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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA GABRIEL NASCIMENTO OLIVEIRA PERDAS AGRÍCOLAS DO DENDEZEIRO (Elaeis guineensis Jacq.) VIÇOSA MINAS GERAIS 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

GABRIEL NASCIMENTO OLIVEIRA

PERDAS AGRÍCOLAS DO DENDEZEIRO (Elaeis guineensis Jacq.)

VIÇOSA – MINAS GERAIS

2017

GABRIEL NASCIMENTO OLIVEIRA

PERDAS AGRÍCOLAS DO DENDEZEIRO (Elaeis guineensis Jacq.)

Trabalho de conclusão de curso apresentado à

Universidade Federal de Viçosa como parte das

exigências para a obtenção do título de Engenheiro

Agrônomo. Modalidade: Revisão de Literatura.

Orientador: Sérgio Yoshimtso Motoíke

Coorientadores: Talita Oliveira de Araújo

André Ricardo S. Ribeiro

VIÇOSA – MINAS GERAIS

2017

GABRIEL NASCIMENTO OLIVEIRA

PERDAS AGRÍCOLAS DO DENDEZEIRO (Elaeis guineensis Jacq.)

Trabalho de conclusão de curso apresentado à

Universidade Federal de Viçosa como parte das

exigências para a obtenção do título de Engenheiro

Agrônomo. Modalidade: Revisão de Literatura.

APROVADO: 24 de julho de 2017.

Prof. Sérgio Yoshimtso Motoíke

(Orientador)

(UFV)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a DEUS, por ter me dado forças e não me deixar desistir jamais.

Aos meus pais por estarem sempre presentes e me apoiando independente da distância.

Aos amigos e aos professores que fizeram a diferença e impactaram de forma extraordinária na

minha vida.

Obrigado.

RESUMO

O dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.) é uma cultura oleaginosa de grande importância global,

contribuindo com 32% do mercado mundial de óleos vegetais. A palmeira é caracterizada por

sua alta produtividade, quando comparada a outras oleaginosas. Entretanto, as perdas agrícolas

do dendezeiro representam um alto valor na cadeia produtiva do óleo de palma. Visto a

importância das perdas agrícolas, o presente trabalho caracterizou como as variações climáticas,

problemas fitossanitários e práticas culturais deficitárias contribuem negativamente na

exploração comercial da cultura. Em relação ao primeiro, fenômenos climáticos como o el nino

e períodos longos de estiagem afetam diretamente a floração e o desenvolvimento dos cachos;

em segundo, as pragas, como lagartas desfolhadoras e os coleópteras broqueadores, e as

doenças como anel vermelho (Rhadinaphelenchus cocophilus) e o amarelecimento fatal são os

principais problemas fitossanitários da cultura, ambos diminuem significativamente sua

produtividade. Por último as práticas culturais deficitárias, estas, relacionadas ao manejo na

colheita e pós colheitas do dendê. Por serem atividades predominantemente manuais, a colheita

e pós colheita não possuem padrões fixos, logo seus indicadores são subjetivos e dependentes

da experiência do funcionário. Se mal realizados, o aproveitamento da área será inferior ao

potencial produtivo que esta possui. Portanto deve-se conhecer as deficiências operacionais da

cultura, bem como os principais fatores causadores de falhas e assim tomar medidas preditivas

a fim de minimizar os problemas da cultura.

Palavras-chave: colheita do dendê; características das perdas, pós-colheita.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 8

2. PERDA DE PRODUTIVIDADE NA CULTURA DO DENDÊ 10

2.1 PERDAS CAUSADAS POR VARIAÇÕES CLIMÁTICAS 10

2.2 PERDAS CAUSADAS POR PRAGAS E DOENÇAS 11

2.2.1 PRAGAS 11

2.2.2 DOENÇAS 12

2.3 PERDAS CAUSADAS NO MANEJO DA COLHEITA E DA PÓS COLHEITA DOS

CACHOS. 13

2.3.1 A COLHEITA DO DENDÊ 13

2.3.2 CARACTERÍSTICAS DAS PERDAS NA COLHEITA E PÓS-COLHEITA DO

DENDÊ 16

2.3.3 TÉCNICAS UTILIZADAS PARA REDUÇÃO DE PERDAS NA COLHEITA E PÓS

COLHEITA DO DENDÊ 22

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 22

4. REFERÊNCIAS 23

LISTA DE FIGURAS

1. Consumo mundial de óleos vegetais em 2010/11 8

2. Fruto de dendê 9

3. Desenvolviemento do fruto de dendê 15

4. Desprendimento de frutos indica ponto de maturação ideal 15

5. Cacho esquecido 16

6. Cacho não carreado 17

7. Talo com Fruto 17

8. Fruto solto 18

9. Cacho verde 19

10. Cacho inchado 19

11. Cacho sobremaduro 20

12. Cacho passado 21

13. Talo comprido 21

8

1 INTRODUÇÃO

A produção mundial de óleo vegetal atingiu 186,9 milhões de toneladas em 2016. Dentre

as culturas oleaginosas, o dendezeiro, conhecido também como palma de óleo, é a mais

importante cultura oleaginosa cultivada pelo homem, contribuindo com 32% de todo óleo

vegetal produzido no planeta (BIODIESELBR, 2017) (Figura 1).

O dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.) é uma palmeira da família Areacaceae, nativa da

costa ocidental da África. No Brasil, estima- se que essa espécie foi introduzida por volta do

século XVI, na região da Bahia e, posteriormente, foi introduzida a região amazônica onde

predominam os cultivos comerciais (MULLER, 1992; VENTURIERI et al., 2009).

A palmeira caracteriza-se por seu grande porte, atingindo até 20m de altura na fase

adulta, possuindo de 34 a 50 folhas pinadas, medindo cada uma de 5 a 8 m de comprimento.

Seu caule é ereto e solitário e de entrenós curtos. Possui espinhos curtos no pecíolo da folha e

nos cachos. A espécie é normalmente monóica com inflorescências femininas e masculinas

dispostas separadamente no mesmo indivíduo. Os frutos levam entre a antese e a maturação dos

cachos, em torno de cinco a seis meses, sendo a produção de cachos contínua, ao longo do ano.

Cada palmeira produz em média de 12 a 14 cachos/ano, tendo estes, peso médio variando entre

20 e 30kg e em torno de 1500 a 2000 frutos por cacho (CORLEY e TINKER, 2003).

Figura 1: Consumo mundial de óleos vegetais em 2010/11 (Fonte: Secretaria de Agricultura e

Abastecimento, Instituto de Economia Agrícola. Disponível em:

<http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=12153>. Acesso em: julho 2017).

9

A produção mundial do óleo de palma em 2016 foi de 73,1 milhões de toneladas

(BIODIESELBR, 2017). Os países que apresentam maiores produções são a Malásia e a

Indonésia que contribuem com aproximadamente 90% do óleo inserido no comércio

internacional (CORLEY e TINKER, 2016). Em 2014, de acordo com a FAO, os países latinos

que se destacaram na produção do óleo foram a Colômbia com 5,5 milhões de toneladas,

seguido pelo Brasil com 1,4 milhões de toneladas e Costa Rica com 0,9 milhões de toneladas

(FAO, 2014).

No Brasil, as áreas produtoras de dendê estão concentradas na região tropical do país.

O Pará é o maior produtor, abrangendo 61 mil hectares, seguido pela Bahia com 41,5 mil

hectares e Amazonas com apenas 7 mil hectares plantados (AGRIANUAL, 2009 apud

GONTIJO et al., 2011).

A vantagem do dendê, em relação a outras culturas oleaginosas, é o fato de apresentar

altas produções de óleo por hectare. Com apenas 10% da área plantada de soja, a palma é capaz

de produzir a mesma quantidade de óleo (PARENTE, 2003). Além disso, as características

especiais dos óleos extraídos conferem-lhe grande versatilidade, o que possibilita seu uso em

inúmeros produtos mundialmente.

Os principais produtos do dendezeiro são o óleo extraído da polpa do fruto (óleo de

palma) e o óleo de palmiste extraído da amêndoa (Figura 2). A demanda do óleo de palma

cresce de forma acelerada, em torno de 8 a 10% ao ano. No ano de 2014 o consumo mundial

ficou em torno de 58 milhões de toneladas e espera-se que até 2025 a demanda irá ultrapassar

75 milhões de toneladas (ABRAPALMA, 2011).

Figura 2: Fruto de dendê (Fonte disponível em:

http://www.ecycle.com.br/component/content/article/67/2659-oleo-vegetal-palma-que-e-para-

serve-onde-comprar-puro-uso-hidratacao-pele-cabelo-saude-beneficios-propriedades-fazer-

sabao-cosmeticos-cremes-quimica-nociva-parabenos-extracao.html>. Acesso em: julho 2017.

10

Segundo RODRIGUES et al. (2011) o óleo de palma é fonte de vitamina A, sendo

apropriado para o uso culinário e no enriquecimento de alimentos. Devido a isso, 73% desse

óleo produzido no Brasil é destinado para a indústria alimentícia (CASTRO, 2016). O valor do

azeite de dendê está ligado diretamente à qualidade do óleo, que por sua vez será reflexo da

qualidade dos frutos colhidos. Fatores como o ponto de maturação, tempo entre colheita e

processamento e o procedimento de extração são decisivos para obtenção de um produto de

excelente qualidade requisitado pelo mercado.

O presente trabalho tem como foco caracterizar os pontos onde ocorrem perdas de

produtividade e qualidade da produção do azeite de dendê, contribuindo assim com o

desenvolvimento da cadeia produtiva da palma de óleo no Brasil.

2 PERDA DE PRODUTIVIDADE NA CULTURA DO DENDÊ

A produtividade do dendezeiro gira em torno de 25 toneladas de fruto fresco por hectare,

o que gera aproximadamente 5 toneladas de óleo por hectare (VIANNA, 2006). No entanto,

perdas de produtividade são observadas em diversos anos, o que é atribuído a diversos fatores,

tais como o da variação do clima, ocorrência de pragas e doenças e do manejo da colheita e da

pós colheita dos cachos.

2.1 PERDAS CAUSADAS POR VARIAÇÕES CLIMÁTICAS

O dendezeiro é uma planta de clima tropical, portanto, tem ocorrência limitada às

regiões equatoriais do globo. Para alcançar o máximo do seu potencial produtivo, o dendezeiro

necessita de condições ecológicas que satisfaçam suas necessidades.

Segundo CUNHA et al. (2015), a principal condição determinante para a produção do

dendezeiro é a disponibilidade hídrica. Precipitações de 1.800 a 2.000 mm, distribuídas durante

o ano, sem ocorrência de estações secas definidas, não ultrapassando três meses com

precipitação inferior a 100 mm, são fundamentais para a alta produtividade do dendezeiro. Em

períodos prolongados de seca pode ocorrer mudanças na determinação do sexo, abortamento

de inflorescência e falha no desenvolvimento do cacho (WOITTIEZ et al., 2017). A redução na

emissão de inflorescências femininas, que são responsáveis pela produção de frutos, é comum

em anos de ocorrência de el nino, causando uma redução na produtividade. Em 2016, a quebra

de safra causada por este fenômeno fez com que os estoques de óleo baixassem e seu preço

subisse 25% no mercado internacional (TERAZONO, 2016). Além disso, o estresse hídrico

também causa o retardo na abertura de novas folhas, pois a taxa de iniciação foliar determina

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diretamente o número potencial de cachos, uma vez que uma única inflorescência é iniciada na

axila de cada folha (CORLEY e TINKER, 2015).

O excesso de precipitação também pode causar perda de produtividade, pois chuvas

torrenciais reduzem a atividade dos coleópteros polinizadores. Esses besouros são do gênero

Elaeidobius, que ao serem atraídos pelo odor das inflorescências femininas não fecundadas

carregam o pólen das flores masculinas até elas, efetuando assim a polinização. O excesso de

água, além de reduzir o odor por lavar as flores, reduz a densidade de pólen transportado pelos

besouros (MOURA, 2008)

2.2 PERDAS CAUSADAS POR PRAGAS E DOENÇAS

O clima quente e úmido é ideal para o dendezeiro, porém, também favoráveis à

incidência de pragas e doenças. Estas, por sua vez, geram problemas por depauperar as plantas,

impactando negativamente na produção dos dendezais em grandes áreas de produção no

mundo. Dentre as pragas de maior importância, pode-se citar lagartas desfolhadoras e

coleópteras broqueadores; entre as doenças o amarelecimento fatal e o anel vermelho

(CORLEY e TINKER, 2003).

2.2.1 PRAGAS

As lagartas desfolhadoras provocam redução da área foliar e, consequentemente, ocorre

uma redução na produtividade devido à diminuição da capacidade fotossintética da planta

(TINÔCO et al., 2008). Na cultura do dendezeiro, as desfolhadoras de maior ocorrência são

Brassolis sophorae L. (a lagarta das folhas do coqueiro) e Opsiphanes invirae (a lagarta

desfolhadora). A espécie B. sophorae provoca danos econômicos devido ao desfolhamento

parcial ou total das palmeiras causados pelas suas larvas, que medem entre 70 e 105 mm e

consomem de 500 a 600 cm² de área foliar cada (entre 2 e 5 folíolos). Como forma de controle,

deve-se localizar, retirar e eliminar seus ninhos a fim de evitar super populações (LEMOS e

BOARI, 2010).

Os danos causados pela Opsiphanes são semelhantes aos causados pela Brassolis,

porém, esta é ainda mais voraz, sendo que um único indivíduo pode consumir até 800 cm² de

folíolos. Para o seu controle deve-se espalhar armadilhas com atrativos (melaço mais inseticida)

para as mariposas; em geral são usados sacos ou vasilhas plásticas, de forma que o indivíduo

entre e não consiga sair (LEMOS e BOARI, 2010).

12

Os broqueadores atacam em geral palmeiras com no mínimo dois anos de idade e seus

danos são causados pelas larvas que perfuram os tecidos do caule, formando galerias que podem

se estender até os tecidos meristemáticos. Os broqueadores de maior importância na cultura são

as brocas do coqueiro (Rhynchophorus palmarum L.) e da coroa foliar (Eupalamides

cyparissias). O ataque dos dois broqueadores são semelhantes, porém, após o ataque de R.

palmarum ocorre o amarelecimento das folhas jovens, murcha e posteriormente curvamento e

seca, indicando a morte da palmeira. O R. palmarum é também o vetor do nematoide

(Rhadinaphelenchus cocophilus) causador da doença anel-vermelho, que pode ser letal à planta.

Por estes motivos faz-se necessário um acompanhamento da população do inseto. Para evitar

surtos, recomenda-se o uso de armadilhas atrativas, baseadas em feromônios, para posterior

eliminação do inseto. Objetivando evitar a proliferação do anel vermelho, indica-se o arranquio

e eliminação dos restos culturais das plantas diagnosticadas com o nematoide (LEMOS e

BOARI, 2010).

A broca da coroa foliar atua de forma semelhante, porém, além de fazer galerias no

caule, ataca também a base das folhas e dos pedúnculos dos cachos, reduzindo o fluxo de seiva

na planta, o crescimento e a produção. As plantas atacadas ficam com folhas prostradas,

paralelas ao caule e com perfurações próximas à base foliar. Sua forma de controle é semelhante

à da broca do coqueiro (LEMOS e BOARI, 2010).

2.2.2 DOENÇAS

As doenças do dendezeiro são grandes entraves à produtividade e à expansão da cultura.

São responsáveis por dizimar milhares de plantas e gerar grandes perdas econômicas no Brasil

e no resto do mundo (BOARI, 2008). O anel vermelho e o amarelecimento fatal são as

principais doenças causadoras de perdas na cultura de dendê no Brasil.

O anel vermelho, como é popularmente conhecido, é muito prejudicial ao cultivo

comercial do dendê por ocorrer em praticamente todas as plantações com quatro ou mais anos

de idade. O agente causador da doença é o nematoide Rhadinaphelenchus cocophilus. Estes

podem penetrar pelas raízes, bases dos pecíolos ou ferimentos; por isto deve-se ter cuidado com

uso de ferramentas em áreas com incidência da doença e ter controle efetivo da broca do

coqueiro (principal vetor). Os principais sintomas são a redução do tamanho das folhas,

paralização da emissão de folhas flechas (forma-se um vazio no centro da coroa) e

desprendimento de frutos antes do ponto de maturação. Como forma de controle deve-se

eliminar o vetor do nematoide, ter cuidado nos tratos culturais desde o viveiro, eliminar plantas

13

doentes logo que expressarem os primeiros sintomas e evitar área com histórico de infestação

do nematoide (MULLER et al., 1989).

O amarelecimento fatal caracteriza-se, inicialmente, por um pequeno amarelecimento

na parte basal dos folíolos, posteriormente evoluindo para necrose e seca total das folhas. Um

dos principais sintomas observados é a seca da folha flecha (em alguns casos pode haver

reemissão temporária destas), culminando na seca total e morte da planta de 7 a 10 meses após

os primeiros sintomas. O amarelecimento fatal é uma ameaça à cultura por ter etiologia

desconhecida (apesar de inúmeros trabalhos de pesquisa, nenhuma correlação a patógenos,

clima, solo ou problema fisiológico foi encontrada). A única forma de controle da doença é a

utilização de material genético resistente e erradicação de plantas doentes (BOARI, 2008).

2.3 PERDAS CAUSADAS NO MANEJO DA COLHEITA E DA PÓS COLHEITA DOS

CACHOS.

2.3.1 A COLHEITA DO DENDÊ

Diferentemente da soja, o dendezeiro não é passivo de mecanização em toda sua etapa

de produção. A cultura faz uso intenso de mão de obra, principalmente nos tratos culturais e na

colheita, o que eleva os custos de produção e acarreta maiores encargos sociais para a empresa.

A colheita, que compreende corte do cacho inteiro, carreamento e recolhimento de frutos soltos,

é onde mais se emprega mão de obra na cultura do dendezeiro e é onde ocorrem as maiores

perdas na produção (CASTRO, 2016).

Para compreender como é realizada a colheita dos cachos em campo, é necessário

conhecer as características biológicas da espécie. O dendezeiro tem uma vida média útil de 25

anos e o período no qual se encontra ativo, produtivamente, varia entre 21 a 23 anos. A colheita

comercial inicia-se aos 4 anos após o plantio (CORLEY e TINKER, 2003), sendo praticada ao

longo de todo o ano. Esse processo é majoritariamente realizado de forma manual, pois, até o

momento, todos os protótipos de máquinas não se mostraram mais eficientes do que a colheita

realizada manualmente (MULLER, 1992).

Durante a maturação dos frutos, ocorrem mudanças visuais que são resultados de

mudanças nas características físico-químicas devido à produção de óleo (Figura 3). A

maturação dos frutos do dendê pode ser dividida em 5 fases: divisão e expansão, período de

latênca, maturação/síntese de óleo e amadurecimento. A síntese do óleo de palmiste começa

aproximadamente 70 dias após antese (DAA) e está completa em 130 DAA. Já a síntese do óleo

14

de palma se inicia em 110 DAA, em 140 DAA ocorre mudança de colocaração do fruto e em

160 DAA a formação do óleo está completa. Na ultima fase é observado um pico de produção

de vários metabólitos e hormônios, principalmente, lipídios, carotenoides, ácido abscísico e

etileno no mesocarpo. Portanto, quanto mais maduro o cacho, maior o teor de óleo e com mais

facilidade ocorrerá a abscisão dos frutos (TRANBARGER et al., 2011). Por isso, para

identificação de cachos maduros observa se a ocorrência do desprendimento natural dos frutos

maduros. Os cachos são considerados maduros quando ocorre o despresndimento de 5 a 10

frutos por cacho. (Figura 4) (OCHOA et al.,2013).

O transporte de cachos até o benefíciamento ocorre em duas etapas. A primeira etapa de

transporte ocorre das parcelas de produção até o carreador, onde ficam localizados as caçambas

de transporte. Esse transporte é feito por bois, burros ou por microtratores. A segunda etapa de

transporte corresponde ao tranporte das caçambas até a usina de beneficiamento, localizadas

geralmente em um raio de no máximo 50 km das parcelas de produção do dendê. Esse transporte

é realizado por caminhões ou carretas basculantes (CORLEY, 2009).

15

Figura 3: Desenvolvimento do fruto de dendê (fonte: TRANBARGER et al, 2011).

Figura 4: Desprendimento de frutos indica ponto de maturação ideal. (fonte: PESSOA,

2009).

2.3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS PERDAS NA COLHEITA E PÓS-COLHEITA DO

DENDÊ

Da colheita ao processamento dos frutos do dendezeiro ocorrem diversas atividades, e

estas, geram perdas agrícolas. Algumas das perdas mais comuns na cultura do dendezeiro são

listadas a seguir:

(a) Cachos Esquecidos - são cachos maduros em seu ponto ideal, mas que por falha

humana foram esquecidos na planta. Estes cachos só serão colhidos no próximo ciclo de corte,

quando o mesmo terá se transformado em cacho sobremaduro ou cacho passado, gerando

perdas. Esse tipo de perda ocorre principalmente quando tratos culturais, como a poda das

folhas, não é realizada adequadamente. Podas adequadamente realizadas diminuem perdas

desta natureza, pois facilitam a visualização dos cachos pelo colhedor (Figura 5) (PESSOA,

2009).

16

Figura 5: Cacho esquecido (Fonte: PESSOA, 2009).

(b) Cachos Não Carreados (CNC) – os CNC’s são cachos que foram colhidos no ponto

de maturação ideal, porém não foram carreados e permaneceram em campo. Estes só serão

conduzidos a indústria no próximo ciclo de colheita, gerando perdas de qualidade pela

acidificação do óleo desses frutos. Deve-se ressaltar que esta perda está relacionada à etapa do

carreamento. Reduz-se CNC realizando-se tratos culturais como coroamento e capina em linhas

de carreamento, para facilitar a visualização dos cachos a serem carreados nas linhas de

carreamento (Figura 6) (PESSOA, 2009).

Figura 6: Cacho não carreado (Fonte: PESSOA, 2009).

17

(e) Talos Com Frutos (TCF) – são os talos compridos que, ao serem retirados do cacho

de forma inadequada, levam frutos aderidos a eles, sendo estes descartados juntamente com os

talos. Para se evitar esse tipo de perda deve-se contar com uma equipe treinada e experiente a

fim de reduzir perdas dessa natureza (Figura 7) (PESSOA, 2009).

Figura 7: Talo com Fruto (Fonte: PESSOA, 2009).

(d) Frutos Soltos (FS) – são os frutos que se desprendem naturalmente do cacho pelo

processo de maturação do mesmo, ou pelo impacto causado na queda após o corte do cacho. Os

frutos soltos representam perdas significativas na cultura, por se tratar de um elemento que

apresenta máximo ponto de maturação, que por sua vez, representa uma maior quantidade e

qualidade de óleo. Diversas indústrias de palma no mundo adotam a catação manual desses

frutos; no entanto, o custo de mão de obra no Brasil torna essa operação antieconômica (Figura

8) (PESSOA, 2009).

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Figura 8: Fruto Solto (Fonte: PESSOA, 2009).

(e) Cachos Verdes (CV) – são cachos cortados antes que o mesmo tenha suas reservas

convertidas em óleo, implicando em uma baixa taxa de extração, por ser composto basicamente

de água e amido. Este tipo de perda ganha importância no período da entressafra, onde a redução

no número de cachos induz o colhedor a colher cachos verdes e cachos inchados. Deve-se

ressaltar sua importância, pois o mesmo não gera receita, apesar de ter os custos equivalentes a

um cacho colhido no ponto ideal de maturação (Figura 9) (PESSOA, 2009).

Figura 9: Cacho Verde (Fonte: PESSOA, 2009).

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(f) Cachos Inchados (CI) – são cachos cortados de vez, antes que todas suas reservas

tenham sido convertidas em óleo, implicando em uma taxa de extração reduzida, por apresentar

um elevado teor de água. Este tipo de perda também apresenta maior importância no período

da entressafra. A fim de minimizar este tipo de perda deve-se ter uma equipe experiente e bem

treinada (Figura 10) (PESSOA, 2009).

Figura 10: Cacho inchado (Fonte: PESSOA, 2009).

(g) Cachos Sobremaduros (CS) – são cachos que foram colhidos após o ponto ideal de

maturação e apresentam um peso inferior quando comparados a cachos colhidos no ponto ideal

de maturação. Essa redução de peso é causada pelo desprendimento natural dos frutos após

atingirem a maturação máxima, permanecendo apenas o engaço e alguns frutos aderidos ao

mesmo. Este tipo de perda geralmente é causada por cachos esquecidos, ciclos longos e/ou

desregulados. Cachos sobremaduros impactam negativamente na taxa de extração, por

absolverem o óleo (efeito espoja), durante o processamento na usina de extração do óleo. Deve-

se ressaltar também a influência destes frutos na qualidade do óleo, pois estes apresentam

elevada acidez, interferindo negativamente na qualidade do óleo (Figura 11) (PESSOA, 2009).

20

Figura 11: Cacho sobremaduro (Fonte: PESSOA, 2009).

(h) Cachos Passados (CP) – este tipo de perda é semelhante à perda por cacho

sobremaduro, porém, são geralmente cachos de tamanho reduzido, com frutos em estádio

avançado de maturação e, em alguns casos, já se encontram em estádio de putrefação. Impactam

negativamente na taxa de extração e na qualidade do óleo extraído, por apresentarem baixa

conversão em óleo, absorção de óleo pelos cachos vazios e elevada acidez. Assim como nos

cachos sobremaduros, os cachos passados são causados por ciclo longo e/ou cachos esquecidos.

Para reduzir este tipo de perda deve-se manter os ciclos de corte regulares e efetuar as podas de

limpeza sempre que possível (Figura 11) (PESSOA, 2009).

Figura 12: Cacho passado (Fonte: PESSOA, 2009).

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(i) Talos Compridos (TC) – o TC é o pedúnculo do cacho não aparado. O talo do cacho

deve ser aparado após o corte do cacho, por ser um material inerte, fibroso e desprovido de

óleo. O mesmo gera perda durante o processamento, pois absorve óleo, funcionando como uma

esponja. Para reduzir este tipo de perda, deve-se instruir e treinar os funcionários para que estes

efetuem a retirada dos talos de forma correta (Figura 13) (PESSOA, 2009).

Figura 13: Talo comprido (Fonte: PESSOA, 2009).

2.3.3 TÉCNICAS UTILIZADAS PARA A REDUÇÃO DE PERDAS NA COLHEITA E

PÓS COLHEITA DO DENDÊ

Para que a cultura do dendê seja o mais rentável possível, é necessário otimizar o uso

dos recursos disponíveis, bem como reduzir as perdas na cadeia de produção. Portanto, deve-

se adotar práticas agronômicas corretas, a fim de se obter o máximo de rendimento da cultura.

Um manejo adequado na colheita e nos processos envolvidos facilita o sucesso do

empreendimento. No entanto, a colheita mal feita traz perdas e estas são reflexos da técnica

utilizada em campo (VERA et al., 1998).

O trabalho de campo mais importante em uma plantação de dendê é a colheita. Por isso

deve-se planejar o empreendimento a fim de que todos os fatores favoreçam uma colheita eficaz

e rápida, promovendo um processamento veloz e de baixo custo. Estas medidas, se bem

executadas, promovem um produto final com características desejáveis. (CALVO, 1991).

22

Por não existir um padrão fixo para obter um resultado ótimo de colheita, utilizam-se

indicadores visuais e práticos, sendo estes subjetivos e dependentes da experiência do

funcionário responsável pela atividade (VERA et al., 1998).

Devido à contínua emissão de cachos, a colheita do dendê deve ser realizada ao longo

de todo o ano, em intervalos de colheita ou ciclos que variam entre 10 e 15 dias. Ciclo de

colheita longo tende a gerar maiores perdas na colheita, por levar ao aumento de cachos

sobremaduros, cachos passados e fruto solto. Entretanto, ciclos curtos tendem a gerar outro tipo

de perdas, como por exemplo, cacho verde e cacho inchado (de vez) (CORLEY, 2009).

Outra providencia necessária é a auditação da operação de colheita. O controle de

qualidade no campo após a execusão da colheita é considerado uma das principais ferramentas

para o efetivo controle de qualidade do trabalho e serve para elencar as principais falhas do

processo para se corrigí-las no fututo (VERA et al., 1998).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Perdas de produtividade na cultura do dendê podem ser causadas por variações no clima,

ocorrências de pragas e doenças e pelas práticas culturais adotadas pelo produtor, em especial

na colheita e pós-colheita. Devido ás características da cultura e ás dificuldades ainda

existentes, podem-se concluir que perdas sempre irão ocorrer, sendo estas, em maior ou menor

grau. Visto que a maioria das falhas do processo é causado pela subjetividade humana, deve-se

proceder de forma a minimizar ou dificultar ao máximo que ocorram estes erros. A fim de

satisfazer essa necessidade, deve-se ressaltar a importância dos tratos culturais adequados e a

composição de uma equipe de qualidade, com pessoal bem treinado e integrantes experientes.

4 REFERÊNCIAS

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