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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA ANTONIO ALVES DA SILVA NETO ALGA MARINHA VERMELHA Hypnea musciformis (WULFEN) COMO FONTE POTENCIAL DE CARBOIDRATOS PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL FORTALEZA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA

ANTONIO ALVES DA SILVA NETO

ALGA MARINHA VERMELHA Hypnea musciformis (WULFEN) COMO FONTE

POTENCIAL DE CARBOIDRATOS PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL

FORTALEZA 2013

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ANTONIO ALVES DA SILVA NETO

ALGA MARINHA VERMELHA Hypnea musciformis (WULFEN) COMO FONTE

POTENCIAL DE CARBOIDRATOS PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL

FORTALEZA 2013

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-graduação em Bioquímica da Universidade

Federal do Ceará, como requisito parcial para

obtenção do Título de Mestre em Bioquímica.

Orientadora: Prof.ª Dra. Norma Maria Barros Benevides Coorientadora: Prof.ª Dra. Márjory Lima Holanda

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Ao grande incentivador dos meus estudos, meu amado pai, Francisco Alves da

Silva (in memoriam) A minha mãe Francisca Suzete Barbosa da Silva, minhas irmãs Íris, Cálita,

Edgláucia, Edleuza, Plácida, Laís e a minha linda sobrinha Maria Clara.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela saúde, fortaleza e suporte, em todos os momentos da minha vida.

À Profª. Dra. Norma Maria Barros Benevides pela oportunidade de aprendizagem,

confiança e orientação, contribuindo para o meu crescimento profissional.

À Profª Dra. Márjory Lima Holanda pelos grandes ensinamentos na elaboração

desse trabalho, apoio e amizade.

À Profa. Dra. Luana Maria Castelo Melo Silva, por aceitar, gentilmente, a

participação na Banca examinadora.

À Profª. Dra. Maria Valderez Ponte Rocha, pelas valiosas contribuições e por ter

cedido, gentilmente, a utilização do HPLC para as análises desse trabalho.

Ao amigo Tiago Albuquerque pela grande ajuda nas análises no HPLC desse

trabalho.

A minha grande amiga Ticiana de Brito Lima, por ser uma das incentivadoras que

me ajudou a conquistar mais esse passo na minha vida, também pela amizade mais

do que valiosa e ajuda nesse trabalho. Muito obrigado, Tici!

Ao amigo George Meredite, por partilhar comigo a realização desse trabalho e pela

amizade a mim concedida.

As minhas best: Alexandra da Silva Lopes, Ana Cláudia Castro Silva, Ana Karine

Sombra de Alencar Araripe, Débora Brasileiro, Sônia Zeferino (em ordem alfabética

para não causar intrigas), pelo carinho, amizade verdadeira, risos, choros, ‘ciúmes’...

Amo muito vocês!

Ao amigo Antonio Borges de Aguiar Neto, pelo incentivo, amizade e ajuda nesse

trabalho. Tony, obrigado pela água deionizada!

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À Cláudia Cinthia pela amizade e por ter me ajudado nas análises de composição

química.

A todas as amizades que conquistei no Laboratório de Carboidratos e Lectinas

(Carbolec): Ana Luíza Quinderé, Ariévilo Rodrigues, Bruno, Chistiane Oliveira,

Edfranck Vanderlei, Fabíula Moura, Felipe Barros, Gabriela de Paula, Gardênia

Mendonça, Gerardo Carneiro, Ianna de Araújo, Ismael de Queiroz, Jane de Fátima,

Luana Silva, Renata Rivanor, Natássia Ribeiro, Ricardo Basto, Ticiana Abreu, Trycia

Magalhães, Willame Silva, Ygor Eloy, Valdécio Monteiro.

A minha família (tias, primos) que sempre torceram pelo meu sucesso.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica, por terem

contribuído com o meu crescimento estudantil, profissional e pessoal. Aos colegas

do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular.

À Universidade Federal do Ceará (UFC); ao Programa de Pós-Graduação em

Bioquímica; à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(Capes), pelo custeio de bolsa de pesquisa no desenvolvido desse projeto.

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RESUMO Alta demanda de energia e mudanças climáticas globais têm gerado interesse dos

governantes mundiais para investir em pesquisas de fontes alternativas e renováveis

de combustíveis. Nessa perspectiva, as macroalgas vêm ganhando ampla atenção

por parte de pesquisadores do mundo inteiro como fonte alternativa renovável de

biomassa para a produção de bioetanol, o qual é denominado atualmente de

combustível de “terceira geração”. A utilização das algas marinhas como matéria-

prima para produção de bioetanol apresenta vantagens, tais como (1) não

competição com a produção de alimentos, (2) alto conteúdo de carboidratos, (3)

baixo conteúdo de lignina e (4) alta produtividade. O potencial da alga marinha

vermelha Hypnea musciformis em fornecer carboidratos fermentescíveis para a

produção de bioetanol foi avaliado no presente trabalho. A alga foi obtida de cultivo

comercial, localizado na praia de Flecheiras, município de Trairi, Ceará e após

lavagem, secagem e trituração, 5 g foram adicionados a 100 mL de HCl (0,2; 0,5 e

1,0 M) em erlenmeyers, autoclavados a 121 ºC (10, 20 e 30 min). Foi observada a

presença de galactose (7,4 – 10,8 g.L-1) e glucose (3,4 – 4,7 g.L-1) em todos os

hidrolisados e a condição de hidrólise 0,5/20, apresentando uma concentração de

glicose + galactose de 14,8 g.L-1, foi selecionada para os ensaios de fermentação

dos monossacarídeos por Saccharomyces cerevisiae a 30°C. Os resultados

mostraram que a glicose e a galactose, foram consumidas simultaneamente, no

entanto esse consumo só foi iniciado após 7 h de fermentação e após 52 h, 82,5 %

da glicose e 72% da galactose tinham sido consumidas, com uma produção máxima

de 5,3 g.L-1 de bioetanol, representando uma eficiência fermentativa de 50% do

teórico e evidenciando a habilidade da S. cerevisiae em fermentar a galactose

proveniente de matéria-prima algácea com um rendimento de 0,1 g de bioetanol/g

de alga seca. Observou-se, na condição de hidrólise selecionada, uma maior

velocidade específica de consumo de substrato acompanhado da velocidade de

produção de etanol. Os rendimentos de etanol baseados no consumo de substrato

(glucose + galactose) e biomassa foram 0,315 e 0,08 (g/g), respectivamente. As

produtividades de biomassa e etanol foram 0,008 g.L-1.h-1 e 0,100 g.L-1.h-1,

respectivamente. Com os dados obtidos pode-se concluir que a alga marinha H.

musciformis se mostrou uma potencial fonte renovável de biomassa para a produção

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de etanol. No entanto, são necessários mais estudos para otimizar o processo

produtivo de bioetanol a partir desses organismos.

Palavras-chave: alga, biocombustível, hidrólise ácida, Hypnea musciformis, levedura

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ABSTRACT

High energy demand and global climate changes have generated interest in world

leaders to invest in research on alternative and renewable fuels. In this perspective,

the macroalgae are gaining wide attention from researchers around the world as an

alternative source of renewable biomass for bioethanol production, which is currently

called fuel "third generation". The use of seaweed as a feedstock for bioethanol

production has advantages such as (1) no competition with food production, (2) high

carbohydrates content, (3) low lignin content and (4) high productivity. The potential

of the red seaweed Hypnea musciformis to provide fermentable carbohydrates for

bioethanol production was evaluated in this study. The algae was obtained from a

commercial cultivation, located on the Flecheiras beach, Trairi, Ceará and after

washing, drying and grinding 5 g were added to 100 mL HCl (0.2, 0.5 and 1.0 M) in

Erlenmeyer flasks, autoclaved at 121 ºC (10, 20 and 30 min). It was observed the

presence of galactose (7.4 to 10.8 g.L-1) and glucose (3.4 to 4.7 g.L-1) in all

hydrolyzed and the hydrolysis condition 0.5/20, with a concentration of glucose +

galactose 14.8 g.L-1, was selected for testing fermentation of monosaccharides by

Saccharomyces cerevisiae at 30 ° C. The results showed that glucose and galactose

were consumed simultaneously, however this consumption only started after 7 h of

fermentation and after 52 h, 82.5% of glucose and 72% galactose had been

consumed, with a maximum yield of 5.3 g.L-1 of ethanol, it represents a fermentation

efficiency of 50% theory and showing the ability of S. cerevisiae ferment galactose

from algal feedstock with a yield of 0.1 g ethanol/g dry seaweed. It was observed in

the hydrolysis condition selected, a higher specific rate of the substrate consumption

accompanied by the rate of ethanol production. The ethanol yields based on

consumption of substrates (glucose + galactose) and biomass were 0.315 and 0.08

(g/g) respectively. The biomass and ethanol productivity were 0.008 g.L-1.h-1 and

0.100 g.L-1.h-1, respectively. With the date obtained it can be conclude that the red

seaweed H. musciformis showed be a potential renewable source of biomass for the

production of bioethanol. However, other studies are needed to optimize the

production process of bioethanol from these organisms.

Keywords: algae, biofuel, acid hydrolysis, Hypnea musciformis, yeast

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Perspectiva da produção de biocombustível 17

Figura 2 - Esquema da estrutura da parede celular da maioria dos

vegetais.

20

Figura 3 - Estrutura da molécula da celulose. 20

Figura 4 - Estrutura básica da carragenana com unidades D-

alternantes

24

Figura 5 - Estruturas das carragenanas comerciais: (a) kappa-

carragenana, (b) iota-carragenana e (c) lambda-

carragenana

24

Figura 6 - Representação da ação do pré-tratamento aplicado a um

material lignocelulósico.

28

Figura 7 - Esquema do processo de produção de etanol por meio

da hidrólise da biomassa.

31

Figura 8 - Via da fermentação alcóolica, onde a glicose é convertida

em piruvato e este convertido a etanol e CO2.

33

Figura 9 - Localização da área de cultivo de algas, praia de

Flecheiras – Ceará – Brasil.

36

Figura 10 - Esquema da hidrólise ácida da alga H. musciformis 39

Figura 11 - Hidrolisado ácido da alga H. musciformis, autoclavada a

121 ºC por 10, 20 e 30 min na concentração 0,5 M de

HCl.

40

Figura 12 - Eficiência de hidrólise da alga H. musciformis com base

na massa seca em função da concentração de HCl e

tempo de reação.

48

Figura 13 - Teores de açúcares redutores do hidrolisado da alga H.

musciformis.

51

Figura 14 - .Teores de carboidratos (dissacarídeos e

monossacarídeos) dos hidrolisados da alga H.

musciformis.

52

Figura 15 - Gelificação da solução da alga H. musciformis submetida

à autoclavagem a 121 ºC por 10, 20 e 30 min na

53

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ausência de ácido

Figura 16 Gráfico de Pareto para a concentração de glucose como

variável resposta.

55

Figura 17 - Gráfico de Pareto para a concentração de galactose

como variável resposta.

56

Figura 18 - Concentrações de ácido acético formado durante a

hidrólise ácida da alga H. musciformis.

59

Figura 19 - Cinética fermentativa do hidrolisado (0,5/20) da alga H.

musciformis pela levedura S. cerevisiae.

60

Figura 20 - Velocidades específicas de crescimento (µX), do

substrato (µS) e da produção de etanol (µP) durante a

fermentação do hidrolisado da alga H. musciformis

(0,5/20) por S. cerevisiae.

63

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Esquema comparativo entre as condições e o

desempenho dos três processos básicos de hidrólise

31

Tabela 2 - Denominações das condições de hidrólise da alga

marinha vermelha H. musciformis em função da

concentração de HCl e tempo de reação

39

Tabela 3 - Valores e níveis das variáveis do Planejamento fatorial 22

levando em consideração a concentração do ácido e o

tempo, dos hidrolisados da alga H. musciformis, na

concentração dos açúcares (glucose e galactose)

obtidos.

45

Tabela 4 - Composição centesimal da alga H. musciformis 46

Tabela 5 - Teores de açúcares redutores obtidos nos hidrolisados e

perdidos nos resíduos úmidos da alga H. musciformis

50

Tabela 6 - Concentrações e tempos de reação de glucose e

galactose dos hidrolisados da alga H. musciformis

obtidos através da CLAE e de acordo com o

planejamento experimental.

54

Tabela 7 - ANOVA para a concentração de glucose como variável

resposta.

57

Tabela 8 - ANOVA para a concentração de galactose como variável

resposta.

58

Tabela 9 - Fatores de conversão (Y) e produtividade (P) obtidos nos

ensaio fermentativo do hidrolisado (0,5/20) da alga H.

musciformis.

61

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

HCl Ácido clorídrico

H2SO4 Ácido sulfúrico

CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

D. O Densidade ótica

g Grama

ºC Grau centigrado

Ca(OH)2 Hidróxido de cálcio

h Hora

L Litro

g.L-1 Gramas por litro

g.L-1.h-1 Gramas por litro por hora

mg Miligrama

mL Mililitro

min Minuto

M Molar

nm Nanômetro

% Porcentagem

rpm Rotações por minuto

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 14

1. 1. Mudanças climáticas e a crise de energia 14

1. 2. Biocombustíveis 14

1. 2. 1. Biocombustíveis de primeira geração 15

1. 2. 2. Biocombustíveis de segunda geração 15

1. 2. 3. Biocombustíveis de terceira geração 16

1. 3 Etanol 16

1. 4. Biomassa 19

1. 4. 1 Biomassa de material lignocelulósico 19

1. 4. 2. Biomassa algácea como matéria-prima para bioetanol 21

1. 5. A alga marinha vermelha Hypnea musciformis 25

1. 6. Pré-tratamento de matéria-prima para a produção de etanol 27

1. 7. Hidrólise de matéria-prima para a produção de

biocombustíveis

30

1. 7. 1. Hidrólise de biomassa 31

1. 7. 1. 1. Hidrólise com ácido concentrado 31

1. 7. 1. 2 Hidrólise com ácido diluído 32

1. 7. 1. 3 Hidrólise enzimática 32

1. 8. Fermentação 32

2. OBJETIVOS 35

2. 1. Geral 35

2. 2. Específicos 35

3. MATERIAIS E MÉTODOS 36

3.1. Coleta das algas marinhas 36

3. 2. Análise centesimal da alga marinha H. musciformis 37

3. 2. 1. Umidade 37

3. 2. 2. Proteínas totais 37

3. 2. 3. Lipídeos totais 37

3. 2. 4. Cinzas totais 37

3. 2. 5. Carboidratos totais 38

3. 2. 6. Celulose 38

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3. 3. Hidrólise ácida da alga marinha vermelha H. musciformis 38

3. 4. Ajuste do pH do hidrolisado da alga marinha vermelha H.

musciformis

40

3. 5. Análise de açúcar redutor 40

3. 6. Eficiência da hidrólise ácida 40

3. 7. Microrganismos e manutenção das culturas de células 41

3. 8. Preparo do inóculo 41

3. 9. Fermentação do hidrolisado ácido 41

3. 10. Determinação da composição em monossacarídeos e em

etanol nos hidrolisados 42

3. 11. Parâmetros cinéticos 43

3. 12 . Planejamento experimental e análise estatística 44

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 46

4. 1. Composição centesimal da alga H. musciformis 46

4. 2. Eficiência de hidrólise da alga H. musciformis em função da

concentração de HCl e tempo de reação

48

4.3. Açúcares redutores dos hidrolisados da alga H. musciformis 49

4. 4. Teores de carboidratos (dissacarídeos e monossacarídeos)

dos hidrolisados da alga H. musciformis

51

4. 5. Influência da concentração do ácido e do tempo de reação

na obtenção de glucose e galactose nos hidrolisados da

alga H. musciformis

53

4. 6. Teores de ácido acético (inibidor de fermentação) 58

4. 7. Cinética fermentativa e produção de etanol a partir do

hidrolisado (0,5/20) da alga H. musciformis

60

5. CONCLUSÃO 64

6. REFERÊNCIAS 65

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1. INTRODUÇÃO 1.1. Mudanças climáticas e a crise de energia

Atualmente, diversas discussões referentes às mudanças climáticas têm sido

um dos alvos das pesquisas científicas. Segundo estudos, verificou-se que, nas

últimas décadas, houve um significativo aumento da temperatura mundial,

fenômeno conhecido como aquecimento global, sendo a poluição do ar uma das

causas desse fenômeno.

No ano de 1997, realizou-se na cidade de Quioto, no Japão, uma

Conferência, onde foi concretizado um documento denominado Protocolo de Quioto.

Nessa Conferência, critérios e normas foram estabelecidos para se reduzir os

Gases de Efeito Estufa pelos países mais poluidores (LEITE, 2007; MIKHAILOVA;

BASTIANI, 2007). O Protocolo de Quioto tornou-se Tratado no ano de 2004,

entrando em vigor em 16 de fevereiro de 2005, cujo objetivo era obrigar os países

industrializados a diminuir, durante o período de 2008 e 2012, a emissão de gases

que vem agravando o efeito estufa, resultantes da queima de combustíveis fósseis,

para um nível de 5,2% em relação aos níveis registrados no ano de 1990.

É desafiador para a sociedade do século XXI prevê a demanda para energia

de transporte, aquecimento, processos industriais e fornecimento de matéria-prima

para a indústria de modo sustentável. Uma preocupação crescente para a

segurança de provisão de óleo foi comprovada com o aumento do seu preço, o qual

aproximou-se de US$ 100,00 por barril, durante o ano de 2008 (ROCHA, 2010).

Contudo, a provisão de energia futura deve ser cumprida com uma redução

simultânea e significativa de emissões de gases (MARTINS et al., 2002).

Alta demanda de energia e mudanças climáticas globais têm gerado o

interesse dos governantes mundiais para investir em pesquisas de fontes

alternativas e renováveis de combustíveis.

1.2. Biocombustíveis

Alta demanda de energia, mudanças climáticas globais, melhoria na

qualidade do ar das grandes cidades têm gerado o interesse dos governantes

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mundiais para investir e incentivar pesquisas de fontes alternativas e renováveis de

combustíveis.

Biocombustíveis são fontes de energia renováveis e englobam uma grande

variedade de matérias-primas, tecnologias de conversão e usos finais. Podem ser

líquidos ou gasosos feitos a partir de plantas ou resíduos, tais como, culturas

agrícolas, resíduos urbanos e agrícolas ou subprodutos florestais (BALAT, 2009).

No aspecto ambiental, o uso de biocombustível é vantajoso, pois não contribui

para o acúmulo de gases do efeito estufa e permite a reciclagem do gás carbônico

na atmosfera.

1. 2. 1. Bicombustíveis de primeira geração

São aqueles produzidos a partir de matéria-prima contendo açúcar e amido.

Esses tipos de biocombustíveis, quando produzidos de grãos, como o milho, por

exemplo, impactam negativamente nos preços dos alimentos. Quando são gerados

de materiais com grande conteúdo lipídico, comprometem a biodiversidade, pois o

seu balanço de carbono e o balanço energético global são ineficientes, uma vez que

não conseguem reduzir os gases de efeito estufa.

Os biocombustíveis de primeira geração baseiam-se em tecnologias de

conversão ditas ineficazes, como fermentação a partir de leveduras ou

transesterificação por catalisadores de base alcalina.

1. 2. 2. Biocombustíveis de segunda geração

São aqueles produzidos a partir de matéria-prima de resíduos celulósicos.

Devido à abundância relativa desses resíduos e seu baixo custo, fica excluso o

problema relacionado à produção de alimentos versus produção de combustíveis. A

matéria-prima constituída de resíduos celulósicos possui um balanço de carbono

excelente, levando uma redução da emissão de gás carbônico em até 90% quando

comparado aos combustíveis fósseis. Devido a isso, são considerados “combustíveis

limpos”, uma vez que reduzem, também, a emissão de outros poluentes

importantes, como os óxidos de nitrogênio e enxofre.

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1. 2. 3. Biocombustíveis de terceira geração

São aqueles originados a partir de avanços feitos no aumento da produção de

biomassa, ou seja, na própria fonte. Esses biocombustíveis baseiam-se em colheitas

de energias projetadas, onde a matéria-prima provém de avançados estudos nos

campos de procriação molecular, genômica e transgenia, gerando plantas com

excelentes propriedades para a conversão em bioprodutos.

1. 3. Etanol

A história do álcool é datada de muitos séculos atrás. Muitos cientistas da

antiguidade já tinham certo conhecimento da presença de um ingrediente

combustível no vinho. Apesar dessa suposição, não há relatos ou indicações que

esse ingrediente tenha sido separado por meio fermentado (SIQUEIRA, 1997).

A partir do fim do século XV, o processo de destilação de meios fermentados

tornou-se importante. A adição de 5% de etanol anidro (em volume) à gasolina

tornou-se obrigatória desde a década de 1930.

Com a criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), pelo governo

brasileiro, no ano de 1975, a produção do etanol foi implantada em larga escala para

uso em motores a álcool. No decorrente ano, foi lançado o primeiro carro movido a

álcool e, com este feito, o teor de etanol na gasolina aumentou de 5 para uma faixa

de 20 a 25%. No fim dos anos 80, com a queda do preço do petróleo, a produção de

etanol teve um aumento significativo, vindo a sofrer uma grande queda no fim dos

anos 90 e recuperando a sua crescente produção a partir do ano de 2003 quando

foram lançados os veículos biocombustíveis (PIACENTE, 2006).

Recentemente, a demanda mundial por etanol combustível tem se expandido

de forma muito rápida, e esta deverá aumentar ainda mais no futuro próximo,

principalmente nos países mais desenvolvidos e de maior consumo de combustíveis

automotivos. Isto se deve a combinação dos seguintes fatores: substituição do

MTBE (Éter Metil Terc-Butílico) como aditivo da gasolina (para aumento da

octanagem do combustível e como aditivo oxigenado) devido ao impacto ambiental

associado ao uso daquele produto; adoção de estratégias para a redução/limitação

das emissões dos gases precursores do efeito estufa, conforme demandado para

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alguns países pelo Protocolo de Quioto; redução da dependência de derivados de

petróleo na matriz energética; incentivos à agricultura e às indústrias locais

(PIACENTE, 2006).

Estima-se que a produção de biocombustível deva ultrapassar os 30 bilhões

até ano de 2022 (Figura 1). Atualmente, o Brasil produz 25 bilhões de etanol por ano

a partir da cana-de-açúcar. O plantio dessa matéria-prima, realizado em terras

aráveis de boa qualidade, deverá ser expandido devido à crescente demanda

nacional e internacional de álcool (MAPA, 2010).

Figura 1 - Perspectiva da produção de biocombustíveis.

Fonte: Verenium, 2008

A produção de etanol no Brasil era realizada por batelada simples (processo

descontínuo), mas quando o Proálcool foi implantado, as destilarias tiveram que ser

reestruturadas para processo de batelada alimentada, o qual apresentou-se eficiente

no quesito de conversão de açúcar a álcool. Entretanto, a fermentação alcoólica, por

processo contínuo, mostrou-se ser um processo bastante atrativo.

Processo Batelada simples: É um processo lento e que desperdiça tempo na

preparação do reator (MAIORELLA et al., 1981). Para esse processo prepara-se um

meio de cultura adequado à nutrição e ao desenvolvimento do microrganismo e

também ao acúmulo do produto desejado; coloca-se este meio de cultura em um

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biorreator; adiciona-se o microrganismo responsável pelo processo biológico e se

aguarda que o processo ocorra. Após um determinado tempo de fermentação, retira-

se o caldo fermentado do reator e executam-se as operações unitárias necessárias

para a recuperação do produto (SCHIMIDELL E FACCIOTTI, 2001). Além do menor

risco de contaminação, este processo apresenta grande flexibilidade de operação

pela possibilidade de utilização dos fermentadores para a fabricação de diferentes

produtos e por permitir uma melhor condição de controle com relação à estabilidade

genética do microrganismo (CARVALHO E SATO, 2001). Assim, o processo

batelada é sempre utilizado como base para as comparações de eficiências

atingidas com relação aos outros processos, mas a sua baixa eficiência estimula o

surgimento de formas alternativas (SCHIMIDELL E FACCIOTTI, 2001).

Processo Batelada alimentada: é considerado mais eficiente e versátil dentre

os processos de fermentação; é também conhecido como Melle-Boinot. Esse

processo define-se como uma técnica em processos microbianos, onde um ou mais

nutrientes são adicionados ao fermentador, sob condições controladas, durante o

cultivo e os produtos permanecem nesse fermentador até o final da fermentação. É

considerado um processo satisfatório quanto à eficiência da conversão de açúcar

em álcool (ZARPELON E ANDRIETTA, 1992; CARVALHO E SATO, 2001). Devido à

flexibilidade de utilização de diferentes vazões de enchimento de dornas com meio

nutriente, é possível controlar a concentração de substrato no fermentador, de modo

que, o metabolismo microbiano seja deslocado para uma determinada via

metabólica, levando ao acúmulo de um produto específico (SCHIMIDELL et al.,

2001).

Processo Contínuo: como o próprio nome já diz, é um processo sem

interrupções. A alimentação do meio de cultura é contínua a uma determinada vazão

e o volume de reação é mantido constante. Esse processo pode ser dividido em três

partes: (1) unidade de tratamento ácido; (2) fermentadores e (3) unidade de

separação de células. As vantagens desse processo em relação aos outros

processos citados anteriormente estão embasadas na otimização das condições de

processo para uma maior produtividade; período longo de produtividade contínua;

maior produtividade volumétrica; maior uniformidade do produto; redução dos custos

laboratoriais uma vez alcançado o estado desejado; redução do tempo de limpeza e

sanitização das dornas e maior facilidade de controle automático. A maior

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desvantagem é que as fermentações contínuas são mais propícias à contaminação

bacteriana por longos prazos de exposição (CYSEWSKI e WILKIE, 1978;

FACCIOTTI, 2001).

Os novos projetos de fermentação que vêm sendo desenvolvidos consideram

a cinética do processo e utilizam ferramentas matemáticas e computacionais. Com

isto obtêm-se processos que reduzem gastos com mão-de-obra; aumentam a

produtividade; reduzem o tempo não produtivo como, carga, descarga e limpeza e

reduzem a utilização de insumos (TOSETTO, 2002).

1. 4. Biomassa

Os substratos comuns utilizados para a produção de etanol são açúcar e

amido provenientes de cultivos agrícolas, principalmente da cana-de-açúcar e milho,

respectivamente. No entanto, essas matérias-primas não são suficientes para suprir

a demanda internacional.

Nos últimos anos, a busca por novas fontes de biomassas renováveis para a

produção de biocombustíveis se intensificou diante da grande produção de matéria-

prima alimentícia destinada à produção de energia, gerando uma questão polêmica

frente a crescente demanda por alimentos. Além desse aspecto, ressalta-se a

ocupação de áreas agricultáveis para a produção de biomassa destinada à produção

de bioetanol e a vulnerabilidade desse processo relacionada às oscilações dos

custos da produção do açúcar podendo causar, em situações extremas, o

desabastecimento de biocombustível no país.

O bioetanol é o principal biocombustível utilizado no mundo e seu uso é cada

vez mais difundido. Quase toda a sua produção é feita pela fermentação de

carboidratos originados de beterraba, milho ou cana-de-açúcar, os quais

representam fonte de alimento humano (KHAMBHATY et al., 2012).

1. 4. 1. Biomassa de material lignocelulósico

Celulose, hemicelulose e lignina são os constituintes de materiais

lignocelulósicos. Esses componentes encontram-se complexamente associados os

quais definem a estrutura da parede celular da maioria dos vegetais. A composição

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desses componentes varia de acordo com a natureza do vegetal, Em geral, o maior

componente é a celulose (35–50%), seguido da hemicelulose (20–35%) e lignina

(10–25%). Outros componentes como proteínas, gorduras e cinzas fazem parte de

uma fração do material lignocelulósico (ROCHA, 2010). As grandes interações entre

celulose, hemicelulose, lignina e a barreira natural de lignina (Figura 2) minimizam o

acesso das enzimas hidrolíticas à fração de carboidrato (KESHWANI, 2009).

Figura 2 – Esquema da estrutura da parede celular da maioria dos vegetais.

Fonte: www.scidacreview.org

O principal componente da fibra vegetal é a celulose, um homopolissacarídeo

linear constituído por unidades de D-glicose unidas por ligações β-1,4- glicosídica

(Figura 3), com grau de polimerização que varia de 1000 até 50000 unidades,

dependendo da origem da planta (ROCHA, 2010). Na natureza, a celulose existe na

forma cristalina, sendo essa característica uma barreira para sua hidrólise

enzimática.

Figura 3 – Estrutura molecular da celulose.

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O segundo polissacarídeo mais abundante na natureza é a hemicelulose, um

heteropolímero constituído de pentoses (xilose e arabinose), hexoses (glicose,

galactose e manose) e ácidos (acético, glicurônico e galacturônico) (SAHA, 2003).

Possui função de reserva e de sustentação e o seu grau de polimerização é

geralmente inferior a 200 unidades (TSAO, 1986). Diferentemente da estrutura da

celulose que é constante, a hemicelulose pode variar na composição e na sua

organização estrutural. Devido à interação entre os diferentes açúcares, a

hemicelulose apresenta baixa cristalinidade em relação à celulose sendo mais

facilmente hidrolisada (SAHA, 2003).

Em contraste com a celulose e a hemicelulose, a lignina é um polímero

complexo formado de compostos fenólicos, que são também chamados de

monolignóis. As ligações aleatórias carbono-carbono entre os monolignóis resultam

na formação de dímeros, trímeros e tetrâmeros que definem a estrutura complexa da

lignina (ROCHA, 2010). Essas ligações carbono-carbono são responsáveis pela

grande dificuldade de romper a cadeia de lignina.

Encontram-se ainda, nos materiais lignocelulósicos, compostos extrativos

(gorduras, gomas, alcaloides, resinas e óleos essenciais e outros constituintes do

citoplasma) e os compostos não extrativos (sílica, carbonato e oxalato) os quais

conferem características como cor, sabor, resistência ao apodrecimento e

propriedades abrasivas.

A associação das frações constituintes dos lignocelulósicos confere a estes,

grande resistência ao ataque de agentes químicos, enzimáticos ou microbianos.

Desta forma, é necessária a separação seletiva de cada uma das frações por

técnicas de pré-tratamento, hidrólise e deslignificação para que estas sejam

aproveitadas (ROCHA, 2010).

1. 4. 2. Biomassa algácea como matéria-prima para bioetanol

O desenvolvimento de combustíveis a partir de biomassa continua crescendo

em ritmo acelerado. Os biocombustíveis de primeira geração com base em culturas

alimentares levantam questões éticas e morais, uma vez que há pessoas ao redor

do mundo que ainda sofrem de desnutrição e fome (KARUNAKARAN E

GURUSAMY, 2011). Nesse contexto, micro e macroalgas têm sido investigadas por

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pesquisadores do mundo inteiro como potenciais fontes alternativas e renováveis de

biomassa para a produção de bioetanol, o qual é denominado “combustível de

terceira geração” (NIGAM E SINGH, 2010). Certas espécies de algas possuem a

capacidade de produzir altos níveis de carboidratos em vez de lipídeos como

polímeros de reserva. As macroalgas podem ser cultivadas em cordas. Como a

eficiência fotossintética das algas é maior do que as das plantas terrestres, em

média 6-8% e 1,8-2,2% respectivamente, essas são capazes de acumular biomassa

em taxas mais rápidas (KARUNAKARAN E GURUSAMY, 2011).

As algas marinhas são matérias-primas promissoras para a produção de

bioetanol devido a sua taxa de crescimento rápida e a sua grande produção de

biomassa, com produtividade superior a muitas plantas terrestres, além de

apresentar vantagens, tais como: não competitividade com fontes alimentares;

apresentam alto conteúdo de açúcar, apresentam baixo conteúdo de lignina e

possuem alta produtividade (MEINITA E HONG, 2012).

O elevado rendimento em biomassa das macroalgas está atribuído a sua

menor exigência de energia para produção de tecidos de suporte comparado às

plantas terrestres. Além disso, possuem a capacidade de absorver nutrientes ao

longo de toda a sua área de superfície e não necessitam de energia para o

transporte de nutrientes internos. Muitas espécies de algas exibem uma maior

produtividade em massa (13,1 Kg de peso seco.m-2) ao longo de um período de sete

meses, quando comparadas as plantas terrestres que produzem 0,5 - 4,4 Kg de

peso seco.m-2 em um período de um ano (BORINES et al., 2011).

As macroalgas são divididas em três principais grupos com base em seus

pigmentos fotossintéticos: Chlorophyta. Rhodophyta e Phaeophyta que são as algas

verdes, vermelhas e pardas, respectivamente. Os pigmentos das algas são clorofilas

a e b. O principal produto fotossintético em algas verdes é o amido e as camadas

externa e interna da sua parede celular são constituídas de pectina e celulose,

respectivamente (TRONO JR E GANZON-FORTES, 1988). O pigmento das algas

vermelhas é r-ficoeritrina e sua parede celular contém pequenas quantidades de

celulose, enquanto a maioria é formada por um polímero gelatinoso ou amorfo de

galactana sulfatada, tais como ágar, carragenana, funorana, etc. Já a coloração das

algas pardas é devido a predominância do pigmento xantofila (fucoxantina) e sua

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parede celular é composta de ácido algínico, celulose e outros polissacarídeos

(BORINES et al., 2011).

Além da alta produtividade em biomassa, as algas têm outras características

benéficas quando comparadas às plantas terrestres. A mais notável dessas

características é a ausência de materiais lignocelulósicos na parede celular das

algas, tornando-se, portanto, necessária a remoção desses materiais somente em

plantas terrestres. A estrutura das algas é, geralmente, muito mais uniforme e

consistente comparada com a das plantas terrestres, porque as algas apresentam

ausência de partes funcionais específicas, tais como raízes e folhas

(KARUNAKARAN E GURUSAMY, 2011).

As algas marinhas possuem altos níveis de compostos hidrocolóides, tais

como ágar, carragenana e alginato (MEINITA E HONG, 2012). Um hidrocolóide,

também conhecido como molécula, é uma substância não cristalina de estrutura

muito grande que se dissolve em água formando uma solução viscosa.

As algas marinhas vermelhas (Rodofíceas) são consideradas como a fonte

mais importante de muitos metabólitos biologicamente ativos, em comparação com

as outras classes de algas (GAMAL et al., 2010) e biossintetizam moléculas de alta

massa molecular, na sua maioria polissacarídeos contendo galactose (galactanas) e

denominados ficocolóides, que desempenham funções tecnológicas importantes

para diferentes indústrias como farmacêutica, química, alimentícia, etc. (VAN DE

VELDE et al., 2002).

As rodofíceas estão agrupadas em duas categorias: as Agarófitas, que são as

algas vermelhas que contêm ágar e as Carrageófitas, que são as algas vermelhas

que contêm carragenana. Esses compostos são amplamente empregados nas

indústrias alimentícias (fabricação de gelatinas, queijo, enlatados, doces e outros);

farmacêutica (laxativo, emulsificante e estabilizante para medicamentos); em

pesquisas laboratoriais (meio de cultura para plantas e microrganismos diversos, e

como meio de inclusão para cortes histológicos). Possuem também várias outras

aplicações, como na fabricação de moldes dentários, produtos cosméticos e papel.

O ágar e a carragenana são galactanas extraídas de diversos gêneros e

espécies de algas marinhas vermelha da classe Rodophyta. Os principais gêneros

utilizados comercialmente para extração dessas galactanas são Gelidium,

Pterocladia, Gracilaria, Gigartina, Hypnea, Euchema, Chondrus e Iridacea. O teor

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desses polissacarídeos varia com as condições do mar (temperatura da água,

concentração de gás carbônico, intensidade de radiação solar) e com o ciclo de vida

desses organismos.

Segundo Meinita e Hong (2012), as carragenanas tornaram-se o nome

genérico para denominar os polissacarídeos extraídos de algas marinhas vermelhas

os quais contêm galactanas sulfatadas com interações alternadas consistindo de

α(1-4)-3,6-anidro-D-galactose e β(1-3)-D-galactose (Figura 4).

Figura 4 – Estrutura básica da carragenana com unidades D-alternantes.

Segundo Van de Velde et al. (2002); FURTADO (2004), a extração e

comercialização, a nível mundial, de carragenanas chegaram a movimentar cerca de

US$ 310 milhões no ano de 2000 com um crescimento anual de 3 a 4%. As

carragenanas mais comercializadas são (kappa), (iota) e (lambda). A diferença

estrutural entre a , e -carragenana está na quantidade e posicionamento de

grupos sulfatos que esterificam os carbonos das unidades A e B da cadeia principal

(Figura 5), de modo que a -carragenana possui 1 (C-4 da unidade A), a -

carragenana 2 (C-4 da unidade A e C-2 da unidade B) e a -carragenana 3 (C-2 da

unidade A e nos C-2 e 6 da unidade B) grupos sulfato (HOLANDA, 2007).

Figura 5 – Estruturas das carragenanas comerciais: (a) -carragenana, (b) -

carragenana e (c) -carragenana.

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1. 5. Alga marinha vermelha Hypnea musciformis

O gênero Hypnea (Gigartinales, Rhodophyta) inclui cerca de 50 espécies

distribuídas em regiões de águas quentes (MASUDA et al. 1997). Para o Brasil, são

citadas seis espécies desse gênero: H. cenomyce J. Agardh; H. cornuta J. V.

Lamour.; H. musciformis (Wulfen in Jacqu.) J. V. Lamour.; H. nigrescens Greville ex

J. Agardh; H. spinella (C. Agardh) Kuetzing; e H. valentiae (Turner) Montagne

(SCHENKMAN 1986, NUNES 2005).

Dentre as espécies desse gênero, encontra-se a H. musciformis e segundo

Nunes (2005), a referida espécie possui ampla distribuição geográfica ao longo do

litoral brasileiro, ocorrendo desde o litoral do Rio Grande do Sul até o litoral do

Maranhão, podendo ser encontradas em áreas de infra e meso litoral, em rochas ou

como epífitas sobre outras espécies de algas. É uma espécie que suporta grandes

variações ambientais, apresentando tolerância à temperatura – 18 a 30 ºC e

salinidade – 20 a 50 ppt. (YOKOYA E OLIVEIRA 1992 a,b).

Fonte: algaebase

Divisão: Rhodophyta

Classe: Rhodophyceae

Ordem: Gigartinales

Família: Hypneaceae

Gênero: Hypnea

Espécie: Hypnea musciformis

As algas marinhas do gênero Hypnea possuem grande importância

econômica e devido a esse fato, diversos estudos, laboratoriais e em campo, foram

realizados a fim de estabelecer as melhores condições bioquímicas, fisiológicas e de

cultivo para as espécies de algas desse gênero. Estudos com a espécie de H.

musciformis foram realizados, em laboratório e no mar, para verificar as influências

de nitrogênio e fósforo, da profundidade e da sazonalidade no crescimento e no

conteúdo de carragenana presente na referida espécie de alga (SCHENKMAN,

1980). Relação entre o crescimento e os efeitos do nitrato, sazonalidade e oscilação

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de temperatura para a referida espécie de alga foram investigados por Berchez e

Oliveira (1989). Reis et al. (2003) realizando estudos com a mesma espécie de alga

avaliaram os efeitos dos fatores bióticos no crescimento da referida alga.

Alga marinha vermelha H. musciformis é um importante recurso marinho

possuindo como constituinte preponderante da parede celular a -carragenana

(STANLEY, 1987), um polissacarídeo sulfatado muito utilizado nas indústrias

alimentícia e farmacêutica como agente gelificante, espessante e estabilizante.

Estudos com -carragenana extraído de H. musciformis mostraram que esse

polissacarídeo apresenta atividades antivirais (Neushul, 1990). Nagano et al (2002)

mostraram que lectinas extraídas de H. musciformis apresentaram atividades pró e

anti-inflamatórios. Macroalgas do gênero Hypnea também foram investigadas para a

produção de bioetanol como biocombustível de fonte renovável (KARUNAKARAN e

GURUSAMY, 2001).

Estudos para a produção de bioetanol a partir de outras espécies e gêneros

de macroalgas ainda encontram-se em grande fase de desenvolvimento. Adams e

Gallagher (2009) investigaram a macroalga Saccharina latissima para a produção de

bioetanol utilizando pré-tratamentos variáveis. A produção de bioetanol usando a

macroalga Euchema cottonii foi realizada por Candra et al. (2011). A macroalga

vermelha Kappaphycus alvarezii como uma fonte de bioetanol foi utilizada nos

estudos de Kambhaty et al. (2012). Ge et al. (2011) produziram etanol a partir de

resíduos da alga marinha parda Laminaria japonica provenientes da indústria de

extração de alginato.

A crescente demanda do mercado nacional de ficocolóides é suprida pela

importação de macroalgas, pela colheita em bancos naturais ou de algas arribadas

(OLIVEIRA, 1998; FURTADO, 1999). Em comunidades do litoral do nordeste

brasileiro, projetos estão sendo desenvolvidos a fim de orientá-las para o uso

racional desse recurso marinho, substituindo a atividade extrativista pela sustentável

– maricultura (CARVALHO FILHO, 2004; MIRANDA et al., 2004).

O cultivo de algas marinhas no litoral brasileiro vem sendo desenvolvido na

busca de suprir a grande demanda da indústria de carragenana. Um exemplo disso

é o desenvolvimento de um método de cultivo e colheita da alga marinha vermelha

exótica Kapppahycus alvarezii pela Empresa Produtora de Carragenana (Sete

Ondas Biomar), no estado do Rio de Janeiro. Essa espécie tem apresentado uma

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grande fonte potencial de matéria-prima para a produção de produtos tanto de altos

valores agregados (Química fina) quanto os de baixos valores agregados

(biocombustíveis), isso se deve aos seus altos conteúdos de carragenanas e baixos

conteúdos de celulose na sua parede celular. Além disso, essa macroalga apresenta

uma elevada taxa de crescimento por hectare comparada com a da biomassa

terrestre (HARGREAVES et al., 2013). Apesar da Instrução Normativa do IBAMA, nº

185, que permite o cultivo comercial desta espécie entre a Baía de Sepetiba (RJ) e

na Ilha Bela (SP), ainda existem questionamentos sobre o impacto ambiental

ocasionado pelo cultivo de algas exóticas no litoral brasileiro.

1. 6. Pré-tratamento de matéria-prima para produção de etanol

A produção de biocombustíveis envolve a fermentação de açúcares por

microrganismos para produzir etanol. Como muitos açúcares não estão livremente

disponíveis, mas formam parte dos carboidratos estruturais e de armazenamento há

exigências por tratamentos, tais como: alteração na temperatura, pH e adição de

enzimas para hidrólise prévia dos açúcares antes da fermentação (Adam et al.,

2009).

O objetivo do pré-tratamento da matéria-prima para a produção de

biocombustíveis é a redução da cristalinidade da celulose e solubilização das

estruturas recalcitrantes da parede do vegetal. Diante disso, para que o processo de

obtenção de etanol seja um processo economicamente viável, torna-se necessária

uma seleção rigorosa do tipo de pré-tratamento a ser aplicado, uma vez que esta

etapa irá influenciar diretamente sobre os rendimentos de glicose durante a hidrólise

enzimática do material (ROCHA, 2010). Um eficiente pré-tratamento minimizará os

custos envolvidos na aquisição de enzimas, viabilizando o processo (ALZATE E

TORO, 2006; HAHN-HÄGERDAL et al., 2006).

O pré-tratamento propriamente dito deve ser muito eficiente em termos de

rendimento, seletividade, funcionalidade (garantindo acessibilidade da celulose aos

agentes hidrolíticos), simplicidade operacional, segurança e higiene industrial e

atributos ambientais, levando assim a reduzidos consumos de insumos químicos e

energia (ROCHA, 2010).

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A figura 6 representa o esquema da ação do pré-tratamento aplicado a um

material lignocelulósico. Há uma desorganização na estrutura da biomassa

celulósica, beneficiando a ação das enzimas ou ácidos.

Figura 6 – Representação da ação do pré-tratamento aplicado a um material

lignocelulósico.

Fonte: (Moiser et al., 2005)

Atualmente, buscas por processos eficientes de hidrólise da biomassa de

açúcares fermentescíveis para a produção de etanol têm sido investigadas. Vários

métodos de pré-tratamentos de biomassa têm sido estudados e que podem ser

mecânicos, físicos, químicos, biológicos ou combinados.

O pré-tratamento mecânico da matéria-prima consiste na limpeza e na

desorganização do material, a fim de causar a destruição da sua estrutura celular e

torná-la mais acessíveis aos posteriores tratamentos químicos, físicos ou biológicos

(SILVA, 2010).

Explosão a vapor é um tipo de pré-tratamento físico sendo utilizado para

hidrolisar materiais lignocelulósicos. A biomassa é triturada e submetida ao vapor de

alta pressão e alta temperatura (160 – 240 ºC) por 20 minutos. Retirando-se a

pressão do sistema ocorre uma mudança brusca na temperatura com a finalidade de

causar uma ruptura nas ligações dos constituintes da parede celular dos vegetais

(celulose, hemicelulose e lignina). Para aumentar a eficiência do tratamento e

recuperação da hemicelulose pode-se adicionar SO2 ao sistema (TENGBORD et al.,

2001).

Termo-Hidrólise é também um pré-tratamento físico em que assemelha-se ao

tratamento de explosão a vapor. Enquanto na explosão a vapor utiliza-se vapor, no

termo-hidrólise é utilizada água quente pressurizada. Uma maior injeção de água

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aumenta a solubilização do sistema. O grande consumo de água para a produção

dos hidrolisados torna esse pré-tratamento desvantajoso.

O pré-tratamento químico ácido-diluído tem por finalidade solubilizar a

hemicelulose dos materiais celulósicos e lignocelulósicos minimizando os custos

com a utilização de hemicelulases, além de promover a liberação de parte da glicose

presente na cadeia de celulose. É importante ressaltar a importância das variáveis

mais influentes nesse tipo de tratamento para atingir uma condição ótima no que diz

respeito à concentração do ácido, concentração do sólido e o tempo de pré-

tratamento. Os reagentes ácidos mais utilizados são os ácidos sulfúricos, clorídrico e

nítrico (diluídos ou concentrados). Variações na temperatura podem ocasionar

diferenciações nesse processo. A correção do pH faz-se necessária antes da

hidrólise e fermentação.

Outro tipo de pré-tratamento químico é o tratamento alcalino e seu uso

baseia-se na solubilização da lignina dos lignocelulósicos, entretanto a utilização de

álcalis como o hidróxido de sódio e outras bases apresentam desvantagens para

aplicação em potencial (ROCHA, 2010). Utilizando hidróxido de cálcio, nesse

processo, tem-se a elevação do pH o qual promove a solubilização da lignina, sendo

assim, uma alternativa de baixo custo. Esse tratamento pode ser realizado numa

ampla faixa de temperatura entre 25 – 130 ºC, durante horas ou até dias.

Dependendo da temperatura de trabalho, esse pré-tratamento remove

aproximadamente 33% da lignina (Rocha, 2010). Esse nível de remoção de lignina

em materiais que apresentam baixo conteúdo de lignina (gramas, algas) proporciona

elevada digestibilidade durante a hidrólise enzimática.

Segundo Rocha (2010), outra importante função dos álcalis após o pré-

tratamento dos lignocelulósicos é a possibilidade de remoção de inibidores formados

da degradação dos açúcares. Estes subprodutos incluem ácidos alifáticos,

furaldeídos e compostos fenólicos (furfural e hidroximetilfurfural) que estão contidos

no hidrolisado que posteriormente inibiriam o crescimento microbiano e a formação

de etanol durante a fermentação.

O pré-tratamento biológico resulta em parcial deslignificação da lignocelulose

usando microrganismos semelhantes a fungos e bactérias para degradar a lignina.

Durante o processo, estes microrganismos secretam enzimas extracelulares como

peroxidases e lacases que ajudam a remover uma quantidade considerável de

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lignina da biomassa. O pré-tratamento biológico também pode ser usado combinado

com outros processos. Este pré-tratamento é bem menos severo não requerendo

ácidos, altas temperaturas e nem grandes tempos (36 horas) (SILVA, 2010).

O pré-tratamento organosolvente consiste na mistura aquosa de solvente

orgânico com catalisador ácido (HCl ou H2SO4), essa mistura tem a função de

quebrar a estrutura da lignina e hemicelulose. Os solventes orgânicos mais usados

são: metanol, etanol, acetona, etileno, glicerol, entre outros. Para reduzir os custos

esses solventes devem ser drenados do reator, evaporados, condensados e

reciclados. Essa remoção se faz necessária, pois os mesmos podem ser inibitórios

ao crescimento dos microrganismos na posterior fermentação (SILVA, 2010).

AFEX (Ammonia Fiber Explosion) é um pré-tratamento combinado onde utiliza

amônia para promover uma maior exposição da celulose pela modificação da

lignina, o qual facilita o ataque enzimático. Além disso, a amônia pode ser

recuperada e reciclada devido a sua elevada volatilidade. Uma desvantagem desse

processo está relacionada ao elevado custo da amônia.

O pré-tratamento explosão de CO2 assemelha-se ao AFEX, diferindo na

utilização do fluido. Enquanto o pré-tratamento AFEX utiliza amônia para promover a

exposição da celulose, a explosão de CO2 utiliza o CO2 ocorrendo a formação de

ácidos e ocasionando a hidrólise da celulose. O ponto positivo desse processo é o

baixo custo comparado ao AFEX.

1. 7. Hidrólise de matéria-prima para a produção de biocombustível

O bioetanol vem sendo produzido pela hidrólise e fermentação de materiais

lignocelulósicos desde o fim do século XIX, mas somente nos últimos 20 anos essa

tecnologia tem sido proposta para atender o mercado de combustíveis.

As tecnologias para a obtenção de bioetanol com base em materiais

lignocelulósicos envolvem a hidrólise dos polissacarídeos da biomassa em açúcares

fermentescíveis e sua posterior fermentação para a produção do bioetanol. Para

executar essa tarefa, a hidrólise utiliza tecnologias complexas e multifásicas, com

base no uso de rotas ácidas e/ou enzimáticas para a separação dos açúcares e

remoção da lignina. Uma configuração genérica e simplificada do processo é

apresentada na Figura 7 (BNDES; CGEE, 2008).

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31

Figura 7 – Esquema do processo de produção de etanol por meio da hidrólise da

biomassa.

Fonte: BNDES; CGEE, 2008

1. 7. 1. Hidrólise da biomassa

Há basicamente três técnicas empregadas para a obtenção de açúcares

fermentescíveis para a produção de etanol, tais como: hidrólise com ácido

concentrado, hidrólise com ácido diluído e hidrólise enzimática. A Tabela 1

apresenta uma comparação entre as condições e o desempenho dos três processos

básicos de hidrólise.

Tabela 1 – Esquema comparativo entre as condições e o desempenho dos três

processos básicos de hidrólise.

Processo Insumos Temperatura Tempo Sacarificação

Ácido diluído < 1% H2SO4 215 ºC 3 min 50-70%

Ácido concentrado 30-70% H2SO4 40 ºC 2-6 h 90%

Enzimático Celulase 70 ºC 1,5 dia 75-95%

1. 7. 1. 1. Hidrólise com ácido concentrado

Esse processo envolve a hidrólise da hemicelulose. Soluções aquosas de

ácidos fortes (sulfúrico, clorídrico e fosfórico) atuam na quebra da celulose e da

hemicelulose presentes na biomassa, em baixas temperaturas.

Tipicamente, a fração de hemicelulose é hidrolisada mais rapidamente que a

fração de celulose, e os monossacarídeos liberados da hemicelulose são expostos

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no meio reacional por muito tempo, o que leva à degradação e perda desses

açúcares. A recuperação do ácido usado no processo é essencial por razões

econômicas e devido a problemas ambientais (RABELO, 2010).

1. 7. 1. 2. Hidrólise com ácido diluído

A celulose e a hemicelulose são hidrolisadas separadamente. A hemicelulose

hidrolisada pode ser removida após o primeiro passo da hidrólise. Desta forma, as

condições de hidrólise tanto para a hemicelulose quanto para a celulose podem ser

otimizadas. Porém, devido às altas temperaturas aplicadas no segundo passo

(aproximadamente 200°C), uma quantidade considerável de açúcares e lignina

solúvel é degradada, levando a uma inibição durante o processo de fermentação

(RABELO, 2010).

1. 7. 1. 3. Hidrólise enzimática

Nesse processo, a biomassa é pré-tratada a fim de favorecer o ataque da

enzima utilizada. Inicialmente, a hemicelulose é hidrolisada em um processo similar

ao que ocorre na hidrólise com ácido diluído. Já na etapa da hidrólise, propriamente

dita, as enzimas (celulases) promovem a quebra da celulose. Como as condições

são mais brandas, a quantidade de subprodutos liberada é menor e isso acarreta um

alto rendimento de açúcares fermentescíveis. Para uma maior conversão da

celulose, faz-se necessária altas concentrações de enzima aumentando o custo da

produção.

1. 8. Fermentação

No aspecto bioquímico, a fermentação alcoólica é realizada por leveduras e

outros microrganismos que fermentam a glicose para etanol e CO2. A glicose é

convertida a piruvato pela glicólise e o piruvato é convertido em etanol e CO2 em um

processo de duas etapas. Na primeira etapa, o piruvato é descarboxilado em uma

reação irreversível catalisada pela enzima piruvato descarboxilase. Esta reação é

uma descarboxilação simples e não envolvem a oxidação do piruvato. A enzima

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descarboxilase piruvato requer Mg2+ e tem como coenzima pirofosfato de tiamina.

Na segunda etapa, o acetaldeído é reduzido a etanol através da ação da enzima

álcool desidrogenase, com o poder redutor fornecidos pelo NADH derivados da

desidrogenação do gliceraldeído 3-fosfato (ROCHA, 2010).

Figura 8 – Via da fermentação alcóolica, onde a glicose é convertida a piruvato e

este convertido a etanol e CO2.

Fonte: www.sobiologia.com

Segundo Tosetto (2002), as leveduras são organismos eucarióticos e formam

uma das classes mais importantes dos fungos. As células de Saccharomyces

cerevisiae apresentam-se normalmente na forma unicelular e com 2 a 8 micrômetros

de diâmetro. Estas se reproduzem basicamente por brotamento, onde a célula mãe,

após um período de união entre os citoplasmas, dá origem a uma nova célula.

A levedura realiza a fermentação do açúcar objetivando obter energia

necessária para a sua sobrevivência, resultando, desse processo metabólico, um

subproduto, o etanol. Pesquisadores têm buscado novas técnicas para aumentar a

eficiência das leveduras na produção do etanol.

Durante o pré-tratamento empregado na hidrólise, há formação de uma série

de compostos que podem atuar como interferentes tanto no processo de hidrólise

quanto no processo de fermentação. Esses compostos e suas concentrações nos

hidrolisados vão depender do tipo de matéria-prima e das condições empregadas no

pré-tratamento. Os inibidores potenciais da fermentação encontram-se agrupados

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34

em três categorias que são (1) os derivados fenólicos; (2) os ácidos orgânicos

fracos, como o ácido acético e (3) os derivados furânicos que são o Furfural e o 5-

Hidroximetilfurfural - HMF (SANTOS E GOUVEIA, 2009).

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35

2. OBJETIVOS

2. 1. Geral

O presente trabalho objetivou avaliar o potencial fermentativo dos

polissacarídeos da macroalga marinha vermelha Hypnea musciformis visando a

produção de bioetanol.

2. 2. Específicos

Realizar hidrólise da alga marinha vermelha H. musciformis em condições

ácidas;

Determinar o rendimento de hidrólise ácida;

Determinar a composição monossacarídica dos hidrolisados da alga H.

musciformis por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência;

Determinar o teor de açúcares redutores dos hidrolisados da alga H.

musciformis;

Avaliar o potencial fermentescível dos hidrolisados da alga H. musciformis;

Produzir etanol a partir dos hidrolisados da alga H. musciformis por

Saccharomyces cerevisiae.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Coleta das algas marinhas

As algas marinhas vermelhas da espécie H. musciformis (Wulfen) J. V

Lamouroux (Rhodophyta, Gigartinales, Hypneacea) foram colhidas em cordas de

cultivo localizadas a aproximadamente 200 metros da costa, na praia de Flecheiras

(03º13´06´´S - 39º16´47´´W), município de Trairi, estado do Ceará, Brasil. A coleta

foi realizada com ajuda de um membro da Associação de Produtores de Algas de

Flecheiras e Guajiru (APAFG), a qual mantém parceria com o Laboratório de

Carboidratos e Lectinas (CARBOLEC) do Departamento de Bioquímica e Biologia

Molecular, da Universidade Federal do Ceará.

Após coletadas, as algas foram lavadas, secas ao sol e transportadas ao

laboratório, onde foram trituradas com auxílio de liquidificador.

Figura 9 – Localização da área de cultivo de algas, praia de Flecheiras – Ceará –

Brasil.

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37

3.2. Análise centesimal da alga H. musciformis

3. 2. 1. Umidade

O teor de umidade foi determinado em estufa a 105 oC por 24h. Sendo

calculado pela diferença entre os pesos inicial e final das amostras, valor expresso

em percentagem (NAGAKURA, 1972).

3. 2. 2. Proteínas totais

Para determinação da proteína total a análise foi realizada através do método

semi-micro Kjeldahl (PEARSON, 1973), utilizando-se o fator de 6,25 para conversão

do nitrogênio total em proteína bruta.

3. 2. 3. Lipídeos totais

O teor de lipídeos foi quantificado pelo método de Soxhlet, por um período de

quatro horas, utilizando etanol como solvente de extração. Para o cálculo do teor de

lipídeos totais foi baseado na equação 01.

(01)

3. 2. 4. Cinzas totais

A determinação de cinzas corresponde ao teor de minerais contidos na

amostra. 0,5 g de alga seca foi colocada em estufa a 60 ºC por 24 h. As amostras

foram pesadas em cadinhos de porcelana seco, limpos e em seguida armazenadas

em dessecador. Em seguida, as amostras foram incineradas em mufla a 550 ºC por

4 h.

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3. 2. 5. Carboidratos totais

O conteúdo de carboidratos totais foi determinado por diferença entre,

somando-se os teores de umidade, proteínas totais, lipídeos totais e cinzas totais.

3. 2. 6. Celulose

De acordo com o que foi descrito por Ge et al. (2011), o conteúdo de celulose

foi determinado através de duas etapas de hidrólise ácida. A primeira etapa foi

realizada a 4 ºC por 120 min contendo 3 mL de H2SO4 (72%) em 0,3g de alga seca.

Após esse tempo, adicionou-se 84 mL de deionizada e a segunda etapa foi realizada

a 121 ºC por 60 min. A solução foi filtrada, e o hidrolisado líquido foi analisado, por

CLAE, para o seu conteúdo monossacarídico. O cálculo para o teor de celulose foi

baseado na equação 02.

(02)

3. 3. Hidrólise ácida da alga H. musciformis

Pesou-se 5 g da alga seca de H. musciformis em balança analítica modelo

AND – HR – 200 (max 210 g; d = 0,1 mg), os quais foram colocados em erlenmeyer

de 250 mL. Em seguida, foram adicionados 100 mL de HCl nas concentrações de

0,0; 0,2; 0,5 e 1,0 M. As soluções foram autoclavadas a temperatura de 121 °C por

10, 20 e 30 minutos (Figura 10), gerando, portanto, 12 condições de hidrólise

denominadas segundo a Tabela 2.

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Figura 10 – Esquema da hidrólise ácida da alga marinha H. musciformis

Tabela 2 - Denominações das condições de hidrólise da alga H. musciformis em

função da concentração de HCl e tempo de reação.

Tempo de reação (min)

HCl (M)

10 20 30

0,0 0,0/10 0,0/20 0,0/30

0,2 0,2/10 0,2/20 0,2/30

0,5 0,5/10 0,5/20 0,5/30

1,0 1,0/10 1,0/20 1,0/30

Após resfriamento a temperatura ambiente, os homogenatos foram filtrados

em tecido nylon. Os resíduos foram secos em estufa a 40 °C e as fases líquidas,

denominadas hidrolisados (Figura 11), foram armazenadas a 4 °C para posteriores

dosagens dos teores dos açúcares redutores, glicose, galactose e fermentação para

a produção de bioetanol.

20 min 30 min

121 °C

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Figura 11 - Hidrolisado ácido da alga H. musciformis autoclavada a 121 ºC por 10;

20 e 30 min, na concentração 0,5M de HCl.

Fonte: autoria própria

3. 4. Ajuste do pH dos hidrolisados da alga H. musciformis

O pH dos hidrolisados foi ajustado para 5,0 com a adição de Ca(OH)2

(Hidróxido de cálcio) sob agitação constante, utilizando-se um pHmetro Tecnal (Tec -

3MP). Após o ajuste do pH, as soluções foram filtradas em duas etapas: a primeira

em tecido nylon e a segunda em papel de filtro.

3. 5. Análise de açúcar redutor

Os teores de açúcares redutores dos hidrolisados foram determinados pelo

método de Somogy-Nelson (1944), tendo a galactose como curva-padrão. As

absorbâncias foram medidas em espectrofotômetro a 540 nm.

3. 6. Eficiência da hidrólise ácida

Os resíduos obtidos após a filtração dos hidrolisados ácidos da alga foram

mantidos em estufa de secagem a 105 ± 1 °C, em cadinhos de porcelana até a

obtenção de peso constante dos mesmos. A eficiência da hidrólise ácida foi

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determinada com base nas massas inicial e residual da alga seca antes e depois da

hidrólise, respectivamente, segundo a Equação 03.

(03)

Onde:

EH = Rendimento de hidrólise

mi = Massa inicial de alga seca

mR = Massa do resíduo de alga após hidrólise

3. 7. Microrganismos e manutenção das culturas de células

Para os testes fermentativos foi utilizada a levedura Saccharomyces

cerevisiae proveniente de uma levedura comercial de panificação. As cepas foras

mantidas em meio sólido de crescimento Saboraud, da marca HIMEDIA, à

temperatura ambiente.

3. 8. Preparo do inóculo

O inóculo foi preparado através da transferência de três colônias da levedura

S. cerevisiae cultivada em meio Ágar-Saboraud para erlenmeyers de 250 mL

contendo 50 mL de caldo Saboraud estéril composto por glicose (40 g.L-1) e peptona

(10 g.L-1). Os erlenmeyers foram incubados por 24 horas à temperatura e agitação

constantes (30 ºC e 130 rpm, respectivamente) até a obtenção de uma leitura de

densidade ótica (D.O) de 1,0 a 630 nm.

3. 9. Fermentação do hidrolisado ácido

Com base nos teores de açúcar redutor e no rendimento de hidrólise das

condições testadas, a condição 0,5/20 reuniu os maiores teores de galactose e

glucose. Assim, ela foi selecionada para o ensaio de fermentação alcoólica

utilizando a levedura S. cerevisiae.

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Para o ensaio fermentativo, 10 mL do inóculo foram transferidos,

assepticamente, para erlenmeyers (250 mL) contendo 90 mL do hidrolisado ácido

0,5/20 da alga marinha H. musciformis, com pH previamente ajustado para 5,0 com

Ca(OH)2. O experimento foi realizado em triplicata e a fermentação conduzida sob

temperatura e agitação constantes à 30 °C e 130 rpm, respectivamente, por 52

horas. Alíquotas de 2 mL foram coletadas, assepticamente, em intervalos de 2 horas

para determinação da D.O. a 630 nm. Em seguida, elas foram centrifugadas à 4 ºC,

14.000 rpm por 5 minutos e o sobrenadante foi reservado para determinação dos

teores de glucose, galactose e etanol por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

(CLAE) com a finalidade de acompanhar a cinética do processo fermentativo.

3. 10. Determinação da composição em monossacarídeos e em etanol nos

hidrolisados

As análises dos teores de galactose, glicose e etanol foram realizadas na

Central Analítica do Laboratório de Bioengenharia do Departamento de Engenharia

Química da Universidade Federal do Ceará.

Os carboidratos (glucose e galactose) gerados pelos processos de hidrólise e

o etanol proveniente da fermentação foram determinados através de Cromatografia

Líquida de Alta Eficiência (CLAE) usando o sistema Waters CLAE (Waters, Milford,

MA, USA) equipado com detector de índice refrativo Waters 2414 e coluna Aminex

HPX-87H (Bio-Rad, Hercules, CA, USA). O eluente utilizado foi ácido sulfúrico em

água MiliQ (Simplicity 185, Millipore, Billeria, MA) 5 mM a uma taxa de fluxo 0,5 mL

min-1 a 65 ºC e tempo de corrida de 30 minutos. Os interferentes (ou inibidores) da

fermentação formados durante a hidrólise ácida também foram analisados por CLAE

com um tempo de corrida de 55 min.

Os açúcares e etanol foram identificados comparando-se os seus tempos de

retenção com os tempos de retenção dos padrões: glucose e etanol, ressaltando

que a coluna utilizada nesse experimento não é capaz de separar os

monossacarídeos galactose, xilose e arabinose. No entanto, como já é sabido que a

alga marinha H. musciformis, utilizada nesse trabalho, possui como polissacarídeo

majoritário galactana sulfatada considerou-se as concentrações de arabinose e

xilose desprezíveis. Com relação a determinação dos inibidores a comparação com

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os tempos de retenção padrão foram para furfural, hidroximetilfurfural, ácido acético

e ácido fórmico.

3. 11. Parâmetros cinéticos

As cinéticas das utilizações dos substratos (glicose e galactose), produção de

biomassa e etanol formado foram analisadas durante a fermentação alcoólica do

hidrolisado 0,5/20. Os parâmetros cinéticos velocidades específicas de crescimento

celular (µX); do consumo de substratos (µS1 para glucose e µS2 para galactose),

formação de etanol (µP) foram calculados segundo as equações de 04 – 07,

respectivamente:

(04)

(05)

(06)

(07)

Onde:

X = concentração de célula (g.L-1);

S1 = concentração de glucose (g.L-1);

S2 = concentração de galactose (g.L-1);

P = concentração de etanol (g.L-1).

Já os fatores de conversão de substrato (glicose + galactose) em biomassa

(YX/S) e em etanol (YP/S) e formação de etanol por biomassa (YP/X) foram estimados

segundo as equações 8 – 10, respectivamente:

(08)

(09)

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(10)

As produtividades em biomassa e etanol foram estimadas segundo as

equações 11 e 12, respectivamente.

(11)

(12)

Onde:

Xm = concentração de célula máxima (g.L-1).

X0 = concentração de célula inicial (g.L-1).

X = concentração de célula final (g.L-1).

Pm = concentração de etanol máxima (g.L-1).

P0 = concentração de etanol inicial (g.L-1).

S = concentração de substrato final (g.L-1).

S0 = concentração de substrato inicial (g.L-1).

tf = tempo final (h).

3. 12. Planejamento experimental e análise estatística

Os resultados obtidos na hidrólise da alga marinha H. musciformis foram

analisados no software STATISTICA versão 7.0, a fim de estimar os efeitos das

variáveis e suas interações sobre a resposta analisada em relação aos açúcares

(glucose e galactose) gerados nos hidrolisados. A Análise de variância (ANOVA) foi

aplicada para verificar a diferença significativa ao nível de 85%.

Um Planejamento Fatorial de 22, com dois pontos centrais, foi realizado a fim

de avaliar se a concentração do ácido clorídrico (0,2; 0,5 e 1,0 M) e o tempo (10, 20

e 30 min) de hidrólise influenciaram nas concentrações dos açúcares glucose e

galactose (variáveis respostas) segundo os níveis apresentados na Tabela 3.

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Tabela 3 – Valores e níveis das variáveis do Planejamento fatorial 22 levando em

consideração a concentração do ácido e o tempo, dos hidrolisados da alga H.

musciformis, na concentração dos açúcares (glucose e galactose) obtidos.

Variáveis Níveis

+1 0 -1

Concentração do ácido (M)

0,2 0,5 1,0

Tempo (min) 10 20 30

Outro software, Prisma versão 4.0, foi utilizado para avaliar se a concentração

do ácido, no mesmo intervalo de tempo, influenciou de forma significativa na

eficiência da hidrólise e nos teores de açúcares redutores. E para verificar se houve

diferença significativa foi aplicado o teste estatístico de Bonferroni ao nível de

confiança de 95% (p<0,05).

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4. 1. Composição centesimal da alga H. musciformis

Os teores de umidade, proteínas, cinzas, lipídeos, carboidratos totais e

carragenana da alga utilizada nesse experimento estão listados na Tabela 4.

Tabela 4 - Composição centesimal da alga H. musciformis.

Referências Espécie estudada

Umidade Proteínas Cinzas Lipídeos

Carboidratos totais

Sulfato Celulose/

amido Galactana

Presente trabalho

Hypnea musciformis

12,1 14,6 12,6 1, 3 11,4 48,0 20,2

KIM et al. 2011

Gelidium amansii

- 13,1 8,6 1,1 77,2

KHAMBHATY et al. 2012

Kappaphycus alvarezii

13,4 - - - 12,66 51,0 11,75

SAITO e OLIVEIRA,

1990

Hypnea musciformis

- - - - - 28,3 18,85

PARK et al. 2012

Gelidium amansii

- - - - 14,9 52,4 -

ARMAN E QUADER,

2012

Hypnea musciformis

10,8 - 15,3 - - - -

WI et al. 2009 Gelidium amansii

- - - - 53,4 -

A alga seca ao sol apresentou um teor de umidade de 12,1 %, proteínas

14,6%, cinzas 12,6%, lipídeos 1,3% e carboidratos totais de 59,4%, sendo 11,4% de

amido/celulose e 48% de carragenana. Tais resultados se mostraram semelhantes

aos obtidos por Kim et al. (2011), quando analisaram a composição química de uma

outra espécie de alga marinha vermelha (Gelidium amansii) a qual apresentou

13,1% de proteínas, 8,6 % de cinzas 1,1% de lipídeos e 77,2% de carboidratos.

Diante desses resultados foi possível observar que os carboidratos totais

representaram a maior porção dos componentes químicos dessas espécies de algas

marinhas vermelhas e que dentre esses carboidratos totais, que incluem

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polissacarídeos de reserva (amido) e estruturais (celulose e galactanas sulfatadas),

a maior porção se refere às galactanas sulfatadas (agaranas e/ou carragenanas)

como também observado por Khambhaty et al., (2012) para a alga Kappaphycus

alvarezii, cujos teores foram 51,0% de -carragenana e 12,6% de fibras. Resultados

semelhantes também foram obtidos por Park et al. (2012) em seus estudos sobre a

hidrólise ácida (H2SO4 2,0%) de 190 kg da alga G. amansii com o objetivo de avaliar

seu potencial como fonte promissora de carboidratos para produção de bioetanol

obtiveram 67,3% de carboidratos totais sendo 14,9% de celulose e 52,4% de ágar.

Já o teor de sulfato obtido no presente estudo está de acordo com Saito e Oliveira

(1990) que avaliando a composição química dos carboidratos sintetizados por

espécies de algas marinhas abundantes no litoral brasileiro, através da análise do

espectro de Infra-Vermelho, sugeriram que a espécie H. musciformis coletada nos

litorais de Itamaracá (PE), João Pessoa (PB), Recife (PE), Santa Cruz (ES) e

Ubatuba (SP) sintetizava provavelmente k-carragenana, apresentando teores de 3,6-

anidro-galactose e sulfato que variaram de 25,2 - 31,4 % e 17,6 - 20,1%,

respectivamente. De acordo com Arman e Quader (2012), analisando as galactanas

presentes no extrato bruto de H. musciformis sugeriram que as estruturas químicas

desses polissacarídeos correspondiam a -carragenana como carboidrato

majoritário, porém com pequenas porções de e -carragenanas. Uma análise mais

cuidadosa através do espectro de Infra-veremlho desse extrato mostraram fortes

bandas características de galactose-4-sulfato a 846,95 cm-1; 3,6-anidrogalactose a

928,92 cm-1 e sulfato a 1221,25 cm-1. Tais resultados corroboram para um teor mais

elevado de sulfato para o carboidrato de H. musciformis quando comparado com o

carboidrato de K. alvarezii, espécie de alga que também sintetiza -carraagenana e

que mostrou um teor de sulfato de 11,75% (KHAMBHATY et al., 2012).

Vale ressaltar que o elevado teor de carboidrato determinado para H.

musciformis também foi observado por Wi et al. (2009) que analisando a

composição química da alga marinha vermelha G. amansii obtiveram 53,4% de

carboidrato total, salientando-se o fato das algas marinhas possuírem quantidades

muito pequenas de lignina solúvel e não solúvel em ácido (3,2±0,3 % e 1,5±0,6%,

respectivamente), o que torna o processo de obtenção de bioetanol mais simples por

não promover a formação de carboidratos não fermentescíveis, além de compostos

furânicos que são inibidores do processo fermentativo.

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48

Ge et al. (2011) analisando o resíduo celulósico obtido a partir da extração de

alginato da alga Laminaria japonica, como fonte de carboidratos fermentescíveis

para produção de bioetanol, não encontraram teores de hemicelulose e lignina.

4. 2. Eficiência de hidrólise da alga H. musciformis em função da concentração

de HCl e tempo de reação.

As eficiências das diferentes condições de hidrólise da alga marinha H.

musciformis são mostrados na Figura 12. Foi possível observar que a menor

concentração de HCl utilizada associada ao menor tempo de hidrólise foi capaz de

solubilizar a estrutura algal, apresentando eficiência de 62,5%. Aumentos na

concentração do ácido, bem como no tempo não resultaram em aumentos

proporcionais no rendimento de hidrólise, no entanto a condição mais drástica de

hidrólise (1,0/30) mostrou eficiência de 71,9%. Já a média geral de eficiência foi de

72,2%.

Figura 12 - Eficiência de hidrólise da alga H. musciformis com base na massa seca

em função da concentração de HCl e tempo de reação.

De acordo com o teste estatístico de Bonferroni foram verificadas diferenças

significativas (p<0,05) apenas nas condições 0,2/10 e 0,5/10, sugerindo que o tempo

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49

e as concentrações de HCl testadas não mostraram influência na eficiência de

hidrólise, porém a condição 0,5/30 foi capaz de solubilizar 78,7% da estrutura algal.

4. 3. Açúcares redutores dos hidrolisados da alga H. musciformis

A Tabela 5 mostra os teores totais de açúcares redutores determinados nos

hidrolisados da alga marinha H. musciformis, bem como a quantidade de açúcares

redutores perdidos nos resíduos úmidos obtidos após filtração dos hidrolisados. O

menor e o maior teores de açúcares redutores totais obtidos nos hidrolisados da

alga H. musciformis foram 1,33 e 2,31 g para 0,2/10 e 1,0/30, respectivamente.

Observou-se ainda que as maiores concentrações de açúcares redutores (1,60; 2,00

e 2,31 g) e os maiores volumes recuperados (74, 78 e 84 mL) foram gerados nos

hidrolisados com 1,0 M de HCl (1,0/10; 1,0/20 e 1,0/30). Já as maiores perdas de

açúcares redutores (0,67; 0,79 e 0,81 g) foram observadas para os hidrolisados

submetidos a um maior tempo de reação (0,2/30; 0,5/30 e 1,0/30) chegando a

representar (26,07; 27,00; 25,97%) dos açúcares redutores totais. Esses resultados

sugerem a necessidade de uma metodologia de filtração mais eficiente que reduza

as perdas de açúcares redutores no resíduo úmido.

Khambhaty et al. (2012) analisando a produção de bioetanol a partir do

resíduo da alga K. alvarezii, obtido após extração do extrato algal (biofertilizante),

verificaram um rendimento de sacarificação de 26,2% em escala laboratorial

utilizando H2SO4 0,9 M. Verificaram ainda perdas de 16,1% de açúcares redutores

no resíduo úmido para escala laboratorial.

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50

Tabela 5 – Teores de açúcares redutores obtidos nos hidrolisados e perdidos nos

resíduos úmidos da alga H. musciformis

Hidrolisados

Volumes

totais dos

hidrolisados

recuperados

(mL)

Concentrações

de açúcares

redutores (g.L-

1) e quantidade

absoluta (g)

Açúcares

redutores

perdidos no

resíduo (g)

Açúcares

redutores

perdidos no

resíduo úmido

(%)

0,2/10 72 1,85(1,33) 0,52 28,11

0,5/10 74 2,25(1,67) 0,58 25,78

1,0/10 78 2,05(1,60) 0,45 21,95

0,2/20 73 2,15(1,57) 0,58 26,98

0,5/20 72 2,44(1,76) 0,68 27,87

1,0/20 84 2,38(2,00) 0,38 15,97

0,2/30 74 2,57(1,90) 0,67 26,07

0,5/30 72 2,83(2,04) 0,79 27,92

1,0/30 74 3,12(2,31) 0,81 25,97

Os teores de açúcares redutores dos nove hidrolisados da alga marinha H.

musciformis são apresentados na Figura 13. Foi possível observar que dentre as

condições de hidrólise testadas a maior concentração do ácido (1,0 M) foi capaz de

gerar teores de açúcares redutores variando de 20,5 a 31,3 g.L-1. A condição de

hidrólise ácida mais branda (0,2 M), gerou teores de açúcares redutores variando de

18,5 a 25,7 g.L-1. Já a condição de hidrólise ácida intermediária (0,5 M) apresentou

teores de açúcares redutores variando de 22,5 a 28,4 g.L-1. O tempo de hidrólise não

influenciou na formação desses açúcares redutores não apresentando diferença

significativa entre as médias dos teores de açúcares redutores (p<0,05) dos

hidrolisados em diferentes concentrações de ácido no mesmo tempo de reação.

Porém, foram observadas diferenças significativas (p<0,05 e p<0,01) entre os teores

de açúcares redutores dos hidrolisados 0,2/10 - 0,5/30; 0,5/10 - 1,0/30; 1,0/10 -

0,5/30 e 0,2/10 - 1,0/30; 1,0/10 - 1,0/30, respectivamente.

No presente trabalho, o rendimento médio dos açúcares redutores nos

hidrolisados com base na alga seca foi de 54,8%. Resultado inferior de rendimento

de açúcares redutores (21,1%) foi observado por Meinita et al. (2012) quando

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51

avaliaram o efeito da concentração de K. alvarezii sobre a produção de açúcares

redutores utilizando HCl como catalisador da hidrólise, onde foi verificado a

formação máxima de 25,32 g.L-1 de açúcares redutores a uma concentração de 12%

de alga, a 0,2 M de HCl a 130 ºC por 15 min.

Khambhaty et al. (2012) obtiveram, no final do quinto ciclo de re-extração da

alga K. alvarezii, 65,6 g de açúcares redutores, isso levando em consideração a

perda de açúcares redutores total no resíduo (11,6 g).

Estes resultados sugerem que as condições mais drásticas de hidrólise

promoveram uma diminuição nos teores de açúcares redutores através da

desidratação dos monossacarídeos e consequente formação de compostos

furânicos (SANCHEZ, 1988).

Figura 13 – Teores de açúcares redutores dos hidrolisados da alga H. musciformis.

4. 4. Teores de carboidratos (dissacarídeos e manossacarídeos) dos

hidrolisados da alga H. musciformis.

Os teores dos monossacarídeos (glucose e galactose) dos hidrolisados estão

apresentados na Figura 14. Foi possível observar em todos os hidrolisados a

presença de glucose e galactose em concentrações que variaram de 3,4 – 4,7 e 7,4

– 10,8 g.L-1, respectivamente. A condição de hidrólise 1,0/20 apresentou os maiores

teores de glucose e galactose (15,5 g.L-1) representando um rendimento de 31%

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52

com base na massa seca da alga. No entanto, a condição selecionada para o

experimento de fermentação (0,5/20) apresentou um teor de monossacarídeos

(glicose e galactose) de 14,8 g.L-1, que apesar das condições de hidrólise mais

brandas, apresentou um rendimento (29,6%,) semelhante ao obtido para o

hidrolisado 1,0/20. Já os maiores rendimentos de monossacarídeos solúveis obtidos

por Kim et al. (2011) para a alga G. amansii hidrolisada em concentrações molares

de ácido HCl 0,1 M e H2SO4 0,2 M foram de 11,6 e 9,8%, respectivamente.

Os resultados obtidos nesse trabalho também foram superiores aos relatados

por Meinita et al. (2012) quando realizaram a hidrólise ácida de 10% (m/v) da alga

Kappaphycus alvarezii em solução ácida de HCl 0,2 M a 130 ºC por 15 min e

obtiveram teores de monossacarídeos de 13,5 g.L-1 , representando um rendimento

de 13,5%. Ge et al. (2011), utilizando pré-tratamento ácido do resíduo celulósico de

L. japonica proveniente da extração de alginato, obtiveram o rendimento máximo de

27,8% de glicose com base na massa do resíduo para a condição de hidrólise

H2SO4 0,1%; 121 ºC; 1 h.

Figura 14 – Teores de carboidratos (dissacarídeos e monossacarídeos) dos

hidrolisados ácidos da alga H. musciformis.

Vale ressaltar que quando a alga H. musciformis foi submetida as mesmas

condições de hidrólise (121 ºC por 10, 20 e 30 min) na ausência do HCl foi verificada

gelificação do meio (Figura 15), resultado característico da solubilização da

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53

carragenana e evidente manutenção da integridade molecular desse polissacarídeo,

inviabilizando a determinação dos teores de carboidratos.

Figura 15 – Gelificação da solução da alga H. musciformis submetida a

autoclavagem a 121 ºC por 10, 20 e 30 min na ausência de HCl.

Fonte: autoria própria

4. 5. Influência da concentração do ácido e do tempo de reação na obtenção de

glucose e galactose nos hidrolisados da alga H. musciformis

A metodologia de análise de superfícies de respostas pode ser executada

para otimização do experimento. Neste sentido, otimizar significa encontrar os

valores das variáveis (concentração do ácido e tempo de reação) que irão produzir a

melhor resposta desejada (maior concentração de glucose e galactose), isto é,

encontrar a região ótima na superfície definida pelos fatores. A metodologia de

superfície de resposta baseia-se na construção de modelos matemáticos empíricos

que geralmente empregam funções polinomiais lineares ou quadráticas para

descrever o sistema estudado e, consequentemente, dão condições de explorar

(modelar e deslocar) o sistema até a sua otimização. Um planejamento experimental

construído para estimar coeficientes, segundo algum modelo aproximado, reúne

certos critérios desejáveis, sendo os principais: proporcionar boas estimativas para

todos os coeficientes, exigindo poucos experimentos além de fornecer condições de

avaliação dos coeficientes e do modelo, ou seja, da regressão e da falta de ajuste.

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54

Planejamentos fatoriais de dois níveis, completos ou fracionários, podem estimar

apenas efeitos principais e interações (TEÓFILO E FERREIRA, 2006).

A Tabela 6 apresenta as concentrações de glucose e galactose obtidas nos

hidrolisados da alga H. musciformis, considerando as variáveis concentração do

ácido clorídrico e tempo de reação.

Tabela 6 – Concentrações e tempos de reação de glucose e galactose dos

hidrolisados da alga H. musciformis obtidos através da CLAE e de acordo com o

planejamento experimental.

GLUCOSE GALACTOSE

Concentração

do ácido (M)

Tempo

(min)

Concentração

(g.L-1)

Concentração

do ácido (M)

Tempo

(min)

Concentração

(g.L-1)

0,2 10 3,17 0,2 10 7,25 1 10 4,31 1 10 10,84

0,2 30 4,07 0,2 30 8,89 1 30 4,38 1 30 9,98

0,5 20 4,36 0,5 20 10,23 0,5 20 4,62 0,5 20 10,72

Os gráficos de Pareto (Figuras 16 e 17) mostram os efeitos padronizados de

cada variável independente (concentração de HCl e tempo de reação), bem como os

de suas interações sobre a variável dependente (concentração de glucose e

galactose) nos hidrolisados de H. musciformis permitindo visualizá-los grafica e

numericamente. Nestes gráficos, os efeitos são representados por barras e quando

elas ultrapassam o valor de p = 0,15 conclui-se que as variáveis independentes

apresentaram efeito significativo estatisticamente com um nível de confiança de 85%

sobre a variável resposta analisada.

De acordo com a Figura 15 observou-se que nenhuma das variáveis

independentes (concentração de HCl e tempo de reação) foi significativa (p>0,15),

na faixa de valores estudados, para incrementar a concentração de glucose formada

nos hidrolisados da alga H. musciformis. No entanto, essas variáveis apresentaram

efeitos positivos (3,448 e 2,638, respectivamente) na formação de glucose, exceto a

interação entre elas (concentração do ácido:tempo) que apresentou um efeito

negativo (-2,257).

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55

Figura 16 – Gráfico de Pareto para a concentração de glucose como variável

resposta.

Já a concentração de galactose foi influenciada pela concentração do ácido,

apresentando um efeito significativo (p<0,15) e positivo (6,096) na faixa estudada, ou

seja, quanto maior a concentração de HCl maior foi a concentração de galactose

formada nos hidrolisados da alga H. musciformis. Semelhante ao observado para

glucose, o tempo de reação também não apresentou influência sobre a formação de

galactose (1,126), bem como a interação entre as variáveis independentes a qual

mostrou efeito negativo (-3,607) sobre a formação desse monossacarídeo.

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56

Figura 17 – Gráfico de Pareto para a concentração galactose como variável

resposta.

Segundo Teófilo e Ferreira (2006) o modelo obtido a partir desse

planejamento experimental pode não ser exatamente aquele que descreve a região

estudada do sistema e, neste caso, não pode ser usado para fazer estimativas para

deslocamento e muito menos para extrair conclusões sobre a região ótima. A

maneira mais confiável de se avaliar a qualidade do ajuste do modelo é empregando

a Análise de variância (ANOVA). Através das Análises de variância (ANOVA) é

possível observar os valores dos desvios quadráticos provocados em cada variável

(Soma quadrática – SQ) e seus graus de liberdade correspondentes (GL). A partir

desses parâmetros são calculadas as médias quadráticas (MQ), que divididas pelos

erros puros experimentais, permitem a determinação dos parâmetros F e,

subsequentemente, do p-valores, utilizados na verificação da hipótese nula. Altos

valores dos parâmetros SQ, MQ e F, geradores dos p-valores <0,15, indicam uma

influência significativa das variáveis independentes sobre a variável resposta.

As Tabelas 7 e 8 de ANOVA apresentam os valores de Fcal para as formações

de glucose e galactose, respectivamente, nos hidrolisados de H. musciformis frente

as concentrações de HCl e tempos de reação estudados. O valor do Fcal (13,82)

para a concentração de glucose como variável resposta, foi menor que o Ftab

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57

(24,58), logo o modelo não se ajustou significativamente. Já para a concentração de

galactose como variável resposta, o valor de Fcal (25,38) foi superior ao Ftab (24,58),

porém aproximado, sugerindo que o modelo não foi significativo.

Portanto, estes resultados sugerem que novos parâmetros devem ser

considerados como variáveis independentes (temperatura de hidrólise e faixas mais

amplas de concentração de ácido) para gerar dados que possam ser mais

significativos na formação de glucose e galactose nos hidrolisados da alga H.

musciformis, bem como na construção de um modelo matemático capaz de

representar e extrair uma condição ótima de hidrólise.

Tabela 7 – ANOVA para a concentração de glucose como variável resposta.

Fonte de variação

Soma quadrática

Graus de liberdade

Média quadrática

Fcal

Regressão 1,276483 4 0,31912083 13,82

Resíduo 0,50107 2 0,25053

Falta de ajuste

(FA) 0,46727 1 0,46727

Erro puro (EP) 0,03380 1 0,0380

Total 1,31028 5

R2 0,6176

Ftab

(85% de

confiança)

aF(4,1)=24,58

a Fcalc para a falta de ajuste = MQFA/MQEP

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58

Tabela 8 – ANOVA para concentração de galactose como variável resposta.

Fonte de variação

Soma quadrática

Graus de liberdade

Média quadrática

Fcal

Regressão 9,22383333 4 2,30595833 25,38

Resíduo 3,167568 2 1,583784

Falta de ajuste

(FA) 3,047518 1 3,047518

Erro puro (EP) 0,120050 1 0,120050

Total 1,31028 5

R2 0,66

Ftab

(85% de

confiança)

aF(4,1)=24,58

a Fcalc para a falta de ajuste = MQFA/MQEP

4. 6. Teores de ácido acético (inibidor de fermentação)

No presente estudo analisou-se, por CLAE, a formação dos inibidores da

fermentação gerados na hidrólise ácida da alga H. musciformis. Em todos os

hidrolisados foram observados a presença dos inibidores furfural e ácido acético. A

Figura 18 apresenta os teores de ácido acético nos hidrolisados da alga H.

musciformis, neutralizados e não-neutralizados com Ca(OH)2.

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Figura 18 - Concentrações do ácido acético formado durante a hidrólise ácida da

alga H. musciformis.

A concentração de ácido acético variou de 0,02 a 4,71 g.L-1 e de 0,45 a 9,07;

nos hidrolisados neutralizados e não-neutralizados, respectivamente, mostrando

uma diminuição na concentração desse inibidor quando os hidrolisados foram

neutralizados com Ca(OH)2 (Figura 19). Yazdani et al. (2011) avaliando a conversão

de celulose e hemicelulose em açúcares monoméricos da alga Nizimuddinia

zanardini observaram a presença de inibidores durante a hidrólise (7% H2SO4; 60

min), onde a concentração máxima de ácido acético foi de 31,8 g/Kg. Nos estudos

de Rocha et al. (2011), a hidrólise do bagaço de caju com ácido sulfúrico diluído

formou uma concentração de ácido acético de 2,73 g.L-1.

A condição de hidrólise (0,5/20) não-neutralizada da alga H. musciformis

apresentou uma baixa concentração de ácido acético, a qual ainda sofreu

diminuição quando neutralizada com Ca(OH)2. Por esse fato, aliado a uma boa

eficiência de hidrólise e ao alto teor de açúcar redutor essa condição foi selecionada

para ser fermentada por S. cerevisiae para a obtenção de etanol.

Com relação aos compostos furânicos, o furfural apresentou concentração

média, nos hidrolisados da alga H. musciformis, de 1,75 g.L-1 e concentrações de

HMF não foram observadas. Nos estudos de Yazdani et al. (2011), mencionado

anteriormente, a concentração de furfural foi de, aproximadamente, 0,83 g/kg e

concentrações de HMF não foram detectadas em todo o experimento.

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60

Hargreaves et al. (2013) avaliaram a remoção de HMF nos hidrolisados de K.

alvarezii para a produção de etanol utilizando carvão ativado, onde obtiveram a

diminuição na concentração de HMF de 35 para 1,5 g.L-1.

4. 7. Cinética fermentativa e produção de etanol a partir do hidrolisado (0,5/20)

da alga H. musciformis

A cinética fermentativa do hidrolisado 0,5/20 de H. musciformis está mostrada

na Figura 19. Diante dos resultados obtidos foi possível observar que ambos os

monossacarídeos (glicose e galactose) foram consumidos simultaneamente, no

entanto esse consumo só foi iniciado após 7 horas de fermentação, sendo que após

52 h de experimento 82,5% da glucose e 72% da galactose já tinham sido

consumidas. Vale ressaltar ainda que não foi verificado crescimento acentuado da

biomassa (S. cerevisiae), uma vez que a diferença entre as concentrações inicial e

final foi de 0,4 g.L-1.

Rocha et al. (2011) em seus estudos sobre a produção de etanol a partir do

bagaço de caju (biocombustível de 2ª geração) produziram 8,0 g.L-1 de etanol após

24 h de fermentação quando a levedura Kluyveromyces marxianus consumiu

completamente a glucose presente no meio. Resultado semelhante foi observado no

presente estudo quando a levedura S. cerevisiae, após 29 h de fermentação, já

havia consumido a glucose presente no meio, obtendo uma produção de 5,3 g.L-1 de

etanol.

Figura 19 – Cinética fermentativa do hidrolisado (0,5/20) da alga H. musciformis pela

levedura S. cerevisiae.

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61

Já a produção máxima de etanol, no presente estudo, foi de 5,3 g.L-1 após 52

h de fermentação, representando uma eficiência fermentativa de 50% do volume de

produção teórico do etanol, evidenciando assim a habilidade da S. cerevisiae em

fermentar a galactose proveniente da matéria-prima algácea com um rendimento de

0,1 g de bioetanol/g de alga seca. Esses resultados permitiram calcular as

produtividades em biomassa e etanol, bom como os fatores de conversão de

substrato em biomassa e etanol e etanol por biomassa, os quais estão mostrados na

Tabela 9.

Tabela 9 – Fatores de conversão (Y) e produtividade (P) obtidos nos ensaios

fermentativos do hidrolisado (0,5/20) da alga H. musciformis.

YX/S YP/S YP/X PX (g.L-1.h-1) PP (g.L-1.h-1)

0,030 0,315 0,08 0,008 0,100

Os resultados obtidos mostraram que a conversão de substrato em biomassa

(YX/S) foi de 0,03, isto é, 0,03 g de célula foi produzida por grama de substrato. Já a

conversão de etanol por biomassa (YP/X) apresentou um valor de 0,08, ou seja, 0,08

g de etanol foi produzido por grama de célula e a conversão de substrato em etanol

(YP/S) foi de 0,315, significando dizer que 0,315 g de etanol foi produzido por grama

de substrato.

Quanto às produtividades em biomassa e em etanol, foram verificados valores

de 0,008 g.L-1.h-1 e 0,100 g.L-1.h-1, respectivamente.

Hargreaves et al. (2013) avaliaram duas estratégias para a produção de

etanol de 3ª geração a partir de K. alvarezii. A primeira tratou da produção de etanol

em uma única etapa: sacarificação ácida seguida de enzimática de 33,3% (m/m) de

alga seca e co-fermentação (S. cerevisiae CBS1782) da fração líquida e do resíduo

do pré-tratamento. Já a segunda tratou da produção de etanol em duas etapas:

fermentação da fração líquida rica em galactose (81,5 g.L-1) e sacarificação e co-

fermentação do resíduo do pré-tratamento. Os resultados mostraram produções

máximas de 64 g.L-1 de etanol para a primeira estratégia e 38 e 53 g.L-1 para a

segunda estratégia totalizando 91 g.L-1. Obtiveram ainda uma taxa de conversão de

0,457 g de etanol/g de substrato consumido. Diante dos resultados foi possível

calcular a possibilidade de obtenção de 105 L de etanol por tonelada de alga seca.

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62

Ge et al. (2011) em seus estudos sobre a sacarificação do resíduo da extração

de alginato da alga L. japonica verificaram que a 0,1% de H2SO4 a 121 ºC por 1,0 h

seguido de hidrólise enzimática (celulase e celobiase) a concentração de glicose

alcançou seu valor máximo (277,5 mg/g de resíduo) e uma taxa de conversão de

celulose de 92,5%. Após rotaevaporação e a concentração de glucose no

hidrolisado foi para 34 g.L-1 e após fermentação por S. cerevisiae foi observado um

rendimento máximo de 14,0 g.L-1 de etanol representando uma taxa de conversão

de 41,2% e um rendimento teórico de 80,8%. Esse resultado demonstrou que 0,143

L de etanol poderia ser produzido a partir da utilização de 1 Kg de resíduo de alga

processada.

Em um outro estudo sobre a sacarificação da alga L. japonica, Kim et al.

(2011) observaram que a bactéria Escherichia coli KO11 recombinante era capaz de

produzir etanol 25,8 g.L-1 após 116 h de fermentação a partir de um hidrolisado de

180 g da alga com HCl 0,1 N, a 121ºC por 15 min, rico em manitol (90 g.L-1),

representando uma taxa de conversão de 0,41 g de etanol/g de manitol.

Lee e Lee (2012) avaliando a fermentação do manitol por diferentes leveduras

observaram que a S. cerevisiae (KCCM50550) foi hábil em produzir 2,7 g.L-1 de

etanol a partir de 10 g.L-1 de manitol.

Estudos de parâmetros cinéticos na produção de etanol a partir de biomassa

algácea (biocombustível de 3ª geração) ainda são escassos na literatura o que levou

a comparações com bioetanol de 2ª geração produzido a partir de bagaço de caju

por K. marxianus onde foi observado produtividade de etanol de 0,13 g.L-1.h-1.e uma

taxa de conversão de 0,231 g de etanol/g de substrato (ROCHA et al., 2011).

A Figura 19 apresenta as velocidades de crescimento (µX), consumo do

substrato - µS1 (glucose); µS2 (galactose) , e produção de etanol (µP) durante a

fermentação por S. cerevisiae do hidrolisado 0,5/20 da alga H. musciformis. As

velocidades específicas de consumo de substrato e formação de etanol

apresentaram comportamento típico de uma fermentação alcoólica.

As velocidades específicas de consumo do substrato (µS) e produção de

etanol (µP) apresentaram perfis similares, uma vez que esses parâmetros possuem

uma correlação direta. Nos resultados expostos na Figura 18, a formação de etanol

não mostrou-se associada ao crescimento da levedura, mas ao consumo do

substrato.

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O perfil da Figura 20 apresenta certa similaridade com o obtido por Rocha et

al. (2011) quando estudaram os mesmos parâmetros cinéticos na fermentação do

bagaço de caju por Kluyveromyces marxianus CE025.

Figura 20 – Velocidades específicas de crescimento (µX), dos substratos µS1

(glucose) e µS2 (galactose) e da produção de etanol (µP) durante a fermentação do

hidrolisado da alga marinha vermelha H. musciformis (0,5/20) por S. cerevisiae.

Nas primeiras horas de fermentação, foi observado uma maior velocidade de

consumo dos substratos acompanhado da velocidade de produção de etanol.

Próximo a 10ª hora de fermentação a velocidade de consumo do substrato µS1

(glucose) diminuiu em virtude da diminuição da sua concentração, diferente do que

foi observado para o substrato µS2 (galactose). Nessa fase, enquanto a galactose

está sendo consumida devagar, há um aumento na velocidade de crescimento

celular. Isso sugere que, com a diminuição de glucose no meio fermentativo, o

microrganismo adpatou-se ao meio contendo galactose, utilizando esse

monossacarídeo não mais para produzir etanol, mas sim para o seu crescimento

celular.

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5. CONCLUSÃO

Diante dos resultados obtidos concluiu-se que a alga marinha vermelha H.

musciformis, abundante no litoral cearense, mostrou-se uma potencial fonte

renovável de biomassa para a produção de bioetanol. No entanto, demais estudos

são necessários para otimizar e aperfeiçoar o processo produtivo de bioetanol a

partir desses organismos.

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