UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL DOUTORADO EM CIÊNCIA ANIMAL CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA, SISTEMA DE PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E ACEITAÇÃO DO CAPRINO NAMBI NO ESTADO DO PIAUÍ JOSÉ DA FONSECA CASTELO BRANCO TERESINA, PIAUÍ BRASIL FEVEREIRO 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

DOUTORADO EM CIÊNCIA ANIMAL

CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA, SISTEMA DE PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO

GEOGRÁFICA E ACEITAÇÃO DO CAPRINO NAMBI NO ESTADO DO PIAUÍ

JOSÉ DA FONSECA CASTELO BRANCO

TERESINA, PIAUÍ – BRASIL

FEVEREIRO – 2010

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CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA, SISTEMA DE PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO

GEOGRÁFICA E ACEITAÇÃO DO CAPRINO NAMBI NO ESTADO DO PIAUÍ

JOSÉ DA FONSECA CASTELO BRANCO

Médico Veterinário

Tese apresentada ao Centro de Ciências

Agrárias, da Universidade Federal do Piauí,

como exigência para obtenção do título de

Doutor em Ciência Animal.

Área de Concentração: Produção Animal

Teresina, Piauí – Brasil

Fevereiro – 2010

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CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA, SISTEMA DE PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO

GEOGRÁFICA E ACEITAÇÃO DO CAPRINO NAMBI NO ESTADO DO PIAUÍ

JOSÉ DA FONSECA CASTELO BRANCO

Médico Veterinário

Tese apresentada ao Centro de Ciências

Agrárias, da Universidade Federal do Piauí,

como exigência para obtenção do título de

Doutor em Ciência Animal.

Área de Concentração: Produção Animal

Orientador: Professor Doutor José Elivalto Guimarães Campelo

Co-Orientadora: Pesquisadora Doutora Adriana Mello de Araújo

Teresina, Piauí – Brasil

Fevereiro – 2010

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C348c Castelo Branco, José da Fonseca

Caracterização fenotípica, sistema de produção, distribuição

geográfica e aceitação do caprino Nambi no estado do Piauí

[manuscrito]/José da Fonseca Castelo Branco - 2010.

75f.

Cópia de computador (printout)

Tese (doutorado) – Universidade Federal do Piauí, Programa de

Pós-Graduação em Ciência Animal. Teresina, 2010.

Orientadores: Prof. Dr.José Elivalto Guimarães Campelo, Pesq.

Drª Adriana Mello de Araújo.

1. Caprino 2. Raça nativa 3. Sistema de criação 4. Conservação

I.Título

CDD 636.39

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CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO FFEENNOOTTÍÍPPIICCAA,, SSIISSTTEEMMAA DDEE PPRROODDUUÇÇÃÃOO,, DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO

GGEEOOGGRRÁÁFFIICCAA EE AACCEEIITTAAÇÇÃÃOO DDOO CCAAPPRRIINNOO NNAAMMBBII NNOO EESSTTAADDOO DDOO PPIIAAUUÍÍ

José da Fonseca Castelo Branco

(Doutorando)

Tese Aprovada em 26/02/2010

Banca Examinadora:

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“O domínio de uma profissão não exclui o seu

aperfeiçoamento. Ao contrário, será mestre

quem continuar aprendendo”.

Pierre Furter

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Á minha irmã Raimunda Santos Castelo

Branco, meu cunhado e amigo José

Bernardes Santos e meus sobrinhos Thiago

Santos Castelo Branco, Renato Santos

Castelo Branco e Juliana Santos Castelo

Branco pela bela acolhida e apoio durante e

quando na apresentação e defesa desta tese.

Ofereço

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A minha filha Rafaela Gomes Castelo Branco,

meu Pai, minha Mãe e todos meus irmãos, os

quais mim apoiaram e mim ensinaram a viver

de uma forma especial neste belo universo de

coisas maravilhosas e cheio de ciência para

nossos desafios.

Dedico

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Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço a Deus por ter mim oportunizado quanto à superação deste

desafio.

À Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Meio Norte do Brasil,

(EMBRAPA) pela colaboração nas coletas de dados.

À Universidade Federal do Piauí pela grandeza e capacidade de ofertar pós-

graduação, oportunizando seus egressos um universo mais amplo e repleto de novos

conhecimentos.

Professor orientador Dr. José Elivalto Guimarães Campelo UFPI/CCA, amigo e

grande companheiro e pela magnânime orientação e condução deste trabalho.

Professora co-orientadora Dra. Adriana Mello de Araújo, pesquisadora da

EMBRAPA/MEIO-NORTE pela sua admirável competência e capacidade intelectual de

orientar.

Ao membro Professora Dra. Théa Mirian Medeiros Machado DZO/CCA/UFV, pelas

valiosas correções e sugestões pertinentes.

Ao membro Prof. Dr. José Lindenberg Rocha Sarmento DZO/Cinobilina

Elvas/UFPI, pelas colaborações e sugestões quanto ao aprimoramento deste.

Ao analista da EMBRAPA/MEIO NORTE Dr. Marcos Jacob de Oliveira Almeida,

pela participação na banca examinadora e pelas brilhantes sugestões.

À professora Dra. Maria Elizabete de Oliveira DZO/CCA/UFPI pelas sugestões no

redirecionamento da pesquisa.

Aos colegas Doutorandos Márcio Costa, Joubert Borges, Flávio Oliveira, Laí Filho,

Lidiana Siqueira, Nazaré Bona e Luana Pires, pelo companheirismo e apoio para o bom

êxito deste trabalho.

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Ao colega professor Abdias Últmo (CAT/UFPI), pelo apoio e colaboração na

consecução deste objetivo.

Aos secretários da pós-graduação em Ciência Animal Luiz Gomes da Silva e Vicente

de Sousa Paula pelo companheirismo, amizade e colaboração quanto às informações

relativas ao curso.

Ao professor Dr. João Batista Lopes, companheiro de todos os momentos que sempre

de maneira educada sabe servir com muita satisfação.

Ao Dr. Francisco de Assis da Silva Araújo do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pela confecção dos mapas e pela

orientação do estudo de georeferenciamento das microrregiões pesquisadas.

Ao mestrando em Ciência Animal Natanael Pereira da Silva Santos pela colaboração

nas análises estatísticas dos dados.

À mestranda em Ciência Animal Naylene Carvalho Sales da Silva pela forma gentil de

colaborar na formatação e correção final da tese.

Muito Obrigado.

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SUMÁRIO

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Listas de Abreviaturas

Resumo

Abstract

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 16

2 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................... 19

2.1 Diversidade Genética .................................................................................... 19

2.2 Recursos Genéticos Caprinos ........................................................................ 21

2.3 Conservação de Recursos Genéticos Caprinos ............................................. 22

2.4 Caracterização da Criação de Caprinos em Sistema Tradicional .................. 25

2.5 Caprinos Nambi ............................................................................................. 26

3 CAPÍTULO I. Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado

Nambi e do sistema de criação com esses animais no estado do Piauí .........

29

Resumo .......................................................................................................... 30

Abstract ......................................................................................................... 31

Introdução ..................................................................................................... 32

Material e Métodos ........................................................................................ 34

Resultados e Discussão ................................................................................. 37

Conclusões .................................................................................................... 47

Literatura citada ............................................................................................. 47

4 CAPÍTULO II Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no

estado do Piauí e avaliação da aceitação desse fenótipo como raça caprina

nativa. ............................................................................................................

51

Resumo .......................................................................................................... 52

Abstract ......................................................................................................... 53

Introdução ..................................................................................................... 54

Material e Métodos ........................................................................................ 56

Resultados e Discussão ................................................................................. 60

Conclusões .................................................................................................... 67

Literatura citada ............................................................................................. 68

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 70

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAIS .......................................... 71

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Lista de Figuras

Pag.

CAPÍTULO I - Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado

Nambi e do sistema de criação tradicional no estado do

Piauí............................................................................................ 29

Figura 1 - Mapa Ilustrativo das Microrregiões Consultadas ...................... 34

Figura 2 - Dispersão das microrregiões segundo os dois primeiros

componentes principais com características métricas de

caprinos Nambi no Piauí ............................................................ 41

CAPÍTULO II - Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no

estado do Piauí e avaliação da aceitação desse fenótipo

como raça caprina nativa ......................................................... 51

Figura 1 - Distribuição geográfica das microrregiões avaliadas quanto a

presença de caprinos Nambi no estado do Piauí ...................... 57

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Lista de Tabelas

Pag.

CAPÍTULO I - Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado

Nambi e do sistema de criação tradicional no estado do

Piauí............................................................................................ 29

Tabela 1 - Dados distribuídos por microrregião e por município nestas;

percentual no efetivo caprino do Piauí e das amostras por

microrregião e por município ..................................................... 35

Tabela 2 - Média da altura na cernelha (AC) e na garupa (AG),

profundidade torácica (PT), comprimento (CC) e

circunferência corporal (Circ.), comprimento da orelha (CO) e

escore corporal de cabras Nambi por microrregião no Piauí...... 38

Tabela 3 - Média do peso ao nascer (PN), aos 30 (P30) e a 120 dias de

idade (P120), de crias Nambi no município de Altos, Piauí em

2009............................................................................................. 39

Tabela 4 - Autovetores das características métricas de animais Nambi no

Piauí............................................................................................. 40

Tabela 5 - Freqüências (%) de respostas indicadoras do perfil da

caprinocultura no Piauí, em rebanhos com animais

Nambi.......................................................................................... 44

CAPÍTULO II - Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no

estado do Piauí e avaliação da aceitação desse fenótipo

como raça caprina nativa ......................................................... 51

Tabela 1 - Freqüência conjunta (%) de opiniões “favoráveis” e “não

favoráveis” a animais Nambi ter potencial para se tornar raça

caprina (cruzamento da pergunta I com II), com respostas

espontâneas, no Piauí .................................................................. 64

Tabela 2 - Freqüência conjunta (%) de opiniões “favoráveis” e “não

favoráveis” a animais Nambi ter potencial para se tornar raça

caprina (cruzamento da pergunta I com II), com respostas

induzidas, no Piauí ...................................................................... 66

Tabela 3 - Freqüências da opinião sobre atributos destacados como

importantes para caprinos Nambi, para seleção visando torná-

lo raça caprina, no Piauí ............................................................. 67

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Listas de Abreviaturas

SRD - Sem Raça Definida

UFPI – Universidade Federal do Piauí

FAO – Organização para Alimentação da Agricultura Familiar

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

CENARGEN - Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia

Km² - Quilômetro quadrado

Ha - Hectare

% - Porcentagem

ASCCOPER – Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Estado de Pernambuco

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

CAT – Colégio Agrícola de Teresina

UFPI – Universidade Federal do Piauí

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

ACP - Análise de Componentes Principais

USAV - Unidade de Sanidade Animal e Vegetal

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CCaarraacctteerriizzaaççããoo ffeennoottííppiiccaa,, ssiisstteemmaa ddee pprroodduuççããoo,, ddiissttrriibbuuiiççããoo ggeeooggrrááffiiccaa ee aacceeiittaaççããoo ddoo

ccaapprriinnoo NNaammbbii nnoo eessttaaddoo ddoo PPiiaauuíí

Doutorando: José da Fonseca Castelo Branco

Orientador: Prof. Dr. José Elivalto Guimarães Campelo - CCA/UFPI

Co-Orientadora: Dra. Adriana Mello de Araújo – Embrapa Meio-Norte

Resumo: A seleção natural imprimiu no caprino nativo características específicas de

rusticidade, criando habilidade para sobrevivência sob clima quente e seco e adequação a

sistemas de produção com baixa tecnologia, porém, com sacrifício do desempenho produtivo,

passando a ter apenas importância regional, no âmbito da agropecuária familiar. Neste grupo

está o Nambi, animais com orelha reduzida, que estão dispersos no Nordeste, numa situação

desconhecida quanto ao risco de extinção e/ou se têm potencial para tornarem-se raça nativa.

Assim, a adoção de estratégias para sua conservação ou recorrer a seleção para uso imediato é

importante e necessário avaliar se o fato de apresentarem orelha reduzida é visto como defeito

que prejudica sua aceitação. Com esta pesquisa objetivou-se caracterizar animais Nambi, sua

distribuição geográfica, o sistema de criação no qual ele está inserido no Piauí e a aceitação

desse fenótipo como raça nativa. Para a caracterização fenotípica, dados foram coletados em

14 municípios de cinco microrregiões, referentes a medidas quantitativas, que foram

submetidas à análise de variância e análise multivariada por componentes principais. Para

descrição sócio-econômica, aplicou-se questionários a criadores, com perguntas relativas a

aspectos de manejo dos animais, aspecto familiar, bem como sobre a propriedade. Os dados

foram submetidos a análise descritiva. No levantamento geográfico realizou-se visita a

rebanhos e também consulta a técnicos que atuam no setor agrário, para registro de Nambi

nos rebanhos. Na avaliação da opinião da aceitação do Nambi como raça, apresentou-se

individualmente, dois tipos de questionário a 158 pessoas com atividade relacionada à

caprinocultura ou não, com perguntas sobre o Nambi, beleza, defeitos, rusticidade, se criariam

esses animais e se viam neles potencial para ser raça. O segundo questionário foi

complementar e apresentado após preleção a cerca de qualidades do Nambi e da raça

Lamancha (processo indutivo). Os dados foram submetidos a análise de freqüência e, com o

procedimento “crosstabulation” do software SPSS, fez-se cruzamento da resposta apresentada

à pergunta ”você considera os animais Nambi com potencial para tornar-se raça?” com as

respostas dadas às demais, aplicando-se teste de “Qui-quadrado” nas freqüências conjuntas

obtidas. Constatou-se que o caprino Nambi está difundido em todo o estado do Piauí, inserido

em rebanhos de agropecuária familiar, manejados de forma extensiva e com baixo nível

tecnológico. A criação é realizada por pessoas com tradição nessa atividade a vários anos,

mas não implica em eficiência, pois o manejo reprodutivo, alimentar e sanitário adotados são

precários. O Nambi está integrado à caprinocultura extensiva no Estado, presente em

rebanhos com predominância de animais SRD de pequeno porte. Apresentam orelha reduzida

com comprimento médio de 5,2cm, além do tamanho corporal variável. A raça Anglonubiana

tem influência marcante na formação do Nambi, notadamente nas microrregiões com maior

efetivo. O modo de herança “dominância incompleta” do caráter Nambi, aliado à inexistência

de controle de acasalamento nos rebanhos, pode contribui para aumentar o seu efetivo no

Estado e, como o tamanho reduzido da orelha não é visto como defeito que compromete sua

aceitação, o caprino Nambi é visto no Piauí como animal rústico e com potencial para ser

trabalhado, para formação de raça adaptada.

Palavras-Chave: agricultura familiar, análise multivariada, caprino nativo, conservação,

levantamento, sistema extensivo.

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Phenotypic Characterization, production system, geographic distribution and

acceptance of goat meat Nambi in the State of Piauí

Student: José da Fonseca Castelo Branco

Supervisor: Prof. Dr. José Elivalto Guimarães Campelo - CCA/UFPI

Co-supervisor: Dra. Adriana Mello de Araújo - Embrapa Meio-Norte

Abstract: Natural selection imprinted in the native goat specific characteristics of rusticity,

creating the ability to survive under warm and dry climate and adaptation to production

systems with low technology, but with the sacrifice of productive performance, and having

only regional importance within the farming family. The Nambi, which is in this group, are

animals with small ears, scattered in the Northeast, in a situation that is unknown about the

risk of extinction and/or if they have the potential to become a native breed. Therefore, the

adoption of strategies for their conservation or use selection for their immediate use is

important and it is necessary to assess whether the fact of presenting small ears is regarded as

defect that undermine their acceptance. With this research it was aimed to characterize the

Nambi, their geographical distribution, the breeding system which in practiced upon them in

Piauí and the acceptance of this phenotype as native breed. For the phenotypic

characterization, data were collected in 14 municipalities of five micro-regions, regarding the

quantitative measures, which were subjected to analysis of variance and multivariate analysis

by key components. For the description of the socio-economic status, questionnaires were

applied to farmers, with questions relating to aspects of animal handling, to family, as well as

to the property. The data were subjected to descriptive analysis. As for the geographical

survey, there were visits to goat herds and also consultation with technicians who work in the

farming sector, to record Nambi in herds. In evaluating the opinion of the acceptance of

Nambi as a breed, it was presented individually two types of questionnaire to 158 people

connected or not to the raising of goats, with questions about the Nambi, their beauty, defects,

roughness, whether they would raise these animals and whether they saw in them the potential

to become a breed. The second was a complementary questionnaire which was presented after

a lecture about the qualities of the Nambi and the Lamancha breed (inductive process). The

data were subjected to analysis of frequency and, with the crosstabulation procedure from the

SPSS software, the answers given to the question "do you consider the Nambi to have the

potential to become race?" was crossed with answers to the other questions, applying the Chi-

square test to the joint frequencies obtained. It was found that the Nambi is widespread

throughout the State of Piauí, introduced into herds of farming family, managed extensively

and with low technological level. The raising of these animals is performed by people with a

tradition in this activity for several years, but it does not imply it is efficient, because the

breeding, feeding and sanitation adopted are precarious. The Nambi is integrated with the

extensive goat production in the State of Piaui, present in herds with predominance of SRD

small size animals. They present small ears with average length of 5,2 cm, in addition to the

variable body size. The Anglonubiana breed has a significant influence on the formation of

the Nambi, notably in the micro-regions with more herds. . The incomplete dominance mode

of inheritance for the Nambi character, associated to the lack of breeding control in herds may

contribute to increase its numbers in the state and, as the small size of the ears is not regarded

as a defect which compromises its acceptance, the Nambi is seen in the State of Piauí as a

rough animal accepted to be worked on for the creation of an adapted breed.

Keywords: family farming, multivariate analysis, native goat, conservation, surveying,

extensive system.

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1 INTRODUÇÃO

A sustentabilidade assume neste século um papel importante na reflexão sobre as

dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se configuram, pois, o quadro

socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas, revela que o impacto da ação

do homem sobre o meio ambiente, apresenta conseqüências cada vez mais complexas, tanto

em termos quantitativos quanto qualitativos (JACOBI, 2003). Esse impacto passou a ser

debatido com maior veemência no final do século XX, momento a partir do qual a

consciência sobre a importância da conservação ambiental tomou forma mais concreta, diante

de aparentes modificações climáticas, sistematicamente divulgadas na mídia. Nesse cenário o

tema sustentabilidade ambiental confronta com a necessidade de cada vez mais produzir

alimentos, porém, implica que práticas baseadas numa perspectiva integradora devam

prevalecer.

A produção animal está inserida nesse contexto ambiental que se apresenta com

perspectivas de ocorrência de mudanças climáticas cada vez mais freqüentes, com isso,

precisa se adequar sempre que nova condição de ambiente surgir. Isso significa que não há

garantias que sistemas de manejo adequados atualmente possam persistir nessa condição por

muito tempo, principalmente em regiões onde as condições de ambiente são mais severas à

produção animal (RIBEIRO et al., 2006).

A produção de alimentos atualmente ruma para a uniformidade de recursos genéticos

devido a perda de variabilidade em parte, via a extinção de raças, porém, também por

cruzamentos envolvendo as populações comerciais e nativas. Isso leva a uma restrição da

diversidade genética dos recursos animais, que poderá comprometer sua utilização no futuro.

Ao mesmo tempo, as condições do ambiente de produção também tendem a mudar. Com isso,

para que a evolução ocorra de forma favorável, será necessário impor gestão sustentável dos

recursos zoogenéticos em escala mundial (FIMLAND, 2007).

No Brasil, historicamente a agricultura familiar é considerada arcaica, de baixo

rendimento e voltada à subsistência, tendo sido preterida em favor do estímulo à grande

propriedade, detentora de força política na definição das formas e mecanismos de atuação do

Estado (WANDERLEY, 1995). Guanziroli e Cardim (2000) definiram o universo dos

agricultores familiares pelos estabelecimentos que atendiam, simultaneamente, as seguintes

condições: a) a direção dos trabalhos no estabelecimento era exercida pelo produtor e, b) o

trabalho familiar era superior ao trabalho contratado.

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Já há algum tempo que se discute sobre o espaço que a agricultura familiar poderia

ocupar no âmbito do desenvolvimento sustentável no país, estando esse tema presente na

agenda de pesquisadores (CARMO, 1998) e presente também está a ovinocaprinocultura entre

as opções de produtos para dar suporte a esse discurso. Por outro lado, durante décadas tem

sido verificado um convívio paralelo da agricultura familiar com a ovinocaprinocultura na

região Nordeste, onde ambas são consideradas atividades à margem do desenvolvimento, ou

em nível de subsistência. Normalmente apresentam baixa eficiência e realizadas por

produtores desprovidos de capital e de recursos tecnológicos. Em relação à caprinocultura,

prevalece a utilização de animais Sem Raça Definida (SRD), além de nativos como a

Gurguéia, Canindé, Repartida e Nambi, que, por serem considerados adaptados à região,

recebem pouca atenção em manejo, consequentemente, refletindo negativamente no

desempenho produtivo.

Mesmo diante desse cenário, a produção de pequenos ruminantes vem se caracterizando

como uma atividade de importância cultural, social e econômica para o Nordeste (COSTA et

al., 2008), numa indicação clara que é necessário se conhecer suas particularidades, tanto em

termos sócio-cultural quanto em relação às raças que são mais adequadas, para tornar a

produção mais eficiênte. Para tal, deve-se levar em consideração que a introdução de raças

especializadas, sem as adequações necessárias nas condições de criação, certamente limitará a

expressar o seu potencial genético. Em relação às raças nativas, deve-se estar ciente que a

expressão de baixos índices zootécnicos, é uma resposta adaptativa às intempéries ambientais

e ao manejo.

Como alternativa a essa situação, Delgado et al. (1999) recomendam que os animais

nativos sejam submetidos a estratégias para agregação de atributos específicos, de forma a

receber selo de “produto social”, com isso ganhariam mais importância econômica e social,

porém, precisam ser mais estudados. Aliado a esse ponto de vista, constata-se na literatura

justificativas conservacionistas que apontam haver adequação de raças naturalizadas para a

produção na agricultura familiar, principalmente em áreas rurais onde predomina baixo poder

aquisitivo, como no Nordeste do Brasil.

Entretanto, os produtores familiares podem não ter percepção clara da importância desse

recurso genético para o sistema de produção agroecológico, que pode ser mais adequado ao

semi-árido. Além disso, a pesquisa tem abordado este grupo de produtor quase sempre

gerando expectativa de ganho imediato de capital, ofertando-lhes auxílio monetário como

forma de aceitação de novas tecnologias, a exemplo de novas raças, o que pode prejudicar a

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parceria entre a pesquisa e o produtor na adoção de estratégia de conservação genética de

raças nativas e/ou para atender a esse público (ARAÚJO, 2006).

Na Espanha, existe muito interesse em relação a conservação de raças nacionais, sendo

dedicado grandes esforços para esse fim, de forma a caracterizar e valorizar rebanhos

autóctones no país (DELGADO et al., 1999). Segundo estes autores, a caracterização racial

por meio de padrões genéticos, leva ao conhecimento e reconhecimento oficial das raças,

servindo de base para o trabalho de associações, levando a abertura de livros genealógicos.

No Brasil a situação é bem diferente, onde caprino Canindé, Gurguéia, Marota, Moxotó, Azul

e Nambi, dentre outros, estão dispersos e, provavelmente, em risco desconhecido de extinção,

especialmente os animais Nambi, que apresentam a particularidade de terem orelha reduzida,

que, se for vista como um defeito pode comprometer ainda mais a conservação desses

animais.

Esses grupos de caprinos, que têm por base animais introduzidos no país pelos

colonizadores portugueses, se integraram às condições de ambiente dos trópicos

concentrando-se principalmente no Nordeste, onde a interação com o ambiente quente e seco

da região e com o sistema de criação extensiva, resultou em pressão de seleção que levou a

formação de animais com um padrão fenotípico específico, o pequeno porte, comum às raças

nativas Marota, Moxotó e Canindé e aos tipos naturalizados: Gurguéia, Azul, Graúna, Nambi

(BARROS, 1987), além de outros de menor expressão, porém, aparentemente adequados à

forma de exploração extensiva que prevalece na região.

A introdução de raças exóticas nas últimas décadas na caprinocultura no Nordeste,

inicialmente a raça Anglonubiana e posteriormente a Boer, é um aspecto relevante para a

atividade na região, se destacando a contribuição para aumentar a variabilidade genética nos

animais SRD. Entretanto, o sistema de criação extensiva com inexistência de controle

reprodutivo, põe em risco desconhecido de extinção os grupos genéticos nativos, dentre eles o

Nambi, sendo que levaram muitos anos para atingirem a composição genética atual.

Nessa perspectiva, com esta pesquisa objetivou-se caracterizar o sistema de criação

extensiva de caprinos no estado do Piauí, com animais do grupamento genético Nambi

presentes nos rebanhos. Objetivou-se também realizar levantamento da localização e

caracterização desses animais no Estado, com avaliação do grau de aceitação desse fenótipo

como raça nativa.

Seguindo as Normas do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFPI, esta

Tese apresenta as partes: Introdução, Revisão de Literatura, Capítulos I e II na forma de

Artigo científico, Considerações finais e Referências Bibliográficas. O Capítulo I:

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Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado Nambi e do sistema de criação

com esses animais no Estado do Piauí, será submetido à revista Animal Genetic Resource

Information - AGRI (ISSN: 1014-2339, EISSN: 2076-4022). O capítulo II: Levantamento da

distribuição de caprinos Nambi no estado do Piauí e avaliação da aceitação desse

fenótipo como raça caprina nativa, será submetido à revista Archivos de Zootecnia. (ISSN

Print 0004 – 0592 ISSN, Online 1885 – 4494). Ambos estão estruturalmente compostos por:

Título, Autores, Resumo, Abstract, Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão,

Conclusão, Referências Bibliográficas, redigidos segundo as Normas dessas revistas.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Diversidade Genética

A perda de um único tipo ou raça compromete o acesso a seus genes e/ou combinações

genéticas, pois cada raça ou população representa, provavelmente, uma combinação única de

genes que pode ser útil no futuro. Assim, convém-se manter a máxima diversidade de pool

genético de cada espécie (EGITO et al., 2002). Entretanto, raças nativas tendem a diminuir

seu efetivo, ao serem substituídas por raças de melhor desempenho produtivo, aprimoradas

por seleção artificial (MACHADO et al., 2010).

Dentre as alternativas para reduzir o risco da perda de variabilidade genética, alguns

países têm exigido, como condição para liberação da autorização de importação, que seja feita

avaliação do impacto genético que causará a introdução da raça exótica. Porém, a importância

desse sistema não está reconhecida a nível mundial. Os argumentos expostos neste sentido

destacam a potencialidade de evitar a perda de uma parte importante de recursos genéticos

animal, incluindo também a responsabilidade dos governos e sua intervenção na promoção do

desenvolvimento sustentável, ou na proteção da soberania nacional (PILLING, 2007).

A diversidade na espécie resulta da variância entre raças (inter-racial) e dentro da raça

(intra-racial) e é importante, tanto para a conservação como para a produção animal. O estudo

da variabilidade genética intra-raça visa melhor compreensão da dinâmica de populações nas

unidades de conservação, destacando a quantificação do grau de estruturação geográfica, a

medição da consangüinidade, além de análises filogenéticas e filogeográficas (AVISE et al.,

1995).

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Assim, o reconhecimento da necessidade de conservação da diversidade genética nas

populações de animais domésticos, incluindo a sua diferenciação e avaliação das relações

genéticas existentes, apresenta o propósito de identificar populações e/ou raças

prioritariamente a se conservar e/ou para se estabelecer programas de conservação e gestão

(BARKER et al., 2001).

Para Vanzolini (1993), a sistemática é a ciência da biodiversidade e o grau de

similaridade ou de diversidade genética é usualmente obtido pela estimativa da distância

genética entre populações, que é uma medida da probabilidade dos genes de uma ou de mais

características estarem em uma população, mas não na outra (ARAÚJO, 2004).

Na quantificação da variabilidade entre populações, o uso de ferramentas estatísticas

traduz as diferenças em medidas de distância entre elas (KUMAR, 2000). Por exemplo, a

distância Euclidiana Simples e a de Mahalanobis são utilizadas para indicar similaridade

fenotípica, enquanto à distância padrão de Ney é para a diferenciação genética e estimada com

dados moleculares. Sob determinada ótica, elas podem ser consideradas mecanismo para

reduzir informação sem perda, uma vez que transformam os dados sobre a relação entre duas

populações em um único número (WEIR, 1996). Se não há diferença, então a distância entre

as duas populações é zero.

O método de Componentes Principais, que tem sido utilizado em estudos de diversidade

genética entre populações, é um procedimento estatístico que consiste em reescrever as

coordenadas das amostras em outro sistema de eixo mais conveniente para interpretação dos

dados, pois n-variáveis originais geram através de combinações lineares, n-componentes

principais, cuja principal característica, além da ortogonalidade, é que são obtidos em ordem

decrescente de máxima variância, com o componente principal 1 detendo mais informação

estatística que os demais. A análise permite a redução da dimensionalidade dos pontos

representativos das amostras, pois é comum a obtenção nos 2 ou 3 primeiros componentes

principais, mais de 90% da variação presente nos dados (CRUZ e CARNEIRO, 2006).

No Brasil ainda é pequena a quantidade de estudo de diversidade em caprinos e

prevalece o uso de técnica molecular, com destaque para microssatélite, como fizeram Araújo

et al. (2004), que estudaram a diversidade genética em caprinos da raça Moxotó no Ceará

utilizando dez marcadores microssatélites; Menezes et al. (2006), que caracterizaram caprinos

de raças naturalizadas utilizando 27 microssatélites; Oliveira et al. (2007), que estudaram a

estrutura e a relação genética entre raças brasileiras naturalizadas e raças exóticas, com base

em 13 locos de microssatélites.

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A utilização de caracteres morfológicos para o estudo de diversidade também tem sido

pesquisada, como fizeram Machado et al. (2000), que avaliaram a relação entre animais SRD

e da região mediterrânea. Ha utilização de polimorfismo de proteínas com esse fim realizada

por Igarashi et al. (2000).

2.2 Recursos Genéticos Caprinos

As maiores concentrações de caprinos se encontram nas regiões tropicais e áridas da

Ásia e África, representando 74% da produção mundial, que está em torno de 807,6 milhões

de animais, destacando-se com as maiores produções a China, Índia e Paquistão que, juntos

somam aproximadamente 46,1% do rebanho global (FAO, 2006).

O rebanho de caprinos do Brasil corresponde a aproximadamente 9,6 milhões de

animais (IBGE, 2006), com mais de 90% encontrando-se na região Nordeste, sobretudo no

semi-árido, concentração que é favorecida por vantagens climáticas e razões

socioeconômicas. Na composição desse rebanho constam animais de raças exóticas (Saanen,

Anglonubiana, Alpina, Toggemburg e Boer), raças Nativas (Moxotó e Canindé) além de

ecótipos regional (Marota, Repartida, Azul e Nambi). Porém, a maioria dos caprinos é

considerada SRD e/ou crioulo, produto de cruzamento indiscriminado entre animais de grupos

nativos com as raças exóticas, e/ou deles entre si, respectivamente (MACHADO et al., 2000).

Essas duas raças e os ecótipos são descendentes de animais trazidos pelos colonizadores

portugueses para o país, tendo sido aqui submetidos a pressão de seleção natural, resultando

nesses grupos genéticos que apresentam características peculiares de resistência e de

adequação ao ambiente quente e seco, dentre as quais destaca-se o porte pequeno, pêlos

curtos, orelhas pequenas e ereta, porém com cores de pelagens diversas. Entretanto, não há

detalhamento preciso do histórico da introdução de caprinos em todos os estados do Nordeste,

principalmente no Piauí onde consta como sendo uma referência importante, a possibilidade

de terem esses animais acompanhado o percurso de interiorização dos bovinos (COSTA,

1974).

O fato de Portugal e Espanha se encontrarem em guerra no século XVI pode ter

contribuído para diminuição da entrada de animais de origem espanhola no país. Outro

aspecto que se mostra também importante para a formação dos caprinos no Brasil, é a

qualidade dos animais que foram introduzidos durante o início da colonização, pois caprinos

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destinavam-se ao consumo da tripulação nas viagens, logo, provavelmente apenas as sobras

eram introduzidas (RIBEIRO et al., 2006).

Posteriormente a esse processo de introdução, provavelmente o desenvolvimento das

raças e/ou tipos de animais naturalizados no Nordeste foi mais influenciado pelo isolamento

genético e seleção natural, do que diretamente pela intervenção do homem. Historicamente os

caprinos e ovinos foram criados em sistema extensivo, no qual a habilidade para sobreviver

frente aos rigores climáticos foi essencial. Assim, sem sofrer grande pressão de seleção

direcionada para atender ao interesse do homem quanto a produção de alimentos, esses

animais desenvolveram alta capacidade de sobrevivência nesse ambiente, mas ao custo de

redução nos índices zootécnicos, consequentemente, tornando-se menos produtivos e menos

valorizados comercialmente, porém, mais acessíveis à agricultura familiar (SILVA, 2007).

O argumento que esses animais são os que melhor se adequam à agricultura familiar no

país não é recente, sendo que algumas pesquisas buscaram retratar sua baixa produtividade

discutindo-a em termos relativos, ou seja, recomendam que a avaliação da produção se feita

sob criação extensiva, deva valorizar indicadores de adaptação e rusticidade, como fez Santos

(1987), que avaliou a produção de leite da raça Canindé sob condição de criação extensiva,

constatando produção média diária de 760g e Souza et al. (1985), que estimaram produção

média diária de 800 g para a raça Moxotó.

Lima (1994), também concordou que ressalvas devam ser feitas sobre índices

produtivos desses animais avaliados em condições de criação adversas. Porém, a esse

respeito, convém se questionar a viabilidade de se buscar elevar muito os índices zootécnicos

de animais destinados a produção em áreas, cujos solos, vegetações e condições climáticas, se

mostram muito adversas à produção animal.

Esse discurso atualmente aborda aspectos conservacionistas, perspectiva na qual se

constata concordância que, para esse ambiente, a exploração de animais com menor exigência

parece ser mais adequada, pois tendem a utilizar eficientemente os recursos disponíveis. Mas,

buscar agregar qualidade específica ao produto que o torne competitivo e importante (GAMA,

2006).

2.3 Conservação de Recursos Genéticos Caprinos

É importante que as pesquisas para o melhoramento do rebanho de caprinos no

Nordeste avaliem a introdução de raças exóticas produtivas. Porém, também se faz necessário

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a conservação dos tipos naturalizados, que apresentam características genéticas produtivas

compatíveis com o ambiente da região (MEDEIROS, 2003).

Um programa de conservação de recursos genéticos animal deve incluir as seguintes

etapas: (1) Identificação das populações através de levantamento do número efetivo de

animais nos rebanhos que se encontram em rico de diluição genética; (2) Caracterização

biométrica dos animais quanto a características quantitativas tais como: altura de cernelha,

perímetro torácico, peso e tamanho de garupa e qualitativas, como: cor da pelagem, perfil

cefálico, tamanho de orelhas e presença/ausência de chifres, além da caracterização genética

com marcadores moleculares, utilizando-se ferramentas diversas: Restriction Fragment

Length Polymorphism (RFLP); Amplified Fragment Length Polymorphism (AFLP); Radon

Amplified Polymorphic DNA (RAPD); microssatélites e etc., mensurando-se as diferenças

entre e dentro das populações e por fim, (3) a avaliação do potencial produtivo dos rebanhos,

com dados de produção de carne, leite, pele e pêlos (MARIANTE et al., 1999).

Rocha et al. (2002) observaram que no estado de Pernambuco apenas 9,4% dos caprinos

são nativos e nestes com predominância da raça Moxotó. Esta situação tem grande influência

da utilização das raças Anglonubiana e Boer, esta última importada da África do Sul com o

objetivo de melhorar a produção de carne, pois a introdução de raças exóticas mais produtivas

selecionadas em regiões de clima temperado, tem sido apresentada como a principal

alternativa para melhorar a produtividade de rebanhos nativos de regiões agrárias pobres,

porém, também tem implicado numa rápida substituição e conseqüente, diminuição do efetivo

caprino de raças locais mantidas como pura (SERENO e SERENO, 2000), enquanto outras se

encontram em franco processo de diluição genética (OLIVEIRA et al., 2001).

A causa dessa perda de variabilidade deve-se, principalmente, à utilização desordenada

de cruzamentos envolvendo as raças exóticas. Esse tema é de grande importância e medidas

de proteção sempre serão necessárias. Dentre as justificativas apresentadas, destaca-se a

importância desses animais como recurso biológico, por serem dotados de grande

variabilidade genética, além do seu valor histórico e social (RIBEIRO et al., 2006).

Nessa linha de raciocínio os sistemas de produção tradicionais, ecológicos e no âmbito

da agricultura familiar, são beneficiários da utilização de recursos genéticos caprinos com

características de rusticidade, pela agregação de valor social e ambiental aos produtos

originários de caprinos nativos. Um diálogo maior entre os agricultores familiares e a

pesquisa pode favorecer um sistema de preservação participativo (on farm) e buscar soluções

para a inserção diferenciada de produtos caprinos tradicionais no mercado. Esta ação também

pode ser favorável para retirar recursos genéticos do perigo de extinção, pois a conservação

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privatizada on farm é uma estratégia considerada eficiente e auto-sustentável (GANDINI e

OLDENBROEK, 1999).

A proteção de produto derivado de recursos genéticos específicos pode estar associada a

uma especificidade deste ou simplesmente ser uma questão de marketing (LAMBERT-

DERKIMBA et al., 2006). Por exemplo, a carne caprina com recurso genético nativo da

Patagônia, no norte da Argentina, se encontra ligado ao sistema de criação e sua gente de

modo muito estreito, portanto, trata-se de um vínculo genuíno (PÉREZ-CENTENO et al.,

2007).

Vários são os argumentos usados para a conservação de raças ou tipos nativos, como:

possibilidade de produção de artigos ímpares como fibras naturalmente colorida, carne e

queijos certificados pela origem e/ou qualidade; serem adaptados às pastagens nativas de onde

se originam e há relatos de raças locais resistentes a algumas doenças. Caprinos tropicais se

comportam como poliéstricos contínuos enquanto os de clima temperado são geralmente

sazonais resultando maior intervalo entre partos que nos primeiros. Animais de diferentes

origens e históricos se prestam como material para estudo das relações genéticas entre

populações e podem constituir banco de germoplasma para melhoria futura de raças já

selecionadas para produção (MACHADO et al., 2010). Audiot (1995) considera que tais

populações constituem patrimônio herdado de gerações passadas, protegê-las é um dever da

administração pública e elas podem apresentar novas perspectivas econômicas no futuro.

Steinbach (1987) afirma que, em geral, importa-se raças em decorrência do

desconhecimento do potencial produtivo dos animais autóctones e que na maioria dos casos,

as raças nativas têm seu desempenho produtivo mascarado por práticas inadequadas de

manejo, sendo prejudicadas pela ausência de uma análise econômica global. Segundo

Camacho Vallejo et al. (2002), o bom nível de formação dos produtores de leite de cabra no

norte de Córdoba, Espanha, em geral decorre do conhecimento adquirido com a produção

bovina, porém, informações específicas sobre o manejo caprino seriam necessárias para que

os produtores pudessem superar as deficiências existentes no setor.

Dada a sua importância, a conservação de animais naturalizados continuou recebendo

atenção das instituições de pesquisas no país. A EMBRAPA, através do CENARGEN (Centro

Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia) em parceria com diversas

Universidades e Empresas Estaduais de Pesquisas, vem desenvolvendo projetos de

caracterização e avaliação desses animais para conservação, dentre eles; caprinos das raças

Canindé, Moxotó e o grupamento genético Marota (MARIANTE, 1996) e Azul (ARAÚJO,

2006).

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2.4 Caracterização da Criação de Caprinos em Sistema Tradicional

A produção de pequenos ruminantes é um nincho ecológico e econômico nos países em

desenvolvimento, contribuindo para a segurança alimentar e sobrevivência do homem no

meio rural (DEVENDRA, 2002). A caprinocultura é uma das atividades presente em todas as

regiões do planeta, inclusive em locais com as mais adversas condições climáticas. Em alguns

países se apresenta como atividade com expressão econômica, em outros, no caso da maioria,

ela é explorada de forma extensiva com baixo nível de tecnologia e, como conseqüência,

apresenta baixa produtividade (VRIES, 2008).

O Nordeste brasileiro possui cerca de 1.600.000 km², o que corresponde a 1/5 do

território nacional. Desse total, cerca de 60% ocupa o chamado “Polígono das Secas”, região

semi-árida caracterizada pela baixa precipitação e pela vegetação típica de Caatinga.

Encontram-se cerca de 35 milhões de habitantes, dos quais quase 50% ainda habitam a zona

rural IBGE (2006). Considerando-se tais situações, a pecuária torna-se uma alternativa muito

interessante para o homem nordestino, uma vez que se trata de uma atividade de menor risco

para esse ambiente.

Nas áreas mais secas e de semi-árido do Nordeste, predomina o sistema de criação

extensiva com os animais manejados em pastagem nativa e sem suplementação alimentar.

Raramente utilizam práticas de manejo tais como: vacinação, desverminação, mineralização,

separação por sexo e idade, fato que reduz a produtividade do rebanho. Esse sistema, pelas

suas características, não suporta animais especializados, principalmente por limitação de

natureza qualitativa e quantitativa das forragens disponíveis (SILVA e ARAÚJO, 2000). Já as

raças caprinas e/ou tipos raciais nativos, apresentam rusticidade e adaptação a essas condições

adversas, embora com comprometimento de desempenho de produção.

Mesquita et al. (1988) afirmaram que a produção de fitomassa da caatinga é reduzida a

valores muito baixos na estação seca, com perdas que podem alcançar os 60% da produção da

área. Neste período, as folhas secas que caem das árvores ficam disponíveis no solo para os

animais. Tal fato representa importante componente, tanto na proteção do solo quando

ocorrem as primeiras chuvas, como também na alimentação dos animais, quando oriundas de

plantas forrageiras.

Segundo Araújo (2006), nas regiões de semi-árido do mundo, a produção de alimento é

uma atividade difícil e restrita ao acesso à água ao longo do ano. A pecuária com pequenos

ruminantes assume um caráter social importante para a população destas áreas, garantindo

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oferta de carne para consumo e renda. Consequentemente, neste cenário a preferência por

animais rústicos parece coerente, pois, verificou-se sua predominância em explorações

extensivas, sem uso de técnicas de manejo e praticamente sem nenhuma escrituração

zootécnica.

Essa situação não é apenas no Brasil. Hernández (2000) afirmou que os sistemas de

exploração caprina no México são baseados predominantemente no pastoreio extensivo, tendo

como principal finalidade a produção de carne. Na Espanha, a produção de ovinos de corte

baseia-se no sistema de exploração puramente extensivo, principalmente em virtude das

características de rusticidade e adaptabilidade dos animais naturalizados as condições

climáticas características da região (MARTÍN BELLIDO et al., 2001). Os autores também

afirmaram que esse sistema tradicional de produção a pasto leva a obtenção de produtos de

melhor qualidade quando comparados com os produtos obtidos com a produção intensiva.

Monroy et al. (2003) avaliando a situação da produção de cabras na Califórnia do Sul,

encontraram que 93% dos seus produtores utilizaram também o sistema de exploração

extensivo.

2.5 Caprinos Nambi

A redução no tamanho da orelha em caprinos é devida a um gene autossômico de

dominância incompleta. O indivíduo heterozigoto tem orelha de tamanho intermediário. O

locus é chamado “Ear Lenght” ou “EL” e os seus alelos “Reduced” e “wilds”, são

representados por “R” e “+”, respectivamente (COGNOSAG, 1986). As cabras consideradas

de orelha reduzida apresentam comprimento médio de 2cm (PAREDES, 1952), enquanto as

cabras mediterrâneas têm de 14 a 18cm (LAUVERGNE, 1988). Dentre as cabras nativas do

Nordeste do Brasil a Moxotó apresenta orelhas com 12cm, a Canindé com 13 cm, enquanto

que as cabras tidas como “de orelhas longas” como a Anglonubiana, têm em média orelhas

com 22cm (MACHADO, 1995).

A principal característica dos caprinos que são chamados de “Nambi” no Brasil é

apresentarem orelhas de tamanho reduzido (SANTOS, 1987). Porém, também recebem outras

denominações regionais, sendo na Bahia conhecidos como cabras “Muvô” (ASCCOPER,

2007a). A palavra “Nambi” significa “orelha” na língua tupi-guarani (ARAÚJO, 2006). A

orelha reduzida é também a principal marca de identificação da raça caprina “Lamancha”,

formada no Texas, EUA, a partir de cabras espanholas introduzidas através do México

(MASON, 1980) e que são especializadas na produção de leite com elevado teor de gordura.

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A freqüência de cabras com orelhas reduzidas é baixa nas populações mediterrâneas

(LAUVERGNE, 1988) e também em rebanhos do Brasil. Em levantamento realizado junto a

técnicos no início dos anos 90, afirmaram conhecimento apenas de indivíduos, mas não

rebanhos completos no país (MACHADO, 1995). Na mesorregião Centro-Norte no Piauí e da

Borborema na Paraíba Machado e Machado (2000) confirmaram a presença de apenas 55

animais em dois rebanhos.

A orelha reduzida em caprinos brasileiros não deve ser considerada que,

obrigatoriamente, sejam oriundas da raça Lamancha, pois esse caráter também aparece em

caprinos da Ásia Central, da Europa e da África (PAREDES, 1952), embora tenha sido

registrada introdução de dois machos e duas fêmeas Lamancha na Bahia em 1986, vindos do

Canadá (MACHADO, 1995), introdução esta que foi posterior à notificação deste caráter na

caprinocultura brasileira (CAPRILEITE, 1979).

Segundo a ASCCOPER (2007a), a raça Lamancha tornou-se famosa por um

determinado tipo de queijo fabricado com seu leite exclusivamente na região de Lamancha na

Espanha. Na sua formação os espanhóis não se importaram com o formato de orelha

rudimentar e priorizaram sua aptidão leiteira. Introduzida nos Estados Unidos a partir do

México, essa raça continuou sendo aprimorada no Texas por meio de cruzamentos com

animais leiteiros norte-americanos. O padrão racial com orelhas reduzidas foi fixado

formando um animal leiteiro de porte médio, que apresenta como diferencial o potencial

genético para elevado teor de gordura, sendo que atualmente dispõe de Associação própria e

uma revista periódica para divulgação de seus produtos.

Com relação aos caprinos Nambi no Piauí, não há registro em literatura sobre suas

características. Entretanto, sua popularidade regional é destacada pela simpatia que despertam

em crianças, pelo aspecto exótico em relação aos demais caprinos, além dos criadores

considerarem tratar-se de animais que dificultam serem predados por cães e animais

silvestres, que é um fator de grande prejuízo na criação extensiva na região. Como

desvantagens os criadores apontam a dificuldade de contenção durante o manejo se forem

mochos, além da impossibilidade de realizar marcação na orelha, processo que é

desaconselhado por tratar-sede prática mutilante, mas ainda em uso no Estado para identificar

e dificultar roubo.

A docilidade que apresentam pode estar associada a redução da capacidade auditiva,

afirmação que precisa ser validada pela pesquisa (ARAÚJO, 2006). Segundo a ASCCOPER

(2007b), consta na literatura que o caráter orelha rudimentar pode também está associado a

outros defeitos morfológicos como a fenda do céu da boca, corte no maxilar anterior ou a falta

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total deste e também com a trifurcação da pata, isso nos ovinos, chegando a receber

tratamento de gene semi-letal.

Em termos de composição genética, Araújo et al. (2008) realizaram estudo de

diversidade em relação a animais nativos e SRD no Piauí e constaram agrupar-se com animais

SRD, considerando-se características morfométricas indicadoras de tamanho do animal.

Porém, fenotipicamente o Nambi se apresenta como um grupamento heterogêneo, que

segundo a ASCCOPER (2007a), pode se apresentar similar a um animal Gurguéia, Marota ou

mesmo a um animal Anglonubiano.

Quanto ao potencial de animais Nambi tornarem-se raça, muitos aspectos devem ser

levados em consideração, alguns mais e outros menos importante, alguns dependendo

exclusivamente do ponto de vista do observador, ou seja, a característica pode ser vista como

"defeito" em uma raça, mas pode ser considerada característica fundamental em outra

(HORTO-ZOO, 2007).

Na perspectiva apresentada, como seria visto o caráter orelha rudimentar do Nambi?

Vários exemplos ilustram bem essa situação. A raça Anglonubiana quando levada para os

Estados Unidos no início do século XX, encontrou resistência quanto a sua aceitação por

apresentar orelhas longas, pois todas as raças reconhecidas apresentavam orelhas mantidas em

posição vertical, conseqüentemente, orelha pendular era considerado defeito. Entretanto, nos

Estados Unidos estes "defeitos" foram aceitos como um novo padrão que caracteriza essa

raça. A situação das cabras Lamancha de orelhas rudimentar, foi relativamente similar e um

caráter que a princípio possa ter sido considerado defeito, ficou num segundo plano diante das

qualidades produtivas desses animais.

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3 CAPÍTULO I

Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado Nambi e do

sistema de criação com esses animais no estado do Piauí

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Caracterização de caprinos do grupamento naturalizado Nambi e do sistema de criação

com esses animais no estado do Piauí

Doutorando: José da Fonseca Castelo Branco

Orientador: Prof. Dr. José Elivalto Guimarães Campelo - CCA/UFPI

Co-orientadora: Pesquisadora Dra. Adriana Mello de Araújo – Embrapa Meio-Norte

Resumo: A seleção natural imprimiu no caprino nativo características específicas de

rusticidade, criando habilidade para sobrevivência sob clima quente e seco e adequação a

sistemas de produção com baixa tecnologia, porém, com sacrifício do desempenho produtivo,

com isso passaram a ter apenas importância regional e no âmbito da agropecuária familiar.

Com esta pesquisa objetivou-se caracterizar o grupamento genético Nambi e o sistema de

criação no qual ele está inserido no Piauí. Os dados foram coletados em cinco microrregiões,

amostrando-se 14 municípios escolhidos pelo seu efetivo caprino. Para a caracterização

fenotípica dos animais utilizaram-se medidas quantitativas, que foram submetidas à análise de

variância e análise multivariada, para descrever a variabilidade. Para a descrição sócio-

econômica, recorreu-se aplicação de questionários a caprinocultores, com perguntas relativas

a aspectos de manejo dos animais, aspecto familiar, bem como sobre a propriedade. Os dados

foram submetidos a análise descritiva. Com base neste estudo, a criação de caprinos com

animais Nambi presente nos rebanhos no Piauí é realizada por pessoas com tradição nessa

atividade a vários anos, mas não implica em eficiência, pois o manejo reprodutivo, alimentar e

sanitário adotados são precários. O grupo genético Nambi está integrado à caprinocultura

extensiva no Estado, presente em rebanhos com predominância de animais Sem Raça

Definida (SRD) de pequeno porte. Apresentam orelha reduzida com comprimento médio de

5,2cm, além do tamanho corporal variável, mas similar ao animal de pequeno porte no

Estado. A raça Anglonubiana tem influência marcante na formação do grupamento Nambi,

notadamente nas microrregiões com maior efetivo. A caprinocultura no Piauí com animais

Nambi está associada a sistema extensivo com baixo nível tecnológico, que deve ser

considerado na avaliação da atividade e sua sustentabilidade, pois carece de planejamento ou

direcionamento do sistema produtivo rumo ao empreendedorismo na atividade.

Palavras-Chave: agricultura familiar, análise multivariada, biometria, caprino nativo,

conservação, sistema extensivo

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Characterization of goats of grouping naturalized Nambi and its system of creation in

the State of Piauí-Brazil.

Abstract: Natural selection tends to print in local goats characteristic of rusticity, creating the

ability to survive under adverse climate and also the adaptation to producing in low-

technological systems. Even they had loss of performance. The group of goats with reduced

ear, designated Nambi, is found scattered in various states in the Northeast region of Brazil.

Its risk of disappearance is unknown and/or if it has potential to become a local breed. The

Nambi goats now have only regional importance, in traditional breeding and family farm

agriculture. From this perspective, the Chapter I this research aimed to characterize the

genetic group Nambi and also the production system in which it is entered. The data were

collected in five micro-regions, in 14 municipalities with basis in effective population of

goats. The Nambi phenotypic characterization was done through the use of quantitative traits,

which were subjected to multivariate analysis, and qualitative characteristics, which were

subjected to frequency distribution and chi-square. The socio-economic survey was done

through questionnaires applied to breeders, encompassing questions related to the animals

handling, familiar profile and the land usage. The data were summarized by frequency

distribution (descriptive analysis). This study showed that the breeding of Nambi goats in

Piauí State is performed by traditional persons and with long years in goat breeding.

However, it did not imply efficiency because the reproductive performance, health and food

managements are precarious. The Nambi is inserted on extensive production systems, in herds

with predominance of small animals and mixed breeds. The Nambi showed well characterized

reduced ear with average length of 5,2cm. Farther, the body size measurements showed more

variable and similar to others in the Paiuí State. The Anglo-Nubian breed has influence on the

genetic composition of Nambi group above all in the micro-regions with more goat flocks.

The goat production with animals Nambi was associated with extensive system and low

technological level. Such factors should be considered for the evaluation of the activity and its

sustainability, since the activity needs planning or targeting towards entrepreneurship.

Key-words: family agriculture, biometry, morphology, Nambi, genetic resource

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Introdução

A caprinocultura é uma atividade econômica presente em todos os continentes, sendo

que em alguns países ocupa áreas com características que limitam a exploração de outros

animais domésticos (VRIES, 2008). Nesses países é atividade com expressão econômica e

social relevantes, porém, explorada de forma extensiva e com tecnologia inapropriada, com

rentabilidade abaixo do potencial da espécie (DEVENDRA, 2006). Portanto, se apresenta

mais com contribuição social do que econômica.

Existe interesse que a produção animal contribua de fato com o desenvolvimento

sustentável dessas áreas, onde o aproveitamento dos recursos naturais certamente passa pela

exploração de raça nativa, mais adaptada a esse ambiente e sistema de criação com baixa

tecnologia (FAO, 2006). Portanto, como nessas regiões a produção de alimento é uma

atividade difícil, usar animais rústicos parece lógico (ARAUJO, 2006).

Por outro lado, o desconhecimento do potencial de animais nativos, tem limitado sua

inclusão em sistemas de produção, ao mesmo tempo, dificultado também ações de

conservação, razão pela qual, a caracterização fenotípica tem importância em programas de

conservação (CHÁCON et al., 2008). No mesmo contexto, o desconhecimento do perfil

sócio-econômico do homem que trabalha com esses animais, tem comprometido a eficiência

da caprinocultura, bem como a melhoria da qualidade de vida no campo.

Esse cenário é típico do Brasil, onde os caprinos foram introduzidos a partir da

colonização e submetidos à seleção natural ao longo dos anos (RIBEIRO et al., 2006). Sob

essas condições formaram-se as populações nativas ou ecótipo atuais, que adquiriram

características fenotípicas particulares de adaptação ao ambiente onde se estabeleceram

(PIRES, 2009). No Nordeste ocorreu a formação dos caprinos Moxotó, Marota, Canindé,

Gurguéia, Repartida, Nambi e outros de menor efetivo. Como foram continuamente

explorados de forma extensiva, acasalamentos desordenados levaram à prevalência de animais

Sem Raça Definida (SRD) (MACHADO e MACHADO, 2000).

Para todos esses grupos genéticos constata-se a necessidade de estudos visando o

conhecimento da real situação, tanto em termos de potencial de produção quanto identificar o

seu risco de extinção, principalmente o Nambi, que apresenta orelha rudimentar, característica

que segundo COGNOSAG (1986), é devido a um gene autossômico de dominância

incompleta, com os animais heterozigotos expressando orelha de tamanho intermediário. A

situação de vulnerabilidade do Nambi em relação os demais nativos, é em razão de a orelha

rudimentar ser vista como defeito, embora não tenha ocorrido com a raça Lamancha na

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Espanha. Porém, há de se convir que no Brasil não tem recurso, conhecimento e interesse

conservacionista como naquele país.

Do efetivo caprino do Brasil estimado em 9,6 milhões de animais (FAO, 2006), mais de

90% encontra-se na região Nordeste e destinam-se à produção de carne para o mercado local e

para o consumo familiar. Essa região ocupa 1.600.000 km², (1/5 do território nacional), sendo

que cerca de 60% dessa área é semi-árido e está no “Polígono das Secas”, região caracterizada

pela baixa precipitação e presença de vegetação típica de caatinga (IBGE, 2006). O

contingente populacional é em torno de 35 milhões de habitantes, sendo que na zona rural a

pecuária com pequenos ruminantes torna-se atividade sócio-econômica importante, uma vez

que é uma das culturas de menor risco.

No Piauí o rebanho caprino é o terceiro maior do Nordeste (IBGE, 2006), também com

maior concentração no semi-árido, contribuindo para permanência do homem no meio rural,

mas sem muito colaborar para melhor qualidade de vida em razão da pequena eficiência da

atividade. Quanto ao tipo de animal explorado, embora não haja levantamentos precisos,

prevalece animais SRD (SEBRAE-PI, 2003), com marcante contribuição da raça

Anglonubiana na mestiçagem.

Quanto a se quantificar a capacidade de produção desses animais em relação a índices

de raças especializadas, deve-se ater ao comentário feito por Lima (1994), que chamou

atenção para o fato de serem avaliados, na maioria das vezes, em condições de criação

desfavorável à produção animal. Nessa perspectiva, há na literatura concordância que animais

menos exigentes são mais adequados para esse ambiente. Porém, convém buscar agregar-lhes

uma qualidade específica para torná-lo competitivo (GAMA, 2006). Aliado a isso, conhecer o

fator humano presente na caprinocultura também é importante, pois se trata de uma atividade

realizada, na grande maioria das propriedades, com perfil de subsistência, como tem ocorrido

na região ao longo de décadas (COSTA et al., 2007). Quanto à decisão de interferir e

modificar esse cenário, conhecer o sistema de produção utilizado é o passo inicial, e, após

identificação dos principais problemas facilitará a solucioná-los, como recomenda Castel et al.

(2003).

Com esta pesquisa objetivou-se caracterizar fenotipicamente os caprinos Nambi no

estado do Piauí, bem como caracterizar o sistema de criação considerando rebanhos com esses

animais presentes.

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Material e Métodos

Esta pesquisa foi realizada abordando-se dois aspectos complementares: a

caracterização fenotípica de animais Nambi no Piauí, a partir de dados métricos e

morfométricos coletados em rebanhos localizados no Estado; e a caracterização da criação de

caprinos nesses rebanhos nos quais animais Nambi estão presentes, independente da

quantidade. Nesse caso foi mediante a aplicação de questionários a criadores, focando-se

questões relativas a indicadores sócio-econômico da atividade e também do nível tecnológico

presente no processo de criação.

Os dados foram coletados amostrando-se cinco microrregiões do Estado (Figura 1), que

somam um efetivo da ordem de 831.790 animais, correspondendo a 60,66% do efetivo

piauiense que, segundo dados do IBGE (2006), é de 1.371.234 animais. Na Tabela 1

apresenta-se o número de rebanho amostrado por município na microrregião, o percentual

destas no efetivo caprino do Estado, a percentagem que representou cada microrregião e cada

município dentro destas, respectivamente, nos dados coletados.

Figura 1 – Mapa Ilustrativo das Microrregiões consultadas

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Tabela 1 - Dados distribuídos por microrregião e por município nestas; percentual no efetivo

caprino do Piauí e das amostras por microrregião e por município

Microrregião Municípios: quantidade

de rebanhos

Representação no

efetivo do Piauí

(%)*

Amostra por

Microrregião

(%)

Amostra por

Município

(%)

Campo Maior Campo Maior (5) 19,27 14,0 14,0

Teresina Altos (3)

Coivaras (1)

7,23 18,4 15,4

3,0

Alto Médio Canindé Paulistana (4)

Jaicós (2)

Jacobina (1)

São João (1)

Acauã (2)

18,83

23,6

5,6

5,5

2,9

5,9

3,7

São Raimundo

Nonato

São R. Nonato (5)

Dom Inocêncio (4)

14,90 28,4 16,3

12,1

Alto Médio Gurguéia Bom Jesus (2)

Júlio Borges (3)

Santa Luz (2)

Cristino Castro (1)

0,43

15,6

3,1

3,1

6,4

3,1

Total 36 60,66 100,0 100,00 * Representação percentual da microrregião no rebanho do estado do Piauí (IBGE, 2007)

Os municípios foram escolhidos pelo seu efetivo caprino e, destes, nove estão entre os

de maior e três entre os de menor efetivo, respectivamente. A amostragem dos rebanhos

dentro do município não foi aleatória, pois se objetivou escolher rebanhos previamente

identificados como possuidores de animais Nambi, independente da quantidade. Foi

considerado Nambi os caprinos com presença de orelha rudimentar, menor que os 8cm de

comprimento mencionado por Araújo (2006), como média desses animais, obtendo-se um

total de 194 fêmeas adulta, com idade avaliada pela cronologia dentária (RIBEIRO, 1998).

Nesses animais foram mensuradas as seguintes características morfométricas: altura de

garupa (AG) e na cernelha (AC), comprimento corporal (CC) e da orelha (CO), altura peitoral

(AP), circunferência corporal (CIRC), realizadas com o auxílio de hipômetro e de fita

métrica, com o animal mantido em posição correta de aprumos, além do escore da condição

corporal com nota de 1 a 5 de acordo com Ribeiro (1998).

A altura da garupa foi medida entre a parte mais alta desta até a extremidade distal do

membro posterior e a altura de cernelha foi medida entre a sua parte mais alta até a

extremidade distal do membro anterior; o comprimento corporal foi medido a partir da última

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vértebra cervical até a primeira vértebra caudal; o comprimento de orelha foi medido da base

até a sua extremidade; a altura peitoral foi medida da maçã do peito ao solo; a circunferência

corporal foi medida na região torácica por cima do costado. A profundidade torácica foi

calculada pela diferença entre medidas (AC-AP).

Essas características foram submetidas a análise de variância, considerando-se

microrregião como efeito fixo e aplicado o Teste SNK-Studen-Newman-Keuls (P<0,05) para

comparação das médias de cada características por microrregião.

Considerando-se que o principal critério de estratificação da amostragem dos rebanhos

com animais Nambi no Estado foi o espacial, ou seja, com base na localização geográfica já

que em termos fisiográficos o Piauí se apresenta como zona de transição, apresentando desde

áreas característica do semi-árido nordestino, da pré-Amazônia e até de cerrado, as

características métricas foram também submetidas a análise de Componentes Principais

(ACP) com o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences - versão 10.0), para

a caracterização da diversidade fenotípica do Nambi no Estado. Essa análise leva em

consideração a combinação linear da variação presente nessas características e a magnitude

dos coeficientes foi usado para descrever a importância relativa da característica na descrição

do componente (CARPENTER et al. 1971). Os dois primeiros componentes principais, que

explicaram acima de 90% da variabilidade presente nessas características, foram plotados em

plano cartesiano para visualização gráfica da distância fenotípica entre esses animais

avaliados.

Complementando a utilização de características métricas para a descrição do Nambi no

Estado, avaliou-se também, em um rebanho localizado no municio de Altos (latitude de 04º

47‟ sul e longitude de 42º 18‟ oeste), o desenvolvimento ponderal de crias Nambi durante a

amamentação, com o desmame ocorrendo aos 120 dias de idade. Os pesos foram registrados

mensalmente em balança de pêndulo com capacidade para 100 kg. Na análise desses dados

considerou-se efeito de sexo e aplicou-se o teste de DMS (P<0,05), com o software SAEG

(UFV, 2003).

Para a descrição e caracterização do sistema de criação de caprinos no Piauí,

considerando-se apenas rebanhos contendo animais Nambi, entrevistou-se criadores desses

animais em rebanhos de cinco microrregiões do Estado, apresentando-se em questionário

perguntas semi-estruturada, segundo critérios de Posey (1987). No questionário foram

inseridas perguntas relativas a aspectos de manejo alimentar, sanitário e reprodutivo do

rebanho, enquanto para a caracterização do perfil da atividade constou pergunta relativa a

aspecto financeiro familiar e da propriedade.

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O questionário foi aplicado individualmente, facultando-se que respondessem de punho

ou que respondessem às perguntas lidas pelo aplicador e continha perguntas fechadas, com

respostas simples do tipo “sim” e “não”. Além dessas respostas, as observações in loco do

entrevistador sobre a propriedade também foi considerada.

Na formulação do questionário levou-se em consideração a necessidade de identificar o

perfil do produtor, enfocando aspectos econômicos e também técnicos, quanto ao tipo de

exploração por ele desenvolvida. As perguntas foram direcionadas para retratar o

conhecimento dos produtores a cerca dos aspectos de manejo de caprinos, mas também

quanto a importância destes na eficiência econômica da propriedade.

Os questionários respondidos foram submetidas a análise de consistência para descarte

daqueles com respostas incompletas. Após esse procedimento foram submetidos a análise

descritiva com o software SPSS versão 10.0 e, com o procedimento “crosstabulation”,

cruzou-se as respostas em relação à da pergunta “qual a atividade econômica principal do

entrevistado na propriedade”, aplicando-se o teste de “Qui-quadrado” nas freqüências

conjuntas.

Resultados e Discussão

Os registros das características de natureza qualitativa feitas pelo avaliador durante o

processo de coleta de dados nas propriedades indicaram a presença de poucos animais com

padrão racial bem definido das raças nativas do Nordeste. Entretanto, constatou-se

predominância de caprinos SRD, com a maioria apresentando traços fenotípicos mais

marcantes da raça Anglonubiana e/ou de seus mestiços, com destaque para orelhas longas,

com isso estima-se que esta seja a raça que mais tem contribuído para a mestiçagem dos

rebanhos locais, concordando com afirmações do SEBRAE-PI (2003), similarmente ao

constatado por Oliveira et al. (2006), nos rebanhos de Pernambuco.

As médias das características métricas e do escore corporal estão apresentadas na

Tabela 2. Observou-se que os animais Nambi apresentaram-se com tamanho variável, porém,

com tendência a pequeno porte, similarmente ao animal SRD que prevalece na região

(COSTA et al., 2008). Quanto ao porte da cabra Nambi, levando-se em consideração o

comprimento e a altura corporal, apresentaram médias de 68,6 e 59,6cm, respectivamente,

com animais maiores na microrregião de São Raimundo Nonato (P<0,05), seguido por

Teresina, onde se constatou Nambi com maior tamanho de resquício de orelha e nos demais

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animais dos rebanhos prevalecendo traços da raça Anglonubiana, que, de certa forma, pode

ser relacionado ao fato dessa microrregião possuir muitos rebanhos mantidos puro e onde se

localiza a Associação de Criadores dessa raça no Estado.

Tabela 2 – Média da altura na cernelha (AC) e na garupa (AG), profundidade torácica (PT.),

comprimento (CC) e circunferência corporal (Circ.), comprimento da orelha (CO)

e escore corporal de cabras Nambi por microrregião no Piauí

Microrregião CC AC AG PT Circ. CO Escore

Campo Maior 65,7b 57,8

b 61,6

b 35,8

ab 72,4

b 4,5

a 3,3

ab

Teresina 67,7b 59,9

ab 62,3

b 34,1

b 76,4

ab 5,8

a 3,4

ab

Alto Médio Canindé 68,3b 59,6

ab 62,7

ab 35,7

ab 71,5

b 5,7

a 3,0

b

São Raimundo Nonato 74,5a 64,5

a 68,0

a 38,9

a 76,7

ab 4,4

a 3,3

b

Alto Médio Gurguéia 67,5b 58,3

b 63,5

ab 36,3

b 69,4

b 5,6

a 3,6

a

Coeficiente variação (%) 11,3 9,3 9,7 9,5 10,8 40,5 11,3

* Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo Teste SNK (P<0,05).

O escore da condição corporal com média em torno de 3,3 pontos, segundo escala

apresentada por Ribeiro (1998), serve como indicação do quanto esses animais se apresentam

bem integrados ao sistema de criação e ao ambiente da região. Com isso os dados coletados

no período seco do ano demonstram bem uma particularidade dos caprinos nativos, que é

ganhar mais peso nessa época do ano, numa indicação de eficiência no aproveitamento dos

recursos vegetais da região durante esse período. Dentre as explicações pertinentes, considera-

se importante a queda de folhas no período seco, quando as árvores passam a ter maior

representatividade na dieta dos caprinos, como mencionado por Araújo Filho (1990).

Por outro lado, a constatação na maioria das microrregiões que o valor das

características métricas foi relativamente baixo, se comparado com outros estudos realizados

com caprinos nativos no Nordeste (SILVA et al., 2001; ROCHA et al., 2007) e nativos de

outros países, por exemplo, na Espanha (HERRERA et al., 1996), é um resultado que, de certa

forma, permite se afirmar que pode está sendo grande a influência das condições de criação

com baixa tecnologia e das condições climáticas do ambiente seco da região, sobre o pequeno

porte desses animais.

A variação nas medidas indicadoras do tamanho do Nambi também pode ser vista como

indicação da ocorrência de cruzamentos com animais de origens diversa comuns no Estado.

Portanto, uma indicação da mestiçagem presente no seu processo de formação, como afirmou

ASCCOPER (2005) ocorrer também em rebanhos da Bahia, o que propôs classificação para o

Nambi segundo sua origem em Nambi-Anglo, dentre outras, usando-se o tamanho corporal

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como referência. Nesse caso o estudo da filogenia do Nambi com marcadores moleculares

seria de grande valia.

Com relação ao tamanho da orelha do Nambi, observou-se valor médio de 5,2cm,

porém com um elevado coeficiente de variação, que, de certa forma, pode estar expressando

também a natureza mestiça do Nambi no Estado, já que se trata de uma característica com

dominância incompleta (COGNOOSAG, 1986), certamente com baixa frequência nessa

população. Esse resultado também indica tratar-se de uma população desestruturada

geneticamente, não se comparando ao que ocorre com a raça Lamancha nos Estados Unidos,

que, submetida a processo de seleção tendeu a fixar dois tipos básicos de orelhas, a “gopher”

(orelha de rato), com comprimento máximo de 2,5 cm, com muito pouca cartilagem e a orelha

tipo “élfica” (estreita, alongada) com até 5 cm, que pode apresentar alguma cartilagem

(ASCOOPER, 2005).

O desempenho ponderal de crias Nambi, apresentado na Tabela 3 para animais em

manejo extensivo num rebanho no município de Altos – Piauí indicou efeito de sexo nos

pesos ao nascer, aos 30 e aos 120 dias de idade, com superioridade dos machos (P<0,05),

porém, com valores médios baixos, confirmando tratar-se de caprinos de pequeno porte nesse

manejo, similarmente ao que se observou com base nas características métricas discutidas

anteriormente.

Tabela 3 – Média do peso ao nascer (PN), aos 30 (P30) e a 120 dias de idade (P120), de crias

Nambi no município de Altos, Piauí em 2009

Sexo da cria N PN (kg) P30 (kg) P120 (kg)

Macho 30 2,4ª 4,7ª 10,1a

Fêmea 17 2,1b 3,2

b 8,4

b

Coeficiente de Variação (%) 18,6 27,8 26,1

* Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo Teste de Tukey (P<0,05).

Independentemente da microrregião, foram observados animais Nambi com pelagem

típica de caprino Canindé, Marota, Gurguéia e Repartida, denotando não haver padronização

pigmentar, a semelhança do que ocorre na raça Anglonubiana e no SRD. Constatou-se

também a presença de cores diversas, sem uma relação específica com a localidade dentro do

Estado, com destaque para a combinação das cores preta, branca, vermelha, formando

pelagem sem um padrão específico, com malhas diversas, com a designação “pintada”,

“tartaruga”, “melada”, como ocorre também na Anglonubiana.

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A variabilidade presente nos animais Nambi no Estado também foi avaliada por meio da

técnica de Componentes Principais, buscando-se agrupamento segundo a microrregião onde o

rebanho se localiza. Na Tabela 4 apresenta-se os coeficientes dos dois primeiros componentes

principais e na Figura 2 está plotada a dispersão das microrregiões em gráfico cartesiano com

esses dois componentes. O valor discriminatório do Componente Principal 1 foi elevado,

contemplando acima de 70% da variação e com maior contribuição das características AG,

AC, AP, CC, mas com coeficientes muito similares entre si, portanto características com

variabilidade similar nessas microrregiões.

As características indicadoras de comprimento e tamanho corporal, que geralmente são

correlacionadas, justificaram a maior parte da variabilidade contemplada no primeiro

componente principal, mas não foram capazes de agrupar os animais das microrregiões

avaliadas, portanto não identificando um perfil de animal relacionado a um ambiente

específico de determinada microrregião, ou de microrregiões mais próximas geograficamente.

A composição mestiça do Nambi pode ter influência nesse resultado.

Tabela 4 – Altovetores das características métricas de animais Nambi no Piauí

Características Componente Principal 1 Componente Principal 2

Altura na cernelha (AC) 0,459 0,008

Altura peitoral (AP) 0,458 – 0,140

Altura na garupa (AG) 0,490 0,133

Comprimento corporal (CC) 0,477 0,088

Circunferência corporal (CIRC) 0,160 – 0,541

Comprimento de orelha (CO) – 0,294 0,781

Os dois primeiros componentes principais explicaram 91,2% da variação observada,

sendo que no segundo foi maior o coeficiente do comprimento da orelha, que pode está

contribuindo para isolar a microrregião de Teresina das demais localidades no gráfico

bidimensional (Figura 2), podendo se atribuir esse resultado a uma possível influência da raça

Anglonubiana, que tem nessa microrregião seu ponto de dispersão no Estado.

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Figura 2 – Dispersão das microrregiões segundo os dois primeiros componentes

principais com características métricas de caprinos Nambi no Piauí

Assim, com a utilização dessa técnica para a avaliação do perfil fenotípico dos animais

entre as microrregiões, observou-se que foi pequena a tendência de agrupamento influenciado

pela distribuição geográfica no Estado. Segundo Falconer (1987), é maior o fluxo gênico entre

pequenas populações geograficamente próximas. Entretanto, para inferência a cerca de

provável migração entre os rebanhos avaliados, convém considerar que comparações

fenotípicas dessa natureza podem fornecer, até certo ponto, uma representação de diferença

genética entre populações, mas não convém atribuir a relações de parentesco o agrupamento

dessa natureza, já que não se conhece a história em comum dos rebanhos, como salienta Pires

(2009).

Assim, o Nambi parece tratar-se de uma mistura de raças no Estado, o que não o

enquadraria na definição de ecótipo, como também não procederia falar em risco de sua

extinção, mas sim que não é conhecido o seu potencial de produção. Porém, por se tratar de

animais que estão inseridos num ambiente onde a pressão de seleção natural parece exercer

maior influência que a ação do homem na sua composição genética e que nesta estão

presentes várias raças, o Nambi, se submetido à seleção, pode ser considerado ponto de

partida para fixação de padrão racial com perfil de adaptação a esse ambiente.

A variação fenotípica existe no Nambi e o tamanho da orelha pode ser um marcador

para a seleção. Nessa perspectiva, resta incluir a ação do homem com seleção recorrente para

sua fixação como padrão da raça, bem como de características de produção e de adaptação,

não devendo ser desconsiderado também a importância da sua aceitação em termos de

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estética. A esse respeito, Pimenta Filho et al. (2009) chamam a atenção para o fato de não

haver forma de se promover um grupamento genético se a ele não for associado a um

diferencial econômico, com isso os autores querem dizer que a pesquisa deve estar em

sintonia com vantagens comparativas relacionadas a produção de carne, leite ou requisitos

relacionados a cultura local ou até mesmo à estética, que no caso dos animais Nambi precisa

de atenção especial.

Caracterização da criação de caprinos no Piauí: rebanhos com animais Nambi

Apresenta-se na Tabela 5, informações a cerca do perfil do caprinocultor e do sistema

de criação praticado no Piauí, envolvendo rebanhos com presença de animais Nambi. As

respostas são apresentadas em termos de freqüência, com cruzamento da resposta dada à

primeira pergunta com a que foi dada à pergunta se o entrevistado tem ou não a atividade

econômica principal ligada ao setor agrário, ou seja, se ele tem no setor agrário sua principal

fonte de remuneração (desconsiderando transferência de renda do Governo Federal).

Constatou-se que 55% dos criadores de caprinos no Piauí que têm Nambi em seu

rebanho, exercem agropecuária familiar como a principal atividade econômica para o sustento

da família, enquanto 45,0% informaram exercer também atividade não relacionada ao campo,

sendo que para esse grupo de criadores é a atividade econômica principal. Com isso pode-se

considerar a existência de dois grupos distintos de criadores com Nambi em seus rebanhos no

Estado, que, de certa forma, concorda com afirmações de Pimenta Filho et al. (2009), quanto

a importância dos pequenos ruminantes para a fixação do homem no campo. Estes resultados,

porém, estão também de acordo com os obtidos por Khan et al. (2009) no Ceará, que

justificaram ser a atividade agropecuária nesse Estado bem diversificada, porém com baixo

nível tecnológico e, logo com baixo desempenho.

O nível de escolaridade, o tamanho da família e a mão-de-obra usada na propriedade,

estão relacionados de maneira similar ao grupo de criadores de caprinos que têm apenas a

atividade rural como a fonte principal de sustento, ou seja, apresentam instrução até o

primeiro grau (94,5%), têm família grande e a mão-de-obra usada na propriedade é

predominantemente familiar (89,5%). Portanto, considerando-se que apenas 25% dos

criadores do segundo grupo têm escolaridade até o primeiro grau e que somente para 6,3% a

mão-de-obra na propriedade é familiar, está bem evidente a distinção desses grupos de

criadores de caprinos e que se contrapõem nos critérios avaliados, consequentemente, também

no poder aquisitivo.

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A disponibilidade de energia elétrica e de fonte de água na propriedade também

corrobora este perfil. Constatou-se que 57% dos entrevistados que vivem da agropecuária

familiar têm energia elétrica, contra 87,5% dos que não dependem exclusivamente do campo.

Com relação a fonte de água, cerca de 32% do primeiro grupo não dispõem de uma forma

regular de fornecimento, ou seja, de rio, riacho, açude ou poço (cacimbão ou artesiano). O

tamanho da propriedade, entretanto, não se apresentou como um critério eficiente para

distinguir bem esses dois grupos, pois em ambos observou-se que a maioria das propriedades

tem até 100 ha (47,4 e 43,8%, respectivamente). Segundo Alencar et al. (2008), em

Pernambuco 89,42% das propriedades apresentam até 100 ha de área, reforçando a

caprinocultura como atividade econômica de pequenos proprietários de terra na região.

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Tabela 5 – Frequências (%) de respostas indicadoras do perfil da caprinocultura no Piauí, em

rebanhos com animais Nambi

Pergunta I:

Opções apresentadas

Pergunta II:

Atividade principal do entrevistado*

Setor agrário

(%)

Setor não

agrário (%) Grau de Instrução Até 1º grau 94,5 25,0

> 1º grau 5,3 75,0

Tamanho da família (membros) 1 a 5 68,4 68,8

6 a 8 15,8 25,0

> 8 15,8 6,2

Mão-de-obra usada na propriedade Familiar 89,5 6,3

Temporária 5,3 68,8

Mista 5,2 24,1

Energia elétrica na propriedade Sim 57,9 87,5

Não 42,1 12,5

Fonte de água na propriedade Poço 52,6 87,5

De superfície 15,8 12,5

Outras 31,6 0,0

Tamanho da propriedade (ha) 0 a 100 47,4 43,8

100 a 150 10,5 12,5

Mais de 150 42,1 43,7

Quantidade de caprinos na

propriedade

0 a 100 68,4 50,0

100 a 200 21,1 25,0

Mais de 200 10,5 25,0

Por que criar caprinos Tradição 68,0 25,5

Comércio 15,8 6,3

Outros 15,8 68,2

Vantagens de criar caprinos Rusticidade 94,7 68,8

Outras 5,3 31,2

Desvantagens de criar caprinos Baixo valor na venda 78,9 56,3

Outras 21,1 43,7

Sistema de criação Extensivo 94,7 37,5

Misto 5,3 62,5 Manejo reprodutivo Monta não controlada 100,0 75,0

Misto 0,0 25,0 Reposição de animais Animais do rebanho 21,1 25,0

Do rebanho e compra 78,9 75,5

Instalações dos animais Aprisco suspenso 63,2 93,8

Chiqueiro 36,8 6,2

Pastagens utilizadas Nativa 89,5 18,8

Cultivada 0,0 6,3

Mista 10,5 75,0 Usa ração comercial Sim 5,3 50,0

Não 94,7 50,0

Usa sal mineral Sim 68,4 100,0

Não 31,6 0,0 Quantidade de vermifugações por ano 1 vez 15,8 0,0

2 vezes 26,3 6,3

3 vezes 5,3 50,0

> 3 vezes 52,6 43,8 * Atividade econômica principal do entrevistado: 55% do setor agrário e 45% não agrário.

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Ao se considerar simultaneamente o tamanho do rebanho, o porquê de criarem caprinos,

suas vantagens e desvantagens, novamente se observou uma clara distinção entre os dois

grupos de criadores já mencionados. Para os do primeiro grupo verificou-se que 68,4%

possuem menos de 100 animais, contra 50% do segundo grupo, sendo que nesse grupo é

maior o percentual de criadores com mais de 200 animais.

Fica, portanto, evidente que o tamanho da propriedade pode não representar o poder

econômico do proprietário, considerando-se que os rebanhos com caprinos criados

extensivamente no Piauí tendem a ocupar áreas de solos de baixa qualidade (SEBRAE-PI,

2003), o que contribui para redução da eficiência da produção. Essa afirmação está de acordo

com Costa et al. (2008), quanto ao tamanho da propriedade ser um fator importante de como e

o que pode ser criado no semi-árido.

Verificou-se uma forte tendência de criar caprinos “por tradição” no Estado, em ambos

os grupos considerados. Para aqueles que não têm na atividade rural a sua principal fonte de

renda, constatou-se uma maior quantidade de motivos para criar caprinos. O aspecto cultural

ligado a tradição foi também mencionado por Alencar et al. (2008), como um dos principais

estímulos à caprinocultura.

Quanto a vantagem e desvantagem de criar caprinos, foi apontado, respectivamente, a

rusticidade dos animais que torna possível a criação sem muitos gastos e a baixa valorização

na comercialização em relação a ovinos, refletindo a real situação econômica do

caprinocultor, principalmente o que tira do campo seu sustento.

Ao se considerar aspecto técnico que deve nortear a caprinocultura, constatou-se que

94,7% dos que informaram ter na atividade rural seu principal sustento, afirmaram criar seus

animais de forma extensiva, enquanto apenas 37,5% do outro grupo afirmaram proceder

assim. Esse resultado concorda com afirmações de Rocha et al. (2007), quanto a prevalecer no

país a criação de caprinos em sistema extensivo, sendo que na criação de animais nativos

predomina o sistema ultra-extensivo. Destaca-se que mesmo nos rebanhos que ocorreu a

introdução de animais de outras raças, principalmente Anglonubiana que passou a ser cruzada

aleatoriamente nesses rebanhos, contribuído para diluição genética, não se constatou

tendência de modificação da forma de criação.

Ao se considerar as respostas relativas ao manejo reprodutivo, reposição de animais no

rebanho, instalações disponíveis, pastagem e uso de suplementação alimentar em épocas

críticas do ano ou mineralização, fica bem evidente que o baixo índice apresentado pela

atividade, tem grande contribuição desses fatores, como também relatado por Khan et al.

(2009), que ocorre no estado do Ceará. Para esses autores o baixo nível tecnológico no setor

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primário, explica em parte, o atraso, a grande vulnerabilidade e a baixa produtividade desse

setor.

Todos os entrevistados do grupo com atividade econômica principal ligada ao setor

agrário informaram não utilizar qualquer artifício de controlar os acasalamentos nos rebanho,

mas demonstraram consciência acerca da necessidade de aquisição de reprodutores de outros

rebanhos para reposição, pois 78,9% afirmaram que na reposição, além de animais do próprio

rebanho, as vezes recorrem à compra. Com isto contribuem para a redução do risco de

consangüinidade decorrente da ausência de controle zootécnico, comum na criação extensiva.

Mesmo assim, prevalece a reposição com animais do próprio rebanho, o que também ocorre

no estado da Paraíba, conforme mencionado por Costa et al. (2007). Essa situação é comum

em muitos países onde a criação de caprinos tem por base a exploração extensiva em

pastoreio e para a produção de carne, como constatado por Hernández (2000) e Monroy et al.

(2003), no México.

Constatou-se que nas propriedades visitadas a caprinocultura é realizada com número de

reprodutor inferior às necessidades do rebanho e que não há indicação de manejo genético

visando descarte seletivo dos animais impróprios para a reprodução. Registrou-se que a

distribuição de frequência da idade dos animais tendeu à normalidade, com 58,9%

apresentando entre 4 e 6 anos. Isso indica está presente nos rebanhos uma quantidade

adequada de animais em idade compatível com a máxima expressão da produção.

Com relação às instalações para manejo dos animais, constatou-se que 36,8%

informaram ser o “chiqueiro” que não possui piso revestido ou cobertura, a instalação básica

de manejo dos animais, enquanto entre os criadores com maior poder aquisitivo esse valor foi

de apenas 6,2%. O aspecto sanitário é desconsiderado nesta forma de instalação, sendo

priorizado mais a proteção dos animais, conforme afirmação de Alencar et al. (2008), que a

maior utilidade do chiqueiro é somente reunir os animais.

A informação que 89,5% utilizam apenas pastagem nativa como fonte de alimento para

os caprinos ao longo do ano e que apenas 5% recorrem a suplementação alimentar em

períodos crítico e que 31,6% não fornecem sal ao rebanho, complementam o real cenário da

caprinocultura com Nambi no Estado. Este manejo alimentar extensivo é característico

também do semi-árido paraibano segundo Costa et al. (2008), que destacam também o fato da

caprinocultura ser considerada uma atividade marginal ou de subsistência na região Nordeste

durante décadas.

Por outro lado, em relação ao manejo sanitário, constatou-se que todos os entrevistados

utilizam vermifugação com produtos químicos disponíveis no mercado. Fazem mais de três

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aplicações ao ano 52,6% destes, e, geralmente, não obedecem a planejamento estratégico,

colocando em dúvida a eficiência desse controle. Segundo Alencar et al. (2008), a prática da

vermifugação é o método sanitário mais utilizado pelos produtores no Nordeste, mas com

resultados questionáveis para a solução do problema de verminose.

Conclusões

A criação de caprinos com Nambi presente nos rebanhos no Piauí é realizada por

pessoas com tradição nessa atividade a vários anos, mas não implica em eficiência, pois o

manejo reprodutivo, alimentar e sanitário adotados são precários.

O grupo genético Nambi está integrado à caprinocultura extensiva no Piauí, presente em

rebanhos com predominância de animais SRD de pequeno porte. Apresentam orelha reduzida

com comprimento médio de 5,2cm, além do tamanho corporal variável.

A raça Anglonubiana tem influência marcante na formação do grupamento Nambi,

notadamente nas microrregiões com maior efetivo no Piauí.

A caprinocultura no Piauí com animais Nambi está associada a sistema extensivo com

baixo nível tecnológico, que deve ser considerado na avaliação da atividade e sua

sustentabilidade, pois carece de planejamento ou direcionamento do sistema produtivo rumo

ao empreendedorismo na atividade.

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4 CAPÍTULO II

Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no estado do Piauí e

avaliação da aceitação desse fenótipo como raça caprina nativa

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Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no estado do Piauí e avaliação da

aceitação desse fenótipo como raça caprina nativa

Doutorando: José da Fonseca Castelo Branco

Orientador: José Elivalto Guimarães Campelo - CCA/UFPI

Co-orientadora: Adriana Mello de Araújo – Embrapa Meio-Norte

Resumo: Animais com orelha reduzida chamados Nambi, são encontrados dispersos nos

estados do Nordeste - Brasil, numa situação que é desconhecida quanto ao risco de extinção

e/ou se têm potencial para tornarem-se raça nativa. Nessa perspectiva, pode haver necessidade

de se adotar estratégias para sua conservação ou recorrer a seleção para o seu uso mais

imediato. Para tal, é importante levar em consideração se a beleza desses animais e/ou, se o

fato de apresentarem orelhas reduzidas, seria visto como uma anomalia ou defeito que possa

prejudicar a sua aceitação. Assim, com essa pesquisa objetivou-se avaliar a distribuição de

caprinos Nambi no Piauí e a aceitação desse fenótipo como raça nativa. Para tal, realizou-se

levantamento da localização geográfica de caprinos Nambi em rebanho do Estado, por visita a

rebanhos e por consulta a técnicos. Na coleta de dados apresentou-se individualmente, em

ambientes ligados à criação de caprinos, dois tipos de questionário a 158 pessoas com

atividade relacionada à caprinocultura ou não. As perguntas versaram sobre se já conheciam

Nambi, beleza, defeitos, rusticidade, se criariam esses animais e se viam neles potencial para

ser raça. O segundo questionário continha, além dessas perguntas, outras relacionadas à raça

Lamancha, sendo este apresentado após preleção a cerca de suas qualidades, bem como se a

opinião sobre o Nambi se mantinha. Os dados foram submetidos a distribuição de freqüência

e, com o procedimento “crosstabulation” do software Statistical Package for the Social

Sciences, fez-se cruzamento da resposta apresentada à pergunta ”você considera os animais

Nambi com potencial para tornar-se raça?” com as respostas dadas às demais perguntas,

aplicando-se teste de “Qui-quadrado” nas freqüências conjuntas obtidas. Constatou-se que o

caprino Nambi está difundido em todo o estado do Piauí, inserido em rebanhos de

agropecuária familiar, manejados de forma extensiva e com baixo nível tecnológico. O modo

de herança “dominância incompleta” do caráter Nambi, aliado à inexistência de controle de

acasalamento nos rebanhos de criação extensiva, pode contribui para aumentar o seu efetivo

no Estado e, como o tamanho reduzido da orelha não é visto como defeito que compromete a

aceitação desse fenótipo em animais para exploração zootécnica, o caprino Nambi é visto no

Piauí como animal rústico e com aceitação para ser trabalhado, para formação de raça

adaptada.

Palavras-Chave: caprino, descrição, levantamento, Nambi, raça naturalizada

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Survey of the distribution of goat Nambi in the State of the Piauí and evaluation of the

acceptance of this phenotype as native goat bred

Abstract: Animals with reduced ear called Nambi, are found scattered in the Northeastern

States-Brazil, in a situation that is unknown about the risk of extinction and/or have the

potential to become native breed. In this perspective, there may be need to adopt strategies for

their conservation or resorting to selection for your immediate use. To this end, it is important

to take into account if the beauty of these animals and/or, if the fact of submitting ears small,

would be seen as an anomaly or defect that may impair its acceptance. This research aimed to

evaluate the distribution of goats Nambi in Piauí and acceptance of phenotype as native breed.

To this end, lifting the geographic location of goats Nambi in herd State, by visiting flocks

and by technical query. In data collection performed individually, in environments connected

to creation of goats, two types of questionnaire to 158 people with caprinocultura related

activity or not. The questions focused on were already knew Nambi, beauty, defects,

hardiness, becomes these animals and had the potential to be breed therein. The second

questionnaire contained, in addition to these questions, other related to race La Mancha,

which is displayed after lecture about his qualities, as well as whether the opinion about the

Nambi remained. The data were subjected to frequency and distribution, with the "procedure"

crosstabulation software Statistical Package for the Social Sciences, became the crossroads of

the answer given to the question "do you consider the animals Nambi with potential to

become race?" with answers to other questions, test "Qui-squared" in joint frequencies

obtained. It was noted that the goat is widespread Nambi throughout the State of Piauí,

inserted into herds of farming family, handled extensively and with low technological level.

The mode of inheritance "incomplete dominance" character Nambi, coupled with the lack of

control of mating in herds of extensive farming, can contribute to increase its effective in the

State and, as the small size of the ear is not regarded as defect which diminishes the

acceptance of phenotype in animals for zootechnical use, the goat Nambi is seen on the rustic

and Piauí as animal with acceptance to be worked, for training of breed adapted.

Key-words: goat, description, survey, Nambi, naturalized breed

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Introdução

A maioria das raças existentes hoje seria considerada dispensável se o objetivo da

pecuária fosse apenas atender ao interesse momentâneo do homem, com isso a extinção de

raças seria irrelevante para a humanidade, pois apenas 20% das raças existentes são

responsáveis por cerca de 80% da carne e do leite produzidos no mundo na primeira década

do século XXI (GAMA, 2006). Entretanto, a situação não é tão simples e Avellanet et al.

(2007) chamaram a atenção para o comunicado da FAO que advertiu ter ocorrido, nos últimos

anos, a extinção de mais de 700 raças de animais domésticos e que a preocupação recai no

fato de cerca de 1.400 se encontrarem em risco de extinção.

A raça depois de criada pelo homem ou por processo de seleção natural pode constituir-

se numa unidade genética com qualidades específicas, principalmente se passar por um

mecanismo de ajuste às condições de criação e/ou ambiente climático, agregando assim ao

seu patrimônio genético, combinações especiais e únicas que interagiram convenientemente

com o ambiente. Esse processo de aprimoramento de afinidades com as condições do

ambiente é que, de certa forma, contribuirá para que a raça se estabeleça, com isso não se

tornando em curto espaço de tempo, sujeita a ser extinta, porém, aliado a isso, ela deverá ser

valiosa para o homem.

Considerando-se que uma raça pode ter importância histórica, contemporânea ou futura,

a atenção deve recair sobre o que é importante para que ela se estabeleça e consiga se manter

em determinada região ou sistema de produção, já que a criação de uma nova raça, as vezes,

depende muito de pontos de vista, pois "defeito" para algumas pode não ser para outras. Um

exemplo que ilustra bem essa situação segundo GEOCITIES (2007), foi o que aconteceu com

a raça Anglonubiana quando introduzida nos Estados Unidos no início do século XX vinda da

Inglaterra e sua orelha longa passou a ser aceito como um padrão que caracteriza essa raça,

embora a orelha pendular fosse considerado defeito, já as raças reconhecidas apresentavam

orelhas mantidas em posição vertical. Processo similar ocorreu com a raça Lamancha na

Espanha, quanto ao tamanho reduzido de sua orelha ser desconsiderado ao prevalecer

qualidades produtivas.

Processo similar também pode ocorrer com os animais com fenótipo Nambi, que têm

como característica fenotípica principal apresentar orelhas de tamanho reduzido (BARROS,

1987) e que vêem sendo criado extensivamente na região Nordeste. Mesmo sem a

interferência sistematizada do homem para ajudar a sua permanência nesse ambiente, estão

presentes em muitos rebanhos e com uma frequência relativamente alta, porém desconhecida.

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Nesse caso, aparentemente tem sido mais forte a ação dos mecanismos de seleção natural,

tornando-os adaptados a ambientes menos eficientes para a produção com animais

especializados, fato que pode ser visto como uma indicação do seu potencial para tornar-se

raça recomendada para o semi-árido.

Segundo ASCCOPER (2005), no semiárido do Nordeste os animais Nambi têm

sobrevivido às secas freqüentes, favorecido pelo desenvolvimento de habilidades especiais

para essa condição ambiental, porem, também favorecidos pela simpatia que expressam.

Além disso, várias virtudes são apontadas por criadores desses animais, que os destacam dos

demais em criações extensivas, como a versatilidade decorrente da vivacidade e extrema

rusticidade, frente ao clima inóspito e capacidade de ingestão de plantas com espinhos, típicas

da caatinga, além do fato de apresentarem odor característico do macho caprino menos

intenso quando são abatidos, sem, no entanto perder libido. Destacam também o fato de

dificultarem a predação por animais silvestres, apresentar maior resistência a doenças, sendo

que alguns destacam até mesmo a simpatia que despertam nas crianças, pelo seu aspecto

exótico em relação aos demais caprinos. Quanto a aspectos desfavoráveis, destacam a

impossibilidade de marcação na orelha, que é procedimento típico regional,

consequentemente, favorece ao roubo dos animais. Por outro lado, a sua docilidade pode estar

associada a uma redução da capacidade auditiva, entretanto, tais explicações necessitam ainda

serem validadas pela pesquisa, segundo Araújo (2006).

Por se tratar de animal com um padrão fenotípico que foge dos preceitos de normalidade

para a espécie, teoricamente levaria desvantagem em relação aos demais, pelo fato de

apresentar apenas resquícios de orelha, a não ser que apresentasse atributos que os demais não

possuíssem. Como esses animais, na maioria das vezes, estão em rebanhos localizados em

regiões desfavoráveis à produção animal em escala industrial, pode-se presumir que teriam

características interessantes para esse ambiente.

Em relação a informações acerca do desempenho desses animais, a versatilidade diante

das adversidades climáticas, traduzida em rusticidade, menor exigência em manejo que as

demais raças caprinas exploradas na região, estão entre as informações de criadores de

caprinos que exercem a atividade como subsistência na região (ARAÚJO, 2008). No entanto,

por se tratar de animais que fugiriam ao padrão de normalidade, avaliar como esses animais

são vistos pelos criadores, merece atenção da pesquisa e deve preceder a ações visando torná-

los raça.

A herança genética do tamanho reduzido da orelha é atribuída somente a um gene e

autossômico de dominância incompleta, sendo que animais heterozigotos apresentam

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tamanho intermediário. O locus é chamado “ear lenght” ou “EL” e os seus alelos “Reduced” e

“wild”, representado por „R” e “+”, respectivamente (COGNOSAG, 1986). Dada a forma

simples de herança da característica, esses animais podem ser apenas um SRD, similarmente

aos demais presente na região, porém, se associado a presença de variabilidade genética, pode

ser visto como de maior importância regional.

Concordando com a FAO (2006), que reconhece e considera que os recursos genéticos

animal são essenciais para a agricultura e alimentação, em particular, sua contribuição para a

segurança alimentar em áreas rurais pobres, para o presente e para futuras gerações, com essa

pesquisa objetivou-se realizar levantamento e caracterização de animais Nambi no Piauí, com

a avaliação do grau de aceitação desse fenótipo como animal local e inclusão do criador no

processo de formação de raça.

Material e Métodos

Levantamento da distribuição de caprinos Nambi no estado do Piauí

Realizou-se por meio de visitas e observação in loco em rebanhos de criação de

caprinos e/ou por entrevistas a técnicos que atuam no meio rural, levantamento acerca da

distribuição geográfica de caprinos Nambi no Piauí. Este Estado apresenta o terceiro maior

efetivo caprino do Nordeste com 1.371.234 animais (IBGE, 2006). Ocupa área de 264.365

km2 e está localizado a 08º 19‟ 22‟‟de latitude sul e 43º 10‟ 28‟‟ de longitude oeste. Localiza-

se no Meio-Norte do Brasil, com extensão linear no sentido norte-sul de 870 km e, em termos

fisiográficos, se constitui numa típica zona de transição, apresentando tanto aspectos do

semiárido nordestino, como da pré-Amazônia e de cerrado (SILVA, 2009), razão pela qual o

critério de amostragem dos rebanhos foi espacial, obedecendo a divisão geográfica do Estado

em microrregiões definidas pelo IBGE (Figura 1).

O levantamento da distribuição do Nambi no Piauí ocorreu em três etapas: a primeira

consistiu em localizar rebanhos com animais Nambi nas principais microrregiões criadoras de

caprino no Estado, seguido de realização de vista in loco para confirmação do efetivo presente

e registrar informações sobre a origem desses animais no rebanho. Nessa etapa foram

visitados 35 rebanhos em 13 municípios das seguintes microrregiões: Campo Maior (Campo

Maior); Teresina (Altos e Coivara); Alto Médio Gurguéia (Júlio Borges, Bom Jesus, Santa

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Luz, Cristino Castro); São Raimundo Nonato (Dom Inocêncio e São Raimundo Nonato), Alto

Médio Canindé (Acauã, Jacobina, Paulistana e Jaicós) e São João do Piauí.

Figura 1 – Distribuição geográfica das microrregiões avaliadas

quanto a presença de caprinos Nambi no estado do

Piauí

Na segunda etapa foram realizadas visitas a criatórios de caprinos, sem, no entanto, se

dispor de informação prévia da existência ou não de Nambi no rebanho. Visitou-se pelo

menos dois rebanhos por município nas seguintes microrregiões: Teresina (Teresina, Altos,

Coivaras, Beneditinos, José de Freitas, Pau D‟arco do Piauí, União, Nazária e Miguel Leão);

Campo Maior (Campo Maior, Alto Longá, Castelo do Piauí, Nossa Senhora de Nazaré, Pedro

II, São Miguel do Tapuio e São João da Serra); Picos (Colônia do Piauí); Valenciana (Elesbão

Veloso, São Félix, São Miguel da Baixa Grande e Prata); Chapada do Extremo Sul Piauiense

(Júlio Borges); Litoral piauiense (Piracuruca) e a Microrregião do Baixo Parnaíba

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(Esperantina). Por se tratar de visita sem agendamento em rebanhos com criação extensiva,

registrou-se apenas se no rebanho tinha ou não animais Nambi e a origem deles.

A terceira etapa correspondeu ao levantamento nas demais microrregiões do Estado

(Médio Parnaíba Piauiense, Alto Parnaíba Piauiense, Bertolínia, Floriano e Pio IX) e foi

realizada por consulta a profissionais que trabalham com animais na Unidade de Sanidade

Animal e Vegetal (USAV) dos principais municípios dessas microrregiões. Nessa consulta,

após ser explicado o objetivo da pesquisa ao entrevistado que informou conhecer

fenotipicamente caprino Nambi, fez-lhe a seguinte pergunta: você confirma a presença de

caprinos Nambi nos rebanhos dos municípios que compõem a microrregião de sua atuação

profissional? Para essa pergunta foram registradas duas respostas: “sim” em um ou mais

rebanhos e/ou “não confirmo a existência de caprinos Nambi em rebanhos no município”.

Avaliação da aceitação do fenótipo Nambi no Piauí como raça caprina

A avaliação da opinião de pessoas relacionadas ao meio rural no Piauí sobre o fenótipo

dos animais Nambi com padrão racial, foi realizada mediante a aplicação de dois

questionários em quatro situações distintas. Os dados de natureza primária corresponderam a

entrevistas tendo como instrumento questionários aplicados a 158 pessoas, mas também por

pesquisa direta, utilizando-se processo de amostragem probabilística do tipo aleatório simples.

A primeira situação amostrada foi durante visitas realizadas a 35 criatórios de caprinos,

nos quais já se sabia que animais Nambi faziam parte do rebanho. A segunda foi durante

visitas aleatórias realizadas a outros criatórios, porém, sem se dispor de informações prévia

sobre a existência de Nambi no rebanho. Nessas visitas os questionários foram aplicados,

independente da presença de animais Nambi. A terceira amostragem foi durante uma Feira

Agropecuária que é realizada anualmente no município de Batalha - Piauí (04 º 01‟ 30‟‟ de

latitude sul e 42º 04‟ 30‟‟ de longitude oeste), localizado na região norte do Piauí que,

segundo o IBGE (2006), é detentor do terceiro maior rebanho de caprinos do Estado. A quarta

situação foi no Setor de Caprinos da UFPI, localizado em Teresina (05º 05‟ 21‟‟ de latitude

sul e 42º 48‟ 07‟‟ de longitude oeste), onde são criados animais da raça Anglonubiana, mas no

momento da entrevista tinha à vista animais Nambi.

Para contrapor o padrão fenotípico dos animais Nambi com os de outras raças caprinas

criadas no Estado, durante a Feira Agropecuária do município de Batalha expôs-se 20 animais

Nambi, machos e fêmeas, colocados num cercado ao lado de animais de outras raças expostos

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para comercialização, de forma a servir como referencial de padrão de beleza do caprino

preferido pelas pessoas entrevistadas.

O primeiro questionário contemplou nove perguntas fechadas de respostas simples e

objetivas, prevalecendo “sim e/ou não”. As três primeiras perguntas foram sobre a profissão

do entrevistado (se relacionada ou não ao meio rural), o seu grau de instrução e se conhecia

animais Nambi. As demais perguntas foram em relação ao fenótipo Nambi, nessa seqüência: a

primeira vista o Nambi agrada ao entrevistado, a opinião em termos de beleza exterior desses

animais, se a orelha rudimentar é vista como um defeito ou uma anomalia, se o entrevistado

cria ou criaria Nambi. Na oitava se conhecia a raça Lamancha e, para concluir, se o

entrevistado considera que os animais Nambi têm potencial para tornar-se raça, com perfil de

rusticidade que se adéque a ambiente com baixo nível de tecnologia.

A aplicação desse questionário foi individualizada, sendo facultado que as pessoas

respondessem de punho as questões impressas numa folha de papel, ou que as respondessem

quando lidas pelo aplicador. Depois de concluída a aplicação desse questionário cujas

respostas foram espontâneas, o entrevistador recorreu a processo indutivo antes da

apresentação do segundo. Nesse processo, contou com auxílio de dois cartazes com fotos e

informações destacando no primeiro as qualidades do Nambi, com ênfase na rusticidade

quando explorados no semiárido e, no segundo, a qualidade leiteira da raça Lamancha em

criação intensiva.

Quanto as qualidades do Nambi, foi destacado tratar-se de animais que desenvolveram

habilidade de sobrevivência no semiárido, resistindo a períodos de seca. Informou-se também

que criadores destacam tratar-se de animal de boa mantença, ou seja, recorreu-se a apelo em

relação à melhor adaptação ao ambiente tropical e ao potencial de resposta a este ambiente.

Quanto aos defeitos, foi enfocado o pequeno porte do animal, advindo do sacrifício de

características de produção em resposta ao clima inóspito da região, bem como o fato da

ausência de orelha limitar a marcação e o manejo, por dificultar a contenção.

Na explanação sobre a Lamancha destacou-se a conformação de úbere e o perfil para a

produção de leite. Também foi enfocado tratar-se de animais que apresentam alto teor de

gordura no leite, o que torna importante para ser usado na confecção de “queijos finos”.

“www.mktdesigns.com/kastdemurs/lamanchareference.html”

O segundo questionário foi complementar ao primeiro e contou com seis perguntas

fechadas, de respostas simples e objetivas, prevalecendo “sim e/ou não”. A primeira referiu-se

a importância de atributos de produção para a valorização do caprino, enquanto a segunda

tratou da importância que deve recair sobre a beleza. A terceira pergunta foi sobre a raça

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Lamancha (qual a impressão a primeira vista em termos de beleza, causada por essa raça). As

duas seguintes trataram de relacionar o Nambi com a Lamancha e identificar se o fato dela ser

raça especializada, ajudaria a divulgação do Nambi como raça. Ao final foi repetida a ultima

pergunta do primeiro questionário.

Na Feira Agropecuária o entrevistador convidou para colaborar com o levantamento,

tanto pessoas que mostraram interesse pelos animais Nambi ali expostos, como aquelas que,

aparentemente, não demonstraram interesse por esses animais. A aplicação dos questionários

a visitantes no rebanho da UFPI foi de forma aleatória, sendo apresentado a alunos de ciências

agrárias (curso técnico e curso de terceiro grau), a técnicos e a pessoas ligadas à produção de

caprinos.

A análise dos dados foi por estatística descritiva, submetendo-se a estudo de freqüência

com o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences - versão 10.0), de forma a

relacionar a opinião do entrevistado sobre o fenótipo Nambi com o potencial desses animais

serem trabalhados com vistas a se estabelecer como raça. Assim, com o procedimento

“crosstabulation” fez-se o cruzamento da freqüência da resposta apresentada à pergunta

”você considera os animais Nambi com potencial para raça” com a freqüência das respostas

dadas às demais perguntas, aplicando-se teste de “Qui-quadrado” (P<0,05).

Resultados e Discussão

O estado do Piauí localizado na porção oeste da região Nordeste do Brasil, tem na

caprinocultura explorada de forma extensiva e com baixa eficiência produtiva, uma atividade

sócio-econômica relativamente importante, porém, se apresenta estagnada em termos de

quantidade de animais, segundo informações do IBGE (2006), fato também verificado nesse

levantamento, na conjuntura da caprinocultura familiar.

Constatou se que esse cenário tem contribuição da redução do número de animais nos

rebanhos de agricultura familiar, sendo que, dentre as causas na opinião de pessoas do meio

rural que exercem a atividade de maneira extensiva, a ineficiência da atividade merece

destaque, principalmente em relação a prejuízos decorrentes de roubo de animais, predação

por animais silvestres e cães, além da baixa valorização do produto no ato da comercialização.

A diminuição da quantidade de criatórios também influencia essa redução, sendo que, dentre

as causas apontadas como importantes, constatou-se que prevaleceu a necessidade do

deslocamento da família para as pequenas cidades, principalmente acompanhando os filhos

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para estudos, ou seja, a manutenção do efetivo caprino do Estado nas últimas décadas pode ter

relação direta com a migração rural.

Portanto, a caprinocultura extensiva no Piauí está sendo realizada de forma incipiente.

Os comentários feitos pelos criadores podem ser vistos como indicador de uma situação não

muito animadora para essa atividade como está sendo praticada no Estado, e a constatação na

literatura que a atividade se apresenta com grande potencial de expansão, nesse caso,

certamente não aborda criação extensiva. Esse cenário também pode ser visto como uma

indicação do aumento do risco de extinção de caprinos nativos, dentre os quais pode se incluir

o Nambi, se visto como grupo genético.

As anotações de natureza qualitativa e os registros quantitativos feitos nessa pesquisa

permitem afirmar que os caprinos Nambi no Piauí estão inclusos em rebanho nos quais

prevalece animais Sem Raça Definida (SRD), que é a maioria no Estado (SEBRAE-PI, 2003),

não se apresentando como grupo genético estruturado, similarmente ao que ocorre também na

Bahia (ASCOOPER, 2005). Portanto, os caprinos Nambi estão presentes na agropecuária

familiar, criados extensivamente e com pouca interferência do homem no ambiente de

criação.

O levantamento feito indicou a presença desses animais em todas as microrregiões do

estado do Piauí (Figura 1), embora a metodologia de amostragem utilizada não possibilite

calcular o efetivo do Nambi no Estado, pois se amostrou rebanhos nos quais já se sabia

previamente da presença desses animais e, naqueles amostrados aleatoriamente, sem

agendamento prévio, o criador nem sempre tinha certeza da quantidade de animais que

possuía e, como criação extensiva, geralmente não trazia os animais com freqüência ao

aprisco ou chiqueiro. Destaca-se também que não foi constatada a existência de rebanhos só

com caprinos Nambi. Entretanto, depois de concluído o processo de coleta de dados a campo

desse levantamento, informa-se que a Embrapa Meio-Norte iniciou, no município de São João

do Piauí, a implantação de um rebanho para estudos e conservação desses animais, já se

encontrando estabelecido em 2010, com efetivo superior a 300 animais.

Numericamente não foi verificado rebanho com quantidade de animais Nambi

excedendo a 25% do efetivo, mas, naqueles rebanhos onde estavam presentes em quantidade

mais expressiva, deveu-se ao fato de já ter existido reprodutor Nambi no rebanho, ou devido a

presença de machos Nambi não castrado em idade reprodutiva. Portanto, a quantidade de

reprodutores Nambi em relação a de outros grupos genéticos é pequena e, na maioria dos

casos, não sendo o principal reprodutor do rebanho.

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Nos rebanhos onde foi constatada a presença de até 10 animais Nambi, observou-se que,

quando questionados sobre a origem deles no rebanho, o criador informou tratar-se de animais

que vinham de criatórios visinhos, geralmente machos em idade reprodutiva que, quando não

castrados passam a circular entre os rebanhos, deixando crias. Nesse caso, as fêmeas

geralmente apresentando boa mantença, eram incorporadas como matriz, implicando

posteriormente que o fluxo gênico dentro do rebanho passasse a ter maior contribuição do

lado materno. Portanto, observa-se que o processo de fluxo gênico dessa característica nos

rebanhos do Estado, obedece ao que preconiza Falconer e Mackay (1996), para pequenas

populações, com disseminação relativamente lenta e com grande contribuição da inexistência

de controle reprodutivo, que é prática comum não só no Piauí, mas em outros Estados, a

exemplo de Pernambuco (OLIVEIRA et al., 2006).

Dada a natureza genética da característica que apresenta dominância incompleta

(CONOSAG, 1986), logo com fácil expressão, também a disseminação dos seus alelos, que é

favorecida pela não existência de controle reprodutivo nos rebanhos de criação extensiva,

teoricamente esses animais não se encontram em risco de extinção, mas sim com indícios de

lento aumento de frequência gênica, embora não existindo como rebanhos estruturados.

Assim, é mais pertinente se abordar os animais Nambi quanto ao desconhecimento do

potencial de produção no Estado, do que em relação ao desconhecimento do risco de extinção,

por serem criados extensivamente, sem controle de acasalamentos e sem planejamento de

conservação e/ou expansão.

Problemas decorrentes da consangüinidade comum em pequenas populações

(FIMLAND, 2007), podem não ser tão marcantes para o Nambi em criação extensiva, já que

não aparenta existência de grande isolamento desses animais, mesmo não sendo prática

comum no Nordeste, a troca de reprodutores entre rebanhos, como afirmaram Rocha et al.

(2007). Portanto, o Nambi se apresenta como um grupamento heterogêneo de animais que

podem apresentar padrão morfológico similar a um animal Canindé, Gurguéia, Marota ou a

um Anglonubiano. Parece ser conveniente afirmar que o Nambi no Piauí corresponde a

animais com identidade apenas morfológica quanto ao tamanho pequeno da orelha, não se

tratando de rebanhos estruturados geneticamente.

Assim, por se tratar de uma mistura generalizada de raças prevalecendo a mestiçagem

desordenada, como mencionado por Machado & Machado (2000) ocorrer também no SRD;

por estarem inseridos num ambiente onde a pressão de seleção natural parece exercer maior

influência que a ação do homem na sua composição, o Nambi se apresenta como potencial

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ponto de partida para a formação de uma raça com perfil de adaptação a esse ambiente e o

tamanho da orelha um marcador para a seleção.

A esse respeito, encontra-se na Tabela 1, a freqüência de respostas dadas no Piauí, a

questionário apresentado, focando acerca da opinião do entrevistado quanto ao potencial do

Nambi ser selecionado como raça, cujo parâmetro de referência ou distinção em relação às

outras, seria a presença de orelha reduzida além de adaptação à criação extensiva. Observou-

se que a aceitação do fenótipo Nambi para tornar-se raça foi elevada, com freqüência de

opinião favorável em média superior a 93%. Assim, num primeiro momento fica clara a

aceitação de animais com esse fenótipo no Estado, indicando que o fato de apresentarem

orelhas reduzidas não prejudica sua aceitação, o que é importante ao se pensar em formação

de raça, pois, segundo Pimenta Filho et al. (2009), não há como promover um grupamento

genético se a ele não for relacionado um diferencial econômico, sendo que, dentre as

vantagens comparativas, requisitos ligados à estética também devam ser considerados.

A quantidade de pessoas amostradas que são profissionalmente ligadas ao setor agrário

foi similar às do setor não agrário (P>0,05), porém, constatou-se que diferiram quanto ao grau

de instrução (P<0,05), sendo que 74% dos entrevistados informaram ter concluído apenas até

o primeiro grau (P<0,05). Ao se analisar o percentual de aceitação do Nambi como raça,

considerando-se a influência da profissão e do grau de instrução, constatou-se interferência

não significativa (P<0,05), ou seja, independentemente da profissão ser relacionada ou não ao

setor agrário, ou apresentar maior ou menor grau de instrução, o percentual de opinião

favorável foi superior a 91%.

A quantidade de pessoas amostradas que informaram conhecer previamente animais

Nambi (55%), foi similar à que disse não conhecer (P>0,05) e, dentre os que afirmaram nunca

tê-los visto, prevaleceu quem não atua profissionalmente no meio rural. Porem, como se

observou que, tanto quem já conhecia Nambi como quem não o conhecia apresentou opinião

favorável à aceitação desse fenótipo como raça (P<0,05), exclui-se assim qualquer influência

de experiência anterior com a criação desses animais sobre essa opinião emitida, pois

novamente foi superior a 91% a freqüência de opinião favorável. Além disso, o fato de já

conhecer a característica Nambi em outra raça também não influenciou o resultado, pois tanto

quem já conhecia a raça Lamancha (11,4%) como quem não a conhecia (88,6%), também

apresentou opinião favorável à aceitação do fenótipo Nambi (P<0,05), com valores de 88,9 e

95,7% de aceitação, respectivamente.

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Tabela 1 – Frequência conjunta (%) de opiniões “favoráveis” e “não favoráveis” a animais

Nambi ter potencial para se tornar raça caprina (cruzamento da pergunta I com

II), com respostas espontâneas, no Piauí

Pergunta I

Opções apresentadas

(%)

Pergunta II: Nambi tem potencial

para ser raça*

Favorável (%) Não favorável (%)

Profissão Setor agrário (45)a 91,4 8,6

Setor não Agrário (55)a 97,7 2,3

Grau de Instrução Até o 1º grau (74,0)a 94,0 6,0

> 1º grau (26,0)b 97,6 2,4

Já conhecia animais Nambi Sim (55,0)a 91,9 8,1

Não (45,0)a 98,6 1,4

Já conhecia a raça Lamancha Sim (11,4)b 88,9 11,1

Não (88,6)a 95,7 4,3

Opinião sobre a beleza do

Nambi

Bonito (63,9)a 98,0 2,0

Feio (17,1)b

Indiferente (19,0)b

85,2

93,3

14,8

6,7

A orelha rudimentar no

Nambi é defeito

Sim (35,4)b 89,3 10,7

Não (64,6)a 98,0 2,0

O fenótipo Nambi lhe agrada

como raça

Sim (86,1)a 95,6 4,4

Não (13,9)b 90,1 9,9

Você criaria Nambi Sim (84,8)a 96,3 3,7

Não (15,2)b 87,5 12,5

* Opinião favorável foi significativa pelo Teste de Qui-quadrado (P<0,05), na terceira coluna. **

Letra minúscula igual na 2ª coluna, não significativo em cada item, pelo teste de Qui-quadrado (P>0,05).

Quanto a impressão que os animais Nambi causaram a primeira vista, constatou-se

freqüências com valores de 63,9, 17,1 e 19,0%, respectivamente, para as opções de respostas

“bonito” “feio” e “indiferente”, com a primeira opção diferindo das demais (p<0,05).

Entretanto, mesmo entre os que consideraram o animal Nambi feio, ou entre os que se

mostraram indiferentes à importância da beleza dos animais, constatou-se que mais de 85%,

confirmou ser favorável a esses animais tornar-se raça, numa indicação, portanto, que os

atributos de produção devem prevalecer sobre o tipo, concordando assim com Pimenta Filho

et al. (2009), quanto a importância que deve ser dado a um diferencial econômico para a

promoção de determinado grupo genético.

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Observou-se que 35,4% dos entrevistados consideraram ver a orelha reduzida no

caprino como uma anomalia ou defeito, porém, a quantidade que viram essa característica de

forma diferente, foi superior estatisticamente (P<0,05). Essa informação também corrobora a

anterior, que os atributos de produção devam superar os de tipo, ou seja, dentre os que

consideraram o resquício de orelha um defeito, mais de 89% informaram ter opinião favorável

ao Nambi ser trabalhado como raça.

Quando questionados se o fenótipo Nambi agrada como raça, 86,1% confiram sim e

84,8% confirmaram que criariam esses animais. Por outro lado, quando se considerou essa

pergunta cruzada com o fato de serem ou não “favoráveis” que esses animais sejam

trabalhados para ser raça, observou-se que, mesmo entre aqueles que não os criariam, 87,5%

foram favoráveis quanto a ter potencial para ser raça. Assim, os resultados observados

apontaram para grande aceitação do fenótipo Nambi como raça no Piauí.

Para complementar os resultados já discutidos, apresenta-se na Tabela 2, a frequência

observada relativa às respostas do questionário II, que foi aplicado após explanação sobre

qualidades dos animais Nambi e também da raça Lamancha, que também apresenta orelhas

reduzidas (respostas não espontânea). Destaca-se que estes achados corroboram os resultados

apresentados na Tabela 1, sendo obtido que 84,2% expressaram considerar que as

informações de produção devem prevalecer sobre os atributos de tipo nas raças caprinas.

Entretanto, a beleza não deve ser totalmente desconsiderada, pois 37,3% informaram sofrer

sua influenciar quando avaliam uma raça. Já em relação a opinião sobre o potencial do Nambi

como raça, novamente observou-se valor favorável elevado, mesmo entre os que afirmaram

considerar de pouca importância os atributos de produção (84%).

A verificação do quanto a raça Lamancha pode ajudar na divulgação do Nambi como

raça, visto que ela também tem orelha reduzida, mas já foi selecionada e apresenta alta

produção de leite, foi constatado. A esse respeito, 87,3% dos entrevistados consideraram

tratar-se de uma raça com animais bonitos e, embora afirmem não verem uma relação direta

entre ela e o Nambi (P>0,05) (resposta sim com 59,5% e não 40,5%), observou-se que 72,1%

consideraram ser o desempenho da raça Lamancha um argumento que pode interferir

positivamente na opinião sobre o Nambi.

Esse resultado leva a crer que o Nambi, se submetido a seleção para fixação de

qualidades específicas, rusticidade e adequação a baixa tecnologia por exemplo, terá

certamente aceitação na região, similarmente ao que aconteceu coma a raça Lamancha na

Espanha, sendo ela igual às raças Murciana e Granadina, o detalhe da presença de orelhas

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rudimentar foi considerado irrelevante, diante da sua qualidade leiteira segundo Poter (1996),

sendo este o foco principal do seu melhoramento genético no país.

Tabela 2 – Freqüência conjunta (%) de opiniões “favoráveis” e “não favoráveis” a animais

Nambi ter potencial para se tornar raça caprina (cruzamento da pergunta I com

II), com respostas induzidas, no Piauí

Pergunta I

Opções apresentadas

Pergunta II: Nambi tem potencial para

ser raça caprina*

Favorável (%) Não favorável (%)

Atributo de produção é

importante para caprinos

Sim (84,2)a 97,0 3,0

Não (15,8)b 84,0 16,0

A beleza influencia sua

opinião sobre caprinos

Sim (37,3)b 94,9 5,1

Não (62,7)a 94,9 5,1

Opinião sobre a beleza do

animal Lamancha

Bonito (87,3)a 95,6 4,4

Indiferente (12,7)b 90,0 10,0

Você ver relação do Nambi

com a Lamancha

Sim (59,5)a 97,8 2,2

Não (40,5)a 93,7 6,3

O desempenho da raça La

Mancha interfere na opinião

sobre o Nambi

Sim (72,1)a 95,6 4,4

Não (1,3)c

Indiferente (26,6)b

0,0

97,6

100,0

2,4

* Opinião favorável foi significativa pelo Teste de Qui-quadrado (P<0,05), na terceira coluna. **

Letra minúscula igual na 2ª coluna, não significativo em cada item, pelo teste de Qui-quadrado (P>0,05).

O resultado da resposta espontânea à pergunta “que atributos seriam importantes para o

Nambi tornar-se uma raça” está apresentado na Tabela 3, expresso na forma de frequência.

Constatou-se que os entrevistados destacaram ser importante apresentar atributos de

adequação à criação no semiárido, com a adaptabilidade e rusticidade, além de habilidade

materna, aparecendo isolados ou em conjunto, como características importantes. Esse

resultado demonstra uma tendência de visão mais sistêmica a cerca do perfil do caprino

preferido para criação no ambiente rural do Estado, independentemente da profissão do

entrevistado ou do grau de instrução.

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Tabela 3 – Frequências da opinião sobre atributos destacados como importantes para caprinos

Nambi, para seleção visando torná-lo raça caprina, no Piauí

Atributo importante para o Nambi tornar-se raça Frequência (%)

Resistência e adaptação às condições de ambiente quente e seco 59,5

Habilidade materna 34,8

Outros 5,7

De certa forma, visualiza-se na opinião da maioria, uma atenção a aspectos ecológicos

para a atividade, ao preferirem animais mais adequados a sistemas de produção tradicionais

e/ou mais recomendados para a agricultura familiar, que têm potencial para agregar valor

social e ambiental aos produtos. Esse ponto de vista está presente na literatura especializada

em conservação de recursos genéticos, que defendem ser promissor se buscar agregar valor a

animais naturalizados, a partir da certificação de origem do produto (CAMACHO, 2006;

LAMBERT-DERKIMBA et al., 2006).

Outro aspecto que pode ser abordado a partir desse resultado é a consciência do perfil

que o caprino deve apresentar para se adequar à região, visto que não existe no Estado um

padrão produtivo definido, ou raças mais adequadas ao sistema de produção adotado, fato que

prevalece em outros estados do Nordeste, a exemplo da Paraíba, como destacado por Costa et

al. (2008).

Diante da constatação que os animais Nambi, aparentemente, não encontram rejeição

para se tornar raça através de seleção nos rebanhos da região, em razão de apresentarem um

fenótipo característico (diferenciador), o passo seguinte nesse processo é a caracterização da

existência ou não de variabilidade genética, que pode ser feita com uso de marcadores

moleculares. Considerando-se que o Nambi se encontra distribuído por todo o Estado e

inserido em rebanhos de animais mestiços de origem diversa, há a necessidade de

confirmação da variação genética presente. Entretanto, constatou-se tratar de animais com boa

aceitação popular como animal rústico, adaptado e considerado útil, aspectos importantes para

diminuir o risco de extinção (SPONENBERG et al., 2007).

Conclusões

O caprino Nambi está difundido em todo o estado do Piauí, inserido em rebanhos de

agropecuária familiar, manejados de forma extensiva e com baixo nível tecnológico.

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O modo de herança “dominância incompleta” do caráter Nambi, aliado à inexistência de

controle de acasalamento nos rebanhos de criação extensiva, pode contribui para aumentar o

seu efetivo no Estado.

O tamanho reduzido da orelha não é visto como defeito que compromete a aceitação

desse fenótipo em animais para exploração zootécnica.

O caprino Nambi é visto no estado do Piauí como animal rústico e com aceitação para

ser trabalhado objetivando formação de raça adaptada.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

1. Numa reflexão sobre a produção animal em ecossistema fragilizado, como é o semiárido,

convém que a produção animal deva ser articulada no sentido de também priorizar a

conservação ambiental e dos recursos genéticos naturalizados, potencializando-se sistemas

que agem numa perspectiva interdisciplinar e, diante da importância social da

caprinocultura para o semiárido do Nordeste do Brasil, a pesquisa nacional deve assumir a

responsabilidade de desenvolver uma raça caprina adequada a essa região, criando uma

opção a mais, além dos animais SRD para a agricultura familiar, com isso reduzindo a

dependência de novidades genéticas, que muitas vezes são disponibilizadas sem testar a

adequação ao ambiente da região.

2. Com relação ao grupamento genético Nambi, embora esteja presente em todo o Estado,

recomenda-se a caracterização com a utilização de ferramentas de genética molecular,

passo essencial para aferir se de fato tem potencial para se firmar como uma raça indicada

para exploração em sistemas extensivos de criação.

3. A inexistência de manejo reprodutivo dos animais nos rebanhos avaliados demonstrou ser

a causa de um processo acelerado de diluição genética, e a caprinocultura extensiva

contribui para aumentar o risco de erosão genética em caprinos.

4. A adoção de políticas pública de apoio ao desenvolvimento rural sustentável na região,

com a inclusão de animais naturalizados no sistema de agropecuária familiar, adiciona dois

aspectos importantes que são: a valorização do caprino local com contribuição para sua

conservação e valorização de elementos culturais da região, além da redução de riscos para

a atividade.

5. A caracterização da variabilidade genética dos animais nativos, com a utilização de

ferramentas de genética molecular é uma necessidade eminente.

6. Os animais Nambi continuarão na região dispersos em rebanhos a espera de iniciativas

para tratá-los como grupo genético estruturado, o que poderá contribuir mais

eficientemente para o desenvolvimento regional.

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