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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE INFORMÁTICA CURSO DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO EM INFORMÁTICA NO RECIFE E NO VALE DO SILÍCIO Henrique Sales de Melo Pessoa Lins Orientador: Dr. Ruy J. Guerra B. de Queiroz, Ph.D Departamento de Ciência da Computação Universidade Federal de Pernambuco Recife, setembro de 2011.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE INFORMÁTICA

CURSO DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO

UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO EM INFORMÁTICA NO

RECIFE E NO VALE DO SILÍCIO

Henrique Sales de Melo Pessoa Lins

Orientador: Dr. Ruy J. Guerra B. de Queiroz, Ph.D

Departamento de Ciência da Computação

Universidade Federal de Pernambuco

Recife, setembro de 2011.

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HENRIQUE SALES DE MELO PESSOA LINS

UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO EM INFORMÁTICA NO

RECIFE E NO VALE DO SILÍCIO

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE

DO CURSO DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO COMO

PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM CIÊNCIA

DA COMPUTAÇÃO.

Orientador: Prof. Ruy J. Guerra B. de Queiroz, Ph.D

Recife, setembro de 2011.

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Lins, Henrique Sales de Melo Pessoa.

Um estudo sobre empreendedorismo em Informática no Recife

e no Vale do Silício / Henrique Sales de Melo Pessoa Lins. -

Recife: O Autor, 2011.

Monografia (Graduação) – Universidade Federal de

Pernambuco. CIN. Curso de Ciência da Computação, 2011.

Inclui Bibliografia e Anexos.

1. Ciência da Computação. 2. Tecnologia da Informação.

3. Pólo Tecnológico. 4.TI. I. Título

UFPE

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UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO EM INFORMÁTICA NO RECIFE E NO

VALE DO SILÍCIO

Henrique Sales de Melo Pessoa Lins

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE CIÊNCIA DA

COMPUTAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO COMO PARTE

DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL

EM CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO.

Aprovada por:

_____________________________________________

Prof. Ruy J. Guerra B. de Queiroz, Ph.D.

Orientador – Departamento de Ciência da Computação –

Universidade Federal de Pernambuco

____________________________________________________

Prof. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, Ph.D.

Examinador Interno – Departamento de Ciência da Computação –

Universidade Federal de Pernambuco

Recife, setembro de 2011

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Resumo da monografia submetida à Universidade Federal de Pernambuco como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Bacharel em Ciência da

Computação.

UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO EM INFORMÁTICA NO RECIFE E NO

VALE DO SILÍCIO

Henrique Sales de Melo Pessoa Lins

Orientador: Professor Ruy J. Guerra B. de Queiroz, Ph.D.

Maior e mais influente centro de alta tecnologia do mundo, o Vale do Silício pode ser

considerado o expoente máximo da era da informação. Através de uma cultura de inovação e

empreendedorismo, com a Universidade de Stanford como centro, o Vale gerou casos de

sucesso bem conhecidos como Google, Hewlett-Packard e Yahoo, dentre outros.

Segundo Bradford Cross e Russel Jurney, no artigo "The Next Silicon Valley", ao redor do

mundo o Vale do Silício inspira inveja, curiosidade e tentativas de copiá-lo, mas sem sucesso. No

mesmo texto os autores sugerem que, ao invés de tentar copiar o Vale, outras regiões devem

ter uma visão local, identificando e capitalizando sobre as paixões e capacidades locais.

A impossibilidade de replicação, no entanto, não impede que outros centros

tecnológicos possam aprender lições com o Vale. Visto que algumas das características do Vale

podem ser percebidas no Recife (alto teor de empresas jovens, por exemplo), este trabalho de

graduação visa entender o que ocorre no mais bem sucedido ecossistema empreendedor de

Tecnologia da Informação - TI e trazer as lições aprendidas à realidade recifense, propondo

melhorias para o sistema local.

Este trabalho apresenta os princpais acontecimentos históricos que formaram o Vale do

Silício e o ecossistema empresarial de TI do Recife, bem como suas organizações e mecanismos

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de funcionamento atuais, atentando para as particularidades de cada ecossistema. Os

resultados gerados são uma identificação de pontos de semelhança e devergência entre o Vale

e o sistema recifense, lições úteis ao mercado de TI do Recife e algumas propostas de melhorias

para o ecossistema local.

Recife, setembro de 2011.

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Abstract of the monograph submitted to the Universidade Federal de Pernambuco as part of

the mandatory requirements for obtaining the grade of Bachelor in Computer Science .

A STUDY ABOUT ENTREPRENEURSHIP IN INFORMATION TECHNOLOGY IN

RECIFE AND IN THE SILICON VALLEY

Henrique Sales de Melo Pessoa Lins

Advisor: Professor Ruy J. Guerra B. de Queiroz, Ph.D.

Greater and most influential high technology center of the world, the Silicon Valley can

be considered the highest exponent in the information era. Through a culture of innovation and

entrepreneurship, having the Stanford University as its center, the Valley created well known

cases of success like Google, Hewlett-Packard e Yahoo and others.

According to Bradford Cross and Russell Jurney, in their article "The Next Silicon Valley",

all around the world the Silicon Valley inspires envy, curiosity and unsuccessful attempts at

copying it. In the same text the authors suggest that, instead of copying the Valley, other

regions should have a local vision, identifying its passions and strengths and capitalizing on it.

Although it is impossible to replicate the Silicon Valley, it does not prevent other

technology centers from learning lessons with the Valley. Noted that some of the Valley

characteristics can be seen in Recife (high percentage of young businesses, for example), this

work aims at understanding what occurs in the most successful entrepreneurial system of

Information Technology and learn lessons to be used in the reality of Recife and using it for

coming up with enhancements to be made in the local IT system.

This work presents the main historical facts that formed the Silicon Valley and the IT

businesses cluster of Recife, as well as how both clusters are organized e its current functioning

mechanisms, paying attention to the particularities of each cluster. The generated results are

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the identification of similarities and divergences between the Valley and the Recife IT cluster, as

well as some improvement suggestions to the cluster of Recife.

Keywords: Computer Science, Information Technology, IT, IT Cluster.

Recife, September/2011

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Índice

_Toc304006019

Lista de Figuras ......................................................................................................................... 10

1 – Introdução........................................................................................................................... 11

1.1 - Motivação e contexto .................................................................................................... 12

1.1.1 - O Vale do Silício ...................................................................................................... 13

1.1.2 Polo tecnológico do Recife ........................................................................................ 14

1.2 Objetivos ......................................................................................................................... 15

1.3 Estrutura e metodologia do trabalho ............................................................................... 15

2 – Estudos de Caso .................................................................................................................. 17

2.1 – Vale do Silício ............................................................................................................... 17

2.1.1 – História .................................................................................................................. 17

2.1.2 Principais características e funcionamento do Vale do Silício .................................... 24

2.2 Recife .............................................................................................................................. 30

2.2.1 História ..................................................................................................................... 31

2.2.2 Principais características e funcionamento do sistema recifense .............................. 33

3 - Resultados ........................................................................................................................... 41

3.1 Análise comparativa das informações coletadas .............................................................. 41

3.2 Lições aprendidas e melhorias propostas ........................................................................ 44

4 – Conclusões e Trabalhos Futuros .......................................................................................... 47

4.1 Trabalhos futuros ............................................................................................................ 47

Referências ............................................................................................................................... 49

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Lista de Figuras

Figura 1: Perfil da variação do salário por idade para detentores de grau de

bacharéis

Figura 2: Perfil da variação do salário por idade para detentores de grau pós-

graduação

Figura 3: Perfil etário dos trabalhados do Porto Digital no ano de 2010

Figura 4: Perfil dos funcionários do Porto Digital no ano de 2010 quanto à

formação

Figura 5: Faturamento estimado das empresas do Porto Digital no ano 2010 por

região

Figura 6: Distribuição do faturamento das empresas do Porto Digital no ano de

2010 por tipo de cliente

Figura 7: Quantidade de empresas fundadas no Porto Digital por ano

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1 – Introdução

Pouco mais de uma década após a explosão da “Bolha da Internet”, empresas de

tecnologia da Informação - TI continuam a se multiplicar, crescer e influenciar o comportamento

da população mundial, constituindo assim, e cada vez mais, uma parcela importante da

sociedade. No entanto, apesar da atual importância do setor de TI, ainda é bastante difícil

idealizar, planejar e criar estruturas capazes de suprir a demanda por soluções na área, mesmo

espelhando-se em exemplos consolidados e bem sucedidos.

Considerando o panorama atual do mercado de TI, nota-se que é bastante comum o

aparecimento de novos empreendimentos em locais onde já existem empresas instaladas, ou

mesmo a criação de empresas quase de forma simultânea, geralmente com auxílio

governamental. Em ambos os casos o que ocorre, ou tenta-se alcançar, é a criação de núcleos

de empresas de tecnologia, ecossistemas autossustentáveis geradores de capital e inovação.

Dentre os centros de tecnologia e inovação espalhados pelo mundo, o maior e mais notável é o

Vale do Silício, nos Estados Unidos, que tem servido de inspiração e modelo para a criação de

novos centros, muitas vezes de forma equivocada. O fracasso de boa parte destas iniciativas

levanta questões sobre a possibilidade de aplicação de um mesmo modelo, testado e aprovado

na prática, para a criação de diversos centros de inovação e empreendedorismo em TI.

Seguindo a tendência de formação de núcleos empreendedores e de inovação em TI,

atualmente em Recife e cidades vizinhas, no estado de Pernambuco, existe um ecossistema de

empresas de TI em crescimento, com algumas características encontradas também no Vale do

Silício. Desta forma, é comum esperar que experiências e conhecimentos já existentes no Vale

possam virar aprendizado e beneficiar imensamente o ecossistema pernambucano, desde que

estes sejam cuidadosamente estudados e adequados à realidade local.

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1.1 - Motivação e contexto

Maior e mais influente centro de alta tecnologia do mundo, o Vale do Silício pode ser

considerado o expoente máximo da era da informação. Através de uma cultura de inovação e

empreendedorismo, fortemente impulsionada pela presença da Universidade de Stanford, o

Vale gerou casos de sucesso bem conhecidos como Google, Hewlett-Packard e Yahoo, dentre

outros.

Tentativas de imitar o Vale do Silício surgem aos montes em todo o mundo, de Seattle,

nos Estados Unidos, à China, mas sempre acabam provando que não é possível emular os

resultados de mais de um século de cultura empreendedora, impulsionada por fatos históricos

que fizeram da região o que ela é hoje.

Apesar de o Vale do Silício ser um caso singular e incopiável, no entanto, é plausível que

outros ecossistemas ao redor do globo possam se beneficiar imensamente de lições aprendidas

com o Vale, desde que consigam adequá-las às suas próprias realidades. Bradford Cross e Russel

Jurney [1] defendem, no texto de título The Next Silicon Valley, que cada região ou cidade não

deve procurar imitar o Vale, mas sim refletir e capitalizar sobre suas próprias paixões e

capacidades, além de tentar inovar de novas formas.

Na região de Recife e cidades vizinhas, no estado de Pernambuco, é possível mapear

algumas características semelhantes às presentes no Vale do Silício. A região possui,

especialmente na área de tecnologia da informação - TI, um número significativo de empresas

jovens que trabalham com alta tecnologia, bem como uma universidade que pode dar suporte a

empresas startups, gerando pesquisas de base inovadoras e incentivando novos

empreendimentos.

Assim sendo, é intuitivo assumir que a região do Recife pode potencializar sua

capacidade de crescimento como polo tecnológico se aprender com o exemplo maior que é o

Vale do Silício, desde que seja prestada a devida atenção à realidade local, adaptando o

conhecimento adquirido e não procurando copiar o Vale.

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1.1.1 - O Vale do Silício

Situado na região costeira da Califórnia, nos Estados Unidos, o Vale do Silício pode ser

definido como um ecossistema comercial rico em capital e pessoas, voltado para o

desenvolvimento e comercialização de novas e inovadoras tecnologias.

Com influência global, produtos e empresas criadas ou sediadas no Vale impactam

profundamente no dia a dia de pessoas em todo o mundo, criando verdadeiras revoluções em

seus hábitos e estilos de vida. Tendo em vista a quantidade e as dimensões de

empreendimentos bem sucedidos nascidos no Vale, não é difícil perceber que a região possui

um imenso potencial para abrigar e nutrir novos negócios, especialmente na área de Tecnologia

da Informação, gerando oportunidades para empreendedores, investidores e pesquisadores.

O sucesso do Vale do Silício é percebido em todo o mundo e leva pessoas ao redor do

globo a admirarem o Vale e buscarem fazer parte de seu ecossistema. Um bom exemplo desta

admiração é o texto intitulado The Next Silicon Valley [1], no qual o Vale do Silício é referido

como “a Florença de nosso tempo” e tem seu sucesso atribuido, dentre outros fatores, ao fato

de que “os mais determinados, ambiciosos e talentosos migraram de todos os cantos do mundo

para criar milhares de companhias pioneiras nas tecnologias que sustentam a civilização

global”.

Esta posição de destaque resulta então em uma constante entrada de talentos no Vale

do Silício, de engenheiros de software a capitalistas de risco e empreendedores, sustentando

assim uma base de recursos humanos qualificados e capazes de manter e incrementar a

produção de inovação e capital, seja por meio de fomento e criação de novas empresas ou

fornecimento de mão de obra para empresas já existentes.

Um outro ponto a ser notado é a posição ocupada pela Universidade de Stanford,

principal centro acadêmico e provedora de pesquisa científica para as inovações geradas no

Vale, por muitos considerada a melhor universidade para inovar, colocando-se à frente inclusive

da renomada Universidade de Harvard e do Massachussetts Institute of Technology – MIT,

referência mundial em ensino e produção científica na área de tecnologia.

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1.1.2 Polo tecnológico do Recife

Apesar de o Vale do Silício ainda ser a referência máxima no que diz respeito a inovação

e tecnologia, hoje não se pode negligenciar a existência de polos de inovação espalhados por

todo o mundo, e é nesse contexto que se encaixa o polo tecnológico da cidade do Recife, capital

do estado de Pernambuco - Brasil.

Com uma quantidade crescente de novos empreendimentos e empresas prosperando, o

desenvolvimento do ecossistema recifense de inovação e empreendimentos em TI torna-se

evidente, como também o potencial ainda inexplorado do ecossistema para gerar

desenvolvimento econômico e social.

Uma breve análise sobre o polo tecnológico do Recife revela os pilares sobre os quais

hoje se sustenta: uma forte comunidade acadêmico-científica e o apoio de diversas instituições,

algumas criadas especificamente com o intuito de fomentar empreendedorismo e inovação na

região, além de políticas públicas de incentivo a novas empresas e projetos de teor inovador.

No centro da comunidade acadêmica e científica da região, sob o contexto de inovação e

empreendedorismo em tecnologia, destaca-se o Centro de Informática – CIn da Universidade

Federal de Pernambuco – UFPE. O CIn não só foi responsável pelo início do mercado de TI em

Pernambuco, quando ainda era apenas um departamento na universidade, como continua até

os dias atuais a gerar inovação e profissionais altamente capacitados. Alguns indicadores de sua

competência são a alta quantidade de profissionais exportados para grandes empresas como

Microsoft, Google e Facebook e seu desempenho em competições como a Imagine Cup, da

Microsoft, e a Maratona de Programação, competição na qual o CIn conquistou o

pentacampeonato em 2010.

Dentre as instituições que colaboram com o desenvolvimento do empreendedorismo em

Recife destaca-se o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife – C.E.S.A.R, que foi

criado dentro do CIn com o intuito de alavancar o desenvolvimento de TI na região e hoje opera

de forma independente. Tendo como missão a “transferência de conhecimentos em TI entre a

sociedade e a universidade”, desde sua criação em 1996, o C.E.S.A.R desenvolveu projetos para

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clientes importantes, lançou empresas e alcançou reconhecimento internacional, chegando a

ganhar diversos prêmios.

Outro ponto importante a ser notado é a existência de programas e políticas públicas

para incentivar novas empresas que tenham potencial inovador, como o Programa de

Subvenção Econômica da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, uma empresa pública

vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e o programa Prime, também da FINEP.

1.2 Objetivos

O presente trabalho de graduação consiste na identificação e análise dos mecanismos de

incentivo à inovação e empreendedorismo presentes no Vale do Silício e no Recife, de forma a

possibilitar, a partir dos avanços e limites observados, quais seriam os elementos associados ao

sucesso do Vale e como eles poderiam ser implementados no sistema recifense de empresas de

Tecnologia da Informação.

1.3 Estrutura e metodologia do trabalho

Para a análise pretendida foi realizado um vasto estudo da literatura disponível,

incluindo artigos científicos e textos de especialistas sobre diversos aspectos dos sistemas do

Vale do Silício e do Recife, pesquisas, livros e reportagens veiculadas em meios de comunicação.

Os Estudos de Caso, com a pesquisa bibliográfica sobre os dois sistemas em análise,

encontram-se no Capítulo 2. Procurou-se identificar os importantes fatores históricos que

moldaram os sistemas, expostos nas seções 2.1.1 e 2.2.1 para o Vale do Silício e para o Recife,

respectivamente. As principais características e funcionamento dos sistemas, as estruturas pelas

quais se organizam e os sistemas e mecanismos pelos quais operam, estão identificados nas

seções 2.1.2 para o Vale e 2.2.2 para o Recife.

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O Capítulo 3 compreende os resultados do trabalho, divididos na análise comparativa

das informações coletadas e descritas no Capítulo 2 (seção 3.1) e a análise das lições aprendidas

com o caso de sucesso do Vale do Silício, com a formulação de sugestões para a melhoria do

sistema recifense (seção 3.2).

As conclusões do trabalho estão sumarizadas no Capítulo 4, e as referências

bibliográficas citadas e consultadas estão no Capítulo 5.

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2 – Estudos de Caso

2.1 – Vale do Silício

Lar de diversos casos de sucesso, o Vale do Silício é atualmente sinônimo de

empreendedorismo e inovação, especialmente na área de Tecnologia da Informação. Enquanto

seus casos mais bem sucedidos inspiram empreendedores ao redor do mundo, muitos destes

falham, dentre outros motivos, por não possuírem condições favoráveis a seus

empreendimentos e é sob este contexto que o Vale tem sido estudado, por pessoas

interessadas em replicá-lo ou aprender com ele, visando à criação de ecossistemas de

empreendedorismo e inovação de sucesso em suas próprias localidades.

Para compreender de forma sólida a existência e o funcionamento do Vale do Silício, no

entanto, é necessário observar não só seus mecanismos e características de operação, tais

como a relação entre as empresas e a comunidade acadêmica ou os perfis de investimentos e

empreendedores locais, mas também os fatos históricos únicos e irreplicáveis que levaram o

Vale à posição que ocupa hoje.

2.1.1 – História

Ao contrário do que ocorre atualmente – iniciativas públicas e privadas procuram criar

ecossistemas de inovação e empreendedorismo de forma rápida e artificial – o Vale do Silício

nasceu e cresceu de forma natural e gradativa, através de uma série de acontecimentos, criando

ao longo do tempo uma forte cultura de empreendedorismo e inovação, difícil, se não

impossível, de ser encontrada em outros lugares.

O conhecimento sobre os fatos acima mencionados é de extrema importância para

qualquer pessoa ou organização que pretenda, de alguma forma, utilizar o Vale do Silício como

modelo para a criação ou manutenção de outro ecossistema. Isto acontece porque, a não ser

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que sejam identificados os motivos de certos comportamentos e mentalidades presentes no

Vale, tentativas de replicá-los de forma artificial podem ser inúteis ou até mesmo danosas ao

ecossistema em questão, a depender da realidade local e da forma com que se tenta fazer tal

replicação.

Embora a história do Vale do Silício seja extensa e digna de um estudo à parte, alguns

dos marcos que guiaram a evolução do expoente máximo da era da informação merecem

destaque.

Fundação e primeiros passos da Universidade de Stanford

Um bom ponto de partida para estudar a história do Vale do Silício é o ano de 1891,

quando foram abertas as portas da Universidade de Stanford, fundada por Leland Stanford, –

advogado, comerciante, governador do estado da Califórnia, senador dos Estados Unidos e

magnata das ferrovias –Jane Leland Stanford, sua influente esposa, e David Starr Jordan,

presidente fundador indicado pelos outros já citados fundadores [3].

É interessante notar que a Universidade de Berkeley já existia na costa da Califórnia

desde o ano de 1873, mas que mesmo assim Leland decidiu criar a Universidade de Stanford,

com a pretensão de que esta fosse a Harvard do oeste. Seguindo esta pretensão foram

contratados os melhores profissionais que Leland conseguiu encontrar, a maioria deles da

Universidade de Cornell, situada no estado de Nova York [4].

Uma importante particularidade da Universidade de Stanford era sua inclinação prática,

se comparada às universidades de elite dos Estados Unidos, localizadas na costa leste do país.

Esta inclinação significava não só um maior foco em ciências e engenharia, mas também uma

política de encorajamento e criação de vínculos com a indústria local, além de uma tendência

para recrutar faculdades que compartilhassem do mesmo objetivo.

A política de incentivo à indústria e à inovação de Stanford pôde ser facilmente

percebida no ano de 1909, quando Jordan, o presidente da universidade, fez um investimento

de 500 dólares no empreendimento de um jovem recém-graduado chamado Cyril Elwell. O

empreendimento em questão era uma companhia de comunicações sem fio chamada Federal

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Telegraph Co. (Telégrafo Federal), que veio a se tornar o maior negócio na área de eletrônicos

da região e contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento do rádio.

Quase vinte anos mais tarde, no ano de 1927, o papel de Stanford na promoção da

indústria local foi reforçado com a chegada de Frederick Terman à universidade. Terman

começou como professor de engenharia e mais tarde assumiu as posições de chefe do

departamento de engenharia eletrônica, decano da engenharia e, por fim, reitor da

universidade. Durante sua carreira, Terman se preocupou não só em encorajar e prestar

assistência a negócios locais no ramo de eletrônica, mas também em conseguir ajuda de tais

negócios para a universidade e seu corpo discente.

Uma das mais notáveis realizações de Terman foi incentivar dois de seus ex-alunos a

construírem um negócio a partir de um oscilador de áudio que eles haviam desenvolvido,

chegando a investir seu próprio dinheiro. Os ex-alunos eram William R. Hewlett e David

Packard, criadores da Hewlett-Packard, empresa que não apenas chegou a ser a maior da região

costeira da Califórnia, como treinou milhares de profissionais que vieram a criar seus próprios

empreendimentos e estabeleceu boa parte das políticas que futuramente permeariam o Vale

do Silício [3].

Segunda Guerra Mundial e período pós-guerra

Ao início da Segunda Guerra Mundial, já havia na costa oeste as fundações para uma

grande indústria eletrônica, mas não havia ainda estabelecido sua liderança no segmento nos

Estados Unidos, sendo superado por grandes centros como New Jersey e Massachusetts. Até

mesmo o Telégrafo Federal, outrora o maior negócio no ramo eletrônico da região, mudou-se

para New Jersey, em busca de maior proximidade com seu mercado alvo, fornecedores e mão

de obra qualificada.

Apesar de o período de guerra ter sido próspero para o ramo eletrônico nos Estados

Unidos, a maior parte dos fundos governamentais não foi encaminhada à região costeira da

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Califórnia. Até mesmo Terman deixou o local para contribuir com os esforços para a guerra,

trabalhando no Laboratório de Pesquisa em Rádio de Harvard.

Ao retornar para Stanford em 1946 como decano de engenharia, Terman chegou a

afirmar que “Stanford emergiu da Segunda Guerra Mundial como uma instituição

desprivilegiada. Não se envolveu significativamente com nenhuma das excitantes atividades

científicas e de engenharia associadas à Guerra.”

A experiência de Terman na costa leste, no entanto, serviu para que ele procurasse levar

à região o dinamismo que havia presenciado na região do subúrbio de Boston, também

conhecida como Rota 182. Como alguns dos resultados, foram criados programas para permitir

a engenheiros de companhias locais graduarem-se em cursos de Stanford, além da formação do

Parque Industrial de Stanford e Instituto de Pesquisa de Stanford, este último gerando vários

avanços nas áreas de computação e comunicação, incluindo a invenção do mouse e trabalhos

pioneiros com tecnologias de redes sem fio.

Dos esforços de Terman foram produzidos importantes resultados, como o

estabelecimento de um laboratório da Lockheed Aircraft no recém-formado parque industrial e

a realocação de sua Divisão de Mísseis e Espaço de Burbank para Sunnyvale, eventualmente

tornando-se a maior empregadora de alta tecnologia da região durante a Guerra Fria e a corrida

espacial.

Outro grande marco foi o estabelecimento de um laboratório da IBM no Almaden Valley,

em San Jose, criado para desenvolver novas tecnologias de armazenamento de dados, onde

logo foram criados o hard drive (disco rígido) e o floppy disk (disco flexível). A instalação da IBM

na área pode ser, de certa forma, considera responsável pela criação de outras empresas, como

foi o caso da Seagate Technologies, fundada por Al Shugart, ex-funcionário da IBM. Por causa de

suas grandes contribuições, o laboratório foi um fator chave para estabelecer a liderança da

região costeira na indústria de armazenamento de dados.

Apesar de todos estes fatores terem ajudado a área costeira a ganhar importância como

centro tecnológico, a região ainda encontrava-se longe de ser o mais importante dos centros

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durante as décadas de 1950 e 1960, ficando atrás da região do subúrbio de Boston, que contava

com um grande número de empresas geradas a partir de Harvard e do MIT [3].

Da invenção do transistor à criação do Vale do Silício

Segundo [Henry Norr] “se há um evento que pode ser dito como aquele que colocou o

Vale do Silício em curso para ultrapassar Boston, foi a decisão de William Shockley de retornar a

Palo Alto, sua terra natal, em 1956, e lá estabelecer o Shockley Semiconductor Laboratories.”

Este fato ocorreu após Shockley ter co-inventado o transistor em 1947, trabalhando na Bell

Laboratories, em New Jersey, feito que rendeu a ele e a seus colegas o Prêmio Nobel de Física

do ano de 1956.

Shockley, apoiado pela Beckman Instruments, uma empresa manufatureira de

dispositivos biomédicos, recrutou um time de excelentes jovens engenheiros para trabalhar em

seu laboratório. Apenas um ano mais tarde, porém, sua forma severa de administrar o negócio

levou oito de seus engenheiros a se demitirem, incluindo seu favorito, Roberto Noyce. Os oito

entraram na história com os Traitorous Eight, alcunha dada por Shockley que significa, em

tradução livre, algo como Os Oito Traidores.

O grupo dos oito engenheiros a demitirem-se do laboratório de Shockley, juntamente

com Arthur Rock, o então representante de uma companhia de investimentos na costa leste,

conseguiram financiamento da Fairchild Camera and Instrument Co. e fundaram a Fairchild

Semiconductor. A Fairchild não chegou a atingir a expectativas dos fundadores, mas contribuiu

de outras formas para a criação do Vale do Silício.

A Fairchild possuía uma cultura diferente da maioria das corporações dos Estados

Unidos, marcada pela troca voluntária de ideias, entusiasmo com o potencial da tecnologia e

tolerância a falhas sem precedente, todos valores que ainda hoje permeiam e identificam a

cultura do Vale do Silício. Além disso, muitos funcionários da Fairchild, incluindo seus

fundadores, deixaram a empresa para criar seus próprios negócios, com base no conhecimento

adquirido dentro da Fairchild.

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O mais importante dos empreendimentos criados pelos Fairchildren – nome comumente

usado para se referir aos funcionários que deixaram a Fairchild, significa “filhos da Fairchild” em

tradução livre – foi a Intel, fundada em 1968 por Robert Noyce e Gordon Moore, a quem mais

tarde se juntou Andrew Grove.

A Intel inicialmente destinou-se a manufaturar chips de memória, feitos a partir de

materiais semicondutores. Em meados da década de 1980, porém, com a entrada de empresas

japonesas no mercado, utilizando processos de produção mais eficientes e agressivas

estratégias de mercado, a Intel foi forçada para fora do segmento de memórias e obrigada a

migrar para a área de microprocessadores.

O mercado de microprocessadores estava crescendo e a Intel já os produzia antes

mesmo de deixar a produção de chips de memória. A Intel obteve êxito no novo mercado,

tendo como marco de seu sucesso o momento em que a gigante IBM decidiu usar um de seus

microprocessadores, o 8088, lançado em 1973. na construção do IBM PC, que estabeleceu-se

como o padrão para computação corporativa e levou a Intel a vender dezenas de milhões de

microprocessadores todo ano [3].

Inovação e a ascensão do Vale do Silício

Um marco na história das inovações geradas no Vale do Silício foi, sem dúvida, o

estabelecimento do Palo Alto Research Center (PARC), da Xerox, dentro do Instituto de Pesquisa

de Stanford, no ano de 1970. O centro de pesquisa da Xérox no Vale foi responsável por uma

série de inovações importantes na evolução do computador como é conhecido hoje, dentre elas

o mouse, a interface gráfica e a programação orientada a objetos [5].

Segundo Henry Norr [3], o portfólio de inovações gerado pelo PARC provavelmente não

foi igualado por outro centro de pesquisa em toda a história da tecnologia, a não ser, talvez,

pelos laboratórios do inventor Thomas Edison. Ainda segundo Norr, apesar de a Xerox ter

falhado em comercializar e obter lucro a partir de suas inovações, muitas outras empresas,

como a Apple e a Adobe Systems, continuam a se beneficiar de seu trabalho.

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As contribuições do PARC, no entanto, vão além das inovações tecnológicas. Piero

Scaruffi [5] afirmou que “talvez tão importante quanto a tecnologia era o regime de trabalho no

PARC, um regime que se baseava em não haver regime.” De acordo com Scaruffi, a Xerox

financiava o laboratório e permitia que os cientistas ficassem livres para trabalhar no projeto

que escolhessem e da forma que quisessem, em um “ambiente casual, informal e igualitário,

sem código de vestimenta ou horário de trabalho”.

A cultura de compartilhamento de informações e entusiasmo com novas possibilidades

tecnológicas presente no Vale do Silício, encontrada em empresas como Fairchild e Xerox (mais

precisamente no PARC), levou a região a ser um grande centro de inovação em alta tecnologia

em meados dos anos 1970 [3]. Um acontecimento que torna fácil perceber tal cultura, presente

no Vale na época citada, foi a criação do Homebrew Computer Club em 1975 [6].

O Homebrew Computer Club era um grupo de entusiastas por computadores, que teve

como um de seus fundadores Steve Wozniak, onde seus participantes se encontravam para

compartilhar informações e os resultados de seus trabalhos, uma espécie de contracultura à

organização vigente no meio da computação, onde gigantes controlavam a informação no

ramo. [3]

Em 1976, Steve Wozniak fundou, juntamente outro membro do Homebrew Computer

Club, chamado Steve Jobs, a Apple Computer. Juntos Wozniak e Jobs criaram o primeiro

microcomputador, trabalhando na garagem da casa de Jobs. [6]

Apesar de seu crescimento o Vale do Silício ainda não liderava a indústria de

computadores, ficando atrás da Rota 128. Foi apenas a partir do ano de 1985, segundo Henry

Norr [3], que a indústria da Rota 128 entrou em declínio, enquanto o Vale continuava seu

crescimento, apesar da crise gerada pela entrada de empresas japonesas no mercado de

memórias RAM.

Para Norr, um dos fatores para o acontecimento foi uma mudança no mercado de

computadores, que mudava o foco dos mainframes e minicomputadores para os computadores

pessoais (PCs) e workstations (computadores com mais recursos, para uso por engenheiros e

cientistas). Enquanto que o conhecimento e mercado de mainframes e minicomputadores eram

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dominados por empresas da Rota 128, na costa oeste já existia, principalmente graças ao

Homebrew Computer Club, conhecimento sobre computadores pessoais, um novo mercado que

mais tarde viria a ser dominado por empresas do Vale, como HP e Sun Microsystems. [3]

O outro motivo para a diferença nos caminhos do Vale e da Rota 128 foi a capacidade

que cada ecossistema apresentou para reagir à mudança no mercado de computadores,

resultado da organização e cultura de cada um deles. Segundo AnnaLee Saxenian [7, 8],

enquanto que a Rota 128 apresentava uma estrutura altamente verticalizada e

compartimentada, no Vale do Silício encontrava-se um modelo que ela chamou de “sistema

industrial regional baseado em relações”, em tradução livre.

Para AnnaLee, o estudo das diferentes experiências entre os dois ecossistemas sugerem

que sistemas mais horizontalizados, como o Vale, possuem maiores dinamismo tecnológico e

flexibilidade, se comparados a modelos mais tradicionais. Isto porque, em sistemas baseados

em relacionamentos dentro de sua região, existe uma maior cooperação, seja entre empresas,

universidades ou outros tipos de instituições públicas ou privadas. Opostamente, em modelos

como o da Rota 128, o aprendizado de cada firma fica confinado a seu interior [7].

2.1.2 Principais características e funcionamento do Vale do Silício

Embora muitos admirem o Vale do Silício, muitas vezes é difícil identificar o motivo

exato de seu sucesso. A razão para tal dificuldade se dá pelo fato de que existe no Vale uma

série de fatores que atuam interdependentemente para seu funcionamento, como os recursos

humano presentes na região, a abundância de capital de risco e a cultura local, tão celebrada

atualmente. Tais fatores serão brevemente descritos a seguir.

A cultura do Vale do Silício

Como foi visto na seção anterior, a cultura do Vale do Silício foi forjada ao longo dos

anos, por fatos irreplicáveis. Ela surgiu como uma combinação da cultura da costa oeste,

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acontecimentos históricos e o apoio da Universidade de Stanford, do tempo do Federal

Telegraph, passando pelos Traitorous Eight, os Fairchildren e chegando aos dias atuais [1].

A cultura do Vale do Silício, bastante conhecida por sua natureza geradora de inovação,

é permeada também por valores como igualdade entre as pessoas, como acontecia na Fairchild,

e livre troca de informação, como ocorria no Homebrew Computer Club, e sustentada por uma

organização horizontal do sistema. Esse aliamento é o que faz do Vale do Silício um sistema ao

mesmo tempo competitivo e colaborativo, além de altamente capaz de se adaptar a mudanças

de mercado e tecnologias [7].

Apesar de o sucesso do Vale ter se baseado em práticas de colaboração, no entanto,

existia na região uma forte linguagem de realizações individuais, segundo AnnaLee afirmou em

seu livro “Culture and Competition in Silicon Valley and Route 128” [7]. O problema era que as

visões individualistas presentes no Vale, na maior parte de sua história, limitou a capacidade da

região de responder coletivamente a desafios ou construir instituições transversais que

poderiam sustentar interdependências regionais.

Ainda em seu livro, AnnaLee relata também uma mudança na linguagem do Vale do

Silício, até então bastante individual - uma troca por um vocabulário que reconhece o valor da

comunidade e também da competição. Um bom exemplo foram as palavras de Tom Hayes, um

dos fundadores do Joint Venture: Silicon Valley. Segundo ele a meta do grupo era “construir

uma vantagem comparativa para o Vale do Silício por meio da construção de uma vantagem

colaborativa (...) para transformar o Vale do Silício, um vale de empreendedores, em um vale

empreendedor.” Isto reflete o crescente reconhecimento de que a região deve tanto a suas ricas

relações sociais, técnicas e comerciais, quanto a rivalidades competitivas e às iniciativas

individuais de empreendedores [7].

Organização e mecanismos de funcionamento

Definido por AnnaLee como um “sistema industrial construído sobre redes regionais”, o

Vale do Silício é “uma rede de redes, rica em capital financeiro e social que contempla todas as

áreas da tecnologia, completamente focada em desenvolver e comercializar novas tecnologias”

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[1], onde as companhias suprem umas as necessidades das outras, ao mesmo tempo

colaborando e competindo.

As instituições bem sucedidas não só conseguem avanços em termos de mercado e

tecnologia, como também fornecem o conhecimento e vivência necessários para que novas

pessoas criem seus próprios empreendimentos, que virão não só competir com as empresas já

estabelecidas, como também a explorar novos mercados e gerar inovações. Uma cultura que ao

mesmo tempo preda e alimento o sistema [1].

Tal comportamento acaba por gerar um ciclo, no qual cada startup de sucesso treina os

fundadores das próximas startups, com os novos empreendimentos adentrando cada vez mais

novos mercados e, assim, abrindo o caminho para outros que virão. A continuidade deste ciclo

permite que o sistema da costa oeste esteja sempre se expandindo para novos setores e

mercados de forma pioneira, levando-o a liderar diversas das áreas em que se aventura [1].

Um fator que favorece estas interações, mesmo em tempos de mercados altamente

globalizados, é a localização de diversas empresas em uma mesma região, o Vale do Silício. A

proximidade geográfica estimula não só a confiança mútua entre participantes do sistema

necessária para que haja colaboração sustentável, como também uma aceleração de cada ciclo,

aumentando a quantidade de vezes que novos talentos encontrarão, em novas tecnologia,

novos desafios, especializando-se nas novas tecnologias. O resultado é a geração de serviços e

produtos inovadores, além de uma flexibilização do sistema, ao invés de atomismo e

fragmentação [7].

O caso do Vale do Silício sugere então que sistemas construídos sobre redes regionais,

com uma organização horizontal oposta à organização vertical de sistemas mais tradicionais,

são mais flexíveis, pois passam por um processo continuo de renovação, no qual os produtores

especialistas de cada área aprendem de maneira coletiva e, através de padrões de competição e

colaboração em constante mudança, ajustam-se uns às necessidades dos outros [7].

Desta forma, mesmo em uma época de tecnologias e mercados voláteis, as empresas do

Vale do Silício são capazes de realizar as contínuas inovações necessárias a seus

desenvolvimentos. A dinâmica da região, então, não se baseia apenas em alguma tecnologia ou

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nicho mercadológico específico, mas na competência de parte constituinte do sistema e de suas

interconexões [7].

Um bom exemplo do funcionamento do Vale do Silício é a história de Robert Noyce:

Noyce, um engenheiro brilhante, trabalhou na empresa de William Shockley, a qual mais tarde

abandonou para fundar a Fairchild, tudo juntamente com outros sete engenheiros, formando os

chamados Traitorous Eight. Mais tarde Noycee deixou também a Fairchild, tornando-se assim

um dos Fairchildren, e fundou a Intel [1].

Outros casos que ajudam a ilustrar a cultura de cooperação existente no Vale do Silício

são os pactos forjados entre competidores dos ramos de semicondutores e discos rígidos. Em

1990 oito empresas especializadas em semicondutores (Cypress, IDT, LSI Logic, VLSI Technology,

Altera, Sierra Semiconductor, Linear Technology, e Seeq) acordarem em compartilhar

informações e estratégias em processos legais iniciados por rivais maiores, além de licenciar

suas patentes umas para as outras. Já a Seagate e a Quantum, do ramo de discos rígidos,

também assinaram um acordo semelhante em relação ao licenciamento de suas patentes. Alan

Shugart, então CEO da Seagate, chegou a convocar toda a indústria a participar do pacto,

visando evitar litigações custosas e focar a competição em avanços tecnológicos e melhores

técnicas de manufatura.

Empreendimentos e Capital de Risco

Muitos pessoas, incluindo empreendedores de fora do Vale do Silício, especialmente de

regiões com um sistema de tecnologia e inovação ainda novo ou em desenvolvimento, se

perguntadas sobre o principal fator para o sucesso do Vale do Silício, não pensarão duas vezes

antes de responderem que é o capital de risco presente na costa oeste dos Estados Unidos. A

resposta não é infundada, uma vez que a região apresenta renomadas firmas de capital de risco,

como por exemplo a Sequoia Capital, além de casos famosos de grandes empresas financiadas

por estas firmas, como é o caso das empresas Yahoo e Google, ambas fruto do apoio da já

mencionado Sequoia Capital.

Existentes na costa oeste desde os tempos das primeiras companhias de rádio, os

investimentos de risco continuam uma parte importante do ecossistema da costa oeste,

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principalmente dentro do Vale do Silício, aponta uma pesquisa realizada em 2010 por The Wall

Street Journal e VentureSource [8]. O objetivo da pesquisa foi apontar as 50 companhias dos

Estados Unidos, apoiadas por capital de risco, com maior chance de se tornar “a próxima grande

coisa” (em inglês, “the next big thing”).

O resultado revelou, sem surpresas, que uma grande parte das empresas a entrarem na

lista estão localizadas no estado da Califórnia (algumas criadas em outras localidades), lar

também do Vale do Silício, maior responsável por render ao estado, ano após ano, o título de

estado a receber maior volume de capital de risco nos Estados Unidos. Um outro dado a ser

notado, é que das 50 empresas rankeadas 33 foram criadas na Califórnia [8, 9].

Restringindo o foco apenas ao Vale do Silício, nota-se que quase metade das empresas

no resultado do levantamento (24 de 50) situa-se na região. Caso queira-se reduzir ainda mais a

área observado, é possível observar cinco empresas da lista localizadas a poucos quarteirões

umas das outras, são elas: Azul Systems, que aparece em sexto lugar da lista; Complete

Genomics, na sétima posição; NeuroPace, empresa décima segunda colocada; Fanfare Group,

listada na posição de número 17; Soasta, trigésima sexta da lista [8, 9].

O motivo por trás do resultado fica claro ao lembrar-se do fato de que parte das mais

tradicionais empresas de capital de risco situa-se no Vale do Silício, mostrando que mesmo em

um lugar como o Vale, conhecido pela capacidade de seus empreendedores em gerar negócios

inovadores de sucesso, o capital é uma parte importante do sistema.

Capital Humano

Uma interessante característica do corpo técnico das empresas do vale do Silício é a

grande quantidade de pessoas jovens. De acordo com Vivek Wadhua, em seu artigo Silicon

Valley’s Dark Secret: It’s All About Age [10], a preferência das empresas de TI por engenheiros

jovens e inexperientes é evidente.

Um importante motivo para esta preferência é o menor salário demandado por

engenheiros mais jovens, o que torna vantajosa a contratação mesmo com a necessidade de

fazê-los passar por um período de treinamento.

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Os gráficos das Figuras 1 e 2, provenientes de uma pesquisa realizada em 2009 em

indústrias do ramo de semicondutores, ilustram esta diferença de salários entre jovens e

seniores, sendo o primeiro gráfico para profissionais com grau de bacharelado e o segundo para

profissionais com pós-graduação. De acordo com a pesquisa, os salários dos engenheiros que

estão na faixa etária dos 30 aos 40 anos sobem dramaticamente. Este aumento é reduzido

depois dos 40 anos e, depois dos 50 anos, o salário começa a sofrer uma redução – menor para

aqueles que possuem pós-graduação. Na indústria de TI, de acordo com Vivek Wadhua [10],

este comportamento é similar ou ainda mais acentuado.

Figura 1: Perfil da variação do salário por idade para detentores de grau de bacharéis

Fonte: “Brown and Lindsen, ‘Finding Talent’, in Chips and Charge, Cambridge, Massachussets, MIT Press, 2009”

apud [10]

Figura 2: Perfil da variação do salário por idade para detentores de grau pós-graduação

Fonte: “Brown and Lindsen, ‘Finding Talent’, in Chips and Charge, Cambridge, Massachussets, MIT Press, 2009”

apud [10]

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O fator do menor salário é importante especialmente para startups. Estas tendem a

preferir desenvolvedores jovens, que aceitam um salário relativamente baixo em troca de

sociedade e oportunidade de construir suas carreiras.

De acordo Eric Schmidt, presidente e chefe executivo da Google [11], a contratação de

jovens com salários mais baixos faz com que as startups tornem-se mais baratas, ponto

importante para a relação entre startups e VCs.

Um outro fator importante para a preferência por profissionais jovens é que estes

possuem maior flexibilidade de horários e maior tempo disponível para dedicação ao trabalho,

por não terem filhos e família, característica destacada por Michael Moritz, da Sequoia Capital,

em entrevista a Guy Kawasaki no artigo Why VCs Love Young Blood [11]. Um outro ponto

levantado por Moritz é o dinamismo dos jovens profissionais, sempre com ideias fabulosas e

que não se limitam e não enxergam obstáculos, deixando o ambiente sempre estimulante.

Um outro fato notável sobre o corpo técnico do Vale do Silício é a quantidade de

imigrantes presentes. A presença de talentos de outras partes do mundo aumenta

consideravelmente o potencial do Vale de se integrar com outros polos de inovação e assim

aumenta globalmente sua competitividade [12]. Além disso, a mistura de pessoas de diferentes

culturas favorece um ambiente mais rico em ideias e valores, facilitando o processo inovativo.

Uma consequência direta da grande quantidade de imigrantes no Vale é a diversidade de

línguas faladas na região. Em 2008, quase metade dos residentes do Vale falavam outro idioma

que não o inglês em suas casas, proporção mais de duas vezes maior que nos Estados Unidos

como um todo [12]. Esta diversidade linguística favorece a inserção das empresas no mercado

internacional.

2.2 Recife

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O ecossistema de empresas de TI de Recife possui uma história relativamente jovem,

mas de destaque. Dentre os fatos que colocaram a região em evidência, estão desde casos de

sucesso de empresas inovadoras às vitórias em competições de tecnologia nacionais e

internacionais, bem como pela qualidade de seu principal centro acadêmico.

Para entender como se estrutura e como funciona o sistema recifense é necessário

observar uma série de agentes, sendo os de maior destaque o C.E.S.A.R, o Porto Digital e o CIn-

UFPE.

2.2.1 História

A história do CIN-UFPE está ligada à do Departamento de Estatística e Informática,

criado em 1974, mesmo ano em que foi fundado o Mestrado em Informática. No ano seguinte

foi criado o curso de graduação em Ciência da Computação [17].

A criação do Departamento de Informática ocorreu em 1983 e a construção de um

prédio para recebê-lo, em 1990. Em 1988 o mestrado em Ciência da Computação conquistou

nível A segundo avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -

CAPES, enquanto o doutorado em Ciência da Computação só foi criado em 1992. A pós-

graduação do CIn conquista o nível 6 na CAPES em 2007 [17].

Em 1999 foi fundado o Centro de Informática – CIn, que mais tarde veio a oferecer, além

do já estabelecido curso de ciência da computação, dois novos cursos de graduação: engenharia

da computação a partir de 2002 e sistemas de informação a partir de 2010 [17].

O sucesso do Centro de Informática pode ser associado à iniciativa tomada por um grupo de

professores em 1985: a elaboração de um plano de metas a serem atingidas em 15 anos, ao invés

dos usuais planos de dois ou cinco anos. Eles determinaram que, por volta do ano 2000, o

departamento teria 20 professores com PhD, cinco vezes a quantidade existente na época. Eles

entendiam que, para tonar a região uma referência mundial em conhecimento e a geradora de força

de trabalho extremamente qualificada [13].

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Esta iniciativa levou à primeira reforma curricular do curso de graduação em Ciência da

Computação, que ocorreu no ano de 1986. Ao se formarem os primeiros alunos do novo currículo,

ficou evidente que não havia demanda para contratar os profissionais recém formados que, em sua

maioria, acabaram deixando o estado [13].

Foi como uma tentativa de solucionar este problema que surgiu a incubadora Recife BEAT –

Base para Empreendimentos de Alta Tecnologia, em 1997 [13, 17]. Apesar de estimular o nascimento

de várias empresas de produção de software, o Recife BEAT não foi suficiente para resolver a

problemática, pois o mercado regional não era suficientemente desenvolvido, de forma que as

empresas não obtiveram o sucesso comercial desejado. [13]

Foi também sob este contexto que foi criado o C.E.S.A.R, no ano de 1996, seguindo uma

abordagem diferenciada: no lugar de começar os projetos com guias previamente definidas, as

ideias viriam das próprias companhias. Todos os projetos a serem desenvolvidos teriam que

responder a problemas específicos identificados pelos clientes do C.E.S.A.R.[13]

A inauguração da primeira sede do CESAR foi em 1998, dentro do então Departamento

de Informática. Em 2002, ele mudou-se para o Porto Digital [16]. O Porto Digital é um cluster de

TI criado em 2000, com o objetivo de produzir conhecimento localmente e exportar serviços de

alto valor agregado para o mundo [15]. A iniciativa de criar um ambiente de negócios surgiu

com financiamento inicial do governo estadual, no valor de R$33 milhões, volume necessário

para criação da infraestrutura. O investimento foi ainda aumentado por empresas privadas e de

telecomunicações [14].

Em 2005, de acordo com estudo executado pela Associação Brasileira das Empresas de

Software e Serviços para Exportação (Brasscom), o Porto Digital foi apontado como o maior

parque tecnológico do Brasil em número de empresas e faturamento [14].

Em dez anos de operação, o Porto Digital já transferiu para o Bairro do Recife 4.000

postos de trabalho, atraindo 10 empresas de outras regiões do País e quatro multinacionais,

abrigando, ainda, quatro centros de tecnologia [14].

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2.2.2 Principais características e funcionamento do sistema recifense

Estrutura e funcionamento

Ao se estudar o sistema recifense de TI nota-se a presença de uma série entidades

envolvidas, como instituições de ensino superior e incubadoras de empresas, por exemplo, mas

há três que se destacam por possuírem maior representatividade e influência dentro do

ecossistema. Estas entidades são o Centro de Informática – CIn da UFPE, o C.E.S.A.R e o Porto

Digital que possuem funções diversas e operam de forma integrada para garantir o

funcionamento do sistema.

A maioria das empresas locais de TI situa-se geograficamente próximas umas das outras,

aglomerando-se no Bairro do Recife, uma zona urbana onde existem também serviços de

restaurantes, um Shopping Center e outras atividades [13]. O Bairro do Recife é também onde

atua o Porto Digital, que pode ser descrito como um arranjo produtivo na área de Tecnologia da

Informação e Comunicação, com foco em desenvolvimento de software [14] e objetiva a

produção local de conhecimento e exportação de serviços com alto valor agregado para o

mercado mundial [15].

Hoje considerado por diversas entidades o melhor cluster industrial do Brasil [13], o

Porto Digital é responsável por garantir a organização do sistema local, alocando novas

empresas no Bairro do Recife e adaptando e mantendo a infraestrutura da região para as

necessidades do sistema local. Além das empresas de TI, o Porto Digital compreende também

outras instituições, como o Fundo de Investimento e Fomento, o Fundo de Capital Humano e o

C.E.S.A.R [14].

Um fato digno de ser notado é o de que os primeiros recursos destinados a criar, no

Bairro do Recife, uma infraestrutura capaz de abrigar o Porto Digital foram de origem

governamental (R$33 milhões do Governo do Estado de Pernambuco) [14], indicando a

existência de cooperação entre o poder público e a iniciativa privada nos esforços para inserir a

região no cenário mundial de tecnologia.

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O C.E.S.A.R, por sua vez, ocupa a posição de principal movimentador da cena de TI no

estado, criando produtos, serviços e empresas do ramo, transformando o mercado de TI do

Recife e estabelecendo boa arte da cultura local [16].

As principais atividades do C.E.S.A.R são a gestão e execução de projetos e a criação de

novos negócios. A primeira atividade é executada utilizando o conceito de Open Innovation,

onde são prestados serviços a clientes que não possuem seus próprios mecanismos de pesquisa

e desenvolvimento [16].

Já a geração de negócios dentro do C.E.S.A.R é feita a partir da identificação de ideias e

projetos inovadores e mercadologicamente viáveis. Uma feita tal identificação, um

empreendimento pode ser desenvolvido utilizando recursos do C.E.S.A.R, como infraestrutura,

educação e força de vendas. O resultado pode tanto tornar-se uma empresa incubada como o

desenvolvimento do projeto em parceria com investidores externos [16].

Talvez mais importante que os produtos e empresas gerados no C.E.S.A.R seja a rede de

relacionamentos criada pela instituição através de parcerias e relações de com seus clientes.

Entre os parceiros estão não só o CIn – UFPE, como também outras grandes instituições de

ensino do país, além de institutos e centros internacionais de pesquisa e tecnologia [16]. Já os

clientes compreendem grandes companhias nacionais e internacionais, como Microsoft, NOKIA,

Banco do Brasil e Petrobras [13]. Esta rede de relacionamentos é boa porque evidencia em

outras regiões do Brasil e do mundo não apenas o C.E.S.A.R, mas também o ecossistema de

Recife, onde se localiza, além de, é claro, aumentar a capacidade do C.E.S.A.R e de seus

parceiros.

Vale ainda ressaltar a grande participação no C.E.S.A.R de pessoas ligadas ao CIn,

envolvendo tanto profissionais altamente qualificados egressos do Centro quanto participantes

integrantes de seu corpo docente, ocupando posições em diversos níveis e funções.

O CIn, por sua vez, apesar de formar profissionais reconhecidamente talentosos, o que é

comprovado pela grande quantidade de recém-graduados que vão trabalhar nas maiores

empresas de TI do mundo [13], além de uma série de conquistas por grupos formados por

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alunos e ex-alunos do centro em competições como a Imagine Cup, da Microsoft, e a Maratona

de Programação, não se limita a gerar mão de obra para o mercado [17].

A formação e qualificação de profissionais é aliada à geração de pesquisa científica de

qualidade, como indica o título de “Centro de Excelência e Referência” em ensino e pesquisa,

conferido ao programa de pós-graduação do CIn por meio de avaliação realizada pela CAPES, na

qual o CIn ficou com conceito 6. O conceito 6 significa ainda que o programa de pós-graduação

possui inserção nacional e internacional [17].

Uma outra característica presente no Centro de Informática é o incentivo ao

empreendedorismo, que ocorre tanto pelo contato dos alunos do CIn com tecnologias atuais e

problemas do mercado ao longo de seus cursos, como pela oferta de disciplinas

especificamente voltadas ao desenvolvimento das habilidades necessárias para se empreender,

todos frutos de um currículo atualizado com foco no mercado mundial [15].

Um outro importante fator de apoio ao empreendedorismo no CIn são iniciativas como

o Recife BEAT, uma pré-incubadora para ajudar no amadurecimento de ideias e transformá-las

em negócios, e o Centro Integrado de Tecnologia da Informação – CITi, uma empresa júnior

localizada dentro do CIn que presta serviços de desenvolvimento de software e websites, além

de treinamento e consultoria em TI, onde os alunos dos cursos de graduação do centro tem a

chance de trabalhar em uma empresa completamente formada por eles próprio [18].

O CIn integra-se com o mercado local de TI não apenas pelos meios acima citados, mas

também por meio de parcerias com organizações, como o C.E.S.A.R e a Associação para a

Promoção da Excelência do Software Brasileiro – Softex. Existe ainda a relação entre o Centro

de Informática e empresas como HP, Samsung e Itautec, viabilizados por incentivos da Lei de

Informática [17].

Situação e perfil do sistema

Uma pesquisa realizada no ano de 2010 pelo Porto Digital [19] teve o objetivo de traçar

o perfil do próprio Porto e das empresas que dele participam. Os resultados constituem uma

boa fonte de informação para se observar certas características do ecossistema recifense de TI.

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o Pessoas

Com relação ao perfil dos profissionais que trabalham nas empresas instaladas na região

do Bairro do Recife, um dado interessante é o relativo às faixas etárias destes profissionais.

Conforme gráfico ilustrado na Figura 3, a mão de obra do Porto é bastante jovem, sendo

constituída em mais da metade por pessoas com no máximo trinta anos. Apenas 9% da força de

trabalho já ultrapassaram os 40 anos.

Figura 3: Perfil etário dos trabalhados do Porto Digital no ano de 2010 [19]

Observa-se ainda que, de acordo com o gráfico da Figura 4, a grande maioria dos

funcionários são graduados ou estão se graduando em um curso superior, enquanto os com

mestrado representam 5% do contingente e com doutorado apenas 1%. Tais resultados

apontam para uma relação entre a faixa etária dos trabalhadores e seu nível de instrução

(pessoas novas podem ainda não ter tido a chance ou a necessidade de complementar sua

formação).

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Figura 4: Perfil dos funcionários do Porto Digital no ano de 2010 quanto à formação [19]

Com relação aos salários pagos aos funcionários do Porto Digital, os dados não animam.

O salário médio de R$2.169,44 dos funcionários da parte técnica, representando 48% do

contingente [19], beira o limite inferior (R$2.000,00 para desenvolvedores de pequenas

empresas) dos salários de TI reportados pelo Salary Guide 2010 [20]. O dado pode indicar a

impossibilidade de serem ofertados melhores salários, ou, no pior caso, a presença de uma

mentalidade de economizar nos salários dos funcionários. Em ambos os casos o fato é que os

baixos salários praticados faz com que os melhores profissionais da área técnica procurem

empregos em outros estados ou países.

Um outro problema observado é a grande quantidade de pessoas sem domínio pelo

menos em nível intermediário do idioma inglês, podendo configurar uma barreira à exploração

de mercados exteriores. Dos 1.768 profissionais que possuem algum domínio sobre o idioma

(pouco mais de 31% do total), 46% tem apenas o nível básico [19].

A pesquisa revela ainda uma ineficiência do sistema em atrair mão de obra de fora do

estado, uma vez que mesmo com a alta demanda por funcionários, especialmente na área de TI

(a pretensão de um aumento das vagas da área técnica registrada foi de 80% em dois anos),

apenas uma quantidade que totaliza aproximadamente 2,33% do total de colaboradores não é

do Estado de Pernambuco [19].

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Em relação aos investimentos realizados por parte das empresas, predominantemente

atuantes na área de TI, a área técnica foi responsável pela maior parcela (71%) dos

investimentos diretos, enquanto que a área de gestão, com 43% dos investimentos indiretos,

superou todas as outras áreas, incluindo a técnica, com 32% [19].

o Infraestrutura

A pesquisa revelou uma grande quantia de dinheiro gasta com recuperação e reforma

das empresas, resultado da alocação das empresas em construções antigas. Embora não haja

ainda um problema de falta de espaço para alocação de empresas no Bairro do Recife, no

entanto, por se tratar de uma região já construída e sem espaço para expansão, é importante

que já seja pensado um plano para suportar o contínuo crescimento no número de empresas

locais.

Um problema identificado foi a falta de vagas de estacionamento suficientes para

atender à demanda. Segundo a pesquisa há um total de 1.444 vagas disponíveis, enquanto que

a demanda é de 1.650. Além do estacionamento, estes números mostram também um em

patamar mais geral, que a estrutura do Bairro do Recife não é dimensionada para receber o

tráfego que hoje recebe, causando além da falta de vagas de estacionamento,

congestionamento do trânsito durante as horas de pico.

o Perfil dos empreendimentos

Os dados coletados durante a pesquisa apontam para um crescimento do mercado. 62%

das empresas do Porto Digital foram fundadas a partir do ano 2000. O fato pode estar

relacionado com a criação do Porto em 2001.

Segundo a pesquisa, 89% dos empreendimentos do Porto Digital são micro ou pequenas

empresas, com quase o mesmo número de ocorrências dos dois tipos. A informação não

surpreende, pois o ecossistema recifense é comumente percebido como um sistema rico em

startups. Faz-se necessário, no entanto, o acompanhamento periódico destes números, de

modo a estabelecer se o fato observado é mesmo positivo ou se representa alguma dificuldade

de crescimento para as empresas do Porto.

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Em relação ao alcance do Porto Digital, o estudo mostrou que a maior parte das

empresas possui alcance regional, tendo 66% de seu faturamento estimado vindo do Nordeste

Brasileiro, conforme Figura 5. Embora estes números possam significar uma grande demanda

regional por produtos e serviços de TI, a pouca participação do mercado internacional (apenas

1%) no faturamento das empresas do Porto indica que poucos empreendimentos estão

tentando e conseguindo atingir o mercado internacional, certamente um mau indicador para

uma região que aspira crescimento em nível mundial.

Figura 5: Faturamento estimado das empresas do Porto Digital no ano 2010 por região

[19]

Outros dados levantados pelo estudo que podem significar um empecilho ao

crescimento do ecossistema recifense para novos mercados é a proporção do faturamento

estimado das empresas para 2010. Enquanto que a previsão para o faturamento originário de

origens privadas foi de 58% do total e para o faturamento proveniente dos governos municipal,

estadual e federal somaram 40%, foi previsto que apenas 1% do faturamento seria oriundo de

bens e serviços, como pode ser observado na Figura 6.

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Figura 6: Distribuição do faturamento das empresas do Porto Digital no ano de 2010 por

tipo de cliente [19]

É possível ainda observar que, segundo o gráfico da Figura 7, a quantidade de empresas

fundadas em um ano, no Porto Digital, subiu vertiginosamente em 2007 e 2008. A súbita

elevação ocorreu no ano posterior ao lançamento do programa de Subvenção Econômica à

Inovação, da FINEP [42], mais tarde seguido por programas como o Prime, também da FINEP

[42], e o PAPPE, da FACEPE [43]. Estas informações indicam que, antes da disponibildade dos

recursos públicos, havia um grande número de potenciais negócios carecendo de recursos

financeiros, uma provável consequência da falta de outros meios de acesso a capital de risco e

capital semente.

Figura 7: Quantidade de empresas fundadas no Porto Digital por ano [19]

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3 - Resultados

Nesta seção serão apresentados os resultados do trabalho, divididos em duas partes. Na

primeira parte (seção 3.1) é feita uma análise comparativa entre os sistema do Vale do Silício e

de Recife, com base no que foi apresentado nos capítulos anteriores. Já a segunda parte (seção

3.2) detina-se a explicitar as lições aprendidas durante o estudo, incluindo os resultados

presentes na seção 3.1, e propor algumas melhorias que podem ser implementadas no sistema

recifense.

3.1 Análise comparativa das informações coletadas

A partir das informações apresentadas no capítulo anterior, é possível perceber pontos

de similaridade e divergência entre os dois ecossistemas estudados. Identificar estes pontos é

importante para que, de forma segura e bem estudada, a partir do exemplo do Vale do Silício

possam ser aprendidas lições adaptadas especialmente à realidade do sistema recifense.

Em ambos os sistemas há a aglomeração de empresas na mesma região, a Baía da

cidade de São Francisco – norte do estado da Califórnia, no caso do Vale e o Bairro do Recife –

na capital do estado de Pernambuco, no caso do sistema recifense. Esta concentração favorece

não só o contato entre as empresas da região, como também, por consequência, a troca de

informações e a cooperação.

No caso do Vale do Silício, a região desenvolveu-se juntamente com seu ecossistema,

enquanto que no caso do Recife, o C.E.S.A.R e o Porto Digital foram instalados em uma área já

construída, dificultando a adaptação do local às atividades lá realizadas. Os problemas de

congestionamento no tráfego de veículos e falta de estacionamento ilustram bem o lado

negativo de destinar um sistema empresarial a uma área já estabelecida e não devidamente

planejada para tal.

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Outro ponto importante a ser notado é a diferença cultural existente entre os sistemas.

Enquanto que no Vale valores como troca de informações, empreendedorismo e tolerância a

falhas permeiam uma cultura gerada naturalmente ao longo dos anos, em Recife a cultura

empreendedora começou a ser formada há pouco tempo e tem recebido incentivo de

instituições como o C.E.S.A.R e o CIn, além do poder público.

Também fruto de sua história, o Vale apresenta uma organização horizontal, onde o

aprendizado e as informações são compartilhados, resultando em uma capacidade por parte do

sistema de responder rapidamente a mudanças tecnológicas e mercadológicas. Em Recife pode-

se notar também uma certa horizontalidade na organização de seu sistema, mas a presença do

C.E.S.A.R ainda é um fator centralizador, influenciando diretamente toda a região.

A organização e a cultura do Vale do Silício levam a um importante ciclo de renovação de

seu sistema, com novas empresas sendo constantemente geradas a partir do conhecimento

previamente estabelecido por outras empresas e, enfim, resultando em pioneirismo e liderança

por parte das empresas do Vale. Além desta forma de cooperação, surgida de maneira

espontânea, há a cooperação que resulta da consciência da necessidade de agir coletivamente,

que resultou, por exemplo, na criação do Joit Venture. Pode-se perceber ainda uma grande

interação entre o mundo empresarial e o acadêmico, representado principalmente pela

Universidade de Stanford.

A cooperação no Recife acontece de forma diferente, em menor porte e de forma

menos intensa. Embora não se observe o ciclo de renovação que ocorre no Vale, há o

compartilhamento de experiências e informações principalmente entres pessoas que trabalham

em lugares próximos. Existem ainda iniciativas que incentivam a cooperação, se não por outro

motivo, pelo menos pelo fato de aproximar ainda mais empreendedores locais, como ocorre

com as empresas instaladas no C.E.S.A.R ou em outras incubadoras.

Outra diferença crucial entre os ecossistemas recifense e californiano é o alcance de

suas empresas, produtos e, até mesmo, influência. Enquanto que no Vale do Silício os negócios

são comumente pensados de forma global, em Recife, as empresas que possuem clientes

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internacionais ou que conseguem atingir públicos de outros países formam uma parcela muito

pequena.

O tipo dos recursos disponíveis para empreendedores do Vale e de Recife também

diverge. Enquanto que no Vale do Silício é notável a grande presença de capitalistas de risco e

empresas de capital de risco, no ecossistema da capital pernambucana a existência de capital de

risco era até recentemente praticamente nula. Embora atualmente a cultura do capital de risco

venha sendo incentivada, ainda são os programas de subvenção econômica de órgãos

governamentais que chamam a atenção de novos empreendedores.

Apesar de tantas diferenças, ambos os sistemas enfrentam um problema em comum:

mesmo com a presença de instituições de ensino gerando profissionais altamente qualificados,

empreendedores em ambas as regiões queixam-se de que há um déficit de mão de obra

qualificada. Mas as semelhanças param neste ponto, pois enquanto que no Vale boa parte da

força de trabalho é estrangeira, em Recife quase não há importação de mão de obra. Uma

discrepância parcialmente explicada pelo fato de que os salários pagos a profissionais de TI em

Recife beiram os mais baixos do país, opostamente ao que ocorre no Vale, onde são pagos os

melhores salários da área de TI.

Por último, mas não menos importante, uma diferença fundamental entre os dois

sistemas é a relação entre os meios industrial e acadêmico em cada um deles. No Vale do Silício

a Universidade de Stanford ocupa uma posição central, não só formando mão de obra, mas

também gerando pesquisa científica inovadora e relevante à indústria, incentivando o

empreendedorismo, criando e mantendo laços com a indústria local e sendo o ponto de partida

para negócios de sucesso.

Já no sistema recifense, apesar da existência de universidades com atividades

extremamente relevantes à indústria local de TI, com destaque para o CIn, existe um certo

afastamento entre empreendedores e acadêmicos. A falta de mecanismos formais para

aproximar os dois meios, ou a ineficiência destes meios, tanto por parte das instituições de

ensino como por parte do meio empresarial, aliada muitas vezes a algum tipo de preconceito de

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uma área em relação à outra, acaba desperdiçando o potencial que ambas as áreas possuem de

ajudarem-se mutuamente.

3.2 Lições aprendidas e melhorias propostas

Tendo em vista todas as informações apresentadas sobre o Vale do Silício e o ecossitema

de TI do Recife, da história e particularidades de cada sistema à análise comparativa entre

ambos, é possível extrair lições valiosas para melhorar o ecossistema recifense.

O estudo realizado até este ponto mostrou que o sucesso do Vale do Silício se dá

principalmente por sua capacidade de adaptação, resultado de uma organização horizontal,

onde a informação é um bem compartilhado e a cooperação é peça fundamental para o

funcionamento do sistema. Afim de aplicar este aprendizado, então, um sistema teria que gerar

mecanismos e políticas para estimular este tipo de comportamento, de forma adequada à sua

realidade.

No caso do sistema recifense, observa-se a existência de alguns grandes participantes,

como C.E.S.A.R, Porto Digital e CIn, além dos governos municipal, estadual e federal, capazes de

influenciar de forma significativa a cultura local e os mecanismos pelos quais opera o sistema de

TI do Recife.

Apesar de o exemplo do Vale mostrar o sucesso de um modelo horizontal e igualitário, o

papel desempenhado pelos grandes participantes no sistema recifense não deve ser apagado

ou alterado de forma abrupta. O ideal é uma evolução gradativa para que o sistema local torne-

se flexível e interdependente, com os grandes participantes agindo de forma facilitadora e

incentivadora, ao invés de determinates de caminhos a serem seguidos que normalmente

dificultam a adaptação e expansão para novos mercados.

Em primeiro lugar, o fato de muitas das empresas locais terem como clientes instituições

governamentais ou serem financiadas por subvenção econômica de órgãos governamentais faz

com que o mercado seja direcionado a áreas previamente determinadas. Além de os projetos

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desenvolvidos para órgãos governamentais atenderem necessariamente a áreas de interesse do

governo, os projetos de subvenção pública contemplam apenas empresas e projetos que atuem

em áreas estratégicas do governo, impedindo que os empreendimentos possam seguir seus

próprios caminhos e, assim, gerem conhecimento e abram caminho para outros

empreendimentos.

Uma solução para o problema acima citado seria a criação de fundos de investimento de

risco e clubes de investidores anjos. Para atrair os investidores, os governos federal e estadual

poderiam destinar parte dos recursos que hoje são encaminhados para subvenção econômica

aos fundos de investimento. Uma campanha com o intuito de incentivar investidores potenciais

poderia ser feita pelo C.E.S.A.R e pelo Porto Digital, instituições de destaque na região, usando

como atrativos a alta qualidade da mão de obra do mercado de tecnologia local. A existência de

uma sólida cultura de capital de risco na região aumentaria as possibilidades de financiamento

das empresas locais, permitindo aos empreendedores um acesso mais fácil aos recursos

necessários para o crescimento de seus negócios, independentemente da área contemplada.

No tocante à relação entre os meios empresarial e acadêmico, uma boa forma de

aproveitar a parceria entre o Centro de Informática e o C.E.S.A.R poderia ser a construção,

dentro do C.E.S.A.R, de um espaço para exposição de trabalhos e pesquisas realizadas dentro do

CIn. Deste modo as empresas incubadas, ou mesmo a própria instituição, poderiam ter maior

acesso a estes trabalhos e entrar em contato com os responsáveis para alguma eventual

parceria ou mesmo para transformar os trabalhos científicos em produtos e negócios. No

sentindo inverso, os pesquisadores da universidade teriam mais uma vitrine para seus

trabalhos, além de uma maior possibilidade de terem suas ideias transformadas em negócio.

Vale ressaltar que a iniciativa estaria bastante alinhada com a missão do C.E.S.A.R, de

transferência de tecnologia.

Analogamente, poderia haver no CIn um espaço para que se expusessem casos reais do

mercado local. Isto poderia ser feito em forma de disciplinas especiais, guiadas por algum

professor do CIn, recebendo a cada aula uma pessoa ligada ao tema escolhido para o semestre,

representando um caso de sucesso (empresa ou instituição), segmento do mercado,

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problemática a ser resolvida ou qualquer outro aspecto presente no ecossistema recifense de

TI.

Visando facilitar a construção de redes de relacionamento por parte de novos

empreendedores, a rede INCUBANET poderia promover encontros entre empresas participantes

de programas de diferentes incubadoras, afim de promover a integração entre os novos

empreendedores, o compartilhamento de informação e a criação de cooperações formais e

informais entre elas.

Poderia ainda ser criado, dentro das incubadoras de empresas, um modelo que seria

uma espécie de tutoring empresarial, no qual empresas já estabelecidas e em estágios mais

avançados de maturidade poderiam fornecer às startups auxílio na elaboração de estratégias de

mercado, gerenciamento e outros aspectos fundamentais para o início de uma empresa. Desta

forma os novos empreendedores contariam com a ajuda de pessoas experientes e capacitadas

ao dar seus primeiros passos no mundo empresarial, além do acesso facilitado a informações

vitais ao sucesso do negócio, mas que normalmente não são adquiridas pelos novos

empreendedores ainda no início de seus negócios. O ganho por parte das empresas “tutoras”

aconteceria na forma de acesso a novas idéias e tecnologias, normalmente dominadas pelos

jovens empreendedores, além da ampliação de suas redes de relacionamentos.

Estas são apenas algumas propostas que podem vir a melhorar o sistema de inovação e

empreendedorismo em Tecnologia da Informação do Recife. Muitas outras podem ser geradas

por pessoas e instituições ligadas ao sistema local, desde que estas tenham em mente as idéias

de descentralização e cooperação, afim de gerar vantagens competitivas coletivas e assim

promover o sucesso individual.

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4 – Conclusões e Trabalhos Futuros

Este trabalho destinou-se a estudar o Vale do Silício e o sistema empresarial de TI da

cidade do Recife. O estudo dividiu-se, a grosso modo, em duas etapas.

Durante a primeira etapa do trabalho o Vale e o Recife foram estudados de forma

individual. Para as duas regiões foi realizada uma breve compilação dos acontecimentos

históricos que ajudaram a desenvolvê-las, além de uma análise sobre as estruturas em que

atualmente se organizam ambos os ecossistemas e sobre os mecanismos pelos quais

funcionam.

Durante a segunda etapa foi realizada uma comparação entre o Vale do Silício e o

ecossistema recifense de TI, estabelecendo de pontos de similaridade e divergência entre os

dois ecossistemas, o primeiro resultado do trabalho. Nesta etapa houve ainda um espaço

reservado às licções aprendidas durante o projeto, bem como algumas propostas de melhoria

para a indústria de TI do Recife, embasadas nas lições recém aprendidas. As lições aprendidas e

as propostas de melhoria formam o último e mais importante resultado deste trabalho.

4.1 Trabalhos futuros

Durante o desenvolvimento deste trabalho surgiram ideias que podem dar continuidade

ao estudo do empreendedorismo em TI do Recife:

Estudo aprofundado sobre a estrutura de capital de risco presente no Vale do Silício e

uso o conhecimento adquirido para identificar possíveis estratégias de incentivo ao

capitalismo de risco no Recife;

Estudo aprofundado sobre a relação entre os meios empresarial e acadêmico na região

do Vale do Silício, afim de encontrar meios de otimizar a esta mesma relação no Recife;

Estudo comparativo entre o ecossistema de TI do Recife e outros sistemas emergentes

espalhados pelo mundo, afim de identificar quão bem o sistema recifense está;

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Estudo das potencialidades do sistema recifense de TI e elaboração de estratégias para

alcançar mercados internacionais.

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Referências

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[9] AUSTIN, S. Where the ‘Top 50 Venture-Backed Companies’ Reside. The Wall Street Journal Blogs. Março de 2010. Disponível em: < http://blogs.wsj.com/venturecapital/2010/03/10/where-the-top-50-venture-backed-companies-reside/>. Acesso em 25 abr. 2011

[10] WADHWA, V. Silicon Valley’s Dark Secret: It’s All About Age. 2010. Disponível em: <http://techcrunch.com/2010/08/28/silicon-valley%E2%80%99s-dark-secret-it%E2%80%99s-all-about-age/>. Acesso em: 15 jul. 2011

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[16] CESAR – site oficial na web. Disponível em: <http://www.cesar.org.br/site/>. Acesso em 15 jun. 2011

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[18] CIn-UFPE Case do CITI é mais uma vez premiado em evento de empresas juniores. 2011 Disponível: Disponível em: <http://www2.cin.ufpe.br/site/lerNoticia.php?s=1 &c=94&id=365>. Acesso em: 27 mai. 2011

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[27] QUEIROZ, R. Perspectiva, Propósito, e Paixão em Empreendimentos de Alta Tecnologia. 2009. Disponível em: <http://osventosdaliberdade.blogspot.com/2009/06/perspectiva-proposito-e-paixao-em.html>. Acesso em: 20 jan. 2011

[28] QUEIROZ, R. Academia, empreendimento e inovação tecnológica. 2009. Disponível em: <http://osventosdaliberdade.blogspot.com/2009/01/academia-empreendimento-e-inovacao.html>. Acesso em: 05 fev. 2011

[29] QUEIROZ, R. Cem Anos de Empreendedorismo - Reitor de Stanford como Primeiro Anjo Investidor. 2009. Disponível em: <http://osventosdaliberdade.blogspot.com/2009/05/cem-anos-de-empreendedorismo-reitor-de.html>. Acesso em: 19 jan. 2011

[30] QUEIROZ, R. Forjando a Interação entre Conhecimento e Empreendimento. 2009. Disponível em: <http://osventosdaliberdade.blogspot.com/2009/03/forjando-interacao-entre-conhecim ento-e.html>. Acesso em: 03 mar. 2011

[31] QUEIROZ, R. O Vale do Silício e o Renascimento – A Internet e o Livro Portátil. 2009. Disponível em: <http://osventosdaliberdade.blogspot.com/2009/06/o-vale-do-silicio-e-o-renascimento. html>. Acesso em: 21 fev. 2011

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[32] QUEIROZ, R. Startups criam Empregos. 2009. Disponível em: <http://osventosdaliberdade. blogspot.com /2009/06/startups-criam-empregos.html>. Acesso em: 03 mar. 2011

[33] SCHEWICK, B. Internet Architecture and Innovation. Massachusetts: The MIT Press, 2010.

[34] Site da Time Magazine. Business Brazil's Start-Up Generation. Matéria postada em: 22 ago. 2010. Disponível em: <http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,2010076,00.html #ixzz1Y60BxCCa>. Acesso em: 23 ago. 2010

[35] Portal iG. Estudante de Pernambuco é disputado pelo Facebook e pelo Google. Matéria postada em: 05 jun. 2011: Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/pe/estudante+de+ pernambuco+e+disputado+pelo+facebook+e+pelo+google/n1597001620431.html>. Acesso em: 15 jun. 2011

[36] You Tube. Porto Digital. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=rc2YqCuCT-I&feature=player_embedded>. Matéria postada em 24 mai. 2011 no Programa Leitura Dinâmica: Acesso em: 25. Jun 2011

[37] Brasil. Site Oficial do Governo Brasileiro. Especial Inovação - Porto Digital. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/ciencia-e-tecnologia/inovacao/Cases/porto-digital>. Acesso em: 25 jul. 2011

[38] Site da WBI BRASIL. - Edição 51: Porto Digital torna Recife um pólo de informática. , Postado em: 18 out. 2005. Disponível em: <http://www.wbibrasil.com.br/boletim/edicao-51-porto-digital-torna-recife-um-polo-de-informatica/133/>. Acesso em: 23 ago. 2010

[39] Wikipédia. Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife - CESAR – Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_de_Estudos_e_Sistemas_Avan%C3%A7ados_do_Recife>. Acesso em: 25 ago. 2011

[40] Info On line – Abril.com. C.E.S.A.R. impera em serviços de software. Postado em: 03 ago. 2005. Disponível em: <http://info.abril.com.br/aberto/infonews/082005/03082005-10.shl>. Acesso em: 25 ago. 2011

[41] Site Techcrunch. Brazil's Peixe Urbano Takes "Significant Growth" Round From General Atlantic and Tiger Global. Postado em: 06 mai. 2011. Disponível em: <http://techcrunch.com/2011/05/06/brazils-peixe-urbano-takes-significant-growth-round-from-general-atlantic-and-tiger-global/>. Acesso em 08 mai. 2011

[42] FINEP - http://www.finep.gov.br/

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[43] FACEPE - http://www.facepe.br/

[44] Porto Digital - http://www.portodigital.org/

[45] Premiações CESAR - http://www.cesar.org.br/site/cesar/reconhecimentos/

[46] ALBAGLI, Sarita; MACIEL, Maria Lúcia. Informação e conhecimento na inovação e no desenvolvimento local. Ciência da Informação, Brasília, v. 33, n. 3, p. 9-16, set./dez., 2004.

[47] ANPROTEC. Agenda das cidades empreendedoras e inovadoras: idéias e propostas para prefeitos que querem gerar emprego e renda promovendo o desenvolvimento sustentável de suas cidades. Brasília: 2004. Disponível em: <http://www.anprotec.org.br/arquivo-pdf/anprotec%20prefeitos.pdf>. Acesso em: 06 set. 2011.

[48] BEAL, Adriana. Gestão Estratégica da Informação: como transformar a informação e a tecnologia da informação em fatores de crescimento e de alto desempenho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2004. 137 p.

[49] BERMÚDEZ, Luís Afonso. Incubadoras de empresas e inovação tecnológica: o caso de Brasília. Disponível em: <http://ftp.unb.br/pub/download/ipr/rel/parcerias/ 2000/1757.pdf>. Acesso em: 06 set. 2011.

[50] COURSON, Jacques de. Espaço urbano e parques tecnológicos europeus. In: PANADINO, Gina G., MEDEIROS, Lucília Atas. (Org.). Parques Tecnológicos e meio urbano: artigos e debates. São Paulo: ANPROTEC, 1997.

[51] HAUSER, Ghissia. Parques Tecnológicos e meio urbano. In: PANADINO, Gina G.; MEDEIROS, Lucília Atas. (Org.). Parques Tecnológicos e meio urbano: artigos e debates. Brasília: ANPROTEC, 1997.

[52] LASTRES, Helena. M. M. A importância da informação no sistema japonês de inovação. Ciência da Informação, Brasília, v. 25, n. 3, 1996. Disponível em: <http://eprints.rclis.org/bitstream/10760/6233/1/ Lastres_1996.pdf>. Acesso em: 06 de setembro de 2011.

[53] ________ . Informação e conhecimento na nova ordem mundial. Ciência da Informação, Brasília, v. 28, n. 1, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ci/v28n1/28n1a09.pdf>. Acesso em: 06 de setembro de 2011.

[54] _________ . Redes de inovação e as tendências internacionais da nova estratégia competitiva industrial. Ciência da Informação, Brasília, v. 24, n. 1, 1995. Disponível em:

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[55] MASIERO, Gilmar. Fugindo do quintal: empreendedores e incubadoras de empresas de base tecnológica no Brasil. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 6, p. 17-21, out./dez. 1995.

[56] MEDEIROS, José Adelino. Estruturas e espaços voltados à inovação e parceria: papel dos pólos e parques tecnológicos. In: PANADINO, Gina G., MEDEIROS, Lucília Atas. (Org.). Parques Tecnológicos e meio urbano: artigos e debates. Brasília: ANPROTEC, 1997.

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[58] SANTOS, Silvio Aparecido dos. (Coord.). Criação de Empresas de Alta Tecnologia, Capital de Risco e os Bancos de Desenvolvimento. São Paulo: Pioneira, 1987.

[59] SPOLIDORO, Roberto. A Sociedade do Conhecimento e seus impactos no meio urbano. In: MEDEIROS, L. A.; PALADINO, G. G. (Org.). Parques Tecnológicos e meio urbano: artigos e debates. Brasília: ANPROTEC, 1997.