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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE
UNESC
UNIDADE ACADMICA DE HUMANIDADES, CINCIAS E
EDUCAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
MESTRADO EM EDUCAO
MANUEL CHIMBUNGO TIAGO
O CONHECIMENTO MATEMTICO DE ANGOLANOS
INGRESSANTES NOS CURSOS DE ENGENHARIA:
INTERVENO PEDAGGICA COM BASE NA TEORIA
HISTRICO-CULTURAL
Dissertao apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em
Educao da Universidade do
Extremo Sul Catarinense -
UNESC, em cumprimento a um
dos requisitos para a obteno do
ttulo de Mestre em Educao.
Orientador: Prof. Dr. Ademir
Damazio
Cricima
2014
-
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao
T551c Tiago, Manuel Chimbungo.
O conhecimento matemtico de angolanos ingressantes nos
cursos de engenharia: interveno pedaggica com base na teoria
histrico-cultural / Manuel Chimbungo Tiago; orientador: Ademir
Damazio. Cricima, SC : Ed. do Autor, 2015.
171 p : il. ; 21 cm.
Dissertao (Mestrado) - Universidade do Extremo Sul
Catarinense, Programa de Ps-Graduao em Educao, Cricima,
SC, 2015.
1. Ensino da matemtica. 2. Matemtica Mtodos de estudo.
3. Matemtica na engenharia. 4. Proposio davydoviana. 5.
Ensino desenvolvimental. 6. Sistemas de ensino Angola. I.
Ttulo.
CDD. 22 ed. 510.7
Bibliotecria Rosngela Westrupp CRB 14/364
Biblioteca Central Prof. Eurico Back - UNESC
-
DEDICATRIA
minha me, Adelaide Toms Manuel; s
minhas irms, Aldina Adelaide Nahunjo
Manuel, Leontina Cumbelembe Toms
Manuel, Memoria Tiago Manuel e minha
noiva, Lissette Monteiro Herrera, por tudo
que so para mim.
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AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos se estendem a todos aqueles que direta ou
indiretamente contriburam para o meu desenvolvimento intelectual
durante o perodo de minha formao no Brasil. Os momentos de
debate, estudo e reflexes vm possibilitando a contnua transformao
de minha conscincia para melhor. As pessoas a que me referi
mantiveram seus braos sempre abertos para me acolher, com pacincia
e cuidado, nos momentos em que mais precisei. Esses tornaram a
atmosfera estudantil um lugar aconchegante e propcio para o estudo. O
meu muito obrigado por se permitirem fazer parte de minha vida.
Agradeo especialmente ao meu Orientador, Prof. Dr. Ademir
Damazio, que foi determinante para a concretizao daquilo que para
mim era apenas um sonho. E, com sua humildade e intelectualidade,
mostra-se como um grande exemplo de humanidade a ser seguido.
Agradeo minha me, Adelaide Toms Manuel, s minhas
irms, Aldina Adelaide Nahunjo Manuel, Leontina Cumbelembe Toms
Manuel e Memoria Tiago Manuel, e minha noiva, Lissette Monteiro
Herrera, que, mesmo distantes, acompanharam de perto esta caminhada,
com apoio necessrio e incondicional.
Aos professores Dr. Gilvan Luiz Machado Costa e Dr. Ricardo
Luiz Bittencourt, pelas contribuies na qualificao e na defesa da
Dissertao.
A todos os integrantes do GPEMAHC: Grupo de Pesquisa em
Educao Matemtica: uma Abordagem Histrico-Cultural, por todo o
auxlio prestado.
A todos os funcionrios e Professores do Programa de Ps-
Graduao em Educao (PPGE) da UNESC, pelo aprendizado e apoio
durante minha formao.
Aos professores Raisa Bonachea e Arcenio Celorrio dos Santos,
que me ajudaram a delinear as primeiras ideias para o presente estudo.
Ao INAGBE e direo do ISP-UJES, pela dispensa e pelo
financiamento disponibilizado para a minha formao no Curso de
Mestrado em Educao.
-
Voc se torna um comunista
quando enriquece sua mente com todos os tesouros j produzidos
pelo homem.
Vladimir I. Lenin
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RESUMO
Nesta dissertao, apresentar-se- a proposta de um conjunto de
tarefas particulares referentes ao ensino da matemtica com base nos
fundamentos pedaggicos davydovianos. Tendo como objetivo
contribuir no processo de apropriao dos conceitos matemticos
necessrios aos estudantes ingressantes nos cursos de Engenharia do
Instituto Superior Politcnico da UJES, em Angola. O problema de
estudo se expressa na diferena entre o nvel de conhecimento real da
matemtica bsica desses estudantes e o nvel requerido pelas
disciplinas iniciais de matemtica desse curso. O referido problema foi
definido a partir da anlise do desenvolvimento histrico que originou o
contexto atual da educao angolana nos perodos colonial, ps-
independncia e ps-guerra civil. Essa leitura se deu articulada com o
lugar da matemtica no curso em referncia e o ensino precedente a
esse. A proposta foi elaborada com base nas abordagens pedaggicas
com fundamentos na Teoria Histrico-Cultural. Entre outros autores,
citam-se: Vygotsky, sobre o conceito de Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP); Leontiev, em relao atividade humana; Davdov,
com seu modo de organizao do ensino da matemtica para os anos
escolares iniciais. Esses autores tm como premissa que o ensino a
base para o desenvolvimento do pensamento terico do estudante, por
meio da apropriao dos conceitos cientficos. Tais pressupostos foram
referncia para a elaborao de tarefas que contemplam a apropriao de
conceitos da matemtica bsica por parte dos estudantes em referncia.
Na organizao de ensino, toma-se por princpio a possibilidade de se
constituir, entre os alunos, uma ZDP que possibilite a apropriao
terica de tal conhecimento. O conjunto de tarefas contemplam os
componentes da estrutura da atividade de estudo proposta de Davdov:
necessidade, tarefa de estudo, aes, tarefas particulares e operao. A
tarefa de estudo volta-se finalidade de obteno de conceitos de
matemtica bsica com teor de relao entre grandezas e variveis, que
so centrais para o Clculo Diferencial e Integral. A referida tarefa de
estudo proposta contempla quatro aes, que so sntese das seis aes
propostas por Davydov, quais sejam: Anlise inicial dos dados,
construo do modelo, materializao e extrapolao. As quatro aes
esto presentes nas tarefas particulares as quais podem contribuir para
dotar os estudantes ingressantes de conceitos essenciais que fazem parte
do movimento conceitual das disciplinas iniciais do curso em referncia.
Palavras-chave: Tarefa de estudo, Matemtica bsica, Engenharia,
Teoria Histrico-Cultural.
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ABSTRACT In this work, a proposition of a set of specific tasks related to teaching
basic math, based on davydovianos pedagogical foundations and
dialectical logic is presented. The same is to contribute to the
appropriation of mathematical concepts necessary for students entering
in the course of Computer Engineering and Computers, Polytechnic
Institute of UJES in Angola. This problem is expressed in the difference
between the actual level of knowledge of basic mathematics, these
students, and the level required by the initial mathematical disciplines of
the course. The research problem was defined from analysis of the
development of the current context of the Angolan education, however,
required the study of its historical development process, in colonial
times, post-independence and post-civil war. This reading took place
articulated with the math course in reference to the preceding course to
higher education. The expression of the system of organization of
teaching that causes that difference is education reform, in force since
2002 for the preparation of the proposal was taken as base assumptions
in relation to pedagogical approaches with foundations in Historical-
Cultural Theory. Among other authors, is quoted: Vygotsky, on the
concept of Zone of Proximal Development (ZPD); Leontiev, in relation
to human activity; Davydov, with his way of organizing the teaching of
mathematics to the early school years. These authors have the premise
that education is the basis for the development of theoretical thinking of
the student through the appropriation of scientific concepts. Such
assumptions were reference for the elaboration of tasks that include the
appropriation of concepts from basic math by students who enter the
engineering course. The organization of teaching, has been taken in
principle the possibility of setting up, among the students, which allows
the ZPD theoretical appropriation of such knowledge. The set of tasks
includes the components of the structure activity study, according to
which supports the proposed Davydov: need, study task, actions,
particular tasks and operation. The task of the study back to the purpose
of obtaining concepts of designation of basic math content of the
relationship between quantities and variables, which are central to the
Differential and Integral Calculus.
Key Words: Concepts - Basic Math, Engineering, Cultural Theory
History - Angola, Tasks Study.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1: Desnivelamento entre o conhecimento real e o conhecimento
requerido do estudante. ......................................................................... 32 Figura 2: Esqueleto da proposio. ..................................................... 119 Figura 3: Grfico da funo. ............................................................... 124 Figura 4: Sntese esquemtica das aes de estudo. ............................ 126 Figura 5: Representao dos segmentos. ............................................. 129 Figura 6: Representao dos segmentos e sua relao. ....................... 129 Figura 7: Inter-relao entre adio e subtrao. ................................. 131 Figura 8: Situao referente ao conceito de diviso. ........................... 132 Figura 9: Representao na reta numrica, conceito de diviso .......... 133 Figura 10: Tarefa representativa do conceito de multiplicao. .......... 133 Figura 11: Esquema multiplicao e diviso. Representao na reta. . 135 Figura 12: Representao dos segmentos de reta AB e CD. ............... 136 Figura 13: Nmero fracionrio na relao parte/todo. ........................ 138 Figura 14: Representao dos nmeros fraccionrios ......................... 138 Figura 15: Relao entre as medidas c e b. ......................................... 140 Figura 16: Soluo esperada para a equao x k = p. ...................... 142 Figura 17: Esquema todo e partes da equao a + x = c. .................... 142 Figura 18: Possvel representao na reta da medida da diagonal....... 146 Figura 19: Conceito de funo do Primeiro grau. ............................... 148 Figura 20: Conceito de funo quadrtica. .......................................... 150 Figura 21: Ponto mximo da funo. .................................................. 150 Figura 22: Conceito de potenciao, o princpio. ................................ 151 Figura 23: Conceito de Potenciao. ................................................... 151 Figura 24: Potenciao. ....................................................................... 152
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Resumos das disciplinas de Matemtica no curso de Engenharia
Informtica e Computadores. .............................................................................62 Tabela 2: Caracterstica do pensamento emprico e terico. ............................109 Tabela 3: Tarefa conceito de funo. ...............................................................147
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
GPEMAHC Grupo de Pesquisa em Educao Matemtica: Uma
Abordagem Histrico-Cultural
INAGBE Instituto Nacional de Gesto de Bolsa de Estudo
INIDE Instituto Nacional de Investigao e Desenvolvimento da
Educao
ISP Instituto Superior Politcnico
OGE Oramento Geral do Estado
PISA Programme For International Studant Assessment PPGE Programa de Ps-Graduao em Educao
SINPTENU Sindicato Nacional de Professores e Trabalhadores do
Ensino No Universitrio
UAN Universidade Agostinho Neto
UJES Universidade Jos Eduardo dos Santos
UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense
ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal
http://www.unesc.net/portal/blog/ver/287/18088http://www.unesc.net/portal/blog/ver/287/18088
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SUMRIO
APRESENTAO.................................................................................... 25 1 O PROCESSO DE CONSTITUIO DO ESTUDO ......................... 26
1.1 MEDIDAS EMPREGADAS PELOS PROFESSORES COM A
FINALIDADE DE SOLUCIONAR O PROBLEMA .............................. 32 1.2 OPES TERICAS PARA O TRABALHO .................................. 35 1.3 O OBJETO, O PROBLEMA, OS OBJETIVOS E AS BASES
METODOLGICAS DA PESQUISA .................................................... 41 1.3.1 Desenho Metodolgico ........................................................ 42
2 O OBJETO DE ESTUDO NO CONTEXTO ANGOLANO:
CONSIDERAES HISTRICAS ........................................................ 49 2.1 BREVE RESUMO DA HISTRIA DE ANGOLA ........................... 50 2.2 EVOLUO DO SISTEMA EDUCACIONAL EM ANGOLA ....... 51 2.3 CARACTERSTICAS E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO
SUPERIOR EM ANGOLA E NO INSTITUTO SUPERIOR
POLITCNICO DA UJES (ISP) ............................................................. 53 2.4 HISTRICOS DO INSTITUTO SUPERIOR POLITCNICO ......... 55 2.5 A IMPORTNCIA DAS MATEMTICAS PARA OS
ENGENHEIROS INFORMTICOS ...................................................... 57 2.6 FUNDAMENTAES DAS DISCIPLINAS DE MATEMTICA
GERAL NO CURRCULO DO CURSO ................................................. 60 2.6.1 Ferramentas matemticas para o curso de Engenharia
Informtica e Computadores ...................................................... 63 2.6.2 Currculo de Matemtica no primeiro semestre do curso 64 2.6.3 As reformas educativas e o lugar da matemtica na
organizao do ensino primrio e secundrio em Angola ........ 69 3 FUNDAMENTAO TERICA ........................................................ 91
3.1 ATIVIDADE E CONSCINCIA: UM ESTUDO NECESSRIO .... 91 3.2 ATIVIDADE DE ESTUDO EM DAVDOV: CARACTERSTICAS
ESPECFICAS E O ENSINO DESENVOLVIMENTAL ....................... 98 3.2.1 O desenvolvimento do pensamento terico: superao da
base lgica formal pela lgica dialtica .................................... 103 3.3 TAREFA E AES DE ESTUDO EM DAVDOV ...................... 113
4 AS BASES DA PROPOSTA: ALGUMAS TAREFAS A SEREM
DESENVOLVIDAS PELOS INGRESSANTES NO CURSO DE
ENGENHARIA DE INFORMTICA E COMPUTADORES ........... 116 PARA TANTO, ESTE CAPTULO FOI DIVIDIDO EM DUAS SEES: DESENHO
TERICO-METODOLGICO DA PROPOSIO E ALGUMAS TAREFAS
PARTICULARES DA PROPOSIO. ........................................................... 116 4.1 DESENHO TERICO-METODOLGICO DA PROPOSIO ... 116
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4.2 EXPLICITAO DE ALGUMAS TAREFAS PARTICULARES COM BASE NA PROPOSIO DAVYDOVIANA ............................ 127
4.2.1. Tarefas para o desenvolvimento do conceito de nmero e
operaes .....................................................................................128 4.2.2 Tarefas referentes ao conceito de Funo ........................146
5 CONSIDERAES FINAIS ............................................................... 154 REFERNCIAS ...................................................................................... 159
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APRESENTAO
Os determinantes referentes ao processo de ensino e
aprendizagem da matemtica no contexto angolano, particularmente no
primeiro ano do curso de Engenharia Informtica e Computadores do
Instituto Superior Politcnico da UJES, no qual o pesquisador se
encontra envolvido como docente estagirio de matemtica, geraram a
necessidade da procura por alternativas mais elaboradas para a melhoria
dos aspectos ligados diretamente a esse processo.
A pergunta que sempre afligiu o pesquisador se refere a qual
medida, na interao professor-aluno-conhecimento matemtico, que
leva o estudante apropriao dos conhecimentos matemticos no
primeiro ano desse curso.
Foi a partir dessa necessidade, ento, que se props a fazer o
Mestrado em Educao do PPGE da UNESC. E, no envolvimento com o
GPEMAHC, teve a oportunidade de poder estudar a proposta de ensino
de Davdov, a qual tem como finalidade levar o aluno ao
desenvolvimento do pensamento terico por meio da apropriao dos
conhecimentos cientficos.
Tendo em considerao o referido estudo, tenciona, com a
presente dissertao, apresentar proposies de tarefas e aes de estudo
da matemtica bsica, fundamentadas na lgica dialtica. O pressuposto
de que possa contribuir na soluo do problema ora apresentado. Para
tanto, organizou-se esta dissertao em cinco captulos.
O primeiro trata de descrever o processo de desenvolvimento da
pesquisa, bem como os aspetos metodolgicos, o problema, os objetivos
e a escolha da base terica. O segundo captulo trata do ensino no
contexto angolano, como se apresentou no processo histrico desse pas.
O terceiro captulo apresenta as concepes tericas da pesquisa. O
quarto se refere proposio propriamente dita. Por fim, no quinto
captulo, as consideraes finais.
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1 O PROCESSO DE CONSTITUIO DO ESTUDO
Aps o trmino da formao superior no Brasil, Licenciatura em
Matemtica, as condies objetivas encontradas no pas de origem do
pesquisador, Angola, levaram-no a iniciar outra etapa da vida: ser
professor estagirio de Matemtica do primeiro ano do curso de
Engenharia Informtica e Computadores no Instituto Superior
Politcnico (ISP) da Universidade Jos Eduardo dos Santos (UJES).
Esse local passou a ser o espao de desenvolvimento de sua atividade
principal (LEONTIEV, 1978), cuja tarefa (DAVIDOV, 1999) se atrela
finalidade de promover situaes de ensino em sala de aula que levem
os alunos a se apropriarem dos conceitos de Matemtica propostos pelo
currculo desse curso.
Essa sua atividade possibilitou a observao de algumas situaes
consideradas como problemas com os quais os professores de
Matemtica e os estudantes de Engenharia se deparam durante o
processo de ensino e aprendizagem. Esse contexto apreensivo do
referido curso passa a engendrar o seu trabalho de pesquisa, a
dissertao de mestrado em Educao.
Essas inquietaes o afetam cada vez mais pelas requisies dos
currculos que trazem a ideia de formar engenheiros com perfil
competitivo. A justificativa de que o mundo contemporneo marcado
pela globalizao da economia que atinge as diferentes sociedades e o
sistema de educao atual no d conta de responder a essas novas
exigncias (BARTOLOM, 2004).
Outra justificativa para a formao de um engenheiro com tal
perfil que as transformaes sociais, a globalizao, as mudanas e os
progressos tecnolgicos esto entre as principais causas da necessidade
de evoluo e transformao do setor educacional em todo mundo.
Nesse contexto, o tema principal, a educao, passa a se ver com a
necessidade de fazer mudanas a fim de adequar-se s demandas da
sociedade contempornea, para atender a seus objetivos e expectativas
educacionais e de mercado de trabalho (PEDROZA, 2012).
Alvarez (1999) acrescenta que, nessa sociedade, a educao
constitui-se em um fenmeno que se manifesta de mltiplas formas e em
nveis muito diferentes. um processo complexo, dialtico, que sofre
mudanas peridicas com a finalidade de dar respostas s crises
decorrentes das novas necessidades que aparecem e so condicionadas
pela caracterstica da sociedade capitalista.
Nesse mbito, a sociedade e as escolas angolanas tambm esto
envolvidas em mudanas importantes na formao de um profissional
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27
em correspondncia com a integrao do conhecimento cientfico da
poca contempornea, o desenvolvimento acelerado da cincia e da
tecnologia e as exigncias da formao das novas geraes que
envolvem a formao do profissional das cincias tcnicas (HUAMBO,
2011). Porm, a necessidade de tais mudanas, s quais o pesquisador se
refere, insere-se em um contexto histrico, social e econmico peculiar
de Angola. Esses mencionados fatores do contexto histrico so alguns
dos determinantes no desenvolvimento do ensino escolar, isso no que se
refere tanto a Angola, em particular, como a outros pases. Eles
interferem diretamente no resultado da interao professor-
conhecimento-aluno em sala de aula.
Como consequncia do contexto angolano atual, decorrente de
um histrico a ser ressaltado no prximo captulo, o governo de Angola,
no seu plano de desenvolvimento, destaca a prioridade de se investir na
reconstruo das infraestruturas degradadas pela guerra, bem como de
oferecer condies de bem-estar social para os seus cidados.
Nesse sentido, o Plano de Formao de Quadros, para dar
respostas s necessidades da sociedade angolana atual em termos de
recursos humanos, foi estendido para todos os setores da sociedade, com
prioridade para a formao nas carreiras tcnicas de Engenharia, que
do maior suporte no processo de reconstruo das infraestruturas
nacionais. Por isso a expanso e abertura dos cursos de Engenharia em
muitas provncias do pas (HUAMBO, 2011).
Esses cursos de Engenharia, de modo geral, contam com as
disciplinas de Matemtica (Clculo Diferencial e Integral, lgebra
Linear e Geometria Analtica, entre outras) logo nos seus anos iniciais,
pois ela e seu desenvolvimento como cincia so considerados, em nvel
mundial, como algo que d uma substancial elevao em termos de
qualidade (MARTINEZ, 2010). Por isso, continua sendo requisitada no
processo de formao profissional da engenharia, em atendimento s
reivindicaes sociais de que a escola e todos os seus seguimentos
mantenham uma exigncia permanente para com os estudantes,
desenvolvendo uma atitude cientfica e criadora ante a vida. Por
consequncia, que capacite o homem para acompanhar as constantes
evolues da tecnologia e da cincia no mundo, visto que ele se
encontra em uma poca de constante e forte apelo tecnolgico, de
transmisso de dados em alta velocidade e de troca de informaes em
tempo real (CABRAL, 2005).
Esse apelo s transformaes tecnolgicas e suas implicaes no
modo de vida do homem moderno a tnica nas orientaes
curriculares oficiais de diversos pases por exemplo, no Brasil que
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28
propem a formao do engenheiro e objetivam o desenvolvimento de
competncias e habilidades especficas, dentre as quais as de aplicar
conhecimentos matemticos, cientficos, tecnolgicos e instrumentais
(CABRAL, 2005).
Mas, apesar da importncia da Matemtica nos cursos de
engenharia, h um ndice muito elevado de insucesso nessa disciplina,
fato observado em vrios pases como Brasil, Cuba, Portugal e, tambm,
em Angola. E isso pode se constituir em um motivo para investigao
(SOARES, SAUER, 2004), orientao com a qual o pesquisador
concorda.
Os problemas que afetam a formao matemtica dos estudantes
tendem a afetar e comprometer a boa formao do engenheiro em
diversos pases, mais especificamente em Angola, com nvel de
desenvolvimento e crescimento econmico de primeiro mundo. De
acordo com Salomo (2013), no perodo de 2003 a 2008, a economia
angolana registrou um crescimento mdio de 17% ao ano, fazendo parte
do leque daquelas que apresentaram as mais altas taxas de crescimento
do mundo. Porm, o contexto revela uma defasagem no processo de
formao educativa, com indicadores que apontam uma taxa de
analfabetismo rondando ainda os 30% (ANGOP, 2013). Acresce-se,
ainda, a carncia de quadros formados para atender s exigncias
impostas pelo contexto atual e responder aos desafios do governo,
vinculados ao desenvolvimento pleno do angolano. Dentre os fatores
ligados ao problema relativo ao ensino da matemtica, reitera-se que o
histrico, o econmico, o social e o poltico do pas, o qual, no faz
muito tempo, se encontrava em situao de guerra civil, compem o
leque de determinantes criadores da condio objetiva apresentada na
atualidade e influenciam no mau desempenho do ensino da matemtica
de forma geral. Porm, tal situao desfavorvel tem sido combatida
pelo governo atual para poder mitigar os ndices de pobreza.
A situao problemtica a que o pesquisador se refere mais
agravante em Angola devido ao processo histrico do desenvolvimento
educacional, cientfico e tecnolgico decorrente de aspectos peculiares
da histria. At 1975, ano da sua independncia, ainda 85% da
populao era analfabeta, decorrente de um sistema de ensino
discriminatrio que fora implementado pelos colonizadores (NETO,
2005). Todos os esforos e investimentos do governo so em prol da
reconstruo e reorganizao de um pas assolado pela guerra civil
durante muitos anos, a qual teve um final apenas em abril de 2002.
Alm do mais, at o presente momento, no constam registros de
qualquer pesquisa do gnero na rea de Educao Matemtica em
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29
Angola, e muito menos em revistas cientficas estrangeiras. Isso foi
possvel confirmar, por exemplo, por meio da busca que o pesquisador
fez nos principais meios de divulgao, na Internet e nos trabalhos
cientficos tanto no Brasil quanto em Portugal.
No entanto, vale esclarecer que o ensino superior em Angola
sofreu um processo de expanso com a criao de sete regies
acadmicas. Criaram-se a Universidade 11 de Novembro, com sede em
Cabinda, cobrindo igualmente a provncia do Zaire; a Universidade Jos
Eduardo dos Santos, com sede no Huambo, com extenso no Bi e
Moxico; a Universidade Mandume, com sede em Hula, abrangendo as
provncias do Namibe, Kuando-Kubango e Cunene; a Universidade
Kimpa Vita, com sede em Uje e extenso no Kuanza-Norte; a
Universidade Lwegi, com sede em Lunda-Norte, estendendo-se at
Lunda-Sul e Malanje; e a Universidade Katiavala, com sede em
Benguela, que tem como regio de abrangncia o Kwanza-Sul. No
passado no muito distante havia somente a Universidade Agostinho
Neto, que tinha seus polos distribudos apenas entre algumas provncias,
tais como Luanda sede das reitorias e das principais faculdades ,
Cabinda, Huambo, Kwanza-Sul, Kwanza-Norte, Bengo, Benguela, Uje,
Namibe, Hula. Essa expanso demandou a presena de quadros
capacitados e organizao curricular dos cursos ministrados. Para tanto,
tiveram que contar com a colaborao de pases amigos, os quais
enviaram docentes para trabalhar nesses cursos e tambm negociaram a
implementao de currculos de alguns cursos (HUAMBO, 2011). Um
exemplo real disso pode ser verificado no Instituto Superior Politcnico
da UJES, instituio onde o pesquisador trabalha, cuja maioria dos
docentes (80%) so de nacionalidade cubana e os currculos dos cursos de sade (Enfermagem, Laboratrio Clnico e Eletromedicina) so todos
importados de Cuba. Essa colaborao, principalmente em algumas
Provncias, tem garantido a estabilidade e o funcionamento dos cursos
em nvel de ensino superior. O professor estrangeiro tem a grande
responsabilidade da criao de situaes que promovam a apropriao
do conhecimento pelos estudantes e passar experincia aos professores
angolanos recm-formados e integrados ao corpo docente.
Dentro de todo esse processo e inteno de desenvolvimento de
um ensino superior de qualidade e abrangncia para todos, deve ser destacado que essas regies acadmicas de ensino superior, por se
encontrarem em um estgio incipiente, levam ao questionamento se
realmente se encontram em condies de serem consideradas como
universidades. Primeiro por no contemplarem os requisitos para o
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30
efeito, quais sejam: ensino, pesquisa e extenso. A no observao de
tais requisitos ocorre pela escassez de quadros nacionais qualificados
decorrente do processo histrico de constituio e emancipao como
pas, o qual produziu o contexto social, poltico e social atual.
O desenvolvimento do projeto de formao de quadros e
expanso do ensino superior por todo o pas, com a criao das sete
regies acadmicas mencionadas, assenta-se ao momento atual. Em
consequncia disso, o que se apresenta com mais expresso no momento
o requisito ensino, visto que, em nvel nacional, consta um nmero
muito reduzido de mestres e doutores que poderiam dar conta do
desenvolvimento da pesquisa e da extenso. E tambm porque os
professores estrangeiros que apresentam maior grau acadmico e
cientfico e mais experincia como docente universitrio permanecem
no exerccio de suas tarefas por tempo muito limitado, de um a dois
anos. Alm do mais, os currculos dos cursos importados (a exemplo dos
cursos de Enfermagem, Laboratrio Clnico e Eletromedicina) no
contemplam o desenvolvimento ou apresentao de uma monografia de
final de curso como obrigao para o trmino da formao.
No entanto, os esforos tanto do Ministrio do Ensino Superior
como do corpo docente das instituies de ensino superior so para fazer
com que essas regies acadmicas de ensino superior se constituam em
universidades. Um exemplo disso a insero do pesquisador no curso
de mestrado, a qual ele considera como sendo uma expresso do prprio
projeto do governo de formao dos docentes universitrios. Alm do
mais, algumas instituies j tm manifestado a inteno de abertura de
cursos de ps-graduao mestrado, especificamente em parceria
com universidades estrangeiras.
De modo geral, em Angola, os cursos de Engenharia contam,
especificamente, com muitos desses professores estrangeiros j
mencionados, tanto para as disciplinas de base (Matemtica, Fsica
Qumica, Ingls e Lngua Portuguesa) como, principalmente, para as
disciplinas de especialidade. Mas esses professores reclamam de
algumas dificuldades no processo de ensino e aprendizagem, tais como:
carncia de bibliotecas adequadas, de laboratrios para a realizao de
experimentos, dentre outras. Tambm apontam a dificuldade que os
estudantes tm de se apropriar dos contedos das disciplinas nos
primeiros anos dos cursos de Engenharia, principalmente nas disciplinas
de Matemtica.
As observaes dirias do pesquisador como professor do-lhe
respaldo quando diz que, em Angola, um dos grandes problemas do
ensino da Matemtica nos cursos de Engenharia Informtica, e que aqui
-
31
ganha destaque, est justamente na dificuldade que os estudantes tm na
aprendizagem dos contedos dessa disciplina no primeiro ano de
Engenharia, ou seja, naqueles estudantes recm-formados no ensino
mdio que ingressam nos cursos superiores de Engenharia.
O insucesso em tais disciplinas tem contribudo substancialmente
com o elevado ndice de reprovao e evaso escolar que se observa no
Instituto Superior Politcnico da UJES. Segundo dados verificados na
secretaria acadmica da instituio, no curso de Engenharia Informtica
e Computadores, mais de 40% dos acadmicos reprovam na disciplina
de Matemtica I, a qual corresponde ao Clculo I. Desse total, 90%
desistem do curso ou migram para outro logo no primeiro ano,
apontando a dificuldade na aprendizagem de Matemtica como fator
decisivo. Vale salientar que 95% das reprovaes ocorrem nas
disciplinas de Matemtica I (Cculo I), lgebra Linear e Geometria
Analtica e em Fsica I.
Reitera-se que, aliados a fatores ligados ao aprendizado, outros
fatores de ordem social e econmica que contribuem para tal
situao foram considerados. A experincia do pesquisador como
docente revela a tese que ora se afirma. Um exemplo particular que pode
ser apontado que, embora o ensino pblico em Angola seja gratuito,
ainda h estudantes que se veem em dificuldades financeiras para
custear, por exemplo, emolumentos referentes confirmao de
matrcula ou exame de recurso, entre outros documentos. Alm disso,
muitos estudantes so oriundos de outras Provncias e se veem na
condio de ter que se organizar e sobreviver longe de um crculo
familiar mais estreito.
Porm essa situao tem sido amenizada pelo governo, que
oferece bolsa de estudos internas para alguns estudantes de baixa renda,
por meio do Instituto Nacional de Gesto de Bolsa de
Estudo (INAGBE). Essa medida, embora no seja abrangente a todos,
tem ajudado muitos estudantes a criarem condies para prosseguir com
seus estudos.
Por outro lado, no que tange ao momento professor-aluno, de
modo mais abrangente, o que se tem observado que, apesar do esforo
no sentido de propor mudanas no ensino da matemtica nos cursos de
engenharia nos ltimos anos, o processo de ensino-aprendizagem
referente a essa disciplina continua sendo o grande responsvel pelos
altos ndices de reprovao dos alunos (SOARES, SAUER, 2004). Pois,
como j mencionado em pargrafos anteriores, mesmo em pases com
situao econmica e social mais estvel, decorrente de um histrico de
imposio de sua cultura dominadora, o mesmo problema se verifica.
-
32
Contudo, a situao em Angola no mpar, pois tem
similaridades com o contexto brasileiro. E, segundo Cury (2007), as
dificuldades que os estudantes possuem no aprendizado da matemtica
nos anos iniciais de Engenharia podem ser justificadas, principalmente,
devido falta de domnio da matemtica bsica ministrada no ensino
primrio e secundrio (fundamental e mdio). No primeiro ano de
Engenharia, observa-se um desnivelamento entre o conhecimento
matemtico real dos estudantes e o conhecimento requerido para
estarem aptos a ingressar no curso de Engenharia Informtica e
Computadores, o qual pode ser ilustrado na figura a seguir:
Fonte: Celorrio (2000).
Em outras palavras, Celorrio (2000) auxilia na compreenso da
situao em que se insere o problema em questo. H, pois, um
distanciamento entre os conhecimentos e habilidades reais dos
estudantes e aqueles prprios para iniciar o curso. O pressuposto de
que h, nessas circunstncias, necessidade de um processo de ensino e,
consequentemente, de aprendizagem. Por sinal, processo esse que no
contemplado no currculo do curso nem no prprio sistema angolano de
ensino. Por consequncia, o problema entregue aos professores da rea
de exatas do primeiro ano do curso de Engenharia, o que os leva a
buscar alternativas de solues basicamente espontanestas. Isso porque
no h algo sistematizado em termos curriculares nem respaldado por
orientaes oficiais.
1.1 MEDIDAS EMPREGADAS PELOS PROFESSORES COM A
FINALIDADE DE SOLUCIONAR O PROBLEMA
Como mencionado anteriormente, as disciplinas de Matemtica
dos primeiros anos so bsicas para o curso de Engenharia Informtica e
Computadores, por servirem de ferramenta de trabalho no exerccio
futuro da profisso e terem uma metodologia fundamental para a
Conhecimentos e
habilidades
requeridas
Necessidade
de
aprendizagem
Conhecimentos
e habilidades
reais
Figura 1: Desnivelamento entre o conhecimento real e o conhecimento
requerido do estudante.
-
33
resoluo de problemas. Essa importncia tem colocado prova o
potencial pedaggico dos professores de Matemtica das carreiras
tcnicas de Engenharia no Instituto Superior Politcnico da UJES. Isso
porque h uma pressa e uma cobrana, explcitas nas polticas
governamentais, nos documentos oficiais e na rotina diria dos cursos,
para recuperar o tempo com vistas ao desenvolvimento humano,
profissional e econmico dos cidados angolanos. Afinal, convivem
historicamente em atraso promovido pela condio de colnia
portuguesa (at 1975) e, mais recentemente, pelos embates sociais,
guerra civil (1979 a 2002). Em outras palavras, os professores das
referidas disciplinas so solicitados e se sentem impotentes para impor
aos estudantes mesmo com toda a histria da marginalizao os
mesmos ritmos imprimidos queles inseridos em pases desenvolvidos
que, historicamente, impuseram tradies culturais dominadoras.
Em decorrncia, os professores tm se debruado na busca de
alternativas para a soluo do problema, com adoo de medidas
espontneas e at sistemticas, mas sem xito. Dentre elas, dar-se-
destaque para trs:
1. Explicaes extraclasse, nos fins de semana e em perodo anterior ou posterior s aulas regulares em que tarefas so
desenvolvidas com a inteno de levar os estudantes a se
apropriarem de conhecimentos e habilidades que deveriam
ter desenvolvido durante o perodo de formao precedente,
ensino fundamental e mdio. As observaes feitas pelo
pesquisador tm trazido evidncias que tal medida no tem
ajudado a melhorar a situao em questo. O ensino pelo
professor e a pretensa aprendizagem do estudante de
conhecimento matemtico do ensino mdio e de nvel
superior, concomitantemente, tm causado insegurana, uma
vez que professor e aluno consideram excessivo o rol de
contedos dos currculos prprios do ensino superior que,
para serem esgotados, necessitariam de pleno domnio
conceitual pertinente educao bsica. Em consequncia,
emerge acentuadamente o sentimento de desnimo e de
incapacidade frente ao desafio que se propuseram a
enfrentar: respectivamente, um ensino e uma aprendizagem
para uma formao superior em Engenharia Informtica.
2. Outra medida, comumente adotada pelos professores no Instituto Superior Politcnico da UJES, vulgarmente
chamada de lembrete. Trata-se de revises rpidas de
alguns conceitos considerados pr-requisitos que so
-
34
apresentados durante as aulas em forma de quadro resumo.
Igualmente a anterior, tal tentativa de resoluo do problema
no tem surtido o efeito desejado, pois um lembrete s tem
sentido se anteriormente tais contedos foram de fato
trabalhados e consolidados, o que no o caso.
3. Tambm, com a mesma finalidade de melhorar o quadro que se apresenta, uma terceira tentativa foi o desenvolvimento de
minicursos que, em Angola, foram chamados de Curso de
Nivelao. So organizados e submetidos aos candidatos
antes do exame de acesso. Nesses cursos, professores
ministram aulas de contedo do ensino mdio que so pr-
requisitos para o ingresso universidade. Com respeito a
essa medida, so vrios os autores que trabalharam a
temtica. Entre eles, no mbito internacional, est Celorrio
(2000), que enfoca a temtica na perspectiva de preparao
dos estudantes para ingressar na educao superior.
Portanto, no com a inteno de dar a base necessria para
as disciplinas do curso pretendido, no caso em questo,
Engenharia Informtica.
Tal medida embora empregada em muitos pases como Cuba,
Brasil e Portugal no teve xito em Angola. Primeiro, porque a oferta
de um ano a mais de curso destinado unicamente para nivelao ou
apropriao de contedos que deveriam ser trabalhados nas sries
escolares antecedentes constitui-se em mais gasto para o Estado
Angolano. Segundo, por um problema de ordem legal, pois muitos dos
estudantes, ao participarem desse nivelamento, reivindicaram a sua
permanncia no curso superior por se sentirem no direito ao acesso
imediato. Por isso, tal medida foi proibida pelo Ministrio do Ensino
Superior em 2009.
Porm, direito do cidado angolano o acesso educao
superior, e dever do estado criar condies para que os mesmos tenham
possibilidades mais igualitrias de ingresso e permanncia nesse tipo de
curso. Pois, o problema a que o pesquisador se refere dificuldade
relacionada matemtica bsica decorrente do ensino nas sries
precedentes e passa a ser responsabilidade da estrutura organizacional
do nvel superior. Contudo, conveniente a criao de medidas mais
elaboradas para o tratamento dessa questo em termos pedaggicos,
juntamente com medidas sociais de apoio e melhoria das condies de
estudo para o estudante e de ensino para o professor.
Mesmo porque, tendo em conta as experincias pessoais e
reflexes delas advindas, todas as medidas apresentadas at ento no
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35
deram o retorno esperado para resolver o problema, por apresentarem
um carter meramente espontneo e no enfrentarem a situao de
precariedade conceitual de forma sistemtica e cuidadosa.
Preocupada com a situao em questo, a direo do Instituto
Superior Politcnico UJES e a reitoria da universidade, em cooperao
com a Universidade do Porto (de Portugal), constituiu um grupo de
matemtica do qual o pesquisador faz parte. Esse grupo prope, dentre
outros projetos, estudar a possibilidade de implementao da
experincia da faculdade de engenharia da Universidade do Porto,
referente ao projeto Universidade Junior, que prope atividades para
incentivar os estudantes que esto terminando o ensino mdio a se
interessarem pelo aprendizado das disciplinas de base do ensino superior
(Matemtica, Fsica e Qumica).
Esse grupo vem procurando propor aes para o enfrentamento
dos problemas relacionados ao ensino e aprendizado da matemtica
nos cursos de Engenharia do ISP. E, em conselho pedaggico, decidiu-
se aumentar a carga horria das disciplinas de matemtica do primeiro
semestre, o que agora confere mais tempo para os estudantes se
apropriarem dos contedos oferecidos por essas disciplinas.
Contudo, o pesquisador ainda continua naquele recinto
acadmico e em suas reflexes particulares surgiram os seguintes
questionamentos: Como desenvolver uma medida capaz de atuar de
forma que oportunize a melhoria do desempenho dos estudantes com
relao ao aprendizado da Matemtica no curso de Engenharia
Informtica e Computadores? De que forma se preencher o espao
aberto para a interveno do grupo de matemtica formado com a
finalidade de contribuir para a melhoria dessa situao?
Esses questionamentos so reveladores de que a situao se torna
cada vez mais desconfortvel pelo sentimento de impotncia que
permeia as aes dos docentes do Curso em foco, mas que tambm pode
ser estendido a outros cursos da rea de engenharia. Porm, os sintomas
de fraqueza criam a necessidade de busca de novas compreenses.
Nessas condies, entende-se que as reflexes e as alternativas at ento
propostas se amparavam em bases puramente pragmticas, portanto,
com carncia de uma clareza de fundamentos tericos. Essa clareza,
para o pesquisador, ocorreu quando se inseriu no curso de mestrado.
1.2 OPES TERICAS PARA O TRABALHO
Depois de ser admitido no Programa de Ps-Graduao em
Educao (PPGE) da Universidade do Extremo Sul Catarinense
-
36
(UNESC), o pesquisador foi apresentado ao orientador Ademir
Damazio, que ministrou a disciplina Teoria da Atividade e Proposta de
Ensino. Tambm cursou a disciplina Educao e Formao Humana
na Perspectiva Materialista-Histrica: Implicaes Pedaggicas, que
teve como docente o professor Vidalcir Ortigara. Alm disso, o
pesquisador participou das discusses nos encontros do Grupo de
Pesquisa em Educao Matemtica: Uma abordagem histrico-cultural
(GPEMAHC). O destaque para essas trs aes relacionadas insero
do pesquisador no curso de mestrado se justifica pela sua contribuio
para que ele percebesse outros entendimentos tericos sobre a viso de
homem, de mundo, funo social da educao e da realidade. Com isso,
a necessidade da escolha de uma teoria que fundamentasse a sua
dissertao, consequentemente, permitiu que estendesse suas reflexes
para o contexto dos problemas relacionados Matemtica dos
estudantes ingressantes no Curso de Engenharia Informtica e
Computadores do ISP.
Para tal, foram importantes os estudos realizados com base nos
textos de autores russos referentes teoria histrico-cultural: Vygotsky
(1989, 2000), Leontiev (1983, 2001) e Davdov (1988). As produes
desses estudiosos, a partir da dcada de 20 do sculo XX, revelaram
contribuies para se repensar a educao atual e, especialmente, o
ensino da Matemtica, pois so indicativos para se tratar da
problemtica em configurao.
Nesse sentido, apresentar-se-o alguns pressupostos dos referidos
autores que marcaram as primeiras apreenses decisivas do pesquisador
para a adeso referida base terica. Para tanto, eles sero destacados
pela ordem em que foram estudados nas disciplinas do mestrado, porm
com a conscincia de que Vygotsky quem, contemporaneamente, com
Leontiev, lana a base da dialtica materialista e histrica na Psicologia.
De Leontiev (1983) extrai-se a sntese de que todo homem nasce
candidato a ser humano, mas somente se constituir como tal ao se
apropriar da cultura produzida pelo homem. O processo de apropriao
da cultura humana resultado da atividade efetiva do homem sobre os
objetos e o mundo circundante. Mas a gnese desse processo o
trabalho que criou o homem, desenvolveu-lhe aptides fsicas e
psicolgicas superiores a qualquer outra espcie animal.
Para Leontiev (1983), a atividade humana o processo que media
a relao entre o ser humano (sujeito) e a realidade a ser transformada
por ele (objeto da atividade). A atividade se apresenta como mediadora
do homem com o mundo, o qual se expressa na realidade objetiva, a
natureza, que transformada. Ao mesmo tempo, esse processo promove
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37
transformaes qualitativas no homem, o que permite o
desenvolvimento de suas faculdades psicolgicas superiores
(VYGOTSKY, 1989, 2000).
Assim sendo, o homem passa ento a se desenvolver a partir da
atividade que realiza e condiciona o seu desenvolvimento. Segundo
Leontiev (1983, p. 68):
[...] aqueles processos que, realizando as relaes
do homem com o mundo, satisfazem uma
necessidade especial correspondente a ele. [...] Por
Atividade, designamos os processos
psicologicamente caracterizados por aquilo a que
o processo, como um todo, se dirige (o objeto),
coincidindo sempre com o objetivo que estimula o
sujeito a executar essa atividade, isto , o motivo.
Para esse mesmo autor, a atividade constituda por motivo,
objetivo, aes e operaes. As aes e operaes so devidamente
articuladas com a finalidade de alcanar o objetivo da atividade e esto
ligadas ao objetivo. O motivo est atrelado necessidade, o
impulsionador para a realizao de qualquer atividade. No entanto, uma
ao pode se constituir em uma atividade quando h uma coincidncia
entre o motivo e o objetivo.
Sobre o exposto, Leontiev (2010) acrescenta que cada etapa do
desenvolvimento de um indivduo caracterizada pela Atividade
Principal, a qual indica o lugar que o indivduo exerce socialmente em
determinada etapa de sua existncia. Essa Atividade movimenta todas as
suas foras vitais e desenvolve-lhe potencialidades que oferecem as
condies para que o mesmo passe etapa subsequente, uma nova
atividade principal, que o desenvolve intelectual e psicologicamente.
Ela a atividade em cuja forma surgem outros
tipos de atividade e dentro da qual eles so
diferenciados [...] aquela na qual processos
psquicos particulares tomam formas ou so
reorganizados [...] a atividade da qual
dependem, de forma ntima, as principais
mudanas psicolgicas da personalidade infantil,
observadas em certo perodo de desenvolvimento.
A atividade principal a atividade cujo
desenvolvimento governa as mudanas mais
importantes nos processos psquicos e nos traos
psicolgicos da personalidade da criana, em certo
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38
estgio de seu desenvolvimento (LEONTIEV,
2010, p. 65).
Leontiev (2010) afirma que a transio de uma atividade
principal para outra marcada por uma ruptura e caracterizada pelo
momento em que a criana se d conta de que o lugar que ocupa no
mundo das relaes humanas no corresponde mais s suas atuais
possibilidades (ROSA, 2012), e, caso no seja devidamente orientada,
tal mudana pode acarretar crises.
Nesse sentido, relativamente ao exposto, Leontiev (2010, p. 67)
salienta que:
[...] no so as crises que so inevitveis, mas o
momento crtico, a ruptura, as mudanas
qualitativas no desenvolvimento [...] a prova de
que um momento crtico ou uma mudana no se
deu em tempo. No ocorrero crises se o
desenvolvimento psquico da criana no tomar
forma espontaneamente e, sim, se for um processo
racionalmente controlado, uma criana controlada.
Nesse contexto, entende-se que a passagem do estudante do
ensino mdio para o ensino superior, em Angola, configura uma
mudana na sua atividade principal. Nessa nova etapa de sua vida
(ensino superior) aparecem novos motivos, pois o lugar que ele ocupa
nas relaes sociais e familiares muda completamente, uma vez que
adquire certo respeito frente aos demais membros da comunidade. Ter
uma formao superior em Angola, para alm de significar a obteno
de status e direito cidadania, tambm se constitui na resoluo de muitos problemas sociais. Isso porque o profissional com nvel superior
eleva consideravelmente o seu poder aquisitivo. Alm disso, comum
as pessoas lutarem por uma formao superior com a finalidade de um
aumento salarial.
Por esse motivo, a hiptese do pesquisador que o problema das
dificuldades dos estudantes do primeiro ano em relao apropriao
dos conhecimentos das disciplinas iniciais de matemtica do curso de
Engenharia Informtica e Computadores do ISP uma expresso de crises surgidas e no superadas tanto na mudana quanto no
desenvolvimento das atividades principais. Essas, segundo Leontiev
(1978), so nomeadamente: o jogo, na infncia pr-escolar; o estudo, no
perodo escolar; e o trabalho, na idade adulta.
-
39
Assim, para os estudantes do ensino superior e das escolas
tcnicas, a principal atividade a de estudo profissional cuja
necessidade o trabalho (ROSA, 2012). Nesse estgio, os jovens
idealizam o caminho que pretendem seguir na vida e pensam sobre as
perspectivas de sua atividade futura (DAVDOV, 1988). E, por se tratar,
hipoteticamente, de um perodo de transio de atividade, para o qual
no foram devidamente preparados, os estudantes, nessa fase, convivem
com crises, consequncias das deficincias conceituais que se
acumularam na atividade do jogo e do estudo e se manifestam na
passagem de uma para outra superior.
Isso significa que as aes e operaes da atividade subsequente
no esto orientadas para o desenvolvimento das potencialidades
adquiridas na atividade precedente na qual o mesmo estudante se
encontra. No caso especfico dos ingressantes no curso de Engenharia,
significa a passagem da atividade de estudo para a atividade de
formao profissional. As exigncias dessa nova atividade, expressas
pelo currculo do curso de engenharia, so superiores s potencialidades
adquiridas na atividade anterior, consequncia do currculo do ensino
mdio.
Outro pressuposto que se apresenta com as marcas da
contribuio das leituras de Davidov (1999) que as tarefas e suas
respectivas aes da atividade de estudo (na educao bsica) no deram
conta de prover os estudantes de condies necessrias para a
apropriao dos conceitos concernentes ao ensino superior.
Em consequncia, apresentam-se diferenas extremas entre as
possibilidades dos estudantes e aquelas condies requeridas na tarefa e
nas aes que se expressam nos objetivos do plano de estudo no
primeiro ano de Engenharia Informtica e Computadores do ISP. Sendo
assim, parece conveniente que tarefas e aes da atividade de estudo no
curso de Engenharia Informtica e Computadores, conforme
mencionado anteriormente, retomem as operaes, conceitos e
habilidades que, para os estudantes recm-admitidos ao curso de
Engenharia Informtica e Computadores, ainda se apresentam como no
cumpridas durante a atividade no ensino mdio.
Tal situao leva o pesquisador s primeiras dcadas do sculo
XX, momento em que o psiclogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-
1934) traz um novo princpio conceitual para a psicologia do
desenvolvimento com contribuio para educao escolar. Para
Vygotsky (2007) h dois nveis de desenvolvimento infantil. O primeiro
chamado de real por englobar as funes mentais que esto
completamente desenvolvidas (resultado de habilidades e
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40
conhecimentos adquiridos pela criana). Geralmente, esse nvel
estimado pelo que uma criana realiza sozinha.
Essa avaliao, entretanto, no leva em conta o que ela
conseguiria fazer ou alcanar com a ajuda de um colega ou do prprio
professor. Isso caracteriza a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP),
definida como sendo a distncia entre o nvel de desenvolvimento real,
determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, e o
nvel de desenvolvimento potencial, determinado por meio da resoluo
de um problema sob a orientao de um adulto ou em colaborao com
outro companheiro. Quer dizer: o nvel de possibilidades que a pessoa
tem potencialmente de aprender, mas ainda no completou o processo.
Significa que os conhecimentos ainda esto fora de seu alcance,
individuais, mas atingveis desde que a coloque em situao mediada
com a presena de outrem.
Um dos conceitos mais conhecidos de Vygotsky o de ZDP, no
qual ele associa a psicologia geral sobre o desenvolvimento da criana a
uma viso pedaggica do ensino. A ZDP diz respeito possibilidade do
indivduo para conhecer e agir sobre a realidade, mas com a ajuda de
algum mais experiente, como pais, professores, colegas e outras
pessoas.
Vygotsky sintetiza o conceito de ZDP dizendo que:
O nvel de desenvolvimento real caracteriza o
desenvolvimento mental retrospectivamente,
enquanto a zona de desenvolvimento proximal
caracteriza o desenvolvimento mental
prospectivamente. (VYGOTSKY, 2007, p. 98).
Em decorrncia disso, de acordo com os princpios da teoria
histrico-cultural formulada por Lev S. Vygotsky, existe uma forte
relao entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento do pensamento
dos alunos. Consequentemente, o ensino tem o papel primordial de
impulsionar o desenvolvimento. Nesse sentido, entre os seguidores de
Vygotsky, Vasili V. Davdov, pesquisador russo, formulou a teoria do
ensino desenvolvimental, como uma referncia terica e um mtodo de
ensino. O autor afirma que durante o processo de atividade de estudo, o
ensino deve ser organizado com tarefas, com suas respectivas aes de ensino, que requerem o cumprimento de determinadas tarefas
particulares e operaes.
nesse contexto de pressupostos da teoria histrico-cultural que
buscam-se os argumentos para a necessidade de uma organizao do
-
41
ensino que leve em conta as potencialidades dos estudantes do primeiro
ano de engenharia com relao matemtica. Para tanto, faz-se
necessrio estabelecer aes concernentes tarefa de se apropriar dos
conhecimentos essenciais para as primeiras disciplinas de matemtica do
curso de Engenharia Informtica e Computadores do ISP. Sendo assim,
essa medida pode dar uma melhor resposta ao gritante problema que se
apresenta em todos os cursos de engenharia do Instituto Superior
Politcnico.
Para tal, pressupem-se que urge a proposio de tarefas
particulares as quais contemplem o teor conceitual da matemtica
pertinente soluo das deficincias dos estudantes. Porm, com a
precauo de que sejam elaboradas de modo tal que constituam ZDP
que crie as condies para que os estudantes se apropriarem dos
conceitos das disciplinas iniciais de Matemtica, nomeadamente
Matemtica I, lgebra Linear e Geometria Analtica.
1.3 O OBJETO, O PROBLEMA, OS OBJETIVOS E AS BASES
METODOLGICAS DA PESQUISA
O contexto de reflexo das duas sees precedentes indicador
da anlise terica e prtica do objeto de investigao, qual seja: a
revelao das referncias tericas e metodolgicas a respeito da
determinao de indicadores, procedimentos e/ou metodologias que
possam se constituir em referencial para o processo de ensino-
aprendizagem na Educao Superior em Angola, que garantam o
domnio das ferramentas bsicas da Matemtica. Em outros termos,
atendam s necessidades instrutivas, educativas e desenvolvedoras da
formao do profissional, isto , propiciem a apropriao de
conhecimentos, habilidades e valores pelos estudantes, necessrios para
cursar Engenharia Informtica e Computadores.
Esse contexto leva definio do seguinte Problema Cientfico:
Quais as possibilidades de que as tarefas particulares, na perspectiva do
ensino desenvolvimental, com base na lgica dialtica, sejam pertinentes
superao das diferenas entre o conhecimento matemtico real dos
estudantes e o conhecimento requerido pelas disciplinas de Matemtica
do primeiro ano do curso de Engenharia Informtica e Computadores?
Por extenso, surgem trs questes auxiliares:
1) Existe a possibilidade de organizao do ensino que proponha um conjunto de tarefas particulares baseadas na
lgica dialtica com as disciplinas de Matemtica do
-
42
primeiro ano do curso de Engenharia Informtica e
Computadores do ISP?
2) O que necessrio para que as tarefas constituam entre os estudantes ZDP?
3) Destarte, o desenvolvimento do conjunto dessas tarefas oportuniza as condies para que os estudantes adquiram os
conhecimentos matemticos potenciais de forma que
contribuam para superar o desnivelamento entre o
conhecimento matemtico real e o conhecimento
matemtico requerido pelo curso?
O problema de pesquisa articula-se com o objetivo geral: estudar
a possibilidade de um conjunto de tarefas particulares, na perspectiva do
ensino desenvolvimental, com base na lgica dialtica, que possibilite
tratar o desnivelamento entre o conhecimento matemtico real dos
estudantes e o conhecimento requerido pelas disciplinas de Matemtica
do primeiro ano do curso de Engenharia Informtica e Computadores.
Do mesmo modo, as trs questes auxiliares tornaram-se
providenciais para o estabelecimento dos seguintes objetivos
especficos:
Estudar bases bibliogrficas indicadoras da possibilidade de organizao de ensino desenvolvimental, com base na lgica
dialtica, as quais proponham um conjunto de tarefas referentes
aos requisitos conceituais necessrios s disciplinas de
Matemtica do primeiro ano do curso de Engenharia
Informtica e Computadores do ISP;
Propor bases para a elaborao de tarefas que constituam, entre os estudantes, uma ZDP.
Elaborar um conjunto de tarefas anunciadoras da oportunidade de condies para que os estudantes adquiram os
conhecimentos matemticos potenciais, de forma que contribua
para minimizar o desnivelamento entre o conhecimento
matemtico real e o conhecimento matemtico requerido pelo
curso.
1.3.1 Desenho Metodolgico
A investigao tem um teor propositivo e exploratrio, o que d
uma caracterstica de pesquisa qualitativa. E, em sua especificidade, a
pesquisa bibliogrfica, por possibilitar a recuperao do conhecimento
cientfico acumulado sobre o referido problema. Concernente ao
-
43
exposto, o pesquisador apresentar sua compreenso sobre a pesquisa
qualitativa, cujas caractersticas esto expressas em todo este trabalho,
cujos princpios foram apropriados dos estudos de alguns autores que
aparecem enunciados na exposio a seguir.
A metodologia de pesquisa, para Minayo (2003), o caminho do
pensamento a ser seguido com a finalidade de apreenso do objeto e
assim a configurao da realidade. Essa realidade no se apresenta ao
homem de forma imediata. O conhecimento sobre ela dado pelos
resultados antes desconhecidos pelo sujeito (KOPNIN, 1978).
A metodologia cientfica ocupa um lugar central na teoria e trata-
se basicamente do conjunto de tcnicas a serem adotadas para construir
uma realidade a partir de um conhecimento prvio. Kopnin (1978) deixa
claro que pesquisa conhecimento. Alm do mais, constitui-se em uma
atividade bsica da cincia na sua construo da realidade a partir da
explicitao das coisas como so, ou seja, da revelao da essncia do
que existe no mundo. Captar a essncia do conhecimento s possvel
por meio da investigao cientfica. De acordo com Kopnin (1978),
nesse processo se manifestam as particularidades caractersticas do
conhecimento humano, o movimento do pensamento no sentido de
resultados efetivamente novos. A realidade objetiva se constitui por
meio do fenmeno que chega aos rgos sensoriais humanos,
juntamente com o elo que vai alm do que o homem pode captar
imediatamente.
Kopnin (1978, p. 226) diz que a investigao cientfica, como
ato de conhecimento, se realiza base da interao prtica do sujeito
com o objeto.
Da mesma forma Damazio (2006, p. 4) se refere ao
entendimento de investigao na perspectiva histrico-cultural:
A teoria histrico-cultural advoga por uma
abordagem metodolgica com nfase aos aspectos
qualitativos em detrimento dos quantitativos,
preocupando-se em ir alm da simples descrio
da realidade estudada. O interesse para o modo
de manifestao do problema e, ao mesmo tempo,
numa ao dialtica, priorizar: a transformao
quantidade/qualidade, a interligao todo/partes,
explicao/compreenso e anlise/sntese.
A pesquisa qualitativa ajusta-se a este trabalho. Contudo, com a
precauo apontada por Trivios (2013) de que existem dificuldades
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para a sua definio pela abrangncia e ramificaes de
posicionamentos tericos distintos. Contudo, a compreenso do
pesquisador apoia-se na afirmao de que a referida pesquisa trata de
uma atividade da cincia. Por isso, visa ao estudo da realidade que,
tratando-se especialmente da rea de cincias sociais, no pode ser
quantificado (MINAYO, 2003). Nesse caso, trabalha com o universo de
crenas, valores, significados e outros construtos profundos das relaes
sociais, no redutveis operacionalizao de variveis (GODOY,
1995).
Para Godoy (1995, p. 58), existem cinco caractersticas principais
de uma pesquisa qualitativa. Dentre elas, algumas se apresentam nesta
pesquisa:
1) O ambiente sua fonte direta dos dados. Exige a participao do pesquisador, pois o fenmeno precisa ser estudado e
compreendido de forma mais abrangente, no seu prprio
contexto. Segundo Trivios (2013), o ambiente, o contexto
onde os indivduos realizam suas aes e desenvolvem seu
modo de vida, tem importncia essencial na compreenso mais
clara de suas atividades. Esse aspecto se observa ao longo da
pesquisa, pois a maioria das informaes resultou da
experincia e vivncia do pesquisador com os colegas no local
de trabalho, nas conversas formais (reunio de professores do
departamento, conselho pedaggico) e informais e na
observao das condies objetivas nas quais os estudantes e
professores esto inseridos tanto no contexto local da
Instituio quanto no contexto mais abrangente do pas,
relacionado condio histrica, econmica e social.
2) A anlise dos dados ocorre de forma intuitiva. O pesquisador procura elucidar o ponto de vista dos atores envolvidos. Alm
disso, evidencia a forma singular de vida dos indivduos
(TRIVIOS, 2013). Outro aspecto relativo pesquisa
qualitativa presente em neste trabalho o apresentado neste
momento. Os professores do Instituto Superior Politcnico da
UJES tm suas opinies que expressam a real situao do
problema em questo, por ele estar vinculado diretamente sua
atividade docente (sua atividade vital). Sendo assim, esse
problema relacionado relao professor-matemtica-aluno
manifesta-se, muitas vezes, em forma de angstias nas reunies
e conversas informais entre os colegas. Tais depoimentos so
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apresentados neste estudo quando o pesquisador trata de
descrever os aspectos da realidade emprica no ISP.
3) O uso de tcnicas e mtodos estatsticos relativizado, dado que se centra em dados descritivos referentes s pessoas,
lugares e processos interativos. Em vez de aspectos meramente
quantitativos expressos na operacionalizao de mtodos
estatsticos com definio de variveis dependentes e
independentes. Desse modo, o pesquisador deteve a
interpretao de algumas porcentagens relativas ao nmero de
reprovados nas disciplinas iniciais de matemtica relacionadas
evaso no primeiro ano do referido curso. O objetivo
interpretar tais nmeros luz dos determinantes que
influenciam diretamente na causa da presena desse problema.
Ou seja, os resultados do emprego de mtodos quantitativos
foram interpretados de acordo com os mtodos qualitativos.
Alm do exposto nos pargrafos precedentes, mister
esclarecer que o estudo em foco tem um carter propositivo, pois volta-
se elaborao de pressupostos e indicao do que na teoria da
atividade Davdov (1988) denomina de tarefas particulares de estudo.
Essas tero como componentes essenciais os contedos de matemtica
bsica, necessrios para os ingressantes no curso de Engenharia de
Informtica e Computadores. Para tanto, tomam-se como referncia os
fundamentos do ensino desenvolvimental com base na lgica dialtica.
Em outras palavras, trata-se de uma proposio de ensino com a
finalidade de contribuir para a minimizao das lacunas que se
observam no conhecimento dos estudantes ingressantes com relao
matemtica bsica.
Tomando em considerao o exposto, dada a origem do problema
de pesquisa e por se tratar de um estudo de carter terico propositivo,
prev-se em termos geogrficos e possibilidades de objetivao que
a pesquisa se volta a estudantes e professores da provncia do Huambo,
Angola, do Instituto Superior Politcnico, sustentada em mtodos
qualitativos e fundamentos das investigaes pedaggicas.
Particularizam-se como objeto de estudo as insuficincias no
conhecimento da matemtica bsica por parte dos estudantes do
primeiro ano do curso de Engenharia Informtica e Computadores.
O estudo volta-se para um universo constitudo de atores
vinculados ao processo de ensino e aprendizagem do curso de
Engenharia Informtica e Computadores do ISP e Instituies, o qual,
por extenso, poder contribuir para a reflexo sobre o ensino mdio, no
que diz respeito ao ensino da Matemtica.
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Por se tratar de uma proposio, a base do estudo so as fontes
bibliogrficas que se caracterizam em: 1) de fundamentos para a
problematizao e constituio do objeto e problema de pesquisa; 2) de
fundamentos tericos do estudo; 3) de fundamentos metodolgicos para
a proposio das tarefas de ensino.
Quanto primeira fonte bibliogrfica de fundamentos do objeto
e problema de pesquisa , o pesquisador buscou estudos atualizados na
Internet que tratam do tema; consultas em peridicos, dissertaes,
documentos oficiais, relatrios, entre outros. Essas fontes subsidiaram
no diagnstico das insuficincias dos conhecimentos de matemtica por
parte dos estudantes de Engenharia, de modo geral e, em particular, de
Engenharia Informtica e Computadores do ISP. Elas foram decisivas
para indicar as evidncias de tais insuficincias, bem como gerar as
necessidades para a organizao do ensino que elencasse tarefas com
teor conceitual de matemtica, condizente com o que se considera
essencial para o incio do curso.
Alm disso, os documentos propiciaram a extrao de evidncia
dos desafios atuais na Educao Superior relativos ao problema em
questo. Tambm contriburam para contextualizar o processo histrico
da evoluo da educao em Angola e, ainda, da importncia das
ferramentas matemticas no curso de Engenharia Informtica e seu
currculo.
As fontes bibliogrficas de fundamentos tericos do estudo se
fundem com as anteriores. Porm, elas tm como especificidade a base
terica que sustenta a pesquisa, qual seja, a perspectiva histrico-
cultural. Partiu-se do pressuposto de que a organizao do ensino para
uma situao peculiar conhecimento matemtico necessrio para
ingressar num curso de Engenharia tambm precisa se fundamentar
em uma teoria que explicite a finalidade do ensino e um entendimento
explcito de aprendizagem. Na perspectiva terica adotada, ao se ter
como referncia o ensino, indispensvel conceitos como: atividade,
conscincia, desenvolvimento, aprendizagem, entre outros. Isso levou o
pesquisador ao estudo de livros de autoria, principalmente de Vygotsky,
Leontiev e Davdov. Alm disso, recorreu aos estudos de autores que
adotam em suas investigaes a mesma base terica.
No que diz respeito s fontes bibliogrficas de fundamentos
metodolgicos para a proposio das tarefas de ensino, as referncias
centrais foram as obras de Davdov. A centralidade so os princpios e
pressupostos necessrios pertinentes ao ensino desenvolvimental. A
partir deles que se desenhou o teor e as bases necessrias a serem
contempladas no conjunto de tarefas, como possibilidade de contribuir
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com o processo de apropriao de conceitos matemticos indispensveis
aos ingressantes no referido curso.
Essas fontes bibliogrficas so revistas constantemente, pois o
contexto do problema de pesquisa, sua fundamentao terica e a
elaborao de tarefas orientadoras (como indicao para o processo de
apropriao de conceitos matemticos por parte dos estudantes
ingressantes no curso de engenharia) constituem uma unidade dialtica.
Sendo assim, no se apresentam independentemente uma da outra, mas
em um todo que permite a anlise com base na articulao entre essas
partes. Consequentemente, elas promovem a elaborao da sntese a
partir de suas relaes, apoiando-se na abstrao e na generalizao.
Para tanto, faz-se necessrio o movimento de ida e vinda aos conceitos
centrais, tanto da base terica quanto da matemtica, com vista
constituio dos ncleos bsicos que fundamentam a formulao da
proposta de tarefas iniciais de Matemtica.
H, pois, um trnsito entre o abstrato ao concreto, prprio do
mtodo, que expressa a transformao do conhecimento em seu
processo de desenvolvimento. Para tanto, requer a observncia dos
diferentes nveis como, por exemplo, a prtica social na qual se insere o
objeto de pesquisa, ponto de partida para qualquer processo
investigativo orientado por abstraes para atingir o concreto em nvel
de pensamento. Isso solicita a ateno para contrastar o nvel que
apresenta os elos, bem como as variadas dependncias entre eles. Alm
disso, permite o tratamento dialtico das contradies que condicionam
o funcionamento e desenvolvimento dos processos. Na presente
investigao, esse movimento permite a contextualizao, promove
necessidades, explicita desafios decorrentes das polticas e
responsabilidades sociais das universidades angolanas. Sobretudo, traz
tona o compromisso com determinao de aes pedaggicas
concernentes matemtica no mbito das atividades de ensino e de
estudo como forma de oferecer condies conceituais para os
ingressantes no curso de engenharia.
Na elaborao da proposta, a qual ser apresentada no quarto
captulo desta dissertao, houve uma diviso em duas partes. Na
primeira, foi caracterizado o desenho de sua constituio: necessidades,
tarefas de estudo, aes de estudo, tarefas particulares e operaes. Na
segunda, foram indicadas algumas tarefas particulares que contemplam
conceitos matemticos considerados bsicos. Nesse sentido, destacam-se
dois ncleos: nmero e funo, porm vistos como inter-relacionados.
Eles trazem como essncia unificadora a ideia de relao entre grandeza
(nmero) e variveis (funo).
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Dadas as condies objetivas, aponta-se para a indicao de
apenas algumas tarefas particulares que se caracterizam como
desencadeadoras. Portanto, no h um detalhamento delas em nmero
como tambm das finalidades em termos de orientaes de ordem
pedaggica e epistemolgica. Isso demandaria extensivo tempo, como
fizeram Davdov e colaboradores por mais de vinte e cinco anos. Para o
pesquisador, esse detalhamento o desafio que ter que enfrentar em
suas aes docentes a partir do momento que retomar suas funes em
Angola. Ser, pois, objeto de futuras investigaes.
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2 O OBJETO DE ESTUDO NO CONTEXTO ANGOLANO:
CONSIDERAES HISTRICAS
Tenciona-se, com este captulo, abordar a evoluo histrica dos
fundamentos tericos metodolgicos e a situao atual do processo de
ensino-aprendizagem da Matemtica em Angola, com nfase na
pertinncia dos estudantes que ingressaram na Educao Superior nos
cursos de engenharia, o que constitui uma necessidade para contribuir
com o aperfeioamento desse ensino no pas.
Nesse sentido, o pesquisador utilizou como subsdio suas prprias
reflexes advindas de sua experincia e de consultas a variadas fontes
bibliogrficas. Para tanto, destacam-se os seguintes aspectos:
A evoluo do sistema educacional em Angola;
Caractersticas e desenvolvimento do Ensino Superior em Angola, em particular no Instituto Superior Politcnico de
Huambo (ISP);
A importncia das matemticas no curso de Engenharia Informtica e Computadores e a estrutura do currculo de
Matemtica do curso de Engenharia Informtica e
Computadores;
A organizao do ensino em Angola (segunda reforma educacional) e o lugar da matemtica no ensino primrio e
secundrio;
Os erros frequentes cometidos por estudantes de engenharia no primeiro ano, relacionados matemtica bsica.
Antes, porm, vale informar que a Repblica de Angola se situa
na regio ocidental da frica Austral, ocupa uma rea de 1246700 km2,
com populao estimada, em 2013, de 20.000.000 de habitantes. A
lngua oficial o Portugus, porm existe, em determinadas regies, o
predomnio de diversas lnguas nacionais (dialetos), sendo as mais
faladas: Kikongo, Kimbundo, Tchokwe, Umbundo, Mbunda,
Kwanyama, Nhaneca, Fiote e Nganguela. No entanto, o ensino formal
feito na lngua portuguesa. Ultimamente, a imprensa tem veiculado a
notcia de que, em nvel de governo, existem discusses sobre a incluso
das lnguas nacionais no currculo do ensino fundamental.
Como forma de situar o leitor, far-se- uma breve explanao
histrica da evoluo e situao atual do sistema educacional em
Angola. Para tanto, tomou-se como parte das referncias a sntese
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publicada nos documentos encontrados no Portal Oficial do Governo de
Angola.
2.1 BREVE RESUMO DA HISTRIA DE ANGOLA
A colnia portuguesa de Angola formou-se em 1575, com a
chegada de cem (100) famlias de colonos e quatrocentos (400)
soldados. Esses portugueses tinham como principais objetivos explorar
os recursos naturais e promover o trfico negreiro (escravatura).
Portanto, suas aes se constituram em um mercado extenso.
A partir de 1764, no entanto, de uma sociedade escravagista
passou, gradualmente, a se instituir como sociedade preocupada em
produzir o que consumia. Em 1850, Luanda j era uma grande cidade
repleta de firmas comerciais e exportava alguns produtos. Isso era a
expresso do surgimento da burguesia angolana. Em 1836, o trfico de
escravos foi abolido e, em 1844, os portos de Angola foram abertos aos
navios estrangeiros.
O fim da monarquia em Portugal (1910) e uma conjuntura
internacional favorvel criaram a necessidade de novas reformas em seu
domnio administrativo, agrrio e educativo. No plano econmico,
iniciou-se a explorao intensiva de diamantes. Com o Estado que se
pretendia extensivo Colnia, Angola passou a ser mais uma das
provncias de Portugal (Provncia Ultramarina), cuja situao era de
aparente tranquilidade na viso do colono explorador, que no via o
nativo como parte constituinte da populao angolana. No entanto, esse
ambiente de passividade foi abalado quando, na segunda metade do
sculo XX, surgem os primeiros movimentos nacionalistas.
Foi a partir de 1950 que se iniciou a formao de movimentos
polticos de uma forma organizada e explcita, os quais conclamavam
por independncia e pela constituio de uma nao livre. Para tanto,
ousaram promover campanhas diplomticas no mundo inteiro, pugnando
pela independncia. Como o Poder Colonial mostrou-se intransigente s
propostas das foras nacionalistas, desencadearam-se conflitos armados
diretos, a luta armada. Depois de longos anos de confrontos, sua
independncia foi proclamada em 11 de novembro de 1975.
No entanto, durante os primeiros 27 anos de independncia
nacional, o pas conviveu com os movimentos nacionalistas, que antes
combateram o colonialismo portugus e depois lutaram pelo controle do
pas, o que se transformou numa guerra civil armada. A paz foi
finalmente consolidada em 04 de abril de 2002.
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2.2 EVOLUO DO SISTEMA EDUCACIONAL EM ANGOLA
A invaso colonialista nos territrios africanos no se deu s pela
fora das armas, mas tambm pela doutrinao a que foram submetidas
s populaes, obrigadas a aceitar e assimilar a religio de seus algozes
portugueses: o cristianismo. Considerados povos brbaros e sem alma,
os africanos foram submetidos a um longo perodo de doutrinamento
catlico, de 1575 a 1975 (NETO, 2005).
O ensino colonial era manifestamente discriminatrio para os
angolanos. A poltica educacional para colnia no permitia o acesso
democrtico das populaes aos processos escolares. Sua estrutura era
idntica da metrpole, integrava dois nveis, o primrio e o secundrio
geral (NETO, 2005). O colonialismo portugus s comeou na educao
a partir da dcada de 1960, como resultado da presso poltica e militar
dos Movimentos de Libertao Nacional e da comunidade internacional.
Em consequncia disso, expandiu a rede escolar, o que permitiu o
acesso de angolanos funo de docente. O ensino universitrio foi
institudo em 1962, com a criao dos Estudos Gerais Universitrios de
Angola, integrados Universidade Portuguesa, tendo em 1968 evoludo
para Universidade de Luanda (NETO, 2005).
Silva (2004), em seu trabalho, apresenta alguns dados referentes
situao educacional angolana, dos quais far-se- uma breve sntese. As
escolas pblicas do ensino secundrio geral, no ano letivo de 1959/60,
contavam com um total de 7.752 alunos, enquanto o nmero de alunos
das escolas privadas era de 3.084 estudantes. A discriminao racial em
termos de oportunidade de acesso educao escolarizada evidenciada
por meio de dados numricos. A proporo dos grupos raciais no total
dos alunos do ensino secundrio era de 80% de brancos, 17% de
mestios e apenas 3% de pretos. Incluindo-se os seminrios menores
mantidos pela Igreja Catlica e as escolas de formao artstica, chega-
se a um total de 10.836 alunos que frequentaram o ensino secundrio
entre1960-64. Uma dcada depois, em 1973, havia 5.888.000 habitantes
(3.245.000 em idade escolar, entre 5 e 24 anos). De acordo com Neto
(2005), da populao total, somente 10,3% frequentavam a escola, e da
populao jovem em idade escolar, apenas 18,8%.
Aps a independncia, em 1975, Angola defrontou-se com a
existncia de um sistema educativo totalmente decalcado do modelo
portugus. As infraestruturas escolares estavam genericamente
localizadas nos centros urbanos, com fraca acessibilidade e equidade em
relao s populaes autctones, resultando em taxas de escolarizao
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muito reduzidas e um elevado ndice de analfabetismo que rondava os
85% da populao (NETO, 2005).
Conforme Neto (2005), em 1977, dois anos depois da
independncia, Angola criou o seu sistema de educao, que foi
implementado em 1978, caracterizado essencialmente por:
Maior oportunidade de acesso educao e continuao dos estudos;
Alargamento da gratuidade;
Aperfeioamento permanente do pessoal docente.
A nacionalizao do ensino e a sua democratizao levaram
primeira exploso escolar verificada no pas no ano letivo 1980/81. Com
o processo de democratizao, verificou-se o aumento significativo dos
efetivos escolares que atingiram, em 1980, cerca de 1.800.000 (um
milho e oitocentos mil) alunos.
No entanto, esse nmero no se manteve, pois, apesar da
conquista obtida com a independncia, o pas entrou em guerra civil,
cujas consequncias se fizeram sentir, principalmente nas zonas rurais.
Os efeitos puderam ser observados, por exemplo, nas estruturas
escolares que ficaram devastadas. Atualmente, o governo empenha
esforos para reerguer e criar novas estruturas que deem conta da
demanda educacional atual da populao.
A guerra de Angola foi uma constante desestabilizadora para o
empobrecimento do estado, da populao e das redes escolares. Devido
aos conflitos, as populaes trataram de deslocar-se para regies mais
seguras, o que provocou o aumento da concentrao da populao nas
grandes capitais de algumas provncias. Naquele momento, os dados
indicavam que mais da metade da populao escolar estava distribuda
entre trs provncias, Luanda (30%), Benguela (11,4 %) e Hula (13%)
(NETO, 2005).
De 1990 a 1992, o pas tinha 82% de sua populao com apenas
o ensino primrio. A partir de 1992, a situao se agravou, o nmero de
crianas em idade pr-escolar passava de dois milhes, mas apenas 1%
delas tinha acesso ao ensino (NETO, 2005).
No ano letivo de 1996, da populao angolana em idade escolar
(dos 6 a 14 anos), perto de 70% corriam o risco de ficar no
analfabetismo por falta de oportunidade de acesso s redes escolares.
Segundo as estatsticas oficiais, a taxa de analfabetismo era de 60%. A
populao analfabeta com mais de 15 anos, em 1995, foi estimada em
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quatro milhes de pessoas, dessas, 2,5 milhes eram mulheres. Para
atenuar o pouco poder de absoro das redes escolares, no ensino
fundamental foi criado um horrio triplo e salas de aula repletas, com 60
a 80 alunos (NETO, 2005).
As estatsticas apresentadas mostram o retrato da situao do
sistema educacional durante o processo histrico do povo angolano,
mesmo durante os confrontos da guerra civil. A partir de 2002, com o
fim da guerra civil e a consolidao da paz no pas, que dura at hoje, o
governo angolano retomou o processo de reorganizao do sistema
educacional.
2.3 CARACTERSTICAS E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO
SUPERIOR EM ANGOLA E NO INSTITUTO SUPERIOR
POLITCNICO DA UJES (ISP)
No dia 21 de abril de 1962, o Conselho Legislativo de Angola,
reunido em sesso extraordinria convocada pelo Governador Geral,
discutiu e aprovou o projeto que criava os Centros de Estudos
Universitrios, junto dos Institutos de Investigao e do laboratrio de
Engenharia de Angola (SOARES, 2003).
Os Centros de Estudo Universitrios ministrariam cursos
profissionais e cursos de especializao de nvel superior, visando,
designadamente, formao de professores do ensino secundrio e de
tcnicos das especialidade