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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ GABRIELA ESTEVAM CEU COMPAIXÃO, EMPATIA E UNIÃO: A LEITURA DE HISTÓRIAS COMO INSTRUMENTO PARA A SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL MATINHOS 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

GABRIELA ESTEVAM

CEU – COMPAIXÃO, EMPATIA E UNIÃO:

A LEITURA DE HISTÓRIAS COMO INSTRUMENTO PARA A SENSIBILIZAÇÃO

AMBIENTAL

MATINHOS

2016

GABRIELA ESTEVAM

CEU – COMPAIXÃO, EMPATIA E UNIÃO:

A LEITURA DE HISTÓRIAS COMO INSTRUMENTO PARA A SENSIBILIZAÇÃO

AMBIENTAL

Trabalho apresentado como requisito

parcial para a obtenção do diploma de

Bacharelado em Gestão Ambiental.

Mediadora: Prof.ª. Drª. Juliana Quadros

MATINHOS

2016

COMISSÃO EXAMINADORA

Juliana Quadros

Luciana Ferreira

Rosangela Valachinski Gandin

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Mãe Terra e ao Pai Celestial pela Vida e pelo Amor!

Agradeço pelo ar, pela água, pelos alimentos e pelo abrigo.

Agradeço por minha família, por meus amigos e por meus professores.

Agradeço por todas as bênçãos e por todos os aprendizados.

"A força da vida que pulsa nas árvores, nas plantas e nos animais é a mesma força de vida que

pulsa dentro de nós. A mesma energia de vida que nos dá o poder de falar e cantar é o poder

do canto do pássaro e do rugido do leão. A mesma consciência que flui internamente e através

de cada ser humano concede sua energia ao movimento do vento, ao fluir do rio e à luz do sol.

Como pode existir qualquer sentido de diferença após compreender esse princípio sutil?"

Amma (Mata Amritanandamayi)

RESUMO

Diante dos diversos desequilíbrios ambientais que temos causado no/ao planeta, é

urgentemente necessária uma mudança na forma como nos relacionamos nos níveis

individual, coletivo e planetário. Devemos substituir o egoísmo e a competição pela empatia e

a cooperação, compreendendo aquilo que os povos ancestrais já compreenderam há muito

tempo: o que nós fazemos à Terra, nós fazemos a nós mesmos. Além de exercitarmos esta

visão, é fundamental que a incentivemos também nas crianças, pois elas são a renovação da

espécie humana na Terra. Sendo assim, este projeto propõe a leitura de histórias como meio

de incentivar nas crianças a compaixão, a empatia e a união, bem como o cuidado com o

nosso planeta. Para tal, foi realizada a leitura das histórias dos “Guerreiros do Arco-Íris” para

a turma 6o A (30 estudantes) da Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag, em Curitiba, Paraná,

a qual foi aplicado um instrumento de investigação (questionário) antes e depois da leitura das

histórias. Como grupo controle, foram aplicados os mesmos instrumentos na turma 6o

D (33

estudantes). Posteriormente, o resultado dos questionários foi tabulado e analisado

qualiquantitativamente. Os estudantes que tiveram contato com as histórias e as reflexões

decorrentes e responderam o questionário final, 28 estudantes, manifestaram em maior

número a preciosidade da natureza (21 estudantes) e o domínio do conceito de empatia (27

estudantes) em comparação com a turma controle (28 estudantes) onde foram,

respectivamente, cinco e nenhum estudante. Entende-se que apenas escrever que a natureza é

preciosa e saber o significado da palavra “empatia” não garante que as crianças passem a

protegê-la e a agir de forma empática. Entretanto, acredita-se que através do incentivo e

valorização constantes de tais ideias e atitudes, possa ocorrer uma mudança de

comportamento nas crianças. Ressalta-se, ainda, a importância do contato real com a natureza

para que realmente haja uma sensibilização ambiental profunda e verdadeira.

Palavras-chave: empatia; sensibilização ambiental; leitura de histórias.

ABSTRACT

In the face of various environmental imbalances that we have caused to the planet, a change in

the way we relate on the individual, collective and planetary levels is urgently necessary. We

must replace the selfishness and the competition for the empathy and the cooperation,

understanding what the ancient peoples have understood long ago: what we do to the Earth we

do to ourselves. Besides we exercise this vision, it is essential that we encourage also the

children, as they are the renewal of the human species on Earth. Thus, this project proposes to

read stories as a means of encouraging in children the compassion, the empathy, the unity,

and the care of our planet. To this end, I read stories of the "Guerreiros do Arco-Íris" to the

class 6th A (30 students) of the Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag in Curitiba, Paraná

and applied an investigative tool (questionnaires) before and after reading the stories. As a

control group, the same instruments were applied in 6th class D (33 students). Subsequently,

the results of the questionnaires were tabulated and analyzed qualitatively and quatitatively.

Twenty one of 28 students who had contact with the stories and reflections arising expressed

the preciousness of nature and 27 students showed the domain of the concept of empathy

compared to the control group (28 students) which had, respectively, five and no students. It

is understood that just write that nature is precious and know the meaning of the word

"empathy" does not guarantee that children start to protect it and to act empathetically.

However, it is believed that by encouraging and constant appreciation of such ideas and

attitudes, may experience a change in behavior of the children. It is emphasized also the

importance of real contact with nature for really happens a deep and real environmental

awareness.

Keywords: empathy; environmental awareness; reading stories.

SUMÁRIO

1. Introdução.............................................................................................................................. 9

2. Fundamentação Teórica

2.1 O paradigma atual e as consequências ambientais............................................................. 11

2.2 As principais influências na consolidação do paradigma atual.......................................... 16

2.3. A relação do ser humano com a natureza a partir da perspectiva indígena...................... 19

2.4. As práticas de leitura e contação de histórias como ferramentas para o fortalecimento de

valores e ideias......................................................................................................................... 22

3. Objetivos

3.1 Objetivo geral......................................................................................................... 24

3.2 Objetivos específicos.............................................................................................. 25

4. Metodologia ........................................................................................................................ 25

4.1 As Histórias dos Guerreiros do Arco-Íris.......................................................................... 26

5. Resultados e Discussão........................................................................................................ 27

6. Considerações Finais............................................................................................................ 33

7. Referências Bibliográficas................................................................................................... 34

8. Apêndices

8.1 Histórias dos Guerreiros do Arco-Íris................................................................................ 38

8.2 Questionários..................................................................................................................... 85

9. Anexos

9.1 Memorial do Projeto de Aprendizagem............................................................................. 91

9.2 Memorial das Vivências Profissionais............................................................................... 93

9.3 Memorial das Interações Culturais e Humanísticas........................................................... 99

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1. Introdução

A demanda por recursos naturais (alimentos, água, energia e matérias primas, bem

como espaço para infraestrutura) dobrou desde 1966, e hoje leva 1,5 ano para a Terra

regenerar os recursos renováveis consumidos pelos seres humanos e absorver os resíduos de

CO2 que nós produzimos a cada ano (RELATÓRIO PLANETA VIVO, 2012). Segundo as

projeções tendenciais, nossa espécie vai precisar do equivalente a dois planetas Terra até 2030

para atender às nossas demandas anuais. Ainda segundo o Relatório Planeta Vivo (2012), as

cinco maiores pressões diretas causadas pela espécie humana em relação ao restante do

planeta são: a perda, alteração e fragmentação de habitas; a superexploração de populações de

espécies selvagens; a poluição; a mudança climática e a introdução de espécies exóticas

invasoras.

Mikhail Gorbachev apud Boff (2009), presidente da Cruz Verde Internacional, alertou

que em trinta ou quarenta anos a Terra pode vir a existir sem nós, que é necessário chegarmos

a um consenso sobre novos valores, e de que “precisamos de um novo paradigma de

civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades”.

Capra (1986) citado por Capra (1996) define paradigma como “uma constelação de

concepções, de valores, de percepções e de práticas compartilhados por uma comunidade, que

dá forma a uma visão particular da realidade, a qual constitui a base da maneira como a

comunidade se organiza”.

Boff (2009) aponta que se trata de modelos e padrões de apreciação, de explicação e

de ação sobre a realidade circundante: “O paradigma estabelece as relações lógicas entre todas

as instâncias, pois elas, por mais díspares que sejam, estão todas interconectadas”.

O paradigma atual pode ser caracterizado por uma “visão do corpo humano como

máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência e a crença

no progresso material ilimitado, a ser obtido por intermédio de crescimento econômico e

tecnológico” (CAPRA, 1996). Esta forma de enxergar o mundo está colocando em risco a

nossa própria condição de existência, que só se dá com o equilíbrio do superorganismo do

qual fazemos parte: o planeta Terra, ou Gaia, de acordo com a teoria elaborada por James

Lovelock e Lynn Margulis.

A Teoria de Gaia foi elaborada em 1979 e afirma a interdependência de todas as

formas de vida, considerando a Terra um sistema complexo e auto-regulável, em que todos os

seres, junto com o solo, os oceanos e a atmosfera formam um ser vivo: Gaia (FAUR, 2006).

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Os organismos vivos, segundo Lovelock, se renovam continuamente e regulam o

equilíbrio químico do ar, dos mares e do solo, de modo a assegurar as condições necessárias

para a sua existência. A vida e seu ambiente estão ligados intrinsecamente que a evolução diz

respeito à Gaia e não aos organismos ou ao ambiente separadamente (LOVELOCK, 1991).

Devido a nossa percepção estar tão focada em organismos independentes

dentro de seu meio ambiente físico ou social, tendemos a ver sociedades de

insetos, de animais ou de seres humanos, assim como todos os ecossistemas,

enquanto coleções de indivíduos que começaram a viver e a trabalhar juntos.

É realmente mais apropriado perceber que tais coleções sempre funcionaram

como todos que nunca foram separados em seres completamente individuais.

Seres individuais com certeza existem dentro e além das espécies, mas

nenhum nunca pôde se tornar totalmente independente, embora alguns sejam

relativamente mais independentes do que outros. Todos os seus modos e

formas complexos evoluíram de um sistema único, exatamente como as

nossas células desenvolveram separadas funções dentro de um todo

inseparável (SAHTOURIS, 1998).

A compreensão da interação entre biodiversidade, serviços ecossistêmicos e seres

humanos é fundamental para a reversão da situação crítica em que se encontra a Terra

(RELATÓRIO PLANETA VIVO, 2012). Não existem partes isoladas, nós coexistimos

através da interdependência: os organismos vivos – plantas, animais e micro-organismos –

interagem de modo a formar complexas teias interconectadas de ecossistemas e habitats que,

por sua vez, fornecem uma infinidade de serviços ecossistêmicos dos quais depende toda a

Vida.

Tão grande é a capacidade de resiliência da Terra, e tão além da nossa atual

compreensão, que realmente devemos considerar que ela encontrará meios de retornar a um

estado de equilíbrio. Gaia continuará viva. Caberá à nossa espécie decidir de que forma

faremos parte deste processo de cura: se será despertando nossa consciência e cultivando o

equilíbrio dentro e fora de nós mesmos ou não encontrando mais as condições favoráveis a

nossa existência no planeta, de tal maneira que somente nossa provável extinção possa

garantir a harmonia na Terra.

Como aponta Morin (2010), a consciência e o sentimento de pertencermos à Terra são

vitais atualmente. O enraizamento desta consciência é o que possibilitará o desenvolvimento

de um sentimento de religação e intersolidariedade, imprescindível para civilizar as relações

humanas e, assim, possibilitar a nossa permanência no planeta.

De acordo com Santos (2011), a transformação da realidade começa pela

transformação dos indivíduos, desde a infância, e é a educação a principal ferramenta de

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mudança. Corroborando com esta ideia, Micheline Flak afirma:

O ser humano, quando chega ao mundo, não está terminado. A educação tem

por objetivo desenvolver suas potencialidades para levá-lo à compreensão de

seu lugar na Terra e de seus vínculos com o Universo. A escola não tem por

finalidade fazer de nós somente profissionais, mas também pessoas em

evolução ao longo da vida (FLAK, 2007).

Faz-se necessária a busca por mecanismos que propiciem o fortalecimento e a

formação de valores – compaixão, empatia e união, bem como o resgate da compreensão de

pertencimento ao planeta Terra, dentro e fora da escola, para que ocorra a evolução de

relações mais gentis e benignas na sociedade humana.

As práticas de leituras são consideradas um desencadeador de debates sobre diversos

assuntos do mundo, tanto do mundo simbólico quanto do mundo real da criança (RESENDE,

1993). Sendo assim, através da leitura de histórias e das reflexões que são feitas em torno

delas, pode ocorrer uma (re) significação de saberes e a construção de uma forma mais

elaborada e complexa de pensamento.

Segundo Santos (2011), a contação de histórias pode revelar-se uma estratégia de

sucesso, pois ao reunir ficção e realidade, abre-se espaço para o imaginário e, ao mesmo

tempo, permite-se repensar o real. Dessa relação, mediada pela leitura, pelo diálogo, pela

reflexão, o/a estudante reelabora suas certezas e, muitas vezes, modifica seu comportamento.

Nesse contexto, a leitura e a contação de histórias constituem-se como estratégias

interessantes, tanto no ambiente escolar quanto fora dele, para incentivar reflexões, hábitos e

valores. Este projeto propõe a leitura das histórias dos Guerreiros do Arco-Íris (escritas pela

autora – Apêndice), como instrumento para a sensibilização ambiental.

Os Guerreiros do Arco-Íris são sete histórias baseadas em uma profecia indígena. São

destinadas a crianças, jovens e adultos e incentivam a compaixão, a empatia, a união e o

cuidado com a Terra.

2. Fundamentação Teórica

2.1 O paradigma atual e as consequências ambientais

“Não haverá verdadeira resposta à crise ecológica a não ser em

escala planetária e com a condição de que se opere uma autêntica

revolução política, social e cultural” (Félix Guattari, 2009).

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A civilização ocidental criou um modelo de desenvolvimento que pode ser chamado

de capitalista-urbano-industrial-patriarcal, baseado na produção e consumo de bens materiais

e orientado para gerar lucros para aqueles que se apropriam dos meios de produção (TIRIBA,

2005).

Somos hoje mais de 7 bilhões de seres humanos no planeta, mais de 50% vivendo em

cidades (no Brasil a população urbana é de 84%) e alimentando um modelo de vida que é

cada vez mais insustentável (WWI, 2010).

Sendo a economia considerada o interesse mais importante e o que baseia as decisões

nos demais aspectos (sociais, culturais, políticos, ambientais, etc.) da sociedade, além de gerar

diversas desigualdades sociais, o sistema econômico capitalista passou a ser considerado um

dos propulsores da crise ecológica sem precedentes que vem sendo fortalecida desde o final

do século XIX (MARTÍNEZ-ALIER, 2007).

Ludibriada pelo mito da natureza infinita e ensandecida pela necessidade de

possuir/consumir, a civilização ocidental tem utilizado o potencial da espécie humana para

manutenção de um modelo de desenvolvimento que não está voltado para o bem-estar e

felicidade dos seres que habitam o planeta, mas para os interesses do mercado (TIRIBA,

2005).

Segundo Cohen (2012), em reportagem divulgada na Revista Planeta, a Terra nunca

foi tão degradada como nos últimos 50 anos: 60%, ou 15 dos 24 serviços ecossistêmicos

examinados no Relatório de Avaliação Ecossistêmica do Milênio1, de 2005, têm sido usados

de forma não sustentável.

De acordo com a reportagem, entre 1960 e 2000, período em que a economia global

cresceu mais de seis vezes, a demanda ligada a serviços dos ecossistemas – pesca,

fornecimento de água, tratamento de resíduos, regulação climática e qualidade do ar –

acompanhou o aumento da população. Enquanto esta duplicava, duplicou a extração de água

dos rios e lagos e a capacidade hidrelétrica instalada. O volume de água confinada em diques

quadruplicou e o de água retida nos reservatórios já é de três a seis vezes maior do que o dos

cursos d’água naturais. Quanto à produção de alimentos, cresceu 2,5 vezes; a produção de

madeira de corte aumentou mais de 50% e a exploração de madeira para papel e celulose

triplicou.

De acordo com a Equipe Akatu (2015), em reportagem divulgada na Revista do Meio

1que reuniu 1,36 mil especialistas de 95 países para avaliar o impacto das mudanças ambientais sobre o bem-

estar humano

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Ambiente, foram estabelecidos em 2009 por um grupo de cientistas ambientais, 9 limites

planetários definidos como “o espaço operacional seguro para a manutenção da humanidade”.

São eles: 1. Mudanças climáticas 2. Perda da integridade da biosfera (perda de biodiversidade

e extinção de espécies) 3. Destruição do ozônio estratosférico 4. Acidificação dos oceanos 5.

Fluxos biogeoquímicos (ciclos do fósforo e do nitrogênio) 6. Mudança do sistema terrestre

(por exemplo, o desmatamento) 7. Utilização da água doce 8. Carga atmosférica de aerossóis

(partículas microscópicas na atmosfera que afetam o clima e os organismos vivos) e 9.

Introdução de novas entidades (por exemplo, poluentes orgânicos, materiais radioativos,

nanomateriais, e microplásticos).

Um estudo publicado na revista Science, em janeiro de 2015, e divulgado pela Revista

do Meio Ambiente (2015), revelou que já foram ultrapassadas as fronteiras de mudanças

climáticas, de mudança do sistema terrestre, de perda de integridade da biosfera, e de

alteração de ciclos biogeoquímicos (fósforo e nitrogênio) (EQUIPE AKATU, 2015).

“Desde 1750, a concentração atmosférica de dióxido de carbono (CO2) aumentou

32%, sobretudo em decorrência da combustão de combustíveis fósseis e mudanças no uso do

solo”. “Quase 60% desse aumento foi registrado a partir de 1959” (COHEN, 2012). De 1992

a 2012 os níveis de CO2 na atmosfera avançaram 9% e as temperaturas médias subiram cerca

de 0,4 ºC. “A quantidade de gelo marinho no Ártico ao fim de cada verão caiu 35%, com os

anos de 2007 e 2011 registrando as mínimas mais expressivas” (RELATÓRIO PLANETA

VIVO, 2012).

O desmatamento é uma fonte importante de emissões de CO2 (RELATÓRIO

PLANETA VIVO, 2012). “De 1945 em diante, mais terras foram convertidas em lavouras do

que nos séculos XVIII e XIX juntos” (COHEN, 2012). “De 1992 a 2012, a cobertura florestal

mundial encolheu três milhões de km², uma área do tamanho da Índia” (RELATÓRIO

PLANETA VIVO, 2012).

Um dos impactos humanos mais generalizados sobre os ecossistemas do planeta é a

agricultura. Apesar de, até certo ponto, este fato refletir o sucesso humano, o impacto

ecológico da intensificação da produção agrícola é grande (RELATÓRIO PLANETA VIVO,

2012), como o excesso de agrotóxicos e fertilizantes utilizados nos últimos anos, o que afeta a

saúde humana, ambiental e a manutenção da biodiversidade (LIMA & ROCHA, 2012), e

também o fato desta atividade absorver quase 70% de toda a água utilizada no mundo

(COHEN, 2012).

Segundo o Relatório Planeta Vivo (2012), um dos motivos da intensificação da

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pressão sobre o sistema de abastecimento de alimentos é o consumo insustentável de carne,

principalmente nos países mais ricos. A produção de carne requer muito mais recursos – água,

energia e terras, por exemplo - do que grãos ou leguminosas e é responsável por 18% das

emissões mundiais de gases de efeito estufa (RELATÓRIO PLANETA VIVO, 2012). Na

Amazônia, a pecuária é uma das principais causas de desmatamento, tendo colaborado para

que, em 40 anos, a região perdesse área em floresta equivalente a duas Alemanhas (CHAVES,

2014). O ano de 1995 testemunhou um recorde histórico: 29.059 km² desmatados. Entre 1990

e 2007 o rebanho bovino na Amazônia passou de 26,6 milhões para 70 milhões de cabeças

(COHEN, 2012).

Para alimentar uma população crescente de seres humanos, mais de 60

bilhões de animais terrestres são mortos todos os anos e a escravidão animal é

responsável pelo confinamento de 19 bilhões de galinhas, 1,4 bilhão de

bovinos, 1 bilhão de porcos, 1 bilhão de ovelhas e um número considerável

de outros animais. O sofrimento imposto às outras espécies é imenso. Além

disto, o boi e a vaca, por exemplo, são animais ruminantes cujo processo

digestivo provoca uma fermentação que faz o animal liberar muito gás

metano. O metano é o segundo gás que mais contribui para o efeito estufa,

sendo 21 vezes mais poluente do que o CO2 (ALVES, 2014).

Com a diminuição da cobertura vegetal mundial, o número de espécies da flora e da

fauna entrou em declínio veloz. “Nos últimos séculos, a taxa de extinção aumentou mil vezes

em comparação com outras taxas históricas” (COHEN, 2012). A biodiversidade encolheu

30% em todo o mundo entre 1970 e 2008 e, nos trópicos, a redução da fauna e flora originais

foi de 60% (RELATÓRIO PLANETA VIVO, 2012).

A situação das águas da Terra também é crítica. Os rios foram desviados, represados,

assoreados e degradados. Aquíferos fósseis estão desaparecendo e os aquíferos renováveis

não estão conseguindo manter os níveis de reposição dos estoques, reduzindo a capacidade de

carga (ALVES, 2014). Atividades impactantes como a mineração e a agropecuária, e a

precariedade ou inexistência de saneamento básico em várias regiões são algumas das grandes

causadoras da poluição das águas. Ainda segundo o autor, a poluição dos rios reduz a

disponibilidade de água doce, diminui o oxigênio e provoca a mortandade de peixes. Além

disso, a maior parte da sujeira dos solos e dos rios corre para o mar. Assim, os oceanos do

mundo estão se tornando mais ácidos em consequência da poluição dos rios e da absorção de

26% do dióxido de carbono emitido na atmosfera, afetando tanto as cadeias alimentares

marinhas quanto a resiliência dos recifes de corais. Se a acidificação dos oceanos continuar, é

provável que haja alterações nas cadeias alimentares bem como impactos diretos e indiretos

sobre diversas espécies, salienta Alves (2004). Além da poluição decorrente dos rios e das

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emissões de gases de efeito estufa, os oceanos estão ameaçados pela superexploração2, pelo

derramamento de óleo e substâncias tóxicas liberadas diariamente nos mares, além de cerca

de 8 milhões de toneladas de lixo plástico que são lançadas nos oceanos todos os anos,

segundo cientistas (AMOS, 2015).

Os impactos supracitados demonstram algumas das pressões sobre a biodiversidade,

os ecossistemas e sobre os mesmos recursos dos quais os seres humanos dependem

(RELATÓRIO PLANETA VIVO, 2012).

Este trabalho não pretende realizar uma profunda análise dos conflitos ambientais

atuais, mas, sim, proporcionar um panorama geral da grave situação em que nosso planeta se

encontra. A ação antrópica está superando a biocapacidade do planeta em 50%, o que

significa que devastamos em um ano o que os ecossistemas demoram 18 meses para repor

(COHEN, 2012).

De acordo com Morin & Kern (2005), há um processo multiforme de degradação da

biosfera, bem como um processo multiforme de degradação da psicosfera, ou seja, de nossas

vidas mentais, afetivas, morais, e tudo isso tem consequências em cadeia.

A forma como tratamos a Terra é reflexo do modo como estamos tratando a nós

mesmos e nossos semelhantes. Há uma profunda crise nos relacionamentos humanos. Como

aponta Tiriba (2005), num contexto de perda da experiência direta com outros seres humanos

e com a natureza, o consumo é tido como cura para as insatisfações e frustrações decorrentes

de um estilo de vida que valoriza o Ter.

(...) a ânsia do consumo encerra uma obediência a uma ordem não anunciada,

mas a que, consciente ou inconscientemente, todos obedecem, sob pena de se

sentirem infelizes pela ousadia da diferença. O desejo de singularizar é

considerado hoje um delito. (...) em vez da satisfação prometida e da

plenitude almejada, o sujeito de consumo se vê enredado num estado crônico

de insatisfação e privação necessário ao próprio funcionamento da lógica do

consumo (CASTRO, GARCIA E JOBIM E SOUZA, 1997, apud TIRIBA,

2005).

A sociedade urbano-industrial tem possibilitado a expansão da produção e do

consumo, mas às custas de uma crescente desigualdade social e da degradação continua dos

ecossistemas (ALVES, 2014). Está evidente que fazer as coisas como sempre fizemos não é

2 a sobrepesca fez com que 85% de todos os estoques de peixes fossem atualmente classificados como sobre-

explorados, esgotados, em recuperação ou totalmente explorados (ALVES, 2014). A quase quintuplicação da

pesca global, de 19 milhões de toneladas em 1950 para 87 milhões em 2005, levou à exaustão de estoques

pesqueiros (RELATÓRIO PLANETA VIVO, 2012)

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mais uma opção. É necessário garantir o acesso universal a recursos básicos, como água,

alimentos e energia para todos nós. Entretanto, será impossível alcançar isso sem proteger as

florestas, solos, ecossistemas oceânicos e de água doce, e sem um clima estável como pano de

fundo (RELATÓRIO PLANETA VIVO, 2012). É, portanto, urgente a necessidade de

revermos a forma como estamos vivendo na Terra, bem como a reavaliação de nossas

prioridades enquanto espécie.

2.2 As principais influências na consolidação do paradigma atual

“A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas

conseguem identificar o que os separa e não o que os une.” (Milton Santos,

2000).

As influências mais poderosas sobre nossa cultura moderna derivam da revolução

filosófica e científica do século XVII, do cultivo da dúvida cartesiana e do nascimento da

física newtoniana ou clássica que mudaram radicalmente o modo como vemos a nós mesmos

e nossa relação com o mundo (ZOHAR, 1990).

Segundo Mariotti (2007) o pensamento predominante em nossa cultura pode ser

chamado de pensamento linear, linear-cartesiano ou lógica/pensamento binário, e sua

consolidação se deu principalmente com as ideias de René Descartes, que afirmou que o

conhecimento poderia ser melhorado pela divisão do objeto em estudo, seguida de uma

síntese final, e de Isaac Newton, que alegou que o objetivo da ciência é encontrar leis

universais, que determinem relações nítidas de causa-efeito.

Este padrão mental acaba levando ao imediatismo, à superficialidade e ao

reducionismo, já que as questões, em grande parte, são analisadas somente no momento atual

e, se não existirem correlações imediatas e diretas entre essas questões e as circunstâncias em

que se apresentam, considera-se que umas nada têm a ver com as outras (MARIOTTI, 2007).

A reflexão é vista como perda de tempo, pois para que ela aconteça é necessário estabelecer

conexões, o que implica sair da linearidade limitante – e ilusória - do raciocínio de

causalidade simples (uma causa, um efeito).

Esse imediatismo muitas vezes faz com que as pessoas não antecipem nem

percebam as consequências remotas de suas ações, o que por sua vez é um

estímulo à insensibilidade e à irresponsabilidade social. Da mesma forma,

dificulta o aprendizado com os erros do passado. A ideia de causalidade

simples também limita a compreensão de que não existem fenômenos de

causa única no mundo natural (MARIOTTI, 2007)

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Apesar de ter produzido e ainda produzir saberes muito importantes, com especialistas

em diferentes áreas e disciplinas, a tendência à fragmentação do saber científico resulta nas

especializações, “onde o próprio especialista torna-se ignorante de tudo aquilo que não diz

respeito a sua disciplina e o não-especialista renuncia prematuramente a toda possibilidade de

refletir sobre o mundo, a vida, a sociedade” (MORIN, 2007).

Como afirma Capra (1991), “as propriedades das partes podem ser entendidas somente

a partir da dinâmica do todo. Em última análise, não há partes, em absoluto. Aquilo que

chamamos de parte não passa de um padrão numa teia inseparável de relações”. E é a falta de

um diálogo mais amplo e complexo entre as partes que faz com que o pensamento linear não

seja compatível com a realidade que é complexa, multifacetada e muitas vezes imprevisível

(MARIOTTI, 2007).

O fato de o ser humano se considerar sobre as coisas - as terras, as águas, os vegetais,

os animais, os minerais - para fazer delas condições e instrumentos de felicidade e do

“progresso” humano, e não se entender junto com elas, numa pertença mútua, como membros

de um todo maior e da comunidade de vida (BOFF, 2009), decorre da separação artificial e

brutal entre sujeito e objeto.

Segundo Tiriba (2005), “a concepção reducionista de mundo, a revolução industrial e

a economia capitalista são os componentes filosófico, tecnológico e econômico de um mesmo

processo. Pois ao capital só interessa sua própria eficiência e o retorno financeiro que dela

deriva, sem importar-se com os custos sociais e ambientais de seus investimentos. O

reducionismo dá sustentação científica a esta lógica”.

No paradigma reducionista, um bosque é reduzido à madeira comercializável,

e esta à fibra de celulose destinada à indústria papeleira. O passo seguinte é o

da manipulação dos solos, dos bosques e dos recursos genéticos para

incrementar a produção de pasta de madeira. Esta distorção se legitima

cientificamente apresentando-a como um incremento global da

produtividade, desconsiderando a possível redução da quantidade de água

gerada pelo bosque ou a destruição da diversidade de formas de vidas que

constituem uma comunidade florestal (Mies e Shiva,1997, p.43 apud Tiriba,

2005).

No paradigma vigente, as preocupações se voltam para o objetivo, o concreto, o

funcional, com predomínio da quantidade, da mensuração, da previsão e do controle

(MARIOTTI, 2007). Os resultados que importam são os materiais, produtivistas e financeiros,

com muitas pessoas chegando a acreditar que vivemos com o propósito de produzir bens e

serviços.

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Trata-se de uma visão mecanicista, unilateral da condição humana, pois nossa espécie

também apresenta um lado que não produz resultados objetivos, mas que é igualmente

importante: o lado humanista do conhecimento, que surge da interação das pessoas, de suas

trocas de experiências e de todas as vivências que produzem insights, significados, ideias

novas; que inclui a intuição, os sentidos, os sentimentos, a experiência; preocupa-se com o

subjetivo, o qualitativo, a busca da convivência com o incerto e o imprevisível, e que tem sido

tradicionalmente deixado em segundo plano, pois é considerado desnecessário para uma

ciência que, para dominar e controlar a natureza tem como referência a razão instrumental,

que necessita apenas de racionalidade abstrata, fria e quantificadora (MARIOTTI, 2007 e

TIRIBA, 2005).

Embora sejam inegáveis os progressos da ciência e da tecnologia, o pensamento linear

gera efeitos colaterais danosos ao indivíduo, à sociedade e ao ambiente natural. A degradação

ambiental, os fanatismos, os fundamentalismos, os totalitarismos, a violência, o preconceito, a

intolerância, o egoísmo e a irresponsabilidade social são apenas alguns exemplos dos efeitos

que a perspectiva utilitária, que vê o mundo em termos produtivistas, extrativistas e

fragmentadores, vem causando (MARIOTTI, 2007).

De acordo com Morin (2010),

(...) quanto mais os problemas se tornam multidimensionais, maior a

incapacidade de pensar sua multidimensionalidade; quanto mais a crise

progride, mais progride a incapacidade de pensar a crise; quanto mais

planetários tornam-se os problemas, mais impensáveis eles se tornam. Uma

inteligência incapaz de perceber o contexto e o complexo planetário fica

cega, inconsciente e irresponsável (MORIN, 2010).

Diante da crise planetária, ao ficar claro que esta visão de mundo causou tantos danos,

é necessário resgatar antigos valores ancestrais, onde a noção de interdependência existente na

Terra, nossa casa, é permanente, natural e inabalável. Existe, para os povos originários, a

compreensão de que a natureza nos abriga, nutre e sustenta e de que, portanto, além da

gratidão, devemos cultivar a noção de que ao destruirmos nosso habitat estaremos

contribuindo para a nossa própria extinção.

A civilização moderna tem muito o que aprender com os povos antigos e, se

estivermos receptivos a estes valiosos conhecimentos, poderemos estabelecer outros

referenciais para os relacionamentos que mantemos nos níveis individual e coletivo. Unindo a

tecnologia e o conhecimento que foi adquirido pela sociedade moderna com a sabedoria

ancestral, poderemos elevar a espécie humana a um nível mais equilibrado e harmônico de

19

existência.

2.3 A relação do ser humano com a natureza a partir da perspectiva indígena

“A Terra é viva, assim como os seres vivos. Ela se move como os outros

seres viventes. (...) Eu acho que o bicho homem seria como um guardião.

Alguém encarregado de preservar a Mãe Terra” (Cacique Joel Braz, 2014).

O senso de pertencimento ao planeta Terra e do compartilhamento de uma casa-

comum com os seres animados e inanimados, onde cada parte possui valor intrínseco e está

intimamente ligado ao Todo, é característico dos povos ancestrais. Assim, sua visão de mundo

ia e vai além da superfície, da aparência das coisas, sendo mais capaz de entender o lugar da

humanidade em um universo de vida e de consciência (VALBRACHT, 1998). Um belo

exemplo deste fato é uma carta enviada pelo cacique do povo indígena Suquamish ao

presidente Franklin Pierce, dos EUA, em 1855, quando o governo americano desejava

comprar o território indígena:

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia

nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água,

como é possível comprá-los?

Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um

pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa,

cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de

meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as

lembranças do homem vermelho.

Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o

sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem

lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é

sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de

acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é

a voz de meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os

rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos

nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são

nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a

bondade que dedicariam a qualquer irmão (...).

Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto

sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.

Há uma ligação em tudo.

O que ocorrer com a Terra recairá sobre os filhos da Terra. O homem não

tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer

ao tecido, fará a si mesmo.

Segundo Sahtouris (1999), essa é uma diferença fundamental entre a nossa cultura e a

dos povos indígenas: nosso objetivo é utilizar, transformar e controlar a natureza para

finalidades humanas. A deles é “viver harmoniosamente no mundo natural, reconhecendo que

20

somos completamente dependentes dele, do mesmo modo que qualquer célula ou órgão do

corpo depende por completo do resto do organismo”.

Em um belíssimo livro, “Índios na Visão dos Índios: Memória da Mãe Terra”, de

2014, 27 autores indígenas de 17 etnias diferentes do Brasil partilham suas visões, opiniões e

sentimentos sobre sua relação com a Terra:

Para mim a Mãe Terra é um ser que faz a gente viver. Índio sem Terra não

sobrevive.

Sem ela não podemos ter a nossa vida própria. Nos perguntam sempre: Para

que vocês querem essa Terra? Ela é uma Mãe querida que nos faz crescer em

todos os momentos. Por isso, eu tenho um grande respeito. Nós, que não

somos donos da Mãe Terra, mas simples moradores, temos que saber pisar

em cima dela, neste chão sagrado (...)

(...) eu mesma considero a Terra uma mãe. Uma mãe preparada para nos dar

tudo aquilo que a gente precisa. A mãe sempre está ao lado dos seus filhos.

Para todos nós indígenas, a mãe Terra é um ser vivo que vem fortalecer toda

a humanidade. É da Terra que temos todos os ensinamentos fortes, o poder de

sobreviver (...)

(...) Até mesmo no final da vida nós precisamos da Mãe Terra, para nós

descansar as nossas costas naquele túmulo tão sossegado, tão tranquilo, que é

ela que nos dá.

Eu vivo respeitando a Mãe Terra e pedindo a todos o respeito por ela.

(“Respeitar a Mãe Terra” - Mayá Tupinambá Pataxó Hãhãhãe, 2014)

(...) Os elementos fornecidos pela terra para a nossa sobrevivência, a matéria

prima fornecida para a fabricação do artesanato, assim como, a agricultura de

subsistência e as plantas usadas em práticas ritualísticas de cura foram

essenciais para caracterizar essa relação estabelecida como uma analogia a

simbologia materna da terra.

Por isso, se perguntarmos a um Fulni-ô, principalmente um velho da

comunidade, como se dá essa relação com a terra, ele não hesitará em

responder que Yafelhá ewlinholhá (nossa terra é quem nos cria). Ou seja, a

terra, além de ser uma base sólida para a manutenção física e cultural,

também transcende o universo metafísico do indígena Fulni-ô, equiparando-

se a uma mãe para todos nós, a razão disso é devido ao contexto no qual

acreditamos que a mãe é o elemento físico escolhido para o nosso nascimento

espiritual. Mas, para algumas pessoas, os elementos da terra, assim como a

própria, foram transformados em moeda de troca, ditando em dias atuais as

relações sociais da comunidade. Entretanto, para algumas pessoas as quais

ainda estabelecem essa relação matriarcal, a terra é vista como a mãe

cuidadosa que zela pelo crescimento sadio e espiritual dos filhos, e, por conta

disso, deve ser respeitada e resguardada com todo o carinho que se tem por

uma mãe, assim como, todos os seus elementos que lhe caracterizam acabam

fazendo parte de uma família indissolúvel, onde todos cuidam de todos.

(“A Terra Mãe é Nossa Pátria” - Maike Wítxô Fulni-ô, 2014)

Nós, índios Xokó, consideramos a Natureza como uma verdadeira Mãe

Espiritual, pois é dela que retiramos nosso alimento material e nossa força

mental.

Estamos diretamente interligados com a Terra através dos nossos rituais

sagrados onde invocamos forças divinas para nunca perder o caminho que

nossos antepassados trilharam. Os ensinamentos que nos deixaram de como

podemos pisar nossos cantos com firmeza e bravura na certeza de que a Mãe

21

Terra sempre nos dará a inspiração que precisamos para a nossa cura

espiritual e física através de ervas medicinais. É da Terra que extraímos nossa

pintura corporal, com ela representamos símbolos inspirados em animais

como, por exemplo, cobras (jiboia, salamandra, coral) e a onça-pintada que

significam agilidade, e persistência para conseguir o que queremos. É assim

que nosso povo em meio às lutas, não desiste.

Retratamos nosso respeito e nossa admiração, através da maneira em que

cultivamos nossos alimentos de forma sustentável (...).

Trabalhamos com o nosso maior bem que é a Terra, amando-a e respeitando-

a. A Terra é como uma Mãe protetora e acolhedora que não desampara seus

filhos mesmo quando não merecemos tamanha gratidão.

(“Gratidão” - Itala, KarinE, Yatan, Franklin, Elizama Xokó, 2014)

De acordo com Faur (2006), desde a mais remota antiguidade, a Natureza – e

principalmente a Terra - era considerada como a expressão máxima do princípio sagrado

feminino, Deusa e Mãe, criadora, geradora, nutridora e mantenedora da vida e de todos os

seres da criação. Percebia-se a íntima conexão existente entre a Deusa, a Terra e a mulher e

interpretava-se “o mistério da vida e da morte como um ciclo natural e eterno, visível nos

ritmos e padrões cósmicos, na dança das estações e na Roda das reencarnações”.

Com o fortalecimento do modelo patriarcal, essa visão foi sofrendo profundas

modificações que levaram o feminino a ser visto como algo “inferior” ou de menor valia,

impuro, maléfico, selvagem ou perigoso, devendo ser dominado, subjugado e usufruído pelo

Homem, que foi feito à imagem e semelhança do “Pai” ou “Criador” (FAUR, 2006). A

dependência à Terra era vista como uma ofensa, um desafio ao direito do homem à liberdade

que deveria ser suprimido pela força e pela violação da integridade da natureza (TIRIBA,

2005).

A arte de narrar histórias encontra suas raízes nos povos ancestrais que contavam e

encenavam histórias para difundirem seus rituais, os conhecimentos acerca do mundo e sobre

as experiências adquiridas pelo grupo ao longo do tempo. Além da comunicação oral e

gestual, ao narrarem suas historias, também registravam nas paredes das cavernas, com

desenhos e pinturas, suas experiências. A memória auditiva e a visual eram, então, essenciais

para a aquisição e o armazenamento dos conhecimentos transmitidos (RAMOS, 2011).

Ainda segundo a autora, a transmissão oral, passada de geração em geração, foi uma

das soluções encontradas pelas comunidades que não possuíam a escrita, para informar as

gerações mais novas os seus saberes, valores e crenças.

Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que

sabiam apresentar conselhos, fundamentados em fatos, histórias e mitos,

mantendo viva, enfim, a herança cultural pela memória do grupo. Os

contadores retiravam de suas vivências e dos saberes delas obtidos o que

22

contar. E, assim sendo, narrar dependia de eles colherem os saberes da

experiência, e de produzi-los em objetos (visuais, auditivos, etc.) para serem

apresentados a outros (RAMOS, 2011).

2.4 As práticas de leitura e contação de histórias como ferramentas para o

fortalecimento de valores e ideias

“As crianças são a renovação da espécie humana na Terra” (autor

desconhecido).

Se considerarmos que a atual crise civilizatória decorre do modo como nos

relacionamos entre nós mesmos, entre nós e nossos semelhantes, entre nós e as demais

espécies e entre nós e o planeta como um Todo, surgem as perguntas: o que queremos que se

renove? O que vale a pena manter e o que é melhor transformar? Quais posturas devemos

incentivar nas crianças para que realmente haja uma renovação da espécie humana na Terra?

E que mecanismos podemos utilizar para incentivar essas transformações tão necessárias?

De acordo com Dalai Lama3, se queremos construir um futuro melhor, “se nos

preocupamos realmente com isso, devemos pensar nos meios de cultivar, no espírito das

pessoas, desde o começo, uma maior compaixão, uma atitude mais altruísta”.

Ele define compaixão como sendo “uma espécie de sentimento de proximidade que se

experimenta em relação a alguém”

Experimentamos esse sentimento de proximidade naturalmente, para com

nossos amigos. Na realidade, não se trata aí da compaixão autêntica, porque

esse sentimento é “parcial”, limitado, enquanto a verdadeira compaixão (...)

deve ser universal.

A verdadeira compaixão não está, portanto, fundada na sensação agradável e

fácil de que “isto me é próximo”, mas antes na convicção de que “os outros

seres (...) são como eu, que não quero sofrer e quero ser feliz”. Também eles

têm o direito de superar seu sofrimento. E eu posso ajudá-los em seu bem-

estar pela compaixão. Eis, portanto, a verdadeira compaixão, quando é bem

compreendida (³)

Dalai Lama (2000) aponta a empatia como uma das formas de se desenvolver a

compaixão. Segundo ele

a empatia é importante não só como meio de aprimoramento da compaixão

mas, em termos gerais, quando se lida com os outros em qualquer nível e se

3 Transcrição de parte do programa Noms de Dieux, de Edmond Blattchen, gravado em 9 de junho de 1994 e

transmitido em 11 de setembro do mesmo ano pela Rádio Televisão Belga, acrescida de bibliografia atualizada

pelo autor. Blattchen entrevista o Dalai-lama (A Compaixão Universal: Col. Nomes de Deuses. Dalai Lama. São

Paulo: Unesp, 2002).

23

enfrenta alguma dificuldade, é extremamente útil ser capaz de procurar pôr-se

no lugar da outra pessoa e ver como se reagiria à situação. (...) Essa técnica

envolve a capacidade de suspender provisoriamente a insistência no próprio

ponto de vista mas, também, encarar a situação a partir da perspectiva do

outro, imaginar qual seria a situação caso se estivesse no seu lugar, como se

lidaria com o fato. Isso ajuda a desenvolver uma conscientização dos

sentimentos do outro e um respeito por eles, o que é um importante fator para

a redução de conflitos e problemas com os outros (DALAI LAMA, 2000).

A empatia é o sentimento que nos liga ao outro. É quando você se ausenta de si e

permite que o outro esteja presente em seu íntimo. E assim tenta sentir o que o outro sente,

tenta ver o que o outro vê, tenta entender o porquê do outro, quais as suas dores, quais as suas

razões mais profundas, quais as suas carências. Ao sentir o humano que existe no outro,

sabendo-nos também humanos, é que damos sentido à palavra “Humanidade” (RIBEIRO,

2016).

E é através da Empatia e da Compaixão, a partir do reconhecimento do outro (não

somente do humano, mas de todos os seres vivos) como um ser digno de respeito e

consideração, que exercitamos e fortalecemos a União, e esta, em um nível mais profundo,

nos revela a compreensão de sermos Um. Nós somos a Terra.

Como abordado no tópico anterior, a contação de histórias é uma atividade

fundamental que, desde os tempos antigos, transmite conhecimentos e valores capazes de

incentivar a formação do indivíduo.

Decorre desta prática também a postura crítico-reflexiva que é extremamente relevante

na formação cognitiva das crianças. Neste sentido, Abramovich (1997) entende que “ouvir e

ler histórias é também desenvolver todo o potencial crítico da criança. É poder pensar,

duvidar, se perguntar, questionar .... É se sentir inquieto, cutucado, querendo saber mais e

melhor ou percebendo que se pode mudar de ideia...”.

A contação/leitura de histórias está ligada diretamente ao imaginário infantil. O uso

dessa ferramenta incentiva não somente a imaginação, mas também o gosto e o hábito da

leitura; a ampliação do vocabulário, da narrativa e de sua cultura; o conjunto de elementos

referenciais que proporcionarão o desenvolvimento do consciente e subconsciente infantil, a

relação entre o espaço íntimo do indivíduo (mundo interno) com o mundo social (mundo

externo), resultando na formação de sua personalidade, seus valores e suas crenças

(MATEUS, et al., sem data).

É importante contar/ler histórias mesmo para as crianças que já sabem ler, pois

segundo Abramovich (1997) “quando a criança sabe ler é diferente sua relação com as

histórias, porém, continua sentindo enorme prazer em ouvi-las”. Quando as crianças maiores

24

ouvem as histórias, aprimoram a sua capacidade de imaginação, já que as ouvir pode

estimular o pensar, o desenhar, o escrever, o criar, o recriar (CASTRO, 2007).

Garantir a riqueza da vivência narrativa desde os primeiros anos de vida da criança

contribui para o desenvolvimento do seu pensamento lógico e também de sua imaginação, que

segundo Vigotsky (1992, p.128) caminham juntos: “a imaginação é um momento totalmente

necessário, inseparável do pensamento realista”. Neste sentido, o autor enfoca que na

imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade. Esse distanciamento da

realidade através de uma história, por exemplo, é essencial para uma penetração mais

profunda na própria realidade:

o afastamento do aspecto externo aparente da realidade dada imediatamente

na percepção primária possibilita processos cada vez mais complexos, com a

ajuda dos quais a cognição da realidade se complica e se enriquece

(VIGOTSKY, 1992, p.129).

Acredita-se que é incentivando as crianças a imaginar, criar, envolver-se, que se dá um

grande passo para o enriquecimento e desenvolvimento da personalidade, por isso, é de suma

importância o conto; acredita-se, também, que a contação/leitura de histórias pode interferir

positivamente para a aprendizagem significativa, pois o fantasiar e o imaginar antecedem a

leitura propriamente dita (MATEUS et al., sem data).

Partindo destes princípios, considera-se que as práticas de leitura e contação de

histórias são grandes e valiosas oportunidades de se incentivar reflexões sobre diversos

assuntos tanto do mundo simbólico quanto do mundo real da criança (RESENDE, 1993),

podendo, através da relação história + reflexão, ocorrer a construção de uma forma mais

complexa de pensamento, bem como o fortalecimento e a formação de valores, levando o/a

estudante a reelaborar suas certezas e, muitas vezes, a modificar seu comportamento

(SANTOS, 2011).

3. Objetivos

3.1 Objetivo Geral

O presente trabalho tem por objetivo incentivar valores como compaixão,

empatia e união como base para formas mais benignas de convívio.

25

3.2 Objetivos Específicos

Incentivar, a partir das histórias dos Guerreiros do Arco-Íris, reflexões acerca

de nossos atos e das relações que mantemos com nós mesmos, com nossos

semelhantes, com as demais espécies e com o planeta Terra;

Verificar o potencial da leitura das histórias dos Guerreiros do Arco-Íris, como

instrumento para a sensibilização ambiental de crianças.

4. Metodologia

A metodologia utilizada nesse trabalho foi o Estudo de Caso, baseado em uma

investigação qualitativa (SANTOS, 2011). A vantagem do estudo de caso possibilita ao

investigador fazer estudos exploratórios de determinada unidade, neste caso duas turmas do 6º

ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag, Curitiba, Paraná. A

leitura das histórias foi realizada com os estudantes do 6º ano A (30 estudantes), no início das

aulas de português, gentilmente cedidas pela professora Lucimara Rodrigues da Silva Kraft.

Foi também necessário um encontro, antes do início das práticas de leitura das histórias, para

aplicação do Questionário inicial (em apêndice) e, ao terem sido encerradas as práticas, outro

encontro para aplicação do Questionário final (em apêndice), totalizando sete semanas para

realização do estudo de caso (quadro 1). A turma controle, que só respondeu aos questionários

sem ter conhecimento das histórias, foi o 6º ano D (33 estudantes). Foram utilizados

aproximadamente 30 minutos de aula para a leitura de cada história, sendo uma história por

dia (com exceção das duas últimas histórias que, por serem mais extensas, foram divididas em

duas partes), dois dias na semana (terças e quintas-feiras, no período da manhã). Os encontros

decorreram da seguinte forma: antes do início da leitura de cada história, foram realizados

alguns alongamentos (baseados em Flak, 2007) a fim de despertar as crianças, visto que o

horário de 7h20 era de fato muito cedo e, caso não fosse feito algo para mantê-las alertas,

provavelmente iriam dormir ao ouvirem as histórias. Após breves exercícios, era iniciada a

leitura, durante a qual eu caminhava pela sala e expressava as emoções, ideias e sentimentos

dos personagens de forma lúdica e bastante enfática. Ao fim de cada leitura, foram realizadas

breves reflexões sobre o tema abordado em cada história.

26

4.1 As Histórias dos Guerreiros do Arco-Íris

Os Guerreiros do Arco-Íris são sete histórias destinadas ao público infantil e juvenil

(quadro 1), independentes entre si, e todas baseadas em uma profecia indígena feita há mais

de 200 anos por Olhos de Fogo, uma sábia indígena Cree, que alertou: “Um dia a Terra vai

adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos nas

correntezas dos rios. Quando este dia chegar, os indígenas perderão em seu espírito. Mas vão

recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as

raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos

Guerreiros do Arco-Íris”.

As histórias incentivam a compaixão, a empatia e a união, bem como o senso de

pertencimento ao planeta Terra e, portanto, a necessidade de cuidado para com ele.

Quadro 1: Cronograma da leitura das histórias dos Guerreiros do Arco-Íris realizada com a

turma do 6o ano A da Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag, Curitiba, Paraná.

Terça-Feira Quinta-Feira

Semana 1 – (22 e 24/03) Questionário inicial A Profecia

Semana 2 – (29 e 31/03) Preciosidades AmarCura

Semana 3 – (05 e 07/04) Cuidemos da Terra xxx

Semana 4 – (12 e 14/04) Águas Vivas Nas Nuvens (parte 1)

Semana 5 – (19 e 21/04) Nas Nuvens (parte 2) Feriado

Semana 6 – (26 e 28/04) Religare (parte 1) Religare (parte 2)

Semana 7 – (03/05) Questionário final

Embora as histórias sejam, em sua maioria, de fácil compreensão, as duas últimas são

mais elaboradas e, portanto, optou-se por fazer a análise com os/as estudantes do 6º ano, pois

nesta idade eles/elas possuem capacidade de interpretação textual e de reflexão dos assuntos

abordados e não “dependem” tanto de ilustrações, que ainda não foram feitas para as histórias

em questão.

O leitor fluente (a partir dos 10/11 anos): O leitor fluente está em fase de

consolidação dos mecanismos da leitura. Sua capacidade de concentração

cresce e ele é capaz de compreender o mundo expresso no livro. Segundo

Coelho (2002) é a partir dessa fase que a criança desenvolve o “pensamento

hipotético dedutivo” e a capacidade de abstração. Este estágio, chamado de

pré-adolescência, promove mudanças significativas no indivíduo. Há um

sentimento de poder interior, de ver-se como um ser inteligente, reflexivo,

capaz de resolver todos os seus problemas sozinhos. Aqui há uma espécie de

27

retomada do egocentrismo infantil, pois assim como acontece com as

crianças nesta fase, o pré-adolescente pode apresentar um certo desequilíbrio

com o meio em que vive.

O leitor fluente é atraído por histórias que apresentem valores políticos e

éticos, por heróis ou heroínas que lutam por um ideal. Identificam-se com

textos que apresentam jovens em busca de espaço no meio em que vivem,

seja no grupo, equipe, entre outros. É adequado oferecer a esse tipo de leitor

histórias com linguagem mais elaborada. As imagens já não são

indispensáveis, porém ainda são um elemento forte de atração. Interessam-se

por mitos e lendas, policiais, romances e aventuras. Os gêneros narrativos

que mais agradam são os contos, as crônicas e as novelas (CASTRO, 2007).

5. Resultados e Discussão

A primeira pergunta do questionário inicial pedia que as crianças fizessem um desenho

com o tema “Natureza”. Esta questão foi elaborada pensando-se em analisar se elas

acrescentariam seres humanos e/ou elementos antrópicos nos desenhos, ou seja, se

considerariam que a espécie humana faz parte da natureza.

A grande maioria desenhou paisagens com árvores, rios, animais e montanhas, mas

somente 6 de 30 estudantes do 6ºA e 7 de 33 estudantes do 6ºD acrescentaram seres humanos

e/ou elementos antrópicos, como casas e barcos, nos desenhos. Mesmo no questionário final

(com a repetição da pergunta) a maioria dos desenhos, em ambas as turmas, não continha

seres humanos (tabela 1). Este fato demonstra o quão enraizada está a ideia de separação entre

o ser humano e a natureza.

Com relação à segunda questão, nenhuma das crianças, tanto do 6ºA como do 6ºD,

sabia o significado da palavra “empatia” no primeiro questionário. Ressalta-se que este fato

não significa, necessariamente, que as crianças não agissem empaticamente em seus

relacionamentos, mesmo sem terem conhecimento de tal conceito. Destaca-se, porém, que

através do incentivo à empatia feito nas reflexões decorrentes das histórias dos Guerreiros do

Arco-Íris, 27 das 28 crianças do 6ºA, que responderam o questionário final, sabiam o

significado e a importância de tal conceito, enquanto que os/as 28 estudantes do 6ºD, que

responderam o questionário final, continuavam sem conhecer o significado da palavra.

Abaixo, alguns exemplos de respostas obtidas no 6ºA.

28

Entende-se que apenas saber o significado da palavra “empatia” não garante que as

crianças passem a agir de forma empática. Entretanto, acredita-se que através do incentivo e

valorização de ideias e atitudes, possa ocorrer uma mudança de comportamento nas crianças.

A terceira questão pedia um exemplo de algo que fosse precioso. No primeiro

questionário, das 29 crianças que responderam a pergunta no 6ºA, 18 apontaram coisas não

materiais (ex.: família), com cinco dentre estas ressaltando a natureza e/ou elementos naturais

como sendo preciosos; oito definiram coisas materiais (ex.: celular, ps4, diamante, ouro, etc),

como sendo preciosas; e três apontaram coisas materiais e coisas não materiais na mesma

resposta.

No questionário final observou-se que, no 6ºA, ao responderem a mesma pergunta, 21

das 28 crianças acrescentaram a natureza e/ou elementos naturais como sendo preciosos.

No 6ºD, 16 das 32 crianças que responderam esta questão no questionário inicial,

afirmaram que preciosas eram coisas materiais; 11 apontaram coisas não materiais, com cinco

29

dentre estas respondendo que a família era preciosa; quatro indicando a natureza e/ou

elementos naturais; uma, Deus e uma, saúde; e cinco crianças apontaram coisas materiais e

coisas não materiais na mesma resposta.

No questionário final a relação das respostas no 6ºD foi a seguinte: 18, apontaram

coisas não materiais (ex.: família, Deus, amigos) - com cinco dentre estas indicando a

natureza e/ou elementos naturais; oito, coisas materiais; duas, coisas materiais e coisas não

materiais na mesma resposta.

A questão 4 perguntava se as crianças viam alguma semelhança entre uma imagem da

Terra e uma do corpo humano. O intuito desta questão era saber se as crianças tinham a

compreensão das várias partes que formam o corpo, tanto o humano quanto o do planeta Terra

– cujo qual tem o ser humano como uma de suas partes. No questionário inicial, das 29

crianças que responderam esta questão no 6ºA, 27 afirmaram não ver nenhuma semelhança

entre as duas imagens e duas delas disseram que sim, uma afirmando que “o planeta tem água

e terras, e o corpo humano está mostrando os ossos”, ou seja, fazendo referência às partes de

ambos, e outra respondeu que “os dois giram”.

No 6ºD, 22 das 32 crianças que responderam esta pergunta no questionário inicial

afirmaram não ver nenhuma semelhança entre as imagens; quatro só responderam “sim” e seis

apontaram que ambos precisam de cuidados especiais; ambos estão vivos; sim, “porque o ser

humano vive no planeta Terra”; e sim, “porque a Terra me dá a vida”.

No questionário final, 15 das 27 crianças que responderam à questão no 6ºA,

afirmaram que viam semelhança entre as duas imagens, com as respostas variando de: ambos

têm partes; são um só; e os dois tem vida. No 6ºD, 15 de 27 estudantes disseram que sim, com

as respostas variando de: o cuidado que devemos ter; ambos estão vivos; o ser humano vive

na Terra e três respostas fazendo referências às partes que constituem os corpos.

As perguntas 5 e 6 foram elaboradas para verificar qual a frequência em que as

crianças utilizavam aparelhos eletrônicos e qual a frequência em que brincavam na natureza.

Ambas as questões só estiveram presentes no questionário inicial, e nas duas turmas a grande

maioria dos/das estudantes fazia uso diário de celulares/computadores/televisões e uma

minoria brincava ao ar livre.

A questão 7 pedia para que as crianças se imaginassem como médicas/médicos que

estavam recebendo o planeta Terra como paciente. Perguntou-se então, qual o diagnóstico

feito por elas e o que receitariam para o tratamento. Em ambas as turmas a resposta que mais

apareceu nos questionários iniciais foi que o planeta estava poluído e que, como tratamento,

30

deveria tomar remédios/ fazer uma limpeza/ se cuidar/ jogar lixo no lixo/ mais árvores e mais

ar/ mais respeito e pessoas boas.

No questionário final as respostas foram mais elaboradas no 6ºA, tendo aparecido

como respostas para o diagnóstico: poluição/ desmatamento/ muito barulho/ erosão/ rios

sujos/ agrotóxicos/ animais sofrendo/ a Terra precisa se cuidar/ precisa de amor/ “está com

desafeto (nem por todas as pessoas mas algumas)”. No 6ºD as respostas variaram entre

poluição/ desmatamento/ falta de ar/ desperdício de água.

Como tratamento, os/as estudantes do 6ºA indicaram: não desmatar/ não poluir/ mais

ar puro/ “as pessoas tem que limpar ela para cada vez ela ficar mais verde e mais limpa”/ “as

pessoas não jogando lixo nas ruas”/ “que as pessoas prestassem mais atenção na Terra”/ os

guerreiros do arco-íris/ amor / amizade/ cuidado/ respeito/ ajuda/ educação/ carinho/ afeto/

remédios.

No 6ºD as respostas foram: menos poluição/ menos desmatamento/ mais árvores/

menos lixo/ mais cuidado/ limpeza/ mudança/ mais atenção e colaboração/ mais bicicletas/

remédios.

Para o questionário final foram acrescentadas outras questões e, duas delas, foram

dirigidas somente aos estudantes do 6ºA por se referirem às histórias contadas. Uma das

perguntas era sobre qual a história que as crianças mais haviam gostado de ouvir (todas as

histórias apareceram nas respostas e foi a última, Religare, a preferida da maioria) e, a outra

pergunta, sobre quem eram os Guerreiros do Arco-Íris (22 crianças responderam humanos/

crianças/ pessoas que amam a Terra/ pessoas que ajudam a cuidar do planeta Terra/ todos

nós).

As duas questões finais foram realizadas em ambas as turmas e pediam para que,

primeiro, as crianças respondessem o que achavam que poderiam fazer para ajudar o nosso

planeta e, por fim, que escrevessem uma mensagem para a Terra.

No 6ºA, 24 crianças responderam sobre o que poderiam fazer pela Terra e as respostas

variaram entre: cuidando da natureza; não andando muito de carro; não poluindo o planeta;

não o ferindo; não fazer desmatamento; falar para cuidarem da Terra; juntar os Guerreiros do

Arco-Íris e tratar da Terra com amor e carinho; não ficar viciado em tecnologia e ficar ao ar

livre; amor; não jogar lixo fora nos rios; falar para algumas pessoas me ajudarem a fazer uma

campanha do planeta Terra para recolher lixos; limpar ruas, poços, lagos; cuidar dos seres

vivos; usar menos energia elétrica; optar pelo uso de bicicletas.

No 6ºD, as respostas das 26 crianças que responderam esta questão variaram entre:

31

não jogar lixo nas ruas e nos rios; pedir aos amigos para usar coisas que não poluam a camada

de ozônio; respeitar o meio ambiente; falar para os outros não poluírem a Terra; não destruir a

natureza; ajudar na limpeza do planeta e colaborar para salvá-lo; não desperdiçar água; mais

bicicletas; menos desmatamento; cuidar; colaborar com todos que ajudam.

Abaixo, algumas imagens das mensagens escritas para a Terra no 6ºA:

Foi possível observar que muitas crianças, tanto do 6ºA como do 6ºD, responderam de

forma sensível e bonita muitas das perguntas. Isso demonstra que o amor pela natureza e a

consciência ambiental existem dentro delas e que, se forem incentivados e valorizados,

poderão crescer e se desenvolver.

32

33

6. Considerações Finais

Através dos resultados obtidos, foi possível perceber que as crianças foram

incentivadas a refletir sobre a forma como nos relacionamos entre nossos semelhantes, entre

nós e as demais espécies e entre nós e o planeta Terra.

A aplicação dos questionários serviu para verificar que, pelo menos em um primeiro

momento, sim, o conceito de empatia foi absorvido, a natureza foi vista como preciosa, a

compreensão da importância do amor e cuidado para com a Terra foi incentivada.

Considera-se também o lado subjetivo da leitura de histórias e das reflexões

decorrentes delas. Aquele lado que não pode ser quantificado, previsto ou controlado,

pertencente a uma dimensão humana que, embora não seja a mais valorizada atualmente, é

extremamente importante.

Como afirma Abramovich (1997):

“Uma das atividades mais fundantes, mais significativas, mais abrangentes e

suscitadoras dentre tantas outras é a que decorre do ouvir uma boa história,

quando bem contada. Como disse Louis Paswels: “Quando uma criança

escuta, a história que se lhe conta penetra nela simplesmente, como história.

Mas existe uma orelha detrás da orelha que conserva a significação do conto

e o revela muito mais tarde” (ABRAMOVICH, 1997).

Sendo assim, ressalta-se a imprevisibilidade das consequências futuras, pois acredita-

34

se, sobretudo, que cada criança é um universo singular, que cada criança é a Terra, e também

é a terra fértil. O trabalho aqui realizado foi de plantar sementes nesta terra. O cultivo destas

sementes será essencial para que elas cresçam fortes e se desenvolvam.

Para isso, é necessário um trabalho constante de incentivo à compaixão, à empatia e à

união. É indispensável que estes valores, bem como o resgate do senso de pertencimento ao

planeta Terra sejam incentivados diariamente, de modo a tornarem-se base sólida dos

relacionamentos humanos e de suas visões de mundo.

As histórias dos Guerreiros do Arco-Íris, bem como as reflexões realizadas ao final de

cada história, contribuíram para a sensibilização ambiental das/dos estudantes do 6ºA da

Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag. Entretanto, é extremamente importante destacar que,

como afirmou Tiriba em reportagem divulgada pela Agência Brasil (2012), não basta que

contemos histórias, é necessário colocarmos as crianças em contato real com a natureza, e isso

é fundamental tanto para a saúde delas como a do nosso planeta Terra.

De acordo com Mendonça (2016), toda criança, ao nascer, é natureza pura. Nós

somos a natureza e é na infância que o desenvolvimento biopsíquico pode se dar de forma

conectada à fonte de vida ou, ao contrário, separada dela. Mas sem o contato direto com a

natureza, como formular uma compreensão do mundo que seja elaborada e sofisticada como

ele próprio?

Como aponta Martins (2016), projetos ou ações pontuais não determinam as mudanças

de atitudes ou o despertar de uma consciência para um comportamento ambientalmente

responsável. Portanto, é a vivência com a natureza o que estimula e traz verdadeiramente um

conhecimento e aprendizagem socioambiental para, então, atingirmos as mudanças de valores

que possam refletir em nosso meio ambiente.

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38

8. Apêndices

8.1 Histórias dos Guerreiros do Arco-Íris

Os Guerreiros do Arco-Íris: A Profecia

Arunii era uma jovem indígena que morava em uma linda floresta com a sua grande

família: a Tribo do Sol.

Faziam parte da tribo os demais indígenas e também as árvores da floresta, os animais,

as águas e as terras.

Arunii adorava correr pelas matas, sentindo a terra sob seus pés e o vento em seus

cabelos. Ela sabia que tanto a terra, como o vento, gostavam disso também.

A menina conversava com os beija-flores e com as borboletas e também com os

macacos e os tucanos.

Era tudo muito colorido e bonito na floresta onde vivia a Tribo do Sol. E todos viviam

com amor.

Certo dia, porém, Arunii observou que sua avó olhava preocupada para o céu. Ela

olhou para cima e viu que uma nuvem muito escura estava se aproximando.

Correu até a avó e, antes que pudesse comentar sobre a tempestade que se aproximava,

a sábia indígena disse:

“Tempos difíceis virão, Arunii...”

E Arunii a tranquilizou:

“Não tenha medo, vovó. As tempestades vem e vão.”

A sábia indígena sorriu e, desviando o olhar da escura nuvem, olhou bem nos olhos da

menina e falou:

“Sim, minha querida, você tem razão. Mas a tempestade que virá vai durar mais do

que as que estamos habituadas. Serão tempos difíceis para a Terra.”

Arunii, que era jovem, não compreendeu o que a avó queria dizer com aquilo. A velha

mulher a pegou pela mão e disse: “Vamos dar uma volta...”

“Mas, vovó, não é melhor irmos nos proteger da tempestade que está vindo?”

“Faremos isso, minha querida, você verá...”

Arunii, como sempre, confiou na avó, que era considerada a mais sábia da tribo por ter

uma relação muito especial com a Natureza.

As duas seguiram por uma bela trilha, rodeada por grandes árvores que balançavam

39

suas folhas, ansiosas pela chuva que se aproximava. Os pássaros cantavam alto, avisando

uns aos outros de que era hora de voltarem para os ninhos.

Elas diminuíram o passo e a avó de Arunii disse:

“Arunii, você ainda é muito jovem, mas haverá o momento em que você terá de passar

uma mensagem muito importante para os demais integrantes da Tribo do Sol.”

A menina ouvia com atenção. A sábia indígena continuou:

“Haverá uma época em que a Terra ficará muito doente. Suas águas ficarão muito

sujas e os seres vão sofrer porque, como você sabe, ninguém vive sem água limpa. O ar

também não será mais puro como é hoje, haverão nuvens escuras de sujeira e os seres

ficarão doentes por terem de respirar um ar tão poluído. Haverá também muita sujeira no

solo; veneno na comida; sofrimento e dor para muitos seres da Terra...”

Arunii, assustada, parou e disse:

“Por que isso vai acontecer, vovó? Somos tão felizes assim, com água limpa, abrigo,

alimento e ar puro para respirar! Temos os nossos irmãos bichos e nossas irmãs plantas e

ninguém sofre... Vivemos tão bem aqui...”

“Sim, minha querida, vivemos muito bem aqui porque amamos a Natureza...

Cuidamos dela e ela cuida de nós”

“Mas então por que vão acontecer essas coisas tão ruins?!”

A sábia mulher sentou em uma pedra e colocou Arunii em seu colo. A abraçou e disse:

“Arunii... A Terra é muito grande. Ela é a nossa casa, mas também é casa de muitos

outros seres... E alguns deles, em um momento, vão querer tomar para si as riquezas da

Terra...”

“Quem, vovó?”

“Integrantes da nossa própria espécie, minha querida. Os seres humanos.”

Neste momento, o som de um trovão ressoou na floresta. – CABRUMMMMM

A menina tinha lágrimas nos olhos e elas começaram a cair no mesmo momento que a

chuva.

Arunii olhou para cima e, em silêncio, agradeceu à bela árvore que as protegia das

gotas, com grandes folhas. Olhou para a avó e disse:

“Não entendo, vovó. Por que alguém faria isso?”

“Observe a Natureza, Arunii, perceba a harmonia que existe neste planeta.”

A sábia indígena indicou uma linda flor que estava próxima. Ela era amarela e, em seu

interior, havia um tom alaranjado muito forte. Era a flor da árvore de grandes folhas que

40

as estava protegendo da chuva.

“Como você sabe, as plantas não andam. Para terem seus ‘filhotes’, que são as

sementes, contam com a ajuda de animais muito pequeninos que levam seu pólen – ela

sacudiu a flor e, dela, caiu um fino pozinho amarelo – até as outras flores e, assim, as

sementes podem nascer. Em troca, as plantas dão alimento para esses animais.”

“Para esta flor, em especial, há um único tipo de abelha que pode ajudá-la neste

processo: a abelha vermelha, que você tanto admira!”

“Você pode imaginar o que aconteceria se todas as abelhas vermelhas

desaparecessem?”

Arunii, com a voz baixinha, respondeu: “Não haveria mais dessas árvores...”

“Sim, querida, exatamente. E você sabe o que aconteceria se existissem muitas e

muitas abelhas vermelhas?”

A menina balançou a cabeça, negativamente.

“Não haveria alimento para as demais espécies de abelhas, que acabariam morrendo e

fazendo desaparecer outras plantas que não teriam como produzir sementes...”

Arunii não disse nada. Olhava, quietinha, para a flor.

“A Natureza é tão sábia, minha querida, que cria tudo na medida certa. Existe um

equilíbrio magnífico no planeta Terra, onde todos os seres dependem uns dos outros para

alcançarem a harmonia...”

“Se algo fica em desequilíbrio, afeta todas as outras coisas, porque está tudo

interligado aqui dentro da Terra...”

“O mesmo acontece dentro do nosso corpo, Arunii: se você não respirar direito não vai

poder correr muito, embora corra com as pernas e não com os pulmões; se você tiver dor

de barriga não irá poder subir nas árvores, mesmo que seus braços continuem fortes; se

você não comer não terá energia para nadar no rio, pois estará fraca e, se comer muito,

não conseguirá ainda assim, pois seu corpo ficará pesado. Para manter a saúde você

precisa respirar, comer, dormir, brincar... Tudo em equilíbrio.”

A jovem indígena olhou para a avó. Aguardava uma explicação do motivo pelo qual

os seres humanos fariam tantas coisas ruins acontecerem. A sábia mulher, vendo a

pergunta nos olhos de Arunii, falou:

“Também deve haver equilíbrio entre nossa cabeça e nosso coração, Arunii. Se

utilizarmos mais o coração do que a cabeça, podemos nos tornar muito ingênuos, e outros

podem se aproveitar disso. Se usarmos mais a cabeça do que o coração podemos nos

41

tornar insensíveis, malvados e egoístas...”

“Escute bem, Arunii: haverá um tempo em que alguns seres humanos vão utilizar mais

a cabeça do que o coração. Eles desejarão poder, a qualquer custo. Vão se iludir ao se

considerarem como donos da Terra e, vivendo esta ilusão, irão querer possuir as riquezas

do planeta. Irão criar sofrimentos, tristezas, muita poluição...”

Lágrimas rolaram pelo rosto da pequena indígena. Delicadamente, sua avó as secou,

dizendo:

“Mas também neste tempo, haverá quem deseje ajudar a Terra. Será o tempo dos

Guerreiros do Arco-Íris, que se lembrarão de usar o coração, acessando o amor que

sentem pelo planeta! Se lembrarão de que pertencem à grande família terrestre e de que,

aqui, tudo depende de todos.”

Arunii tinha os olhos brilhantes de lágrimas, mas olhava para a avó atentamente.

“A maioria dos Guerreiros do Arco-Íris serão crianças, Arunii, como você é hoje. Para

vocês, é sempre mais fácil se recordar da ligação que possuem com a Terra, pois carregam

esse amor dentro de vocês, é natural. Serão as crianças que irão salvar a Terra. Você deve

lembrar-se disso e repassar esta mensagem, Arunii, pois logo eu não estarei mais aqui.”

A menina a encarou, assustada.

“Não se preocupe, querida, me refiro a estar neste corpo. Estarei aqui, sim, mas de

outras formas. Você saberá, quando chegar a hora.”

“Tenho medo, vovó.” – disse a jovem indígena.

“Não tenha medo, Arunii. O medo faz com que só vejamos o lado ruim das situações.

Fique em silêncio, ouça a sua voz interior. Você não estará sozinha. Lembre-se de que o

amor é mais forte do que qualquer coisa e que, ao oferecê-lo para a Terra, você receberá o

mesmo dela. Um novo mundo surgirá depois disso, minha querida. Graças aos Guerreiros

do Arco-Íris...”

xxx

E por muito tempo a profecia dos Guerreiros do Arco-Íris foi repassada de geração em

geração. Arunii a contou para sua filha, que contou para a sua filha, que contou para sua

filha... E, agora, é chegada a hora. A Terra precisa de ajuda. Agora é o tempo dos

Guerreiros do Arco-Íris.

FIM

42

Os Guerreiros do Arco-Íris: Preciosidades

Precioso na Terra não é o ouro nem a prata,

Não são as joias nem os carros

Nem os mais altos prédios

Precioso na Terra é o ar puro e a água limpa

É sentir a terra sob os pés

E o vento nos cabelos

Você acaso conseguiria viver cheio de dinheiro

E sem ar puro para respirar?

Sem água limpa para beber?

No meio da tristeza e da desunião?

Não, não, eu acho que não!

Do que realmente precisamos é o que temos de valorizar

Precisamos de paz, precisamos de alegria

Precisamos de ar puro e água bem limpinha

Precisamos de comida e veneno ela não pode ter

Precisamos plantar e cuidar para a comida crescer

Precisamos de abrigo e também de calor

Precisamos de amizade e de muito amor

Não só para mim, nem só para você

Todos precisamos disso para felizes podemos ser

Essa é a missão dos Guerreiros do Arco-Íris:

Trazer paz para a Terra, trazer amor e união

Trazer o entendimento de que a Terra é a nossa casa

E não moramos sozinhos nela, não!

Aqui também moram bichos e plantas

43

Que também querem a felicidade

Devemos cuidar uns dos outros

Pois somos uma grande família, na verdade!

Que façamos arco-íris de amor e livremos a Terra de todo sofrimento e dor

Ela não aguenta mais tanto lixo, tanta guerra, tanta poluição

Quer amor para os bichos e para as plantas

E quer a grande família terrestre vivendo em paz e união.

FIM

Os Guerreiros do Arco-Íris: AmarCura

Havia, em meio à imensidão do Universo, uma galáxia chamada Via Láctea, onde

morava a Família Solar.

Moravam o pai Sol e seus oito filhos planetas, que adoravam girar e girar, dançando

no Cosmos junto de suas amigas estrelas.

Certa vez, a Terra, um dos planetas, começou a ficar amuada, tristinha, não queria

mais dançar. Então, sua irmã, Vênus, perguntou:

Vênus: O que você tem, Terra?

E a Terra respondeu:

Terra: Não sei, Vênus, há algo diferente em mim. Estou me sentindo tão fraca...

Vênus, preocupada, foi até o pai Sol e disse:

Vênus: Papai, a Terra está doente! Temos que chamar um curador!

E o Sol, imediatamente, chamou o Dr. Pacífico, famoso curador da galáxia de

Andrômeda, vizinha da Via Láctea.

O Dr. Pacífico chegou e perguntou para o pai Sol:

Dr. Pacífico: Desde quando ela está assim?

E o pai Sol respondeu:

Sol: Não faz muito tempo, Doutor, mas ela tem ficado mais fraca a cada momento...

Estamos preocupados.

O Dr. Pacífico se aproximou da Terra e perguntou:

Dr. Pacífico: O que você está sentindo, querida Terra?

Terra: Estou me sentindo muito fraca, Doutor. Não consigo respirar nem tenho mais

vontade de dançar.

44

O Doutor, então, fez alguns exames na Terra e disse à Família Solar:

Dr. Pacífico: Tenho uma notícia boa e uma ruim. A ruim é que a Terra está muito,

muito doente: suas águas estão poluídas, assim como seu ar; suas florestas estão sumindo

e seus animais ficando sem lar; há guerra e destruição, sofrimento e desunião. Nos exames

apareceu o causador: é o ser humano, que se esqueceu do amor.

“E agora, Doutor?!” – perguntou Júpiter, preocupado com a sua irmãzinha.

Dr. Pacífico: Agora vem a boa notícia, pois há cura para esta doença!

E, tirando de sua maleta um pequeno frasco brilhante, mostrou para a Família Solar

uma coisa mais preciosa que diamante.

Dr. Pacífico: Aqui está a cura para a Terra: são as crianças Guerreiros do Arco-Íris!

Elas lhe darão amor, querida, e você ficará forte de novo!

A Terra pegou o brilhante frasco e percebeu que dentro dele havia as cores do arco-

íris. Abriu o frasco, tomou tudinho e sentiu uma luz esquentando seu coraçãozinho.

Então, dois arco-íris surgiram e deram a volta na Terra. Voltaram para o interior dela e

novamente a contornaram. Fizeram isso 7 vezes e a Terra já parecia mais contente.

As crianças a salvaram e ela não ficou mais doente.

Foi amor o que a curou. Feliz a dançar ela, então, voltou!

FIM

Os Guerreiros do Arco-Íris: Cuidemos da Terra

Em uma das árvores da Floresta Atlântica, havia um ninho de abelhas Mandaçaia. Um

dia, elas sentiram um cheiro muito forte e algumas abelhas começaram a passar muito

mal.

Abelhas Mandaçaia: - O que está acontecendo? – perguntaram umas às outras,

agitadas. - Temos que investigar!

As abelhas campeiras, que defendem a colônia, saíram da colmeia para tentar

descobrir o que estava acontecendo na Floresta. Amanda, Açai e Jussara foram juntas em

busca de informação.

Enquanto voavam, avistaram uma jaguatirica tossindo, parecendo estar muito doente.

Amanda: - Hey Jaguatirica! O que está acontecendo?!

Jaguatirica: - Veneno, Mandaçaia, é veneno!

Açai: - Veneno? Mas que veneno?

Jaguatirica: - Os humanos estão passando agrotóxicos nas plantações para que alguns

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insetos não as comam!

Jussara: - Mas isso é muito forte! Toda a floresta está sendo afetada!

Jaguatirica: - Sim, Mandaçaia! O ar, o solo, as águas e nós, os habitantes da floresta,

todos são prejudicados com o uso dos agrotóxicos! E até mesmo os humanos, que

consomem estes alimentos envenenados!

“Nós temos que fazer algo!” - disseram as abelhas.

E saíram, então, a procura de ajuda. Durante o voo, viram outros animais passando

mal, e perceberam que toda a floresta estava sofrendo com o uso dos agrotóxicos.

Havia uma névoa de veneno sobre a floresta. Até mesmo na água havia algo diferente.

Durante o voo, as abelhas viram tatus, papagaios, macacos e outros diversos animais

doentes. Elas próprias estavam ficando tontas. Sentindo a gravidade da situação,

resolveram chamar o protetor das matas.

Amanda: - Se tem alguém que pode nos ajudar a salvar a floresta, esse alguém é o

Curupira! Temos que chamar todas juntas: 1, 2, 3: “CURUPIRA!” – disseram as abelhas

campeiras.

Elas ouviram um barulho de folhas se mexendo e, de repente, por de trás da goiabeira,

surgiu um ser com os cabelos vermelhos e os pés virados para trás.

Jussara: - Curupira, a floresta precisa de ajuda!

Curupira: - Sim, Abelhas Mandaçaia, é verdade! Esses agrotóxicos são muito

perigosos! Nós vamos ter que nos unir para defender a floresta!

Açai: - Mas nós somos tão pequenas! Será que nossa ajuda vai adiantar?

Curupira: - Claro que sim! Se cada um ajudar um pouquinho, fazendo o seu melhor

pela floresta, nós conseguiremos! Juntos somos mais fortes!

Amanda: - O problema é que muitos animais já estão doentes! Na nossa colmeia,

várias abelhas estão passando mal!

Jussara: - É verdade, precisaremos de reforço!

Curupira: - Pois então acho que chegou a hora! - disse o Curupira.

Abelhas Mandaçaia: - Hora de que?

Curupira: - Hora de chamar os Guerreiros do Arco-Íris!

Açai: - Guerreiros do Arco-Íris?! Mas quem são eles?!

Curupira: - Existe uma profecia que diz que quando o planeta Terra estivesse muito

doente devido às ações irresponsáveis e egoístas de alguns seres humanos, alguns

integrantes da espécie iriam se lembrar do AMOR que sentem pela Terra e ajudariam a

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salvar as florestas, os oceanos, a fauna, a flora, enfim, iriam ajudar a resgatar a

HARMONIA do planeta Terra. A profecia também diz que os Guerreiros do Arco-Íris

seriam humanos de todos os tamanhos, mas que a maioria seria de humanos pequenos!

Amanda: - E onde eles estão?

Jussara: - Hey! A abelha Jataí disse que sempre vê humanos pequenos!

Curupira e Abelhas Mandaçaia: - Onde?!

Jussara: - Na ESCOLA, onde fica a colmeia dela!

Amanda: - Então vamos lá!

As abelhas Mandaçaia saíram voando para a escola onde viviam as abelhas Jataí.

Chegando lá...

Abelhas Mandaçaia: - Jataí, Jataí! Aconteceu uma catástrofe! Chame a Rainha!

A Jataí, prontamente, chamou a Rainha que logo apareceu.

Rainha: - O que aconteceu, abelhas Mandaçaia?!

Açai: - Rainha, a floresta está em perigo! Os seres humanos estão usando agrotóxicos!

Rainha: - Vocês falaram com o Curupira?

Jussara: - Sim, ele nos contou sobre a profecia dos Guerreiros do Arco-Íris!

Rainha: - Eu conheço esta profecia... Então é chegada a hora!

A Rainha começou a bater as suas asas e todos se sentiram em paz, como se, por um

momento, nada de grave estivesse acontecendo. Todos começaram a vibrar junto com as

asas da Rainha e então as abelhas viram os pequenos humanos se aproximando da

caixinha. Havia vários deles. Os que estavam a frente eram os que sempre vinham

observar as abelhas Jataí.

Abelha Jataí: - Juliana, Rodrigo, Andressa! Olá crianças!

Juliana: - Oi abelha Jataí! Você sentiu isso?! Foi como se eu me lembrasse de que

fazemos parte da MESMA FAMÍLIA, a FAMÍLIA TERRA!

Rainha: - Sim, Ju! Nós todos fazemos parte do planeta Terra e, como uma família,

temos que cuidar uns dos outros, dos oceanos, dos animais, das plantas, da floresta! E é a

floresta quem está precisando da nossa ajuda neste momento!

Juliana: - O que aconteceu?

Amanda: - Humanos de tamanho maior que o de vocês estão passando

AGROTÓXICOS em plantações próximas da floresta!

Rodrigo: - Mas agrotóxico é veneno! Nós temos que salvar a floresta!

Abelha jataí: - Sim, Rodrigo, mas como?!

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Andressa: - Já sei! - disse Andressa - Vamos cantar bem alto para que todos escutem

que nós devemos cuidar do planeta Terra!

As crianças deram-se as mãos ao redor da colmeia das abelhas Jataí e cantaram assim:

"CUIDEMOS DA TERRA POIS ELA DA / OS FRUTOS NECESSÁRIOS PARA

NOS ALIMENTAR!4 "

Com a vibração de suas vozes, surgiu um arco-íris que iluminou a floresta,

dissolvendo todo o mal que os agrotóxicos causaram.

Os animais foram curados, os solos e as águas despoluídos. No lugar das plantações

onde eram utilizados agrotóxicos, surgiram Agroflorestas que não precisavam de veneno

para produzir alimentos, de modo que as águas, o solo, os animais e toda a floresta

permaneciam saudáveis ao mesmo tempo em que havia uma grande diversidade de

alimentos sendo produzidos.

Abelhas mandaçaia: - Crianças, vocês salvaram a floresta!

Rodrigo: - Todos nós salvamos! - disse Rodrigo.

Juliana: - Agora que nós lembramos que somos parte de uma mesma família, nós

vamos sempre CUIDAR DA TERRA!

FIM

Os Guerreiros do Arco-Íris: Águas Vivas

Era final de verão. O dia estava quente e Noah flutuava nas águas calmas da Praia do

Bonito, na Ilha do Abel. Ele passava a maior parte do tempo de olhos fechados, pois a luz

do Sol era intensa. Somente quando alguma nuvem passava pela grandiosa estrela é que

Noah conseguia observar o céu. Era a segunda coisa da qual ele mais gostava de fazer,

pois a primeira era ficar dentro d’água. Sua mãe dizia que ele acabaria virando um peixe.

Noah gostava da ideia.

Ele adorava imaginar como seria a vida embaixo d’água: quantas cores e seres

diferentes existiriam? Como seria não precisar piscar? E chegar rapidamente a qualquer

lugar?

Os pensamentos flutuavam na mente de Noah assim como ele flutuava na água. Ele se

sentia seguro e feliz ...

4 Música: Coletivo Aquarium – Cuidem da Terra

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Um pouco distante dali, perto da Ponta Leste, Clara e Cristalina conversavam agitadas.

Elas eram águas vivas e estavam aguardando por notícias de sua amiga, Estrela, que havia

passado muito mal no dia anterior.

Estavam no consultório da Dra. Pérola e havia muitos outros animais doentes,

esperando para serem atendidos.

Cristalina: Puxa Vida, Clara! Nunca vi esse consultório tão cheio! O que será que está

acontecendo?

Clara: Não sei, mas a Estrela já está lá dentro há um tempão...

No momento seguinte, a concha do consultório se abriu. As duas irmãs foram ao

encontro de Estrela, que estava ao lado da Dra. Pérola, que parecia exausta.

Cristalina: E então, doutora? O que ela tem?

Pérola: (suspiro) O mesmo que todos os outros que têm vindo aqui: Transtorno Pré-

Porto.

Clara: E é grave?

Pérola: Infelizmente sim. Toda a comunidade aquática está sendo afetada com a

construção do porto. Não quero nem pensar como vai ser quando ele começar a

funcionar... Os navios, a poluição, a contaminação... Já sofremos com os impactos de um

porto próximo daqui, não sei se aguentaremos mais um... (ela disse meio que para si

mesma). Mas agora eu preciso atender os outros pacientes: Sr. Cavalo-Marinho, por

favor..

As três amigas saíram a tempo de ver um cavalo-marinho grávido, acompanhado da

Sra. Cavalo-Marinho, que chorava de preocupação..

Cristalina: Estrela, como você está se sentindo?

Estrela: Nada bem. A Dra. Pérola me receitou algumas algas para aliviar os sintomas,

mas disse que não sabia o que fazer para encontrar a cura. Acho que ela também está

ficando doente...

Clara e Cristalina deixaram Estrela em casa e estavam seguindo em direção a Praia do

Encanto quando viram uma grande mancha de óleo vindo em sua direção...

Nadaram o mais rápido que conseguiram, sem saber ao certo onde estavam indo, só

pensavam em se sentir seguras...

Sentiram que as águas ficaram calmas e decidiram parar para descansar.

Clara: (ofegante) Por que os humanos fazem isso?! Por que são tão egoístas? Eu odeio

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os humanos!!!

E, ao dizer isso, avistou um corpo, não era grande, mas com certeza era humano. Sem

pensar duas vezes e ignorando o apelo de Cristalina, Clara foi até o corpo que flutuava

calmamente e encostou seus tentáculos na perna do indivíduo...

AAAAAAAAIIIIIIIIII – Noah gritou. Acabara de sentir sua perna ardendo. Levantou-

a e viu que havia uma água viva presa em sua bermuda.

Clara não contava com isso.

Cristalina estava desesperada. Sua irmã estava em perigo...

Noah nadou até as pedras tomando cuidado para que a água viva não encostasse

novamente em sua pele. Encontrou um graveto que poderia servir para ajudá-lo a retirá-la

sem machucar nenhum dos dois quando ouviu uma voz...

Cristalina: Por favor, não a mate!

Noah olhou em volta e não viu ninguém. Pensou estar delirando de dor, quando a voz

surgiu novamente:

Cristalina: Aqui na água!

Quando Noah viu que quem falava com ele era uma água viva, pensou ter

enlouquecido de vez. No mínimo havia entrado água em sua cabeça... Mas ela continuava

ali, olhando apavorada para ele, como se ele fosse do tipo de pessoa que machucava

animais.

Noah: Eu não vou matá-la, vou colocá-la de novo aí na água. É que ela ficou presa na

minha bermuda...

Clara já estava ficando tonta por estar a tanto tempo fora d’água, e foi um alívio

quando Noah a colocou ao lado de Cristalina.

Noah: Pronto! Você está bem?

Clara estava envergonhada. Minutos atrás ela estava declarando seu ódio por humanos

e agora um deles havia salvado sua vida, mesmo depois dela ter lhe causado dor...

Noah: Eu me chamo Noah!

Percebendo que Clara estava em estado de choque, Cristalina se apressou em

responder:

Cristalina: Eu sou a Cristalina e essa é minha irmã, Clara.

Clara: Gratidão, Noah...

Noah: Imagina, não foi nada!

Clara: É a primeira vez que vejo um ser humano do bem...

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Noah: Sério? É a primeira vez que vejo águas-vivas falantes! – E não conseguindo

mais se conter, Noah desandou a perguntar:

Noah: Todos os seres aquáticos falam? Em quanto tempo vocês contornam a Ilha? E

vocês já visitaram outros lugares? Lugares longe daqui? Como é viver embaixo d’água?

Clara: Bem... Costumava ser melhor antes, mas nossa vida mudou muito e de uns

tempos pra cá a situação só piora...

Noah: Mudou? Mudou como? Por quê?

Cristalina: Ah... Antes era maravilhoso... Os mais velhos contam que havia muito

mais diversidade de espécies, que a água era limpa, que não se ficava doente, que se podia

nadar por vários lugares sem medo... Mas aí a sua espécie começou a jogar lixo nos

mares, a despejar substâncias tóxicas nas águas, resultantes do esgoto não tratado, de

fertilizantes e agrotóxicos utilizados nas plantações, da atividade industrial e portuária...

Noah: Portuária? Vocês se referem ao porto que estão construindo em Pontal do

Guaraná?

Cristalina: Esse mesmo... Já existe outro porto próximo daqui, que impacta as águas e

todos aqueles que dependem delas, e, agora, com a construção do porto em Pontal, que é

aqui do lado, a comunidade aquática está sofrendo mais ainda, todos estão ficando doentes

devido à má qualidade da água, que vai piorar, além do bloqueio à luz do Sol e à falta de

oxigênio!

Clara: Noah, sua espécie não sabia que construindo mais um porto iria prejudicar

inúmeras outras espécies?

Noah: Ah, Clara, o pior é que sabia. Minha mãe da aula aqui na escola da Ilha e nos

mostrou o Estudo de Impacto Ambiental do Porto de Pontal, que foi um estudo feito antes

do início da construção do porto. Esperava-se que com a descrição dos possíveis impactos

não fossem dar continuidade ao projeto, mas a ganância de alguns seres humanos é muito

grande...

Cristalina: É porque eles se esqueceram, Noah.

Noah: Se esqueceram de que?

Cristalina: Se esqueceram da Unidade! Esqueceram que tudo o que existe dentro da

Terra faz parte de um Todo maior, que é a própria Terra!

Noah: Ah sim, minha mãe falou sobre isso na aula. Ela disse que existe uma teoria, a

Teoria de Gaia, que foi elaborada por um cientista chamado James Lovelock e por uma

microbiologista chamada Lynn Margulis. Segundo essa teoria, a Terra é um

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superorganismo que tem várias partes (assim como nossos corpos), onde cada parte tem

sua função e, ao mesmo tempo, se relaciona e depende de outras partes para manter as

condições necessárias para a Vida poder existir... E que nós, humanos, do jeito que

estamos nos relacionando com tudo aquilo que nos cerca (as plantas, os animais, as águas,

os minerais, o ar, os solos...) vamos acabar causando nossa própria extinção, porque Gaia,

o superorganismo Terra, dará um jeito de acabar com aquilo que está a deixando doente...

Faz todo o sentido...

Mariana: Noah!!!

O menino não havia notado que sua mãe se aproximava. Ela abraçou o filho e beijou

seus olhos.

Mariana: Que orgulho, filho! Que bênção poder ver o despertar da sua compreensão!

Quando perceberam a presença de outro humano, Clara e Cristalina rapidamente

voltaram para dentro d’água. Noah, entretanto, sabia que podia confiar em sua mãe, e

disse:

Noah: Mãe, quero te apresentar minhas novas amigas: Clara, Cristalina, não precisam

se esconder. Minha mãe é de confiança!

Quando as duas águas vivas apareceram, Mariana sorriu. Sempre percebera a

existência de diferentes níveis de consciência. Ela falava com as plantas e com os animais,

e sabia que eles compreendiam, mesmo que não falassem. Vendo as novas amigas do

filho, ela disse:

Mariana: Olá Clara, Olá Cristalina! Estou muito feliz em conhecê-las. Meu nome é

Mariana.

Clara: Oi Mariana – Clara respondeu sorrindo, feliz por encontrar mais um humano

bom.

Noah: Mãe, a construção do porto está deixando os animais doentes! O que podemos

fazer?

Mariana: Sozinhos, não muito, filho...

Cristalina: E se nos uníssemos?

Clara: É verdade! É o que o nosso professor nos diz sempre, que a união faz a força!

Cristalina, e se nós o procurássemos para ver o que podemos fazer?

Cristalina: Boa ideia! Noah, Mari, podemos nos encontrar amanhã, aqui mesmo? Nós

vamos trazer nosso professor! Se vocês conhecerem mais seres humanos que queiram

ajudar, os tragam também!

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E se despediram.

Noah e sua mãe estavam eufóricos. A caminho de casa, o menino contou com detalhes

como tudo acontecera.

Clara e Cristalina estavam animadas também. Eram os primeiros seres humanos que

elas conheciam que se importavam com a natureza e isso as enchia de esperança de que a

vida na água melhorasse. Estavam ansiosas para falar com o professor Octavio, o polvo,

sobre seus novos amigos, e foram direto para a escola procurá-lo.

O professor Octavio era um polvo com oito tentáculos e com uma memória

extremamente privilegiada.

As duas irmãs aguardaram o término da aula e, então, contaram para ele tudo o que

tinha acontecido, desde a ida à doutora Pérola até o encontro com Noah e Mariana.

Clara: Eles são do bem, professor! Você tem que conhecê-los!

O professor Octavio ouviu tudo atentamente e seus olhos brilhavam quando disse:

Octavio: Clara, Cristalina, acho que participaremos de um momento muito especial da

história da Terra.

Elas olharam para ele, atentas.

Octavio: Uma vez, enquanto viajava pelos mares, soube de uma profecia indígena que

dizia que chegaria o momento em que alguns seres humanos se uniriam à natureza para

salvar a Terra das crueldades que outros integrantes da espécie estariam causando. A

profecia dizia que seria o tempo dos Guerreiros do Arco-Íris! Acredito que é este o

momento! Vamos espalhar a notícia!

E foi o que fizeram. Para cada um que contavam a novidade, viam-se olhos brilhando

e a esperança surgindo. Era como se estivessem conectados pelo amor que sentiam pela

Terra, e era realmente extraordinário esse sentimento de poder fazer algo pelo planeta.

Na escola da Ilha não foi diferente. Quando Noah e Mariana contaram o que havia

acontecido para as outras crianças, elas ficaram maravilhadas. Estavam todos conectados

pelo mesmo sentimento.

No dia seguinte, Noah, Mari e as outras crianças se dirigiram para a Praia do Bonito.

Quando chegaram, as águas estavam calmas e parecia não haver ninguém ali. No entanto,

ao se aproximarem, perceberam que havia dezenas, centenas, milhares de seres que agora

colocavam seus olhos para fora d’água a fim de observá-los.

Havia peixes, cavalos-marinhos, siris, ouriços do mar e muitos, muitos outros animais.

Todos sorriam. Os humanos retribuíram o gesto.

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Clara, Cristalina e o professor Octavio eram uns dos mais próximos da areia. Clara

disse:

Clara: Jóia! Vocês reuniram bastante gente!

Noah: Vocês fizeram um ótimo trabalho também!

Cristalina: Hey Noah, Mari, este é o professor Octavio!

Octavio: Bom dia, humanos!

E todos responderam juntos: Bom dia!

Clara: O professor Octavio nos contou sobre uma profecia indígena... - E contou a

profecia dos Guerreiros do Arco-Íris.

Noah: Mas o que nós vamos fazer?

Octavio: Pois bem, eu tenho um plano. Escutem todos: Não é só no mar que existem

ondas. Fora d’água também existem, mas não são todos os que conseguem vê-las - apesar

de todos as sentirem, pois elas possuem uma vibração que acaba atingindo os corpos.

As crianças olharam para a professora Mariana, sem entender. Ela deu um exemplo:

Mariana: Crianças, é como as músicas que ouvimos no rádio: elas chegam até nós

através de ondas que não vemos, mas que podemos sentir...

Uma das crianças disse: “Ah, sim, eu já vi a caixa de som vibrando!”

Octavio: Exato! Vou dar outro exemplo: imagine que você está triste, desanimado,

sem vontade de brincar e, então, chega um amigo muito alegre que te CONTAGIA com a

sua felicidade!

“Você de repente se sente feliz só de estar perto desse amigo! Se sente mais animado e

com vontade de fazer as coisas!”

“Acontece que nossas emoções também produzem ondas, e as boas emoções, como a

alegria, são muito mais fortes do que as emoções ruins, como a tristeza! Então, quando

esse amigo, que está criando uma onda de alegria se aproxima de você, que está

desanimado, a onda dele é tão mais forte que transforma a sua onda de tristeza para uma

onda de alegria!”

“Entretanto, se houver muitos amigos desanimados e somente um alegre, talvez a

soma das ondas de desânimo acabe sendo mais forte do que a onda de alegria! E, assim,

será difícil que haja vontade de brincar.”

“Por isso, é necessária a união de boas emoções para que elas sejam mais fortes do que

as ruins. Portanto, aqueles que tiverem boas emoções: aproximem-se ! Chegou a hora de

unir forças pela Terra!”

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Não sabendo exatamente o que fazer, os humanos entraram na água e ouviram o

professor Octavio dizer:

Octavio: Vocês, humanos, gostariam de ver o mundo aquático com os nossos olhos?

Noah sentiu algo forte no peito e sorriu. Sentia que seu sonho iria se realizar...

Octavio: Gostariam de se transformar?

Os seres de dentro d’água olhavam para os humanos, que encaravam o professor

Octavio de olhos arregalados. Sorrisos foram surgindo e viu-se que todos concordavam

com a ideia.

Noah: Como?!

Octavio: Certo, então. Todos vocês fiquem com a água na altura da cintura. – Ele

aguardou até que todos os humanos estivessem na água e disse:

Octavio: Agora fechem os olhos e respirem profundamente. Sintam o ar entrando

pelas suas narinas e passando por todo o corpo. Sintam como o corpo de vocês fica mais

leve embaixo d’água. Leve como o curso de um córrego. Suave, contornando os

obstáculos. Você flui com a água. É tão fácil quanto respirar. Mas você está respirando?

Noah abriu os olhos. Viu Clara e Cristalina a sua frente, mas agora elas brilhavam. Ele

percebeu como sua visão estava mais aguçada. Percebeu que não piscava. Ele, Noah,

continuava ali. Mas seu corpo estava diferente. Respirava, mas não como antes. Ele se

sentia muito bem, seu corpo fluía na água. Olhou para o lado a procura de sua mãe e viu

um peixe azul turquesa, olhando para ele. Era o olhar de Mariana. Mas com muitas outras

tonalidades de verde. Ela via um peixe dourado de olhos muito azuis. Noah foi até ela e

eles nadaram fazendo desenhos na água. As outras crianças faziam o mesmo. Alguns

haviam se transformado em cavalos marinhos, outros em ouriços, peixes, tartarugas, águas

vivas.

O professor Octavio recomeçou a falar:

Octavio: E então?!

E a alegria das crianças foi sentida por todos que ali estavam. A vibração do bom

sentimento fez com que todos se sentissem felizes também. A alegria, a esperança e o

amor pela Terra estavam presentes dentro e fora de cada um. A água parecia tomada de

amor. E o professor continuou:

Octavio: Sentiram isso? É esse o plano: Nós criaremos uma vibração tão forte que

acabaremos com o porto!

Mariana: O Amor é mais forte!

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E mais uma onda de euforia invadiu todos os seres presentes. Eles sentiram um calor

intenso e um profundo amor pela Terra. Olharam ao redor e perceberam que estavam

todos juntos, na água, mas que além dali continuavam juntos, no planeta. Faziam parte da

mesma família terrestre.

Concentraram-se nesse sentimento e uma onda muito mais forte começou a se formar.

Ela era enorme, mas não havia só água: vários tons de vermelho, laranja, amarelo, verde,

azul, anil, violeta brilhavam ali... Era um arco-íris gigantesco.

A onda se elevou em direção ao céu e foi em direção ao porto. Com um estrondo,

quebrou bem na plataforma que estava sendo construída.

Mas não houve destroços. Imediatamente no lugar onde antes havia o porto surgiu

uma estrutura de barro, bambu e vidro, com grandes letreiros que a identificavam como:

“Escola da Natureza: Resgatando a Harmonia da Terra”.

Quando se deram conta do acontecido, todos sentiram uma onda de felicidade, que aos

poucos foi se transformando em uma onda de paz. Estavam emocionados, não se

continham ao perceber que a união realmente havia sido mais forte. O Amor pela Terra

havia vencido. Era esse o caminho.

Noah, Mari e as crianças passaram o resto do dia dentro d’água. Noah realizara o seu

maior sonho: havia virado um peixe. Ele conseguiu dar uma volta inteira na Ilha, mas não

com pressa: foi aproveitando cada segundo. Havia momentos em que ele se sentia

imensamente livre nadando rápido, mas a felicidade o inundava de ambas as formas.

Ao anoitecer, eles voltaram para casa. Noah estava ansioso para contar ao seu pai a

aventura que ele e sua mãe haviam vivido. Ansioso para contar ao mundo que o Amor

havia vencido.

FIM

Os Guerreiros do Arco-Íris: Nas Nuvens

Lia era uma menina muito alegre. Morava com a avó e adorava, pois o quintal da casa

era grande e ela podia subir em árvores, brincar com os cachorros e deitar na grama para

olhar o céu. Muitas vezes a menina fechava os olhos e se imaginava voando. “Quem dera

eu fosse um pássaro! Quão perto do céu eu chegaria?!”

Todos os dias ela ia atrás dos melhores lugares da redondeza de onde se podiam ter as

mais belas vistas do céu. Sempre acompanhada de sua melhor amiga: Brisa.

Brisa era uma bicicleta. A menina sentia como se estivesse voando quando estava com

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ela. Voando em direção ao céu.

Certo dia, as duas amigas foram até uma praça que ficava há algumas quadras da casa

da avó de Lia. Era o lugar preferido delas. A menina se apoiou na bicicleta e subiu em

uma grande árvore que possibilitava ter a melhor vista do céu, pois daquele lado não havia

prédios altos, só casas. Os fios de luz e telefone atrapalhavam um pouco, mas era bonito

ver os pássaros apoiados neles, parecendo notas musicais, de olhar e de ouvir, pois o som

se harmonizava com as cores do céu de forma muito bonita, perfeita, uma mistura de azul,

rosa e laranja com o canto dos pássaros e o balançar suave das folhas das árvores...

O som das folhas mais próximas era mais alto, a árvore também tinha um cheiro bom,

era primavera e as flores exalavam um perfume suave... Lia respirou fundo...

Ela e Brisa aguardavam o pôr do sol. Já era possível ver as cores do céu mudando do

intenso azul para um azul mais claro, com alguns traços de rosa e laranja, parecendo,

como sempre, uma obra de algum pintor muito talentoso. Lia, porém, acreditava que

aquele pedacinho do céu que ela via era de responsabilidade de uma pintora:

Fazia dois anos que sua mãe tinha virado uma estrelinha no céu. Seu nome era Ana e

ela amava pintar. Elas passavam muito tempo juntas contemplando a Natureza, maior

fonte de inspiração de Ana. Ela sempre dizia que a Terra era linda, que a Natureza refletia

a grandiosidade de Deus e que, se quisessem encontrá-Lo, deveriam olhar ao redor,

porque Ele estava em tudo aquilo que é belo e nos faz feliz.

A menina acreditava que as partes de que mais gostava quando olhava para o céu,

tinham a presença da mãe. Era como se Ana estivesse pintando de forma muito mais

nítida e fabulosa do que antes. No presente, um presente.

“Essa beleza é Deus, Lia!” sua mãe diria. Ela não ligava para o nome que dariam.

Sentia-se muito feliz no presente, e era isso o que importava, estava em paz na Terra...

Mãe e filha colecionavam nuvens. Elas haviam criado o hábito de observar as nuvens

e tentar reproduzi-las na tela antes que mudassem de forma, o que era difícil, pois o céu

está sempre em movimento. Mas era muito legal tentar. Lia adorava ver o sorriso de sua

mãe ao fazer retratos do céu, ela era realmente muito habilidosa...

Uma folha caiu da árvore, tirando Lia de seus pensamentos. O céu já tinha tonalidades

mais fortes de rosa e laranja, e agora um amarelo luminoso dava o toque final na pintura.

O Sol já tinha quase que desaparecido totalmente e não havia nuvens no céu. Uma estrela

brilhou no horizonte.

Lia olhou para baixo e viu Brisa encostada na árvore.

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Lia: Queria poder te trazer aqui em cima para você admirar a vista!

Brisa: Não tem problema, seus olhos são meus olhos!

A menina sorriu. Já estava ficando tarde e ela tinha que voltar para casa. Despediu-se

do céu com uma piscadela e desceu da árvore. Subiu na Brisa e disse:

Lia: Meus olhos são seus olhos e suas rodas são minhas asas!

E seguiram pelo caminho de volta.

Quando chegaram foram recebidas com alegria pelos cachorros, que pulavam e latiam.

Lia deu um abraço neles, deixou Brisa ao lado do pé de limão e entrou em casa. Sua avó

estava com a TV ligada e passava no jornal uma notícia de que os índices de poluição

atmosférica estavam altíssimos.

Lia: Bença, vó!

Vó: Deus te abençoe, querida. Como estava o céu hoje?

Lia: Lindo, como sempre.

Vó: Muitas nuvens?

Lia: Não muitas, o céu estava limpo...

Vó: Ah Lia... Acho que o céu já foi bem mais “limpo”...

Lia: Como assim, vó?

Vó: Quando eu tinha a sua idade não havia tantas indústrias nem tantos automóveis...

Passou na TV agora que isso está deixando o ar cada vez mais poluído... E a poluição

infelizmente cria nuvens que ninguém quer colecionar... Nuvens de CO2...

Lia estava quieta. Enquanto pensava no que a avó tinha falado, surgiu uma propaganda

de carros novos na TV. Dizia que havia seis milhões de carros circulando na cidade e

finalizava com um “você não vai ficar fora dessa, vai?!”. Lia levantou da mesa e desligou

a TV. Olhou para a avó e disse:

Lia: Eles se importam mesmo com o ar?

A menina foi se deitar cedo. Estava chateada com a avó por ela ter iniciado um

assunto ruim, que ainda dominava seus pensamentos. Mas sabia, no fundo, que sua avó

não tinha culpa de nada, nem dirigir ela sabia...

Por que continuavam fabricando carros e incentivando as pessoas a comprá-los? Seis

milhões era muita coisa! E essa quantidade era só na sua cidade, imagine no mundo todo!

Quanta sujeira era lançada na atmosfera todos os dias?! Ela, Lia, ia com a Brisa para todos

os lugares sem poluir o ar, por que então não havia propagandas na TV incentivando o uso

de bicicletas?

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Lia adormeceu e sonhou com nuvens brancas que ficavam escuras...

No dia seguinte, depois do almoço, Lia foi para o quintal. Estava deitada na grama, de

olhos fechados, prestando atenção em sua respiração. Ouvia o balanço das folhas das

árvores, ouvia de longe o som de sua avó cantarolando enquanto fazia tricô, ouviu quando

um dos cachorros foi beber água, ouviu um bem-te-vi chamando pelo outro, que logo

respondeu “bem-te-viiiiiiiiii”...

A menina percebeu que era muito legal ficar assim, só ouvindo. O dia estava muito

tranquilo, fazia um tempo bom. Ela estava tão quietinha que conseguia ouvir sua própria

respiração. Lia sentia a terra embaixo de seu corpo, a terra, o planeta Terra... Era

maravilhoso viver em um planeta como este, cheio de belezas e encantos... Não era justo o

que a espécie humana estava fazendo com a Terra... Ela precisava descobrir alguma forma

de ajudar...

Ao pensar nisso, Lia ouviu um som muito bonito. Ainda de olhos fechados, tentou

perceber de onde ele vinha. Parecia vir da árvore de pitanga. Direcionando toda a sua

atenção para o som que ouvia, Lia concluiu que deveria ser um pássaro. Mas ele tinha um

canto que ela nunca ouvira antes. Soava como “liááá, liááá, liááá”. Espera aí. Lia abriu os

olhos. Estava ficando maluca ou havia um pássaro chamando seu nome?

Levantou-se e foi lentamente até a árvore de pitanga. Olhou para cima e

imediatamente o viu: era um pássaro de olhos muito azuis. Em cima de seus olhos havia

uma tonalidade de verde claro, e o restante de suas asas era azul escuro com mesclas de

azul turquesa. Lia nunca havia visto um pássaro tão bonito. Ele olhava curioso para ela.

Lia: Oi passarinho! Como você é bonito!

E o pássaro respondeu: liááá!

Lia disse, achando graça: “O queee?!”

E o pássaro respondeu: “Vamos dar uma volta?”

Lia abriu a boca, mas sua voz não saiu. Não tirava os olhos do pássaro. Ele havia

MESMO falado com ela?

“O que disse?” – A menina perguntou.

Pássaro: Perguntei se você quer dar uma volta comigo. Você vai com a sua Brisa e eu

com a minha. Que tal?

Lia: Sua Brisa? Que Brisa?

Pássaro: A minha brisa é o próprio vento, Lia!

E o pássaro saiu voando. Lia correu até a Brisa e gritou: “Vou dar uma volta, Vó!”

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Ouviu vagamente uma resposta, algo como “não demora, não” ou “traga pão”.

Já na rua, as duas amigas conversavam, eufóricas:

Lia: Um pássaro que fala, Brisa! Você acredita nisso?!

Brisa: Bom, se até eu falo...

Estavam rindo, sem saber ao certo para onde ir, quando novamente ouviram “liááá”. A

menina olhou para cima e avistou o pássaro. Para onde ele as levaria?

Sempre de olho no céu e nos movimentos do pássaro, as duas amigas passaram em

frente à escola, em frente à casa de alguns colegas de Lia, passaram pela panificadora,

pela igreja...

Brisa: Ele não vai pousar, não?

Lia: Segue o vento, Brisa!

Pedalaram por mais algum tempo. Lia observava que muitas vezes o pássaro nem batia

as asas, só seguia o caminho do vento.

De repente ele pousou em uma árvore. Espere um pouco, era a grande árvore da praça

que Lia e Brisa sempre visitavam!

Brisa: Ora, mas por que não disse logo que vínhamos para cá?

Lia: Ah, Brisa, o passeio foi legal, vai!

A menina deixou a bicicleta ao lado da árvore, como de costume. Sem dificuldades,

subiu até o galho onde o pássaro estava. Ele tinha um olhar familiar...

Pássaro: E aí, gostou do passeio, Lia?

Lia: Gostei, sim.

Pássaro: Sua bicicleta não parece muito feliz...

Lia: Ela está. Só achou que íamos a algum lugar diferente. A gente sempre vem aqui.

O Pássaro olhou para a bicicleta e falou:

Pássaro: Ora, Brisa, não seja ansiosa! Não se preocupe com o lugar para onde vamos,

aproveite o caminho, que também é belo!

A menina contemplou a vista. Fazia um dia muito bonito. Havia algumas nuvens no

céu azul. A brisa suave tocava-lhe o rosto. Ela fechou os olhos e instantaneamente lhe

veio à imagem da mãe.

Lia abriu os olhos e olhou para o pássaro azul. Ele contemplava a vista, também.

Parecia gostar do que via, pois sua expressão revelava um sorriso.

Lia: Hey Pássaro, você chega muito perto do céu, não chega?

Pássaro: Chego mais perto do que você pode chegar, mas ainda assim não é muito...

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O céu é infinitamente maior do que nós... Quanto mais subimos, mais há para subir...

Sempre tão belo... – Ele disse, contemplando com os olhos apaixonados.

Lia: É verdade. Olhar o céu é o que eu mais gosto de fazer... Gostaria de poder voar,

como você, e ver até onde eu posso ir...

Pássaro: Quem sabe numa outra vida você venha com asas! Até lá... Você pode voar

para dentro de si mesma...

Lia: Voar para dentro de mim? Como eu faria isso?

Pássaro: Ora, quando você estava deitada na grama, de olhos fechados, prestando

atenção na sua respiração e sentindo o seu coração bater, o que achou que estava fazendo?

Lia: Não sei, Pássaro... Só sei que eu estava me sentindo muito bem...

O Pássaro respondeu, sorrindo: “Naturalmente! Costumamos nos sentir bem quando

voamos, seja para dentro ou para fora de nós mesmos...”.

Lia pensou no que acabara de ouvir. Não fazia muito sentido, teria que refletir sobre

isso mais tarde.

Lia: Certo... Mas eu tenho mais uma pergunta, Pássaro.

Pássaro: Diga lá!

Lia: Por que você está fazendo isso? Por que veio falar comigo?

Pássaro: É uma boa pergunta, Lia. Diga-me, no que você estava pensando antes que

eu aparecesse?

Lia: Estava pensando em como eu queria encontrar uma forma de ajudar a Terra...

Pássaro: Exato. Sabe Lia, as crianças têm um poder muito grande. Quando desejam

algo de todo o coração, e quando esse algo é voltado para o bem, o Universo manda ajuda

para elas.

Lia: Foi o Universo quem te mandou até mim? – Lia perguntou, surpresa.

Pássaro: De certa forma, foi sim. – O Pássaro falou, sorrindo. – Existe uma profecia

indígena de muitos anos atrás que diz que quando a Terra estivesse muito doente, como

está agora, iriam surgir os Guerreiros do Arco-Íris para salvá-la. Os Guerreiros do Arco-

Íris seriam, em sua grande maioria, crianças, como você, Lia! Crianças que iriam se

recordar do amor que sentem pela Terra e iriam fazer o possível e o impossível para salvá-

la da destruição, cuidando do ar, das águas, dos solos, das plantas e dos animais.

“Então quando você desejou de todo o seu coração que pudesse haver algo que você

pudesse fazer para ajudá-la, eu apareci.”

“Para todos aqueles que desejarem sinceramente o bem da Terra, querida Lia, haverá

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sempre algo que poderão fazer. Basta uma única coisa.”

Lia: O que? – Lia perguntou ansiosa.

Pássaro: A União.

Lia: Como assim?

Pássaro: Ouça bem, Lia. Tenho uma missão para você: na segunda-feira, quando você

for para a aula, chame todos àqueles que desejam ajudar a Terra para virem até aqui.

Lia: Para que?

Pássaro: Você verá, minha querida, confie em mim.

E, sem dizer mais nada, o Pássaro saiu voando.

Lia abriu a boca para dizer: “Espere aí, Pássaro!”, mas nem começou a frase, pois ele

já estava distante.

Olhou para sua amiga e disse:

Lia: E agora, Brisa?

Brisa: Agora é hora do pôr do sol!

E Brisa tinha razão. Lia olhou para o céu e viu belas cores surgindo. Rosa, lilás, azul

turquesa. Havia algumas nuvens que formavam suaves desenhos, criando uma belíssima

pintura.

“Que lindo, mãe!” – Lia pensou. E se lembrou do Pássaro. Que coisa mais maluca.

Parecia até um sonho.

Lia: Brisa, tudo isso aconteceu MESMO, não é?

Brisa: Ah! Aconteceu sim, Lia, pode ter certeza! Um pássaro falante, quem poderia

imaginar...

Lia riu. Uma bicicleta e um pássaro: ela realmente tinha amigos muito exóticos.

Voltaram para casa trazendo pão quentinho. Lia ficou feliz em ver que a televisão

estava desligada. Ela e a avó tomaram café e não demorou muito para que Lia fosse se

deitar. Ela estava ansiosa para que a segunda-feira chegasse logo. Enfim adormeceu e

sonhou que via a Terra do espaço...

Na manhã seguinte, acordou antes que o despertador tocasse. Foi até a janela do quarto

e viu que o Sol não havia nem nascido ainda. Sem fazer barulho, ela afastou as cortinas e

abriu a janela. Já sabia que os cachorros a escutariam e, em menos de um minuto, eles

apareceram.

Lia: Bom dia! – ela sussurrou.

Eles pareceram entender que era muito cedo para fazer qualquer barulho e deitaram-se

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logo abaixo da janela de Lia.

A menina contemplou o céu. Estava ali, bem quietinha, novamente conseguindo ouvir

as batidas do próprio coração quando, de repente, viu uma estrela cadente.

Imediatamente pensou “me ajude a salvar a Terra”.

Lia esperou o Sol nascer admirando as belas tonalidades de laranja e rosa, que foram

ficando cada vez mais claras até que a bela estrela aparecesse, tomando toda a atenção

para si.

Ouviu a avó levantar e ir até o banheiro, sair de lá e colocar a água para ferver. Lia se

deu conta de como gostava de viver ali, de como era grata pela avó existir.

Saiu do quarto e, quando chegou à cozinha, deu um abraço forte na avó e disse: “Bom dia

vovó, eu te amo!”.

A avó sorriu e retribuiu o gesto, e a menina foi tomar banho. Depois tomou café e

pode ir tranquilamente para a escola, pois estava com tempo de sobra.

No caminho, pensou em como faria para realizar a missão que o Pássaro havia dado a

ela. E foi Brisa quem lhe deu a resposta.

Brisa: Você saberá como fazer pois o Universo está conspirando a seu favor. Confie

em si mesma, Lia!

A menina respirou fundo e agradeceu silenciosamente à amiga.

Quando chegou à escola, avistou alguns de seus colegas. Foi até eles e, quando

chegou, percebeu que eles conversavam sobre o que haviam feito no final de semana.

“Meu pai nos levou a uma churrascaria no sábado, mas eu só comi arroz e salada.

Fiquei pensando em porque tratamos bem os cachorros e os gatos e comemos as vacas,

galinhas e porcos... Sabem, eles também têm sentimentos...” – disse Sassá.

“Pois é! Uma vez eu fui a um sítio com meus pais e vi algumas vacas que tinham

números marcados no corpo! Perguntei ao meu pai o que eram aqueles números e ele me

disse que tinham sido queimados com ferro quente nas vacas, para identificá-las!

Queimados, gente, vocês acreditam nisso?! Imaginem a dor!” – contou Bruno.

“Que horror! E minha família não quer nem pensar sobre isso... Ontem a noite, quando

passou uma propaganda de presunto na TV e eu falei que os animais deviam sofrer muito,

eles nem deram bola...” – lamentou Diana.

“O que nós podemos fazer?! Somos tão pequenos!” – Sassá comentou, olhando ao

redor. E Lia sentiu que agora era o momento de chamá-los para irem até a praça.

Lia: Gente, eu acho que existe algo que podemos fazer.

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“O que é, Lia?!” – as crianças perguntaram.

Lia: Um amigo me disse para reunir todos àqueles que se importam com a Terra, todos

aqueles que querem ajudá-la, e levá-los até a praça da árvore de flores vermelhas, vocês

sabem qual é, não?!

Sassá: Sim, mas... Que amigo é esse? Por que ele quer nos ver lá?

Lia: Bom, ele disse que se nos unirmos haverá algo que podemos fazer.

Bruno: E como é o nome desse seu amigo? – perguntou Bruno, desconfiado.

E Lia, não sabendo se deveria contar que seu amigo era um pássaro, a quem ela

chamava de “Pássaro”, achou melhor inventar um nome.

Lia: Raul. Mas pode chamar de Pássaro, é o apelido dele.

Jessica: A Carlinha e a Ana Bel, da outra turma, querem ajudar a Terra também. Me

falaram que convenceram os pais a irem de bicicleta até a casa dos avós ao invés de irem

de carro.

Lia: Joia, você pode chamá-las? Aliás, vamos chamar todos àqueles que querem

ajudar o nosso planeta!

Sassá: E não vamos para a aula? A professora Bete vai ficar triste...

Lia: Ora, mas ela com certeza vai querer ajudar! Vamos chamá-la também! Nos

encontramos na sala de aula, combinado?

E as crianças responderam: combinado!

Logo se viu que havia uma movimentação na escola. As crianças foram chamando

umas as outras e, quando o sinal bateu, a sala da professora Bete estava lotada. Havia

vários alunos de outras turmas e as crianças dividiam as cadeiras, mas, ainda assim, havia

quem não tivesse encontrado lugar para sentar.

A professora Bete entrou na sala e levantou as sobrancelhas:

“Bom dia?” – ela disse.

E muitas outras vozes além das habituais responderam “Bom dia, professora!”.

Bete: Alguém pode me explicar o que está acontecendo?

Todas as crianças começaram a falar ao mesmo tempo. A professora Bete então

escreveu no quadro: “RESPIREM FUNDO”.

As crianças leram as palavras e, todas juntas, respiraram fundo. Foi muito bom sentir o

ar entrando pelas narinas, passando pela garganta, parecendo aumentar o tamanho do

pulmão. Perceberam como o silêncio era bom e como elas podiam pensar melhor depois

de respirar.

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A professora Bete disse: “Vocês poderiam falar um de cada vez?”. Lia levantou a mão.

Lia: Professora, nós queremos ajudar a Terra.

Bete sorriu.

Bete: Que bom ouvir isso, Lia!

Lia: Sim, nós vamos nos unir para salvar o nosso planeta.

E as crianças aplaudiram.

Bete: Isso é muito bonito, crianças! O que vocês têm em mente?

Lia: Bem... Nós pensamos em ir de bicicleta até a praça onde fica a grande árvore de

flores vermelhas para agradecê-la pelo oxigênio que respiramos.

Lia não soube como a ideia havia surgido em sua mente. As palavras só saíram de sua

boca e, magicamente, iluminaram o rosto da professora Bete.

Com um enorme sorriso, ela disse:

Bete: Pois crianças, vocês tiveram uma ideia brilhante! Faremos isto agora mesmo!

E, então, professora e alunos saíram da sala cantando: MAIS BICICLETAS, MENOS

CARROS!

Encaminharam-se para o pátio da escola, ainda cantando, e acabaram contagiando

outros professores e alunos para a passeata improvisada. Pegaram suas bicicletas e

seguiram para a praça.

Lia estava muito feliz, e apesar de não fazer ideia do que aconteceria a seguir, estava

confiante.

Subiu na Brisa e disse:

Lia: Brisa, a vida é mágica!

As duas amigas foram na frente, puxando a passeata com a professora Bete. A praça

ficava relativamente próxima da escola e, no caminho até lá, mais algumas pessoas se

juntaram ao grupo que continuava a cantar MAIS BICICLETAS, MENOS CARROS!

Quando chegaram à praça, deram-se as mãos e fizeram uma roda em volta da grande

árvore.

A professora Bete disse: “As crianças tiveram a bela ideia de vir agradecer à árvore

pelo oxigênio que ela nos da! Vamos lá então! 1, 2, 3 e: GRATIDÃO PELO AR QUE

RESPIRAMOS, ÁRVORE! UHUUUUL!”.

E todos aplaudiram, vibrando!

Quando o barulho diminuiu, Bruno perguntou:

Bruno: Onde está o seu amigo, Lia?!

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E, neste momento, o Pássaro surgiu e pousou em um galho de onde podia ser visto por

todos que ali estavam.

Ninguém nunca havia visto um pássaro tão bonito, então ficaram muito

impressionados com a beleza do animal que acabara de aparecer. As crianças apontavam e

cochichavam entre si “olha, olha que lindo!”, era o que mais se ouvia.

Mas quando o Pássaro disse: “Olá”, o silêncio tomou conta da praça e ninguém ousava

sequer piscar. Estavam com medo de despertar do sonho onde havia um pássaro falante

bem em sua frente...

Mas o Pássaro disse novamente: “Olá-á”

E desta vez obteve uma resposta: um tímido e fraco “oi...”

Pássaro: Ah! Vamos lá! Vocês conseguem mais do que isso: OLÁ!

E as crianças, acostumadas a responderem quando eram motivadas desta forma,

responderam em alto e bom som: OLÁ!

Pássaro: Agora sim, que maravilha! Que belo dia para vir agradecer à irmã árvore

pelo ar que respiramos, hein?! Ela está muitíssimo feliz, não é, querida?

E a árvore derrubou várias flores, demonstrando sua alegria.

A professora Bete tinha os olhos brilhando, sendo mais uma criança em meio às várias

que estavam ali. Aliás, os poucos adultos que estavam presentes estavam boquiabertos,

impressionados demais para falar qualquer coisa.

O Pássaro continuou:

Pássaro: Soube que vocês querem ajudar a Terra, é verdade?!

E as crianças responderam, pensando em cada parte da Terra que precisava de ajuda,

desde os animais, as plantas, as águas, os solos e o ar: SIIIIIIIM!

Pássaro: Joia, então vamos fazer uma viagem e, no caminho, eu explico para vocês o

plano que tenho em mente! Subam em suas bicicletas e me sigam!

O Pássaro bateu as asas e levantou voo. As crianças subiram em suas bicicletas e

começaram a pedalar. Lia não tirava os olhos da figura azul que voava em sua frente. Mas

estranhamente a distância entre eles não aumentava. O vento parecia estar mais forte

também...

Brisa: Lia, existe algo de diferente, você não acha?

E quando olhou para baixo, Lia não acreditou no que estava vendo. A praça em que

ela acabara de estar estava agora muito distante, lá no chão. Ela via a grande árvore, via a

casa de sua avó, via a escola. Tudo do alto. Porque ela estava voando. Voando com a

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Brisa em direção ao céu.

Lia: Brisa, nós estamos voando! Suas rodas são minhas asas! Pássaro, como você fez

isso?!

Pássaro: Não fui eu, Lia! Foi você! “Quem possui pureza no coração consegue

realizar coisas de montão”, já dizia minha mãe!

Lia: Que engraçado, minha avó diz a mesma coisa!

As crianças, ao olharem para baixo, disseram: UAUUU! Estavam todas muito felizes

por estarem voando.

O Pássaro sorriu e disse:

Pássaro: É muito legal, não é?!

E várias vozes responderam ao mesmo tempo: “Sim!” “Meu sonho sempre foi voar!”

“Como é bonito ver as coisas aqui de cima!” “Que sorte a sua ter asas!”.

Pássaro: É, crianças, é muito bom voar! E, como vocês sabem, asas foram feitas para

isso! Agora, imaginem se vocês tivessem asas e alguém lhes prendesse em uma gaiola!

As crianças não responderam... Algumas delas tinham passarinhos em gaiolas em casa

e, somente agora, estavam imaginando como eles deviam se sentir...

Pássaro: Sabem, eu conheci um pássaro uma vez, seu nome era Gil e nós éramos

muito amigos! Sempre voávamos juntos, gostávamos de sentir o vento nos nossos rostos e

também de não precisar bater as asas para voar quando o vento estava forte... Até que um

dia, estávamos descansando em uma árvore quando ouvimos um barulho e... Bem, eu

consegui voar a tempo, mas ele não... Um ser humano o capturou...

As crianças viram a tristeza surgir no rosto do Pássaro ao lembrar-se do amigo e

ficaram tristes também...

Pássaro: Sem que me vissem, eu os segui. O homem havia colocado Gil em uma

gaiola e, depois de algum tempo caminhando, chegou a uma casa. Ele gritou um nome e,

de dentro da casa, saíram uma mulher e duas crianças. Elas ficaram muito felizes ao

verem meu amigo Gil, que era muitíssimo belo, com seus olhos verdes e penas

laranjadas... Disseram que cuidariam muito bem dele, que o dariam comida e água... Que

ele seria muito amado...

Neste momento, lágrimas caíram dos olhos do Pássaro... Essa história era realmente

muito triste...

Pássaro: Então, quando anoiteceu e os humanos entraram na casa, eu fui até a gaiola

para tentar libertar Gil. Quando me aproximei ele estava chorando... Então ele me viu e

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seu rosto se iluminou de esperança! Eu também achei que conseguiria libertá-lo... Mas

não consegui. Tentei de todas as formas, mas não conseguimos abrir a gaiola.

“E agora, Pássaro? O que eu vou fazer? Como vou viver sem voar? Eles disseram que

me darão comida e água, mas eu não entendo! O que eu fiz para merecer isso? Por que me

prenderam aqui, Pássaro, por que?!” – Gil me perguntava, chorando.

Pássaro: Eu também não entendia. Gil não merecia aquilo, ninguém merecia, nenhum

ser com asas merece ficar trancado em uma gaiola... Eu disse a ele que voltaria na noite

seguinte, que pensaria em algum modo de tirá-lo dali. E foi o que fiz. Noite após noite eu

fui até a gaiola de Gil tentar libertá-lo. Uma vez ele me disse:

“Você acredita que eles dizem que me amam, Pássaro? Como podem me amar se me

tiraram o que tenho de mais precioso? A minha liberdade! Me dão água e comida mas me

mantêm trancado! Como podem chamar isso de amor? Quem ama não prende, LIBERTA!

Eles não veem que estou triste?”

Pássaro: E Gil chorava, chorava muito. E eu também. Ficávamos lá, na maior parte do

tempo em silêncio, pois já havíamos tentado abrir a gaiola de todos os jeitos e também

porque já não havia mais nada a dizer.

Certo dia eu resolvi ir mais cedo até lá. Parei em um galho de uma árvore próxima da

casa, e pude ouvir o canto de Gil. Era muito diferente do canto que eu havia ouvido

quando ele estava livre. Era um canto triste. Vi que ele tinha os olhos voltados para o céu,

certamente se lembrando dos tempos em que podia voar. A mulher se aproximou da gaiola

e disse: “Ouçam crianças, o passarinho está cantando! Deve estar muito feliz hoje!”.

Neste momento, senti uma mistura de raiva, desespero e impotência. Não era justo!

Como os humanos podiam fazer isso?! Levantei voo e decidi voltar somente a noite para

encontrar meu amigo Gil.

Foi então que, durante o voo, vi que os seres humanos não trancavam somente

pássaros... Havia na estrada um caminhão com vários porcos em cima, eram vários

mesmo, estavam todos amontoados. Me aproximei deles, voando rápido para conseguir

acompanhá-los e perguntei: “Irmãos porcos, o que é isso? Para onde estão levando

vocês?”

Então, senti o desespero na voz do porco que me respondeu:

Porco: Irmão pássaro, por amor, nos ajude a sair daqui! Os humanos vão nos matar!

“Matar?!” – Eu perguntei – “Mas por que?!”

Porco: Para comer! Eles nos criam para isso! Como se fossemos produtos! Vários de

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nós, famílias inteiras! Acham que não temos sentimentos! Pássaro, nos ajude!

Pássaro: E eu tentei encontrar uma forma de libertá-los dali, mas não consegui. O

caminhão entrou em um túnel e eu nunca mais os vi...

As crianças tinham lágrimas nos olhos... Estavam se dando conta de que não eram

somente os gatos e os cachorros que tinham sentimentos...

“Anoiteceu e eu fui até a gaiola onde Gil estava preso. Contei para ele o que havia

visto e ele também ficou surpreso. Eu disse a ele como me sentia impotente vendo os

animais presos, de como isso não fazia sentido para mim, de como eu não entendia o

porquê de eu estar num mundo errado desses e Gil, sempre muito sábio, me disse: - ouvi

uma vez que quando não nos encaixamos no mundo na forma como ele está, é porque

nascemos para ajudar a criar um mundo novo...”.

“Fiquei pensando sobre isso e descobri que a minha missão era encontrar uma forma

de libertar os animais presos pelos seres humanos.”

“No dia seguinte, enquanto voava pelo céu, avistei uma indústria. Senti que deveria

me aproximar e, quando fiz isso, logo me arrependi. Vi a coisa mais triste que meus olhos

já viram: uma mamãe vaca tendo seu filhote separado dela logo depois de ele ter nascido.

Ambos choravam muito. A mamãe vaca teve seu leite retirado, e não para ser dado ao seu

filhote, mas para ser dado aos humanos! E o filhote foi deixado preso, longe de sua

mamãe, em uma gaiola, para depois virar carne...”.

“Sai voando dali, chorando como nunca havia chorado antes, pois quando me coloquei

no lugar da mamãe vaca, pude sentir o tamanho de sua dor...”.

“Encontrei uma árvore e pousei em seu galho para recuperar minhas energias. Irmã

árvore me acolheu e me acalmou. Disse que se eu me desesperasse não teria forças para

ajudar ninguém, e que eu precisava manter a calma para que o Universo pudesse me

ajudar a encontrar a solução. Me contou sobre uma profecia que tocou o meu coração, me

encheu de esperança...”

“Sábia Irmã Árvore. Agradeci e levantei voo, deixei o vento levar meus pensamentos

e, ao olhar para o céu, senti o amor crescendo em meu peito.”

“Amor por quem, Pássaro?!” – perguntou Lucas, imaginando que o Pássaro havia se

apaixonado pela árvore.

“Amor por todos os seres! Neste momento senti que todos somos partes do planeta

Terra! Percebi que era por isso que me sentia triste ao ver meus amigos presos, porque a

dor de um é, na verdade, a dor de todos nós, pois somos o mesmo ser, somos a Terra!”

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A compreensão brilhou nos olhos e nos corações das crianças. Elas haviam recordado

também. Olharam para baixo e, naquele momento, sobrevoavam muitas árvores. Havia

um riacho também, e algumas aves voando próximas a ele. Mas, agora, as crianças não

viam mais como se tudo fosse separado. Era exatamente o oposto disso: tudo era parte da

Terra, tudo era uma coisa só.

Olharam para cima e viram o céu azul com nuvens brancas e, então, se lembraram da

imagem que a professora Bete havia mostrado a elas uma vez na escola, da Terra vista do

espaço. Elas estavam vendo a Terra de dentro para fora - e isso era incrível.

O Sol que brilhava estava, obviamente, fora da Terra. Mas era fabuloso recordar que

estavam no Sistema Solar compartilhando, naquele exato momento, a mesma luz e calor

com outros planetas.

Ninguém disse nada por um bom tempo. Estavam todos imersos na contemplação da

incrível dádiva de existir em um planeta como a Terra.

Foi Lia quem quebrou o silêncio, dizendo:

Lia: Pássaro, e como vamos ajudar a Terra?

Pássaro: Bem lembrado, Lia! Muito bem então, crianças! Chegou o momento de unir

forças para criar um novo mundo!

As crianças concordaram, apertando as buzinas das bicicletas em sinal de aprovação.

Pássaro: O que vamos fazer agora é voar em círculos pensando no amor que sentimos

pela Terra e em como queremos que ela fique bem!

Então, pedalando, as crianças começaram a fazer o que o Pássaro havia dito.

Os pensamentos de Lia variavam de “desculpe por machucá-la, Terra, nos ajude a te

ajudar”, “Terra, eu te amo, por favor fique bem”, “Terra, eu te amo, eu te amo tanto, nós

faremos qualquer coisa”...

Surgiu, então, um enorme arco-íris. Ele era quente e muito brilhante. Subia da terra em

direção ao céu. Ficava mais forte ao passar pelo círculo das crianças e continuava a subir.

Lia olhou para cima e não conseguiu ver o fim do arco-íris. Era a coisa mais

maravilhosa que ela já tinha visto.

As 7 cores tomaram, então, tudo o que a vista de Lia alcançava: desde o céu acima

dela até as árvores lá embaixo, toda a vista a sua frente e também às suas costas. Uma

transformação estava acontecendo.

Os animais que antes estavam confinados pela indústria da carne foram libertos pelo

arco-íris, e as crianças puderam ver vacas pulando de felicidade ao reencontrar seus

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filhotes, porcos e galinhas fazendo seus sons característicos, demonstrando a imensa

alegria que estavam sentindo por estarem livres...

Coelhos, macacos, ratos e diversos outros animais não mais estavam presos em

laboratórios...

Várias aves voavam no céu. Não havia mais nenhum animal preso em gaiolas. As

crianças viram, então, uma ave se aproximando do círculo: ela tinha penas laranjadas,

muito bonitas, e belíssimos olhos verdes. Era Gil, amigo do Pássaro. Eles voaram em

círculos, felizes com o reencontro.

Gil: Você conseguiu, Pássaro! Você nos libertou! Gratidão! – a ave disse, muito

emocionada.

Pássaro: Eu não teria conseguido sem as crianças, Gil! A vida é muito mágica, pois o

vento me guiou até os Guerreiros do Arco-Íris e, então, eles trouxeram não só a mudança

que tanto esperávamos, mas outras além dela! Sente o ar mais puro, Gil? Veja quantas

bicicletas há lá embaixo!

Gil olhou, e as crianças também. As ruas estavam tomadas por bicicletas coloridas. As

pessoas pedalavam sentindo e respirando o ar puro.

Olhando para as crianças, Gil fez uma longa reverência em forma de agradecimento e

saiu voando.

As crianças se sentiam em paz, parecia que o ar estava até mais leve. Junto com a

Terra, elas se sentiam mais saudáveis e felizes. Respiraram todas juntas, da mesma forma

que haviam feito na sala de aula, e sentiram algo muito forte: sentiram amor por tudo o

que podiam ver.

O Sol brilhava, iluminando o caminho de volta pra casa. Parecia até um sonho.

As crianças chegaram à praça, se abraçaram, despediram-se do Pássaro e foram para suas

casas.

Lia ficou por último, pois tinha uma pergunta a fazer.

Olhou para o Pássaro e ele estava no mesmo galho em que haviam conversado no

outro dia. Lia subiu na árvore e sentou ao seu lado.

Ela estava cansada e o céu estava mais lindo do que nunca: havia várias tonalidades de

vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. As cores do arco-íris. Muito suave e

muito bonito. Lia pensou em sua mãe e em como ela havia se superado desta vez.

“Essa beleza é Deus, Lia...” – o Pássaro disse.

A menina olhou para ele e, ao encontrar seus olhos, teve a resposta da pergunta que

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ainda nem havia feito.

“Porque não me disse antes?” – ela perguntou.

“Eu sempre disse isso a você”.

Lia sorriu.

“Eu me refiro a não ter me dito antes que você era você... mãe”.

Os olhos de Ana brilhavam e os de Lia também. Ficaram em silêncio, uma olhando

para a outra.

“Mãe, isto é um sonho?” – a menina perguntou.

“Depende de você, minha querida. Como você viu, a união é o caminho, não se

esqueça... Agora eu tenho que ir... Eu te amo, Lia, estarei sempre com você...”

...

Lia abriu os olhos e se surpreendeu ao ver que havia dormido em cima da árvore. Suas

pernas doíam devido à posição em que ela estava, era uma dor parecida com a que se tem

quando se pedala por uma longa distância...

A menina parou de repente, encarando de olhos bem abertos o céu a sua frente, que

estava escurecendo. “Teria sido um sonho?”

Ela desceu da árvore e subiu na Brisa. Quando olhou para a cestinha, viu que havia

uma pena azul turquesa, muito bonita, dentro dela.

Não havia sido um sonho.

As duas amigas voltaram para casa e, no caminho, viram várias pessoas pedalando e

vários pássaros voando. A alegria estava no ar.

FIM

Os Guerreiros do Arco-Íris: Religare

Era um dia importante na Floresta Atlântica. Todos os seres mágicos haviam sido

convocados para a Sessão Extraordinária Para Tratar de Assuntos Mágicos Urgentes.

A sessão estava para acontecer na clareira que ficava nos arredores da Grande Figueira

e todos pareciam ansiosos e preocupados. Sentados em troncos caídos cobertos de musgo

verde vivo e úmido; dependurados em gravetos sustentados por plantas, que formavam

balanços; sentados nas pedras, nos troncos das árvores, em amontoados de cipó ou

suspensos pelas trepadeiras, estavam duendes, gnomos, fadas, elfos, ninfas, o Curupira, o

Saci-Pererê e muitos outros seres mágicos.

- O que será que aconteceu dessa vez? – perguntou Joví, que era um duende.

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- Não sei, mas não deve ser bom ... – respondeu Milá, uma fada.

Não eram só eles que se perguntavam o motivo da convocação. A curiosidade fazia

com que todos os seres criassem hipóteses a respeito do que poderia ter acontecido.

- Será que algum feitiço voltou contra o feiticeiro? – perguntou uma velha ninfa a um

elfo que estava ao seu lado. Mas antes que ele pudesse responder, todos os burburinhos

cessaram, o silêncio tomou conta da clareira e a atenção agora se voltava para a figura que

surgia ao lado da Grande Figueira.

Era Bigarela, o Mago da Floresta Atlântica. Seus olhos muito verdes contrastavam

com a sua capa violeta. A barba branca chegava-lhe na altura do peito, os cabelos longos,

da mesma cor da barba, emolduravam seu rosto, mas, apesar de sua imagem parecer a de

um velhinho, ele mantinha a agilidade de um jovem.

Com rapidez, Bigarela se dirigiu para um amontoado de cipós que formavam um

assento, dependurado num galho da Grande Figueira, de onde ele poderia ser visto e

ouvido por todos.

Percebendo que já tinha a atenção dos presentes, Bigarela começou:

“Prezados Seres Mágicos da Floresta Atlântica: como vocês devem saber, a situação

das florestas da Terra é crítica. Já se foram cerca de 50% delas, e áreas gigantescas são

devastadas ano a ano. Espécies vegetais e animais sofrem com o desmatamento e nós,

seres mágicos, também sentimos imensamente os impactos, pois a floresta também é

nossa casa.”

“Infelizmente, não são apenas as florestas que estão sendo negativamente impactadas:

todos os biomas estão ameaçados, além das águas, dos solos, do ar, da fauna, da flora... o

planeta Terra sofre com o desequilíbrio.”

“Os causadores de tudo isso? Sabemos bem quem são: os seres humanos.

Curiosamente, existe uma profecia indígena que diz que eles despertarão e salvarão a

Terra. É a profecia dos Guerreiros do Arco-Íris que ouvimos há muito tempo atrás. Vocês

se lembram dela?”

Um jovem elfo respondeu:

“Sim, Bigarela. A profecia diz que através do amor que sentem pelo planeta, os

Guerreiros do Arco-Íris irão salvar a Terra do caos e da destruição, trazendo a paz e a

união.”

“Exatamente.” – concordou Bigarela.

“Com licença, Bigarela...” – disse Milá - “Mas eu não consigo imaginar de que forma

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os seres humanos irão sentir amor pelo planeta. Ora! Eles parecem hipnotizados! Sempre

de olho nos celulares e computadores, não enxergam as belezas da Terra! Não percebem a

dádiva de se viver em um planeta como este!”

“Você tem razão, Milá...” – respondeu Bigarela – “Mas sempre há esperança. Turrô, o

Mago do Lago Walden, teve uma ideia e pediu para que cada Mago da Terra a repassasse

para os outros seres mágicos do planeta, para que eles decidissem se a aprovam ou não.

Então eu, como Mago da Floresta Atlântica, venho lhes apresentar o plano dele:”

“A ideia é de que nós, seres mágicos, causemos interferências nas redes de

comunicação dos humanos, de modo que, no momento em que eles não conseguirem

utilizar seus computadores, celulares e televisões, nós desviemos sua atenção para os

Portais do Amor!”

“Como vocês sabem, os Portais do Amor ocorrem a todo momento no Aqui e Agora.

E apesar de, para nós, os portais serem tão naturais quanto respirar, para os humanos é

uma grande novidade. Através dos portais eles finalmente irão reparar nas cores da manhã

e do anoitecer, irão ouvir o canto dos pássaros, o som do mar e do vento, irão respirar

fundo e sentir o cheiro das flores e a leve brisa que toca seus rostos...”

“Ao perceberem o Aqui e Agora, eles se darão conta da maravilha que é viver no

planeta Terra e perceberão, então, que devem cuidar da casa que dividem com todos nós!

Os humanos irão se sintonizar com a Terra e despertarão como Guerreiros do Arco-Íris!”

A ideia era boa e a esperança de Bigarela, contagiante. Ele dizia aquelas palavras com

tanta certeza, olhava para todos os presentes com tanto entusiasmo que logo os seres

mágicos da Floresta Atlântica estavam convencidos de que o plano de Turrô daria certo. A

missão havia sido aceita.

Bigarela seguiu ao encontro dos Magos dos Campos Sulinos, da Caatinga, do Cerrado,

do Pantanal e da Floresta Amazônica. Todos eles iriam ao encontro de Turrô, no Lago

Walden, para onde todos os Magos da Terra estavam se dirigindo, com o propósito de

fazer a preparação da Convenção Encantada, onde a missão seria concluída, na próxima

Lua Cheia.

Nos dias que se seguiram, os seres mágicos da Floresta Atlântica pensaram em

estratégias de aproximação com os seres humanos. Tinham que escolher quais as melhores

formas de camuflagem que os levariam para perto dos alvos de modo que, no momento

certo, eles pudessem desviar a atenção dos humanos para o Portal do Amor.

Já tinham pensado em algumas formas: as fadas iriam se camuflar com a ajuda das

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borboletas. Mesclariam suas asas para parecerem um par só. Também poderiam ficar

perto das flores sem serem vistas, mas isto, em parte, se devia ao fato de os humanos não

repararem muito nas flores; os gnomos comeriam um tipo mágico de cogumelo que os

faria ficar invisíveis; os duendes eram muito velozes em terra, mas contariam também

com a ajuda dos pássaros para fazerem uma cobertura aérea; os elfos tomariam um chá de

uma flor multicolorida que os fariam ter o poder de trocar as cores de seus corpos e se

camuflarem, além de serem também muito ágeis e capazes de desaparecer e reaparecer em

outro lugar; o Curupira iria camuflar-se com as cores da mata e, o Saci, com o vento.

Passaram mais algum tempo até que todos os seres tivessem suas estratégias de

camuflagem definidas. Depois, dividiram equipes para cobrir toda a extensão da Floresta

Atlântica.

Milá e Joví ficaram na mesma equipe, juntamente com Marcô, o gnomo, e Ludy, o

elfo. Eles e mais três equipes ficaram encarregados de cobrir a parte central de uma cidade

grande, chamada Babilônia.

A Babilônia era um lugar com vários prédios e automóveis. Nas ruas havia luzes que

piscavam para tentar organizar o movimento dos inúmeros carros, ônibus e motos, mas

ainda assim parecia no geral muito caótico, de tanto barulho e sujeira que eles faziam.

Os humanos não olhavam uns para os outros, nem para o que havia ao redor deles.

Olhavam para as mãos, onde carregavam pequenos aparelhos com telas brilhantes, seus

celulares.

Mesmo com uma leve tonalidade acinzentada e entrecortado por prédios altos, o azul

do céu ainda merecia ser visto, mas os humanos não se lembravam de olhar para cima; as

várias flores coloridas alegravam o caminho, mas ninguém sorria ao olhá-las - seus rostos

estavam voltados para baixo, como que hipnotizados. Embora com pouco espaço para

suas raízes, ainda havia algumas árvores na Babilônia. Estavam vivas e também

abrigavam outras vidas em seus corpos, como os pássaros que voavam de galho em galho

e as formigas que caminhavam a procura de alimento - mas ninguém parecia notar sua

presença. Os humanos andavam apressados, com fones de ouvido ou imersos em

pensamentos longes do presente.

O cheiro forte de fumaça, entretanto, não parecia incomodar. O som constante de

carros passando parecia normal para os humanos...

Joví: Que loucura esse lugar!

Marcô: É... Babiloucura, meus amigos!

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Ludy: Shiiiiiiiiiii! – Ludy levou o dedo até a boca e, olhando para os lados, lembrou os

amigos que deveriam tomar cuidado para não serem vistos. - Se eles nos vissem, iriam

surtar!

Milá: iii Ludy, relaxa... Nem se a gente aparecesse no meio da praça os humanos iriam

notar. Estão dormindo!

Os amigos estavam embaixo de um banco em uma praça. Havia uma rua próxima por

onde passavam vários automóveis. O barulho era grande, então eles não precisavam

sussurrar.

Marcô: Nos encontramos aqui ao pôr do sol, então? Combinado?

“Combinado!” – disseram os outros três.

Já sabiam que os portais aconteceriam em determinados momentos do dia. Seriam

avisados por um som muito suave, uma vibração, algo parecido com “Ommmm”.

Uma borboleta azul pousou e Milá subiu. Suas asas imediatamente se mesclaram,

ficando azul com amarelo. Joví foi com um pássaro vermelho. Marcô comeu um

cogumelo, sorriu, e ficou invisível. Ludy tomou um golinho do chá que trazia consigo e,

ficando em frente à árvore que estava ao seu lado, já não era possível dizer que ele estava

ali. Estava totalmente camuflado.

“Legal! Boa sorte, Ludy! Nos vemos depois!” – disse Marcô.

O gnomo andava atento. Sempre que passava por algum humano, fazia a tentativa de

fazê-lo dar uma olhada no presente.

Várias horas se passaram. Já era de tarde e Marcô não havia conseguido nenhuma vez.

As pessoas por quem ele passava estavam altamente hipnotizadas. Andavam depressa,

com o pensamento em outro lugar. Só sentiam cheiro de fumaça, então não percebiam o

cheiro das flores. Nem as cores, pois não olhavam ao redor... “Será que eles enxergam

tudo cinza?” – pensou Marcô.

Então, passando por uma praça, ele viu uma pequena humana: ela tinha cabelos

castanhos e cheios de cachos, que ondulavam ao vento. Havia uma árvore muito bonita

perto dela, mas ela não a tinha percebido, pois estava prestando atenção em seu celular. A

luz do Sol passava por entre as folhas, iluminando pequenos pontos embaixo da árvore,

inclusive o banco em que a humana estava. Marcô se aproximou do banco. Estava perto

dos ombros da menina quando sentiu “Ommmm” ... era o momento, o portal estava se

abrindo.

A internet parou de funcionar no mesmo momento em que a menina sentiu algo caindo

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em sua cabeça. Olhou para cima e só viu uma árvore, olhou para o lado e viu um pequeno

objeto laranja, que não estava lá quando ela chegou. Teria sido isso que acabara de cair

em sua cabeça? Olhou ao redor, mas, além dos carros, só viu duas senhoras passando do

outro lado da rua e o porteiro de um prédio varrendo a calçada. Quando pegou o objeto,

viu que era um presente. Desamarrou as fitas amarelas, abriu o pacote. Havia outro

presente. Dessa vez azul com fitas verdes. Desamarrou as fitas, abriu o pacote. Outro

presente. E outro dentro deste. Outro, outro, outro.

Marcô deu uma risadinha. A menina parou. Ouvira algo.

“Quem está aí?” – perguntou, assustada.

O gnomo não tinha certeza do que fazer mas, sabiamente, resolveu seguir sua intuição.

“Sou eu, árvore” – Marcô respondeu, rindo.

Ela levantou e encarou a árvore que estava ao lado dela. Olhou ao redor e não havia

ninguém.

“Prove” – a menina disse, decidida.

Neste momento, caiu uma folha da árvore. Ela estava cooperando com o plano de

Marcô.

A menina não sabia se havia sido coincidência ou não.

“Mais uma!”

E outra folha caiu.

“Outra!”. Outra folha.

“Outra!”.

Marcô disse: “Chega, menina, você já ganhou muitos presentes!”

Ela sorriu e, olhando para o presente roxo com fitas vermelhas em suas mãos, disse:

“Não consigo ver o que tem dentro do presente, nunca tem fim!”

Dessa vez, quem sorriu foi Marcô.

“Você tem razão” – disse o gnomo, do alto de um galho, mas sua voz se fazendo ouvir

apenas para a pequena humana. “O presente nunca tem fim. Você só esquece que só você

tem o poder de saber o que tem dentro dele...” – a menina olhava do presente para a

árvore, prestando atenção.

“Qual é o seu nome?” – Marcô perguntou.

“Meu nome é Hanná”, respondeu a menina. Que agora reparava nas diferentes cores

da árvore. “Você é muito bonita, árvore, muito bonita mesmo.” - ela se aproximou para

tocá-la - “Quantas cores! Quantos pequenos animais vivendo em você! Que textura

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diferente!” – ela passava a mão no caule da árvore. Aproximou os ouvidos e disse: “Posso

ouvir um barulho vindo de dentro de você! Árvore, como nunca te percebi?! Você está

viva! Eu estou!”

“Você não estava vivendo o presente...” – Marcô respondeu.

Hanná sorriu. Acabara de compreender. O presente sempre estivera ali. Ela o dividia

com outras criaturas. O presente era viver. Quantas belezas existiam! Ela parecia ter

acabado de despertar. Seus olhos percorriam a nova realidade, vendo tudo como se fosse a

primeira vez. E era, na verdade. Ela olhou para o céu, sentiu a luz do Sol, lembrou-se de

estar dentro de um planeta. Sorriu para a árvore e disse:

“E qual é o seu nome, árvore?”

“Meu nome é Marcô” o gnomo respondeu, dando uma gargalhada, satisfeito por ter

conseguido ajudar pelo menos uma humana em seu primeiro dia de missão! Sabia que não

seria tarefa fácil, ele e todos os seres mágicos tinham muito trabalho a fazer. Mas Hanná

tinha sido especial. Ele não se esqueceria do olhar curioso da humana em direção ao galho

em que ele estava, como se ela pudesse vê-lo.

Marcô, que continuava invisível, pulou da árvore e saiu correndo, o Sol já estava se

pondo e ele tinha que voltar. Viu uma borboleta azul com amarelo, voando para a mesma

direção que ele. Era Milá. Eles chegaram juntos e encontraram os demais seres embaixo

do banco.

Os quatro amigos voltaram para a Floresta e, lá, souberam de diversas histórias de

tentativas frustradas e tentativas que haviam dado certo no primeiro dia da missão.

O tempo passou e eles começaram a ter mais sucesso nas tentativas, mesmo aquelas

que aconteciam fora do momento da abertura do portal. Parecia que o Universo estava

conspirando a favor do plano de Turrô.

Na televisão, falava-se dos crescentes problemas nas redes de comunicação no mundo

inteiro, mas, surpreendentemente, na queda no número de reclamações do serviço.

A missão havia começado na noite de Lua Cheia, e agora a Lua já não aparecia no céu,

estava na fase Nova. Os seres mágicos haviam conseguido ajudar no despertar de vários

seres humanos, crianças e adultos, e os despertos já começavam a influenciar seus amigos

e parentes, utilizando as redes de comunicação com este fim, agora.

Havia, ainda, muito trabalho a ser feito. Os seres mágicos partiam todas as manhãs, em

uma jornada incansável para ajudar a Terra.

Muitos humanos se mostravam resistentes. Muitos deles, assim que o sinal voltava,

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voltavam também a parecer hipnotizados.

Os seres mágicos sabiam que era 50% com eles e 50% com os humanos. Sabiam que,

se os humanos escolhessem continuar dormindo, eles nada poderiam fazer.

No entanto, o tempo foi passando e cada vez mais chegavam boas notícias de outros

lugares do planeta. Todos os seres mágicos estavam empenhados no plano de Turrô. E os

humanos estavam escolhendo despertar, assim como previa a profecia dos Guerreiros do

Arco-Íris.

Eles tinham muito potencial. Com o passar do tempo começaram, por conta própria, a

sentir a vibração do “Ommmm” que sinalizava a abertura dos portais e, nestes momentos,

quando ficavam em silêncio, descobriam ser capazes de outras coisas.

Eles haviam desenvolvido outra forma de comunicação: a telepatia. Não precisavam

de celulares, computadores ou o que quer que fosse, pois conseguiam se comunicar

através do pensamento. Ficavam em silêncio, de olhos fechados, pensavam em quem

queriam contatar e, rapidamente, conseguiam. Os Portais do Amor eram realmente muito

bons, pois estavam ajudando os humanos a desenvolverem certas habilidades que estavam

adormecidas.

Outra habilidade agora presente era a Empatia. Os humanos despertos apresentavam

facilidade em se colocar no lugar uns dos outros e, dessa forma, o convívio entre eles

estava cada vez mais pacífico.

Eles não entendiam como haviam demorado tanto tempo para perceber as belezas da

Vida; como haviam passado tanto tempo acreditando que o motivo pelo qual viviam era

estudar somente para conseguir um emprego, e aí trabalhar, comprar, comprar, comprar,

acumular coisas... Havia tanta coisa bonita na Terra, tanta coisa mais legal de se fazer!

Não se conformavam em terem passado tanto tempo poluindo o planeta fabricando coisas

de que não precisavam realmente, fazendo mal para a saúde dos ecossistemas e para as

deles próprios. Os despertos, agora, se sentiam como partes integrantes de uma grande

família: a família Terra. Como irmãos, celebravam a dádiva de estarem vivos, fazendo o

bem, compartilhando o que tinham, cultivando a paz e o amor dentro e fora deles mesmos.

Os humanos despertos amavam a Terra: cuidando dos animais, das plantas, limpando

as águas, os solos e evitando tudo aquilo que poluía a natureza. E, para alguns deles, os

seres mágicos decidiram aparecer.

Ludy: Como vamos saber para quem aparecer? – Ludy perguntou para os demais

integrantes da sua equipe quando chegaram à floresta após mais um dia de trabalho, que

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continuava, mas estava bem mais leve. Até o ar da Babilônia parecia melhor, já que a

maioria dos humanos agora andava de bicicleta, contemplando a paisagem, dando risada.

O que parecia loucura para aqueles que não haviam despertado.

Milá tranquilizou o amigo:

Milá: Ah Ludy, agora tudo está melhor, você pode escolher para quem aparecer.

Relaxa que você vai sentir quem será o seu porta-voz! Mas precisamos escolher logo, pois

temos de espalhar a mensagem sobre a Convenção Encantada, que já é na próxima

semana.

Joví: Uau! Como passou rápido! Estou ansioso para ver como vai ser!

Ludy: Eu também! Mas... Milá, e aí falamos para eles sobre a Convenção e eles se

encarregarão de contar para os outros humanos?

Milá: Isso aí, Ludy! Agora eles estão craques em telepatia! Rapidinho contam para os

demais...

Marcô ouvia tudo atentamente e já sabia quem seria sua porta-voz.

No dia seguinte, quando a equipe chegou à Babilônia, ele foi à procura de Hanná.

Fazia um dia muito bonito, o céu estava azul e suaves nuvens dançavam com o vento.

Borboletas coloridas voavam tranquilamente de árvore em árvore, que tinham suas folhas

num tom de verde muito vivo e brilhante devido à luz do Sol. “Onde Hanná estaria?”

Marcô pensou. “Será que...?”

Ele foi até a praça onde a viu pela primeira vez e, para sua surpresa, ela estava lá. Mas

Hanná estava agora muito diferente da primeira vez que Marcô a tinha visto. Não trazia

nenhum celular, não mais parecia hipnotizada. Estava concentrada, sim, mas no

movimento das nuvens no céu.

Marcô a observou de longe. Ela parecia muito feliz, muito mais leve, assim como toda

a Babilônia. Hanná estava próxima à árvore e sorria, deitada de costas na grama, com as

mãos apoiando o pescoço.

Marcô percebeu que Hanná conversava com a árvore. Não com palavras e, sim, com

pensamentos. Exercitava a telepatia com a sua nova amiga. Marcô percebeu isso porque

havia entre elas algo como linhas brilhantes, que saiam do coração de Hanná e iam até o

centro da árvore. Eram linhas muito sutis, mas que definitivamente ligavam as duas

amigas.

O gnomo se aproximou e, no mesmo momento, se sentiu conectado à conversa. Fora a

árvore que o havia reconhecido. Hanná se sentou e olhou ao redor. Sentira que havia mais

80

alguém ali. A própria árvore havia lhe indicado isso, pois disse à menina: “Veja quem

chegou, Hanná!”

A menina procurava, curiosa. Ainda por meio de pensamentos, ela perguntou: “Quem

está aí?”

“Sou eu, Marcô!” – Marcô respondeu em voz alta.

Hanná sorriu e disse: “Você demorou para voltar, Marcô! Estive à sua espera!”

Marcô ficou surpreso: “À minha espera?!”

Hanná: Ah sim! Quando a Antonieta me contou que havia sido você, aquele dia, quem

tinha falado comigo, quis muito te conhecer.

Marcô: Antonieta?!

Hanná: Sim! Antonieta, a árvore!

Marcô olhou para a grande árvore que estava a sua frente e viu as folhas balançando,

como se acenassem para ele.

Antonieta: Ou você achou que meu nome era Marcô?

Os três riram. Hanná falou:

Hanná: Vamos lá! Você pode aparecer agora!

Marcô tirou do bolso outro cogumelo, deu uma mordida, e ficou visível.

A pequena humana abriu um largo sorriso e correu até ele. Marcô esperava qualquer

coisa, menos um abraço tão espontâneo e sincero. Quando se soltaram do abraço, a

menina disse, com os olhos brilhando:

Hanná: Marcô, você me deu o melhor presente de todos! Serei eternamente grata por

você ter me ajudado a despertar!

Marcô: E eu serei eternamente grato por você ter despertado, Hanná! Vim a sua

procura, hoje, pois tenho uma mensagem para lhe passar! Uma mensagem que você terá

de espalhar a todos os humanos que também despertaram. Você percebeu como a

realidade está diferente? Mais leve?

Hanná: Percebi, sim! Acho que tem algo a ver com um som que tenho ouvido todos os

dias. Algo como “Ommmm”.

Marcô: Exato! Este som que você ouve é um Portal do Amor, que tem ajudado vocês,

humanos, a recordarem que fazem parte da família Terra!

Hanná: Que maravilha, faz todo sentido! E qual mensagem você veio me contar?

Marcô: Tudo isso que tem acontecido faz parte de um plano e de uma profecia,

Hanná! O plano de Turrô, o Mago do Lago Walden, que teve uma ideia para ajudar no

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despertar dos seres humanos, que tanto mal têm feito ao planeta, e a profecia dos

Guerreiros do Arco-Íris, que previa a chegada do tempo em que vocês se lembrariam da

ligação que possuem com a nossa casa-comum...

Hanná: A Terra?

Marcô: Isso mesmo, a nossa casa-comum é o planeta Terra. É uma bela casa, não

acha?

Hanná: Incrivelmente linda, absolutamente, certamente, magnificamente...

Marcô: Sim, Hanná. – Marcô a interrompeu, sorrindo. - Turrô teve a ideia de que nós,

seres mágicos, ajudássemos vocês, seres humanos, a perceberem a abertura dos portais.

Era difícil para vocês perceberem porque não viviam o presente, e então não entendiam o

mal que estavam causando à Terra... Mas vocês se mostraram muito receptivos ao

despertar e, como você pôde observar nestas últimas semanas, as coisas mudaram muito e

para melhor.

“Mas o que eu vim lhe dizer, minha querida, é que haverá, na próxima Lua Cheia, uma

Convenção Encantada, onde a missão será finalizada. Eu escolhi você para ser a minha

porta-voz, ou seja, você repassará a mensagem que eu estou te passando agora a todos os

humanos despertos que você conhece.”

Hanná olhava, atenta, para Marcô.

“A mensagem é a seguinte: Daqui a uma semana, na Grande Lua Cheia, haverá uma

Convenção Encantada no Lago Walden. E vocês, humanos, poderão participar através da

telepatia. Quando a Grande Lua Cheia nascer, vocês, em silêncio e de olhos fechados,

deverão se conectar a ela. Ela, a Lua Cheia, será o Grande Portal, e transportará suas

consciências até a Convenção Encantada. Chegando lá, eu não sei o que vai acontecer.

Também estou na expectativa, mas meu papel, por enquanto, é deixá-los cientes desta data

tão importante.”

Hanná ouviu tudo com atenção e garantiu que faria o que Marcô havia pedido. O

gnomo ficou mais um tempo na companhia da menina e da árvore, os três contemplando o

lindo dia que fazia. Quando o pôr do sol chegou, o gnomo se despediu e, contente, foi ao

encontro da sua equipe.

Por fim, todos os seres mágicos escolheram seus porta-vozes e passaram a mensagem

sobre a Convenção Encantada.

Chegou o dia anterior à Lua Cheia e, ao pôr do sol, Joví, Milá, Ludy e Marcô estavam

embaixo do mesmo banco que utilizaram no primeiro dia da missão. Contemplavam a

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paisagem, que estava muito diferente daquela que viram na primeira vez em que estiveram

ali: não havia mais carros na rua, nem fumaça. Com frequência, passavam seres humanos

de bicicleta ou a pé, todos imersos no presente. Paravam para sentir o perfume das flores,

olhavam para o céu, sorriam para os pássaros, alguns caminhavam em grupos dando

risada...

“Que beleza...” – disse Joví.

“É... nem parece a mesma Babilônia!” – completou Ludy.

Foram para a floresta e, assim que chegaram, tiveram uma sensação muito diferente,

uma energia muito forte: era a Lua Cheia que estava cada vez mais próxima.

Os seres mágicos aguardavam as próximas instruções quando uma mensagem chegou

para suas mentes. Ela dizia:

“Prezados Seres Mágicos da Floresta Atlântica, os preparativos para a realização da

Convenção Encantada foram finalizados. Amanhã, quando o Sol nascer, entrem no portal

e venham para o Lago Walden. Aguardamos sua chegada e desejamos uma feliz viagem!

Bigarela”.

Como combinado, ao nascer do Sol os seres mágicos da Floresta Atlântica se

concentraram em sentir o “Ommmm” e então, quando abriram os olhos, estavam em outro

lugar.

O céu estava límpido e o Sol refletia nas águas do lago Walden. O mesmo acontecia

com as árvores que ficavam em suas beiradas. Parecia uma paisagem duplicada,

duplamente bela.

Havia seres mágicos chegando a cada momento, simplesmente aparecendo nos

arredores do lago. Foram se acomodando, ao longo do dia, em cima das pedras e nos

galhos das árvores.

O Lago Walden brilhava, de tanta magia que havia ali. Apareceu, então, uma figura

em cima de uma pequena casa que havia na beira do lago. Era Turrô. Vestia uma capa de

cor magenta, que faziam seus olhos azuis turquesa parecerem ainda mais vivos. Ele, assim

como Bigarela, tinha a aparência de um velhinho, com cabelos longos e barba branca. E

era igualmente ágil: com facilidade, subiu em cima da casinha e olhou para todos os seres

mágicos ali presentes.

“É com imenso prazer e alegria que os recebo no Lago Walden, queridos seres

mágicos do planeta Terra!”

E foi aplaudido.

83

“Nossa missão correu muito bem até aqui, e, em instantes, iniciaremos a fase final!”

Neste momento, começaram a piscar vários olhos no céu. Eram os humanos se

sintonizando com a Lua Cheia e, assim, se fazendo presentes na Convenção Encantada.

Quando o céu ficou tomado por doces olhares, Turrô continuou:

“Amados irmãos e irmãs terrestres! Sejam bem-vindos ao Lago Walden e ao Eterno

Aqui e Agora! Foi uma benção participar de seu despertar e é uma benção maior ainda tê-

los aqui, Guerreiros do Arco-Íris!”

“Vocês devem saber, meus queridos irmãos e irmãs, que há muito tempo foi contada

uma profecia que previa o seu despertar! A profecia dos Guerreiros do Arco-Íris dizia que,

quando a Terra estivesse muito doente, surgiriam aqueles que se lembrariam do amor que

os une e da sua ligação com este amado planeta, nossa casa-comum, nosso precioso lar!”

“Pois é este o momento! Vocês despertaram no amor e, agora, participarão do

processo de cura e transformação do planeta Terra!”

“Em breve, uma nova realidade irá surgir, amados irmãos e irmãs terrestres! Algo

muito além do que vocês estão habituados!”

Os diversos olhinhos piscavam, visivelmente emocionados.

Turrô continuou: Agora, com as bênçãos da Lua Cheia, nós cantaremos para a cura da

Terra a seguinte canção5:

FORÇA DA PAZ

CRESÇA SEMPRE

SEMPRE MAIS

QUE REINE A PAZ

E ACABEM AS FRONTEIRAS

NÓS SOMOS UM

Os seres mágicos e os seres humanos cantaram por várias horas. A vibração criada

pelo som de suas vozes produziu dois gigantescos arco-íris que deram a volta na Terra. Os

astronautas mandaram uma foto do momento:

A vibração foi tão forte que contagiou até aqueles seres que ainda não haviam

despertado. Eles olharam para cima quando ouviram a canção e, neste momento, viram

um arco-íris gigante invadir as ruas, iluminando a escuridão.

A vibração das vozes do povo desperto chegou a seus corações. Eles começaram a

5Música: Novo Quilombo – Força da Paz

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cantar também, mesmo sem saber a letra da música, mas já a sentiam dentro de si. Era tão

simples, era o que todos eles queriam há tempos.

FORÇA DA PAZ

CRESÇA SEMPRE

SEMPRE MAIS

QUE REINE A PAZ

E ACABEM AS FRONTEIRAS

NÓS SOMOS UM

Os humanos lembraram-se de que assim como tinham várias partes dentro de si

próprios, eles eram somente uma das partes do corpo da Terra, da mesma forma que as

plantas, os animais, a água e o ar.

Eles perceberam como a Terra estava mal e mudaram suas ações, abandonando tudo

aquilo que deixava o planeta doente.

Aprenderam com os povos nativos, aqueles integrantes da espécie humana que nunca

se esqueceram de sua ligação com a Terra, a observar os ciclos da Natureza e a reproduzir

esses conhecimentos no seu dia-a-dia. Aprenderam com a água, com a terra, com o fogo e

com o ar.

Não havia mais destruição de florestas com monoculturas, agrotóxicos e transgênicos.

Ao invés disso, foram criadas Agroflorestas, onde várias espécies nativas rendiam

alimento para todos.

Os humanos estudavam, mas o objetivo dos seus estudos não era mais a obtenção de

empregos e, sim, de soluções criativas para uma melhor qualidade de vida no planeta. Eles

viram que cada um possuía um potencial único e que, ao desenvolvê-lo, era impossível

considerá-lo um ‘trabalho’, pois não era cansativo nem pesado, pelo contrário, era muito

prazeroso ajudar a criar uma realidade que fosse boa para todos os seres, fazendo aquilo

que de melhor se sabia e que de mais se gostava!

As tarefas foram divididas e as alegrias compartilhadas. Havia abundância de

alimentos, de compaixão e amor ao próximo.

Não havia mais dinheiro. Agora tudo era para o bem de todos, pois todos se

lembravam de serem UM só.

Eram a Terra.

Viviam em harmonia com tudo aquilo que os cercava e tratavam-se uns aos outros da

mesma forma que gostariam de ser tratados. Essa era a única lei que havia no planeta.

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Chamaram-na de Lei Universal do Amor, que era aplicada não somente aos seres

humanos, mas também aos animais, às plantas e aos seres mágicos.

Tudo estava em equilíbrio. Com o passar do tempo, os humanos viram que a paz

sempre esteve ao alcance de todos, eles só precisavam despertar!

E, como reflexo da grande mudança ocorrida, o superorganismo Terra se encontrava

agora saudável e feliz! Em paz como há tempos não ficava! Em paz porque o Amor havia

vencido.

FIM

8.2 Questionários

I. Questionário inicial

QUESTIONÁRIO I

Nome: _____________________________________________________________________

Idade: _____ Série: _______ Data: ___/___/______

1. Faça um desenho da Natureza.

2. O que significa a palavra “EMPATIA”? De um exemplo.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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3. De um exemplo de algo que seja precioso.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4. Você vê alguma semelhança entre essas duas imagens? Se sim, qual?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5. Com que frequência você usa aparelhos eletrônicos como celular, computador, vídeo

game, televisão?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6. Com que frequência você brinca na Natureza? Do que você brinca?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7. Imagine que hoje você é uma médica/um médico e, em seu consultório, entra o planeta

Terra.

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a) Qual o diagnóstico que você faz do paciente?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

b) O que você receita para o tratamento?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

II. Questionário final aplicado no 6ºA

QUESTIONÁRIO II

Nome: _____________________________________________________________________

Idade: _____ Série: _______ Data: ___/___/______

1) Faça um desenho da Natureza.

2) O que significa a palavra “EMPATIA”? Qual a importância disso?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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___________________________________________________________________________

3) De um exemplo de algo que seja precioso.

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___________________________________________________________________________

4) Você vê alguma semelhança entre essas duas imagens? Se sim, qual?

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5) Imagine que hoje você é uma médica/um médico e, em seu consultório, entra o planeta

Terra.

a) Qual o diagnóstico que você faz do paciente?

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___________________________________________________________________________

b) O que você receita para o tratamento?

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6) Qual história dos Guerreiros do Arco-Íris você mais gostou? Por que?

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7) Quem são os Guerreiros do Arco-Íris?

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8) O que você acha que pode fazer para ajudar o nosso planeta?

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9) Escreva uma mensagem para a Terra.

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III. Questionário final aplicado no 6ºD

QUESTIONÁRIO II

Nome: _____________________________________________________________________

Idade: _____ Série: _______ Data: ___/___/______

1. Faça um desenho da Natureza.

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2. O que significa a palavra “EMPATIA”? Qual a importância disso?

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___________________________________________________________________________

3. De um exemplo de algo que seja precioso.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4. Você vê alguma semelhança entre essas duas imagens? Se sim, qual?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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___________________________________________________________________________

5. Imagine que hoje você é uma médica/um médico e, em seu consultório, entra o planeta

Terra.

a) Qual o diagnóstico que você faz do paciente?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

b) O que você receita para o tratamento?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6. O que você acha que pode fazer para ajudar o nosso planeta?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7. Escreva uma mensagem para a Terra.

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9. Anexos

9.1 Memorial do Projeto de Aprendizagem

Na UFPR Litoral, cada estudante constrói seu Projeto de Aprendizagem

(PA), desde o primeiro ano de ingresso na Universidade. Os PAs permitem

que os indivíduos construam o seu conhecimento de maneira integrada,

percebendo criticamente a realidade. O estudante alia o aprofundamento

metodológico e científico à preparação para o exercício profissional,

desenvolvendo habilidades de auto-organização e produtividade (6).

O CÉU começou a aparecer já no início do curso, em 2011. Éramos três naquela

6 Disponível em: <http://www.litoral.ufpr.br/portal/ufpr-litoral/projetos/projetos-de-aprendizagem-pa/> Acesso

em: 10/07/2016

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época: eu e minhas grandes e boas amigas, Bruna e Jessica. A ideia inicial surgiu devido às

várias e tristes vezes em que víamos cavalos sendo maltratados nas cidades. Nosso intuito era

desenvolver atividades de sensibilização com as pessoas que faziam uso de animais para

puxar carroças. Escolhemos o professor e amigo Marcos Gernet como mediador do projeto e

ele nos alertou sobre possíveis dificuldades no diálogo com essas pessoas. Concordamos.

Alteramos o público alvo de nossas ações para as crianças que conviviam com esses

trabalhadores, pois imaginamos que o diálogo poderia fluir melhor, já que as crianças ainda

não têm opiniões e crenças tão enraizadas e, muitas vezes, condicionadas, como os adultos.

Até que chegamos à conclusão de que, dentro do que imaginávamos fazer, não mudaria muita

coisa, já que necessitaríamos de autorização dos responsáveis para desenvolvermos tais

atividades.

Paralelo a isso, me incomodava muito o fato de atentar somente a uma das várias

problemáticas existentes dentro das relações que o ser humano mantém com as demais

espécies. Eu queria era falar de todas elas, pois não seria justo reduzir a uma só. Para isso,

então, deveríamos encontrar a causa, deveríamos enxergar o que havia de comum entre as

outras relações de nossa espécie com as demais.

Era o egoísmo, a ilusória e enraizada ideia de superioridade da espécie humana e de

separatividade com relação às demais. E o que conseguiria combater tudo isso? A Compaixão,

a Empatia e a União, bem como o resgate da compreensão de que compartilhamos uma casa-

comum, de que todos nós somos partes da Terra.

Não me recordo em que momento, mas então já não éramos mais três: ficamos eu e

Bruna. A mediadora do projeto era agora a professora e amiga Juliana Quadros. Nessa época

surgiu o nome “CÉU – Compaixão, Empatia e União: despertando a bondade e incentivando a

sensibilização quanto à Vida”. Ele veio para mim assim: completo. A ideia, então, era

exatamente essa: de sensibilizar quanto a todas as formas de vida, incentivar o

reconhecimento e a compreensão de que todas são dignas de respeito e cuidado.

Também não me recordo em que momento exatamente aconteceu, mas eis que

restamos só eu e CÉU. De forma natural e amigável, cada uma de nós, eu, Bruna e Jessica,

seguiu seu caminho.

Todo o processo de nascimento, crescimento e amadurecimento do CÉU deu-se

paralelamente ao meu próprio crescimento e amadurecimento. Comprovando que a

aprendizagem não se dá somente na esfera intelectual, mas engloba também as emoções, a

intuição, os insights e tantas outras coisas que não existem palavras para descrever, eu fui

93

aprendendo cada vez mais com as situações que surgiam em minha vida. A vida, grande

escola que é, colocou diversos professores em meu caminho e, com muitos sorrisos e

lágrimas, com muitas bênçãos, desafios e aprendizados, foram surgindo Eu, CÉU e as

histórias dos Guerreiros do Arco-Íris.

Para o projeto eu já tinha a fundamentação teórica, mas isso não bastava. Faltava-me a

prática, a ação. O que eu faria diante disso? Como eu poderia ajudar as outras espécies? A

Terra?

Pensei em criar um material didático, baseado no pensamento complexo, de Edgar

Morin, que reunisse diversas problemáticas ambientais com esquemas mentais, artigos

científicos, livros, reportagens, bem como diversas indicações das muitas coisas maravilhosas,

das várias boas ideias e ações, do grande potencial que a nossa espécie tem para o bem. Este

material todo seria destinado às escolas, para que as /os educadores o utilizasse com as/os

estudantes.

Comecei a reunir as referências bibliográficas, a criar os esquemas mentais para

explicar cada problemática ambiental e as problemáticas dentro destas. Comecei a ficar

ansiosa e cansada, pois era muita coisa. A linguagem adulta também não me agradava.

Técnica demais, séria demais. O que as crianças achariam desse material? O que eu, no lugar

delas, acharia?

Não estava fluindo. Em uma conversa com uma amiga, em Florianópolis, chegamos à

conclusão de que as histórias dos Guerreiros do Arco-Íris, de certa forma, já contemplavam

várias problemáticas ambientais e de que já estava em uma linguagem possível de ser

utilizada tanto pelas crianças quanto pelos adultos.

Depois disso, senti-me leve, feliz e confiante. Estava no caminho certo. O CÉU, então,

tinha uma ação: a leitura de histórias como estratégia para a sensibilização ambiental.

9.2 Memorial das Vivências Profissionais

Eu realizei atividades de Educação Ambiental como Vivências Profissionais e, embora

somente três delas tenham sido consideradas como Vivências Profissionais, acredito ser

relevante discorrer sobre as quatro experiências diferentes que tive.

A primeira (a que não foi considerada como Vivência Profissional mas, sim, como

atividade formativa) foi um projeto realizado pelo Governo do Estado do Paraná, durante a

temporada de verão 2012/2013, no município de Matinhos. O objetivo era conscientizar

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moradores e veranistas sobre a importância de se fazer a separação de lixo. As equipes

visitavam residências e também distribuíam sacolas plásticas para as pessoas que estavam nas

praias, recomendando o uso destas para descarte de lixo e incentivando a manutenção da

limpeza da praia.

Apesar de importante, acredito que a campanha demonstrou a superficialidade das

ações tidas como de Educação Ambiental, já que, ao somente incentivar a separação de lixo

sem, em nenhum momento, atentar para a importância da redução do consumo e consequente

diminuição da produção de lixo, acabou por manter a ilusória ideia de que a reciclagem é

capaz de resolver o grave problema da gigantesca quantidade de lixo que é produzida

diariamente, sobretudo durante a temporada de verão.

Esta experiência me mostrou a importância de se desenvolver ações de Educação

Ambiental que transcendam a perspectiva superficial e reducionista, já que a realidade é

muito mais complexa e multifacetada.

A minha segunda vivência em Educação Ambiental aconteceu em Florianópolis, no

ano de 2015, na Casa da Criança Morro da Penitenciária que é uma instituição que recebe

crianças no contra turno da escola. São realizadas várias atividades nas áreas de artes, música,

meio ambiente, ballet, informática, entre outras. Eu realizei um trabalho voluntário na área de

meio ambiente, junto com o professor Tatiano Lopes dos Santos.

As crianças com as quais trabalhei tinham entre 6 e 9 anos. Contei duas das sete

histórias dos Guerreiros do Arco-Íris para elas e incentivei reflexões sobre o que é precioso e

o resgate da lembrança de estarmos no Sistema Solar, vivendo em um planeta que requer

cuidado e amor. Além disso, realizei algumas dinâmicas com meditação e, junto com o

professor Tatiano, construímos uma horta onde plantamos alface, cenoura, beterraba, salsa,

rúcula, entre outros.

Interessante destacar uma situação em especial que aconteceu durante a construção da

horta: enquanto estávamos preparando a terra, encontramos várias minhocas. De início, várias

crianças demonstraram medo e nojo. Conversamos, então, sobre como as minhocas deveriam

estar se sentindo, tendo a sua casa toda revirada por seres que, para elas, eram gigantes. “Com

medo”, “assustadas”, algumas crianças responderam. Refletimos, então, sobre de que forma

deveríamos tratá-las e, depois disso, a maioria das crianças já não tinha medo ou nojo. Pelo

contrário, todas queriam pegar as minhocas para levá-las ao lugar seguro que escolhemos (um

monte de terra que não estava sendo revirada). Elas avisavam umas às outras quando

encontravam minhocas para que quem estivesse revirando a terra parasse para que as

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minhocas fossem resgatadas. Quando encontrávamos minhocas pequeninas, muitas crianças

diziam “own, um filhotinho”, e era muito legal de ver o carinho que elas passaram a ter com

os pequenos animais.

A minha terceira experiência se deu em Curitiba, no ano de 2016. Realizei a leitura

das histórias dos Guerreiros do Arco-Íris no Colégio Estadual Professor Elias Abrahão, onde

estudei da 2ª a 8ª série. Foi muito especial retornar à escola onde passei tantos anos de minha

vida. Fui muito bem recebida e tenho muito a agradecer à direção da escola. As atividades de

leitura + reflexão foram realizadas com os 6º anos (6ºA e 6ºB), nas aulas de Artes,

gentilmente cedidas pela professora Juliana Bumbeer.

Destaca-se uma das atividades que fiz com as crianças, para incentivar a empatia:

Pensei em algumas situações que seriam interessantes para nos colocarmos no lugar do outro

e refletirmos sobre como nos sentiríamos vivendo tal realidade. Após selecionar 20 situações

diferentes, envolvendo pessoas, animais e plantas, as escrevi em 20 pedaços de papel, de

modo que um sorteio pudesse ser realizado durante a aula. Então, já na escola, separei a turma

em duplas e pedi que cada dupla escolhesse um pedaço de papel de dentro da sacola e

respondesse a questão (que deixei escrita no quadro) “Como você se sentiria sendo...”.

Eis as perguntas e as respostas:

1. Alguém que não tem o que comer e precisa revirar o lixo para encontrar algo que sacie

sua fome?

6ºA – “Eu me sentiria triste e com fome”, “Eu me sentiria triste, esnobado, esculachado,

passado para traz e teria nojo de comer lixo”

2. Um idoso que já não é tão forte quanto um jovem, de pé, no ônibus, enquanto um

jovem, que está sentado, finge que dorme só para não ceder lugar?

6ºA – “Eu ficaria brava e triste”

6ºB – “É falta de educação. Porque um jovem é bem mais forte que um idoso. Muita falta

de educação. Eu me sentiria cansada e dor nas costas”

3. Um pássaro que poderia voar por todo o céu mais foi trancado em uma gaiola?

6ºA – “Triste”

4. Uma mulher competente, que tem o mesmo cargo de um homem em uma empresa,

mas recebe um salário menos só por ser mulher?

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6ºA – “Eu me sentiria triste”

6ºB – “Eu me sentiria ofendida e acharia injusto”, “Isso é muito injusto fasso as mesmas

coisas que ele para receber menos!!”

5. Alguém que acorda no meio da noite com sua cada sendo bombardeada porque seu

país está em guerra?

6. Um cavalo que puxa uma carroça muito pesada, não recebe água nem comida, e ainda

apanha?

6ºB – “Me sentiria MUITO mal e triste”, “Eu me sentiria um escravo”

7. Um indígena que cuida da natureza e tem sua terra invadida por pessoas que derrubam

as árvores, matam os animais, passam doenças para você e sua família e ainda

escravizam o restante da tribo?

6ºA – “Triste e bravo”, “com raiva”

6ºB – “Ficaria infeliz e com raiva”

8. Alguém que cai e todos riem?

9. Alguém que está tentando falar, mas as pessoas não fazem silêncio para te escutar?

6ºA – “Eu me sentiria com raiva”

6ºB – “Pedir silêncio com educação. Ou mandar pra diretoria a pessoa que não parar de

falar”

10. Um peixe que um dia vê sua família e seus amigos de outras espécies morrendo

porque uma certa espécie (humana) está jogando esgoto, óleo e lixo nas águas?

6ºA – “Eu ficaria muito triste e infelis e nada bem” – no verso do papel onde a resposta foi

escrita estava a seguinte mensagem: “parem de jugan lixo nos lagos, para não destroin os rios

e para não matar os peixes”-, “Triste, isolada, maguada”

6ºB – “Eu ficaria muito triste ver minha família morrer. E é assim que o mundo pode

acabar”

11. Uma mulher que sente medo ao andar sozinha na rua porque existem homens que não

se importam com a sua vontade e a obrigam a fazer coisas que ela não quer?

6ºA – “Com medo” – esta resposta foi dada por uma dupla formada por dois meninos, que

inicialmente disseram que não haviam compreendido a questão. Reli a pergunta junto com

eles e conversei sobre como as mulheres se sentem, pois ao andarem sozinhas na rua podem

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sofrer abusos de homens que não se importam com a vontade delas, e as agarram, as beijam a

força, e que era esse o problema. Perguntei como eles se sentiriam estando nesta situação e

eles disseram que se sentiriam tristes e com medo.

6ºB – “Eu me sinto mal por iço e triste”

12. Uma raposa que, ainda viva, tem sua pele retirada para que um humano fabrique um

casaco “de luxo”?

6ºA – “Eu me sentiria muito mal e triste”

6ºB – “Iria ser toloroso e me sentiria muito mal”

13. Uma mulher que apanha do marido?

6ºB – “Me sentiria muito infeliz”

14. Alguém que ama uma pessoa do mesmo sexo e apanha porque existem aqueles que

consideram esse amor “errado”?

6ºB – A dupla era formada por um aluno e por uma aluna, Georgia, que tem síndrome de

down. Ela preferiu fazer um desenho e o aluno não respondeu porque, segundo ele, não havia

compreendido a questão. Relemos juntos e refletimos se existe alguma forma de amor que

seja errada, ele disse que não.

15. Uma árvore de 200 anos que é derrubada para que um ser humano construa um

shopping no lugar?

6ºB – “O ser humano ia derrubar mas o certo era cercar ela com uma cerca que ia ser

melhor para a natureza e para o planeta”

16. Uma pessoa negra que ouve alguém rindo do seu cabelo e fazendo piadas sobre a cor

da sua pele?

6ºA – “Eu me sentiria mau porisso que eu não faço isso com nenuma pessoa negra”,

“Ruim, mau, triste”

17. Alguém que está triste e recebe um abraço de um amigo/uma amiga?

6ºB – “Feliz”

18. Alguém que mora na rua e recebe um prato de comida e uma roupa para se manter

aquecido?

6ºA – “Antes de alguém me dar algo eu me sentiria triste, mas com esse ato bondoso

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ficaria feliz e grata (o)”

19. Alguém que recebe ajuda para se levantar depois de ter caído?

6ºA – “Bem”

20. Alguém que recebe um elogio?

6ºB – “Eu me sentiria alegre. Eu feliz”

21. Uma árvore que recebe um abraço?

Gostei muito do resultado da atividade do sorteio. As respostas, apesar de simples, me

transmitiram sinceridade. Os alunos demonstraram interesse e foram participativos nesta

atividade. Entretanto, reforço a importância de se fortalecer a noção do que significa

“Empatia” e de se incentivar a sua aplicação.

Infelizmente não pude contar a última história dos Guerreiros do Arco-Íris, pois comecei a

trabalhar e não tive mais como ir na escola.

A minha quarta vivência em Educação Ambiental foi na Escola Municipal Prefeito Omar

Sabbag, também em 2016. Foi a experiência que fiz para o projeto de aprendizagem, contando

as sete histórias dos Guerreiros do Arco-Íris e realizando breves reflexões com a turma do

6ºA. Foi muito especial, pois também estudei nesta escola (pré e 1ª série). Mas, mais especial

que isso, foi ter conversado com as crianças, ter incentivado tantas coisas boas e ter recebido

tanto carinho.

Este é um desenho feito por uma aluna depois de ter ouvido as histórias:

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Desenho feito por uma aluna do 6ºA da Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag

Com todas estas vivências, pude confirmar que o que eu realmente quero fazer é

incentivar o amor e o cuidado com a Terra na nova geração, plantando sementes nesta terra

tão fértil que são as crianças, para que, um dia, elas floresçam e possam viver com

compaixão, empatia e união.

9.3 Memorial das Interações Culturais e Humanísticas

São atividades que promovem a interação vertical (estudantes em fases

diferentes dos cursos) e horizontal (estudantes de cursos diferentes no mesmo

espaço). Nessas Interações, construídas simétrica e dialogicamente entre

estudantes, comunidades e servidores, são valorizados os diferentes saberes e

lugares culturais que compõem a vida social. Os saberes são

problematizados, fortalecendo compromissos éticos e políticos, visando à

vivência e o adensamento de relações autogestionárias (7).

Durante a minha graduação em Gestão Ambiental, participei de várias oficinas de

7 Disponível em: <http://www.litoral.ufpr.br/portal/ufpr-litoral/projetos/interacoes-culturais-e-humanisticas-

ich/>. Acesso em: 10/07/2016

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Interações Culturais e Humanísticas. Abaixo, apresentarei de forma sucinta minha visão de

cada uma delas.

2011/2: Massoterapia – ministrada pelo professor Neilor Kleinubing.

Primeiro contato com as ICH. Me interessei por esta oficina por sempre ter gostado de

fazer e receber massagens, então achei que seria legal aprender algumas técnicas. A oficina

foi ministrada pelo professor Neilor, do curso de Fisioterapia. A maior parte dos participantes

da ICH era também deste curso, o que possibilitou um intercâmbio entre os cursos. Além de

algumas técnicas, aprendi também os vários benefícios da massagem, como o aumento da

circulação sanguínea e o relaxamento de tensões e desconfortos musculares.

2012/2: Caminhando pela História do Litoral Paranaense – ministrada pelos professores

Marcos de Vansconcellos Gernet e Rosilene Komarcheski.

No segundo semestre do curso não participei de nenhuma oficina, então, no terceiro

semestre, frequentei duas ICH para compensar a faltante. Pela manhã, participei da ICH

“Caminhando pela História do Litoral Paranaense”, proposta pelo professor Marcos de

Vansconcellos Gernet e mediada pela professora Rosilene Komarcheski. Esta ICH tinha como

objetivo conhecer a história do Litoral do Paraná a partir da caracterização da paisagem. Nós

visitamos a Praia Mansa de Caiobá, a Ponta da Pita em Antonina, a cidade de Morretes e

Paranaguá e também a Ponta do Poço em Pontal do Paraná. Em cada encontro o professor

Marcos nos contava algumas histórias e curiosidades sobre a cidade visitada, fazíamos

registros fotográficos e também tentávamos encontrar antigos artefatos do local como:

pedaços de porcelanas de louças e vasos; pedaços de telhas das antigas construções; garrafas,

entre outros.

2012/2: Grafismo Indígena – ministrada pela professora Ana Elisa de Castro Freitas.

No período da noite, frequentei a ICH de Grafismo Indígena, proposta pelos

estudantes indígenas da UFPR Litoral. Esta ICH foi muito interessante e havia muitas pessoas

inscritas. Foram os estudantes indígenas quem prepararam, realizaram e dirigiram os

encontros. Eles trouxeram artefatos, fizeram relatos e trouxeram várias curiosidades e

101

informações sobre a cultura Guarani e Kaingang. Foi uma das ICH de que mais gostei.

2013/1 e 2013/2: Café com Documentário – ministrada pelas professoras Liliani Tiepolo e

Juliana Quadros.

No quarto e quinto semestres do curso, participei da ICH Café com Documentário.

Esta oficina foi proposta pelos alunos das turmas de Gestão Ambiental para assistir diferentes

documentários com temáticas relacionadas ao meio ambiente. A ICH foi realizada no período

da manhã, onde todos os participantes se organizavam e cada um levava o café, bolos, sucos,

salgados para compor o café da manhã. A cada encontro assistíamos a um documentário

diferente e ao final dele, discutíamos sobre o que havia sido apresentado. Entre os

documentários assistidos estão: La Belle Verte, O Veneno Está Na Mesa, Ilha de Páscoa, A

Revolução Dos Cocos, entre outros.

2016/1: Ornitologia - ministrada pelo professor Luiz Mestre.

Me interessei pela ICH de Ornitologia por sempre ter gostado de observar os pássaros.

O professor nos mostrou e nos emprestou os equipamentos utilizados para observação de

aves, como binóculos e lunetas. Também nos mostrou várias fotos de pássaros do Brasil e nos

contou sobre suas experiências na Amazônia e em Fernando de Noronha, onde realizou

pesquisas e observou diversas espécies de aves. Realizamos algumas saídas para observarmos

as aves de Matinhos e pudemos ver várias delas, como sanhaço azul, coruja, pardal, tuim,

maritaca, urubu, quero-quero, fragata, garça, pica-pau, entre outras.

2016/1: Emancipação Humana e Filosofia da Pachamama – ministrada pelo professor Ernesto

Jacob Keim.

Esta ICH proporcionou diversas reflexões sobre o que é emancipação humana,

liberdade e a filosofia da Pachamama. Refletimos sobre os padrões (culturais, econômicos,

etc.) que herdamos dos colonizadores e que foram cultivados através da mídia. Também

conversamos sobre os sete passos do cuidado propostos por Leonardo Boff (amor, justa-

medida, a medida-justa e a Pachamama, a medida-justa e os sentimentos profundos, a ternura

diante da vida, a carícia essencial e a cordialidade fundamental), que podem nos ajudar a

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romper aquilo que está enraizado em nós e a despertar para uma visão de reconhecimento do

planeta Terra como um ser vivo.