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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Thais Ramos de Lima Dever de casa: os diferentes pontos de vista Rio de Janeiro 2013

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Thais Ramos de Lima

Dever de casa: os diferentes pontos de vista

Rio de Janeiro 2013

Thais Ramos de Lima

Dever de casa: os diferentes pontos de vista

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia, Escola de Educação do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), como requisito para a obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia.

Orientadora: Profa. Dra. Sandra Albernaz de Medeiros

RIO DE JANEIRO

2013

Thais Ramos de Lima

Dever de casa: diferentes pontos de vista

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia, Escola de Educação do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), como requisito para a obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia.

Aprovada em ______/______/__________

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Sandra Albernaz de Medeiros

(Orientadora)

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Marcela Afonso Fernandez

(Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO)

Rio de Janeiro 2013

Dedico este trabalho a todas as crianças e suas famílias.

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus toda honra, glória e louvor, pois até aqui me sustentou e capacitou.

À minha orientadora Sandra, pela sensibilidade, sinceridade e incentivo.

Ao meu amado esposo e marido, que dividiu comigo todas as emoções

proporcionadas por esta experiência, tornando tudo mais fácil.

Aos meus queridos pais que acreditaram e investiram em mim desde sempre.

À minha amiga Kelly pela parceria e força.

À Luciana, Thais e Raquel pela amizade de sempre.

Aos amigos e familiares que torcem por mim.

Aos profissionais que se dispuseram a participar e contribuir com suas experiências

para este trabalho.

RESUMO

Esta monografia apresenta os resultados de uma pesquisa qualitativa sobre os

diferentes pontos de vista a respeito dos impactos dos deveres de casa nas relações

familiares. Realizada a partir da analise de entrevistas e questionários aplicados a

professores e pais de crianças de 4º e 5º anos do ensino fundamental, revelam a

opinião e o sentimento de cada grupo sobre esses deveres. Seu objetivo principal é

entender como os deveres de casa influenciam as ações e comportamentos das

famílias, e como estes, por sua vez, interferem na aprendizagem das crianças.

Também questiona a necessidade e a eficácia deste recurso, e discute questões em

torno de suas formas de aplicação, e adequação à realidade atual. Ela revela o

quanto o dever de casa ainda é muito valorizado como parte dos processos de

aprendizagem, porém, pouco questionado. E o quanto os pais estão impregnados

com esse valor, embora sejam afetados pelas limitações deste tempo.

Palavras-chave: Família. Dever de casa. Escola.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8

1 Muito prazer, eu sou o dever de casa ................................................ 100

1.1 Breve hitórico .......................................................................................... 10

1.2 Propostas e características ..................................................................... 12

1.3 Contribuições ............................................. Erro! Indicador não definido.

1.4 O suporte da família e a relação com o sucesso escolarErro! Indicador não

definido.

1.5 O dever de casa nos documentos e publicações .................................... 16

2 Desafios de um novo tempo ................................................................. 18

2.1 As novas TIC’s ........................................................................................ 18

2.2 O discurso do prazer ............................................................................... 19

3 Narrativas e impressões ....................................................................... 22

3.1 O que pensa a escola.............................................................................. 22

3.1.1 Razões e alternativas de utilização ......................................................... 24

3.1.2 Reações .................................................................................................. 25

3.2 A visão dos pais .................................................................................... 27

3.2.1 O perfil das familias analisadas ............................................................... 28

3.2.2 Como o dever de casa acontece ............................................................. 28

3.2.3 As interferências na família ..................................................................... 30

4 De outro ponto de vista ........................................................................ 34

Considerações finais ..................................................................................... 37

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 39

ANEXOS .......................................................................................................... 41

Concebido como parte integrante do processo ensino-

aprendizagem, o dever de casa não apenas afeta seu

planejamento e implementação, e, portanto, o trabalho

docente, mas afeta também a vida dos estudantes fora da

escola e sua rotina familiar, pois supõe a conexão entre as

atividades de sala de aula e de casa, e uma estrutura

doméstica adequada apoiando as atividades escolares.

Maria Eulina Pessoa de Carvalho

8

INTRODUÇÃO

Apesar de ser uma prática muito antiga e também ainda muito presente

nas nossas escolas, o dever de casa é um campo pouquíssimo explorado pelos

estudiosos da educação no Brasil. São raras as publicações que o abordam como

tema principal. E, em geral, é apenas citado superficialmente dentre as estratégias

pedagógicas. Porém, entre pais e alunos, esse é um assunto bastante comum, pois

afeta diretamente suas vidas, seu convívio, seus hábitos e sua rotina.

Com frequência ouço crianças na faixa dos oito aos doze anos de idade

dizerem que não gostam de fazer deveres de casa, porque eles são chatos e

atrapalham suas brincadeiras. Os pais também reclamam. Os que trabalham fora se

queixam de ter que acompanhar os deveres dos filhos no pouco tempo que têm para

ficarem juntos. E entre os que não trabalham, também há comentários a respeito

deles, seja devido à quantidade de exercícios, ao grau de dificuldade e até sobre o

comportamento do filho durante a realização das tarefas. No entanto, ao mesmo

tempo em que alguns reclamam, outros (e, às vezes, até os mesmos), veem com

maus olhos as professoras que utilizam pouco, ou não utilizam a tarefa de casa em

suas aulas. Isso acontece, porque a maioria destes pais foi educada com métodos

tradicionais, de onde o dever de casa se originou e, portanto, era muito valorizado e

tinha seu espaço garantido.

Marcado pelos extensos exercícios de repetição, e tendo como objetivo

principal a memorização dos conteúdos das aulas, o dever de casa é um recurso

eficaz no que diz respeito à preparação do aluno para uma sociedade focada em

resultados quantitativos e exames classificatórios, mas também contribui em

aspectos disciplinares e no estreitamento das relações entre a família e a escola.

A escolha deste tema, foi a partir da percepção de um grande desconforto

familiar durante os momentos de realização de deveres de casa de um de meus

irmãos mais novos, quando comecei a refletir sobre o assunto como estudante de

educação, atentando também para o sentimento de outras famílias a respeito da

tarefa de casa de suas crianças, questionando sua interferência no contexto familiar

e sua função no processo educativo.

Esta monografia apresenta a importância do dever de casa como ferramenta

pedagógica sob uma perspectiva tradicional, e analisa, através de entrevistas e

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questionários, os dois principais pontos de vista: o da escola (professores), e o dos

pais. Minha intenção é compreender como o dever de casa realmente afeta as

relações familiares, além de conhecer a opinião das crianças, dando ênfase à

relação família-escola, com as contribuições do dever de casa para essa parceria e

para o sucesso escolar de crianças de 4º e 5º ano do Ensino Fundamental.

No primeiro capítulo, apresento o tema delineando alguns de seus aspectos

principais, com o objetivo de orientar a leitura e a analise das narrativas. Já o

segundo capítulo é o recorte de duas questões muito atuais, que interferem

diretamente na aplicação do dever de casa, onde proponho medidas que visem à

melhora na utilização deste recurso, adequando-as aos novos interesses da

sociedade. Mais adiante, no terceiro capítulo, trago as experiências e opiniões de

quem lida com o dever de casa, contando ainda com a abordagem do tema sob uma

perspectiva diferente, que é discutida no capítulo quatro, e fechando o texto com as

minhas contribuições e impressões sobre o que este estudo me causou.

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1 MUITO PRAZER, EU SOU O DEVER DE CASA

Para entender o dever de casa hoje, é preciso conhecer alguns detalhes

importantes a seu respeito. Por isso, antes de iniciar as discussões sobre o tema,

apresento um pouco de sua história, características, propostas e contribuições para

o processo de formação do aluno, bem como os desafios enfrentados pelos

docentes em suas formas de aplicação, contando com o apoio dos principais

teóricos do assunto.

Há também a abordagem de questões que envolvem a participação e o

acompanhamento dos pais, e os impactos desta parceria no sucesso escolar da

criança. E, finalmente, o dever de casa enquanto objeto de pesquisa e sua citação

em publicações de diversas naturezas. Tudo isso, para servir como base para um

questionamento a respeito do espaço do dever de casa na sociedade atual.

1.1 Breve histórico

Não se tem registros exatos de quando o dever de casa começou a ser

incorporado às práticas educativas, mas sabemos que está relacionado aos

exercícios de repetição para fixação e memorização, comuns da perspectiva

tradicional. Nogueira (2002) cita as propostas de Comênio e Herbart para as práticas

educativas, como possível origem dos deveres de casa. Comênio é citado por ter

definido o ensinar como ato de fazer marcas pela repetição, ou seja, o professor

aplica exercícios para o aluno, para que este aprenda. Para que haja aprendizagem,

é preciso que haja ação por parte do aluno, e podemos supor que esta ação seja a

de repetição, por meio da resolução de exercícios. Além disso, no método de

Comênio para a escola de língua nacional, escola onde as crianças aprendiam as

coisas que lhes seriam mais uteis ao longo da vida, como ler, escrever e contar, ele

propõe que o tempo de estudos diários seja de quatro horas, divididos em dois

momentos. O primeiro seria, basicamente, a exposição da lição pelo professor, e o

segundo, a apropriação da lição pelos alunos, que se daria por meio da prática. No

entanto, Nogueira (2002) discorda de que Comênio tenha sido precursor das tarefas

de casa, pois suas propostas estão voltadas para as aulas, não sendo citadas

atividades passadas pelo docente para que os alunos resolvessem em casa.

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Com relação às propostas de Herbart, a origem dos deveres de casa poderia

estar no último dos passos formais da instrução: o método ou aplicação, que seria o

momento em que o aluno resolve exercícios para a apropriação da lição. A diferença

de Herbart para Comênio, é que Herbart não restringe essas tarefas ao período de

aula. Entendendo que o tempo que as crianças passam na escola é curto demais

para a realização de todos os passos (clareza, associação, sistematização e

método), Nogueira (2002, p. 44) afirma que “as oportunidades para que a aplicação

aconteça estendem-se para além da escola, podendo claramente chegar à casa do

aluno”.

No entanto, há indícios de que a as lições para serem feitas em casa como

complementação das aulas tenham se oficializado nos anos 30, nos Estados

Unidos, direcionadas às crianças moradoras da zona rural (LOPES, 2012). Nesta

época, “se acreditava que eles precisavam de mais atividades do que as que viviam

nas cidades.” (GRINBERG, 2012). Não sei dizer ao certo o motivo deste raciocínio,

mas podemos supor que seja em virtude da falta de coisas com o que se ocupar,

partindo do principio de que criança não deve trabalhar. Ou talvez, a falta de contato

com as novidades da cidade.

Aqui no Brasil, o dever de casa já está presente desde a época da

colonização, no inicio da atuação das escolas jesuíticas. Naquela época, de

segunda a sexta-feira, exceto feriados, os alunos deviam passar uma hora repetindo

o que aprenderam em aula. Era preciso reler tudo, e, caso identificassem alguma

duvida, eles deveriam levar para o professor explicar na aula seguinte (GRINBERG,

2012).

Porém, durante o Movimento Progressista, o dever de casa viveu seus

momentos de crise, sendo condenado por se tratar de uma contribuição para a

memorização, e um impedimento para as atividades livres, de estimulo a

criatividade, dos alunos e suas famílias (CARVALHO, 2004), já que era comum o

uso de grandes apostilas de exercícios, com os quais as crianças “gastavam”

bastante tempo, diminuindo assim, o tempo para desenvolver atividades diversas

com outras crianças e até mesmo com sua própria família.

Mais tarde, pesquisas começam a mostrar a relação entre o dever de casa e

o aproveitamento escolar, onde o primeiro apareceu como grande contribuinte para

o sucesso do segundo, reforçando o papel de instrumento pedagógico do dever de

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casa, que permanece fortemente presente, tanto no Brasil, como em muitos outros

países pelo mundo.

O dever de casa é visto ainda como uma maneira de aproximar a família e a

escola, o que Libâneo (1994) chama de função social da tarefa de casa,

possibilitando que a família acompanhe o que as crianças estão aprendendo, tendo

a oportunidade de contribuir, e até interferir nesta atividade.

Entretanto, atualmente, o dever de casa é uma prática questionada por alguns

profissionais que trabalham com uma proposta de educação mais moderna, que se

preocupa em formar o aluno como cidadão completo, para a vida, e não para

competições e classificações. O foco está em desenvolver a criatividade, interesses

e aptidões do aluno, não mais em decorar formulas e conteúdos que, muitas vezes,

são esquecidos logo após os testes, por não terem nenhuma aplicação no dia a dia.

Nesta nova proposta, o dever de casa assume outro formato, voltado para objetivos

mais amplos, ou apenas deixa de existir.

1.2 Propostas e características

Há muitas expressões que usamos para nos referirmos às atividades

escolares passadas para serem feitas em outro momento, fora do período escolar–

lição, tarefa, trabalho, dever de casa. Ao pesquisar nos dicionários, percebemos que

as definições dessas palavras se completam e definem as principais características

desta atividade. A definição de tarefa mostra a questão do prazo determinado para

sua realização ou entrega, enquanto que o dever é algo imposto, uma obrigação.

Essas duas palavras nos remetem ao caráter de disciplina que tem o dever de casa

na perspectiva tradicional, já que as crianças geralmente são punidas (perdem o

recreio, os pais são chamados na escola, e etc.), caso deixem de fazer a lição

dentro do prazo. Aí está uma das faces do dever e casa, a de disciplinarização física

e intelectual, como preparação para a vida, que é recheada de cobranças desta

natureza. Já a palavra trabalho é definida como uma atividade com um objetivo. E

lição é tanto o conteúdo que o aluno aprende, como o exercício que realiza para

apropriar-se dele. Essas últimas são expressões mais ligadas ao processo de

aprendizagem, e essenciais no momento da elaboração das atividades.

Ao desenvolver a proposta de um exercício para casa é preciso pensar: “O

que quero que meus alunos aprendam?”, e ainda: “Qual é o objetivo desta

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atividade?” para que os alunos consigam realizar o trabalho de maneira proveitosa

para sua aprendizagem. Passar dever de casa por passar, sem um objetivo bem

definido, pode acabar tendo consequências opostas àquelas que esperamos, como

nos alerta Capelletti (1983 apud NOGUEIRA, 2002, p. 21): “A lição tende a ser um

trabalho repetitivo que em lugar de criar um hábito de trabalho intelectual na criança

tende a afastá-la dele.” Essa tendência está relacionada ao objetivo inicial do dever

de casa, o de memorização. No entanto, exercícios repetitivos e em quantidade

exagerada vão contra as estratégias de convencimento aos alunos de fazerem suas

tarefas. O momento da lição de casa é um tempo em que, muitas vezes, a criança

está deixando de fazer algo que ela realmente goste, ou esteja com vontade de

fazer, e está ao seu alcance. Por isso precisa ser interessante, para que a criança

consiga manter seu foco no que está fazendo.

1.3 Contribuições

A tarefa de casa apresenta diversas funções, como a de conhecer as

dificuldades que os alunos apresentam em determinados assuntos, já que,

teoricamente, é uma oportunidade para o aluno resolver questões sozinho, sem a

interferência dos colegas, com mais concentração, e no seu próprio tempo, sem

ninguém o pressionar, Embora saibamos que muitas vezes há a interferência de

pais, irmãos, explicadoras, e etc. Ele também pode servir para introduzir um tema

que será trabalhado numa próxima aula, desde que isso fique bem claro para os

alunos, desde o momento de aplicação destes deveres. Assim, o professor tem a

oportunidade de saber quais conhecimentos seus alunos já trazem a respeito

daquilo, e poderá trabalhar um conteúdo de forma muito mais interessante e

adequada ao seu grupo.

Além disso, a tarefa de casa também pode servir para aprofundar, fixar e

reforçar temas que já foram bem apresentados em sala de aula (CARVALHO, 2006),

para que aluno e professor percebam onde ainda há alguma dúvida, e possam sana-

la antes de passar para um próximo conteúdo. Ou seja, serve também como

avaliação.

É importante destacar, portanto, que a tarefa de casa não traz benefícios

apenas para o ensino de disciplinas curriculares. Carvalho (2006) afirma:

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O dever de casa também encontra justificativas de ordem psicológica e moral: construção da independência, autonomia e responsabilidade do estudante através do desenvolvimento de hábitos de estudo e pontualidade [...] (p. 87).

É uma forma de disciplinar o corpo, como já dito, organizar o tempo,

acostumar-se com prazos, critérios e formatos, que serão cobrados ao longo da vida

e que podem ser trabalhados desde cedo, com mais flexibilidade, para preparar a

criança ou o jovem para as exigências que sofrerão do mercado de trabalho mais à

diante.

Também é o dever de casa um dos canais de comunicação e

acompanhamento, que possibilitam a avaliação tanto do trabalho do professor, como

da participação dos pais na formação da criança.

1.4 O suporte da família e a relação com o sucesso escolar

Nas concepções tradicionais da educação, o dever de casa assume o papel

de um grande contribuinte para o sucesso escolar. Não apenas por suas funções já

citadas, como revisão e fixação da matéria, mas, parte da importância do dever de

casa é o fato de se tratar de um convite à participação e envolvimento da família na

educação formal de seus filhos. Pesquisas comprovam que os filhos de pais que

cobram, perguntam sobre, ou oferecem ajuda para os deveres de casa, e ainda

acompanham as atividades escolares e estimulam o hábito da leitura, costumam ser

os que apresentam as melhores notas das turmas. (CARVALHO e BURITY, 2005).

A partir deste convite, muitos pais realmente se comprometem a participar, e

contribuir para o rendimento escolar de seus filhos. Neste contexto, observamos que

as crianças de famílias de classes mais favorecidas possuem maiores condições de

apresentar um desempenho consideravelmente melhor do que aquelas de classes

menos abastadas, devido à disponibilidade de recursos que seus pais oferecem.

Segundo Carvalho (2000):

Trata-se, em geral, de família dotada de recursos econômicos e culturais, dentre os quais destacam-se o tempo livre e o nível de escolarização da mãe, expressos no conceito de capital cultural de Bourdieu (1987). (p. 144).

Esses recursos permitem que o aluno tenha o suporte necessário para

alcançar melhores resultados.

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Vemos, então, que a condição econômica e cultural da família também

influencia no sucesso escolar. Isso não se constitui, obviamente, em uma regra. É

apenas a definição clara das desigualdades de oportunidades entre as classes,

tendo em vista que, algumas famílias podem proporcionar a seus filhos uma

complementação ou reforço dos estudos, seja por meio de professores particulares,

psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos, ou por si próprio, quando há

disponibilidade de tempo, e capital cultural suficiente para tal, embora saibamos que

essa disponibilidade de tempo é cada vez mais rara, mesmo nas famílias com

melhores condições econômicas. Outros pais, no entanto, não têm condições de

bancar a contratação destes profissionais que deem suporte à educação de seus

filhos, e também não tem disponibilidade de tempo ou capital cultural para eles

mesmos o fazerem, embora reconheçam a importância deste investimento.

Preocupado com essa desigualdade de oportunidades educacionais entre as

crianças, em 2012, o então presidente da França, François Hollande, propôs o fim

das tarefas de casa em seu país. Sua justificativa é baseada em pesquisas que

comprovam que o rendimento escolar dos ricos é maior, pois têm acesso à aulas

particulares. O objetivo de Hollande é tornar a educação francesa mais igualitária,

limitando o tempo de estudos apenas àquele passado dentro da escola (MENDES,

2012). Essa medida não seria o fim das desigualdades, mas apenas um caminho

para reduzi-las.

Além do suporte que a família pode proporcionar a seus filhos quanto à

complementação dos estudos, há ainda um fator fundamental para sucesso escolar

proveniente dos deveres de casa: o ambiente do local de realização desses deveres.

É muito importante que este seja um ambiente especifico, reservado, organizado,

bem iluminado, confortável e equipado com todo o material que a criança precisa

para fazer seus trabalhos, evitando que interrompa suas atividades algumas vezes

para busca-los. A preparação deste ambiente faz a diferença, facilitando a

concentração.

Quando a criança tem a possibilidade de ter um local que seja dela,

exclusivamente para a realização de seus deveres, torna-se mais fácil e provável

que ela adquira o hábito e rotina de estudos. E, mais uma vez, esta é uma condição

que nem todos os pais podem oferecer, por diversas razões, ressaltando novamente

a questão das desigualdades. Pensando nisso, Libâneo (1994, p. 193), sugere que

“as escolas deveriam destacar uma sala na escola onde, sob supervisão de um

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professor, as crianças pudessem permanecer de uma a duas horas, fora do horário

de aulas”, justamente para equalizar as oportunidades e condições de realização

das tarefas “de casa”.

1.5 O dever de casa nos documentos e publicações

Entre as pesquisas realizadas neste trabalho, fiz uma busca pelas palavras

“casa”, “dever”, “lição”, “tarefa” e “trabalho”, em arquivos digitalizados dos mais

importantes documentos oficiais de educação em nosso país, como as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCN), que são normas

estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), de caráter obrigatório

para o planejamento curricular das escolas de Educação Básica; os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN), documento separado por disciplinas, que orienta e dá

suporte à prática docente na aplicação e adequação ao currículo; e a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei nº 9.394/96), norteadora da educação

brasileira, que distribui os papéis e responsabilidades, e onde constam direitos e

deveres, definições e classificações relacionadas a todas as modalidades de ensino

em nosso país. Nestes documentos, não encontrei nada relacionado ao tema aqui

abordado.

Apenas o Plano Nacional de Educação (PNE), onde são traçadas metas e

objetivos a serem atingidos pela educação brasileira no prazo de dez anos, que em

sua publicação de 2001, cita o apoio às tarefas escolares como um dos objetivos

para as escolas de tempo integral. Essas tarefas escolares são os deveres

passados para além do tempo de aula, ou seja, deveres de casa. A maneira como o

tema é citado no PNE de 2001 dá a ideia de que as tarefas de casa já são algo

posto como parte de nossa educação, algo que faz parte do cotidiano da escola. No

entanto, ela não está presente em nenhum documento oficial, constante como parte

do processo de aprendizagem ou ferramenta pedagógica de utilização sugerida ou

obrigatória.

Mas não é apenas entre os documentos oficiais que se percebe a escassez

de material publicado referente aos deveres de casa. Conforme já alertado por

Carvalho (2006), apesar de ser uma questão de fundamental importância para tratar

das relações família-escola, além de ser uma prática muito antiga que,

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consequentemente, sugere a necessidade de ser questionada com frequência, são

poucas as pesquisas que tenham o foco principal no dever de casa.

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2 DESAFIOS DE UM NOVO TEMPO

Com o intuito de instigar a reflexão a respeito das formas de utilização dos

deveres de casa adequadas à realidade atual, divido este capitulo em dois tópicos

que são marcas do nosso tempo, e que influenciam diretamente nesta prática,

sugerindo medidas para adaptação do dever de casa aos novos hábitos e

exigências da sociedade, aproveitando o melhor dos recursos mais modernos. As

implicações das constantes inovações tecnológicas, nas quais as crianças de hoje já

nascem imersas, nas relações familiares, e as interferências da escola. E os

desafios enfrentados pelos educadores, diante dessas novidades para atrair a

atenção de seus alunos.

2.1 As novas TIC’s

Com os avanços tecnológicos, a cada dia surgem mais coisas para atrair a

atenção das crianças, seja dentro ou fora da escola, como televisão, vídeo games,

tablets e smartphones, além das brincadeiras tradicionais, e atividades diversas do

interesse de cada um. Diante disso, as Tecnologias de Informação e Comunicação

aparecem como especial instrumento da educação, podendo contribuir, inclusive,

com as tarefas de casa.

Precisamos ser otimistas e aproveitar este contato que o jovem vive atualmente com o mundo, como aliado no processo ensino-aprendizagem, basta que o professor seja criativo e dedicado. O aluno possui as ferramentas principais para esta mudança e já chegam plugados nos mais modernos aparelhos tecnológicos acoplados às câmeras digitais, MP3, comunicadores sociais, telefones celulares conectados à Internet, e o que é mais interessante, gostam de lidar com estes aparelhos e descobrir as novidades, satisfazendo assim, suas curiosidades. (ANDRÉ; ESPIRITO SANTO, 2013, v. 2, p. 239).

Se os alunos estão ávidos das novas TICs, então é preciso pensar maneiras

de utilizá-las também nas atividades escolares, inclusive nos deveres de casa,

sempre levando em consideração o nível de acesso que cada turma tem a essas

novas tecnologias. Os professores precisam conhecer e estar inteirados do universo

digital. Muitos programas e aplicativos que ajudam nas propostas educativas, e de

incentivo a trabalhos autorais já existem no mercado, e o professor pode se

aproveitar deles para aprofundar e fixar conteúdos, além de promover a pesquisa

19

sobre os temas que despertam a curiosidade de seus alunos e estimulam sua

criatividade. Neste contexto, o professor é o mediador no conhecimento que o aluno

adquire em seu contato com a tecnologia. Para o aluno, certamente será uma

motivação a mais, poder fazer sua lição diretamente do celular, computador ou

tablet.

Uma das professoras que entrevistei contou que costuma trabalhar com

pesquisas na Internet sobre temas do cotidiano e de interesse de seus alunos como

proposta de dever de casa, com o objetivo de preparar os alunos para um debate na

aula seguinte. Dessa forma, ela afirma que os alunos se mostram muito mais

dispostos a fazer as atividades, do que quando passa exercícios no livro ou no

caderno.

2.2 O discurso do prazer

Mas será que conseguiremos sempre utilizar propostas atrativas e prazerosas

para abordar os conteúdos que precisamos trabalhar, eliminando esses exercícios

de repetição, que os alunos acham desinteressantes?

Pensemos então nos atletas e músicos, que precisam de muitos treinos ou

ensaios, onde farão inúmeras repetições de suas ações, a fim de alcançar a

excelência. Embora gostem de suas atividades, creio que, em alguns momentos, as

repetições tornem-se desgastantes para eles também. Porém, reconhecer a

importância delas para atingir o objetivo, é o que os mantem motivados.

Em diversas situações, para alcançar um objetivo proposto, precisamos fazer

algo que não gostamos, e até renunciar coisas que gostamos durante um período,

para nos dedicarmos exclusivamente a este objetivo. Os alunos precisam

reconhecer a importância das atividades para sua formação, o objetivo e aplicação

daquilo que estão aprendendo, para que também se sintam motivados a se

esforçarem, mesmo que achem os exercícios chatos em alguns momentos, pois

essas situações irão se repetir muitas vezes durante toda a sua vida.

É papel do professor, fazer com que as crianças entendam a importância de

cada conteúdo. É importante que, no momento da aplicação do dever, o professor

explique com clareza o que deverá ser feito na tarefa. Segundo Assman (1999 apud

PORTO, 2006, v. 31, p. 348), “o conhecimento só emerge em sua dimensão

vitalizadora quando tem algum tipo de ligação com o prazer”. O prazer pode não

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estar na tarefa, mas no ato de alcançar seu objetivo, sua realização, e ainda, na

superação de curiosidades. Propostas lúdicas, atividades que despertem

curiosidades e envolvam a natureza, passeios culturais e a participação dos pais,

podem ser estratégias para começar a mostrar pra criança a importância da tarefa

de casa de maneira mais atrativa.

Referindo-se às concepções de ensino propostas por Rousseau, Libâneo

(1994) diz que:

Antes de ensinar as ciências, elas [as crianças] precisam ser levadas a despertar o gosto pelo seu estudo. Os verdadeiros professores são a natureza, a experiência e o sentimento. O contato da criança com o mundo que a rodeia é que desperta o interesse e suas potencialidades naturais. (p. 60).

A partir desta ideia de Rousseau, podemos refletir a respeito de muitos

assuntos e práticas educativas. E no que tange ao dever de casa, temos nele a

oportunidade de utilizar propostas que visem despertar na criança o interesse pelo

mundo ao seu redor, por experimentar, e o prazer por sempre buscar mais

conhecimento, mesmo fora da escola.

Outra questão importante é a correção das tarefas e o trabalho sobre esses

resultados. Para que os alunos sintam que houve reconhecimento de seu esforço e

comprometimento, e percebam os benefícios que a tarefa pode trazer ao esclarecer

um conceito que não tinha sido entendido corretamente (FLEURY, 2013), é

fundamental que o professor realize a correção desses exercícios. Outra coisa que

pode contribuir são momentos da aula para que os alunos falem sobre suas

experiências com a tarefa de casa, assim, aqueles que já a incorporaram a suas

rotinas, podem estimular os que ainda estão preguiçosos, ou apenas relutam em

“gastar” seu tempo com ele.

É importante destacar ainda, que apesar de a tarefa de casa ser importante,

não deve tomar todo o tempo da criança. Toda criança precisa de tempo de

qualidade para suas brincadeiras. E sobre elas, Bertoldo e Ruschel (2000)afirmam

que:

O ato de brincar pode incorporar valores morais e culturais em que as atividades lúdicas devem visar a auto-imagem, a auto-estima, o auto conhecimento, a cooperação, porque estes conduzem à imaginação, à fantasia, à criatividade, à criticidade e a uma porção de vantagens que ajudam a moldar suas vidas, como crianças e como adultos. E sem eles a criança não irá desenvolver suficientemente o processo de suas habilidades. (p. 7).

21

Ou seja, brincar também faz parte da educação como processo de

desenvolvimento de personalidade e formação de qualidades da criança, devendo

ser, não apenas respeitado, como valorizado. Além das brincadeiras, as crianças

precisam de tempo para descanso, lazer e ócio (AZAREDO, 2012).

Porém, com os avanços tecnológicos, e a crescente facilidade de acesso às

tecnologias modernas, sobre os quais já falamos, fica cada vez mais acirrada a

disputa pelo tempo que a criança passa em casa, inclusive porque, na maioria das

famílias, os compromissos das crianças não se limitam apenas à escola. Tem os

cursos de idiomas, a natação, o ballet, o judô, e uma série de outras atividades

extracurriculares. A criança acaba passando pouco tempo em casa com tempo livre

para suas brincadeiras.

Isso, sem falar no tempo que tem para ficar com a família. Sabemos que o

capitalismo tem reduzido o tempo de comunhão entre crianças e pais, uma vez que,

as exigências materiais não param de crescer, e para proporcionar esse consumo,

os pais acabam trabalhando muitas horas por dia, em nome de uma vida confortável

para seus filhos. Porém, nessa busca pelo melhor poder aquisitivo, e o desejo de

proporcionar as melhores coisas para seus descendentes, em muitos casos, acaba

afastando pais e filhos. Nesse ponto, a tarefa de casa é uma grande oportunidade

para que tenham momentos juntos.

Com isso, comprova-se a necessidade de haver sentido para a criança no ato

de realizar os deveres de casa. Faz-se necessário que estejam claros os objetivos,

assim como as vantagens que esta prática poderá proporcionar a ela, para que ela

escolha fazer as tarefas. Para que elas sejam um recurso, não um problema.

22

3 NARRATIVAS E IMPRESSÕES

Este capítulo é dedicado às entrevistas e questionários aplicados,

respectivamente, para professoras e pais de crianças de 4º e 5º ano do Ensino

Fundamental, com o objetivo de conhecer a realidade do dever de casa tanto na

escola, como em casa. Conta com relatos de como esses processos aconteceram e

as conclusões que indicaram. E, a partir deste material, procuro analisar os

processos, repensar práticas e propor transformações que contribuam para um

ensino melhor e mais completo.

As entrevistas e questionários foram realizados em uma instituição de ensino

que atende da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental, localizada em

um bairro da classe média carioca. A escola possui turmas pequenas, com o

máximo de 15 alunos, e atende um publico bastante variado, recebendo crianças de

diferentes classes sociais. Embora não seja uma escola confessional, procura

transmitir os valores cristãos através de suas práticas, e promoção de eventos

internos.

Conforme descrito no website oficial da escola escolhida como campo de

pesquisa, a proposta pedagógica adotada é tradicional moderna, por manter alguns

valores tradicionais como o respeito à hierarquia e símbolos da pátria, por exemplo.

No entanto, no dia a dia da escola, além de aspectos tradicionais referente aos

formatos e padrões de organização, é possível observar atitudes e princípios que se

aproximam da perspectiva que Saviani (2005) classifica como moderna, dentre eles

estão: valorização da prática, das experiências e das interações, a centralização na

formação do aluno, além da preocupação e reflexão constantes a respeito dos

métodos de aprendizagem.

E para enriquecer a reflexão proposta, ainda neste capitulo, apresentarei a

opinião de uma pedagoga, diretora e orientadora pedagógica que também

entrevistei, que tem uma nova visão sobre a prática do dever de casa.

3.1 O que pensa a escola

Iniciarei as análises trazendo a perspectiva da escola, baseada em

entrevistas semiestruturadas, realizadas com quatro professoras, todas atuantes nas

classes do primeiro seguimento do Ensino Fundamental na instituição utilizada como

23

campo de pesquisa. A escolha e o convite às entrevistadas foram mediados pela

direção da escola, que indicou e apresentou as profissionais que trabalham

atualmente nas séries com as quais me propus a trabalhar aqui (4º e 5º ano do E.F).

Essas entrevistas foram previamente agendadas com a escola e aconteceram todas

em um mesmo dia, na própria instituição, no intervalo entre o turno da manhã e o

turno da tarde. Elas foram feitas individualmente, em uma sala de aula onde

estávamos apenas eu e a entrevistada, e duraram, aproximadamente, de cinco a

dez minutos.

Antes de iniciar as entrevistas, sinalizei às professoras que a identidade delas

seria preservada, para que se sentissem à vontade para falar a respeito tanto do que

praticam como do que acreditam, independentemente do projeto da escola.

Portanto, ao longo das narrativas, utilizarei as letras A, B, C e D para identificar cada

uma das delas.

Todas as professoras mostraram-se muito solicitas e empolgadas em

conversar e contar como realizam seu trabalho. Algumas deixaram transparecer

certa surpresa com o tema escolhido, o que me fez repensar sobre sua relevância,

mas também me lembrou do quanto este é um assunto ainda pouco estudado, e

que, portanto, precisa ser discutido.

A escolha da entrevista como instrumento metodológico deve-se ao fato de

esta constituir-se de diálogos que revelam a realidade enfrentada atualmente por

aqueles que lidam com o dever de casa.

Entrevistas são fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados, em que os conflitos e contradições não estejam claramente explicitados. Nesse caso, se forem bem realizadas, elas permitirão ao pesquisador fazer uma espécie de mergulho em profundidade, coletando indícios dos modos como cada um daqueles sujeitos percebe e significa sua realidade e levantando informações consistentes que lhe permitam descrever e compreender a lógica que preside as relações que se estabelecem no interior daquele grupo, o que, em geral, é mais difícil obter com outros instrumentos de coleta de dados. (DUARTE, 2004, p. 215).

A forma como Duarte explicita os casos em que esta metodologia é a mais

adequada, esclarece ainda mais a justificativa de sua escolha, já que a proposta é

entender a prática e estudar suas implicações na relação família-escola.

Para a elaboração do roteiro das entrevistas (em anexo), procurei utilizar

perguntas simples e objetivas, visando incentivar as entrevistadas a fazer

24

comentários livres a respeito de cada assunto. As perguntas foram divididas em dois

grupos, determinados de acordo com a respostada dada à questão inicial (“Você

utiliza o dever de casa? Por quê?”), sendo o primeiro para as professoras usuárias

do dever de casa, e o segundo, para aquelas que não o utilizam. Porém, as quatro

professoras entrevistadas afirmaram trabalhar com este recurso. Sendo assim, para

facilitar o enfoque das analises, trabalharei inicialmente com a questão da aplicação,

e depois tratarei das perguntas e comentários relativos às reações e retornos de

pais e alunos.

3.1.1 Razões e alternativas de utilização

Quanto à frequência e às formas de utilização dos deveres de casa, a

professora A contou que passa tarefas para casa em todas as aulas, exceto nas

sextas-feiras após os testes, para que as crianças possam “relaxar”. Ela costuma

utilizar muitas pesquisas, pois acredita que as crianças precisam criar o hábito de

fazer lições de casa desde as series iniciais, e as pesquisas são um estimulo a isso,

pois as crianças se interessam mais em realizar as tarefas, já que elas também

participam da escolha dos temas que irão pesquisar.

Para a professora B, não há exceções. Todos os dias, as crianças devem

levar para casa tarefas referentes ao que foi trabalhado em aula, como forma de

fixação do conteúdo. Ela deixou claro seu posicionamento afirmando que as

crianças precisam exercitar o que foi ensinado para que aprendam realmente,

porém, não há tempo hábil para isso na escola. Daí a importância do dever de casa

ser aplicado sempre. Entretanto, ela destaca que é preciso cuidar para que não haja

exageros quanto à quantidade de exercícios, pois as aulas diárias são compostas de

duas disciplinas, logo, as crianças levam exercícios de duas disciplinas diferentes

para casa em um mesmo dia.

Na mesma linha da professora B, a professora C também prefere passar os

exercícios todos os dias, e explica que isso serve para estimular os alunos ao hábito

de estudar em casa, pois isso é essencial para que se preparem para provas e

testes. Os exercícios utilizados por ela são, em geral, de fixação e de revisão de

conteúdos antigos. Seu objetivo é manter a matéria na cabeça dos alunos e detectar

possíveis duvidas, para que sejam resolvidas. Ela, assim como a professora B,

também ressaltou a importância do equilíbrio quanto à quantidade de exercícios

25

passados, lembrando que as crianças de hoje fazem muitas outras atividades para

além da escola, e ainda precisam de tempo para brincar.

Já a professora D, embora tenha afirmado que também utiliza deveres de

casa, pareceu um pouco incomodada com essa ideia e manifestou uma posição

diferenciada. Ela não é favorável à obrigatoriedade da utilização diária destes, e

revelou que há uma forte cobrança por parte da escola, para que as professoras

façam uso desta ferramenta, pois a considera indispensável. Apesar de discordar,

ela diz que entende as razões da escola para esta postura, pois a cobrança começa

por parte dos pais. Ela acredita que, embora seja um importante instrumento

pedagógico, passar deveres de casa todos os dias desestimula a criança por se

tornar uma rotina. Para ela, as crianças precisam de rotinas para muitas coisas, mas

o hábito dos estudos deve ser algo que parta do próprio aluno. E para estimular esta

iniciativa, ela acredita que as tarefas das séries iniciais devem ter propostas

diferenciadas. Como precisa passa-las, não as aplica todos os dias. Ao finalizar um

bloco de conteúdos, trabalha com projetos mais diversificados para sintetizar o

assunto e avaliar o nível de apropriação de cada um. Entre estas propostas estão

mini seminários, montagem de maquetes e experiências cientificas simples, que

geralmente são feitos em grupos e em casa.

Os relatos das professoras comprovam tudo o que vimos sobre o dever de

casa nos capítulos anteriores, e levam a conclusão de que, por parte da escola, ele

ainda é muito valorizado como ferramenta para o processo de ensino-aprendizagem.

E, como reflexo da educação que tiveram, os pais sentem a necessidade de que

seus filhos também façam tarefas em casa.

Com exceção da professora D, que discorda que este seja indispensável, as

outras professoras acreditam que o dever de casa é necessário e contribui em

aspectos importantes da formação da criança. Cada uma delas salientou uma das

características do dever de casa, que já apresentamos anteriormente, com base no

que diz Carvalho, como o incentivo à pesquisa, a fixação de novo conteúdo, a

revisão de conteúdos mais antigos e a avaliação do aprendizado, bem como o

convite ao gosto pelos estudos.

3.1.2 Reações

26

Quanto à reação dos pais, apenas a professora B comentou que já havia

recebido criticas negativas para as tarefas de casa, advindas de uma minoria. Essas

reclamações estariam ligadas à quantidade de exercícios, que eles dizem ser

excessiva. Quanto aos outros pais, ela acredita que não haja reclamações devido ao

fato de os alunos já estarem habituados com as tarefas, separando um tempo

especifico para sua realização.

Para a professora A, as coisas são diferentes. Ela contou que recebeu até

elogios quando começou a trabalhar mais com pesquisas. Disse que os pais

gostaram, pois as crianças ficam empolgadas e querem conversar sobre o assunto

com eles, assim, o dever de casa proporciona momentos de conversas entre pais e

filhos, sobre assuntos atuais, e de maneira descontraída.

A professora C entende que o fato de os pais não reclamarem dos deveres

seja um sinal de aprovação. E a professora D comentou que, a princípio os pais não

entendem o fato de ela não passar deveres diariamente, pois já estão acostumados

com isso, mas que após o primeiro projeto, eles não só entendem como apoiam a

ideia, pois nem todos têm condições de acompanhar o dever de casa dos filhos

todos os dias.

Confirma-se a ideia de que a postura dos pais para com a escola, às vezes, é

contraditória. Enquanto consideram a utilização do dever de casa indispensável,

cobrando sua existência e frequência, demonstram também insatisfação com

relação ao tempo que elas exigem de seus filhos, mostrando-se satisfeitos com

propostas que atendam as necessidades deles, sem precisarem ser diárias, pois o

tempo que eles dispõem para acompanhar isso é cada vez menor, embora queiram

participar.

Com relação às crianças, a professora B também foi a única a declarar que

costuma ouvir reclamações quanto a fazer os deveres de casa. As professoras A e

C, disseram que os alunos só reclamam quando não gostam do exercício, que

geralmente são os de matemática, por serem muito repetitivos. E, às vezes, os

alunos acham a quantidade de deveres muito grande. A professora C contou que

alguns alunos dizem que não terão tempo para jogar vídeo game, por causa dos

tantos deveres de casa que terão de fazer.

Mas, apesar de algumas reclamações, a maioria dos alunos das quatro

professoras tem o hábito de fazer os deveres. A professora C, comentou que os

alunos dela não costumam deixar de fazê-los, pois não querem ficar sem recreio.

27

Porém, ela e a professora A citaram que há certos alunos que costumam trazer

muitos exercícios em branco, alegando apresentarem duvidas. As duas falaram

como se essa fosse uma das muitas desculpas que os alunos usam para justificar o

fato de não terem feito o dever de casa, mas reconhecem que, apesar disso, as

duvidas provenientes deles devem ter um momento especifico durante a correção,

para que sejam tratadas com atenção.

E, como sempre há exceções, as quatro professoras falaram sobre um

pequeno grupo de alunos que não tem o hábito de fazer as tarefas. As professoras

A, B e D sentem falta de incentivo e contribuição dos pais. Dentre as explicações de

um de seus alunos que não costuma fazer as tarefas, a professora B citou que o

aluno não fez, pois teve que ir ao shopping com a mãe, ou porque não tinha

ninguém para ajudá-lo, ou porque esqueceu. Elas percebem que os pais desse

grupo de alunos são, justamente, os mais ausentes, que não participam de reuniões

ou não conferem a agenda dos filhos regularmente, e acreditam que, se os pais

acompanhassem e se preocupassem com os deveres dos filhos, essas crianças não

deixariam de fazê-los com tanta frequência, pois entenderiam a importância deles

para facilitar sua aprendizagem e melhorar suas notas, que não por acaso, também

estão entre as mais baixas da turma.

As crianças, claramente, manifestam maior insatisfação. Mesmo que

reconheçam a importância das tarefas, elas não querem passar todo o tempo que

ficam em casa ocupadas com elas. Elas querem e precisam brincar. Os relatos das

professoras também reforçam a fala de Capelletti, citada no capitulo um, deixando

claro o quanto os exercícios repetitivos podem ser desestimulantes e atrapalhar o

objetivo da lição. E, por fim, a importância da participação dos pais na educação das

crianças fica evidente nos comentários sobre os alunos que não costumam fazer os

deveres por falta de suporte em casa, mostrando que a participação deles é

importante não só para com os deveres de casa, mas em todo o processo de

acompanhamento da vida escolar dos filhos. Essa participação é fundamental para

alcançar o sucesso almejado com a aplicação dos deveres de casa.

3.2 A visão dos pais

Para saber como o dever de casa realmente acontece, e os impactos desta

prática nas relações familiares, pensei inicialmente em entrevistar também alguns

28

pais. Porém, ao tentar realizar as entrevistas na porta da escola, quando os pais

deixavam e buscavam seus filhos, me deparei com algumas dificuldades, como a

falta de disponibilidade de tempo dos pais nesses momentos e o fato de muitas

crianças irem e voltarem da escola com o transporte escolar. Então, precisei adotar

uma nova estratégia. Como solução, elaborei um questionário (em anexo) para

enviar aos pais das crianças do 4º e 5º ano da instituição pesquisada. Com o apoio

da equipe da escola, esses questionários foram anexados às agendas dos alunos

para que os responsáveis respondessem em casa.

As duas séries juntas totalizam vinte e sete alunos, porém, nem todos os

questionários foram devolvidos ou respondidos, portanto, ao final de

aproximadamente duas semanas, recebi de volta apenas vinte e um questionários

para analisar.

3.2.1 O perfil das famílias analisadas

A primeira coisa que reparei quando peguei o material, foi que todos os

questionários foram respondidos pelas mães das crianças. E, apesar de a maioria

(77%) delas trabalhar fora, mais da metade (57%) das mães respondeu que

acompanha as lições de casa de seus filhos sempre. O restante (43%) respondeu

que acompanha somente ás vezes, e nenhuma delas marcou que não acompanha.

Com exceção de uma criança que mora só com a mãe, todas as outras vinte moram

com a mãe e o pai, e dezesseis possuem, pelo menos, um irmão.

De acordo com as mães, as crianças costumam fazer os deveres de casa,

realmente em suas casas. Apenas uma delas respondeu que o filho faz os deveres

na explicadora. E entre as crianças que fazem os deveres em casa, dois terços

costumam fazer em um local especifico da casa.

As perguntas iniciais, cujos dados acabo de expor, servem para identificarmos

o perfil das famílias. Através delas percebemos que, mesmo com a participação da

mulher no mercado de trabalho, e mesmo nos casos das crianças que moram com

ambos os pais, são as mães que acompanham a vida escolar dos filhos, sugerindo

certo distanciamento por parte da figura paterna da participação nesses assuntos.

3.2.2 Como o dever de casa acontece

29

Uma das perguntas do questionário foi sobre a iniciativa das crianças em

fazerem os deveres de casa, justamente para sabermos se a escola está

conseguindo atrair a atenção delas e realmente convence-las da importância desses

deveres. As respostas foram variadas, e revelaram que a maioria das crianças

(nove) geralmente precisa da cobrança de alguém para que faça os deveres. Mas,

sete mães responderam que o filho tem a iniciativa de fazer os deveres sozinhos

sempre, e apenas cinco mães responderam que o filho só faz as tarefas se tiver

alguém cobrando e acompanhando.

Com relação à quantidade dos exercícios utilizada, quase todas as mães

(90%) responderam que acham adequada a quantidade de exercícios que seus

filhos recebem. Uma mãe respondeu que são poucos deveres, e outra disse que a

quantidade é excessiva. Porém, essa ultima mãe acrescentou ainda, no espaço

destinado aos comentários, o seguinte:

Tive que responder lá em cima que ela tem muito dever. Não é exatamente isso, é que o dever é mal dividido, tem dias que ela não traz dever nenhum para casa e no outro, traz tanto dever que sufoca até a mim. Eu acho que é mal dividido.

Essa mãe destaca a má distribuição dos exercícios. Ou seja, o equilíbrio que

as professoras citaram não pode se resumir à quantidade de exercícios de um dia,

mas durante todo o período das aulas. No entanto, as respostas comprovam o que

já havia sido apontado pelas professoras, de que mesmo que haja a preocupação

em passar uma quantidade adequada de exercícios, é difícil agradar a todos os pais.

Isso porque cada família tem seus hábitos, sua rotina e seus padrões.

Com o intuito de saber se os deveres alteram o clima da casa enquanto estão

sendo realizados, perguntei aos responsáveis como se sentem neste momento.

Como uma das crianças faz o deve de casa na explicadora, temos apenas a

resposta de vinte mães. Cinco mães disseram que seus filhos gostam de fazer os

deveres de casa e, portanto, não reclamam. A maioria (onze mães) respondeu que

se sente calma, pois, apesar de seus filhos não gostarem de fazer os deveres de

casa, sabem que são necessários e não apresentam resistência. Porém, quatro

responderam que se sentem nervosas, pois seus filhos não gostam de fazer as

tarefas e elas acabam, na maioria das vezes, brigando com eles por causa disso.

Apesar de ser muito ruim que haja momentos de conflitos em algumas

famílias durante o dever de casa, creio que isso seja normal, pois sabemos que

30

algumas crianças realmente se mostram preguiçosas para estudar, e que tanto o

relacionamento com os pais, como a forma que eles escolhem para educar seus

filhos, também influenciam nestas reações. Portanto, essas informações nos dão a

oportunidade para refletirmos quanto a real necessidade de deveres de casa para

essa criança, já que está gerando conflitos dentro da família, mesmo que por

algumas horas. Pois se, no fim, o saldo é negativo, então não valeu a pena.

Encerrando as questões fechadas, quis saber se os pais realmente acreditam

que a escola precisa passar deveres de casa, e o resultado me surpreendeu. Sete

mães responderam que não acham o dever de casa indispensável para o processo

de aprendizagem, o que representa 33% do total de mães. Não esperava que mais

de uma ou duas mães tivessem essa opinião, principalmente após a narrativa das

professoras e a revelação de que a escola cobra a utilização os deveres de casa por

causa dos valores dos pais. Isso mostra que os pais não estão fechados para novas

propostas, eles só precisam que sejam bem apresentadas, com destaque para seus

benefícios.

3.2.3 As interferências na família

Considero a primeira questão discursiva a mais importante para esta

pesquisa, pois é o mais próximo que podemos chegar de conhecer a realidade sobre

o que os deveres de casa podem provocar na família.

Com a pergunta “Você acredita que o dever de casa interfere nas relações

familiares?” percebi que falhei ao não especificar a característica desta interferência,

se positiva ou negativa. Por causa disso, a opinião dos pais ficou bem dividida,

tendo 38% das mães respondendo que acreditam que o dever de casa interfere nas

relações familiares, contra 62% que acham que não há interferência. Mas, ao

analisarmos as justificativas, podemos compreender melhor sob quais perspectivas

foram constituídas essas opiniões, e elas mostram que a maioria tem um

posicionamento muito parecido.

Para facilitar a visualização dos dados, elaborei o gráfico abaixo, com base

nas falas das mães sobre esta questão, que mostram como elas entendem que

ocorre esta interferência no contexto familiar.

31

.

Fonte: Próprio autor.

As respostas de treze mães indicaram uma visão de interferência positiva,

como experiência que contribui para estreitar os laços familiares. Para ilustrar a

opinião deste grupo, apresento a resposta de uma das mães:

Ficamos juntos e trocamos informações sobre a vida dele na escola, e por vezes é um dos poucos momentos que nos juntam naquele dia tão corrido. Fazer a maquete da Feira Cultural com ele foi muito gostoso!

Essas mães gostam do que o dever de casa proporciona a ela e a seu filho.

Seus relatos demonstram a significância dos deveres para elas como oportunidade

de ter momentos agradáveis em família.

Um segundo grupo, formado por seis mães, entende que esta interferência

facilita o acompanhamento dos pais sobre o que seus filhos estão aprendendo na

escola, ao que também classifiquei como visão positiva. Algumas acrescentaram

ainda que ele oferece a oportunidade de os pais ajudarem as crianças, quando

revelam suas dificuldades, conforme vemos a seguir na fala de uma dessas mães:

Este é o momento de avaliação e de ver como e o que a criança está aprendendo, para poder ajuda-la e assim demonstrar o quanto você se preocupa com ela.

Outra mãe, que não se encaixou em nenhum dos grupos anteriores,

apresenta certa dificuldade durante este momento e, portanto, acredita que o dever

de casa tenha influencias negativas na relação familiar. Ela disse que o momento do

dever de casa é complicado porque a filha pensa que só a professora tem o

conhecimento, e só ela sabe explicar. Isso acaba causando um efeito contrario ao

proposto, ou seja, ao invés de aproximar pais e filhos, acaba criando uma barreira

entre eles e dificultando a participação dos pais no acompanhamento escolar.

32

Entendo que esta seja uma questão que precisa ser trabalhada em conjunto com a

professora, para que a criança rompa com a visão do professor como detentor do

saber e o único que tem conhecimento.

Uma resposta que me chamou atenção foi esta:

Às vezes ele tem muitos deveres e a gente acaba gastando muito tempo com isso, deixando de fazer outras coisas em família, porque eu e o pai dele trabalhamos fora e não temos muito tempo para ficar com ele.

Achei esta resposta interessante, pois é totalmente oposta ao que disse a

maioria. Enquanto muitas mães gostam do dever de casa, porque as aproximam dos

filhos, esta mãe vê o dever de casa como um impedimento para uma relação familiar

de boa qualidade, destacando a falta de tempo com o filho como fator agravante.

A última questão foi um espaço para que os pais contribuíssem conforme

achassem melhor. Apenas treze mães responderam, e algumas repetiram o que já

haviam escrito na questão anterior, outras fizeram comentários e elogios às

professoras de seus filhos, portanto, apresentarei apenas as observações que

considero mais relevantes para este trabalho.

Uma mãe contou que, em determinados tipos de trabalhos, há um

envolvimento que vai além dos pais, e isso é bom para a família. Ela escreveu o

seguinte:

Em algumas tarefas como pesquisas e elaboração de cartazes, já tivemos a participação em casa de mãe, pai, irmão e tio, cada um contribuiu com o que sabia mais.

Algumas mães aproveitaram este espaço para falar novamente sobre a

quantidade de deveres. Elas marcaram na questão referente a isso que acham a

quantidade adequada, mas registraram que muitos deveres acabam deixando as

crianças estressadas, e que na época das provas e testes, atrapalham os estudos,

pois muitas vezes são de matérias diferentes das que irão cair nas avaliações.

Ainda entre os comentários, uma das mães destacou a contribuição do dever

de casa para a formação da responsabilidade da criança. Outra comentou a

importância dele para a fixação das matérias e identificação de duvidas para serem

tiradas com o professor, e uma delas revelou que gostaria de ter tempo para poder

participar mais ativamente deste processo.

Muitas citaram a importância do envolvimento dos pais nas tarefas do filho,

como beneficio para a educação da criança. Vejamos o que disse esta mãe:

33

Se a criança tiver dificuldades, seria muito interessante se toda a família ajudasse, pois a criança se sente mais segura, sabendo que tem gente que a ama ajudando e elogiando as suas tarefas e pesquisas. Não estou dizendo que seja fácil segurar a criança ou reunir a família para realizar as tarefas, é necessário muita paciência, pois o tempo é curto e as crianças só querem brincar. Com muita paciência e disposição, a gente consegue.

Em seu comentário, essa mãe abordou muitas questões. Além do que

algumas mães falaram sobre a participação da família, ela lembrou as dificuldades

para atrair a atenção da criança para as tarefas.

Através da analise destes questionários, confirmamos as teorias a respeito

das formas de utilização e aplicação dos deveres de casa, e os desafios e

obstáculos que ele encontra.

34

4 DE OUTRO PONTO DE VISTA

Para contribuir com a discussão em torno do dever de casa como recurso do

processo de aprendizagem, entrevistei ainda uma pedagoga que é também

orientadora pedagógica, diretora e dona de escola, que discorda da maneira como

os deveres de casa são utilizados tradicionalmente.

A perspectiva pedagógica adotada pela entrevistada em sua escola baseia-se

na Pedagogia Waldorf, desenvolvida pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner. Sobre

ela, Viana e Oliveira (2011) afirmam que:

Essa pedagogia tem como meta principal proporcionar aos alunos o despertar harmonioso de todas as suas capacidades, seja na esfera física, emocional ou espiritual com vistas ao desenvolvimento integral. Por meio desse método, que vem modificando substancialmente os conceitos de educação escolar no mundo, jovens e crianças desenvolvem a criatividade, a auto estima e o discernimento para o pensar objetivo e uma visão mais ampla e completa do mundo. (p. 7094).

Esta perspectiva valoriza as interações entre as pessoas e a observação da

criança, suas características e reações diante de cada situação, para o

desenvolvimento de um aprendizado personalizado.

A entrevista foi previamente agendada e durou pouco mais de uma hora,

tendo sido realizada na sala de direção da escola da própria entrevistada. Desta vez,

não elaborei um roteiro, apenas expliquei o que pretendia em meu trabalho e como

esperava que ela pudesse contribuir com ele, então, conversamos livremente sobre

o assunto.

Ela iniciou dizendo que entende que o sistema tradicional depende dos

deveres de casa, pois foca seus esforços na quantidade e não na qualidade de

conteúdos dados, logo, o tempo de aula torna-se insuficiente para trabalhar esses

conteúdos de forma satisfatória, sendo necessária a extensão da aula até a casa do

aluno por meio de exercícios. No entanto, ela acredita que esse formato não

beneficie o aluno, tendo em vista que a falta de tempo em sala interfere na qualidade

das discussões e interações sobre os temas.

Ela contou que, em sua escola, adota uma metodologia diferenciada, que

passa por todos os conteúdos do currículo, mas privilegia aqueles que são

considerados mais importantes por terem aplicação no futuro, tanto em provas de

concursos como o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), como para a vida.

35

Esses conteúdos são trabalhados e aprofundados, até que todos tenham

conseguido se apropriar deles. Concordando com Steiner, ela defende que é

necessário que haja interação para que os alunos realmente apreendam o que é

trabalhado. Sendo assim, em sua opinião, os deveres de casa tradicionais são

exclusivamente voltados para a memorização, pois não são bem discutidos e,

geralmente, quando são feitas correções, elas também são corridas e não dão ao

aluno a oportunidade de refletir sobre os assuntos.

Além da ausência de discussão e interação, em seus anos de magistério na

escola tradicional, ela viu muitos problemas relacionados ao posicionamento dos

pais para com os deveres de casa. Ao contrário do que vimos no capitulo anterior,

ela contou que muitos pais reclamam dos deveres de casa, por não terem o tempo

necessário para acompanha-los e por serem momentos de muito stress, pois as

crianças não querem fazer os deveres. A alguns deles já chegaram a admitir que

dão as respostas dos deveres de casa para os filhos, pois não tem tempo para

acompanhar ou cobrar que façam sozinhos, ou simplesmente para evitar conflitos.

Ela já recebeu, inclusive, exercícios feitos com a letra dos pais. Sendo feito assim, o

dever de casa perde o sentido, pois nem as crianças estão exercitando ou

estudando, nem estão havendo situações de aproximação entre pais e filhos, pelo

contrário, estão sendo passados valores prejudiciais à formação do caráter da

criança, interferindo negativamente na relação entre pais e filhos.

Quando os pais vão conhecer a escola dela, antes de matricularem seus

filhos, ela explica sua metodologia, e já os deixa avisados de que a escola não

costuma passar deveres de casa, ao que os pais respondem positivamente. Para a

entrevistada, a educação formal deve ser de total responsabilidade da escola,

contando com a parceria dos pais apenas no que diz respeito à valorização da

instituição escolar, a pontualidade e a assiduidade.

Por essas razões, ela tem uma opinião pouco favorável aos deveres de casa.

No entanto, ela afirmou que nada em sua escola é engessado. Se o professor

percebe, por meio da observação individualizada, que determinado aluno precisa de

um reforço, e que o dever de casa contribuiria para isso, ele pode aplica-lo. Em

turmas de ensino médio, ela contou que são os alunos que pedem deveres de casa

quando percebem que precisam trabalhar mais algum conteúdo.

Este é, com certeza, um ponto de vista diferente do que foi trabalhado ao

longo desta monografia, e reforça a necessidade de haver uma reflexão mais

36

aprofundada sobre os deveres de casa, nos dando algumas pistas sobre os pontos

que precisamos rever e avaliar sobre as práticas e aplicações deste recurso.

37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho foi fruto da minha curiosidade sobre a real necessidade dos

deveres de casa na educação de hoje, e as formas como eles interferem no contexto

familiar. A princípio, minhas hipóteses resumiam-se à crença de que praticamente

nenhuma criança gosta de fazer deveres de casa, pois não querem deixar de brincar

para fazerem exercícios que, na maioria das vezes são repetitivos e pouco

interessantes. Ainda mais com os diversos produtos eletrônicos de tecnologia

avançada que estão tomando o mercado e conquistando a atenção tanto os adultos

como as crianças. Também acreditava que, para os pais, este era um assunto

complicado, pois cada vez mais, o tempo que tem com seus filhos esta se tornando

menor, devido às mudanças do mercado de trabalho e cobrança de dedicação full

time de seus profissionais, o que dificulta o acompanhamento das tarefas de seus

filhos, sendo necessário arcar com as despesas de uma professora particular ou

explicadora que possa fazer este trabalho por eles. Enquanto aluna da educação

básica, esse era o meu sentimento, o que ouvia também de meus colegas e ouço

até hoje de pessoas da minha faixa etária.

Através de entrevistas com profissionais da educação, e questionários

aplicados aos pais, percebi que minhas hipóteses não estavam corretas. Existem

crianças que gostam de fazer os deveres de casa, e propostas que podem ser mais

agradáveis além dos exercícios de repetição. Observei também que os pais veem

os deveres de casa como algo positivo tanto no processo de aprendizagem como

nas relações entre eles e seus filhos, apesar das dificuldades que enfrentam para

acompanhar a vida escolar dos filhos, como a falta de tempo, por exemplo.

Nas pesquisas sobre as tarefas de casa, tive dificuldades de encontrar

materiais para o embasamento teórico, e constatei que este é um tema ainda pouco

estudado no Brasil. Tive a impressão de que as tarefas são consideradas algo tão

intrínseco na educação, que não há necessidade de questioná-las ou repensá-las,

pois fazem parte deste processo. No entanto, minhas observações ao longo deste

trabalho me fazem pensar que este posicionamento não é algo positivo. Assim como

todas as práticas educativas devem ser constantemente discutidas, o dever de casa

precisa estar em pauta, para que não seja um desperdício te tempo e esforços.

Esta monografia me mostrou que os deveres de casa podem ser bons ou

ruins para as crianças e famílias, e que este resultado depende das formas de

38

aplicação que as professoras adotam, de suas propostas, seus objetivos, das

quantidades passadas, dos recursos tecnológicos utilizados, e da adequação com a

realidade do público atendido, assim como as necessidades de cada grupo ou aluno.

Ou seja, depende muito do professor, por isso reitero a necessidade de que este

tema seja amplamente discutido pelos profissionais e acadêmicos da área de

educação. No entanto, a atitude dos pais também reflete nos efeitos dos deveres de

casa. A forma como eles se posicionam, influencia as ações e a postura de seus

filhos quanto ás tarefas.

Outra constatação deste estudo que considero importante é do quanto que as

características tradicionais ainda são valorizadas nas nossas escolas, mesmo

naquelas que consideram sua metodologia como tradicional moderna, como é o

caso da escola em que realizei minhas pesquisas. O dever de casa teve origem

nesta perspectiva pedagógica, e praticamente não sofreu nenhuma alteração desde

seu surgimento.

Quanto à interferência dos deveres de casa nas famílias, a analise dos

questionários me levou à conclusão de são, geralmente, positivas, com grande valor

para o fortalecimento das relações entre a família e a escola, convidando os pais

para participarem das atividades escolares, e permitindo que eles acompanhem o

que seus filhos estão aprendendo na escola.

A experiência que este trabalho me proporcionou transformou minha forma

de pensar sobre os deveres de casa. Acredito que, embora não seja indispensável

para a educação, tem seu valor como incentivo à criação do hábito de estudos

saudáveis, quando bem aplicado, ajudando a criança a desenvolver a

responsabilidade e a pontualidade. Pode se ainda uma ferramenta de suporte para

aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem, quando o professor

identifica suas necessidades. E em relação à família, as atividades que propõe o

envolvimento dos pais para além das explicações de um exercício, como atividades

culturais e jogos, podem proporcionar momentos de interação entre pais e filhos de

maneira agradável, momentos estes tão restritos atualmente, por causa da falta de

tempo.

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GRINBERG, Keila. Seria o fim do dever de casa? Revista Ciência Hoje das Crianças. 2012. Disponível em: <http://chc.cienciahoje.uol.com.br/seria-o-fim-do-dever-de-casa/>. Acesso em: 10 nov. 2013. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LOPES, Patricia. Lição de Casa. Brasil Escola. [2013?]. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/educacao/licao-casa.htm>. Acesso em: 29 out. 2012. MENDES, Lucas. Dever fora de casa. BBC Brasil, Nova York, 13 dez. 2012. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/12/121213_lucasmendes_tp.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2013. NOGUEIRA, Martha Guanaes. Tarefa de casa: uma violência consentida? São Paulo: Loyola, 2002. PORTO, Tania Maria Esperon. Aprendizagens com tecnologias, artes e comunicação em cursos de formação docente. Revista do Centro de Educação, Santa Maria, v. 31, n. 2, p. 337-351, 2006. Disponível em: <http://www.redalyc.org/pdf/1171/117117232011.pdf>. Acesso em: 7 nov. 2013. SAVIANI, Dermeval. As Concepções Pedagógicas na História da Educação Brasileira. O espaço acadêmico da pedagogia no Brasil, 2005. Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_036.html>. Acesso em: 9 nov. 2013. VIANA, Claudionor Alves; OLIVEIRA, Ana Arlinda de. Leitura e literatura: prática pedagógica na visão da Pedagogia Waldorf. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 10., 2011, Curitiba. Anais... Curitiba: Champagnat, 2011. p. 7090-7102. Disponível em: <http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/6249_3296.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2013.

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ANEXO A – Roteiro de entrevista com as professoras

1- Você utiliza o dever de casa? Por quê?

Caso a resposta seja sim:

a. Com que frequência?

b. Que tipo de exercícios, geralmente, utiliza para casa?

c. Os pais fazem alguma critica a forma como você trabalha com o dever de

casa? O que dizem?

d. O que as crianças dizem sobre o assunto? Qual é a reação?

e. Seus alunos costumam fazer os deveres de casa?

f. Você acredita que os deveres de casa podem contribuir para o processo

de ensino-aprendizagem? Como?

Caso a resposta seja não:

a. Os pais fazem algum comentário sobre a ausência de deveres de casa? O

que eles dizem?

b. E qual é a reação das crianças?

c. Você acredita que os deveres de casa afetam o processo de ensino-

aprendizagem? Como?

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ANEXO B – Questionário aplicado aos pais

Prezado responsável,

Sou estudante de pedagogia, e estou pesquisando sobre as interferências do dever

de casa nas relações familiares. Conto com sua ajuda para que preencha este

questionário.

Desde já, agradeço sua colaboração.

Thais Ramos

a. Qual é a sua relação com o dono desta agenda?

( ) Mãe

( ) Pai

( ) Outros: _____________________ b. Alguém acompanha os deveres de casa dele(a) regularmente?

( ) Sim, eu acompanho sempre.

( ) Sim, eu acompanho as vezes.

( ) Sim, e explicadora acompanha.

( ) Sim, outra pessoa o acompanha. Quem? _________________________.

( ) Não, ele(a) costuma fazer sozinho.

c. Os pais dele(a) trabalham fora?

( ) Sim, os dois.

( ) Só o pai.

( ) Só a mãe.

( ) Não.

d. Ele(a) mora com:

( ) O pai e a mãe.

( ) A mãe

( ) O pai

( ) Outros. e. Quantos irmãos ele tem, que vivam com ele(a)? ___________.

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f. Ele(a) realmente costuma fazer os deveres de casa em casa?

( ) Sim.

( ) Não. Faz na escola, pois fica no integral.

( ) Não. Faz na explicadora/professora particular.

( ) Não. Outros: ____________________.

g. Ele(a) tem um espaço específico em casa para realizar os deveres?

( ) Sim.

( ) Não, cada dia faz em um cômodo da casa.

( ) Não sei informar.

h. Ele(a) tem a iniciativa de fazer os deveres de casa?

( ) Sim, sempre.

( ) Geralmente sim, mas às vezes precisa que alguém cobre.

( ) Não, ele(a) só faz se alguém cobrar e acompanhar.

( ) Não sei informar.

i. Você acha a quantidade de deveres de casa dele(a) adequada?

( ) Sim.

( ) Não, são muitos deveres.

( ) Não, são poucos deveres.

( ) Não sei informar.

j. Como você se sente no momento em que ele(a) está fazendo os deveres?

( ) Calmo, pois ele(a) gosta de fazer os deveres de casa e não reclama.

( ) Calmo. Apesar de não gostar de fazer os deveres de casa, ele(a) sabe que são necessários e não apresenta resistência.

( ) Nervoso, pois geralmente é preciso brigar com ele(a) para que faça os deveres.

( ) Não estou com ele(a) durante a realização dos deveres.

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k. Você acha que o dever de casa é indispensável para o processo de aprendizagem?

( ) Sim.

( ) Não.

l. Você acredita que o dever de casa interfira nas relações familiares? Por quê?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

m. Há algo mais que você queira acrescentar sobre o tema “dever de casa e

família”?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________