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Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental Mestrado em Engenharia Ambiental Erik Sartori Jeunon Gontijo INTERAÇÃO ENTRE SUBSTÂNCIAS HÚMICAS AQUÁTICAS E ELEMENTOS METÁLICOS NA PORÇÃO LESTE DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO – MGDissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título: “Mestre em Engenharia Ambiental – Área de Concentração: Meio Ambiente” Orientador: Prof. Dr. Hubert Mathias Peter Roeser Ouro Preto, MG 2012

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Universidade Federal de Ouro Preto

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental Mestrado em Engenharia Ambiental

Erik Sartori Jeunon Gontijo

“INTERAÇÃO ENTRE SUBSTÂNCIAS HÚMICAS AQUÁTICAS E ELEMENTOS METÁLICOS NA PORÇÃO LESTE DO

QUADRILÁTERO FERRÍFERO – MG”

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade

Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do título: “Mestre em

Engenharia Ambiental – Área de Concentração:

Meio Ambiente”

Orientador: Prof. Dr. Hubert Mathias Peter Roeser

Ouro Preto, MG 2012

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Catalogação: [email protected]

G641i Gontijo, Erik Sartori Jeunon. Interação entre substâncias húmicas aquáticas e elementos metálicos na

porção leste do Quadrilátero Ferrífero - MG [manuscrito] / Erik Sartori Jeunon Gontijo – 2012.

xix, 92f. : il. color.; grafs.; tabs.; mapas. Orientador: Prof. Dr. Hubert Mathias Peter Roeser.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental.

Área de concentração: Meio Ambiente.

1. Humus - Teses. 2. Redes neurais (Computação) - Rede neural de Kohonen - Teses. 3. Quadrilátero Ferrífero (MG) - Teses. 4. Evaporador rotativo a vácuo - Teses. 5. Resina DAX-8 - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título.

CDU: 631.417:551(815.1)

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Dedico esse trabalho a minha mãe, que é um exemplo

de força e superação e que esteve comigo em todos os

momentos da minha vida, sempre com carinho e

compreensão. Também dedico a minha irmã Karen, que

é uma flor a desabrochar para vida e aos amigos Ângelo

e Suzana pela serenidade e companheirismo.

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Agradecimentos

Primeiramente gostaria de agradecer ao professor Hubert, que além de ser um

excelente orientador se tornou um grande amigo. Nossa relação sempre foi mais do que

acadêmica ou profissional. Muito obrigado pela amizade, companheirismo, pelo

conhecimento repassado e por acreditar em meu potencial. Vielen Dank mein Freund!

Agradeço as alunas de graduação Andréia, Francysmary, Mariana e a intercambista

IAESTE Marina, que foram amigas e estudantes dedicadas. Como bolsistas deram uma

excelente contribuição a este trabalho. Thanks a lot Marina for the “English practices” in

our lab!

Obrigado professor André Rosa (UNESP/Sorocaba) pela oportunidade de estágio

em Sorocaba e pelas valiosas informações sobre métodos de extração de substâncias

húmicas aquáticas.

Muito obrigado Bruno (doutorando da UNESP/Sorocaba) por explicar-me sobre os

métodos de extração e estudo das SHA na UNESP. Foi um grande companheiro, sempre

paciente e dedicado. Meus agradecimentos são também por ter me abrigado em sua casa

durante minha estadia em Sorocaba.

Agradecimentos especiais ao Arnaldo, Marcão, Hebert e professor Rispoli pela

ajuda e indispensável contribuição no improviso de peças para os equipamentos utilizados

no LSA.

Agradeço aos amigos Celso e Adriana do LGqA: pela oportunidade de acompanhar

a análise de amostras no ICP-OES e pela paciência ao auxiliar-me em algumas análises.

Celso, você poderá contar comigo sempre que precisar!

Obrigado professora Gilmare por ajudar-me com as análises exploratórias

multivariadas conduzidas no Matlab. Sua contribuição foi de vital importância!

I gratefully acknowledge the help of Professor Kurt Friese and UFZ (Magdeburg,

Germany) to perform DOC and metals analysis. I am pretty sure that they were essential

for my research!

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Muito obrigado a UFF, especialmente a Ilene, pelo apoio nas análises de COD em

Niterói.

Agradeço a FAPEMIG e a Fundação Gorceix pela ajuda financeira na compra de

equipamentos e materiais para uso em laboratório, imprescindíveis ao andamento da

pesquisa.

Agradecimentos especiais a UFOP, a CAPES, ao CNPq e ao PROAMB pelo

suporte financeiro, pela bolsa concedida e a oportunidade de ter desenvolvido esse

trabalho.

Enfim, o meu muito obrigado a todos que contribuíram de alguma forma para o

andamento e execução desse trabalho, especialmente a Deus, que me fornece forças para

seguir adiante.

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“I do not know what I may seem to the world, but as to

myself, I seem to have been only like a boy playing on the

seashore and diverting myself in now and then finding a

smoother pebble or a prettier shell than ordinary, whilst the

great ocean of truth lay all undiscovered before me”.

Isaac Newton

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Resumo

Substâncias húmicas (SH) são compostos que perfazem cerca de metade do

carbono orgânico dissolvido (COD) em águas naturais. Elas possuem elevada massa

molecular e estrutura química complexa, sendo originadas da degradação da matéria

orgânica. Além disso, possuem grande importância ambiental por interferirem na

mobilidade e toxidade de metais e outras substâncias liberadas pelo homem. Neste

trabalho, substâncias húmicas aquáticas (SHA) foram extraídas de corpos hídricos da

porção leste do Quadrilátero Ferrífero/MG (QF), onde também foram determinadas as

concentrações de elementos metálicos e suas relações com as condições litológicas

regionais. Amostras de água foram coletadas durante a estação seca e a estação chuvosa.

Os parâmetros físico-químicos T, pH, ORP, condutividade, resistividade e turbidez foram

determinados in situ. Já os parâmetros alcalinidade, sulfatos, cloretos, COD, elementos

metálicos maiores Al, Na, Ca, Fe, K, Mg, Mn e Ti; e traço As, Ba, Be, Cd, Co, Cr, Cu, Li,

Mo, Ni, P, Pb, S, Sc, Sr, V, Y e Zn foram determinados em laboratório. A média dos

valores de COD nas águas coletadas ficou em 2,19 mg/L, sendo que as maiores

concentrações foram detectadas nas serras do Caraça e do Itatiaia. As SH foram extraídas

das amostras por meio de resinas DAX-8 (que têm a capacidade de adsorver o material

húmico em pH ácido) e por evaporação rotativa (que consiste em baixar o ponto de

ebulição da água para concentrar o COD). Nos extratos também foram determinados

elementos metálicos maiores e traço, além do COD. A fim de entender as dependências

entre os compostos húmicos e íons metálicos na área de estudo, todos os dados obtidos

foram analisados por meio de uma técnica exploratória multivariada (rede neural de

Kohonen). Observou-se que as SH se apresentaram relacionadas com os metais Al, K, Ba,

Ca, Cu, Fe, Mn, Sr, Ti e Zn considerando as amostras coletadas. Além disso, foi detectada

influência litológica na composição das águas. Constatou-se que o solo pode influenciar na

mobilidade de materiais orgânicos, visto que as areias oriundas do intemperismo do

quartzito tem menor capacidade de retenção de matéria orgânica. Assim, regiões como as

serras do Caraça e do Itatiaia possuíram maior concentração de SH se comparadas com

áreas de diferentes litotipos. O baixo teor de argilas nas cabeceiras dos rios dessas áreas

facilitaria a liberação de compostos húmicos para as águas. Esse processo é mais ativo em

épocas chuvosas, fazendo com que as maiores concentrações de COD fossem observadas

no período úmido ou na transição do período chuvoso para o seco. Nos demais pontos

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analisados com litologias diferentes a maior concentração de carbono se deu na época de

transição da estação seca para a estação chuvosa e a menor se deu na estação chuvosa.

Considerando os diferentes métodos de isolamento de material húmico, a evaporação

rotativa mostrou-se promissora ao poder extrair SH com a possibilidade de minimização de

alterações estruturais. Entretanto, ela é uma técnica demorada, sendo inconveniente para

grandes volumes. As amostras extraídas com resinas DAX-8 apresentaram uma retenção

média de 46,80% de COD nas colunas cromatográficas.

Palavras chave: substâncias húmicas aquáticas, rede neural de Kohonen, elementos

metálicos, Quadrilátero Ferrífero, evaporação rotativa, resina DAX-8

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Abstract

Humic substances (HS) are compounds that make up about a half of the dissolved

organic carbon (DOC) in natural waters. They are originated from the degradation of

organic matter and have high molecular weight and complex chemical structure. They also

have great environmental importance for interfering in the mobility and toxicity of metals

and other substances released by man. In this work, aquatic humic substances (AHS) were

extracted from water bodies of the eastern portion of Quadrilátero Ferrífero (MG/Brazil).

Furthermore, concentrations of metallic elements and their relationship with the regional

lithological conditions were determined. Water samples were collected during the dry and

rainy season. The physico-chemical parameters T, pH, ORP, conductivity, resistivity and

turbidity were determined in situ; alkalinity, sulphates, chlorides, DOC, major metal

elements Al, Na, Ca, Fe, K, Mg, Mn and Ti; and trace As, Ba, Be, Cd, Co, Cr, Cu, Li, Mo,

Ni, P, Pb, S, Sc, Sr, V, Y and Zn were determined in laboratory. The average of the values

of DOC in the samples was 2.19 mg/L and the highest values were detected in the

mountains of Caraça and Itatiaia. The HS were extracted from samples through DAX-8

resins (that have the ability to adsorb humic material at acidic pH) and by rotary

evaporation (that consist in decrease the boiling point of water in order to concentrate the

DOC). The DOC and the major and trace metals were also determined in the extracts. In

order to understand the dependencies between the humic compounds and metal ions in

water bodies in the study area, the data were analysed by an exploratory multivariate

analysis (Kohonen neural network). It was observed a relationship between HS and the

metals Al, K, Ba, Ca, Cu, Fe, Mn, Sr, Ti and Zn considering the samples collected. It was

detected a lithology influence in the composition of waters. It was found that the soil can

influence the mobility of organic materials, whereas the sand coming from the weathering

of the quartzite has lower ability to retain organic matter. Hence, regions like the

mountains of Itatiaia and Caraça contained higher concentrations of HS compared with

areas of different types of rocks. The lower presence of clays in the headwaters of these

areas would force a greater release of humic compounds to water. This process is most

active during rainy season. Consequently the highest levels of DOC were observed during

the wet season or in the transition from rainy to dry season. In other points analysed with

different lithology the highest concentration of carbon occurred in the period of transition

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from dry to rainy season and the lowest occurred in the rainy season. Considering the

different methods of isolating humic material, the evaporation under vacuum proved to be

promising to extracted HS with the possibility of minimizing structural changes. However,

it is a time consuming technique and it is inconvenient for large volumes. The samples

extracted by DAX-8 resin had an average retention of 46.80% of DOC in the

chromatographic columns.

Keywords: aquatic humic substances, Kohonen neural network, metallic elements,

Quadrilátero Ferrífero, rotary evaporation, DAX-8 resin

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Lista de Figuras

Figura 2-1 – Esquema: Definição operacional de substâncias húmicas. ............................... 5

Figura 2-2 – Modelo estrutural proposto para substâncias húmicas. .................................... 7

Figura 2-3 – Mecanismos que levam a formação de substâncias húmicas. .......................... 9

Figura 2-4 – Possibilidade de aplicação de substâncias húmicas tendo em vista a

proteção/recuperação ambiental. ......................................................................................... 14

Figura 2-5 – Exemplos de tecnologias que podem ser potencializadas pelo emprego de

substâncias húmicas. ............................................................................................................ 15

Figura 2-6 – Exemplo de barreira reativa permeável. ......................................................... 16

Figura 2-7 – Fontes de Fe(II) em lagoa ácida. ..................................................................... 21

Figura 2-8 - Papel das substâncias húmicas na complexação do P. .................................... 26

Figura 2-9 – Efeito do pH na ionização e solubilidade na adsorção de ácidos e bases

orgânicos adsorvíveis (SH). ................................................................................................. 29

Figura 2-10 – Exemplo de espectro de RMN – 13C de SHA extraídas de amostras de água

de um rio no Estado de SP, onde (a) é resíduo de resina XAD-8 utilizada na extração dos

compostos húmicos. ............................................................................................................ 34

Figura 2-11 - Fatores a serem considerados na caracterização de espécies húmicas e

metais.. ................................................................................................................................. 35

Figura 2-12 – Representação da arquitetura típica da rede neural de Kohonen. ................. 38

Figura 2-13 – Localização aproximada do QF em Minas Gerais (Brasil)........................... 39

Figura 2-14 – Mapa geológico-estrutural do QF ................................................................. 41

Figura 3-1 – Vista do maciço do Caraça. ............................................................................ 45

Figura 3-2 - Monocultura de eucaliptos no sopé da Serra do Caraça. ................................. 47

Figura 3-3 – a) Cascatinha, situada no córrego Cascata na área do parque do Caraça, com

suas águas de coloração escura b) devido à presença de compostos húmicos. ................... 49

Figura 3-4 – Mapa de localização da área estudada. ........................................................... 50

Figura 3-5 – a) Coloração escura da água em um ponto ao sul da serra do Caraça (ponto 1),

provavelmente devido ao Fe e a compostos húmicos. b) Presença de concreção laterítica. 51

Figura 3-6 – a) Nível d’água e vegetação (ponto 1) em outubro/2010, b) março/2011 e c)

agosto/2011. ......................................................................................................................... 51

Figura 3-7 – Ponto de coleta em contraste com uma área minerada e a Serra do Caraça. .. 52

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Figura 3-8 – Ponto de coleta na serra do Itatiaia. ................................................................ 53

Figura 3-9 - Rio Garcia (ponto 4). ....................................................................................... 53

Figura 3-10 - Etapas de preparação das amostras para caracterização e extração de SHA

por resina DAX. ................................................................................................................... 56

Figura 3-11 – Desenho esquemático da extração de SHA com resina DAX-8. .................. 58

Figura 3-12 – a) Eluição da coluna com resina DAX-8 e b) coleta do extrato. .................. 58

Figura 3-13 – Evaporador rotativo a vácuo. ........................................................................ 59

Figura 3-14 – Mapa litológico da região estudada. ............................................................. 62

Figura 4-1 – a) SHA fracionadas em AH e AF (os dois frascos são transparentes). b)

Amostras com diferentes teores de AH e AF. ..................................................................... 63

Figura 4-2 – a) Solos orgânicos escuros da região da Serra do Caraça. b) Sulcos erosivos

na Serra do Caraça. .............................................................................................................. 66

Figura 4-3 – a) Córrego desaguando no rio Piracicaba. b) Coleta de água nas margens do

córrego. ................................................................................................................................ 68

Figura 4-4 – Mapa de grupamentos das amostras de águas naturais obtido pela rede neural

de Kohonen. ......................................................................................................................... 72

Figura 4-5 – Mapas de distribuição individual das variáveis obtidos pela rede neural de

Kohonen. ............................................................................................................................. 73

Figura 4-6 – Brejo (ponto 1) próximo a Serra do Caraça totalmente seco. ......................... 75

Figura 4-7 – Concentração de sulfato nas amostras de águas naturais. ............................... 77

Figura 4-8 – Correlação entre as variáveis COD e sulfato. ................................................. 78

Figura 4-9 - Mapa de grupamentos das amostras de águas concentradas obtido pela análise

de SOM (Kohonen). ............................................................................................................ 78

Figura 4-10 - Mapas de distribuição individual das variáveis (amostras que passaram pela

resina DAX-8) obtidas pela rede neural de Kohonen. ......................................................... 79

Figura 4-11 – Geologia da região da Serra do Caraça. ........................................................ 81

Figura 4-12 – Concentrações de COD comparando-se dois diferentes métodos de extração

de SHA. ............................................................................................................................... 82

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Lista de tabelas

Tabela 2-1 – Composição elementar média das SH extraídas de solos................................. 8

Tabela 2-2 – Fatores que influenciam na formação de material húmico............................. 12

Tabela 2-3 – Concentração de SHA extraídas de águas naturais. ....................................... 28

Tabela 2-4 – Vantagens e desvantagens de dois métodos de extração de substâncias

húmicas aquáticas. ............................................................................................................... 30

Tabela 2-5 – Métodos usualmente utilizados para o fracionamento de SH. ....................... 31

Tabela 3-1 – Descrição dos pontos de amostragem. ........................................................... 44

Tabela 3-2 – Teores médios de matéria orgânica para solos de São Paulo cultivados, bem

drenados, profundos e argila de atividade baixa, em locais de clima Cwa. ........................ 46

Tabela 4-1 – Porcentagem de COD retido na coluna para algumas amostras ..................... 64

Tabela 4-2 – Épocas de coleta e alguns parâmetros físico-químicos das amostras

analisadas ............................................................................................................................. 65

Tabela 4-3 – Localização e litotipo das áreas estudadas. .................................................... 69

Tabela 4-4 – Algumas rochas e seus constituintes. ............................................................. 69

Tabela 4-5 – Resultados dos parâmetros físico-químicos e metais analisados em águas

naturais. ............................................................................................................................... 70

Tabela 4-6 – Resultados das análises de metais dos extratos húmicos obtidos após a eluição

das SHA. .............................................................................................................................. 71

Tabela 4-7 – Unidades utilizadas durante o tratamento exploratório multivariado. ........... 72

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Lista de abreviaturas e siglas

ACP – Análise de Componentes Principais

AF – Ácidos Fúlvicos

AH – Ácidos Húmicos

AHA – Análise Hierárquica de Agrupamentos

APHA – American Public Health Association

AWWA – American Water Works Association

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CC – Capacidade Complexante

CCD – Modelo de espectrômetro de emissão por plasma

CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CGH – Compostos com Grupos Homólogos

CID – Carbono Inorgânico Dissolvido

Cl – Cloretos

COD – Carbono Orgânico Dissolvido (=DOC, em inglês)

CODc – Carbono orgânico dissolvido obtido a partir da extração das substâncias húmicas

em colunas cromatográficas com resina DAX-8

CODr – Carbono orgânico dissolvido de amostras de água que passaram pela resina

CTD – Carbono Total Dissolvido

Da - Dalton

DAX-8 - resina macroporosa não iônica utilizada na extração de substâncias húmicas

DDT – Dicloro-Difenil-Tricloroetano

DIMATOC - Dimatec Analysentechnik (equipamento para análise de carbono)

Eh – Potencial hidrogeniônico

ET – Ecotóxicos

ERV – Evaporação Rotativa a Vácuo

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICP-MS – Inductively coupled plasma mass spectrometry

ICP-OES – Inductively coupled plasma optical emission spectrometry

IHSS – International Humic Substances Society

IV - Infravermelho

KDa – Kilodalton

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LGqA – Laboratório de Geoquímica Ambiental (UFOP)

LQ – Limite de Quantificação

M – Metal

MA – Massachusetts

MG – Minas Gerais/Brasil

NDIR – Non-dispersive Infrared

ORP – Potencial de oxirredução

pH – Potencial Hidrogeniônico

PRB – Permeable Reactive Barriers (Barreiras Reativas Permeáveis)

PROAMB – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental

QF – Quadrilátero Ferrífero

Resis – Resistividade

RJ – Rio de Janeiro/Brasil

RMN - Ressonância Magnética Nuclear

RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural

SH – Substâncias Húmicas, compostos húmicos ou material húmico (=HS, em inglês)

SHA – Substâncias Húmicas Aquáticas (=AHS, em inglês)

SHA-M – Complexos formados entre SHA e metais

SIGEP - Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos

SOM - Self-organising maps ou rede neural de Kohonen

SP – São Paulo/Brasil

T – Temperatura

UF – Unidades de Ultrafiltração

UFF – Universidade Federal Fluminense

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto

UFZ – Helmholtz-Zentrum für Umweltforschung

UK – United Kingdom

UNB – Universidade de Brasília

UNESP – Universidade Estadual Paulista

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UV – Ultravioleta

V-CPH – Modelo do equipamento para análise de carbono

XAD-8 – Resina macroporosa não iônica utilizada para extração de substâncias húmicas

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WEF – Water Environment Federation

Observação: Os elementos químicos e compostos “comuns” (como, por exemplo, HCl) são

citados no texto conforme nomenclatura química em vigor.

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Sumário

1. Introdução....................................................................................................................... 1

1.1. Objetivos ................................................................................................................. 2

1.1.1. Geral ................................................................................................................ 2

1.1.2. Específicos ....................................................................................................... 2

2. Revisão Bibliográfica ..................................................................................................... 4

2.1. Carbono orgânico, substâncias húmicas e o meio aquático .................................... 4

2.2. Estrutura e composição das substâncias húmicas aquáticas ................................... 6

2.3. Processo de formação do material húmico em solos e águas naturais .................... 8

2.4. Fontes e fatores que influenciam a formação e composição do húmus ................ 11

2.5. Importância ambiental das substâncias húmicas aquáticas ................................... 12

2.6. Uso de compostos húmicos na remediação de ambientes contaminados ............. 14

2.7. Interação entre substâncias húmicas aquáticas e espécies metálicas .................... 18

2.7.1. Ferro .............................................................................................................. 19

2.7.2. Manganês ....................................................................................................... 21

2.7.3. Mercúrio ........................................................................................................ 22

2.7.4. Alumínio ........................................................................................................ 22

2.7.5. Zinco .............................................................................................................. 23

2.7.6. Outros metais traço ........................................................................................ 24

2.8. Interação entre substâncias húmicas aquáticas e elementos não metálicos .......... 24

2.8.1. Fósforo ........................................................................................................... 24

2.8.2. Nitrogênio ...................................................................................................... 26

2.8.3. Halogênios ..................................................................................................... 26

2.9. Efeitos das substâncias húmicas no fitoplâncton e na produtividade primária de

corpos d’água ................................................................................................................... 27

2.10. Extração das SH de águas naturais ....................................................................... 28

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2.11. Fracionamento das SHA ....................................................................................... 30

2.12. Estudo e caracterização das SHA e de complexos SHA-metais ........................... 32

2.12.1. Espectroscopia na região do infravermelho................................................... 32

2.12.2. Espectroscopia na região do UV-Visível ...................................................... 33

2.12.3. Ressonância magnética nuclear ..................................................................... 34

2.12.4. Determinação da aromaticidade de compostos húmicos ............................... 34

2.12.5. Fatores a serem considerados na caracterização de SH-metais ..................... 35

2.13. Análise exploratória multivariada dos dados ........................................................ 36

2.14. O Quadrilátero Ferrífero ....................................................................................... 39

2.14.1. Geologia ........................................................................................................ 40

2.14.2. Relevo ............................................................................................................ 42

2.14.3. Clima e vegetação .......................................................................................... 43

3. Materiais e métodos ..................................................................................................... 44

3.1. Definição e identificação dos locais de amostragem ............................................ 44

3.1.1. Serra do Caraça e sua vizinhança .................................................................. 45

3.1.2. A Serra do Itatiaia e sua vizinhança .............................................................. 52

3.2. Amostragens e análises preliminares .................................................................... 54

3.2.1. Análise de metais ........................................................................................... 54

3.2.2. Análises de carbono orgânico dissolvido ...................................................... 55

3.3. Extração de SHA empregando o método da resina DAX-8 ................................. 56

3.4. Extração das SHA empregando o método de evaporação rotativa ....................... 59

3.5. Análise multivariada dos dados das amostras de SHA ......................................... 60

3.6. Avaliação da origem dos elementos nas regiões estudadas .................................. 61

4. Resultados e discussão ................................................................................................. 63

5. Conclusões ................................................................................................................... 84

6. Sugestões para futuros trabalhos .................................................................................. 86

7. Referências Bibliográficas ........................................................................................... 87

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1. Introdução

O meio ambiente é o palco de um vasto número de interações químicas, que podem

ocorrer naturalmente ou por intermédio de organismos vivos. Químicos ambientais tentam

definir e quantificar essas reações, determinando os reagentes e produtos, construindo

modelos e tentando encaixá-los na dinâmica dos ecossistemas. Nessas pesquisas, os

materiais húmicos têm se destacado por estarem presentes em todos os lugares, por serem

abundantes e por desempenharem uma grande influência química nos meios terrestre e

aquático (Tipping, 2002).

As substâncias húmicas (SH) são definidas como compostos orgânicos

heterogêneos, de estrutura indefinida e elevada massa molecular. Embora os processos que

levem à sua formação ainda sejam pouco compreendidos, já se sabe que são derivadas da

degradação de restos vegetais e animais por intermédio de microrganismos (Rosa, 1998).

No solo, as SH possuem propriedades de conter a erosão e reter água e calor

(devido a sua coloração escura), facilitando a germinação de sementes. Também, atuam

como fertilizantes ao ceder nutrientes para o desenvolvimento de plantas (Rosa, 1998).

Em águas naturais os compostos húmicos influenciam na disponibilidade e toxidade

de metais para os seres vivos. Essas substâncias atuam na dispersão desses elementos

químicos através de processos de sorção e dessorção (Rocha e Rosa, 2003).

No meio antrópico, o material húmico age em estações de tratamento de água,

podendo reagir com o cloro e formar compostos orgânicos halogenados, que possuem

características cancerígenas (Rocha e Rosa, 2003). Em ambiente agrícola podem interagir

com pesticidas, influenciando na sua concentração e mobilidade no meio (Toscano, 1999).

Considerando que a água é uma das substâncias mais comuns na Terra, essencial

para sobrevivência dos seres vivos, é de grande importância que os corpos hídricos

apresentem condições físicas e químicas adequadas, devendo estar isentos de compostos

que possam provocar efeitos deletérios a vida (Braga, Hespanhol et al., 2005). Sendo

assim, como as SH se relacionam com vários componentes do meio, somado ao fato do

aumento das preocupações com o meio ambiente nos últimos anos, elas têm atraído cada

vez mais a atenção de pesquisadores do mundo inteiro (Janos, 2003).

A região de estudos do presente trabalho é o Quadrilátero Ferrífero (QF), localizado

na porção centro-sul do Estado de Minas Gerais. Essa é uma área tradicional da mineração

brasileira, que tem sofrido muito com a ação do homem por meio de atividades industriais

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e de extração de minérios, que tem alterado o ciclo geoquímico e o fluxo natural de metais

pesados, aumentando a sua liberação na biosfera (Soares, Siqueira et al., 2002). A

ampliação do descarte desses elementos no ambiente e o seu uso indevido na agricultura e

indústria também representam um importante problema ambiental com riscos muitas vezes

desconhecidos (Oliveira, M. R., 2007).

No QF as questões envolvendo as SH ainda são pouco conhecidas devido ao

escasso número de pesquisas na região. Consequentemente, o assunto tratado no presente

trabalho torna-se de maior relevância ambiental, visto que poderemos entender melhor

como as substâncias húmicas aquáticas (SHA) interagem com os metais na área de estudo,

de forma a contribuir para as ações de conservação das águas.

1.1. Objetivos

1.1.1. Geral

O objetivo geral do trabalho foi estudar a relação entre a concentração de

substâncias húmicas aquáticas (SHA) e elementos metálicos na porção leste do

Quadrilátero Ferrífero, comparando-se os métodos de extração por resinas DAX-8 e a

evaporação rotativa a vácuo.

1.1.2. Específicos

Os objetivos específicos consistiram em:

• Averiguar qual é o melhor método para concentração das substâncias húmicas

aquáticas (evaporação rotativa x extração em colunas);

• Extrair substâncias húmicas de amostras de água coletadas durante as estações seca

e chuvosa;

• Determinar as concentrações de carbono orgânico dissolvido (COD) e de SHA na

porção leste do Quadrilátero Ferrífero;

• Determinar os elementos metálicos em águas naturais e suas relações com as

condições litológicas regionais e eventuais contaminações antropogênicas;

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• Verificar prováveis influências da sazonalidade nas concentrações de SHA e

metais;

• Analisar o papel das SHA com relação à mobilização, transporte e fixação de

elementos metálicos em corpos d’água.

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2. Revisão Bibliográfica

2.1. Carbono orgânico, substâncias húmicas e o meio aquático

No meio ambiente, a decomposição de restos vegetais e animais faz parte de um

ciclo, onde o carbono (C) é recirculado para a atmosfera como dióxido de carbono (CO2) e

forma, juntamente com elementos como nitrogênio e fósforo, compostos disponíveis para o

desenvolvimento de plantas e outros organismos. Nesse processo, parte do C é assimilada

pela vida microbiana e parte é convertida em material húmico (húmus) estável (Stevenson,

1994). Tal transformação advém da ação de enzimas específicas, como a urease, a catalase

e a fosfatase (Rocha e Rosa, 2003) e faz com que essas substâncias fiquem estáveis frente à

biodegradação. Essas alterações, com consequente degradação e mineralização da matéria

orgânica, tem sido denomina humificação (Mcdonald, Bishop et al., 2004). O húmus está

presente nos sedimentos e dissolvido nas águas de todos os ecossistemas fluviais e

marinhos (Hessen e Tranvik, 1998).

A matéria orgânica pode ser classificada como particulada ou dissolvida.

Operacionalmente, a fração da matéria orgânica que passa através de um filtro de 0,45 µm

é definida como carbono orgânico dissolvido. Em corpos d’água, ele representa um dos

maiores reservatórios de C orgânico da biosfera, sendo um recurso vital ao afetar as teias

alimentares tanto diretamente, no uso pelos organismos, quanto indiretamente, por

mecanismos como pH, turbidez, quelação de metais e transporte de contaminantes

(Mcdonald, Bishop et al., 2004).

Em relação a uma perspectiva composicional, o COD pode ser separado em

substâncias não húmicas, que são formadas por compostos conhecidos mais simples e de

baixa massa molecular e substâncias húmicas, que consistem em compostos heterogêneos,

refratários, originados de reações de síntese secundária, que têm alta massa molecular,

estrutura complexa e coloração variando do amarelo ao preto. Esse segundo grupo também

é caracterizado por ser rico em estruturas funcionais oxigenadas, tais como as carboxílicas,

as fenólicas, as alcoólicas e as quinonas (Stevenson, 1994).

Segundo Janos (2003), cerca de 50 a 90%1 do COD nas águas naturais são

substâncias húmicas aquáticas, que estão recebendo cada vez mais atenção devido ao seu

1 Rocha e Rosa (2003) consideram que as SHA contribuem com cerca de 50% do COD presente em águas naturais.

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papel na química e ecologia das águas, sendo capazes de complexar-se com metais traços,

modificar a estabilidade de coloides minerais, formar trihalometanos (substâncias

cancerígenas) no processo de tratamento de água e até mesmo interagir com organismos

vivos (Steinberg, 2003). Além disso, ressalta-se que essas substâncias são responsáveis

pela solubilização e por complexarem-se com pesticidas, hidrocarbonetos e outros

compostos liberados pelo homem no ambiente aquático (Thurman e Malcolm, 1981).

As substâncias húmicas aquáticas são provenientes do carreamento de material

orgânico para rios, lagos e oceanos através da lixiviação e erosão de solos sob a ação das

chuvas (fontes alóctones). Também podem ser produzidas dentro do próprio ecossistema

aquático (fontes autóctones), sendo derivadas dos constituintes celulares e da degradação

de organismos aquáticos nativos (Rocha e Rosa, 2003).

Baseado no fracionamento do húmus de solos a partir de um extrato alcalino, as

substâncias húmicas podem ser separadas em três grupos denominados ácidos fúlvicos

(AF), ácidos húmicos (AH) e humina. Os ácidos fúlvicos são os ácidos orgânicos que são

solúveis em qualquer faixa de pH; ácidos húmicos são ácidos orgânicos que são solúveis

acima de pH 2; e humina são compostos que são insolúveis em qualquer pH (Hessen e

Tranvik, 1998). Essa definição operacional é exibida na Figura 2-1.

Figura 2-1 – Esquema: Definição operacional de substâncias húmicas (baseado em Steinberg, 2003).

Solúvel em ácidos

Insolúvel em ácidos

Completamente Insolúvel

Aumento do tamanho molecular

Diminuição da reatividade

Ácidos fúlvicos Ácidos húmicos Humina

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As SH também podem ser fracionadas em ácidos húmicos himatomelânicos, grey e

brown, através da extração do AH solúvel em álcool etílico. O fracionamento dessas

substâncias para estudo pode ser fundamentado com base nessas diferenças de solubilidade

(Rocha e Rosa, 2003).

Ressalta-se ainda que a abundância do húmus relativa a outros íons e fases minerais

varia enormemente nos ecossistemas aquáticos. Em corpos hídricos, os AF dissolvidos são

geralmente muito mais abundantes que os AH dissolvidos. Considerando-se o material

particulado suspenso, ambos são igualmente abundantes e a concentração de humina não é

significativa. Entretanto, em sedimentos lacustres e marinhos a humina pode ser uma

fração considerável e os ácidos húmicos podem ser mais abundantes que os ácidos fúlvicos

(Hessen e Tranvik, 1998).

2.2. Estrutura e composição das substâncias húmicas aquáticas

A alta complexidade e heterogeneidade é um grande obstáculo ao se definir as SH

quimicamente. A heterogeneidade resulta em um grande número de diferentes

propriedades e a complexidade reflete as diferentes vias em que esse material é formado.

Como consequência, não existem duas moléculas de compostos húmicos idênticas em

águas ou solos e, por isso, torna-se errôneo determinar certa estrutura para essas

substâncias. Ainda assim, muitos pesquisadores tem inferido um modelo aproximado para

os ácidos húmicos e fúlvicos com base em seu comportamento e funcionalidades, que são

conhecidos a partir de estudos espectroscópicos, pirólise, degradação oxidativa e

microscopia eletrônica (Hessen e Tranvik, 1998). Esses modelos são geralmente baseados

em estruturas de plantas, microrganismos ou seus produtos de degradação devido as SH

surgirem a partir de transformações de biomoléculas (como a celulose) ou por interações

entre pequenos componentes orgânicos liberados durante o metabolismo de

macromoléculas naturais (Mcdonald, Bishop et al., 2004). A Figura 2-2 mostra uma

estrutura de uma molécula húmica ligada a argilominerais e hidróxido de Fe, onde funções

aromáticas e cadeias alifáticas são facilmente identificáveis. A natureza ácida da molécula

é devido aos muitos grupamentos carboxila (-COOH) e fenólicos (-OH) que não são

balanceados frente a grupos básicos, como o grupo amina (-NH2), que estão em menor

número (Steinberg, 2003).

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Figura 2-2 – Modelo estrutural proposto para substâncias húmicas (Kleinhempel, 1970 apud Steinberg, 2003).

Recentemente, Piccolo (2001) discorreu sobre a teoria das associações

supramoleculares, que é baseada na visão polimérica das SH. Essa visão diz que os

compostos húmicos são formados por pequenas moléculas com diferentes massas

moleculares, similar ao que ocorre com outras macromoléculas biológicas como as

proteínas, os polissacarídeos e a lignina. Na visão supramolecular as SH são moléculas

pequenas e que se auto-organizam em conformações supramoleculares, o que explicaria o

grande tamanho aparente dos compostos húmicos. Essas grandes estruturas húmicas de

moléculas relativamente pequenas são associadas por forças mais fracas como as

interações de natureza hidrofóbica (como, por exemplo, Van der Waals) e ligações de

hidrogênio. Essa última possui maior importância em valores de pH mais baixos.

Tendo em vista a teoria das associações supramoleculares, Piccolo (2001) disse que

os conceitos de AF e AH deveriam ser reconsiderados. Nesse caso, ele propôs que os

ácidos fúlvicos seriam associações de pequenas moléculas hidrofílicas que tem

grupamentos ácidos suficientes para manter os grupamentos fúlvicos dispersos em solução

em qualquer pH. Os ácidos húmicos seriam compostos de associações predominantemente

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hidrofóbicas (tais como cadeias polimetilênicas e ácidos graxos) que são estabilizadas em

pH neutro por forças dispersivas hidrofóbicas. Suas conformações crescem

progressivamente em tamanho a medida que aumentam as ligações intermoleculares de

hidrogênio em baixos valores de pH até elas flocularem.

Apesar de não existir nenhum modelo estrutural que seja inteiramente satisfatório,

algumas características relativas às SHA já são definidas entre os pesquisadores. Quanto à

composição elementar, sabe-se que elas possuem aproximadamente 35% de oxigênio e

cerca de 2% de nitrogênio e enxofre em sua estrutura (Rocha e Rosa, 2003). Tipping

(2002) ainda completa que o conteúdo de C em compostos húmicos é da ordem de mais de

50%, embora para alguns ácidos fúlvicos de solos esse teor pode ser menor. É importante

mencionar que esse carbono presente no material húmico ainda pode nos revelar

importantes informações sobre a origem e a idade das SH, o que é feito através da

avaliação das concentrações de carbono 13 (13C) e carbono 14 (14C). O 13C, por exemplo, é

proveniente da formação de ácidos fúlvicos marinhos de algas e de material húmico de

plantas terrestres. Com relação à idade dos compostos húmicos há estimativas de valores

variando de 10 a até 2400 anos. Estes dados atestam a natureza refratária das SH (Tipping,

2002). A composição média de ácidos húmicos e fúlvicos extraídos de solos é mostrada na

Tabela 2-1.

Tabela 2-1 – Composição elementar média das SH extraídas de solos.

Substâncias Húmicas

Composição elementar média (%)

C H O N S

Ácidos húmicos 53,8-58,7 3,2-6,2 32,8-38,3 0,8-4,3 0,1-1,5

Ácidos fúlvicos 40,7-50,6 3,8-7,0 39,7-49,8 0,9-3,3 0,1-3,6 Fonte: Calderoni & Schnitzer apud Rocha e Rosa (2003).

2.3. Processo de formação do material húmico em solos e águas naturais

Apesar de pesquisas intensivas, as reações envolvendo a formação das substâncias

húmicas ainda não são totalmente conhecidas. O que já se sabe é que elas são originadas a

partir de tecidos lignificados provenientes de plantas, ou da condensação de produtos de

baixo peso molecular, gerados durante a degradação de macromoléculas. Essas vias de

formação podem ocorrer simultaneamente ou aleatoriamente (Mcdonald, Bishop et al.,

2004).

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Stevenson (1994) discorre sobre algumas dessas vias que explicam a formação do

húmus, como é indicado na Figura 2-3. A teoria clássica diz que as substâncias húmicas

são provenientes de ligninas modificadas (via 4). Investigações mais recentes são a favor

de mecanismos envolvendo quinonas (vias 2 e 3). Na prática, todas as 4 vias mostradas na

Figura 2-3 podem ser consideradas mecanismos para a formação de ácidos húmicos e

fúlvicos, incluindo a condensação de amino-açúcares (via 1). Mais detalhes sobre os

caminhos que levam à formação dos materiais húmicos são apresentados nos tópicos

abaixo (Stevenson, 1994):

a) Formação de SH a partir da lignina

De acordo com essa teoria (via 4) a lignina é incompletamente utilizada por

microrganismos e sofre modificações que incluem reações com amônia (NH3), que é

produzida durante o decaimento de substâncias orgânicas nitrogenadas por organismos,

perda de grupos metoxil (OCH3) com a geração de o-hidroxifenóis e a oxidação de cadeias

alifáticas com a formação de grupos COOH.

Figura 2-3 – Mecanismos que levam a formação de substâncias húmicas (baseado em Stevenson, 1994).

Os argumentos que suportam a teoria da degradação da lignina são:

Resíduos de plantas

Transformação por microrganismos Ligninas modificadas

açúcares Polifenóis Amino compostos

Quinonas

Substâncias Húmicas

Produtos da decomposição

da lignina

Quinonas

1

2 3

4

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- Ácidos húmicos e lignina são decompostos com considerável dificuldade pela

grande maioria dos fungos e bactérias;

- Lignina e ácidos húmicos são solúveis em álcalis e precipitam em meio ácido;

- Quando ligninas são aquecidas em solução básica, elas são transformadas em

ácidos húmicos contendo metoxil. Ácidos húmicos tem muitas propriedades em comum

com ligninas oxidadas;

- Componentes da lignina podem ser reconhecidos em ácidos fúlvicos e húmicos

dissolvidos (Hessen e Tranvik, 1998).

Embora a lignina não seja facilmente biodegradável, se compararmos com outros

componentes vegetais, existem mecanismos na natureza que levam a sua completa

decomposição aeróbia. É importante destacar que oxigênio é requerido para a

despolimerização microbiana da lignina.

b) Formação de SH a partir de produtos da decomposição da lignina por

microrganismos

Neste processo a lignina também desempenha um importante papel na formação de

ácidos húmicos e fúlvicos ao liberar aldeídos fenólicos e ácidos a partir do ataque de

microrganismos. Isso induz a conversão enzimática desses compostos em quinonas, que

vão sofrer polimerização na ausência ou presença de amino-compostos e vão dar origem a

moléculas húmicas. Esse processo é representado pelo caminho 3 da Figura 2-3.

Atualmente, as teorias envolvendo a origem de quinonas a partir da lignina e as

sintetizadas por microrganismos são consideradas as principais vias de formação de

substâncias húmicas. Já a teoria clássica de formação de húmus a partir da lignina é

considerada obsoleta por muito investigadores.

c) Formação de SH a partir da geração de polifenóis

Esta etapa é similar à descrita no item anterior; a diferença é que polifenóis são

sintetizados a partir de fontes de carbono não lignificadas (como, por exemplo, a celulose).

Então, eles são oxidados por intermédio de enzimas em quinonas e convertidos em

substâncias húmicas (caminho 2).

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d) Húmus formado a partir de açúcares

Neste processo, formas reduzidas de açúcares e aminoácidos originadas a partir do

metabolismo microbiano são submetidas a uma etapa de polimerização não enzimática,

que dá origem a polímeros nitrogenados (de coloração amarronzada). Essa teoria de que o

húmus é formado a partir de açúcares é relativamente recente na história do húmus e está

simbolizada no caminho 1 da Figura 2-3.

Um atrativo dessa teoria é que os reagentes (açúcares, aminoácidos, etc.) para

formação do húmus são produzidos em abundância no ambiente através da atividade de

microrganismos. Isso também explica a origem de SH onde as vias por lignina não são

prevalentes.

2.4. Fontes e fatores que influenciam a formação e composição do húmus

Nos solos, a lignina é vista como a principal fonte de substâncias húmicas. Isso faz

com que os ácidos húmicos e fúlvicos ali gerados tenham características mais aromáticas,

diferentes dos originados em águas, que possuem propriedades mais alifáticas. Entretanto,

considerando-se que os maiores precursores de material húmico em rios e lagos são

provenientes de fontes alóctones, assume-se que as SH nos ambientes aquáticos possuem

praticamente os mesmos atributos das encontradas no ambiente terrestre (Mcdonald,

Bishop et al., 2004).

A composição do material húmico pode variar consideravelmente dependendo do

tipo de solo nas bacias hidrográficas, da biota aquática, das condições climáticas e de

derrames antropogênicos (Watt, Malcolm et al., 1996). O despejo de esgotos domésticos,

por exemplo, pode ser um dos contribuintes na gênese de SH em grandes rios (Malcom,

1985 apud Watt, Malcolm et al., 1996).

Considerando-se que parte dos compostos húmicos de águas naturais é proveniente

dos solos, também se torna apropriado tratar sobre a origem da matéria orgânica originada

nesses ambientes, que é função do tempo, clima, material parental, vegetação e topografia.

Dentre todos esses fatores o clima é um dos mais importantes, pois vai definir os tipos de

espécies que vão habitar um determinado local, a quantidade de material acumulado e a

intensidade da atividade microbiana. Isso consequentemente vai afetar as características e a

abundância de material húmico produzido em uma determinada área. Pesquisas nos

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Estados Unidos demostraram que para cada aumento de 10 ºC na média anual de

temperatura, o conteúdo de matéria orgânica em solos decresce cerca de 2 a 3 vezes.

Regiões onde a drenagem é restrita não seguem essa dinâmica porque o oxigênio é

limitado por um longo período de tempo, o que previne completamente o decaimento

microbiano de restos de plantas sob uma vasta gama de temperaturas (Stevenson, 1994). A

Tabela 2-2 apresenta mais detalhes sobre os fatores que interferem na origem do material

húmico.

Tabela 2-2 - Fatores que influenciam na formação de material húmico. Fator Influência

Tempo

A taxa de acumulação de matéria orgânica em solos é alta durante os

primeiros anos de sua formação. Atinge equilíbrio após cerca de 10 anos para materiais de textura fina a 1500 anos para áreas arenosas.

Vegetação

Regiões com vegetação composta por gramíneas possuem maior conteúdo de matéria orgânica se comparado com áreas de florestas. Isso é explicado

pela síntese do húmus ocorrer na rizosfera e ela é mais extensa em gramíneas se comparada a florestas. Os solos em que ocorrem gramíneas

são formados em condições climáticas que levam a preservação da matéria orgânica.

Material parental

O material parental vai influenciar na textura do solo, que vai alterar o

conteúdo de material orgânico formado. A fixação de substâncias húmicas na forma de complexos organo-minerais contribui para preservação da matéria orgânica em solos. Assim, solos de textura mais fina tem maior

conteúdo de material húmico que solos de textura média.

Topografia

A topografia ou relevo vão afetar o conteúdo de material húmico em solos devido às suas influências no escoamento superficial/retenção de água e

umidade no solo. Solos formados depressões, com drenagem restrita, tem maior quantidade de matéria orgânica devido as condições anaeróbias que

prevalecem no ano, que levam a preservação do material.

Baseado em Stevenson (1994).

2.5. Importância ambiental das substâncias húmicas aquáticas

As SH possuem grande importância ambiental, principalmente por interagirem com

diversos compostos naturais e antrópicos. Em meio aquático, por exemplo, elas podem

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facilmente ser oxidadas pelo oxigênio presente nas águas, causando depleção desse

elemento e acarretando prejuízos para diversas formas de vida, além de deixar o ambiente

mais redutor (Elkins e Nelson, 2002).

Por meio da adsorção, solubilização, hidrólise e dos efeitos microbiológicos e

fotossensibilizantes, o húmus também pode afetar moléculas orgânicas liberadas pelo

homem, o que influi na dispersão, mobilidade e transporte desses compostos no meio

aquático. Assim sendo, torna-se ainda mais valioso o entendimento do papel das

substâncias húmicas em corpos hídricos, que atualmente é pouco conhecido (Rosa, 1998;

Elkins e Nelson, 2002).

Um grupo de substâncias antrópicas que são influenciadas pela presença do húmus

são os agrotóxicos, que são utilizados com o objetivo de propiciar o aumento da

produtividade agrícola, por meio do controle de pragas que causam prejuízos no cultivo de

alimentos. Também, podem ser empregados no combate a enfermidades (como a malária)

e na eliminação de ervas daninhas de estradas e vias públicas. Apesar dos inúmeros

benefícios, o uso desses compostos pode causar sérios danos à saúde humana, além de

problemas ambientais (Toscano, 1999).

Defensivos agrícolas carregados positivamente, como por exemplo, a atrazina,

podem se ligar às substâncias húmicas carregadas negativamente, por meio de interações

eletrostáticas favoráveis. Já os orgânicos polares, como o inseticida carbaryl, podem

interagir com o material húmico via múltiplas ligações de hidrogênio. Compostos

orgânicos apolares, como o Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT), ligam-se às SH por meio

de interações hidrofóbicas (Elkins e Nelson, 2002). Destaca-se que alguns estudos

demonstraram que com o aumento do teor de COD, a velocidade de degradação da atrazina

(fotólise direta) diminui (Torrents et al., 1997 apud Toscano, 1999).

Outras razões pelas quais as SHA são consideradas ambientalmente importantes

foram descritas por (Rocha e Rosa, 2003):

- influem da disponibilidade de metais necessários ao desenvolvimento de

organismos;

- influem na toxidade, transporte e acúmulo de alguns metais. No caso do mercúrio,

por exemplo, as SHA são responsáveis por promover ou inibir a formação e

bioacumulação de espécies de metil-mercúrio, que são tóxicas para organismos vivos

(Ravichandran, 2004);

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- podem possuir características oxirredutoras, influenciando a redução de espécies

metálicas, como por exemplo, a redução de mercúrio iônico por material húmico, descrito

no trabalho de (Zara, 2001);

- podem atuar como traçadores ambientais (Rosa, 1998);

- quando presentes em altas concentrações em estações de tratamento de água

podem produzir compostos orgânicos halogenados, que possuem características

cancerígenas.

Rosa (1998, p.33) ainda destaca que as substâncias húmicas exercerão grande

importância na redução/controle da poluição ambiental neste século, pois “além da

versatilidade na complexação de metais, tem aumentado o aproveitamento de resíduos

ricos em materiais húmicos decorrentes de tratamento de efluentes e compostagem de

lixo”. A Figura 2-4 exibe um diagrama resumindo e relacionando a aplicação de SH

visando a solução de problemas ambientais.

Figura 2-4 – Possibilidade de aplicação de substâncias húmicas tendo em vista a proteção/recuperação ambiental (baseado em Rosa, 1998; 2001).

2.6. Uso de compostos húmicos na remediação de ambientes

contaminados

Tendo em vista os inúmeros problemas ambientais e o aumento da preocupação

com o meio ambiente nos últimos anos, cientistas e engenheiros de várias partes do mundo

Substâncias húmicasComplexação de metais

Traçadores ambientais

Transporte/ biodisponibilidade

de metais

Determinação de constantes de

equilíbrio Me-SH

Interação com pesticidas

Labilidade de MetaisFertilizante Natural

Aplicações na remediação de

ambientes contaminados

Caracterização de estruturas parciais

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têm tentado desenvolver tecnologias para aprimorar, diminuir custos e superar limitações

de processos de remediação de ambientes contaminados. Focando em aspectos técnicos e

econômicos, as SH são promissoras ao serem utilizadas juntamente com técnicas de

remediação in situ. Essa notável importância dos compostos húmicos vêm das suas

características polifuncionais, que permitem que interajam com íons metálicos e compostos

orgânicos. Consequentemente, essas substâncias podem afetar a especiação física e

química de ecotóxicos2 (ET), alterando sua biodisponibilidade e toxidade (Perminova e

Hatfield, 2005). Isso constitui, inclusive, mais um motivo para considerarmos os

compostos húmicos ambientalmente importantes.

Grande parte das tecnologias de remediação com aplicação de compostos húmicos

é baseada em estratégias de tratamentos químico e biológico in situ. Dentre as técnicas em

que as SH podem ser aplicadas estão as barreiras reativas permeáveis (PRB), lavagem de

solo, biorremediação e fitorremediação (Figura 2-5).

Figura 2-5 – Exemplos de tecnologias que podem ser potencializadas pelo emprego de substâncias húmicas. Baseado em Perminova e Hatfield (2005).

As barreiras reativas permeáveis são uma tecnologia in situ utilizada para tratar

aquíferos rasos a um baixo custo em relação aos métodos tradicionais “pump and treat”. O

uso de PRB reduz a exposição de humanos ao contaminante e permite que as terras

sobrejacentes ao aquífero possam ser utilizadas efetivamente durante a remediação. Uma

vez que uma barreira é instalada, ela pode permanecer no local a ser remediado até que o

contaminante seja degradado em componentes menos perigosos (Bronstein, 2005).

2 Dentro da classe dos compostos ecotóxicos estão incluídos os metais pesados, petróleo, pesticidas, explosivos nitroaromáticos, azo corantes, dentre outros.

Tecnologias de remediação in situ

SH

Baseada em tratamento químico

Biorremediação melhorada

FitoremediaçãoLavagem de solo

Barreiras reativas permeáveis (PRB)

Baseada em tratamento biológico

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Conceitualmente uma barreira reativa permeável é definida como uma estrutura em

subsuperfície com um meio reativo, que é designado a interceptar uma pluma

contaminante através de um fluxo (gradiente natural da água subterrânea) que passa através

do meio reativo, onde os contaminantes são adsorvidos, precipitados ou degradados,

transformando-se em substâncias menos nocivas ao meio ambiente (Bronstein, 2005). Um

desenho esquemático do processo é mostrado na Figura 2-6.

Figura 2-6 – Exemplo de barreira reativa permeável (Baseado em Bronstein, 2005).

Em PRB, os materiais usados no meio reativo devem demostrar rápida cinética para

remover os contaminantes de águas subterrâneas sobre condições de fluxo natural. Além

disso, esses materiais reativos devem ser baratos e funcionais durante longo tempo.

Finalmente, as reações químicas não podem produzir e liberar produtos tóxicos. Nesse

ponto, os compostos húmicos são considerados uma grande promessa ao atuarem como

componentes reativos e baratos em PRB. Para avaliar o potencial do uso de SH nesses

sistemas, é muito importante entender as propriedades sortivas e redox do húmus, que

como está sendo discutido, é capaz de reduzir efeitos tóxicos de metais e outros

componentes liberados pelo homem, além de alterar a sua mobilidade no meio (Perminova

et al. 2005).

A lavagem de solo (in situ flushing) é definida como a injeção ou infiltração de uma

solução aquosa na zona de solo ou água subterrânea contaminada. O fluido injetado tem a

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função de aumentar a mobilidade e/ou solubilidade dos contaminantes imobilizados. Essa

tecnologia é susceptível a vários problemas decorrentes do agente de lavagem, que pode se

aderir na matriz do solo, acelerando o crescimento microbiano, causando precipitação dos

seus constituintes nos poros da matriz e consequentemente reduzindo a permeabilidade do

sistema. Outros problemas associados a esse processo é o alto custo para tratar e dispor

fluidos residuais. Esses problemas não acontecem com soluções de lavagem compostas de

substâncias húmicas, primeiramente por causa do baixo custo do material e em seguida

devido aos compostos húmicos serem biologicamente recalcitrantes o que minimiza o

efeito do crescimento microbiano. Entretanto, mesmo os materiais húmicos ainda são um

desafio ao sucesso dessa técnica. Isso é porque em algumas situações os compostos

húmicos dissolvidos podem se aderir nos materiais do solo ou aquífero, minando os

esforços para interceptar e imobilizar os contaminantes solúveis (Perminova e Hatfield,

2005).

A biorremediação melhorada é uma técnica em que processos microbianos são

utilizados para degradar ou transformar contaminantes em formas menos tóxicas ou não

tóxicas. Especificamente, essa tecnologia aproveita processos naturais ao promover o

crescimento microbiano. Entretanto essa técnica pode ser inibida se houverem altas

concentrações de contaminantes ou na presença de outros componentes solúveis tóxicos

para os microrganismos. O uso de SH pode ser extremamente útil visto que elas podem

atenuar a toxidade do contaminante para os micróbios transformando os poluentes em

formas menos tóxicas ou mesmo sequestrando-os em uma fase separada e reduzindo sua

biodisponibilidade (Perminova e Hatfield, 2005).

A fitoremediação segue o mesmo princípio da bioremediação, mas com uso de

plantas para interceptar, acumular e até mesmo degradar contaminantes do solo ou da água

subterrânea. Essa técnica exige que as plantas utilizadas tenham características específicas

incluindo tolerância a elevadas concentrações de contaminantes, tendência em produzir

grande quantidade de biomassa radicular e a capacidade de imobilizar contaminantes por

absorção, precipitação ou redução. A aplicação de compostos húmicos constitui uma

grande vantagem se empregados na fitorremediação, pois eles são capazes de reduzir a

toxidade de contaminantes e consequentemente aumentar a tolerância de plantas ao

estresse químico. Além disso, as SH estimulam o crescimento de raízes que poderão

absorver os contaminantes (Perminova e Hatfield, 2005).

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2.7. Interação entre substâncias húmicas aquáticas e espécies metálicas

Em muitos aspectos, o entendimento da ocorrência natural das SH e suas interações

com espécies metálicas dissolvidas é de grande valor no estudo de depósitos minerais,

principalmente se considerarmos a região do QF, que é uma das áreas clássicas da

mineração brasileira. Essa importância dos compostos húmicos é devido ao seu papel na

dispersão de elementos metálicos como o ouro, o urânio, o vanádio e os metais do grupo da

platina. Os compostos húmicos podem, por exemplo, formar complexos solúveis com

metais ou causar precipitação de íons metálicos via redução ou adsorção. Ressalta-se que o

efeito dos ácidos húmicos e fúlvicos no comportamento de metais no meio ambiente e sua

habilidade de controlar a liberação desses durante a mineração tem tido relevante impacto

na geologia econômica e aumentado as preocupações envolvendo o meio ambiente (Wood,

1996).

Contudo, a importância da interação entre compostos húmicos e elementos

metálicos vai muito além do meio econômico mineiro, pois as SH podem alterar a

biodisponibilidade de metais essenciais para os seres vivos. Elas participam claramente de

ciclos biogeoquímicos, além de atuarem como catalisadores redox, como será mostrado

mais adiante (Elkins e Nelson, 2002; Steinberg, 2003).

Ainda considerando o meio aquático, acredita-se que um elemento metálico só é

biodisponível quando ele está na forma de espécie dissolvida livre, ou seja, não ligado às

SH. Além disso, quando esse metal está disponível ele pode ter um efeito tóxico para os

seres vivos, dependendo de sua concentração no meio. Entretanto, ressalta-se que o

processo de absorção de espécies metálicas pelos organismos vivos e o papel dos

compostos húmicos ainda não são bem compreendidos (Steinberg, 2003).

O efeito das SH na toxidade de metais para organismos aquáticos é aparentemente

contraditório, visto que existem casos de efeitos benéficos ou adversos da presença dos

compostos húmicos. Gjessing (1981) apud Steinberg (2003), por exemplo, descreve uma

diminuição da toxidade do Cd para o Salmão (Salmo salar) e para a alga verde

Selesnatrum capricornutum na presença de ácidos húmicos e fúlvicos dissolvidos.

Entretanto, Winner (1984) apud Steinberg (2003) disse que a toxidade do Cd para a

Daphnia aumenta, mas a toxidade do Cu diminui na presença de compostos húmicos

dissolvidos. A aparente contradição entre os estudos pode estar relacionada ao uso de

diferentes tipos de SH nas diferentes pesquisas.

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Em geral, enquanto o Fe e Al3+ são conhecidos por se ligarem fortemente aos

materiais húmicos, o Mg2+ é considerado um ligante fraco. Outros elementos como Ni2+,

Pb2+, Ca2+ e Zn2+ tem afinidades de ligação intermediárias (Manahan, 2005). Além disso,

esses metais podem estar em diversas formas físico-químicas em corpos d’água. O estudo

de como essas formas influem no meio é nomeada especiação de metais, que é

influenciada por fatores como pH, potencial redox, tipos e concentrações de ligantes

orgânicos (como, por exemplo, as substâncias húmicas) e inorgânicos (como, por exemplo,

os bicarbonatos), material particulado e coloidal (Rocha e Rosa, 2003).

De acordo com Zara (2001), os agentes complexantes aquáticos podem ser

divididos em ligantes simples como, por exemplo, o Cl-, CO3-2 e, aminoácidos, e

compostos com grupos homólogos (CGH) como, por exemplo, as SHA, proteínas e óxidos

de metais, que formam complexos de alta estabilidade e possuem um papel importante na

distribuição de metais em águas naturais. Os CGH geralmente “contêm grande número de

sítios complexantes por molécula e a concentração molar total destes sítios pode ser

comparada à concentração de muitos ligantes simples” (Zara, 2001, p.19). Destaca-se que

as SH dissolvidas são frequentemente os agentes complexantes dominantes em águas

naturais (Tipping, 2002).

Considerando metais traço como o mercúrio, por exemplo, é importante mencionar

que eles geralmente se ligam aos grupamentos funcionais ácidos da matéria orgânica, onde

estão incluídos ácidos carboxílicos, íons amônio, fenóis, álcoois e tióis. Esses grupos

contribuem com mais de 90% da acidez das SH e possuem diferentes constantes de

dissociação e desprotonação em diferentes condições de pH (Ravichandran, 2004).

A presença de grupos doadores de elétrons como o oxigênio, o nitrogênio e o

enxofre está associado às características de complexação das SHA com metais. Destaca-se

que o oxigênio nas moléculas húmicas está sob a forma de grupos carboxílicos e fenólicos.

Apesar de presentes em menor concentração, o nitrogênio e o enxofre estão distribuídos

nos grupamentos peptídeos, sulfônicos e tióis, que possuem maior afinidade de ligação por

metais do que grupos oxigenados. Um bom exemplo é a ligação entre Hg e grupamentos

tióis, que já foi mencionada previamente (Buffle, 1990 apud Rocha e Rosa, 2003).

2.7.1. Ferro

O Fe é conhecido por se ligar fortemente ao material húmico (Elkins e Nelson,

2002). Considerando a biodisponibilidade desse elemento em águas naturais, destaca-se

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que esta vai ser fortemente afetada pela quantidade e composição das SH e compostos

inorgânicos dissolvidos sob um potencial redox positivo e pH circum-neutro (Steinberg,

2003). O trabalho de Vörös et. al. (2000) apud Steinberg (2003), por exemplo, mostrou

que sob influência de raios ultravioleta (UV), a decomposição de compostos húmicos pode

resultar na inibição do crescimento de algas porque o Fe biodisponível é precipitado.

As SH, juntamente com a luz solar, ainda afetam o Fe em muitos outros aspectos

em corpos d’água. Como será descrito mais adiante, os materiais húmicos e o Fe podem

complexar-se com o P, tornando-o não disponível para os organismos aquáticos. Além

disso, os compostos húmicos ainda estão envolvidos em reações de oxirredução do Fe. Em

pH 5, por exemplo, a taxa de oxidação do Fe(II) cresce com o aumento das concentrações

de AF. Nesse caso, a oxidação ocorre via formação de espécies reativas (como o HO2 e o

O2-), criadas pela redução do O2 por AF foto-excitados. A redução do Fe também pode

ocorrer via reações fotoquímicas, onde os AF podem converter o Fe(III) em Fe(II).

Destaca-se que o mesmo processo de redução pode ocorrer sob ausência de luz solar

(Steinberg, 2003).

Estudos em três lagos com valores de pH entre 2,35 e 3 em Lusatia, Alemanha,

explicaram mais claramente a formação de Fe(II) a partir de Fe(III) nesses corpos hídricos

extremamente ácidos. As pesquisas foram conduzidas por Herzsprung et al. (1998) apud

Steinberg (2003) e demostraram que um hipolímnio anóxido é formado sobre os

sedimentos desses tipos de lago, onde bactérias reduzem o Fe(III) ao utilizá-lo como

aceptor final de elétrons. O processo de redução também requer o consumo de oxigênio

molecular ou de compostos de COD. Consequentemente há um aumento nas concentrações

de Fe(II) no hipolímnio. Já no epilímnio a redução do Fe acontece via fotorredução por

SH. Um desenho esquemático mostrando todo o processo é exibido na Figura 2-7.

A drenagem de wetlands frequentemente induz a um aumento das concentrações de

ferro em corpos d’água. Isso pode levar vários organismos como peixes e outros

vertebrados a concentrações tóxicas para esse elemento. O trabalho de Lappivaara et al.

(1999) apud Steinberg (2003) mostrou que em águas ricas em Fe com concentrações de

COD de 45 mg/L não há nem bioacumulação de Fe nem alguma reação fisiológica a esse

elemento. Já na ausência de SHA, o Fe acumula-se nas guelras e no fígado de peixes. Isso

leva a uma redução na concentração de sódio e potássio no plasma sanguíneo, além de

alterar certas funções nas células desses organismos (Steinberg, 2003).

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21

Figura 2-7 – Fontes de Fe(II) em lagoa ácida (baseado em Steinberg, 2003).

2.7.2. Manganês

Em condições oxidantes nos corpos hídricos, o dióxido de manganês (MnO2) é uma

forma termodinamicamente estável do Mn, que também pode ser encontrado na forma

dissolvida na zona eufótica de ambientes aquáticos. O Mn(II) é altamente biodisponível.

Assim como no caso do Fe, as SH possuem um importante papel na fotorredução do Mn.

Um possível mecanismo é o da redução do MnO2 por H2O2, que é formado devido a

fotorredução do O2 na presença de compostos húmicos (Steinberg, 2003).

O trabalho de Banerjee e Nesbitt (2001) apud Steinberg (2003) com o mineral

birnessita mostrou que o Mn(IV) é reduzido para Mn(III), enquanto substâncias húmicas

são oxidadas como CO2. Entretanto os autores não encontraram evidências da redução do

Mn(III) para Mn(II) na presença de compostos húmicos (provavelmente o experimento foi

feito na ausência de luz solar). Os grupos carboxila dos compostos húmicos aparentemente

inibem esse processo, provavelmente pela formação de fortes complexos Mn(III)-

carboxilas. Pelo estudo concluiu-se que na ausência de luz, as SH reduzem o Mn(IV), mas

a redução não leva necessariamente a compostos de Mn(II).

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2.7.3. Mercúrio

O mercúrio é um metal pesado que tem efeitos substancialmente tóxicos para os

seres vivos já em baixas concentrações molares. Considerando o ciclo desse elemento, a

conversão mais importante entre espécies é a metilação do íon Hg(II) por ação

bacteriológica com a formação do metilmercúrio e do composto volátil dimetilmercúrio. A

formação do metilmercúrio tem consequências mais graves por entrar facilmente na cadeia

alimentar, bioacumular-se e biomagnificar-se (Zara, 2001).

Devido ao grande número de sítios de ligação, as SH podem interagir fortemente

com vários metais pesados, incluindo o Hg(II). Os compostos húmicos, nesse caso, agem

reduzindo fortemente a disponibilidade e a toxidade de íons de Hg(II) dissolvidos em meio

aquático (Rocha, Sargentini et al., 2003).

Entretanto, é importante salientar que a interação das SH com íons Hg(II) não é

somente baseada na complexação, mas também na redução de Hg(II) para Hg elementar,

que então é volatilizado. Além de ambientalmente importante, isso é um relevante processo

dentro do ciclo biogeoquímico do mercúrio em ambientes ricos em compostos húmicos,

principalmente em áreas de mineração de ouro (Rocha, Sargentini et al., 2003).

O estudo de Rocha, Junior et al. (2000) revelou que a redução de íons Hg(II) por

SH é relativamente lenta, requerendo dois ou mais dias. Além disso, mostrou que a forte

complexação e redução do Hg(II) por material húmico podem ocorrer simultaneamente em

ambientes aquáticos tropicais.

Concluindo, a complexação do Hg(II), assim como a volatilização do Hg(0), vão

impedir a formação de metilmercúrio e consequentemente a bioacumulação e

biomagnificação do mercúrio no meio ambiente.

2.7.4. Alumínio

Assim como o Fe, o Al3+ é conhecido por se ligar intensamente com as SH. Em

águas naturais, a toxidade do alumínio é determinada pela sua especiação, sendo somente

tóxicas as espécies inorgânicas incluindo Al3+ e fluoro, cloro e sulfato complexos. Sendo

assim, considerando que a elevação dos níveis de acidez leva a um aumento dos níveis de

Al3+, a forte complexação com materiais húmicos é uma preocupação particular com o

aumento da acidificação de cursos d’água naturais como consequência da chuva ácida.

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Além disso, destaca-se que na presença de AH há uma redução marcante na perda do Al

em corpos hídricos, sugerindo que a interação entre compostos húmicos e esse elemento

reduz sua hidroxipolimerização e precipitação (Elkins e Nelson, 2002; Dobranskyte,

Jugdaohsingh et al., 2006).

Os materiais húmicos diminuem os efeitos tóxicos do Al em corpos d’água. Isso é o

que foi comprovado no estudo de Dobranskyte, Jugdaohsingh et al. (2006), que revelou

que na presença de AH, a toxidade desse metal diminui para a espécie Lymnaea stagnalis.

Apesar da redução dos efeitos adversos, houve apenas uma pequena alteração na

biodisponibilidade do metal, pois o AH manteve o Al na forma coloidal na coluna d’água,

que é ainda disponível para uso pela espécie estudada. Entretanto, segundo Elkins e Nelson

(2002), íons metálicos de Al ligados aos ácidos húmicos podem servir como pontes ao

facilitar a ligação de compostos orgânicos negativamente carregados, como certos

pesticidas, nos materiais húmicos, aumentando a biodisponibilidade dessas espécies

orgânicas tóxicas. Destaca-se ainda que a presença de Al3+ em humanos tem sido

correlacionada com algumas doenças, o que torna importante entender a especiação desse

íon em águas naturais e seu relacionamento com as SH (Elkins e Nelson, 2002).

2.7.5. Zinco

O zinco é tóxico para animais em altas concentrações. Entretanto a dureza da água,

o pH, hidróxidos e as SH dissolvidas podem alterar a sua toxidade. Complexos podem ser

formados entre metais pesados e compostos húmicos via substituição iônica e quelação.

Nesses complexos, os cátions perdem sua toxidade (Steinberg, 2003).

Meinelt et al. (1995) apud Steinberg (2003) determinou alterações na toxidade do

Zn em um teste com larvas embrionárias de peixe-zebra na presença de SH dissolvidas, em

contraste com íons de Ca. Em uma amostra onde só havia a presença de compostos

húmicos (sem Zn) não houve efeitos significativos na sobrevivência dos organismos, tanto

em águas brandas (pobres em Ca), como em águas duras (ricas em Ca). Em amostras com

Zn e na ausência de íons de Ca e Mg, a toxidade do Zn foi claramente potencializada. Já

em águas duras e na presença de compostos húmicos, o Ca e o Mg competem com Zn

pelos sítios de ligação das SH. Se esses elementos estão presentes em altas concentrações,

o Zn é deslocado dos sítios de ligação dos materiais húmicos e consequentemente a

toxidade do Zn aumenta. Ressalta-se que em águas brandas a presença de SH diminui a

toxidade do Zn.

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Na literatura há vários registros de que a dureza da água e as SH são os melhores

agentes protetores contra a toxidade de metais pesados. Entretanto, como foi mostrado,

essa proteção tende a ser eliminada quando Ca, Mg e materiais húmicos estão presentes

simultaneamente no sistema (Steinberg, 2003).

2.7.6. Outros metais traço

As substâncias húmicas dissolvidas podem influenciar fortemente a especiação e

destino de metais traço em corpos hídricos. Particularmente, o material húmico influencia

fortemente na mobilidade e retenção de muitos íons metálicos em solos e água naturais.

Em solos, a humina participa da retenção de metais, enquanto os AF e AH estão

envolvidos no transporte desses metais em meio terrestre e aquático (Steinberg, 2003).

Muitos estudos demostraram que a maioria dos fortes ligantes consiste de

compostos <10 KDa, mas que ligantes coloidais com propriedades similares também

existem. Ressalta-se que as aplicações de técnicas espectroscópicas ainda mostraram que o

Cd se liga predominantemente aos grupos funcionais oxigenados das substâncias húmicas

(Steinberg, 2003).

2.8. Interação entre substâncias húmicas aquáticas e elementos não

metálicos

2.8.1. Fósforo

Além dos metais, elementos não metálicos também são influenciados por

compostos húmicos. O fósforo, que é um nutriente limitante para o crescimento de

organismos em corpos d’água, é um exemplo onde a concentração das SH altera a taxa

com que o orto-P iônico é absorvido pelo plâncton. Hessen e Tranvik (1998) observaram

que grande parte do P presente em lagoas húmicas está indisponível para organismos vivos

por causa da sua complexação com materiais húmicos. É importante salientar que o

estímulo ou a repressão do consumo de P por organismos é dependente do tamanho da

partícula húmica (Steinberg, 2003).

Muitas pesquisas demonstraram que a complexação do P ocorre particularmente na

presença de Fe, ao indicar que em valores de pH e potenciais redox relativamente baixos,

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materiais húmicos, Fe(III) e orto-P formam agregados coloidais. Nesse caso, a ligação com

o P vai inibir a sua assimilação direta por microrganismos. Ressalta-se que SH isoladas não

reagem com o fósforo em quantidades significativas, pois a complexação é mais efetiva na

presença de Fe (Steinberg, 2003).

A evidência direta da complexação SH-Fe-P veio com Haan et al. (1990) apud

Steinberg (2003), quando disseram que na presença de compostos húmicos, Fe e P são

diretamente incorporados na fração com massa molecular de 10 a 20 KDa (moléculas

maiores que 100 KDa também podem levar à absorção do P). Sem as SH, esse tipo de

complexação não ocorre.

Em corpos hídricos, a luz solar pode alterar a especiação de complexos SH-Fe-P.

Nesse caso, a radiação ultravioleta pode liberar o P, através da redução de Fe(III) para

Fe(II)3. Ressalta-se que a fotorreação com a consequente liberação do fósforo dura cerca

de uma hora e é reversível. Na ausência de luz o Fe(III) e o P são regenerados como

complexos (Steinberg, 2003).

O P na forma de fosfato (PO43-) também pode ser liberado de complexos de alto

peso molecular através de reações de deslocamento, nas quais participam ésteres fosfatados

(P ésteres) de baixo peso molecular (Steinberg, 2003).

As SH ainda podem alterar a capacidade do plâncton em aproveitar

fosfomonoésteres como fonte de P adicional, através da hidrólise por fosfatases alcalinas.

É importante mencionar que Stewart e Wetzel (1982) apud Steinberg (2003) relataram que

as moléculas húmicas podem aumentar a atividade das fosfatases, particularmente sob

condições de pouca luz.

Apesar de aparentemente possuir um aspecto negativo, alguns autores (Jones, 1998

apud Steinberg, 2003) sugerem que o fósforo associado pode ser uma fonte duradoura de

nutrição para produtores primários em lagos ricos em SH. A Figura 2-8 exibe um diagrama

resumindo a relação entre material húmico e fósforo.

Apesar de tudo que foi mencionado e de tudo que já é conhecido, a natureza das

relações entre o material húmico e o ciclo do fósforo ainda não é totalmente

compreendidas, sendo necessários mais estudos para um completo entendimento do

assunto (Hessen e Tranvik, 1998).

3 Neste caso o ferro é a parte sensível do complexo à radiação UV.

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Figura 2-8 - Papel das substâncias húmicas na complexação do P (Baseado em Hessen e Tranvik, 1998; Steinberg, 2003).

2.8.2. Nitrogênio

A interação entre N e SH ainda foi muito pouco estudada se compararmos com a

relação entre P e SH. O que se supõe é que é improvável que compostos húmicos possam

ser uma fonte de nitrogênio para a rede microbiana, já que se pensa que a

biodisponibilidade das SH ligadas ao N é muito baixa. Entretanto, estudos recentes

mostraram que a exposição do COD à luz solar força a liberação de compostos ricos em

nitrogênio de alta disponibilidade para os seres vivos. Dentre esses compostos está a

amônia, que é a mais efetivamente liberada e o nitrito (Steinberg, 2003).

2.8.3. Halogênios

O paradigma de que os halogênios são inertes em condições naturais já é

ultrapassado. Já se sabe que eles desempenham um papel ativo em processos de

transformação global e que as SH tem uma importante função nessa especiação. A

porcentagem de compostos organoclorados aromáticos, por exemplo, aumenta com a

humificação. A concentração de Cl alifático permanece constante ou começa a decair em

comparação com o Cl aromático ao longo do processo de humificação de plantas

(Steinberg, 2003).

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2.9. Efeitos das substâncias húmicas no fitoplâncton e na produtividade

primária de corpos d’água

Como já mencionado parcialmente para os casos do fósforo e nitrogênio, as SH em

corpos d’água podem afetar o fitoplâncton tanto servindo como fonte de

carbono/energia/nutrientes, como por sua habilidade de interagir e modificar as

propriedades de outros compostos químicos na água. Em anos recentes tem havido um

crescente interesse em estudos sobre a utilização direta de SH dentro de cadeias

alimentares em lagoas húmicas. Um deles (Tulonen et. al. 1992 apud Hessen e Tranvik,

1998) em um lago da Finlândia revelou que algas não podem crescer heterotroficamente na

presença de compostos húmicos como fonte de C. Ainda foi mostrado que a fração de

baixo peso molecular tem efeito fototóxico ou na disponibilidade de nutrientes para as

algas, o que foi suprimido na presença de frações4 de alto peso molecular. Enfim, baseado

nas evidências do trabalho foi possível concluir que as SH não têm uma significante

contribuição direta como fonte de carbono e energia para o fitoplâncton, embora os estudos

tenham demonstrado um bom crescimento de algas para as frações de alto peso molecular

(Hessen e Tranvik, 1998).

Um efeito indireto das SH no fitoplâncton é através da modificação da toxidade de

metais. Segundo Hessen e Tranvik (1998) muitos estudos demostraram que a toxidade do

Cu para diatomáceas estuarinas foi reduzida por compostos húmicos em águas de rios.

Efeito equivalente foi observado para o Cd no teste com a alga Selenastrum

capricornutum. No caso de fitoplâncton natural foi constatada redução de efeitos tóxicos

para Zn, Pb, Hg e Cu.

Entretanto, a maior contribuição das substâncias húmicas não é na toxidade de

metais e sim na modificação da disponibilidade e assimilação de metais essenciais (como o

Fe) e nutrientes aniônicos (como o fosfato) para o crescimento de fitoplâncton. É possível

que em certas circunstâncias a complexação metal-húmus possa deprimir a atividade

biológica, como demostrado no estudo de Hecky (1980) apud Hessen e Tranvik (1998),

que atribuiu a redução na produtividade primária ao material húmico, que fez com que

parte do ferro ficasse menos disponível para o fitoplâncton.

4 As SH utilizadas no trabalho foram extraídas e fracionadas.

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2.10. Extração das SH de águas naturais

Para estudos relacionados às SHA é inicialmente indispensável isolar certa

quantidade de húmus. Isso é necessário porque a concentração desses compostos em águas

é baixa (Tabela 2-3), sendo necessária uma grande quantidade de água para se obter uma

abundância razoável de material húmico para estudo (Thurman e Malcolm, 1981). Um dos

métodos mais utilizados para extração de compostos húmicos é a utilização de resinas

macroporosas não iônicas, tais como a XAD-2 e a XAD-8 (Rocha e Rosa, 2003).

Tabela 2-3- Concentração de SHA extraídas de águas naturais. Amostras Concentração (mg/L) Referências (Rocha e Rosa, 2003)

Águas superficiais 7-30

Rocha et al. (2000);

Rocha et al. (1998);

Aster, Burba & Broekaert (1996);

Suffet & MacCarthy (1989).

Águas subterrâneas 20 Suffet & MacCarthy (1989).

Águas marinhas 0,0029* Malcolm (1990).

* Teor de ácido húmico (fração das SHA) obtido.

A princípio, a resina não iônica adsorvente Amberlite® XAD-8 foi amplamente

utilizada para extração de SHA. Atualmente ela tem sido substituída pela SupeliteTM DAX-

8, que assim como a XAD-8, é uma resina de polimetilmetacrilato. Embora o processo de

fabricação dessas duas resinas seja praticamente o mesmo, as especificações técnicas

(como o tamanho do poro e área superficial) da DAX-8 diferem-se um pouco das da

XAD-8. A DAX-8 é mais fácil de manipular, seu conteúdo de finos é menor que 1%

(peso/peso) e sua habilidade de reter umidade é maior do que a da XAD-8 (Peuravuori,

Lehtonen et al., 2002).

As resinas macropososas apresentam grande área superficial e adsorção

determinada pelo chamado “efeito hidrofóbico” (Aiken, 1988 apud Toscano, 1999), que

faz com que sob condições ácidas, os grupos carboxilas dos ácidos orgânicos (ácidos

fracos) tornem-se não dissociados, fazendo com que eles possam ser fixados por uma fase

hidrofóbica fixa (tais como resinas hidrofóbicas XAD e DAX). Então, forma-se uma

camada desses ácidos na superfície da fase hidrofóbica. Nessas mesmas condições, as

bases orgânicas podem não ser adsorvidas pela fase fixa, desde que os grupos básicos, tais

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como –NH2 sejam protonados e formem, por exemplo, -NH3. Em valores de pH básico ou

neutro (condições de não protonamento), as bases orgânicas são inicialmente adsorvidas e

os ácidos orgânicos agora são dissociados e dessorvidos da superfície adsorvente

(Steinberg, 2003). A Figura 2-9 mostra mais detalhes sobre a influência do pH na adsorção

e dessorção de SH em resinas hidrofóbicas.

Figura 2-9 – Efeito do pH na ionização e solubilidade na adsorção de ácidos e bases

orgânicos adsorvíveis (SH) (baseado em Steinberg, 2003).

Uma questão que tem sido muito discutida por pesquisadores é se o extrato obtido

após isolamento de compostos húmicos por resinas macroporosas possui as mesmas

características da substância em seu estado natural. Esse problema é devido principalmente

às condições ácidas e básicas extremas envolvidas na concentração do húmus. Se o mesmo

processo fosse aplicado para o isolamento de enzimas, quase toda sua atividade biológica

seria perdida (Tipping, 2002).

Uma alternativa aos problemas enfrentados pelo uso de resina seria o emprego de

processos físicos para concentração das SHA. A opção escolhida para esse trabalho foi o

método por evaporação rotativa a vácuo, que consiste em simplesmente baixar o ponto de

ebulição da água através da diminuição da pressão para concentrar certa quantidade de

amostra. As temperaturas atingidas durante os procedimentos são da ordem de 40 ºC, para

evitar alterações estruturais nos compostos húmicos. Durante o experimento é utilizado

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apenas um evaporador rotativo acoplado a uma bomba de vácuo. As vantagens e

desvantagens entre esse método e o por resinas DAX-8 são mostradas na Tabela 2-4.

Tabela 2-4 - Vantagens e desvantagens de dois métodos de extração de substâncias húmicas aquáticas.

Método Vantagens Desvantagens

Evaporação Rotativa

Baixas temperaturas; método brando.

Método lento; todos os solutos orgânicos e

inorgânicos são concentrados; inconveniente

para grandes volumes.

Resina macroporosa não iônica DAX-8

Alta capacidade de sorção; eluição eficiente; eluição com

solução diluída de NaOH; método brando e simples;

resina facilmente regenerada; adequado para grandes volumes de amostras.

Possibilidade de sorção irreversível.

Baseado em Aiken (1985) apud Rocha e Rosa (2003).

2.11. Fracionamento das SHA

Uma etapa posterior a extração das SHA é o fracionamento, que consiste em obter

frações distintas de material húmico, mas que possuem propriedades similares, com a

finalidade de entender melhor a participação desses compostos em processos ambientais

(Rocha e Rosa, 2003). Araújo, Rosa et al. (2002) destacam que essa etapa reduz a

polidiversidade das substâncias húmicas permitindo melhor caracterização de suas

interações com espécies metálicas. Stevenson (1994) ainda completa que o fracionamento

é um passo necessário cujo objetivo primário é facilitar a aplicação de técnicas analíticas

reduzindo a heterogeneidade do material previamente isolado. Ainda é importante

mencionar que os procedimentos de fracionamento aplicáveis às SH extraídas de solos são

também aplicáveis as SHA (Rocha e Rosa, 2003). A Tabela 2-5 mostra os métodos

comumente utilizados para o fracionamento dos compostos húmicos.

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Uma das técnicas mais utilizadas para o fracionamento de SH é a variação do pH,

cujas frações obtidas são ácidos húmicos, ácidos fúlvicos e humina. Segundo

Oliveira L.C. (2007) essas definições são baseadas na extração alcalina de solos e

sedimentos e podem ser utilizadas quando o extrator é ácido, neutro ou solvente orgânico.

Tabela 2-5 - Métodos usualmente utilizados para o fracionamento de SH.

Procedimento Frações Referências Diferença de solubilidade e

precipitação com ácidos e bases Ácidos húmicos, ácidos

fúlvicos e humina Procedimento utilizado

convencionalmente Extração com diferentes

solventes orgânicos Bem definidas Post & Klamberg (1992)

Cromatografia de exclusão com base no tamanho molecular Menos definidas Piccolo, Nardi &

Concheri (1996)

Ultrafiltração Dependem da porosidade das

membranas filtrantes

Burba, Shkinev & Spivakov (1995)

Eletroforese Separação depende das substâncias húmicas Duxbury (1989)

Cromatografia de exclusão com base no tamanho molecular e

alta pressão Boa separação Piccolo & Conte (1999)

Cromatografia com afinidade por metais Obtêm-se 3-4 frações Kuckuk & Burba (2000)

Cromatografia em fase reversa Menos definidas Frimmel (1992) Fonte: Rocha e Rosa (2003)

Um método barato e muito versátil usado para o fracionamento de SH é a

cromatografia por permeação em gel, cuja separação é baseada na massa molar. A

estrutura do gel é composta por um sistema de poros que age como um meio

cromatográfico. As moléculas menores podem entrar nesses poros fazendo com que sua

passagem pela coluna seja retardada. Consequentemente as moléculas são eluídas em

ordem decrescente de massa molar (Oliveira, L. C., 2007). Rocha e Rosa (2003) destacam

que problemas como interações químicas ou físicas entre o gel e o soluto devem ser

contornados para não invalidar os resultados.

Solventes orgânicos, assim como sais e íons metálicos, também têm sido utilizados

para separar AH e AF em diferentes subfrações. Um bom exemplo é a obtenção de ácido

himatomelânico a partir do tratamento dos AH com etanol. Post & Klamberg (1992) apud

Oliveira L. C. (2007, p.30) ainda destacam que as SH podem ser fracionadas com acetona,

metanol, metil iso-butilcetona e éter dietílico.

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Outro procedimento simples e rápido para fracionamento de SHA é a ultrafiltração,

que é considerado um método interessante devido a possibilidade de minimização de

alterações químicas dos compostos húmicos. Ele permite o fracionamento baseado no

tamanho molecular das SH através de uma série de membranas com diâmetro de poro de

alguns nanômetros (Rocha e Rosa, 2003). Por essa técnica, o fracionamento pode ser feito

em ordem ascendente ou descendente de tamanho molecular. Oliveira, L. C. (2007, p.32)

destaca que um inconveniente “é a distribuição não uniforme dos tamanhos dos poros

nessas membranas e, nesse caso, o tamanho molecular pode não ser o esperado”.

Particularmente, unidades de ultrafiltração (UF) com fluxo tangencial permitem

uma filtração mais rápida em função da reduzida obstrução dos poros, “pois os compostos

acumulados na superfície da membrana são deslocados pelo forte fluxo cruzado” (Burba et

al., 1997 apud Rocha e Rosa, 2003, p.52). Em um sistema composto por várias UF de

fluxo tangencial acopladas on-line e operado por uma bomba peristáltica com múltiplos

canais a coleta das frações obtidas é relativamente simples (Rocha e Rosa, 2003).

2.12. Estudo e caracterização das SHA e de complexos SHA-metais

Para o estudo das SHA pode-se determinar o COD das diferentes frações húmicas

obtidas, que pode ser comparado com a aromaticidade, parâmetros físico-químicos e

concentrações de certos elementos químicos por meio do uso técnicas estatísticas. Métodos

espectroscópicos, que tem como metas identificar grupos funcionais presentes nas

moléculas, também podem ser utilizados no estudo dos compostos húmicos. De acordo

com Aiken et al. apud Rocha e Rosa (2003), “a caracterização das SHA e suas

propriedades no ambiente requer a utilização de procedimentos analíticos adequados

combinados com métodos químicos, físicos e espectroscópicos”. Nesse caso, a extração é

uma etapa crucial, pois é nela onde podem ocorrer alterações estruturais nas SH, com a

consequente perda de algumas de suas características originais (Rocha e Rosa, 2003).

Alguns métodos para estudo e caracterização dos compostos húmicos serão apresentados

nos subtópicos a seguir.

2.12.1. Espectroscopia na região do infravermelho

No espectro eletromagnético, a região do infravermelho (IV) pode fornecer

informações valiosas sobre a estrutura de moléculas húmicas. Rosa (1998) ressalta que é

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por meio de espectros de IV de SH que se pode obter informações sobre a natureza, a

reatividade e o arranjo estrutural dos grupos funcionais contendo oxigênio. Stevenson

(1994) ainda completa que os espectros ainda podem indicar a presença de impurezas

inorgânicas como íons metálicos e argila e que essa técnica é apropriada para análises

quantitativas.

Outras aplicações da espectroscopia IV incluem estudos das interações entre

pesticidas e metais com a matéria orgânica. Um exemplo dessa aplicação é a confirmação

de que os grupamentos -COOH desempenham um importante papel na complexação de

cátions di- e trivalentes por SH e que os grupos OH, C=O e NH estão envolvidos na

complexação de íons metálicos por SH.

2.12.2. Espectroscopia na região do UV-Visível

A espectroscopia na região do UV é uma técnica importante na identificação de

grupos cromóforos, pois alguns compostos presentes nas SH absorvem fortemente abaixo

de 280 nm, que é onde ocorrem as transições eletrônicas do tipo π-π, que são

características de compostos como ácidos benzoicos, derivados de anilina e outros

correlatos que são subunidades da estrutura das SHA (Rocha e Rosa, 2003, p.63).

Segundo Rosa (1998), na região visível do espectro a absorção de energia radiante

por SH está relacionada com transferência de elétrons dos orbitais π, σ e n do estado

fundamental para estados de maior energia. O autor ainda ressalta que os espectros de

absorção na região do UV e visível são pouco característicos, pois não apresentam regiões

de absorção máxima ou mínima.

A taxa de absorbância em 465 e 665 nm, conhecidas como taxa E4/E6, tem sido

extensivamente utilizadas com propósitos de caracterização. De acordo com Kononova

(1966) apud Rosa (1998) a razão E4/E6 está relacionada com o grau de condensação dos

grupos aromáticos, conteúdo de carbono, hidrogênio e oxigênio, além do peso molecular

das SH. Stevenson (1994) completa que essa razão E4/E6 diminui com o aumento do peso

molecular e condensação e que ela serve como índice de humificação. Assim, uma baixa

dessa relação pode ser um indicativo de um alto grau de condensação de constituintes

aromáticos e uma alta relação pode ser uma inferência da presença de mais estruturas

alifáticas e estruturas mais abertas. Segundo Rosa (1998, p. 28) “a condensação molecular

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geralmente está associada ao teor aromático, assim, pode-se a partir da razão E4/E6 obter

informações quanto ao conteúdo de C, H e O na molécula”.

2.12.3. Ressonância magnética nuclear

A ressonância magnética nuclear (RMN) é uma ferramenta essencial na

caracterização de estruturas de SH presentes em solos e águas. Com os espectros de RMN

(13C e 1H) é possível estimar a concentração relativa de prótons e C alifáticos e aromáticos

presentes nas estruturas dos compostos húmicos. “A estimativa das porcentagens dos

diferentes tipos de carbono e prótons são obtidas a partir da integração dos picos nas

regiões específicas dos espectros” (Swift, 1996 apud Rocha e Rosa, 2003, p.58). Um

exemplo de espectro de RMN – 13C de SHA é exibido na Figura 2-10.

Figura 2-10 - Exemplo de espectro de RMN – 13C de SHA extraídas de amostras de água de um rio no Estado de SP, onde (a) é resíduo de resina XAD-8 utilizada na extração dos

compostos húmicos (Fonte: Rocha et al. 2000 apud Rocha e Rosa, 2003).

2.12.4. Determinação da aromaticidade de compostos húmicos

As absorbâncias (obtidas a partir da espetroscopia UV-visível) nos comprimentos

de onda de 250 (E2) e 365 nm (E3) podem fornecer informações sobre a aromaticidade das

SH por meio de uma equação (Equação 2.1) que envolve a razão E2/E3 (Peuravuoi &

Pihlaja, 1997 apud Rocha e Rosa, 2003):

Aromaticidade = 52,509-6,780 E2/E3 (Equação 2.1)

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Essa equação sugere que a diminuição do quociente E2/E3 induz a um aumento da

aromaticidade dos compostos húmicos (Rocha e Rosa, 2003).

Outra maneira de estimar o conteúdo de compostos aromáticos de SH é por meio da

determinação da composição elementar de amostras, por meio do cálculo da razão molar

H/C. Quanto menor esse valor, maior a aromaticidade de compostos húmicos (Rocha e

Rosa, 2003).

2.12.5. Fatores a serem considerados na caracterização de SH-metais

Segundo Rocha e Rosa (2003), na caracterização das espécies SH-metais os fatores

mais relevantes a serem considerados são a característica, o teor de grupos funcionais, a

capacidade de complexação, o tamanho molecular das SHA e as estabilidades

termodinâmicas e cinéticas do complexo SHA-M, como é exibido na Figura 2-11. Destaca-

se que “a escolha do método e do procedimento analítico a ser utilizado na determinação

das espécies metálicas é de fundamental importância” (Rocha e Rosa, 2003 p.73).

Figura 2-11 - Fatores a serem considerados na caracterização de espécies húmicas e metais.

Fonte: Burba, 1998 apud Rocha e Rosa, 2003.

Em corpos hídricos muitos ligantes tem a capacidade de reduzir a toxidade de

metais. Isso está relacionado à complexação desses elementos presentes em águas naturais,

o que tem sido denominado capacidade complexante da água (CC). Geralmente os ligantes

compreendem a matéria orgânica com peso molecular entre 1000 e 10000 Da (Burba, 1994

apud Rocha e Rosa, 2003).

Substâncias húmicas aquáticas/espécies metálicas

Capacidade complexante

Rearranjos intermoleculares

Labilidade de metais

Caracterizçãode grupos

funcionais (O-, N-,S-)

Disponibilidade de metais

Estabilidade Termodinâmica

Estabilidade Cinética

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Para obter informações sobre a capacidade complexante das SHA geralmente são

utilizados íons de cobre por causa de sua habilidade de formar complexos estáveis com

diversos ligantes de ocorrência natural na água. Dentre os métodos mais utilizados para

determinação da CC estão a titulação potenciométrica, a fluorescência, a voltametria e a

polarografia. Destaca-se que a CC das SHA expressa a quantidade máxima de metais livres

que podem ser ligados aos compostos húmicos em uma solução aquosa (Rocha e Rosa,

2003).

De acordo com Rocha e Rosa (2003, p.80) quando ocorre a complexação de

compostos húmicos e poluentes, a estabilidade cinética e termodinâmica da espécie

formada “influencia diretamente no seu transporte, acúmulo e biodisponibilidade para o

ecossistema”. Consequentemente, pesquisas de processos de troca entre compostos

húmicos e metais são de grande importância em estudos na área da hidrogeoquímica.

Entretanto, para isso é de fundamental importância o desenvolvimento de métodos

analíticos para caracterizar as espécies metálicas no meio ambiente.

Outro meio de se estudar a interação entre SHA e metais é através de processos de

troca iônica, que é um método onde ocorre uma reação química reversível entre duas fases

imiscíveis. A capacidade de troca iônica foi descoberta quando percolou-se uma solução de

íons amônio em uma porção de solo, onde ocorreu uma retenção de cátions NH4+ e a

liberação equivalente de Ca2+. Um trocador iônico é “uma substância insolúvel que pode

trocar alguns de seus íons por outros do mesmo tipo de carga”. Apesar do trocador ser

imiscível os seus íons devem ser trocáveis no meio reacional, “porém não se pode deslocá-

los da matriz sem a consequente substituição”. Ressalta-se ainda que as principais

características de um trocador iônico são a capacidade de troca iônica e a seletividade

(Rocha e Rosa, 2003, p. 81). Os trocadores iônicos são utilizados em estudos da labilidade

de metais complexados às SHA. O princípio do procedimento baseia-se na troca de

espécies metálicas complexadas às SHA (SHA-M) por um trocador iônico (Rocha e Rosa,

2003).

2.13. Análise exploratória multivariada dos dados

No estudo da geoquímica de corpos hídricos um grande número de variáveis deve

ser analisado simultaneamente. Nesse contexto, as técnicas exploratórias tem se mostrado

eficazes ao facilitar a avaliação das correlações e interpretação dos resultados obtidos.

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Segundo Oliveira, L. C. (2007, p.43) “a análise exploratória é utilizada para detectar

padrões de associações no conjunto de dados, podendo se estabelecer relações entre as

variáveis”. As técnicas mais utilizadas nesse caso são a análise das componentes principais

(ACP) e a análise hierárquica de agrupamentos (AHA).

A utilização da ACP tem como objetivo reduzir a dimensão dos dados originais

para facilitar a interpretação das informações mais importantes em um menor número de

componentes. Já o uso de AHA tem por finalidade a formação de grupamentos naturais

onde as amostras são dispostas em um sistema de grupos e subgrupos de acordo com a

similaridade entre eles (Oliveira, L. C., 2007).

Uma ferramenta desenvolvida para análises multivariadas exploratórias e não

lineares é a rede neural de Kohonen ou SOM (self-organising maps), que é uma poderosa

técnica de inteligência artificial utilizada para reduzir a dimensionalidade de dados e

projetá-los em um espaço com menor número de dimensões, mantendo as informações

originais relevantes. A rede de Kohonen tem como principal vantagem a excelente

visualização na interpretação dos resultados se comparada com outros métodos, o que

resulta em uma forma de classificação de dados mais amigável. Resumidamente, a rede

neural de Kohonen consiste em uma camada de neurônios dispostas em uma matriz

bidimensional. Ressalta-se que matrizes com dimensões maiores também são possíveis,

mas são menos comuns (Garcia, Da Silva et al., 2007; Çinar e Merdun, 2009).

Santos (2005, p. 88) definiu as redes de Kohonen como “mapas auto-organizáveis

constituídos de neurônios dispostos na forma de grandes baseados na aprendizagem

competitiva, cuja finalidade é descobrir padrões nos dados de entrada”. Essa ferramenta foi

desenvolvida por Teuvo Kohonen da Universidade de Helsinki (Finlândia) e possui uma

estreita relação com a organização do córtex cerebral (Santos, 2005).

Segundo Da Silva (2007), a visualização e interpretação das redes de Kohonen se

baseiam no fato de que “o usuário pode assumir que todas as amostras posicionadas em um

mesmo neurônio são consideradas semelhantes entre si, de acordo com o aspecto

avaliado”. Outro atributo importante dessa técnica é a formação de grupamentos de

amostras que são consideradas possuírem as mesmas características avaliadas, por causa de

sua localização em neurônios próximos (neurônios vizinhos).

Um desenho representando a arquitetura típica da rede neural de Kohonen é exibido

na Figura 2-12, onde os neurônios são representados por colunas ou tubos dispostos dentro

de uma caixa. Nesse tipo de representação, se um determinado dado de entrada possuir n

amostras, n vetores de entrada x serão obtidos. Esses vetores x podem ser valores de

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absorbância de um espectro, picos de um cromatograma ou mesmo valores de intensidade

de diferentes parâmetros físico-químicos de qualidade da água. Ressalta-se que a

dimensionalidade dos vetores é dependente do número de variáveis contidas nos dados, o

que implica que a quantidade de pesos de cada neurônio (w) corresponderá ao número de

elementos dos vetores dos dados de entrada (Da Silva, 2007).

Figura 2-12 – Representação da arquitetura típica da rede neural de Kohonen (baseado em

Da Silva, 2007).

Recentemente, a rede neural de Kohonen foi aplicada por Çinar e Merdun (2009)

com o propósito de analisar as complexas relações não lineares entre variáveis relacionadas

à qualidade das águas superficiais em quatro cidades turcas. Dezesseis parâmetros tais

como condutividade, pH, oxigênio dissolvido, temperatura, alcalinidade, TDS, Ca, Mg e K

foram analisados, onde o uso das redes neurais se mostrou efetivo na avaliação dos dados

da qualidade dos corpos hídricos pesquisados. Em trabalhos de outras áreas, o uso técnica

SOM também se mostrou eficiente, desde a ecologia (Lee, Kwon et al., 2006; Chon, 2011)

até a avaliação do desempenho de estações de tratamento de águas residuais (Çinar, 2005).

O método de Kohonen ainda foi alvo de investigação em um trabalho (Gamble e Babbar-

Sebens, 2012) cujo objetivo foi investigar diferentes abordagens no desenvolvimento de

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modelos multivariados de análise para uma rápida avaliação da relação entre atributos

físicos espaço-temporais de bacias hidrográficas e a qualidade da água de cursos hídricos

monitorados. Outra meta da pesquisa foi de usar os resultados da aplicação desse modelo

na estimativa da qualidade da água em rios não monitorados.

2.14. O Quadrilátero Ferrífero

O Quadrilátero Ferrífero (QF) é uma estrutura geológica localizada na porção

centro-sudeste do Estado de Minas Gerais (Figura 2-13) e que ocupa uma área de

aproximadamente 7000 km2 entre as coordenadas 19º45’ a 20º30’S e 44º30’ a 43º07’W.

Essa região é limitada pelas cidades de Itabira, a nordeste, Mariana, a sudeste, Congonhas,

a sudoeste e Itaúna, a noroeste, abrangendo a capital Belo Horizonte e outras cidades

provenientes da atividade minerária, tais como: Nova Lima, Santa Bárbara, Itabirito e Ouro

Preto (Ruchkys, 2007). De acordo com Dutra et al. (2002), o Quadrilátero é uma área

geologicamente clássica por causa de seus depósitos de ouro, ferro e manganês, havendo

relatos de exploração mineral desde o século XVIII.

Figura 2-13 – Localização aproximada do QF em Minas Gerais (Brasil)

Datum: Córrego Alegre; Projeção UTM Fuso 23.

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2.14.1. Geologia

Conforme Roeser e Roeser (2009), o QF corresponde ao prolongamento sul da

serra do Espinhaço e seu embasamento e áreas circunvizinhas são compostos de rochas de

idade arqueana com idade superior a 2,7 bilhões de anos. Acima desse embasamento

cristalino existem três grandes unidades litoestratigráficas denominadas Supergrupo Rio

das Velhas, Supergrupo Minas e Grupo Itacolomi, conforme mostrado na Figura 2-14, que

também destaca aproximadamente a área de estudo. Cada uma dessas unidades representa

um estágio evolutivo que começou com a formação de uma bacia sedimentar, seguida de

sucessivas etapas de orogênese, formação de cadeias montanhosas e aplainamento do

relevo por agentes erosivos (Silva, 2007).

Elevadas por erosão diferencial, as cristas do Quadrilátero são formadas por

quartzitos e itabiritos, possuindo altitudes médias de 1300 a 1600 m. Essas cristas

“correspondem ao alinhamento da Serra do Curral, ao norte, da Serra do Ouro Branco, ao

sul, da Serra da Moeda, a oeste e, a leste, do conjunto formado pela Serra do Caraça e a

ponta sul da Serra do Espinhaço” (Ruchkys, 2007, p. 44).

Em relação às unidades litoestratigráficas, o embasamento cristalino é constituído

por diversos complexos metamórficos estruturados em domos, e compreende as rochas

mais antigas do QF, abrangendo gnaisses polideformados, granodioritos, anfibolitos e

meta-ultramafitos.

O Supergrupo Rio das Velhas é considerado por muitos autores (Silva, 2007;

Roeser e Roeser, 2009) uma sequência tipo greenstone belt, sendo composto de

metassedimentos vulcanoclásticos, químicos e pelíticos, soprepostos em discordância

acima do embasamento. Foi subdividido por Dorr (1969) apud Silva (2007) nos grupos

Nova Lima (unidade basal) e Maquiné. O Grupo Nova Lima é constituído por filitos, filitos

grafitosos, clorita-xistos, sericita-xistos, metagrauvacas, rochas máficas e ultramáficas,

formações ferríferas do tipo algoma, metacherts e metadolomitos. Já o Grupo Maquiné

(unidade de topo) é constituído por quartzitos sericíticos (e cloríticos a xistosos), filitos

quartzosos e filitos (Ruchkys, 2007). O Serviço Geológico do Brasil (CPRM, 2007) ainda

define o Grupo Quebra osso, que é formado de metakomatiito perodotítico, metakomatiito,

serpentinito, formação ferrífera, metachert, turmalinito e filito carbonoso.

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Figura 2-14 – Mapa geológico-estrutural do QF Modificado de ALKMIM & MARSHAK (1998) apud Silva (2007).

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O Supergrupo Minas é formado por metassedimentos plataformais do Proterozóico

Inferior e é subdividido em quatro grupos: Caraça, Itabira, Piracicaba e Sabará (Silva,

2007). Esse supergrupo possui até 6000 m de espessura e coloca-se discordante do

greenstone belt do Rio das Velhas (Roeser e Roeser, 2009).

O Grupo Caraça é a base do Supergrupo Minas, sendo constituído por sedimentos

clásticos. Ele é dividido nas formações Moeda e Batatal. A Formação Moeda é formada

por quartzitos sericíticos e lentes de conglomerados, gradando para filitos arenosos. A

Formação Batatal é composta basicamente por filitos e xistos (Silva, 2007).

O Grupo Itabira é constituído basicamente por metassedimentos químicos e

encontra-se depositado sobre o Grupo Caraça. Pode ser dividido em Formação Cauê, com

rochas como itabirito, itabirito dolomítico e itabirito anfibolítico; e Formação Gandarela,

formada por dolomitos, filito dolomítico e dolomito silicoso (Ruchkys, 2007; Silva, 2007).

O Grupo Piracicaba é a unidade de topo do Supergrupo Minas, sendo constituído

por sedimentos clásticos na base com lentes de carbonatos. É composto pelas formações

Cercadinho, caracterizada pela alternância de quartzitos e filitos; Fecho do Funil,

constituída por filitos, filitos dolomíticos e lentes de dolomito; Taboões, composta de

ortoquartzitos de granulometria fina; e Barreiro, formada por filitos e filitos grafitosos

(Ruchkys, 2007).

O Grupo Sabará é composto por xistos, filitos, metarenitos, metaconglomerados e

metadiamictitos (Silva, 2007). “Suas rochas afloram praticamente em todo QF, exceto no

Sinclinal Moeda” (Ruchkys, 2007, p.47).

O Grupo Itacolomi constitui a formação rochosa mais recente do QF (Coimbra,

2006), sendo formado por quartzitos, quartzitos conglomeráticos e lentes de

conglomerados com seixos de itabirito, filito e quartzo de veio. É restrito às porções sul e

sudeste do QF, especialmente na região do pico Itacolomi, Serra de Ouro Branco e morro

do Frazão (Silva, 2007).

O Supergrupo Espinhaço ocorre na porção extremo nordeste do QF, especialmente

na região da Serra de Cambotas, no município de Barão de Cocais. Está associado aos

quartzitos e conglomerados de idade proterozóica do Grupo Diamantina (Silva, 2007).

2.14.2. Relevo

O QF é uma superfície acidentada e topograficamente elevada com altitude média

em torno de 1000 m, contrastando com a paisagem de suaves colinas de seu embasamento

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(com formações graníticas e gnáissicas), que possui elevações inferiores a 900 m. Os

pontos mais altos da região chegam a atingir valores superiores a 2000 m e estão situados

na Serra do Caraça. Os pontos mais baixos chegam a 600 m no entorno do distrito de

Amarantina e no município de Sabará (Silva, 2007).

Conforme descrito no trabalho de , o relevo atual do QF foi determinado pela

estrutura e pela erosão diferencial, que é manifestada pelas cristas e terras baixas. As

cristas são formadas por rochas mais resistentes a erosão e ao intemperismo como

quartzitos e itabiritos. As superfícies mais rebaixadas são constituídas por gnaisses

migmatíticos, que se decompõem com mais facilidade devido a sua menor resistência.

Então, percebe-se o marcante controle litológico sobre a morfologia da área, que também é

citado por Silva (2007), que ainda discorre que as variações litológicas são responsáveis

pelo aparecimento de desníveis superiores a 1000 m.

2.14.3. Clima e vegetação

O clima predominante no QF é o tropical de altitude (Cwa), segundo a classificação

de Köppen-Geiger (Kottek, Grieser et al., 2006). Esse tipo climático é caracterizado por

duas estações bem definidas, com verões chuvosos e invernos secos. A temperatura média

é de aproximadamente 20 ºC e a precipitação varia de 1300 mm na porção leste a 2100 mm

na porção sul (Herz, 1978 apud Silva, 2007).

As expressivas variações de altitude no Quadrilátero favorecem o surgimento de

microclimas locais, que fazem com que áreas relativamente próximas tenham condições de

temperatura, umidade e nebulosidade diferentes. A região ainda é caracterizada pela alta

incidência de radiação solar, sendo observadas grandes variações da temperatura entre o

dia e a noite, constante incidência de ventos e tempestades de raios (Dutra et al., 2002).

Dentre os principais tipos de vegetação encontrados no QF estão o Cerrado

(Savana), que é constituído por plantas de pequeno e médio portes e a Floresta Estacional

Semidecidual, que está presa ao clima de duas estações (seca e chuvosa) e possui

adaptação fisiológica à deficiência hídrica ou à baixas temperaturas, durante certo período

de tempo (RADAMBRASIL, 1983). O trabalho de Dutra, Rubbioli et al. (2002) ainda cita

a presença de campos rupestres em regiões de maiores altitudes sobre os afloramentos e

campos ferruginosos (Silva, 2007).

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3. Materiais e métodos

3.1. Definição e identificação dos locais de amostragem

Foram definidos 10 pontos para coleta de água no Quadrilátero Ferrífero, na região

centro sudeste do Estado Minas Gerais. Preferencialmente foram escolhidas regiões com

maior aporte de material orgânico, tais como brejos, lagos e alguns rios de coloração

escura, típica da presença de altas concentrações de substâncias húmicas. A seleção dos

locais de amostragem foi feita com base em imagens de satélite, visitas de campo e tendo

como referência os trabalhos de Silva (2010) e Craveiro (2011). A Tabela 3-1 exibe uma

descrição dos pontos de amostragem e o tipo de corpo d’água onde foi feita a coleta.

Tabela 3-1 – Descrição dos pontos de amostragem.

Ponto Amostra Descrição (localização) Tipo de corpo d'água

1 S1A Planalto ao sul da Serra do Caraça

(na MG-129) Brejo S1B

2 S2A

Leste do Morro do Frazão (próximo a MG-129) Lago S2B

S2C

3 S3A Serra do Itatiaia (próximo a MG-

443) Brejo S3B

4 S4A Ponte sob o rio Garcia na MG-443

(Serra do Itatiaia) Rio S4B

5 S5 Córrego Ouro Fino (próximo ao distrito de Bento Rodrigues) Córrego

6 S6 Rio Gualaxo do Norte Rio

7 S7 Córrego que desagua no rio Gualaxo do Norte Córrego

8 S8 Córrego Brumado Córrego

9 S9A

Cascatinha (Serra do Caraça) Córrego S9B

10 S10 Ribeirão Caraça (Serra do Caraça) Ribeirão

A região de estudo envolveu as sub-bacias do rio Gualaxo do Sul, ribeirão Caraça,

rio Gualaxo do Norte e rio Piracicaba. Elas estão inseridas dentro da bacia do Rio Doce,

que abrange os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

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45

3.1.1. Serra do Caraça e sua vizinhança

Uma região peculiar no desenvolvimento desse trabalho foi a Serra do Caraça, que

faz parte do complexo do Quadrilátero Ferrífero e pode ser definida como um conjunto

serrano de grandes dimensões, cuja maior parte de sua área é representada por exposições

rochosas de quartzitos, com a presença de solos muito rasos (Carvalho Filho, Curi et al.,

2010).

A rede de drenagem do Caraça tem como seu curso hídrico mais volumoso o

córrego Caraça, que possui águas escuras devido à matéria orgânica captada ao longo do

seu percurso e minerais dissolvidos pela água de suas rochas quartzíticas (Barbosa, 2005).

A importância dessa área para o presente trabalho vem dessas águas com alta concentração

de material húmico, que chegam a possuir até 5,03 mg/L de COD segundo Craveiro

(2011). A Figura 3-1 mostra a Serra do Caraça, onde é possível ver claramente os

afloramentos de rochas ricas em quartzo ao longo da montanha.

Figura 3-1 – Vista do maciço do Caraça.

Afloramentos de rochas quartzíticas ao longo da Serra do Caraça

Áreas de mineração de Fe no sopé da montanha

Criação de gado

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A região da serra abrange os municípios de Barão de Cocais, Catas Altas e

Mariana, que sobrevivem basicamente de atividades mineradoras. A área ainda abriga uma

Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), onde é encontrado o antigo colégio do

Caraça (Barbosa, 2005).

O parque do Caraça é uma área bastante deformada geologicamente, sendo situada

em uma das porções do maciço do Espinhaço, que é uma cordilheira de montanhas que

atravessa o estado de Minas Gerais e vai até o interior da Bahia. Os quartzitos presentes na

região “evidenciam uma deposição marinha que data os primórdios da evolução” (Barbosa,

2005, p. 5). É um ambiente que possui uma grande riqueza, abrigando dobras e falhas das

mais diversas variedades e amplitudes (Barbosa, 2005).

As montanhas da região do Caraça atingem altitudes superiores a 2000 m como é o

caso do Pico do Sol com 2070 m e o Pico do Inficionado com 2063 m. A serra é um

ambiente rico em biodiversidade com vegetação de transição entre Mata Atlântica e

Cerrado. Em altitudes maiores que 1400 m ainda é possível encontrar campos rupestres

(Barbosa, 2005).

A presença de um alto teor de quartzo proveniente das rochas quartzíticas

abundantes na região faz com que os solos da área da serra sejam, em geral, de textura

arenosa e estrutura fraca (Souza, 2006). O baixo teor de argilas nesse tipo de cobertura

inibe o acumulo de húmus, já que se sabe que solos de textura mais grosseira concentram

menor quantidade de matéria orgânica (Lepsch, Silva et al., 1982). A Tabela 3-2 exibe os

limites de teores médios de matéria orgânica para solos com diferentes texturas em um

mesmo tipo climático da região do QF.

Tabela 3-2 – Teores médios de matéria orgânica para solos de São Paulo cultivados, bem drenados, profundos e argila de atividade baixa, em locais de clima Cwa.

Textura Matéria orgânica (%)

Arenosa (areia e areia franca) 0,6-1,2 Média (franco-arenosa e franco-argilo-arenosa) 1,0-1,8

Argilosa (argilosa e argilo-arenosa) 1,5-2,8 Muito argilosa 2,4-3,8

Fonte: Lepsch, Silva et al. (1982).

As grandes variações de altitude fazem com que o Caraça tenha um microclima

particular, onde a umidade é elevada e predominam temperaturas amenas durante o ano

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todo (18 ºC a 19 ºC), cuja máxima raramente ultrapassa os 30 ºC e a mínima facilmente

alcança valores negativos (Dutra et al., 2002).

A Serra do Caraça possui uma imensa riqueza e uma enorme diversidade biológica,

abrigando inúmeras espécies de animais e plantas, como resultado da transição entre

biomas e da “presença de habitat únicos formados pelo relevo acidentado e pela rica rede

de drenagem” (Coimbra, 2006 p.152). Nela são encontradas desde espécies típicas de

cerrado, como os tamanduás, tatus e cotias, até animais típicos de florestas secundárias

como anfíbios anuros e alguns primatas como o sagui e o mico-estrela. Particularmente os

campos rupestres abrigam uma fauna com alto grau de endemismo, especialmente por

aves, anfíbios e invertebrados (Coimbra, 2006).

Apesar de possuir uma área bem preservada dentro dos limites da RPPN, a região

no entorno do Caraça destaca-se pela intensa degradação ambiental, principalmente na

porção leste, “gerando uma paisagem muito fragmentada, com poucos remanescentes de

vegetação nativa e com grandes manchas de monocultura de eucaliptos” (Coimbra, 2006,

p.124), como é mostrado na Figura 3-2. Outro aspecto negativo vem da presença de

minerações, que são encontradas nos limites das serra, como já foi destacado na Figura

3-1.

Figura 3-2 - Monocultura de eucaliptos no sopé da Serra do Caraça.

Serra do Caraça

Monocultura de eucaliptos

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A atividade mineradora nos limites da serra provoca grandes impactos ao meio

ambiente e à sociedade local. Às vezes, por localizarem-se próximas a núcleos urbanos, as

minerações geram poluição atmosférica e sonora, sem contar os registros de casas e janelas

trincadas devido a repetidas detonações em minas locais (Coimbra, 2006).

Outros grandes problemas na região são a clandestinidade de garimpos (que

ocorrem principalmente nos pequenos cursos d’água, que tem suas direções alteradas e

seus leitos revolvidos), a remoção da mata ciliar e a realização de empréstimo de solo para

construção de diques. Segundo Coimbra (2006, p. 165), esses impactos são facilmente

perceptíveis devido ao aumento da lixiviação e erosão dos solos, sendo possível “ver a

olho nu a turbidez nos córregos, oriunda da garimpagem”.

Dentre outros impactos gerados pela mineração estão o assoreamento de corpos

d’água e a emissão de pó em suspensão, oriundos do desprendimento da matéria no

momento da explosão. Do meio atmosférico, esse material vai depositar-se na área de

entorno das minas, prejudicando o crescimento de espécies rasteiras e impedindo o sistema

de aeração do solo e absorção de nutriente pelas plantas. A fauna também é prejudicada

pelo barulho das explosões (Costa, 2004 apud Coimbra, 2006).

Em relação à monocultura de eucaliptos no sopé da Serra do Caraça, cabe salientar

que as plantações ocupam grandes extensões e atendem a demandas para fabricação de

celulose e a produção de carvão vegetal para as siderúrgicas de ferro-gusa. O mais

impressionante é que as áreas ocupadas por esse tipo de cultura chegam a atingir 30% do

território do município de Catas Altas (Coimbra, 2006). Esses reflorestamentos provocam

grandes impactos ambientais na região devido ao uso de adubos químicos e herbicidas.

Outro grande problema é que o solo ainda fica exposto, potencializando o processo de

lixiviação de partículas do solo e produtos agroquímicos para os cursos d´água. Coimbra

(2006) ainda completa que o plantio de eucalipto é responsável pela destruição de

remanescentes florestais da região, provocando uma redução na biodiversidade destes

ambientes. A bacia do ribeirão Caraça, que se localiza dentro da RPPN Santuário do Caraça,

foi uma opção para amostragem por possuir cursos hídricos com alto teor de SH, o que é

evidenciado pelas suas águas de coloração amarronzada (Figura 3-3). Além disso, nesse

local, podem ser excluídas interferências antropogênicas, o que pode ser utilizado como

parâmetro de comparação com as bacias do entorno da Serra do Caraça (bacias do rio

Conceição, Gualaxo do Norte e Piracicaba) que sofrem com a degradação ambiental

advinda da mineração e da monocultura de eucaliptos, conforme já exposto anteriormente.

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A Figura 3-4 mostra a área onde foram coletadas as amostras. O mapa foi elaborado

com auxílio do software ArcGis (versão 10) e de cartas topográficas na escala 1:50000,

obtidas pela biblioteca digital do IBGE (2011). Destaca-se que os pontos de coleta 9 e 10

abrangeram a região dentro da RPPN do Caraça.

Figura 3-3 – a) Cascatinha, situada no córrego Cascata na área do parque do Caraça, com suas águas de coloração escura b) devido à presença de compostos húmicos.

a)

b)

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50

Figura 3-4 – Mapa de localização da área estudada.

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No entorno do Caraça, fora dos limites da RPPN, o ponto 1 também foi de relativa

importância ao aliar alta concentração de compostos húmicos (até 20 mg/L de COD,

segundo Silva, 2010) com a presença de elementos metálicos como o ferro, que foi

evidenciado pela presença de concreção laterítica, que pode ser visualizada na Figura 3-5.

Figura 3-5 – a) Coloração escura da água em um ponto ao sul da serra do Caraça (ponto 1), provavelmente devido ao Fe e a compostos húmicos. b) Presença de concreção laterítica.

Nesse ponto ainda foi possível observar claras variações na vegetação e no nível da

água ao longo das três campanhas de coleta. Inclusive não se pôde amostrar água no mês

de agosto/2011, pois o brejo estava seco, o que é mostrada na Figura 3-6.

Figura 3-6 – a) Nível d’água e vegetação (ponto 1) em outubro/2010, b) março/2011 e c) agosto/2011.

a) b)

a) b) c)

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As áreas dos pontos 1, 2, 5, 6, 7 e 8 estão inseridas na região dos limites da Serra do

Caraça que, como já foi exposto, sofre com os efeitos na mineração e da monocultura de

eucaliptos. Na Figura 3-7 é possível observar claramente o contraste entre a serra, uma

região minerada e o ponto 1 de coleta.

Figura 3-7 – Ponto de coleta em contraste com uma área minerada e a Serra do Caraça.

3.1.2. A Serra do Itatiaia e sua vizinhança

Outra área, cujo objetivo foi avaliar a presença de substâncias húmicas em uma

região com baixo aporte de elementos metálicos, foi a serra do Itatiaia, que é representada

pelo ponto 3, que é exibida na Figura 3-8. A presença de um brejo poderia ser um

indicativo de um maior teor de SHA, o que justificaria a escolha do ponto. Para isso foi

realizada uma visita de reconhecimento da região para avaliar suas características. A baixa

quantidade de metais esperada para as águas da região é devido à composição de suas

rochas, predominantemente quartzíticas, correspondentes ao Grupo Itacolomi. Não se

Serra do Caraça

Área de Mineração Região de coleta

de amostra

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descartou a influencia antropogênica para as águas desse ponto devido a sua grande

proximidade com uma rodovia estadual (MG-443).

Figura 3-8 – Ponto de coleta na serra do Itatiaia.

O rio Garcia (Figura 3-9) nas proximidades da Serra do Itatiaia foi outro ponto de

coleta que foi escolhido por estar aparentemente livre de influência antrópica (apesar de

estar situado próximo a rodovia MG-443) e ainda fazer parte do pacote quartzítico do

grupo Itacolomi, sendo esperado um baixo aporte de elementos metálicos.

Figura 3-9 - Rio Garcia (ponto 4).

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3.2. Amostragens e análises preliminares

Para cada ponto foram coletados cerca de 30 litros de água em galões plásticos de

10 L previamente limpos. Com auxílio de um equipamento multiparâmetro Ultrameter II

(Myron L Company) e um turbidímetro Digimed DM-TU previamente calibrados, os

parâmetros físico-químicos pH, temperatura, TDS, ORP, resistividade, condutividade e

turbidez foram avaliados in situ, por poderem influenciar na formação, composição e

concentração das SHA. Em laboratório foram feitas análises de alcalinidade, cloretos e

sulfatos, baseadas na metodologia proposta pelo Standard Methods (APHA, AWWA et al.,

1994). Outras alíquotas de água foram coletadas para análise de metais5 e COD e mantidas

refrigeradas a 4 ºC até o momento das análises em laboratório. Conforme mencionado por

Grasshoff, Kremling et al. (1999), o armazenamento de amostras em recipientes plásticos

pode causar interferências nos resultados de carbono. Por isso, optou-se por manter as

águas coletadas em frascos de vidro âmbar (cerca de 20 mL). Não foi utilizado material

transparente de forma a evitar quaisquer alterações da luz no material húmico.

3.2.1. Análise de metais

As primeiras análises de metais (amostras S1A e S2A) foram feitas no Helmholtz-

Zentrum für Umweltforschung (UFZ) em Magdeburg (Alemanha), onde foi utilizado um

ICP-MS6 (Agilent 7500 c; Agilent, Alemanha) sem célula de colisão (modo de reação

desligado). A potência de radiofrequência (RF) foi de 1500 W e a taxa de fluxo do gás

carreador foi de 1,14 L/min.

A calibração foi feita em todos os casos usando soluções estoque padrão da Merck,

que foram aferidas por meio de análises regulares de material de referência internacional

NIST 1643c (elementos traços em água). Medições em triplicata de amostras selecionadas

e a participação regular em ensaios interlaboratoriais de checagens de validação

asseguraram a acurácia e a reprodutibilidade das análises. Erros foram menores que 10%

para todos os parâmetros.

As análises dos demais pontos de amostragem foram feitas no Laboratório de

Geoquímica Ambiental (LGqA) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Os

5 Após a coleta foram adicionadas 3 ou 4 gotas de HNO3 concentrado para manter os metais em solução (APHA, AWWA et al., 1994). 6 Espectrômetro de emissão atômica com fonte de plasma indutivamente acoplado e detector de massas.

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metais foram analisados por um ICP-OES7 (Spectro/modelo Ciros CCD) em modo radial.

A potência de saída do gerador foi de 1250 W, a taxa de bombeamento foi de 2 mL/min, o

fluxo de plasma foi de 12 L/min e o fluxo do gás nebulizador foi de 0,90 L/min. Em todos

os casos argônio foi utilizado como gás.

A calibração foi feita usando soluções estoque padrão com grau e pureza analítica,

avaliados por meio de padrão internacional de referência NIST 1643c.

3.2.2. Análises de carbono orgânico dissolvido

Assim como na análise de metais, as análises de COD dos pontos S1A e S2A foram

realizadas no UFZ (Alemanha). As amostras foram previamente filtradas por meio de um

filtro de seringa (Millipore). Parte do filtrado foi descartado para evitar contaminação pelo

material filtrante. As medições foram feitas por meio de rotina automática usando o

equipamento DIMATOC 2000 C-analyzer (Dimatec Analysentechnik, Alemanha), onde o

carbono inorgânico foi removido por meio da adição de ácido fosfórico (H3PO4) a 160 ºC.

Posteriormente, o COD foi liberado pela adição de HCl (20%), transformado em CO2 em

um reator a 850 ºC e detectado por uma célula IV (espectrometria de infravermenlho).

As demais análises de COD foram realizadas em Niterói (RJ) pela Universidade

Federal Fluminense (UFF) com auxílio do equipamento Total Organic Carbon Analyser

V-CPH (Shimadzu, Japão). O método utilizado envolveu a determinação do carbono total

dissolvido (CTD) e do carbono inorgânico dissolvido (CID) das amostras (que foram

previamente filtradas em membranas de 0,45 µm). O COD foi obtido através do cálculo da

diferença entre os dois valores (CTD - CID). Na determinação do CTD, as amostras foram

introduzidas em um tubo de combustão que era aquecido a 680 ºC, onde os componentes

de CTD foram convertidos em CO2, que no final do processo foi detectado por uma célula

de infravermelho não dispersivo (NDIR). O CID medido pelo equipamento foi detectado

através da acidificação da amostra até pH 3 com o uso de HCl, onde todos os carbonatos

foram convertidos em CO2. No final do processo, todo CO2 da amostra foi volatilizado

pela injeção de ar ou gás nitrogênio e detectado pela célula NDIR.

7 Espectrômetro de emissão por plasma.

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3.3. Extração de SHA empregando o método da resina DAX-8

O procedimento de extração das substâncias húmicas por colunas cromatográficas

com resina macroporosa DAX-8 foi baseado na metodologia proposta por Thurman e

Malcolm (1981) e recomendada pela IHSS (2008).

Inicialmente, as amostras foram filtradas em filtro qualitativo e, em seguida, em

membranas com poro de 0,45 µm. Os galões com água coletada foram acidificados com

ácido clorídrico 1:1 até pH =2, para protonação dos ácidos e adsorção destes pela resina. A

Figura 3-10 representa as etapas para extração e caracterização físico-química das SHA e

análise de metais.

Antes da montagem das colunas, certa quantidade de resina (aproximadamente 60

gramas) foi pesada em um erlenmeyer e purificada, conforme método descrito abaixo:

a) Adicionou-se metanol até a imersão da resina no recipiente;

b) Agitou-se durante 20 minutos à temperatura ambiente;

c) Descartou-se o metanol e lavou-se a resina com água destilada cerca de 4 vezes;

d) Adicionou-se solução de ácido clorídrico 0,1 molL-1 até a imersão da resina no

erlenmeyer;

Amostra de água

Amostra de água

Filtração 0,45µm Partículas

Acidificação até pH 2 com HCl

Eluição com NaOH

Adsorção DAX-8 Não húmicos

Caracterização

Caracterização

Figura 3-10 – Etapas de preparação das amostras para caracterização e extração de SHA por resina DAX (modificado de Steinberg, 2003).

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e) Agitou-se o sistema (não continuamente) por 12 horas à temperatura ambiente,

que depois permaneceu em repouso por mais 12 horas;

f) Lavou-se a resina com água destilada até que o pH da água de lavagem

estivesse próximo de 7;

g) Adicionou-se solução de hidróxido de sódio 0,1 M até a imersão da resina no

erlenmeyer;

h) Agitou-se o sistema (não continuamente) por 12 horas à temperatura ambiente,

que depois permaneceu em repouso por mais 12 horas;

i) Lavou-se a resina com água destilada até que o pH da água de lavagem

estivesse próximo de 7.

Após a purificação da resina, a coluna cromatográfica foi preenchida seguindo o

seguinte procedimento:

a) Encheu-se a coluna com água destilada;

b) A torneira da coluna foi aberta para que ficasse gotejando, enquanto a resina era

adicionada lentamente com auxilio de uma pipeta de ponta quebrada;

c) Adicionou-se resina até que cerca de 50 a 60% da coluna fosse preenchida;

d) Fechou-se a torneira e adicionou-se mais água destilada até o transbordamento

para saída do sobrenadante;

e) Foi colocado um algodão sobre a resina e, para finalizar o empacotamento, foi

colocado um segundo algodão, para evitar interferências no acondicionamento

da resina, em caso de entupimento.

Depois do preenchimento, os galões com água filtrada e acidificada foram

conectados a coluna com tubos plásticos, de modo que a amostra passasse pela resina sob

ação da gravidade. A torneira foi aberta e a vazão da amostra não foi constante, sendo

maior durante o dia e menor durante a noite. O líquido que saia do sistema (denominado

água após passar pela resina) foi coletado para análise de metais, com objetivo de

identificar prováveis elementos que não estavam adsorvidos pelas substâncias húmicas e

escaparam durante o processo. O procedimento é mostrado esquematicamente na Figura

3-11.

Finalmente, após passar todo líquido pela coluna, as SHA foram eluídas com uma

solução de NaOH de concentração 0,1 M conforme mostrado na Figura 3-12 . Então, o

extrato mais escuro era recolhido, possuindo um pH em torno de 12. Para evitar alterações

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nas características das SH, a amostra foi acidificada até que se atingisse um pH em torno

de 5 e 6 (números próximos aos valores de pH das águas no momento da coleta). Foram

recolhidas alíquotas para análise de COD (em vidro âmbar). Para avaliação de metais ainda

foi necessário ajustar o pH para 2 (segundo APHA, AWWA et al., 1994).

Figura 3-11 – Desenho esquemático da extração de SHA com resina DAX-8.

Figura 3-12 – a) Eluição da coluna com resina DAX-8 e b) coleta do extrato.

Ácidos húmicos precipitaram para algumas amostras acidificadas que ainda

possuíam alto teor de material orgânico. Sendo assim, foi necessário efetuar digestão ácida

dessas amostras para eliminação do COD e evitar possíveis interferências nos resultados e

a) b)

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entupimento do ICP-OES. Destaca-se que a digestão foi realizada baseando-se no

procedimento proposto pelo Standard Methods (APHA, AWWA et al., 1994).

3.4. Extração das SHA empregando o método de evaporação rotativa

Para extração das substâncias húmicas aquáticas empregando-se um evaporador

rotativo, foi inicialmente necessário filtrar cerca de 10 L de água em filtro qualitativo e, em

seguida, em membranas com poro de 0,45 µm.

Cerca de 500 mL de amostra foram colocados no balão de ebulição do evaporador

rotativo (MARCONI, modelo MA-120) e o vácuo foi produzido com auxílio de uma

bomba SYMBOL VACUO modelo A40. O sistema utilizado durante os procedimentos de

concentração é exibido na Figura 3-13.

Figura 3-13 – Evaporador rotativo a vácuo.

Depois de uma redução de cerca de 50% no volume do balão de ebulição, o extrato

obtido era despejado de volta no galão com água filtrada e 500 mL de amostra eram

novamente adicionados ao balão. Esse procedimento foi repetido até que o volume total

(10 L) coletado reduzisse cerca de 100 vezes.

Diferente do método das colunas com resina DAX-8, esse procedimento por

evaporação concentra todos os metais da amostra, assim como todos os solutos inorgânicos

Balão coletor

Balão de Ebulição

Condensador

Bomba de

vácuo

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e materiais não húmicos presentes na solução coletada. Ressalta-se ainda que a temperatura

empregada no compartimento de água foi de 45 ºC, de modo a evitar possíveis alterações

das substâncias húmicas estudadas, já que elas são sensíveis à temperatura. O vácuo foi

produzido para diminuir o ponto de ebulição da água e tornar o processo de diminuição do

volume da amostra mais rápido.

3.5. Análise multivariada dos dados das amostras de SHA

A técnica utilizada para a análise exploratória dos dados nesse trabalho foi a rede

neural de Kohonen, cujo objetivo foi reduzir o número de dimensões a serem analisadas,

preservando as informações originais relevantes com objetivo de facilitar a observação e

interpretação dos resultados. O software empregado para realizar a análise multivariada foi

o Matlab 7.5 (The MathWorks, Natick, MA), onde foi utilizado o toolbox da rede neural

artificial de Kohonen, que é disponível gratuitamente na internet no site

http://www.cis.hut.fi/projects/somtoolbox/ (Alhoniemi, Himberg et al., 2005).

Inicialmente, os resultados dos parâmetros obtidos em campo e em laboratório

foram organizados em planilhas. Alguns metais e parâmetros físico-químicos foram

excluídos da análise por possuírem muitas amostras ausentes ou com valores abaixo do

limite de quantificação, o que poderia comprometer a integridade e confiabilidade

resultados obtidos pela aplicação do método SOM, já que a rede de Kohonen trata-se de

uma técnica quantitativa.

Antes do processamento, todo o conjunto dos dados foi autoescalado ao longo das

variáveis. Isso quer dizer que as variâncias das variáveis foram normalizadas (sendo

computados valores unitários para as variâncias) e as médias calculadas a zero. O

escalamento das variáveis é de vital importância para a aplicação da rede neural de

kohonen, pois se uma variável possuir um valor muito alto e outra um valor muito baixo, a

primeira dominará quase completamente a organização do mapa. “Tipicamente, na maioria

dos casos, é desejável que as variáveis sejam igualmente importantes”. Desse modo, esse

procedimento de pré-processamento dos dados garante que todos os valores das variáveis

tenham o mesmo nível de importância, de modo que os usuários sejam capazes de avaliar a

significância de todas as variáveis em todas as amostras (Da Silva, 2007, p.92).

Em seguida os dados foram processados pelo programa, obtendo-se a rede neural

de Kohonen com um mapa de grupamentos das amostras e diversos mapas com cada

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variável individualmente representada. As colorações mais avermelhadas nos neurônios

indicam altos valores para aquela variável. Já as colorações azuladas representam os

menores valores para a mesma variável. Destaca-se que os neurônios do mapa das

variáveis são comparados com os neurônios do mapa de grupamentos das amostras com

objetivo de avaliar quais parâmetros estão influenciando uma dada amostra. Durante o

tratamento dos dados foram testadas arquiteturas de várias ordens (de 2x2 a 6x6) para

avaliação dos grupamentos das amostras e que foi escolhida a arquitetura que obteve a

melhor distribuição amostral em grupos (a que teve caráter mais informativo).

Exemplos da aplicação da rede de Kohonen encontram-se no capítulo “Resultados e

discussão” do presente trabalho.

3.6. Avaliação da origem dos elementos nas regiões estudadas

Os metais podem entrar em um ecossistema aquático por deposição atmosférica,

pelo intemperismo de rochas, erosão de solos e por fontes antropogênicas como efluentes

industriais e resíduos da mineração (Ebrahimpour e Mushrifah, 2008). Entretanto, o

problema de elementos metálicos no ambiente é a sua quantidade, forma e disponibilidade

para os seres vivos. Um bom exemplo é Cr3+, que não é tóxico, diferente do Cr6+ que é

cancerígeno. Destaca-se que os fatores que podem influenciar a disponibilidade de

elementos químicos em corpos d’água são as condições físicas e químicas ambientais do

meio. Um exemplo para esse caso é o ferro (II) que é solúvel, mas, quando oxidado para

ferro (III) torna-se insolúvel e consequentemente fica imóvel. Em suma, podemos dizer

que a quantidade de metais liberados no ambiente vai depender de sua resistência física ao

intemperismo, sua solubilidade em água e sua mobilidade influenciada seus pelos valores

de Eh e pH (Craveiro, 2011).

Como forma de avaliar a origem dos elementos nas áreas amostradas, foi elaborado

um mapa litológico da região estudada, conforme exibido na Figura 3-14. Para confecção

da carta foi utilizado o software ArcGis (versão 10), cartas topográficas na escala 1:50000

obtidas pela biblioteca digital do IBGE (2011) e dados litológicos do CPRM (2010)

disponíveis em internet.

A camada de dados litológicos foi cruzada com a dos pontos de coleta, do contorno

das bacias hidrográficas e da rede hidrográfica no ArcGis. O objetivo foi descobrir quais os

tipos de rochas nas regiões a montante do local de coleta. Com o litotipo em mãos, foi

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possível deduzir os prováveis elementos que poderiam estar sendo carreados dentro de

cada bacia hidrográfica para cada ponto de amostragem. Os resultados foram comparados

com os dados das análises de metais obtidas por ICP-OES e ICP-MS e com as análises

multivariadas.

Na Figura 3-14 é importante observar que para as unidades Itacolomi e Caraça não

foi mencionada a presença de rochas quartzíticas, que são visivelmente abundantes nessas

áreas. Entretanto, nas análises da origem dos elementos pelo intemperismo esses litotipos

foram considerados.

Figura 3-14 – Mapa litológico da região estudada.

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63

4. Resultados e discussão

Durante a acidificação dos extratos para análise de metais, após a eluição das

colunas cromatográficas, notou-se visualmente a separação das substâncias húmicas em

ácidos húmicos e ácidos fúlvicos. Na Figura 4-1 a) pode-se observar que no frasco de pH

próximo de 5,8 todas as SH estão dissolvidas em solução, enquanto que no frasco da

mesma amostra, com pH<2, os AH se precipitaram. Destaca-se que os dois frascos onde as

amostras foram armazenas são transparentes.

'

Figura 4-1 – a) SHA fracionadas em AH e AF (os dois frascos são transparentes). b) Amostras com diferentes teores de AH e AF.

Com o abaixamento do pH das amostras também se percebeu que os AH possuem

coloração amarronzada e os AF possuem coloração amarelada, o que é concorrente com o

que diz a literatura (Stevenson, 1994). Com isso pôde-se inferir, por exemplo, que o ponto

3 apresentou menor teor de AH se comparado com o ponto 9 (Figura 4-1 b). Essa diferença

nos teores de ácidos fúlvicos e húmicos poderia estar ligada às características do local onde

o material húmico foi formado e o tipo de matéria orgânica. Ainda, podemos supor que nas

regiões com maior aporte de AF, os AH foram degradados ou produzidos em menor

quantidade. Rosa (1998) ressalta que essa variação está ligada ao grau de humificação dos

compostos húmicos. Análises mais detalhadas após um posterior fracionamento das

amostras seriam necessárias para comprovar tais afirmativas.

Foi elaborada uma tabela (Tabela 4-1) com os dados de COD de quatro amostras de

água que passaram pela resina (CODr) e que foram coletadas para o cálculo da

a) b)

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porcentagem média de material húmico retido nas colunas cromatográficas (rendimento da

extração). Considerou-se que o COD medido das águas naturais (COD) contém material

húmico e não húmico. Já a água que passou pela resina possui predominantemente material

não húmico e eventualmente SH que não foram adsorvidas pela resina, já que grande parte

dos ácidos húmicos e fúlvicos fixou-se nas colunas cromatográficas. Desse modo,

subtraindo-se o COD total (águas naturais) do CODr foram obtidos valores entre 31,79 a

70,23% de material húmico retido. Esses dados foram calculados com base em uma regra

de três simples e a média encontrada foi de 46,80% de compostos húmicos. As diferentes

porcentagens de material húmico fixado nas colunas podem ser explicadas pelos diferentes

teores de SH presentes nas amostras coletadas. Ressalta-se que para valores mais

adequados (foram realizadas poucas medidas) seriam necessárias mais medidas do carbono

da água que passou pela resina, o que é uma sugestão para futuros trabalhos.

Tabela 4-1 - Porcentagem de COD retido na coluna para algumas amostras

Amostra COD* CODr** % do COD

total retido na coluna

S2C 1,51 1,03 31,79 S3B 3,88 2,23 42,53 S4B 0,722 0,414 42,66 S9A 3,83 1,14 70,23

Média 2,49 1,21 46,80 * Carbono orgânico dissolvido das amostras de águas naturais.

** Carbono orgânico dissolvido das amostras de água após passar pela resina DAX-8.

Além dos diferentes tipos de material húmico encontrados nos pontos de coleta, o

baixo rendimento de COD extraído (<50%) também pode ser explicado pela capacidade

tampão das SHA (Stevenson, 1994; Tipping, 2002). Como o pH das amostras foi ajustado

para 2 no início do procedimento e não foi controlado durante o processo de extração, ele

pode ter aumentado, fazendo com que as condições de protonamento dos ácidos húmicos e

fúlvicos fossem reduzidas, tendo como consequência a não adsorção de parte do material

húmico, que pode ter sido liberado juntamente com a água que passou pela resina.

As amostras de água foram coletadas em diversos períodos do ano abrangendo as

estações seca e chuvosa, como pode ser observado na Tabela 4-2, que também exibe

alguns parâmetros físico-químicos medidos em campo e em laboratório.

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Tabela 4-2 - Épocas de coleta e alguns parâmetros físico-químicos das amostras analisadas

Amostra Data da coleta

Estação do ano

COD (mg/L)*

CODc (mg/L)**

T (OC)

Alcalinidade (mg CaCO3/L)

S1A 08/10/2010 Transição 2,79 ND*** 24 ND S1B 19/03/2011 Chuva 1,40 ND 24,1 4,30 S2A 08/10/2010 Transição 2,62 ND 25 ND S2B 19/03/2011 Chuva 1,17 35,94 27,4 11,90 S2C 03/08/2011 Seca 1,51 ND 22,4 5,03 S3A 25/11/2010 Chuva ND ND 22,7 7,61 S3B 17/06/2011 Seca 3,88 73,05 18 4,96 S4A 25/11/2010 Chuva 2,71 ND 19,17 17,53 S4B 17/06/2011 Seca 0,72 11,26 16 18,35 S5 02/12/2010 Chuva 1,40 4,32 24,4 5,95 S6 02/12/2010 Chuva 1,48 18,58 25,7 36,37 S7 02/12/2010 Chuva 1,38 ND 22,2 8,93 S8 19/03/2011 Chuva <0,50 5,16 21,4 8,93

S9A 22/05/2011 Transição 3,83 199,09 15,6 1,98 S9B 14/08/2011 Seca 2,20 ND 16,8 3,03 S10 22/05/2011 Transição 3,63 47,61 13,9 2,48

Média - - 2,19 49,37 21,17 9,810 Maior valor - - 3,88 199,09 27,40 36,37 Menor valor - - 0,72 4,32 13,90 1,98

Desvio padrão - - 1,06 64,97 4,08 9,21

* Refere-se às medidas de carbono orgânico dissolvido de águas naturais (in natura). ** O CODc refere-se aos valores de carbono orgânico dissolvido dos extratos húmicos

obtidos após a eluição das SHA. Todas as medidas do CODc são referentes a extratos com volume igual a 200 mL.

*** ND = Não determinado.

A média dos valores encontrados para o COD das amostras ficou em 2,19 mg/L,

dentro do esperado para água naturais, onde as concentrações de carbono são baixas

(Rocha e Rosa, 2003). Os maiores valores para o COD foram detectados na serra do

Itatiaia (ponto S3B) e na serra do Caraça (ponto S9A) com concentrações superiores a

3,5 mg/L.

O alto valor de 3,88 mg/L encontrado na serra do Itatiaia pode ser explicado pelo

local ser um brejo, com grande acúmulo de matéria orgânica e, consequentemente, com a

formação de material húmico.

Apesar do tipo de cobertura ser predominantemente de textura arenosa (que tem

baixa taxa de acúmulo de matéria orgânica), foi possível observar solos orgânicos na Serra

do Caraça em local próxima ao córrego Cascata, como é mostrado na Figura 4-2. Uma

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possibilidade para essa formação seria que a área foi uma bacia de captação, onde o

material orgânico acumulou-se por ação da lavagem dos solos arenosos a montante da

região observada. Hoje, esses solos orgânicos perdem material húmico, que estariam sendo

carreados para os córregos do Caraça. A lixiviação dessa cobertura pedológica rica em

húmus ajudaria a explicar a alta concentração de SH (3,83 mg/L) encontrada na Cascatinha

(amostra S9A).

Figura 4-2 – a) Solos orgânicos escuros da região da Serra do Caraça. b) Sulcos erosivos na Serra do Caraça.

Os sulcos erosivos observados na Figura 4-2 b) provavelmente são de origem

humana, já que foram abertas passagens para caminhadas na área do parque. Isso reforça a

suposição de que atualmente o material húmico dos solos está sendo carreado para os

córregos, de modo que nessa área o processo ocorre de forma acelerada por ação antrópica.

Entretanto, somente pesquisas mais detalhadas sobre a composição dos compostos

húmicos dos solos e das águas comprovariam essa teoria da origem das SH nos cursos

hídricos da região.

Ainda é importante observar que durante a segunda coleta na Serra do Caraça

(amostra S9B - Tabela 4-2) a quantidade de COD obtida foi de apenas 2,20 mg/L,

resultado menor se comparado com o da primeira coleta, onde foi obtido um valor de

3,83 mg/L. Esse fato pode ser explicado pela segunda amostragem ter sida realizada na

estação seca e, portanto, uma menor quantidade de material húmico foi carreado por ação

a) b)

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de chuvas para os corpos d’água da região, fazendo com que o valor do COD fosse mais

baixo. A primeira amostragem foi realizada em uma estação de transição, no final do

período úmido, ainda sendo registradas chuvas eventuais que provavelmente lixiviavam

material húmico para os córregos. Esse processo é potencializado devido aos solos com

baixo teor de argilas, que não tem a capacidade de reter material orgânico. É o que também

foi observado no ponto 4 (amostras S4A e S4B), que é uma área litologicamente parecida

com o Caraça e apresentou maiores concentrações de COD no período chuvoso.

É interessante notar que as zonas com rochas predominantemente quartzíticas como

o Caraça e o Itatiaia possuíram maior concentração de SH se comparadas com as outras

áreas com diferentes litotipos. Uma provável explicação para isso também poderia ser a

presença de solos de textura arenosa e estrutura fraca provenientes da decomposição do

quartzito presente nessas regiões (Souza, 2006). A pouca presença de argilas nas

cabeceiras dos rios no parque do Caraça e na Serra do Itatiaia forçaria uma maior liberação

de compostos húmicos para os corpos d’água, já que eles não formariam agregados com a

matéria orgânica. Esse processo seria mais ativo em épocas chuvosas. Também, cabe

salientar que o caso do ponto 3 (na serra do Itatiaia) difere-se um pouco por ser um brejo, e

não córrego, como na região do Caraça (pontos 9 e 10). Ressalta-se ainda que essa questão

envolvendo solos, compostos húmicos e corpos hídricos é mais um assunto a ser tratado

em futuras pesquisas.

O valor mais baixo de COD entre as amostras foi encontrado em um pequeno

córrego que desagua no rio Piracicaba (amostra S8 - Tabela 4-2). Isso possivelmente

ocorreu devido ao curso d’água estar próximo a nascente e livre de maiores interferências

externas provenientes do carreamento de material húmico para o curso hídrico. Além disso,

a região provavelmente é mais pobre em materiais orgânicos e rica em ferro, o que pode

ser constatado pela cor avermelhada do solo, que pode ser observada na Figura 4-3. A

pouca matéria orgânica produzida também apresenta maior taxa de acumulação no solo,

que provavelmente tem textura mais fina se comparado com os solos do Caraça e Itatiaia,

que se formaram sobre rochas predominantemente quartzíticas e tem a tendência de formar

solos mais arenosos. Apesar da proximidade do córrego com o distrito de Santa Rita

Durão, não foram observados valores anômalos para alcalinidade se compararmos com os

demais pontos de coleta. Isso pode indicar que há pouca ou nenhuma interferência

antropogênica para esse parâmetro no local da coleta apesar, também, da proximidade da

área de coleta com uma rodovia.

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Figura 4-3 – a) Córrego desaguando no rio Piracicaba. b) Coleta de água nas margens do córrego.

Ao observarmos o ponto 2 (amostras S2A, S2B e S2C) podemos constatar que as

maiores concentrações de COD foram observadas em época de transição, no início do

período chuvoso (amostra S2A). O caso é o mesmo do ponto 1, onde nas primeiras chuvas

há grande concentração de COD proveniente da degradação da matéria orgânica seca

originada no período inverno. No período chuvoso há o efeito da diluição.

A Tabela 4-2 ainda nos fornece informações sobre o carbono orgânico obtido a

partir da concentração das amostras em colunas cromatográficas com resina DAX-8

(CODc). Esse carbono orgânico corresponde as substâncias húmicas que ficaram retidas na

resina durante o processo de extração. Destaca-se que todos os valores foram

padronizados8 para um extrato de 200 mL. O procedimento foi realizado com sucesso,

obtendo-se uma média de material húmico de 49,37 mg/L de COD por amostra. O ponto

que obteve a maior concentração se SH foi o ponto 9, na área da Serra do Caraça, por

razões já expostas.

Com base no mapa com as litologias da área de coleta (Figura 3-14) foi elaborada

uma tabela (Tabela 4-3) com os prováveis elementos que estariam presentes nas águas

coletadas. Destaca-se que esses elementos químicos foram estimados com base na

composição mineralógica dos litotipos presentes (Tabela 4-4) ao longo das bacias

8 Todos os extratos foram quantificados após o procedimento de extração das SHA.

a) b

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hidrográficas a montante dos pontos amostrados e que as rochas na região estudada são

predominantemente metamórficas.

Tabela 4-3 – Localização e litotipo das áreas estudadas.

Tabela 4-4 - Algumas rochas e seus constituintes. Rocha Tipo Constituintes principais Constituintes menores

Quartzito Metamórfica Quartzo Muscovita, biotita, sericita, turmalina e dumortierita

Filito Metamórfica Quartzo, clorita e sericita Grafita, turmalina, carbonato, hematita, etc.

Xisto Metamórfica Quartzo, moscovita, biotita, granada, etc. -

Itabirito Metamórfica Quartzo, óxidos de ferro (hematita, magnetita) -

Dolomito Sedimentar Dolomita - Fonte: baseado em Machado, 2012.

Os resultados dos parâmetros físico-químicos (pH, Cond, ORP, Turb, Resis, TDS e

Cl) e metais analisados em amostras de águas naturais são exibidos na Tabela 4-5. Já os

resultados das análises de metais em extratos húmicos obtidos após a eluição das SHA são

exibidos na Tabela 4-6. Ressalta-se que foram determinados os elementos metálicos

maiores Al, Na, Ca, Fe, K, Mg, Mn e Ti; e os traços As, Ba, Be, Cd, Co, Cr, Cu, Li, Mo,

Ni, P, Pb, S, Sc, Sr, V, Y e Zn. Alguns deles foram desconsiderados por possuir muitos

valores abaixo do limite de quantificação para todas as amostras analisadas.

Prováveis elementosLatitude Longitude elevação (m) presentes nas águas

Caraça Metaconglomerado, filito e quartzito Na, K, Ca, Si, AlQuebra Osso Formação ferrífera bandada e metachert Fe, Al, Ca, Mg, Ti

Piracicaba Filito, dolomito e xisto Ca, Mg, Na, K, Al, FeItabira Xisto, filito, Itabirito e dolomito K, Si, Ca, Mg, Fe, Al

Itacolomi Metaconglomerado, filito e quartzito Si, Al, Na, K, CaFilito, dolomito e Ca, Mg, Na, K, Al,

xisto Fe

Nova Lima Xisto, rocha metamáfica e metagrauvaca k, Si, Fe, MgItacolomi Filito e metaconglomerado Si, Al, Na, K, CaMaquiné Xisto, conglomerado e filito Si, Al, Na, K, Ca

Dom Silvério Formação maganesífera MnCaraça Filito e metaconglomerado Si, Al, Na, K, Ca

Itacolomi Metaconglomerado, filito e quartzito Na, K, Ca, Si, Al6 Piracicaba Filito, dolomito e xisto Ca, Mg, Na, K, Al, Fe

Itabira Xisto, filito/Itabirito e dolomito Fe, Si, Al, Na, Ca, MgItacolomi Metaconglomerado, filito e quartzito Si, Al, Na, K, Ca

7 Piracicaba Filito, dolomito e xisto Ca, Mg, Na, K, Al, FeItabira Xisto, filito, itabirito e dolomito Fe, Si, Al, Na, Ca, Mg

8 S 20o09'43,5'' W 43o25'11,5'' 817 Piracicaba Filito, dolomito e xisto Ca, Mg, Na, K, Al, FeMetaconglomerado,

filito e quartzito10 S 20o05'52,9'' W 43o29'23,4'' 1239 Caraça Metaconglomerado, filito e quartzito Na, K, Ca,Si, Al

Ponto

1

2

9

4

3

5

S 20o06'22,1'' W 43o28'27,2'' 1261

Localização

S 20o09'43,7'' W 43o25'54,8'' 903

S 20o29'49,5'' W 43o36'55,6'' 1065

S 20o15'55,7'' W 43o28'32,7'' 763

S 20o27'51,8'' W 43o35'26,0''

S 20o16'33,9'' W 43o25'51,3'' 723

S 20o16'50,0'' W 43o26'25,5'' 729

S 20o13'49,7'' W 43o25'06,5'' 728

1220

Unidade Litotipo

Si, Al, Na, K, Ca

Si, Al, Na, K, Ca

Caraça

Piracicaba

Itacolomi Filito, metaconglomerado e quartzito

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Tabela 4-5 – Resultados dos parâmetros físico-químicos e metais analisados em águas naturais. Amostra pH Cond

(µS) ORP (mV)

Turb (NTU)

Resis (KΩ)

TDS (mg/l)

Cl (mg/L)

Ba (µg/L)

Ca (mg/L)

Fe (µg/L)

K (mg/L)

Mg (mg/L)

Mn (µg/L)

Na (mg/L)

S (mg/L)

Sr (µg/L)

S1A 5,92 10,79 155 6,57 90,35 6,92 0,98 8,730 1,229 4342,00 0,987 0,160 112,600 1,338 0,340 4,826

S1B 5,30 26,74 102 4,10 39,52 15,64 4,49 1,340 0,769 253,10 0,116 0,030 32,360 0,325 0,118 2,060

S2A 6,64 28,58 108 7,29 34,96 17,85 2,41 14,670 1,357 11,48 0,324 0,652 31,560 0,326 0,094 6,350

S2B 6,16 19,51 58 32,60 48,61 12,52 4,49 54,300 2,056 36,93 0,324 0,794 4,434 0,526 0,131 7,670

S2C 7,70 11,22 268 64,80 87,56 7,23 0,50 6,850 1,545 77,60 0,060 0,456 35,680 0,303 <LQ** 3,104

S3A 6,33 19,82 109 2,81 50,26 12,40 ND* 9,890 0,839 82,20 2,500 0,252 78,700 0,578 0,177 8,780

S3B 6,29 7,80 211 3,74 98,20 6,55 ND 8,050 2,000 10,55 0,457 0,333 72,600 1,015 0,454 12,680

S4A 7,45 41,17 59 36,80 24,13 26,10 ND 7,660 2,423 68,80 0,604 1,475 9,770 1,005 0,145 11,780

S4B 6,73 39,83 207 0,99 24,85 26,37 ND 9,380 4,068 65,20 0,367 1,995 6,360 1,516 0,278 16,660

S5 7,09 7,53 79 34,30 132,10 4,73 2,66 6,650 0,523 70,50 1,901 0,156 21,740 0,434 0,070 2,060

S6 7,25 127,30 45 267,00 0,00 80,74 2,33 27,330 6,270 680,00 0,953 2,401 105,300 12,280 3,159 10,980

S7 6,89 35,48 62 279,00 28,17 22,46 0,66 20,790 2,483 356,30 1,862 0,882 234,600 2,477 0,224 4,281

S8 7,30 20,50 61 9,67 48,00 13,05 4,66 10,440 1,373 71,70 0,184 0,620 2,023 0,360 0,072 3,927

S9A 5,40 7,97 247 1,24 119,70 5,18 0,50 5,860 1,651 469,40 0,481 0,141 8,290 1,522 0,192 2,094

S9B 6,22 4,60 183 ND 189,90 3,01 0,75 1,336 0,301 104,00 0,122 0,149 3,863 0,342 <LQ 0,904

S10 5,75 4,99 218 0,79 172,70 4,04 ND 5,980 0,927 119,10 0,266 0,092 5,600 1,005 0.098 1.961

* ND= Não determinado ** LQ = Limite de quantificação

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71

Tabela 4-6 – Resultados das análises de metais dos extratos húmicos obtidos após a eluição das SHA.

Amostra* Al (µg/L)

Ba (µg/L)

Ca (mg/L)

Cu (µg/L)

Fe (µg/L)

K (mg/L)

Mg (mg/L)

Mn (µg/L)

S (mg/L)

Sr (µg/L)

Ti (µg/L)

Zn (µg/L)

S2B 55,136 4,347 0,801 2,561 92,271 35,043 0,037 6,177 0,635 1,129 <LQ** 15,147

S3B 99,820 14,421 0,599 3,533 243,340 16,003 0,015 7,898 0,774 1,553 4,324 28,382

S4B 102,340 1,243 0,253 1,311 348,330 2,876 0,044 3,966 0,120 0,716 1,991 11,135

S5 88,960 2,364 0,503 2,988 84,280 3,756 0,003 3,756 0,378 0,676 1,910 17,932

S6 20,682 3,947 1,130 <LQ 15,800 21,001 0,408 2,954 1,349 2,029 <LQ 36,882

S8 90,171 2,511 0,497 4,515 645,000 4,390 0,016 8,553 0,190 0,915 <LQ 19,169

S9A 374,778 17,080 2,128 12,681 1792,580 17,099 0,060 15,783 1,209 3,136 7,943 100,392

S10 148,010 1,897 0,460 3,878 340,845 7,347 0,007 5,882 0,375 0,738 2,358 18,005

* Todas as medidas da tabela são referentes a extratos com volume igual a 200 mL. ** LQ = Limite de quantificação Obs: O sódio não foi considerado, pois a solução utilizada para extrair material húmico (NaOH 0,1 M) contém esse elemento. Desse modo, os resultados encontrados não corresponderiam aos valores reais de sódio.

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72

Todas as variáveis utilizadas durante o tratamento exploratório multivariado com

suas respectivas unidades são exibidas na Tabela 4-7. Com a aplicação da rede neural de

Kohonen para os resultados de metais e parâmetros físico-químicos das águas naturais, as

amostras puderam ser divididas em 4 grupos distintos, como mostrado na Figura 4-4.

Destaca-se que foram avaliadas arquiteturas de várias ordens e que o arranjo 5x5 foi o que

apresentou melhor distribuição amostral em grupos. O mapa das variáveis é exibido na

Figura 4-5. É importante ressaltar que as amostras que estão em um mesmo grupamento

são consideras semelhantes pelas variáveis analisadas.

Tabela 4-7 – Unidades utilizadas durante o tratamento exploratório multivariado. variável unidade variável unidade

Cond µS Cr µg/L ORP mV Cu µg/L

T OC Fe µg/L Turb NTU K mg/L Resis KΩ Mg mg/L TDS mg/L Mn µg/L Alc mg CaCO3/L Na mg/L Cl mg/L S mg/L

COD mg/L Sr µg/L Al µg/L Ti µg/L Ba µg/L Zn µg/L Ca mg/L

Figura 4-4 – Mapa de grupamentos das amostras de águas naturais obtido pela rede neural de Kohonen.

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73

Figura 4-5 – Mapas de distribuição individual das variáveis obtidos pela rede neural de

Kohonen.

Observando as figuras 4-4 e 4-5 pode-se verificar que dentre as amostras analisadas

o K, a temperatura e o cloreto foram os parâmetros diferenciais ao separar as amostras do

grupo I, que possuíram valores mais altos para essas variáveis.

O potássio é um elemento litófilo9 que participa da formação de silicatos,

feldspatos potássicos e micas (biotita e moscovita), que são minerais constituintes de

rochas como gnaisses e xistos (Silva, 2010). Destaca-se que a moscovita e a biotita (que

possuem K em sua estrutura) ainda fazem parte da composição de rochas quartzíticas, que

têm como constituinte principal o mineral quartzo (Machado, 2001). Assim, avaliando-se o

litotipo da região estudada ao analisarmos a Tabela 4-3 pode-se dizer que a origem do K é

litológica, visto que há a presença de xistos nos pontos 1 e 5 e de quartzitos no ponto 3.

Os cloretos podem ser originados tanto do intemperismo das rochas, como por

influência do homem via descargas de esgotos sanitários (CETESB, 2009). Em todas as

amostras analisadas, as concentrações de cloreto encontradas foram bem baixas, variando

de 0,50 mg/L a 4,67 mg/L. O Ministério da Saúde admite uma concentração de até

250 mg/L de cloretos como padrão de potabilidade da água, segundo a Portaria nº 2914, de

12 de dezembro de 2011 (Brasil, 2011). Esse valor está muito acima dos encontrados nas

amostras analisadas. Como as rochas da região não possuem cloro em sua composição,

provavelmente a origem dos cloretos pode ser atmosférica e/ou proveniente de plantas e

animais (origem biogênica). Não se descarta pequena influência antrópica para os pontos

S1B e S8 devido à proximidade do distrito de Santa Rita Durão. Para o ponto S2B ainda 9 Elemento litófilo é aquele que tem afinidade com o oxigênio.

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74

pode haver influência da criação de animais, o que é comum na região. Esses três pontos

foram os que apresentaram as maiores concentrações de cloreto, com valores acima de

4 mg/L.

As duas coletas do ponto 3 (S3A e S3B) ficaram em grupamentos diferentes. Uma

hipótese para isso seria a maior lixiviação de cloretos e K para corpos d’água em épocas

chuvosas (coleta S3A). O mesmo raciocínio é válido para as águas coletadas nos pontos

S1B e S5, onde as amostras também foram deslocadas para o grupo I.

Em estações chuvosas, destaca-se que embora deva ocorrer lixiviação de COD10

para o brejo do ponto 3 (sob rochas predominantemente quartzíticas), a falta do dado do

carbono para a amostra S3A (a análise não foi realizada) pode ter levado ao fator

predominante para o seu deslocamento entre os grupos ser o K, os cloretos e a temperatura.

Já para o ponto 1, que é um brejo formado sob cangas lateríticas, o caso é diferente. Na

estação seca o corpo hídrico chega a secar, como já foi mencionado. Nas primeiras chuvas

há grande concentração de COD proveniente da degradação da matéria orgânica seca

originada no período de inverno. No auge do período chuvoso, a concentração de COD

diminui por efeito de diluição. Além disso, a matéria orgânica originada no período seco já

se decompôs quase totalmente no período mais chuvoso. Isso explicaria a diminuição do

COD para o ponto 1 na coleta do período úmido, enquanto que no período de transição, no

início da estação das chuvas, a concentração de carbono nas águas foi bem maior. A Figura

4-6 mostra o brejo no apogeu do período seco (agosto 2011), com grande quantidade de

material orgânico produzido durante o processo de evaporação do brejo. Também, exibe o

nível d’água no auge do período chuvoso que ficou marcado na canga laterítica.

Outro fator para a formação do grupo I foi a temperatura. Isso é facilmente

explicável, visto que as coletas nesse grupamento foram feitas no período de verão, sendo

o mais quente do ano, contribuindo para o aquecimento das águas.

O grupo II foi formado por possuir maiores valores de COD, Fe, Resis e ORP. No

caso dos pontos situados na serra do Caraça e do Itatiaia um menor teor de argilas poderia

indiretamente aumentar as concentrações de cátions como o Fe, mesmo que presente em

baixas concentrações nas rochas, como é o caso dos pontos 3, 9 e 10. Os altos teores de

COD também seriam explicados pelo baixo teor argilas, como já foi previamente

comentado. Para o ponto 1, a presença de formações ferríferas, itabiritos, filitos e xistos

explica o alto teor de Fe (inclusive puderam ser observadas concreções lateríticas no local

10 Devido aos solos de textura mais arenosa, conforme já exposto nesse trabalho.

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75

de coleta). Já a amostra S2C foi deslocada para o grupo por possuir um alto valor de

oxirredução, que foi o fator essencial para composição do grupamento.

Figura 4-6 – Brejo (ponto 1) próximo a Serra do Caraça totalmente seco.

Todas as amostras do grupo III possuíram águas mais básicas em relação aos

demais grupamentos. Por isso, foi possível afirmar que o pH foi a variável preponderante

para sua formação (o estrôncio – Sr – também foi importante para a formação desse

grupamento). Além disso, por ser um grupamento grande há uma grande heterogeneidade

entre algumas de suas variáveis. A amostra S6, por exemplo, destacou-se por possuir águas

mais alcalinas e maiores concentrações de enxofre. O valor mais alto para esse elemento

provavelmente se deve à presença de rochas sulfetadas a montante desse ponto. Já a maior

alcalinidade pode ser explicada pela maior concentração de carbonatos, que é evidenciada

pela presença dos íons de Ca e Mg, os quais podem ter origem de rochas dolomíticas, que

fazem parte da litologia das unidades Itabira e Piracicaba.

Nível d’água no auge do período chuvoso

Matéria orgânica produzida durante a evaporação da água do brejo

~1,6 m

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76

Considerando somente as amostras S6 e S7 podemos observar que foram

registradas concentrações mais altas de Ca, Mg e Mn, o que indica uma origem litológica

comum. O Ca e o Mg são elementos litófilos que participam da formação de dolomitos e

xistos, que são rochas presentes a montante do local de coleta desses dois pontos. O Mn

apresenta as mesmas características, porém forma menos minerais próprios, participando

da substituição do Ca e Mg. Destaca-se que nessas amostras também foram registrados

valores mais elevados de Na, que juntamente com o Ca, o Mg e o Mn foram responsáveis

pelo aumento do teor de TDS. Todas essas cinco variáveis foram responsáveis pelo fato

das amostras S8 e S2A terem ficado distantes das amostras S6 e S7.

Se analisarmos o grupo constituído pelas amostras S4A, S4B, S6 e S7 ainda pode-

se notar que há maiores concentrações de Sr se compararmos com os demais pontos. Por

estar em um mesmo grupo da tabela periódica e possuir propriedades similares, esse

elemento pode substituir o Ca ou Mg nos minerais. Assim, a presença de dolomitos dos

grupos Itabira e Piracicaba e de filitos e xistos dos grupos Nova Lima e Itacolomi

poderiam explicar a presença de Sr nas águas coletadas.

O grupo IV foi formado devido às concentrações mais altas de Ba encontradas no

ponto S2B. Os maiores valores desse elemento são explicados devido à maior lixiviação na

época da amostragem (que foi a estação chuvosa). As concentrações de Ba diminuíram

consideravelmente nas coletas feitas em épocas secas ou de transição. A temperatura

também apresentou um valor maior nesse ponto, o que é explicado pela coleta ter sido feita

no verão, época em que são registrados valores mais altos para essa variável.

Considerando as estações do ano pode-se observar que todas as amostras do grupo I

foram coletadas em época chuvosa (verão), onde foram registradas temperaturas mais altas

e teores mais elevados de Cl e K (provavelmente resultado do carreamento pelas chuvas).

As amostras do grupo II foram provenientes do período seco ou de transição e nota-se que

as amostras foram coletadas no período de maio a outubro, que compreende o inverno

(junho a setembro). Desse modo foram registradas temperaturas mais baixas nesse

grupamento se compararmos com os demais. O grupo III é heterogêneo, possuindo

amostras nas épocas de chuva, seca e transição. Já o grupo IV é referente ao período

chuvoso, onde a amostra S2B apresentou maiores valores de temperatura e maiores

concentrações de Ba (provavelmente devido ao carreamento pelas chuvas).

Como o sulfato não foi medido para grande parte das amostras de águas naturais,

ele não foi incluído na análise de Kohonen. Sendo assim, foi elaborado um gráfico (Figura

4-7) a fim de avaliar a concentração desse parâmetro nos pontos onde ele foi medido,

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77

juntamente com as concentrações de COD. O objetivo dessa avaliação foi verificar uma

provável influência da concentração de sulfato no teor de carbono orgânico dissolvido, já

que se sabe que o S pode ser parte componente dos compostos húmicos (Stevenson, 1994).

Figura 4-7 – Concentração de sulfato nas amostras de águas naturais.

Segundo Silva (2010), boa parte do sulfato nas águas do QF origina-se da oxidação

de sulfetos como a pirita (FeS2), que são abundantes em rochas tais como xistos e

anfibolitos presentes na região. Dentre as fontes antrópicas de sulfato em águas superficiais

está o despejo de efluentes domésticos e industriais e o uso de coagulantes no tratamento

de águas superficiais (CETESB, 2009).

Comparando-se as duas coletas dos pontos 1 e 2, é interessante notar que durante as

amostragens de épocas mais chuvosas (amostras S1B e S2B) a concentração de sulfato foi

maior se comparada com épocas mais secas (amostras S1A e S2C). Provavelmente isso

pode estar relacionado com a lixiviação de sulfato presentes de solos para os corpos

d’água.

Foi observada uma baixa correlação entre as variáveis COD e sulfato ao plotá-las

em um gráfico de dispersão. O índice de correlação foi de apenas 0,135 como pode ser

observado na Figura 4-8.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

S1A S1B S2B S2C S3B S8 S9A

Con

cent

raçã

o (m

g/L

)

Amostra

SulfatoCOD

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78

Figura 4-8 – Correlação entre as variáveis COD e sulfato.

O método SOM também foi aplicado para os resultados de COD e metais dos

extratos das amostras que passaram pela resina DAX-8. Os parâmetros físico-químicos das

águas naturais (pH, Cond, ORP, T, Turb, Resis, TDS, Alc e Cl) também foram

acrescentados à análise a fim de verificar prováveis correlações entre as variáveis. Pela

análise da Figura 4-9 pode-se observar a formação de 5 grupos distintos. Destaca-se que

foram avaliadas arquiteturas de várias ordens e que o arranjo 4x4 foi o que propiciou

melhor distribuição amostral em grupos. O mapa das variáveis é exibido na Figura 4-1011.

Figura 4-9 - Mapa de grupamentos das amostras de águas concentradas obtido pela análise

de SOM (Kohonen).

11 Na Figura 4-10, o CODc refere-se aos valores de COD dos extratos húmicos obtidos após a eluição das SHA, conforme já definido anteriormente.

y = -0,2008x + 2,3859 R² = 0,135

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

0 2 4 6 8

CO

D (m

g/L

)

Sulfato (mg/L)

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79

Figura 4-10 - Mapas de distribuição individual das variáveis (amostras que passaram pela resina DAX-8) obtidas pela rede neural de Kohonen.

No estudo das redes neurais de Kohonen das figuras 4-9 e 4-10 considerou-se todo

COD como substâncias húmicas, já que essas análises avaliaram o extrato obtido da coluna

cromatográfica, ou seja, o composto húmico extraído das amostras de água. Os valores de

metais e não metais nos resultados corresponderam aos elementos predominantemente

complexados ao húmus. Ressalta-se que nem todos os metais analisados após a extração

das SHA correspondem a complexos SHA-M, já que íons metálicos livres também podem

estar presentes no extrato obtido. Para avaliar somente os metais complexados seria

necessário passar as amostras por uma membrana de 1 KDa (por meio de ultrafiltração

tangencial), de acordo com o procedimento proposto por Burba, Van Den Bergh et al.

(2001). Essa membrana impede a passagem das SH e dos complexos SHA-M com

tamanho molecular maior que 1 KDa. Deste modo, os íons metálicos livres não

complexados as SH passam pela membrana (Oliveira, L. C., 2007). Conhecendo-se a

concentração de íons metálicos livres e a concentração total de metais (já conhecida), seria

possível descobrir a real concentração de metais complexados as SHA.

As amostras húmicas situadas em um mesmo grupamento possuem características

semelhantes. Entretanto, somente uma análise mais detalhada do húmus comprovaria tal

afirmação. Essa investigação mais profunda das SHA poderia ser realizada por meio da

aplicação de técnicas (espectroscópicas, por exemplo) que forneçam informações sobre a

estrutura das moléculas húmicas nos pontos coletados. Ressalta-se que os parâmetros pH,

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condutividade, ORP, temperatura, turbidez, resistividade e TDS correspondem aos valores

medidos em águas naturais e que todos os extratos húmicos foram padronizados para um

volume inicial de 20 L e um volume final de 200 mL.

Analisando o mapa das variáveis foi possível perceber que as SH se apresentaram

relacionadas com os metais Al, K, Ba, Ca, Cu, Fe, Mn, Sr, Ti e Zn considerando as

amostras coletadas. Provavelmente as SHA tiveram maior capacidade de complexação

com esses metais. Entre os elementos não metálicos notou-se uma relação entre o enxofre e

as SHA. Possivelmente isso se deve ao fato de que o S pode ocorrer como componente

estrutural de ácidos húmicos e fúlvicos, notadamente como complexos resultantes da

reação de tióis com quinonas e açúcares reduzidos (Stevenson, 1994). Essas afirmações

foram baseadas no fato de que a localização dos neurônios que mostraram concentrações

mais altas para cada um desses elementos correspondeu a posição dos neurônios que

mostraram altos teores de COD, ou seja, de material húmico. A interpretação da rede de

Kohonen é feita pela disposição espacial dos neurônios nos mapas, conforme já elucidado.

Comparando os mapas das variáveis com o mapa de grupamentos foi possível

observar que o grupo V possuiu um alto teor de compostos húmicos se comparado as

demais amostras. É interessante notar que o ponto 10 não ficou no mesmo grupamento do

ponto 9, apesar de estarem na mesma região (Serra do Caraça). Uma provável explicação

para esse fato é que o córrego Caraça, onde está situado o ponto 10, já recebeu influência

de outros cursos d’água que tiveram maior contato com solos formados sobre rochas

basálticas intrusivas presentes na região (Figura 4-11), onde é menos propício o

carreamento de material húmico para os córregos. Um maior teor de argila na região do

ponto 10, se comparado ao das cabeceiras dos rios do Caraça (ponto S9A) propiciaria uma

maior retenção de material orgânico nos solos. Inclusive, pode-se observar que os teores de

SH e metais no ponto coletado do ribeirão Caraça são diferentes dos encontrados no

córrego Cascata (ponto S9A).

O que diferenciou o grupo I dos demais grupamentos foram os valores de pH e Cl

mais altos encontrados nas amostras S4B, S5 e S8, se comparado as demais coletas. Já as

amostras S6 e S2B, que formaram o grupo II, ficaram isolados por possuir teores mais

altos de Alc, Cond, T, Turb, TDS, K, Mg, Cl e S. Esses altos valores para os parâmetros

físico-químicos nesse grupo podem ser explicados pela coleta ter sido feita na estação

chuvosa (dezembro), onde são registradas temperaturas mais altas e há maior carreamento

de sedimentos para os corpos hídricos pela chuva, fazendo com que tenhamos maiores

valores de condutividade, turbidez e TDS. O pH mais básico e a alta alcalinidade

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encontrados provavelmente se devem às maiores concentrações de sais dissolvidos levados

pela chuva para o rio onde as amostras foram coletadas.

Figura 4-11 – Geologia da região da Serra do Caraça (Elaboração: Klaus Paz).

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82

O grupo IV foi formado somente pelo ponto S3B. Essa separação com relação às

demais amostras se deve ao fato de terem sido encontradas concentrações mais altas de Ba,

ORP e resistividade se comparado com os demais pontos. Apesar de separado, esse ponto

está relativamente próximo da amostra S9A. Provavelmente essa proximidade se deve ao

fato da litologia em comum, que produz solos mais arenosos, com menor capacidade de

reter a matéria orgânica, que é carreada para os corpos d’água, conforme já exposto nesse

trabalho.

Com relação aos métodos de concentração utilizados foi elaborado um gráfico

(Figura 4-12) comparando as concentrações de COD obtidas pela extração de material

húmico por colunas cromatográficas e pela concentração de material húmico por

evaporação rotativa a vácuo (ERV). Todos os valores foram padronizados para um volume

inicial de 20 L e um volume de extrato ou concentrado de 200 mL. Destaca-se que para o

ponto S2C o dado de COD referente à coluna cromatográfica não está disponível.

Figura 4-12 - Concentrações de COD comparando-se dois diferentes métodos de extração de SHA.

As concentrações de COD obtidas pelo método de evaporação rotativa para as

amostras analisadas foram bem superiores aos teores encontrados pelo método de extração

por colunas com resina DAX-8. Isso se deve ao fato de que o uso do evaporador rotativo a

vácuo concentra toda a matéria húmica e não húmica, enquanto o uso de colunas

cromatográficas só extrai o material húmico. Por isso, para uma eventual caracterização

0

50

100

150

200

250

300

350

S2C S3B S9A S10A

CO

D (m

g/L

)

Ponto de Coleta

ERVColuna

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83

das SH concentradas pelo método de evaporação rotativa ainda poderia ser necessário

extrair as impurezas orgânicas não húmicas como ceras, graxas e lipídeos, que segundo

Haworth apud Rosa (1998), podem ser removidas com éter ou solução álcool-benzênicas.

Já polissacarídeos e polipeptídeos podem ser separados por aquecimento do AH ou AF

com água. Outra proposta para remoção de material não húmico citada por Rosa (1998) é a

hidrólise ácida com HCl 6,0 mol/L, tendo a desvantagem da perda de 40% da massa de

material húmico e prováveis mudanças químicas. Esse tipo de tratamento tem pequeno

efeito no teor de C, H, O para os AH, mas o teor de carbono aumenta e a acidez total

diminui para os AF.

Outro grupo de substâncias que talvez precisasse ser removido das amostras

extraídas pelos dois procedimentos para caracterização espectroscópica são os sais

dissolvidos, que podem ser removidos por diálise. “A diálise é a transferência de moléculas

do soluto através de uma membrana por difusão de uma solução concentrada para uma

solução diluída” (Perry et al., 1984 apud Rosa, 1998, p. 23). Neste método os sais e

elementos metálicos livres são facilmente removidos. Entretanto, os metais originalmente

complexados ou fortemente adsorvidos nas SH não são eliminados. Para remoção de

cloretos de ácidos húmicos Rosa (1998) destaca-se que pode ser utilizado o procedimento

de lavagens sucessivas.

Ainda comparando os dois métodos de extração de material húmico, destaca-se que

o procedimento por evaporação rotativa é muito mais demorado se comparado com o

método de extração por colunas. O uso da evaporação provavelmente provoca menos

alterações estruturais nas SH por ser um método físico. Entretanto, um eventual pós-

tratamento do material (se necessário) para a sua caracterização pode comprometer essa

vantagem, já que pode ser necessário remover os materiais não húmicos, metais livres e

sais concentrados onde podem ser utilizados métodos químicos que podem comprometer a

integridade dos compostos húmicos.

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84

5. Conclusões

Com base na literatura pode-se concluir que as SH controlam a biodisponibilidade

de metais essenciais à sobrevivência de organismos em meio aquático. Também, elas

podem servir como uma reserva de nutrientes, os quais vão sendo liberados ao longo do

tempo. Os compostos húmicos ainda são capazes de alterar a toxidade de elementos

metálicos, tornando-os não disponíveis para serem incorporados pelos seres vivos. Isso é

extremante importante, pois evitará que certos metais nocivos se bioacumulem e

biomagnifiquem ao longo da cadeia alimentar.

Tendo em vista os métodos de isolamento de material húmico, a técnica por

evaporação rotativa se mostrou promissora ao poder extrair SHA com a possibilidade de

minimização de alterações estruturais provocadas por métodos químicos. Entretanto, um

provável pós- tratamento do material para uma eventual caracterização pode comprometer

essa vantagem, já que é necessária a utilização de métodos químicos para remoção de

materiais não húmicos, metais livres e sais dissolvidos. Além disso, a técnica de

evaporação rotativa consome um tempo muito grande para concentração de um

determinado volume de água, principalmente se compararmos com o método de extração

de SH por resinas DAX-8. Ressalta-se que a rotoevaporação também se difere do método

das colunas por concentrar todo material húmico e não húmico.

A rede neural de Kohonen se mostrou uma técnica de análise exploratória

multivariada apropriada para estudos geoquímicos, tendo em vista a vantagem da excelente

visualização na interpretação dos resultados ao manter as informações originais relevantes

em um espaço dimensional reduzido. A importância foi ainda maior se considerarmos que

não foram encontrados registros na literatura do uso desse método no estudo das SHA

(principalmente se analisarmos a região do QF).

Nas amostras analisadas foi observada uma relação entre compostos húmicos e os

metais Al, K, Ba, Ca, Cu, Fe, Mn, Sr, Ti e Zn. Entre os elementos não metálicos notou-se

uma relação entre o enxofre e as SHA considerando os dados obtidos. Provavelmente isso

se deve ao fato de que o S pode ocorrer como componente estrutural de ácidos húmicos e

fúlvicos. Ressalta-se que nem todos os metais encontrados na análise dos extratos obtidos

pela passagem das amostras pelas colunas são complexos SHA-M.

O solo pareceu ser um fator essencial na mobilidade de materiais orgânicos nas

amostras pesquisadas. Coberturas pedológicas com textura mais arenosa não tem a

capacidade de reter o material orgânico, que é carreado para corpos hídricos. Isso foi

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constatado principalmente nas regiões da Serra do Caraça (ponto 9) e na Serra do Itatiaia

(pontos 3 e 4). Com isso, observaram-se maiores concentrações de COD nesses pontos no

período chuvoso ou na transição do período chuvoso para o período seco, diferente do que

aconteceu com os demais pontos de amostragem, onde a maior concentração de COD se

deu com as primeiras chuvas, na transição do período seco para o úmido (pontos 1 e 2).

Nesse último caso os pontos amostrados foram lagos ou brejos, onde ocorreu diluição do

carbono das águas ao longo da estação chuvosa.

Em geral, não foram observadas influências antrópicas nas amostras analisadas. Em

todos os pontos a origem dos elementos foi litológica, com exceção dos cloretos, que pode

ter origem biogênica.

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6. Sugestões para futuros trabalhos

Identificação da origem das SHA da Serra do Caraça. Análise comparativa das

características estruturais entre os materiais húmicos da cobertura pedológica e das

águas da região;

Estudo do material húmico dos prováveis solos orgânicos da região da serra do

Caraça;

Estudo das características estruturais após fracionamento das SHA das áreas

estudadas com auxílio de técnicas espectroscópicas;

Análise da capacidade de complexação das SH nas áreas estudadas;

Tratamento e caracterização do concentrado obtido pelo uso do evaporador rotativo

a vácuo. Verificar eventuais alterações estruturais nas SH se comparado com o

método de extração com resinas DAX-8;

Estudo das interações entre compostos orgânicos, SH e adubos químicos aplicados

em monoculturas de eucaliptos na região do Caraça.

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