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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA
Perfil epidemiológico de crianças e adolescentes
portadores de neoplasias acompanhados no Hospital
de Câncer de Mato Grosso
SUELY SANTOS ARAÚJO
Dissertação apresentada à Banca de
Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Saúde Coletiva para a obtenção do título
de Mestre em Saúde Coletiva.
Orientadora: Prof. Dra. Olga Akiko Takano
Cuiabá - MT
2014
Perfil epidemiológico de crianças e adolescentes
portadores de neoplasias acompanhados no Hospital
de Câncer de Mato Grosso
SUELY SANTOS ARAÚJO
Dissertação apresentada à Banca de
Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde
Coletiva da Universidade Federal de Mato
Grosso para a obtenção do título de Mestre
em Saúde Coletiva.
Orientadora: Prof. Dra. Olga Akiko Takano
Cuiabá - MT
2014
FICHA CATALOGRÁFICA
A663p Araújo, Suely Santos.
Perfil epidemiológico de crianças e adolescentes portadores de neoplasias acompanhados no Hospital de Câncer de Mato Grosso / Suely Santos Araújo. –
2014.
104 f. : il.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Olga Akiko Takano.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Saúde Coletiva, Pós-Graduação em Saúde Coletiva, 2014.
Bibliografia: 89-97.
Inclui anexos.
1. Neoplasias malignas – Hospital de Câncer – Mato Grosso. Câncer pediátrico. 3. Câncer infanto-juvenil – Epidemiologia. 4. Crianças – Neoplasias.
5. Adolescentes - Neoplasias. 6. Oncologia – Saúde Pública I. Título.
CDU – 614.4:616.006.6-053.2
Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
Avenida Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Boa Esperança - Cep: 78060900 -CUIABÁ/MT Tel : (65) 3615-8884 - Email : [email protected]
FOLHA DE APROVAÇÃO
TÍTULO : "Perfil Epidemiológico de Crianças e Adolescentes Portadores de
Neoplasias Acompanhados no Hospital de Câncer de Mato Grosso"
AUTORA: Mestranda SUELY SANTOS ARAÚJO
Dissertação defendida e aprovada em 23 / 09 / 2014
Composição da Banca Examinadora:
Presidente Banca / Orientadora: Doutora OLGA AKIKO TAKANO
Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
Examinador Interno: Doutor JOÃO HENRIQUE GÜRTLER SCATENA
Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
Examinador Externo: Doutora KARINA DE CÁSSIA BRAGA RIBEIRO
Instituição: SANTA CASA DE SÃO PAULO
CUIABÁ, 23 / 09 / 2014
Aos meus grandes amores
Papai Manoel, para sempre em meu coração, Mamãe Delice;
Sandra; Sydnei;
Sylvinho; E minhas alegrias Anna Elisa, Nycholas, Alice, Benjamin e Cecília.
“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor
da tua benignidade e da tua verdade” (Salmos 115:1, Bíblia Sagrada).
AGRADECIMENTOS
Agradeço antes de tudo ao meu Deus pelos planos que Ele tem traçado em minha vida,
pelo privilégio que tenho de ser instrumento em Suas mãos, e por todas as pessoas que
colocou no meu caminho. Pessoas, o que poderemos levar para a eternidade, de quem
recebi amor, a quem pude abrir meu coração, trocar experiências, crescer, provar
através delas o amor de “quem não vejo”, mas, crendo, eu amo.
Agradeço ao Papai, que na sua simplicidade me proporcionou toda a base de minha
formação, meu lar, irmãos, família, levou-me à casa de Deus em meus primeiros
passos. Saí de casa para a faculdade totalmente suprida por ele..., muito obrigada por
sua vida dedicada a nós!!!! Que saudades!!!!
Agradeço à mamãe que na sua sabedoria e firmeza nos deu limites, exemplo, conforto
nas horas difíceis, simplesmente ficou em silêncio muitas vezes (orando). Não há como
dar um passo sem imaginar “o que a senhora acharia disso???” Este mestrado também
é de vocês dois....
Amados Sandra, Syd e Sylvinho, posso dizer com toda certeza que “de nada tenho
falta”, porque vocês sempre estão por perto. Não preciso pedir, vocês simplesmente
são “minhas mãos” e “meus braços”, onde não posso alcançar. E o apoio para que eu
continue em pé. Queridos Eddie, Lize e Chris, obrigada pela paciência de dividirem
seus amados comigo, e muito mais por alegrarem minha vida e vibrarem com minha
trajetória. Muitíssimo obrigada por partilhar com vocês dos mais lindos presentes que
recebi em toda minha vida!!!
Agradeço à querida família, Tia Dinalva minha segunda mãe, tios e primos, que
partilham de nossas lutas e vibram com nossas vitórias e alegrias. Que graça teriam os
dias sem vocês??? Filhotinha, vó e vô, tia Lourdes, começamos esta caminhada juntos,
que saudades!!!
Amigos, meus irmãos, meus pastores, obrigada pelo incentivo, pelo socorro na
resolução das dificuldades, obrigada por suas orações na construção deste Serviço!!!
Querida Professora Olga, obrigada por me abrir os olhos para este projeto, pelo
encorajamento, orientação, e só quem foi seu orientando sabe quantas vezes você
literalmente “pega em nossas mãos” para desenhar nossa dissertação. Você ministra
mais que epidemiologia, é um exemplo de dedicação, de ética, para com os colegas e
os seus pacientes. Olga, dedico a você a mais profunda gratidão por ter confiado a mim
estes dois anos de sua jornada de educadora!!!
Finalmente chegou o dia! Dia de registrar meu agradecimento ao ”trio” que construiu
a Pediatria do Hospital de Câncer desde o seu início, primeiramente Delma e Joseany,
e logo depois Erluce. Meninas, vocês literalmente “mantiveram a casa em pé”,
enquanto os olhos de nós, médicos, podiam voltar-se somente aos pequenos que
chegavam até nós.
A cada profissional da enfermagem, farmácia, recepção, brinquedoteca, a todos vocês
que prestam o cuidado multidisciplinar aos nossos pequenos pacientes, obrigada por
seu carinho a eles e a mim.
Queridos amigos Gislene, Sileyde, Tio Éder, Meryele, Deise, Josilene, Ana Paula,
Regina, Rafael, todos vocês, não deixaram as crianças sem cuidado um plantão sequer,
e este cuidado estendido a mim nestes 13 anos de Hospital de Câncer. E agora George
e Valeska, os próximos anos são nossos!
À Diretoria do Hospital de Câncer, agradeço a confiança a nós depositada todos esses
anos. Especialmente ao Dr. Laudemi, que pela firmeza e exemplo tem sido rocha na
história do Hospital de Câncer.
Agradeço a cada amigo no Hospital pelo entusiasmo de compartilharmos juntos a
nossa missão de melhor atender às crianças.
Aos Amigos e Direção do Hemocentro, muito obrigada pelo carinho e encorajamento
nesta tarefa. Muito obrigada pela compreensão de minha ausência e acima de tudo pela
alegria de fazer parte da “melhor repartição da SES”!
Aos voluntários no trabalho junto às crianças, amigos que ganhamos ao longo desta
trajetória, ao pessoal do Instituto Ronald, muito obrigada!!! Obrigada também pela
confiança que têm depositado em nosso trabalho e por andarem conosco lado a lado
na luta contra o câncer em nossas crianças. Esta história também é de vocês!
Prezado Professor Arturo, obrigada por sua paciência e dedicação nesta tão difícil
tarefa para nós que são as análises estatísticas. O Senhor simplesmente diz: é fácil!
Fácil é para nós, seus alunos, admirá-lo por sua competência e simplicidade!
Aos queridos Professores do ISC, como foi bom conhecê-los!!! Renovei meus sonhos!
Muito obrigada pelo tempo dedicado a nós, pela competência e desprendimento em
nos mostrar o melhor caminho! Que Deus ainda me conceda muitas oportunidades
para que eu possa colocar em prática tantos ensinamentos! Neste ponto os mais jovens
levam vantagem: terão muito mais tempo para aplicar suas lições!!! Aos Professores
dos Seminários, da Qualificação, Pré-Banca, que “pacientemente” se debruçam sobre
nossas linhas nos mostrando o correto ou melhor modo de descrever nossos
experimentos, muito obrigada!!!
Obrigada Hailton e Jurema por seu apoio, por facilitarem nosso difícil caminho tantas
vezes.
Queridos Colegas, que alegria compartilhar os exercícios de epidemiologia, de
estatística, as difíceis interpretações de textos!!! Compartilhar o sonho e as
dificuldades de construir nossa dissertação. Que alegria conhecer pessoas novas para
mim, maravilhosas em sua trajetória de vida! Querida Keyla, que bom te conhecer!
Compartilhar estes momentos tão preciosos com você!
Agradeço de maneira muito especial a todos os pais, e crianças, e adolescentes, que
confiaram a nós o cuidado de suas vidas nos momentos em que nossas histórias se
cruzaram... hoje já sou “avó”!!! Muitos que encerraram seu tratamento já são pais e
mães!!! Mas Oncologia também tem resultados que para nós são de perda ... como
costumo pensar em relação a taxas de sobrevida, em nossa vida não existe 20 ou 80%
de perdas, será sempre 100% de ganho, ou 100% de perda. Com toda reverência, sou
grata pelo privilégio de “cuidar” de todos durante este tempo em que estivemos
próximos. Agradeço também pelo amor e paciência que dedicaram a mim, nos
momentos em que não pude alcançar todas as necessidades de vocês. Vocês fazem
parte fundamental da minha história!!! Vocês não são parte de uma estatística, mas
pessoas com quem Deus me faz caminhar juntos.
Não há como não considerar o término deste grande projeto, o mestrado, no ano em
que completo meu “cinquentenário”, uma grande realização “de vida”. Aos colegas
mestres mais jovens, pode parecer que demorei muito para chegar aqui. Mas na
verdade não estamos analisando um banco de dados com informações secundárias,
esta é a análise de um banco que foi “construído” ao longo de 13 anos no Hospital de
Câncer. Construção cercada de amizade e companheirismo de colegas médicos e
outros profissionais da saúde, cercada de confiança e orientação de “antigos”
professores de minha graduação na UFMT. Em 2014 completamos 20 anos de
Oncologia Pediátrica em Mato Grosso!!! Foi um “banco” tecido por muitas mãos!!!
Araújo SS. Perfil epidemiológico de crianças e adolescentes portadores de neoplasias
acompanhados no Hospital de Câncer de Mato Grosso [dissertação de mestrado].
Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva da UFMT; 2014.
Resumo
Introdução: O câncer pediátrico corresponde a cerca de 3% de todos os tumores
malignos, e no mundo são diagnosticados mais de 160.000 casos novos por ano. No
Brasil em 2014, estima-se que ocorrerão cerca de 11.840 casos novos de câncer em
crianças e adolescentes até 19 anos de idade. Objetivo: Descrever o perfil
epidemiológico de casos de neoplasias malignas de crianças e adolescentes
acompanhados no Hospital de Câncer de Mato Grosso. Método: Estudo de coorte
retrospectiva de casos com diagnóstico de câncer, no período de 2002 a 2012,
utilizando informações dos prontuários médicos da instituição. Resultados: Foram
analisados 658 casos de neoplasias malignas, a maioria estava sem tratamento
oncológico prévio (73,70%), os sinais e sintomas mais frequentes foram febre, dor e
palidez, 43,44% tinha história familiar de câncer. Houve predomínio do sexo
masculino, mais evidente nos adolescentes (59,14%). A média de idade das crianças
na primeira consulta foi de 4,82 anos e dos adolescentes foi de 14,38 anos. A raça/cor
negra predominou no grupo de adolescentes, e branca nas crianças. A escolaridade
predominante materna e paterna foi de ensino fundamental incompleto e a maioria das
famílias dos casos tinham renda familiar per capita mensal abaixo da linha de pobreza
brasileira. Considerando 0-19 anos, os grupos diagnósticos mais frequentes foram
leucemias (36,32%), linfomas e neoplasias reticuloendoteliais (16,87%) e tumores do
sistema nervoso central e miscelânia de neoplasias intracranianas e intraespinhais
(11,40%), similar distribuição ocorreu em crianças, mas nos adolescentes, o terceiro
grupo diagnóstico mais frequente foi de tumores ósseos. Na raça/cor branca, os grupos
diagnósticos mais frequentes foram leucemias, linfomas e sarcomas de partes moles e
na raça/cor negra foram leucemias, linfomas e neoplasias reticuloendoteliais e tumores
do sistema nervoso central e sarcomas de partes moles. Os grupos de diagnóstico mais
frequentes em ambos os sexos foram leucemias, linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais e tumores do sistema nervoso central e sarcomas de partes moles.
A maioria (64.33%) dos casos foi procedente de três regiões de saúde de Mato Grosso:
Baixada Cuiabana, Rondonópolis e Sinop. A mediana do intervalo de tempo entre os
primeiros sintomas e a primeira consulta foi de 48,50 dias, entre os primeiros sintomas
e o diagnóstico foi de 43,0 dias, entre a data dos primeiros sintomas e o início do
tratamento foi de 51 dias. Excluídos os casos de neoplasia maligna com diagnóstico
prévio ou que estavam em tratamento oncológico prévio, a mediana do intervalo de
tempo entre a primeira consulta e diagnóstico foi de 5,00 dias e entre a data do
diagnóstico e o início do tratamento foi de 5,00 dias. A maioria (80,59%) dos casos
analisados não apresentou recidiva durante o período de seguimento. No final do
período estudado, a maioria (56,62%) dos casos de neoplasias malignas encontravam-
se vivos sem câncer e 34,70% foram a óbito com câncer. Conclusões: As
características sociodemográficas e distribuição dos grupos diagnósticos mais
frequentes foram similares ao padrão da literatura brasileira e mundial. A maioria tinha
renda familiar per capita mensal abaixo da linha de pobreza o que mostra o relevante
papel social do Hospital de Câncer de Mato Grosso para a população atendida.
Descritores: neoplasias; epidemiologia; criança; adolescente
Araújo SS. Epidemiological profile of children and adolescents with cancer followed
at the Cancer Hospital of Mato Grosso [dissertation]. Cuiabá: Public Health Institute,
UFMT; 2014.
Abstract
Introduction: The pediatric cancer represents about 3% of all malignant tumors
diagnosed worldwide, and over 160,000 cases per year. In 2014, it is estimated that
will occur in Brazil about 11,840 new cases of cancer in children and adolescents
below 19 years of age. Objective: To describe the epidemiology of malignancies
in children and adolescents followed in Cancer Hospital of Mato Grosso. Method:
This is a retrospective cohort of patients diagnosed with cancer in the period 2002-
2012, using information from the medical records of the institution. Results: 658
cases of malignancies were analyzed, most were without previous cancer treatment
(73.70%), the most common signs and symptoms were fever, pain and pallor,
43.44% had a family history of cancer. Most occurred in males, most evident in
adolescents (59.14%). The mean age of the children at the first consult was 4.82
years and for the adolescents was 14.38 years. The black race predominated in the
adolescents, and white color predominated in the children group. The majority of
maternal and paternal education was uncompleted basic school and most families
had per capita monthly family income below the Brazilian poverty line. Whereas
0-19 years, the most frequent diagnostic groups were leukemias (36.32%),
lymphomas and reticuloendothelial neoplasms (16.87%) and tumors of the central
nervous system and miscellaneous intracranial and intraspinal neoplasms
(11.40%), similar distribution occurred in children but in adolescents, the third
group was more frequent diagnosis of bone tumors. In the white race, the most
frequent diagnostic groups were leukemias, lymphomas and soft tissue sarcomas
and in the black race were leukemias, lymphomas and reticuloendothelial
neoplasms and tumors of the central nervous system and soft tissue sarcomas. The
most frequent diagnosis groups in both sexes were leukemias, lymphomas, and
cancers and tumors of the reticuloendothelial and central nervous system and soft
tissue sarcomas. The majority (64.33%) of cases was coming from three health
regions of Mato Grosso: Baixada Cuiabana, Rondonópolis and Sinop. The median
of time interval between the first symptoms and the first consultation was 48.50
days, between the first symptoms and diagnosis was 43.0 days, between the date of
first symptoms and beginning of treatment was 51 days. Excluding the cases of
malignancy with a diagnosis or who received previous oncological treatment, the
median of time interval between the first consultation and diagnosis was 5.0 days
and between the date of diagnosis and start of treatment was 5.0 days. The majority
(80.59%) of the cases analyzed showed no recurrence during the follow-up period.
At the end of the study period, the majority (56.62%) cases of malignancies were
alive without cancer and 34.70% died with cancer. Conclusions: The
sociodemographic characteristics and distribution of the most frequent diagnost ic
groups were similar to the pattern of Brazilian and world literature. Most had
family monthly per capita income below the poverty line which shows the
important social role of the Cancer Hospital of Mato Grosso to the attended
population.
Descriptors: cancer; epidemiology; child; adolescent.
ÍNDICE
Resumo
Abstract
Lista de Siglas
Lista de Tabelas
Lista de Figuras
1 INTRODUÇÃO 17
1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18
1.1.1 Epidemiologia do câncer infanto-juvenil 18
1.1.2 Epidemiologia do câncer infanto-juvenil em Mato Grosso 22
1.1.3 Classificação do câncer infanto-juvenil 23
1.1.4 Registros Brasileiros de Câncer 26
1.1.5 Política Nacional em Cancerologia Pediátrica 28
1.1.6 Sobrevida do Câncer Infanto-Juvenil 29
1.2 JUSTIFICATIVA 33
2 OBJETIVOS 35
2.1 OBJETIVO GERAL 35
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 35
3 MÉTODOS 36
3.1 DESENHO DO ESTUDO 36
3.2 LOCAL DO ESTUDO 36
3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO 37
3.4 COLETA DE DADOS 38
3.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO 38
3.5.1 Variáveis demográficas 38
3.5.2 Variáveis socioeconômicas 38
3.5.3 Dados relacionados à neoplasia 39
3.5.4 Dados sobre o tratamento e seguimento 40
3.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA 40
3.7 ASPECTOS ÉTICOS 41
4 RESULTADOS 42
5 DISCUSSÃO 62
7 CONCLUSÕES 86
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 89
APÊNDICES 98
Apêndice 1 - Instrumento de coleta de dados de crianças e adolescentes
portadores de neoplasias atendidos no Hospital de Câncer do Estado de Mato
Grosso, 2002-2012.
98
Apêndice 2 - Distribuição das neoplasias malignas segundo grupos de
diagnóstico e regiões de saúde de procedência em Mato Grosso (n=614).
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
100
Apêndice 3 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo as
faixas etárias. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
101
Apêndice 4 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo os
grupos etários. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012. 102
ANEXOS 103
Anexo 1 - Termo de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Júlio Müller/UFMT
103
LISTA DE SIGLAS
AMCC Associação Matogrossense de Combate ao Câncer
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CIB Comissão Intergestores Bipartite
CID 10 Classificação Estatística Internacional de Doenças - 10ª Revisão
CONSINCA Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Câncer
DASIS Departamento de Análise da Situação de Saúde
DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
DECIT Departamento de Ciência e Tecnologia
DRAC Departamento de Regulação, Avaliação e Controle de Sistemas
FUNASA Fundação Nacional de Saúde
GM Gabinete do Ministro
HEG Hospital Erasto Gaertner
IARC International Agency for Research on Cancer
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCA Instituto Nacional de Câncer
LLA Leucemia Linfóide Aguda
LMA Leucemia Mielóide Aguda
MS Ministério da Saúde
OMS Organização Mundial da Saúde
OPAS Organização Pan-americana de Saúde
PDR Plano Diretor de Regionalização
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNAO Política Nacional de Atenção Oncológica
RCBP Registro de Câncer de Base Populacional
RHC Registro Hospitalar de Câncer
SAS Secretaria de Atenção à Saúde
SCNES Sistema do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
SEER Surveillance, epidemiology, and end results
SIM Sistema de Informações sobre Mortalidade
SISRHC Sistema de Registro Hospitalar de Câncer
SOBOPE Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica
SNC Sistema Nervoso Central
SUS Sistema Único de Saúde
SVS Secretaria de Vigilância em Saúde
UICC Union for Internacional Cancer Control, Unión Internacional
Contra el Cáncer
UTI Unidade de Terapia Intensiva
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição dos casos (n=658) segundo o local de diagnóstico e
tratamento oncológico prévio. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso,
2002-2012.
43
Tabela 2 - Sinais e sintomas frequentes relatados pelos portadores de
neoplasias malignas. Hospital de Câncer, 2002-2012.
43
Tabela 3 - Histórico familiar de câncer (n=541) de casos de neoplasias
malignas. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
44
Tabela 4 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo o sexo e
grupo etário. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
44
Tabela 5 - Estatística descritiva dos casos de neoplasias malignas segundo a
idade na primeira consulta. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso,
2002-2012.
45
Tabela 6 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo raça/cor.
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
46
Tabela 7 - Estatística descritiva da renda familiar dos casos de neoplasias
malignas. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
46
Tabela 8 - Distribuição de escolaridade dos pais dos casos de neoplasias
malignas. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
47
Tabela 9 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo o grupo
de diagnóstico e grupo etário (idade em anos na primeira consulta). Hospital
de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
48
Tabela 10 - Distribuição dos grupos de diagnóstico de neoplasias malignas
em crianças segundo a faixa etária da idade na primeira consulta. Hospital de
Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
49
Tabela 11 - Distribuição dos grupos de diagnóstico de neoplasias malignas
em adolescentes segundo a faixa etária da idade na primeira consulta.
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
50
Tabela 12 - Distribuição dos casos de neoplasia maligna segundo grupos de
diagnóstico e raça/cor (n=627). Hospital de Câncer do Estado de Mato
Grosso, 2002-2012.
51
Tabela 13 - Distribuição dos casos de neoplasia maligna segundo grupos de
diagnóstico e sexo (n=657). Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso,
2002-2012.
52
Tabela 14 - Distribuição da região de saúde de procedência de 614 casos de
neoplasias malignas atendidos no Hospital de Câncer do Estado de Mato
Grosso, 2002-2012.
53
Tabela 15 - Distribuição de 44 pacientes procedentes de outros estados,
portadores de neoplasias malignas atendidos no Hospital de Câncer do Estado
de Mato Grosso, 2002-2012.
54
Tabela 16 - Distribuição das neoplasias malignas segundo grupos de
diagnóstico em três regiões de saúde de procedência em Mato Grosso.
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
55
Tabela 17 - Distribuição de classificação das leucemias (n=237), em crianças
e adolescentes atendidos no Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso,
2002-2012.
56
Tabela 18 - Distribuição das leucemias linfóides agudas segundo
classificação de risco e grupo etário (idade em anos na primeira consulta).
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
56
Tabela 19 - Classificação dos tumores do sistema nervoso central (n=64) em
crianças e adolescentes atendidos no Hospital de Câncer do Estado de Mato
Grosso, 2002-2012.
57
Tabela 20 - Distribuição dos casos de tumores sólidos segundo o grupo de
diagnóstico e a extensão clínica, de pacientes de 0 a 19 anos atendidos no
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
58
Tabela 21 - Estatística descritiva de intervalo de tempo entre datas-chave de
casos de neoplasias malignas. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso,
2002-2012.
59
Tabela 22 – Distribuição de modalidades terapêuticas em casos de neoplasias
malignas (n=658), de pacientes de 0 a 19 anos atendidos no Hospital de
Câncer, 2002-2012.
60
Tabela 23 - Distribuição de local de tratamento de casos de neoplasias
malignas (n=658), de pacientes de 0 a 19 anos atendidos no Hospital de
Câncer, 2002-2012.
60
Tabela 24 - Distribuição de recidiva de casos de neoplasias malignas
(n=647), de pacientes de 0 a 19 anos atendidos no Hospital de Câncer, 2002-
2012.
61
Tabela 25 - Distribuição da evolução dos casos de neoplasias malignas em
dezembro de 2012, de pacientes de 0 a 19 anos atendidos no Hospital de
Câncer, 2002-2012.
61
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Distribuição do número de casos (n=658) de neoplasias malignas
matriculados segundo o ano. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso,
2002-2012.
42
Figura 2 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo a idade na
primeira consulta e grupo etário. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso,
2002-2012.
45
Figura 3 - Distribuição da renda familiar per capita mensal dos casos de
neoplasias malignas (n=479). Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso,
2002-2012.
47
17
1 INTRODUÇÃO
O câncer é a principal causa de morte por doença nos países economicamente
desenvolvidos e a segunda principal causa de morte em países em desenvolvimento.
Segundo AHMEDIN et al. (2011) sua incidência está aumentando nos países
economicamente em desenvolvimento, como resultado de progressivo envelhecimento
da população bem como a adoção de estilos de vida associados ao câncer.
Segundo STILLER (2004), o câncer é muito raro em crianças em qualquer
lugar do mundo. Na população abaixo de 15 anos de idade, em países industrializados,
corresponde a cerca de 0,5% de todos os tipos de câncer. Estudo colaborativo
internacional descreveu incidências totais de câncer de 45,9 a 182,7 por milhão na
população de 0-14 anos (PARKIN et al., 1998a).
O câncer é a segunda causa de morte em crianças em países desenvolvidos
(KAATSCH, 2010). As últimas décadas têm visto acentuado aumento na
probabilidade de cura devido em parte a melhores procedimentos de diagnóstico e
introdução e melhoria contínua de múltiplas estratégias de tratamento. SCHEURER et
al. (2011) referem que o câncer foi a primeira causa de morte por doença em crianças
de 1 a 14 anos de idade nos Estados Unidos em 2006, segundo dados do National
Center for Health Statistics.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e União Internacional
Contra o Câncer (UICC), apesar do avanço nos meios de diagnóstico e tratamento para
o câncer na população em geral (OMS e UICC, 2005), esse avanço não é uniforme
para toda população. Segundo KAATSCH (2010), diferenças nas taxas de
sobrevivência entre os países estão, em grande medida, relacionados com diferenças
em estruturas de saúde.
No Brasil, os óbitos por câncer figuraram entre as dez principais causas de
morte na população entre 0 e 19 anos de idade, no período de 2002 a 2011. Existem
diferenças nas taxas de mortalidade entre diferentes regiões do Brasil, o que indica que
fatores associados necessitam ser analisados (BRASIL, 2014a).
Foi observada maior diminuição na mortalidade por leucemia nos pacientes de
0 a 19 anos nos estados brasileiros mais desenvolvidos quando comparados com os
estados menos desenvolvidos, provavelmente por melhores condições de atenção à
18
saúde nessas localidades (RIBEIRO et al., 2007). Estes dados demonstram a
importância de estudo nas diferentes regiões do país.
1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.1.1 Epidemiologia do câncer infanto-juvenil
Apesar do conhecimento crescente acerca da prevenção e do tratamento do
câncer, a cada ano aumenta o número de portadores de neoplasia. Mantida a tendência
estabelecida em 2005, em 2020 haverá 16 milhões de pessoas com câncer. Destes, dois
terços viverão em países em desenvolvimento ou em países de industrialização recente
(OMS e UICC, 2005).
OMS e UICC (2005), com base em prevalência de 5 anos (1998-2002),
estimam 6,7 milhões de mortes por câncer, 10,9 milhões de novos casos e 24,6 milhões
de pessoas vivendo com câncer. Em estatísticas mais recentes, estimou-se que no ano
de 2008 ocorreriam cerca de 12 milhões de casos novos de câncer e 7 milhões de
óbitos, principalmente em países de médio e baixo desenvolvimento.
Espera-se um aumento de casos de câncer em todo mundo chegando a 22
milhões nas próximas décadas. Das mortes por câncer no mundo, 70% dos casos
anuais ocorrem em regiões da África, Ásia, América Central e América do Sul, e 30%
das neoplasias poderiam ser prevenidas com um modo de vida mais saudável (OMS,
2014).
Segundo estimativas do IARC, a incidência de câncer em ambos os sexos, em
crianças até 14 anos, em 2012, foi de 88 por milhão para todo o mundo, 165 por milhão
para os Estados Unidos da América, 139 por milhão na Europa, 141 por milhão no
Reino Unido, e 124 por milhão no Brasil (GLOBOCAN, 2012).
Nos Estados Unidos, segundo RIES et al. (1999), ocorreu aumento na taxa de
incidência de algumas formas de câncer infantil desde meados dos anos 1970 até 1990,
mantendo-se estável de 1990 a 1995. A incidência anual foi de aproximadamente 150
casos de câncer por milhão em menores de 20 anos e ocorreu importante diminuição
nas taxas de mortalidade até 1995. Informações para o estudo foram baseadas no
19
programa SEER (Surveillance, Epidemiology and End Results), do Nacional Cancer
Institute (NCI). Deste programa fazem parte cinco estados e cinco áreas
metropolitanas, com cobertura de cerca de 14% da população americana.
Em 2010 foi publicado um estudo ecológico que examinou as diferenças
socioeconômicas em relação às taxas de incidência de câncer na população entre 0 e
19 anos de idade nos Estados Unidos, entre 2000 e 2005. Os dados coletados
mostraram que municípios mais pobres tiveram maior taxa de incidência ajustada por
idade do que municípios menos pobres, para todos os tipos de câncer. Os dados
estratificados por raça mostraram que esta associação foi observada entre brancos, e
não em negros. Para leucemia, municípios pobres tiveram maiores taxas de incidência
que municípios ricos, para os brancos, e taxas mais baixas para os negros. Segundo o
autor, o estudo demonstrou variações na incidência do câncer na infância segundo
perspectivas socioeconômicas que merecem investigação (PAN et al., 2010).
KAATSCH (2010) descreveu análise de dados dos projetos europeus ACCIS
(Automated Childhood Cancer Information System) e EUROCARE. ACCIS é um
projeto que consiste na fusão de dados de crianças (0-14 anos) e adolescentes (15-19
anos) a partir de registros de câncer de base populacional. Conta com a colaboração
de 78 registros de câncer de base populacional, de 30 países europeus. O projeto
EUROCARE, iniciado no final de 1980, realiza análise detalhada e comparação de
taxas de sobrevida de pacientes com câncer de todas as idades, dados procedentes de
83 registros de câncer de base populacional de 23 países participantes. Segundo o
autor, as taxas de incidência variaram de 130 por milhão nas Ilhas Britânicas a 160
casos por milhão nos países escandinavos. Mais alta incidência foi encontrada na
Finlândia: 173,2 por milhão. As taxas de incidência mostraram aumento de médias
anuais de 1,1% para o período 1978-1997 (de 0,6% para leucemias para 1,8% para os
sarcomas de partes moles). Desde meados do século passado tem ocorrido aumento
nas taxas de incidência. A probabilidade de sobrevida aumentou consideravelmente ao
longo das últimas décadas.
Foi estimada para o Brasil, para os anos de 2014 e 2015, a ocorrência de
aproximadamente 576.000 casos novos de câncer por ano. Excluindo-se os casos de
câncer de pele não melanoma, a estimativa é de 394.450 casos novos (BRASIL,
2014b). Em 2010 a incidência foi de 375.240 casos novos de câncer para todas as
20
idades, com exceção de tumores de pele não melanoma. O percentual mediano dos
tumores pediátricos observados nos Registros de Câncer de Base Populacional
(RCBP) brasileiros encontra-se próximo de 3,0%. Portanto, estima-se que ocorram
cerca de 11.840 casos novos de câncer em crianças e adolescentes até 19 anos de idade
em 2014, contra 9.386 casos novos de câncer nessa população em 2010 (BRASIL,
2011a, 2014b). Segundo o Ministério da Saúde, as regiões Sudeste e Nordeste
apresentarão os maiores números de casos novos nesta faixa etária, 5.600 e 2.790,
respectivamente, seguidas pelas regiões Sul (1.350 casos novos), Centro-Oeste (1.280
casos novos) e Norte (820 casos novos) (BRASIL, 2014b).
Dados do Ministério da Saúde mostraram que no Brasil tem ocorrido uma
diminuição significativa do número de óbitos em crianças e adolescentes por doenças
infecciosas e parasitárias, dos aparelhos circulatório e respiratório e afecções
originadas no período neonatal. Por outro lado, ganharam importância as mortes por
neoplasia e por causas externas (BRASIL, 2011b).
Apesar de pouco significativo quando comparado ao câncer em adulto, no
Brasil, o câncer é a primeira causa de morte por doença entre crianças acima de cinco
anos e adolescentes (BRASIL, 2011a). As neoplasias ocuparam a segunda posição
(7%) de óbitos entre crianças e adolescentes (de 1 a 19 anos) em 2011 (BRASIL,
2014b) e, segundo dados do Datasus, a neoplasia é a primeira causa de morte por
doença, perdendo somente para causas externas (Brasil, 2014c).
RIBEIRO et al. (2007) mostraram que houve redução estatisticamente
significativa nas taxas de mortalidade no Brasil, entre 1980 a 2002, em crianças e
adolescentes portadores de leucemia. Em um estudo ecológico que utilizou como
unidade de análise as 352 regionais de saúde do Brasil em 2008, estes autores
observaram ainda maior diminuição na mortalidade nos estados mais desenvolvidos,
o que pode refletir melhor cuidado à saúde. Foram analisados dados de mapeamento
de óbitos e modalidade de tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), considerando
mapas das taxas de mortalidade por câncer e indicadores de assistência (internações,
quimioterapia e radioterapia).
GRABOIS et al. (2011) mostraram menor volume de tratamento entre as
pessoas que residem nas regiões mais carentes do Brasil, sugerindo treinamento de
21
pediatras para maior suspeita clínica e definições de fluxos rápidos de
encaminhamento da assistência básica para níveis mais complexos de tratamento.
SILVA (2012) observou no Brasil uma tendência de declínio não constante das
taxas de mortalidade de 1981 a 2008. Para as faixas etárias <1 ano e de 1 a 4 anos foi
observada tendência decrescente e constante da mortalidade por câncer durante todo o
período. Maiores magnitudes das taxas foram observadas para o sexo masculino. As
regiões brasileiras que apresentaram taxas de mortalidade mais elevadas foram as
regiões sul e sudeste. Este estudo mostrou ainda aumento da magnitude das taxas
padronizadas de mortalidade nas regiões nordeste e norte. Na região centro-oeste
observou-se declínio significativo das taxas de mortalidade por câncer. Variação das
taxas de mortalidade por neoplasias hematológicas entre as capitais brasileiras também
foram observadas, sugerindo diferenças no acesso ao diagnóstico e tratamento dessas
doenças.
Em relação aos fatores ambientais que podem estar associados à incidência de
câncer, estudo caso-controle de base hospitalar encontrou associação positiva entre
pesticidas durante a gestação e leucemia em menores de 2 anos (FERREIRA et al.,
2013).
Em um trabalho de meta-análise, KLIMENTOPOULOU et al. (2012)
estudaram publicações científicas até 2011, sem restrição de idioma, e não
encontraram suporte à hipótese de relação entre tabagismo materno durante a gravidez
com o desenvolvimento de algum subtipo principal de leucemia. Por outro lado,
recente estudo caso-controle multicêntrico de base hospitalar realizado por autores
brasileiros descreveu associação positiva entre tabagismo materno e leucemia em
crianças até dois anos de idade, filhos de mulheres que relataram uma intensa
exposição ao tabaco durante a gravidez e amamentação (FERREIRA et al., 2012).
A sobrevida livre de eventos em 5 anos para crianças com câncer é de 75% a
79% em países de alta renda, porém 80% das crianças do mundo vivem em países de
média e baixa renda, onde acorrem a pobreza, falta de infraestrutura de saúde pública
e alta taxa de mortalidade em crianças com idade inferior a 5 anos (HOWARD et al.,
2008).
22
1.1.2 Epidemiologia do câncer infanto-juvenil em Mato Grosso
Segundo CURVO (2012), em Mato Grosso, registrou-se entre 2000 e 2005 o
número de 702 pacientes com câncer (377 do sexo masculino e 325 do feminino) com
idade entre 0 e 19 anos. Essa prevalência equivale a 3,26% do total de casos de câncer
registrados no período no estado. Os pacientes menores de 15 anos representaram
2,31% do total dos casos e aqueles entre 15 e 19 anos representaram 0,94% do total.
Observou-se maior incidência no sexo masculino até o ano de 2003 e no ano de 2004
ocorreu inversão na prevalência segundo o sexo, que se manteve em 2005.
No referido estudo foram detectados, entre crianças: 35,27% de leucemias,
15,43% de linfomas e 14,3% de tumores do sistema nervoso central (SNC) e
miscelâneas de neoplasias intracranianas e intraespinhais. Entre adolescentes,
ocorreram: 23,65% de carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais, 18,72% de
leucemias, 14,29% de linfomas e 13,79% de tumores ósseos malignos. O grupo de
linfomas e neoplasias retículo-endoteliais corresponde ao segundo mais incidente no
período (15,10%), sendo a maioria linfoma não-Hodgkin, no sexo masculino e em
menores de 15 anos. O terceiro grupo mais incidente foi de tumores de sistema nervoso
central e miscelânia de neoplasias intracranianas e intraespinhais (12,39%). Destes, os
tumores mais comuns foram neoplasias intracranianas e intraespinhais não
especificadas, astrocitomas e tumores neuroectodérmicos primitivos
Em relação à procedência, o RCBP em Mato Grosso informa que dos pacientes
menores de 20 anos portadores de câncer, no período de 2000-2005, 42,74% eram
procedentes da conurbação urbana da Grande Cuiabá (Cuiabá e Várzea Grande)
enquanto 57,26% eram dos municípios do interior do estado.
No estado de Mato Grosso, a mortalidade proporcional por câncer em crianças
e adolescentes com idade entre 0 e 19 anos passou de 2,83% dos óbitos registrados em
2002 para 3,43% em 2012 (menor proporção 2,66% em 2009 e maior proporção de
3,92% em 2004). Nesse período, as leucemias representaram a principal causa de todos
os óbitos por câncer em menores de 20 anos (35,82%); os tumores do SNC foram a
segunda causa de óbitos (18,3%); os linfomas não-Hodgkin foram a terceira causa
23
(6,7%) dos óbitos e os tumores ósseos foram a quarta causa (6,32%) dos óbitos
(BRASIL, 2014a).
BELO et al. (2012) demonstraram elevado e crescente uso de agrotóxicos em
Mato Grosso, em relação ao restante do país. Foi identificada presença de resíduos de
diferentes agrotóxicos na água da chuva nas áreas estudadas. A exposição ambiental
foi detectada por análise de indicadores biológicos de exposição a agrotóxicos junto a
trabalhadores e moradores de áreas próximas às zonas de plantio.
CURVO et al. (2013) encontraram associação estatisticamente significante
entre uso agrícola de agrotóxicos nos municípios do estado de Mato Grosso e
morbimortalidade por câncer em menores de 20 anos.
1.1.3 Classificação do câncer infanto-juvenil
Os tumores na faixa etária pediátrica, quanto à sua classificação, devem ser
divididos com base na morfologia e não com base no sítio primário do órgão afetado,
como é feito em adultos (STELIAROVA-FOUCHER et al. 2005).
O câncer infanto-juvenil apresenta fundamentais diferenças em relação ao dos
adultos no que diz respeito aos locais primários, a diferentes origens histológicas (em
adultos a maioria tem origem em tecidos epiteliais) e diferentes comportamentos
clínicos (leucemias pré-B em crianças, por exemplo, respondem bem à terapia,
diferente da mesma doença em adultos) (DENNY e SAKAMOTO, 2011). Segundo os
autores, tendem a apresentar menores períodos de latência. Na origem da maioria dos
tumores, efeitos externos parecem ter menos importância. Crianças estão em processo
de crescimento fisiológico a nível celular, em intensa função de divisão e
diferenciação. Neste meio fisiológico existe potencial risco para transformação
neoplásica, principalmente em população de células vulneráveis ou não presentes em
um adulto maduro.
A classificação internacional de câncer utilizada atualmente pelos registros
populacionais é a proposta por STELIAROVA-FOUCHER et al. (2005). Segundo essa
classificação as neoplasias estão divididas em 12 grupos:
I. Leucemias, doença mieloproliferativa e doenças mielodisplásicas;
II. Linfomas e neoplasias reticuloendoteliais;
24
III. SNC e miscelânia de neoplasias intracranianas e intraespinhais;
IV. Neuroblastoma e outros tumores de células nervosas periféricas;
V. Retinoblastoma;
VI. Tumores renais;
VII. Tumores hepáticos;
VIII. Tumores ósseos malignos;
IX. Tecidos moles e outros sarcomas extra-ósseos;
X. Tumores de células germinativas, tumores trofoblásticos e neoplasias gonadais;
XI. Outros neoplasmas malignos epiteliais e outros melanomas malignos;
XII. Outros neoplasias malignas e não especificadas.
Segundo STELIAROVA-FOUCHER et al. (2005), as classificações destes
tumores ganham mais detalhamento por conta dos avanços continuamente observados
nas técnicas laboratoriais, que se baseiam na biologia molecular, na imunologia e na
genética. A incorporação de novos conhecimentos e tecnologia disponíveis levou a
novas subclassificações, particularmente para leucemias e linfomas.
Segundo a classificação internacional de tumores – TNM, a divisão dos casos
de câncer em grupos, de acordo com os chamados estádios, surgiu da observação de
que taxas de sobrevida eram maiores para os casos nos quais a doença era localizada
do que para aqueles nos quais exista extensão da doença para além do órgão de origem.
Os grupos eram anteriormente referidos como casos iniciais e casos avançados,
indicando progressão regular com o passar do tempo. Sabe-se contudo que o estádio
da doença, na ocasião do diagnóstico, pode ser tanto um reflexo da taxa de crescimento
e extensão do tumor, como também do tipo de tumor e da relação tumor-hospedeiro.
O estadiamento é frequentemente necessário para o propósito de análise de grupos de
pacientes. Segundo a União Internacional Contra o Câncer (UICC) o registro de
informações com relação à extensão da doença para cada localização anatômica pode
ajudar o médico no planejamento do tratamento, dar alguma indicação do prognóstico,
ajudar na avaliação dos resultados de tratamento, facilitar a troca de informações entre
os centros de tratamento e contribuir para a pesquisa contínua sobre o câncer humano
(BRASIL, 2004).
25
Mundialmente, a leucemia é o tipo de câncer mais frequente na população
pediátrica, correspondendo de 25% a 35% de todos os tipos. Segundo STILLER
(2004), entre populações brancas da Europa, Américas e Oceania, cerca de um terço
de todos os tipos de câncer na infância são leucemias, com taxas de 35 a 50 por milhão.
Incidência pouco mais baixa, geralmente abaixo de 30 por milhão no sul da Ásia e
Oriente Médio, e entre crianças negras nos Estados Unidos e África sub-saariana.
Dentre as leucemias, a LLA é a de maior ocorrência em crianças de 0 a 14 anos. Nos
Estados Unidos, segundo RIES (1999), as leucemias representaram 31% de todos os
tipos de câncer em menores de 15 anos de idade, no programa SEER de 1975 a 1995.
Segundo PEREIRA (2010), a Leucemia Linfóide Aguda (LLA) é a neoplasia
mais frequente que ocorre neste grupo etário, sendo alcançados níveis de sobrevida
superiores a 80% e em subgrupos especiais de melhor prognóstico pode atingir
resultados de sobrevida de 90%. Na década de 1940 foi identificada a primeira droga
que, embora de efeito transitório, foi capaz de mudar o curso da doença e até produzir
remissões completas. De tratamento paliativo na época, a LLA tornou-se a primeira
neoplasia disseminada a ser curada com o tratamento quimioterápico sistêmico. A fase
mais produtiva de investigação, nos países desenvolvidos, com importante aumento da
sobrevida e depois a formulação do conceito de cura, ocorreu na década de 1970. No
Brasil o acesso aos protocolos internacionais demorou a ser implantado, pois algumas
drogas eram de difícil aquisição e importação. Os novos protocolos terapêuticos eram
primariamente desenvolvidos nos Estados Unidos e, somente em 1980 surgiu o
primeiro grupo cooperativo para tratamento da LLA no Brasil (PEREIRA, 2010).
Os linfomas correspondem ao terceiro tipo de câncer pediátrico mais comum
em países desenvolvidos (RIES et al., 1999), destes o mais incidente é o linfoma não-
Hodgkin. Já nos países em desenvolvimento correspondem ao segundo lugar, ficando
atrás apenas das leucemias (BRASIL, 2014b).
Os tumores do SNC representam ao redor de 16% das neoplasias malignas na
infância, correspondem ao tumor sólido mais frequente nesta faixa etária (RIES et
al.,1999). Representam de 8% a 15% das neoplasias pediátricas (BRASIL, 2014b). O
fato de, no Brasil, os tumores de SNC ocuparem o terceiro lugar na incidência, depois
das leucemias e dos linfomas, demonstra a necessidade de mais estudos que possam
explicar este quadro e sugere a existência de subdiagnóstico nos casos de tumores do
26
SNC, já que nos países desenvolvidos este grupo de neoplasias é o segundo mais
frequente (BRASIL, 2009).
1.1.4 Registros Brasileiros de Câncer
Considerando a importância do impacto global do câncer no mundo (é
responsável por mais de 12% de todas as causas de óbito no mundo, mais de 7 milhões
de pessoas morrem da doença anualmente), existe a necessidade de grande
investimento no desenvolvimento de ações para melhoria do controle do câncer em
todos os níveis, segundo o Departamento de Ciências e Tecnologia do Sistema Único
de Saúde (BRASIL, 2007b). Estas ações incluem promoção de saúde, detecção
precoce, assistência aos pacientes, vigilância do câncer e dos seus fatores de risco,
formação de recursos humanos, comunicação e mobilização social, pesquisa e, no caso
do Brasil, gestão do SUS.
Com o objetivo de se estabelecer política pública para o setor foi realizada
discussão no Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Câncer (CONSINCA) com
representantes de várias Sociedades Científicas e Associações relacionadas à área, e
em dezembro de 2005 foi publicada a Portaria no 2.439 que instituiu a Política
Nacional de Atenção Oncológica (PNAO). Tal Portaria contempla promoção,
prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos a serem
implantados em todo país. São destacados a vigilância em saúde e um sistema de
informação que possa oferecer ao gestor subsídios para tomada de decisão no processo
de planejamento e avaliação das ações de controle do câncer (BRASIL, 2005a).
Segundo padronização internacional, os registros de câncer podem ser
classificados em Registros Hospitalares de Câncer (RHC) e Registros de Câncer de
Base Populacional. Os registros de câncer de base populacional e hospitalares fazem
parte de um sistema de vigilância estruturado que fornece informações sobre a
magnitude e impacto do câncer, bem como dados sobre a efetividade da atenção à
saúde.
Os RHC referem-se a todos os casos tratados e acompanhados em uma
instituição de assistência hospitalar. Fornecem informações tanto para a administração
do hospital quanto para pesquisadores interessados em dados acerca dos resultados do
27
tratamento nos diferentes grupos e de fatores de risco ou fatores prognósticos. Tais
registros reúnem informações para a avaliação da qualidade da assistência prestada em
hospitais, isoladamente ou em conjunto (TEIXEIRA et al., 2002). Segundo YOUNG
et al. (1991), eles também contribuem para a atenção ao paciente individualmente, uma
vez que asseguram o seguimento destes pacientes.
Os RCBP reúnem informações que permitem descrever e monitorar o perfil da
incidência do câncer em uma população geograficamente definida (BRASIL, 2007b).
Coletam dados que se referem a todos os casos de câncer verificados na população de
uma área geográfica definida, tendo como principal objetivo produzir indicadores
como a incidência, prevalência e a sobrevida para aquela área de abrangência
(TEIXEIRA et al., 2002).
É fundamental que os recursos e esforços sejam direcionados no sentido de
orientar as estratégias de prevenção e controle de câncer. O estabelecimento destas
medidas pressupõe informações de qualidade sobre a distribuição de incidência e
mortalidade, possibilitando assim melhor compreensão sobre a doença e seus
determinantes, formulação de hipóteses causais e avaliação de avanços tecnológicos
aplicados à prevenção e tratamento (BRASIL, 2010).
Publicação do Ministério da Saúde em 2014 registra a existência no Brasil de
23 RCBP, alimentados por uma rede de 282 RHC, além de laboratórios de patologia,
clínicas especializadas em oncologia e hematologia, e outras instituições (BRASIL,
2014b).
O RCBP de Cuiabá tem como área de cobertura os municípios de Cuiabá e
Várzea Grande. Foi criado em 1999 e foi iniciada a coleta de dados no ano seguinte.
A coordenação desse registro fica a cargo da Superintendência de Vigilância em Saúde
(SUVISA), na Secretaria Estadual de saúde de Mato Grosso (BRASIL, 2008b).
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) e a Sociedade Brasileira de
Oncologia Pediátrica (SOBOPE), em 2008, em primeiro relatório de abrangência
nacional sobre tumores na infância e adolescência, houve variação nas taxas de
incidência de tumores para cada região do país. Neste estudo foram considerados 20
RCBP com informações consolidadas para um ano, o que permitiu o cálculo de taxas
de incidência por câncer na população de 0 a 19 anos de alguns municípios brasileiros
(BRASIL, 2008b).
28
Segundo esse trabalho, em Cuiabá, de 2000 a 2003, foram registrados 185
novos casos de câncer. A incidência foi maior entre meninos, com razão de 1,85:1 e
os três tipos de câncer mais comuns foram: leucemias (39%), linfomas e neoplasias
reticulo-endoteliais (14%) e tumores do SNC e miscelânea de neoplasias
intracranianas e intraespinhais (11%). Essas frequências foram similares às brasileiras
(BRASIL, 2008b).
A análise dos índices de qualidade dos dados acima apontou que, para essa base
de tumores infanto-juvenis, o RCBP de Cuiabá não atingiu os parâmetros de qualidade
onde se espera que a porcentagem de casos com diagnóstico confirmado por exame
histopatológico esteja acima de 75% e o diagnóstico realizado somente por declaração
de óbito seja de no máximo 20% (BRASIL, 2008b). O mesmo ocorreu com o RCBP
de Belém e Palmas. Assim, recomendou-se cautela na interpretação e comparação
dessas informações.
No Estado de Mato Grosso, a estimativa para 2014 é de 8.170 casos novos de
câncer entre homens e mulheres (BRASIL, 2014b). Portanto, considerando que 3%
deste número sejam de tumores pediátricos, estima-se uma incidência de 245 casos
novos na faixa etária de 0 a 19 anos para o ano de 2014.
1.1.5 Política Nacional em Cancerologia Pediátrica
O atendimento nas unidades públicas de saúde em Oncologia Pediátrica no
Brasil é regulamentado pelas Portarias do Ministério da Saúde. A Portaria GM/MS nº
2.439 (Brasil, 2005a) instituiu a Política Nacional de Atenção Oncológica. No mesmo
ano foi instituída a regulamentação da assistência de alta complexidade na Rede de
Atenção Oncológica (Brasil, 2005b). Em 2006 foi formalizado o Grupo Técnico de
Assessoramento para o planejamento, avaliação e aprovação da rede de atenção
oncológica dos estados (Brasil, 2006).
A Portaria nº 361 (Brasil, 2007a) incluiu as habilitações em Oncologia na
Tabela de Habilitações de Serviços Especializados do Sistema do Cadastro Nacional
de Estabelecimentos de Saúde –SCNES.
29
Em 11 de março de 2008 foi instituída a Portaria no 146 SAS/MS que criou
códigos e estabeleceu habilitações de hospitais na alta complexidade em oncologia,
onde estava relacionado o Hospital de Câncer de Mato Grosso (Brasil, 2008a).
As ações de saúde em Cancerologia Pediátrica são minuciosamente
regulamentadas pelo Ministério da Saúde, inseridas em uma rede de responsabilidades
desde o próprio Ministério como órgão regulamentador, o Instituto Nacional do Câncer
(INCA) como órgão consultor, Secretarias de Estado da Saúde e respectivas
Comissões Intergestores Bipartites e Redes Estaduais de Atenção Oncológica no
âmbito do Grupo Técnico de Assessoramento para controle e avaliação dos serviços.
1.1.6 Sobrevida do Câncer Infanto-Juvenil
Estudos globais de câncer infantil fornecem pistas para etiologia do câncer,
facilitam a prevenção e diagnóstico precoce, identificam diferenças biológicas,
melhoram as taxas de sobrevivência em países de baixa renda, facilitando as iniciativas
de melhoria da qualidade, e melhoram os resultados em países de alta renda, através
de estudos de biologia do tumor e ensaios clínicos de colaboração. As taxas de
incidência de câncer diferem entre os vários grupos étnicos dentro de um único país e
entre os vários países com composições étnicas semelhantes. Tais diferenças podem
ser o resultado de uma predisposição genética, exposição precoce ou tardia a doenças
infecciosas, e fatores ambientais. A incidência de leucemia infantil é menor em países
de baixa renda que em países mais prósperos. Registro de leucemia infantil requer o
reconhecimento dos sintomas, o rápido acesso à assistência médica primária e terciária
(unidade de câncer pediátrico), um diagnóstico correto, e uma infraestrutura de
gerenciamento de dados. Em países de baixa renda, onde esses serviços são escassos,
algumas crianças com leucemia podem morrer antes do diagnóstico (HOWARD et
al., 2008).
Segundo TEIXEIRA et al. (2002), a sobrevida expressa a probabilidade de que
um paciente esteja vivo após um período determinado (por exemplo após 1, 3, 5 ou
mais anos do diagnóstico). Em câncer, a análise de sobrevida reflete as atividades de
controle da patologia, incluindo rastreamento, organização e qualidade dos serviços de
saúde, bem como da história natural da doença (BLACK et al., 1998).
30
As taxas de sobrevida calculadas com base nos registros de base populacional
(casos incidentes na população) são distintas das taxas calculadas de uma série de
pacientes hospitalares ou de um ensaio clínico. Pacientes em ensaios clínicos ou em
séries hospitalares são submetidos a numerosos critérios de seleção, que podem ser
reconhecidos ou não, e raramente representam a diversidade presente em toda uma
população (STILLER, 1994). De modo geral, dados de séries hospitalares apresentam
melhores resultados de sobrevida em relação a dados populacionais. A sobrevida
calculada a partir da base populacional geralmente não permite a avaliação de variáveis
clínicas como o estadiamento dos tumores e o tratamento, que são dados importantes
para estudos clínicos (TEIXEIRA et al., 2002).
O estadiamento da doença ao diagnóstico é geralmente o principal fator
determinante da sobrevida dos pacientes. Entende-se por estadiamento o estágio
clínico da neoplasia: se é um tumor localizado (delimitado ao órgão de origem), se
compromete tecidos ou órgãos vizinhos, ou ainda se ocorrem metástases à distância,
geralmente através da circulação sanguínea. Tal fato decorre de que certos tratamentos
são disponíveis apenas para estágios iniciais da doença e porque os tratamentos
disponíveis são mais eficazes antes que metástases tenham se desenvolvido. Porém,
dados de estadiamento nem sempre são disponíveis, especialmente quando são
analisados dados de registro de base populacional. Ainda, podem ser utilizadas várias
classificações, o que pode comprometer a comparação entre diferentes grupos
(YOUNG, 1991).
A qualidade dos dados utilizados é um fator determinante na validade das
comparações de probabilidade de sobrevida (TEIXEIRA et al., 2002). Para esses
autores, a sobrevida é influenciada pela disponibilidade de serviços de saúde de várias
maneiras: pelo acesso aos serviços, pela existência de programas de rastreamento
(screening), pela disponibilidade de meios diagnósticos e de tratamento. Tais fatores
interferem na história natural da doença, resultando em variações da sobrevida, que
pode aumentar ou diminuir de acordo com a eficácia destas intervenções.
Avanços em técnicas de diagnóstico e disponibilidade de meios diagnósticos
podem afetar as estimativas de sobrevida, pois o mesmo câncer pode ser diagnosticado
como metastático em um hospital e localizado em outro, dependendo do equipamento
diagnóstico disponível para identificar metástases não observadas clinicamente. Este
31
fenômeno, tratado como “fenômeno de migração entre estágios” (stage-migration
phenomenon) (FEINSTEIN et al., 1985), ocorre de maneira que casos submetidos à
análise de sobrevida “migram” de um estágio localizado para o estágio avançado,
graças aos meios diagnósticos mais potentes. O fenômeno pode ocorrer também em
relação às variações temporais, uma vez que a incorporação de avanços tecnológicos
pode se dar rapidamente no decorrer dos anos (TEIXEIRA et al., 2002).
Segundo dados do programa Surveillance, Epidemiology, and End Results
(SEER) do National Cancer Institute (NCI) dos Estados Unidos da América (EUA) a
taxa de sobrevida de 5 anos para crianças de 0-14 anos, melhorou muito, de 28% na
década de 60 para cerca de 80% no início dos anos 2000 (SCHEURER et al., 2011).
Pacientes entre 15 e 19 anos têm taxa de sobrevida em 5 anos semelhante a de
crianças menores, para a maioria dos tipos de câncer, incluindo tumores cerebrais,
linfoma não Hodgkin, osteossarcoma, doença de Hodgkin, Sarcoma de Ewing,
Leucemia Mielóide Aguda (LMA) e tumores de células germinativas. Taxas de
sobrevida para pacientes de 15 a 19 anos portadores de LLA e rabdomiossarcoma são
menores em relação às de crianças mais jovens. Isto pode ser explicado em parte pela
alta proporção de casos com biologia desfavorável na faixa etária de 15 a 19 anos.
Observam-se taxas de sobrevida próximas ou acima de 90% para os tipos mais comuns
de câncer entre pacientes de 15 a 19 anos de idade, quais sejam: doença de Hodgkin,
tumores de células germinativas, câncer de tireóide e melanoma (SCHEURER et al.,
2011).
Como resultado do aumento de sobrevida, tem ocorrido diminuição das taxas
de mortalidade por câncer entre crianças desde 1950. Nos Estados Unidos, em 1969, a
taxa de mortalidade para todos os tipos de câncer era próxima a 65 por milhão, em
contraste com menos de 30 por milhão em 2004. Houve declínio na mortalidade por
leucemia de 1960 (30 a 35 por milhão) para 2004 (menos que 7 por milhão). Em
relação ao linfoma não Hodgkin houve diminuição de mortalidade entre 1960 (6 a 7
por milhão) e 1994 (menos de 2 por milhão). Em relação aos tumores renais,
primariamente tumor de Wilms, houve diminuição na taxa de mortalidade de 4 por
milhão em 1989 para menos de 1 por milhão em 2004. Para doença de Hodgkin, a taxa
de mortalidade diminuiu de aproximadamente 3 por milhão em 1950 e 1960 para
aproximadamente 0,4 por milhão em meados de 1990. E a taxa de mortalidade por
32
tumores cerebrais diminuiu de aproximadamente 10 por milhão em 1970 para
aproximadamente 7 por milhão em 1997, permanecendo praticamente constante desde
então (SCHEURER et al., 2011).
Segundo dados do National Center of Health Statistics de 2006,
aproximadamente um terço das mortes relacionadas ao câncer de 0-19 anos têm sido
por leucemias, com estimativa de 50% a 60% por LLA, 30% a 40% por LMA e
aproximadamente 5% por leucemia mielóide crônica; os tumores cerebrais foram a
segunda causa de morte, correspondendo a 24% e outras causas foram neuroblastoma,
tumores ósseos, sarcomas de partes moles e linfoma não Hodgkin (SCHEURER et al.,
2011).
O aumento da taxa de sobrevida e de cura das neoplasias é decorrente
principalmente do diagnóstico precoce e avanço na descoberta de novas drogas. Em
2000, estimou-se que 1,1 em 1000 adultos jovens era sobrevivente de câncer, enquanto
que para 2010 a estimativa foi de 4 em 1000. Considerando que o câncer infanto-
juvenil se apresenta de forma bem diferente daquele que acomete os adultos quanto à
etiologia, histologia, evolução e resposta ao tratamento, o diagnóstico precoce é
fundamental. O tratamento, que é a principal estratégia contra o câncer em pacientes
pediátricos, deve ser realizado por equipe multiprofissional em instituições
especializadas, garantindo maior sobrevida com o mínimo de efeitos colaterais
(BRASIL, 2008b).
Nos últimos anos tem-se verificado um aumento na sobrevida de crianças
acometidas por câncer tratadas com quimioterapia e ou radioterapia (LOPES e
BIANCHI, 2000). Apesar dos grandes avanços tecnológicos e científicos na
abordagem do câncer infantil, em países em desenvolvimento a probabilidade de
sobrevida a essa doença é ainda muito baixa: 37,5% em Bangalore, Índia; 37% na
Namíbia, África e 48% no Município de Goiânia, Brasil (BRAGA et al., 2002).
Segundo esses autores, apesar de, em muitos países, ter-se verificado aumento na
incidência das neoplasias em menores de 15 anos e o prognóstico para vários tumores
infantis ainda estar aquém do desejado, sabe-se que a sobrevida das crianças com
câncer é maior hoje do que outrora. Particularmente, para alguns tipos histológicos, o
aumento da sobrevida fez-se de forma mais marcante. Acreditam que a sobrevida de
cinco anos à LLA ter passado de 37% para 75% foi um dos maiores contribuintes para
33
o declínio da mortalidade por câncer em crianças na Inglaterra no período entre 1971
e 1985 (BRAGA et al., 2002).
As taxas de sobrevida observadas em países em desenvolvimento são menores
que as de países desenvolvidos. Segundo relatório do INCA (BRASIL, 2010), nos
EUA e Europa, a sobrevida média cumulativa em cinco anos é em torno de 77%.
Diversos fatores podem interferir na probabilidade de sobrevida do câncer pediátrico.
Um dos principais fatores é o atraso no diagnóstico. A demora na procura de cuidados
médicos pode ser consequência da precariedade dos serviços de saúde, da falta de
percepção da possibilidade de cura tanto do leigo como da classe médica e até mesmo
de barreiras religiosas. As taxas de sobrevida são um dos indicadores mais importantes
para o conhecimento do cuidado adequado à criança com câncer.
Em 2009 foi criado no Brasil o projeto “Diagnóstico Precoce do Câncer na
Criança e no Adolescente”, pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Instituto
Nacional do Câncer (INCA) e o Instituto Ronald McDonald (BRASIL 2009), cujo
objetivo é o enfrentamento do problema do câncer na criança e no adolescente no país.
O diagnóstico precoce pode ser decorrente de uma identificação clínica propiciada pela
maior atenção dada a estes sintomas pelo médico e mesmo pelo paciente, ou a um
diagnóstico pré-clínico feito com programas de rastreamento ou mesmo com a
descoberta ocasional no curso de uma avaliação clínica com outras finalidades. A
antecipação diagnóstica pode ou não significar um aumento real da sobrevida,
dependendo dos recursos terapêuticos disponíveis e de seus melhores resultados nos
tumores em estágios iniciais (TEIXEIRA et al., 2002).
1.2 JUSTIFICATIVA
Justifica-se a realização desta pesquisa tanto pela magnitude do problema
quanto pela inexistência de um estudo desta natureza no estado, além do interesse da
autora em conhecer os dados epidemiológicos de crianças e adolescentes
acompanhados no Hospital de Câncer. Dada a importância do volume e tipo de
serviços prestados pelo Hospital de Câncer de Mato Grosso, considera-se que os dados
oriundos desse serviço sejam relevantes para a análise do perfil de crianças e
adolescentes portadores de neoplasias malignas no estado.
34
Os dados consolidados desta pesquisa poderão contribuir para o
dimensionamento do problema da população referenciada do estado para o Hospital
de Câncer com suspeita de neoplasia e subsidiar ações de políticas públicas de saúde
dirigidas para crianças e adolescentes portadores de neoplasias em Mato Grosso.
35
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL – Descrever o perfil epidemiológico de casos de neoplasias
malignas de crianças e adolescentes acompanhados no Hospital de Câncer de
Mato Grosso no período de 2002 a 2012.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
2.2.1 Relacionar os sinais e sintomas relatados na primeira consulta dos casos de
neoplasias malignas e histórico familiar de câncer.
2.2.2 Caracterizar os casos de neoplasias malignas segundo variáveis demográficas
e socioeconômicas.
2.2.3 Caracterizar a distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo grupos
de diagnóstico.
2.2.4 Avaliar a distribuição dos grupos de diagnóstico de neoplasias malignas
segundo os grupos etários, raça/cor, sexo, região de saúde e estadiamento.
2.2.5 Determinar o tempo gasto a partir dos primeiros sintomas até a data: da
primeira consulta, do diagnóstico e de início do tratamento oncológico; e entre
a data do diagnóstico e de início do tratamento, dos portadores de neoplasias
malignas.
2.2.6 Caracterizar a terapêutica oncológica recebida e evolução dos casos de
neoplasia maligna.
36
3 MÉTODO
3.1 DESENHO DO ESTUDO
Estudo de coorte retrospectiva de casos de neoplasias malignas de crianças e
adolescentes acompanhados no Hospital de Câncer de Mato Grosso no período de
2002 a 2012, a partir de informações contidas nos prontuários médicos da Instituição,
utilizando um instrumento de coleta padronizado.
3.2 LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi realizado no Hospital de Câncer de Mato Grosso, referência em
atendimento em Oncologia Pediátrica no Estado, com sede na capital, Cuiabá. Segundo
o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES) trata-se de Instituição
beneficente, sem fins lucrativos, em funcionamento desde 4 de fevereiro de 1999,
atende principalmente pacientes procedentes do SUS.
Segundo o relatório de Gestão da Central de Regulação Oncológica da
Secretaria Municipal de Cuiabá em agosto de 2012, o Hospital de Câncer de Mato
Grosso realizou no período 2010-2011: 52% dos procedimentos de radioterapia, tendo
sido um dos dois hospitais credenciados na rede SUS no estado para radioterapia; 23%
de quimioterapia em adulto, tendo sido um dos três hospitais credenciados na rede
SUS no estado para quimioterapia em adultos; 71% de quimioterapia em crianças e
adolescentes, tendo sido um dos dois hospitais credenciados na rede SUS no estado
para quimioterapia em crianças e adolescentes.
Segundo esse relatório, em 2011, a internação hospitalar em oncologia clínica
geral (adulto e pediátrica) foi realizada por 7 hospitais com sede em Cuiabá, e o
Hospital de Câncer realizou 60% desse procedimentos.
Em 2014, de 115 leitos disponíveis, 79 são leitos cadastrados para o SUS,
divididos entre enfermarias de clínica médica, clínica cirúrgica, clínica pediátrica e
UTI para adultos (> 15 anos). A clínica pediátrica conta com 25 leitos, 15 cadastrados
37
para o SUS e possui equipe multidisciplinar específica para o setor desde setembro de
2001.
Além da receita proveniente do atendimento aos pacientes do SUS e convênios
de prestação de saúde, sua manutenção conta, em grande parcela, com doações da
sociedade e empresas através de leilões beneficentes, campanhas de arrecadação de
donativos e outras campanhas de arrecadação junto à comunidade.
3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO
Foram incluídos no estudo todos os casos de crianças e adolescentes de ambos
os sexos, com idade entre 0 e 19 anos, atendidos no Hospital de Câncer de Mato Grosso
com diagnóstico de neoplasia maligna, matriculados no Hospital no período definido.
Utilizando-se a definição da OMS, foram considerados adolescentes aqueles que
possuíam idade entre 10 a 19 anos na data da primeira consulta (WHO, 1986).
Foram excluídos do estudo os casos de neoplasia maligna com diagnóstico
inconclusivo e casos de prontuários abertos com finalidade administrativa.
Utilizou-se como caso de câncer: resultado de exame histopatológico ou de
imunofenotipagem (para as leucemias) classificados de acordo com a Classificação
Internacional de Câncer na Infância (STELIAROVA-FOUCHER et al., 2005), ou
exame de imagem (para as neoplasias do sistema nervoso central), ou pelo quadro
clínico ou evolução compatível de sinais de neoplasia maligna (BRASIL, 2010).
Considerou-se a data do diagnóstico para efeito de cálculo de tempo, a data do
laudo do histopatológico ou a data da cirurgia ou a data do exame de imagem quando
estes confirmavam a presença de neoplasia. Foram considerados quatro datas: data dos
primeiros sintomas, data da primeira consulta, data do diagnóstico e data do início do
tratamento.
38
3.4 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados a partir de revisão de prontuários dos pacientes
atendidos no Hospital de Câncer de Mato Grosso utilizando um instrumento de coleta
de dados padronizado (Apêndice 1). A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora
principal, com finalidade de homogeneidade na sua aplicação.
3.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO
3.5.1 Variáveis demográficas
Sexo: masculino, feminino;
Idade na primeira consulta, categorizada por faixa etária em anos (<1; 1-4; 5-9; 10-
14; 15-19);
Raça/cor (IBGE, 2014): branca, preta, amarela, parda, indígena ou ignorado.
Definiu-se como raça/cor negra os indivíduos declarados como pretos e pardos;
Procedência: estado/município de residência. Os municípios foram agrupados de
acordo com as regiões de saúde do estado.
3.5.2 Variáveis socioeconômicas
Renda familiar em salário-mínimo, utilizando-se como referência o valor vigente
na data da primeira consulta.
Renda familiar mensal per capita em salário-mínimo.
Escolaridade: Ensino fundamental (completo, incompleto); ensino médio
(completo, incompleto); ensino superior (completo, incompleto); analfabeto, não se
aplica, ignorado.
39
3.5.3 Dados relacionados à neoplasia
Fluxograma do intervalo de tempo em dias:
entre o início dos sintomas e a primeira consulta;
entre o início dos sintomas e o diagnóstico;
entre o início dos sintomas e o início do tratamento;
entre a data da primeira consulta e o diagnóstico
entre diagnóstico e o início de tratamento;
Para o cálculo do tempo dos dois últimos itens acima foram excluídos os
pacientes que realizaram ou estavam em tratamento oncológico prévio na data da
primeira consulta.
Para os casos de segunda neoplasia de pacientes que já estavam em
acompanhamento no Hospital de Câncer por alguma neoplasia benigna ou maligna,
para efeitos de cálculos de tempo, a primeira consulta considerada foi a data
imediatamente subsequente ao sintoma relacionado à segunda neoplasia maligna.
Local de diagnóstico de câncer: Hospital de Câncer de Mato Grosso, outro hospital
em Mato Grosso, outro estado;
Principais sinais e sintomas que motivaram a consulta médica;
Tipo histológico segundo a classificação Internacional de Câncer na Infância –
CICI-3 (STELIAROVA-FOUCHER et al., 2005). Neoplasias malignas foram
classificadas de acordo com CID - O, 3ª edição, como de comportamento maligno,
especificado como /3, com exceção de tumores intracranianos e intraespinhais não
40
malignos que são incluídos na CICI-3 como miscelânea de neoplasias
intracranianas e intraespinhais (OMS, 2005b).
Estadiamento e classificação: para tumores sólidos e linfomas: localizado (estádio
I e II) e não localizado (estádio III e IV) (BRASIL, 2004); para retinoblastoma:
classificação de retinoblastoma segundo Reese-Ellsworth e Grabowski (HURWITZ
et al., 2011), localizado (intraocular) e avançado (extraocular); para leucemias
linfóides agudas: baixo e alto risco (SMITH et al., 1996); classificação dos tumores
do SNC segundo “2007 WHO Grading of Tumors of the Central Nervous System”
(LOUIS et al., 2007).
Distribuição do tipo de neoplasia segundo o sexo, grupo etário (crianças e
adolescentes), raça/cor e procedência.
3.5.4 Dados sobre o tratamento e seguimento
Tipo de tratamento: nenhum, cirurgia, radioterapia, quimioterapia, transplante de
medula óssea, outros ou ignorado;
Local de tratamento: Hospital de Câncer de Mato Grosso, outro hospital em Mato
Grosso, outro estado;
Situação atual do paciente: vivo sem câncer, vivo com câncer, vivo sem
especificação, óbito sem câncer, óbito com câncer, óbito sem especificação,
ignorado.
3.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Foram feitos cálculos de médias, medianas e desvio padrão, valor máximo e
mínimo e os resultados foram apresentados em frequências absolutas e relativas,
figuras e tabelas.
Os dados foram digitados e armazenados em uma planilha do Microsoft® Excel
2007 e analisados com pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS) versão 15.0.
41
3.7 ASPECTOS ÉTICOS
A presente pesquisa utilizou informações contidas nos prontuários, sem
contato direto com o sujeito, prescindindo, portanto, do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido. Na análise dos dados, foram utilizados e serão publicados somente
dados consolidados, o que preservará o anonimato da população em estudo.
Esta pesquisa foi aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Júlio Müller, Parecer número 146.500, em 14 de novembro de 2012
(Anexo 1).
42
4 RESULTADOS
Foram analisados 666 prontuários de pacientes atendidos pelo serviço de
Pediatria do Hospital de Câncer de Mato Grosso incluindo os casos com diagnóstico
prévio e ou tratamento oncológico prévio, e casos de segunda neoplasia maligna.
Onze casos foram excluídos pelos seguintes motivos: seis pacientes com
diagnóstico de neoplasia maligna com prontuários abertos para prestação de conta
administrativa e cinco por indefinição no diagnóstico.
Após inclusão dos casos de segunda neoplasia maligna, a amostra final deste
estudo ficou constituída de 658 casos de neoplasias malignas.
No período do estudo, 2002-2012, foram matriculados para atendimento, em
média 59,82 casos/ano de neoplasias malignas, observando-se uma oscilação no
período (Figura 1).
Figura 1 - Distribuição do número de casos (n=658) de neoplasias malignas
matriculados segundo o ano. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-
2012.
Dos 658 casos analisados, 49,09% foram diagnosticados no próprio Hospital
de Câncer e 26,30% tinha diagnóstico e tratamento oncológico prévio (Tabela 1).
78
66
71
51
39
60
69
5349
54
68
30
40
50
60
70
80
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Núm
ero
de
caso
s re
gis
trad
os
ano
média=59,82
43
Tabela 1 - Distribuição dos casos (n=658) segundo o local de diagnóstico e tratamento
oncológico prévio. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Variável n %
Local de diagnóstico Hospital de Câncer 323 49,09
Outro hospital (MT) 272 41,34
Outro estado 63 9,57
Tratamento oncológico prévio Sim 173 26,30
Não 485 73,70
Foram relatados 1.539 diferentes sinais e sintomas que levaram os responsáveis
pelos pacientes a procurarem atendimento médico. Os quatro principais sinais e
sintomas foram: febre, dor (diversas localizações foram agrupadas), palidez (em
alguns relatos queixava-se de “anemia”, o que foi agrupado com o sinal de palidez),
alteração no abdome (massa palpável, distensão abdominal) (Tabela 2).
Tabela 2 - Sinais e sintomas frequentes relatados pelos portadores de neoplasias
malignas. Hospital de Câncer, 2002-2012.
Sinais e Sintomas n %
Febre 506 32,88
Dor de diversas localizações 235 15,27
Anemia/palidez 206 13,40
Alteração em abdome 122 7,93
Nódulo, tumor local, caroço 97 6,30
Cefaléia 65 4,22
Adinamia/fraqueza/cansaço/prostração 53 3,44
Dor abdominal 45 2,92
Massa 36 2,34
Alteração ocular/visual 28 1,82
Edema/inchaço 16 1,04
Sangramento 13 0,85
Diarréia 11 0,71
Falta de ar 11 0,71
Emagrecimento 11 0,71
Infecção de vias aéreas/urinária 11 0,71
Dor de garganta/disfagia 10 0,65
Outros diferentes sintomas** 63 4,10
Total 1.539 100
** Outros sintomas: tosse, perda de apetite, convulsão/desmaio, sonolência, fratura (coluna, joelho,
antebraço), desequilíbrio, pelos genitais, dor/edema articular, dor em membros, dificuldade de
deambular, aftas na boca, dificuldade para abrir a boca.
44
Encontrou-se história familiar positiva de câncer em 43,44% nos portadores
de neoplasia maligna (Tabela 3).
Tabela 3 - Histórico familiar de câncer (n=541) de casos de neoplasias malignas.
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
História familiar de neoplasia
n %
Sim 235 43,44
Não 306 56,56
Total 541 100
Obs.: Excluídos 117 casos sem informação.
Em relação à distribuição por sexo, encontrou-se predomínio de casos no sexo
masculino em todos os grupos, sendo mais evidente no grupo de adolescentes
(59,14%). Foi excluída desta análise, uma criança de 11 meses portadora de genitália
ambígua ao nascimento, cariótipo com sexo indeterminado, que apresentou tumor de
Wilms detectado em exame de ultrassonografia de rotina no primeiro ano de vida
(Tabela 4).
Tabela 4 – Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo o sexo e grupo
etário. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
SEXO
GRUPO ETÁRIO
0-19 anos Crianças Adolescentes
n % n % n %
Masculino 354 53,88 202 50,50 152 59,14
Feminino 305 46,12 198 49,50 105 40,86
Total 657 100 400 100 257 100,0
Obs.: Excluído 1 caso com sexo indeterminado de 11 meses de idade na primeira consulta.
45
A distribuição dos pacientes segundo a idade na primeira consulta apresentou
média de 8,55 anos em todo grupo, 4,82 anos no grupo de crianças e 14,38 anos no
grupo de adolescentes (Tabela 5, Figura 2).
Tabela 5 - Estatística descritiva dos casos de neoplasias malignas segundo a idade na
primeira consulta. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Estatística
descritiva
Idade na primeira
consulta (anos)
(N=658)
Crianças
< 10 anos
(n=401)
Adolescentes
10-19 anos
(n=257)
Média 8,55 4,82 14,38
Mediana 7,65 4,34 14,55
Desvio
padrão 5,29 2,52 2,47
Mínimo 0,27 0,27 10,07
Máximo 19,46 9,99 19,46
Figura 2 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo a idade na primeira
consulta e grupo etário. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
0-19 anos <10 anos 10-19 anos0
5
10
15
20
Grupo etário
Ida
de n
a p
rim
eir
a c
on
sult
a (
an
os)
46
A maioria das neoplasias ocorreu em pacientes da raça/cor negra considerando
o grupo todo de 0-19 anos (51,50%) e no grupo de adolescentes (59,20%), enquanto
que no grupo de crianças houve o predomínio da raça/cor branca (52,48%) (Tabela 6).
Tabela 6 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo raça/cor. Hospital
de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Raça/Cor
Neoplasias malignas por grupos etários
0-19 anos Crianças Adolescentes
n % n % n %
Branca 301 47,55 201 52,48 100 40,00
Negra 326 51,50 178 46,48 148 59,20
Amarela 1 0,16 - - 1 0,40
Indígena 5 0,79 4 1,04 1 0,40
Total 633 100 383 100 250 100
Ignorado 25 - 18 - 7 -
Na tabela 7, a análise da renda familiar em salário mínimo mostrou que a
mediana (1,46 salário mínimo) estava bem abaixo da média (2,24 salário mínimo)
encontrada.
Tabela 7 - Estatística descritiva da renda familiar dos casos de neoplasias malignas.
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Estatística
Descritiva
Renda em
salário mínimo
n=480
Número de
pessoas/família
n=538
Renda familiar
per capita
n=479
Média 2,24 4,33 0,56
Mediana 1,46 4,00 0,36
Mínimo 0,16 2 0,03
Máximo 16,67 16 4,39
Desvio padrão 2,24 1,40 0,61
Obs.: Excluídos os casos sem informação.
Na figura 3 observa-se que a maioria possuía distribuição da renda familiar per
capita mensal abaixo de 0,5 salário mínimo.
47
Figura 3 - Distribuição da renda familiar per capita mensal dos casos de neoplasias
malignas (n=479). Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
No grupo de neoplasias malignas, a maior frequência de ensino fundamental
incompleto prevaleceu tanto entre as mães quanto entre os pais (Tabela 8).
Tabela 8 - Distribuição de escolaridade dos pais dos casos de neoplasias malignas.
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Escolaridade materna paterna
n % n %
Ensino fundamental incompleto 294 59,39 303 65,30
Ensino fundamental completo 45 9,09 49 10,56
Ensino médio incompleto 23 4,65 18 3,88
Ensino médio completo 93 18,79 58 12,50
Superior incompleto 9 1,81 8 1,72
Superior completo 23 4,65 18 3,88
Pós-Graduação 4 0,81 1 0,22
Analfabeto 4 0,81 9 1,94
Total 495 100 464 100 Obs.: Excluídos dados sem informação da escolaridade materna (n=163) e paterna (n=194).
Considerando-se o grupo de 0-19 anos, mais da metade dos casos pertenciam
a três grupos de diagnósticos: leucemias, linfomas e neoplasias reticuloendoteliais e
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
0 100 200 300 400 500 600 700
Renda familiar
per capita
(salário
mínimo)
Casos de neoplasias malignas
48
tumores do sistema nervoso central, sequência que se repete entre crianças. No grupo
de adolescentes, os três grupos de diagnósticos mais frequentes foram leucemias,
linfomas e neoplasias reticuloendoteliais e tumores ósseos (Tabela 9).
Tabela 9 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo o grupo de
diagnóstico e grupo etário (idade em anos na primeira consulta). Hospital de Câncer
do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Grupo de diagnóstico de neoplasias
malignas
0-19 anos Criança Adolescente
n % n % n %
I. Leucemias 239 36,32 160 39,90 79 30,74
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais 111 16,87 54 13,47 57 22,18
III. Tumor do sistema nervoso central 75 11,40 51 12,72 24 9,34
IV. Tumores do sistema nervoso
simpático 25 3,80 25 6,24 - -
V. Retinoblastoma 10 1,52 10 2,49 - -
VI. Tumores renais 45 6,84 43 10,72 2 0,78
VII. Tumores hepáticos 2 0,30 2 0,50 - 0,00
VIII. Tumores ósseos 41 6,23 5 1,25 36 14,00
IX. Sarcomas de partes moles 60 9,12 28 6,98 32 12,45
X. Neoplasias de células germinativas,
trofoblásticas e outras gonadais 25 3,80 11 2,74 14 5,45
XI. Carcinomas e outras neoplasias
malignas epiteliais 25 3,80 12 2,99 13 5,06
Total 658 100 401 100 257 100
49
Entre as crianças, em menores de 1 ano na primeira consulta, os grupos de
diagnóstico mais frequentes foram tumores renais, leucemias e tumores do sistema
nervoso simpático. Na faixa etária entre 1 e 4 anos na primeira consulta os grupos de
diagnóstico mais frequentes foram leucemias, tumores renais, linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais e tumores ósseos malignos. Na faixa etária entre 5 e 9 anos na
primeira consulta os grupos de diagnóstico mais frequentes foram leucemias, linfomas
e neoplasias reticuloendoteliais e tumores do sistema nervoso central (Tabela 10).
Tabela 10 – Distribuição dos grupos de diagnóstico de neoplasias malignas em
crianças segundo a faixa etária da idade na primeira consulta. Hospital de Câncer do
Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Grupo de diagnóstico de
neoplasia maligna
<1 ano 1-4 anos 5-9 anos
n % n % n %
I. Leucemias 5 26,32 84 40,00 71 41,28
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais - - 24 11,43 30 17,44
III. Tumores do sistema
nervoso central 1 5,26 24 11,43 26 15,12
IV. Tumores do sistema
nervoso simpático 3 15,79 16 7,62 6 3,49
V. Retinoblastoma - - 5 2,38 5 2,91
VI. Tumores renais 6 31,58 26 12,38 11 6,40
VII. Tumores hepáticos - - 1 0,48 1 0,58
VIII. Tumores ósseos
malignos - - 2 0,95 3 1,74
IX. Sarcomas de partes
moles 2 10,53 14 6,67 12 6,98
X. Neoplasias de células
germinativas,
trofoblásticas e outras
gonadais
2 10,53 6 2,86 3 1,74
XI. Carcinomas e outras
neoplasias malignas
epiteliais
- - 8 3,81 4 2,33
Total 19 100 210 100 172 100
50
Entre os adolescentes, os grupos de diagnóstico mais frequentes na faixa etária
entre 10 e 14 anos na primeira consulta foram leucemias, linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais e tumores ósseos malignos. Os grupos de diagnóstico mais
frequentes na faixa etária entre 15 e 19 anos na primeira consulta foram leucemias,
linfomas e neoplasias reticuloendoteliais, tumores ósseos malignos e sarcomas de
partes moles (Tabela 11).
Tabela 11 – Distribuição dos grupos de diagnóstico de neoplasias malignas em
adolescentes segundo a faixa etária da idade na primeira consulta. Hospital de Câncer
do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Grupo de diagnóstico de neoplasia
maligna
10-14 anos 15-19 anos
n % n %
I. Leucemias 52 35,14 27 24,8
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais 34 22,97 23 21,1
III. Tumores do sistema nervoso central 15 10,14 9 8,3
IV. Tumores do sistema nervoso
simpático - - - -
V. Retinoblastoma - - - -
VI. Tumores renais 2 1,35 - -
VII. Tumores hepáticos - - - -
VIII. Tumores ósseos malignos 19 12,84 17 15,6
IX. Sarcomas de partes moles 15 10,14 17 15,6
X. Neoplasias de células germinativas,
trofoblásticas e outras gonadais 5 3,38 9 8,3
XI. Carcinomas e outras neoplasias
malignas epiteliais 6 4,05 7 6,4
Total 148 100 109 100
51
Quanto à distribuição por raça/cor, os grupos de diagnóstico mais frequentes
na raça/cor branca foram leucemias, linfomas e neoplasias reticuloendoteliais e
sarcomas de partes moles. Os grupos de diagnóstico mais frequentes na raça/cor negra
foram leucemias, linfomas e neoplasias reticuloendoteliais, tumores do sistema
nervoso central e sarcomas de partes moles (Tabela 12).
Tabela 12 - Distribuição dos casos de neoplasia maligna segundo grupos de
diagnóstico e raça/cor (n=627). Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-
2012.
Obs: Foram excluídos 25 casos sem informação, 5 indígenas e 1 amarela.
Grupos de diagnóstico Brancos Negros
n % n %
I. Leucemias 129 42,86 100 30,67
II. Linfomas e neoplasias reticuloendoteliais 52 17,28 51 15,64
III. Tumores do sistema nervoso central 23 7,64 50 15,34
IV. Tumores do sistema nervoso simpático 15 4,98 10 3,07
V. Retinoblastoma 4 1,33 6 1,84
VI. Tumores renais 19 6,31 22 6,75
VII. Tumores hepáticos 1 0,33 1 0,31
VIII. Tumores ósseos malignos 13 4,32 27 8,28
IX. Sarcomas de partes moles 28 9,30 28 8,59
X. Neoplasias de células germinativas,
trofoblásticas e outras gonadais 9 2,99 16 4,91
XI. Carcinomas e outras neoplasias malignas
epiteliais 8 2,66 15 4,60
Total 301 100 326 100
52
Quanto à distribuição por sexo, os grupos de diagnóstico mais frequentes no
sexo masculino foram leucemias, linfomas e neoplasias reticuloendoteliais e tumores
do sistema nervoso central e sarcomas de partes moles. Também os grupos de
diagnóstico mais frequentes no sexo feminino foram leucemias, linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais e tumores do sistema nervoso central e sarcomas de partes moles
(Tabela 13).
Tabela 13 - Distribuição dos casos de neoplasia maligna segundo grupos de
diagnóstico e sexo (n=657). Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Obs.: Excluído um caso de sexo indeterminado com tumor renal.
Grupos de diagnóstico
Sexo
Masculino
Sexo
Feminino
n % n %
I. Leucemias 130 36,72 109 35,97
II. Linfomas e neoplasias reticuloendoteliais 72 20,34 39 12,87
III. Tumores do sistema nervoso central 36 10,17 39 12,87
IV. Tumores do sistema nervoso simpático 14 3,96 11 3,63
V. Retinoblastoma 7 1,98 3 1,00
VI. Tumores renais 22 6,21 22 7,26
VII. Tumores hepáticos 1 0,28 1 0,33
VIII. Tumores ósseos malignos 19 5,37 22 7,26
IX. Sarcomas de partes moles 36 10,17 24 7,92
X. Neoplasias de células germinativas,
trofoblásticas e outras gonadais 7 1,98 18 5,94
XI. Carcinomas e outras neoplasias malignas
epiteliais 10 2,82 15 4,95
Total 354 100 303 100
53
A maioria dos casos de neoplasias malignas (64,33%) foi procedente de três
regiões de saúde do estado de Mato Grosso: Baixada Cuiabana, Rondonópolis e Sinop
(Tabela 14).
Tabela 14 - Distribuição da região de saúde de procedência de 614 casos de neoplasias
malignas atendidos no Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Região de Saúde de Procedência de Mato Grosso n %
Baixada Cuiabana 227 36,97
Rondonópolis 92 14,98
Sinop 76 12,38
Cáceres 41 6,68
Tangará da Serra 40 6,52
Juína 26 4,23
Pontes e Lacerda 22 3,58
Colíder 21 3,42
Peixoto de Azevedo 18 2,93
Alta Floresta 16 2,61
Diamantino 15 2,44
Barra do Garças 9 1,47
Juara 5 0,81
Água Boa 3 0,49
Porto Alegre do Norte 3 0,49
Total 614 100
Obs.: Excluídos 44/658 casos de neoplasias malignas procedentes de outros estados.
O Hospital de Câncer acompanhou 44/658 pacientes (6,68%) procedentes de
outros estados: Acre, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rondônia
e Tocantins (Tabela 15).
54
Tabela 15 - Distribuição de 44 pacientes procedentes de outros estados, portadores de
neoplasias malignas atendidos no Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-
2012.
Casos procedentes de outros estados n %
Rondônia 32 72,73
Pará 6 13,64
Mato Grosso do Sul 2 4,55
Goiás 1 2,27
Maranhão 1 2,27
Paraná 1 2,27
Tocantins 1 2,27
Total 44 100
55
As leucemias e os linfomas e neoplasias reticuloendoteliais ocorreram em
primeiro e segundo lugar, respectivamente, nas três regiões de saúde com o maior
número de casos de neoplasias malignas. A neoplasia maligna que ocupou o terceiro
lugar na Baixada Cuiabana foram as leucemias, em Rondonópolis foram os tumores
renais e sarcoma de partes moles, e em Sinop foram sarcoma de partes moles (Tabela
16).
Tabela 16 - Distribuição das neoplasias malignas segundo grupos de diagnóstico em
três regiões de saúde de procedência em Mato Grosso. Hospital de Câncer do Estado
de Mato Grosso, 2002-2012.
Grupo Diagnóstico
Baixada
Cuiabana Rondonópolis Sinop
n % n % n %
I. Leucemias 80 35,24 32 34,78 31 40,79
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais 40 17,62 20 21,74 11 14,47
III. Tumores do sistema nervoso
central 31 13,66 8 8,7 6 7,89
IV. Tumores do sistema nervoso
simpático 7 3,08 2 2,17 6 7,89
V. Retinoblastoma 5 2,20 - - - -
VI. Tumores renais 11 4,85 9 9,78 4 5,26
VII. Tumores hepáticos 1 0,44 - - - -
VIII. Tumores ósseos malignos 15 6,61 5 5,44 3 3,95
IX. Sarcomas de partes moles 18 7,93 9 9,78 10 13,16
X. Neoplasias de células
germinativas, trofoblásticas e
outras gonadais
11 4,85 2 2,17 3 3,96
XI. Carcinomas e outras neoplasias
malignas epiteliais 8 3,52 5 5,44 2 2,63
Total 227 100 92 100 76 100
56
Em relação às leucemias, houve predomínio da forma linfóide aguda (86,50%)
no grupo todo (0-19 anos). Das 32 leucemias não linfóides, 22 eram crianças e 10
adolescentes (Tabela 17).
Tabela 17 - Distribuição de classificação das leucemias (n=237) em crianças e
adolescentes atendidos no Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Leucemias (n=235) n %
Leucemias Linfóides Agudas 205 86,50
Leucemias não Linfóides 32 13,50
Total 237 100
Obs.: Excluídos 2 casos sem informação da classificação.
Houve predomínio de LLA de baixo risco entre as crianças (Tabela 17). Foram
excluídas dessa tabela 3 casos de LLA que iniciaram acompanhamento no Hospital de
Câncer quando adolescentes, pois tiveram diagnóstico e tratamento inicial anterior,
aos 2 anos, 4 anos e 7 anos de idade (Tabela 18).
Tabela 18 - Distribuição das leucemias linfóides agudas segundo classificação de risco
e grupo etário (idade em anos na primeira consulta). Hospital de Câncer do Estado de
Mato Grosso, 2002-2012.
Classificação de
LLA
Grupos etários
0-19 anos Crianças Adolescentes
n % n % n %
Baixo risco 71 35,15 71 52,21 - -
Alto risco 131 64,85 65 47,79 66 100
Total 202 100 136 100 66 100
Obs.: Excluídos 3 casos que iniciaram acompanhamento na adolescência mas com diagnóstico e
tratamento prévio de LLA antes de 10 anos de idade.
57
Dos 64 tumores em que foi possível a classificação histopatológica, segundo OMS
2007, os principais tipos histológicos foram meduloblastoma (n=17; 26,56%),
astrocitoma pilocítico (n=14; 21,87%), astrocitoma (n=5; 7,81%) (Tabela 19).
Tabela 19 – Classificação dos tumores do sistema nervoso central (n=64) em crianças
e adolescentes atendidos no Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Tipo Histológico Graduação segundo WHO, 2007 (LOUIS et al., 2007)
I II III IV Total
Tumor astrocítico
Astrocitoma 4 1 - - 5
Astrocitoma anaplásico - - 1 - 1
Astrocitoma difuso - 1 - - 1
Astrocitoma fibrilar 1 1 - - 2
Astrocitoma pilocítico 14 - - - 14
Astrocitoma pilomixóide - 2 - - 2
Glioblastoma - - - 2 2
Xantoastrocitoma Pleomórfico - 1 - - 1
Tumor da região selar
Craniofaringeoma 2 - - - 2
Tumores ependimais
Ependimoma - 4 - - 4
Ependimoma anaplásico - - 2 - 2
Ependimoma mixopapilar 1 - - - 1
Tumores neuronais e neuronais-gliais
Ganglioglioma - 1 - - 1
Neurocitoma 1 - - - 1
Tumores meníngeos
Hemangioblastoma - 1 - - 1
Tumores embrionários
Meduloblastoma - - - 17 17
Meduloepitelioma - - - 1 1
- - - - -
Tumores oligoastrocíticos
Oligoastrocitoma - - 1 - 1
Oligodendroglioma - 3 - - 3
Tumores pineais
Pineoblastoma - - - 1 1
Obs.: Excluído 1 tumor embrionário que não realizou imunohistoquímica e 11 tumores de tronco cerebral
inoperáveis que não realizaram biópsia.
58
A grande maioria dos tumores sólidos, 8 de 9 grupos de diagnóstico, apresentou
a extensão clínica da doença na forma não localizada (Tabela 20).
Tabela 20 - Distribuição dos casos de tumores sólidos segundo o grupo de diagnóstico
e a extensão clínica, de pacientes de 0 a 19 anos atendidos no Hospital de Câncer do
Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Grupo de diagnóstico de neoplasia maligna
Extensão clínica da doença
Total localizado não localizado
n % n %
II. Linfomas e tumores reticuloendoteliais
(3 ignorados) 39 36,11 69 63,89 108
IV. Tumores do Sistema Nervoso simpático
(1 ignorado) 2 8,33 22 91,67 24
V. Retinoblastoma
(2 ignorados) 2 25,00 6 75,00 8
VI. Tumores renais
(2 ignorados) 19 44,19 24 55,81 43
VII. Tumores hepáticos 1 50,00 1 50,00 2
VIII. Tumores ósseos
(18 ignorados) 6 26,09 17 73,91 23
IX. Sarcomas de partes moles
(6 ignorados) 12 22,22 42 77,78 54
X. Tumor de células germinativas
(2 ignorados) 10 43,48 13 56,52 23
XI. Carcinomas
(2 ignorados) 10 43,48 13 56,52 23
Total 101 207 308
59
A estatística descritiva dos intervalos de tempo em dias, entre as datas
analisadas encontram listadas na tabela 21.
A maioria dos casos de neoplasias malignas teve tempo entre data do
diagnóstico e início do tratamento menor que 60 dias.
Tabela 21 - Estatística descritiva de intervalo de tempo entre datas-chave de casos de
neoplasias malignas. Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Primeiros
sintomas
e primeira
consulta
Primeiros
sintomas
e diagnóstico
Primeiros
sintomas
e início de
tratamento
Diagnóstico
e início de
tratamento
Primeira
consulta
e diagnóstico*
Diagnóstico
e início de
tratamento*
Número 620 614 591 616 357 471
Ignorados 38 44 67 42 - -
Média 190,43 111,92 130,56 11,21 12,20 10,88
Mediana 48,50 43,00 51,00 4,00 5,00 5,00
Mínimo 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
Máximo 3.658 3.211 3.239 722 361 194
Desvio
padrão 439,71 243,27 250,95
33,68 28,35 17,27
Obs: *Excluídos destes cálculos os casos que chegaram ao hospital com diagnóstico prévio ou que
realizaram tratamento oncológico prévio à primeira consulta.
A principal modalidade terapêutica recebida pelos casos de neoplasia maligna
foi de quimioterapia isolada ou combinada (59,76%). O transplante de medula óssea
(TMO) foi realizado em cinco (0,51%) dos pacientes (Tabela 22). O Hospital de
Câncer encaminhou quatro dos cinco pacientes para TMO, para centros de referência
fora do estado, e um caso foi de paciente que realizou todo tratamento oncológico em
outro estado, fazia acompanhamento clínico no Hospital de Câncer.
60
Tabela 22 - Distribuição de modalidades terapêuticas em casos de neoplasias malignas
(n=658), de pacientes de 0 a 19 anos atendidos no Hospital de Câncer, 2002-2012.
Tipo de tratamento Frequência cumulativa
n %
Só QT (n=336) + QT combinada com outro tratamento (n=246) 582 59,76
Só cirurgia (n=46) + cirurgia combinada com outros tratamentos
(n=168) 214 21,97
Só RT (n=2) + RT combinada (n=150) 152 15,61
TMO + combinada com outros tratamentos 5 0,51
Outros tratamentos combinados 5 0,51
1,64 Sem indicação de intervenção terapêutica 16
Total 974 100
QT= quimioterapia; RT=radioterapia; TMO= Transplante de Medula Óssea.
Obs.: Excluídos 8 casos sem informação.
Observou-se que 82,14% (n=538) dos pacientes realizaram alguma modalidade
terapêutica oncológica no Hospital de Câncer, 55,42% (n=363) realizaram tratamento
exclusivamente no Hospital de Câncer. Realizaram tratamento oncológico em outros
hospitais e foram encaminhados para seguimento no Hospital de Câncer 14,65%
(n=96) dos casos (Tabela 23).
Tabela 23 - Distribuição de local de tratamento de casos de neoplasias malignas
(n=658), de pacientes de 0 a 19 anos atendidos no Hospital de Câncer, 2002-2012.
Local do tratamento oncológico Frequência cumulativa
n %
Hospital de Câncer exclusivo (n=363) + outro hospital/MT
(n=109) + outro estado (n=66) 538 82,14
Hospital de Câncer + outro hospital/MT + outro estado 8 1,22
Só em outro hospital/MT
(Faz acompanhamento clínico no Hospital de Câncer) 48 7,33
Outro estado (n=45) + outro estado e outro hospital/MT (n=3)
(Faz acompanhamento clínico no Hospital de Câncer) 48 7,33
Sem indicação de intervenção terapêutica 13 1,98
Total 655 100
Obs.: Foram excluídos 3 casos sem informação.
61
A maioria (80,53%) dos casos analisados não apresentou recidiva durante o
período de seguimento. Embora não descritos em Tabela, 72 casos apresentaram
progressão da doença (Tabela 24).
Tabela 24 - Distribuição de recidiva de casos de neoplasias malignas (n=647), de
pacientes de 0 a 19 anos atendidos no Hospital de Câncer, 2002-2012.
Recidiva n %
Sim 126 19,47
Não 521 80,53
Total 647 100
Obs.: Foram excluídos 11 casos por perda de seguimento.
No final do período estudado, na maioria (56,62%) dos casos de neoplasias
malignas, os pacientes encontravam-se vivos sem câncer e 34,70% tinham ido ao óbito
com câncer (Tabela 25).
Tabela 25 - Distribuição da evolução dos casos de neoplasias malignas em dezembro
de 2012, de pacientes de 0 a 19 anos atendidos no Hospital de Câncer, 2002-2012.
Evolução n %
Vivo sem câncer 359 56,62
Vivo com câncer 28 4,42
Vivo sem especificação 1 0,16
Óbito com câncer 220 34,70
Óbito sem câncer 20 3,15
Óbito sem especificação 6 0,95
Total 634 100
Obs.: Foram excluídos 24 casos sem informação, por perda de seguimento.
62
5 DISCUSSÃO
O tema câncer, na faixa etária de crianças e adolescentes, é de extrema
relevância, já que neoplasias representam uma das dez principais causas de morte no
Brasil e regiões na população entre 0 e 19 anos de idade (BRASIL 2014a).
No período estudado, foram analisados 658 casos de neoplasias malignas
ocorridas em crianças e adolescentes matriculados no Hospital de Câncer de Mato
Grosso, com uma média aproximada de 60 casos por ano. Em 2002, observou-se
registro de 78 casos no Hospital de Câncer, provavelmente por migração de pacientes
de outro hospital privado da capital, que também possuía atendimento em oncologia
pediátrica. Devido à sua condição de hospital filantrópico, com maior número de leitos
disponíveis para pacientes do SUS, houve a possibilidade de atendimento a maior
número de pacientes em uma mesma instituição. Em 2001, a pesquisadora principal
deste estudo, iniciou atendimento no Hospital de Câncer de Mato Grosso e, observou
que crianças e adolescentes portadores de câncer eram internados para tratamento
antineoplásico em diversos hospitais não especializados para o tratamento de Câncer
em Cuiabá, capital do estado, e Várzea Grande, cidade vizinha.
Na experiência da pesquisadora, antes da organização do serviço
multidisciplinar de pediatria no Hospital de Câncer, ocorriam internações de crianças
e adolescentes com câncer em até sete diferentes hospitais em Cuiabá e Várzea Grande,
pois realizou avaliação de pedidos de parecer nesses locais no mesmo dia.
Entre 2005 e 2006 ocorreu queda de 23,5% no registro de casos no Hospital de
Câncer (de 51 para 39 casos), provavelmente por aumento na oferta do número de
leitos em oncologia pediátrica na rede SUS na capital nesse período. De 2007 a 2012
o número de registro de casos permaneceu com média próxima a 60 casos por ano
(59,82 casos registrados por ano). Embora o Hospital de Câncer seja referência para o
tratamento de neoplasias no estado, como ele não possui UTI Pediátrica desde a sua
fundação, pacientes do próprio hospital são encaminhados para tratamento intensivo,
quando necessário, em UTIs de outros hospitais. Pacientes portadores de neoplasia
maligna internados em outros hospitais também são acompanhados pela equipe do
Hospital de Câncer com orientação da pesquisadora principal, quando solicitada.
63
Neste estudo, dos 658 casos analisados, aproximadamente a metade foi
diagnosticada no próprio Hospital e 73,7% não tinha tratamento prévio. Cerca de um
quarto dos casos tinha diagnóstico e tratamento oncológico prévios, mostrando a
importância da prestação de serviço à população atendida. Além disso, observou-se
que cerca de 10% dos casos eram provenientes de outros estados, dado que necessita
de mais estudos para compreensão do motivo pelo qual esses casos não foram
atendidos em seu próprio estado, o que encarece custos ao estado que prestou esse
atendimento.
O Hospital Erasto Gaertner (HEG) atendeu 1.256 casos de neoplasias malignas
em menores de 19 anos de idade entre 2000 e 2004. Destes, 68,7% foram admitidos
ao hospital sem ter realizado tratamento, 29,5% vieram com diagnóstico e com
tratamento e 1,7% chegaram sem diagnóstico mas com algum tipo de tratamento
(LIGA PARANAENSE DE COMBATE AO CÂNCER, 2004).
No Hospital Amaral Carvalho, referência em tratamento de câncer em Jaú,
interior do estado de São Paulo, segundo dados do RHC, entre 1996 e 1999, foram
admitidos 235 pacientes com idade inferior a 19 anos. Dos casos relatados, 26%
chegaram ao hospital sem diagnóstico e sem tratamento prévios, 37% chegaram ao
hospital com diagnóstico e sem tratamento, e 37% chegaram ao hospital com
diagnóstico e com tratamento prévio. Ainda no mesmo hospital, entre 2000 e 2004,
foram admitidos 459 pacientes com idade inferior a 19 anos. Dos casos relatados,
47,9% chegaram ao hospital sem diagnóstico e sem tratamento prévios, 20% chegaram
ao hospital com diagnóstico e sem tratamento, e 31,2% chegaram ao hospital com
diagnóstico e com tratamento prévio (SEGALLA et al, 2005).
No Hospital de Câncer de Mato Grosso, 73,70% dos casos em estudo (n=485)
chegaram ao hospital sem qualquer modalidade de tratamento oncológico prévio,
frequência próxima mas pouco maior que a apresentada pelo HEG (68,7%) e ao
Hospital Amaral Carvalho no período de 2000 a 2004 (67,9%). Também foi
semelhante a frequência de casos com tratamento prévio: 26,3% no Hospital de Câncer
de Mato Grosso, 29,5% no HEG e 31,2% no Hospital Amaral Carvalho de 2000 a
2004. Isto mostra que existe mobilidade entre pacientes portadores de neoplasias com
encaminhamento para outros hospitais de referência. Pacientes iniciam o tratamento
oncológico em uma instituição e continuam seu tratamento ou seguimento em outro
64
local, o que ocorreu em cerca de um quarto das crianças e adolescentes atendidos nas
três instituições (LIGA PARANAENSE DE COMBATE AO CÂNCER, 2004),
(SEGALLA et al, 2005).
No Hospital de Câncer, no presente estudo, as principais queixas relatadas
pelos responsáveis que os levaram a procurar atendimento médico foram semelhantes
a sinais e sintomas relatados na literatura consultada. De 30 diferentes sinais e sintomas
relatados, febre, dor de qualquer tipo ou localização e palidez, agrupados,
corresponderam a 59,5% das queixas.
Segundo KILBURN et al. (2011), a apresentação da queixa da criança enferma
ao médico ou profissional assistente deve ser levada em consideração de maneira
relevante dentro de sua faixa etária, pois existem importantes diferenças de diagnóstico
diferencial de acordo com cada idade. Normalmente os médicos não consideram a
possibilidade de diagnóstico de câncer. Embora a incidência de câncer seja baixa na
faixa etária pediátrica, deve existir alto grau de suspeição por parte dos profissionais
de saúde. Os sinais e sintomas mais comuns relatados pelo autor foram febre,
linfadenopatia, dor, sangramentos, e sintomas decorrentes de massa torácica
intracraniana e abdominal. Semelhante aos casos relatados no Hospital de Câncer,
febre também foi o sintoma mais frequente, dor em 2º lugar no Hospital de Câncer,
no estudo relatado aparece em 3º lugar, e anemia ou palidez não são relatados no
estudo, porém referem citopenias. KILBURN et al. (2011) relatam em 2º lugar
linfadenopatia, o que no presente trabalho descreveu-se em alguns casos como
“nódulo, ou tumor local”. Os autores referem que cerca de 10% dos casos de febre de
origem obscura são decorrentes de doenças malignas. Estudos relatam dor como um
dos sintomas em mais da metade dos casos de câncer em adultos jovens. Ainda
anormalidades mais comuns encontradas no sangue periférico são citopenias,
leucocitose e plaquetopenia.
BORGES et al. (2009) realizaram estudo descritivo analítico com análise de 71
prontuários de crianças e adolescentes do sexo feminino em um serviço de clínicas
pediátricas em Jundiaí, de 1995 a 2006. A população de estudo abrange Jundiaí e
região, com quase um milhão de habitantes. A estimativa de câncer pediátrico para
pacientes do sexo feminino em 2006 variou de 10 a 39 casos, tendo como base a taxa
de 1% a 4% do total de neoplasias. Relataram sinais e sintomas clínicos que motivaram
65
pacientes do sexo feminino, e encontraram os três principais correspondendo a dor
óssea (23,95%, n=17), anemia (22,5%, n=16), e febre (16,9%, n=12). Juntos
corresponderam a 63,3% dos sintomas. Semelhante ao relatado no Hospital de Câncer,
febre, dor e anemia foram os sintomas mais frequentes, e os três juntos correspondem
a 61,25% dos sintomas. Porém quanto à ordem de frequência, febre aparece em 1º
lugar, seguido dor de diversas localizações e depois anemia. O número de casos de
BORGES et al. (2009) corresponde a cerca de 10% do Hospital de Câncer, e sua
população é de adolescentes do sexo feminino; os tumores mais frequentes também
foram leucemias, linfomas e tumores do sistema nervoso central. Outros sintomas
descritos neste trabalho foram “manchas roxas/hemorragias”, adenomegalias,
artrite/artralgia, dor abdominal, perda de peso, aumento de volume abdominal,
cefaleia, náuseas e vômitos.
Foi encontrada no estudo história familiar positiva de câncer em 43,44% nos
portadores de neoplasia maligna. Segundo STILLER (2004), o câncer na infância é
raro em todo o mundo, e a incidência anual em crianças de 0 a 14 anos é geralmente
entre 70 e 160 por milhão. Variações são vistas nas populações para determinados
tipos de tumor, e algumas das maiores variações são geográfica e são atribuíveis a
fatores ambientais. É provável que variações em relação a fatores étnicos sejam
marcadores de predisposição genética. Várias síndromes genéticas são associadas a
um risco aumentado de câncer infantil, e o aumento de risco de câncer entre parentes
de primeiro grau pode ser explicado por conhecidas síndromes hereditárias.
PLON e MALKIN (2011) referem que é pequena a proporção de câncer na
infância que tem componente hereditário. A alteração genética pode ter sido passada
à criança por um dos pais ou pode ter ocorrido uma nova mutação em uma célula
germinativa antes da fertilização. Portanto, a criança pode ter predisposição hereditária
ao câncer apesar de história familiar negativa. Existem tipos de tumores com 40% a
80% de componente hereditário, porém correspondem à minoria dos tumores na
infância. Os tipos de câncer pediátricos mais comuns possuem as menores frações
hereditárias.
No atual estudo, não foi aprofundado o histórico de câncer na família, mas
quase a metade dos casos tinha história familiar positiva, o que aponta a necessidade
66
de mais estudos para verificar que tipos de neoplasias apresentavam história familiar
positiva e se estão associados a algum fator de risco.
Em relação ao sexo, a distribuição da população estudada foi semelhante à
literatura, com predomínio do sexo masculino (53,67%) em relação ao feminino
(46,18%), numa razão de sexo de 1,2.
PARKIN et al. (1988a) descreveram o predomínio de incidência do sexo
masculino sobre o feminino na maioria dos registros de cerca de 50 países participantes
do estudo. PARKIN et al. (1998a) descrevem o predomínio de incidência do sexo
masculino sobre o feminino na maioria dos registros de 60 países participantes do
estudo. Ambos os estudos são referentes a populações de 0 a 14 anos, para todos os
grupos de diagnósticos agrupados.
Segundo RIES et al. (1999), no programa americano SEER, a incidência de
câncer para todos os grupos de diagnóstico combinados foi maior para o sexo
masculino que para o sexo feminino em 21 anos de análise (1975 a 1995). LI et al.
(2008), nos Estados Unidos, de 2001 a 2003, observaram que a taxa de incidência para
o sexo masculino foi significativamente maior que a incidência para o sexo feminino
(174,28 por milhão e 157,14 por milhão respectivamente). SCHEURER et al. (2011)
descrevem dados do mesmo programa, de 1992 a 2006, com razão de incidência de
1,1 entre o sexo masculino e feminino. O programa SEER, segundo LI et al. (2008)
teve abrangência de mais de mais de 90% da população americana, identificando
diagnóstico de câncer em pessoas de 0 e 19 anos.
STELIAROVA-FOUCHER et al. (2004) descreveram maior incidência para o
sexo masculino em relação ao feminino em todas as faixas etárias, de 0 a 19 anos de
idade. Dados do projeto ACCIS, referente a 63 RCBP na Europa, no período de 1970
a 1999. KAATSCH (2010) descreveu dados do Registro Alemão de Câncer na
Infância, acerca da população de 0 a 14 anos, de 1998 a 2007: razão de 1,2 entre as
incidências do sexo masculino e feminino.
WIANGNON et al. (2011) analisou dados de crianças de 0 a 15 anos de 18
centros de tratamento na Tailândia durante 2003 a 2005. Na maioria dos grupos de
diagnóstico, sem distinção entre faixas etárias, houve predomínio do sexo masculino.
BRASIL (2008b) apresenta dados de 20 RCBP brasileiros, incluindo Cuiabá e
Várzea Grande, em diferentes períodos (de 1991 a 2004), acerca da população de 0 a
67
19 anos. Na maioria dos registros houve predomínio de incidência para o sexo
masculino, exceto em Fortaleza (1,05 (0,95:1).
BRAGA et al. (2002) descreveram estudo realizado com o RCBP de Goiânia,
de 1989 a 1996, juntamente com outros 24 RCBP do mundo. Neste estudo, diferente
da grande maioria de trabalhos descritos, descreve maior incidência no sexo feminino
(126,0 por milhão) em relação ao sexo masculino (119,0 por milhão), na população
menor de 15 anos.
SILVA et al. (2002) descreveram a análise de um registro hospitalar de câncer
brasileiro em período de 5 anos (1994 a 1998), em estudo observacional, descritivo,
longitudinal em 371 crianças e adolescentes até 14 anos. A casuística analisada foi de
55,8% crianças do sexo masculino e 44.2% do sexo feminino.
No Hospital Amaral Carvalho, em dados do Registro Hospitalar de Câncer
(RHC) de 1996 a 1999 de 2000 a 2004, para os casos analíticos, houve o predomínio
do sexo masculino, semelhante ao Hospital de Câncer de Mato Grosso (SEGALLA et
al, 2005).
No HEG, em dados do RHC de 1990 a 2002, para os casos analíticos, dos 880
pacientes pediátricos, considerados menores de 15 anos, houve predomínio do sexo
masculino (60%) e também para os 377 adolescentes, considerados de 15 a 19 anos,
53,8% eram do sexo masculino, semelhante ao observado no Hospital de Câncer de
Mato Grosso tanto em crianças como nos adolescentes (LIGA PARANAENSE DE
COMBATE AO CÂNCER, 2004).
Em Cuiabá e Várzea Grande, de 0 a 18 anos, de 2000 a 2003, a taxa de
incidência para todos os tipos de neoplasias malignas foi de 185.04 por milhão para o
sexo masculino e 153,10 por milhão para o sexo feminino (BRASIL, 2008b). Esta
publicação descreveu, ainda, que no Brasil, para o sexo masculino, a maior taxa média
de incidência de leucemias ajustada por idade foi observada em Cuiabá, com 90,6
casos por milhão, enquanto que a menor taxa foi observada em Salvador (1998-2002),
com 25,5 por milhão. Como descrito, a frequência de casos de câncer por sexo
encontrada no Hospital de Câncer no período estudado corresponde a dados de
incidência por sexo na maioria dos estudos de RCBP no mundo.
A frequência de neoplasias na faixa etária de 0 a 9 anos foi maior que na faixa
etária de 10 a 19 anos (1,5:1). A maior frequência em crianças ocorreu em quase todos
68
os tipos de neoplasias, exceto tumores ósseos malignos e neoplasias de células
germinativas, trofoblásticas e outras gonadais que predominaram nos adolescentes de
14-19 anos.
Segundo RIES et al. (1999), em relação ao programa americano SEER, a
incidência de câncer para todos os grupos de diagnóstico combinados foi maior no
grupo de 15 a 19 anos de idade no período de 1975 a 1995. SCHEURER et al. (2011)
descreveram dados também do programa SEER, de 1992 a 2006, com predomínio de
incidência da câncer no grupo de 15 a 19 anos sobre o grupo de menores de 15 anos.
LI et al. (2008), referente ao mesmo programa, relataram diferença significativamente
menor na incidência de crianças (considerados menores de 14 anos) em relação aos
adolescentes (de 15 a 19 anos), no período de 2001 a 2003. Estes dados referem-se a
registros de câncer de base populacional, com predomínio de casos entre adolescentes,
diferente do relatado no Hospital de Câncer
STELIAROVA-FOUCHER et al. (2004) descreveram maior incidência de
câncer na faixa etária de 0 a 14 anos, em população de 0 a 19 anos. Os dados são
referentes ao projeto ACCIS, de 1970 a 1999. PRITCHARD-JONES et al. (2006),
também em relação ao projeto ACCIS, de 1988 a 1997, descreveram maior incidência
em adolescentes (15-19 anos) em relação às crianças.
CAMARGO et al. (2010) relataram que crianças de 1 a 4 anos tiveram as mais
altas taxas de incidência de câncer em população de menores de 19 anos, em estudo
de 14 RCBP brasileiros, em períodos variáveis (de 1991 a 2004). Esta população
correspondeu a 15% de crianças e adolescentes no Brasil, no período.
O RHC do Hospital Erasto Gaertner registrou 1256 casos de câncer admitidos
no período de Janeiro de 1990 a Dezembro de 2002. Destes, 632 foram casos de
tumores em pacientes menores de 10 anos, e 624 casos de tumores em pacientes de 10
a 19 anos, representando praticamente metade dos casos em cada faixa etária (LIGA
PARANAENSE DE COMBATE AO CÂNCER, 2004). No Hospital de Câncer de
Mato Grosso houve predomínio de casos na população de menores de 10 anos de idade
(60,7%).
Em relação à idade, no Hospital de Câncer, a média de idade no grupo de
crianças (0 a 9 anos) foi de 4,82 anos, e a média de idade no grupo de adolescentes (10
69
a 19 anos) foi de 14,38 anos. Em ambos os grupos, média e mediana são bastante
próximos.
O Registro Hospitalar de Câncer do Hospital Amaral Carvalho descreve a
distribuição dos casos como bimodal, com a primeira moda aos 3 anos e idade e a
segunda após os 12 anos, para os anos de 1996 a 1999; e no segundo per[iodo estudado,
de 2000 a 2004, a primeira moda aos 2 anos e a segunda aos 14 anos de idade
(SEGALLA et al, 2005).
WIANGNON et al. (2011) descreveram média de incidência de câncer de 6,5
anos, e mediana de 5 anos (dados de crianças de 0 a 15 anos de 18 centros de tratamento
na Tailândia durante 2003 a 2005). O pico de incidência foi entre 1 e 4 anos de idade.
Quanto à raça/cor, no Hospital de Câncer, negros apresentaram maior
frequência que brancos (49,25% negros e 46,10% brancos).
RIES et al. (1999) descrevem maior incidência de câncer em brancos que em
negros para todos os grupos de diagnóstico combinados, de 1975 a 1995, no programa
americano SEER. SCHEURER et al. (2011) relatou que, segundo dados do mesmo
programa, de 1992 a 2006, para crianças e adolescentes a incidência de câncer entre
brancos foi 40% maior em crianças brancas que em crianças negras. LI et al. (2008)
relataram que pacientes de cor branca tiveram mais alta taxa de incidência entre todos
os tipos de câncer na população americana de 0 a 19 anos de 2002-2003, também no
programa SEER.
SILVA et al. (2002) relataram 98,7% de crianças de cor branca e 1,3% de
raça/cor negra em análise de um RHC de 1994 a 1998. O local de estudo é o estado de
Santa Catarina, região sul do Brasil, onde a população é predominantemente de origem
européia, o que explica a quase totalidade da raça/cor branca. Diferente da distribuição
da população na região centro-oeste.
Em relação à renda, observou-se no grupo estudado que tanto a média quanto
a mediana dos pacientes portadores de neoplasias malignas atendidos no Hospital de
Câncer encontram-se abaixo da linha de pobreza. Em relação à renda familiar, por
definição, linha de pobreza foi estabelecida no Brasil em ½ salário-mínimo de renda
familiar per capita considerando o rendimento nominal mensal domiciliar. Deste
modo, qualquer pessoa residente em domicílios com rendimento menor ou igual a esse
valor é considerada de baixa renda (NUNES et al., 2001). Tal característica social tem
70
reflexo nas condições de nutrição, condições sanitárias da habitação, maior risco de
adoecimento por patologias infecto-parasitárias, menor acesso ao atendimento básico
de saúde e por conseguinte maior morbidade nesta população.
O Hospital de Câncer de Mato Grosso também atendeu no período do estudo
famílias com renda per capita próximas de até 4,5 salários mínimos e cerca de 5% de
mães e pais possuíam grau de escolaridade superior completo e pós-graduação. A
instituição possui equipe multidisciplinar em oncologia pediátrica desde 2002 e suas
instalações são adequadas para atendimento de pacientes em faixas etárias de crianças
e adolescentes. O Hospital atende predominantemente pacientes procedentes do SUS,
e recebe apoio de organizações não governamentais bem como de extensa rede de
voluntariado local, devido à sua característica de filantropia. Deste modo, famílias com
maior condição sócio econômica são atraídas para atendimento no Hospital, devido à
experiência adquirida no atendimento a esta população pelos seus profissionais no
atendimento a pacientes pediátricos e adolescentes.
SMITH et al. (2006), em estudo caso-controle, de crianças entre 0 e 14 anos no
Reino Unido, com novo diagnóstico de câncer entre 1991 e 1996, observaram que na
população estudada, a situação socioeconômica não foi um fator determinante da
incidência de LLA em crianças. Não foram observadas diferenças nas medidas de
privação entre casos e controles no momento do diagnóstico, seja para todos os tipos
de câncer combinados seja para a LLA. Não foram observadas diferenças entre casos
e controles acerca da classe social baseado em ocupação no pai no momento do
nascimento.
PAN et al. (2010) realizaram estudo com dados do programa SEER, que incluiu
17 RCBP em 11 estados americanos, três regiões metropolitanas e uma rural,
representando 26,2% da população americana. Para leucemias, observaram que
municípios pobres tiveram maior taxa de incidência que municípios em ascensão em
relação à população branca, mas menores taxas para negros. Em municípios que foram
definidos como média e grande pobreza as taxas de incidência ajustadas por idade
foram menores que em municípios de baixa pobreza para tumores de sistema nervoso
central, neuroblastoma, tumores renais e outras neoplasmas malignas epiteliais e
melanomas malignos. Na estratificação por raça/cor, essas associações foram
observadas entre brancos, mas não negros.
71
Em uma revisão sistemática, em dez línguas, foram analisados 37 estudos que
relacionaram sobrevida com subgrupos socioeconômicos em 2012 (GUPTA et al.,
2014). A maioria das associações foram estatisticamente significativas entre baixa
situação socioeconômica e pior sobrevida.
RIBEIRO et al. (2007) relataram maior diminuição na mortalidade por
leucemias em estados brasileiros que tinham melhores condições socioeconômicas. O
presente estudo não tem como objetivo avaliar mortalidade, mas mostra que existem
importantes fatores econômicos desfavoráveis na população estudada.
Segundo KELLIE e HOWARD (2008), 80% das crianças vivem em países de
baixa e média renda, 200.000 crianças têm diagnóstico de câncer a cada ano e têm
acesso limitado ao tratamento curativo. Os autores sugerem que parcerias
internacionais podem contribuir positivamente para o tratamento de patologias
potencialmente curáveis e tais esforços complementares à saúde pública devem ser
incentivados.
Quanto à escolaridade dos pais, as porcentagens de graus superior incompleto,
superior completo e pós-graduação foram maiores para as mães (somadas
correspondem a 7,27%) em comparação com os mesmos graus para os pais
(porcentagens somadas correspondem a 5,82%). Enquanto que a porcentagem de
analfabetismo entre os pais (1,94%) foi maior em comparação com o analfabetismo
entre as mães (0,81%), e a porcentagem de informações ignoradas foi semelhante entre
mães e pais (24,47% para escolaridade materna e 29,13% para escolaridade paterna).
Na Noruega, foi estimada mortalidade por todas as causas durante os primeiros
10 anos após o diagnóstico de câncer para 6280 crianças norueguesas menores de 20
anos com diagnóstico durante 1974 e 2007, utilizando dados de cinco registros
nacionais. A mortalidade foi reduzida em cerca de 15% nas crianças com mães e
crianças altamente educados sem irmãos. Estes efeitos foram mais pronunciados para
os tipos de câncer previstos com tratamentos mais longos e intensos, que pudessem
levar a problemas de saúde crônicos. Neste estudo a renda não afetou a sobrevida da
população estudada. Os autores concluíram que limitações de tempo e recompensas
não econômicas aos pais por sua educação parece ter impacto na sobrevida do câncer
infantil (SYSE et al., 2012).
72
Estudos posteriores poderão ser realizados para análise do seguimento dos
pacientes atendidos, a partir dos dados observados em relação ao perfil econômico e
escolaridade dos pais,
Os três principais tipos de câncer encontrados no Hospital de Câncer foram as
leucemias (36,32%), seguidos dos linfomas e neoplasias reticuloendoteliais (16,87%)
e tumores do sistema nervoso central (11,40%). Juntos representam 64,62% dos casos.
Embora o Hospital de Câncer não seja referência para neurocirurgia no estado,
crianças e adolescentes com diagnóstico deste tipo de tumores são encaminhados para
seguimento clínico após realização do tratamento cirúrgico.
A maioria dos grupos de diagnóstico nas três regiões de saúde de maior
ocorrência foram: na Baixada Cuiabana, 66,52% de todas as neoplasias foram
leucemias, linfomas e neoplasias reticuloendoteliais e tumores do SNC; na região de
saúde de Rondonópolis, 76,08% de todas as neoplasias foram leucemias, linfomas,
tumores renais e sarcomas de partes moles; e na região de Sinop, 68,42% de todas as
neoplasias forma leucemias, linfomas e sarcomas de partes moles
Sobre tradicionais estudos de RCBP de abrangência mundial: PARKIN et al.
(1988b) relataram dados de RCBP de mais de 50 países dos cinco continentes, com
pacientes entre 0 e 14 anos de idade. Cada registro deveria possuir pelo menos 200
casos. Neste trabalho, do Brasil, participaram os RCBP de São Paulo (crianças
menores de 1 ano e de 1 a 4 anos, de 1969 a 1978), Recife (crianças de 5 a 9 anos,
1967-1977) e Fortaleza (crianças de 10 a 14 anos, de 1978 a 1980): a maior incidência
foram as leucemias nestes grupos etários (MIRRA et al., 1988; CARVALHO, 1988;
SILVA, 1988). Em seu segundo trabalho, PARKIN e KRAMÁROVÁ (1998)
descreveram dados de 60 diferentes países. Deste segundo volume participaram os
RCBP de Goiânia de 1989 a 1994, e de Belém de 1987 a 1991 – nestes relatos as
leucemias foram a primeira incidência para todas as idades, em segundo lugar os
linfomas para o sexo masculino e em terceiro lugar os tumores de sistema nervoso
central (CURADO et al., 1998; MADEIRA NETO et al., 1998).
Segundo RIES et al. (1999), no programa SEER, os grupos de diagnósticos
mais incidentes foram as leucemias, seguidas dos tumores do sistema nervoso central
e linfomas, na população de 0 a 19 anos de idade no período de 1975 a 1995.
SCHEURER et al. (2011) descreveram o predomínio de incidência de leucemias,
73
seguidas dos linfomas e depois dos tumores de sistema nervoso central, na população
de 0 a 19 anos, dados também do programa SEER, de 1992 a 2006. LI et al. (2008)
descrevem também dados do programa SEER, de 2001 a 2003, onde as leucemias
foram o tipo mais comum de câncer (26,25%), sendo que a LLA foi o tipo mais comum
(72,53% para o sexo feminino e 69,73% para o sexo masculino, entre as leucemias).
Os tumores do sistema nervoso central foram o segundo grupo mais comum (17,57%),
e os linfomas o terceiro grupo mais comum (14,57%). Juntos corresponderam a quase
60% dos tipos de neoplasias encontradas.
STELIAROVA-FOUCHER et al. (2004) descreveram maior incidência de
leucemias, seguidas de linfomas e tumores do sistema nervoso central na população
de 0 a 19 anos – dados referentes ao projeto ACCIS, de 1970 a 1999. PRITCHARD-
JONES et al. (2006), também em relação ao projeto ACCIS, de 1988 a 1997,
descreveram maior incidência de leucemias, seguidas de tumores do sistema nervoso
central e linfomas. KAATSCH (2010) descreveu maior incidência de leucemias,
seguidas de tumores do sistema nervoso central e linfomas no Registro Alemão de
Câncer na Infância, na população de 0 a 14 anos, de 1998 a 2007.
WIANGNON et al. (2011) descreveram maior incidência de leucemias,
seguidas de linfomas e tumores do sistema nervoso central (dados de crianças de 0 a
15 anos em 18 centros de tratamento na Tailândia durante 2003 a 2005).
CAMARGO et al. (2010) relataram maior incidência de leucemias, seguidas
de linfomas e tumores do sistema nervoso central em estudo de 14 RCBP brasileiros,
em menores de 19 anos de idade, em períodos variáveis (de 1991 a 2004)
REIS et al. (2007) realizaram estudo com dados de 17 RCBP brasileiros, em
período de 2001 a 2001, referente a 17 capitais, em menores de 19 anos de idade.
Observaram que a leucemia destacou-se como neoplasia mais comum variando entre
15% em Belo Horizonte e 50% em Palmas.
CURVO et al. (2013) relataram, em Mato Grosso, entre menores de 15 anos, a
incidência de 35,27% de leucemias, 15,43% de linfomas e 14,03% de tumores do SNC
e neoplasias intracranianas e intraespinhais.
No presente estudo, as leucemias corresponderam à neoplasia mais frequente
em todas as faixas etárias, exceto em menores de 1 ano. Neste grupo os tumores mais
74
frequentes foram os renais, em segundo lugar as leucemias e em terceiro os tumores
do sistema nervoso simpático.
Chama a atenção a ausência de retinoblastoma no grupo de menores de 1 ano,
uma das neoplasias mais frequentes nesta faixa etária na grande maioria dos estudos
internacionais. 10 casos de retinoblastoma foram atendidos com idade superior a 1 ano,
4 destes com diagnóstico acima de 5 anos de idade, diagnóstico tardio para esta
patologia na população estudada. Segundo HURWITZ et al. (2011), cerca de 80% dos
casos de retinoblastoma são diagnosticados antes dos 3 ou 4 anos de idade (mediana
de idade ao diagnóstico de 2 anos). Conforme os autores, diagnóstico com idade ao
redor de 6 anos é raro.
Nos maiores de 1 ano, linfomas e neoplasias reticuloendoteliais
corresponderam à segunda neoplasia mais frequente em todas as faixas etárias exceto
no grupo de 1 a 4 anos onde o segundo tipo mais frequente foi o de tumores renais e
em terceiro os linfomas. Os tumores de sistema nervoso central foram os terceiros mais
frequentes nas faixas etárias de 5 a 9 e de 15 a 19 anos. No grupo de 10 a 14 anos, o
terceiro tipo mais frequente foi o de tumores ósseos malignos.
Segundo RIES et al. (1999), em relação ao programa americano SEER, as
maiores incidências em menores de 1 ano foram de neuroblastoma, retinoblastoma e
tumor de Wilms. De 15 a 19 anos as maiores incidências foram de tumores de células
germinativas, sarcomas de partes moles e tumores ósseos (1986 a 1994). LI et al.
(2008), também referente ao programa SEER, de 2001 a 2003, relataram
significativamente maior incidência em adolescentes (de 15 a 19 anos) de linfomas,
tumores ósseos malignos, sarcomas de partes moles, tumores de células germinativas
e neoplasias epiteliais. Enquanto que em crianças (0 a 14 anos) foi significativamente
maior a incidência de leucemias, tumores do SNC, neuroblastomas, retinoblastomas,
tumores renais e tumores hepáticos.
KAATSCH (2010) descreveu grande variação de incidência de grupos e
diagnóstico entre as faixas etárias. Nos lactentes os neuroblastomas correspondem a
cerca de um terço das neoplasias, e neuroblastomas, retinoblastomas e nefroblastomas
combinados correspondem a cerca de metade nas neoplasias nesta faixa etária. No
grupo de 1 a 4 anos predominam as leucemias, no grupo de 5 a 9 anos e 10 a 14 anos
as leucemias, tumores do sistema nervoso central e linfomas representam mais de três
75
quartos das neoplasias (Registro Alemão de Câncer na Infância, população de 0 a 14
anos, de 1998 a 2007). Na população de 15 a 19 anos as leucemias e tumores do SNC
foram menos frequentes que nos grupos mais jovens, enquanto que carcinomas e
tumores de células germinativas são mais frequentes nos adolescentes que no grupo de
10 a 14 anos de idade (projeto ACCIS, de 1988 a 1997).
Em um estudo em centro de referência de câncer pediátrico no sudeste do
Brasil, PRESTI et al. (2012) descrevem dados de 2362 pacientes entre 10 e 19 anos
com diagnóstico de câncer no período de 2000 e 2006. A idade média foi de 13,8 anos
e a maioria foi do sexo masculino. Os tipos de tumores mais frequentes foram tumores
do sistema nervoso central, osteossarcoma, linfomas e leucemias.
SILVA et al. (2002) observaram que a neoplasia maligna primária mais
frequente foi a leucemia (36,6%), seguida pelos tumores de sistema nervoso central
(21%) e pelos linfomas e neoplasias reticuloendoteliais (12,9%). Somados
representaram 70,5% dos casos registrados (estudo baseado em um RHC, de 1994 a
1998, na região sul do Brasil).
O Hospital Erasto Gaertner descreve em seu Registro Hospitalar de Câncer que
as neoplasias mais frequentes foram as Leucemias (21,3%), os Linfomas (17,3%) e os
tumores do Sistema Nervoso Central (15,5% ) para os casos pediátricos, até 14 anos
de idade, e para os casos em adolescentes, de 15 a 19 anos de idade, as neoplasias
mais frequentes foram os Linfomas (21,2% ), os Tumores Ósseos (18,8%) e
Carcinomas e Neoplasias Malignas Epiteliais (14,1% ) (LIGA PARANAENSE DE
COMBATE AO CÂNCER, 2004). No Hospital de Câncer, entre os adolescentes, os
Linfomas e Tumores ósseos aparecem em segundo e terceiro lugar respectivamente,
enquanto as leucemias ainda aparecem em primeiro lugar.
O Hospital Amaral Carvalho descreve em seu Registro Hospitalar de Câncer,
para menores de 19 anos de idade, que as neoplasias mais frequentes foram em
primeiro lugar as Leucemias, em segundo lugar os Linfomas e em terceiro lugar os
tumores do Sistema Nervoso Central para os casos pediátricos tanto no período de
1996 a 1999 como no período de 2000 a 2004 (SEGALLA et al, 2005). Tal frequência
é semelhante à distribuição no Hospital de Câncer na mesma faixa etária.
No Hospital de Câncer, no presente estudo, os grupos de diagnósticos mais
frequentes na faixa etária entre 10 e 19 anos, na primeira consulta, foram leucemias,
76
linfomas e neoplasias reticuloendoteliais, tumores ósseos malignos e sarcomas de
partes moles, diferente de outros estudos de registros hospitalares para esta faixa etária.
Chama a atenção o menor número de tumores do sistema nervoso central e tumores
ósseos malignos. Durante todo o período analisado, devido à distribuição de
assistência da rede SUS no estado, o Hospital de Câncer não faz parte da referência
para neurocirurgia tanto em crianças e adolescentes como adultos, bem como não faz
parte da referência para cirurgias ortopédicas, tanto em patologias malignas como
benignas. Em relação aos tumores do sistema nervoso central, pacientes são
encaminhados após a cirurgia diagnóstica ou terapêutica para acompanhamento
clínico, ou para complementação de tratamento com quimioterapia e ou radioterapia.
Quanto aos tumores ósseos malignos, cirurgias conservadoras com implante de endo-
próteses, importante modalidade terapêutica nesta patologia, não podem ser realizadas
no Hospital devido à distribuição da rede credenciada. Também, na experiência do
serviço de pediatria do Hospital de Câncer neste período, não existe disponível em
todo estado o exame complementar de “dosagem sérica de Methotrexate”, importante
droga utilizada no tratamento neoadjuvante e adjuvante do osteossarcoma. Deste
modo, pacientes portadores destes tumores são encaminhados para tratamento em
outros estados da federação via Secretaria Estadual de Saúde e deixam de realizar
tratamento próximo a seus domicílios.
No Hospital de Câncer, no presente estudo, os casos de leucemias, linfomas e
tumores do sistema nervoso simpático predominaram na raça/cor branca. Enquanto
que os casos de tumores do SNC, retinoblastoma, tumores renais, tumores ósseos,
tumores de células germinativas e carcinomas predominaram na raça/cor negra. Houve
distribuição equitativa nos tumores hepáticos e sarcomas de partes moles quanto a
raça/cor.
No programa SEER de 1992 a 2006, na população de 0 a 19 anos, segundo
SCHEURER et al. (2011), em brancos houve predomínio de leucemias, linfomas,
tumores do SNC, neuroblastoma, hepatoblastoma, tumores ósseos malignos, tumores
de células germinativas e carcinomas. Enquanto que em negros houve predomínio de
Retinoblastoma, tumor de Wilms e sarcomas de partes moles.
77
No presente estudo, predominaram no sexo masculino quanto no sexo feminino
os casos de leucemias, linfomas, tumores do sistema nervoso central e sarcomas de
partes moles.
No programa SEER de 1992 a 2006, na população de 0 a 19 anos, segundo
SCHEURER et al. (2011), no sexo masculino houve predomínio de leucemias,
linfomas (exceto linfoma de Hodgkin no grupo de 15 a 19 anos), tumores do SNC,
neuroblastoma, retinoblastoma no grupo de menores de 15 anos, tumores hepáticos,
tumores ósseos malignos, sarcomas de partes moles e tumores de células germinativas
no grupo de 15 a 19 anos. Enquanto que no sexo feminino houve predomínio de
retinoblastoma no grupo de 15 a 19 anos, tumor de Wilms e tumores de células
germinativas no grupo de menores de 15 anos e carcinomas.
Quanto à procedência dos pacientes portadores de neoplasias malignas, houve
registro de populações de 121 dos 141 municípios do estado (85,81%), mostrando
portanto a representatividade do público de todo estado. As três principais regionais
de saúde foram Baixada Cuiabana (36.97%), Rondonópolis (14,98%) e Sinop
(12,38%). A maioria dos casos de neoplasias malignas (64,33%) foi procedente destas
três regiões de saúde, sendo considerados apenas os casos de procedência do estado de
Mato Grosso. Observou-se, ainda que o Hospital de Câncer realizou diagnóstico e
tratamento de casos procedentes de outros estados (n=44, 6,68%), destes a grande
maioria procedente de Rondônia, além de Pará, Mato Grosso Sul, Goiás, Maranhão,
Paraná e Tocantins. Há necessidade de estudos para avaliar os motivos, pois acarreta
gastos públicos para o gestor do estado de Mato Grosso.
No Hospital Erasto Gaertner, quanto a procedência, dados de seu Registro
Hospitalar de Câncer, para o total de pacientes até 19 anos de idade, 51,3% dos
pacientes foram provenientes do interior do Estado do Paraná, 29,1% da grande
Curitiba e 18,7% dos pacientes vieram de outros Estados (LIGA PARANAENSE DE
COMBATE AO CÂNCER, 2004). Semelhante a este Hospital, correspondente à
grande Curitiba, próximo a 30% dos casos de neoplasias malignas até 19 anos de idade
são procedentes da região de saúde da Baixada Cuiabana , e próximo a 50% dos casos
do interior do estado. Porém o Hospital Erasto Gaertner atendeu 3 vezes mais pacientes
procedentes de outros estados da federação (18,7%).
78
No Hospital de Câncer, no presente estudo, leucemias e linfomas foram os
grupos de diagnóstico mais frequentes nas três principais regiões de saúde de
procedência (Baixada Cuiabana, Rondonópolis e Sinop). Tumores do SNC foram o
terceiro grupo mais frequente procedente da Baixada Cuiabana, tumores renais e
sarcomas de partes moles foram o terceiro grupo mais frequente procedente da região
de Rondonópolis, e sarcomas de partes moles o terceiro grupo mais frequente
procedente da região de Sinop.
Um estudo caso-controle brasileiro de base hospitalar, com mães de crianças
com leucemia em 13 estados brasileiros entre 1999 e 2007, investigou a exposição a
pesticidas 3 meses antes da gestação e durante a gravidez e amamentação. Foi
observada associação do uso de pesticidas já durante a gravidez para LLA e LMA em
crianças de 0 a 11 meses de idade, e com LLA crianças de 12 a 23 meses de idade. O
relato de exposição materna à permetrina estimou maiores riscos para crianças de 0 a
11 meses de idade. Exposição materna a pesticidas, relacionada a atividades agrícolas,
conferiui risco maior para todos os tipos de leucemia, mas maior para LMA do que
LLA (FERREIRA et al., 2013).
MUZI et al. (2012) demonstraram risco estatisticamente significativo entre
neoplasias intracranianas e agricultores, em um estudo caso-controle, entre 239
pacientes portadores de tumores cerebrais com idade entre 30 e 65 anos na região
metropolitana do Rio de Janeiro.
BELO et al. (2012) desenvolveram um estudo exploratório descritivo realizado
entre 2008 e 2009 com objetivo de discutir riscos associados ao uso de agrotóxicos na
produção de soja no estado de Mato Grosso. Os autores demonstraram elevado e
crescente uso de agrotóxicos, particularmente o herbicida glifosato. Bem como a
presença de resíduos de diferentes agrotóxicos na análise da água de chuva, o que
amplia o risco para toda a população circunvizinha, além do ambiente de trabalho.
CURVO et al. (2013) observaram que a média de uso de agrotóxicos nos
municípios de Mato Grosso apresentou associação estatisticamente significante tanto
para morbidade por câncer em menores de 20 anos como para mortalidade por câncer
nesta faixa etária, de 2001 a 2005. Mostraram aumento da utilização de agrotóxicos
em Mato Grosso, em litros, no período de 2000 a 2005. Neste estudo descrevem os
municípios que mais utilizaram agrotóxicos de 2001 a 2005, que coincidem com
79
municípios das principais regionais de procedência dos pacientes pediátricos atendidos
no Hospital de Câncer. Os autores descrevem o consumo médio de agrotóxicos em
104 municípios do estado de 2000 a 2006: os cinco maiores foram Campo Novo dos
Parecis, Primavera do Leste, Sorriso, Campo Verde e Lucas do Rio Verde. Estes
municípios, exceto Campo Novo dos Parecis, fazem parte de duas das três principais
regiões de saúde de procedência dos com casos pediátricos atendidos no Hospital de
Câncer no período de estudo, a saber, Sinop e Rondonópolis.
As regiões de saúde de Sinop e Rondonópolis são responsáveis por mais de um
quarto (27,36% - n=168) dos casos de neoplasias malignas atendidos no período do
estudo. Retirando os casos da regional de saúde Baixada Cuiabana, considerada área
de maior concentração urbana, as regionais Sinop e Rondonópolis são responsáveis
por 43,41% dos casos de neoplasias malignas em crianças e adolescentes atendidos no
Hospital de Câncer de 2002 a 2012.
No período do presente estudo, o RCPB estava disponível de 2001 a 2007 para
a capital (registro que inclui Cuiabá e Várzea Grande), e 2001 a 2005 para o interior
do estado. A população de menores de 20 anos atendida no Hospital de Câncer
representou cerca de 45,9% dos casos do RCBP de Cuiabá e interior no período de
2002 a 2005, e representou cerca de 38,16% dos casos registrados em Cuiabá de 2002
a 2007.
Novos estudos são necessários para avaliar a importância dos fatores
ambientais em Mato Grosso relacionados ao câncer na população infanto-juvenil
atendida pelo Hospital de Câncer de Mato Grosso.
Quanto à classificação das leucemias, observou-se predomínio das leucemias
linfóides (86,50%) em relação às não linfóides (12,66%), o que segue o padrão da
literatura consultada (PARKIN et al., 1998a; BRAGA et al., 2002; LI et al., 2008).
Nos registros hospitalares dos hospitais Amaral Carvalho, períodos de 1996 a
1999 e 2000 a 2004 (SEGALLA et al, 2005), e Erasto Gaertner de 1990 a 2002,
também ocorreu predomínio das leucemias linfóides (LIGA PARANAENSE DE
COMBATE AO CÂNCER, 2004).
PRESTI et al. (2012) descrevem análise de 139 casos de tumores do sistema
nervoso central em adolescentes (10 a 19 anos) em um centro de referência no Brasil.
Os subtipos mais frequentes foram astrocitomas, meduloblastomas, craniofaringeomas
80
e tumores de células germinativas. Frequência esta semelhante à do Hospital de
Câncer, onde predominaram também os meduloblastomas, porém em segundo lugar
os astrocitomas.
No Hospital Amaral Carvalho, para a população de menores de 19 anos de
idade nos períodos de 1996 a 1999 e 2000 a 2004, os tumores do sistema nervoso
central mais frequentes foram astrocitomas e tumores neuroectodérmicos primitivos,
que incluem os meduloblastomas (SEGALLA et al, 2005), dados semelhantes aos do
Hospital de Câncer.
No presente estudo detectou-se maior frequência extensão clínica não
localizada na maioria dos linfomas e tumores sólidos. Nos tumores do sistema nervoso
simpático, tumores ósseos malignos e sarcomas de partes moles ocorreram mais de
70% dos casos em extensão clínica não localizada (estádios III e IV). Cabe ressaltar a
estratégia que pode ser aplicada nos programas de diagnóstico precoce. Usualmente
estes programas são desenvolvidos para treinamento de profissionais de saúde ou
destinados à informação de pais (culturalmente ainda são as mães que mais participam
de programas de saúde ou buscam informações na área de saúde). Adolescentes
tendem a buscar independência inclusive no cuidado com o próprio corpo e não
informam alterações corporais discretas até que estas levem a maior incômodo.
Programas devem ser voltados também a esta faixa etária (adolescentes) através dos
meios de comunicação, treinamento em escolas, entre outros, a fim de orientá-los
diretamente acerca de sinais e sintomas de neoplasias e necessidade de buscar
diagnóstico precoce para aumento das taxas de cura.
A LIGA PARANAENSE DE COMBATE AO CÂNCER (2004) descreve, no
período de 1990 a 1999, para a população pediátrica (idade até 14 anos), a frequência
de 53,84% de casos com estádio III e IV, e para a população de adolescentes (de 15 a
19 anos) a frequência de 49,43% de casos com estádio III e IV. Estes dados
demonstram frequência menor de casos avançados nesta população em relação aos
casos atendios pelo Hospital de Câncer.
SILVA et al. (2002) descreveram 44,3% de doença localizada e 55,7% de
doença não localizada - estudo de base hospitalar com 371 crianças até 14 anos, de
1994 a 1998 na região sul do Brasil. Em relação aos tipos histológicos, percentuais
mais elevados de doença não localizada foram encontrados nos tumores do sistema
81
nervoso simpático, sarcomas de partes moles, tumores renais, linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais. Ocorreu a maioria de doença não localizada, porém menos
frequente que no Hospital de Câncer de Mato Grosso, no período estudado.
O diagnóstico precoce das neoplasias na infância e adolescência é um dos
fatores principais para melhoria nas taxas de cura dos pacientes pediátricos. No país
existem programas incentivados por órgãos governamentais a fim de profissionais da
área de saúde possam reconhecer mais precocemente casos suspeitos de neoplasias e
que estes sejam encaminhados em menor tempo possível aos serviços de referência
para tratamento específico (BRASIL 2009).
A comparação dos casos atendidos pelo Hospital de Câncer de Mato Grosso
com esses dois registros hospitalares de câncer, em menores de 19 anos de idade,
mostra que foi maior a ocorrência de casos avançados no presente estudo, indicando a
necessidade de maior divulgação de sinais e sintomas do câncer nesta faixa etária para
diagnóstico precoce dos casos de neoplasias.
No presente estudo, encontrou-se mediana de 48,5 dias no cálculo de tempo
entre data dos primeiros sintomas e data da primeira consulta no Hospital de Câncer.
Todos os pacientes, com e sem tratamento prévio, foram incluídos na análise sem
distinção. Da mesma maneira no cálculo de tempos entre data dos primeiros sintomas
e data do diagnóstico, e data dos primeiros sintomas e data do início do tratamento
foram encontradas medianas de 43 dias e 51 dias respectivamente. Para os cálculos da
data da primeira consulta e data do diagnóstico e data do diagnóstico e início de
tratamento foram excluídos os casos de pacientes que realizaram tratamento prévio ou
tinham recebido diagnóstico prévio à primeira consulta no Hospital de Câncer. Deste
modo foram encontradas médias de 12,2 dias (mediana de cinco dias), e 10,88 dias
(mediana de cinco dias) respectivamente. Os valores de médias do intervalo de tempo
(dias) entre o diagnóstico e início de tratamento foram baixos, indicando que os locais
onde foram feitos os diagnósticos atenderam à recomendação do Ministério da Saúde
de início do tratamento oncológico no Sistema Único de Saúde em até 60 dias após o
diagnóstico da neoplasia (BRASIL, 2014d).
DANG-TAN et al. (2008) avaliaram a trajetória terapêutica de 2896 pacientes
com diagnóstico de câncer de zero a 19 anos no Canadá. O tempo de demora para o
diagnóstico foi considerado o intervalo dos primeiros sintomas até a data do
82
diagnóstico de câncer. E foram considerados os seguintes fatores: atraso do paciente
(entre os primeiros sintomas até a procura do atendimento médico), atraso para
referência (até o encaminhamento para o médico especialista), atraso do oncologista
(até a efetivação do diagnóstico) e atraso para o tratamento (até o início do tratamento).
Os maiores atrasos ao diagnóstico foram decorrentes de fatores relacionados aos
pacientes e aos serviços de referência. A média total de demora para o tratamento foi
de 34 dias. Foram observadas diferenças entre faixas etárias, tipos de câncer e regiões
geográficas. Houve significativa tendência de diminuição do atraso ao diagnóstico e
tratamento de 1995 a 2000, o que o autor julga ser decorrente de maior acesso aos
pacientes a informações fazendo-os mais vigilantes aos sinais de câncer.
POLLOCK et al. (1991) descreveram o intervalo entre o início dos sintomas e
o diagnóstico de 2.665 crianças com linfoma ou um tumor sólido que participaram de
protocolos terapêuticos em oncologia pediátrica de 1982 até 1988. O tempo médio de
atraso foi de 21 dias para neuroblastoma a 72 dias para sarcoma de Ewing. Diferenças
significativas no tempo de atraso foram encontradas entre os diferentes tipos de
neoplasias, mesmo após ajuste para idade, sexo e raça. A idade foi significativamente
associada com o tempo de atraso para todos os diagnósticos, exceto para Doença de
Hodgkin.
DANG-TAN et al. (2008) referem dificuldades na realização deste tipo de
estudo, por sua natureza retrospectiva que dificulta a confiabilidade e precisão das
informações.
No Brasil, importante programa voltado a diagnóstico precoce do câncer
pediátrico foi concebido em 2005 e foi iniciado estudo piloto em 2007, patrocinado
por Instituição não governamental, com apoio do Ministério da Saúde, INCA e
Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) (BRASIL 2009). Seu
objetivo é o treinamento de equipes de saúde da família na atenção básica o que muito
poderá contribuir para melhorar os encaminhamentos de crianças e adolescentes para
serviços especializados.
Os sinais e sintomas listados neste estudo são queixas bastante comuns na
clínica pediátrica, o que indica que profissionais da área de saúde tanto médicos quanto
participantes de equipe multidisciplinar na área de atenção básica devem estar atentos
para a suspeita clínica de câncer na infância e adolescência. Programas sistemáticos de
83
detecção precoce são uma importante contribuição para o sucesso do tratamento
(KAATSCH, 2010).
Os dados do presente estudo indicam a necessidade de maior suspeição de
neoplasias na rede básica de saúde e encaminhamento mais precoce a um centro
especializado a fim de promover maior índice de cura do câncer na população atendida
pelo Hospital.
No Hospital de Câncer de Mato Grosso, 51,06% foram submetidos
exclusivamente ao tratamento com quimioterapia, 0,30% exclusivamente radioterapia
e 6,99% submetidos exclusivamente a cirurgia.
Quanto à modalidade terapêutica realizada, no HEG, dos 1256 casos em
menores de 19 anos, 36,90% foram submetidos exclusivamente ao tratamento com
quimioterapia, 7,70% com radioterapia e 7,60% submetidos exclusivamente a cirurgia.
Quanto à terapia combinada, ocorreu em 42,70% dos casos (LIGA PARANAENSE
DE COMBATE AO CÂNCER, 2004).
Comparando os dados do presente estudo com o HEG, casos que receberam
quimioterapia exclusiva tiveram frequência maior que a do HEG, casos que receberam
radioterapia exclusiva tiveram frequência bem menor que a do HEG, enquanto que
casos submetidos exclusivamente a cirurgia tiveram frequência próxima à do HEG.
Alguns casos foram encaminhados de outras instituições de saúde para
complementação terapêutica, seguimento pós tratamento, ou ainda para tratamento
após recidiva. Como o Hospital de Câncer é instituição de apenas 15 anos de
funcionamento, novos estudos serão necessários para avaliar o seu papel nas taxas de
cura da população pediátrica no estado.
SILVA et al. (2002), em estudo de base hospitalar, avaliaram que, das crianças
com doença localizada, 83,7% encontravam-se vivas ao final do estudo, enquanto que
daquelas com doença não localizada 44,3% estavam vivas. Ao final do período deste
estudo em 2012, 55,41% estavam vivos sem câncer e 4,35% vivos com câncer,
considerando os portadores de neoplasias malignas em geral sem distinção de
estadiamento.
84
Na casuística do Hospital de Câncer, 75,53% dos pacientes atendidos não
haviam recebido tratamento oncológico prévio antes de sua primeira consulta no
Hospital. Cerca de 25% dos casos acompanhados haviam sido submetidos
anteriormente a cirurgia terapêutica, quimioterapia ou radioterapia. Existe intensa
migração de pacientes entre os diferentes serviços da rede de assistência,
frequentemente em busca de procedimentos cirúrgicos de maior complexidade,
agilidade na realização de exames complementares, ou necessidade de leitos em
terapia intensiva em outros locais, disponíveis pelo SUS. Dos 125 pacientes que
apresentaram recidiva de doença, 42 pacientes (33,6%) haviam recebido tratamento
oncológico prévio à admissão no Hospital de Câncer. Deste modo a população
atendida é bastante heterogênea em relação ao perfil de tratamento estabelecido aos
pacientes.
Segundo GRABOIS et al. (2013), consiste em medida fundamental a garantia
de acesso a centros especializados por mecanismos de referência e suporte social, em
especial a pacientes que residem longe dos Centros de Alta Complexidade em
Oncologia (CACONS), possibilitando diagnóstico preciso, tratamento adequado e
melhoria das taxas de sobrevida. O que é possível através de planejamento da
distribuição dos serviços de saúde de acordo com a necessidade da população usuária.
Segundo KELLIE e HOWARD (2008), 80% das crianças vivem em países de
baixa e média renda, 200.000 crianças têm diagnóstico de câncer a cada ano e têm
acesso limitado ao tratamento curativo. Os autores sugerem que parcerias
internacionais podem contribuir positivamente para o tratamento de patologias
potencialmente curáveis e tais esforços complementares à saúde pública devem ser
incentivados.
Como fator limitante deste estudo, pode ser considerada a coleta de dados por
informação secundária (preenchimento de ficha a partir do prontuário médico), uma
vez que as anotações nos prontuários médicos foram realizadas anteriormente por
diferentes observadores, sem uma padronização orientada para pesquisa em saúde.
Familiares de pacientes mais antigos quando contatados, principalmente pacientes que
foram a óbito, tinham dificuldade de relembrar datas e fatos. Com relação à
classificação de faixas etárias na literatura, existe diferença na distribuição entre
diversas padronizações. Segundo a OMS, adolescência é caracterizada de 10 a 19 anos
85
de idade. Segundo o estatuto da criança e adolescente no Brasil, até 12 anos de idade
são considerados crianças e de 12 a 18 anos de idade são adolescentes. Deste modo há
diversidade entre estudos na literatura para realização de comparações.
Ainda como fator limitante foram observadas a ocorrência de informações
ignoradas em mais de 20% de algumas variáveis, como renda familiar e escolaridade
dos pais, o que pode comprometer a análise realizada desses dados socioeconômicos,
indicando a necessidade de mostrar a importância de melhorar o preenchimento desses
dados pela equipe envolvida no atendimento dessa população.
Os achados desta pesquisa mostram a necessidade de realizar um programa de
educação continuada entre os profissionais de saúde da rede básica e divulgação dos
principais sinais e sintomas de alerta para neoplasia em crianças e adolescentes.
Há necessidade de promover palestras de sinais de alerta de câncer em crianças
e adolescentes nas escolas para diminuir o intervalo entre os primeiros sinais e
sintomas e a primeira consulta com o especialista. O reconhecimento desses sinais e
sintomas leva à suspeição precoce e, consequentemente a busca dos familiares e/ou
responsáveis da criança ou adolescente pelo diagnóstico e tratamento precoce,
fundamental para o sucesso da terapia oncológica.
É necessário também instituir o acesso mais rápido dos casos suspeitos com
neoplasia maligna aos exames diagnósticos de modo que o intervalo entre a primeira
consulta e diagnóstico também seja encurtado e, consequentemente a instituição da
terapêutica seja o mais precoce possível.
86
6 CONCLUSÕES
Os dados analisados de 658 casos de neoplasias malignas em crianças e
adolescentes acompanhados pelo Hospital de Câncer de 2002 a 2012, permitem
concluir que:
Foram acompanhados em média, 59,82 casos de neoplasias malignas por ano;
Cerca de ¾ dos casos foram diagnosticados pelo Hospital de Câncer e estavam
sem tratamento oncológico prévio (75,70%); cerca de ¼ dos casos em
acompanhamento no período estudado tinham diagnóstico e tratamento
oncológico prévio.
Os sinais e sintomas mais frequentes que levaram os responsáveis a procura de
atendimento médico foram: febre, dor, palidez.
Em 43,44% dos casos havia relato de histórico familiar de câncer.
A maioria dos casos ocorreu no sexo masculino, sendo mais evidente no grupo de
adolescentes (59,14%).
A média de idade das crianças na primeira consulta foi de 4,82 anos e dos
adolescentes de 14,38 anos.
A raça/cor negra prevaleceu para o grupo todo 0-19 anos (51,50%) e em
adolescentes (59,20%), nas crianças houve predomínio da raça/cor branca
(52,48%).
A maioria da população atendida era de baixa renda, com renda familiar per
capita mensal abaixo da linha de pobreza brasileira.
Quanto à escolaridade, prevaleceu o ensino fundamental incompleto, entre mães
(59,39%) e pais (65,30%).
No grupo de 0-19 anos, os grupos diagnósticos mais frequentes seguem o padrão
da literatura mundial: leucemias (36,32%), linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais (16,87%) e tumores do sistema nervoso central e miscelânia de
neoplasias intracranianas e intraespinhais (11,40%). Distribuição similar ocorreu
em crianças, mas nos adolescentes, o terceiro tipo mais frequente mudou para
tumores ósseos.
87
Em menores de 1 ano foram mais frequentes os tumores renais, em segundo lugar
as leucemias e terceiro lugar os tumores do sistema nervoso simpático.
Leucemias, tumores renais, linfomas e tumores do SNC predominaram no grupo
de 1 a 4 anos; leucemias, linfomas e tumores do SNC predominaram no grupo de
5 a 9 anos.
Leucemias, linfomas, e tumores ósseos predominaram no grupo de 10 a 14 anos;
leucemias, linfomas, tumores ósseos e sarcomas de partes moles predominaram
no grupo de 15 a 19 anos.
Leucemias, linfomas e sarcomas de partes moles predominaram em brancos;
leucemias, linfomas, tumores do SNC, e sarcomas de partes moles predominaram
em negros.
Tanto no sexo masculino quanto no sexo feminino predominaram os casos de
leucemias, linfomas, tumores do sistema nervoso central e sarcomas de partes
moles.
A maioria (64,33%) dos casos foi procedente de três regiões de saúde do estado
de Mato Grosso: Baixada Cuiabana, Rondonópolis e Sinop.
Ao diagnóstico, a maioria das leucemias eram linfóides agudas e de alto risco; a
maioria dos linfomas e neoplasias reticuloendoteliais e tumores sólidos eram de
estádio avançado; a maioria dos tumores do sistema nervoso central foram
meduloblastoma, astrocitoma pilocítico e astrocitoma.
Em relação ao intervalo de tempo dos pacientes acompanhados:
Os valores de médias do intervalo de tempo (dias) entre os primeiros sintomas e
primeira consulta, entre os primeiros sintomas e diagnóstico, foram em torno de
seis meses, tempo alto, que implica no atraso para o início do tratamento e pior
prognóstico.
Os valores de médias do intervalo de tempo (dias) entre o diagnóstico e início de
tratamento foram baixos, indicando que os locais onde foram feitos os
diagnósticos, atenderam ao recomendado de até 60 dias para o início do
tratamento no Sistema Único de Saúde (Portaria 1.220/GM/MS, de 3 de junho de
2014).
88
Em relação à terapêutica oncológica recebida:
A maioria (80,59%) dos casos analisados não apresentou recidiva durante o
período de seguimento.
No final do período estudado, a maioria (56,62%) dos casos de neoplasias
malignas encontrava-se viva e sem câncer e 34,70% foram a óbito com câncer.
89
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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APÊNDICES
Apêndice 1 – Instrumento de coleta de dados de crianças e adolescentes portadores de
neoplasias atendidos no Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE
1. Ficha número _ _ _
2. Prontuário _ _ _ _ _
3. Nome completo _____________________________________
4. Endereço __________________________________________
5. Telefone ( _ _ ) _ _ _ _ - _ _ _ _, _______________________
6. Sexo _ (1=masculino, 2=feminino, 3=indeterminado)
7. Raça/cor _ (1=branca, 2=preta, 3=amarela, 4=parda, 5=indígena, 9=ignorado)
8. DN _ _ / _ _ / _ _ _ _
9. Local de nascimento (município) __________________
10. Estado de nascimento_ _
11. Procedência (município) ________________
12. Estado de procedência_ _
DADOS SOCIOECONÔMICOS
13. História familiar de câncer _ (1=sim, 2=não, 9=ignorado)
14. Renda familiar _ _ _ _ (reais)
15. Números de pessoas / família _ _
16. Escolaridade materna _
17. Escolaridade paterna _
18. Escolaridade paciente _
1=1º grau/Ensino fundamental incompleto;
2=1º grau/Ensino fundamental completo;
3=2º grau/Ensino médio incompleto;
4=2º grau/Ensino médio completo;
5=superior incompleto;
6=superior completo;
7=analfabeto;
8=não aplica;
9=ignorado
10=pós-graduação
DADOS RELACIONADOS À NEOPLASIA
19. Data do primeiro atendimento no HC-MT _ _ / _ _ / _ _ _ _
20. Data do diagnóstico _ _ / _ _ / _ _ _ _
21. Local do Diagnóstico 1=HC-MT, 2=outro Hospital -MT, 3=outro Estado
22. Data dos primeiros sintomas _ _ / _ _ / _ _ _ _
23. Data do início de tratamento _ _ / _ _ / _ _ _ _
24. Sinais e sintomas que motivaram a procura de atendimento médico __________________
99
25. Grupo de diagnóstico _ (1=Leucemia, 2=Linfomas e Neoplasias retículo-endoteliais, 3=Tumores de
sistema nervoso central e miscelânia de neoplasias intracranianas e intraespinhais, 4=Tumores do
sistema nervoso simpático, 5=Retinoblastoma, 6=Tumores renais, 7=Tumores hepáticos,
8=Tumores ósseos malignos, 9=Sarcomas de partes moles, 10=Neoplasias de células germinativas,
trofoblásticas e outras gonadais, 11=Carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais, 12=Outros
tumores malignos
26. Estadio de evolução da neoplasia _ (1=I; 2=II; 3=III; 4=IV)
27. Classificação LLA _ (1=baixo risco; 2=alto risco)
28. Classificação Tumor SNC _
29. Tratamento prévio _ (1=sim, 2=não, 9=ignorado)
30. Tipo de tratamento _ _ _ _ _ (1=nenhum, 2=cirurgia, 3=radioterapia, 4=quimioterapia,
5=hormonioterapia, 6=transplante de medula óssea, 7=outros, 9=ignorado)
31. Local de Tratamento _ (1=Hospital de Câncer de Mato Grosso, 2=outro Hospital em Mato Grosso,
3=outro Estado-TFD-tratamento fora de domicílio, 9=ignorado)
Tempo médio de seguimento dos pacientes _ _ _ (meses)
32. Ocorrência de recidiva _ (1=sim, 2=não, 9=ignorado)
33. Situação _ (1=vivo sem câncer, 2=vivo com câncer, 3=vivo sem especificação, 4=óbito sem câncer,
5=óbito com câncer, 6=óbito sem especificação, 9=ignorado)
34. Data da última consulta _ _ / _ _ / _ _ _ _
35. Data da Alta _ _ / _ _ / _ _ _
100
Apêndice 2 - Distribuição das neoplasias malignas segundo grupos de diagnóstico e regiões de saúde de procedência em Mato Grosso (n=614).
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
Obs. ¥Grupo diagnóstico: I=Leucemias; II=Linfomas e neoplasias reticuloendoteliais; III=Tumores do SNC; IV=Tumores do sistema nervoso simpático; V=Retinoblastoma; VI=Tumores renais; VII=Tumores hepáticos; VIII=Tumores ósseos malignos; IX=Sarcomas de partes moles; X=Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e outras gonadais; XI=Carcinomas e outras neoplasias
malignas epitelias*** 44/658 casos de neoplasias malignas procedentes de outros estados.
Grupo Diagnóstico
Região de Saúde
Água Boa
Alta Floresta
Baixada Cuiabana
Barra do
Garças Cáceres Colíder Diamantino Juara Juina
Peixoto de
Azevedo
Pontes e
Lacerda
Porto Alegre
do Norte
Rondonópolis Sinop Tangará
da Serra
I n - 6 80 3 13 6 4 2 10 12 3 1 32 31 14 % - 37,50 35,24 33,33 31,71 28,57 26,67 40,00 38,46 66,67 1,38 33,33 34,78 40,79 35,00
II n - 4 40 1 9 6 2 1 3 2 4 1 20 11 4 % - 25,00 17,62 11,11 21,95 28,57 13,33 20,00 11,54 11,11 3,70 33,33 21,74 14,47 10,00
III n 1 1 31 - 6 1 1 2 2 1 5 - 8 6 5 % 33,33 6,25 13,66 - 14,63 4,76 6,67 40,00 7,69 5,56 7,14 - 8,7 7,89 12,50
IV n - 1 7 - 1 1 2 - 1 - - - 2 6 4 % - 6,25 3,08 - 2,44 4,76 13,33 - 3,85 - - - 2,17 7,89 10,00
V n - 1 5 - - - - - 1 - - - - - 3 % - 6,25 2,20 - - - - - 3,85 - - - - - 7,50
VI n - - 11 2 5 1 2 - 2 - 2 - 9 4 4 % - - 4,85 22,22 12,20 4,76 13,33 - 7,69 - 4,76 - 9,78 5,26 10,00
VII n - - 1 1 - - - - - - - - - - - % - - 0,44 11,11 - - - - - - - - - - -
VIII n 1 2 15 - 2 - 1 - 1 - 3 - 5 3 2 % 33,33 12,50 6,61 - 4,88 - 6,67 - 3,85 - 8,57 - 5,43 3,95 5,00
IX n - - 18 1 ,3 4 3 - 5 - 3 - 9 10 3 % - - 7,93 11,11 7,32 19,05 20,00 - 19,23 - 5,08 - 9,78 13,16 7,50
X n - - 11 1 1 2 - - 1 1 1 1 2 3 - % - - 4,85 11,11 2,44 9,52 - - 3,85 5,56 4,17 33,33 2,17 3,95 -
XI n 1 1 8 - 1 - - - - 2 1 - 5 2 1 % 33,33 6,25 3,52 - 2,44 - - - - 11,11 4,55 - 5,43 2,63 2,50
Total 3 16 227 9 41 21 15 5 26 18 22 3 92 76 40
10
0
101
Apêndice 3 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo as faixas etárias.
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
I. Leucemias26,32%
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais0,00%
III. Tumores do sistema nervoso
central5,26%
IV. Tumores do sistema nervoso
simpático15,79%
V. Retinoblastoma
0,00%
VI. Tumores renais
31,58%
VII. Tumores hepáticos
0,00%
VIII. Tumores ósseos malignos
0,00%
IX. Sarcomas de partes moles
10,53%
X. Neoplasias de células
germinativas, trofoblásticas e outras gonadais
10,53%
XI. Carcinomas e outras neoplasias
malignas epiteliais0,00%
< 1 ano
I. Leucemias40,00%
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais11,43%
III. Tumores do sistema nervoso
central11,43%
IV. Tumores do sistema nervoso
simpático7,62%
V. Retinoblastoma2,38%
VI. Tumores renais12,38%
VII. Tumores hepáticos0,48%
VIII. Tumores ósseos malignos0,95%
IX. Sarcomas de partes moles
6,67%
X. Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e outras gonadais
2,86% X. Carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais
3,81%
1-4 anos
I. Leucemias41,28%
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais17,44%
III. Tumores do sistema nervoso central
15,12%
IV. Tumores do sistema nervoso
simpático3,49%
V. Retinoblastoma2,91%
VI. Tumores renais6,40%
VII. Tumores hepáticos0,58%
VIII. Tumores ósseos malignos1,74%
IX. Sarcomas de partes moles6,98%
X. Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e
outras gonadais1,74%
XI. Carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais
2,33%
5-9 anos
I. Leucemias35,14%
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais22,97%
III. Tumores do sistema nervoso central10,14%
IV. Tumores do sistema nervoso simpático
0,00%
V. Retinoblastoma0,00%
VI. Tumores renais1,35%
VII. Tumores hepáticos0,00%
VIII. Tumores ósseos malignos
12,84%
IX. Sarcomas de partes moles10,14%
X. Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e outras gonadais
3,38%
XI. Carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais
4,05%
10-14 anos
I. Leucemias24,77%
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais…
III. Tumores do sistema nervoso central
8,26%
IV. Tumores do sistema nervoso
simpático…
V. Retinoblastoma0,00%
VI. Tumores renais0,00%
VII. Tumores hepáticos0,00%
VIII. Tumores ósseos malignos…
IX. Sarcomas de partes moles
15,60%
X. Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e
outras gonadais8,26%
XI. Carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais
6,42%
15-19 anos
102
Apêndice 4 - Distribuição dos casos de neoplasias malignas segundo os grupos etários.
Hospital de Câncer do Estado de Mato Grosso, 2002-2012.
I. Leucemias38,62%
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais16,03%
III. Tumores do sistema nervoso central…
IV. Tumores do sistema nervoso
simpático…
V. Retinoblastoma1,82%
VI. Tumores renais8,20%
VII. Tumores hepáticos0,36%
VIII. Tumores ósseos malignos…
IX. Sarcomas de partes moles…
X. Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e outras
gonadais2,91%
XI. Carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais
3,28%
até 14 anos
I. Leucemias24,77%
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais21,10%
III. Tumores do sistema nervoso central8,26%
IV. Tumores do sistema nervoso simpático
0,00%
V. Retinoblastoma0,00%
VI. Tumores renais0,00%
VII. Tumores hepáticos0,00%
VIII. Tumores ósseos malignos
15,60%
IX. Sarcomas de partes moles
15,60%
X. Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e
outras gonadais8,26%
XI. Carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais
6,42%
15-19 anos
I. Leucemias39,90%
II. Linfomas e neoplasias reticuloendoteliais
13,47%III. Tumores do sistema nervoso central
12,72%
IV. Tumores do sistema nervoso simpático
6,23%
V. Retinoblastoma2,49%
VI. Tumores renais10,72%
VII. Tumores hepáticos0,50%
VIII. Tumores ósseos malignos1,25%
IX. Sarcomas de partes moles6,98%
X. Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e outras gonadais
2,74%
XI. Carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais
2,99%
< 10 anos
I. Leucemias30,74%
II. Linfomas e neoplasias
reticuloendoteliais22,18%
III. Tumores do sistema nervoso central
9,34%
IV. Tumores do sistema nervoso simpático0,00%
V. Retinoblastoma0,00%
VI. Tumores renais0,78%
VII. Tumores hepáticos0,00%
VIII. Tumores ósseos malignos14,01%
IX. Sarcomas de partes moles12,45%
X. Neoplasias de células germinativas, trofoblásticas e outras gonadais
5,45%
XI. Carcinomas e outras neoplasias malignas epiteliais
5,06%
10-19 anos
103
ANEXOS
Anexo 1 – Termo de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Júlio Müller/UFMT.
104