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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL IURI ARAGÃO DE VASCONCELOS ANÁLISE DO PROCESSO DE FINAL DE OBRA ATRAVÉS DOS CONCEITOS DE CONSTRUÇÃO ENXUTA, FLUXOS ERRÁTICOS, DESCONTINUIDADE E SOBREPOSIÇÃO DE ATIVIDADES FORTALEZA 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

IURI ARAGÃO DE VASCONCELOS

ANÁLISE DO PROCESSO DE FINAL DE OBRA ATRAVÉS DOS CONCEITOS DE

CONSTRUÇÃO ENXUTA, FLUXOS ERRÁTICOS, DESCONTINUIDAD E E

SOBREPOSIÇÃO DE ATIVIDADES

FORTALEZA 2010

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IURI ARAGÃO DE VASCONCELOS

ANÁLISE DO PROCESSO DE FINAL DE OBRA ATRAVÉS DOS CONCEITOS DE

CONSTRUÇÃO ENXUTA, FLUXOS ERRÁTICOS, DESCONTINUIDADE E

SOBREPOSIÇÃO DE ATIVIDADES

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil. Orientador: Prof. Luiz Fernando Mählmann Heineck, Ph.D.

FORTALEZA 2010

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Dedico este trabalho a todos os que são especiais em minha vida e que contribuíram na minha formação pessoal e profissional.

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"'Tudo me é permitido', mas nem tudo me convém. 'Tudo me é permitido', mas eu não me deixarei escravizar por nada.”

I Cor 6,12-15a

“Trabalha como se vivesses para sempre. Ama como se fosses morrer hoje.”

Sêneca

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AGRADECIMENTOS

Ao Ente superior, que tudo nos propiciou e tudo nos propiciará, permitindo-nos

usufruir da vida em toda a sua plenitude.

Ao professor Heineck, por sua paciência, disposição, conselhos e ajuda no

desenvolvimento desta monografia.

Aos professores Macário e Bertini, pelos ensinamentos que obtive durante suas

tutorias no Programa de Educação Tutorial – PET do curso de Engenharia Civil da UFC, o

qual tenho orgulho de ter sido membro.

Aos demais professores do curso, que muito contribuíram para a minha formação.

Ao “PET-Civil”, pelas amizades eternas, verdadeiras, que marcaram minha vida para

sempre e por toda a experiência que obtive durante meu período como bolsista do programa.

Aos meus pais, José Mario Lourenço de Vasconcelos e Maria Goreti Aragão de

Vasconcelos, que sem seu apoio jamais teria conseguido trilhar o caminho que percorri.

Às minhas irmãs, Sabrina Aragão de Vasconcelos e Lorena Aragão de Vasconcelos,

pelos bons momentos que somente irmãos podem vivenciar.

Aos meus cunhados, Thiago e Marcelo, pelos bons conselhos, amizade e experiência

que me disponibilizaram.

Aos demais familiares, que em seus pensamentos desejam o melhor para mim.

Aos amigos especiais, que com sua amizade, carinho, noites sem dormir estudando ou

brincando, cumplicidade, fraternidade e apoio, fui capaz de chegar onde estou hoje.

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RESUMO

Com intuito de constatar que o processo de final de uma obra é um período

marcado pela desorganização, descontinuidade de serviços, fluxos erráticos, sobreposição de atividades, retrabalhos, baixa qualidade do produto final, custos adicionais com manutenção, descontentamento de clientes e diminuição da credibilidade dos construtores, faz-se necessário a análise dessa etapa. Partindo de um estudo de caso de uma obra na cidade de Fortaleza, fazendo uso de registro fotográfico, ilustrações comparativas de serviços previstos e executados no decorrer desse período na obra, levantamento dos custos adicionais com retrabalhos através das folhas de pagamento e medições da empresa, bem como o resgate dos checklists de recebimento dos apartamentos preenchidos pelos clientes, averigua-se a existência dos problemas durante e após a conclusão da execução de uma edificação. De modo a facilitar essas verificações, procurou-se utilizar os princípios da Construção Enxuta, comparando-os criticamente com as informações obtidas no decorrer do estudo de caso, expondo as contradições e constatando o processo caótico em que se enquadra a etapa de final de obra de várias construtoras.

Palavras-chave: Final de obra, construção enxuta, descontinuidade, fluxos erráticos, retrabalhos, custos adicionais, qualidade do produto.

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ABSTRACT

The final phase of the construction process is a period marked by disorganization,

process discontinuity, erratic fluxes, intertwined activities, rework, subpar product quality, added maintenance costs and client dissatisfaction. In order to avoid credibility loss, it is essential for the construction manager to investigate such phase. To assess such issue, this work is based on a case study of a construction site in the city of Fortaleza, making use of photographic evidence of final phase activities and evaluating added costs and rework taxes using payroll records. The client satisfaction is also measured by applying checklists questionnaires, thus evaluating problems during and after the final phase. The obtained informations are then confronted with Lean Construction tenets, exposing the many differences between a rational construction process and the actual chaotic final phase processes encountered in many construction sites.

Keywords: Construction’s final phase, lean construction, discontinuity, erratic fluxes, rework, added costs, product quality.

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LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 - Diferenças da filosofia de liderança tradicional e a Lean (COSTA, 2007) ............ 7

Figura 2.2 - Cadeia de Valor de uma estrutura metálica em obra (Fonte:BORGES, 2008) ..... 10

Figura 2.3 - Funcionamento do STP (Fonte: LIKER E MEIER, 2007) ................................... 11

Figura 2.4 - Redução de atividades que não agregam valor (SAURIN, 2006) ........................ 15

Figura 2.5 - Consideração das necessidades do cliente (Fonte: Patrimônio Incorporações) .... 16

Figura 2.6 - Exemplo de variabilidade (Fonte: Patrimônio Incorporações) ............................. 17

Figura 2.7 - Exemplo de Tempo de Ciclo (Adaptação: ALVAREZ, 2001) ............................. 17

Figura 2.8 - Simplificação pela redução de processos (Fonte: Empresa Cara do Gesso) ........ 19

Figura 2.9 - Exemplo de flexibilidade (Fonte: Eduardo Costa Assessoria Imobiliária) ........... 19

Figura 2.10 - Transparência nos processos construtivos .......................................................... 20 Figura 2.11 - Tipo de sobreposição de atividades (Fonte: TRESCRASTRO, 2005) ............... 22

Figura 3.1 - Enchimento da tubulação executado após a pintura ............................................. 26 Figura 3.2 - Falha no revestimento mediante utilização de bandejas de proteção ................... 27

Figura 3.3 - Falha no rodapé mediante fluxo errático na execução de parede de gesso ........... 28

Figura 3.4 - Dificuldade no controle da produção e montagem de peças de gradil ................. 29

Figura 3.5 - Estocagem de alisares de esquadria para assentamento tardio ............................. 30

Figura 3.6 - Estocagem de gradil para assentamento tardio ..................................................... 31 Figura 3.7 - Falha de fluxo errático da execução de tubulação elétrica ................................... 32 Figura 3.8 - Erro de execução de caixa de inspeção de esgoto ................................................ 33 Figura 3.9 - Execução às pressas do chumbamento de bancada do banheiro do quarto ......... 33

Figura 3.10 - Consequência do chumbamento de bancada do banheiro no quarto .................. 34

Figura 3.11 - Processo gerador de retrabalho para localização de pontos elétricos ................. 35

Figura 3.12 - Forro de Gesso executado com falha de acabamento ......................................... 36

Figura 3.13 - Necessidade de realizar corte no reboco para passar instalação hidráulica ........ 36

Figura 3.14 - Descontinuidade na montagem de tanque por falta de tubulação ....................... 37

Figura 3.15 - Montagem de esquadria e gradis após execução de pintura ............................... 37

Figura 3.16 - Linha de balanço inicial do primeiro mês do processo de final de obra ............. 39

Figura 3.17 - Linha de balanço real do primeiro mês do processo de final de obra ................. 41

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LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 - Custos adicionais com retrabalhos ....................................................................... 42 Tabela 3.2 - Relação de pendências dos checklists de recebimento dos clientes ..................... 45

Tabela 3.3 - Relação da porcentagem de problemas e de custos .............................................. 47

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 3.1 - Proporção de gastos com os arremates nos serviços da obra ............................. 42

Gráfico 3.2 - Custos adicionais por arremate durante o processo de final de obra .................. 43

Gráfico 3.3 - Custos adicionais totais acumulados durante o processo de final de obra .......... 44

Gráfico 3.4 - Relação entre a quantidade de pendências e o total de cada item ....................... 46

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LISTA DE SIGLAS

UFC - Universidade Federal do Ceará TMC - Toyota Motor Company STP - Sistema Toyota de Produção LWC - Lean Way Consulting JIT - Just-in-Time GQT - Gestão da Qualidade Total IGLC - International Group for Lean Construction FVG - Fluxo de Geração de Valor MTE - Ministério do Trabalho e Emprego PCP - Planejamento de Curto Prazo PMP - Planejamento de Médio Prazo PLP - Planejamento de Longo Prazo

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... ix LISTA DE TABELAS................................................................................................................ x LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................. xi

LISTA DE SIGLAS.................................................................................................................. xii

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1

1.1 Justificativa e contextualização do tema ...................................................................... 1 1.2 Objetivos ...................................................................................................................... 2

1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 2 1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 2

1.3 Delimitação da pesquisa .............................................................................................. 3 1.4 Metodologia ................................................................................................................. 3 1.5 Estrutura do trabalho .................................................................................................... 4

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 6

2.1 O processo de final de obra .......................................................................................... 6 2.2 A base da Construção Enxuta – Sistema Toyota de Produção .................................... 8

2.2.1 Princípios fundamentais do Sistema Toyota de Produção .................................... 9

2.2.2 Estrutura do Sistema Toyota de Produção .......................................................... 10

2.2.3 Just-in-time ......................................................................................................... 12 2.2.4 Autonomação (Jidoka) ....................................................................................... 13

2.2.5 Kaizen ................................................................................................................. 13 2.2.6 Heijunka.............................................................................................................. 13

2.3 Os princípios enxutos na Construção Civil ................................................................ 14

2.3.1 Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor ..................................... 15

2.3.2 Aumentar o valor do produto considerando as necessidades do cliente ............. 16

2.3.3 Reduzir a variabilidade ....................................................................................... 16 2.3.4 Reduzir o Tempo de Ciclo .................................................................................. 17 2.3.5 Simplificar através da redução do número de passos ou partes ......................... 18

2.3.6 Aumentar a flexibilidade de saída ...................................................................... 19

2.3.7 Aumentar a transparência do processo ............................................................... 20

2.4 Fluxos erráticos .......................................................................................................... 21 2.5 Descontinuidade ......................................................................................................... 21 2.6 Sobreposição de atividades ........................................................................................ 22

3 ANÁLISE DO PROCESSO DE FINAL DE OBRA – ESTUDO DE CASO .................. 23

3.1 Apresentação da construtora e da obra analisada ...................................................... 23

3.2 Pressupostos para realização do estudo de caso ........................................................ 24

3.2.1 Período de final de obra ...................................................................................... 24 3.2.2 Registro fotográfico dos problemas .................................................................... 24

3.2.3 Comparação entre planejamento previsto e real ................................................. 24

3.2.4 Custos adicionais com retrabalhos ..................................................................... 25

3.2.5 Checklists de recebimento dos clientes .............................................................. 25

3.3 Análise do registro fotográfico dos problemas .......................................................... 26

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3.4 Análise comparativa entre planejamento previsto e real ........................................... 38

3.5 Análise dos custos adicionais com retrabalhos .......................................................... 41

3.6 Análise dos checklists de recebimento dos clientes ................................................... 45

4 CONCLUSÕES, DIFICULDADES E PERSPECTIVAS ................................................ 48

4.1 Conclusão ................................................................................................................... 48 4.2 Dificuldades encontradas ........................................................................................... 49 4.3 Perspectivas para trabalhos futuros ............................................................................ 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 50

ANEXOS .................................................................................................................................. 54

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Justificativa e contextualização do tema

Segundo Pinheiro (2009), em decorrência do aumento da competitividade de

mercado na construção civil dos últimos anos no Brasil, muitas empresas de construção civil

investiram em seus processos e sistemas de gestão, buscando tecnologias e filosofias mais

modernas, de modo a diminuir os custos, aumentar a eficiência e a qualidade dos serviços e

aumentar o lucro. No entanto, a maioria das mesmas tende a perder o controle dos

procedimentos quando as obras entram em sua fase final de execução, o que é provocado pela

necessidade de se cumprir, muitas vezes, prazos curtos. A qualidade e o controle são deixados

de lado em prol da velocidade e finalização dos serviços (WIGINESCKI, 2009).

Como consequências desse fato, surgem, ao término da obra ou ainda durante a

utilização do empreendimento, diversos retrabalhos, baixa eficiência e qualidade de

acabamento reduzida. Em decorrência disso, há um dispêndio maior de recursos para suprir

esses problemas. O trabalho de Bernardes et al. (1998) comenta a relação da baixa qualidade

de execução de serviços ao elevado custo para remover essas deficiências decorrentes das

não-conformidades em obras de construção civil, citando ainda que há o descontentamento

por parte dos clientes com relação ao desempenho do produto final.

Umas das filosofias modernas mais comumente aplicadas em gestão de obras é a

construção enxuta, a qual viabiliza a realização de um processo simples, organizado,

produtivo, com poucas perdas, transparente e mais rentável. Uma maneira de se gerir

adequadamente uma obra, de modo a evitar os problemas gerados pelo descontrole, é a

utilização de sistemas de gestão baseados nas idéias da Lean Construction, que favorecem um

ambiente de trabalho mais controlado, claro, eficaz e com alta produtividade. Souza e Silva e

Felizardo (2007) apud Wiginescki (2009 p. 17) citam como a falta de utilização de sistemas

adequados de gestão pode acarretar em situações de baixo rendimento do empreendimento e

falhas de execução da obra:

Ao analisar os diferentes tipos de obras no setor da construção civil, pode-se identificar a recorrência de diversas características problemáticas, tanto produtivas como gerenciais. Como exemplo, Souza e Silva e Felizardo (2007) citam que a falta de procedimentos adequados de orientação como projeto, planejamento, programação e controle em obras de pequeno porte levam a erros e falhas na obra.

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Ainda segundo Wiginescki (2009 p.17), a partir de seu estudo de caso de obras de

pequeno porte, fica evidente a importância de se adotar e manter procedimentos de controle

eficazes no intuito de se garantir os melhores resultados, permitindo obter uma maior

satisfação dos clientes com o produto final, através da redução de incertezas e riscos de

insatisfação:

Um acompanhamento adequado das obras auxilia o processo de tomada de decisões e permite a realização de um planejamento de produção, reduzindo as incertezas e os riscos de insatisfação ao final da obra.

Em decorrência dessas questões, este trabalho visa estudar os principais

problemas que surgem no processo de final de obra, oriundos dos fluxos erráticos,

descontinuidades e sobreposição de processos, averiguando como os conceitos da Construção

Enxuta poderiam ter sido aplicados na melhoria dessa etapa de execução de

empreendimentos, fazendo uso de estudos teóricos e de caso. Faz-se importante a realização

dessa pesquisa tanto para aprimorar os conhecimentos acadêmicos de processos de gestão,

como favorecer o mercado de trabalho, possibilitando elucidar a problemática do final de obra

e como obter um controle mais eficiente dessa etapa.

1.2 Objetivos

Para esclarecer melhor o intuito dessa pesquisa, relacionam-se os objetivos gerais

e específicos a seguir:

1.2.1 Objetivo geral

Analisar o andamento do processo de final de obra por meio dos princípios da

construção enxuta e conceitos de fluxos erráticos, sobreposição e descontinuidade.

1.2.2 Objetivos específicos

- Averiguar a aplicabilidade dos conceitos de Lean Construction no processo de

término de um empreendimento;

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- Comparar os conceitos da Construção Enxuta com a realidade dos processos de

final de obra;

- Verificar a existência e consequências, caso existam, de fluxos erráticos,

quebras de precedências e descontinuidade no produto final durante o período de conclusão

de obra;

- Averiguar o processo caótico de final de obra por meio de registros fotográficos,

análises dos checklists de recebimento das unidades preenchidos pelos clientes e análises dos

custos de retrabalhos por meio de folhas de pagamento e das medições de empreiteiros

durante o término da obra.

1.3 Delimitação da pesquisa

Esta monografia é baseada em uma pesquisa teórica e exploratória, fundamentada

nos temas de construção enxuta, fluxos erráticos, descontinuidade, sobreposição e gestão de

obras, bem como uma pesquisa de campo, realizada em um empreendimento comercial de

múltiplos pavimentos de uma empresa construtora de médio porte situada na cidade de

Fortaleza, Ceará. Durante a realização do estudo de caso, o autor do trabalho foi estagiário do

setor de engenharia na sala técnica de execução do empreendimento, tendo acesso direto aos

dados tratados no corpo deste trabalho.

Baseado no escopo desta pesquisa, os dados coletados e apresentados serão

relativos ao período de seis meses finais de execução da obra, envolvendo as atividades de:

substrato, pintura, acabamentos hidráulicos e elétricos, bem como limpeza final. Essas

informações referem-se à realidade da empresa em análise, logo, para efeito de comparação

pode haver algumas divergências com relação a outras empresas.

1.4 Metodologia

Primeiramente, durante os meses de março a junho, foi levantada a literatura

pertinente aos assuntos de construção enxuta, sistemas de gestão de obra, fluxos erráticos,

descontinuidade, sobreposição de serviços, retrabalhos e processos de final de obra.

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Adotando-se como etapa de final de obra os últimos seis meses de execução da

construção até a sua conclusão, houve a necessidade de se coletar os dados práticos sobre o

processo de final de obra logo no primeiro semestre da pesquisa, pois a obra em estudo teve

como prazo o derradeiro dia do mês de julho, sendo que a mesma se estendeu até o término

do mês de setembro, já caracterizando o seu atraso devido aos seus problemas. Para tanto, foi

observado como era o andamento do término da obra.

Durante o segundo semestre, nos meses de julho, agosto e setembro, foram

coletadas as informações pertinentes da obra, tendo sido organizadas em: registro fotográfico

dos problemas encontrados, ilustrações comparativas de serviços previstos e executados no

decorrer desse período na obra, levantamento dos custos adicionais com retrabalhos através

das folhas de pagamento e medições da empresa, bem como o resgate dos checklists de

recebimento dos apartamentos preenchidos pelos clientes.

No final do mês de setembro e durante o mês de outubro, foi realizado o

tratamento dos dados coletados, obtendo conclusões e diretrizes quanto ao processo de final

de obra, focando na apreciação dos custos adicionais pela análise das folhas de pagamentos e

medições de empreiteiros, bem como nas questões da qualidade do produto final, averiguada

pelo registro fotográfico, ilustrações da linha de balanço e checklists de recebimento das

unidades dos clientes.

1.5 Estrutura do trabalho

Esta monografia encontra-se dividida em quatro capítulos principais e outros

tópicos pertinentes. O primeiro capítulo consta de uma introdução que busca contextualizar o

problema citado, expor a razão, justificativa e motivação para realização da pesquisa e

esclarecer os objetivos buscados ao término do trabalho, abordando também as delimitações

da pesquisa, bem como a metodologia adotada para execução do estudo e sua estruturação.

O segundo capítulo fornece informações quanto à revisão bibliográfica realizada

para respaldar e orientar as análises e conclusões da pesquisa, sendo definidos os tópicos

pertinentes ao trabalho.

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O terceiro capítulo apresenta os dados coletados através do estudo de caso da obra

na cidade de Fortaleza, bem como o tratamento e análise dos mesmos.

O quarto capítulo consta das discussões e conclusões quanto à teoria e os dados

estudados, bem como esclarecimento das principais dificuldades encontrados no

desenvolvimento deste trabalho e sugestões para continuidade do assunto e futuras pesquisas.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 O processo de final de obra

Segundo Ferreira (1986), conforme o dicionário Aurélio, o significado de prazo é:

[Do lat. Placitu. ‘agradado’, (subentende-se dies), ‘dia aprovado’.] S. m. 1. Tempo determinado. 2. Espaço de tempo durante o qual deve realizar-se alguma coisa. 3. Prédio (1 a 3) enfitêutico; aforamento.

Dessa forma, o objetivo de conclusão de uma construção em seu devido tempo é a

entrega do empreendimento para os clientes na data estimada de seu prazo de término, sendo

a etapa de final de obra o período imediatamente anterior a essa época.

Segundo Ballard e Howell (2004), a visão tradicional das empresas aponta para a

realização dos serviços de forma mais rápida para obter a finalização de um projeto mais

rapidamente.

Ainda de acordo com Ballard e Howell (2004), esse pensamento convencional

equivoca-se na questão da independência das etapas do serviço, favorecendo a rapidez dos

processos em contrapartida com a qualidade do produto final.

Para Santos e Heineck (2004), os problemas gerados por esses fluxos erráticos,

descontinuidade e sobreposições podem ser evitados através da consideração dos mesmos

dentro da gerência dos serviços do processo construtivo, evitando a parada da cadeia

produtiva.

Para elucidar ainda mais o exposto anteriormente, Johansen e Walter (2007)

afirmam que os estudos realizados para instauração dos conceitos enxutos apontam para a

obtenção de melhorias através do processo de aprendizagem, o que ainda é dificultado por

parte das tradições e cultura das empresas, sendo necessária ainda uma mudança nos

costumes.

Com base nesses pressupostos, os campos de conhecimento que se relacionam

com o escopo dessa pesquisa são os princípios de gestão enxuta, tendo como pilar principal a

Lean Construction.

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Não foi encontrado nenhum estudo que trata diretamente sobre o processo de final

de obra e seus problemas. No entanto, assuntos voltados para os princípios da construção

enxuta, as consequências da não utilização desses meios na administração de obras, fluxos

erráticos, descontinuidades e sobreposição são temas pertinentes a literatura, o que pode vir a

ser, muitas vezes, a realidade da etapa de conclusão da construção de um empreendimento.

Para Costa (2007) e Bernardes et al. (1998), a utilização de filosofias tradicionais

que vão de encontro com os princípios Lean e os sistemas de gestão aprimorados pelos

mesmos, está fortemente ligada com os problemas que surgem ao término da execução de

uma obra, dados pelo aparecimento, ao longo da construção, de não-conformidades e falta de

transparência e organização do processo, favorecendo determinados custos adicionais e

retrabalhos.

Na Figura 2.1, encontra-se a forma como Costa (2007) ilustrou a diferença entre

essas filosofias, onde nota-se a discrepância entre a linha de pensamento convencional dentro

de uma empresa e aqueles preconizados pelos princípios Lean, facilitando o entendimento

quanto aos problemas gerados pelo instrumento da execução sem planejamento e quanto à

base empresarial bem estruturada dos ideais enxutos.

Figura 2.1 - Diferenças da filosofia de liderança tradicional e a Lean (COSTA, 2007)

Ainda sobre a Figura 2.1, averigua-se que o modo tradicional baseia-se na ação

direta oriunda da obediência ofuscada pelo poder centralizado, havendo perda de informação,

baixa interação da equipe e, muitas vezes, baixa eficiência. Enquanto que o sistema mantido

pelo pensamento enxuto, a hierarquia empresarial serve de apoio para o desenvolvimento de

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todo o processo até a geração do produto final, propiciando um domínio geral das

informações por parte das equipes e elevando a eficiência dos serviços.

De forma a constatar a importância de se utilizar sistemas de gestão e princípios de

construção enxuta para melhorar os processos de execução e evitar os problemas que possam

aparecer por falta de organização, como o possível andamento caótico do final de obras, pode-

se citar Wiginescki (2009 p.106) que elucida por meio de um estudo de caso o processo de

final de obra e falta de processos adequados de gestão:

[...] Alguns problemas foram identificados principalmente no final da obra. Devido ao curto espaço de tempo para terminar todas as atividades necessárias foi difícil manter o funcionamento de parte das ferramentas aplicadas nos últimos quatro dias da obra. Como por exemplo, a manutenção da organização e da limpeza da obra e do controle das atividades em execução.

Tendo como base a efetivação das atividades mais rapidamente e sem o devido

controle quando se esta em processo de final de obra, espera-se que o produto reprove em sua

inspeção e passe por manutenção. De modo a elucidar o exposto acima, Formoso (2002, p.

04) expõe a questão de haver possíveis retrabalhos durante o processo de produção do produto

final, abordando também o processo básico da construção enxuta:

O modelo de processo da Construção Enxuta, por sua vez, assume que um processo consiste em um fluxo de materiais, desde a matéria prima até o produto final, sendo o mesmo constituído por atividades de transporte, espera, processamento (ou conversão) e inspeção. As atividades de transporte, espera e inspeção não agregam valor ao produto final, sendo por esta razão denominadas atividades de fluxo. Nem toda a atividade de processamento agrega valor ao produto. Por exemplo, quando as especificações de um produto não foram atendidas após a execução de um processo e existe a necessidade de retrabalho, significa que atividades de processamento foram executadas sem agregar valor.

Como já esclarecido anteriormente, por não apresentar claras informações sobre o

processo de final de obra na literatura, faz-se necessário o esclarecimento dos assuntos

pertinentes ao tema, citados acima, bem como adotar pressupostos, a partir da adoção de etapa

de conclusão de obra como sendo os últimos seis meses até o prazo de entrega.

2.2 A base da Construção Enxuta – Sistema Toyota de Produção

Em meio à crise oriunda do pós-guerra no período da década de 50, a indústria

automobilística japonesa Toyota Motor Company -TMC foi umas das poucas empresas que

conseguiu perdurar no mercado. Segundo Ohno (1997), a maneira mais adequada de se

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aumentar os lucros através do ganho de produtividade é a redução de desperdícios e gastos,

físicos ou financeiros, desnecessários. Por meio desse pressuposto, desenvolveu-se o Sistema

Toyota de Produção – STP, aplicado naquela época com intuito de reduzir custos e produzir

uma maior quantidade de veículos, o que garantiu a sobrevivência da companhia durante a

crise.

Ainda segundo Ohno (1997), o processo de redução dos custos deve ser iniciado

por meio da identificação das perdas, sendo as principais vertentes abordadas por ele: a perda

com mão-de-obra, energia e tempo gastos em transportes em geral para execução do produto,

a perda no processamento geral do produto, em caso de dispêndio excessivo de tempo e

matéria bruta, a perda por estocagem em excesso, gerando demandas de logística e espaço

físico extensos, a perda com retrabalhos, em caso de produtos com qualidade indesejada, a

perda com a inexistência de fluxo contínuo de produção, propiciando tempos de espera entre

as etapas de execução, que estimula gastos adicionais, e ainda, a perda com a falta de

planejamento e estudo de necessidade de mercado, acarretando em superprodução, onde o

processo de perdas é acumulativo e interdependente, sendo que cada perda interfere em outra.

Esse conjunto de itens de possível dispêndio excessivo serve como ponto de

partida para o desenvolvimento do modelo de processamento de atividades que agregam ou

não valor, de acordo com a construção enxuta (FORMOSO, 2002).

2.2.1 Princípios fundamentais do Sistema Toyota de Produção

De acordo com o Lean Way Consulting – LWC, o princípio mor do STP é a busca

e eliminação por completo de qualquer perda oriunda da cadeia produtiva. Baseando-se na

idéia de que o valor do produto dever ser abalizado na equação “Preço – Custo = Lucro”, de

modo a valorizar a qualidade final e majorar os lucros da empresa, o que é familiarizado

como o “princípio do não custo”. Para a Toyota, existe uma cadeia de valor, na qual consiste

em todo o processamento do produto final, desde sua concepção, obtenção de matéria-prima,

transporte, confecção até seu encaminhamento final. A busca e eliminação das perdas do

processo são feitas a partir de uma análise detalhada de toda essa cadeia de valor, focando nas

etapas que não agregam valor. Para entender melhor o fluxo dessa cadeia de valor na

construção civil, a Figura 2.2 ilustra o mapeamento dessa cadeia entre o depósito e a

montagem de estruturas metálicas em uma obra.

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Figura 2.2 - Cadeia de Valor de uma estrutura metálica em obra (Fonte:BORGES, 2008)

2.2.2 Estrutura do Sistema Toyota de Produção

Para resumir a estrutura do STP, Ghinato (2000) afirma que para sustentar os

processos operacionais, faz-se necessário uma base firme que atenda aos valores do

nivelamento da produção (Heijunka) e a busca pela melhoria contínua (kaizen).

Acima dessa base consolidada, segundo Ohno (1997), emergem as duas vertentes

da execução dos serviços, na qual o Just-in-Time - JIT almeja a realização das atividades com

o menor estoque, menor tempo e maior qualidade e a Autonomação (Jidoka) permite a

constante inclusão de todos os envolvidos no processo para discussão e implementação de

progressos na produção dos empreendimentos.

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De acordo com o Lean Way Consulting – LWC, em meio à crise da década de 50,

a TMC desenvolveu o Sistema Toyota de Produção, por meio do qual desenvolveu um

método que levou em consideração o atendimento aos interesses de seus clientes, reduzindo

seus custos, cumprindo seus prazos, inovando sua cadeia produtiva e aumentando a qualidade

de seus produtos acabados, integrando não somente a manufatura, mas também todos os

componentes da organização produtiva.

Para Liker e Meier (2007) o STP fundamenta-se no processo de busca contínua de

redução ou eliminação dos desperdícios inerentes à cadeia produtiva. Ainda de acordo com

Liker e Meier (2007), a produção enxuta oriunda do STP propõe a supressão dos problemas

desde sua base primordial, fomentando o intercâmbio entre os processos, organização e

melhoria contínua.

Esse sistema pode ser ilustrado pela Figura 2.3 abaixo.

Figura 2.3 - Funcionamento do STP (Fonte: LIKER E MEIER, 2007)

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Alves (2000) afirma que os pilares do STP, concentrados nos ideais da

Autonomação (Jidoka) e o Just-in-time – JIT, só são possíveis a partir da prévia análise dos

diferentes tipos de perdas existentes nos processos de produção, de modo que enfatiza a

relação de diminuição de perdas em prol do aumento da produtividade e eficácia do produto

final por meio da identificação dos problemas e desperdícios principais durante os processos.

Para o completo funcionamento do STP, faz-se necessário uma base consolidada

para os dois pilares citados acima, que funcionam como ferramentas para o processo de

produção. Dessa maneira, Ghinato (2000) elucida a necessidade de um suporte de controle

para as atividades de operação, sendo esse alicerce composto pelo Heijunka e o Kaizen.

A seguir, encontram-se melhor definidos os pilares e a base para o STP.

2.2.3 Just-in-time

Para Ohno (1997), o processo da cadeira produtiva deve ser feito através da

chamada produção puxada, a qual consiste em fragmentação dos lotes de recursos para

produção, sendo fornecidos, no momento único e exato, os recursos estritamente necessários

para execução de cada etapa do processamento, individualmente. Para se cumprir a contento a

filosofia do JIT, faz-se necessário o planejamento prévio de recebimento e distribuição dos

lotes reduzidos, tanto de recursos materiais, quanto de mão de obra e informações.

Como benefício dessa medida, Alves (2000) expõe e discorre sobre a valia da

redução do estoque global na linha de produção, possibilitada pela redução do tamanho dos

lotes e recebimento dos recursos no momento de sua aplicação, como ferramenta adequada

para facilitar o controle da cadeia produtiva e evitar a demanda em logística de

dimensionamento de estoques de material.

Ainda segundo Alves (2000), acrescido das idéias de Kemmer (2006), faz-se

necessário um maior controle com relação a prazos e quantidade de recursos fornecidos, de

modo a evitar quebras na cadeia produtiva, o que se torna mais fácil de identificar os

problemas da linha de produção devido o menor volume de serviços controlados por período,

o que garante a melhoria contínua dos processos e um produto final de maior qualidade.

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2.2.4 Autonomação (Jidoka)

Para Ohno (1997) e Shingo (1996) apud Alves (2000), o conceito de

autonomação é oriundo do ideal de prover o maquinário com inteligência humana, sendo

capaz de gerar uma cadeia produtiva dinâmica, capaz de se adaptar as condições adversas,

podendo corrigir problemas durante o processo, sem haver muitas perdas.

Ao se conseguir efetivar com sucesso tal medida, o custo com mão de obra em

excesso é reduzido, dado a necessidade de poucas pessoas no acompanhamento das máquinas

de produção em larga escala, além de prover fluxo contínuo, redução de produtos ineficazes e

evitar a superprodução e descontrole de estoque (OHNO, 1997; KEMMER, 2006).

2.2.5 Kaizen

A Autonomação e o JIT funcionam por meio do fluxo contínuo de operação. Para

garantir a melhoria contínua desses pilares, o Kaizen interfere na cadeira produtiva,

permitindo a interação entre os funcionários da empresa, dando-lhes a possibilidade de

interagir com os setores administrativos, motivando-os a não só executar o papel operacional,

mas também de opinar quanto aos problemas e dificuldades apresentadas na rotina de

atividades, possibilitando a otimização dos processos (DANKBAAR, 1997).

Koskela (1992) afirma que a melhoria contínua só pode ser garantida pela

participação de todos os envolvidos na indústria, principalmente os funcionários, os quais

devem ser motivados constantemente e integrados ao processo de tomada de decisão.

2.2.6 Heijunka

Além da melhoria contínua, necessita-se do nivelamento da produção, o qual

serve para criar uma frequência constante de execução dos processos, o que pode ser

constatado a partir da afirmação feita por Teixeira (2009) a seguir:

Nivelamento da produção: dá suporte ao trabalho padronizado e ao kaizen. A meta é produzir no mesmo ritmo todos os dias para minimizar os picos e os vales da carga de trabalho. Heijunka também dá suporte para que haja uma rápida adaptação à demanda flutuante.

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2.3 Os princípios enxutos na Construção Civil

De acordo com Reis (2004), a necessidade de se gerir produtos almejando a

qualidade surgiu no início da década de 80 e vem se desenvolvendo até hoje por meio de

ferramentas que apropriam a Gestão da Qualidade Total – GQT.

Para Koskela (1992), essas necessidades de sistemas de gestão para a construção

civil surgiram diante do desperdício, realidade intrínseca ao processo produtivo dessa

indústria.

O mesmo autor ainda afirma que esse desperdício tem como causa as falhas de

projeto e execução, além das perdas com atividades desnecessárias, que não agregam valor,

tais como espera, deslocamento e inspeções no produto.

Tendo como base o trabalho de Koskela (1992), já naquele ano, a construção

enxuta passou a ser estudada e aperfeiçoada, sendo difundido o uso de ferramentas da lean

production pelo International Group for Lean Construction – IGLC (KOSKELA, 2004).

Tanto para Solomon (2004) como para Costa (2007), a construção enxuta é uma

filosofia que incorpora novos ideais em seus princípios, almejando diferenciar-se do método

tradicional de liderança e gestão com o objetivo de garantir a maior satisfação dos clientes por

meio de produtos de maior qualidade, ressaltando o Fluxo de Geração de Valor – FGV em

seus processos para reduzir tempo e gerar flexibilidade de saída nos produto para melhor

satisfazer os clientes.

De modo a ressaltar o exposto acima, Koskela (2000) afirma ainda que a

construção enxuta surgiu como ferramenta para garantir a inclusão do FGV nos sistemas de

produção e planejamento da construção civil. Desse modo, buscou elucidar que os princípios

tradicionais visam apenas a entrega do produto, enquanto que a construção enxuta busca a

entrega do produto com satisfação do cliente, redução dos gastos e perdas, geração de maior

valor para as empresas e valorização da credibilidade das mesmas.

Para se definir os melhores instrumentos a serem aplicados no controle das

atividades comuns a uma obra, devem-se buscar primeiramente os princípios e metas que se

deseja obter com o resultado final do produto. Por meio dos princípios Lean desenvolvidos

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por Koskela (1992), lista-se uma série de princípios para a gestão de processos que podem ser

utilizados como base na escolha das ferramentas de controle (FORMOSO, 2002).

A seguir, encontram-se listados e detalhados esses princípios, de acordo com

Formoso (2002).

2.3.1 Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor

Melhorar a eficiência dos processos e diminuir perdas por meio de melhoria da

eficiência das atividades pela eliminação de serviços de fluxo que não agregam valores

(FORMOSO, 2002).

Exemplo: Segundo Saurin (2006), pode-se utilizar um tubo coletor vertical,

passando por todos os pavimentos da obra, para servir como dispersor por gravidade do

entulho diretamente em caçambas ou contêineres (Figura 2.4), reduzindo o desperdício de

mão-de-obra, equipamentos e tempo que seriam gastos na movimentação desse entulho.

Figura 2.4 - Redução de atividades que não agregam valor (SAURIN, 2006)

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2.3.2 Aumentar o valor do produto considerando as necessidades do cliente

Busca compreender e tomar como base para a execução das atividades as

necessidades dos clientes internos e externos ao empreendimento (FORMOSO, 2002).

Exemplo: Para Formoso (2002), pode-se adicionar no montante do produto itens

que agregam valor aos interesses do cliente, como a inclusão de um ambiente de

brinquedoteca na área comum de um empreendimento residencial que visa o público de casais

com filhos crianças (Figura 2.5).

Figura 2.5 - Consideração das necessidades do cliente (Fonte: Patrimônio Incorporações)

2.3.3 Reduzir a variabilidade

Eliminar a variabilidade nos processos e atividades de execução da obra, pois

estimulam atividades que não agregam valor, alem de gerar desconforto para os executores e

para os utilizadores do produto, dado que gera não-conformidades no processo. Formoso

(2002 p.07) exemplifica com a não aceitação de produtos fora de especificação pelo cliente,

resultando em retrabalhos ou rejeitos, o que é bastante comum em situações de final de obra.

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Exemplo: Evitar o desenvolvimento de edificações sem pavimento tipo, o que,

segundo Formoso (2002), dificulta o controle dos processos, bloqueia a criação de pacotes de

serviço, atrapalha as atividades de compra e estorva o recebimento dos materiais, além de

quebrar o fluxo contínuo da obra e diminuir o ritmo de produção. A Figura 2.6 ilustra um

edifício sem pavimento tipo.

Figura 2.6 - Exemplo de variabilidade (Fonte: Patrimônio Incorporações)

2.3.4 Reduzir o Tempo de Ciclo

Segundo Formoso (2002), a idéia de tempo de ciclo é baseada no princípio do JIT

e se entende pela soma de todos os tempos para produzir o produto final. Alvarez (2001)

ilustra o Tempo de Ciclo através da cadeia produtiva representada na Figura 2.7.

Figura 2.7 - Exemplo de Tempo de Ciclo (Adaptação: ALVAREZ, 2001)

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Em suas palavras, Formoso (2002) afirma ainda que reduzir esse tempo consiste

em “[...] comprimir o tempo disponível como mecanismo de forçar a eliminação das

atividades de fluxo.”

Ainda segundo Formoso (2002), um conjunto de vantagens podem ser conseguidas

a partir dessa medida e que diminuem os problemas encontrados no final de uma obra:

entrega mais rápida ao cliente, a gestão dos processos torna-se mais fácil, o efeito de

aprendizagem tende a aumentar, a estimativa de futuras demandas é mais precisa e o sistema

de produção torna-se menos vulnerável a mudanças de demanda.

Exemplo: A Figura 2.4 também serve de exemplo para esse princípio, pois ao se

utilizar o tubo coletor de entulhos, reduz-se o tempo de espera do processo já que o

profissional não precisará esperar o servente retornar da movimentação do lixo para voltar às

suas atividades de auxílio.

2.3.5 Simplificar através da redução do número de passos ou partes

Consiste na idéia de racionalização, na qual se busca eliminar todas as atividades

redundantes ou dispensáveis, de modo a aumentar a eficiência e a velocidade (FORMOSO,

2002).

Exemplo: De acordo com Formoso (2002), utilizar elementos pré-moldados para

eliminar o processo de confecção de formas e concretagem de peças é viável na redução de

etapas no processo produtivo.

Também se cita como exemplo há a possibilidade de evitar a necessidade de

instalar torres de andaimes para fazer acabamento no teto de pavimentos com pé direito muito

elevado. Para tanto, os gesseiros podem fazer uso de “pernas-de-pau” para aumentarem sua

altura e realizar os arremates no forro de gesso, o que elimina a etapa de montagem de

plataformas e reduz o tempo gasto com deslocamento.

Conforme ilustrado na Figura 2.8, observa-se a facilidade com que os gesseiros,

por meio das “pernas-de-pau”, se movimentam no pavimento e realizam o preenchimento e

acabamento entre as placas do forro de gesso. A atividade tornou-se simplificada pela

eliminação da parte relativa à montagem e desmontagem de peças de andaime.

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Figura 2.8 - Simplificação pela redução de processos (Fonte: Empresa Cara do Gesso)

2.3.6 Aumentar a flexibilidade de saída

Consiste em prever e interagir com as necessidades dos clientes, permitindo as

modificações adequadas no produto final. Aumenta a credibilidade do executor e a satisfação

dos clientes, além de diminuir gastos e perda de tempo no final de uma obra, dado a

antecipação das situações (FORMOSO, 2002).

Exemplo: A Figura 2.9 ilustra a utilização de paredes de gesso para vedação

interna, possibilitando a variabilidade de opções estéticas no design do interior.

Figura 2.9 - Exemplo de flexibilidade (Fonte: Eduardo Costa Assessoria Imobiliária)

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2.3.7 Aumentar a transparência do processo

Esse princípio pode ser o mais importante para se contornar os problemas

encontrados na etapa de final de obra, pois torna os erros mais fáceis de serem identificados

no sistema de produção, ao mesmo tempo em que aumenta a disponibilidade de informações,

necessárias para a execução das tarefas, facilitando o trabalho (FORMOSO, 2002).

Exemplo: Segundo Formoso (2002), a utilização de demonstrativos de

planejamento, pacotes de serviço, estimulantes aos funcionários e outros informes é pertinente

à transparência dos processos e melhoria do ambiente de trabalho, conforme Figura 2.10 que

ilustra sinais visuais utilizados no local das atividades para facilitar o encaminhamento e

segurança dos operários, bem como um quadro de avisos para informar assuntos de interesse

dos funcionários, como: preço de pacotes de serviço, calendário mensal, aniversariantes do

mês, planejamento semanal e lista de telefones úteis aos operários.

Figura 2.10 - Transparência nos processos construtivos

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2.4 Fluxos erráticos

Segundo Ferreira (1986), fluxo é o ato ou efeito de fluir, baseado no movimento

contínuo através de um curso ou corrente sequenciado. Ainda de acordo com o mesmo autor,

errático é o mesmo de errante, algo que está errado, fora do que foi estabelecido. Dessa forma,

entende-se por fluxo errático um sequenciamento não contínuo de atividades ou a quebra do

que havia sido planejado e esperado.

Romano et al. (2005), em seu trabalho sobre racionalização no uso de

equipamentos e melhoria de processos para viabilizar o fluxo contínuo em obras, expõe a

importância de se otimizar a mecanização logística do deslocamento de materiais no canteiro

de obra para garantir o fluxo contínuo em detrimento do errático.

Ainda segundo Romano et al. (2005), através de uma análise financeira

comparativa entre os custos de execução de alguns serviços em regime de custo planejado, de

custo para execução das atividades em fluxo contínuo e de custo para execução dos serviços

em fluxo errático, constatou que houve uma economia equivalente à venda de um

apartamento do empreendimento estudado através do uso do fluxo contínuo.

2.5 Descontinuidade

Para Ferreira (1986), de acordo com o dicionário Aurélio, o significado de

descontínuo é:

[De des- + contínuo] Adj. 1. Não contínuo; interrompido, interrupto. 2. Biol. Ger. Diz-se dos caracteres que se apresentam em graus nitidamente delimitados, e não continuamente. [Cf. descontínuo, do v. descontinuar.] ~ V. função –a.

Para Heineck (1983), o processo da descontinuidade consiste nas interrupções do

sequenciamento natural dos ciclos das atividades por meio da quebra do fluxo contínuo das

mesmas.

Heineck (1983) afirma ainda que independente das razões que geraram a

descontinuidade, pois há vezes em que a própria gerência da obra pode optar por quebrar o

fluxo das atividades em decorrência de variáveis diversas, o fluxo não contínuo da execução

dos serviços é prejudicial para a obra.

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2.6 Sobreposição de atividades

Segundo Smith e Reinertsen (1995) apud Trescastro (2005), a sobreposição de

atividades consiste no paralelismo sequencial na execução de serviços que possuam alguma

dependência entre se. Para tanto, há a troca de informação parcial e incompleta em pequenos

lotes durante esse processo simultâneo, havendo a necessidade de comunicação e

retroalimentação entre as partes envolvidas.

Ainda de acordo com Smith e Reinertsen (1995) apud Trescastro (2005), quando

não há a sobreposição de atividades, as informações necessárias aos serviços sequenciais são

transmitidas de uma vez só em um único lote, assegurando a precedências entre essas

atividades, mas não havendo uma comunicação controlada e constante entre elas.

Para Smith e Reinertsen (1995) apud Trescastro (2005), a utilização da

sobreposição de atividades gera a necessidade de se ter um maior controle dos processos, pois

a transmissão de informações incompletas pode acarretar em consequências não agregadoras

de valor para o produto final.

Segundo os mesmos autores, a produção puxada através do JIT pode auxiliar no

controle da sobreposição, pois a informação puxada permite a antecipação em lotes menores

de dados sequenciais das atividades dependentes.

A Figura 2.11 ilustra os tipos de sobreposição de atividades.

Figura 2.11 - Tipo de sobreposição de atividades (Fonte: TRESCRASTRO, 2005)

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3 ANÁLISE DO PROCESSO DE FINAL DE OBRA – ESTUDO DE CASO

3.1 Apresentação da construtora e da obra analisada

A “Empresa Incorporadora X”, cuja matriz é localizada em São Paulo, foi fundada

em 1995. Constrói em vários estados do Brasil a linha do empreendimento pertinente ao

Estudo de Caso deste trabalho, que trás um novo conceito de estilo arquitetônico às cidades

em que é executada.

O projeto foi inspirado nos villages de Miami, caracterizados por prédios com

ventilação e iluminação natural valorizadas, além de serem estruturas de pequeno porte, com

fachada de pavimentos não uniformes e área comum pensada para atender as necessidades de

clientes variados. Para executar este empreendimento em regime de empreitada por preço

global, a “Empresa Incorporadora X” contratou a “Empresa Construtora Y” na cidade de

Fortaleza - CE.

A obra localizada no bairro Cambeba, próximo ao acesso à Av. Maestro Lisboa, é

uma edificação multifamiliar, com 208 unidades divididas em 05 blocos de 07 pavimentos

cada, totalizando uma área construída de 17.361,95m², com uma área comum coberta

constituída de dez salões de ambientes diversos, citando-os: jogos adolescentes, lan house,

cinema, jogos adultos, festas infantis, festas adultos, academia, spa, creche e brinquedoteca,

além de uma área comum descoberta composta de piscina adulta, piscina infantil,

hidromassagem, espaço para redes e playground.

De posse do Anexo A, vislumbra-se a situação da obra.

Há mais de 25 anos no mercado, a “Empresa Construtora Y” possui em seu

portfólio mais de 20 edifícios residenciais e comerciais, mais de 1.300 residências populares.

Por muitos anos desde sua criação, a empresa se dedicou a realização das obras da Instituição

Educacional de Ensino a qual é vinculada e a diversas obras públicas. Somente nos últimos

anos que a construtora deu inicio a execução de obras residênciais. Em parceria com a

“Empresa Incorporadora X”, a “Empresa Construtora Y” está realizando, na região Nordeste

do país, alguns dos empreendimentos da linha a que se destina o Estudo de Caso.

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3.2 Pressupostos para realização do estudo de caso

3.2.1 Período de final de obra

Para a análise do processo de final de obra do empreendimento em estudo, faz-se

necessário limitar a margem de tempo em que o mesmo ocorre.

O prazo final da construção foi o término do mês de agosto de 2010, sendo que a

obra estendeu-se em atraso até a conclusão no mês de setembro de 2010. Adotando-se o

processo de final de obra como sendo os últimos seis meses de sua conclusão, as análises

qualitativas e quantitativas serão voltadas para os meses de abril de 2010 a setembro de 2010.

Os serviços esperados, baseado na linha de balanço inicial, durante esse período,

conforme o Anexo B, são: pintura final, acabamentos elétricos, assentamento de louças,

instalação de metais e limpeza final. Presença de outro serviço caracteriza atraso.

3.2.2 Registro fotográfico dos problemas

Serão expostas as fotografias obtidas nas visitas à obra e elucidados os problemas

encontrados, realizando uma comparação explicativa entre as dificuldades apresentadas e os

princípios lean supracitados, segundo Formoso (2002).

Por meio destas fotografias, far-se-á mais claro a existência de fluxos erráticos,

descontinuidade, quebra de precedências e sobreposição de atividades, o que é intensificado

no processo de final de obra. As informações foram obtidas mediante observação e

esclarecimento dos próprios funcionários da empresa.

3.2.3 Comparação entre planejamento previsto e real

A partir da linha de balanço inicial elaborada pela “Empresa Construtora Y”,

conforme Anexo B, fez-se, juntamente à sala técnica, uma nova linha de balanço, ilustrando a

situação real na qual os serviços ocorreram, isolando-se o período de final de obra.

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Com base nessa análise, será discutida a questão dos fluxos erráticos,

descontinuidade e sobreposição de atividades, pois, através do trabalho de Heineck (1982),

observa-se que a ferramenta de linha de balanço não é eficaz para controlar estes problemas

em decorrência da mesma considerar as atividades sequenciadas e em ritmo constante, o que

não ocorre quando o processo se torna descontrolado, dificultado sua previsão e visualização

na linha de balanço.

Contudo, a quebra de precedência entre atividades pode ser bem observada quando

o sequencialmente padrão adotado na linha de balanço prevista é quebrado mediante qualquer

causa, o que caracteriza o mau andamento da cadeia produtiva.

Portanto, essa comparação terá foco na averiguação de que quaisquer serviços

excetuados aos esperados no período de final de obra serão considerados falhas de

planejamento e atraso do processo.

3.2.4 Custos adicionais com retrabalhos

Através do apurado de todos os itens referentes a retrabalhos observados nas

folhas de pagamento e medições de empreiteiros dos últimos seis meses da obra, com

exemplos evidenciados no Anexo C e D, respectivamente, será exposto e discorrido sobre o

gráfico de gastos adicionais do período de final de obra, abordando-se os temas de fluxos

erráticos, descontinuidade e sobreposição de atividades como causas desses gastos pela não

utilização dos princípios lean.

3.2.5 Checklists de recebimento dos clientes

A partir do modelo de checklist de recebimento de unidade utilizado pela

“Empresa Construtora Y”, conforme o Anexo E, fez-se uma análise quantitativa e qualitativa

quanto aos problemas encontrados pelos clientes.

Serão abordados esses resultados, fazendo um paralelo com os princípios lean

expostos anteriormente segundo Formoso (2002), principalmente os voltados aos interesses

dos clientes.

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3.3 Análise do registro fotográfico dos problemas

Dentre os diversos problemas encontrados no estudo de caso, ocasionados pela

ocorrência de fluxos erráticos, descontinuidade de processos e sobreposição de atividades,

que poderiam ter sido evitados a partir do uso dos princípios da construção enxuta, são

expostos a seguir os mais pertinentes.

Pela Figura 3.1, nota-se a existência do fluxo errático em decorrência da execução

do enchimento da tubulação somente após a textura de fachada já ter sido executada, o que

acarretará em um retrabalho de pintura.

Ainda na mesma ilustração, averigua-se a problemática do não seguimento dos

princípios enxutos, a qual a situação se enquadraria na questão da possibilidade de se reduzir

o número de passos e de atividades que não agregam valor, bastando ter sido pensado numa

tubulação embutida na estrutura de alvenaria estrutural ou mesmo um shaft para a tubulação

executado antes da realização da pintura.

Figura 3.1 - Enchimento da tubulação executado após a pintura

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Segundo MTE (2003), a construção civil é o setor em que mais ocorrem acidentes

em geral, fatais ou não. Uma maneira de evitar esses incidentes é a utilização de bandejas

periféricas de proteção, que são instaladas nas fachadas das torres, evitando o impacto de

materiais que venham a cair no pavimento térreo (NASCIMENTO, 2005).

Portanto, a utilização de bandejas periféricas de proteção é uma alternativa que

melhora o processo de execução do produto, dado que ao se evitar um acidente, o fluxo

contínuo é garantido, sem haver quebra da cadeia produtiva mediante um acidente.

Contudo, a falta de controle dos processos e a não existência de transparência da

comunicação entre as atividades da administração de uma obra e os operários, além do fato de

montar e desmontar uma bandeja de proteção periférica ser uma atividade que aumenta o

número de passos a ser realizado, o que majora o tempo de ciclo de produção, pode gerar uma

situação de retrabalho semelhante à da Figura 3.2 advinda da obra em estudo, na qual se

visualiza o ponto onde a bandeja era parafusada a uma chapa metálica por dentro do

apartamento e que foi retirada somente após a execução do revestimento de gesso.

Figura 3.2 - Falha no revestimento mediante utilização de bandejas de proteção

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A obra apresenta uma área comum valorizada, sendo que em cada um dos cinco

blocos do canteiro, há a existência de dois salões de ambientação completamente diferentes.

Em decorrência da aproximação do término da obra e em razão dos projetos desses

salões terem sido liberados tardiamente, o engenheiro responsável relata que houve a

necessidade de construí-los em duas semanas, o que caracterizou a ocorrência o surgimento

de problemas variados.

Pela Figura 3.3, fica evidente a existência do fluxo errático e sobreposição de

atividades, pois a parede de gesso ilustrada foi realizada após a execução do rodapé em

paviflex das paredes, o que fez com que o rodapé no trecho apontado ficasse embutido atrás

da parede de gesso. Segundo o engenheiro, somente em outro momento essa correção poderá

ser realizada em decorrência desses ambientes já estarem sendo recebidos pelo cliente, o que

acarreta numa redução da credibilidade da construtora junto ao cliente e gastos adicionais

com retrabalho.

Outra dificuldade citada pelo engenheiro é a alta variabilidade entre esses salões,

pois eles apresentam projetos e detalhes construtivos diferentes, sendo contra os princípios

enxutos, tornando o processo executivo mais lento e passível de falhas, como o da Figura 3.3.

Figura 3.3 - Falha no rodapé mediante fluxo errático na execução de parede de gesso

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Ainda de acordo com o engenheiro da obra, diversas dificuldades surgiram com

relação ao pouco tempo de tomada de decisão em decorrência do esgotamento do prazo final.

Isso propiciou a ocorrência de fechamentos de contratos com empresas sem o devido cuidado

e controle de processos, como foi o caso dos gradis da obra em que muitos apresentaram

divergência nos tamanhos, levando o chumbamento das peças a danificar o reboco de

assentamento. Isto pode ser visto na Figura 3.4.

Outra questão exposta foi à variabilidade da fachada, que não apresenta um

pavimento tipo bem definido. Com isso, a diversidade das peças de gradis gerou uma

dificuldade no controle da execução, recebimento e montagem no local, favorecendo a

ocorrência ilustrada na Figura 3.4, na qual o gradil é mais longo do que o que deveria ser para

ser chumbado em cima da textura, ocasionando dano na pintura e reboco.

Ainda sobre a Figura 3.4, averigua-se a existência de fluxo errático no

sequenciamento dos processos, pois o gradil só foi montado após o reboco e a pintura terem

sido executados, caracterizando falta de visão sistêmica.

Figura 3.4 - Dificuldade no controle da produção e montagem de peças de gradil

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Ao se aproximar da conclusão da obra, houve a desmobilização do almoxarifado,

sendo utilizados alguns espaços para apoio na estocagem do material. De acordo com a Figura

3.5, averigua-se que, além do fluxo errático existente na execução de uma esquadria após a

pintura do apartamento, há uma descontinuidade dos processos dado que as esquadrias foram

montadas com exceção de uma.

Também pode ser observado o exposto acima na Figura 3.6, que enfatiza o

ocorrido na Figura 3.5, sendo que a peça em questão é um elemento único de gradil que só foi

encaminhado posteriormente para o local, gerando descontinuidade na equipe de montagem

dos gradis, aumentando o tempo de ciclo de conclusão do serviço no apartamento e

ocasionando atividades que não geram valor, como a estocagem no próprio apartamento, o

que pode gerar furto ou mesmo dificultar o processo de execução de outros serviços.

Figura 3.5 - Estocagem de alisares de esquadria para assentamento tardio

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Figura 3.6 - Estocagem de gradil para assentamento tardio

Em meio às decisões tomadas durante o decorrer do processo de final de obra, foi

decidida a execução de um sistema de cobertas em toldos para as vagas de estacionamento.

Como isso não estava no projeto inicial e todo o piso intertravado já havia sido

executado, houve a necessidade de se desmanchar os trechos onde ficaram locados os pilares

de aço galvanizado vazado para execução de uma fundação de concreto para fixar a base dos

postes dos toldos, conforme Figura 3.7 abaixo.

O fluxo errático evidenciado na situação foi à necessidade de se puxar toda a

instalação elétrica para realizar o sistema de iluminação dessas vagas de garagem, o qual

somente foi executado após o toldo ter sido montado.

Dessa forma, ainda de acordo com a Figura 3.7, como a rede elétrica foi executada

após a base de concreto dos postes, houve a necessidade de expor a fiação, quando o correto

seria deixá-lo embutido no pilar em aço galvanizado vazado, o que não agrega valor ao

empreendimento mediante possíveis acidentes, diminuindo o valor do produto para o cliente e

reduzindo a credibilidade da construtora.

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Figura 3.7 - Falha de fluxo errático da execução de tubulação elétrica

Um pacote de serviço foi elaborado para a execução de todas as caixas de inspeção

de esgoto e elétricas, o qual apresentava a sua composição divida em três partes: execução de

alvenaria, acabamentos de reboco de parede e da tampa e execução da base de fundo.

O processo de realização desse pacote de serviço foi caracterizado por

descontinuidade, pois as três etapas mencionadas anteriormente foram executadas em

momentos diferentes e por equipes diferentes, gerando um elevado índice de não

conformidades de projeto.

Além dos retrabalhos oriundos disso, o tempo de ciclo de execução da atividade se

estendeu e a transparência do processo não existiu, dado a quebra da atividade e mudança das

equipes em cada etapa do processo de execução dessas caixas de inspeção, sem haver a

comunicação devida entre elas para garantir a continuidade da cadeia produtiva das caixas.

Segundo o engenheiro, os problemas apresentados nas caixas geraram a

necessidade de se criar uma equipe de revisão das mesmas para sanar os problemas, como o

observado na Figura 3.8 abaixo em que a caixa ficou maior que a tampa, durante a entrega do

empreendimento no processo de final de obra.

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Figura 3.8 - Erro de execução de caixa de inspeção de esgoto

Segundo o engenheiro responsável, houve pressa em se executar a instalação de

tanques, louças, metais e bancadas na obra devido a um atraso na chegada do material. Como

consequência desse processo, danos surgiram em alguns quartos do apartamento causados

pela perfuração da parede no ato do chumbamento das bancadas, conforme Figura 3.9 e 3.10,

o que gerou retrabalhos posteriores.

Figura 3.9 - Execução às pressas do chumbamento de bancada do banheiro do quarto

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Figura 3.10 - Consequência do chumbamento de bancada do banheiro no quarto

Os ambientes de salões existentes dentro das cinco torres da obra, como já

abordado anteriormente, foram executados em duas semanas, o que proporcionou uma pressa

do processo construtivo em decorrência de se atingir o prazo curto.

O tempo de ciclo foi elevado e um conjunto de atividades, citadas nos parágrafos

abaixo, que não agregam valor foi incorporado ao conjugado de serviços realizados nesses

salões.

Em alguns ambientes, os gesseiros fizeram o serviço deles desprezando o projeto

de instalação, embutindo os pontos elétricos. Além disso, a equipe de pintores executou a

pintura das paredes e, somente depois de algum tempo, os eletricistas foram convocados a

localizar e expor os pontos de tomada, conforme Figura 3.11.

Dessa forma, houve retrabalho para todas as equipes, pois os gesseiros, que

cometeram o erro primário de encobrir os pontos elétricos com gesso, tiverem que arrematar

os danos causados pelos eletricistas no momento de localizar com marreta os pontos elétricos

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da parede, a equipe de instalação teve de quebrar a parede e fazer o acabamento das caixas de

instalação e os pintores tiveram que repintar todo o ambiente.

Figura 3.11 - Processo gerador de retrabalho para localização de pontos elétricos

Observou-se que certos apartamentos forrados foram executados sem o

acompanhamento adequado de projeto e sem recebimento com controle de qualidade, o que

gerou um gasto extra com mão de obra para realizar o acabamento ilustrado abaixo na Figura

3.12.

Além disso, o processo se qualifica como descontínuo, pois a equipe de gesseiros

saiu do local de trabalho alegando a conclusão de suas atividades. Dessa maneira, a equipe

teve de voltar posteriormente para arrematar o serviço, gerando uma interrupção da sequência

de serviço.

Ainda conforme a Figura 3.12, averigua-se que houve a execução de um shaft

próximo à esquadria após a realização do revestimento de gesso, o que perpetua a idéia de

descontinuidade e, agora, fluxo errático também, ocasionando mais retrabalhos.

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Figura 3.12 - Forro de Gesso executado com falha de acabamento

Com a quebra de precedências e fluxos erráticos, averigua-se pelas Figuras 3.13 e

3.14 que haverá a necessidade de mão de obra para concluir os serviços devido ao

acabamento ter sido realizado antes da passagem das instalações hidráulicas.

Figura 3.13 - Necessidade de realizar corte no reboco para passar instalação hidráulica

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Figura 3.14 - Descontinuidade na montagem de tanque por falta de tubulação

A montagem de peças metálicas após a execução de pintura interna ou externa se

caracteriza como quebra de precedência e fluxo errático, podendo acarretar em falhas na

pintura, gerando retrabalhos e custos adicionais, como se pode analisar abaixo na Figura 3.15

referente à obra em estudo.

Figura 3.15 - Montagem de esquadria e gradis após execução de pintura

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Foi visto através do acompanhamento da obra e das ferramentas utilizadas nela,

que alguns serviços estão ocorrendo com quebras de precedência dado à necessidade de se

concluir a obra no prazo, o que favorece a formação de fluxos erráticos, sobreposição de

serviços e embasa parcialmente as hipóteses lançadas quanto à situação do processo caótico

de final de obra.

3.4 Análise comparativa entre planejamento previsto e real

A “Empresa Construtora Y” utiliza em suas práticas de gestão de obra ferramentas

de gerenciamento diversas. Os níveis de controle são de pequeno, médio e longo prazo,

fazendo uso, respectivamente, das planilhas de Planejamento de Curto Prazo - PCP,

Planejamento de Médio Prazo - PMP e Planejamento de Longo Prazo – PLP.

Os modelos de PCP e PMP utilizados pela empresa podem ser visualizados nos

anexos F e G, respectivamente.

Já o modelo de PLP que a “Empresa Construtora Y” faz uso é referente ao Anexo

B, a Linha de Balanço, a qual será mais discutida nessa seção devido à facilidade que essa

ferramenta dispõe de visualização, análise de planejamento e observação do sequenciamento

das atividades, quando estas apresentam ritmo e fluxo contínuo.

Caso haja descontinuidade, fluxo errático, quebra de precedências e sobreposição

de atividades, essa ferramenta não mais permite uma boa visualização do processo, como está

sugerido no trabalho de Heineck (1982), onde a disposição das atividades na linha de balanço

fica abstrusa, dado a não homogeneidade dos dados.

Para enfatizar o exposto acima, Ichihara (1997) afirma que quando há a

sobreposição de atividades surge um paralelismo das mesmas e a linha de balanço torna-se

confusa e impraticável.

De acordo com a Figura 3.16, o último dos cinco blocos executados na obra

deveria concluir a pintura final e os acabamentos gerais até o final do mês de junho de 2010,

concluindo suas atividades em julho de 2010 com a limpeza final e entrega das unidades.

Além disso, observa-se o devido sequenciamento das atividades, com fluxo contínuo e sem

sobreposição das mesmas, com exceção da última atividade em que houve paralelismo entre a

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atividade de acabamento elétrico e limpeza final, o que fomenta o exposto por Ichihara

(1997), mesclando a cor representada por ambas às atividades na linha de balanço,

propiciando a confusão no entendimento e leitura da ferramenta.

Figura 3.16 - Linha de balanço inicial do primeiro mês do processo de final de obra

Com o acompanhamento real das atividades que ocorreram no início do processo

de final de obra, montou-se, juntamente com o auxílio do engenheiro responsável pela obra,

uma linha de balanço fidedigna com o processamento dos serviços executados.

Ilustra-se essa ferramenta através da Figura 3.17 que permite a visualização da

invalidação do planejamento inicial, Figura 3.16, caracterizando-se pela quebra de

precedências de atividades, o que propicia serviços de qualidade reduzida, gerando possíveis

manutenções futuras, o que será evidenciado ao analisar os custos com retrabalhos e os

checklists dos clientes, pois os itens que mais apresentaram problemas nessas análises

abordadas mais adiante se associam com as atividades representadas na Figura 3.17 que

apresentaram quebra de precedência, fluxo errático e sobreposição, como os serviços de

pintura de primeira demão, revestimento cerâmico, esquadria e limpeza final, servindo de

parâmetros para associar à baixa qualidade do produto, mediante os custos adicionais

ocorridos com retrabalhos e o descontentamento dos clientes ao apontar esses itens como não

conformes.

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Segundo relatos do engenheiro responsável pela obra, a necessidade de se executar

os acabamentos elétricos antes da pintura, foi o atraso na chegada do material pertinente à

execução da primeira demão, sendo que as tomadas e interruptores já estavam estocados e os

eletricistas ociosos, além da proximidade com a conclusão do prazo de execução da obra.

Com relação ao serviço de assentamento de cerâmico, houve uma falha de

quantitativos na compra inicial das cerâmicas. Como o material veio de outro estado, houve o

atraso no início da execução do serviço no último bloco.

Em decorrência dessas restrições, o engenheiro optou por realizar essas

sobreposições de serviços ilustradas na Figura 3.17, o que gerou o fluxo errático de

atividades, acarretando em dispêndios maiores, como a necessidade de várias equipes de

assentamento de revestimento cerâmico, para vencer o prazo apertado.

Como a pintura foi feita após a execução dos acabamentos elétricos, houve a

necessidade de se reparar ou mesmo trocar peças de interruptores e tomadas devido o

desgaste. Em decorrência disso, a atividade de pintura foi suspensa, também pelo fato de que

a montagem das esquadrias e assentamento de cerâmica estavam pondo a perder a primeira

demão.

Como o serviço de limpeza final foi empreitado com cronograma fechado, ou seja,

o contrato com a empresa de limpeza foi acertado com intervalo de execução do serviço

inalterado e determinado, o que foi justificado pelo engenheiro devido à disponibilidade da

terceirizada. Portanto, não houve a possibilidade de reprogramar a execução do mesmo, o que

gerou retrabalhos de limpeza, já que a pintura foi postergada para após a conclusão dos

demais serviços, o que também é elucidado pela Figura 3.17, caracterizando-se também como

fluxo errático, descontinuidade, sobreposição de atividades e quebra de precedências.

Ainda segundo o engenheiro da obra, a linha de balanço inicial havia sido bem

acompanhada até a proximidade do final da obra, como se pode observar no Anexo H que

ilustra as datas previstas, obtida pela linha de balanço, e reais de execução da pintura final de

todos os blocos por pavimento, onde nos três primeiros blocos concluídos conseguiu-se

atingir as metas estimadas, atrasando até um dia, enquanto que os últimos dois blocos, dado a

proximidade do término do prazo, houve um descontrole maior do processo, gerando uma

defasagem maior no planejamento de até vinte e oito dias de atraso.

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A pressa e a cobrança constante em se atingir o prazo final do empreendimento

ocasionou o desligamento das ferramentas de gerenciamento comuns a obra e propulsionou o

ataque aos serviços restantes de forma desordenada, conforme adaptação a realidade de cada

dia.

Figura 3.17 - Linha de balanço real do primeiro mês do processo de final de obra

3.5 Análise dos custos adicionais com retrabalhos

De posse das folhas de pagamento de produção dos funcionários da empresa e das

medições dos empreiteiros contratados, foi elaborada a Tabela 3.1, que apresenta dados de

custos adicionais pertinentes aos serviços comuns da construção ao longo dos meses

referentes ao processo de final de obra adotado.

O critério utilizado para filtrar esses dados foi apurar quaisquer itens que fizessem

menção a revisão, arremate ou manutenção de um serviço já realizado e pago, o que pode ser

observado nos Anexo C e D que exemplificam, respectivamente, a folha de pagamento de

produção dos funcionários da empresa e uma medição da empreiteira de pintura, ambas

contendo esses dados utilizados na elaboração desta tabela de custos adicionais com

retrabalhos.

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Ainda segundo a Tabela 3.1, averigua-se que a maioria dos retrabalhos foi

decorrente da própria mão-de-obra da “Empresa Construtora Y”, sendo que as empreiteiras

correspondem somente aos itens de pintura e limpeza. Contudo, em termos de onerosidade, os

retrabalhos das empresas terceirizadas apresentaram um maior montante, principalmente no

último mês de entrega definitiva, o que elucida que a maior parte dos problemas encontrados

no ato da entrega foram os acabamentos de pintura e limpeza fina.

Tabela 3.1 - Custos adicionais com retrabalhos

O Gráfico 3.1 ilustra que o problema mais oneroso para a obra foi o serviço de

pintura, que representa 43% dos custos adicionais. Subsequente são os arremates no substrato,

com 16%, nos revestimentos cerâmicos, com 14%, nas esquadrias, com 10%, na limpeza

final, com 9%, na manutenção dos gradis, com 5% e de louças, com 3%.

Gráfico 3.1 - Proporção de gastos com os arremates nos serviços da obra

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Atentando para o Gráfico 3.2, averigua-se que os custos extras de cada tipo de

arremate assumiram uma ordem de pouco variável constante durante os dois meses

antecedentes ao processo de final de obra, todos apresentando por volta de um custo de no

máximo R$1.000,00.

Ao adentrar no primeiro mês correspondente aos últimos quatro meses de obra,

houve um aumento pequeno, mas considerável desses custos, atingindo um valor próximo a

R$2.000,00.

Após ter se dado início ao período de final de obra, os custos adicionais

continuaram constantes, não passando da casa dos R$2.000,00. Contudo, ao perfazer o último

mês de execução da obra, houve um pico nos valores dos serviços de pintura e limpeza final,

os quais foram de responsabilidade das empresas terceirizadas contratadas.

Observa-se então que houve um gasto excessivo além do previsto em contrato

dessas empresas, caracterizando o circuito final de arremates dos problemas nos itens de

pintura e limpeza da obra por consequência dos problemas de fluxo errático, descontinuidade

e sobreposição de atividades, como se observou na análise do registro fotográfico da obra.

Gráfico 3.2 - Custos adicionais por arremate durante o processo de final de obra

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Ainda com base nas informações da Tabela 3.1, os custos acumulados em cada

mês desde abril de 2010 a outubro de 2010 podem ser analisados através do Gráfico 3.3

abaixo.

Observa-se que a diferença absoluta entre o custo acumulado de cada mês pode

ser representada pela inclinação da reta do Gráfico 3.3. Quanto mais suave for à angulação da

reta entre os meses, menor será a diferença absoluta entre os custos totais acumulados mês a

mês, o que caracteriza a regularidade dos custos adicionais ao longo do período de final de

obra, com exceção do ultimo mês em que ocorre uma inclinação da reta muito acentuada.

Dessa maneira, de acordo com o Gráfico 3.3, nota-se que quando o processo de

final de obra estava para se iniciar, nos meses de abril e maio de 2010, houve uma inclinação

maior da reta, atenuando-se durante o decorrer da conclusão do empreendimento e adquirindo

um ápice no último mês, no qual se observa a maior diferença absoluta do custo acumulado.

Portanto, os custos adicionais com retrabalhos tendem a se tornar evidentes e

maiores no fim do processo de final de obra, sendo mais característico no último mês devido

o pico de pressa para encerrar a construção. O montante representando no Gráfico 3.3 é de

R$34.243,00, levando-se em conta somente o período de conclusão da construção, o que não

é representativo, dado que o orçamento da mão-de-obra do estudo de caso é de

aproximadamente R$5.000.000,00, perfazendo uma importância em torno de somente 0,7%.

Deste modo, levar-se-á em consideração principal como consequência dos problemas de final

de obra a questão da qualidade do produto a ser verificado no tópico a seguir.

Gráfico 3.3 - Custos adicionais totais acumulados durante o processo de final de obra

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3.6 Análise dos checklists de recebimento dos clientes

Com base nos formulários de recebimento de unidades dos clientes, conforme o

Anexo E, a Tabela 3.2 foi formada, pontuando-se as quantidades de problemas (1) que os

itens apresentaram e gerando a porcentagem com relação ao total de unidades que cada item

apresenta (2) em toda a obra. Cada item possui um total geral diferente, pois os apartamentos

apresentam uma quantidade distinta referente a cada componente. Exemplo: 48 armadores de

315 apresentaram problemas, enquanto que 91 portas de 693 prestaram defeitos.

Atentando-se para essas informações, averigua-se proporcionalmente que os

serviços com maiores problemas são a pintura, somando-se a de porta e a textura, e o

substrato, agrupando armadores, parede, piso, teto e chapim de muretas dos apartamentos.

Pela Tabela 3.2, esses valores são, respectivamente, 29% e 19%, seguidos por problemas com

Gradil e Esquadria, respectivamente, 18% e 10%, de acordo com o já observado na análise

dos custos adicionais.

Tabela 3.2 - Relação de pendências dos checklists de recebimento dos clientes

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De acordo com os custos adicionais analisados, os serviços de pintura foram os

que apresentaram maior custo para passar na vistoria final e, consequentemente, foram os que

tiveram um maior índice de retrabalhos ao longo das unidades vistoriadas não só pelos

clientes, mas pela própria “Empresa Construtora Y” enquanto ocorriam as revisões para

entrega definitiva.

De acordo com o Gráfico 3.4, que compara a porcentagem relativa do número de

problemas de cada campo do checklist, nota-se novamente o alto índice de problemas

oriundos dos serviços de pintura. Evidencia-se que quanto maior for à quantidade de

retrabalhos existentes em um serviço devido à existência de fluxos erráticos, descontinuidade

e sobreposição de atividades, menor será a qualidade final do produto, gerando mais

retrabalhos e mais custos com manutenção, dado que os itens que os clientes apontaram como

não conformes são relativos aos principais que foram ilustrados no registro fotográfico, na

linha de balanço real discutida anteriormente e na análise dos custos adicionais, os quais

foram evidenciados a perda de controle dos processos, tais como: pintura, substrato e gradis.

Gráfico 3.4 - Relação entre a quantidade de pendências e o total de cada item

Intrínseco a esses problemas, há o consequente aumento no tempo de ciclo das

atividades, devido à necessidade de se retornar às unidades de serviço para efetivar os

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retrabalhos, o que também interfere diretamente no aumento do número de partes do processo

de acabamento do empreendimento.

Ainda segundo os princípios lean, obter a satisfação dos clientes é foco principal

da cadeia produtiva, o que se torna ineficaz quando há não conformidades no recebimento do

produto acabado.

De modo a evidenciar o exposto acima, a Tabela 3.3 elucida a relação direta entre

quantidade de problemas e custos com retrabalhos, pois os serviços de pintura e substrato

apresentaram falhas no processo de execução, encaixando-se nas situações contrarias às da

construção enxuta e tornando-se as atividades com maior quantidade de problemas e de custos

extras com retrabalhos, o que fomenta a questão de que fluxos erráticos, descontinuidade e

sobreposição de atividades influenciam na existência de retrabalhos e, consequentemente, os

serviços afetados por isso serão os de maior custo adicional com manutenção e menor

aceitação por parte dos clientes.

Tabela 3.3 - Relação da porcentagem de problemas e de custos

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4 CONCLUSÕES, DIFICULDADES E PERSPECTIVAS

4.1 Conclusão

Feita a análise dos conceitos da construção enxuta em paralelo com os dados do

estudo de caso, averigua-se que o processo de final de obra apresenta características não

condizentes com os requisitos necessários para ser um processo enxuto, principalmente pela

perda do controle das atividades, retrabalhos e custos adicionais com os mesmos.

Ainda graças aos assuntos trabalhados na discussão dos dados do estudo de caso,

fica evidente que durante a conclusão da execução de um empreendimento há a pressa em

decorrência da proximidade do prazo final.

Surge então uma perda de controle dos processos, propiciando a existência de

fluxos erráticos durante a realização dos serviços, caracterizado principalmente pela quebra de

precedências de atividades, sobreposição das mesmas, além de descontinuidade e

inconclusividade dos trabalhos.

Para tanto, observou-se a não conformidade com os ideais lean e, dessa forma,

gerou-se as consequências descritas no corpo deste trabalho, caracterizando o processo de

final de obra como caótico.

Enfatizando o exposto acima, o registro fotográfico comprovou a existência de

fluxos erráticos e descontinuidade, como o caso em que a pintura foi realizada antes de alguns

serviços de substrato, o que acarretou em retrabalhos de pintura, além de um produto final

com algumas não conformidades. A linha de balanço real elaborada para visualizar o

processamento das atividades evidenciou que houve a sobreposição de alguns serviços, bem

como a quebra de precedências, o que propiciou a ineficácia da utilização desta ferramenta,

dado que a visualização do sequenciamento das atividades ficou comprometida.

Por fim, foram analisados os custos adicionais com retrabalhos e os checklists de

recebimento das unidades dos clientes que indicaram que os itens que apresentaram maior

reclamação foram os que tiveram problemas com fluxos erráticos e descontinuidade, além

disso, ficou evidente a baixa relevância dos custos adicionais com retrabalhos para o

orçamento da obra. Portanto, a qualidade do produto foi o fator mais crítico influenciado

pelos problemas oriundos do processo de final de obra.

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4.2 Dificuldades encontradas

Era esperado que não houvesse literatura disponível, tratando diretamente sobre o

assunto do processo de final de obra, o que foi evidenciado durante o levantamento

bibliográfico. Para tanto, buscou-se temas relativos ao assunto da pesquisa, dando ênfase a

temas como construção enxuta, fluxos erráticos, descontinuidade e sobreposição.

O estudo de caso já iniciava sua etapa de término quando do início da pesquisa,

que, apesar de permitir o acompanhamento do processo de final de obra desde seu começo e

durante toda a pesquisa, dificultou a obtenção dos dados, pois ainda não se havia definido

completamente a metodologia e o tratamento que ia ser dado às informações.

É evidenciado que os dados apresentados e discutidos nesse trabalho são

pertinentes à realidade da empresa, sendo necessário o cuidado ao se buscar a generalização

das conclusões obtidas.

4.3 Perspectivas para trabalhos futuros

Como sugestão para estudos posteriores, pode-se propor a continuidade deste

trabalho em mais de uma obra e realizar uma discussão comparativa entre a situação de cada

uma delas. Além de incluir mais linhas de abordagem, como proposições de maneiras de se

evitar os problemas.

Propõe-se, a partir da análise comparativa entre as situações de mais de um

estudo de caso, desenvolver uma lista com o conjunto de questões e problemas intrínsecos ao

processo de final de obra. Para isso, podem-se entrevistar os responsáveis por cada

construção, utilizando critérios a serem definidos e que possam caracterizar esses problemas.

A partir dessa listagem, estudar ferramentas gerenciais que atendam aos

princípios da construção enxuta, tais como: pacotes de serviço, linha de balanço, PCP, PMP,

diagramas de sequencia e outros a serem definidos, averiguando as características de cada

uma delas e cruzando com os problemas listados anteriormente, a fim de propor a melhor ou

as melhores práticas a serem adotadas no processo de final de obra.

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ANEXOS

ANEXO A - ILUSTRAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DA OBRA DO ESTUDO DE CASO

ANEXO B - LINHA DE BALANÇO DA OBRA

ANEXO C - EXEMPLO DE FOLHA DE PAGAMENTO

ANEXO D - EXEMPLO DE MEDIÇÃO DE EMPREITEIRO

ANEXO E - CHECKLIST DE RECEBIMENTO DE UNIDADE DE CLIENTE

ANEXO F - PLANEJAMENTO DE CURTO PRAZO DA OBRA

ANEXO G - PLANEJAMENTO DE MÉDIO PRAZO DA OBRA

ANEXO H - CONTROLE DE DATAS PREVISTAS E REAIS DA OBRA

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Anexo A - Ilustração da implantação da obra do estudo de caso

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Anexo B - Linha de balanço da obra

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Anexo C - Exemplo de folha de pagamento

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Anexo D - Exemplo de medição de empreiteiro

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Anexo E - Checklist de recebimento de unidade de cliente

APARTAMENTO Nº ___ do Bloco ____

AMBIENTE \ COMP Piso Rodapé Teto Parede Louça Bancada Instalações Metal Esquadria

Sala e Hall

Cozinha

Área de serviço

Terraço da Sala

Dormitório 1 (menor)

Terraço do Dormitório 1

Dormitório 2

Terraço do Dormitório 2

Banheiro da Sala

Suíte

Banheiro da Suíte

Terraço da Suíte

OBSERVAÇÕES:

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

Tendo vistoriado, nesta data, as áreas internas do apartamento de nº ______ do Bloco ____ firmo este termo de vistoria para todos os fins de direito.

Fortaleza, ______/_______/2010 ____________________________________________

VISTORIADOR (A):

TELEFONE:

DECLARAÇÃO

Declaro que, caso haja, as irregularidades acima relacionados foram corrigidas a contento, nada mais havendo a reclamar.

DATA _____/_____/ 2010. ____________________________________________

PROPRIETÁRIO (A):

VISTORIA DAS ÁREAS PRIVATIVAS DO

CONDOMÍNIO

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Anexo F - Planejamento de curto prazo da obra

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Anexo G - Planejamento de médio prazo da obra

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Anexo H - Controle de datas previstas e reais da obra