UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS ...INFLUENCE OF SOCIAL INTERACTION IN MOTOR...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
MESTRADO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS
KELLY COUTINHO DA SILVA
INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO SOCIAL NAS RESPOSTAS
MOTORAS DE RATOS SUBMETIDOS A UM MODELO DE
DOR INFLAMATÓRIA E O COMPORTAMENTO PRÓ-
SOCIAL DO SEU COABITANTE
SÃO CRISTÓVÃO 2017
KELLY COUTINHO DA SILVA
INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO SOCIAL NAS RESPOSTAS
MOTORAS DE RATOS SUBMETIDOS A UM MODELO DE
DOR INFLAMATÓRIA E O COMPORTAMENTO PRÓ-
SOCIAL DO SEU COABITANTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção ao grau de Mestre em Ciências Fisiológicas.
Orientador: Prof. Dr. Luís Felipe Souza da Silva
SÃO CRISTÓVÃO
2017
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
KELLY COUTINHO DA SILVA
INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO SOCIAL NAS RESPOSTAS
MOTORAS DE RATOS SUBMETIDOS A UM MODELO DE
DOR INFLAMATÓRIA E O COMPORTAMENTO PRÓ-
SOCIAL DO SEU COABITANTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção ao grau de Mestre em Ciências Fisiológicas.
______________________________________________________ 1º Examinador: Prof. Dr. Luís Felipe Souza da Silva
______________________________________________________ 2º Examinador: Prof. Dra. Mônica Santos de Melo
______________________________________________________ 3º Examinador: Prof. Dra. Karina Laurenti Sato
“Nada nos torna tão grandes como uma grande dor”.
Alfred Musset
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por permitir que esse objetivo tão sonhado fosse
alcançado.
Aos animais, os quais ofertaram suas vidas em prol do desenvolvimento científico.
As agências de fomento CAPES e FAPITEC pelos recursos financeiros disponibilizados
para a realização deste projeto.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Luís Felipe, a quem sou extremamente grata pela
preocupação além do universo da pós-graduação. A palavra que define meu sentimento em
relação ao senhor é admiração. E saiba que sua contribuição foi muito maior que uma simples
participação em minha formação acadêmica, durante esse período tem sido meu exemplo de
ética, moral e da docência que um dia quero exercer.
Aos professores do PROCFIS, em especial, os professores José Ronaldo, Daniel
Badauê, Enilton Camargo, Josimari Santana e Valter Joviniano, pelo auxílio empregado a mim.
À Renivan, pela dedicação e disposição em nos ajudar nas situações de adversidade,
sem você o caminho teria sido muito mais árduo.
Ao LAFICO e todos que o compõe, pela disponibilização da estrutura necessária para a
realização dos experimentos.
À amiga Clarissa Alvaia, que me acompanha desde a graduação e foi uma grande
incentivadora para que tudo isso se realizasse. Você fará muita falta durante o doutorado.
Ao amigo José Marcos Melo, pela ajuda em todos os momentos do mestrado. Dei a sorte
de ter um companheiro psicólogo que me ouviu, me acalmou e foi meu braço direito nessa
jornada. Obrigada pelas risadas e palavras de apoio quando tudo parecia ser somente treva.
Ao amigo José Marcos Meneses, por não medir esforços para que meu trabalho fosse
realizado. Gostaria que no mundo existissem mais pessoas como você, sempre disposto a ajudar
e sobretudo a ensinar ao próximo.
Aos amigos do mestrado, em especial, Amélia Gonçalves, Vinícius Magalhães, Rôas
Araújo, Cácia Dantas e Alan Bruno, pelos momentos de brincadeiras e conversas que tanto me
distraíram e facilitaram o processo.
A todos os meus amigos, pelo incentivo e por entender minha ausência nesse período.
Aos meus pais, irmãos e sobrinhos, vocês sempre serão minha base em tudo que eu
fizer. Agradeço por acreditarem tanto em mim e pelo amor que me dão, sem vocês nada disso
seria possível. Amo muito vocês!
RESUMO
INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO SOCIAL NAS RESPOSTAS MOTORAS DE RATOS SUBMETIDOS A UM MODELO DE DOR INFLAMATÓRIA E O COMPORTAMENTO PRÓ-SOCIAL DO SEU COABITANTE, Kelly Coutinho da Silva São Cristovão, 2017.
O componente afetivo-motivacional da dor refere-se aos efeitos da vivência da dor sobre emoções e comportamento. Estudos sugerem que o contato social induz alterações nas respostas nociceptivas e afetivas em indivíduos com dor. A atividade motora como um parâmetro para avaliação da dor tanto em animais como em humanos já foi utilizada em alguns trabalhos, porém a associação dessas variáveis aos componentes sociais, ainda não foram testados. Além disso, a maioria dos estudos relacionados a nocicepção são direcionados ao sujeito que está em condição álgica, sendo que seus contactantes acabam se tornando coadjuvantes. O nosso objetivo foi avaliar como o contato social interfere na atividade motora de ratos submetidos a um modelo de dor inflamatória e o comportamento pró-social dos seus contactantes. Foram utilizados 42 ratos Wistar, com 2 a 3 meses de idade. Para isso foram realizados dois experimentos, em todos eles o n = 6 animais por grupo. No experimento I foi avaliado o comportamento do rato residente durante o contato com animais controle (CTRL), salina (SAL) e com dor inflamatória (FORM). Para tanto, foram medidos o tempo de latência para o primeiro contato e a duração do contato ao longo de 20 min. A dor inflamatória não alterou o tempo de latência do primeiro contato dos residentes com os animais controle. Contudo a duração do contato foi maior com animais do grupo FORM quando comparado com o grupo CTRL e ao grupo SAL. No experimento II foi avaliado o efeito do contato social na resposta motora dos animais com dor inflamatória. Os animais foram divididos em quatro grupos: Formalina Isolado (FI) que recebeu formalina e em seguida foi isolado, Formalina Contato (FC) que recebeu formalina e teve contato com o animal da caixa onde residia, o Controle Contato (CC) que apenas foi manipulado e colocado em contato com o residente e o Controle Isolado (CI) que foi manipulado e colocado em isolamento. Após 20 min de contato ou isolamento, o vídeo dos animais foi analisado no ANY-maze para verificar a atividade motora. Os comportamentos analisados foram: distância total percorrida, tempo de rearing, número de saídas dos quadrantes e tempo de imobilidade, durante o tempo total do teste e dividido em intervalos de 5 minutos perfazendo 4 blocos. Os animais do grupo FC apresentaram menor tempo de rearing e número de saídas dos quadrantes em relação ao CI. Já os animais FI apresentaram menor tempo rearing e de saída dos quadrantes em relação aos CI, e maior tempo de imobilidade em relação a todos os outros grupos. Quando analisados por bloco de tempo houve diferença no intervalo de 0 a 5 minutos para a distância percorrida entre CC e FC, e CC e FI, no qual os animais CC se deslocaram mais durante o teste. O tempo de rearing foi maior para os animais CC e CI em relação aos FC e FI no intervalo de 0 a 5, no segundo intervalo o grupo CI teve maior tempo de rearing que o FC e no terceiro intervalo houve maior tempo dos ratos CI em relação aos FC e FI. Houve maior tempo de imobilidade dos animais FI em relação a todos os outros grupos no intervalo de 0 a 5 min. Percebe-se que a interação social preservou a atividade motora dos ratos FC, não ocorrendo o mesmo com os FI em relação a seus controles. Somado a isso o animal residente conseguiu diferenciar as condições nociceptivas do seu companheiro de caixa, e isso acarretou num maior tempo de interação entre esses animais e no comportamento pró-social adotado. Descritores: Nocicepção; Interação Social; Empatia; Atividade Locomotora.
ABSTRACT
INFLUENCE OF SOCIAL INTERACTION IN MOTOR RESPONSES OF RATS SUBMITTED TO AN INFLAMMATORY PAIN MODEL AND THE PROSOCIAL BEHAVIOR OF ITS COHABITANT, Kelly Coutinho da Silva, São Cristovão, 2017. The affective-motivational component of pain refers to the effects of experiencing pain on emotions and behavior. Studies suggest that social contact induces changes in nociceptive and affective responses in individuals with pain. Motor activity as a parameter for pain assessment in both animals and humans has already been used in some studies, but the association of these variables with social components has not yet been tested. In addition, most of the studies related to nociception are directed to the subject who is in an allergic condition, and his or her contacts end up becoming coadjuvant. Our objective was to evaluate how social contact interferes in the motor activity of rats submitted to a model of inflammatory pain and the pro-social behavior of their contacts. We used 42 Wistar rats, 2 to 3 months old. For this, two experiments were performed, in all of them the n = 6 animals per group. In the experiment I was evaluated the behavior of resident mouse during contact with control animals (CTRL), saline (SAL) and with inflammatory pain (FORM). For this, the latency time for the first contact and the duration of the contact were measured over 20 min. The inflammatory pain did not alter the latency time of the first contact of the residents with the control animals. However, the duration of contact was higher with animals of the FORM group when compared to the CTRL group and the SAL group. In experiment II the effect of social contact in the motor response of the animals with inflammatory pain was evaluated. The animals were divided into four groups: Formalin Isolate (FI) that received formalin and then was isolated, Formalin Contact (FC) that received formalin and had contact with the animal from the box where it resided, Control Contact (CC) that was only Manipulated and put in contact with the resident and the Isolated Control (CI) that has been manipulated and placed in isolation. After 20 min of contact or isolation, the video of the animals was analyzed in the ANY-maze to verify the motor activity. The behaviors analyzed were: total distance traveled, rearing time, number of outflows of quadrants and immobility time, during the total time of the test and divided in intervals of 5 minutes making 4 blocks. The animals of the FC group presented less rearing time and number of exits of the quadrants in relation to the CI. On the other hand, the FI animals had less time rearing and exit of the quadrants in relation to the CI, and a longer time of immobility in relation to all the other groups. When analyzed by time block there was a difference in the interval of 0 to 5 minutes for the distance traveled between CC and FC, and CC and FI, in which the CC animals moved more during the test. The rearing time was higher for the CC and CI animals compared to the FC and FI in the range of 0 to 5, in the second interval the CI group had a longer rearing time than the FC and in the third interval there was a longer time of the CI rats in Relation to CF and FI. There was longer immobility time of the FI animals in relation to all the other groups in the range of 0 to 5 min. It was observed that the social interaction preserved the motor activity of the FC rats, but not the FI compared to their controls. In addition, the resident animal could differentiate the nociceptive conditions of the cohabitant, and this resulted in a longer time of interaction between these animals and the adopted social behavior. Keywords: Nociception; Interpersonal Relations; Empathy; Locomotion.
LISTA DE FIGURAS
Figura1: Ratos Wistar na caixa de origem no teste da formalina em contato social..............27
Figura 2: Rato Wistar na caixa de isolamento no teste da formalina....................................27
Figura 3: Rato Wistar no programa Any-maze.......................................................................28
Figura 4: Representação esquemática das etapas realizadas na primeira análise do Experimento I........................................................................................................................30
Figura 5: Representação esquemática das etapas realizadas na segunda análise do Experimento I........................................................................................................................30
Figura 6: Representação esquemática das etapas realizadas no Experimento II.....................31
Figura 7: Latência, em segundos, para o contato com o rato residente...................................33
Figura 8: Duração, em segundos, do contato com o rato residente.........................................34
Figura 9: Frequência numérica do tipo de comportamento intra-sujeitos dos residentes do grupo controle........................................................................................................................36
Figura 10: Frequência numérica do tipo de comportamento intra-sujeitos dos residentes do grupo formalina.....................................................................................................................36
Figura 11: Comparação das frequências do tipo de comportamento intra-sujeitos entre os residentes dos grupos controle e formalina............................................................................37
Figura 12: Frequência numérica do tipo de comportamento inter-sujeitos dos residentes do grupo controle........................................................................................................................37
Figura 13: Frequência numérica do tipo de comportamento inter-sujeitos dos residentes do grupo formalina.....................................................................................................................38
Figura 14: Comparação das frequências do tipo de comportamento inter-sujeitos entre os residentes dos grupos controle e formalina............................................................................38
Figura 15: Distância total percorrida .....................................................................................39
Figura 16: Tempo de rearing..................................................................................................40
Figura 17: Tempo de imobilidade..........................................................................................40
Figura 18: Número de saída dos quadrantes...........................................................................41
Figura 19: Distância percorrida por bloco de tempo..............................................................42
Figura 20: Tempo de rearing por bloco de tempo..................................................................43
Figura 21: Tempo de imobilidade por bloco de tempo...........................................................43
Figura 22: Numero de saída dos quadrantes por bloco de tempo..........................................44
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Tipos de comportamentos intra-sujeitos e sua respectiva descrição
Tabela 2: Tipos de comportamentos inter-sujeitos e sua respectiva descrição
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACC AI
Córtex cingulado anterior Ínsula anterior
aMCC Córtex cingulado médio anterior
ANOVA Análise de variância
CC Controle contato
CDME Corno dorsal da medula espinal
CEPA Comitê de ética em pesquisa animal
CI Controle isolado
CONCEA Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal
CPME Corno posterior da medula espinal
dACC Córtex cingulado anterior dorsal
EPM Erro padrão da média
FC Formalina contato
FI Formalina isolado
IASP International Association for the Study of Pain
IC Córtex insular
LC Locus coeruleus
PAG Substância cinzenta periaquedutal
RVM Bulbo rostralventromedial
SNE Sistema de neurônios-espelho
UFS Universidade Federal de Sergipe
SUMÁRIO
1. Introdução .......................................................................................................................... 15
2. Revisão de literatura .......................................................................................................... 17
2.1 Dor ...................................................................................................................................... 17
2.1.1 Modulação da dor ............................................................................................................ 18
2.1.2 Empatia e dor....................................................................................................................20
2.1.3 Dor, interação social e o comportamento pró-social do observador ............................... 22
2.1.4 Dor, contato social e atividade motora..............................................................................23
3. Objetivos ............................................................................................................................. 25
3.1 Objetivo geral ..................................................................................................................... 25
3.2 Objetivos específicos .......................................................................................................... 25
4. Animais, material e métodos ............................................................................................. 26
4.1 Animais ............................................................................................................................... 26
4.2 Teste da formalina .............................................................................................................. 26
4.3 ANY-maze .......................................................................................................................... 28
4.5 Protocolo experimental ....................................................................................................... 29
4.5.1 Experimento I: avaliação do comportamento dos ratos residentes durante a exposição a
coabitantes com dor inflamatória..............................................................................................29
4.5.2 Experimento II: avaliação das respostas motoras de ratos com dor inflamatória durante o
contato social ou isolamento. ................................................................................................... 31
4.6 Análise dos resultados ........................................................................................................ 31
5. Resultados ........................................................................................................................... 33
5.1 Experimento I: avaliação do comportamento dos ratos residentes durante a exposição a
coabitantes com dor inflamatória. ............................................................................................ 33
5.1.1 Latência para o contato .................................................................................................... 33
5.1.2 Duração do contato .......................................................................................................... 33
5.1.3 Frequência de comportamento dos animais residentes......................................................34
5.2 Experimento II: avaliação das respostas motoras dos ratos com dor inflamatória durante o
contato social ou isolamento. ................................................................................................... 39
5.2.1 Distância percorrida..........................................................................................................39
5.2.2 Tempo de rearing .............................................................................................................39
5.2.3 Tempo de imobilidade .....................................................................................................40
5.2.4 Número de saída dos quadrantes .....................................................................................41
5.2.5 Distância percorrida por bloco de tempo ..........................................................................41
5.2.6 Tempo de rearing por bloco de tempo ..............................................................................42
5.2.7 Tempo de imobilidade por bloco de tempo ......................................................................43
5.2.8 Número de saída dos quadrantes por bloco de tempo .....................................................44
6. Discussão .............................................................................................................................45
7. Conclusão ...........................................................................................................................50
Referências .............................................................................................................................. 51
Anexo .......................................................................................................................................59
15
1. INTRODUÇÃO
A dor é definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (em inglês,
International Association for the Study of Pain [IASP]) como sendo “uma experiência
emocional e sensorial desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial ou descrita
em termos de tal lesão” (MERSKEY; BOGDUK, 1994).
Já é conhecido que a dor é enfrentada de maneira individual e depende do estado
psíquico de cada pessoa (BINGEL et al, 2011). Villemure e Bushnell, (2002) mostraram em
seus estudos que uma simples forma de distração por meio do odor pode produzir um potente
efeito na percepção da dor. Além disso, estados emocionais como a empatia podem alterar a
forma que o indivíduo sente a dor (LOGGIA et al, 2008).
A empatia foi definida por Decety et al, (2012) como uma resposta afetiva integrada
decorrente da percepção sobre o estado emocional dos outros. Em um recente trabalho foi
observado que a empatia para dor em ratos também existe e que o córtex pré-frontal médio,
sendo que essa área em ratos inclui: o ACC, o córtex pré-límbico e o córtex infra-límbico, tem
uma função essencial mediando a facilitação empática da nocicepção (LI et al, 2014).
A modulação social da dor como evidência de empatia entre os ratos foi estudada e
obteve-se como resultado a ocorrência de uma possível relação bidirecional entre animais que
são coabitantes. Um dos aspectos observado foi o comportamento dos animais que eram
companheiros no mesmo ambiente, os quais foram submetidos ao teste da formalina em que
uma parte dos animais recebeu baixas doses e a outra parte recebeu altas doses. A pesquisa
apontou que o tempo de lambida foi aumentado nos animais com baixas doses quando
observavam os que receberam altas doses, já os animais com doses altas tiveram o tempo de
lambida diminuído em relação aos coabitantes (LANGFORD et al, 2006). Martin et al, (2014)
acreditam que a interação social pode modular a dor em roedores e provavelmente afeta
humanos de forma semelhante aos animais, além de ter determinantes neuropsicológicos
qualitativamente similares.
D’amato e Pavone (2012) mostraram que a interação social consegue produzir a
elevação do limiar para quem recebe um estímulo nocivo, porém para o observador esse
processo pode ocorrer de forma contrária, como visto por Langford e colaboradores que
relataram como ratos que observavam outros com dor apresentaram maiores respostas
16
nociceptivas em relação aos animais que não viram a experiência dolorosa dos outros
(LANGFORD et al, 2006).
As relações empáticas não interferem apenas na regulação da intensidade da dor após o
estímulo aversivo, mas também influenciam na capacidade de realização das atividades motoras
dos animais. Portanto, o ambiente em que eles se inserem estão diretamente ligados ao
comportamento adotado, e isso foi mostrado durante um experimento, no qual ratos em
interação social produziram maiores atividades exploratórias e locomotoras e dormiram menos
quando comparados aos que ficaram sozinhos em situação de enriquecimento ambiental (LOO
et al, 2004).
Além dos locais que estão inclusos e das circunstâncias sociais, as alterações sensoriais
e percepções desagradáveis como a dor provocam modificações no padrão motor dos animais.
Essa afirmação foi evidenciada por um estudo realizado em camundongos, onde após a indução
intra-plantar por um componente gerador de inflamação, os animais tiveram uma significante
diminuição de sua locomoção na roda para exercício, a qual tinham livre acesso dentro da caixa
durante 1 hora de teste (COBOS et al, 2012).
O presente estudo teve o intuito de averiguar o efeito das situações de interação e de
reclusão social nas atividades motoras de ratos após um estímulo nocivo e o comportamento
despendido pelo animal observador durante a interação social. A nossa hipótese é de que o
comportamento social adotado pelo rato residente será modificado pela condição álgica do
coabitante. Além disso, a ocorrência de contato social reduzirá a dor do animal coabitante
aumentando sua atividade motora.
17
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Dor
A capacidade de detectar estímulos nocivos é essencial para a sobrevivência e o bem-
estar de um organismo (BASBAUM et al., 2009). De modo geral é possível identificar três
formas diferentes de dor, de acordo com a relação entre o estímulo nocivo e sensação de dor:
nociceptiva, inflamatória e neuropática (CERVERO; LAIRD, 1991).
A dor nociceptiva refere-se ao processamento de breves estímulos nocivos constituindo
uma via que transporta impulsos de nociceptores periféricos para regiões centrais como tálamo
e córtex e promovendo a percepção da dor (LENZ et al., 1995). Já a dor inflamatória é a
consequência de danos teciduais (traumas externos ou internos, tais como lesão de tecidos,
infecção, ou crescimento de um tumor) que induzem a uma reação inflamatória do organismo
(MAMET et al., 2002) resulta basicamente da interação entre o tecido danificado e os neurônios
sensoriais nociceptivos periféricos por meio da participação de mediadores inflamatórios
(PETHŐ; REEH, 2012). A dor neuropática, por sua vez, é gerada por lesão ou patologia do
sistema nervoso, seja em seus elementos periféricos (dor neuropática periférica) ou no sistema
nervoso central (dor neuropática central) (ATTAL et al, 2011a; ATTAL et al, 2011b;
BOUHASSIRA; ATTAL, 2016).
A informação da dor é gerada através da ativação dos nociceptores, os quais são
receptores localizados na periferia. Esses nociceptores são a parte mais distal dos neurônios
aferentes primários e correspondem as porções mais estreitas das fibras que levam as
mensagens originadas após um estímulo nocivo (LYNN, 1992; MENSE, 1983). Os neurônios
aferentes primários fazem sinapses com os neurônios de segunda ordem no corno dorsal da
medula espinal (MERSKEY; BOGDUK, 1994). A partir de então, os axônios dos neurônios
secundários se projetam para as regiões supra espinais, onde o estímulo doloroso será
processado (MILLAN, 1999; WILLIS; WESTLUND, 1997).
Os neurônios que se lançam ao tronco cerebral e cérebro se dividem em dois tratos, o
espinotalâmico e o espinorreticular. O trato espinotalâmico carrega dados relativos aos
componentes sensoriais através da via neoespinotalâmica, sendo responsável por propagar
aspectos correspondentes a dor, temperatura, o toque e prurido, e os componentes
correlacionados com a emoção seguem pela via paleoespinotalâmica ao tálamo. O trato
espinorreticular, que compõe a via paleoespinotalâmica, é responsável por levar informações
18
referentes ao componente afetivo motivacional da dor, os quais posteriormente chegarão a
regiões corticais que atuam na percepção da experiência dolorosa (ANDREW; CRAIG, 2001;
TEXEIRA, 1990; WILLIS et al, 2001; EKMAN et al., 2008; SEWARDS et al., 2002; VOGT
et al 2000; JACQUET E LAJTHA, 1973).
A circuitaria envolvida na transmissão dos sinais dolorosos tem a participação de
estruturas como o mesencéfalo, tálamo, hipotálamo, córtex somatossensorial, pré-frontal,
insular, núcleo lentiforme e região anterior e parietal do cíngulo (CADDEN; ORCHARDSON,
2001; DAY et al, 2001; DERBYSHIRE et al, 2002; KEVETTER; WILLIS, 1983; MORROW
et al, 2000). O córtex cingulado anterior (ACC) é uma importante área da região límbica que
possui a função de mediar respostas afetivas a estímulos nocivos é peça chave para a emoção
(MACLEAN, 1990). De acordo com Cole (2006) o ACC promove a antecipação da dor e
respostas cognitivo-atencionais e motoras da dor.
A relação entre o ACC e o Córtex Insular (IC) com o componente afetivo-motivacional
da dor tem se tornado cada vez mais evidente com base em estudos experimentais (FUCHS et
al., 2014, UHELSKI et al., 2012). Nessa perspectiva, um estudo com macacos (UHELSKI et
al., 2012), revelou que os neurônios do ACC estão envolvidos na antecipação que precede a
esquiva de estímulos aversivos e que neurônios nociceptivos do ACC estão envolvidos na
atenção à dor e no comportamento de escape da dor, mas não no aspecto sensorial e
discriminativo da dor. Segundo Woo et al (2017) o córtex cingulado anterior, a ínsula e o tálamo
conseguem prever o aumento da dor mesmo quando a intensidade do estímulo se mantém
constante. Já regiões como o córtex pré-frontal, núcleo accumbens e o córtex parahipocampal
mostraram aumento da atividade com a diminuição da dor.
Tendo sido proposto que o córtex pode reduzir a dor por meio da interrupção da
transmissão de informações nocivas a partir da medula espinal, ativando os sistemas
descendentes de modulação da dor localizados no tronco cerebral (OHARA et al., 2005).
2.1.1. Modulação da dor
A dor possui importantes componentes cognitivos (componente sensorial-
discriminativo) e emocionais (componente afetivo-motivacional) que influenciam na percepção
dolorosa (BINGEL et al, 2011). Os componentes sensoriais referentes à dor são caracterizados
por discriminar o local, o tempo e a intensidade dos danos ao tecido. Informações relativas aos
aspectos sensoriais prosseguem pelo trato neoespinotalâmico e são processadas no sistema de
19
dor lateral que se projeta através de núcleos talâmicos laterais para o córtex somatossensorial
primário e secundário. O componente afetivo-motivacional refere-se à experiência da dor sobre
emoções e comportamento, incluindo o aumento do alerta, comportamento de fuga e percepção
da dor. As informações relacionadas com a emoção e motivação seguem pelos tratos
paleoespinotalâmico e espinorreticular aos núcleos intralaminares e medial do tálamo e
posteriormente para o córtex cingulado anterior (ACC) e para o córtex insular no sistema
límbico (EKMAN et al., 2008; SEWARDS et al., 2002; VOGT et al 2000; ROSSI et al, 1994;
JACQUET E LAJTHA, 1973).
Acredita-se que área cortical que mais contribui para as funções do cérebro, incluindo
atenção, aprendizagem, memória, emoção e processamento da dor é o córtex cingulado anterior
(LIU; CHEN, 2014). O ACC juntamente com o córtex insular são regiões corticais importantes
envolvidas com a resposta tanto fisiológica quanto patológica e percepção da dor (ZHUO,
2008). Um estudo com placebo em humanos apontou que a redução da ativação do ACC e da
ínsula anterior está correlacionada com a diminuição da dor (WAGER et al, 2004). Segundo
Gu et al, (2015) a estimulação eletrofisiológica de neurônios inibitórios do ACC, está associada
com a diminuição da atividade neural no ACC e consequente diminuição da percepção da dor
em ratos.
Estudos recentes têm mostrado que o CCA, o CI, o córtex somatossensorial primário e
secundário, o córtex ventrolateral orbital e o córtex motor possuem interconexões com diversas
outras estruturas cerebrais do sistema ascendente e descendente envolvidos na modulação da
dor (OHARA et al., 2005; LU et al, 2016; HEINRICHER, 2016). Na via ascendente de
modulação da nocicepção fibras aferentes primárias atravessam a medula espinal e realizam
sinapse com neurônios de transmissão no corno posterior da medula espinal (CPME), em
seguida enviam axônios que cruzam para o lado contralateral e ascendem podendo ter como
alvo diferentes estruturas: o tálamo, a amigdala e o no tronco cerebral o núcleo reticular dorsal
mesencefálico, a substância cinzenta periaqueductal (PAG) e o bulbo rostroventromedial
(RVM). Na via descendente de modulação da nocicepção, em geral o córtex envia projeções
diretas ou indiretas para o CPME e núcleo trigeminal. (QUINTERO, 2013; XIE et al., 2009).
A via descendente faz a modulação da dor através da substância cinzenta periaquedutal
(PAG), do lócus coeruleus (LC), do bulbo rostroventromedial (RVM) incluindo o núcleo
magno da rafe e da medula espinal (BASBAUM; FIELDS, 1984). Fibras aferentes da
substância cinzenta periaquedutal (PAG) são distribuídas bilateralmente no bulbo
rostroventromedial (RVM). Os neurônios da PAG possuem contato direto com os neurônios do
20
RVM, fazendo a modulação das células ON, OFF e neutras do bulbo rostroventromedial.
Assim, a modulação da dor é realizada pela inibição ou excitação do RVM pela PAG, que por
sua vez modula a dor por meio de projeções, via funículo dorsolateral, para o corno dorsal da
medula espinal (MORGAN et al, 2008).
2.1.2. Empatia e dor
A empatia é tida como uma habilidade inerente a capacidade de entender e responder
de forma satisfatória às emoções do outro. O interesse no tema é crescente entre os
neurocientistas sociais em relação aos mecanismos neurais que envolvem a empatia traço e
estado (BERNHARDT, 2012; ZAKI, 2012). Vários estudos têm analisado as respostas do
cérebro em relação a empatia para uma gama de estados como a dor, o medo, a ansiedade, a
raiva e a tristeza (SINGER et al. 2004, GELDER et al. 2004, PREHN-KRISTENSEN et al.
2009, GRECK et al. 2012, HARRISON et al. 2006).
De acordo com Price (2000) uma experiência dolorosa promove respostas
comportamentais para reduzir o estímulo aversivo. Além disso, Hein et al (2010) mostraram
em seu estudo que ao se observar outros indivíduos com dor pode motivar o comportamento de
ajuda em humanos. Além disso, a empatia para dor foi mostrada em um trabalho no qual
verificou-se a atividade de áreas como ACC, ínsula, tronco encefálico e cerebelo de mulheres
que observavam seus parceiros amorosos levando um choque doloroso na mão. Essa pesquisa
sugere que a empatia com a dor não necessita da participação de todos os locais envolvidos
com o processo doloroso, porém ocorre através de áreas relativas ao componente afetivo-
motivacional da dor (Singer et al, 2004). Uma meta-análise realizada com estudos de
ressonância magnética funcional para a empatia para a dor confirmou a ativação de regiões
como a ínsula anterior, o giro frontal inferior e ACC quando um observador visualiza outros
com dor (LAMM et al. 2011). Gu e Han (2007) sugerem que os processos cognitivos e afetivos
encontrados na empatia para a dor são modulados por mecanismos controlados de cima para
baixo e dependem do conhecimento prévio da realidade do estímulo. Dados achados numa
pesquisa com seres humanos inferem que a dimensão social da dor atua em níveis sensoriais
muito básicos do processamento neural (AVENANTI et al, 2005).
Morelli et al (2012) analisaram, em humanos, a ativação neural de regiões associadas
ao processamento empático: o sistema límbico, o sistema de neurônios-espelho e a rede de
mentalização, durante diversas condições de empatia (para dor, ansiedade e felicidade) em
21
comparação com a condição neutra. Foi observado que a empatia para emoções positivas e
negativas ativou seletivamente regiões associadas com afeto positivo e negativo,
respectivamente, e o sistema de neurônio-espelho (SNE) foi mais ativo durante a empatia para
eventos independentes do contexto (empatia para dor), e esta, por sua vez, promove a ativação
da área do septo, uma região associada com cuidado e sentimentos pró-sociais.
Alguns autores apontam que essa habilidade empática está presente não só em humanos
como também em animais. Experimentos realizados com roedores revelou a capacidade de
reconhecimento e respostas emocionais a sujeitos da mesma espécie, e alteração da sua
sensibilidade a dor por motivos sociais (LANGFORD et al., 2010a, 2010b; SOTOCINAL et
al., 2011). De acordo com Nakashima et al (2015) animais da mesma espécie conseguem
diferenciar expressões de dor das expressões neutras.
A utilização de metodologias voltadas para os aspectos psicossociais como o uso de
enriquecimento ambiental e aumento da quantidade de coabitantes na gaiola reduziu a duração
dor inflamatória de animais testados com carragenina, mostrando que além das características
voltadas para as circunstâncias emocionais, os fatores ambientais e físicos podem influenciar
nas respostas a dor (GABRIEL et al, 2010). Gonçalves (2016) relata através de seus resultados
que os animais submetidos ao teste da formalina tiveram redução nas respostas nociceptivas
após o contato social com seus coabitantes em comparação aos animais que passaram pelo
mesmo teste, porém ficaram na condição de restrição da interação com animais de sua caixa de
origem, ou seja, permaneceram em isolamento durante o experimento.
A pesquisa de Hein et al (2010) realizada com humanos mostrou um favoritismo do
comportamento pró-social para pessoas que estavam alocadas no mesmo grupo quando
comparado com o comportamento para pessoas de grupos diferentes. Loggia et al (2008)
sugerem que quem altera a percepção do estímulo doloroso é a própria empatia e não
necessariamente a observação dos comportamentos de dor. Eles indicam ainda que a empatia
para a dor ativa áreas corticais relativas ao sentimento de compaixão frente ao indivíduo em
situação de angústia.
Para Nakashima et al (2015) o convívio de um animal com outro portador de dor crônica
pode promover mudanças no comportamento e causar aumento nos níveis de estresse, tendo
como consequências situações de ansiedade e depressão no animal, além de alterar respostas
nociceptivas. Já Langford et al (2006) percebeu que camundongos na posição de observadores
de seus familiares em contextos aversivos tinham aumento da sensibilidade para a nocicepção.
22
Além das relações de convívio entre os seres vivos, a modulação da dor também recebe
interferência do perfil de cada indivíduo. Um recente trabalho mostrou a ligação entre a dor e
o comportamento agressivo de atletas, e os resultados indicaram que os jogadores que tinham
ações transgressoras possuíam como característica a insensibilidade a estímulos nocivos, ou
seja, nessas pessoas o limiar para dor se revelou mais elevado que em outras com atributos
diferentes. Além disso, o processamento cortical dos contextos aversivos também se apresentou
reduzido nesses indivíduos com comportamento antissocial (RING et al, 2016).
2.1.3. Dor, interação social e o comportamento pró-social do observador
Eisenberg et al (1989) descrevram que o comportamento pró-social é um conjunto das
atitudes em prol do bem-estar dos outros. Estudiosos indicam que essas ações são praticadas
tanto por humanos quanto pelos animais (BARTAL et al, 2014, DECETY; JACKSON, 2004).
Craig (2009) percebeu que a dor pode ser um sinal que atrai a atenção de quem observa o outro
que está sofrendo, e essa situação é primordial para que o observador desenvolva o
comportamento de ajuda (BURUCK et al., 2014). Além disso, não se faz necessário uma
familiaridade entre os indivíduos para que a ajuda aconteça (BARTAL et al, 2011).
Experiências vividas anteriormente podem interferir nesse contexto, pois em uma pesquisa
realizada com ratos revelou que o motivo de um animal ajudar o outro a se libertar de onde
estava preso, foi o fato do rato observador já ter entrado em contato com outros ratos que
também já estiveram presos anteriormente (BARTAL et al, 2014).
Nessa perspectiva, observou-se que aqueles que passam por exclusão social podem ter
o comportamento pró-social como um instrumento temporariamente sem utilidade devido a
uma intensa proteção do componente psíquico para situações angustiantes. E o que mais motiva
essas ações de proatividade em relação ao outro é proveniente de emoções que geram o
sentimento de compreensão (TWENGE et al, 2007).
O estado do observador também influencia em suas atitudes perante os outros. Um
estudo recente apontou que o grupo de participantes estressados apresentaram uma maior
ativação na circuitaria que envolve a empatia para dor do que os participantes não estressados
quando viam o outro com dor. Identificou-se ainda que o comportamento pró-social era mais
evidente sob estresse e que ocorria ativação do aMCC (córtex cingulado médio anterior)
relacionado com as atitudes de altruísmo (TOMOVA et al, 2016).
23
A participação do ACC e da rede relativa com a dor afetiva também foi vista na
aprendizagem do medo social através da observação, pois os ratos que tiveram essas áreas
cerebrais inativadas apontaram uma menor aquisição desse conhecimento. Percebe-se então que
o animal observador teve seu comportamento de medo alterado por modificações em regiões
corticais ativadas durante as experiências de dor (JEON et al, 2010).
2.1.4. Dor, contato social e atividade motora
O quanto a atividade motora é afetada pela dor tem sido investigada, pois essa
informação é parâmetro de avaliação sobre a qualidade de vida dos indivíduos. Numa pesquisa
realizada com um modelo de artrite em ratos indicou que não só a atividade locomotora
espontânea, mas a atividade exploratória do animal mostrou-se reduzida naqueles que possuíam
dor crônica em comparação aos controles. Além disso, a dor alterou não só os dados
quantitativos como também os qualitativos voltados para o padrão de comportamento do
animal, no qual esses ratos apresentaram movimentos lentos e mudança no padrão de luta
(LARSEN; ARNT, 1985).
Os resultados encontrados por Stein et al (1988) apontaram que ratos com inflamação
unilateral da pata traseira obtiveram modificações comportamentais e de aspectos fisiológicos
induzidos pelo modelo de dor utilizado. Os animais tiveram redução na locomoção, no número
de rearing, aumento da excreção de fezes e do ato de se coçar.
Além disso, a dor inflamatória ou a analgesia por morfina de forma repetitiva durante o
período neonatal podem alterar as respostas nociceptivas e comportamentais da fase adulta dos
ratos. Essa conclusão foi relatada por BHUTTA et al (2001) após os experimentos trazerem
achados como o aumento do limiar a dor e a redução da atividade locomotora de ratos adultos
de ambos os sexos após exposição recorrente a formalina e/ou morfina na idade juvenil. Tais
modificações sensriomotoras foram atribuídas ao aumento da atividade do sistema endógeno
de analgesia desses animais.
É importante destacar que não é só a dor que influencia na atividade motora dos
indivíduos, mas também a tentativa em se locomover pode agravar o estado nociceptivo. A
avaliação da dor durante a locomoção foi estudada em perus que possuíam a cartilagem da
articulação da pata destruída e viu-se que esses animais mostravam comportamento nociceptivo
quando se deslocavam e que muitos relutavam em andar (HOCKING et al, 1999).
24
Outro importante fator que interfere na atividade locomotora e no limiar nociceptivo é
a condição do ambiente em que estão inseridos. Ratos em situação de isolamento tiveram
hiperatividade locomotora e diminuição do limiar nociceptivo, os quais foram revertidos
quando estes foram expostos ao contato social (GENTSCH et al, 1988).
A atividade vertical (rearing) de ratos após altas doses de anfetamina foi averiguada para
as situações de enriquecimento ambiental, contato ou isolamento social. E os dados mostraram
não haver diferença entre os grupos do enriquecimento ambiental e contato social, porém
quando comparados os animais que estavam em ambiente enriquecido e em isolamento foi visto
que a frequência de rearing dos ratos com enriquecimento foi significativamente maior que os
do grupo isolado. Portanto, a manipulação no ambiente pode intervir nas respostas motoras dos
animais (BOWLING; BARDO, 1994).
25
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Avaliar a influência da interação social nas respostas motoras de animais submetidos a
um modelo de dor inflamatória e o comportamento pró-social do seu coabitante.
3.2 Objetivos específicos
• Avaliar as alterações na atividade motora dos animais com dor inflamatória em
condições de interação ou reclusão social.
• Identificar quais os comportamentos apresentados pelos animais residentes durante a
exposição aos coabitantes em diferentes condições nociceptivas.
• Avaliar as diferenças de comportamento do rato observador em relação aos contactantes
expostos ou não a um estímulo nocivo.
26
4. ANIMAIS, MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Animais
Neste estudo foram utilizados 42 ratos Wistar, com 2 a 3 meses de idade, provenientes
do Biotério Setorial do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Os animais foram mantidos no biotério do Laboratório de Fisiologia do Comportamento
(LAFICO) da UFS, em gaiolas plásticas, medindo (41 x 34 x 17,5 cm), com no máximo cinco
animais, perfazendo uma taxa de lotação de 278,8 cm²/ animal, com livre acesso à água e ração
própria para roedores, com temperatura controlada de 23 ± 1ºC, ciclo claro/escuro de 12/12 h e
exaustão do ar.
Todos os protocolos experimentais foram conduzidos em acordo com os princípios
éticos estabelecidos pelas Resoluções Normativas, Decretos e Portarias do Conselho Nacional
de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), bem como a Lei Nº 11.794 (Lei Arouca).
Os experimentos foram iniciados após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal
(CEPA) da UFS, sob protocolo Nº. 48/2015.
4.2 Teste da Formalina
O teste da formalina é um método de avaliação comportamental utilizado para mensurar
a efetividade de agentes antinociceptivos (RANDOLPH, 1997). Este modelo de dor está
associado à lesão tecidual, no qual se quantifica a resposta comportamental provocada pela
injeção subcutânea de formalina diluída na pata traseira do animal (DUBUISSON; DENNIS,
1977; MARTINS et al., 2006). Neste teste é possível avaliar dois tipos diferentes de dor ao
longo de um período prolongado de tempo (RANDOLPH, 1997). As respostas
comportamentais à formalina possuem duas fases: a primeira é a fase inicial aguda, que se inicia
após a injeção de formalina e se estende pelos primeiros 5 min (dor neurogênica ou aguda) e a
segunda fase, que é a mais prolongada com atividade comportamental aumentada, que pode
durar até cerca de uma hora. A segunda fase tem início entre 15 e 30 min após a injeção de
formalina e está relacionada com a liberação de vários mediadores pró-inflamatórios, como
bradicinina, prostaglandinas, serotonina, entre outros (HUNSKAR; HOLE, 1987).
Para realização do teste de formalina os animais receberam injeções subcutâneas de 50
μL de solução de formalina a 1% na região dorsal da pata posterior esquerda. Após a injeção
27
de formalina, dependendo do grupo experimental, os ratos tiveram contato com os animais da
sua colônia ou permaneceram isolados por 20 min, sendo que nesse período os animais foram
filmados para passar pela análise comportamental tanto dos animais com dor quanto dos seus
residentes, sendo que todos os grupos tiveram um n = 6.
Figura 1: Ratos Wistar na sua caixa de origem no Teste da Formalina em contato social (Fonte: arquivo pessoal).
Figura 2: Rato Wistar na caixa de isolamento no Teste da Formalina (Fonte: arquivo pessoal).
28
4.3 ANY-maze
O ANY-maze é um software utilizado para avaliação de testes como campo aberto, placa
perfurada, reconhecimento de objetos novos e labirinto em cruz elevada. A análise pode ser
realizada no momento do experimento ou após a realização do mesmo, através dos vídeos
inseridos no programa. O software permite análises do comportamento e da atividade motora
do animal, e por ser flexível todos os protocolos para avaliação dos testes gravados podem ser
feitos manualmente.
Os vídeos dos experimentos foram analisados com o auxílio da versão 5.1, e dos 20
minutos de gravações de cada animal foram extraídos os dados relacionados a atividade motora
como a distância total percorrida, o tempo de rearing, o tempo de imobilidade, o qual indica o
período em que o animal não andava na caixa, e o número de saídas dos quadrantes, para esse
parâmetro a caixa de teste foi dividida em quatro quadrantes de mesmo tamanho no protocolo
confeccionado no ANY-maze, e após a análise dos vídeos no software obteve-se quantas vezes
o animal cruzava, pela saída da maior proporção corporal do animal, de um quadrante para o
outro. Desse experimento participaram os grupos Controle Contato (CC, n = 6), Controle
Isolado (CI, n = 6), Formalina Contato (FC, n = 6) e Formalina Isolado (FI, n = 6).
Figura 3: Rato Wistar do grupo formalina isolado na caixa de isolamento sendo avaliado no ANY-maze (foto: arquivo pessoal)
29
4.5 Protocolo experimental
4.5.1 Experimento I: avaliação do comportamento de ratos residentes durante a
exposição a coabitantes com dor inflamatória ou dor aguda.
Esse experimento foi dividido em duas análises, onde tantos os dados da primeira quanto
da segunda etapa foram coletados dos vídeos do teste, porém os grupos são diferentes entre
elas. É importante destacar que ambas foram realizadas de modo que o avaliador não soubesse
qual grupo estava sendo observado no momento.
Para a primeira análise do experimento foram formados três grupos: Grupo Controle
(CTRL, n = 6), Grupo Formalina (FORM, n = 6) e Grupo Salina (SAL, n = 6). O grupo CTRL
foi formado por animais que foram manipulados para aplicação da droga, mas não receberam
injeções, e tiveram contato por 20 minutos com rato residente. O grupo FORM foi formado
pelos ratos que receberam formalina, na porção dorsal da pata posterior esquerda, e
imediatamente tiveram contato por 20 minutos com o rato residente, é importante destacar que
esses animais foram submetidos a dor neurogênica causada pelo ato da administração da droga
e pela dor inflamatória provocada pela formalina. Já o grupo SAL foi composto pelos animais
que receberam salina, na porção dorsal da pata posterior esquerda, e permaneceram em contato
com seu residente por 20 minutos, os animais desse grupo foram sujeitos apenas a dor aguda
após aplicação da salina. Esses 20 minutos de contato foram filmados e as respostas
comportamentais do rato residente foram analisadas posteriormente. As respostas avaliadas
foram a latência para ocorrência do primeiro contato e a duração do contato.
Tendo em vista que as caixas de animais possuíam quatro ou cinco ratos o protocolo
experimental ocorreu como descrito a seguir. Durante a realização do teste, um dos ratos foi
escolhido aleatoriamente para ser o rato residente e os demais foram removidos para uma caixa
de espera. Em seguida, um dos ratos retornou para caixa de origem com o rato residente, onde
permaneceu por 20 min, sendo que esse animal que retornou para a caixa original com o seu
residente apresentava uma das três condições álgicas citadas anteriormente (controle, formalina
ou salina). No momento do retorno o rato foi colocado na caixa na extremidade oposta ao rato
residente. Após os 20 minutos, esses animais voltaram para a caixa de espera e os animais que
estavam na caixa de espera foram para a caixa original para passar pelo mesmo teste, porém
formando outro grupo. Além disso, dessas caixas foram retirados os animais que ficaram em
20 minutos de isolamento para participar do segundo experimento.
30
Na segunda análise do experimento participaram apenas os animais residentes dos
grupos Controle (CTRL, n = 6) e Formalina (FORM, n = 6), os quais passaram pelo protocolo
citado acima. Nessa etapa foram coletados os tipos e a frequência dos comportamentos
apresentados pelos ratos residentes após a exposição ao coabitante de cada grupo. Esses
comportamentos foram agrupados de acordo com a ação do residente em comportamentos intra-
sujeitos e inter-sujeitos, no qual os intra-sujeitos foram aqueles em que o residente não entrava
em contato com o seu contactante, sendo na maioria das vezes comportamentos de atividade
exploratória, já os inter-sujeitos foram as ações realizadas pelo residente em direção ao outro
animal.
Manipulação
Injeção de formalina
Injeção de salina
20 min de contato
Primeira análise
Figura 4: Representação esquemática das etapas realizadas com os grupos do Experimento I durante a primeira análise.
Manipulação
Injeção de formalina
20 min de contato
Segunda análise
Figura 5: Representação esquemática das etapas realizadas com os grupos do Experimento I durante a segunda análise.
Controle Contato
Form. Contato
Sal. Contato
Controle Contato
Form. Contato
31
4.5.2 Experimento II: avaliação das respostas motoras de ratos com dor inflamatória durante o contato social ou isolamento.
Nesse experimento os animais foram divididos em três grupos experimentais: Grupo
Formalina Isolado (FI, n = 6), grupo Formalina Contato Social (FC, n = 6), grupo Controle
Contato Social (CC, n = 6) e grupo Controle Isolado (CI, n = 6). Os ratos dos grupos formalina
receberam injeção da substância na pata posterior esquerda, e após a administração os ratos do
grupo FI foram colocados em uma caixa vazia com as mesmas características da caixa onde
residia, enquanto que os animais do grupo FC retornaram para caixa onde residia na companhia
dos outros ratos da colônia, já os ratos do grupo CC e CI apenas foram manipulados e colocados
em sua caixa de origem com seus coabitantes ou na caixa de isolamento. Após 20 min de
gravação dos animais em contato ou isolamento, os vídeos foram analisados no Any-maze. Os
dados coletados através do programa foram: a distância total percorrida na caixa, o tempo de
rearing, o tempo de imobilidade e o número de saídas de cada quadrante da caixa.
Manipulação
Injeção de formalina
20 min de contato
20 min de isolamento
Análise no ANY-maze
Figura 6: Representação esquemática das etapas realizadas com os grupos do Experimento II.
4.6 Análise dos resultados
Os dados foram submetidos ao teste de normalidade pelo teste de Kolmogorov-Smirnov
e expressos em valores médios ± o erro padrão da média (EPM). Sendo confirmada a
distribuição normal dos dados, os mesmos foram analisados por meio de análise de variância
Controle Contato
Controle Isolado
Form. Contato
Form. Isolado
32
(ANOVA de uma via) na latência para o contato e duração do contato, ANOVA de duas vias
para análise dos dados relacionados a atividade motora no tempo total e ANOVA de duas vias
para medidas repetidas para os dados de atividade motora por bloco de tempo. Quando
necessário avaliar as diferenças entre os grupos foi utilizado o pós-teste de Bonferroni. Os dados
foram considerados estatisticamente significantes para p < 0,05. Para realização das análises foi
utilizado o software Graphpad Prism. 5.0.
33
5. RESULTADOS
5.1 Experimento I: avaliação do comportamento dos ratos residentes durante a exposição a coabitantes com dor inflamatória.
5.1.1 Latência para o Contato
Na avaliação da latência para o primeiro contato com aplicação da ANOVA não houve
diferença significativa entre os grupos (F (2,15) = 0,4268; p = 0,6614; Figura 7). Vale ressaltar
que a análise feita foi sempre sobre a iniciativa do rato residente em buscar o contato com o
outro animal da sua colônia pertencente a um dos três grupos.
CTRL SAL FORM
0
2
4
6
8
Lat
ênci
a p
ara
o c
on
tato
(se
g)
Figura 7: Latência média, em segundos, para o contato entre o rato residente e os ratos dos grupos Controle (CTRL, n = 5), Salina (SAL, n = 6) e Formalina (FORM, n = 5). Dados são expressos como Média ± EPM. p>0,05 (Anova one way).
5.1.2 Duração do contato
Na avaliação da duração do contato a comparação entre os grupos pela ANOVA
mostrou diferença significativa entre os grupos (F (2,17) = 14,08; p = 0,0004). A aplicação do
pós teste indicou que a duração do contato do animal residente do grupo FORM foi maior que
os animais dos grupos CTRL e SAL (Figura 8).
34
CTRL SAL FORM
0
50
100
150
200
*
Du
raçã
o d
o c
on
tato
(se
g)
Figura 8: Duração média, em segundos, do contato do rato residente com ratos dos grupos Controle (CTRL), Salina (SAL) e Formalina (FORM) (n = 6 por grupo). Dados expressos como Média ± EPM. *p<0,05 quando comparado aos grupos CTRL e SAL (ANOVA one-way, seguido de pós teste de Bonferroni). 5.1.3 Frequência de comportamentos dos animais residentes
A frequência dos tipos de comportamento apresentados pelos animais residentes
controle e formalina foram contabilizadas e agrupadas em dois grupos de comportamentos: uma
intra-sujeitos (tabela 1) e uma inter-sujeitos (tabela 2). A frequência intra-sujeitos se refere aos
tipos de comportamento que o animal residente realizou de forma individual, ou seja, sem a
relação direta com o seu coabitante, sendo normalmente caracterizada por atividades de
exploração. A inter-sujeitos foram os comportamentos do animal residente direcionados ao
coabitante.
Durante o contato, os animais residentes apresentaram comportamentos exploratórios
do ambiente de forma semelhante, porém os comportamentos sociais variaram de acordo com
a condição álgica do coabitante.
Para ambos os grupos (CC e FC) os tipos mais frequentes comportamentos intra-sujeitos
foram o rearing seguidos do comportamento de cheirar a grade da caixa que estavam (Figura 9
e 10). Nitidamente em quase todos os comportamentos intra-sujeitos apresentados a frequência
dos animais residentes do grupo controle foram maiores que dos ratos formalina (Figura 11).
Nos inter-sujeitos os principais tipos de comportamentos apresentados pelos animais
residentes do grupo controle foram o de luta, cheirar a região anogenital e monta (Figura 12).
Já os ratos residentes do grupo formalina exibiram com maior frequência os comportamentos
de cheirar a pata lesionada com a administração da formalina, cheirar a região anogenital, andar
em direção ao outro animal e lamber a pata lesionada (Figura 13). Ressalta-se que nenhum
35
animal residente do grupo formalina realizou o comportamento de luta e nenhum do grupo
controle cheirou a pata do coabitante (Figura 14). Além disso, o comportamento de monta que
os animais residentes controle realizaram foi durante o confronto no intuito de dominar o
coabitante, diferente dos ratos do grupo formalina que em determinados momentos faziam a
monta muitas vezes associada a algum comportamento pró-social.
Tabela 1: Tipos de comportamentos intra-sujeitos e sua respectiva descrição
Tabela 2: Tipos de comportamentos inter-sujeitos e sua respectiva descrição
Comportamento Descrição
Cheirou a cabeça Ato de olfação da cabeça do animal coabitante
Cheirou o tronco Ato de olfação do tronco do animal coabitante
Cheirou o flanco Ato de olfação do flanco do animal coabitante
Cheirou a região anogenital
Ato de olfação das regiões anal e genital do animal coabitante
Cheirou a cauda Ato de olfação da cauda do animal coabitante
Cheirou a pata Ato de olfação da pata lesionada, após administração da droga, do animal
coabitante
Lambeu a pata Ato de lamber a pata lesionada, após administração da droga, do animal coabitante
Andou em direção ao animal
Ato de deambular em direção ao animal coabitante
Seguiu o animal Ato de deambular atrás do animal coabitante
Monta Ato de apoiar-se sobre o animal coabitante
Luta Ato de confrontar o coabitante de forma agressiva por meio de monta forçando a
exposição do flanco ou abdome, arranhaduras, mordidas
Comportamento Descrição
Rearing Ato de ficar em pé sobre as patas traseiras
Cheirou a grade Ato de olfação da grade da caixa que o animal foi testado
Cheirou a caixa Ato de olfação da caixa do teste
Cheirou a maravalha
Ato de olfação da maravalha contida na caixa de teste
Cavou Ato de cavar a maravalha contida na caixa de teste
Grooming Autolimpeza da face
Deitou Ato de deitar-se na caixa de teste
Se coçou Ato de se coçar por meio das patas traseiras
36
0
100
200
300
400Rearing
Cheirou a grade
Cheirou a caixa
Cavou
Cheirou a maravalha
Grooming
Se coçou
Deitou
Grupo Residente Controle
Tipo de Comportamento
Fre
qu
ênci
a
Figura 9: Frequência numérica de comportamentos intra-sujeitos do grupo Residente Controle. Maior frequência dos comportamentos rearing, cheirou a grade e cheirou a maravalha.
0
100
200
300
400Rearing
Cheirou a grade
Cheirou a caixa
Cavou
Cheirou a maravalha
Grooming
Se coçou
Deitou
Grupo Residente Formalina
Tipo de Comportamento
Fre
qu
ênci
a
Figura 10: Frequência numérica de comportamentos intra-sujeitos do grupo Residente Formalina. Maior frequência dos comportamentos rearing, cheirou a grade e cheirou a maravalha.
37
R CG CCX CM CV SCÇ GRO D0
100
200
300
400
Residente Controle
Residente Formalina
Fre
qu
ênci
a
Figura 11: Comparação da frequência numérica de comportamentos intra-sujeitos dos grupos Residente Controle e Formalina. R = rearing, CG = cheirou a grade, CCX = cheirou a caixa, CM = cheirou a maravalha, CV = cavou, SCÇ = se coçou, GRO = grooming, D = deitou. Maior frequência do comportamento rearing para ambos os grupos.
0
20
40
60
80Cheirou a cabeça
Cheirou o tronco
Cheirou o flanco
Cheirou a região anogenital
Cheirou a cauda
Andou em direção ao animal
Seguiu o animal
Monta
Luta
Residente Controle
Tipo de Comportamento
Fre
qu
ênci
a
Figura 12: Frequência numérica de comportamentos inter-sujeitos dos grupos Residente Controle. Maior frequência para o comportamento luta.
38
0
20
40
60
80
Cheirou a cabeça
Cheirou o tronco
Cheirou o flanco
Cheirou a pata
Cheirou a região anogenital
Cheirou a cauda
Andou em direção ao animal
Seguiu o animal
Monta
Lambeu a pata
Residente Formalina
Tipo de Comportamento
Fre
qu
ênci
a
Figura 13: Frequência numérica de comportamentos inter-sujeitos dos grupos Residente Formalina. Maior frequência para os comportamentos cheirou a pata, cheirou a região anogenital, andou em direção ao animal e lambeu a pata.
M L CKBÇ CT CF CRAG CCAU CP LP ADA S0
100
200
300
400
Residente Controle
Residente Formalina
Fre
qu
ênci
a
Tipos de Comportamentos Inter-sujeitos
Figura 14: Comparação da frequência numérica de comportamentos inter-sujeitos dos grupos Residente Controle e Formalina. M = monta, L = luta, CKBÇ = cheirou a cabeça, CT = cheirou o tronco, CF = cheirou o flanco, CRAG = cheirou a região anogenital, CCAU = cheirou a cauda, CP = cheirou a pata, LP = lambeu a pata, ADA = andou em direção ao animal, S = seguiu o animal. O grupo Residente Formalina não apresentou nenhum comportamento de luta e o grupo Residente Controle não apresentou os comportamentos de cheirar ou lamber a pata.
39
5.2 Experimento II: avaliação das respostas motoras dos ratos com dor inflamatória durante o contato social ou isolamento.
5.2.1 Distância Total Percorrida
Na análise da distância total percorrida entre os grupos Controle Contato, Controle
Isolado, Formalina Contato e Formalina Isolado, não mostrou interação entre os fatores contato
social e estímulo álgico (F (1,20) = 0,384; p = 0,542; Figura 15).
CTRL FORM
0
10
20
30
40 ISOLADO
CONTATO
Dis
tân
cia
tota
l Per
corr
ida
(m)
Figura 15: Média ± EPM da distância total percorrida dos animais dos grupos Controle Contato (n = 6), Controle Isolado (n = 6), Formalina Contato (n = 6) e Formalina Isolado (n = 6). Não houve interação entre os fatores contato social e estímulo álgico, p > 0,05 (ANOVA de duas vias). 5.2.2 Tempo de Rearing
Após a aplicação da ANOVA de duas vias para o tempo de rearing não indicou interação
entre os grupos (F (1,20) = 3,159; p = 0,0907; Figura 16).
40
CTRL FORM
0
100
200
300
400
500ISOLADO
CONTATO
Tem
po
de
Rea
rin
g (
seg
)
Figura 16: Média ± EPM do tempo de Rearing dos animais dos grupos Controle Contato, Controle Isolado, Formalina Contato e Formalina Isolado (n = 6 por grupo). Não houve interação entre os fatores contato social e estímulo álgico, p> 0,05 (ANOVA de duas vias). 5.2.3 Tempo de Imobilidade
Na análise do tempo de imobilidade a ANOVA de duas vias mostrou interação entre os
grupos (F (1,20) = 7,732; p = 0,0115), indicando que o tempo de imobilidade varia de acordo
com o tipo de contato e estímulo álgico aplicado. A aplicação do pós teste mostrou diferença
estatística entre o grupo Formalina Isolado e os demais grupos (p < 0,01), não havendo
diferença estatística entre os grupos Controle Isolado, Controle Contato e Formalina Contato
(figura 17).
CTRL FORM
0
500
1000
1500 ISOLADO
CONTATO* *
Tem
po
de
Imo
bili
dad
e (s
eg)
Figura 17: Média ± EPM do tempo de Imobilidade dos animais do grupo Controle Contato, Controle Isolado, Formalina Contato e Formalina Isolado (n = 6 por grupo). Maior tempo de imobilidade dos animais do grupo FI comparado aos demais grupos. *p<0,05 (ANOVA de duas vias, seguida de pós teste de Bonferroni).
41
5.2.4 Número de Saída dos Quadrantes
A análise dos resultados de número de saídas dos quadrantes indicou haver interação
significativa entre o tipo de contato e o estímulo álgico (F (1,20) = 7,829; p = 0,0111). O pós
teste de Bonferroni indicou haver diferença entre o grupo CI e os grupos FC (p ˂ 0,05) e FI (p
˂ 0,001) (Figura 18).
CTRL FORM0
50
100
150
200
250ISOLADO
CONTATO
**
*
***
Nú
mer
o d
e S
aíd
a d
os
Qu
adra
nte
s
Figura 18: Média ± EPM do número de Saída dos Quadrantes dos animais do grupo grupos Controle Contato (n = 6), Controle Isolado (n = 6), Formalina Contato (n = 6) e Formalina Isolado (n = 6). Os dados foram expressos como Média ± EPM. *p<0,05 e **p<0,05 (ANOVA de duas vias, seguida de pós teste de Bonferroni). 5.2.5 Distância Percorrida por Bloco de Tempo
Na análise da distância percorrida por bloco de tempo foi aplicada a ANOVA de duas
vias para medidas repetidas, e verificou-se diferença significativa dos grupos FC (p < 0,01) e
FI (p < 0,01) em relação ao grupo CC apenas nos primeiros cinco minutos do teste, onde o
grupo controle contato teve um maior deslocamento em comparação aos grupos formalina na
fase correspondente a dor aguda dos animais (Figura 19).
42
0-5 5-10 10-15 15-200
5000
10000
15000
20000
CC
CI
FC
FI
**
Dis
tân
cia
Per
corr
ida
(m)
Figura 19: Distância percorrida por bloco de tempo dos animais dos grupos Controle Contato, Controle Isolado, Formalina Contato e Formalina isolado (n = 6 por grupo). Maior distância percorrida pelos animais CC em relação aos FC e FI nos primeiros 5 minutos do teste. Os dados foram expressos como Média ± EPM. *p<0,05 (ANOVA de duas vias para medidas repetidas, seguida de pós teste de Bonferroni). 5.2.6 Tempo de Rearing por Bloco de Tempo
A comparação do tempo de rearing entre os grupos controle contato, formalina contato
(p < 0,01) e formalina isolado (p < 0,05) mostrou haver diferença estatística apenas no intervalo
de 0 a 5 minutos, ou seja, no período da dor aguda dos animais formalina o tempo de rearing
do rato controle se apresentou significativamente maior, porém o mesmo não foi visto no
intervalo referente a dor inflamatória. Já na análise dos animais controle Isolado com os ratos
formalina contato, houve diferença nos intervalos de 0 a 5 min (p < 0,01), 5 a 10 min (p < 0,05)
e 10 a 15 min (p < 0,05). Em relação aos animais FI a diferença para o grupo CI apareceu apenas
nos intervalos de 0 a 5 min (t = 2,752 e p < 0,05) e 10 a 15 min (p < 0,01). Dessa forma, tanto
na fase da dor aguda quanto no início da fase inflamatória da formalina, os animais FC e FI
tiveram menor tempo de rearing diante dos animais CI (Figura 20).
43
0-5 5-10 10-15 15-200
50
100
150
200
CC
CI
FC
FI
**
** *
**
Tem
po
de
Rea
rin
g (
seg
)
Figura 20: Tempo de Rearing por Bloco de Tempo dos animais dos grupos Controle Contato, Controle Isolado, Formalina Contato e Formalina isolado (n = 6 por grupo). Maior tempo de rearing dos animais CC em relação aos FC e FI no primeiro intervalo de tempo e maior tempo de rearing dos ratos CI em comparação aos FC e FI no primeiro intervalo, com o FC no segundo intervalo e com os FC e FI no terceiro intervalo do teste. Os dados foram expressos como Média ± EPM. *p<0,05 (ANOVA de duas vias para medidas repetidas, seguida de pós teste de Bonferroni). 5.2.7 Tempo de Imobilidade por Bloco de Tempo
O tempo de imobilidade foi analisado e verificou-se diferença significativa apenas no
primeiro intervalo (0 – 5 min) entre os animais do grupo FI em relação aos grupos CC (p <
0,001), CI (p < 0,001) e FC (p ˂ 0,001). Nessa comparação, pode ser observado que os ratos
que ficaram em isolamento e receberam o estímulo nocivo permaneceram mais tempo imóveis
na fase inicial da formalina, ou seja, a fase referente a dor aguda provocada pela droga (Figura
21).
0-5 5-10 10-15 15-200
100
200
300
400
500
CC
CI
FC
FI
***
Tem
po
de
Imo
bili
dad
e (s
eg)
Figura 21: Tempo de Imobilidade por Bloco de Tempo dos animais dos grupos CC, CI, FC e FI (n = 6 por grupo). Maior tempo de imobilidade dos animais FI no intervalo de 0 a 5 minutos em relação aos outros grupos. Os dados foram expressos como Média ± EPM. *p<0,05 (ANOVA de duas vias para medidas repetidas, seguida de pós teste de Bonferroni).
44
5.2.8 Número de Saída dos Quadrantes por Bloco de Tempo
Os resultados desse parâmetro mostraram que não houve diferença estatística no número
de quadrantes cruzados entre os grupos em nenhum dos intervalos de tempo do teste (Figura
22).
0-5 5-10 10-15 15-200
20
40
60
80
100
CC
CI
FC
FI
Nú
mer
o d
e S
aíd
a d
os
Qu
adra
nte
s
Figura 22: Número de Saída dos Quadrantes por Bloco de Tempo dos animais do grupo Controle Contato (CC, n = 6), Controle Isolado (CI, n = 6), Formalina Contato (FC, n = 6) e Formalina Isolado (FI, n = 6). Não houve diferença entre os grupos em nenhum intervalo de tempo. Os dados foram expressos como Média ± EPM. p > 0,05 (ANOVA de duas vias para medidas repetidas).
45
6. DISCUSSÃO
Os nossos resultados mostraram que o animal observador apresentou um aumento na
duração do contato com coabitantes com dor inflamatória. Além disso, o padrão
comportamental apresentado pelo rato residente foi modificado pela condição álgica do seu
coabitante. Esse conjunto de dados sugere que o animal residente foi capaz de identificar que o
outro estava com dor, não só pelo maior tempo de interação, mas também pelos
comportamentos pró-sociais direcionados aos coabitantes com dor inflamatória.
No modelo utilizado no presente estudo os ratos adotaram comportamentos de proteção
do membro lesionado, associados a sacudidas e lambidas, manifestando movimentos corporais
diferentes dos animais controle. Neste sentido, é provável que a sinalização de dor seja uma
importante resposta intraespecífica que possibilita ao rato que recebeu estímulo nociceptivo
obtenha ajuda dos seus coabitantes. As respostas comportamentais nociceptivas que os animais
mostraram podem ter interferido na atitude tomada pelo rato observador, ou seja, as expressões
corporais aparentam ser importantes para auxiliar o reconhecimento da necessidade de ajuda.
Shimada e LaMotte (2008) concluíram que os animais exibem comportamentos diferentes
quando recebem uma substância que provocava dor ou outra que provocava coceira, sendo
possível identificar o tipo de estímulo que estava gerando aquelas diferentes expressões. Nessa
perspectiva, já foi visto que o rato espectador teve hipersensibilidade dolorosa sem requerer
uma lesão ou estímulo aversivo somente pelo odor de pistas de animais hiperalgésicos no
ambiente social, mostrando a percepção da experiência dolorosa do outro (SMITH et al, 2016).
Assim, acreditamos que a sinalização do contexto nociceptivo seja uma importante resposta
intraespecífica que viabiliza ao rato a obtenção de socorro por seu coabitante.
Para Nakashima (2015) os ratos conseguem diferenciar expressões faciais de dor das
expressões neutras dos outros animais da mesma espécie. Sugerimos que nessa interação social
existam outros mecanismos que vão além das expressões faciais, pois nossos animais residentes
distinguiram não só as circunstâncias aversivas como o exato local que o estímulo foi aplicado,
tendo em vista que todos eles cheiraram e lamberam a pata do rato que recebeu formalina, não
sendo visto o mesmo comportamento perante os animais controle.
Outra hipótese para o reconhecimento da condição álgica do coabitante seria através da
vocalização. Contudo, foi visto que animais submetidos a um modelo de dor crônica não
realizam maiores emissões sonoras que os saudáveis, pertencentes ao grupo controle, no
momento da interação social (JOURDAN et al, 2002), sugerindo que o reconhecimento de uma
46
situação dolorosa pelo observador aconteceria por outra forma. Em contrapartida, outro
trabalho com ratos mostrou que esses animais emitem sons de alerta quando percebem situações
de risco como um predador e que a produção desses sons depende da presença de um animal
da mesma espécie (LITVIN et al, 2007). Portanto, é bastante aceitável que a identificação da
condição de nocicepção pelo animal observador do presente trabalho, tenha ocorrido por outros
fatores.
Outro achado interessante foi que os animais contactantes apresentaram comportamento
de luta apenas contra os ratos do grupo controle, sendo inclusive o comportamento inter-sujeitos
mais frequente entre esses animais, não ocorrendo de forma semelhante com o grupo formalina.
Registros anteriores trouxeram informações sobre esses comportamentos de luta, quando
identificou que ratos alfa de uma colônia tinham seu padrão de ataque alterado na presença de
um animal intruso, após esse par ter recebido choques lesivos, para comportamentos de defesa
(BLANCHARD et al, 1978). Provavelmente após identificar as respostas nociceptivas dos ratos
com dor inflamatória, o residente não sentiu a necessidade de competição com o coabitante.
A atividade motora dos animais com dor inflamatória também foi avaliada nesse
trabalho. Os nossos resultados mostraram que a animais com dor inflamatória e em isolamento
social apresentaram maior duração da imobilidade e menor deslocamento sobre os quadrantes.
Tais respostas em animais com dor inflamatória foram prevenidas pelo contato social,
sugerindo que o contato social preservou a capacidade de locomoção dos animais mesmo em
condições de dor inflamatória.
A nossa hipótese é de que o contato social funcionou como forma de distração ou
consolo para os animais com dor inflamatória, reduzindo assim a percepção do estímulo
nociceptivo e contribuindo para que estes mantivessem sua atividade motora preservada. Neste
contexto, Ford e colaboradores mostraram que animais submetidos ao teste da formalina
tiveram analgesia induzida por distração pela exposição a novos objetos, e que essa mudança
de foco da dor beneficiando as respostas nociceptivas estava associada a alterações nos níveis
dos metabólitos de serotonina e dopamina na região da amígdala (FORD et al, 2008).
Achados de experimentação com humanos mostraram que não só a dor pós-operatória
como também a redução do uso de opiáceos tinha ligação direta com o tamanho da rede social
do indivíduo operado, ou seja, o contato social conseguiu reduzir o desconforto provocado pela
intervenção médica, e diminuiu também os níveis de ansiedade traço nessas pessoas antes da
realização do procedimento (MITCHINSON et al, 2008). Informações congêneres foram
encontradas em animais, quando testados com formalina os ratos com interação social
47
apresentaram menor número de sacudidas da pata em comparação com os animais que também
receberam a droga, porém ficaram sozinhos durante o teste (GONÇALVES, 2016). Essa
hipótese pode explicar porque os animais com dor inflamatória que tiveram contato social se
deslocaram mais que os ratos com dor inflamatória em isolamento, pois se o contato social
conseguiu reduzir a dor inflamatória é bastante provável que esse fator influenciou na atividade
motora do animal.
Posto que o animal do grupo formalina em interação social ficou menos tempo imóvel
que o animal recluso, especulamos que o contato social pode melhorar o estado nociceptivo e
consequentemente o motor. Somado a isso, um estudo com a naloxona, um potente antagonista
opioide, mostrou que a droga conseguiu reduzir a atividade exploratória em ratos (FILE, 1980).
Além disso, a empatia e o aprendizado observacional podem produzir analgesia, ou seja, a
preocupação empática pode modular respostas analgésicas placebo socialmente aprendidas
(COLLOCA; BENEDETTI, 2009). Portanto, o maior deslocamento dentro do aparato pelos
nossos animais que ficaram em contato pode ter ocorrido pela participação de opioides
endógenos induzida pela interação social.
Assim, um possível mecanismo responsável pela redução da dor inflamatória dos
animais que tiveram contato social seria pela ativação do sistema descendente antinociceptivo
endógeno, composto pela PAG e RVM, por meio da liberação de opioides endógenos. Contudo,
achados ainda não publicados do nosso grupo, evidenciaram que a analgesia produzida pelo
contato social é de curta duração, o que sugere que o mecanismo envolvido não seja
opioidérgico (GONÇALVES, 2016). Assim, nós acreditamos que a conservação do padrão
motor dos animais que receberam formalina e tiveram interação social, foi provocada por uma
melhora no quadro álgico do animal após a distração e troca do foco do estímulo aversivo para
relação com o residente.
Não somente o contato social, mas o tipo do contato despendido pelo residente em
relação ao contactante do grupo formalina foi determinante para nossos achados. O trabalho de
Marcinkiewcz e colaboradores (2009) mostrou que o estresse social crônico induzido por
sucessivas derrotas para o animal dominante de uma colônia produziu hiperalgesia tanto para
estímulos quentes quanto frios nos animais submissos. Em nosso estudo vimos que os ratos do
grupo formalina contato não passaram por nenhum confronto ou competição durante o teste, e
por isso não houve qualquer episódio que indicasse a hiperalgesia, mas sim o oposto uma
analgesia induzida pelo convívio entre os ratos durante o teste, a qual é reforçada pelo maior
deslocamento dos animais desse grupo em relação aos isolados.
48
O tipo de comportamento empregado pelo rato residente para os animais em situação
nociva é um dos dados que podem ser translacionados aos seres humanos. Já foi revelado que
a visão da dor dos outros modulava o processamento motor no córtex cingulado humano e esses
processos corticais podem ajudar a sinalizar situações perigosas e possivelmente também a
reconhecer o estado provável da pessoa que sofre a lesão (MORRISON et al, 2007). Sabemos
que os componentes afetivos-motivacionais da nocicepção ativam regiões similares em
humanos e ratos, e dessa forma é possível que essas áreas do córtex estejam envolvidas nas
diferenças do comportamento do animal residente em relação a cada grupo de teste.
A prática da monta e da lambedura da pata lesionada pelo animal observador foram
algumas atitudes pró-empáticas direcionadas ao grupo formalina. O toque também faz parte da
interação social e por intermédio dele é possível contribuir não só para as sensações ligadas ao
tato como as emoções. As representações relacionadas ao toque e a dor auxiliam no
fornecimento de uma base para as causas intersubjetivas, influenciando a compreensão dos
sinais sensoriais, emocionais e mentais dos outros (MORRISON et al, 2010). O que vimos dos
residentes foram atitudes que proporcionaram um cenário mais confortável para os animais que
receberam o estímulo inflamatório, indicando uma percepção sobre o sofrimento do outro e
assessor na alteração de ações padrões para as pró-sociais.
Um outro aspecto importante é que a reclusão social pode ter potencializado a
nocicepção dos animais nessa condição, e isso refletiu na atividade motora desempenhada por
eles. MacDonald e Leary (2005) acreditam que a dor social fortalece o papel vital da conexão
com os outros no comportamento humano, e que os sentimentos dos indivíduos pelos outros
podem resultar, em parte, da mesma dor que os mantém fisicamente seguros. Áreas como o
córtex cingulado anterior dorsal (dACC) e ínsula anterior (AI) são regiões corticais que também
se ativam mais fortemente nas pessoas que estão em sofrimento, onde os sentimentos de dor
são próprios de situações sociais aversivas, não existindo nenhuma lesão física associada a esse
processo doloroso (EISENBERGER, 2012). Além disso, Johnson e Dunbar (2016) constataram
que pessoas com maiores redes sociais tinham tolerância a dor aumentada. Supomos então, que
os animais que ficaram em isolamento podem ter tido ativação dos componentes afetivos-
motivacionais não apenas pela indução da dor por meio da formalina como também pela
experiência de segregação social.
O que diferenciou os grupos formalina do trabalho foi o quesito de isolamento ou não.
Dessa forma, fica bastante evidente que os resultados apresentados pelos animais em
isolamento são provenientes desse atributo. Eccleston e Combrez (1999) destacam que locais
49
com variados fatores que incentivam a dor faz com que ela seja potencializada e que ambientes
que favorecem a expressão de sentimentos e emoções ligadas ao sofrimento facilitam o
aparecimento ou a seleção para a dor. Inferimos que essa talvez seja a motivação pela qual os
animais que ficaram isolados tiveram pior desempenho nas ações de locomoção.
Claramente a circunstância nociceptiva influenciou na alteração da atividade motora dos
nossos animais, principalmente no grupo em isolamento. Lund et al (1991) concluíram que a
capacidade de contração muscular era reduzida pela dor. Não obstante, a investigação em
pessoas com dor no ombro pós acidente vascular cerebral intervia tanto na qualidade de vida
quanto no padrão motor (CHAE et al, 2007). É certo que a administração da formalina tenha
acarretado na redução da atividade motora dos ratos, porém a intensidade nessa regressão foi
acentuada pela ausência de um fator que dispersasse o animal recluso, justificando a
equivalência dos grupos contato social.
Nossos resultados, mostram importantes informações sobre as ações desenvolvidas pelo
expectador ao ver o outro com dor. E o quanto uma condição ambiental como o contato social
pode interferir na nocicepção e por consequência nos aspectos motores de quem se encontra
nesse estado. Avaliar quais as áreas corticais participam do processamento da dor durante o
contato social e quais influenciam no comportamento adotado pelos residentes fazem parte da
nossa perspectiva.
50
7. CONCLUSÃO
Ratos apresentam comportamento social semelhante a empatia que é estimulado pela
condição álgica do coabitante. O contato social despendido pelo residente possibilitou uma
melhora nas respostas motoras dos coabitante com dor inflamatória o que sugere uma redução
na percepção do estímulo nocivo.
51
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ANEXO