UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO...ii UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE...
Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO...ii UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE...
i
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo nos
Princípios da Construção Enxuta: Um Estudo de Caso.
Luciana Antunes Correia Pontes
RECIFE, Novembro/2004
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo nos
Princípios da Construção Enxuta: Um Estudo de Caso.
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UFPE
PARA OBTENÇÃO DE GRAU DE MESTRE
POR
Luciana Antunes Correia Pontes
Orientador: Profa. Vilma Villarouco
RECIFE, Novembro/2004
iii
iv
v
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, por me ter dado a oportunidade de evoluir
e ao qual devo a dádiva da minha existência e a possibilidade de tornar a de outros melhor.
Várias pessoas contribuíram para que eu atingisse o fim do longo percurso que foi o
desenvolvimento desta dissertação. A contribuição de cada uma delas foi vital e de valor
incomparável. Gostaria de expressar fraternalmente o meu agradecimento:
- À Prof. Vilma Villarouco pela orientação, dedicação e amizade demonstrada
durante o período de realização deste trabalho, que muitas vezes ultrapassaram
em muito as obrigações inerentes à responsabilidade de um orientador, sendo
valiosas para a minha evolução pessoal e profissional;
- Aos meus pais, Nelson Antunes e Fernanda Antunes, grandes responsáveis pela
minha educação através de suas orientações, amor e incentivo. Amo muito
vocês.
- Aos meu avôs e minhas avós (in memorian), que foi onde tudo começou pelos
exemplos de vida aos quais procurarei sempre seguir;
- Ao meu esposo Gildo Pontes, pelo voto de confiança e pelo apoio incondicional
dedicado a mim durante toda o período de realização desta dissertação;
- A Arthur, meu filho nascido durante a realização deste Mestrado, que foi sem
dúvida a minha maior fonte de inspiração e meu maior incentivador, mesmo que
inconscientemente, por ter tornado minha vida tão melhor com a sua chegada;
- Aos professores Adiel Teixeira, Denise Dumke, Fernando Campello e Paulo
Ghinato que foram verdadeiros mestres, pelos ensinamentos valiosos durante os
meus primeiros passos na realização deste mestrado. Foi uma honra ter sido
aluna de vocês;
- Ao Prof. Carlos Torres Formoso, estrela de primeira grandeza na restrita
constelação de pesquisadores brasileiros, pela sua colaboração espontânea me
orientando via e-mail, mesmo com todos os trabalhos nos quais se encontra
envolvido;
- À minha colega de mestrado Luciana Hazin, por todo o apoio e por toda a
paciência, que me ajudou a contornar as dificuldades neste trajeto, ajuda esta que
era sempre prestada de maneira incondicional;
vi
- À Construtora Estudada, por me ter aberto as suas portas, dando-me todo o
apoio para a realização do estudo de caso constante desta dissertação;
- Ao Eng. Marco Ely, pelo apoio incondicional, sempre se colocando à disposição
para eliminar obstáculos, não importando quais fossem, para a consecução deste
trabalho;
- A todo o pessoal que me auxiliou na realização do estudo de caso, Fábio, Malu,
Daniel, que me proporcionaram excelentes discussões teóricas e práticas durante
a realização desta pesquisa;
- À minha amiga Liliane Bastos pelo incentivo que me deu para que eu
ingressasse neste programa de Pós Graduação;
- E a todos aqueles que, de maneira direta ou indireta, contribuíram para a
realização deste trabalho.
vii
RESUMO
A nova ordem econômica está impactando na forma como as empresas organizam suas
atividades evidenciando oportunidades e dificuldades simultaneamente, indicando assim, a
necessidade de mudanças as quais têm sido experimentadas desde o final da década de 70, em
industrias e vêm sendo adaptadas gradativamente a outros setores.
Este trabalho objetivou analisar o impacto do processo de planejamento e controle da
produção nos princípios da Construção Enxuta através de um estudo de caso realizado em
uma empresa construtora na cidade de Recife /PE, após esta etapa será sugerido um plano de
implementação para este nível de planejamento.
A pesquisa foi dividida em três etapas. Inicialmente, foi realizada uma revisão
bibliográfica em torno dos temas gestão da produção e controle de perdas, aplicados ao setor
estudado. Na segunda conduziu-se um estudo de caso objetivando utilizar técnicas e
ferramentas disponíveis sobre o tema na bibliografia existente, a fim de se obter a análise
objetivo do presente estudo, e após esta etapa foi sugerido um plano de implementação para
este nível de planejamento.
Entre as principais conclusões deste estudo, constatou-se que a implementação do nível
de planejamento estudado é de essencial importância para que se tenha sucesso na
implementação da Filosofia Enxuta no setor construtivo, à medida que este dará subsídios
para o monitoramento do processo dando uma visão objetiva dos ganhos obtidos com o
mesmo. Ainda podemos citar a transparência que este proporciona ao gestor do
empreendimento, permitindo que intervenções sejam realizadas quando necessárias.
viii
ABSTRACT
The new economic order is causing some impacts in the form like the companies
organize their activities putting in evidence chances and difficulties simultaneosly, thus
indicating, the necessity of changes which have been tried since the end of the decade of 70,
in industrias and they’ve been gradually being adapted to other sectors.
This work had the objective of analyzing the impact of the planning process and control
of the production in the principles of the Lean Construction through a study of case carried
out in a construction worker company in the city of Recife /PE, after this stage a plan of
implementation will be suggested for this level of planning.
The research was divided in three stages. At first a bibliographical revision around the
subjects management of the production and control of losses was carried out, applied to the
studied sector. After that a case study was conducted having the objective of using techniques
and available tools about the subject contained in the bibliography, in order to get the
objective analysis of the present study, and after this stage was suggested a plan of
implementation for this level of planning.
Between the main conclusions of this study, it was noticed that the implementation of
the level of studied planning has an essential importance to have success in the
implementation of the Lean Philosophy in the constructive sector, while this will give
subsidies for the supervision of the process giving an objective vision of the profits gotten
with the same. We can still cite the transparency that this provides to the manager of the
enterprise, allowing that interventions are carried out when they’ve been necessary.
ix
SUMÁRIO
1.0 Introdução...........................................................................................................................01
1.1 O surgimento da Construção Enxuta.......................................................................01
1.2 Problema de Pesquisa..............................................................................................03
1.3 A problemática da Construção Civil.......................................................................03
2.0 Justificativa.........................................................................................................................06
3.0 Objetivos.............................................................................................................................08
3.1 Objetivo Geral.........................................................................................................08
3.2 Objetivos Específicos..............................................................................................08
4.0 Metodologia........................................................................................................................09
4.1 Revisão Bibliográfica..............................................................................................12
4.2 Estudo de Caso........................................................................................................12
4.2.1 Seleção da Empresa Estudada...............................................................12
4.2.2 Seleção do Processo Estudado...............................................................13
4.2.3 Seleção dos métodos e técnicas para a coleta de dados.........................13
4.2.3.1 Listas de verificação..................................................................14
4.2.3.2 Registro de Imagens..................................................................15
4.2.3.3 Diagrama de processo e mapofluxograma.................................15
4.2.4 Descrição da coleta e análise de dados..................................................16
5.0 Marco Conceitual................................................................................................................17
5.1 O Sistema Toyota de Produção...............................................................................17
5.1.1 As origens do Sistema Toyota de Produção..........................................17
5.1.2 Sistema Toyota de Produção – Princípios.............................................18
5.1.2.1 O mecanismo da produção........................................................18
5.1.2.2 O princípio do não custo e a lógica das perdas..........................19
5.1.3 O Sistema Toyota de Produção – Estrutura..........................................22
5.1.3.1 O Just in Time............................................................................23
5.1.3.2 A Autonomação.........................................................................24
5.1.3.3 Heijunka, Operações Padronizadas e Kaizen – A base do
STP............................................................................................25
5.1.3.4 Estabilidade...............................................................................26
x
5.2 As perdas na Construção Civil................................................................................27
5.2.1 Classificações........................................................................................27
5.2.1.1 Perdas segundo o seu controle...................................................27
5.2.1.2 Perdas segundo a sua natureza...................................................28
5.2.1.3 As perdas segundo a sua origem................................................29
5.3 Lean Construction...................................................................................................31
5.3.1 Modelos conceituais de processo da construção civil...........................31
5.3.2 Princípios da Construção Enxuta...........................................................33
5.3.2.1 Reduzir as parcelas que não agregam valor...............................33
5.3.2.2 Aumentar o valor do produto pela consideração das
necessidades dos clientes...........................................................34
5.3.2.3 Reduzir a variabilidade..............................................................34
5.3.2.4 Reduzir o tempo de ciclo...........................................................35
5.3.2.5 Simplificar o número de passos ou partes.................................35
5.3.2.6 Aumentar a flexibilidade de saída.............................................36
5.3.2.7 Aumentar a transparência do processo......................................36
5.3.2.8 Foco no controle de todo o processo.........................................37
5.3.2.9 Estabelecimento da melhoria contínua do processo..................37
5.3.2.10 Balanceamento da melhoria dos fluxos com a melhoria das
conversões.............................................................................................38
5.3.2.11Benchmarking...........................................................................39
5.3.3 Ferramentas para a aplicação da Construção Enxuta...........................39
5.3.3.1 Ferramentas de análise e diagnóstico da produção....................41
5.3.3.2 Ferramentas para o acompanhamento da produção...................48
5.3.3.3 Controle do consumo de materiais............................................54
5.4 Planejamento e Controle da Produção.............................................................56
5.4.1Etapas do planejamento.............................................................................57
5.4.1.1 Planejamento do processo de planejamento..........................................57
5.4.1.2 Coleta de informações...........................................................................57
5.4.1.3 Preparação dos planos...........................................................................58
5.4.1.4 Difusão de informações.........................................................................60
5.4.1.5 Ação.......................................................................................................60
5.4.1.6 Avaliação do processo de planejamento................................................60
xi
6.0 Estudo de Caso....................................................................................................................61
6.1 Descrição da empresa estudada...............................................................................61
6.2 Descrição da Obra Estudada...................................................................................62
6.3 Descrição do Processo Estudado.............................................................................62
6.4 Etapa de Diagnóstico...............................................................................................65
6.4.1 Registro de imagens..............................................................................67
6.4.2 Elaboração do Diagrama de Processo e Mapofluxograma para o Serviço
de Alvenaria...........................................................................................67
6.4.3 Aplicação das Listas de Verificação......................................................72
6.4.3.1 Listas de Verificação Tipo I......................................................73
6.4.3.2 Listas Verificação Tipo II..........................................................80
6.4.4 Relatório da Etapa de Observação e Aplicação das Ferramentas e
Conclusões do Estudo de Caso..............................................................87
7.0 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo nos Princípios da Construção Enxuta
etapa inicial para a Implementação da Construção Enxuta.................................................89
7.1 Planejamento de Curto Prazo..................................................................................94
7.1.1 Diretrizes sobre o processo de implementação.....................................97
7.1.1.1 Estabelecer uma equipe de desenvolvimento e
implementação...........................................................................97
7.1.1.2 Utilizar um plano de implementação do Sistema de
PCP............................................................................................97
7.1.1.3 Estabelecer um Programa de Treinamento................................99
7.1.1.4 Auxiliar os funcionários no gerenciamento do tempo necessário
à implementação da mudança..................................................100
7.1.1.5 Estabelecer alternativas de participação e envolvimento........100
7.1.1.6 Utilizar o Sistema de Indicadores de PCP para a avaliação do
processo de implementação.....................................................101
7.1.1.7 Considerar os problemas externos na proteção da produção...102
7.2 Indicadores a serem coletados para a avaliação dos Sistemas de PCP.................103
8.0 Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros....................................................105
9.0 Referências Bibliográficas................................................................................................107
10.0 Anexos............................................................................................................................112
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 5.1 – Quadro resumo Tipo de Perda x Origem, fonte Isatto et al., 1996....................30
Quadro 5.2 – Símbolos utilizados na elaboração de Diagramas de Processo e
Mapofluxograma, fonte Isatto et al., 2000................................................................................42
Quadro 5.3 – Exemplo de Lista de Verificação, fonte Isatto et al., 2000................................46
Quadro 5.4 – Tempo e quantidades segundo as diferentes abordagens de controle, fonte Isatto
et al., 2000.................................................................................................................................50
Quadro 5.5 – Relação de Vantagens e Desvantagens de acordo com a forma de controle e a
natureza do produto a ser controlado, fonte Isatto et al., 2000.................................................51
Quadro 6.1 – Exemplo da aplicação de planilha de apropriação do serviço de alvenaria.......64
Quadro 6.2 – Resumo dos valores encontrados nas apropriações para o serviço de alvenaria
na obra estudada........................................................................................................................65
Quadro 6.3 – Exemplo de planilha utilizada para elaboração de Diagrama de Fluxo e
Mapofluxograma.......................................................................................................................68
Quadro 6.4 – Relação do tipo de listas verificadas x processos estudados.............................73
Quadro 6.5 – Resultados obtidos para o processo de produção de argamassa........................74
Quadro 6.6 – Resultados obtidos para o processo de elevação de alvenaria interna...............75
Quadro 6.7 – Resultados obtidos para o material cimento......................................................77
Quadro 6.8 – Resultados obtidos para os Blocos Cerâmicos..................................................78
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 4.1 – Diagrama de Processo e Mapofluxograma, fonte Isatto et al., 2000...................16
Figura 5.1 – A estrutura da Produção, fonte Shingo,1996.......................................................19
Figura 5.2 – A estrutura do Sistema Toyota de Produção, fonte Ghinato, 2000.....................23
Figura 5.3 – A importância Padronização x Kaizen, fonte Ghinato, 2000..............................26
Figura 5.4 – Modelo de Processo na Filosofia Gerencial Tradicional, fonte Koskela, 1992..31
Figura 5.5 – Modelo de Processo na Construção Enxuta, fonte Koskela, 1992......................32
Figura 5.6 – Exemplo de aplicação do princípio da transparência dos processos, fonte
Formoso, 2002..........................................................................................................................36
Figura 5.7 – Exemplo de Diagrama de Processo para o serviço de alvenaria, fonte Formoso,
2002...........................................................................................................................................43
Figura 5.8 – Exemplo de Mapofluxograma para uma central de fôrmas, fonte Isatto et al.,
2000...........................................................................................................................................44
Figura 5.9 – Representação esquemática do controle por período, fonte Isatto et al.,2000.....48
Figura 5.10 – Representação esquemática do controle por evento, fonte Isatto et al., 2000...49
Figura 6.1 – Fachada da obra estudada....................................................................................62
Figura 6.2 – Croqui do pavimento térreo da obra estudada.....................................................66
Figura 6.3 – Croqui do pavimento semi-enterrado da obra estudada......................................66
Figura 6.4 – Diagrama de Fluxo para o serviço de elevação de alvenaria na obra
estudada.....................................................................................................................................69
Figura 6.5 – Estoque de blocos cerâmicos...............................................................................70
Figura 6.6 – Central de Blocos Especiais................................................................................71
Figura 6.7 – Mapofluxograma da argamassa de assentamento no pavimento de execução da
alvenaria....................................................................................................................................71
Figura 6.8 – Estoque intermediário de argamassa nos pavimentos.........................................72
Figura 6.9 – Abertura para entrada dos blocos cerâmicos.......................................................79
Figura 6.10 – Veículo estacionado impedindo a descarga dos blocos
cerâmicos..................................................................................................................................80
Figura 7.1 – Representação esquemática de um processo de Planejamento de Curto Prazo,
fonte Bernardes, 2003...............................................................................................................94
Figura 7.2 – Exemplo de planilha utilizada no planejamento de curto prazo, fonte Isatto et al.,
2000...........................................................................................................................................96
Capítulo 1 Introdução
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 O Surgimento da Construção Enxuta
Em qualquer país, o caminho mais sustentável para a melhoria do padrão de vida é o
aumento da produtividade. Os ganhos de produtividade englobam tanto processos mais
eficientes quanto inovações em processos e serviços. O uso adequado de recursos permite que
a economia forneça bens e serviços a custos menores para o mercado interno e possa competir
em mercados internacionais.
O setor da Construção Civil, assim como vários outros setores produtivos brasileiros,
viveu um grande período de protecionismo em que o mercado nacional era “preservado” da
concorrência externa, onde não havia disputa direta com empresas internacionais
caracterizadas por possuírem modernos sistemas de gestão voltados para seus clientes
(internos e externos), alto grau de produtividade e primazia pela qualidade de seus produtos e
serviços. Se por um lado esse protecionismo adiou o perigo momentâneo de dominação do
mercado brasileiro por tais empresas, por outro não motivou as indústrias nacionais a
desenvolverem o seu sistema tecnológico e de gestão, que seriam conseqüências naturais de
um mercado aberto, competitivo e seletivo, no qual, somente organizações competentes têm
chance de sobrevivência. Isto nos impôs o enorme atraso tecnológico que torna o setor da
construção civil brasileiro, antes de mais nada, deficitário.
Devido a este atraso tecnológico, um grande esforço vem sendo realizado nos últimos
anos com o intuito de modernizar este setor. Diversos diagnósticos realizados no Brasil e no
exterior, indicam que a maioria dos problemas que resultam em baixos patamares de
eficiência e qualidade na construção civil têm origem em problemas gerenciais. A eficiência
nos processos produtivos surge, então, como um objetivo a ser alcançado pelas empresas
construtoras, a fim de garantir a sua lucratividade e, por conseguinte, assegurar a sua
permanência no mercado. Neste contexto, estes esforços têm sido direcionados no sentido de
introduzir no setor modernas filosofias gerenciais, pois, a simples adoção de inovações
tecnológicas, sem que se pense sistematicamente na gestão das mesmas, pode não garantir
aumentos na produtividade.
Algumas destas novas filosofias foram desenvolvidas inicialmente em outras indústrias.
Em meados dos anos 80 houve um forte movimento no setor para aplicar princípios e
ferramentas da Gestão da Qualidade Total (TQM). Este movimento visava a obtenção por
Capítulo 1 Introdução
2
parte das empresas de um maior controle sobre seus processos produtivos além do objetivo
final que, quase sempre, era a certificação das mesmas segundo as normas da série ISO 9000.
Porém tal filosofia atende apenas de forma parcial às necessidades das empresas deste setor.
Seus conceitos, princípios e ferramentas não contemplam, com a profundidade adequada,
questões relacionadas à eficiência e eficácia do sistema de produção, estando estas muito mais
focadas em assegurar a qualidade almejada pelos clientes, sem se ater às questões
relacionadas às perdas, por exemplo. Em função destas limitações e também devido ao fato de
que, erroneamente, tentou-se disseminar o TQM na indústria como uma solução global para
toda a organização, esta filosofia vem sofrendo um relativo desgaste entre as empresas nos
últimos anos (Isatto, 2000).
Diante deste quadro verifica-se que, ao longo dos anos 90 um novo referencial teórico
vem sendo desenvolvido para a gestão de processos na construção civil. Este referencial é
oriundo de um paradigma gerencial que tem recebido diversos nomes, tais como Lean
Production (Produção Enxuta), World Class Manufacturing e Nova Filosofia de Produção
(Koskela, 1992). O esforço para esta adaptação tem envolvido um grande número de
acadêmicos, tendo em vista as dificuldades geradas pelas peculiaridades do setor.
A busca pelo perfeito entendimento e aplicação da Produção Enxuta nas empresas
trouxe o termo “Mentalidade Enxuta”, por Womack & Jones (1998), sendo a base desta
filosofia a total eliminação dos desperdícios.
Os princípios básicos da Mentalidade Enxuta, segundo Howell (1999), formaram um
método que implica em um sistema de produção que entrega o produto em ordem, mantendo
o mínimo de inventário possível, tendo por enfoque principalmente a identificação da
necessidade do cliente, objetivando a eliminação de atividades que não se fazem necessárias,
a organização da produção como um fluxo contínuo, a distribuição de decisão e a perfeição
máxima.
A adaptação desta nova filosofia de gestão da produção ao setor da construção civil
recebeu o nome de Lean Construction (Construção Enxuta). A filosofia tem como base um
conjunto de diretrizes e ferramentas que visam o controle sistemático das perdas no processo
de produção de edificações, inserido dentro do sistema de planejamento e controle da
produção, objetivando assim que este controle de perdas assuma um caráter rotineiro dentre as
empresas do setor.
Este conceito de perdas é amplo, não se restringindo às perdas de materiais. Considera
também a eficiência na utilização de outros recursos, tais como mão de obra, equipamentos e
Capítulo 1 Introdução
3
capital, estando fortemente associado ao conceito de agregar valor e definindo a perda é
como um critério de performance para o sistema de produção. Ao se produzir sem conhecer
adequadamente os requisitos dos clientes, haverá uma perda, assim como, perderemos com
estoques que durem mais ou sejam maiores que o necessário.
1.2 Problema de Pesquisa
Inserido no cenário acima descrito este trabalho analisou o processo produtivo de uma
empresa, tendo o serviço de alvenaria interna como foco inicial, à luz dos princípios da
Construção enxuta. Este diagnóstico serviu de subsídio para o objetivo maior do mesmo que
foi a análise do impacto do processo de planejamento e controle da produção nos princípios
da Construção Enxuta e posterior sugestão de plano de implementação para um planejamento
de curto prazo. Esta análise foi realizada através de um estudo de caso efetuado em uma
empresa construtora atuante no sub-setor de edificações.
O universo onde se buscou realizar este trabalho foram as empresas já certificadas pelas
normas ISO9000 na cidade de Recife. Ao longo desta pesquisa foram aplicadas as técnicas e
ferramentas da Construção Enxuta existentes na literatura.
Tecidos estes comentários define-se o tema do presente trabalho: “Análise do Impacto
do Planejamento de Curto Prazo nos Princípios da Construção Enxuta - Um Estudo de Caso”.
1.3 A Problemática da Construção Civil
O setor da construção civil permaneceu, por muito tempo, inibido para a
conscientização e motivação da produtividade. A reduzida existência de indicadores que
permitissem medir a situação setorial em termos de produtividade, tornava dificultosa a
avaliação de desempenho do setor, o que fez com que, na maioria das vezes, as coisas
acontecessem com um certo improviso.
Segundo Tommelein (1999), este tão elogiado improviso não funcionaria de maneira
positiva no setor da Construção Civil. Neste setor o efeito desta alternativa, muitas vezes
encontrada pelas pessoas responsáveis pela administração da realização de um determinado
projeto, é negativo, pois acaba acrescentando mais incerteza no processo, tornando-o ainda
mais instável e menos produtivo de maneira global. Não podendo ser, por este motivo,
considerado a melhor alternativa na gestão de um empreendimento.
Determinar a eficiência na transformação dos recursos físicos presentes na obra, bem
como detectar e quantificar a influência de fatores que possam ser relacionados a perdas desta
Capítulo 1 Introdução
4
eficiência, caracteriza-se como um potente instrumento para se balizar a busca de melhoria do
processo de produção de obras.
Somado a isto têm-se os erros de muitos incentivos contratuais, que impulsionam cada
sub-contratante rumo à otimização da sua tarefa em isolado sem uma coordenação de
conjunto. Estas ações, em geral, apresentam resultados danosos como a total inoperância do
planejamento inicial (quando este é existente), a acumulação de tarefas incompletas, os
atrasos em cadeia, além da baixa produtividade global.
Ainda segundo Tommelein (1999), uma das metodologias que tem de ser radicalmente
alterada, é a de 'empurrar' em cadeia as tarefas. O que pressupõe que, segundo o planejado
inicialmente, o fornecedor ou a equipe a jusante deverá enviar o que lhe está atribuído,
restando à obra, equipe a montante, esperar que lhe cheguem os componentes. Neste processo
se algo falha, o que é muito freqüente neste setor, a equipe responsável pela execução da obra,
deixa incompleta a sua tarefa ou coloca-a em fila de espera, e vai improvisar outra coisa, o
que ainda desorganiza mais o planejado.
Sendo assim, observa-se que é preferível adotar a técnica de 'puxar' os recursos
necessários no momento certo, uma espécie de 'just in time', o que pressupõe dois aspectos
fundamentais: um permanente mecanismo de 'feedback' em tempo real entre as várias equipes
no canteiro de obra e entre estas e os fornecedores, e uma total transparência de todo o
processo, com o envolvimento dos sub-contratados especializados desde a fase inicial do
projeto do empreendimento. Porém, não basta esta inversão do fluxo de empurrar para puxar.
É indispensável que sejam alteradas as próprias regras do planejamento.
Segundo Tommelein (1999), numa investigação realizada por ela, por volta do ano de
1991, foi verificado que menos de 50% do que está planejado no papel é de fato concretizado
ao fim de uma semana no canteiro de obras, segundo ela, essa discrepância tem um efeito
negativo que é ampliado em cadeia. Além disto estes planejamentos semanais nem sempre
são documentados da forma que deveriam a fim de se ter neles uma forma de registro do
andamento do empreendimento como um todo.
Segundo Ballard (1999), esta constatação levou-o então, a procurar criar um sistema de
controlo diferente, que foi designado pelo mesmo de planejamento de última hora ('last
planner'), feito na semana anterior, que como o próprio nome indica tem por missão
estabelecer mais próximo do canteiro um plano concreto, realista, que possa ser realmente
concretizado.
Capítulo 1 Introdução
5
A necessidade de um replanejamento formal com um mínimo de antecedência - e não,
uma vez mais, fruto do improviso na hora - advém do fato de, em regra, não ser feita nenhuma
avaliação concreta dos recursos disponíveis antes de se partir para executar o planejado.
Pressupõe-se que o que deverá ser fornecido segundo o plano, será realizado efetivamente.
Ainda segundo este autor, o erro é pensar que os recursos chegarão automaticamente em
função do planejado. A diferença entre o que deve ser feito, segundo o planejado inicialmente,
e o que realmente pode ser feito, avaliado no dia a dia no canteiro de obras é, muitas vezes
enorme. O planejamento realista deverá definir o que deverá ser feito naquela semana em
função do que pode ser realmente feito.
Capítulo2 Justificativa
6
2 JUSTIFICATIVA
O setor da Construção Civil é um dos mais importantes do Brasil, independentemente
do parâmetro que se adote na avaliação, podendo ser volume de produção, capital circulante,
número de pessoas empregadas ou utilidade dos produtos. Sua posição de destaque pode
ainda ser fundamentada no alto déficit habitacional existente no Brasil.
Neste contexto, qualquer esforço empreendido no sentido de reduzir custos através de
um programa de melhoria, resultando na diminuição de desperdícios, no aumento da
produtividade e na redução de patologias construtivas é um passo importante no apoio às
políticas habitacionais públicas e privadas, notadamente as que procuram atender,
principalmente, à população contemplada pelos programas de habitação popular.
Diante do já falado atraso tecnológico existente no setor da construção civil, uma das
tentativas realizadas visando atenua-lo é a adaptação da Filosofia de Gestão adotada pela
Toyota ao setor.
Segundo Ghinato (2000), o Sistema Toyota de Produção é uma filosofia de
gerenciamento que procura otimizar a organização de forma a atender às necessidades do
cliente, no menor prazo possível, na mais alta qualidade e, ao mais baixo custo, ao mesmo
tempo em que aumenta a segurança e o moral de seus colaboradores, envolvendo e integrando
não só a manufatura, mas todas as partes da organização.
O esforço da Toyota no sentido de se tornar uma grande montadora de veículos, surgiu
nos anos 40 ao final da II Grande Guerra, porém, dados relativos à produtividade da época
mostraram ser este um feito quase impossível. Costumava-se dizer que a produtividade dos
trabalhadores americanos, à época, era aproximadamente dez vezes superior à produtividade
da mão de obra japonesa. Tal constatação alertou os japoneses para o esforço da busca e
eliminação de possíveis perdas existente no seu sistema de produção, as quais eram vistas
como a única explicação para este abismo em termos de produtividade. A partir daí o que se
viu foi a estruturação de um processo sistemático de identificação e eliminação de perdas.
A Toyota começou a receber o reconhecimento mundial a partir da crise do petróleo de
1973, ano em que o aumento vertiginoso do preço do barril de petróleo afetou profundamente
toda a economia mundial. Em meio a milhares de empresas que sucumbiam ou enfrentavam
pesados prejuízos, a Toyota Motor Company emergia como uma das pouquíssimas empresas
a escapar praticamente ilesa dos efeitos da crise. Este fenômeno despertou a curiosidade do
mundo inteiro quanto ao segredo da Toyota.
Capítulo2 Justificativa
7
Diante da nova filosofia de gestão desenvolvida pela Toyota e do sucesso por ela
alcançada, vários esforços têm sido realizados para avaliar o seu potencial de aplicabilidade
em vários setores da indústria. Na construção civil, esse esforço foi marcado pela publicação
do trabalho Application of the New Production Philosofy in the Construction Industry por
Lauri Koskela (1992) do Technical Research Centre (VTT) da Finlândia, a partir do qual foi
criado o IGLC (International Group for Lean Construction).
A partir desta iniciativa diversas pesquisas e trabalhos vêm sendo realizados, no sentido
de adotar a Lean Construction em diversas empresas construtoras, notadamente no Sul e
Sudeste do Brasil. Benefícios como redução de custos através da eliminação das perdas e
ganhos em produtividade vêm sendo implementados. Porém, para esta Filosofia está
intimamente ligada à um Sistema de Planejamento bem estruturado e eficiente, para que se
possa obter o monitoramento tanto do processo de implementação da mesma como do
processo de Melhoria Contínua que deverá estar presente em uma organização que tenha esta
filosofia como base da sua existência.
Verifica-se, desta forma, a expressividade do presente estudo, que objetivou a análise,
através de um estudo de caso, do impacto que o Planejamento de Curto Prazo apresenta nos
Princípios da Construção Enxuta em uma empresa do setor da construção na cidade de
Recife/PE, certificada pela ISO, propondo em seguida um plano para Implementação de um
Planejamento de Curto Prazo para a obra analisada.
Capítulo3 Objetivos
8
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Analisar o Impacto exercido pelo Planejamento de Curto Prazo nos Princípios da
Construção Enxuta em uma construtora da cidade do Recife, PE e sugerir uma Plano de
Implementação de um Planejamento de Curto Prazo para a obra analisada a fim de contribuir
para a consolidação desta filosofia utilizados nesta pesquisa.
3.2 Objetivos Específicos
1. Realizar um Estudo de Caso em uma empresa construtora do Estado de
Pernambuco;
2. Identificar nela quais as suas políticas de gestão de processos existente;
3. Analisar seu sistema de planejamento e controle da produção existente;
4. Realizar nesta empresa uma pesquisa verificando os obstáculos às mudanças, mais
especificamente a uma mudança na sua filosofia de gestão de processos;
5. Aplicar Listas de Verificação existentes na bibliografia para verificar os pontos
considerados frágeis no sistema produtivo desta empresa;
6. Verificar através de um processo de observação a adeqüabilidade destas listas ao
apontar tais pontos.
7. Realizar uma análise do Impacto causado pela existência do Planejamento de
Curto Prazo nos Princípios da Construção Enxuta;
8. Propor um plano de implementação para um Planejamento de Curto Prazo.
Capítulo4 Metodologia
9
4 METODOLOGIA
Segundo Yin (1994) metodologia significa literalmente ciência ou estudo dos métodos.
É a investigação sobre os métodos empregados nas diferentes ciências, seus fundamentos e
validade, e sua relação com as teorias científicas. Enquanto o método é o conjunto de
processos racionais postos em prática para se chegar a verdade, a metodologia é “o estudo
(análise e descrição) de qualquer método científico. Quando este estudo procura fundar a
própria racionalidade de seu objeto, fala-se da lógica da ciência.
Segundo Silva (2001) pesquisa é um conjunto de ações, propostas para encontrar a
solução para um problema, que têm por base procedimentos racionais e sistemáticos. A
pesquisa é realizada quando se tem um problema e não se tem informações para soluciona-lo.
Do ponto de vista da forma de abordagem do problema a pesquisa pode ser:
- Quantitativa: considera que tudo pode ser quantificado, o que significa traduzir
em números opiniões e informações para classifica-las e analisa-las. Requer o
uso de recursos e de técnicas estatísticas.
- Qualitativa: considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o
sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade
do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos
fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de uma
pesquisa qualitativa. Não requer o uso de técnicas estatísticas, o ambiente
natural é a fonte direta para coleta de dados e é descritiva. Os pesquisadores
tendem a analisar seus dados indutivamente e o processo e os seus significados
são os focos principais da abordagem.
De acordo com Severino (2000), quando se deseja aprender a dinâmica de um processo
deve-se utilizar a abordagem qualitativa, no estudo de uma amostra representativa deste
processo, como metodologia de pesquisa.
Neste trabalho utilizou-se a metodologia da pesquisa qualitativa, na qual os dados foram
coletados a partir de um estudo de caso, onde o conhecimento desejado foi a análise do
impacto exercido pelo Planejamento de Curto Prazo nos Princípios da Construção Enxuta e
porterior sugestão de plano de implementação de um planejamento de curto prazo. Para
atingir este objetivo foi realizado um estudo de caso em uma empresa construtora do
segmento de Construção Predial para classe média alta na cidade do Recife.
Capítulo4 Metodologia
10
Segundo Gil (1991 citado por Silva, 2001) do ponto de vista dos seus objetivos a
pesquisa classifica-se em:
- Exploratória: visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas
a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento
bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o
problema pesquisado, análise de exemplos que estimulem a compreensão. Em
geral assume formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso;
- Descritiva: visa descrever as características de determinada população ou
fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de
técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática.
Assume em geral a forma de levantamento;
- Explicativa: visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a
ocorrência dos fenômenos. Aprofunda o conhecimento da realidade porque
explica a razão, o porque das coisas. Quando realizada nas ciências naturais,
requer o uso do método experimental e nas sociais o uso do método
observacional. Assume em geral, a forma de Pesquisa Experimental e Pesquisa
Expost-facto.
Ainda segundo esta autora do ponto de vista dos seus procedimentos técnicos uma
pesquisa pode ser:
- Bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado, constituído
principalmente de livros, artigos periódicos e atualmente com material
disponibilizado na internet;
- Documental: quando elaborada a partir de materiais que não receberam
tratamento analítico;
- Experimental: quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as
variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definem-se as formas de controle
e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto;
- Levantamento: quando a pesquisa envolve a interrogação direta das pessoas cujo
comportamento se deseja conhecer;
- Estudo de caso: quando envolve um estudo profundo e exaustivo de um ou
poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado
conhecimento;
- Expost-facto: quando o “experimento”se realiza após os fatos
Capítulo4 Metodologia
11
Segundo Yin (1994) a estratégia de pesquisa dependerá do tipo de questão de pesquisa,
grau de controle que o investigador tem sobre os eventos, ou o foco temporal (eventos
contemporâneos x fenômenos históricos).
No presente trabalho tivemos uma pesquisa exploratória do tipo Estudo de Caso. A
estratégia escolhida foi essa porque, segundo Godoy (1995), o estudo de caso tem se tornado a
estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por
quê” certos fenômenos ocorrem quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos
estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser
analisados dentro de algum contexto da vida real. Além disto esta estratégia de pesquisa
permite que sejam observados aspectos temporais e contextuais do fenômeno em estudo, além
de permitir a utilização de formas qualitativas e quantitativas de análise, sem exigir, no
entanto, a documentação de freqüência ou incidência dos fenômenos estudados ao longo do
tempo, ou ainda a manipulação dos mesmos.
A essência de um Estudo de Caso, ou a tendência central de todos os tipos de Estudos
de Caso, é que eles tentam esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: porque elas
foram tomadas, como elas foram implementadas e quais os resultados alcançados.
Antes de se iniciar um estudo de caso é importante que seja feita uma revisão
bibliográfica para que seja desenvolvida uma base teórica a respeito do fenômeno que será
analisado (Yin, 1994). Esta fase é de grande importância para a construção de uma teoria, pois
fornece informações a respeito de domínios de aplicação desta, as relações entre seus
elementos constituintes e suas definições e, além disso, indica quais são as relações
importantes a serem investigadas no desenvolvimento de uma pesquisa.
A base teórica, além de guiar a coleta e análise de dados, irá auxiliar na generalização
dos resultados obtidos com o estudo de caso (Yin, 1994). Desta forma, mesmo que exista
dificuldade em replicar as condições contextuais de um estudo de caso para o outro, uma
mesma teoria pode servir de base para outros estudos e pode ser testada em ambientes com
diferentes condições que irão sustentar um mesmo conjunto de conceitos e princípios
(Meredith, 1998).
De acordo com Lakatos e Marconi (1991), universo ou população é o conjunto de seres
animados ou inanimados que apresentem pelo menos uma característica em comum. Sendo
assim, podemos definir como universo desta pesquisa o estado de Pernambuco, sendo
observado o seguinte critério:
- As empresas que atuam no ramo de construção civil no estado de Pernambuco.
Capítulo4 Metodologia
12
4.1 Revisão Bibliográfica
Na revisão bibliográfica foram de interesse as publicações recentes, que refletissem o
estado da arte do movimento de adaptação da Filosofia Lean, oriunda do Sistema Toyota de
Produção, ao setor da Construção Civil, com ênfase na sua formulação conceitual. Buscou-se
fontes que documentassem tanto a base conceitual quanto as experiências de aplicação desta
nova filosofia, assim como a caracterização deste setor, destacando-se aspectos de interesse
para o trabalho, como a configuração dos condicionantes do subsetor de edificações. As
fontes buscadas foram trabalhos publicados em revistas e eventos nacionais e internacionais,
assim com em sites da internet, consultando bancos de dados eletrônicos e Home pages de
instituições públicas e privadas, de instituições de informação e divulgação de pesquisas, da
imprensa, e empresas de comércio eletrônico. As publicações em livros, sobre o tema, são
muito raras, e foram usadas para a consolidação dos conceitos.
Durante esta etapa de realização desta dissertação focalizou-se a atenção primeiramente
nos conceitos e princípios desenvolvidos por Taiichi Ohno e Shigeo Shingo, idealizadores do
Sistema Toyota de Produção, cuja aplicação tem viabilizado inúmeras melhorias,
principalmente na indústria da produção seriada. O próximo passo foi um estudo sobre as
perdas existentes no setor construtivo. Nesta fase as perdas foram classificadas de acordo com
três critérios distintos: controle, natureza e origem das mesmas. Em seguida estudou-se a
forma diferenciada de visualizar a Construção Civil, baseada na Nova Filosofia de produção,
proposta por Lauri Koskela. O último passo desta fase foi um estudo a respeito dos
planejamentos e controle da produção aplicados ao setor, descrevendo os passos para a
realização do mesmo.
4.2 Estudo de Caso
4.2.1 Seleção da empresa estudada.
Para a realização do estudo de caso foi selecionada uma empresa de médio porte que
atua na região metropolitana da cidade do Recife, tendo como foco principal a construção e
incorporação de imóveis para a classe média alta. A empresa foi selecionada através da
identificação da existência na mesma de um projeto de um engenheiro trainée que buscava
iniciar a empresa nesta Nova Filosofia de Gestão, tendo uma responsável em prestar suporte à
pesquisa. A empresa é certificada pelo Sistema Integrado de Controle da Qualidade e
Segurança do Trabalho.
Capítulo4 Metodologia
13
4.2.2 Seleção do processo a ser estudado
Na obra sugerida pela direção da empresa a ser alvo deste estudo, selecionou-se um
processo, para servir como piloto na implementação da Nova Filosofia. Esta seleção foi
realizada de forma conjunta entre a pesquisadora e o responsável pela obra, após uma visita
ao canteiro de obras para verificar os processos em andamento, levando-se em consideração a
importância do mesmo na execução da obra como um todo, assim como o estágio em que se
encontrava o desenvolvimento do mesmo na ocasião do início do estudo.
Durante a realização da pesquisa uma parcela considerável do processo selecionado
deveria ser realizada. Desta forma selecionou-se o processo de alvenaria, devido à sua
importância financeira e técnica, pois, dados da Revista Construção (1999 citados por Araújo,
2001) indicam que as vedações verticais representam algo entre 3.5% a 8.0% do custo total da
construção de edifícios habitacionais e comerciais, e, em edifícios populares este valor pode
chegar a 11%. De acordo com a escolha acima, foi de interesse de estudo o fluxo dos
seguintes materiais:
- Cal;
- Areia;
- Cimento;
- Blocos cerâmicos.
Além do estudo destes fluxos, tornou-se essencial o estudo dos processos de fabricação
e abastecimento da argamassa para assentamento dos blocos e o processo de execução da
parede propriamente dita.
4.2.3 Seleção dos métodos e técnicas para a coleta dos dados
Adotou-se nesta pesquisa o método da observação. A princípio definiu-se um conjunto
de ferramentas como uma forma de coletar dados relativos à produção. As ferramentas
selecionadas, apresentadas a seguir são de fácil utilização e não necessitam de investimentos
elevados para a sua utilização e processamento dos dados coletados.
Posteriormente foi realizada uma análise avaliando a adequabilidade destas ferramentas
ao seu propósito inicial que seria apontar pontos frágeis no processo produtivo estudado e dar
subsídios para que fosse realizada a análise a que se propõe este trabalho.
Capítulo4 Metodologia
14
4.2.3.1 Listas de Verificação.
Na Bibliografia encontra-se várias funções para as listas de verificações, entre as quais
podemos citar: planejamento de uma tarefa, identificação das atribuições de um determinado
funcionário, identificação dos pontos críticos a serem verificados em um determinado
equipamento antes do início de uma atividade, verificação dos pontos nos quais podem ser
realizadas melhorias em um processo, entre outras.
Neste trabalho foi utilizada uma lista de verificação para a identificação de perdas
existentes no serviço a ser estudado. Esta lista examina o processo apontando perdas de
acordo com a Nova Filosofia em estudo e foi desenvolvida por Costa (1999), sendo aplicada
apenas no início da coleta de dados no canteiro pesquisado. O objetivo desta lista é
basicamente apontar perdas existentes no processo produtivo de acordo com os conceitos e
princípios desenvolvidos por Taiichi Ohno e Shigeo Shingo, idealizadores do Sistema Toyota
de Produção.
Ainda segundo este autor tal ferramenta apresenta algumas características necessárias
para o estudo daquela pesquisa, dentre as quais destacam-se: adaptar-se a diferentes
processos, ser de aplicação rápida e simplificada, e, principalmente, fornecer retroalimentação
em curto espaço de tempo, de forma a permitir que medidas para o controle de perdas, caso
necessárias, sejam implantadas em tempo real, isto é, ainda durante a execução do processo na
obra. Cabe ressaltar que tais características se adequavam também ao fato que, após
consolidação, a ferramenta deverá ser incorporada pela empresa para que esta verificação seja
realizada em outras obras.
Segundo Santos et al. (1996), os itens contidos nas listas de verificação auxiliam na
elaboração de planos de ação, estimulando o auto-questionamento e, conseqüentemente, a
criatividade das pessoas envolvidas na análise dos dados. Esses mesmos autores mencionam
que, uma vez consolidadas as listas de verificação, pode-se criar um sistema de pontuação
para cada um dos itens, atribuindo-se ponderações aos mesmos, para tornar a ferramenta ainda
mais completa. O cálculo dos percentuais é realizado comparando a quantidade de itens
assinalados com “sim”, com a soma de itens aplicáveis àquele canteiro (sim + não), e o
percentual de itens marcados com “não se aplica” (NSA), em relação ao total de itens
existentes na planilha.
Saurin (1997) menciona que as listas de verificação são ferramentas bastante
abrangentes, que permitem uma ampla análise qualitativa nos canteiros de obras. O mesmo
autor aplicou listas de verificação em vinte e cinco canteiros de obras localizados nas cidades
Capítulo4 Metodologia
15
de Porto Alegre e Santa Maria, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de diagnosticar
aspectos de logística e layout, enfocando as instalações provisórias, questões ligadas à
segurança e sistemas de movimentação e armazenamento de materiais. Saurin atingiu com
sucesso os objetivos propostos em sua pesquisa, concluindo que as listas de verificação
cumprem com eficiência sua função de ferramenta gerencial de diagnóstico simplificado.
4.2.3.2 Registro de Imagens.
De acordo com Yin (1994), as imagens aumentam o poder de comunicação das
informações, além de constituírem-se em um importante registro das características do estudo
de caso. Encontramos ainda na bibliografia autores que ressaltam a importância do registro de
imagens como um meio de documentar a forma como as atividades são desempenhadas. Este
registro poderá servir ainda, como base para a realização de melhorias e para a divulgação de
boas práticas na empresa.
Neste trabalho o registro de imagens foi utilizado para documentar a forma como as
atividades eram desenvolvidas no canteiro, assim como, um meio de documentação de
práticas correntes no trato com estoques e movimentação de materiais, utilização de
ferramentas e equipamentos e para registrar a ocorrência de interferências entre diferentes
equipes realizando tarefas em uma mesma área.
4.2.3.3 Diagrama de processo e Mapofluxograma.
O diagrama de processo e o mapofluxograma são ferramentas utilizadas para
documentar a forma como um processo desenvolve-se através do uso de gráficos e símbolos,
o que torna mais fácil o entendimento dos processos e ajuda a combater os três grandes
problemas que ocorrem entre as atividades, quais sejam: perdas, atitudes impensadas e
inconsistências.
O diagrama de processo representa a seqüência das diferentes atividades que compõem
um processo. O mapofluxograma ou diagrama de fluxo, além de indicar as diferentes
atividades desempenhadas, registra o local onde as mesmas se desenvolveram, pois os
símbolos utilizados para a representação de atividades são posicionados em uma planta,
indicando a sua localização. Através da utilização de símbolos problemas e os pontos de
melhoria são identificados e alterações podem ser identificados e alterações podem ser
realizadas nos processos visando o combate às perdas. A figura abaixo apresenta um exemplo
de diagrama de processo e mapofluxograma.
Capítulo4 Metodologia
16
Figura 4.1- Diagrama de processo e mapofluxograma, fonte Isatto et al., 2000.
4.2.4 Descrição da Coleta e análise dos dados.
A coleta de dados propriamente dita foi iniciada em meados do mês de maio de 2004,
com o levantamento dos quantitativos do serviço estudado. Este levantamento foi realizado de
acordo com os projetos fornecidos pela empresa. Utilizou-se como forma se instrumento de
coleta e representação destes dados a planilha que encontra-se no Anexo 1 desta dissertação.
A coleta de dados no canteiro foi iniciada nos primeiros dias do mês de junho deste
mesmo ano. Nesta ocasião foi iniciada a fase de diagnóstico que teve como ponto de partida o
preenchimento da lista de verificação desenvolvida por Costa (1999) e que encontra-se no
Anexo 2 deste trabalho. Como dito anteriormente, esta lista tem por objetivo a classificação
das perdas ocorridas no serviço em estudo, de perdas classificadas sob a ótica da filosofia em
estudo.
Concluído este preenchimento, foi feito o estudo dos fluxos de materiais e processos a
serem estudados. Este estudo foi utilizando as ferramentas já mencionadas Diagrama de
Processo e Mapofluxograma.
No início do mês seguinte, julho, iniciou-se a fase de estudo que, tendo como base os
resultados das etapas anteriores, objetivou a elaboração de um plano de ação que
estabelecesse, de forma clara, e objetiva uma etapa inicial para a implementação da
Construção Enxuta no processo estudado, visando uma ampliação posterior, que representa o
objetivo maior deste trabalho de dissertação.
1. Estoque da cerâmica no pavimento
42. Transporte do material para o 3local do assentamento
3. Assentamento da peçacerâmica 1 2 Hall
4. Inspeção do processo
Processo: Assentamento de piso cerâmico
Sala Quarto
Diagrama de Processo Mapofluxograma
Capítulo5 Marco Conceitual
17
5 MARCO CONCEITUAL
5.1 O Sistema Toyota de Produção
5.1.1 As origens do Sistema Toyota de Produção
Após a Primeira Grande Guerra, Alfred Sloan, da General Motors, e Henry Ford
conduziram a fabricação mundial de séculos de produção artesanal – liderada pelas firmas
européias – para a era da produção em massa. Resultou daí, em grande parte, terem os Estados
Unidos logo dominado a economia do globo (Womack et al, 1992).
O produtor em massa utiliza profissionais altamente qualificados para projetar
produtos que seriam manufaturados por outros, de mais baixa ou nenhuma qualificação. Para
que isto fosse possível, eram necessárias máquinas dispendiosas e especializadas em uma só
tarefa, que produziam produtos padronizados em um alto volume de produção. Para operar
estas máquinas, tão pouco versáteis, várias folgas eram adicionadas para que a continuidade
da produção fosse assegurada, além de que, devido a este fato produtos padrões eram
mantidos no mercado o maior tempo possível, o que fazia com que os consumidores
sacrificassem a variedade que, por ventura almejassem, em função de um custo mais baixo
que nem sempre era a sua necessidade latente no momento.
No outono de 1973, a recessão que seguiu-se à Crise do Petróleo, abalou governos,
empresas e sociedades no mundo inteiro. Em 1974, a economia japonesa havia caído para um
nível de crescimento zero e muitas empresas estavam com problemas. Porém, na Toyota
Motor Company, embora os lucros tivessem diminuído ganhos maiores do que os de outras
empresas foram mantidos em 1975, 1976 e 1977 (Shingo, 1988).
O segredo do sucesso da Toyota, estava em uma nova filosofia de gestão da produção,
que buscava acima de tudo a contínua e sistemática redução das perdas e a valorização das
necessidades dos clientes. A esta nova filosofia deu-se o nome de “Sistema Toyota de
Produção”, mais tarde, também chamado de “Sistema de Produção Enxuta”.
O princípio da completa eliminação das perdas foi a tradução feita por Ohno, um dos
idealizadores deste novo sistema, a partir de um desafio lançado por Kiichiro Toyoda,
fundador da Toyota Motor Company Ltd, ao final da Segunda Guerra Mundial (1945):
“[Precisamos] Alcançar a América em três anos. Caso contrário a indústria automobilística do
Japão não sobreviverá” (Kiichiro Toyoda citado por Ohno, 1988).
Capítulo5 Marco Conceitual
18
A produção enxuta (expressão definida pelo pesquisador do International Motor
Vehicle Program John Krafcik) recebe esta denominação, por utilizar menores quantidades de
tudo em comparação com a produção em massa: metade dos esforços dos operários na
fábrica, metade do espaço para fabricação, metade do investimento em ferramentas e metade
das horas de planejamento para desenvolver novos produtos em metade do tempo. Requer
também menos da metade dos estoques atuais no local de fabricação, além de resultar em bem
menos defeitos e produzir uma maior e sempre crescente variedade de produtos (Womack et
al, 1992).
5.1.2 Sistema Toyota de Produção – Princípios
Um dos objetivos chave da produção enxuta é trazer a responsabilidade para a base da
pirâmide organizacional. Responsabilidade significa liberdade para controlar o próprio
trabalho – uma grande vantagem – mas também aumenta o medo de cometer erros que tragam
prejuízos (Womack et al., 1992).
Uma conseqüência deste fato é que o significado da carreira do profissional, em uma
empresa de acordo com esta nova filosofia, sofre algumas modificações. A produção enxuta
exige um maior número de qualificações aplicadas criativamente num ambiente de equipe, ao
invés de uma hierarquia rígida como estamos acostumados a ver no Ocidente. Porém, para
que empregados prosperem em tal ambiente, é preciso que as companhias ofereçam uma
contínua variedade de desafios. Desta maneira os seus funcionários sentirão suas
qualificações como fundamentais para sua valorização profissional. Sem tais desafios, estes
poderão sentir que “atingem o ponto final muito cedo na sua carreira” e como resultado
escondem seu conhecimento e reduzem o seu comprometimento com a organização, fazendo
com que assim a principal vantagem da produção enxuta desapareça.
5.1.2.1 O mecanismo da produção
Segundo Shingo (1996), a produção é uma rede de processos e operações. Um processo
pode ser entendido como o fluxo de materiais no tempo e no espaço; é a transformação de
matéria prima em componente semi-acabado e daí a produto acabado. Já as operações podem
ser visualizadas como o trabalho realizado para efetivar essas transformações.
A figura 5.1 ilustra como um processo – transformação de matéria prima em produto
acabado – é efetivado através de uma série de operações.
Capítulo5 Marco Conceitual
19
Figura 5.1- A estrutura da produção, fonte Shingo, 1996.
Diante de tais conceitos temos a análise do processo como sendo a análise do fluxo de
material ou produto e a análise de operações se atendo a observação do trabalho realizado
sobre o produto pelo trabalhador e pela máquina.
Para realizar melhorias significativas no processo de produção, devemos distinguir o
fluxo de produto (processo) do fluxo de trabalho (operação) e analisa-los separadamente. Para
maximizar a eficiência da produção, aconselha-se analisar profundamente e melhorar o
processo antes de tentar melhorar as operações (Shingo, 1996).
5.1.2.2 O princípio do não-custo e a lógica das perdas.
Muitas empresas ao determinarem o preço de seus produtos, utilizam o seguinte
princípio básico de custo (Shingo, 1996):
Porém, em um mercado em crise como o em que a Toyota encontrava-se inserido no
período do pós guerra, a sobrevivência dos fabricantes de bens de consumo não poderia mais
ser sustentado por este princípio dominante e chamado princípio do custo.
CUSTO + LUCRO = PREÇO DE VENDA
Capítulo5 Marco Conceitual
20
Com o endurecimento das condições de mercado, o poder de escolha dos consumidores
passa a determinar o preço de venda. Sendo assim, a lucratividade capaz de sustentar a
sobrevivência de uma empresa é definida como sendo a diferença entre o preço de venda e o
custo de fabricação, conforme expresso abaixo (Ghinato, 1996):
De acordo com Shingo (1996), qualquer empresa pode fazer um esforço para eliminar
as perdas existentes em seu sistema de produção, mas, enquanto ela operar adicionando lucros
ao custo para então determinar o seu preço de venda, seus esforços serão provavelmente
inúteis. Somente quando a redução de custo se torna o meio para aumentar os lucros, a
empresa ficará motivada para eliminar totalmente o desperdício.
Este é, segundo Ohno (1997), o objetivo mais importante do Sistema Toyota de
Produção e terá como conseqüência um aumento da eficiência da produção exigindo um
estudo detalhado da rede de processos e operações que compõem a sua estrutura de produção.
Segundo Ghinato (1996), o trabalho pode ser dividido em trabalho que adiciona valor e
trabalho que não adiciona valor.
O trabalho que adiciona valor é basicamente o processamento que gera mudança de
forma, características ou montagem. O trabalho que não adiciona valor é toda atividade
necessária como suporte ao processamento propriamente dito. Em essência, também é uma
perda que pode ser eliminada somente através da mudança das condições de trabalho.
Ainda Ghinato (1996), coloca que: “As perdas são operações ou movimentos
completamente desnecessários que geram custo e não agregam valor e que, portanto, devem
ser imediatamente eliminadas, tais com esperas, transporte de materiais para locais
intermediários, etc”.
Segundo Ohno (1997), a verdadeira melhoria na eficiência surge quando produzimos
zero desperdício e levamos a porcentagem de trabalho para 100%. Devido ao fato de no
Sistema de Produção Enxuta buscar-se produzir apenas a quantidade necessária, a força de
trabalho deve ser reduzida, visando cortar o excesso de capacidade, para então, corresponder à
quantidade almejada.
De acordo com Ohno (1997), o passo preliminar para a aplicação do Sistema de
Produção Enxuta é identificar completamente os desperdícios. Estes podem ser classificados
em sete categorias:
PREÇO DE VENDA – CUSTO = LUCRO
Capítulo5 Marco Conceitual
21
1. Perda por superprodução
2. Perda por transporte
3. Perda no processamento em si
4. Perda por movimentação
5. Perda por estoque
6. Perda por produtos defeituosos
7. Perda por Espera
Segundo Ohno (1997), a perda por superprodução é a mais danosa dentre todas as
demais. Isto deve-se ao fato de ser esta capaz de esconder as outras além de ser a mesma de
difícil eliminação.
De acordo com Shingo (1996), existem dois tipos de superprodução:
- Quantitativa
- Antecipada
A perda por superprodução quantitativa é obtida quando se produz além do volume
requerido ou programado. Segundo Shingo (1996), na Toyota Motors este tipo de perda não é
tolerada e se faz a sua eliminação pelo uso do Just in Time.
A perda por superprodução antecipada é decorrente de uma produção realizada antes do
momento necessário. Esta é, segundo Ghinato (1996), a perda mais perseguida no Sistema
Toyota de Produção.
O transporte é uma atividade que não agrega valor, e, como tal, pode ser encarado como
perda devendo ser minimizado. A otimização do transporte é, no limite, a sua completa
eliminação. A eliminação ou redução do transporte deve ser encarada como uma das
prioridades no esforço de redução de custos, pois, em geral, o transporte ocupa 45% do tempo
total de fabricação de um item. (Ghinato, 2000)
As perdas no processamento em si são parcelas do processamento que poderiam ser
eliminadas sem afetar as características e funções básicas do produto ou serviço em questão.
As perdas por movimentação estão relacionadas aos movimentos desnecessários
realizados no decorrer de uma operação pelos trabalhadores e podem ser reduzidas através de
melhorias baseadas no estudo de tempos e movimentos, e, quando esgotadas tais
possibilidades, através da mecanização das operações transferindo para a máquina atividades
manuais ora realizadas pelo operador.
A perda por estoque pode se dar na forma de estoque de matéria prima, material em
processamento ou produto acabado, e a sua eliminação se torna difícil devido ao fato de estes
Capítulo5 Marco Conceitual
22
serem vistos como vantagem por propiciar a “resolução” de problemas de sincronia entre
processos.
De acordo com Ghinato (2000), a perda por produtos defeituosos é o resultado da
geração de produtos, que apresentem alguma de suas características de qualidade fora de uma
especificação ou padrão de estabilidade e, que, por esta razão, não satisfaçam os requisitos de
uso. Entre as sete perdas é a mais comum e visível, provavelmente porque os sinais se
evidenciam no objeto de produção, trazendo como conseqüências o retrabalho e o eventual
sucateamento.
A perda por espera é originada, quando da ocorrência de um intervalo de tempo, no qual
nenhum processo ou operação é executada pelo operador ou pelas máquinas. Estas podem ser
classificadas em três tipos:
- Espera no processo: quando o lote inteiro aguarda o término da operação que está
sendo executada no lote anterior.
- Espera do lote: é a espera de cada peça do lote até que a última peça do mesmo seja
processada.
- Espera do operador: ociosidade que ocorre quando o operador permanece junto a
máquina para acompanhar ou monitorar o funcionamento da mesma. Também pode se
apresentar em quadros de operações não balanceadas.
5.1.3 – Sistema Toyota de Produção – Estrutura
Segundo Ghinato (2000), existem diferentes formas de representação da estrutura do
Sistema Toyota de Produção. A figura 2 apresenta o Sistema Toyota de Produção com seus
dois pilares – JIT e Jidoka – e outros componentes essenciais do sistema. Segundo este
modelo, o objetivo da Toyota é atender da melhor maneira às necessidades dos clientes,
fornecendo produtos e serviços da mais alta qualidade, ao mais baixo custo e no menor lead
time possível. Tudo isto enquanto assegura um ambiente de trabalho onde segurança e moral
dos trabalhadores constitua-se em preocupação fundamental da gerência.
Capítulo5 Marco Conceitual
23
Separação Homem/MáquinaSegurança
Moral
Just-in-Time Jidoka
Operações PadronizadasHeijunka
Estabilidade
CLIENTEMenorLead Time
CustoMais Baixo
Mais Altaqualidade
Kaizen
Fluxo Contínuo
Takt Time
Prod. PuxadaPoka-Yoke
Figura 5.2- - A estrutura do Sistema Toyota de Produção, fonte Ghinato, 2000
5.1.3.1 O Just in Time.
Segundo Ohno (1997), Just in Time significa que, em um processo de fluxo, as partes
corretas necessárias à montagem, alcançam a linha no momento em que são necessárias e na
quantidade necessária. Uma empresa que estabeleça esse fluxo integralmente pode chegar ao
estoque zero.
“O Just in Time (JIT) é, provavelmente, o mais discutido e estudado elemento da
moderna administração industrial.“Uma verdadeira revolução” e “mudança de paradigma”
são expressões comumente associadas ao JIT que traduzem o impacto exercido pelo mesmo
sobre as práticas gerenciais.” (Ghinato, 1996)
De acordo com Ghinato (2000), o fluxo contínuo é a resposta à necessidade de redução
do lead time, ou seja tempo total de fabricação de um produto acabado, e sua implementação
está intimamente ligada à reorganização e ao rearranjo do layout fabril, convertendo layouts
tradicionais funcionais e por processos, em células de manufatura por família de produtos.
Indispensável também para o alcance do fluxo contínuo é a implementação do fluxo unitário
de produção com estoques intermediários completamente eliminados, no limite.
O takt time é o tempo necessário para produzir um componente ou produto completo,
baseado na demanda do cliente. (Ghinato, 2000)
Capítulo5 Marco Conceitual
24
Este conceito tem fundamental importância no balanceamento de operações que, por sua
vez, é outro fator necessário à obtenção do fluxo contínuo. O takt time associa e condiciona o
ritmo de produção ao ritmo de vendas e pode ser obtido pela fórmula:
A produção puxada é o componente que faz com que o ritmo de demanda do cliente
final repercuta ao longo de toda a cadeia de valor, desde o armazém de produtos acabados até
os fornecedores das matérias primas. A informação de produção deve fluir de processo em
processo, em sentido contrário ao fluxo de materiais, isto é, do processo cliente para o
processo fornecedor.
De acordo com Ghinato (2000), a produção puxada na Toyota é viabilizada através do
kanban.
O Kanban é um sistema de controle visual auto-regulador e simplificado, que faz com
que seja possível responder a mudanças na produção simples e rapidamente (Shingo, 1996).
“A primeira regra do kanban é que o processo subseqüente vai para o precedente buscar
produto. Esta regra nasceu da necessidade de olhar as coisas pelo avesso ou de um de vista
oposto. Para praticar esta primeira regra, uma compreensão superficial não é suficiente. A
cúpula diretiva deve mudar o seu modo de pensar e se comprometer a reverter o fluxo
convencional de produção, transferência e entrega. Isto encontrará muita resistência e exige
coragem. Mas quanto maior o comprometimento, tanto mais bem sucedida será a
implementação do Sistema Toyota de Produção” (Ohno, 1997).
5.1.3.2 Autonomação (Jidoka)
Segundo Shingo (1996), o Sistema Toyota de Produção tem duas características básicas:
- Produção com estoque zero
- Reduções dos custos de mão de obra
A autonomação é um dos muitos meios disponíveis para atingir as reduções dos custos
de mão de obra e constitui o outro pilar de sustentação do STP.
De acordo com Ghinato (2000), este conceito não se restringe às máquinas e se aplica
em linhas de produção operadas manualmente, podendo, neste caso, qualquer operador parar a
linha quando alguma anormalidade for detectada. O Jidoka consiste em facultar ao operador
Takt time = tempo total disponível
Demanda do cliente
Capítulo5 Marco Conceitual
25
ou à máquina a autonomia de parar o processamento, sempre que for detectada qualquer
anormalidade.
A idéia central é impedir a geração e propagação de defeitos quando a máquina
interrompe o processamento ou o operador pára a linha de produção, fazendo com que
imediatamente o problema se torne visível a ele, aos colegas e à supervisão, desencadeando
um esforço conjunto para a identificação da causa fundamental e posterior eliminação da
mesma, evitando assim a reincidência do problema e provocando uma redução do número de
paradas na linha.
A separação entre a máquina e o homem é um requisito fundamental para a
implementação da autonomação. Na prática a separação ocorre entre a detecção da
anormalidade e a solução do problema, a qual continua sendo responsabilidade do homem,
pois, passa-la para a máquina nem sempre é técnica e economicamente viável, Ghinato
(2000).
O Poka Yoke é um dispositivo de detecção de anormalidades que possibilita a inspeção
100% através do controle físico ou mecânico.
Segundo Shingo (1996), estes dispositivos podem ser usados de duas maneiras distintas:
- Poka Yoke de controle: é o dispositivo corretivo mais poderoso que paralisa o
processamento até que a condição causadora do defeito tenha sido corrigida;
- Poka Yoke de advertência: permite que o processamento continue caso os
trabalhadores não atendam ao aviso.
De acordo com Ghinato (2000), os dispositivos Poka Yoke são a maneira pela qual o
conceito de Jidoka é colocado em prática.
5.1.3.3 Heijunka, Operações Padronizadas e Kaizen – A base do STP
Segundo Ghinato (2000), o heijunka é a criação de uma programação nivelada através
do seqüenciamento de pedidos em um padrão repetitivo e do nivelamento das variações
diárias dos mesmos a fim de corresponder à demanda a longo prazo. Da forma como é
utilizado na Toyota permite a produção em pequenos lotes e a minimização dos inventários.
De acordo com Ohno (1997), é inegável que o nivelamento se torna mais difícil a
medida que se desenvolve a diversificação de mercado. Para que esta seja mantida em
harmonia com o nivelamento da produção é importante evitar o uso de instalações e
equipamento dedicados que poderiam ter maior utilidade geral..
Segundo Ghinato (2000), a padronização das operações procura obter o máximo de
produtividade através da identificação e padronização dos elementos de trabalho que agregam
Capítulo5 Marco Conceitual
26
valor e da eliminação das perdas. O balanceamento entre os processos e a definição do nível
mínimo de estoque em processamento também são objetivos da padronização das operações.
Os componentes da operação padronizada são: takt time, a rotina padrão de operações e
a quantidade padrão de inventário em processamento.
A rotina padrão de operações é um conjunto de operações executadas por um operador
em uma seqüência determinada, permitindo-lhe repetir o ciclo de forma consistente, ao longo
do tempo.
A quantidade padrão de inventário em processamento é a mínima quantidade de peças
em circulação necessária para manter o fluxo constante e nivelado de produção.
O Kaizen é a melhora incremental e contínua de uma atividade, focada na eliminação de
perdas, de forma a agregar mais valor ao produto ou serviço com o mínimo de investimento.
Para este objetivo ser alcançado faz-se necessário o monitoramento contínuo dos processos
através do PDCA (Plan, Do, Check, Action) ou ciclo de Deming.
A figura 5.3 representa a importância da relação entre a Padronização e o Kaizen. A
melhoria estável, que permitirá lançar o processo no próximo nível, só pode ser alcançada a
partir de processos padronizados.
Figura 5.3- Importância PadronizaçãoxKaizen, fonte Ghinato, 2000
5.1.3.4 Estabilidade
A estabilidade dos processos é a base de todo o Sistema Toyota de Produção. Somente
processos capazes, sob controle e estáveis podem ser padronizados de forma a garantir uma
produção livre de defeitos (jidoka) e no momento certo (JIT). Por isto a estabilidade é um dos
pré-requisitos à implementação do Sistema Toyota de Produção.
Capítulo5 Marco Conceitual
27
5.2 As Perdas na Construção Civil
As perdas devem ser entendidas como qualquer ineficiência que se reflita no uso de
equipamentos, materiais e mão de obra em quantidades superiores à aquelas necessárias à
produção da edificação. Neste caso, as perdas englobam tanto os desperdícios materiais
quanto a execução de tarefas desnecessárias que geram custos adicionais e não agregam valor.
Tais perdas são em conseqüência de um processo de baixa qualidade, que traz como
resultado não só uma elevação de custos, mas também um produto final de qualidade
deficiente.
As novas filosofias de produção indicam que a eficiência dos processos pode ser
melhorada e as suas perdas reduzidas não só através da melhoria da eficiência das atividades
de conversão e de fluxo, mas também pela eliminação de algumas das atividades de fluxo.
Na construção civil, a literatura internacional indica que, em termos globais, as
atividades que agregam valor correspondem, em média, a um terço do tempo gasto pela mão
de obra, podendo atingir valores da ordem de 55 a 60% apenas para algumas atividades
específicas, como a execução de alvenaria.
Em que pese a sua importância, as atividades de fluxo são freqüentemente
negligenciadas no processo de produção de edificações.
5.2.1 Classificações
Para reduzir as perdas na construção civil é necessário conhecer a sua natureza e
identificar as suas principais causas. Desta forma as perdas foram classificadas neste trabalho
de acordo com a possibilidade de serem controladas, sua natureza e sua origem (Isatto et
al.,2000).
5.2.1.1 Perdas segundo o seu controle
As perdas podem ser classificadas da seguinte forma:
- Perdas inevitáveis (ou perda natural): correspondem a um nível aceitável de perdas,
que é identificado quando o investimento para a sua redução é maior que a economia gerada.
Podem variar de empresa para empresa e mesmo de obra para obra, dependendo do patamar
de desenvolvimento da empresa.
- Perdas evitáveis: Existem quando os custos de ocorrência são substancialmente
maiores que os custos de prevenção. São conseqüência de um processo de baixa qualidade, no
qual os recursos são empregados inadequadamente.
Capítulo5 Marco Conceitual
28
5.2.1.2 Perdas segundo a sua natureza
- Perdas por superprodução: refere-se à perda que ocorre devido a produção em
quantidades superiores às necessárias.
Por exemplo: produção de argamassa em quantidade superior à necessária para um dia
de trabalho, excesso de espessura em lajes de concreto armado.
- Perdas por substituição: decorrem da utilização de um material de um valor ou
características superiores aos especificados.
Por exemplo: utilização de argamassa com traço de maior resistência que a especificada,
utilização de tijolos maciços no lugar de tijolos cerâmicos furados.
- Perdas por espera: relacionadas com a sincronização e o nivelamento do fluxo de
materiais e as atividades dos trabalhadores. Podem envolver tanto perdas de mão de obra
quanto de equipamentos.
Por exemplo: paradas nos serviços originados por falta de disponibilidade de
equipamentos ou de materiais.
- Perdas por transporte: estas estão associadas ao manuseio excessivo ou inadequado
dos materiais e componentes em função de uma má programação das atividades ou de um
layout eficiente.
Por exemplo: tempo excessivo despendido em transporte devido a grandes distâncias
entre os estoques e o guincho; quebra de material devido ao duplo manuseio dos mesmos ou
ao uso de equipamentos de transporte inadequados.
- Perdas no processamento em si: têm origem na própria natureza das atividades do
processo ou na execução inadequada dos mesmos. Decorrem da falta de procedimentos
padronizados e ineficiência nos métodos de trabalho.
Por exemplo: quebra de paredes rebocadas para viabilizar a execução das instalações;
quebra de manual de blocos devido à falta de meios blocos.
- Perdas nos estoques: estão associadas à existência de estoques excessivos, em função
da programação inadequada na entrega dos materiais ou de erros na orçamentação. Também
decorrem da falta de cuidados no armazenamento dos materiais.
Por exemplo: custo financeiro dos estoques, deterioração do cimento devido ao
armazenamento em contato como o solo e pilhas muito altas, armazenamento de materiais em
local não adequados.
Capítulo5 Marco Conceitual
29
- Perdas no movimento: decorrem da realização de movimentos desnecessários por
parte dos trabalhadores e podem ser geradas por frentes de trabalho afastadas e de difícil
acesso, falta de estudo de layout do canteiro e do posto de trabalho, falta de equipamentos
adequados, etc.
Por exemplo: tempo excessivo de movimentação entre os postos de trabalho devido à
falta de programação de uma seqüência adequada de atividades.
- Perdas por elaboração de produtos defeituosos: ocorrem quando são fabricados
produtos que não atendem aos requisitos de qualidade especificados. Geralmente, originam-se
da ausência de integração entre o projeto e a execução, das deficiências do planejamento e
controle do processo produtivo, da utilização de materiais defeituosos e da falta de
treinamento dos operários.
Por exemplo: falhas nas impermeabilizações e pinturas, descolamento dos azulejos.
- Outras: existem ainda tipos de perdas de natureza diferente dos anteriores, tais como
roubo, vandalismo, acidentes, etc.
5.2.1.3 As perdas segundo a sua origem
As perdas mencionadas em geral ocorrem e podem ser identificadas durante a etapa de
produção. Contudo, sua origem pode estar tanto no próprio processo de produção quanto nos
processos que o antecedem como fabricação de materiais, preparação dos recursos humanos,
projeto, suprimentos e planejamento.
O quadro 5.1 a seguir mostra a relação destas perdas com a natureza, momento de
incidência e origem, além de exemplificar estas.
Capítulo5 Marco Conceitual
30
Quadro 5.1-Quadro resumo tipo de perdaxorigem, fonte Isatto et al., 2000.
NATUREZA EXEMPLO MOMENTO DE
INCIDÊNCIA ORIGEM
Superprodução.
Produção de argamassa em
quantidade superior à
necessária para um dia de
trabalho.
Produção.
Planejamento: falta de
procedimentos de controle.
Substituição
Utilização de tijolos à vista
em paredes a serem
rebocadas. Produção.
Suprimentos: falta do
material em canteiro por
falha na programação de
compras.
Espera
Parada na execução dos
serviços por falta de
material.
Produção.
Suprimentos: falha na
programação de compras.
Transporte
Duplo manuseio. Recebimento, Transporte,
Produção.
Gerência da obra: falha no
planejamento de locais de
estocagem.
Processamento
Necessidade de refazer uma
parede por não atender aos
requisitos de controle (nível
e prumo).
Produção.
Planejamento: falhas nos
sistemas de controle.
Recursos Humanos: falta de
treinamento dos operários.
Estoques
Deterioração do cimento
estocado. Armazenamento.
Planejamento: falta de
procedimentos referentes às
condições adequadas de
armazenamento.
Movimentos
Tempo excessivo de
deslocamento devido às
grandes distâncias de entre
postos de trabalho no andar.
Produção.
Gerência da obra: falta de
planejamento da seqüência
das atividades.
Elaboração de produtos
defeituosos
Desníveis na estrutura. Produção, Inspeção.
Projeto: falhas no sistema de
fôrmas utilizado.
Capítulo5 Marco Conceitual
31
5.3 Lean Construction
Nos anos 90, um novo referencial teórico foi construído para a gestão de processos na
construção civil, com o objetivo de adaptar alguns conceitos e princípios gerais da área de
Gestão da Produção às peculiaridades do setor. Este trabalho irá tratar particularmente da
adaptação do paradigma da Lean Production (Produção Enxuta), esforço esse que foi marcado
pelo trabalho Application of the New Production Philosophy in the Construction Industry por
Lauri Koskela (1992), do Technical Research Center (VTT) da Finlândia, a partir do qual foi
criado o IGLC (International Group for Lean Construction), engajado na adaptação e
disseminação do novo paradigma no setor da construção civil em diversos países.
Segundo Picchi (2001), apesar do grande interesse que o setor da construção tem
demonstrado pela aplicação deste conceito, tendo diversas empresas e pesquisadores discutido
esta aplicação, como pode ser observado em encontros anuais do grupo internacional
dedicado a este tema, apenas uma pequena parcela do seu potencial de aplicação foi explorada
até hoje.
Segundo Heineck (2001) o sistema puxado tem melhor resultado por imobilizar menos
capital, porém seu planejamento tem que ser preciso podendo exigir mais tempo nesta etapa,
prevendo os gargalos e controlando os estoques, para atender às necessidades variáveis dos
clientes, mantendo-se assim competitivo.
5.3.1 – Modelos conceituais do processo da construção civil.
Segundo Formoso (2002), este conceito é importante para a compreensão da diferença
básica entre a filosofia de gestão tradicional e a filosofia Lean Construction.
O modelo tradicional, como mostra a figura 4 abaixo, possui algumas características:
Figura 5.4- Modelo de processo na filosofia gerencial tradicional, fonte Koskela 1992
(a) O processo de conversão pode ser subdividido em subprocessos, que também são
processos de conversão. Por exemplo, a execução da estrutura pode ser subdividida em
execução de fôrmas, corte, dobra e montagem de armaduras e lançamento do concreto.
Matéria Prima ProdutosPROCESSO DE PRODUÇÃO
SUBPROCESSO A SUBPROCESSO B
Modelo de Processo na Filosofia Gerencial Tradicional
Capítulo5 Marco Conceitual
32
(b) O esforço de minimizar o custo total de um processo em geral é focado no esforço
de minimizar o custo de cada subprocesso separadamente.
(c) O valor do produto (output) de um subprocesso é associado somente ao custo (ou
valor) dos seus insumos.
Esse é o modelo adotado, por exemplo, nos orçamentos convencionais, que são
segmentados por produtos intermediários (por exemplo, vigas, paredes, portas, etc.), e
também nos planos de obra, nos quais são normalmente representadas apenas as atividades de
conversão. Assim, tanto os orçamentos quanto os planos de obra representam explicitamente a
seqüência de atividades que agregam valor ao produto, também denominada de fluxo de
montagem de uma edificação.
Como deficiências deste modelo podemos citar o fato de existir uma parcela de
atividades que compõem os fluxos físicos e que não agregam valor, entre as atividades de
conversão (fluxos de materiais e de mão-de-obra), as quais não são explicitamente
consideradas. Em processos complexos, como é o caso da construção de edificações estima-se
que cerca de dois terços (67%) do tempo gasto pelos trabalhadores em canteiro não agregam
valor: transporte, espera por material, retrabalhos, etc. Além disso podemos citar ainda que o
controle da produção e esforço de melhorias tende a ser focado nos subprocessos individuais e
não no sistema de produção como um todo o que pode deteriorar a eficiência dos fluxos e de
outras atividades de conversão, limitando a melhoria da eficiência global. Vale ressaltar ainda
a não consideração dos requisitos dos clientes internos e externos que pode resultar na
produção, com grande eficiência, de produtos inadequados.
Segundo Formoso (2002), na Construção Enxuta, um processo consiste em um fluxo de
materiais, desde a matéria-prima até o produto final, sendo o mesmo constituído por
atividades de transporte, espera, processamento e inspeção, conforme figura 5 abaixo. As
atividades de transporte, espera e inspeção não agregam valor ao produto final, sendo por esta
razão denominadas atividades de fluxo.
Figura 5.5- Modelo de processo na Construção Enxuta, fonte Koskela 1992
Retrabalhos
Rejeitos
INSPEÇÃO MOVIMENTO
Modelo de processo da Construção Enxuta
MOVIMENTO ESPERA PROCESSAMENTO
Capítulo5 Marco Conceitual
33
Neste modelo alguns pontos merecem destaque:
- Nem toda a atividade de processamento agrega valor ao produto, isto acontece, por
exemplo, quando as especificações do mesmo não são atendidas.
- O fato de as atividades de fluxo serem explicitadas diferentemente do que acontece
nos orçamentos convencionais e nos planos de obra implicitamente facilita a sua percepção.
- O conceito de valor está diretamente vinculado à satisfação do cliente, não sendo
inerente à execução de um processo.
5.3.2 – Princípios da Construção Enxuta
Os princípios básicos da Mentalidade Enxuta, segundo Howell (1999), formaram um
método que implica em um sistema de produção que entrega o produto em ordem, mantendo
o mínimo de inventário possível, tendo por enfoque principalmente a identificação da
necessidade do cliente, objetivando a eliminação de atividades que não se fazem necessárias,
a organização da produção como um fluxo contínuo, a distribuição de decisão e a perfeição
máxima.
Tais conceitos vêm gradativamente sendo implementados à construção civil,
primeiramente através do trabalho de Koskela (1992), onde o conceito de Construção Enxuta
é administrado por um conjunto de princípios, sendo que são todos interligados, devendo ser
aplicados de forma integrada na gestão de processos para a obtenção dos resultados
esperados.
De acordo com este autor, a Construção Enxuta apresenta um conjunto de princípios
para a gestão de processos, conforme será apresentado a seguir:
5.3.2.1. Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor
Atividades que não agregam valor são aquelas que convertem material e/ou informação
direcionada a atender aos requisitos dos clientes e são denominadas atividades de conversão
e/ou processamento. Já aquelas que não agregam valor consomem tempo, recursos ou espaço,
porém, não contribuem para atender às necessidades dos clientes (Koskela, 1992).
Este é um dos princípios fundamentais da Construção Enxuta, segundo o qual a através
não só da melhoria da eficiência das atividades de conversão e de fluxo, mas também pela
eliminação de algumas atividades de fluxo, obtêm-se um incremento na eficiência dos
processos e redução das perdas. Por exemplo, pode-se melhorar a eficiência de um
determinado processo melhorando a eficiência das atividades de transporte de materiais, mas
principalmente eliminando-se algumas dessas atividades, porém sem levar esta eliminação ao
Capítulo5 Marco Conceitual
34
extremo. Diversas atividades que não agregam valor ao cliente diretamente são essenciais à
eficiência global dos processos, como, por exemplo, controle dimensional, treinamento da
mão-de-obra, instalação de dispositivos de segurança.
5.3.2.2. Aumentar o valor do produto pela consideração das necessidades dos
clientes
Segundo Koskela (1992), agrega-se valor ao produto quando os requisitos dos clientes
internos e externos são atendidos. Nesse caso, para cada atividade existem clientes das
atividades seguintes e clientes do produto final.
Este é um outro princípio básico da Construção Enxuta, uma vez que está relacionado
ao conceito de processo como gerador de valor e estabelece que devem ser identificadas
claramente as necessidades dos clientes internos e externos e esta informação deve ser
considerada no projeto do produto e na gestão da produção.
5.3.2.3 Reduzir a variabilidade
Segundo Isatto et al (2000), existem diversos tipos de variabilidade envolvidos num
processo de produção:
- Variabilidade nos processos anteriores: está relacionada aos fornecedores do
processo. Ex: blocos cerâmicos com grandes variações dimensionais.
- Variabilidade no próprio processo: relacionada à execução de um processo.
Exemplo: variabilidade na duração da execução de uma determinada atividade, ao longo de
vários ciclos.
- Variabilidade na demanda: relacionada aos desejos e necessidades dos clientes de um
processo. Exemplo: determinados clientes de uma incorporadora solicitam mudanças de
projeto da edificação.
Do ponto de vista da gestão de processos a redução da variabilidade se faz necessária
por duas razões. Do ponto de vista do cliente, um produto uniforme em geral traz mais
satisfação, pois a qualidade do produto efetivamente corresponde às especificações
previamente estabelecidas. Em segundo lugar, a variabilidade tende a aumentar a parcela de
atividades que não agregam valor e o tempo necessário para executar um produto.
Capítulo5 Marco Conceitual
35
5.3.2.4 Reduzir o tempo de ciclo
Este princípio tem origem na técnica Just in Time. Segundo Koskela (1992), tempo de
ciclo pode ser definido como a soma de todos os tempos (transporte, espera, processamento e
inspeção) para produzir um determinado produto. A aplicação desse princípio está fortemente
relacionada à necessidade de comprimir o tempo disponível como mecanismo de forçar a
eliminação das atividades de fluxo (atividades que não agregam valor). Além disso, a redução
do tempo de ciclo traz outras vantagens, entre as quais podemos citar:
- Entrega mais rápida ao cliente, pois, as equipes se focam na conclusão de um pequeno
conjunto de unidades, caracterizando lotes de produção menores.
- A gestão dos processos torna-se mais fácil, pois, o volume de produtos inacabados em
estoque (denominado de trabalho em progresso) é menor, o que tende a diminuir o número de
frentes de trabalho, facilitando o controle da produção e do uso do espaço físico disponível.
- O efeito aprendizagem tende a aumentar, como os lotes são menores, existe menos
sobreposição na execução de diferentes unidades. Assim, os erros aparecem mais
rapidamente, podendo ser identificadas e corrigidas as causas dos problemas.
- A estimativa de futuras demandas é mais precisa, como os lotes de produção são
menores e concluídos em prazos mais reduzidos, a empresa trabalha com uma estimativa mais
precisa da demanda tornando o sistema de produção mais estável.
5.3.2.5. Simplificar reduzindo o número de passos ou partes
A simplificação deve ser entendida como a redução dos componentes do produto ou do
número de passos existentes em um fluxo de material ou de informação.
Este é um princípio freqüentemente utilizado no desenvolvimento de sistemas
construtivos racionalizados. Quanto maior o número de componentes ou de passos num
processo, maior tende a ser o número de atividades que não agregam valor. Isso ocorre em
função das tarefas auxiliares de preparação e conclusão necessárias para cada passo no
processo (por exemplo, montagem de andaimes, limpeza, inspeção final, etc.), e também pelo
fato de que, em presença de variabilidade, tende a aumentar a possibilidade de interferências
entre as equipes.
Segundo Koskela (1992), a utilização de elementos pré-fabricados, o uso de equipes
polivalentes e o planejamento eficaz do processo de produção podem ser considerados
alternativas para se atingir a simplificação.
Capítulo5 Marco Conceitual
36
5.3.2.6 Aumentar a flexibilidade de saída
Este princípio está também vinculado ao conceito de processo como gerador de valor.
Refere-se à possibilidade de alterar as características dos produtos entregues aos clientes sem
aumentar substancialmente os custos dos mesmos. Embora este princípio pareça contraditório
com o aumento da eficiência, muitas indústrias têm alcançado flexibilidade mantendo níveis
elevados de produtividade.
Segundo Koskela (1992), para se aumentar a flexibilidade deve-se procurar a
minimização do tamanho dos lotes, aproximando-os da sua demanda; reduzir o tempo de
preparação e troca de ferramentas e equipamentos; desenvolver o processo de forma a
possibilitar a adequação do produto aos requisitos do cliente o mais tarde possível e utilizar
equipes de produção polivalentes.
5.3.2.7 Aumentar a transparência do processo
O aumento da transparência de processos tende a tornar os erros mais fáceis de serem
identificados no sistema de produção, ao mesmo tempo em que aumenta a disponibilidade de
informações necessárias para a execução das tarefas, facilitando o trabalho. Este princípio
pode também ser utilizado como um mecanismo para aumentar o envolvimento da mão-de-
obra no desenvolvimento de melhorias. A figura 5.6 a seguir mostra um exemplo de aplicação
deste princípio.
Figura 5.6- Exemplo de aplicação do princípio de transparência dos processos, fonte Formoso 2002.
Capítulo5 Marco Conceitual
37
5.3.2.8 Foco no controle de todo o processo.
No controle convencional da produção, um dos grandes riscos dos esforços de
melhorias é subotimizar uma atividade específica dentro de um processo, já que cada nível
gerencial tende a melhorar a sua parcela de trabalho não levando em consideração o processo
como um todo. Estes esforços muitas vezes têm um impacto reduzido (ou até negativo) no
desempenho global do mesmo (Koskela, 1992). Esta situação é muito comum em processos
de produção fragmentados, como e a execução de uma obra, na qual existem muitos
projetistas, empresas subcontratadas e fornecedores independentes. Nesta linha Shingo
(1988), um dos idealizadores do Sistema Toyota de Produção, propõe que primeiro devem ser
introduzidas melhorias nos processos (fluxos de montagem, de materiais e de informações)
para depois serem estudadas melhorias nas operações (tarefas realizadas por pessoas e
máquinas). Assim é importante que o processo como um todo seja controlado, devendo haver
um responsável por este controle. Dependendo da natureza do processo sendo gerenciado,
pode haver a necessidade de envolver toda a cadeia produtiva neste esforço e não apenas uma
única organização.
De acordo com Isatto et al (2000), a aplicação deste princípio baseia-se fortemente na
mudança de postura por parte dos envolvidos na produção, principalmente no que tange à
percepção sistêmica dos problemas. Nesse caso, a integração entre os diferentes níveis de
planejamento poderá facilitar a implementação deste princípio, procurando entender o
processo como um todo, ao invés de um foco restrito em operações. Também requer uma
disposição em estabelecer parcerias com fornecedores. Finalmente, envolve a definição clara
de responsabilidade pelo controle global do processo.
5.3.2.9 Estabelecimento da melhoria contínua do processo
Segundo Koskela (1992), os esforços em prol da redução de perdas e aumento do valor
na gestão de processos tem um caráter incremental, interno à organização, devendo ser
conduzido continuamente, com a participação da equipe responsável (os donos do processo).
Este princípio é um componente fundamental de ambas as filosofias TQM e JIT. Ainda
segundo este autor, o princípio da melhoria contínua pode ser alcançado à medida que os
demais vão sendo cumpridos.
Capítulo5 Marco Conceitual
38
Nesse contexto, a utilização de sugestões provenientes das próprias equipes de
produção pode ser uma interessante fonte de idéia. Koskela (1992), sugere o estabelecimento
de recompensas para as equipes que demonstrarem a incorporação deste item, bem como o
monitoramento constante e a definição de ações corretivas para a eliminação dos problemas.
De acordo com Isatto et al (2000), o trabalho de equipe e a gestão participativa
constituem-se nos requisitos essenciais para a introdução de melhoria contínua nos processos.
Além desses requisitos, é recomendável a aplicação de uma série de medidas que contribuem
para direcionar o esforço de melhoria e consolidar os avanços obtidos, tais como:
- Utilização de indicadores de desempenho para o monitoramento do processo;
- Definição clara de prioridades e metas a serem alcançadas;
- Padronização de procedimentos, de forma a consolidar boas práticas e servir de
referência para futuras melhorias;
- Criar uma postura de identificação das causas reais dos problemas e implementação
de ações corretivas.
5.3.2.10 Balanceamento da melhoria dos fluxos com a melhoria das conversões
Segundo Koskela (1992), em qualquer processo de produção, existem potenciais
diferentes de melhoria nos fluxos e nas conversões. Assim, quanto maior a complexidade do
processo produtivo, maior o impacto no fluxo, e quanto maiores as perdas associadas ao
processo, mais lucrativa se torna a melhoria dos fluxos em detrimento das conversões. Além
disso, em geral, as melhorias nos fluxos requerem menores investimentos, sendo fortemente
recomendados no início de programas de melhoria. As melhorias no processamento
(conversão), por sua vez, são mais vantajosas quando existem perdas inerentes à tecnologia
sendo utilizada, sendo os seus efeitos mais imediatos.
Segundo Isatto et al (2000), as melhorias de fluxo e de conversão estão intimamente
relacionadas, na medida que os fluxos melhor gerenciados facilitam a introdução de novas
tecnologias e diminuem a necessidade de capacidade de produção nas atividade de conversão,
reduzindo a necessidade de investimentos. Por outro lado, a introdução de novas tecnologias
nas atividades de conversão tendem a reduzir a variabilidade, beneficiando os fluxos.
Assim é necessário que exista um equilíbrio entre ambas. Dentro de um determinado
processo, em geral deve haver uma alternância entre a melhoria incremental, participativa,
focada nas atividades de fluxo e inovação tecnológica, em geral de origem externa à
organização, que envolve mudanças mais radicais nas atividades de conversão.
Capítulo5 Marco Conceitual
39
A aplicação deste princípio depende muito da consciência por parte da gerência de
produção de que é necessário atuar em ambas as frentes. A primeira delas, relacionada à
melhoria incremental, requer liderança da gerência na condução das ações internas. A
segunda requer uma visão do ambiente fora da empresa, visando à identificação de inovações
que podem se adaptar à sua realidade.
5.3.2.11 Benchmarking
Isatto et al (2000), define benchmarking como sendo um processo de aprendizado a
partir de práticas adotadas em outras empresas, tipicamente consideradas líderes num
determinado segmento ou aspecto específico da produção.
Ainda segundo este autor, este princípio de uma certa forma contrasta com o princípio
relacionado à introdução da melhoria contínua a partir do esforço interno da empresa. Assim,
a competitividade da empresa deve ser o resultado da combinação dos seus pontos fortes
(internos), desenvolvidos principalmente a partir de um esforço de melhoria contínua, com
boas práticas observadas (externas) em outras empresas e setores.
Existe uma ampla bibliografia sobre como aplicar benchmarking, baseado em
experiências desenvolvidas em diferentes empresas. Em linhas gerais, diversos autores
recomendam um processo estruturado, contendo os seguintes passos:
a) conhecer os próprios processos da empresa
b) Identificar boas práticas em outras empresas similares
c) Entender os princípios por trás destas boas práticas.
d) Adaptar as boas práticas encontradas à realidade da empresa.
5.3.3 – Ferramentas para aplicação da Construção Enxuta
Nesta parte do trabalho serão apresentadas as principais ferramentas aplicáveis no
controle da produção encontradas na bibliografia. O conhecimento destas se faz importante,
pois, sabe-se que uma ferramenta não é capaz, por si só, de gerar um resultado. Para a
obtenção do resultado esperado é necessária uma pessoa habilitada a maneja-la e também que
ela seja usada no momento adequado, caso estes detalhes não sejam cuidadosamente
observados os resultados poderão ser danosos. Para o conhecimento adequado de uma
ferramenta precisamos saber exatamente os objetivos dela, a situação em que ela se faz bem
utilizada e a forma como elas se complementam visando atingir um determinado objetivo,
explorando ao máximo as possibilidades do seu uso conjunto.
Capítulo5 Marco Conceitual
40
Segundo Isatto et al (2000), as ferramentas de controle da produção podem ser
classificadas genericamente em dois grandes grupos:
a) Ferramentas voltadas ao acompanhamento da produção: Estas ferramentas
caracterizam-se pelo seu uso em intervalos pré-definidos sendo, portanto, de aplicação
periódica, tornando viável o monitoramento ao longo do tempo, tendo como ponto de partida
a comparação entre as ações e os resultados desejados e ocorridos. Através da sua utilização
obtemos a identificação da ocorrência de desvios e problemas (resultados anormais) e a sua
localização na escala do tempo. São ferramentas voltadas fundamentalmente à avaliação da
eficiência e da eficácia da produção. Quando o desejado é o controle da eficiência são
necessárias ferramentas que permitam quantificar a produção por intervalos de tempo,
determinando a quantidade de recursos utilizados na produção – mão de obra e materiais –
durante este período. No caso de se querer avaliar a eficácia serão necessárias ferramentas que
permitam determinar em que grau as metas previamente definidas estão sendo atingidas.
b) Ferramentas para avaliação e diagnóstico: Estas ferramentas têm caráter
descritivo sendo aplicáveis a processos e canteiros de obras objetivando:
- Avaliar qualitativa e quantitativamente questões relacionadas ao contexto da produção
e dos processos, tais como segurança, movimentação e armazenamento de materiais,
instalações provisórias, seqüência das atividades que compõem o processo e disposição física
e fluxos de materiais, equipamentos e pessoas;
- Descrever o contexto em que os processos são executados, permitindo a identificação
daqueles problemas que são mais evidentes, principalmente levando-se em consideração as
boas práticas da empresa e do setor;
- Fornecer elementos que auxiliem na identificação das possíveis causas de problemas
relacionados à eficiência e a eficácia do processo em estudo;
Existe uma grande quantidade de ferramentas que podem ser utilizadas para a melhoria
dos processos produtivos. A seguir são relacionadas algumas dessas ferramentas relacionadas
por Isatto et al (2000), não só pela sua aplicabilidade ao controle de processos na construção
civil mais também pela ampla gama de problemas que este conjunto de ferramentas proposto
é capaz de identificar.
Capítulo5 Marco Conceitual
41
5.3.3.1 Ferramentas de análise e diagnóstico da produção.
Nesta seção serão apresentadas as ferramentas a seguir:
- Diagrama de processo;
- Mapofluxograma;
- Listas de verificação;
- Registro de imagens;
Como o próprio nome diz, estas ferramentas devem ser usadas em um primeiro
momento com o intuito de analisar a forma atual de realização dos processos em estudo e
diagnosticar os erros desta para correções. Esta fase é de fundamental importância, tendo em
vista que erros nesta gerarão diagnósticos errados e conseqüentemente ações corretivas que
nos gerarão resultados diferentes do esperado.
O Diagrama de Processo é uma ferramenta empregada para realizar análises dos
processos produtivos, registrando a forma como os processos são realizados, entendendo-se
por processo o fluxo dos materiais e componentes ao longo da produção.
Cada uma das operações que compõem o processo é representada por um símbolo e
representada na mesma seqüência verificada quando da utilização desta ferramenta para
estudar um determinado processo.
A sua utilização tem como objetivos (Isatto et al., 2000) :
- Permitir a visualização e a análise do processo: Na construção civil o produto é
grande e imóvel fazendo com que os processos produtivos tenham um aspecto
bem mais dinâmico e complexo dificultando a sua visualização, ao contrário de
algumas instalações industriais, onde o layout muitas vezes mostra claramente
quais são as atividades que compõem um processo e sua seqüência. Desta
forma o diagrama de processo contribui para aumentar a transparência deste
sistema de produção.
- Avaliar a relação entre a quantidade de atividades de fluxo e a quantidade total
de atividades do processo: Uma vez que as atividades de fluxo em geral não
agregam valor consumindo recursos sem contribuir para o objetivo da
produção, as empresas devem sempre procurar reduzir a quantidade dessas
atividades em seus processos produtivos.
- Permitir a quantificação de outros indicadores de processo, tais como tempo do
processo que é o tempo total demandado pelo processo, consistindo na soma
dos tempos individuais das atividades que constituem o mesmo, distâncias, ou
Capítulo5 Marco Conceitual
42
seja a soma das distâncias percorridas durante as atividades de transporte que
compõem o processo, quanto menores forem estas, menores tendem a ser o
tempo gasto em transporte, o desgaste físico dos operários e o custo envolvido
em tais atividades que não agregam valor ou número de pessoas envolvidas
que é um indicador diretamente relacionado aos custos com pessoal e como
conseqüência têm-se que com a redução deste número geralmente resulta em
reduções de custo com pessoal.
Tanto o diagrama de processo como o mapafluxograma, que será visto a seguir,
baseiam-se no uso de um conjunto de símbolos, representando diferentes tipos de atividade.
Os símbolos adotados são mostrados no quadro 5.2 a seguir (Isatto et al, 2000):
Quadro5.2- Símbolos utilizados na elaboração de Diagramas de Processo e Mapofluxogramas, fonte
Isatto et al., (2000).
Símbolo Denominação da atividade Descrição Transporte Consiste na mudança de local ou posição de um material ou
componente.
Inspeção Consiste na avaliação qualitativa ou quantitativa de materiais
e componentes.
Estoque/Espera Os materiais e componentes estão imóveis, não sendo sujeitos
a qualquer tipo de trabalho
Processamento ou conversão Modificação de forma ou substância, montagem ou
desmontagem.
O diagrama de processo enfoca a análise de um processo em toda a sua extensão,
podendo incluir os parâmetros de tempo, distância e número de pessoas envolvidas no
mesmo, buscando representar todo o processo considerando através de um diagrama
compacto. Na figura abaixo podemos ver um exemplo de um diagrama deste tipo para o
processo de alvenaria.
Capítulo5 Marco Conceitual
43
Figura 5.7- Exemplo de Diagrama de Processo para o Serviço de Alvenaria, fonte Formoso, 2002
O Mapofluxograma além de identificar as diferentes operações que fazem parte de um
determinado processo, indica o local em que cada uma destas foi desempenhada, portanto é
uma ferramenta voltada a apresentar um dado processo no espaço, consistindo na
representação das atividades do processo diretamente sobre plantas ou croquis. Segundo Isatto
et al (2000), seu uso é especialmente indicado para estudos de layout, uma vez que informa de
maneira transparente e simples a movimentação de materiais, permitindo a visualização de
restrições espaciais e cruzamentos entre diferentes fluxos.
BlocosArg. Car e areia Cimento
Capítulo5 Marco Conceitual
44
Figura 5.8- Exemplo de Mapofluxograma para uma central de fôrmas, fonte Isatto et a.l., 2000.
Quando esta ferramenta é utilizada durante a etapa de preparação dos planos obtêm-se a
avaliação da distribuição física dos elementos do canteiro e dos fluxos entre esses. Além
disso, também pode ser utilizada durante o desenvolvimento das atividades para avaliar
possíveis desvios em relação ao planejado servindo como fonte de informação para o processo
de tomada de decisão e planejamento.
Assim como esta ferramenta permite a representação do fluxo de materiais e
componentes, através do seu uso pode se obter também a representação do fluxo de pessoas e
equipamentos. Além disso, também existe a possibilidade de se representar simultaneamente
mais de um processo em um mesmo mapofluxograma.
Deve ser ressaltado, entretanto, que esta ferramenta é utilizada para processos que se
desenvolvem em um plano horizontal. No caso da construção civil é muito comum que os
processos desenvolvam-se em diferentes pavimentos ou níveis, exigindo a elaboração de mais
de um mapofluxograma, além de um diagrama de processo para realizar este tipo de
acompanhamento.
Estoques Sarrafoscircular
Estoque de pedaços
Estoques de componentes
compensado
Legenda:Fluxo físico do material 1Fluxo físico do material 2ProcessamentoTransporteInspeçãoEstoque
Desengrossadeira
Tábuas 1" x 30"
Tábuas 8" x 16"
Guias 1" x 15"
Pranchas 8" x 16"
COMPENSADO
Enquadradeira
Bancada 1
Bancada 2
Bancada 4
Bancada 3
Bancada 5
ESTOQUES DIVERSOSArmários
Estoque de treliça
Expedição
Capítulo5 Marco Conceitual
45
Para a elaboração do Mapofluxograma algumas etapas devem ser seguidas (Isatto et al,
2000):
1) Definir o processo que se deseja analisar, identificando claramente os pontos que
marcam o início e o fim do processo, as matérias primas e o(s) produto(s) final(is). Por
exemplo:
a. Processo: Elevação de alvenaria em blocos cerâmicos
b. Produto: Paredes de alvenaria
c. Matérias Primas: Argamassa de cal e areia, cimento e blocos cerâmicos.
d. Ponto de início do processo: estoques de cimento, argamassa de cal e areia e
blocos. Note-se que não foi incluído o processo de fabricação da argamassa de
cal e areia, a qual pode ser produzida dentro da própria obra, ou adquirida de
um fornecedor. Neste exemplo, optou-se pela aquisição da argamassa pré-
misturada de cal e areia.
e. Ponto de fim do processo: Inspeção e recebimento da parede de alvenaria.
2) Identificar os locais onde ocorrem as diferentes atividades do processo,
providenciando as plantas referentes a tais locais.
3) Registrar o processo acompanhando seu fluxo, ou seja, iniciando nas matérias primas
e seguindo em direção ao produto final, registrando a seqüência das atividades quer o
compõem e os fluxos dos materiais e componentes ou operações diretamente nas
plantas.
4) Buscar identificar pontos passíveis de melhoria, tais como trajetos longos, cruzamento
de fluxos, falta de linearidade nos fluxos, etc. As possíveis melhorias são avaliadas
através de comparação, como vistas a se determinar a melhor dentre as possíveis
opções, já que os problemas de layout são bastante complexos e raramente é possível a
definição de uma solução ótima. A análise também deve buscar identificar atividades
que possam estar gerando perdas dos recursos envolvidos no processo em estudo, para
que possam ser eliminadas ou reduzidas durante a etapa de preparação dos planos.
Segundo Isatto et al (2000), as Listas de Verificação têm como objetivo básico permitir
uma rápida avaliação qualitativa dos processos analisados. Além disto podem também ser
utilizadas para:
a) Chamar a atenção para pontos considerados críticos para o desempenho do
processo e segurança do trabalho a serem observados antes do início do processo
Capítulo5 Marco Conceitual
46
ou quando da implementação do canteiro de obras;
b) Registrar as melhores práticas da empresa, de forma a padroniza-las por todos os
seus canteiros de obras; e auxiliar no processo de melhoria contínua;
c) Permitir uma avaliação quantitativa expedita das condições do canteiro, baseada
no percentual de itens atendidos favoravelmente em relação ao total de itens
observados na avaliação contribuindo, desta forma, para a realização de um
benchmarking interno ou externo à empresa.
Em sua forma básica, uma lista de verificação consiste em uma série de itens os quais se
deseja observar, contendo três colunas: “sim”, “não” e “não se aplica”. As duas primeiras
dizem se cada item foi atendido ou não. A terceira diz respeito à situações nas quais o item
não pode ser avaliado, como, por exemplo, itens relacionados ao guincho quando se aplica
uma lista de verificação em uma obra que não utiliza equipamento de transporte vertical. Um
exemplo de lista de verificação é apresentado no quadro 5.3 a seguir:
Quadro5.3- Exemplo de Lista de Verificação, fonte Isatto et a.l., 2000.
3. SISTEMA DE MOVIMENTAÇÃO E ARAMZENAMENTO DE
MATERIAIS
Sim Não NS
3.1 VIAS DE CIRCULÇÃO
3.1.1 Há contrapiso nas áreas de circulação de materiais ou pessoas
3.1.2 Existe cobertura para transporte de materiais da betoneira para o
guincho
3.1.3 É permitido o trânsito de carrinhos/gericas perto de estoques em que
tais equipamentos se fazem necessários
3.1.4 Há caminhos previamente definidos para os principais fluxos de
materiais próximo ao guincho e em áreas de produção de argamassa e de
armazenamento
Obs:
No caso de elaboração de uma lista de verificação para determinada empresa, ou, ainda
no caso de acrescentar itens a uma lista pré-existente, devem ser observadas algumas
recomendações (Isatto et al., 2000):
a) Cada item deve ser formulado de forma que a resposta “sim” represente sempre a
situação desejada;
Capítulo5 Marco Conceitual
47
b) Deve ser evitado o uso da palavra “não” quando da elaboração dos itens de uma
lista de verificação, uma vez que a sua presença em geral acarreta dúvida. Por
exemplo, o item “os vãos das portas dos elevadores não oferecem risco de queda”
poderiam ser respondidos tanto como “sim” como com “não” caso existissem
proteções nos vãos das portas dos elevadores.
Uma avaliação geral do canteiro ou processo pode ser obtida através de uma nota,
calculada a partir da proporção entre o número de respostas “sim” com relação ao número
total de respostas “sim” e “não” para isto deve-se elaborar a lista visando este fim. É
importante também que estas listas sejam aplicadas esporadicamente, e não de forma
contínua.
Como o próprio nome diz o Registro de Imagens do Processo consiste no registro por
meios de fotos ou filmagens das diferentes etapas que caracterizam um determinado processo.
O material resultante contribui para a realização de uma avaliação qualitativa dos processos,
identificando peculiaridades que podem apontar problemas e/ou soluções, ou ainda comprovar
as observações feitas na obra. O registro de imagens do processo também desempenha
importante papel no sentido de complementar as demais ferramenta, bem como permitir o
registro de boas práticas para a disseminação pela empresa (Isatto et al, 2000).
Este registro através de fotos e filmagens pode servir ainda como apoio ao treinamento
dos funcionários, buscando padronizar os procedimentos de execução do processo no âmbito
da empresa ou ainda uma forma de que lhes seja mostrado falhas e procedimentos errôneos no
processo analisado.
A realização do registro de imagens do processo se dá a partir do seguinte procedimento
(Isatto et al., 2000):
a) Registro externo do canteiro de obras, incluindo tapumes, portões de acesso
de veículos e pessoas, eventuais plantões de vendas, etc. Esta etapa é de particular
importância quando realizada em conjunto com a aplicação da lista de verificação, onde
constam itens relacionados ao canteiro de obras, uma vez que permite fornecer detalhes
quanto à atual situação do mesmo.
b) Registro das instalações provisórias e de segurança nos pavimentos térreos
e, quando for o caso, subsolo, principalmente quando tais itens forem
igualmente avaliados através da lista de verificação.
c) Registro dos locais de armazenamento de materiais e componentes,
incluindo aqueles utilizados no processo analisado.
Capítulo5 Marco Conceitual
48
d) Registrar, para cada material ou componente, as atividades que ocorrem ao
longo do fluxo do processo. O diagrama de processo e o mapofluxograma podem seguir como
um roteiro de fotos/filmagens, devendo-se buscar incluir todas as atividades registradas nos
mesmos. Também podem ser registrados os fluxos de pessoas e equipamentos (fluxo de
trabalho), buscando colocar em evidência aspectos como a organização do trabalho e a
necessidade de deslocamento entre postos de trabalho. A consideração do fluxo de trabalho é
particularmente interessante quando se deseja registrar aquelas operações nas quais o operário
não está em contato com os materiais (por exemplo, conduzindo um carro de mão vazio), pois
estas não são evidenciadas no registro do processo.
e) Registrar o produto em sua situação ao final do processo, conforme definido
no registro do processo.
5.3.3.2 Ferramentas para o acompanhamento da produção.
Nesta seção serão apresentadas ferramentas aplicáveis ao monitoramento e controle a
fim de garantir que alcancemos a meta planejada pela empresa.
O Cartão de Produção é uma ferramenta empregada para medir a produção de um
operário ou equipe em um dado período, e a partir destes dados calcular-se a produtividade da
mão de obra. É muitas vezes utilizado pelas empresas para avaliar o progresso físico da
obra/serviço, podendo ocorrer de duas maneiras básicas (Isatto et al, 2000):
- Controle por período: Em intervalos previamente definidos, registrando a
quantidade produzida no período. A medição da produção semanal de
revestimento argamassado produzido na obra é um exemplo deste tipo de
medição.
Figura 5.9- Representação esquemática do Controle por Período, fonte Isatto et al., 2000.
? ? ? ? ? ? ?
sem01 sem02 sem03 sem04 sem05
Medições Semanais
tempo
Quantidade produzida por semana (?)
Capítulo5 Marco Conceitual
49
- Controle por evento: Através do registro de tempo utilizado para concluir
determinada etapa da obra previamente definidos. Neste caso, pode-se tomar
como exemplo o tempo necessário à montagem da fôrma para concreto
armado de um pavimento.
Figura 5.10- Representação esquemática do Controle por Evento, fonte Isatto et al., 2000.
Qualquer uma das abordagens acima pode ter seu resultado convertido em uma taxa de
produção diária, mas de qualquer forma existem aspectos que devem ser considerados por
ocasião da escolha do tipo de controle.
Segundo Isatto et al. (2000), um fator bastante importante na escolha de uma ou outra
abordagem é a homogeneidade do processo. Quando existe repetitividade com relação às
atividades consideradas tem-se um requisito importante para que se possa aplicar a
abordagem por período. No exemplo do revestimento argamassado, pode se avaliar
periodicamente – por exemplo, semanalmente ou mesmo diariamente – o progresso da
produção em termos de m2 de revestimento produzidos no período, desde que tendo em
mente o pressuposto de que a atividade é homogênea, ou seja, que o processo e o esforço para
se produzir o revestimento não variam significativamente ao longo dos vários períodos
considerados.
Por outro lado, não faz sentido avaliar-se o processo de montagem de formas em
termos de m2 de formas produzidos diariamente, dada a heterogeneidade do trabalho (os
operários não repetem as suas tarefas ao longo dos dias necessários para a realização da
etapa). Nestes casos, é necessária a utilização da abordagem por evento.
No tocante ao prazo de execução a abordagem do controle por evento transfere para o
planejamento a tarefa de definir as diferentes etapas e quantificar seus elementos
componentes. Embora tal quantificação não seja imprescindível, somente quando ela existe
torna-se possível identificar eventuais desvios relacionados com a quantificação de elementos
construtivos e de padrões de consumo de materiais e produtividade adotados na fase de
temposem01 sem02 sem03 sem04 sem05
Etapas Executadas
Datas de conclusão das Etapas (?)
0102
0304 06
05 07
Capítulo5 Marco Conceitual
50
orçamento. Por outro lado a abordagem por período transfere tal quantificação para o
momento em que o controle é exercido. Neste caso, a prévia quantificação não é elemento
dispensável para a avaliação de desvios relacionados com quantidades e padrões de consumo
e produtividade. No entanto, o esforço a ser empregado no momento do controle é maior, já
que se faz necessária a medição física da produção. No quadro 5.4 abaixo pode-se visualizar a
relação entre o tipo de abordagem de controle a quantidade e o tempo decorrido para a
realização do controle almejado.
Quadro 5.4 – Tempo e Quantidades segundo as diferentes abordagens de controle, fonte Isatto et al., 2000.
Abordagem do controle Quantidade Tempo decorrido para a realização
Evento Fixa, determinada
previamente a partir da
definição da etapa
Variável (medido).
Período Variável (medida no local
ou estimada em termos de
% executado)
Fixo e previamente definido
(intervalo entre medições)
Adicionalmente, pode-se optar pela utilização da abordagem por evento mesmo quando
existe homogeneidade no processo. Isto ocorre freqüentemente quando se deseja associar o
controle das quantidades produzidas ao controle dos prazos para a conclusão de um elemento
ou etapa da obra. Nesse sentido, o seu uso também é importante quando se procura manter
uma seqüência de execução dos trabalhos de forma a evitar que novas frentes de trabalho sem
que as anteriores sejam concluídas. A abertura de muitas frentes de trabalho tende a aumentar
o tempo de ciclo, dificultando o controle da produção (Isatto et al, 2000).
Por exemplo, pode-se utilizar o controle por evento para avaliar o tempo gasto para
realizar o revestimento argamassado de todo o pavimento tipo, dado que este poderia ser
utilizado para a comparação com o tempo inicialmente planejado e para a previsão do tempo
necessário para a execução da mesma etapa nos pavimentos tipo subseqüentes.
Um resumo dos critérios para a seleção do tipo de abordagem do controle da produção é
mostrado no quadro 5.5 abaixo. É importante mencionar que tais abordagens não são
mutuamente exclusivas, ou seja, podem ser utilizadas simultaneamente visando diferentes
objetivos, tais como o controle de prazos e o controle da produtividade.
Capítulo5 Marco Conceitual
51
Quadro 5.5 – Relação das Vantagens e Desvantagens relacionadas à forma de controle e a natureza do
produto a ser controlado, fonte Isatto et al., 2000.
Deve-se também controlar a utilização da mão de obra, pois estes dados, quando em
conjunto com o controle da produção, determinarão a produtividade da mão de obra associada
ao processo em estudo. Este controle dará ao responsável pela obra uma visão geral do seu
empreendimento possibilitando:
a) a avaliação do comportamento da produtividade da mão de obra com relação a
determinado processo ao longo do tempo, identificando desvios e suas possíveis causas:
b) a identificação de boas práticas associadas aos níveis mais elevados de produtividade
de mão de obra registrados, além de permitir a comparação entre diferentes equipes ou
operários associados ao processo analisado;
c) a avaliação do desempenho da equipe ou operário com relação aos padrões
inicialmente estabelecidos e utilizados para o planejamento e o orçamento do serviço;
Ainda podemos citar como um benefício deste tipo de controle o fato de ele permitir o
estabelecimento de padrões de produtividade da empresa, para fins de orçamento e planeja-
mento em obras futuras, realimentando assim as composições de custo do sistema de
orçamento da empresa com base em dados reais.
Para que isto ocorra, é necessária uma perfeita concordância entre os períodos de
medição da produção e o controle da mão de obra, além de uma adequação desse controle as
etapas conforme definidas para efeitos de medição da produção.
Quando o controle da produção é feito seguindo-se a abordagem por evento, é
importante que seja registrado o tempo trabalhado de cada operário relacionado a determinada
etapa, desde o inicio até o fim da mesma. Esse controle pode ser realizado através de uma
ordem de serviço, onde vão sendo anotadas todas as horas trabalhadas pela equipe e/ou
operário. Ao final da etapa, as horas são totalizadas, a produtividade calculada em função da
produção da equipe e comparada com aquela prevista na etapa de planejamento. Eventuais
Tipo de Produto Forma de Controle Vantagens Desvantagens-Implica em medir ficamente a quantidade efetivamente produzida;
Não necessita quantificação prévia.
- Não é adequada ao controle de Prazos
Fácil de Realizar Implica em quantificar previamente a etapa
Permite o controle de prazos de execução
Controle por Período
Controle por Evento
Produto homogêneo
Produto heterogêneo
Capítulo5 Marco Conceitual
52
problemas e suas causas devem ser identificados, e medidas corretivas devem ser estudadas,
caso existam desvios significativos entre o planejado e o real.
Se o controle da produção é realizado usando-se a abordagem por período, a
homogeneidade da produção normalmente conduz a uma maior estabilidade na formação das
equipes e na atribuição do trabalho. Assim, o controle de utilização de mão de obra é em geral
facilitado, bastando um controle de eventuais desvios de função (situações onde o operário é
utilizado por um curto período de tempo em outra tarefa que não aquela inicialmente
designada) no período de controle, além do absenteísmo dos operários relacionados ao serviço
controlado. A comparação entre o real e o planejado — utilizado para efeitos de orçamento ou
dimensionamento de equipes — pode ser realizada através da comparação dos índices de
produtividade da mão de obra, ou comparando-se o consumo de mão de obra estimado e o
real para cada etapa.
Segundo Isatto et al. (2000), o Last Planner é uma ferramenta destinada ao planeja-
mento e controle da produção no nível operacional desenvolvida inicialmente por Ballard &
Howell (1998). Seu principal objetivo é formalizar o plano de curto prazo através da
utilização de uma planilha relativamente simples, a partir da qual se pode avaliar a eficácia do
planejamento operacional e registrar as causas do não cumprimento das tarefas programadas.
Estas planilhas contêm cinco colunas, conforme descrito abaixo:
a) O que e onde? Nesta coluna serão definidas as tarefas a serem executadas de
maneira que se possa visualizar claramente o serviço a ser realizado e o local de execução;
b) Quem? Nesta será definida a equipe responsável pela execução de cada
tarefa;
c) Quando? Nesta etapa deverão ser indicados os dias nos quais cada tarefa
será executada;
d) Avaliação da eficácia: Deverão ser assinaladas as tarefas que foram
integralmente concluídas na semana, de acordo com o planejamento realizado;
e) Porque: A última coluna servirá para que se registre a causa do não
cumprimento do planejamento, para as tarefas não concluídas.
O foco desta ferramenta é a eficácia do processo de planejamento e controle da
produção. A ênfase, portanto, não reside em otimizar o uso dos recursos, mas executar a obra
conforme o prazo e seqüência planejados, buscando aumentar a confiabilidade da produção.
Isto trará muitas vantagens vindas com o seu uso entre as quais podemos citar:
Capítulo5 Marco Conceitual
53
- Maior visibilidade quanto ao futuro, como por exemplo, a construção da obra
no prazo estipulado;
- A minimização buscando a não mais ocorrência de desvios que interferem na
execução dos processos, tais como a falta de materiais, mão de obra ou
equipamentos, contribuindo para o aumento da eficiência.
Segundo Isatto et al. (2000), existem alguns mecanismos para o aumento da
previsibilidade do planejamento, entre os quais:
(a) Comprometimento das equipes com as metas a serem cumpridas: numa reunião de
planejamento operacional deve ser manifestado o comprometimento dos lideres de todas as
equipes com o plano proposto. A formalização deste plano através da planilha contribui para
aumentar a transparência do processo de planejamento, reforçando o compromisso assumido,
e também auxiliando a disseminação do plano por toda a obra;
(b) Negociação entre intervenientes: caso exista conflito de interesses entre as equipes, é
feita uma negociação entre os mesmos durante a reunião, no sentido de resolver o problema;
(c) Verificação da disponibilidade de recursos: são incluídas no plano apenas tarefas
para as quais os requisitos (por exemplo, conclusão de tarefas antecedentes) são atendidos e
os recursos necessários (detalhes de projeto, espaço. material, mão de obra e equipamentos)
estão disponíveis. Este procedimento é denominado de produção protegida (shielding pro-
duction), uma vez que protege a produção contra as incertezas relacionadas à disponibilidade
dos recursos físicos;
(d) Retroalimentacão do processo: as causas do não cumprimento das metas semanais
devem ser discutidas na reunião de planejamento. desencadeando um conjunto de ações
corretivas.
Para que a implementação do last planner seja bem sucedida, é necessário respeitar
alguns critérios para a elaboração do plano semanal, relacionados a seguir:
(a) Seqüência: faz-se a distribuição dessas tarefas entre as equipes de trabalho, por
ordem de prioridade, levando em conta as prioridades estabelecidas no planejamento de
médio e longo prazo. Deve-se considerar critérios técnicos e econômicos relativos ao
seqüênciamento das tarefas;
(b) Dimensionamento: as equipes responsáveis pela execução das tarefas devem estar
bem dimensionadas.
(c) Viabilidade: conforme foi citado, os recursos necessários devem estar disponíveis e
os pré-requisitos efetivamente concluídos;
Capítulo5 Marco Conceitual
54
(d) Definição: as etapas devem ser definidas claramente de forma a permitir que os
responsáveis pela mesma sejam identificados e que sua conclusão possa ser facilmente
avaliada ao final da semana seguinte;
Adicionalmente, devem ser previstas tarefas reservas, as quais serão executadas caso
haja problemas relacionados ao andamento de uma tarefa ou se alguma equipe teve um nível
de eficiência mais elevado do que havia sido estimado. Os critérios para a definição dessas
etapas são idênticos às demais.
O indicador PPC (Percentual do Planejamento Concluído) deve ser utilizado para
monitorar a eficácia do planejamento em relação à obra como um todo ou para cada equipe
individualmente. Este indicador mede a relação percentual entre o número de tarefas
concluídas e o número de tarefas planejadas no período, não sendo incluídas para este
indicador tarefas reservas que eventualmente tenham sido realizadas, segundo Isatto et al
(2000) níveis de PPC superiores a 80% indicam que a obra atingiu um grau de previsibilidade
satisfatório.
5.3.3.3. Controle de consumo de materiais.
Segundo Isatto et al. (2000), pesquisas realizadas pelo NORIE, as empresas da
construção civil muitas vezes desconhecem o real consumo de materiais em seus canteiros e
consideram em seus orçamentos valores de consumo diferentes daqueles normalmente
encontrados em campo. Além disso, essa falta de controle contribui para que as perdas
ocorram e ações não sejam tomadas para a sua eliminação. Deste modo, é o controle de
materiais que irá exercer o papel fundamental no aumento da transparência dos processos e na
disponibilidade de informações com vistas à tomada de decisões relacionadas à redução de
perdas na produção.
Assim como é controlada a mão de obra, também poderá ser controlado o consumo de
materiais, porém há um diferenciador: os materiais podem ser estocados.
Em função deste fator, para cada registro de produção deve existir um controle
específico para cada material, quanto a:
a) estoque dos materiais no inicio do período ou etapa;
b) estoque dos materiais no fim do período ou etapa:
c) transferências da obra ou para a obra ocorridas no período ou durante a etapa;
d) desvios ou utilização dos materiais em outros processos simultâneos àqueles
observados.
Capítulo5 Marco Conceitual
55
Assim, o consumo dos materiais no período ou etapa é calculado com base em:
ConsReal = Estlnic + Aquis + TransfEntrada - TransfSaida - Desv - EstFinal
Uma vez obtido o consumo dos materiais, é possível calcular a eficiência de qualquer
um dos recursos envolvidos em um determinado processo, calculando-se o coeficiente entre o
que foi produzido e a quantidade de material empregado:
Desta forma neste trabalho será considerada a perda, em termos de unidades do
material, como sendo a diferença entre o que foi efetivamente gasto e o consumo previsto,
podendo esta também ser expressa em termos percentuais.
Porém deve se ter um cuidado especial com alguns destes aspectos, pois ao serem
achados valores negativos para as perdas, não significará uma perda negativa tendo em vista a
natureza da grandeza perda, isto indicará outros problemas que podem ir desde a
superestimação do consumo previsto foi superestimado até a utilização de menores
quantidades de materiais para um determinado serviço, o que dar margem a futuros problemas
relacionados à qualidade do produto final. Em nenhuma destas situações o resultado pode ser
considerado positivo, como poderia parecer a primeira vista.
Apesar disto, o cálculo das perdas apresenta a vantagem de permitir a mensuração física
e monetária dos ganhos possíveis com eventuais ações de melhoria, os quais devem sempre
ser comparados com os custos de implantação das mesmas. Este é um aspecto importante a
ser considerado, e que justifica a utilização em estudos para investigação do porque da
ocorrência de uma perda e de maneiras para que estas sejam eliminadas.
Para cada material obtém-se então um índice de perda, o qual pode ser avaliado ao
longo do tempo, permitindo algumas análises, entre as quais:
i. Comparações entre obras;
ii. Comparação entre equipes;
iii. Comparação entre o real e o planejado, podendo gerar também índices
médios de consumo de materiais que podem ser utilizados para realimentar as composições de
custo, a partir do momento em que se mostrarem relativamente estáveis.
È importante que se considere a necessidade de se adotar o controle do fluxo dos
materiais, não apenas nos estoques iniciais, mas também naqueles pontos onde ocorrem
Capítulo5 Marco Conceitual
56
divergências no fluxo dos materiais. Por exemplo, considere-se o caso da areia. Se a areia é
utilizada somente para a produção de argamassas na betoneira (ou central de argamassas), o
controle simultâneo da areia que ingressa no estoque inicial e que chega à betoneira (através
do volume de areia efetivamente utilizado) permite avaliar a perda de material que ocorre no
estoque e no trajeto estoque — central de argamassas/betoneira. Por outro lado, o controle de
espessura de juntas da alvenaria e do revestimento argamassado, permitem a identificação da
perda que fica incorporada ao produto (consumo adicional de material e que não agrega valor
ao produto final).
Uma outra razão para a utilização de pontos de controle dentro do processo,
independentemente da existência de pontos de divergência, é que se torna mais fácil localizar
os pontos ou partes do processo nos quais ocorrem as perdas.
A adoção de pontos de controle dentro do processo representa um custo adicional de
controle, e deve ser justificada a partir da necessidade de calcular a eficiência quanto ao uso
do material em cada processo, separadamente, o que pode ocorrer em função da existência de
indícios de níveis de perdas diferenciados para o mesmo material em função do processo em
que o mesmo e utilizado. Quando isto não ocorre, pode-se considerar a perda de cada
processo como sendo igual à perda média do material, evitando-se assim o controle adicional
no ponto de divergência.
5.5 Planejamento e Controle da Produção
Em termos genéricos, para Ackoff (1976), planejamento pode ser considerado a
“definição de um futuro desejado e de meios eficazes de alcançá-lo”. De acordo com esta
definição, verifica-se que a tomada de decisão está intrisecamente relacionada com o
planejamento, pois é através do processo decisório que as metas estabelecidas nos planos
podem ser cumpridas.
Syal et al (1992 citado por Bernardes 2003) descrevem o planejamento como um
processo de tomada de decisão que resulta em um conjunto de ações necessárias para
transformar o estágio inicial de um empreendimento em um estágio final desejado. Essas
ações fixam padrões de desempenho em relação ao qual o progresso do empreendimento é
mensurado e analisado durante a fase de controle da produção. Entretanto, esse conceito não
se refere ao controle como parte do processo de planejamento.
Segundo Ghinato (1996), no Sistema Toyota de Produção, porém, há uma
preocupação maior com a questão da ligação consistente e efetiva da função planejamento
Capítulo5 Marco Conceitual
57
com as funções de controle, execução e monitoramento. Isso pode ser explicado à medida que
os defeitos vão sendo identificados na fase de execução e controle, fazendo com que estas
duas funções sejam fundamentais para a redução de problemas operacionais, independente do
quão consistente e perfeito tenha sido o planejamento.
Ghinato (1996) salienta, também, que existe uma diferença entre controle e
monitoramento. O controle pode ser encarado como um processo de supervisão exercido pela
chefia sobre os trabalhadores e a verificação dos resultados das atividades destes,
considerando alguns padrões especificados previamente (Shingo, 1996). Assim, a função
controle inclui ações corretivas, em tempo real, nos postos de trabalho. No monitoramento,
entretanto, ocorrem apenas a comparação do executado com o planejamento e a determinação
da(s) causa(s) fundamental(is) da ocorrência de falhas.
Para este trabalho será adotada a definição de Formoso, 1991, visto que é a única que
considera o controle parte inerente do processo de planejamento. Este autor define
planejamento como “o processo de tomada de decisão que envolve o estabelecimento de
metas e dos procedimentos necessários para atingi-las, sendo efetivo quando seguido de um
controle”.
5.5.1 Etapas do Planejamento.
Laufer e Tucker (1987) salientam cinco etapas para o processo de planejamento:
5.5.1.1 Planejamento do processo de planejamento:
Nesta etapa são tomadas decisões relativas ao horizonte e ao nível de detalhes do
planejamento, da frequência de replanejamento e do grau de controle a ser efetuado. Entende-
se por horizonte de planejamento o intervalo de tempo entre a preparação do plano e a
realização da ação inerente às metas fixadas naquele plano (Laufer e Tucker, 1988).
5.5.1.2 Coleta de Informações:
Nesta etapa ocorre a coleta das informações necessárias para se realizar o planejamento.
Estas informações incluem, geralmente, contratos, plantas, especificações técnicas, descrições
das condições do canteiro e das condições ambientais, tecnologia a ser utilizada na
construção, viabilidade da terceirização ou não de processos, índices de produtividade do
trabalho, dados de equipamentos a serem utilizados e metas estabelecidas pela alta gerência.
Iniciada a construção, o processo de reunião de informações continua, mas a partir desse
ponto com ênfase nos recursos consumidos e nas metas alcançadas (Laufer e Tucker, 1987).
Capítulo5 Marco Conceitual
58
De acordo com Laufer e Howell (1993 citados por Bernardes 2003), essa fase tem como
objetivo a redução da incerteza através de uma abordagem na qual, inicialmente, se deve
procurar selecionar, de forma sistemática, as informações necessárias à execução do processo
produtivo. Contudo, a maior deficiência desta fase é o fato de que a incerteza normalmente
não é considerada (Laufer e Tucker, 1987)
5.5.1.3 Preparação dos planos:
Segundo Bernardes, 2003, esta é a etapa que recebe maior atenção por parte dos
responsáveis pelo planejamento do empreendimento de construção. Dessa forma é importante,
então, que seja realizada uma análise crítica da utilização de algumas das técnicas utilizadas
nesta fase.
Do ponto de vista prático, as técnicas de rede CPM (critical path method – método do
caminho crítico) são consideradas, por alguns autores, indispensáveis para a preparação dos
planos e a programação do empreendimento (LEVITT et al, 1988 citado por Bernardes 2003).
Entretanto, mesmo com a utilização dessas técnicas por mais de três décadas, a sua eficácia
tem se mostrado bastante limitada.
Uma pesquisa realizada em empresas de construção de grande porte que aplicavam a
técnica nos Estados Unidos mostrou que apenas 15% delas consideraram terem obtido
sucesso (Laufer e Tucker, 1987). Em empresas de pequeno porte a situação foi menos
encorajadora: estudos realizados mostraram que apenas 10% delas utilizavam o método
(Waddill e Mayes (1986), citados por Laufer e Tucker, 1987. No Brasil uma pesquisa
realizada em Porto Alegre indicou que apenas 9% das empresas de construção de pequeno
porte utilizavam técnicas de rede (Fruet e Formoso, 1993). Nessa última pesquisa foram
apresentados como principais fatores para a não utilização dessas técnicas a dificuldade de
utilização, o desconhecimento da técnica e a percepção de que a técnica não se aplica à
construção civil.
Essas técnicas, entretanto, apresentam vantagens e desvantagens. As principais
deficiências apontadas na bibliografia são as seguintes:
- Necessidade da presença de especialista para gerar ou alterar o plano de obra, mesmo
com o uso de pacotes computacionais (Birrel, 1980 citado por Bernardes 2003);
- Dificuldade de aplicação da técnica devido à variabilidade das durações e à falta de
precisão na estimativa de atividades e recursos (Heineck, 1984);
Capítulo5 Marco Conceitual
59
- Dificuldade de se assegurar a continuidade das operações no canteiro, visto que a
técnica focaliza mais restrições tecnológicas do que, propriamente, restrições de recursos
(Laufer e Tucker, 1987);
- Incompatibilidade com o processo construtivo, visto que a técnica é aplicável a
processos que envolvam montagem de componentes, exigindo, portanto, um seqüênciamento
bem detalhado das operações envolvidas (Formoso, 1991), o que, em geral, não acontece
durante determinadas fases de construção, nas quais o seqüênciamento de atividades não é
rígido;
- Dificuldade dos profissionais encarregados do gerenciamento da construção de
entender a complexidade das redes (Birrel, 1980 citado por Bernardes 2003);
- Dificuldade de se explicitar as atividades de fluxo (Koskela, 1992);
Como vantagens podemos citar:
- Ajuda a determinar a lógica com a qual o empreendimento será construído (Heineck,
1984);
- Permite a visualização dos serviços que se desviaram do programa inicial e suas
influências nas demais etapas da obra (Maziero, 1990);
- Auxilia o estabelecimento dos recursos necessários à execução dos serviços (Maziero,
1990).
Segundo Birrel (1980 citado por Bernardes 2003), a técnica CPM foi criada para
empreendimentos do governo americano que visavam apenas cumprir prazos e não melhorar a
eficiência na utilização dos recursos. Esses objetivos são, portanto, diferentes dos objetivos da
indústria da construção onde trabalha-se com restrições de recursos.
Uma outra técnica para a preparação de planos é Linha de Balanço, destinada a
empreendimentos com características repetitivas, como prédios altos ou conjuntos
habitacionais, por exemplo. Essa técnica está mais diretamente relacionada aos princípios da
lean construction, tendo em vista que ela procura explicitar os ritmos de produção e os fluxos
de trabalho, conferindo assim uma maior visibilidade ao processo produtivo (Bernardes,
2003). Contudo, uma deficiência desta técnica reside no fato de que ela explicita o fluxo de
mão-de-obra, mas não analisa o fluxo de materiais (Tommelein, 1998 citado por Bernardes,
2003).
Capítulo5 Marco Conceitual
60
5.5.1.4 Difusão de informações:
Esta etapa, em geral, apresenta três problemas principais:
- Algumas pessoas podem se sentir prejudicadas com os resultados propiciados pelo
planejamento, impondo obstáculos à sua implementação;
- A grande quantidade de informações poderá ser organizada em um formato não
apropriado;
- Existência de dois sistemas de informação paralelos para o gerenciamento do
empreendimento. No nível tático, situado no escritório central da empresa, o sistema é formal.
No nível operacional, existe, no canteiro de obras, um sistema de informação informal aliado
a um de decisão que ditam, no curto prazo, a execução da obra.
Um outro aspecto que deve ser salientado nessa etapa é a forma pela qual as
informações são difundidas. Assim, a informação deve ser preparada de acordo com as
necessidades das pessoas que irão utilizá-la. O responsável pela difusão de determinada
informação deve, então, com o auxílio dos usuários da mesma, identificar aquelas que são
pertinentes em seus processos decisórios (Laufer e Tucker, 1987).
5.5.1.5 Ação
Durante esta fase o progresso da produção é controlado e monitorado e as informações
resultantes desse controle são utilizadas para atualizar planos e preparar relatórios sobre o
desempenho da produção (Formoso, 1991)
5.5.1.6 Avaliação do processo de planejamento
A última etapa corresponde à avaliação de todo o processo de planejamento, deve
ocorrer ao término da construção, ou, ainda, durante a própria execução caso haja mudanças
substanciais nas metas estabelecidas nos planos (Laufer e Tucker, 1987). Nessa etapa, deve
ocorrer a análise das decisões estabelecidas durante a concepção (ou preparação) do processo
de planejamento e controle da produção. A utilização de indicadores globais, como, por
exemplo, a relação entre os custos orçados e os custos reais, acompanhados através de
relatórios de controle operacionais, pode ajudar na análise dessa fase. Entretanto é importante
que as ações identificadas como soluções para a correção dos desvios existentes nos planos
sejam, de fato, implementadas.
Capítulo 6 Estudo de Caso
61
6 ESTUDO DE CASO
Em linhas gerais a realização do estudo de caso foi dividida em duas etapas. Na
primeira, foi conduzido um diagnóstico da situação atual, ou seja, por meio de um processo de
observação foi realizada uma análise detalhada dos processos de produção tanto no que se
refere ao fluxo de materiais quanto às atividades dos trabalhadores envolvidos na etapa de
execução estudada, a elevação de alvenaria interna. Nesta etapa foram usadas ferramentas
como as listas de verificação, o registro de imagens além do Mapofluxograma e Diagrama de
Fluxos, ferramentas bastante utilizadas na filosofia alvo do trabalho. Ao final desta fase foi
realizada uma análise da adequabilidade destas ferramentas que era indicar os elos frágeis da
cadeia produtiva em questão e dar subsídios para uma análise dos impactos da existência ou
não de um Processo de Planejamento e Controle da Produção devidamente formalizado e
sistematizado sobre os Princípios da Construção Enxuta. Em seguida a esta etapa foi sugerido
um plano de Implementação para um Planejamento de Curto Prazo na obra analisada.
O diagnóstico da situação atual na qual a empresa estava inserida, quanto aos aspectos
de interesse descriminados no parágrafo anterior, utilizou a observação como ferramenta de
pesquisa, conforme descrito anteriormente, tendo as pessoas do engenheiro responsável pela
obra e da sua auxiliar como elementos facilitadores entre a pesquisadora e a organização.
Porém, por ser participativo, todos os envolvidos, inclusive os operários, foram incentivados a
contribuir na análise dos problemas e no desenvolvimento de soluções. Assim, os operários
foram esclarecidos de que a coleta de dados não seria utilizada para fins de coerção e que os
mesmos deveriam participar da elaboração de um plano de ação para que fossem alcançadas
as melhorias almejadas.
6.1 Descrição da empresa estudada
O estudo de caso realizado desenvolveu-se em uma empresa de grande porte, de acordo
com a classificação do Sebrae, conforme anexo 3, sediada na cidade do Recife com atuação
na área de construção e incorporação de edificações residenciais voltadas para as classes alta e
média alta. Na ocasião da pesquisa a empresa já era certificada pelo Sistema Integrado de
Qualidade e Segurança do Trabalho.
Capítulo 6 Estudo de Caso
62
6.2 Descrição da obra estudada
Para a escolha da obra, foram levados em consideração aspectos como o perfil
organizacional e tecnológico da empresa, sendo escolhida uma obra considerada uma obra
típica da empresa estudada. Alternativamente, algumas empresas preferem escolher a obra
que aparentemente tem o pior desempenho entre todas, com o intuito de detectar o maior
número de problemas possíveis no diagnóstico pré-intervenção, porém este não foi o caso do
estudo realizado (Santos, 1996).
A obra analisada consistia em um edifício residencial, situado em Recife/PE, com uma
área total construída de 15.101,72 m², distribuídos em um pavimento semi enterrado, trinta e
um pavimentos tipo, com duas unidades cada e duas coberturas duplex. A área de cada uma
das unidades do pavimento tipo era de aproximadamente 160 m2 e nas coberturas este valor
chegava a 290,00 m² aproximadamente. A estrutura foi executada em concreto armado, sendo
todo o volume fabricado na própria central do canteiro de obras.
Cada pavimento tipo abrigava dois apartamentos. Cada unidade desta era composta por
quatro quartos, todos suítes, sala para três ambientes, lavabo, copa/cozinha e dependência
completa de empregada. Na foto abaixo, temos uma visão da fachada e porte da mesma.
Figura 6.1 – Fachada da obra estudada.
6.3 Descrição do processo estudado
O processo foi escolhido levando-se em consideração a sua importância para a empresa
em termos de custo e ser considerado como crítico sob o ponto de vista do andamento da
edificação como um todo, pois a elevação da alvenaria serve como um “ditador” para o ritmo
dos seus serviços subseqüentes. Este processo foi escolhido como um foco inicial do
programa de melhoria na empresa em questão, sendo que a empresa deixou muito claro a sua
intenção de aplicar os conceitos estudados, não só nos demais processos desta obra estudo de
Capítulo 6 Estudo de Caso
63
caso, mais no seu espectro global, inclusive fornecedores, envolvendo toda a sua cadeia de
suprimentos.
As alvenaria de vedação externas e internas foram executadas em blocos cerâmicos
possuindo 19cm x 19cm com a outra dimensão apresentando três variações, 7, 9 e 12cm, as
quais obedeciam a um projeto de modulação existente. No caso da alvenaria interna, onde se
concentrou o presente estudo, o quantitativo total a ser executado era de 16.020 m2
aproximadamente. Devido à certificação que a empresa possuía, verificou-se no escritório do
canteiro a existência de manual contendo padrões e especificações para este serviço, porém,
não foi constatado o efetivo uso destes pelos funcionários.
A mão de obra empregada no canteiro era própria, inclusive o mestre de obras que, no
caso estudado, era exclusivo ao serviço alvo deste estudo, a alvenaria. Durante o período do
estudo de caso havia um estagiário na obra, o qual dedicava a maior parte do seu tempo à
coleta de dados e inspeção visual do processo em estudo.
Como argumento de venda, a empresa fornece uma ampla gama de opções de
acabamentos aos seus clientes, que são, geralmente, pessoas exigentes quanto ao nível de
qualidade do produto, e, em geral, já possuem outros imóveis, priorizando assim a qualidade
em relação ao prazo de execução. Além das opções de acabamento, também são permitidas
alterações na planta baixa inicialmente concebida, estes fatos acarretam, em algumas
ocasiões, atrasos na execução de alguns serviços ou subutilização do pessoal responsável por
esta execução. Como exemplo claro tivemos no processo estudado a atividade começando
com a equipe composta por quatro pedreiros os quais eram abastecidos por apenas um
servente, pois trabalhavam em frentes localizadas em um mesmo pavimento. No pavimento
acima havia uma unidade que passaria por reforma, cuja planta ainda não havia sido fornecida
à empresa, então teve que ser alocado a esta equipe mais um servente, pois constatou-se que
trabalhando em frentes localizadas em pavimentos diferentes, um só servente não abasteceria
as duas de forma eficiente. Vale ainda ressaltar, que as plantas de reforma ainda não tinham
sido entregues, mais ainda estavam dentro do prazo, pois, nesta obra, em especial, a alvenaria
interna foi iniciada antes do término da estrutura, que é o procedimento usual nesta empresa,
por determinação de um dos seus sócios. Destaque-se também que os clientes priorizam a
qualidade em detrimento do cumprimento dos prazos, até certos limites, e concordam em
absorver os custos adicionais advindos desse tipo de escolha. Desta forma os critérios
qualidade e flexibilidade quanto ao ritmo dos serviços são fundamentais para o sucesso desta
empresa.
Capítulo 6 Estudo de Caso
64
A respeito da programação da obra estudada, esta encontrava-se detalhada em um
cronograma físico financeiro elaborado por meio do Excell, o qual sofria atualizações
trimestrais, de acordo com as reuniões de condomínio que aconteciam nestas datas, e era o
único documento deste tipo formalizado.
Durante a realização do estudo, não foi verificada a elaboração do planejamento formal
das tarefas que se desenvolviam no canteiro. O controle da mão de obra era realizado
quinzenalmente para efeito de medição servindo para o pagamento dos funcionários
envolvidos no serviço. Com relação ao controle dos materiais utilizados no processo
estudado, verificou-se que o mesmo era realizado pelo estagiário ao término de cada unidade
ou pavimento tipo. Este controle visava o acompanhamento da evolução dos custos
relacionados ao mesmo. No quadro 6.1 a seguir vemos um exemplo da planilha utilizada Quadro 6.1 - Exemplo da aplicação da planilha de apropriação do serviço de alvenaria.
PRODUÇÃO QUANT. FUNC. HN V. UNIT. VALORPedreiro 4 75 R$3,64 R$1.091,40Servente 2 75 R$2,72 R$408,00
R$1.499,40
MATERIAL QUANT. UNID. V. UNIT. VALORCimento 23,00 sc R$16,07 R$369,61Cal 23,00 sc R$4,40 R$101,20Areia 6,90 m³ R$14,50 R$100,05Argamassa 12,00 sc R$7,45 R$89,40Tijolo - 7 7,10 mlh R$165,00 R$1.171,50Tijolo - 9 0,66 mlh R$175,00 R$115,50Tijolo - 12 0,00 mlh R$215,00 R$0,00
R$1.947,26
R$3.446,667,98
310,58R$6,27R$4,83
R$11,10* A mão de obra está com encargo social de 70%
ÁREA DE ALVENARIA (m²)PREÇO DO MATERIAL POR m² DE ALVENARIAPREÇO DA MÃO DE OBRA POR m² DE ALVENARIAPREÇO DO m² DE ALVENARIA
MATERIAL
VALOR TOTAL MAT
VALOR GERAL DA ALVENARIAQUANTIDADE DE SACOS DE CIMENTO POR m²
MÃO DE OBRA
ORÇAMENTO DA ALVENARIA INTERNA
EDIFÍCIO X
VALOR TOTAL M.O.
Capítulo 6 Estudo de Caso
65
No quadro 6.2 a seguir podemos observar a evolução dos números obtidos nestas
planilhas para as unidades realizadas até o momento de término deste estudo.
Quadro 6.2 –Resumo dos valores encontrados nas apropriações para o serviço de alvenaria na obra estudada.
Unidade (s) Valor geral
da alvenaria
Quant. de sacos
de cimento por m²
Área de
alvenaria
(m²)
Preço do mat.
por m² de
alvenaria
Preço da mão de
obra por m² de
alvenaria
Preço do m²
de alvenaria
301/302 R$3446,66 7,98 310,58 R$6,27 R$4,83 R$11,10
401/402 R$3463,73 7,98 310,58 R$6,52 R$4,63 R$11,15
501 R$1548,12 7,98 152,86 R$6,07 R$4,05 R$10,13
601 R$1540,38 7,98 152,86 R$6,02 R$4,05 R$10,08
602 R$1536,78 7,98 152,72 R$5,88 R$3,87 R$9,74
6.4 Etapa de Diagnóstico
Como descrito anteriormente na seção referente à metodologia desta dissertação, nesta
etapa foi conduzido um levantamento dos dados necessários às análises a que este trabalho se
propõe sobre o processo de produção estudado, envolvendo tanto o fluxo de materiais quanto
de trabalhadores. Tal levantamento foi executado em conjunto com o estagiário da obra e com
base nos projetos executivos da alvenaria cedidos pela empresa. À esta fase seguiu-se a fase
de observação do processo no canteiro, a fim de fazermos um diagnóstico inicial, o qual foi
realizado através da utilização das listas de verificação que se encontram nos anexos deste
trabalho, de registro de imagens e de aplicação de ferramentas como Diagrama de Processo e
Mapofluxograma. De posse destas informações foram elaborados os croquis representados
nas figuras 6.2 e 6.3 a seguir e que mostram a forma de organização do canteiro estudado. O
próximo passo foi então verificar a adequabilidade destas ferramentas no que diz respeito ao
propósito do trabalho que era indicar os elos frágeis da cadeia produtiva do processo em
questão e fornecer subsídios para a análise do impacto do Planejamento de Curto Prazo nos
princípios da Construção Enxuta.
Capítulo 6 Estudo de Caso
66
Figura 6.2 - Croqui do pavimento térreo da obra estudada
Figura 6.3- Croqui do pavimento semi enterrado da obra estudada
A obra possuía acesso para que os caminhões adentrassem no canteiro e pudessem ser
descarregados em locais próximos, cerca de 5 metros de distância, aos do estoque do material
a ser entregue e o descarregamento do caminhão até este estoque era realizado pelo
funcionário da empresa fornecedora do material.
Na figura 6.2 pode-se observar a disposição do estoque de blocos cerâmicos o qual se
encontrava no pavimento térreo da obra. A figura 6.3 mostra os estoques que se encontravam
no pavimento semi-enterrado. A betoneira encontrava-se no subsolo próxima ao estoque de
cimento, areia e cal e, nas proximidades foi observada a existência de um quadro com a
indicação dos traços de concreto e argamassa utilizados na obra.
Descarrego dos blocos
Almoxarifado Escritório
passageiros
central de trinchos
Blocos
Guincho Materiais
Escada
Descarrego de areiabrita e cimento
BetoneiraEstoque de areia
Estoque de brita
Cimento e Cal
Capítulo 6 Estudo de Caso
67
A seguir será detalhada cada uma das fases utilizadas na execução deste diagnóstico
inicial, com alguns comentários das mesmas.
6.4.1 Registro de Imagens
O registro de imagens foi realizado por meio da documentação de fotos do canteiro,
visando contribuir para a análise qualitativa do processo. Alguns autores ressaltam a
contribuição dos registros de imagens para a efetiva compreensão e análise de outras técnicas
de coleta de dados. Isatto et al. (2000), destaca que o registro de fotos e filmagens pode servir
também como apoio ao treinamento de funcionários, buscando a padronização de
procedimentos de execução dos processos em uma empresa.
Esta ferramenta foi aplicada durante todo o período de estudo, na fase dedicada ao
trabalho de campo no canteiro. Num primeiro momento foi realizado um planejamento no
qual foi determinado quais os registros que deveriam ser coletados, tomando por base as
ferramentas de diagnóstico aplicadas, como o Diagrama de Processo, o Mapofluxograma e as
Listas de Verificação para o processo em estudo, este planejamento consistia apenas de uma
listagem das etapas fundamentais para a execução do processo, assim como daquelas que
foram consideradas críticas em bibliografias consultadas. Foram registradas as etapas de
processo, incluindo o recebimento e a estocagem dos materiais, assim como eventos não
rotineiros, considerados de interesse neste estudo.
6.4.2 Elaboração do Diagrama de Processo e Mapofluxograma para o serviço
de Alvenaria
Através da aplicação destas ferramentas foi possível a visualização do processo de
maneira compacta, analisando o fluxo de materiais e sub produtos que o compõem, desde a
chegada do material na obra até a sua efetiva utilização, permitindo identificar a seqüência das
atividades de fluxo realizadas, através da análise de toda a extensão do processo, aumentando
o grau de transparência do mesmo para a equipe envolvida na sua gestão. Pode-se também
avaliar a proporção de cada tipo de atividade (transporte, inspeção, estoque ou
processamento), em relação ao total. Através da análise dos diagramas de fluxo e
mapofluxogramas em conjunto com os registros de imagens realizados, pode-se chegar a uma
visão mais detalhada do processo analisado, permitindo que sejam propostas melhorias nestes
com o intuito de reduzir ou mesmo eliminar as atividades de fluxo, tendo em vista o fato de
elas não agregarem valor ao produto final, sendo assim uma perda a ser perseguida.
Capítulo 6 Estudo de Caso
68
Para a elaboração destes diagramas utilizou-se uma tabela que foi preenchida na
ocasião de observação a fim de que não fosse suprimida nenhuma das atividades, tendo em
vista a importância das mesmas na explicitação das atividades que não agregam valor ao
processo em estudo. No quadro 6.3 a seguir podemos ver um exemplo desta tabela.
Quadro 6.3- Exemplo da planilha utilizada para elaboração do diagrama de fluxo e mapofluxograma.
A seguir serão apresentados o Diagrama de Fluxo do processo de elevação de alvenaria
interna na obra estudada e tecidos alguns comentários sobre o mesmo apontando os problemas
identificados:
Processamento TransporteInspeção Estoque/Espera
PROCESSO: ALVENARIAOBSERVADOR:
MATERIAL:DATA:
Símbolo correspondenteDescrição da atividade Observações
Capítulo 6 Estudo de Caso
69
Figura 6.4 - Diagrama de Fluxo para o serviço de elevação de alvenaria na obra estudada
AREIA CAL CIMENTO BLOCOS
Descarregamento de areia Inspeção do nº de sacos Inspeção do nº de sacos Inspeção do nº de blocos recebidos recebidos recebidos
Estoque em baia Descarregamento do caminhão Descarregamento do Descarregamento do
caminhão caminhão Transporte para a padiola
Transporte até o local de estocagem Transporte até o local de Estoque nos palletsestocagem
Transporte da padiola Transporte para um em carrinho padiola Estoque nas pilhas Estoque nas pilhas carrinho
Transporte horizontal Estoque do material na do carrinho padiola junto à betoneira
Transporte vertical no guincho
Transporte para a betoneira Transporte para a betoneira Transporte dos sacos até a betoneira Transporte horizontal
para o posto de trabalho Preparação da argamassa de assentamento
Estoque próximo ao posto Descarregamento do material em carrinho de trabalho
Transporte horizontal Transporte do carrinho até o guincho para o local de assentamento
Transporte vertical no guincho
Transporte horizontal no pavimento
Estoque do material em uma masseira coletiva
Transporte da argamassa com uma pápara a masseira individual
Transporte da masseira até o posto de trabalho
Estoque do material no posto de trabalho
Transporte da argamassa para o local deassentamento
Elevação da Alvenaria
Inspeção do prumo
Capítulo 6 Estudo de Caso
70
A análise da figura revela que em torno de 62,16% das atividades registradas consistiam
em atividades de transporte, 10,81% eram de inspeção, 21,62% de estoque, restando apenas
5,40% de atividades de processamento, ou seja, de atividades que efetivamente agregam valor
ao produto final deste processo que é a parede terminada. Aqui é importante comentar que
esses percentuais levam em consideração apenas a ocorrência destes eventos, sem levar em
consideração os tempos dispendidos em cada um.
Os blocos já são entregues paletizados e são descarregados diretamente no estoque, que
se localiza no pavimento térreo da obra, pelos próprios funcionários da empresa fornecedora
do material. Na figura 6.5 abaixo podemos ver como era esse estoque.
Figura 6.5- Estoque dos blocos
Após o descarregamento os blocos são cobertos por uma lona plástica, tendo em vista o
fato de este estoque não ser protegido das intempéries. Quanto à localização, este se
encontrava próximo tanto do elevador de cargas (guincho), quanto da central de trinchos,
local onde havia um funcionário (servente) encarregado da fabricação (corte) dos blocos
especiais, conforme projeto de modulação existente para este serviço. Para realizar o
transporte destes blocos para os pavimentos em que seriam utilizados usavam-se os carrinhos
porta pallets os quais eram levados a este pavimento de destino com cerca de um dia de
antecedência do início dos serviços. Nesta ocasião eram levados a totalidade de blocos
necessária a todo o pavimento, totalidade esta que também vinha do projeto executivo
existente. Na figura 6.6 a seguir pode-se observar a central de trinchos, que são os blocos de
dimensões especiais, da obra.
Capítulo 6 Estudo de Caso
71
Figura 6.6- Central de Blocos Especiais
Na figura 6.7 abaixo temos o mapofluxograma para a argamassa no pavimento onde
estava sendo executado o serviço.
Figura 6.7- Mapofluxograma da argamassa de assentamento no pavimento de execução da alvenaria
Através da análise desta ferramenta, identificou-se a existência de estoques
intermediários deste material nos pavimentos, ocasionando o duplo manuseio do material que
ao chegar no pavimento era inicialmente colocado em uma masseira coletiva, conforme
registro fotográfico mostrado na figura 6.8 a seguir, e posteriormente era colocado nas
masseiras individuais e conduzido ao posto de trabalho.
LAV
GUINCHO
WC
VARANDA
JANTARESTAR2
ESTAR1
MASSEIRAS
QUARTO
WC
WC
CLOSET
SUÍTE
SUÍTE MASTER
WC
QUARTO
Capítulo 6 Estudo de Caso
72
Figura 6.8-Estoque intermediário de argamassa nos pavimentos.
6.4.3 Aplicação das Listas de Verificação
Foram aplicadas dois tipos de Listas de Verificação encontradas disponíveis na
bibliografia. O primeiro tipo foi desenvolvido e utilizado na pesquisa conduzida pelo NORIE
intitulada “Alternativas para a redução dos desperdícios na Construção Civil”, pioneira nos
esforços para a efetiva identificação e eliminação das perdas existentes no setor construtivo
brasileiro. Já a segunda tipologia aplicada foi desenvolvida como etapa de trabalho de
dissertação deste mesmo núcleo, por Adriano Costa durante o ano de 1999, no seu trabalho de
Dissertação intitulado “Perdas na Construção Civil – Uma proposta conceitual e ferramentas
para prevenção”. Estas foram aplicadas mais como uma maneira de identificação das perdas,
sem ater-se à questões referentes às quantificações destas, por não ser este o objetivo maior
daquele trabalho. Para efeito de simplificação estas listas serão chamadas Tipo I e Tipo II,
respectivamente.
No quadro 6.4 a seguir vemos a ocorrência de aplicação das listas tanto do primeiro
quanto do segundo tipo, nos serviços e materiais observados. Para a escolha de quais os
processos e materiais receberiam que tipo de lista ou os dois tipos, levou-se em consideração
a importância dos mesmos.
Capítulo 6 Estudo de Caso
73
Quadro 6.4-Relação Tipo de Listas de Verificação x Processos Estudados.
Processo (material)/Listas
Aplicadas
Tipo I Tipo II
Alvenaria Sim Sim
Produção de Argamassa Sim Não
Blocos Cerâmicos Sim Não
Cimento Sim Não
As listas de verificação serviram também de apoio à análise do Diagrama de Fluxo, pois
a aplicação destas apontam pontos fortes ou fracos do processo através da constatação da
aplicação, ou não, de uma boa prática. As listas de verificação também permitem analisar
qualitativamente um processo, podendo servir de base para futuras avaliações – ao aplica-la
novamente, mudança nas incidências “sim” apontam que houve mudanças no maneira de
execução do processo.
6.4.3.1 Listas de Verificação TIPO I.
Estas listas foram utilizadas para os processos de alvenaria de produção de argamassa,
além de também serem aplicadas aos materiais: blocos cerâmicos, cimento. Devido à natureza
distinta dos processos e dos materiais, será analisado separadamente as Listas Tipo I aplicadas
ao processos e as Listas Tipo I aplicadas aos materiais.
a) Listas Tipo I aplicadas aos processos
Nas listas de verificação dos processos foram registradas as características gerais dos
serviços, além de avaliados alguns aspectos referentes a planejamento, projeto e organização,
procedimentos e controle da execução do serviço em si. Nos quadros 6.5 e 6.6 a seguir são
apresentados, respectivamente os resultados obtidos nos processos de Alvenaria Interna e
Produção de Argamassa. Na parte inicial dos quadros apresentam-se as características gerais
dos serviços, o que fornece uma noção básica sobre os equipamentos utilizados e organização
do processo em si. Os resultados estão apresentados em termos de percentuais obtidos nos
itens gerais e nos subitens verificados, que correspondem a ocorrência de respostas “sim” por
ocasião da aplicação desta ferramenta. Nestes quadros também são destacados os problemas
identificados nesta ocasião.
Capítulo 6 Estudo de Caso
74
Quadro 6.5 – Resultados obtidos para o processo de produção de argamassa
Produção de
argamassa
Características Gerais do Processo Local de produção: Centralizada
Tipo de mão de obra: Própria
Equipamentos de transporte
utilizado para os materiais
do estoque ao preparo:
Cimento – manual
Areia – carrinho padiola
Cal – manual
Água – mangueira
Equipamentos de dosagem: Cimento – saco
Areia – padiola
Cal – saco
Água – balde/lata
Equipamentos de mistura: Betoneira com carregador
NOTAS OBTIDAS:
Planejamento e organização
da produção:
6,2
Logística: 6,7
Transporte: 0
Dosagem 10,0
Descarregamento 0
Problemas Detectados
- Foram observados estoques intermediários nos andares ocasionando o duplo
manuseio da argamassa;
- Nos dias em que havia concretagem na obra, o que ocorria três vezes por
semana, era utilizada a argamassa pré-misturada, pois, como já foi dito, todo o
concreto é fabricado no próprio canteiro. Porém isto não era uma constante e
podia acontecer, mesmo nos dias de produção de concreto, o uso da argamassa
produzida no canteiro.
- As condições de trajeto dos materiais não eram providas de nivelamento com
concreto magro, ou outra melhoria, porém apresentavam condições razoáveis ao
transporte.
Capítulo 6 Estudo de Caso
75
Com esta ferramenta tornou-se possível a análise qualitativa do processo em estudo,
podendo-se apontar os problemas detectados quando não foram obtidas respostas “sim”.
Porém, verificou-se que as questões referentes aos itens de execução dos processos devem
somente ser coletadas quando for idealizada uma lista de verificação que contemple o
processo específico da obra que está sendo analisada, e não uma lista padrão conforme a que
foi aplicada. Isto se deve principalmente à elevada variabilidade que existe entre diferentes
obras para um mesmo processo de produção, tendo cada uma delas características peculiares,
adaptadas à sua realidade tecnológica.
Conforme explicitado no quadro acima, na obra em estudo utiliza-se também a
argamassa industrializada para o processo de elevação da alvenaria, além da argamassa
produzida no canteiro. Como dito isto se deve ao fato de todo o concreto ser produzido no
próprio canteiro, o que sobrecarrega o sistema produtivo nos dias de concretagem. Porém,
havia dias em que, mesmo se tendo a concretagem em andamento, havia a produção e uso da
argamassa produzida no canteiro. Desta forma identifica-se uma falta de padronização do
processo além de uma falha no planejamento e controle no uso de equipamentos e mão de
obra.
No quadro 6.6 a seguir podemos observar os resultados referentes ao processo de
elevação de alvenaria:
Quadro 6.6 – Resultados obtidos para o processo de elevação de alvenaria interna
Elevação de Alvenaria
Interna
Características Gerais do Processo Tipo de mão de obra: Própria
Forma de contratação dos
serviços
Por m² de produção
Equipamentos de transporte
horizontal do estoque ao posto
de trabalho:
Blocos cerâmicos – porta pallet
Argamassa – galiota
Equipamentos de transporte
vertical dos componentes:
Blocos cerâmicos – guincho de coluna (velox)
Argamassa – guincho de coluna (velox)
Equipamento e ferramenta
para execução:
Desempenadeira estreita, escantilhão, suporte metálico provido de rodas
para apoio aos caixotes, cavaletes e plataformas para andaimes (todos
metálicos), colher de pedreiro, linha de nylon
Capítulo 6 Estudo de Caso
76
NOTAS OBTIDAS:
Projeto: 6,3
Planejamento e organização
da produção:
7,0
Logística: 2,5
Organização do posto de
trabalho
10,0
Transporte 10,0
Procedimento de execução e
controle:
10,0
Processo de execução:
Marcação: 3,3
Elevação:
Fixação junto à estrutura: 10,0
Problemas Detectados
- Não existia um planejamento da execução do serviço de alvenaria em si;
- Não existia um planejamento de execução da seqüência de paredes ficando a
cargo do mestre definir esta ordem de execução;
- Não existia um sistema de solicitação de argamassa adequado, pois, constatou-
se em um momento que o produto iria faltar, o que só não aconteceu devido à
presença da pesquisadora em conjunto com o estagiário que é o responsável
pelo abastecimento do posto de trabalho;
- Embora a empresa possuísse procedimentos padronizados e devidamente
documentados para este processo, eles não estavam em posse dos funcionários
no posto de trabalho.
Apesar do grande cuidado por parte da empresa com a racionalização dos seus
processos produtivos, para este processo não observou-se no canteiro a existência de um
sistema de planejamento e controle formalizado para a execução do mesmo. Segundo o
engenheiro residente, a empresa tem como padrão iniciar o processo de alvenaria só
após a conclusão de toda a estrutura da edificação. Nesta obra, porém, este serviço foi
iniciado quando estava sendo executada a décima laje por determinação de um dos
proprietários e diretores da empresa durante uma visita à esta obra.
Como citado anteriormente, a empresa oferece aos clientes a possibilidade de
executarem mudanças nos apartamentos, desde que estas sejam solicitadas antes da
Capítulo 6 Estudo de Caso
77
realização de serviços nos mesmos. Caso estes já tenham sido executados, as reformas
ainda poderão ocorrer desde que os proprietários arquem com os custos adicionais,
como demolição de paredes para execução de outro arranjo na alvenaria interna, por
exemplo.
Devido ao exposto acima foi observado no canteiro apenas um quadro fixado na
parede com um corte do prédio, o qual apresentava indicadas as unidades as quais
passariam por reformas, apresentando assim caminho lógico a seguir, pois estes
deveriam ser deixados para um momento posterior, afora este quadro, não foi observada
nenhuma outra forma de planejamento e controle para o serviço em estudo.
De uma maneira ampla esta ferramenta conscientizou a empresa para a
necessidade de elaboração e adoção de um sistema de planejamento e controle para o
processo estudado que ofereça uma visão clara e objetiva do andamento do mesmo
possibilitando, assim, que intervenções sejam feitas em tempo hábil quando necessárias.
b) Listas Tipo I aplicadas aos materiais
Estas listas foram aplicadas aos materiais cimento e blocos cerâmicos devido à sua
importância fundamental no processo em estudo, contudo buscou-se, através destas, uma
análise qualitativa das perdas e problemas ocorridos no manuseio destes materiais desde o
momento em que chegam na obra até o seu destino final, ou seja, a alvenaria em si. Os
quadros 6.7 e 6.8 abaixo mostram os resultados encontrados para estes materiais.
Quadro 6.7 – Resultados obtidos para o material cimento
CIMENTO Especificação do material: Cimento P. Composto com poz CPII-Z 32
Serviços nos quais é
utilizado:
Estrutura de concreto e alvenaria
NOTAS OBTIDAS:
Recebimento: 8,0
Estocagem: 8,8
Problemas Detectados
Capítulo 6 Estudo de Caso
78
- Observou-se que não era feito na obra nenhum ensaio para a aceitação do
material
- O estoque de cimentos apesar de estar sob estrados de madeira não ficava em
área impermável (sob piso cimentado, por exemplo)
- Não foi possível a perfeita quantificação para o estoque deste material, tendo
em vista o seu uso também na atividade de concretagem, onde é produzido no
próprio canteiro todo o concreto utilizado na estrutura da edificação.
Quadro 6.8 – Resultados obtidos para os Blocos Cerâmicos
BLOCOS
CERÂMICOS
Especificação do material:
Serviços nos quais é
utilizado:
Marcação e elevação da alvenaria
NOTAS OBTIDAS:
Recebimento: 8,0
Estocagem: 8,3
Problemas Detectados
- Assim como aconteceu com o cimento, observou-se que os blocos não passam
por ensaios para a verificação e aceitação deste material, não podendo assim,
terem as suas características averiguadas.
- O estoque destes materiais não era protegido adequadamente das intempéries,
tendo somente uma lona para protege-lo da chuva , por exemplo.
Foi observado que a empresa pesquisada por não possuir um controle adequado
dos seus processos produtivos, ou simplesmente devido à política de tratamento das
perdas adotada, não tomam algumas medidas relativamente simples para a prevenção
das perdas, apesar dos avanços recentes em termos de gestão dos processos neste setor.
Em uma das visitas da pesquisadora ao canteiro de obras observou-se um problema na
entrega dos blocos cerâmicos que poderia ter sido previsto, porém, não foi dado ao
mesmo a merecida atenção. Os tijolos eram entregues no canteiro de forma
improvisada, mas, segundo os responsáveis pela obra, engenheiro, auxiliar de
Capítulo 6 Estudo de Caso
79
engenharia e estagiário, de maneira “ideal”. Foi feita uma abertura no muro do canteiro
conforme mostra a figura 6.9 abaixo.
Figura 6.9-Abertura para entrada dos blocos cerâmicos.
Desta forma o caminhão estacionava próximo a este local, e, por meio de uma
passarela improvisada, os blocos eram descarregados, devidamente paletizados,
diretamente no local de estoque dos mesmos, utilizando uma parcela muito pequena de
tempo gasto com transporte. Porém, esta abertura ficava a uma cota de 2,0m de altura se
tomássemos a calçada como referência e, por isto, não havia como impedir que outros
veículos estacionassem neste local, mas contava-se que isto nunca aconteceria e, se
acontecesse, o proprietário deste seria facilmente localizado e por isto não foi prevista
uma saída alternativa para este problema. Em uma visita da pesquisadora à esta obra, no
turno da tarde o fato acima aconteceu e o caminhão ficou durante todo o expediente a
espera do proprietário para que este retirasse o seu veículo do local. Foram identificadas
perdas de várias maneiras distintas como mobilização de pessoas em busca de uma
solução, espera do pessoal encarregado de transporte do material, conversas paralelas
que relatavam o ocorrido, entre outras. Na figura 6.10 abaixo podemos visualizar o fato
ocorrido.
Capítulo 6 Estudo de Caso
80
Figura 6.10-Veículo estacionado impedindo a descarga dos blocos cerâmicos.
O fato de nesta obra, assim como em todas da empresa estudada, serem utilizados
os blocos palletizados e carrinhos específicos para o transporte destes, mostravam que
este transporte estava ocorrendo de maneira eficiente e racional, não sendo observados,
durante o período de estudo, quebras destes elementos ou transportes desnecessários.
Com relação ao cimento, não foram observadas perdas relacionadas à variação
dos traços tendo em vista ter-se junto à betoneira um quadro de traços onde estes
podiam ser bem visualizados. Quanto à variação das espessuras das juntas também não
foram observadas a olho nu grandes distorções dimensionais.
6.4.3.2 Lista de Verificação TIPO II.
O segundo tipo de lista de verificação aplicado foi, conforme dito anteriormente, o
desenvolvido por Costa (1999) como parte integrante da sua dissertação de mestrado
intitulada “Perdas na Construção Civil – Uma proposta conceitual e ferramentas para a
prevenção”. Esta lista busca identificar algumas perdas existentes no serviço em que ela
é aplicada sob a ótica das perdas propostas pelo Sistema Toyota de Produção e
adaptadas por Lauri Koskela ao setor construtivo.
Abaixo será mostrado os resultados obtidos pela aplicação desta lista, a qual foi
aplicada somente ao processo de Elevação de Alvenaria, que é o foco deste trabalho.
Serão Listados os aspectos positivos e negativos encontrados de acordo com cada uma
das perdas existentes.
Capítulo 6 Estudo de Caso
81
1) Perda por Superprodução
Aspectos Positivos Aspectos Negativos A argamassa de assentamento é produzida na
quantidade certa, ou seja, baseada em uma estimativa
racional do consumo no canteiro para um determinado
período ou nas quantidades encomendadas pelos
pedreiros.
A argamassa de assentamento não é produzida no
momento certo, ou seja, conforme vai sendo solicitada
pelos pedreiros. (É produzida duas vezes ao dia, no
início da manhã e no início da tarde).
Os materiais complementares (blocos especiais, vergas
e contravergas pré-moldadas, tacos para fixação de
esquadrias, molduras para colocação de ar
condicionado, etc) são produzidos a partir de uma
previsão do consumo no canteiro.
Os materiais complementares (blocos especiais,
vergas e contravergas pré-moldadas, tacos para
fixação de esquadrias, molduras para colocação de ar
condicionado, etc) não são produzidos conforme vão
sendo necessários. (São produzidos de maneira
aleatória).
2) Perda por Estoque
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Nenhum A argamassa de assentamento não é depositada
diretamente nas masseiras dos pedreiros, sem passar
por estoques centralizados nos andares. (Existem
masseiras coletivas onde este material é descarregado
e de onde os pedreiros retiram conforme a necessidade
de cada um).
3) Perda por Transporte
Aspectos Positivos Aspectos Negativos O equipamento de transporte vertical (elevador de
cargas, etc) está posicionado próximo ao baricentro da
edificação.
As paredes internas não são executadas do ponto mais
distante em direção ao ponto mais próximo do
equipamento de transporte vertical, para evitar excesso
de transporte (Elas são executadas de maneira
aleatória).
A betoneira está posicionada em local próximo ao
elevador de cargas (distância aproximada: 10m).
A grua não é utilizada para o transporte de argamassa.
(Este equipamento só é utilizado para a concretagem).
Capítulo 6 Estudo de Caso
82
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Os materiais utilizados na produção de argamassa são
estocados próximos à betoneira (distância média
aproximada: 3m).
A grua não é utilizada para o transporte de blocos.
(Este equipamento só é utilizado para a concretagem).
Os blocos são estocados próximos ao elevador de
cargas (distância média aproximada: 3m).
A quantidade de argamassa servida aos pedreiros é
suficiente para executar a tarefa na frente em que este
está trabalhando, evitando assim reincidência de
transportes.
A quantidade de blocos servida aos pedreiros é a
suficiente para executar a tarefa na frente em que este
esta trabalhando, evitando assim a reincidência de
transportes.
4) Movimento
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Os locais destinados à passagem de equipamentos de
transporte (giricas, carrinhos de mão, carrinhos
hidráulicos, etc) são regularizados e estão livres de
rampas com inclinação superior a 10%.
Nenhum
A iluminação dos postos de trabalho é suficiente.
A empresa fornece EPI´s aos funcionários.
Os funcionários envolvidos com a execução da
alvenaria usam os EPI´s enquanto realizam as suas
atividades.
A plataforma principal de proteção está no primeiro
pavimento que esteja no mínimo um pé direito acima
do terreno (NR 18).
Existem plataformas secundárias de proteção a cada 3
pavimentos, a partir da plataforma principal (NR18).
As plataformas contornam toda a periferia da
edificação (NR 18).
Para deslocar-se do posto de trabalho até os sanitários
os funcionários percorrem menos de 150m (NR 18).
Capítulo 6 Estudo de Caso
83
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Existem banheiros volantes nos pavimentos (somente
para prédios com mais de 5 pavimentos).
Os equipamentos que entram em contato com a
argamassa de assentamento são lavados após o seu uso,
para evitar que ocorra o aumento do seu peso e
diminuição da vida útil, pela aderência de camadas
sucessivas.
O transporte de blocos é realizado com os
equipamentos apropriados (carrinhos hidráulicos,
carrinhos polivalentes, etc) evitando-se assim o uso de
carrinhos de mão ou giricas.
Os andaimes e cavaletes utilizados no canteiro são
leves, dispensando esforços desnecessários dos
operários no seu transporte.
Os andaimes utilizados se adaptam às alturas dos
funcionários e aos pés direito, possibilitando que estes
trabalhem sem realizar esforços desnecessários.
A betoneira utilizada no canteiro é autocarregável,
possui silo para abastecimento de materiais ou está em
posição favorável para que o carregamento seja feito
por carrinhos dosadores.
A argamassa para execução da alvenaria é fornecida
em masseiras leves (metálicas, PVC, etc).
5) Espera da mão de obra
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Existe compatibilidade entre a quantidade de
equipamentos auxiliares (andaimes, giricas, masseiras,
escantilhões, etc) disponíveis no canteiro e a
quantidade de trabalhadores envolvidos com a
execução da alvenaria.
Nenhum
A capacidade de operação dos equipamentos
(betoneira, elevador de cargas, grua, etc) disponíveis
no canteiro é suficiente para abastecer todos os
trabalhadores envolvidos com a execução da alvenaria.
Capítulo 6 Estudo de Caso
84
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Existe a relação de 1 servente para cada 2 pedreiros
envolvidos na execução da alvenaria.
Para evitar que haja a parada dos pedreiros por falta de
argamassa de assentamento no posto de trabalho, o
pedido é realizado para o operador da betoneira com
antecedência.
Os demais materiais (blocos, blocos especiais, vergas,
molduras para ar condicionado, tacos para fixação de
esquadrias, etc) são colocados à disposição dos
pedreiros na quantidade suficiente para evitar a
ocorrência de paradas.
Os blocos especiais (1/2 bloco, ¼ bloco, com furos
para caixa de passagem, etc) são entregues prontos pela
central de componentes ou pelo próprio fornecedor.
Existe um operário responsável pela produção de
blocos especiais no canteiro, evitando assim parada dos
pedreiros.
O prazo de carência para a execução do encunhamento
ou da fixação da alvenaria do último pavimento é de 7
dias após o término de toda a alvenaria, sendo que
esperas por períodos maiores ocorrem por opção da
empresa.
6) Elaboração de produtos defeituosos
Aspectos Positivos Aspectos Negativos A alvenaria já executada está isenta de irregularidades
(ondulações, falta de nível, esquadro, alinhamento ou
prumo em paredes, falta de amarração, etc)
dispensando retrabalhos.
Em obras com modulação na alvenaria, não existem
projetos independentes para as duas primeiras fiadas
(maior detalhamento para evitar erros durante a
execução). (Na obra estudada existem projetos para a
primeira fiada e saída de pontos de elétrica).
As dimensões dos vãos deixados para a posterior
fixação de esquadrias são adequadas às dimensões das
mesmas.
Os operários não conhecem nem utilizam as
informações presentes no Manual de Procedimentos
para a execução de alvenaria.
Capítulo 6 Estudo de Caso
85
Aspectos Positivos Aspectos Negativos A marcação da alvenaria é feita por profissional
capacitado, munido dos respectivos projetos, para
evitar erros na locação de paredes e aberturas, uso de
blocos errados (execução de paredes com espessura
diferente da projetada), etc.
As instalações elétricas e hidrosanitárias que são
executadas simultaneamente à alvenaria, são
controladas por profissionais capacitados, munidos dos
respectivos projetos, para evitar erros na locação,
esquecimento dos pontos de água ou luz, etc.
O traço utilizado na confecção da argamassa foi
dimensionado à partir de algum estudo prévio, evitando
assim o posterior aparecimento de manifestações
patológicas (esfarelamentos, trincas, etc).
É realizado algum tipo de controle na execução de
vergas in loco para evitar defeitos como barras de aço
expostas, falta de geometria, falta de trnspasse nas
extremidades do vão, etc).
São deixadas molduras de concreto ou vazados na
alvenaria em ambientes onde está prevista a instalação
de aparelhos de ar condicionado.
Os peitoris têm caimento para fora, facilitando o rápido
escoamento da água.
Os peitoris projetam-se 3 a 4 cm para fora da face
externa da parede, com pingadeira nesta saliência.
Existe manual de procedimentos para a execução de
alvenaria nesta obra.
Existe um controle da qualidade dos agregados
utilizados na confecção da argamassa de assentamento,
para evitar o posterior aparecimento de manifestações
patológicas (eflorescências, manchas, vesículas, etc)
nas alvenarias.
Os blocos adquiridos pela empresa possuem resistência
suficiente para evitar quebras durante o
armazenamento, corte ou assentamento.
A espessura das juntas verticais é determinada no
Projeto executivo de Alvenaria.
Capítulo 6 Estudo de Caso
86
Aspectos Positivos Aspectos Negativos A espessura das juntas horizontais é determinada no
Projeto Executivo de Alvenaria.
7) Perda por Processamento em Si
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Evita-se realizar rejuntamento (normalmente
empregado em alvenaria à vista) nas paredes que
receberão revestimento, apenas por motivo estético.
A argamassa não possui trabalhabilidade suficiente
para evitar as “batidinhas” nos blocos no momento do
assentamento
São utilizados equipamentos auxiliares mais racionais
para a execução da alvenaria (escantilhão, colher meia
cana, bisnaga para aplicação da argamassa, etc), que
permitem aumento de produtividade e melhoria da
qualidade final do produto.
O encunhamento é realizado com argamassa expansiva,
evitando-se o uso de encunhamento trabicional (blocos
inclinados). (Na obra estudada usava-se espuma de
poliuretano).
O tempo de mistura da argamassa na betoneira é de até
5 minutos.
8) Perda por Substituição
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Existe no canteiro um quadro com o traço que deve ser
utilizado na produção de argamassa para assentamento,
evitando assim a realização de traços
superdimensionados.
Nenhum
Evita-se a utilização de blocos com qualidade superior
(empregados em alvenaria à vista) nas paredes que
receberão revestimento.
Evita-se a utilização de blocos com qualidade superior
(empregados em alvenaria com função estrutural) nas
paredes que têm apenas a função de vedação.
Capítulo 6 Estudo de Caso
87
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Os pedreiros restringem-se a realizar as suas atividades
deixando para os serventes as atividades mais simples
(transporte, carga e descarga de materiais e
equipamentos, etc).
9) Outras
Aspectos Positivos Aspectos Negativos Durante a execução da edificação, o canteiro ficou livre
de vandalismos contra as alvenarias (pixações,
derrubamento de paredes recém executadas, etc).
6.4.4 Relatório da Etapa de Observação e Aplicação das Ferramentas e
Conclusões do Estudo de Caso.
Após a aplicação destas ferramentas pode-se tecer alguns comentários a respeito destas
assim como dos resultados obtidos:
- As listas de verificação se mostraram úteis na medida em que a sua aplicação deu
uma idéia geral a todos os envolvidos nesta tarefa do novo conceito de perdas que
estava sendo investigado, porém ficou clara a necessidade que existe de que esta
ferramenta seja adaptada à realidade da empresa e obra em que está sendo utilizada.
- Uma vez adaptadas à realidade da obra em que estão sendo aplicadas estas listas
possuem um caráter pró-ativo, uma vez que seus itens permitiram visualizar
imediatamente cada tipo de perda que estava ocorrendo na execução dos processos,
viabilizando assim que qualquer intervenção objetivando o seu controle pudesse ser
realizada em curto espaço de tempo.
- As listas de verificação, uma vez preenchidas, realmente consistem num registro
formal e detalhado sobre as perdas que estão ocorrendo no canteiro de obras em um
determinado momento. Sendo assim, estas podem também ser utilizadas pela empresa
como documentação sobre as perdas, servindo para comparar a situação de canteiros
distintos.
Capítulo 6 Estudo de Caso
88
- Ficou clara a necessidade de uma mobilização geral na empresa para a disseminação
do conceito, para que todos os funcionários, independentemente da sua função dentro
da organização, tenham consciência do que se está modificando nesta.
- Há também a necessidade de conscientização por parte de todos os envolvidos da
importância da etapa de planejamento do empreendimento, deixando de lado a
verbalização deste e sendo efetivamente cobrada a sua formalização.
Ao que se pretendia inicialmente as listas de verificação se mostraram ineficazes, pois,
através do período de observação no canteiro de obras, viu-se claramente que o elo mais
frágil, devido a sua importância para o empreendimento como um todo, foi a etapa de
Planejamento, o qual se observou se realizar apenas por meio de um cronograma físico-
financeiro atualizado trimenstralmente por ocasião das reuniões dos condôminos. Este
cronograma era de difícil visualização e entendimento por parte de muitas pessoas que
possuíam influência direta no seu cumprimento como o pessoal do nível operacional,
pedreiros e serventes, por exemplo.
Viu-se neste período também que a existência de um Sistema de Planejamento bem
estruturado e consolidado se faz essencial ao processo de implementação da Construção
Enxuta, da mesma forma, que também será essencial para o desenvolvimento da mesma. Num
primeiro instante será proposto um Sistema de Planejamento de Curto Prazo, pois este será
imprescindível nos princípios da Construção Enxuta, conforme será explicitado no capítulo a
seguir. Este capítulo conterá também um plano de implementação para um Planejamento
neste nível, o qual é de fácil adoção e também se mostra extremamente útil para um bom
acompanhamento de um empreendimento qualquer que seja ele.
Verificou-se também muitas melhorias e cuidados especiais desta empresa com as
questões de racionalização dos materiais e segurança dos trabalhadores, porém a questão de
gestão das pessoas e perdas que ocorrem neste campo são notadamente deixadas de lado pelos
gestores.
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
89
7 ANÁLISE DO IMPACTO DO PLANEJAMENTO DE CURTO PRAZO NOS PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA.
Avaliando as dificuldades pelas quais vêm passando o setor construtivo brasileiro e a
sua trajetória evolutiva, identifica-se o delineamento de formas para chegar-se a um processo
produtivo mais adequado para os próximos anos. O aumento da concorrência e a evolução
tecnológica pressionam as empresas para que reavaliem seus métodos e sistemas de produção
em busca de produtividade e competitividade. No entanto, apesar dos objetivos semelhantes a
todos os inseridos neste setor, os meios de alcançá-los não são unânimes.
Após a fase de diagnóstico realizada no canteiro da obras da empresa pesquisada, a
partir dos resultados obtidos através da aplicação das ferramentas existentes na literatura e das
observações realizadas, durante o período em que a autora esteve no canteiro de obras e com o
apoio do referencial bibliográfico, identificou-se que a etapa de Planejamento é inerente ao
processo de adoção e, conseqüentemente, de implantação da Construção Enxuta. Com um
Sistema de Planejamento e Controle da Produção realizado de maneira coerente e realista
serão evitadas a estaticidade e ineficácia ainda existentes neste setor. A seguir, são
identificados alguns benefícios promovidos a partir da adoção de um Planejamento de Curto
Prazo adequado, apresenta em cada um dos onze princípios desta filosofia anteriormente
expostos.
- Redução da parcela de atividades que não agregam valor.
O processo de planejamento e controle da produção facilita a implementação deste
princípio na medida em que se busca reduzir atividades de movimentação, inspeção e espera,
bem como aquelas que consomem tempo mas não agregam valor ao produto sob a ótica do
cliente final. Dessa maneira, o estudo e a elaboração de um arranjo físico do canteiro que
minimize distâncias entre os locais de descarga de materiais e aplicação dos mesmos
reduzindo assim a parcela das atividades de movimentação. A escolha de um equipamento
apropriado que reduza estas atividades surge como uma possível alternativa. Porém,
dependendo do equipamento, a decisão de aloca-lo na obra pode ser proveniente,
eminentemente, da etapa de projeto.
Durante a fase de produção propriamente dita, a realização de uma simulação na planta-
baixa da movimentação da mão de obra e dos materiais, bem como uma consideração
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
90
conjunta dos ritmos de produção das equipes, facilitam a identificação de zonas de
interferências nos fluxos. Dessa forma, uma distribuição adequada de tarefas no planejamento
de longo prazo permite que o gerente do empreendimento possa evitar este tipo de
interferências.
- Aumentar o valor do produto através de uma consideração sistemática dos
requisitos dos clientes.
Embora este princípio não esteja vinculado diretamente ao processo de planejamento,
verifica-se que a sua implementação pode ocorrer na etapa de coleta de informações ocorrida
no processo de implementação do Sistema de Planejamento e Controle da Produção. Nesse
caso, a consideração das necessidades do cliente ocorrendo anteriormente a algumas etapas
reduzirá o retrabalho e conseqüentemente a sua interferência nas atividades de fluxo. A busca
destas necessidades em um dado momento o qual possibilite a sua consideração no processo
de planejamento da produção, evitando o retrabalho, pode dar, inclusive, a idéia para o cliente
de que a empresa é organizada e se preocupa com o prazo de entrega do empreendimento.
- Redução da variabilidade.
O processo de planejamento e controle da produção facilita a implementação deste
princípio na medida em que busca a proteção da produção através da consideração sistemática
de tarefas passíveis de serem executadas. Esta proteção é garantida através da aplicação
sistemática da produção protegida. A identificação das reais causas dos problemas
preconizada nesta sistemática permite uma tomada de decisão mais condizente com a
realidade da obra, que ao menos fornece um panorama da situação atual antes que os
problemas interfiram no prazo de entrega da mesma.
- Redução do tempo de ciclo.
Este princípio pode ser implementado pelo processo de planejamento e controle da
produção na medida em que se consegue reduzir a parcela das atividades que não agregam
valor ao processo produtivo, através de decisões nos diferentes níveis de planejamento. Uma
das formas de minorar as atividades que não agregam valor é através da sincronização dos
fluxos de material e de mão de obra, bem como do desenvolvimento de programações mais
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
91
repetitivas e padronizadas. Isso, contudo, dependerá dos esforços dispendidos no
desenvolvimento dos processos de projeto e planejamento (Santos, 1999).
Essa sincronia pode ser alcançada à medida que decisões são tomadas para reduzir o
tamanho dos lotes de material ou subprodutos de determinados processos produtivos.
Segundo Santos (1999), quando o tamanho do lote de um determinado processo é reduzido,
material e informação podem fluir de maneira mais rápida entre os vários estágios do mesmo,
fazendo com que o produto seja entregue ao consumidor final em menos tempo.
O planejamento de longo prazo, aliado aos ritmos das equipes de produção, é um
instrumento potencial para que o fluxo seja analisado na busca da sincronização. No nível de
curto prazo, as ações destinadas à proteção da produção possibilitam a continuidade das
operações no canteiro, diminuindo a variabilidade e seu conseqüente tempo de ciclo.
Uma outra abordagem deste princípio que pode ser implementada com o auxílio do
planejamento refere-se ao ganho obtido através da divisão dos trabalhos em tarefas ou pacotes
de trabalho. Nesse sentido, pode-se procurar estabelecer o pagamento das tarefas por
elemento concluído e não por unidade de medição. Através desta vinculação, procura-se
minorar a ocorrência de retrabalhos ou arremates.
- Simplificação pela minimização do número de passos e partes.
Embora este princípio seja implementado mais facilmente por meio de decisões
tomadas na etapa de projeto, o processo de planejamento e controle da produção pode
implementa-lo através da análise da maneira pela qual o processo é executado. O
desenvolvimento de reuniões para avaliação do processo de planejamento deve abranger,
também, a identificação de formas para simplificar a operação propriamente dita.
Uma outra forma de se garantir a implementação desse princípio através do processo de
planejamento e controle da produção é alcançada na medida em que se consegue estabelecer,
durante a etapa de preparação deste processo, o desenvolvimento da produção em zonas de
trabalho similares. Esta decisão pode garantir uma certa repetitividade ao processo, facilitando
a identificação de possíveis áreas para simplificação.
- Aumento da flexibilidade na execução do produto.
O processo de planejamento da produção pode facilitar a implementação desse princípio
na medida em que se consegue uma redução no tamanho dos lotes de materiais ou
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
92
determinados subprodutos. Assim, utilizando pequenos lotes, a flexibilidade na produção
aumenta o que, certamente, irá exigir o desenvolvimento do processo de suprimentos e de
produção com um maior nível de qualidade (Jackson e Hall, 1992), citados por Santos (1999).
A coleta de informações sobre possíveis alterações de projeto por parte dos clientes
pode garantir uma certa flexibilidade à produção, uma vez que a mudança acaba ocorrendo de
maneira planejada. Nesse caso, o trabalho de equipes polivalentes surge como um fator
importante para se evitar os efeitos destas incertezas.
- Aumento da transparência.
Esse princípio pode ser implementado através do processo de planejamento e controle
da produção na medida em que se disponibilizam informações de acordo com a necessidade
de seus usuários no ambiente produtivo. Uma forma de se aumentar a transparência do
processo de planejamento e controle da produção é com a utilização de plantas ou esboços
durante a discussão de metas, de maneira a facilitar a compreensão por parte das equipes de
produção. Nestes casos, a discussão pode ser interpretada, inclusive, como um meio potencial
para a troca de idéias sobre possíveis melhorias relacionadas aos processos que estão ou que
ainda serão executados. Através do diálogo, os funcionários envolvidos podem indicar meios
alternativos para o desenvolvimento de um determinado processo ou, ainda, alertar os demais
participantes sobre dificuldades encontradas na execução de suas atividades. Na medida em
que os funcionários têm acesso às informações necessárias ao desenvolvimento de suas
tarefas, suas atividades são executadas de maneira mais eficiente.
- Foco no controle de todo o processo.
De acordo com Isatto et al. (2000), esse princípio pode ser aplicado na medida em que
haja postura por parte dos envolvidos na produção no que tange a percepção sistêmica dos
problemas. Nesse caso, a integração entre os diferentes níveis de planejamento pode facilitar a
implementação desse princípio. Isso pode ser explicado porque a análise da repercussão no
plano de longo prazo dos problemas coletados no curto prazo auxilia a tomada de decisões
para a melhoria de desempenho dos processos produtivos.
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
93
- Estabelecimento de melhoria contínua ao processo.
Esse princípio pode ser implementado através do processo de planejamento e controle
da produção à medida que são analisadas as decisões tomadas para a correção dos desvios
oriundos da coleta de dados do plano de curto prazo. Nesse sentido, deve-se procurar
compreender se as decisões tomadas surtiram efeito na produção. Segundo Santos (1999), a
identificação das causas dos problemas de produção é muito importante para a garantia do uso
eficiente dos recursos disponíveis e a conseqüente melhoria contínua.
- Balanceamento da melhoria dos fluxos com a melhoria das conversões.
Este princípio embora também não esteja muito ligado ao processo de planejamento e
controle da produção deve ser observado durante a etapa de projeto do empreendimento, bem
como ao longo da formulação estratégica de ataque à obra, como forma de facilitar a sua
implementação.
- Benchmarking.
Embora o processo de planejamento possa ser beneficiado com esse princípio, verifica-
se que ele pode ser implementado à medida que se buscam novos padrões ou formas
alternativas de se executar determinadas operações durante a etapa de preparação do processo.
Tendo em vista o exposto acima vê-se que o Planejamento e Controle da Produção estão
intrisecamente ligados à Filosofia da Construção Enxuta, sendo assim no tópico seguinte
serão tecidos alguns comentários a respeito do Planejamento de Curto Prazo, por ser este, na
opinião da autora, adequado para a obra em questão, pois, a mesma só apresentou, conforme
descrito anteriormente, um cronograma físico financeiro como ferramenta de planejamento. O
planejamento de Curto Prazo foi escolhido pela sua fácil implementação, pelos excelentes
subsídios que fornece, assim como uma das suas características fundamentais já anteriormente
citada que é a possibilidade de se efetuarem mudanças quando necessárias permitindo um
bom monitoramento da evolução, tanto da sua eficiência, quanto à do processo ao qual está
sendo aplicado. Serão apresentadas algumas diretrizes pra a implementação de um sistema
deste tipo e indicadores que permitirão acompanhar a evolução do mesmo.
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
94
7.1 Planejamento de Curto Prazo
O planejamento de curto prazo tem por objetivo orientar diretamente a execução da
obra, através de designações de pacotes de trabalho fixados no plano de médio prazo às
equipes de produção. Nesse nível de planejamento, podem ser fornecidos às equipes de
trabalho equipamentos e ferramentas para a execução de suas atividades.
Normalmente, esse plano é realizado em ciclos semanais. Porém, em obras muito
rápidas ou nas quais exista muita incerteza associada ao processo de produção, o ciclo de
planejamento pode ser diário. Na figura 7.1 abaixo podemos ver a representação esquemática
desse nível de planejamento.
Informações:
22. Plano de médio prazo formatado
23. Plano de curto prazo controlado
33. Informações sobre o andamento dos pacotes de trabalho
34. Plano de curto prazo
35.Relatório de controle Figura 7.1 – Representação esquemática de um processo de Planejamento de curto prazo, fonte
Bernardes, 2003.
Segundo Bernardes, 2003, as principais etapas a serem desenvolvidas no plano de curto
prazo são as seguintes:
- Coletar Informações: as informações que respaldam o planejamento de curto prazo
são o plano de médio prazo e o plano de curto prazo controlado no ciclo anterior.
Nesse caso, os planos de curto prazo dos ciclos anteriores podem servir também como
fonte de informações sobre os fluxos de trabalho das equipes de produção e dos
fluxos de materiais na obra.
Coleta e Análise Preparação dos Planos Difusão da Informação Ação23
...........22 33 34 34
34
3535
Preparar Plano de Curto Prazo
Coletar Informações
Difundir Plano de Curto Prazo
Alocar Recursos C1/C2/C3
Executar a obra
Plano de Médio Prazo
Avaliação do Processo de PCP
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
95
- Preparar plano de curto prazo: esse plano é elaborado de acordo com os requisitos
necessários para a proteção da produção, conforme discutido anteriormente. Assim,
depois de coletadas as informações pertinentes para o desenvolvimento desse plano,
parte-se para a elaboração de uma primeira proposta de plano de curto prazo a ser
apresentada e discutida em uma reunião, normalmente semanal, com o engenheiro e o
mestre de obras, subempreiteiros e encarregados das equipes de produção. Na
reunião, inicialmente é apresentado o planejamento de curto prazo controlado do ciclo
anterior, de forma a possibilitar que todos os presentes identifiquem as razões pelas
quais algumas metas não foram cumpridas conforme o planejado.
- Difundir plano de curto prazo: a difusão do plano de curto prazo ocorre em dois
estágios. O primeiro se refere às informações trocadas entre o engenheiro e o mestre
de obras, bem como os subempreiteiros e encarregados das equipes de produção,
durante a reunião de negociação das metas. O segundo estágio ocorre através do
contato verbal entre os encarregados e os demais funcionários participantes da equipe
de produção. Por isso deve-se procurar ser o mais claro possível durante a reunião de
discussão das metas, utilizando esboços e detalhes dos postos de trabalho, de forma a
esclarecer melhor as tarefas que estão sendo designadas, de forma a evitar
incompreensões e, devido a esse fato, possíveis retrabalhos.
- Alocar recursos classes 1, 2 e 3: de posse do plano de curto prazo, pode-se alocar os
recursos classes 1, 2 e 3 nos postos de trabalhos nos quais eles serão utilizados. A
alocação desses recursos deve obedecer ao itinerário identificado na análise dos
fluxos físicos realizada durante o planejamento de médio prazo (A classificação dos
recursos nestas categorias pode ser encontrada no anexo 4 deste trabalho).
- Executar a obra: essa etapa ocorre durante o dia a dia de execução de obra, através
de diretrizes fixadas na preparação do processo de planejamento. São identificadas as
razões pelas quais as metas planejadas não estão sendo cumpridas, de forma a serem
realizadas medidas corretivas para evitar sua recorrência. Nesse caso, pode-se utilizar
um sistema de indicadores de planejamento e controle da produção que possibilite o
desenvolvimento de um processo de tomada de decisão mais confiável. Os
indicadores coletados podem, assim, serem incluídos em um relatório de controle,
conferindo maior visibilidade ao processo de análise do desempenho do processo de
PCP. Exemplos de possíveis indicadores de PCP encontrados na literatura existente
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
96
(Bernardes, 2003) serão mostrados na seção posterior a esta. Cabe ressaltar ainda que
as decisões tomadas para a correção dos desvios devem ser convenientemente
abordadas nos relatórios supracitados, de forma a facilitar o processo de
aprendizagem dos principais agentes envolvidos com as etapas de preparação dos
planos, nos níveis de longo, médio e curto prazos.
Em geral o engenheiro da obra deverá se encarregar de preparar o plano de curto prazo.
Contudo, para a identificação dos pacotes de trabalho que podem ser executados e incluídos
neste plano, deve-se buscar o auxílio do mestre de obras. Nesse sentido, o mestre pode
verificar e registrar no plano o momento segundo o qual os pacotes estão sendo
desenvolvidos, bem como os problemas que estão impedindo a equipe de alcançar a meta
fixada.
Ao final do ciclo adotado para o curto prazo, o engenheiro pode analisar o plano
controlado pelo mestre, subsidiando a proposta do plano referente ao novo ciclo. Em seguida
os dois podem discutir sobre as reais possibilidades de se cumprir a proposta do engenheiro e
o que será de fato negociado com os sub-empreiteiros e encarregados de equipes de produção
na reunião de planejamento.
Na figura 7.2 abaixo vê-se um exemplo de planilha que pode ser utilizada para este tipo
de planejamento.
Figura 7.2 – Exemplo de Planilha Utilizada no Planejamento de curto prazo, fonte Isatto et al., 2000.
Obra: Semana 22 PPC = %Equipe S T Q Q S S OK? ProblemasREV 01 x x x xREV 01 x xREV 02 x x x x x xAlV 01 x x x x x x
Tarefas Reserva
Planejamento de Curto Prazo
Alvenaria circ 4 pavtoRevest quarto csl apto 204
Etapa01. Revestimento interno apto. 20302. Revestimento quarto solteiro apto 20403. Revestimento interno apto 20204. Alvenaria interna apto 401
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
97
7.1.1 Diretrizes para o processo de implementação do Modelo de Planejamento de Curto Prazo sugerido.
7.1.1.1 Estabelecer uma equipe de desenvolvimento e implementação.
Uma forma de viabilizar o desenvolvimento e a implementação do modelo de PCP
sugerido é através do estabelecimento de uma equipe com funcionários da empresa. Esta
equipe pode ser formada pelos usuários diretos do modelo ser implementado (diretor,
engenheiro, estagiário e mestre de obras).
A formação de uma equipe composta por funcionários da empresa permite o
envolvimento dos mesmos no desenvolvimento e na implementação do modelo. A função
principal desta equipe é adaptar o modelo de PCP ao caso da empresa em questão.
Uma outra função desta equipe, também muito importante para que o modelo possa ser
implementado de maneira bem sucedida, é preparar um plano de implementação a ser
divulgado para os funcionários envolvidos com o trabalho. Nesse caso, a discussão obtida
pela compreensão da utilização de um determinado elemento do modelo pode, inclusive,
alterar as metas globais já estabelecidas.
7.1.1.2 Utilizar um plano de implementação do modelo de PCP.
O plano de implementação costuma ser bem recebido pelos funcionários da empresa
envolvidos com o desenvolvimento do modelo. Os planos elaborados devem conter,
prioritariamente, as datas, os horários e o local de desenvolvimento das atividades necessárias
ao desenvolvimento de seus modelos de PCP. Isso explica por que tais planos conferem uma
grande visibilidade aos funcionários envolvidos no processo.
Uma forma de preparar este tipo de plano é por meio de elaboração de um calendário de
reuniões, seminários e cursos, que podem ocorrer, preferencialmente, em dias e horários fixos
na semana, de maneira a estabelecer intervalos regulares entre os encontros e a facilitar um
melhor gerenciamento do tempo pelos participantes.
Em geral, deve-se procurar fixar a duração das reuniões em no máximo uma hora e
meia, período esse em que a equipe de desenvolvimento deve procurar ser objetiva, de forma
a evitar desinteresse ou desmotivação por parte do funcionário participante.
Para a preparação deste plano, torna-se importante avaliar, junto aos funcionários que
participarão do trabalho, se existe disposição para a realização desses encontros em uma
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
98
freqüência semanal. Manifestações contra ou a favor da proposição podem, inclusive, servir
como um possível indicador de resistências que poderão ser encontradas durante a realização
do trabalho.
Um dos elementos mais importantes do plano são as datas marco nas quais são definidas
as metas a serem atingidas. Essas metas podem ser descritas por patamares de desempenho
atingido por determinado indicador de planejamento. Assim, pode-se fixar, por exemplo, uma
meta de atingir em dois meses um PPC médio de 70%, com uma redução de 50% do seu
coeficiente de variação do primeiro para o segundo mês de trabalho. Outro exemplo de meta é
a realização de reuniões de avaliação do modelo e tomada de decisões para correção dos
desvios. O sistema de indicadores de planejamento e controle da produção proposto por
Oliveira (1992), que se encontra na seção anterior, pode servir de ponto de partida para que a
equipe de desenvolvimento fixe as metas pretendidas.
Cabe ressaltar que este plano deve ser constantemente revisado e apresentado a todos os
funcionários participantes. Nesse sentido, pode-se, durante a sua revisão estabelecer outras
metas que devem ser alcançadas pelo grupo como um todo. Evidentemente, a fixação dessas
novas metas depende da análise da equipe de desenvolvimento, realizada de acordo com o
desempenho que a produção está atingindo.
Uma atividade importante que deve constar no plano de implementação consiste na
realização de um seminário inicial formal que apresente a todos os funcionários da empresa a
importância do trabalho. Uma das funções principais deste seminário é colocar à disposição
dos participantes os conhecimentos de ordem teórica ou prática para facilitar as discussões
dos problemas. Embora discussões similares tenham sido realizadas nas reuniões de
desenvolvimento da pesquisa, percebe-se que elas não receberam um caráter formal,
salientando a importância de todos os envolvidos.
Após terem sido levantados os problemas do processo, o grupo pode tentar elaborar um
plano global de desenvolvimento e implementação, visando atuar na melhoria do
planejamento da produção. Incentivos como prêmios ao atingirem-se as metas poderão ser
benéficos para o envolvimento de todos com o novo modelo.
O plano de implementação deve conter, também, atividades referentes à divulgação na
empresa sobre o processo de mudança ao qual ela será submetida. A divulgação está
relacionada a disponibilização de informações para os funcionários da empresa, como, por
exemplo, quais os objetivos gerais da mudança, o dia em que irá ocorrer o seminário inicial,
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
99
bem como datas relativas ao desenvolvimento do modelo de PCP e informações, em linhas
gerais, de como o novo sistema irá operar. Como o seminário deve ser considerado um grande
evento da empresa, o material informativo deve corresponder, em qualidade à importância do
mesmo.
7.1.1.3 Estabelecer um Programa de Treinamento.
Uma outra diretriz que deve ser seguida durante o desenvolvimento e implementação
dos sistemas de PCP é a realização de um programa de treinamentos, direcionado para os
funcionários que irão utilizar o sistema. Os treinamentos devem contemplar o significado dos
elementos do modelo, explicando como eles estão vinculados aos princípios da Construção
Enxuta. Assim, nos estágios preliminares de desenvolvimento, nos quais o modelo de PCP
está sendo moldado à realidade da empresa, a equipe pode assumir uma característica de um
grupo de estudo em prol da compreensão das definições envolvidas.
O programa de treinamento deve conter, tambpem, módulos que venham a auxiliar os
diretores, engenheiros e mestres a tomar decisões de acordo com os indicadores coletados
pelo sistema. Isso pode ser explicado porque foi verificado, no desenvolvimento de trabalhos
anteriores (Bernardes, 2003), que essas pessoas, em geral não sabiam como interpretar os
dados coletados, dificultando, assim, uma tomada de decisão compatível com estes dados.
Desse modo, é importante que, depois de elaborado o plano detalhado de
implementação, bem como discutidos e compreendidos os elementos do modelo de
planejamento pela equipe de desenvolvimento, seja realizado um curso de PCP de modo a
repassar os elementos estudados no modelo para aqueles funcionários que não participaram da
equipe de desenvolvimento.
O curso pode ser ministrado pela equipe de desenvolvimento de forma a mostrar, para
os demais participantes, que os próprios funcionários da empresa estão envolvidos com o
novo sistema.
Durante o processo de implementação e depois de finalizado este curso inicial, pode-se
realizar módulos de reforço de forma a facilitar a compreensão dos conceitos e objetivos
fixados. Isso é colocado para evitar possíveis esquecimentos de definições e princípios
básicos utilizados.
Concluído o curso de planejamento, é necessário que o processo de treinamento
continue ocorrendo na empresa. Nesse caso podem-se utilizar como ponto de partida para o
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
100
treinamento os problemas listados durante as reuniões de avaliação, ou aqueles observados
pela equipe de desenvolvimento ao longo da implantação dos elementos do modelo.
7.1.1.4 Auxiliar os funcionários no gerenciamento do tempo necessário à implementação da
mudança
Durante o processo de implantação dos sistemas de PCP, alguns engenheriros poderão
salientar que a etapa de preparação dos planos está consumindo um tempo de que eles
normalmente não dispõem ao longo da semana. Isso pode ser explicado pelo fato de,
normalmente, esses engenheiros gerenciarem mais de uma obra, tornando assim, difícil para
eles encontrarem um tempo adequado ao planejamento.
Segundo Senge et al. (2000), o problema fundamental não é a falta de tempo em si, mas
a falta de flexibilidade de tempo. Esta pode ser entendida como a dificuldade apresentada por
determinado funcionário em participar da implementação de mudanças na empresa devido ao
excesso de atividades que ele está executando durante o seu período de trabalho. Ainda
segundo este autor a falta de flexibilidade de tempo é mais acentuada nos estágios iniciais do
processo de mudança. Isso pode ser explicado porque, a medida que esse processo é iniciado,
os funcionários envolvidos ainda estão, normalmente, executando atividades e resolvendo
problemas relacionados às suas antigas rotinas de trabalho.Contudo, uma vez que os
funcionários aprendem com os resultados advindos do processo de mudança, o tempo se torna
uma restrição menor, visto que os funcionários se tornam mais eficientes no desenvolvimento
de suas atividades.
Assim, é importante que durante o diagnóstico do sistema de planejamento sejam
identificados períodos, durante o dia de trabalho, segundo os quais o funcionário está mais
disponível. Essa diretriz pode auxiliar no estabelecimento de horários das reuniões propostas
no plano de implementação, minimizando problemas de tempo.
7.1.1.5 Estabelecer alternativas de participação e envolvimento.
No que tange à participação, uma importante diretriz para o desenvolvimento e a
implementação do sistema de PCP relaciona-se com a delegação de tarefas a futuros usuários
do sistema, como, por exemplo, a solicitação para o desenvolvimento de um novo tipo de
planilha ou indicador.
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
101
Segundo Bernardes (2003), evidências observadas em empresas de construção permitem
confirmar o exposto. Essas empresas são as que apresentam melhores resultados em termos de
melhoria do desempenho do PCP. Alguns fatores podem também influenciar as atitudes dos
funcionários em prol do envolvimento:
1. Segundo Joshi (1991), o sistema só é implantado quando o engenheiro e o diretor
técnico estão cientes dos resultados positivos advindos com a implementação pois o aumento
do envolvimento pode ocorrer na medida em que os usuários do novo sistema identificam
claramente os benefícios dele advindos;
2. O plano de desenvolvimento é suficientemente discutido com todos os envolvidos,
fazendo com que esses funcionários saibam, claramente, quais as suas funções;
3. O amadurecimento dos conceitos relativos ao modelo de PCP e ao próprio modelo
frente à experiência obtida com implementação em obras anteriores.
7.1.1.6 Utilizar o sistema de indicadores do PCP para avaliação do processo de
implementação.
O controle do processo de implementação deve ocorrer para se verificar se o sistema de
planejamento está sendo operacionalizado conforme preconizado. Assim, pode-se utilizar o
sistema de indicadores do processo de PCP para avaliação do processo de implementação.
Durante o transcorrer da obra, esses indicadores podem ser divulgados durante as
reuniões de planejamento, bem como serem disponibilizados em local visível para que todos
tenham conhecimento da real situação da produção. Porém, é necessário que esses
funcionários sejam treinados adequadamente para poderem interpretar o significado dos
indicadores.
Aliado aos indicadores propostos, pode-se utilizar, também, um gráfico de
acompanhamento do número de ocorrências de problemas, que demonstra claramente se eles
estão diminuindo frente às decisões tomadas. Esse gráfico acaba se constituindo em um meio
potencial de demonstração de resultados positivos advindos com a utilização do sistema de
PCP desenvolvido.
Contudo, um fator que pode propiciar o sucesso do sistema de planejamento, é o
estabelecimento de reuniões periódicas para a correção de desvios ou a solução de problemas,
que tenham como produto principal uma decisão ou um conjunto de decisões, embasadas não
só em dados qualitativos como também no conjunto de indicadores supracitados.
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
102
O registro da decisão ou decisões tomadas é tão importante quanto à necessidade dessas
reuniões. Ele se constitui em uma forma organizada de armazenar a informação, facilitando
em análises posteriores. Dessa maneira pode-se analisar posteriormente os efeitos das
decisões na elaboração dos gráficos de evolução dos indicadores de desempenho coletados.
Evidentemente, cabe ressaltar que a análise das repercussões das decisões tomadas pode
facilitar ainda o processo de aprendizagem dos envolvidos, formando, assim, a base para a
melhoria contínua dos processos produtivos.
7.1.1.7 Considerar os problemas externos na proteção da produção.
Os problemas que ocorrem no ambiente externo da produção, como, por exemplo,
chuva, interferência por parte do cliente, entre outros, são causados, em geral, por fatores
naturais, tornando-se difícil a sua resolução. Entretanto, pode-se proteger a produção contra os
seus efeitos nocivos com a consideração dos mesmos na etapa de preparação dos planos.
Através dessa diretriz, são estabelecidos antecipadamente planos alternativos para as equipes
cujos pacotes de trabalho possam ser afetados por essa fonte de incerteza, de forma a não
haver sérias interrupções no ritmo de produção.
Diante deste quadro, uma possível forma de se trabalhar em prol da redução desse tipo
de problema é não carregar a capacidade das equipes ao máximo, para a absorção dos efeitos
da incerteza a eles associados, principalmente nos pacotes que têm uma vinculação direta com
estes problemas.
7.1.1.8 Analisar os dados preliminares.
A análise dos dados preliminares, referentes ao desempenho do PCP, é uma das
diretrizes que deve ser observada de maneira criteriosa, visto que talvez seja a primeira vez
que a empresa os esteja coletando. Algumas vezes, esses dados podem indicar deficiências no
processo de implementação, como, por exemplo, uma hierarquização e definição errônea de
uma meta operacional, causadas por um problema de compreensão durante o curso ou
treinamento do funcionário responsável pela elaboração do plano. Dessa forma, as primeiras
semanas podem servir de embasamento para o aprimoramento dos conceitos e princípios
apresentados no curso inicial de planejamento.
Contudo, mesmo que os funcionários tenham compreendido corretamente a forma pela
qual estão fundamentados os conceitos e princípios trabalhados, bem como tenham
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
103
preenchido corretamente os planos, os dados preliminares possivelmente não irão demonstrar
uma melhoria no desempenho da produção. Isso se deve ao fato de que, anteriormente, não
eram coletados dados que possibilitassem analisar o desempenho da produção e, em segundo
lugar, no momento em que os dados são coletados, a produção pode não estar com alguns de
seus processos produtivos estabilizados, significando, desta forma, que eles podem estar
sujeitos a uma alta variabilidade.
Portanto, cabe à equipe de desenvolvimento e implementação repassar e tranqüilizar os
demais funcionários envolvidos quanto aos possíveis problemas que possam ser detectados
através dos dados preliminares, de forma a evitar qualquer tipo de resistência que venha a
surgir devido ao baixo desempenho do sistema, demonstrado, principalmente, nas primeiras
semanas de trabalho.
7.2 Dados a serem coletados para a obtenção de indicadores que avaliem a eficiência e evolução dos Sistemas de PCP
As medições realizadas sobre processos gerenciais e produtivos fornecem aos gerentes
dados e fatos necessários à tomada de decisões e às ações de melhoria da qualidade e
produtividade da empresa (Lantelme et al., 1995). Sink e Tutle (1993), citados por Bernardes
(2003), definem medição como um processo que envolve a decisão sobre o que medir, a
coleta propriamente dita, o processamento e a avaliação de dados.
Através da utilização de medições e avaliações de desempenho de processos, pode-se
estabelecer padrões que, se adotados, podem melhorar a qualidade da informação disponível
para o processo decisório. Dessa forma, a utilização de indicadores para a medição facilita a
análise de eficácia do planejamento e do ambiente no qual a produção está inserida. O estudo
desses indicadores pode tornar visíveis os atributos da produção que, normalmente, não
estariam explícitos, dificultando uma tomada de decisão compatível com a correção dos
desvios de planejamento.
Segundo Chiesa et al. (1996), (citados por Bernardes, 2003) o acompanhamento
periódico da evolução desses indicadores, aliado às decisões tomadas, possibilita que
funcionários responsáveis pela tomada de decisão sejam inseridos em um processo de
aprendizagem que, por sua vez, pode levar à melhoria contínua dos processos produtivos.
Na literatura existente foram encontrados alguns indicadores, porém, para o caso da
empresa estudada, sugere-se, a princípio, a adoção do PPC, o qual monitorará o processo de
Capítulo 7 Análise do Impacto do Planejamento de Curto Prazo
nos Princípios da Construção Enxuta
104
programação de curto prazo de maneira clara e objetiva. Este indicador largamente utilizado
para aferição da eficiência do planejamento, assim como os demais, pode ser encontrado em
Bernardes (2003).
- Percentual do Planejamento Concluído – PPC: Quando a empresa está realizando o
planejamento semanal, é importante identificar a eficácia do plano estabelecido. Esse
indicador tem por objetivo o cálculo do percentual de tarefas executadas em relação ao total
de tarefas relacionadas na programação semanal e pode ser obtido pela fórmula abaixo:
Onde:
Tcp = Número de tarefas completadas (existentes no plano semanal)
Ttot= Número total de tarefas planejadas.
A periodicidade para coleta dos dados e verificação deste indicador deverá ser a mesma
da programação analisada, que no presente caso é semanal.
No anexo 5 deste trabalho serão mostrados alguns gráficos, retirados da bibliografia
existente, usados para monitoração deste processo, para um melhor entendimento da
finalidade destes.
Fórmula PPC = (Tcp/Ttot)x100
Capítulo8 Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros
105
8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
A própria natureza da indústria da Construção Civil, que ainda trabalha com mão de
obra, em sua grande maioria, pouco qualificada e com baixo nível de instrução, além do baixo
nível de industrialização característico do setor, tendo assim, significativo percentual de
processos de essência quase artesanal, dificulta a coleta eficiente de dados nos canteiros de
obras, e, conseqüentemente, ações de melhoria nos processos construtivos e no seu produto
final, que é a edificação propriamente dita.
Com relação ao estudo de caso, puderam-se notar alguns problemas e dificuldades em
relação à observação de aspectos passíveis de melhoria existentes no canteiro. Os envolvidos
na obra, engenheiro, assistente, estagiário e mestres, não enxergavam a pesquisa como
auxiliar na identificação de pontos a serem melhorados, e sim, em busca de imperfeições nos
processos por eles geridos, apesar de todo o esforço dispendido no momento inicial, para a
conscientização dos mesmos.
O que se pode concluir deste estudo de caso, no entanto, é que apesar de ser uma
empresa de grande porte, não é dada a real importância ao Sistema de Planejamento e
Controle da Produção, apesar se ser este uma ferramenta fundamental para o bom
desempenho e acompanhamento dos processos deste setor, os quais são bastante variados e
complexos. Ao analisarmos profundamente, não existia sequer um planejamento a longo
prazo, tendo somente um cronograma físico-financeiro, que diante dos instrumentos e
programas computacionais existentes atualmente para esta finalidade, encontra-se um tanto
quanto defasado.
Entre os aspectos aos quais era dada maior importância podemos citar, o atendimento às
necessidades dos clientes e o atendimento ao material burocrático referente ao processo de
Certificação Unificada que a empresa possui: de Qualidade e Segurança no Trabalho.
Sendo assim, foi sugerido a esta que, antes de iniciar um processo de implementação da
filosofia em estudo, seja estabelecido e devidamente formalizado um Sistema de
Planejamento e Controle da Produção a curto prazo, pois este constitui-se na opinião autortes
consultados na fase de revisão bibliográfica, um instrumento fundamental para que seja feito
o planejamento e o acompanhamento dos processos de maneira eficiente e efetiva.
Para este tipo de planejamento foi sugerido o Last Planner, que constitui-se em uma
alternativa à redução de variabilidade do processo de Planejamento e Controle da Produção,
Capítulo8 Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros
106
além de aumentar a transparência dos processos, ser uma forma de formalização dos
processos possibilitando análises futuras referentes ao mesmo, e, ainda segundo estudos
anteriores aumenta, de forma significativa o comprometimento das equipes.
Como recomendações para trabalhos futuros seriam interessantes:
- A efetiva implementação do sistema sugerido para observação dos resultados
advindos com o mesmo, assim como o comportamento das empresas e funcionários
diante de um instrumento de acompanhamento efetivo que aponta metas planejadas e
não cumpridas;
- Desenvolvimento de métodos de controle de perdas que
possam ser inseridos nos sistemas de informação das
empresas, de forma que a visão mais ampla das perdas
torne-se parte da cultura destas;
- O desenvolvimento de formas de reduzir o controle de
perdas através de dispositivos visuais, expostos nos
canteiros de obras, mostrando metas a serem atingidas,
com o objetivo de dar mais transparência ao processo e
aumentar ainda mais o comprometimento das equipes
envolvidas no trabalho.
- Realização de um estudo que avalie e quantifique o custo
de cada uma das categorias de perdas expostas neste
trabalho, em diferentes processos.
Referências Bibliográficas
107
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACKOFF, R.: Planejamento Empresarial., Ed: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.,
Rio de Janeiro, 1976.
ARAÚJO, L: Produtividade da mão-de-obra na execução de alvenaria: detecção e
quantificação de fatores influenciadores, EPUSP (Boletim técnico da Escola Politécnica da
Usp. Departamento de Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/269), São Paulo, 2001.
BALLARD, G. : Improving Work Flow Reliability. In: 7 Annual Conference of the
International Group for Lean Construction, University of California, California, 1999.
BERNARDES, M.: Planejamento e Controle da Produção para Empresas de Construção
Civil. Ed. Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., São Paulo, 2003.
BERTALANFFY, L.: Teoria Geral dos Sistemas. Editora Vozes, Petrópolis,1977.
BIRREL, G.: Construction Planning Beyond the Critical Path. Journal of the Construction
Division. New York, ASCE. V 106, n.3, New York, 1980.
COSTA, A.: Perdas na Construção Civil: uma proposta conceitual e ferramentas para a
prevenção. Porto Alegre, 1999. 160p (Mestrado - Escola de Engenharia, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul).
FORMOSO, C.: Lean Construction: princípios básicos e exemplos. Disponível em:
http://www.piniweb.com/revistas/construção/index.asp?swsswwn=p984v2.5j&MATE6_COD
=14449&embusca=Lean+construction%3A+princ%Edpios+b%E1sicos+e+exemplo. Acesso
em: 27fev. 2003.
FORMOSO, C.: Knowledge Based Framework for Planning House Building Projects.
Salford, 1991. 327p (Doutorado - University of Salford – Department of Quality and Building
Surveying).
Referências Bibliográficas
108
FRUET, G.; FORMOSO C.: Diagnóstico das dificuldades enfrentadas por gerentes
técnicos de empresas de construção civil de pequeno porte. In: Seminário Qualidade na
Construção Civil 2, Porto Alegre, 1993, Anais.
GHINATO, P.: Publicado como 2° cap do Livro Produção & Competitividade: Aplicações
e Inovações. Ed.: Adiel T. de Almeida & Fernando M. C. Souza, Edit da UFPE, Recife, 2000.
GHINATO, P.: Sistema toyota de produção, mais do que simplesmente just in time. Ed
Educs, Rio Grande do Sul, 1996.
GIORDANI, L.: Fundamentos de Metodologia Científica. Disponível em
www.uricer.edu.br/~giordani/projeto/ftp/Fundamentos.pdf Acesso em 25/02/2003.
GODOY, A.: Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de
Administração de Empresas , São Paulo, 1995.
HIROTA, E.; FORMOSO, C..: Implementação da Construção Enxuta: Contribuições da
Aprendizagem na Ação. In: Simpósio Brasileiro de Gestão da Qualidade e Organização do
Trabalho no Ambiente Construído. Fortaleza, 2001, Anais.
HEINECK, L.: Modelos para o Planejamento de Obras. In: Encontro de Pesquisa
Operacional no Rio Grande do Sul, 1984, Santa Maria, 1984, Anais.
HEINECK, L.; MACHADO, R.: A geração de cartões de produção na programação
enxuta de curto prazo em obra. In: 2° Simpósio Brasileiro de Gestão da Qualidade e
Organização do Trabalho no Ambiente Construído, Fortaleza, 2001, Anais.
HOWELL, G.: What is Lean Construction. In: 7° Conference of the International Group for
Lean Construction, Berkeley 1999, Proceedings.
ISATTO, E. L. et al. Lean Construction:Diretrizes e ferramentas para o controle de perdas
na Construção Civil. Ed. Sebrae, Porto Alegre, 2000.
Referências Bibliográficas
109
ISATTO, E; FORMOSO, C.: A nova filosofia de produção e redução de perdas na
construção civil. In: 7° Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído,
Florianópolis, 1998.
KOSKELA, L. :Application of the New Production philosophy to Construction, Technical
Report #72, Stanford University, 1992.
LAKATOS , E.et al . Metodologia científica , Ed. Atlas, São Paulo, 1991.
LAUFER, A.; HOWELL G. :Construction Planning: Revising the Paradigm
Project Mangement . Journal London, V.24, n.3, pp 23-33, London, 1993.
LAUFER , A.; TUCKER, R.: Is Construction planning Really Doing Its
Job? A Crit ical Examination of Focus, Role and Process. Construction
Management and Economics, n.5,pp. 243-266, London, 1987.
LAUFER , A.; TUCKER, R.: Competence and Timing Dilemma in
Construction Planning. Construction Management and Economics, n.6,pp.
339-355, London, 1988.
LEVITT, R. et al. :Artificial Intelligence Techniques for Generating Construction Project
Plans. Journal of Construction Engineering and Management, v.114, n.3, pp.329-343, New
York, 1988.
FORMOSO, C.: Knowledge Based Framework for Planning House Building Projects.
Salford, 1991. 327p (Doutorado - University of Salford – Department of Quality and Building
Surveying).
MASIERO, L.: Aplicação do Método da Linha de Balanço no Planejamento de Obras
Repetitivas: Um levantamento das decisões fundamentais para a sua aplicação.
Florianópolis, 1990 (Mestrado - Universidade Federal de Santa Catarina).
MEREDITH, J.: Building operations management theory thorough case and field study.
Journal of operations management v 16 p 441-454, s.l. 1998.
Referências Bibliográficas
110
OHNO, T.: Toyota Production System: Beyond large-scale production. Ed. Productivity
Press, Cambridge 1988.
OHNO, T. : O sistema toyota de produção além da produção em larga escala. Ed.
Bookman, Porto Alegre, 1997.
OLIVEIRA, D.: Sistemas de Informações Gerenciais, Estratégicos, Táticos e
Operacionais. Ed. Atlas, São Paulo 1992.
PICCHI, F.: Lean Thinking (Mentalidade Enxuta): Avaliação Sistemática do Potencial de
Aplicação no Setor de Construção. In: Simpósio Brasileiro de Gestão da Qualidade e
Organização do Trabalho no Ambiente Construído. Fortaleza, 2001.
ROSA, F.: Perdas na Construção Civil:diretrizes e ferramentas para o controle. Porto
Alegre. 2001. 156p. (Pós Graduação em Engenharia Civil – Escola de Engenharia,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
SANTOS et al. :Método de intervenção para a redução das perdas na construção civil;
manual de utilização. Ed. Sebrae, Porto Alegre 1996.
SAURIN, T.: Método para diagnóstico e diretrizes para planejamento de canteiros de obra
de edificações. Porto Alegre, 1997 (Mestrado em Engenharia Civil - Curso de Pós-Graduação
em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
SANTOS, A.; FORMOSO, C.; ISATTO, E.; LANTELME, E.: Método de Intervenção para
Redução de Perdas na Construção Civil: Manual de Utilização. Ed. Sebrae, Porto Alegre,
2000.
SANTOS, A.: Por onde iniciar na implementação das modernas práticas de engenharia de
produção na construção?. In: IX Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído
Foz do Iguaçu, 2002.
SEVERINO, A.: Metodologia do Trabalho Científico, Editora Cortez, São Paulo, 2000.
Referências Bibliográficas
111
SHINGO, S. : Non-stock production: the Shingo System for continuous improvement. Ed.
Productivity Press , Cambridge, 1988.
SHINGO, S. :O sistema toyota de produção do ponto de vista da engenharia de produção.
Ed. Bookman, Porto Alegre, 1996.
SILVA, E.: Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação, UFSC/PPGEP/LED,
Florianópolis, 2001.
SOUZA E SILVA, M.; BRESSIANI, L.; SAFARRO, F.; SANTOS, D.; HEINECK, L.:
Sistema de Produção Puxado e Sistema de Produção Empurrado: Simulação através de
jogo didático de montagem de canetas, associando idéias e conceitos do ambiente da
Construção Civil. In: 3° Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da Construção, São
Carlos, 2003.
SYAL, M.; GROBLER, F; WILLENBROCK J.; PARFITT, M. :Construction Project
Planning Model for Small-Medium Builders. Journal of Construction Engineering and
Management, v118, n. 4 Dec, New York, 1992.
TOMMELEIN, I. :Pull-Driven Scheduling for Pipe Spool Installation: Simulation of Lean
Construction Technique. Journal of Construction Engineering and Management, v.124, n.4.
Dec, New York, 1998.
WOMACK, J. et al : A máquina que mudou o mundo. Ed. Campus, Rio de Janeiro, 1992.
YIN, R.K.: Case study research:design and methods, Ed. Thousands Oaks, Sage, 1994.
Anexo 1 Lista de Verificação de Materiais -Cimento
112
LISTA DE VERIFICAÇÃO – LV.M2
DADOS RELATIVOS AOS MATERIAIS – CIMENTO
OBRA: DATA: OBSERVADOR:
Versão: 21/09/1999
1 ESTOQUE ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.
1. O estoque de cimento é renovado conforme este vai sendo consumido, possibilitando a armazenagem em pequena quantidade.
2. É praticada a armazenagem do tipo PEPS (o primeiro saco que entra é o primeiro saco que sai).
3. A armazenagem de cimento é feita em um único local do canteiro.
4. Os sacos ficam protegidos da umidade no local de armazenagem.
5. Existe estrado sob os sacos de cimento.
6. As pilhas têm no máximo 10 sacos.
7. As pilhas adjacentes às paredes estão há uma distância mínima de 30cm para permitir a circulação do ar.
8. O prazo de validade do cimento impresso nos sacos é respeitado.
Obs.:
2. TRANSPORTE 2.1. RACIONALIZAÇÃO DO TRANSPORTE
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. O local destinado à armazenagem do cimento permite o acesso de caminhões,
possibilitando que a descarga seja feita com o mínimo de transporte.
2. O trajeto entre o ponto de descarga e o local destinado à armazenagem do cimento não possui obstruções, de forma que o deslocamento do material seja o menor possível (distância de transporte aproximada:_____m)
Obs.:
3. MOVIMENTO 3.1 CONDIÇÕES DE TRABALHO ADEQUADAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. O trajeto entre o local de descarga e o local de armazenagem tempavimento
regularizado e não possui desnível superior a 10%.
2. A empresa fornece EPI´s aos funcionários.
Anexo 1 Lista de Verificação de Materiais -Cimento
113
3. Os funcionários usam os EPI’s no manuseio com os sacos de cimento.
Obs.: 3.2 UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS ADEQUADOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. São utilizados equipamentos ou dispositivos para auxiliar a descarga dos
sacos de cimento (rampas de madeira, por exemplo).
2. São utilizados equipamentos para auxiliar no transporte entre o local de descarga e o local de armazenagem
Obs.:
4. ESPERA DA MÃO-DE-OBRA 4.1 FORNECIMENTO DE MATERIAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. Existe estoque de cimento no canteiro (número de sacos: _____)
2. Para evitar que falte cimento no canteiro, a solicitação de nova remessa é feita com antecedência.
3. O fornecedor entrega o cimento no canteiro sempre na data confirmada.
Obs.:
5. PRODUTOS DEFEITUOSOS 5.1 QUALIDADE DOS MATERIAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. É realizada a conferência visual dos sacos de cimento que entram no canteiro
para verificar se estes não estão rasgados, molhados ou manchados por impregnação de produtos estranhos ou desconhecidos.
2. Os sacos de cimento que estão no canteiro estão isentos de rasgos ou manchas por impregnação de produtos estranhos ou desconhecidos.
3. Os sacos de cimento rejeitados são devolvidos ao fornecedor para reposição ou acerto financeiro.
Obs.:
6 OUTRAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO N.S.A.
1. Durante a execução da edificação, o canteiro esteve livre de roubo de cimento.
Obs.:
Anexo 2 Lista de Verificação de Processos -Alvenaria
114
LISTA DE VERIFICAÇÃO – LV.P3
DADOS RELATIVOS AOS PROCESSOS – ALVENARIA
OBRA: DATA: OBSERVADOR:
Versão: 21/09/1999
1 SUPERPRODUÇÃO 1.1 QUANTIDADES NECESSÁRIAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. A argamassa de assentamento é produzida na quantidade certa, ou seja,
baseada em uma estimativa racional do consumo no canteiro para um determinado período ou nas quantidades encomendadas pelos pedreiros
2. Os materiais complementares (blocos especiais, vergas e contravergas pré-moldadas, tacos para fixação de esquadrias, molduras para colocação de a.c., etc.) são produzidos a partir de uma previsão do consumo no canteiro
Obs.: 1.2 PRODUÇÃO NO MOMENTO CORRETO
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. A argamassa de assentamento é produzida no momento certo, ou seja,
conforme vai sendo solicitada pelos pedreiros
2. Os materiais complementares (blocos especiais, vergas e contravergas pré-moldadas, tacos para posterior fixação de esquadrias, molduras para colocação de a.c., etc.) são produzidos conforme vão sendo necessários
Obs.:
2 ESTOQUE ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.
1. A argamassa de assentamento é depositada diretamente nas masseiras dos pedreiros, sem passar por estoques centralizados nos andares
Obs.:
3 TRANSPORTE 3.1. RACIONALIZAÇÃO DO TRANSPORTE
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. O equipamento de transporte vertical (elevador de cargas, etc.) está
posicionado próximo ao baricentro da edificação
2. A betoneira está posicionada próximo ao elevador de cargas (distância aproximada: _____m)
Anexo 2 Lista de Verificação de Processos -Alvenaria
115
3. Os materiais utilizados na produção de argamassa são estocados próximos à betoneira (distância média aproximada: _____m)
4 Os blocos são estocados próximos ao elevador de cargas (distância média aproximada: _____m)
5. A quantidade de argamassa servida aos pedreiros é a suficiente para executar a tarefa na frente em que este está trabalhando, evitando assim reincidência de transportes
6. A quantidade de blocos servida aos pedreiros é a suficiente para executar a tarefa na frente em que este está trabalhando, evitando assim reincidência de transportes
7. As paredes internas são executadas do ponto mais distante em direção ao ponto mais próximo do equipamento de transporte vertical, para evitar o excesso de transporte
8. Existem plataformas em todos os pavimentos para receber o material transportado pela grua
Obs.: 3.2 APROVEITAMENTO DOS EQUIPAMENTOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. A movimentação do elevador de cargas é realizada com a quantidade máxima de equipamentos de transporte (giricas, carrinhos de mão, carrinhos porta paletes, etc.) ou materiais suportadas por este
2. A grua é utilizada para o transporte de argamassa
3. A grua é utilizada para o transporte de blocos
4. O volume da caçamba para transporte de argamassa é dimensionado em função da capacidade de carga da grua
5. A quantidade de blocos colocados nos paletes é dimensionada em função da capacidade de carga da grua
Obs.:
4 MOVIMENTO 4.1 CONDIÇÕES DE TRABALHO ADEQUADAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. Os locais destinados à passagem de equipamentos de transporte (giricas,
carrinhos de mão, carrinhos hidráulicos, etc.) são regularizados e estão livres de rampas com inclinação superior a 10%
2. A iluminação dos postos de trabalho é suficiente (usar o bom senso)
Anexo 2 Lista de Verificação de Processos -Alvenaria
116
3. A empresa fornece EPI’s para os funcionários
4. Os funcionários envolvidos com a execução da alvenaria usam os EPI’s enquanto realizam suas atividades
5. A plataforma principal de proteção está no primeiro pavimento que esteja no mínimo um pé-direito acima do terreno (NR 18)
6. Existem plataformas secundárias de proteção a cada 3 pavimentos, a partir da plataforma principal (NR 18)
7. As plataformas contornam toda a periferia da edificação (NR 18)
8. Para deslocar-se do posto de trabalho até os sanitários os operários percorrem menos de 150 m (NR 18)
9. Existem banheiros volantes nos pavimentos (somente para prédios com mais de 5 pavimentos)
Obs.: 4.2 UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS ADEQUADOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. Os equipamentos que entram em contato com a argamassa de assentamento
são lavados após seu uso, para evitar que ocorra aumento no seu peso e diminuição da vida útil, pela aderência de camadas sucessivas
2. O transporte de blocos é realizado com os equipamentos apropriados (carrinhos hidráulicos, carrinhos polivalentes, etc.), evitando assim o uso de carrinhos de mão ou giricas
3 Os andaimes e cavaletes utilizados no canteiro são leves, dispensando esforços desnecessários dos operários no seu transporte
4. Os andaimes utilizados na empresa se adaptam às alturas dos funcionários e aos pés-direito, possibilitando que estes trabalhem sem realizar esforços desnecessários
5. A betoneira utilizada no canteiro é autocarregável, possui silo para abastecimento de materiais ou está em posição favorável para que o carregamento seja feito por carrinhos dosadores
6. A argamassa para execução da alvenaria é fornecida em masseiras leves (metálicas, PVC, etc.)
Obs.:
5 ESPERA DA MÃO-DE-OBRA
Anexo 2 Lista de Verificação de Processos -Alvenaria
117
5.1 COMPATIBILIDADE DOS EQUIPAMENTOS ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.
1. Existe compatibilidade entre a quantidade de equipamentos auxiliares (andaimes, giricas, masseiras, escantilhões, etc.) disponíveis no canteiro e a quantidade de trabalhadores envolvidos com a execução da alvenaria
2. A capacidade de operação dos equipamentos (betoneira, elevador de cargas, grua, etc.) disponíveis no canteiro é suficiente para abastecer todos os trabalhadores envolvidos com a execução da alvenaria
Obs.: 5.2 FORNECIMENTO DE MATERIAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. Existe uma relação de 1 servente para cada 2 pedreiros envolvidos na
execução da alvenaria
2. Para evitar que haja parada dos pedreiros por falta de argamassa de assentamento no posto de trabalho, o pedido é realizado para o operador da betoneira com antecedência
3. Os demais materiais (blocos, blocos especiais, vergas, molduras para a.c., tacos para fixação de esquadrias, etc.) são colocados à disposição dos pedreiros na quantidade suficiente para evitar a ocorrência de paradas
4. Os blocos especiais (½ bloco, ¼ bloco, com furos para caixas de passagem, etc.), são entregues prontos pela central de componentes ou pelo próprio fornecedor
5. Existe um operário responsável pela produção de blocos especiais no canteiro, evitando assim paradas dos pedreiros
Obs.: 5.3 PRAZOS DE CARÊNCIA RECOMENDADOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. O prazo de carência para a execução do encunhamento ou da fixação da
alvenaria do último pavimento é de 7 dias após o término de toda alvenaria, sendo que esperas por períodos maiores ocorrem por opção da empresa
Obs.:
6 ELABORAÇÃO DE PRODUTOS DEFEITUOSOS 6.1 CONTROLE DAS OPERAÇÕES
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. A alvenaria já executada está isenta de irregularidades (ondulações, falta de
nível, esquadro, alinhamento ou prumo em paredes, falta de amarração, etc.) dispensando retrabalhos
Anexo 2 Lista de Verificação de Processos -Alvenaria
118
2. As dimensões dos vãos deixados para a posterior fixação de esquadrias são adequadas às dimensões destas
3. A marcação da alvenaria é feita por profissional capacitado, munido dos respectivos projetos, para evitar erros na locação de paredes e aberturas, uso de blocos errados (execução de paredes com espessura diferente da projetada), etc.
4. Em obras com modulação na alvenaria, existem projetos independentes para as duas primeiras fiadas (maior detalhamento para evitar erros durante a execução)
5. As instalações elétricas e hidrosanitárias que são executadas simultaneamente à alvenaria, são controladas por profissionais capacitados, munidos dos respectivos projetos, para evitar erros na locação, esquecimento de pontos de água ou luz, etc.
6. O traço utilizado na confecção da argamassa foi dimensionado a partir de algum estudo prévio, evitando assim o posterior aparecimento de manifestações patológicas (esfarelamentos, trincas, etc.)
7. É realizado algum tipo de controle na execução de vergas in loco para evitar defeitos como barras de aço expostas, falta de geometria, falta de transpasse nas extremidades do vão, etc.
8. São deixadas molduras de concreto ou vazados na alvenaria, em ambientes onde está prevista a instalação de aparelhos de ar condicionado
9. Os peitoris externos passam por baixo do caixilho da janela
10. Os peitoris têm caimento para fora, facilitando o rápido escoamento da água 11. Os peitoris projetam-se 3 a 4 cm para fora da face externa da parede, com pingadeira nesta saliência
12. Existe Manual de Procedimentos para execução de alvenaria nesta obra
13. Os operários conhecem e utilizam as informações presentes no Manual de Procedimentos para execução de alvenaria
Obs.: 6.2 QUALIDADE DOS MATERIAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. Existe um controle da qualidade dos agregados utilizados na confecção da
argamassa de assentamento, para evitar o posterior aparecimento de manifestações patológicas (eflorescências, manchas, vesículas, etc.) nas alvenarias
2. Os blocos adquiridos pela empresa possuem resistência suficiente para evitar quebras durante o armazenamento, corte ou assentamento
Obs.:
Anexo 2 Lista de Verificação de Processos -Alvenaria
119
6.3 CARACTERÍSTICAS DIMENSIONAIS ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.
1. A espessura das juntas verticais é a determinada no Projeto Executivo de Alvenaria
2. A espessura das juntas horizontais é a determinada no Projeto Executivo de Alvenaria
Obs.:
7 PROCESSAMENTO EM SI 7.1 OPERAÇÕES NECESSÁRIAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. Evita-se realizar rejuntamento (normalmente empregado em alvenaria à vista)
nas paredes que receberão revestimento, apenas por motivo estético
2. A argamassa possui trabalhabilidade suficiente para evitar as “batidinhas” nos blocos no momento do assentamento
3. São utilizados equipamentos auxiliares mais racionais para execução da alvenaria (escantilhão, colher meia-cana, bisnaga para aplicação de argamassa, etc.), que permitem aumento de produtividade e melhoria da qualidade final do produto
4. O encunhamento é realizado com argamassa expansiva, evitando-se o uso de encunhamento tradicional (blocos inclinados)
5. O tempo de mistura da argamassa na betoneira é de aproximadamente 5 minutos
Obs.:
8 SUBSTITUIÇÃO 8.1 MATERIAIS NECESSÁRIOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. Existe no canteiro um quadro com o traço que deve ser utilizado na produção de argamassa para assentamento, evitando assim a realização de traços superdimensionados
2. Evita-se a utilização de blocos com qualidade superior (empregados em alvenaria à vista) nas paredes que receberão revestimento
3. Evita-se a utilização de blocos com qualidade superior (empregados em alvenaria portante) nas paredes que têm apenas função de vedação
Obs.:
Anexo 2 Lista de Verificação de Processos -Alvenaria
120
8.2 MÃO DE OBRA COMPATÍVEL COM A TAREFA
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A. 1. Os pedreiros restringem-se a realizar as suas atividades deixando para os serventes as atividades mais simples (transporte, carga e descarga de materiais e equipamentos, etc.)
Obs.:
9 OUTRAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO N
.S.A.
1. Durante a execução da edificação, o canteiro ficou livre de vandalismos contra as alvenarias (pixações, derrubamento de paredes recém executadas, etc.)
Obs.:
Anexo 3 Classificação do Porte da Empresa de acordo com o Sebrae
121
Tabela de Classificação do Porte da Empresa de acordo com o Sebrae:
Número de Funcionários Porte
Até 19 funcionários Micro Porte
De 20 a 99 funcionários Pequeno Porte
De 100 a 499 funcionários Médio Porte
500 ou mais funcionários Grande Porte
Anexo 4 Programação de Recursos
122
Programação de Recursos
A gestão de recursos deve ocorrer, qualquer que seja o nível do planejamento. Estes
recursos podem ser programados em momentos específicos durante a execução do
empreendimento, podendo ser classificados em três classes distintas (Formoso et al, 1999):
- Recursos de classe 1: são aqueles cuja programação de compra, aluguel e/ou
contratação deve ser realizada a partir do planejamento de longo prazo,
caracterizando-se, geralmente, por longo ciclo de aquisição e baixa repetitividade
desse ciclo. Nesse caso, o lote de compra corresponde, geralmente ao total da
quantidade de recursos a serem utilizados;
- Recursos de classe 2: aqueles cuja programação de compra, aluguel e/ou contratação
deverá ser realizada a partir do planejamento tático de médio prazo e que se
caracterizam, geralmente, por um ciclo de aquisição inferior a 30 dias e por uma
freqüência média de repetição desse ciclo. Os lotes de compra são, geralmente,
frações da quantidade total do recurso;
- Recursos de classe 3: São aqueles cuja programação pode ser realizada em ciclos
relativamente curtos (similares ao horizonte de curto prazo). Em geral, a compra
desses recursos é realizada a partir do controle de estoque da obra e do almoxarifado
central (se houver). Caracterizam-se, geralmente, por um pequeno ciclo de aquisição
e pela alta repetitividade desse ciclo.
Fonte: Bernardes, 2003
Anexo 5 Gráficos de Acompanhamento do PCP
123
Gráficos utilizando os dados obtidos através dos indicadores propostos,
fonte Isatto et al., (2000):
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Evolução do PPC
0 1 2 3 4Número de ocorrências
Condições adversas do tempo
Superestimação da produtividade
Baixa Produtividade
Solic. modificaçaõ serviço q já está sendo executado
Solicitação de paralisação dos serviços
Atraso na entrega
Absenteísmo
Modificação dos Planos
Prob
lem
as
Problemas semana 21
Anexo 5 Gráficos de Acompanhamento do PCP
124
0 10 20 30 40Número de Problemas
Baixa produtividade
Falta de material doempreiteiro
Atraso na tarefa antecedente
Condições Adversas doTempo
Falta de programação da mãode obra
Má especificação da tarefa
Prob
lem
asProblemas Acumulados