UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE … · ficou condensou-se e precipitou-se sobre o espaço...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE LITERATURA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS
SOLANGE MARIA SOARES DE ALMEIDA
NUVENS CARREGADAS DE IDEIAS: O ENGRAADO E O SRIO
ENTRE ESTREPSADES E SCRATES NA COMDIA DE ARISTFANES
FORTALEZA
2012
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SOLANGE MARIA SOARES DE ALMEIDA
NUVENS CARREGADAS DE IDEIAS: O ENGRAADO E O SRIO
ENTRE ESTREPSADES E SCRATES NA COMDIA DE ARISTFANES
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Letras, do Departamento de
Literatura, da Universidade Federal do Cear,
como requisito parcial para obteno do Ttulo
de Mestre em Letras.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Csar
Pompeu.
FORTALEZA
2012
-
SOLANGE MARIA SOARES DE ALMEIDA
NUVENS CARREGADAS DE IDEIAS: O ENGRAADO E O SRIO
ENTRE ESTREPSADES E SCRATES NA COMDIA DE ARISTFANES
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Letras do Departamento de
Literatura, da Universidade Federal do Cear,
como requisito parcial para obteno do Ttulo
de Mestre em Letras.
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Ana Maria Csar Pompeu (Orientadora)
Universidade Federal do Cear (UFC)
Profa. Dra. Luciene Lages Silva
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Prof. Dr. Orlando Luiz de Arajo
Universidade Federal do Cear (UFC)
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A quem um dia me aceitou como filha:
meu pai Eudo (in memoriam) e
minha me Dulcimar (in memoriam).
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AGRADECIMENTOS
FUNCAP, pelo apoio financeiro.
minha orientadora, Ana Maria Csar Pompeu, pela dedicao e ateno.
Aos professores da Universidade Federal do Cear, pelo incentivo aos estudos.
Aos meus amigos, pela alegria tantas vezes partilhada.
minha famlia, que mesmo distante se torna presente.
Aos meus irmos Sandro, Fbio e Lary, pelo carinho.
A Elizardo, pelo companheirismo, compreenso e amor.
Em especial, aos meus filhos Gabriel, Noemi e Luisa, por existirem.
E, principalmente, a Deus, por me permitir estar aqui.
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RESUMO
analisado, nesta dissertao, atravs do estudo comparativo da pea As Nuvens e de alguns
dilogos de Plato, o que h de engraado e de srio entre Estrepsades e Scrates, ambos
personagens da comdia de Aristfanes. Partindo da pesquisa e do posterior estudo de
fragmentos de textos dos fsicos ou filsofos da natureza, hoje chamados pr-socrticos,
feita uma tentativa de esclarecer algumas teorias cientficas usadas na pea. Diversas
situaes de confronto entre os dois personagens escolhidos para esse estudo so discutidas
com o apoio dos textos tericos. Outro ponto relevante nessa pesquisa a busca de
correlaes entre Poesia cmica e Filosofia, para isso so usados como fonte alguns dilogos
platnicos. Mesmo sabendo que esses textos so posteriores pea, eles ajudam a compor a
imagem que o filsofo tinha de Aristfanes, por exemplo, quando o elegeu como o nico
representante da Comdia nO Banquete. Como o Scrates aristofnico tambm objeto de
estudo, necessrio a comparao dele com o Scrates platnico, no com a inteno de
apontar qual o verdadeiro, mas para ajudar a entender o primeiro.
Palavras-chave: Riso. Justia. Poesia cmica. Filosofia. Duplo.
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ABSTRACT
It is analyzed at this dissertation, by comparative study of the play Clouds and of some Platos
dialogues, what is funny and serious among Strepsiades and Socrates, both characters of the
Aristophanes comedy. Based on the research and the subsequent study of the texts fragments
from physicists or philosophers of nature, nowadays called the Presocratics, an attempt is
done to explain some scientific theories used in the play. Different situations of confrontation
among the two characters selected for this study are discussed with the support of theoretical
texts. Another relevant aspect in this study is the search of correlations among comic Poetry
and Philosophy, to do this some of the Platonic dialogues are used as source. Even though
these texts occurred after the play, they help to compose the picture that the philosopher had
of Aristophanes, for example, when he has chosen him as the only representative of Comedy
in Symposium. As Socrates aristofnico is also an object of study, is necessary comparing
him to the Platonic Socrates, not with the intent to point out who is the "true", but in helping
to understand the first.
Keywords: Laugh. Justice. Comic poetry. Philosophy. Double.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Thalia sarcfago Louvre - artista desconhecido ..................................................... 16
Figura 2 - Xantipa encharcando Scrates - Reyer van Blommendael .................................... 46
Figura 3 - Bacco - Michelangelo Caravaggio ......................................................................... 70
Figura 4 - A escolha de Hracles - Annibale Carracci .......................................................... 105
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SUMRIO
INTRODUO .......................................................................................................... 11
1 UMA COMDIA CARREGADA DE IDEIAS
1.1 O papel do poeta .......................................................................................................... 17
1.2 O motivo dAs Nuvens ................................................................................................. 19
1.3 A parbase carrega uma comdia ................................................................................ 20
1.4 Satirizando a leitura ..................................................................................................... 25
1.4.1 Cincia ........................................................................................................................ 25
1.4.2 Religio ....................................................................................................................... 32
1.4.3 Retrica ....................................................................................................................... 38
2 SCRATES E ESTREPSADES
2.1 O mltiplo Scrates ..................................................................................................... 47
2.2 O rstico Estrepsades ................................................................................................. 52
2.3 A inverso do pensamento .......................................................................................... 58
2.4 O sublime e o corporal ................................................................................................ 63
3 OPOSTOS E COMPLEMENTARES
3.1 Dupla resposta comdia ............................................................................................ 71
3.2 O duplo nAs Nuvens ................................................................................................... 79
3.3 O duplo em Scrates ................................................................................................... 89
CONCLUSO ............................................................................................................ 98
REFERNCIAS ........................................................................................................ 100
ANEXO A - HRACLES NA ENCRUZILHADA .................................................. 106
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11
INTRODUO
A pea As Nuvens, de Aristfanes, o objeto de estudo dessa dissertao. Da
comdia escolhida exploraremos dois aspectos: o engraado e o srio; especificamente, o que
h entre os personagens Estrepsades e Scrates. O objetivo discutir que, mesmo fazendo rir,
a comdia diz muita coisa sria, portanto, justa. Alis, isso o prprio Aristfanes j dizia nOs
Acarnenses: Pois o que justo a comdia tambm conhece1.
Como o engraado e o srio podem, perfeitamente, caminhar lado a lado, assim o
podem a Poesia cmica e a Filosofia. importante entendermos, aqui, o termo
como cientista, dentro de uma significao bem mais ampla e anterior quela dada por Plato.
Filsofos sero todos os estudiosos e educadores do sculo V a.C., includos os fsicos, hoje
nomeados pr-socrticos, e seus precursores, que traro, entre esses, aqueles que atualmente
chamamos sofistas. Obviamente que, para chegarmos a algumas concluses, recorreremos,
por diversas vezes, s outras comdias de Aristfanes e, tambm, a alguns dilogos
platnicos. Estes dilogos, embora posteriores pea As Nuvens, ajudam a revelar a imagem
que Plato tinha de Aristfanes.
Apesar de termos como um dos objetivos analisar a proximidade existente entre a
Poesia e a Filosofia, nosso assunto principal a Literatura, portanto nos deteremos no estudo
da comdia como texto literrio e procuraremos esclarecer alguns pontos um tanto obscuros
ou relegados pelas diversas interpretaes estudadas.
Tambm no discutiremos a questo socrtica, embora saibamos que, vez por
outra, ela parecer vir tona. O Scrates, objeto de nosso estudo, aquele encenado nAs
Nuvens, considerado por ns um quase heri aristofnico, portanto, cmico e representante
de parte da voz do poeta. Claro que para falarmos do Scrates aristofnico, por vezes,
recorreremos ao Scrates platnico, porm sem a inteno de apontar um ou outro como o
verdadeiro.
O interesse por esta pesquisa surgiu a partir do contato com os minicursos e
palestras sobre a comdia de Aristfanes, nas Semanas de Humanidades e Semanas de
Estudos Clssicos, como tambm, atravs do estudo de algumas peas de Aristfanes e de
alguns dos dilogos de Plato, durante as aulas de Lngua e Cultura Grega, no curso de Letras
da Universidade Federal do Cear.
1 (v. 500, traduo por POMPEU, A.M.C.).
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&can=to%5C0&prior=poiw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%5Cr&la=greek&can=ga%5Cr0&prior=to/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=di%2Fkaion&la=greek&can=di%2Fkaion0&prior=ga/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi%29%3Dde&la=greek&can=oi%29%3Dde0&prior=di/kaionhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C0&prior=oi)=dehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=trugw%7Cdi%2Fa&la=greek&can=trugw%7Cdi%2Fa0&prior=kai/
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Ideias surgiram vrias e, ao longo da pesquisa, foram se modificando, cedendo
lugar a outras novas e assim como nuvens metamorfosearam-se e transformaram-se. O que
ficou condensou-se e precipitou-se sobre o espao em branco, que, de repente, foi inundado
por sentenas, sentencinhas, argumentos2. Dividida a dissertao em trs partes,
comearemos a tec-las de forma a ficarem bem atadas.
Uma comdia carregada de ideias
Neste primeiro captulo, o objetivo discutir a importncia da Comdia Antiga
Grega dentro da democracia ateniense, segundo Jaeger (2010, p. 414): a mais completa
representao histrica do seu tempo. Veremos que a encenao das peas acontecia durante
os festivais religiosos dedicados ao deus Dioniso e que, nesses dias, os espectadores
esperavam uma performance teatral tradicional, contendo elementos musicais e religiosos e
tambm obscenidades e exposio ao ridculo de membros da comunidade local.
Era opinio de todos que Homero foi o responsvel pela educao de toda a
Grcia e, para os gregos, essa concepo do poeta como educador do seu povo era muito
importante. Porm, ao final do sculo V a.C., essa ideia comea a se modificar. J
vislumbrando esse perigo, Aristfanes escreve a sua segunda pea3, As Nuvens, com crticas
voltadas para a nova educao, que, na opinio do poeta, estava deseducando os jovens.
Em seguida, faremos um resumo do enredo da pea As Nuvens com o objetivo de
apresent-la. Depois, apontaremos alguns artifcios usados para compor uma comdia atravs
do prprio texto cmico e mostraremos como Aristfanes ludibriar o pblico, na parbase
dAs Nuvens, dizendo que no far uso dessas grosserias para, em seguida, surpreender os
espectadores lanando mo de quase todas essas durante a encenao, provavelmente, como
estratgia para fazer rir.
Ao final desse captulo, faremos uma amostragem de diversas leituras filosficas
feitas pelo poeta e utilizadas na composio da comdia estudada. Analisaremos algumas
passagens da pea, a fim de identificar a qual filosfo/educador cada uma delas pertence.
Muitas dessas teorias eram bastante conhecidas e j estavam, certamente na boca do povo,
que tinha total familiaridade com elas. Aristfanes, aproveitando-se disso, transformava toda
essa cincia em objeto de riso.
2 (As Nuvens, v. 321).
3 A primeira foi Os Convivas, que no chegou at ns.
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=gnwmidi%2Fw%7C&la=greek&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=gnw%2Fmhn&la=greek&prior=gnwmidi/w|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=lo%2Fgw%7C&la=greek&prior=e(te/rw|
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Scrates e Estrepsades
No segundo captulo, abordaremos algumas questes a respeito dos dois
personagens que sero estudados nesta pesquisa: Estrepsades e Scrates. Comearemos pelo
filsofo, fazendo uma comparao inevitvel entre os dois personagens Scrates: o
aristofnico e o platnico. Discutiremos seu aspecto fsico, seus hbitos e seu comportamento
perante a plis.
Feitas essas consideraes, apresentaremos o rstico Estrepsades, que embora
seja o heri da pea, no incio, apresenta-se como desonesto e enrolo. importante salientar
que caracterstico de Aristfanes dar aos seus personagens nomes que expressem o carter
desses. O nome Estrepsades originrio de , verbo que significa girar, revirar,
revolver algo em seu esprito etc. Aps a aprentao do personagem, examinaremos quais as
estratgias tomadas por este, ao longo da pea, para livrar-se das dvidas.
Depois, com Scrates e Estrepsades juntos, investigaremos os contrapontos
existentes entre os dois personagens. Primeiro, entre o pensamento intelectual e o no
intelectual, pois muitos mal-entendidos surgem entre os dois personagens, por causa do
linguajar elevado do filsofo. Este difcil entendimento causador de vrios problemas entre
os dois personagens e, posteriormente, entre o velho Estrepsades e seu filho Fidpides. Pois,
conforme Green (1979, p. 16): a principal funo satrica da pea As Nuvens demonstrar o
impacto negativo das ideias progressistas e da dialtica avanada sobre a estabilidade social e
familiar.
O segundo contraponto est entre o que sublime e o que corporal. Enquanto
Scrates vive no mundo das nuvens, usando at o artifcio de ficar suspenso em um cesto,
para no ter seu pensamento sugado pela terra; Estrepsades s ventre e totalmente ligado
natureza, tanto por causa de seu trabalho como agricultor como por causa de seu corpo, que
mostra-se sempre em pleno movimento de ereo, ingesto, excreo e flatulncia.
Opostos e complementares
No terceiro captulo, analisaremos a dupla resposta dada por Plato comdia As
Nuvens, atravs dos dilogos A Apologia de Scrates e O Banquete, nos quais Aristfanes
citado e personificado, respectivamente. Discutiremos como o comedigrafo surge nas duas
obras e proporemos a desmistificao de um possvel desprezo que o filsofo teria pelo
comedigrafo.
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=stre%2Ffei&la=greek&prior=kai/
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Em seguida, discutiremos o duplo papel das deusas Nuvens que, alm de
parecerem mulheres, aos olhos de Estrepsades, poderiam ser consideradas como uma
metfora da linguagem. As Nuvens metamorfoseiam-se no que querem e, portanto, fogem ao
controle. Da mesma forma, a palavra que Estrepsades tanto deseja dominar, escapa-lhe entre
os dentes. As divindades tm tambm um duplo comportamento em relao s enrolaes do
velho Estrepsades: comeam apoiando, mas, por fim, mostram-se ao lado da justia.
E, por ltimo, discutiremos o Scrates aristofnico, duplo, representante dos dois
discursos: o Justo e o Injusto. Quando o filsofo sai de cena, chegam ao palco os dois
discursos, em uma perfeita estratgia para representar toda a ambiguidade existente nesse
personagem, que ora parece ser justo, ora parece ser injusto.
Um papel duplo tambm teria o Scrates platnico nO Banquete, no qual encarna
o prprio Eros, quando Alcibades substitui o seu elogio ao deus por um elogio ao filsofo. E,
tambm, ao final do banquete em honra a Agato, quando Scrates prope a possibilidade de
um mesmo homem compor tragdia e comdia. Esse homem de origem dupla seria o filsofo.
Sobre as ilustraes
Escolhemos quatro figuras para esta dissertao. As trs primeiras foram usadas
como capas para os captulos e a quarta ilustra o anexo.
A primeira imagem, intitulada Thalia sarcfago Louvre, traz Thalia, a musa da
comdia, fitando uma mscara cmica. Esta um detalhe do Sarcfago das Musas, de
autoria desconhecida, que retrata as nove musas e seus atributos. Feito em mrmore Pentlico
(tica), em alto e baixo relevo, na primeira metade do sculo II d.C., encontra-se atualmente
no Museu do Louvre, na cidade de Paris, Frana. Como apresentaremos a Comdia tica e
pea cmica As Nuvens, no primeiro captulo, esta imagem ser a capa deste.
A segunda delas a reproduo da pintura (leo sobre tela) intitulada Xantipa
encharcando Scrates, de Reyer van Blommendael. Esta obra encontra-se no Museu de Belas
Artes, na cidade de Strasbourg, Frana. Na pintura, Scrates est apoiado em uma pedra, na
qual vemos gravada a mxima conhece-te a ti mesmo, e olha em direo ao jovem
Alcibades e seu belo co de raa. As duas mulheres, suas esposas Myrto e Xantipa,
observam-no em atitude de aparente reprovao e a ltima verte o contedo de um vaso sobre
a cabea dele. Esta pintura mostra Scrates com vestimentas parecidas com as usadas pelos
atores cmicos e, por causa deste retrato cmico do filsofo, ser a imagem perfeita para a
capa do segundo captulo que apresentar os dois Scrates.
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15
No Banquete, de Xenofonte, Antstenes fala sobre o gnio de Xantipa: Como
que, ento, tu, sabendo uma coisa dessas no educas a tua Xantipa, e aguentas a mais
insuportvel das mulheres que existem, e acho at das que algum dia tenham existido ou
venham a existir. Ao que Scrates responde: Sabes, que eu tenho-me apercebido que os
que querem chegar a bons cavaleiros no procuram os cavalos mais dceis, mas os mais
impetuosos; acreditam que se conseguirem domar estes, lidaro facilmente com todos os
outros cavalos. Ora, eu, que quero conviver e conversar com pessoas, casei com ela, porque
estou certo de que, se conseguir aguent-la a ela, facilmente conseguirei conviver com
qualquer pessoa (2, 10).
Sobre Myrto pouco sabemos. Digenes Larcio descreve-a como a segunda
esposa de Scrates, ao lado de Xantipa. Plutarco disse que ela vivia com o sbio Scrates, que
tinha outra mulher, mas que assumira Myrto quando ela ficou viva, devido sua pobreza.
Ateneu e Digenes Larcio relatam que Jernimo de Rhodes tentou confirmar a histria,
apontando para um decreto temporrio aos atenienses: Porque diziam que a vida dos homens
atenienses era curta e, querendo aumentar a populao, aprovou um decreto permitindo a um
cidado se casar com uma mulher ateniense e ter filhos por outro, e que Scrates fez nesse
sentido (Digenes Larcio, ii, 26).
A terceira imagem, intitulada Bacco, a reproduo de uma pintura (leo sobre
tela), de Michelangelo Caravaggio. Esta obra encontra-se na Galeria de Iffizi, na cidade de
Florena, na Itlia. Dioniso, tambm chamado Baco, era o deus homenageado nos Festivais de
Teatro Antigo e seria a perfeita personificao do duplo. Esta pintura retrata bem este carter
ambguo atravs da imagem de um jovem com traos masculinos e femininos. Como
trataremos do duplo no terceiro captulo esta pintura de Caravaggio foi escolhida como capa.
A quarta e ltima imagem foi escolhida para ilustrar o anexo Hracles na
encruzilhada. Esta uma reproduo de uma pintura (leo sobre tela), A escolha de
Hracles, de Annibale Carracci, que est localizada no Museu de Capodimonte, em Npoles,
fazendo parte da Coleo Farnese. Esta descreve a fbula narrada por Prdico de Ceos, que
retrata Hrcules incerto sobre a escolha entre duas mulheres. Aquela direita, a de veste
transparente, representa o prazer, e mostra-lhe a estrada plana e fcil. A mulher esquerda
representa a virtude que indica-lhe uma estrada difcil, estreita e rdua, no topo da qual, no
entanto, aguarda o cavalo alado Pgaso, que o conduzir glria e ao cu.
http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&rurl=translate.google.com.br&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Athenaeus&usg=ALkJrhglJiDi0nQPwqgPPi1mLsI6wRQjzQhttp://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&rurl=translate.google.com.br&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Hieronymus_of_Rhodes&usg=ALkJrhiGQPF6bXcBXkXk4qIV3BW6ahtJ4g
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Thalia sarcfago Louvre - artista desconhecido
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Thalia_sarcophagus_Louvre_Ma475.jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Thalia_sarcophagus_Louvre_Ma475.jpg
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1 UMA COMDIA CARREGADA DE IDEIAS
As Graas (Khrites), procurando um templo que no
perecesse, encontram a alma de Aristfanes.
(Atribudo a Plato)
1.1 O papel do poeta
A Comdia Antiga Grega, que tem como representante maior Aristfanes, foi uma
profunda arte pblica. Era financiada pelos impostos e produzida e encenada pelos cidados,
como parte de suas responsabilidades cvicas ou privilgios. As peas eram apresentadas
durante os Festivais Dionisacos, celebraes cujos eventos e cerimnias eram dedicados a
expressar e reforar a ideologia ateniense e, ao mesmo tempo, mostrar o poder e o prestgio da
cidade democrtica.
As celebraes duravam trs dias. Pela manh, eram encenadas trs tragdias e
um drama satrico e pela tarde, uma comdia. Entre as vrias peas cmicas inscritas, apenas
trs eram selecionadas para essa ocasio especial, ganhavam o financiamento de um coro e
concorriam premiao do Festival. Encenar uma pea nos Festivais Dionisacos no era
tarefa fcil, o prprio poeta diz na parbase dOs Cavaleiros: por considerar a produo de
uma comdia a tarefa mais rdua que pode haver (v. 516). E, sem dvida, o mais difcil era
agradar aos jurados, cidados oriundos de diversos lugares de Atenas.
Possivelmente, Aristfanes no tinha a inteno de deixar uma obra escrita para a
posteridade, mas de fazer uma boa encenao no teatro ateniense, em um dia especfico. O
texto que escrito apenas um dos itens que comporiam uma pea. Havia pelo menos mais
quatro elementos necessrios para uma boa representao: (i) a fala e o tom da voz do ator;
(ii) a ao e os gestos em cena; (iii) o cenrio, incluindo os trajes e os disfarces e (iv) a
msica, especialmente, o canto e a dana do coro (MACDOWELL, 1995, p. 1).
impossvel, para um homem do sculo XXI, compreender completamente
Aristfanes. Para isso, seria necessrio estar em Atenas, em pleno sculo V a. C., e,
preferencialmente, ser um cidado ateniense da mesma poca. Tudo o que temos a certeza
de estarmos diante de um gnio cmico com uma mente excepcional. Qual um gnio,
Aristfanes estava sujeito a ser incompreendido, principalmente quando superestimava o
interesse e a capacidade intelectual dos seus espectadores, como no caso ocorrido com a pea
As Nuvens. Aqueles que compareciam ao teatro seriam mesmo espectadores sagazes e
teriam condies de compreender a mais engenhosa de suas comdias? (v. 521-522).
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18
De acordo com MacDowell (1995, p. 26), os espectadores no iam ao teatro para
assistir a uma sequncia de piadas, mas a uma performance na sua forma tradicional,
incluindo elementos musicais e religiosos, como tambm obscenidades e exposio ao
ridculo de membros de sua prpria comunidade.
Ao encenar uma pea, Aristfanes no queria apenas fazer o pblico rir, mas
tencionava levar aos espectadores algum assunto srio e, quem sabe, de alguma forma,
influenci-los com as suas ideias. E como um bom poeta, tambm mostrava seu talento,
levando novidades comdia, nunca iguais e sempre inspiradas (As Nuvens, v. 547-548).
Jaeger (2010, p. 61) afirma que a concepo do poeta como educador do seu
povo no sentido mais amplo e profundo da palavra foi familiar aos Gregos desde a sua
origem e manteve sempre a sua importncia. Homero foi o exemplo clssico desta
concepo; mais tarde, outros poetas continuariam seu trabalho. O prprio Aristfanes traria
na pea As Rs: s criancinhas o professor que as ensina; e aos adolescentes os poetas (v.
1055).
Aristfanes pretendia de todas as formas abrir os olhos do povo, que parecia
adormecido e era sempre ludibriado pelos polticos. Em Os Cavaleiros, o prprio
personagem Povo (Demos) diz: Por minha parte, gosto da minha papinha todos os dias, e
estou disposto a sustentar um ladro de um chefe poltico (v. 1125-1126).
Aqueles cidados que aclamaram a pea Os Cavaleiros, de Aristfanes, como
vencedora no Festival das Lenias, de 424 a. C. e dessa forma, apoiaram a investida do poeta
contra Clon, eram os mesmos que h pouco haviam recebido o demagogo como heri. Todos
sabiam que a conquista ateniense na ilha de Pilos se consolidara por causa de um plano
estratgico de inteira responsabilidade do general Demstenes e que Clon havia tomado para
si os louros da vitria, ganhando assim apoio das massas populares.
Em Atenas, nos sculos V e IV a.C., havia o predomnio da oralidade, porm a
escrita j dava alguns passos firmes. H boas razes para crermos que Aristfanes costumava
escrever suas peas e sabemos que para As Nuvens foram escritas duas verses. No h como
afirmar que essa nova pea tenha sido encenada, mas certo que ela circulou entre os leitores
atenienses que, embora no fossem muitos, no permetro urbano possuam um bom nvel de
alfabetizao.
Ao final do sculo V a.C., talvez, percebendo que os atenienses j no tinham o
poeta como o nico conselheiro e educador da cidade esta posio j se alterava com a
difuso cada vez maior da escrita e, consequentemente, da leitura Aristfanes aproveita a
rivalidade entre os novos sbios surgidos em Atenas e encena a pea As Nuvens, em 423 a.C.
-
19
1.2 O motivo dAs Nuvens
Embora muitos estudiosos deem nfase crtica filosfica presente em As Nuvens,
no esse o seu assunto principal e sim a educao dos jovens atenienses. Mas, como falar de
educao, na Atenas do sculo V a. C., sem falar dos filsofos, incluindo entre estes os que
hoje chamamos sofistas? Eram estes os novos educadores e, por isso, o alvo principal da
comdia.
Como poca da pea, no havia sofistas atenienses e sabendo que a comdia
aristofnica poltica tudo gira em torno da plis , um cidado muito conhecido de todos
eleito o representante da nova educao. Segundo Bergson (1987, p. 13), o nosso riso
sempre o riso de um grupo, portanto, para rir de alguma coisa preciso fazer parte da
parquia. E para que o seu personagem parea verossmil, preciso que este fale e aja como
o esperado, Aristfanes leva ao palco um sofista-fisiologista-metereologista-mago, tudo
misturado e amalgamado em um s educador: Scrates.
No incio da pea, um velho campons, Estrepsades, lamenta-se, pois no
consegue dormir por causa de dvidas contradas junto a agiotas, para satisfazer seu jovem
filho, louco por cavalos. O velho, antes de vida farta e feliz, fora arrastado para dentro de
Atenas por causa da guerra, e, segundo ele mesmo, induzido por uma alcoviteira a casar-se
com uma moa da cidade, orgulhosa e arrogante. Desta unio, nasceu Fidpides, que, criado
pela me como rico, pede inmeros e carssimos presentes ao pai, causando o seu
endividamento.
O velho resolve convencer seu filho a frequentar o pensatrio das almas sbias,
local onde se ensinariam mediante pagamento. A inteno de Estrepsades que Fidpides
aprenda o discurso injusto e, fazendo uso deste, consiga livr-lo das dvidas. Com a recusa do
filho, o velho resolve que ele mesmo ir para a Escola de Scrates.
Com a entrada do velho no pensatrio, h o encontro com Scrates. Este tenta,
de todas as maneiras, fazer com que o velho aprenda a raciocinar, mas v que esse um
esforo intil, por fim desiste e manda-o de volta para sua casa. Desta vez, Estrepsades
obriga o filho a ir ao pensatrio, o jovem, por sua vez, torna-se um discpulo fora do
comum, aprendendo tudo rapidamente.
Mas, infelizmente, nem tudo sai como o velho sonhava e ele v, com tristeza, seu
filho usando o argumento injusto contra o prprio pai. Tudo o que ele havia planejado deu
errado, ento, revoltado, resolve punir os culpados por sua desgraa: Scrates e os seus
discpulos.
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20
1.3 A parbase carrega uma comdia
Aristfanes mostra na parbase dAs Nuvens do que feita uma comdia.
Segundo Adriane Duarte (2000, p. 31), a parbase uma seo de natureza puramente coral
da comdia antiga. Parbase () significa o ato de andar () para o lado ou
alm de (). Durante a parbase, o coro avanaria () em direo aos
espectadores e pronunciaria os versos olhando para eles. Alguns exemplos nos quais
Aristfanes emprega o termo com esse sentido:
,
.
Desde que o nosso mestre se ocupa de coros cmicos, jamais avanou em direo ao pblico para dizer que hbil.
,
.
Se um comedigrafo daqueles de antigamente nos
forasse a avanar em direo ao pblico para recitar seus versos,
no o teria conseguido com facilidade.
,
.
Os guardas deviam dar uma surra, sempre que um poeta cmico
avanasse em direo ao pblico e louvasse a si mesmo nos anapestos...
.
Tendo avanado, faamos agora o nosso prprio elogio.4
A parbase de fundamental importncia para a Comdia Antiga, pois nela h a
oportunidade de o coro dirigir-se aos espectadores, tirar as suas mscaras, falar em nome do
poeta e convenc-los a votar em sua pea. Com um belo discurso (recurso adorado pelos
atenienses) poder-se-ia conquistar a preferncia do pblico e, consequentemente, a premiao.
O incio da parbase dAs Nuvens anunciado no momento da sada de cena de
Estrepsades e da entrada do coro no palco. Fazendo uso de uma combinao de anaspestos
(v. 510-511) com ritmo lrico (v. 512-517), o coro deseja sucesso ao heri e enfatiza que o
velho Estrepsades possui coragem (), pinta sua natureza com sentimentos juvenis
( ) e cultiva a sabedoria ():
4 Exemplos retirados de DUARTE (2000: 32), dispostos na seguinte ordem: Os Acarnenses (v. 629); Os
Cavaleiros (v. 508); A Paz (v. 735); As mulheres que celebram as Tesmofrias (v. 785).
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Corifeu Ento v, seja bem sucedido por sua coragem!
Coro
Boa sorte a este homem, que j bem avanado
nos limites da idade, pinta a prpria natureza
com aes juvenis e cultiva a sabedoria! (v. 510-517).
Esses versos tambm fazem uma ligao com a cena anterior na qual Scrates faz
algumas perguntas a Estrepsades a fim de conhecer o carter do velho e, por pouco, no
desiste de aceit-lo como discpulo. O coro incentiva Estrepsades e, ao mesmo tempo, tenta
convencer Scrates de que o velho ser um bom aprendiz. Talvez a combinao estranha do
homem rstico e do filsofo possa funcionar bem, pelo menos para o nosso heri. Esta
expectativa reforada pelas regras da comdia, de acordo com as quais o heri normalmente
adquire completa satisfao, mesmo que seja da maneira mais absurda.
Segundo Duarte (2000, p. 132), a pea As Nuvens traz uma peculiaridade: os
anapestos foram compostos na primeira pessoa do singular e atribudos ao comedigrafo. A
parbase d As Nuvens a que traz mais dificuldade ao estudioso, pois a pea teve duas
verses e nos restou somente a segunda delas. A primeira verso da pea foi classificada em
terceiro e ltimo lugar, nas Grandes Dionsias de 423 a.C., magoando profundamente o poeta,
que considerava essa a mais sbia de suas peas.
Provavelmente, este motivo fez com que, entre 420 e 417 a.C., Aristfanes
escrevesse a sua segunda verso, da pea inteira ou da parbase, no se sabe ao certo, na qual
faz a sua despedida como poeta sbio, conselheiro da cidade, reconhecendo no ser mais visto
como o nico mestre.
Segundo K. J. Dover (1972, p. 103), nos anapestos da parbase, o uso do pronome
eu e do verbo na primeira pessoa do singular pretende reforar a voz do poeta, que tem uma
queixa a fazer contra os espectadores. Ao mesmo tempo, esse o principal indicativo de uma
reescritura da pea, porque so versos que jamais poderiam ser ditos em uma primeira
encenao, como falar do fracasso ocorrido no passado:
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Corifeu
Espectadores, vou dizer-vos a verdade sem rebuos.
Sim, em nome de Dioniso, o que me criou.
Tomara eu possa vencer e ser considerado um bom poeta, assim como verdade que vos julguei espectadores sagazes
e esta a mais engenhosa de minhas comdias
e achei conveniente fazer-vos prov-la em primeiro lugar,
esta pea que me deu o maior dos trabalhos.
Mas depois, bati em retirada, vencido por homens grosseiros
eu que no o merecia. isso que vos censuro,
a vs que sois inteligentes, em cuja homenagem tanto me esforcei.
Mas, mesmo assim, espontaneamente, nunca hei de trair os espertos (v. 518-527).
Curiosamente, essa (re)escritura dAs Nuvens pode ser considerada uma espcie
de carta testamento, atravs da qual o poeta pretendia modificar o julgamento do povo
ateniense e, de alguma forma, resgat-la para a posteridade. Mas, apesar do tom confessional,
devemos lembrar que um texto ficcional e, em nenhuma hiptese, podemos afirm-lo como
verdadeiro. Lendo os anapestos, parece-nos existir uma relao ideal e equilibrada na qual
poeta, obra e pblico estariam em um mesmo nvel intelectual, todos sbios, .
Segundo Duarte (2000, p. 140), at o vocabulrio dos anapestos foi muito bem
escolhido, por exemplo, o verbo , que derivado de , sbio, significa agir
sabiamente, mostrar habilidade, mas tambm agir ou falar como sofista (...) para falar de sua
pea (...) o comedigrafo se apropria da retrica sofista, que o tema dAs Nuvens.
Na inteno de abrandar sua crtica aos espectadores, o comedigrafo lembra
como a pea Os Convivas5 foi bem recebida pelos atenienses, aquele mesmo pblico que
aplaudira a comdia anterior, agora rechaava As Nuvens. Apesar de os temas serem
semelhantes, os espectadores no souberam apreciar a nova pea:
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.
5 Esta pea tambm no chegou at ns.
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23
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Corifeu
Desde que, neste mesmo lugar, o Sensato e o Pervertido
receberam os maiores elogios de homens aos quais at doce falar, e eu por ser ainda virgem e no ter o direito de parir
expus a minha criana, que uma outra donzela recolheu e adotou
e vs generosamente nutristes e educastes,
desde esse tempo, tenho penhores sinceros da vossa opinio.
Agora ento, como aquela famosa Electra, esta comdia
veio ver se poder encontrar em algum lugar espectadores to inteligentes.
De fato, quando vir, h de reconhecer os cachos do seu irmo... (v. 528-536).
A comdia Os Convivas falava tambm sobre educao, mas, dessa vez, trazia
dois irmos o Sensato e o Pervertido, que representariam respectivamente a antiga e a nova
educao, pois foram educados de forma diferente por seu pai ou tutor. Duarte (2000, p. 141)
afirma que o comedigrafo parece querer materializar os Argumentos Justo e Injusto, cuja
abstrao poderia ter causado a rejeio sua comdia, atravs da associao com
personagens de carne e osso, como os irmos Sensato e Pervertido. Logo, o poeta ressalta a
inteligncia do pblico que soube admirar anteriormente uma pea do mesmo cerne da que
mais recentemente fora representada.
Em seguida, o poeta faz uma descrio de alguns recursos utilizados na comdia,
fingindo desprezar aquilo que ele afirma ser a preferncia de um pblico medocre:
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,
, ,
.
Corifeu
Observai como esta comdia naturalmente sensata; pela primeira vez
no se apresentou depois de costurar diante de si um penduricalho
de couro grosso e ponta vermelha para provocar o riso das crianas.
No ridiculariza os carecas e no dana o krdax; nem se trata de um velho que recita os versos
e bate com o basto no parceiro, disfarando gracejos indecentes
nem se precipita em cena carregando tochas, nem grita uh!, uh!...
Mas veio confiada em si mesma e nos seus versos (v. 537-544).
Mas, quase tudo o que foi dito nos versos anteriores est na pea As Nuvens e,
certamente, provocaria muitas gargalhadas, pois no seria esperado pelo pblico.
Estrepsades, ao ser interrogado por Scrates sobre os seus pensamentos, diz no ter nada,
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exceto este pau na mo direita (v. 734). Possivelmente, nessa cena, Estrepsades seguraria o
falo de couro grosso e ponta vermelha (v. 539), que era costurado sobre a vestimenta usada
pelos atores. Quanto a bater no parceiro, Estrepsades pede uma vara ao seu escravo para
afugentar o segundo credor que chega sua casa (v. 1296-302); em seguida, Fidpides surra o
pai, que surge em cena gritando Ai, ai! e se queixando aos vizinhos (v. 1321ss.). E, ao final
da pea, Estrepsades carregando uma tocha, pe fogo no pensatrio, enquanto os discpulos
saem gritando (v. 1490ss.).
Fazendo uso da ironia, Aristfanes ri de tudo, ri dele mesmo e dos artifcios que
ele prprio usa. Depois de criticar aquilo que o pblico gosta, o poeta ataca os comedigrafos
rivais, citando aes reprovveis nesses:
,545
' ,
,
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,
.
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,
,
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,
,
.
Corifeu
E eu, sendo um poeta dessa categoria, no me envaideo
nem procuro enganar-vos representando duas ou trs vezes os mesmos assuntos,
mas sempre me adestro com habilidade, introduzindo novos recursos,
totalmente diversos uns dos outros e todos engenhosos.
Eu, quando Cleo era poderoso, golpeei-o no ventre,
mas no tive a audcia de pisote-lo de novo, quando se achava prostrado no cho... Mas os outros, porque Hiprbolo uma vez recebeu um golpe,
sempre espezinham o coitado e a sua me...
Primeiro upolis, o perverso, puxou para cena o seu Maricas
depois de estropiar os meus Cavaleiros,
acrescentando uma velha bbada por causa do krdax,
aquela que Frnico tinha apresentado outrora, aquela que a baleia ia comer...
Depois Hermipo fez novamente uma pea contra Hiprbolo
e j todos se encarniam contra Hiprbolo,
imitando as minhas imagens das enguias... (v. 545-559).
Nesse momento, alm do autoelogio, o poeta critica ferozmente seus adversrios,
atingindo principalmente upolis, a quem Aristfanes acusava de ter plagiado Os Cavaleiros
com a pea Maricas. Todavia, algumas crticas so tambm cabveis a ele que teria falado de
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*xoro%2Fs&la=greek&can=*xoro%2Fs0http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ka%29gw%5C&la=greek&prior=e)lh/luqenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=me%5Cn&la=greek&prior=ka)gw/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=toiou%3Dtos&la=greek&prior=me/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29nh%5Cr&la=greek&prior=toiou=toshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%29%5Cn&la=greek&prior=a)nh/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=poihth%5Cs&la=greek&prior=w)/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29&la=greek&prior=poihth/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=komw%3D&la=greek&prior=ou)http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29d%27&la=greek&prior=komw=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28ma%3Ds&la=greek&prior=ou)d'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zhtw%3D&la=greek&prior=u(ma=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=capata%3Dn&la=greek&prior=zhtw=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=di%5Cs&la=greek&prior=capata=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&prior=di/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tri%5Cs&la=greek&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tau%29%2Ft%27&la=greek&prior=tri/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29sa%2Fgwn&la=greek&prior=tau)/t'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29ll%27&la=greek&prior=ei)sa/gwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29ei%5C&la=greek&prior=a)ll'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kaina%5Cs&la=greek&prior=a)ei/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=i%29de%2Fas&la=greek&prior=kaina/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29sfe%2Frwn&la=greek&prior=i)de/ashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=sofi%2Fzomai&la=greek&prior=e)sfe/rwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29de%5Cn&la=greek&prior=sofi/zomaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29llh%2Flaisin&la=greek&prior=ou)de/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28moi%2Fas&la=greek&prior=a)llh/laisinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&prior=o(moi/ashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pa%2Fsas&la=greek&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=decia%2Fs&la=greek&prior=pa/sashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%5Cs&la=greek&prior=decia/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=me%2Fgiston&la=greek&prior=o(/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%29%2Fnta&la=greek&prior=me/gistonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*kle%2Fwn%27&la=greek&prior=o)/ntahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fpais%27&la=greek&prior=*kle/wn'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29s&la=greek&prior=e)/pais'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%5Cn&la=greek&prior=e)shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=gaste%2Fra&la=greek&prior=th/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kou%29k&la=greek&prior=gaste/rahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29to%2Flmhs%27&la=greek&prior=kou)khttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29%3Dqis&la=greek&prior=e)to/lmhs'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pemphdh%3Ds%27&la=greek&prior=au)=qishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29tw%3D%7C&la=greek&prior=e)pemphdh=s'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=keime%2Fnw%7C&la=greek&prior=au)tw=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%28%3Dtoi&la=greek&prior=keime/nw|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=d%27&la=greek&prior=ou(=toihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%28s&la=greek&prior=d'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28%2Fpac&la=greek&prior=w(shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pare%2Fdwken&la=greek&prior=a(/pachttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=labh%5Cn&la=greek&prior=pare/dwkenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*%28upe%2Frbolos&la=greek&prior=labh/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%3Dton&la=greek&prior=*(upe/rboloshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dei%2Flaion&la=greek&prior=tou=tonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=koletrw%3Ds%27&la=greek&prior=dei/laionhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29ei%5C&la=greek&prior=koletrw=s'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&prior=a)ei/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%5Cn&la=greek&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mhte%2Fra&la=greek&prior=th/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*eu%29%2Fpolis&la=greek&prior=mhte/rahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=me%5Cn&la=greek&prior=*eu)/polishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5Cn&la=greek&prior=me/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*marika%3Dn&la=greek&prior=to/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=prw%2Ftiston&la=greek&prior=*marika=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=parei%2Flkusen&la=greek&prior=prw/tistonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29kstre%2Fyas&la=greek&prior=parei/lkusenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&prior=e)kstre/yashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28mete%2Frous&la=greek&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*%28ippe%2Fas&la=greek&prior=h(mete/roushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kako%5Cs&la=greek&prior=*(ippe/ashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kakw%3Ds&la=greek&prior=kako/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=prosqei%5Cs&la=greek&prior=kakw=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29tw%3D%7C&la=greek&prior=prosqei/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=grau%3Dn&la=greek&prior=au)tw=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mequ%2Fshn&la=greek&prior=grau=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%3D&la=greek&prior=mequ/shnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ko%2Frdakos&la=greek&prior=tou=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%28%2Fnex%27&la=greek&prior=ko/rdakoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28%5Cn&la=greek&prior=ou(/nex'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*fru%2Fnixos&la=greek&prior=h(/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pa%2Flai&la=greek&prior=*fru/nixoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pepoi%2Fhx%27&la=greek&prior=pa/laihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28%5Cn&la=greek&prior=pepoi/hx'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&prior=h(/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kh%3Dtos&la=greek&prior=to/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%2Fsqien&la=greek&prior=kh=toshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29%3Dq%27&la=greek&prior=h)/sqienhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*%28%2Fermippos&la=greek&prior=ei)=q'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29%3Dqis&la=greek&prior=*(/ermipposhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29poi%2Fhsen&la=greek&prior=au)=qishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29s&la=greek&prior=e)poi/hsenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*%28upe%2Frbolon&la=greek&prior=ei)shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%2Flloi&la=greek&prior=*(upe/rbolonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=t%27&la=greek&prior=a)/lloihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%2Fdh&la=greek&prior=t'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pa%2Fntes&la=greek&prior=h)/dhhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29rei%2Fdousin&la=greek&prior=pa/nteshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29s&la=greek&prior=e)rei/dousinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*%28upe%2Frbolon&la=greek&prior=ei)shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5Cs&la=greek&prior=*(upe/rbolonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29kou%5Cs&la=greek&prior=ta/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3Dn&la=greek&prior=ei)kou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29gxe%2Flewn&la=greek&prior=tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5Cs&la=greek&prior=e)gxe/lewnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29ma%5Cs&la=greek&prior=ta/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mimou%2Fmenoi&la=greek&prior=e)ma/s
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Cleo mesmo aps a sua morte, na parbase dA Paz, e mencionado diversas vezes Hiprbolo,
inclusive nAs Nuvens (v. 623-626; 874-876; 1063-1066). Nos trs ltimos versos da
parbase, Aristfanes critica aqueles que se divertem com as peas de seus adversrios:
,
,
.
Corifeu
Quem ri desses gracejos, que continue no se divertindo com os meus.
Mas se achais alguma graa em mim e nas minhas invenes,
para o futuro haveis de parecer homens de bom senso (v. 560-562).
O comedigrafo enftico em mostrar-se superior aos seus rivais assim como
superiores sero os espectadores que suas peas apreciarem. De acordo com ORegan (1992,
p. 73): preferindo Aristfanes, ns celebramos no s a sua inteligncia mas a nossa
prpria6. Apropriando-se da retrica sofstica, o poeta inicia esses ltimos versos com um
pronome indefinido quem, que designaria qualquer um, e os termina com um
(subentendido) pronome pessoal vs, qualificando como sensatos esses poucos que o
escolherem.
1.4 Satirizando a leitura
Para fazer rir, Aristfanes faz uma (re)leitura de muitas teorias filosficas. NAs
Nuvens, especificamente, todo esse conhecimento vira motivo de riso. Sero analisadas,
ento, algumas leituras das quais o poeta, possivelmente, fez uso para compor a pea
estudada: Cincia, Religio e Retrica. Sendo esta ltima a mais valorizada, porque seria a
preferida dos educadores.
1.4.1 Cincia
Zoologia
A primeira stira Zoologia surge quando Estrepsades se dirige ao pensatrio
para aprender o discurso injusto. O velho recebido por um discpulo, que aps reclamar da
violncia de suas batidas porta, resolve relatar o que Scrates e Querefonte faziam naquele
6 in preferring Aristophanes, we permanently mark not only his intelligence but our own.
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*xoro%2Fs&la=greek&can=*xoro%2Fs0http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Fstis&la=greek&prior=mimou/menoihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29%3Dn&la=greek&prior=o(/stishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%2Ftoisi&la=greek&prior=ou)=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=gela%3D%7C&la=greek&prior=tou/toisihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=toi%3Ds&la=greek&prior=gela=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29moi%3Ds&la=greek&prior=toi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%5C&la=greek&prior=e)moi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=xaire%2Ftw&la=greek&prior=mh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%5Cn&la=greek&prior=xaire/twhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=d%27&la=greek&prior=h)/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29moi%5C&la=greek&prior=d'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&prior=e)moi/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=toi%3Dsin&la=greek&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29moi%3Ds&la=greek&prior=toi=sinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=eu%29frai%2Fnhsq%27&la=greek&prior=e)moi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=eu%28rh%2Fmasin&la=greek&prior=eu)frai/nhsq'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29s&la=greek&prior=eu(rh/masinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5Cs&la=greek&prior=e)shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%28%2Fras&la=greek&prior=ta/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5Cs&la=greek&prior=w(/rashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%28te%2Fras&la=greek&prior=ta/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=eu%29%3D&la=greek&prior=e(te/rashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=fronei%3Dn&la=greek&prior=eu)=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dokh%2Fsete&la=greek&prior=fronei=n
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dia: Embora o discpulo tenha dito que esses assuntos so mistrios (v. 143), acaba por
revelar-lhe algumas destas descobertas cientficas:
:
.
;
.
,
,
.
.
.
Discpulo
H pouco, Scrates interrogava Querefonte sobre uma pulga.
Indagava quantas vezes ela pode saltar o tamanho dos seus prprios ps,
porque ela mordeu a sobrancelha de Querefonte
e pulou para a cabea de Scrates...
Estrepsades
Ento, como foi que ele mediu?
Discpulo
Com a maior habilidade.
Dissolveu cera; depois, tomou a pulga e mergulhou
os seus ps na cera. A seguir, quando a pulga esfriou,
ficou com umas botinhas moda prsica;
ele descalou-as e mediu a distncia.
Estrepsades
Zeus soberano, que sutileza de pensamento! (v. 144-153).
Para um especialista em Histria Natural estudar os insetos algo normal, mas,
nessa passagem, Aristfanes faz com que esta cincia parea absurda utilizando diversos
artifcios: escolhe um pequeno inseto que aos olhos dos atenienses no passa de uma peste;
insinua que Querefonte e Scrates so sujos, quando relata que a pulga pula de um para o
outro e, ainda, faz com que a maneira de medir o pulo seja ridcula, ao invs de ps humanos,
que era a medida usada na poca, os sbios usam os ps do inseto.
O mais risvel de tudo isso, que para medir o salto da pulga, os dois sbios
confeccionam botinhas de cera, mergulhando o prprio inseto na cera quente e, depois,
descalam-nas para us-las como medida. Essa uma situao totalmente impossvel, pois o
inseto no resistiria a tudo isso tampouco os dois conseguiriam confeccionar botas to
minsculas.
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*maqhth%2Fs&la=greek&prior=frontisth/rionhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29nh%2Fret%27&la=greek&prior=musth/riahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%2Frti&la=greek&prior=a)nh/ret'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*xairefw%3Dnta&la=greek&prior=a)/rtihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*swkra%2Fths&la=greek&prior=*xairefw=ntahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=yu%2Fllan&la=greek&prior=*swkra/thshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28po%2Fsous&la=greek&prior=yu/llanhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28%2Flloito&la=greek&prior=o(po/soushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&prior=a(/lloitohttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%28th%3Ds&la=greek&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=po%2Fdas&la=greek&prior=au(th=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dakou%3Dsa&la=greek&prior=po/dashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%5Cr&la=greek&prior=dakou=sahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%3D&la=greek&prior=ga/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*xairefw%3Dntos&la=greek&prior=tou=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%5Cn&la=greek&prior=*xairefw=ntoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%29fru%3Dn&la=greek&prior=th/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pi%5C&la=greek&prior=o)fru=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%5Cn&la=greek&prior=e)pi/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kefalh%5Cn&la=greek&prior=th/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%5Cn&la=greek&prior=kefalh/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*swkra%2Ftous&la=greek&prior=th/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29fh%2Flato&la=greek&prior=*swkra/toushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*streyia%2Fdhs&la=greek&prior=a)fh/latohttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pw%3Ds&la=greek&prior=*streyia/dhshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dh%3Dta&la=greek&prior=pw=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dieme%2Ftrhse&la=greek&prior=dh=tahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*maqhth%2Fs&la=greek&prior=dieme/trhsehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=deciw%2Ftata&la=greek&prior=*maqhth/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=khro%5Cn&la=greek&prior=deciw/tatahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=diath%2Fcas&la=greek&prior=khro/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29%3Dta&la=greek&prior=diath/cashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%5Cn&la=greek&prior=ei)=tahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=yu%2Fllan&la=greek&prior=th/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=labw%5Cn&la=greek&prior=yu/llanhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29ne%2Fbayen&la=greek&prior=labw/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29s&la=greek&prior=e)ne/bayenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5Cn&la=greek&prior=e)shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=khro%5Cn&la=greek&prior=to/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29th%3Ds&la=greek&prior=khro/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%5C&la=greek&prior=au)th=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=po%2Fde&la=greek&prior=tw/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ka%29%3D%7Cta&la=greek&prior=po/dehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=yuxei%2Fsh%7C&la=greek&prior=ka)=|tahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=perie%2Ffusan&la=greek&prior=yuxei/sh|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*persikai%2F&la=greek&prior=perie/fusanhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tau%2Ftas&la=greek&prior=*persikai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28polu%2Fsas&la=greek&prior=tau/tashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29neme%2Ftrei&la=greek&prior=u(polu/sashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&prior=a)neme/treihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=xwri%2Fon&la=greek&prior=to/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*streyia%2Fdhs&la=greek&prior=xwri/onhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%29%3D&la=greek&prior=*streyia/dhshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*zeu%3D&la=greek&prior=w)=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=basileu%3D&la=greek&prior=*zeu=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%3Ds&la=greek&prior=basileu=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=lepto%2Fthtos&la=greek&prior=th=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3Dn&la=greek&prior=lepto/thtoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=frenw%3Dn&la=greek&prior=tw=n
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Podemos supor tambm que Aristfanes brinca com a ociosidade dos dois
filsofos, que estavam sempre com as cabeas nas nuvens, e passavam o tempo todo
fazendo especulaes totalmente sem importncia e um tanto malucas. Afinal, qual o
sentido de medir quantos ps de pulga o inseto pulou?
A segunda descoberta dos sbios, relatada pelo discpulo, diz respeito ao canto
dos insetos:
;
; .
,
.
;
:
:
.
.
.
.
Discpulo
De fato, que diria voc se soubesse de um outro raciocnio de Scrates?
Estrepsades
Qual? Conte-me, eu suplico...
Discpulo
Querefonte de Esftio perguntou-lhe
qual a sua opinio, se os mosquitos cantam
pela boca (estma) ou pela rabadilha(pygu)...
Estrepsades
E que foi que ele disse a respeito do mosquito?
Discpulo
Ele dizia que o intestino do mosquito estreito;
como apertado, o ar passa por ele com violncia
e se encaminha diretamente para a rabadilha.
Ora, como oco e ligado a esse lugar estreito,
o buraco ressoa por causa da violncia do sopro.
Estrepsades
Ah, ento o rabisteco do mosquito uma trombeta!
Seja ele trs vezes bem-aventurado, s por essa intestigao... De fato, numa defesa, facilmente seria absolvido
quem conhece a fundo o intestino dos mosquitos... (v. 154-168).
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*maqhth%2Fs&la=greek&prior=frenw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ti%2F&la=greek&prior=*maqhth/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dh%3Dt%27&la=greek&prior=ti/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%5Cn&la=greek&prior=dh=t'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%28%2Fteron&la=greek&prior=a)/