UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Veterinária Programa de … · 2017. 7. 3. · Tabela...

68
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Veterinária Programa de Pós-Graduação em Veterinária Dissertação Microbiota de psitaciformes silvestres e exóticos mantidos em centros de reabilitação e triagem Caroline Lunkes dos Santos Pelotas, 2017

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Veterinária Programa de … · 2017. 7. 3. · Tabela...

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Veterinária

    Programa de Pós-Graduação em Veterinária

    Dissertação

    Microbiota de psitaciformes silvestres e exóticos mantidos em centros de

    reabilitação e triagem

    Caroline Lunkes dos Santos

    Pelotas, 2017

  • Caroline Lunkes dos Santos

    Microbiota de psitaciformes silvestres e exóticos mantidos em centros de

    reabilitação e triagem

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Veterinária da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências (área de concentração: Sanidade Animal).

    Orientador: Mário Carlos Araújo Meireles

    Coorientadora: Renata Osório de Faria

    Pelotas, 2017

  • Caroline Lunkes dos Santos

    Microbiota de psitaciformes silvestres e exóticos mantidos em centros de reabilitação

    e triagem

    Dissertação aprovada com requisito parcial, para obtenção do grau de Mestre em

    Ciências, Programa de Pós-Graduação em Veterinária, Faculdade de Veterinária,

    Universidade Federal de Pelotas.

    Data da Defesa: 13/01/2017

    Banca examinadora:

    Prof. Dr. Mário Carlos Araújo Meireles (Orientador) Doutor em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo Prof. Dr. Gilberto D'avila Vargas Doutor em Zootecnia pela Universidade Federal de Pelotas Med. Vet. Dra. Ana Paula Neuschrank Albano Doutora em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal de Pelotas Med. Vet. Dra. Antonella Souza Mattei Doutora em Ciências Pneumológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

  • 3

    Agradecimentos

    Inicio estes agradecimentos com a certeza de que se não fosse por Deus,

    pela força dada por Ele a mim, eu não teria conseguido chegar nem na metade do

    trajeto.

    Geralmente em segundo lugar sempre agradecemos à família, desta vez

    quero fazer um agradecimento especial ao meu paizinho, Isair Bernardes dos

    Santos, que tenho certeza que lá de cima foi o meu anjo da guarda, zelando e

    intercedendo por mim, nos momentos mais difíceis. Ao meu pai, ao meu herói,

    minha eterna gratidão. Também quero agradecer do fundo do coração à minha mãe,

    Noemi, que me deu e me dá todo o apoio, tanto economicamente quanto

    emocionalmente, queria deixar claro aqui que teu colo mãe, tem cheiro de amor e

    nada é mais gratificante do que chegar em casa todos os dias e te ter ali pertinho de

    mim. Ao meu irmão, que sempre foi e sempre será um exemplo pra mim, como

    profissional e como pessoa, sem falar no presente mais maravilhoso desse mundo

    que me deu, junto com minha cunhada e dinda Juh, meu amado e tão esperado

    sobrinho e afilhado Felipe. Espero que quando tu crescer Felipe, tu possas ler essas

    palavras e saber que desde o dia que soube que tu viria ao mundo, eu já te amei, e

    deixo aqui uma promessa de sempre estar do teu lado, te guiando no caminho de

    Deus e te amando até o resto dos meus dias.

    Tenho tantos amigos especiais, que é até difícil começar, mas primeiramente

    quero agradecer a minha amiga Stefany, que me ajuda sempre em qualquer

    assunto, mas me ajudou em especial no finalzinho da dissertação, tanto no

    laboratório quanto na escrita, agradeço a Deus por Ele ter te colocado na minha

    vida! Ao meu grupo de perseverança do movimento de Emaús, não vou colocar aqui

    o nome de todas, pois são muitas, mas quero registrar que vocês são fundamentais

    no meu crescimento pessoal e profissional, alegram e inspiram minhas semanas,

    amo vocês, Efatá's. Em especial, dentro do movimento, tenho 4 pessoas que são

    fiéis a mim e que são realmente presentes de Deus, Mari, Itinho, Lucas Galho e

  • 4

    Lucas Ness, vocês foram a melhor coisa que me aconteceu em 2015,

    obrigada por tudo.

    Quase chegando ao fim, para este trabalho sair, precisei do auxílio de

    algumas pessoas, então gostaria de agradecer ao meu amigo Leandro que me deu

    o auxílio na parte mais enjoada do projeto, a estatística, tu foi a luz no fim do túnel,

    muito obrigada. Preciso agradecer também à recepção e ajuda nas coletas da

    equipe do NURFS/CETAS, do PRESERVAS e principalmente do IBAMA de Porto

    Alegre, aos veterinários, aos biólogos e aos estagiários que me deram toda a

    assistência necessária, ao pessoal.

    Para finalizar quero agradecer ao MicVet, que me acolheu nesses 2 anos e

    meio, ao meu orientador e minha coorientadora, que me auxiliaram no caminho, à

    Josi que se dedicou pra me tirar do sufoco do final da entrega da dissertação, mas

    principalmente as minhas mais que colegas de trabalho, minhas amigas, Ângela e

    Otávia, que seguraram a barra toda comigo, não me deixando cair e me fazendo

    perseverar nos momentos mais difíceis do mestrado, obrigada gurias, de coração.

  • 5

    Há tempo que ficou pra trás todo silêncio e solidão, se o tempo foi Você ficou junto de mim a me aquecer. Há tempo que o frio passou, ficou o calor da Tua luz, se o tempo foi Você marcou

    presença onde não há valor.- Rosa de Saron

  • 6

    Resumo

    SANTOS, Caroline Lunkes dos. Microbiota de psitaciformes silvestres e exóticos mantidos em centros de reabilitação e triagem. 2017. 66f. Dissertação (Mestrado

    em Ciências) - Programa de Pós-Graduação em Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2017.

    Estima-se que o país detenha cerca de 1.832 espécies de aves silvestres pertencentes à fauna nacional. Os psitacídeos são d família Psittacidae e compreendem o maior grupo de espécies ameaçadas de extinção entre todas as aves silvestres. O presente estudo teve como objetivo isolar e identificar fungos e bactérias patogênicas por excelência ou oportunísticas presentes em sítios anatômicos de aves silvestres e exóticas, estudando assim o potencial desses animais como carreadores destes patógenos responsáveis por causar doenças infecciosas em outros animais e no homem. O projeto contou com a colaboração, do NURFS/CETAS/UFPel, do PRESERVAS/UFRGS e do CETAS/IBAMA. Foram coletadas duas amostras de cada sítio anatômico (cloaca, cavidade oral e axila), metade das amostras foram encaminhadas ao laboratório de micologia e a outra metade ao de bacteriologia. Dos 59 animais coletados, 49,15% (n=29) dos isolados foram Aspergillus spp., 62,71% (n=37) de Penicillium spp., 59,32% (n=35) de Candida spp. (Figura 1), 37,28% (n=22) de Rhodotorula spp., 11,86% (n=7) de Malassezia spp., 6,77% (n=4) de Candida albicans, 3,38% (n=4) de Trichosporon spp. e 1,69% (n=1) de Geotrichum spp. Com relação as bactérias, foram isolados 69,49% (n=41) de Staphylococcus spp., 22,03% (n=13) de Streptococcus spp., 8,47% (n=5) de Corynebacterium spp. e 6,77% (n=4) de Bacillus spp. Concluímos que os fungos Candida spp., Candida albicans, Malassezia spp., Rhodotorula spp., Trichosporon spp. e Geotrichum spp., juntamente com as bactérias dos gêneros Corynebacterium, Staphylococcus e Streptococcus estão presentes na microbiota de diversos sítios anatômicos de psitaciformes oriundos dos Centros de Reabilitação e Triagem do IBAMA, da UFPEL e da UFRGS e podemos concluir que aves silvestres são potenciais carreadores de fungos e bactérias patogênicos ao homem e a outros animais domésticos e silvestres. Palavras-chave: cloaca; cavidade oral; fungos; axila; bactérias

  • 7

    Abstract

    SANTOS-LUNKES, Caroline. Microbioma of wild and exotic parrots kept in rehabilitation and screening centers. 2017. 66f. Dissertation (Master degree in

    Sciences) - Programa de Pós-Graduação em Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2017.

    It is estimated that Brazil holds 1.832 species of wild birds that belong to the national fauna. The psitacides belong to the Psittacidae Family and they comprehend the largest group of threatened bird species. The aim of this study was to isolate and identify pathogenic fungi and bacteria, either opportunistic or for excellence, present in anatomical sites of wild and exotic birds. Therefore, study the potential of these animals as carriers of pathogens responsible for infectious diseases in other animals and humans. The project was supported by NURFS/CETAS/UFPel, PRESERVAS/UFRGS and CETAS/IBAMA. There were collected two samples from each anatomical site (cloaca, oral cavity and axilla). Half of the samples were sent to the micology laboratory and the other half was sent to the bacteriology. From the 59 animals used in this study, 49.15% (n=29) of the isolates were Aspergillus spp., 62.71% (n=37) was Penicillium spp., 59.32% (n=35) was Candida spp. (Figure 1), 37.28% (n=22) was Rhodotorula spp., 11.86% (n=7) was Malassezia spp., 6.77% (n=4) was Candida albicans, 3.38% (n=4) was Trichosporon spp. and 1,69% (n=1) was Geotrichum spp. Regarding to the bacteria found on this study, 69.49% (n=41) of the isolates were Staphylococcus spp., 22.03% (n = 13) was Streptococcus spp., 8.47% (n = 5) was Corynebacterium spp. and 6.77% (n = 4) was Bacillus spp. We concluded that fungi as Candida spp., Candida albicans, Malassezia spp., Rhodotorula spp., Trichosporon spp. and Geotrichum spp., as well as bacteria of the genus Corynebacterium, Staphylococcus and Streptococcus are part of the microbiota of several anatomical sites of psittacines from the Rehabilitation and Screening Center of IBAMA, UFPEL and UFRGS. In addition, we conclude that wild birds are potential carriers of fungi and bacteria that are pathogenic to other wild and domestic animals, as well as to humans.

    Keywords: birds; Fungi; Candida; Malassezia; bacteria

  • 8

    Lista de Figuras

    Figura 1 Imagem microscópica de blastoconídeos corados através da

    técnica de coloração de Gram, caracterizando uma colônia de

    Candida spp. isolada da cloaca de uma caturrita........................... 38

    Figura 2 Imagens microscópicas da prova de tubo germinativo (A, B e C)

    caracterizando Candida albicans, isolada da cloaca de uma

    Arara e formação de pseudo-hifas (D) em um aumento de 4000x. 41

    Figura 3 Imagem microscópica em aumento de 1000x de blastoconídeos

    corados com a técnica de coloração de Gram, caracterizando a

    presença de Malassezia spp. isolada da cavidade oral de uma

    caturrita oriunda do NURFS UFPel................................................. 42

  • 9

    Lista de Tabelas

    Tabela 1 Nomes populares, científicos e número total das espécies de

    psitacídeos coletados...................................................................... 34

    Tabela 2 Relação total dos microrganismos encontrados na cloaca, axila e

    cavidade oral das aves espécies estudadas.................................. 39

  • 10

    Lista de Abreviaturas e Siglas

    AIDS Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

    CETAS Centros de Triagem de Animais Silvestres

    CRAM Centro de Reabilitação de Animais Marinhos

    FURG Universidade Federal de Rio Grande

    IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

    Renováveis

    IUCN União Internacional de Conservação da Natureza

    MICVET Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Micologia Veterinária

    NURFS Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre

    ONG Organização Não Governamental

    PRESERVAS Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres

    UFPEL Universidade Federal de Pelotas

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

  • 11

    Sumário

    1 Introdução.................................................................................................... 12

    2 Objetivos...................................................................................................... 14

    3 Revisão de Literatura.................................................................................. 15

    3.1 Aves Silvestres e Exóticas..................................................................... 15

    3.1.1 Psitaciformes ........................................................................................ 15

    3.1.2 Doenças Infecciosas em aves silvestres e exóticas ......................... 16

    3.1.3 Microrganismos envolvidos ................................................................ 17

    3.1.3.1 Aspergillus spp .................................................................................. 17

    3.1.3.2 Candida spp ....................................................................................... 19

    3.1.3.3 Malassezia spp .................................................................................. 20

    3.1.3.4 Penicillium spp................................................................................... 21

    3.1.3.5 Trichosporon spp............................................................................... 22

    3.1.3.6 Geotrichon spp .................................................................................. 22

    3.1.3.7 Rhodotorula spp................................................................................. 23

    3.1.3.8 Staphylococcus spp.......................................................................... 23

    3.1.3.9 Streptococcus spp............................................................................. 24

    3.1.3.10 Corynebacterium spp....................................................................... 25

    3.2 Centros de Triagem de Animais Silvestres/CETAS............................. 25

    3.2.1 NURFS/CETAS UFPel- Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre. 26

    3.2.2 PRESERVAS/UFRGS - Núcleo de Preservação e Reabilitação de

    Animais Silvestres..........................................................................................

    27

    3.2.3 CETAS/IBAMA – Centro de Triagem de Animais Silvestres de

    Porto Alegre....................................................................................................

    28

    4 Artigo............................................................................................................ 29

    5 Considerações Finais................................................................................. 52

    Referências...................................................................................................... 53

    Anexos............................................................................................................. 65

  • 12

    1 Introdução

    O Brasil possui um dos biomas mais ricos e complexos de todo o mundo. No

    tocante às aves, estima-se que o país detenha cerca de 1.832 espécies

    pertencentes à fauna nacional. É o segundo país com maior número de espécies de

    aves conhecidas (Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, 2014).

    As espécies da família Psittacidae, entre todas as famílias de aves, são as

    mais ameaçadas, cerca de 31% destas espécies da região Neotropical, estão na

    lista de ameaçadas de extinção, segundo Collar e colaboradores (1994). No Brasil

    estão na lista Vermelha da IUCN de 2011, 16 espécies de psitacídeos, dentre elas

    estão o Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), Papagaio-charrão (Amazona

    petrei) e Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus).

    As intervenções humanas vem afetando, significativamente, as espécies de

    aves que habitam os ecossistemas naturais brasileiros. A resposta das aves à essas

    alterações varia desde aquelas que se beneficiaram com as alterações do habitat e

    aumentaram suas populações (p. ex., bem-te-vi [Pitangus sulphuratus]), até aquelas

    que foram extintas da natureza (p. ex., mutum-do-nordeste [Mitu mitu] e arara-azul-

    pequena [Anodorhynchus glaucus]). Na região neotropical, o Brasil é o país com o

    maior número de espécies de aves ameaçadas (COLLAR et al., 1997).

    Calcula-se que, por ano, entre 12 a 38 milhões de animais silvestres são

    retirados das matas brasileiras (OSAUA, 2001; GIOVANINI, 2002); porém, deste

    total, apenas um em cada dez animais retirados chegam ao seu destino final, nove

    morrem durante a captura ou transporte (VANNUCCI-NETO, 2000). Dentre os

    animais traficados, as aves por sua beleza e pelos seus cantos (PEREIRA e BRITO,

    2005), aliado ampla distribuição geográfica e alta diversidade (POUGH et al., 2003),

    são grupo de animais mais procurados.

    Entre as muitas espécies de aves, existe um grande número delas que são

    criadas como animais de estimação, mantendo um estreito contato com seres

    humanos. Exemplos de espécies que vivem frequentemente como animais de

    estimação são os papagaios, cacatuas, araras e um grande número de espécies de

    periquitos (VERHALLEN, 2000). Além disso, o acesso das aves da fauna silvestre

  • 13

    ao ambiente próximo aos domicílios favorece a contaminação peridomiciliar pelas

    fezes dos passeriformes e psitaciformes. Ademais, a deficiente higienização de

    praças, parques públicos e privados e a falta de conscientização da população em

    geral quanto aos riscos representados por micro-organismos entéricos, torna estes

    ambientes de alto risco à veiculação de enteropatógenos para os humanos

    (FERNANDES et al., 2013).

    Doenças infecciosas causadas por agentes biológicos, como fungos,

    bactérias, vírus, clamídias e ricketsias, é a causa mais frequente de mortalidade em

    aves, como foi verificado em um estudo realizado por De Carvalho (2004) na

    Universidade Federal do Paraná, onde 32,94% dos psitacídeos que morreram em

    cativeiro e foram necropsiados apresentavam enfermidades de origem infecciosa.

    Devido a este aumento na popularidade das aves e da consciência pública da

    disponibilidade do tratamento médico, os clientes procuram clínicas veterinárias que

    ofereçam tanto a medicina aviária como de pequenos animais (LENNOX, 2006).

    Para satisfazer essa demanda que tende a crescer é de grande importância que os

    médicos veterinários busquem informações sobre as principais doenças que

    acometem as aves, dando ênfase não só as características das doenças, mas

    também nos agentes, nas técnicas diagnósticas e ações terapêuticas mais indicadas

    para cada caso (RUPLEY, 1999; LENNOX, 2006).

    A devastação das matas e o progresso da agricultura e da pecuária próximo

    às matas nativas, gerou uma proximidade entre o homem e os animais domésticos

    com as espécies silvestres. Essa proximidade auxiliou na dispersão de novos

    agentes e doenças de importância em saúde pública para novos hospedeiros e

    ambientes, determinando assim novos nichos ecológicos na cadeia de transmissão

    das doenças (CORRÊA e PASSOS, 2001).

    Acredita-se então que estudos relacionados à microbiota natural de aves

    silvestres são de extrema importância para entender a epidemiologia das doenças.

    Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo isolar e identificar fungos e

    bactérias patogênicas por excelência ou oportunísticas presentes em sítios

    anatômicos de aves silvestres e exóticas, assim como, o potencial desses animais

    como carreadores destes patógenos que podem ser responsáveis por causar

    doenças infecciosas em outros animais e no homem.

  • 14

    2 Objetivos

    O presente estudo tem como objetivo isolar e identificar fungos e bactérias

    patogênicas por excelência ou oportunísticas presentes em sítios anatômicos de

    aves silvestres e exóticas, assim como estudar o potencial desses animais como

    carreadores destes patógenos responsáveis por causar doenças infecciosas em

    outros animais e no homem.

  • 15

    3 Revisão da Literatura

    3.1 Aves Silvestres e exóticas

    No Brasil, os animais silvestres, incluindo as aves, são caracterizados como sendo

    aqueles animais pertencentes à fauna nativa, podendo ser espécies migratórias,

    aquáticas ou terrestres, contando que seu habitat esteja dentro dos limites territoriais

    do Brasil (IBAMA, 1998).

    Já as aves exóticas são aquelas cujo habitat está fora dos limites brasileiros,

    são aves que possuem sua origem em outros países, mas que por algum motivo

    acabam entrando espontaneamente nas fronteiras do Brasil, ou ainda que tenham

    sido introduzidas pelo homem. O IBAMA no Brasil, possui legislações específicas

    para criação de aves tanto silvestres quanto exóticas, em cativeiro, tendo como

    finalidade a comercialização, a conservação ou estudos científicos (LEITE, 2012).

    3.1.1 Psitaciformes

    Os psitacídeos são pertencentes a família Psittacidae e compreendem o

    maior grupo de espécies ameaçadas de extinção entre todas as aves silvestres

    (COLLAR et al., 1994). Alguns fatores, como o mercado ilegal de animais silvestres

    e a destruição do habitat destes animais, são os principais responsáveis por esse

    problema, aliado às reduzidas taxas de reprodução, baixa taxa de sobrevivência dos

    filhotes, longo tempo para as aves jovens atingirem a maturidade sexual, alta

    quantidade de adultos não aptos à reprodução e muita exigência na escolha dos

    ninhos (COLLAR E JUNIPER, 1992; JUNIPER E PARR, 1998; SNYDER ET AL.,

    2000; WRIGHT et al., 2001). Além disso, a União Internacional para a Conservação

    da Natureza (IUCN) em 2004, adiciona mais alguns fatores como ameaça para as

    aves brasileiras, entre elas destacam-se a invasão de espécies exóticas e poluição,

    desastres naturais, mortes acidentais e alteração na dinâmica das espécies nativas.

    São aves que apresentam uma grande variedade na coloração, tamanho e

    peso, porém, são poucas as ordens que apresentam características tão específicas

  • 16

    e de fácil reconhecimento quanto os psitacídeos. Entre elas está o bico curto de

    base larga e a mandíbula superior fortemente curvada e ajustada sobre a inferior,

    características responsáveis por permitir que estes animais sejam capazes de

    quebrar duras sementes e frutos. Outra característica anatômica importante para

    eles é a língua, grossa e com grande número de papilas gustativas, isto associado a

    estrutura muscular bem desenvolvida da mandíbula, dão força e permitem o controle

    na apreensão e ingestão dos alimentos. Estas aves apresentam boa visão, em

    contrapartida seu olfato não é tão desenvolvido. Apresentam pescoço curto e

    cabeça grande e larga, já suas patas apresentam o primeiro e o quarto dedo

    voltados para trás (zigodáctilas) e o segundo e terceiro para frente, ambos cobertos

    por escamas granulares e pernas curtas. (CUBAS, SILVA e CATÃO-DIAS, 2007)

    Os psitacídeos possuem uma plumagem colorida e rígida, sendo que o verde

    é a cor predominante em algumas espécies, como papagaios e periquitos

    neotropicais, tendo como função a camuflagem destes animais nos topos das

    árvores (CUBAS, SILVA e CATÃO-DIAS, 2007).

    3.1.2 Doenças infecciosas em aves silvestres e exóticas

    Os países da América do Norte e da Europa realizam investigações de

    enfermidades de animais silvestres como parte do manejo, já outros países só

    utilizam estes cuidados em caso de já implantada a doença nos animais ou quando

    a saúde dos animais domésticos encontra-se vulnerável, nestes casos só realizam o

    manejo para proteger e garantir a viabilidade econômica e de produção (MORNER,

    et al, 2002).

    Atualmente, com a proximidade do homem com aves como animais de

    companhia, as doenças deste grupo de animais de caráter zoonótico acabam

    tornando-se cada vez mais preocupantes (TELFER et al. 2005).

    Em animais silvestres, estudos sobre doenças infecciosas, principalmente

    sobre sua incidência, relacionados aos agentes fúngicos, são pouco relatados em

    espécies cativas silvestres ou exóticas. A identificação de agentes comensais nestes

    animais são de extrema importância para o reconhecimento dos agentes

    patogênicos (ALBANO, 2009). Como em doenças de origem bacteriana e viral, o

    aspecto clínico das infecções fúngicas é influenciado por situações de estresse, pela

    idade e condição física da ave (BROWN et al, 2000).

  • 17

    Com relação aos agentes fúngicos, infecções causadas por eles, geralmente

    ocorrem através da inalação, tendo o trato respiratório como porta de entrada. A

    resistência do hospedeiro é o fator determinante para a ocorrência da doença, pois a

    maioria dos agentes são encontrados no ambiente. Entre as principais micoses que

    afetam as aves silvestres estão a aspergilose e a candidose (FRIEND et al, 1999).

    Quando as infecções são de origem bacteriana, os agentes mais comumente

    isolados no sistema digestório de aves são Salmonella spp., Pseudomonas spp.,

    Aeromonas spp., Clostridium perfringens, Yersinia enterocolítica, Chamydophylla

    psittaci, Mycobacterium avium, Megabacterium e Escherichia coli (HOEFFER, 1997).

    Já a microbiota entérica das aves saudáveis é constituída por em maioria bactérias

    Gram positivas, sendo elas Lactobacillus spp., Bacillus spp., Corynebacterium spp.,

    Gaffkya spp., Staphylococcus sp.e Streptococcus spp. não hemolíticos. Assim,

    autores relatam que em caso de identificação de bactérias Gram negativas no trato

    gastrointestinal destes animais pode ser um forte indício de doença, recomendando

    então o início do tratamento com antimicrobianos (FLAMMER e DREWES, 1988;

    STYLES e FLAMMER, 1991; HOEFER, 1997).

    3.1.3 Microrganismos envolvidos

    3.1.3.1 Aspergillus spp.

    É uma doença que acomete aves jovens sendo descrita como uma das

    principais enfermidades na exploração econômica de aves de produção comercial, e

    o fungo pode estar presente em órgãos como, os pulmões e os sacos aéreos,

    ocasionando a mortalidade do embrião e aves jovens (FRASER, 1991; ELGHARIB

    et al, 1993; CERVANTES, 1995).

    O agente mais comum na aspergilose e encontrado com frequência em

    psitacídeos é o Aspergillus seção Fumigatus, também merecendo destaque, seção

    Flavi, Nigri e Circumdati. Estes fungos podem permanecer como saprófitas no

    organismo das aves saudáveis e sob condições propícias determinar doenças

    respiratórias graves (GODOY e CUBAS, 2009).

    Tratam-se de fungos cosmopolitas e ubíquos, ou seja, presentes no ambiente,

    que apresentam uma capacidade de suprir suas necessidades nutricionais

    facilmente, podendo utilizar os mais diversos substratos, o que os faz serem

    isolados facilmente do solo, ar, materiais em decomposição, água, alimentos e

  • 18

    vegetações (MEIRELES e NASCENTE, 2009).

    A infecção é ocasionada pela inalação de conídios ou ainda, ingestão de

    alimento e água contaminados. Os fatores que contribuem para aumentar a

    suscetibilidade à infecção: doenças crônicas, lesões traumáticas, desnutrição,

    hipovitaminose e o uso prolongado de antibióticos (CUBAS, GODOY e CATÃO-

    DIAS, 2007).

    São conhecidas duas formas, aguda e crônica, onde a aguda pode ocorrer

    tanto em aves de vida livre quanto em aves criadas em cativeiro. Esta forma mais

    comum ocorre pela inalação de grande quantidade de conídios associadas à baixas

    condições higiênico-sanitárias do ambiente (REDIG, 1993; 1986; 2000; AGUILAR e

    REDIG, 1995; ROSSKOF e WOERPEL, 1997; ATKINSON e BROJER, 1998;

    GODOY e CATÃO-DIAS, 2007). A forma crônica também é comumente encontrada

    em psitacídeos e ocorre após casos de estresse agudo e em animais

    imunodeprimidos, nesta forma, a inalação, mesmo sendo de pequenas quantidades

    de propágulos, o animal não consegue eliminá-los (CUBAS, GODOY e CATÃO-

    DIAS, 2007).

    O agente penetra pelo trato respiratório superior e se instala através de hifas

    e esporos, geralmente atingem o trato respiratório inferior, principalmente pulmões e

    brônquios, causando grave doença respiratória. Há casos em que a infecção pode

    se limitar somente em locais que servem como porta de entrada para o agente,

    como cavidade oral, trato gastrointestinal, olhos, sistema nervoso, rins e ossos

    (CUBAS, GODOY e CATÃO-DIAS, 2007).

    O diagnóstico definitivo é feito através da cultura, citologia, biópsia ou exame

    histopatológico. O exame radiográfico e endoscópico permite visualizar os nódulos

    aspergílicos nos casos crônicos (CUBAS, GODOY e CATÃO-DIAS, 2007).

    Macromorfologicamente, observam-se culturas de coloração branca no início

    do crescimento, com o tempo, as culturas começam a apresentar sua coloração

    típica, como verde, amarelo, alaranjado, castanho ou preto. No reverso da placa

    encontram-se na coloração branca, dourada ou castanha (KLICH, 2002; LACAZ et

    al., 2002; SIDRIM e ROCHA, 2004). Sua textura pode variar entre algodonosa a

    pulverulenta, rugosa ou de aspecto coreaceo (LARONE, 2002; LACAZ et al., 2002).

  • 19

    3.1.3.2 Candida spp.

    Candida spp. também é uma importante levedura, pois infecta o homem e

    várias espécies animais, incluindo-se as aves, determinando nessas, lesões na

    cavidade oral, esôfago, inglúvio e no proventrículo (CUBAS e GODOY, 2007).

    A Candida sp. é conhecida como habitante normal da microbiota entérica das

    aves, porém por se tratar de um organismo comensal e oportunista, seu

    desequilíbrio populacional na microbiota gastrointestinal pode produzir alterações

    clínicas (HARRISON e HARRISON, 1994). São encontradas na cavidade oral,

    comissura do bico, no esôfago, no inglúvio, proventrículo, olhos e sistema

    reprodutivo (CAFARCHIA et al., 2008; CAFARCHIA et al., 2006; FULLERINGER et

    al., 2006; OGLESBEE, 1998). Também pode ser adquirida pela ingestão de água e

    alimentos contaminados, acarretando problemas no trato digestório, ou ainda,

    menos comumente, pela inalação do agente, determinando desordens respiratórias

    (CUBAS, SILVA e CATÃO-DIAS, 2006). A espécie Candida albicans é considerada

    como um patógeno oportunista em lesões de regiões mucocutâneas, trato genital e

    digestório em humanos, mamíferos e aves. Em alguns casos, pode gerar lesões

    cutâneas, em unhas e trato respiratório, onde a partir daí pode gerar infecções

    sistêmicas (KWON-CHUNG e BENNETT, 1992 ; WILKINSON e HARVEY, 1996;

    MOREIRA JR, 2001; BRITO et al., 2007).

    Em aves, o aumento da população de Candida spp. pode ser inibida pela

    própria microbiota natural do trato gastrointestinal, porém, o uso contínuo de

    antibióticos ou alterações no pH podem favorecer ao crescimento desta levedura e

    de outros fungos (GODOY e CUBAS, 2009).

    Candidiase é o nome dado para a doença causada por agentes fúngicos do

    gênero Candida. Pode acometer o homem e várias espécies animais, inclusive as

    aves (CUBAS e GODOY, s.d.; ETTINGER, 2004.). A espécie Candida albicans já foi

    relatada em alguns estudos como o principal agente causador de candidíae em

    cães, gatos e macaco-prego (FERREIRO et al., 2002; CLEFF et al., 2007; CLEFF et

    al., 2008).

    O transporte de leveduras potencialmente patogênicas pode ocorrer através

    da cloaca de aves, dispersando-as assim, pelo ambiente, o que gera um grande

    transtorno para cativeiros (CAFARCHIA et al., 2006; FULLERINGER et al., 2006).

    Para o diagnóstico presuntivo pode ser realizado esfregaços ou exames

  • 20

    diretos de amostras de cloacas ou cavidade oral, corados com Gram. Avalia-se

    nestes exames a presença de estruturas arredondadas eosinofílicas, compatíveis

    com leveduras (GODOY e CUBAS, 2009). Para o diagnóstico definitivo, o

    isolamento de Candida spp. pode ser realizado através da coleta das amostras

    clínicas de crostas da pele por meio de raspado cutâneo, carpete ou swab estéril

    (CLEFF et al., 2007). O cultivo é realizado em meios de cultura clássicos, como ágar

    Sabouraud, acrescido de cloranfenicol e ágar Sabouraud acrescido de cloranfenicol

    e cicloheximida (MEIRELES e NASCENTE, 2009; SIDRIM e ROCHA, 2004).

    No cultivo fúngico a colônia apresenta mascroscopicamente coloração branca

    a creme, aspecto podendo ser brilhoso ou opaco, textura cremosa com bordas

    regulares ou irregulares e odor de levedo (LACAZ et al., 2002; SIDRIM e ROCHA,

    2004).

    3.1.3.3 Malassezia spp.

    A malasseziose é uma micose superficial, causada por leveduras do gênero

    Malassezia, resultante de reação inflamatória e/ou de reação de hipersensibilidade a

    antígenos ou produtos fúngicos (SCOTT et al., 2001; OUTERBRIDGE, 2006).

    A M. pachydermatis é a espécie mais estudada em cães e gatos, seu habitat

    natural é a pele e a mucosa destes animais, sendo mais frequentemente isolada do

    meato acústico externo, vulva e sacos anais (MEIRELES e NASCENTE, 2009).

    Alterações no microclima da pele e mucosas estimulam a multiplicação da M.

    pachydermatis, assim como problemas imunológicos que podem fazer com que ela

    passe a agir como patógeno oportunista (GUILLOT, 1999; NOBRE et al., 2001;

    PRADO, 2007).

    Em um estudo realizado na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, foi isolado

    de um periquito-maracanã (Aratinga leucophthalma) o gênero Malassezia, da zona

    de transição entre a córnea e a esclera. O animal apresentava um aumento de

    volume com presença de secreção no local, porém não foi realizado tratamentos

    pois houve redução da estrutura espontâneamente (LIMA-RIBEIRO, 2012).

    O diagnóstico é dado através de semeadura em ágar Sabouraud dextrose

    acrescido de cloranfenicol e ciclohexemida para a espécie M. pachydermatis, já as

    demais espécies que são lipodependentes devem ser semeadas em meio ágar

    Sabouraud dextrose acrescido de cloranfenicol e azeite de oliva. Ambas devem ser

  • 21

    estocadas em estufas de 37°C em um período de 24-72h (MEIRELES e

    NASCENTE, 2009).

    As colônias do gênero são opacas, com coloração passando do amarelo

    creme para marrom alaranjado com o passar do tempo, apresenta textura seca,

    friável e granulosa, podendo algumas vezes serem gordurosas (GUILLOT et al.,

    1996).

    As leveduras apresentam formato ovalado, sub-globoso e elipsoidal. Quando

    observada por microscopia eletrônica, apresenta parede celular espessa, com

    multicamadas e no citoplasma poucas organelas. A reprodução do gênero é

    assexuada, ocorrendo por brotamento unipolar ou simpodial, dando assim o formato

    de “garrafinha” pela constrição no local do brotamento (MAZZEI, 2016).

    3.1.3.4 Penicillium spp.

    Fungos do gênero Penicillium apresentam vasta distribuição na natureza,

    são cosmopolitas, ubíquos e raramente são os agentes causadores de infecções

    como ceratites, otites, sinusites, quadros alérgicos e outros quadros sistêmicos

    (SIDRIM et al., 2004).

    Em 2014, Mendes et al. isolou o agente das excretas de aves, em 6% das

    51 amostras coletas, o trabalho demonstrou a importância de adotar medidas

    preventivas do ambiente em que as aves encontram-se, por se tratar de uma fonte

    de recontaminação para estes animais e de risco para os profissionais que entram

    em contato com estas aves.

    As colônias de Penicillium spp. apresentam rápido crescimento, dentro de

    três a quatro dias já se observa crescimento nas placas, no início apresentam

    textura algodonosa baixa, com coloração esbranquiçada, porém rapidamente torna-

    se amarelo-alaranjada, amarelo-esverdeada, verde ou até azul-esverdeada. O seu

    reverso varia de coloração castanho-amarelado a castanho-avermelhado (SIDRIM et

    al., 2004).

  • 22

    3.1.3.5 Trichosporon spp.

    Leveduras do gênero Trichosporon estão presentes no solo, nas

    vegetações, na água e fazendo parte da microbiota da pele e vias respiratórias do

    homem (BAKA, 2013; MICELI e LEE, 2011). Trata-se de agentes causadores de

    infecções cutâneas, podendo gerar infecções sistêmicas, dependendo do grau de

    comprometimento imunológico do indivíduo, como pessoas com AIDS, doenças

    neoplásicas e queimaduras (BAKA et al., 2013; MONTOYA et al., 2015).

    Existe nove espécies que possuem potencial para causar doença no

    homem, são elas: T. asahii (espécie mais conhecida por causar infecções

    disseminadas), T. inkin (é o agente causador da piedra branca), T. asteroides, T.

    cutaneum, T. mucoides, T. ovoides, T. pullulans e os mais recentes descobertos T.

    loubieri e T. japonicum (MICELI e LEE, 2011).

    Em 1986, Walsh e colaboradores, relataram que muitos dos isolados de

    infecções disseminadas, quando semeados em ágar Sabouraud Dextrose,

    apresentaram na sua macromorfologia aparência rugosa ou pulverulenta e coloração

    acizentada.

    Macroscopicamente apresentam-se em colônias leveduriformes onde a

    coloração varia do branco ao bege, na maioria das vezes, sua colônia apresenta

    sulcos cerebriformes radiados na superfície (De HOOG et al., 2000).

    Micromorfologicamente o gênero caracteriza-se pela formação de

    artroconídeos, blastoconídeos, hifas e pseudo-hifas (COX e PERFECT, 1999).

    3.1.3.6 Geotrichum spp.

    A geotricose é causada por fungos do gênero Geotrichum, mais comumente

    pela espécie G.candidum (LACAZ et al, 2002). Os fungos do gênero Geotrichum são

    componentes da microbiota da pele e trato digestivo de humanos e de algumas

    espécies animais, sendo relacionados a quadros de infecções oportunísticas,

    principalmente em pacientes imunodeprimidos, ocorrendo acometimento pulmonar,

    digestivo ou de mucosas. Em alguns pacientes, podem ser observados quadros

    septicêmicos, com comprometimento de vários órgãos (SIDRIM e ROCHA, 2004).

  • 23

    O cultivo fúngico é realizado em meios de àgar Sabouraud dextrose

    acrescido de cloranfenicol e ciclohexemida, o período de incubação é de 48 horas

    em temperatura ambiente. As colônias apresentam coloração branca ou branco-

    amareladas, com textura semelhante a cera, de aspecto cerebriforme na região

    central da colônia, observa-se também na região periférica, hifas penetrando no

    meio de cultura (CRUZ, 2010).

    3.1.3.7 Rhodotorula spp.

    O gênero Rhodotorula é composto por leveduras que se apresentam

    distribuídas no ambiente. A sua patogenicidade é questionada, porém durante

    alguns anos foram relatados crescimento no número de infecções por Rhodotorula

    spp. em humanos. Já em animais, existem vários relatos de surtos de infecções na

    pele pela espécie R. mucilaginosa (FELL e STATZELLTALLMAN, 1998).

    Em Balkans (Romênia, Hungria e Bulgária), foi realizado um estudo com

    1726 aves, onde após suas capturas e abates, foi verificado se estes animais eram

    portadoras de patógenos, para o homem e para outros animais. Foram então

    coletadas amostras da cloaca com swab estéril e processadas em ágar Sabouraud

    Dextrose acrescido de cloranfenicol. Como resultado, foram isoladas leveduras em

    15,7% das cloacas, sendo a maior porcentagem em galeirões (58,8%) e a menor em

    codornas (1,7%). As espécies R. mucilaginosa e Candida albicans foram as

    leveduras mais isoladas, sendo que R. mucilaginosa foi também a mais frequente

    levedura isolada das excretas de pombos (CAFARCHIA et al, 2006; GALLO,

    CABELI e VIDOTTO, 1989). Mendes et al. (2014) isolou entre outros gêneros, a

    levedura Rhodotorula spp. de excretas de aves mantidas em Centros de Triagem.

    As colônias do gênero apresentam coloração rosa a vermelha, margem

    circulares e aspecto mucóide, possuem capacidade de crescer em ambientes

    refrigerados (HARRIGAN, 1998).

    3.1.3.8 Staphylococcus spp.

    A estafilococose é a doença causada por bactérias do gênero

    Staphylococcus, sendo a principal espécie causadora a S. aureus. O S. aureus

    apresenta uma ampla variedade de toxinas e trata-se de uma espécie presente na

  • 24

    natureza, o que facilita a contaminação das aves. Pode acometer as aves em geral,

    os sinais clínicos da doença são septicemia, artrite e abscessos no coxim plantar e

    dermatite necrótica (SANTOS, MOREIRA e DIAS, 2008). O gênero é comumente

    encontrado na pele e no trato respiratório de animais hígidos. Para que a doença

    seja desencadeada, é necessário um desequilíbrio nas defesas imunológicas, como

    lesões na pele e mucosas (CUBAS, GODOY e CATÃO-DIAS, 2007).

    São cocos Gram e catalase positivas, possuem aproximadamente 0,5 a 1,5

    µm de diâmetro e não se locomovem. Geralmente apresentam-se na forma de

    cachos de uva, porém, podem encontrar-se isolados, em pares ou em forma de

    cadeias curtas (KONEMAN, 2001; CASSETTARI, STRABELLI e MEDEIROS, 2005;

    TRABULBI e ALTHERTHUM, 2005).

    A primeira vez que esta bactéria foi descrita, ocorreu no ano de 1880, em

    amostras de pus de abscessos cirúrgicos, e hoje é reconhecidamente um dos

    agentes mais comuns em infecções tanto no homem, quanto nos animais

    (KONEMAN, 2001; CASSETTARI, STRABELLI e MEDEIROS, 2005).

    São isolados em meios comuns, como caldo ou ágar simples em

    temperaturas de 37ºC. Se crescimento ocorre após 18-24 horas de incubação,

    apresentando colônias lisas, arredondadas e brilhantes, com coloração do

    acinzentado até o amarelo. Pode formar halos de hemólise quando semeadas em

    ágar sangue (KONEMAN, 2001; CASSETTARI, STRABELLI e MEDEIROS, 2005;

    TRABULBI e ALTHERTHUM, 2005).

    3.1.3.9 Streptococcus spp.

    A estreptococose é uma doença causada pelo gênero Streptococcus spp., o

    qual também pertence à microbiota natural das aves sadias. Infecções primárias

    geralmente estão relacionadas a animais jovens e neonatos, porém, infecções

    concomitantes, imunossupressão e fatores estressantes são importantes

    desencadeadores da doença.

    Em psitaciformes já foram relacionadas a doenças respiratórias juntamente

    com infecções por E. coli. (CUBAS, SILVA e CATÃO-DIAS, 2007).

    Trata-se de uma doença que acomete aves em geral, porém as que mais

    apresentam sinais da doença são as galinhas. Os sinais clínicos em aves podem

  • 25

    variar desde septicemia na forma aguda, levando o animal a óbito, até sinais clínicos

    sistêmicos como prostração, palidez de crista, diarréia amarelada, penas eriçadas,

    anorexia, sonolência e baixa taxa de produção de ovos (SANTOS, MOREIRA e

    DIAS, 2008).

    Bactérias do gênero são cocos catalase negativa e fazem parte de um grupo

    de microrganismos que se habituaram em um ambiente limitado, em alguns casos

    como parasitas do ambiente, em outros na pele e mucosas do homem e dos

    animais. Os mecanismos de defesa dos hospedeiros determinam a possibilidade de

    sobrevivência ou não destes agentes como patógenos (OLIVER et al., 1998).

    3.1.3.10 Corynebacterium spp.

    O gênero Corynebacterium consiste de um grupo de bastonetes Gram

    positivos, catalase positiva, pleomórficos, que não se locomovem e não são

    esporulados. Apresentam parede celular com ácidos graxos de cadeia longa,

    conhecidos por ácidos micólicos. Esses ácidos possuem cadeia curta de 28-40

    carbonos. As espécies do gênero estão difundidos no ambiente, solo, esgoto e

    superfície de plantas, podendo algumas ser patogênicas tanto para o homem quanto

    para os animais (GOMES, 2013).

    Para identificação microscópica é realizado esfregaços corados para

    avaliação de grupos de células em formas regulares em paralelo, conhecidas por

    formas “paliçadas”, ou ainda como a “escrita chinesa” (GOMES, 2013).

    Podem ser semeadas em meios de cultivo com ágar sangue bovino ou

    ovino, onde, dentro de 48h já há crescimento da colônia, com coloração branca ou

    opaca, rodeada por um halo de beta-hemólise (COSTA, 2002; PUGH, 2004).

    3.2 Centros de Triagem de Animais Silvestres/CETAS

    Segundo o IBAMA, centros de triagem são todos empreendimentos

    autorizados pelo mesmo, sendo somente de pessoa jurídica, tendo como intuito

    receber, identificar, avaliar, triar, recuperar e destinar esses animais silvestres

    reabilitados, oriundos de fiscalizações, resgates ou entregas voluntárias.

  • 26

    Todo animal que é encaminhado para um CETAS, ao chegar, é avaliado, sua

    espécie identificada e se necessário, é direcionado para tratamento. Quando o

    animal está completamente apto para voltar à natureza, este é guiado para soltura,

    quando não condições do mesmo sobreviver sozinho, é encaminhado para

    zoológicos, mantenedores ou criadouros específicos (IBAMA, 2008).

    Segundo Vilani (2007) outra função muito importante do CETAS, é de servir

    como um termômetro ambiental, onde ao receber os animais, é realizada uma

    triagem sanitária do meio em que eles se encontravam. Isto serve como uma

    importante ferramenta para rastrear o surgimento de doenças na região. Porém,

    para isto, é necessário uma estrutura mínima hospitalar, para que possa haver o

    atendimento clínico adequado e possíveis quarentenas, quando necessário.

    Em 1999, Barbanti já mencionava que o processo de soltura dos animais

    silvestres era um momento crítico para o ecossistema e para outros animais que

    vivem nele, pois pode gerar problemas irreversíveis para a fauna da região. Um dos

    motivos para que haja esse cuidado no momento da soltura é pelo fato de que

    animais que foram apreendidos e tiveram um convívio prolongado com outros

    animais silvestres ou até mesmo domésticos, podem adquirir doenças e parasitos

    que não foram evolutivamente adaptados. No momento em que estes animais

    voltam para seu habitat natural, ele acabam carreando estes agentes infecciosos

    não próprios, podendo infectar animais da sua espécie ou de outras, causando a

    propagação de doenças, zoonoses e até a extinção local de determinadas espécies

    silvestres (IUCN, 2000; WANJTAL e SILVEIRA s.d.).

    Devido aos riscos desses processos de soltura, o IBAMA elaborou a Instrução

    Normativa de número 179, em 2008 para regulamentar essas atividades de

    reintrodução dos animais na natureza. Neste documento ficou claro a importância da

    realização de exames clínicos e acompanhamentos antes, durante e após a soltura

    dos animais.

    3.2.1 NURFS/CETAS UFPel - Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre

    Uma associação entre o Instituto de Biologia e a Faculdade de Veterinária,

    ambos da Universidade Federal de Pelotas, resultou na criação do NURFS, devido a

    demanda da região de atenção a Fauna Silvestre. O NURFS funciona, através de

  • 27

    um Termo de Cooperação firmado pelo IBAMA e pela UFPel, onde a Universidade

    se compromete com o recebimento e tratamento dos animais apreendidos.

    A equipe do NURFS é formada por médicos veterinários, biólogos, técnicos e

    docentes dos cursos de Biologia e Medicina Veterinária da UFPel. Na região Sul do

    Rio Grande do Sul, o NURFS é a principal referência de apoio ao trabalho realizado

    pelo IBAMA de fiscalização e apreensão de animais da fauna silvestre brasileira.

    Desde 1998, as instalações do NURFS encontram-se no Campus

    Universitário do Capão do Leão, comportando aproximadamente até mil animais,

    podendo ser répteis, aves e mamíferos.

    3.2.2 PRESERVAS/UFRGS - Núcleo de Preservação e Reabilitação de Animais

    Silvestres

    Desde 2004 o PRESERVAS vem atuando na área de clínica e cirurgia de

    animais silvestres oriundos de apreensões do IBAMA, pela Secretaria Municipal do

    Meio Ambiente, empresas de consultoria ambiental, ONGs e pela população em

    geral que realiza entregas voluntárias de animais debilitados, na cidade de Porto

    Alegre, no Rio Grande do Sul.

    O PRESERVAS trabalha em parceria com o Hospital de Clínicas Veterinárias

    da UFRGS, onde realiza todos seus procedimentos clínicos e cirúrgicos. Também

    contam com uma parceria com o Centro de Estudos Costeiros, imunológicos e

    Marinhos (CECLIMAR/UFRGS), para o atendimento de diversas espécies de

    animais marinhos do litoral norte do Rio Grande do Sul, dando suporte ao trabalho

    desenvolvido pelo Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (CERAM/UFRGS).

    Além de atuar na reabilitação e preservação de animais silvestres, o

    PRESERVAS trabalha em ações que desencadeiam a integração de acadêmicos,

    profissionais da área e a população. Eles consideram que a saúde humana, vegetal

    e animal se unem por inter-relações ecológicas, deixando claro a necessidade dessa

    multidisciplinaridade.

  • 28

    3.2.3 CETAS/IBAMA - Centro de Triagem de Animais Silvestres de Porto Alegre

    O Centro de Triagem de Animais Silvestres do IBAMA de Porto Alegre atua

    recebendo animais silvestres e exóticos principalmente da região metropolitana de

    Porto Alegre. A sua localização é rua Baronesa do Gravataí, 210, no bairro Cidade

    Baixa. Possui como atividades de rotina identificação taxonômica, avaliação clínica e

    comportamental, reabilitação, reintrodução, marcação e monitoramento.

  • 29

    4 Artigo

    Microbiota de psitaciformes silvestres e exóticos mantidos em centros de

    reabilitação e triagem

    Caroline Lunkes dos Santos, Josiara Furtado Mendes, Ângela Leitzke Cabana,

    Otávia de Almeida Martins, Renata Osório de Faria, Mário Carlos Araújo Meireles

    Submetido à Revista Brasileira de Ciência Veterinária

  • 30

    Microbiota de psitaciformes silvestres e exóticos mantidos em centros de reabilitação e

    triagem

    Microbiota of wild and exotic parrots kept in rehabilitation and screening centers

    Caroline Lunkes dos Santos1, Josiara Furtado Mendes

    2, Ângela Leitzke Cabana

    3, Otávia de

    Almeida Martins4, Renata Osório de Faria

    5, Mário Carlos Araújo Meireles

    6

    Resumo

    Aves silvestres em geral possuem um grande papel na disseminação e carreamento

    de agentes contaminantes, devido a estes animais muitas vezes serem de vida livre, o que

    inclui aves migratórias. O presente estudo teve como objetivo isolar e identificar fungos e

    bactérias patogênicas ou oportunísticas presentes em sítios anatômicos de aves silvestres e

    exóticas, estudando assim o potencial desses animais como carreadores destes patógenos. O

    estudo contou com a colaboração, do NURFS/CETAS/UFPel, do PRESERVAS/UFRGS de

    Porto Alegre e do CETAS/IBAMA também da cidade de Porto Alegre. As amostras foram

    coletadas da cavidade oral, cloaca e axila de psitacídeos das espécies Amazona aestiva,

    Myopsitta monachus; Pyrrhua; Ara ararauna; Nymphicus hollandicus e Pionus. Foram

    coletadas duas amostras de cada sítio anatômico (cloaca, cavidade oral e axila), metade das

    amostras foram encaminhadas ao laboratório de micologia e a outra metade ao de

    bacteriologia. Dos 59 animais coletados, 49,15% (n=29) dos isolados foram Aspergillus spp.,

    62,71% (n=37) de Penicillium spp., 59,32% (n=35) de Candida spp. (Figura 1), 37,28%

    (n=22) de Rhodotorula spp., 11,86% (n=7) de Malassezia spp., 6,77% (n=4) de Candida

    albicans, 3,38% (n=4) de Trichosporon spp. e 1,69% (n=1) de Geotrichum spp. Com relação

    as bactérias, foram isolados 69,49% (n=41) de Staphylococcus spp., 22,03% (n=13) de

    Streptococcus spp., 8,47% (n=5) de Corynebacterium spp. e 6,77% (n=4) de Bacillus spp.

    Concluímos que os fungos e as bactérias isoladas no estudo estão presentes na microbiota de

    diversos sítios anatômicos de psitaciformes oriundos dos Centros de Reabilitação e Triagem

    coletados.

    Palavras-chave: fungos; bactérias, animais; microbiologia

  • 31

    Summary

    In general, wild birds play an important role in the spread and transportation of contaminant

    agents because they are often free-living, which include migratory birds. The aim of the

    present study was to isolate and identify pathogenic fungi and bacteria, either opportunistic or

    for excellence, present in anatomical sites of wild and exotic birds. Therefore, study the

    potential of these animals as carriers of the isolated pathogens. The project was supported by

    NURFS/CETAS/UFPel, PRESERVAS/UFRGS from Porto Alegre and CETAS/IBAMA, also

    from the city of Porto Alegre. Samples were collected from oral cavity, cloaca and axilla of

    psitacides of Amazona aestiva, Myopsitta monachus, Pyrrhua, Ara ararauna, Nymphicus

    hollandicus and Pionus species. There were collected two samples from each anatomical site

    (cloaca, oral cavity and axilla). Half of the samples were sent to the micology laboratory and

    the other half was sent to the bacteriology. From the 59 animals used in this study, 49.15%

    (n=29) of the isolates were Aspergillus spp., 62.71% (n=37) was Penicillium spp., 59.32%

    (n=35) was Candida spp. (Figure 1), 37.28% (n=22) was Rhodotorula spp., 11.86% (n=7)

    was Malassezia spp., 6.77% (n=4) was Candida albicans, 3.38% (n=4) was Trichosporon

    spp. and 1,69% (n=1) was Geotrichum spp. Regarding to the bacteria found on this study,

    69.49% (n=41) of the isolates were Staphylococcus spp., 22.03% (n = 13) was Streptococcus

    spp., 8.47% (n = 5) was Corynebacterium spp. and 6.77% (n = 4) was Bacillus spp. We

    concluded that fungi and bacteria isolated on this study are part of the microbiota of several

    anatomical sites of psittacines from the Rehabilitation and Screening Center of IBAMA,

    UFPEL and UFRGS.

    Key words: fungi; bacteria, animals; microbiology

  • 32

    Introdução

    As espécies da família Psittacidae, entre todas as famílias de aves, são as mais

    ameaçadas, cerca de 31% destas espécies da região Neotropical, estão na lista de ameaçadas

    de extinção, segundo Collar e colaboradores (1994). No Brasil estão na lista Vermelha da

    IUCN de 2011, 16 espécies de psitacídeos, dentre elas estão o Papagaio-de-peito-roxo

    (Amazona vinacea), Papagaio-charrão (Amazona petrei) e Arara-azul-grande (Anodorhynchus

    hyacinthinus).

    A associação da perda do seu habitat natural com o mercado ilegal de animais

    silvestres crescente, formam as principais ameaças a estas espécies, juntamente com as baixas

    taxas e poucos adultos aptos para reprodução, pouca sobrevivência dos filhotes, tempo

    prolongado para atingir a maturidade sexual e longo tempo na escolha de ninhos (COLLAR e

    JUNIPER, 1992; JUNIPER e PARR, 1998; SNYDER et al., 2000; WRIGHT et al., 2001).

    As aves silvestres possuem um grande papel na disseminação e carreamento de

    agentes contaminantes, devido muitas vezes serem animais de vida livre, podendo possuir

    patógenos desconhecidos do homem e animais domésticos, o que inclui as aves migratórias

    (HUBALEK, 2004). Uma vez adquiridas no comércio legal ou ilegal, ou até mesmo em locais

    públicos, estas aves podem manter um contato direto com o homem e com animais

    domésticos, facilitando a transmissão de doenças (GOPEE et al., 2000; BAKER e SOARES,

    2002).

    Em torno de 73% das doenças infecciosas apresentam como principal reservatório,

    os animais silvestres (TAYLOR e WOOLHOUSE, 2000). Porém, ainda são poucos os relatos

    epidemiológicos relacionados ao tema, englobando o papel do homem e dos outros animais

    (ACHA e SZYFRES, 2003).

  • 33

    Estudos relacionados à microbiota de aves saudáveis são de muita importância para o

    entendimento sobre a epidemiologia das diversas doenças bacterianas que acometem aves

    silvestres de diferentes espécies (DOBBIN et al., 2005).

    Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo isolar e identificar fungos e

    bactérias patogênicas por excelência ou oportunísticas presentes em sítios anatômicos de aves

    silvestres e exóticos, assim como, o potencial desses animais como carreadores destes

    patógenos que podem ser responsáveis por causar doenças infecciosas em outros animais e no

    homem.

    Metodologia

    Locais de coleta

    O projeto contou com a colaboração, do Núcleo de Reabilitação de Fauna Silvestre

    (NURFS/CETAS/UFPel), do Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres

    (PRESERVAS/UFRGS) e do Centro de Triagem de Animais Silvestres do Instituto Brasileiro

    do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis de Porto Alegre (CETAS/IBAMA), sob

    protocolo de número 02023.006955/2016-11.

    O projeto no qual foi baseado o presente estudo, contou com a aprovação do Comitê

    de Ética em Experimentação Animal da Universidade Federal de Pelotas, sob processo de

    número 23110.004832/2015-48.

  • 34

    População coletada

    Foram utilizadas aves da ordem Psitaciforme, alojadas nos núcleos de reabilitação e

    triagem, das quais coletou-se amostras de material da cloaca, axila e mucosa oral através de

    swabs estéreis.

    Foram coletados ao total 59 psitacídeos de diferentes espécies nos Centros de

    Triagem, de acordo com a tabela 1.

    TABELA 1 NOMES POPULARES, CIENTÍFICOS E NÚMERO TOTAL DAS ESPÉCIES DE

    PSITACÍDEOS COLETADOS

    NURFS (UFPEL)

    Nome Popular Nome científico n coletado

    Papagaio Amazona aestiva 14

    Caturrita Myiopsitta monachus 9

    Tiriba Pyrrhura 2

    Arará Canindé Ara ararauna 4

    Total 29

    PRESERVAS (UFRGS)

    Nome Popular Nome Científico n coletado

    Arará Canindé Ara ararauna 2

    Caturrita Myiopsitta monachus 2

    Calopsita Nymphicus hollandicus 1

    Total 5

    CETAS (IBAMA)

    Nome Popular Nome Científico n coletado

    Papagaio Amazona aestiva 15

    Caturrrita Myiopsitta monachus 1

    Maitaca Pionus 1

    Arará Canindé Ara ararauna 8

    Total 25

  • 35

    Contenção física dos animais

    A contenção física para realizar as coletas foi baseada nas citadas por Cubas, Silva e

    Catão-Dias (2007), onde a captura em um viveiro ou gaiola é realizada com alguma toalha

    macia, segurando o animal pelo dorso com uma das mãos e o polegar e o indicador da mesma

    mão realizam a imobilização da cabeça da ave na região temporal. Devendo tomar cuidado

    para não utilizar muita força na imobilização e para deixar a região abdominal livre, além de

    tomar o cuidado de não demorar muito tempo para realização do procedimento, evitando

    assim um estresse desnecessário no animal.

    Transporte e acondicionamento

    Foram coletadas duas amostras de cada sítio anatômico, metade das amostras foram

    encaminhadas ao laboratório de micologia e a outra metade ao de bacteriologia. Os swabs

    encaminhados para o laboratório de micologia foram armazenados em tubos de ensaio estéreis

    e acondicionados em temperatura ambiente, já os que foram encaminhados ao de

    bacteriologia, foram armazenados em tubos de ensaio estéreis contendo solução fisiológica.

    As amostras que continham solução fisiológica foram acondicionadas em congeladores com

    temperatura de -6°C para manter a viabilidade da amostra e descongeladas somente algumas

    horas antes do processamento.

    Processamento das amostras

    No laboratório de Micologia, as amostras coletadas por swab estéril foram semeadas

    pela técnica de esgotamento em ágar Sabouraud Dextrose acrescido de cloranfenicol, ágar

    Sabouraud Dextrose acrescido de cloranfenicol e azeite de oliva e ágar Sabouraud Dextrose

  • 36

    acrescido de cloranfenicol e cicloheximida (Mycosel®), sempre em duplicatas, após foram

    incubadas em estufas de 25° e 35°C por até sete dias, com observação diária.

    Após esse período quando necessário, foi realizado repique, por esgotamento, para

    obtenção das culturas puras. Para caracterização de fungos filamentosos foram observadas as

    características macromorfológicas e micromorfológicas das colônias com o auxílio de chaves

    de identificação. Para as leveduras também foi utilizada a técnica de tubo germinativo em

    colônias de Candida spp. para identificação de Candida albicans (ANVISA). Na

    macromorfologia observou-se textura, topografia, coloração do verso e reverso das colônias.

    Enquanto que, na microscopia, através do exame direto com lactofenol azul de algodão, para

    colônias filamentosas, entre lâmina e lamínula, observou-se o tipo e coloração das hifas e das

    estruturas de frutificação (LACAZ et al., 1998).Quando a identificação das espécies fúngicas

    através da macro e micromorfologia não foi possível, realizou-se microcultivo entre lâminas

    para observações de estruturas completas de frutificação e ornamentação desdes gêneros

    (RIDDEL, 1950).

    O tubo germinativo trata-se de uma prova rápida, eficaz e econômica para

    identificação de Candida albicans (SANTOS et al., 2009). Foram utilizadas colônias jovens

    do isolado da levedura (24h), de onde foi retirada uma alçada e adicionada a tubos estéreis

    contendo clara de ovo. Estas amostras foram incubadas à 37°C por até três horas, sendo

    avaliados a cada uma hora, para verificar a formação do tubo germinativo. A visualização do

    mesmo se deu através de uma alíquota de suspensão colocada entre lâmina e lamínula e

    observada à microscopia com aumento de 400 vezes.

    As leveduras foram identificadas quanto às características do verso das colônias,

    bordas, consistência, coloração e textura. Para avaliação dos aspectos micromorfológicos foi

    realizado exame direto através de esfregaço dos cultivos corado pelo método de Gram com

    posterior visualização em aumento de 1000X com óleo de imersão. O azeite de oliva foi

  • 37

    acrescentado no meio de cultura pois a maioria das espécies do gênero Malassezia são

    lipodependentes, somente a M. pachydermatis é facultativa, logo quando há crescimento de

    leveduras deste gênero em meios sem lipídeos, diagnostica-se pertencer a espécie

    pachydermatis.

    No laboratório de bacteriologia as amostras foram semeadas em placas de Petri

    contendo ágar sangue a 5% (sangue ovino) e ágar MacConkey, pela técnica de esgotamento e

    incubadas a 37º C por 24-48 horas. Foi realizado exame direto de todas as colônias através da

    coloração de Gram, onde os microrganismos foram classificados em cocos, bacilos ou coco-

    bacilos e em Gram positivos ou Gram negativos, através de suas características

    micromorfológicas. Para classificação da espécie, as colônias foram submetidas a diversos

    testes de metabolismo, como produção de catalase e coagulase, oxidase e capacidade de

    hemólise.

    Análise descritiva dos dados

    Foi realizada a análise descritiva para a caracterização da amostra através de

    frequências absolutas e relativas para cada “variável”. Os dados foram apresentados em

    proporções. O programa utilizado para o cálculo foi Microsoft Excel 2013 - Pacote estatístico

    Stata versão 12.1 (StatCorp, College Station, Texas, TX).

    Resultados e Discussão

    Dos 59 animais coletados, 49,15% (n=29) dos isolados foram Aspergillus spp.,

    62,71% (n=37) de Penicillium spp., 59,32% (n=35) de Candida spp. (Figura 1), 37,28%

    (n=22) de Rhodotorula spp., 11,86% (n=7) de Malassezia spp., 6,77% (n=4) de Candida

    albicans, 3,38% (n=4) de Trichosporon spp. e 1,69% (n=1) de Geotrichum spp. Com relação

  • 38

    as bactérias, foram isolados 69,49% (n=41) de Staphylococcus spp., 22,03% (n=13) de

    Streptococcus spp., 8,47% (n=5) de Corynebacterium spp. e 6,77% (n=4) de Bacillus spp.

    FIGURA 1 IMAGEM MICROSCÓPICA DE BLASTOCNONÍDEOS CORADOS ATRAVÉS DA TÉCNICA DE COLORAÇÃO DE GRAM, CARACTERIZANDO UMA COLÔNIA DE CANDIDA SPP. ISOLADA DA CLOACA DE UMA CATURRITA

  • 39

    TABELA 2RELAÇÃO TOTAL DOS MICRORGANISMOS ENCONTRADOS NA CLOACA, AXILA E

    CAVIDADE ORAL DAS ESPÉCIES ESTUDADAS

    Sítio anatômico

    Fungos Cloaca n(%) Axila n(%) Cavidade Oral

    n(%)

    Total n (%)

    Aspergillus spp. 23 (38,98) 21 (35,59) 15 (25,42) 59 (27,96)

    Penicillium spp. 20 (33,90) 20 (33,90) 17 (28,81) 57 (27,01)

    Candida spp. 17 (28,81) 5 (8,47) 29 (49,15) 51 (24,17)

    C. albicans 2 (3,39) 1 (1,69) 1 (1,69) 4 (1,90)

    Malassezia spp. 0 (0,00) 0 (0,00) 7 (11,86) 7 (3,32)

    Rhodotorula

    spp.

    13 (22,03) 5 (8,47) 12 (20,34) 30 (14,22)

    Trichosporon

    spp.

    1 (1,69) 0 (0,00) 1 (1,69) 2 (0,95)

    Geotrichum spp. 1 (1,69) 0 (0,00) 0 (0,00) 1 (0,47)

    Total 211

    Bactérias

    Staphylococcus

    spp.

    17 (28,81) 4 (6,77) 6 (45,76) 27 (32,53)

    Streptococcus

    spp.

    7 (11,86) 4 (6,77) 6 (10,16) 17 (20,48)

    Bacillus spp. 2 (3,38) 0 (0,00) 2 (3,38) 4 (4,81)

    Corynebacterium

    spp.

    4 (6,77) 0 (0,00) 1 (1,69) 5 (6,02)

    Total 83

    O gênero Aspergillus é conhecido por ser um fungo anemófilo, que está presente no

    ambiente, no ar, em vegetações, na água e nos ambientes laboratoriais (MEIRELES e

    NASCENTE, 2009). Em um estudo realizado no CRAM, na cidade de Rio Grande, no Rio

    Grande do Sul, durante um período de 81 dias foram realizadas coletas de amostras do

    ambiente, para avaliar a qualidade do ar. Neste estudo foram isolados ao total 47 amostras

    (33,3%) de fungos do gênero Aspergillus (XAVIER et al, 2008).O Aspergillus spp. trata-se de

  • 40

    um fungo filamentoso e quando inalado por animais imunodeprimidos, pode gerar graves

    lesões pulmonares e sistêmicas (MORRIS, 2005). No presente estudo, dos 59 animais

    coletados, 29 deles (47,15%) apresentaram isolamento, independente do sítio anatômico, de

    Aspergillus spp. Estudos relatam que a doença causada pelo gênero Aspergillus (aspergilose)

    é considerada a maior causa de mortalidade em pinguins em cativeiro (KHAN et al., 1977;

    FLACH, STEVENSON e HENDERSON, 1990; PARK e MEHRAD, 2009). Anualmente o

    CRAM recebe centenas de pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) para

    reabilitação (RUOPPOLO et al., 2004).

    No presente estudo, o fungo foi isolado dos três sítios anatômicos coletados (Tabela

    2). A presença do agente na cloaca e na axila pode se dar de forma transitória, por ser um

    fungo anemófilo, já a presença na cavidade oral nos mostra que este fungo pode estar presente

    de forma oportunística. Cubas, Godoy e Catão-Dias (2007) relatam que as infecções

    geralmente atingem o trato respiratório inferior, principalmente pulmões e brônquios, porém

    pode causar também infecções em locais que servem como porta de entrada para o agente,

    como a cavidade oral, trato gastrointestinal, olhos e outros.

    No presente estudo, dos 59 animais coletados, 39 deles apresentaram crescimento de

    leveduras do gênero Candida, sendo 4 de Candida albicans e 35 de não albicans. Estudos

    revelam que espécies variadas do gênero Candida fazem parte da microbiota do trato

    gastrointestinal de aves silvestres, em casos de imunodepressão, podem gerar sinais clínicos

    característicos como: lesões esbranquiçadas na cavidade oral, ao redor dos olhos e distúrbios

    gastrointestinais (OGLESBEE, 1998; CAFARCHIA et al., 2006; FULLERINGER et al.,

    2006; CAFARCHIA et al., 2008). No presente trabalho, nenhuma das aves que apresentou

    isolamento de Candida, estavam com sinais clínicos compatíveis com os citados pela

    literatura. Entretanto, algumas apresentaram sinais clínicos sistêmicos, como prostração,

    diarréia, podendo ter como causa alguns outros fatores, mas podem ser agravados pela

  • 41

    presença e multiplicação da Candida. Em aves é o principal agente envolvido na candidíase,

    pois faz parte da microbiota entérica de aves saudáveis em pouca quantidade. Quando há caso

    de desequilíbrio populacional, ocorrido devido a imunodepressão, estresse, uso contínuo de

    antibióticos ou alterações do pH intestinal dos animais, a doença se manifesta (CUBAS e

    GODOY, 2008; RUPLEY, 1999).

    Das espécies de Candida, a única identificada no estudo foi a C. albicans (Figura 2),

    em quatro aves, sendo dois isolados da cloaca, um na axila e um na cavidade oral, esta

    levedura é relatada como a mais isolada em infecções fúngicas em pacientes humanos

    imunocomprometidos (ALVES et al., 2002), isto nos mostra a importância que estes animais

    apresentam como risco em saúde pública, pois eles são possíveis carreadores destes agentes.

    A

    D C

    B

    FIGURA 2 IMAGENS MICROSCÓPICAS DA PROVA DE TUBO GERMINATIVO (A,B E C) CARACTERIZANDO CANDIDA ALBICANS, ISOLADA DA CLOACA DE UMA ARARA E FORMAÇÃO DE PSEUDO-HIFAS (D) EM UM

    AUMENTO DE 4000X

  • 42

    Outra levedura importante na clínica veterinária isolada neste estudo, foi a

    Malassezia spp. (Figura 3), o número de isolados desta levedura foi relativamente alto, de sete

    animais, todos os isolados foram da cavidade oral. O isolamento desta levedura em aves já foi

    relatado anteriormente, porém, não especificam quais os locais anatômicos (JEPSON, 2010;

    MAZZEI, 2016). A Malassezia spp. pertence a microbiota natural de aves silvestres,

    raramente causando lesões nestes animais, o que pode ocorrer devido a anatomia da pele e

    alta temperatura corporal, que segundo Jepson (2010) pode exceder 40,5°C.

    FIGURA 3 IMAGEM MICROSCÓPICA EM AUMENTO DE 1000X DE BLASTOCONÍDEOS CORADOS COM A TÉCNICA DE COLORAÇÃO DE GRAM, CARACTERIZANDO A PRESENÇA DE MALASSEZIA SPP. ISOLADA DA CAVIDADE ORAL DE UMA

    CATURRITA ORIUNDA DO NURFS UFPEL

    Penicillium spp. trata-se de um fungo filamentoso com sua apresentação ambiental

    semelhante ao do Aspergillus spp., pois encontra-se presente em todo o ambiente, inclusive

    hospitalar e laboratorial (SIDRIM et al., 2004). O gênero Penicillium foi isolado de 37

    (62,71%) dos 59 animais coletados, porém por se tratar de um fungo presente no ambiente, o

    seu crescimento nas amostras foi tratado como tal, um fungo anemófilo que pode estar de

  • 43

    forma transitória nos animais ou até ser contaminante das amostras durante as coletas ou

    durante o processamento.

    Entre os 59 animais coletados, o gênero Rhodotorula apresentou crescimento em 22

    aves, independente do sítio anatômico. Com relação aos 211 isolados fúngicos, ela apareceu

    13 vezes (22,03%) na cloaca, cinco aparições na axila (8,47%) e 12 vezes na cavidade oral

    (20,34%). Estudos relatam que esta levedura é comumente isolada da cloaca e de excretas de

    aves (GALLO, CABELI e VIDOTTO, 1989; CAFARCHIA et al., 2006; MENDES et., 2014),

    logo, a presença dela nos três sítios anatômicos coletados não trouxe nenhum resultado

    anormal. A espécie R. mucilaginosa já foi isolada de vacas com mastite em alguns países,

    como Brasil, Japão, Polônia e Itália (KRZYZANOWSKI, SIELICKA, 1996; MORETTI,

    PASQUALI, MENCARONI, 1998; KRUKOWSKI, TIETZE, MAJESWSKI, 2000;

    SPANAMBERG et al., 2008). Em humanos, ela tem sido descrita como patógeno humano

    emergente, afetando pacientes imunocomprometidos, a espécie mais relatada é R.

    mucilaginosa como a mais frequente causa de infecções (KIRAZ, GULBAS e AKGUN,

    2000).

    O gênero Trichosporon é relatado em pacientes humanos com imunodepressão e

    também em animais, gerando lesões de pelo, causando a conhecida doença “piedra branca”.

    (MEIRELES e NASCENTE, 2009; BAKA et al., 2013; MONTOYA et al., 2015). Espécies

    do gênero Trichosporon também são relatas como sendo a segunda causa mais comum de

    infecções por leveduras, após o gênero Candida, em pacientes imunodeprimidos e com

    doenças hematológicas (KREMERY et al., 1999; FLEMMING et al., 2002; WALSH et al.,

    2004). Das 59 amostras de psitacídeos, quatro (3,38%) foram de isolados da levedura

    Trichosporon e um animal (1,69%) apresentou crescimento de Geotrichum spp.

    Estudos recentes demonstram que as leveduras dos gêneros Trichosporon e

    Geotrichum tem sido isoladas de excretas de aves silvestres (MARINHO et al., 2010;

  • 44

    MENDES et al., 2014). Todos os animais do presente estudo são mantidos em cativeiro e

    podem estar sofrendo um processo de re-contaminação diária, pois estes animais permanecem

    no ambiente contaminado pelas fezes que podem apresentar os agentes isolados, causando

    doenças em casos de imunodepressão das aves.

    Foram isoladas no presente estudo, somente bactérias Gram-positivas, o que nos traz

    a informação de que todos os animais eram saudáveis. Os gêneros isolados foram

    Staphylococcus, Streptococcus, os quais apresentaram crescimento nos três sítios anatômicos

    coletados, Corynebacterium que apareceu somente na cloaca e na cavidade oral e Bacillus,

    gênero que foi considerado como contaminante das coletas, por se tratar de uma bactéria

    presente no ambiente.

    A literatura cita que, todas as bactérias isoladas no estudo fazem parte da microbiota

    natural das aves, podendo causar doenças somente em casos específicos, como em

    imunodepressões e uso prolongado de antibióticos, de forma oportunista. (FLAMMER e

    DREWES, 1988; STYLES e FLAMMER, 1991; HOEFER, 1997).

    Conclusão

    Os fungos Candida spp., Candida albicans, Malassezia spp., Rhodotorula spp.,

    Trichosporon spp. e Geotrichum spp., juntamente com as bactérias dos gêneros

    Corynebacterium, Staphylococcus e Streptococcus estão presentes na microbiota de diversos

    sítios anatômicos de psitaciformes oriundos dos Centros de Reabilitação e Triagem do

    IBAMA, da UFPEL e da UFRGS.

    Ao final do trabalho, podemos concluir que aves silvestres são potenciais carreadores

    de fungos e bactérias patogênicos ao homem e a outros animais domésticos e silvestres.

  • 45

    Referências

    ACHA, P.N.; SZYFRES, B. Zoonosis y enfermidades transmisibles comunes al hombre y

    a los animales. 3. ed. Washington: Publicación Científica OPS/OMS, 2003. p. 580.

    ALVES, S. H. et al. Different culture media applied to the study of Cryptococcus

    neoformans susceptibility to ampho-ericin B and fluconazole. Braz. J. Microbiol. v. 33, n.

    1, p. 27-30, 2002.

    BAKA, S.; TSOUMA, I.; KOUSKOUNI, E. Fatal lower limb infection by Trichosporon

    asahii in an immunocompetent patient. Acta Dermatovenerol Croat, v. 21, n. 4, p. 241-4,

    Dec 2013. ISSN 1847-6538.

    BAKER, L.R., SORAE, P.S. Re-Introduction New: Special Primates In: Newlestter of

    reintroduction specialist group of IUCN/SSC, Abu Dhabi, UAE. 2002. p.60.

    BRITTINGHAM M.C., TEMPLE S.A. & DUNCAN R.M. A survey of the prevalence of

    selected bacteria in wild birds. J. Wildl. Dis. 24:299-307, 1988.

    BRASIL. Detecção e identificação dos Fungos de Importância Médica. Módulo VII.

    Disponível em <

    http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/microbiologia/mod_7_2004.pdf>. Acesso em: 14

    dez. 2016.

    CAFARCHIA, C.; ROMITO, D.; COCCIOLI, C.; CAMARDA, A.; OTRANTO, D.

    Phospholipase activity of yeasts from wild birds and possible implications for human

    disease. Medical Mycology, v. 46, p. 1-6, 2008.

    CAFARCHIA C., CAMARADA A., ROMITO D., CAMPOLO M., QUAGLIA N.C.,

    TULLIO D. OTRANTO D. Occurence of yeasts in cloacae of migratory birds.

    Mycopathologia; v.161,p. 229-234, 2006.

    http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/microbiologia/mod_7_2004.pdf

  • 46

    COLLAR, N.J.; CROSBY, M.J.; STATTERSFIELD, A.J. Birds to watch. The world list

    of threatened birds. Washington, DC: BirdLife International, 1994.

    CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATAO-DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens –

    medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2007.

    D’ALOIA M.A., BAILEY T.A., SAMOUR J.H., NALDO J. & HOWLETT C. Bacterial

    flora of captive houbara (Chlamydotis undulata), kori (Ardeotis kori) and rufous-crested

    (Eupodotis ruficrista) bustards. Avian Pathol. 25:459-468, 1996.

    DOBBIN G., HARIBARON H., DAOUST P., HARIBARON S., HEANEY S., COLES

    M., PRICE L. & MUCKLE C.A. Bacterial flora of free-living Double-crested cormorant

    (Phalacrocorax auritus) chicks on Prince Edward Island, Canada, with reference to

    enteric bacteria and antibiotic resistance. Comp. Immunol. Microbiol. Infect. Dis. 28:71-

    82, 2005.

    FLACH, E.J, STEVENSON, M.F, HENDERSON, G.M. Aspergillosis in gentoo penguins

    (Pygoscelis papua) at Edinburgh Zoo, 1964 to 1988. Veterinary Record. 1990;126:81-85.

    FLAMMER, K. & DREWES, L.A. Species-related differences in the incidence of Gram-

    negative bacteria isolated from the cloaca of clinically normal psittacine birds. Avian Dis.,

    v.32, p.79-83, 1988.

    FLEMMING, R.V.; WALSH, T.J.; ANAISSIE, E.J. Emerging and less common fungal

    pathogens. Infect. Dis. Clin. N. Am. v.16, p.915-933, 2002.

    FULLERINGER, S. L.; SEGUIN, D.; WARIN, S.; BEZILLE, A.; DESTERQUE, C.;

    ARNE, P.; CHERMETTE, R.; BRETAGNE, S.; GUILLOT, J. Evolution of the

    environmental contamination by thermophilic fungi in a turkey confinement house in

    France. Poultry Science, v. 85, p. 1875–1880, 2006.

  • 47

    GALLO M.G., CABELI P., VIDOTTO V. Sulla presenza di lieviti patogeni nelle feci di

    Colombo terrariolo nella citta di Torino. Parassitologia, v.31, p. 207-212, 1989.

    GODOY, S. N., CUBAS, Z. S. Principais doenças bacterianas e fúngicas em

    Psittaciformes-revisao. Clin. Vet. v. 81, p. 88-98, 2009.

    GOPEE, N. V.; ADESIYUN, A. A.; CAESAR, K. Retrospective and Longitudinal Study

    of Salmonellosis in Captive Wildlife in Trinidad. Journal of Wildlife Diseases, v. 36(2)

    p.284- 293, 2000.

    HOEFER, H.L. Diseases of the gastrointestinal tract. In: ALTMAN, R.B.; CLUBB, S.L.;

    DORESTEIN, G.M.; QUESENBERY, K. (Eds.). Avian medicine and surgery.

    Philadelphia: Saunders, 1997. p.419-453.

    HUBALEK, Z. An annotated checklist of pathogenic microorganisms associated with

    migratory birds. Journal of Wildlife Diseases. v 40 no 4, 2004.Int. Conf. Emerg. Infect.

    Dis., Atlanta, USA, Board 122, 2000.

    JEPSON, L. Clínica de Animais Exóticos – Referência rápida. Rio de Janeiro: Elsevier,

    2010.

    JUNIPER, T.; PARR, M. Parrots, a guide to parrots of the world. New Haven: Yale

    University Press, 1998.

    KHAN Z, PAL M, PALIWAL DK, DAMODARAN VN. Aspergillosis in imported

    penguins. Sabouraudia. 1977;v. 15:p. 43-45.

    KREMERY, V.J.; MATEIKA, F.; KUNOVA, A.; SPANIK, S.; GIARFAS, J; SYCOVA,

    Z.; TRUPL, J. Hematogeneous Trichosporonosis in cancer patients: report of 12 cases

    including 5 during prophylaxis with itraconazol. Suport Care Cancer. v.7, p.39-43, 1999.

  • 48

    KRUKOWSKI, H.; TIETZE, M.; MAJESWSKI, T. Survey of yeast mastitis in dairy

    herds of small-type farms in the Lublin region, Poland. Mycopathologia, v. 150, p. 57,

    2000.

    KRZYZANOWSKI, J.; SIELICKA, B. Characteristics of yeasts isolated from clinical

    cases of mastitis in cows. Annales Universitatis Mariae Curie Skodowska Sectio DD,

    Medicina Veterinaria, v.51, p.59-64, 1996.

    KIRAZ, N.; GULBAS, Z.; AKGUM, Y. Case report: Rhodotorula rubra fungemia due to

    use of indwelling venous catheters. Mycoses; 43:209-10, 2000.

    LACAZ, C.S.; PORTO, E.; HEINS-VACCARI, E.M.; MELO, N.T. Guia para

    identificação de fungos, actinomicetos e algas de interesse médico. Sarvier, SP, 497 p.

    1998.

    LIMA-RIBEIRO, A.M.C.; SANTOS, A.L.Q.; GOMES, D.O.; RAMOS, G.B.;

    RODRIGUES, L.L.; NASCIMENTO, L.R.; BOMBONATO, N.G. Malassezia spp. no

    olho de periquitão-maracanã (Aratinga leucophthalma, stattius Muller, 1776). 39°

    CONBRAVET, 2012.

    MARINHO, M.; TÁPARO, C.V.; SILVA, B.G.; TENCATE, L.N.; PERRI, S.H.V.

    Microbiota fúngica de passareiformes de cativeiros da região noroeste do estado de São

    Paulo.Vet. e Zootec. 2010 jun; 17(2): p. 288-292.

    MAZZEI, Cibele Rossi Nahas. Malasseziose Ototegumentar. In: Tratado de medicina

    externa: dermatologia veterinária. Interbook – São Caetano do Sul, SP, 2016, p. 267-279.

    MEIRELES, C.A.; NASCENTE, P.S.; Micologia Veterinaria. Pelotas: Ed. Universitária

    UFPEL, 2009. 456p.

    MENDES, J.F.; ALBANO, A.P.N.; COIMBRA, M.A.A.; FERREIRA, G.F.;

    GONÇALVES, C.L.; NASCENTE, P.S.; MELLO, J.R.B. Fungi Isolated from the excreta

  • 49

    of wild birds in screening centers in Pelotas, RS, Brazil. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo,

    SP, 2014.

    MONTOYA, A. M. et al. Genotyping, extracellular compounds, and antifungal

    susceptibility testing of Trichosporon asahii isolated from Mexican patients. Med Mycol,

    May 2015.

    MORETTI, A.; PASQUALI, P.;MENCARONI, G. Relationship between cell counts in

    bovine milk and the presence of mastitis pathogens (yeasts and bacteria). Journal of

    Veterinary Medicine, v. 45, p. 129-132, 1998.

    MORRIS, D. O. Malassezia pachydermatis carriage in dog owners. Emerging Infectious

    Diseases, v. 11, n. 1, p. 83-88, 2005.

    OGLESBEE, B.L. Distúrbios dos animais de estimação aviários e exóticos. In:

    BICHARD,S.J.; SHERDING, R.G. Manual Saunders: clínica de pequenos animais. Sao

    Paulo: Roca, 1998. p.1397-1404.

    PARK S, MEHRAD B. Innate immunity to Aspergillus species. Clinical Microbiology

    Reviews. 2009;22:535551.

    RIDDEL, R.W. Permanent stained mycological preparation obtained by slide culture.

    Mycologia. v. 42, p.265-270, 1950.

    RUOPPOLO V, ADORNES A, NASCIMENTO A, SILVA-FILHO R. Reabilitação de

    pingüins afetados por petróleo. Clín. Vet. 2004;51:78-83.

    SANTOS, L. L; FERREIRA, F. M; LOPES, S. F; CONDAS, L. A; MURO, M. D;

    LUGARINI, C. Pesquisa de Cryptococcus neoformans e Candida spp. em excretas de

  • 50

    psitacídeos e passeriformes cativos. Arq. Ciênc. Vet. Zool. Unipar, Umuarama, v. 12, n. 1,

    p. 5-9, jan./jun. 2009.

    SPANAMBERG, A.; WÜNDER JR, E.; PEREIRA, D.; ARGENTA, J.; SANCHES, E.;

    VALENTE, P.; FERREIRO, L. Diversity of yeasts from bovine mastitis in Southern

    Brazil. Revista Iberoamericana de Micologia. v. 25, p. 154-156, 2008.

    SIDRIM J.J., PAIXÃO G.C., BRILHANTE R.S., ROCHA M.F. Principais fungos

    contaminantes em rotina de micologia médica. In: Micologia Médica à luz de 61 autores

    contemporâneos. Sidrim JJ, Rocha MF. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2004:

    318-326.

    SNYDER N, UGOWAN P, GILARDI J, GRAJAL A. Parrots. Status survey and

    conservation action plan 2000-2004. Cambridge, UK; IUCN, 2000. 180p.

    STYLES, D.K. & FLAMMER, K. Congo Red Binding of Escherichia coli isolated from

    the cloacae of psittacine birds. Avian Dis., v.35, p.46-48, 1991.

    TAYLOR, L.H., WOOLHOUSE, M.E.J. Zoonoses and the risk of disease emergence.

    Proc.

    WALSH, T.J.; GROLL, A.; HIEMENS, J.; GLEMING, R.; ROILIDES, E.; ANAISSIE,

    E. Infection due to emerging and uncommon medically important fungal pathogens.

    Clinical Microbiology and Infection, v.10, n.1, p. 48-66, 2004.

    WRIGHT, T.F.; TOFT, C.A.; ENKERLIN-HOEFLICH, E.; GONZALEZ-ELIZONDO,

    J.; ALBORNOZ, M.; RODRÍGUEZ-FERRARO, A.; ROJAS-SUÁREZ, F.; SANZ, V.;

    TRUJILLO, A.; BEISSINGER, S.R.; BEROVIDES, A.V.; GÁLVEZ, A.X.; BRICE,

    A.T.; JOYNER, K.; EBERHARD, J.; GILARDI, J.; KOENIG, S.E.; STOLESON, S.;

    MARTUSCELLI, P.; MEYERS, J.M.; KATHERINE, R.; RODRÍGUEZ, A.M.; SOSA-

    ASANZA, A.C.; VILELLA, F.J.; WILEY, J.W. Nest poaching in parrots. Conserv Biol,

    v.15, p.710-720, 2001.

  • 51

    XAVIER, M.O.; MADIRD, I.M.; CLEFF, M.B.; CABANA, A.L.; SILVA FILHO, R.P.;

    MEIRELES, M.C.A. Contaminação do ar por Aspergillus em abiente de reabilitação de

    animais marinhos. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci, São Paulo, v.45, n.3, p.174-179, 2008.

  • 53

    5 Considerações Finais

    Muitos dos agentes isolados são considerados patogênicos ao homem e a

    outros animais domésticos. O isolamento destes gêneros, das diversas espécies de

    psitacídeos, levanta o alerta sobre estes animais serem carreadores de doenças no

    meio em que vivem, considerando que estas aves são comumente utilizadas como

    pets exóticos. Há também o risco de contribuírem como carreadores para outros

    animais silvestres quando reabilitados no seu habitat.

    Conforme seu habitat vai sendo devastado, estas espécies se tornam cada

    dia mais propensas ao tráfico ilegal de animais silvestres. Todos estes fatores

    podem reduzir a imunidade destes animais e fazer com que, além de carrearem os

    agentes, desenvolvam as doenças.

    Acredita-se que a quantidade de gêneros isolados na pesquisa sirva como

    alerta para que trabalhos sobre a microbiota fúngica e bacteriana, destes animais

    oriundos de centros de reabilitação, se tornem cada vez mais comuns no me