, sempre à noite, para que acendessem seu
cigarro. Logo após, ela cresceria de tamanho até chegar à altura dos postes de eletricidade e
assustava a todos com gritos de ―Num-se-pode, Num-se-pode!‖ Alguns pescadores citaram a
criatura como a ―Loira da Ponte‖ que ataca as pessoas que transitam à noite na ponte do Poti
Velho.
Os pescadores também citaram o Caipora ou Curupira. Conhecido como o
protetor das matas e florestas, seria um menino com os pés virados para trás e bastante
peludo.
A Mula-sem-Cabeça é uma assombração conhecida em todo Brasil (FMC, 2009).
São mulheres que se casam com padres ou que não respeitam os votos de castidade. Têm
aparência de uma mula sem a cabeça.
O Saci-pererê é um menino que pula pela mata em uma perna só com um gorro
vermelho e pitando um cachimbo. Conhecido por suas travessuras, ele gosta de aparecer às
pessoas nas matas, dando-lhes sustos.
Segundo as entrevistas, há basicamente dois rezadores na comunidade do Poti
Velho: o Sr. João Paulo (Paulo Preto) e a Dona Francisca. O Primeiro é raizeiro de profissão.
Sua vida é destinada a fazer remédios caseiros à base de plantas medicinais. Já a Dona
Francisca, é ex-pescadora e hoje reza para retirar quebranto e mau-olhado ―naqueles que têm
fé‖. A pescadora conhece três tipos de reza: uma para retirar quebranto, uma para arca-caída
(desalinhamento da coluna vertebral indicando uma cifose caracterizada pela disparidade
entre a medição da distância entre o cotovelo e o dedo mínimo e a distância medida entre os
dois ombros passando pelo tórax) e outra para vento-caído, condição observada em crianças
após assustadas. Segundo os pescadores, a criança, quando deitada de barriga para cima,
apresenta uma concavidade abdominal acima do normal, podendo apresentar febre, vômito e
diarréia. Também reza em feridas e erisipela. Sempre usa pião roxo (Jatropha gossypiifolia
L.) em suas rezas. Um pequeno galho da planta é passado sobre a cabeça do enfermo fazendo
uma cruz com gestos. A informante relatou apenas um tipo de reza, pois, segundo ela, serve
para tudo e também comentou que se outra pessoa conhecer a reza, esta perde a ―força‖.
Também outro pescador, de 22 anos, relatou uma reza para quebranto em crianças:
―Quebrante do mau-olhado, te botaram com os ‗óios‘, te tiro com o rabo!‖ (grifo nosso,
Gemerson, pescador), repetindo três vezes, enquanto passa-se com as mãos a criança por
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 36
baixo das pernas em movimento de pêndulo. Todavia, ainda que outros conheçam rezas,
somente o Sr. Paulo e a Dona Francisca é que rezam e são procurados pelos demais
pescadores para tal.
Alguns acreditam na existência real do Cabeça-de-Cuia. Muitos afirmam que seus
pais, avós ou eles mesmos terem o visto durante as pescarias, principalmente em noites de lua
nova ou com pouca iluminação.
4 METODOLOGIA GERAL
4.1. Área de Estudo
Teresina está localizada na região centro-norte piauiense, à margem direita do rio
Parnaíba, tendo ao lado o município maranhense de Timon (Figura 4). No bairro Poti Velho,
zona norte da cidade, grande parte das pessoas vive do artesanato da cerâmica e madeira e da
pesca (IBGE, 2002).
Figura 4: Localização do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor
através do Software GPS Trackmaker© para windows (software livre), versão 13.2 de Odilon
Ferreira Junior, Belo Horizonte (MG), 1998-2007.
A capital do Piauí possui uma área de 1.755,70 Km² e um total da área urbanizada
que soma 140,00 km² (7,9% da área urbana do município). Sua população é composta por de
715.360 habitantes o que corresponde a 25,16% da população do Estado. O Índice de
desenvolvimento humano (IDH) do município alcançou valores de 0,767, ocupando o nº
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 38
1.420 na classificação nacional. O Produto Interno Bruto per capita real é de R$ 3.903,39
(TERESINA, 2005).
Quanto à hidrografia, Teresina possui posição privilegiada, pois está situada na
grande bacia do Parnaíba, permanentemente alimentada por águas subterrâneas oriundas do
excelente aquífero formado pelo arenito Saraiva de Formação Pedra de Fogo. Os mananciais
hídricos subterrâneos são também consideráveis com excelentes condições de
aproveitamento, e com água, em geral, de muito boa potabilidade. A cidade é banhada por
dois grandes rios perenes: o Parnaíba e o Poti, os quais percorrem, respectivamente, 90 km e
59 Km do Município. Devido à existência de depressões naturais nas áreas marginais dos dois
rios, no período chuvoso evidenciam-se lagoas que, às vezes, se estendem por diversos
bairros, mais concetradas na zona Norte de Teresina. Por ocasião do período de estiagem, suas
águas baixam, formando praias, onde a população aproveita as chamadas "coroas" para o
lazer nos fins de semana (TERESINA, 2005).
Teresina apresenta uma das mais baixas altitudes do Estado, caracterizando-se por
apresentar relevo plano, com suaves ondulações. As colinas com topo achatado e flancos
muito inclinados, e as chapadas apresentando a superfície plana e os vales entalhados são as
feições topográficas mais frequentes na área do município. Ao sul do município ocorrem
injeções de diabásio que se encaixam em siltitos e arenitos e são responsáveis pela existência
de algumas elevações alongadas arredondadas. A altitude média é de 72m, variando de 100 a
150m (TERESINA, 2005).
Localizada em zona de latitude baixa e nos limites da área semiárida do Nordeste
brasileiro, o município apresenta clima tropical megatérmico, dos mais quentes do Brasil e
subúmido do tipo seco. As temperaturas registradas são elevadas durante todo o ano, variando
entre os extremos de 38°C e 22°C (média de 28°C). Tais oscilações são amenizadas pela
contribuição dos ventos, proporcionando temperaturas mais amenas, apenas no período
noturno (TERESINA, 2005).
A umidade relativa média do ar é de 69%. De agosto a outubro ocorrem os
menores valores que variam de 54% a 59%, podendo nesta época do ano atingir até 20%, no
horário da tarde (TERESINA, 2005).
O cerrado e cerradão constituem a forma mais generalizada de vegetação que é
representada por uma cobertura arbustiva de médio porte e densa. Integra ainda a paisagem os
babaçuais e os carnaubais nativos, que se estendem por toda a área, preferencialmente ao
longo dos vales e terrenos quaternários de maior fertilidade (TERESINA, 2005).
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 39
A distribuição etária da população está disposta da seguinte forma: de zero a seis
anos, correspondendo a 96.064 hab. (13,43%); de sete a 14 anos, correspondendo a
120.711hab. (16,87%); de 15 a 17 anos, correspondendo a 52.690 hab. (7,37%); de 18 a 24
anos, correspondendo a 113.498 hab. (15,86%); de 25 a 39 anos, correspondendo a 168.254
hab. (23,52%); e de 40 anos em diante, correspondendo a 164.143 habitantes (22,95%)
(TERESINA, 2005).
O bairro Poti Velho localiza-se entre as coordenadas 05°02‘09‘‘S e 42°50‘02‘‘W
e 05°02‘03‘‘S e 42°49‘43‖W e limita-se ao norte pelo rio Poti, ao sul pelo bairro Mafrense, a
oeste pelo bairro Olarias e a leste pelo bairro Alto Alegre. Sua população é composta por
4.208 habitantes. Destes, 2.023 são do gênero masculino e 2.185 são do gênero feminino.
4.2 Levantamento dos Dados
Originado a partir da Associação dos Pescadores do Poti Velho, o Sindicato dos
Pescadores e Pescadoras Artesanais de Teresina, Palmeirais no Estado do Piauí e Parnarama
no Estado do Maranhão – SINDIPESCA/THE-PI é a instituição que representa tais
pescadores.
A coleta de dados foi realizada no período de fevereiro de 2008 a dezembro de
2009, mediante definição do universo de pescadores sindicalizados. Assim, foram listados os
pescadores maiores de 18 anos, escolhidos aleatoriamente dentre aqueles residentes no bairro
Poti Velho. O levantamento dos dados foi realizado junto aos pescadores da comunidade,
individualmente. Os pescadores sindicalizados somam um total de 700. Destes, apenas 450
residem nos limites do bairro Poti Velho. A amostra foi definida adotando-se uma margem de
erro de 10% (BARBETTA, 2006), resultando numa amostra composta por 82 pescadores.
Utilizou-se a técnica da bola-de-neve (BAILEY, 1982), na qual os pescadores foram visitados
e entrevistados em seus domicílios, os quais indicaram outros pescadores a serem
entrevistados. Quando necessárias, também ocorreram turnês-guiadas (BERNARD, 1988)
para os locais onde buscavam recursos animais ou vegetais.
A coleta de dados aconteceu através de entrevistas semiestruturadas (Bernard,
1988), contendo levantamento de informações socioeconômicas, culturais e etnobiológicas
(Apêndice A). Tais entrevistas foram realizadas mediante permissão prévia dos entrevistados
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 40
através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
em duas vias, uma das quais ficou com o entrevistado e outra com o pesquisador.
Posteriormente, as entrevistas foram transcritas em laboratório em conjunto com
os dados referentes às conversas informais, registradas em diário de campo. As observações
foram elemento subsidiários à coleta de dados, uma vez que permitiram um melhor
entendimento das atividades e relatos dos sujeitos entrevistados, conforme relata Chizzotti
(2000).
A pesquisa foi submetida à apreciação do Conselho de Ética na Pesquisa da
Universidade Federal do Piauí sob o número CAAE 0081.0.045.000-09, e aprovado em
23/07/2009.
Os levantamentos florístico e zoológico foram realizados no período de fevereiro
de 2008 a dezembro de 2009. Ao tempo em que eram citados pelos entrevistados, os vegetais
foram coletados. Também ao retornar de pescarias ou durante as mesmas para os animais
citados.
Dentre as citações de etnoespécies animais, os peixes foram a classe mais citada.
As coletas foram realizadas preferencialmente para etnoespécies de uso medicinal. Os
espécimes foram fotografados, fixados em formol 10%, armazenados em frascos etiquetados
para cada família e conservados em álcool 70%. A identificação foi realizada pelo Professor
MSc. Romildo Ribeiro Soares do Laboratório de Zoologia do Departamento de Biologia (DB)
da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Os indivíduos vegetais foram coletados preferencialmente em estádio reprodutivo
durante as visitas aos quintais e áreas aleatórias ou previamente selecionadas, de acordo com
procedimento rotineiro de campo (MORI et al., 1989).
A identificação botânica dos espécimes foi feita por meio do estudo da sua
morfologia, consultas a bibliografias especializadas, bem como comparações com indivíduos
já identificados e incorporados ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB), da
Universidade Federal do Piauí, além de confirmação por especialistas, quando foi necessário.
Após identificação, os exemplares foram incorporados ao TEPB. O sistema de classificação
adotado foi o de Cronquist (1981), com exceção da família Leguminosae, que obedeceu a
Judd et al. (1999). A grafia dos binômios científicos e abreviaturas dos nomes dos autores
estão de acordo com Brummitt e Powell (1992) e pelo sitio IPNI (2008). A classificação das
monocotiledôneas seguiu a orientação de Dahlgren e Clifford (1980).
Foi calculado o valor de uso de cada etnoespécie e dos conjuntos de dados que
compõem a flora e fauna estudados, que consiste na concordância entre as respostas dos
AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 41
informantes, permitindo assumir que a importância relativa de uma planta é dada pelo número
de usos que apresenta, aplicado-se a fórmula sugerida por Phillips; Gentry (1993a, b)
modificado por Rossato (1996). VU= ∑U/n sendo: VU = valor de uso; U = número de
citações (ou usos) da etnoespécie por informante; n = número de informantes que citaram a
etnoespécie ou espécie.
Também foram calculados os Índices de diversidade de Shannon-Wiener
(MAGURRAN, 1989), de riqueza de espécies para cada classe de uso elencado e para o
conjunto geral de espécies, tanto para flora quanto para fauna, através do software Biostat 5.0.
A fim de comparar dados com tamanhos amostrais diferentes, foi utilizado o método
de rarefação, que consiste no cálculo do número esperado de espécies em cada amostra para
um tamanho de amostra padrão, proposto por Gotelli e Colwell (2001), através do programa
Ecosim (Gotelli; Entsminger, 2001).
A coleta de dados referente às práticas culturais aconteceu por meio da observação in
loco, registro fotográfico, com o devido cuidado para não expor tipologias ou características
que identifiquem os sujeitos, como também através de entrevistas como já mencionado
anteriormente.
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6 ARTIGOS
6.1 Espécies vegetais cultivadas em quintais de pescadores artesanais em Teresina/PI,
Brasil. A ser enviado à revista Economic Botany.
6.2 Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações na
comunidade de pescadores do Poti Velho, Teresina-PI, Brasil. A ser enviado ao
Brazilian Journal of Biology.
51
6.1 ARTIGO A SER SUBMETIDO AO PERIÓDICO ECONOMIC BOTANY
ESPÉCIES VEGETAIS CULTIVADAS EM QUINTAIS DE PESCADORES
ARTESANAIS EM TERESINA/PI, BRASIL.
Autores:
Alexandre Nojoza Amorim
João Batista Lopes
Roseli Farias Melo de Barros
52
ESPÉCIES VEGETAIS CULTIVADAS EM QUINTAIS DE PESCADORES
ARTESANAIS EM TERESINA/PI, BRASIL.
Alexandre Nojoza Amorim¹, João Batista Lopes² & Roseli Farias Melo de Barros³
1 Biólogo. Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente do Programa de
Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) - PRODEMA/PRPPG/TROPEN/Universidade
Federal do Piauí (UFPI). [email protected].
2 Engenheiro Agrônomo. Profº do Departamento de Agronomia da UFPI e do
MDMA/PRPPG/UFPI. [email protected].
3 Bióloga. Profª do Departamento de Biologia da UFPI, Doutorado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (DDMA) e do MDMA/PRPPG/UFPI. Curadora do Herbário Graziela
Barroso (TEPB). [email protected].
Resumo
Espécies vegetais cultivadas em quintais de pescadores artesanais em Teresina/PI, Brasil:
Objetivou-se realizar o levantamento etnobotânico em quintais urbanos na comunidade de
pescadores artesanais do Poti Velho, município de Teresina/PI, buscando conhecer o potencial
da flora dos quintais e suas formas alternativas de uso e manejo. Os dados foram coletados de
fevereiro de 2008 a dezembro de 2009, utilizando-se entrevistas semiestruturadas com 60
pescadores, sendo 30 mulheres e 30 homens, de idades variando entre 18 e 76 anos. Foram
calculados os Índices de Diversidade de Shannon-Wiener e o Valor de Uso de cada espécie.
Os quintais foram agrupados mediante similaridade. As famílias botânicas mais
representativas foram: Lamiaceae (15%); Euphorbiaceae e Anacardiaceae (8%); Rutaceae
(6%); Myrtaceae, Poaceae, Chenopodiaceae e Verbenaceae (5%); e Malpighiaceae (3%). As
plantas dos quintais do Poti Velho foram adquiridas pelo recebimento de mudas ou trocas
com os vizinhos. Há predomínio de espécies exóticas cultivadas que se deve ao fato da maior
vivência em meio urbano. A diversidade das espécies botânicas apresentou índice de
Shannon-Wiener de 1,60. As coletas apresentaram suficiência amostral e as espécies com
maior VU (5,0) foram Jatropha curcas L. e Hibiscus esculentus L. A categoria medicinal foi
a que recebeu maior número de citações de espécies (69,3%). Constatou-se que o
conhecimento etnobotânico é maior entre mulheres adultas. Os quintais mostraram grande
similaridade entre si, e são espaços de convivência e de cultivo de múltiplas espécies, na
maioria, plantas medicinais, sendo a grande quantidade de plantas exóticas um reflexo da
convivência sob as pressões do ambiente urbano.
Palavras-chave: Etnobotânica. Etnoconhecimento. Pesca artesanal.
Abstract
Vegetal species cultivated in backyards of artisanal fishermen in Teresina city, Piauí state,
Brazil: The objective was to survey the ethnobotanical lore in urban backyards in the artisanal
fishermen community of Poti Velho district, city of Teresina, Piauí state, seeking to know the
potential of the backyards‘ flora and its alternative forms of use and management. The data
was collected from February 2008 to December 2009, using semi-structured interviews with
60 fishermen, 30 women and 30 men, and their ages ranged from 18 to 76 years old. The
Shannon-Wiener‘s Diversity Indices were calculated and the Use Value (UV) of each species.
The backyards were grouped in terms of similarity. The most representative botanical families
were: Lamiaceae (15%); Euphorbiaceae and Anacardiaceae (8%); Rutaceae (6%); Myrtaceae,
53
Poaceae, Chenopodiaceae and Verbenaceae (5%); and Malpighiaceae (3%). The backyards‘
plants of Poti Velho were acquired by the acceptance of cuttings or exchanges with their
neighbors. There is a predominance of exotic species cultivated, which is due to these people
living in an urban environment. The botanical species diversity showed Shannon-Wiener‘s
index of 1.60. The pickups presented a sample sufficiency and the highest UV species (5.0)
were Jatropha curcas L. and Hibiscus esculentus L. The medicinal category received the
greatest number of species citations (69.3%). It was verified that the ethnobotanical lore is
larger among adult women. The backyards showed a great similarity among each other, and
they are conviviality and cultivation areas for several species, mostly, medicinal plants, with a
great quantity of exotic plants, which is a reflection of the conviviality under the urban
environment demands.
Keywords: Ethnobotany. Ethnoscience. Artisanal fishing.
<H1>INTRODUÇÃO
As sociedades tradicionais apresentam modos de vida baseados na vivência
cotidiana junto à natureza. Os hábitos estão intrinsecamente relacionados aos ciclos naturais,
denotando que dessa forma apreendem a realidade e a natureza que é baseada além da
experiência e racionalidade, também em valores, símbolos, crenças e mitos (Monteles;
Pinheiro, 2007).
Estudos etnobotânicos permitem relacionar as plantas e humanos considerando-se
o uso que os últimos fazem dos primeiros. A Etnobotânica pode ser caracterizada pelo estudo
das sociedades humanas, passadas e presentes, e suas interações ecológicas, genéticas,
evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas (Fonseca-Kruel; Peixoto, 2004). Para Posey
(1987), é uma Etnociência que objetiva o estudo do conhecimento e da conceituação
desenvolvida por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal. Surgiu como mediadora
dos diversos discursos culturais, como uma tentativa de compreensão do modo de vida,
códigos e costumes que racionalizam as relações entre o homem e a natureza, fazendo a
complementaridade entre o saber tradicional e o saber acadêmico (Albuquerque, 2000).
É no quintal que as relações entre seres humanos e vegetais se estabelecem e
estreitam, mediante o cultivo daquelas espécies que possuem algum uso. Quintal é o termo
utilizado para se referir ao terreno em torno da casa, definido, como a porção de terra próxima
à residência, de fácil acesso, na qual se cultiva ou se mantêm múltiplas espécies que fornecem
parte das necessidades nutricionais da família, bem como outros produtos, como lenha e
plantas medicinais (Saragoussi et al., 1988; Brito; Coelho, 2000; Pasa et al., 2005; Angeoletto
et al., 2008). Consistem de uma reunião de plantas de diferentes hábitos de crescimento que se
54
desenvolvem ao redor das casas, criados e mantidos pelos seus membros e os produtos
destinam-se ao consumo da residência, constituindo-se em sistemas agroflorestais tradicionais
caracterizados pela complexidade de sua estrutura e múltiplas funções (Das; Das, 2005).
Os quintais são uma das formas mais antigas de manejo da terra, que remete à sua
sustentabilidade (Amaral; Guarim-Neto, 2008). Apresentam papel econômico, na produção de
alimentos, social e medicinal, proporcionando espaços de convivência, que geram ativos
ecológicos, como a melhoria da evapotranspiração local, cobertura vegetal do solo e
sombreamentos. Áreas semelhantes aos quintais podem ser tradicionalmente encontradas em
zonas tropicais ao redor do planeta, onde haja sistemas de uso da terra baseados na
subsistência (Nair, 1993). Eles têm como outra função servir de reservatórios de
biodiversidade em comunidades mundo afora, podendo agregar espécies perenes ou anuais
(Oakley, 2004). São importantes na conservação da diversidade de espécies nativas,
cultivadas e domesticadas.
Os quintais não têm recebido atenção dos planejadores urbanos brasileiros, nem
tão pouco atenção científica, embora ocorram em várias culturas e se constituam num sistema
de produção de múltiplas espécies, provendo e sustentando milhões de pessoas
economicamente por várias gerações, configurando-se numa forma de manejo que enseja sua
sustentabilidade (Florentino; Araújo; Albuquerque, 2007). Quando bem projetados, os
quintais podem diminuir o consumo de energia elétrica, ao mesmo tempo em que
proporcionam alimentos ricos em vitaminas e fibras aos seus usuários (Angeoletto et al.,
2008).
Desta forma, o presente estudo se destina a realizar levantamento etnobotânico em
quintais da comunidade de pescadores artesanais urbanos do bairro Poti Velho, município de
Teresina/PI, visando conhecer o potencial da flora dos quintais e suas formas alternativas de
uso e manejo dos recursos da flora, contribuindo, portanto para a perpetuação dos valores
culturais da população de pescadores.
<H1>METODOLOGIA
<H2>Área de Estudo
Teresina está localizada na mesoregião Centro-Norte Piauiense, à margem direita
do rio Parnaíba, tendo ao lado o município maranhense de Timon. Possui uma área de
1.755,70 Km² e sua população é composta por de 715.360 habitantes, que corresponde a
55
25,16% da população do Estado (Teresina, 2005). Apresenta clima Aw na classificação de
Köppen, tropical e chuvoso de savana, com inverno seco e verão chuvoso. As temperaturas
registradas são elevadas durante todo o ano, variando entre 22°C a 38°C (média de 28°C). A
altitude média é de 72m, variando de 100 a 150m.
O bairro Poti Velho, zona norte de Teresina, localiza-se entre as coordenadas
05°02‘09‘‘S e 42°50‘02‘‘W e 05°02‘03‘‘S e 42°49‘43‖W (Figura 1) e possui uma população
composta por 4.208 habitantes. Destes, 2.023 (48%) são do gênero masculino e 2.185 (52%)
são do gênero feminino. Os domicílios com água canalizada perfazem um total de 131.866
unidades habitacionais (77,6%) e a renda per capita em 2000 era de R$ 250,69 (Teresina,
2005). A maioria das pessoas vive do artesanato da cerâmica, madeira e da pesca (IBGE,
2002).
Figura 1: Localização do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor
através do Software GPS Trackmaker© para windows (software livre), versão 13.2 de Odilon Ferreira
Junior, Belo Horizonte (MG), 1998-2007.
<H2>Levantamento Etnobotânico
Os dados etnobotânicos foram coletados de fevereiro de 2008 a dezembro de
2009, com coletas periódicas (quinzenais, no período chuvoso, e mensais, no período seco)
nas residências de pescadores artesanais cadastrados no Sindicato dos Pescadores e
Pescadoras Artesanais de Teresina, Palmeirais no Estado do Piauí e Parnarama no Estado do
Maranhão (SINDIPESCA-THE).
56
Seguindo a metodologia proposta por Barbetta (2006), o universo amostral
compôs-se por 60 pescadores, os mantenedores dos quintais, sendo 30 mulheres e 30 homens,
com idades variando entre 18 e 76 anos. As informações econômicas e sociais foram obtidas
por meio de observação direta e entrevistas semiestruturadas (Bernard, 1988), além de
anotações em diário de campo com informações adicionais e uso da técnica de bola-de-neve
(Bailey, 1982). A turnê-guiada (Bernard, 1988) foi utilizada nas visitas aos quintais, quando
os pescadores forneceram informações sobre as plantas cultivadas. Posteriormente, as
entrevistas foram transcritas em laboratório em conjunto com os dados referentes às conversas
informais, registradas no diário de campo. A observação foi elemento subsidiário à coleta de
dados, uma vez que permitiu um melhor entendimento das atividades e relatos dos sujeitos
entrevistados, conforme relata Chizzotti (2000).
Ao tempo em que eram citados pelos entrevistados, os vegetais eram coletados
preferencialmente em estádio reprodutivo, segundo procedimento rotineiro de campo (Mori et
al., 1989).
A identificação botânica dos espécimes foi feita por meio do estudo da sua
morfologia, consultas a bibliografias especializadas, bem como por comparações com
indivíduos já identificados e incorporados ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da
Universidade Federal do Piauí (UFPI), além de confirmação por especialistas, quando
necessário. Após identificação, os exemplares foram incorporados ao TEPB. O sistema de
classificação adotado foi o de Cronquist (1981), com exceção da família Leguminosae, que
obedeceu a Judd et al. (1999). Para as monocotiledôneas seguiu-se o proposto por Dahlgren e
Clifford (1980). A grafia dos binômios científicos e abreviaturas dos nomes dos autores estão
de acordo com Brummitt e Powell (1992) e pelo sítio IPNI (2008).
Foi calculado o Índice de Diversidade de Shannon-Wiener para cada classe de uso
elencado e para o conjunto geral de espécies botânicas, através do Software Bioestat 5.0 e o
Valor de Uso (VU) de cada etnoespécie, aplicando-se a fórmula sugerida por Phillips; Gentry
(1993a, b), modificada por Rossato (1996): VU= ∑U/n, sendo: U = número de citações (ou
usos) da etnoespécie por informante; n = número de informantes que citaram a etnoespécie ou
espécie. Foram construídas curvas de rarefação para permitir comparações entre amostras
diferentes, realizadas por meio do software EcoSim (Gotelli; Entsminger, 2004).
Com os resultados obtidos foram construídas listas de espécies utilizadas pela
população de pescadores em planilhas eletrônicas para os cálculos estatísticos.
57
<H1>RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os pescadores artesanais do bairro Poti Velho praticam a pequena pesca cuja
produção em parte é consumida pela família e em parte é comercializada no próprio bairro. A
produção é familiar, incluindo na tripulação conhecidos e parentes. Seus quintais são
utilizados principalmente para a realização de lavagem de roupas (73%), para criar pequenos
animais (galinhas e patos, 7%), como local de armazenamento de utensílios e aproveitamento
de sombreamento (3% cada); 81% afirmaram não separar plantas cultivadas por tipo de uso
ao contrário daqueles poucos que afirmaram o fazer (19%), fato também citado por Aguiar
(2009).
De um total de 60 quintais amostrados, em 54% deles havia criação de animais.
Destes, em 76% os animais eram criados soltos e em 24%, eram mantidos em cercados ou
chiqueiros.
Os quintais do Poti velho variaram em forma e tamanho, desde 12m² até 1.350m²
(em média quintais com 249m² e desvio padrão de 275m²). São relativamente pequenos se
comparados com os estudados por Niñez (1984), Sablayrolles (2004) e Aguiar (2009), que
estudaram respectivamente, quintais urbanos no Peru (800m² a 1000m²), quintais amazônicos
(555m² a 7.890m²) e quintais agroflorestais no Piauí (130m² até 8.500m²). WinklerPrins
(2002), demonstrou a relação entre quintais urbanos e rurais no Amazonas onde também foi
observado os quintais urbanos (300m² a 600m²) também são menores que os rurais (500m² a
1.700m²). No presente estudo, este fato também pode ser explicado pela limitação dos
espaços, devido à densidade demográfica no Poti Velho.
Observou-se que homens e mulheres participam de forma igualitária da
manutenção dos quintais do Poti Velho, diferente do observado por Sablayrolles (2004) e
Aguiar (2009), nos quais as mulheres eram maioria na manutenção dos quintais e do
observado por Albuquerque, Andrade e Caballero (2005), no qual os homens foram maioria.
Considerando-se que os quintais são formados por áreas adjacentes à residência,
pode-se observar que em 56% deles não há plantas na frente da casa e em 80% não há plantas
nas laterais da casa, sendo o principal local de cultivo os espaços no fundo das residências.
O conhecimento botânico dos pescadores jovens mostrou-se reduzido
provavelmente devido à falta de interesse da grande maioria em aprender com os adultos e/ou
idosos. Segundo Richerson, Boyd e Bettinger (2009), a natureza da transmissão cultural nas
sociedades modernas é incomum comparado com as sociedades tradicionais, pois pontos
importantes de socialização da criança são destinados è educação formal. Observam ainda
58
que, a evolução cultural inclui a possibilidade de indivíduos introduzirem novas variações
culturais ao seu próprio modo de vida.
Os adultos, por sua vez, apresentaram maior conhecimento etnobotânico,
sobretudo as mulheres adultas em relação às jovens e às idosas, como também observado por
Florentino, Araújo e Albuquerque (2007). Assim, as pescadoras conhecem mais sobre usos da
flora do que os homens jovens, adultos ou idosos (4%, 13% e 33%, respectivamente), fato que
também foi observado por Oakley (2004). Quando comparados os conhecimentos botânicos
de ambos os sexos sobre os quintais estudados, relacionando-se Jovens e Adultos, Jovens e
Idosos, e Adultos e Idosos, obteve-se, respectivamente, valores iguais a: χ²= 37,902
(p<0,0001), χ²=8,191 (p=0,0042) e χ²=12,100 (p=0,0005), mostrando haver diferença
significativa de conhecimento etnobotânico entre todas as faixas etárias estudadas (p<0,05).
Tal relação também foi evidenciada através da curva de rarefação para cada faixa etária, como
pode ser observado na Figura 2. Pode-se observar também que a maior quantidade de citações
se concentra entre os adultos, mas que, em mesmo nível amostral, evidencia-se um maior
conhecimento entre idosos em relação aos adultos e aos jovens.
Figura 2: Distribuição das citações de espécies por usos pelos pescadores artesanais por faixas etárias,
bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).
Os quintais de pescadores artesanais do Poti Velho apresentaram diversidade de
espécies botânicas com índice de Shannon-Wiener, H‘=1,60. Valor superior apenas ao
encontrado por Figueiredo et al. (1997), com H‘=1,53, mas inferior aos encontrados nos
estudos de Rossato et al. (1999), com H‘=2,06; Hanazaki et al. (2000), com H‘=1,99;
Fonseca-Kruel e Peixoto (2004), com H‘=1,78 e Borges (2007), com H‘=1,79.
As entrevistas e coletas botânicas apresentaram-se suficientes mediante análise de
curva de coletor, que estabilizou mostrando suficiência amostral (Figura 3). Os informantes
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42
Cit
açõ
es
Jovens Adultos Idosos
59
que mais contribuíram com citações de espécies, até então inéditas para a coleta de dados,
como esperado, foram aqueles entrevistados no início da pesquisa. Todavia, apareceram
citações de novas espécies, mesmo que em pequenas quantidades, ao final do processo de
amostragem. A curva de rarefação foi construída com randomizações de 1000x no software
EcoSim (Gotelli; Entsminger, 2004) (Figura 3).
Figura 3: Curvas de rarefação, acumulação de citações de plantas e a contribuição individual com citações de
espécies novas cultivadas nos quintais de pescadores artesanais do Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte:
Pesquisa direta (2008-2009).
Nos quintais dos pescadores artesanais são cultivadas múltiplas espécies, com
hábitos herbáceos, arbustivos e arbóreos. A estratificação das plantas por hábito de
crescimento permite observar um equilíbrio entre quintais que possuíam plantas (33,33% para
cada um dos três hábitos: herbáceo, arbustivo e arbóreo); 7% dos quintais apresentaram
plantas exclusivamente herbáceas, 7% exclusivamente arbóreas, não sendo verificados
quintais exclusivamente com plantas arbustivas. A ocorrência simultânea de plantas de
hábitos diferentes mostrou que quintais que possuíam plantas herbáceas e arbustivas somaram
3%; com plantas herbáceas e arbóreas, 12% e arbustivas e arbóreas, 4%.
Foram identificadas 82 espécies, dispostas em 44 famílias botânicas, sendo quatro
identificadas ao nível de gênero. As famílias botânicas mais representativas foram: Lamiaceae
(15%); Euphorbiaceae e Anacardiaceae (8%); Rutaceae (6%); Myrtaceae, Poaceae,
Chenopodiaceae e Verbenaceae (5%); Malpighiaceae (3%) e outros somaram 39%. A
distribuição segundo as citações de usos pode ser observada na Figura 4.
8 4
31
2 3 1 2 3 1 0 4 6 4 2 2
7
0 1 4
1 2 0 1 1 0 2 0 0 0 0 1 0 0 2 0 2 0 2 1 0 0 1 0 6
0 0 0 2 1 1 0 3 1 3
0 1 5
1 0 0
0
20
40
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80
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120
140
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
Esp
écie
s (E
tnoes
péc
ies)
Entrevistas (Quintais)
Contribuição de cada Informante Curva de Rarefação Curva de Acumulação
60
Figura 4: Famílias mais representativas em número de espécies na comunidade de pescadores do
bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).
A relação entre espécies nativas e exóticas foi de 35% a 65%, respectivamente,
demonstrando uma grande quantidade de espécies úteis alóctones em detrimento de espécies
nativas (Tabela 1). Este fato pode ser explicado pelo processo de urbanização e pressões
tecnológicas sofridas pelos pescadores artesanais, que convivendo em meio urbano, fazem uso
muitas vezes de práticas rurais, mas sob influência das conveniências urbanas, que põem em
xeque o repasse e a manutenção de alguns costumes e conhecimentos tradicionais.
39
15
8
8
6
5
5
5
5
3
0 10 20 30 40 50
OUTROS
LAMIACEAE
ANACARDIACEAE
EUPHORBIACEAE
RUTACEAE
VERBENACEAE
CHENOPODIACEAE
POACEAE
MYRTACEAE
MALPIGHIACEAE
Valores em %
61
Tabela 1: Espécies ocorrentes nos quintais de pescadores artesanais do Poti Velho, Teresina-
PI, Brasil. Convenções: NV: Nomes Vernaculares. HA = Hábitos: E. Erva, A. Arbusto, Ar.
Árvore, L. Liana; CTU = Categorias de Uso: M. Medicinal, C. Cosmético, A. Alimentícia, O.
Ornamental, AR. Artesanal, AP. Artefato de Pesca, MR. Místico/Religioso. OR = Origem: N.
Nativa, E. Exótica. VU = Valor de Uso. NREG = Número de Registro no TEPB. il =
Identificado no local.
Família/Espécie NV HA CTU OR VU NREG
ACANTHACEAE
Justicia pectoralis var.
stenophylla Leonard
Trevo E M N 1,00 26.894
AGAVACEAE
Sansevieria trifasciata Hort. ex
Prain
Espada-de-
são-jorge
E O E 1,00 26.980
AMARANTHACEAE
Alternanthera tenella Colla Terramicina E M N 1,00 26.981
ANACARDIACEAE
Anacardium occidentale L. Cajueiro Ar A, M N 1,44 26.982
Mangifera indica L. Mangueira Ar A, M E 1,28 26.983
Spondias mombin L. Cajá Ar A N 2,00 26.986
Spondias purpurea L. Siriguela Ar A, M E 1,50 26.984
Spondias tuberosa Arruda Imbu Ar A, M N 2,00 26.985
ANNONACEAE
Annona reticulata Sieber ex
A.DC.
Condessa Ar A N 1,00 26.900
Annona squamosa L. Ata Ar A, M E 1,38 26.987
Xylopia aromatica Mart. Pimenta-de-
macaco
E A, M N 1,50 26.909
APIACEAE
Daucus carota L. Cenoura E A, M E 2,00 il
ARACEAE
Dieffenbachia picta Schott Comigo-
ninguém-pode
E O E 1,00 26.988
ARECACEAE
Astrocaryum vulgare Mart. Tucum Ar AP N 1,00 il
Cocos nucifera L. Coqueiro Ar A, O, M E 2,25 il
ASTERACEAE
Achyrocline satureoides (Lam.)
DC.
Marcela A M E 1,00 26.989
Centratherum punctatum Cass. Pepetinha E M N 1,00 26.916
BIGNONIACEAE
Tabebuia sp Pau-d'arco Ar AR N 1,00 26.990
Tecoma stans Juss. Ipezinho A O E 1,00 26.902
BIXACEAE
Bixa orellana L. Urucum A M N 2,00 26.991
62
Tabela 1: continuação...
Família/Espécie NV HA CTU OR VU NREG
BORAGINACEAE
Heliotropium indicum L. Crista-de-galo E M N 2,25 26.992
BORAGINACEAE
Symphytum officinale L. Confrei E O, M E 2,00 26.993
CACTACEAE
Cereus jamacaru DC. Mandacaru A O, M N 1,50 il
CARICACEAE
Carica papaya L. Mamão A A, M E 1,33 il
CARYOCARACEAE
Caryocar coriaceum Wittm. Pequi Ar AR N 1,50 26.994
CHENOPODIACEAE
Beta vulgaris L. Beterraba E A, M E 2,00 il
Chenopodium ambrosioides L. Mastruz E A, M N 1,31 26.918
COMBRETACEAE
Terminalia catappa L. Amendoeira Ar M E 1,00 26.908
COMMELINACEAE
Commelina benghalensis L. Pepetra E M N 1,00 26.915
CRASSULACEAE
Bryophyllum pinnatum (Lam.)
Oken
Folha-santa E M E 1,22 26.917
CUCURBITACEAE
Citrullus vulgaris Schrad. Melancia E A E 1,00 il
Cucurbita pepo L. Abóbora E A E 1,00 26.995
Momordica charantia L. Melão-de-são-
caetano
E A, M N 2,00 26.913
EUPHORBIACEAE
Cnidoscolus loefgrenii Pax &
K.Hoffm
Cansanção-
branco
E M N 1,00 26.905
Croton heliotropiifolius Kunth Velame E M N 1,39 26.920
Euphorbia tirucalli L. Cachorro-
pelado
A M E 1,29 26.903
Jatropha curcas L. Pião-branco A M N 5,00 26.996
Jatropha gossypiifolia L. Pião-roxo A MR E 1,00 26.997
Manihot esculenta Crantz Mandioca E A, AP N 2,00 il
Phyllanthus niruri L. Quebra-pedra N O, M N 1,27 26.998
IRIDACEAE
Crocus sativus L. Açafrão E M E 1,50 26.999
Eleutherine bulbosa Urb. Pé-de-
coquinho
A M E 1,00 27.000
LAMIACEAE
Lippia alba (Mill.) N.E.Br. Erva-cidreira E M E 1,17 26.895
63
Tabela 1: continuação...
Família/Espécie NV HA CTU OR VU NREG
LAMIACEAE
Mentha arvensis L. Vicky E M E 1,17 27.001
Mentha villosa Huds. Hortelã E M E 1,08 27.002
Ocimum gratissimum L. Manjericão E A, M E 1,89 26.904
Ocimum sp Esturaque E M, AR E 3,00 26.906
Plectranthus amboinicus (Lour.)
Spreng.
Malva-do-
reino
E M E 1,00 27.003
Plectranthus barbatus Andrews Boldo E M E 1,25 27.004
Vitex agnus-castus L. Angola Ar M E 1,50 27.150
LAURACEAE
Persea americana Mill. Abacate Ar A, C E 2,00 27.005
LECYTHIDACEAE
Lecythis pisonis Cambess. Sapucaia Ar M N 1,00 il
LEGUMINOSAE
CAESALPINIOIDEAE
Tamarindus indica L. Tamarindo Ar A, M E 2,00 27.006
Senna occidentalis (L.) Link Fedegoso E M N 1,25 26.896
FABOIDEAE
Phaseolus vulgaris L. Feijão E A E 1,00 il
LILIACEAE
Allium cepa L. Cebola E A, M E 2,00 il
Allium sativum L. Alho E A, M E 2,00 il
Aloe vera (L.) Burm.f. Babosa E M, C E 1,71 27.007
LYTHRACEAE
Punica granatum L. Romã Ar M E 1,20 27.008
MALPIGHIACEAE
Malpighia glabra L. Acerola Ar A, M E 1,26 26.898
MALVACEAE
Gossypium herbaceum L. Algodão A M E 1,18 26.919
Hibiscus esculentus L. Quiabo E A, M E 5,00 26.911
Hibiscus sabdariffa Rottl. Vinagreira A M E 3,00 26.910
Sida cordifolia L. Malva-branca A M N 3,00 26.897
Sida rhombifolia L. Relógio E M, AR N 2,00 26.907
MUSACEAE
Musa paradisiaca L. Banana A A, M E 1,83 27.009
MYRTACEAE
Eucalyptus sp Eucalipto Ar M E 1,00 27.010
Psidium guajava L. Goiabeira Ar A, M N 1,68 27.011
Syzygium jambolanum DC. Azeitona A A, M E 2,33 il
OLACACEAE
Ximenia americana L. Ameixa A A, M N 1,67 27.012
64
Tabela 1: continuação...
Família/Espécie NV HA CTU OR VU NREG
OXALIDACEAE
Averrhoa carambola L. Carambola Ar A, M E 1,75 26.901
PASSIFLORACEAE
Passiflora edulis Sims. Maracujá A A, M N 1,80 27.013
POACEAE
Bambusa sp Bambu A AP, AR E 1,50 il
Cymbopogon citratus Stapf Capim-de-
cheiro
E A, M E 1,71 27.014
Saccharum officinarum L. Cana-de-
açúcar
A A, M E 2,00 il
RUBIACEAE
Ixora coccinea L. Cafezinho-de-
jardim
A O E 1,00 27.015
RUTACEAE
Citrus aurantium L. Laranja Ar A, M E 1,93 27.016
Citrus limonum Risso Limão A A, M E 1,78 27.017
SCROPHULARIACEAE
Scoparia dulcis L. Vassourinha A M N 2,00 26.912
SOLANACEAE
Capsicum frutescens L. Pimenta A A, M E 1,25 26.899
TURNERACEAE
Turnera ulmifolia L. Chanana E O, M N 2,13 26.914
ZINGIBERACEAE
Alpinia nutans Rosc. Jardineira A O, M, C E 2,00 27.018
As espécies com maiores Valores de Uso foram: Hibiscus esculentus L. e
Jatropha curcas L. (VU=5,00), seguidos por Ocimum sp, Hibiscus sabdariffa Rottl. e Sida
cordifolia L. (VU=3,00). Todavia, três espécies foram citadas com poucos usos, mas por
vários informantes, o que fizeram seus Valores de Uso apresentarem-se relativamente baixos,
o boldo (Plechtranthus barbatus Andrews, VU=1,25), o mastruz (Chenopodium ambrosioides
L., VU=1,31) e erva-cidreira (Lippia alba (Mill.) N.E.Br., VU=1,17). Identifica-se, assim, que
o Valor de Uso é um índice que mostra o potencial que um recurso tem para ser utilizado por
uma população, pois os valores encontrados não apresentam linearidade como em outros
índices.
As espécies citadas mais vezes dentre o universo de informantes entrevistados
foram: Plechtranthus barbatus Andrews (40), Lippia alba (Mill.) N.E.Br. e Chenopodium
ambrosioides L. (29), Mangifera indica L. (25) e Malpighia glabra L., Psidium guajava L.
65
(19). Aquelas que apresentaram múltiplos usos Chenopodium ambrosioides L. (16), Ocimum
gratissimum L., Plechtranthus barbatus Andrews (11 cada), Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul.,
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Scoparia dulcis L., Turnera ulmifolia L. (8 cada) e Citrus
aurantium L., Croton heliotropiifolius Kunth., Lippia alba (Mill.) N. E. Br., Mangifera indica
L. e Mimosa caesalpiniifolia Benth. (7 usos cada).
Assim, pode-se inferir que a maioria das espécies botânicas que foram citadas
mais vezes apresenta o conhecimento de seus usos mais disseminado entre os pesquisados,
principalmente no que tange às suas características medicinais. O mesmo pode ser dito em
relação às espécies com maior quantidade de usos diferentes citados, pois mostram uma maior
versatilidade e, portanto, apresentam-se como espécies preferenciais entre os pescadores
artesanais. Os valores de uso foram agrupados em classes conforme Figura 5.
Figura 5: Valor de uso das etnoespécies dispostos em classes de VU na comunidade de
pescadores artesanais do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa
direta (2008-2009).
Visando comparar os quintais estudados quanto à ocorrência de espécies
botânicas, foi utilizada a comparação pela distância euclidiana, com o menor valor
apresentado entre os quintais de Elisa e Gutemberg (0,576) e maior valor entre Ana Lúcia e
Dênis (167,454). Quanto à similaridade entre os quintais, pode-se observar na Figura 5, que
os quintais de Luís do peixe e Marinalva; Maria dos remédios e Silvana apresentaram maior
proximidade, quanto à ocorrência de espécies botânicas comuns. Já os quintais de Antoninho
e Antonio Brito, por exemplo, apresentaram maior diferença.
Em geral, os quintais dos pescadores artesanais do Poti Velho apresentaram
grandes semelhanças, quando agrupados por média utilizando-se a distância euclidiana no
27
62
9
0 2
0
20
40
60
80
100
0,00 a 1,00 1,01 a 2,00 2,01 a 3,00 3,01 a 4,00 4,01 a 5,00
Po
rcen
tag
em d
e V
U
66
software SPSS 17.0. Podem-se identificar dois grandes grupos distintos, mas que mantém
certa homogeneidade que pode ser observada na Figura 6.
Figura 6: Dendrograma de similaridade, com agrupamentos pela média dos
grupos, utilizando distância euclidiana, entre os quintais estudados no bairro
Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).
Quando categorizadas as citações para cada planta, o uso medicinal apresentou-se
em maior quantidade (69,3%), seguido pelos usos alimentício (23,1%), ornamental (4,6%),
também observado por Albuquerque, Andrade e Caballero (2005), para fabricação de
artefatos de pesca (1,7%), cosmético (0,8%), artesanal e em uso místico/religioso (0,3%),
como pode ser observado na Figura 7. As plantas alimentícias, representadas principalmente
por ervas e árvores frutíferas, foi a segunda maior categoria de uso, sendo o seu cultivo, um
complemento da alimentação dos pescadores artesanais.
67
Figura 7: Citações por categorias de uso de plantas úteis da comunidade de pescadores
artesanais do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2008-
2009).
Assim, pode-se afirmar que a finalidade principal do cultivo de espécies vegetais
nos quintais do Poti Velho era de manter uma fitofarmacopéia, com espécies específicas para
este fim. As espécies medicinais foram classificadas de acordo com a Organização Mundial
de Saúde, mediante os sistemas corporais em que atuam, conforme indicação dos pescadores,
como pode ser observada na Tabela 2.
69,3
23
4,6
1,7
0,8
0,3
0,3
0 20 40 60 80 100
MEDICINAL
ALIMENTÍCIO
ORNAMENTAL
ARTEFATO
COSMÉTICO
ARTESANATO
MÍSTICO
Valores em %
68
Tabela 2: Espécies medicinais utilizadas por pescadores artesanais do bairro Poti Velho,
Teresina, Piauí, Brasil, classificadas segundo a Organização Mundial da Saúde, de acordo
com os seus respectivos sistemas corporais.
Código Sistema Indicação Espécies Medicinais
R50-R69 Sintomas e
sinais gerais
dor de
cabeça
Heliotropium indicum, Lippia alba e Ocimum
gratissimum.
dor de ouvido Spondias tuberosa.
dor em geral Chenopodium ambrosioides.
dor no peito Chenopodium ambrosioides.
dores Chenopodium ambrosioides.
fraqueza Malpighia glabra.
insônia Passiflora edulis.
ressaca Plechtranthus barbatus.
visão Allium cepa.
J00-J99 Doenças do
aparelho
respiratório
asma Vitex agnus-castus.
bronquite Gossypium herbaceum.
gripe Allium sativum, Aloe vera, Alpinia nutans,
Annona squamosa, Bryophylum pinnatum,
Caesalpinia ferrea , Chenopodium
ambrosioides, Citrus limonum, Croton
heliotropiifolius, Gossypium herbaceum,
Hibiscus sabdariffa, Malpighia glabra,
Mangifera indica, Mentha arvensis, Mentha
villosa, Ocimum gratissimum, Plecthranthus
amboinicus e Vitex agnus-castus.
pneumonia Chenopodium ambrosioides.
sinusite Ocimum gratissimum.
inflamação
na garganta
Anacardium occidentale, Gossypium
herbaceum, Mentha arvensis e Punica
granatum.
tosse Mangifera indica, Mentha arvensis e Punica
granatum.
tuberculose Aloe vera e Chenopodium ambrosioides.
B95-97 Agentes de
infecções
bacterianas,
virais e outros
agentes
infecciosos
anti-
inflamatório
Chenopodium ambrosioides e Bryophylum
pinnatum.
69
Tabela 2: Continuação.
Código Sistema Indicação Espécies Medicinais
B95-97 Agentes de
infecções
bacterianas,
virais e outros
agentes
infecciosos
catapora Crocus sativus.
dengue Mangifera indica.
febre Croton heliotropiifolius, Cymbopogon citrates
e Lippia alba.
Inflamação Alternanthera tenella, Caesalpinia ferrea,
Chenopodium ambrosioides, Cocos nucifera,
Heliotropium indicum, Momordica charantia,
Musa paradisíaca, Phyllanthus niruri, Punica
granatum, Sida cordifolia, Spondias purpurea,
Turnera ulmifolia e Ximenia americana.
sarampo Crocus sativus.
N00-N99 Doenças do
aparelho
geniturinário
cólicas
menstruais
Lippia alba e Mentha villosa.
inflamação
em mulheres
Alternanthera tenella.
próstata Ocimum gratissimum e Scoparia dulcis.
N20-N23 Calculose
renal
rins Averrhoa carambola, Bryophylum pinnatum,
Ocimum gratissimum, Phyllanthus niruri,
Plecthranthus amboinicus, Scoparia dulcis,
Terminalia catappa e Turnera ulmifolia.
L00-L99 Doenças da
pele e do
tecido
subcutâneo
cicatrizante Aloe vera, Anacardium occidentale e
Chenopodium ambrosioides.
feridas Bryophylum pinnatum, Turnera ulmifolia e
Chenopodium ambrosioides.
furúnculo Bryophylum pinnatum, Capsicum frutescens,
Euphorbia tirucalli e Turnera ulmifolia.
micose Euphorbia tirucalli.
K00-K14 Doenças da
cavidade oral,
das glândulas
salivares e dos
maxilares
nascer dentes Croton heliotropiifolius e Sida cordifolia.
dor de dentes Euphorbia tirucalli.
70
Tabela 2: Continuação.
Código Sistema Indicação Espécies Medicinais
K00-K93 Doenças do
aparelho
digestivo
cólicas Achyrocline satureioides, Carica papaya,
Citrus aurantium, Croton heliotropiifolius,
Cymbopogon citratus, Eleutherine bulbosa,
Heliotropium indicum, Lippia alba, Mentha
arvensis, Mentha villosa, Plechtranthus
barbatus, Psidium guajava, Spondias purpurea
e Terminalia catappa.
cólicas em
crianças
Croton heliotropiifolius.
diarréia Annona squamosa, Citrus aurantium, Musa
paradisiaca, Plechtranthus barbatus, Psidium
guajava e Sida rhombifolia.
digestivo Citrus aurantium, Ocimum
gratissimum,Plechtranthus barbatus e
Terminalia catappa.
dor de
estômago
Mangifera indica, Ocimum gratissimum,
Scoparia dulcis e Cymbopogon citratus.
gastrite Caesalpinia ferrea, Musa paradisiaca,
Ocimum gratissimum, Plechtranthus barbatus,
Scoparia dulcis, Turnera ulmifolia e Ximenia
americana.
intestino Citrus aurantium, Croton heliotropiifolius e
Plechtranthus barbatus.
laxante Tamarindus indica.
má digestão Caesalpinia ferrea e Plechtranthus barbatus.
úlcera Caesalpinia ferrea, Chenopodium
ambrosioides, Heliotropium indicum, Musa
paradisiaca, Ocimum gratissimum e Scoparia
dulcis.
verminoses Capsicum frutescens, Chenopodium
ambrosioides, Croton heliotropiifolius,
Mangifera indica e Mentha villosa.
vômito Heliotropium indicum.
71
Tabela 2: Continuação.
Código Sistema Indicação Espécies Medicinais
E00-E90 Doenças
endócrinas,
nutricionais e
metabólicas
colesterol Hibiscus esculentus, Mangifera indica,
Plechtranthus barbatus e Syzygium
jambolanum.
diabetes Hibiscus esculentus, Hibiscus sabdariffa,
Lecythis pisonis, Malpighia glabra e
Scoparia dulcis.
emagrecer Cereus jamacaru.
F40-F48 Transtornos
neuróticos,
transtornos
relacionados com
o ―stress‖ e
transtornos
somatoformes
calmante Citrus aurantium, Cymbopogon citrates,
Lippia alba, Mentha arvensis, Ocimum
gratissimum e Passiflora edulis.
sonífero Cymbopogon citratus.
I00-I99 Doenças do
aparelho
circulatório
coração Cymbopogon citratus, Justicia pectoralis
var. stenophylla e Syzygium jambolanum.
hematomas Chenopodium ambrosioides e Gossypium
herbaceum.
hemorróidas Cymbopogon citratus e Sida cordifolia.
impotência
sexual
Hibiscus esculentus.
pressão alta Alpinia nutans, Lippia alba, Passiflora
edulis, Phyllanthus niruri e Syzygium
jambolanum.
M00-M99 Doenças do
sistema
osteomuscular e
do tecido
conjuntivo
fraturas Chenopodium ambrosioides
ossos fracos Caesalpinia ferrea
K70-K77 Doenças do
fígado
Dor no
fígado
Phyllanthus niruri e Plechtranthus
barbatus.
D50-D89 Doenças do
sangue e dos
órgãos
hematopoéticos e
alguns
transtornos
imunitários
depurativo do
sangue
Bryophylum pinnatum , Euphorbia tirucalli e
Hibiscus esculentus.
anemia Anacardium occidentale, Beta vulgaris,
Chenopodium ambrosioides, Daucus carota,
Hibiscus sabdariffa e Malpighia glabra.
72
Tabela 2: Continuação.
Código Sistema Indicação Espécies Medicinais
S00-T98 Lesões,
envenenamen-
to e algumas
outras
consequências
de causas
externas
abortivo Gossypium herbaceum.
C00-D48 Neoplasias
[tumores]
câncer Aloe vera, Caesalpinia ferrea, Musa
paradisiaca e Turnera ulmifolia.
tumor Capsicum frutescens.
As plantas encontradas nos quintais do Poti Velho foram adquiridas pelo
recebimento de mudas ou trocas com os vizinhos, amigos ou parentes, ou na horta
comunitária próxima à comunidade, fato também observado por Aguiar (2009). Isso reafirma
o aspecto social do quintal, que propicia o contato e a interação entre as pessoas.
A curva de acumulação para citações de usos de espécies botânicas mostrou
suficiência amostral para todas as categorias de uso encontradas, possibilitando-se inferir que
a coleta de dados foi suficiente para representar o conhecimento botânico local.
<H1>CONCLUSÃO
Os quintais dos pescadores do bairro Poti Velho apresentaram cultivo de múltiplas
espécies, e múltiplos hábitos de crescimento com grande potencial etnobotânico. São áreas
que mostraram grande similaridade entre si, apresentando igualdade numérica entre gêneros.
Os pescadores artesanais utilizam os quintais principalmente para lavagem de
roupas, sombreamento, cultivo de plantas e criação de pequenos animais. Tais espaços têm
importante papel na complementação da alimentação e no âmbito medicinal.
O conhecimento etnobotânico é maior entre mulheres adultas, portanto
constataram-se visíveis relações etnobotânicas, mantendo-se estreita relação entre pescadores
e plantas nativas e exóticas cultivadas.
73
<H1>REFERÊNCIAS
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77
Alexandre Nojoza Amorim
6.2 ARTIGO SUBMETIDO AO PERIÓDICO BRAZILIAN JOURNAL OF BIOLOGY
MODOS, ARTES DE PESCA E CONSTRUÇÃO DE EMBARCAÇÕES NA
COMUNIDADE DE PESCADORES DO POTI VELHO, TERESINA-PI, BRASIL.
Autores:
Alexandre Nojoza Amorim
Roseli Farias Melo de Barros
João Batista Lopes
78
Modos, artes de pesca e construção de embarcações na comunidade de pescadores do Poti Velho...
Alexandre Nojoza Amorim
Modos, artes de pesca e construção de embarcações na comunidade de pescadores do
Poti Velho, Teresina-PI, Brasil.
Alexandre Nojoza Amorim¹, Roseli Farias Melo de Barros² & João Batista Lopes³
1 Biólogo. Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente do Programa de
Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) - PRODEMA/PRPPG/TROPEN/Universidade
Federal do Piauí (UFPI). [email protected].
2 Bióloga. Profª do Departamento de Biologia da UFPI, Doutorado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (DDMA) e do MDMA/PRPPG/UFPI. Curadora do Herbário Graziela
Barroso (TEPB). [email protected].
3 Engenheiro Agrônomo. Profº do Departamento de Agronomia da UFPI e do
MDMA/PRPPG/UFPI. [email protected].
11 Figuras
Palavras-chave: Canoas; Pesca artesanal; Poti Velho; Carpintaria naval; Etnobiologia.
Key-words: Canoes; Traditional fishing; Poti Velho; Naval carpentry; Ethnobiology.
79
Modos, artes de pesca e construção de embarcações na comunidade de pescadores do Poti Velho...
Alexandre Nojoza Amorim
ABSTRACT
Fishing arts and manners, and vegetal species use in the building of vessels in the fishing
community of Poti Velho district, Teresina city, state of Piauí, Brazil. The objective of this
study was to record the traditional lore as regards fishing arts and the building of fishing
vessels (canoes) in the community studied. Semi-structured interviews were carried through
with the artisanal fishermen as well as a photographic recording of the repairs and building of
the canoes. The fishing arts used are the surrounding net, cast net, fishing hook, trap net and
the PET bottles. Fishing occurs especially with the use of surrounding nets (54%) and cast
nets (37%). ―Branquinha-do-oião‖ (Curimata macrops Eigenmann & Eigenmann, 1889),
―branquinha-do-oin‖ (Psectogaster rhomboide Einmann & Einmann,1889) and the
―Curimatá‖ (Prochilodus lacustris Steindachner, 1907) are the most common fish in the Poti
River waters. The artisanal fishermen know the dynamics at the mouth of the river and act so
as to preserve its natural resources. Only two families carry out the building and the repairing
of vessels. Four vegetal species are used for the naval carpentry: the Souari nut (Caryocar
coriaceum Wittm.), the trumpet tree, or bow wood/tree (Tabebuia spp.), the cedar (Cedrella
odorata L.) and the ―embiratanha‖ (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin). Every
timber has its role in the building of the canoe. This lore must be recorded lest it is lost due to
the lack of interest of the young and the community because of the technological demands of
the urban way of living.
Key-words: Building of vessels; Traditional fishing; Poti Velho; Naval carpentry;
Ethnobiology.
RESUMO
Modos, artes de pesca e construção de embarcações na comunidade de pescadores do
Poti Velho, Teresina-PI, Brasil. O objetivo deste estudo foi registrar o conhecimento
tradicional relativo às artes de pesca e à construção de embarcações de pesca (canoas) na
comunidade estudada. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os pescadores
artesanais como também registro fotográfico dos reparos e construção de canoas. As artes de
pesca utilizadas são o engancho, tarrafa, anzol, curral e garrafa. A pesca ocorre
principalmente com o uso de enganchos (54%) e tarrafas (37%). Branquinha-do-oião
(Curimata macrops Eigenmann & Eigenmann, 1889), branquinha-do-oin (Psectogaster
rhomboide Einmann & Einmann,1889) e o curimatá (Prochilodus lacustris Steindachner,
1907) são os peixes mais comuns nas águas do Poti. Conhecem a dinâmica na foz e agem no
sentido de conservar os recursos naturais. Apenas duas famílias realizam a construção e
reparo de canoas. Quatro espécies vegetais são utilizadas para a carpintaria naval: o pequi
(Caryocar coriaceum Wittm.), o pau-d‘arco (Tabebuia spp.), o cedro (Cedrella odorata L.) e
a embiratanha (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin). Cada madeira tem uma
função na construção da canoa. O conhecimento deve ser registrado para que não se perca
diante da falta de interesse dos mais novos e da comunidade da vida urbana e do avanço
tecnológico.
Palavras-chave: Canoas; Pesca artesanal; Poti Velho; Carpintaria naval; Etnobiologia.
INTRODUÇÃO
O conhecimento tradicional é produto da formulação de teorias, inferências,
experiências e conceitos criados e transmitidos por gerações (Moreira, 2007). Essa tradição
deu sustentação para boa parte das construções científicas que hoje são realizadas. O conceito
de tradição capta esse sentido de identificação de um distinto modo de vida e crenças (Adrião,
2003) isolado de relações com a escala de tempo (gerações) em que é transmitida.
Populações tradicionais englobam uma gama de etnias e modos de vida que
variam desde caiçaras, quilombolas até indígenas, passando pelos pescadores artesanais.
Segundo Diegues (2000), a categoria de população tradicional não-indígena dos pecadores
artesanais está espalhada majoritariamente pelo litoral, também pelos rios e lagos e tem um
modo de vida baseado principalmente na pesca, ainda que exerça outras atividades
econômicas complementares, como o extrativismo vegetal, a pequena agricultura e o
artesanato. No Brasil, entre a população não-indígena, pelo menos nove tipos populacionais
são descritos: caiçaras, jangadeiros, caboclos/ribeirinhos amazônicos, açorianos, pantaneiros,
pescadores, sitiantes, praieiros e varjeiros, têm na pesca a principal ou uma das principais
fontes de subsistência e renda (Diegues, 2001).
A comunidade de pescadores artesanais do bairro Poti Velho, na cidade de
Teresina/PI, utiliza espécies vegetais na confecção de artefatos de pesca e canoas. Tal
interação é resultado da relação entre pescadores e plantas, foco de estudo da Etnobotânica,
ciência que possui destaque nos estudos das etnociências no Brasil. É a subárea da
Etnobiologia, possivelmente, mais antiga e a que mais agrega em si um conjunto de
professores e pesquisadores com repertório de publicações e experiências mais vastos e
consolidados (Ming, 2006). Objetiva conhecer e resgatar o saber botânico tradicional,
principalmente aqueles relacionados ao uso dos recursos florísticos (Guarim-Neto et al.,
2000).
Estudos etnobotânicos permitem inferir que as populações interferem na estrutura
de comunidades vegetais, alterando paisagens, processos de evolução de espécies individuais,
ciclos biológicos de determinadas populações de plantas, tanto em aspectos negativos, como é
mais comum em intervenções antrópicas, como também beneficiando os recursos manejados
(Albuquerque & Andrade, 2002).
Boa parte das populações ribeirinhas que explora de forma artesanal áreas
estuarinas e costeiras têm como atividade econômica principal a captura de peixes, crustáceos
81
Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...
Alexandre Nojoza Amorim
e moluscos (Alves & Nishida 2002) e grande parte dessas populações utiliza embarcações
como principal meio de transporte e ferramenta associada diretamente à pesca.
A comunidade de pescadores do Poti Velho originou-se na segunda metade do
século XVIII a partir de um aglomerado de casas habitadas por pescadores, canoeiros e
plantadores de fumo e mandioca. Localizada na confluência dos rios Parnaíba e Poti, registrou
crescimento populacional que permitiu sua elevação à Vila. Hoje, essa comunidade é um
bairro de Teresina, que ainda conserva uma cultura própria, mas que sofre constantes pressões
do modo de vida urbano (Teresina, 2002).
Os pescadores artesanais do bairro Poti Velho praticam a pesca artesanal desde
1760 na barra do Poti, sendo a produção familiar, pois a tripulação das canoas é composta por
parentes e conhecidos, sendo parte dos peixes consumida pela família, e o excedente,
comercializada.
Esta pesquisa foi realizada visando coletar informações etnobiológicas,
enfatizando as estratégias, artes de pesca, bem como a construção e reparo de canoas, da
comunidade urbana de pescadores artesanais do bairro Poti Velho.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
Teresina está localizada na região centro-norte do estado do Piauí, à margem
direita do rio Parnaíba, tendo ao lado o município maranhense de Timon. Sua população é de
714.318 habitantes, sendo que 676.596 hab. na zona urbana e 37.722 hab. residem na zona
rural. A temperatura média anual é de 28ºC. Possui Clima Tropical e chuvoso de Savana
(TERESINA, 2005).
No bairro Poti Velho, zona norte da cidade, a maioria das pessoas vive do
artesanato da cerâmica, madeira e da pesca. Possui uma população 4.208 habitantes
(TERESINA, 2000), localizando-se entre as coordenadas 05° 02‘ 09‘‘S e 42° 50‘ 02‘‘O e 05°
02‘ 03‘‘S e 42° 49‘ 43‖O. Limita-se ao norte pelo rio Poti; ao sul pelo bairro Mafrense; a
oeste pelo bairro Olarias e a leste pelo bairro Alto Alegre (Figura 1).
82
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Figura 1: Localização do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor através do
Software GPS Trackmaker© para windows (software livre), versão 13.2 de Odilon Ferreira Junior, Belo Horizonte
(MG), 1998-2007.
Entre os habitantes que compõem a comunidade pesqueira do Poti Velho, circula
um conhecimento acumulado e construído durante anos e que lhes propiciam uma estreita
convivência com a natureza, fazendo uso do que ela pode oferecer.
Os dados foram coletados de fevereiro de 2008 a dezembro de 2009, por meio de
entrevistas semiestruturadas (BERNARD, 1988) e observação direta com o universo amostral
composto por duas famílias de pescadores artesanais, cujos informantes têm idades variando
entre 24 e 82 anos (BARBETTA, 2006), que constroem ou reparam canoas na comunidade de
pescadores artesanais do Poti Velho, Teresina/PI. As informações foram obtidas com o uso da
técnica de bola-de-neve (BAILEY, 1982) que consiste na indicação de novos informantes a
partir de cada entrevista. Posteriormente, estas foram transcritas em laboratório em conjunto
com os dados referentes às conversas informais, registradas no diário de campo. Foi realizado
registro fotográfico das canoas, materiais e equipamentos empregados na carpintaria naval. As
espécies botânicas e os peixes foram listados e identificados por comparação da morfologia e
por especialistas. O universo amostral para listagem de artes e modos de pesca perfez um total
de 82 pescadores, com os quais também foram realizadas entrevistas semiestruturadas
(BERNARD, 1988).
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RESULTADOS
Artes e Modos de Pesca
Os pescadores artesanais do bairro Poti Velho utilizam na atividade pesqueira
cinco tipos de artefatos: engancho (redes de espera), tarrafa, anzol, curral e garrafa,
conhecimento tradicionalmente repassado de geração a geração.
O uso de redes é responsável por 91% da pesca na foz do rio Poti, nos tipos
engancho (54%) e tarrafa (37%) (Figura 2). As redes são confeccionadas atualmente com fios
de nylon de diferentes espessuras, porém, no passado, eram tecidas com fios de palha de
tucum (Astrocaryum vulgare Mart.).
Figura 2: Artes de pesca utilizados na pesca artesanal no bairro Poti Velho,
Teresina, Piauí, Brasil. (2009-2010).
O engancho é uma rede de espera, retangular, que pode chegar a 300 metros de
comprimento. A rede é aberta (armada) em locais rasos das margens dos rios ou, quando o
intuito é capturar peixes maiores, ela pode ser distribuída transversalmente ao curso do rio.
Possui bóias de isopor em um dos lados e no outro, pesos de chumbo que permitem sua total
abertura e disposição verticalmente quando submersa (Figura 3).
54
37
4 3 2
0
20
40
60
80
100
Engancho Tarrafa Anzol Curral Garrafa
Va
lore
s em
%
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Figura 3: Representação gráfica de um engancho utilizado na pesca artesanal no bairro
Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. (2009-2010).
Já a tarrafa, é um tipo de rede em forma de cone, cuja conformação pode ser
dividida basicamente em três partes: o castelo, o pano e o saco. O castelo é a extremidade
superior, onde é fixada uma corda para o posterior arrasto; o pano é a malha que compõe o
―corpo‖ da rede; o saco é a extremidade inferior, onde se fixam as peças de chumbo para fazer
a rede afundar (Figura 4). São arremessadas sobre o cardume, direto da canoa ou da margem.
As tarrafas são aremessadas prendendo-se a extremidade da corda nos dentes, segurando-se o
pano e abrindo saco para que, ao cair, a rede já esteja aberta no aremesso. Após o lançamento,
é só esperar alguns minutos e recolher vagarosamente a rede, embarcando-a ao mesmo tempo
em que são desenganchados os pescados.
Figura 4: Representação gráfica de uma tarrafa, identificando suas partes.
Fonte: Elaboração própria.
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Uma modalidade específica do uso de tarrafas é a pesca de parelha, que acontece
quando seis ou oito canoas perfilam-se no leito do rio, formando duas fileiras de três ou
quatro canoas. Cada embarcação possui dois tripulantes e são guiadas pelo pescador mais
experiente. O alinhamento das canoas é direcionado no sentido de seguir o cardume até que
este se posicione entre as canoas. Ao sinal do pescador-guia, todas as tarrafas são
arremessadas no espaço entre as embarcações, diretamente sobre o cardume. É uma estratégia
que rende grande quantidade de peixes a todos os que dela participam.
O anzol é uma peça de aço na qual é amarrada a uma linha, cuja outra
extremidade é amarrada a uma vara de bambu (Bambusa sp). No anzol é presa outra peça de
chumbo para facilitar que afunde. A pesca com anzol é dita esportiva, pois com ela são
capturados poucos peixes. Esta pode ser realizada a partir da canoa ou nas margens do rio
(Figura 5).
Figura 5: Respresentação gráfica da pesca com anzol e
vara de bambu, nas margens do rio Poti, no bairro Poti
Velho, Teresina, Piauí, Brasil. (2009-2010).
O curral é feito com tabocas secas (Bambusa sp), encontradas às margens dos rios
Parnaíba e Poti, e amarradas com palhas de tucum (Astrocaryum vulgare Mart.) ou fios
plásticos. O trançado permite a regulagem da abertura do artefato que permite capturar peixes
de vários tamanhos (Figura 6).
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Figura 6: Representação gráfica de um curral utilizado na
pesca artesanal no bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil.
(2009-2010).
A captura de peixes com uso de garrafas adaptou-se à evolução e disponibilidade
dos recursos, quando antes se realizava com garrafas de vidro e hoje, acontece com o uso de
garrafas de plástico descartáveis de politereftalato de etileno (tipo PET). Tais garrafas são
reutilizadas para capturar peixes pequenos, utilizados principalmente na alimentação, podendo
também servir de isca para peixes maiores. Utilizam farinha de mandioca ou côco ralado
como isca que são colocados dentro da garrafa. Abre-se um orifício em uma das extremidades
da garrafa e mergulha-se a mesma por alguns minutos. Quando retirada, traz em seu interior
uma grande quantidade de pequenos peixes, também conhecidas como piaba-reis (Astyanax
bimaculatus Linnaeus, 1758).
Após a pesca, acontece a Salgadeira, processo que consiste no trato (retirada das
vísceras) e salga dos pescados e a distribuição dos mesmos no cambo. Este é confeccionado
com palha do tucum, no qual os peixes são amarrados, formando um cacho, para
posteriormente serem vendidos. O pescado pode ser destinado para consumo familiar ou
comercializados, sendo vendidos na rua ou para restaurantes e pousadas.
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Aspectos Ecológicos da Pesca
O melhor horário para pescar foi determinado pelos pescadores artesanais como
sendo à noite, período de 18h a 0h, com 36% das citações; 22% preferem pescar à tarde (12h
às 18h), 20% de madrugada (0h às 6h) e 19% pela manhã (6h às 12h). Outros disseram não ter
preferência de horário, sendo indiferente o turno para o resultado da pescaria, portanto, a
realizam em qualquer horário (3%) (Figura 7).
Figura 7: Horários preferenciais para a realização das pescarias de acordo com os
pescadores artesanais do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. (2009-2010).
Todos os pescadores entrevistados afirmaram conhecer o período da piracema.
Com relação aos meses preferenciais para realização da pesca, 24% dos entrevistados citaram
o mês de junho, 18% o mês de maio e 16% o mês de julho, sendo esta época a de pesca mais
abundante (Figura 8). Detectou-se que o melhor período se concentra entre maio e agosto, se
estendendo até 15 de novembro, quando se inicia o período da piracema que termina no dia 16
de março subsequente. A piracema é a temporada em que os peixes nadam para as nascentes
dos rios em busca de melhores condições para a reprodução, sendo proibida a pesca com
redes.
19 22
36
20
3
0
20
40
60
80
100
Manhã Tarde Noite Madrugada Toda hora
Va
lore
s em
%
Turnos
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Figura 8: Período (meses do ano) preferenciais para a pesca artesanal no bairro Poti Velho, Teresina, Piauí,
Brasil. (2009-2010).
A influência da Lua na pesca foi relatada por 74% dos pescadores, enquanto que
26% afirmaram não haver influência. Segundo eles, quando à noite, a Lua está clara, ou seja,
na fase de Lua Cheia, os peixes conseguem enxergar melhor, pois identificam onde estão as
redes. Assim, conseguem escapar dos anzóis e demais artefatos de pesca.
Os pescadores artesanais também foram indagados sobre a ocorrência dos peixes e
a facilidade em encontrá-los, permitindo inferir sobre a densidade e distribuição das espécies.
Segundo os pescadores, branquinha-do-oião (Curimata macrops Eigenmann & Eigenmann,
1889) e branquinha-do-oin (Psectogaster rhomboide Einmann & Einmann,1889) são os peixes
mais fáceis de serem pescados, ocorrendo na foz do rio Poti durante todo o ano (41% das
citações). A espécie Prochilodus lacustris (Steindachner, 1907), o curimatá, foi citado como
outro peixe com grande distribuição no Poti (30%).
A Construção e Reparo de Canoas
No Poti, a construção de canoas é uma atividade que é desenvolvida apenas por
duas famílias, sendo o conhecimento tradicional, transferido dentro do núcleo familiar, apesar
de também ser permitido que outros interessados da comunidade participem acessoriamente.
Os informantes-chave desta pesquisa foram o Sr. Celso Rios de 82 anos, que é ex-
pescador e hoje aposentado, repassou ao seu filho, Celso Rios Filho (―Seu Cessé‖) de 42 anos,
vigilante de escola pública que se autodenomina carpinteiro naval, como construir as
embarcações que são utilizadas na pesca artesanal no Poti Velho. ―Seu Cessé‖ é assessorado
imediatamente pelo sobrinho, Daniel Costa, de 24 anos, estudante. Outros integrantes da
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17 23
16 10 9 8 5 2 3
0
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40
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TODO
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Meses
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comunidade, em número de três, também ajudam na construção das canoas do Poti. Outro
construtor de canoas é o Sr. José Santana de Vasconcelos, 40 anos, casado e também artesão.
O primeiro fabrica e repara embarcações comercialmente, já o segundo as constrói para uso
próprio.
Segundo as informações coletadas, as embarcações podem ser divididas em sete
partes, considerando-se a madeira de que é feita e o posicionamento na embarcação: o piloto,
que corresponde à proa, a popa, o casco, as cavernas, os bancos, os dormentes e os remos.
As canoas do Poti podem se apresentar de dois tipos, distinguíveis apenas pelo
comprimento e largura, pois o desenho e materiais para confecção das embarcações são os
mesmos nos dois tipos. O primeiro tem cinco metros de comprimento e o segundo, seis
metros.
O primeiro tipo, mais comum, é caracterizado por canoas relativamente estreitas,
com 70 cm de boca, que corresponde à distância entre as extremidades laterais das bordas.
Possuem 5m de comprimento, por 88 cm de largura (distância de um lado ao outro do casco,
passando por baixo do mesmo) e 27 cm de altura (distância tangente à borda lateral
perpendicular ao plano do fundo). São canoas sem quilha, com fundo chato e popa baixa
(Figuras 9 e 11a e b).
Figura 9: Canoa de cinco metros utilizada pelos pescadores artesanais
do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil.
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As cavernas dão curvatura ao casco e a forma geral da canoa, cujo conjunto
agrupado forma o cavername, estrutura muito resistente, construída de pequi e composta por
onze estruturas em forma de ―U‖. Cada estrutura é formada por duas partes, uma direita e
outra esquerda. Entre a tábua central do fundo da canoa e cada caverna, há um orifício que
permite que, quando há água dentro da canoa, que esta escorra para o ponto mais ao fundo, e
facilite seu escoamento. Este é feito pelo pescador utilizando-se de um vasilhame. A água que
acumula geralmente é proveniente do ato de embarque dos recém-pescados.
As canoas têm capacidade para dois pescadores e são impulsionadas por remos,
esculpidos em peça única de madeira. Além da tripulação, levam artefatos de pesca e um
depósito de isopor com gelo, que costumeiramente ocupa um dos bancos da embarcação,
sendo necessário para a conservação do pescado. A canoa geralmente possui três bancos que
são dispostos um no piloto (proa), outro no meio do barco e outro na popa da embarcação.
Outro tipo de canoa é dimensionada para o uso de motores de popa. São motores
de pequeno porte e potência. Esta canoa é mais larga e comprida, com 1 m de boca e 6 m de
comprimento. Apresentam cavername em número de treze e quatro bancos: um no piloto e
outro na popa, com outros dois equidistantes dos demais, no meio da canoa (Figura 10).
Figura 10: Canoa de seis metros utilizada pelos pescadores artesanais do
bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil.
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Para a construção, são utilizadas ferramentas como: serra circular fixa, serra de
curva (Apêndice, Figura 11c), furadeira e lixadeira elétricas. O carpinteiro naval possui um
tipo de régua criada por ele com a qual consegue determinar todas as medidas da canoa
(Apêndice, Figura 11d). Os ―moldes‖ dão a ―forma‖ da canoa e a curvatura do casco, dando
às canoas sempre a mesma configuração. Tudo é medido e marcado a lápis, e todas as partes
são fixadas por pregos de aço de 12 cm.
A matéria-prima da confecção e reparo das canoas é composta por quatro espécies
vegetais: o Pequi (Caryocar coriaceum Wittm.), o Pau-d‘arco (Tabebuia spp.), o Cedro
(Cedrella odorata L.) e a Embiratanha (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin).
Segundo os informantes, há cerca de vinte anos tais plantas eram retiradas das florestas
próximas à comunidade. Todavia, com a ocupação humana da região e o processo de
urbanização, as espécies tornaram-se mais difíceis de serem encontradas e a demanda
aumentou proporcionalmente. Assim, hoje, todas as espécies vegetais utilizadas na construção
das canoas do Poti são adquiridas em madeireiras.
Do pequi são feitos o piloto, a popa e as cavernas; as grandes tábuas laterais do
casco e a parte central do fundo são construídas com pau-d‘arco; o restante do casco é
constituído por cedro. Os dormentes, bancos e remos são feitos a partir de madeira mista, que
pode ser madeira de qualquer tipo. A raspa da casca da Embiratanha é utilizada para
preencher os espaços entre as tábuas do casco, como vedação, técnica realizada com o auxílio
de uma talhadeira e martelo. Os dormentes são suportes laterais que se estendem da popa ao
piloto na parte interna da canoa, onde se fixam os bancos. Uma corrente é presa no piloto da
embarcação para propiciar a ancoragem ao porto. A canoa nova custa R$ 600,00 (em 2009) e
podem ser construídas até duas por semana com o trabalho de dois homens.
DISCUSSÃO
Na pesca artesanal no Poti Velho, o uso de tarrafas também foi observado no
estudo de Chaves & Robert (2000) e uso preferencial dessas redes, em Cotrim (2008), sendo o
costume de confeccionar tarrafas a partir da fibra de tucum, uma herança indígena (Cotrim
2008). Essa espécie vegetal foi também citada para o mesmo fim por Costa-Neto & Marques
(2001). O uso de artefatos de pesca como redes de arrasto ou de espera foram citados nos
trabalhos de Netto, Nunes e Albino (2002) e Pinheiro & Joyeux (2007), sendo a linha e redes
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os mais utilizados em Itacaré (BA), segundo Burda & Schiavetti (2008), e redes de espera,
tarrafa e anzol citados também em Costa-Neto & Marques (2001).
A pesca em conjunto, semelhante à pesca de parelha realizada no Poti Velho, foi
citada por Cotrim (2008) em Tramandaí (RS). Processo semelhante à salgadeira, a Salga, foi
registrado por Cotrim (2008).
Relacionando-se a captura do pescado e o horário preferencial, Pinheiro e Joyeux
(2007) identificaram que ocorre a pesca em horários que dependem do peixe que se quer
pescar.
Na bacia hidrográfica do rio Parnaíba, que também engloba o rio Poti, o período
de proibição da pesca é instituído e regulamentado pela Instrução Normativa Nº 40, de 18 de
outubro de 2005, do Ministério do Meio Ambiente. Assim, é possível afirmar que os
pescadores artesanais do bairro Poti Velho respeitam o período da piracema, uma vez que
preferencialmente pescam antes ou após a proibição legal, mais frequente entre os meses de
maio e novembro, o que demonstra o conhecimento sobre a legislação em questão, e que
direta ou indiretamente, os pescadores ajudam no manejo da foz do rio Poti. O recebimento do
seguro por pescadores na época piracema foi relatado por Cotrim (2008).
Influências da Lua na pesca foram relatadas por Pinheiro & Joyeux (2007),
Saldanha (2005) e Costa-Neto & Marques (2001) com a maior facilidade dos peixes em
reconhecerem as redes. Netto, Nunes e Albino (2002) identificaram 25 espécies diferentes de
peixes e listaram aquelas raras e mais frequentes.
No Poti, as canoas de cinco metros, as mais comuns, são mais próximas do tipo
Casquinho, encontrado no litoral Maranhense, que são usadas para navegar nos estuários,
baías e águas rasas (Almeida et al., 2006) e do tipo bateirinhas ou baiteira, que possuem de
3,5 a 5m, propulsão a remo, fundo chato e que atuam sozinhas ou auxiliam as embarcações
motorizadas quando da pesca nos estuários, também encontradas em Mota & Ruffino (1997),
ou são transportadas como salva-vidas de embarcações do tipo baleeira, na pesca em
plataforma (Chaves & Robert, 2003; Nishida, Nordi e Alves, 2008). Embarcações de 4 a 6m
de comprimento também foram observadas por Batista (2002) em Parintins (AM).
A utilização particular de espécies na construção de canoas também foi verificada
nos estudos de Fonseca-Kruel & Peixoto (2004), com o uso da Saputiquiaba (Sideroxylon
obtusifolium (Roem. & Schult.) TD Penn.) por pescadores da Reserva Extrativista Marinha de
Arraial do Cabo (RJ), por apresentar características de resistência. Adrião (2003), em estudo
no bairro Salinópolis (PA), identificou espécies como Sucupira (Bowdichia virgilioides
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Kunth), Maçaranduba (Manilkara sp), Louro (Ocotea gardneri (Meisn.) Mez), Jatobá
(Hymenaea sp) e palha de coco (Cocus nucifera L.) na construção e reparo de canoas; Araújo
(2007) identificou 38 citações de madeiras diferentes para este fim, Begossi et al. (1993)
registraram o uso de 13 espécies diferentes na ilha de Búzios (RJ), e Rossato et al. (1999), o
uso de 11 espécies, na ilha da Vitória (SP).
O gênero Cedrela, representado pelos cedros, destacam-se no uso para construção
de canoas entre os caiçaras e outros povos, como os índios Miskitu e Garífuna, da costa
atlântica da Nicarágua que utilizam C. odorata (Coe & Anderson, 1996; Coe & Anderson,
1999) e os índios Maijuna, da Amazônia Peruana que preferem a planta para a confecção de
suas canoas (Gilmore et al. 2002).
O casco é recoberto (calafetagem) por breu asfáltico e a canoa é pintada com tinta
a óleo, concluindo a impermeabilização diferente da calafetagem que fazem os pescadores da
Paraíba, que utilizam uma liga de cal e óleo de mamona (óleo de rícino), extraído das
sementes da carrapateira (Ricinus communis L.) (Nishida, Nordi e Alves, 2008). Pinheiro
(2005) destaca o uso do estopeiro ou Jequitibá-rosa (Cariniana legalis (Mart.) Kuntze) cujas
fibras do caule são usadas para vedação das canoas por populações da Baixada Maranhense
(Penalva-MA). Uso análogo foi citado por Adrião (2003) com palha de coco (Cocus nucifera
L.).
De acordo com Nishida, Nordi e Alves (2008), na construção de canoas
paraibanas, são utilizadas madeiras de melhor qualidade, coincidindo com o caso do Poti
Velho em relação ao uso de pau-d‘arco (Tabebuia sp), mas diferindo no uso como do louro
vermelho e sucupira (Bowdichia sp) que são utilizadas no costado. Quanto às espécies
consideradas menos nobres, utilizam a jaqueira (Artocarpus sp), cajueiro (Anacardium
occidentale L.) e mangue manso para o cavername, diferindo do cavername das canoas do
Poti Velho que utilizam o pequi (Caryocar coriaceum Wittm.)
O pescado pode ser destinado para consumo familiar ou comercializados, sendo
entregue às peixarias, nas associações de pescadores, vendidos na rua ou para restaurantes e
pousadas como também observado em Burda & Schiavetti (2008).
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CONCLUSÕES
O conhecimento dos pescadores sobre a dinâmica na foz do Poti, do uso de
artefatos de pesca e da construção de canoas é evidenciado pela prática cotidiana que lhes
possibilita uma vivência integrada com os rios Poti e Parnaíba.
Os pescadores reconhecem a influência da Lua na pesca, a dinâmica dos peixes e
o período de proibição da pesca. O período da piracema legalmente instituído é respeitado
pelos pescadores.
A construção e reparo das canoas é uma atividade restrita a poucos indivíduos que
têm perpetuado esta tradição por gerações. Esta é fundamental para permitir a pesca artesanal
na região.
O pescador artesanal do Poti Velho interage com o ambiente fluvial e percebe os
fatores que regem este ecossistema, armazenando um grande número de informações, só
possível para quem vive diariamente da pesca.
AGRADECIMENTOS
Ao Sindicato dos Pescadores e Pescadoras Artesanais de Teresina, Palmeirais no
Estado do Piauí e Parnarama no Estado do Maranhão – SINDIPESCA/THE-PI, nas pessoas
de Dona Magnólia e Sr. Francisco, pela disponibilidade. À Universidade Federal do
Piauí/Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, e ao Serviço Alemão de Intercâmbio
Acadêmico (Deutscher Akademischer Austauschdienst-DAAD), pelo apoio financeiro com
bolsa de pesquisa. À Profa. Dra. Alpina Begossi pela ajuda nas correções deste trabalho.
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de Arraial do Cabo, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica, jan./mar. 2004, vol.18, no.1, p.177-
190.
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Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...
Alexandre Nojoza Amorim
GILMORE, M. P.; ESHBAUGH, W. H. e GREENBERG, A. M. The Use, Construction, and
Importance of Canoes Among the Maijuna of the Peruvian Amazon. Economic Botany, 56(1):
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GUARIM NETO, G.; SANTANA, S.R.; SILVA, J.V.B. Notas etnobotânicas de espécies de
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MING, L. C. O ensino da etnobotânica. IN: KUBO, R.R. et al. (Org.) Atualidades em
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pratiques des communautés autochtones et locales. Paris: BRG, Bureau des ressources
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Ambiental)–Universidade de São Paulo, 2005.
97
Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...
Alexandre Nojoza Amorim
TERESINA. Conheça Teresina. SD. Disponível em:
<http://www.teresina.pi.gov.br:8080/semdec/cidade_geografia.asp>. Acesso em: 28 jul. 2009.
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e/Poti%20Velho.pdf>. Acessado em: 20 mar. 2009.
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Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...
Alexandre Nojoza Amorim
Figura 11: A. Canoa em reparo. B. Canoa pronta. C. Serra de curva. D. ―Régua‖ com as medidas
utilizadas para construção das canoas.
B A
C D
99
7 CONCLUSÕES
De acordo com os dados encontrados na comunidade de pescadores artesanais do
bairro Poti Velho, o conhecimento tradicional sobre o uso de espécies vegetais nos 60 quintais
estudados está concentrado entre as mulheres adultas.
Foram identificadas 82 espécies, dispostas em 44 famílias botânicas, sendo as
mais representativas, em número de espécies, Lamiacaeae (8), Anacardiaceae e
Euphorbiaceae (7), e Rutaceae (6), sendo as espécies com maior número de citações Cocos
nucifera L. e Alpinia nutans Rosc.
A menor quantidade de espécies nativas (35%) em relação às espécies exóticas
(65%) pode ser explicado pelas influências das pressões do modo de vida urbano.
A maioria das espécies vegetais encontradas foram citadas como de usos
medicinal (69,3%) e alimentício (23%), que juntas somaram mais de 92%, permitindo afirmar
que em conjunto, formam uma fitofarmacopéia e contribuem para a alimentação dos
pescadores artesanais.
A pesca na foz do rio Poti acontece de forma artesanal, incluindo na tripulação
amigos e membros da família.
Os pescadores demonstram conhecer os ecossistemas que compõem a foz, no que
se refere à migração dos peixes para desova durante a piracema, momento em que a pesca é
mais tímida, restringindo-se ao uso de anzóis. Admitiram, na grande maioria (74%), que a
Lua interfere na pesca, na medida em que, quando em noite clara (Lua Cheia), os cardumes
conseguem identificar a tentativa de captura e safam-se das redes dos pescadores. Os
pescadores conhecem a dinâmica e abundância dos peixes no rio Poti.
As artes de pesca encontradas no Poti Velho foram: as redes de espera
(enganchos, 54%) e tarrafas (37%), anzol (4%), curral (3%) e captura com garrafas tipo ―pet‖
(2%).
A construção de canoas é uma atividade tradicional realizada por apenas dois
núcleos familiares, sendo utilizadas quatro espécies vegetais: o pequi (Caryocar coriaceum
Wittm.), o pau-d‘arco (Tabebuia spp.), o cedro (Cedrella odorata L.) e a embiratanha
(Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin), sendo de grande importância pelo papel
da canoa na pesca com redes.
100
Conhecem como principal lenda a do cabeça-de-cuia e têm o costume de buscar
em rezadores a cura para diversos males. A importância cultural do bairro Poti Velho está
relacionada ao artesanato e à história que originou o núcleo habitacional que, posteriormente,
veio formar a capital do Piauí.
Os pescadores artesanais vivem de forma integrada ao rio Poti, mantendo grande
conhecimento entobiológico e etnoecológico dialógico e tradicional. Devem ser registrados
para que não sublimem diante das pressões da vida urbana, como também, efetivamente
considerados diante da necessidade de conservação dos recursos naturais, caracterizando,
assim, cada pescador como um co-gestor do rio Poti.
101
APÊNDICES
102
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista semiestruturada
I. IDENTIFICAÇÃO
Entrevista Nº
Data da Entrevista: Etnia:
Nome do Entrevistado:
Idade: Estado Civil: Ο Solteiro Ο Casado Ο Divorciado Ο Viúvo
Quantidade de filhos: Escolaridade: Ο AN Ο EF Ο EM
Ο ESI Ο ESC Ο PG
Endereço:
II. DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS
PROFISSIONAL
Profissão: Renda mensal (R$):
Atividade secundária: Renda secundária (R$):
Pesca há quanto tempo? Recebe benefícios do governo?
Ο Sim Ο Não
(Ligado à Pesca) Qual? Quanto? (R$)
(NÃO ligado) Qual? Quanto? (R$)
Participa de alguma
associação ou cooperativa?
Ο Sim
Ο Não Qual?
Ο Sindicato dos Pescadores do Poti Velho
Recolhe INSS? Ο Sim Ο Não Quanto? (R$)
Satisfeito em ser
pescador? Ο Sim Ο Não Porquê?
SANEAMENTO
Destino do lixo: Ο Enterra Ο Deixa a céu aberto Ο Coleta Pública Ο Queima Ο Outros
Abastecimento de água: Ο Encanada Ο Poço Ο Rio Ο Outros
Energia elétrica: Ο Sim Ο Não Fossa séptica: Ο Sim Ο Não
MORADIA
Cobertura da casa: Ο Telha Ο Palha Ο Outros
Paredes: Ο Taipa Ο Tijolo Ο Madeira Ο Outros
Piso: Ο Barro Ο Cimento Ο Cerâmica Ο Outros
PLANTAÇÃO DE CULTURA
PE
RM
. Tipo: Área de cultivo:
Técnica de cultivo: Destino da produção: Ο Consumo Ο Venda
TE
MP
. Tipo: Área de cultivo:
Técnica de cultivo: Destino da produção: Ο Consumo Ο Venda
ATIVIDADE PESQUEIRA
Período de Pesca: Ο Manhã Ο Tarde Ο Noite Ο Madrugada
Meses do ano: Ο JAN Ο FEV Ο MAR Ο ABR Ο MAI Ο JUN
Ο JUL Ο AGO Ο SET Ο OUT Ο NOV Ο DEZ
103
Período da Piracema:
Influência da maré/lua:
INSTRUMENTOS DE PESCA
Inst
rum
ento
:
Ο Tarrafa
Ο Engancho
Ο Curral
Téc
nic
a:
FREQUÊNCIA DE PEIXES
Peixes mais comuns:
Peixes mais raros:
Outros Pescados:
III. DADOS CULTURAIS
ARTESANATO
Há produção artesanal?
Ο Sim Ο Não Qual matéria prima?
Origem da matéria-prima?
RELIGIÃO
Qual a sua religião? Ο Católico Ο Protestante Ο Culto Afro Ο Ateu Ο Outro
Participa com frequência das atividades religiosas? Ο Sim Ο Não
Utiliza planta ou animal nos rituais? Ο Sim Ο Não
Qual(is)?
FESTAS/FESTEJOS
Qu
al(i
s)?
Ο São Pedro
Ο Nossa Senhora do Amparo Ο Outro
Dat
a:
LENDAS
Ο Cabeça de cuia
104
REZAS R
eza
Fu
nçã
o
TIPOLOGIA DO QUINTAL
Uso Principal:
Outros usos:
Disposição das
plantas: ( ) herbáceas ( ) Arbustivas ( ) Arbóreas
Separa plantas por uso? ( ) Sim ( ) Não
Disposição dos animais:
O Quintal é organizado? ( ) Sim ( ) Não Dimensões (LxC):
Plantas na frente da casa? ( ) Sim ( ) Não
Esquema do Quintal
105
IV.
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so
An
imais
107
APÊNDICE B – Espécies encontradas nos quintais dos pescadores artesanais do bairro
Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. 1. Mimosa caesalpiniifolia Benth.; 2. Citrus limonum
Risso; 3. Lippia alba (Mill.) N.E.Br. 4. Euphorbia tirucalli L.; 5. Jatropha curcas L.; 6.
Hibiscus sabdariffa L.
1 2
3 4
5 6
108
APÊNDICE C – Espécies encontradas nos quintais dos pescadores artesanais do bairro
Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. 1. Turnera ulmifolia L.; 2. Bryophylum pinnatum (Lan)
Oken; 3. Tecoma stans Juss.; 4. Vitex agnus-castus L.; 5. Phyllanthus niruri L.; 6. Alpinia
nutans Rosc.
1 2
3 4
5 6
109
APÊNDICE D – Entrevista e atividades socioculturais na comunidade de pescadores do
bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. 1. Entrevista; 2. Reunião na sede do
SINDIPESCA no dia de São Pedro; 3. Platéia de pescadores na reunião do SINDIPESCA; 4.
Fiéis acompanhando a procissão fluvial da ponte que liga o Poti Velho à margem direita do
rio Poti; 5. Procissão fluvial de São Pedro; 6. Procissão por terra, no cais do restaurante
―Pesqueirinho‖.
1 2
3 4
5 6
110
APÊNDICE E – Construção e reparo de canoas no bairro Poti Velho, Teresina, Piauí,
Brasil. 1. Canoa recém-construída; 2. Canoa para restauração; 3. Canoa sendo restaurada; 4.
Corte do pequi (Caryocar coriaceum Wittm.) para compor o cavername da embarcação; 5.
―Régua‖ criada e utilizada para esquadrinhar as peças que comporão a canoa; 6. Três gerações
de construtores de canoas do Poti Velho. À esquerda, Sr. Celso, acima, Daniel Ramos e à
direita, Sr. Cessé.
1 2
3 4
5 6
111
APÊNDICE F - Artesanato criado pelos pescadores artesanais do bairro Poti Velho,
Teresina, Piauí, Brasil. 1. e 2. Fruteiras; 3. a 5. Vasos decorativos (cestos e vasos feitos com
bambu – Bambusa sp – e com cipó). 6. Matéria-prima para confecção dos vasos e utensílios
(Bambusa sp).
1 2
3 4
5 6
112
APÊNDICE G – Artes de pesca utilizadas pelos pescadores artesanais do bairro Poti
Velho, Teresina, Piauí, Brasil. 1. Tarrafa; 2. Engancho; 3. Curral; 4. Pescadora tecendo um
engancho. 5. Tabuleta utilizada para determinar o tamanho da malha da rede. 6. Linha com
agulha.
1 2
3 4
5 6
113
ANEXOS
114
ANEXO A – Normas da Economic Botany
Economic Botany
Greetings Economic Botany authors,
For some years, SEB has used a manuscript submission system called FASTrac. Recently, the
New York Botanical Garden (which publishes the journal) arranged a co-publication
agreement with Springer, a large international publishing company. As a result we are moving
our journal submission and review system to their integrated online system, Editorial
Manager. While the system is rather complicated, we believe that, once we get used to it, it
will substantially increase our efficiency in dealing with papers, and will decrease the time it
takes to come to a decision about papers.
To begin a manuscript submission visit the Editorial Manager system. If you have any
difficulties with the system, please feel free to contact the Editor by e-mail for assistance at
With best regards
Dan Moerman
Editor-in-Chief
Economic Botany
About the Journal ECONOMIC BOTANY
Economic Botany is a quarterly, peer-reviewed journal of the Society for Economic
Botany which publishes original research articles and notes on a wide range of topics
dealing with the utilization of plants by people, plus special reports, letters and book
reviews. Economic Botany specializes in scientific articles on the botany, history, and
evolution of useful plants and their modes of use. Papers including particularly complex
technical issues should be addressed to the general reader who probably will not understand
the details of some contemporary techniques. Clear language is absolutely essential.
Limitations: Primarily agronomic, anatomical or horticultural papers and those concerned
mainly with analytical data on the chemical constituents of plants should be submitted
elsewhere. Papers addressing issues of molecular or phylogenetic systematics are acceptable
if they test hypotheses which are associated with useful plant characteristics. These studies are
also appropriate if they can reveal something of the historical interaction of human beings and
plants. Papers devoted primarily to testing existing taxonomies even of plants with significant
human use are generally not appropriate for Economic Botany.
Likewise, papers which are essentially lists of plants utilized somewhere in the world are
ordinarily not accepted for publication. They may be publishable if this is the first description
of their use in a particular culture or region, but this uniqueness must be specified and
characterized in the paper. Even in such a special case, however, such a descriptive paper will
require an analysis of the context of use of plants. How is plant use similar to or different
from that of other cultures? Why is a particular species or group of species used? Is there a
difference in use patterns between native and introduced species? Etc. Note that it is not a
115
sufficient analysis to say that botanical knowledge is being lost. And it is not necessary to
explain to this audience that "plant use is important."
Categories of Manuscripts
Special Reports: Manuscripts submitted for publication under this category should be of
broad interest to the Economic Botany community, and be written in plain, non-technical
language. Authors wishing to contribute a "feature article" to our journal should contact the
editor directly.
Research Articles: Manuscripts intended for publication in this category should address the
cultural as well as the botanical aspects of plant utilization. Articles that deal in whole or part
with the social, ecological, geographical or historical aspects of plant usage are preferable to
ones that simply list species identifications and economic uses. Papers dealing with the
theoretical aspects of ethnobotany and/or the evolution and domestication of crop plants are
also welcome. We most strongly support articles which state clear hypotheses, test them
rigorously, then report and evaluate the significance of the results. Although in the past it is
true that more descriptive papers were dominant in the journal, this is no longer the case.
Simply describing the use of some plant(s) usage by some people somewhere will ordinarily
not be acceptable for Economic Botany any more. Research articles should not exceed 20
manuscript pages, including text (double-spaced and in 12 point font), figures, and tables.
There is a very strong preference for shorter over longer papers. The format and style of the
submitted manuscript should generally conform to the papers published in the most recent
issues of Economic Botany. A style guide is available, but its detail is only necessary for
papers in final revisions before publication.
Review Articles. In the past, Review Articles about broad and important topics have been a
staple of Economic Botany. Review articles have addressed the domestication of corn,
coconuts in the new world, pollen as food and medicine, and many other topics. We believe
there is a place for significant reviews in Economic Botany, but with modest frequency. We
do not anticipate more that 2 or 3 reviews per year. Authors interested in writing a review can
contact the editor in advance to see if the topic is deemed appropriate.
What we are looking for are reviews that are highly synthetic and draw on current and
foundational literature to address points that are novel and interesting. Our general standard is
to publish reviews that would be of sufficient quality to appear in one of the Annual Review
journals, such as Annual Review of Anthropology or Annual Review of Ecology and
Systematics. Since there is not an Annual Review of Economic Botany, we seek to fill this
niche. Reviews that do not meet these criteria and are more of a summation of existing
literature will not be published.
Notes on Economic Plants: This section of the journal is intended for the publication of short
papers that deal with a variety of technical topics, including the anatomy, archaeology,
biochemistry, conservation, ethnobotany, genetics, molecular biology, physiology or
systematics of useful plants. A manuscript should concern one species or a small group of
species related by taxonomy or by use. Illustrations, if any, should be designed to occupy no
more than one printed journal page. Papers intended for publication as a Note on Economic
Plants should not exceed 8 to 10 double-spaced manuscript pages, including tables and
figures. Contributions should be modeled after recently published notes in Economic Botany.
116
The format of Notes has recently changed so use as a model only Notes from volumes 62 and
after.
Book Reviews: Those wishing to contribute to this category should contact our book review
editor, Daniel F. Austin. Instructions for contributors and a list of books needing reviewers is
available on the SEB web site.
Letters: Comments concerning material published in Economic Botany or statements
regarding issues of general interest should be submitted directly to Daniel E. Moerman, Editor
in Chief.
Form of Manuscripts
Some matters of style: The journal has a very broad readership, from many countries, and
many specialties, from students to the most senior scholars. This is part of the reason that
clear and transparent writing is considered very important. Acronyms are discouraged; if they
are standard in a particular specialty field, and if there are more than a few of them, authors
should include a glossary of them in a small sidebar. The Abstract in Research Papers is, in
many ways, the most important part of the paper. It will probably have many more readers
than any of the rest of the article. It should summarize the entire argument, and it should have
one or two eminently quotable sentences which other scholars may use to summarize
economically, in the authors' own words, the fundamental findings of the research reported. In
"Notes," which don't have abstracts per se, the first sentence, or the first paragraph, should
serve in place of an abstract, and should have the same kind of quotable sentence or two
which will allow subsequent scholars to use the authors' own words to state their own case.
Papers which do not have such quotable sentences will require revision. In general, the
Abstract, or the first paragraph of a note, is the hardest part to write. Write it with great care
and attention.
It is often the case that authors use more references than is needed. On occasion, the
Literature Cited section of papers is longer than the paper itself. Although there are cases
where this may be appropriate (papers dealing with the history of the taxonomy of some plant
or group of plants, for example) ordinarily excessive citation should be avoided. The function
of references is to facilitate the reader's understanding of the key elements of the paper by
allowing them to follow up on important or unusual methods, studies or findings which are
central to the current paper's arguments. One need not cite any authorities for statements of
common knowledge to the readership, like the location of Missouri, the color of the sky, or
the function of chlorophyll. It is usually unnecessary to cite unpublished reports or
dissertations which readers are unlikely to be able to obtain. Although not always necessary or
desirable, it is often very efficient to organize an article with four classic parts, an
Introduction which states the problem to be addressed, the Methods used to address the
problem, the Results of applying those methods to the requisite data, and a series of
Conclusions which reflect on the outcome of the study, assessing its importance and interest,
and, perhaps, suggesting future avenues of research.
Generally, submissions to the journal are too long. They often ramble on for pages without
getting to the key issues. When such papers are published as presented, they are wasteful of
Society resources, and of the limited time that subscribers have to devote to reading the work
of others. They also deny to other Society members access to the limited number of pages
117
which can be published in a year. Shakespeare wrote "Brevity is the soul of wit," or in this
case, of good science. Notice that the journal Nature restricts "articles" to 5 journal pages,
approximately 3000 words, no more than 50 references, and 5 or 6 small figures or tables.
"Letters to Nature" which comprise the bulk of the journal are limited to 4 pages,
approximately 2000 words, a maximum of 30 references, and 2 or 3 small figures or tables.
We need not be quite that strict, but a shorter paper will always be preferred to a longer one of
similar quality.
Style guide: For most matters of style, see a current issue of the journal. Manuscripts are
different from published papers, of course, and should have the following characteristics.
Papers should be double spaced everywhere. Use a common font (Times Roman is good), set
at 12 points in size. Number the pages in the upper right hand corner. Number the lines in the
manuscript consecutively (in Word, click on File| PageSetup| Layout| LineNumbers|
AddLineNumbering| Continuous| OK). Put all Figure Captions together on the last page of the
manuscript. On the first page, include a "short title" of the form "Smith and Jones:
Athabaskan Ethnobotany" with a maximum of 50 characters; also indicate on the total number
of words in the manuscript.
Carefully indicate up to 3 levels of headings and subheadings. The easiest way to guarantee
that your headings will be recognized correctly is to mark them <H1>, <H2> or <H3>, like
this:
<H1>Methods
Do not justify the right margin. Do not submit the paper in two columns.
Figures can be included in the manuscript in small, or low resolution, formats for review.
When a paper is accepted, high resolution images must be provided; photographs must be at
least 300 pixels per inch (ppi) at the size they are to be reproduced, while line drawings
(maps, charts) must be at least 600 ppi, and preferably 900. High quality color photographs
for the cover are always welcome.
If you include any equations more complicated than x = a + b, please use the Equation Editor.
Put each equation on a separate line.
Submit the paper through Editorial Manager; please do not submit the paper in Adobe PDF
format.
General Matters: Publication in the journal is open to current members of the Society. If a
paper has two or more authors, the author submitting the manuscript for review is expected to
hold a current SEB membership. Membership forms are available online. All papers should
be submitted via the Editorial Manager system unless the editor specifically agrees to
another plan. Authors not fluent in English should have their paper thoroughly edited by a
native speaker of English who is familiar with the scientific issues addressed in the paper.
Page Charges: The primary author will be requested to pay a per page charge upon
acceptance of their manuscript; students, and those from third world countries are excused
from this responsibility. Others for whom it is a serious burden should request a waiver from
118
the editor in chief. Color can also be used in the journal but at an additional cost to the author;
contact the editor for details on these matters.
Peer Review: All articles published in Economic Botany receive peer review. Most Research
Articles are ordinarily assigned to an Associate Editor who obtains two reviews of the paper
(perhaps writing one him- or herself). The Editor in Chief (EC) sometime solicits additional
reviews by specialists he knows to be concerned about the subject of a submission. Some
papers may receive 3 or 4 reviews. Notes are usually reviewed by the EC and one other
reviewer, although occasionally they receive more reviews. The EC uses these reviews to
guide his decision about the article - to accept as is, to accept with minor revision, to accept
with major revision and subsequent review, or to reject the paper. Some papers are rejected
without review following a close reading by the EC when he decides they are outside the
scope of the journal's subject matter, or if they are simply unacceptable for other reasons.
In recent times the journal has been receiving many more articles than it can publish. It is
currently receiving articles at a rate of approximately 130 to 140 per year; it can publish about
40 articles per year. Given this, it is of the very highest priority of the EC and the Associate
Editors to make editorial decisions as quickly as possible so rejected articles can be submitted
elsewhere; many rejected articles are perfectly acceptable pieces of work which are rejected
only because they are not of the broadest level of interest, or because other similar pieces of
work have been published in the recent past. It is our goal to publish the highest quality
papers of the broadest general interest in the shortest time possible, and, in particular, when
we must reject a paper, we attempt to do so as quickly as possible in the context of a careful
and deliberate review.
The New York Botanical Garden Press
Library of Congress Catalog Card Number 50-31790 (ISSN 0013-0001) Printed By CADMUS Professional Communications, Lancaster, Pennsylvania
For permission to electronically scan individual articles of Economic Botany
please visit the editorial office and contact the Editor-in-Chief.
119
ANEXO B – Normas do Brazilian Journal of Biology
Brazilian Journal of Biology
ISSN 0034-7108 versão impressa
ISSN 1806-9606 versão online
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Finalidade e normas gerais
Preparação de originais
Finalidade e normas gerais
A Revista Brasileira de Biologia publica resultados de pesquisa original em qualquer ramo
das ciências biológicas. Estará sendo estimulada a publicação de trabalhos nas áreas de
biologia celular, sistemática, ecologia (auto-ecologia e sinecologia) e biologia evolutiva, e
que abordem problemas da região neotropical.
A Revista publica somente artigos em inglês. Artigos de revisões de temas gerais também
serão publicados desde que previamente propostos e aprovados pela Comissão Editorial.
Informações Gerais: Os originais deverão ser enviados à Comissão Editorial e estar de
acordo com as Instruções aos Autores, trabalhos que não se enquadrem nesses moldes serão
imediatamente devolvidos ao(s) autor(es) para reformulação.
Os trabalhos que estejam de acordo com as Instruções aos Autores, serão enviados aos
assessores científicos, indicados pela Comissão Editorial. Em cada caso, o parecer será
transmitido anonimamente aos autores. Em caso de recomendação desfavorável por parte de
um assessor, será usualmente pedida a opinião de um outro. Os trabalhos serão publicados na
ordem de aceitação pela Comissão Editorial, e não de seu recebimento. Serão fornecidas
gratuitamente 25 separatas de cada artigo.
Preparação de originais
O trabalho a ser considerado para publicação deve obedecer às seguintes recomendações
gerais:
Ser digitado e impresso em um só lado do papel tipo A4 e em espaço duplo com uma
margem de 3 cm à esquerda e 2 cm à direita, sem preocupação de que as linhas terminem
alinhadas e sem dividir palavras no final da linha. Palavras a serem impressas em itálico
120
podem ser sublinhadas.
O título deve dar uma idéia precisa do conteúdo e ser o mais curto possível. Um título
abreviado deve ser fornecido para impressão nas cabeças de página.
Nomes dos autores – As indicações Júnior, Filho, Neto, Sobrinho etc. devem ser sempre
antecedidas por um hífen. Exemplo: J. Pereira-Neto. Usar também hífen para nomes
compostos (exemplos: C. Azevedo-Ramos, M. L. López-Rulf). Os nomes dos autores devem
constar sempre na sua ordem correta, sem inversões. Não usar, nunca, como autor ou co-
autor nomes como Pereira-Neto J. Usar e, y, and, et em vez de & para ligar o último co-autor
aos antecedentes.
Os trabalhos devem ser redigidos de forma concisa, com a exatidão e a clareza necessárias
para sua fiel compreensão. Sua redação deve ser definitiva a fim de evitar modificações nas
provas de impressão, muito onerosas e cujo pagamento ficará sempre a cargo do autor. Os
trabalhos (incluindo ilustração e tabelas) devem ser submetidos em triplicata (original e duas
cópias).
Serão considerados para publicação apenas os artigos redigidos em inglês. Todos os trabalhos
deverão ter resumos em inglês e português. Esses resumos deverão constar no início do
trabalho e iniciar com o título traduzido para o idioma correspondente. O Abstract e o
Resumo devem conter as mesmas informações e sempre sumariar resultados e conclusões.
Em linhas gerais, as diferentes partes dos artigos devem ter a seguinte seriação:
1a página – Título do trabalho. Nome(s) do(s) autor(es). Instituição ou instituições, com
endereço. Indicação do número de figuras existentes no trabalho. Palavras-chave em
português e inglês (no máximo 5). Título abreviado para cabeça das páginas. Rodapé: nome
do autor correspondente e endereço atual (se for o caso).
2a página e seguintes – Abstract (sem título). Resumo: em português (com título);
Introduction, Material and Methods, Results, Discussion, Acknowledgements.
Em separado – References, Legends to the figures, Tables and Figures.
O trabalho deverá ter, no máximo, 25 páginas, incluindo tabelas e figuras.
A seriação dos itens de Introduction e Acknowledgements só se aplica, obviamente, a
trabalhos capazes de adotá-la. Os demais artigos (como os de Sistemática) devem ser
redigidos de acordo com critérios geralmente aceitos na área.
Referências Bibliográficas – No texto, será usado o sistema autor–ano para citações
bibliográficas, utilizando-se ampersand (&) no caso de 2 autores. As referências,
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datilografadas em folha separada, devem constar em ordem alfabética. Deverão conter
nome(s) e iniciais do(s) autor(es), ano, título por extenso, nome da revista (abreviado e
sublinhado), volume e primeira e última páginas. Citações de livros e monografias deverão
também incluir a editora e, conforme citação, indicar o capítulo do livro. Deve(m) também
ser referido(s) nome(s) do(s) organizador(es) da coletânea. Exemplos:
OZORIO DE ALMEIDA, M., 1946, Sur les reflexes labyrinthiques chez la grenouille. Rev.
Brasil. Biol., 6: 355-363.
REIS, J., 1980, Microbiologia, pp. 3-31. In: M. G. Ferri & Shozo Motoyama (orgs.), História
das Ciências no Brasil, 2o vol., 468p., EDUSP e EPU, São Paulo.
MROSOVSKY, N. & YNTEMA, C. L., 1981, Temperature dependence of sexual
differentiation in sea turtles: implications for conservation practices. In: K. A. Bjorndal (ed.),
Biology and Conservation of Sea Turtles, Smithson, Inst. Press in Coop. World, Wildlife
Fund. Inc., Washington, D.C.
RIZZINI, C. T., 1979, Tratado de Fitogeografia do Brasil. Aspectos Sociológicos e
Florísticos. HUCITEC, São Paulo, 2 vol., 374p.
KUHLMAN, J. G., OCCHIONI, P. & FALCÃO, J. I. A., 1947, Contribuição ao estudo das
plantas ruderais do Brasil. Arq. Jard. Bot., 7: 43-131.
Para outros pormenores, veja as referências bibliográficas deste fascículo.
A Revista publicará um Índice inteiramente em inglês, para uso das revistas internacionais de
referência.
As provas serão enviadas aos autores para uma revisão final (restrita a erros e composição) e
deverão ser devolvidas imediatamente. As provas que não forem devolvidas no tempo
solicitado – 5 dias – terão sua publicação postergada para uma próxima oportunidade,
dependendo de espaço.
Material Ilustrativo – Os autores deverão limitar as tabelas e as figuras (ambas numeradas
em arábicos) ao estritamente necessário. No texto do manuscrito, o autor indicará os locais
onde elas deverão ser intercaladas.
As tabelas deverão ter seu próprio título e, em rodapé, as demais informações explicativas.
Símbolos e abreviaturas devem ser definidos no texto principal e/ou legendas.
Na preparação do material ilustrativo e das tabelas, deve-se ter em mente o tamanho da
página útil da REVISTA (22 cm x 15,0 cm); (coluna: 7 cm) e a idéia de conservar o sentido
vertical. Desenhos e fotografias exageradamente grandes poderão perder muito em nitidez
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quando forem reduzidos às dimensões da página útil. As pranchas deverão ter no máximo 30
cm de altura por 25 cm de largura e incluir barra(s) de calibração.
As ilustrações devem ser agrupadas, sempre que possível. A Comissão Editorial reserva-se o
direito de dispor esse material do modo mais econômico, sem prejudicar sua apresentação.
Todos os desenhos devem ser feitos à tinta da China e apresentados de tal forma que
seja possível sua reprodução sem retoques. As fotografias devem vir em papel brilhante. Nas
fotos, desenhos e tabelas deve-se escrever, a lápis, no verso, o nome do autor e o título do
trabalho.
Disquete – Os autores são encorajados a enviar a versão final (e somente a final), já aceita,
de seus manuscritos em disquete. Textos devem ser preparados em Word for Windows e
acompanhados de uma cópia idêntica em papel.
Recomendações Finais : Antes de remeter seu trabalho, preparado de acordo com as
instruções anteriores, deve o autor relê-lo cuidadosamente, dando atenção aos seguintes itens:
correção gramatical, correção datilográfica (apenas uma leitura sílaba por sílaba a garantirá),
correspondência entre os trabalhos citados no texto e os referidos na bibliografia,
tabelas e figuras em arábicos, correspondência entre os números de tabelas e figuras citadas
no texto e os referidos em cada um e posição correta das legendas.