UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE...
Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE...
![Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/1.jpg)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
DOUTORADO EM CIÊNCIA ANIMAL
CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA, SISTEMA DE PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO
GEOGRÁFICA E ACEITAÇÃO DO CAPRINO NAMBI NO ESTADO DO PIAUÍ
JOSÉ DA FONSECA CASTELO BRANCO
TERESINA, PIAUÍ – BRASIL
FEVEREIRO – 2010
![Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/2.jpg)
CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA, SISTEMA DE PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO
GEOGRÁFICA E ACEITAÇÃO DO CAPRINO NAMBI NO ESTADO DO PIAUÍ
JOSÉ DA FONSECA CASTELO BRANCO
Médico Veterinário
Tese apresentada ao Centro de Ciências
Agrárias, da Universidade Federal do Piauí,
como exigência para obtenção do título de
Doutor em Ciência Animal.
Área de Concentração: Produção Animal
Teresina, Piauí – Brasil
Fevereiro – 2010
![Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/3.jpg)
CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA, SISTEMA DE PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO
GEOGRÁFICA E ACEITAÇÃO DO CAPRINO NAMBI NO ESTADO DO PIAUÍ
JOSÉ DA FONSECA CASTELO BRANCO
Médico Veterinário
Tese apresentada ao Centro de Ciências
Agrárias, da Universidade Federal do Piauí,
como exigência para obtenção do título de
Doutor em Ciência Animal.
Área de Concentração: Produção Animal
Orientador: Professor Doutor José Elivalto Guimarães Campelo
Co-Orientadora: Pesquisadora Doutora Adriana Mello de Araújo
Teresina, Piauí – Brasil
Fevereiro – 2010
![Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/4.jpg)
C348c Castelo Branco, José da Fonseca
Caracterização fenotípica, sistema de produção, distribuição
geográfica e aceitação do caprino Nambi no estado do Piauí
[manuscrito]/José da Fonseca Castelo Branco - 2010.
75f.
Cópia de computador (printout)
Tese (doutorado) – Universidade Federal do Piauí, Programa de
Pós-Graduação em Ciência Animal. Teresina, 2010.
Orientadores: Prof. Dr.José Elivalto Guimarães Campelo, Pesq.
Drª Adriana Mello de Araújo.
1. Caprino 2. Raça nativa 3. Sistema de criação 4. Conservação
I.Título
CDD 636.39
![Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/5.jpg)
CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO FFEENNOOTTÍÍPPIICCAA,, SSIISSTTEEMMAA DDEE PPRROODDUUÇÇÃÃOO,, DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO
GGEEOOGGRRÁÁFFIICCAA EE AACCEEIITTAAÇÇÃÃOO DDOO CCAAPPRRIINNOO NNAAMMBBII NNOO EESSTTAADDOO DDOO PPIIAAUUÍÍ
José da Fonseca Castelo Branco
(Doutorando)
Tese Aprovada em 26/02/2010
Banca Examinadora:
![Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/6.jpg)
“O domínio de uma profissão não exclui o seu
aperfeiçoamento. Ao contrário, será mestre
quem continuar aprendendo”.
Pierre Furter
![Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/7.jpg)
Á minha irmã Raimunda Santos Castelo
Branco, meu cunhado e amigo José
Bernardes Santos e meus sobrinhos Thiago
Santos Castelo Branco, Renato Santos
Castelo Branco e Juliana Santos Castelo
Branco pela bela acolhida e apoio durante e
quando na apresentação e defesa desta tese.
Ofereço
![Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/8.jpg)
A minha filha Rafaela Gomes Castelo Branco,
meu Pai, minha Mãe e todos meus irmãos, os
quais mim apoiaram e mim ensinaram a viver
de uma forma especial neste belo universo de
coisas maravilhosas e cheio de ciência para
nossos desafios.
Dedico
![Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/9.jpg)
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradeço a Deus por ter mim oportunizado quanto à superação deste
desafio.
À Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Meio Norte do Brasil,
(EMBRAPA) pela colaboração nas coletas de dados.
À Universidade Federal do Piauí pela grandeza e capacidade de ofertar pós-
graduação, oportunizando seus egressos um universo mais amplo e repleto de novos
conhecimentos.
Professor orientador Dr. José Elivalto Guimarães Campelo UFPI/CCA, amigo e
grande companheiro e pela magnânime orientação e condução deste trabalho.
Professora co-orientadora Dra. Adriana Mello de Araújo, pesquisadora da
EMBRAPA/MEIO-NORTE pela sua admirável competência e capacidade intelectual de
orientar.
Ao membro Professora Dra. Théa Mirian Medeiros Machado DZO/CCA/UFV, pelas
valiosas correções e sugestões pertinentes.
Ao membro Prof. Dr. José Lindenberg Rocha Sarmento DZO/Cinobilina
Elvas/UFPI, pelas colaborações e sugestões quanto ao aprimoramento deste.
Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira Almeida,
pela participação na banca examinadora e pelas brilhantes sugestões.
À professora Dra. Maria Elizabete de Oliveira DZO/CCA/UFPI pelas sugestões no
redirecionamento da pesquisa.
Aos colegas Doutorandos Márcio Costa, Joubert Borges, Flávio Oliveira, Laí Filho,
Lidiana Siqueira, Nazaré Bona e Luana Pires, pelo companheirismo e apoio para o bom
êxito deste trabalho.
![Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/10.jpg)
Ao colega professor Abdias Últmo (CAT/UFPI), pelo apoio e colaboração na
consecução deste objetivo.
Aos secretários da pós-graduação em Ciência Animal Luiz Gomes da Silva e Vicente
de Sousa Paula pelo companheirismo, amizade e colaboração quanto às informações
relativas ao curso.
Ao professor Dr. João Batista Lopes, companheiro de todos os momentos que sempre
de maneira educada sabe servir com muita satisfação.
Ao Dr. Francisco de Assis da Silva Araújo do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pela confecção dos mapas e pela
orientação do estudo de georeferenciamento das microrregiões pesquisadas.
Ao mestrando em Ciência Animal Natanael Pereira da Silva Santos pela colaboração
nas análises estatísticas dos dados.
À mestranda em Ciência Animal Naylene Carvalho Sales da Silva pela forma gentil de
colaborar na formatação e correção final da tese.
Muito Obrigado.
![Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/11.jpg)
SUMÁRIO
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Listas de Abreviaturas
Resumo
Abstract
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 16
2 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................... 19
2.1 Diversidade Genética .................................................................................... 19
2.2 Recursos Genéticos Caprinos ........................................................................ 21
2.3 Conservação de Recursos Genéticos Caprinos ............................................. 22
2.4 Caracterização da Criação de Caprinos em Sistema Tradicional .................. 25
2.5 Caprinos Nambi ............................................................................................. 26
3 CAPÍTULO I. Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado
Nambi e do sistema de criação com esses animais no estado do Piauí .........
29
Resumo .......................................................................................................... 30
Abstract ......................................................................................................... 31
Introdução ..................................................................................................... 32
Material e Métodos ........................................................................................ 34
Resultados e Discussão ................................................................................. 37
Conclusões .................................................................................................... 47
Literatura citada ............................................................................................. 47
4 CAPÍTULO II Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no
estado do Piauí e avaliação da aceitação desse fenótipo como raça caprina
nativa. ............................................................................................................
51
Resumo .......................................................................................................... 52
Abstract ......................................................................................................... 53
Introdução ..................................................................................................... 54
Material e Métodos ........................................................................................ 56
Resultados e Discussão ................................................................................. 60
Conclusões .................................................................................................... 67
Literatura citada ............................................................................................. 68
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 70
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAIS .......................................... 71
![Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/12.jpg)
Lista de Figuras
Pag.
CAPÍTULO I - Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado
Nambi e do sistema de criação tradicional no estado do
Piauí............................................................................................ 29
Figura 1 - Mapa Ilustrativo das Microrregiões Consultadas ...................... 34
Figura 2 - Dispersão das microrregiões segundo os dois primeiros
componentes principais com características métricas de
caprinos Nambi no Piauí ............................................................ 41
CAPÍTULO II - Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no
estado do Piauí e avaliação da aceitação desse fenótipo
como raça caprina nativa ......................................................... 51
Figura 1 - Distribuição geográfica das microrregiões avaliadas quanto a
presença de caprinos Nambi no estado do Piauí ...................... 57
![Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/13.jpg)
Lista de Tabelas
Pag.
CAPÍTULO I - Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado
Nambi e do sistema de criação tradicional no estado do
Piauí............................................................................................ 29
Tabela 1 - Dados distribuídos por microrregião e por município nestas;
percentual no efetivo caprino do Piauí e das amostras por
microrregião e por município ..................................................... 35
Tabela 2 - Média da altura na cernelha (AC) e na garupa (AG),
profundidade torácica (PT), comprimento (CC) e
circunferência corporal (Circ.), comprimento da orelha (CO) e
escore corporal de cabras Nambi por microrregião no Piauí...... 38
Tabela 3 - Média do peso ao nascer (PN), aos 30 (P30) e a 120 dias de
idade (P120), de crias Nambi no município de Altos, Piauí em
2009............................................................................................. 39
Tabela 4 - Autovetores das características métricas de animais Nambi no
Piauí............................................................................................. 40
Tabela 5 - Freqüências (%) de respostas indicadoras do perfil da
caprinocultura no Piauí, em rebanhos com animais
Nambi.......................................................................................... 44
CAPÍTULO II - Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no
estado do Piauí e avaliação da aceitação desse fenótipo
como raça caprina nativa ......................................................... 51
Tabela 1 - Freqüência conjunta (%) de opiniões “favoráveis” e “não
favoráveis” a animais Nambi ter potencial para se tornar raça
caprina (cruzamento da pergunta I com II), com respostas
espontâneas, no Piauí .................................................................. 64
Tabela 2 - Freqüência conjunta (%) de opiniões “favoráveis” e “não
favoráveis” a animais Nambi ter potencial para se tornar raça
caprina (cruzamento da pergunta I com II), com respostas
induzidas, no Piauí ...................................................................... 66
Tabela 3 - Freqüências da opinião sobre atributos destacados como
importantes para caprinos Nambi, para seleção visando torná-
lo raça caprina, no Piauí ............................................................. 67
![Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/14.jpg)
Listas de Abreviaturas
SRD - Sem Raça Definida
UFPI – Universidade Federal do Piauí
FAO – Organização para Alimentação da Agricultura Familiar
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
CENARGEN - Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia
Km² - Quilômetro quadrado
Ha - Hectare
% - Porcentagem
ASCCOPER – Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Estado de Pernambuco
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
CAT – Colégio Agrícola de Teresina
UFPI – Universidade Federal do Piauí
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
ACP - Análise de Componentes Principais
USAV - Unidade de Sanidade Animal e Vegetal
![Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/15.jpg)
CCaarraacctteerriizzaaççããoo ffeennoottííppiiccaa,, ssiisstteemmaa ddee pprroodduuççããoo,, ddiissttrriibbuuiiççããoo ggeeooggrrááffiiccaa ee aacceeiittaaççããoo ddoo
ccaapprriinnoo NNaammbbii nnoo eessttaaddoo ddoo PPiiaauuíí
Doutorando: José da Fonseca Castelo Branco
Orientador: Prof. Dr. José Elivalto Guimarães Campelo - CCA/UFPI
Co-Orientadora: Dra. Adriana Mello de Araújo – Embrapa Meio-Norte
Resumo: A seleção natural imprimiu no caprino nativo características específicas de
rusticidade, criando habilidade para sobrevivência sob clima quente e seco e adequação a
sistemas de produção com baixa tecnologia, porém, com sacrifício do desempenho produtivo,
passando a ter apenas importância regional, no âmbito da agropecuária familiar. Neste grupo
está o Nambi, animais com orelha reduzida, que estão dispersos no Nordeste, numa situação
desconhecida quanto ao risco de extinção e/ou se têm potencial para tornarem-se raça nativa.
Assim, a adoção de estratégias para sua conservação ou recorrer a seleção para uso imediato é
importante e necessário avaliar se o fato de apresentarem orelha reduzida é visto como defeito
que prejudica sua aceitação. Com esta pesquisa objetivou-se caracterizar animais Nambi, sua
distribuição geográfica, o sistema de criação no qual ele está inserido no Piauí e a aceitação
desse fenótipo como raça nativa. Para a caracterização fenotípica, dados foram coletados em
14 municípios de cinco microrregiões, referentes a medidas quantitativas, que foram
submetidas à análise de variância e análise multivariada por componentes principais. Para
descrição sócio-econômica, aplicou-se questionários a criadores, com perguntas relativas a
aspectos de manejo dos animais, aspecto familiar, bem como sobre a propriedade. Os dados
foram submetidos a análise descritiva. No levantamento geográfico realizou-se visita a
rebanhos e também consulta a técnicos que atuam no setor agrário, para registro de Nambi
nos rebanhos. Na avaliação da opinião da aceitação do Nambi como raça, apresentou-se
individualmente, dois tipos de questionário a 158 pessoas com atividade relacionada à
caprinocultura ou não, com perguntas sobre o Nambi, beleza, defeitos, rusticidade, se criariam
esses animais e se viam neles potencial para ser raça. O segundo questionário foi
complementar e apresentado após preleção a cerca de qualidades do Nambi e da raça
Lamancha (processo indutivo). Os dados foram submetidos a análise de freqüência e, com o
procedimento “crosstabulation” do software SPSS, fez-se cruzamento da resposta apresentada
à pergunta ”você considera os animais Nambi com potencial para tornar-se raça?” com as
respostas dadas às demais, aplicando-se teste de “Qui-quadrado” nas freqüências conjuntas
obtidas. Constatou-se que o caprino Nambi está difundido em todo o estado do Piauí, inserido
em rebanhos de agropecuária familiar, manejados de forma extensiva e com baixo nível
tecnológico. A criação é realizada por pessoas com tradição nessa atividade a vários anos,
mas não implica em eficiência, pois o manejo reprodutivo, alimentar e sanitário adotados são
precários. O Nambi está integrado à caprinocultura extensiva no Estado, presente em
rebanhos com predominância de animais SRD de pequeno porte. Apresentam orelha reduzida
com comprimento médio de 5,2cm, além do tamanho corporal variável. A raça Anglonubiana
tem influência marcante na formação do Nambi, notadamente nas microrregiões com maior
efetivo. O modo de herança “dominância incompleta” do caráter Nambi, aliado à inexistência
de controle de acasalamento nos rebanhos, pode contribui para aumentar o seu efetivo no
Estado e, como o tamanho reduzido da orelha não é visto como defeito que compromete sua
aceitação, o caprino Nambi é visto no Piauí como animal rústico e com potencial para ser
trabalhado, para formação de raça adaptada.
Palavras-Chave: agricultura familiar, análise multivariada, caprino nativo, conservação,
levantamento, sistema extensivo.
![Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/16.jpg)
Phenotypic Characterization, production system, geographic distribution and
acceptance of goat meat Nambi in the State of Piauí
Student: José da Fonseca Castelo Branco
Supervisor: Prof. Dr. José Elivalto Guimarães Campelo - CCA/UFPI
Co-supervisor: Dra. Adriana Mello de Araújo - Embrapa Meio-Norte
Abstract: Natural selection imprinted in the native goat specific characteristics of rusticity,
creating the ability to survive under warm and dry climate and adaptation to production
systems with low technology, but with the sacrifice of productive performance, and having
only regional importance within the farming family. The Nambi, which is in this group, are
animals with small ears, scattered in the Northeast, in a situation that is unknown about the
risk of extinction and/or if they have the potential to become a native breed. Therefore, the
adoption of strategies for their conservation or use selection for their immediate use is
important and it is necessary to assess whether the fact of presenting small ears is regarded as
defect that undermine their acceptance. With this research it was aimed to characterize the
Nambi, their geographical distribution, the breeding system which in practiced upon them in
Piauí and the acceptance of this phenotype as native breed. For the phenotypic
characterization, data were collected in 14 municipalities of five micro-regions, regarding the
quantitative measures, which were subjected to analysis of variance and multivariate analysis
by key components. For the description of the socio-economic status, questionnaires were
applied to farmers, with questions relating to aspects of animal handling, to family, as well as
to the property. The data were subjected to descriptive analysis. As for the geographical
survey, there were visits to goat herds and also consultation with technicians who work in the
farming sector, to record Nambi in herds. In evaluating the opinion of the acceptance of
Nambi as a breed, it was presented individually two types of questionnaire to 158 people
connected or not to the raising of goats, with questions about the Nambi, their beauty, defects,
roughness, whether they would raise these animals and whether they saw in them the potential
to become a breed. The second was a complementary questionnaire which was presented after
a lecture about the qualities of the Nambi and the Lamancha breed (inductive process). The
data were subjected to analysis of frequency and, with the crosstabulation procedure from the
SPSS software, the answers given to the question "do you consider the Nambi to have the
potential to become race?" was crossed with answers to the other questions, applying the Chi-
square test to the joint frequencies obtained. It was found that the Nambi is widespread
throughout the State of Piauí, introduced into herds of farming family, managed extensively
and with low technological level. The raising of these animals is performed by people with a
tradition in this activity for several years, but it does not imply it is efficient, because the
breeding, feeding and sanitation adopted are precarious. The Nambi is integrated with the
extensive goat production in the State of Piaui, present in herds with predominance of SRD
small size animals. They present small ears with average length of 5,2 cm, in addition to the
variable body size. The Anglonubiana breed has a significant influence on the formation of
the Nambi, notably in the micro-regions with more herds. . The incomplete dominance mode
of inheritance for the Nambi character, associated to the lack of breeding control in herds may
contribute to increase its numbers in the state and, as the small size of the ears is not regarded
as a defect which compromises its acceptance, the Nambi is seen in the State of Piauí as a
rough animal accepted to be worked on for the creation of an adapted breed.
Keywords: family farming, multivariate analysis, native goat, conservation, surveying,
extensive system.
![Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/17.jpg)
1 INTRODUÇÃO
A sustentabilidade assume neste século um papel importante na reflexão sobre as
dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se configuram, pois, o quadro
socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas, revela que o impacto da ação
do homem sobre o meio ambiente, apresenta conseqüências cada vez mais complexas, tanto
em termos quantitativos quanto qualitativos (JACOBI, 2003). Esse impacto passou a ser
debatido com maior veemência no final do século XX, momento a partir do qual a
consciência sobre a importância da conservação ambiental tomou forma mais concreta, diante
de aparentes modificações climáticas, sistematicamente divulgadas na mídia. Nesse cenário o
tema sustentabilidade ambiental confronta com a necessidade de cada vez mais produzir
alimentos, porém, implica que práticas baseadas numa perspectiva integradora devam
prevalecer.
A produção animal está inserida nesse contexto ambiental que se apresenta com
perspectivas de ocorrência de mudanças climáticas cada vez mais freqüentes, com isso,
precisa se adequar sempre que nova condição de ambiente surgir. Isso significa que não há
garantias que sistemas de manejo adequados atualmente possam persistir nessa condição por
muito tempo, principalmente em regiões onde as condições de ambiente são mais severas à
produção animal (RIBEIRO et al., 2006).
A produção de alimentos atualmente ruma para a uniformidade de recursos genéticos
devido a perda de variabilidade em parte, via a extinção de raças, porém, também por
cruzamentos envolvendo as populações comerciais e nativas. Isso leva a uma restrição da
diversidade genética dos recursos animais, que poderá comprometer sua utilização no futuro.
Ao mesmo tempo, as condições do ambiente de produção também tendem a mudar. Com isso,
para que a evolução ocorra de forma favorável, será necessário impor gestão sustentável dos
recursos zoogenéticos em escala mundial (FIMLAND, 2007).
No Brasil, historicamente a agricultura familiar é considerada arcaica, de baixo
rendimento e voltada à subsistência, tendo sido preterida em favor do estímulo à grande
propriedade, detentora de força política na definição das formas e mecanismos de atuação do
Estado (WANDERLEY, 1995). Guanziroli e Cardim (2000) definiram o universo dos
agricultores familiares pelos estabelecimentos que atendiam, simultaneamente, as seguintes
condições: a) a direção dos trabalhos no estabelecimento era exercida pelo produtor e, b) o
trabalho familiar era superior ao trabalho contratado.
![Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/18.jpg)
17
Já há algum tempo que se discute sobre o espaço que a agricultura familiar poderia
ocupar no âmbito do desenvolvimento sustentável no país, estando esse tema presente na
agenda de pesquisadores (CARMO, 1998) e presente também está a ovinocaprinocultura entre
as opções de produtos para dar suporte a esse discurso. Por outro lado, durante décadas tem
sido verificado um convívio paralelo da agricultura familiar com a ovinocaprinocultura na
região Nordeste, onde ambas são consideradas atividades à margem do desenvolvimento, ou
em nível de subsistência. Normalmente apresentam baixa eficiência e realizadas por
produtores desprovidos de capital e de recursos tecnológicos. Em relação à caprinocultura,
prevalece a utilização de animais Sem Raça Definida (SRD), além de nativos como a
Gurguéia, Canindé, Repartida e Nambi, que, por serem considerados adaptados à região,
recebem pouca atenção em manejo, consequentemente, refletindo negativamente no
desempenho produtivo.
Mesmo diante desse cenário, a produção de pequenos ruminantes vem se caracterizando
como uma atividade de importância cultural, social e econômica para o Nordeste (COSTA et
al., 2008), numa indicação clara que é necessário se conhecer suas particularidades, tanto em
termos sócio-cultural quanto em relação às raças que são mais adequadas, para tornar a
produção mais eficiênte. Para tal, deve-se levar em consideração que a introdução de raças
especializadas, sem as adequações necessárias nas condições de criação, certamente limitará a
expressar o seu potencial genético. Em relação às raças nativas, deve-se estar ciente que a
expressão de baixos índices zootécnicos, é uma resposta adaptativa às intempéries ambientais
e ao manejo.
Como alternativa a essa situação, Delgado et al. (1999) recomendam que os animais
nativos sejam submetidos a estratégias para agregação de atributos específicos, de forma a
receber selo de “produto social”, com isso ganhariam mais importância econômica e social,
porém, precisam ser mais estudados. Aliado a esse ponto de vista, constata-se na literatura
justificativas conservacionistas que apontam haver adequação de raças naturalizadas para a
produção na agricultura familiar, principalmente em áreas rurais onde predomina baixo poder
aquisitivo, como no Nordeste do Brasil.
Entretanto, os produtores familiares podem não ter percepção clara da importância desse
recurso genético para o sistema de produção agroecológico, que pode ser mais adequado ao
semi-árido. Além disso, a pesquisa tem abordado este grupo de produtor quase sempre
gerando expectativa de ganho imediato de capital, ofertando-lhes auxílio monetário como
forma de aceitação de novas tecnologias, a exemplo de novas raças, o que pode prejudicar a
![Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/19.jpg)
18
parceria entre a pesquisa e o produtor na adoção de estratégia de conservação genética de
raças nativas e/ou para atender a esse público (ARAÚJO, 2006).
Na Espanha, existe muito interesse em relação a conservação de raças nacionais, sendo
dedicado grandes esforços para esse fim, de forma a caracterizar e valorizar rebanhos
autóctones no país (DELGADO et al., 1999). Segundo estes autores, a caracterização racial
por meio de padrões genéticos, leva ao conhecimento e reconhecimento oficial das raças,
servindo de base para o trabalho de associações, levando a abertura de livros genealógicos.
No Brasil a situação é bem diferente, onde caprino Canindé, Gurguéia, Marota, Moxotó, Azul
e Nambi, dentre outros, estão dispersos e, provavelmente, em risco desconhecido de extinção,
especialmente os animais Nambi, que apresentam a particularidade de terem orelha reduzida,
que, se for vista como um defeito pode comprometer ainda mais a conservação desses
animais.
Esses grupos de caprinos, que têm por base animais introduzidos no país pelos
colonizadores portugueses, se integraram às condições de ambiente dos trópicos
concentrando-se principalmente no Nordeste, onde a interação com o ambiente quente e seco
da região e com o sistema de criação extensiva, resultou em pressão de seleção que levou a
formação de animais com um padrão fenotípico específico, o pequeno porte, comum às raças
nativas Marota, Moxotó e Canindé e aos tipos naturalizados: Gurguéia, Azul, Graúna, Nambi
(BARROS, 1987), além de outros de menor expressão, porém, aparentemente adequados à
forma de exploração extensiva que prevalece na região.
A introdução de raças exóticas nas últimas décadas na caprinocultura no Nordeste,
inicialmente a raça Anglonubiana e posteriormente a Boer, é um aspecto relevante para a
atividade na região, se destacando a contribuição para aumentar a variabilidade genética nos
animais SRD. Entretanto, o sistema de criação extensiva com inexistência de controle
reprodutivo, põe em risco desconhecido de extinção os grupos genéticos nativos, dentre eles o
Nambi, sendo que levaram muitos anos para atingirem a composição genética atual.
Nessa perspectiva, com esta pesquisa objetivou-se caracterizar o sistema de criação
extensiva de caprinos no estado do Piauí, com animais do grupamento genético Nambi
presentes nos rebanhos. Objetivou-se também realizar levantamento da localização e
caracterização desses animais no Estado, com avaliação do grau de aceitação desse fenótipo
como raça nativa.
Seguindo as Normas do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFPI, esta
Tese apresenta as partes: Introdução, Revisão de Literatura, Capítulos I e II na forma de
Artigo científico, Considerações finais e Referências Bibliográficas. O Capítulo I:
![Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/20.jpg)
19
Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado Nambi e do sistema de criação
com esses animais no Estado do Piauí, será submetido à revista Animal Genetic Resource
Information - AGRI (ISSN: 1014-2339, EISSN: 2076-4022). O capítulo II: Levantamento da
distribuição de caprinos Nambi no estado do Piauí e avaliação da aceitação desse
fenótipo como raça caprina nativa, será submetido à revista Archivos de Zootecnia. (ISSN
Print 0004 – 0592 ISSN, Online 1885 – 4494). Ambos estão estruturalmente compostos por:
Título, Autores, Resumo, Abstract, Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão,
Conclusão, Referências Bibliográficas, redigidos segundo as Normas dessas revistas.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Diversidade Genética
A perda de um único tipo ou raça compromete o acesso a seus genes e/ou combinações
genéticas, pois cada raça ou população representa, provavelmente, uma combinação única de
genes que pode ser útil no futuro. Assim, convém-se manter a máxima diversidade de pool
genético de cada espécie (EGITO et al., 2002). Entretanto, raças nativas tendem a diminuir
seu efetivo, ao serem substituídas por raças de melhor desempenho produtivo, aprimoradas
por seleção artificial (MACHADO et al., 2010).
Dentre as alternativas para reduzir o risco da perda de variabilidade genética, alguns
países têm exigido, como condição para liberação da autorização de importação, que seja feita
avaliação do impacto genético que causará a introdução da raça exótica. Porém, a importância
desse sistema não está reconhecida a nível mundial. Os argumentos expostos neste sentido
destacam a potencialidade de evitar a perda de uma parte importante de recursos genéticos
animal, incluindo também a responsabilidade dos governos e sua intervenção na promoção do
desenvolvimento sustentável, ou na proteção da soberania nacional (PILLING, 2007).
A diversidade na espécie resulta da variância entre raças (inter-racial) e dentro da raça
(intra-racial) e é importante, tanto para a conservação como para a produção animal. O estudo
da variabilidade genética intra-raça visa melhor compreensão da dinâmica de populações nas
unidades de conservação, destacando a quantificação do grau de estruturação geográfica, a
medição da consangüinidade, além de análises filogenéticas e filogeográficas (AVISE et al.,
1995).
![Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/21.jpg)
20
Assim, o reconhecimento da necessidade de conservação da diversidade genética nas
populações de animais domésticos, incluindo a sua diferenciação e avaliação das relações
genéticas existentes, apresenta o propósito de identificar populações e/ou raças
prioritariamente a se conservar e/ou para se estabelecer programas de conservação e gestão
(BARKER et al., 2001).
Para Vanzolini (1993), a sistemática é a ciência da biodiversidade e o grau de
similaridade ou de diversidade genética é usualmente obtido pela estimativa da distância
genética entre populações, que é uma medida da probabilidade dos genes de uma ou de mais
características estarem em uma população, mas não na outra (ARAÚJO, 2004).
Na quantificação da variabilidade entre populações, o uso de ferramentas estatísticas
traduz as diferenças em medidas de distância entre elas (KUMAR, 2000). Por exemplo, a
distância Euclidiana Simples e a de Mahalanobis são utilizadas para indicar similaridade
fenotípica, enquanto à distância padrão de Ney é para a diferenciação genética e estimada com
dados moleculares. Sob determinada ótica, elas podem ser consideradas mecanismo para
reduzir informação sem perda, uma vez que transformam os dados sobre a relação entre duas
populações em um único número (WEIR, 1996). Se não há diferença, então a distância entre
as duas populações é zero.
O método de Componentes Principais, que tem sido utilizado em estudos de diversidade
genética entre populações, é um procedimento estatístico que consiste em reescrever as
coordenadas das amostras em outro sistema de eixo mais conveniente para interpretação dos
dados, pois n-variáveis originais geram através de combinações lineares, n-componentes
principais, cuja principal característica, além da ortogonalidade, é que são obtidos em ordem
decrescente de máxima variância, com o componente principal 1 detendo mais informação
estatística que os demais. A análise permite a redução da dimensionalidade dos pontos
representativos das amostras, pois é comum a obtenção nos 2 ou 3 primeiros componentes
principais, mais de 90% da variação presente nos dados (CRUZ e CARNEIRO, 2006).
No Brasil ainda é pequena a quantidade de estudo de diversidade em caprinos e
prevalece o uso de técnica molecular, com destaque para microssatélite, como fizeram Araújo
et al. (2004), que estudaram a diversidade genética em caprinos da raça Moxotó no Ceará
utilizando dez marcadores microssatélites; Menezes et al. (2006), que caracterizaram caprinos
de raças naturalizadas utilizando 27 microssatélites; Oliveira et al. (2007), que estudaram a
estrutura e a relação genética entre raças brasileiras naturalizadas e raças exóticas, com base
em 13 locos de microssatélites.
![Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/22.jpg)
21
A utilização de caracteres morfológicos para o estudo de diversidade também tem sido
pesquisada, como fizeram Machado et al. (2000), que avaliaram a relação entre animais SRD
e da região mediterrânea. Ha utilização de polimorfismo de proteínas com esse fim realizada
por Igarashi et al. (2000).
2.2 Recursos Genéticos Caprinos
As maiores concentrações de caprinos se encontram nas regiões tropicais e áridas da
Ásia e África, representando 74% da produção mundial, que está em torno de 807,6 milhões
de animais, destacando-se com as maiores produções a China, Índia e Paquistão que, juntos
somam aproximadamente 46,1% do rebanho global (FAO, 2006).
O rebanho de caprinos do Brasil corresponde a aproximadamente 9,6 milhões de
animais (IBGE, 2006), com mais de 90% encontrando-se na região Nordeste, sobretudo no
semi-árido, concentração que é favorecida por vantagens climáticas e razões
socioeconômicas. Na composição desse rebanho constam animais de raças exóticas (Saanen,
Anglonubiana, Alpina, Toggemburg e Boer), raças Nativas (Moxotó e Canindé) além de
ecótipos regional (Marota, Repartida, Azul e Nambi). Porém, a maioria dos caprinos é
considerada SRD e/ou crioulo, produto de cruzamento indiscriminado entre animais de grupos
nativos com as raças exóticas, e/ou deles entre si, respectivamente (MACHADO et al., 2000).
Essas duas raças e os ecótipos são descendentes de animais trazidos pelos colonizadores
portugueses para o país, tendo sido aqui submetidos a pressão de seleção natural, resultando
nesses grupos genéticos que apresentam características peculiares de resistência e de
adequação ao ambiente quente e seco, dentre as quais destaca-se o porte pequeno, pêlos
curtos, orelhas pequenas e ereta, porém com cores de pelagens diversas. Entretanto, não há
detalhamento preciso do histórico da introdução de caprinos em todos os estados do Nordeste,
principalmente no Piauí onde consta como sendo uma referência importante, a possibilidade
de terem esses animais acompanhado o percurso de interiorização dos bovinos (COSTA,
1974).
O fato de Portugal e Espanha se encontrarem em guerra no século XVI pode ter
contribuído para diminuição da entrada de animais de origem espanhola no país. Outro
aspecto que se mostra também importante para a formação dos caprinos no Brasil, é a
qualidade dos animais que foram introduzidos durante o início da colonização, pois caprinos
![Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/23.jpg)
22
destinavam-se ao consumo da tripulação nas viagens, logo, provavelmente apenas as sobras
eram introduzidas (RIBEIRO et al., 2006).
Posteriormente a esse processo de introdução, provavelmente o desenvolvimento das
raças e/ou tipos de animais naturalizados no Nordeste foi mais influenciado pelo isolamento
genético e seleção natural, do que diretamente pela intervenção do homem. Historicamente os
caprinos e ovinos foram criados em sistema extensivo, no qual a habilidade para sobreviver
frente aos rigores climáticos foi essencial. Assim, sem sofrer grande pressão de seleção
direcionada para atender ao interesse do homem quanto a produção de alimentos, esses
animais desenvolveram alta capacidade de sobrevivência nesse ambiente, mas ao custo de
redução nos índices zootécnicos, consequentemente, tornando-se menos produtivos e menos
valorizados comercialmente, porém, mais acessíveis à agricultura familiar (SILVA, 2007).
O argumento que esses animais são os que melhor se adequam à agricultura familiar no
país não é recente, sendo que algumas pesquisas buscaram retratar sua baixa produtividade
discutindo-a em termos relativos, ou seja, recomendam que a avaliação da produção se feita
sob criação extensiva, deva valorizar indicadores de adaptação e rusticidade, como fez Santos
(1987), que avaliou a produção de leite da raça Canindé sob condição de criação extensiva,
constatando produção média diária de 760g e Souza et al. (1985), que estimaram produção
média diária de 800 g para a raça Moxotó.
Lima (1994), também concordou que ressalvas devam ser feitas sobre índices
produtivos desses animais avaliados em condições de criação adversas. Porém, a esse
respeito, convém se questionar a viabilidade de se buscar elevar muito os índices zootécnicos
de animais destinados a produção em áreas, cujos solos, vegetações e condições climáticas, se
mostram muito adversas à produção animal.
Esse discurso atualmente aborda aspectos conservacionistas, perspectiva na qual se
constata concordância que, para esse ambiente, a exploração de animais com menor exigência
parece ser mais adequada, pois tendem a utilizar eficientemente os recursos disponíveis. Mas,
buscar agregar qualidade específica ao produto que o torne competitivo e importante (GAMA,
2006).
2.3 Conservação de Recursos Genéticos Caprinos
É importante que as pesquisas para o melhoramento do rebanho de caprinos no
Nordeste avaliem a introdução de raças exóticas produtivas. Porém, também se faz necessário
![Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/24.jpg)
23
a conservação dos tipos naturalizados, que apresentam características genéticas produtivas
compatíveis com o ambiente da região (MEDEIROS, 2003).
Um programa de conservação de recursos genéticos animal deve incluir as seguintes
etapas: (1) Identificação das populações através de levantamento do número efetivo de
animais nos rebanhos que se encontram em rico de diluição genética; (2) Caracterização
biométrica dos animais quanto a características quantitativas tais como: altura de cernelha,
perímetro torácico, peso e tamanho de garupa e qualitativas, como: cor da pelagem, perfil
cefálico, tamanho de orelhas e presença/ausência de chifres, além da caracterização genética
com marcadores moleculares, utilizando-se ferramentas diversas: Restriction Fragment
Length Polymorphism (RFLP); Amplified Fragment Length Polymorphism (AFLP); Radon
Amplified Polymorphic DNA (RAPD); microssatélites e etc., mensurando-se as diferenças
entre e dentro das populações e por fim, (3) a avaliação do potencial produtivo dos rebanhos,
com dados de produção de carne, leite, pele e pêlos (MARIANTE et al., 1999).
Rocha et al. (2002) observaram que no estado de Pernambuco apenas 9,4% dos caprinos
são nativos e nestes com predominância da raça Moxotó. Esta situação tem grande influência
da utilização das raças Anglonubiana e Boer, esta última importada da África do Sul com o
objetivo de melhorar a produção de carne, pois a introdução de raças exóticas mais produtivas
selecionadas em regiões de clima temperado, tem sido apresentada como a principal
alternativa para melhorar a produtividade de rebanhos nativos de regiões agrárias pobres,
porém, também tem implicado numa rápida substituição e conseqüente, diminuição do efetivo
caprino de raças locais mantidas como pura (SERENO e SERENO, 2000), enquanto outras se
encontram em franco processo de diluição genética (OLIVEIRA et al., 2001).
A causa dessa perda de variabilidade deve-se, principalmente, à utilização desordenada
de cruzamentos envolvendo as raças exóticas. Esse tema é de grande importância e medidas
de proteção sempre serão necessárias. Dentre as justificativas apresentadas, destaca-se a
importância desses animais como recurso biológico, por serem dotados de grande
variabilidade genética, além do seu valor histórico e social (RIBEIRO et al., 2006).
Nessa linha de raciocínio os sistemas de produção tradicionais, ecológicos e no âmbito
da agricultura familiar, são beneficiários da utilização de recursos genéticos caprinos com
características de rusticidade, pela agregação de valor social e ambiental aos produtos
originários de caprinos nativos. Um diálogo maior entre os agricultores familiares e a
pesquisa pode favorecer um sistema de preservação participativo (on farm) e buscar soluções
para a inserção diferenciada de produtos caprinos tradicionais no mercado. Esta ação também
pode ser favorável para retirar recursos genéticos do perigo de extinção, pois a conservação
![Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/25.jpg)
24
privatizada on farm é uma estratégia considerada eficiente e auto-sustentável (GANDINI e
OLDENBROEK, 1999).
A proteção de produto derivado de recursos genéticos específicos pode estar associada a
uma especificidade deste ou simplesmente ser uma questão de marketing (LAMBERT-
DERKIMBA et al., 2006). Por exemplo, a carne caprina com recurso genético nativo da
Patagônia, no norte da Argentina, se encontra ligado ao sistema de criação e sua gente de
modo muito estreito, portanto, trata-se de um vínculo genuíno (PÉREZ-CENTENO et al.,
2007).
Vários são os argumentos usados para a conservação de raças ou tipos nativos, como:
possibilidade de produção de artigos ímpares como fibras naturalmente colorida, carne e
queijos certificados pela origem e/ou qualidade; serem adaptados às pastagens nativas de onde
se originam e há relatos de raças locais resistentes a algumas doenças. Caprinos tropicais se
comportam como poliéstricos contínuos enquanto os de clima temperado são geralmente
sazonais resultando maior intervalo entre partos que nos primeiros. Animais de diferentes
origens e históricos se prestam como material para estudo das relações genéticas entre
populações e podem constituir banco de germoplasma para melhoria futura de raças já
selecionadas para produção (MACHADO et al., 2010). Audiot (1995) considera que tais
populações constituem patrimônio herdado de gerações passadas, protegê-las é um dever da
administração pública e elas podem apresentar novas perspectivas econômicas no futuro.
Steinbach (1987) afirma que, em geral, importa-se raças em decorrência do
desconhecimento do potencial produtivo dos animais autóctones e que na maioria dos casos,
as raças nativas têm seu desempenho produtivo mascarado por práticas inadequadas de
manejo, sendo prejudicadas pela ausência de uma análise econômica global. Segundo
Camacho Vallejo et al. (2002), o bom nível de formação dos produtores de leite de cabra no
norte de Córdoba, Espanha, em geral decorre do conhecimento adquirido com a produção
bovina, porém, informações específicas sobre o manejo caprino seriam necessárias para que
os produtores pudessem superar as deficiências existentes no setor.
Dada a sua importância, a conservação de animais naturalizados continuou recebendo
atenção das instituições de pesquisas no país. A EMBRAPA, através do CENARGEN (Centro
Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia) em parceria com diversas
Universidades e Empresas Estaduais de Pesquisas, vem desenvolvendo projetos de
caracterização e avaliação desses animais para conservação, dentre eles; caprinos das raças
Canindé, Moxotó e o grupamento genético Marota (MARIANTE, 1996) e Azul (ARAÚJO,
2006).
![Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/26.jpg)
25
2.4 Caracterização da Criação de Caprinos em Sistema Tradicional
A produção de pequenos ruminantes é um nincho ecológico e econômico nos países em
desenvolvimento, contribuindo para a segurança alimentar e sobrevivência do homem no
meio rural (DEVENDRA, 2002). A caprinocultura é uma das atividades presente em todas as
regiões do planeta, inclusive em locais com as mais adversas condições climáticas. Em alguns
países se apresenta como atividade com expressão econômica, em outros, no caso da maioria,
ela é explorada de forma extensiva com baixo nível de tecnologia e, como conseqüência,
apresenta baixa produtividade (VRIES, 2008).
O Nordeste brasileiro possui cerca de 1.600.000 km², o que corresponde a 1/5 do
território nacional. Desse total, cerca de 60% ocupa o chamado “Polígono das Secas”, região
semi-árida caracterizada pela baixa precipitação e pela vegetação típica de Caatinga.
Encontram-se cerca de 35 milhões de habitantes, dos quais quase 50% ainda habitam a zona
rural IBGE (2006). Considerando-se tais situações, a pecuária torna-se uma alternativa muito
interessante para o homem nordestino, uma vez que se trata de uma atividade de menor risco
para esse ambiente.
Nas áreas mais secas e de semi-árido do Nordeste, predomina o sistema de criação
extensiva com os animais manejados em pastagem nativa e sem suplementação alimentar.
Raramente utilizam práticas de manejo tais como: vacinação, desverminação, mineralização,
separação por sexo e idade, fato que reduz a produtividade do rebanho. Esse sistema, pelas
suas características, não suporta animais especializados, principalmente por limitação de
natureza qualitativa e quantitativa das forragens disponíveis (SILVA e ARAÚJO, 2000). Já as
raças caprinas e/ou tipos raciais nativos, apresentam rusticidade e adaptação a essas condições
adversas, embora com comprometimento de desempenho de produção.
Mesquita et al. (1988) afirmaram que a produção de fitomassa da caatinga é reduzida a
valores muito baixos na estação seca, com perdas que podem alcançar os 60% da produção da
área. Neste período, as folhas secas que caem das árvores ficam disponíveis no solo para os
animais. Tal fato representa importante componente, tanto na proteção do solo quando
ocorrem as primeiras chuvas, como também na alimentação dos animais, quando oriundas de
plantas forrageiras.
Segundo Araújo (2006), nas regiões de semi-árido do mundo, a produção de alimento é
uma atividade difícil e restrita ao acesso à água ao longo do ano. A pecuária com pequenos
ruminantes assume um caráter social importante para a população destas áreas, garantindo
![Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/27.jpg)
26
oferta de carne para consumo e renda. Consequentemente, neste cenário a preferência por
animais rústicos parece coerente, pois, verificou-se sua predominância em explorações
extensivas, sem uso de técnicas de manejo e praticamente sem nenhuma escrituração
zootécnica.
Essa situação não é apenas no Brasil. Hernández (2000) afirmou que os sistemas de
exploração caprina no México são baseados predominantemente no pastoreio extensivo, tendo
como principal finalidade a produção de carne. Na Espanha, a produção de ovinos de corte
baseia-se no sistema de exploração puramente extensivo, principalmente em virtude das
características de rusticidade e adaptabilidade dos animais naturalizados as condições
climáticas características da região (MARTÍN BELLIDO et al., 2001). Os autores também
afirmaram que esse sistema tradicional de produção a pasto leva a obtenção de produtos de
melhor qualidade quando comparados com os produtos obtidos com a produção intensiva.
Monroy et al. (2003) avaliando a situação da produção de cabras na Califórnia do Sul,
encontraram que 93% dos seus produtores utilizaram também o sistema de exploração
extensivo.
2.5 Caprinos Nambi
A redução no tamanho da orelha em caprinos é devida a um gene autossômico de
dominância incompleta. O indivíduo heterozigoto tem orelha de tamanho intermediário. O
locus é chamado “Ear Lenght” ou “EL” e os seus alelos “Reduced” e “wilds”, são
representados por “R” e “+”, respectivamente (COGNOSAG, 1986). As cabras consideradas
de orelha reduzida apresentam comprimento médio de 2cm (PAREDES, 1952), enquanto as
cabras mediterrâneas têm de 14 a 18cm (LAUVERGNE, 1988). Dentre as cabras nativas do
Nordeste do Brasil a Moxotó apresenta orelhas com 12cm, a Canindé com 13 cm, enquanto
que as cabras tidas como “de orelhas longas” como a Anglonubiana, têm em média orelhas
com 22cm (MACHADO, 1995).
A principal característica dos caprinos que são chamados de “Nambi” no Brasil é
apresentarem orelhas de tamanho reduzido (SANTOS, 1987). Porém, também recebem outras
denominações regionais, sendo na Bahia conhecidos como cabras “Muvô” (ASCCOPER,
2007a). A palavra “Nambi” significa “orelha” na língua tupi-guarani (ARAÚJO, 2006). A
orelha reduzida é também a principal marca de identificação da raça caprina “Lamancha”,
formada no Texas, EUA, a partir de cabras espanholas introduzidas através do México
(MASON, 1980) e que são especializadas na produção de leite com elevado teor de gordura.
![Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/28.jpg)
27
A freqüência de cabras com orelhas reduzidas é baixa nas populações mediterrâneas
(LAUVERGNE, 1988) e também em rebanhos do Brasil. Em levantamento realizado junto a
técnicos no início dos anos 90, afirmaram conhecimento apenas de indivíduos, mas não
rebanhos completos no país (MACHADO, 1995). Na mesorregião Centro-Norte no Piauí e da
Borborema na Paraíba Machado e Machado (2000) confirmaram a presença de apenas 55
animais em dois rebanhos.
A orelha reduzida em caprinos brasileiros não deve ser considerada que,
obrigatoriamente, sejam oriundas da raça Lamancha, pois esse caráter também aparece em
caprinos da Ásia Central, da Europa e da África (PAREDES, 1952), embora tenha sido
registrada introdução de dois machos e duas fêmeas Lamancha na Bahia em 1986, vindos do
Canadá (MACHADO, 1995), introdução esta que foi posterior à notificação deste caráter na
caprinocultura brasileira (CAPRILEITE, 1979).
Segundo a ASCCOPER (2007a), a raça Lamancha tornou-se famosa por um
determinado tipo de queijo fabricado com seu leite exclusivamente na região de Lamancha na
Espanha. Na sua formação os espanhóis não se importaram com o formato de orelha
rudimentar e priorizaram sua aptidão leiteira. Introduzida nos Estados Unidos a partir do
México, essa raça continuou sendo aprimorada no Texas por meio de cruzamentos com
animais leiteiros norte-americanos. O padrão racial com orelhas reduzidas foi fixado
formando um animal leiteiro de porte médio, que apresenta como diferencial o potencial
genético para elevado teor de gordura, sendo que atualmente dispõe de Associação própria e
uma revista periódica para divulgação de seus produtos.
Com relação aos caprinos Nambi no Piauí, não há registro em literatura sobre suas
características. Entretanto, sua popularidade regional é destacada pela simpatia que despertam
em crianças, pelo aspecto exótico em relação aos demais caprinos, além dos criadores
considerarem tratar-se de animais que dificultam serem predados por cães e animais
silvestres, que é um fator de grande prejuízo na criação extensiva na região. Como
desvantagens os criadores apontam a dificuldade de contenção durante o manejo se forem
mochos, além da impossibilidade de realizar marcação na orelha, processo que é
desaconselhado por tratar-sede prática mutilante, mas ainda em uso no Estado para identificar
e dificultar roubo.
A docilidade que apresentam pode estar associada a redução da capacidade auditiva,
afirmação que precisa ser validada pela pesquisa (ARAÚJO, 2006). Segundo a ASCCOPER
(2007b), consta na literatura que o caráter orelha rudimentar pode também está associado a
outros defeitos morfológicos como a fenda do céu da boca, corte no maxilar anterior ou a falta
![Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/29.jpg)
28
total deste e também com a trifurcação da pata, isso nos ovinos, chegando a receber
tratamento de gene semi-letal.
Em termos de composição genética, Araújo et al. (2008) realizaram estudo de
diversidade em relação a animais nativos e SRD no Piauí e constaram agrupar-se com animais
SRD, considerando-se características morfométricas indicadoras de tamanho do animal.
Porém, fenotipicamente o Nambi se apresenta como um grupamento heterogêneo, que
segundo a ASCCOPER (2007a), pode se apresentar similar a um animal Gurguéia, Marota ou
mesmo a um animal Anglonubiano.
Quanto ao potencial de animais Nambi tornarem-se raça, muitos aspectos devem ser
levados em consideração, alguns mais e outros menos importante, alguns dependendo
exclusivamente do ponto de vista do observador, ou seja, a característica pode ser vista como
"defeito" em uma raça, mas pode ser considerada característica fundamental em outra
(HORTO-ZOO, 2007).
Na perspectiva apresentada, como seria visto o caráter orelha rudimentar do Nambi?
Vários exemplos ilustram bem essa situação. A raça Anglonubiana quando levada para os
Estados Unidos no início do século XX, encontrou resistência quanto a sua aceitação por
apresentar orelhas longas, pois todas as raças reconhecidas apresentavam orelhas mantidas em
posição vertical, conseqüentemente, orelha pendular era considerado defeito. Entretanto, nos
Estados Unidos estes "defeitos" foram aceitos como um novo padrão que caracteriza essa
raça. A situação das cabras Lamancha de orelhas rudimentar, foi relativamente similar e um
caráter que a princípio possa ter sido considerado defeito, ficou num segundo plano diante das
qualidades produtivas desses animais.
![Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/30.jpg)
29
3 CAPÍTULO I
Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado Nambi e do
sistema de criação com esses animais no estado do Piauí
![Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/31.jpg)
30
Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado Nambi e do sistema de criação
com esses animais no estado do Piauí
Doutorando: José da Fonseca Castelo Branco
Orientador: Prof. Dr. José Elivalto Guimarães Campelo - CCA/UFPI
Co-orientadora: Pesquisadora Dra. Adriana Mello de Araújo – Embrapa Meio-Norte
Resumo: A seleção natural imprimiu no caprino nativo características específicas de
rusticidade, criando habilidade para sobrevivência sob clima quente e seco e adequação a
sistemas de produção com baixa tecnologia, porém, com sacrifício do desempenho produtivo,
com isso passaram a ter apenas importância regional e no âmbito da agropecuária familiar.
Com esta pesquisa objetivou-se caracterizar o grupamento genético Nambi e o sistema de
criação no qual ele está inserido no Piauí. Os dados foram coletados em cinco microrregiões,
amostrando-se 14 municípios escolhidos pelo seu efetivo caprino. Para a caracterização
fenotípica dos animais utilizaram-se medidas quantitativas, que foram submetidas à análise de
variância e análise multivariada, para descrever a variabilidade. Para a descrição sócio-
econômica, recorreu-se aplicação de questionários a caprinocultores, com perguntas relativas
a aspectos de manejo dos animais, aspecto familiar, bem como sobre a propriedade. Os dados
foram submetidos a análise descritiva. Com base neste estudo, a criação de caprinos com
animais Nambi presente nos rebanhos no Piauí é realizada por pessoas com tradição nessa
atividade a vários anos, mas não implica em eficiência, pois o manejo reprodutivo, alimentar e
sanitário adotados são precários. O grupo genético Nambi está integrado à caprinocultura
extensiva no Estado, presente em rebanhos com predominância de animais Sem Raça
Definida (SRD) de pequeno porte. Apresentam orelha reduzida com comprimento médio de
5,2cm, além do tamanho corporal variável, mas similar ao animal de pequeno porte no
Estado. A raça Anglonubiana tem influência marcante na formação do grupamento Nambi,
notadamente nas microrregiões com maior efetivo. A caprinocultura no Piauí com animais
Nambi está associada a sistema extensivo com baixo nível tecnológico, que deve ser
considerado na avaliação da atividade e sua sustentabilidade, pois carece de planejamento ou
direcionamento do sistema produtivo rumo ao empreendedorismo na atividade.
Palavras-Chave: agricultura familiar, análise multivariada, biometria, caprino nativo,
conservação, sistema extensivo
![Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/32.jpg)
31
Characterization of goats of grouping naturalized Nambi and its system of creation in
the State of Piauí-Brazil.
Abstract: Natural selection tends to print in local goats characteristic of rusticity, creating the
ability to survive under adverse climate and also the adaptation to producing in low-
technological systems. Even they had loss of performance. The group of goats with reduced
ear, designated Nambi, is found scattered in various states in the Northeast region of Brazil.
Its risk of disappearance is unknown and/or if it has potential to become a local breed. The
Nambi goats now have only regional importance, in traditional breeding and family farm
agriculture. From this perspective, the Chapter I this research aimed to characterize the
genetic group Nambi and also the production system in which it is entered. The data were
collected in five micro-regions, in 14 municipalities with basis in effective population of
goats. The Nambi phenotypic characterization was done through the use of quantitative traits,
which were subjected to multivariate analysis, and qualitative characteristics, which were
subjected to frequency distribution and chi-square. The socio-economic survey was done
through questionnaires applied to breeders, encompassing questions related to the animals
handling, familiar profile and the land usage. The data were summarized by frequency
distribution (descriptive analysis). This study showed that the breeding of Nambi goats in
Piauí State is performed by traditional persons and with long years in goat breeding.
However, it did not imply efficiency because the reproductive performance, health and food
managements are precarious. The Nambi is inserted on extensive production systems, in herds
with predominance of small animals and mixed breeds. The Nambi showed well characterized
reduced ear with average length of 5,2cm. Farther, the body size measurements showed more
variable and similar to others in the Paiuí State. The Anglo-Nubian breed has influence on the
genetic composition of Nambi group above all in the micro-regions with more goat flocks.
The goat production with animals Nambi was associated with extensive system and low
technological level. Such factors should be considered for the evaluation of the activity and its
sustainability, since the activity needs planning or targeting towards entrepreneurship.
Key-words: family agriculture, biometry, morphology, Nambi, genetic resource
![Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/33.jpg)
32
Introdução
A caprinocultura é uma atividade econômica presente em todos os continentes, sendo
que em alguns países ocupa áreas com características que limitam a exploração de outros
animais domésticos (VRIES, 2008). Nesses países é atividade com expressão econômica e
social relevantes, porém, explorada de forma extensiva e com tecnologia inapropriada, com
rentabilidade abaixo do potencial da espécie (DEVENDRA, 2006). Portanto, se apresenta
mais com contribuição social do que econômica.
Existe interesse que a produção animal contribua de fato com o desenvolvimento
sustentável dessas áreas, onde o aproveitamento dos recursos naturais certamente passa pela
exploração de raça nativa, mais adaptada a esse ambiente e sistema de criação com baixa
tecnologia (FAO, 2006). Portanto, como nessas regiões a produção de alimento é uma
atividade difícil, usar animais rústicos parece lógico (ARAUJO, 2006).
Por outro lado, o desconhecimento do potencial de animais nativos, tem limitado sua
inclusão em sistemas de produção, ao mesmo tempo, dificultado também ações de
conservação, razão pela qual, a caracterização fenotípica tem importância em programas de
conservação (CHÁCON et al., 2008). No mesmo contexto, o desconhecimento do perfil
sócio-econômico do homem que trabalha com esses animais, tem comprometido a eficiência
da caprinocultura, bem como a melhoria da qualidade de vida no campo.
Esse cenário é típico do Brasil, onde os caprinos foram introduzidos a partir da
colonização e submetidos à seleção natural ao longo dos anos (RIBEIRO et al., 2006). Sob
essas condições formaram-se as populações nativas ou ecótipo atuais, que adquiriram
características fenotípicas particulares de adaptação ao ambiente onde se estabeleceram
(PIRES, 2009). No Nordeste ocorreu a formação dos caprinos Moxotó, Marota, Canindé,
Gurguéia, Repartida, Nambi e outros de menor efetivo. Como foram continuamente
explorados de forma extensiva, acasalamentos desordenados levaram à prevalência de animais
Sem Raça Definida (SRD) (MACHADO e MACHADO, 2000).
Para todos esses grupos genéticos constata-se a necessidade de estudos visando o
conhecimento da real situação, tanto em termos de potencial de produção quanto identificar o
seu risco de extinção, principalmente o Nambi, que apresenta orelha rudimentar, característica
que segundo COGNOSAG (1986), é devido a um gene autossômico de dominância
incompleta, com os animais heterozigotos expressando orelha de tamanho intermediário. A
situação de vulnerabilidade do Nambi em relação os demais nativos, é em razão de a orelha
rudimentar ser vista como defeito, embora não tenha ocorrido com a raça Lamancha na
![Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/34.jpg)
33
Espanha. Porém, há de se convir que no Brasil não tem recurso, conhecimento e interesse
conservacionista como naquele país.
Do efetivo caprino do Brasil estimado em 9,6 milhões de animais (FAO, 2006), mais de
90% encontra-se na região Nordeste e destinam-se à produção de carne para o mercado local e
para o consumo familiar. Essa região ocupa 1.600.000 km², (1/5 do território nacional), sendo
que cerca de 60% dessa área é semi-árido e está no “Polígono das Secas”, região caracterizada
pela baixa precipitação e presença de vegetação típica de caatinga (IBGE, 2006). O
contingente populacional é em torno de 35 milhões de habitantes, sendo que na zona rural a
pecuária com pequenos ruminantes torna-se atividade sócio-econômica importante, uma vez
que é uma das culturas de menor risco.
No Piauí o rebanho caprino é o terceiro maior do Nordeste (IBGE, 2006), também com
maior concentração no semi-árido, contribuindo para permanência do homem no meio rural,
mas sem muito colaborar para melhor qualidade de vida em razão da pequena eficiência da
atividade. Quanto ao tipo de animal explorado, embora não haja levantamentos precisos,
prevalece animais SRD (SEBRAE-PI, 2003), com marcante contribuição da raça
Anglonubiana na mestiçagem.
Quanto a se quantificar a capacidade de produção desses animais em relação a índices
de raças especializadas, deve-se ater ao comentário feito por Lima (1994), que chamou
atenção para o fato de serem avaliados, na maioria das vezes, em condições de criação
desfavorável à produção animal. Nessa perspectiva, há na literatura concordância que animais
menos exigentes são mais adequados para esse ambiente. Porém, convém buscar agregar-lhes
uma qualidade específica para torná-lo competitivo (GAMA, 2006). Aliado a isso, conhecer o
fator humano presente na caprinocultura também é importante, pois se trata de uma atividade
realizada, na grande maioria das propriedades, com perfil de subsistência, como tem ocorrido
na região ao longo de décadas (COSTA et al., 2007). Quanto à decisão de interferir e
modificar esse cenário, conhecer o sistema de produção utilizado é o passo inicial, e, após
identificação dos principais problemas facilitará a solucioná-los, como recomenda Castel et al.
(2003).
Com esta pesquisa objetivou-se caracterizar fenotipicamente os caprinos Nambi no
estado do Piauí, bem como caracterizar o sistema de criação considerando rebanhos com esses
animais presentes.
![Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/35.jpg)
34
Material e Métodos
Esta pesquisa foi realizada abordando-se dois aspectos complementares: a
caracterização fenotípica de animais Nambi no Piauí, a partir de dados métricos e
morfométricos coletados em rebanhos localizados no Estado; e a caracterização da criação de
caprinos nesses rebanhos nos quais animais Nambi estão presentes, independente da
quantidade. Nesse caso foi mediante a aplicação de questionários a criadores, focando-se
questões relativas a indicadores sócio-econômico da atividade e também do nível tecnológico
presente no processo de criação.
Os dados foram coletados amostrando-se cinco microrregiões do Estado (Figura 1), que
somam um efetivo da ordem de 831.790 animais, correspondendo a 60,66% do efetivo
piauiense que, segundo dados do IBGE (2006), é de 1.371.234 animais. Na Tabela 1
apresenta-se o número de rebanho amostrado por município na microrregião, o percentual
destas no efetivo caprino do Estado, a percentagem que representou cada microrregião e cada
município dentro destas, respectivamente, nos dados coletados.
Figura 1 – Mapa Ilustrativo das Microrregiões consultadas
![Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/36.jpg)
35
Tabela 1 - Dados distribuídos por microrregião e por município nestas; percentual no efetivo
caprino do Piauí e das amostras por microrregião e por município
Microrregião Municípios: quantidade
de rebanhos
Representação no
efetivo do Piauí
(%)*
Amostra por
Microrregião
(%)
Amostra por
Município
(%)
Campo Maior Campo Maior (5) 19,27 14,0 14,0
Teresina Altos (3)
Coivaras (1)
7,23 18,4 15,4
3,0
Alto Médio Canindé Paulistana (4)
Jaicós (2)
Jacobina (1)
São João (1)
Acauã (2)
18,83
23,6
5,6
5,5
2,9
5,9
3,7
São Raimundo
Nonato
São R. Nonato (5)
Dom Inocêncio (4)
14,90 28,4 16,3
12,1
Alto Médio Gurguéia Bom Jesus (2)
Júlio Borges (3)
Santa Luz (2)
Cristino Castro (1)
0,43
15,6
3,1
3,1
6,4
3,1
Total 36 60,66 100,0 100,00 * Representação percentual da microrregião no rebanho do estado do Piauí (IBGE, 2007)
Os municípios foram escolhidos pelo seu efetivo caprino e, destes, nove estão entre os
de maior e três entre os de menor efetivo, respectivamente. A amostragem dos rebanhos
dentro do município não foi aleatória, pois se objetivou escolher rebanhos previamente
identificados como possuidores de animais Nambi, independente da quantidade. Foi
considerado Nambi os caprinos com presença de orelha rudimentar, menor que os 8cm de
comprimento mencionado por Araújo (2006), como média desses animais, obtendo-se um
total de 194 fêmeas adulta, com idade avaliada pela cronologia dentária (RIBEIRO, 1998).
Nesses animais foram mensuradas as seguintes características morfométricas: altura de
garupa (AG) e na cernelha (AC), comprimento corporal (CC) e da orelha (CO), altura peitoral
(AP), circunferência corporal (CIRC), realizadas com o auxílio de hipômetro e de fita
métrica, com o animal mantido em posição correta de aprumos, além do escore da condição
corporal com nota de 1 a 5 de acordo com Ribeiro (1998).
A altura da garupa foi medida entre a parte mais alta desta até a extremidade distal do
membro posterior e a altura de cernelha foi medida entre a sua parte mais alta até a
extremidade distal do membro anterior; o comprimento corporal foi medido a partir da última
![Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/37.jpg)
36
vértebra cervical até a primeira vértebra caudal; o comprimento de orelha foi medido da base
até a sua extremidade; a altura peitoral foi medida da maçã do peito ao solo; a circunferência
corporal foi medida na região torácica por cima do costado. A profundidade torácica foi
calculada pela diferença entre medidas (AC-AP).
Essas características foram submetidas a análise de variância, considerando-se
microrregião como efeito fixo e aplicado o Teste SNK-Studen-Newman-Keuls (P<0,05) para
comparação das médias de cada características por microrregião.
Considerando-se que o principal critério de estratificação da amostragem dos rebanhos
com animais Nambi no Estado foi o espacial, ou seja, com base na localização geográfica já
que em termos fisiográficos o Piauí se apresenta como zona de transição, apresentando desde
áreas característica do semi-árido nordestino, da pré-Amazônia e até de cerrado, as
características métricas foram também submetidas a análise de Componentes Principais
(ACP) com o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences - versão 10.0), para
a caracterização da diversidade fenotípica do Nambi no Estado. Essa análise leva em
consideração a combinação linear da variação presente nessas características e a magnitude
dos coeficientes foi usado para descrever a importância relativa da característica na descrição
do componente (CARPENTER et al. 1971). Os dois primeiros componentes principais, que
explicaram acima de 90% da variabilidade presente nessas características, foram plotados em
plano cartesiano para visualização gráfica da distância fenotípica entre esses animais
avaliados.
Complementando a utilização de características métricas para a descrição do Nambi no
Estado, avaliou-se também, em um rebanho localizado no municio de Altos (latitude de 04º
47‟ sul e longitude de 42º 18‟ oeste), o desenvolvimento ponderal de crias Nambi durante a
amamentação, com o desmame ocorrendo aos 120 dias de idade. Os pesos foram registrados
mensalmente em balança de pêndulo com capacidade para 100 kg. Na análise desses dados
considerou-se efeito de sexo e aplicou-se o teste de DMS (P<0,05), com o software SAEG
(UFV, 2003).
Para a descrição e caracterização do sistema de criação de caprinos no Piauí,
considerando-se apenas rebanhos contendo animais Nambi, entrevistou-se criadores desses
animais em rebanhos de cinco microrregiões do Estado, apresentando-se em questionário
perguntas semi-estruturada, segundo critérios de Posey (1987). No questionário foram
inseridas perguntas relativas a aspectos de manejo alimentar, sanitário e reprodutivo do
rebanho, enquanto para a caracterização do perfil da atividade constou pergunta relativa a
aspecto financeiro familiar e da propriedade.
![Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/38.jpg)
37
O questionário foi aplicado individualmente, facultando-se que respondessem de punho
ou que respondessem às perguntas lidas pelo aplicador e continha perguntas fechadas, com
respostas simples do tipo “sim” e “não”. Além dessas respostas, as observações in loco do
entrevistador sobre a propriedade também foi considerada.
Na formulação do questionário levou-se em consideração a necessidade de identificar o
perfil do produtor, enfocando aspectos econômicos e também técnicos, quanto ao tipo de
exploração por ele desenvolvida. As perguntas foram direcionadas para retratar o
conhecimento dos produtores a cerca dos aspectos de manejo de caprinos, mas também
quanto a importância destes na eficiência econômica da propriedade.
Os questionários respondidos foram submetidas a análise de consistência para descarte
daqueles com respostas incompletas. Após esse procedimento foram submetidos a análise
descritiva com o software SPSS versão 10.0 e, com o procedimento “crosstabulation”,
cruzou-se as respostas em relação à da pergunta “qual a atividade econômica principal do
entrevistado na propriedade”, aplicando-se o teste de “Qui-quadrado” nas freqüências
conjuntas.
Resultados e Discussão
Os registros das características de natureza qualitativa feitas pelo avaliador durante o
processo de coleta de dados nas propriedades indicaram a presença de poucos animais com
padrão racial bem definido das raças nativas do Nordeste. Entretanto, constatou-se
predominância de caprinos SRD, com a maioria apresentando traços fenotípicos mais
marcantes da raça Anglonubiana e/ou de seus mestiços, com destaque para orelhas longas,
com isso estima-se que esta seja a raça que mais tem contribuído para a mestiçagem dos
rebanhos locais, concordando com afirmações do SEBRAE-PI (2003), similarmente ao
constatado por Oliveira et al. (2006), nos rebanhos de Pernambuco.
As médias das características métricas e do escore corporal estão apresentadas na
Tabela 2. Observou-se que os animais Nambi apresentaram-se com tamanho variável, porém,
com tendência a pequeno porte, similarmente ao animal SRD que prevalece na região
(COSTA et al., 2008). Quanto ao porte da cabra Nambi, levando-se em consideração o
comprimento e a altura corporal, apresentaram médias de 68,6 e 59,6cm, respectivamente,
com animais maiores na microrregião de São Raimundo Nonato (P<0,05), seguido por
Teresina, onde se constatou Nambi com maior tamanho de resquício de orelha e nos demais
![Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/39.jpg)
38
animais dos rebanhos prevalecendo traços da raça Anglonubiana, que, de certa forma, pode
ser relacionado ao fato dessa microrregião possuir muitos rebanhos mantidos puro e onde se
localiza a Associação de Criadores dessa raça no Estado.
Tabela 2 – Média da altura na cernelha (AC) e na garupa (AG), profundidade torácica (PT.),
comprimento (CC) e circunferência corporal (Circ.), comprimento da orelha (CO)
e escore corporal de cabras Nambi por microrregião no Piauí
Microrregião CC AC AG PT Circ. CO Escore
Campo Maior 65,7b 57,8
b 61,6
b 35,8
ab 72,4
b 4,5
a 3,3
ab
Teresina 67,7b 59,9
ab 62,3
b 34,1
b 76,4
ab 5,8
a 3,4
ab
Alto Médio Canindé 68,3b 59,6
ab 62,7
ab 35,7
ab 71,5
b 5,7
a 3,0
b
São Raimundo Nonato 74,5a 64,5
a 68,0
a 38,9
a 76,7
ab 4,4
a 3,3
b
Alto Médio Gurguéia 67,5b 58,3
b 63,5
ab 36,3
b 69,4
b 5,6
a 3,6
a
Coeficiente variação (%) 11,3 9,3 9,7 9,5 10,8 40,5 11,3
* Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo Teste SNK (P<0,05).
O escore da condição corporal com média em torno de 3,3 pontos, segundo escala
apresentada por Ribeiro (1998), serve como indicação do quanto esses animais se apresentam
bem integrados ao sistema de criação e ao ambiente da região. Com isso os dados coletados
no período seco do ano demonstram bem uma particularidade dos caprinos nativos, que é
ganhar mais peso nessa época do ano, numa indicação de eficiência no aproveitamento dos
recursos vegetais da região durante esse período. Dentre as explicações pertinentes, considera-
se importante a queda de folhas no período seco, quando as árvores passam a ter maior
representatividade na dieta dos caprinos, como mencionado por Araújo Filho (1990).
Por outro lado, a constatação na maioria das microrregiões que o valor das
características métricas foi relativamente baixo, se comparado com outros estudos realizados
com caprinos nativos no Nordeste (SILVA et al., 2001; ROCHA et al., 2007) e nativos de
outros países, por exemplo, na Espanha (HERRERA et al., 1996), é um resultado que, de certa
forma, permite se afirmar que pode está sendo grande a influência das condições de criação
com baixa tecnologia e das condições climáticas do ambiente seco da região, sobre o pequeno
porte desses animais.
A variação nas medidas indicadoras do tamanho do Nambi também pode ser vista como
indicação da ocorrência de cruzamentos com animais de origens diversa comuns no Estado.
Portanto, uma indicação da mestiçagem presente no seu processo de formação, como afirmou
ASCCOPER (2005) ocorrer também em rebanhos da Bahia, o que propôs classificação para o
Nambi segundo sua origem em Nambi-Anglo, dentre outras, usando-se o tamanho corporal
![Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/40.jpg)
39
como referência. Nesse caso o estudo da filogenia do Nambi com marcadores moleculares
seria de grande valia.
Com relação ao tamanho da orelha do Nambi, observou-se valor médio de 5,2cm,
porém com um elevado coeficiente de variação, que, de certa forma, pode estar expressando
também a natureza mestiça do Nambi no Estado, já que se trata de uma característica com
dominância incompleta (COGNOOSAG, 1986), certamente com baixa frequência nessa
população. Esse resultado também indica tratar-se de uma população desestruturada
geneticamente, não se comparando ao que ocorre com a raça Lamancha nos Estados Unidos,
que, submetida a processo de seleção tendeu a fixar dois tipos básicos de orelhas, a “gopher”
(orelha de rato), com comprimento máximo de 2,5 cm, com muito pouca cartilagem e a orelha
tipo “élfica” (estreita, alongada) com até 5 cm, que pode apresentar alguma cartilagem
(ASCOOPER, 2005).
O desempenho ponderal de crias Nambi, apresentado na Tabela 3 para animais em
manejo extensivo num rebanho no município de Altos – Piauí indicou efeito de sexo nos
pesos ao nascer, aos 30 e aos 120 dias de idade, com superioridade dos machos (P<0,05),
porém, com valores médios baixos, confirmando tratar-se de caprinos de pequeno porte nesse
manejo, similarmente ao que se observou com base nas características métricas discutidas
anteriormente.
Tabela 3 – Média do peso ao nascer (PN), aos 30 (P30) e a 120 dias de idade (P120), de crias
Nambi no município de Altos, Piauí em 2009
Sexo da cria N PN (kg) P30 (kg) P120 (kg)
Macho 30 2,4ª 4,7ª 10,1a
Fêmea 17 2,1b 3,2
b 8,4
b
Coeficiente de Variação (%) 18,6 27,8 26,1
* Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo Teste de Tukey (P<0,05).
Independentemente da microrregião, foram observados animais Nambi com pelagem
típica de caprino Canindé, Marota, Gurguéia e Repartida, denotando não haver padronização
pigmentar, a semelhança do que ocorre na raça Anglonubiana e no SRD. Constatou-se
também a presença de cores diversas, sem uma relação específica com a localidade dentro do
Estado, com destaque para a combinação das cores preta, branca, vermelha, formando
pelagem sem um padrão específico, com malhas diversas, com a designação “pintada”,
“tartaruga”, “melada”, como ocorre também na Anglonubiana.
![Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/41.jpg)
40
A variabilidade presente nos animais Nambi no Estado também foi avaliada por meio da
técnica de Componentes Principais, buscando-se agrupamento segundo a microrregião onde o
rebanho se localiza. Na Tabela 4 apresenta-se os coeficientes dos dois primeiros componentes
principais e na Figura 2 está plotada a dispersão das microrregiões em gráfico cartesiano com
esses dois componentes. O valor discriminatório do Componente Principal 1 foi elevado,
contemplando acima de 70% da variação e com maior contribuição das características AG,
AC, AP, CC, mas com coeficientes muito similares entre si, portanto características com
variabilidade similar nessas microrregiões.
As características indicadoras de comprimento e tamanho corporal, que geralmente são
correlacionadas, justificaram a maior parte da variabilidade contemplada no primeiro
componente principal, mas não foram capazes de agrupar os animais das microrregiões
avaliadas, portanto não identificando um perfil de animal relacionado a um ambiente
específico de determinada microrregião, ou de microrregiões mais próximas geograficamente.
A composição mestiça do Nambi pode ter influência nesse resultado.
Tabela 4 – Altovetores das características métricas de animais Nambi no Piauí
Características Componente Principal 1 Componente Principal 2
Altura na cernelha (AC) 0,459 0,008
Altura peitoral (AP) 0,458 – 0,140
Altura na garupa (AG) 0,490 0,133
Comprimento corporal (CC) 0,477 0,088
Circunferência corporal (CIRC) 0,160 – 0,541
Comprimento de orelha (CO) – 0,294 0,781
Os dois primeiros componentes principais explicaram 91,2% da variação observada,
sendo que no segundo foi maior o coeficiente do comprimento da orelha, que pode está
contribuindo para isolar a microrregião de Teresina das demais localidades no gráfico
bidimensional (Figura 2), podendo se atribuir esse resultado a uma possível influência da raça
Anglonubiana, que tem nessa microrregião seu ponto de dispersão no Estado.
![Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/42.jpg)
41
Figura 2 – Dispersão das microrregiões segundo os dois primeiros componentes
principais com características métricas de caprinos Nambi no Piauí
Assim, com a utilização dessa técnica para a avaliação do perfil fenotípico dos animais
entre as microrregiões, observou-se que foi pequena a tendência de agrupamento influenciado
pela distribuição geográfica no Estado. Segundo Falconer (1987), é maior o fluxo gênico entre
pequenas populações geograficamente próximas. Entretanto, para inferência a cerca de
provável migração entre os rebanhos avaliados, convém considerar que comparações
fenotípicas dessa natureza podem fornecer, até certo ponto, uma representação de diferença
genética entre populações, mas não convém atribuir a relações de parentesco o agrupamento
dessa natureza, já que não se conhece a história em comum dos rebanhos, como salienta Pires
(2009).
Assim, o Nambi parece tratar-se de uma mistura de raças no Estado, o que não o
enquadraria na definição de ecótipo, como também não procederia falar em risco de sua
extinção, mas sim que não é conhecido o seu potencial de produção. Porém, por se tratar de
animais que estão inseridos num ambiente onde a pressão de seleção natural parece exercer
maior influência que a ação do homem na sua composição genética e que nesta estão
presentes várias raças, o Nambi, se submetido à seleção, pode ser considerado ponto de
partida para fixação de padrão racial com perfil de adaptação a esse ambiente.
A variação fenotípica existe no Nambi e o tamanho da orelha pode ser um marcador
para a seleção. Nessa perspectiva, resta incluir a ação do homem com seleção recorrente para
sua fixação como padrão da raça, bem como de características de produção e de adaptação,
não devendo ser desconsiderado também a importância da sua aceitação em termos de
![Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/43.jpg)
42
estética. A esse respeito, Pimenta Filho et al. (2009) chamam a atenção para o fato de não
haver forma de se promover um grupamento genético se a ele não for associado a um
diferencial econômico, com isso os autores querem dizer que a pesquisa deve estar em
sintonia com vantagens comparativas relacionadas a produção de carne, leite ou requisitos
relacionados a cultura local ou até mesmo à estética, que no caso dos animais Nambi precisa
de atenção especial.
Caracterização da criação de caprinos no Piauí: rebanhos com animais Nambi
Apresenta-se na Tabela 5, informações a cerca do perfil do caprinocultor e do sistema
de criação praticado no Piauí, envolvendo rebanhos com presença de animais Nambi. As
respostas são apresentadas em termos de freqüência, com cruzamento da resposta dada à
primeira pergunta com a que foi dada à pergunta se o entrevistado tem ou não a atividade
econômica principal ligada ao setor agrário, ou seja, se ele tem no setor agrário sua principal
fonte de remuneração (desconsiderando transferência de renda do Governo Federal).
Constatou-se que 55% dos criadores de caprinos no Piauí que têm Nambi em seu
rebanho, exercem agropecuária familiar como a principal atividade econômica para o sustento
da família, enquanto 45,0% informaram exercer também atividade não relacionada ao campo,
sendo que para esse grupo de criadores é a atividade econômica principal. Com isso pode-se
considerar a existência de dois grupos distintos de criadores com Nambi em seus rebanhos no
Estado, que, de certa forma, concorda com afirmações de Pimenta Filho et al. (2009), quanto
a importância dos pequenos ruminantes para a fixação do homem no campo. Estes resultados,
porém, estão também de acordo com os obtidos por Khan et al. (2009) no Ceará, que
justificaram ser a atividade agropecuária nesse Estado bem diversificada, porém com baixo
nível tecnológico e, logo com baixo desempenho.
O nível de escolaridade, o tamanho da família e a mão-de-obra usada na propriedade,
estão relacionados de maneira similar ao grupo de criadores de caprinos que têm apenas a
atividade rural como a fonte principal de sustento, ou seja, apresentam instrução até o
primeiro grau (94,5%), têm família grande e a mão-de-obra usada na propriedade é
predominantemente familiar (89,5%). Portanto, considerando-se que apenas 25% dos
criadores do segundo grupo têm escolaridade até o primeiro grau e que somente para 6,3% a
mão-de-obra na propriedade é familiar, está bem evidente a distinção desses grupos de
criadores de caprinos e que se contrapõem nos critérios avaliados, consequentemente, também
no poder aquisitivo.
![Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/44.jpg)
43
A disponibilidade de energia elétrica e de fonte de água na propriedade também
corrobora este perfil. Constatou-se que 57% dos entrevistados que vivem da agropecuária
familiar têm energia elétrica, contra 87,5% dos que não dependem exclusivamente do campo.
Com relação a fonte de água, cerca de 32% do primeiro grupo não dispõem de uma forma
regular de fornecimento, ou seja, de rio, riacho, açude ou poço (cacimbão ou artesiano). O
tamanho da propriedade, entretanto, não se apresentou como um critério eficiente para
distinguir bem esses dois grupos, pois em ambos observou-se que a maioria das propriedades
tem até 100 ha (47,4 e 43,8%, respectivamente). Segundo Alencar et al. (2008), em
Pernambuco 89,42% das propriedades apresentam até 100 ha de área, reforçando a
caprinocultura como atividade econômica de pequenos proprietários de terra na região.
![Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/45.jpg)
44
Tabela 5 – Frequências (%) de respostas indicadoras do perfil da caprinocultura no Piauí, em
rebanhos com animais Nambi
Pergunta I:
Opções apresentadas
Pergunta II:
Atividade principal do entrevistado*
Setor agrário
(%)
Setor não
agrário (%) Grau de Instrução Até 1º grau 94,5 25,0
> 1º grau 5,3 75,0
Tamanho da família (membros) 1 a 5 68,4 68,8
6 a 8 15,8 25,0
> 8 15,8 6,2
Mão-de-obra usada na propriedade Familiar 89,5 6,3
Temporária 5,3 68,8
Mista 5,2 24,1
Energia elétrica na propriedade Sim 57,9 87,5
Não 42,1 12,5
Fonte de água na propriedade Poço 52,6 87,5
De superfície 15,8 12,5
Outras 31,6 0,0
Tamanho da propriedade (ha) 0 a 100 47,4 43,8
100 a 150 10,5 12,5
Mais de 150 42,1 43,7
Quantidade de caprinos na
propriedade
0 a 100 68,4 50,0
100 a 200 21,1 25,0
Mais de 200 10,5 25,0
Por que criar caprinos Tradição 68,0 25,5
Comércio 15,8 6,3
Outros 15,8 68,2
Vantagens de criar caprinos Rusticidade 94,7 68,8
Outras 5,3 31,2
Desvantagens de criar caprinos Baixo valor na venda 78,9 56,3
Outras 21,1 43,7
Sistema de criação Extensivo 94,7 37,5
Misto 5,3 62,5 Manejo reprodutivo Monta não controlada 100,0 75,0
Misto 0,0 25,0 Reposição de animais Animais do rebanho 21,1 25,0
Do rebanho e compra 78,9 75,5
Instalações dos animais Aprisco suspenso 63,2 93,8
Chiqueiro 36,8 6,2
Pastagens utilizadas Nativa 89,5 18,8
Cultivada 0,0 6,3
Mista 10,5 75,0 Usa ração comercial Sim 5,3 50,0
Não 94,7 50,0
Usa sal mineral Sim 68,4 100,0
Não 31,6 0,0 Quantidade de vermifugações por ano 1 vez 15,8 0,0
2 vezes 26,3 6,3
3 vezes 5,3 50,0
> 3 vezes 52,6 43,8 * Atividade econômica principal do entrevistado: 55% do setor agrário e 45% não agrário.
![Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/46.jpg)
45
Ao se considerar simultaneamente o tamanho do rebanho, o porquê de criarem caprinos,
suas vantagens e desvantagens, novamente se observou uma clara distinção entre os dois
grupos de criadores já mencionados. Para os do primeiro grupo verificou-se que 68,4%
possuem menos de 100 animais, contra 50% do segundo grupo, sendo que nesse grupo é
maior o percentual de criadores com mais de 200 animais.
Fica, portanto, evidente que o tamanho da propriedade pode não representar o poder
econômico do proprietário, considerando-se que os rebanhos com caprinos criados
extensivamente no Piauí tendem a ocupar áreas de solos de baixa qualidade (SEBRAE-PI,
2003), o que contribui para redução da eficiência da produção. Essa afirmação está de acordo
com Costa et al. (2008), quanto ao tamanho da propriedade ser um fator importante de como e
o que pode ser criado no semi-árido.
Verificou-se uma forte tendência de criar caprinos “por tradição” no Estado, em ambos
os grupos considerados. Para aqueles que não têm na atividade rural a sua principal fonte de
renda, constatou-se uma maior quantidade de motivos para criar caprinos. O aspecto cultural
ligado a tradição foi também mencionado por Alencar et al. (2008), como um dos principais
estímulos à caprinocultura.
Quanto a vantagem e desvantagem de criar caprinos, foi apontado, respectivamente, a
rusticidade dos animais que torna possível a criação sem muitos gastos e a baixa valorização
na comercialização em relação a ovinos, refletindo a real situação econômica do
caprinocultor, principalmente o que tira do campo seu sustento.
Ao se considerar aspecto técnico que deve nortear a caprinocultura, constatou-se que
94,7% dos que informaram ter na atividade rural seu principal sustento, afirmaram criar seus
animais de forma extensiva, enquanto apenas 37,5% do outro grupo afirmaram proceder
assim. Esse resultado concorda com afirmações de Rocha et al. (2007), quanto a prevalecer no
país a criação de caprinos em sistema extensivo, sendo que na criação de animais nativos
predomina o sistema ultra-extensivo. Destaca-se que mesmo nos rebanhos que ocorreu a
introdução de animais de outras raças, principalmente Anglonubiana que passou a ser cruzada
aleatoriamente nesses rebanhos, contribuído para diluição genética, não se constatou
tendência de modificação da forma de criação.
Ao se considerar as respostas relativas ao manejo reprodutivo, reposição de animais no
rebanho, instalações disponíveis, pastagem e uso de suplementação alimentar em épocas
críticas do ano ou mineralização, fica bem evidente que o baixo índice apresentado pela
atividade, tem grande contribuição desses fatores, como também relatado por Khan et al.
(2009), que ocorre no estado do Ceará. Para esses autores o baixo nível tecnológico no setor
![Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/47.jpg)
46
primário, explica em parte, o atraso, a grande vulnerabilidade e a baixa produtividade desse
setor.
Todos os entrevistados do grupo com atividade econômica principal ligada ao setor
agrário informaram não utilizar qualquer artifício de controlar os acasalamentos nos rebanho,
mas demonstraram consciência acerca da necessidade de aquisição de reprodutores de outros
rebanhos para reposição, pois 78,9% afirmaram que na reposição, além de animais do próprio
rebanho, as vezes recorrem à compra. Com isto contribuem para a redução do risco de
consangüinidade decorrente da ausência de controle zootécnico, comum na criação extensiva.
Mesmo assim, prevalece a reposição com animais do próprio rebanho, o que também ocorre
no estado da Paraíba, conforme mencionado por Costa et al. (2007). Essa situação é comum
em muitos países onde a criação de caprinos tem por base a exploração extensiva em
pastoreio e para a produção de carne, como constatado por Hernández (2000) e Monroy et al.
(2003), no México.
Constatou-se que nas propriedades visitadas a caprinocultura é realizada com número de
reprodutor inferior às necessidades do rebanho e que não há indicação de manejo genético
visando descarte seletivo dos animais impróprios para a reprodução. Registrou-se que a
distribuição de frequência da idade dos animais tendeu à normalidade, com 58,9%
apresentando entre 4 e 6 anos. Isso indica está presente nos rebanhos uma quantidade
adequada de animais em idade compatível com a máxima expressão da produção.
Com relação às instalações para manejo dos animais, constatou-se que 36,8%
informaram ser o “chiqueiro” que não possui piso revestido ou cobertura, a instalação básica
de manejo dos animais, enquanto entre os criadores com maior poder aquisitivo esse valor foi
de apenas 6,2%. O aspecto sanitário é desconsiderado nesta forma de instalação, sendo
priorizado mais a proteção dos animais, conforme afirmação de Alencar et al. (2008), que a
maior utilidade do chiqueiro é somente reunir os animais.
A informação que 89,5% utilizam apenas pastagem nativa como fonte de alimento para
os caprinos ao longo do ano e que apenas 5% recorrem a suplementação alimentar em
períodos crítico e que 31,6% não fornecem sal ao rebanho, complementam o real cenário da
caprinocultura com Nambi no Estado. Este manejo alimentar extensivo é característico
também do semi-árido paraibano segundo Costa et al. (2008), que destacam também o fato da
caprinocultura ser considerada uma atividade marginal ou de subsistência na região Nordeste
durante décadas.
Por outro lado, em relação ao manejo sanitário, constatou-se que todos os entrevistados
utilizam vermifugação com produtos químicos disponíveis no mercado. Fazem mais de três
![Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/48.jpg)
47
aplicações ao ano 52,6% destes, e, geralmente, não obedecem a planejamento estratégico,
colocando em dúvida a eficiência desse controle. Segundo Alencar et al. (2008), a prática da
vermifugação é o método sanitário mais utilizado pelos produtores no Nordeste, mas com
resultados questionáveis para a solução do problema de verminose.
Conclusões
A criação de caprinos com Nambi presente nos rebanhos no Piauí é realizada por
pessoas com tradição nessa atividade a vários anos, mas não implica em eficiência, pois o
manejo reprodutivo, alimentar e sanitário adotados são precários.
O grupo genético Nambi está integrado à caprinocultura extensiva no Piauí, presente em
rebanhos com predominância de animais SRD de pequeno porte. Apresentam orelha reduzida
com comprimento médio de 5,2cm, além do tamanho corporal variável.
A raça Anglonubiana tem influência marcante na formação do grupamento Nambi,
notadamente nas microrregiões com maior efetivo no Piauí.
A caprinocultura no Piauí com animais Nambi está associada a sistema extensivo com
baixo nível tecnológico, que deve ser considerado na avaliação da atividade e sua
sustentabilidade, pois carece de planejamento ou direcionamento do sistema produtivo rumo
ao empreendedorismo na atividade.
Literatura Citada
ARAÚJO FILHO, J.A. Manipulação da vegetação lenhosa na Caatinga para fins pastoris. In:
SIMPÓSIO NORDESTINO DE ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES, 3, João Pessoa,
1990, Anais... João Pessoa: UFPB, p. 80-93. 1990.
ALENCAR, S.P.; MOTA, R.A; COELHO, M.C.O.C. et al. Perfil sócio-econômico da
caprinocultura no sertão de Pernambuco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA
VETERINÁRIA, 35, Gramado, 2008. Anais... Gramado: CONBRAVET, 2008.
http://www.sovergs.com.br/conbravet2008 Acessado em: 20/07/2009.
ARAÚJO, A.M. A cabra Nambi. 2006. Disponível em: www.portaldoagronegocio.com.br.
Acessado em 27/07/2007.
ASCCOPER – Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Petrolina e Região.
Nambí. 2005. www.asccoper.org.br. Acessado em 28/09/2007.
![Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/49.jpg)
48
CARPENTER, J.A., FITZHUGH JR., H.A., CARTWRIGHT, T.C. et al. Principal
components for size of Hereford cows. Journal Animal Science, v.33, n.1, p.197, 1971.
Abstract.
CASTEL, J.M., Y. MENA, M. DELGADO-PERTNEZ, J. et al. Characterization of semi-
extensive goat production systems in southern Spain. Small Ruminant Research, v.47,
p.133-143. 2003.
CHÁCON, E.; MACEDO, F.; McMANUS, C. M. et al. Índices zoométricos de uma
amostra de Cabras Crioulas Cubanas. In: SIMPÓSIO RASILEIRO DE
MELHORAMENTO ANIMAL, 8., São Carlos, 2008. Anais... São Carlos: SBMA,
2008. CD ROM.
COGNOSAG (Committee on Genetic Nomenclature of Sheep and Goats). Nomenclature
génétique standardisée des ovins et des caprines. Paris: Tec & Doc, 1986. 112p.
COSTA, R.G.; ALMEIDA, C.C.; PIMENTA FILHO, E.C. et al., Caracterização dos rebanhos
caprinos e ovinos na região semi-árida do Estado da Paraíba. Revista Científica de Produção
Animal, v.9, n.2, p.127-136. 2007.
COSTA, R.G.; ALMEIDA, C.C.; PIMENTA FILHO, E., et al. Caracterização do sistema de
produção caprino e ovino na região semi-árida do estado da Paraíba, Brasil. Archivos de
Zootecnia., v.57, n.218, p. 195-205, 2008.
DEVENDRA, C. Small ruminants in Asia: Contributions to food security, poverty
alleviation and opportunities for productivity enhancement. 2006.
http://www.mekarn.org/procsr/Devendra.pdf Acessado em 20/07/2007.
FALCONER, D.S. Introdução à genética quantitativa. Trad. SILVA, M.A. & SILVA, J.C.
Viçosa: UFV, Imprensa Universitária, 1987. 279 p.
FAO. Production Hendbook. Food and Agriculture Organization Of The United Nations.
Rome, Italy, 2006. CD.
GAMA, L.T. Programa de seleção e conservação dos recursos genéticos animais: a
experiência da Europa Mediterrânea. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia,
2006., 43, João Pessoa. Anais de palestras... João Pessoa: Sociedade Brasileira de Zootecnia.
2006, p.755-773.
HERNÁNDEZ, Z.J.S. La caprinocultura en el marco de la ganadería Poblana (México):
contribución de la especie caprina y sistemas de producción. Archivos de Zootecnia, v.9,
p.341-352. 2000.
HERRERA, M., E. RODERO, M.J. GUTIÉRREZ, et al.. Application of multifactorial
discriminant analysis in the morphostructural differentiation of Andalusian caprine breeds.
Small Ruminant Research, 22: 39-47. 1996.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema IBGE de Recuperação
Automática SIDRA. Censo Agropecuário. Disponível em
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/acervo/acervo2.asp?ti=1&tf=99999&e=v&p=CA&z=t&o=2
1. Acesso em 20/08/2007.
![Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/50.jpg)
49
KHAN, A.S.; COSTA, A.D.; LIMA, P.V.P.S.; et al. Avaliação do nível tecnológico da
ovinocaprinocultura de corte no estado do Ceará. In: Ações do Banco do Nordeste do
Brasil em P&D na arte de pecuária de caprinos e ovinos no Nordeste brasileiro. XIMENES,
L.J.F et al. Organizadores. Fortaleza: BNB 2009. p.131-158. (Série BNB Ciência e
Tecnologia, 3).
LIMA, F.A.M. Estudo quantitativo das produções parciais e produção total de leite e
desenvolvimento ponderal de caprinos no Nordeste semi-árido do Brasil. Belo Horizonte:
UFMG, 1994. 129p. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Federal de Minas
Gerais, 1994.
MACHADO, T.M.M.; MACHADO, M.M.M. The geographic localization of Brazilian
attempts to form synthetic goat breeds. In: GLOBAL CONFERENCE ON CONSERVATION
OF DOMESTIC ANIMAL GENETIC RESOURCES, 5., Brasília, 2000. Proceedings...
Brasília: EMBRAPA and RBI Brazil, 2000. CD ROM.
MONROY, C.A., Q.J.A. ARMENTA, Q.E. ARMENTA, C.M.A. et al. Situación actual de la
producción de cabras en baja California Sur: aspectos de producción y organización. En:
REUNION NACIONAL SOBRE CAPRINOCULTURA, 18., 2003. Proceedings...
Associación Mexicana de Producción Caprina A.C. Puebla. 2003. 121-122.
OLIVEIRA, J.C.V.; ROCHA, L.L.; RIBEIRO, M.N.; GOMES FILHO, M.A. caracterização e
perfil genético visível de caprinos nativos no estado de Pernambuco, Archivos de Zootecnia,
v. 55, n.209, p. 63-73. 2006.
PIMENTA FILHO, E.; RIBEIRO, M.N.; OJEDA, D.B. et al. Importância da conservação
de recursos genéticos para uma pecuária sustentável. In: Ações do Banco do Nordeste do
Brasil em P&D na arte de pecuária de caprinos e ovinos no Nordeste brasileiro. XIMENES,
L.J.F et al. Organizadores. Fortaleza: BNB. 2009. p.182-202. (Série BNB Ciência e
Tecnologia, 3).
PIRES, L.C. Estudo da diversidade genética entre populações caprinas com base em
marcadores morfométricos. Universidade Federal de Viçosa, MG. Dissertação (Mestrado
em Zootecnia). Universidade Federal de Viçosa. 2009. 115p.
POSEY, D.A. Etnobiologia: Teoria e prática. In: B. Ribeiro, (Ed.) Suma Etnológica
Brasileira Vol. I. Etnobiologia. Petrópolis: Vozes. 1986.302 p.
RIBEIRO, S.D.A. Caprinocultura: Criação racional de caprinos. São Paulo: Nobel, 1998.
319 p.
RIBEIRO, M.N.; CRUZ, G.R.B.; OJEDA, D.B. Recursos genéticos de pequenos ruminantes
na América do Sul e estratégias de conservação. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA 43., 2006. João Pessoa. Anais... João Pessoa: SBZ. 2006. p.
800-817.
ROCHA, L.L.; BENÍCIO, R.C.; OLIVEIRA, J.C.V., et al. Avaliação morfoestutural de
caprinos da raça moxotó. Archivos de Zootecnia, v.56, n.1, p. 483-488. 2007.
SEBRAE-PI - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, PI -. Diagnóstico
da cadeia produtiva da ovinocaprinocultura piauiense. Teresina, PI, 2003. 116p.
![Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/51.jpg)
50
SILVA, J.V., RIBEIRO.; M.N.; PIMENTA FILHO, E.C. Caracterização fenotípica de quatro
grupos de caprinos naturalizados no Brasil. In: III SIRGEALC - Simpósio de Recursos
Genéticos para Alimentação Latina e Caribe, 3, 2001, Londrina, Anais... Londrina: Simpósio
de Recursos Genéticos. p 472-474. 2001.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. Sistema de análises estatísticas e
genéticas - SAEG. Versão 8.0. Viçosa, MG, 2000. 142p.
VRIES, J. DE Goats for poor: Some keys to successful promotion of goat production among
poor. Small Ruminant Research, v.77, p.221-224. 2008.
![Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/52.jpg)
51
4 CAPÍTULO II
Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no estado do Piauí e
avaliação da aceitação desse fenótipo como raça caprina nativa
![Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/53.jpg)
52
Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no estado do Piauí e avaliação da
aceitação desse fenótipo como raça caprina nativa
Doutorando: José da Fonseca Castelo Branco
Orientador: José Elivalto Guimarães Campelo - CCA/UFPI
Co-orientadora: Adriana Mello de Araújo – Embrapa Meio-Norte
Resumo: Animais com orelha reduzida chamados Nambi, são encontrados dispersos nos
estados do Nordeste - Brasil, numa situação que é desconhecida quanto ao risco de extinção
e/ou se têm potencial para tornarem-se raça nativa. Nessa perspectiva, pode haver necessidade
de se adotar estratégias para sua conservação ou recorrer a seleção para o seu uso mais
imediato. Para tal, é importante levar em consideração se a beleza desses animais e/ou, se o
fato de apresentarem orelhas reduzidas, seria visto como uma anomalia ou defeito que possa
prejudicar a sua aceitação. Assim, com essa pesquisa objetivou-se avaliar a distribuição de
caprinos Nambi no Piauí e a aceitação desse fenótipo como raça nativa. Para tal, realizou-se
levantamento da localização geográfica de caprinos Nambi em rebanho do Estado, por visita a
rebanhos e por consulta a técnicos. Na coleta de dados apresentou-se individualmente, em
ambientes ligados à criação de caprinos, dois tipos de questionário a 158 pessoas com
atividade relacionada à caprinocultura ou não. As perguntas versaram sobre se já conheciam
Nambi, beleza, defeitos, rusticidade, se criariam esses animais e se viam neles potencial para
ser raça. O segundo questionário continha, além dessas perguntas, outras relacionadas à raça
Lamancha, sendo este apresentado após preleção a cerca de suas qualidades, bem como se a
opinião sobre o Nambi se mantinha. Os dados foram submetidos a distribuição de freqüência
e, com o procedimento “crosstabulation” do software Statistical Package for the Social
Sciences, fez-se cruzamento da resposta apresentada à pergunta ”você considera os animais
Nambi com potencial para tornar-se raça?” com as respostas dadas às demais perguntas,
aplicando-se teste de “Qui-quadrado” nas freqüências conjuntas obtidas. Constatou-se que o
caprino Nambi está difundido em todo o estado do Piauí, inserido em rebanhos de
agropecuária familiar, manejados de forma extensiva e com baixo nível tecnológico. O modo
de herança “dominância incompleta” do caráter Nambi, aliado à inexistência de controle de
acasalamento nos rebanhos de criação extensiva, pode contribui para aumentar o seu efetivo
no Estado e, como o tamanho reduzido da orelha não é visto como defeito que compromete a
aceitação desse fenótipo em animais para exploração zootécnica, o caprino Nambi é visto no
Piauí como animal rústico e com aceitação para ser trabalhado, para formação de raça
adaptada.
Palavras-Chave: caprino, descrição, levantamento, Nambi, raça naturalizada
![Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/54.jpg)
53
Survey of the distribution of goat Nambi in the State of the Piauí and evaluation of the
acceptance of this phenotype as native goat bred
Abstract: Animals with reduced ear called Nambi, are found scattered in the Northeastern
States-Brazil, in a situation that is unknown about the risk of extinction and/or have the
potential to become native breed. In this perspective, there may be need to adopt strategies for
their conservation or resorting to selection for your immediate use. To this end, it is important
to take into account if the beauty of these animals and/or, if the fact of submitting ears small,
would be seen as an anomaly or defect that may impair its acceptance. This research aimed to
evaluate the distribution of goats Nambi in Piauí and acceptance of phenotype as native breed.
To this end, lifting the geographic location of goats Nambi in herd State, by visiting flocks
and by technical query. In data collection performed individually, in environments connected
to creation of goats, two types of questionnaire to 158 people with caprinocultura related
activity or not. The questions focused on were already knew Nambi, beauty, defects,
hardiness, becomes these animals and had the potential to be breed therein. The second
questionnaire contained, in addition to these questions, other related to race La Mancha,
which is displayed after lecture about his qualities, as well as whether the opinion about the
Nambi remained. The data were subjected to frequency and distribution, with the "procedure"
crosstabulation software Statistical Package for the Social Sciences, became the crossroads of
the answer given to the question "do you consider the animals Nambi with potential to
become race?" with answers to other questions, test "Qui-squared" in joint frequencies
obtained. It was noted that the goat is widespread Nambi throughout the State of Piauí,
inserted into herds of farming family, handled extensively and with low technological level.
The mode of inheritance "incomplete dominance" character Nambi, coupled with the lack of
control of mating in herds of extensive farming, can contribute to increase its effective in the
State and, as the small size of the ear is not regarded as defect which diminishes the
acceptance of phenotype in animals for zootechnical use, the goat Nambi is seen on the rustic
and Piauí as animal with acceptance to be worked, for training of breed adapted.
Key-words: goat, description, survey, Nambi, naturalized breed
![Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/55.jpg)
54
Introdução
A maioria das raças existentes hoje seria considerada dispensável se o objetivo da
pecuária fosse apenas atender ao interesse momentâneo do homem, com isso a extinção de
raças seria irrelevante para a humanidade, pois apenas 20% das raças existentes são
responsáveis por cerca de 80% da carne e do leite produzidos no mundo na primeira década
do século XXI (GAMA, 2006). Entretanto, a situação não é tão simples e Avellanet et al.
(2007) chamaram a atenção para o comunicado da FAO que advertiu ter ocorrido, nos últimos
anos, a extinção de mais de 700 raças de animais domésticos e que a preocupação recai no
fato de cerca de 1.400 se encontrarem em risco de extinção.
A raça depois de criada pelo homem ou por processo de seleção natural pode constituir-
se numa unidade genética com qualidades específicas, principalmente se passar por um
mecanismo de ajuste às condições de criação e/ou ambiente climático, agregando assim ao
seu patrimônio genético, combinações especiais e únicas que interagiram convenientemente
com o ambiente. Esse processo de aprimoramento de afinidades com as condições do
ambiente é que, de certa forma, contribuirá para que a raça se estabeleça, com isso não se
tornando em curto espaço de tempo, sujeita a ser extinta, porém, aliado a isso, ela deverá ser
valiosa para o homem.
Considerando-se que uma raça pode ter importância histórica, contemporânea ou futura,
a atenção deve recair sobre o que é importante para que ela se estabeleça e consiga se manter
em determinada região ou sistema de produção, já que a criação de uma nova raça, as vezes,
depende muito de pontos de vista, pois "defeito" para algumas pode não ser para outras. Um
exemplo que ilustra bem essa situação segundo GEOCITIES (2007), foi o que aconteceu com
a raça Anglonubiana quando introduzida nos Estados Unidos no início do século XX vinda da
Inglaterra e sua orelha longa passou a ser aceito como um padrão que caracteriza essa raça,
embora a orelha pendular fosse considerado defeito, já as raças reconhecidas apresentavam
orelhas mantidas em posição vertical. Processo similar ocorreu com a raça Lamancha na
Espanha, quanto ao tamanho reduzido de sua orelha ser desconsiderado ao prevalecer
qualidades produtivas.
Processo similar também pode ocorrer com os animais com fenótipo Nambi, que têm
como característica fenotípica principal apresentar orelhas de tamanho reduzido (BARROS,
1987) e que vêem sendo criado extensivamente na região Nordeste. Mesmo sem a
interferência sistematizada do homem para ajudar a sua permanência nesse ambiente, estão
presentes em muitos rebanhos e com uma frequência relativamente alta, porém desconhecida.
![Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/56.jpg)
55
Nesse caso, aparentemente tem sido mais forte a ação dos mecanismos de seleção natural,
tornando-os adaptados a ambientes menos eficientes para a produção com animais
especializados, fato que pode ser visto como uma indicação do seu potencial para tornar-se
raça recomendada para o semi-árido.
Segundo ASCCOPER (2005), no semiárido do Nordeste os animais Nambi têm
sobrevivido às secas freqüentes, favorecido pelo desenvolvimento de habilidades especiais
para essa condição ambiental, porem, também favorecidos pela simpatia que expressam.
Além disso, várias virtudes são apontadas por criadores desses animais, que os destacam dos
demais em criações extensivas, como a versatilidade decorrente da vivacidade e extrema
rusticidade, frente ao clima inóspito e capacidade de ingestão de plantas com espinhos, típicas
da caatinga, além do fato de apresentarem odor característico do macho caprino menos
intenso quando são abatidos, sem, no entanto perder libido. Destacam também o fato de
dificultarem a predação por animais silvestres, apresentar maior resistência a doenças, sendo
que alguns destacam até mesmo a simpatia que despertam nas crianças, pelo seu aspecto
exótico em relação aos demais caprinos. Quanto a aspectos desfavoráveis, destacam a
impossibilidade de marcação na orelha, que é procedimento típico regional,
consequentemente, favorece ao roubo dos animais. Por outro lado, a sua docilidade pode estar
associada a uma redução da capacidade auditiva, entretanto, tais explicações necessitam ainda
serem validadas pela pesquisa, segundo Araújo (2006).
Por se tratar de animal com um padrão fenotípico que foge dos preceitos de normalidade
para a espécie, teoricamente levaria desvantagem em relação aos demais, pelo fato de
apresentar apenas resquícios de orelha, a não ser que apresentasse atributos que os demais não
possuíssem. Como esses animais, na maioria das vezes, estão em rebanhos localizados em
regiões desfavoráveis à produção animal em escala industrial, pode-se presumir que teriam
características interessantes para esse ambiente.
Em relação a informações acerca do desempenho desses animais, a versatilidade diante
das adversidades climáticas, traduzida em rusticidade, menor exigência em manejo que as
demais raças caprinas exploradas na região, estão entre as informações de criadores de
caprinos que exercem a atividade como subsistência na região (ARAÚJO, 2008). No entanto,
por se tratar de animais que fugiriam ao padrão de normalidade, avaliar como esses animais
são vistos pelos criadores, merece atenção da pesquisa e deve preceder a ações visando torná-
los raça.
A herança genética do tamanho reduzido da orelha é atribuída somente a um gene e
autossômico de dominância incompleta, sendo que animais heterozigotos apresentam
![Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/57.jpg)
56
tamanho intermediário. O locus é chamado “ear lenght” ou “EL” e os seus alelos “Reduced” e
“wild”, representado por „R” e “+”, respectivamente (COGNOSAG, 1986). Dada a forma
simples de herança da característica, esses animais podem ser apenas um SRD, similarmente
aos demais presente na região, porém, se associado a presença de variabilidade genética, pode
ser visto como de maior importância regional.
Concordando com a FAO (2006), que reconhece e considera que os recursos genéticos
animal são essenciais para a agricultura e alimentação, em particular, sua contribuição para a
segurança alimentar em áreas rurais pobres, para o presente e para futuras gerações, com essa
pesquisa objetivou-se realizar levantamento e caracterização de animais Nambi no Piauí, com
a avaliação do grau de aceitação desse fenótipo como animal local e inclusão do criador no
processo de formação de raça.
Material e Métodos
Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no estado do Piauí
Realizou-se por meio de visitas e observação in loco em rebanhos de criação de
caprinos e/ou por entrevistas a técnicos que atuam no meio rural, levantamento acerca da
distribuição geográfica de caprinos Nambi no Piauí. Este Estado apresenta o terceiro maior
efetivo caprino do Nordeste com 1.371.234 animais (IBGE, 2006). Ocupa área de 264.365
km2 e está localizado a 08º 19‟ 22‟‟de latitude sul e 43º 10‟ 28‟‟ de longitude oeste. Localiza-
se no Meio-Norte do Brasil, com extensão linear no sentido norte-sul de 870 km e, em termos
fisiográficos, se constitui numa típica zona de transição, apresentando tanto aspectos do
semiárido nordestino, como da pré-Amazônia e de cerrado (SILVA, 2009), razão pela qual o
critério de amostragem dos rebanhos foi espacial, obedecendo a divisão geográfica do Estado
em microrregiões definidas pelo IBGE (Figura 1).
O levantamento da distribuição do Nambi no Piauí ocorreu em três etapas: a primeira
consistiu em localizar rebanhos com animais Nambi nas principais microrregiões criadoras de
caprino no Estado, seguido de realização de vista in loco para confirmação do efetivo presente
e registrar informações sobre a origem desses animais no rebanho. Nessa etapa foram
visitados 35 rebanhos em 13 municípios das seguintes microrregiões: Campo Maior (Campo
Maior); Teresina (Altos e Coivara); Alto Médio Gurguéia (Júlio Borges, Bom Jesus, Santa
![Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/58.jpg)
57
Luz, Cristino Castro); São Raimundo Nonato (Dom Inocêncio e São Raimundo Nonato), Alto
Médio Canindé (Acauã, Jacobina, Paulistana e Jaicós) e São João do Piauí.
Figura 1 – Distribuição geográfica das microrregiões avaliadas
quanto a presença de caprinos Nambi no estado do
Piauí
Na segunda etapa foram realizadas visitas a criatórios de caprinos, sem, no entanto, se
dispor de informação prévia da existência ou não de Nambi no rebanho. Visitou-se pelo
menos dois rebanhos por município nas seguintes microrregiões: Teresina (Teresina, Altos,
Coivaras, Beneditinos, José de Freitas, Pau D‟arco do Piauí, União, Nazária e Miguel Leão);
Campo Maior (Campo Maior, Alto Longá, Castelo do Piauí, Nossa Senhora de Nazaré, Pedro
II, São Miguel do Tapuio e São João da Serra); Picos (Colônia do Piauí); Valenciana (Elesbão
Veloso, São Félix, São Miguel da Baixa Grande e Prata); Chapada do Extremo Sul Piauiense
(Júlio Borges); Litoral piauiense (Piracuruca) e a Microrregião do Baixo Parnaíba
![Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/59.jpg)
58
(Esperantina). Por se tratar de visita sem agendamento em rebanhos com criação extensiva,
registrou-se apenas se no rebanho tinha ou não animais Nambi e a origem deles.
A terceira etapa correspondeu ao levantamento nas demais microrregiões do Estado
(Médio Parnaíba Piauiense, Alto Parnaíba Piauiense, Bertolínia, Floriano e Pio IX) e foi
realizada por consulta a profissionais que trabalham com animais na Unidade de Sanidade
Animal e Vegetal (USAV) dos principais municípios dessas microrregiões. Nessa consulta,
após ser explicado o objetivo da pesquisa ao entrevistado que informou conhecer
fenotipicamente caprino Nambi, fez-lhe a seguinte pergunta: você confirma a presença de
caprinos Nambi nos rebanhos dos municípios que compõem a microrregião de sua atuação
profissional? Para essa pergunta foram registradas duas respostas: “sim” em um ou mais
rebanhos e/ou “não confirmo a existência de caprinos Nambi em rebanhos no município”.
Avaliação da aceitação do fenótipo Nambi no Piauí como raça caprina
A avaliação da opinião de pessoas relacionadas ao meio rural no Piauí sobre o fenótipo
dos animais Nambi com padrão racial, foi realizada mediante a aplicação de dois
questionários em quatro situações distintas. Os dados de natureza primária corresponderam a
entrevistas tendo como instrumento questionários aplicados a 158 pessoas, mas também por
pesquisa direta, utilizando-se processo de amostragem probabilística do tipo aleatório simples.
A primeira situação amostrada foi durante visitas realizadas a 35 criatórios de caprinos,
nos quais já se sabia que animais Nambi faziam parte do rebanho. A segunda foi durante
visitas aleatórias realizadas a outros criatórios, porém, sem se dispor de informações prévia
sobre a existência de Nambi no rebanho. Nessas visitas os questionários foram aplicados,
independente da presença de animais Nambi. A terceira amostragem foi durante uma Feira
Agropecuária que é realizada anualmente no município de Batalha - Piauí (04 º 01‟ 30‟‟ de
latitude sul e 42º 04‟ 30‟‟ de longitude oeste), localizado na região norte do Piauí que,
segundo o IBGE (2006), é detentor do terceiro maior rebanho de caprinos do Estado. A quarta
situação foi no Setor de Caprinos da UFPI, localizado em Teresina (05º 05‟ 21‟‟ de latitude
sul e 42º 48‟ 07‟‟ de longitude oeste), onde são criados animais da raça Anglonubiana, mas no
momento da entrevista tinha à vista animais Nambi.
Para contrapor o padrão fenotípico dos animais Nambi com os de outras raças caprinas
criadas no Estado, durante a Feira Agropecuária do município de Batalha expôs-se 20 animais
Nambi, machos e fêmeas, colocados num cercado ao lado de animais de outras raças expostos
![Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/60.jpg)
59
para comercialização, de forma a servir como referencial de padrão de beleza do caprino
preferido pelas pessoas entrevistadas.
O primeiro questionário contemplou nove perguntas fechadas de respostas simples e
objetivas, prevalecendo “sim e/ou não”. As três primeiras perguntas foram sobre a profissão
do entrevistado (se relacionada ou não ao meio rural), o seu grau de instrução e se conhecia
animais Nambi. As demais perguntas foram em relação ao fenótipo Nambi, nessa seqüência: a
primeira vista o Nambi agrada ao entrevistado, a opinião em termos de beleza exterior desses
animais, se a orelha rudimentar é vista como um defeito ou uma anomalia, se o entrevistado
cria ou criaria Nambi. Na oitava se conhecia a raça Lamancha e, para concluir, se o
entrevistado considera que os animais Nambi têm potencial para tornar-se raça, com perfil de
rusticidade que se adéque a ambiente com baixo nível de tecnologia.
A aplicação desse questionário foi individualizada, sendo facultado que as pessoas
respondessem de punho as questões impressas numa folha de papel, ou que as respondessem
quando lidas pelo aplicador. Depois de concluída a aplicação desse questionário cujas
respostas foram espontâneas, o entrevistador recorreu a processo indutivo antes da
apresentação do segundo. Nesse processo, contou com auxílio de dois cartazes com fotos e
informações destacando no primeiro as qualidades do Nambi, com ênfase na rusticidade
quando explorados no semiárido e, no segundo, a qualidade leiteira da raça Lamancha em
criação intensiva.
Quanto as qualidades do Nambi, foi destacado tratar-se de animais que desenvolveram
habilidade de sobrevivência no semiárido, resistindo a períodos de seca. Informou-se também
que criadores destacam tratar-se de animal de boa mantença, ou seja, recorreu-se a apelo em
relação à melhor adaptação ao ambiente tropical e ao potencial de resposta a este ambiente.
Quanto aos defeitos, foi enfocado o pequeno porte do animal, advindo do sacrifício de
características de produção em resposta ao clima inóspito da região, bem como o fato da
ausência de orelha limitar a marcação e o manejo, por dificultar a contenção.
Na explanação sobre a Lamancha destacou-se a conformação de úbere e o perfil para a
produção de leite. Também foi enfocado tratar-se de animais que apresentam alto teor de
gordura no leite, o que torna importante para ser usado na confecção de “queijos finos”.
“www.mktdesigns.com/kastdemurs/lamanchareference.html”
O segundo questionário foi complementar ao primeiro e contou com seis perguntas
fechadas, de respostas simples e objetivas, prevalecendo “sim e/ou não”. A primeira referiu-se
a importância de atributos de produção para a valorização do caprino, enquanto a segunda
tratou da importância que deve recair sobre a beleza. A terceira pergunta foi sobre a raça
![Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/61.jpg)
60
Lamancha (qual a impressão a primeira vista em termos de beleza, causada por essa raça). As
duas seguintes trataram de relacionar o Nambi com a Lamancha e identificar se o fato dela ser
raça especializada, ajudaria a divulgação do Nambi como raça. Ao final foi repetida a ultima
pergunta do primeiro questionário.
Na Feira Agropecuária o entrevistador convidou para colaborar com o levantamento,
tanto pessoas que mostraram interesse pelos animais Nambi ali expostos, como aquelas que,
aparentemente, não demonstraram interesse por esses animais. A aplicação dos questionários
a visitantes no rebanho da UFPI foi de forma aleatória, sendo apresentado a alunos de ciências
agrárias (curso técnico e curso de terceiro grau), a técnicos e a pessoas ligadas à produção de
caprinos.
A análise dos dados foi por estatística descritiva, submetendo-se a estudo de freqüência
com o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences - versão 10.0), de forma a
relacionar a opinião do entrevistado sobre o fenótipo Nambi com o potencial desses animais
serem trabalhados com vistas a se estabelecer como raça. Assim, com o procedimento
“crosstabulation” fez-se o cruzamento da freqüência da resposta apresentada à pergunta
”você considera os animais Nambi com potencial para raça” com a freqüência das respostas
dadas às demais perguntas, aplicando-se teste de “Qui-quadrado” (P<0,05).
Resultados e Discussão
O estado do Piauí localizado na porção oeste da região Nordeste do Brasil, tem na
caprinocultura explorada de forma extensiva e com baixa eficiência produtiva, uma atividade
sócio-econômica relativamente importante, porém, se apresenta estagnada em termos de
quantidade de animais, segundo informações do IBGE (2006), fato também verificado nesse
levantamento, na conjuntura da caprinocultura familiar.
Constatou se que esse cenário tem contribuição da redução do número de animais nos
rebanhos de agricultura familiar, sendo que, dentre as causas na opinião de pessoas do meio
rural que exercem a atividade de maneira extensiva, a ineficiência da atividade merece
destaque, principalmente em relação a prejuízos decorrentes de roubo de animais, predação
por animais silvestres e cães, além da baixa valorização do produto no ato da comercialização.
A diminuição da quantidade de criatórios também influencia essa redução, sendo que, dentre
as causas apontadas como importantes, constatou-se que prevaleceu a necessidade do
deslocamento da família para as pequenas cidades, principalmente acompanhando os filhos
![Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/62.jpg)
61
para estudos, ou seja, a manutenção do efetivo caprino do Estado nas últimas décadas pode ter
relação direta com a migração rural.
Portanto, a caprinocultura extensiva no Piauí está sendo realizada de forma incipiente.
Os comentários feitos pelos criadores podem ser vistos como indicador de uma situação não
muito animadora para essa atividade como está sendo praticada no Estado, e a constatação na
literatura que a atividade se apresenta com grande potencial de expansão, nesse caso,
certamente não aborda criação extensiva. Esse cenário também pode ser visto como uma
indicação do aumento do risco de extinção de caprinos nativos, dentre os quais pode se incluir
o Nambi, se visto como grupo genético.
As anotações de natureza qualitativa e os registros quantitativos feitos nessa pesquisa
permitem afirmar que os caprinos Nambi no Piauí estão inclusos em rebanho nos quais
prevalece animais Sem Raça Definida (SRD), que é a maioria no Estado (SEBRAE-PI, 2003),
não se apresentando como grupo genético estruturado, similarmente ao que ocorre também na
Bahia (ASCOOPER, 2005). Portanto, os caprinos Nambi estão presentes na agropecuária
familiar, criados extensivamente e com pouca interferência do homem no ambiente de
criação.
O levantamento feito indicou a presença desses animais em todas as microrregiões do
estado do Piauí (Figura 1), embora a metodologia de amostragem utilizada não possibilite
calcular o efetivo do Nambi no Estado, pois se amostrou rebanhos nos quais já se sabia
previamente da presença desses animais e, naqueles amostrados aleatoriamente, sem
agendamento prévio, o criador nem sempre tinha certeza da quantidade de animais que
possuía e, como criação extensiva, geralmente não trazia os animais com freqüência ao
aprisco ou chiqueiro. Destaca-se também que não foi constatada a existência de rebanhos só
com caprinos Nambi. Entretanto, depois de concluído o processo de coleta de dados a campo
desse levantamento, informa-se que a Embrapa Meio-Norte iniciou, no município de São João
do Piauí, a implantação de um rebanho para estudos e conservação desses animais, já se
encontrando estabelecido em 2010, com efetivo superior a 300 animais.
Numericamente não foi verificado rebanho com quantidade de animais Nambi
excedendo a 25% do efetivo, mas, naqueles rebanhos onde estavam presentes em quantidade
mais expressiva, deveu-se ao fato de já ter existido reprodutor Nambi no rebanho, ou devido a
presença de machos Nambi não castrado em idade reprodutiva. Portanto, a quantidade de
reprodutores Nambi em relação a de outros grupos genéticos é pequena e, na maioria dos
casos, não sendo o principal reprodutor do rebanho.
![Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/63.jpg)
62
Nos rebanhos onde foi constatada a presença de até 10 animais Nambi, observou-se que,
quando questionados sobre a origem deles no rebanho, o criador informou tratar-se de animais
que vinham de criatórios visinhos, geralmente machos em idade reprodutiva que, quando não
castrados passam a circular entre os rebanhos, deixando crias. Nesse caso, as fêmeas
geralmente apresentando boa mantença, eram incorporadas como matriz, implicando
posteriormente que o fluxo gênico dentro do rebanho passasse a ter maior contribuição do
lado materno. Portanto, observa-se que o processo de fluxo gênico dessa característica nos
rebanhos do Estado, obedece ao que preconiza Falconer e Mackay (1996), para pequenas
populações, com disseminação relativamente lenta e com grande contribuição da inexistência
de controle reprodutivo, que é prática comum não só no Piauí, mas em outros Estados, a
exemplo de Pernambuco (OLIVEIRA et al., 2006).
Dada a natureza genética da característica que apresenta dominância incompleta
(CONOSAG, 1986), logo com fácil expressão, também a disseminação dos seus alelos, que é
favorecida pela não existência de controle reprodutivo nos rebanhos de criação extensiva,
teoricamente esses animais não se encontram em risco de extinção, mas sim com indícios de
lento aumento de frequência gênica, embora não existindo como rebanhos estruturados.
Assim, é mais pertinente se abordar os animais Nambi quanto ao desconhecimento do
potencial de produção no Estado, do que em relação ao desconhecimento do risco de extinção,
por serem criados extensivamente, sem controle de acasalamentos e sem planejamento de
conservação e/ou expansão.
Problemas decorrentes da consangüinidade comum em pequenas populações
(FIMLAND, 2007), podem não ser tão marcantes para o Nambi em criação extensiva, já que
não aparenta existência de grande isolamento desses animais, mesmo não sendo prática
comum no Nordeste, a troca de reprodutores entre rebanhos, como afirmaram Rocha et al.
(2007). Portanto, o Nambi se apresenta como um grupamento heterogêneo de animais que
podem apresentar padrão morfológico similar a um animal Canindé, Gurguéia, Marota ou a
um Anglonubiano. Parece ser conveniente afirmar que o Nambi no Piauí corresponde a
animais com identidade apenas morfológica quanto ao tamanho pequeno da orelha, não se
tratando de rebanhos estruturados geneticamente.
Assim, por se tratar de uma mistura generalizada de raças prevalecendo a mestiçagem
desordenada, como mencionado por Machado & Machado (2000) ocorrer também no SRD;
por estarem inseridos num ambiente onde a pressão de seleção natural parece exercer maior
influência que a ação do homem na sua composição, o Nambi se apresenta como potencial
![Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/64.jpg)
63
ponto de partida para a formação de uma raça com perfil de adaptação a esse ambiente e o
tamanho da orelha um marcador para a seleção.
A esse respeito, encontra-se na Tabela 1, a freqüência de respostas dadas no Piauí, a
questionário apresentado, focando acerca da opinião do entrevistado quanto ao potencial do
Nambi ser selecionado como raça, cujo parâmetro de referência ou distinção em relação às
outras, seria a presença de orelha reduzida além de adaptação à criação extensiva. Observou-
se que a aceitação do fenótipo Nambi para tornar-se raça foi elevada, com freqüência de
opinião favorável em média superior a 93%. Assim, num primeiro momento fica clara a
aceitação de animais com esse fenótipo no Estado, indicando que o fato de apresentarem
orelhas reduzidas não prejudica sua aceitação, o que é importante ao se pensar em formação
de raça, pois, segundo Pimenta Filho et al. (2009), não há como promover um grupamento
genético se a ele não for relacionado um diferencial econômico, sendo que, dentre as
vantagens comparativas, requisitos ligados à estética também devam ser considerados.
A quantidade de pessoas amostradas que são profissionalmente ligadas ao setor agrário
foi similar às do setor não agrário (P>0,05), porém, constatou-se que diferiram quanto ao grau
de instrução (P<0,05), sendo que 74% dos entrevistados informaram ter concluído apenas até
o primeiro grau (P<0,05). Ao se analisar o percentual de aceitação do Nambi como raça,
considerando-se a influência da profissão e do grau de instrução, constatou-se interferência
não significativa (P<0,05), ou seja, independentemente da profissão ser relacionada ou não ao
setor agrário, ou apresentar maior ou menor grau de instrução, o percentual de opinião
favorável foi superior a 91%.
A quantidade de pessoas amostradas que informaram conhecer previamente animais
Nambi (55%), foi similar à que disse não conhecer (P>0,05) e, dentre os que afirmaram nunca
tê-los visto, prevaleceu quem não atua profissionalmente no meio rural. Porem, como se
observou que, tanto quem já conhecia Nambi como quem não o conhecia apresentou opinião
favorável à aceitação desse fenótipo como raça (P<0,05), exclui-se assim qualquer influência
de experiência anterior com a criação desses animais sobre essa opinião emitida, pois
novamente foi superior a 91% a freqüência de opinião favorável. Além disso, o fato de já
conhecer a característica Nambi em outra raça também não influenciou o resultado, pois tanto
quem já conhecia a raça Lamancha (11,4%) como quem não a conhecia (88,6%), também
apresentou opinião favorável à aceitação do fenótipo Nambi (P<0,05), com valores de 88,9 e
95,7% de aceitação, respectivamente.
![Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/65.jpg)
64
Tabela 1 – Frequência conjunta (%) de opiniões “favoráveis” e “não favoráveis” a animais
Nambi ter potencial para se tornar raça caprina (cruzamento da pergunta I com
II), com respostas espontâneas, no Piauí
Pergunta I
Opções apresentadas
(%)
Pergunta II: Nambi tem potencial
para ser raça*
Favorável (%) Não favorável (%)
Profissão Setor agrário (45)a 91,4 8,6
Setor não Agrário (55)a 97,7 2,3
Grau de Instrução Até o 1º grau (74,0)a 94,0 6,0
> 1º grau (26,0)b 97,6 2,4
Já conhecia animais Nambi Sim (55,0)a 91,9 8,1
Não (45,0)a 98,6 1,4
Já conhecia a raça Lamancha Sim (11,4)b 88,9 11,1
Não (88,6)a 95,7 4,3
Opinião sobre a beleza do
Nambi
Bonito (63,9)a 98,0 2,0
Feio (17,1)b
Indiferente (19,0)b
85,2
93,3
14,8
6,7
A orelha rudimentar no
Nambi é defeito
Sim (35,4)b 89,3 10,7
Não (64,6)a 98,0 2,0
O fenótipo Nambi lhe agrada
como raça
Sim (86,1)a 95,6 4,4
Não (13,9)b 90,1 9,9
Você criaria Nambi Sim (84,8)a 96,3 3,7
Não (15,2)b 87,5 12,5
* Opinião favorável foi significativa pelo Teste de Qui-quadrado (P<0,05), na terceira coluna. **
Letra minúscula igual na 2ª coluna, não significativo em cada item, pelo teste de Qui-quadrado (P>0,05).
Quanto a impressão que os animais Nambi causaram a primeira vista, constatou-se
freqüências com valores de 63,9, 17,1 e 19,0%, respectivamente, para as opções de respostas
“bonito” “feio” e “indiferente”, com a primeira opção diferindo das demais (p<0,05).
Entretanto, mesmo entre os que consideraram o animal Nambi feio, ou entre os que se
mostraram indiferentes à importância da beleza dos animais, constatou-se que mais de 85%,
confirmou ser favorável a esses animais tornar-se raça, numa indicação, portanto, que os
atributos de produção devem prevalecer sobre o tipo, concordando assim com Pimenta Filho
et al. (2009), quanto a importância que deve ser dado a um diferencial econômico para a
promoção de determinado grupo genético.
![Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/66.jpg)
65
Observou-se que 35,4% dos entrevistados consideraram ver a orelha reduzida no
caprino como uma anomalia ou defeito, porém, a quantidade que viram essa característica de
forma diferente, foi superior estatisticamente (P<0,05). Essa informação também corrobora a
anterior, que os atributos de produção devam superar os de tipo, ou seja, dentre os que
consideraram o resquício de orelha um defeito, mais de 89% informaram ter opinião favorável
ao Nambi ser trabalhado como raça.
Quando questionados se o fenótipo Nambi agrada como raça, 86,1% confiram sim e
84,8% confirmaram que criariam esses animais. Por outro lado, quando se considerou essa
pergunta cruzada com o fato de serem ou não “favoráveis” que esses animais sejam
trabalhados para ser raça, observou-se que, mesmo entre aqueles que não os criariam, 87,5%
foram favoráveis quanto a ter potencial para ser raça. Assim, os resultados observados
apontaram para grande aceitação do fenótipo Nambi como raça no Piauí.
Para complementar os resultados já discutidos, apresenta-se na Tabela 2, a frequência
observada relativa às respostas do questionário II, que foi aplicado após explanação sobre
qualidades dos animais Nambi e também da raça Lamancha, que também apresenta orelhas
reduzidas (respostas não espontânea). Destaca-se que estes achados corroboram os resultados
apresentados na Tabela 1, sendo obtido que 84,2% expressaram considerar que as
informações de produção devem prevalecer sobre os atributos de tipo nas raças caprinas.
Entretanto, a beleza não deve ser totalmente desconsiderada, pois 37,3% informaram sofrer
sua influenciar quando avaliam uma raça. Já em relação a opinião sobre o potencial do Nambi
como raça, novamente observou-se valor favorável elevado, mesmo entre os que afirmaram
considerar de pouca importância os atributos de produção (84%).
A verificação do quanto a raça Lamancha pode ajudar na divulgação do Nambi como
raça, visto que ela também tem orelha reduzida, mas já foi selecionada e apresenta alta
produção de leite, foi constatado. A esse respeito, 87,3% dos entrevistados consideraram
tratar-se de uma raça com animais bonitos e, embora afirmem não verem uma relação direta
entre ela e o Nambi (P>0,05) (resposta sim com 59,5% e não 40,5%), observou-se que 72,1%
consideraram ser o desempenho da raça Lamancha um argumento que pode interferir
positivamente na opinião sobre o Nambi.
Esse resultado leva a crer que o Nambi, se submetido a seleção para fixação de
qualidades específicas, rusticidade e adequação a baixa tecnologia por exemplo, terá
certamente aceitação na região, similarmente ao que aconteceu coma a raça Lamancha na
Espanha, sendo ela igual às raças Murciana e Granadina, o detalhe da presença de orelhas
![Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/67.jpg)
66
rudimentar foi considerado irrelevante, diante da sua qualidade leiteira segundo Poter (1996),
sendo este o foco principal do seu melhoramento genético no país.
Tabela 2 – Freqüência conjunta (%) de opiniões “favoráveis” e “não favoráveis” a animais
Nambi ter potencial para se tornar raça caprina (cruzamento da pergunta I com
II), com respostas induzidas, no Piauí
Pergunta I
Opções apresentadas
Pergunta II: Nambi tem potencial para
ser raça caprina*
Favorável (%) Não favorável (%)
Atributo de produção é
importante para caprinos
Sim (84,2)a 97,0 3,0
Não (15,8)b 84,0 16,0
A beleza influencia sua
opinião sobre caprinos
Sim (37,3)b 94,9 5,1
Não (62,7)a 94,9 5,1
Opinião sobre a beleza do
animal Lamancha
Bonito (87,3)a 95,6 4,4
Indiferente (12,7)b 90,0 10,0
Você ver relação do Nambi
com a Lamancha
Sim (59,5)a 97,8 2,2
Não (40,5)a 93,7 6,3
O desempenho da raça La
Mancha interfere na opinião
sobre o Nambi
Sim (72,1)a 95,6 4,4
Não (1,3)c
Indiferente (26,6)b
0,0
97,6
100,0
2,4
* Opinião favorável foi significativa pelo Teste de Qui-quadrado (P<0,05), na terceira coluna. **
Letra minúscula igual na 2ª coluna, não significativo em cada item, pelo teste de Qui-quadrado (P>0,05).
O resultado da resposta espontânea à pergunta “que atributos seriam importantes para o
Nambi tornar-se uma raça” está apresentado na Tabela 3, expresso na forma de frequência.
Constatou-se que os entrevistados destacaram ser importante apresentar atributos de
adequação à criação no semiárido, com a adaptabilidade e rusticidade, além de habilidade
materna, aparecendo isolados ou em conjunto, como características importantes. Esse
resultado demonstra uma tendência de visão mais sistêmica a cerca do perfil do caprino
preferido para criação no ambiente rural do Estado, independentemente da profissão do
entrevistado ou do grau de instrução.
![Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/68.jpg)
67
Tabela 3 – Frequências da opinião sobre atributos destacados como importantes para caprinos
Nambi, para seleção visando torná-lo raça caprina, no Piauí
Atributo importante para o Nambi tornar-se raça Frequência (%)
Resistência e adaptação às condições de ambiente quente e seco 59,5
Habilidade materna 34,8
Outros 5,7
De certa forma, visualiza-se na opinião da maioria, uma atenção a aspectos ecológicos
para a atividade, ao preferirem animais mais adequados a sistemas de produção tradicionais
e/ou mais recomendados para a agricultura familiar, que têm potencial para agregar valor
social e ambiental aos produtos. Esse ponto de vista está presente na literatura especializada
em conservação de recursos genéticos, que defendem ser promissor se buscar agregar valor a
animais naturalizados, a partir da certificação de origem do produto (CAMACHO, 2006;
LAMBERT-DERKIMBA et al., 2006).
Outro aspecto que pode ser abordado a partir desse resultado é a consciência do perfil
que o caprino deve apresentar para se adequar à região, visto que não existe no Estado um
padrão produtivo definido, ou raças mais adequadas ao sistema de produção adotado, fato que
prevalece em outros estados do Nordeste, a exemplo da Paraíba, como destacado por Costa et
al. (2008).
Diante da constatação que os animais Nambi, aparentemente, não encontram rejeição
para se tornar raça através de seleção nos rebanhos da região, em razão de apresentarem um
fenótipo característico (diferenciador), o passo seguinte nesse processo é a caracterização da
existência ou não de variabilidade genética, que pode ser feita com uso de marcadores
moleculares. Considerando-se que o Nambi se encontra distribuído por todo o Estado e
inserido em rebanhos de animais mestiços de origem diversa, há a necessidade de
confirmação da variação genética presente. Entretanto, constatou-se tratar de animais com boa
aceitação popular como animal rústico, adaptado e considerado útil, aspectos importantes para
diminuir o risco de extinção (SPONENBERG et al., 2007).
Conclusões
O caprino Nambi está difundido em todo o estado do Piauí, inserido em rebanhos de
agropecuária familiar, manejados de forma extensiva e com baixo nível tecnológico.
![Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/69.jpg)
68
O modo de herança “dominância incompleta” do caráter Nambi, aliado à inexistência de
controle de acasalamento nos rebanhos de criação extensiva, pode contribui para aumentar o
seu efetivo no Estado.
O tamanho reduzido da orelha não é visto como defeito que compromete a aceitação
desse fenótipo em animais para exploração zootécnica.
O caprino Nambi é visto no estado do Piauí como animal rústico e com aceitação para
ser trabalhado objetivando formação de raça adaptada.
Literatura Citada
ARAÚJO, A.M. Caprinos no Nordeste: uma visão realista. A Lavoura, n.656, p.33. 2008.
ARAÚJO, A.M. A cabra Nambi. 2006. Disponível em: www.portaldoagronegocio.com.br.
Acessado em 27/07/2007.
AVELLANET, R.; RODELLAR, C.; MARTÍN-BURRIEL, I., et al. Caracterización genética
de una raza caprina em peligro de extinción: Mallorquina. Archivos de Zootecnia, v.56, n.1,
p. 379-382. 2007.
ASCCOPER – Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Petrolina e Região.
Nambí. 2005. www.asccoper.org.br. Acessado em 28/09/2007.
BARROS, A.C. Caprinos nativos: privilégio do Nordeste. Aracaju: SUDAP. 1987. 194p.
COGNOSAG (Committee on Genetic Nomenclature of Sheep and Goats). Nomenclature
génétique standardisée des ovins et des caprins. Paris: Tec & Doc, 1986. 112p.
COSTA, R.G.; ALMEIDA, C.C.; PIMENTA FILHO, E., et al. Caracterização do sistema de
produção caprino e ovino na região semi-árida do estado da Paraíba, Brasil. Archivos de
Zootecnia., v.57, n.218, p. 195-205, 2008.
CAMACHO, M.E. Protéccion de productos como instrumento para La conservación de los
recursos genéticos animales In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
ZOOTECNIA, 2006., 43, João Pessoa. Anais de palestras... João Pessoa: Sociedade
Brasileira de Zootecnia. 2006, p.737-752.
FALCONER, D.S. MACKAY, T. Introduction to quantitative genetics. 4nd
Ed. London:
Longmann Scientific Technical, 1996. 464p.
FIMLAND, E. Genetic diversity and sustainable management of animal genetic resources,
globally. Animal Genetic Resources Information, n. 41, p.45-52. 2007.
FAO. Production Hendbook. FOOD END AGRICULTURE ORGAIZATION OF THE
UNITED NATIONS. Rome: FAO. 2006. CD.
![Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/70.jpg)
69
GAMA, L.T. Programa de seleção e conservação dos recursos genéticos animais: a
experiência da Europa Mediterrânea. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 2006., 43, João Pessoa. Anais de palestras... João Pessoa:
Sociedade Brasileira de Zootecnia. 2006, p.755-773.
GEOCITIES. Como a criação de uma nova raça pode ser baseada em defeitos.
http://www.geocities.com/caprinor/fotos/defeito.html. Acessado em 28/09/2007.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico de 2006. Rio de
Janeiro. IBGE. 2006. www.ibge.gov.br/censos/censo_agropecuario_1995_96/piauí. Acesso
em 20/08/2007.
LAMBERT-DERKIMBA, A.; CASABLANCA, F.; VERRIER, E. L‟inscription du type
génétique dans le reglements techniques des produits animaux sous AOC: consequences pour
les races animales. INRA - Produção Animal, n.19, p.357-370. 2006.
MACHADO, T.M.M.; MACHADO, M.M.M. The geographic localization of Brazilian
attempts to form synthetic goat breeds. In: GLOBAL CONFERENCE ON CONSERVATION
OF DOMESTIC ANIMAL GENETIC RESOURCES, 5., Brasília, 2000. Proceedings...
Brasília: EMBRAPA and RBI Brazil, 2000. CD ROM.
OLIVEIRA, J.C.V.; ROCHA, L.L.; RIBEIRO, M.N.; GOMES FILHO, M.A. caracterização e
perfil genético visível de caprinos nativos no estado de Pernambuco, Arch. Zootec., v. 55,
n.209, p. 63-73. 2006.
PIMENTA FILHO, E.; RIBEIRO, M.N.; OJEDA, D.B. et al. Importância da conservação
de recursos genéticos para uma pecuária sustentável. In: Ações do Banco do Nordeste do
Brasil em P&D na arte de pecuária de caprinos e ovinos no Nordeste brasileiro. XIMENES,
L.J.F et al. Organizadores. Fortaleza: BNB. 2009. p.182-202. (Série BNB Ciência e
Tecnologia, 3).
ROCHA, L.L.; BENÍCIO, R.C.; OLIVEIRA, J.C.V. et al. Avaliação morfoestutural de
caprinos da raça Moxotó. Archivos de Zootecnia, v.56, (Sup. 1), p. 483-488. 2007.
SEBRAE-PI - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, PI -. Diagnóstico
da cadeia produtiva da ovinocaprinocultura piauiense. Teresina, PI, 2003. 116p.
SILVA, K.C.S. Estudo do efeito genético e da interação genótipo-ambiente em bovinos
Nelore na sub-região Meio Norte do Brasil. Teresina: UFPI, 2009, 45p. Dissertação
(Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Federal do Piauí, 2009.
SPONENBERG, D.P.; CREECH, C.; MILLER, W.J. Randall cattle in the USA: rescuing a
genetic resource from extinction. Animal Genetic Resources Information, n.41, p.17-24.
2007.
![Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/71.jpg)
70
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. Numa reflexão sobre a produção animal em ecossistema fragilizado, como é o semiárido,
convém que a produção animal deva ser articulada no sentido de também priorizar a
conservação ambiental e dos recursos genéticos naturalizados, potencializando-se sistemas
que agem numa perspectiva interdisciplinar e, diante da importância social da
caprinocultura para o semiárido do Nordeste do Brasil, a pesquisa nacional deve assumir a
responsabilidade de desenvolver uma raça caprina adequada a essa região, criando uma
opção a mais, além dos animais SRD para a agricultura familiar, com isso reduzindo a
dependência de novidades genéticas, que muitas vezes são disponibilizadas sem testar a
adequação ao ambiente da região.
2. Com relação ao grupamento genético Nambi, embora esteja presente em todo o Estado,
recomenda-se a caracterização com a utilização de ferramentas de genética molecular,
passo essencial para aferir se de fato tem potencial para se firmar como uma raça indicada
para exploração em sistemas extensivos de criação.
3. A inexistência de manejo reprodutivo dos animais nos rebanhos avaliados demonstrou ser
a causa de um processo acelerado de diluição genética, e a caprinocultura extensiva
contribui para aumentar o risco de erosão genética em caprinos.
4. A adoção de políticas pública de apoio ao desenvolvimento rural sustentável na região,
com a inclusão de animais naturalizados no sistema de agropecuária familiar, adiciona dois
aspectos importantes que são: a valorização do caprino local com contribuição para sua
conservação e valorização de elementos culturais da região, além da redução de riscos para
a atividade.
5. A caracterização da variabilidade genética dos animais nativos, com a utilização de
ferramentas de genética molecular é uma necessidade eminente.
6. Os animais Nambi continuarão na região dispersos em rebanhos a espera de iniciativas
para tratá-los como grupo genético estruturado, o que poderá contribuir mais
eficientemente para o desenvolvimento regional.
![Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/72.jpg)
71
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAIS
ARAÚJO, A.M. Paternidade e diversidade genética em caprinos no Brasil por meio de
microssatélites de DNA. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2004. 90f. Tese
(Doutorado em Genética e Melhoramento). Universidade Federal de Viçosa, 2004.
ARAÚJO, A.M.; GUIMARÃES, S.E.F.; MACHADO, T.M.M . Diversidade genética em uma
população da raça naturalizada Moxotó no Brasil. In: SIMPÓSIO DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE MELHORAMENTO ANIMAL, 5. Anais... Pirassununga: SBMA, 2004.
CD-ROM.
ARAÚJO, A.M. A cabra Nambi. Disponível em: www.portaldoagronegocio. com.br. 2006.
Acesso em: 29 set. 2007.
ARAÚJO, A.M.; CASTELO BRANCO, J.F., PIRES, L.C., et al. Caracterização biométrica
e molecular do caprino Nambi no estado do Piauí. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2008.
19p. (Boletim Pesquisa e Desenvolvimento, ISSN 1413-1455 85).
ASCCOPER – Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos de Pernambuco. Raças:
caprinos Nambi. Disponível em: http://asccoper.com.br/exibe. jsp?id=436&tipo=Racas.
Acesso em: 28 set. 2007a.
ASCCOPER. Raças: ovinos Lambi. – Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos de
Pernambuco. Disponível em: www.asccoper.com.br/exibe.jsp?id =436&tipo=Racas. Acesso
em: 28 set. 2007b.
AUDIOT, A. Races d’hier pour l’élevage de demain. Paris. 1995. 229 p.
AVISE, J.C.; HAIG, S.M.; RYDER, O.A. et al. Descriptive genetic studies: applications in
population management and conservation biology. In: Ballou,J.D. & Fose, T.J. (Ed)
Populations management for survival and recovery. New York: Columbia University Press,
1995, p. 183-244.
BARBOSA, S.B.P. Perspectivas da caprinocultura no nordeste. In: SIMPÓSIO NACIONAL,
2., 1998. Uberaba. Anais... Uberaba: SBMA, 1998. p.297-302.
BARKER, J.S.F.; TAN, S.G.; MOORE, S.S. et al. Genetic variation within and relationship
among populations of Asian goats (Capra hircus). Journal of Animal Breeding Genetics,
v.118, p. 213-233, 2001.
BARROS, A.C. Caprinos naturalizados: privilégio do Nordeste. Aracaju: SUDAP. 194p.
1987.
CAMACHO VALLEJO, M.E., TORRICO, B.A. CALLEJÓN, A.G. et al. Evaluación del
sistema de explotación en un núcleo de caprino lechero autóctono. Archivos de Zootecnia,
v.51, p.259-264. 2002.
CAPRILEITE Cabras campeãs leiteiras nos EUA, por raça. Boletim Informativo, Belo
Horizonte, v.3, n.25, p.1-2, 1979.
![Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/73.jpg)
72
CARMO, M.S. A produção familiar como locus ideal da agricultura sustentável. Agricultura
em São Paulo, São Paulo, v.45, n.1, p.1-15, 1998.
COGNOSAG. Nomenclature génétique standardisée des ovins e caprins. Paris: Lavoisier Tec
& Doc/BRG, 112P, 1986. Proceedings of Committee on Genetic Nomenclature of Sheep
and Goat. Workshop, Manosque: INRA, 1986.
COSTA, F.A.P. Cronologia histórica do estado do Piauí. Rio de Janeiro: Arte Nova, 1974.
COSTA, R.G.; ALMEIDA, C.C.; PIMENTA FILHO, E., et al. Caracterização do sistema de
produção caprino e ovino na região semi-árida do estado da Paraíba, Brasil. Archivos de
Zootecnia., v.57, n.218, p. 195-205, 2008.
CRUZ, C.D.; CARNEIRO, P.C.S. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento
genético, Viçosa: UFV, 2ª ed. Revisada, 2006. 585 p.
DELGADO, J.V.; BRABA, C.; CAMACHO, M.E. et al. Caracterización genética de los
animales domésticos en España. In: SIMPÓSIO DE RECURSOS GENÉTICOS PARA
AMÉRICA LATINA E CARIBE, 2., 1999, Brasília. Anais... Ed. Mariante, A.S., Bustamante,
P.G. Brasília: Embrapa. 1999. CD-Rom.
DEVENDRA, C. Potential productivity from small ruminants and contribution to improved
livelihoods and rural growth in developing countries. In: REUNIÃO ANUAL DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 34., Anais... Recife, 2002. p.246-269.
EGITO, A.A.; MARIANTE, A.S.; ALBUQUERQUE, M.S.M. Programa brasileiro de
conservação de recursos genéticos animais. Archivos de Zootecnia, v.51, p.39-52, 2002.
FAO - Production Hendbook. FOOD END AGRICULTURE ORGAIZATION OF THE
UNITED NATIONS. Rome, Italy, 2006. CD.
FIMLAND, E. Genetic diversity and sustainable management of animal genetic resources,
globally. Animal Genetic Resources Information, n. 41, p.45-52. 2007.
GAMA, L.T. Programas de seleção e conservação de recursos genéticos animais: a
experiência da Europa Mediterrânea. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 2006, João Pessoa, Anais de Palestras... João Pessoa:
SBZ, 2006. p.633-647.
GANDINI, G. C.; OLDENBROEK, J.K. Choosing the conservation strategy. In: Genebanks
and the conservation of farm animal genetic resources. Lelystad: Ed. J.K. Oldenbroek.
ID.DLO, 1999. p. 11-31.
GUANZIROLI, C.E., CARDIM, S.E. Novo retrato da agricultura familiar: o Brasil
redescoberto. Brasília: Projeto de Cooperação Técnica FAO/INCRA. 2000. 74p. Disponível
em: http://www.incra.gov.br/fao. Acesso em 05/10/2009.
HERNÁNDEZ, Z.J.S. La caprinocultura en el marco de la ganadería Poblana (México):
contribución de la especie caprina y sistemas de producción. Archivos de Zootecnia, 49:
341-352. 2000.
![Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/74.jpg)
73
HORTO – ZOO. Como a criação de uma nova raça pode ser baseada em defeitos.
Disponível em: www.geocities.com/caprinor/fotos/defeito.html. Acesso em 29/10/2007.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico de 2006. Rio de
Janeiro. IBGE. 2006. Disponível em:
www.ibge.gov.br/censos/censo_agropecuario_1995_96/piauí. Acesso em: 10/04/2007.
IGARASHI, M.L.S.P.; MACHADO, T.M.; FERRO, J.A. et al. Structure and genetic
relationship among Brazilian naturalized and imported goat breeds. Biochimical Genetics,
v.38, p. 353-365, 2000.
JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n.
118, p.189-205. 2003.
KUMAR, D. DNA markers for the differentiation of farm animal breeds. In. Domestic
Animal Diversity: Conservation and sustainable development. Sahai, R. & Vijh, R.K.
Karnal: SI Publications. 2000. p.305-312.
LAMBERT-DERKIMBA, A.; CASABLANCA, F.; VERRIER, E.L. Inscription du type
génétique dans le reglements techniques des produits animaux sous AOC: consequences pour
les races animales. INRA - Produção Animal, n.19, p.357-370. 2006.
LAUVERGNE, J.J. (ed.) Populations traditionalles et premières races standartisèes
d’Ovicaprinae dans le Bassin mediterranèen. Paris: INRA, 298p, 1988. (Les Colloques de
I‟ INRA, 47).
LIMA, F.A.M. Estudo quantitativo das produções parciais e produção total de leite e
desenvolvimento ponderal de caprinos no Nordeste semi-árido do Brasil. 1994. 129f.
Belo Horizonte: UFMG, Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Federal de Minas
Gerais, 1994.
MACHADO, T.M.M. Le peuplement des animaux de ferme et l’èlevage de la chèvre au
Brésil avec une étude du polymorphisme visible de la chèvre du Ceará. Paris: Université
de Paris. 1995. 336f. (Thèse Docteur en Sciences).
MACHADO, T.M.M.; CHAKIR, M.; LAUVERGNE, J.J. Genetic distances and taxonomic
trees between goats of Ceará State (Brazil) and goats of the Mediterranean region (Europe and
Africa). Genetic Genetics and Molecular Biology, 23, 1, 121-125. 2000.
MACHADO, T.M.M.; MACHADO, M.M.M. The geographic attempts to form synthetic goat
breeds. In: GLOBAL CONFERENCE ON CONSERVATION OF DOMESTIC ANIMAL
GENETIC RESOURCES, 5., Brasília, 2000. Proceedings... Brasília: EMBRAPA and RBI
Brazil, 2000. CD ROM.
MACHADO, T.M.M., PIRES, L.C., ARAUJO, A.M. Conservação e melhoramento
genético de caprinos com o auxílio de caracteres morfológicos e biométricos. In: Caprinos
e Ovinos: Tecnologias para Produção Lucrativa no Nordeste. Fortaleza: Banco do Nordeste
do Brasil, 2010, v.2, (no prelo).
MARIANTE, A.S. Conservação de Recursos Genéticos Animais no Brasil. In: SIMPÓSIO
NACIONAL DE MELHORAMENTO ANIMAL, 1. Ribeirão Preto, Anais... Ribeirão Preto -
S.P: SBMA. 1996. p. 82-86.
![Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/75.jpg)
74
MARIANTE, A.S. et al. Situação atual da conservação de recursos genéticos animais no
Brasil. In: SIMPÓSIO DE RECURSOS GENÉTICOS PARA AMÉRICA LATINA E
CARIBE. 2., 1999 Brasília, DF. Mesa Redonda... Brasília, DF: EMBRAPA Recursos
Genéticos e Biotecnologia 1999. 5. CD-ROM.
MARTÍN BELLIDO, M.; SÁNCHEZ, M.E.; DÍAZ, F.J.M. et al. Sistemas extensivos de
producción animal. Archivos de Zootecnia, v.50, p.465-489. 2001.
MASON, I.L. Sheep and goat production in the drought polygon do Northeast Brazil. World
Anim. Rev., v.49, n.34, p.23-28, 1980.
MEDEIROS, A.N. Caprinocultura de corte no nordeste brasileiro. Disponível em:
www.capritec.com.br. Acessado em 19/10/2003.
MENEZES, M.P.C.; MARTINEZ, A.M.; RIBEIRO, M.N. et al. Caracterização genética de
raças caprinas nativas brasileiras utilizando-se 27 marcadores microssatélites. Revista
Brasileira de Zootecnia, v. 4, p. 1336-1341, 2006.
MESQUITA, R.C.M.; ARAÚJO FILHO, J.A.; DIAS, M.L. Manejo de pastagem nativa: uma
opção para o semi-árido nordestino. In: SIMPÓSIO NORDESTINO DE ALIMENTAÇÃO
DE RUMINANTES, 2., 1988, Natal. Anais... Natal: EMPARN. p.124-140. 1988.
MONROY, C.A.; ARMENTA, Q.J.A.; ARMENTA, Q.E. et al. Situación actual de la
producción de cabras en baja California Sur: aspectos de producción y organización. En:
REUNIÓN NACIONAL SOBRE CAPRINOCULTURA, 18., 2003. Proceedings... Puebla:
Asociación Mexicana de Producción Caprina, p. 121-122. 2003.
OLIVEIRA, J.C.V.; RIBEIRO, M.N.; ROCHA. L.L. et al. Estudo do estado de conservação
dos rebanhos de caprinos naturalizados criados no estado de Pernambuco. In: JORNADA DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FACEPE, 50 anos do CNPq. 2001, Recife. Anais... Recife:
FACEPE. 2001. v.1, p.278-278.
OLIVEIRA, J.D.; IGARASHI, M.L. S.P.; MACHADO, T.M.M. et al. Structure and genetic
relationships between Brazilian naturalized and exotic purebred goat (Capra hircus) breeds
based in microsatellites. Genetic and Molecular Biology, v.30, n.2, p.356-363, 2007.
PAREDES, R.J. Tipos de oreja y su herencia em la cabra. Archivos de Zootecnia, v.1, p.24-
39, 1952.
PÉREZ-CENTENO, M.; LANARI, M.R.; ROMERO, P. et al. Puesta en valor de un sistema
tradicional y de sus recursos genéticos mediante una Indicación Geográfica: El proceso de la
carne caprina del Norte Neuquino en la Patagonia Argentina. Animal Genetic Resources
Information, n.41, p.9-16. 2007.
PILLING, D. Genetic impact assessments – summary of a debate. Animal Genetic
Resources Information, n.41, p.101-107. 2007.
RIBEIRO, M.N.; CRUZ, G.R.B.; OJEDA, D.B. Recursos genéticos de pequenos ruminantes
na América do Sul e estratégias de conservação. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
![Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE …leg.ufpi.br/subsiteFiles/ciencianimal/arquivos/files/Tese castelo.pdf · Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira](https://reader031.fdocumentos.tips/reader031/viewer/2022031316/5c4a33cc93f3c31760712aba/html5/thumbnails/76.jpg)
75
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA 43., 2006. João Pessoa. Anais... João Pessoa: SBZ. 2006. p.
800-817.
ROCHA, L.L.; RIBEIRO, M.N.; OLIVEIRA, J.C.V. et al. Levantamento do número de
caprinos naturalizados do estado do Pernambuco. In: JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E
EXTENSÃO 1., 2002. Anais.... Recife: UFRPE, 2002. v.1, p. 409-410.
SANTOS, R. A cabra e a ovelha no Brasil. Uberaba, MG: Ed. Agropecuária Tropical Ltda.
1987. 479p.
SERENO, J.R.B.; SERENO, F.T.P.S. Recursos genéticos animales brasileños y sus sistemas
tradicionales de explotación. Archivos de Zootecnia, v. 49, n. 4, p 405-414, 2000.
SILVA, F.L.R.; ARAÚJO, A.M. Desempenho Produtivo em Caprinos Mestiços no Semi-
árido do Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.4, p.1028-1035, 2000.
SILVA, F.L.R. As raças e tipos locais ou naturalizados de caprinos do Nordeste do Brasil
são oriundos de animais provenientes de Portugal e Espanha, trazidos para o País no
período da colonização. Disponível em: www.portaldoagronegocio.com.br. Acesso em: 30
de setembro de 2007.
SOUZA, W.H.; LEME, P.R.; CORREIA, W.S. et al. Avaliação da produção de leite em
caprinos nativos tipo Canindé no Estado da Paraíba. Comunicado Técnico - EMEPA. n.1,
p.9, 1985.
STEINBACH, J. Evolution of indigenous and exotic breeds and their crosses for production
in unfavorable environments. In: INTERNACIONAL CONFERENCE ON GOATS, 4, 1987.
Brasília. Proceedings... Brasília: EMBRAPA - DDT. 625-642. 1987.
VANZOLINI, P.E. Métodos estatísticos elementares em sistemática zoológica. São Paulo:
Hucitec, 1993. 130p.
VRIES, J.D.E. Goats for poor: Some keys to successful promotion of goat production among
poor. Small Ruminant Research, v.77, p.221-224. 2008.
WANDERLEY, M.N.B. A agricultura familiar no Brasil: um espaço em construção. In:
Revista da Associação Brasileira de Reforma Agrária. v.25, n.2, p.37-68. 1995.
WEIR, G.S. Genetic Data Analysis II. 2ª. ed. Sinauer Associetes Inc., Sunderland MA. 1996.