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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia – PG-CASA Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca Comercial da Amazônia Central. LIANE GALVÃO DE LIMA MANAUS – AM 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia – PG-CASA

Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca

Comercial da Amazônia Central.

LIANE GALVÃO DE LIMA

MANAUS – AM 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia – PG-CASA

LIANE GALVÃO DE LIMA

Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca

Comercial da Amazônia Central.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas, como requisito para obtenção do Titulo de Mestre em Ciências, Área de concentração: Serviços Ambientais e Recursos Naturais.

Orientador: Prof. Dr. VANDICK DA SILVA BATISTA.

MANAUS – AM 2003

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Ficha Catalográfica Catalogação pela Biblioteca Central da

Universidade Federal do Amazonas

Galvão-Lima, Liane

Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca Comercial da Amazônia Central/ Liane Galvão de Lima – Manaus, UFAM, 2003.

116 f.: il.

1. Etnoecologia 2. Etnoictiologia 3. Pesca Artesanal 4.Pescadores profissionais 5. Pescadores Ribeirinhos

CDU 639.2.05 (811.3) (043.3)

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LIANE GALVÃO DE LIMA

Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca

Comercial da Amazônia Central.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia Universidade Federal do Amazonas, como requisito para obtenção do Titulo de Mestre em Ciências, Área de concentração: Serviços Ambientais e Recursos Naturais.

Aprovado em 19 de agosto de 2003

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr Vandick da Silva Batista - Orientador Universidade Federal do Amazonas - UFAM

Prof. Dr. Jansen Zuanon

Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas - INPA

Prof. Dra. Maria Inês Higuchi Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas - INPA

Prof. Dra. Sandra do Nascimento Noda

Universidade Federal do Amazonas- UFAM

MANAUS – AM

2003

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“Dedico este trabalho aos meus pais, Edilson Lima e Edna Galvão, por terem me dado o dom da vida e ao apoio e incentivo de nunca desistir de

realizar meus sonhos”. e

“Aos pescadores profissionais e de subsistência da Amazônia Central, enfim, a todos os trabalhadores da pesca de todo o Brasil”.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço ao meu Deus, por ter me dado à chance de

encontrá-lo sempre na dedicação ao trabalho e no ajudar do próximo.

Agradeço de todo o coração, também ao Dr. Vandick Batista, pela orientação,

apoio, estrutura, e principalmente pelo seu voto de confiança na realização do

presente estudo.

À professora e amiga Olívia Ribeiro, por todo o carinho e disponibilidade em

me ajudar, criticar e direcionar o meu trabalho, em todas as vezes que a procurei.

À profa.dra. Nídia Fabré, pela oportunidade de ter participado do Grupo de

Pesquisa PYRÀ, trabalhado durante o estágio de docência, e a todos os seus

ensinamentos valiosos, os quais nem saiba que tenha me passado durante o

desenvolvimento da pesquisa.

Aos pescadores por todo conhecimento com eles aprendido durante o todo o

trabalho.

Ao meu amigo “contrário” Joel, uma peça chave nesta pesquisa, o qual

sempre se disponibilizou em me acompanhar nas entrevistas no porto desembarque

em Manaus.

A todos os meus amigos do laboratório, onde sempre pude contar com o

apoio, atenção, sugestões e também tirar boas gargalhadas, em especial ao Charles

Farias, Cristiano Gonçalves, Guillermo Estupiñán e Tony Porto.

A todos da equipe PYRÁ pela oportunidade de trabalharmos juntos e por todo

o carinho e amizade que obtive durante todo esse tempo de pesquisa.

A todos os colegas da turma: Deolinda Ferreira, Ivano Cordeiro, Lindolpho

Lima e Leandro Parizotto, os quais sem eles, o curso não teria tido a mínima graça.

A toda a minha família, meus pais, irmãos: Nelise e Wesley, minha segunda

mãe Fátima, por sempre acreditarem em mim, e estar continuamente me apoiando

nas horas difíceis.

Agradeço também a todos os meus amigos da “Turma da Toga” por terem

compreendido e apoiado as minhas faltas devido a maior dedicação ao trabalho,

mas sempre que precisei, pude contar com o ombro amigo. Não esquecendo das

“Vamps”, em especial, a Tatianne Araújo, uma amiga verdadeira, a qual não tem

palavras para descrevê-la, mas sei que todos gostariam de tê-la como amiga.

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Não podendo esquecer da Luciene e da Rai, pela compreensão e na

disponibilidade de me ajudar sempre que precisei durante o curso.

Ao Laboratório de Manejo e Avaliação de Pesca e ao Programa Integrado de

Recursos Aquático e da Várzea (PYRÁ), pela estrutura e apoio financeiro cedidos ao

estudo.

E a CAPES pela bolsa de mestrado concedida, a qual me auxiliou durante o

desenvolvimento do projeto.

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RESUMO

A pesca representa a atividade profissional mais tradicional da região

amazônica, desempenhando papel importante na economia e no processo de

ocupação humana na região. Também é considerado um elemento importante da

cultura regional, a qual se torna depositária de informações da dinâmica dos

recursos e do ambiente aquático. Nesse contexto, o conhecimento do pescador

ribeirinho, comercial e de subsistência, e do pescador citadino profissional a respeito

à biologia e ecologia dos peixes, fornece informações de grande utilidade no

desenvolvimento de pesquisa no campo da ictiologia, e assim, este conhecimento

etnoictiológico pode ser útil para o desenvolvimento do manejo integrado e

participativo dos recursos naturais na região. O presente trabalho tem por objetivo

comparar o conhecimento tradicional ecológico e biológico sobre os peixes, que

possuem os pescadores profissionais citadinos e pescadores ribeirinhos de

subsistência da Amazônia Central, com o conhecimento científico disponível. O

estudo foi conduzido no porto de desembarque de Manaus e na área rural de

Manacapuru. A coleta de dados primários foi realizada por meio de entrevistas semi-

estruturadas, aplicadas individualmente, contendo perguntas objetivas e subjetivas,

abordando aspectos biológicos e ecológicos de seis tipos de peixes: aruanã,

pirarucu, tucunaré, curimatã, jaraqui e tambaqui. Foram entrevistados 57

pescadores, sendo 31 citadinos e 26 ribeirinhos. As maiores congruências entre o

conhecimento tradicional e científico dizem a respeito ao ciclo reprodutivo dos

peixes: os aspectos de tamanho da primeira e completa maturação, épocas e áreas

de desovas, e cuidados parentais, bem como nos aspectos de alimentação,

predação, migração, mortalidade e recrutamento. Idade de primeira e completa

maturação, crescimento, fecundidade e tipo de desova, foram os aspectos que os

pescadores, de um modo geral, demonstraram maior desconhecimento.

PALAVRAS-CHAVE: 1. Etnoecologia 2. Etnoictiologia 3. Pescadores Ribeirinhos 4

Pescadores profissionais 5. Amazonas Central.

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ABSTRACT

The fisheries represents the most traditional professional activity of the

Amazonian area, playing important part in the economy and in the process of human

occupation in the area, as well as an important element of the regional culture is

considered, which becomes receiver of information of the dynamics of the resources

and of the aquatic environment. In this context, the knowledge of the riverine

fishermen of subsistence and the professional urban fisherman regarding the

biological and ecological knowledge of the fish, supply information of great

usefulness for ichthyology, and this can be useful for the development of the

integrated and participative in resource management. The present study has the aim

to compare the ecological and biological traditional knowledge on the fish, by the

urban professional and riverine fishermen of the Central Amazonian, with the

available scientific knowledge. The study was driven in the port of Manaus and in the

rural area of Manacapuru. The collection of primary data was accomplished by

means of structured individuals’ interviews, containing objective and subjective

questions about biological and ecological data of six types of fish: aruanã, pirarucu,

tucunaré, curimatã, jaraqui and tambaqui. 57 fishermen, 31 city dwellers and 26

riverine inhabitants were interviewed. The most congruent information with the

scientific data was related to the reproductive cycle: size of the fish at first and

complete maturation, time and area of spawning, and parental care; in the feeding

aspects, predation, migration, mortality and recruitment. Age of first and complete

maturation, growth, fecundity and type of spawning, were the aspects that the

fishermen demonstrated larger ignorance.

KEYS-WORDS: 1. Etnoecology 2.Etnoicthiology. 3. Riverine people. 4

Professional fishermen.. 5. Amazonas Central.

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LISTA DEFIGURAS

Figura 1 – Mapa esquemático da divisão municipal do estado do Amazonas, com

indicação dos municípios onde ocorreu a coleta de dados, Manaus e

Manacapuru. ..............................................................................................21

Figura 2 – Quantidade de desovas do aruanã por ano segundo os pescadores

citadinos (n=31) e ribeirinhos (n=26) da região Amazônia Central ............ 33

Figura 3 – Fecundidade aruanã segundo os pescadores citadinos (n=17) e

ribeirinhos (n=31) da Amazônia Central.....................................................34

Figura 4 – Alimentação do aruanã segundo os pescadores citadinos (cit) e

ribeirinhos (rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e

vazante (Vaz.) ............................................................................................36

Figura 5 – Mortalidade do aruanã nas fases larval, juvenil e adulta segundo os

pescadores citadinos - Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia

Central........................................................................................................39

Figura 6 – Tipos de cuidados parentais do pirarucu segundo os pescadores citadinos

(esquerda; n=30) e ribeirinhos (direita; n=26) da Amazônia Central.......... 43

Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e

ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e

vazante (Vaz). ............................................................................................46

Figura 8 – Mortalidade do pirarucu nas fases larval, juvenil e adulta segundo os

pescadores citadinos – Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia

Central........................................................................................................50

Figura 9 – Tipo de cuidados parentais do tucunaré segundo os pescadores citadinos

(direita; (n=31)) e ribeirinhos (esquerda; (n=26)) da Amazônia Central ..... 52

Figura 10 – Fecundidade do tucunaré segundo os pescadores citadinos (n= 20) e

ribeirinhos (n=4) da Amazônia Central....................................................... 54

Figura 11 – Alimentação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit.) e

ribeirinhos (Rib.) durante os períodos de enchente (Ench) e vazante (Vaz) da

Amazônia Central.......................................................................................56

Figura 12 – Predação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit) e

ribeirinhos (Rib) durante o período da enchente (Ench) e vazante (Vaz). . 57

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Figura 13 – Mortalidade do tucunaré durante as fases larval, juvenil e adulta

segundo os pescadores citadinos-Cit (n=31) e ribeirinhos-Rib (n=26) da

Amazônia Central.......................................................................................59

Figura 14 – Quantidade de desova do curimatã por ano segundo os pescadores da

região amazônica central ...........................................................................62

Figura 15 – Alimentação do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit.) e

ribeirinhos (Rib.) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e

vazante (Vaz). ............................................................................................64

Figura 16 – Predação do curimatã durante o período de enchente (ench) e vazante

(vaz) segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) da Amazônia

Central........................................................................................................65

Figura 17 – Comportamento migratório do curimatã durante um ciclo sazonal das

águas segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da

Amazônia Central.......................................................................................66

Figura 18 – Mortalidade do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit) e

ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central .......................................................68

Figura 19 – Tipos de desova do jaraqui segundo os pescadores da região da

Amazônia Central.......................................................................................71

Figura 20 – Alimentação do jaraqui durante o período de enchente e vazante

segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central.

...................................................................................................................73

Figura 21 – Predação do jaraqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos

(Rib) durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz) na Amazônia

Central........................................................................................................74

Figura 22 – Comportamento migratório do jaraqui durante um ciclo sazonal segundo

os pescadores citadinos (Cit) ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. ....... 75

Figura 23 – Mortalidade do jaraqui durante as fases larval, juvenil e adulta segundo

os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. .... 78

Figura 24 – Alimentação do tambaqui durante o período de enchente e vazante

segundo os pescadores da Amazônia Central........................................... 82

Figura 25 – predação do tambaqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e

ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante o período da enchente e vazante.

...................................................................................................................83

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Figura 26 – Comportamento migratório do tambaqui durante um ciclo sazonal

segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da Amazônia

Central........................................................................................................85

Figura 27 – Mortalidade do tambaqui nas fases larval, juvenil e adulta segundo os

pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central ......... 87

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Grau de escolaridade e função na pesca apresentados pelos pescadores

citadinos e ribeirinhos na Amazônia Central. .............................................25

Tabela 2 – Principais locais de origem e de onde se criaram dos pescadores

citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central ..............................................26

Tabela 3 – Tempo em que os pescadores citadinos e ribeirinhos viveram em outras

cidades.......................................................................................................27

Tabela 4 – Cidades em que viveu os pescadores citadinos e ribeirinhos ......... 27

Tabela 5 – Classes de idade que os pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia

Central começam a pescar e quando iniciam a pescar com fim de

comercialização. ........................................................................................28

Tabela 6 – Perfil sócio econômico dos pescadores profissionais citadinos e

ribeirinhos da Amazônia Central ................................................................30

Tabela 7 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e

da literatura sobre o comportamento reprodutivo do aruanã .....................35

Tabela 8 – Médias de tamanho (cm) do aruanã conforme a idade (ano) segundo os

pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central........................... 38

Tabela 9 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e

da literatura sobre o comportamento reprodutivo do pirarucu.................... 45

Tabela 10 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central

e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do tucunaré................55

Tabela 11– Crescimento do tucunaré segundo os pescadores da Amazônia Central

comparado com a literatura científica ........................................................58

Tabela 12 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central

e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Curimatã ...............63

Tabela 13 – Crescimento do curimatã segundo os pescadores da Amazônia Central

comparado com a literatura científica ........................................................67

Tabela 14 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central

e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Jaraqui..................72

Tabela 15 – Crescimento do jaraqui segundo os pescadores da Amazônia Central

comparado com a literatura científica ........................................................77

Tabela 16 – Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central

e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Tambaqui..............81

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Tabela 17 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central

e da literatura sobre Crescimento do Tambaqui. .......................................86

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................1

2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................5

2.1. Etnoictiologia – conceitos e definições ......................................................5

2.2. A região: aspectos ecológicos ...................................................................8

2.3. A pesca......................................................................................................9

2.3.1. Histórico ..............................................................................................9

2.3.2. Potencial pesqueiro...........................................................................11

2.3.3. Tipos de Pescadores.........................................................................12

2.3.4. Tipos de pescarias ............................................................................13

2.4. Os recursos pesqueiros amazônicos e sua dinâmica migratória .............16

3. OBJETIVOS ...................................................................................................19

4. METODOLOGIA.............................................................................................21

4.1. Área de estudo ........................................................................................21

4.2. Coleta de dados.......................................................................................21

4.2.1. Dados primários coletados................................................................21

4.2.2. Dados secundários coletados ...........................................................22

4.3. Análise dos dados....................................................................................22

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................24

5.1. Caracterização dos pescadores citadinos profissionais e ribeirinhos

comerciais e de subsistência na Amazônia Central........................................24

5.1.1. Experiências e relações sociais na pesca da Amazônia Central ......27

5.2. Etnoictiologia das espécies de comportamento sedentário segundo os

pescadores da Amazônia Central...................................................................31

5.2.1. Aruanã (Osteoglossum bicirrhosum.) ................................................31

5.2.2. Pirarucu (Arapaima gigas).................................................................40

5.2.3. Tucunaré (Cichla monoculus) ...........................................................51

5.3. Biologia e ecologia das espécies de comportamento migratório .............60

5.3.1. Curimatã (Prochilodus nigricans) ......................................................60

5.3.2. Jaraqui (Semaprochilodus spp.)........................................................69

5.3.3. Tambaqui (Colossoma macropomum.) .............................................79

6. CONCLUSÕES ..............................................................................................89

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................91

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1. INTRODUÇÃO

Uma das principais preocupações ambientais deste novo século é a perda da

biodiversidade, devido ao índice crescente de degradação ambiental produzida

pelas atividades da população humana. Esta diversidade biológica vem sendo

irreversivelmente diminuída através da extinção, à medida que os habitats são

destruídos.

A manutenção dos recursos naturais é de fundamental importância para o

bem estar do ser humano, em parte, pois as espécies de plantas e animais e outros

organismos oferecem às pessoas produtos importantes, inclusive alimentos,

medicamentos e/ou matéria-prima às indústrias. Sem mencionar os mais diversos

serviços ambientais que estes prestam a toda sociedade como todo.

Com o crescimento dos centros urbanos, nos tornamos desvinculados dos

ambientes naturais e de seus recursos, assim tornamo-nos mais dependentes do

conhecimento daqueles que vivem em áreas naturais. Estes representam a chave

para o entendimento, utilização e proteção da diversidade biológica.

Segundo CORSON (1994), muitos habitantes das áreas naturais enfrentam

uma crise de sobrevivência. Suas culturas, juntamente com suas tradições orais,

desenvolveram-se durante séculos, mas estão desaparecendo a cada década,

devido às políticas utilizadas que seguem a linha dos “biocentristas” ou

“conservacionistas”, ou seja, são a favor da retirada das populações tradicionais,

fundamentando-se na fragilidade dos ecossistemas e exemplos de mau uso deste

patrimônio pelo homem (ADAMS, 2000).

A valorização do conhecimento tradicional caracteriza-se como uma nova

ordem no que se diz respeito a conservação dos recursos naturais, reconhecida pelo

princípio 22 da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, isso

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se refere principalmente aos povos indígenas, habitando locais essenciais para o

manejo e desenvolvimento ambiental, observando que tanto a diversidade cultural

quanto a diversidade biológica são recursos naturais que merece a conservação

(ZWAHLEN, 1996 apud COSTA NETO, 2001).

Até então, as discussões sobre sustentabilidade e conservação dos recursos

naturais excluíam as análises socioculturais que complementam a interação

homem/natureza.

De acordo com SACH (1995), a melhor forma de explorar os recursos

naturais é aquela que usa o conhecimento tradicional. Vale ressaltar, que este

conhecimento é passado ao longo das gerações através de experiências e

observações do cotidiano (BEGOSSI, 1998).

Na Convenção sobre Diversidade Biológica-CDB, foi definido no artigo 8 j

para que as nações-membro, em conformidade com a legislação nacional,

respeitem, preservem e mantenham o conhecimento, inovações e práticas das

comunidades locais e populações indígenas, incentivando sua mais ampla

aplicação, e encorajando a repartição justa e eqüitativa dos benefícios oriundos da

utilização desses mesmos conhecimentos (DIEGUES & ARRUDA, 2001).

Além disso, no Art. 10 c a Convenção determina que cada Parte Contratante

deve:

"...proteger e encorajar a utilização costumeira dos recursos biológicos de

acordo com práticas culturais tradicionais compatíveis com as exigências

de conservação ou utilização sustentável". E também "apoiar populações

locais na elaboração e aplicação de medidas corretivas em áreas

degradadas onde a diversidade biológica tenha sido reduzida". (Art. 10 d).

Em seu Art. 17, a CDB também recomenda às Partes Contratantes que

proporcionem o intercâmbio de informações sobre o conhecimento das comunidades

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tradicionais, e no art. 18, determina o aperfeiçoamento de métodos de cooperação

para o desenvolvimento de tecnologias, incluindo as tradicionais e as indígenas.

No contexto mundial, já existem mais de 33 centros de Recursos em

conhecimento tradicional em diversos países, como o Estados Unidos, Rússia,

Austrália e Índia (SILLITOE, 1998).

Na América Latina, RIBEIRO (1987), MORAN (1994), MARQUES (1995),

POSEY (1997), ADAMS (2000), DIEGUES & ARRUDA (2001) e BEGOSSI (1998)

chamam atenção para o resgate e valorização dos saberes tradicionais, com

implicações nos mais variados campos da ciência e economias regionais, como

também para a preservação das sociedades locais e populações indígenas.

Na região amazônica, a pesca é uma das atividades mais tradicionais, que

desempenha um papel importante na economia e no processo de ocupação humana

na região (SANTOS & FERREIRA, 1999). Representa também um importante

elemento da cultura regional (FURTADO, 1993), a qual se torna depositária de

informações sobre dinâmica dos recursos e do ambiente aquático, que podem ser

úteis para o desenvolvimento do manejo integrado e participativo na região.

Portanto, a atividade pesqueira artesanal, requer todo um conhecimento

etnoecológico que possibilita a exploração do recurso pesqueiro que garante a sua

sustentabilidade.

Já afirmava MARQUES (1995), que os pescadores detêm o saber e o saber

fazer relacionado com a estrutura e a função do ecossistema a que estão

vinculados.

Nesse contexto, o presente estudo pretende dar uma contribuição a esse

novo paradigma de desenvolvimento: avaliar aspectos etnoictiológicos dos

pescadores profissionais citadinos e ribeirinhos de subsistência da Amazônia

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Central, verificando se estes podem ser incorporados como informações úteis para

implementação de futuros projetos de gestão participativa local no manejo pesqueiro

da região.

Esta dissertação está estruturada numa análise comparativa entre as

informações dadas pelos pescadores, citadinos e ribeirinhos, colacionadas com uma

compilação das informações científicas sobre a biologia e dinâmica das espécies.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Etnoictiologia – conceitos e definições

A etnociência trata do estudo das percepções culturais do mundo e de como

os indivíduos organizam essas percepções por meio de linguagem. Esta ciência, que

parte da lingüística para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os

processos naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao conhecimento

humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totalizadoras, está entre

os enfoques que têm contribuído para os estudos das relações entre o homem e o

meio ambiente (MORAN, 1994).

Segundo BEGOSSI (1998), os resultados desses estudos que envolvem o

conhecimento tradicional, podem facilitar a concepção de novos modelos de

sustentabilidade do uso e manejo dos recursos naturais. Internacionalmente o termo

“tradicional” é utilizado como adjetivo, de tipo de manejo, tipo de sociedades, de

forma de utilização de recursos, de território, de modo de vida, de grupos específicos

e de tipo culturais. No Brasil, é empregado como referência a sociedades rústicas

(VIANA, 1996). DIEGUES & ARRUDA (2001) definem conhecimento tradicional

como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e

sobrenatural, transmitido oralmente, de geração em geração.

Segundo BERLIN (1973) apud DIEGUES et al. (2000), há três áreas básicas

de estudo na etnociência: a da classificação, que se preocupa em estudar os

princípios de organização de organismos em classes; a de nomenclatura, em que

são estudados os princípios lingüísticos para nomear as classes folk; a da

identificação, que estuda a relação entre os caracteres dos organismos e a sua

classificação.

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A partir da etnociência originaram-se vários campos de domínios específicos

culturais, entre estes a etnobiologia, recebendo contribuições basicamente da

sociolingüística, da antropologia estrutural e da antropologia cognitiva. É a disciplina

que se ocupa, essencialmente, do estudo do conhecimento e das conceituações

desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. Segundo POSEY

(1987), etnobiologia é o estudo do papel da natureza no sistema de crença e de

adaptação do homem a determinados ambientes, enfatizando as categorias e

conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudos, que, no caso, o

conhecimento tradicional não se enquadra, em categorias e subdivisões

precisamente definidas como as que a biologia tenta, artificialmente, organizar.

Um campo relativamente novo da ciência, a etnobiologia ainda está

construindo seu método e sua teoria. Ela pressupõe que cada povo possua sistema

único de perceber e organizar as coisas, os eventos e os comportamentos. E este

não o percebe de forma idêntica à do pesquisador, pois cada povo tem suas

próprias formas de conhecimento e classificação. Ao primeiro tipo de análise se

convencionou chamar de “ética”, ao segundo, de “êmica”, termos derivados de

fonética e fonema (RIBEIRO, 1987).

Os etnoecólogos consideram que o saber milenar conservado pelas

populações tradicionais permitiu a conservação do equilíbrio ecológico em vastas

regiões do mundo (RIBEIRO, 1987). A etnoecologia parte do pressuposto de que as

informações que as pessoas possuem sobre seu ambiente e a maneira como pela

qual elas categorizam essas informações (sobre zoneamento ecológico, distribuição

dos recursos naturais, diversidade biológica, administração integrada dos reinos

animal e vegetal, por exemplo) vão influenciar seu comportamento em relação ao

mesmo (ADAMS, 2000).

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Saberes estes, que constitui, hoje, os últimos repositórios vivos de um

conhecimento acumulado durante milênios para sobrevivência humana na floresta

tropical úmida, nos campos e cerrados. Parte deste saber foi herdada pelas

populações rurais, caboclos, sertanejos, caipiras e caiçaras, encontrando-se em

graus diversos codificados nas culturas folk (RIBEIRO, 1987).

Na medida em que vai se desenvolvendo a coleta de dados e classificação

na etnobiologia, vão se construindo a etnobotânica, a etnozoologia, a etnoecologia,

a etnopedologia, a etnomedicina, a etnofarmacologia etc. Nesse tipo de análise vai

se combinar a visão do observador estranho à cultura, refletindo a realidade

percebida pelos membros de uma comunidade. O pesquisador procura inferir as

categorias “êmicas” dos povos em estudo (POSEY, 1987).

De uma forma mais específica, a etnoictologia, é o modo como o

conhecimento, os usos e os significados dos peixes ocorre-nos diferentes grupos

humanos, a qual é definida como estudo científico das relações entre homem com

os peixes. Ela inclui-se na etnozoologia (estudo científico das relações homens e

animais), que por sua vez faz parte de uma disciplina mais abrangente, a

etnobiologia (COSTA NETO, 2001).

Segundo MARQUES (1995), a etnoictiologia pode ser interpretada como a

busca da compreensão do fenômeno da interação entre o Homem e os peixes,

englobando aspectos tanto cognitivos quanto comportamentais.

Vale ressaltar, que RIBEIRO (1987) recomenda para qualquer pessoa que

queira fazer pesquisa etnobiológica, que considere cinco aspectos fundamentais:

1. Investigar as ciências biológicas de outras culturas, levando em conta o

fato de que também nesse caso, elas se esforçam para classificar,

catalogar e explicar o mundo natural;

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2. Não menosprezar os informantes, já que dominam, em seus mínimos

detalhes, fenômenos poucos conhecidos ou completamente ignorados

para nossa ciência;

3. Deixar que os informantes sejam os guias, tanto na identificação de

categorias culturais significativas, como no desenvolvimento das veredas

para pesquisa de campo.

4. Tratar os informantes, que são tidos como peritos em suas próprias

culturas, da mesma forma que tratamos nossos especialistas.

5. Não eliminar dados que, superficialmente, possam parecer absurdos. Eles

podem conter codificações de relações evolutivas, ou de animais

mitológicos, cuja função é proteger os recursos naturais e preservar o

equilíbrio ecológico.

2.2. A região: aspectos ecológicos

A região Amazônica abrange uma área de 6 milhões de km2 , 1/3 da América

do sul, contém o equivalente a 20% de toda a água doce do planeta devido à

presença da maior bacia hidrográfica do mundo ocupando uma área de inundação

causadas pelos grandes rios e pequenos rios equivalente a 3.940.000 km2 (JUNK,

1983; MILLIAN & MEADE apud ISAAC & BARTHEM, 1995; HIGUCHI, 1999).

Essas inundações marcam as formas de vida das populações ribeirinhas que

vivem nas margens dos rios (DIEGUES, 1992).

Observa-se que a água é um fator preponderante na paisagem amazônica,

tanto para os grandes rios quantos pequenos rios e igarapés que contribuem para os

corpos d’água. Estes corpos d’água não são uniformes. Os lagos existem ao lado

dos grandes rios e são típicos de áreas alagáveis (várzea e igapó), enquanto nas

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áreas não inundáveis (terra-firme), são mais característicos os igarapés e pequenos

rios (JUNK, 1983).

A Amazônia apresenta um clima quente e úmido, com alta taxa pluviométrica,

de 2000 a 3000 mm/ano (SALATI et al., 1983). As chuvas começam entre

novembro-dezembro na região sul de Equador e uns meses mais tarde ao norte do

Equador e estendem-se por quatro e cinco meses (SALATI & MARQUES, 1984).

Neste período, devido ao alto índice de pluviosidade, aumenta o nível dos rios, na

região da Amazônia Central. De acordo com dados fornecidos da ANEEL (1999), a

enchente costuma ocorrer nos meses de dezembro a maio, e a cheia nos meses de

junho e julho. No verão, com a diminuição das chuvas, ocorre o processo inverso,

ocorrendo nos meses de agosto a outubro o período da vazante, e a seca nos

meses de outubro a novembro (BRAGA, 2001).

Essas oscilações do nível d’água dos rios variam conforme o local, sendo que

o padrão geral é unimodal e a oscilação média anual é de 5 a 10m (MARLIER, 1973;

IBGE 1977; HANECK, 1982 apud ISAAC & BARTHEM 1995).

Além disso, há consideráveis diferenças nos corpos d’água, tanto em relação

à morfologia quanto nas suas propriedades física – químicas, onde SIOLI (1985),

propôs a seguinte tipologia: rios de água branca, água preta e água clara.

Dependendo do tipo de água que inunda essas áreas, SIOLI (1985) as classifica

como várzea, quando inundáveis por rios de águas brancas; e igapó, quando

inundáveis por rios de águas pretas.

2.3. A pesca

2.3.1. Histórico

No século XVII ao XIX, no período de ocupação portuguesa, a pesca era

efetivamente praticada pelos índios por processos como a tapagem de rio, a palheta,

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a narcotização das águas com timbó, cururutimbó e com assacu; arpões e anzóis

com ponta de osso. O produto desta atividade abastecia os aldeamentos e, mais

tarde, os centros que foram se nucleando, nos quais a pesca, a lavoura e a coleta

eram as bases da economia regional (FURTADO, 1993).

A partir do século XX, novos instrumentos de pesca foram sendo

incorporados, como a malhadeira, arrastadeira e a redinha, e os barcos pesqueiros

foram sendo equipando com caixas e urnas de gelo, o que tornou secundária a

prática de salgar o peixe nos mercados que passaram a manter um abastecimento

regular de pescado conservando em gelo. (VERÍSSIMO, 1895; RIBEIRO &

PETRERE, 1990; MESCHAT, 1958 apud BARTHEM et al., 1997).

No final da década de 60, o Governo Federal programou uma política oficial

voltada para estimular a pesca, a fim de torná-la uma atividade econômica mais

expressiva para a Amazônia. A partir dessa intervenção federal, acelerou-se o

desenvolvimento da pesca industrial na região que, através de subsídios do Estado,

aumentou a sua frota e incorporou novas técnicas pesqueiras (BRITTO et al., 1975

apud BARTHEM et al., 1997).

A pesca tornou-se para muitos uma atividade profissional permanente;

juntamente com outros fatores, como a decadência de outros recursos tradicionais,

tais como a borracha e a juta, e o grande aumento da demanda urbana de pescado,

foram as causas sócio-econômicas desta transformação. Os suportes técnicos para

essa mudança foram dados principalmente pela instalação de empresas frigoríficas,

com a finalidade de beneficiar e estocar o pescado para o comércio nacional e

internacional; e a introdução das fibras de náilon monofilamento e dos motores a

diesel. Surge, desta maneira, a figura do pescador profissional itinerante, que pesca

de forma permanente, em lugares distantes da sua moradia e vende o seu peixe nos

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frigoríficos e nos mercados dos centros urbanos. (PENNER, 1980 apud BARTHEM

et al., 1997; FURTADO, 1993).

De acordo com BARTHEM et al. (1997), para categorizar a pesca na região,

temos que considerar três aspectos importantes, devido à complexidade do

ecossistema amazônico, que seriam o pescador, o tipo de pesca e os estoques

pesqueiros.

2.3.2. Potencial pesqueiro

A pesca é uma das atividades extrativistas mais tradicionais e importantes da

região (ISAAC & BARTHEM, 1995). O peixe representa a principal fonte de proteína

na alimentação das populações ribeirinhas locais. A média do consumo anual de

pescado na Amazônia foi estimada em cerca de 270.000 toneladas (MERONA,

1993), e o consumo per capita de pescado nas cidades de Manaus e Itacoatiara foi

estimado entre 100 e 200 g/dia (SHRIMPTON & GIUGLIANO, 1979; SMITH, 1979;

AMOROSO, 1981).

Segundo PETRERE et al. (1997) o potencial pesqueiro da Bacia Amazônica

equivale a algo entre 425 e 1500 toneladas/ano, gerando cerca de 70 mil empregos

diretos, além de movimentar anualmente cerca de US$ 200 milhões (BARTHEM et

al., 1992; PETRERE, 1992; PARENTE, 1996; BATISTA, 1998; ALMEIDA et al.,

2001).

Na região Amazônica, o desembarque foi estimado de 198.650 ton. em 1980,

com produtividade média de 11kg/ano e 275.904 ton. em 1985 a 1989,

representando a metade da produção pesqueira comercial das águas interiores do

Brasil (PARENTE, 1996).

As pescarias exploram uma alta diversidade de espécies, de médio e grande

porte, com predominância de espécies migradoras como o tambaqui Colossoma

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macropomum, o jaraqui Semaprochilodus spp., a curimatã Prochilodus nigricans, a

matrinxã Brycon sp., a piramutaba Brachyplatystoma vaillantii, a dourada B.

flavicans, o surubim Pseudoplatystoma fasciatum e a piraíba B. filamentosum

(FREITAS, 2003).

2.3.3. Tipos de Pescadores

Os pescadores podem ser basicamente classificados em cinco categorias:

1. Citadino: é aquele que vive em cidade e já perdeu sua ligação com a terra;

são incluídos os pescadores que trabalhavam nas frotas pesqueiras de

Manaus, e Belém, da pesca industrial do estuário e de várias outras que

abastecem os principais centros urbanos da região Amazônica (FURTADO,

1993);

2. Interiorano: vive na zona rural e tem alguma relação com a terra; a pesca é

renda parcial de sua atividade, podendo ser principal ou complementar de

outras atividades relacionadas ao campo;

3. Indígena: é semelhante ao pescador interiorano, apresenta fortes laços com a

terra e pesca basicamente para subsistência, podendo comercializar o

excedente: difere do anterior, devido à forma de distribuição dos bens sólidos

pela pesca, que é estabelecida pela cultura da sociedade local;

4. Esportivo: apresenta fortes ligações com a cidade, investe na pesca sem

nenhum interesse com o retorno econômico, e sua presença nas áreas de

pesca depende da infra-estrutura turística da região;

5. Ornamental: também está mais relacionado com a cidade ou, mais

especificamente, com o mercado de exportação de peixes ornamentais.

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Destes, somente os três primeiros têm importância para a pesca que

abastece a população local, e os demais como atividades econômicas consideradas

ainda subexploradas (PETRERE, 1992; BARTHEM, et al., 1997; BATISTA, 1998).

2.3.4. Tipos de pescarias

A pescaria é classificada de acordo com a combinação dos fatores: dimensão

do barco e tipo de aparelho de pesca. Em relação aos barcos, existem duas

categorias bem distintas que atuam na região amazônica: a frota industrial e a

artesanal (comercial e de subsistência) (PETRERE Jr, 1992; BARTHEM et al.,

1997).

2.3.4.1. Pescaria Industrial

Os barcos possuem cascos de aço, comprimento variado de 17 a 27m,

tonelagem líquida entre 10 e 105 t e potência de motor entre 165 e 565 hp; a

tripulação é composta em média por 7 homens, e a pesca é feita de arrasto de

parelha sem portas, utilizando redes do tipo “portuguesa” ou “norueguesa”

(BHARTEM & PETRERE Jr, 1995). Essas frotas são controladas pelas indústrias

que processam, estocam e exportam o pescado. Esse tipo de pescaria só ocorre na

região de estuário, na pesca da piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii), da dourada

(Brachyplatystoma flavicans), e de camarões (Pennacidae).

2.3.4.2. Pesca Artesanal

É toda aquela que não é classificada como pesca industrial. Apresentam

características bastante diversificadas, tanto em relação aos habitas onde atuam,

quanto aos estoques que exploram. Podem ser de caráter comercial ou de

subsistência.

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2.3.4.2.1. Pesca Artesanal Comercial

Apresenta características sazonais, necessita dos pescadores a dedicação

quase ou totalmente exclusiva e cuja produção destina-se, em grande parte, à

comercialização nos grandes mercados regionais. Geralmente, apresenta uma

embarcação principal, conhecida como “geleira” que recebe a produção dos

pescadores embarcados de pequenas canoas. As geleiras possuem urnas com gelo

para a conservação do pescado (ISAAC & BARTHEM, 1995).

Apresenta características da pesca de subsistência: como por exemplo, uso

de vários utensílios de pesca, baixa tecnologia envolvida e a elevada dependência

do conhecimento tradicional empírico para detecção dos cardumes e/ou

determinação dos pesqueiros (FREITAS, 2003).

Os encarregados destas embarcações podem comprar o pescado dos

pescadores locais ou mesmo conduzir pescadores de outras regiões, que são

contratados e suas canoas rebocadas para as áreas de pescas. Atualmente, os

barcos da frota de Manaus realizam viagens de pesca à distância máxima de até

3700 km para realizar pescarias nos trechos superiores dos rios Juruá, Japurá e

Javari (BARTHEM et al., 1997; ISAAC & BARTHEM, 1995).

Estima-se que no Amazonas existem aproximadamente 40.000 pessoas

vivendo exclusivamente da pesca. (ISAAC & BARTHEM, 1995; FALABELLA, 1994;

BATISTA, 1998).

2.3.4.2.2. Pesca Artesanal de Subsistência

Segundo MUTH (1996), o termo subsistência em pesca pode ser empregado

para caracterizar o uso tradicional e cotidiano de recursos pesqueiros por formações

sociais dependentes do recurso, incluindo a sobrevivência física, manutenção de

culturas tradicionais e a própria persistência das estruturas sociais.

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É considerada uma atividade tradicional, permanente e complementar a

outras atividades econômicas, cuja produção dedica-se quase exclusivamente ao

consumo próprio ou de parentes e amigos, mas às vezes o excedente é vendido na

vila mais próxima ou salgado para posterior utilização. O pescado é utilizado

imediatamente após a capturar, sem sofrer o beneficiamento com gelo (BARTHEM

et al., 1997).

Esta pescaria é executada com uma grande variedade de apetrechos e por

uma substancial multiespecificidade (BATISTA et al, 1998; 2000; FREITAS &

BATISTA, 1999). Ainda que a pesca seja eminentemente masculina, nas

comunidades de ribeirinhos da Amazônia Central a pesca é desenvolvida com

elevada participação de mulheres, além de parte das crianças com idade suficiente

para praticar a atividade (FREITAS & BATISTA, 1999).

Segundo FREITAS et al. (2002), existe uma profunda interação entre os

ribeirinhos, o ambiente e a biota, assegurando um elevado conhecimento empírico

que se traduz no uso de estratégias de pesca adequadas ao ambiente e à espécie

de exploração.

Baseado em extrapolações com consumo médio per capita e da densidade

demográfica na bacia, estima-se que esta pesca é responsável por cerca de 70% da

captura total, correspondendo a 110.130 toneladas, usando dados de 1980

(BAYLEY & PETRERE Jr., 1989).

Este tipo de pesca é de fundamental importância no contexto social da

região, pois se destina ao suprimento alimentar da camada mais carente da

população e quem tem no peixe a única fonte de proteína (SANTOS & FERREIRA,

1999; FALABELLA, 1994; BATISTA, 1998).

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2.4. Os recursos pesqueiros amazônicos e sua dinâmica migratória

A diversidade da ictiofauna da região acompanha também sua extensão,

ainda é desconhecida, sendo esta responsável pelo grande número de espécies da

região neotropical, que pode alcançar 8.000 espécies (VARI & MALABARBA et al.,

1998).

A fauna de peixes conhecida é formada praticamente por um único grupo

taxonômico: cerca de 85% das espécies pertencem a Superordem Ostariophysi,

sendo que 43% são Characiformes, 39% são Siluriformes (bagres e peixes liso) e

3% Gymnotiformes (peixes elétricos). As demais espécies pertencem a outras 14

famílias (LOWE-McCONNELL, 1999).

Tendo como base a sazonalidade e ecologia das espécies alvo, podem-se

categorizar os peixes conforme os hábitos que estes apresentam sob o ponto de

vista da pesca, no caso, o comportamento migratório das espécies.

Existem as espécies que realizam migrações extensas, percorrendo trechos

da calha do rio e que possuem fortes ligações com o estuário. Como exemplos,

temos as espécies que pertencem à ordem dos Siluriformes, e as mais conhecidas

são do gênero Brachyplatystoma, como a piramutaba e a dourada (BARTHEM &

GOULDING, 1999).

As espécies que realizam migrações moderadas são aquelas que utilizam a

calha do rio para se deslocar rio acima, de uma várzea ou afluente para outra várzea

ou afluente. As espécies que geralmente realizam esse tipo de migração pertencem

à ordem Characiformes, como tambaqui (Colossoma macropomum), o pacu

(Mylossoma spp.), jaraqui (Semaprochilodus spp.), curimatã (Prochilodus nigricans),

entre outras.

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As espécies que não realizam migrações para completar o seu ciclo biológico

são aquelas tipicamente de ambientes lênticos, como por exemplo, os que

pertencem às famílias Arapaimidae e Osteoglossidadae (pirarucu e aruanã),

Cichlidae (tucunaré e acarás em geral) e Sciaenidae (pescadas em geral), entre

outras.

RUFFINO & ISAAC (2000) observaram que as espécies migradoras são

fortemente influenciadas pelas condições das flutuações do nível das águas.

Segundo ISAAC & BARTHEM (1995), no período da enchente, a maioria das

espécies se deslocam para as regiões de savanas e florestas recentementes

alagadas, onde encontram renovadas fontes de alimento aquático ou acesso a

frutos, sementes, artrópodes e outros itens de origem terrestre, assim como refúgio e

proteção contra predadores. Estes movimentos realizados para a floresta inundada,

principalmente pelos Characiformes logo depois de ter descido de seus afluentes

para desova, também foram observados no Rio Madeira por GOULDING (1979).

As espécies que pertencem aos grupos dos Characiformes, segundo

BATISTA (1998), além de serem o principal grupo da região, são também o que

fornece a maior parte do pescado disponível para o consumo de Manaus, como

também para as comunidades ribeirinhas, como as das famílias Prochilodontidae e

Curimatidae.

As espécies que serão avaliadas nessa dissertação são algumas das mais

importantes nos desembarques em Manaus e em cidades do interior do estado

(BATISTA, 1998), assim como para a alimentação dos ribeirinhos (CERDEIRA,

1997; BATISTA et al., 1998). Foram consideradas espécies de comportamento

migratório, como a curimatã (Prochilodus nigricans Spix & Agassiz, 1829), o jaraqui

(Semaprochilodus insignis Jardine & Schomburgk, 1841, Semaprochilodus taeniurus

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Valenciennes, 1817) e o tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier 1818); bem

como as que não migram para completar o seu ciclo biológico como o pirarucu

(Arapaima gigas Cuvier, 1829), o tucunaré (Cichla monoculus Spix & Agassiz, 1831)

e o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum Vandelli 1829.).

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3. OBJETIVOS

O objetivo geral desta pesquisa é determinar a compatibilidade do

etnoconhecimento de pescadores profissionais e ribeirinhos com o conhecimento

científico já estabelecido para subsidiar ao manejo local de recursos pesqueiros.

Os objetivos específicos são:

1. Compilar a informação publicadas na literatura científica e em literatura

cinza sobre a dinâmica populacional de 3 espécies sedentárias

(tucunaré-comum, Cichla temensis; Aruanã, Osteoglossum bicurhosum

e Pirarucu, Arapaima gigas) e 3 espécies migrantes (Tambaqui,

Colossoma macropomum; Curimatã, Prochilodus nigricans; Jaraqui,

Semaprochilodus spp.) de importância comercial na Amazônia Central;

2. Determinar o conhecimento de pescadores profissionais sobre a

dinâmica populacional de 3 espécies sedentárias e 3 espécies

migrantes de peixes de importância comercial na Amazônia Central;

3. Determinar o conhecimento de pescadores de subsistência sobre a

dinâmica populacional de 3 espécies sedentárias e 3 espécies

migrantes de peixes de importância comercial na Amazônia Central;

4. Avaliar comparativamente o conhecimento etnoecológico de ambos

tipos de pescadores com as informações científicas sobre a dinâmica

de populações das espécies.

Para isto serão testadas as seguintes hipóteses:

i. Pescadores comerciais possuem informações igualmente precisas e

abrangentes em relação aos saberes dos pescadores de subsistência

sobre a dinâmica dos recursos pesqueiros.

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ii. O saber ictiológico de pescadores citadinos comerciais e de subsistência

apresenta similaridade suficiente com o saber científico já acumulado,

permitindo sua utilização no monitoramento e ordenamento pesqueiro e

viabilizando o manejo participativo da pesca.

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4. METODOLOGIA

4.1. Área de estudo

As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas na Balsa de desembarque

de pescado em Manaus – AM e nas áreas rurais do município de Manacapuru – AM.

Figura 1 – Mapa esquemático da divisão municipal do estado do Amazonas, com indicação

dos municípios onde ocorreu a coleta de dados, Manaus e Manacapuru.

4.2. Coleta de dados

4.2.1. Dados primários coletados

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os pescadores

profissionais citadinos1 no Porto de Desembarque Pesqueiro (Balsa Manaus

Moderna) em Manaus, e com os pescadores ribeirinhos2 comerciais e de

1 Pescador citadino – é aquele que vive em cidades e já perdeu sua ligação com a terra (Furtado 1993). 2 Pescador ribeirinho – aqui foi chamado o pescador interiorano que vive na zona rural e tem alguma relação com a terra, onde

a pesca é renda parcial de sua atividade, podendo ser principal ou complementar de outras atividades relacionadas ao campo.

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subsistência das áreas rurais de Manacapuru, durante o período de julho a

dezembro do ano de 2002.

As entrevistas foram realizadas de modo individual, contendo perguntas

chaves e também de questões abertas, as quais incluíam 45 tópicos, abordando

primeiramente os aspectos pessoais, experiências e relações sociais na pesca do

pescador entrevistado e, posteriormente os aspectos biológicos e ecológicos

(reprodução, alimentação, predação, crescimento, migração, mortalidade, e

recrutamento) de espécies de peixes sedentárias: aruanã, pirarucu e tucunaré; e

migradoras: curimatã, jaraqui e tambaqui.

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente, dependendo da

disponibilidade e da boa vontade a responder às questões. Por se tratar de um

estudo de etnoconhecimento, as expressões e palavras nativas foram mantidas a fim

de garantir maior confiança entre as partes. As entrevistas tiveram duração de 40

minutos a cerca de 2 horas. Foram todas registradas por escrito, e logo em seguida

inseridas num banco de dados, onde foram posteriormente efetuadas as consultas e

análises.

4.2.2. Dados secundários coletados

Foi efetuado um levantamento de dados científicos sobre biologia e ecologia

das espécies, por meio de revisão bibliográfica que incluiu teses, monografias,

artigos científicos e livros especializados.

4.3. Análise dos dados

Foi realizada uma análise comparativa dos dados científicos com o

conhecimento popular dos pescadores ribeirinhos e dos pescadores citadinos

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23

profissionais, e entre estes dois últimos, utilizando estatística descritiva. Os testes de

hipótese foram efetuados após avaliação da normalidade por Kolmogorov-Smirnov e

da homocedasticidade das variâncias por Bartlett (LEVINE et. al.,2000).

Para analisar as diferenças entre as respostas dos pescadores citadinos e

dos ribeirinhos, foram efetuados teste Z (Equação 1), e teste t (Equação 2) que se

baseia na diferença entre as duas proporções de amostras. A hipótese nula indica

sempre que as duas amostras das populações são iguais (LEVINE et. al.,2000).

Equação 1 – Teste Z

)11)(1(

)()(

21

2121

nnPP

ppppZ

mm

ss

com

21

21

nnXXPm

nXPs

Onde:

p = proporção total da amostra (1 e 2)

ps = proporção da amostra obtidas na população (1 e 2)

X = número total da amostra (1 e 2)

n = tamanho da amostra extraída (1 e 2)

Pm = estimativa agrupada da proporção da população (1 e 2)

Equação 2 – Teste t

)1n1( S

)()(

21

2p

2121

n

XmXmt

com

1)-(n 1) -(nS ) 1 -(n )S 1 -(n S

21

222

211

p2

Onde:

S2p = variância combinada

Xm = média aritmética da amostra tirada da população (1 e 2)

S2 = variância da amostra tirada da população (1 e 2)

n = tamanho da amostra extraída da população (1 e 2)

µ = média aritmética da população (1 e 2).

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24

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Caracterização dos pescadores citadinos profissionais e ribeirinhos

comerciais e de subsistência na Amazônia Central

O número total de entrevistados foi de 57 pescadores. Todos os

entrevistados são do sexo masculino. Destes, os que foram entrevistados no porto

de desembarque de Manaus, aqui chamados de pescadores citadinos (n= 31), cerca

de 60% têm o Ensino fundamental; e os pescadores entrevistados na região rural de

Manacapuru, aqui chamados de pescadores ribeirinhos (n= 26), cerca de 70%

apresentam o Ensino fundamental (Tabela 1).

Cerca 56% dos pescadores citadinos ocupavam a função de pescador no

barco de pesca, enquanto que o restante ocupava outras funções como

encarregado, dono do barco e outros.

Dos pescadores ribeirinhos, 46% pescavam apenas para subsistência, e 53%

pescavam para subsistência e também comercializavam o seu pescado. Esses

dados confirmam que a atividade pesqueira tem grande importância para as

populações ribeirinhas (ALMEIDA et al, 2001; CERDEIRA et al. 1997).

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25

Tabela 1 – Grau de escolaridade e função na pesca apresentados pelos pescadores

citadinos e ribeirinhos na Amazônia Central.

PESCADOR CITADINO PESCADOR RIBEIRINHO CARACTERÍSTICA ESTUDADA

N % N % ESCOLARIDADE

Ens. Fund. Incompleto 19 61,3 19 73,1

Analfabeto 4 12,9 6 23,1 Ens. Fund. Completo 3 9,7 1 3,8 Ens. Médio Completo 3 9,7 0 0 Ens. Médio Incompleto 1 3,2 0 0 Superior Completo 1 3,2 0 0

TOTAL 31 100 26 100 Função na Pesca

Pescador 18 56,3 12 46,2

Pescador de subsistência 0 0 12 46,2

Encarregado 8 25 1 3,8

Outros 5 18,7 1 3,8

TOTAL 31 100 26 100

Dos pescadores citadinos, cerca de 50% são de origem do médio Solimões,

26% do município de Coari, 23% do Purus, e os outros 30% nasceram no Careiro

(alto Amazonas), Manacapuru e Codajás (baixo Solimões). Os principais locais nos

quais passaram a maior parte de suas vidas foram Purus (23%), Coari (20%),

Manacapuru (16%), Manaus (10%) e Codajás (10%).

Dos pescadores ribeirinhos cerca de 50% são originários da região de

Manacapuru e os outros 25% são dos municípios de Coari, Careiro, Manaus e

Manaquiri. Destes últimos, cerca de 50% criaram-se em Manacapuru. E os outros

locais de criação destes pescadores ocorreram com maiores freqüências em

Puraquequara, área rural de Manaus (12%), Coari (8%) e na cidade de Manaus

(8%). (Tabela 2).

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26

Tabela 2 – Principais locais de origem e de onde se criaram dos pescadores citadinos e

ribeirinhos da Amazônia Central

ONDE NASCEU ONDE SE CRIOU CITADINOS (N=31)(%)

RIBEIRINHOS (N=26) (%)

TOTAL GLOBAL (N=57) (%)

Acre Acre 0,00 3,85 1,75 Careiro 3,23 3,85 3,51

Careiro da Várzea 3,23 0,00 1,75 Manacapuru 0,00 3,85 1,75

Manaus 3,23 0,00 1,75 Careiro

Total 9,68 7,69 8,77 Coari 16,13 7,69 12,28

Manacapuru 6,45 0,00 3,51 Manaus 3,23 0,00 1,75

Coari

Total 25,81 7,69 17,54 Codajás Codajás 9,68 0,00 5,26

Janauacá Janauacá 0,00 3,85 1,75 Coari 3,23 0,00 1,75

Puraquequara 0,00 3,85 1,75 Tefé 3,23 0,00 1,75

Juruá

Total 6,45 3,85 5,26 Lábrea Lábrea 3,23 0,00 1,75

Manacapuru Manacapuru 9,68 46,15 26,32 Manaquiri 0,00 3,85 1,75 Manaus 0,00 3,85 1,75 Manaquiri

Total 0,00 7,69 3,51 Iranduba 0,00 3,85 1,75 Manaus 3,23 0,00 1,75

Puraquequara 0,00 3,85 1,75 Manaus

Total 3,23 7,69 5,26 Manicoré Manicoré 3,23 0,00 1,75 Parintins Parintins 3,23 0,00 1,75

Purus Purus 22,58 3,85 14,04 Santarém/PA Manaus 0,00 3,85 1,75

Tefé Tefé 3,23 0,00 1,75 Uruá Puraquequara 0,00 3,85 1,75

Entre os pescadores citadinos, destes cerca de 70% pescadores já viveram

em outras cidades urbanas, das quais de 25% já viveram até 5 anos em outras

cidades (Tabela 3).

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Tabela 3 – Tempo em que os pescadores citadinos e ribeirinhos viveram em outras cidades

CITADINOS RIBEIRINHOS CLASSE DE TEMPO Nr % N %

00-05 5 25 5 41,7 05-10 3 15 2 16,7 10-15 2 10 4 33,3 15-20 3 15 0 0 20-25 1 5 0 0 25-30 3 15 1 8,3 30-35 2 10 35-40 1 5 Total 20 100 12 100

As cidades mais citadas foram: Manaus (32%), Manacapuru (29%), Coari

(10%) e Tefé (7%) (Tabela 4). Dentre os pescadores ribeirinhos cerca de 40% já

viveram até 5 anos em outras cidades, alguns chegaram a viver, cerca de 33%,

entre 10–15 anos em outras cidades, Manaus (53%) e Manacapuru (35%), foram as

mais citadas por estes pescadores.

Tabela 4 – Cidades em que viveu os pescadores citadinos e ribeirinhos

CITADINOS RIBEIRINHOS CIDADES

N % N % Manaus 9 32,1 9 52,9

Manacapuru 8 28,6 6 35,3 Coari 3 10,7 Tefé 2 7,1

Outras 6 21,4 2 11,8 Total 28 100 17 100

5.1.1. Experiências e relações sociais na pesca da Amazônia Central

Segundo os relatos dos pescadores da Amazônia Central, a maioria começou

a pescar de subsistência e a pescar com finalidade de venda entre a classe de 10 a

15 anos (Tabela 5).

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Tabela 5 – Classes de idade que os pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central

começam a pescar e quando iniciam a pescar com fim de comercialização.

CLASSE CITADINOS RIBEIRINHOS DE TEMPO N % N %

IDADE QUE COMEÇA A PESCAR 5-10 6 24 9 40,9 10-15 10 40 12 54,5 15-20 5 20 1 4,5 20-25 0 0 25-30 3 12 30-35 1 4

Total 25 100 22 100

IDADE QUE COMEÇA PESCAR PARA COMERCIALIZAÇÃO

5-10 1 3,6

10-15 2 7,1 2 12,5 15-20 10 35,7 7 43,8 15-20 5 17,9 5 31,3 20-25 1 3,6 1 6,3 25-30 7 25 1 6,3 30-35 2 7,1

Total 28 100 16 100

Esses dados apresentados demonstram que a atividade pesqueira de forma

geral está sendo exercida homens novos, resultado este, que indica de que o

conhecimento da pesca na região ainda é transmitido aos jovens de maneira a

proporcionar condições para prática da pesca, com uma alternativa de geração de

renda.

Fora do setor pesqueiro, a agricultura foi à atividade mais citadas 36% pelos

pescadores citadinos e cerca de 70% para os pescadores ribeirinhos. Essas

informações ressaltam que os pescadores ribeirinhos desenvolvem atividade da

agricultura para complementar a renda familiar.

Cerca de 60% dos pescadores citadinos e dos pescadores ribeirinhos

informaram que aprenderam a pescar com o pai e outros responderam que

aprenderam o ofício da pesca com outros parentes (irmão, tios, primos), amigos ou

sozinho (observando outros pescadores). Quanto à relação de trabalho em barco de

pesca, tanto os pescadores citadinos quanto os ribeirinhos, a maioria exerce esta

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29

atividade em parceria. Os pescadores que comercializam seu pescado escolheram

tal atividade da pesca, porque não tinha alternativa a não ser pescar: “é o que sabe

fazer”. Já os pescadores ribeirinhos, a maior parte citou que a pesca é mais uma

fonte de renda “dá dinheiro”. A rede foi considerada o instrumento de pesca

preferido entre os pescadores citadinos, correspondendo cerca de 80%. Entre os

pescadores ribeirinhos, 35% indicaram pescar melhor com a rede e 23% indicaram a

malhadeira (Tabela 6).

Cerca de 40% dos pescadores citadinos são donos de algum utensílio de

pesca, incluindo o barco de pesca que corresponde cerca de 50%. Entre os

pescadores ribeirinhos 85% são proprietários de algum instrumento de pesca,

entrem eles: a rede, canoas, malhadeira e de barcos de pesca.

A maioria dos pescadores entrevistados (95%) sabe fazer algum tipo de

utensílios de pesca, destes cerca de 80% dos citadinos sabem confeccionar todo

tipo de utensílios de pesca como arpão, arrastadeira, caniço, espinhel, flecha, linha

de mão, malhadeira, currico, redinha, tarrafa, zagaia entre outros. Cerca de 78% dos

pescadores ribeirinhos confeccionam todo tipo de instrumento, e 22% sabem fazer

até cinco instrumentos utilizados na pesca. Os pescadores citadinos que sabem

fazer algum tipo de utensílio de pesca, 55% relataram que aprenderam observando

outros pescadores trabalhando. Entre os pescadores ribeirinhos cerca de 41%

responderam que também aprenderam “vendo os outros fazer”.

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30

Tabela 6 – Perfil sócio econômico dos pescadores profissionais citadinos e ribeirinhos da

Amazônia Central

PESCADOR CITADINO PESCADOR RIBEIRINHO CARACTERÍSTICA ESTUDADA N % N %

EXPERIÊNCIA EM OUTRAS ATIVIDADES

Agricultura 10 35,7 18 72 Extrativismo vegetal 4 14,3 Pedreiro 3 10,7 3 12 Industriário 3 10,7 Funcionário público 2 7,1 1 4 Comerciante 2 7,1 Outros 4 14,3 3 12

TOTAL 28 100 25 100 QUEM ENSINOU A PESCAR Pai 19 61,3 17 56,7 Outros parentes 6 19,4 7 23,3 Amigos 5 16,1 3 10 Outros 1 3,2 3 10 TOTAL 31 100 30 100 RELAÇÃO DE TRABALHO

Parceria 22 71 12 56,7

Familiar 5 16,1 1 23,3 Contrato 3 9,7 1 10 Proprietário 1 3,2 10 TOTAL 31 100 14 100 MOTIVO QUE TRABALHA NA PESCA

É o que sabe fazer 15 39,5 10 45,5 Dá dinheiro 11 28,9 8 36,4 Gosta 9 23,7 4 18,2 Outros 3 7,9 TOTAL 38 100 22 100 PREFERÊNCIA DE UTENSÍLIOS

Rede 24 82,8 9 34,6 Malhadeira 2 6,9 6 23,1 Arrastão 1 3,4 4 15,4 Outros 2 6,9 5 19,2 Sem preferência 0 0 2 7,7

TOTAL 29 100 26 100

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5.2. Etnoictiologia das espécies de comportamento sedentário segundo os

pescadores da Amazônia Central

5.2.1. Aruanã (Osteoglossum bicirrhosum.)

Pertence à família Osteoglossidae, são conhecidas duas espécies

Osteoglossum bicirrhosum, distribuída na Bacia Amazônica e na savana do

Rupunny. E O. ferrarai, que só foi registrada para região de Orinoco e Rio Negro

(ARAGÃO, 1981). É caracterizada por apresentar escamas grandes, grossas e

fortemente imbricadas em forma de mosaico, apresenta uma região ventral quilhada,

boca oblíqua, profundamente fendida. É vulgarmente conhecido como baiano,

sulamba, macaco-d’água.

O aruanã não está classificado como peixe de primeira qualidade, vai

aparecer entre as principais espécies comercializadas na região para classe de

baixo poder aquisitivo. Tem um grande potencial como peixe ornamental

principalmente nos primeiros estágios de desenvolvimento pelos aquariofilistas

(SHWARTZ, 1968).

BATISTA (1998) registrou a produção pesqueira do aruanã executada pelos

ribeirinhos no período 1994-1996 na Amazônia Central, caracterizando-se ser

exclusivamente para a alimentação, participando cerca de 5% nos seus resultados,

sendo efetuada principalmente com tarrafa. E na pesca profissional, o aruanã esteve

entre os itens mais importante em 1 ano (1996 com 401 ton.), embora ocorresse nos

outros anos, sua produção pesqueira não foi de total importância.

5.2.1.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo

Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos

pescadores citadinos e ribeirinhos.

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32

Os pescadores informaram que o peixe começa a reproduzir com 58 ± 5,1 cm

de tamanho de comprimento e 2,2 anos ± 1,5 ano de idade. E atinge a maturação

completa com a média de 89 cm (± 17 cm) de tamanho e 4,5 anos (± 2,7 anos) de

idade. Afirmaram ainda que a espécie:

1. reproduz no período da enchente,

2. tem preferência de desovar na boca do outro peixe,

3. apresenta comportamento de cuidados parentais com sua prole. Como por

exemplo, o hábito de guardar os filhotes na boca quando ameaçados.

Quando comparamos essas informações com o conhecimento cientifico

verificamos equivalências relacionais com o conhecimento tradicional dos

pescadores, pois segundo SHWARTZ (1968) GOULDING (1980) ARAGÃO (1981)

FERREIRA et al. (1998), QUEIROZ (no prelo) e BARTHEM & FABRÉ (2004)

registraram que a desova do aruanã ocorre no período da enchente, com

fecundação externa em lagos poucos profundos, sem turbulência com plantas

aquáticas e com alta temperatura (LULINg, 1964 apud ARAGÃO, 1981). Segundo as

observações dos pesquisadores SCHWARTS (1968), ARAGÃO (1981), GOULDING

(1980), VAZZOLER (1996) logo após a desova, o macho pega os ovos fertilizados e

põe na boca, onde eles são abrigados e guardados com condições necessárias para

o seu desenvolvimento. Antes de alcançar 10 cm de comprimento, o filhote de

aruanã é incapaz de nadar, devido à presença do saco de vitelo que puxam eles

para o fundo. Quando estão mais independentes, o aruanã pai abre sua boca,

permitindo que eles saiam e nadem ao redor dele caçando larvas de mosquito e

comida microscópicas, quando percebem algum perigo, nadam rapidamente para a

boca do pai (SCHWARTZ, 1968). Foi verificado por FERREIRA et al. (1998) e

QUEIROZ (no prelo) que o aruanã pode alcançar até 1 m de comprimento e 3 quilos

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33

em peso. E GOULDING (1980) sugerem que o aruanã começa a reproduzir com 2

anos.

Em relação às respostas entre os pescadores sobre o tipo de desova do

aruanã, foi observada diferença significativa (p < 0,01) entre as proporções

indicadas, onde cerca de 80% dos citadinos registraram que o aruanã desova uma

vez por ano. Cerca de 50% dos pescadores ribeirinhos afirmaram que o aruanã

desova uma vez por ano, e cerca de 7% registraram que aruanã desova até duas

vezes por ano. E o restante (46%) não sabia informar (Figura 2).

Figura 2 – Quantidade de desovas do aruanã por ano segundo os pescadores citadinos

(n=31) e ribeirinhos (n=26) da região Amazônia Central

Nos dados científicos também foi visto que há uma contradição em relação ao

tipo de desova do aruanã, GOULDING (1980) e BARTHEM & FABRÉ (2004)

registraram que apresenta uma desova do tipo parcelada. Enquanto ARAGÃO

(1981) e QUEIROZ (no prelo) afirmaram que o aruanã apresenta a desova do tipo

total, desovando uma vez dentro de cada período, sendo que nem todos os

indivíduos expelem ovócitos simultaneamente, estabelecendo um período mais

amplo.

0

20

40

60

80

100

1 2 não sabe

desova/ano

%

Citadino

Ribeirinho

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34

Quanto à fecundidade do aruanã, também foi observada diferença

significativa (p< 0,01) entre as proporções indicadas com maior freqüência entre os

pescadores, onde 88% dos pescadores citadinos e 60% dos pescadores ribeirinhos

registraram que aruanã apresenta uma fecundidade de até 500 ovos. E cerca de

80% não sabiam de quantos ovos o peixe poderia produzir a cada desova (Figura 3).

Vale destacar, que os pescadores de forma geral não se preocupa em conhecer o

número exato de quantos ovos a espécie produz, e sim afirma que o peixe produz

muitos ovos.

Figura 3 – Fecundidade aruanã segundo os pescadores citadinos (n=17) e

ribeirinhos (n=31) da Amazônia Central.

Quando comparamos essas informações citadas pelos pescadores,

verificamos que há congruências com os dados de QUEIROZ (no prelo), o qual

aponta que a espécie apresenta uma fecundidade relativamente baixa.. Outros

autores registraram em torno de 182-210 ovócitos (GOULDING, 1980). SHWARTZ

(1968) citou a fecundidade do aruanã entre 200-300 ovócitos e ARAGÃO (1981) deu

a média absoluta de 156 ovos maduros por ano.

0

20

40

60

80

100

0-50

0

500 -

1000

1000

-150

0

1500

-200

0

2000

-250

0

2500

-300

0

3000

-350

0

3500

-400

0

4000

-450

0

4500

-500

0

Quantidade de ovos

Fre

qu

ênci

a%

Citadino

Ribeirinhos

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Em síntese, a Tabela 8 mostra uma comparação do ciclo reprodutivo do

Aruanã entre os dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os

encontrados na literatura científica.

Tabela 7 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da

literatura sobre o comportamento reprodutivo do aruanã

CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS

PESCADORES CITAÇÕES DAS LITERATURAS

"O peixe começa produzir com 60 cm com 2 anos

de idade" L50 idade: 2 anos (Goulding, 1980).

“A Sulamba pode atingir 90 cm de comprimento

com idade de 6 anos"

L100: Tamanho 100 cm (Ferreira et al., 1998;

Queiroz, no prelo).

“A Sulamba produz filhotes na enchente"

Enchente (Barthem & Fabré, 2004. Goulding,

1980; Aragão, 1981; Ferreira et al.,

1998;Queiroz, no prelo)

“Desova mais de uma vez" Parcelada (Goulding, 1980; Barthem & Fabré,

2004 ); Total (Aragão, 1981; Queiroz, no prelo)

“A fêmea desova na boca do outro peixe"

Fecundação externa, lagos, (Aragão, 1981);

Guardam a prole na boca (Schwartz, 1968;

Aragão, 1981; Vazoller, 1996. Ferreira et al.,

1998.).

“Desova muitos ovos, a ova é grande"

209 ovócitos (Queiroz, no prelo); 182-210 /

200-300 / 156 ovócitos (Goulding, 1980;

Shwartz, 1968; Aragão, 1981)

5.2.1.2 Conhecimentos relacionados com ecologia trófica

Os pescadores da Amazônia Central possuem um conhecimento peculiar

sobre os hábitos alimentares do aruanã. Relataram que a espécie tem uma

alimentação diversificada registrando como sua preferência alimentar o peixe,

indicaram o lago como o principal ambiente utilizado na alimentação durante a

época de enchente e vazante. Enunciaram que não há mudanças nos itens da dieta

alimentar durante a sazonalidade das águas, sendo que alguns pescadores

enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o período da seca (Figura 4).

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36

Figura 4 – Alimentação do aruanã segundo os pescadores citadinos (cit) e

ribeirinhos (rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz.)

Quando comparado esses dados com as literaturas, observamos certa

equivalência, onde GOULDING (1989) indicou a espécie como onívora, não

apresenta ter exigências alimentares restritas, com preferência por insetos,

principalmente besouros grandes, na captura chegam a saltar fora d’água, sendo por

isso conhecida como macaco-d’água (FERREIRA et al. 1998). Às vezes, alimenta-se

de pássaros e pequenos morcegos (ARAGÃO, 1984; 1986). Na fase inicial de

desenvolvimento seu principal alimento é fitoplâncton e zooplâncton. Na fase adulta,

ARAGÃO (1981), distinguiu 66 itens alimentícios, como insetos, vegetais, moluscos,

crustáceos aracnídeos e peixes. No período da enchente, registrou o grupo dos

insetos como alimento principal, incluindo 7 ordens predominando os Coleópteras,

Hemípteros, Orthópteros, e os menos freqüentes Odonata, Dípteros e Hymnópteros.

No grupo do aracnídeo, destacou a ordem de Araneida. Nos moluscos a classe só

ocorreu dos gastrópodes. E dentre os peixes, foi registrado a ocorrência das ordens

Clupeiformes, Siluriformes, e Perciformes. No período da vazante, devido da

presença do “matupá” foi registrada 8 ordens de insetos, destacando-se os

0

20

40

60

80

100

peixe rã inseto calango Outros

Itens alimentícios

%

Cit/Ench (n=56)

Cit/Vaz(n=55)

Rib/Ench (n=54)

Rib/Vaz (n=53)

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Hemípteros e Coleópteras. Entre os crustáceos, destacou-se o camarão

Paleomídeos.

Quanto às informações relacionadas com os principais predadores do aruanã

os pescadores apontaram outros tipos de peixes e o jacaré, tendo como principal

ambiente o lago, durante toda sazonalidade das águas não observada diferença

significa (p > 0,01) entre os pescadores citadinos (42%) e ribeirinhos (32%).

Exemplos dos principais espécies de peixes que predam o aruanã citado pelos

pescadores: a piranha e o pirarucu. Não foram encontradas informações específicas

nas literaturas científicas sobre a predação desta espécie.

5.4.1.4. Conhecimento relacionado com o comportamento migratório

Em relação ao comportamento migratório do aruanã foi registrado pela

maioria dos pescadores entrevistados que esta espécie de peixe não migra durante

as sazonalidades das águas, não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre

os dados de pescadores citadinos e ribeirinhos. Essa informação corresponde com

da literatura, onde LOWE-MCCONNEL (1964), GOULDING (1980) e BARTHEM &

FABRÉ, (2004) registraram que o peixe não apresenta comportamento migratório.

5.4.1.5. Conhecimento relacionado com o crescimento

Quanto ao crescimento, segundo o saber tradicional dos pescadores da

Amazônia Central a média de tamanho do aruanã com a idade de 1 ano é 30 cm,

não havendo diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01). Com a idade

de 2 anos, foi verificado diferenças significativas (p < 0,01) entre os de tamanhos

indicados pelos pescadores, onde os citadinos citam que a espécie atinge a média

de tamanho de 76 cm contra os 53 cm dos ribeirinhos. Com 3 anos não foi verificado

diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01), sendo que o peixe pode

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38

chegar até a média de tamanho de 76 cm de comprimento (Tabela 8). Não foram

encontradas informações específicas nas literaturas científicas sobre o crescimento

desta espécie.

Tabela 8 – Médias de tamanho (cm) do aruanã conforme a idade (ano) segundo os

pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central.

Pescador Idade N Média MIN MAX DESV 1 16 30 10 60 19 2 16 76 20 150 3 3 5 76 50 120 60

Citadino

4 8 300 300 300 1 14 34 10 100 23 2 11 53 25 100 20 3 8 71 50 100 20

Ribeirinho

4 1 80 80 80

5.4.1.6. Conhecimento relacionado com a mortalidade e recrutamento

pesqueiro

Quanta a mortalidade larval do aruanã 65% dos pescadores citadinos

apontaram o que mais mata este peixe nesta fase é a mortalidade natural 26% não

sabiam responder quais as causas de mortalidade desta espécie contra os 96% dos

pescadores ribeirinhos indicando mortalidade natural, revelando uma diferença

significativa (p < 0,01), entre os dados destes pescadores. Entre as quais se

destacam a predação e a friagem como morte natural. Na fase jovem os pescadores

indicaram a morte natural, não registrando diferenças significativas (p > 0,01) entre

seus dados e na fase adulta os pescadores registram a pesca como principal motivo

da mortalidade deste peixe nesta fase, não verificadas diferenças significativas (p >

0,01) entre suas respostas (Figura 5). Não foram encontradas informações

específicas nas literaturas científicas sobre a mortandade desta espécie.

Em relação ao tamanho de captura do aruanã, os pescadores registraram um

tamanho médio de 50 ± 21 cm não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre

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39

as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos. O recrutamento pesqueiro do

aruanã permitido pela Portaria 01/2001 IBAMA é a partir de 44 cm.

Figura 5 – Mortalidade do aruanã nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores

citadinos - Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia Central.

0

20

40

60

80

100

Cit/larva

l

Rib/la

rval

Cit/jove

m

Rib/jo

vem

Cit/ad

ulto

Rib/ad

ulto

Pescadores/Fase de vida

%

Natural

Pesca

N sabe

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40

5.2.2. Pirarucu (Arapaima gigas)

O Arapaima gigas distribui-se no Amazonas desde o Orinoco, Guianas, até

Ucayali-Peru, não atingindo o sistema do Madalena nem o do Pará (LULING, 1969

apud NEVES, 2000). Porém BARD & IMBIRIBA (1986) dizem não haver registro na

bacia Orinoco, sendo encontrado na parte inferior do rio Amazonas.

Na Amazônia peruana a espécie é chamada de paiche, provavelmente pelo

vocabulário indígena original payshi, e pirarucu no Brasil, o mais correto segundo

EIGNMANN & ALLEN (1942) apud NEVES (2000). E na Guiana, de Arapaima,

provavelmente pelo nome guiano original waraima (ROMERO, 1960). De acordo

com FONTENELE (1948), a palavra pirarucu é de origem indígena, constituída pela

união de pira = peixe e urucu= vermelha, devida à intensa coloração na sua orla

posterior.

Pertence a família Arapaimidae, caracterizada pela língua óssea e áspera,

escamas grandes, grossas e fortemente imbricadas em forma de mosaico; corpo

roliço; região ventral arredondada, boca terminal. Espécie de grande porte é o maior

peixe de escama da Amazônia, chegando a atingir mais de 2 metros de

comprimento e 100 quilos de peso. Tem respiração aérea obrigatória, isto é, precisa

subir regularmente à superfície para tomar o oxigênio do ar. Este hábito é conhecido

pelos pescadores e usado para capturá-lo com arpões. Outra peculiaridade,

segundo NEVES (2000), é que esse peixe pode sobreviver durante várias horas fora

d’água (resiste 24 horas), desde que suas escamas não fiquem ressecadas.

FONTENELE & VASCONCELOS (1982), IMBIRIBA et al. (1985) destacaram

que o pirarucu é considerado o “bacalhau brasileiro”, devido ao excelente sabor de

sua carne, particularmente quando beneficiada a seca e salga. O que determina o

seu alto valor que reside no seu grande porte, tornado-se então, um alimento rico em

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41

proteína, superando a carne do salmão, sardinha e carne bovina, submetidas o igual

tratamento (SOLAR, 1949 apud NEVES, 2000).

É de domínio público a diminuição de algumas espécies de peixe nos últimos

anos, principalmente as que têm sofrido um grande esforço pesqueiro, como no caso

do pirarucu (ISAAC et al., 1993). PETRERE Jr. (1985; 1986) já indicava que a

densidade de espécies grandes como esta, próxima a Manaus, está diminuindo

consideravelmente, pela pressão da pesca nos últimos anos.

Além dessa espécie esta correndo o risco de sobrexploração, temos que

considerar que esta situação se agrava pelo hábito gregário dos juvenis, pelo longo

período de proteção à prole dispensado pelos reprodutores e pela necessidade

fisiológica de vir a à superfície para captar o ar, no exercício da respiração aérea, o

que expõem os reprodutores à fácil captura; os filhotes, então, tornam-se sujeitos à

predação por peixes carnívoros e outros animais (BARD & IMBIRIBA, 1986), ou até

mesmo sujeitos à pesca com fim de criá-los em cativeiro.

5.2.2.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo

Não foi observada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados

pelos pescadores citadinos e ribeirinhos em relação ao comportamento reprodutivo

do pirarucu quanto aos aspectos de tamanho e idade de primeira maturação e

tamanho em que o peixe atinge a maturidade completa.

Os pescadores da Amazônia Central relataram que o peixe começa

reproduzir com 159 ± 43 cm de tamanho e 4 ± 2 anos de idade. E atinge a

maturidade completa com a média de 257 ± 72 cm de tamanho. Informaram ainda

que a espécie:

1. reproduz no período da enchente,

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42

2. apresenta o costume de desovar em buracos no fundo do lago “faz panela”, e

descreveram os cuidados parentais com suas crias (Figura 6).

3. desova uma vez por ano,

4. tem fecundidade classificada entre 0-500 ovos por desova.

Para a idade de maturação plena que foi verificada diferença significativa (p <

0,01), onde os pescadores citadinos indicaram que o pirarucu atinge a plena

maturação com 8 ± 1,6 anos de idade e os ribeirinhos registraram 6 ± 2,1 anos de

idade para maturação completa do pirarucu.

Esses dados demonstram equivalências com as bibliografias científicas, onde

LÜBLING (1964), ALLSOPP (1958), LOWE-MCCONNEL (1975) registraram 212 cm

para tamanho de primeira maturação do Arapaima gigas. Em Mamirauá segundo

Queiroz (2000) o pirarucu começa a reproduzir com 165-168 cm por volta dos 5

anos. FONTENELLE (1948), IMBIRIBA (1994) estudaram o pirarucu em cativeiro, e

registraram que sua reprodução ocorre com o peso de 40-50 kg, a partir do 5º ano

quando já apresenta mais de 160 cm de comprimento total. LÜLING (1969),

FLORES (1980) apud NEVES (2000) após a análise de estágios de maturidade das

gônadas do pirarucu no rio Pacaya e Samiria no Peru concluíram que esta espécie

começa amadurecer quando atinge o peso de 40-50 kg entre 160 – 185 cm após o

4º e 5º ano de vida determinado através de exames das vértebras e pela curva de

crescimento.

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43

Figura 6 – Tipos de cuidados parentais do pirarucu segundo os pescadores citadinos

(esquerda; n=30) e ribeirinhos (direita; n=26) da Amazônia Central.

Comparando estas informações com o conhecimento científico vimos que

existe coerência, pois segundo LÜLING (1964) apud NEVES (2000), FLORES

(1980), o pirarucu do rio Pacaya e Samiria no Peru desova durante o ano todo com

um período de máxima intensidade de agosto a dezembro, sendo que o pico mais

notável é no mês de novembro e, de mínima intensidade, é entre março e maio.

Sugerem que o pirarucu que apesar de haver várias desovas durante um período de

reprodução, pois os óvulos amadurecem sucessivamente, a desova pode não ser

anual, mas sim ocorrendo a cada dois anos, o que reduz a fecundidade total. Este

resultado assemelha-se com o encontrado por QUEIROZ (2000), onde ele cita que o

pirarucu de Mamirauá apresenta uma reprodução sazonal, relacionada com o

período de enchente, sendo novembro e dezembro os principais períodos de

maturação das gônadas e desova. Seus resultados evidenciam o suporte da idéia

que a fêmea madura não desova todo ano consecutivo, mas uma vez em cada 2

anos, ou a cada 3 anos.

De acordo com FONTENELE (1952; 1948) o pirarucu em cativeiro, quando

vão reproduzir, dão preferência a locais sem vegetação aquática flutuante, embora

depois da desova, os reprodutores conduzissem os alevinos para locais obrigados

protege25%

agressivo23%carrega na boca

23%

não sabem26%

outros3%

protege58%

agressivo8%

carrega na boca15%

não sabem19%

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44

ou não de vegetação aquática. A profundidade da água varia entre os limites 0.80 a

1,00m. Os ninhos possuem forma de calota esférica, tendo cerca de 20cm de

profundidade e um diâmetro de aproximadamente 50cm, onde a fêmea coloca os

óvulos que recebem o líquido seminal do macho para ocorrência da fertilização, mas

podem pegá-los na boca por curto período de tempo para transportá-los para outro

local escolhido, caso o local inicial se torne inadequado, como muito raso, ou muito

quente. SAWAYA (1946), ALSSOP (1958); BARD & IMBIRIBA (1986), FERREIRA et

al (1998) descreveram que os ninhos são cavados no fundo dos lagos com a

cooperação de ambos os pais em pouca corrente.

A Tabela 11 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo

do pirarucu entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os

encontrados na literatura científica.

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45

Tabela 9 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da

literatura sobre o comportamento reprodutivo do pirarucu

CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS PESCADORES

CITAÇÕES CIENTÍFICAS

"O peixe começa produzir com 150 cm e 4 anos de idade"

L50: 212 cm e 6 anos (Lübling, 1964; Allsopp, 1958; Lowe-MacConnel, 1975); 160 cm e 5 anos (Fontenelle, 1948; Imbiriba, 1964).

“O pirarucu chega a medir 250 cm com 8 anos de idade"

L100: 311,7 cm e 10 anos (Queiroz, 2000)

“O pirarucu produz filhote na enchente"

Durante o ano todo - pico em nov-dez (enchente) (Lüling, 1964; Flores, 1980 apud Neves, 2000; Queiroz, 2002; Lübling, 1964; Lowe-McConnel, 1975; Alssopp, 1958)

"O pirarucu desova no buraco no fundo do lago, faz panela"

Florestas inundadas, constroem ninhos no fundo do lago (Sawaya, 1946; Alssopp, 1958; Lübling, 1964;Lowe-McConnel, 1975; Bard & Imbiriba, 1986; Ferreira et al., 1998; Queiroz, 2000.)

“O macho protege o filhote, fica agressivo"

Protegem a prole, principalmente os alevinos recém nascidos (Neves, 2000.); Cuidado com o ninho, principalmente executado pelo macho (Queiroz, 2000).

“O pirarucu reproduz uma vez por ano" Parcelada (Lübling, 1964; Lowe-McConnel, 1975; Alssopp, 1958; Neves, 2000; Queiroz, 2000)

“O peixe tem muitos ovos (0-500 ovos)" 11000 ovócitos (Bard & Imbiriba, 1986); 20,327 ovócitos (Queiroz, 2000).

5.2.2.2. Conhecimentos relacionados com ecologia trófica

Segundo os pescadores da Amazônia Central, o pirarucu tem uma

alimentação diversificada registrando como sua preferência alimentar, o peixe e o

camarão. Indicaram o lago durante os períodos de enchente e vazante. Vale

ressaltar, que não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas épocas de subida e

descida das águas sendo que alguns pescadores enfatizaram que diminui a oferta

de alimentos durante o período da seca, não foi observado diferenças significativas

(p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 7).

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46

Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib)

da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz).

Essas informações apresentam-se equivalentes com os encontrados na

literatura científica, onde observamos que QUEIROZ (2000) examinou o conteúdo

estomacal de 232 pirarucus de ambos os sexos de vários tamanhos originados de

uma Coleção de Referêncial de Mamirauá de tratos digestivos do pirarucu

conservados em uma solução de álcool (30-40%) e formol (15%), referentes ao

período de abril de 1993 e junho de 1995, onde nos seus resultados mostraram que

o pirarucu alimenta-se tanto de vertebrados como invertebrados. Dos vertebrados, o

que se destacou foram espécies de outros peixes, exemplos: “tamoatá” (Mecalechy

thoracatam), “bodó” (Hypostomus spp., Loricariichthys spp. e Gyptarichthys

gibbcepes), “mandi” (Pimelodus spp. e Pimelodella cristalta), “traíra” (Hoplias

malabaricus), “acará” (Apistogramma spp., Heros appendiculatus e Mesonauta

insignis), “rabeca” (Megalodoras uranoscafus), “sarapó” (Sternopygidae,

Gymnotidae, Rhamphichthyidae, Hypopomidae, Apteronotidae e Eigenmanniidae),

“Chorona” (Curimatella sp.), “peixe-cachorro” (Acestrorhynchus e Rhaphiodon),

“cascudinha” (Psectrogaster rutilordes e P. amazonica), “jeju” (Hoplerythrinus

0

20

40

60

80

100

peixe camarão carangueijo outros

Itens Alimentícios

%

Cit/Ench (n=36)

Cit/Vaz (n=35)

Rib/Ench (n=38)

Rib/Vaz (n=41)

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47

unitaeniatus) e “branquinha”(Potamorhina altamazonica). Eventualmente alimenta-se

de vegetais (pequenos brotos, algumas sementes e flores, fragmentos de macrófitas

aquáticas Eichhornia sp). Em pirarucus jovens, além de peixes, foram encontrados

invertebrados como insetos (Coleoptera, Diptera, Odonata e Hemiptera.), crustáceos

e moluscos. O de maior importância foram os macrocrustáceos décapodes

(Malacostraca), isto é caranguejo (Sylviocarcinus pictus e Dilocarcinus pagei) e

camarão (Macrobrachium amazonicum). Dos microcrustáceos foram encontrados

Ostracoda e Conchostraca (Branchiopoda), presentes somente nos estômagos de

animais muitos jovens (menos que 50 cm CT).

Os principais predadores do pirarucu conhecidos pelos pescadores da

Amazônia Central são outros tipos de peixes, que se alimenta dos filhotes e o jacaré

durante toda sazonalidade das águas não observando diferenças significas (p >

0,01) entre os tipos de pescadores citadinos e ribeirinhos.

Correspondendo com vários pesquisadores, como NEVES (2000), registrou

que o pirarucu quando jovem tem como “predadores principais” as aves (Anhinga

anhinga, Ceryle torquata, Phalacrocorax brasilianus) que, quando têm oportunidade,

atacam para comê-los. Outros predadores importantes do pirarucu jovem são: a

piranha (Serrassamus spp.), e o jeju (Hopterythrinus sp.). Os ocasionais são Cichla

monoculus (tucunaré) e Astronotus ocellatus (Acará açu). MIKDALSKI (1957)

registrou que o jacaré (Caiman yacare) é um outro predador em potencial de

pirarucus jovens de 40-50 cm.

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48

5.2.2.3. Conhecimentos relacionados com comportamento migratório

Em relação ao comportamento migratório do pirarucu foi registrado pelos

pescadores entrevistados que durante o período da cheia e enchente esta espécie

estariam se movimentando de um lago para outros lagos com a fim de desovar; e

durante os períodos de vazante e seca o peixe não executaria migração e estariam

mais na procura de abrigo, não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre os

dados de pescadores citadinos e ribeirinhos. Vale ressaltar que em geral, estes

percebem que esta espécie em outros períodos são sedentárias conforme já

descritos nas literaturas especializadas (QUEIROZ, 2000).

5.2.2.4. Conhecimentos relacionados com crescimento

Quanto ao crescimento do pirarucu, os pescadores registraram a média de

tamanho do pirarucu com a idade de 1 ano é 32 +/- 18,6 cm de comprimento. Com a

idade de 2 anos, é 66,6 +/- 33,5 cm de comprimento. Com 3 anos, indicaram que o

peixe pode alcançar a média de tamanho de 73 +/- 24,2 cm e com 4 anos, a média

de tamanho é de 190 +/- 155 cm não havendo diferenças significativas entre os

pescadores (p > 0,01) .

Comparando essas informações com os da literatura científica encontramos

razoável equivalência, o qual QUEIROZ (2000) estimou através do modelo de Von-

Bertalanffy a taxa de crescimento, utilizando dados de capturas no período de 1993-

1998 (Tabela 12).

Tabela 12. Crescimento do pirarucu segundo os pescadores da Amazônia Central

comparado com a literatura científica

IDADE PESCADORES LITERATURA AUTOR

1 32 cm 55-56 cm 2 66,6 cm 73-75 cm 3 73 cm 91-94 cm 4 190 cm 106-107 cm

Queiroz, 2000

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49

5.2.2.5. Conhecimento relacionado com a mortalidade e recrutamento

pesqueiro

Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata pirarucu na fase

larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso eles apontaram a

predação. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a principal causa

de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças significativas (p

> 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 21).

Fato este, que podemos confirmar na literatura sobre o aumento do esforço

pesqueiro os quais esta espécie tem sofrido nos últimos anos. Pois, segundo

VERISSIMO (1895) não existem registros contínuos da captura de pirarucu na Bacia

Amazônica. No século passado, entre 1885 e 1893, somente no porto de Belém

foram comercializadas, em média 1200 ton./ ano. SOUZA & VAL (1991) registraram

que dados da ex-SUDEPE mostraram, que no estado do Amazonas, as capturas

desta espécie caíram de 1140 ton. em 1979 para 364 ton. em 1986. Na Amazônia

Central, BATISTA (1998) registrou a produção pesqueira anual para a espécie 67,13

ton. em 1994, e 15,80 ton. em 1995. De acordo com ISAAC & RUFFINO (1999), foi

desembarcado nos anos de 1992 a 1996 uma média de 18,5 toneladas por ano em

Santarém. NEVES (2000) afirma que a produção deve estar sedo subestimada

devido ao mercado negro e ao desvio do produto nos portos, em vista das proibições

existentes para a comercialização desta espécie.

Em relação ao tamanho de captura do pirarucu foram verificadas diferenças

significativas (p < 0,01) entre os tamanhos apontados pelos pescadores, os citadinos

(n=25) registraram um tamanho médio de 151 ± 67 cm. Os pescadores ribeirinhos

(n=21) afirmaram que o pirarucu começa a ser capturado na média dos 51 ± 55 cm

de comprimento.

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50

Figura 8 – Mortalidade do pirarucu nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores

citadinos – Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia Central.

Os dados citados pelos pescadores ribeirinhos são equivalentes aos citados

por JUNK & HONDA (1976) em Manaus, na década de 70, grande parte dos animais

desembarcados possuía comprimento total inferior a 100 cm; e com NEVES (2000),

registrando que de 810 pirarucus amostrados em 1996, em Santarém, mais de 80%

estavam abaixo de 150 cm. Já os dados registrados pelos pescadores ribeirinhos

são congruentes ao citados por QUEIROZ (2000) onde este afirma que a captura do

pirarucu em Mamirauá esta sendo efetuado a partir de 149-151 cm comprimento

total.

Para proteger o período de desova e cuidado da prole, a Portaria No. 480-91

do IBAMA proíbe a peca do pirarucu na Amazônia entre 1º de dezembro a 31 de

maio. E durante o período de pesca, o tamanho mínimo do peixe permitido para

captura deve ser de 150 cm e o tamanho mínimo permitido da manta deve ser pelo

menos de 100 cm (Portaria no. 008-96 e no. 1534-89 do IBAMA).

0

20

40

60

80

100

Cit/larva

l

Rib/la

rval

Cit/jove

m

Rib/jo

vem

Cit/ad

ulto

Rib/ad

ulto

Pescadores/Fase de vida

%

Natural

Pesca

N sabe

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51

5.2.3. Tucunaré (Cichla monoculus)

Pertencente a família Cichlidae, distribuída por toda região do rio Solimões-

Amazonas. É considerada uma espécie de grande porte, pode alcançar cerca de 50

cm de comprimento e é muito apreciada pela população da Amazônia, por sua carne

de alta qualidade para preparação de pratos típicos da região.

É prontamente diferenciada das demais espécie do gênero devido á

existência de uma mancha escura longitudinal, contínua ou interrompida, sob as

nadadeiras peitorais, além disso, apresenta três ou quatro faixas verticais escuras

sobre a porção superior dos flancos, nunca se estendendo abaixo da linha mediana

do corpo.

Segundo PETRERE (1986), o tucunaré foi uma das espécies mais pescadas

durante o período de 1976-1978. MERONA & BITTENCOURT (1988), nos seus

estudos de desembarque na Amazônia Central, dos 35 tipos de pescados

registrados, o tucunaré figura entre os oito mais importantes, e apresentou uma

produção estável até 1980-1981, reduzindo até 1986 e mantendo a baixa até a

produção de 1994, onde BATISTA (1998) registrou o desembarque de 160

toneladas. Porém em 1995-1996 saltou ao nível de 800 toneladas, o qual só havia

atingido excepcionalmente em 1979 em Balbina (AM).

5.2.3.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo

Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos

pescadores citadinos e ribeirinhos

Os pescadores da Amazônia Central apontaram que o peixe começa

reproduzir com a média de 25 (CP) ± 10 cm de tamanho e 1,8 ± 0,8 anos de idade.

E atingem a maturação plena a média total de 45 (CP) ± 12 cm de tamanho e 5,3 ±

5,7 anos de idade. Registraram ainda que o peixe:

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52

1. desova na época da enchente;

2. tem preferência desovar nos trocos de árvores, “no pau” em ambientes

de lago;

3. reproduz uma vez por ano.

4. cuida dos filhotes após a desova, tornando-se mais agressivos,

evitando assim a predação (Figura 9)

Figura 9 – Tipo de cuidados parentais do tucunaré segundo os pescadores citadinos (direita; (n=31))

e ribeirinhos (esquerda; (n=26)) da Amazônia Central

Quando comparamos essas informações com a literatura científica

observamos certa equivalência, onde CÔRREA (1998) registrou o tamanho (CP) de

primeira maturação do tucunaré de 19,75 cm com um ano de idade, considera o

período reprodutivo do tucunaré longo, tornando-se mais intenso durante a

enchente, com pico no mês de fevereiro. A espécie apresenta desova parcelada

(FONTENELLE, 1950; CÔRREA, 1998), reproduzindo várias vezes durante o ano

em cativeiro. CÔRREA (1998), FONTENELLE (1950) registrou que a espécie

começa a reproduzir entre 29-35 cm (CP) com 1 ano de idade, entre o mês de

dezembro a julho (enchente – cheia). ISAAC et al. (2000) no baixo Amazonas

sugerem que a espécie apresenta uma época de reprodução entre os meses de

março e abril; porém considerando a ocorrência de fêmeas em maturação após este

protege46%

acompanha6%

Guarda na boca10%

não sabem6%

agressivo32%

protege77%

agressivo4%

não sabem19%

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53

período, confirmou a idéia que a espécie tenha um longo período de reprodução, ou

talvez vários períodos reprodutivos de desova ao longo do ano. Vivem nas margens

dos lagos, rios e em pauzadas (FERREIRA et al., 1998). Formam casais durante a

época de reprodução, construindo ninhos, onde depositam os ovos. ZARET (1980)

afirmou que o tucunaré dedica especiais proteções parentais, defendendo com

agressividade a prole, desde os ovos até fase alevina, contra ataque os de

predadores.

Em relação à quantidade de ovos que o tucunaré desova, foi observada

diferença significativa (p < 0,01) entre os dados relatados pelos pescadores citadinos

(60%) e ribeirinhos (50%), onde a maioria afirmou que o peixe apresenta uma

fecundidade classificada entre 0-500 ovos por desova (Figura 10).

Quando comparamos estes dados com as referências científicas, analisamos

coerência em suas resposta, pois estas informações são consideradas como uma

fecundidade baixa em relação às outras espécies de peixe, onde FONTENELLE

(1950) registrou que o tucunaré apresenta uma fecundidade entre 1500-8000 óvulos.

De fato, em termo de quantidade exata de ovos que a espécie possa produzir é um

ponto que os pescadores não sabem de forma concreta, mas sim de suposições,

pois foram poucos pescadores que indicaram tal aspecto.

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54

Figura 10 – Fecundidade do tucunaré segundo os pescadores citadinos (n= 20) e ribeirinhos (n=4) da

Amazônia Central.

A Tabela 14 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo

do tucunaré entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os

encontrados na literatura científica.

0

20

40

60

80

100

0-50

0

1000

-150

0

2000

-250

0

3000

-350

0

4000

-450

0

mai

s de

5000

Quantidade de ovos

%

Citadinos

Ribeirinhos

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55

Tabela 10 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da

literatura sobre o comportamento reprodutivo do tucunaré

CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS PESCADORES

CITAÇÕES CIENTÍFICAS

"O peixe começa produzir com 25 cm e 1,5 anos de idade"

L50: 29-35 cm e 1 ano de idade (Fontenele, 1950.); 19 -75 cm e 1 ano de idade (Corrêa, 1998).

" O Tucunaré chega a medir 45 cm com 5 anos de idade"

L100: 41 cm e 4 anos (Corrêa, 1998).

“O Tucunaré produz filhote na enchente"

Enchente/cheia (Fontenele, 1950); Várias vezes, mais intenso durante na enchente, com pico em fevereiro (Côrrea, 1998); Vários períodos de desova, com pico nos meses de mar-abril. (Isaac et al., 2000.).

"O tucunaré desova no pau (troncos de árvores) dentro do lago"

Galhas - Lêntico. (Fontenele, 1950).

“O tucunaré vigia os filhotes, fica agressivo"

Constroem ninhos, defendem com agressividade a prole e a fêmea. Constroem ninhos, defendem com agressividade a prole e a fêmea.(Fontenele, 1950; Zaret, 1980).

“O tucunaré reproduz uma vez por ano, principalmente quando dá repiquete"

Parcelada (Fontenele, 1950; Côrrea, 1998).

“O peixe tem muitos ovos (0-500 ovos)" 1,500-8,000ovócitos (Fontenele, 1950).

5.2.3.2. Conhecimentos relacionados com a ecologia trófica

Os pescadores da Amazônia Central consideram o tucunaré um peixe

predador registrando como sua preferência alimentar, o peixe e o camarão. Entre as

proporções das respostas dadas pelos pescadores citadinos (79% na enchente e

77% na vazante) e ribeirinhos (52% na enchente e 63% na vazante) para o item

peixe foi observada diferença significativa (p < 0,01), onde os pescadores ribeirinhos

apresentaram maior heterogeneidade, indicando outras preferências alimentares

além peixes. Vale ressaltar, que não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas

épocas de subida e descida das águas, sendo que alguns enfatizaram que diminui a

oferta de alimentos durante o período da seca (Figura 11).

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56

Figura 11 – Alimentação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos

(Rib.) durante os períodos de enchente (Ench) e vazante (Vaz) da Amazônia

Central.

Relacionando estas informações dadas pelos pescadores, observamos

equivalência com o conhecimento cientifico, os quais ZARET & PAINE (1973),

CÔRREA (1998), FERREIRA et al. (1998), RABELO (1999) consideram o tucunaré

como um predador voraz, tem boca larga protrátil que facilita a apreensão da presa;

a espécie é piscívora, embora eventualmente possa consumir também camarões

(SUÁREZ et al., 2001; GAMIERO & BRAGA, 2004;). CALA et al. (1996), além

destes, registrou a presença de restos de macrófitas, e insetos, como odanatas e

dípteros.

Quanto aos principais predadores do tucunaré os pescadores da Amazônia

Central indicaram outros peixes, como a piranha, o pirarucu, aruanã, arraia, bagres,

traíra e outros tucunarés durante toda sazonalidade das águas não observando

diferenças significas (p > 0,01) entre os pescadores citadinos (58%) e ribeirinhos

(44%) (Figura 12). Quando comparamos estas informações com a literatura

0

20

40

60

80

100

peixe camarão rã outros

Itens Alimentícios

%

Cit/Ench (n=43)

Cit/Vaz (n=43)

Rib/Ench (n=39)

Rib/Vaz (n=38)

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57

cientifica, verificamos relacionada equivalência, onde GOMIERO & BRAGA (2004)

registrou ocorrência de canibalismo em alta freqüência analisando tucunarés

introduzidos no reservatório de Volta Grande, Rio Grande (MG/SP).

Figura 12 – Predação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) durante o

período da enchente (Ench) e vazante (Vaz).

5.2.3.3. Conhecimentos relacionados com o comportamento migratório

Em relação ao comportamento migratório do tucunaré foi registrado pela

maioria dos pescadores entrevistados que esta espécie de peixe não migra durante

as sazonalidades das águas, não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre

os dados de pescadores citadinos e ribeirinhos.

5.2.3.4. Conhecimentos relacionados com o Crescimento

Quanto ao crescimento, segundo os pescadores a média de tamanho (CP) do

tucunaré com a idade 1 ano, é de 15 (CP) ± 7,6 cm. Com a idade de 2 anos, é de

28,25 (CP) ± 7,6 cm de tamanho. Com 3 anos, foi registrado a média de tamanho de

31,7 (CP) ± 11 cm de comprimento, não foi verificada diferenças significativas entre

os pescadores (p > 0,01).

0

20

40

60

80

100

peixe jacaré outros

Predadores

%

Cit/ench (n=45)

Cit/vaz (n=45)

Rib/ench (n=39)

Rib/vaz (n=39)

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58

Essas informações foram conferidas com as informações científicas, as quais

foram verificadas correspondência, particularmente até a idade de 3 anos (Tabela

11). A diferença observada na idade 4 associada ao elevada dispersão nas

informações prestadas pelos pescadores indica que a percepção etária pelos

pescadores é pior a partir desta idade.

.

Tabela 11– Crescimento do tucunaré segundo os pescadores da Amazônia Central comparado com

a literatura científica

IDADE PESCADORES LITERATURA AUTOR

1 15 cm 20 cm

2 28,25 cm 27cm

3 31,7 31 cm

Côrrea, 1998

5.2.3.5. Conhecimentos relacionados com a Mortalidade e Recrutamento

Pesqueiro

Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata tucunaré na fase

larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso eles apontaram a

predação e a friagem. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a

principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças

significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos

(Figura 13).

Estes dados evidenciam que os pescadores conhecem as características

hidrológicas da região, geradas por condições meteorológicas (mudança de

temperatura), correspondendo um aspecto também evidenciado por pescadores

artesanais em outros trabalhos de etnoecologia e etnoictiologia (FURTADO, 1993;

MARQUES, 1995; COSTA-NETO,2001).

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59

Figura 13 – Mortalidade do tucunaré durante as fases larval, juvenil e adulta segundo os

pescadores citadinos-Cit (n=31) e ribeirinhos-Rib (n=26) da Amazônia Central.

Em relação ao tamanho de captura do tucunaré, os pescadores registraram

um tamanho médio de 27,36 ± 21,6 cm não havendo diferenças significativas (p >

0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos.

Essas informações estão dentro dos padrões exigidos pelo IBAMA através da

Portaria 01/2001 que indica que o tucunaré é legalmente capturado a partir dos 25

cm de comprimento.

0

20

40

60

80

100

Cit/lar

val

Rib/la

rval

Cit/j

ovem

Rib/jo

vem

Cit/adu

lto

Rib/

adulto

Pescadores/Fase de vida

%Natural

Pesca

N sabe

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60

5.3. Biologia e ecologia das espécies de comportamento migratório

5.3.1. Curimatã (Prochilodus nigricans)

Pertence à família Prochilodontidae. É conhecido vulgarmente como

curimatã, curimbatâ ou curimatá.

A espécie apresenta corpo alongado, coloração cinza prateada, ligeiramente

azulada no dorso; as nadadeiras caudal, dorsal e anal apresentam numerosas

manchas escuras e claras, alternadamente; escamas ásperas do tato; boca protrátil,

em forma de ventosa, com lábios carnosos sobre os quais são implantados

numerosos dentes diminutos em fileiras; linha lateral com 45 a 50 escamas

(FERREIRA et al., 1998).

O gênero apresenta uma ampla distribuição pelas bacias da América do Sul,

ocorrendo em grandes rios, florestas inundadas e lagos (GOULDING, 1979).

5.3.1.1 Conhecimentos relacionados com comportamento reprodutivo

Não foi observada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados

pelos pescadores citadinos e ribeirinhos.

Os pescadores da Amazônia Central informaram que o peixe começa a

reproduzir com 28 ± 11 cm de tamanho, informaram ainda que a espécie:

1. desova no período da enchente;

2. tem como ambiente o rio de água branca,

3. não apresenta comportamento de cuidados com a sua prole após a desova,

4. apresenta uma fecundidade mais de 5000 ovos por desova;

Os pescadores, citadinos e ribeirinhos, têm o conhecimento que estes peixes

têm a capacidade de produzir em muitos ovos “milhares” (cit. Pesc.), resultados de

suas observações, principalmente por parte dos pescadores citadinos, da sua

produção pesqueira.

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61

Foram poucos entrevistados que quantificaram com exatidão o número de

ovos que estas espécies possam produzir por desova, e seus dados apresentaram

uma quantidade baixa se comparada com os dados registrados na bibliografia

científica.

Para idade de primeira maturação, tamanho e idade de completa maturação

foi verificada diferença significativa (p < 0,01) entre os dados dos pescadores, sendo

que para os dados relacionados à idade de primeira maturação, os citadinos

informaram que o curimatã reproduz a partir de 2,7 ± 0,6 anos de idade e os

pescadores ribeirinhos indicaram que peixe começa a reproduzir a partir de 1,4 ±

0,7 anos de idade. Para o tamanho e idade de completa maturação os pescadores

citadinos registraram a média de 44 ± 12 cm de tamanho com 5,5 ± 2,2 anos de

idade e os pescadores ribeirinhos indicaram a média de 37± 8 cm de tamanho com

2,3 ± 0,6 anos de idade

Quanto a quantidades de desovas por ano do curimatã foi verificada diferença

significativa (p < 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos,

onde 93,5 % dos pescadores citadinos afirmaram que a espécie desova somente

uma vez por ano. Enquanto que os pescadores ribeirinhos, 61% afirmaram que o

peixe desova uma única vez por ano e 35% não souberam responder (Figura 14).

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62

Figura 14 – Quantidade de desova do curimatã por ano segundo os pescadores da

região amazônica central

Na literatura encontramos registros equivalentes aos pescadores da

Amazônia Central de que espécie começa a reproduzir (L50) entre as classes 25-30

cm de tamanho e a idade de primeira maturação está entre 1-2 anos

(SCHWASSMANN, 1978; GOULDING, 1979; JUNK, 1985; OLIVEIRA, 1997;

BARTHEM & FABRÉ (2004). OLIVEIRA (1997) afirmou que o tamanho de completa

maturação (L100) do curimatã é de 42 cm, com longevidade ou idade máxima de até

6 anos. No início da enchente, os peixes saem dos seus tributários para desovar na

desembocadura do rio (SCHWASSMANN, 1978; GOULDING, 1979; JUNK, 1985;),

trata-se de ambientes ricos em oxigênio e que garantem uma boa distribuição das

larvas (ISAAC et al. 2000). A espécie apresenta uma desova sincrônica e total

(VAZOLLER et al., 1989; RIBEIRO & PETRERE, 1990; BARTHEM & FABRÉ, 2004).

A espécie não apresenta cuidado parental, pois logo após a desova, os peixes se

dispersam nas florestas inundadas, onde passam o período da cheia se

alimentando, entram nos afluentes e igarapés, ali permanecendo até baixarem dos

mesmos para desovar (GOULDING, 1979; OLIVEIRA, 1997).

0

20

40

60

80

100

1 2 não sabe

Desovas/ano

%

Citadino (N=31)

Ribeirinho (N=26)

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63

A Tabela 12 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo

do Curimatá entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os

encontrados na literatura científica.

Tabela 12 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da

literatura sobre o comportamento reprodutivo do Curimatã

CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS

PESCADORES CITAÇÕES CIENTÍFICAS

"O peixe começa produzir com 28 cm e 2 anos de

idade"

L50: 25-35 cm e 1,5 ano de idade

(Schwassmann, 1978; Junk, 1985); 26 (CP) cm

e 1,9 ano de idade (Oliveira, 1997; Batista,

1999; Barthem & Fabré, 2004).

“O Curimatã chega a medir 50 cm com 4 anos de

idade"

L100: 33 cm (Barthem & Fabré, 2004). 44 cm e 6

anos (Oliveira, 1997) 52 cm e 6 anos (Batista,

1999).

“O Curimatã produz filhote na enchente"

Dez - Mar (início da enchente) (Shwassmann,

1978; Goulding, 1979; Junk, 1985; Barthem &

Fabré, 2004.).

"O Curimatã desova no rio de água branca"

Desembocaduras dos rios / Encontro das

águas claras com a preta. (Goulding, 1979 /

Shwassmann, 1978;Junk, 1985;).

“O Curimatã não cuida dos filhotes" Não apresenta cuidado parental.(Goulding,

1979; Oliveira, 1997; Batista, 1999).

“O Curimatã reproduz uma vez por ano" Sincrônica e total (Barthem & Fabré, 2004).

“O peixe tem muitos ovos (0-5000 ovos)" 300 000 ovócitos (Shwassmann, 1978;

Goulding, 1979; Junk, 1985).

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64

5.3.1.2. Conhecimentos relacionados com a ecologia trófica

Em relação aos hábitos alimentares do Curimatá, os pescadores da

Amazônia Central registraram que a espécie alimenta-se preferencialmente por lodo

ou limo, indicaram o lago como principal ambiente utilizado para sua alimentação,

não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas épocas de subida e descida das

águas, sendo que alguns enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o

período da seca (Figura 15).

Figura 15 – Alimentação do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos

(Rib.) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante

(Vaz).

Essas informações quando comparada com as das literaturas científicas

observa-se equivalências, onde SCHWASSMANN (1978), GOULDING (1979),

JUNK, (1985) e OLIVEIRA (1997) registraram que a espécie apresenta hábitos

detritívoros. Alimentando-se principalmente de lodo (BOWEN, 1983 apud BATISTA,

1999). YOSSA & ARAUJO-LIMA (1998), citam algas filamentosas e invertebrados

(Brachionus) espécies como item alimentício do curimatã. Segundo BATISTA (1999),

a espécie utiliza as várzeas para alimentação e criação.

0

20

40

60

80

100

lodo/ limo capim fruto outros

Itens alimentícios

%

Cit/Ench (N=33)

Cit/Vaz (N=31)

Rib/Ench (N=35)

Rib/Vaz (N=32)

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65

De acordo com os pescadores da região, os principais predadores do

curimatã são outros peixes, como por exemplo, os bagres conhecidos como “peixe

fera”: pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), dourada (Brachyplatystoma

flavicans), pacamum (Paulicea luetkeni) e piraíba (Brachyplatystoma filamentosum);

a piranha, o tucunaré e traíra também são exemplos de outros peixes que

“perseguem” o curimatã durante toda sazonalidade das águas não observando

diferenças significas (p > 0,01) entre os pescadores citadinos e pescadores

ribeirinhos (Figura 16).

Figura 16 – Predação do curimatã durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz)

segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) da Amazônia Central

Há grande equivalência das respostas dos pescadores sobre a predação

quando comparados com o conhecimento científico, onde BARTHEM & GOULDING

(1997) afirmaram que todos os bagres pimelodídeos são altamente piscívoros,

registrando uma ocorrência de curimatã como presas de filhote de piraíba

(Branchyplatistoma filamentosum) através de analise de conteúdo estomacal.

No entanto, isto demonstra que os pescadores apresentam conhecimento

empírico sobre as relações tróficas existentes no ambiente, onde esta constatação é

também compartilhada por outros pesquisadores que trabalharam com etnoecologia/

0

20

40

60

80

100

peixe boto jacaré aves outro

Predadores

%

cit/ench (N=50)

cit/vaz (N=50)

rib/ench (N=57)

rib/vaz (N=57)

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66

etnoictiologia de diferentes comunidades pesqueiras (JUNK, 1983; FURTADO, 1993;

MARQUES, 1995; COSTA NETO, 2001).

5.3.1.3. Conhecimentos relacionados com comportamento migratório

Em relação ao comportamento migratório do curimatã os pescadores

citadinos e os pescadores ribeirinhos informaram que durante o período de enchente

a espécie costuma está saindo de dentro dos lagos para o rio principal, com a

finalidade de realizar a desova, não verificada diferença significativa (p > 0,01) entre

os dados citados pelos pescadores. (Figura 17).

Figura 17 – Comportamento migratório do curimatã durante um ciclo sazonal das águas

segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da Amazônia

Central.

0

20

40

60

80

100

lagopara rio

sobemo rio

rio paralago

nãomigra

outros nãosabem

Circuito de Migração

%

Cit/cheia (N=31)

Cit/ench (N=31)

Cit/seca (N=31)

Cit/vaz (N=31)

0

20

40

60

80

100

lago parario

sobem orio

rio paralago

outros nãosabem

Circuito de migração

%

Rib/cheia (N=28)

Rib/ench (N=33)

Rib/seca (N=26)

Rib/vaz (N=26)

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67

Observa-se que essas informações são parcialmente equivalentes aos

encontrados nas referencias SCHUWASSMANN (1978), GOULDING (1979),

GOULDING (1978), OLIVEIRA (1997), ISAAC et al. (2000), RUFFINO & ISAAC

(2000) informaram que durante a enchente o cardume de curimatã sai dos tributários

para desovar na desembocadura do rio e entram no rio principal. Durante a vazante,

sobem a calha do rio principal.

5.3.1.4. Conhecimentos relacionados com crescimento

Quanto ao crescimento do curimatã, de acordo com o conhecimento

tradicional dos pescadores a média de tamanho do peixe com a idade 1; Com a

idade de 2 anos é 29 +/- 14,6 cm de tamanho. Com 3 anos; o peixe pode alcançar a

média de tamanho de 31,4+/- 10 cm, não foi verificado diferenças significativas

entre os pescadores (p > 0,01).

Esses dados demonstraram equivalentes ao encontrado por OLIVEIRA

(1997) quando descreveu alguns aspectos de dinâmica populacional da espécie na

Amazônia Central, e seus resultados mostraram que o Curimatã entre 6-7 meses

após a desova atinge a média de 12 cm; em um ano o peixe ainda jovem chega a

atingir em média 18cm. Em um ano e meio, o peixe encontra-se com 23 cm de

comprimento, mas somente com 2 anos é que o indivíduo encontra-se sexualmente

maduro, com 26 -28 cm de comprimento.(Tabela 13).

Tabela 13 – Crescimento do curimatã segundo os pescadores da Amazônia Central

comparado com a literatura científica

IDADE PESCADORES LITERATURA AUTOR

1 18 cm 18 cm 2 29 cm 26-28 cm

3 31cm 42 cm (maior

tamanho)

Oliveira, 1997

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68

5.3.1.5. Conhecimentos relacionados com a mortalidade e recrutamento

pesqueiro

Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata curimatã na fase

larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso eles apontaram a

predação e a friagem. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a

principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças

significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos

(Figura 18).

Figura 18 – Mortalidade do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos

(Rib) da Amazônia Central

Em relação ao tamanho de captura do curimatã, os pescadores registraram

um tamanho médio de 26,8 ± 13 cm não havendo diferenças significativas (p > 0,01)

entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos.

Os dados dos pescadores da Amazônia Central equivalem aos registrados

por BATISTA (1999), onde afirma que o recrutamento pesqueiro da espécie

encontra-se na faixa de 26-30cm (comprimento total), enfatiza ainda, que está acima

0

20

40

60

80

100

Cit/larva

l

Rib/la

rval

Cit/jove

m

Rib/jo

vem

Cit/ad

ulto

Rib/ad

ulto

Pescadores/Fase de vida

%

Natural

Pesca

N sabe

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69

do tamanho de primeira maturação sexual, permitindo que os peixes se reproduzam

pelo menos uma vez no seu ciclo de vida.

5.3.2. Jaraqui (Semaprochilodus spp.)

Pertence à família Prochilodontidae, gênero Semaprochilodus e está

constituído de duas espécies na Amazônia Central: o jaraqui de escama fina (S.

taeniurus) e o jaraqui de escama grossa (S. insignis), ambos com grande

importância comercial na região.

O jaraqui de escama fina é uma espécie considerada de médio porte, alcança

cerca de 30 cm de comprimento. Caracteriza-se pelo corpo alongado, coloração

cinza-prateada, mais escura no dorso que no ventre, nadadeira caudal e anal com

faixas transversais, de coloração escura e amarela, alternadamente: linha lateral

com 66 a 76 escamas, 12 a 14 fileiras de escamas acima da linha lateral. O jaraqui

de escama grossa, também é considerada espécie de médio porte, alcança cerca de

30 cm de comprimento: é muito parecida com a anterior, diferindo daquela

basicamente pelo número de escama, tendo esta 38 a 45 escamas na linha lateral, e

7 a 9 fileiras de escamas acima da linha lateral. São comumente capturadas juntas,

formando cardumes de milhares de indivíduos.

5.3.2.1 Conhecimentos relacionados com comportamento reprodutivo

Não foi observada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados

pelos pescadores citadinos e ribeirinhos.

Os pescadores informaram que às médias de tamanho e idades em que o

peixe começa a reproduzir é de 20 ± 5 cm de tamanho e 1,9 ± 0,6 ano de idade. E

para tamanho de completa maturação, foi registrada a média total 27 ± 5 cm de

tamanho. Citaram ainda que a espécie:

1. costuma desovar no período da enchente;

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70

2. utiliza como ambiente de desova o rio de água branca;

3. apresenta uma fecundidade mais de 5000 ovos por desova;

4. não cuida dos filhotes após a desova.

Quanto à idade de completa maturação do jaraqui foi verificada diferença

significativa (p < 0,01), onde os pescadores citadinos indicaram que o peixe atinge a

plena maturação com 2 ± 2 anos de idade e os ribeirinhos registraram 1,7 ± 0,9 anos

de idade.

Informações equipotente ao conhecimento cientifico, onde VAZOLLER et al.

(1989), RIBEIRO & PETRERE (1990) confirmaram que o jaraqui inicia seu período

reprodutivo no período da enchente, descreveram que os cardumes descem os

tributários para desovar no encontro das águas brancas com a preta. VIEIRA et al.

(2002), identificaram como ambientes utilizados para desova do jaraqui: boca de

igarapé (água preta com rios de água branca), boca de rio (água de confluência de

pequenos rios de água preta com rios de água branca), furo de lago (ambiente que

liga a área da água preta de lagos com os rios de água branca). Segundo

VAZZOLER (1986) e RIBEIRO & PETRERE (1990), a espécie não apresenta

cuidado parental após a desova.

Quanto a quantidades de desovas por ano do jaraqui foi verificada diferença

significativa (p < 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos,

onde 93,5 % dos pescadores citadinos afirmaram que a espécie desova somente

uma vez por ano. Enquanto que os pescadores ribeirinhos, 65% afirmaram que o

peixe desova uma única vez por ano e 31% não souberam responder (Figura 19).

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - ppgcasa.ufam.edu.br · Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante

71

Figura 19 – Tipos de desova do jaraqui segundo os pescadores da região da Amazônia

Central.

De modo geral, as informações são congruentes aos dados científicos de

VAZOLLER et al. (1989), RIBEIRO & PETRERE (1990), BARTHEM & FABRÉ (2004)

onde descrevem que o jaraqui tem desova é total, ocorrendo na enchente.

A Tabela 20 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo

do Curimatá entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os

encontrados na literatura científica.

0

20

40

60

80

100

1 2 não sabe

Desovas/ano

%

Citadino (N=31)

Ribeirinho (N=26)

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72

Tabela 14 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da

literatura sobre o comportamento reprodutivo do Jaraqui

CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS

PESCADORES CITAÇÕES CIENTÍFICAS

"O peixe começa produzir com 20 cm e 2 anos de

idade"

Jaraqui escama fina: L50:17-36 cm (Ribeiro,

1983); 24 cm; Jaraqui escama grossa: L50:26

cm (Vazzoler et al., 1989; Ribeiro & Petrere,

1990; Barthem & Fabré, 2004).

“O Jaraqui chega a medir 27 cm com 2 anos de

idade"

Jaraqui da escama grossa: L100: 32 cm e 3

anos (Vieira, 1999).

“O Jaraqui produz filhote na enchente"

Dez - Mar / Nov-Mar (início da enchente).

(Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990 /

Ribeiro, 1983; Vieira, 1999; Barthem & Fabré,

2004).

"O Jaraqui desova no rio de água branca"

Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990 /

Ribeiro, 1983; Vieira, 1999; Barthem & Fabré,

2004. (Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere,

1990; Vieira, 1999 / Vieira et al.2002).

“O Jaraqui não cuida dos filhotes" Não apresenta cuidado parental.(Vazoller et

al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990).

“O Jaraqui reproduz uma vez por ano" Total (Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere,

1990; Barthem & Fabré, 2004).

“O peixe tem muitos ovos (0-5000 ovos)" Dados não encontrados

5.3.2.2. Conhecimentos relacionados com ecologia trófica

Segundo os pescadores da Amazônia Central, o jaraqui alimenta-se

preferencialmente por lodo ou limo, indicando o lago como ambiente de alimentação

durante os períodos de enchente e vazante, também não há mudanças nos itens da

dieta alimentar nas épocas de subida e descida das águas, sendo que, alguns

enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o período da seca, não

observada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dadas pelos

pescadores (Figura 20).

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73

Figura 20 – Alimentação do jaraqui durante o período de enchente e vazante segundo os

pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central.

Comparadas com as literaturas cientificas, as informações dadas pelos

pescadores são equivalentes, onde RIBEIRO (1983), VAZZOLER et al. (1989) e;

BARTHEM & FABRÉ (2004) registraram que o jaraqui apresenta hábitos detritívoros.

Mais especifico, RIBEIRO (1983) observou alguns itens incluídos na sua dieta, como

“aufuchs” perifiton das árvores, folhas submersas, diatomáceas, espículas de

esponjas, fungos e bactérias, principalmente no período da cheia, quando os peixes

estão espalhados nas florestas inundadas.

De acordo com os pescadores da região, os principais predadores do jaraqui

são outros peixes, como por exemplo, os bagres conhecidos como “peixe fera”: a

pirarara, a dourada, o pacamum, o surubim; a piranha, a traíra, o tucunaré e o

pirarucu também são exemplos de outros peixes que “perseguem” o jaraqui durante

toda sazonalidade das águas não observando diferenças significas (p > 0,01) entre

os pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 21). Correspondendo com os registros

de RIBEIRO (1993) durante o estudo do comportamento migratório dos jaraquis,

0

20

40

60

80

100

lodo/limo Capim Fruto outros

Itens alimentícios

%

Cit/Ench (N=33)

Cit/Vaz (N=31)

Rib/Ench (N=34)

Rib/Vaz (N=31)

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74

onde cita os grandes bagres, como a Piraíba (Brachyplatystoma filamentosum) nos

rio de água branca, como os principais predadores da espécie.

Figura 21 – Predação do jaraqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib)

durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz) na Amazônia Central.

5.3.2.3. Conhecimentos relacionados comportamento migratório

Em relação ao comportamento migratório do jaraqui os pescadores citadinos

e os pescadores ribeirinhos informaram que durante o período de enchente, a

espécie costuma está saindo de dentro dos lagos para o rio principal com a

finalidade de realizar a desova, não verificada diferença significativa (p > 0,01) entre

os dados citados pelos pescadores (Figura 22).

0

20

40

60

80

100

peixe boto jacaré outros

Predadores

%

cit/ench (N=49)

cit/vaz (N=49)

rib/ench (N=55)

rib/vaz (N=57)

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - ppgcasa.ufam.edu.br · Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante

75

Figura 22 – Comportamento migratório do jaraqui durante um ciclo sazonal segundo os

pescadores citadinos (Cit) ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central.

Essas Informações mostram-se congruentes aos das literaturas científicas,

onde observamos os registros de RIBEIRO & PETRERE (1990), os quais indicam

que os jaraquis formam cardumes que realizam migrações longitudinais da ordem de

1000 a 1300 km a cada ano, com um deslocamento máximo a montante de 300 km

em rios de água branca com fins reprodutivos, tróficos e de dispersão.

0

20

40

60

80

100

lagopara rio

sobemo rio

rio paralago

nãomigra

outros nãosabem

Circuito de migração

%

Cit/cheia (N=31)

Cit/ench (N=31)

Cit/seca (N=31)

Cit/vaz (N=31)

0

20

40

60

80

100

lago parario

sobem orio

rio paralago

outros Nãosabem

Circuito de migração

%

Rib/cheia (N=27)

Rib/ench(N=33)

Rib/seca (N=26)

Rib/vaz (N=26)

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - ppgcasa.ufam.edu.br · Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante

76

A migração desta espécie é considerada muito complexa, e foi observada e

descrita num modelo geral por GOULDING (1979), e posteriormente por RIBEIRO

(1983), que detalhou as de informações resumidas a seguir.

Após a desova, os peixes sobem o rio e se dispersam rio acima, passando 3

meses nas florestas inundadas para alimentação, utilizando a mesma área que os

juvenis daquele ano utilizaram (BAYLEY, 1983). Nesse mesmo período, não foi

observado nenhum movimento migratório. Em meados da enchente-cheia (de março

a junho) a espécie inicia uma outra migração, período este que os pescadores

conhecem como peixe gordo, esta migração é muito importante para dispersão a

outros afluentes do sistema Solimões-Amazonas, o que ocorre para os cardumes

que alcançarem este eixo migrando pela margem direita, ficando os cardumes

restantes na mesma calha onde estavam. No período da vazante, simultaneamente

com a migração de dispersão citada acima, sendo que ocorre na margem oposta, a

migração é constituída por cardumes vindo do rio principal que saíram recentemente

de rios e lagos a jusante, migram rio acima para lagos fundos e igarapés de terra-

firme, onde irão passar o período da seca e pré-desova.

5.3.2.4. Conhecimentos relacionados com o crescimento

Em relação ao crescimento, segundo o saber tradicional dos pescadores a

média de tamanho do jaraqui com a idade 1 ano, é de 15 +/- 7,5 cm de tamanho.

Com a idade de 2 anos, é de 20 +/- 6,7 cm de tamanho. Com 3 anos é de 23+/- 6 cm

de tamanho, não verificada diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01)

citadinos e ribeirinhos

Dados que podem ser comparados equivalentes ao das referências

cientificas, onde VIEIRA (1999), nos seus estudos sobre a determinação de idade e

crescimento do jaraqui de escama grossa, registrou que com 1 ano o peixe atinge

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77

19-24 cm de comprimento padrão (CP); com 2 anos a espécie cresce entre 25-31

cm CP e com 3 anos o peixe tem 32 cm CP. Foi estimado em 23 cm CP e 2 anos, o

tamanho e idade da primeira maturação de S. insignis. Vazzoler (1989), Ribeiro &

Petrere (1990), registraram 26 cm a classe de comprimento de primeira maturação

para a mesma espécie (Tabela 15).

Tabela 15 – Crescimento do jaraqui segundo os pescadores da Amazônia Central

comparado com a literatura científica

Idade Pescadores Literatura Autor

1 15 cm 19-24 cm

2 20 cm 25-31cm

3 23 cm 32 cm

Maior

Tamanho - 39-41cm

Vieira, 1999

5.3.2.5. Conhecimentos relacionados com a mortalidade e recrutamento

pesqueiro

Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata o jaraqui durante

as fases: larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso, eles

indicaram a predação por outros peixes. E na fase adulta os pescadores indicaram a

pesca como a principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram

registradas diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores

citadinos e ribeirinhos (Figura 23).

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - ppgcasa.ufam.edu.br · Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante

78

Figura 23 – Mortalidade do jaraqui durante as fases larval, juvenil e adulta segundo os

pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central.

Em relação ao tamanho de captura do jaraqui, os pescadores registraram um

tamanho médio de 20 ± 8 cm de tamanho, não verificada diferença significativa (p >

0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos.

Essas informações são parcialmente equivalentes aos resultados registrados

por BATISTA (1999), o qual cita que a exploração pesqueira na Amazônia Central do

jaraqui de escama grossa está atualmente concentrada sobre indivíduos de 1 ano de

idade, 26 a 30 cm de comprimento, cujos ainda não atingiram o tamanho de primeira

maturação sexual, e apresenta uma taxa de exploração 5% superior à do escama

fina, tendo em vista que a espécie é a preferida, seja por ter maior porte ou por ser

mais resistente à conservação no gelo por períodos longos, segundo os pescadores.

Vale ressaltar que para o jaraqui de escama fina também foi diagnosticada a

sobrepesca de crescimento do estoque.

0

20

40

60

80

100

Cit/larva

l

Rib/la

rval

Cit/jove

m

Rib/jo

vem

Cit/ad

ulto

Rib/ad

ulto

Pescadores/Fase de vida

%

Natural

Pesca

N sabe

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79

5.3.3. Tambaqui (Colossoma macropomum.)

É uma espécie originária dos rios Amazonas, Orinoco e seus afluentes.

Espécie de grande porte alcança cerca de 90 cm de comprimento. Caracteriza-se

pelo corpo muito alto, romboidal, maxilar superior com duas fileiras de dentes

robustos e molariformes, maxilar inferior com uma fileira de dentes igualmente

robustos, decrescendo de tamanho a partir do par central, atrás do qual ocorre um

par de dentes cônicos; nadadeira adiposa curta, com raios na sua extremidade;

rastros branquiais longos e numerosos.

Atualmente, o tambaqui é considerado uma das espécies mais importantes e

rentáveis para pescaria comercial, com grande preferência no consumo local (ISAAC

& RUFFINO, 1996), e também com um grande potencial para o cultivo em cativeiro

(FREITAS, 2003).

5.3.3.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo

Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos

pescadores citadinos e ribeirinhos.

Os pescadores informaram que o tambaqui começa a reproduzir com 60 ± 18

cm de comprimento total (CT) e 4 ± 3,1 anos de idade. Atinge a maturação completa

com a média de 94 ± 25 cm CT e 7,4 ± 6,3 anos de idade. Afirmaram ainda que a

espécie:

1. se reproduz na época da enchente;

2. tem preferência de desovar nas pauzadas (acumulo de troncos e galhos)

em rios de água branca;

3. reproduz apenas 1 vez no ano;

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80

4. desova mais de 5.000 ovos e

5. não cuida dos filhotes.

Quando comparamos estas informações com a literatura cientifica,

verificamos equivalência entre o conhecimento tradicional e conhecimento científico,

havendo registro científico de que a espécie começar a se reproduzir com

comprimento padrão de 62 cm com 5 anos de idade (VILLACORTA-CORRÊA &

SAINT PAUL, 1999). Já a maturação completa é atingida aos 76-80 cm de

comprimento com 10 anos de idade (PENNA ET al. 2005).

Quanto ao ciclo reprodutivo, VIERA et al. (1999) em estudo no baixo

Amazonas registraram que a espécie apresenta uma desova anual e total na

enchente dos rios. A fecundidade por desova é alta (1.007.349 ovócitos), não

apresenta cuidados parentais, enquadrando-se no grupo de espécies de estratégia

reprodutiva sazonal, segundo a classificação de WINEMILLER (1989).

A Tabela 26 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo

do Tambaqui entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os

encontrados na literatura científica.

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81

Tabela 16 – Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da

literatura sobre o comportamento reprodutivo do Tambaqui

CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS PESCADORES

CITAÇÕES DA LITERATURA

"O peixe começa a produzir com 60 cm com mais ou menos 4 anos de idade".

Tamanho L50: 61 cm (Villacorta-Corrêa & Saint Paul, 1999); Idade do peixe L50: 5 anos (Junk, 1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000. Araújo-Lima & , Goulding, 1998).

"O Tambaqui adulto atinge 90 cm de comprimento, idade de 7 anos".

Tamanho L100: 76-80 cm (Araújo-Lima & Goulding, 1998; Penna et al. 2005). Idade do peixe L100: 10 anos (Penna et al. 2005).

"O tambaqui produz filhotes na enchente". Épocas de desovas: Enchente (Vieira et al., 1999 / Junk, 1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000, Villacorta-Corrêa & Saint Paul, 1999).

"O tambaqui desova nas pauzadas" Local de desova: Lótico (rio principal) (Goulding, 1979; Junk, 1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000;Isaac & Ruffino, 1996)

"O tambaqui não cuida dos filhotes". Sem cuidado com a prole (Goulding, 1979; Junk, 1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000;Isaac & Ruffino, 1996).

"O tambaqui desova só uma vez por ano". Desova Total (Vieira et al. 1999, Villacorta-Corrêa & Saint Paul, 1999).

"O tambaqui desova muitos ovos, mais de 5000"

Fecundidade: 1,007,349 / 1,000,000 ovócitos (Vieira et al. 1999).

5.3.3.2. Conhecimento relacionado com a ecologia trófica

Os pescadores afirmaram que a espécie tem uma preferência alimentar por

frutos durante a época de enchente e vazante, havendo diferença significativa (p <

0,01) entre as respostas dadas pelos pescadores citadinos (84% na enchente e 61%

na vazante) e ribeirinhos (76% na enchente e 59% na vazante). Os pescadores

ribeirinhos detalharam que este peixe pode mudar o seu hábito alimentar durante as

épocas secas, comendo capim, lodo ou outros peixes.

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82

Figura 24 – Alimentação do tambaqui durante o período de enchente e vazante segundo os

pescadores da Amazônia Central.

Na literatura cientifica foi encontrada equivalência com respostas dadas pelos

pescadores, com ARAÚJO-LIMA & GOUDING (1998) registrando que a alimentação

do tambaqui é do tipo onívora, baseada principalmente, no consumo de frutas,

sementes e organismos aquáticos de pequeno porte. Observam ainda que o ruelo

(tambaqui jovem) tem preferência por sementes, mas também come considerável

quantidade de frutos carnosos, principalmente na enchente.

Sobre a predação da espécie, foi descrito pelos pescadores que o tambaqui

tem como predador natural outro peixes, como por exemplos os bagres, piracatinga,

pirarucu e o tucunaré, durante toda sazonalidade das águas, não foi observado

diferença significativas (p>0,01) entre as respostas dos pescadores ribeirinhos e

citadinos. Além destes peixes, também foi citado o jacaré como um predador

potencial do tambaqui (Figura 25).

0

20

40

60

80

100

Frut

ospe

ixe

capim lo

do

camar

ão

man

dioc

a

outro

s

Itens Alimentícios

%Cit/Ench (N=44)

Cit/Vaz (N=44)

Rib/Ench (N=62)

Rib/Vaz (N=63)

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83

Figura 25 – predação do tambaqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib)

da Amazônia Central durante o período da enchente e vazante.

Há grande equivalência das respostas dos pescadores sobre a predação

quando comparados com o conhecimento científico, onde BARTHEM & GOULDING

(1997) afirmaram que todos os bagres pimelodídeos são altamente piscívoros,

registrando uma ocorrência de tambaqui como presas de filhote de piraíba

(Branchyplatistoma filamentosum) através de analise de conteúdo estomacal.

Segundo ARAÚJO-LIMA & GOULDING (1998), o pirarucu (Arapaima gigas)

no passado pode ter sido um predador importante, pois este se alimenta

principalmente de peixes nas águas abertas como sob vegetação, mas, no entanto a

população de pirarucu tem diminuído devido à sobrepesca e que atualmente

deixaram de ser um predador representativo na várzea. Há uma necessidade de ter

mais estudos sobre predação do tambaqui, pois segundo estes autores a espécie

parece ser relativamente pouco predada em comparação com outras espécies de

Characiformes.

0

20

40

60

80

100

peixe boto jacaré outros

Predadores

%cit/ench (N=49)

cit/vaz (N=49)

rib/ench (N=55)

rib/vaz (N=57)

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84

5.3.3.3. Conhecimento relacionado com o comportamento migratório

Quanto ao comportamento migratório do tambaqui os pescadores,

informaram que durante o período de enchente a espécie costuma sair de dentro

dos lagos para o rio principal para desovar, porém destacaram que no período da

cheia, o tambaqui entra nos igapós para comer. Não foi verificada diferença

significativa (p > 0,01) entre os dados citados pelos pescadores citadinos e

ribeirinhos.

GOULDING (1979) informa que usualmente não é possível observação direta

da migração do cardume pelos afluentes, porque esta espécie migra afastada da

superfície, raramente revelando sua presença ao passar pelas desembocaduras dos

rios. Entretanto, ARAÚJO-LIMA & GOULDING (1998) informam que aparentemente

a espécie permanece nos afluentes enquanto existem áreas de florestas inundadas

disponíveis, nas quais frutos e sementes podem ser encontrados. Quando não se

move rio acima, o tambaqui ficaria nas “pauzadas”, ou seja, nas margens do rio onde

existem troncos e galhos submersos. O tambaqui não entraria nos afluentes antes

de desovar, ficando no rio principal, ou em alguma área de floresta inundada perto

das desembocaduras dos afluentes até a desova. No período de pré-desova (2 a 5

semanas), GOULDING (1979) observou a formação de cardumes compactos que se

moviam lentamente rio acima no médio rio Madeira. Para alguns pescadores, este

movimento é conhecido, e sugerem que tais cardumes procuram locais para desovar

ao longo das restingas que estão começando a submergir nesta época do ano. Logo

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85

após a desova, entram nos afluentes à procura de frutas e sementes nas florestas

inundadas.

Observa-se que as descrições de pesquisadores estão mais baseadas em

descricões de pescadores do que em observações próprias ou em experimentos de

marcação-recaptura ou atividade afim. Logo é natural que haja equivalência entre o

saber dos pescadores e o saber divulgado em trabalhos científicos no tema.

Figura 26 – Comportamento migratório do tambaqui durante um ciclo sazonal

segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da

Amazônia Central.

0

20

40

60

80

100

lagopara rio

rio paralago

nãom igra

sobemo rio

outros N S

Circuito de m igra çã o

%

Rib/che ia (N=26)

Rib/enc h (N= 26)

Rib/sec a (N= 26)

Rib/vaz (N= 26)

0

20

40

60

80

100

lagopara rio

lagoparaigapó

sobemo rio

igapóparalago

outros Nãosabem

Circuito de migração

%

Cit/cheia (N=31)

Cit/ench (N=31)

Cit/seca (N=31)

Cit/vaz (N=31)

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86

5.3.3.4. Conhecimento relacionado com o crescimento

Segundo o saber tradicional dos pescadores, a média de tamanho do peixe

com a idade 1 ano, é de 23,8 ± 18,7 cm CT. Com a idade de 2 anos, é de 37,6 ±

18,4 cm CT. Com a idade de 3 anos, é de 60 ± 6 cm CT. Com 4 anos, o peixe pode

alcançar a média de 77,8 ± 32,2 cm CT, a maior dispersão encontrada, indicando

dificuldades de inferência a partir desta idade. Não foram registradas diferenças

significativas entre as respostas dos pescadores ribeirinhos e citadinos (p > 0,01) em

nenhuma das idades. Quando confrontamos tais saber com a literatura científica

observamos que existe equivalência, particularmente até a idade de 3 anos (Tabela

17). A diferença observada na idade 4 associada ao elevada dispersão nas

informações prestadas pelos pescadores indica que a percepção etária pelos

pescadores é pior a partir desta idade.

Tabela 17 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da

literatura sobre Crescimento do Tambaqui.

IDADE PESCADORES LITERATURA AUTOR

24 cm Isaac & Ruffino, 2000 1 23,8 cm

30 cm Penna et al, 2005 43 cm Isaac & Ruffino, 2000

2 37,6 cm 40 cm Penna et al, 2005 58 cm Isaac & Ruffino, 2000

3 60 cm 50 cm Penna et al, 2005 71 cm Isaac & Ruffino, 2000

4 77,8 cm 60 cm Penna et al, 2005

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87

5.3.3.5. Conhecimento relacionado com mortalidade e recrutamento pesqueiro

Os pescadores indicaram a predação como o maior fator causal de

mortalidade da espécie durante a fase larval. Nas fases juvenil e adulta, os

pescadores indicaram a pesca como a principal causa de mortalidade destes peixes,

não registrando diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos

pescadores profissionais e ribeirinhos. O tamanho médio de primeira captura do

tambaqui foi de 45,4 ± 21,5 cm CT, sem diferença significativa (p > 0,01) entre as

respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 27).

Figura 27 – Mortalidade do tambaqui nas fases larval, juvenil e adulta segundo os

pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central

No rio Machado, GOULDING (1979) registrou captura de tambaquis com 44

cm com menos de 3-4 anos de idade, quando a espécie começa a migrar de seus

habitats de criação para as várzeas dos rios barrentos e para o canal dos rios

durante o período da seca. PETRERE JR. (1983) apresentou dados de tambaqui

sendo vendidos no mercado de Manaus na seca de 1978 a partir de 55 cm com 3-4

0

20

40

60

80

100

Cit/larva

l

Rib/la

rval

Cit/jove

m

Rib/jo

vem

Cit/ad

ulto

Rib/ad

ulto

Pescadores/Fase de vida

%

Natural

Pesca

N sabe

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88

anos de idade, responsável por cerca de 40% de desembarque de Manaus. Desde a

década de 80 já foram observados indícios de sobrepesca desta espécie (MERONA

& BITTENCOURT, 1988), sendo que apenas 41% em 1995 e 11% em 1996 do

tambaqui desembarcado apresentou tamanho superior a 55 cm (BATISTA &

PETRERE, 2003), o que sugeriu a ocorrência de sobrepesca de crescimento.

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6. CONCLUSÕES

De acordo com os objetivos propostos nesse estudo, pode-se concluir que os

pescadores da Amazônia central, os citadinos e ribeirinhos, têm um conhecimento

extenso sobre os peixes, apresentando elevada concordância com a literatura

cientifica.

O etnoconhecimento influencia diretamente na atividade da pesca e está

sempre no seu cotidiano, onde constamos como uma das principais fontes de renda

para os pescadores da região.

O conhecimento tradicional sobre a ecologia e a biologia do aruanã, pirarucu,

tucunaré, curimatã, jaraqui e tambaqui demonstrado pelos pescadores estudados é

detalhado e compatível com a literatura científica nos respectivos aspectos: tamanho

e idade em que o peixe começa reproduzir, maturação plena, época de desova, local

de desova, tipo de desova e comportamento de cuidados parentais, hábitos

alimentares, predação, crescimento até a idade de 3 anos, mortalidade e tamanho

de captura da espécie.

Constatou-se que os pescadores conhecem as espécies que realizam

migrações, detalhando o circuito executado pelas espécies e ainda apresentam

dúvidas em relação à finalidade das migrações, mas a grande maioria associa tal

processo ao comportamento de reprodução.

Em relação à gestão dos recursos naturais, vale ressaltar que, quando

comparado o saber tradicional com as compilações científicas, identificamos que o

etnoconhecimento pode ser considerado folclórico ou anedóticos por elites, mas em

contrapartida, estes são compreensíveis para os usuários diretas, financeiramente

mais baratas e, no entanto são abstratos, nesse caso, todo este conhecimento

constitui recursos importante, e que é suficiente para ser incorporado tanto no plano

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90

de desenvolvimento quanto em estudos de manejo pesqueiro participativo local.

Quanto que as informações científicas, são apoiadas por elite e são aceitas pelos

usuários, mais muitas vezes estas não são compreensíveis as que tornam também

abstratas, nesse sentido este conhecimento constitui um recurso também de grande

valor, pois é suficiente para ser incorporado tanto no plano de desenvolvimento

quanto em estudos de manejo pesqueiro participativo regional.

A verificação da existência de um conhecimento particular dos aspectos eco-

biológicos de peixes, feita por esse estudo e por outros autores como CLAUZET

(2005), COSTA-NETO (2001), COSTA-NETO et al. (2002), CUNHA (2003),

JOHANES et al (2000), MARQUES (1995), MOURÃO & NORDI (2002), PINTO &

MARQUEZ (2002), SILVANO (2001) e outros pesquisadores já publicados, nos

mostra que é viável e recomendável à inserção de tais conhecimentos dos

pescadores artesanais, profissionais citadinos e ribeirinhos comerciais e de

subsistência, juntamente com as informações e pesquisa científicas no planejamento

de manejo pesqueiro participativo local.

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109

APÊNDICE I - Entrevista Estruturada – Pescador

Entrevistador: LIANE / ____________________ Data: / / 2002 Questionário no. :

IDENTIFICAÇÃO

Nome do entrevistado:___________________________________________________________________

Função na pesca: PESCADOR / ARMADOR / ENCARREGADO / DESPACHANTE

OUTROS: ____________________________________________________________

Onde nasceu:________________________UF:_____ Onde se criou:______________________UF:____

Idade:____ Local onde mora? ______________________ (CIDADE / RURAL) Há quantos anos: ___

Já viveu em que cidades? __________________ Número de anos em que viveu na cidade? ________

Estudou até que série? ___________________ Parou de estudar há quantos anos? _____________________

Religião: NÃO TEM/ CATÓLICO/ PROTESTANTE/ OUTROS: ______________________________

EXPERIÊNCIA E RELAÇÕES SOCIAIS NA PESCA

A partir de que idade começou a pescar ______ Quanto tempo pesca PARA VENDER?___________

E em barco de pesca? ______

Quantas vezes sai em viagem para pescar na cheia: _________ na seca:__________

Que funções já ocupou no setor pesqueiro? PESCADOR / ARMADOR / ENCARREGADO / DESPACHANTE

MAQUINISTA / COZINHEIRO / OUTRA: __________________________________

Que funções já ocupou fora do setor pesqueiro? _________________________________________________

________________________________________________________________________________________

Com quem aprendeu o ofício da pesca? PAI/PARENTES/AMIGOS/OUTROS: _________________________

Nome do(s) barco(s) onde

pesca:

Município de

origem:

Como é sua relação de trabalho neste barco: PARCERIA / FAMILIAR / CONTRATADO / OUTROS _____

Na pesca comercial, você é o dono do: BARCO / CANOA / UTENSÍLIOS / OUTRO BEM?____________

Porque trabalha no setor pesqueiro? É O QUE SABE FAZER; GOSTA DE PESCAR; DÁ DINHEIRO;

INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA, OUTRA RAZÃO:_________________________________________________

Quais utensílios de pesca sabe fazer? ARPÃO, ARRASTADEIRA, CANIÇO, ESPINHEL, FLEXA, LINHA-DE-MÃO

MALHADEIRA, CORRICO, REDINHA, TARRAFA, ZAGAIA, OUTRO UTENSÍLI

(qual):___________________________________________________________________________________

Quem ensinou:_____________________ Qual utensílio você mais gosta de usar ?________________________

Você acha que pesca BEM com qual utensílio: ___________; MAU com:__________MÉDIO com:_________

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110

INFORMAÇÕES BIOLÓGICAS

1. Reprodução 1.1. Maturação sexual

Quando começa a reproduzir?

Quando todos já estão maduros? Espécie

Tamanho Idade Tamanho Idade

Estes tamanhos mudaram de antigamente para agora?

(MAIOR/MENOR – Por quê?) Tucunaré

Aruanã

Pirarucu

Jaraqui

Curimatã

Tambaqui

1.2. Ciclo reprodutivo

Espécie Épocas de

desova Onde desova

Quantas desovas tem

no ano?

Tem cuidados com os filhos? Quais?

Muitos ovos? Muitos filhotes? (fecundidade)

Tucunaré

Aruanã

Pirarucu

Jaraqui

Curimatã

Tambaqui

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111

2. Alimentação

Espécie O que come e onde?

Enchente Vazante

O que Onde O que Onde

Tucunaré

Aruanã

Pirarucu

Jaraqui

Curimatã

Tambaqui

INFORMAÇÕES ECOLÓGICAS

1. Como ocorre a predação sobre esta espécie?

Espécie Quais animais são predadores destas espécies e em que ambiente isto ocorre?

Enchente Vazante

Predador Onde Predador Onde

Tucunaré

Aruanã

Pirarucu

Jaraqui

Curimatã

Tambaqui

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112

2. Quais as principais migrações que a espécie executa? Espécie Épocas Circuito Finalidade

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

Tucunaré

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

Aruanã

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

Pirarucu

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

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113

Cont. Quais as principais migrações que a espécie executa?

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

Jaraqui

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

Curimatã

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

( ) outros ____________

Tambaqui

En / Ch / Vz /

Se

( ) comer ( ) desova

OBSERVAÇÕES

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114

3. Crescimento Quanto mede?

Espécie 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano

NX Fatores que afetam

Tucunaré ( ) alimentação ( ) pesca

( ) outros:_______________

Aruanã ( ) alimentação ( ) pesca

( ) outros:_______________

Pirarucu ( ) alimentação ( ) pesca

( ) outros:_______________

Jaraqui ( ) alimentação ( ) pesca

( ) outros:_______________

Curimatã ( ) alimentação ( ) pesca

( ) outros:_______________

Tambaqui ( ) alimentação ( ) pesca

( ) outros:_______________

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4. Mortalidade – De que morrem (por ordem) na fase: Espécie Dos filhos

Produzidos no ano passado, quantos restaram após um ano?

Ovo-larva

Juvenil

Adulta

Tucunaré

Aruanã

Pirarucu

Jaraqui

Curimatã

Tambaqui

OBSERVAÇÕES:

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. Recrutamento: Espécie Dá para saber muitos filhos foram

produzidos no ano? Como? A partir de que tamanho ocorre a captura

Tucunaré

Aruanã

Pirarucu

Jaraqui

Curimatã

Tambaqui

OBSERVAÇÕES