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Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Curso de Graduação em Saúde Coletiva Organização da Atenção à Saúde Indígena na área de abrangência do Polo Base Cuiabá, no Sistema Único de Saúde de Mato Grosso. Raquel Cristina Oliveira Pedroso Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Saúde Coletiva. Orientadora: Profª. Msc. Marcia Leopoldina Montanari Corrêa. Cuiabá-MT 2015

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Universidade Federal de Mato Grosso

Instituto de Saúde Coletiva

Curso de Graduação em Saúde Coletiva

Organização da Atenção à Saúde Indígena na área de

abrangência do Polo Base Cuiabá, no Sistema Único de

Saúde de Mato Grosso.

Raquel Cristina Oliveira Pedroso

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal

de Mato Grosso como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Saúde Coletiva.

Orientadora: Profª. Msc. Marcia Leopoldina

Montanari Corrêa.

Cuiabá-MT

2015

Organização da Atenção à Saúde Indígena na área de

abrangência do Polo Base Cuiabá, no Sistema Único de

Saúde de Mato Grosso.

Raquel Cristina Oliveira Pedroso

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal

de Mato Grosso como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Saúde Coletiva.

Orientadora: Profª. Msc. Marcia Leopoldina

Montanari Corrêa.

Cuiabá-MT

2015

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

C933o Cristina Oliveira Pedroso, Raquel. Organização da Atenção à Saúde Indígena na área de abrangência do Polo Base Cuiabá, no Sistema Único de Saúde de Mato Grosso. / Raquel Cristina Oliveira Pedroso. -- 2015

79 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientadora: Marcia Leopoldina Montanari Corrêa. TCC (graduação em Saúde Coletiva) - Universidade Federal de Mato

Grosso, Instituto de Saúde Coletiva, Cuiabá, 2015. Inclui bibliografia.

1. Saúde Indígena. 2. Organização Institucional. 3. Sistema Único de

Saúde. 4. Administração de Serviços de Saúde. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

AGRADECIMENTOS

Agradeço incansavelmente a Deus, pois seu fôlego de vida em mim, fоі meu sustento

е me deu coragem para questionar realidades е propor sempre um novo mundo de

possibilidades durante a minha jornada.

Aos meus pais que nunca mediram esforços para que eu cursasse o ensino superior,

aos meus irmãos e toda minha família pela infinita paciência comigo. A vocês, todo meu

amor!

À minha querida orientadora e companheira de caminhada ао longo da graduação,

professora Marcia Montanari. Posso dizer que а minha formação, inclusive pessoal, não

teria sido а mesma sem а sua pessoa!

À exímia professora Marina Atanaka, com quem partilhei о que era о broto daquilo

que veio а ser esse trabalho. Nossas conversas durante е para além das aulas de Trabalho de

Curso III foram fundamentais!

Ao querido amigo e professor Aloir Pacini, por seus ensinamentos, suas sábias

palavras е confiança ао longo da minha trajetória. É um honra enorme tê-lo na banca

examinadora!

À Msc. Viviane Francischini pela competência profissional, que certamente servirá de

espelho para minha futura conduta profissional. Muito obrigada por aceitar compor a banca

examinadora!

A todos os professores do Instituto de Saúde Coletiva por mе proporcionarem о

conhecimento não apenas racional, mas а manifestação do caráter е afetividade da

educação no processo de formação profissional, que tanto se dedicaram а mim, não

somente por terem mе ensinado, mas por terem mе feito aprender. Meus eternos

agradecimentos!

Ao Distrito Sanitário Especial Indígena Cuiabá, por me proporcionar a oportunidade

de realizar este trabalho. Meus agradecimentos a todos os profissionais de saúde,

profissionais das áreas técnicas e da gestão do Polo Base Cuiabá pela disponibilidade em

atender as minhas solicitações.

Aos colegas de turma, Camilla, Marianne, Marielly, Maurício e Ricardo com que

compartilhei momentos de alegria e angústia. Agradeço atodos pela amizade, paciência,

ternura e convivência destes quase 5 anos, que serão infindáveis. Espero que sejam

excelentes profissionais. Michelly e Thayssa, vocês são pessoas queridas que se tornaram

grandes amigas que levarei para sempre em minha vida!

Ao Leonardo Pires e Rodrigo Müssnich, companheiros da Comissão Permanente de

Pessoal Docente. Obrigado por sempre compreenderem e jamais questionarem as minhas

ausências no estágio, para que esse trabalho pudesse ser realizado.

À querida Rosangela Vindoura, que em meio a finalização do seu mestrado sempre

teve tempo para me ouvir, acalmar e aconselhar. Toda minha gratidão a você!

As minhas amadas e melhores amigas Bruna Almeida e Jayne Gonçalves por estarem

ao meu lado, me apoiando sempre quando mais precisei durante esses quase 15 anos e por

estarem sempre disponíveis a escutarem minhas lamúrias e me divertirem durante os

momentos mais difíceis do curso!

Ao Carlos, Claudinei, Hailton e Simone pela presteza e atenção nos atendimentos da

secretaria e todos os funcionários do Instituto. Obrigada por tudo, vocês são demais!

Por fim, a todos quе direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, e

contribuíram com a elaboração deste trabalho, toda minha gratidão!

PEDROSO, Raquel Cristina Oliveira. Organização da Atenção indígena à saúde na área

de abrangência do Polo Base Cuiabá, no Sistema Único de Saúde de Mato Grosso. 79f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Saúde Coletiva) – Instituto de Saúde

Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá-MT, 2015.

RESUMO

Trata-se de estudo de caso com abordagem qualitativa e quantitativa com objetivo de

conhecer a organização dos serviços de saúde ofertados à população indígena adscrita ao Polo

Base Cuiabá, por meio de dados secundários, análise de documentos oficiais e entrevistas

realizadas com profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena Cuiabá. O eixo adotado

foi a organização dos serviços de saúde prestados à população indígena, identificando em

nível distrital e local, os aspectos da política de saúde indígena, estruturas organizacionais

estabelecidas, instituições envolvidas e alcance dos objetivos e metas propostos nos

documentos institucionais. O Polo Base Cuiabá é responsável por prestar atendimentos aos

povos indígenas Bakairi, Bororo, Guató e Umutina com terras indígenas nos municípios de

Barão de Melgaço, Barra do Bugres, Nobres e Poconé. Os resultados indicam a fragilidade

nas relações entre as Secretarias Municipais de Saúde e Polo Base. A atenção básica

insuficiente, somada a caracterização do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena como

modelo médico assistencial precário na execução de ações básicas, a baixa capacidade dos

municípios em prestar assistência de média e alta complexidade, as grandes demandas

referenciadas para a capital, além da recusa por parte da rede de referência no atendimento de

indígenas, refletem como dificuldades de acesso desse usuário no Sistema Único de Saúde. A

precariedade no acesso à rede assistencial implica na manutenção de um cenário onde

prevalecem as doenças carenciais e infecciosas e avançam as doenças e agravos não

transmissíveis entre os povos indígenas do Polo Base Cuiabá. A gestão das políticas de saúde

indígena segue em paralelo à gestão dos sistemas municipais e estaduais do Sistema Único de

Saúde. Fazer com que a saúde dos povos indígenas receba uma visão tripartite no que tange a

sua gestão, ainda é um desafio, uma vez que a integração do Distrito Sanitário Especial

Indígena com o Sistema Único de Saúde não se deu integralmente.

PALAVRAS CHAVES: Saúde Indígena; Organização Institucional; Sistema Único de Saúde;

Administração de serviços de saúde.

PEDROSO, Raquel Cristina Oliveira. Organização da Atenção à saúde indígena na área

de abrangência do Polo Base Cuiabá, no Sistema Único de Saúde de Mato Grosso /The

organization of indigenous health care in the coverage area of Cuiabá region of the Unified

Health System in Mato Grosso. 79p. Term paper. (Graduation in Public Health) - Institute of

Public Health, Federal University of Mato Grosso. Cuiabá-MT, 2015.

ABSTRACT

This paper is a study case using qualitative and quantitative approach. It´s objective was to

know the organization of health services offered to the indigenous population of the Cuiabá

region, through secondary data, analysis of official documents and interviews with profes-

sionals and managers of Special Indigenous Sanitary District Cuiabá. We used as the center-

line the organization of health services offered to the indigenous population, identifying in the

district and local level the aspects of indigenous health policy, the organizational structures

established there, involved institutions and the reach of the objectives and targets contained in

institutional documents. The Cuiabá region is responsible for providing healthcare to indige-

nous peoples: Bakairi, Bororo, Guató and Umutina with indigenous land in the municipalities

of Barão de Melgaço, Barra do Bugres, Nobres e Poconé. The results point to the fragility of

the relationship between the Municipal Health Secretariats and regions reinforcing the invisi-

bility of indigenous peoples in public health policies. The low capacity of municipalities to

provide health care of medium and high complexity, the large demands referred to the capital,

the inadequate completion of primary care, added to the characterization of the Subsystem of

Health Attention to Indigenous People as a poor medical model performing basic actions,

besides the refusal from the reference network of providing health to the indigenous people,

reflect the access difficulties of the SUS users. The precarious access to the healthcare net-

work results in the conservation of a scenario where predominates infectious diseases and the

growing rates of non-communicable diseases among indigenous peoples of Cuiabá region.

The management of indigenous health policy runs at the same time to the municipal and state

systems management of Unified Health System. To make the health care system of indige-

nous peoples receive a vision from the country, state and municipality in reference of its man-

agement, is still a challenge, since the integration of the Special Indigenous Sanitary District

with the Unified Health System did not occur fully.

KEYWORDS: Health of Indigenous Peoples; Institutional Organization. Unified Health

System; Health Services Administration.

SIGLAS UTILIZADAS

ABS- Atenção Básica em Saúde

AIS - Agente Indígena de saúde

CASAI - Casa de Saúde indígena

CF- Constituição Federal

CONDISI - Conselho Distrital de Saúde Indígena

CLSI – Conselhos Locais de Saúde Indígena

DSEI- Distrito Sanitário Especial Indígena

EMSI – Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena

FUNAI - Fundação Nacional do Índio

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social

LOS - Lei Orgânica da Saúde

NOAS- Norma Operacional da Assistência à Saúde

NOB – Norma Operacional Básica

MAC – Média e Alta complexidade

MS – Ministério da Saúde

PB - Polo Base

PDSI- Plano Distrital de Saúde Indígena

PI - Povo Indígena

PNASPI - Política Nacional de Atenção à Saúde de Povos Indígenas

PMS- Plano Municipal de Saúde

PNS - Política Nacional de Saúde

RAS- Rede de atenção à saúde

SASI – Subsistema de Atenção à Saúde Indígena

SES – Secretaria Estadual de Saúde

SESAI - Secretaria Especial de Saúde Indígena

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

SPI – Serviço de Proteção ao Índio

SUS – Sistema Único de Saúde

TI – Terra indígena

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

MT – Mato Grosso

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

2 OBJETIVOS

13

2.1 Geral 13

2.2 Específico

13

3 REVISÃO DA LITERATURA

14

3.1 Antecedentes das ações de saúde ofertadas aos Povos Indígenas 14

3.2 O processo de construção da atenção à saúde ofertada aos Povos Indígenas:

da Constituição Federal à SESAI

16

3.3 O Distrito Sanitário Especial Indígena e o Polo Base Cuiabá 22

3.4 Breve caracterização dos Povos Indígenas atendidos pelo Polo Base Cuiabá

24

4 PERCURSO METODOLÓGICO

29

4.1 Tipo de Estudo 29

4.2 Procedimentos Metodológicos 29

4.3 Análise de Dados 21

4.4 Aspectos Éticos

32

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 33

5.1 Características e Rede assistencial dos municípios referências do PB Cuiabá 33

5.2 As ações de saúde previstas para o Polo Base Cuiabá 41

5.3 Organizações dos sistemas de referência e contrarrefêrencia do Polo Base

Cuiabá

45

5.3.1Desafios na complementação da atenção básica nos municípios

referência/ rede SUS

53

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

57

ANEXOS

63

Anexo I - Capacidade instalada em Saúde nos municípios referência 63

Anexo II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 74

Anexo III - Roteiros de entrevistas 76

Anexo IV - Aprovação do Projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa – HUJM 78

Anexo V - Autorização Distrito Sanitário Especial Indígena Cuiabá 79

11

1 INTRODUÇÃO

As políticas públicas que consideram as populações indígenas como signatárias de

suas ações são recentes no Brasil. Durante muito tempo, a assistência prestada às populações

indígenas se restringia às realizadas pelas missões religiosas e que não se estendiam à todos

os povos. A população indígena do Brasil passou a ser considerada como foco de políticas

públicas a partir de 1910, com a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), cuja missão

era proteger os indígenas, procurando incluí-los na sociedade e tornar suas terras disoníveis

no sistema produtivo nacional. Considerado como a primeira política para esses povos, o SPI

visava à transformação do indígena em trabalhador nacional, tornando-o ‘‘civilizado’’

(BERNARDES, 2011).

Esse sistema vigorou até 1967, quando a instituição foi substituída pela Fundação

Nacional do Índio (FUNAI), para a prestação de serviços e assistência à população indígena.

Anos após a criação da FUNAI, com a edição do Estatuto do Índio, regido pela Lei Nº 6.001

de 19/12/1973, formalizaram–se os procedimentos adotados pela FUNAI para proteção e

assistência das populações indígenas (FUNAI, 2014).

As discussões no campo da saúde avançaram apenas em 1986 com a I Conferência

Nacional de Proteção à Saúde do Índio, que estabeleceu as bases para a criação de sistema

específico de saúde para prestar assistência e que fosse vinculado ao sistema nacional de

saúde com a participação indígena junto à formulação de políticas de saúde e estruturação de

um modelo de atenção diferenciada (NOVO, 2011).

A Constituição Federal (CF) em 1988, quando afirmou a saúde como direito de todos e

dever do Estado, agregou a atenção à saúde dos povos indígenas como parte do Sistema

Único de Saúde (SUS). Porém, a sistematização das ações de saúde para os indígenas no

aparato legal, efetivamenteocorreu em 1999 com a Lei 9.836/99, conhecida como Lei Arouca

que instituiu a criação do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena e compôs o artigo 19 da

Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº 8080/1990 (BRASIL, 1999).

A Política Nacional de Saúde (PNS) possui como parte integrante a Política Nacional

de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), alicerçadapela lei 8080/90 e a CF. A

PNASPI deve prover o direito das populações indígenas à atenção diferenciada pelo SUS,

destacando sempre o respeito às diferenças e especificidades culturais de cada povo e os

direitos territoriais (MS, 2002).

12

A rede de atenção à saúde indígena é organizada a partir da estratégia dos Distritos

Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). O estado de Mato Grosso (MT) conta com 06 (seis)

distritos sanitários: o DSEI Araguaia, DSEI Kaiapó, DSEI Vilhena, DSEI Xavante, DSEI

Xingu e o DSEI Cuiabá. A área de abrangência dos DSEI é composta por diversos municípios,

que por sua vez estão organizados em diferentes regiões de saúde do estado (MS, 2002).

Estudos realizados com povos indígenas, localizados no território brasileiro

evidenciaram que há enormes contradições dos discursos oficiais em relação às ações

cotidianas de assistência à saúde dos povos indígenas (LANGDON e DIEHL, 2007;

VARGAS et al., 2010; NOVO, 2011).

Justifica-se este trabalho pela atual condução da Política Nacional de Atenção à Saúde

dos Povos Indígenas e o arcabouço legal do SUS. Há a necessidade de conhecer com mais

profundidade a atenção à saúde dispensada aos povos indígenas de Mato Grosso,

especificamente a população referente à área de abrangência do Polo Base Cuiabá, e assim

contribuir no avanço do conhecimento sobre a questão das políticas de saúde para os

indígenas e a prática das ações desenvolvidas para esse grupo específico.

A forma de atender as necessidades de saúde dos indígenas aponta para a importância

da construção do diálogo entre todas as esferas de gestão, ao passo que, os direitos dos povos

indígenas sejam respeitados e garantidos na prática dos serviços de saúde.

13

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Conhecer a organização dos serviços de saúde ofertados à população indígena adscrita ao

Polo Base Cuiabá.

2.2 ESPECÍFICOS

Caracterizar a capacidade instalada dos serviços nos diferentes níveis de

atenção à saúde nos municípios referência do PB Cuiabá,

Descrever as ações de saúde planejadas no PB Cuiabá de acordo com a

legislação vigente;

Identificar a organização do sistema de referência e contrarreferência dos

serviços de atenção à saúde no PB Cuiabá considerando a regionalização da

saúde no estado e o acesso dos usuários indígenas.

14

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 ANTECEDENTES DAS AÇÕES DE SAÚDE OFERTADAS PARA OS

POVOS INDÍGENAS.

A saúde dos Povos Indígenas (PI) nem sempre foi assunto de relevância na área da

saúde pública. A população nativa foi assistida nos seus problemas de saúde com os rituais de

pajelança, mas também com a assistência das missões desde meados dos anos 1500, no

processo de colonização do Brasil (CASTELLANI e MONTAGNER, 2012).

As primeiras ações de assistência à saúde foram prestadas por missionários jesuítas,

oriundos da coroa portuguesa e igrejas católicas com o intuito de educar e catequizar os

nativos. Durante as missões, José de Anchieta e outros jesuítas, chegaram a catalogar as

plantas medicinais utilizadas pela população nativa brasileira. O contato com o não-indígena

ocasionou situações de maus tratos, confinamento, desapropriaçãodas terras, além da

escravidão, chacinas e grandes epidemias resultando em mortes e na drástica redução da

população indígena brasileira, durante o período colonial (SANTOS, 2005).

No final do século XVIII, os serviços de saúde destinados aos índios ainda não eram

adequados e nem mesmo oficializados. Em 1910, com a criação do Serviço de Proteção aos

Índios (SPI), essa população tornou-se foco de políticas públicas. Durante a permanência do

SPI na responsabilidade de promover a saúde desses povos, evidenciou-se que os serviços

eram insuficientes, desorganizados e ofertados esporadicamente (LANGDON, 2007).

Em 1950, o Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas (SUSA) foi criado no Ministério da

Saúde (MS), para ofertar ações básicas de saúde para os indígenas e para a população rural

residentes em áreas de difícil acesso. Eram desenvolvidas ações de vacinação, atendimento

odontológico, controle de tuberculose entre outras doenças transmissíveis. Os serviços

desenvolvidos conseguiram reduzir significativamente as mortes causadas por epidemias

nessas populações (MS, 2002). No entanto, a responsabilidade pela assistência à Saúde dos

povos indígenas não era de exclusividade do MS, e sim, transitava entre o Ministério da

Agricultura, Indústria e Comércio, Ministério do Trabalho e Ministério de Guerra (ISA, 2014).

Em meio à crise institucional e início da ditadura, foi criada a Fundação Nacional do

Índio (FUNAI), com o intuito de estabelecer as diretrizes e garantir o cumprimento da política

indigenista na promoção e prestação dos serviços de assistência médico-sanitária às

15

populações indígenas, instituída por meio da Lei n.º 5.371 de 05/12/1967 em substituição ao

antigo serviço, o SPI (FUNAI, 2014).

A FUNAI criou baseado no SUSA, as Equipes Volantes de Saúde (EVS) para atender

os povos indígenas com serviços de consulta médica, imunização e supervisão do trabalho dos

auxiliares e atendentes de enfermagem que residiam nas áreas indígenas. Com o passar do

tempo, as EVS se fixaram dentro dos centros urbanos, tornando ainda mais ocasional a

permanência nas aldeias, devido à escassez de recursos e inadequação na organização da

assistência oferecida dos indígenas (MS, 2002).

Seis anos após a criação da FUNAI, o Estatuto do Índio foi instituído, regido pela Lei

Nº 6.001 de 19/12/1973, dispondo sobre os direitos coletivos das populações indígenas,

formalizando os procedimentos adotados pela FUNAI para proteção e assistência prestadas

para estes povos. O Estatuto foi considerado um avanço em relação à então política

indigenista pois, estabeleceu novos referenciais para a definição das terras ocupadas pelos

indígenas. Todavia, o Estatuto não sofreu modificações no decorrer dos anos e o modelo

criado nos anos 70, ainda vigora atualmente (FUNAI, 2014)

Está em discussão no Congresso Nacional, há mais de duas décadas, o projeto de lei

Nº 2057/91 denominado Novo Estatuto para os Povos Indígenas que pretende atualizar o

Estatuto elaborado em 1973, além de instituir diversas iniciativas de projetos de lei referentes

a atividades como mineração, manejo florestal, exploração de recursos hídricos, proteção do

meio ambiente e propriedade intelectual, voltadas para as populações indígenas. Dessa forma,

o projeto de lei em questão acaba por colocar o interesse da bancada ruralista e de diversos

grupos econômicos acima dos direitos indígenas e dos interesses públicosdo Estado (ISA,

2014).

Somente a partir da década de 1970, a FUNAI instituiu postos de saúde dentro das

áreas indígenas para provisão da atenção básica aos nativos. Os postos possuíam apenas um

atendente de saúde que desenvolvia as ações de saúde em parceria com as equipes visitantes.

Os casos que necessitavam de maior atenção eram encaminhados para hospitais locais,

serviços de saúde rural, Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social

(INAMPS) além das Secretarias Estaduais de Saúde, que possuíam convênio com a FUNAI.

Novamente, os serviços eram ofertados de modo precário, insuficiente e desorganizados

(GARNELO e SAMPAIO, 2003).

As ações de atenção à saúde indígena desenvolvidas pelos não–indígenas

desconsideravam na época, os valores, as práticas culturais e tradicionais relacionadas ao

16

processo de adoecimento e os meios de tratamento utilizados por esses povos. Os sistemas

tradicionais de saúde dos indígenas são compostos por uma grande diversidade de formas, que

contemplam a relação do ser humano com a natureza e as suas relações sociais, assim,

considerados fatores que contribuem para a preservação e recuperação da saúde (MS, 2002).

3.2 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE

OFERTADA OS POVOS INDÍGENAS: DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL Á

SECRETARIA ESPECIAL DE SAÚDE INDÍGENA

As discussões referentes à saúde do povo brasileiro efetivaram-se em 1988, com a

promulgação da Constituição Federal (CF), sobre a temática ‘‘saúde é direito de todos e dever

do Estado’’. Direito garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução

do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços

para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).

Para que fossem atendidas as necessidades de saúde da população, a Lei 8.080 de 19

de Setembro em 1990, conhecida como Lei Orgânica da Saúde (LOS) regulamentou o

Sistema Único de Saúde (SUS), que é fruto das reivindicações e manifestações populares,

considerado um marco histórico e político para o país. Até então, o SUS se tornara a maior

política pública de combate à desigualdade no Brasil que tornou obrigatório o atendimento

público a qualquer pessoa, nos distintos níveis, ofertando serviços de atenção primária,

secundária e terciária. A lei regulou todas as ações e serviços de saúde executados em

território brasileiro, sejam de forma isolada ou conjunta (VIEGAS e PENNA, 2012).

Segundo a Lei 8080/90, o SUS é pautado em ações e serviços públicos de saúde

organizados verticalmente em níveis de atenção ascendente, de acordo com a disposição de

áreas geográficas e delimitadas, seguindo a definição da população que receberá atendimento

(BRASIL, 1990). As ações e serviços devem integrar uma rede regionalizada e hierarquizada

com a finalidade de identificar e divulgar os fatores condicionantes e determinantes da saúde;

formular políticas destinadas a promover saúde nos campos social e econômico; prover a

assistência às pessoas através de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde

realizando ações assistenciais e atividades preventivas, assegurando a continuidade da

assistência através do sistema de referência e contrarreferência (BRASIL, 1990).

17

O acesso ao SUS pela população ocorre a partir dos serviços de atenção primária que

devem ser qualificados para ter alta resolutividade nos casos que competem à atenção básica e

as situações de maiores graus de complexidade, devem ser direcionadas aos níveis de maior

assistência (PAIM, 2009).

Com sua organização hierarquizada e regionalizada, a rede SUS facilita a percepção

dos problemas de saúde das populações localizadas em áreas delimitadas, possibilitando o

desenvolvimento de ações pontuais e baseadas na realidade de cada região, como vigilância

epidemiológica, sanitária, ambiental, educação em saúde, entre outras (BRASIL, 1990).

Antes da criação e instituição do SUS, o modelo de assistência à saúde que vigorava

no Brasil era altamente excludente, segmentado e fragmentado, pois excluía a população mais

pobre não inserida no mercado formal de trabalho, de tal forma que, o acesso aos serviços

assistenciais públicos não existia e os atendimentos eram centrados em consultórios médicos e

hospitais privados (SILVA, 2009).

Assim, a população que não contribuía de alguma forma com os institutos e

previdência, era privada do direito à saúde. A solução encontrada para resolver os problemas

era o conhecimento da medicina popular, com uso de plantas medicinais, auxílio de

benzedeiras e curandeiras, além do apoio das instituições filantrópicas como as Santas Casas

de Misericórdia (PAIM, 2009).

Quanto ao direito à saúde para as populações indígenas, a CF em seus artigos n° 231 e

232 reconhece as organizações sociais indígenas, costumes, línguas, crenças e tradições, e

com os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, garante aos

indígenas, o direito de ingressar em juízo pela defesa dos seus direitos, derrubando a função

de tutela que vigorava sobre os povos indígenas.

A temática ‘‘Saúde Indígena’’ começou a ser debatida em 1986 na I Conferência

Nacional de Proteção à Saúde do Índio, que contou com a presença de representantes de

diversos povos indígenas e representantes de organizações governamentais e não

governamentais. Essa Conferência foi realizada para avaliar a situação de saúde dessas

populações e propor a criação de um sistema de saúde específico para os povos indígenas

(LANGDON, 2007).

Segundo GARNELO (2012), para que houvesse de fato o reconhecimento do modo de

vida dos indígenas e suas particularidades, se fez necessária a criação de um sistema de saúde

específico, visto que o SUS ainda não dispunha de uma estratégia adequada para atendê-los.

18

Mesmo com as afirmações da LOS 8.080/90 e da CF, a assistência à saúde prestada

aos povos indígenas na prática ainda eram de responsabilidade de FUNAI. Somente em 1999,

a responsabilidade do provimento de ações e serviços de saúde aos indígenas foi transferida

para a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e, simultaneamente foi aprovada a Lei

9.836/99, que ampara a criação de um Sistema de saúde diferenciado para osindígenas

(CASTELLANI e MONTAGNER, 2012).

A Lei popularmente conhecida como ‘‘Lei Arouca’’ acrescentou dispositivos à Lei

8.080/90, instituindo então o Subsistema de Atenção à Saúde indígena (SASI), como um

elemento do SUS que deverá funcionar de modo integrado com o Sistema Nacional de Saúde.

Tal lei enfatiza que o SUS servirá de retaguarda e referência ao SASI, devendo ocorrer

adaptações em sua estrutura e organização nas regiões com populações indígenas, para que

aconteça o fortalecimento, a integração e o atendimento necessário nos níveis de

complexidade, sem que ocorram discriminações, além de definir que as populações indígenas

devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local, regional e de centros especializados,

considerando as suas necessidades e compreendendo a atenção em todos os níveis,

defendendo a participação social em organismos colegiados de formulação, acompanhamento

e avaliação das políticas de saúde, quando necessário (BRASIL, 1999).

De acordo com a Lei, a organização das atividades de atenção à saúde deve se efetivar

progressivamente, através dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Os distritos

têm a finalidade de assegurar os serviços de atendimento básico nas terras indígenas e o

controle social (WEISS e BORDIN, 2013).

A PNASPI foi elaborada em 2002 com o intuito de garantir acesso integral à saúde,

em conformidade com as diretrizes do SUS; contemplando as especificidades cultural, social,

geográfica, histórica e política dos povos indígenas do Brasil, de modo que favoreça a

superação de fatores que tornam essa população mais vulnerável aos agravos de saúde,

quando comparados com a população brasileira e reconheça a eficácia de sua medicina e o

direito à sua cultura (MS, 2002).

A PNASPI estabeleceu diretrizes para a execução das ações de saúde para os indígenas

que devem orientar e definir instrumentos de planejamento, implementação, avaliação e

controle das ações de atenção à saúde. Quanto à organização do sistema de atenção à saúde,

este foi articulado através dos DSEI e Polos Base (PB) em nível local de atendimento (MS,

2002).

19

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) foi criada por meio do Decreto nº

7336 de 19 de outubro de 2010, sob responsabilidade do Ministério da Saúde para coordenar e

executar o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena em todo país. Suas

competências foram definidas pela Portaria GM/MS nº 3965 de 15 de dezembro de 2010 (MS,

2010).

A SESAI possui como principal missão a proteção, a promoção e a recuperação da sa-

úde dos povos indígenas, exercer a gestão de saúde, orientar o desenvolvimento das ações de

atenção integral à saúde e de educação em saúde observando as peculiaridades, o perfil epi-

demiológico e a condição sanitária de cada DSEI, em consonância com as políticas e progra-

mas do SUS (MS, 2010).

Cabe a instituição coordenar e avaliar as ações de atenção à saúde no âmbito do SASI;

promoção, articulação e a integração com os setores governamentais e não governamentais

que possuam interface com a atenção à saúde indígena, bem como identificar, organizar e

disseminar conhecimentos referentes à saúde indígena além de estabelecer diretrizes e

critérios para o planejamento, execução, monitoramento e avaliação das ações de saneamento

ambiental e de edificações nos DSEI. A estrutura administrativa da Secretaria conta com dois

Departamentos: Departamento de Gestão da Saúde Indígena (DGESI) e Departamento de

Atenção à Saúde Indígena (DASI) (MS, 2010).

O primeiro departamento é responsável por: I) garantir as condições necessárias à ges-

tão do SASI, II) promover o fortalecimento da gestão nos DSEI, III) propor mecanismos para

organização gerencial e operacional da atenção à saúde indígena, IV) programar a aquisição e

a distribuição de insumos, V) coordenar as atividades relacionadas às informações de saúde

indígena e promover e VI) apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas em saúde indíge-

na (MS, 2010).

Já o DASI, possui a missão de: I) planejar, coordenar e supervisionar as atividades de

atenção integral; II) orientar e apoiar a implementação de programas de atenção à saúde, se-

gundo as diretrizes do SUS; III) planejar, coordenar e supervisionar as atividades de educação

em saúde nos DSEI; IV) coordenar a elaboração de normas e diretrizes para a operacionaliza-

ção das ações de atenção à saúde nos distritos; V) prestar assessoria técnica às equipes dos

DSEI no desenvolvimento das ações de atenção à saúde e VI) apoiar a elaboração dos Planos

Distritais de Saúde Indígena e coordenar as ações de edificações e saneamento ambiental no

âmbito dos DSEI (MS, 2010).

20

O DSEI, unidade organizacional e central do SASI (Figura 1) é compreendido como

uma base territorial e populacional, sob responsabilidade sanitária claramente definida, que

visa medidas qualificadas e racionalizadas de atenção à saúde. É articulado com a rede do

SUS para referência e contrarreferência, com controle social por intermédio dos Conselhos

Locais e Distrital de Saúde Indígena e tem como atribuições: I) aprovar o Plano Distrital de

Saúde Indígena (PDSI); II) avaliar a execução das ações de saúde planejadas e se necessária, a

reprogramação parcial ou total de tais ações e; III) apreciação da prestação de contas dos

órgãos e instituições que executarão as ações de atenção à saúde do índio (MS, 2002; WEISS

e BORDIN, 2013).

Figura 1 – Modelo de Organização da Assistência à saúde indígena.

Fonte: SESAI/MS, 2015.

O território brasileiro foi dividido em trinta e quatro DSEIs (Figura 2). A escolha de

cada área distrital, não se baseou apenas nos critérios técnico-operacionais e geográficos.

Considerou a cultura, relações políticas e a distribuição demográfica tradicional dos povos

indígenas, recusando em alguns casos, os limites territoriais dos estados ou municípios com

terras indígenas (SESAI, 2014).

Para que a estratégia de distritos sanitários funcione, o DSEI possui PB e Equipes

Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI). É preconizado pela PNASPI que as EMSI

deverão contarcom médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, odontólogos, além de

21

contar com apoio de antropólogos, engenheiros sanitaristas e educadores. As ações de atenção

básica são desenvolvidas pelos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) nas aldeias, presentes nos

postos de saúde e atuam em conjunto com as EMSI de acordo com o planejamento das ações

de saúde de cada distrito (MS, 2002).

O Polo-Base é referência para o AIS, que desempenha um papel semelhante ao do

Agente Comunitário de Saúde. O AIS é o principal vínculo das famílias indígenas com a

unidade de saúde localizada nas aldeias (MS, 2002). Para TORRES (2010), é a ponte entre as

concepções de saúde e de mundo de ambas as culturas, sendo muitas vezes o único

profissional de saúde do local quando os demais integrantes da equipe estiverem ausentes.

O PB pode estar localizado dentro das terras indígenas ou no município de referência

para o DSEI e encaminhar pacientes com demandas mais complexas, como cirurgias e

exames para hospitais de referência do SUS, de acordo com as especificidades da demanda e

da realidade local (MS, 2002).

Uma vez na rede SUS, o paciente indígena receberá suporte das Casas de Saúde

Indígena (CASAI) que deverão fornecer alojamento e alimentação para os pacientes e seus

acompanhantes, bem como, apoio de enfermeiros 24 horas por dia, agendamentos de

consultas, exames, além de esclarecimentos relacionados ao retorno do paciente indígena para

a sua aldeia de origem. Devem desenvolver ações de educação em saúde, lazer, produção

artesanal tanto para o paciente quanto para o acompanhante (MS, 2002).

22

Figura 2: Mapa de distribuição dos 34 DSEIs no Brasil.

Fonte: Centro Cultural Ministério da Saúde, 2015.

3.3 O DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA E O POLO BASE

CUIABÁ

Com sede na capital, o DSEI Cuiabá atende aos municípios de Barão de Melgaço,

Barra do Bugres, Brasnorte, Campo Novo do Parecis, Comodoro, Conquista D´Oeste,

Diamantino, General Carneiro, Nobres, Paranatinga, Planalto da Serra, Porto Esperidião,

Poxoréo, Rondonópolis, Santo Antônio do Leverger, Sapezal e Tangará da Serra. O distrito

sanitário é responsável pela atenção à saúde em 10 polos base, 37 postos de saúde, 03 CASAI

e 105 aldeias que concentram 10 etnias, totalizando 7.064 indígenas em sua área de adscrição

(SESAI, 2014).

23

Figura 3: Área de abrangência do DSEI Cuiabá.

Fonte: Plano Distrital de Saúde Indígena/DSEI Cuiabá/SESAI/MS 2012-2015.

O PB Cuiabá é considerado tipo II, pois se localiza no município de referência e sua

estrutura serve de apoio técnico e administrativo à EMSI, não devendo executar atividades de

assistência à saúde. As ações assistenciais devem ser realizadas em um estabelecimento do

SUS pertencente ao município de referência. Dentre as atribuições do Polo estão: o

armazenamento de medicamentos e material de deslocamento para outras áreas indígenas; a

comunicação via rádio; investigação epidemiológica; informações de doenças; elaboração de

relatórios de campo e sistema de informação; coleta, análise e sistematização de dados;

planejamento das ações das equipes multidisciplinares na área de abrangência; organização do

processo de vacinação na área de abrangência e a administração (SESAI, 2015).

Diferente do PB tipo II, o tipo I está localizado em terras indígenas e suas atividades

perpassam as ações previstas para os postos de saúde. O PB tipo I também é responsável em

desenvolver: capacitação, reciclagem e supervisão dos AIS e auxiliares de enfermagem;

coleta de material para exame; esterilização; imunizações (relativas às atividades de rotina);

coleta e análise sistêmica de dados; investigação epidemiológica; informações de doenças;

24

prevenção de câncer ginecológico (exame/coleta/consulta); e outras atividades compatíveis

com o estabelecimento (SESAI, 2015).

3.4 BREVE CARACTERIZAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS ATENDIDOS

PELO POLO BASE. CUIABÁ

Em Mato Grosso, os indígenas compõem um grupo bastante emblemático da diversi-

dade sociocultural. De acordo com SATO et al. (2013) existem 47 etnias mapeadas em todo

território do Estado, distribuídos em 78 terras indígenas que se encontram em diferentes fases

de regularização. Existem também registros de povos indígenas isolados e outros grupos que

nem mesmo foram identificados.

SATO e SILVA (2012) destacam que são constantes os conflitos, na maior parte vio-

lentos, envolvendo povos indígenas que lutam pela proteção e demarcação de suas terras, pre-

servação do ambiente, pela conservação do modo de vida, dos lugares sagrados e da cultura.

Os indígenas também são ameaçados pelo crescimento das monoculturas, o uso de agrotóxico

no entorno de suas terras que envenenam os rios, além da construção de pequenas centrais

hidroelétricas em territórios com comunidades indígenas.

Sob esta ótica, se faz primordial a elaboração de políticas públicas que visem proteger

e manter as terras indígenas, perpetuando a diversidade da vida e do meio ambiente. O desafio

da proteção desses povos ainda é apenas um recorte do macro processo das políticas públicas

e das instâncias responsáveis para a garantia da integridade e sua autonomia (SATO et al.,

2013).

O Polo Base Cuiabá é responsável por assistir os povos indígenas Boe(Bororo), Gua-

tó, Umutina e Kura (Bakairi). Cabe destacar que atualmente assiste outras etnias residentes

em municípios localizados no território do distrito, caracterizados como Polos Base Virtuais.

Esses polos serão estruturados para futuramente atender toda a extensão territorial do distrito

e proporcionar assistência efetiva às demandas do DSEI Cuiabá. O PB Cuiabá atende os PB

Virtuais: Chiquitano, Meruri e Pakuera que não foram considerados nesse trabalho. Devido à

ausência de profissionais de saúde nas regiões dos polos virtuais, os atendimentos passaram a

ser realizados pelas EMSI do PB Cuiabá.

25

O Povo Indígena Boe (bororo)

O povo indígena bororo se autodenomina Boe e vivem no planalto central do Mato

Grosso. Sua língua pertence à família linguística ‘‘otuke bororo’’, atribuída ao tronco

linguístico Macro-Jê. O termo ‘‘Bororo’’ foi atribuído ao povo Boe por engano, quando

brancos ouviram a palavra, que no momento se referia ao pátio da aldeia na língua materna e

não a etnia (ISA, 2015).

Antigamente os Boe (bororo) viviam espalhados por várias regiões entre a Bolívia, os

rios Araguaia, das Mortes e Taquari no MT. Ao longo de sua história, vários nomes foram

usados para identificar esse povo, como: Coxiponé, Araripoconé, Araés, Cuiabá, Coroados,

Parrudos, Bororos da Campanha (comunidade que residia próxima a Cáceres), Bororos

Cabaçais (região da Bacia do Rio Guaporé), ou mesmo, Bororos Orientais e os Bororos

Ocidentais na divisão arbitrária feita pelo governo do estado no período minerador, onde o rio

Cuiabá foi ponto de referência (ISA, 2015).

O povo Boe (bororo) é uma etnia indígena típica do Mato Grosso. Atualmente,

possuem seis Terras Indígenas, demarcadas no estado em um território descontínuo e

descaracterizado, correspondente a uma área 300 vezes menor do que o território tradicional.

Sua população estimada é de 1.686 indígenas (ISA, 2015).

Com uma história de resistência ao avanço e a expansão do território nacional, a

‘‘pacificação’’ do povo Boe aconteceu paulatinamente até o final do século XIX, com a

drástica redução da população. No início do século XX, a população era contabilizada entre

5.000 e 10.000 indivíduos chegando quase à extinção em meados do século passado. Hoje

esse número não chega a 2.000 indivíduos. Em quase 300 anos de contato com os brancos, o

povo Boe demonstrou que, apesar das enormes perdas sofridas eles resistem e procuram se

afirmar como um povo diferenciado, mantendo viva a sua cultura e sua organização social

(ISA, 2015).

No que tange a saúde dos Boe (bororo), o Instituto sócio Ambiental (ISA) destaca que

as morbidades que acometem constantemente a população são reflexos das condições de vida

desse povo. Assim, como agravos à saúde ressaltam-se as doenças infecto parasitárias,

doenças ligadas às condições de saneamento básico e higiene, além do alcoolismo na

população, que se tornou um grande problema quando os colonizadores criaram alambiques

para trocar o trabalho indígena com cachaça. (ISA, 2015).

26

O Povo Indígena Guató

Os Guató são considerados como ‘‘povo do pantanal’’. Antigamente se distribuíam na

região sudoeste do Mato Grosso, bem como em terras pertencentes ao estado de Mato Grosso

do Sul e da Bolívia. A população era facilmente encontrada nas ilhas e em toda extensão do

Rio Paraguai e São Lourenço. O período mais intenso da expulsão do povo Guató das suas

terras tradicionais, datou-se em meados dos anos 1940, o motivo seria a invasão de suas roças

pelos gados dos fazendeiros da região e a presença dos comerciantes de peles de jacaré e

onças que dificultavam a permanência dos indígenas no território e arredores (ISA, 2015).

Diante destas situações, o povo Guató migrou para outros pontos do Pantanal ou se

mudou para as periferias das cidades, entre elas: Corumbá, Ladário, Aquidauana, Poconé e

Cáceres. Poucas famílias permaneceram às margens dos rios. Na década de 1950, o povo

Guató foi considerado extinto pelo SPI e excluído de quaisquer políticas de assistência. Após

duas décadas, em 1976, missionários indigenistas de Corumbá reconheceram os Guató

vivendo na periferia da cidade. Com o processo de redescoberta desse povo, iniciou-se a luta

pela recuperação do território tradicional e paulatinamente, os indígenas passaram a se

reorganizar e lutar pelo reconhecimento étnico. Através deles, outros indígenas foram

localizados vivendo em terras tradicionais, como na Bacia dos Guató, no rio Cuiabá (ISA,

2015).

Desde as notícias iniciais sobre o grupo, oriundas de viajantes espanhóis que

percorreram o alto Paraguai, classificaram os Guató como um povo pacífico e arredio

simultaneamente, durante o contato com os não-indígenas (ISA, 2015).

Os diversos encontros dos viajantes espanhóis com o povo Guató não registraram com

exatidão o total da população indígena, devido à dispersão do grupo pelas regiões pantaneiras.

Antes da Guerra do Paraguai, estimava-se o total da população Guató do alto Paraguai em

300 pessoas, considerando a falta de acesso aos povos aldeados de outras regiões. Segundo

alguns relatos de moradores das redondezas, a comunidade era numerosa e chegaria a 2 mil

indígenas. Atualmente, a população estimada é de 374 indígenas distribuídos em suas terras

no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. No Mato Grosso, estão localizados nas aldeias

Aterradinho e São Benedito, ocupando menos de 2 % da extensão do território do município

de Barão de Melgaço nas proximidades do Pantanal (ISA, 2015).

27

O Povo Indígena Umutina

Antigamente, o povo Umutina vivia ás margens do Rio Paraguai, nas proximidades

dos rios Sepotuba e Bugres, dominando até alguns pontos do rio Cuiabá. Os Umutinas

acabaram deixando a região do Sepotuba e migraram para viver às margens do rio Bugres, em

consequência da chegada dos não-indígenas na região, que os descreveram como agressivos e

violentos, que impediam pela força, a invasão de seu território tradicional. Os Umutinas

sofreram com a violência resultante do contato com o não-indígena no início do século XX

com diversas perdas para o povo, entre elas, a da língua nativa, das terras tradicionais, além

da dizimação de parte da população através das doenças levadas pelos não-indígenas (ISA,

2015).

Durante um longo período e assolados pelas epidemias como coqueluche e sarampo, o

povo Umutina teve uma drástica redução populacional, chegando a 15 indivíduos em meados

da década dos anos 1940. Visando resgatar essa população, uma série de casamentos

intertribais aconteceu, elevando o número de indivíduos desse povo. A população atual é de

445 indígenas vivendo em uma área oficial de 28.120 hectares, equivalente a 3,86 % área do

município de Barra do Bugres e sua TI está situada em uma faixa de transição da Amazônia e

do Cerrado, onde o cerrado compreende a maior parte do território (ISA, 2015).

Os sobreviventes das epidemias passaram a viver junto com pacificadores do SPI e

foram educados em uma escola para indígenas. Porém, a escola ensinava somente a cultura

não- indígena e o povo Umutina era proibido de falar sua língua materna, praticar e expressar

qualquer tipo de atividade relacionada à sua cultura. Atualmente, sendo o Português ser a

língua predominante, existe um movimento por parte dos membros da comunidade em luta da

recuperação da língua materna. O povo Umutina tem um forte sentido de identidade étnica, se

reconhecem como tradicionais moradores do alto-Paraguai e estão envolvidos na recuperação

das suas manifestações socioculturais e tradicionais (ISA, 2015).

28

O Povo Indígena Kura (Bakairi)

No século passado, precedendo à abertura dos campos de pouso e rodovias na região

do Alto Xingu, eram os Kura(Bakairi) que controlavam o acesso das expedições a esse

território, onde concentrava boa parte de sua população. Atualmente, o povo vive ao sudoeste

dessa área desenvolvendo atividades de pesca, agriculturada mandioca e confecção de

artesanatos (ISA, 2015).

O Povo Kura(Bakairi) distribui-se em duas terras indígenas no Mato Grosso,

totalizando uma população de quase mil indígenas no estado. A T.I Bakairi está localizada em

sua maioria às margens do rio Paranatinga, no município que dá nome ao rio. Parte da terra

Bakairi está no território de Planalto da Serra, a margem esquerda do rio. Já a TI Santana

localiza-se nas cabeceiras do rio Arinos, em Nobres. Em Santana vivem 197 indígenas em

uma área de 35.471 hectares, representando 9,2% do território do município. Além da

população residente nas aldeias é possível encontrar indígenas dessa etnia morando em

cidades próximas, dentre elas: Nobres, Paranatinga e Cuiabá. Esses centros urbanos possuem

forte influência sobre essa população (BORGES et al., 2002; ISA 2015).

Os Kura(Bakairi) vivem em grupos dispersos e cada grupo domina um território

delimitado por rios e riachos com direito a seus recursos. Cada aldeia tem o seu próprio líder e

possui autonomia econômica e política frente a outras unidades sociais da mesma ordem.

Assuntos de interesses comuns são discutidos em reuniões de líderes ou caciques. Esse povo é

ribeirinho e a sobrevivência da população deriva de atividades como a agricultura,

principalmente do milho, mandioca e arroz, pesca, criação de gado, assumindo a caça e a

coleta, um papel secundário e complementar (BORGES et al., 2002; ISA 2015).

Cotidianamente o povo realiza vários rituais que não obedecem propriamente a um

calendário, mas sim aos acontecimentos da vida de sua população. Tais rituais estão

associados ao casamento, à doença, à primeira menstruação e à morte que implica em

reclusão alimentar e social da família. Além da língua materna Karib, os Kura(Bakairi)

também falam e possuem domínio do idioma português. (ISA, 2015).

29

4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.1 TIPO DE ESTUDO

Trata–se de um estudo de caso, com base em pesquisa descritiva de abordagem

qualitativa e quantitativa, utilizando como fonte os dados secundários dos municípios com TI

na área de abrangência do PB/DSEI Cuiabá.

Levantou-se informações sobre a organização da rede de serviços de saúde nos

distintos níveis de atenção, capacidade instalada, internações de indígenas, bem como dados

primários obtidos por meio de entrevistas com os profissionais do Subsistema.

O eixo de análise adotado foi a organização dos serviços de saúde prestados às

populações indígenas, identificando em nível distrital e local, os aspectos da política de saúde

indígena, as estruturas organizacionais estabelecidas, as instituições envolvidas e o alcance

dos objetivos e metas propostos nos documentos institucionais.

4.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foram considerados na pesquisa os municípios que possuem terras indígenas que estão

sob a responsabilidade do PB Cuiabá e são referência em atendimento primário para a

população indígena. Como referência para a média e alta complexidade está a capital, Cuiabá,

por ser referência estadual nesses níveis de complexidade, integrando-se aos municípios

selecionados: Barão de Melgaço, Barra do Bugres, Nobres e Poconé.

Na primeira etapa do trabalho, realizou-se a caracterização dos municípios do PB

Cuiabá em seus aspectos gerais, demográficos e socioeconômicos, considerando também a

capacidade instalada em saúde. Foram utilizados os bancos de informações disponibilizados

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística–IBGE

(http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home. php) e Departamento de Informática do SUS-

DATASUS (http://datasus.saude.gov.br/).

A forma possível para acompanhar a organização do sistema de referência e

contrarreferência da saúde indígena, conforme proposto nesse trabalho, foi através dos

30

registros de internação e entrevistas com os gestores do DSEI/PB Cuiabá. Foram utilizados

dados de internações de pacientes indígenas e não-indígenas nos municípios que são

classificados como referência em atendimento primário, secundário e terciário para os PI

adscritos ao PB Cuiabá. As informações foram obtidas através do Sistema de Internações

Hospitalares-SIH. (http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/cnv/nimt.def).

Foram selecionadas no SIH-SUS as principais causas e o local de internação das

populações indígenas e não-indígenas, nos municípios adscritos ao PB Cuiabá. A população

não-indígena foi obtida através do somatório das internações de Raça/Cor (branca, preta,

parda e amarela). Não foram consideradas as Autorizações de Internações Hospitalares (AIH)

sem informação de Raça/Cor.

Para o município de Barão de Melgaço, não foram obtidos dados referentes às

internações no período considerado pela ausência da informação para indígenas e não-

indígenas. Assim como em Barão de Melgaço, o município de Poconé também apresentou

ausência de dados. Só foram encontrados dados de internação referente à população não–

indígena.

Por fim, foram observadas as ações de saúde planejadas pelo PB Cuiabá, onde a coleta

de dados recorreu aos documentos oficiais devidamente registrados, tais como: PDSI e Planos

Municipais de Saúde (PMS). Para conhecer a relação entre Distrito Indígena e a rede

assistencial dos municípios de referência, buscou-se através do PMS extrair informações que

associassem saúde indígena e municípios. Já no PDSI foramselecionadas as ações referentes

ao Plano de Trabalho, sendo extraídas apenas as ações de caráter intersetorial.

A complementação dos dados se deu por meio de entrevistas concedidas por

profissionais de saúde e equipe técnica do PB/DSEI Cuiabá. Para assegurar a

confidencialidade e privacidade dos participantes, não serão divulgados cargos ou funções

exercidas pelos entrevistados. Estes serão identificados no decorrer desse trabalho, como

entrevistado 1 e entrevistado 2.

31

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos indicadores epidemiológicos referentes às internações hospitalares,

utilizou-se o Programa Microsoft Excel para a elaboração de planilhas e tabelas, a partir dos

dados obtidos no DATASUS.

A análise documental referiu-se à coleta de dados no PDSI 2012-2015 do DSEI Cuia-

bá e PMS referentes aos períodos 2009-2013 e 2014-2017 dos municípios de Cuiabá e Barra

do Bugres. O Plano Distrital é um importante instrumento para o desenvolvimento e aprimo-

ramento do planejamento, orçamento e gestão. Tal instrumento prioriza sua avaliação e moni-

toramento, no âmbito dos DSEIs e possibilita sua integração ao Plano Nacional de Saúde pelo

período de quatro anos e também a integração ao Planejamento Estratégico da SESAI

(SESAI, 2012).

Já o PMS se constitui como o instrumento de gestão que apresenta as intenções e os

resultados a serem buscados no período de quatro anos, expressos em objetivos, diretrizes e

metas, que direciona a política de saúde e expressa a responsabilidade municipal com a saúde

da população. O plano deve refletir as necessidades de saúde nos municípios e ser referência

para os processos de planejamento e formulação de programações e projetos, orientando os

gestores sobre como devem aplicar os recursos municipais na saúde e os recursos repassados

pelo estado e pela União (BRASIL, 2009).

Os municípios Barão de Melgaço, Poconé e Nobres informaram não ter o PMS para o

período analisado. Tal fato, evidência deficiências da gestão municipal, no que diz respeito à

elaboração e acompanhamento de documentos institucionais de planejamento. Para MAR-

QUES (2013), os principais fatores para a ausência do PMS em municípios de pequeno e mé-

dio porte são: falta de conhecimento técnico e teórico dos gestores em saúde, que em boa par-

te dos casos, estão no cargo por ‘‘apadrinhamento político’’; a falta de infraestrutura princi-

palmente em recursos humanos para ajudar no planejamento, gerenciamento e execução das

ações de saúde, o desconhecimento da importância de planejar no setor da saúde municipal e

desconhecimento dos instrumentos de gestão em saúde.

A análise das entrevistas e a coleta das informações nos documentos oficiais foram

embasadas nas seguintes categorias: I) Ações de saúde, programadas pelo eixo-Atenção à

Saúde: Promoção, Vigilância, Proteção e Recuperação da Saúde Indígena-constante no PDSI,

referentes às áreas técnicas de Saúde da Mulher, Vigilância Alimentar e Nutricional, Vigilân-

cia Ambiental/ Leishmaniose, Vigilância em Saúde e Assistência Farmacêutica; II) Identifica-

32

ção de ações intersetoriais no Plano de Trabalho envolvendo os municípios; III) Participação

do DSEI nas instâncias de decisões oficiais do SUS; IV) Relação entre o Polo Base Cuiabá e

municípios de referência; V) Dificuldades e perspectivas na garantia do acesso dos indígenas

aos sistemas municipais e estaduais de saúde, no que se refere à média e alta complexidade.

Para os dados qualitativos, utilizou-se a técnica de Análise de Conteúdo, a partir da qual

é possível identificar categorias de análise e inferir resultados a partir das falas ou dos

documentos analisados, conforme apresentado por MINAYO (2012).

Este tipo de análise mostrou ser o mais pertinente aos objetivos do estudo. MINAYO

(2012), aponta diferentes tipos de análise de conteúdo, sendo elas: de expressão, de relações,

de avaliação, de enunciação e categorial temática. Adotou-se a última estratégia, à qual se

propõe conhecer os núcleos de sentido, que compõem uma comunicação cuja presença ou

frequência, possuem algum significado para o objetivo analítico visado, utilizando-a de forma

mais interpretativa, em lugar de realizar inferências estatísticas.

No estudo em questão, foram identificadas as categorias: Ações de Saúde, Dificuldades

na complementação dos serviços e os sistemas de referência e contrarreferência, como

descritos no item Resultados e Discussão.

4.4 ASPECTOS ÉTICOS

Os procedimentos adotados nesta pesquisa respeitaram os termos éticos da Resolução

466/12 do Conselho Nacional de Saúde sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos incluindo,

o consentimento livre e esclarecido (TCLE), dos entrevistados como os gestores e

profissionais de saúde.

O anonimato das informações coletadas foi respeitado conforme o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo II).

Os resultados serão disponibilizados a todos após a apresentação e aprovação deste

trabalho de conclusão de curso por meio online no site do Instituto de Saúde Coletiva da

UFMT.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário

Júlio Muller (CEP/HUJM/UFMT) sob o registro n° 1.072.650 em 21/05/2015 (Anexo IV).

33

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 CARACTERÍSTICAS E REDE ASSISTENCIAL DOS MUNICÍPIOS

REFERÊNCIAS PARA O PB CUIABÁ

O Polo Base Cuiabá é divido em 4 áreas, composta por 4 municípios de referência:

Aldeias Santana e Nova Canaã – Município Nobres; Aldeia Umutina e Bakalana – Município

Barra do Bugres; Aldeia Perigara – Município de Barão de Melgaço, Aterradinho e São Bene-

dito – Município Poconé, responsáveis pela atenção à saúde dos povos indígenas Bakairi,

Umutina, Bororo e Guató respectivamente.

Os municípios: Barão de Melgaço, Barra do Bugres, Nobres e Poconé complementam

a atenção básica da população indígena. O indígena já inserido na Rede de Atenção à Saúde

(RAS) dos municípios, necessitando de maior complexidade é referenciado para a rede

assistencial de Cuiabá, conforme demonstra a Tabela 1, a seguir.

Tabela 1: Rede de serviços SUS para ação complementar da atenção básica, média e alta complexida-

de das aldeias assistidas pelo PB Cuiabá.

Aldeia Complementação

Atenção Básica

Média

Complexidade

Alta

Complexidade

Aterradinho Poconé

Cuiabá

Cuiabá

Bakalana Barra do Bugres

Nova Canaã Nobres

Perigara Barão de Melgaço

Santana Nobres

São Benedito Poconé

Umutina Barra do Bugres

Fonte: Elaboração própria com bases nos dados do PDSI 2012-2015/DSEI Cuiabá/SESAI/MS.

LAVRAS (2011, p. 872) define as Redes de Atenção à Saúde como arranjos

organizativos de unidades funcionais de saúde e pontos de atenção e apoio diagnóstico e

terapêutico. Esses arranjos são responsáveis por desenvolver procedimentos de diferentes

densidades tecnológicas, integrando-se a sistemas de apoio e de gestão com vistas a garantir a

integralidade do cuidado.

34

Barão de Melgaço

Criado em 12 de dezembro de 1953, Barão de Melgaço situa-se na região Centro-Sul

do estado. Trata-se de um município de pequeno porte, com população de 7.545 habitantes em

2014 (IBGE, 2014). Em sua extensão territorial, faz limites com os municípios de Santo

Antônio do Leverger, Itiquira, Cáceres e Nossa Senhora do Livramento, além do estado do

Mato Grosso do Sul. A uma distância de 120 quilômetros da capital, o clima é Tropical e sub-

úmido e seu relevo é de Planície e Pantanal integrando a região do Alto Pantanal,

contribuindo com a Bacia do Rio Cuiabá.

Devido às características geográficas, as principais bases econômicas do município

são o turismo, a pesca, a fruticultura, agricultura e pecuária (PORTAL MATO GROSSO,

2015).

Segundo dados referentes ao ano de 2014 do Cadastro Nacional de Estabelecimentos

(CNES), Barão de Melgaço conta com 16 estabelecimentos de saúde, sendo todos públicos

financiados pelo SUS. O município dispõe de um hospital geral para os atendimentos de

média complexidade e um Ambulatório de Especialidades. Para atenção primária, possui nove

Postos de Saúde e duas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Não possui Unidade Móvel Pré

Hospitalar - Urgência/Emergência e não designa nenhuma Unidade de Atenção à Saúde

Indígena, conforme Anexo 1.

De acordo com o Anexo 1, do total de 11 leitos disponíveis no ano, 100% são leitos

SUS. Sobre a capacidade instalada, não há disponibilidade de leitos para atendimento de alta

complexidade como UTI adulto ou infantil, existindo somente um leito em unidade de

isolamento.

Em Dezembro de 2014, a cidade não possuía nenhuma especialidade médica em seu

quadro de profissionais. Barão de Melgaço contou com os serviços de um único profissional

médico até o mês de Setembro, contratado por período determinado, sendo que este possuía

mais de um vínculo, lotado no hospital geral do município e na central de regulação.

35

Barra do Bugres

Localizado na região Noroeste da Capital e distante 157 quilômetros, Barra do Bugres

possui clima tropical quente e sub-úmido. Sua população estimada em 2014 é superior a 33

mil habitantes. Parte da população é formada por imigrantes vindos de outras regiões do

Brasil, como as regiões sul e sudeste e até mesmo vindos de outros estados do centro oeste

(PORTAL MATO GROSSO, 2015).

O município possui grandes extensões de planícies, com vegetação características de

cerrados, matas tropicais e matas de transição. Ao longo da sua extensão territorial, Barra do

Bugres possuí nascentes de muitos rios, como o Paraguai e o Sepotuba, além dos Rios Branco,

Vermelhinho, Bracinho, Bugres, Jauquara, Queimado, Rio do Sangue, Rio Juba entre outros

(PORTAL MATO GROSSO, 2015).

Barra do Bugres contempla diversos segmentos industriais considerados de grande

importância para o desenvolvimento local e que fortalecem economia da cidade, baseada na

agricultura de grãos como soja e milho, a pecuária, o comércio e a agroindústria (PORTAL

MATO GROSSO, 2015).

Referente à saúde da população, as ações de nível intermediário são ofertadas no

hospital geral municipal, no ambulatório de especialidades e na policlínica, sendo o único

estabelecimento nesse nível de atenção de cunho privado. A atenção primária é desenvolvida

por 6 UBS, juntamente com 2 postos de saúde. O município ainda possui unidade de atenção

à saúde indígena, bem como Centro de Atenção Psicossocial, conforme Anexo 1.

Quanto à capacidade instalada, possui 78 leitos hospitalares, todos SUS. Para cada

1.000 habitantes estão disponíveis aproximadamente 2,3 leitos. Sobre leitos complementares

existem 2 em UTI Adulto tipo I e mais 5 leitos em UTI Neonatal tipo II, descrito no Anexo 1.

No que tange à quantidade de profissionais (Anexo1), em Dezembro, a cidade possuía

de 1,2 médicos para cada grupo de 1.000 habitantes, entretanto nesse período algumas

especialidades não foram ofertadas como cirurgia geral e ginecologia e obstetrícia. O

município ainda conta com serviços de fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição e farmácia.

36

Nobres

Integrando a região do Alto Teles Pires, no médio norte mato-grossense e distante a

120 quilômetros de Cuiabá, Nobres foi ponto de passagem do movimento garimpeiro no

estado com início no ano de 1.747, sendo a rota entre Cuiabá e Diamantino. O território

habitado imemorialmente pelo povo indígena Kura(Bakairi), que vive na região, é formado

por cachoeiras, serras, grutas e diversos sítios arqueológicos, datando a longa existência da

presença humana e constituindo um patrimônio de belezas naturais (NOBRES, 2015).

Sua economia é baseada em indústrias de cimento e calcário. Além da pecuária, a

agricultura é variada com predominância do cultivo de arroz, milho e lavouras de subsistência,

somados a forte influência do turismo na região (PORTAL MATO GROSSO, 2015).

Para atender a população de quase 15 mil habitantes, Nobres possui em sua rede de

serviços 12 estabelecimentos de saúde, sendo que, 66% são estabelecimentos públicos,

ofertando basicamente serviços de atenção primária (Anexo1).

A cidade dispõe de hospital geral, para atendimentos de média complexidade, porém

de caráter privado, não possui Unidade Móvel Pré Hospitalar - Urgência/Emergência,

Unidade de Atenção à Saúde Indígena e nem Ambulatório de especialidades, como descrito

no Anexo 1.

Sobre a capacidade instalada, não há disponibilidade de leitos para atendimento de alta

complexidade, como UTI adulto ou neonatal. Quanto aos leitos de internação, os existentes

estão localizados em hospital privado onde grande parte está disponível ao SUS.

Referente à disponibilidade de profissionais (Anexo1), em Dezembro de 2014 o

município não contou com a especialidade de pediatria e cirurgia geral. A média de médicos

para cada grupo de mil habitantes foi de 0,5 no período analisado.

37

Poconé

Distante da Capital 100 km, Poconé é um município histórico de 228 anos, com

população estimada em mais de 32 mil habitantes. Grande parte dos poconeanos residem na

zona urbana, mas o município possui diversas comunidades e assentamentos rurais (IBGE,

2015). Suas principais atividades econômicas são: pecuária, mineração, agricultura e turismo.

Poconé é a porta de entrada para o Pantanal Mato-grossense e recebe diariamente grande

fluxo de turistas de várias partes do Brasil e do mundo (POCONÉ, 2015).

A cultura do município é atrelada a fé do seu povo e a devoção aos santos populares.

Poconé é representado culturalmente pela manifestação de diversos grupos dentre os quais se

destaca os mascarados e a cavalhada (POCONÉ, 2015). Sua economia é composta

pela pecuária intensiva, tradicionalmente praticada na região pantaneira junto às pastagens

nativas, além da agricultura de subsistência e do extrativismo mineral (PORTAL MATO

GROSSO, 2015).

Quanto à sua rede de atenção à saúde, o município possui 8 UBS para assistir as

populações rurais e urbanas em suas necessidades básicas de saúde. Em nível secundário e

terciário, Poconé possui ambulatórios de especialidades, Hospital Geral e Pronto Socorro

Municipal, conforme expresso no Anexo 1.

Dos 27 estabelecimentos de saúde existentes em todos os níveis de complexidade, boa

parte são estabelecimentos públicos conveniados ao SUS (70,4%), enquanto o restante se

divide em maior proporção de estabelecimentos privados e filantrópicos (Anexo1).

Quanto à sua capacidade instalada, possui 64 leitos hospitalares, de caráter filantrópico,

sendo que destes 58 leitos estão disponíveis para o SUS. Sobre leitos complementares existem

apenas 2 em unidades de isolamento.

Sobre a disponibilidade de profissionais de saúde em Dezembro de 2014, o município

possuía o quadro médico de especialidades composto por anestesista, clínico geral, cirurgião

geral, obstetra, pediatra, radiologista, médico de família e psiquiatra. O município ainda

dispõe de fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, farmacêutico, assistente social e

psicólogo, conforme descrito no Anexo 1.

38

Cuiabá

Capital de Mato Grosso e Centro Geodésico da América do Sul, Cuiabá foi o primeiro

município fundado no estado há 296 anos e vive em constante transformação. Prestes a

receber o título de metrópole, a cidade estima uma população superior a 575 mil habitantes

distribuídos em uma área de 3.495,424 km². Com características peculiares, o clima na capital

mato-grossense é úmido no verão (dezembro a fevereiro) e seco no inverno (junho a agosto).

Mato Grosso divide as águas das Bacia Amazônica e Platina, entre os principais rios dessas

bacias estão o Cuiabá e o das Mortes. Destaca-se o Rio Cuiabá como divisor entre a capital e

o município de Várzea Grande. (PORTAL MATO GROSSO, 2015).

Atualmente a economia da capital baseia-se no comércio e na indústria. No comércio,

quem possui maior representação é o ramo varejista, formado por segmentos alimentícios, de

vestuário, eletrodomésticos, objetos e artigos diversos. No setor industrial a

representatividade é basicamente da agroindústria, devido ao distrito industrial que dispõe de

infraestrutura necessária. Todas essas atividades são somadas ao forte potencial turístico da

capital que está em constante crescimento (PORTAL MATO GROSSO, 2015).

Diante da necessidade de prover saúde à sua população e ser referência para os demais

municípios de Mato Grosso, a estrutura da rede de atenção à saúde de Cuiabá é composta, em

sua maioria, por serviços privados, sendo 89,1% de estabelecimentos particulares distribuídos

em todos os níveis de complexidade (Anexo 1).

A cidade também dispõe de 3 hospitais gerais públicos, 2 filantrópicos e 5 privados, além

do Pronto Socorro Municipal e mais 6 policlínicas que prestam assistência para todos os

municípios da região da Baixada Cuiabana e do estado, por ser considerado como referência

estadual em atendimentos de alta complexidade (Anexo1).

Referente à sua capacidade física instalada dispõe de leitos hospitalares de todas as

especialidades. A maior parte se encontra na rede privada e filantrópica que também

disponibiliza leitos ao SUS. A média de leitos de internação para cada mil habitantes é de 3,2,

porém, quando se trata apenas de leitos geridos pelo SUS, o número se reduz para 2,2 para

mil habitantes. Pela rede pública de saúde, a capital não possui leitos complementares em UTI

Adulto do Tipo I e III, UTI Neonatal tipo I e III e UTI Infantil tipo I, restringindo-se aos

convênios firmados com hospitais privados e filantrópicos (Anexo 1).

Em se tratando de profissionais médicos, existente para cada mil habitantes é de 1,6. Dos

39

883 médicos registrados no CNES em Dezembro de 2014 (Anexo 1), mais da metade presta

atendimento pelo SUS.

Diante dos resultados obtidos, com exceção de Cuiabá, os municípios referência do Polo

Base Cuiabá, são de pequeno porte e possuem diversas limitações em oferecer tecnologias,

principalmente em média complexidade para dar apoio ao diagnóstico fornecido pelas

especialidades médicas e exames aos usuários do SUS.

Tal fato reflete em dificuldades de acesso do usuário indígena na rede SUS e gera fila de

espera na regulação do sistema municipal de saúde.

De acordo com o entrevistado 1 existe limitação tanto em quantidade como em qualidade

na oferta dos serviços de média complexidade.

Os municípios, em sua maioria, de pequeno porte, possuem muitas

limitações em oferecimento de tecnologias mesmo as da média

complexidade, para apoio ao diagnóstico, especialidades médicas e

exames. Há limitação de vagas e oferecimento desses serviços, o que

dificulta muito o acesso na rede de referência e grande lista de espera.

Então há dificuldade por parte da rede de referência em atender de

forma diferenciada sua população indígena, de acordo com o que

preconiza o Sistema Único de Saúde (entrevistado 1).

Situações semelhantes já foram observadas por GARNELO (2012), em estudo que

traçou o panorama geral da saúde indígena no país. Foram enfatizadas no trabalho realizado

as longas filas de espera, a baixa oferta de serviços de qualidades e recusa sub-reptícia na

atenção à saúde do indígena.

Outros problemas são identificados, como a recusa no atendimento do paciente indí-

gena.

Os principais problemas enfrentados pelas EMSI, no acompanhamen-

to dos usuários indígenas estão relacionados às atuações com os mu-

nicípios. Existem municípios que tem dificuldade de receber a popu-

lação indígena, pois desconhece a Lei nº Lei 9.836 que instituiu o

Subsistema de Saúde Indígena, não reconhecendo que os indígenas

são munícipes, o que garante a eles o atendimento de forma integral

(entrevistado 2).

40

Um dos maiores desafios enfrentados ainda é a oferta de atendimento diferenciado à

população indígena, pela rede municipal de saúde, conforme é preconizado o Sistema Único

de Saúde.

Art 2° O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema

de Atenção à Saúde Indígena, devendo, para isso, ocorrer

adaptações na estrutura e organização do SUS nas regiões onde

residem as populações indígenas, para propiciar essa

integração e o atendimento necessário em todos os níveis, sem

discriminações (BRASIL, 1999).

A PNASPI recomenda que os estabelecimentos de referência se adequem para atender

os povos indígenas, respeitando as suas características culturais, permitindo o

acompanhamento de parentes, visita de terapeutas da medicina tradicional indígena,

adaptação dos cardápios oferecidos aos indígenas atendendo as suas especificidades culturais

e ajustar o espaço de internação com a instalação de redes. O SUS, tendo como princípio

básico a equidade e os serviços de saúde devem ofertar tratamentos específicos para os

desiguais, com o intuito de reduzir a vulnerabilidade das populações (MS, 2002).

COIMBRA JR e SANTOS (2000) ressaltam que as minorias vivenciam situações de

exclusão, marginalidade e discriminação que as colocam em posição de maior

vulnerabilidade frente a agravos à saúde (p. 125) como é o caso dos negros, indígenas,

ribeirinhos e população rural.

Raça/etnia, processo saúde-doença, nível socioeconômico,

educação, espacialidade, entre outras, são esferas profunda-

mente imbricadas, cujas inter-relações manifestam-se das mais

variadas formas. Em sociedades onde determinadas caracterís-

ticas fenotípicas podem estar em uma das vertentes que estrutu-

ram o sistema de classes e hierarquias sociais, pertencer a uma

dada raça/etnia pode, por si, limitar em muito as possibilidades

de mobilidade social ascendente e, consequentemente, restrin-

gir o acesso a serviços de saúde, educação, moradia, saneamen-

to (COIMBRA JR e SANTOS, 2000, p. 126).

As reflexões sobre racismo e discriminação nas instituições, ainda têm pouco espaço.

LÓPEZ (2012) ressalta que um dos motivos de ausência parcial deste tipo de reflexão pode

estar relacionado às dificuldades das instituições reconhecerem esses mecanismos e se

autoexaminarem como (re)produtoras de racismo (p. 122).

KALCKMANN et al. (2007) afirma que a prática do racismo institucional nos

serviços de saúde reflete diretamente nas populações negras e indígenas. Isso se deve a fatores

41

como a invisibilidade das doenças mais prevalentes nos grupos populacionais, a dificuldade

de acesso aos serviços de saúde, a qualidade da atenção à saúde, assim como o acesso aos

insumos.

Já BARROS (2003), reforça que a ausência de dados e informações sobre os povos

indígenas impõe uma reflexão sobre a invisibilidade como forma de exclusão genocida (p.

228) e que a população indígena é importante para analisar as questões de desigualdade e

diferença em saúde, considerando as contradições entre a realidade, a prática e o discurso

oficial.

COIMBRA JR e SANTOS (2000) reforçam ainda que os dados sobre os povos

indígenas são importantes para a compreensão dos determinantes e as formas de reprodução

das desigualdades em saúde no país. Segundo os autores, conhecer os dados e informações é

necessário para favorecer o campo de atuações políticas, incluindo também as lideranças

indígenas, bem como a intervenção com foco na equidade e promoção em saúde

Sendo assim, a vulnerabilidade das minorias é aumentada pelos próprios profissionais

de saúde, que ampliam barreiras ao acesso e diminuem a possibilidade de diálogo,

consequentemente afastando o usuário que busca atendimento. Todas essas questões vão

determinar diferenças importantes nos perfis de morbimortalidade entre os diversos grupos

populacionais (KALCKMANN et al.2007).

Diante de tal cenário, muitos desafios são percebidos para a resolutividade dos

problemas de saúde dos povos indígenas, refletindo em dificuldades na atenção à saúde

ofertada pelos municípios referência.

5.2 AS AÇÕES DE SAÚDE PREVISTAS PARA O POLO BASE CUIABÁ

Todos os programas e ações realizadas em área indígena devem estar voltados para a

promoção da saúde e prevenção das doenças e agravos. O papel da SESAI é garantir a Aten-

ção Básica em Saúde (ABS) dentro das aldeias. A assistência de média e alta complexidade

fica sob responsabilidade dos municípios referência do PB Cuiabá.

O Atendimento de ABS é desenvolvido pelas EMSI nas terras indígenas. São realiza-

das ações voltadas para as crianças, idosos, homens, mulheres, gestantes, puérperas, hiperten-

sos, diabéticos, imunização entre outros conforme mostra o Quadro 1.

42

Todas as ações são realizadas visando a promoção e proteção da saúde e prevenção de

agravos e doenças nos povos indígenas

Quadro 1- Programas de saúde ofertados pelo Polo Base Cuiabá e aldeias atendidas.

Eixo Programas Ofertados Aldeias Atendidas

Atenção à Saúde:

Promoção, Vigilância,

Proteção e Recuperação

da Saúde Indígena

Saúde da Mulher,

Santana

Nova Canaã

Umutina

Bakalana

Aterradinho

São Benedito

Perigara

Saúde da Criança,

Vig. Ambiental (Leishmaniose, Malá-

ria, etc),

Imunização e Doença Imunoprevení-

veis, DST/HIV/AIDS/Hepatites Virais,

DANT,

Saúde Mental,

Saúde Bucal

Tuberculose e Hanseníase,

Ass. Farmacêutica,

Vig. Saúde,

Saúde do Homem,

Saúde do Idoso

Fonte: Elaboração própria com base nos dados extraídos do PDSI 2012-2015/DSEI Cuia-

bá/SESAI/MS.

As equipes que atuam em áreas indígenas têm metas de atendimentos e em geral, se-

guem os protocolos da atenção básica do Ministério da Saúde e os protocolos específicos para

a população indígena, que são elaborados pela equipe técnica da SESAI. Os indígenas que

procuram os atendimentos na ABS do município são apenas aqueles que residem na cidade ou

em seu entorno. Já os residentes em aldeia só procuram os municípios quando são referencia-

dos, nos casos de atendimento da média e alta complexidade.

As ações de saúde priorizadas pelo PDSI 2012-2015 contemplamações programadas

no eixo de Atenção à saúde. Nesta pesquisa, para cada área programática, consideraram-se

somente as ações de caráter interinstitucional, ou seja, que possuem relação com os municí-

pios ou outras instituições.

Na área de Saúde da Mulher, as ações previstas foram:

Viabilizar junto aos municípios de abrangência do DSEI Cuiabá:

1- Realização dos exames laboratoriais e de diagnóstico conforme protocolo vigente;

2- Recebimento das requisições e laminas de PCCU e Mama bem como a realização

dos exames laboratoriais e de diagnóstico necessários conforme protocolo vigente;

43

3- Disponibilização dos métodos contraceptivos indicados no 1º atendimento pela

EMSI;

4- Referência para realização de mamografias na população feminina acima de 50

anos e

5- Viabilizar junto aos municípios e SES/MT a disponibilidade de vagas nas Capaci-

tações na área programática de Atenção à Saúde da Mulher.

Quanto à execução das ações, boa parte é realizada rotineiramente. Algumas limita-

ções são encontradas em relação à capacidade instalada dos municípios referência e limita-

ções tecnológicas nas aldeias, no que se refere a qualquer tipo de cadastro nos sistemas de

informação em saúde.

Segundo o responsável técnico por essa área, não ocorreram avanços nas duas últimas

ações citadas acima, mas já houve diálogo entre os municípios, a SES e os 06 DSEIs do esta-

do, para construção de agenda específica para as áreas de saúde da criança e da mulher indí-

gena.

Na área de Vigilância Alimentar e Nutricional da população indígena, foram previs-

tas pelo PDSI as ações abaixo:

Articular com municípios, estado e instituições públicas:

1- Capacitação de EMSI, AIS, AISAN e/ou lideranças comunitárias indígenas para

atuarem como educadores na área de alimentação e nutrição, com prioridade das

áreas indígenas de maior vulnerabilidade nutricional do DSEI Cuiabá;

2- Ações emergenciais e específicas de combate à fome e insegurança alimentar e nu-

tricional;

3- Ações de recuperação e Educação Nutricional e Alimentar nas áreas com maior

prevalência de desnutrição, sobrepeso e obesidade ou doenças relacionadas à ali-

mentação.

Das ações selecionadas, somente a primeira não foi realizada, pois priorizou-se a visitação

às aldeias para realizar treinamento em serviço e ações de educação em saúde.

44

Na área técnica responsável pela Vigilância Ambiental-Leishimaniose, previram-se

as seguintes ações:

Pactuar com os municípios referência:

1- Eutanásia canina;

2- Exames diagnósticos e medicamentos para os casos humanos positivos;

3- Realização de exames laboratoriais aos sintomáticos;

4- Medicamentos para todos os casos positivos via município contra notificação.

Segundo informações do responsável pela área, todas as ações foram realizadas desde

2012, juntamente com os municípios que dispunham de veterinário no quadro profissional.

Sobre a Vigilância em Saúde, foram previstas pelo PDSI as ações:

Viabilizar a Declaração de óbito epidemiológica e acesso ao SIM;

Visualização pelo DSEI dos casos notificados no Sistema de Informação de Agravos

de Notificação (SINAN) e

Pactuar com a SES o acesso ao Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).

Sobre a execução, todas as ações foram realizadas dentro da rotina, desde 2013, sem o re-

passe de informações adicionais.

Para a área de Assistência Farmacêutica, foram previstas no PDSI as ações abaixo:

Sensibilizar os profissionais dos municípios de referência quanto à necessidade de

prescrever medicamentos padronizados pelo MS, para saúde indígena;

Articular com municípios de referência e SES-MT a pactuação da aquisição de medi-

camentos essenciais e excepcionais.

As duas ações foram realizadas durante todo o período de vigência do PDSI 2012-

2015, considerando que a sensibilização dos profissionais prescritores é uma ação que deve

ser realizada de forma rotineira e por todos que compõem as equipes de saúde do Polo Cuia-

bá. A responsabilidade da SES-MT em conjunto com a união é de garantir os medicamentos

45

do componente especializado e estratégico, ficando a cargo da SESAI, somente a aquisição

dos medicamentos da atenção básica.

Quanto às demais áreas técnicas: Saúde do Homem e do Idoso; Combate e controle de

malária; DST/ HIV/ AIDS e Hepatites Virais; Doenças e Agravos não Transmissíveis

(DANT); Saúde Mental; Doenças em Eliminação; Tuberculose e Hanseníase não se obteve

retorno sobre execução das ações previstas no Plano de Trabalho do PDSI.

5.3 ORGANIZAÇÕES DOS SISTEMAS DE REFERÊNCIA E CONTRARREFE-

RÊNCIA DO POLO BASE CUIABÁ

O processo de atendimento do paciente indígena no SUS se inicia após o atendimento

do mesmo em área indígena pela EMSI, que classifica a necessidade do paciente e

solicitaconsulta com especialista ou realização de exame. Em posse dessa solicitação, um

profissional da equipe se dirige até a secretaria de saúde ou central de regulação para dar

entrada no agendamento, conforme disponibilidade no município de referência.

A inserção do DSEI Cuiabá no fluxo regulatório do SUS se dá pela regulação dos

pacientes indígenas através da Central Municipal e Estadual de Saúde, ambas localizadas em

Cuiabá. Posteriormente, os usuários indígenas são direcionados para os estabelecimentos de

saúde do município. A Central de Regulação Estadual também é responsável por regular os

pacientes encaminhados pelas Centrais Regionais dos outros DSEI pertencentes ao estado

(SESAI, 2014).

Após esses trâmites, a SMS informará o agendamento e informará o profissional de

saúde que está acompanhando o indígena que organize o deslocamento do usuário para o

município onde será realizado o exame, consulta ou internação. O deslocamento é garantido

pelo DSEI Cuiabá, uma vez que os municípios não oferecem suporte para o transporte dos

indígenas.

Além de organizar o deslocamento, o profissional da EMSI acompanha o usuário na

referência. Em algumas situações, o usuário é encaminhado para a CASAI, caso o

atendimento necessite ser realizado no município de Cuiabá ou Rondonópolis. Nestas

unidades, os profissionais ficam responsáveis por acompanhar ou orientar o usuário para a

consulta na referência.

46

Apesar da existência de censos registrados no Sistema de Informação da Atenção à

Saúde Indígena (SIASI), o sistema encontrava-se em processo de atualização durante o

levantamento de dados para realização dessa pesquisa. Somente informações de pacientes

gestantes e dos programas de Vigilância Alimentar e Nutricional, Saúde Bucal e

Monitoramento de Doenças Diarreicas e Agudas estão sendo atualizadas mensalmente.

Recorreu-se então ao Sistema de Internações Hospitalares-SIH/SUS durante a coleta

de dados. Cabe destacar que esse banco de dados não mensura as internações de pacientes

indígenas segundo sua etnia, contrariando as recomendações da PNASPI que preconiza a

atenção diferenciada dentro do SUS. Tal fato ocasionou um viés de confundimento no

trabalho, portanto os dados representados a seguir referem-se à internação total de indígenas

nos municípios de referência, independentemente das etnias serem assistidas ou não pelo PB

Cuiabá.

Os dados obtidos e organizados no Quadro 2 demonstram que em Cuiabá, nos últimos

cinco anos, os maiores registros de internação na população não-indígena, foram decorrentes

de neoplasias, seguidas pelas doenças do aparelho circulatório, digestivo e respiratório,

apresentando uma situação de transição das condições de saúde, caracterizado pela queda

relativa das condições agudas e para o aumento das condições crônicas. Ou seja, manifesta-se,

o fenômeno da transição epidemiológica, comumente observado em países em situação

desenvolvimento, como é o caso do Brasil (MENDES, 2011).

Segundo MENDES (2011), os principais fatores determinantes do aumento das

condições crônicas são as mudanças demográficas, mudanças nos padrões de consumo e nos

estilos de vida, a urbanização acelerada e as estratégias mercadológicas.

Referente às internações de indígenas em Cuiabá (Quadro 2), os números são

significativamente menores, quando comparados com a população não-indígena. Os registros

referem- se às doenças do aparelho respiratório, acompanhadas das doenças infecciosas e

parasitárias.

Baseado nessas informações, um novo levantamento foi realizado buscando dentro dos

grupos responsáveis pelos maiores números de internação, a lista das morbidades pelas quais

mais se internaram os indígenas na capital. Cabe destacar que no período analisado, 50,8%

das internações do grupo de doenças do aparelho respiratório correspondeu a pneumonia e

45,6% foram decorrentes de outras doenças do aparelho respiratório não especificadas na

classificação. Do grupo das doenças infecciosas e parasitárias, mais da metade (51,8%) das

internações foram em decorrência de septicemia, seguidas de outras doenças bacterianas

47

(25,9%).

No município de Barra do Bugres, as principais causas de internação da população

não-indígenas são relativas às doenças da pele e do tecido subcutâneo, doenças do aparelho

respiratório e doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos e alguns transtornos

imunitários, respectivamente, conforme Quadro 2. Como em Cuiabá, as internações de

indígenas registradas em Barra do Bugres são menores e as respectivas causas são doenças do

aparelho respiratório, onde 25% de internações desse grupo sãorepresentadas por pneumonia

e gripe.

Já em Nobres, a população não-indígena, no período analisado se internou mais por

decorrência das doenças do aparelho respiratório, acompanhadas das doenças infecciosas e

parasitárias, doenças do aparelho circulatório e as doenças endócrinas nutricionais e metabóli-

cas (Quadro 2). Os indígenas se internaram mais por causa de doenças do aparelho respirató-

rio, doenças infecciosas e parasitárias e doenças endócrinas nutricionais e metabólicas, na

devida ordem (Quadro 2). Destaca-se que 23,5% das internações indígenas do grupo de doen-

ças do aparelho respiratório, correspondem exclusivamente a pneumonias.

Em Poconé, foram obtidas apenas informações referentes a internações de pacientes

não- indígenas. Grande parte das internações foi decorrente de doenças infecciosas e parasitá-

rias, doenças do aparelho circulatório e geniturinário, respectivamente, conforme mostra o

Quadro 2. Do grupo de doenças infeciosas e parasitárias, destaca-se que 45,3% corresponde-

ram a internações por diarreias e gastroenterites de origem infecciosas.

48

Quadro 2- Internações totais de pacientes indígenas e não-indígenas nos municípios referência (Rede SUS), segundo causas de internação con-

forme CID X, por anos de processamento 2010-2014.

Capítulo CID X

Barra do Bugres Cuiabá Nobres Poconé TOTAL

Indígena Não-

Indígena Indígena

Não-

Indígena Indígena

Não-

Indígena Indígena

Não-

Indígena Indígena

Não-

Indígena

I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 1 1.853 27 7.604 2 98 -- 2.549 30 12.104

II. Neoplasias (tumores) 0 440 13 19.468 1 21 -- 112 14 20.041

III. Doenças sangue órgãos hemat e transtimunitár 0 2.293 0 488 0 9 -- 134 0 2.924

IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 0 510 2 3.327 2 56 -- 600 4 4.493

V. Transtornos mentais e comportamentais 0 87 0 603 0 0 -- 28 0 718

VI. Doenças do sistema nervoso 0 597 9 782 0 0 -- 166 9 1.545

VII. Doenças do olho e anexos 0 4 0 233 0 0 -- 0 0 237

VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastoide 0 22 0 143 0 0 -- 10 0 175

IX. Doenças do aparelho circulatório 0 26 4 12.746 1 58 -- 884 5 13.714

X. Doenças do aparelho respiratório 2 4.020 57 11.645 5 198 -- 2.306 64 18.169

XI. Doenças do aparelho digestivo 1 1.210 20 12.652 0 26 -- 951 21 14.839

XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 0 5.230 1 1.767 0 11 -- 81 1 7.089

XIII. Doenças sist osteomuscular e tec conjuntivo 0 132 1 2.936 0 0 -- 93 1 3.161

XIV. Doenças do aparelho geniturinário 1 1.094 3 8.322 0 19 -- 1.353 4 10.788

XV. Gravidez parto e puerpério 2 1.226 3 54.983 4 76 -- 1.979 9 58.264

XVI. Algumas afec originadas no período perinatal 1 425 5 3.150 0 0 -- 98 6 3.673

XVII. Malf cong deformid e anomalias cromossômicas 0 35 2 1.472 0 0 -- 2 2 1.509

XVIII. Sint sinais e achadanormexclín e laborat 0 460 0 845 0 2 -- 341 0 1.648

XIX. Lesões enven e alg out conseq causas externas 0 1.650 6 6.036 2 12 -- 153 8 7.851

XX. Causas externas de morbidade e mortalidade 0 4 0 23 0 0 -- 0 0 27

XXI. Contatos com serviços de saúde 0 1.654 0 1.905 0 1 -- 410 0 3.970

Total 8 22.972 153 151.130 17 587 -- 12.250 178 186.939

Fonte: SIH/SUS. Acesso em 07/05/2015.

Legenda: -- Informações não disponíveis na base de dados consultados.

49

Tabela 2: Total de internação de pacientes indígenas e não-indígenas, por local de internação,

segundo período 2010-2014.

Local de internação

Usuário

Indígena

Usuário

Não-indígena* Total

N % N % N %

Barão de Melgaço -- -- -- -- -- --

B. Bugres 8 0 22.972 99,9 22.970 100

Cuiabá 153 0,1 151.130 99,9 151.283 100

Nobres 17 2,8 587 97,2 604 100

Poconé -- -- 12.250 100 12.250 100 Fonte: SIH/SUS. Acesso em 07/05/2015.

Legenda: -- Informação não obtida na base de dados.

* Dado obtido através do somatório de internações Raça/Cor: branca, preta, parda e amarela.

Segundo CARDOSO (2014) e GARNELO (2012), boa parte dos agravos à saúde da

população indígena do país teria resolutividade nas próprias aldeias e polos-base. Entretanto,

o SASI ainda é caracterizado com modelo médico assistencial precário no que tange a execu-

ção de ações básicas, refletindo em um cenário de doenças carenciais e infecto parasitária.

Assim, os usuários continuam sendo encaminhados para os estabelecimentos de refe-

rência, consequentemente ocasionandolotações nas CASAIs, além gerar despesas desnecessá-

rias para as famílias dos pacientes indígenas que acabam paralisando as atividades de subsis-

tência na aldeia em que residem.

Em contrapartida, segundo afirmação do entrevistado 2, a resolutividade de algumas

situações no PB Cuiabá melhorou após a implantação do Programa Mais Médicos, que con-

templou o DSEI com dois profissionais para atuação nas aldeias.

[...]Com o Programa Mais Médicos do Governo Federal,

a população indígena ganhou muito, contamos com dois

médicos atuando, com isso a resolutividade dos casos na

maioria das vezes é dentro da própria aldeia, porém os

casos que necessitam de exames complementares, ou

avaliação de especialistas os municípios têm dificultado

muito, talvez por serem de pequeno porte, e sem pouca

resolutividade (entrevistado 2).

O Programa Mais Médicos elevou o número de profissionais onde havia mais necessi-

dade. Antes do programa, os 34 DSEIs contavam com 247 médicos, lotados em regiões onde

não era necessário dormir na aldeia. Com o programa, o número de profissionais cresceu para

582 médicos, oportunizando a fixação do profissional nas áreas mais distantes (BRASIL,

2015).

50

Quanto as internações no município de Barão de Melgaço, não foram obtidas informa-

ções referentes à pacientes indígenas e não-indígenas. Em Poconé, as informações limitam-se

às internações de usuários não-indígenas no banco de dados SIH-SUS, entre os anos de 2010

a 2014. Não significa afirmar que não houve, de fato, nenhuma internação no município. Al-

guns fatores se devem a essa lacuna, por exemplo, o fato de constar no SIH-SUS apenas as

internações pagas e não todas as que foram efetivamente realizadas pelo SUS, devido limites

definidos na programação física e financeira da rede municipal de saúde.

Outra possibilidade é a subnotificação do número de internações realizadas em

hospitais públicos que são financiados por transferência direta de recursos e não por produção

de serviços, além do dado sofrer influência por parte de infraestrutura de serviços, recursos

humanos, materiais, tecnológicos efinanceiros disponíveis e das políticas públicas

assistenciais e preventivas, como a regionalização e hierarquização do SUS e dos critérios

técnico-administrativos de pagamento adotados no âmbito do sistema de saúde. (DATASUS,

2015).

Neste trabalho acredita-se que, a ausência de dados de internação em Barão de Melga-

ço refere-se ao fato dos atendimentos de indígenas da aldeia Perigara, pertencentes ao territó-

rio do município, serem logisticamente inviáveis devido à distância da aldeia até a unidade de

saúde.

Outro aspecto que deve ser considerado é a variação sazonal que caracteriza os perío-

dos de “cheia e vazante” no Pantanal e impossibilitam o acesso terrestre, comprometendo a

assistência que deveria ser prestada pelo município. Assim, o transporte passa a ser feito por

vias fluviais, ao invés de terrestres, aumentando o tempo de deslocamento e a referência mais

próxima neste sentido passa a ser o município de Poconé.

Logo, todos os indígenas da região do pantanal (Perigara, Aterradinho e São Benedito)

procuram atendimento no município de Poconé. O município tem portas abertas para os aten-

dimentos dos indígenas da aldeia Perigara, mesmo não sendo munícipes. Ainda assim, não

foram encontrados dados de internações de indígenas em Poconé no SIH-SUS. Tal pesquisa

apresentou como limitação, a ausência de verificações de recursos e transferências nos muni-

cípios para a atenção à saúde dos indígenas em média e alta complexidade.

Já em Poconé, a dificuldade encontrada pelo usuário indígena também diz respeito à

distância e deslocamento até a unidade de saúde.

51

Devido a logística o indígena percorre de 10 a 12 horas

no barco até chegar no Porto Cercado no município de

Poconé [...]Geralmente os deslocamentos ocorrem com 1

(um) dia de antecedência, pois são trazidos do Porto

Cercado em Poconé para a Casai Cuiabá para pernoitar

e no dia seguinte retornam para Poconé para consulta

com especialista, exames laboratoriais entre outros. Em

alguns casos, de Poconé já retornam para a aldeia, mas

na maioria das vezes retornam novamente para Cuiabá e

no dia seguinte retornam para a aldeia, toda essa logís-

tica deve ser feita porque o indígena não tem nenhum lo-

cal para se hospedar (entrevistado 2).

Nesse sentido, a regionalização faz-se fundamental, pois sendo uma das diretrizes

organizativas do SUS é a estratégia que prioriza a garantia do direito à saúde, a redução das

disparidades, promovendo a integralidade, a equidade das ações e o fortalecimento do

processo de descentralização (PAIM, 2009).

Em 2011, entrou em vigor o Decreto 7.508/11, preconizando a organização do SUS, o

planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa. O decreto enfatiza

as regiões de saúde, as formas de acesso ao SUS, as redes de atenção e os espaços

interfederativos de pactuações, através das Comissões Intergestores. Alguns conceitos

importantes são abordados no decreto, dentre eles o de Região de Saúde, entendida como um

espaço geográfico que contempla vários municípios, delimitados acerca das particularidades

culturais, econômicas e sociais de cada um, cuja finalidade é integrar e organizar o

planejamento e a execução das ações e serviços de saúde (BRASIL, 2011).

Na conjuntura da articulação interfederativa, tal documento ressalta e aprimora os es-

paços de pactuações consensuais, com as Comissões Intergestores Regionais (CIRs), as Co-

missões Intergestores Bipartite (CIBs) e Comissão Intergestores Tripartite (CIT). Essas co-

missões pactuarão, de modo geral, a organização e o funcionamento das ações e serviços de

Saúde.

A CIT é a instância federal de articulação, vinculada ao Ministério da Saúde, a CIB é

instituída em âmbito estadual e vinculada à Secretaria Estadual de Saúde (SES) e por fim, a

CIR, também em nível regional, ligada a SES, que deve atuar em consonância com as diretri-

zes da instancia estadual (BRASIL, 2011).

Com a divulgação do Decreto, a população indígena deveria conquistar espaço nas

discussões em âmbito regional, através do estabelecimento de regras diferenciadas quanto ao

52

acesso nos serviços de saúde, de acordo as especificidades e a necessidade da assistência à

saúde, sob responsabilidade federal (BRASIL, 2011).

Desde 2013 a Resolução CIT Nº 10, recomenda que os gestores dos DSEI participem

das reuniões da CIR e CIB estadual, porém, esta recomendação não coloca o gestor do DSEI

num papel ativo, que permita atuar como ente federativo no processo de pactuação.

Art. 1º Fica aprovada a participação dos representantes dos Dis-

tritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena (DSEI/SESAI/MS),

na qualidade de convidados, nas reuniões e atividades realizadas

pelas Comissões Intergestores Regionais (CIR) e Comissões In-

tergestores Bipartites (CIB) de modo a promover a articulação e

integração dos gestores do Subsistema de Atenção à Saúde Indí-

gena (SASI-SUS) com os gestores estaduais e municipais do Sis-

tema Único de Saúde (SUS) em torno de temas afetos à Política

Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e sua relação

com as políticas públicas de saúde do SUS.

Art. 2º Os representantes dos DSEI/SESAI/MS serão indicados

pelo Ministério da Saúde, por meio da Secretaria Especial de Sa-

úde Indígena (SESAI/MS). (BRASIL, 2013).

O gestor do DSEI ou seu representante tem apenas a possibilidade de solicitar aos re-

presentantes municipais a pactuação de ações e procedimentos de saúde para as populações

indígenas referenciadas a estes municípios. O DSEI Cuiabá reconhece a importância dessa

participação e afirma o seu fortalecimento gradual nesse espaço.

Portanto, a participação do gestor, ainda que considerada um avanço no campo inte-

rinstitucional, permanece fragilizada diante das necessidades de saúde das populações indíge-

nas e da diversidade de territórios que o DSEI Cuiabá abrange no estado de Mato Grosso. As

pactuações dos serviços entre DSEI e SUS acontecem em agendas específicas com secretários

municipais de saúde e/ou representantes, para discutir demandas da área indígena.

As pactuações acontecem em agendas específicas com

secretários municipais de saúde e/ou representantes

desses, para discutir demandas da área indígena. A

participação em CIR, por representantes do DSEI vem se

fortalecendo. Já participei de CIB e estamos em fase de

fortalecimento da nossa participação nesses espaços,

pois temos o reconhecimento de sua importância

(entrevistado 1).

53

[...] a população indígena não se diferencia dentro do

SUS, os agendamentos de exames e consultas especiali-

zadas são regulados e o tempo de espera é igual de um

não indígena. O SUS tem muito o que melhorar a come-

çar pelas Políticas de Saúde Pública. A participação so-

cial dos indígenas dentro dos conselhos municipais é de

suma importância, pois nesses espaços é que se consegue

“brigar” pelas especificidades dos povos indígenas, que

na maioria das vezes não é respeitado no SUS, de forma

integral e diferenciada (entrevistado 2).

No que tange ao planejamento, as ações de saúde devem ser desenvolvidas continua-

mente, de forma articulada e integrada pelos entes federativos, responsáveis por abarcar as

necessidades de saúde da população, por meio da estruturação das Redes de Atenção à Saúde.

Os planos de saúde devem apresentar suas particularidades, definindo diretrizes, metas

e objetivos a serem alcançados para a melhoria da qualidade do SUS, em nível municipal e

estadual. No caso dos DSEI, o Plano Distrital precisa contemplar as inter-relações entre os

entes federativos para programação de ações de saúde da população indígena.

5.3.1 DESAFIOS NA COMPLEMENTAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA PE-

LOS MUNICÍPIOS REFERÊNCIA DA REDE SUS

Mesmo sendo de responsabilidade da SESAI prover a assistência básica para os

indígenas, existem situações em que é necessário buscar auxílio nos municípios de referência

e quando isso ocorre, o DSEI encontra dificuldades e limitações. Através de informações da

entrevista 2, foi possível identificar alguns problemas na complementação da atenção básica

para os indígenas na rede SUS, conforme descritos abaixo.

Em Nobres, os problemas encontrados foram referentes a marcações de exames e

consultas/especializadas. O município alega não ter vaga disponível e não abre agenda para

indígenas, recusando aceitar os formulários, justificando que o documento ficará

parado/arquivado.

Outra dificuldade é com a realização de exames como lipidograma, triglicerídeos,

sódio e potássio, fator Rh, ureia, creatinina entre outros que não são realizados pelo município

com alegação de falta do material no laboratório contratado pelo sistema municipal de saúde.

54

Entretanto, a demanda particular desses exames é realizada e dessa forma, o indígena que

necessitar dos exames citados, se vê obrigado a efetuar o pagamento para conseguir os

resultados solicitados.

Já exames de imagem como Raio – x com laudo e Eletrocardiograma não são

realizados em Nobres, sem ter outra referência para procurar o serviço, o paciente tem que se

deslocar até o município de Diamantino e custear o exame. Conforme citado anteriormente, a

maior causa de internação dos indígenas atendidos em Nobres é referente a doenças do

aparelho respiratório e o município não está realizando já a algum tempo o exame de escarro,

refletindo em dificuldades na avaliação/acompanhamento dos pacientes sintomáticos

respiratórios.

Em Barra do Bugres, aproximadamente 90% dos exames laboratoriais solicitados pelo

médico como lipidograma, triglicerídeos, sódio e potássio, glicemia, hemograma, urina, fezes,

fator Rh, ureia, creatinina entre outros também não são realizados pelo município, o que

dificulta o acompanhamento do pré-natal das gestantes residentes nas aldeias Umutina e

Bakalana. Em algumas situações, há negligência no atendimento de laboratórios

contratualizados para a realização de exames sendo que por vezes, os procedimentos são

custeados pelos pacientes.

Nos municípios de Poconé e Barão de Melgaço, os desafios enfrentados pelos

indígenas aldeados da região do pantanal, declaram a dificuldade de logística e locomoção

para quem busca atendimento na rede básica de saúde desses municípios. Questões territoriais

e sazonais, somadas a ausência de local para hospedagem e de recursos para custeio de

alimentação implicam em dificuldade de acesso do paciente indígena à assistência, cenário

que reflete a falta de planejamento e diálogo entre municípios e Distrito Sanitário.

Outra necessidade apontada pelo entrevistado 2, diz respeito não só ao PB Cuiabá,

mas sim para todo DSEI. Trata-se da ausência de oferta das capacitações antropológicas na

instituição. Tal formação é de grande importância, visto que dentro do Polo Cuiabá, atende-se

4 etnias diferentes, cada qual com suas especificidades, costumes e crenças. O profissional

aprende no dia-a-dia a trabalhar com essas questões, através do contato com as distintas etnias.

É ofertado aos profissionais e gestores apenas capacitações relacionadas às atividades

que são desenvolvidas em área como: Capacitação em Sala de Vacina, Vigilância do Óbito,

Hanseníase entre outros.

55

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As redes de assistência dos municípios referência em média e alta complexidade não

incorporaram como de sua responsabilidade a atenção à saúde dos povos indígenas, mesmo

aquelas em que o território indígena está inserido na extensão do município.

O percurso metodológico permitiu observar por meio das falas dos entrevistadosque a

relação entre as Secretarias Municipais de Saúde e PB/DSEI é fragilizada. Tal fato pôde ser

comprovado com a ausência da questão indígena nos planos municipais de saúde, reforçando

a invisibilidade dessa população perante as políticas públicas, em especifico as políticas de

saúde. Caso isso ocorresse, na prática, poderia ser melhorado o acesso e a resolutividade da

assistência do indígena no SUS nos municípios de referência.

A articulação insuficiente entre as esferas no contexto da saúde indígena poderia ser

resolvida com um processo de planejamento que envolvesse essa temática, minimamente, nos

Planos Municipais e Estadual de Saúde, onde fossem descritas notoriamente as obrigações e

competências, assim como o respeito ao papel de cada esfera de gestão do SUS, concernentes

as ações de assistência à saúde e a regulação do acesso do usuário indígena no sistema de

saúde municipal, com o intuito de apoiar o DSEI.

Os municípios referência do polo, por serem considerados de pequeno porte, possuem

diversas limitações em oferecer tecnologias, principalmente da média complexidade para dar

apoio ao diagnóstico fornecido pelas especialidades médicas e exames aos usuários do SUS.

A baixa capacidade desses municípios em prestar assistência de média e alta

complexidade, as grandes demandas desses níveis de complexidade referenciadas do estado

inteiro para a capital Cuiabá, bem como a complementação da atenção básica insuficiente,

somadas a caracterização do SASI-SUS como modelo médico assistencial precário na

execução de ações básicas e a recusa ilegal por parte da rede de referênciano atendimento de

indígenas, refletem em dificuldades de acesso do usuário indígena no SUS. Somado a outros

fatores, a precariedade no acesso à rede assistencial implica na manutenção de um cenário

onde prevalecem as doenças carenciais e infecciosas e avançam as doenças e agravos não

transmissíveis entre os povos indígenas do Polo Base Cuiabá.

Apesar do longo percurso de construção da atenção à saúde dos povos indígenas há

mais de 100 anos, desde as primeiras políticas do Serviço de Proteção ao Índio até a atual

responsável SESAI, nem todos os esforços concentrados para melhorar a situação de saúde, a

assistência à saúde dos povos indígenas e a rede assistencial formal do SUS continuam

56

operando de modo fragmentado. Além disso, a gestão das políticas de saúde indígena segue

em paralelo à gestão dos sistemas municipais e estaduais do SUS. Fazer com que a saúde dos

povos indígenas receba uma visão tripartite no que tange a sua gestão, ainda é um desafio,

uma vez que a integração do DSEI com o Sistema Único de Saúde não se deu integralmente.

Com essa pesquisa espera-se contribuir para novos estudos sobre a temática,

subsidiando o diálogo entre as esferas de gestão e entre o SUS e o SASI-SUS, para que na

prática das ações, os direitos dos Povos Indígenas sejam assegurados e os princípios

constitucionais de direito a diferença sejam respeitados e cumpridos integralmente.

57

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63

ANEXOS

ANEXO I:CAPACIDADE INSTALADA EM SAÚDE NOS MUNICÍPIOS

REFERÊNCIA

Tabela 1: Tipo de estabelecimento, por quantidade, segundo município referência em 2014.

ESTABELECIMENTO DE SAÚDE MUNICÍPIOS

Barão

Melgaço

Barra

Bugres Cuiabá Nobres Poconé

Academia da Saúde - - - - 1

Central de Regulação 1 - 1 - 1

Central de Regulação Médica das Urgências - - 1 - -

Centro de Apoio à Saúde das Famílias –

CASF - - - - 1

Centro de Atenção Hemoterápica e/ou

Hematológica - 1 2 - -

Centro de Atenção Psicossocial-CAPS - 1 5 - 1

Centro de Saúde/Unidade Básica de Saúde 2 6 86 4 8

Central de Notif. Captação e Distr. Órgãos

Estadual - - 1 - -

Clínica Especializada/Ambulatório

Especializado 1 6 251 - 4

Consultório - 2 884 1 2

Cooperativa - - 8 - -

Farmácia - 1 1 - 1

Hospital Especializado - - 10 -

Hospital Geral 1 1 13 1 1

Hospital Dia - - 1 - -

Laboratório Central de Saúde Pública –Lacen 1 - 1 - -

Policlínica - 1 7 - -

Posto de Saúde 9 2 1 3 -

Pronto Socorro Municipal/ Pronto

Atendimento - - 2 - 1

Secretaria de Saúde 1 1 3 1 1

Serviço de Atenção Domiciliar Isolado (Home

Care) - - 3 - -

Unidade de Atenção à Saúde Indígena - 1 3 - -

Unidade de Serviço de Apoio de Diagnose e

Terapia - 3 106 2 4

Unidade Móvel de Nível pré-hosp-Urg/Emergência - 21 - 1

Telessaúde - - 1 - -

TOTAL 16 26 1.412 12 27

Fonte: CNES/DATASUS, 2015. Acesso em:16/03/2015

Nota: Número total de estabelecimentos, prestando ou não serviços ao SUS.

64

Tabela 2: Estabelecimentos de saúde dos municípios referência, segundo tipo de prestador,

2014.

MUNICÍPIOS

TIPO PRESTADOR

Público Privado Filantrópico

N % N % N %

Barão de Melgaço 16 100 - - - -

Barra do Bugres 16 61,5 10 38,5 - -

Cuiabá 144 10,2 1.259 89,1 9 0,7

Nobres 8 66,7 4 33,3 - -

Poconé 19 70,4 7 25,9 1 3,7

Fonte: CNES/DATASUS. Acesso em:16/03/2015.

Tabela 3: Recursos Humanos (vínculos) segundo categorias selecionadas, por município

referência, Dez/2014.

CATEGORIA MUNICÍPIOS

Barão de

Melgaço

Barra do

Bugres Cuiabá Nobres Poconé

Médicos - 41 883 8 49

.. Anestesista - 15 70 -

5

.. Cirurgião Geral - - 42 -

4

.. Clínico Geral - 21 414 5

12

.. Gineco Obstetra - - 111 1

7

.. Médico de Família - 2 41 2

8

.. Pediatra - 2 180 -

4

.. Psiquiatra - 1 23 -

2

.. Radiologista - - 2 -

3

Cirurgião dentista 2 8 639 5

4

Enfermeiro 8 16 901 7

11

Fisioterapeuta 1 7 297 3

22

Fonoaudiólogo - 2 71 -

3

Nutricionista - 3 135 -

1

Farmacêutico - 3 99 1

3

Assistente social - 2 171 1

1

Psicólogo - 6 172 1

3

Auxiliar de Enfermagem 11 57 3.030 15

3

Técnico de Enfermagem 9 33 2.166 7

49

TOTAL 31 178 8.564 48 149

Fonte: CNES, DATASUS. Acesso em 20/03/2015

65

Tabela4: Número de estabelecimentos por tipo de convênio segundo tipo de atendimento

prestado, Barão de Melgaço, Dez/2014.

Serviço prestado SUS Particular Plano de Saúde

Público Privado

Internação 1 - - -

Ambulatorial 14 - - -

Urgência 1 - - -

Diagnose e terapia 2 - - -

Vig. epidemiológica e sanitária 1 - - -

Farmácia ou cooperativa - - - -

TOTAL 19 - - -

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

Tabela 5: Número de estabelecimentos por tipo de convênio segundo tipo de atendimento

prestado, Barra do Bugres, Dez/2014.

Serviço prestado SUS Particular Plano de Saúde

Público Privado

Internação 1 - - -

Ambulatorial 13 8 - 5

Urgência 1 - - -

Diagnose e terapia 2 3 - 1

Vig. epidemiológica e sanitária 1 - - -

Farmácia ou cooperativa 2 - - -

Fonte: CNES.Acesso: 22/03/2015.

Tabela 6: Número de estabelecimentos por tipo de convênio segundo tipo de atendimento

prestado, Cuiabá, Dez/2014.

Serviço prestado SUS Particular Plano de Saúde

Público Privado

Internação 16 18 1 10

Ambulatorial 163 1.147 9 947

Urgência 39 22 1 12

Diagnose e terapia 125 146 5 87

Vig. epidemiológica e sanitária 7 - - -

Farmácia ou cooperativa 2 4 - 7

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

66

Tabela 7: Número de estabelecimentos por tipo de convênio segundo tipo de atendimento

prestado, Nobres, Dez/2014.

Serviço prestado SUS Particular Plano de Saúde

Público Privado

Internação 1 1 - -

Ambulatorial 9 2 - -

Urgência 1 1 - -

Diagnose e terapia 3 3 - -

Vig. epidemiológica e sanitária 2 - - -

Farmácia ou cooperativa 2 - - -

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

Tabela 8: Número de estabelecimentos por tipo de convênio segundo tipo de atendimento

prestado, Poconé Dez/2014.

Serviço prestado SUS Particular Plano de Saúde

Público Privado

Internação 1 1 - -

Ambulatorial 15 6

5

Urgência 2 - - -

Diagnose e terapia 7 1 - -

Vig. epidemiológica e sanitária 1 - - -

Farmácia ou cooperativa 2 - - -

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

Tabela 9: Número de leitos de internação existentes por tipo de prestador segundo

especialidade, Barão de Melgaço, Dez/2014.

Especialidade Público Total

Existentes SUS Existentes SUS

Cirúrgicos - - - -

Clínicos 7 7 7 7

Obstétrico 2 2 2 2

Pediátrico 2 2 2 2

Outras Especialidades - - - -

Hospital/DIA - - - -

Total 11 11 11 11

Leitos existentes por 1.000 habitantes: 1,4

Leitos SUS por 1.000 habitantes: 1,4

Fonte: CNES. Acesso em 27/03/2015.

67

Tabela 10: Número de leitos de internação existentes por tipo de prestador segundo

especialidade, Barra do Bugres, Dez/2014.

Especialidade Público Privado Total

Existentes SUS Existentes SUS Existentes SUS

Cirúrgicos 14 14 - - 14 14

Clínicos 31 31 - - 31 31

Obstétrico 12 12 - - 12 12

Pediátrico 19 19 - - 19 19

Outras Especialidades 2 2 - - 2 2

Hospital/DIA - - - - - -

Total 78 78 - - 78 78

Leitos existentes por 1.000 habitantes: 2,3

Leitos SUS por 1.000 habitantes: 2,3

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

Tabela 11: Número de leitos de internação existentes por tipo de prestador segundo especiali-

dade, Cuiabá, Dez/2014.

Especialidade Público Privado Filantrópico Total

Existentes SUS Existentes SUS Existentes SUS Existentes SUS

Cirúrgicos 213 213 361 98 218 158 792 569

Clínicos 175 175 202 32 181 165 558 372

Obstétrico 19 19 38 13 106 99 163 131

Pediátrico 39 39 50 2 128 123 217 164

Outras Especiali-

dades 133 133 - - 3 3 136

136

Hospital/DIA - - 12 - - - 12 -

Total 579 579 663 145 636 548 1.878 1.272

Leitos existentes por 1.000 habitantes: 3,2

Leitos SUS por 1.000 habitantes: 2,2

Fonte: CNES. Acesso 22/03/2015.

Tabela 12: Número de leitos de internação existentes por tipo de prestador segundo

especialidade, Nobres, Dez/2014.

Especialidade Público Privado Total

Existentes SUS Existentes SUS Existentes SUS

Cirúrgicos - - 7 5 7 5

Clínicos - - 18 16 18 16

Obstétrico - - 8 6 8 6

Pediátrico - - 8 7 8 7

Outras Especialidades - - - - - -

Hospital/DIA - - - - -

Total - - 41 34 41 34

Leitos existentes por 1.000 habitantes: 2,7

Leitos SUS por 1.000 habitantes: 2,2

Fonte: CNES. Acesso: 27/03/2015

68

Tabela 13: Número de leitos de internação existentes por tipo de prestador segundo

especialidade, Poconé, Dez/2014.

Especialidade Filantrópico Total

Existentes SUS Existentes SUS

Cirúrgicos 13 12 13 12

Clínicos 26 23 26 23

Obstétrico 12 11 12 11

Pediátrico 12 11 12 11

Outras Especialidades 1 1 1 1

Hospital/DIA - - - -

Total 64 58 64 58

Fonte: CNES. Acesso: 27/03/2015

Tabela 14: Número de leitos complementares existentes por tipo de prestador segundo tipo de

leito complementar, Barão de Melgaço, Dez/2014.

Unidades Público Total

Existentes SUS Existentes SUS

Unidade intermediária - - - -

Unidade isolamento 1 1 1 1

UTI adulto I - - - -

UTI adulto II - - - -

UTI adulto III - - - -

UTI infantil I - - - -

UTI infantil II - - - -

UTI de Queimados - - - -

Total 1 1 1 1

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

Tabela 15: Número de leitos complementares existentes por tipo de prestador segundo tipo de leito

complementar, Barra do Bugres, Dez/2014.

Unidades Público Total

Existentes SUS Existentes SUS

Unidade intermediária - - - -

Unidade isolamento 3 3 3 3

UTI adulto I 2 2 2 2

UTI adulto II - - - -

UTI adulto III - - - -

UTI infantil I - - - -

UTI infantil II - - - -

UTI infantil III - - - -

UTI neonatal II 5 5 5 5

UTI de Queimados - - - -

Total 10 10 10 10

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

69

Tabela 16: Número de leitos complementares existentes por tipo de prestador segundo tipo de

leito complementar, Cuiabá, Dez/2014.

Unidades Público Filantrópico Privado Total

Existentes SUS Existentes SUS Existentes SUS Existentes SUS

Unidade intermediária

neonatal - - 6 6 - - 6 6

Unidade isolamento 9 9 3 3 5 - 17 12

UTI adulto I - - - - 40 - 40 -

UTI adulto II 74 48 37 21 26 4 137 73

UTI adulto III - - 18 14 43 5 61 19

UTI infantil I - - - - 11 - 11 -

UTI infantil II 15 5 24 14 2 2 41 21

UTI infantil III - - - - - - - -

UTI neonatal I - - - - 22 - 22 -

UTI neonatal II 13 13 35 20 3 3 51 36

UTI coronariana tipo III - - 4 - - - 4 -

Unidade de cuidados

intermed neonatal con-

venc.

- - 10 - 2 - 12 -

Unidade de intermed

neonatal canguru - - 3 - 6 - 9 -

Unidade de cuidados

intermed pediátrico - - 2 2 - - 2 2

UTI de Queimados - - - - - - - -

Total 111 75 142 80 160 14 413 169

Fonte: CNES. Acesso 22/03/2015.

Tabela 17: Número de leitos complementares existentes por tipo de prestador segundo tipo de

leito complementar, Nobres, Dez/2014.

Unidades Privado Total

Existentes SUS Existentes SUS

Unidade intermediária - - - -

Unidade isolamento 2 2 2 2

UTI adulto I - - - -

UTI adulto II - - - -

UTI adulto III - - - -

UTI infantil I - - - -

UTI infantil II - - - -

UTI infantil III - - - -

UTI neonatal II - - - -

UTI de Queimados - - - -

Total 2 2 2 2

Fonte: CNES. Acesso: 27/03/2015

70

Tabela 18: Número de leitos complementares existentes por tipo de prestador segundo tipo de

leito complementar, Poconé, Dez/2014.

Unidades Filantrópico Total

Existentes SUS Existentes SUS

Unidade isolamento 2 2 2 2

Total 2 2 2 2

Fonte: CNES. Acesso: 27/03/2015

Tabela 19: Número de equipamentos existentes, em uso e disponíveis ao SUS, segundo grupo

de equipamentos, Barão de Melgaço, Dez/2014.

Categoria Existentes Em uso Disponível SUS

Equipamentos de diagnóstico por imagem 1 1 1

Equipamentos de infra-estrutura 6 6 2

Equipamentos por métodos ópticos - - -

Equipamentos por métodos gráficos 1 1 1

Equipamentos de manutenção da vida 2 2 1

Equipamentos de Odontologia 13 13 14

Outros equipamentos 5 5 5

Total 28 28 24

Fonte: CNES. Acesso em 27/03/2015.

Tabela 20: Número de equipamentos existentes, em uso e disponíveis ao SUS, segundo grupo

de equipamentos, Barra do Bugres, Dez/2014.

Categoria Existentes Em uso Disponível SUS

Equipamentos de diagnóstico por imagem 10 7 6

Equipamentos de infra-estrutura 2 2 2

Equipamentos por métodos ópticos 4 4 2

Equipamentos por métodos gráficos 3 3 1

Equipamentos de manutenção da vida 31 31 9

Equipamentos de Odontologia 27 21 24

Outros equipamentos 7 7 3

Total 84 75 47

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

71

Tabela 21: Número de equipamentos existentes, em uso e disponíveis ao SUS, segundo grupo

de equipamentos, Cuiabá, Dez/2014.

Tabela 22: Número de equipamentos existentes, em uso e disponíveis ao SUS, segundo grupo

de equipamentos, Nobres, Dez/2014.

Categoria Existentes Em uso DisponívelSUS

Equipamentos de diagnóstico por imagem 4 4 4

Equipamentos de infra-estrutura 1 1 1

Equipamentos por métodos ópticos - - -

Equipamentos por métodos gráficos 2 2 2

Equipamentos de manutenção da vida 6 9 6

Equipamentos de Odontologia 6 6 6

Outros equipamentos 1 1 1

Total 20 23 20

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

Tabela 23: Número de equipamentos existentes, em uso e disponíveis ao SUS, segundo grupo

de equipamentos, Poconé, Dez/2014.

Categoria Existentes Em uso Disponível SUS

Equipamentos de diagnóstico por imagem 12 11 9

Equipamentos de infra-estrutura 6 6 1

Equipamentos por métodos ópticos - - -

Equipamentos por métodos gráficos 1 1 1

Equipamentos de manutenção da vida 5 4 1

Equipamentos de Odontologia 65 65 56

Outros equipamentos 5 5 4

Total 94 92 72

Fonte: CNES. Acesso: 27/03/2015

Categoria Existentes Em uso Disponível SUS

Equipamentos de Audiologia 32 31 3

Equipamentos de diagnóstico por imagem 623 594 126

Equipamentos de infra-estrutura 358 352 54

Equipamentos por métodos ópticos 256 251 44

Equipamentos por métodos gráficos 224 212 32

Equipamentos de manutenção da vida 4.069 3.985 216

Equipamentos de Odontologia 3.427 3.156 167

Outros equipamentos 429 413 48

Total 9.418 8.904 690

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

72

Tabela 24: Número de equipamentos de categorias selecionadas existentes, em uso,

disponíveis ao SUS e por 10.000 habitantes, segundo categorias do equipamento, Barão de

Melgaço, Dez/2014.

Categoria Existentes Em uso

Disponív.

SUS

Equip.uso/

10.000 hab

Equip.

SUS/10.000

hab

Mamógrafo - - - - -

Raio X 1 1 1 1,3 1,3

Tomógrafo Computadorizado - - - - -

Ressonância Magnética - - - - -

Ultrassom - - - - -

Equipo Odontológico Completo 2 2 3 2,6 3,9

Fonte: CNES. Acesso em 27/03/2015.

Tabela 25: Número de equipamentos de categorias selecionadas existentes, em uso, disponí-

veis ao SUS e por 10.000 habitantes, segundo categorias do equipamento, Barra do Bugres,

Dez/2014.

Categoria Existentes Em uso Disponív.

SUS

Equip uso/

10.000 hab

Equip

SUS/10.000

hab

Mamógrafo - - - - -

Raio X 7 4 4 2,2 1,2

Tomógrafo Computadorizado - - - - -

Ressonância Magnética - - - - -

Ultrassom 3 3 2 0,9 0,6

Equipo Odontológico Completo 10 9 7 3,1 2,2

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

Tabela 26: Número de equipamentos de categorias selecionadas existentes, em uso, disponí-

veis ao SUS e por 10.000 habitantes, segundo categorias do equipamento, Cuiabá, Dez/2014.

Categoria Existentes Em uso Disponív.

SUS

Equip uso/

10.000 hab

Equip

SUS/10.000

hab

Mamógrafo 26 26 8 0,5 0,1

Raio X 406 379 66 7,3 1,1

Tomógrafo Computadorizado 28 28 11 0,5 0,2

Ressonância Magnética 17 16 3 0,3 0

Ultrassom 138 135 33 2,5 0,6

Equipo Odontológico Completo 640 615 46 11,6 0,8

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

73

Tabela 27: Número de equipamentos de categorias selecionadas existentes, em uso,

disponíveis ao SUS e por 10.000 habitantes, segundo categorias do equipamento, Nobres,

Dez/2014.

Categoria Existentes Em uso Disponív.

SUS

Equip uso/

10.000 hab

Equip

SUS/10.000

hab

Mamógrafo - - - - -

Raio X 2 2 2 1,3 1,3

Tomógrafo Computadorizado - - - - -

Ressonância Magnética - - - - -

Ultrassom 2 2 2 1,3 1,3

Equipo Odontológico Completo 5 5 5 3,3 3,3

Fonte: CNES. Acesso: 22/03/2015.

Tabela 28: Número de equipamentos de categorias selecionadas existentes, em uso, disponí-

veis ao SUS e por 10.000 habitantes, segundo categorias do equipamento, Poconé, Dez/2014.

Categoria Existentes Em uso Disponív.

SUS

Equip uso/

10.000 hab

Equip

SUS/10.000

hab

Mamógrafo - - - - -

Raio X 2 2 1

Tomógrafo Computadorizado - - - - -

Ressonância Magnética - - - - -

Ultrassom 10 9 8

Equipo Odontológico Completo 11 11 8

Fonte: CNES. Acesso em 27/03/2015.

74

ANEXO II: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(TCLE) Título da Pesquisa: Organização da atenção à Saúde Indígena na área de abrangência do

Polo Base Cuiabá no Sistema Único de Saúde de Mato Grosso.

Pesquisadores Responsáveis:

Profª. Msc. Márcia Leopoldina Montanari Corrêa

Acadêmica CGSC. Raquel Cristina Oliveira Pedroso

Esclarecimentos sobre a pesquisa:

Você está sendo convidado(a) para participar de um estudo que tem por objetivo

conhecer a organização da atenção à saúde indígena, considerando a legislação vigente das

políticas de saúde, o Plano Distrital de Saúde Indígena, os planos municipais de saúde na

área de abrangência do DSEI Cuiabá/Polo Base Cuiabá, na perspectiva de garantir os

princípios organizacionais do Sistema Único de Saúde – SUS.

As informações serão obtidas através de documentação registrada oficialmente nos

municípios de Barra do Bugres, Barão de Melgaço, Nobres, Poconé e Cuiabá, entrevistas

realizadas com gestores do Distrito e Polo Base e através de dados secundários, contidos

nos principais Sistemas de Informação em Saúde.

Esclarecemos que a pesquisa não faz parte de nenhum programa de governo.

Lembramos que será garantida a plena liberdade ao participante da pesquisa de recusar- se a

participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização

alguma. Garantimos também a manutenção do sigilo e da privacidade dos participantes da

pesquisa durante todas as fases da mesma.

A pesquisa contribuirá na qualificação dos trabalhadores de saúde com os quais a

equipe de pesquisa estará interagindo, considerando tanto a construção coletiva dos

conhecimentos obtida com a prática cotidiana quanto a experiência em procedimentos já

estabelecidos de pesquisa, com a discussão dos resultados preliminares na Assembleia do

Conselho Distrital de Saúde Indígena-CONDISI do DSEI Cuiabá/MT.

Esta pesquisa foi submetida ao CEP (Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo

(Seres Humanos) do Hospital Universitário Júlio Muller–HUJM, sendo aprovada sob o

registro n° 1.072.650 em 21/05/2015. O Comitê tem

75

a finalidade de fazer cumprir os aspectos éticos das normas vigentes de pesquisa em seres

humanos do Conselho Nacional de Saúde.

Qualquer informação adicional sobre o estudo poderá ser solicitada a qualquer

momento a Profª. Msc. Márcia Leopoldina Montanari Corrêa e a acadêmica Raquel Cristina

Oliveira Pedroso, através dos telefones (65)3615-8897/8898/8881, (65)9942-

8593 ou endereço eletrônico: [email protected], [email protected] ou

ainda no endereço: Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367– Campus da UFMT- Bairro Coxipó.

Cuiabá- MT- 78060-900, Instituto de Saúde Coletiva– UFMT.

O Termo de Consentimento Livre e esclarecido-TCLE foi elaborado em duas vias,

uma ficará retida com o pesquisador responsável e a outra com o participante da pesquisa.

Participantes da Pesquisa

Eu, ................................................................................................................. estou informado

dos objetivos, procedimentos, riscos e benefícios desta pesquisa, descritos acima.

Entendo que terei garantia de confidencialidade, ou seja, que apenas dados consolidados

serão divulgados e ninguém além dos pesquisadores terá acesso aos nomes dos participantes

desta pesquisa. Entendo também, que tenho direito a receber informações adicionais sobre o

estudo a qualquer momento, mantendo contato com os pesquisadores principais. Fui

informado ainda, que a minha participação é voluntária e que se eu preferir não participar ou

deixar de participar deste estudo em qualquer momento, isso não me acarretará qualquer

penalidade.

Compreendo tudo o que me foi explicado sobre o estudo a que se refere este documento e

concordo em participar do mesmo.

PARTICIPANTE: ...............................................................................................

PESQUISADOR:................................................................................................

LOCAL:.............................................................. DATA: ......./......../2015.

76

ANEXO III: ROTEIRO DE ENTREVISTAS – GESTOR E PROFISSIONAL DE

SAÚDE

1. Há quanto tempo o (a) Senhor (a) atua como chefe deste DSEI?

2. Qual sua área de formação?

3. Anteriormente já exerceu alguma função relacionada à saúde indígena?

4. O (a) Sr (a) passou por algum treinamento e/ou capacitação para exercer este cargo?

5. Quais os Pólos-Base e os respectivos municípios que se encaixam no território de atuação

do DSEI sob sua responsabilidade?

6. Como está organizada a oferta de ações básicas em saúde nos Pólos-Bases vinculados a

este DSEI?

7. Quais etnias são referenciadas ao Pólo-Base Cuiabá?

8. Existem dados (Censo) registrados, referentes aos pacientes atendidos nestes Polos-Base?

São lançados em algum sistema de informação? (SIASI)

9. Como ocorrem as pactuações entre o município e o Distrito Sanitário Especial Indígena? O

senhor (a) participa das reuniões da CIR ou da CIB?

10. Com relação ao PB Cuiabá, qual sua percepção sobre as dificuldades apresentadas pelos

indígenas com relação ao acesso ao tratamento médico na rede municipal de saúde?

11.Os municípios da área de abrangência do PB Cba recebem algum incentivo financeiro para

a assistência à população indígena? Se recebem, este valor refere-se à atenção Básica ou

MAC? Quais são os valores?

12. No que tange a referência e contra- referência, o DSEI encaminha demandas de Atenção

Básica para os municípios ou outro estado? Quais demandas?

13. Descreva como são encaminhados os usuários indígenas que necessitam de procedimentos

de maior complexidade não existentes nos municípios de referência para o PB Cuiabá.

14. Quais as principais mudanças percebidas pelo (a) senhor (a) após a criação da Secretaria

Especial de Saúde Indígena – SESAI, com relação à Atenção Básica ofertada aos povos indí-

genas no território de atuação deste DSEI?

15. Gostaria de fazer mais algum comentário sobre o Sistema de Saúde na região de atuação

deste DSEI?

77

I. Identificação do Entrevistado:

1. Nome:______________________________________Idade:__________

2. DSEI / Polo-Base: _____________________Cidade_______________________

3. Sexo: ( ) M ( ) F

4. Profissão:____________________

5. Função exercida:_________________Tempo que exerce a função:_________

6. Onde atuou anteriormente:__________________________________________

II. Sobre serviço de saúde

1. Quais são os principais problemas de saúde geral no município/aldeia onde atua (PB Cuia-

bá)?

2. Como o (a) Sr (a) percebe a saúde da população indígena no seu município?

3. Quais são as maiores qualidades do sistema de saúde para a população indígena, no local

onde o Sr (a) atua?

4. Na sua opinião, quais são os maiores problemas do sistema de saúde do local onde atua? E

da SESAI/MS? (Enfatizar os seguintes aspectos: estrutura, recursos humanos e sanitário (pa-

tologias/agravos)

5. Por gentileza, fale sobre o seu trabalho voltado para a população indígena.

6. Na unidade de saúde onde atua são atendidos somente usuários indígenas? Este município

recebe usuários indígenas de outro município? (Se sim), o atendimento desta demanda interfe-

re na dinâmica do serviço? De que forma?

7. Nesta unidade de saúde existe algum programa de prevenção? Quais?

8. O (a) Sr (a) saberia me dizer quais são os tipos de atendimentos, mais procurados pelos

usuários indígenas?

9. Você saberia me dizer quais as doenças mais comuns entre os indígenas atendidos?

10. Você saberia me dizer se as etnias do PB procuram a unidade de saúde do município com

frequência para atendimento de suas demandas de Atenção Básica?

11. Qual sua percepção sobre as dificuldades apresentadas pelos indígenas com relação ao

acesso ao tratamento médico?

12. Você poderia relatar alguma experiência típica que tenha passado com diferentes usuários

indígenas e que se referem às questões de assistência à saúde?

13. O (a) Sr. (a) já teve algum treinamento e/ou capacitação sobre as diversas etnias que bus-

cam o atendimento em sua unidade de saúde? O que pensa sobre estas capacitações?

14. Gostaria de fazer mais algum comentário sobre o Sistema de Saúde na região onde atua?

78

ANEXO IV: APROVAÇÃO DO PROJETO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM

PESQUISA

79

ANEXO V- AUTORIZAÇÃO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA

CUIABÁ