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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA ARTHUR CLAUDIO RODRIGUES DE SOUZA CONTRIBUIÇÃO PARA O USO DA GOMA DE CAJUEIRO COMO UM INSUMO INDUSTRIAL FORTALEZA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA

ARTHUR CLAUDIO RODRIGUES DE SOUZA

CONTRIBUIÇÃO PARA O USO DA GOMA DE CAJUEIRO COMO UM INSUMO INDUSTRIAL

FORTALEZA 2014

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ARTHUR CLAUDIO RODRIGUES DE SOUZA

CONTRIBUIÇÃO PARA O USO DA GOMA DE CAJUEIRO COMO UM INSUMO INDUSTRIAL

Dissertação submetida à Coordenação do Programa de Pós-graduação em Engenharia Química da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Química. Área de Concentração: Desenvolvimento de Processos. Orientadora: Dra. Henriette M. C. de Azeredo Co-orientador: Dr. Fabiano A. N. Fernandes

FORTALEZA 2014

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CONTRIBUIÇÃO PARA O USO DA GOMA DE CAJUEIRO COMO UM

INSUMO INDUSTRIAL Dissertação submetida à apreciação da banca examinadora do Programa de Pós-graduação em Engenharia Química da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Química. Área de concentração: Desenvolvimento de Processos. A citação de qualquer trecho desta dissertação é permitida desde que seja feito em conformidade com as normas da ética científica. Aprovada em 06 / 06 / 2014.

_________________________________

Arthur Claudio Rodrigues de Souza

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Dr. Fabiano André Narciso Fernandes (Co-Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________ Dr. Edy Sousa Brito

Universidade Federal do Ceará (UFC) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

___________________________________________ Dr. Renato de Azevedo Moreira

Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

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Dedico a Deus pela presença

constante. Dedico a meus pais, Raimundo

Rebouças de Souza e Maria Zuila

Rodrigues de Souza, e a Padre Gothardo

Thomaz de Lemos por todo o esforço,

apoio e incentivo a meus estudos no

passado. Dedico aos meus filhos Pedro, Lia

e Larissa e à minha enteada Rayssa como

apoio e incentivo no futuro. Dedico a

Claudinha pelo apoio, incentivo e

companheirismo incomensuráveis no

presente.

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“Quem conhece toda a teoria, e não

conhece a prática, não conhece toda a

teoria.” (Millikan)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS por permitir esta conquista, por cuidar de mim e dos meus.

A meu pai e minha mãe, Raimundo Rebouças de Souza e Maria Zuila Rodrigues

de Sousa, motorista e dona de casa, que, mesmo sem concluírem o ensino básico e sem

recursos financeiros, dedicaram a vida a proporcionar oportunidades de educação aos

filhos.

Ao padre Gothardo Thomaz de Lemos que desde o tempo do “puraqui” esteve

presente em nossa casa, que generosamente muito ofertou sem esperar retorno ou

mesmo reconhecimento ou agradecimento, porque apenas fazia por amor cristão, como

fez a tantos outros.

À minha mulher Ana Claudia Pereira pelo companheirismo, suporte, paciência,

compreensão, tolerância com minhas faltas, ajuda e cuidados, em especial, nesta fase,

com o Pedro.

Aos meus irmãos Alexandre e Augusto pelo amor e compreensão durante esta

etapa.

A Pedro, Lia, Larissa e Rayssa por toda a alegria e bondade em cada gesto e pela

motivação que são.

À Dra. Henriette Azeredo pela integridade do caráter, por ser voz ativa, corajosa

e amiga no silêncio de outros, sem fazê-lo em troca de nada, mas sim por princípios e

probidade. Sem ela nada disto seria possível.

Ao Dr. Edy Brito pela valorosíssima, decisiva e imprescindível orientação e

encaminhamentos além do que caberia a um conselheiro acadêmico.

Ao Dr Fabiano Fernandes por ter aceitado participar deste processo, pelos

ensinamentos e críticas que foram muito úteis.

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Ao Dr. Renato Moreira por ter aceitado o convite para ser membro da banca

examinadora, pelos ensinamentos e sugestões tão pertinentes em tão curto convívio.

À Dra. Morsyleide Rosa pela bondade e suavidade dos sábios ao corrigir e

orientar, pela empatia e carinho, pela grandeza de verdadeiramente desejar o sucesso de

outrem.

Ao amigo Marcelo Victor Lima pela parceria neste mestrado.

Ao Dr. Kirley Canuto e Dra Lorena por disporem tempo e seus conhecimentos

para as análises de RMN.

Ao Dr. Luiz Veras pela força da amizade.

Ao Dr. Calixto Lima pelo ensinamento através do exemplo.

Ao Dr. Men de Sá pelo apoio e incentivo.

Ao Dr. Gustavo Saavedra por saber advertir, corrigir, apontar caminhos e

motivar.

À Dra. Tigressa Rodrigues por toda a ajuda, prestimosidade e simpatia no trato.

Ao Dr. Fernando Abreu pelo incentivo e ajuda na ilustração do trabalho.

Aos inúmeros colegas da Embrapa que fizeram parte desta caminhada.

A todos os membros do laboratório de polímeros do Departamento de Química

da UFC, muito especialmente a Rayane Rodrigues e a Dra. Judith Feitosa.

À EMBRAPA por proporcionar esta oportunidade, aos chefes embrapianos à

época do processo seletivo para pós-graduação, Dr Pedro, Dr. Vitor, Dr. Claudio e Dra.

Andrea, aos membros do CTI pelo voto de aprovação e amigos que preferem o

anonimato pelo apoio.

Nada fiz sozinho. Em tudo precisei e em muitos encontrei ajuda, sobretudo em

Ana Claudia Pereira.

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RESUMO

Gomas são amplamente utilizadas em processos industriais. As gomas são

polímeros de alto peso molecular e podem ser provenientes de algas, sementes, animais

ou microrganismos. A indústria de alimentos faz uso desses polímeros, principalmente

goma arábica, para atribuir aos seus produtos algumas características necessárias à sua

melhor qualidade, através de modificações e controle de viscosidade, estabilidade,

textura, durabilidade e consistência. A goma de cajueiro apresenta-se como uma

possível sucedânea à goma arábica e esta possibilidade vem sendo investigada com

resultados muito promissores. Entretanto, não há metodologia ou estudo para a

produção em larga escala de goma de cajueiro. Todos os métodos trabalhados são

descritos para a escala de laboratório. O presente trabalho se propõe a trazer

contribuições para a produção em larga escala de goma de cajueiro e avaliações da

composição e propriedades relevantes da goma que possam ser afetadas por tratamentos

térmicos durante o processamento industrial. Portanto, este trabalho consistiu na

avaliação de parâmetros para a produção contínua e automatizada da goma de cajueiro,

a qual apresentou a etapa de solubilidade e separação da parte insolúvel como principal

obstáculo no processo. Além disso, a goma purificada foi submetida a tratamentos

térmicos e comparada à goma purificada sem tratamento térmico como modo de

observar possíveis mudanças estruturais em decorrência de produção ou usos industriais

da goma de cajueiro. Os resultados mostraram estabilidade da goma nas condições de

teste, composição semelhante à goma arábica, comportamento pseudoplástico com platô

newtoniano a 3,3 mPa.s em solução a 5%, altos teores de arabinose e ácido glicurônico

e baixos teores de galactose quando comparados a valores relatados na literatura para

goma de cajueiro do Brasil.

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ABSTRACT

Gums are widely used in industrial processes. The gums are high molecular

weight polymers and may be derived from algae, seeds, animals or microorganisms.

The food industry makes use of these polymers to assign some of their products for their

best quality characteristics through changes and control of viscosity, stability, texture,

durability and consistency. The cashew tree gum is presented as a possible substitute for

gum arabic and studies have brought very promising results. However there is no study

or methodology for large scale production of cashew tree gum. All methods are

described for laboratory scale. This paper aims to bring contributions to large-scale

production of cashew tree gum and reviews the composition and relevant properties of

the gum which can be affected by heat treatments during the manufacturing process.

Therefore, this study was the evaluation of parameters for continuous and automated

production of cashew tree gum, which presented the step of solubility and separation of

insoluble part as the main obstacle in the process. Furthermore, the gum was purified

and subjected to heat treatment compared to the purified gum without heat treatment so

as to observe possible structural changes due to production or industrial uses of cashew

tree gum. The results showed the gum stability under the test conditions. The

composition of cashew gum is similar to gum arabic. A 5% solution shows shear

thinning behavior and Newtonian plateau at 3.3 mPa.s The cashew gum has high levels

of arabinose and glucuronic acid and low levels of galactose when compared to values

reported in the literature for cashew gum from Brazil.

Keywords: cashew tree gum; manufacturing process; production.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1- Sistema utilizado para processamento de goma de cajueiro .......... 42

FIGURA 2- Solubilidade de goma de cajueiro................................................... 46

FIGURA 3- Espectro na região do infravermelho para gomas do cajueiro........ 49

FIGURA 4- Curvas de TGA das amostras de gomas do cajueiro...................... 52

FIGURA 5- Curvas de DTG das amostras de gomas do cajueiro..................... 53

FIGURA 6- Estudo reológico das soluções aquosas de gomas de cajueiro na

concentração de 5% em água a 25 °C............................................................................. 56

FIGURA 7- Espectros de RMN das amostras GB, GC, GC85 e GC140........... 61

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1- Composições das gomas arábica e de cajueiro.............................. 23

TABELA 2- Composição da goma de cajueiro de deferentes países................. 24

TABELA 3- Características químicas e físico-químicas para as variedades

Acacia senegal e Acacia seyal de goma arábica............................................................. 28

TABELA 4- Os quatro graus de goma arábica exportados pelo Sudão............. 30

TABELA 5- Os cinco maiores vendedores de goma arábica para o Brasil em

2013................................................................................................................................ 33

TABELA 6- Valores percentuais e relativos de goma de cajueiro dissolvida em

água em diferentes tempos............................................................................................. 45

TABELA 7- Valores da curva de tendência da velocidade de solubilização do

percentual de goma de cajueiro dissolvida em água em diferentes

tempos............................................................................................................................. 46

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TABELA 8- Comparação entre teste realizado no presente trabalho e os métodos

Rinaudo-Milas, Anderson e Torquato e Gallao.............................................................. 47

TABELA 9- Atribuições das principais bandas de absorção do espectro na

região do infravermelho ................................................................................................. 50

TABELA 10- Parâmetros termogravimétricos obtidos das curvas de TGA e

DTG das gomas de cajueiro em atmosfera de ar sintético ............................................ 54

TABELA 11- Teor de proteína das gomas de cajueiro ..................................... 60

TABELA 12- Percentual dos monômeros determinados nas amostras de goma

de cajueiro por RMN com valores relativizados para o total de 100%.......................... 62

TABELA 13- Comparativo entre goma arábica, goma de cajueiro relatada na

literatura e as três gomas purificadas desse estudo GC, GC85 e

GC140............................................................................................................................. 63

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ............................................................................................ 15

2- REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 20

2.1- GOMA DE CAJUEIRO.............................................................................. 20

2.1.1- A Cajucultura................................................................................ 20

2.1.2- Aplicações da Goma de Cajueiro e a Possibilidade de Uso Como

Sucedâneo da Goma Arábica.............................................................................. 22

2.2- GOMA ARÁBICA...................................................................................... 27

2.3- A BUSCA POR SUCEDÂNEOS PARA A GOMA ARÁBICA................ 33

3. MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................... 35

3.1. MATERIAL................................................................................................. 35

3.1.1. Matéria prima – Goma de cajueiro bruta....................................... 35

3.1.2. Preparo da Matéria-Prima, acondicionamento e estocagem.......... 35

3.2. CONDUÇÃO DO EXPERIMENTO (ensaio para processamento contínuo).. 36

3.3. TESTE DE SOLUBILIDADE..................................................................... 37

3.4. TRATAMENTO TÉRMICO DA SOLUÇÃO DE GOMA......................... 37

3.5. ANÁLISES DE CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA...................... 38

3.5.1- Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho........... 39

3.5.2- Análises Termogravimétricas........................................................ 39

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3.5.3 Reologia de fluxo........................................................................... 39

3.5.4 – Proteínas...................................................................................... 40

3.5.5 – Ressonância Magnética Nuclear (RMN) .................................... 40

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 41

4.1 TESTE DE SOLUBILIDADE E ENSAIOS PARA PROCESSAMENTO

CONTÍNUO................................................................................................................... 41

4.2. TRATAMENTO TÉRMICO DA SOLUÇÃO DE GOMA......................... 48

4.2.1- Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho........... 48

4.2.2- Análises Termogravimétricas........................................................ 51

4.2.3 Reologia de fluxo........................................................................... 55

4.2.4 – Proteínas...................................................................................... 59

4.2.5 – Ressonância Magnética Nuclear (RMN)..................................... 60

5. CONCLUSÕES............................................................................................. 64

6. REFERÊNCIAS........................................................................................... 66

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1- INTRODUÇÃO

Diversas plantas superiores de regiões semiáridas apresentam a capacidade de

produzirem exsudatos gomosos como reação de proteção a seu córtex após uma

agressão sofrida para evitar a ação de agentes patológicos e perda de água. A liberação

desta goma promove a vedação do corte na injúria sofrida. Estas gomas têm aparência

amorfa e translúcida.

Exsudatos de plantas são gomas de várias espécies de plantas obtidos como

resultado da lesão na casca da árvore. Eles normalmente são recolhidos como gotículas

secas ao ar (FITWI, 2000). A síntese destas gomas geralmente ocorre em todos os

órgãos da planta com composição qualitativa diferente, parecendo ser geneticamente

controlada e influenciada pelas condições ambientais (GLICKSMAN, 1969; GYEDU-

AKOTO et al., 2008).

Entretanto, não há gomas apenas de origem vegetal, sendo este conceito mais

amplo. As gomas podem ser obtidas de várias fontes, incluindo extratos de algas

marinhas, como os alginatos, agar, carragena; extratos de sementes, jataí ou locusta

(LBG), guar; exsudatos vegetais, arábica ou acácia, adraganta, ghatti e karaya;

microorganismos (fermentação), xantana, gelana; extrato de tubérculo, konjac; e

celuloses quimicamente modificadas e pectinas.

Autores em abordagens distintas sobre gomas fornecem definições

complementares entre si, das quais seguem textualmente quatro delas nos quatro

parágrafos seguintes.

Gomas podem ser definidas genericamente como substâncias poliméricas que,

em solvente ou agente de inchamento apropriado e mesmo a baixas concentrações, são

capazes de formar dispersões ou soluções altamente viscosas ou até mesmo géis

(MILLER, 1987).

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O termo goma aplica-se a uma vasta variedade de substâncias, incluindo

hidrocarbonetos de alto peso molecular, borrachas, proteínas, polissacarídeos e seus

derivados, além de alguns polímeros sintéticos (RODRIGUES et al., 1993)

As gomas são substâncias químicas de elevado peso molecular, hidrofílicas, com

propriedades coloidais, produzindo, em solventes, suspensões altamente viscosas, com

funções espessantes, gelificantes, emulsificantes, estabilizantes e aglutinantes (TOWLE

& WHISTLER, 1973).

Gomas são hidrocarbonetos de alta massa molecular; outras são produtos

petrolíferos, gomas poliméricas sintéticas, bálsamos e resinas. Recentemente, o termo

goma como tecnicamente empregado na indústria refere-se a polissacarídeos vegetais ou

microbianos e suas derivações que são capazes de formar dispersões em água fria ou

quente produzindo misturas ou soluções viscosas. As últimas referências à goma a

define como derivados de celulose solúveis e modificações de outros polissacarídeos

que, em seu estado original seria insolúvel. Assim, a definição de goma pode incluir

polissacarídeos mucilaginosos (AZEEZ, 2005).

Ao analisar as definições dos diferentes autores nos quatro parágrafos anteriores

a de se fazer ressalvas nos termos “proteínas” utilizado por RODRIGUES et al (1993) e

“hidrocarbonetos” e “resinas” utilizados por AZEEZ (2005), onde pode se encontrar

discordância entre estudiosos do assunto.

Portanto, gomas são polímeros. Gomas são polímeros de alto peso molecular e

cadeia longa oriundos de exsudatos de plantas, algas marinhas, sementes, colágeno

animal ou microrganismos. Algumas são produzidas por síntese microbiana e outras

pela modificação de polissacarídeos naturais.

Polímeros naturais são materiais muito importantes não só porque eles estão

prontamente disponíveis e renováveis, mas também devido às suas propriedades únicas,

como a capacidade de formar géis. Entre os polímeros naturais, polissacarídeos

desempenham um papel muito importante devido à sua capacidade de interação com

espécies dispersas ou dissolvidas, para que estes possam desempenhar funções

biológicas vitais em associação com hormônios, lipídeos, proteínas ou outras moléculas

(PAULA et al., 2002). Como consequência, estão previstas muitas aplicações no campo

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da medicina, farmácia e química industrial (CRESCENZI, 1994; CRESCENZI et al.,

1991; MISKIEL & PAZUR, 1991; YALPANI, 1988).

A depender da sua origem a goma possui uma composição química própria.

Entretanto, alguns componentes são frequentemente encontrados em gomas após a

hidrólise dos polissacarídeos complexos, a saber: arabinose, galactose, glucose, manose,

xilose e vários ácidos urônicos. Estes ácidos podem formar sais com cálcio, magnésio,

sódio, potássio e outros cátions.

As gomas dissolvem-se ou dispersam-se em água e aumentam a viscosidade, são

espessantes e podem ou não ser geleificantes. Apresentam também propriedades

secundárias, tais como estabilização de emulsões, suspensão de partículas, controle de

cristalização, inibição de sinérese, encapsulação e formação de filmes.

As propriedades funcionais das gomas são afetadas pelo tamanho e orientação

molecular, ligações iônicas e de hidrogênio, tamanho da partícula, temperatura,

concentração e outros fatores. A distribuição espacial dos monômeros formadores e a

presença ou não de ramificações são muito importantes.

Na indústria farmacêutica o desenvolvimento de novos excipientes de uso

potencial como agentes de ligação continua a ser de interesse e um número de gomas

vegetais têm sido utilizados como agentes de ligação em formulação de comprimidos.

Elas mostraram-se úteis na produção de comprimidos com diferentes propriedades de

resistência mecânica e de libertação da droga para diferentes fins farmacêuticos. O fato

de que essas gomas não são tóxicas e amplamente disponíveis tornou-as de interesse

permanente (GOWTHAMARAJANB et al.,2011).

Na indústria alimentícia, as gomas são empregadas, principalmente, após a

dissolução aquosa, visando aumentar a viscosidade, formar gel ou pelos seus efeitos

estabilizantes de dispersões.

Após a solubilização, as moléculas da goma produzem o espessamento do

produto a que foi adicionado através de ligações com as moléculas de água ou pela

construção de redes, envolvendo zonas de ligação, denominado de efeito de

geleificação. Adicionam baixíssimas calorias e são muito importantes por acrescentarem

características de textura e sensação tátil bucal aos substitutos de gordura. A escolha da

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goma adequada a uma formulação específica depende de suas propriedades físicas e

químicas e do sinergismo com outros hidrocolóides ou componentes do alimento.

O presente trabalho está direcionado a fornecer informações sobre a produção e

propriedades da goma do cajueiro (Anacardium occidentale L.) que tem se mostrado

eficiente em muitos processos industriais. Neste trabalho, usa-se a goma arábica como

referência inicial por ser o mais antigo e mais conhecido de todos os exsudatos de goma

de árvore – obtida a partir de certas espécies de Acácias, família Leguminosae - e não

por ter como único intuito a substituição de uma pela outra. Soma-se a isso a

dependência externa do Brasil em relação ao insumo industrial: goma arábica.

A goma arábica se apresenta como importante ingrediente em muitos produtos

finais de indústrias de diversificados ramos de atividade econômica. Suas aplicações e

usos vão desde a indústria de alimentos à fabricação de tintas, passando ainda pela

indústria farmacêutica e cosmética.

O comércio mundial de goma arábica sofre constantes incertezas em sua

continuidade devido a problemas de conflitos políticos nas regiões produtoras.

O Brasil utiliza goma arábica em suas indústrias alimentícias, farmacêuticas e no

fabrico de cosméticos (LIMA et al. 2013). No ano de 2013 quase 8 milhões de dólares

foram gastos pelo Brasil, com a importação de quase 2.000 toneladas de goma arábica,

em uma demanda que tem se mostrado crescente a cada ano (ALICEWEB, 2014).

Estudos iniciais têm apontado a goma de cajueiro como uma alternativa viável

para algumas aplicações nas quais seria uma sucedânea da goma arábica, como, por

exemplo, adjuvante de secagem por atomização (OLIVEIRA, 2008).

A área plantada com cajueiro, somente nos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande

do Norte, possui potencial para produzir goma suficiente para reverter o quadro

brasileiro de importador para exportador de goma para muitas das finalidades industriais

nas quais se utiliza a goma arábica (LIMA et al,. 2013).

O uso em escala industrial da goma de cajueiro pode resultar em impactos

econômicos de redução (ou mesmo eliminação) da dependência brasileira de importação

de goma arábica; adição à pauta brasileira de exportações de um produto altamente

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competitivo no mercado internacional; fortalecimento do agronegócio do caju,

proporcionando meios para se obter lucros mesmo na entressafra de produção dos

cajueiros.

Este trabalho justifica-se pelos seguintes aspectos:

− estudar novas possibilidades de obtenção de goma de cajueiro como

alternativa à goma arábica, mas não apenas com essa única utilização;

− inexistência de produção em escala industrial de goma de cajueiro em pó;

− falta de metodologia de processo para a produção em escala industrial de

goma de cajueiro em pó;

− contribuição ao agronegócio do caju em razão de aplicações industriais

nos reflexos sociais como geração de emprego e renda no nordeste do Brasil, pois mais

de 98% da área ocupada com cajueiro no país está nessa região, sendo mais de 80% nos

estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte.

Além de impactos sociais através da geração de novos empregos no campo

(extração da goma) e na indústria (linha de produção para elaboração de um novo

produto); fortalecimento do setor produtivo de caju, que terá um novo produto a ser

explorado e comercializado.

Contudo, há riscos de rejeição pelo setor industrial por não conhecer suas

propriedades. Isso poderá ser minimizado por meio dos resultados de pesquisa,

indicando o desempenho tecnológico da goma de cajueiro quando comparado ao da

goma arábica. Além disso, as indústrias serão estimuladas a fazer uma tentativa pela

substituição ao verificarem a diferença de custo entre ambas as gomas.

Eventualmente, o Brasil poderia exportar a goma de cajueiro, que seria um

importante concorrente da goma arábica no mercado internacional. Ou seja, a produção

comercial de goma de cajueiro em grande escala poderia levar o Brasil não só a livrar-se

da dependência de importação de goma arábica, mas também de contar com um produto

altamente competitivo em sua pauta de exportações. Sendo assim, esta proposta de

trabalho se propõe a avaliar alternativas de produção industrial da goma de cajueiro.

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2- REVISÃO DE LITERATURA

2.1- GOMA DE CAJUEIRO

2.1.1- A Cajucultura

O cajueiro (Anacardium Occidentale L.) é uma cultura tropical com origem no

Nordeste brasileiro. Em meados do século XVI os colonizadores portugueses

introduziram a planta nas Índias Orientais e em seguida nas costas leste e oeste da

África. Atualmente é encontrada distribuída geograficamente pela América Tropical,

Ásia, Caribe e África (MUHANA, 2003).

No Brasil, aproximadamente 99% da área cultivada com cajueiro localizam-se

nos Estados nordestinos do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte e em 2011 foram

plantados no país 758.585 hectares desta cultura (IBGE, 2012). A concentração de

cajueiro nestes Estados se deve a condições naturais de clima e solo favoráveis e a

incentivos federais através da SUDENE na metade do século passado (PESSOA et al.,

1995).

O Estado do Ceará detém a maior área plantada com cerca de 53% sendo

também maior produtor de amêndoa de castanha de caju, atingindo a produção de

111.718 toneladas no ano de 2011 e valores em torno de 144 milhões de reais (IBGE,

2012).

O cajueiro desempenha um papel econômico e social relevante na região

Nordeste do Brasil. Seu fruto é a castanha e o pedúnculo (parte polposa ou “maça”) é

um pseudofruto, tomado equivocadamente por leigos como o fruto do cajueiro (PAIVA

et al., 2000; FIGUEIREDO et al., 2002). O fruto processado industrialmente,

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semiprocessado ou in natura faz parte da pauta de exportação das regiões produtoras e o

pedúnculo é explorado principalmente como suco e, em menor escala como alimento

“ in natura”, doces, ração animal, sorvetes, licor, mel, geleias, cajuína, bem como

refrigerantes e aguardente. As perdas de pedúnculo são estimadas em 85% a 90% da

produção (PAIVA et al., 2000) e não há registro do aproveitamento comercial da goma

de caules e galhos.

A maior barreira à exportação do caju é atribuída à sua adstringência relacionada

à presença de taninos no pseudofruto. Soma-se ainda a alta pericibilidade do pedúnculo,

a safra limitada no tempo de apenas quatro meses e no espaço – concentrado no

nordeste do Brasil – e a falta de recursos para logística de transporte e armazenamento

(AGOSTINI - COSTA et al., 2003).

A cajucultura não se restringe aos produtos do caju (pseudofruto), ela abrange

uma gama de atividades econômicas muito maior e diversificada de produtos

intermediários e finais. A amêndoa da Castanha de Caju (ACC) é o principal produto

final gerado. O Líquido da Castanha de Caju (LCC) é retirado da casca que envolve a

amêndoa e também possui elevado valor comercial (LIMA, 2013).

O caju ainda é comercializado como fruto de mesa e também possibilita a

produção de bebidas, suco e cajuína, e outros produtos como doces e ração animal.

Embora as estimativas apontem que mais de 90% dos pedúnculos são desperdiçados e

que estes sejam um subproduto pouco aproveitado na cadeia da produção de castanha

(LIMA, 2013).

A cajucultura desempenha importante fonte de renda a pequenos produtores e

agricultores familiares, exercendo destacado papel socioeconômico na região dos três

estados nordestinos de maior produção.

A Cadeia Produtiva do Caju engloba todas as atividades relacionadas à

produção, industrialização, comercialização local ou a exportação de produtos

originados do fruto - amêndoa da castanha, óleos vegetais - e sucos do pedúnculo.

Representa um sistema que abrange desde a colheita do caju, da castanha, passando pelo

beneficiamento, até chegar ao consumidor (LIMA, 2013). Contudo, a goma de cajueiro

não é explorada.

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22

A utilização da goma do cajueiro poderá representar mais uma fonte de lucro

para o produtor além da castanha e pedúnculo, mesmo em período de entressafra, de

senescência ou declínio produtivo.

2.1.2- Aplicações da Goma de Cajueiro e a Possibilidade de Uso

Como Sucedâneo da Goma Arábica

Estudos têm indicado a viabilidade do uso da goma de cajueiro em variadas

aplicações como, por exemplo, na indústria farmacêutica (GOWTHAMARAJANB et

al., 2011; OFORI-KWAKYE et al., 2010). Entretanto, deve-se atentar para a limitação

ou não no uso de uma determinada goma devido às diferenças na composição química

de cada uma. As diferenças na composição ocorrem não apenas em relação às gomas

arábica e de cajueiro, como também entre gomas de origem geograficamente distintas.

A comparação da composição química das duas gomas sugere a possibilidade do

uso da goma de cajueiro como substituta da goma arábica – Tabela 1.

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Tabela 1- Composições das gomas arábica e de cajueiro. FONTES: ANDERSON et al.,

1974; GLICKSMAN & SAND, 1973; IDRIS et al., 1998; PAULA et al., 1998; PINTO

et al., 1995; e. RODRIGUES et al., 1993.

Composto Goma arábica Goma de cajueiro

Galactose 39 – 42 % 61-73%

Arabinose 24 -27 % 4,6 - 31 %

Ramnose 12 -16 % 3,2 -7 %

Ácido glicurônico 15 – 16 % 4,7 -8 %

Proteína 1,5 – 2,6 % 0,5 %

As faixas de valores da tabela 1 para goma de cajueiro são bastante amplas

devido à origem geográfica do material analisado. A tabela 2 detalha esta amplitude

relacionando o teor de um composto na goma de cajueiro e o país de onde é oriunda.

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Tabela 2-. Composição da goma de cajueiro de diferentes países. FONTES: 1RODRIGUES et al., 1993; 2PINTO et al., 1995; 3ANDERSON et al., 1974, 4PAULA

et al., 1998

Monossacarídeo

Composição mássica (%) da goma de cajueiro de

diferentes países

Brasil1,4 Índia1,3 Nova

Guiné1 Papua3 Venezuela2

Galactose 72 - 73 61 63 63 49

Arabinose 4,6 - 5 14 15 15 31

Glicose 11 - 14 8 9 9 -

Ramnose 3,2 - 4 7 7 7 7

Manose 1 2 1 1 4

Xilose - 2 - 1

Ác. Glicurônico 4,5 - 6 6 – 6,2 5 5,7 8

Dentre os cajueiros encontrados nos países pesquisados, a goma do cajueiro do

Brasil é a que apresenta uma composição mais distinta da goma arábica, pois é a que

possui menor percentual de arabinose e maior teor de galactose. Contudo, isso não

impede seu uso em muitas das aplicações tradicionalmente feitas com o emprego da

goma arábica ou mesmo de outros compostos como a maltodextrina (OLIVEIRA et al.,

2009) ou quitosana (PAULA, 2011). Não é necessário, em absoluto, uma composição

química mais aproximada e diversos autores demonstraram essa viabilidade.

Portanto, neste trabalho a goma arábica é usada como referencial por ser a goma

de exsudato de árvore mais antiga e conhecida e pela dependência do Brasil deste

insumo importado.

O uso de goma de cajueiro brasileiro foi testado com sucesso em diversas

finalidades, a exemplos de: adjuvante de secagem por atomização de suco com

preservação de características importantes (OLIVEIRA, 2008); na formação de

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revestimentos de alimentos (CARNEIRO-DA-CUNHA et al., 2009; PINTO, 2012);

avaliação da ação antimicrobiana (AZEVEDO et al., 2002), tendo efetivo efeito em

parte dos microrganismos testados; na elaboração de filmes para alimentos (AZEREDO

et al., 2011; PINTO, 2012); no encapsulamento de corantes naturais ou aromas

(AZEREDO et al., 2007; CONSTANT et al., 2008; MOREIRA et al., 2010;

RODRIGUES & GROSSO, 2007); com a ação farmacológica (MONTEIRO et al.,

2007; SCHIRATO et al., 2006); indústria química (GUILHERME et al., 2005;

RIBEIRO et al., 2003), dentre outras aplicações.

O aproveitamento integral dos coprodutos do cajueiro pode tornar a cajucultura

mais lucrativa e sustentável. Sendo assim, a exploração comercial da goma de cajueiro

pode ser uma alternativa, principalmente quando observamos o expressivo número da

área plantada e a grande semelhança da mesma com a goma arábica (LIMA et al.,

2013).

A produção média de goma de cajueiro.planta-1.ano-1 é de 700 g (BANDEIRA,

1991). Levando em consideração que o adensamento para o cajueiro comum é de 100

plantas.ha-1, haveria a possibilidade de produção de 70 Kg.ha-1.ano-1, ou de 143 Kg.ha-

1.ano-1 para o cajueiro-anão precoce (adensamento de 204 plantas.ha-1) (LIMA et al.,

2013).

As importações brasileiras de 2.000 toneladas de goma arábica seriam supridas

em cerca de 30.000 ha de área plantada por cajueiro, lembrando que apenas nos três

Estados nordestinos - Piauí, Ceará e Rio grande do Norte – há mais de 750.000 ha

plantados, ou seja, o Brasil possui potencial de produção do que importa anualmente,

podendo torna-se exportador de um sucedâneo da goma arábica.

Apesar de ser uma cultura cultivada em regiões semiáridas, há a possibilidade de

uso de técnicas de irrigação para estender o período de safra e obter melhoria de

qualidade da castanha e do pedúnculo (MIRANDA, 2005) além de influenciar a

produção de goma (LIMA et al., 2013). Outro fator relevante nas produtividades

desejadas é a fertilidade do solo (EPSTEIN & BLOOM, 2006).

Entretanto, pouco se sabe a respeito das propriedades químicas e tecnológicas da

goma de cajueiro, dos fatores que afetam sua produção. Além disso, o processo de

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purificação, embora padronizado para escala de laboratório (TORQUATO et al., 2004),

não tem procedimento estabelecido para produção em escalas maiores.

Atualmente a goma de cajueiro purificada é obtida em processos por batelada

descritos para pequena escala.

Tritura-se a goma bruta do cajueiro e filtra-se. Em seguida, adiciona-se 50 g da

goma a um béquer, completa-se o volume para 500 mL com água destilada. Agita-se

essa por 2 horas e filtra-se a vácuo. Adiciona-se etanol ao filtrado na proporção de 3:1

(etanol: filtrado), e deixa em repouso sob refrigeração por 12 horas, até decantação.

Drena-se o sobrenadante e, o precipitado, centrifuga-se a 3600 rpm por 5 min. Em

seguida, o precipitado resultante da centrifugação é disposto em placas de petri e levado

a uma capela de exaustão de gases por 24 horas, para total evaporação do etanol. O

material seco é finalmente filtrado para obtenção da goma purificada (TORQUATO et

al., 2004).

Trabalhos têm avaliado ou modificado características da goma de cajueiro após a

sua obtenção pelo processo tradicional como, por exemplo, modificação na viscosidade

da goma de cajueiro produzida (AZEEZ, 2005) ou obtenção da goma com caráter

polieletrólito aumentado (CUNHA et al., 2007).

Em relação ao processo de produção e purificação da goma de cajueiro houve

contribuições importantes. Métodos de obtenção pré-estabelecidos foram avaliados, as

características das amostras isoladas pelos métodos foram comparadas e feita uma

análise sobre o desenvolvimento dos métodos, levando-se em conta rendimento, tempo

gasto, possíveis problemas, etc (RODRIGUES et. al, 1993). Entretanto, o estudo foi

visando apenas a escala de bancada, com todos os procedimentos manuais e em sistema

de batelada como exposto pelos próprios autores ao concluírem que a escolha do

método mais adequado para fins industriais teria que levar em conta outros fatores, tais

como disponibilidade de equipamentos que não foram considerados no estudo.

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2.2- GOMA ARÁBICA

A goma arábica origina-se na África Subsaariana (zona Sahel) como um

exsudato dos caules e ramos de árvores Acacia senegal e Acacia seyal ou de outras

espécies africanas de Acacia e é produzida naturalmente como grandes nódulos durante

um processo chamado de gomose para selar ferimentos na casca destas árvores. A.

senegal e A. seyal são as espécies mais exploradas comercialmente de todas as espécies

Acacia. (AL-ASSAF et al., 2007).

A goma arábica possui propriedades que lhe conferem inúmeros usos em

distintas atividades econômicas, como indústria de alimentos, indústria farmacêutica,

cosméticos, tintas e diversas outras áreas. É utilizada como um emulsificante natural,

encapsulante, estabilizante e realçador de características organolépticas. Dentre outros

usos pode-se citar exemplarmente que empresas farmacêuticas usam-na para evitar que

medicamentos se dissociem em seus diferentes componentes e jornais adicionam um

pouco de goma arábica em sua tinta tornando-a mais coesa e permanente.

A preparação industrial consiste em livrar esta goma natural das impurezas que

ela contém (taninos das cascas), por via seca ou após solubilização. As gomas assim

purificadas apresentam-se em forma de pó branco totalmente inodoro e solúvel na água.

Ao contrário de várias outras gomas à base de plantas, a goma arábica dissolve

facilmente na água (até 50 %). Goma de Acacia senegal, em particular, tem uma baixa

viscosidade. Ela forma uma solução incolor, insípida e é em grande parte não-reativa

quando misturada com outros compostos químicos.

Quimicamente, a goma arábica é um composto complexo ligeiramente ácido

composto por glicoproteínas, polissacáridos e os seus sais associados de cálcio,

magnésio e potássio. O composto chave é um polissacarídeo ramificado conhecidos

como ácido arábico, arabina. É composto por uma Dgalactose (1,3) ligada a (1,6) L-

arabinose, Lrhamnose e ácidos D-glucorônicos. As proteínas são conhecidas como

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arabinogalactanos e são ricas em hidroxiprolina (GUM ARABIC AND GUM RESINS,

2008).

Testes de laboratório estabeleceram as características físico-químicas para as

variedades Acacia senegal e Acacia seyal de goma arábica apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3- Características químicas e físico-químicas para as variedades Acacia senegal

e Acacia seyal de goma arábica. Fonte: 3rd NGARA publications series, setembro 2005.

Características físico-químicas Acacia senegal Acacia seyal

Rotação ótica / graus - 30 + 51

Peso molecular médio (Mw) 380 000 850 000

4-O ácido metilglicurônico 1,5 5,5

Ramnose (%) 13 4

Nitrogênio (%) 0,36 0,15

Ácido glucurônico (%) 14,5 6,5

Galactose (%) 44 38

Arabinose (%) 27 46

A despeito das diferenças perceptíveis pela tabela 3, em seu Compêndio sobre

aditivos de alimentos Adenda 7 (1999), o comitê de especialistas em aditivos

alimentares (JEFCA) da articulação FAO/OMS não fez nenhuma distinção entre as

gomas Acacia senegal e Acacia seyal.

O Sudão exporta dezenas de milhares de toneladas de goma arábica bruta por

ano, alimentando a alta demanda global. A seiva bruta é enviada para a Europa para

processamento e depois se dissemina para clientes no mundo inteiro –

(http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=11224050).

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Chade, Etiópia e Nigéria também produzem a goma, embora não seja da

qualidade e quantidade do Sudão.

A goma sudanesa vem das florestas de acácia ou árvores "hashab" que crescem

nos quadrantes centrais semiáridos do Sudão, colhida pelos agricultores utilizando as

mesmas técnicas primitivas como seus antepassados.

Há cerca de 900 espécies de Acácias, sendo que 130 delas estão no continente

africano. A goma acácia (goma arábica) comercial (E 414 e INS 414) provem

exclusivamente das séries de Bentham Gummiferae e Vulgares (AL-ASSAF et al.,

2007).

Embora a cultura de árvores produtoras de goma seja adaptada a solos áridos e

secos (que requerem apenas 250 a 400 mm de água), a ausência prolongada de água

pode ter efeitos muito prejudiciais. Na verdade, as secas de 1970 e 1980 produziram

efeitos muito negativos sobre a produção de goma arábica. Além disso, outro paradoxo

está ligado à produção de goma arábica: quando a goma arábica é recolhida em excesso,

a fim de aumentar o rendimento, este processo não cumpre os padrões, produzindo

efeitos indesejáveis no longo prazo (GUM ARABIC AND GUM RESINS, 2009).

A goma arábica exportada a partir do Sudão pode ser classificada em quatro

tipos segundo sua apresentação (Tabela 4).

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Tabela 4- Os quatro graus de goma arábica exportados pelo Sudão (POLICY NOTE,

2007).

TIPO CARACTERÍSTICAS

Escolha manual

(HPS – sigla em inglês)

Goma bruta, limpa, ordenada e classificada.

Representa 10% da exportação – principalmente Japão –

para posterior processamento em pó.

Kibbling / Trituração

Goma quebrada por moinho de martelo em pedaços

menores e mais uniformes. O escritório de padronização e

Metrologia sudanês (SSMO) estabeleceu duas

especificações para este tipo de goma triturada:

(a) grau grânulos triturados com um tamanho

máximo de 14 mm e um tamanho mínimo de 3 mm, e

(b) o grau limpo: pedaços de goma quebrados

manualmente, sem limite no tamanho do grânulo. O grau

limpo da goma bruta é avaliado pelos compradores, e é a

principal exportação da GAC (Gum Arabic Company).

Atomizada

A secagem por atomização é um processo pelo qual

a goma crua é dissolvida em água, centrifugada para

remover as impurezas, pasteurizada e pulverizada no ar

quente para evaporar a água. A secagem por atomização

produz um pó de fluxo livre com alta solubilidade.

Pulverizada

mecanicamente

A goma bruta é triturada até que um pó de fluxo

livre seja obtido. Consume menos energia do que a

secagem por atomização, mais barato de produzir e menos

sujeita a contaminação bacteriana.

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Até o recente desenvolvimento de processamento no Sudão, toda a goma arábica

do Sudão era exportada pela GAC na forma bruta. Sendo a maior parte dela constituinte

do grau limpo. Empresas internacionais agem como agentes exclusivos de divulgação e

de quase toda a exportação. Quatro dessas empresas comercializam 70% da goma

sudanesa já processada por elas próprias, nas formas pulverizada ou atomizada. A venda

destes agentes se faz para grandes confeitarias e fabricantes de refrigerantes na Europa e

nos EUA. A GAC também realiza venda direta, notadamente de cerca de 5.000

toneladas métricas para duas grandes confeitarias europeias e de quase toda goma HPS

para japoneses (POLICY NOTE, 2007).

A substância é utilizada como emulsionante em refrigerantes, espessante em

doces e geleias, aglutinante em tintas de propósito específico e drogas, até mesmo como

estabilizador de espuma na cerveja - (http://articles.baltimoresun.com/1998-09-

15/news/1998258114_1_gum-arabic-sudan-bin-laden).

A goma arábica é utilizada na indústria alimentar como espessante,

encapsulante, para definir sabores por poder constituir um filme que forma uma película

impenetrável ao redor da partícula de sabor, como um agente emulsionante, para evitar

a cristalização do açúcar em produtos de confeitaria e como estabilizador em produtos

lácteos congelados. Também é útil na indústria de panificação por causa das suas

propriedades viscosas e adesivas usadas para evitar a cristalização do açúcar. A sua

qualidade de emulsificação impede que a gordura distribuída no produto migre para a

superfície e confira aspecto gorduroso indesejável. Ela também é utilizada em goma de

mascar (POLICY NOTE, 2007).

A principal demanda por goma arábica, aproximadamente 70%, provém das

confeitarias e fabricantes de bebidas e refrigerantes.

A goma arábica qualifica-se para a rotulagem "natural" ou "sem aditivos

artificiais". É uma alta fonte de fibra - que contém não menos do que 85% de fibra

dietética solúvel (base seca) - e tem baixo valor calórico, pois contém menos de 1cal

para cada grama.

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Na indústria farmacêutica, a goma arábica é utilizada para estabilizar emulsões,

como um agente de ligação e para o revestimento de medicamentos. Também está

incluída nas misturas de colírios e xaropes para a tosse.

O uso desta goma na indústria farmacêutica representa um percentual

importante, porém em declínio. Devido ao alto teor de fibras que apresenta, desponta

novas aplicações em dietéticos, subsetores de alimentação e saúde.

No campo cosmético, é usada como um adesivo no fabrico de pós faciais e

máscaras e adicionada a loções para obter uma consistência cremosa e suave.

Na indústria química, goma arábica é utilizada como cola, tal como um coloide

protetor e, como um conservante de tinta. É também utilizada para sensibilizar placas

litográficas, para fortalecer tecido, revestimento de certos tipos de papel e para o

revestimento de metais para evitar a corrosão. É igualmente utilizada na fabricação de

palitos de fósforo e cerâmica (COSSALTER, 1991).

O custo relativo da goma arábica usada como aditivo é geralmente baixo quando

relativizado ao custo do produto acabado. Possui vantagens técnicas que torna difícil

substituí-la completamente em muitas aplicações.

Todas estas aplicações arroladas anteriormente estão abertas à possibilidade de

uso da goma de cajueiro. Todavia, o domínio do processamento de purificação da goma,

ao contrário do que ocorre no Sudão, é importante para que o Brasil não seja apenas

exportador de matéria prima bruta – e este trabalho se propõe a colaborar neste sentido.

No Brasil, a goma arábica tem grande relevância nas indústrias alimentícias,

farmacêuticas e na área cosmética (LIMA et al. 2013). A taxa de importação de goma

arábica no Brasil vem aumentando, passando de cerca de 780 toneladas no ano 2000

para aproximadamente 1.940 toneladas no ano de 2013, com um custo de

aproximadamente US$ 7,8 milhões (ALICEWEB, 2014).

Os cinco maiores vendedores de goma arábica para o Brasil em 2013 foram

França, EUA, Reino Unido, Alemanha e Itália (ALICEWEB, 2014). Os valores

comercializados são mostrados na Tabela 5.

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Tabela 5- Os cinco maiores vendedores de goma arábica para o Brasil em 2013

(ALICEWEB, 2014).

PAÍS VALOR (US$) QUANTIDADE (Kg)

França 5.856.571 1.557.624

Estados Unidos 1.256.316 214.901

Reino Unido 401.234 81.477

Alemanha 180.269 57.278

Itália 72.759 12.800

2.3- A BUSCA POR SUCEDÂNEOS PARA A GOMA ARÁBICA

A região fornecedora de goma arábica enfrenta problemas climáticos,

econômicos, instabilidade política e conflitos que afetam o suprimento estável e seguro

deste produto para atender a crescente demanda (YADAV et al., 2007).

Nas décadas de 70 e 80, as empresas passaram a utilizar substitutos,

principalmente amido, como alternativa à queda na oferta oriunda do Sudão. Na década

seguinte, Chade e Nigéria passaram a produzir a goma talha, obtida da Acacia seyal, o

que arrefeceu a busca de sucedâneos.

A goma hashab, obtida da Acacia senegal tem qualidades técnicas superiores,

mas o preço da talha é substancialmente menor e substituiu a goma arábica sudanesa em

muitas atividades. Apesar de mais cara, a hashab continua sendo a goma arábica usada

na indústria de refrigerantes.

A composição química entre os dois tipos é praticamente a mesma. Em 1998, a

especificação para goma arábica para uso alimentar do Comitê de Especialistas

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Conjunto FAO / OMS sobre Aditivos Alimentares (JECFA), que até então só incluía

hashab, foi modificado para incluir também talha (POLICY NOTE, 2007).

Amido modificado é um aditivo alimentar utilizado como um agente espessante,

estabilizador ou emulsionante e é preparado por tratamento de amido ou de grânulo de

fécula. Também tem sido usado pela indústria farmacêutica. Contudo, os produtos em

que a goma arábica é incorporada retêm melhor o sabor e apresentam maior vida de

prateleira, denotando, assim, as vantagens técnicas comparativas entre a goma arábica e

seus candidatos a substitutos (POLICY NOTE, 2007).

Mesmo dentre as gomas de acácias há diferenças técnicas e de usos. A goma

arábica de melhor qualidade, Verek, obtida da Acacia senegal, por exemplo, se dissolve

completamente na água. Uma solução a 5% é levogira: [α] = -26 a 20ºC. Outras gomas

também produzem soluções verdadeiras na água, mas seu poder rotatório é dextrogiro.

É o caso das gomas Talk (A. Seyal Del.), Sunt (A. arabic Willd) ou Salabreida (que é

uma mescla das duas precedentes) do oeste africano, sendo que algumas destas gomas

não podem substituir as anteriores (CAINELLI, 2007).

Gomas obtidas a partir de espécies como A. senegal, A. anthophloea, A. karroo e

A. nolotica que contêm tanino e geram uma rotação óptica positiva não são autorizadas

para os produtos alimentares e, portanto, são vendidas a preços mais baratos

(ANDERSON, 1993).

A busca por emulsificantes artificiais tão eficazes quanto a goma arábica ocorre

em todo o mundo. Entretanto, os produtores, empresários e exportadores sudaneses

acreditam que a demanda pela goma arábica ainda será forte, pois o consumidor final,

quando tem opção de escolha, prefere ingredientes naturais no alimento que consome,

dando à goma arábica uma vantagem competitiva.

A goma de cajueiro tem sido estudada como possível substituto da goma arábica

devida à semelhança química entre as mesmas (PAULA et al., 2002; OWUSU et al.,

2005), em especial onde o custo da goma arábica não se justifica.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. MATERIAL

3.1.1. Matéria prima – Goma de cajueiro bruta

O presente trabalho foi realizado com goma de cajueiro oriunda de diversos

clones de cajueiro do Campo Experimental de Pacajus da Embrapa Agroindústria

Tropical e estocada à temperatura ambiente.

A goma bruta se apresentava em pedaços ou blocos irregulares que alcançavam

até 30 cm em suas extensões. A cor variava do âmbar ao preto. Aderida à superfície e

também internamente aos blocos de goma bruta havia areia, folhas e pedaços de tronco.

3.1.2. Preparo da Matéria-Prima, acondicionamento e estocagem

A goma bruta foi triturada em moinho de facas da marca Fortinox, modelo Star

FT-80, usando tela inox de 5 mm para uniformizar o tamanho do particulado final.

Entretanto, a tela precisou ser removida, pois a retenção da goma no interior do moinho

em funcionamento provocava travamento de rotação do triturador.

A goma obtida após a trituração foi classificada em sistema de peneiras

vibratórias vertical, sendo então dividida em três categorias, as quais foram nomeadas

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G>600, G500-600 e G<500, de acordo com a posição nas peneiras de retenção e seleção

utilizadas:

G>600- goma triturada cujo pó foi retido na peneira de 600 µm e passou pela

peneira de 1400 µm;

G500-600- goma triturada cujo pó foi retido na peneira de 500 µm e passou pela

peneira de 600 µm;

G<500- goma triturada cujo pó foi passou pela peneira de 500 µm.

As gomas de trabalho foram homogeneamente armazenadas em frascos de

polietileno vedados com tampas rosqueáveis e estocadas à temperatura ambiente.

A porção intermediária foi a utilizada neste trabalho, pois a partícula de tamanho

de 500 µm se aproxima do tamanho de partícula mais utilizado a nível industrial e

apresentou melhor solubilidade em estudos comparativos de solubilidade de diferentes

tamanhos de partículas de goma de cajueiro (BARBOSA et al., 2012)

3.2. CONDUÇÃO DO EXPERIMENTO (ensaio para processamento

contínuo)

As tentativas de desenvolver um processo contínuo foram baseadas na

metodologia descrita por TORQUATO et al. (2004), passando por algumas

modificações descritas em detalhes posteriormente como: proporção goma/água, tipo e

tempo de agitação e transferência da solução entre tanques.

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3.3. TESTE DE SOLUBILIDADE

Devido à dificuldade de solubilização da goma durante o tempo de residência

estipulado em 30 minutos, um novo tempo de residência foi estimado por base em testes

de solubilidade da goma em excesso de solvente.

A metodologia utilizada para estabelecer a solubilidade da amostra foi baseada

em estudos prévios realizados por BARBOSA et al. (2012) com algumas modificações,

a saber: relação goma/água e a secagem que foi feita em estufa a 70°C e não por

liofilização.

Pesou-se 5g da amostra, em triplicata, adicionou-se 1L de água e deixou-se sob

agitação de pás rotatórias por tempos de 1, 2, 3, 4 e 24 horas. Ao final desses tempos, as

amostras foram centrifugadas, a fração solúvel posta em estufa com circulação forçada

de ar a 70°C para secagem e após pesagens calculou-se a solubilidade da goma a

diferentes tempos de solubilização.

3.4. TRATAMENTO TÉRMICO DA SOLUÇÃO DE GOMA

Um dos tipos de gomas possivelmente produzidas em escala industrial necessita

passar por tratamento térmico visando à redução da carga microbiana. Contudo, os

tratamentos térmicos utilizados podem interferir em propriedades estruturais da goma

afetando suas características reológicas, alterar estrutura ou, enfim, modificar

propriedades importantes para o uso industrial.

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Independentemente do processo utilizado para obtenção de goma de cajueiro

purificada, seja ele por batelada ou contínuo, a produção de goma por atomização

sofrerá tratamento térmico semelhante ao que se faz em goma arábica.

Portanto, testes para avaliar os efeitos da temperatura sobre a goma foram

efetuados.

Uma solução de goma teve seu volume separado em três frações, as quais foram

denominadas SGC, SG85 e SG140. A porção SGC não sofreu tratamento térmico, SG85

e SG140 foram aquecidas até atingirem as temperaturas de 85ºC e 140ºC,

respectivamente, e mantidas sob estas temperaturas por 30 segundos.

Este processamento foi realizado em um equipamento de pasteurização e UAT

da marca Armfield, modelo FT74XTS.

Após o tratamento térmico, a goma das soluções foi precipitada por adição de

álcool e centrifugação. As soluções foram centrifugadas a 4000 rpm em centrífuga

marca Termo Fisher Scientific, modelo Heraeus Megafuge 40, por 15 minutos. Cada

precipitado foi posto a secar em capela de exaustão por 24 horas e depois triturado com

pistilo em almofariz.

As três gomas purificadas obtidas foram denominadas GC, G85 e G140 devido

serem provenientes das soluções SGC, SG85 e SG140, respectivamente. A goma

purificada GC que não passou por tratamento térmico foi a amostra de controle.

3.5. ANÁLISES DE CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA

As amostras GC, GC85 e GC140 foram submetidas às análises de

Espectroscopia de infravermelho (IV), Análise Termogravimétrica (TGA), Reologia,

Determinação de Proteínas por Análise Elementar e Ressonância Magnética Nuclear

(RMN)

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3.5.1- Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho

Os espectros das gomas foram obtidos em espectrômetro FT-IR da Shimadzu

modelo IR Prestige – 21 com varredura de 400 a 4000 cm-1,em pastilhas de KBr.

3.5.2- Análises Termogravimétricas

Foram realizadas em equipamento STA 409C, da Netzsch, a uma taxa de

aquecimento de 10°C/min em atmosfera de ar sintético a 50 mL/min, com massa inicial

de 10 mg de amostra.

3.5.3 Reologia de fluxo

Os estudos reológicos de fluxo foram realizados para soluções de goma na

concentração de 5% em água, em reômetro da TA Instruments, modelo AR 550,

utilizando uma geometria cone e placa de 40 mm a 25 ºC.

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3.5.4 – Proteínas

O teor de nitrogênio nas amostras foi determinado por microanálise utilizando

um microanalisador Perkin-Elmer CHN 2400. A partir do teor de nitrogênio e fazendo

uso da relação %N x 6,25 foi determinado o teor de proteína. Devendo-se fazer a

ressalva que o termo proteína neste caso segue o que vem sendo utilizado por outros

autores, mas seria mais apropriado chamar de compostos nitrogenados, os quais nem

sempre são proteínas.

3.5.5 – Ressonância Magnética Nuclear (RMN)

Os experimentos de RMN foram conduzidos em um equipamento Agilent DD2

600 MHz, equipado com uma sonda OneProbe H-F/15N-31P de 5 mm de diâmetro

interno com gradiente em z.

Cada amostra foi solubilizada em 600 uL de D2O e transferida para um tubo de

RMN de 5 mm de diâmetro.

O espectro de 1H foi obtido utilizando uma sequencia tradicional (s2pul) sem

supressão do sinal do solvente. Os experimentos foram adquiridos com 32K de pontos

para uma janela espectral de 9615.4 Hz, tempo de aquisição de 1.704 s, atraso na

relaxação de 1 s e 16 transientes.

As análises de RMN foram feitas nas três amostras já referidas (GC, GC85 e

GC140) e, adicionalmente, na goma de cajueiro bruta (GB) apenas triturada em moinho,

sem a precipitação em álcool.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 TESTE DE SOLUBILIDADE E ENSAIOS PARA

PROCESSAMENTO CONTÍNUO

A modificação inicial nos ensaios para processamento contínuo foi a proporção

goma/água que na referência de TORQUATO et al. (2004) e era de 1/10 e foi

concentrada para 1/5, como forma de reduzir custo do processo ao longo de suas etapas.

A alimentação automática de goma ao tanque de mistura e o uso de bombeamento para

transferência entre tanques também foram introduzidos.

O sistema, proposto em nível de bancada e representado na figura 1, era

composto por um primeiro tanque de mistura (tanque 1) no qual a goma triturada era

adicionada continuamente por um alimentador tipo fuso giratório (rosca sem fim). Neste

alimentador, a goma em pó entrava pela parte superior do alimentador e era transportada

para a saída frontal de onde caia no tanque 1 contendo água e sob constante agitação. O

fluxo contínuo de alimentação e volume constante do tanque 1 era mantido porque ao

mesmo tempo em que a goma era adicionada ao tanque 1, água entrava no tanque 1 e

solução (água + goma) do tanque 1 era bombeada para o tanque 2, onde a adição de

álcool ocorreria.

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Figura 1- Sistema utilizado neste trabalho para processamento de goma de cajueiro.

O tempo de residência da goma no tanque 1 foi arbitrado de 30 min. Entretanto,

o material do fuso do alimentador era de cerdas flexíveis e a goma adicionada formava

grumos que se acumulavam entre as cerdas no passo do fuso e estes blocos diminuíam o

volume de goma arrastado para o tanque 1, depois se desprendiam em maior quantidade

aumentando pontualmente o volume de goma bruta adicionada ao tanque 1. Portanto,

este sistema precisou de alterações.

A proporção goma/água descrita na referência de TORQUATO et al. (2004),

que era de 1/10, foi retomada, de modo a facilitar a dissolução da goma, pois já se havia

percebido possível acúmulo de material não dissolvido no tanque 1.

Tanque 1

Tanque 2

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Semelhantemente ao já descrito, o sistema, em nível de bancada, era composto

por um primeiro tanque de mistura (tanque 1) no qual a goma triturada era adicionada

continuamente por um outro alimentador tipo fuso giratório (rosca sem fim), desta vez

de aço inoxidável.

Este novo sistema foi adaptado a partir de um moedor de carne, marca Mondial,

modelo MC-01, com a tela de saída cortada de modo a apenas prender a extremidade do

fuso do aparelho, mas sem bloquear a passagem da goma para o tanque 1 e, além disso,

um potenciômetro foi adicionado para controle da velocidade de rotação e,

consequentemente, controle da massa de alimentação.

Neste alimentador, a goma em pó entrava pela parte superior do alimentador e

era transportada para a saída frontal de onde caia no tanque 1 contendo água e sob

constante agitação. O fluxo contínuo de alimentação e volume constante do tanque 1

eram mantidos porque ao mesmo tempo em que a goma era adicionada ao tanque 1,

água entrava no tanque 1 e solução (água + goma) do tanque 1 era bombeada para o

tanque 2, onde a adição de álcool ocorreria.

O tempo de residência da goma no tanque 1 foi arbitrado em 30 min. Entretanto,

não havia dissolução completa da goma adicionada neste tempo, além do acúmulo

rápido de material insolúvel (areia e partes do cajueiro – folhas e cascas) no tanque 1. A

solução misturada aos materiais em suspensão obstruía o bombeamento e bloqueava

rapidamente a passagem do líquido para o tanque 2.

Agitação mais vigorosa foi testada ao limite da velocidade do agitador de pás

utilizado, porém não houve sucesso e o problema persistiu.

Em nova tentativa de redução de grumos de “géis” e bloqueio do bombeamento,

um dispersor foi utilizado para uma hora de agitação inicial a fim de promover a

agitação e solubilização mais eficientes. Depois desta hora inicial procedeu-se ao

bombeamento do tanque 1 para o tanque 2 e a obstrução novamente ocorreu quase que

imediatamente.

A mistura presente no tanque 1, após uma hora de agitação por um

homogeneizador de tecidos, foi deixada sob agitação de pás rotatórias por 24 horas e,

quando iniciado o bombeamento do tanque 1 para o tanque 2, o fluxo foi obstruído

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devido aos grumos de “géis” (em menor quantidade que anteriormente, mas ainda

presentes) e particulados (areia, caules e folhas) da mistura que se compactavam na tela

do filtro de linha do fluxo anterior a bomba. Este filtro de linha era necessário para

evitar possíveis danos à bomba com a passagem de materiais em suspensão durante o

bombeamento.

Em trabalho de SOUZA (2011) no qual se avaliou a solubilidade da goma de

cajueiro após diferentes métodos de secagem foi observado que “o material em pó

promove uma hidratação rápida, mas não se dispersa tão facilmente, sendo necessária

uma boa agitação”. Contudo, após a solubilização parcial da goma, o referido trabalho

prossegue com transferência manual da mistura para filtração, não sendo usado

bombeamento.

Portanto, devido ao exposto acima, se fez novas avaliações sobre a solubilidade.

A Tabela 6 mostra a relação dos tempos em que 5 gramas de goma de cajueiro

estiveram sob constante agitação e o percentual de goma dissolvida nesses tempos.

A coluna “percentual de dissolução” mostra o percentual de massa dos 5 gramas

iniciais que foram dissolvidos.

A coluna “dissolução relativa” adota 24 horas como sendo o tempo em que

100% da parte solúvel da amostra estariam dissolvidas, embora a dissolução completa

não ocorra na prática, pois o material não dissolvido, mesmo após este longo tempo,

apresentava goma agrupada em grumos à parte insolúvel de modo que a relação

volume/área superficial era grande e dificultava a solubilização. Entretanto, após 24

horas a goma se apresenta quase toda dissolvida e não seria economicamente viável

prosseguir com gasto energético para a dissolução efetiva total. Nesta coluna os demais

percentuais são relativizados a este máximo de dissolução.

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Tabela 6- valores percentuais e relativos de goma de cajueiro dissolvida em

água em diferentes tempos.

Tempo (h) Percentual de dissolução Dissolução relativa

1 57,60 64,58

2 67,80 76,01

3 72,60 81,39

4 78,00 87,45

24 89,20 100,00

Em todos os tratamentos havia a formação de grumos de uma espécie de “gel”

da goma que não havia se dissolvido. Quanto maior o tempo menor a quantidade desse

“gel” presente em grumos. Mesmo após 24 horas sob agitação havia quantidade

perceptível a olho nu deste “gel” formado, indicando que ainda havia goma a ser

dissolvida. Este “gel” se dissolvia mais rapidamente quando a agitação não era apenas

de rotação de pás, mas quando aplicada a ela uma agitação desordenada com haste que,

em contato direto, “rompesse” o “gel” diminuindo a razão volume/área superficial.

Os percentuais de goma dissolvida ao passar do tempo em que esteve sob

agitação crescem rapidamente nas quatro primeiras horas e a dissolução no tempo de 24

horas já seria o máximo ou próximo a este máximo atingido em tempo anterior.

Portanto, não seria viável economicamente o prolongamento demasiado do tempo de

agitação para dissolução da goma para um pequeno aumento de goma dissolvida.

No intervalo de 1 a 4 horas a curva de solubilidade apresenta tendência linear de

crescimento, por isso estimou-se a dissolução da goma a partir de uma reta com estes

pontos da curva.

A tabela 7 mostra os valores da curva de tendência da velocidade de

solubilização do percentual de goma de cajueiro dissolvida em água em diferentes

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tempos, enquanto a figura 2 apresenta graficamente estes valores com a tendência linear

de dissolução neste período.

Tabela 7- valores da curva de tendência da velocidade de solubilização do

percentual de goma de cajueiro dissolvida em água em diferentes tempos.

Parâmetro da curva de tendência Valor

Equação y = 7,3992x + 58,859

R2 R² = 0.9664

Tempo estimado para 100% da goma ser dissolvida 5,5h

Figura 2- Solubilidade de goma de cajueiro.

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Muito embora a curva de tendência apresente que o tempo de residência de cinco

horas e meia seja possível, na prática isso não se confirmou. Como relatado, mesmo

após 24 horas havia grumos de goma e particulados a impedir o bombeamento.

O acúmulo de material não dissolvido no tanque 1 caracterizou-se como o maior

obstáculo ao prosseguimento do processo contínuo.

O processo de isolamento de goma de cajueiro proposto pelo método Rinaudo-

Milas apresenta tempo de dissolução de 24 horas a 48°C e o pelo método Anderson de

48 horas a 10° C, não obstante ao fato de serem conduzidos após a seleção prévia da

goma de cajueiro sem a presença de areia, caules ou folhas (RODRIGUES et al., 1993).

Estes valores diferem sobremaneira do tempo de residência estimado em 5,5 horas no

presente trabalho realizado a temperatura ambiente. Contudo, o tempo de dissolução

pode ser até mesmo menor que 5 horas em agitação manual em laboratório quando os

grumos são deliberadamente rompidos com auxílio do bastão de agitação.

A tabela 8 mostra a comparação entre o teste realizado no presente trabalho e os

métodos Rinaudo-Milas, Anderson e Torquato.

Ainda segundo Rodrigues et al., 1993, no método Rinaudo-Milas ocorre ajuste

para pH neutro, entre 7,0 e 7,5, e não ocorre correção de pH no método Anderson.

Tabela 8- comparação entre teste realizado no presente trabalho e os métodos

Rinaudo-Milas, Anderson e Torquato.

Método Tempo de

agitação (h)

pH Temperatura

(°C)

Percentual

goma/água

Teste de trabalho 5,5 (estimado) Sem ajuste Ambiente 10

Rinaudo-Milas 24 Ajustado/neutro Ambiente 4

Anderson 48 Sem ajuste 10 10

Torquato 24 Sem ajuste Ambiente 10

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Todos estes métodos utilizaram agitação de pás giratórias. Portanto, não está

descartada a possibilidade de redução dos tempos de dissolução da goma se outro

sistema de agitação fosse utilizado, por exemplo, algum modo de agitação no qual os

grumos formados após a hidratação da goma sofressem choques mecânicos contra uma

haste rígida que promovesse a quebra em grumos cada vez menores ou fossem

esmagados por pressão.

Os mesmos grumos de “géis” foram observados por SOUZA (2011) ao preparar

uma solução goma de cajueiro/água na mesma proporção de 1/10 e foi descrito

textualmente assim: “Essa solução foi agitada mecanicamente durante 1 hora através de

um dispersor de solo SL 115 da marca Solab a 15000 rpm. O processamento resultou

em uma solução viscosa de coloração amarela-escura, sendo posteriormente filtrada a

vácuo em um tecido fino para remoção dos fragmentos insolúveis (que tinham aparência

de grumos de géis).”

SOUZA (2011) descreveu o observado quanto à formação desses grumos, mas o

fato de não usar bombeamento e, ao invés disso, usar um tecido para filtração onde os

grumos eram retidos e descartados não gerou maiores especulações ou transtornos ao

procedimento de seu trabalho, o que não é o caso deste, pois a interrupção do fluxo de

bombeamento era um impeditivo à etapa seguinte.

4.2. TRATAMENTO TÉRMICO DA SOLUÇÃO DE GOMA

4.2.1- Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho

Os espectros das gomas foram obtidos em espectrômetro FT-IR da Shimadzu

modelo IR Prestige – 21 com varredura de 400 a 4000 cm-1,em pastilhas de KBr.

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A similaridade dos espectros está apresentada na Figura 3 para as amostras. O

espectro das gomas apresentam banda larga em 3412 e 3415 e banda em 2929, 2931 e

2934 cm-1 atribuídas às vibrações de estiramento O-H e C-H, respectivamente. A

absorção em 1647 e 1652 cm-1 é devida a vibração de O-H de moléculas de água

(BUENO, 1990). As bandas em 1150, 1080 e 1030 cm-1 são referentes ao estiramento

de C-O-C e deformação dos grupos O-H das unidades glicosídicas.

As atribuições das frequências de absorção para cada uma das amostras e os

respectivos grupamentos estão resumidas na Tabela 9.

A figura 3 e a tabela 9 não sugerem modificação na estrutura da goma de

cajueiro provocada pelo tratamento térmico aos quais as amostras GC85 e GC140 foram

submetidas.

Figura 3 - Espectro na região do infravermelho para gomas do cajueiro.

GC GC 85 GC140

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Os espectros na região do infravermelho obtidos e mostrados na figura 3 não

sugerem modificação estrutural da goma devido aos tratamentos térmicos testados.

A tabela 9 mostra que as atribuições das frequências de absorção para cada uma

das amostras e os respectivos grupamentos são os mesmos e, portanto, que a goma

permanece sem alteração estrutural após os tratamentos térmicos testados.

Tabela 9 - Atribuições das principais bandas de absorção do espectro na região

do infravermelho: Fontes: a) Este trabalho, b) CUNHA et al., 2007 e c) ABU-DALO et.

al., 2012

Os espectros na região do infravermelho de goma arábica oriundas de fontes de

informação distintas trazem pequenas diferenças relativas à mesma substância estudada.

Essas variações são normais para um produto de origem vegetal, o qual sofre influência

de sazonalidade, idade da planta, solo e origem geográfica.

FREQUÊNCIAS (cm-1)

ATRIBUIÇÕES GCa GC85a GC140a

Goma de

cajueirob

Goma

arábicac

3415 3412 3415 3700 a 3000 3600 a 3000 ν(OH) de álcool

2934 2931 2929 2924 e 2893 2924 ν(CH)

1647 1647 1652 1650 δ(OH) de H2O adsorvida

1626 ν(O-C=O)

1375 1375 1377 1415 1429 δ(CH2) e δ(C−OH)

1159 1157 1157 ν( O − C−O)

1016 1018 1018 1200 – 800 1068 e 1429 ν(C−O )

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Os maiores e mais fortes modos de vibração do espectro de goma arábica estão

localizados em 1068, 1429, 1626, 2365, 2924, e uma banda de absorção larga a 3000-

3600 cm-1. Em adição a estes picos principais, um pico adicional aparece em baixa

frequência com baixa intensidade em 650 cm-1. O modo vibracional forte localizado em

3000-3600 cm-1 é atribuído às vibrações de alongamento da ligação HO-, a outro modo

vibracional forte localizado em 1626 cm-1 é atribuído às vibrações de alongamento da

ligação CO de grupo carboxilato associado com as moléculas de goma arábica, os dois

modos de vibração localizados em 1068 e 1429 cm-1, com intensidade relativamente

baixa, são atribuídas às vibrações de estiramento da ligação C - O, e o fraco modo de

vibração localizado no 2.924 cm-1 é atribuído às vibrações de alongamento da ligação C

- H. A banda de absorção localizada em 2365 cm-1, com intensidade relativamente baixa

, é geralmente atribuído à vibração do CO2. Vale ressaltar que a goma arábica é

composta por grande quantidade de polissacarídeo e muito menos quantidade de

glicoproteína. No entanto, de acordo com os espectros de FTIR mostrado na figura 3,

não há bandas de absorção significativas observadas para moléculas de glicoproteínas.

Esse resultado é atribuído à presença de uma ampla banda de absorção em 3000-3600

cm-1 devido ao estiramento O-H de polissacarídeo que pode cobrir as bandas

características das moléculas de glicoproteínas. Portanto, as gomas de cajueiro e arábica

guardam semelhanças entre si.

4.2.2- Análises Termogravimétricas

Foram realizadas em equipamento STA 409C, da Netzsch, a uma taxa de

aquecimento de 10°C/min em atmosfera de ar sintético a 50 mL/min, com massa inicial

de 10 mg de amostra.

O estudo das temperaturas que afetam um produto é muito relevante, em

especial na indústria de alimentos. Alterações em alimentos podem ser decorrentes de

mudanças na composição ou temperatura durante o processamento ou armazenamento.

As análises termogravimétricas são parâmetros importantes para a compreensão de

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processos, tais como: desidratação, evaporação, congelamento e conservação (MOTHÉ

& RAO, 2000).

Assim como em MACIEL et al. (2005), este trabalho se propôs a comparar

amostras em termos relativos entre as mesmas e não a descrição absoluta dos eventos

em cada amostra.

As curvas termogravimétricas para as amostras estão apresentadas na figura 4 e

as curvas de DTG na figura 5. Os parâmetros termogravimétricos obtidos das curvas de

TGA e DTG das gomas, para cada lote, em atmosfera de ar sintético estão mostrados na

Tabela 10.

Figura 4- Curvas de TGA das amostras de gomas do cajueiro

GC GC 85 GC140

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Figura 5 – Curvas de DTG das amostras de gomas do cajueiro

A figura 5 apresenta o mesmo comportamento para a degradação da massa das

amostras testadas indicando, assim como nos resultados de espectroscopia de absorção

na região do infravermelho, que a estrutura da goma permaneceu inalterada nas

condições testadas.

Os picos dos eventos mostrados na figura 5 ocorrem à mesma temperatura para

as três amostras testadas e sugerem estruturas moleculares semelhantes entre elas.

GC GC 85 GC140

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Tabela 10 – Parâmetros termogravimétricos obtidos das curvas de TGA e DTG

das gomas de cajueiro em atmosfera de ar sintético a 50 mL/min. Razão de aquecimento

de 10ºC/min.

Os resíduos encontrados nas três amostras são muito pequenos e não indicam

diferença real entre elas, apesar de matematicamente 0,58% da amostra GC140 poder se

diferenciar estatisticamente de 0,09% das outras duas amostras. Entretanto, apresentam

diferença quando comparado aos resultados encontrados por Moura Neto et al. (2011)

que em condições similares obteve 6,4% de resíduo a 700°C e Silva et al. (2006) que

registrou 16,6% de resíduo a 600°C.

As temperaturas dos dois passos de decomposição relatados no presente trabalho

(313,36 ºC e 454,3 ºC) também apresentam valores distintos de relatos anteriores: uma

única etapa de decomposição a cerca de 300 ºC (MOTHÉ & RAO, 2000) e duas etapas

em 241ºC e 307ºC (SILVA et al., 2006); não sendo incluído em nenhum desses relatos

o evento da emissão de água. Entretanto, as temperaturas de 300ºC, 307ºC e 313,36 ºC

são semelhantes e sugerem o mesmo evento, como também pode ser relacionada com a

encontrada para goma arábica (316 °C) (ZOHURIAAN & SHOKROLAHI, 2004).

O evento ocorrido entre 450°C e 465°C, ou seja, o segundo evento da amostra de

trabalho pode constituir uma característica única dessa amostra, fazendo deste evento

uma identidade do produto a ser comercializado. Através desta característica, se única,

Amostra Ti (°C) T1 % Resíduo

GC 313,36 454,32 0,09

GC85 312,53 463,74 0,09

GC140 312,16 462,01 0,58

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poder-se-ia ter a identificação desta goma como insumo de outros produtos através de

análise termogravimétrica.

Em relação a termos comparativos com a goma arábica, MOTHÉ & RAO (2000)

apregoam que as curvas termogravimétricas retratam uma estabilidade térmica

semelhante para ambas as gomas e que em termos de comportamento térmico a goma de

caju pode ser adequada como um substituto da goma arábica.

Entretanto, deve ser ressaltado que o intuito dos testes realizados foi um

comparativo de gomas de cajueiro antes e após um tratamento térmico. Assim, as

figuras 3 e 4 e a tabela 10 não indicam modificação na estrutura da goma de cajueiro

provocada pelo tratamento térmico aos quais as amostras GC85 e GC140 foram

submetidas.

4.2.3 Reologia de fluxo

Os estudos reológicos de fluxo foram realizados para soluções de goma na

concentração de 5% em água, em reômetro da TA Instruments, modelo AR 550,

utilizando uma geometria cone e placa de 40 mm a 25 ºC.

O estudo reológico das amostras GC, GC85 e GC140 mostra que as soluções das

três amostras de gomas apresentaram pseudoplasticidade, com a viscosidade

diminuindo com o aumento da taxa de cisalhamento. As viscosidades medidas no platô

Newtoniano apresentaram o mesmo valor de 3,30 mPa.s. Essa viscosidade é superior ao

relatado por SILVA, 2002 para soluções salinas de goma do cajueiro (1,45 mPa.s.).

A baixa viscosidade apresentada pela solução de goma de cajueiro a 5% abre a

perspectiva da adição da mesma em bebidas como forma de enriquecimento de fibras e

não como espessante ou estabilizante. Outras gomas alteram significativamente a

viscosidade de uma bebida mesmo quando em concentrações de 0,5%.

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Devido à baixa viscosidade apresentada pela solução a 5% da goma de cajueiro,

percentuais ainda maiores que 5% de goma de cajueiro em bebidas poderiam ser

adicionados como forma de enriquecimento de fibras. A adição de fibras oriundas de

goma de cajueiro em iogurtes também é uma possibilidade. Contudo, devem ser feitos

testes de toxicidade antes de o uso alimentar da goma. A manutenção das propriedades

da goma de cajueiro mesmo após sofrer tratamento térmico favorece que enzimas

possam ser inativadas por aquecimento, diminuindo ou eliminando reações indesejáveis

após a ingesta.

A figura 6 mostra a viscosidade das soluções a 5% das três amostras de goma de

cajueiro comparadas entre si.

Figura 6- Estudo reológico das soluções aquosas de gomas de cajueiro na

concentração de 5% em água a 25 °C.

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As três amostras apresentaram pseudoplasticidade e viscosidade de 3,30 mPa.s

no platô Newtoniano. É importante observar que não há indicativo de mudança nessa

propriedade da goma de cajueiro em decorrência dos tratamentos térmicos a que foi

submetida.

O comportamento pseudoplástico é desejável em processos onde a viscosidade

em fluxo deve ser menor que a viscosidade em repouso, possibilitando: maior facilidade

para que produtos farmacêuticos sejam aplicados por seringas ou capilares; facilidade

na aplicação de tintas na forma de sprays ou por pincéis; possibilita que pastas de dente

ou cremes faciais sejam colocados em tubos ou frascos; maior eficiência nos processos

de mistura; melhor espalhabilidade de massas e recheios.

A reologia é o estudo da deformação e fluxo dos materiais, ou ainda, a medida

dos comportamentos de fluxo de líquidos, inclusive os viscoelástico; e para que haja

fluxo, deve-se induzir o cisalhamento do fluido em questão.

A viscosidade é um parâmetro utilizado para a determinação da qualidade de

gomas em alguns usos industriais, quanto maior for a viscosidade, melhor a qualidade

de goma.

Muitos fatores podem afetar a viscosidade de uma goma de exsudado de árvores:

origem geográfica e idade das árvores produtoras (GYEDU-AKOTO et al., 2007),

condição climática de chuvas ou de seca na época da coleta (FITWI, 2000), pH e tempo

de estocagem (MILLER & WHISTLHER, 1993), concentração da solução (MOTHÉ &

RAO, 2000), temperatura de trabalho (DIEGO & NAVAZA, 2003).

Segundo GYEDU-AKOTO et al. (2007), a viscosidade média de solução de 1%

de goma de cajueiro a 25°C foi relatada como maior que a viscosidade da goma arábica

em solução a 1% reportada em TIC GUM (2001) fazendo, assim, da goma de cajueiro

um melhor agente de espessamento ou estabilização. Entretanto, deve-se advertir que

essa conclusão pode não ser verdadeira, uma vez que em GYEDU-AKOTO et al.

(2007) não ficou claro se as taxas de cisalhamento foram as mesmas para os diferentes

trabalhos comparados.

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A generalização do comportamento reológico de gomas pode ocasionar

distorção dos dados obtidos, como, por exemplo, em MACIEL (2007) onde, ao citar as

fontes, conclui que: a goma do cajueiro é uma goma de baixa viscosidade, em

comparação com a goma arábica. Contudo, essa proposição só foi confirmada como

verdadeira em soluções de gomas de concentração até 4% (MOTHÉ & RAO, 2000) o

que põe em cheque a afirmação de GYEDU-AKOTO et al. (2007) do parágrafo

anterior.

Outra distorção de resultados foi afirmar que as soluções de goma arábica a 10%

possuem comportamento newtoniano (MEER, 1980). Entretanto, MOTHÉ & RAO

(2000) determinaram que este comportamento da goma arábica só passava a ocorrer em

altas taxas de cisalhamento.

Muitos líquidos apresentam um decréscimo de viscosidade com o aumento da

taxa de cisalhamento, de forma mais ou menos pronunciada, são os chamados

pseudoplásticos. Estas diferenças na viscosidade dos pseudoplásticos podem explicar as

distorções nas conclusões dos trabalhos citados quando não levadas em consideração as

taxas de cisalhamento a que foram submetidas as gomas que estão sendo comparadas.

O que ocorre nestes casos é que a tensão de cisalhamento inicial é maior que a

necessária para manter o fluxo, ou seja, uma parte da energia da tensão inicial é

utilizada para reorganizar a estrutura do sistema de modo a reduzir forças de resistência

entre as camadas do material e, consequentemente, reduzindo sua viscosidade.

A cada incremento na taxa de cisalhamento implica mais "organização" do meio

e, assim, maior queda na viscosidade até o limite de cada sistema em estudo. O que

pode ser este rearranjo do fluido estudado é o ordenamento da orientação inicialmente

randômica das partes constituintes, moléculas ou partículas podem ser desagregadas,

alongadas ou deformadas no sentido do fluxo, a depender da energia a elas transferidas.

Em soluções de polímeros, como o presente caso, com grande emaranhamento

intermolecular, em situação de repouso estes materiais apresentam uma ordem interna

irregular a que corresponde uma resistência ao fluxo, chamada de viscosidade.

Com o aumento das taxas de cisalhamento, as partículas suspensas no líquido

tendem a se paralelizar com a direção do fluxo. Moléculas do tipo cadeia que estão na

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solução podem se desenroscar, se estirar e se orientarem paralelamente à direção do

fluxo. O alinhamento de partículas ou moléculas permite que estas escorreguem umas

sobre as outras de forma mais fácil, reduzindo assim a viscosidade.

Para a maior parte dos líquidos o efeito de diminuição de viscosidade com o

cisalhamento é reversível - frequentemente com algum lapso de tempo - e os líquidos

recuperam sua viscosidade original quando o cisalhamento é encerrado: as moléculas

longas voltam ao seu estado de orientação ao acaso e de conformação não estirada e as

partículas deformadas voltam ao seu formato original e à sua distribuição randômica.

4.2.4 – Proteínas

O teor de proteína foi calculado a partir do resultado de análise elementar de N,

fazendo-se uso da relação %N x 6,25. Devendo-se fazer a ressalva que o termo proteína

neste caso segue o que vem sendo utilizado por outros autores e, assim, poder comparar

valores, mas seria mais apropriado chamar de compostos nitrogenados, os quais nem

sempre são proteínas. Na verdade, proteínas podem ser consideradas um contaminante

da goma devido à sua origem vegetal.

Os teores de proteína das amostras trabalhadas estão apresentados na tabela 11 e,

mesmo a amostra GC140 apresentando um valor aparentemente muito mais alto, não

apresentam diferença significativa entre elas quando comparadas pelo teste de Turkey.

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Tabela 11- Teor de proteína das gomas de cajueiro.

Amostra Proteína (%) e relações pelo teste de Turkey

GC 2,0 a

GC85 2,0 a

GC140 2,4 a

O teor de proteína nas preparações de goma de cajueiro havia sido relatado em

faixas de 0,9 a 1,3 (RODRIGUES et al.; 1993) ou de 1,27 a 1,8 (GYEDU-AKOTO et

al., 2008), há também o relato de maior teor de proteína de 2,8 (PINTO et al., 1995).

Essas diferenças são decorrentes de diversos fatores que influenciam as características

de um produto de origem vegetal, como já arrolados: origem geográfica, condições

climáticas, condições e tempo de estocagem, pH, etc.

Portanto, a amostra de estudo deste trabalho, embora dentro do intervalo do

percentual de proteína para goma de cajueiro, apresenta uma composição mais rica em

proteína do que a maioria das amostras de goma de cajueiro brasileiro estudadas que se

encontram no intervalo de 0,9 a 1,3. Os valores encontrados são mais próximos dos

relatados para a goma arábica, de 1,5 a 2,6 (IDRIS et al., 1998).

4.2.5 – Ressonância Magnética Nuclear (RMN)

Os espectros comparativos entre as quatro amostras são mostrados na figura 7.

Eles não indicam modificações estruturais da goma de cajueiro em virtude dos

tratamentos térmicos aplicados.

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Os tratamentos de purificação e aquecimento da goma de cajueiro nas condições

de estudo não revelaram mudança significativa no teor dos monômeros avaliados, mas

mostraram quantidades expressivas de ácido glucurônico e arabinose quando

comparadas a outras gomas de cajueiro.

Os percentuais dos diferentes monômeros encontrados nos polissacarídeos estão

dispostos na tabela 12, sendo que os valores estão relativizados de modo que perfaçam o

total de 100%.

Figura 7- Espectros de RMN (H1) das amostras GB, GC, GC85 e GC140.

GC140

GC85

GC

GB

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Tabela 12- Percentual dos monômeros determinados nas amostras de goma de

cajueiro por RMN com valores relativizados para o total de 100%.

Monômero GB GC GC85 GC140 Galactose 58,95 57,64 57,73 56,87 Arabinose 11,47 10,82 10,61 11,70

Glucose 10,82 11,19 11,17 11,45 Ramnose 6,68 6,67 7,04 6,46 Manose - - - -

Xilose - - - - Ác. glicurônico 12,08 13,91 13,45 13,52

Os tratamentos de purificação e aquecimento da goma de cajueiro não indicam

modificações no teor dos monômeros avaliados, e isto pode ser interpretado

positivamente para usos industriais, pois a goma poderia manter suas propriedades

mesmo após aquecimento. Contudo, a goma deve ser testada para cada condição de uso

pretendido.

As amostras GB, GC, GC85 e GC140 quando comparadas às outras referências

de goma de cajueiro brasileiro apresentam baixo teor relativo de galactose e aumentados

teores de ramnose, arabinose, glucose e, principalmente, ácido glucurônico.

Uma comparação entre as amostras purificadas GC, GC85 e GC140 com os

valores relatados na literatura para goma arábica e goma de cajueiro está disposta na

tabela 13. Entretanto, deve se atentar para as possíveis imprecisões deste comparativo

uma vez que foram resultados obtidos por técnicas de análises distintas, portanto,

constituindo-se apenas de ponto de reflexão e não resultado absoluto em si.

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Tabela 13- Comparativo entre goma arábica, goma de cajueiro relatada na

literatura e as três gomas purificadas desse estudo GC, GC85 e GC140. FONTES:

ANDERSON et al., 1974; GLICKSMAN & SAND, 1973; IDRIS et al., 1998; PAULA

et al., 1998; PINTO et al., 1995; e. RODRIGUES et al., 1993

Composto Goma

arábica Goma de cajueiro

GC GC85 GC140

Galactose 39 – 42 % 61-73% 56,51% 56,61% 55,52% Arabinose 24 -27 % 4,6 - 31 % 10,38% 10,40% 11,42% Ramnose 12 -16 % 3,2 -7 % 6,54% 6,90% 6,30% Ácido glicurônico 15 – 16 % 4,7 -8 % 13,63% 13,19% 13,19% Proteína 1,5 – 2,6 % 0,50% 1,96 1,94% 2,38

A goma estudada apresenta valores intermediários entre a goma arábica e goma

de cajueiro, com destaque, quando comparada a outras gomas de cajueiro, para o

levemente reduzido teor de galactose, aumento significativo do teor de arabinose

(somente abaixo da goma de cajueiro venezuelano) e teores de ácido glicurônico e

proteínas equivalentes aos de goma arábica.

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5. CONCLUSÕES

Um processo contínuo para a produção de goma de cajueiro encontrou como

importantes obstáculos: a dissolução da goma e a sua imediata transferência

automatizada entre tanques. O sistema disponível e utilizado para dissolver e

homogeneizar a goma bruta em água não foi eficiente.

Sugere-se que outros métodos de dissolução e homogeneização sejam avaliados,

nos quais choques mecânicos promovam a quebra dos grumos de goma entumecidos na

água. Além de uma posterior etapa de retirada de impurezas em suspensão.

Recomenda-se, em testes futuros, o uso de agitador tipo planetário associado a

um dispersor para aumentar a velocidade e eficiência de solubilização.

A presença de impurezas como pedaços de caule, folhas e areia dificulta o

processo inicial de dissolução por agregar a goma umedecida em torno destas

impurezas. Contudo, a prática tem mostrado que estes corpos indesejados

frequentemente são trazidos do campo à planta industrial e, portanto, o processo deve

contemplar um método para separá-los durante sua execução. O uso de telas no tanque

de dissolução ou na linha de bombeamento mostrou-se ineficaz por apresentar rápida

obstrução.

Uma etapa anterior à filtração em linha deve ser contemplada para retirar

partículas não solúveis ou ainda não dissolvidas. A centrifugação da solução ou sua

passagem por tubos em chicanas para promover sedimentação dos corpos em suspensão

pode ser útil apesar da elevação de custos de produção. Outra alternativa seria o

transbordo do tanque de adição da goma, entretanto, o particulado suspenso está

randomicamente distribuído a cada profundidade da mistura e este método poderia não

ser eficiente se não houver uma tela no alto do tanque que transborda.

A produção por batelada não deve ser descartada.

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As análises realizadas indicam que a goma de cajueiro não sofre modificações

estruturais quando submetida aos tratamentos térmicos testados.

Uma solução aquosa de goma de cajueiro a 5% é pseudoplástica, com

viscosidade superior à goma arábica e pode ter boas aplicações industriais nas quais é

desejável menor viscosidade em fluxo quando comparada à viscosidade estática.

A incorporação de goma de cajueiro em alimentos ou para uso farmacológico

carece de testes de toxicidade, mas há promissoras possibilidades. Os resultados

encontrados neste trabalho mostraram que as propriedades da goma de cajueiro se

mantiveram após os tratamentos térmicos testados e isso possibilitaria o uso de

aquecimento para a inativação de proteínas que por ventura ocasionassem reações

indesejáveis.

A viscosidade da solução a 5% da goma de cajueiro é muito baixa, por isso,

percentuais superiores a 5% desta goma poderiam ser adicionados a refrigerantes,

bebidas lácteas ou sucos de modo a agregar valor a estes produtos, pela presença de

fibras, sem alterar demasiadamente a viscosidade.

Os teores de compostos nitrogenados e ácido glicurônico são muito variáveis a

depender da origem da goma de cajueiro podendo, como no presente estudo, ser muito

semelhantes ao da goma arábica.

Devido a sua estabilidade térmica e sua semelhança estrutural com a goma

arábica, a goma de cajueiro pode ser uma sucedânea promissora da goma arábica

mesmo se obtida em processo por batelada. Contudo, sua viabilidade deve ser avaliada

para cada atribuição proposta.

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