UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE … · À Secretaria Executiva de Educação do...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE EDUCAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
CURSO DE MESTRADO
MRCIA MARIA RODRIGUES TABOSA BRANDO
CONSELHO DE CLASSE NAS REPRESENTAES SOCIAIS DE PROFESSORES
DA REDE MUNICIPAL DO JABOATO DOS GUARARAPES
Recife
2016
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MRCIA MARIA RODRIGUES TABOSA BRANDO
CONSELHO DE CLASSE NAS REPRESENTAES SOCIAIS DE PROFESSORES
DA REDE MUNICIPAL DO JABOATO DOS GUARARAPES
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
graduao em Educao da Universidade
Federal de Pernambuco como requisito parcial
para obteno do ttulo de Mestre em
Educao.
Orientadora: Ktia Maria da Cruz Ramos
Coorientadora: Fatima Maria Leite Cruz
Recife
2016
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MRCIA MARIA RODRIGUES TABOSA BRANDO
CONSELHO DE CLASSE NAS REPRESENTAES SOCIAIS DE
PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DO JABOATO DOS GUARARAPES
Dissertao apresentada ao Programa
de Ps-Graduao em Educao da
Universidade Federal de Pernambuco,
como requisito parcial para a obteno
do ttulo de Mestre em Educao.
Aprovada em: 18/03/2016.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Ktia Maria da Cruz Ramos (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco
Prof. Dr. Tatiana Cristina dos Santos de Arajo (Examinadora Externa)
Universidade Federal de Pernambuco
Prof. Dr. Lada Bezerra Machado (Examinadora Interna)
Universidade Federal de Pernambuco
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela companhia fiel e por ser minha fortaleza nos momentos de alegria, satisfao,
incerteza, fragilidade e cansao no percurso da escrita deste trabalho, assim como, de toda a
minha existncia.
Aos meus pais Antnio e Emilda Tabosa in memoriam, pessoas mais que especiais, que
permanecem em minhas melhores lembranas pelo imenso amor dedicado famlia.
Ao meu esposo Luciano Brando pelo apoio e incentivo na busca de meus sonhos e objetivos,
demonstrando sempre amor, pacincia e companheirismo, me ajudando a vivenciar o
mestrado sem esmorecer.
Aos meus filhos Mara e Magnum, minha irm Socorro, meus sobrinhos e esposo(a), minha
nora, pela corrente de apoio que sempre compuseram em volta de meus projetos.
s Professoras Ktia Ramos, Fatima Cruz e Lada Machado - exemplo de mulheres
competentes e dedicadas educao - pelas sugestes de direcionamentos e correes
essenciais para a concluso desta dissertao.
Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Educao, principalmente, a Alexandre
Freitas, Artur Morais, Conceio Carrilho, Janete de Azevedo, Ktia Ramos, Lada Machado,
Lcia Maia e do Programa de Ps-Graduao em Psicologia, sobretudo, a Ftima Santos e
Fatima Cruz pelas reflexes promovidas que tanto colaboraram para minha formao
acadmica.
turma trinta e dois do mestrado, pela construo do conhecimento em conjunto, sobretudo,
a Viviane Lima, Nathali Gomes e Juliana Beltro, pela amizade, conversas motivadoras e
orientadoras bem como compartilhamento de viagens para apresentao de trabalhos.
Aos funcionrios do Programa de Ps-Graduao em Educao - PPGE, pela maneira gentil
em atender minhas solicitaes.
Aos funcionrios da Biblioteca do Centro de Educao - UFPE, por acolher com esmero
minhas solicitaes.
As colegas do grupo de estudo em Teoria das Representaes Sociais, pela partilha do
conhecimento sobre esta Teoria.
professora Lavnia Ximenes pela preciosa colaborao no momento da elaborao do pr-
projeto de pesquisa.
professora Fabiana Vidal pelas sugestes para a discusso na banca de seleo.
professora Graciana Azevedo que traduziu o resumo, compondo o abstract.
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Secretaria Executiva de Educao do Municpio do Jaboato dos Guararapes, pela
possibilidade de realizar esta pesquisa em sua na rede pblica de ensino, em especial, a todos
os tcnicos desta instituio pela generosidade em atender a minha solicitao quanto a
recolha de dados.
s instituies onde realizei meu trabalho de campo: Escola Regular Rural, Escola de Tempo
Integral e Escola Regular Urbana, pelo acolhimento e ateno no decorrer da pesquisa, de
modo especial, aos professores que se dispuseram a participar.
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RESUMO
O presente estudo objetivou compreender as representaes sociais de conselho de classe
compartilhadas por professores da Rede Municipal do Jaboato dos Guararapes. O referencial
terico-metodolgico adotado na pesquisa foi a Teoria das Representaes Sociais proposta
por Serge Moscovici (1978) e a abordagem culturalista (JODELET, 2001) foi o referencial de
base para dar conta da empiria. Participaram da investigao, na fase de aplicao do
questionrio, 77 professores lotados em trs escolas da Rede Municipal do Jaboato dos
Guararapes (uma Escola Regular Rural, uma Escola de Tempo Integral e uma Escola Regular
Urbana), dos quais 20 participaram da fase de realizao das entrevistas. O estudo se apoiou
na abordagem da pesquisa qualitativa, tendo como procedimentos e instrumentos de recolha e
tratamento dos dados: a anlise documental tratada pela tcnica da anlise de contedo de
Bardin (2011), o questionrio tratado pelo software EXCEL e anlise temtica (BARDIN,
2011), bem como a entrevista semiestruturada tambm pela anlise temtica. E, em
decorrncia do processo de insero no campo, contou ainda com observao de dinmica de
conselho de classe, cujos dados foram tratados atravs da anlise de contedo. Os resultados
revelam que as representaes sociais de conselho de classe por professores dessa Rede so
permeadas por sentidos ambguos, indicando perspectivas quer progressista quer
tradicional.Elas se constituem da conjuno de distintos elementos que se inter-relacionam,
agregando sentidos atribudos avaliao e democratizao das relaes. Tais
representaes sociais podem ser sintetizadas na dualidade dos seguintes estruturantes: uma
ao avaliativa que tanto considera o ensino e aprendizagem do professor e aluno como se
conserva restrita ao aprendizado e/ou ao no aprender do aluno; amparam-se na condio de
democratizao das relaes, por meio da reflexo dialogada, mas tambm se utiliza dessa
condio para a manuteno da figura de poder do professor. Os resultados tambm revelam
que independente do tempo de atuao na Rede os professores compartilham sentidos de
conselho de classe: entre professores com menor tempo de docncia na Rede maior
concentrao de uma perspectiva conservadora. Enquanto que entre professores em meados e
com maior tempo de docncia na Rede esse sentido perde fora gradualmente. Um ponto a
destacar um indcio de que a presso decorrente das avaliaes externas, balizada por
ndices de rendimento escolar, tem vindo a contribuir para fragilizar a representao que o
professor tem do seu poder no conselho de classe.
Palavras-chave: Representaes sociais. Conselho de classe. Professores. Avaliao.
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ABSTRACT
The present study aimed to understand the social representations of teachers meetings, shared
by teachers of the Municipal Education System of Jaboato dos Guararapes. The theoretical
and methodological framework adopted in the research was the Theory of Social
Representations proposed by Serge Moscovici (1978) and the culturalist approach
(JODELET,2001) was the referential framework to account for the empiricism. Seventy-
seven teachers from three schools (a Regular Rural School, a Full-Time School and a Regular
Urban School) of the Municipal Education System of Jaboato dos Guararapes participated in
the investigation by answering questionnaires; from the total number of teachers, 20 were
interviewed. The study was based on the qualitative research approach, having as procedures
and tools for the data collection and processing: the analysis of documents which was treated
by the technique of content analysis proposed by Bardin (2011), the questionnaire treated by
EXCEL software and thematic analysis (BARDIN, 2011), and a semi-structured interview
also treated by the thematic analysis. And, as a result of the process of fieldwork, the study
also relied on the observation of the dynamics of teachers meetings, from which data were
treated through the content analysis. The results reveal that in the teachers meetings, the
social representations of teachers of the Municipal Education System are permeated by
ambiguous senses, indicating either progressive or traditional perspectives. They constitute a
conjunction of interrelated distinct elements, adding senses attributed to the evaluation and to
the democratization of relations.Such social representations can be summarized in the
following structural duality: an evaluative action that considers the teaching and learning of
the teacher and the student while is kept restricted to learning and/or not learning of the
student; it is sustained in the democratization of relations, seeking to solve pedagogical
demands through reflective dialogues by different professionals of education, supported by a
formative perspective, also using this condition to maintain the image of the teacher's power,
supported by control instruments, considering that the student possesses little knowledge. The
results also reveal that regardless of how long the teachers have worked in the Municipal
Education System, they share senses of teachers meetings: among teachers with less teaching
experience in the Education System, there is a higher concentration of a conservative
perspective, while among teachers half way through or with more teaching time in the
System, this sense weakens gradually. A point to note is the existence of an indication that the
pressure deriving from external evaluations, imposed by school performance rates, has
contributed to the weakening of the representation that the teacher has of his/her power in the
teachers meetings.
Key words: Social representations. Teachers meeting. Teachers. Evaluation.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Nmero de professores por nvel e modo de contratao na Rede Municipal do
Jaboato dos Guararapes em 2015 ...................................................................... 73
Quadro 2 - Escolas da Rede Municipal que se enquadram nos critrios da pesquisa ............. 74
Quadro 3 - Categorias temticas resultantes do termo indutor para voc conselho de classe
... ..................................................................................................................... 104
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Conselho de classe como tomada de deciso para solucionar problemas do aluno
segundo os professores por tempo de atuao docente na Rede e contexto escolar
...................................................................................................................... 106
Grfico 2 - Conselho de classe como tomada de deciso para diagnosticar avanos/problemas
do aluno segundo os professores por tempo de atuao docente na Rede e
contexto escolar ............................................................................................. 119
Grfico 3 - Conselho de classe como tomada de deciso para definir a vida escolar do aluno
segundo os professores por tempo de atuao docente na Rede e contexto escolar
...................................................................................................................... 128
Grfico 4 - Conselho de classe como tomada de deciso para atender demandas das avaliaes
externas segundo os professores por tempo de atuao docente na Rede e
contexto escolar ............................................................................................. 136
Grfico 5 - Conselho de classe como avaliao do professor e do aluno segundo os
professores por tempo de atuao docente na Rede e contexto escolar ........... 143
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SUMRIO
1 DO INTERESSE PELA TEMTICA ORGANIZAO DO ESTUDO .................. 11
1.1 Origem do interesse pela temtica ............................................................................... 11
1.2 Levantamento de estudos sobre a temtica conselho de classe ................................... 16
1.2.1 Estudos no mbito do PPGE-UFPE ............................................................................. 17
1.2.2 Estudos no mbito da BDTD ....................................................................................... 17
1.2.3 Estudos no mbito do BTDC ....................................................................................... 20
1.3 Organizao do estudo ................................................................................................. 23
2 A TEORIA DAS REPRESENTAES SOCIAIS ........................................................ 24
2.1 Proposies iniciais e origem ....................................................................................... 24
2.2 Conceitos basilares e funes ....................................................................................... 27
2.3 Mecanismos de construo........................................................................................... 30
2.4 A grande teoria e seus desdobramentos ...................................................................... 34
2.5 Themata: um conceito em expanso ............................................................................ 36
2.6 Representaes Sociais: compreendendo os fenmenos educativos ........................... 38
3 SOBRE CONSELHO DE CLASSE ............................................................................... 40
3.1 Breve contextualizao da avaliao ........................................................................... 41
3.2 Processo de institucionalizao do conselho de classe ................................................. 48
3.3 Conselho de classe no Estado de Pernambuco e no Municpio do Jaboato dos
Guararapes ......................................................................................................................... 57
4 PERCURSO METODOLGICO .................................................................................. 65
4.1 Procedimentos e instrumentos de coleta e anlise dos dados...................................... 66
4.2 O campo e os participantes da pesquisa ...................................................................... 71
4.2.1 Caracterizao das escolas campo de pesquisa ............................................................. 75
4.2.2 Caracterizao dos participantes da pesquisa ............................................................... 79
4.2.3 Insero no campo e contato com os participantes da pesquisa .................................... 84
5 CONSELHO DE CLASSE NA REDE MUNICIPAL DO JABOATO DOS
GUARARAPES: DE DOCUMENTOS ORIENTADORES OBSERVAO DE
PRTICAS ......................................................................................................................... 88
5.1 Conselho de classe segundo a Proposta Curricular da Rede Municipal do Jaboato
dos Guararapes .................................................................................................................. 88
5.2 O observado na insero no campo ............................................................................. 97
6 CONSELHO DE CLASSE NA REDE MUNICIPAL DO JABOATO DOS
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GUARARAPES: SENTIDOS E SIGNIFICADOS COMPARTILHADOS POR
PROFESSORES............................................................................................................... 104
6.1 Conselho de classe como tomada de deciso ............................................................. 104
6.1.1 Conselho de classe como tomada de deciso para solucionar problemas do aluno ...... 105
6.1.2 Conselho de classe como tomada de deciso para diagnosticar avanos/problemas do
aluno .................................................................................................................................. 118
6.1.3 Conselho de classe como tomada de deciso para definir a vida escolar do aluno ...... 127
6.1.4 Conselho de classe como tomada de deciso para atender demandas das avaliaes
externas ............................................................................................................................. 135
6.2 Conselho de classe como avaliao do professor e do aluno ..................................... 142
7 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................ 154
REFERNCIAS ............................................................................................................... 160
APNDICES .................................................................................................................... 173
APNDICE - A ................................................................................................................ 173
APNDICE - B ................................................................................................................ 174
APNDICE - C ................................................................................................................ 175
APNDICE - D ................................................................................................................ 176
APNDICE - E ................................................................................................................ 177
APNDICE - F ................................................................................................................. 178
APNDICE - G ................................................................................................................ 179
APNDICE - H ................................................................................................................ 181
APNDICE - I.................................................................................................................. 182
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1 DO INTERESSE PELA TEMTICA ORGANIZAO DO ESTUDO
1.1 Origem do interesse pela temtica
O interesse pelo tema provm de reflexes suscitadas nas experincias de conselho de
classe no mbito da nossa atuao como docente na Rede Municipal do Jaboato dos
Guararapes.Nesta experincia era recorrente ouvir discursos dos professoresque expunham e
legitimavam a viso de conselho de classe como um momento de julgamento do desempenho
do aluno, com destaque para o aspecto quantitativo da avaliao, focando a
aprovao/reprovao. Principalmente, no que se refere a um enquadramento do aluno
referenciado no parmetro de sistema de clculo aritmtico visando a atribuio de notas ao
trmino de um perodo sem considerar o seudesenvolvimento ao longo do percurso
pedaggico.
Vamos que se instalava e era enaltecida uma cultura avaliativa classificatria e
punitiva que segundo Santos, F. (2006) centra a ateno no produto como indicador do grau
de aprendizagem dos contedos trabalhados, cujo resultado apresentado pelo aluno por si
justificaria o sucesso ou fracasso escolar. Tambm foi possvel observar, naquela ocasio,
referncias explcitas ao conselho de classe como uma instncia de deciso apenas dos
professores, em termos de reconhecimento da autoridade e da autonomia docente para tomar
decises a respeito da vida escolar do aluno. Nesta perspectiva, para alm do carter
classificatrio e punitivo, ainda ficava patente a compreenso de conselho de classe baseada
na ideia de delegacia composta pelo professor enquanto delegado e o aluno como acusado.
Nesse quadro, a compreenso de conselho de classe enquanto uma instncia colegiada
comprometida com a (re)orientao dos processos de ensino e de aprendizagem passa ao
largo, bem como no mbito do sentido de gesto democrtica defendido por Vargas (2008) e
Camacho (2010). Isto porque, na perspectiva observada,essa instncia se reduz a uma
correlao de foras desproporcional. Em consonncia com esse entendimento, Cabral (2011)
destaca que, a avaliao se perde quando deturpada e constituda de impresses pessoais,
ficando assim estereotipada, visto que um julgamento no destitudo de subjetividade,
prejudicando a percepo do outro como sujeito de direitos, no caso o aluno julgado por um
lado, de forma condenatria, e por outro, fica impossibilitado de discutir sobre seu futuro
escolar.
Tal ordem de acontecimentos levou-nos a questionamentos sobre possibilidades de
concretizao do conselho de classe tanto de ter como foco a (re)orientao dos processos de
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ensino e de aprendizagem como constituir-se, conforme defendem Vargas (2008) e Camacho
(2010), numa instncia representativa, avaliativa, consultiva e deliberativa.
Por outro lado, mesmo enfrentando os mesmos desafios no cotidiano escolar, tais
como, difceis condies de trabalho, questes disciplinares, falta de apoio das famlias, entre
tantos outros problemas, tivemos o contato com declaraes de professores que apontavam
outro sentido de conselho de classe: o de reconhecimento como nico espao na escola, na
maioria das vezes, de reflexo e de dilogo formativo possibilitador da construo de novos
conhecimentos a respeito dos fazeres e dos saberes pedaggicos.
Tal viso aproxima-se da compreenso do conselho de classe como um rgo
colegiado, de natureza consultiva e deliberativa cuja composio interdisciplinar, conta
tambm com outros membros da comunidade escolar e, essencial para a avaliao e
reorientao do processo pedaggico (GARCIA et al., 1981; ROCHA, 1984; DALBEN, 1994,
2004; SANTOS, F., 2006; CABRAL, 2011; SANTANNA, 2014). Esse entendimento acena
para a pertinncia do carter avaliativo do conselho de classe, para alm de tratar
da aprendizagem dos alunos, ter em conta prticas de ensino dos docentes, os objetivos a
serem alcanados, os resultados das metodologias empregadas, os critrios e instrumentos
adotados, a adequao da organizao curricular, entre outros aspectos, na direo da
reorganizao das aes educativas (DALBEN, 2004).
As situaes acima referidas sinalizavam que os professores da Rede Municipal do
Jaboato dos Guararapes apresentavam distintas compreenses de conselho de classe, e este
fato nos levou a considerar a pertinncia de tratar o entendimento sobre esta instncia numa
perspectiva psicossocial a partir da Teoria das Representaes Sociais.
Nessa perspectiva, considerando conselho de classe como uma instncia colegiada de
reflexo e avaliao a respeito do fazer pedaggico surgiram os questionamentos a seguir
relacionados, na direo tanto de saber da sua regulamentao/diretriz pelos documentos que
dispem sobre sua composio como da sua materializao na escola atravs de reunies
bimestrais.
. O que prope o discurso oficial da Proposta Curricular da Rede Municipal do Jaboato dos
Guararapes acerca do conselho de classe?
. Quais as representaes sociais de conselho de classe de professores da Rede Municipal do
Jaboato dos Guararapes?
. O tempo de experincia docente de professores da Rede Municipal do Jaboato dos
Guararapes implica em diferentes representaes sociais de conselho de classe?
Esses questionamentos, referenciados na Teoria das Representaes Sociais, tm por
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base a compreenso de conselho de classe como um momento rico de sentidos e significados
que abrange concepes, representaes, entendimentos e prticas por parte dos sujeitos
escolares. O conselho de classe desse modo, compreendido em seu carter avaliativo um dos
aspectos mais complexos do processo pedaggico, principalmente, pelo fato da avaliao se
configurar numa ao coletiva a ser realizada nessa instncia.
Essa complexidade fica patente quando se considera o processo de institucionalizao
do conselho de classe, que revela aspectos histrico, cultural e social que levam professores a
significarem essa instncia de diferentes formas. No caso, necessria uma viso mais ampla
de como o mesmo se estruturou ao longo de sua institucionalizao.
Segundo Dalben (2004), o conselho de classe foi institudo e passou a fazer parte do
cotidiano de escolas brasileiras a partir da dcada de 1970, num perodo caracterizado pelo
auge da ditadura militar, em que houve a ampliao das escolas da rede pblica
brasileira.Nesse contexto, a LDB N 5.692/71 pode ser considerada o marco do nascedouro
dessa instncia de carter avaliativo com finalidade de definir a (re)aprovao de alunos,
tendo como base a abordagem psicolgica comportamentalista, em termos de objetivos pr-
estabelecidos configurado em comportamentos observveis.
Com a abertura poltica nos anos 1980, o panorama da redemocratizao da sociedade
coincidiu com as contribuies decorrentes das concepes progressistas para repensar a
prtica pedaggica, consequentemente o conselho de classe. Houve tambm o
reconhecimento do aluno como sujeito do processo de ensino e aprendizagem no mbito das
abordagens psicolgicas construtivista e sociointeracionista.
Acompanhando tal evoluo terica a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
N 9.394/96 prope a reorganizao do sistema educacional numa perspectiva democrtica,
indicando a ruptura da viso tradicional de educao ao estabelecer que os sistemas de ensino
definam as normas da gesto democrtica.
Nesse contexto, o Regimento Escolar de Jaboato dos Guararapes incorpora a questo
da gesto democrtica, atravs da descentralizao dos processos decisrios, constituda pelos
rgos colegiados, destaca-se entre eles: conselho de professores, conselho escolar, conselho
de classe e crculo de pais e mestres.
Ainda no que se refere LDB N 9.394/96, ao fazer referncia avaliao, mesmo sem
nome-la como formativa, prope que a verificao do rendimento escolar assuma traos
correspondentes a essa funo da avaliao, ao ressaltar que ela deve ser contnua e
cumulativa acerca do desempenho do aluno, prevalecendo os aspectos qualitativos sobre os
quantitativos assim como dos resultados no decurso do perodo sobre ocasionais provas finais.
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Essa Lei, ao tratar especificamente da avaliao, explicita uma concepo de avaliao
embasada na anlise e na reflexo da prtica pedaggica considerada como um processo
amplo. No caso, pressupe a edificao de outra identidade das instncias colegiadas em que
se torna possvel pensar na relao entre a avaliao e o conselho de classe, distanciada da
ideia de instncia avaliativa estanque, preocupada com o resultado final, sinalizando
contributos para desconstruir smbolos historicamente estabelecidos e concretizados sobre o
conselho de classe.
Apesar do debate desencadeado desde a abertura poltica permitir a reviso de antigas
crenas acerca do conselho de classe, podemos afirmar que a sua compreenso como
julgamento, tendo o professor como autoridade inconteste, ainda hoje marcante. De acordo
com Perrenoud (1999a), a teoria avaliativa j avanou bastante, contudo, o fazer avaliativo no
cotidiano da escola apresenta ainda resqucios de uma avaliao coercitiva e mensuradora.
Neste sentido, ressaltando que tal compreenso aproxima a avaliao ao modo como se
percebe os sujeitos, recorremos ento a Luckesi (2005) ao considerar que esse processo
avaliativo se constitui dependente da teoria e projeto pedaggico adotado pelo professor.Pois
quando se assume uma teoria que compreende o ser humano como pronto, apenas almeja-se
olhar para o produto, atribuindo-se a culpa por no atingir o nvel esperado ao aluno.
Contudo, se o professor toma o aluno como um ser em desenvolvimento, ento fica evidente
que ele ainda no aprendeu o que necessitaria aprender e, consequentemente, seria necessrio
mais investimento nele de modo a contribuir para seu aprendizado.
Desse modo, estabelece-se um processo contraditrio entre o que se afirma no campo
terico e o que se estabelece na prtica acerca do conselho de classe.Cabe, assim, a indagao
sobre o motivo do desacerto entre o avano no domnio epistemolgico sobre o conselho de
classe em relao ao que se pode constatar quanto lgica avaliativa apresentada pelos
professores. Entendendo que as pistas que podem contribuir para elucidar tais
questionamentos foram ou podem ser edificadas no interior do mbito educacional.
Em funo do exposto, consideramos ser o conselho de classe objeto de representao
pela polmica que se cria em torno dele como explicitado acima, ou seja, reconhecemos que
ao longo do tempo distintos sentidos e significados foram conferidos a esse objeto social
devido s mudanas na maneira de se organizar a escola, tendo em vista as demandas
outorgadas a ela. De incio ele teve como fim deliberar sobre a vida estudantil dos alunos,
para tanto originalmente apresenta-se como instncia exclusivamente avaliativa das questes
relativas aprendizagem e da no aprendizagem dos alunos, ou seja, o conselho de classe em
sua origem vai validar a culpa polarizada no aluno pelo fracasso escolar. Esse cenrio se
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consolidou embasado numa concepo pedaggica que valoriza o processo de burocratizao
das escolas, com nfase excessiva na organizao dos meios, com uma viso de avaliao
presa a supervalorizao do acerto e consequente busca da nulidade de erro, devido
aproximao com a teoria do reforo que considera a trade: estmulo-resposta-reforo. Com o
reconhecimento das abordagens psicolgicas construtivista e sociointeracionista e o debate
sobre a gesto democrtica, a proposta avaliar distintos aspectos pedaggicos, entre eles: a
aprendizagem dos alunos, as condies institucionais que reverberam no processo de ensino e
aprendizagem, os professores pelos alunos, a gesto do ensino por todos os sujeitos escolares:
profissionais da educao, alunos e famlia.
Posto isto, o conselho de classe assumiu diferentes faces ao longo do tempo, bem
como na poca presente permanecem diversos traos de acordo com o sentido e
direcionamento dado pela gesto escolar ao mesmo, haja vista considerar que o prprio
contexto supostamente mais democrtico em que se apresentam outras instncias colegiadas
na atualidade, que no perodo da institucionalizao do conselho de classe no existiam, pode
colaborar para a construo de diversos desenhos dessa instncia avaliativa.
Entendemos que com a Lei n 9.394/96, as escolas passam a ter autonomia para
propor, criar e definir diferentes formatos de conselho de classe, entrelaado ideia de
avaliao da aprendizagem podendo gerar assim um debate mais formativo e regulador, alm
do que fomentar a avaliao institucional com o fim de visualizar o ensino, as condies de
trabalho, os tempos institucionais. No entanto, h de se considerar que mesmo com a
normatizao apresentada pelo Municpio investigado em nossa pesquisa, existem distintas
prticas acontecendo dependendo do contexto da escola, de como a gesto se concretiza, de
como o momento do conselho de classe utilizado na prtica pelos sujeitos
escolares.Destacamos assim, uma preocupao maior por parte do conselho de classe com a
avaliao da aprendizagem, do que com a avaliao institucional.
Recorrer terica e metodologicamente Teoria das Representaes Sociais acenou
para a compreenso de que o modo como os professores pensam e se posicionam em relao
ao conselho de classe advm do sentido a ele atribudo. Isto porque esta teoria parte da
compreenso de que no processo de construo e organizao dos sentidos que os sujeitos
criam suas teorias. Sendo assim, a sua pertinncia se justifica por possibilitar compreender e
explicar a construo do conhecimento do senso comum, produzido atravs da interao e
comunicao, que orienta prticas e comunicaes (MOSCOVICI, 2003). No caso, esta teoria
torna familiar o no-familiar, busca explicar e dar sentido ao objeto social assim como orienta
a forma como os sujeitos vo construir suas relaes e organizam o ambiente. A escolha desta
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teoria se justifica tambm pelo fato de a representao social constituir-se enquanto fenmeno
psicossocial, decorrendo de uma conjuno de fatores, entre eles: histricos, cognitivos,
culturais, intrapsquicos, antropolgicos, que ao inter-relacionar-se colaboram para a
constituio de conceitos e imagens dos fatos, processos e comportamentos de indivduos e
grupos.
Diante do exposto elegemos como objetivo geral compreender as representaes
sociais de conselho de classe compartilhadas por professores da Rede Municipal do Jaboato
dos Guararapes. E como objetivos especficos: apreender o discurso oficial da Proposta
Curricular divulgada pela Rede Municipal do Jaboato dos Guararapes acerca do conselho de
classe; analisar sentidos compartilhados de conselho de classe por professores da Rede
Municipal do Jaboato dos Guararapes, segundo o tempo de experincia docente e
experincias na participao nos conselhos de classe.
Visando explicitar a relevncia de nosso estudo, apresentaremos a produo cientfica
brasileira a respeito do conselho de classe propondo um dilogo entre a produo encontrada
com o nosso objeto de pesquisa.
1.2 Levantamento de estudos sobre a temtica conselho de classe
Com o propsito de ter uma viso do que vem sendo discutido sobre essa instncia
nas pesquisas acadmicas, sistematizamos o estado do conhecimento atravs do levantamento
de trabalhos desenvolvidos no Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade
Federal de Pernambuco (PPGE - UFPE)1, trabalhos disponibilizados na Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertaes (BDTD)2 e no Banco de Teses e Dissertaes do Portal da
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES)3. A escolha dessas
bases de dados deu-se em funo da representatividade de cada uma delas em termos da
pertinncia e do acesso ao que se tem produzido a respeito da temtica, objeto de interesse do
presente estudo. A escolha do PPGE-UFPE justifica-se pelo fato de ser o espao institucional
onde nosso estudo encontra-se vinculado, e consideramos pertinente situar o debate sobre a
temtica nesse Programa. A escolha da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaes
(BDTD) e do Banco de Teses e Dissertaes do Portal da Coordenao de Aperfeioamento
1 Para termos acesso aos trabalhos do PPGE, utilizamos o CD Trinta Anos de Ps-Graduao em Educao da
UFPE (1978-2008) e o site da http://www.ufpe.br/ppgedunova/.
2Disponvel em: http://bdtd.ibict.br/.
3Disponvel em: http://capesdw.capes.gov.br/?login-url-success=/capesdw/.
http://www.ufpe.br/ppgedunova/http://bdtd.ibict.br/http://capesdw.capes.gov.br/?login-url-success=/capesdw/
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17
de Pessoal de Nvel Superior - CAPES (BTDC) se deu pela representatividade dessas bases
no que se refere a congregar trabalhos produzidos nos programas de ps-graduao no mbito
nacional, inclusive o BDTD congregar trabalhos desenvolvidos no exterior.
Institumos como corte temporal de 2002 a 2012 por ter sido, at 2015, o perodo em
que encontramos estudos sobre a temtica em tela. Empregamos como procedimento
metodolgico na identificao de estudos relacionados com a temtica conselho de classe o
aplicativo de busca dos sites. Por conta das especificidades de cada base de dados, foi
necessrio estabelecer diferentes procedimentos no levantamento dos estudos.
No que se refere ao PPGE-UFPE foi feita a leitura do ttulo e resumo dos trabalhos de
mestrado e doutorado defendidos para identificao daqueles que tinham proximidade com a
temtica. Nos bancos de dados da BDTD e do BTDC o levantamento foi realizado utilizando
o descritor conselho de classe para acessar todos os trabalhos publicados. A partir dos achados
nesse levantamento foram realizadas leituras dos resumos, entretanto quando esses no
elucidavam satisfatoriamente o contedo do trabalho foi preciso aprofundar a leitura da
pesquisa recorrendo ao texto integral. Sendo assim, foi possvel perceber que a maioria das
pesquisas no tinha como objeto de investigao o conselho de classe, ou seja, no se
problematizava a dinmica instituda nesse espao, contemplando temticas diversas a
exemplo da indisciplina, da educao inclusiva, formao de professores, cultura escolar,
entre outras.
1.2.1 Estudos no mbito do PPGE-UFPE
Como resultado do levantamento no PPGE-UFPE no foram encontrados trabalhos
sobre conselho de classe. Esse fato torna relevante esta pesquisa por acenar como um
contributo para um possvel desencadeamento do debate nesse Programa.
1.2.2 Estudos no mbito da BDTD
Na BDTD foi encontrado um total de 29 (vinte e nove) trabalhos, dentre eles, 8 (oito)
dissertaes traziam o conselho de classe como objeto de investigao, enquanto que nos
demais trabalhos ele foi tomado como campo. Vale ressaltar que uma das dissertaes, Santos
(2012), que tem como objeto de ateno a Democratizao da Gesto Democrtica, consta nos
dois bancos de dados, sendo ela contabilizada nesse levantamento.
Posteriormente a esta triagem, para a efetivao da anlise do material localizado,
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18
fizemos uma leitura de cada trabalho na direo de identificar o foco de interesse. Nesse
quadro, os achados permitiram distribuir os 8 (oito) estudos que tratam do conselho de classe
de acordo com os seguintes focos de ateno: a) Avaliao (3 trabalhos), b) Democratizao
da Gesto Escolar (4 trabalhos), c) Representao Social (1 trabalho).
Os trabalhos que tm como objeto de ateno Avaliao tomam como referncia a
compreenso de conselho de classe como instncia de avaliao coletiva, no que diz respeito
ao seu potencial na melhoria do processo educativo. E, reconhecendo o conselho de classe
como palco de conflitos entre professores e alunos, reala a tendncia da avaliao
configurar-se pelo carter classificatrio, centralizado em debates sobre o comportamento do
aluno, em detrimento de sua funo formativa.
O estudo de Guerra (2006) procurou compreender e analisar o conselho de classe
criticamente sob a tica da Lingustica Aplicada em uma escola pblica estadual de So
Paulo. Dentre os resultados apresentados pela autora, destaca-se a incoerncia entre o discurso
dos sujeitos e o observado no processo avaliativo no mbito do conselho de classe.
Principalmente, no que se refere a uma avaliao que ressalta os aspectos negativos da vida
escolar dos alunos, assim como pela descaracterizao da real funo dessa instncia, devido
a um formato de conselho burocrtico, direcionado orientao dos professores sobre o
preenchimento de documentos escolares.
Santos, A. (2006) props um debate sobre o conselho de classe pela perspectiva da
avaliao educacional buscando verificar sua natureza enquanto instncia de debate e deciso
coletiva na instituio escolar, traar assim o perfil do conselho de classe real e ideal numa
escola pblica estadual de Gois. Dentre os resultados apresentados, aponta que os critrios de
avaliao institucionalizados no so utilizados na prtica, em razo de distores quanto a
sua funo e poderes.
Santos, F. (2006) investigou o conselho de classe no que concerne a compreender o
seu funcionamento enquanto instncia de avaliao coletiva, praticada em escolas pblicas do
Distrito Federal. Como resultado aponta que se faz necessrio que o conselho de classe
coloque a avaliao a servio da aprendizagem, ocupando o lugar de instncia avaliativa,
deliberativa, coletiva, informativa da escola com o fim de auxiliar a construo de prticas
avaliativas mais democrticas, em que tanto o professor quanto o aluno sejam responsveis
pela aprendizagem e a avaliao.
Os trabalhos que focam Democratizao da Gesto Escolar sinalizam a importncia
da utilizao do conselho de classe como instncia em que se torna possvel o
desenvolvimento democrtico do trabalho pedaggico. Nomeadamente, a partir do
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19
reconhecimento da participao da comunidade escolar como essencial no encaminhamento
das demandas apresentadas.
Buchwitz (2007) ratifica o papel do conselho de classe em possibilitar a participao
dos diversos segmentos da escola, com destaque para o desenvolvimento do senso crtico do
aluno e a autonomia dos pais ao participar das decises da escola, constituindo-se como
essencial para a qualidade da democratizao da gesto escolar e do ensino e aprendizagem.
Nesse estudo, no propsito de verificar como se configurava a participao dos envolvidos e
as relaes entre avaliao e aprendizagem numa escola pblica estadual de So Paulo, a
autora conclui que a participao mediada por relaes de poder, sendo elas determinantes
para a ampliao da democracia nesse mbito.
O estudo de Vargas (2008) tratou do conselho de classe como gesto democrtica na
escola pblica. Nesse trabalho a autora buscou demonstrar como se constitui o conselho de
classe em uma escola pblica estadual do Paran, que apesar dos desafios enfrentados pela
equipe gestora, conseguiu a participao de toda a comunidade escolar. Os resultados
encontrados revelam uma gesto plena, em que se evidencia o papel poltico, entrecruzado ao
papel pedaggico promove avanos significativos na integrao da equipe da escola e dos
representantes da comunidade.
Camacho (2010), entendendo que o conselho de classe no deve estar associado
apenas avaliao, mas focalizar a efetivao de projetos e parcerias com a comunidade,
analisa polticas educacionais referentes democratizao da gesto escolar e demais
processos escolares ligados avaliao. Nesse quadro, objetivou verificar a participao da
comunidade na construo da gesto democrtica nas prticas do conselho de classe em
escolas estaduais de So Paulo. Como resultado, salientou o conselho de classe como uma das
instncias que favorecem a participao de pais e alunos, essencial para a qualidade da
democratizao da gesto escolar, do ensino e aprendizagem.
Santos (2012) procurou investigar o conselho de classe enquanto rgo colegiado, de
carter pedaggico, que atua como instncia democrtica de avaliao coletiva. A autora teve
como inteno saber se a incluso dos pais na sua composio numa escola pblica estadual
de So Paulo faria dela um espao democrtico de avaliao pela via da participao. Os
achados da pesquisa indicaram ser essa instncia promotora e fortalecedora do trabalho
coletivo, tendo a gesto o papel de reorganizar o trabalho pedaggico coletivo numa
perspectiva progressista com o objetivo de descentralizar o poder de deciso.
No que tange ao objeto de ateno Representao Social,encontramos apenas a
pesquisa de Galdino (2002) que aborda os sentidos construdos pelos professores acerca do
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20
conselho de classe numa escola da rede particular de ensino de So Paulo. Seu trabalho
prope discutir as suas atribuies, embasado na fundamentao legal e terica vigente
poca do estudo, considerando fundamental a mudana no processo avaliativo na perspectiva
de uma avaliao formadora.
1.2.3 Estudos no mbito do BTDC
No BTDC identificamos 39 (trinta e nove) trabalhos, desses, apenas 1 (uma) tese e 2
(duas) dissertaes tiverem o conselho de classe como objeto de estudo, 4 (quatro) trabalhos
tomaram o conselho de classe como campo e o restante dos trabalhos tratam de conselho no
referente ao do mbito escolar. Contudo, contabilizamos apenas duas produes, como j
destacado, pela dissertao de Santos (2012) j estar inserida no levantamento realizado no
BDTD. No que diz respeito a essas duas produes, por meio de sua anlise, identificamos
terem como foco de ateno a Avaliao e outra uma Viso Histrica do conselho de classe.
O trabalho de Cabral (2011), que tem como objeto de ateno a avaliao, buscou
refletir sobre o conselho de classe com reconhecimento o potencial dessa instncia para o
debate a respeito do processo educativo. A autora teve como embasamento a reflexo sobre
tericos da educao brasileira e francesa visando examinar a estreita ligao entre o ensino
escolar e a excluso social. Os achados revelam que no conselho de classe em uma escola
pblica municipal de Campinas, em So Paulo, ocorria a avaliao oculta, no formal do
cotidiano da sala de aula, podendo esse momento concorrer para ocasionar a repetncia e
excluso escolar dos alunos.
A tese de Leite (2012) teve o propsito de discutir os significados do conselho de
classe numa perspectiva histrica considerando seus limites, possibilidades e especificidades
em escolas estaduais do Paran. A autora chega concluso deque as estratgias empregadas
para a implantao de reformas educacionais tm o poder de agir sobre o cotidiano dos
sujeitos escolares, modificando suas rotinas assim como a cultura escolar. Entretanto, os
sujeitos escolares nessas condies adotam variadas formas de lidar com as mudanas, que
necessitam serem problematizadas pelos que desejam compreender melhor a escola assim
como pelos que atuam nos lugares de poder e aspiram modificaes qualitativas no mbito da
educao.
Esse levantamento nos permite identificar o debate sobre esta temtica no perodo de
2002 a 2012, com a concentrao dos estudos de 2006 a 2012, revelando que a preocupao
em desenvolver pesquisas sobre conselho de classe atual, basta ver que os primeiros achados
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21
remetem dcada anterior. Tal concentrao de estudos pode justificar-se pelo fato de ser o
incio dos anos 2000 o perodo em que ganha destaque o debate sobre a avaliao formativa
no campo educacional. Alm do que, nessa poca que os sistemas de ensino passam a adotar
novas formas de organizao das escolas fundamentadas numa proposta crtica e formativa de
educao. Tambm houve a ampliao do debate e possibilidade da construo de uma nova
roupagem para essa instncia a partir da incluso do princpio gesto democrtica do ensino
pblico na Constituio de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases N 9.394/96 assim como
objetivo no Plano Nacional de Educao 2001-2010.
Destacamos escassez de estudos na rea, haja vista que dos 68 trabalhos encontrados,
apenas 10 deles abordaram especificamente o conselho de classe como objeto de investigao.
Com efeito, embora esteja presente o debate ao longo do perodo e em considerando o avano
da legislao e referencial terico sobre a temtica, tal panorama no repercutiu de modo
contundente no investimento de estudos sobre aspectos da prpria constituio dessa
instncia, ou seja, o conselho de classe teve mais o estatuto de campo do que objeto de
ateno cientfica. Consideramos que tal fato possa estar relacionado gnese do conselho de
classe ter se fundamentado na avaliao tradicional, com caractersticas classificatria,
autoritria e excludente ainda percebida na atualidade. Tal viso rechaada dado o debate
com proposta de rompimento com a antiga concepo de avaliao enraizada no campo
educacional. a avaliao formativa um desafio, mas tambm uma possibilidade para aqueles
que atuam nessa esfera e buscam por alternativas que permitam o desenvolvimento de uma
avaliao contnua, processual e sistemtica, com vista melhoria da ao pedaggica.
Notamos que tal temtica levou as pesquisadoras a lanar o olhar para diferentes
aspectos acerca do conselho de classe que se entrecruzam e se complementam. Como
tambm, observamos que os estudos foram desenvolvidos nas regies Centro-Oeste, Sudeste
e Sul e que dos locais citados, identificamos ser a dcada de 1970, marco da
institucionalizao oficial dos conselhos de classe nos seguintes locais de pesquisa, a saber,
Distrito Federal e nos Estados: So Paulo e Paran, com normatizao atravs das diretrizes
propostas por regimentos nicos. Assim sendo, podemos inferir que talvez a concentrao de
estudos nessas regies possa ser justificada devido a terem legislao, com tempo
considervel, que orientasse essa prtica. No que diz respeito ao quantitativo das pesquisas,
So Paulo apresentou a maior produo, totalizando 6 trabalhos, Paran teve 2 trabalhos e
Gois e Distrito Federal com 1 trabalho cada.
Os trabalhos desenvolvidos pelas pesquisadoras tiveram como campo de pesquisa
escolas pblicas, exceto a pesquisa de Galdino (2002), realizada em uma escola da rede de
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22
ensino particular, o que demonstra considervel interesse cientfico pelo trabalho produzido
na escola pblica brasileira.
possvel visualizar ainda quanto pesquisa de Galdino (2002) que o interesse pelos
sentidos e significados atribudos ao conselho de classe inaugura o debate a respeito dessa
instncia, entretanto ele fica silenciado na produo cientfica brasileira por mais de uma
dcada, com retomada do debate sobre tal objeto luz das representaes sociais apenas com
nossa pesquisa. Reconhecemos relevncia de buscar entender o conselho de classe a partir
da Teoria Moscoviciniana, considerando-se que as construes simblicas produzidas
possibilitam a comunicao entre os sujeitos assim como a compreenso da realidade. Alm
disso, no h como deixar de considerar as contribuies no avano do estudo dessa teoria e
mais especificamente no que refere compreenso dos fatos da educao, bem como da
funo das significaes sociais no mbito educacional. Para tanto recorremos a Gilly (2001),
que afirma ser a rea educacional um domnio singular para perceber como se d a gnese,
evoluo e transformao das representaes sociais nos grupos sociais e a repercusso dessas
construes nas relaes entre sujeitos.
No que diz respeito ao conselho de classe enquanto instncia de avaliao, as
pesquisadoras buscaram refletir sobre a possibilidade de reorganizao da prtica pedaggica
enquanto corresponsabilidade dos sujeitos envolvidos nesse processo, visando promoo do
desenvolvimento tanto do aluno quanto do professor. Contudo, esses trabalhos ratificam o
quanto ainda preciso avanar nesses debates, devido as incongruncias apresentadas com
relao ao que povoa o campo das ideias dos professores acerca dessa instncia e de como ela
se materializa no cotidiano. Em assim sendo, o conjunto desses trabalhos permite corroborar a
afirmao de Santos, F. (2006) de que ao associar o conselho de classe avaliao da
aprendizagem possvel desvendar que a comunidade escolar ainda est em processo de
descoberta dos benefcios de t-los como aliados da aprendizagem dos alunos e do ensino
pelos professores.
No levantamento realizado, o interesse pelo conselho de classe luz de estudos sobre
democratizao da gesto, principalmente em torno da reflexo sobre a materializao de
espaos de participao coletiva plena, ratifica a pertinncia do acolhimento da opinio dos
sujeitos envolvidos. Ainda aponta para a relevncia de tratar o conselho de classe numa
perspectiva crtico-transformadora, conforme bem declara Santos (2012) em termos de
permitir a construo de uma escola mais solidria, humana e justa devido ao envolvimento
cada vez maior da comunidade escolar em suas atividades.
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23
Tambm possvel reconhecer o cuidado em analisar as formas de apropriao dos
preceitos legais sobre conselho de classe no cotidiano escolar numa perspectiva histrica.
Cabe assim destacar, como bem anuncia Leite (2012), que as reformas educacionais e
polticas pblicas tm o poder de operar sobre o cotidiano dos sujeitos, alterando suas rotinas,
tendo implicaes na cultura escolar.
Ainda que as pesquisas verifiquem a relevncia do papel do conselho de classe para a
prtica pedaggica, alguns trabalhos reconhecem o descompasso entre as prticas do conselho
de classe em relao ao que se determina pelos dispositivos legais. Conjuntura essa que
divulga no apenas as limitaes da escola em vivenciar essas novas propostas, mas tambm
estimular a reflexo acerca dos distintos sentidos que os professores conferem ao estabelecido
pelas instncias normativas.
1.3 Organizao do estudo
No que diz respeito organizao, este estudo congrega cinco captulos. Neste
primeiro captulo, denominado Do interesse pela temtica organizao do estudo,
apresentado a origem do estudo juntamente com as questes de partida, os objetivos e o
estado do conhecimento sobre a temtica. No segundo discutimos a Teoria das
Representaes Sociais, evidenciando seus conceitos fundamentais, bem como seus
mecanismos de constituio e respectivos desdobramentos, arrolando seu aporte terico-
metodolgico ao objeto de estudo.
No terceiro captulo abordamos o fundamento terico do conselho de classe, levando
em conta sua origem e reconhecimento de seu carter avaliativo assim como a conjuntura de
institucionalizao dessa instncia em Pernambuco e no Jaboato dos Guararapes. No quarto
apresentamos o esboo investigativo da pesquisa, situando os procedimentos de coleta e
anlise dos dados, valendo-se de distintos instrumentos, considerando o aspecto metodolgico
luz das representaes sociais, como tambm, a caracterizao e aproximao do campo
emprico e dos sujeitos. E no quinto captulo tratamos os resultados da pesquisa visando
responder as questes propostas para o estudo. Por fim, apresentamos as consideraes finais,
expondo nossas impresses a respeito dos achados concernentes s representaes sociais de
conselho de classe compartilhadas por professores da Rede Municipal do Jaboato dos
Guararapes.
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24
2 A TEORIA DAS REPRESENTAES SOCIAIS
2.1 Proposies iniciais e origem
A conexo que buscamos estabelecer entre a Teoria das Representaes Sociais e o
modo como o Conselho de Classe concebido por professores demanda um detalhamento
sobre os fundamentos nos quais estaremos desenvolvendo esse estudo, sendo pertinente
esclarecer inicialmente, que aderimos perspectiva da representao concebida por
Moscovici, desenvolvida e divulgada por Jodelet.
Destacamos inicialmente que Serge Moscovici, psiclogo social romeno naturalizado
francs, criou a Teoria das Representaes Sociais atravs da tese de doutoramento que teve
como ttulo La psychanalyse, son image et son public, publicada no ano de 1961 e reeditada
em 1976.O estudo desenvolvido por esse autor na dcada de 1950 visou entender como um
determinado grupo ou sujeitos, em seu prprio contexto, apropriava-se e construa definies
especficas sobre um conhecimento cientfico. Nesse processo de apropriao, entendido no
como uma cpia do real, mas como um retrabalho do sujeito ou dos grupos sobre o objeto
representado, o conhecimento cientfico reelaborado atravs da filtragem de alguns
elementos e insero de outros.
Seu interesse era saber como um aspecto dessa cincia, a psicologia, repercutiu na
mudana histrica, no pensamento dos sujeitos e em suas perspectivas sociais (MOSCOVICI,
2003). Ele procurou investigar como a psicanlise tornava-se senso comum, ou seja, como os
diferentes grupos sociais em Paris, entre eles a populao da classe mdia, os profissionais
liberais, os operrios, os estudantes, buscavam utilizar e construir um mundo significante
acerca desse objeto social.
Santos (2005) afirma que Moscovici vem romper com a ideia presente nas cincias
humanas, por muito tempo, de que o senso comum um saber menor por no se constituir por
uma lgica formal. Sendo assim, Moscovici (2003), com sua pesquisa, buscou entender e
recuperar o pensamento e conhecimento comuns, reconhecendo sua gnese parcial nas
cincias, assim como seu carter moderno, distanciando-se do entendimento de que suas
ideias eram erradas, primitivas e tradicionais.
O senso comum, enquanto saber popular, sob a tica de Moscovici (2003, p.26), se
configura como um [...] terreno privilegiado de estudo das representaes. O contedo dos
saberes comuns se caracteriza como cultural e social devido ao seu carter de conhecimento
popular. Ele tem credibilidade por conta de seus princpios e descries confiveis, no
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25
entanto, no totalmente aceito por consenso. Tal conhecimento imprescindvel na medida
em que se procura [...] compreender o pensamento e a ao humanos (MOSCOVICI, 2003,
p.27).
Como salienta o referido autor, esse conhecimento regido por uma lgica social e
cognitiva, construdo a partir da articulao dos aspectos mentais, afetivos, sociais,
cognitivos, de linguagem e, particularmente, de comunicao:
As representaes podem ser o produto da comunicao, mas tambm
verdade que, sem a representao, no haveria comunicao.
Precisamente devido a essa interconexo, as representaes podem
tambm mudar a estabilidade de sua organizao e estrutura, depende
da consistncia e constncia de tais padres de comunicao, que as
mantm. A mudana dos interesses humanos pode gerar novas formas
de comunicao, resultando na inovao e na emergncia de novas
representaes. Representaes, nesse sentido, so estruturas que
conseguiram uma estabilidade, atravs da transformao duma
estrutura anterior (MOSCOVICI, 2009, p. 22).
Com a elaborao da Teoria das Representaes Sociais por Moscovici, a
subjetividade passa a ser investigada luz do fenmeno representacional, sendo assim, esse
estudo se constituiu em um novo paradigma, ou seja, uma forma sociolgica da Psicologia
Social. Ganha relevo nesse paradigma a concepo de sujeito social que vai de encontro
noo cartesiana que inspirou o nascimento da Psicologia. A inteno de Moscovici (1978, p.
14) era [...] redefinir os problemas e os conceitos da Psicologia Social a partir desse
fenmeno, insistindo sobre sua funo simblica e seu poder de construo do real.
A Teoria das Representaes Sociais analisou criticamente a Teoria das
Representaes Coletivas de mile Durkheim, com destaque para o fato deque as
representaes so produes sociais que impactam as conscincias individuais. A teoria
constituiu-se em um pensamento inovador, no final do sculo XIX, focalizando uma
sociedade organizada por prticas reguladas por saberes, normas, crenas e linguagens,
havendo, nesse caso, a prevalncia da cultura em relao sociedade, que caracterizou o
entendimento dos fenmenos sociais a partir do enfoque dado ao aspecto cultural e histrico
(FARR, 1995). Ao fundar uma cincia que visou o estudo da sociedade, Durkheim atacou o
determinismo biolgico e econmico, que levava a mesma a depender dos indivduos que a
constituam (MOSCOVICI, 2003). A ideia de Durkheim foi a primeira a divulgar a
especificidade das crenas coletivas no tocante ao conhecimento individual, alicerando as
bases de uma viso social da vida psicolgica.
Houve inicialmente uma insero de Moscovici no pensamento de Durkheim, mas ele
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26
se distanciou dessas ideias para propor seus construtos. Na verdade, a teoria de Durkheim
sugeria a irredutibilidade das representaes coletivas s conscincias individuais,
considerando que o carter coercitivo e exterior destas representaes possibilitava pensar a
forte determinao da individualidade pelos imperativos sociais. Moscovici (2009) objetivava
compreender como se d a relao do sujeito com a sua realidade, e em que medida o sujeito,
construtor da realidade, se configura nessa relao. A representao sempre representao
de alguma coisa, revela dessa forma, a relao do sujeito com o objeto que compreende uma
atividade de construo e de simbolizao. Logo, os sujeitos no se restringem a obter e
processar informao, eles produzem sentidos, buscando assim, teorizar a realidade social.
No que se refere ao carter de longa durao das representaes coletivas, assim como
o seu compartilhamento por todos os membros de um grupo social pensado a partir de uma
sociedade tradicional homognea, ela no exatamente pertinente para a anlise do sentido
comum desenvolvido na modernidade. Desse modo, a longa durao histrica das
representaes coletivas no possibilita dar conta da brevidade histrica concernente dos
sentidos dados pelos sujeitos aos fenmenos sociais, visto que a dinmica circulao de ideias
e a participao em diversos grupos sociais pelos sujeitos so fonte da diversidade e fluidez da
representao.
Conforme Castorina (2013, p.45), as representaes sociais modificam-se pela
exigncia de recuperar o sentido social ante as fissuras que se produzem na cultura pelos
novos fatos sociais ou pelas mudanas cientficas. Nesse sentido, o foco dado a como as
coisas se modificam na sociedade moderna levando formao, ou mesmo, interferindo na
transformao e distino das ideias coletivas, sendo de extrema importncia no cotidiano,
podendo ser apreendidas e compreendidas, atravs de um trabalho cientfico-metodolgico,
nos discursos e imagens miditicas, cristalizadas em comportamentos.
Por certo, segundo Souza e Novaes (2013) essa teoria ultrapassou a oposio entre o
psicologismo da Psicologia Social tradicional e sociologismo das ideias de Durkheim, ou seja,
entre indivduo e sociedade, devido construo de uma perspectiva que se afastou do modus
pensandi prprio da cincia poca. Tais paradigmas propunham vises distintas acerca da
subjetividade, no que se refere s funes psicolgicas, o sujeito era considerado um produtor
independente, quanto s estruturais explicaes sociais, propunha a ideia de sujeito enquanto
produto das indicaes sociais.
Em nossa compreenso, um dos contributos primordiais dessa teoria para a
comunicao com nosso objeto de estudo, o conselho de classe, o pressuposto da
indivisibilidade entre a divulgao de teorias cientficas, relaes e prticas, alm de
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27
considerar as relaes figurativas com esse saber cientfico que culminam por introduzir
palavras e imagens no conhecimento compartilhado. As construes simblicas produzidas
pelos professores permitem a comunicao entre os pares, soluo das vicissitudes
corriqueiras e a interpretao da realidade.
2.2 Conceitos basilares e funes
A Psicologia Social elaborada por Moscovici adota um novo modo de olhar os sujeitos
em suas interaes, considera a influncia mtua entre sujeito e sociedade, com primazia da
sociedade sobre a cultura. Nesse contexto em que os sujeitos so ativos e afetados pelo objeto
culturalmente construdo, a atividade representativa criada atravs dessa relao, possibilita
ao sujeito se constituir como tal ao reconstruir o objeto.Resulta da a proposio da teoria
psicossociolgica das representaes sociais que ao situar o sujeito no universo social e
material outorga a relao entre sujeito e sociedade como universos indissociveis, revelando
a subjetividade alicerada na mediao com o outro.A adoo dos fundamentos de uma
abordagem psicossocial pela Teoria das Representaes Sociais propicia a construo de uma
perspectiva integradora que considera a insolubilidade entre o social e o psicolgico com o
objetivo de entender e interpretar a vida social, compreendendo assim, a complexidade do
fenmeno representado.
Por sua vez, Jodelet (2009) amplia o entendimento acerca das representaes sociais
produzidas pelos sujeitos e grupos ao delimitar trs esferas de pertena das representaes,
entre elas, a da subjetividade, a da intersubjetividade e a da transubjetividade.
Fundamentalmente, a esfera da subjetividade permite o entendimento que os processos que
operam em nvel do sujeito podem ser de natureza cognitiva, emocional, sendo pertinente
levar em conta sua experincia de vida. A esfera intersubjetiva refere-se construo das
representaes, num certo contexto, tendo em vista as elaboraes negociadas pela interao
entre os sujeitos. E por fim, a esfera transubjetividade se constitui por elementos tanto no
nvel subjetivo quanto no intersubjetivo, ou seja, corresponde aos aspectos ligados ao
individual e grupal, em seus contextos de interao e comunicao no espao pblico.
Dessa maneira, a caracterizao do sujeito das representaes sociais se d
considerando o lugar ocupado por ele na estrutura social a qual pertence, haja vista sua
participao nesse contexto de interaes, mediada pela comunicao. Esse processo implica
num trabalho de simbolizao que se faz pelo modelo de triangulao sujeito-outro-objeto,
sendo possvel considerar, nesse contexto, o poder de atribuio de sentidos que ocorre a
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28
partir dessa inter-relao. Posto isto, essa teoria revela a interdependncia tridica para
esclarecer que a relao do sujeito com o objeto mediada pela interveno do outro.
Com relao ao processo de formao de uma representao social, Villas Bas e
Souza (2011) acrescentam que alm de psicossocial, ela psico-histrica, e se organiza sob
uma fundamentao epistemolgica que considera a historicidade. Desse modo, pensar
historicamente uma representao social, pelo enfoque psicossocial, consiste em entender a
dinmica representacional, considerando a oposio entre variao e permanncia, assim
como pela perspectiva histrica, requer levar em conta a mudana dessa rea, apreendendo o
passado por intermdio de suas definies interpretativas e conceituais. imprescindvel
considerar que os elementos do passado que sero reatualizados, segundo a problemtica
contempornea, dar-se- por um processo dinmico em que cada gerao altera o sentido e a
compreenso dos conhecimentos preexistentes dependentes da construo que ela far a partir
de sua viso do processo histrico (VILLAS BAS; SOUZA, 2011, p. 40).
De acordo com Moscovici (1978, p. 26), [...] a representao social uma
modalidade de conhecimento particular que tem por funo a elaborao de comportamentos
e a comunicao entre indivduos. Ela se constitui como [...] um corpus organizado de
conhecimentos e uma das atividades psquicas graas s quais os homens tornam inteligvel a
realidade fsica e social, inserem-se num grupo ou numa ligao cotidiana de trocas, e liberam
os poderes de sua imaginao (MOSCOVICI, 1978, p. 28). Ele complementa esse conceito
afirmando que [...] as representaes sociais so entidades quase tangveis. Elas circulam,
cruzam-se e se cristalizam incessantemente atravs de uma fala, um gesto, um encontro, em
nosso universo cotidiano (MOSCOVICI, 1978, p.41).
Da interao entre as pessoas surge uma forma de saber que mobiliza desejos,
necessidades e frustraes, influncia que o grupo exerce em seus componentes, levam os
sujeitos a formarem opinies. Esse consenso gera teorias do senso comum a respeito do
objeto social em foco, que nem sempre so consensuais no grupo, podendo haver
convergncia promovendo familiaridade ou divergncia possibilitando mudanas.
Dessa forma, o sujeito ou o grupo em contato com dada realidade busca represent-la
atravs da reapropriao que, de acordo com Abric (1998, p. 27), ocorre por conta da
reconstruo em [...] seu sistema cognitivo, integrada no seu sistema de valores, dependente
de sua histria e do contexto social e ideolgico que o cerca. Portanto, o sujeito ou grupo que
tem um posicionamento ativo mediante a realidade consegue [...] dar um sentido s suas
condutas e compreender a realidade atravs de seu prprio sistema de referncias; permitindo
assim ao indivduo de se adaptar e de encontrar um lugar nesta realidade (ABRIC, 1998, p.
-
29
28).
Abric (1998) buscou evidenciar as finalidades prprias das representaes sociais
designando-lhe quatro funes fundamentais, entre elas: a funo de saber, a funo
identitria, a funo de orientao e a funo justificadora.
No que se refere funo de saber, ela colabora para que os sujeitos possam adquirir
conhecimento em conformidade com o funcionamento do seu sistema cognitivo e seus
universos de crenas e valores com a finalidade de compreender e explicar uma dada
realidade, tambm facilita a comunicao permitindo trocas sociais, transmisso e difuso do
senso comum.
Quanto funo identitria, ela define a identidade e funciona como uma proteo
singularidade dos grupos na medida em que localiza os sujeitos ou grupos no campo social,
permite tambm a composio de uma identidade social e pessoal ajustada com sistemas de
valores e normas sociais. No entanto, a aluso s representaes enquanto delimitadora da
identidade de um grupo desempenha um papel de controle social, em relao a cada membro,
praticado pela coletividade no processo de socializao.
No que diz respeito funo de orientao, ela age como guia de comportamentos e
prticas. A representao atua na finalidade da situao, como uma antecipao das aes,
interferindo no tipo de atitude cognitiva a ser tomada pelos sujeitos sociais, divulgando assim
sua natureza prescritiva. Uma vez criada uma representao sobre um outro, essa
representao passa a compor esse outro e a nortear a interao, de modo a conferir realidade
ao que representado (VALA, 2002). Ela repercute tambm na maneira como o sujeito
interpreta o que lhe acontece, o que acontece em seu em torno ou ao que julga ter acontecido.
Moscovici (1978) postula que a representao social contribui para a formao de condutas,
ou seja, uma preparao para a ao, tanto por conduzir o comportamento, como por
modificar e reconstruir os elementos do meio em que o comportamento teve lugar.
Conforme a funo justificadora, ela atua no sentido de justificar os comportamentos e
posies dos grupos e sujeitos numa ao ou em relao aos seus parceiros em funo da
natureza dessas relaes. Nesse sentido, a representao tanto pode avaliar aes que permite
aos sujeitos preservar e reforar a diferenciao social quanto pode contribuir para a
construo de esteretipos acerca das relaes entre grupos, explicando e justificando as aes
que levam ao mesmo tempo a discriminar ou preservar o afastamento social entre eles.
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2.3 Mecanismos de construo
Uma representao se configura como social por ser elaborada no coletivo e partilhada
por um grupo de sujeitos, sendo um produto das interaes e dos fenmenos de comunicao
(VALA, 2002). Nessa teoria, o termo social compreendido como uma propriedade
relacional que caracteriza a relao entre o sujeito e o fenmeno que se institui em seu mundo
grupal, em detrimento do entendimento desse termo enquanto adjetivo que qualifica a
propriedade de um objeto.
Assim, torna-se relevante lanar um olhar para as representaes sociais, buscando
reconhecer seu contedo e entender o procedimento utilizado na sua produo, ou seja,
necessrio estar atento ao contexto histrico e sociocultural no qual elas so elaboradas, pois
ele fundamenta tanto o pensamento quanto a ao dos grupos que constri novos sentidos a
respeito dos objetos sociais.
A gnese de uma representao social demanda uma atividade de transformao do
no-familiar em familiar, a partir de dois processos dialeticamente relacionados, entre eles: a
objetivao e a ancoragem. Qualificados atravs de uma organizao estrutural, o autor
considera que a objetivao tem a funo de converter em objeto o que representado,
tornando fsico e visvel o impalpvel enquanto que a ancoragem tem como funo fornecer
um contexto inteligvel ao objeto. Jovchelovitch (1995) declara que tais processos so
formatos peculiares em que as representaes sociais fundam mediaes e trazem para o nvel
quase material a produo simblica de um grupo conseguindo dar concretude s
representaes sociais na vida social.
A ancoragem se refere ao enraizamento social da representao, que se constitui ao
incluir um objeto num sistema de pensamento j existente, possibilitando que as novas ideias
a respeito do objeto social possam ser relacionadas aos significados dos conhecimentos
construdos culturalmente, isto , essa integrao cognitiva causa transformao em ambos.
No se refere como na objetivao em considerar a construo formal de um conhecimento,
porm, de apreciar a insero orgnica em um pensamento institudo. (MOSCOVICI, 1978).
Nessa linha, Campos (2003) considera que a ancoragem um dos processos essenciais
na gnese, mudana e estabilidade das representaes sociais. Para esse autor, a ancoragem
processo constante nas representaes sociais atravs do qual a representao constri e
conserva seus princpios nos sistemas scio-cognitivos. Complementa esse entendimento
Jodelet (2001), ao observar que a ancoragem se constitui num trabalho que corresponde a uma
funo cognitiva fundamental das representaes sociais capaz de se referir a todo elemento
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no conhecido, ou seja, um processo que permite que um objeto desconhecido ancore-se em
conhecimentos e prticas familiares.
Ainda na concepo de Moscovici (2009), a ancoragem um processo que
transforma algo estranho e perturbador [...] em nosso sistema particular de categorias, quer
dizer, ancorar classificar e dar nome a alguma coisa. Essencialmente, a ancoragem um
sistema de classificao, de expresso, de designao de categorias e nomes, no havendo
espao nesse processo para neutralidade, tendo em vista cada objeto e ser possuir um valor e
se posicionar em uma escala hierrquica. Assim, ao classificar algo ou algum se efetiva o
confinamento do mesmo a um grupo de comportamentos e regras estipulados fundamentado
em paradigmas estocados em nossa memria.
Isso confere uma atualizao para o novo conceito que ganha caractersticas do
conhecimento preexistente e contribui para proporcionar a requalificao do conhecimento
anterior. Por conseguinte, a representao fundamenta-se numa rede de significados
culturalmente criados para comparar, classificar e categorizar em funo dos laos que esse
objeto mantm com sua insero social de modo a compreender o mundo social e dar sentido
ao novo, sendo assim, os novos objetos so alinhados e classificados a conhecimentos
preexistentes tornando o desconhecido familiar (TRINDADE; SANTOS; ALMEIDA, 2011,
p. 110).
Em seus construtos, Jodelet (1993) procura divulgar como o dilogo entre ancoragem
e objetivao se vincula s trs funes bsicas da representao: a integrao da novidade, a
interpretao da realidade e a orientao de condutas e de relaes sociais. De tal modo, esse
processo comporta a compreenso de: a) como a significao atribuda ao objeto
representado; b) como a representao empregada enquanto sistema de interpretao do
mundo social e instrumentaliza a conduta; c) como ocorre sua conexo em um sistema de
recepo, influencia e influenciada pelos dados elementos.
O outro processo utilizado na elaborao das representaes sociais denominado de
objetivao, que em conformidade com Moscovici (1978, p. 111) constitui-se num
mecanismo que visa tornar real um esquema conceitual, atribuindo imagem uma
contrapartida material, ou seja, objetivar dar concretude a um dado conceito. Nesse
processo, ocorre a reabsoro de uma demanda de significaes que resulta na sua
concretizao, alm de transplantar para o nvel de observao o que era apenas inferncia
ou smbolo.
Segundo Moscovici (1978), ao objetivar o contedo cientfico de um objeto social o
grupo se situa tendo em considerao uma srie de fenmenos que ele trata como bem
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entende. Dessa forma, a coisificao - substituio de ideias em coisas - a descrio mais
precisa acerca da ideia cultural em termos de suas formas de agir. Nessa perspectiva, Vala
(2002) afirma que o objeto percebido e o concebido esto em constante relao, uma vez que
a objetivao continuamente materializa ideias e significaes, fundando correlao entre
palavras e coisas, ou seja, levando a que os elementos constitutivos da representao
adquiram materialidade.
Ainda na viso de Moscovici, no processo de objetivao duas operaes so
essenciais: a naturalizao e a classificao. A primeira torna o smbolo real enriquecendo
uma quantidade de seres conferidos ao sujeito, nesse contexto as imagens participam em
nosso desenvolvimento, a segunda d realidade um ar simblico separando determinados
seres de suas caractersticas para mant-los num quadro geral conforme o sistema de
referncia que a sociedade estabelece (MOSCOVICI, 1978, p. 113).
Para Moscovici (2009, p. 71), a materializao de uma abstrao uma das
caractersticas mais misteriosas do pensamento e da fala. Uma infinidade de palavras est em
circulao na sociedade as quais procuramos dar sentido concreto, no entanto, nem todas as
palavras podem ser vinculadas a imagens tanto pela falta de imagens acessveis como por
algumas imagens lembradas serem tabus, permanecendo abstratas. Sendo assim, preciso
escolher imagens que possam ser representadas e agregadas ao ncleo figurativo - que se
constitui num complexo de imagens que reproduzem um complexo de ideias - tendo em conta
nessa escolha as crenas e o estoque preexistente de imagens por parte do grupo. A aceitao
pelo grupo de um ncleo figurativo permite que ele possa discorrer sobre qualquer coisa que
se relacione com esse paradigma e componha assim as frmulas que o sintetizam.
A objetivao evidenciada por Jodelet (2001) como decomposta em trs fases, a
saber: a construo seletiva, a esquematizao e a naturalizao. As duas primeiras revelam
o efeito da comunicao e das presses, ligadas a pertena social dos sujeitos, sobre a
escolha e a organizao dos elementos constitutivos da representao. De acordo Vala
(2002), a construo seletiva leva em considerao apenas alguns dados do objeto
representado devido aos significados j efetivos referentes s crenas, valores, tradies, ou
seja, nesse momento forma-se um todo respectivamente coerente. A esquematizao a
construo de uma estrutura conceitual que propicia uma imagem coerente dos elementos
constitutivos do objeto da representao, denominada de ncleo figurativo. A figurao dos
esquemas ou dimenso icnica possibilita a compreenso da naturalizao. E por fim, a
naturalizao confere atualizao teorizao moscoviciniana, concebendo que os dados
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construdos socialmente passam a ser considerados como constitutivos da realidade do objeto
adquirindo materialidade.
Visando dar sentido representao enquanto dimenso dos grupos sociais, Moscovici
(1978) props que trs dimenses se referem constituio do contedo da representao e
que reporta ao quadro social em que se incorpora o sujeito. Entre elas, a atitude, a informao
e o campo de representao. A atitude se refere orientao desfavorvel ou favorvel com
relao ao objeto da representao. Constitui-se numa tomada de posio acerca de tal objeto
que agrega nveis afetivos e emocionais do sujeito. A informao se refere organizao do
contedo sobre o objeto social, levando em conta a quantidade e qualidade do conhecimento
possudo pelos sujeitos acerca do objeto. Ela varia de acordo com os grupos e pelos meios de
acesso. O campo de representao corresponde organizao hierarquizada dos elementos
referentes representao social. Nessa dimenso, incorporam-se todos os elementos, ou seja,
o espao, o tempo, as coordenadas sociais, para contextualizar o objeto representado. Para
esse autor, a anlise dessas dimenses possibilita especificar a distino entre os grupos
estudados permitindo ter uma viso do contedo e do sentido da representao social de um
dado objeto.
Cabe salientar que para Jodelet (2001), as representaes sociais referem-se tanto a
teoria, que explica a construo do conhecimento leigo a respeito do objeto social, para a
melhor compreenso desse fenmeno, quanto ao objeto, que diz respeito ao conhecimento
compartilhado, senso comum, configurado como polimorfo, que assume distintas formas em
cada realidade social. Seus contedos revelam a operao de processos generativos e
funcionais socialmente marcados.
A teoria em tela dedica-se ao campo das construes simblicas, elaborado a partir de
um universo consensual. Conforme Arruda (2002), nesse universo, caracterizado pela
conversao informal, os sujeitos tm a possibilidade de expor suas opinies livremente,
devido ao fato de que nele no existem possivelmente fronteiras. As convenes estabelecidas
atravs das conversaes [...] capacitam as pessoas a compartilharem um estoque implcito
de imagens e de ideias que so consideradas certas e mutuamente aceitas (MOSCOVICI,
2009, p. 51).O universo reificado se constitui no mbito cientfico, sendo nele produzidas as
cincias em geral. Moscovici (2009, p. 51) afirma que nesse universo[...] a sociedade
transformada em um sistema de entidades slidas, bsicas, invariveis, que so indiferentes
individualidade e no possuem identidade.
Segundo Ben Alaya (2011, p. 264),
Na teoria das representaes, a definio de conhecimento no est
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condicionada pela verdade das coisas. Primeiramente, a teoria
considera a relao de crena com o conhecimento, no pelo ponto de
vista da teoria do conhecimento, mas posicionando-se a partir do
ponto de vista do prprio sujeito. Desse ponto de vista, a questo de
verdade apenas uma das questes. Crena (verdadeira ou falsa) e
conhecimento so equivalentes no sujeito.
Vale ressaltar, ento, que para essa teoria no cabe falar em erro, em razo de que essa
a configurao mesma do pensamento social, sendo suas caractersticas decorrentes das
circunstncias em que esse pensamento se gera e das normas sociais que o modelam.
Na concepo de Moscovici (1978), construmos representaes sociais tendo como
referncia trs determinantes, entre eles podemos destacar: a presso inferncia, a
focalizao e a disperso de informao. A presso inferncia materializa-se pela
necessidade de tomada de posio, mediante as exigncias da situao, que influenciam o
julgamento feito pelos sujeitos na busca de consenso com o seu grupo. A focalizao nos
remete forma de apreenso das informaes que depende da implicao dos sujeitos em
relao ao objeto e considera, alm disso, sua formao, os interesses profissionais e
ideolgicos. A disperso de informao diz respeito disponibilidade de dados, mas tambm
se refere possibilidade de acesso a ela visando o entendimento do objeto representado.
2.4 A grande teoria e seus desdobramentos
A fecundidade da obra de Moscovici ressaltada por Jodelet (2011) em consequncia
do expressivo potencial de proposies empricas e tericas desenvolvidas ao longo dos anos
por esse autor e por diversos autores que se inspiraram em suas ideias. As contribuies dessa
teoria podem ser percebidas no campo da psicologia social, com o foco em objetos que
articulam processos psicolgicos e sociais; no mbito das teorias do conhecimento possvel
fundar aproximaes entre a psicologia social, a antropologia, a filosofia, a histria e a
sociologia; e na aplicao da teoria no estudo de problemas sociais concretos busca entender
como a evoluo histrica afetava os grupos.
Da grande teoria foram geradas abordagens, a saber: culturalista, societal, estrutural e
scio-gnese. A abordagem culturalista enfatiza o olhar antropolgico sobre os objetos que
investiga, valorizando a articulao entre as dimenses culturais e sociais, tendo em vista a
compreenso dos processos e produtos simblicos. A abordagem societal vincula as
representaes sociais a uma perspectiva mais sociolgica, ressaltando a incluso social dos
sujeitos como fonte de transformao dessas representaes. J a abordagem estrutural tem
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por base a compreenso de que a representao social se organiza em torno de um ncleo
central e de elementos perifricos. E, de acordo com S (1998a), uma quarta abordagem vem
se estabelecendo ao evidenciar a scio-gnese nos estudos das representaes sociais. Tais
abordagens que prope formas de enfocar e investigar as representaes trazendo
contribuies particulares para o desenvolvimento da teoria. Para S (1998b), essas
abordagens so compatveis entre si, uma vez que todas elas resultam de uma mesma matriz
basilar e de modo algum a desautorizam.
Nesse estudo tomamos como referncia a abordagem culturalista de Denise Jodelet,
em razo de compreendermos as representaes sociais no mbito da articulao entre as
dimenses culturais e sociais. Para Jodelet, a representao social um sistema de
interpretao que contribui para a construo de uma realidade comum a um grupo e rege a
relao dos sujeitos com o mundo devendo ser entendida em seu contexto de produo,
mediante as funes simblicas e ideolgicas que desempenham. Para tanto, ela parte da
noo fundamental que uma representao social um saber prtico que liga um sujeito a um
objeto, sendo as significaes elaboradas, resultantes de um trabalho que faz da representao
um construto do sujeito.
Com efeito, Jodelet (2001) considera as representaes sociais como fenmenos
complexos em ao na vida social, compreendendo vrios elementos, tais como, cognitivos,
ideolgicos, informativos, normativos, valores, crenas, opinies, atitudes e imagens. Elas se
estabelecem na qualidade de totalidade significante servindo de guia para as aes, permitem
a leitura da realidade, propiciam os cdigos de comunicao e admitem uma viso de
concordncia dos grupos. De acordo com essa autora, produzimos representaes por
necessitar saber como nos comportar, dominar intelectual e fisicamente, reconhecer e
solucionar os problemas que se manifestam. Isso porque, as representaes sociais para essa
autora, apresentam enorme potencial de dotar os sujeitos e grupos de uma viso plena do que
o homem em seu mundo de objetos (ALMEIDA, 2005). Nesse sentido, tal abordagem
possibilita que os sujeitos e grupos compreendem o mundo, sua existncia e sua histria.
Uma peculiaridade do estudo