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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA SILVIO BISPO DO VALE ESTUDO COMPARATIVO DE SISTEMAS ISOLADOS DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA UTILIZANDO GASES DE BIOMASSA PARA ALIMENTAÇÃO DE CÉLULAS A COMBUSTÍVEL TD – 08/2006 UFPA/IT/PPGEE CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO GUAMÁ BELÉM - PARÁ - BRASIL 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

SILVIO BISPO DO VALE

ESTUDO COMPARATIVO DE SISTEMAS ISOLADOS DE GERAÇÃO DE

ENERGIA ELÉTRICA UTILIZANDO GASES DE BIOMASSA PARA ALIMENTAÇÃO DE CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

TD – 08/2006

UFPA/IT/PPGEE CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO GUAMÁ

BELÉM - PARÁ - BRASIL 2006

______________________________________________________________________ V149e Vale, Silvio Bispo do

Estudo comparativo de sistemas isolados de geração de energia

elétrica utilizando gases de biomassa para alimentação de células a combustível / Silvio Bispo do Vale; orientador, Ubiratan Holanda Bezerra.-2006.

Tese (doutorado) - Universidade Federal do Pará, Instituto de

Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Belém, 2006.

1. Energia da biomassa. 2. Energia – fontes alternativas. 3. Energia

elétrica – produção. I. Orientador. II. Título. CDD 22. ed. 621.042 ___________________________________________________________

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

SILVIO BISPO DO VALE

ESTUDO COMPARATIVO DE SISTEMAS ISOLADOS DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA UTILIZANDO GASES DE BIOMASSA PARA

ALIMENTAÇÃO DE CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

Tese submetida à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFPA para a obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Elétrica.

UFPA/IT/PPGEE CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO GUAMÁ

BELÉM – PARÁ – BRASIL 2006

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

ESTUDO COMPARATIVO DE SISTEMAS ISOLADOS DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA UTILIZANDO GASES DE BIOMASSA PARA

ALIMENTAÇÃO DE CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

SILVIO BISPO DO VALE

TESE DE DOUTORADO SUBMETIDA À AVALIAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA APROVADA PELO COLEGIADO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ E JULGADA ADEQUADA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM ENGENHARIA ELÉTRICA NA ÁREA DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA.

APROVADA EM 01/12/2006

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Ubiratan Holanda Bezerra (Orientador - DEEC/UFPA)

______________________________________________________________________

Prof. Dr. -Ing. João Tavares Pinho (Co-Orientador - DEEC/UFPA)

______________________________________________________________________

Prof. Dr.Tadeu da Mata Medeiros Branco (Membro - DEEC/UFPA)

______________________________________________________________________

Prof. Dr. José Pio Iúdice de Souza (Membro - DQ/UFPA)

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Ennio Peres da Silva (Membro - NIPE/UNICAMP)

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Reginaldo Sabóia de Paiva (Membro - DEMMA/UFPA)

VISTO: ______________________________________________________________________

Prof. Dr. Evaldo Gonçalves Pelaes Coordenador do PPGEE/CT/UFPA

UFPA/IT/PPGEE

iii

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por me guiar neste caminho de luta e ter

alcançado mais um dos meus objetivos de vida.

Ao meu orientador Professor Ubiratan Holanda Bezerra, pelos incentivos,

compreensão e paciência nas horas de difíceis entendimentos de assuntos abordados.

À minha esposa Regina, pelo apoio, incentivo e paciência. Às minhas filhas

Sophia e Samya por aguardarem diversas horas do dia sem a minha presença e ao final

da noite, falarem, a sua benção paizinho.

Aos Professores João Tavares Pinho e Tadeu da Mata Medeiros Branco,

pelas colaborações, apoios e incentivos.

Aos meus Pais, pelos incentivos.

A todos os membros do Grupo de Estudos e Desenvolvimento de

Alternativas Energéticas – GEDAE.

Em especial, aos meus amigos, professor Edinaldo Pereira, Luis Blasques,

Marcos Galhardo e Hallan Max.

Ao Professor Gonçalo Rendeiro, pelo apoio e diálogo na área de

gaseificação.

Aos professores Ennio Peres, José Pio e Sabóia por aceitarem a participar da

banca examinadora deste trabalho.

À CAPES, pela bolsa de estudo.

iv

SUMÁRIO

Lista de Figuras .............................................................................................................. viii

Lista de Tabelas ........................................................................................................................ x

Resumo................. .................................................................................................................... xi

Abstract................. .................................................................................................................. xii

Introdução ................................................................................................................................. 1

Capítulo 1 - DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA DAS CÉLULAS A

COMBUSTÍVEL............................................................................................... 6

1.1 - Princípios Constitutivos ............................................................................................ 6

1.2 - Reação ....................................................................................................................... 8

1.3 - Energia Livre ............................................................................................................ 9

1.4 - Trabalho .................................................................................................................. 10

1.5 – Polarização ............................................................................................................. 10

1.6 – Eficiência .............................................................................................................. 12

1.7 – Principais Constituintes da Célula a Combustível ................................................. 13

1.7.1 - Reformador ................................................................................................. 14

1.7.2 - Processo Eletroquímico da Célula a Combustível e Conversão de

Energia ....................................................................................................... 15

1.8 – Tecnologias Empregadas em Células a Combustível ............................................ 15

1.8.1 - Ácido Fosfórico (Phosphoric Acid Fuel Cells - PAFC) ............................ 16

1.8.2 - Polímero Sólido ou Membrana de Troca de Prótons (Proton

Exchange Membran Fuel Cells - PEMFC) ................................................ 17

1.8.3 – Carbonato Fundido (Molten Carbonate Fuel Cells - MCFC) ................... 19

1.8.4 – Óxido Sólido (Solid Oxid Fuel Cells - SOFC) .......................................... 21

1.8.5 – Alcalinas (Alkaline Fuel Cells - AFC) ...................................................... 23

1.8.6 – Metanol Direto (Direct Methanol Fuel Cells - DMFC) ............................ 24

1.8.7 – Regenerativas (Regenerative Fuel Cells - RFC) ....................................... 25

1.9 – Aplicações Principais ............................................................................................. 26

1.10 – Comparações com Outras Tecnologias Alternativas ........................................... 27

1.11 – Conclusão ............................................................................................................. 30

v

Capítulo 2 – APLICAÇÃO DA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA VIA

CÉLULA A COMBUSTÍVEL ....................................................................... 32

2.1 - Princípios Utilizados ............................................................................................... 32

2.2 - Aspectos Relacionados com os Insumos para a Alimentação da Célula ................ 35

2.3 – Caracterização do Condicionamento por Meio de Gaseificação e/ou

Biodigestão ............................................................................................................. 36

2.4 - Conclusão ............................................................................................................... 37

Capítulo 3 – ALIMENTAÇÃO DA CÉLULA COM INSUMOS DA REGIÃO POR

MEIO DA GASEIFICAÇÃO E BIODIGESTÃO ....................................... 39

3.1 – Aspectos Gerais da Gaseificação ........................................................................... 39

3.2 - Sistema de Gaseificação ......................................................................................... 40

3.3 – Biomassa para Gaseificação ................................................................................... 43

3.3.1 – Madeira ...................................................................................................... 43

3.3.2 – Coco da Bahia ............................................................................................ 46

3.3.3 – Cacau ......................................................................................................... 47

3.3.4 – Outras Biomassas ...................................................................................... 48

3.4 – Dimensionamento do Gaseificador ........................................................................ 48

3.5 – Sistema de Biodigestão .......................................................................................... 49

3.5.1 – Biogás ........................................................................................................ 50

3.5.2 – Digestão Anaeróbica .................................................................................. 50

3.5.3 – Biodigestores ............................................................................................. 52

3.6 – Biomassa para Biodigestão .................................................................................... 53

3.7 – Dimensionamento de um Biodigestor .................................................................... 55

3.8 - Conclusão ............................................................................................................... 56

Capítulo 4 – MÉTODOS DE ELIMINAÇÃO DE IMPUREZAS NOS GASES

PRODUZIDOS NOS PROCESSOS DE GASEIFICAÇÃO E BIODIGESTÃO .............. 58

4.1 – Apresentação de Algumas Impurezas .................................................................... 58

4.2 – Limpeza dos Gases ................................................................................................. 58

4.3 – Remoção Ácida ...................................................................................................... 59

4.4 – Remoção de Umidade ............................................................................................ 59

4.5 – Metanação .............................................................................................................. 62

vi

4.6 – Conclusão ............................................................................................................... 63

Capítulo 5 – ESTUDO DE CASO ......................................................................................... 65

5.1 – Considerações Gerais ............................................................................................. 65

5.2 –Parâmetros Econômicos .......................................................................................... 66

5.3 – Escassez de Energia Elétrica .................................................................................. 67

5.4 – Caracterização da Localidade ................................................................................ 67

5.4.1 – Recurso Renovável Eólico e Solar ............................................................ 68

5.4.2 – Recurso Renovável de Biomassa ............................................................... 70

5.5 – Premissas para o Estudo ......................................................................................... 70

5.5.1 – Caso 1: Sistema Solar Fotovoltaico ........................................................... 71

5.5.2 - Caso 2: Sistema Eólico ............................................................................... 73

5.5.3 - Caso 3: Sistema Grupo Gerador Diesel ...................................................... 74

5.5.4 - Caso 4: Sistema Híbrido Solar - Eólico - Diesel ........................................ 75

5.5.5 - Caso 5: Sistema Célula a Combustível/Biodigestão .................................. 76

5.5.5.1 - Dimensionamento do Biodigestor ................................................... 77

5.5.5.2 – Dimensionamento do Gaseificador ................................................ 79

5.5.6 - Caso 6: Sistema Híbrido Solar - Eólico – Célula a Combustível

(Eletrólise) ................................................................................................................................ 83

5.6 – Conclusão ............................................................................................................... 85

Conclusão ................................................................................................................................ 86

Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 88

vii

LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1

Figura 1.1 - Esquema do Princípio de Funcionamento de uma Célula a Combustível. ............. 6

Figura 1.2 - Esquema Representativo de Reações no Anodo e Catodo ..................................... 8

Figura 1.3 - Variação do Potencial com a Corrente ................................................................. 11

Figura 1.4 - Variação da Potência com Diferença de Potencial numa Célula a

Combustível ......................................................................................................... 13

Figura 1.5 - Esquema Simplificado de um Sistema de Produção de Energia em Células a

Combustível .......................................................................................................... 13

Figura 1.6 - Fórmula Estrutural do Nafion ............................................................................... 18 Figura 1.7 - Esquema de Funcionamento de uma Célula a Combustível Regenerativa ........... 26

Figura 1.8 - Comparação de Sistemas de Células a Combustível com Outras Fontes ............. 28

Figura 1.9 - Comparação de impacto ambiental de Célula a Combustível Integrada com

Gaseificação com outras Fontes de Geração ........................................................ 29

Capítulo 2

Figura 2.1 - Mercado de Aplicações de Vários Tipos de Células a Combustível .................... 35

Capítulo 3

Figura 3.1 - Esquema Ilustrativo de um Gaseificador Co-Corrente ......................................... 41

Figura 3.2 - Esquema Ilustrativo de um Gaseificador Contracorrente ..................................... 42

Figura 3.3 - Principais Constituintes da Madeira ..................................................................... 44

Figura 3.4 - Principais Componentes da Madeira .................................................................... 44

Figura 3.5 - Processo Digestivo de um Biodigestor ................................................................. 52

Figura 3.6 - Biodigestor Indiano .............................................................................................. 53

Figura 3.7 - Biodigestor Chinês ................................................................................................ 53

Capítulo 4

Figura 4.1 - Processo Claus ............ ......................................................................................... 60

viii

Capítulo 5

Figura 5.1 - Curva de Carga ........... ......................................................................................... 68

Figura 5.2 - Perfil da Velocidade de Vento a 25 m .................................................................. 69

Figura 5.3 - Perfil da Irradiância Solar ..................................................................................... 69

Figura 5.4 - Valor do Custo da Energia (FV) ........................................................................... 72

Figura 5.5 - Estado de Carga da Bateria (FV) .......................................................................... 72

Figura 5.6 - Potência Gerada versus Carga (FV)...................................................................... 72

Figura 5.7 - Potência Gerada versus Carga (Aerogerador) ...................................................... 73

Figura 5.8 - Estado de Carga da Bateria (Aerogerador) ........................................................... 73

Figura 5.9 - Valor do Custo da Energia (Diesel) ...................................................................... 74

Figura 5.10 - Potência Gerada versus Carga (Diesel) .............................................................. 74

Figura 5.11 - Configuração Geral do Sistema Híbrido ............................................................. 75

Figura 5.12 - Fontes de Geração versus Carga do Sistema Híbrido ......................................... 76

Figura 5.13 - Estado de Carga do Banco de Baterias do Sistema Híbrido ............................... 76

Figura 5.14 - Custo da Energia do Sistema á Célula a Combustível ........................................ 82

Figura 5.15 – Configuração Geral do Sistema ......................................................................... 83

Figura 5.16 - Contribuições das Fontes de Geração em Confronto com a Carga .................... 84

Figura 5.17 - Estado de Carga do Banco de Baterias ............................................................... 84

Figura 5.18 – Custo da Energia Gerada para Diversas Fontes de Geração .............................. 85

ix

LISTA DE TABELAS

Capítulo 1

Tabela 1.1 - Tipos de Células a Combustível ........................................................................... 16

Tabela 1.2 - Fabricantes e Aplicação de Célula a Combustível ............................................... 27

Capítulo 3

Tabela 3.1 - Composição Típica do Gás Produzido a Partir de Madeira em Gaseificador

de Chama Invertida .............................................................................................. 42

Tabela 3.2 - Composições Típicas de Gases Produzidos de Madeira em Gaseificadores

de Chama Direta .................................................................................................. 43

Tabela 3.3 - Diversos Combustíveis com seus Respectivos Poderes Caloríficos .................... 46

Tabela 3.4 - Tipos de Células a Combustível ........................................................................... 49

Tabela 3.5 - Equivalência Energética do Biogás ...................................................................... 50

Tabela 3.6 - Fonte de Dados de Resíduos e Produção de Gás.................................................. 54

Tabela 3.7 - Consumo de Biogás .............................................................................................. 55

Capítulo 5

Tabela 5.1 - Dados da Velocidade de Vento (25 m de altura) .................................................. 68

Tabela 5.2 - Dados da Irradiância e Irradiação Solar ............................................................... 69

Tabela 5.3 - Dados do Biodigestor ........................................................................................... 77

Tabela 5.4 - Dados do Gaseificador ......................................................................................... 79

Tabela 5.5 - Dados da Célula a Combustível Alimentada por Gaseificação ou

Biodigestão .......................................................................................................... 81

Tabela 5.6 - Cenários de Taxas de Descontos e FRC ............................................................... 81

Tabela 5.7 - Cenários de Custos de Energia versus Investimentos .......................................... 82

x

RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo sobre a avaliação do potencial de geração de

energia elétrica por meio de células a combustível usando resíduos regionais. O estudo

aborda a célula a combustível do tipo troca de prótons como elemento de geração de

energia elétrica, além da biodigestão e da gaseificação como formas de alimentação

dessa fonte, e sua comparação com sistemas híbridos de geração de energia, como por

exemplo, a fotovoltaica, a eólica e os geradores a diesel.

Foram abordados, neste estudo, alguns tipos de biomassa, com o objetivo de

avaliar quais os mais adequados a serem inseridos no biodigestor ou gaseificador de

baixa potência, como matéria-prima na produção de uma mistura gasosa que possa ser

utilizada na alimentação da célula a combustível e posterior produção de eletricidade em

complemento ao sistema híbrido de uma localidade da Região Amazônica.

Para efeito de estudo da integração do conjunto célula a combustível com o

biodigestor ou gaseificador, fez-se necessária a investigação de diversos meios de

purificação dos gases oriundos da biodigestão ou gaseificação, antes de serem inseridos

na célula a combustível, dentre as quais: a remoção ácida, a remoção de umidade, e a

metanação. Alguns desses meios de purificação podem ser empregados de maneira fácil

e eficaz, como por exemplo a retirada de umidade e H2S.

Neste trabalho foram adotadas algumas figuras de mérito na análise econômica

como, por exemplo, o tempo de retorno simples e o fator de recuperação de capital, e os

estudos mostraram a viabilidade do uso da célula a combustível polimérica em conjunto

com o biodigestor ou gaseificador, para a geração de eletricidade em localidades

isoladas na Região Amazônica.

xi

xii

ABSTRACT

This work presents a study on the analysis of the electricity generation potential

of fuel cells using regional rejects. The study emphasizes the Proton Exchange

Membrane Fuel Cell (PEMFC) as the electricity generation unit, together with

biodigestors and gasifiers as its feeding sources, and its comparison with hybrid energy

power systems, as for example, those with solar photovoltaic, wind and diesel

generators sources.

The study considers some types of biomass, with the objective of evaluating

which ones are most appropriate for utilization on the low power biodigestor or gasifier,

as raw material to produce a gaseous mixture that will be used to supply the fuel cell

and generate complementary electricity to the hybrid system of a community in the

Amazon Region.

For the study of the integration of the fuel cell to the biodigestor or gasifier it is

necessary to investigate several ways of purifying the gases from the biodigestion or

gasification before their insertion into the fuel cell, such as acid removal, umidity

removal and methanation. Some of these purification ways can be used on a easy and

efficient manner, such as umidity removal and H2S.

The work adopts some economic figures such as simple payback and capital

recovery factor, and the analysis shows the feasibility of the use of the PEMFC with

biodigestor or gasifier integration for electricity generation in isolated communities of

the Amazon Region.

1

Introdução O princípio das células a combustível foi descoberto por William Robert Grove em

1839. No final do século passado, Wilhelm Ostwald e Walther Nernst demonstraram a

vantagem da combustão eletroquímica a frio em relação à produção de eletricidade pela

máquina térmica/mecânica, que funciona sob o princípio de Carnot [1].

Até pouco tempo a célula à combustível estava limitada ao uso experimental em

laboratórios ou aplicações não convencionais, como na indústria aeroespacial. No entanto,

ultimamente tem havido um crescente desenvolvimento sobre a célula a combustível e suas

aplicações na geração de eletricidade e na área automobilística. Especialmente por se tratar de

uma conversão limpa, que gera como resíduos apenas vapor de água, calor e baixa

concentração de dióxido de carbono (CO2), pode-se esperar a substituição paulatina do uso

dos motores à combustão interna, devido à exigência quanto ao controle de emissão gasosa.

Em vista disso, deve-se aguardar por um alavancamento das células a combustível para tais

aplicações em um futuro próximo.

Em princípio, a célula a combustível opera como uma bateria, sem nenhuma

combustão. A geração de eletricidade se dá pela combinação de moléculas de hidrogênio e

oxigênio. A célula a combustível produz energia elétrica e calor, sempre que haja combustível

para sua alimentação, e o subproduto de saída gerado é a água.

As células a combustível utilizam métodos limpos [2] e eficazes na obtenção de energia

elétrica, podendo algumas vezes partir da energia química armazenada em um combustível,

como por exemplo o hidrogênio ou uma mistura gasosa. Assim, consegue-se reduzir as

emissões gasosas de contaminantes, além de aumentar o rendimento do processo de conversão

eletroquímica. Apesar das inúmeras vantagens que as células apresentam, ainda são

encontradas algumas limitações para a aplicação destes sistemas. Uma dessas limitações é o

armazenamento do combustível, no caso o hidrogênio. Esta limitação tem sido contornada

através de processos de reforma conhecido e em desenvolvimento, que produz hidrogênio

para o funcionamento eficiente do sistema.

Os principais aspectos inovadores desta tecnologia concentram-se nas vantagens em

relação aos sistemas convencionais de geração de energia, tanto pela visão de meio ambiente

2

[2], [3], [4] como também pela sua eficiência energética, alcançando um rendimento superior a

50 %.

A Sociedade de Gás de Euskadi, S.A. (Grupo EVE) liderou um projeto de

demonstração de uma célula a combustível de óxido sólido de 1 kW de potência elétrica

marca Sulzer-Hexis, em colaboração com a Ikerlan Energy. A célula proporciona energia

elétrica, água quente para sanitário e energia térmica para calefação. Além dessa experiência

da Euskadi na Espanha, existem outras cinco experiências piloto de células da Sulzer-Hexis de

gás natural que estão espalhadas pelo mundo. Por exemplo, na Espanha, a Iberdrola tem sua

planta de demonstração de 100 kW [5].

A célula a combustível do tipo óxido sólido, também é desenvolvida pela empresa

americana Westinghouse, em parceria com a Siemens, que gera cerca de 100 kW elétricos.

Projetos estão localizados no Estado da Califórnia e nos Países Baixos. A empresa americana

International Fuel Cells – IFC, adquirida pela UTC, colocou no mercado as primeiras células

a combustível do tipo ácido fosfórico, de potências de 200 kW elétricos e 200 kW térmicos e

eficiência de aproximadamente 40 %, com custo na ordem de US$ 600.000,00 por unidade,

ou cerca de US$ 3.000,00 por kW instalado. Também nesse mercado de células está a

empresa japonesa Fuji Electric, com instalações de 100, 200 e 500 kW elétricos.

O Departamento de Energia (Departament of Energy - DOE) dos Estados Unidos

lançou uma iniciativa para provocar drásticas reduções em custos de células a combustível.

Com essa iniciativa, pretende-se baixar os custos para que ao final dessa década as células a

combustível tornem-se competitivas para o mercado de geração de energias elétrica ao preço

de US$ 400,00/kW instalado.

Há uma forte tendência para que o mercado de célula a combustível na aplicação em

residências seja promissor. A inserção de células a combustível em residências, para geração

de eletricidade, incorporando o aproveitamento do calor gerado, ocasionaria em benefícios

ambientais e econômicos, sem contar com o aproveitamento quase total da energia gerada,

significando uma maior eficiência global do sistema. Neste contexto e com essa visão,

diversos fabricantes já testaram vários sistemas a células a combustível espalhados pelo

mundo, como por exemplo, EBARA BALLARD, H-Power, adquirida pela Plug Power, Fuel

Cell Technologies, entre outros. Nesse setor de células a combustível de projetos pilotos,

estão os EUA, Japão, Canadá e a Alemanha como líderes.

3

A área de aplicação das células a combustível é ampla, abrangendo faixas de até 1,0

kW em unidades móveis, de 1,0 a 10 kW para residências, pequenos comércios, etc., de 10 a

500 kW para indústrias e bairros residenciais, e de 500 até aproximadamente 50 MW de

potência para indústrias e interligação com a rede de distribuição de energia.

No ano de 2004, o mercado de células a combustível avançou significativamente,

principalmente pelas vendas feitas da Direct Fuel Cell® da Fuel Cell Energy, que conseguiu

colocar no mercado cerca de 42 sistemas de 250 kW DFC 300® de carbonato fundido, em

aplicações que incluem plantas de tratamento de água, indústrias, universidades, bem como

suporte à rede elétrica. A maior instalação do mundo em termos de potência em célula a

combustível está sendo realizada pela Fuel Cell Energy (FCE) em uma planta de 1 MW

operando com um biodigestor no Condado de King, Washington. Nesse ano o mercado de

células a combustível foi marcado pelo avanço tecnológico nas do tipo Proton Exchange

Membrane – PEM alimentadas com hidrogênio. Empresas tais como a Ballard, Plug Power e

a ReliOn lançaram no mercado células a combustível de 1 kW e 5 kW.

Em maio de 2005 a empresa Navantia obteve êxito em testar uma célula a combustível

por mais de 20.000 horas de funcionamento. O seu produto de 250 kW – Navantia MTU NM-

300, passou por diversos testes e ensaios, principalmente os parâmetros elétricos.

Diversos fabricantes de veículos voltados ao conceito de célula a combustível

fabricaram e aprovaram seus veículos desenvolvidos com a tecnologia PEM, além de

realizarem diversos testes em países de clima frio.

O primeiro protótipo de célula a combustível desenvolvida no Brasil para fins de

geração de energia elétrica foi apresentado pela Cemig (Companhia Energética de Minas

Gerais) no I Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica (Citenel), realizado pela

Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em novembro de 2001, em Brasília[6].

No setor de transporte, pode-se dizer que o Brasil desenvolveu protótipos de veículos

contando com a parceria do Ministério de Minas e Energia – MME (Empresa Metropolitana

de Transporte Urbano – EMTU, São Paulo/ Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento – PNUD/ Global Environment Facility – GEF e MME); Universidade de

Campinas – UNICAMP (projeto Vega II) em São Paulo e entre a Coordenação dos Programas

de Pós-graduação de Engenharia - COPPE/ Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento -

4

LACTEC/ Petróleo Brasileiro SA - PETROBRAS/ELETRA/CAIO-Induscar no Rio de

Janeiro. No entanto é observado que não existe nenhum veículo de carga ou ônibus em

circulação.

Atualmente existem três empresas localizadas no Estado de São Paulo que

desenvolvem sistemas de células a combustível para geração de energia, que são: Electrocell,

Unitech e a Novocell[7].

Alguns projetos demonstrativos para geração de energia e transporte são aportados

financeiramente por empresas de caráter público ou privado (Companhia de Eletricidade do

Paraná - COPEL, Companhia Hidroelétrica do São Francisco - CHESF, PETROBRAS,

Empresa Distribuidora de Energia de São Paulo - AES ELETROPAULO, Companhia

Energética de Minas Gerais - CEMIG, Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL e Centrais

Elétricas Brasileiras SA - ELETROBRAS) para o desenvolvimento de células a combustível

utilizando, por exemplo, o gás natural como elemento de alimentação.

As células a combustível têm sua tecnologia ainda em desenvolvimento,

principalmente no Brasil. Portanto, merece um estudo mais aprofundado na eletroquímica do

processo, onde ocorrem as reações de oxidação e redução do hidrogênio e oxigênio,

respectivamente, liberando calor e produzindo água, e os elétrons como resultado do trabalho

elétrico.

O desenvolvimento desta tese está estruturado em cinco capítulos. O capítulo 1 aborda

a descrição da tecnologia das células a combustível, princípios constitutivos e comparações

com outras fontes de geração de energia elétrica.

No Capítulo 2, descrevem-se as tecnologias mais adequadas para a geração de energia

elétrica via células a combustível, e a caracterização do condicionamento por meio de

gaseificação e biodigestão.

No Capítulo 3, faz-se uma abordagem da avaliação do potencial energético de

alimentação da célula a combustível com insumos da região, por meio de gaseificação e

biodigestão.

O Capítulo 4 apresenta diversos métodos de eliminação de monóxido de carbono, gás

sulfídrico e umidade dos gases produzidos via gaseificação e biodigestão.

5

No capítulo 5 abordam-se estudos de casos, considerando alguns parâmetros

econômicos, caracterização de recursos renováveis e análise de diversos tipos de sistemas de

geração de energia. Ao final, apresentam-se as conclusões e sugestões para trabalhos futuros.

A proposta desta tese está baseada no Estudo Comparativo de Sistemas Isolados de

Geração de Energia Elétrica Utilizando Gases de Biomassa para Alimentação de Células a

Combustível

6

Capítulo 1

Descrição da Tecnologia das Células a Combustível 1.1 - Princípios Constitutivos

O princípio de funcionamento de uma célula a combustível tipo PEM ou PAFC pode

ser visto esquematizado na figura 1.1. Utiliza como combustível o hidrogênio (H2), o qual, ao

entrar em contato com um metal catalizador suportado por um eletrodo, cede elétrons,

produzindo H+ (íon). Esse elétron circula por um circuito elétrico externo, onde sua energia

pode ser aproveitada, e retorna para a célula a combustível, onde, novamente através de um

metal, encontra-se com o oxigênio. Os dois pólos da célula são ligados pelo eletrólito. Através

desse eletrólito com os íons do oxigênio, que ganhou elétrons no anodo, migram até o catodo

onde o hidrogênio, que perdeu elétrons se ligam, formando água, que é o produto dessa

reação.

Figura 1.1 – Esquema do princípio de funcionamento de uma célula a combustível, tipo PEM

ou PAFC.

Uma célula a combustível é constituída de anodo, catodo e eletrólito, onde as reações

produzidas no seu interior têm como resultado a produção de eletricidade e água, cujas

reações dependem do eletrólito empregado. Deste modo, pode-se descrever os seus principais

componentes como:

Anodo – eletrodo onde ocorre a oxidação do combustível e que conduz elétrons ao

circuito externo;

Catodo – eletrodo onde ocorre a redução do oxidante e que recebe elétrons do circuito

externo;

7

Eletrólito – elemento de ligação dos eletrodos, que transporta uma das espécies iônicas

envolvidas nas reações eletródicas e previne a condução de elétrons entre os eletrodos.

As células a combustível podem ser fabricadas em vários tamanhos e para diversas

aplicações, e o princípio de funcionamento é idêntico ao de uma bateria, ou seja, consiste na

produção de eletricidade mediante as reações químicas, onde os elementos químicos

envolvidos normalmente são o hidrogênio e o oxigênio. Também podem ser usados outros

tipos de combustíveis que contenham hidrogênio ou não, tais como o metanol, etanol, gás

metano ou mistura gasosa proveniente da combustão de biomassa, etc.

A célula a combustível é uma forma alternativa de geração de energia, em que a

combustão é realizada de maneira controlada, aumentando a eficiência do aproveitamento da

energia liberada de modo menos poluente. Por esse processo, até 50% da energia química

pode ser transformada diretamente em energia elétrica. Uma parte da energia química ainda é

transformada em calor e também pode ser aproveitada, por exemplo, em sistemas para

aquecimento de água. Assim, a eficiência do aproveitamento da energia química pode chegar

a 80 %. As reações anódica, catódica e global do processo na célula a combustível, utilizando

hidrogênio, são as seguintes[8], [9]. De uma forma geral em uma célula PEM ou PAFC, o

hidrogênio é oxidado a prótons, liberando elétrons. As reações anódica (1.1) e catódica (1.2)

mostram a quebra das ligações entre o hidrogênio e o oxigênio e a reação geral é mostrada em

(1.3), representando as células a combustível de membrana polimérica ou ácido fosfórico.

−+ +→ e4H4H2 2 (1.1)

OH2e4H4O 22 →++ −+ (1.2)

)H(energiaOH2OH2 2)g(2)g(2 Δ+→+ (1.3)

Na reação, é necessária uma temperatura específica, que dependendo do eletrólito

(Alcalino - KOH, Membrana - Polímero, Ácido Fosfórico – H3PO3, Carbonatos Fundidos –

CO3-2 e Cerâmicas – ZrO2), requer maior ou menor temperatura (60 a 900 oC) para que a

mesma se processe satisfatoriamente.

Considera-se para estudo de abordagem, um caso simples em que o combustível é o

hidrogênio molecular. Dessa forma, podem-se observar diversos fatores que podem

influenciar na transformação final da energia química em energia elétrica das células a

combustível, dentre os quais têm-se as reações eletroquímicas, as mudanças de composição

8

ou estado dos reagentes e produtos envolvidos na reação, tensão, eficiência, energia de Gibbs,

trabalho, etc., que são descritos a seguir[10], [11]. Os elétrons liberados pela separação das

moléculas de hidrogênio no anodo são capturados pelo eletrodo e conduzidos através do

circuito elétrico até o catodo, originando a corrente elétrica. Os prótons no uso das células a

combustível de membrana polimérica e ácido fosfórico são transferidos para o catodo por

meio do eletrólito, onde se combinam com as moléculas de oxigênio para formar água.

1.2 - Reação

Em uma célula a combustível, o hidrogênio (combustível) se oxida conforme as

reações (1.1), (1.2) e (1.3). O esquema e o princípio de funcionamento de uma célula a

combustível de hidrogênio (H2-O2) podem ser vistos por meio da figura 1.2. Os eletrodos

empregados nas células a combustível são do tipo poroso de difusão gasosa, revestidos em um

dos lados por uma camada catalisadora de platina e separados por um eletrólito. O anodo é

alimentado pelo combustível, enquanto que o catodo é alimentado pelo oxidante. No material

ativo que constitui um dos eletrodos, oxida-se o hidrogênio, cedendo elétrons, os quais

circulam pelo circuito externo ao catodo. No catodo, reduz-se o oxigênio com incorporação

dos elétrons cedidos ao anodo.

Em uma célula do tipo alcalina, o hidróxido de potássio (KOH) é o agente que serve

de transporte das cargas, íon OH-, formados no eletrodo de oxigênio. Como existe um

terminal carregado negativamente e outro carregado positivamente, ao se conectarem

externamente por meio de uma resistência, circulará uma corrente elétrica, devido à diferença

de potencial elétrico entre os terminais.

Figura 1.2 – Esquema Representativo de Reações no Anodo e Catodo em uma Célula a

Combustível do Tipo Alcalina.

9

1.3 - Energia Livre

A tendência que têm os reagentes de reagirem entre si é chamada de afinidade (A) a

qual pode ser relacionada com a energia livre de “Gibbs” (ΔG) 1, isto é, o trabalho de reação

corresponde ao processo gerador de energia elétrica, conforme a equação (1.4)[10], [11]

GA Δ−= (1.4).

Esta energia está relacionada termodinamicamente com a entalpia de reação (ΔH)2 e a

entropia de reação (ΔS)3 de acordo com a equação (1.5):

STHG Δ−Δ=Δ (1.5)

onde,

TΔS - representa ganho (reação endotérmica4) ou perda (reação exotérmica5) de energia que

resulta no resfriamento ou aquecimento da célula;

T - é a temperatura envolvida na reação.

A variação da energia livre (ΔG), é uma medida direta da capacidade de trabalho ou a

máxima energia elétrica disponível para o sistema. Logo, quando o sistema apresenta ΔG

menor que zero, a reação é dita espontânea; quando ΔG é maior que zero, a reação é não

espontânea; e quando ΔG é igual a zero, a reação está em equilíbrio. Assim sendo:

nEFG −=Δ (1.6)

onde:

ΔG - é a variação de energia, que é uma função de estado e é independente do caminho da

reação;

n - é o número de elétrons envolvidos na reação;

E - é o potencial

F - é a constante de Faraday (96,487 coulombs/g-mol elétron).

1 é o máximo que se pode retirar de energia livre do sistema para a obtenção de trabalho útil. 2 é a quantidade de energia interna do sistema adicionado do calor trocado a pressão constante. 3 é uma medida de desordem de um sistema. 4 é uma reação química que absorve calor (+), ΔH>0; Hproduto>Hreagente. 5 é uma reação química que libera calor (-), ΔH <0; Hreagente>Hproduto.

10

Nas condições normais de pressão e temperatura, 1 atmosfera (atm) e 25ºC, a equação

1.6 pode ser escrita da seguinte forma:

00 nFEG −=Δ (1.7)

Portanto, como E = - V, que é a tensão teórica corresponde à oxidação do hidrogênio

em processo do tipo reversível e isotérmico, pode-se calcular esta tensão, com a equação

(1.8):

nF/GV Δ= (1.8)

Logo, o valor teórico da tensão alcançado por uma célula é da ordem de

aproximadamente:

V229,1Jmol487.96*2

Jmol400.237V1

1

==−

(1.9)

1.4 - Trabalho

O trabalho elétrico máximo (Wel) obtido em uma célula a combustível operando com

temperatura e pressão constantes pode ser expresso na forma de energia livre de uma reação

eletroquímica, calculado pela equação (1.10),

nFEWel = (1.10)

1.5 - Polarização

A polarização, ou perda (η), é devida à polarização ôhmica (ηohm), à polarização de

ativação (ηat) e à polarização de concentração (ηconc). Logo, essas perdas influenciam em uma

tensão final menor que a tensão ideal. Os potenciais de equilíbrio são expressos por Ec

(catodo) e Ea (anodo) que representam as perdas. Ao conectar uma resistência interna Ri

(devido ao eletrólito, aos eletrodos e conexões) entre o catodo e o anodo, a corrente Ieq

circulará pela resistência, com o valor calculado pela equação (1.11):

c aeq

i

(E E )IR−

= (1.11)

Assim, a equação (1.11) pode ser escrita como:

ohm eq iI Rη = (1.12)

11

Como o valor da resistência Ri é constante, a mudança no valor da corrente só poderá

ser conseqüência da variação do potencial catódico, anódico, ou ambos. Portanto, o potencial

catódico diminui e o potencial anódico aumenta, ocorrendo a polarização do eletrodo, como

pode ser visto na figura 1.3.

Figura 1.3 – Variação do Potencial com a Corrente.

A perda por ativação em uma célula a combustível representa a energia inicial

necessária para quebrar as moléculas de H2 e O2 nos eletrodos, representando uma perda de

tensão nos terminais. A perda por ativação (ηat)[12] ou polarização ativa está intimamente

ligada com a velocidade de reação eletroquímica, conforme a equação (1.13), com ηat maior

ou igual a 50 mV e menor ou igual a 100 mV[11],

0at i

iln*nF

RTα

=η (1.13)

onde:

α - é o coeficiente de transferência de elétrons da reação em um eletrodo;

io - é a densidade de corrente de troca no eletrodo.

Para células a combustível que operam em altas temperaturas, a polarização de

ativação não é levada em consideração, pois a carga de transferência da reação tem uma troca

de densidade de corrente que torna a polarização de ativação desprezível.

A polarização de concentração está relacionada com o transporte de massa de um

eletrodo e pode ser escrita pela Lei de Difusão de Fick6 [11], [13]. Porém, pode-se também

considerar que a polarização de concentração é a diferença de potencial (ΔE) produzida pela

mudança de concentração em um eletrodo, como ilustra a equação (1.14).

6 Estabelece que o fluxo de partículas em uma direção positiva de um eixo x é proporcional ao gradiente da concentração de partículas.

12

)ii1ln(*

nFRT

0conc −

α=η (1.14)

1.6 - Eficiência

Uma das principais características apresentadas pelas células a combustível é sua

eficiência teórica máxima[11], [12]. A eficiência pode ser definida como a relação entre a

energia útil gerada e a energia química liberada na reação de um combustível com um

oxidante, expresso pela equação (1.15):

HlEnergiaÚti

Δ=η (1.15)

Supondo um caso ideal de conversão eletroquímica, a mudança em energia de Gibbs

(ΔG) da reação é disponível como sendo a energia elétrica útil na temperatura da conversão,

podendo a equação (1.15) ser escrita da seguinte forma:

ΔHΔGη = (1.16)

Onde:

η = eficiência teórica máxima da célula;

ΔG = variação de energia livre da reação, que corresponde ao trabalho elétrico máximo que a

célula pode produzir;

ΔH = variação total de entalpia da reação.

Como a energia química (ΔH) na reação H2/O2 é de 285,8 kJ/mol (valor tabelado) e o

produto final é água líquida, logo a energia disponível é de 237,1 kJ/mol (valor tabelado).

Então, o valor ideal para a eficiência de uma célula a combustível pode ser:

83,08,2851,237==η .

Mas, se o produto final for água no estado de vapor, tem-se:

945,0242

6,228==η .

13

Assim sendo, pode-se observar que o rendimento de uma célula a combustível varia de

forma inversa à potência elétrica fornecida pela célula, devido a perdas por efeito Joule e de

polarização, conforme ilustra a figura 1.4. Logo, quando se deseja obter valores de potências

mais elevadas, associam-se diversas células a combustível em série para formar uma pilha

(stack). Células unitárias apresentam uma tensão de circuito aberto na faixa de 1,0 a 1,2 Vdc e

tensão na faixa de 0,5 a 0,7 Vdc[4] sob efeito de carga. Deste modo, deve-se associar diversas

células com o objetivo de se obter um valor de tensão na faixa de 127 a 380 V, conforme a

necessidade de operação.

Figura 1.4 - Variação da Potência com Diferença de

Potencial numa Célula a Combustível [14].

1.7 - Principais Constituintes de um Sistema com Célula a Combustível

Em termos gerais, os sistemas de geração com células a combustível são constituídos

de três partes conforme a figura 1.5:

a) Subsistema de processamento de combustível (reformador), onde ocorre a conversão do gás contendo hidrogênio;

b) Subsistema de reação, onde ocorrem as reações químicas, ou seja, o processo eletroquímico e a produção de corrente contínua;

c) Conversor de potência estática, onde ocorre a conversão da corrente contínua em corrente alternada.

Figura 1.5 - Esquema Simplificado de um Sistema de Produção

de Energia com Células a Combustível.

14

Os equipamentos auxiliares que compõem o sistema de produção/geração de

eletricidade em sistema de energia a célula a combustível são os seguintes: compressor,

circuito de refrigeração, separador para remoção de água obtida nos produtos da reação,

bomba para recirculação de gases rejeitados pelo anodo, controlador do sistema, dispositivo

de controle de monóxido de carbono (CO), e sistema de armazenamento e alimentação de

combustível. A seguir são apresentados maiores detalhes dos subsistemas que compõem um

sistema de geração de energia com célula a combustível.

1.7.1 - Reformador

Os reformadores são dispositivos que convertem os hidrocarbonetos em misturas de

H2 e CO2. Os dois principais métodos utilizados são a conversão pelo vapor d’água e a

oxidação parcial. Na conversão pelo vapor, os hidrocarbonetos e a água reagem para formar a

mistura gasosa de H2, CO2 e CO. Este processo requer calor (reação endotérmica) para

ocorrer e, para tanto, utiliza parte da energia do combustível (hidrocarboneto) que geralmente

é da ordem de 20 %. Requer também alta temperatura e baixa pressão com excesso de vapor

para impedir a formação de carvão e permitir a formação dos produtos.

No processo de oxidação parcial é utilizado ar e, conseqüentemente, o gás resultante

contém uma quantidade considerável de N2. A oxidação parcial é uma reação exotérmica

(gera calor) e requer baixa temperatura, onde o excesso de vapor provoca a formação dos

produtos. A combinação dos dois processos é designada por "reforma autotérmica".

Utilizando-se, por exemplo, o gás natural como elemento de alimentação da célula a

combustível, pode-se representar a equação global de oxidação do metano (CH4) como

expressam as reações (1.17) a (1.19). A mistura gasosa proveniente da conversão do gás

natural é da ordem de 4/5 de H2 e 1/5 de CO2 [14].

224 H3COOHCH +→+

222 HCOOHCO +→+

2224 COOH2O2CH +→+

(1.17)

(1.18)

(1.19)

15

1.7.2 – Processo Eletroquímico e Conversão de Energia da Célula a Combustível

Há cinco tipos de células a combustível em desenvolvimento. O tipo de eletrólito e a

temperatura de operação distinguem cada tipo. As temperaturas operacionais variam desde a

ambiente até próximo de 1.000 ºC e as eficiências elétricas variam de 30 até mais de 50%.

Elas podem ter características de desempenho diferentes, vantagens e limitações.A partir

dessas premissas pode-se então definir o tipo de aplicação de geração.

Os diferentes tipos de eletrólitos são empregados em diversos tipos de células a

combustível, tais como AFC (Alkaline Fuel Cell), PEMFC (Proton Exchange Membrane Fuel

Cells), PAFC (Phosphoric Acid Fuel Cells), MCFC (Molten Carbonate Fuel Cells) e SOFC

(Solid Oxid Fuel Cells).

A conversão de corrente contínua, produzida pela célula a combustível, em corrente

alternada é feita por meio de um inversor que, acompanhado de diversos equipamentos de

controle de tensão e freqüência, tem como objetivo final fornecer uma boa qualidade de

energia ao consumidor. Dependendo do tipo de aplicação empregada, o sistema de controle

pode ser simples ou mais sofisticado, ou seja, pode operar isolado ou conectado à rede de

distribuição de energia.

1.8 - Tecnologias Empregadas em Células a Combustível

Teoricamente, vários tipos de combustíveis podem ser utilizados. No atual estágio das

pesquisas, o hidrogênio é o que apresenta melhor rendimento. Hidrogênio pode ser gerado de

metanol, etanol, gás natural, propano e outros combustíveis hidrocarbonetos, ou por eletrólise

da água[15], [16], [17]. No momento atual de desenvolvimento das células a combustível, tenta-se

não utilizar o hidrogênio puro, devido ao seu alto custo e dependência de armazenamento.

A descrição de vários tipos de células a combustível, com suas respectivas

características de trabalho, pode ser vista na tabela 1.1.

16

Tabela 1.1 – Tipos de Células a combustível.

Tipo de Célula Sigla Eletrólito Temperatura de Operação (ºC) Reagentes

1. Ácido Fosfórico PAFC H3PO4 180 - 200 H2 de reforma/O2/Ar2. Eletrólito Polimérico Sólido PEMFC Nafion 70 - 100 H2 de reforma/O2/Ar

3. Alcalina AFC KOH (25-50%) 25 - 100 H2/O2

4. Carbonatos Fundidos MCFC K2CO3/

Li2CO3 600 - 700 Gás natural/Carvão

5. Óxido Sólido SOFC ZrO2/Y2O3 800 - 1.000 Gás natural/Carvão

1.8.1 - Ácido Fosfórico (Phosphoric Acid Fuel Cells - PAFC)

Este é o tipo de célula a combustível que está mais desenvolvido[3] comercialmente e

que se encontra em uso e em diversas aplicações, tais como hospitais, hotéis, edifícios,

escolas, etc. As células a combustível de ácido fosfórico têm eficiência superior a 40% na

geração de eletricidade e parte do vapor produzido é empregado na cogeração, podendo ser

observado um rendimento bastante alto, se comparado com o das máquinas de combustão

interna, que é de aproximadamente 30%. As temperaturas de operação encontram-se em torno

de 200 oC e este tipo de célula pode ser utilizado também em veículos pesados, como por

exemplo, ônibus. Sua faixa de aplicação em sistemas estacionários é da ordem de 5 – 500

kW[15], mas já foram testadas unidades capazes de gerar cerca de 1 MW de potência.

Este tipo de célula utiliza ácido fosfórico como eletrólito e os eletrodos são os mesmos

de difusão gasosa (EDG), confeccionados por partículas de carvão ativo, dopado com platina.

Algumas das principais características desse tipo de célula a combustível são:

• Aplicação somente estacionária;

• Eficiência elétrica de aproximadamente 42%;

• Insensíveis a CO até 1%;

• O combustível empregado pode ser o gás natural reformado;

• Maior desenvolvimento tecnológico;

• Temperatura média de operação de aproximadamente 200 °C;

• Potências elétrica e térmica aproximadamente de, por exemplo, 200 kW elétricos

e 200 kW térmicos; podendo ser qualquer potência.

17

Exemplificando uma aplicação desse tipo de célula a combustível, pode-se citar que,

enquanto um processo consome, por exemplo, 30.000 m3/h de gás natural, um sistema a

células a combustível de 200 kW, com uma eficiência total de 40%, consome apenas 50 m3/h

do mesmo combustível[4] para produzir o mesmo trabalho.

A reforma do gás natural, que ocorre dentro do reformador, tem como objetivo obter o

hidrogênio como gás combustível de alimentação da célula. As reações que ocorrem dentro

do reformador foram representadas anteriormente em (1.17), (1.18) e (1.19).

Em temperaturas baixas, o ácido fosfórico pode se tornar um mau condutor iônico,

ocasionando assim a contaminação da platina dos eletrodos com monóxido de carbono,

conhecido como envenenamento por CO.

Uma vantagem deste tipo de célula a combustível é a utilização de hidrogênio impuro,

ou seja, pode-se utilizar uma mistura de gases que contenham hidrogênio, como por exemplo,

o gás natural e de biomassa, tolerando, assim, concentrações de 1,5% de CO[4]. As

representações para esse tipo de célula já foram apresentadas anteriormente pelas reações

(1.1) a (1.3).

Um dos maiores projetos de células a combustível, é o Programa de Demonstração do

Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Esse programa implantou cerca de 30 PAFCs

em uma variedade de aplicações inclusive fábricas, hospitais e hotéis[18]. Um valor típico de

custo de célula a combustível de ácido fosfórico oscila entre US$ 4.000,00 a US$

4.500,00/kW[19]. A maior célula a combustível sendo testada com essa tecnologia tem a

capacidade de geração de 11 MW e está localizada no Japão[4].

1.8.2 - Polímero Sólido ou Membrana de Troca de Prótons (Proton Exchange

Membrane Fuel Cells - PEMFC)

Estas células operam em baixas temperaturas, de aproximadamente 70 a 100 ºC, têm

alta densidade de potência, variam sua saída rapidamente para satisfazer trocas de demandas

de potência, e são adequadas para aplicações onde se requer uma demanda inicial rápida,

como acontece em automóveis.

A célula PEM pode ser considerada como a referência às células a combustível, tendo

como eletrólito uma membrana trocadora de prótons. Essa membrana é constituída pelo

polímero Nafion®. Este polímero é capaz de conduzir apenas os prótons na forma de íon

18

H3O+. Isso faz com que todos os elétrons envolvidos na reação sejam conduzidos pelo circuito

externo, ocorrendo o efeito desejado. A seguir apresenta-se a estrutura do Nafion, que é um

polímero perfluorado (átomos de flúor no lugar do hidrogênio) com grupos sulfonados

polares, como ilustra a figura 1.6.

Figura 1.6 - Fórmula Estrutural do Nafion.

O princípio básico de funcionamento de uma célula a combustível PEM é:

a) no anodo, as moléculas de hidrogênio perdem seus elétrons e formam íons de

hidrogênio (H+), processo que é realizado por meio de catalisadores7 de platina;

b) os elétrons tendem a migrar em direção ao catodo por meio do circuito externo, o

que produz eletricidade;

c) os íons de hidrogênio passam para o catodo pela membrana de troca de prótons, os

quais unem-se às moléculas de oxigênio e elétrons, para produzir água;

d) no processo não há contaminação, e os únicos resíduos são água e calor.

Um importante avanço tecnológico foi a impregnação da camada catalítica com

solução de Nafion®. Isto possibilitou a redução da carga de platina (Pt) necessária para o

mesmo desempenho, diminuindo-a de vários gramas para frações de miligrama por

centímetro quadrado. O custo da célula deixou então de ser determinado pela quantidade de

platina. Este tipo de célula apresenta as seguintes características:

• Maiores densidades de potência e a menor relação peso/volume, possibilitando

aplicações móveis;

19

• O gerenciamento do eletrólito é mais simples, porém o da água é mais

complicado;

• São sensíveis a CO;

• Trabalham em baixa temperatura (70 a 100 °C);

• São robustas.

Atualmente as PEM são as mais comercializadas e com custos mais baixos do que

qualquer outro tipo de célula. Também são as principais candidatas a aplicações em veículos,

edifícios e aplicações de pequeno porte. Espera-se que o uso destas células para o emprego

em veículos seja da ordem de US$ 400,00/kW[20]. Diversas unidades na faixa de 25 kW já

foram instaladas. Entre as empresas destacam-se a Ballard (Canadá), De Nora (Itália),

Siemens (Alemanha) e a empresa de energia da França (EDF), que trabalha

experimentalmente na faixa de 250 kW.

1.8.3 - Carbonato Fundido (Molten Carbonate Fuel Cells - MCFC)

As células a combustível de carbonato fundido que têm como eletrólito o K2CO3

tendem a mostrar-se com altas eficiências na relação combustível/eletricidade e tendências em

consumir combustíveis à base de carbono e que operam em temperaturas na ordem de 650 oC.

Em 1996 foram implantadas na Califórnia as primeiras células desse tipo para demonstração.

As suas principais características são[2], [4], [18]:

• Apresentam uma matriz de LiAlO2 em pó, a qual lhe confere consistência;

• Possuem misturas de carbonatos de carbonato de lítio (Li2CO3) ou carbonato de

potássio (K2CO3) que têm o ponto eutético8 entre 488 e 498 °C, e Li2CO3 ou

Na2CO3, que são menos volátil e mais condutora, porém com um ponto eutético

mais alto;

• Têm elevada eficiência teórica máxima;

• O combustível é o gás natural reformado;

• Trabalham a alta temperatura (aproximadamente 600°C);

7 É uma substância que aumenta a velocidade de reação, diminuindo a energia de ativação necessária para os reagentes atingirem o complexo ativado. 8 É o ponto de menor temperatura de fusão dos carbonatos, quando se variam as concentrações de um em relação ao outro.

20

• São insensíveis a CO;

• Suas aplicações são só estacionárias; potências na ordem de 200 a 300 kW;

• A reforma do gás natural se dá parcialmente na própria célula;

• Apresentam capacidade de cogeração: eletricidade e calor de processo.

As reações são apresentadas a seguir. No anodo o processo que envolve as reações

entre o hidrogênio e os íons de carbonato ( 23CO− ) do eletrólito produzem água e gás carbônico

( 2CO ), enquanto os elétrons são migrados para o anodo. No catodo, o processo combina

oxigênio e gás carbônico ( 2CO ), com produção de elétrons do íon ( 23CO− ) contidos no

eletrólito.

−− ++→+ 2eCOOHCOH 222

32 (1.20)

−− +→+ 2e2COCOCO 22

3 (1.21)

2322 2CO4eO2CO −− →++

_________________________________ (1.22)

OHCOOCOH 2222 +→++ (1.23)

Pode-se dizer que uma das vantagens deste tipo de célula é a transformação de gás

natural e biogás (gases ricos em metano) em hidrogênio, no interior do compartimento do

anodo, e também utilizar o CO como combustível[12]. A temperatura possibilita que as reações

sejam rápidas e eficientes, tendo como resultado a conversão direta do gás natural em vapor

d'água, dióxido de carbono, calor e eletricidade. A alta temperatura nas MCFC’s tem como

agravante a diminuição da resistência dos componentes da célula, reduzindo-se a sua vida útil.

Os esforços de desenvolvimento das MCFC’s estão voltados para reduzir os custos e

aumentar a vida dos componentes da célula em ambientes de alta temperatura dentro da

célula. Sistemas baseados em tecnologia MCFC estão sendo esperados para estar disponíveis

dentro de cinco anos, com custos variando de US$ 2.000,00 a US$ 3.000,00/kW. Os objetivos

de mercado para a tecnologia MCFC incluem os pequenos sistemas de geração distribuídos,

como também sistemas de cogeração em tamanhos de 0,1 a 2,0 MW[18].

21

1.8.4 - Óxido Sólido (Solid Oxid Fuel Cells - SOFC)

Este tipo de célula a combustível é altamente promissora, e pode ser utilizada em

aplicações de grande escala e alta potência, incluindo estações de geração de energia elétrica

em escala industrial. Alguns setores que desenvolvem este tipo de célula a combustível

também prevêem o seu uso em veículos. Uma célula de 100 kW foi projetada na Europa

(Westervoort - Holanda). Entre outras instalações está o sistema híbrido de 320 kW (SOFC e

turbina a gás) na Alemanha. Um sistema que utiliza a tecnologia de óxido sólido normalmente

utiliza um material cerâmico no lugar de eletrólito líquido, permitindo que a temperatura de

operação alcance 1.000 oC[21], e a eficiência de geração de energia possa alcançar cerca de

60% a 85%, quando agregada com a cogeração[10], [19] ,[22]. Um inconveniente deste tipo de

célula é o preço da substância que constitui o eletrólito (ZrO2/Y2O3) ser extremamente caro,

cerca de US$ 1.000,00/kW.

Nas reações a seguir, o hidrogênio ou o monóxido de carbono (CO) reage com os íons

óxidos (O2-) do eletrólito, produzindo água ou dióxido de carbono (CO2), depositando os

elétrons no anodo. Os elétrons migram para fora da célula a combustível por meio da carga, e

retornam ao catodo, por onde o oxigênio do ar aceita os elétrons e os converte em íons óxidos

para serem injetados no eletrólito. As etapas que envolvem as reações (1.24) e (1.25 anodo),

(1.26 catodo) e (1.27) e (1.28 geral) no anodo, interface anodo/catodo, no catodo, e geral para

esse tipo de célula são:

222 HCOOHCO +→+ (1.24) −+→+ e2OHOH 222 (1.25)

21/ 2O 2e O− −+ → (1.26)

OHOH 222/12 →+ (1.27)

1/ 2 2 2CO O CO+ → (1.28)

As SOFC’s podem utilizar o monóxido de carbono diretamente como combustível,

tolerando também o uso de combustíveis com maiores concentrações de enxofre. Este tipo de

célula combustível usa cerâmica e óxido de zircônio sólido como eletrólito. O eletrólito da

SOFC é formado por zircônia (óxido de zircônio) estabilizada com ytria, em uma membrana

de 50 a 150 μm. Os eletrodos das SOFC’s são sólidos e os materiais que se utilizam para a sua

confecção no atual estado da arte são: Cermet9, finamente disperso de ytria e zirconia

9 Partículas de níquel e zircônia da ordem de micrômetros.

22

estabilizada (de 0,1 a 1,0 μm) e Ni (de 5 a 10 μm) no anodo, e manganato de lantânio dopado

com estrôncio (La(Sr)MnO3). O eletrodo deve ser poroso, ter espessura de 200 μm e boa

mobilidade para O2- associada à condutividade eletrônica moderada. Esta última limita a

espessura de filmes finos, minimizando a resistividade lateral, no catodo[4], [15]. As principais

características de uma SOFC são:

• Cromito de Lantânio (LaCrO3). Este material é estável contra ataque oxidativo e

redutivo no potencial da célula e à temperatura de operação;

• Alta volatilidade do cromo (Cr), que contamina a zircônia;

• Alta eficiência teórica máxima;

• Aplicação estacionária;

• Possibilidade de uso de vários combustíveis primários (biogás, gás sintético, gás

natural, etc.);

• Trabalham a alta temperatura (de 800 a 1.000 °C);

• Reforma do combustível primário se dá parcialmente na própria célula;

• Capacidade de cogeração de eletricidade e calor de processo;

• Baixas emissões de NOx e SOx

• São insensíveis a CO e CO2.

Os dois tipos de SOFC empregados são as tubulares, que são fabricadas pela Siemens

Westinghouse Power (SWPC) e algumas empresas japonesas, e a planar, que continua sendo

fabricada em pequena escala, pelas empresas GE, Ceramatec, Ztek, etc. Com a redução de

custos, há uma grande tendência de competitividade na geração de eletricidade por parte das

células, com outras formas de geração de energia, além de que pode ser mais um vetor na

matriz energética de qualquer país.

De uma forma geral, tanto as SOFC quanto as MCFC podem funcionar com

hidrogênio puro, mas estas não foram desenvolvidas com este fim, pois esse combustível tem

seu custo alto e é de difícil manuseio. Como esses tipos de células trabalham com

23

temperaturas elevadas, o calor produzido pode ser aproveitado diretamente pelo reformador,

promovendo a aceleração das reações e a possibilidade de ser aproveitado em cogeração[4].

Os esforços para desenvolvimento das SOFCs estão enfocados em reduzir custo

industrial, melhorando a integração do sistema, e baixando a temperatura operacional para a

faixa de 550 a 750 oC[18].

1.8.5 - Alcalinas (Alkaline Fuel Cells - AFC)

Utilizadas desde muito tempo pela National Aeronautics and Space Administration -

NASA em missões espaciais, este tipo de célula pode alcançar cerca de 70% de eficiência na

geração de eletricidade. Até pouco tempo os custos para aplicações comerciais eram altos,

mas as empresas estão tentando diminuir esses custos e melhorar a flexibilidade em sua

operação.

Este tipo de célula combustível tem como eletrólito o hidróxido de potássio (KOH) em

fase aquosa, onde o íon hidroxila (OH-) é transportado pelo eletrólito. Os eletrodos utilizados

são do tipo eletrodo de difusão gasosa (EDG) e os gases de alimentação (H2 e O2) devem ser

puros. Hoje essas células usam metais nobres, 30 a 45% de hidróxido de potássio (KOH) e

operam de 60 a 80 °C e 1,0 a 2,0 atm, com potência na faixa de 0,3 a 5,0 kW; têm como

características principais à operação em meio básico, sendo que CO e CO2 têm caráter ácido.

Por isso, a presença destes elementos, mesmo em pequenas quantidades (quando da reforma

de combustíveis primários), provoca sua reação com os íons OH- transportados pelo eletrólito.

As reações químicas que ocorrem na AFC são descritas com a ajuda de (1.29) a (1.31).

Ocorrem quando os íons hidroxila (OH-) migram do catodo para o anodo. No anodo, o

hidrogênio reage com os íons (OH-) para produzir água e liberar elétrons. Os elétrons gerados

no anodo circulam pelo circuito externo, voltando logo após para o catodo, e os elétrons

reagem com o oxigênio e a água para produzir íons hidroxila para difundirem-se no eletrólito.

−− +→+ e2OH2)OH(2H 22 (1.29)

1/ 2 2 2 2( )O H O e OH− −+ + →

_________________________________ (1.30)

OHOH 222/12 →+ (1.31)

24

Algumas características da AFC são:

• Apresenta grandes aplicações no campo espacial,assim como notável avanço em

aplicações terrestres, móveis e estacionárias;

• Apresenta redução de O2 em presença de eletrólito alcalino, por ser mais

favorável do que em outros eletrólitos. Assim sendo, tem maior eficiência

energética;

• Apresenta alternativa à reforma de hidrocarbonetos como combustíveis

primários e à reforma da amônia (NH3) ou da hidrazina (N2H2), pois estas não

geram CO e CO2 residuais;

• Apresentam problema de formação de água no eletrólito devido à reação dos

gases de alimentação com os íons OH-. Este fato requer que se remova a água

excedente do eletrólito, porém mantendo o KOH. As formas mais comuns de

remoção se dão por meio de eletrólito circulante e eletrólito estático[4].

1.8.6 - Metanol Direto (Direct Methanol Fuel Cells - DMFC)

Este tipo de célula quebra a regra de designação por eletrólito, tomando a designação

do combustível utilizado: o metanol. O eletrólito normalmente utilizado neste tipo de células é

a membrana polimérica (PEM). São tecnologicamente distintas das restantes, pois trabalham a

baixas temperaturas e não utilizam o hidrogênio como combustível final, sendo, em vez do

H2, o metanol utilizado como combustível e diretamente alimentado à célula. No entanto,

estas células têm ainda alguns obstáculos a vencer. Para obterem correntes elevadas, é

necessária uma quantidade excessiva de platina, e o metanol atravessa do anodo para o catodo

através da membrana, diminuindo a eficiência energética da célula. Conseguem converter

mais de 34% da energia contida no metanol em energia utilizável, o que é um rendimento

superior aos que se conseguem em motores a gasolina. Neste tipo de células a combustível

não ocorre oxidação do hidrogênio. A grande vantagem das DMFC é que utilizam metanol

como combustível líquido.

Nas células mais modernas, eletrólitos baseados na condução de prótons através de

membranas poliméricas são cada vez mais utilizados, desde que sejam compatíveis com as

pressões e temperaturas de funcionamento. As reações são descritas de (1.32) a (1.34):

25

−+ ++→+ e6H6COOHOHCH 223 (1.32)

OH3e6H6O 222/3 →++ −+

________________________________ (1.33)

3 3 / 2 2 2 2CH OH O 2H O CO+ → + (1.34)

Ao gerar a corrente elétrica, o metanol (CH3OH) é oxidado eletroquimicamente no

anodo para produzir elétrons que passam para o catodo através do circuito externo, onde são

consumidos com o oxigênio na reação de redução, mantendo-se o circuito através da

condução de prótons para o eletrólito.

1.8.7 - Regenerativas (Regenerative Fuel Cells - RFC)

A RFC tem como conceito básico situar-se entre uma célula a combustível e uma

bateria, pois o sistema é baseado no armazenamento e fornecimento de energia. As células a

combustível regenerativas[23], [24] foram recentemente desenvolvidas para aplicações de

produção de energia elétrica, fazendo uso da eletrólise da água, com a vantagem de ser uma

forma de energia completamente limpa. Produzem hidrogênio através de água líquida e de

energia elétrica proveniente de fontes renováveis. O hidrogênio assim produzido é

armazenado e posteriormente utilizado como combustível em uma célula a combustível de um

dos tipos descritos anteriormente. A água, enquanto subproduto da produção elétrica da célula

a combustível, pode ser novamente utilizada para a eletrólise. As RFC’s, na verdade, não são

um dispositivo de produção de energia. O sistema é baseado numa tecnologia de

armazenamento e fornecimento de energia.

O sistema fechado das RFC’s tem a vantagem de permitir a instalação de um sistema

de células a combustível sem necessidade de infra-estrutura (grandes tanques de

armazenamento) para o hidrogênio. A energia requerida pela eletrólise é elevada, implicando

no aumento do tamanho dos equipamentos ou diminuição da potência dos equipamentos.

As reações eletroquímicas entre os eletrólitos, por exemplo, sais de brometo de sódio

ou vanádio e polisulfato de sódio, que ocorrem dentro da célula em compartimentos para cada

eletrólito, separados por uma membrana de troca de íons, são as responsáveis pelo

fornecimento de energia elétrica. Os dois tanques são responsáveis por armazenar os

eletrólitos (sais) e, por meio de bombas, são levados até a célula propriamente dita, onde

26

ocorre à produção de energia elétrica. A capacidade de armazenamento de energia é limitada

pela dimensão e quantidade de depósito para o eletrólito. Quanto mais horas de fornecimento

de energia, maior deve ser o sistema de armazenamento. Esse tipo de célula é ilustrado na

figura 1.7.

Figura 1.7 - Esquema de Funcionamento de uma Célula a Combustível Regenerativa.

1.9 - Aplicações Principais

Nos anos 1960 e 1970, houve um grande impulso no desenvolvimento de células a

combustível, com maior interesse de aplicação em geração de eletricidade, principalmente

quando o programa espacial norte americano escolheu as células a combustível em lugar de

geração nuclear e solar, o que na época era bastante oneroso. Devido ao agravamento da crise

do petróleo, que levou ao problema energético mundial, o interesse no desenvolvimento de

células a combustível tornou-se maior, pois as células demonstravam excelente desempenho

nas missões espaciais. Entretanto, pelo seu alto custo, desestimulavam qualquer tentativa de

aplicação terrestre. Mesmo assim, começaram a ser estudadas e vistas como um sistema

viável para aplicações em larga escala, por suas vantagens e características[25].

Dentro de um enfoque mais amplo, nota-se o emprego da tecnologia de células a

combustível em diversos sistemas com variados tipos de aplicação, tais como geração de

eletricidade para diversas aplicações (hospitais, residências, pequenos comércios, etc.),

aplicações em transportes (veículos terrestres e marítimos), aplicações espaciais, e também

está sendo avaliada para aplicações em telecomunicações, dentre outras.

Devido ao atual estágio de desenvolvimento e às diversas vantagens apresentadas

pelas células a combustível, principalmente na variedade de opções de combustível de

alimentação, que pode ser obtido de diversas formas, além da possibilidade de sua associação

com outras fontes de energia, fez com que os Estados Unidos anunciassem a grande

27

importância das células a combustível serem alimentadas com hidrogênio obtido diretamente

a partir do gás natural, com o uso integrado do carvão por meio da gaseificação[26].

Segundo Steinfeld et all[26], para demonstrar a aplicação da célula a combustível com

outras fontes de energia, a FuelCell Energy Inc. (FCE), contando com o apoio do

Departamento de Energia dos Estados Unidos, estava construindo uma planta de geração de

energia com uma célula de 2,0 MW, a partir do gás derivado do carvão com base tecnológica

na Direct Fuel Cell (DFC) e a partir desse projeto, denominado “carvão limpo”, demonstrar o

emprego da gaseificação integrada com célula a combustível, na geração de energia.

Pode-se verificar alguns exemplos de aplicação de células a combustível instaladas

mundialmente por diversas empresas do ramo, conforme mostrado na tabela 1.2.

Tabela 1.2 - Fabricantes e Aplicações de Célula a Combustível

Fabricante/Distribuidor Descrição UTC (IFC/ONSI) Cerca de 200 sistemas de 200 kW instalados em todo o mundo Plug Power/GE Sistema de 7,0 kW com aplicação residencial - EUA Siemens Westinghouse Sistema SOFC de 250 kW - Noruega Plug Power (H-Power) Sistema PEMFC de 10 kW – EUA Fuel Cell Energy Vários sistemas experimentais de 0,3 MW e 3,0 MW Ballard Power Systems Sistema de 250 kW – Alemanha

1.10 - Comparação com Outras Tecnologias Alternativas

Em uma breve comparação de tecnologia de células a combustível com outras

tecnologias de geração de energia elétrica, pode-se dizer que o impacto desse sistema de

geração de energia sobre o meio ambiente é mínimo[2]. Tomando como exemplo automóveis

movidos a partir de células a combustível, em fase de testes, se comparados com automóveis

elétricos movidos a baterias, oferecem algumas vantagens sobre estes últimos, pois podem ser

reabastecidos de combustível rapidamente, e sua autonomia é maior do que a de carros

elétricos. Também, os carros movidos a células a combustível produzem pouca emissão de

poluentes.

Com relação à eficiência, a maioria das células a combustível produz mais energia

elétrica com menos combustíveis que os sistemas de geração de energia baseados em

máquinas térmicas. Alcançam eficiências superiores a 50%, mesmo em tamanhos

relativamente pequenos (5,0 - 10 kW). Quando os sistemas híbridos [18] empregam as células a

combustível como uma das fontes geradoras, podem alcançar cerca de 75% de eficiência,

contribuindo assim para a redução das emissões de gases que provocam a mudança climática

28

e o efeito estufa por cada kWh gerado. Podem também, de certa forma, reduzir a dependência

dos combustíveis fósseis.

Uma comparação de eficiência e emissão de poluentes de células a combustível

integradas com gaseificação e/ou turbina com outros sistemas de geração de energia pode ser

realizada com base nas figuras 1.8 e 1.9[2], [18], [26]. Além dos benefícios ambientais, as células

a combustível produzem praticamente nenhuma emissão de contaminantes (NOx, SOx, CO e

hidrocarbonetos) com baixo nível de ruído[2], [18], e apresentam características que possibilitam

a geração distribuída [20].

Analisada a figura 1.8 nota-se que a eficiência das células a combustível operando

isoladas é da ordem de 40% a baixa temperatura, 60% em alta temperatura e chegando até

mesmo na ordem de 75% se acopladas com turbinas, em tamanhos de até 50 MW. Na figura

1.9, observa-se a baixíssima emissão de poluentes associada aos sólidos em suspensão,

quando as células a combustível estão integradas à gaseificação.

Figura 1.8 - Comparação de Sistemas de Células

a Combustível com outras Fontes[2].

29

Figura 1.9 – Comparação de Impacto Ambiental de Célula a Combustível

Integrada com Gaseificação com outras Fontes de Geração[26].

Os sistemas de geração de energia baseados em células a combustível, quando

comparado com outras tecnologias, podem satisfazer as necessidades essenciais, contribuir

para o aumento de potência e preservar o meio ambiente[17], conforme recomendado pela

Conferência de Kyoto, em 1997. Além de algumas vantagens já apresentadas anteriormente,

podem-se destacar outras, como[4]:

• Alta eficiência energética;

• Alta confiabilidade;

• Baixo ou nenhum nível de emissão, isto é, quase nenhum poluente; muito baixo

impacto ambiental;

• Versatilidade de potências, podendo variar de alguns kW até MW;

• Pode utilizar reagente renovável;

• Possibilidade de geração descentralizada, isto é, microgeração;

• Possibilidade de cogeração, dependendo do tipo de célula a combustível;

• Possibilidade de construção modular, conferindo grande flexibilidade;

• São mais silenciosas que os motores a combustão interna.

30

Também, podem-se listar algumas desvantagens das células a combustível, tais como:

• Alto custo;

• Não vale a pena ter geração de alta potência, como a de uma grande usina hidrelétrica,

pois não há ganho de escala;

• Necessidade de reforma de alguns combustíveis primários para a obtenção de

hidrogênio.

1.11 - Conclusão

De forma bem sucinta, as células a combustível são dispositivos eletroquímicos

capazes de converter a energia química armazenada nos elementos químicos (H2, CH4,

CH3OH, etc.) em eletricidade, calor e água.

As células a combustível classificam-se conforme o tipo de eletrólito utilizado,

podendo ser agrupadas conforme a faixa de temperatura. As células a combustível de baixa

temperatura são as alcalinas, as de polímero sólido e as de ácido fosfórico. As que apresentam

elevada temperatura são as de carbonato fundido e de óxido sólido.

As AFC’s utilizam o KOH como eletrólito e foram utilizadas no programa espacial

americano. As PAFC’s utilizam como eletrólito o H3PO4 em alta concentração. No momento,

são as mais desenvolvidas para aplicações estacionárias (produção de energia). As MCFC’s

utilizam como eletrólito o LiCO3 ou o KCO3 estabilizados com AlO2. Essas células chegam a

alcançar 50% de eficiência elétrica ou até 70%, quando integradas com outras fontes de

geração de energia elétrica. As PEMFC’s utilizam como eletrólito uma membrana trocadora

de prótons, o Nafion. Essas células possuem potências variando de 50 a 250 kW e são as

principais candidatas a serem utilizadas em veículos e pequenas aplicações residenciais. As

SOFC’s utilizam um material de óxido sólido como eletrólito (ZrO2). Esse tipo de célula

alcança eficiência na ordem de 70%, com seus protótipos atingindo potências de até 1,0 MW,

e permitindo realizar a reforma interna do combustível.

O principal combustível das células é o hidrogênio, podendo ser fabricado de várias

formas. Entre elas está o reformador de misturas gasosas que contenham o hidrogênio.

Os custos de fabricação das células a combustível ainda são elevados, limitando dessa

forma a sua penetração no mercado de energia.

31

As primeiras três unidades de células a combustível vendidas pela empresa

International Fuel Cell (IFC), hoje UTC (United Technologies Company), para o Brasil,

foram instaladas pelo LACTEC/PR, com uma potência instalada de 200 kW cada.

32

Capítulo 2

Aplicação da Geração de Energia Elétrica via Célula a Combustível

2.1 - Princípios Utilizados

Dentre as tecnologias de desenvolvimento de células a combustível, as mais

promissoras e adequadas para geração de energia elétrica são as de baixa temperatura de

operação: membrana polimérica (PEMFC) e ácido fosfórico (PAFC) e as de altas

temperaturas: óxido sólido (SOFC) e carbonato fundindo (MCFC). Com grande perspectiva

de crescimento e avançado desenvolvimento tecnológico estão as células a combustível do

tipo membrana polimérica (PEMFC) para geração de eletricidade de vários kW de potência

para residências.

Das unidades que estão em operação, o preço do kW está em torno de US$ 3.000,00,

para células a combustível do tipo (PAFC)[4]. Segundo Ellis et all[18], uma célula a

combustível empregada para uma aplicação em edifício comercial típico, onde o fator de

carga elétrica é 50% e onde 30% da energia térmica disponível da célula a combustível pode

ser usada para aquecimento, com um valor de custo do gás natural a US$ 0,176/m3 e um preço

de célula a combustível de US$ 1.000,00/kWe, esse sistema pode produzir eletricidade a um

preço abaixo de US$ 0,08/kWh que é competitivo com a distribuidora de energia em muitas

regiões dos EUA.

Mais de 200 sistemas do tipo PAFC de 200 kW elétrico e 260 kW térmico a uma

temperatura de 60 oC e com dimensões de aproximadamente 3 m de largura, 5,5 m de

comprimento e 3 m de altura já foram instalados em todo o mundo. Embora estejam em uma

fase inicial de desenvolvimento, os sistemas SOFC’s de 100 kWe e sistemas MCFC’s também

estão sendo desenvolvidos[18].

As tecnologias como AFC utiliza o H2, como combustível, enquanto que as PAFC,

SOFC e MCFC podem utilizar mistura gasosas como combustível. As células que utilizam

misturas gasosas (CO, CO2, hidrocarbonetos e vapor d’água), gás natural, metanol, etc, como

combustível necessitam de uma reforma interna para a mistura gasosa e que pode ser feita

dentro da própria célula, ou seja, dentro do corpo da célula (para altas temperaturas de

33

operação) e com auxílio de um reator químico separado da célula pode-se ter o

aproveitamento para as células a combustível que operam em baixas temperaturas. As reações

(hidrocarbonetos) podem ser observadas a seguir, nas reformas do metano e hidrocarbonetos,

respectivamente. As reações de reforma[27] e oxidação do metano e reforma de

hidrocarbonetos podem ser vistas por meio das reações anteriormente citadas (1.17), (1.18) e

(1.19). Na reforma do gás deve prevalecer uma mistura composta de aproximadamente 4/5 de

H2 e 1/5 de CO2, com baixo teor de CO, ou seja, menor que 1%[15].

222nm2n H)nn2(nCOOH2HC ++→+ reforma de hidrocarbonetos (2.1).

Nos Estados Unidos e Europa, projetos de desenvolvimento de células a combustível

estão crescendo na área de aplicações estacionárias por parte de empresas de energia elétrica

para geração distribuída. As células a combustível, quando usadas em aplicações de geração

distribuída[20], evitam os custos e perdas de distribuição de energia quando está associada com

a geração centralizada. A Ballard desenvolveu uma célula a combustível de 1 kW alimentada

com gás natural para suprir as necessidades básicas tanto de eletricidade quanto de calor em

residências. As primeiras unidades dessas células foram lançadas no mercado a partir de

2004[28].

Hoje as células a combustível alcançam eficiências até 90% quando o calor liberado é

utilizado para outros fins[29]. Com as eficiências aumentadas, permite-se reduzir custos e

eliminar perdas de transmissão e/ou distribuição, implicando em serviços mais eficientes

capazes de atender o consumidor. Os benefícios ambientais das células a combustível são

algumas das principais razões que estimulam seu desenvolvimento. Estes benefícios incluem

em zero ou quase zero as emissões [2] de contaminantes (NOx, SOx, CO e hidrocarbonetos)

com um baixo nível de ruído [18].

A participação das células a combustível na geração distribuída, vem merecendo seu

destaque ao uso do gás natural como combustível de alimentação, que aliada ao reformador

do gás integrado ao sistema, oferecem uma forte sustentação às fábricas que utilizam-se de

turbinas a gás de ciclo combinado integradas às células a combustível.

Com o atual estágio de desenvolvimento tecnológico das células a combustível, com

promessas para um futuro próximo, reduzir drasticamente os custos, presença na aplicação de

diversos setores, principalmente residencial e com tendência de descentralização no setor

elétrico brasileiro com a entrada em vigor da Lei 10.384, que criou, entre outros, o Programa

34

de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), percebe-se em breve que as

células a combustível, principalmente as de baixa potência, serão bastante competitivas no

mercado de geração distribuída.

Em aplicações distantes sem acesso a gás natural, como é o caso da região amazônica,

as células a combustível para geração de eletricidade podem operar com uma variedade de

combustíveis primários entre os quais metanol, metano, propano, ou outros álcoois; elementos

estes, contidos na biomassa. Pode-se, também, optar, por exemplo, pela mistura gasosa

proveniente da gaseificação da biomassa.

O uso de carvão, biomassa, metanol, etanol, ou outros hidrocarbonetos como

combustíveis primários podem alimentar perfeitamente as células a combustível de óxido

sólido e de carbonato fundido, pois podem oxidar carbono e hidrogênio no compartimento do

anodo. Estudo realizado por SILVEIRA[30] mostra bons resultados com o uso de metano e

etanol em células a combustível do tipo carbonato fundido.

Para cada tipo de célula a combustível, pode-se configurar o sistema nos diversos

segmentos de mercado com características variáveis. Cada um dos vários tipos de célula a

combustível podem ser configurados em um sistema que enfoca nos segmentos de mercado

favoráveis às suas características. A figura 2.1 identifica o atual segmento do mercado mais

procurado por sistemas de célula a combustível, as metas de custo para cada um dos

mercados, e os tipos de célula a combustível que tendem para um mercado particular. A

construção de células a combustível de baixa temperatura estão sendo voltadas para

aplicações portátil, residencial e de transporte. As células de carbonato fundido e de óxido

sólido (temperaturas mais altas) que são de alta eficiência, estão enfocando nas aplicações de

geração estacionária de grande porte (10 a 50 MW). Acredita-se que sistemas de célula a

combustível de pequeno porte enfrente o problema de maior custo; no entanto penetração no

mercado e produção em massa será exigida para superar o desafio de custo[2].

35

Figura 2.1 - Mercado de Aplicações de Vários Tipos de Células a Combustível[2].

2.2 - Aspectos Relacionados com os Insumos para a Alimentação da Célula

O Brasil tem seu papel importante pela substituição dos combustíveis derivados do

petróleo por outras formas de geração de energia. Direcionar esforços no sentido de produzir

energias alternativas a partir de matérias primas nacionais e renováveis, com equipamentos e

tecnologias brasileiras e a custos de produção relativamente vantajosos, são algumas das

prioridades dentro do contexto nacional. Já existe uma certa tradição no emprego dos recursos

renováveis no Brasil, onde a lenha, o bagaço de cana e o carvão vegetal contribuem com cerca

de 30% do consumo energético nacional.

Dentre as diversas maneiras de alimentação de células a combustível, o gás natural

apresenta-se bastante cotado para esse fim. Em locais onde existe a exploração do gás natural,

é bastante conveniente, dependendo da necessidade energética, poder optar pelo tipo de

geração por meio de células a combustível. No entanto, para a aplicação em questão, o gás

natural requer primeiramente a sua exploração e transporte até os centros consumidores.

Contudo assumindo-se que a maioria das localidades da Amazônia não tenha acesso, em curto

prazo ao gás natural, pode-se então optar pela alimentação via gaseificação e/ou biodigestão

de resíduos regionais para a obtenção do gás combustível. A mistura de gases proveniente da

gaseificação/biodigestão é uma mistura de hidrocarbonetos, sendo o hidrogênio e o metano

(CH4) os principais elementos de interesse.

O CO2 também está contido na mistura gasosa, porém dependendo do tamanho do

sistema, grandes potências, pode-se optar por eliminar ou não o CO2[31]. Mas, o processo de

eliminação torna o custo mais elevado, devendo-se então fazer uma avaliação de

36

custo/benefício, pois eliminando-se o CO2 pode-se obter um oxidante rico, resultando em

aumento de tensão da célula[30].

2.3 - Caracterização do Condicionamento por meio de Gaseificação e/ou Biodigestão

A diversidade de biomassa existente na região amazônica é bastante vasta. Conta com

as mais variadas espécies de rejeitos abandonados pela grande maioria de empresas

exploradoras de madeiras, castanha-do-Pará, coco da Bahia, cacau, entre outros, que poderiam

ser aproveitados de forma a não agredir o meio ambiente e, principalmente, utilizar na

geração de energia para pequenas comunidades. A forma desse aproveitamento de resíduos

pode, também, contribuir na diminuição de CO2, lançado na atmosfera por empresas que

utilizam o grupo gerador diesel como forma de geração de energia. Outras biomassas também

podem ser aproveitadas para esse fim, como por exemplo, o aguapé e o esterco de animais.

Com uma grande diversidade de biomassa existente na região do Estado do Pará,

pode-se, com estudo prévio, obter grande sucesso na escolha da biomassa como insumo

primário para a gaseificação, que em seguida, a massa gasosa gerada, servirá de combustível

de alimentação da célula a combustível, como pode ser visto em BARRETO[32], que utiliza

um sistema híbrido de célula a combustível de óxido sólido (Siemens Westinghouse) e uma

micro-turbina a gás (Natural Resources Education Center - NREC).

Notadamente, o potencial das células a combustível no Brasil é o de sistemas de

geração de energia elétrica de 5,0 kW a 200 kW para atendimento de pequenas cargas, em

especial do tipo residencial rural, podendo, ainda ser aplicado em instalações bancárias,

hospitais, aeroportos, etc [33].

Segundo o Balanço Energético Nacional 2005 (BEN) [34], ano base 2004, o consumo

energético residencial correspondeu a 248,38 TWh. Somente o setor residencial consumiu

aproximadamente 93,9 GWh de lenha no ano de 2004, representando um aumento de 18,6%

da produção em relação ao ano de 2000. No Estado do Pará foi verificado um consumo

residencial de eletricidade de 1.658 GWh, o que representa 40,89% de todo o consumo da

Região Norte. No setor de consumo final de energético de biomassa (incluindo bagaço de

cana, lenha, outras fontes primárias renováveis, carvão vegetal e álcool), o Brasil alcançou o

valor de 53.356 mil TEP10.

10 Tonelada equivalente de petróleo.

37

Assim, o mercado para as células a combustível de baixa potência tem um grande

poder de penetração, principalmente, nas zonas rurais, por se tratar de grandes indicadores de

elevado potencial de biomassa, principalmente na Região Norte, onde as características

intrínsecas contribuem para a modularidade das células e flexibilidade no uso de combustíveis

para alimentação do gaseificador e posteriormente integrá-la com a célula a combustível. Com

o uso de biomassa, abundante na região, pode-se contribuir para a expansão do setor de

geração de energia elétrica, apresentando certas vantagens de se produzir energia in loco, não

necessitando de armazenamento como na maioria das outras fontes de geração de energia

elétrica. Dependendo de incentivos do governo, as células a combustível passariam a competir

com outras tecnologias como a solar fotovoltaica e a eólica que se encontram mais

desenvolvidas.

2.4 - Conclusão

Foram apresentados os cinco principais tipos de células a combustível mais adequadas

para a geração de energia. Elas variam desde pequenas potências (1 kW) até grandes

potências (200 kW), por exemplo. Os seus custos, ainda nessa fase de amadurecimento

tecnológico, podem variar de US$ 3.000,00 a US$ 7.000,00.

As células a combustível podem ser consideradas muito importantes na integração de

sistemas híbridos de geração de energia, também podem ser aliadas a sistemas de gaseificação

e biodigestão, por exemplo, onde há disponibilidade de recursos renováveis de biomassa.

A integração da célula a combustível com sistemas híbridos (solar, eólico,

gaseificação e biodigestão – por exemplo) aumentariam consideravelmente a relação

custo/benefício, devida a alta eficiência de conversão das células a combustível, como

conseqüência um maior avanço tecnológico dessas fontes.

No atual desenvolvimento tecnológico das células a combustível, os custos são ainda

bastante altos, além da indisponibilidade do combustível de alimentação (H2). A grande

maioria das células a combustível é alimentada por gás natural e havendo possibilidade de

estudo/instalação na região amazônica, Estado do Pará onde não há o gás natural disponível

canalizado e/ou industrializado, opta-se pelo hidrogênio extraído da biomassa local. No

entanto, espera-se nesse estudo, mostrar a viabilidade de funcionamento das células a

combustível alimentada por insumos da região, ainda que os custos iniciais sejam altos, pois,

38

de certa forma, poucas alternativas de geração são apropriadas, sem grandes impactos, no

tocante à emissão de CO2.

Em geral, as comunidades da região Amazônica têm como características principais o

isolamento, o difícil acesso, o abastecimento precário de energia elétrica, quando há, por meio

de grupos geradores diesel, entre outras. No entanto apresentam vastas áreas de plantio e

grande disponibilidade de diversas biomassas que podem servir de suporte à sustentabilidade

da solução proposta. Essa biomassa pode ser aproveitada para a geração de energia de

diversas formas, entre as quais a gaseificação e a biodigestão.

39

Capítulo 3

Alimentação da Célula com Insumos da Região, por

Meio da Gaseificação e Biodigestão

3.1 – Aspectos Gerais da Gaseificação

A biomassa como fonte de energia tem uma conotação moderna dentro do contexto

energético e abrange todo tipo de matéria orgânica de origem animal ou vegetal. Não

obstante, a biomassa, mais especificamente a madeira, constituiu a fonte básica de energia

para a humanidade. Hoje, pode-se concretizar esta como sendo uma fonte alternativa de

energia, para tanto se devem aplicar os conceitos e conhecimentos técnicos-científicos para

obter uma série de benefícios que esta fonte pode proporcionar.

O processo de conversão mais eficiente da energia da biomassa em energia final,

contando todas as perdas de energia na produção de gás combustível, ocorre por meio da

gaseificação da biomassa com posterior utilização do gás combustível[35]. Desta forma,

considerando-se que as eficiências totais da gaseificação estão na faixa de 50% a 80% e

integrando-se com as células a combustível, ter-se-ia grandes vantagens desse sistema

integrado em relação a outros, principalmente em relação à eficiência energética.

A integração do gaseificador com a célula a combustível oferece grandes vantagens,

sendo que o resíduo final gerado (vapor aquecido), dependendo da célula, pode ser usado para

o pré-aquecimento da biomassa utilizada no gaseificador, como também ajuda no pré-

aquecimento do ar utilizado na célula. Normalmente a eficiência do sistema é melhorada

usando-se os produtos de saída de um sistema na alimentação do outro. O gaseificador que

utiliza o oxigênio a baixa pressão, é o que oferece as melhores condições para tal fim, por

gerar baixo teor de gás metano, não sendo necessário utilizar o reformador interno[36].

As indústrias madeireiras, serrarias e movelarias, produzem resíduos a partir do

beneficiamento de toras. Os tipos de resíduos produzidos são casca, cavaco, pó de serra,

maravalha e aparas. As indústrias de alimentos e bebidas produzem resíduos na fabricação de

sucos e aguardente (laranja, caju, abacaxi, cana de açúcar, etc), no beneficiamento de arroz,

40

café, trigo, milho (sabugo e palha), coco da baía, amendoim, castanha-de-caju, etc[37]. Assim,

com todo esse rejeito desperdiçado, pode-se incorporar sistemas de aproveitamento –

gaseificadores, - de resíduos diversos para fins de produção de energia elétrica, tanto para

alimentação da própria indústria, como também para atendimento de residências e pequenos

núcleos urbanos.

Atualmente os processos avançados de gaseificação baseados em leito fluidizado,

apresentam-se como promissores na geração de gases limpos na produção de energia em

ciclos combinados. Desta forma, nota-se um grande potencial energético que pode ser

extraído da biomassa existente em abundância na região. Contudo, resta apenas aproveitá-la

de forma racional para a geração de energia elétrica e de certa forma contribuir para a

diminuição de gases poluentes lançados na atmosfera.

3.2 – Sistema de Gaseificação

O gaseificador[38], [39], [40], [41] é essencialmente um forno, onde se oxida (queima)

madeira ou carvão em condições controladas, tendo como meio oxidante oxigênio (ou ar) e

vapor d’água. As principais reações [42] de processamento podem ser vistas a seguir:

a) Combustão do Carbono

22 COOC ↔+ (3.1).

b) Gaseificação do Carbono

CO2CCO2 ↔+ (3.2);

22 HCOCOH +↔+ (3.3);

222 H2COCOH2 +↔+ (3.4);

42 CHH2C ↔+ (3.5).

A reação de shift (monóxido de carbono e água) também ocorre dentro do

gaseificador, servindo para ajustar a relação hidrogênio/monóxido de carbono. Além das

reações citadas, a ocorrência da reação de metanação (monóxido de carbono e hidrogênio) é

realizada em etapa separada na produção de gás de síntese.

A composição dos gases e as velocidades em que estas reações ocorrem dependem das

condições de operação do gaseificador, da pressão, da temperatura, do tipo de forno de

gaseificação. O gás produzido em sistemas de gaseificação é utilizado como combustível

41

diretamente, ou como matéria-prima para síntese de produtos químicos (metanol ou amônia,

por exemplo). A composição molar dos gases produzidos no processo de gaseificação varia

com o tipo de gaseificador empregado e a espécie da mistura oxidante.

Os gaseificadores podem, em geral, ser agrupados didaticamente em duas categorias:

leito fixo (fluxo contracorrente e fluxo co-corrente) e leito fluidizado.

Os gaseificadores tipo leito fixo, caracterizam-se pelo fato de se ter o combustível

“empilhado”, descendo gradualmente à medida que é consumido. A cinza é retirada pela parte

inferior, e a biomassa é introduzida pela parte superior. É um sistema convencional de

gaseificação.

O gaseificador em co-corrente apresenta uma importante vantagem de forçar os

pirolenhosos a passar pela área de gaseificação, craqueando-os. A biomassa entra por cima e o

ar entra em um ponto intermediário (zona de combustão)[43], [44], [45] e desce no mesmo sentido

da biomassa Os gases depois de passar pelo processo de redução, saem sem entrar em contato

com a biomassa que está entrando, trocando apenas calor para auxiliar o processo de pirólise.

A figura 3.1 ilustra o esquema de um gaseificador em co-corrente.

Figura 3.1 – Esquema Ilustrativo de um Gaseificador Co-Corrente.

No gaseificador co-corrente (chama invertida), os gases quentes produzidos na zona de

reação são removidos pela base juntamente com as cinzas. A biomassa é introduzida no topo e

o comburente introduzido a uma altura pré-determinada do corpo do reator. Com isso os

produtos de pirólise são obrigados a atravessar a zona de reação onde sofrem craqueamento

térmico.

A biomassa depois de gaseificada pode produzir cerca de 60 % de alcatrão que pode

ser craqueado (quebrado) para formar o gás. No gaseificador co-corrente parte do oxigênio é

usado para queimar o alcatrão formado e obter-se um gás com baixo teor de alcatrão. Os

42

componentes e o percentual em volume após a gaseificação a partir da madeira podem ser

vistos conforme tabela 3.1[43], [44], [45].

Tabela 3.1 - Composição Típica do Gás Produzido a Partir de Madeira em Gaseificador de Chama Invertida.

COMPONENTES VOLUME (%) CO2 10 – 15 CO 17 – 22 H2 16 – 20 CH4 2 – 3 CnHm 0,2 - 0,4 N2 45 – 50 PCS (kcal/m3)/(kJ/m3) 1.200 – 1.400/ 5.760 – 5.852

A denominação contracorrente provém do fato de que a carga (biomassa) e o agente

gaseificante entram por extremidades opostas do gaseificador, sendo o sentido de fluxo da

biomassa oposto ao do agente gaseificante. No gaseificador contra corrente o produto (gás

combustível) é retirado pela parte superior e os agentes gaseificantes ar (ou oxigênio) são

injetados pela parte inferior (base) do gaseificador[42], que pode ser observado com a ajuda da

figura 3.2.

Figura 3.2 - Esquema Ilustrativo de um Gaseificador Contracorrente.

No gaseificador em contra corrente (chama direta), os gases quentes produzidos na

zona de reação atravessam os sólidos que descem em contra corrente e promovem a pirólise11

e a secagem destes últimos. Esse processo é o mais simples, uma vez que surgiu do uso da

madeira como carga do gaseificador concebidos para carvão mineral. Os componentes e o

percentual em volume após a gaseificação a partir da madeira podem ser vistos conforme a

tabela 3.2. O gás produzido sai pela parte superior do gaseificador, após atravessar a carga de

biomassa que desce em direção à zona de reação. Com a passagem deste gás quente, a

11 é queima da biomassa na ausência do ar.

43

biomassa passa pelas fases de secagem e pirólise. Em verdade, o que é gaseificado na zona de

reação é o carvão vegetal formado nas regiões superiores do gaseificador.

Tabela 3.2 - Composições Típicas de Gases Produzidos de Madeira em Gaseificadores de Chama Direta.

CARACTERÍSTICAS DA MATÉRIA-PRIMA

GALHOS CAVACOS

Umidade (%) 36,0 36,9 Cinzas (%) 0,8 0,9 Poder Calorífico Superior - PCS (kcal/kg)/(kJ/kg)

3.000 12.540

2.800 11.704

Composição do Gás (%) CO2 6,6 10,0 O2 0,2 0,6 CO 29,0 21,0 H2 13,0 18,2 CH4 4,2 3,6 N2 47,0 46,6

Os gaseificadores tipo leito fluidizado[42], caracterizam-se por utilizar a biomassa em

partículas de pequenas dimensões (5,0 a 7,0 mm), mantidas em suspensão através da injeção

do meio gaseificador (ar ou oxigênio e vapor) que passa pelo leito a uma velocidade suficiente

para fluidizá-lo. A temperatura de saída do gás é aproximadamente 900 oC. Como se trabalha

com partículas de pequeno tamanho, o tempo de residência é reduzido (inferior a 1 minuto), o

que leva a se conseguir elevada produção de gás com vasos de dimensões relativamente

reduzidas. Devido o tipo de tecnologia ser bastante sofisticada e onerosa, esse gaseificador é

somente utilizado a partir de uma potência instalada de 10 MW[46].

Em geral a biomassa utilizada em gaseificadores requer alguns cuidados no seu

manuseio, pois o teor de cinzas e o grau de umidade determinam sua utilização para a

gaseificação. Altos teores de cinzas provocam obstruções nos interiores dos gaseificadores e

um elevado grau de umidade afeta diretamente o poder calorífico inferior. Assim sendo o

ideal é se trabalhar com o teor de 20 a 30 % de umidade[42].

3.3 - Biomassa para Gaseificação

3.3.1 - Madeira

Um breve comentário sobre a análise química elementar mostra que a madeira é

constituída, aproximadamente, de 50% de carbono, 6% de hidrogênio e 44% de oxigênio, e

44

que se mantém mais ou menos constante independente da espécie, diferenças genéticas ou

idade. Quimicamente a madeira é heterogênea constituindo principalmente de três polímeros -

celulose, hemicelulose e lignina12 - numa proporção aproximada de 50:20:30. Outros

componentes da madeira em menor quantidade e de baixo peso molecular chamados

extrativos, são encontrados na casca que engloba terpenos, óleos essenciais, resinas, fenóis,

taninos, graxas e corantes que podem ser vistos nas figuras 3.3 e 3.4.

CELULOSE 40 - 50%

LIGNINA 30 - 40%

H O X%2

CELULÓSE

O

O

O O

OO O

OH

OH

OH

OH

OH

OHCH2OH

CH2OHCH

2OH

Figura 3.3 - Principais Constituintes da Madeira.

COMPOSIÇÃOQUÍMICA

COMPONENTESCELULÓSICOS

COMPONENTES

NÃO CELULÓSICOS

HEMICELULOSE

CELULÓSE

LIGNINA

OUTROS

COMPONENTES

ÁCIDO URÔNICO

PENTOSES XILOSEARABINOSE

HEXOSES GLICOSEMANOSEGALACTOSE

SOLÚVEIS EM SOLVENTES OUEM VAPOR

TERPENOSQUINONASÓLEOSRESINASALCALÓIDESTANINO

INSOLÚVEIS PROTEÍNASSUBSTÂNCIAS PÉCTICAS

SAIS MINERAISCALCIOMAGNÉSIOPOTÁSSIO

Figura 3.4 - Principais Componentes da Madeira.

Durante a gaseificação da madeira, ocorrem reações químicas muito complexas e, que

dependem da temperatura. Portanto, pode-se representá-la da seguinte forma:

Madeira + Calor Carvão Vegetal + Vapores Condensáveis + Gases Incondensáveis.

12 É a parte central e mais densa da madeira.

45

Os vapores condensáveis estão formados por água, alcatrão, ácido acético e álcool. Os

gases incondensáveis estão representados, principalmente, pelo dióxido de carbono,

monóxido de carbono, hidrogênio.

A madeira a ser usada como carga de gaseificador normalmente está sob a forma de

pedaços cortados de 10 a 20 cm de comprimento e até 15 cm de diâmetro aproximadamente

ou peletizada (briquete). Pode ser utilizada também lenha picada, sob forma de cavacos de 3 a

5 cm de comprimento. A madeira reduzida à serragem não deve ser utilizada, a não ser

adicionada (até um máximo de 20% em peso) a cargas de maior granulometria.

A composição dos gases e a produção concomitante de combustíveis sólidos (carvão)

e líquidos condensáveis (pirolenhoso e alcatrão) depende dos seguintes fatores:

• Tipos de equipamento;

• Forma de fornecimento de energia ao processo;

• Tipo de matéria orgânica utilizada;

• Tempo de retenção.

Em algumas espécies vegetais, o teor de umidade na madeira recém cortada pode

atingir mais de 50% do peso total. Se o material for utilizado imediatamente para a produção

de gás, haverá grande perda de eficiência térmica na transformação, pois a água contida no

material consumirá grande parte do calor para se evaporar. Grande parte da umidade contida

na madeira é facilmente eliminada por secagem ao ar, com redução do teor de umidade a 25 -

30%, permitindo desta maneira, o seu uso em gaseificadores. O gás de carvão obtido usando-

se vapor-oxigênio como mistura gaseificante é ainda conhecido como combustível de médio

poder calorífico, estando seu poder calorífico superior na faixa de 2.500 a 4.000 kcal/m3

(10.450 a 16.720 kJ/m3).

O poder calorífico superior (PCS) da madeira está em torno de 4.700 a 5.000 kcal/kg

(19.646 a 20.900 kJ/kg), onde o fator que contribui com a diminuição da eficiência da

madeira como combustível é o teor de umidade que pode atingir até 100 % do peso da

madeira seca. A seguir, mostra-se na tabela 3.3 alguns combustíveis e seus respectivos

poderes caloríficos[47], [48], [49], [50], [51].

46

Tabela 3.3 - Combustíveis com seus Respectivos Poderes Caloríficos.

Combustível Poder Calorífico (kcal/kg) (kJ/kg)

Parafina 10.400 43.472 Óleo Combustível 9.800 40.964 Carvão Vegetal 7.100 29.678 Madeira Seca 4.700 19.646 Lignito 4.000 16.720 Madeira (25 - 30 % de umidade) 3.500 14.630

Segundo o levantamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -

PNUD [52] em 2001, cerca de 24.120,7 m3 de madeira em tora comercializadas na região

amazônica, somente cerca de 56 % é aproveitada para fins comerciais, ou seja, cerca de

10.627,7 m3 (44 %) não tem aproveitamento algum. Isso representa um grande potencial a ser

explorado para fins energéticos que pode ser aproveitado como, por exemplo, na gaseificação

integrada com a célula a combustível para geração de energia elétrica. Deste volume total,

somente o Estado do Pará contribuiu com cerca de 11.000 m3 de madeira [53], e somente 53,96

% teve seu aproveitamento para fins comerciais, o que representa um nicho a ser explorado

em favor do aproveitamento de resíduos madeireiros. Ainda com referência ao potencial

energético de resíduo florestal, a região Norte apresenta um potencial de aproximadamente 13

MW[53].

3.3.2 – Coco da Bahia

O coqueiro (Cocus nucifera L.) é uma espécie de palmeira que foi introduzida no

Brasil, aproximadamente, no ano de 1.553 oriunda da Ásia. Comumente existem duas

espécies de variedades que são a gigante e a anã. A espécie gigante tem como característica

principal, começar a produzir somente a partir de seis anos e meio, enquanto que a anã tem

seu começo de produção a partir de dois anos e meio, gerando em média 70 e 120

frutos/planta/ano, respectivamente.

O fruto produz uma casca (parte fibrosa), seca, que pode ser empregada na confecção

de cordas, chapéus, tapetes e encosto de cabeça de veículos. O óleo extraído pode ser

utilizado nas indústrias alimentícia, cosmética, saponácea, etc. A parte mais densa produz um

carvão de coque bastante utilizado em fornos de altas temperaturas. Pois, é esta parte que será

alvo de estudo para alimentação do gaseificador, seguido da célula a combustível.

A casca do coco da baía apresenta um potencial para geração de energia de 5,71 MW

na região Norte e o Estado do Pará representando com 4,33 MW dessa produção total[53].

47

3.3.3 – Cacau

A árvore do cacau (Theobrama cacao) tem sua origem, provavelmente, próxima aos

Rios Amazonas e Orinoco. O cacau é uma espécie nativa da floresta úmida dos Estados

Unidos.

Hoje o cacau é encontrado na Venezuela, Equador, Colômbia, México, Brasil e

Guianas. Sendo que a partir do Brasil foi introduzido na África (São Tomé, Príncipe e

Fernando Pó) e posteriormente em outros países, entre eles a Malásia que detém cerca de 70%

da produção mundial de cacau.

No Brasil, somente por volta de 1746, é que o cacau foi levado do Estado do Pará para

a Bahia. Por volta do ano de 1957, auge da crise do cacau, foi criada pelo governo federal a

Comissão Executiva do Plano de Recuperação Econômico Rural da Lavoura Cacaueira –

CEPLAC, com a finalidade de recuperar e racionalizar a plantação (lavoura). Segundo dados

da CEPLAC, a produção de cacau em grão no Estado do Pará, no período de 2001/2002, foi

de 20.113 toneladas, cerca de 12,79% da produção brasileira.

Uma árvore de cacau chega a produzir em média 35 frutos/ano, com peso aproximado

de 500 gramas por fruto, que se apresenta constituído de casca (400 g) e sementes (100 g),

segundo dados obtidos em SILVA[54]. Tomando-se com base que cada hectare (ha) plantado,

pode produzir 6 toneladas (ton) de cascas frescas, isso representa que nessa área, pode ser

produzidos cerca de 15.000 frutos, ou distribuídas aproximadamente 428 plantas. É

conhecido, também, que a árvore do cacau produz o ano inteiro, tendo algumas variações nos

meses de outubro e dezembro (baixa safra) e abril a julho (período de alta produção).

A casca do cacau é constituída de aproximadamente 77,4%[54] de umidade,

significando que para fins de aproveitamento energético, seria recomendado um sistema

(linha de vapor) de secagem prévia, antecedendo sua alimentação no gaseificador. Segundo

SILVA, o tempo de secagem da casca do cacau, alcançou cerca de 6 a 7 horas, com teor de

umidade de cerca de 9,9%. O PCS alcançou valores da ordem de 16,7 MJ/kg, sendo

compatível com capim (18,5 MJ/kg), palha de trigo (17,6 MJ/kg) e madeira (17,6 MJ/kg)[55].

Em CARIOCA [55], na utilização de resíduos agrícolas, lenha ou qualquer outro tipo de

biomassa, requer um teor de umidade abaixo de 65% para ser utilizado em gaseificador. Pois,

um teor acima desse valor será prejudicial, observado o gasto de parte da energia na retirada

48

do vapor d’água. Valores adequados ao bom funcionamento do gaseificador apontam para 20

a 30% de umidade[42].

3.3.4 – Outras Biomassas

Além das biomassas já descritas anteriormente, vale ressaltar que a região Norte conta

com um potencial energético de bagaço de cana-de-açúcar de 1,97 MW dependendo do tipo

de tecnologia empregada. O Estado do Pará apresenta-se com o maior valor percentual, cerca

de 72 % do potencial de geração no período de 2000 a 2001. Em 1999, os resíduos agrícolas

como casca de arroz foi estimado em 32,54 MW, com o Estado do Pará representando 9,0

MW (27,65 %) do total e a casca de castanha de caju apresentou um valor 1.275,31 toneladas

(73 %) da produção paraense de 1.747 toneladas[53].

3.4 - Dimensionamento do Gaseificador

Devido às comunidades da região Norte apresentarem suas características próprias

intrínsecas da região, como baixa concentração de carga com aproximadamente de 20 a 70

residências por vila, disporem de ampla variação de biomassa, área suficiente para o plantio

de espécies e ou disponibilidade de recursos energéticos e, ainda pelo mercado de

gaseificadores ser muito baixo no Brasil (vender por encomenda) e não disponibilidade de

parâmetros característicos do equipamento, optou-se por escolher um gaseificador de baixa

potência.

Para efeito de estudos desprezaram-se alguns parâmetros do gaseificador por não estar

disponível, mas com a potência a sua eficiência e o poder calorífico da biomassa a ser

gaseificada, pode-se calcular a quantidade de biomassa necessária para a sua alimentação. A

partir do que foi exposto e tomando-se como base um gaseificador de fluxo cruzado, com

potência de 15.000 kcal/h, aproximadamente 17 kW, uma eficiência de 50 %[56] e um poder

calorífico inferior (PCI) de 3.000 kcal/kg, pode-se obter a massa de biomassa necessária para

alimentação desse gaseificador pela equação 3.6. Para esse gaseificador em questão, a massa

de biomassa necessária para alimentação é de 10 kg/h.

bQm

*PCI=η

(3.6),

onde:

mb: a massa de biomassa necessária (kg/h)

49

Q: potência do gaseificador (kcal/h)

PCI: poder calorífico inferior da biomassa (kcal/kg)

η : eficiência do gaseificador.

Os cálculos dos calores de pirólise, de recuperação, de combustão, sensível e de

redução não foram levados em consideração individualmente. Na realidade o estudo que se

pretende no gaseificador é a gaseificação de biomassa para a produção do gás de alimentação

da célula a combustível, não se preocupando com os devidos controles de calores em cada

etapa que ocorrem dentro do gaseificador.

3.5 – Sistema de Biodigestão

A definição mais clara de biodigestão é o processo de conversão biológica anaeróbica,

por meio de microorganismos em determinadas condições dentro de biodigestores, entre os

mais difundidos tem-se o chinês e o indiano. O biogás resultante da fermentação anaeróbica

(ausência de ar) em meio aquoso, em temperatura entre 20 e 55 ºC e pH adequado é um gás

inflamável, constituído geralmente por 30 % – 70 % de metano (CH4) e outros gases com

baixas concentrações e como produto efluente da biodigestão tem-se o fertilizante[57]. Dados

que compõem a mistura gasosa contida no biogás podem ser vistos na tabela 3.4[58].

Tabela 3.4 – Composição Gasosa do Biogás.

COMPOSIÇÃO MÉDIA DO BIOGÁS

Metano 55 % a 65 %

Dióxido de Carbono (CO2) 35 % a 45 %

Hidrogênio (H2) 1 % a 10 %

Nitrogênio (N2) 0,5 % a 3 %

Oxigênio (O2) 0,1 %

Ácido Sulfídrico (H2S) Traços

Monóxido de Carbono (CO) 0,1%

50

3.5.1 - Biogás

O gás metano é o principal componente do biogás, é incolor, inodoro e insípido. Os

outros gases em concentrações como o gás sulfídrico (H2S) confere em ligeiro odor de ovo

podre (púdrito). O biogás não é tóxico, mas age sobre o organismo humano, diluindo o

oxigênio (O2), é bastante estável e não é solúvel em água, liquefaz-se a uma pressão de 140

atmosferas (atm) e possui um poder calorífico de 5.800 kcal/m3 (24,244 MJ/m3)[59], podendo

seu poder calorífico ser aumentado por meio da purificação, retirada do dióxido de carbono

(CO2), por meio de filtração, chegando ao valor de 8.100 kcal/m3 (33,850 kJ/m3)[60], podendo

ser comparado com o gás natural que tem se poder calorífico entre 33 e 38 MJ/m3[61].

O biogás possui suas características energéticas e, portanto se pode fazer a

equivalência de 1 m3 de gás com os combustíveis mais usuais e alguns resíduos orgânicos,

conforme a tabela 3.5[60], [62].

Tabela 3.5 – Equivalência Energética do Biogás

1 m3 Biogás

0,61 litros de gasolina 0,58 litros de querosene 0,5 kg de gás liquefeito de petróleo - GLP 0,79 litros de álcool combustível 1,538 kg de lenha 1,428 kWh de energia elétrica 0,55 litros de óleo diesel 20 kg lixo urbano 2,5 kg resíduos secos vegetais 14,3 kg resíduos sólidos de frigorífico

3.5.2 - Digestão Anaeróbica

Várias são as bactérias que atuam no processo, porém as que produzem o CH4 são

chamadas de bactérias metanogênicas cujo grau de temperatura é de 35 a 36 ºC (mesofílicas)

e acima de 45 ºC (termofílicas). Para que a digestão se desenvolva são necessárias as

seguintes condições:

a) Impermeabilidade ao ar;

b) Temperatura de aproximadamente 35ºC;

c) Teor de água suficiente, ou seja, 90 a 100% do peso do conteúdo de biomassa;

d) Início do processo em meio ácido;

51

e) Final do processo em meio neutro;

f) Manter uma boa relação C/N em 30:1 ou 25:1.

O processo digestivo empregado na fermentação da matéria orgânica no biodigestor,

consta de três fases principais que pode ser vista na figura 3.5. As reações químicas (3.7),

(3.8) e (3.9) que descrevem cada fase do processo podem ser vistas a seguir[63]:

a) Conversão por hidrólise enzimática dos polímeros em monômeros solúveis;

Substâncias complexas são transformadas em substâncias simples, nessa

transformação há um predomínio de bactérias que decompõem carboidratos, gorduras e

proteínas.

612625106 )( OHCnOHnOHC n →+ (3.7)

b) Conversão dos monômeros em ácidos orgânicos (ácido-gênese) principalmente o ácido

acético;

Nesta fase as substâncias simples são transformadas em substratos para as bactérias

atuantes (facultativas), formando o ácido acético (CH3COOH), propiônico (CH3CH2COOH),

fórmico (HCOOH), acetatos (CH3COOR) e hidrogênio (H2), liberando CO2 e H2O.

222236126 22)( HCOCOOHCHCHOHC ++→ (3.8)

c) Decomposição dos ácidos orgânicos pelas bactérias metanogênicas na produção de metano.

Esta fase, também conhecida como gaseificação, ocorre quando os ácidos formados

anteriormente são metabolizados pelas bactérias metanogênicas (gaseificantes), ocorrendo por

meio do H2 que fornece energia e conseqüente diminuição de CO2.

OHCHHCOCOCHCOOHCH

2422

243

24 +→++→

(3.9)

52

Figura 3.5 – Processo Digestivo em um Biodigestor.

O resíduo da biodigestão anaeróbica (fermentação) é chamado de biofertilizante,

geralmente está livre de microorganismos causadores de doenças, não possui odores

desagradáveis, pH variando de 7 a 8,5 e possui cerca de 2% de Nitrogênio (N), 1,5% de

Fósforo (P) e 1% de Potássio (K), podendo ser utilizado como fertilizante em lavouras.

3.5.3 - Biodigestores

A classificação dos biodigestores pode ser quanto ao tipo de carregamento, em

contínuos e descontínuos, e quanto ao tipo básico pode ser indiano e chinês. Geralmente,

prefere-se optar pelo biodigestor contínuo, por facilitar o carregamento diário, pois o volume

de entrada é igual ao volume de saída (biofertilizante). O biodigestor modelo indiano possui

como característica, uma campânula flutuante, chamada de gasômetro, sobre o líquido contido

no biodigestor. Por apresentar o gasômetro flutuante (móvel), o biogás produzido está a uma

pressão constante. A sua construção é em alvenaria e na confecção do gasômetro utiliza-se,

geralmente chapas de aço; a figura 3.6 ilustra um modelo de biodigestor tipo indiano. Já o

biodigestor tipo chinês é construído em alvenaria e possui um tanque de armazenamento

(cúpula) de biogás, em forma de abóbada; a figura 3.7 ilustra um biodigestor do tipo chinês.

O custo de produção de biogás varia de 0,024 – 0,036 US$/kWh[46], e o custo do

biodigestor, em função de seu volume construtivo, foi determinado para diversas instalações e

ajustado segundo a equação (3.10)[64]:

3B BT BTC 830.(0,298 0,076.V 5,8x10 .V )−= + − (3.10)

onde, CB é o custo do biodigestor (US$) e VBT é o volume do biodigestor (m3).

53

Figura 3.6 - Biodigestor Indiano.

Figura 3.7 – Biodigestor Chinês

3.6 – Biomassas para Biodigestão

A matéria-prima utilizada nos biodigestores pode ser a mais variada possível, no

entanto dependendo do tipo empregado pode ser formado um gás com maior ou menor

quantidade de metano. Se o material é rico em fibras deve-se proceder a uma pré-fermentação

que leva de 2 a 10 dias. O número de dias que uma determinada mistura permanece num

biodigestor chama-se tempo de fermentação ou tempo de retenção. Na relação

carbono/nitrogênio C/N, o carbono encontra-se sob a forma de carboidratos e o nitrogênio

como principal elemento das proteínas, portanto C e N são os principais elementos utilizados

pelas bactérias. Em um processo de biodigestão anaeróbica a relação C/N = 30 deve ser

mantida, pois o carbono é utilizado para a obtenção de energia e o nitrogênio contribui para a

formação de estruturas celulares, pois as bactérias atuantes consomem o carbono

aproximadamente 30 vezes mais rápido que o nitrogênio[60]. Entre os diversos resíduos

orgânicos empregados pode-se citar:

54

a) Esterco: bovino, suíno e etc.;

b) Palha de arroz;

c) Capim;

d) Sabugo de milho;

e) Aguapé;

f) Lixo;

g) Esgoto;

h) outros.

O aguapé é uma planta aquática encontrada nos rios da Amazônia que prolifera muito

rapidamente, sendo considerada em alguns casos como uma “praga”. Sabe-se, no entanto, que

na verdade é uma planta que despolui os rios, serve também como alimento de peixes e outros

animais, além de ser uma excelente biomassa que pode ser utilizada na produção de biogás.

Segundo estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa da Marinha – IPqM mostraram

que um metro quadrado de plantação de aguapé produz cerca de 18 litros de biogás por dia, 1

kg de aguapé seco pode produzir aproximadamente 350 a 410 litros de biogás, além de

produzir o biogás com 80 % de metano (CH4). O aguapé tem uma produtividade muito boa,

pois somente com duas plantas são necessários 23 dias para gerarem, em média, 300 e em 120

dias reproduzirem cerca de 1.400 plantas[59].

Algumas biomassas utilizadas em biodigestores podem ser vistas em função da

disponibilidade por fonte e as suas respectivas produções de biogás estão contidas na tabela

3.6[64], [65]. Alguns dados de consumo diário de biogás para fins residenciais podem ser visto

na tabela 3.7[60].

Tabela 3.6 – Fontes de Resíduos e Produção de Gás.

Fonte Esterco (kg/dia) m3/kg m3/dia Bovinos 10 0,0367 0,367 Gansos e Perus 0,23 0,1 – 0,16 0,023 – 0,0368 Fezes Humanas 0,4 – 0,23 0,0707 0,0283 – 0,013 Suínos 2,25 0,0792 0,1782 Galinhas 0,18 0,0628 0,0113 Aguapé (base seca) 1 0,35 0,35

55

Tabela 3.7 – Consumo de Biogás.

Utilização do Biogás Consumo do Biogás Cozinha 0,24 - 0,33 m3/pessoa dia Iluminação 0,07 - 0,28 m3/lampião hora Eletricidade (1 kWh) 0,62 m3 Motores 0,424m3/cv hora Geladeira 1,8 - 2,5 m3/dia Boca de Fogão 0,165 - 0,18 m3/hora

3.7 - Dimensionamento de um Biodigestor

Para dimensionar um biodigestor deve-se primeiramente fazer uso do levantamento

das necessidades diárias de biogás )/( 3 diamVG , que pode ser feito de posse dos dados

contidos na tabela 3.7, por exemplo.

O cálculo do volume de biogás por hora ( hGV / ) pode ser calculado por meio da

equação (3.11), dividindo-se esse volume pelo período de 24 horas do dia, então:

24// GhG VV = (3.11)

Na concepção do projeto de um biodigestor modelo indiano, usa-se uma parede

divisória, facilitando a entrada e saída da mistura (água e resíduo) geralmente na ordem de

50% para cada. Então o cálculo do volume do biodigestor pode ser calculado por meio da

equação (3.12):

diaGB VV /*2= (3.12)

Ao volume do biodigestor já calculado, deve-se acrescentar seu valor em 10% para

garantir a produção de biogás calculada[63], então o volume total do biodigestor é definido

pela equação (3.13).

%10+= BBT VV (3.13)

O biodigestor modelo indiano é construído em local pré-determinado (escolhido) em

baixo do nível do solo em forma cilíndrica. Geralmente, opta-se por um valor entre 3 e 6

metros para altura da parede divisória (h) que serve de direcionamento do fluxo da mistura e

acrescenta-se 0,3 metros como medida de segurança. O cálculo para determinar a altura do

biodigestor (H) pode ser determinado com a equação (3.14).

3,0+= hH (3.14)

56

Com a determinação da altura do biodigestor, então se define o seu diâmetro interno,

que pode ser calculado através da equação (3.15) que emprega a fórmula do cilindro.

( )4

2 hDV iBT

π= (3.15)

O diâmetro externo do gasômetro pode ser determinado com base no diâmetro interno

do biodigestor, considerando uma tolerância de 0,06 metros de folga para o livre movimento

do gasômetro, logo o diâmetro externo do gasômetro pode ser calculado por meio da equação

(3.16):

06,0−= ie DD (3.16)

Determinado o diâmetro externo do gasômetro, pode-se então definir a sua altura (hg)

por meio da equação (3.17), representada a seguir.

( )4

2ge

G

hDV

π= (3.17)

A altura da parede divisória (hpd) pode ser calculada com os dados da altura arbitrada

(h) e altura do gasômetro (hg), a essa altura acrescenta-se 0,3 a 0,6 metros, como margem de

segurança, conforme a representação da equação (3.18):

3,0+−= gpd hhh (3.18)

Finalmente, pode-se calcular o volume de carga diária (Cd) a ser inserida no

biodigestor, onde se deve levar em consideração o tempo de retenção da mistura a ser

fermentada, geralmente o valor está compreendido entre 30 e 40 dias, logo se pode definir o

Cd pela equação (3.19).

R

Bd T

VC = (3.19)

3.8 - Conclusão

A tecnologia de célula a combustível está em processo de desenvolvimento, pois vai

desde protótipo, baseada em pesquisa, até mercados comerciais aplicados às indústrias e

residências. Os diversos tipos de células a combustível podem ser configurados com outros

sistemas de forma a se ter um segmento de mercado adequado as suas características.

57

Como os sistemas a células a combustível são modulares e eficientes até em tamanhos

pequenos, logo em locais onde a carga instalada, em princípio, é baixa, pode-se suprir o

aumento de demandas com a inclusão de novas unidades de células a combustível. Esse fato é

marcante em regiões de baixa demanda energética, mas com grande tendência a aumentar,

logo após a instalação de qualquer fonte de geração de energia para uma dada localidade.

Caso como esse pode ser comparado com localidades da Região Amazônica.

Então, sistemas a células a combustível integrados com a gaseificação e/ou

biodigestão, em especial, de biomassa, desponta para uma das soluções de geração de energia

elétrica para a região Amazônica, que é rica em resíduos ainda não aproveitados para tal fim.

A biodigestão de resíduos apresenta-se como uma ótima opção de geração de gás aos

sistemas de células a combustível, conforme a indicação de estudos já realizados por diversos

autores.

Hoje os gaseificadores existentes e mais usuais são os de leito fixos e os de leito

fluidizados. No Brasil a tecnologia de gaseificação ainda encontra-se em fase de

desenvolvimento e análise de projetos, principalmente os de grandes potências. Para os

gaseificadores de capacidades menores projetados para o atendimento de pequenas demandas,

apresentam um estágio tecnológico com um certo grau de avanço, contudo, também requerem

uma avaliação em seu estágio de desenvolvimento.

Na região Amazônica o uso de gaseificador/biodigestor integrado a célula a

combustível seria, também, uma ótima opção de geração de energia para pequenos núcleos

populacionais, pois existem diversas biomassas disponíveis nos mais variados locais,

deixando de ser, para alguns pesquisadores, um grande problema de disponibilidade de

biomassa local. As células a combustível, neste caso, apresentam–se bastante apropriadas

nesse processo de adequação e apropriação de conversão de tecnológica para o biogás, onde

se pode alcançar cerca de 30 – 40 % de eficiência em faixas de potências de 5 – 20 kW e com

baixo custo de operação e manutenção.

Alguns métodos de purificação dos contaminantes do gás de saída do biodigestor e

gaseificador serão apresentados no capítulo 4, de maneira a obter-se um produto limpo que

possa servir de alimentação para as células a combustível.

58

Capítulo 4

Métodos de Eliminação de Impurezas nos Gases Produzidos nos Processos de Gaseificação e Biodigestão

4.1 – Apresentação de Algumas Impurezas

O gás gerado a partir da gaseificação e da biodigestão contém um certo teor de

monóxido de carbono e gás sulfídrico, que são considerados venenos muito perigosos para o

catalisador utilizado em célula a combustível do tipo PEM, além do teor de umidade contido

no gás proveniente da biodigestão que deve ser eliminado. Neste caso, há necessidade de se

empregar equipamentos ou métodos para a eliminação do monóxido de carbono, gás

sulfídrico e umidade antes de entrar na célula a combustível. O dióxido de carbono (CO2) é

outro gás contido nos gases provenientes da gaseificação e da biodigestão que não

necessariamente necessita de ser eliminado, pois atua como um gás inerte, ou seja, não

interfere sobre o catalisador, por exemplo, de platina (Pt).

Dependo de alguns fatores, os alcatrões aparecem no gás de gaseificação com maior

ou menor teor de concentração e de alguma forma devem ser eliminados. Os alcatrões são

compostos orgânicos de caráter aromático presentes no gás de gaseificação, exceto os

hidrocarbonetos (C1 – C6). O percentual de alcatrão gerado na gaseificação, depende das

características da biomassa (tipo e tamanho da partícula, por exemplo), da temperatura, da

pressão, da velocidade de aquecimento da biomassa e do tempo de residência. No entanto, a

temperatura é um fator fundamental na geração de alcatrão; quanto maior a temperatura,

menor é a concentração de alcatrão.

4.2 – Limpeza dos Gases

Em geral a limpeza dos gases (alcatrão e CO) provenientes da gaseificação de

biomassa é feita por meio de processos para separar os alcatrões do gás, podendo ser efetuado

por meio físico e por processos que convertem os alcatrões em H2, CO e hidrocarbonetos

leves não condensáveis. A separação física dos alcatrões pode ser feita pela lavagem do gás

por via úmida (utiliza-se água como líquido de lavagem, podendo alcançar até 70 % de

eficiência), pela filtragem do gás (onde o elemento filtrante é feito por partículas geradas na

gaseificação – resíduos de carbono), por filtros eletrostáticos (sendo necessária a condensação

59

prévia dos alcatrões), por craqueamento térmico a alta temperatura (emprega-se temperatura

acima de 1.100 ºC) e pelo uso de catalisadores suportados em níquel (Ni) (é utilizado um

reator secundário em série com o gaseificador).

Em estudos laboratoriais recentes realizados com células a combustível do tipo PEM

mostram que o hidrogênio pode conter até 100 ppm de monóxido de carbono (CO). Essas

pesquisas envolvem a oxidação catalítica de óxido de cobalto (CoO), utilizando liga de platina

(Pt) no anodo com outros metais como rutênio (Ru), estanho (Sb), molibdênio (Mo) e outros

metais nobres como o ouro (Au), usando liga de platina/rutênio com pequenas quantidades de

peróxido de hidrogênio (H2O2) como portador de oxigênio (O) para hidratar a membrana[66].

Na prática não pode passar de 30 ppm.

Diversos pesquisadores também já propuseram métodos para a avaliação de

catalisadores para a oxidação de hidrogênio e monóxido de carbono trabalhando com platina e

partículas de platina/rutênio apoiados em carbono coberto com filme de Nafion e apontam

para ótimos resultados na inserção de hidrogênio impuro[67] na alimentação de células PEM.

4.3 – Remoção Ácida

A remoção ácida do gás (S e CO2) é necessária em sistemas de geração de energia que

utilizam células a combustível do tipo PEM, pois os catalisadores não toleram o enxofre. O

óxido de zinco é o sorvente mais utilizado na retenção de enxofre, contudo outros materiais

como o óxido de ferro e o óxido de cobre também são utilizados. Um outro método de

remoção de enxofre é feito pela utilização da reação de Claus, que será tratada mais

adiante[68]. O teor de CO2 contido no biogás pode ser retido por meio de borbulhamento em

água, melhorando desse modo o poder calorífico do biogás e aumentando o teor de metano.

4.4 – Remoção de Umidade

A remoção da umidade (H2O, H2S e CO) que influencia diretamente no processo de

combustão e no poder calorífico, pode ser feita através da simples passagem do biogás em

tubo parcialmente cheio de óxido de cálcio (CaO), também conhecido como cal virgem, mais

adequado para o CO2.

Ainda com relação à retirada da umidade, o Programa de Uso Racional de Energia e

Fontes Alternativas (PUREFA) da Universidade de São Paulo (USP) em seu projeto de

biodigestor, utiliza um filtro do tipo peneira molecular para reter a umidade e um outro

60

contendo limalha de ferro para reter a umidade e o gás sulfídrico (H2S), atingindo valores

menores que 1 ppm (partes por milhão) ou 1 %.

Pode-se ainda eliminar ao gás sulfídrico por meio de borbulhamento em solução de

nitrato de chumbo (Pb (NO3)-2) ou hidróxido de sódio (NaOH), obtendo-se um precipitado

negro, sulfeto de sódio (Na2S), e eliminando–o por meio de filtragem simples. A reação (4.1)

a seguir ilustra a proposição citada.

2 2 22NaOH H S Na S 2H O+ → + (4.1).

O processo Claus[69], ou reação de Claus como é mais conhecida, é o meio de

recuperação de enxofre (S) mais utilizado na indústria onde a mistura gasosa contém o H2S,

principalmente de processos de dessulfuração de gases.

A descoberta do processo de recuperação de enxofre se deu pelo químico inglês Carl

Friedrich Claus para recuperar o enxofre que era consumido na linha de produção de

carbonato de sódio (Na2CO3). O processo Claus é constituído, basicamente, de duas fases

distintas, uma térmica (câmara de combustão)[70] e outra catalítica, conforme ilustrado na

figura 4.1.

Figura 4.1 – Processo Claus.

No inicio do processo ocorre a fase térmica com injeção de ar para então ocorrer a

oxidação do H2S, em seguida a esta etapa, o sulfito (SO2) é formado para poder ocorrer a

formação do enxofre. As outras etapas que ocorrem se dão na fase catalítica e mais enxofre é

formado. As reações (4.2) e (4.3) que descrevem o processo são apresentadas a seguir, o

61

enxofre na forma Sx (alotrópica13)[71] é afetado diretamente pela temperatura e x é a

representação numérica de 1 a 8.

2 2 2 23H S O SO H O2

+ ↔ + (4.2).

2 2 232H S SO Sx 2H Ox

+ ↔ + (4.3).

Um dos métodos empregados para eliminar o CO, é o uso de reatores a baixa

temperatura onde emprega um catalisador contendo uma mistura de óxido de cobre (CuO) e

óxido de zinco (ZnO), além de outros compostos como óxido de cromo (CrO) e óxido de

ferro (FeO) atuando como estabilizadores e óxido de alumínio usado como suporte. Esse tipo

de reator opera em faixa de temperatura de 190 a 260 ºC que é o limitante para a desativação

térmica do catalisador de cobre. Os reatores de baixa temperatura utilizam o catalisador de

óxido de zinco, em compartimento separado, para proteger-se de compostos de enxofre, como

por exemplo, o gás sulfídrico.

Quando há a necessidade de maior quantidade de hidrogênio a partir de uma mistura

gasosa, o reformador deve conter mais de um estágio, com o objetivo de se conseguir mais

vapor a uma temperatura mais baixa (370 Cº), dando condições de equilíbrio. Esse tipo de

configuração, mais de um estágio, mais uma etapa intermediária de resfriamento é adotada em

situação de alta concentração de CO e serve também para evitar a elevação de

temperaturas[72].

4.5 – Metanação

A metanação[73] de gases (Co e CO2) que saem de gaseificadores ou aqueles obtidos de

processos industriais, podem ser tratados, por exemplo, via reação de deslocamento do gás de

água (vapor) mediante o processo de metanação catalítica. Esse processo consiste de diversas

etapas de metanação, sendo que cada uma dessas etapas ocorre dentro de um reator de leito

fixo catalítico, suportado por níquel. A reação (4.4) em que ocorre a retirada do CO em um

reator na presença do níquel (Ni) pode ser vista a seguir.

2 4 2CO 3H CH H O+ ↔ + (4.4).

13 o elemento pode apresentar-se de várias formas

62

Da mesma forma pode-se eliminar a presença de CO2 pelo mesmo processo, onde

ocorre a reação (4.5).

2 2 4 2CO 4H CH 2H O+ ↔ + (4.5).

Pode-se também fazer a remoção do CO pela lavagem do gás em solução de sais complexos

de cobre[74].

O processo empregado na purificação do gás de baixo poder calorífico, proveniente da

gaseificação, pode ser por meio da combustão direta realizada junto ao gaseificador,

eliminando os elementos particulados e o H2S. Caso haja a necessidade de se dessulfurizar o

gás, será necessário empregar resfriadores seguido de ciclones e posteriormente de lavadores

para a eliminação de alcatrões.

A eliminação de gases ácidos utilizando um método de purificação à baixa

temperatura é uma das opções para valer-se de sistema de absorção química[75]. Uma grande

gama de processos por absorção química é baseada em carbonato de potássio (K2CO3).

Também se pode optar por mais uma etapa de purificação do gás, passando pela reação de

Claus ou planta de Claus, conforme descrito anteriormente.

Quando se deseja empregar processos à alta pressão, pode-se optar por sistemas de

absorção física que possui a vantagem sobre os processos químicos, que é a seletividade. O

H2S é muito mais solúvel que o CO2, podendo ser eliminado do processo seletivamente de

uma mistura gasosa que o contenha. A escolha do processo depende da presença de outras

impurezas contidas no gás. Por exemplo, o sulfeto de carbonilo (COS) e o dissulfeto de

carbono (CS2) podem afetar de diversas formas a eliminação do H2S.

Além dos processos descritos anteriormente, podem-se ainda empregar processos via

oxidação úmida para a eliminação seletiva do H2S, convertendo-o em enxofre. Nesses

processos geralmente empregam-se pressões desde a atmosférica até 65 Bar, adotando uma

solução alcalina de carbonato de potássio (K2CO3) ou carbonato de sódio (Na2CO3) em meio

ao oxigênio para então ocorrer a oxidação. A reação (4.6) exemplifica esse tipo de reação:

22HS O 2OH 2S+ → + (4.6).

Um processo bastante utilizado no século XIX, na Inglaterra, para substituir processos

de purificação por via úmida que empregavam o hidróxido de cálcio (Ca (OH)2) como agente

63

oxidativo, foi o processo de oxidação por via seca que utiliza o trióxido de ferro (hematita –

Fe2O3)[76] a alta temperatura. A equação representativa desse processo pode ser vista por meio

das reações (4.7) e (4.8), a seguir. E como resultante do processo global, tem-se a reação

(4.9).

3 2 3 22FeO 6H S 2FeS 6H O+ → + (4.7);

2 3 2 2 32Fe S 3O 2Fe O 6S+ → + (4.8);

½ O2 → H2O + S (4.9).

Estudos já realizados empregando métodos de eliminação de impurezas e utilizando o

biogás como fonte de alimentação de células a combustível do tipo SOFC para a geração de

energia com potências de 5 a 50 kW, já mostram bons resultados com a integração entre a

biodigestão e a célula a combustível[77].

Uma aplicação do uso de biogás em célula a combustível do tipo PEM, em escala de

laboratório, foi proposta em um artigo recente[78]. Nesse processo são empregados quatro

reatores responsáveis pela reforma do metano e a oxidação seletiva do monóxido de carbono,

obtendo-se um gás rico em hidrogênio com baixa concentração de CO, menor que 10 ppm.

4.6 - Conclusão

O uso de gás proveniente da gaseificação e/ou biodigestão pode ser aproveitado na

alimentação de células a combustível, desde que se possa fazer um tratamento adequado,

conforme os diversos métodos apresentados anteriormente.

O emprego de um ou outro método de limpeza ou purificação nos gases oriundos de

um sistema de gaseificação ou biodigestão está intimamente ligado ao emprego direto na

geração de energia, o que significa dizer que depende diretamente da relação custo/benefício a

que se destina.

Vale a pena ressaltar que na atual situação de desenvolvimento das células a

combustível, de amadurecimento tecnológico e aprimoramento do conhecimento, é bastante

válido investir nos processos citados anteriormente, mais adequados, mesmo que tenha um

alto custo, em parceria com a indústria química a desenvolver um sistema compacto de

limpeza de gases, de forma a operar conjuntamente com a célula a combustível, aproveitando

64

os gases que contenham certos tipos de impurezas maléficas ao bom funcionamento do

sistema de geração de energia.

65

Capítulo 5

Estudo de Caso

5.1 – Considerações Gerais

Em geral, as comunidades da Região Amazônica têm como características principais o

isolamento, o difícil acesso, o abastecimento de energia, quando há, por meio de geradores

diesel, entre outras. No entanto, apresentam vastas áreas para plantio e grande disponibilidade

de biomassa, que pode servir de suporte à sustentabilidade da solução proposta. Essa

biomassa pode ser aproveitada para a geração de energia de diversas formas, entre as quais a

gaseificação e a biodigestão. As localidades interioranas do Pará, especificamente as

litorâneas, dispõem de recursos solar e eólico para fins de aproveitamento de energia.

A comunidade de Praia Grande, localizada na Ilha de Marajó, Estado do Pará,

escolhida para estudo, dispõe de recursos renováveis solar e eólico com bons índices de

aproveitamento, conforme comentado e ilustrado por meio de figuras em outros tópicos deste

capítulo. Praia Grande possui cerca de 114 hectares, dos quais 22 hectares de sítios familiares,

23 hectares de açaizal nativo, 25 hectares de coqueiral cultivado coletivamente e 44 hectares

de mata. Grande parte desta área pode ser aproveitada no plantio de floresta energética14, na

geração de biomassa, como também disponibilidade na criação de animais para a produção de

esterco. Foram levantados para esta localidade dados de velocidade de vento, irradiância

solar, a carga elétrica a ser suprida e alguns aspectos socioeconômicos[79]. Outros dados

necessários ao projeto do sistema de geração por meio de célula a combustível e que ainda

não estão disponíveis para esta comunidade, foram estimados a partir da literatura pertinente

sobre o assunto.

A comunidade de Praia Grande dispõe de um sistema híbrido de geração de energia,

composto por um aerogerador de 7,5 kW, dois inversores de 4 kW cada, um retificador (VCS-

10), dois grupos geradores diesel de 7,5 kVA, cada e um sistema de armazenamento composto

de 20 baterias de 150 Ah/12V cada, além de uma mini-rede de distribuição monofásica.

14 Formação homogênea por meio de espécies, por exemplo, do tipo Eucalyptus, destinadas à produção de energia.

66

5.2 - Parâmetros Econômicos

Neste tópico são apresentados alguns conceitos necessários para a avaliação dos custos

de investimentos em um projeto, sendo apresentadas as figuras de mérito[80] tais como: fator

de recuperação de capital, tempo de retorno simples, e fator de capacidade. Portanto, essas

figuras de mérito são muito importantes, além de outras, na análise, definição e elaboração de

projetos de energia de diversos tipos de fontes de geração.

Fator de Recuperação de Capital (FRC) é a análise do valor de um determinado

investimento feito no presente, considerando uma determinada taxa (i) de desconto e um

período de N anos, podendo ser representado pela equação (5.1):

N

N(1 i)FRC i

(1 i) 1+

=+ −

(5.1)

Tempo de Retorno Simples (TRS) é definido como sendo a razão entre o investimento

inicial e o custo da energia economizada em um ano, podendo ser visto na equação (5.2). Esta

figura de mérito não leva em consideração o valor temporal do dinheiro. A energia

economizada é representada pela energia gerada no período considerado e multiplicando-se

pelo valor da tarifa convencional, aqui adotada em R$ 0,40:

Investimento(R$)TRSEnergiaEconomizada(R$ / ano)

= (5.2)

Fator de Capacidade (FC) é a relação entre a produção média de energia e a produção

de ponta (pico). A equação representativa pode ser vista por meio da equação (5.3):

EnergiaAnual(kWh)FCPN(kW)*8760(h)

= (5.3)

onde PN é potência nominal do equipamento.

A análise financeira na forma de figura de mérito também foi abordada de maneira

sucinta, de forma a dar suporte ao entendimento da viabilidade econômica de sistemas

híbridos de geração de energia, a qual é de fundamental importância para o estudo de caso

abordado no tópico seguinte.

67

5.3 – Escassez de Energia Elétrica

A Região Amazônica é, sem dúvida, marcada pela baixa densidade demográfica, baixa

renda da população, cultura diversificada e, principalmente, o alto índice de analfabetismo, se

comparada com as regiões Sul e Sudeste do Brasil. O baixo nível de desenvolvimento e a falta

de infra-estrutura básica fazem com que ocorra com freqüência o êxodo rural. Isto acontece

com mais intensidade em locais sem infra-estrutura básica, como escolas de nível

fundamental até o médio, assistência médica, serviço de água e esgoto, indústrias para

geração de renda para a população e impostos para a localidade, de forma que retornem em

benefícios para a população. No entanto, um elemento chave nesse contexto é a falta de

energia nas localidades isoladas e de difícil acesso. Portanto, é fato que a energia elétrica

presente na vida de qualquer ser humano gera desenvolvimento e progresso na localidade por

ela suprida.

Segundo dados do Governo Federal[81], o Brasil possui cerca de 12 milhões de

habitantes sem acesso ao serviço de energia elétrica, dentre os quais 10 milhões estão na área

rural. Os dados indicam que somente na Região Norte, 2,6 milhões de pessoas (62,5% da

população) não possuem acesso aos serviços de energia elétrica. O objetivo do Ggoverno

Federal é disponibilizar energia elétrica a todas essas pessoas até o ano de 2008, que é a meta

a ser alcançada com a implantação do Programa Luz par Todos, que tem amparo da Lei

10.438 e no Decreto Nº 4873 de 11/11/2003.

5.4 – Caracterização da Localidade

O estudo foi realizado tomando-se como base uma localidade típica do interior do

Estado do Pará, Praia Grande, onde os parâmetros de recursos renováveis (solar e eólico)

foram obtidos por meio de uma estação meteorológica implantada pelo Grupo de Estudos e

Desenvolvimento e Alternativas Energéticas – GEDAE, do Departamento de Engenharia

Elétrica da Universidade Federal do Pará.

A localidade é composta por aproximadamente 25 residências, distribuídas ao longo

de uma via pública com comprimento de 1.600 metros ao longo da costa, composta por uma

mini-rede com postes de madeira.

A carga média da localidade é de aproximadamente 2 kW, atingindo picos próximos

de 3,5 kW, sendo composta basicamente de eletrodomésticos como aparelho de televisão,

68

rádio, geladeira e iluminação. O perfil da carga pode ser representado por meio da figura 5.1,

onde é observado que a partir das 17 até as 21 horas ocorre o período de maior entrada de

carga no sistema[79]. Deve-se observar que apesar da carga média ser 2 kW, existe a

possibilidade de aumento de carga, devido a demanda reprimida da comunidade.

Figura 5.1 – Curva de Carga.

5.4.1 – Recurso Renovável Eólico e Solar

Um perfil da velocidade média de vento local pode ser observado segundo a tabela

5.1. Neste caso nota-se uma maior intensidade de vento no mês de outubro (7,26 m/s) e uma

menor velocidade no mês de abril (3,26 m/s). A figura 5.2 ilustra esse perfil de vento para

melhor efeito de visualização.

Tabela 5.1 – Dados da Velocidade de Vento (25 m de altura).

Mês m/s Janeiro 4,70 Fevereiro 4,15 Março 3,72 Abril 3,26 Maio 4,58 Junho 5,15 Julho 5,09 Agosto 6,04 Setembro 6,84 Outubro 7,26 Novembro 6,14 Dezembro 5,80 Média 5,23

69

Figura 5.2 – Perfil da Velocidade de Vento a 25 m.

Na tabela 5.2 e na figura 5.3 pode ser visto que a irradiância solar global de maior

média mensal ocorre no período compreendido entre agosto e outubro. Os meses de janeiro e

fevereiro aparecem com os menores valores de média de irradiância.

Tabela 5.2 – Dados da Irradiância e Irradiação Solar

Mês W/m2 kWh/m2/diaJaneiro 383,54 4.602,48 Fevereiro 379,01 4.548,12 Março 525,71 6.308,52 Abril 480,98 5.771,76 Maio 485,00 5.820,00 Junho 489,76 5.877,12 Julho 485,26 5.823,12 Agosto 556,84 6682,08 Setembro 557,36 6.688,32 Outubro 528,79 6.345,48 Novembro 452,73 5.432,76 Dezembro 427,01 5.125,20

Irradiância Solar

0100200300400500600

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Mês

W/m

2

Figura 5.3 – Perfil da Irradiância Solar.

70

5.4.2 – Recurso Renovável de Biomassa

A comunidade de Praia Grande apresenta bons recursos solar e eólico, conforme foi

apresentado no tópico 5.1. No entanto, não se pôde obter dados precisos referentes à

disponibilidade de biomassa na comunidade para efeito de geração de energia elétrica, já que

esta alternativa de geração não existe nesta comunidade.

No entanto, percebe-se que a comunidade dispõe de área suficiente para se fazer um

estudo de planejamento, de modo a suprir as necessidades energéticas por meio de biomassa,

garantindo a sustentabilidade de um sistema de geração de energia por meio da contribuição

de diversas formas de utilização da biomassa.

A criação de animais (bovinos, suínos, aves, etc.) em regime de confinamento

apresenta-se como uma solução para a geração de esterco. Existe uma grande disponibilidade

de área para o plantio de árvores que não necessitem de muito tempo para o crescimento até o

ponto de derrubada para fins energéticos. Uma situação também favorável é a presença de

igarapé, possibilitando a plantação e cultivo do aguapé.

Todas essas alternativas de cultivos são possíveis e podem ser adequadas às

necessidades requeridas, desde que haja previamente um estudo de viabilidade e

sustentabilidade, possibilitando o rodízio no uso entre as biomassas disponibilizadas na

localidade.

5.5 – Premissas para o Estudo

As diversas situações colocadas neste estudo são feitas com base em dados reais sobre

a disponibilidade dos recursos renováveis solar e eólico e na curva de carga da comunidade.

Os recursos renováveis de biomassa supõem-se que estejam disponíveis conforme as

potencialidades, os espaços e a sustentabilidade para cada tipo de biomassa, necessários para a

situação de geração de energia por meio de célula a combustível integrada a um gaseificador

ou biodigestor.

Os estudos de viabilidade técnico-econômica são realizados para o atendimento da

demanda de Praia Grande pelas alternativas de geração baseadas nas fontes solar fotovoltaica,

eólica, diesel elétrica, a hibrida solar-eólica-diesel e a célula a combustível combinada com a

gaseificação ou biodigestão. Comparações são feitas entre essas alternativas.

71

A taxa de juros adotada em todos os casos é de 10% a.a., valor praticado geralmente,

em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Para todos os casos de planejamento

aqui apresentados, utilizou-se um horizonte de 10 anos.

Os valores dos investimentos nos equipamentos são com base nas literaturas

pertinentes e no mercado específico de cada componente. Todos os custos dos equipamentos

estão em dólar americano e adotou-se a seguinte conversão (US$ 1,00 igual a R$ 2,50).

5.5.1 – Caso 1: Sistema Solar Fotovoltaico

Com base nos dados citados anteriormente, fez-se então uma simulação de um sistema

somente com fonte de geração solar fotovoltaica (FV), utilizando o programa HOMER –

Hybrid Optimization Model for Electric Renewables[82]. A taxa de juros adotada foi de 10 %,

além da utilização de uma carga dump de 1 kWh/dia e 1,5 kW pico como forma de dissipar a

energia excedente. A potência total instalada foi de 15 kW, com um banco composto de 128

de baterias de 12 V/200Ah e um inversor de 6 kW. Aos custos dos equipamentos foram

atribuídos os seguintes valores: módulo fotovoltaico R$ 12.500,00/kW pico (US$

5.000,00/kWp), bateria R$ 600,00/unidade (US$ 240,00/unidade), inversor R$ 2.500,00/kW

(US$ 1.000,00/kW). As quantidades e as potências dos equipamentos foram estabelecidas

conforme os resultados das simulações. O custo total do investimento obtido para esta

alternativa foi de R$ 279.300,00 (US$ 111.720,00) com um custo de energia gerada de R$

2,14/kWh (US$ 0,857/kWh) dentro do horizonte de planejamento.

As figuras 5.4, 5.5 e 5.6 mostram algumas telas de resultados obtidos com a simulação

do custo da energia gerada, o estado de carga do banco de baterias e a potência gerada pelo

sistema em comparação com a carga (referente a um período do mês de abril),

respectivamente. O mês de abril foi escolhido por se tratar de um período de baixa irradiância

solar, contudo a simulação foi realizada para o período de um ano.

A figura 5.4 apresenta a composição do sistema, além dos valores de capital inicial,

valor líquido presente (NPC) corrigido pela taxa de juros (i) de 10 % a.a. e o valor da energia

gerada (COE).

Nota-se que o estado de carga do banco de baterias está na maioria do tempo

concentrado na faixa compreendida entre 80 % e 100%, com isso pode-se assegurar uma

maior vida útil para o banco de baterias. A curva de carga em função da geração foi escolhida

72

por se tratar de um período de pouca irradiância solar, no entanto mesmo assim foi possível

atender a carga em complementação com o banco de baterias.

Figura 5.4 – Valor do Custo da Energia (FV).

Figura 5.5 – Estado de Carga da Bateria (FV).

Figura 5.6 – Potência Gerada vesus Carga (FV).

73

5.5.2 – Caso 2: Sistema Eólico

Da mesma forma como foi simulado o caso do sistema solar fotovoltaico, utilizou-se

os mesmos dados de carga e velocidade de vento disponível, conforme as figuras 5.1 e 5.2,

respectivamente.

Para esse estudo foram considerados 5 aerogeradores de 7,5 kW (total de 37,5 kW) (@

12 m/s), um banco composto de 128 baterias com as mesmas especificações do sistema solar

fotovoltaico, um inversor de 8 kW, além da carga dump com a mesma característica do

sistema solar fotovoltaico. Os custos dos aerogeradores utilizados foram de R$

48.500,00/unidade (US$ 19.400,00/unidade), o inversor e as baterias seguiram os mesmos

valores utilizados no sistema fotovoltaico, sendo que o custo total do sistema foi de R$

393.300,00 (US$ 135.720,00). Dessa forma encontrou-se o valor da energia gerada de R$

3,47/kWh (US$ 1,395/kWh). Percebe-se que para o atendimento da carga é necessário inserir

uma grande quantidade de aerogeradores, devido ocorrer ao longo do ano períodos de baixa

velocidade de vento. Por exemplo, no mês de abril, período de menor velocidade o banco de

baterias deve atuar bastante, devido ao déficit na geração eólica.

Figura 5.7 – Potência Gerada vesus Carga (Aerogerador).

Figura 5.8 – Estado de Carga da Bateria (Aerogerador).

74

5.5.3 – Caso 3: Sistema Grupo Gerador Diesel

Para o estudo do sistema diesel, utilizou-se um grupo gerador diesel de 7,5 kVA

(6 kW) e o seu custo de R$ 1.250,00/kW (US$ 500,00/kW) e o valor total do investimento em

R$ 7.500,00 (US$ 3.000,00) com um custo de energia gerada de R$ 3,625/kWh (US$

1,45/kWh) e o custo do diesel de R$ 2,00/litro, significando que o consumo de óleo diesel foi

de 10.375 litros/ano.

As figuras 5.9 e 5.10 mostram os resultados obtidos com a simulação do custo da

energia e a potência gerada pelo sistema em comparação com a carga (referente a um período

do mês de abril), respectivamente. O investimento apesar de ser pequeno quando comparado

aos outros sistemas, apresenta o maior custo da energia gerada.

Figura 5.9 – Valor do Custo da Energia (Diesel).

Figura 5.10 – Potência Gerada versus Carga (Diesel).

75

5.5.4 – Caso 4: Sistema Híbrido Solar – Eólico - Diesel

Neste estudo optou-se por atender a localidade com um sistema híbrido de geração de

energia com as fontes solar, eólica e diesel elétrica e um banco de baterias como sistema de

armazenamento de energia.

O sistema foi concebido para funcionar, principalmente, com as fontes renováveis,

entrando o sistema diesel somente como backup, ou seja, nos momentos em que não haja

geração por meio dos recursos renováveis e o sistema de armazenamento esteja descarregado.

Isso faz com que se tenha uma considerável economia de óleo combustível.

O sistema proposto é composto de 6,4 kWp de módulos fotovoltaicos, 7,5 kW de

aerogerador, 5 kW de gerador diesel, 5 kW de inversor e 105,6 kWh de baterias, resultando

em um investimento de R$ 173.650,00 (US$ 69.460,00). O custo da energia gerada foi

calculado em R$ 2,08/kWh (US$ 0,833/kWh). Também foi adicionada uma carga dump de

1kWh/dia e 3 kW de pico, com o objetivo de aproveitar a energia gerada em excesso nos

momentos de altas produções de energia. As figuras 5.11, 5.12 e 5.13 ilustram a configuração

geral do sistema, as contribuições das fontes de geração em confronto com a carga e o estado

de carga do banco de baterias, respectivamente.

Observa-se que o grupo diesel atua durante alguns períodos do ano, isso devido ao

período em que as fontes renováveis produzem pouca energia por escassez do recurso. Com

as atuações do grupo gerador diesel, nota-se que este trabalha somente 441 horas/ano,

consumindo 727 litros de combustível no mesmo período. Também percebe-se que o banco

de baterias apresenta-se 40 % do tempo na faixa de 100 % do estado de carga.

Figura 5.11 – Configuração Geral do Sistema Híbrido.

76

Figura 5.12 – Fontes de Geração versus Carga do Sistema Híbrido.

Figura 5.13 – Estado de Carga do Banco de Baterias do Sistema Híbrido.

5.5.5 – Caso 5: Sistema Célula a Combustível/Biodigestão/Gaseificação

O sistema proposto refere-se aos dimensionamentos de um biodigestor e um

gaseificador alimentados por biomassas para suprirem a célula a combustível de uma mistura

gasosa. Os métodos de filtragem gasosa já foram apresentados no capítulo 4 e supõem-se

funcionar perfeitamente. Para efeito de simplificação de cálculos de investimentos, foi

atribuído um valor para a realização da reforma dos gases, o qual já está embutido no custo da

célula a combustível. Para realização das simulações com o sistema de geração a célula

combustível, não se utilizou o programa HOMER (versão 2.19), pelo fato do mesmo só

trabalhar com o hidrogênio puro alimentando a célula (eletrolisador), não tendo opção para

biomassa. Para atender às características da aplicação aqui desenvolvida, utilizou-se uma

planilha Excel para a realização dos cálculos, como serão apresentados a seguir.

77

5.5.5.1 – Dimensionamento do Biodigestor

Primeiramente, partiu-se do mesmo valor de carga média sugerida anteriormente de

2 kW para dimensionar o tamanho do biodigestor indiano a ser empregado no acoplamento

com a célula a combustível. Foi adotado um período de 40 dias de fermentação da biomassa

(esterco bovino), uma mistura de 50 % de esterco e 50 % de água, a equivalência de 1 m3 de

biogás igual a 1,428 kWh, poder calorífico de 5.800 kcal/m3 (24.244 kJ/m3) e um animal

produzindo em média 0,36 m3/dia de biogás. Supõe-se que a biomassa tem custo zero e a sua

disposição local. Portanto, a partir dos cálculos chegou-se nos seguintes dados da tabela 5.3.

Para o cálculo do valor da potência do biodigestor, utilizou-se a equação (5.4) e obtiveram-se

os seguintes resultados:

3 3BP (kW) Vol.gás (m / dia)*PCI(kcal / m )= (5.4)

Tabela 5.3 – Dados do Biodigestor. Volume Gás VG (m3/dia) 50Volume Biodigestor (m3) 110Altura a ser arbitrada h (m) 6Altura do Biodigestor H (m) 6,3Diâmetro Interno Di (m) 4,83Potência (kW) 14,05Volume gás produzido (m3/h) 4,08Diâmetro Externo Gasômetro (m) 4,77Altura Gasômetro (m) 2,80Altura Parede Divisória (m) 3,50Carga Diária Cd (m3/dia) 2,75Quantidade de Bovinos 139Custo do Biodigestor (US$) 6.656,60Custo do Biodigestor (R$) 16.641,50Custo da energia gerada (R$/kWh) 0,08

Da mesma forma (premissas), caso fosse utilizado o aguapé como biomassa para o

biodigestor, e assumindo que 1 kg de aguapé seco pode produzir 0,35 m3 de biogás, então

seriam necessários 143 kg/dia de aguapé seco. E adotando-se que um hectare produz 600 kg

de aguapé seco, logo para a produção de 143 kg/dia, são necessários 0,24 hectares de

plantação de aguapé, conforme mostrado a seguir:

3

350m .1kgQuantAguapé 142,86kg aguapéseco / dia0,35m

= = ;

78

143kg / dia.1haÁrea 0,24ha / dia600kg

= = .

Para o cálculo da célula do tipo PEM de 5 kW, suficiente para atender a carga da

comunidade, foi adotado que a vazão do hidrogênio pode ser expressa conforme a equação

(5.5)[83], encontrando-se o valor de 3,35 m3/h, valor este que leva em consideração as perdas.

Considerando algumas perdas no sistema, considera-se 4 m3/h.

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=

PCIPQ

η1 (5.5)

onde:

Q: vazão máxima (m3/h);

P: potência instalada (kW);

PCI: poder calorífico inferior do hidrogênio (10.742,6 kJ/m3);

η: rendimento da célula a combustível (50 %).

Calculada a vazão máxima, determina-se a vazão média do hidrogênio necessária por

intermédio da equação (5.6), chegando ao valor de 1,34 m3/hora. Considerando-se as perdas

encontra-se o valor de 1,6 m3/hora. O fator de carga adotado de 40 % deve-se ao fato de

corresponder ao valor de 2 kW de carga média.

FCQQm ∗= (5.6),

onde:

Qm: vazão média (m3/h);

FC: fator de carga (40 %).

O valor da energia gerada pela célula a combustível foi calculado pela equação (5.7) e

o custo do combustível (hidrogênio) foi considerado a R$ 9,50/m3 (US$ 3,80/m3), chegando a

um valor de R$ 6,37/kWh.

Henerg

C1CPCI

⎛ ⎞= ⎜ ⎟η ⎝ ⎠

(5.7),

onde:

Canerg: custo da energia (R$/kWh);

79

PCI: poder calorífico do combustível;

η: rendimento da célula a combustível (50 %);

CH: Custo do combustível (R$/m3).

5.5.5.2 – Dimensionamento do Gaseificador

Os cálculos feitos para o gaseificador com potência de 15.000 kcal/h (17,45 kW)

foram definidos a partir da quantidade de biomassa necessária para alimentar este

gaseificador. Essa quantidade de biomassa pode ser calculada por meio da equação (3.6) que

resultou em uma quantidade de 10 kg/h. A vazão de gás extraído do gaseificador nas

condições de um PCI gasoso de 1.400 kcal/m3 é de 5,36 m3/h. A equivalência de 0,9 kg de

biomassa para gerar 1HPh[84] foi adotada, então 1 kg de biomassa gerará 0,829 kWh, logo 10

kg de biomassa geram 8,29 kWh. A tabela 5.4 mostra os dados do gaseificador.

Tabela 5.4 – Dados do Gaseificador. Potência (kcal/h) 15.000Potência (kW) 17,45PCI madeira (kcal/kg) 3.000PCI gás (kcal/kg) 1.400Eficiência Gaseificador 0,5Quantidade Biomassa (kg/h) 10,00Energia Gerada (kWh) 8,29R$/m3 0,19Vazão Gás (m3/h) 5,36

Considerando que o número de árvores (NA) por hectare, depende do espaçamento

entre elas e se o mesmo for considerado de 3x2 m em um período compreendido de sete (7)

anos, tem-se que o cálculo pode ser feito por meio da equação 5.8.

1 2

4 2

(e ,e )1 2

10 mNAe e

= (5.8),

onde:

NA – é o número de árvores,

1 2e e - é a distância entre as espécies, dada em metros.

Então:

80

4 2 4

(3,2)10 m 10NA 1.666 árvores.

3.2 6= = =

O peso de cada árvore pode ser definido pela equação 5.9 e supondo que a produção

média é de 180 m3/hectare e que a densidade média da madeira[47] é da ordem de 0,625

ton/m3, então:

3 3(ton / ha) d(m / ha) (t / m )P P dens= (5.9),

Logo:

112,5 t 112500kgP 180.0,625.t 67,5kg / árvoreha 1.666árvores

= = = = .

Como a quantidade requerida de biomassa (madeira) para o gaseificador é de 10

kg/hora, então são necessários 240 kg/dia, ou seja, a quantidade suficiente para a alimentação

do gaseificador é de 3,55 árvores/dia. Em um período de um ano seriam necessárias 1.295,75

árvores. Quantidade essa perfeitamente adequada em um hectare de floresta energética

plantada.

Como a necessidade requerida de madeira por ano é de 87.600 kg e tomando-se como

base que em um metro cúbico de madeira tem-se 625 kg, então em um ano a necessidade de

madeira requerida é de aproximadamente de 140m3/ano, a área total necessária para o plantio

é dada como sendo de 5,45 hectare e a área de corte anual de 0,78 hectare, ou seja:

33

87.600kg / anoNesc.Mad 240kg / dia .365dias / ano 140,167 m / ano625kg / m

= = = ;

3

total 3140m / ano.7anosA 5,45ha

180m / ha= = , então,

corte anual1A . 5,45ha 0,78ha / ano

7ano= =

Fazendo-se os cálculos para que a célula a combustível de 5 kW seja alimentada por

gases gerados a partir da gaseificação ou biodigestão, encontraram-se os valores contidos na

tabela 5.5.

81

Tabela 5.5 – Dados da Célula a Combustível Alimentada por Gaseificação ou Biodigestão. Gaseificação Biodigestão

Vazão Máxima (m3/h) 6,15 1,80 Vazão Média (m3/h) 2,46 0,72 Custo Comb. (R$/kWh) 0,14 0,12

Aplicando-se uma taxa de juros (i) de 10 % ao ano (a.a), o valor do fator de

recuperação de capital (FRC) para esta situação foi de 0,16. A partir do FRC encontrado e

assumindo os valores de R$ 25.000,00/kW (US$ 10.000,00/kW) para a célula a combustível e

o processo de reforma dos gases, operação e manutenção determinada a partir dos gastos

horários com combustível a ser utilizado e fator de capacidade de 40 %, determinou-se que os

custos da energia gerada a partir da célula a combustível, para as alternativas de biodigestão e

gaseificação, e também considerando taxas de juros diferenciadas, estão apresentados na

Tabela 5.6. Para determinar esses custos, utilizou-se da equação (5.10). Valor de operação e

manutenção (OM) utilizado para esta situação foi baseado na equação (5.11).

Investimento (R$)Energ.(R$ / kWh) (FRC OM)8760(h)*FC*Pot (kW)

= + ∗ (5.10),

3 3Cons.Combust.(m / dia)*CustoCombust.(R$ / m )*365diasOM

Investimento (R$)= (5.11),

Considerando os casos da tabela 5.6, obtêm-se diversos valores de custo de energia

gerada. O valor de R$ 0,97/kWh foi encontrado para uma taxa de juros de 5 %, isso significa

dizer que, se os juros praticados no país para incentivo das energias renováveis fossem

menores, com certeza ter-se-ia maior competitividade dessas fontes. A figura 5.14

exemplifica o que foi comentado acima, para tanto se empregou o conjunto célula a

combustível/biodigestão.

Tabela 5.6 – Cenários de Taxas de Descontos e FRC. Taxa de Desconto

5% 10% 15% FRC

0,13 0,16 0,20 Célula a Combustível

(R$/kW) (R$/kW) (R$/kW) 25.000,00 25.000,00 25.000,00

Gaseificação R$/kWh 1,15 1,39 1,48

Biodigestão R$/kWh 0,97 1,20 1,46

82

Na figura 5.14 pode-se observar que mantendo o valor de R$ 25.000,00/kW e variando

a taxa de juros de 5, 10 e 15 % em um período de funcionamento de 24 horas por dia, o custo

da energia gerada varia significativamente, correspondendo aos valores de R$ 0,97/kWh, R$

1,20/kWh e R$ 1,46/kWh. Vale ressaltar que o valor da taxa de juros praticada no mercado

influencia substancialmente no custo da energia gerada[85].

Figura 5.14 – Custo da Energia do Sistema com Célula a Combustível/Biodigestão.

A seguir na tabela 5.7, são mostrados os diversos valores de energia para uma variação

no preço da célula a combustível. Os valores inseridos para este cenário estão baseados em

literaturas pertinentes ao assunto e que estão compreendidos entre US$ 5.000,00 e US$

7.000,00, acrescido de US$ 4.000,00 do reformador, obedecendo a uma variação na taxa de

juros de 5% a 15%. Observa-se que a uma taxa de juros de 5% e o preço do kW da célula a

combustível de R$ 22.500,00 (US$ 5.000,00 + US$ 4.000,00) o preço da energia gerada varia

de R$ 0,97 a R$ 1,06. Implicando em dizer que caso as taxas de juros de mercado e os preços

do kW da célula a combustível baixem ainda mais, tem-se maior competitividade desse tipo

de fonte de geração com as demais fontes já consagradas.

Tabela 5.7 – Cenários de Custos de Energia versus Investimentos.

R$/kW R$/kWh 5% 10% 15%

22.500,00 0,87 1,08 1,32

25.000,00 0,97 1,20 1,46

27.500,00 1,06 1,32 1,61

83

5.5.6 – Caso 6: Sistema Híbrido Solar – Eólico – Célula a Combustível (Eletrólise)

Neste estudo optou-se por atender a localidade com um sistema híbrido de geração de

energia com as fontes solar, eólica, célula a combustível e um banco de baterias como sistema

de armazenamento de energia.

O sistema foi concebido para funcionar, principalmente, com as fontes renováveis,

entrando a célula a combustível como backup, ou seja, nos momentos em que não haja

geração por meio dos recursos renováveis e o sistema de armazenamento esteja descarregado.

O sistema proposto é composto de 3 kWp de módulos fotovoltaicos, 15 kW de

aerogerador, 2 kW de Célula a combustível, 5 kW de inversor e 38,4 kWh de baterias,

resultando em um investimento de R$ 208.600,00 (US$ 83.440,00). O custo da energia gerada

foi calculado em R$ 2,08/kWh (US$ 0,833/kWh). As figuras 5.15, 5.16 e 5.17 ilustram a

configuração geral do sistema, as contribuições das fontes de geração em confronto com a

carga e o estado de carga do banco de baterias, respectivamente.

Observa-se que a célula a combustível atua durante alguns períodos do ano, isso

devido ao período em que as fontes renováveis produzem pouca energia por escassez do

recurso. Com as atuações da célula a combustível, nota-se que esta trabalha somente 2.631

horas/ano, produzindo 2.726 kWh/ano. Também percebe-se que o banco de baterias

apresenta-se 40 % do tempo na faixa de 100 % do estado de carga.

Figura 5.15 – Configuração Geral do Sistema

84

Figura 5.16 - Contribuições das Fontes de Geração em Confronto com a Carga

Figura 5.17 - Estado de Carga do Banco de Baterias

A seguir mostra-se por intermédio da figura 5.18 a variação no preço da energia

gerada a partir das fontes descritas nos tópicos anteriores. Observa-se que nas condições aqui

adotadas como premissas básicas para o efeito de cálculo, o conjunto célula a

combustível/biodigestor apresenta-se como uma das melhores opções para a geração de

energia em pequena escala para localidades isoladas, como as da região amazônica. Em

ordem crescente de apresentação dos valores de energia para as diversas fontes de geração,

tem-se: célula a combustível/biodigestor (R$ 1,20); célula a combustível/gaseificador (R$

1,39); sistema híbrido –solar – eólico- diesel (R$ 2,08); solar (R$ 2,14); eólica (R$ 3,47),

diesel (R$ 3,63) e sistema híbrido – célula (R$ 2,02).

85

Figura 5.18 – Custo da Energia Gerada para Diversas Fontes de Geração.

Nota-se que gerar energia via biogás é sem dúvida uma das alternativas que se tem,

bastando, no entanto que se incentivem as tecnologias já existentes e se dê as devidas

aberturas de mercados.

5.6 - Conclusão

Neste capítulo abordou-se de forma sucinta a caracterização da localidade escolhida

para efeito de estudos de casos e as especificações dos equipamentos que formam os vários

tipos de geração de energia para suprimento da mesma. Primeiramente levantaram-se os

potenciais de energias solar e eólica disponíveis, além da carga a ser suprida. Em seguida, a

partir de dados encontrados em literatura e supondo a disponibilidade local de recursos de

biomassa, partiu-se então para os cálculos de geração de energia a partir de parâmetros

econômicos.

Os estudos foram realizados para suprir a carga da localidade com as diversas formas

de geração de energia, entre as quais a solar fotovoltaica, a eólica, a diesel-elétrica, a híbrida

(solar-eólica-diesel), a célula a combustível combinada com o biodigestor e com o

gaseificador, e a híbrida (solar-eólica-célula a combustível (eletrólise)). Assim sendo, pôde-se

observar que o valor da energia gerada a partir dessas fontes de geração de energia indicou

uma tendência para o conjunto célula a combustível/biodigestor, pois apresentou a melhor

opção em termos de valores monetários, além de que essa forma de geração de energia emite

pouca ou quase nenhuma poluição para o meio ambiente.

86

Conclusão Nesse trabalho foram abordadas algumas formas de geração de energia para

suprimento de comunidades isoladas da Região Norte. Dentre elas, pode-se destacar a célula a

combustível alimentada por meio de gases provenientes da gaseificação e biodigestão.

Alguns tipos de biomassa foram estudados. No entanto, priorizou-se a madeira como

elemento para estudo da matéria prima na produção de gás proveniente da gaseificação,

devido a sua disponibilidade em diversos locais da Região, ou até mesmo a facilidade de se

obter uma floresta energética para fins de geração de energia.

Também, devido a algumas características locais da Região Norte, optou-se por

concentrar os estudos na biomassa do aguapé e esterco bovino como matérias-primas na

geração de energia por meio do biodigestor. A opção foi em função da produção e

produtividade de biogás gerado a partir desses dois tipos de biomassa, como também pela

facilidade de obtenção local dessas matérias-primas, visto que geralmente dispõem-se de rios,

lagos ou igarapés para a proliferação do aguapé e pastos para a criação de gado.

O gás proveniente da gaseificação e/ou biodigestão pode ser aproveitado na

alimentação de células a combustível, desde que se possa fazer um tratamento adequado,

conforme os diversos métodos apresentados a seguir: conversão do CH4 e do CO, remoção

ácida, remoção de umidade, remoção de enxofre, e metanação.

Dentre as diversas fontes de geração de energia, a célula a combustível alimentada por

meio do biogás gerado a partir do aguapé ou esterco bovino, apresenta-se como uma

alternativa viável, devido à disponibilidade local e ao custo de produção de energia.

Os estudos mostraram que a gaseificação da madeira para a produção de energia em

conjunto com a célula a combustível também é de baixo custo, se comparado com as outras

formas de geração citadas neste trabalho.

Pode-se concluir que as fontes alternativas apresentam-se como uma forma para a

geração de energia em comunidades isoladas, principalmente quando a elas for associada a

célula a combustível alimentada por biodigestão ou gaseificação a partir de biomassas locais,

reforçando a sustentabilidade energética e contribuindo para uma baixa poluição ao meio

ambiente.

87

Sugestões para Futuras Pesquisas

Futuros trabalhos podem ser desenvolvidos a partir do atual, envolvendo

principalmente os pontos a seguir:

1 – Implantação de um projeto de integração célula a combustível com a biodigestão ou

gaseificação, para levantamento de parâmetros técnicos, sociais, econômicos, e de

sustentabilidade, considerando um caso real de atendimento de localidade isolada na

Amazônia.

2 – Desenvolvimento de modelos computacionais, integrando os processos de gaseificação e

de biodigestão com a célula PEM, de modo a automatizar os procedimentos de projeto.

3 – Estudo para inserção prática da integração célula a combustível PEM com as diversas

formas de eliminação de impurezas provenientes do gás da biodigestão ou gaseificação,

citadas neste trabalho.

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