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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E AÇÕES COMUNITÁRIAS DEPARTAMENTO DE EXTENSÃO PROGRAMA DE INCLUSÃO, ACESSO E PERMANÊNCIA __________________________________________________________________________________________________________________________________ Disciplina: Filosofia Profª Sami Hiasmin Introdução a Filosofia Algumas das questões recorrentes entre os jovens, quando apresentados ao estudo da Filosofia, são: "De que trata essa matéria?", "Para que serve a Filosofia?", "Reprova?", "Cai no vestibular?", “para que serve, então?”. Quem não ouviu pelo menos uma vez falar em Filosofia? Aqui e acolá, encontramos em conversas ou nos textos que lemos dos nomes dos famosos filósofos. Quantos de nós, e quantas vezes, já não tivemos a oportunidade de ouvir alguém dizendo: "pela minha filosofia, considero certo fazer isto ou aquilo"? O termo filosofia é vigente e muito utilizado. Mas sabemos nós (e sabem todos que usam esse termo) o que significa, de fato, a Filosofia? Nós já nos pusemos a pensar nisto? Filosofar: Uma atitude natural no homem Há certas perguntas que o homem não cessa de fazer a si próprio, quer esteja ele na etapa primitiva de sua evolução. Quer esteja na etapa mais sofisticada. São perguntas que o atormentam, que o persegue, a ponto de provocar nele o espanto, a angústia: porque existo? Qual a finalidade da minha existência, se é que tem finalidade?/ Qual a importância do outro na minha existência? E aquilo que chama “natureza”, qual o seu peso na minha existência?/ Será que sou apenas um joguete nas mãos daquilo que chamamos “forças naturais?". Queira ou não, esse questionamento surge até nos momentos mais inesperados e provoca, ao lado de outras inúmeras questões, o início da atitude de filosofar. (...). A atitude filosófica, nascida dessa tensão, deve levarnos a ver essas realidades, ou seja: o eu, o outro, a natureza, através de um olhar crítico, em que estamos “desarmados”: sem preconceitos, sem posições já assumidas anteriormente. Esse olhar crítico leva-nos a compreender e a expressar o que compreendemos e, para conseguir essa finalidade, ele nos ensina a questionar tudo: a nós mesmos, ao outro, à natureza, e ainda mais: ele nos ensina que importante é aprender a ver a realidade. A atitude filosófica possui algumas características que são as mesmas, independentemente do conteúdo investigado. Essas características São: Perguntar o que é. Ou seja, a Filosofia pergunta qual é a realidade e qual é a significação de algo, não importa o quê; Perguntar como é. Ou seja, a Filosofia indaga como é a estrutura ou o sistema de relações que constitui a realidade de algo; Perguntar por que é. Ou seja, porque algo existe, qual é a origem ou a causa de uma coisa, de uma ideia, de um valor, de um comportamento. A atitude filosófica inicia-se dirigindo essas indagações ao mundo que nos rodeia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E AÇÕES COMUNITÁRIAS

DEPARTAMENTO DE EXTENSÃO

PROGRAMA DE INCLUSÃO, ACESSO E PERMANÊNCIA __________________________________________________________________________________________________________________________________

Disciplina: Filosofia

Profª Sami Hiasmin

Introdução a Filosofia

Algumas das questões recorrentes

entre os jovens, quando apresentados ao

estudo da Filosofia, são: "De que trata essa

matéria?", "Para que serve a Filosofia?",

"Reprova?", "Cai no vestibular?", “para que

serve, então?”.

Quem não ouviu pelo menos uma vez

falar em Filosofia? Aqui e acolá, encontramos

em conversas ou nos textos que lemos dos

nomes dos famosos filósofos. Quantos de

nós, e quantas vezes, já não tivemos a

oportunidade de ouvir alguém dizendo: "pela

minha filosofia, considero certo fazer isto ou

aquilo"? O termo filosofia é vigente e muito

utilizado. Mas sabemos nós (e sabem todos

que usam esse termo) o que significa, de

fato, a Filosofia? Nós já nos pusemos a

pensar nisto?

Filosofar: Uma atitude natural no homem

Há certas perguntas que o homem não

cessa de fazer a si próprio, quer esteja ele na

etapa primitiva de sua evolução. Quer esteja

na etapa mais sofisticada. São perguntas que

o atormentam, que o persegue, a ponto de

provocar nele o espanto, a angústia: porque

existo? Qual a finalidade da minha

existência, se é que tem finalidade?/ Qual a

importância do outro na minha existência? E

aquilo que chama “natureza”, qual o seu

peso na minha existência?/ Será que sou

apenas um joguete nas mãos daquilo que

chamamos “forças naturais?".

Queira ou não, esse questionamento

surge até nos momentos mais inesperados e

provoca, ao lado de outras inúmeras

questões, o início da atitude de filosofar. (...).

A atitude filosófica, nascida dessa

tensão, deve levar–nos a ver essas

realidades, ou seja: o eu, o outro, a natureza,

através de um olhar crítico, em que estamos

“desarmados”: sem preconceitos, sem

posições já assumidas anteriormente. Esse

olhar crítico leva-nos a compreender e a

expressar o que compreendemos e, para

conseguir essa finalidade, ele nos ensina a

questionar tudo: a nós mesmos, ao outro, à

natureza, e ainda mais: ele nos ensina que

importante é aprender a ver a realidade.

A atitude filosófica possui algumas

características que são as mesmas,

independentemente do conteúdo investigado.

Essas características São:

• Perguntar o que é. Ou seja, a Filosofia

pergunta qual é a realidade e qual é a

significação de algo, não importa o quê;

• Perguntar como é. Ou seja, a Filosofia

indaga como é a estrutura ou o sistema de

relações que constitui a realidade de algo;

• Perguntar por que é. Ou seja, porque

algo existe, qual é a origem ou a causa de

uma coisa, de uma ideia, de um valor, de um

comportamento.

A atitude filosófica inicia-se dirigindo

essas indagações ao mundo que nos rodeia

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e às relações que mantemos com ele. Pouco

a pouco, descobre que essas questões

pressupõem a figura daquele que interroga e

que elas exigem que seja explicada a

tendência do ser humano a interrogar o

mundo e a si mesmo com o desejo de

conhecê-lo e conhecer-se. Em outras

palavras, a Filosofia compreende que precisa

conhecer nossa capacidade de conhecer,

que precisa pensar sobre nossa capacidade

de pensar. Por ser uma volta que o

pensamento realiza sobre si mesmo, a

filosofia se realiza como reflexão ou,

seguindo o oráculo de Delfos, busca realizar

o “Conhece-te a ti mesmo”.

Filosofia e a atitude filosófica.

Provocada pelo “espanto” original, a

Filosofia nos incita e nos desafia a manter

um constante contato com todos os fatos e

todas as experiências, numa atitude radical

de olhar crítico, e com esse radicalismo,

numa verdadeira renúncia. É com esta

atitude que a Filosofia alcança alguns dos

momentos mais ricos da realidade, onde o

sentido reside e se revela.

A Filosofia também nos ensina a

assumir o fato de vivermos todas as

consequências da luta entre a ignorância e o

saber. Ela é a procura livre que ousa

enfrentar o inabitual o insólito na realidade

concreta. Portanto, a Filosofia nunca se

confunde com a ideologia e muito menos

com a mistificação. Ela ensina o homem a

evitar a armadilha que consistiria em se

fechar no mundo da introspecção, num

mundo todo “seu”. Da mesma forma, ela

exclui o fechamento num mundo de ideias,

pois a realidade não se deixa absorver nem

mesmo pela própria reflexão, como também

não se reduz a uma simples projeção do

pensamento.

Filosofia: O Problema do Conceito.

Quando começamos a estudar

Filosofia, somos logo levados a buscar o que

ela é. Nossa primeira surpresa surge ao

descobrirmos que não há apenas uma

definição da filosofia, mas várias. A segunda

surpresa vem ao percebermos que, além de

várias, as definições parecem contradizer-se.

Eis porque muitos, cheios de perplexidade,

indagam: afinal, o que é Filosofia, que sequer

consegue dizer o que ela é?

Uma curiosidade interessante nos livros

de filosofia é a sua denominação usual:

“Fundamentos de...”, “Elementos de...”,

”Noções de...”. Louvável essa preocupação

dos autores de livros didáticos de Filosofia,

até porque coerente com uma das

características mais marcantes da busca do

conhecimento filosófico; o fato de constituir

uma busca permanente.

Os problemas é que, na mais das

vezes, quando um livro desses é manuseado

por um estudante de segundo grau, ou

qualquer outro iniciante na Filosofia, o

resultado é diverso do pretendido pelo autor

com essa modéstia. Geralmente funciona

como um choque aversivo, reforçando ainda

mais a visão preconceituosa da Filosofia

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como um conhecimento fechado, só

acessível aos iniciados, “sábios”, donos de

uma erudição notável, portanto, um conteúdo

árido e sem qualquer ligação com a realidade

do homem comum.

Na história do pensamento, que a

humanidade vem construindo ao longo do

tempo, muitos foram os, pensadores e

pesquisadores que deram uma definição ou

um conceito para a Filosofia. Por vezes,

esses foram complexos, por vezes simples;

por vezes rebuscados e quase

incompreensíveis. Há, pois, um emaranhado

de conceitos. Diante deles muitas pessoas se

sentem entediadas e, em vez de enfrentar o

problema, preferem descartá-lo, dizendo que

a Filosofia é um "jogo inútil e estéril de

palavras", ou que é "muito difícil e só serve e

interessa a pessoas especiais e muito

inteligentes".

O verbo filosofar pode ser usado com

três significados distintos:

• Como simples sinônimo de “pensar”.

Às vezes, doenças ou mortes de pessoas

próximas, decepções, perdas irreparáveis e

outros problemas existenciais nos fazem

pensar (“filosofar”) sobre o sentido de nossa

vida. Mas esse significado é por demais vago

e amplo para caracterizar o verdadeiro

sentido do filosofar.

• Como sinônimo de “saber viver”

virtuosamente. Aqui filosofar é viver com

sabedoria. O sábio é aquele que se torna um

exemplo vivo das virtudes apreciadas em

uma sociedade e é tomado como ponto de

referencia para fortalecer o valor das

tradições vigentes. É nesse sentido que as

sabedorias orientais são também chamadas

“filosofias”

• Como “o filosofar propriamente dito”,

que teve inicio na Grécia, em torno dos

séculos VI e V a.C. Por essa época,

começou-se a repensar a natureza, o ser

humano e as divindades com um olhar

crítico. Procurava-se saber a validade dos

próprios conhecimentos. Até que ponto a

cultura era fruto de fantasia e crenças dos

antepassados? O que garantia que as

tradições recebidas dos anciãos eram

verdadeiras? A filosofia, portanto, questiona

os fundamentos da cultura.

A Filosofia, na sua acepção ampla, é

considerada "uma acepção de vida e de

mundo". Acepção que se aplica a todos seres

humanos. Todo ser humano tem uma visão

de mundo produto de questionamentos e

reflexões sobre as ações, sentimentos e

ideias, extraídas da vivência cotidiana e

geradas pela curiosidade.

Para Gramsci "todos os homens são

filósofos", pois participam de uma filosofia

espontânea expressa na linguagem, no

senso comum, na cultura popular, crenças,

folclore, etc. Só que esta reflexão na busca

de uma explicação dos fatos e da

compreensão de sua razão de ser se dá de

forma assistemática, ametódica, ocasional e

espontânea. Neste sentido, homens e

mulheres filosofam, enquanto seres

humanos, que refletem, tentando

compreender, explicar e resolver os

problemas existenciais e sociais.

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Mas o que caracteriza o trabalho

filosófico propriamente dito? O que distingue

a minha filosofia de vida (minha concepção

de mundo) da Filosofia de Platão ou a de

Kant? A filosofia na sua acepção estrita

consiste na "procura de soluções para as

problemáticas do ser humano". É a busca de

explicações das causas dos fenômenos, em

investigar o porquê e a razão de ser dos

fatos. A filosofia nesta perspectiva se

caracteriza como uma atividade racional que

não se detém nas comuns impressões, mas

busca fundamentar por rigoroso exame

crítico e reflexivo todas as convicções,

encarando a realidade como problema. É

uma busca.

A filosofia não é ciência: é uma reflexão

sobre os fundamentos da ciência, isto é,

sobre procedimentos e conceitos científicos.

Não é religião: é uma reflexão sobre os

fundamentos da religião, isto é, sobre as

causas, origens e formas das crenças

religiosas. Não é arte: é uma reflexão sobre

os fundamentos da arte, isto é, sobre os

conteúdos, as formas, as significações das

obras de arte e do trabalho artístico. Não é

sociologia nem psicologia, mas a

interpretação e avaliação crítica dos

conceitos e métodos da sociologia e da

psicologia. Não é política, mas interpretação,

compreensão e reflexão sobre a origem, a

natureza e as formas do poder e suas

mudanças. Não é história, mas reflexão

sobre o sentido dos acontecimentos

enquanto inseridos no tempo e compreensão

do que seja o próprio tempo.

A palavra “Filosofia” aparece na Grécia

no século VI a.C nos escritos de Pitágoras,

que não querendo definir-se como “sábio”,

prefere autodenominar-se “Filos-sophos” - A

palavra Filosofia é grega. É composta por

duas outras: PHILO e SOPHIA. Philo deriva -

se de Philia que significa amizade, amor

fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer

dizer sabedoria e dela vem à palavra Sophos

= sábio -, ou seja, aquele que busca a

sabedoria, “amante da sabedoria”, “amigo do

saber”, para ele uma denominação mais

humilde e fiel à sua postura de tentar

compreender a realidade de seu tempo.

Filosofia significa, portanto amizade pela

sabedoria, amor e respeito pelo saber.

Filósofo: o que ama a sabedoria tem amizade

pelo saber, deseja o saber.

Deste modo podemos observar que a

filosofia, desde sua definição originária, se

faz compreender como um saber sobre o

homem, sobre o mundo, sobre a própria

realidade, um processo sempre dinâmico de

apreensão das significações históricas da

realidade humana, de maneira humilde e

processual. O verdadeiro filósofo rejeita o

status de “possuidor da verdade”, como se

fosse possível conhecê-la ou ainda, que

alguém fosse capaz de apreender a

totalidade da realidade. Ao contrário,

compreende a precariedade de sua busca e

o dinamismo do próprio processo de

definição das “verdades” de cada época. O

trabalho do filósofo é refletir sobre a

realidade, qualquer que seja ela,

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redescobrindo seus significados mais

profundos.

A filosofia, enquanto conhecimento

produzido pelo homem, está condicionada a

determinados contextos históricos que

determinam a sua própria identidade. A rigor

não se pode defini-la dogmaticamente, em vã

tentativa de cristalizar a sua compreensão

numa determinada escola, filósofo ou teoria.

A filosofia é um modo de pensar, é uma

postura diante do mundo. A filosofia não é

um conjunto de conhecimentos prontos, um

sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela

é, antes de tudo, uma prática de vida que

procura pensar os acontecimentos além de

sua aparência. Assim, ela pode se voltar para

qualquer objeto. Pode pensar a ciência, seus

valores, seus métodos, seus mitos; pode

pensar a religião; pode pensar a arte; pode

pensar o próprio homem em sua vida

cotidiana. Até mesmo uma história em

quadrinhos ou uma canção popular pode ser

objeto da reflexão filosófica.

A filosofia tem, portanto os limites da

própria história do homem. Não se pode

pensá-la como um conjunto de “verdades”

perenes ou um método etéreo de pesquisar

as últimas causas de tudo que existe.

Saber o que é a filosofia também passa

sempre por saber alguma coisa acerca dos

homens que, ao longo da história, a foram

criando: os filósofos. A sua época, a sua

vida, o seu pensamento, e de que modo

estes três elementos se influenciam

mutuamente.

A filosofia quer encontrar o significado

mais profundo dos fenômenos. Não basta

saber como funcionam, mas o que significam

na ordem geral do mundo humano. A filosofia

emite juízos de valor ao julgar cada fato,

cada ação em relação ao todo. Assim,

filosofar é uma prática que parte da teoria e

resulta em outras teorias.

A filosofia parte do que existe, critica,

coloca em dúvida, faz perguntas inoportunas,

abre a porta das possibilidades, faz-nos

entrever outros “mundos” e outros modos de

compreender a vida. É uma forma de pensar

que nos possibilita compreender melhor

quem somos, em que mundo vivemos: em

suma, nos ajuda a compreender melhor o

próprio sentido de nossa existência.

Nisto precisamente consiste a filosofia,

um conhecimento sistematizado sobre o

mundo da natureza, sobre a condição

humana pessoal e social, sobre a sociedade,

sobre a cultura. Em termos gerais é uma

ciência humana, de longa tradição histórica,

que tem privilegiado a pesquisa de questões

fundamentais sobre a existência humana, a

natureza e a cultura,...

A maior parte dos filósofos está de

acordo em que a filosofia raramente nos dá

respostas seguras e definidas às grandes

questões que lhe colocamos: o sentido da

vida e do universo, por exemplo; apesar

disso, todavia, ela pode pelo menos ajudar-

nos a descobrir o que há de errado nas

soluções propostas de todos os lados, pode

contribuir para colocar abaixo vendas e

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ilusões que nos impedem de ver a realidade

face a face.

A filosofia incomoda porque questiona o

modo de ser das pessoas, das culturas, do

mundo. Questiona as práticas política,

científica, técnica, ética, econômica, cultural

e artística. Não há área onde ela não se

meta, não indague. E, nesse sentido, a

filosofia é “perigosa”, “subversiva”, pois vira a

ordem estabelecida de cabeça para baixo.

Talvez a divulgação da imagem do filósofo

como sendo uma pessoa “desligada” do

mundo seja exatamente a defesa da

sociedade contra o “perigo que ela

representa”.

Mas, então, enfim, o que é definir a

filosofia? Definir a filosofia é, no melhor caso,

não defina-la, mas conseguir ver as várias

acepções, ora mais fracas ora mais fortes,

que permanecem como elementos do

trabalho daqueles que se entendem como

fazendo filosofia nos dias de hoje. A filosofia

não existe sem que se dê um choque no

banal; nem existe se não faz algum tipo de

crítica, não no sentido fundacionista, mas

simplesmente no sentido de não aceitar a

primeira resposta que aparece para toda e

qualquer coisa.

Neste sentido a sua grandeza está

mesmo no processo, de proposição sempre

crítica dessas questões fundamentais. Pois

necessariamente a vida, a cultura, a história,

a significação da existência são questões

fundamentais, bem como a questão do

saber, do conhecimento, da sociedade.

Desprezar a filosofia significa desprezar

estas questões, equivale a adiar uma das

mais ricas experiências do ser humano, a

experiência do sentido das coisas.

Por isso o mais importante não é

aprender uma série de definições, mas

aprender a filosofar.

Por que estudar Filosofia?

Uma razão importante para estudar

filosofia é o fato de esta lidar com questões

fundamentais acerca do sentido da nossa

existência. A maior parte das pessoas, num

ou noutro momento da sua vida, já se

interrogou a respeito de questões filosóficas.

Mas a todo o momento nos vemos

olhando para trás e perguntando o que

significa tudo isso. Então, é bem provável

que comecemos a fazer perguntas

fundamentais com as quais normalmente não

nos importamos. Isso pode acontecer acerca

de qualquer aspecto da vida. Esse

questionamento pode tornar-se um desafio

incômodo, mas constitui-se o início de um

modo de pensar filosoficamente.

O que importa ter claro, por ora, é o

fato de que a filosofia nos envolve, não

temos como fugir dela. Ela é como o ar que

respiramos, está permanentemente presente.

Se nós não escolhermos qual é a nossa

filosofia, qual é o sentido que vamos dar à

nossa existência, a sociedade na qual

vivemos nos dará, nos imporá a sua filosofia.

Quem não pensa é pensado por outros!

Podemos afirmar seguramente que ela

esteve sempre presente na vida do homem:

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antes das mudanças radicais; durante as

revoluções, após as transformações sociais,

políticas, econômicas; compreendida pela

população, concretizada em forma de ação.

Não há possibilidade de se rever a história do

homem sem se perceber a presença da

filosofia. Mas perceber sua presença e saber

a sua importância também não garante o

conhecimento do que ela é. O que é a

filosofia? É a arma dos combatentes? É a

garantia do domínio? É a prática da

transformação? O dia-a-dia do povo? É a

busca da verdade? É o discurso contundente

e cheio de argumentação? De certo, também

não será pelas tantas e tantas formas que ela

poderá assumir que definiremos o que ela é.

Embora revestida pelos homens dos mais

variados sentidos e utilizada para as mais

variadas finalidades, não será na

multiplicidade de papéis que ela ocupou e

ocupa que conseguiremos defini-la.

Percebemos através destas colocações

o quanto se torna penoso, quase impossível,

definir filosofia. Entretanto, ela existe. Sua

presença e importância podem ser notadas

em todos os momentos da história até

mesmo quando sua ausência, por motivos

outros, se fez presente.

O que podemos concluir neste primeiro

momento é que, conseguindo ou não defini-

la, estamos sempre esbarrando no fato

incontestável de sua presença. O próprio

exercício de buscar definições objetivas e

claras para este "saber tão especial" ou para

esta "busca da verdade", ou para esta

"tentativa de explicação da realidade", enfim

para a filosofia, já nos atesta um fato

indiscutível: ela existe. Do contrário. Não

teríamos em cima do que buscar coisa

alguma. Ela existe. A filosofia se faz

filosofando. .

O que é Filosofia? Filosofia é a

faculdade de manter viva a curiosidade da

infância e a rebeldia da adolescência.

Filósofos são como crianças que não cessam

de se admirar (Platão) e de se espantar

(Aristóteles) diante de um mundo que parece

renascer novo a cada aurora. Filósofos são

como adolescentes que não aceitam os

limites impostos pelo “já pensado”, pelo “já

dito” e pelo “já feito”. Filosofia é a capacidade

de manter sempre em vista uma utopia que –

como um horizonte – jamais será alcançada;

mas que nos faz caminhar, ao invés de parar

e ficar pastando feitos cordeirinhos mansos à

espera do abate.

Objeto da Filosofia.

O objeto da Filosofia é a Totalidade a

Universalidade.

Essência da Filosofia.

A essência da Filosofia é a procura do

saber e não a sua posse.

As exigências da reflexão filosófica.

Em primeiro lugar, vamos estabelecer

o que é a reflexão. Refletir é pensar,

considerar cuidadosamente o já foi pensado.

Como um espelho que reflete a nossa

imagem, a reflexão do filósofo deixa ver,

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revela, mostra, traduz os valores envolvidos

nos acontecimentos e nas ações humanas.

O trabalho do filósofo é refletir sobre a

realidade, qualquer que seja ela, descobrindo

seus significados mais profundos. Como isso

é feito?

Para chegar a essa revelação, a

reflexão filosófica, segundo Dermeval

Saviani, deve ser:

Radical: em primeiro lugar, exige-se

que o problema seja colocado em termos

radicais, entendida a palavra no seu sentido

mais próprio e imediato. Quer dizer, é preciso

que vá até às raízes da questão, até seus

fundamentos. Em outras palavras, exige-se

que se opere uma reflexão em profundidade.

Ou seja, chegar até a raiz dos

acontecimentos, isto é, aos seus

fundamentos; à sua origem, não só

cronológica, mas no sentido de chegar aos

valores originais que possibilitaram o fato. A

reflexão filosófica, portanto, é uma reflexão

em profundidade.

Rigorosa: em segundo lugar e como

que para garantir a primeira exigência, deve-

se proceder com rigor, ou seja,

sistematicamente, segundo métodos

determinados, colocando-se em questão as

conclusões da sabedoria popular e as

generalizações apressadas que a ciência

pode ensejar. Isto é, seguir um método

adequado ao objeto em estudo, com todo o

rigor.

De conjunto: em terceiro lugar, o

problema não pode ser examinado de modo

parcial, mas numa perspectiva de conjunto,

relacionando-se o aspecto em questão com

os demais aspectos do contexto em que está

inserido. É neste ponto que a filosofia se

distingue da ciência de um modo mais

marcante. Com efeito, ao contrário da

ciência, a filosofia não tem objeto

determinado, ela dirige-se a qualquer

aspecto da realidade, desde que seja

problemático; seu campo de ação é o

problema, esteja onde estiver. Melhor

dizendo, seu campo de ação é o problema

enquanto não se sabe ainda onde ele está;

por isso se diz que a filosofia é busca. E é

nesse sentido também que se pode dizer que

a filosofia abre caminho para a ciência;

através da reflexão, ela localiza o problema

tornando possível a sua delimitação na área

de tal ou qual ciência que pode então

analisá-lo e, quiçá, solucioná-lo. Além disso,

enquanto a ciência isola o seu aspecto do

contexto e o analisa separadamente, a

filosofia, embora dirigindo-se às vezes

apenas a uma parcela da realidade, insere-a

no contexto e a examina em função do

conjunto desde que seja problemático; seu

campo é o problema, esteja onde estiver. Lá

onde as outras ciências param, onde, sem

mais indagar, aceitam os pressupostos, aí

entra o filósofo e começa a investigar. As

ciências conhecem - mas o filósofo pergunta:

o que é o conhecimento; a outras ciências

estabelecem leis - ele põe a questão do que

seja uma lei: o homem comum e o político

falam do fim e da utilidade - o filósofo

pergunta o que se deve entender por fim e

utilidade?

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Já se vê que a filosofia é uma ciência

radical no sentido em que ela vai às raízes

das questões muito mais profundamente que

qualquer outra ciência; lá onde as outras se

dão por satisfeitas, ela continua a indagar e a

perscrutar.

Assim, embora os sistemas filosóficos

possam chegar a conclusões diversas,

dependendo das premissas de partida e da

situação histórica dos próprios pensadores, o

processo do filosofar será sempre marcado

por essas características, resultando em uma

reflexão rigorosa, radical e de conjunto.

O Papel da Filosofia.

A tarefa da Filosofia é desenvolver no

ser humano o senso crítico, que implica a

superação das concepções ingênuas e

superficiais sobre os homens, a sociedade e

a natureza; concepções essas forjadas pela

“ideologia” social dominante.

O resultado desse processo é a

ampliação da consciência reflexiva do ser

humano, voltada para dois setores

fundamentais:

• A consciência de si mesmo: crítica de

si próprio enquanto pessoa e de seu papel

individual e social (autocrítica).

• A consciência do mundo:

compreensão do mundo natural e social e de

suas possibilidades de mudança.

A filosofia faz com que não sejamos

mais um no rebanho, levado de canto a canto

por qualquer coisa que nos digam. Ela é a

mãe de todas as ciências e traz um

significado para nossa vida. É mais que um

monte de informações acumuladas que

valem um punhado de notas, não, ela é vida,

posto que sonhar, pensar, imaginar é viver.

Não há como manipular tão facilmente

alguém que quebrou as amarras da rotina, do

costume e começou a pensar por si próprio.

Estes encontraram o caminho do saber e

passarão conscientes por suas experiências.

Não haverá mais apenas reação ao meio,

mas ação sobre a própria reação.

Muitos dizem que é perda de tempo,

que não traz dinheiro para o bolso, que

filosofia não traz nenhum benefício senão dor

de cabeça e loucura para os estudiosos da

mesma. Dizem que isso é chato e difícil.

Se esses que dizem que a Filosofia é

pura chatice, loucura e todas essas bravatas

lessem um pouco que seja de história,

agradeceriam a certos "loucos e chatos" por

terem enlouquecido em nome da medicina,

da matemática, da física, sociologia e do

pensamento moderno, etc. Pois os mesmos

construíram este mundo e libertaram as

pessoas da caverna da ignorância, do medo,

da escuridão. Quebraram padrões da época

e trouxeram algo de útil, de novo e que hoje

gera a sobrevivência de milhões de pessoas.

De fato, a FILOSOFIA não se preocupa

com dinheiro ou bens materiais, posto que o

dinheiro acaba e nosso "amor" pelos objetos

também. Ela não se preocupa com futilidades

que nada crescem o humano como SER. Ela

é gratuita e qualquer um pode ter acesso, é

simples, basta querer.

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Isso é filosofia, ser livre para viver e

pensar, mesmo sabendo das limitações de

nosso sentir e SER.

Cultura.

Com frequência as pessoas se

envolvem em discussões a respeito das

diferenças entre o ser humano e o animal. Às

vezes, por se surpreenderem com o

comportamento animal que se assemelha ao

humano, outras vezes por aproximarem atos

humanos ao comportamento de animais. As

histórias infantis também antropomorfizam os

bichos, que agem como gente, ou criam

situações em que seres humanos, por

castigo, se degradam em animais. Tornou-se

um clássico da literatura juvenil o livro

Tarzan, o filho das selvas, do norte-

americano Edgar Rice Burroughs, que serviu

de inspiração para inúmeros filmes e revistas

de quadrinhos. Como todos sabem, Tarzan é

um bebê humano que sobrevive na selva e é

"criado" entre os bichos.

Outros relatos semelhantes são

contados como fatos reais, embora sem

comprovação científica da antropologia

contemporânea. Assim, é o caso das duas

meninas encontradas na Índia em 1920 que

teriam crescido entre os lobos, vivendo,

portanto, como animais. Essas crianças não

possuíam quaisquer das características

humanas: não choravam, não riam e,

sobretudo, não falavam. O seu processo de

humanização só se teria iniciado ao

participarem do convívio humano.

Um fato notável, porém, ocorreu nos

Estados Unidos com Helen Keller (1880-

1968), nascida cega e surda. Permaneceu

como um animal “até a idade de sete anos,

quando seus pais contrataram a professora

Anne Sullivan, que, a partir de sentido do

tato, conseguiu conduzi-la ao mundo humano

das significações”. Helen aprendeu então a

falar, a ler e a escrever, tendo se tornado

uma conhecida escritora e conferencista.

Esses relatos nos propõem uma

pergunta inicial: quais são as diferenças

entre o ser humano e o animal?

Natureza e Cultura.

“Os animais vivem em harmonia com

sua própria natureza”. Isso significa que todo

animal age de acordo com as características

da sua espécie quando, por exemplo, se

acasala, protege a cria, caça e se defende.

Os instintos animais são regidos por leis

biológicas, de modo que podemos prever as

reações típicas de cada espécie. A ação

instintiva é regida por leis biológicas,

idênticas na espécie e invariáveis de

indivíduo para indivíduo.

É evidente que existem diferenças

entre os animais conforme seu lugar na

escala zoológica: enquanto um inseto, como

a abelha, constrói a colmeia e prepara o mel

segundo padrões rígidos, típicos das ações

instintivas. Um mamífero, que é um animal

superior, age também por instinto, mas,

desenvolve outros comportamentos mais

flexíveis e, portanto, menos previsíveis.

Prof. Sami Hiasmin – Filosofia – UniENEM/PIAP - 2017

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Não há quem não tenha ainda

observado com atenção e pasmo “o trabalho”

paciente da aranha tecendo a teia. Mas

esses atos não têm história, não se renovam

e são os mesmos em todos os tempos, salvo

as modificações determinadas pela evolução

das espécies e as decorrentes da mutação

genética.

À medida que, na escala zoológica,

subimos até os mamíferos, percebemos,

porém que as ações animais deixam de ser

resultado exclusivo de reflexos e instintos e

apresentam uma flexibilidade maior, típica

dos atos inteligentes. “Ao contrário da rigidez

dos instintos, a resposta inteligente a um

problema é criativa, improvisada e pessoal“.

No entanto, a inteligência animal é concreta,

porque, de certa maneira, acha-se presa à

experiência vivida e tem em vista a

resolução, mediata de uma situação

problemática. Em outras palavras, o animal

não inventa. Portanto, não tem sequência e

não adquire o significado de uma experiência

propriamente dita. O animal não domina o

tempo, porque seu ato se esgota no

momento em que o executa.

Na verdade os instintos são “cegos“, ou

seja, são uma atividade que ignora a

finalidade da própria ação. Por isso essas

habilidades não levam os animais superiores

a ultrapassar o mundo natural, caminho esse

exclusivo da aventura humana. “Só o homem

é transformador da natureza".

Assim, ao contrário dos outros animais,

os homens não são apenas seres biológicos

produzidos pela natureza. Os homens são

seres culturais que modificam o estado de

natureza.

A partir dai concluímos que as

diferenças entre o homem e o animal não

são apenas de grau, visto que, enquanto o

animal permanece inserido na natureza, o

homem é capaz de transformá-la, tornando

assim possível à cultura. A transformação

que o homem faz na natureza se realiza

através do trabalho. O trabalho é a ação

transformadora dirigida por finalidades

conscientes, para o homem, o contato com a

natureza só é possível quando mediado pelo

trabalho.

O trabalho humano é a ação dirigida

por finalidades conscientes. A resposta dos

desafios da natureza na luta pela

sobrevivência. A ação humana é fonte de

ideias e ao mesmo tempo uma experiência

propriamente dita. O trabalho, ao mesmo

tempo em que transforma a natureza,

adaptando-a as necessidades humanas,

altera o próprio homem, desenvolvendo suas

faculdades. Isso significa que, pelo trabalho,

o homem se auto produz.

Por ser uma atividade relacional, o

trabalho, além de desenvolver habilidades,

permite que a convivência, não só facilite a

aprendizagem e o aperfeiçoamento dos

instrumentos, mas também, enriqueça a

afetividade resultante do relacionamento

humano: Experimentando emoções de

expectativa, desejo, prazer, medo, inveja, o

homem aprende a conhecer a natureza, as

pessoas e a si mesmo.

Prof. Sami Hiasmin – Filosofia – UniENEM/PIAP - 2017

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A cultura é, portanto, o que resulta do

trabalho humano: A transformação realizada

pelos instrumentos, as ideias que tornam

possível essa transformação e os produtos

dela resultantes.

Ainda mais: A ação humana

transformadora não é solitária, mas social, ou

seja, solidária, já que os homens, ao se

relacionarem para produzir sua própria

existência, desenvolvem condutas sociais, a

fim de atender às necessidades do grupo. Eis

aí a grande diferença fundamental entre o

homem e os animais.

Mas, para produzir e reproduzir cultura

o homem precisa da linguagem simbólica. De

todos os elementos que caracterizam a

cultura, talvez o mais importante seja a

linguagem. Mas, afinal no que consiste a

linguagem? É a capacidade que permite aos

homens comunicarem-se, uns com os outros,

por meio de códigos, de símbolos.

“Os símbolos são invenções humanas

por meio das quais o homem pode lhe dar

abstratamente com o mundo que o cerca. Os

símbolos permitem o distanciamento do

mundo concreto e a elaboração de ideias

abstratas“. Além disso, com a linguagem

simbólica, o homem não está apenas

presente no mundo, mas é capaz de

representá-lo: Isto é, o homem torna

presente àquilo que está ausente. A

linguagem introduz o homem no tempo,

porque permite que ele relembre o passado e

antecipe o futuro pelo pensamento. “Ao fazer

uso da linguagem simbólica, o homem torna

possível o desenvolvimento da técnica e,

portanto, do trabalho humano, enquanto

forma sempre renovada de intervenção da

natureza". Ao reproduzir as técnicas já

utilizadas pelos ancestrais e ao inventar

outras novas – lembrando o passado e

projetando o futuro, o homem trabalha.

Se a linguagem, por meio da

representação simbólica e abstrata, permite

que nos distanciemos do mundo, também é o

que possibilita o retorno a ele para

transformá-lo. Portanto, se não tivermos

oportunidade de desenvolver e enriquecer a

linguagem enfraquecerá a capacidade de

compreender e agir sobre e o mundo que nos

cerca.

Seria pouco concluir dai que a

diferença entre homem e animal estaria no

fato de o homem ser um animal que pensa e

fala. De fato, a linguagem humana permite a

melhor ação transformadora do homem

sobre o mundo, e com isso completamos a

distinção: O homem é um ser que trabalha e

produz o mundo e a si mesmo.

Cultura: A resposta do homem ao desafio

da existência.

Falamos até agora sobre essa distinção

entre natureza e cultura. Mas o que

queremos dizer exatamente quando usamos

a palavra cultura?

A palavra cultura é utilizada com

diferentes significados. Os biólogos, por

exemplo, se referem à criação de certos

Prof. Sami Hiasmin – Filosofia – UniENEM/PIAP - 2017

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animais falando em cultura de germes,

cultura de carpas etc.

Na linguagem cotidiana dizemos que

uma pessoa tem cultura quando frequentou

boas escolas, leu bons livros, adquiriu

conhecimentos científicos etc.

Na Grécia Antiga o termo cultura

adquiriu uma significação toda especial,

ligada à formação individual do homem.

Correspondia à chamada Paidéia, processo

pelo qual o homem realizava sua verdadeira

natureza desenvolvendo a filosofia

(conhecimento de si e do mundo) e a

consciência da vida em comunidade.

Em Antropologia, cultura significa tudo

que o homem produz ao construir sua

existência. Já para Paulo Freire, é tudo o que

o homem cria e recria. Nesse sentido,

abrangem conhecimentos, crenças, artes,

moral, leis, costumes e quaisquer outras

capacidades adquiridas socialmente pelos

homens.

A cultura pode ser considerada,

portanto, como amplo conjunto de conceitos,

de símbolos, de valores e atitudes que

modelam uma sociedade. Se o contato com

o mundo é intermediado pelo símbolo, a

cultura é o conjunto de símbolos elaborados

por um povo. Dada à infinita possibilidade

humana de simbolizar, as culturas são

múltiplas e variadas: são inúmeras as

maneiras de pensar, de agir, de expressar

anseios, temores e sentimentos em geral. Ou

seja, a cultura engloba o que pensamos,

fazemos e temos como membros de um

grupo social.

Em todas essas acepções de cultura

podemos perceber uma ideia básica de

desenvolvimento, formação e realização.

Usada por antropólogos, historiadores e

sociólogos, a palavra cultura designa o

conjunto dos modos de vida criados e

transmitidos de uma geração para outra,

entre os membros de determinada

sociedade. Nesse sentido, abrange

conhecimentos, crenças, artes, normas,

costumes e muitos outros elementos

adquiridos socialmente pelos homens.

A cultura pode ser considerada,

portanto, um amplo conjunto de conceitos,

símbolos, valores e atitudes que modelam

uma sociedade. Abrange o que pensamos,

fazemos e temos como membros de um

grupo social.

Nesse sentido, todas as sociedades

humanas, da pré-história aos dias atuais,

possuem uma cultura. E cada cultura tem

seus próprios valores e sua própria verdade.

Podemos acrescentar, por fim, e numa

abordagem mais filosófica, que cultura é a

resposta oferecida pelos grupos humanos ao

desafio da existência.

Uma resposta que se manifesta em

termos de conhecimento (logos), paixão

(pathos) e comportamento (ethos). Isto é em

termos de razão, sentimento e ação.

“A cultura é duradoura embora os

indivíduos que compõem um determinado

grupo desapareçam”. No entanto, a cultura

também se modifica conforme mudam as

normas e entendimentos.

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Quase se pode dizer que a cultura vive nas

mentes das pessoas que a possuem. Mas as

pessoas não nascem com ela; adquirem-na à

medida que crescem. Suponha que um bebê

húngaro recém-nascido seja adotado por

uma família residente nos Estados Unidos, e

que nunca digam a essa criança que ela é

húngara. Ela crescerá tão alheia à cultura

húngara quanto qualquer outro americano.

Assim, quando falo da antiga cultura egípcia,

refiro-me a todo conjunto de entendimentos,

crenças e conhecimentos pertencentes aos

antigos egípcios. Significa, por exemplo,

tanto suas crenças sobre o que faz o trigo

crescer, quanto sua habilidade para fazer os

implementos necessários à colheita. Ou seja,

suas crenças a respeito da vida e da morte.

Quando falo de cultura, estou pensando

em algo que perdurou através do tempo. Se

“qualquer egípcio morresse mesmo que

fosse o faraó, isso não afetaria a cultura

egípcia daquele momento determinado”.

BRAIDWOOD, Robert. Homens pré-

históricos, p-41-2

O mundo cultural é um sistema de

significados já estabelecidos por outros, de

modo que, ao nascer, a criança encontra o

mundo de valores já dados, aonde ela vai se

situar. A língua que aprende, a maneira de se

alimentar, o jeito de sentar, andar, correr,

brincar, o tom da voz nas conversas, as

relações familiares; tudo enfim, se acha

codificado. Até na emoção, que nos parece

uma manifestação tão espontânea, ficamos à

mercê de regras que educam desde a

infância a nossa expressão.

Vários estudiosos concordam com os

elementos apontados por Braidwood,

caracterizando a cultura como:

• Adquirida pela aprendizagem, e não

herdada pelos instintos;

• Transmitida de geração a geração,

através da linguagem nas diferentes

sociedades;

• Criação exclusiva dos seres humanos,

incluindo a produção material e não-material;

• Múltipla e variável, no tempo e no

espaço, de sociedade para sociedade.

Cultura e Humanização.

Quando falamos de natureza e cultura,

pode surgir uma dupla questão: onde acaba

a natureza e começa a cultura?

O tema é polêmico. Alguns estudiosos

afirmam que não há um limite rígido entre

natureza e cultura. Outros dizem que um

provável indicador desse limite, seria a

construção de instrumentos de trabalho.

Outros ainda, como o antropólogo francês

Claude Lévi-Strauss (1908-), acreditam que a

linha de separação entre natureza e cultura

não seria a criação de utensílios ou

instrumentos, mas a presença da linguagem

simbólica:

Já para Karl Marx, filósofo alemão do

século XIX, é o trabalho que possibilita a

distinção entre ser humano e animais;

portanto, entre cultura e natureza. É a partir

do trabalho, e da forma como se dá o

processo de produção da vida material dos

homens, que todas as outras formas de

Prof. Sami Hiasmin – Filosofia – UniENEM/PIAP - 2017

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manifestações humanas se desenvolvem.

Ele afirma: “Pode-se considerar a

consciência, a religião e tudo o que se quiser

como distinção entre os homens e os

animais; porém esta distinção só começa a

existir quando os homens iniciam a produção

dos seus meios da vida”.

Para Marx, portanto, é o modo como os

homens constroem sua vida material que dá

origem à organização da vida espiritual e das

relações sociais, formando um conjunto que

constitui a cultura. Assim, não podemos falar

de cultura no singular, mas sim de culturas,

pois elas são múltiplas e variáveis, de acordo

com a diversidade dos modos de ser e viver

das coletividades humanas.

Mas, se o trabalho é o momento

inaugural da vida propriamente humana, a

linguagem não deixa de ser uma das

dimensões mais importantes da cultura, pois

é ela que permite o intercâmbio das

aquisições culturais.

Se compararmos o corpo humano ao

de muitos animais, veremos que ele não é

tão capacitado quanto o deles para enfrentar

uma série de dificuldades. Como ilustra o

arqueólogo australiano Gordon Childe (1892-

1957), o homem não tem, por exemplo, um

couro peludo como o do urso para manter o

calor do corpo num ambiente frio. O corpo

humano também não é excepcionalmente

bem adaptado à fuga, à defesa própria ou à

caça. Não tem a capacidade de correr como

uma lebre ou um avestruz. Não tem a

coloração protetora do tigre ou a armadura

defensiva da tartaruga ou da lagosta. Não

tem asas para voar e dar-lhe a vantagem de

espionar e localizar sua caça. Faltam-lhe o

bico, as garras e a acuidade do gavião No

entanto, conclui: O ser humano pode ajustar-

se a um número maior de ambientes do que

qualquer outra criatura multiplicar-se

infinitamente mais depressa do que qualquer

mamífero superior, e derrotar o urso polar, a

lebre, o gavião e o tigre, em seus recursos

especiais. Pelo controle do fogo e pela

habilidade de fazer roupas e casas, o homem

pode viver, e vive e viceja, desde os pólos da

Terra até o equador. Nos trens e automóveis

que constrói, pode superar a mais rápida

lebre ou avestruz. Nos aviões e foguetes

pode subir mais alto do que a águia, e, com

os telescópios, ver mais longe do que o

gavião. Com armas de fogo pode derrubar

animais que nenhum tigre ousaria atacar.

Mas fogo, roupas, casas, trens,

automóveis, aviões, telescópios e armas de

fogo não são parte do corpo do homem. Eles

não são herdados no sentido biológico. O

conhecimento necessário para sua produção

e uso é parte do nosso legado social. Resulta

de uma tradição acumulada por muitas

gerações e transmitida, não pelo sangue,

mas através da linguagem (fala e escrita).

A compensação que o homem tem

pelos seus dotes corporais relativamente

pobres é o cérebro grande e complexo,

centro de um extenso e delicado sistema

nervoso, que lhe permite desenvolver sua

própria cultura. CHILDE, Gordon. A evolução

cultural do homem, p. 40-1.

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Nesse sentido, o comportamento do

homem é fundamentalmente diferente ao dos

animais. É certo que o ser humano faz parte

da natureza, pois tem um corpo sujeito às

leis físicas e biológicas, mas graças ao

desenvolvimento de seu psiquismo pode

observar a natureza, criar uma linguagem e,

assim, analisar, julgar o mundo em que vive.

Com seu alto grau de consciência, o

homem superou os limites primitivos

tornando-se simultaneamente um ser

biológico e cultural. Nele ocorre uma síntese

que integra características hereditárias e

adquiridas, aspectos individuais e sociais e

elementos do estado de natureza e de

cultura.

Por isso, o homem é um ser

contraditório, ambíguo, instável e dinâmico.

Um produto da natureza e da cultura e, ao

mesmo tempo, um transformador da

natureza e um produtor cultural. Enfim,

criatura e criador do mundo em que vive.

As diferenças entre o homem e o

animal não são apenas de grau, pois,

enquanto o animal permanece mergulhado

na natureza, o homem é capaz de

transformá-la, tornando possível à cultura. O

mundo resultante da ação humana é um

mundo que não podemos chamar de natural,

pois se encontra transformado pelo homem é

o mundo social.

Nada disso, porém, será completo

senão enfatizarmos que a ação humana é

uma ação coletiva, no entanto, só é possível

pela transmissão dos conhecimentos

adquiridos de uma geração para outra,

permitindo a assimilação dos modelos de

comportamento valorizado. É a educação

que mantém viva a memória de um povo e

dá condições para a sua sobrevivência

material e espiritual.

Na realidade, o ser social não nasce

com o homem, não se apresenta na

constituição humana primitiva, como também

não resulta de nenhum desenvolvimento

espontâneo. No homem as múltiplas aptidões

que a vida social supõe, não podem

organizar-se em nossos tecidos, aí se

materializando sob a forma de

predisposições orgânicas. Segue-se que elas

não podem transmitir-se de uma geração a

outra, por meio da hereditariedade – é pela

educação que essa transmissão se dá.

Na verdade, o homem não é humano se

não porque vive em sociedade, por isso se

vê a que se reduziria o homem, se

retirássemos dele tudo quanto à sociedade

lhe empresta: retornaria à condição de

animal. A educação condiciona todas as

facetas daquilo que chamamos de existência

propriamente humana. O homem se torna

humano graças à educação.

O homem não nasce humano, pois

precisa da educação para se humanizar. A

educação é, portanto, fundamental para a

socialização do homem e sua humanização.

Trata-se de um processo que dura à vida

toda e não se restringe à mera continuidade

da tradição, pois supõe a possibilidade de

rupturas, pelas quais a cultura se renova e o

homem faz a história.

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Mito e Filosofia.

A mente humana é naturalmente

inquiridora: quer conhecer as razões das

coisas. Basta ver uma criança fazendo

perguntas aos pais. Mas às mesmas

perguntas podem ser dadas diversas

respostas: respostas míticas, teológicas,

científicas e filosóficas.

Mito.

Desde o início o homem procurou

indagar sobre a origem do universo, sobre a

natureza das coisas e das forcas às quais se

sentia sujeito. A esta indagação ele deu sob

o impulso da fantasia criadora – tão ativa

entre os povos primitivos -, cor e forma,

criando um mundo de seres vivos (em forma

humana ou animal) dotados de história.

A humanidade primitiva (pode-se

verificar em todos os povos) contentava-se

com explicações míticas para qualquer

problema. Assim, à pergunta “por que

troveja?”, respondia: “porque Júpiter está

encolerizado”; a pergunta “por que o vento

sopra?”, respondia: “porque Éolo está

enfurecido”.

A nós modernos, estas respostas

parecem simplistas e errôneas, por isso,

julgamos oportuno dizer aqui algumas

palavras sobre o mito, sobre sua definição,

sobre suas interpretações principais e sobre

a passagem da mitologia grega para a

filosofia.

A palavra mito vem do grego, mythos, e

deriva de dois verbos: do verbo mytheyo

(contar, narrar, falar alguma coisa para os

outros) e do verbo mytheo (conversar, contar,

anunciar, nomear, designar).

Turchi, grande estudioso da história das

religiões, dá a seguinte definição de mito:

“Em sua acepção geral e em sua fonte

psicológica, o mito é a animação dos

fenômenos da natureza e da vida, animação

devida a alguma forma primordial e intuitiva

do conhecimento humano, em virtude da qual

o homem projeta a si mesmo nas coisas, isto

é, anima-as e personifica-as, dando-lhes

figura e comportamentos sugeridos pela sua

imaginação”. “Dessa longa definição

retenhamos a última parte: uma

representação fantasiosa, espontaneamente

delineada pelo mecanismo mental do

homem, a fim de dar uma explicação aos

fenômenos da natureza e da vida”.

O mito é uma narrativa sobre a origem

de alguma coisa (origem de astros, da Terra,

dos homens, das plantas, dos animais, do

fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal,

da saúde e da doença, da morte, dos

instrumentos de trabalho, das raças, das

guerras, do poder, etc.).

Das análises feitas pelos estudiosos de

nosso tempo segue-se que o mito exerceu,

entre os povos antigos, três funções

principais: religiosa, social e filosófica.

Primeiramente, “o mito é o primeiro

degrau no processo de compreensão dos

sentimentos religiosos mais profundos do

homem; é o protótipo da Teologia”. Mas, ao

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mesmo tempo, ele é também aquilo que

assinala e garante o pertencer a um grupo

social e não a outro; de fato, o pertencer a

este ou aquele grupo depende dos mitos

particulares que alguém segue e cultiva.

Finalmente, o mito exerce uma função

semelhante à da filosofia, enquanto

representa o modo de autocompreender-se

dos povos primitivos, com o objetivo de

fornecer e responder aos questionamentos

existenciais, cósmicos e culturais, ou seja,

fornecer uma explicação para os

acontecimentos da natureza e da existência

humana: para a guerra e a paz, para a

bonança e a tempestade, para a abundância

e a carestia, para a saúde e a doença, para o

nascimento e a morte.

Todos os povos antigos - assírios,

babilônios, persas, egípcios, hindus,

chineses, romanos, gauleses, gregos – têm

seus mitos. Mas entre todas as mitologias, a

grega é a que mais se destaca pela riqueza,

ordem e humanidade. Não é de se admirar,

que a filosofia se tenha desenvolvido

justamente da mitologia grega.

Como os mitos sobre a origem do

mundo são genealogias, diz-se que são

cosmogonias e teogonias.

A palavra gonia vem de duas palavras

gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar,

fazer, nascer e crescer) e do substantivo

genos (nascimento, gênese, descendência,

gênero, espécie). Gonia, portanto, quer dizer;

geração, nascimento a partir da concepção

sexual e do parto. Cosmos, quer dizer mundo

ordenado e organizado. Assim, a

cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento

e a organização do mundo, a partir de forcas

geradoras (pai e mãe) divinas. Teogonia é

uma palavra composta de gonia e theos, que,

em grego, significa: as coisas divinas, os

seres divinos, os deuses. A teogonia é,

portanto, a narrativa da origem dos deuses, a

partir de seus pais e antepassados.

Qual é a pergunta dos estudiosos? A

filosofia nasceu realizando uma

transformação gradual sobre os mitos gregos

ou nasceu por uma ruptura radical com os

mitos? Existem duas teorias que explicam o

porquê da filosofia ter nascido na Grécia. A

primeira delas afirma que o aparecimento da

filosofia se deu através de influências da

sabedoria oriental, com a qual os gregos

tiveram contato em suas viagens. A outra

teoria diz que o povo grego foi tão

excepcional, que foram capazes de criar a

filosofia de forma espontânea e única.

Consideram-se as duas respostas

exageradas e afirma-se que a Filosofia,

percebendo as contradições e limitações dos

mitos, foi reformulando e racionalizando as

narrativas míticas, transformando-as numa

outra coisa, numa explicação inteiramente

nova e diferente.

Nos final do século XIX veio uma

resposta à pergunta inicial, a partir de um

grande otimismo na capacidade científica

humana. Filosofia é ruptura, sendo a primeira

explicação científica da realidade realizada

no ocidente. A segunda possível resposta é

ulterior: os mitos estão intrincados no modo

de ser, pensar e construir cultura, de forma

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que o mito nasceu a partir dos mitos, como

uma racionalização deles.

Na verdade, a filosofia possui grande

influência da sabedoria oriental (egípcios,

assírios, persas, etc.), no entanto, os gregos

imprimiram mudanças de qualidade tão

profundas nessas culturas, que foram

apontados para alguns, como os criadores

únicos da ciência.

Na história do pensamento ocidental, a

filosofia nasce por meio de longo processo

histórico, surge promovendo a passagem do

saber mítico ao pensamento racional, sem,

entretanto, romper bruscamente com todos

os conhecimentos do passado. Durante

muito tempo, os primeiros filósofos gregos

compartilharam de diversas crenças míticas,

enquanto desenvolviam o conhecimento

racional que caracterizaria a filosofia. Essa

passagem do mito à razão “significa

precisamente que já havia, de um lado, uma

lógica do mito e que, de outro lado, na

realidade filosófica ainda está incluído o

poder do lendário”.

Embora existam esses aspectos de

continuidade, a filosofia surge como algo

muito diferente, pois resulta de uma ruptura

quanto à atitude diante do saber recebido.

Enquanto o mito é uma narrativa cujo

conteúdo não se questiona, a filosofia

problematizada e, portanto, convida à

discussão. Enquanto no mito a inteligibilidade

é dada, na filosofia ela é procurada. A

filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência

de agentes divinos na explicação dos

fenômenos. Ainda mais: a filosofia busca a

coerência interna, a definição rigorosa dos

conceitos, o debate e a discussão e surge,

portanto, como pensamento abstrato.

É bem verdade que o desenvolvimento

do pensamento reflexivo não decreta a morte

da consciência mítica, pois o mito, mesmo

entre os ditos civilizados, ocupa um lugar de

destaque como forma fundamental de todo

viver humano. Em outras palavras, tudo o

que pensamos e queremos se situa

inicialmente no horizonte da imaginação, nos

pressupostos míticos, cujo sentido existencial

serve de base para todo trabalho posterior.

Diferenças entre mito e filosofia:

1. O mito está relacionado ao passado e a

filosofia se pretende atemporalidade.

2. A filosofia explica a produção das coisas

por causas naturais, e não pelos três itens

acima.

3. O mito pode ser contraditório. A Filosofia

não admite contradições.

O mito é muito confundido com o

conceito de lenda, porém esta não tem

compromisso nenhum com a realidade, são

meras histórias sobrenaturais, como é o caso

da mula sem cabeça e do saci Pererê. O mito

não é exclusividade de povos primitivos, nem

de civilizações nascentes, mas existe em

todos os tempos e culturas como

componente indissociável da maneira

humana de compreender a realidade.

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Mas, e quanto aos nossos dias, os

mitos são diferentes? O homem moderno,

tanto quanto o antigo, não são só razão, mas

também afetividade e emoção. Hoje em dia,

os meios de comunicação de massa

trabalham em cima dos desejos e anseios

que existem na nossa natureza inconsciente

e primitiva. O mito recuperado do cotidiano

do homem contemporâneo, não se apresenta

com a abrangência que se fazia sentir no

homem primitivo. Os mitos modernos não

abrangem mais a totalidade do real como

ocorria nos mitos gregos, romanos ou

indígenas. Podemos escolher um mito da

sensualidade, outro da maternidade, sem

que tenham de ser coerentes entre si. Os

super-heróis dos desenhos animados e dos

quadrinhos, bem como os personagens de

filmes, passam a encarnar o Bem e a Justiça,

assumindo a nossa proteção imaginária. A

própria ciência pode virar um mito, quando

somos levados a acreditar que ela é feita à

margem da sociedade e de seus interesses,

que mantém total objetividade e que é

neutra. A nossa forma de compreensão do

mundo dessacraliza o pensamento e a ação

(isto é, retira dele o caráter de sobre

naturalidade), fazendo surgir à filosofia, a

ciência e a religião. Como mito e razão

habitam o mesmo mundo, o pensamento

reflexivo pode rejeitar alguns mitos,

principalmente os que vinculam valores

destrutivos ou que levam a desumanização

da sociedade. Cabe a cada um de nós

escolhermos quais serão nossos modelos de

vida.

Condições históricas para o surgimento da

Filosofia

Resolvido o problema da relação entre

Filosofia e mito, temos ainda um último a

solucionar: O que tornou possível o

surgimento da Filosofia na Grécia no final do

século VII e no início do século VI a.C.?

Quais as condições materiais, isto é,

econômicas, sociais, políticas e históricas

que permitiram o surgimento da Filosofia?

Podemos apontar como principais

condições históricas do surgimento da

filosofia na Grécia:

• As viagens marítimas – (descoberta e

humanização de lugares míticos) As viagens

produziram o desencantamento ou a

desmistificação do mundo, que passou,

assim, a exigir uma explicação sobre sua

origem, explicação que o mito já não podia

oferecer;

• A invenção do calendário – (cálculo do

tempo, o tempo deixa de ser divino e

incompreensível) revelando, com isso, uma

capacidade de abstração nova, ou uma

percepção do tempo como algo natural e não

como um poder divino incompreensível;

• A invenção da moeda – (capacidade de

abstração e raciocínio) que permitiu uma

forma de troca que não se realiza através

das coisas concretas ou dos objetos

concretos trocados por semelhança, mas

uma troca abstrata, uma troca feita pelo

calculo do valor semelhante das coisas

diferentes, revelando, portanto, uma nova

capacidade de abstração e de generalização;

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• O surgimento da vida urbana – (tecnicismo)

com predomínio do comercio e do

artesanato, dando desenvolvimento a

técnicas de fabricação e de troca, e

diminuindo o prestigio das famílias da

aristocracia proprietária de terras, por quem e

para quem os mitos foram criados;

• A invenção da escrita alfabética –

(capacidade de abstração e generalização)

que, como a do calendário e a da moeda,

revela o crescimento da capacidade de

abstração e de generalização, uma vez que a

escrita alfabética ou fonética, diferentemente

de outras escritas – como, por exemplo, os

hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas

dos chineses –, supõe que não se represente

uma imagem da coisa que está sendo dita,

mas a idéia dela, o que dela se pensa e se

transcreve;

• A invenção da política – (expressão da

vontade da coletividade, direitos, valorização

do humano, público).

Sofistas.

Conforme nos reporta Platão, a profissão de

sofista foi criada por Protágoras, discípulo de

Demócrito. Sofistas foram um tipo especifico

de professor na Grécia antiga e no império

romano, que deveriam ensinar a arete, termo

grego que traduz o conceito de "excelência"

ou "virtude", aplicado a áreas como música,

política, matemática e atleticismo. Entre os

principais sofistas conhecidos estão

Protágoras, Górgias, Pródico, Hípias,

Trasímaco, Antifonte e Crátilo.

O termo "sofista" tem sua origem no idioma

grego, a partir da palavra "sophistēs",

derivada de "sophia" e "sophos", significando

"sabedoria" e "sábio" respectivamente. O

termo Sophistēs foi originalmente utilizado

por Homero, para descrever alguém

habilidoso em uma determinada atividade.

Com o tempo a palavra passou a designar a

sabedoria nos assuntos tipicamente

humanos, em oposição aos assuntos da

natureza, até chegar a designar um tipo

especifico de profissional, o sofista.

Embora os sofistas não sejam considerados

filósofos pela tradição, sua importância se dá

na medida em que estão entre os primeiros a

desafiar a ideia de que a sabedoria seria

recebida dos deuses, baseando-se na

hipótese de que, assim como nas atividades

físicas, a prática da virtude, por meio da

retórica e da oratória, poderia melhorar os

estudantes, tornando-os mais sábios e

virtuosos.

O foco de seus ensinamentos era prático,

direcionado a estratégias de argumentação e

oratória, para que os estudantes atingissem o

á pice da excelência em suas atividades,

independente de quais fossem estas

atividades.

Como os sofistas são conhecidos por meio

das criticas de seus oponentes, alguns

elementos de suas posições são difíceis de

confirmar. Uma das principais critica aos

sofistas era a de que sua posição baseava-

se apenas em verossimilhança, quando um

argumento parece verdadeiro, mesmo que

não o seja. O objetivo dos sofistas seria, pela

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visão de filósofos como Aristóteles, apenas o

de vencer o debate, sem preocupar-se com a

busca pela verdade. Por esta razão, a

expressão "sofisma" existe hoje para

identificar uma argumentação rebuscada,

porém sem fundamentação sólida.

Como foi o primeiro sofista, a posição

relativista atribuída a Protágoras é

normalmente identificada como a posição

geral que iniciou o movimento, que se

tornaria a profissão de sofista.

Protágoras é lembrado pela controvérsia

acerca de sua afirmação "o homem é a

medida de todas as coisas", aparentemente

manifestando uma forma de relativismo, o

que era repudiado por filósofos como Platão

e Aristóteles, seus maiores críticos. Como

aconteceram com a maioria dos filósofos pré-

socráticos, as citações de Protágoras

sobreviveram sem o contexto no qual foram

apresentadas, o que mantém abertas as

possibilidades de interpretações diferentes.

Uma destas interpretações possíveis para a

afirmação de Protágoras é a de que o uso da

palavra "chremata", significando "coisas

usadas", ao invés da palavra mais geral

"onta", que significaria "entidades", para se

referir ao que é traduzido como "coisas",

indica que Protágoras não falava da

realidade objetiva do mundo como um todo,

mas daquelas coisas especificas dos seres

humanos.

Desta forma entende-se que os sofistas não

davam atenção a busca pela compreensão

da natureza, do universo e da origem dos

objetos do mundo, pois concentravam seus

esforços na demonstração de que seriam

capazes de tornar os estudantes melhores

nas atividades humanas que poderiam

auxiliá-los a prosperar na sociedade grega.

Era comum que sofistas viajassem em

grupos pelas cidades gregas e romanas,

para assim poderem realizar elaborados

discursos e acalorados debates públicos,

demonstrando suas habilidades na

expectativa de atrair estudantes para suas

escolas. Em particular, nobres, homens de

estado e jovens que pudessem pagar pelos

estudos. Os sofistas foram muito criticados

por Platão e Aristóteles por só ensinarem aos

que podiam pagar pela educação.

Platão.

Platão, filósofo grego, nasceu em Atenas e

se destacou entre os pensadores mais

influentes da civilização ocidental. Platão foi

um brilhante escritor e filósofo. Seus diálogos

abordaram praticamente todos os tópicos

que vieram a ser discutidos por filósofos que

se seguiram a ele. Suas obras fazem parte

da mais reconhecida literatura mundial.

Platão nasceu em uma família aristocrata de

Atenas. Desde jovem, Platão tinha ambições

políticas, mas logo se decepcionou com a

liderança política de Atenas. Platão se tornou

discípulo de Sócrates, seguindo sua filosofia

e aderindo ao método por ele utilizado: a

busca da verdade através de perguntas,

respostas e mais perguntas.

Seu professor, Sócrates, não escreveu seus

ensinamentos. Platão, como discípulo de

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Sócrates, escreveu muito dos ensinamentos

que lemos dele. Porém, nos diálogos, Platão

faz do personagem Sócrates porta-voz de

seus próprios pensamentos, de modo que é

difícil estabelecer quais são os ideais de

Platão e quais são os de Sócrates.

Em 399 a.C. Platão testemunhou o

julgamento e a condenação de Sócrates,

tendo sido acusado de corromper a mente

dos jovens e não acreditar nos deuses. Após

a execução de Sócrates, revoltado com a

democracia Ateniense e talvez preocupado

com sua própria segurança, Platão deixou

Atenas e foi para a Sicília e para o Egito,

onde passou aproximadamente dez anos

viajando.

Em 387, com seu regresso a Atenas, Platão

fundou uma Academia, uma instituição tida

como a primeira universidade da Europa. A

Academia oferecia um currículo de matérias

tais como astronomia, biologia, ciências

políticas e filosofia. Aristóteles foi o aluno

mais famoso da Academia. A Academia de

Platão se manteve em funcionamento por

mais de novecentos anos.

Em 367 Platão retornou a Sicília tentando

influenciar a política local com seus ideais,

mas logo voltou a Academia em Atenas onde

passou o resto de sua vida, com exceção de

algumas viagens, onde ensinava e escrevia.

Platão faleceu em 347 a .C., com oitenta

anos de idade.

Suas Obras

Fases dos diálogos:

Os ensinamentos de Platão foram escritos

em forma de dialogo, de uma conversa ou

um debate entre várias pessoas.

Seus diálogos são divididos em três fases. A

primeira fase é representada com Platão

tentando comunicar a filosofia de Sócrates.

Muito dos diálogos tem a mesma forma.

Sócrates encontra alguém que diz que sabe

muito. Sócrates se diz ignorante a procura de

conhecimento e faz várias perguntas,

mostrando que aquele que se dizia mestre no

assunto realmente não sabe nada.

Os diálogos da segunda e terceira fase

relatam as próprias ideias de Platão, por

mais que ele continue a utilizar Sócrates

como personagem em seus diálogos.

Teoria das Formas.

A parte central da filosofia de Platão é a

teoria das formas, ou o mundo das ideias.

Ideias ou formas são arquétipos imutáveis.

De acordo com Platão só essas

ideias/formas são constantes e reais. Platão

divide o mundo em duas partes - o mundo

das ideias, onde tudo é constante e real, e o

mundo físico em que vivemos, onde o fluxo é

constante e a realidade é relativa. As formas

então mantêm a ordem e a estrutura das

ideias do mundo.

Platão distinguiu entre dois níveis de saber:

opinião e conhecimento. Afirmações

relacionadas com o mundo físico, Platão as

considerava uma opinião, mesmo que

estivessem baseadas na lógica ou na

ciência. Segundo Platão, o conhecimento é

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derivado da razão e não da experiência. Ele

pregava que somente através da razão

atingimos o conhecimento das formas.

Platão diz que as formas têm uma realidade

que vai além do mundo físico por causa de

sua perfeição e estabilidade. O mundo físico

se parece com as formas, mas devido a

constantes mudanças nunca chega a sua

perfeição.

Um exemplo para entender a diferença entre

o mundo das formas e o mundo físico é dado

por Platão em termos matemáticos. Devido

ao mundo das formas temos a concepção de

um círculo perfeito - totalmente redondo,

composto de uma série de pontos que

apresentam exatamente a mesma distancia

do ponto central. No mundo físico, porem,

essa figura não é vista. Círculos nunca são

desenhados perfeitamente. A ideia do círculo

existe e é imutável, porem ela só pode ser

conhecida pela razão e não pela experiência

do círculo perfeito no mundo físico.

Platão aplica sua teoria a conceitos como

beleza, justiça, bondade, entre outros. A

pessoa é bela ou justa por que nela há algo

que se parece com a forma do belo ou do

justo, presente no mundo das ideias. O amor

no mundo das ideias também é perfeito, daí

vem a expressão amor platônico, utilizada

nos dias de hoje.

Teoria Política.

A República é a maior e mais reconhecida

obra política de Platão. A obra se foca na

questão de justiça: Como é um Estado justo?

Quem é um individuo justo?

Segundo Platão, a melhor forma de governo

é a aristocracia por mérito. Platão divide o

estado ideal em três classes: a classe dos

comerciantes, a classe dos militares e a

classe dos filósofos-reis. Os filósofos-reis são

encarregados de governar o país. As classes

não são hereditárias, elas são determinadas

pelo tipo de educação obtida pela pessoa.

Com maior nível de educação a pessoa se

pertence à classe dos filósofos-reis.

A República aborda diversos temas sobre

justiça, governo e apresenta um governo

utópico. Essa obra vem sendo amplamente

lida através dos séculos, por mais que suas

propostas nunca foram adotas como uma

forma de governo concreta.

Platão escreveu sobre diversos assuntos,

tais como ética, arte, teoria do conhecimento,

entre tantas. Suas obras influenciaram e

moldaram a filosofia ocidental. O intuito

desse artigo foi apenas o de introduzir esse

grande pensador. De nenhuma forma é

possível resumir sua imensa contribuição à

nossa cultura.

Aristóteles: Ética e Política.

O tema principal da ética de Aristóteles é

delimitar o que é o “bem” e o significado que

ele tem para o homem. Somente quem

conhece o bem é capaz de encontrar a

felicidade, que na filosofia aristotélica não é

um sentimento passageiro, e sim “obra de

uma vida inteira”.

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A ideia do “bem”:

Aristóteles começa a Ética nicomaqueia

provavelmente dedicada a seu filho

Nicômaco e o mais importante de seus textos

sobre o bem e o comportamento dos homens

– com estas palavras:

“Toda arte e todo saber, assim como tudo

que fazemos e escolhemos, parece visar

algum bem. Por isso, foi dito, com razão, que

o bem é aquilo a que todas as coisas

tendem, Mas há uma diferença entre os fins:

alguns são atividades, ao passo que outros

são produtos à parte das atividades que os

produzem.”

Essa afirmação contém duas teses

fundamentais da ética aristotélica. A primeira:

todas as coisas tendem ao bem, o que

significa, na doutrina do filósofo, que o bem é

a finalidade de todas as coisas. A segunda:

chega-se ao bem por dois caminhos: a) pelas

atividades práticas, isto é, aquelas que

contêm seus próprios fins (ética e política); b)

pelas atividades produtivas (artes ou

técnicas).

Em relação à ética, o bem leva cada

indivíduo a ser capaz de viver com os outros,

na polis. Em outras palavras, a ética, no

campo individual, prepara terreno para a

política, no campo coletivo. Para Aristóteles,

a finalidade da política é a busca do bem de

todos os homens.

E qual é o bem de todos os homens? A

felicidade, responde Aristóteles. A felicidade,

porém, não é um sentimento que aparece,

instala-se e vai embora; ao contrário, é “obra

de uma vida inteira”.

“O bem ético pertence ao gênero da vida

excelente e a felicidade é a vida plenamente

realizada em sua excelência máxima. Por

isso não é alcançável imediata nem

definitivamente, mas é um exercício cotidiano

que a alma realiza durante toda a vida (…)

de acordo com a sua excelência mais

completa, a racionalidade.”

As virtudes: o justo meio.

A virtude (areté) é a expressão maior da

excelência de uma pessoa, de sua

integridade, de sua identidade. A paixão, por

outro lado, torna-a confusa, dividida entre

desejos contrários, conflitantes, opostos.

Alguém sob o domínio da paixão pode

inclinar-se ao vício, que é o excesso ou a

falta da paixão. A virtude é encontrar, pelo

uso da razão, o meio-termo entre esses

extremos, que Aristóteles chamou de justo

meio.

Suponha-se alguém dominado pelo prazer

(que, para Aristóteles, é uma paixão). Esse

alguém pode ser libertino (um dos extremos

do prazer em excesso) ou insensível (o

extremo oposto: falta de prazer), O justo

meio, aqui, é a temperança, à qual se chega

pelo uso da razão.

A virtude, assim, está ligada à razão. E,

como todo homem é dotado de razão, todo

homem pode alcançar a virtude. Basta

identificar a paixão que o domina, reconhecer

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seus extremos e procurar, racionalmente,

seu justo meio.

A maior de todas as virtudes, diz Aristóteles,

é a justiça. Sua força sobre as demais

consiste em sua perfeição, porque quem é

justo projeta-se mais para o outro do que

para si mesmo. Em outras palavras, tudo que

protege o conjunto dos indivíduos (a

sociedade) é mais importante do que aquilo

que protege somente um dos membros

dessa sociedade, Por isso, dos males, a

injustiça é o maior, pois destrói o tecido

social.

Política e Estado.

Como Platão, Aristóteles também faz um

estudo dos regimes políticos, divididos em

monarquia, aristocracia e politeia ou

república. Tal qual Platão, Aristóteles

considera que cada um deles pode

degenerar a monarquia, em tirania; a

aristocracia, em oligarquia; a democracia, em

anarquia.

O melhor dos regimes possíveis consistirá

em uma combinação do que há de melhor

em cada um deles. O melhor da república é a

liberdade e a igualdade; da monarquia, a

capacidade de criar riquezas; e da

aristocracia, sua excelência, capacidade e

qualidades intelectuais,

Entre os escritos políticos de Aristóteles, a

Constituição de Atenas, descoberta no

século XIX no Egito, ocupa um lugar

especial. Essa obra era parte das 158

constituições que Aristóteles reunira a fim de

ter uma base empírica para a reflexão sobre

teoria política.

“Uma constituição é a ordem ou distribuição

dos poderes de um Estado, isto é, a maneira

como são divididos, a sede da soberania e o

fim a que se propõe a sociedade.”

A ética de Santo Agostinho.

A felicidade é o tema central de sua filosofia,

e não se dá sem o conhecimento, sem o

encontro de Deus. O verdadeiro

conhecimento é aquele que conduz o homem

à verdade suprema e, só se atinge tal

verdade pelo amor. Para o alcance da

felicidade, amor e sabedoria andam juntos.

A ética agostiniana envolve o conceito de

liberdade e o livre arbítrio da vontade.

Agostinho rompe com a concepção de

liberdade grega, que estava fundamentada

em um télos político e com o maniqueísmo,

enfatizando que Deus criou o mundo e

partindo disso, não existe o mal. Deus é

perfeito e não poderia ser a causa do mal. O

mal é o contrário da ideia de Deus, é apenas

ausência de bem.

O homem possuía o livre arbítrio, a

possibilidade de escolha entre o bem e o

mal. O que pode afastar o homem de Deus é

o fator vontade, que muitas vezes leva o

homem a escolhas erradas. Afastar-se de

Deus significa ir para o não ser, ir em direção

ao mal. É nesse contexto que surge o

pecado, como vontade do homem e não de

Deus. No homem que vai em direção ao

pecado, sua alma decai e não consegue

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salvar-se sozinha, até que venha então a

graça, para dirigir o homem para o caminho

do bem. Sem o auxílio da graça reveladora

divina, exercendo somente o livre arbítrio, o

homem ficaria condenado em seu livre

arbítrio e acabaria escolhendo o caminho do

mal. Porém, nem todos recebem a graça,

somente os predestinados. O homem não é

só intelecto, mas também vontade e esta

vontade pode ser influenciado ou vulnerável

desejando coisas ruins. O homem que busca

a beatitude para alcançar a felicidade, só a

encontra com fé e intuição, não por meio de

atividade intelectual. A fé e a razão

complementam-se na busca da felicidade e

da beatitude.

Filosofia Medieval.

A filosofia medieval e o cristianismo

A Idade Média inicia-se com a

desorganização da vida política, econômica e

social do Ocidente, agora transformado num

mosaico de reinos bárbaros. Depois vieram

as guerras, a fome e as grandes epidemias.

O cristianismo propaga-se por diversos

povos. A diminuição da atividade cultural

transforma o homem comum num ser

dominado por crenças e superstições.

Em meio ao esfacelamento do Império

Romano, decorrente, em grande parte, das

invasões germânicas, a Igreja católica

conseguiu manter-se como instituição social

mais organizada. Ela consolidou sua

estrutura religiosa e difundiu o cristianismo

entre os povos bárbaros, preservando muitos

elementos da cultura pagã greco-romana.

Apoiada em sua crescente influência

religiosa, a Igreja passou a exercer

importante papel político na sociedade

medieval. Desempenhou, por exemplo, a

função de órgão supranacional, conciliador

das elites dominantes, contornando os

problemas da fragmentação política e das

rivalidades internas da nobreza feudal.

Conquistou, também, vasta riqueza material:

tornou-se dona de aproximadamente um

terço das áreas cultiváveis da Europa

ocidental, numa época em que a terra era a

principal base de riqueza. Assim, pôde

estender seu manto de poder "universalista"

sobre diferentes regiões européias.

Foi um período de dominação da Igreja

Romana. Durante esse período surge a

Filosofia cristã, que é, na verdade a teologia.

Desta forma, o teocentrismo acabou por

definir as formas de sentir, ver e também

pensar durante o período medieval. Sob a

influência da Igreja, as especulações se

concentram em questões filosófico-

teológicas, tentando conciliar a fé e a razão.

O período medieval não foi, porém, a

"Idade das Trevas", como se acreditava. A

filosofia clássica sobrevive, confinada nos

mosteiros religiosos. O aristotelismo

dissemina-se pelo Oriente bizantino, fazendo

florescer os estudos filosóficos e as

realizações científicas. No Ocidente, fundam-

se as primeiras universidades, ocorre a fusão

de elementos culturais greco-romanos,

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cristãos e germânicos, e as obras de

Aristóteles são traduzidas para o latim.

No período medieval a filosofia foi

estudada num contexto, sobretudo religioso.

Muitos filósofos deste período foram

extraordinariamente perspicazes, tendo

desenvolvido algumas ideias e argumentos

hoje considerados centrais em filosofia, não

só na filosofia da religião e na metafísica,

mas também na ética, filosofia da linguagem

e lógica. Alguns dos debates mais

importantes da época incluem o problema

dos universais, as provas da existência de

Deus e a compatibilidade entre a presciência

divina e o livre-arbítrio humano (a presciência

é a capacidade para saber de antemão o que

vai acontecer). Alguns dos mais destacados

filósofos ocidentais do período medieval

foram Santo Agostinho, Santo Anselmo

(1033-1109), Abelardo (1079-1142), Tomás

de Aquino, Duns Escoto (c. 1265-1308) e

Guilherme de Ockham.

Os conflitos e a conciliação entre fé e

razão.

No plano cultural, a Igreja exerceu

ampla influência, traçando um quadro

intelectual em que a fé cristã era o pres-

suposto da vida espiritual.

Em que consistia essa fé? Consistia na

crença irrestrita ou na adesão incondicional

às verdades revê ladas por Deus aos

homens. Verdades expressas nas Sagradas

Escrituras (Bíblia) e interpretadas segundo a

autoridade da Igreja.

De acordo com a doutrina católica, a fé

representava a fonte mais elevada das

verdades reveladas especialmente aquelas

verdades essenciais ao homem e que dizem

respeito à sua salvação.

Assim, toda investigação filosófica ou

científica não poderia, de modo algum,

contrariar as verdades estabelecidas pela fé

católica. Segundo essa orientação, os

filósofos não precisavam se dedicar à busca

da verdade pois ela já havia sido revelada

por Deus aos homens. Restava-lhes, apenas

demonstrar racionalmente as verdades da fé.

Não foram poucos, porém, aqueles que

dispensaram até mesmo essa comprovação

racional da fé. Eram os religiosos que

desprezavam a filosofia grega, sobretudo

porque viam nessa forma pagã de

pensamento uma porta aberta para o

pecado, a dúvida, o descaminho e a heresia

(doutrina contrária ao estabelecido pela

Igreja, em termos de fé).

Por outro lado, surgiram pensadores

cristãos que defendiam o conhecimento da

filosofia grega, sentindo a possibilidade de

utilizá-la como instrumento a serviço do

cristianismo. Conciliado com a fé cristã, o

estudo da filosofia grega permitiria à Igreja

enfrentar os descrentes e derrotar os

hereges com as armas racionais da

argumentação lógica. O objetivo era

convencer os descrentes, tanto quanto

possível, pela razão, para depois fazê-los

aceitar a imensidão dos mistérios divinos, so-

mente acessíveis à fé.

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Nesse contexto, a filosofia medieval

pode ser dividida em quatro momentos

principais:

O dos padres apostólicos, do início do

cristianismo (séculos I e ll), entre os quais se

incluem os apóstolos, que disseminavam a

palavra de Cristo, sobretudo em relação aos

temas morais. Entre estes se destaca a

figura de São Paulo pelo volume e valor

literário de suas epístolas (cartas escritas por

um dos apóstolos);

O dos padres apologistas (séculos III e

IV), que faziam a apologia do cristianismo

contra a filosofia pagã. Entre os apologistas

destacam-se Orígenes, Justino e Tertuliano,

o mais intransigente na defesa da fé contra a

filosofia grega;

O da patrística (de meados do século IV

ao século VIII), A fé a procura da razão – A

Filosofia é um instrumento a serviço da

Teologia. O tema central é a tentativa de

conciliar razão e fé. A Patrística visava

combater as heresias firmando a doutrina

Cristã contra o paganismo. E sua principal

característica reside no seu caráter

apologético: é preciso defender os ideais

cristãos perante os pagãos e convertê-los.

Presencia-se a retomada da filosofia

platônica, especialmente por Santo

Agostinho, bem como do neoplatonismo.

Santo Agostinho, Boécio, Alcuíno.

Filosofia Árabe: Difusão da cultura Grega

no Ocidente.

Procurava harmonizar razão e fé; a relação

entre Deus e o destino da pessoa humana.

Influência Árabe na formação da tradição

ocidental. Introdução ao pensamento de

Aristóteles. Scotus Erígena, Al Kindi,

Avicena. Querela dos Universais: Guilherme

de Champeaux, Roscelino. Abelardo e

Averróis.Tradução de Aristóteles para o

Latim.)

O da escolástica (do século IX a XVI), - A

Razão a Procura da Fé. O termo escolástica

designa a filosofia ministrada nas escolas

cristãs (de catedrais e conventos) e

posteriormente nas universidades. A

escolástica retoma a filosofia aristotélica,

nela encontrando seus fundamentos e os

elementos necessários para seu

desenvolvimento. Santo Tomás de Aquino

elabora a síntese magistral do cristianismo

com o aristotelismo, fornecendo as bases

filosóficas para a teologia cristã: surge a

filosofia aristotélico-tomista. Compatibilizar a

fé e a razão continua a ser o problema

central da filosofia escolástica.

A característica fundamental dessa

filosofia medieval é a ênfase nas questões

teológicas, destacando-se temas como: o

dogma da Trindade, a encarnação de Deus

filho, a liberdade e a salvação, a relação

entre fé e razão.

Filosofia do renascimento.

A filosofia renascentista teve início por volta

dos séculos XV e XVI, na Europa. A filosofia

renascentista é entendida como um período

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de transição entre a Idade Média e a Idade

Moderna.

O contexto intelectual do Renascimento.

São vários os acontecimentos que permitem

contextualizar a filosofia renascentista. Em

primeiro lugar, a corrente humanista promove

a recuperação da cultura clássica grega, o

termo renascimento se refere precisamente

ao novo esplendor intelectual inspirado nas

obras clássicas da cultura e da ciência do

período clássico grego.

Por outro lado, a Reforma Protestante

estabelece uma fragmentação do poder

religioso. Ao mesmo tempo, deve-se

destacar que o descobrimento do Novo

Mundo deu outra imagem da realidade e a

necessidade de enfrentar novos desafios, por

exemplo, na área da navegação. O

aparecimento da burguesia como nova

classe social estabeleceu uma renovação

dos projetos culturais. E tudo isso

acompanhado de uma nova ferramenta

tecnológica, a imprensa

As principais características da filosofia

renascentista.

A volta aos clássicos no Renascimento

apresenta dois aspectos: a tradução de

textos que foram esquecidos durante séculos

e a recuperação da ciência grega,

especialmente as contribuições de

Arquimedes, Pitágoras e Euclides. Este

renascer do mundo clássico foi além dos

interesses pela cultura e pela ciência, pois os

filósofos do Renascimento tentavam criar

uma ordem baseada no ser humano como

eixo central (o antropocentrismo) em

oposição ao teocentrismo medieval.

A figura de Deus já não era vista como base

de toda a realidade, uma vez que surgiram

novas abordagens. Neste sentido, Giordano

Bruno defendia um panteísmo baseado na

infinidade do universo e Nicolau de Cusa se

atreveu em questionar a possibilidade de

conhecer a natureza de Deus.

Os filósofos renascentistas têm uma atitude

crítica em relação às doutrinas intelectuais

medievais, mais particularmente com o

aristotelismo que tomava todo o saber

científico.

A visão heliocêntrica do universo defendida

por Copérnico e o novo método científico

proposto por Francis Bacon são duas

questões essenciais no paradigma

renascentista.

Os ideais renascentistas abriram o caminho

da filosofia da época moderna, na qual a

razão humana se torna independente da fé e

estrutura a ciência entendida atualmente.

Nicolau Maquiavel.

Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, mais

conhecido no Brasil como Nicolau Maquiavel,

foi um filósofo que viveu e produziu entre os

séculos XV e XVI, na região de Florença.

Dedicou-se a explicação e compreensão do

estado, politica e homens de estado como

estes são na realidade, em oposição àqueles

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autores que formularam teorias acerca de

como deveria ser o estado ou o governante

ideal. Para além de descrever o estado de

sua época, Maquiavel também apresentou

estratégias e métodos sobre como os

homens de estado deveriam comportar-se

para tirar maior proveito da realidade,

mantendo e expandindo o poder.

Maquiavel é visto como um proponente do

que viria a ser o cientista empirista moderno,

defendendo que expandir a partir da

experiência e fatos históricos são o melhor

método de se desenvolver uma filosofia

consistente, especialmente em política, e que

a teorização a partir da imaginação é inútil.

Com esta aproximação, Maquiavel foi capaz

de afastar a politica da teologia e da filosofia

moral, desenvolvendo-a como uma disciplina

em si mesma. Assim, contribuiu para a

compreensão de como os governantes de

fato agem e mesmo para a antecipação de

seu comportamento. Defendeu o estudo da

fundação de uma nação e a compreensão de

seus elementos originais como essencial

para a antecipação do futuro.

Grande dificuldade foi encontrada por

autores posteriores ao tentar estabelecer a

moral de Maquiavel. Devido a sua posição

realista acerca da natureza e forma de

manutenção do estado e suas instituições,

especialmente sua descrição de como a

desonestidade e a morte de inocentes pode

ser útil aos políticos, em sua obra mais

famosa, O Príncipe. Maquiavel foi criticado e

repudiado veementemente por diversos

estudiosos políticos e, especialmente,

teóricos da moral, o que contribui para a

associação de seu nome a uma

característica inescrupulosa, com a criação

do adjetivo "maquiavélico".

Por outro lado, autores como Baruch

Spinoza, Jean-Jacques Rousseau e Denis

Diderot defenderam que Maquiavel era na

verdade um republicano e que suas ideias

foram extremamente úteis para a

compreensão do estado, inspirando o

Iluminismo e consequentemente o

desenvolvimento da filosofia politica

democrática moderna. O autor italiano

Benedetto Croce defendeu Maquiavel

afirmando que sua posição era a aceitação

de que, na realidade, as regras morais

afetam muito pouco a ação e decisões dos

políticos. A interpretação aceita atualmente é

a de que Maquiavel se coloca como um

cientista politico, procurando distinguir os

fatos da vida politica dos valores do

julgamento moral.

Encontramos em Maquiavel uma critica ao

aristotelianismo teológico, aceito pela igreja,

e a relação da igreja com o estado, que

levaria muitas decisões práticas a serem

tomadas com base em ideais imaginários. O

aristotelianismo teológico foi a mais

sofisticada forma de justificação do

cristianismo e, na visão de Maquiavel, teve

como efeito justificar a preguiça e inação das

pessoas frente aos desafios da vida e da

sociedade, ao esperar pela providência

divina para solucionar tais desafios. Este

posicionamento, de recusa da sorte e destino

baseados em algo externo a vida humana,

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classificou Maquiavel como um humanista.

Enquanto encontramos em filósofos como

Platão a descrição da politica, tornando-o

mais próximo de Maquiavel do que

Aristóteles, tais filósofos sempre tiveram uma

inclinação para posicionar a filosofia acima

da politica, enquanto Maquiavel recusava

qualquer ideia teleológica, aquelas que

postulam causas finais ideais.

Embora seguidores de Maquiavel tenham

preferido métodos mais pacíficos e baseados

na economia para promover o

desenvolvimento, é aceito que a posição de

aceitação de riscos, ousadia, ambição e

inovação que Maquiavel sugere aos lideres

políticos ajudou a fundar novos modos de se

fazer politica e negócios.

Razão e experiência: a investigação

científica.

No século XVII, no plano científico e

filosófico, desabrocharam-se novas maneiras

de pensar que podem ser vistas como

herdeiras do período renascentista.

Essa maneira “moderna” de pensar não

consiste apenas em negar os dogmas e

modelos medievais, mas fundamenta-se na

ideia positiva de que a norma da descoberta

e interpretação da ciência é a experiência e

não a autoridade. Por meio dessa premissa,

a atividade científica deixa de ser uma mera

observação e classificação dos fenômenos e

passa a se preocupar com a determinação

das leis que regem os fenômenos. Essa

atividade da ciência experimental e seu

método de trabalho (a análise) alimentaram a

atividade filosófica do século XVII.

Empirismo.

O empirismo é a posição filosófica que aceita

a experiência como base para a análise da

natureza, procurando rejeitar as doutrinas

dogmáticas. Usado pela primeira vez pela

Escola Empírica, uma escola de praticantes

da medicina na antiga Grécia, o termo

empirismo deriva da palavra

grega empeiría (ἐμπειρία), que designa

conhecimento ou habilidade obtida por meio

da prática, sendo também a origem da

palavra "experiência", por intermédio do

termo latino "experientia".

Empiristas defendem que o conhecimento é

primariamente obtido pela experiência

sensorial, alguns empiristas radicais vão

além afirmando que o conhecimento só é

obtido pela experiência sensorial e por

nenhuma outra forma.

A posição empirista é frequentemente

contrastada com o racionalismo, que

estabelece a razão como origem do

conhecimento, independente dos sentidos. O

conceito e a busca de evidências como fonte

primária de conhecimento existiu durante

toda a história da filosofia e ciência, desde a

Grécia antiga, mas foi com o surgimento do

chamado Empirismo Britânico, no século

XVII, que se consolidou como uma posição

filosófica especifica, sendo o filósofo John

Locke considerado o fundador do empirismo

como tal.

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Os principais filósofos do Empirismo Britânico

foram John Locke, George Berkeley e David

Hume.

Locke é famoso por sua comparação da

mente humana com uma folha em branco,

tabula rasa, na qual as experiências

derivadas das impressões dos sentidos são

impressas. Desta forma, haveriam duas

formas de surgimento de ideias, pela

sensação e pela reflexão, com ideias

podendo ser simples ou complexas.

As ideias simples não são passíveis de

análise, sendo referentes as qualidades

primárias e secundárias dos objetos. Sendo

as primárias aquelas que definem o que o

objeto é essencialmente, por exemplo, uma

mesa tem como qualidade primária o arranjo

especifico de sua estrutura atômica, qualquer

outro arranjo faria outro objeto e não uma

mesa. As qualidades secundárias tratam das

informações sensoriais acerca do objeto,

definindo seus atributos (cor, sabor,

espessura, etc).

Ideias complexas combinam ideias simples e

constituem substancias, modos e relações.

Desta forma, segundo Locke, e discordando

dos racionalistas, o conhecimento humano

acerca dos objetos do mundo é a percepção

de ideias que estão em concordância ou

discordância umas com as outras. Esta

hipótese tornou-se a base da posição

empirista.

Preocupado que a posição de Locke levaria

ao ateísmo, Berkeley formulou a hipótese de

que as coisas só existiriam na medida em

que são percebidas. Para além destas,

existiriam as entidades que percebem, tendo

sua existência garantida mesmo sem que

outro as perceba. Exagerando a alegoria da

tabula rasa, Berkeley defendeu que a ordem

que vemos na natureza é a escrita de Deus.

Por isto, sua posição é hoje conhecida como

idealismo subjetivo.

Na sequência desta discussão, o filósofo

Hume moveu a posição empirista na direção

do ceticismo. Para Hume, a recusa de

Berkeley se daria pelo fato de que o

empirismo possui implicações que não são

aceitas pela maioria dos filósofos, devido a

convicções pessoais.

No campo conceitual, Hume utiliza a

distinção de argumentos, proposta por Locke,

entre demonstrativos e prováveis e a

expande, dividindo os argumentos em

demonstrações, provas e probabilidades.

Sendo as provas, aqueles argumentos da

experiência aos quais não se pode oferecer

oposição. Hume afirma ainda que a razão por

si mesma não poderia fazer surgir qualquer

ideia original, ao mesmo tempo em que

desafia a causalidade, ao afirmar que a razão

não seria capaz de concluir que a existência

de uma causa seja um requisito absoluto.

Derivações posteriores incluem ainda o

Empirismo Lógico, tendo como expoentes os

filósofos Nelson Goodman, W. V. Quine e

Hilary Putnam e Karl Popper, e o

Pragmatismo, desenvolvido especialmente a

partir das discussões entre Charles Sanders

e William James.

Racionalismo.

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O Racionalismo é um movimento filosófico

que se destacou durante o Iluminismo. É a

teoria de que o conhecimento é adquirido por

meio da razão, sem que haja a participação

dos sentidos. O conhecimento matemático é

o melhor exemplo disso: por meio do

pensamento racional, pode-se construir

provas a partir das quais é possível deduzir

outros conceitos matemáticos complexos. As

raízes do Racionalismo se encontram nos

escritos Platonistas e Neoplatonistas. No

século XVII, o Racionalismo introduziu uma

mudança de pensamento singular: a ideia de

que os conceitos mentais mais importantes

são inatos e que é por meio deles que se

deduzem as outras verdades.

Renum dos mais importantes filósofos do

período moderno, René Descartes foi

um racionalista francês do século 17,

geralmente lembrado pela ênfase na

autoridade da razão em filosofia e ciências

naturais, bem como pelo desenvolvimento de

métodos de verificação. Para Descartes a

filosofia seria como uma árvore, na qual a

metafísica forma a raiz, a física o tronco e as

diversas ciências os galhos, sendo que o

mais alto grau de sabedoria estaria na moral,

que pressupõem conhecimento das diversas

ciências, sendo as principais a ética, a

mecânica e a medicina.

René Descartes.

René Descartes (1596-1650) foi um filósofo,

físico e matemático francês. Autor da frase

"Penso, logo existo". É considerado o criador

do pensamento cartesiano, sistema filosófico

que deu origem à Filosofia Moderna. Sua

preocupação era com a ordem e a clareza.

Propôs fazer uma filosofia que nunca

acreditasse no falso, que fosse

fundamentada única e exclusivamente na

verdade. Uma nova visão da natureza

anulava o significado moral e religioso dos

fenômenos naturais. Determinava que a

ciência deveria ser prática e não

especulativa.

A obra de Descartes, "O Discurso Sobre o

Método", é um tratado matemático e

filosófico, publicado na França em 1637 e

traduzida para o latim em 1656. Em toda

obra prevalece a autoridade da razão.

René Descartes (1596-1650) nasceu no dia

31 de março em La Haye, antiga província de

Touraine, hoje Descartes, na França. Filho

de Joachim Descartes, advogado e juiz,

proprietário de terras, com o título de

escudeiro, primeiro grau de nobreza. Era

também conselheiro no Parlamento de

Rennes na vizinha cidade de Bretanha.

René Descartes estudou no Colégio Jesuíta

Royal Henry - Le Grand, que era

estabelecido no castelo De La Flèche, doado

aos jesuítas pelo rei Henrique IV. Na época o

colégio mais prestigiado da França, com o

objetivo de treinar as melhores mentes.

Descartes, estudou entre 1607 e 1615.

Formou-se em Direito pela Universidade de

Poitiers. Dois anos depois, ingressou no

exército do príncipe Maurício de Nassau, na

Holanda, onde estabelece contato com as

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descobertas recentes da Matemática. Aos 22

anos, começa a formular sua "geometria

analítica" e seu "método de raciocinar

corretamente". Rompe com a filosofia

aristotélica adotada nas academias e, em

1619, propõe uma ciência unitária e

universal, lançando as bases do método

científico moderno.

Sua principal obra foi "O Discurso Sobre o

Método" (1637), na qual apresenta o seu

método de raciocínio, "Penso, logo existo",

base de toda a sua filosofia e do futuro

racionalismo científico. Nessa obra expõe as

quatro regras para se chegar ao

conhecimento: nada é verdadeiro até ser

reconhecido como tal; os problemas

precisam ser analisados e resolvidos

sistematicamente; as considerações devem

partir do mais simples para o mais complexo;

e o processo deve ser revisto do começo ao

fim para que nada importante seja omitido.

Em 1649, vai trabalhar como instrutor da

rainha Cristina na Suécia. Com uma saúde

frágil, René Descartes morre de pneumonia

no dia 11 de fevereiro de 1650.

Obras de René Descartes.

Regras Para Orientação do Espírito, 1628.

O Discurso Sobre o Método, 1637.

Geometria, 1637.

Meditações Sobre a Filosofia Primeira, 1641.

Princípios da Filosofia, 1644.

Iluminismo.

A expansão capitalista dos séculos XVII

e XVIII foi acompanhada pela crescente

ascensão social da burguesia e sua tomada

de consciência como classe social.

Paralelamente, o racionalismo imperava na

Europa, transmitindo a confiança de que a

razão era o principal instrumento do homem

para enfrentar os desafios da vida e

equacionar os problemas que o rodeavam. O

desenvolvimento da Revolução Industrial e o

sucesso da ciência em campos como a

química, a física e a matemática inspiravam

filósofos de todas as partes. Foi assim que

surgiu talvez um novo mito: a ideia de pro-

gresso.

Desse modo, disseminou-se a crença

de que a razão, a ciência e a tecnologia ti-

nham condições de impulsionar o trem da

história numa marcha contínua em direção, à

verdade e ao progresso humano.

Paralelamente, desenvolveu-se um

pensamento que culminaria no movimento

cultural do século XVIII denominado Ilumi-

nismo, Ilustração ou Filosofia das Luzes.

O Iluminismo não foi um movimento

coeso e uniforme. Por isso, não podemos

rotular todos os pensadores iluministas como

"ideólogos da burguesia". Havia, por

exemplo, entre os iluministas muitos

pensadores que defendiam a aristocracia. No

entanto, nessa pluralidade de pensadores,

um traço comum é a busca pelo

convencimento racional das pessoas.

A própria postura de muitos filósofos se

modificou no século XVIII. Abandonando os

círculos fechados de seus antecessores, os

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iluministas circulavam pelas ruas e salões,

exibindo e exercitando a razão. Para esses

filósofos propagandistas, como escreveu o

pensador alemão Ernst Cassirer (1874-

1945), "a razão não era o cofre da alma onde

se guardavam verdades eternas, mas era a

força espiritual, a energia, capaz de nos

conduzir ao caminho da verdade".

O Iluminismo enfatizou a capacidade

humana de, através do uso da razão,

conhecer a realidade e intervir nela, no

sentido de organizá-la racionalmente, de

modo a assegurar uma vida melhor para as

pessoas.

Através do processo de ilustração, isto

é, do desenvolvimento da capacidade

intelectual, havia a proposta de libertar o

homem dos medos irracionais, superstições

e crendices, levando-o a questionar as

tradições vulgares e a construir uma nova

ordem racional para a sociedade.

Podemos dizer, enfim, que talvez o

grande mérito dos iluministas foi o esforço

por generalizar e aplicar as doutrinas críticas

e analíticas aos diversos campos da

atividade humana, bem como os ideais de

conhecimento forjados no grande

racionalismo (o racionalismo do século XVII).

Vejamos alguns indicadores dessa nova

mentalidade:

- Estudos: a atenção dos intelectuais se volta

para o mundo terreno, concreto, e, dentro

dele, para o estudo do próprio ser humano;

- História: os estudos históricos ganham

expressão. Percebe-se que o conjunto dos

conhecimentos adquiridos no passado pode

ser colocado a serviço do bem-estar social;

- Progresso: o entusiasmo pelas novas des-

cobertas tem como consequência a crença

em um novo ideal, a ideia de progresso.

Resumindo: O iluminismo é um período

que crê nos poderes da razão que são

chamadas de "As Luzes". No iluminismo

afirma-se que:

- pela razão o homem pode conquistar a

liberdade e a felicidade social e política.

- que a razão é capaz de evolução e

progresso e o homem é um ser perfectível (é

a capacidade de libertar-se de preconceitos,

medos etc.)

- pela razão o homem se aperfeiçoa, faz o

progresso das civilizações que vão das mais

atrasadas às mais adiantadas e perfeitas.

- há diferença entre Natureza e civilização.

Esse foi um período de grandes interesses

na ciência que se relacionam com as ideias

de evolução, foi uma época de preocupação

com a arte, grandes interesses de bases

econômicas da vida social e política.

Alguns pensadores representativos do

Iluminismo: Montesquieu (1689-1755),

Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784) e

D' Alembert (1717-1783), Rousseau (1712-

1778), Adam Smith (1723-1790) e Immanuel

Kant (considerado o maior filósofo do Ilu-

minismo alemão.)

Immanuel Kant.

Immanuel Kant (1724-1804) foi um dos mais

importantes e influentes filósofos da

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modernidade. Seus estudos e ensinamentos

nos campos da Metafísica, Epistemologia,

Ética e Estética tiveram grande impacto

sobre a maioria dos movimentos filosóficos

posteriores.

Kant nasceu em 22 de abril de 1724 na

cidade de Konigsberg, que fazia parte do

império da Prússia. Lá ele passou toda sua

vida, onde estudou, obteve seu doutorado

(1755), escreveu e ensinou. Em 1770,

tornou-se professor de Lógica e Metafísica e

lecionou durante os 27 anos seguintes,

conquistando o afeto e admiração de seus

alunos. Kant deixou a universidade em 1797,

aos 73 anos de idade. Seus ensinamentos,

que abrangem quase todos os campos de

Filosofia, obtiveram grande reconhecimento

internacional.

Kant abordava o estudo da religião de forma

bastante diferente daquela ensinada e aceita

na época. Seus ensinamentos eram

baseados no racionalismo e não na

revelação, ou seja, ele baseava suas crenças

religiosas principalmente na lógica, e não na

simples fé. Em 1792, Frederico Guilherme II,

Rei da Prússia, proibiu Kant de escrever ou

ensinar assuntos religiosos - ordem que Kant

obedeceu até a morte do rei, que ocorreu

cinco anos depois. Em 1798, Kant publicou

suas visões religiosas.

Kant faleceu em 12 de fevereiro de 1804.

Sua Obra.

As obras de Kant são bastante diversificadas.

Abaixo, abordamos brevemente alguns de

seus principais ensinamentos: os conceitos

da Teoria do Conhecimento e da teoria da

Moral e Ética.

Teoria do Conhecimento.

Em sua Teoria do Conhecimento, Kant

classificou o tangível e o abstrato em dois

grupos: 1 - aquilo que podemos conhecer; 2 -

aquilo que são por si desconhecidas. As

coisas que podemos conhecer são aquelas

que as pessoas podem presenciar tocar, ver

e experimentar, como uma mesa ou um

cachorro. Por outro lado, existem coisas que

são desconhecidas por si próprias, como

Deus e o conceito de liberdade, cujas

existências, segundo Kant, se baseiam em

pressuposições necessárias.

Kant afirmava que a área do conhecimento é

limitada ao mundo das experiências e que é

inevitável que uma pessoa fracasse ao tentar

conhecer coisas que são desconhecidas.

Kant apresenta essa linha de pensamento

em seu livro Crítica da Razão Pura,

estabelecendo que os três grandes

problemas da Metafísica são Deus, a

liberdade e a imortalidade, pois não são

solucionáveis por meio do pensamento

especulativo. De acordo com Kant, a

existência de Deus e os conceitos de

liberdade e imortalidade não podem ser

afirmados ou negados no campo teórico,

nem podem ser cientificamente

demonstrados. Porém, Kant expressou a

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necessidade da crença em Deus e nos

conceitos de liberdade e imortalidade em sua

filosofia moral. De acordo com Kant, a

existência da moralidade depende

exclusivamente da existência de Deus, da

liberdade e imortalidade.

Classificação do Pensamento.

Kant dividiu o conhecimento humano em

duas categorias: proposições analíticas e

sintéticas.

Uma proposição analítica é aquela em que o

predicado está contido no sujeito, como no

enunciado "nenhum dos solteiros é casado".

A verdade deste enunciado é evidente, está

presente no conceito e é descoberta

simplesmente ao analisar os termos

concedidos sem a necessidade de

experiências avançadas. Por exemplo:

"nenhum dos solteiros é casado" é uma

verdade seja qual for nossa experiência,

porque o significado de "não ser casado" já

está presente no termo "solteiro".

Kant acreditava principalmente em um

conhecimento prévio, a priori, que é

conquistado sem a necessidade da

experiência. Um exemplo de uma proposição

a priori é "dois mais dois é igual a quatro".

Entendemos esse conceito sem termos que

fisicamente colocar dois e dois juntos. Kant

destacou a importância do conhecimento a

priori, afirmando ser ele uma parte essencial

do conhecimento que não pode ser adquirido

diretamente pela experiência.

Além da proposição analítica, Kant

apresentou o conceito de proposição

sintética. A proposição sintética não pode ser

alcançada por meio de simples análise: ela

exige experiência. Um exemplo desse

conceito evidencia-se na frase "a garota é

loira". Para sabermos se a garota é

realmente loira, é necessário uma

experiência, pois não podemos ter certeza

dessa afirmação sem antes vê-la.

Através dessas afirmações, Kant tentou

explicar a estrutura do conhecimento. A partir

de Kant, originaram-se diversas discussões

sobre a existência de um conhecimento a

priori. As definições de conhecimento de

Kant tiveram uma importância fundamental

no estudo da Filosofia.

Moral e Ética

A filosofia moral de Kant afirma que a base

para toda razão moral é a capacidade do

homem de agir racionalmente. O fundamento

para esta lei de Kant é a crença de que uma

pessoa deve comportar-se de forma igual a

que ela esperaria que outra pessoa se

comportasse na mesma situação, tornando

assim seu próprio comportamento uma lei

universal.

Um exemplo disso:

Motoristas podem estacionar seus veículos

em fila dupla apenas em casos de

emergência (por exemplo, com o propósito

de resgatar uma pessoa). De acordo com a

filosofia moral de Kant, essa lei deve-se

aplicar a toda e qualquer pessoa que se

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encontre nessa mesma situação. Isso

significa que ninguém pode estacionar em fila

dupla por motivo de preguiça ou porque não

encontrou uma vaga livre. Pois se todas as

pessoas estacionassem em fila dupla, e isso

se tornasse uma lei universal, o trânsito

ficaria confuso e a cidade viraria um caos.

Portanto, só é permitido estacionar em fila

dupla em casos de emergência. As exceções

a essa regra - os casos de emergência -

ocorreriam em situações nas quais todas as

pessoas estacionariam em fila dupla e/ou

considerariam justificável o fato de outros

terem feito isso.

A situação descrita acima exemplifica a lei

moral de Kant que afirma que uma pessoa

deve agir numa situação da mesma forma

que espera que todas as outras pessoas

ajam.

A lei moral de Kant é baseada na ideia de

que os seres humanos são racionais e

independentes. Em sua obra, Metafísicas da

Ética (1797), Kant propõe que a razão

humana é a base da moralidade. Segundo

Kant, toda ação deve ser tomada com um

senso de responsabilidade ditado pela razão.

Kant também afirmou que nenhuma ação

baseada apenas na obediência da lei deve

ser considerada como moral. A história

comprovou esse conceito. Por exemplo:

durante a Segunda Guerra Mundial, as

pessoas que obedeciam à lei nazista e

seguiram as leis nazifascistas não agiram

humana e eticamente. Matar e torturar seres

humanos inocentes nunca são atos morais,

mesmo que a lei de um país permita ou até

encoraje isso.

Conclusão.

Immanuel Kant é considerado o mais

influente filósofo da modernidade. Suas

ideias inspiraram outros grandes filósofos

como Hegel e Marx. Seus ensinamentos

influenciaram o Direito Internacional, a

Pedagogia e a Sociologia; o impacto de suas

obras é incalculável. Ele foi, sem dúvida, um

dos mais influentes filósofos na história do

mundo.

Referências:

www.10emtudo.com.br

www.suapesquisa.com

www.ebiografia.com

www.filomundo.blogpost.com.br

www.infoescola.com

www.pensador.uol.com.br

www.ime.unicamp.com.br

www.nicolaumaquiavel.com.br