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Estrutura de comunidade de pequenos mamíferos em áreas afetadas por plantações de milho (Zea mays) e estradas na Serra do Ouro Branco, Minas Gerais Caryne Aparecida de Carvalho Braga Orientadora: Maria Rita Silvério Pires Ouro Preto 2011 Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciências Exatas e Biológicas Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente Laboratório de Zoologia dos Vertebrados

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Estrutura de comunidade de pequenos mamíferos em áreas afetadas por plantações de milho (Zea mays) e estradas na Serra do Ouro Branco,

Minas Gerais

Caryne Aparecida de Carvalho Braga

Orientadora: Maria Rita Silvério Pires

Ouro Preto

2011

Universidade Federal de Ouro Preto

Instituto de Ciências Exatas e Biológicas

Departamento de Biodiversidade, Evolução

e Meio Ambiente

Laboratório de Zoologia dos Vertebrados

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EPÍGRAFE

DARWIN & DEUS

(Carlos Ruas)

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AGRADECIMENTOS

Sempre achei difícil escrever os agradecimentos de um trabalho, são tantas pessoas

importantes envolvidas em tantas etapas de igual importância. Tem gente que consegue ser

engraçado e fazer um bom agradecimento, não tenho toda essa criatividade... Mas vamos lá...

Me passaram algumas receitinhas e disseram que em primeiro lugar você deve agradecer a

quem financiou ao seu trabalho, pois foi o principal responsável por ele acontecer. Assim,

quero agradecer grandemente a FAPEMIG que financiou o trabalho através do Biota Minas e a

UFOP, através do Programa de Pós Graduação em ecologia de Biomas Tropicais e a seção de

Transportes que ofereceu a logística necessária. Depois disso, a receita diz que posso

agradecer quem eu quiser e como eu quiser.

Gostaria de agradecer a professora Maria Rita, que agüenta minhas loucuras desde a

graduação e consegue segurar a minha vontade de “salvar o mundo”, sem fazer com que eu me

sinta tolhida, respeitando minhas idéias e sonhos e sempre dando todo o suporte que preciso.

Aos meus fiéis parceiros que entraram de cabeça nessa briga comigo e toparam a loucura de

Ouro Branco, Fifi, Adriele e Lorena. Consegui tirar o Fifi da sua idéia de coletar lagartos na

África para coletar em Ouro Branco comigo e o menino trabalhou demais!! Depois de

convencê-lo, eu e ele insistimos para Adriele entrar no projeto, aí o trio de campo estava

formado e pronto para o que desse e viesse. Lorena foi nossa interlocutora com a população e

devido a todo o carinho e atenção que recebemos podemos ver o quanto ela é boa nisso. Meus

escudeiros que entre mortos e feridos, enfrentaram os campos e taxidermias: Rafael, Valéria e

Yuri; e claro, a Dani, única que conseguiu colocar ordem no caos e manter a coleção organizada

depois do furacão que eram as taxidermias e identificações pós-campo.

Aos moradores de Itatiaia que são pessoas super acolhedoras e sempre nos receberam tão

bem durante nossos campos. Em especial ao Sr Mariano, Dona Cecília, Robson que deixaram

que nós coletássemos em suas propriedades; ao Lucio, funcionário do Sr Mariano que nos

salvava dos cachorros e ajudava em tudo e ao Sr Válter e sua esposa, pelo pão com lingüiça

nosso de cada dia!

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Ao Vicente pelo auxílio no laboratório, e tantos outros técnicos da UFOP que infelizmente não

sei nem o nome de todos, mas vários ajudaram em muitas etapas diferentes, seja conseguindo

um reagente que eu não tinha na hora ou até mesmo ajudando a carregar o material de campo

e pesar serapilheira.

À família LZV que cada dia cresce mais: Vinícius (Bisk8), Ana Clara, Ceres, Caio, Michele, Bruna,

Krishna e todos os membros que já foram citados antes...

Aos Professores João Oliveira e Marcelo Weksler que me ajudaram na identificação de alguns

exemplares que teimavam em escapar em uma característica ou outra da descrição da espécie,

só para me confundir!

Ao Professor Adriano Paglia que discutiu alguns resultados comigo no início do ano, quando

eu estava em pânico pelos bichos terem sumido no ano de 2010 da estação Mariano.

Ao professor Hildeberto que cedeu seu laboratório para pesar a serrapilheira.

Aos membros da banca que, com certeza, vão contribuir para o trabalho ficar muito melhor.

Ao Rubens Modesto, secretário do programa pós-graduação, por sempre se desdobrar o

quanto pode para resolver nossos problemas!

Aos colegas do mestrado que sempre ajudaram e deixaram o curso muito mais interessante!

Aos professores que me mostraram a beleza e complexidade de ser uma bióloga, em especial

Yasmine!

Aos meus grandes amigos e mais do que irmãos: William, Roberth e Marcelle. Sem vocês eu

nunca teria conseguido chegar nem perto de ser a pessoa realizada e feliz que sou!

E finalmente e com certeza não menos importante, o meu parceiro em simplesmente todos os

momentos da minha vida, na verdade, o sentido da minha vida, Leandro!!! TE AMO!!!

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SUMÁRIO

Agradecimentos .......................................................................................................................................................... iii

Quadros ..................................................................................................................................................................... vii

Figuras ..................................................................................................................................................................... viii

Resumo ......................................................................................................................................................................... 10

Abstract ........................................................................................................................................................................ 12

Introdução Geral ....................................................................................................................................................... 14

Metodologia Geral .................................................................................................................................................... 17

Área de estudo ...................................................................................................................................................... 17

Desenho amostral ............................................................................................................................................ 18

CAPÍTULO 1 ................................................................................................................................................................ 22

Levantamento de pequenos mamíferos da Serra do Ouro Branco ....................................................... 22

Introdução .............................................................................................................................................................. 22

Metodologia ............................................................................................................................................................ 23

Análises Estatísticas ....................................................................................................................................... 24

Resultados............................................................................................................................................................... 25

Discussão ................................................................................................................................................................. 36

CAPÍTULO 2 ................................................................................................................................................................ 40

O Milho influencia a comunidade de pequenos mamíferos? ................................................................... 40

Introdução .............................................................................................................................................................. 40

Hipóteses ............................................................................................................................................................ 42

Materiais e Métodos ............................................................................................................................................ 43

Caracterização das áreas de amostragem .............................................................................................. 43

Serapilheira ........................................................................................................................................................ 45

Cultura de milho na Serra do Ouro Branco ............................................................................................ 45

Análises Estatísticas ....................................................................................................................................... 46

Resultados............................................................................................................................................................... 48

Oferta de alimento ........................................................................................................................................... 58

Serapilheira ........................................................................................................................................................ 58

Reprodução ........................................................................................................................................................ 59

Discussão ................................................................................................................................................................. 60

Conclusão ................................................................................................................................................................ 63

Referências Bibliográficas ................................................................................................................................ 64

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CAPÍTULO 3 ................................................................................................................................................................ 71

Abstract .................................................................................................................................................................... 72

Resumo .................................................................................................................................................................... 72

Introdução .............................................................................................................................................................. 72

Materiais e métodos ............................................................................................................................................ 73

Análises estatísticas ........................................................................................................................................ 76

Resultados............................................................................................................................................................... 77

Referências Bibliográficas ................................................................................................................................ 82

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QUADROS

QUADRO 1. PEQUENOS MAMÍFEROS CAPTURADOS NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2009 E

2010, BIOMAS BRASILEIROS NOS QUAIS A ESPÉCIE OCORRE E SE EXISTE REGISTRO PARA O

ESPINHAÇO, DE ACORDO COM LESSA ET AL. (2008). ............................................................................... 25

QUADRO 2. ABUNDÂNCIA DE CADA ESPÉCIE DE PEQUENO MAMÍFERO CAPTURADA NA

SERRA DO OURO BRANCO EM 2009 E EM 2010, DESTACANDOA ESTAÇÃO AMOSTRAL

“MARIANO” EM 2010. ............................................................................................................................................. 29

QUADRO 3. PEQUENOS MAMÍFEROS CAPTURADOS NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2009 E

2010, ASSOCIADOS AOS RESPECTIVOS HÁBITOS LOCOMOTORES E DIETAS ................................. 31

QUADRO 4. NÚMERO DE RECAPTURAS POR ESPÉCIE EM CADA FRAGMENTO ESTUDADO NA

SERRA DO OURO BRANCO EM 2010. ................................................................................................................ 32

QUADRO 5. NÚMERO DE CAPTURAS DE PEQUENOS MAMÍFEROS POR ESPÉCIE NAS

ESTAÇÕES SECA, CHUVOSA E TRANSIÇÕES, PARA OS ANOS 2009/2010. ....................................... 33

QUADRO 6. MEDIDAS DE HÁBITAT REALIZADAS EM TODAS AS ÁREAS DE ESTUDO NA SERRA

DO OURO BRANCO EM 2010. ............................................................................................................................... 44

QUADRO 7. PEQUENOS MAMÍFEROS CAPTURADOS NA SERRA DO OURO BRANCO, BIOMAS

BRASILEIROS NOS QUAIS CADA ESPÉCIE OCORRE E HÁBITO ALIMENTAR, DE ACORDO COM

REIS ET AL. (2011). ................................................................................................................................................. 48

QUADRO 8. ABUNDÂNCIA DE CADA ESPÉCIE DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM CADA ÁREA

AMOSTRADA NA SERRA DO OURO BRANCO, 2010 .................................................................................... 50

QUADRO 9. NÚMERO DE FÊMEAS REPRODUTIVAS E FÊMEAS INATIVAS DE OLIGORYZOMYS

NIGRIPES NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2010. .................................................................................... 59

QUADRO 10. NÚMERO DE INDIVÍDUOS, NÚMERO DE CAPTURAS, SUCESSO DE CAPTURA E

NÚMERO DE ANIMAIS QUE MORRERAM DENTRO DA ARMADILHA EM CADA ESTAÇÃO

AMOSTRAL NA SERRA DO OURO BRANCO EM UM ANO DE COLETA. ................................................ 77

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FIGURAS

FIGURA 1. ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO MENSAL DE 2010. DADOS DA ESTAÇÃO METEREOLÓGICA DA

GERDAU AÇOMINAS. .................................................................................................................................................................. 18

FIGURA 2. DESENHO AMOSTRAL UTILIZADO NA SERRA DO OURO BRANCO NO ANO DE 2010.

DETALHE DOS TRÊS TRANSECTOS EM FORMA DE Y INSTALADOS EM CADA AMBIENTE (BORDA COM

PLANTAÇÃO, BORDA COM ESTRADA E INTERIOR DO FRAGMENTO), DENTRO DE CADA ESTAÇÃO

AMOSTRAL (CECÍLIA, ROBSON E MARIANO). ................................................................................................................. 20

FIGURA 3. FOTOGRAFIA AÉREA DAS ESTAÇÕES AMOSTRAIS NA SERRA DO OURO BRANCO,

EM 2010. CADA CÍRCULO REPRESENTA UMA ESTAÇÃO AMOSTRAL E CADA ESTAÇÃO TEM

TRÊS AMBIENTES (ESTRADA, INTERIOR E PLANTAÇÃO). IMAGEM EXTRAÍDA DO GOOGLE

EARTH EM 29 DE JUNHO DE 2011. ................................................................................................................................ 20

FIGURA 4. DETALHES DE CADA ESTAÇÃO AMOSTRAL DA SEGUNDA ETAPA DO ESTUDO NA SERRA DO

OURO BRANCO, JANEIRO A DEZEMBRO DE 2010. IMAGEM EXTRAÍDA DO GOOGLE EARTH EM 29 DE

JUNHO DE 2011. ........................................................................................................................................................................... 21

FIGURA 5. ÁREAS AMOSTRADAS NA SERRA DO OURO BRANCO DURANTE A PRIMEIRA ETAPA

DO TRABALHO, JANEIRO A DEZEMBRO DE 2009. EXTRAÍDO DO GOOGLE EARTH, 29 DE

JUNHO DE 2011. ........................................................................................................................................................................ 23

FIGURA 6. ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO MENSAL DE 2009. DADOS DA ESTAÇÃO METEREOLÓGICA DA

GERDAU AÇOMINAS. .................................................................................................................................................................. 24

FIGURA 7. ESPÉCIES DE PEQUENOS MAMÍFEROS DA SERRA DO OURO BRANCO, A- BLARINOMYS

BREVICEPS, B-ABRAWAYAOMYS RUSCHII, C- RHAGOMYS RUFESCENS, D- NECROMYS LASIURUS, E-

BIBIMYS LABIOSUS, F- RATUS NOVERGICUS, G- CERRADOMYS SUBFLAVUS, H- RHIPIDOMYS

MASTACALIS, I CALOMYS TENER, J OLIGORYZOMYS NIGRIPES, K- NECTOMYS SQUAMIPES, L- AKODON

SP, M- MONODELPHIS AMERICANA, N DIDELPHIS ALBIVENTRIS, O- GRACILINANUS MICROTARSUS, P-

MONODELPHIS DOMESTICA. ................................................................................................................................................... 28

FIGURA 8. ESTIMADOR DE RIQUEZA DE JACKNIFE PARA OS DOIS ANOS DE COLETA NA

ESTAÇÃO MARIANO (19.71±8.34). ................................................................................................................................ 30

FIGURA 9. RIQUEZA E INTERVALO DE CONFIANÇA ESTIMADOS, ATRAVÉS DO ESTIMADOR DE

JACKNIFE, PARA CADA ESTAÇÃO AMOSTRAL ESTUDADA NA SERRA DO OURO BRANCO 2010. ............ 31

FIGURA 10. ABUNDÂNCIA MENSAL DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM CADA FRAGMENTO NA

SERRA DO OURO BRANCO EM 2010, ASSOCIADA À PLUVIOMETRIA MENSAL. ................................. 34

FIGURA 11. ABUNDÂNCIA DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM CADA ESTAÇÃO DO ANO EM 2009 E

2010 NA SERRA DO OURO BRANCO. ............................................................................................................................. 34

FIGURA 12. ABUNDÂNCIA DE PEQUENOS MAMÍFEROS, EXCLUINDO O. NIGRIPES, POR

FRAGMENTO E POR ESTAÇÃO DO ANO, EM 2010, NA SERRA DO OURO BRANCO. .......................... 34

FIGURA 13. ABUNDÂNCIA POR ESTAÇÃO DO ANO PARA AS ESPÉCIES MAIS ABUNDANTES DE

PEQUENOS MAMÍFEROS NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2009 E 2010. ........................................................ 35

FIGURA 14. ESQUEMA DA AMOSTRAGEM DE ESTRUTURA DE HÁBITAT EM CADA CONJUNTO DE

ARMADILHAS DE PITFALL ORGANIZADAS EM FORMA DE “Y” DURANTE O SEGUNDO ANO DE

TRABALHO NA SERRA DO OURO BRANCO, 2010. ......................................................................................................... 45

FIGURA 15. ESPÉCIES ENCONTRADAS EM CADA TIPO DE AMBIENTE AMOSTRADO NA SERRA DO

OURO BRANCO. ............................................................................................................................................................................. 49

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FIGURA 16. RANKS DE ABUNDÂNCIA DE CADA ÁREA AMOSTRADA NA SERRA DO OURO BRANCO EM

2010. .................................................................................................................................................................................................. 52

FIGURA 17. ABUNDÂNCIA DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM CADA ESTAÇÃO DO ANO NA SERRA DO

OURO BRANCO, EM 2010. ........................................................................................................................................................ 52

FIGURA 18. ANOVA TWO WAY AVALIANDO A ABUNDÂNCIA DE OLIGORYZOMYS NIGRIPES EM

RESPOSTA A LOCALIZAÇÃO NO FRAGMENTO E A ESTAÇÃO DO ANO. ................................................................ 53

FIGURA 19. ABUNDÂNCIA DE AKODON SP, MARMOSOPS INCANUS E MONODELPHIS AMERICANA POR

AMBIENTE EM CADA ESTAÇÃO DO ANO ........................................................................................................................... 54

FIGURA 20. ABUNDÂNCIA DE PEQUENOS MAMÍFEROS, EXCLUINDO O. NIGRIPES, POR ÁREA

EM CADA ESTAÇÃO DO ANO NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2010. A) CECÍLIA; B)

MARIANO; C) ROBSON. .......................................................................................................................................................... 56

FIGURA 21. ANÁLISE DE COMPONENTE PRINCIPAL DAS MEDIDAS DE HABITAT DE CADA ÁREA. ....... 57

FIGURA 22. ÍNDICE DE BRAY CURTIS PARA AVALIAR A RESPOSTA DE PEQUENOS

MAMÍFEROS AO TIPO DE AMBIENTE ATRAVÉS DA COMPOSIÇÃO E ABUNDÂNCIA. LEGENDA:

R- ROBSON; M- MARIANO; C- CECÍLIA; P- PLANTAÇÃO; I- INTERIOR; E- ESTRADA. .................... 57

FIGURA 23. SERAPILHEIRA ACUMULADA EM CADA ESTAÇÃO DO ANO NA SERRA DO OURO BRANCO,

JANEIRO A DEZEMBRO DE 2010 ........................................................................................................................................... 59

FIGURA 24. DESENHO AMOSTRAL REPRESENTANDO A DISPOSIÇÃO DAS ARMADILHAS NOS TRÊS

AMBIENTES DE CADA ESTAÇÃO AMOSTRAL NA SERRA DO OURO BRANCO. .................................................. 74

FIGURA 25. PLUVIOSIDADE E TEMPERATURA MENSAL DE 2010. DADOS DA ESTAÇÃO

METEREOLÓGICA DA GERDAU AÇOMINAS. ..................................................................................................................... 76

FIGURA 26. ANOVA COMPARANDO A ABUNDANCIA DE O. NIGRIPES ENTRE AS QUATRO ESTAÇÕES DO

ANO NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2010(F3, 32=2,72, P=0,06). .................................................................... 78

FIGURA 27. ABUNDÂNCIA MENSAL DE JOVENS E ADULTOS DE O. NIGRIPES ASSOCIADA A MÉDIA

MENSAL DA PLUVIOMETRIA NA SERRA DO OURO BRANCO NO ANO DE 2010. ............................................. 79

FIGURA 28. COMPORTAMENTO DE DEFESA DOS FILHOTES EXIBIDO POR FÊMEA DE O.

NIGRIPES AO PERCEBER QUALQUER APROXIMAÇÃO DELA OU DOS FILHOTES (A,B) NO

BALDE E (D) NA CAIXA, FÊMEA AMAMENTANDO OS FILHOTES (C). ...................................................... 80

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RESUMO

Braga, Caryne A C. Estrutura de comunidade de pequenos mamíferos em áreas afetadas por plantações de milho (Zea mays) e estradas na Serra do Ouro Branco, Minas Gerais. 79p. Dissertação (Mestrado em Ecologia de Biomas Tropicais) – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG.

Os pequenos mamíferos não-voadores do Brasil pertencem às ordens Rodentia e

Didelphimorphia e correspondem a 298 espécies, compreendendo 43% da diversidade de

mamíferos do país. A Mata Atlântica e o Cerrado são o segundo e terceiro biomas mais ricos

em espécies de mamíferos no Brasil. A Serra do Ouro Branco, local onde foi realizado este

estudo, localizada na porção sul da Cadeia do Espinhaço, é uma área de transição entre o

Cerrado e a Mata Atlântica. A situação do Espinhaço é extremamente grave em relação a

conservação de mamíferos devido a destruição e fragmentação de habitats e, embora tenha

uma grande importância na manutenção da diversidade de pequenos mamíferos, existem

lacunas de conhecimento relacionadas a inventários, sistemática, distribuição geográfica e

ecologia deste grupo. Neste contexto, o presente estudo tem o objetivo de contribuir para o

conhecimento das espécies de pequenos mamíferos da Serra do Ouro Branco, bem como

avaliar os impactos que estas sofrem através da agricultura e apresentar informações sobre a

biologia das espécies.

No primeiro capítulo é apresentado um levantamento das espécies da serra do Ouro Branco

através de dois anos de amostragem. Foram encontradas 17 espécies de pequenos mamíferos,

sendo 11 de roedores e seis de marsupiais. As espécies são características dos três biomas que

compõe a Cadeia do Espinhaço (Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica) e a área representa um

local importante para a conservação, sua composição foi diferente de outras áreas amostradas

na região e foram encontradas espécies consideradas raras em levantamentos.

É de conhecimento que a agricultura causa alterações no habitat e que essas alterações

influenciam a fauna presente no local. No entanto, estudos objetivando descobrir as respostas

específicas a plantações são menos abundantes, principalmente com mamíferos. No segundo

capítulo foram avaliados os efeitos de plantações de milho sobre as comunidades de pequenos

mamíferos, levando em consideração de que algumas espécies podem se favorecer, utilizando

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o milho como alimento. Foi montado um experimento, com três réplicas para cada tratamento,

para avaliar as respostas das espécies ao milho. Assim três áreas de borda com plantação eram

o tratamento de análise, três áreas de interior de fragmento eram o controle para o tratamento

borda e três áreas de borda com estrada eram o controle para a oferta de alimento

proporcionada pela plantação. Os animais capturados foram medidos, era oferecido milho e

outros alimentos para avaliar se era um recurso utilizado pela espécie. Posteriormente os

animais eram marcados e soltos. Os pequenos mamíferos foram afetados pela matriz em

contato imediato com a floresta, pois a composição, a riqueza, a abundância e a eqüitabilidade

variaram entre os três tratamentos. A matriz correspondente à plantação de milho serviu

fonte de recurso principalmente para O. nigripes e favoreceu esta espécie, permitindo maior

estabilidade ao longo do ano em áreas de borda com plantação.

No terceiro capítulo são apresentados dados de demografia e cuidado parental de

Oligoryzomys nigripes, espécie mais abundante durante todo o estudo. Sua abundância variou

em resposta a estação do ano, com maiores valores na estação seca/chuvosa e os menores na

estação seca. A abundância de juvenis sempre foi maior que a dos adultos, principalmente nos

meses de seca. Foram capturadas três fêmeas lactantes junto aos seus respectivos filhotes e

foram observados comportamentos relacionados ao cuidado parental. Diante de qualquer

aproximação da fêmea ou dos filhotes, esta os agrupou sob o corpo e atacou com mordidas.

Nestes eventos, os filhotes se encontravam bem desenvolvidos e já se alimentavam sozinhos,

no entanto, foram amamentados ao longo do dia e da noite.

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ABSTRACT

Braga, Caryne A Community structure of small mammals in areas affected by maize plantations (Zea mays) and roads in Ouro Branco Mountain, Minas Gerais. 79p. Dissertação (Mestrado em Ecologia de Biomas Tropicais) – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG.

The brazilian small mammals belong to the Rodentia and Didelphimorphia orders, including

298 species, or 43% of the mammal diversity of the country. The Atlantic Forest and Cerrado

are among the mammal species richest biomes of Brazil. The Ouro Branco mountain, where

this study was conducted, is located in the Espinhaço mountain range, a transition area

between Atlantic Forest and Cerrado biomes. The intense habitat fragmentation and

destruction of the Espinhaço mountain range is the great treat for the conservation of its

mammalian fauna. Despite of the great importance of this area, due to the high diversity of

small mammals, there are knowledge gaps related to inventories, systematic, geographic

distribution and ecology for this group. In this context, our study aimed to be a contribution

for the knowledge of the species composition of the Ouro Branco mountain. We also presented

some information about the biology of the species and analysed the impacts that the different

species are facing due to agriculture.

In the first chapter we present the results of an inventory of the small mammal species of Ouro

Branco mountain collected in two years sampling. We found 17 species, being 11 rodents and

six marsupials. The species are characteristic of the three biomes that characterize the

Espinhaço Mountain Range as a whole,the Atlantic Forest, the Caatinga and the Cerrado. The

study area represents an important location for the conservation because their composition

was different of the other areas already studied in the Espinhaço Mountain Range and we

found some species considered rare in inventories.

The agriculture causes habitat changes, that influence the local fauna. However, studies aiming

to find out species specific answers for the plantations impact are rare, mainly for the

mammals. In this work, we studied the effects of maize plantations on small mammal

communities, considering that some species could be favored by using this resource. We draw

an experiment with three replicates for each treatment aiming the evaluation of the species

answers to maize plantations. Thus, three edge areas between forest and maize plantations,

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were the treatment; three areas of interior of forest fragment, were the control to the edge

treatment, and three edge areas between forest and roads, were the control to the treatment

availability of food provided by plantation. The captured animals were measured, sexed and

classified according to the age classes. They were kept in laboratory, were it was

offered corn maize and other foods to assess whether it was a resource used by the species.

Latter the animals were tagged and released. The small mammals community were affected by

the adjacent matrix , this could be concludedbecause the composition, richness, abundance

and equitability values varied between the three treatments. The matrix of maize plantation

served as food resource especially for Oligoryzomys nigripes and favored this species, allowing

greater stability throughout the year in the areas near the edges between plantation and forest

than in the other treatments.

In the third chapter we present data from demographics and parental care of the population of

Oligoryzomys nigripes of Ouro Branco mountain. Oligoryzomys nigripes was the most abundant

species in the study area throughout the year, although its abundance varied seasonally. The

highest abundance values occurred in the rainy/dry season and the lowest in the dry season.

Juveniles were always more abundant than adults, mainly in the months of drought. Three

lactating females were captured with their offsprings and parental care behaviors were

observed. These females protected the puppies by keeping them under their bodies and

displayed the intent to bite, when threatened by the approach of any kind of threat. The

puppies were well developed, independently feeding, however, still nursing during the

observed capturing events.

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INTRODUÇÃO GERAL

O Parque Estadual da Serra do Ouro Branco e o Monumento Natural Estadual de Itatiaia são

unidades de conservação, localizadas no município de Ouro Branco, Minas Gerais, criadas

recentemente. Desta forma, essas unidades de conservação ainda não dispõem de plano de

manejo e de estudos quanto a composição faunística. As duas áreas estão localizadas na

transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado, dois biomas considerados hotspots mundiais

(Conservação Internacional, 2005).

Segundo revisão sobre hotspots da Conservação Internacional (2005), a Mata Atlântica está

entre os cinco primeiros lugares no ranking dos hotspots mundiais, devido a sua alta

diversidade e ao alto impacto que vem sofrendo. A colonização do Brasil teve início nesse

bioma, que abriga hoje 60% da população humana do país, concentrada em duas das três

maiores cidades da América do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, além de corresponder ao centro

agro-industrial do Brasil. Restam apenas cerca de 8,1% da Mata Atlântica, essa perda de

habitat deixou um grande número de espécies endêmicas da região sob sérios riscos de

extinção.

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, sendo superado em área apenas pela

Amazônia. Quase um quarto de toda a produção de grãos do Brasil vem do Cerrado e uma

estimativa sobre a vegetação natural remanescente, indica que este bioma sofreu um grande

impacto. Sendo que apenas aproximadamente 21,3% de sua área original ainda se mantêm

intacta (Conservação Internacional 2005).

A agricultura é considerada uma das atividades humanas que causa maior impacto em

ambientes naturais. Na Mata Atlântica e no Cerrado, seus principais impactos são a destruição

ou fragmentação de habitat, a poluição resultante do uso de pesticidas e a introdução de

espécies exóticas que causam o desequilíbrio dos ecossistemas (Galetti et al. 2010).

A fauna de pequenos mamíferos em ambientes afetados pela agricultura e em

agroecossistemas vem sendo objeto de estudos recentes, tais como, Pardini et al. 2005; Hodara

et al. 2001; Cavia et al. 2005; Courtalon & Busch 2010; Gheler-Costa 2006. Nesse contexto, é

freqüentemente observado que enquanto algumas espécies são prejudicadas, enquanto que

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outras são beneficiadas por essas atividades, pois para essas é proporcionado alimento em

abundância e abrigo, além de afastar possíveis predadores. Isso pode levar a um desequilíbrio

entre espécies mais oportunistas e espécies mais sensíveis a alterações. Akodon azarae, por

exemplo, tende a ser uma espécie dominante em plantações de milho na Argentina. Ao ser

removida experimentalmente do ambiente , essa espécie foi substituída por Mus domesticus,

que se tornou a nova espécie dominante (Busch et al., 2005).

Muitas espécies de pequenos mamíferos têm uma relação de dependência com a floresta,

desempenhando papel importante nesses ambientes como predadores de sementes e de

insetos (Carvalho & Dos, 2008; Cáceres, 2004; Cáceres & Graipel, 2002; Pinheiro et al., 2002) e

como dispersores de sementes (Vieira & Monteiro-Filho, 2003; Pardini et al., 2005). Nesse

sentido, diversas espécies desse grupo são consideradas bons indicadores de mudanças locais

do habitat e da paisagem (Umetsu & Pardini 2006).

No Brasil, o primeiro estudo sobre pequenos mamíferos em ambientes alterados foi realizado

por (Dietz et al., 1975) em uma área de reflorestamento em Minas Gerais. Esses autores

encontraram maior número de espécies em dois remanescentes florestais de Mata Atlântica,

quando comparados ás áreas de plantio de Eucaliptus saligna e de Araucaria angustifolia.

Posteriormente, Stallings (1989) concluiu que as plantações que abrigam espécies vegetais

nativas no subosque, auxiliam na manutenção da diversidade de espécies de pequenos

mamíferos.

Estudos em ambientes alterados permitem a avaliação do impacto da ação antrópica sobre a

fauna local. Poucos trabalhos avaliaram o efeito das modificações do habitat na demografia,

estrutura da população e uso do espaço para a maioria das espécies de pequenos mamíferos

(e.g., Cademartori et al., 2004; Feliciano et al., 2002; Graipel et al., 2006). Informações de como

as modificações do habitat influenciam as populações são essenciais para proposição de

medidas de manejo específicas para populações de áreas que venham a sofrer com este tipo de

intervenção. No presente estudo, os pequenos mamíferos foram utilizados como modelo para

o entendimento de processos ecológicos relativos à manutenção da biodiversidade em

paisagens formadas por um mosaico de florestas secundárias e plantações. O objetivo deste

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estudo foi contribuir com subsídios para a conservação e manejo de pequenos mamíferos das

regiões de florestas tropicais.

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METODOLOGIA GERAL

ÁREA DE ESTUDO

A região de estudo compreendeu o distrito de Itatiaia e a Serra do Ouro Branco, ambos

localizados no município de Ouro Branco, a 96 km de Belo Horizonte e a 20 km de Ouro Preto.

As coletas foram realizadas no entorno de duas unidades de conservação, o Parque Estadual

Serra do Ouro Branco e o Monumento Natural Estadual de Itatiaia. Essas unidades de

conservação são novas e ainda estão em fase de implementação. O Parque engloba uma área

de 7.520 hectares e foi criado através do Decreto Lei nº 45.180 de 21/09/2009. O Monumento

Natural tem 3.216 hectares e foi criado através do Decreto Lei nº 45.179 de 21 de setembro de

2009.

Do ponto de vista geológico, a área de estudo está inserida no sul do Quadrilátero Ferrífero e

da Serra do Espinhaço, sendo a Serra de Ouro Branco o setor mais meridional destas duas

delimitações geográficas. Seus solos são rasos e arenosos, formados por rochas areníticas e

quartizíticas. Sua altitude varia entre 1000 e 1568 metros (Paula et al., 2005).

A área de estudo constitui-se de um ecótone entre os domínios do Cerrado e da Mata Atlântica.

Nos platôs da Serra do Ouro Branco se encontram áreas de campos rupestres bem delimitadas

e contidas. As áreas de mata são compostas por Floresta Estacional Semidecidual, segundo a

classificação proposta por Veloso et al. (1991). Essas florestas ocorrem principalmente nas

cotas de altitude inferiores a 1.000 metros, podendo ser também observadas em cotas de até

1.400 metros, em áreas transitórias entre os campos rupestres, onde o solo permite a

ocupação por elementos arbóreos. A região sofre influência antrópica através de mineração e

agricultura de subsistência.

O clima predominante da região é mesotérmico (Cwb, segundo a classificação de Köppen

1936). A temperatura média anual de 20,7 ͦ e a precipitação média anual é de 1.188,2 mm

(dados fornecidos pela estação metereológica da Gerdau Açominas). As chuvas se distribuem

principalmente entre os meses de novembro a fevereiro, com uma estação seca no inverno.

Assim, essa região apresenta tipicamente duas estações bem definidas, seca e chuvosa.

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Entretanto, essa divisão do ano em duas estações pode não permitir inferir as influências das

variáveis climáticas sobre a biologia de pequenos mamíferos.

As flutuações populacionais de roedores tropicais têm sido associadas às variações climáticas,

como precipitação, atuando diretamente sobre as espécies ou afetando a disponibilidade de

recursos (Pearson, 1975; Streilen, 1982; Murúa & González, 1986; Galante & Cassini, 1994;

Bergallo, 1995; Adler, 1998). As maiores variações climáticas ocorrem na transição entre as

estações, assim é de se esperar que seja mais fácil captar as variações que as populações

sofrem utilizando esses períodos como unidades representativas do auge da chuva ou da seca.

Dessa forma, no presente trabalho, o ano foi dividido em quatro períodos de três meses,

correspondendo às estações: 1) chuvosa (dezembro, janeiro e fevereiro); 2) chuvosa/seca

(março, abril e maio); 2) seca (junho, julho e agosto) e; 4) seca/chuvosa (setembro,outubro e

novembro). Essas divisões foram propostas com base na pluviometria mensal do ano de 2010,

apresentada na figura 1.

FIGURA 1. ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO MENSAL DE 2010. DADOS DA ESTAÇÃO METEREOLÓGICA DA GERDAU AÇOMINAS.

DESENHO AMOSTRAL

Este trabalho constou de duas etapas de coletas de 12 meses, a primeira foi de janeiro a

dezembro de 2009 e a segunda, de janeiro a dezembro de 2010. Essas duas etapas ocorreram

na mesma grande mancha de mata, tendo sido utilizada uma área de amostragem na mancha

na primeira etapa e três áreas da mesma mancha, na segunda etapa, sendo ainda que, em cada

uma dessas etapas foram adotados desenhos amostrais diferentes. Os dados da primeira etapa

161.40

117.00

225.20

29.6045.60

2.60 1.40 0.2015.20

192.00

262.40

316.60

0

40

80

120

160

200

240

280

320

360

JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

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do trabalho serão utilizados apenas no capítulo 1 desta dissertação, desta forma se encontram

descritos na metodologia do capítulo correspondente. Por outro lado, os dados da segunda

etapa serão utilizados nas análises dos três capítulos, e são descritos abaixo, na metodologia

geral.

De dezembro a janeiro de 2010, as armadilhas foram instaladas em três estações amostrais.

Dessas, duas foram instaladas em novas áreas de amostragem, enquanto que uma delas

correspondeu à área amostrada na primeira etapa, denominada Estação Mariano. Assim,

foram amostradas três estações denominadas: Mariano, Cecília e Robson. Esses nomes se

referem aos proprietários dessas áreas.

Cada estação amostral foi constituída de três ambientes com as seguintes características: uma

área de borda com uma plantação de milho, uma área de borda com estrada e uma área no

interior do fragmento, distante pelo menos quarenta metros da borda da mata (Figura 2). Em

cada ambiente foi montado um conjunto de três armadilhas de interceptação e queda, ou

pitfall. A figura 3 mostra uma visão geral de cada estação amostral.

As armadilhas de pitfall foram montadas com quatro baldes de 60 litros, distanciados cinco

metros entre si, no formato de um “Y”, no qual um balde foi posicionado em cada extremidades

e um no vértice. Uma cerca direcionadora de 70cm de altura ligava os baldes entre si. Essa

cerca foi confeccionada com tela tipo mosquiteiro, por ser um material mais resistente ao sol

do que a lona plástica, tipicamente utilizada (Cechin & Martins, 2000). A cerca era sustentada a

cada 2m por estacas de madeira grampeadas à mesma. Os baldes foram perfurados no fundo,

para evitar o acúmulo excessivo de água de chuva. No interior de cada balde, foi colocada uma

placa de isopor de 20x20 centímetros, no intuito de preservar os animais vivos, em dias de

muita chuva. Ao todo, foram montados vinte e sete armadilhas de pitall, totalizando 108

baldes (figura 2).

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FIGURA 2. DESENHO AMOSTRAL UTILIZADO NA SERRA DO OURO BRANCO NO ANO DE 2010. DETALHE DOS TRÊS TRANSECTOS EM FORMA DE Y INSTALADOS EM CADA AMBIENTE (BORDA COM PLANTAÇÃO, BORDA COM ESTRADA E INTERIOR DO FRAGMENTO), DENTRO DE CADA ESTAÇÃO AMOSTRAL (CECÍLIA, ROBSON E MARIANO).

FIGURA 3. FOTOGRAFIA AÉREA DAS ESTAÇÕES AMOSTRAIS NA SERRA DO OURO BRANCO, EM 2010. CADA CÍRCULO REPRESENTA UMA ESTAÇÃO AMOSTRAL E CADA ESTAÇÃO TEM TRÊS AMBIENTES (ESTRADA, INTERIOR E PLANTAÇÃO). IMAGEM EXTRAÍDA DO GOOGLE EARTH EM 29 DE JUNHO DE 2011.

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FIGURA 4. DETALHES DE CADA ESTAÇÃO AMOSTRAL DA SEGUNDA ETAPA DO ESTUDO NA SERRA DO OURO

BRANCO, JANEIRO A DEZEMBRO DE 2010. IMAGEM EXTRAÍDA DO GOOGLE EARTH EM 29 DE JUNHO DE 2011.

Na segunda etapa do trabalho, somente os primeiros cinco indivíduos capturados de cada

espécie foram coletados, os demais foram marcados com um brinco numerado e soltos. Os

animais coletados foram taxidermizados e depositados na coleção de mamíferos

Laboratório de Zoologia dos Vertebrados da Universidade Federal de Ouro Preto (LZV-UFOP).

As coletas foram realizadas mensalmente, ao longo de quatro noites consecutivas, com todas

as armadilhas abertas. As armadilhas eram vistoriadas sempre pela manhã. No período entre

as coletas, os baldes permaneceram fechados.

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CAPÍTULO 1

LEVANTAMENTO DE PEQUENOS MAMÍFEROS DA SERRA DO OURO BRANCO

INTRODUÇÃO

Os pequenos mamíferos não-voadores do Brasil pertencem às ordens Rodentia e

Didelphimorphia e correspondem a 298 espécies, sendo 243 e 55 espécies em cada ordem,

respectivamente. Esses animais compreendem 43% da diversidade de mamíferos do país

(Reis et al., 2011). A Mata Atlântica abriga 250 espécies de mamíferos, enquanto que o Cerrado

abriga 195, sendo esses o segundo e terceiro biomas mais ricos em espécies de mamíferos no

Brasil (Reis et al., 2011).

A Serra do Ouro Branco está localizada na porção sul da Cadeia do Espinhaço, em uma área de

transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica. A Cadeia do Espinhaço foi declarada como

Reserva da Biosfera, em 2005, pelo programa o Homem e a Biofera da Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Segundo Lessa et al. (2008), a situação

dessa região é extremamente grave em relação a conservação de mamíferos, devido a

destruição e fragmentação de habitats. Esses autores ressaltam que a região tem uma grande

importância na manutenção da diversidade de pequenos mamíferos, mas existem ainda

lacunas de conhecimento relacionadas a inventários, sistemática, distribuição geográfica e

ecologia deste grupo.

Neste capítulo é apresentado o inventariamento da comunidade de pequenos mamíferos não

voadores da serra do Ouro Branco e apresentada uma análise da influência de variáveis

ambientais sobre a diversidade espécies e a importância dessa serra na conservação da

biodiversidade regional

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METODOLOGIA

Este trabalho constou de duas etapas de 12 meses, sendo que em ambas foram empregadas

armadilhas de interceptação e queda, ou pitfall traps, como método de coleta. A primeira etapa

compreendeu os meses de janeiro a dezembro de 2009, quando foi realizado o levantamento

de espécies de pequenos mamíferos em um fragmento de mata com a remoção dos espécimes

capturados. Nesta primeira etapa, foram instalados três transectos lineares de armadilhas,

com dez baldes de 60l, distanciados 4 metros entre si, em três diferentes áreas do fragmento:

(a) em uma borda de floresta com plantação de milho; (b) no interior do fragmento e (c) em

uma área de transição entre a floresta e o campo rupestre circundante. As áreas amostradas

estão representadas na figura 5, abaixo. As médias pluviométricas mensais do ano de 2009

estão representadas na figura 6.

Na segunda etapa do trabalho, o desenho amostral utilizado em 2009 foi alterado para o

modelo descrito anteriormente, na metodologia geral da dissertação. Durante a segunda etapa,

a área de borda com campo rupestre, amostrada na primeira etapa, foi excluída, tendo sido

acrescentada à análise a área na qual a mata faz contato com uma rodovia.

FIGURA 5. ÁREAS AMOSTRADAS NA SERRA DO OURO BRANCO DURANTE A PRIMEIRA ETAPA DO TRABALHO,

JANEIRO A DEZEMBRO DE 2009. EXTRAÍDO DO GOOGLE EARTH, 29 DE JUNHO DE 2011.

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FIGURA 6. ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO MENSAL DE 2009. DADOS DA ESTAÇÃO METEREOLÓGICA DA GERDAU

AÇOMINAS.

Além das coletas com armadilhas de pitfall descritas anteriormente, foram utilizadas

armadilhas de isca por quatro noites no mês de abril em 2010. As armadilhas foram instaladas

no paiol onde o milho é armazenado na fazenda da área de borda da estação amostral Mariano.

Foram utilizadas cinco armadilhas tipo sherman tendo como isca pasta de amendoim e cinco

armadilhas de gancho com banana, fubá e óleo de fígado de bacalhau (Emulsão Scott) como

isca. Nas estações amostrais Cecília e Robson, o milho colhido é levado para casas no povoado

de Itatiaia, assim, não foram instaladas armadilhas de isca nestas estações amostrais.

ANÁLISES ESTATÍSTICAS

A riqueza de espécies entre os ambientes foi comparada pelo estimador Jacknife 1 (Burnham

& Overton 1979), calculado no programa EstimateS 7.5.0 (Colwell 2005), com 100

aleatorizações, sendo que a unidade amostral foi o mês.

A distribuição espacial e temporal das espécies de pequenos mamíferos foi avaliada utilizando

um modelo de ANOVA bifatorial, sendo a abundância de pequenos mamíferos em cada estação

do ano e em cada fragmento a variável resposta. Para se atender aos pressupostos das análises

os valores de abundância foram transformados através da fórmula X’=log(x+1).

131.40

265.20

210.80

70.40

3.0039.80

5.2026.60

102.60

278.40250.60

334.40

0

40

80

120

160

200

240

280

320

360

JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

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RESULTADOS

Foram coletadas 17 espécies de pequenos mamíferos ao longo dos dois anos de trabalho,

sendo 11 espécies de roedores e seis de marsupiais (Quadro 1). No ano de 2009, foram

capturados 96 indivíduos de 12 espécies de pequenos mamíferos, com um sucesso de captura

de 6.7%. O esforço amostral correspondente foi de 1.440 armadilhas/noite.

Em 2010, o esforço amostral foi de 5.184 armadilhas/noite, sendo de 1.728 armadilhas/noite

para cada estação amostral. Nesse ano, foram capturados 244 indivíduos de 11 espécies, com

um sucesso de captura de 4.7%. Dentre as espécies coletadas, três espécies de roedor e uma de

marsupial não haviam sido registradas anteriormente para a Serra do Espinhaço. Foram

coletados dois espécimes de Rattus novergicus nas armadilhas de gancho instaladas dentro da

área de armazenamento de milho da estação Mariano. As espécies capturadas são

representativas dos três biomas que compõe a serra do Ouro Branco (Quadro 1).

QUADRO 1. PEQUENOS MAMÍFEROS CAPTURADOS NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2009 E 2010, BIOMAS BRASILEIROS NOS QUAIS A ESPÉCIE OCORRE E SE EXISTE REGISTRO PARA O ESPINHAÇO, DE ACORDO COM LESSA et al. (2008).

*N: Não há registro anterior para a Cadeia do Espinhaço; S: Há registro anterior para a Cadeia do Espinhaço; MA: Mata Atlântica, CE: Cerrado; CA: Caatiga.

Espécies Bioma Espinhaço* Rodentia

Abrawayaomys ruschii Cunha e Cruz 1979 MA N Akodon sp. Meyen 1833 MA S

Bibimys labiosus (Winge 1877) MA N Blarinomys breviceps (Winge 1887) MA S

Calomys tener (Winge 1887) MA, CE e CA S Cerradomys subflavus (Wagner 1842) MA, CE e CA e PA S

Necromys lasiurus (Lund 1841) CE S Oligoryzomys nigripes (Olfers 1818) MA e CE S Rhagomys rufescens (Thomas 1886) MA N

Rattus novergicus (Berkenhout 1758) Pan distribuído S Rhipidomys mastacalis Tribe 1996 MA e CE S

Didelphimorphia

Cryptonanus cf. agricolai (Moojen 1943) CE N Didelphis albiventris Lund 1840 Todos do Brasil S

Marmosops incanus (Lund 1840) MA, CE e CA S Monodelphis americana (Müller 1776) MA, CE e CA S Monodelphis domestica Wagner 1842 CA e CE S

Gracilinanus microtarsus (Wagner 1842) MA S

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FIGURA 7. ESPÉCIES DE PEQUENOS MAMÍFEROS DA SERRA DO OURO BRANCO, A- BLARINOMYS BREVICEPS, B-ABRAWAYAOMYS RUSCHII, C- RHAGOMYS RUFESCENS, D- NECROMYS LASIURUS, E- BIBIMYS LABIOSUS, F- RATUS NOVERGICUS, G- CERRADOMYS SUBFLAVUS, H- RHIPIDOMYS MASTACALIS, I CALOMYS TENER, J OLIGORYZOMYS NIGRIPES, K- NECTOMYS SQUAMIPES, L- AKODON SP, M- MONODELPHIS AMERICANA, N DIDELPHIS ALBIVENTRIS, O- GRACILINANUS MICROTARSUS, P- MONODELPHIS DOMESTICA.

O esforço amostral no ano de 2010 foi 3.6 vezes maior que em 2009 e o número de áreas foi

três vezes maior, no entanto o acréscimo em número de espécies não foi correspondente

Foram coletadas 11 espécies em 2010 e 12 espécies em 2009. Na estação amostral Mariano

apenas cinco espécies foram coletadas no ano de 2010, enquanto em 2009, foram coletadas 12

espécies. Essa estação foi a única amostrada nos dois anos, permitindo comparação direta.

Embora não tenha havido acréscimo no número de espécies nessa estação, no ano de 2010 a

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espécie Bibimys labiosus foi coletada pela primeira vez . No quadro 2, são apresentadas as

abundâncias das espécies em cada ano de amostragem. Para o ano de 2010, além do total são

apresentadas, em particular, as abundâncias da estação Mariano, para permitir a comparação

geral entre os anos, bem como a comparação na mesma localidade.

QUADRO 2. ABUNDÂNCIA DE CADA ESPÉCIE DE PEQUENO MAMÍFERO CAPTURADA NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2009 E EM 2010, DESTACANDOA ESTAÇÃO AMOSTRAL “MARIANO” EM 2010.

Espécie 2009 2010 (Mariano) 2010 2anos

Rodentia

Abrawayaomys ruschii 1 (1%) 0 0 0,2%

Akodon sp 15 (15%) 19 (12%) 28 (11%) 10%

Bibimys labiosus 0 1 (0,6%) 2 (0,8%) 0,5%

Blarinomys breviceps 1 (1%) 3(2%) 3 (1%) 1%

Calomys tener 3 (1%) 0 1 (0,4%) 1%

Cerradomys subflavus 1 (1%) 0 0 0,2%

Necromys lasiurus 1 (1%) 0 2 (0,8%) 0,7%

Oligoryzomys nigripes 61 (63%) 121 (79%) 181 (74%) 61%

Rhagomys rufescens 0 0 2 (0,8%) 0,5%

Rhipidomys mastacalis 1 (1%) 0 0 0,2%

Didelphimorphia

Cryptonanus cf.agricolai 1 (1%) 0 0 0,2%

Didelphis albiventris - 0 1 (0,4%) 0,2%

Marmosops incanus 4 (4%) 3 (2%) 8 (3%) 3%

Monodelphis americana 6 (6%) 6 (4%) 13 (5%) 5%

Monodelphis domestica 0 0 1 (1%) 0,2%

Gracilinanus microtarsus 1 (1%) 0 0 0,2%

Total 96 153 244

A riqueza estimada pelo método Jacknife (Figura 7) para a análise conjunta dos dois anos de

coleta na estação amostral Mariano foi de 19.71±8.34. O intervalo de confiança aumentou até a

última amostra, revelando a alta probabilidade de existência de maior número de espécies na

área. Esta estimativa parece ser correta, dado que, em um trabalho realizado por nossa equipe

em 2007 e 2008, utilizando o mesmo desenho amostral de 2009, foram coletadas três espécies

que não ocorreram em 2009 e nem 2010: Oxymycterus dasytrichus, Oxymycterus rufus e Mus

musculus (dados não publicados).

Analisando somente o ano de 2010, cinco espécies foram capturadas na estação amostral

Cecília, enquanto seis foram capturadas na estação Mariano, e na estação Robson, oito. Através

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do estimador Jacknife 1, foram estimadas 6.83 espécies ±2.72 para estação Cecília, 6.92

espécies ± 2.02 para estação Mariano e 11.75 ±3.16 para estação Robson (Figura 7).

De acordo com a classificação quanto ao hábito alimentar e locomotor proposta por Reis et al.

(2011)foram capturadas no presente trabalho oito espécies cursoriais (50%), uma fossorial

(6.2%), duas espécies arborícolas (12.5%) e quatro escansoriais (25%). A maioria das espécies

apresenta hábito alimentar insetívoro (18,7%) e insetívoro-onívoro (25%) e 23,5% não tem o

hábito alimentar conhecido. Apenas duas espécies (11,7%) são consideradas granívoras e

uma granívora-onívora (5%). No quadro 3, são apresentadas as espécies associadas ao hábito

alimentar e locomotor.

Nos dois anos de estudo, a espécie mais abundante foi O. nigripes, representando 61% das

capturas, seguida por Akodon sp., com 10% das capturas. Entre os marsupiais, as espécies mais

capturadas foram Monodelphis americana (5%) e Marmosops incanus (3%) (Quadro 2).

FIGURA 8. ESTIMADOR DE RIQUEZA DE JACKNIFE PARA OS DOIS ANOS DE COLETA NA ESTAÇÃO MARIANO (19.71±8.34).

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FIGURA 9. RIQUEZA E INTERVALO DE CONFIANÇA ESTIMADOS, ATRAVÉS DO ESTIMADOR DE JACKNIFE, PARA CADA ESTAÇÃO AMOSTRAL ESTUDADA NA SERRA DO OURO BRANCO 2010.

QUADRO 3. PEQUENOS MAMÍFEROS CAPTURADOS NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2009 E 2010, ASSOCIADOS

AOS RESPECTIVOS HÁBITOS LOCOMOTORES E DIETAS

Espécies Hábito locomotor Hábito alimentar

Rodentia

Abrawayaomys ruschii Cursorial -

Akodon sp. Cursorial Insetívoro-onívoro

Bibimys labiosus Cursorial -

Blarinomys breviceps Fossorial Insetívoro

Calomys tener Cursorial Granívoro

Cerradomys subflavus Cursorial -

Necromys lasiurus Cursorial Granívoro-insetívoro

Oligoryzomys nigripes Escansorial Granívoro-onívoro

Rhagomys rufescens Arborícola Insetívoro

Rattus novergicus Escansorial Onívoro

Rhipidomys mastacalis Arborícola Insetívoro-onívoro

Didelphimorphia

Cryptonanus cf. Agricolai - -

Didelphis albiventris Escansorial Onívoro

Marmosops incanus Escansorial Onívoro

Monodelphis americana Cursorial Insetívoro

Monodelphis domestica Cursorial Insetívoro

Gracilinanus microtarsus Escansorial Insetívora-onívora

*As classificações foram feitas com base nas informações de Reis et. al.(2011).

Houve uma alta mortalidade nas armadilhas, dessa forma, apenas dois indivíduos de

Marmosops incanus, 13 de M. americana, 16 de Akodon sp. e 103 de O. nigripes foram marcados

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e soltos. Foram observadas diferentes razões para a morte dos animais nas armadilhas: 1)

Afogamento, embora houvesse uma placa de isopor dentro dos baldes; 2) Brigas, quando mais

de um indivíduo era capturado dentro do mesmo balde; 3) Ataque de formigas; 4) Frio, no

inverno ou quando os animais passavam a noite molhados pela chuva.

Entre os 132 animais marcados houve 22 recapturas restritas a duas espécies, O. nigripes (18)

e Akodon sp. (quatro). A maioria das recapturas (64.7%) ocorreu na estação Mariano e apenas

uma das recapturas de Akodon sp. ocorreu fora dessa estação. Devido à alta taxa de

mortalidade e a baixa taxa de recaptura, não foram utilizadas as análises clássicas para

estudos populacionais de marcação e recaptura (MNKA).

Considerando os dois anos de amostragem, a riqueza de espécies variou entre as estações do

ano, tendo sido encontrada a maior riqueza na estação chuvosa, com 12 espécies, e a menor na

estação chuvosa/seca, com cinco espécies (Quadro 5). Quatro espécies foram exclusivas da

estação seca/chuvosa (A. ruschii, B. labiosus, R. rufescens e D. albiventris) e cinco da chuvosa (C.

subflavus, R. mastacalis, Cryptonanus cf. agricolai, M. domestica e G. microtarsus). Não houve

espécies exclusivas das estações chuvosa/seca e seca, nestas estações ocorreram apenas as

espécies mais abundantes, sendo ainda que um indivíduo de N. lasiurus e um de C. tener foram

capturados na estação seca (Quadro 5).

QUADRO 4. NÚMERO DE RECAPTURAS POR ESPÉCIE EM CADA FRAGMENTO ESTUDADO NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2010.

Espécie Mariano Robson Cecília

O. nigripes 11 5 2

Akodon sp. 3 1 0

Embora tenha ocorrido diferença de riqueza entre as estações do ano, não houve relação

significativa entre a abundância de pequenos mamíferos e a pluviosidade (F1,10=2.42; p=0.15)

e nem entre a abundância e a temperatura (F1,10=0.73; p=0.41). No entanto, ao avaliar os

valores de abundância mensal total nas três estações amostrais e a pluviometria mensal,

representados na figura 8, pôde ser observada uma tendência de aumento da abundância com

o aumento na pluviometria. Contudo, ao observar a abundância em cada estação amostral

separadamente, apenas os valores de abundância da estação amostral Mariano parecem

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33

responder positivamente a pluviometria mensal. Não houve diferença na abundância de

pequenos mamíferos entre as estações do ano em 2009 (H3; 12=3.82; p =0.28), e em 2010

(F3;35=1.04, p=0.07). A abundância de pequenos mamíferos por estação em cada ano pode ser

visualizada na figura 9.

QUADRO 5. NÚMERO DE CAPTURAS DE PEQUENOS MAMÍFEROS POR ESPÉCIE NAS ESTAÇÕES SECA, CHUVOSA E

TRANSIÇÕES, PARA OS ANOS 2009/2010.

Espécie Chuvosa Chuv/Seca Seca Seca/Chuv

200

9

201

0

200

9

201

0

200

9

201

0

200

9

2010

Abrawayaomys ruschii 0 0 0 0 0 0 1 0

Akodon sp. 2 0 2 6 3 2 3 4

Bibimys labiosus 0 0 0 0 0 0 0 2

Blarinomys breviceps 0 1 0 2 0 0 0 1

Calomys tener 1 1 0 0 1 0 1 0

Cerradomys subflavus 1 0 0 0 0 0 0 0

Necromys lasiurus 1 0 0 0 0 1 0 1

Oligoryzomys nigripes 19 48 14 40 8 21 20 93

Rhagomys rufescens 0 0 0 0 0 0 0 2

Rhipidomys mastacalis 1 0 0 0 0 0 0 0

Cryptonanus cf. agricolai 1 0 0 0 0 0 0 0

Didelphis albiventris* x 0 x 0 x 0 x 1

Marmosops incanus 2 3 2 3 0 1 0 1

Monodelphis americana 5 5 0 1 0 3 2 2

Monodelphis domestica 0 1 0 0 0 0 0 0

Gracilinanus microtarsus 1 0 0 0 0 0 0 0 *Essa espécie não foi contabilizada no ano de 2009, sendo assim seus dados só foram considerados para 2010.

Ao avaliar a abundância das espécies de pequenos mamíferos por estação, excluindo O.

nigripes da amostra, não houve diferença entre as estações do ano (F3;11=0.54; p=0.66).

Entretanto, ao avaliar as figuras 10 e 11, é possível notar uma tendência de maior abundância

nas estações seca/chuvosa e chuvosa. A estação Cecília aparentemente demorou mais a

responder ao início da chuva, pois a abundância de pequenos mamíferos só aumentou na

estação chuvosa, enquanto nas outras duas estações esse aumento ocorreu na estação

chuvosa/seca.

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34

FIGURA 10. ABUNDÂNCIA MENSAL DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM CADA FRAGMENTO NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2010, ASSOCIADA À PLUVIOMETRIA MENSAL.

FIGURA 11. ABUNDÂNCIA DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM CADA ESTAÇÃO DO ANO EM 2009 E 2010 NA SERRA DO OURO BRANCO.

FIGURA 12. ABUNDÂNCIA DE PEQUENOS MAMÍFEROS, EXCLUINDO O. NIGRIPES, POR FRAGMENTO E POR ESTAÇÃO DO ANO, EM 2010, NA SERRA DO OURO BRANCO.

0

50

100

150

200

250

300

350

0

10

20

30

40

50

60

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezCecília Robson Mariano Pluviometria

0

20

40

60

80

100

120

Seca/Chuv Chuvosa Chuv/Seca Seca

2009

2010

25 3 3

1010

5 3

112

34

Seca/chuv Chuvosa Chuv/seca Seca

Cecília Mariano Robson

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35

As quatro espécies de pequenos mamíferos mais abundantes apresentaram os menores

valores de abundância na estação seca nos dois anos de amostragem, exceto M. americana em

2009. O padrão sazonal de cada uma destas espécies se diferenciou em relação a estação em

que atingiram maior abundância. O pico de O. nigripes foi na estação seca/chuvosa nos dois

anos, enquanto Akodon sp. apresentou picos na estação seca/chuvosa em 2009 e na chuvosa

em 2010; M. incanus apresentou dois picos em cada ano, um na estação chuvosa e um na

chuvosa/seca e M. americana apresentou o pico na estação chuvosa (Figura 12).

FIGURA 13. ABUNDÂNCIA POR ESTAÇÃO DO ANO PARA AS ESPÉCIES MAIS ABUNDANTES DE PEQUENOS MAMÍFEROS NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2009 E 2010.

02468

10

Marmosops incanus

2009

2010

0

50

100

Oligoryzomys nigripes

2009

2010

02468

10

Monodelphis americana

2009

2010

02468

10

Akodon sp.

2009

2010

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36

DISCUSSÃO

A Serra do Ouro Branco é uma área muito importante para a conservação de pequenos

mamíferos, pois abriga grande riqueza, incluindo espécies muito raras, como A. ruschii, B.

labiosus, R. rufescens e C. cf. agricolai, para as quais ainda não havia registros na Cadeia do

Espinhaço. Neste trabalho, foram encontradas 20,8% das espécies de roedores e 31,1% das

espécies de marsupiais com ocorrência conhecida para a Cadeia do Espinhaço de acordo com a

revisão de Lessa et. al. (2008). No entanto, não houve estabilização da curva do coletor,

indicando a presença de ainda mais espécies ainda não detectadas na área.

A fauna da região mostra influência dos três biomas que compõem a Cadeia do Espinhaço, ou

seja, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (Gontijo, 2008), havendo predomínio de espécies da

Mata Atlântica, com seis espécies endêmicas deste bioma. Áreas ecotonais tendem a ser mais

ricas e diversas, pois convergem elementos físicos e biológicos dos biomas adjacentes,

surgindo dessa combinação uma estrutura particular, complexa e rica (Ab’Saber 1987).

A Chapada Diamantina representa a porção norte da Cadeia do Espinhaço e está a mais de 200

km de distância da Serra do Ouro Branco. Segundo Pereira & Geise (2009) a fauna de

mamíferos da Chapada Diamantina é composta por 18 espécies de pequenos mamíferos,

dentre as quais, 10 ocorrem em vegetação similar a do presente estudo, Floresta Semidecidual.

A única espécie de roedor em comum entre os dois estudos foi O. nigripes. Entre os marsupiais

a diferença na composição foi pequena, sendo que a única espécie capturada na Serra e que

não tem registro para a Chapada Diamantina foi C. cf. agricolai. Oliveira & Pessôa (2005)

também realizaram levantamentos na Chapada Diamantina e as únicas espécies de roedores

em comum com o presente estudo foram N. lasiurus e O. nigripes. Para os marsupiais, o

resultado foi o mesmo de Pereira & Geise (2009). Estes resultados confirmam a importância

da Cadeia do Espinhaço para a conservação de pequenos mamíferos não-voadores, uma vez

que abriga uma alta riqueza de espécies, principalmente de roedores e ainda pelo fato de que,

diferentes porções da Cadeia do Espinhaço são ocupadas por faunas distintas.

O gênero Cryptonanus foi descrito em 2005 e era anteriormente referido como Gracilinanus.

Foram descritas três espécies para esse gênero no Brasil, sendo elas características de biomas

abertos como o Cerrado e a Caatinga . Cryptonanus agricolai é a espécie com distribuição

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geográfica mais próxima para a área de estudo, com indivíduos coletados a 100 Km de

distância, em Lagoa Santa. A taxonomia das espécies deste gênero por métodos morfológicos

depende de comparação com as outras espécies do gênero, sendo que os exemplares são raros

e nós não tivemos acesso aos mesmos. Embora o indivíduo capturado neste estudo pareça

seguir a descrição da espécie, optamos por deixar a espécie a confirmar.

De acordo com a estimativa de riqueza de Jacknife, existem mais espécies na área, esse

resultado já era esperado, dado que todos os métodos de inventariamento são parciais, na

medida que cada um é adequado para coleta e/ou observação de apenas uma fração da rica

fauna de mamíferos neotropicais (Voss & Emmons 1996). Assim acreditamos que devem

existir outras espécies na área, que não podem ser capturadas utilizando apenas armadilhas

do tipo pitfall. Oxymycterus dasytrichus, Oxymycterus rufus, Rhipidomys mastacalis e Mus

musculus foram registradas na estação amostral Mariano por nossa equipe, em um trabalho

anterior, mas não foram capturadas ao longo deste trabalho (dados não publicados). No

entanto, essas quatro espécies foram registradas ocasionalmente, sendo representadas por um

ou dois indivíduos e estiveram presentes em apenas um dos dois anos de amostragem.

As espécies do gênero Oxymycterus são de porte relativamente grande, comparado as espécies

coletadas neste trabalho e R. mastacalis é arborícola. Segundo Umetsu et al. (2006),

armadilhas de pitfall são mais eficientes para capturar espécies terrestres, que não se

orientam visualmente, sendo assim, não são tão eficientes na captura de formas arborícolas.

Esse padrão foi encontrado neste estudo, pois a maioria das espécies capturadas apresentava

hábito cursorial ou fossorial e 25% apresentava pelo menos hábito escansorial, sendo que

apenas duas espécies (12,5%) de hábito arborícola foram capturadas. Além disso, é de se

esperar que espécies maiores tenham a capacidade de saltar alcançando uma altura superior a

do balde, sendo assim, capazes de fugir das armadilhas. Outros estudos também

demonstraram que espécies de maior porte (Madock, 1992; Voss et al., 2001; Hice and

Schmidly, 2002) e também as de maior capacidade escansorial (Madock, 1992) são pouco

capturadas ou estão ausentes na maior parte das amostragens com armadilhas de queda.

Outro aspecto a ser observado é a importância de trabalhos de longa duração para a

amostragem da composição de espécies de pequenos mamíferos de uma região, como já

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proposto por Pereira & Geise (2009), pois com o maior tempo de amostragem foi possível

acessar espécies raras e de difícil captura.

Mus musculus e R. novergicus são espécies sinantrópicas de distribuição mundial. Apenas um

indivíduo de M. musculus foi capturado em pitfall na área de borda com a plantação. As duas

capturas de R. novergicus ocorreram em armadilha de gancho em um paiol de armazenamento

de milho. Estas espécies devem ser mais comuns dentro dos limites da propriedade rural, não

entrando na mata com freqüência. Umetsu et al. (2006) avaliaram a distribuição de pequenos

mamíferos em um mosaico de fragmentos florestais e hábitats antropogênicos na Mata

Atlântica e encontram as espécies sinantrópicas exclusivamente em áreas rurais com

construções, enquanto que as espécies mais características do bioma aberto do Cerrado foram

capturadas quase exclusivamente em área de agricultura. Da mesma forma, neste trabalho, as

espécies N. lasiurus e C. tener, comuns em áreas de Cerrado, foram coletados apenas nas áreas

de borda com plantação.

Como esperado, os maiores valores de riqueza e abundância de pequenos mamíferos

ocorreram nas estações seca/chuvosa e chuvosa, com espécies exclusivas dessas estações,

enquanto que nenhuma espécie foi encontrada exclusivamente nas estações seca ou

seca/chuvosa. Ao se analisar as espécies mais abundantes, todas tiveram os maiores valores

de abundância na estação chuvosa ou na troca de estações e os menores valores ocorreram na

estação seca. Assim, podemos concluir que os animais estão mais ativos no período das

chuvas, embora não tenha sido encontrada relação direta entre a abundância de pequenos

mamíferos e a pluviosidade. Esse resultado já era esperado, pois a pluviosidade afeta a

disponibilidade de recurso, que por sua vez afeta diretamente a abundância de pequenos

mamíferos. Nas primeiras chuvas há um aumento na quantidade de recurso, o que

desencadeia maior atividade dos animais (Bergallo & Magnusson 2002; 2008; Filho et al.

2008).

A única espécie que não apresentou diminuição na abundância na estação seca foi M.

americana, conforme foi observado no ano de 2010. Nesta ocasião, foram capturados apenas

três jovens, todos no mês de junho (<10g). Da mesma forma, Mares et al. (1989) relatam a

captura de uma fêmea lactante no mês de novembro e de indivíduos subadultos entre os

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39

meses de fevereiro e junho no Distrito Federal (Brasília), sugerindo uma associação da

atividade reprodutiva desta espécie com o período chuvoso.

Diferentemente do observado no presente trabalho, Gentile et al. (2000), D’Andrea et al.

(1999), D’Andrea et al. (2007) em estudos sobre estrutura de comunidade de pequenos

mamíferos na Mata Atlântica utilizando armadilhas com iscas encontraram maior riqueza e

abundância na estação seca. Armadilhas com iscas tendem a ser mais atrativas em períodos de

escassez de alimento (Krebs and Boonstra, 1984), particularmente para os roedores

frugívoros e granívoros (Adler & Lambert 1997). Por outro lado, armadilhas do tipo pitfall

capturam os animais enquanto esses caminham pelo solo e não exercem atração sobre eles,

assim podem fornecer informações mais acuradas sobre o período de atividade de cada

espécie (Umetsu et al. 2006).

Os resultados encontrados no presente trabalho demonstram que a região da serra do Ouro

Branco é uma área de grande importância para a conservação de mamíferos de pequeno porte.

A área apresenta elevada riqueza e a composição de espécies é particular, mesmo quando

comparada a outros locais na Cadeia do Espinhaço. Sendo assim, o Parque Estadual da Serra

do Ouro Branco e o Monumento Natural Estadual de Itatiaia contribuirão particularmente

para conservação da fauna de pequenos mamíferos no Brasil.

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CAPÍTULO 2

O MILHO INFLUENCIA A COMUNIDADE DE PEQUENOS MAMÍFEROS?

INTRODUÇÃO

A estrutura de uma comunidade diz respeito aos padrões de composição, riqueza e

abundância de espécies e as forças evolutivas e ecológicas que moldam estes padrões (Begon

et al., 2007). Os pequenos mamíferos perfazem um grupo zoológico de particular interesse

para o estudo da estruturação de comunidades, não apenas em virtude de sua abundância e da

sua ampla diversidade de adaptações ecológicas, mas também por serem importantes

componentes de quase todos os ecossistemas terrestres.

Vários trabalhos têm sugerido que a estrutura do habitat pode influenciar a composição e a

diversidade da fauna de pequenos mamíferos (Junior & Leite 2007; Stallings 1989). Hábitats

mais complexos promovem maior disponibilidade de nichos potenciais e substratos para

locomoção, o que permite a coexistência de maior número de espécies, favorecendo a

especialização no uso de diferentes recursos (Klopfer & Mac Arthur 1960; August 1983; Grele

1996). No entanto, distúrbios capazes de tornar o hábitat mais simples, como a fragmentação e

a formação de clareiras, parecem aumentar a riqueza e a abundância de pequenos mamíferos

neotropicais (Adler 1994; Adler 1996; Cowan et al. 2003; Pardini 2004; Umetsu & Pardini

2006; Püttker et al. 2008; Pardini & Umetsu 2006).

O aumento na diversidade de pequenos mamíferos após a ocorrência de distúrbios é, muitas

vezes, associada à diminuição na pressão de predação (Adler 1996; Lambert et al. 2003;

Terborgh et al. 2001). Esta diminuição é explicada pelo afugentamento dos predadores, devido

ao distúrbio, ou pela maior dificuldade dos predadores encontrarem as presas, graças à

proteção oferecida pelo aumento na densidade de herbáceas (Trejo & Guthmann 2008).

Embora algumas espécies de pequenos mamíferos possam ser beneficiadas por alterações

ambientais, isso não ocorre para a maioria das espécies, as quais mantém uma relação clara de

dependência com a floresta, desempenhando papel importante nesses ambientes como

predadores e dispersores de sementes (Pardini et al. 2005; Vieira et al. 2003; Vieira & Izar

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41

2009). Segundo Terborgh et al. (2001), mudanças na abundância desses animais parecem

afetar a regeneração e a sucessão florestal.

A serapilheira é um componente de habitat importante que é alterado com a interferência

antrópica. O conhecimento da importância da serapilheira para pequenos mamíferos ainda é

muito escasso. Em estudos com outros vertebrados de solo, como anfíbios anuros, foi

constatado que eles podem estabelecer diversas formas de associação com esse substrato, o

qual tem influência direta sobre a biologia das espécies (Donnelly & Crump 1998; Toft 1980;

Toft 1981). Para espécies cursoriais e fossoriais de pequenos mamíferos, é de se esperar que a

serapilheira tenha importante função como abrigo e fonte de alimentos. Emmons & Feer

(1997) afirmam que espécies do gênero Akodon constroem galerias subterrâneas no

serapilheira. Artrópodes que vivem nesse ambiente compõem um item alimentar importante

para pequenos mamíferos (Santori & Astúa De Moraes, 2005; Santori et al., 1995), assim como

frutos e sementes (Pinto et al. 2009; Talamoni et al. 2008), que também podem ser

encontrados na serapilheira.

Uma forma de entender a resposta das diferentes espécies à interferência antrópica seria

estudar a forma como elas usam matrizes específicas. A matriz é o conjunto de ambientes

alterados que envolvem os remanescentes de habitat em paisagens alteradas pelo homem. Até

recentemente, a matriz foi considerada pouco importante, inóspita e homogênea (Ricketts

2001; Vandermeer & Carvajal 2001; Jules & Shahani 2003). Dentre os diversos atributos

ecológicos relacionados à sensibilidade da fauna à fragmentação em regiões temperadas e

tropicais, Henle et al. (2004) incluíram a capacidade de uso da matriz como um dos seis

atributos principais. Estudos realizados na Argentina avaliaram a resposta de espécies de

roedores de um fragmento de mata aos diferentes estágios de desenvolvimento de uma

plantação que compõe sua matriz (Cavia et al. 2005; Courtalon & Busch 2010; Hodara & Busch

2005). Esses estudos demonstraram que a abundância de algumas espécies, bem como sua

localização, no fragmento de mata ou na plantação, variou de acordo com o estágio de

desenvolvimento em que se encontrava a plantação.

O objetivo desse trabalho foi avaliar como os pequenos mamíferos utilizam matrizes

constituídas por plantação de milho na Serra do Ouro Branco. Para avaliar as respostas das

espécies a plantação de milho, foram testadas as hipóteses abaixo:

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42

HIPÓTESES

• A plantação de milho funciona como uma fonte de recurso para as espécies

generalistas. Oligoryzomys, Akodon e Calomys são gêneros considerados pragas

agrícolas em outros países da América do Sul (Stenseth et al., 2003), assim, embora não

sejam pragas no Brasil, espécies do mesmo gênero possivelmente têm a capacidade de

se alimentar das plantações.

• Áreas de borda com matrizes diferentes terão diversidades de espécies diferentes entre

si. No ambiente de borda com plantação haverá menor equitabilidade entre as espécies

do que nos ambientes de interior do fragmento e em bordas com a estrada, dado que

existem espécies que podem utilizar a plantação e se favorecer.

• A agricultura afetará o deslocamento das espécies dentro do fragmento. Espécies

favorecidas pela agricultura, através da disponibilização de recurso, serão atraídas para

a área próxima à borda com a agricultura durante o período de colheita.

• Haverá uma distribuição temporal diferenciada entre as espécies devido à agricultura.

As espécies generalistas terão densidades populacionais mais altas nos períodos de

colheita. As demais espécies terão densidades mais altas na estação seca/chuvosa.

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MATERIAIS E MÉTODOS

Para as análises deste capítulo foram utilizados exclusivamente os dados obtidos ao longo do

ano de 2010, conforme a descrição detalhada apresentada na metodologia geral. Para testar se

a plantação funciona como uma fonte de recurso para os animais, o desenho amostral foi

montado nos moldes de um experimento ecológico. Assim, foram utilizadas áreas, tratadas

aqui como estações amostrais, apresentando três ambientes com as características necessárias

para a realização do experimento. Esses ambientes foram uma área tratamento (borda com

plantação) e dois níveis de controle, o primeiro para o tratamento borda (interior de

fragmento) e o segundo para tratamento recurso oferecido pela plantação, sendo assim uma

borda que não oferecia recurso (estrada). Foram utilizadas três réplicas para o experimento,

as três estações amostrais, denominadas como Cecília, Mariano e Robson.

Como uma segunda forma de avaliar se as espécies se alimentavam do milho, todos os animais

capturados eram levados ao laboratório e alimentados com milho, laranja, larvas de tenébrios

(Coleoptera) e ração para ratos. Os animais eram colocados dentro de uma caixa de

polipropileno forrada com serragem e com todos os tipos de alimento disponíveis, exceto os

tenébrios. Os tenébrios eram oferecidos vivos através da grade com uma pinça de metal. Essa

metodologia de oferecer os tenébrios foi adotada, pois se colocados em placas de petri dentro

da gaiola, as larvas fugiam para o meio da serragem, antes que os animais as pegassem, não

sendo possível observar se eles se alimentavam das mesmas. Os animais eram observados até

o próximo dia de campo para quanto aos tipos de alimentos que consumiam.

CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE AMOSTRAGEM

August (1983), em seu conceito de estados de complexidade de hábitats, definiu como

complexos aqueles que possuem muitos estratos vegetais com folhagem densa, enquanto os

simples apresentam poucos desses estratos. Diversos trabalhos associaram a comunidade de

pequenos mamíferos à estrutura do hábitat (e.g., Dueser & Shugart 2007; August 1983; Kelt et

al. 1994) afirmando que diferenças na complexidade estrutural implicarão em diversidades

diferentes. Desta forma, realizamos diversas medidas de hábitat, com o objetivo de avaliar se

as áreas apresentavam estruturas semelhantes e, assim, garantir que as diferenças

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44

encontradas seriam devido às características de entorno e não às diferenças estruturais da

floresta.

Foram demarcados quadrantes de 5x5m nas extremidades de todos os Y, como representados

na figura 13. Dentro destes quadrantes, foi medida a circunferência na altura do peito, ou CAP,

de todas as árvores e estimada a altura daquelas que apresentaram o CAP maior que cinco cm

e altura superior a 2m. As plantas com CAP inferior a 5 cm e/ou com menos de 2m de altura

foram consideradas como componentes do subbosque. Além disso, em cada quadrante foram

estimadas a densidade e conectividade do subbosque e do dossel. A distância do Y até a fonte

de água mais próxima foi medida, plotando as coordenadas do Y e da fonte de água no Google

Earth e, posteriormente, essas medidas foram categorizadas. Complementarmente aos dados

de conectividade de dossel, fotos obtidas com uma câmera Sony HX1 das extremidades de

cada quadrante a uma altura de 1,6m, foram utilizadas para calcular a densidade do dossel. No

Quadro 6, estão listadas todas as medidas de habitat realizadas, associadas com as categorias

criadas para cada medida.

QUADRO 6. MEDIDAS DE HÁBITAT REALIZADAS EM TODAS AS ÁREAS DE ESTUDO NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2010.

Medida Medidas

CAP Variável quantitativa

Altura Variável quantitativa

Quant. média de serapilheira acumulada Peso médio em gramas

Densidade do Subbosque Ausente (0); Baixa (1); Média (2); Alta (3)

Conectividade do sub-bosque Ausente (0); Baixa (1); Média (2); Alta (3)

Densidade do Dossel Ausente (0); Baixa (1); Média (2); Alta (3)

Conectividade do Dossel Ausente (0); Baixa (1); Média (2); Alta (3)

Distância de fonte de água 0m (0), 1-10m (1); 11-50m (2); 51-100m(3); >100m (4)

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FIGURA 14. ESQUEMA DA AMOSTRAGEM DE ESTRUTURA DE HÁBITAT EM CADA CONJUNTO DE ARMADILHAS DE PITFALL ORGANIZADAS EM FORMA DE “Y” DURANTE O SEGUNDO ANO DE TRABALHO NA SERRA DO OURO BRANCO, 2010.

SERAPILHEIRA

A medida de biomassa seca de serapilheira acumulada foi utilizada como uma medida de

indireta de recurso, tanto alimentar como de abrigo. A serapilheira acumulada foi coletada ao

final de cada estação do ano, ou seja, em fevereiro, maio, agosto e novembro. Para a coleta, foi

utilizado um quadrado de 50x50cm, feito com canos de PVC. Esse quadrado era arremessado

aleatoriamente a uma distância de 1m da extremidade do Y sobre a serapilheira, e todo o

material dentro da área do quadrado foi coletado. Foi coletado o referente a área de dois

quadrados em cada Y, sendo que o quadrado foi arremessado em direções opostas no mesmo

Y, em cada coleta.

O material coletado foi submetido a secagem em estufa a 70ºC por 48 horas e pesado em

balança de precisão de três casas decimais. Posteriormente, foi calculada uma média da

biomassa seca de serapilheira acumulada em cada ambiente e em cada estação do ano.

CULTURA DE MILHO NA SERRA DO OURO BRANCO

As plantações de milho das áreas amostradas na Serra do Ouro Branco correspondem a

plantações de subsistência e variam muito em tamanho. A plantação da estação amostral

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Mariano perfaz cerca 7.200 m2, a da estação amostral Robson, cerca de 17.000 m2, enquanto

que a da estação amostral Cecília cerca de 2.000 m2.

O milho é semeado em outubro e colhido em janeiro ou fevereiro na região de estudo.

Entretanto, em algumas áreas, uma parte do milho seca no pé, sendo posteriormente usado

para alimentar animais domésticos ou para fazer fubá. No ano de estudo, o milho da estação

Mariano foi removido completamente da área de plantação somente no início de junho,

enquanto das estações Cecília e Robson foi removido no final de março. Nas plantações das

estações Mariano e Cecília, é realizada a rotação de cultura do milho com o feijão.

ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Para avaliar a influência da matriz de milho sobre as espécies de pequenos mamíferos foram

utilizados quatro modelos de ANOVA bifatorial, utilizando abundância de pequenos mamíferos

em cada estação do ano e em cada ambiente como variável resposta. O primeiro modelo

utilizou a abundância geral de pequenos mamíferos, o segundo usou a de O. nigripes, o terceiro

a de Akodon sp. e o quarto a de pequenos mamíferos, excluindo O. nigripes. Para todos os

testes, os valores de abundância foram transformados através da fórmula X’= log(x+1), para

que se cumprissem os pressupostos das análises.

Para avaliar se a equitabilidade variou em função do ambiente, foram montadas curvas de

rank de abundância das espécies (Whittaker plots, Whittaker 1965). A vantagem de se avaliar

equitabilidade através dos ranks de abundância é que padrões contrastantes de riqueza de

espécies são claramente apresentados. Outra vantagem é que quando existem relativamente

poucas espécies, toda a informação acerca de sua abundância é claramente visível (Magurran,

2003).

Foi montando um cluster de similaridade através do índice de Bray Curtis, utilizando a

abundância de cada espécie em cada área, com o objetivo de avaliar se as áreas se agrupariam

por pertencerem ao mesmo fragmento ou devido a sua localização no fragmento (interior,

borda com plantação e borda com estrada).

Foi realizada uma Análise de Componente Principal (PCA) para avaliar se as características

estruturais do hábitat formavam um agrupamento único ou se essas diferenciavam entre si

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47

devido à estrutura da vegetação. Em outras palavras, a PCA foi empregada a fim de testar se

todas as áreas eram iguais estruturalmente e, portanto, as diferenças encontradas seriam

relativas às características do entorno, ou seja, estrada, plantação ou interior da mata.

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48

RESULTADOS

O esforço amostral foi de 5.184 armadilhas/noite, sendo de 1.728 para cada estação amostral e

576 por ambiente. Foram capturados 244 indivíduos de 11 espécies, com um sucesso de

captura de 4.7%. A lista das espécies é apresentada no Quadro 7, assim como informações

sobre os biomas em que cada espécie ocorre e seu hábito alimentar de acordo com a

compilação de Reis et al. (2011).

QUADRO 7. PEQUENOS MAMÍFEROS CAPTURADOS NA SERRA DO OURO BRANCO, BIOMAS BRASILEIROS NOS QUAIS CADA ESPÉCIE OCORRE E HÁBITO ALIMENTAR, DE ACORDO COM REIS ET AL. (2011).

Houve uma alta mortalidade nas armadilhas, dessa forma, apenas dois indivíduos de

Marmosops incanus, 13 de M. americana, 16 de Akodon sp. e 103 de O. nigripes foram marcados

e soltos. Foram observadas diferentes razões para a morte dos animais nas armadilhas: 1)

Afogamento, embora houvesse uma placa de isopor dentro dos baldes; 2) Brigas, quando mais

de um indivíduo era capturado dentro do mesmo balde; 3) Ataque de formigas; 4) Frio, no

inverno ou quando os animais passavam a noite molhados da chuva.

Entre os 132 animais marcados houve 22 recapturas restritas a duas espécies, O. nigripes (18)

e Akodon sp. (quatro). A maioria das recapturas (64.7%) ocorreu na estação Mariano e apenas

uma das recapturas de Akodon sp. ocorreu fora dessa estação. Devido à alta taxa de

Espécies Bioma Hábito alimentar

Rodentia

Akodon sp. Meyen, 1833 Mata Atlântica Insetívoro-onívoro

Bibimys labiosus (Winge 1877) Mata Atlântica -

Blarinomys breviceps (Winge 1887) Mata Atlântica Insetívoro

Calomys tener (Winge 1887) Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga Granívoro

Necromys lasiurus (Lund 1841) Cerrado Granívoro-Insetívoro

Oligoryzomys nigripes (Olfers 1818) Mata Atlântica e Cerrado Granívoro-Onívoro

Rhagomys rufescens (Thomas 1886) Mata Atlântica Insetívoro

Didelphimorphia

Didelphis albiventris Lund, 1840 Todos do Brasil Onívoro

Marmosops incanus (Lund 1840) Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga Onívoro

Monodelphis americana (Müller 1776) Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga Insetívoro

Monodelphis domestica Wagner, 1842 Catinga e Cerrado Insetívoro

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49

mortalidade e a baixa taxa de recaptura, não foram utilizadas as análises clássicas para

estudos populacionais de marcação e recaptura (MNKA).

A composição de espécies variou entre os três tipos de ambientes amostrados. Sendo que, a

espécie C. tener foi exclusiva do ambiente plantação, M. domestica do ambiente estrada e D.

albiventris, B. labiosus e R. rufescens do ambiente interior. A plantação e a estrada

compartilharam a espécie N. lasiurus e os três ambientes compartilharam quatro espécies

entre si. Na figura 14, está representada a distribuição das espécies entre os três tipos de

ambientes.

FIGURA 15. ESPÉCIES ENCONTRADAS EM CADA TIPO DE AMBIENTE AMOSTRADO NA SERRA DO OURO BRANCO.

A espécie mais abundante ao longo de todo o trabalho foi O. nigripes, seguida por Akodon sp.,

Monodelphis americana e Marmosops incanus. Estas quatro espécies foram as únicas que

ocorreram em todos os tipos de ambientes, ou seja, plantação, interior e estrada e em todas as

estações do ano. No quadro 8 está representada a abundância de cada espécie em cada

ambiente.

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50

QUADRO 8. ABUNDÂNCIA DE CADA ESPÉCIE DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM CADA ÁREA AMOSTRADA NA SERRA DO OURO BRANCO, 2010

Espécie Estrada Interior Plantação

Akodon sp. 4 10 13

Bibimys labiosus 0 2 0

Blarinomys Breviceps 1 2 0

Calomys tener 0 0 1

Necromys lasiurus 1 0 1

Oligoryzomys nigripes 44 48 107

Rhagomys rufescens 0 2 0

Didelphis albiventris 0 1 0

Marmosops incanus 3 2 3

Monodelphis americana 6 5 2

Monodelphis domestica 1 0 0

As curvas de rank de abundância de Whittaker (Whittaker, 1965) para cada ambiente

demonstraram que, em geral, os ambientes de interior apresentaram maior equitabilidade do

que os de borda, pois as curvas foram nos ambientes de interior foram menos inclinadas dos

que as dos ambientes de borda da mesma estação amostral. Entre os ambientes de borda, as

bordas com plantação tiveram menor equitabilidade do que as bordas com estrada (Figura

15).

A abundância das espécies de pequenos mamíferos não diferiu entre os ambientes (F2; 24=2.21,

p=0.13), mas diferiu entre as estações do ano, com maior abundância na estação seca/chuvosa

(F3, 24=3,4, p=0.03, figura 16). A abundância de O. nigripes foi diferente tanto entre os

ambientes (F2; 33=5.79; p<0.01, figura 17), como entre as estações do ano (F=3.65; p=0.01),

mas a resposta às estações do ano não foi a mesma em cada ambiente. Em todas as estações do

ano, O. nigripes foi mais abundante na borda com plantação e neste ambiente, a abundância foi

mais constante entre as estações do ano, diminuindo apenas na estação seca. No ambiente de

estrada, a abundância foi maior nas estações seca/chuvosa e chuvosa, enquanto nos ambientes

de Interior, os valores mais altos ocorreram nos períodos de transição entre as estações

(figura 17).

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A segunda espécie mais abundante nas áreas de estudo foi Akodon sp., mas não houve

diferença na abundância desta espécie entre os ambientes e nem entre as estações do ano (F6;

24=0.22, p=0.96). Não foram feitos testes para avaliar a diferença de abundância entre

ambientes e estações do ano para M. americana e M. incanus, devido à baixa abundância. No

entanto, ao avaliar os valores brutos de abundância, M. americana foi mais comum em

ambientes de interior e estrada e Akodon sp. foi mais comum em plantação e interior,

enquanto os marsupiais, M. incanus e M. americana ficaram igualmente distribuídos entre os

três tipos de ambientes. Além disso, Akodon sp. foi mais abundante na estação seca/chuvosa,

enquanto os marsupiais foram mais abundantes na chuvosa e chuvosa/seca (Figura 18).

00.20.40.60.8

1

Cecília Estrada

00.20.40.60.8

1

Mariano estrada

00.20.40.60.8

1Mariano Interior

00.20.40.60.8

1Robson Interior

00.20.40.60.8

1

Mariano Plantação

00.20.40.60.8

1

Robson Plantação

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FIGURA 16. RANKS DE ABUNDÂNCIA DE CADA ÁREA AMOSTRADA NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2010.

Chuvosa Chuvosa/Seca Seca Seca/Chuvosa

Estação

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

2.2

2.4

2.6

2.8

3.0

3.2

Lo

g a

bu

nd

: =

Lo

g(v

4+

1)

FIGURA 17. ABUNDÂNCIA DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM CADA ESTAÇÃO DO ANO NA SERRA DO OURO BRANCO, EM 2010.

00.20.40.60.8

1Robson Estrada

00.20.40.60.8

1Cecília Interior

00.20.40.60.8

1

Cecília Plantação

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53

Área

Estrada

Área

Plantação

Área

Interiorchuvosa chuv/seca seca seca/chuv

Estação

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

Lo

g A

bu

nd

: =

Lo

g(V

4+

1)

FIGURA 18. ANOVA TWO WAY AVALIANDO A ABUNDÂNCIA DE OLIGORYZOMYS NIGRIPES EM RESPOSTA A LOCALIZAÇÃO NO

FRAGMENTO E A ESTAÇÃO DO ANO.

Ao avaliar a diferença na abundância das espécies de pequenos mamíferos entre estações e

ambientes, foi encontrada uma maior abundância na estação seca/chuvosa, mas não houve

diferença entre os ambientes. Como foi encontrada diferença em ambas as variáveis para O.

nigripes, e essa espécie foi a mais abundante do trabalho, foi avaliado se existiria diferença

nessa análise, excluindo O. nigripes da amostra. Esta espécie poderia estar mascarando a

diferença na distribuição espacial e/ou influenciando o resultado da distribuição temporal das

outras espécies. O resultado obtido confirmou a hipótese da influência de O. nigripes sobre a

distribuição temporal, pois não houve diferença de abundância para as outras espécies entre

ambientes e nem entre estações do ano (F6;24=2.04, p=.098).

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FIGURA 19. ABUNDÂNCIA DE AKODON SP, MARMOSOPS INCANUS E MONODELPHIS AMERICANA POR AMBIENTE EM CADA ESTAÇÃO DO ANO

Na figura 19, são apresentados os valores de abundância de pequenos mamíferos por

ambiente em cada estação do ano, excluindo O. nigripes. Comparando o resultado obtido em

cada estação amostral, não foi possível encontrar nenhum padrão de distribuição temporal ou

espacial.

A análise de Componente Principal demonstrou que não há nenhum agrupamento específico

entre as áreas de acordo com a estrutura do habitat, indicando que as diferenças na

diversidade encontradas entre as áreas foram relativas às características do entorno e não da

estrutura da vegetação, conforme pode ser observado na figura 20.

1 12 1 11

31 2

Monodelphis americana

Plantação Interior Estrada

71

41

4

31

2

1

1 2

Akodon sp.

Plantação Interior Estrada

211

1

1 1

1

Marmosops incanus

Plantação Interior Estrada

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55

Como demonstrado no cluster da figura 21, todos os ambientes da estação amostral Cecília

constituíram uma unidade, enquanto que os ambientes de estrada das estações amostrais

Mariano e Robson ficaram unidos. As demais áreas não se uniram de forma compreensível.

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FIGURA 20. ABUNDÂNCIA DE PEQUENOS MAMÍFEROS, EXCLUINDO O. NIGRIPES, POR ÁREA EM CADA ESTAÇÃO

DO ANO NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2010. A) CECÍLIA; B) MARIANO; C) ROBSON.

1 1 12

21

1

4

1

Seca/Chuv Chuvosa Chuv/Seca Seca

Plantação Interior Estrada

42

4

3

4

1

1

2 2

Seca/Chuv Chuvosa Chuv/Seca Seca

Plantação Interior Estrada

42

4

3

4

1

1

2 2

Seca/Chuv Chuvosa Chuv/Seca Seca

Plantação Interior Estrada

B A

C

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57

Projection of the cases on the f actor-plane ( 1 x 2)

Cases with sum of cosine square >= 0.00

Activ e

1

2

3 4

5

6

7 8

9

10

11

12

13

14 15

16

17 18

19

20 21

22

23 24 25 26 27

28

29

30

31

32

33

34

35

36

37

38

39 40

41 42

43

44

45 46

47 48 49

50

52 53

54 55

56

57

58

59 60

61 62

63 64

65

66

67

68 69

70

71

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

Factor 1: 33.20%

-7

-6

-5

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6F

acto

r 2

: 2

1.5

0%

FIGURA 21. ANÁLISE DE COMPONENTE PRINCIPAL DAS MEDIDAS DE HABITAT DE CADA ÁREA.

FIGURA 22. ÍNDICE DE BRAY CURTIS PARA AVALIAR A RESPOSTA DE PEQUENOS MAMÍFEROS AO TIPO DE AMBIENTE ATRAVÉS DA COMPOSIÇÃO E ABUNDÂNCIA. LEGENDA: R- ROBSON; M- MARIANO; C- CECÍLIA; P- PLANTAÇÃO; I- INTERIOR; E- ESTRADA.

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OFERTA DE ALIMENTO

O teste de preferência alimentar só pôde ser aplicado para as espécies mais abundantes. Assim

foram testados 103 indivíduos de O. nigripes, 16 de Akodon sp., 13 de M. americana e 2 de M.

incanus.

O. nigripes demonstrou preferência por milho e tenébrios. Em todas as vezes que os animais

foram colocados nas gaiolas, eles rapidamente se dirigiam ao milho e se alimentavam,

independentemente da idade e sexo dos animais. Da mesma forma, sempre que eram

oferecidas as larvas de tenébrios, os animais também as aceitavam. Depois de se alimentar do

milho, os animais tendiam a comer a laranja, que era a única fonte de água disponível. Cerca de

15% dos animais comeram ração. Akodon sp. se alimentou de milho, tenébrios, ração e laranja

com aproximadamente a mesma freqüência observada para O. nigripes. As duas espécies de

marsupiais só se alimentaram de tenébrios e laranja.

SERAPILHEIRA

Não foi encontrada diferença na quantidade de serapilheira acumulada entre as áreas e nem

entre os fragmentos (F4;27=0.51; P=0.72). Este resultado é mais um indicativo de que os

ambientes foram muito semelhantes entre si, se diferenciando apenas pelas características do

entorno.

A quantidade de serapilheira acumulada variou entre as estações do ano (F3;32=14.78;

p<0.001), tendo sido registrada maior quantidade na estação seca/chuvosa (p<0.001) (Figura

21). A estação com maior quantidade de serapilheira coincidiu com o período de maior

riqueza de pequenos mamíferos, no entanto não houve relação entre a quantidade de

serapilheira acumulada e a abundância de pequenos mamíferos (T= 3.01; p=0.55).

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Chuvosa chuvosa/seca Seca Seca/Chuvosa

Estação

140

160

180

200

220

240

260

280

300

320

340

360

Se

rra

pilh

eira

FIGURA 23. SERAPILHEIRA ACUMULADA EM CADA ESTAÇÃO DO ANO NA SERRA DO OURO BRANCO, JANEIRO A

DEZEMBRO DE 2010

REPRODUÇÃO

Foram capturadas 36 fêmeas reprodutivas, grávidas ou lactantes, da espécie O. nigripes (Quadro 9) e

uma única fêmea grávida da espécie Akodon sp. Desta forma, o período reprodutivo para Akodon sp.

e M. americana foi estimado pelo registro de juvenis, ou seja, animais com peso inferior a 10g. Os

jovens de O. nigripes foram capturados ao longo de todo o ano. Enquanto que, os indivíduos jovens

de Akodon sp. foram capturados apenas nos meses de junho, julho, outubro e novembro, ou seja,

estações seca e seca/chuvosa. Jovens de M. americana foram capturados em abril, maio, junho e

dezembro, não ocorrendo jovens apenas na estação seca/chuvosa.

QUADRO 9. NÚMERO DE FÊMEAS REPRODUTIVAS E FÊMEAS INATIVAS DE OLIGORYZOMYS NIGRIPES NA SERRA DO OURO BRANCO EM 2010.

Chuvosa Chuvosa/Seca Seca Seca/Chuvosa

Fêmeas reprodutivas 13 6 2 15

Fêmeas inativas 14 19 2 22

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DISCUSSÃO

Os pequenos mamíferos parecem ser afetados pelo tipo de matriz em contato imediato com a

floresta, pois a composição, a riqueza, a abundância e a eqüitabilidade variaram entre os três

tipos de ambientes amostrados. No entanto, as medidas de hábitat e a biomassa de

serapilheira acumulada não foram distintas entre as estações amostrais e nem entre os

ambientes. Em outras palavras, a diferença na riqueza de espécies de pequenos mamíferos não

mostrou relação com as características do habitat, mas foi possível associar a variação

encontrada em função dos três tipos de ambientes amostrados.

Foram encontradas espécies exclusivas para cada tipo de ambiente amostrado, ou seja,

plantação, estrada e interior, bem como o compartilhamento de dois ambientes por N. lasiurus

e B. breviceps. Da mesma forma, Umetsu et al. (2006) encontraram associação na distribuição

das espécies entre os diferentes tipos de hábitats em um mosaico de fragmentos florestais e

hábitats antropogênicos na Mata Atlântica. A principal segregação, encontrada por estes

autores, ocorreu entre a vegetação nativa e os hábitats antropogênicos, sendo que apenas O.

nigripes e Akodon montensis foram capazes de usar com sucesso ambos os tipos de ambientes.

No presente estudo, as espécies mais abundantes, O. nigripes, Akodon sp., M. americana e M.

incanus, puderam utilizar todos os tipos de ambientes amostrados. Dessas, os roedores

correspondem às mesmas espécies que utilizaram todos os ambientes no estudo de Umetsu et

al. (2006). Umetsu et al. (2006) encontraram espécies mais características de biomas

brasileiros de vegetação aberta, como o Cerrado, nos habitats antropogênicos, o que é

condizente com o presente estudo, no qual as espécies mais características do Cerrado, tais

como C. tener, N. lasiurus e M. domestica, ocorreram nos ambientes de borda.

A matriz correspondente à plantação de milho pareceu servir como uma fonte de recurso

principalmente para O. nigripes e Akodon sp. Todos os indivíduos dessas espécies mostraram

preferência por milho no teste de alimentação realizado em laboratório. Além disso, Pinto

(2011) em estudo etnozoológico sobre a relação das comunidades humanas da Serra do Ouro

Branco com a fauna nativa constatou que, entre os mamíferos, ratos e gambás foram

considerados pela população local como animais daninhos. Nesse estudo, os ratos foram

apontados como animais que se alimentam de milho, nas plantações e nos paióis.

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61

Outra evidência de que o milho é um recurso mais importante para O. nigripes do que para as

demais espécies é a sua maior abundância na bordas da mata com plantação, quando

comparada aos outros dois ambientes. Além disso, a flutuação populacional de O. nigripes foi

mais estável na borda com a plantação, tendo uma queda apenas na estação seca, período em

que existe menor quantidade de recurso natural disponível no ambiente e que o milho não

está disponível para o consumo. Courtalon et al. (2003) e Cavia et al. (2005) em estudos sobre

roedores em áreas em contato com plantações de milho encontraram que a localização das

espécies em relação a plantação variou em resposta ao ciclo de cultura, mas não encontraram

efeito do ciclo de cultura sobre a flutuação populacional. Nestes estudos foi detectada alta

mobilidade das espécies, ou seja, quando a plantação era colhida, os indivíduos simplesmente

se deslocavam para outros ambientes. Em nosso estudo, não foi detectado movimento das

espécies entre os diferentes ambientes amostrados, por isso não foi possível concluir se a

queda na estação seca se deveu ao deslocamento dos indivíduos para outros locais ou a morte

dos mesmos.

Nas bordas com plantação, a abundância de O. nigripes diminuiu apenas na estação seca,

período em que o milho já havia sido colhido e o recurso natural, estimado pela biomassa de

serapilheira (Mendel et al., 2008), era menos abundante. Enquanto isso, no interior, a

abundância respondeu à disponibilidade de recursos naturais, aumentando unicamente na

estação seca/chuvosa. Na borda com estrada, a abundância foi mais alta nas estações

seca/chuvosa e na chuvosa, demonstrando que a resposta também foi relativa ao recurso

natural e confirmando a preferência por ambientes antropizados, pois a abundância

permaneceu elevada por mais de uma estação do ano, ou seja, foi mais estável.

Ao avaliar a equitabilidade das espécies entre os ambientes, a dominância de O. nigripes fica

clara, assim como seu favorecimento em situações de interferência antrópica, principalmente

agricultura. Segundo Valone & Brown (1995) e Brady & Slade (2001), alterações na

abundância de espécies dominantes, tanto numericamente, quanto competitivamente podem

ter fortes efeitos sobre a estrutura da comunidade e sobre a diversidade. As espécies

dominantes podem afetar diretamente a diversidade de uma região, através de interações com

outros membros da comunidade, ou indiretamente, alterando as interações entre eles (Brady

and Slade, 2001). Mudanças na diversidade podem ser conseqüências de alterações no número

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de espécies presentes (riqueza) ou na distribuição de indivíduos entre elas (eqüitabilidade ou

uniformidade, Krebs 1978).

Os ambientes de borda tenderam a ter uma menor equitabilidade do que os de interior de

fragmento. Da mesma forma, as bordas com plantação tiveram equitabilidade ainda menor do

que as bordas com estrada. As mudanças na equitabilidade entre os ambientes sempre

estiveram associadas ao aumento na abundância relativa de O. nigripes.

Não foi encontrada relação entre a abundância de pequenos mamíferos e a serapilheira,

entretanto na estação seca/chuvosa, em que houve maior acúmulo de serapilheira, houve

maior abundância de pequenos mamíferos. Blarinomys breviceps, a única espécie de hábito

fossorial encontrada na região de estudo, foi capturada somente nesta estação. Bibimys

labiosus e D. albiventris, espécies que forrageiam na serapilheira, foram também capturadas no

mesmo período. Foi observado ainda, que Monodelphis americana e Akodon sp. tenderam a se

esconder no meio da serapilheira ao serem soltos no campo, demonstrando a função desse

recurso como local de refúgio.

A informação existente sobre a importância da serapilheira para os pequenos mamíferos

parece apontar para uma relação de dependência principalmente para as formas cursoriais.

Algumas espécies de pequenos mamíferos forrageiam na serapilheira [e.g. B. labiosus, em Reis

et al. (2011) e D. aurita, em Santori et al. (1995)]. As espécies do gênero Akodon (Emmons and

Feer, 1997), B. breviceps (Geise et al., 2008) e N. lasiurus (Reis et al., 2011) constroem galerias

subterrâneas abaixo da serapilheira. De acordo com Metzger et al. (2006), mudanças na

biomassa e umidade da serapilheira observadas em florestas secundárias em relação às

maduras podem restringir espécies associadas ao folhiço, como eles observaram para duas

espécies de roedor (Thaptomys nigrita e Blarinomys breviceps) e uma espécie de marsupial

(Monodelphis scalops).

A estação seca/chuvosa, de maior biomassa de serapilheira, foi a estação do ano com maior

quantidade de fêmeas reprodutivas, ou seja grávidas e lactantes, de O. nigripes. Contudo, foram

registradas fêmeas reprodutivas dessa espécie em todas as estações do ano. Considerando que

a biomassa de serapilheira é uma medida indireta do recurso alimentar disponível no

ambiente, nossos resultados estão de acordo com Cerqueira (2005), pois seu estudo mostrou

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63

que a reprodução em roedores sigmodontíneos depende do acúmulo de gordura corpórea da

fêmea.

Os jovens de O. nigripes foram capturados ao longo de todo o ano. Já os jovens de Akodon sp.

foram capturados apenas nas estações seca e seca/chuvosa. A gestação de pequenos roedores

dura em média 21 dias (Mello, 1984; Cademartori et al., 2005; Aguilera, 2009) e animais que

se deslocam sozinhos teriam mais de 15 dias de vida, eles provavelmente são frutos de

acasalamentos de pouco mais do que um mês, ou seja, nas mesmas estações do ano em que

foram capturados. Não foram registrados jovens de M. americana apenas na estação

seca/chuvosa, como a gestação de marsupiais dura em torno de 13-14 dias (Hingst et al.,

1998) a reprodução provavelmente também ocorreu na mesma estação em que os jovens

foram capturados. Mares et al. (1989) relatam a captura de uma fêmea lactante de M.

americana no mês de novembro e de indivíduos subadultos entre os meses de fevereiro e

junho no Distrito Federal (Brasilia) e sugeriram uma associação da atividade reprodutiva

desta espécie com o período chuvoso. Cerqueira (2005) registrou fêmeas lactantes de

marsupiais em área de Mata Atlântica a partir de julho, havendo atividade reprodutiva até

março.

Os resultados deste trabalho permitem um melhor entendimento dos impactos da agricultura

e da fragmentação sobre a comunidade de pequenos mamíferos, em especial para O. nigripes.

Estas informações facilitarão a conservação das espécies e servirão de base para a criação de

medidas de manejo para as espécies deste grupo.

CONCLUSÃO

O tipo de matriz em contato direto com a borda da floresta influencia a composição da

comunidade de pequenos mamíferos localmente.

O milho é utilizado como recurso alimentar por Oligoryzomys nigripes.

A serapilheira é um recurso importante para pequenos mamíferos, principalmente para

espécies cursoriais e fossoriais.

As plantações de milho influenciam a comunidade de pequenos mamíferos das matas

adjacentes a ela, favorecendo espécies que podem utilizá-las como recurso.

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CAPÍTULO 3

DEMOGRAFIA E CUIDADO PARENTAL DE Oligoryzomys nigripes OLFERS (1918)

Caryne Aparecida de Carvalho Braga1, Roberth Fagundes², Maria Rita Silvério Pires1

1Universidade Federal de Ouro Preto, Departamento de Evolução, Biodiversidade e Meio

Ambiente, Laboratório de Zoologia dos Vertebrados, Instituto de Ciências Exatas e Biológicas,

Campus Morro do Cruzeiro, Ouro Preto, Minas Gerais, 35400-000, Brasil.

2Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais, Universidade

Federal de Uberlândia, Minas Gerais, 38400-902, Brasil.

Caryne Aparecida de Carvalho Braga

E-mail: [email protected]

Laboratório de Zoologia dos Vertebrados

Departamento de Evolução, Biodiversidade e Meio Ambiente

Instituto de Ciências Exatas e Biológicas (ICEB)

Campus Morro do Cruzeiro

Universidade Federal de Ouro Preto

Ouro Preto, Minas Gerais, 35400-000, Brasil.

E-mail: [email protected]

Telefone: (5531)3559-1664

Agradecimentos:

Gostaríamos de agradecer ao Programa de pós-graduação em Ecologia de Biomas Tropicais e à

UFOP pelo apoio logístico e à Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG)

pelo financiamento do projeto.

Artigo submetido a revista Natureza e Conservação em novembro de 2011.

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ABSTRACT

This study aimed to analyze the populational structure of Oligoryzomys nigripes on the basis of seasonal variations and parental care behaviors. Three areas inside a large forest fragment in the Atlantic forest in the Ouro Branco Mountain (Minas Gerais, Brazil) were used in the study. Oligoryzomys nigripes was the most abundant species in the study area throughout the year, although its abundance varied seasonally; the highest abundance values occurred in the rainy/dry season and the lowest in the dry season. Juveniles were always more abundant than adults, mainly in the months of drought. Three lactating females were captured with their offspring and parental care behaviors were observed. These females protected the puppies under their bodies and displayed the intent to bite when threatened by the approach of humans. The puppies were well developed, independently feeding, however, still nursing during the capturing events. Keywords: Rodentia; population fluctuation; seasonality; offspring protection; maternal care.

RESUMO

Visando analisar a estrutura populacional de Oligoryzomys nigripes em função de variações temporais e descrever comportamentos relativos ao cuidado da prole, foi realizado um estudo em três áreas de um grande fragmento florestal em uma área de Floresta Atlântica na Serra do Ouro Branco (Minas Gerais, Brasil). Oligoryzomys nigripes foi a espécie mais abundante na área de estudo ao longo de todo o ano, embora sua abundância tenha variado em resposta a estação do ano, com maiores valores na estação seca/chuvosa e os menores na estação seca. A abundância de juvenis sempre foi maior que a dos adultos, principalmente nos meses de seca. Foram capturadas três fêmeas lactantes junto aos seus respectivos filhotes e foram observados comportamentos relacionados ao cuidado parental. Diante de qualquer aproximação da fêmea ou dos filhotes, ela agrupou os filhotes sob o corpo e atacou com mordidas. Nestes eventos, os filhotes se encontravam bem desenvolvidos e já se alimentavam sozinhos, no entanto, foram amamentados. Palavras chave: flutuação populacional; sazonalidade; defesa da prole; cuidado materno.

INTRODUÇÃO

O estudo demográfico de uma população é o estudo da estrutura e da dinâmica de um grupo

de organismos da mesma espécie coexistindo durante o mesmo período (Begon et al., 2007).

Entre as características exploradas em tal estudo estão densidade, natalidade, mortalidade,

distribuição de idades, potencial biótico, dispersão e forma de crescimento de um conjunto

(Odum, 1998). Esse tipo de estudo fornece informações importantes para a conservação e

manejo de espécies, bem como para o controle de espécies consideradas praga.

Dentre as espécies mais importantes como bioindicadoras de qualidade de habitat, mudanças

ambientais e para o estudo de padrões e processos ecológicos estão os pequenos mamíferos

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(Gaston, 2000). Os roedores cricetídeos são um grupo de pequenos mamíferos de grande

interesse para estudos demográficos, pois apresentam populações com altas taxa reprodutiva

e turnover de indivíduos (Golley et al., 1975). Estas características permitem a realização de

estudos experimentais e em um período de tempo mais curto do que o necessário para

mamíferos maiores.

O cuidado parental é um comportamento diretamente relacionado à sobrevivência da prole, e,

portanto, à demografia de uma população. A maioria das espécies de mamíferos é altricial, ou

seja, os filhotes são bastante imaturos ao nascer, com os sistemas, termorregulador e

sensorial, pouco desenvolvidos, o que os torna incapazes de se alimentar sem auxílio materno.

Estas características tornam o cuidado parental particularmente importante para o grupo.

Apesar disso, a maioria dos estudos com este enfoque foi realizado com espécies de regiões

temperadas e/ou espécies sinantrópicas (Elwood, 1975; Wynne-edwards, 1998; Bottega,

2003; Vieira, 2003; Richar et al., 2004; Kalcounis-Rueppell et al., 2006). Para pequenos

mamíferos neotropicais, existem ainda menos trabalho (Roberts et al. 1988; Suarez & Kravetz

1998). Os estudos comportamentais de roedores em condições naturais são raros pela

dificuldade de encontrar os animais em campo, de observação de suas atividades sem

interferir em seu comportamento e de identificação das espécies sem manuseá-las.

Oligoryzomys nigripes Olfers (1918) é um roedor cricetídeo de ampla distribuição geográfica,

presente na Argentina, Paraguai e Brasil (Reis et al., 2011). Ocorre em áreas de vegetação

preservada, mas também é encontrado em áreas alteradas, podendo, algumas vezes, ser mais

abundante nas áreas antropizadas (Umetsu & Pardini, 2007; Antunes et al., 2009). É

considerado reservatório de hantavírus no Brasil (Lemos et al., 2004), enquanto que espécies

do mesmo gênero são reservatório na Bolívia, Argentina e Paraguai (Bharadwaj et al., 1997;

Powers et al., 1999). Portanto, o objetivo deste trabalho foi analisar a demografia de O. nigripes

e descrever comportamentos de cuidado parental exibidos por indivíduos desta espécie ao

longo de um ano de estudo na Serra do Ouro Branco.

MATERIAIS E MÉTODOS

As coletas ocorreram na Serra do Ouro Branco (Minas Gerais), no entorno do Parque Estadual

da Serra do Ouro Branco (20°29’43.16"S e 43°36'26.71"O, 1069m), de janeiro a dezembro de

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2010. Essa região constitui uma transição entre os domínios do Cerrado e da Mata Atlântica,

sendo a área de coleta caracterizada como Floresta Estacional Semidecidual Montana. O

parque é cercado de pequenas propriedades agrícolas dispersas em uma matriz de vegetação

nativa. Estudos paralelos sobre a comunidade de pequenos mamíferos em desenvolvimento na

Serra indicaram alta abundância de O. nigripes em ambientes com estas características,

portanto um bom local para realização do estudo.

A estrutura e dinâmica de O. nigripes foi avaliada mensalmente através de coleta em

armadilhas de queda (pitfalls) em três áreas de Mata Atlântica durante um ano. Os pitfalls

foram dispostos em transectos em forma de “Y”, com quatro baldes, sendo um em cada

extremidade do Y e um no vértice. Foram estabelecidas três estações amostrais, distantes

aproximadamente 1,5Km entre si, todas localizadas no mesmo fragmento florestal. Essas

estações foram denominadas como Mariano, Robson e Cecília, nome dos proprietários das

áreas. Foram amostrados três ambientes em cada estação amostral: a) borda com uma

plantação de milho; b) borda com estrada e; c) interior do fragmento. Foram instalados 3

conjuntos de Y em cada ambiente. O desenho amostral pode ser visualizado na figura 23 As

coletas foram autorizadas pelo ICMBIO com o número de licença 21543-1.

Figura 24. Desenho amostral representando a disposição das armadi lhas nos três ambientes de cada estação amostral na serra do ouro branco.

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Todos os animais capturados durante o projeto foram levados ao Laboratório de Zoologia dos

Vertebrados da Universidade Federal de Ouro Preto (LZV-UFOP). No laboratório, os animais

foram medidos, pesados, sexados e receberam um brinco numerado. Antes da soltura, foram

alimentados com milho e laranja e mantidos por um dia em uma caixa de polipropileno com

tampa gradeada de aço (303 x 193 x 126 mm), forrada com serragem para se recuperarem do

desgaste causado pela armadilha. Adicionalmente, as fêmeas capturadas junto com filhotes

foram observadas em campo e laboratório para identificação de comportamentos relacionados

a cuidado parental.

Para caracterização da estrutura da população, os animais foram avaliados quanto à classe

etária e, no caso das fêmeas, quanto ao estágio reprodutivo. Foram adotadas as classes etárias

adulto e juvenil, tendo sido considerados adultos os animais que já se encontravam em idade

reprodutiva, ou seja, os machos escrotados e as fêmeas com vagina perfurada. Os animais que

não apresentavam essas características foram considerados como juvenis. Quando as fêmeas

apresentavam o abdômen volumoso, foram submetidas à apalpação para confirmar a gravidez.

As fêmeas lactantes foram aquelas que apresentaram as mamas dilatadas. Os animais que

morriam na armadilha foram taxidermizados e depositados na Coleção de Mamíferos do LZV-

UFOP.

A dinâmica da população também foi avaliada em relação à sazonalidade. Para isso, foram

usados os dados climatológicos obtidos pela Estação Metereológica Gerdau Açominas. Foram

usados os dados referentes ao ano de estudo para a avaliação do efeito da pluviometria a curto

prazo e uma compilação dos dados referentes aos 10 anos anteriores para a avaliação do efeito

da pluviometria a longo prazo. Além disso, foram utilizados os valores de temperatura no ano

de coleta.

No presente trabalho, o ano foi dividido em quatro períodos de três meses, correspondendo às

estações: 1) chuvosa (dezembro, janeiro e fevereiro); 2) chuvosa/seca (março, abril e maio);

2) seca (junho, julho e agosto) e; 4) seca/chuvosa (setembro,outubro e novembro). Essas

divisões foram feitas com base na pluviometria mensal do ano de 2010, apresentada no gráfico

da figura 24. A razão para a subdivisão em quatro estações foi que as maiores variações

climáticas ocorrem na troca entre as estações e a as flutuações populacionais de roedores

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tropicais têm sido associadas às variações climáticas, principalmente a precipitação (Pearson,

1975; Streilen, 1982; Murúa & González, 196; Galante & Cassini, 1994; Bergallo, 1995; Adler,

1998). Assim é de se esperar que, utilizando o período de troca de estações como unidades

separadas do auge da chuva ou da seca, seja mais fácil captar as variações que as populações

sofrem.

FIGURA 25. PLUVIOSIDADE E TEMPERATURA MENSAL DE 2010. DADOS DA ESTAÇÃO METEREOLÓGICA DA GERDAU AÇOMINAS.

ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Apesar de termos empregado métodos de marcação e recaptura, a alta taxa de mortalidade e a

baixa taxa de recaptura inviabilizaram o emprego de análises específicas para estudos

populacionais que utilizam o método, como o Minimum number know alive (MNKA). Portanto,

optamos pela abordagem clássica para estudos ecológicos (Gotelli, 2010). A variação sazonal

na população de O. nigripes foi avaliada através de modelos de ANOVA unifatorial utilizando

abundância como variável resposta e as quatro estações do ano como os fatores fixos. O

período reprodutivo foi determinado por meio do registro de fêmeas reprodutivas (grávidas

ou lactantes). Assim, foi testada a diferença na quantidade de fêmeas reprodutivas entre as

quatro estações do ano. No entanto, como o número de registros de fêmeas grávidas foi

pequeno, o ano foi dividido em apenas estações seca (março a agosto) e chuvosa (setembro a

fevereiro), e a diferença entre as duas estações foi testada através de Teste T. Para testar se a

pluviosidade e a temperatura influenciam a dinâmica da população de O. nigripes, foram

usados modelos de regressão linear simples. A pluviosidade de longo prazo (médias de

0

5

10

15

20

25

0

50

100

150

200

250

300

350Pluviometria Temperatura

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pluviosidade mensal dos últimos 10 anos) e a de curto prazo (média de pluviosidade mensal

no ano de coleta), assim como a média de temperatura mensal foram utilizadas como variável

preditora da abundância de O. nigipes (parâmetro populacional). Para ambos os modelos, os

dados originais de abundância foram transformados por X’= log (X +1) a fim de atender aos

pressupostos estatísticos. Por fim, para avaliar se a razão sexual seguiu a proporção de 1:1,

descrita na regra de Fisher (1930), foi aplicado um teste de X2 para cada fragmento. Foi

utilizado o programa Statistica 7.0 para todas as análises, exceto o teste de X2 para avaliar a

razão sexual, que foi realizado no programa Bioestat 5.0.

RESULTADOS

O esforço amostral total foi de 5184 armadilhas/noite, sendo de 1728 armadilhas/noite por

estação amostral. Foram capturadas 12 espécies e 244 indivíduos durante esse trabalho. O.

nigripes foi a mais abundante (76%), seguido por uma espécie de Akodon (10%). Para O.

nigripes foram capturados 182 indivíduos em 200 eventos (3,8% de sucesso). O sucesso de

captura e a quantidade de capturas por fragmento podem ser visualizados na TABELA 1.

A taxa de mortalidade nas armadilhas para esta espécie foi relativamente alta (36%), apesar

do cuidado e das freqüentes vistorias das armadilhas. Diferentes razões para a morte dos

animais podem ser apontadas: 1) Afogamento, embora houvesse uma barra de isopor dentro

dos baldes para flutuação dos animais; 2) Brigas, quando mais de um indivíduo era capturado

no mesmo balde; 3) Ataque de formigas ou aranhas; 4)frio, no inverno ou quando os animais

passavam a noite molhados da chuva.

QUADRO 10. NÚMERO DE INDIVÍDUOS, NÚMERO DE CAPTURAS, SUCESSO DE CAPTURA E NÚMERO DE ANIMAIS QUE MORRERAM DENTRO DA ARMADILHA EM CADA ESTAÇÃO AMOSTRAL NA SERRA DO OURO BRANCO EM UM ANO DE COLETA.

Fragmento Número de indivíduos Capturas Sucesso de captura Mortos nas armadilhas

Mariano 110 120 6,94% 42

Cecília 32 34 1,96% 11

Robson 40 46 2,66% 20

Total 182 200 3,86% 73

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A população apresentou diferença na abundância de indivíduos em resposta a estação do ano

(F3;32=3.65; p=0,06; Figura 26). O maior valor de abundância de O. nigripes foi encontrado na

estação seca/chuvosa e o menor na estação seca, sendo que as outras duas estações

mantiveram valores intermediários entre a seca/chuvosa e a seca (p<0.05). No entanto, não

houve relação entre a abundância e a pluviometria à curto prazo (F1,10=1,18 p<0,30) e nem à

longo prazo (F1,10=1.39 p<0,26), também não houve relação entre a abundância e a

temperatura (F1,10=1,62 p<0,23).

Em todos os meses, a abundância de juvenis foi maior que a abundância de adultos (T =-2.32;

p=0.03), sendo que os juvenis representaram quase a totalidade da população nos meses de

seca (Figura 27). Nas três estações amostrais, a razão sexual foi próxima de 1:1, seguindo a

regra de Fisher (1930) para populações estáveis (Mariano: X2=2,84; p=0,09; Cecília: X2=0,03;

p=0,86; Robson: X2=0,38; p=0,5).

Chuvosa chuvosa/seca Seca Seca/Chuvosa

Estação

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

Lo

g A

bu

nd

: =

Lo

g(v

4+

1)

FIGURA 26. ANOVA COMPARANDO A ABUNDANCIA DE O. NIGRIPES ENTRE AS QUATRO ESTAÇÕES DO ANO NA SERRA DO OURO BRANCO (F3, 32=2,72, P=0,06).

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Figura 27. Abundância mensal de jovens e adultos de O. nigripes associada a média mensal da pluviometria na Serra do Ouro Branco no ano de 2010.

No mês de abril foram capturadas três fêmeas lactantes de Oligoryzomys nigripes, junto aos

seus respectivos filhotes (Figura 28). Uma das fêmeas foi capturada com dois filhotes e as

outras duas com três filhotes cada. Durante a captura destas fêmeas, foram observados

comportamentos relacionados ao cuidado parental. Diante de qualquer aproximação da fêmea

ou dos filhotes, ela agrupava os filhotes sob o seu corpo, mantendo as patas traseiras esticadas,

provavelmente para oferecer maior proteção aos filhotes, e atacava com mordidas (Figura 28).

Esse evento se repetiu em três ocasiões de captura em campo, bem como dentro da caixa onde

os animais eram mantidos.

Nas três situações, os filhotes se encontravam bem desenvolvidos, com peso médio de 7,12g

(±0.64), e as fêmeas apresentaram peso médio de 25,33g (±0.58). As medidas de cada fêmea e

de seus filhotes podem ser visualizada na tabela 2. No laboratório, tanto os filhotes como as

mães se alimentaram de milho e laranja, no entanto, os filhotes ainda eram amamentados ao

longo do dia e da noite.

0

50

100

150

200

250

300

350

0

10

20

30

40

50

60

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Juv

Adulto

Pluviometria

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80

Figura 28. Comportamento de defesa dos filhotes exibido por fêmea de O. nigripes ao perceber qualquer aproximação

dela ou dos filhotes (A,B) no balde e (D) na caixa, fêmea amamentando os filhotes (C).

A dominância numérica de Oligoryzomys nigripes registrada em todos os locais de coleta

diverge do esperado para essa espécie (Feliciano et al., 2002, Graipel et al., 2003 e Antunes et

al. 2009). No entanto, esses autores utilizaram armadilhas de isca para captura dos animais,

enquanto nós utilizamos armadilhas do tipo pitfall. Umetsu et al. (2006) avaliou a eficiência de

pitfalls em comparação a armadilhas de isca tipo Sherman para captura de pequenos

mamíferos, e encontrou uma grande diferença, sendo que os pitfalls capturaram 11,35 (±7,64)

indivíduos da espécie Oligoryzomys nigripes por site de coleta, enquanto as Shermans

capturaram 1,69 (±2,75) indivíduos por site.

Embora não tenhamos encontrado relação entre a pluviometria ou a temperatura e a

abundância de O. nigripes, a espécie foi mais abundante na estação seca/chuvosa e diminuiu

significativamente sua abundância na estação seca. A estação seca na região do estudo é

caracterizada pela baixa pluviosidade e baixa temperatura, desta forma, nossos resultados

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81

estão de acordo com Antunes et al.(2009) que encontrou uma relação negativa entre a

abundância de O. nigripes e a temperatura.

A mais alta abundância de O. nigripes durante a estação seca/chuvosa contraria os resultados

de Feliciano et al. (2002), Graipel et al., (2003) e Antunes et al. (2009), que encontraram uma

maior abundancia de O. nigripes na estação seca utilizando armadilhas de isca. Armadilhas que

utilizam iscas são mais atrativas em período de escassez de alimento (Krebs & Boonstra,

1984), no entanto, armadilhas do tipo pitfall capturam animais enquanto estes caminham pelo

solo, sem oferecer nenhum atrativo, portanto, amostrando melhor o período em que os

animais estão mais ativos e sendo mais indicadas para estudos populacionais (Umetsu et al.,

2006).

Oligoryzomys nigripes reproduziu ao longo de todo ano, assim como encontrado por Fonseca &

Kierulf (1989). A quantidade de fêmeas reprodutivas foi maior na estação chuvosa,

semelhante ao proposto por Cerqueira (2005), que constatou que os roedores Sigmodontinae

do nordeste do Brasil têm a estação reprodutiva iniciada com a chegada da estação chuvosa.

A provável razão pelo grande número de jovens é a alta ciclicidade da população. Estudos

mostram que O. nigripes sofre predação por diversas espécies e é parte da preferência

alimentar de algumas delas (Magrini & Facure, 2008). Dessa forma, a reprodução precisa ser

alta e frequente para manter umapopulação viável da espécie.

Os filhotes que foram capturados junto a mãe provavelmente a seguiam enquanto esta se

deslocava, dado que armadilhas do tipo pitfall capturam animais enquanto estes se

movimentam pelo solo da área amostrada. Suarez & Kravetz (1998) registraram, através de

experimentos em laboratório, que filhotes de Akodon azarae aprendem a selecionar sua dieta

comparando o odor da boca da mãe com os alimentos disponíveis no ambiente. Dessa maneira,

é possível que as fêmeas de Oligoryzomys nigripes, no final do período de amamentação,

forrageiem com os filhotes como forma de ensiná-los a desempenhar essa atividade

independentemente.

Weksler & Bonvicino (2005) analisaram o número de embriões de 21 fêmeas de O. nigripes e

encontraram uma média de 4,7 (variando de 4 a 6) embriões, enquanto Myers &

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Carleton(1981) reportam uma média de 3,57 (variando de 2-5). Esses números são

consistentes com a regra de Gilbert (1986), na qual ele espera que o número de filhotes em

uma ninhada de uma dada espécie de roedor seja tipicamente metade do número de mamas

que a fêmea apresenta e, no máximo, aproximadamente o mesmo número. Assim o esperado

para O. nigripes é uma ninhada de aproximadamente quatro filhotes. Em nosso trabalho,

avaliando o número de filhotes capturados com cada fêmea, encontramos uma ninhada média

de 2.6, variando de 2 a 3 filhotes. No entanto, esse é o número de filhotes que atingiram a

idade na qual são capazes de caminhar junto com a mãe, não refletindo o tamanho real da

ninhada, dado que alguns indivíduos podem morrer antes de atingir essa idade.

Conforme observado no presente trabalho, a fêmea exibiu defesa agressiva da prole e

amamentação prolongada, dado que os filhotes ainda eram amamentados quando já possuíam

capacidade de se alimentar sozinhos. O peso da ninhada correspondia a 84% do peso da mãe,

assim, acreditamos que a amamentação e todo o cuidado com os filhotes impliquem em uma

alta demanda energética. Grota & Adera (1969) citam que fêmeas de Rattus novergicus

demoram menos tempo para abandonar os filhotes quando a prole é maior, sendo que fêmeas

com ninhadas de 12 filhotes diminuíam o tempo de contato com os filhotes mais rápido do que

aquelas com ninhadas de quatro filhotes. Considerando o baixo número de filhotes em uma

ninhada de Oligoryzomys nigripes, o investimento energético em cuidado parental mesmo após

o período em que o filhote supostamente poderia sobreviver sozinho poderia aumentar o

fitness da espécie.

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