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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DOUTORADO EM ENFERMAGEM MARILENE NONNEMACHER LUCHTEMBERG PROCESSO DE TRABALHO NO SAMU: O QUE PENSAM OS ENFERMEIROS? FLORIANÓPOLIS 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CINCIAS DA SADE

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

DOUTORADO EM ENFERMAGEM

MARILENE NONNEMACHER LUCHTEMBERG

PROCESSO DE TRABALHO NO SAMU:

O QUE PENSAM OS ENFERMEIROS?

FLORIANPOLIS

2014

1

MARILENE NONNEMACHER LUCHTEMBERG

PROCESSO DE TRABALHO NO SAMU:

O QUE PENSAM OS ENFERMEIROS?

Tese apresentada ao Programa de Ps-

Graduao em Enfermagem da Universidade

Federal de Santa Catarina, como requisito final

para obteno do ttulo de Doutor em

Enfermagem - rea de Concentrao:

Educao e Trabalho em Sade e

Enfermagem.

Orientadora: Dra. Denise Elvira Pires de Pires

Linha de Pesquisa: Processo de Trabalho em

Sade.

FLORIANPOLIS

2014

2

Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor, atravs do

Programa de Gerao Automtica da Biblioteca Universitria da UFSC

Luchtemberg, Marilene Nonnemacher

Processo de trabalho no SAMU: o que pensam os enfermeiros /

Marilene Nonnemacher Luchtemberg ; orientadora, Denise Elvira Pires

de Pires - Florianpolis, SC, 2014.

141 p.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro

de Cincias da Sade. Programa de Ps-Graduao em Enfermagem.

Inclui referncias

1. Enfermagem. 2. Processo de Trabalho. 3. Enfermeiros. 4. Servio

de Atendimento Mvel de Urgncia. 5. SAMU. I. Pires, Denise Elvira

Pires de Pires. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de

Ps-Graduao em Enfermagem. III. Ttulo.

3

4

Dedico este estudo a todos os enfermeiros do

Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

(SAMU), que gentilmente participaram deste

estudo e que exercem sua profisso,

conscientes de suas responsabilidades,

enfrentando com coragem os desafios da

profisso. O trabalho do enfermeiro em

urgncia e emergncia enobrece a nossa

profisso.

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, pelo dom da vida.

Ao Everaldo Jos Tiscoski, meu companheiro, parceiro em todos os momentos, por

compartilhar comigo mais este sonho. Um grande incentivador.

minha amada filha Fernanda Nonnemacher Luchtemberg Tiscoski, que por tantas

vezes tive que me ausentar para estudar e mesmo estando em casa ausncia se fazia

necessria para dedicao ao doutorado.

A minha me Adilci Nonnemacher Luchtemberg, por me apoiar nas minhas decises e

cuidar do meu maior tesouro, minha filha Fernanda.

Ao meu pai Valdir Daboit Luchtemberg (in memoriam), que durante as viagens era

com ele que, silenciosamente, conversava.

As minhas irms Celane e Telma, aos meus sobrinhos Edvan e Andresa e aos meus

cunhados Nilson e Jos, pelo apoio nesta trajetria.

A minha sogra Maria Berkenbrok Tiscoski ao meu sogro Lino Tiscoski, as minhas

enteadas Julia, Danusa e Emanuela Tiscoski que acompanharam esta caminhada.

Professora Dra. Denise Elvira Pires de Pires, minha orientadora por quem cultivo

uma grande admirao. Que trava uma luta constante pela valorizao da Enfermagem no

Pas. Muito obrigada pelas oportunidades e por confiar no meu trabalho. Obrigada por todos

os momentos de aprendizado e pelos desafios lanados ao longo do meu processo de

formao no doutorado.

Universidade Federal de Santa Catarina pela oportunidade de estar realizando o meu

doutorado e em especial ao Programa de Ps Graduao em Enfermagem da UFSC e aos

Professores do Programa de Ps Graduao em Enfermagem pela competncia e seriedade.

Aos colaboradores do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da UFSC, pela

ateno a todas as dvidas e solicitaes prontamente atendidas.

Aos Membros da Banca Examinadora que aceitaram compartilhar seus conhecimentos

para contribuir com o estudo: Professora Dra. Soraia Dornelles Schoeller, a quem admiro

muito, pela luta constate em prol de estudos aos portadores de leso medular que gentilmente

aceitou compor a banca. A Dra. Felipa Rafaela Amadigi, uma guerreira na luta por uma

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enfermagem mais justa e valorizada. Ao Professor Dr. Vicente Volnei de Bonna Sartor,

colega de trabalho que sempre se mostrou interessado pelo meu doutorado e que gentilmente

aceitou compor a banca. A Dra. Hosana Fertonani a quem conheci nesta caminhada. A

Professora Dra. Rosani Ramos Machado que prontamente aceitou o convite. Muito obrigada.

Aos membros suplentes Professora Francine Lima Gelbcke pelas contribuies ao projeto

realizadas no Grupo Prxis. Ao Dr. Fabrcio Pagani Possamai, colega de trabalho, a quem

muitas vezes recorri, que contribuiu com seu conhecimento participando ativamente em um

dos artigos submetidos.

Aos professores, alunos e participantes do Grupo de Pesquisa Prxis pelos momentos

de discusso e reflexo.

Aos colegas da turma de doutorado 2011, pelos momentos de convivncia e

aprendizado e em especial aos colegas que chegaram depois Jacks Sorato e Daiane Biff

orientandos da Professora Dra. Denise Pires, companheiros de viagem e estudos, tenho um

carinho muito especial por vocs. A Dra. Ariane Thaise Frello, egressa do doutorado UFSC e

colega de trabalho na ESUCRI, muito obrigada pelas dicas, aprendi muito com voc.

A Escola Superior de Cricima - ESUCRI, pela compreenso, apoio e incentivo

realizao do doutorado.

Aos meus colegas de trabalho professores e coordenadores de cursos Sandra, Roger,

Mariesa, Andreia, Francisco, Graziela e Christiano pelo apoio e incentivo.

Aos professores do Curso de Enfermagem da ESUCRI pelo apoio nas atividades

dirias durante a realizao do doutorado em especial a Professora Lyziane Boer, Professor

Fabrcio Pagani Possamai e a Enfermeira Patricia de Carvalho.

A todos os demais que no nomeie, mas que me ajudaram a construir este trabalho,

meu reconhecimento a todos que de alguma forma contriburam para torn-lo realidade.

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LUCHTEMBERG, Marilene Nonnemacher. Processo de trabalho no SAMU: o que pensam

os enfermeiros?. 2014. 141f. Tese (Doutorado em Enfermagem) Programa de Ps-Graduao

em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2014.

Orientadora: Dra. Denise Elvira Pires de Pires

Linha de Pesquisa: Processo de Trabalho em Sade.

RESUMO

Esta Tese teve como objetivo caracterizar o processo de trabalho dos enfermeiros que atuam

no Servio de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU) de um estado da regio sul do Brasil,

relacionando percepo, legislao profissional e poltica de sade para rea. Trata-se de uma

pesquisa exploratria descritiva de abordagem qualitativa, desenvolvida com 63 enfermeiros

que atuam no SAMU, nas unidades de suporte avanado, areo e coordenao, distribudos

conforme as oito centrais de regulao mdica do estado selecionado, o que correspondeu a

60,5% do universo dos enfermeiros. A coleta de dados foi realizada atravs de questionrio

durante o ms de fevereiro do ano de 2014, e analisados seguindo os preceitos da anlise de

contedo, com suporte da teorizao de Karl Marx sobre o processo de trabalho. A pesquisa

foi aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal

de Santa Catarina, com o parecer n 364.784/2013. Os resultados esto apresentados em forma

de trs manuscritos. O Manuscrito 1: Enfermeiros que trabalham no SAMU: perfil e

atividades desenvolvidas. Este estudo caracterizou os participantes quanto ao gnero, idade,

tempo de atuao no SAMU e na enfermagem, capacitao para o trabalho em emergncia,

formao de ps-graduao, e tipo de unidade que atuam. As atividades desenvolvidas foram

organizadas nas trs dimenses do trabalho da enfermagem, cuidar, gerenciar e educar

verificou-se o predomnio das aes de cuidado. Nas aes gerenciais destacou-se o

preenchimento de documentos impressos ou por meio eletrnico e, em menor percentual,

foram mencionadas as aes educativas. O Manuscrito 2: Trabalhar no SAMU: facilidades e

dificuldades para realizao do trabalho dos enfermeiros buscou descrever as facilidades e as

dificuldades expressadas pelos enfermeiros. Os resultados esto apresentados nas

subcategorias: objeto de trabalho, relaes de trabalho e condies de trabalho. Houve 270

citaes de itens que dificultam e ou facilitam o trabalho dos enfermeiros. Este quantitativo

representa 48,5% para as dificuldades e 51,5% para facilidades. Neste estudo destacou-se s

condies de trabalho com 60,3% para as dificuldades e 64,7% para as facilidades. As

citaes relacionadas s facilidades superaram o nmero de citaes que representam as

dificuldades o que permite uma leitura positiva do cenrio de trabalho dos enfermeiros no

SAMU. O Manuscrito 3: o que pensam os enfermeiros do Servio de Atendimento Mvel de

Urgncia sobre o seu processo de trabalho, procurou descrever as atividades desenvolvidas

pelos enfermeiros no SAMU. Os resultados foram organizados em trs categorias: o trabalho

no SAMU: a descrio das atividades desenvolvidas, processo de trabalho no SAMU segundo

os enfermeiros e o que orienta o agir profissional dos enfermeiros no SAMU. Os resultados

mostraram que o fluxo de trabalho da equipe do SAMU segue um padro de aes focadas

nas pessoas que necessitam de atendimento em situao de urgncia e emergncia. Os

participantes mostraram que possuem conhecimento sobre elementos do processo de trabalho

no SAMU. A maioria descreveu que a necessidade geradora do trabalho so as situaes de

urgncia e emergncia das pessoas. Que o objeto de trabalho a populao com risco de vida.

8

Que a finalidade do trabalho prestar atendimento/assistncia populao em situao de

urgncia e emergncia e que o produto do trabalho o atendimento realizado as pessoas. Com

relao ao agir profissional praticamente a totalidade conhece as polticas de urgncia e

emergncia e a Lei do Exerccio Profissional da enfermagem e que elas influenciam no dia a

dia do seu trabalho. A partir dos resultados da pesquisa possvel sugerir que durante as

capacitaes sejam realizados, momentos de reflexo sobre o processo de trabalho da

enfermagem na sade e no SAMU, melhorando o seu entendimento sobre o seu trabalho no

SAMU. Reflexes acerca do agir profissional dos enfermeiros do SAMU com nfase no

prescrito pela legislao profissional se fazem necessrio para a valorizao e fortalecimento

da profisso.

Palavras-chave: Ambulncias. Medicina de emergncia. Servios mdicos de emergncia.

Enfermeiros. Trabalho.

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LUCHTEMBERG, Marilene Nonnemacher. Work process in SAMU: what nurses think?.

2014. 141f. Thesis (Doctorate in Nursing) - Graduate Program in Nursing, Federal University

of Santa Catarina, Florianpolis, 2014.

Advisor: D. Denise Elvira Pires de Pires

Research line: Work Process in Health.

ABSTRACT

This thesis aimed to characterize the work process of nurses working at the Mobile

Emergency Service of a southern Brazil state, linking perception, professional legislation and

health policy area. This is a descriptive exploratory qualitative study, conducted with 63

nurses working in the SAMU, the units support advanced, air and coordination, distributed

according to the eight medical centers regulating the selected state, which corresponded to

60.5 % of the universe of nurses. Data collection was conducted through a questionnaire

applied during February 2014, and analyzed following the thematic content analysis precepts,

supporting by the work process theory of Karl Marx. The study was approved by the Federal

University of Santa Catarina Human Research Ethics Committee n 364 784/2013. The results

are presented in the form of three manuscripts. The Manuscript 1: Nurses working in the

SAMU: profile and activities. This study characterized the participants regarding gender, age,

experience time at the SAMU and nursing, emergency job training, post-graduate training,

and unit type they work. The activities were organized at the three dimensions of nursing

work, care, manage and educate, there was a predominance of care actions. In managerial

actions stood out as filling out forms or documents electronically and to a lesser percentage,

were mentioned educational activities. The Manuscript 2: Working at the SAMU: easy and

difficult to accomplish the nurses work; tried to describe the facilities and the difficulties

expressed by nurses. The results are presented in subcategories: work object, labor relations

and working conditions. There were 270 citations to items that hinder and or facilitate the

nurses work. This quantity represents 48.5% for difficulties to 51.5% for facilities. In this

study we highlighted working conditions with 60.3% for the difficulties and 64.7% for the

facilities. The quotes related to facilities exceeded the number of citations that represent the

difficulties which allows a positive reading of the nurses works cenario at the SAMU. The

Manuscript 3: what the SAMU nurses think about their work process, sought to describe the

activities performed by nurses at the SAMU. The results were organized into three categories:

work in SAMU: a activities description, SAMU work process second the nurses and what

guides the act of professional nurses at the SAMU. The results showed that the workflow of

the SAMU team follows a pattern of actions focused on people who need care in an

emergency situation and emergency. The participants demonstrate having knowledge about

the work process elements at the SAMU. Most described the generating work necessity are

emergency situations and emergency people. That the work object is the population at risk of

life. That the purpose of work is to provide service / assistance to people in urgent and

emergency situation and that the work product is the care given to people. With respect to the

professional act practically all known policies and emergency and the Professional Practice

Law of nursing and that its influence the day to day work. From the survey results it is

possible to suggest that during the training, moments of reflection on the process of nursing

work in health and SAMU be realized by improving their understanding of their work in the

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SAMU. Reflections on the professional act of SAMU nurses with emphasis on professional

prescribed by law.

Keywords: Ambulances. Emergency medicine. Emergency medical services. Nurse. Work.

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LUCHTEMBERG, Marilene Nonnemacher. Proceso de trabajo en SAMU: lo que piensan

los enfermeros?. 2014. 141f. Tesis (Doctorado en Enfermera) Programa de Pos-Graduacin

en Enfermera, Universidad Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2014.

Lnea de Investigacin: Proceso de Trabajo en Salud.

Director: Dra. Denise Elvira Pires de Pires

RESUMEN

Esta Tesis tuvo como objetivo caracterizar el proceso de trabajo de los enfermeros que actuan

en el Servicio de Atencin Mvil de Urgencia (SAMU) de un estado de la regin sur del

Brasil, relacionando percepcin, legislacin profesional y poltica de salud para rea. Se trata

de un estudio cualitativo exploratorio descriptivo, realizado con 63 enfermeras que trabajan en

el SAMU, las unidades de soporte avanzado, el aire y la coordinacin, distribuidos de acuerdo

con los ocho centros mdicos que regulan el estado seleccionado, que correspondan a 60,5 %

del universo de las enfermeras. La cosecha de datos fue realizada a travs de cuestionario

durante el mes de febrero del ao de 2014, y analizados siguiendo los preceptos de la anlisis

temtica del contenido, con soporte de la teorizacin de Karl Marx sobre el proceso de

trabajo. La investigacin fue aprobada por el Comit de tica en Investigacin con Seres

Humanos de la Universidad Federal de Santa Catarina, con el parecer n 364.784/2013. Los

resultados estn presentados en forma de tres manuscritos. El Manuscrito 1: Enfermeros que

trabajan en el SAMU: perfil y actividades desarrolladas. Este estudio caracteriz los

participantes cuanto al gnero, edad, tiempo de actuacin en el SAMU y en la enfermera,

capacitacin para el trabajo en emergencia, formacin de postgrado, y tipo de unidad que

actuan. Las actividades desarrolladas fueron ordenadas en las tres dimensiones del trabajo de

la enfermera, cuidar, gerenciar y educar, se verific el predominio de las acciones de

cuidado. En las acciones gerenciais se destac el rellenamiento de documentos impresos o por

medio electrnico y, en menor porcentaje, fueron mencionadas las acciones educativas. El

Manuscrito 2: Trabajar en el SAMU: facilidades y dificultades para realizacin del trabajo de

los enfermeros busc describir las facilidades y las dificultades expresadas por ellos. Los

resultados estn presentes en las subcategoras: objeto de trabajo, relaciones de trabajo y

condiciones de trabajo. Hubo 270 citaciones de itens que dificultan y o facilitan el trabajo de

los enfermeros. Este cuantitativo representa 48,5% para las dificultades y 51,5% para

facilidades. En este estudio se destac las condiciones de trabajo con 60,3% para las

dificultades y 64,7% para las facilidades. Las citaciones relacionadas a las facilidades

superaron el nmero de citaciones que representan las dificultades, lo que permite una lectura

positiva del escenario de trabajo de los enfermeros en el SAMU. El Manuscrito 3: Que

piensan los enfermeros del SAMU a respecto de su proceso de trabajo, busc describir las

actividades desarrolladas por los enfermeros en el SAMU. Los resultados fueron ordenados en

tres categoras: el trabajo en el SAMU: la descripcin de las actividades, proceso de trabajo en

el SAMU segn los enfermeros y lo que orienta el agir profesional de los enfermeros en el

SAMU. Los resultados mostraron que el flujo de trabajo del equipo del SAMU sigue un

padrn de acciones focadas en las personas que necesitan de asistencia en situaciones de

urgencia y emergencia. Los participantes mostraron que poseen conocimiento sobre

elementos del proceso de trabajo en el SAMU. La mayora describi que la necesidad

generadora del trabajo son las situaciones de urgencia y emergencia de las personas. Que el

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objeto de trabajo es la poblacin con riesgo de vida. Que la finalidad del trabajo es prestar

atencin/asistencia a la poblacin en situacin de urgencia y emergencia y que el producto del

trabajo es el cuidado realizado a las personas. Con relacin al agir profesional practicamente

la totalidad conoce las polticas de urgencia y emergencia y la Ley del Ejercicio Profesional

de la enfermera y que ellas influyen en el da de su trabajo. A partir de los resultados de la

investigacin es posible sugerir que durante las capacitaciones sean realizados, momentos de

reflexin sobre el proceso de trabajo de la enfermera en la salud y en el SAMU, mejorando

su entendimiento a respecto de su trabajo en el SAMU. Reflexiones acerca del agir

profesional de los enfermeros del SAMU con nfasis en el prescrito por la legislacin

profesional.

Palabras-claves: Ambulancias. Medicina de emergencia. Servicios mdicos de urgncia.

Enfermeros. Trabajo.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

AE Auxiliar de Enfermagem

CBM Corpo de Bombeiros Militar

CEP Comit de tica em Pesquisa

CFM Conselho Federal de Medicina

COFEN Conselho Federal de Enfermagem

DAC Departamento de Aviao Civil

GM Gabinete Ministerial

ICNP International Classification for Nursing Practice

LEP Lei do Exerccio Profissional

MS Ministrio da Sade

NANDA North American Nursing Diagnosis Association

PNAU Poltica Nacional de Ateno s Urgncias

PM Polcia Militar

PRF Polcia Rodoviria Federal

PEN Ps Graduao em Enfermagem

SAMU Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

SAE Sistematizao da Assistncia de Enfermagem

SES Secretaria Estadual de Sade

SUS Sistema nico de Sade

TARM Tcnico Auxiliar de Regulao Mdica

TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido

TE Tcnico de Enfermagem

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

USA Unidade de Suporte Avanado

USB Unidade de Suporte Bsico

UPA Unidade de Pronto Atendimento

USA Estados Unidos da Amrica

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Sntese de portarias referentes Poltica Nacional de Ateno s

Urgncias no Brasil .................................................................................... 46

Manuscrito 03

Quadro 1 Fluxo de trabalho segundo os enfermeiros do SAMU ............................... 105

Quadro 2 Elementos do processo de trabalho dos enfermeiros do SAMU ............... 106

Quadro 3 Sobre a adequao, suficincia e condies dos instrumentos de trabalho

disponveis no SAMU, segundo os enfermeiros ........................................ 106

Quadro 4 O que orienta o agir profissional dos enfermeiros do SAMU ................... 107

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LISTA DE TABELAS

Manuscrito 1

Tabela 1 Perfil dos enfermeiros que atuam no SAMU ............................................. 73

Tabela 2 Aes de cuidado aos pacientes ................................................................. 75

Tabela 3 Aes de cuidados aos familiares .............................................................. 75

Tabela 4 Aes de coordenao/gerncia ................................................................. 76

Tabela 5 Aes educativas realizadas pelos enfermeiros do SAMU ....................... 76

Manuscrito 2

Tabela 1 Dificuldades relacionadas ao objeto de trabalho ....................................... 89

Tabela 2 Dificuldades relacionadas s relaes de trabalho ..................................... 89

Tabela 3 Dificuldades relacionadas s condies de trabalho .................................. 90

Tabela 4 Facilidades relacionadas ao objeto de trabalho .......................................... 91

Tabela 5 Facilidades relacionadas s relaes de trabalho ....................................... 92

Tabela 6 Facilidades relacionadas s condies de trabalho .................................... 92

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SUMRIO

CAPTULO 1 INTRODUO ...................................................................... 18

1 INTRODUO ............................................................................................ 19

CAPTULO 2 - PROBLEMA DE PESQUISA, OBJETIVOS E TESE ................. 24

2 PROBLEMA DE PESQUISA, OBJETIVOS E TESE .................................. 25

2.1 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................ 25

2.2 OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 25

2.3 OBJETIVOS ESPECFICOS ............................................................................. 25

2.4 TESE ................................................................................................................... 25

CAPTULO 3 - REVISO DA LITERATURA ................................................... 26

3 REVISO DA LITERATURA ....................................................................... 27

CAPTULO 4 - REFERENCIAL TERICO ........................................................ 37

4 SUSTENTAO TERICA .......................................................................... 38

4.1 ATENO A URGNCIAS E EMERGNCIAS, REFERNCIAS

HISTRICAS E CONCEITUAIS ..................................................................... 38

4.1.1 Referncias Histricas ...................................................................................... 39

4.1.2 Referncias Conceituais ................................................................................... 41

4.2 POLTICAS DE ATENO S URGNCIAS NO BRASIL E EM SANTA

CATARINA ....................................................................................................... 44

4.2.1 Caractersticas e Referncias da Poltica de Ateno s Urgncias e

Emergncia no Brasil ....................................................................................... 44

4.2.2 Servios de Atendimento Mvel de Urgncia no Estado de Santa

Catarina ............................................................................................................. 48

4.3 ENFERMAGEM: TRABALHO E PROFISSO .............................................. 49

4.3.1 Processo de Trabalho em Sade....................................................................... 49

4.3.2 Processo de Trabalho no SAMU ..................................................................... 51

4.3.3 Profisso de Enfermagem e o Trabalho das Enfermeiras ............................ 53

4.3.4 A Profisso de Enfermagem e a Legislao Profissional .............................. 56

17

CAPTULO 5 - REFERENCIAL METODOLGICO ............................................ 59

5 METODOLOGIA ............................................................................................. 60

5.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA .................................................................. 60

5.2 CENRIO DO ESTUDO ................................................................................... 61

5.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ...................................................................... 62

5.4 COLETA DE DADOS ....................................................................................... 62

5.5 ANLISE DE DADOS ...................................................................................... 64

5.6 ASPECTOS TICOS ......................................................................................... 65

CAPTULO 6 - RESULTADOS ........................................................................... 67

6 RESULTADOS ................................................................................................. 68

6.1 Manuscrito 01 - ENFERMEIROS QUE TRABALHAM NO SAMU: PERFIL

E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .............................................................. 68

6.2 Manuscrito 02 - TRABALHAR NO SAMU: FACILIDADES E

DIFICULDADES PARA REALIZAO DO TRABALHO DOS

ENFERMEIROS ................................................................................................ 84

6.3 Manuscrito 03 - O QUE PENSAM OS ENFERMEIROS DO SAMU SOBRE

O SEU PROCESSO DE TRABALHO .............................................................. 100

CAPTULO 7 - CONSIDERAES FINAIS ....................................................... 117

7 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................... 118

REFERNCIAS .................................................................................................. 121

APNDICES ....................................................................................................... 132

APNDICE A - Roteiro de questionrio aplicado aos enfermeiros do Servio

de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU) ................................................... 132

APNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ........... 135

ANEXOS ............................................................................................................. 137

ANEXO A - Parecer do Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos .... 137

ANEXO B - Autorizao do SAMU .................................................................. 140

18

CAPTULO 1

INTRODUO

19

1 INTRODUO

O aumento no nmero de acidentes e da violncia urbana juntamente com a baixa

estrutura dos servios de emergncia no pas foram fatores determinantes que contriburam

para a construo da primeira Portaria voltada urgncia e emergncia no Brasil de n 2.048,

de 05 de novembro de 2002. Os acidentes e a violncia tm forte impacto sobre o Sistema

nico de Sade (SUS) e a sociedade em geral, pois eleva os gastos com internaes

hospitalares, assistncia em unidades de terapia intensiva e aumenta a taxa de permanncia

hospitalar (BRASIL, 2006).

O Ministrio da Sade caracteriza acidente como um evento no intencional e

evitvel, causador de leses fsicas e/ou emocionais no mbito domstico ou nos outros

ambientes sociais, como o do trabalho, do trnsito, da escola, de esportes e o de lazer.

(BRASIL, 2002, p.8). A violncia expressada de diversas formas entre elas esto: agresso

fsica, abuso sexual, violncia psicolgica e violncia institucional. Os diversos grupos

populacionais so atingidos por diferentes tipos de violncia com consequncias distintas

(BRASIL, 2002, p.7-8).

Os acidentes e a violncia configuram um conjunto de agravos sade, que podem

ou no levar a bito. Incluem acidentes causados pelo trnsito, trabalho, quedas,

envenenamentos, afogamentos e outros, alm de causas intencionais como agresses e leses

autoprovocadas (BRASIL, 2002).

No ano de 2011 o Sistema nico de Sade pagou 159.327 internaes hospitalares por

acidentes de trnsito, com um custo aos cofres pblicos equivalente a 210,8 milhes de reais.

No mesmo ano a taxa de mortes de motociclistas que era de 7,6 por 100 mil habitantes, dever

passar para 12,0 no de 2020. Isto significa que no ano de 2020, provavelmente 25,5 mil

motociclistas devero morrer vtimas de acidentes (WAISELFISZ, 2013).

O Servio de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU), institudo pela Portaria

acima, ampliou as Polticas de Urgncia e Emergncia j existentes com vistas garantir s

pessoas em situao de urgncia e emergncia acolhimento, atendimento por profissionais

qualificados e encaminhamento adequado (BRASIL, 2006).

No processo de estruturao, ampliao e consolidao da poltica de ateno neste

campo, novas portarias foram emitidas em 2003, como a de n 1.863/GM que instituiu a

Poltica Nacional de Ateno s Urgncias, a ser implantada em todo o pas, e a de n

1.864/GM que instituiu o componente pr-hospitalar mvel da Poltica Nacional de Ateno

20

s Urgncias, atravs da implantao do SAMU que em todo o pas, atende pelo telefone 192

(BRASIL, 2006).

Em julho de 2011 a Portaria n 1.863/GM/MS foi revogada e substituda pela Portaria

n 1.600 que reformula a Poltica Nacional de Ateno s Urgncias, instituindo a Rede de

Ateno Bsica s Urgncias no SUS. Deste modo todas as portas de entrada do SUS ficam

responsveis pelo atendimento aos quadros agudos e encaminhamentos em nveis crescentes

de complexidade e responsabilidade, caracterizando uma nova modalidade de ateno sade

e reorganizando o processo de trabalho das equipes que prestam cuidados na ateno

primria, ambulatorial e hospitalar (BRASIL, 2011).

O sistema de atendimento pr-hospitalar tem como misso diminuir o intervalo

teraputico s vtimas de traumas e agravos clnicos, aumentando as chances de sobrevida e

diminuindo sequelas. Fornece atendimento adequado atravs do encaminhamento das vtimas

s instituies de sade de acordo com a complexidade de cada caso de maneira racional e

equnime. Para isso utiliza-se de ambulncias de suporte bsico e avanado equipada com

profissionais capacitados, materiais e equipamentos que permitem a manuteno da vida at o

servio de referncia (SANTA CATARINA, 2011).

Segundo Minayo e Deslandes (2008), o atendimento prestado pelo SAMU veio

oficializar, padronizar e regular um servio que fundamental para salvar vidas e que se

mostra eficaz em muitos pases. Mas para que esta poltica continue cada vez mais eficaz

necessrio que os gestores do SUS invistam em melhorias do servio buscando a integrao

com todo o sistema de urgncia e emergncia.

Segundo Vieira e Mussi (2008), colocar o servio do SAMU a disposio da

populao no caracteriza eficcia e eficincia. O atendimento deve estar baseado nas

necessidades locais da comunidade. necessrio contar com profissionais capacitados em

atendimento pr-hospitalar, com recursos materiais adequados para cada tipo de atendimento

e com integrao dentro de um sistema de regulao e assistncia. Para que isso acontea

necessrio planejamento e avaliao permanente do servio de forma integral como: as

necessidades da comunidade, definio de prioridades, administrao de recursos e avaliao

das polticas, protocolos e estatsticas, entre outros. O processo de trabalho e os protocolos de

atendimento devem estar em constante avaliao para melhoria do servio. Outro ponto

importante a ser destacado a preparao da populao para o uso correto do servio. Aes

educativas so necessrias para que a populao demande o servio quando realmente

necessrio, pois, quando o SAMU chamado sem necessidade como o caso dos trotes, a

estrutura estar sendo usada na prestao de um servio sem resolubilidade. Neste mesmo

21

momento uma chamada com real necessidade no ser atendida.

Segundo Rodrguez (2012), para implantar um servio de atendimento pr-hospitalar

necessrio se destacar alguns pontos importantes como a motivao e participao dos

profissionais, cooperao das demais instituies de sade, educao da comunidade de como

utilizar e quando utilizar este servio entre outros.

Em um estudo realizado por Machado et al. (2011, p. 523) com objetivo de analisar a

conformao da poltica de ateno mvel s urgncias no Brasil, os autores identificaram

que, apesar do Brasil ter se inspirado em modelos internacionais para implantao deste

modelo de ateno pr-hospitalar, o modelo aqui implantado possui caractersticas prprias.

Alm das ambulncias de suporte bsico e de suporte avanado foram propostos outros

modelos alternativos de transporte como: ambulanchas, para atendimento a populaes

ribeirinhas; motolncias, para reas remotas ou de trfego intenso; e o transporte areo, para

situaes especficas.

Falando ainda sobre as caractersticas do SAMU no Brasil o mesmo estudo traz em

uma das falas dos entrevistados que: o modelo francs 100% medicalizado e que no

teramos condies de fazer de outra forma. Nos espelhamos muito no modelo francs, mas

nosso SAMU um modelo brasileiro: feito de acordo com as nossas condies

(MACHADO et al., 2011, p. 523).

O SAMU tem como componentes de sua estrutura assistencial centrais de regulao

mdica de abrangncia municipal ou regional, articuladas entre si. Unidades mveis de

diferentes categorias que obedecem s normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas

(ABNT), e que possuem materiais e equipamentos compatveis com cada categoria. A

composio das equipes segue o que preconiza o Ministrio da Sade e so distribudas

conforme a demanda e a abrangncia de cada central (SANTA CATARINA, 2011).

A Regulao Mdica realizada por mdico regulador que, alm de realizar atividades

de regulao tambm atua dentro das ambulncias a fim de conhecer o funcionamento do

atendimento, e os recursos disponveis para o atendimento pr-hospitalar. Em menos de um

minuto o mdico deve detectar o problema, estabelecer as prioridades e enviar a equipe

adequada para o atendimento (MARTINEZ-ALMOYNA; NITSCHKE, 1999).

O SAMU estadual responsvel por todas as transferncias que ultrapassem a rea de

abrangncia macrorregional providenciando a transferncia intermunicipal de pacientes

graves, ou quando houver necessidade de transferncia para outro estado dentro do territrio

Nacional. Os recursos so divididos entre as esferas Federal, Estadual e Municipal (SANTA

CATARINA, 2011).

22

No ano de 2013 o Brasil possua 176 Centrais de Regulao que regulam em torno de

2.527 municpios somando uma populao com acesso ao SAMU de 134.078.675 milhes de

habitantes, com cobertura populacional de 70% da populao brasileira. Neste perodo o

Brasil possua 2.834 unidades mveis habilitadas pelo Ministrio da Sade. Destas, 2.141 so

unidades de suporte bsico, 517 de suporte avanado, 167 motos, 07 embarcaes e 02

aeromdicos (helicpteros). At novembro de 2012 o custeio foi de 443,8 milhes. Possui

ainda 1.464 municpios em situao de expanso e ou implantao (BRASIL, 2013).

O atendimento pr-hospitalar est em franca expanso no Brasil, porm h muito que

melhorar no que diz respeito distribuio dos servios e de ambulncias, assim como em

relao ao nmero de profissionais (SILVA et al., 2010). Estados como Acre, Alagoas, Gois,

Paraba, Santa Catarina, Sergipe e o Distrito Federal j possuem SAMU com cobertura

populacional de 100% (BRASIL, 2013, p.12).

A referida expanso pode ser ilustrada com os dados do nmero de atendimentos na

cidade de So Paulo os quais saltaram de 173.714 no ano de 2003 para 463.893 no ano de

2012. O aumento no nmero de atendimento se deu por fatores como: controle de qualidade,

treinamento de funcionrios e investimentos em infraestrutura. Estes fatores levaram o SAMU

de So Paulo a atingir nveis internacionais de eficincia no atendimento de emergncia. So

realizados diariamente 1.200 atendimentos, a partir de 09 mil ligaes. Sua central de

atendimento a maior do mundo e a mais moderna da Amrica Latina (SO PAULO, 2012).

A implantao do SAMU provocou uma transformao no atendimento pr-hospitalar.

O que antes era realizado somente por socorristas agora tambm pode ser realizado por

equipes formadas por profissionais de sade qualificados para este fim, o que favorece a

qualidade do atendimento prestado. A nova forma de atendimento est agora norteada pelos

princpios e diretrizes do SUS, contemplando uma Rede de Ateno s Urgncias e o processo

de trabalho das equipes deve primar pela qualidade do atendimento prestado vtima, visando

reduo de riscos e sequelas.

A enfermagem participa da equipe de sade e desempenha papel relevante na Rede de

Ateno s Urgncias, inclusive na ateno pr-hospitalar. Segundo o Ministrio da Sade

(2002), as unidades de suporte bsico contam com o trabalho dos auxiliares e/ou tcnicos de

enfermagem, e as unidades de suporte avanado contam com o trabalho dos enfermeiros(as)1.

Ambos atuam na prestao de cuidados aos indivduos, tomam as primeiras decises, mantm

contato com a famlia, o paciente, a regulao mdica e os servios de emergncia de

1 A partir daqui, quando referenciarmos o profissional enfermeiro(s), este corresponder ao gnero masculino e

feminino. (grifo da autora)

23

referncia (MARQUES; LIMA; CICONET, 2011).

No ano de 2011 o Conselho Federal de Enfermagem publicou a Resoluo n 375 que

dispe da presena do enfermeiro nas unidades de atendimento pr-hospitalar e inter-

hospitalar (terrestre, area ou martima) em situaes de risco conhecido e desconhecido. A

referida Resoluo define que a assistncia de enfermagem realizada por auxiliares e tcnicos

de enfermagem dever ter superviso direta do enfermeiro.

Este cenrio impe desafios enfermagem no sentido de suprir uma demanda em

franca expanso com competncia tcnica e conhecimentos especficos, contribuindo para a

sobrevida dos pacientes bem como para a reduo de sequelas (ROCHA et al., 2003.)

No que diz respeito ao trabalho dos enfermeiros1 a literatura registra a importncia da

Sistematizao da Assistncia de Enfermagem para a qualificao dos cuidados prestados.

Gentil (1997) refere que, nos casos de remoo inter-hospitalar atravs de transporte areo, a

sistematizao da assistncia de enfermagem realizada pelo enfermeiro permite avaliao

antes da remoo e informaes sobre a avaliao clnica durante o transporte, e pode servir

como fonte de dados para o hospital de destino. Registra ainda que a assistncia direta ao

paciente grave por meio de instrumentos sistemticos consolida-se como uma nova rea de

atuao do enfermeiro.

Aps 10 anos de implantao no pas surge o interesse em buscar mais informaes

sobre o trabalho desenvolvido pelo SAMU e em especial pelos enfermeiros devido

importncia deste servio para a populao. Diante deste contexto, o presente estudo aborda o

tema do processo de trabalho dos enfermeiros do SAMU, focalizando o estudo em um estado

da Regio Sul Brasil.

Sabe-se que o trabalho do SAMU, alm de ser complexo, ocorre em momentos

delicados da vida do ser humano. Por j ter atuado como enfermeira em unidade de

emergncia e, atualmente ministrar a disciplina de enfermagem em emergncia em um curso

de graduao em enfermagem, que surgiu o interesse pela temtica ora mencionada. Assim

sendo, esta pesquisa pretende conhecer o trabalho dos enfermeiros que atuam no SAMU uma

vez que o trabalho destes profissionais pea chave no atendimento pr-hospitalar prestado

pela equipe.

24

CAPTULO 2

PROBLEMA DE PESQUISA, OBJETIVOS E TESE

25

2 PROBLEMA DE PESQUISA, OBJETIVOS E TESE

2.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Como se desenvolve o processo de trabalho dos enfermeiros em Servio de

Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU) no Brasil?

2.2 OBJETIVO GERAL

Caracterizar o processo de trabalho dos enfermeiros que atuam nos Servios de

Atendimento Mvel de Urgncia de um estado da regio sul do Brasil, relacionando

percepo, legislao profissional e poltica de sade para rea.

2.3 OBJETIVOS ESPECFICOS

1 Caracterizar a fora de trabalho dos enfermeiros que trabalham no SAMU quanto ao

gnero, faixa etria, tempo de trabalho no SAMU, formao acadmica e capacitao para

trabalho em urgncias.

2 Identificar as percepes dos enfermeiros acerca do resultado do seu trabalho e dos

instrumentos de trabalho disponveis.

3 Identificar a percepo dos enfermeiros acerca das relaes de trabalho no SAMU.

4 Caracterizar o processo de trabalho dos enfermeiros do SAMU a partir da percepo

dos mesmos e relacionando com os papeis prescritos na legislao profissional e na Poltica

de Ateno s Urgncias.

2.4 TESE

O processo de trabalho dos enfermeiros nos Servios de Atendimento Mvel de

Urgncia (SAMU) na regio sul do Brasil estrutura-se orientado pelo prescrito na Poltica de

Sade para a rea e, com menor relevncia pela legislao profissional de enfermagem.

26

CAPTULO 3

REVISO DA LITERATURA

27

3 REVISO DA LITERATURA

A reviso da literatura apresentada neste captulo est organizada na forma de um

manuscrito a ser submetido a um peridico cientfico.

O TRABALHO DOS ENFERMEIROS NO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR:

UMA REVISO DA LITERATURA DE 2007 A 2012

NURSING WORK AT PRE-HOSPITAL CARE: A LITERATURE REVIEW

FROM 2007 TO 2012

EL TRABAJO DE LOS ENFERMEROS EN LA ASISTENCIA PR-

HOSPITALARIA: UNA REVISIN DE LA LITERATURA DE 2007 HASTA 2012

Marilene Nonnemacher Luchtemberg

Denise Elvira Pires de Pires

RESUMO

Estudo de reviso de literatura com objetivo de analisar as contribuies das pesquisas

relacionadas ao trabalho dos enfermeiros no Atendimento Pr-hospitalar, contidas em artigos

nacionais e internacionais publicados nos anos de 2007 a 2012. Foram utilizados os

descritores: Enfermeiros, Servios Mdicos de Emergncia e Assistncia Pr-Hospitalar. Ao

final foram selecionados cinco artigos. Os resultados foram organizados em dois temas:

dimenso profissional e sade do trabalhador. Os nmeros de artigos relacionados temtica

mostram a necessidade de mais estudos. A reviso da literatura constata a importncia do

trabalho do enfermeiro, sem, no entanto, o mesmo tem pouca visibilidade acadmica

considerando-se a relevncia do servio prestado comunidade. Conclui-se que este mais

um campo de atuao em que a enfermagem vem crescendo e se destacando, e sobre o qual

cabe realizar mais estudos.

Palavras-chave: Enfermeiros. Servios mdicos de emergncia. Assistncia pr-hospitalar.

ABSTRACT

Study literature review in order to examine the contributions of the research related to the

work of nurses in pre-hospital care, contained in national and international articles published

in the years 2007 to 2012 were used descriptors: Nurses, Emergency Medical Services and

Prehospital care. At the end we selected five articles. The results were organized into two

topics: the professional dimension and worker health. The numbers related to the theme

28

articles highlight the need for further studies. The literature notes the importance of nurses'

work, without, however, it has little academic visibility considering the importance of service

to the community. We conclude that this is another field of endeavor where nursing is

growing and excelling, and on which lies further studies.

Keywords: Nurses. Emergency medical services. Prehospital care.

RESUMEN

Estudie revisin de la literatura con el fin de examinar los aportes de la investigacin

relacionada con el trabajo de las enfermeras en la atencin pre-hospitalaria, contenida en los

artculos nacionales e internacionales publicados en los aos 2007 a 2012, fueron utilizados

los descriptores: Enfermeras, Servicios Mdicos de Emergencia y atencin prehospitalaria. Al

final se seleccionaron cinco artculos. Los resultados fueron organizados en dos temas: la

dimensin y el trabajador profesional de la salud. Los nmeros relacionados con los artculos

temticos destacan la necesidad de realizar ms estudios. La literatura seala la importancia

del trabajo de las enfermeras, sin embargo, tiene poca visibilidad acadmica teniendo en

cuenta la importancia del servicio a la comunidad. Llegamos a la conclusin de que este es

otro campo de accin donde la enfermera est creciendo y sobresaliendo, y en la que se

encuentra ms estudios.

Palabras-clave: Enfermeros. Servicios mdicos de emergncia. Asistencia prehospitalaria.

INTRODUO

No Brasil, o aumento no nmero da violncia urbana, bem como a insuficiente

infraestrutura dos servios de emergncia, contribuiu para a formulao de polticas no mbito

do Ministrio da Sade, com vistas a melhorar o atendimento s urgncias garantindo

atendimento mais adequado a populao. O Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

(SAMU) teve seu inicio a partir da Portaria n 2.048, de 2002, expedida pelo Gabinete do

Ministro da Sade que instituiu o Regulamento Tcnico dos Sistemas Estaduais de Urgncia e

Emergncia. No ano de 2003 surgiram duas novas Portarias a de n 1.863 que instituiu a

Poltica Nacional de Ateno as Urgncias e a n 1.864 que estabeleceu o componente pr-

hospitalar mvel em todo o territrio brasileiro atravs do SAMU - 192 (BRASIL, 2006).

No ano de 2011 a Portaria n 1.863 foi revogada e substituda pela Portaria 1.600 que

reformula a Poltica Nacional de Ateno s Urgncias instituindo a Rede de Ateno as

Urgncias no Sistema nico de Sade (SUS). Esta Portaria trabalha dentro de um conceito mais

amplo de sade que alm das intervenes realizadas populao prev a realizao de aes

de promoo da sade e preveno de doenas e agravos, alm de inserir a ateno bsica como

porta de acesso as urgncias. A Rede de Ateno s Urgncias ficou constituda pelos seguintes

29

componentes: Promoo, Preveno e Vigilncia Sade; Ateno Bsica de Sade; SAMU -

192 e suas Centrais de Regulao Mdica; Sala de Estabilizao; Fora Nacional do SUS;

Unidades de Pronto Atendimento 24h e os Servios de Urgncia; Hospitais e Ateno

Domiciliar (BRASIL, 2011).

O SAMU tem como misso atender vtimas de traumas e urgncias clnicas

diminuindo o intervalo teraputico, e possibilitando maiores chances de sobrevida, bem como

a diminuio de sequelas, garantindo continuidade ao tratamento e encaminhamento dos

pacientes aos diferentes servios de sade de acordo com a complexidade de cada caso, de

forma equnime e racional. Para isso o SAMU dispe de ambulncias equipadas e

profissionais qualificados capazes de oferecer medicamentos, imobilizaes, ventilao

artificial, pequenas cirurgias, monitorizao cardaca, desfibrilao, que permitem a

manuteno da vida at o servio de referncia mais prximo, atravs de um sistema

regionalizado e hierarquizado (SANTA CATARINA, 2011).

Marques, Lima e Ciconet (2011), referem que as aes do SAMU so realizadas por

equipes de suporte bsico e avanado. As primeiras so compostas por condutores e tcnicos

de enfermagem que realizam medidas de suporte no invasivas; e as equipes de suporte

avanado que so compostas por condutores, enfermeiros e mdicos, que realizam

procedimentos de suporte invasivo e transporte inter-hospitalar de pacientes graves.

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), preocupado com a assistncia de

enfermagem realizada durante o Atendimento Pr-Hospitalar (APH) ou inter-hospitalar

publicou em 2011 a Resoluo de n 375. Esta determina a presena do enfermeiro em todos

os tipos de transporte que realizam a assistncia de enfermagem, seja areo, terrestre ou

martimo, a indivduos em situao de risco conhecido ou desconhecido (COFEN, 2011).

Diante deste contexto o presente estudo tem como objetivo analisar as contribuies

das pesquisas relacionadas ao trabalho dos enfermeiros1 no Atendimento Pr-hospitalar,

contidas em artigos nacionais e internacionais publicados entre os anos de 2007 a 2012.

METODOLOGIA

Trata-se de uma reviso de literatura, realizada nas bases de dados Lilacs, Bireme,

Medline e CINAHL entre os anos de 2007 a 2012, no qual definiu-se como critrios de

incluso: artigos cientficos nos idiomas portugus, ingls e espanhol.

Os critrios de excluso foram: teses, dissertaes, livros e artigos duplicados, no

30

disponveis na ntegra, fora do perodo de estudo e em outros idiomas. Tambm foram

excludos os artigos que discutiam o trabalho da equipe e os que tratavam da equipe de

enfermagem e no somente dos enfermeiros.

A escolha do perodo do estudo deu-se pelo fato das primeiras Portarias voltadas ao

Servio de Atendimento Mvel de Urgncia no Brasil terem sido emitidas a partir de 2003.

Deste modo levou-se em conta um perodo de tempo que permitisse as primeiras publicaes

para implantao do servio e o surgimento das primeiras publicaes nacionais, assim como

a incluso das publicaes internacionais mais recentes. Para a busca foram utilizados os

seguintes descritores: Enfermeiros, Servios Mdicos de Emergncia, Assistncia Pr-

Hospitalar, Nurses, Emergency Medical Services, Prehospital Care, Enfermeros, Servicios

Mdicos de Urgencia e Atencin Prehospitalaria. Foram feitos os cruzamentos com

associao do descritor enfermeiro com os demais. A coleta de dados foi realizada no ms de

outubro de 2012.

A organizao dos dados articulou ttulo, palavras chave, ano de publicao, local,

objetivo, autores e resultados. Nas buscas nas bases de dados obteve-se pelos descritores 143

produes, a seguir foi realizada a leitura dos resumos e a partir da feita a seleo dos artigos

de interesse do estudo. Ao final foram selecionados cinco artigos, sendo um em ingls e

quatro em portugus. Aps leitura dos artigos na ntegra, os mesmos foram organizados

segundo duas temticas: dimenso profissional e sade do trabalhador.

RESULTADOS

A anlise dos resultados mostrou que os estudos trataram basicamente de dois temas: a

dimenso profissional da enfermagem e a sade do trabalhador. Na dimenso profissional

foram includas as pesquisas que abordaram a preocupao com a capacitao profissional

dos enfermeiros para o Atendimento Pr Hospitalar (APH), o impacto positivo no resultado

do trabalho quando a equipe incluiu a enfermeira no APH, e a anlise dos diagnsticos de

enfermagem feitos pelos enfermeiros.

Na dimenso profissional foram includos trs estudos realizados no Brasil, nas

cidades de So Paulo, Porto Alegre e Ribeiro Preto e um estudo realizado na Inglaterra e Pas

de Gales. Na dimenso sade do trabalhador foi encontrado apenas um estudo realizado na

cidade de Porto Alegre no ano de 2007.

No estudo realizado por Gentil; Ramos e Whitaker (2008) no municpio de So Paulo

31

com 25 enfermeiros que atuam em APH, e concluiu que os contedos e as habilidades

propostas pela Portaria n 2.048 so temas bsicos para a capacitao dos enfermeiros que

atuam nesta rea. Os temas mais citados que os mesmos sentem necessidade de capacitao

so: situaes que exige tomada de deciso, prontido e destreza/habilidades, em momento de

intenso estresse e a capacitao para o atendimento a populaes especficas (ex: crianas).

Outra abordagem sobre esta questo vem de Romanzini e Bock (2010) que abordou as

concepes e sentimentos de enfermeiros que atuam no APH sobre a prtica e a formao

profissional. Este estudo foi realizado na cidade de Porto Alegre com nove enfermeiros. Os

dados mostraram que para se trabalhar no SAMU necessrio: capacidade profissional,

conhecimentos gerais e especficos, domnio de tcnicas, patologias, protocolos, capacidade

de liderana e gerenciamento, e equilbrio emocional. Os mesmos relatam prazer e se sentem

reconhecidos e valorizados pelos pacientes e sociedade. Relatam a necessidade de maior

exigncia das escolas formadoras e a necessidade de estgios nesta rea. O estudo refere que a

formao adquirida pelos enfermeiros ocorreu dentro do SAMU atravs de capacitaes e da

vivncia diria. Como dificuldades foram apontadas despreparo acadmico, adversidades do

cenrio, exposio a riscos e falta de apoio psicolgico.

O terceiro estudo foi realizado na Inglaterra e Pas de Gales. Apresenta, cinco

estudos de caso de enfermeiras que trabalham em uma central de servio de ambulncia ao

lado de paramdicos e que descrevem sua experincia no Atendimento Pr-Hospitalar. O

primeiro caso, da enfermeira Michelle Summonds que trabalha em um setor responsvel pelo

servio head-and-treat que consiste em orientar por telefone pacientes sobre procedimentos

adequados antes da internao. A mesma recebe 200 ligaes por dia. Para trabalhar nesta

rea so necessrios no mnimo cinco anos de experincia nas reas de atendimento

emergencial e crtico. O segundo caso, o da enfermeira Dbora Scothern que dirige o servio

de emergncia de ambulncias. O trabalho desta enfermeira identificar os usurios que

utilizam repetidamente o servio de emergncia de forma inapropriada e orient-los sobre o

servio de sade apropriado. Todos os meses a mesma examina as ligaes das pessoas que

ligaram mais de seis vezes de forma inapropriada. O terceiro caso, da enfermeira Sue Smith

diretora de padres clnicos de um servio de ambulncias. O trabalho desta profissional

assegurar que toda a equipe tome medidas para o reconhecimento de ameaas a segurana de

crianas, jovens e adultos vulnerveis atravs do controle de infeco. O quarto caso, da

enfermeira Adrian Doyle que atua ao lado de paramdicos. O quinto e ltimo caso, da

enfermeira Lisa Ashley a qual avalia, faz o diagnstico, trata, relata o caso, admite ou

dispensa o paciente. A mesma possui formao em tratamento de pequenos ferimentos e

32

enfermidades, bem como interpretao de eletrocardiograma e raio-x. O estudo mostra que o

trabalho das enfermeiras complementa o trabalho dos paramdicos, diminui o nmero de

internaes e que os pacientes recebem cuidados adequados (WILLIAMS, 2012).

O ltimo estudo nesta temtica foi realizado no municpio de Ribeiro Preto estado de

So Paulo e identificou os diagnsticos de enfermagem a vtimas de trauma atendidas pelo

servio do SAMU. Foram selecionados 23 pacientes durante o APH. Ao final do estudo

evidenciou-se o predomnio de diagnsticos de enfermagem na categoria de necessidades

psicobiolgicas que se no atendidas prontamente, pode trazer maiores agravos aos pacientes.

As autoras relatam que logo aps o atendimento das prioridades o enfermeiro do APH no

pode desconsiderar as necessidades humanas bsicas inter-relacionadas. Cuidados corporais e

com o ambiente, respeito aos valores, tica e cultura tambm devem fazer parte do

atendimento. A identificao dos diagnsticos de enfermagem a vitimas de trauma subsidia o

enfermeiro na tomada das decises, possibilita uma assistncia individual e especfica,

favorecendo as aes de enfermagem (CYRILLO et al., 2009).

Na dimenso Sade do Trabalhador, apenas um estudo foi encontrado e mostra a

preocupao com a sade dos enfermeiros que atuam no APH. O estudo foi realizado no ano

de 2008, com 15 enfermeiros e teve como objetivo identificar os estressores vivenciados pelos

enfermeiros que atuam no SAMU, identificar as estratgias de enfrentamento utilizadas para

lidar com o estresse no ambiente de trabalho, e as repercusses na assistncia aos usurios. Os

fatores que causam estresse so: esforo fsico, instalaes fsicas inadequadas, falta de

materiais e profissionais, trabalho noturno, questo salarial, trabalhar com profissionais

desqualificados, relaes interpessoais com a chefia, com a equipe mdica e com os

enfermeiros. Quanto ao enfrentamento de estressores relacionados ao trabalho o destaque

para: desligar-se do trabalho, realizar atividades fsicas, estabelecer dilogo no ambiente de

trabalho e estar com a famlia. O estudo evidenciou a necessidade da elaborao de mais

estratgias que venham minimizar os estressores e melhorar a qualidade de vida dos

enfermeiros que no APH (STUMM et al., 2008).

DISCUSSO

Os resultados da reviso mostraram a predominncia da preocupao com a

capacitao profissional dos enfermeiros para o APH. Esta preocupao talvez seja pelo fato

deste servio estar h poucos anos em vigncia no Brasil, e os cursos de graduao no

33

estarem preparados para integrar, na formao do enfermeiro conhecimentos do ramo do

APH. A maioria dos estudos selecionados so publicaes brasileiras, o que justifica a

predominncia da referida preocupao.

As Polticas de Sade tem um papel indutor na prtica dos profissionais de sade. No

entanto os reflexos na formao no so imediatos. As diretrizes curriculares de formao de

enfermeiros no definem estes contedos. A rea de urgncia e emergncia tem relevncia

prtica, mas no h correspondncia com a formao no Brasil. O COFEN reconhece esta

especialidade em Resoluo especfica n 389/2011.

Trabalhar em emergncia requer capacitao contnua, face s mudanas no perfil de

morbimortalidade da populao, os avanos nas tecnologias de cuidado e tratamento de sade,

bem como habilidade tcnica para a prestao de cuidados seguros, o que demanda formao

permanente.

Trabalhar em unidades de urgncia e emergncia sempre uma caixinha de surpresas.

Os profissionais desta rea trabalham sob constante estresse. difcil prever o que acontecer

em poucos instantes. Por isso a destreza e habilidades so fundamentais ao enfermeiro e a

equipe. A tomada de deciso outro ponto importante nesta hora, pois uma emergncia no

pode esperar, e a deciso deve ser tomada o mais rpido possvel. Quando a deciso a ser

tomada em lugares adversos como no caso do APH o nvel de estresse maior em virtude

de fatores ambientais como: vias pblicas, condies do tempo, curiosos que assistem ao

evento, familiares em pnico, entre outros.

O trabalho profissional de enfermagem requer aplicao de conhecimentos cientficos

e o registro adequado que demonstre o processo mental de anlise dos problemas que

justificam a tomada de deciso pelo enfermeiro. Neste sentido a Sistematizao da Assistncia

de Enfermagem que inclui o Diagnstico de Enfermagem so ferramentas importantes para

prticas seguras.

O diagnstico de enfermagem um aspecto importante a ser destacado no APH, uma

das etapas do processo de enfermagem. O processo de enfermagem privativo do enfermeiro

e deve ser realizado em ambientes, pblicos ou privados, onde ocorre o cuidado de

enfermagem conforme Resoluo do COFEN 358/2009. Neste sentido, o estudo sobre

diagnsticos de enfermagem em urgncia e emergncia mostra-se relevante.

No que diz respeito sade do profissional enfermeiro foi encontrado um estudo

realizado no Brasil. No entanto a literatura mostra a importncia deste tema para o conjunto

de profissionais que atuam no APH como mencionam Vegian e Monteiro (2011).

importante conhecer s caractersticas dos profissionais que atuam em APH, bem

34

como as suas condies de trabalho a fim de se elaborar programas que promovam a sade

mental e fsica destes profissionais. Deve-se zelar pela sade, preservao e qualidade de vida

dos mesmos para que eles possam realizar atendimento de qualidade aos usurios do servio

(VEGIAN; MONTEIRO, 2011).

Faz-se necessrio realizar mais estudos que identifiquem fatores que possam vir a

agravar a sade dos enfermeiros e da equipe neste cenrio. Fatores como os biolgicos,

fsicos, qumicos, cansao fsico e mental.

Para Batista e Bianchi (2006), o enfermeiro que atua em emergncia vive em

condies estressantes de trabalho, e quando o mesmo realizado em condies insalubres e

inseguras influencia diretamente no bem estar fsico e psquico deste profissional.

A enfermagem vem atuando em diferentes campos, ampliando seus conhecimentos e,

contribuindo significativamente na qualificao da ateno a sade para com a sociedade.

Para Erdmann et al. (2009), a enfermagem vem assumindo um lugar cada vez mais distinto e

afirmando-se enquanto profisso em crescimento que proporciona mudanas em diferentes

campos de atuao da rea da sade.

CONSIDERAES FINAIS

Este estudo teve como objetivo analisar os estudos realizados no perodo de 2007 a

2012, que abordaram o trabalho do enfermeiro no atendimento pr-hospitalar.

Os poucos estudos realizados evidenciaram a preocupao com a dimenso

profissional, e apenas um mostrou preocupao com a sade dos enfermeiros(as) que atuam

no APH. Os nmeros de artigos relacionados temtica mostram a necessidade de mais

estudos a fim de se conhecer uma realidade praticamente no estudada. A Poltica de Ateno

s Urgncias no Brasil recente, tem apenas dez anos, mas j mostrou que a sua atividade

de extrema importncia. O trabalho do enfermeiro neste contexto primordial, a enfermagem

realiza atividades nas unidades de suporte bsico e avanado, ocupa cargos de chefia,

coordenao, realiza educao continuada entre outras atividades.

A reviso da literatura constata a importncia do trabalho do enfermeiro, sem, no

entanto, o mesmo tem pouca visibilidade acadmica considerando-se a relevncia do servio

prestado comunidade. Ou seja, em corroborao marxista, o sentimento e ou a sensao de

alienao e pouco reconhecimento pela atividade socialmente relevante. Conclui-se que este

mais um campo de atuao em que a enfermagem vem crescendo e se destacando, e sobre o

35

qual cabe realizar mais estudos.

REFERNCIAS

BATISTA, Karla de Melo; BIANCHI, Estela Regina Ferraz. Estresse do enfermeiro em

unidade de emergncia. Rev Latino-am Enfermagem, v.14, n.4, p. 534-539, 2006.

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Poltica Nacional de Ateno s Urgncias e institui a Rede de Ateno s Urgncias no

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______. ______. Poltica Nacional de Ateno s Urgncias. 3. ed. Braslia: 2006.

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37

CAPTULO 4

REFERENCIAL TEORICO

38

4 SUSTENTAO TERICA

4.1 ATENO A URGNCIAS E EMERGNCIAS, BREVES REFERNCIAS

HISTRICAS E CONCEITUAIS

SISTEMA NICO DE SADE

A Constituio Federal de 1988 descreve em seu Art. 196 que a sade direito de

todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem

reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e

servios para sua promoo, proteo e recuperao (BRASIL, 1988). com base na

Constituio Federal que os direitos sade so garantidos aos cidados brasileiros, e para

operacionalizar este direito foi criado o Sistema nico de Sade (SUS).

Para atender a este principio constitucional foi publicada no ano de 1990 a Lei n

8.080 que dispe sobre as condies para a promoo, proteo e recuperao da sade, bem

como sobre a organizao e o funcionamento dos servios (BRASIL, 1990).

A assistncia prestada ao cidado compreende desde um atendimento ambulatorial

simples at o tratamento de alta complexidade. O acesso rede de servios de sade

universal, estabelecido constitucionalmente. tambm direito do cidado, o benefcio de

todas as aes pblicas de preveno e promoo da sade, como campanhas de vacinao,

controle de doenas e vigilncia em sade (BRASIL, 2014).

Antes da implantao do Sistema nico de Sade, o acesso aos servios de sade era

restrito as pessoas que contribuam para a previdncia social (trabalhadores com carteira

assinada), e os cidados que tinham condies de pagar pelo servio de sade. Com a

implantao do SUS ficou garantido em Lei o acesso universal e igualitrio aos servios de

sade e o direito de participao do cidado nas definies relativas ao sistema. A Lei n

8.142 dispe sobre a participao da comunidade na gesto do Sistema nico de Sade

atravs das Conferncias de Sade e dos Conselhos de Sade (BRASIL, 2014).

No ano de 2011 foi publicado o Decreto n 7.508 que Regulamenta a Lei n 8.080/90.

O Art. 1 deste decreto define a organizao do Sistema nico de Sade (SUS), incluindo o

planejamento na rea, a assistncia sade e a articulao interfederativa. O Art. 8 do mesmo

decreto descreve que o acesso universal, igualitrio e ordenado s aes e servios de sade se

inicia pelas Portas de Entrada do SUS e se completa na rede regionalizada e hierarquizada, de

acordo com a complexidade do servio (BRASIL, 2011).

39

No Art. 9 do mesmo decreto, esto definidas as portas de entrada s aes e aos servios

de sade nas Redes de Ateno Sade. So estes: os servios de ateno primria, os servios

de ateno de urgncia e emergncia, os servios de ateno psicossocial e os servios

especiais de acesso aberto (BRASIL, 2011).

Este estudo tem como cenrio uma das portas de entrada do SUS, os servios de

urgncia e emergncia institudos pelo Decreto n 7508. Dentre os servios de urgncia e

emergncia esta a Rede de Ateno as Urgncias, reformulada pela Portaria n 1.600 de 2011.

Esta portaria instituiu a Rede de Ateno as Urgncias no Sistema nico de Sade o qual

possui vrios componentes, entre eles o Servio de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU)

foco deste estudo que atende em todo o territrio nacional atravs do nmero 192.

4.1.1 Referncias Histricas

O atendimento pr-hospitalar teve seu incio na Frana no sculo XIX atravs dos

mdicos cirurgies Pierre Franois Percy e Dominique Jean Larrey, no exrcito de Napoleo

os quais desenvolveram o primeiro sistema de atendimento pr-hospitalar. Percy desenvolveu

o conceito do campo de internao cirrgica e Larrey criou a primeira ambulncia, um carro

coberto puxado por cavalos que carregava soldados feridos no campo de batalha. Mais tarde,

durante a guerra civil americana, William A. Hammond e o diretor mdico do exrcito,

Jonathan Letterman, adaptaram estes conceitos atravs da retirada, estabilizao e tratamento

de soldados feridos (STIERLE, 2014).

No Brasil, na dcada de 1970, surgiu o SAMU. O Ministrio dos Transportes,

preocupado com o excessivo nmero de vtimas em acidentes rodovirios que morriam antes

de chegar aos hospitais desenvolve, em parceria com o Ministrio da Sade, o primeiro

Servio de Emergncias Mdicas (EMS). No ano de 1976 o pas definiu em lei a existncia do

servio. Em 1986, uma nova lei definiu a misso do SAMU, bem como o nmero 15 para

chamadas telefnicas aos servios do SAMU em todo pas (STIERLE, 2014).

Os servios de ambulncias tiveram seu inicio em 1890 em Cincinnati, Ohio (USA).

Prtica esta abandonada em 1950. Em 1960 nos Estados Unidos o atendimento pr-hospitalar

era escasso e realizado por carros funerais. Haviam poucos servios organizados de

atendimento pr-hospitalar. Nesta mesma dcada cresce no pas a morbi-mortalidade

relacionada a acidentes rodovirios, fazendo com que surgissem normas e a formao de

milhares de paramdicos bem como a compra macia de ambulncias e equipamentos

40

(POITRAS; LAPOINTE, 2000).

No final dos anos de 1960, surgiu o interesse da comunidade mdica pelo atendimento

a pacientes que tiveram algum tipo de evento coronariano. Fato este que chamou ateno, pois

quase metade dos pacientes acometidos de doena arterial coronariana aguda morreram antes

da chegada ao hospital. Os trabalhos realizados pelo Doutor. J.E Pantridge, de Belfast, na

Irlanda do Norte, mostraram que o atendimento pr-hospitalar precoce fornecido aos

pacientes reduzia a arritmia e mortalidade. L. Cobb de Seattle, M. Criley de Los Angeles e D.

Warren de Columbus incentivaram o desenvolvimento de assistncia pr-hospitalar avanada,

capaz de apoiar vtimas de evento coronariano. Alm disso, vrias organizaes influenciaram

o desenvolvimento do atendimento pr-hospitalar nos Estados Unidos, mais especificamente,

o American College of Emergency Physicians, que em 1968, estabeleceu normas que

mudaram a prtica da medicina de emergncia (POITRAS; LAPOINTE, 2000).

O atendimento pr-hospitalar continua em evoluo. A regulao mdica essencial e

elemento chave na definio do atendimento pr-hospitalar adequado e moderno (POITRAS;

LAPOINTE, 2000). O surgimento do atendimento pr-hospitalar se deu, em diferentes pases,

de acordo com as necessidades de cada poca, como se observou na Frana, Coria do Sul e

Costa Rica.

Na Coria do Sul o atendimento pr-hospitalar foi reorganizado pela deficincia

apresentada em grandes catstrofes ocorrida na dcada de 1990. A realizao de eventos

esportivos de carter internacional como a Copa do Mundo de Seul em 2002 acelerou o

processo de implantao deste servio no pas (CHOI et al., 2007).

Na Costa Rica a ateno pr-hospitalar pblica e privada so obrigadas a acatar e

difundir o regulamento proposto pelo Governo Federal daquele pas. Preferencialmente os

profissionais de ateno pr-hospitalar devero ter curso de capacitao em suporte avanado

cardaco, suporte avanado peditrico, suporte avanado em trauma e experincia mnima de

dois anos em ateno a emergncias pr-hospitalares. A cada dois anos os profissionais

devem realizar atualizao tcnico-prtica pelo Colgio de Mdicos e Cirurgies da Costa

Rica, ou por instituies designadas. A atualizao indispensvel para que os profissionais

continuem desenvolvendo seus trabalhos (COSTA RICA, 1995).

No Brasil os fatores que mais contriburam para o surgimento do Servio de

atendimento mvel foram o aumento exacerbado da violncia e das doenas cardiovasculares,

respiratrias, metablicas entre outras. Este servio veio para fornecer atendimento imediato

s vtimas bem como o transporte adequado das mesmas at um servio de emergncia mais

prximo, diminuindo as chances de sequelas e reduzindo os ndices de mortalidade

41

(MARTINS; PRADO, 2003).

J nas regies metropolitanas os fatores que mais se destacam so os acidentes,

envenenamento e a violncia, atingindo uma faixa etria entre 15 e 49 anos. Em conjunto,

estes fatores superam as doenas cardiovasculares e as neoplsicas. Alm do alto nmero de

bitos, a violncia uma importante causa de incapacidade fsica, temporria ou permanente,

gerando transtornos ao indivduo e familiares, assim como perdas econmicas e

previdencirias. A forma como a vtima socorrida fundamental neste momento, pois

atendimentos inadequados podem trazer prejuzos ainda maiores. Este cenrio fez com que o

Ministrio da Sade criasse mecanismos para melhorar o atendimento s vtimas no Brasil

(BRASIL, 2001). Atualmente temos dois servios de atendimento pr-hospitalar no Brasil, o

realizado pelo Corpo de Bombeiros e o realizado pelo SAMU, que alm do atendimento pr-

hospitalar presta assistncia de maior complexidade, pois dispe de regulao mdica e

realiza transferncias interhospitalares de pacientes graves.

Independentemente das condies sociais, culturais ou religiosas de uma populao, o

atendimento de emergncia deve basear-se em certos princpios universais como o

profissionalismo. Todos os prestadores de cuidados de sade, seja em hospitais, clnicas ou no

atendimento pr-hospitalar, tm obrigao tica de agir em benefcio de seus pacientes.

importante que os profissionais de sade saibam respeitar os limites de sua formao e no

tentem procedimentos para os quais no esto qualificados. Excees s devem ser realizadas

em caso de um grande desastre ou evento que cause um grande nmero de vtimas. Nesses

casos, os profissionais da ateno pr-hospitalar devem concentrar seus esforos em salvar os

que tm maior probabilidade de sobreviver. s vezes isso pode exigir dos profissionais

procedimentos para salvar vidas fora do mbito de sua prtica cotidiana (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2005).

4.1.2 Referncias Conceituais

Com vistas a um melhor entendimento das situaes de urgncia e emergncia

resgatou-se o conceito do Conselho Regional de Medicina de n 1451, de 1995 que descreve

estas situaes como sendo: Urgncia: a ocorrncia imprevista de agravo sade com ou

sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistncia mdica imediata e de

Emergncia: a constatao mdica de condies de agravo sade que impliquem em risco

iminente de morte ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento mdico imediato

42

(CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA, 1995).

O atendimento a pessoas em situao de emergncia requer atendimento rpido e

adequado. A primeira hora aps o evento fundamental e ficou denominada como hora de

ouro. Este termo foi conceituado por Adams Cowley, primeiro tenente do exercito dos

Estados Unidos, tambm conhecido como o pai do tratamento do estado de choque provocado

por trauma. Cowley era cirurgio do exercito americano e morreu na Europa logo aps a

Segunda Grande Guerra aos 74 anos de idade. O mesmo comeou a desenvolver mtodos e

procedimentos de atendimento de carter emergencial a pessoas gravemente feridas. Ele

verificou que medidas imediatas realizadas em menos de uma hora aps o evento diminuam

em cerca de 85% o nmero de mortes causadas por trauma (OLIVEIRA et al., 2010).

Considerando a relao entre a ocorrncia do evento e a interveno de socorro para a

sobrevida e eficcia do atendimento, em 1997 foi desenvolvido na Inglaterra um protocolo

denominado Protocolo de Manchester que estabelece o tempo de espera pela ateno mdica

em unidades de emergncia. Esta metodologia foi disseminada no mundo, sendo utilizada em

vrios pases como Portugal, Sucia, Holanda e Espanha. No Brasil muitos hospitais j

utilizam esta metodologia. O mtodo consiste em identificar a queixa inicial, seguir o

fluxograma de deciso e, por fim, estabelecer o tempo de espera, que varia de acordo com a

gravidade. Nesta metodologia os casos so identificados por cores. A cor vermelha

(emergncia) tem atendimento imediato; a laranja (muito urgente) prev atendimento em 10

minutos; o amarelo (urgente), 60 minutos; o verde (pouco urgente), 120 minutos e o azul (no

urgente), 240 minutos. Este protocolo permite encaminhar corretamente o paciente ao ponto

de ateno certo, para a assistncia mais eficaz e no menor tempo possvel (MINAS GERAIS,

2009).

No ano de 2012 o COFEN estabeleceu atravs da Resoluo n 423/2012, em seu Art.

1, a participao do Enfermeiro na Atividade de Classificao de Riscos. No mbito da

equipe de Enfermagem, a classificao de risco e priorizao da assistncia em Servios de

Urgncia privativa do Enfermeiro. J o Art. 2 define que o Enfermeiro dever estar dotado

dos conhecimentos, competncias e habilidades que garantam rigor tcnico-cientfico ao

procedimento. O procedimento a que se refere esta Resoluo deve ser executado no contexto

do Processo de Enfermagem, atendendo-se s determinaes da Resoluo n 358/2009 e aos

princpios da Poltica Nacional de Humanizao do Sistema nico de Sade. Esta poltica se

prope ser um eixo norteador em todas as esferas da prtica de ateno e gesto do Sistema

nico de Sade. Humanizar entendido como ofertar atendimento de qualidade articulando

os avanos tecnolgicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das

43

condies de trabalho dos profissionais (BRASIL, 2004, p.6). No nvel de ateno em

Urgncia e Emergncia, nos pronto-socorros, nos pronto-atendimentos, na Assistncia Pr-

Hospitalar e outros, a Poltica nacional de Humanizao tem como diretrizes:

1. Acolher a demanda por meio de critrios de avaliao de risco, garantindo o

acesso referenciado aos demais nveis de assistncia. Comprometer-se com a

referncia e a contra-referncia, aumentando a resoluo da urgncia e

emergncia, provendo o acesso estrutura hospitalar e a transferncia segura,

conforme a necessidade dos usurios.

2. Definir protocolos clnicos, garantindo a eliminao de intervenes

desnecessrias e respeitando as diferenas e as necessidades do sujeito (BRASIL,

2004, p.14).

O HumanizaSUS tem como princpios:

1. Valorizao da dimenso subjetiva e social em todas as prticas de ateno e

gesto, fortalecendo/estimulando processos integradores e promotores de

compromissos/responsabilizao.

2. Estmulo a processos comprometidos com a produo de sade e com a produo

de sujeitos.

3. Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a

transdisciplinaridade e a grupalidade.

4. Atuao em rede com alta conectividade, de modo cooperativo e solidrio, em

conformidade com as diretrizes do SUS.

5. Utilizao da informao, da comunicao, da educao permanente e dos

espaos da gesto na construo de autonomia e protagonismo de sujeitos e

coletivos (BRASIL, 2004, p.9-10).

44

4.2 POLTICAS DE ATENO AS URGNCIAS NO BRASIL E EM SANTA

CATARINA

4.2.1 Caractersticas e Referncias da Poltica de Ateno as Urgncias e Emergncia no

Brasil

O sculo XX foi marcado por diversas transformaes, entre elas a urbanizao, a

industrializao e os avanos tecnolgicos que modificaram o estilo de vida das pessoas,

modificando o perfil epidemiolgico e aumento do nmero de novas de doenas (DIAS,

2004). Neste contexto as urgncias e emergncias, dadas s condies de urbanizao

acelerada, mobilidade social e diferentes morbidades, assumiram um papel relevante ainda

no suficientemente estudado.

O atendimento pr-hospitalar de urgncia tem como objetivo fundamental transportar

o indivduo que necessita de cuidados de urgncia a um estabelecimento de sade que fornea

atendimento adequado e eficaz. Alm disso, a vtima deve receber atendimento de sade e de

suporte durante todo o transporte por profissionais capacitados. Este modelo melhora o

atendimento ao paciente at a chegada ao hospital de referncia e favorece a sobrevida do

mesmo frente ao evento (RODRGUEZ, 2012).

Implantar a Poltica de Atendimento s Urgncias em um pas como o Brasil, de

dimenses geogrficas que ultrapassam a soma de vrios pases um desafio ao poder pblico

e aos profissionais de sade. O atendimento pr-hospitalar no caracteriza por um trabalho

individual, sua demanda uma relao direta entre as urgncias atendidas e os demais servios

de sade. A implantao de uma poltica deste porte e complexidade constitui-se em um

desafio a ser enfrentado pelo SUS, pois envolve o prprio sistema de sade, profissionais e

demais atores sociais envolvidos no contexto da assistncia, bem como seu corpo e

concretude se d atravs das centrais de regulao mdica de urgncia (VELLOSO et al.,

2008).

A Portaria n 2.048 de 2002 estabelece os princpios e diretrizes dos Sistemas

Estaduais de Urgncia e Emergncia, normas e critrios de seu funcionamento. Em seu

captulo IV (p.22-24) esto descritas as dimenses e outras especificaes dos veculos

terrestres os quais devero obedecer s normas da ABNT - NBR 14561/2000, de julho de

2000. As ambulncias classificam-se da seguinte forma:

45

TIPO A - Ambulncia de Transporte: veculo destinado ao transporte em decbito

horizontal de pacientes que no apresentam risco de vida, para remoes simples e de carter

eletivo.

TIPO B - Ambulncia de Suporte Bsico: veculo destinado ao transporte inter-

hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento pr-hospitalar de

pacientes com risco de vida desconhecido, no classificado com potencial de necessitar de

interveno mdica no local e/ou durante transporte at o servio de destino.

TIPO C - Ambulncia de Resgate: veculo de atendimento de urgncias pr-

hospitalares de pacientes vtimas de acidentes ou pacientes em locais de difcil acesso, com

equipamentos de salvamento (terrestre, aqutica e em alturas).

TIPO D - Ambulncia de Suporte Avanado: veculo destinado ao atendimento e

transporte de pacientes de alto risco em emergncias pr-hospitalares e/ou de transporte inter-

hospitalar que necessitam de cuidados mdicos intensivos. Deve contar com os equipamentos

necessrios para esta funo.

TIPO E - Aeronave de Transporte Areo: aeronave de asa fixa ou rotativa utilizada

para transporte inter-hospitalar de pacientes e aeronave de asa rotativa para aes de resgate,

dotada de equipamentos mdicos homologados pelo Departamento de Aviao Civil (DAC).

TIPO F - Embarcao de Transporte Mdico: veculo motorizado aquavirio,

destinado ao transporte por via martima ou fluvial. Deve possuir os equipamentos mdicos

necessrios ao atendimento de pacientes conforme sua gravidade.

A Portaria n 1.863/GM/MS de 2003 que institui a Poltica Nacional de Ateno s

Urgncias, no Brasil foi substituda pela Portaria n 1.600, de 07 de julho de 2011, a qual

reformulou a Poltica Nacional de Ateno as Urgncias e instituiu a Rede de Ateno as

Urgncias no Sistema nico de Sade. Esta Rede de ateno s urgncias constituda pelos

seguintes componentes:

I. Promoo, Preveno e Vigilncia Sade;

II. Ateno Bsica em Sade;

III. Servio de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU 192) e suas Centrais de

Regulao Mdica das Urgncias;

IV. Sala de Estabilizao;

46

V. Fora Nacional de Sade do SUS;

VI. Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) e o Conjunto de Urgncia 24 horas;

VII. Hospitalar;

VIII. Ateno Domiciliar.

O Servio de Atendimento Mvel de Urgncia (SAMU) presta assistncia aos usurios

atravs de unidades de suporte bsico e suporte avanado. O suporte bsico composto por

auxiliar/tcnico de enfermagem e motorista-socorrista que realizam cuidados no invasivos

como cuidados bsicos de ventilao e circulao, imobilizaes e conduo das vtimas as

unidades de emergncia. A unidade de suporte avanado tripulada por enfermeiro, mdico e

motorista-socorrista, que realizam procedimentos invasivos de suporte ventilatrio e

circulatrio, bem como o transporte inter-hospitalar de pacientes crticos (MARQUES, LIMA

e CICONET, 2011).

A seguir, o Quadro 1 sintetiza as portarias e decretos referentes Poltica Nacional de

Ateno as Urgncias no Brasil.

Quadro1 - Sntese de portarias referentes Poltica Nacional de Ateno as Urgncias no Brasil.

(continua)

Portarias e Decretos Contedo

Portaria 824, de 24 de junho de

1999.

Normatizao do Atendimento Pr-Hospitalar.

Portaria n 814/GM em 01 de junho

de 2001.

Estabelece conceitos, princpios e diretrizes da regulao mdica das urgncias.

Estabelece a Normatizao dos Servios de Atendimento Pr-Hospitala