Prof. Valquíria Claret dos Santos UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MARCELA BONET BECHER SCHAVAREN
O PROJETO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA (PEIP): O QUE
DIZEM PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO DE UMA
ESCOLA ESTADUAL DO ESTADO DE MATO GROSSO
CUIABÁ- MT
2018
MARCELA BONET BECHER SCHAVAREN
O PROJETO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA (PEIP): O QUE
DIZEM PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO DE UMA
ESCOLA ESTADUAL DO ESTADO DE MATO GROSSO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para
obtenção do título de Mestre em Educação, Linha de pesquisa
Educação em Ciências e Educação Matemática.
Orientadora: Profa. Dra. Rute Cristina Domingos da Palma
CUIABÁ-MT
2018
Um para o outro, companheiro, amigo, cúmplice, conselheiro, protetor, para a vida toda,
Amor meu, Juliano Ricardo Schavaren!
Presentes de Deus em minha vida, Expressão máxima de amor, meus filhos: Matheus e Beatriz!
Agradeço
Á Deus, pelo dom da vida e por ter me sustentado, em quem confiei, pois Ele é o único que detém o amanhã. Onde quer que eu vá, Deus já foi à frente e abriu o caminho.
Ao meu amor Juliano, que acreditou em mim, por ter cuidado de tudo nos momentos de ausência, pelas ligações me incentivando a continuar, para que essa etapa fosse concretizada.
AMOR , essa conquista é nossa! Aos meus filhos: Matheus (Mano) e Beatriz (BB) pela compreensão pelos momentos
da ausência. A você Matheus que ficou o ano todo sem a visita da mamãe e a você BB, por realizar as suas atividades sem a mamãe.
Grata a minha família pelos momentos de apoio e compreensão pela minha ausência, principalmente à minha Mãe Marilda por ter cuidado dos meus.
Muito obrigada professora Rute Cristina, minha adorável orientadora. Por ter me escolhido, me guiado, me auxiliado em todos os momentos, por ter me proporcionado esses anos
na academia, você me incentivou a melhorar cada dia mais em meus estudos. Sempre firme e carinhosa. Grata pela paciência e por respeitar as minhas limitações (chorar faz parte). Muito
obrigada pela companhia e principalmente pelas orientações! À professora Marta Maria Pontin Darsie, pelas valiosas contribuições que me ajudou a
ampliar as reflexões, mesmo com a “batata assando”, muito obrigada! Ao professor Emerson da Silva Ribeiro, pela leitura detalhada dedicada ao meu trabalho,
e a sua disposição em fazer parte da minha banca. À irmã que o mestrado me deu: Lenir Tomazeli. Você foi um presente de Deus para
mim, exemplo de dedicação, muito obrigada por tudo. Foi muito bom conviver, estudar, aprender e chorar com você!
À Ieda e Jaque, irmãs conselheiras e acolhedoras! À Daniela (reitora da 65), pela sua disposição em sempre me ajudar!
Á Kássia Anita (mamãe do ano), pelo companheirismo, acolhida e se tornar minha amiga! À Camile e Alva, pelas conversas e trocas de ideias!
À Vanessa pelos incentivos e sempre companheira! À Valquíria, amiga de coração gigante!
À Michelle Cristine pelas reflexões realizadas no grupo e de estudos. Você é incrível! Ao professor Lírio e a professora Margarida pelas suas colaborações nesta pesquisa.
E a todos que colaboraram de uma forma ou de outra. Meu muito obrigada!
RESUMO
A pesquisa investiga a formação continuada dos professores de matemática no Ensino Médio,
proposta pela Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso (SEDUC/MT), no ano de
2016, intitulada “Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica” (PEIP). A referida formação
estabelece estudos, pesquisas e projetos de intervenção com foco na análise das necessidades
de aprendizagem dos alunos, buscando superar as dificuldades diagnosticadas e/ou
potencializar as aprendizagens. A indagação que norteou a pesquisa foi assim formulada:
Como os professores de matemática do Ensino Médio, de uma escola estadual, localizada no
município de Paranaíta, compreendem e encaminham o “Projeto de Estudos e Intervenção
Pedagógica” (PEIP), estabelecido pela SEDUC/MT? Respaldamo-nos para a análise dos
dados nos estudos sobre o Ensino Médio e sobre a Matemática em Ramos (2004), Paglia
(2015), Krawczyk (2011), Kuenzer (2009, 2017), Freitas (2014), Mota e Frigotto (2017),
D`Ambrosio (2006, 1999), Lopes (2011), Santos (2014), Nacarato, Mengali e Passos (2011),
Miorin (1998). Nas discussões sobre formação inicial e formação continuada realizada na
escola fundamentamo-nos em Imbernón (2009, 2010, 2011, 2016), Garcia (1999, 1995),
Garcia (2013), Nóvoa (1995), Gatti e Barreto (2009) e Fiorentini e Lorenzato (2005); nos
estudos de Nacarato (2006), Nacarato e Paiva (2013), Palma (2010) sobre a formação
continuada em Matemática. Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, do tipo
estudo de caso. A pesquisa foi realizada com dois professores de matemática da única escola
estadual do perímetro urbano, no município de Paranaíta/MT. Para a produção dos dados
utilizamos questionários, entrevistas semiestruturadas; planejamentos, projetos de intervenção
pedagógica, portarias que normatizaram a formação; resultados da “Avaliação Diagnóstica do
Ensino Público Estadual de Mato Grosso” (ADEPE-MT), documentos produzidos durante a
formação continuada, bem como o caderno de campo. Os dados analisados foram organizados
em dois eixos: “Vivências dos professores no processo de formação” e “O processo de
construção, execução e avaliação do PEIP: o que dizem os professores”. Nossas análises
indicam que os estudos não surgiram de uma proposta advinda das necessidades formativas
dos professores, bem como a metodologia apresentada na formação não contemplou as
expectativas dos mesmos. Os dados da ADEPE–MT não foram considerados como
significativos para a análise e planejamento das necessidades de aprendizagem dos discentes;
o preenchimento de fichas e relatórios modelos não foi considerado como uma ação
formativa; a formação específica de matemática não foi contemplada; a ausência do
coordenador nos encontros dificultou o desenvolvimento da formação. Além disso, a escola
não foi associada como local de formação, pois não possibilitou resolver os problemas que
surgiram durante o fazer pedagógico. Concluímos que os professores não consideraram o
PEIP como uma formação que tenha contribuído com a ampliação dos conhecimentos para o
exercício da docência nas aulas de Matemática.
Palavras–chave: Educação Matemática. Ensino Médio. Formação Continuada.
ABSTRACT
This research aims to investigate the continued education of mathematics teachers in High
School, proposed by the State Department of Education of Mato Grosso (SEDUC / MT) in
2016, entitled: Study Project and Pedagogical Intervention (PEIP). The referred formacion
establishes studies, researches and projects of interventions focused on the analysis of
students' learning needs, seeking to overcome the diagnosed difficulties and / or potentialize
learning. The inquiry that guided the research was thus formulated: How the High School
Math Teachers, of a state school, located in the municipality of Paranaíta, understand and
send the Project of Studies and Pedagogical Intervention (PEIP), established by SEDUC /
MT? We support for data analysis in high school studies and about mathematics in Ramos
(2004), Paglia (2015), Krawczyk (2011), Kuenzer (2009, 2017), Freitas (2014), Mota and
Frigotto (2017), D`Ambrosio (2006, 1999), Lopes (2011), Santos (2014), Nacarato, Mengali
and Passos (2011), Miorin (1998). In the discussions of initial formation and formation
continuing, realized in school, we base in Imbernón (2009, 2010, 2011, 2016), Garcia, C.
(1999), Nóvoa (1995), Gatti and Barreto (2009) and Fiorentini e Lorenzato 2005) and in the
studies of Nacarato (2006), Nacarato and Paiva (2013), Palma (2010) on formation continuing
in mathematics. It is treat a research with a qualitative approach, type case study. The research
was carried out with two teachers of the only state school, of the urban perimeter, in the
municipality of Paranaíta/MT. For the production of the data we used questionnaires, semi-
structured interviews, planning, projects of pedagogical interventions, ordinance that
normalized the formacion; result of the Diagnostic Assessment of State Public Education of
Mato Grosso (ADEPE-MT), documents produced during the formation continuing as well as
the field notebook. The data analyzed were organized in two axes: Experiences of teachers in
the training process and The process of construction, execution and evaluation of PEIP: what
teachers say. The data indicate that the studies did not arise from a proposal derived from the
formative needs of the teachers, as well as the methodology presented in the training did not
meet the expectations of the teachers. The data of ADEPE-MT, were not considered as
significant for the analysis and planning of students' learning needs, the fill of fiches and
model reports was not considered as a formative action; the formacion mathematics specific
was not contemplated; the absence of the coordinator at the meetings made it difficult to
develop the training. In addition, the school was not associated as a place of formation,
because it did not make it possible to solve the problems that arose during the pedagogical do.
We conclude that teachers do not consider PEIP as a formacion that has contributed to the
expansion of knowledge for teaching in math classes.
Key-words: Mathematical Education. High School. Continuing Education.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Estrutura do Ensino Secundário na Reforma Francisco Campos (1931) ............ 20
Figura 2 – Estrutura do Ensino Secundário na Reforma Gustavo Capanema (1942) .......... 21
Figura 3 – Evolução do IDEB no Brasil ................................................................................ 28
Figura 4 - Taxas de aprovação, reprovação e abandono no Ensino Médio em Mato Grosso
(2010 a 2015) ......................................................................................................35
Figura 5 – Base da organização do “Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica” (PEIP)70
Figura 6 – Estrutura do PEIP ................................................................................................. 75
Figura 7 – Diagrama das etapas do PEIP .............................................................................. 78
Figura 8 – Monitoramento do PEIP ...................................................................................... 79
Figura 9 – Modelo de registro reflexivo 1 ........................................................................... 102
Figura 10 – Modelo de registro reflexivo 2 ........................................................................ 102
Figura 11 – Relatório reflexivo da professora Margarida ................................................... 103
Figura 12 – Atividade 1 do plano anual de ensino – Professor Lírio .................................. 109
Figura 13 – Atividade 1 do plano anual de ensino – Professora Margarida........................ 109
Figura 14 – Atividade 2 da avaliação da aprendizagem – Professor Lírio .......................... 110
Figura 15 – Atividade 2 da avaliação da aprendizagem – Professora Margarida ............... 111
Figura 16 – Resultado da ADEPE-MT – Matemática – 1º ano ........................................... 119
Figura 17 – Resultado da ADEPE-MT – Matemática – 2º ano ........................................... 120
Figura 18 – Atividade da aula de reforço aluno A .............................................................. 137
Figura 19 – Ficha de acompanhamento da Professora Margarida ...................................... 140
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Matrículas de alunos do Ensino Médio Brasileiro – Rede Estadual (2010 a
2015) .............................................................................................................. 25
Quadro 2 – Finalidades e Objetivos do Ensino Médio em Mato Grosso .......................... 34
Quadro 3 – Resultados e taxas do Ensino Médio – Escolas Estaduais em MT ................ 40
Quadro 4 – Resultados do Pisa/Brasil – Proficiência na Disciplina de Matemática ......... 41
Quadro 5 – Eixos articuladores e capacidades no âmbito da Matemática para o Ensino
Médio em Mato Grosso................................................................................. 44
Quadro 6 – Temas e unidades temáticas das OCS - Matemática...................................... 45
Quadro 7 – Problemas identificados nos cursos de licenciaturas no Brasil–SBEM 2013. 50
Quadro 8 – Formação de Matemática – CEFAPRO/Alta Floresta.................................... 65
Quadro 9 – Formações de professores de Matemática no Ensino Médio .......................... 67
Quadro 10 – Referências para os estudos coletivos ........................................................... 72
Quadro 11 – Ações componentes do PEIP ....................................................................... 73
Quadro 12 – Atribuições do coordenador pedagógico e do professor (PEIP) ................... 77
Quadro 13 – Caracterização da escola π ............................................................................ 84
Quadro 14 – Síntese da caracterização dos professores participantes da pesquisa ............ 86
Quadro 15 – Questionários ................................................................................................. 88
Quadro 16 – Entrevistas ..................................................................................................... 89
Quadro 17 – Documentos escolares ................................................................................... 90
Quadro 18 – Inventário dos dados ..................................................................................... 92
Quadro 19 – Cronograma de estudos da Escola π ............................................................. 95
LISTA DE SIGLAS
ADEPE-MT Avaliação Diagnóstica do Ensino Público Estadual de Mato Grosso
ANA Avaliação Nacional da Alfabetização
ANEB Avaliação Nacional da Educação Básica
BNCC Base Nacional Curricular Comum
CAEd Centro de Políticas e Avaliação da Educação
CEFAPRO Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação
CEP Comitê de Ética em Pesquisas
CNE Conselho Nacional de Educação
DCNEM Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
EJA Educação de Jovens e Adultos
EMIEP Ensino Médio Integrado ao Ensino Profissionalizante
ENEM Exame Nacional do Ensino Médio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEB Índice do Desenvolvimento da Educação Básica
INDECO Empresa Integração, Desenvolvimento e Colonização
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Anísio Teixeira
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MEC Ministério da Educação e Cultura
MP Medida provisória
NAIADE Núcleo de Avaliação, Investigação e Análise de dados Educacionais
NDPE Núcleo de Desenvolvimento Profissional da Escola
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OCEM Orientações Curriculares para o Ensino Médio
OCS Orientações curriculares
PCNEM + Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio Mais
PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
PEIP Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica
PEFE Pró-Escolas Formação na Escola
PISA Programme for Internacional Student Assenssment
PNE Plano Nacional de Educação
PPDC Projeto Pedagógico de Desenvolvimento do CEFAPRO
PPP Projeto Político Pedagógico
ProEMI Programa Ensino Médio Integrado
PROFTAAE Projeto de Formação Continuada dos Profissionais Técnicos e Apoios
Administrativos
QCE Questionário de caracterização da escola
QCP Questionário de caracterização dos professores
SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica
SBEM Sociedade Brasileira de Educação Matemática
SEDUC Secretaria Estadual de Educação
SIGEDUCA Sistema Integrado de Gestão Educacional
SUEB Superintendência de Educação Básica
TP Cadernos de teoria e prática
TRI Teoria de Resposta ao Item
UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 12
1 A MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO......................................................... 19
1.1 Ensino Médio: configurações históricas e legais............................................... 19
1.2 Ensino Médio em Mato Grosso........................................................................... 33
1.3 A Matemática no Ensino Médio......................................................................... 36
1.3.1 O que dizem os documentos oficiais sobre a Matemática no Ensino Médio......... 42
2 OS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO E SUA FORMAÇÃO................ 48
2.1 Formação inicial................................................................................................... 48
2.2 Formação continuada.......................................................................................... 51
2.3 Formação continuada dos professores de matemática.................................... 59
2.4 Formação continuada centrada na escola.......................................................... 62
2.5 Formação continuada no Estado de Mato Grosso............................................ 64
2.5.1 Proposta de formações continuadas de Matemática no Ensino Médio –
CEFAPRO/ Alta Floresta.......................................................................................
64
2.5.2 Formação continuada em Mato Grosso: Portaria nº 161/2016/GS/
SEDUC/MT...........................................................................................................
69
2.5.3 Orientativo para a Formação e Desenvolvimento Profissional na Escola/2016.... 71
3 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA...................................... 81
3.1 Caracterização da pesquisa................................................................................. 81
3.2 Contexto e participantes da pesquisa................................................................. 82
3.2.1 Critérios de seleção da escola................................................................................ 83
3.2.2 Caracterização da escola........................................................................................ 83
3.2.3 Caracterização dos professores.............................................................................. 85
3.3 Instrumentos e procedimentos da produção de dados..................................... 87
3.4 Leitura e organização dos dados......................................................................... 91
4 O QUE DIZEM OS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO
MÉDIO SOBRE O PROJETO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO
PEDAGÓGICA (PEIP).......................................................................................
93
4.1 Vivências dos professores no processo de formação......................................... 93
4.2 O processo de construção, execução e avaliação do PEIP: o que dizem os
professores............................................................................................................
115
4.2.1 Avaliações externas e internas, diagnóstico da disciplina de Matemática e a
elaboração das ações pedagógicas.........................................................................
116
4.2.2 O projeto de intervenções e as ações desenvolvidas em Matemática.................... 127
4.2.3 Avaliação dos professores sobre o processo de formação..................................... 142
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 148
REFERÊNCIAS................................................................................................... 158
APÊNDICES......................................................................................................... 167
ANEXO............................................................................................................... 177
12
INTRODUÇÃO
O Ensino Médio no Brasil tem provocado muitos debates quando nos referimos à
qualidade, ao acesso e à permanência dos alunos. Apesar da legislação prever a ampliação da
obrigatoriedade de escolarização, estendida para a faixa etária dos 4 aos 17 anos a partir da
Emenda Constitucional nº 59/2009, e a universalização para toda a população de 15 a 17 anos
de idade, até 2016, apenas 56,7% da população brasileira conclui essa etapa da Educação
Básica.
Atualmente muito tem-se discutido sobre o Ensino Médio e uma nova legislação foi
aprovada, que versa sobre a organização pedagógica e curricular do Ensino Médio e sobre as
regras dos usos dos recursos públicos para a educação. A referida Lei de nº 13.415/2017
instituiu a “Política de Fomento à Implementação das Escolas de Ensino Médio” em tempo
integral, alterando a LDB 9394/96. As mudanças na estrutura curricular propõem sua divisão
em duas partes: uma comum e obrigatória a todas as escolas, pertence à Base Nacional
Comum Curricular (BNCC1); outra flexível, que preconiza que os alunos escolham a área de
conhecimento para aprofundar seus estudos. Apesar da nova legislação ser aprovada só a
partir da homologação da BNCC, em 2017, as escolas estabeleceram um cronograma de
implantação das mudanças curriculares.
No entanto, ainda persistem muitos problemas que vão além da evasão e da
reprovação. As pesquisas de Krawczyk (2011) e Kuenzer (2009) já apontaram a necessidade
de discutir o currículo do Ensino Médio; de diminuir a rotatividade dos professores; de
melhorar as condições de infraestrutura escolar e do financiamento; de refletir sobre a
qualidade do ensino; debater a luta dos docentes por melhores condições de remuneração e
progressão na carreira; além de repensar a formação inicial e continuada de professores que
atuam no Ensino Médio.
Como professora2 de matemática do Ensino Médio, de 1998 a 2003, no Estado do
Paraná e, a partir de 2004, no estado de Mato Grosso, no município de Paranaíta, muitos já
foram os desafios e questionamentos vivenciados sobre os aspectos anteriormente destacados.
Além disso, constantes são as queixas dos professores sobre o desinteresse dos alunos, sobre a
ineficiência dos cursos noturnos, sobre os questionamentos de alunos, pais e comunidade
acerca do processo de ensino, além da proficiência dos alunos na disciplina de Matemática. A
1 A Base Nacional Comum Curricular é um documento de caráter formativo que contempla a proposta de
direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os alunos da Educação Básica que foi homologada
em 20 de dezembro de 2017, pelo Ministro da Educação, Mendonça Filho. 2 Escrevo na primeira pessoa do singular por se tratar de minha trajetória de formação pessoal e profissional.
13
“Prova Brasil” do “Sistema de Avaliação da Educação Básica” (SAEB), por exemplo,
realizada pelos alunos do terceiro ano do Ensino Médio, mostram que os índices de
rendimento diminuíram em matemática: em 2009 a nota foi 265,45, decrescendo para 264,94
e 260,65 respectivamente nas avaliações de 2011 e 2013, sendo que no ano de 2015 o
resultado foi 259,69.
Ao observarmos os índices apresentados, compreendemos que existem aspectos que
necessitam ser discutidos no contexto que envolve o Ensino Médio, ou seja, os debates de
ordem política, econômica e pedagógica precisam ser desencadeados. Dentre as muitas
questões, destacamos a importância da discussão sobre a formação continuada, sempre
fundamental à medida que pode contribuir para o desenvolvimento profissional dos docentes
e potencializar as ações educativas, com vistas à melhoria da qualidade do ensino, nessa etapa
da Educação Básica.
No estado de Mato Grosso tenho participado de formações continuadas, ora propostas
pela “Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso” (SEDUC/MT), como o Projeto
“Sala de Educador”3, realizado na escola com o acompanhamento do Centro de Formação e
Atualização do professor (CEFAPROS4); ora de programas nacionais como o “Gestar II” 5 e o
“Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio”6, nos anos de 2014/2105, sendo que
neste último atuei como orientadora dos estudos.
Entendemos que as formações buscam contribuir para o aprimoramento dos
conhecimentos dos professores, embora os estudos relacionados à formação dos professores
de Matemática sejam realizados com carga horária reduzida e com um número limitado de
encontros.
No ano de 2016, as escolas estaduais do estado de Mato Grosso participaram da
formação continuada proposta pela SEDUC/MT, intitulada “Projeto de Estudos e Intervenção
Pedagógica” (PEIP), instituída pela Portaria nº 161/201. Por meio da presente pesquisa,
interessou-nos investigar a referida formação continuada, privilegiando o Ensino Médio, por
atuarmos nesta etapa do Ensino Básico.
3 Programa de formação continuada oferecida pela Secretaria Estadual de Educação. 4 Órgãos administrativos localizados em municípios, em polos estratégicos, com funções de disseminar as
políticas públicas de educação do Mato Grosso, dar apoio e propor ações formativas junto às escolas, mediando
as formações dos professores e dinamizando a formação continuada dos profissionais da educação. 5 Programa de formação continuada, semipresencial, para a formação de professores de matemática e língua
portuguesa, objetivando a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. 6 Programa instituído pela Portaria nº 1.140, de 22 de novembro de 2013, com o objetivo de melhoria da
qualidade da educação, da implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e da
valorização da formação continuada dos professores e coordenadores pedagógicos que atuam no Ensino Médio
público.
14
Com base em nossas vivências e com a realização da pesquisa no CEFAPRO, polo de
Alta Floresta, foi possível apresentar um panorama geral das ações de formação específica em
Matemática para o Ensino Médio, no estado de Mato Grosso, desencadeadas na última
década, como também a implantação da mudança proposta pela Portaria nº 161/2016.
Entre os anos de 2003 a 2010, o projeto “Sala do Professor” foi implantado com o
objetivo de formar os profissionais da rede pública estadual a fim de desenvolver suas
potencialidades e qualificar o desempenho no trabalho, com a organização de grupos de
estudos, priorizando o trabalho coletivo, nas próprias escolas, voltado para o fazer
pedagógico. Nos anos de 2011 e 2012, a mesma organização continuou por meio de grupos de
estudo, objetivando a melhoria e a qualidade de ensino, considerando a função social da
educação e alterando seu nome para “Sala de Educador”, com a participação de todos os
profissionais da educação. Em 2013 a 2015, o Projeto “Sala de Educador” passou a ter o
objetivo de fortalecer a escola como local de formação continuada, com a organização de
grupos de estudos e esforços coletivos, aprimorando as ações pedagógicas.
No ano de 2016, a SEDUC/MT institui o “Projeto de Estudos e Intervenção
Pedagógica” (PEIP) e, segundo a Portaria nº 161/2016, no art. 3º, § 2º, com “foco a análise de
necessidades de aprendizagem dos estudantes, para superar as dificuldades diagnosticadas ou
potencializar aprendizagem discente, por outro lado, a aprendizagem profissional docente”.
Essa proposta de formação continuada foi constituída pelo “Núcleo de Desenvolvimento
Profissional da Escola” (NDPE), sob a coordenação do coordenador pedagógico da escola. No
processo caberia à escola destinar espaços específicos e condições estruturais para o
funcionamento do NDPE, que substituiu o Projeto “Sala de Educador” a partir da publicação
da referida Portaria.
A reorganização das políticas educacionais do estado do Mato Grosso considerou a
inserção da “Avaliação Diagnóstica do Ensino Público Estadual” (ADEPE-MT) e o
“Programa de Gestão para Resultados em Educação”, dentre outros, como orientadores
relativos à elaboração e efetivação do PEIP. A ADEPE-MT foi considerada como uma
avaliação externa, desenvolvida pelo “Núcleo de Avaliação, Investigação e Análise de Dados
Educacionais” (NAIADE), em parceria com o “Centro de Políticas e Avaliação da Educação”
(CAEd), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A partir das avaliações externas e internas, que segundo a Portaria dão indicativos da
proficiência dos alunos, os professores deviam utilizar seus resultados como subsídios para a
reflexão sobre a prática pedagógica e sobre as necessidades de aprendizagem dos estudantes.
15
Assim, o PEIP constituiu um instrumento de planejamento das ações de formação e do
desenvolvimento profissional nas escolas.
O PEIP propôs ações específicas e complementares, que foram divididas em duas
etapas: I) “A escola, sob a coordenação do coordenador pedagógico, deverá elaborar para os
docentes um cronograma de estudos coletivos com as seguintes temáticas: Projeto de
Intervenção, Pesquisa-Ação, Avaliação Educacional” (MATO GROSSO, 2016, p. 42).
Nessa etapa, ao elaborar o PEIP, cada escola deveria considerar três macros ações que,
segundo a Portaria nº161/2016, são descritas da seguinte forma: “1) Ação 1 – Estudos Gerais
(ocorrerá no 1º semestre, temas: Avaliação Educacional, Projeto de Intervenção e Pesquisa-
Ação)”; a segunda ação dar-se-ia como a descrição a seguir: “2) Ação 2 – Planejamento da
Intervenção Pedagógica (1º semestre); 3) Ação 3 – Intervenção (na regência), estudos
específicos e Socialização (ocorrerá no 2º semestre)” (MATO GROSSO, 2016, p. 43).
Na etapa II, a formação continua e o desenvolvimento profissional seriam
direcionados para a execução do PEIP que, segundo a Portaria nº 161/2016, o professor
estudaria e articularia as aprendizagens com o seu planejamento e intervenções em sala de
aula.
A etapa II foi dividida em três momentos que compreenderiam a construção e a
execução do PEIP, na qual o professor deveria articular seus estudos com o planejamento e
aplicação do conhecimento em sala de aula, além das formações para formadores e
coordenadores.
O primeiro momento da etapa II compreenderia o período de aquisição e compilação
das referências que contemplariam as temáticas: Projeto de Intervenção, Pesquisa-Ação,
Avaliação Educacional, bem como a elaboração do cronograma de estudos, organizado pela
escola. Os estudos seriam semanais, com carga horária de 4 horas de atividades. Durante os
estudos das temáticas, os professores teriam que socializar os apontamentos dos registros
reflexivos, seguindo os dois modelos sugeridos pela Portaria nº161/2106, mediados pelo
coordenador pedagógico ou por um professor mediador de estudos.
No segundo momento, realizar-se-iam as formações para os professores formadores do
CEFAPROs, assim como a formação dos coordenadores pedagógicos e professores. Nas
formações foram incluídas as análises dos resultados da ADEPE-MT e as temáticas,
anteriormente descritas.
Após o período de estudos, análise das avaliações e produção de um diagnóstico das
necessidades de aprendizagem a serem superadas e potencializadas, os grupos de estudos,
divididos por disciplina ou área do conhecimento, elaborariam um quadro com as situações-
16
problemas que embasariam o subprojeto, descrevendo o planejamento das ações de
intervenções, contidas no Plano de Aula de cada turma, promovendo a articulação com o
diagnóstico, o planejamento e as ações em sala de aula. Encaminhariam os planos para análise
e parecer do coordenador pedagógico, responsável pelo NDPE, que os devolveria e arquivaria
junto ao Plano Anual de Ensino de cada docente.
A execução das ações deveria acontecer no mesmo período da prática pedagógica dos
professores em sala de aula, socializadas preferencialmente uma vez ao mês, apresentando o
desenvolvimento das ações de intervenção na sala de aula, os resultados alcançados e as
estratégias utilizadas para atender as necessidades de aprendizagens verificadas, culminando
com um “Seminário de Experiências de Intervenção Pedagógicas”, organizado pela própria
escola, com no mínimo 4 horas, caracterizando o 3º momento da II etapa.
Diante do exposto, alguns questionamentos se fazem necessários: Que papel os
professores têm assumido nas formações propostas pela SEDUC/MT? Como a escola é
inserida nas propostas de formação continuada? Os professores atribuem sentido às formações
vivenciadas? Que percepção manifestam os professores sobre a nova proposta de formação
continuada, instituída pela SEDUC/MT?
A partir destes questionamentos propomos o nosso problema de investigação: Como
professores de matemática do Ensino Médio, de uma escola estadual, localizada no
município de Paranaíta, compreendem e encaminham o Projeto de Estudos e Intervenção
Pedagógica (PEIP), estabelecido pela “Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso”?
Com base no objeto de estudo formulado temos como objetivo geral: Investigar como
os professores de matemática do Ensino Médio compreendem e desenvolvem a formação
continuada, mediada pelo “Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica” (PEIP).
Como objetivos específicos propomos:
Identificar quais as percepções dos professores acerca do estudo das temáticas
propostas na formação continuada.
Compreender como as avaliações externas e internas norteiam a elaboração do projeto
e as ações de intervenções e seus significados no processo de formação.
Verificar como o projeto e estudos específicos são desenvolvidos e avaliados pelos
professores para atender as necessidades de aprendizagem diagnosticadas na disciplina
de Matemática.
Constatar quais dilemas, conflitos e aprendizagens são manifestados pelos professores
no desenvolvimento da proposta.
17
Alguns aspectos foram evidenciados na escolha do lócus da pesquisa, tendo em vista
que o município de Paranaíta possuiu apenas duas escolas estaduais que atendem o Ensino
Médio, sendo uma localizada na zona urbana e outra na zona rural. Optamos por desenvolver
a pesquisa na escola da zona urbana ao verificarmos que os professores, que trabalham com a
disciplina de Matemática no Ensino Médio, são licenciados na área e participaram da
formação do PEIP no ano de 2016. Em contrapartida, constatamos que a professora da zona
rural, apesar de lecionar Matemática e ter participado da formação, possui licenciatura em
geografia.
A princípio, a pesquisa seria realizada com três professores, mas no decorrer da
produção dos dados, uma das professoras se afastou para o pleito eleitoral e após entrou em
licença médica para tratamento de saúde.
O percurso metodológico foi a abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. Para a
produção de dados utilizamos entrevistas semiestruturadas com os professores colaboradores
da pesquisa; análise dos planejamentos, dos projetos de intervenção pedagógica, das portarias
que normatizaram a formação no ano de 2016, da avaliação realizada pela Secretaria Estadual
de Educação (ADEPE-MT), e demais documentos produzidos por professores e alunos no
decorrer da formação. Aplicamos também dois questionários para o levantamento de
informações sobre a escola e sobre os professores. Além disso, descrevemos as observações
realizadas no momento das formações no diário de campo.
A dissertação está organizada em quatro capítulos, que apresentamos a seguir.
No primeiro capítulo “A Matemática no Ensino Médio”, desenvolvemos alguns
aspectos históricos do Ensino Médio, tecemos considerações quanto aos seus alunos, sua
universalização e democratização; discorremos sobre as avaliações internas e externas, bem
como sobre a proposição da nova legislação, a Lei nº 13 415/17, que reformula essa etapa da
Educação Básica; discutimos o Ensino Médio no Mato Grosso, a Matemática no Ensino
Médio, assim como o que nos dizem os documentos oficiais sobre a Matemática na etapa final
da Educação Básica. Os principais autores que contribuíram com as discussões sobre o Ensino
Médio foram Ramos (2004), Paglia (2015), Krawczyk (2011), Kuenzer (2009, 2017), Freitas
(2014), Mota e Frigotto (2017); ao tratarmos a matemática no Ensino Médio recorremos a
D`Ambrosio (2006, 1999), Lopes (2011), Santos (2014), Nacarato, Mengali e Passos (2011),
Miorin (1998), entre outros.
No segundo capítulo “Os professores do Ensino Médio e sua formação”, propomos
considerações sobre a formação inicial e continuada dos professores, sobre a escola como
local de formação, sobre a formação continuada dos professores no Estado de Mato Grosso, e
18
tratamos da formação continuada dos professores que ensinam matemática. Os autores que
nos auxiliaram na nossa fundamentação foram Nóvoa (1995), Imbernón (2009, 2010, 2011,
2016), Garcia (1999, 1995), Garcia (2013). Mizukami (2013), Nacarato e Paiva (2013),
Moretti (2010), Gatti e Barreto (2009), Fiorentini (2008), Palma (2010), entre outros.
No “Percurso metodológico da pesquisa”, o terceiro capítulo, descrevemos de maneira
detalhada os caminhos da pesquisa e sua caracterização, o contexto, a caracterização da escola
e dos professores, os instrumentos e os procedimentos de produção dos dados, bem como a
leitura e a organização dos dados. Nos referenciamos para o caminho metodológico da
pesquisa em Bogdan e Biklen (1994), Gonzáles Rey (2015), Fiorentini e Lorenzato (2012),
Stake (2012), entre outros.
No quarto capítulo, analisamos os dados produzidos em dois eixos. No primeiro eixo,
Vivências dos professores no processo de formação, analisamos a dinâmica de estudos
coletivos estabelecidas pela escola, as manifestações dos professores sobre os estudos e sua
sistematização. No segundo eixo, O processo de construção, execução e avaliação do
PEIP: o que dizem os professores, abordamos as questões relativas ao processo de
elaboração e execução do referido projeto, as sistematizações e análises das avaliações
externas e internas, os registros e o acompanhamento das ações, bem como a avaliação e as
expectativas dos professores em relação à formação desencadeada.
Por fim, apresentamos as “Considerações Finais”, nas quais é retomado o processo
percorrido para responder à questão central da nossa pesquisa.
19
1 A MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO
No capítulo discorremos acerca das questões relacionadas ao Ensino Médio, sua
configuração histórica, seu público e organização com base na nova legislação, considerando
suas finalidades e objetivos no estado de Mato Grosso.
Outro aspecto considerado é a compreensão sobre o ensino da Matemática e
realizamos uma breve discussão sobre os documentos oficiais que o regulamentam na etapa
final da Educação Básica.
1.1 Ensino Médio: configurações históricas e legais
A escola como instituição social está associada à história da civilização, à sua cultura e
aos processos de ensino e aprendizagem sistematizados, ligados também aos aspectos
socioculturais.
Nos reportamos ao processo histórico abordando as discussões históricas do Ensino
Secundário no contexto educacional brasileiro, no qual observamos as reformas pelas quais
tem passado, bem como a busca pela sua identidade e as mudanças conceituais dessa etapa de
escolarização.
Ao sentir necessidade de investir em educação e na formação da mão de obra
especializada, após a revolução de 1930, devido à crise econômica em escala mundial, foram
traçadas as diretrizes para a educação nacional, não fazendo menção ao Ensino Médio nos
documentos oficiais.
O Ensino Médio, até a década de 1920, era considerado, segundo Paglia (2015, p. 25),
como “um sistema de ‘preparatórios’ e de exames parcelados para o ingresso no ensino
superior, que eliminavam a seriação dos cursos secundários”.
De acordo com o Decreto nº 19.890/1931, que dispõe sobre a organização do Ensino
Secundário, durante a reforma de Francisco Campos, esse ficou definido com um currículo
seriado, com frequência obrigatória, dividido em dois ciclos: um fundamental de cinco anos e
outro complementar de dois anos. O Ensino Secundário, no período, foi considerado
enciclopédico, contribuindo para a manutenção do caráter elitista, pois a maioria da população
ainda vivia na zona rural e poucos se fixavam na zona urbana, não tendo condições de
alcançar esse nível de ensino.
20
Figura 1- Estrutura do Ensino Secundário na Reforma Francisco Campos (1931).
Fonte: Organizado pela pesquisadora.
No período do Estado Novo (1937–1945) algumas reformas no ensino, em todas as
modalidades, foram sendo realizadas, preconizando três anos para o ensino colegial, nas
modalidades clássico ou científico. “O ensino colegial perdeu seu caráter propedêutico, de
preparatório para o ensino superior, e passou a se preocupar mais com a formação geral”
(PAGLIA, 2015, p. 33).
De acordo com as “Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio” (DCNEM,
2013), a partir de 1942, e com a “Lei Orgânica da Educação Nacional”, o Ensino Médio foi
firmado com o objetivo de formar as elites condutoras do país a par do ensino profissional.
Nessa reforma o Ensino Secundário mantinha dois ciclos: curso ginasial, com duração de 4
anos, destinado aos fundamentos; e o segundo, correspondia aos cursos clássico e científico,
com duração de 3 anos, com o objetivo de consolidar a educação ministrada no ginasial. O
Ensino Secundário não se comunicava com o ensino profissional.
Cursos seriados
Curso Fundamental
- Formação geral com ênfase na cultura
humanística.
- Currículo com matérias científicas.
5 anos
Curso Complementar
- Formação propedêutica.
- Proposta curricular diferenciada para os candidatos ao ensino
superior.
2 anos
21
Figura 2 - Estrutura do Ensino Secundário na Reforma Gustavo Capanema (1942).
Fonte: Organizado pela pesquisadora.
Outro período, a ser considerado nas mudanças da organização do Ensino Médio, foi a
promulgação da “Lei de Diretrizes de Base da Educação” nº 4.024, de 20 de dezembro de
1961, que em seu Art. 33 declara: “A educação de grau médio, em prosseguimento à
ministrada na escola primária, destina-se à formação de adolescente”. Em nenhum momento a
lei traça as diretrizes próprias para o Ensino Médio e nem foi do interesse do governo investir
nessa etapa da educação. Talvez se inicie nesse ponto as causas dos problemas e a falta de
atenção com a escolarização de nossos jovens em razão de que o Ensino Médio foi tratado
como continuidade do Ensino Secundário, no qual os alunos eram matriculados a partir de
exame de admissão e sua organização continuava a ser o ginasial (4 anos) e o colegial (3
anos). Coexistiram também com o Ensino Médio os cursos técnicos e os de formação de
professores para o magistério (pré-escola e primário).
De acordo com os problemas vivenciados pela sociedade, levando em conta o modelo
econômico, o governo criou estratégias para modificar o ensino a partir de 1961. Com a
criação da Lei nº 5692/71, se atribuiu ao Ensino Médio o caráter profissionalizante graças ao
crescimento do sistema produtivo.
Observamos que muitos dos problemas educacionais que vivenciamos hoje podem ser
reflexos da política educacional, com base na última legislação mencionada, que não se
preocupou com a qualidade da educação, mas sim em suprir, com mão de obra barata, as
necessidades das indústrias, sem ao menos levar em conta se estava formando cidadãos com
qualidade, nem tampouco considerar a sua profissionalização.
Ramos (2004) descreve que, desde 1971, admitiam-se dois percursos relativos à
formação escolar no Ensino Secundário, um de caráter propedêutico e outro de caráter
técnico- profissional, pois o Ensino Médio estava predominantemente centrado no mercado
Ginasial
Compreenderá elementos
fundamentais ao Ensino Secundário.
4 anos
Colegial
Clássico
Maior ênfase na área de humanas.
Científico
Maior ênfase na área das exatas.
22
do trabalho. O Ensino Médio não profissionalizante era restrito aos jovens da elite e da classe
média em ascensão. Segundo Sposito e Galvão (2004, p. 346) as escolas eram
[...] altamente seletivas, os alunos deviam passar por exigentes exames de
ingresso, o que garantia uma certa homogeneidade do ponto de vista de suas
habilidades, conhecimentos e repertórios culturais, bem como de projetos, já
que a maioria seguia seus estudos no ensino superior.
Gonçalves e Pimenta (1992, p. 106) descrevem que a Lei nº 5692/71 vinculou o
Ensino Médio ao mundo do trabalho profissional, obrigando a aquisição de uma profissão
pelos alunos, mesmo por aqueles que se preparavam para o ensino superior. Dessa forma, no
início dos anos de 1990, a expansão do Ensino Médio não pode ser caracterizada como “um
processo de universalização e nem de democratização” (KRAWCZYK, 2011, p. 759),
predominando os debates sobre o trabalho e a educação.
A partir de 1996, com a “Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96” (LDB), o Ensino
Médio passa a ser configurado como a última etapa da Educação Básica, que tem por
finalidades: “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e nos estudos
posteriores” (Art. 22).
Essa mesma legislação determina, ainda, uma base nacional comum e uma parte
diversificada para a organização curricular.
Segundo a mesma lei, quando trata das finalidades do Ensino Médio, no seu artigo 35,
destaca o intuito de consolidar e aprofundar os “conhecimentos” que foram adquiridos no
Ensino Fundamental, possibilitando “o prosseguimento de estudos”; aprimorar “o educando
como pessoa humana”, incluindo a “preparação básica para o trabalho e a cidadania”, bem
como a “compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos” ou
o que lhe confere sentido. Desta maneira, situamos qual é a real finalidade do Ensino Médio
considerando que os sujeitos que fazem parte desta etapa são
[...] sujeitos que têm vida, uma história e uma cultura. Que têm necessidades
diferenciadas, mas conquistaram direitos universais. Conhecimentos que são
construídos socialmente ao longo da história, constituindo o patrimônio da
humanidade, a cujo acesso, portanto, todos têm direito. É preciso, então,
construir um projeto de Ensino Médio que supere a dualidade entre formação
específica e formação geral e que desloque o foco de seus objetivos do
mercado do trabalho para a pessoa humana (RAMOS, 2004, p. 39-40).
23
Por conseguinte, o Ensino Médio se desloca para o aprimoramento da pessoa humana,
sendo retirado o objetivo da preparação para o mercado de trabalho. Considerando que os
sujeitos que fazem parte desse processo de ensino não são isolados e abstratos, “[..] mas
sujeitos singulares cujo projeto de vida se constrói pelas múltiplas relações sociais na
perspectiva da emancipação humana” (RAMOS, 2004, p. 39).
Além da legislação apresentada, outras publicações como os “Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio” (PCNEM), os “Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio Mais” (PCNEM +) e as “Orientações Curriculares para o Ensino Médio”
(OCEM) trazem mudanças na organização do Ensino Médio, buscando a qualidade da
educação.
O cenário brasileiro em que o Ensino Médio está inserido vem sendo discutido e
ocupando “um papel de destaque, [...] pois sua estrutura, seus conteúdos, bem como suas
condições atuais estão longe de atender as necessidades dos estudantes, tanto nos aspectos da
formação para a cidadania como para o mundo do trabalho” (BRASIL, 2013, p. 145).
Assim, ao considerar os aspectos históricos e legais do Ensino Médio, buscando
compreender quais as modificações ocorrem no período atual, entendemos que é necessário
conhecer quem são os alunos que fazem parte dessa etapa da Educação Básica, assim como
refletir sobre os processos quanto a sua universalização e democratização.
Aspectos sobre o Ensino Médio quanto ao perfil dos alunos, a universalização e
democratização
Na etapa do ensino em questão, observamos que a condição juvenil vem sendo tratada
só de forma cronológica, “como algo que acontece após a infância, etapa intermediária entre
esta e a vida adulta. Nesta perspectiva, a juventude é vista como fase transitória e
preparatória, marcada pelo aspecto maturacional, de ordem biopsíquica” (SILVA, 2013, p.
66).
Os alunos do Ensino Médio são jovens vinculados a vários espaços sociais que
determinam as suas relações, como participantes do processo de interação e convivência. Um
desses espaços é a escola, pois, de acordo com Silva (2013, p. 67), “é bom lembrar que ser
jovem e ser aluno não são as mesmas coisas, ainda que muitas vezes essas condições estão
entrelaçadas”. O importante é salientar quais os sentidos que os jovens atribuem ao processo
de escolarização no qual estão inseridos.
24
Para Sposito e Galvão (2004, p. 374) “no Ensino Médio, produz-se uma aceleração do
tempo de vida”, pois, segundo as autoras, o primeiro ano significa um orgulho e
deslumbramento por ter vencido a primeira barreira da escolaridade, interagindo em uma
escola nova. No segundo ano começa o desencanto, pois o prestígio já não assegura uma
adesão ao processo de ensino, pois os amigos e o lazer são mais importantes diante das
escolhas; no terceiro ano já vem sendo marcado pelo período de transição e o ciclo de vida
fica mais evidente: a continuidade dos estudos não se configura como uma possibilidade
imediata e a consolidação ou aperfeiçoamento profissional são incertos.
As políticas públicas para o Ensino Médio devem levar em consideração que os jovens
se caracterizam pelas diferenças, singularidades, expectativas, sonhos que se articulam com o
trabalho, a ciência e a cultura, considerando seu processo histórico, social e cultural. Frigotto
(2004, p. 57) afirma que os alunos do Ensino Médio não podem ser tratados como
[...] sujeitos, sem rosto, sem história, sem origem de classe ou fração de
classe. Os sujeitos a que nos referimos são predominantemente jovens e, em
menor número, adultos, de classe popular, filhos de trabalhadores
assalariados ou que produzem a vida de forma precária por conta própria, do
campo e da cidade, de regiões diversas e com particularidades socioculturais
e étnicas. É sob essa realidade de tempos e espaços diversos de sujeitos
coletivos (jovens e adultos) reais que podemos construir [...] uma política de
ensino médio que resgate o direito de continuação do processo de
escolarização para aqueles a quem foi negado até o presente [...]. Trata-se de
sentidos e significados que afetam a forma, o método e o conteúdo do ensino
médio.
A partir das considerações apresentadas, entendemos que, de acordo com a legislação
atual, podemos observar as mudanças que vêm incidindo nas finalidades do Ensino Médio,
nos questionando: Quem é esse jovem que está matriculado no Ensino Médio? Quais são as
suas necessidades de aprendizagem? Em que sociedade ele está inserido?
Todas essas questões nos fazem refletir sobre como o Ensino Médio está organizado,
quais as situações de aprendizagem que os alunos estão vivenciando, como o trabalho e a
formação do professor estão sendo mobilizados. Segundo Paglia (2015, p. 55),
Preparar esse jovem para a vida ou para o mundo do trabalho requer um
aprendizado pautado em princípios sólidos, um Ensino Médio que seja capaz
de desenvolver competências e habilidades para que ele desempenhe seu
papel de cidadão numa sociedade complexa e com múltiplas facetas, tendo
uma aprendizagem contínua para atender às constantes mudanças.
25
A discussão sobre educação e trabalho, que vem se sucedendo entre os jovens
estudantes, relaciona-se em vários aspectos com a sua formação. Moretti (2007, p.13) salienta
que
[...] a questão das finalidades da educação diante da relação entre a educação
e trabalho ainda é ponto não resolvido, uma vez que essa discussão revela
concepções distintas de trabalho, de humano e, evidentemente, de educação.
A (não) identidade do Ensino Médio, embora não seja nova, ainda permeia
as práticas docentes dos professores que se veem entre a perspectiva de um
ensino propedêutico que priorize o acesso à universidade e a necessidade
material de seus alunos de ingresso no chamado "mundo do trabalho”.
A diversificação do Ensino Médio e a desigualdade da sua oferta revela que o “estado
brasileiro jamais planejou um Ensino Médio para receber alunos de classes populares”
(CARNEIRO, 2012, p. 23), embora defenda sua universalização como uma das metas a ser
alcançada, e apesar do expressivo crescimento do número de matrículas nos últimos anos.
Assim, podemos constatar que o intuito da universalização ainda está longe de ser alcançado.
Os dados do Instituto Anísio Teixeira (INEP), que se referem aos alunos matriculados
nas redes estaduais de ensino, permitem observar que a permanência é também outra
preocupação quando consideramos o número de alunos que iniciam essa etapa de ensino
frente aos que concluem seu último ano. É o que verificamos no quadro, a seguir.
Quadro 1 - Matrículas de alunos do Ensino Médio Brasileiro - Rede Estadual (2010 a 2015)
Ano 1º ano 2º ano 3º ano
Diferença
entre as
matrículas do
1º ano e 3º ano.
% da diferença
das matrículas
iniciais com a
conclusão do
EM
2010 3 033 498 2 206 169 1 856 061 1 177 437 16, 59%
2011 2 970 008 2 247 527 1 868 635 1 101 373 15,54%
2012 2 939 901 2 206 612 1 866 275 1 073 626 15,30%
2013 2 899 117 2 210 379 1 846 005 1 053 112 15,14%
2014 2 892 901 2 207 659 1 855 813 1 037 088 14,90%
2015 2 739 811 2 208 479 1 813 605 926 206 13,7%
Fonte: Matrícula do Censo Escolar/ INEP (2016). Organizado pela pesquisadora.
Segundo Krawczyk (2011), o Ensino Médio se expandiu nos anos de 1990, todavia
sua expansão não pode ser caracterizada como um processo de universalização e
democratização em razão do grande número de jovens que estão fora da escola.
26
Para além dos desafios da universalização do acesso e da igualdade de
oportunidades educacionais, também permanecem desafios referentes aos
conteúdos a serem ensinados, à formação e remuneração dos professores, às
condições de infraestrutura e gestão escolar, aos investimentos públicos
realizados, entre outros (KRAWCZYK, 2011, p. 5-6).
Em meio às situações de atender os desafios que o Ensino Médio vem enfrentando,
precisamos avaliar como se dá o processo de ensino-aprendizagem dentro de nossas escolas
de maneira a superar as dificuldades apresentadas, enfrentando a dualidade entre a formação
profissional e a formação geral.
Neste sentido, concordamos com Garcia, S. (2013, p. 59) quando discute sobre como a
escola precisa ser repensada “[...] não só para que os jovens que nela estão permaneçam e
concluam a Educação Básica, mas também para que aqueles que estão fora voltem a encontrar
nela espaço de crescimento intelectual e humano”.
Os alunos que fazem parte desse processo têm uma história que precisa ser levada em
conta, observando quem são esses jovens e quais são as suas relações com a sociedade,
tomando em consideração a formação integral dos alunos e seu aprimoramento como pessoa.
Concordamos com Krawczyk (2011, p. 766) quando descreve suas observações sobre
o atendimento e a efetivação da democratização da etapa final da Educação Básica.
O aumento da demanda da escola média está acontecendo sob uma estrutura
sistêmica pouco desenvolvida, com uma cultura escolar incipiente para o
atendimento dos adolescentes e jovens das parcelas mais pobres da
população. Não se tem produzido a democratização efetiva do acesso à
última etapa da escolarização básica, mas sim um processo de massificação
do ensino, desvinculado dos interesses dos adolescentes e jovens e em
condições objetivas muito precárias.
Segundo as DCNEM, essa etapa da escolarização tem a preocupação voltada para a
“formação integral do estudante” (BRASIL, 2012, Art. 5º, inciso I), considerando todo o
percurso que os alunos fazem. Assim, é relevante a realização de atividades pedagógicas que
possam contribuir com o processo de aprendizado, para que os alunos continuem aprimorando
os conhecimentos adquiridos ao longo de toda a Educação Básica.
O Ensino Médio e a formação humana integral precisam estar interligados, e os
conhecimentos das ciências devem ser contemplados de forma igualitária para que, após essa
etapa da escolarização, os jovens e adultos possam atuar com responsabilidades na sociedade.
Diante da formação humana integral “[...] tem-se clareza de que ela só será plenamente
possível em uma sociedade em que todos desfrutem igualmente das mesmas condições de
27
acesso aos bens materiais e culturais socialmente produzidos” (KUENZER, 2009, p. 35).
Sabendo que a escola faz parte da sociedade que vive em condições de desigualdades e
diversidade cultural, os conteúdos trabalhados precisam assegurar as condições de acesso ao
conhecimento.
Os sujeitos que fazem parte do Ensino Médio não podem ser tratados como abstratos e
isolados, mas sim como atuantes e que fazem parte de um processo histórico. Os jovens e
adultos são
[...] sujeitos singulares cujo projeto de vida se constrói pelas múltiplas
relações sociais, na perspectiva da emancipação humana, que só pode
ocorrer à medida que os projetos individuais entrem em coerência com um
projeto social coletivamente construído (RAMOS, 2004, p. 39).
As construções dos projetos desenvolvidos no interior das escolas fazem parte da
convivência escolar, e são determinados por um tempo e espaço para que as relações sociais
se solidifiquem e os ambientes educacionais possam ser aperfeiçoados, bem como os
conhecimentos possam ser construídos socialmente ao longo da história, superando a
dualidade entre formação específica e formação geral, e sim discutindo aquilo “que lhe
confere sentido: sujeitos e conhecimentos” (RAMOS, 2004, p. 39).
A escola, considerando que o Ensino Médio, é o “principal espaço de acesso ao
conhecimento sistematizado” (BRASIL, 2013, p. 167), e uma de suas principais funções é
assegurar a permanência dos jovens e adultos com garantia de qualidade de educação.
O rendimento escolar em nossas escolas está centrado nas avaliações que vêm
trazendo dados do desempenho dos alunos, muitas vezes sem considerar vários fatores que
efetivam a contribuição na busca da qualidade. A seguir, nos referimos às avaliações externas
e internas as quais os alunos do Ensino Médio são submetidos, à identidade e diversificação
do Ensino Médio, assim como à formação e condições docente.
Avaliações externas e internas do Ensino Médio
Ao considerarmos a identidade e diversificação do Ensino Médio, a formação e
condição docente, os processos de avaliação, cabe-nos analisar também qual o desempenho
dos alunos que o frequentam. O acompanhamento dessa etapa da escolarização, segundo as
DCNEM (2013) deve dar sentido e definir as orientações e práticas pedagógicas que garantam
o melhor aproveitamento dos estudos.
28
O Ensino Médio, em âmbito nacional, é afetado pelas avaliações do “Sistema de
Avaliação da Educação Básica” (SAEB), estabelecido pela Portaria nº 931, de 21 de março de
2005, com três avaliações externas em larga escala: a “Avaliação Nacional de Educação
Básica” (ANEB), que alunos matriculados no 3º ano do Ensino Médio realizam, tendo “como
principal objetivo avaliar a qualidade, a equidade e a eficiência da educação brasileira”
(INEP); também o “Índice de Desenvolvimento da Educação Básica” (IDEB), com base no
desempenho dos alunos, verificando a qualidade de cada escola. Por fim, o “Exame Nacional
do Ensino Médio” (ENEM), que se configura em outro programa de avaliação do Ensino
Médio.
Quanto aos índices do Ensino Médio, apurados pelo IDEB, percebemos que os
desempenhos dos alunos apresentam uma situação que merece destaque, como evidencia a
evolução na figura a seguir.
Figura 3 – Evolução do IDEB no Brasil
Fonte: QEdu.org.br. Dados do IDEB/INEP (2015). Organizado pela pesquisadora.
A organização do trabalho pedagógico em sala de aula no Ensino Médio vem ao
encontro das evidências apresentadas pelas avaliações em larga escala, influenciando as
avaliações formais e informais realizadas pelo professor, modificando sua ação docente,
controlando “os objetivos, o conteúdo e até sobre os métodos da escola” (FREITAS, 2014, p.
1092). O autor enfatiza, ainda, que a avaliação “não é um mero ‘fechamento do processo’,
uma simples ‘verificação da qualidade do processo pedagógico ocorrido’, [...] mas uma
categoria que orientava todo o processo do começo ao fim” (FREITAS, 2014, p. 1088).
0
1
2
3
4
5
2005 2007 20092011
20132015
Evolução do IDEB no Brasil
IDEB observado
Metas
29
As avaliações externas em larga escala estão centradas na escola, buscando padronizar
a cultura escolar por meio das matrizes de referência dos exames aos quais alunos são
submetidos, deixando de lado a abertura para que a matriz formativa oportunize a desejada
formação integral. Dessa maneira, o controle do conhecimento das camadas populares, como
também o controle ideológico da escola, conforme Freitas (2014), vem alertando que a
responsabilidade de não garantir o domínio de uma base nacional e comum não é da escola.
Daí que a escola seja, simultaneamente, vista como culpada por não garantir
o padrão “básico” necessário ao novo momento vivenciado pelos processos
produtivos, e de outro lado, seja anistiada quando permite a continuidade da
segregação acadêmica expressa nas escalas de desempenho (abaixo do
básico, básico, proficiente e avançado) em especial no “pós-básico”, agora
naturalizada e “explicada” pelas características do próprio estudante (o
“dom”), ocultando a própria dinâmica do sistema social causadora das
diferenças originais, com as quais agora o sistema se reencontra e acolhe
(FREITAS, 2014, p. 1091).
Ao constatarmos os dados de desempenho escolar, revelados pelas avaliações de larga
escala, podemos desenvolver ações que possibilitem melhorar a qualidade da educação. Como
sinaliza Gatti (2007), os dados sucessivamente obtidos do desempenho dos alunos continuam
baixos, revelando que as políticas em todos os níveis escolar precisam ser elaboradas com
outras estratégias que busquem a real qualidade na educação. Segundo a autora, os processos
avaliativos devem considerar dois pontos:
1. Toda avaliação educacional tem de partir de algum ponto de referência,
que deve estar claro aos avaliadores e claro para a comunidade interessada
[...] 2. Toda avaliação educacional tem por objetivo trazer elementos para
novas ações/intervenções, mudanças de rumo, busca de alternativas, tomadas
de decisões, ou, para reafirmar caminhos tomados, quem sabe acrescentando
algo. [...] quando um processo de avaliação não tem nenhuma consequência
ele perde todo o sentido, perde em credibilidade, perde-se oportunidades de
mudar de situação, melhorar as condições, etc. (GATTI, 2007, p. 59).
Faz-se necessário termos clareza dos resultados das avaliações a fim de que sejam
utilizados com significação por todos os envolvidos no processo educacional, após serem
discutidos e encontradas as condições de sua utilização na melhoria do ensino.
Cabe observar o impacto das políticas públicas de avaliação do Ensino Médio, pois os
índices alcançados são inquietantes e nos faz refletir, ainda, sobre o grande número de jovens
fora da escola, como também visa propor intervenções que atendam os anseios dessa etapa de
escolarização. Haja vista que o “Exame Nacional do Ensino Médio” (ENEM), que avalia o
30
desempenho dos alunos ao fim da escolaridade básica, vem se modificando em relação ao
número de inscritos7 a cada edição.
Proposição da nova legislação para o Ensino Médio: Lei nº 13.415/2017
A discussão sobre o Ensino Médio, atualmente, deve levar em consideração a nova
legislação que trouxe mudanças para a educação brasileira, versando sobre a organização
pedagógica e curricular do Ensino Médio e sobre as regras do uso dos recursos públicos para
a escola. A referida Lei nº 13.415/2017 instituiu a “Política de Fomento e Implementação das
Escolas de Ensino Médio” em tempo integral, alterando a LDB 9394/96.
Diante dessa reformulação, Motta e Frigotto (2017) descrevem como os dirigentes do
Ministério de Educação e Cultura (MEC) caracterizam a urgência da reforma do Ensino
Médio proposta pela Medida Provisória (MP) nº 746, de julho de 2016, aprovada e
transformada na Lei nº 13.415, em 16 de fevereiro de 2017, para “destravar as barreiras que
impedem o crescimento econômico. E a educação, principalmente a educação profissional, é
um fator importante na retomada do crescimento econômico, uma vez que o investimento em
capital humano potencializa a produtividade” (MOTTA; FRIGOTTO, 2017, p. 357).
Diante disso, Motta e Frigotto (2017, p. 358) apontam que as questões que sintetizam
a referida legislação são “investir em capital humano visando maior produtividade,
modernizar a estrutura curricular, flexibilizando por áreas de conhecimentos e melhorar os
resultados do desempenho escolar”.
Na Lei nº 13.415/2017 podemos considerar dois aspectos: carga horária e organização
curricular, sendo que a carga horária mínima deverá será progressivamente alterada de 800
para 1400 horas, observando as normas dos sistemas de ensino, atingindo 1.000 horas no
máximo em 5 anos, com 5 aulas diárias e progressivamente com 7 aulas diárias,
contemplando tempo integral. Consta, também, que as escolas que atenderem o Ensino Médio
em tempo integral, terão apoio financeiro por dez anos, após a assinatura de um termo de
compromisso que evidencie as metas a cumprir e as ações a serem realizadas.
Ao referir-se à organização curricular, sua flexibilização pode considerar diferentes
percursos que buscam atender os projetos de vida dos alunos. Conforme Motta e Frigotto
(2017, p. 361), na perspectiva “dos reformadores, a modernização do currículo do Ensino
7 Segundo o site do Ministério da Educação, para a edição de 2017, o número de inscritos foi 7.603.290,
reduzindo de maneira significativa o número de inscrições em relação a 2016, que foi de 9.276.326, o segundo
maior da história do exame, ficando atrás apenas da edição de 2014, que foram registrados 9.490.952 inscritos,
pois a partir desta edição, deixa de certificar para o Ensino Médio.
31
Médio busca alterar o currículo sobrecarregado de disciplinas ‘inúteis’ ou ‘desinteressantes’,
ou seja, pouco atraentes aos jovens, o que justifica a grande evasão nesse nível de
escolaridade”.
Assim sendo, a flexibilização do currículo passa a ter diferentes etapas, voltando-se
para as aptidões dos alunos e das escolas. Sendo uma delas referendada pela “Base Nacional
Comum Curricular” (BNCC), homologada em 20/12/2017; a outra pelo “itinerário
formativo”, evidenciando as áreas de linguagem, matemática, ciências da natureza, ciências
humanas ou formação técnica profissional.
Os alunos escolhem o “itinerário formativo”8, podendo, o aluno concluinte cursar, no
ano letivo subsequente ao da conclusão, outro “itinerário formativo”. Essa volta do aluno
concluinte à escola poderá causar vários transtornos à organização escolar, como
transferências, fluxo escolar, entre outros.
Os “itinerários formativos” dependerão da oferta dos sistemas de ensino e de suas
condições, “organizados por diferentes arranjos curriculares, podendo ou não estar ligados à
formação comum”, levando “à restrição das possibilidades de escolha pelo aluno, ou seja, ao
enrijecimento” (KUENZER, 2017, p. 335), pois os alunos não terão as mesmas oportunidades
educacionais quando optarem por algum desses caminhos, sendo privados da oferta de outros
conteúdos fundamentais para enfrentar as provas do ENEM e o ingresso no ensino superior.
Desse modo, os alunos cursam somente os conteúdos do itinerário “escolhido”, sem maior
contato com as demais áreas do conhecimento justamente na fase em que estão se preparando
para fazer suas escolhas.
De acordo com Kuenzer (2017, p. 335) “Observa-se que, dependendo da duração total
do curso, o caminho escolhido terá duração diferente, podendo a carga horária destinada à
educação profissional variar entre 25 e 62% do total de duração dos cursos”. Com o
cumprimento dessa carga horária a recomendação legal nos parece interessante, mas
precisamos refletir sobre que proposta pedagógica sustentará a permanência dos alunos e
quais são as reais condições de infraestrutura de nossas escolas, considerando que os nossos
alunos são jovens trabalhadores, sendo que 18,8% dos jovens entre 15 a 17 anos estudam e
trabalham (IBGE, 2012).
O artigo 35-A, § 3º, da Lei nº 13.415/2017, cita o ensino da Língua Portuguesa e da
Matemática como disciplinas obrigatórias nos três anos do Ensino Médio, valorizando, assim,
as disciplinas que estão em evidência nas avaliações de larga escala, podendo facilitar os
8 Estruturação dos componentes das áreas do conhecimento, os quais serão apresentados por diferentes arranjos
curriculares, podendo ser integrado com a “Base Nacional Comum Curricular”.
32
processos de padronização de seu ensino nas escolas, bem como rever a prática pedagógica
dos professores.
Outra observação que nos faz refletir é a formação de docentes que tem por referência
a BNCC e que também são reconhecidos como profissionais de “notório saber” para ministrar
conteúdos de áreas afins de sua formação. Concordamos com Moura e Filho (2017, p. 125)
que ao tratar dos profissionais de “notório saber”, em oposição dos docentes licenciados, a Lei
nº 13.415/2017
[...] permite identificar direcionamento para a desvalorização, a
desqualificação e o ataque à formação e profissionalidade dos docentes da
EB de modo geral, e, em particular, do EM, sendo mais grave o tratamento
dado aos professores do itinerário “formação técnica e profissional”.
Sem especificar o que realmente significa “notório saber”, a referida legislação abre
espaço para a “desprofissionalização e desqualificação do magistério” (LINO, 2017, p. 86),
uma vez que poderão ser contratadas pessoas não licenciadas para atuarem nas escolas,
desqualificando o trabalho docente e interferindo na sua identidade. Segundo Krawczyk e
Ferreti (2017, p. 40),
Qualquer pessoa que passou pela escola – seja professor ou aluno – sabe que
para ser professor é necessário muito mais do que ter conhecimento dos
conteúdos da sua disciplina. Um professor é aquele que possui uma
perspectiva pedagógica, social e cultural suficientemente ampla para poder
desempenhar o papel de educador. Mas, não é esta a preocupação que está
em questão nos promotores da Lei. É na realidade a abertura de outro espaço
de mercantilização educacional.
Diante dessa realidade, compreendemos a necessidade da formação dos professores
para enfrentamento de mais um desafio imposto à profissão docente, bem como manifestamos
nossa preocupação com a qualidade do ensino e da aprendizagem das nossas escolas.
Por outro lado, ao observarmos que a Lei nº 13.415/2017 no seu Art. 35-A ,§ 7º, em se
tratando da formação “integral do aluno”, prescreve que o trabalho com o Ensino Médio deve
ser voltado “para a construção de seu projeto de vida e para a sua formação nos aspectos
físicos, cognitivos e sócio emocionais”. Deste modo, devemos estar atentos aos alunos que
fazem parte do Ensino Médio, como já afirmamos anteriormente, não podendo deixar que
sejam tratados como seres abstratos e isolados, mas sim como sujeitos históricos, pertencentes
a uma determinada cultura. São “sujeitos singulares cujo projeto de vida se constrói pelas
múltiplas relações sociais, na perspectiva da emancipação humana, que só pode ocorrer à
33
medida que os projetos individuais entrem em coerência com um projeto social coletivamente
construídos” (RAMOS, 2004, p. 39).
Muitos são os desafios que se destacam na nova configuração do Ensino Médio e
inúmeras questões são desencadeadas pela nova legislação. De acordo com Kuenzer, (2017, p.
353), “Como agregar esforços e construir estratégias eficientes para enfrentar essa nova e dura
realidade, construindo novos espaços formativos e organizativos orientados pelos interesses
dos trabalhadores, é a questão que nos mobiliza neste momento histórico”.
Podemos observar que os indicativos de superação da dualidade estabelecida pela
LDB 9394/96 poderá ser interrompida pela nova legislação como, também, a configuração da
universalização que vinha se estabelecendo com as políticas públicas de inserção dos alunos
através dos financiamentos e das cotas.
A seguir, procuramos discutir o contexto do Ensino Médio no estado de Mato Grosso,
tendo em vista os dados apresentados e as situações encontradas em nossas escolas estaduais.
1.2 Ensino Médio em Mato Grosso
Os desafios e problemas encontrados no Ensino Médio no estado de Mato Grosso não
se diferenciam muito dos problemas nacionais. A partir da legislação vigente, nosso estado,
acompanhando as discussões nacionais, procurou criar uma identidade educacional,
potencializando a qualidade da educação, formulando as “Orientações Curriculares para a
Educação Básica do Estado do Mato Grosso”. Entende-se, segundo o documento, que a escola
é local de promoção e não de retenção, buscando propiciar a todos uma Educação Básica com
qualidade, comprometida com a inclusão social. “As orientações curriculares apontarão as
estratégias e os recursos necessários destinados à apropriação por parte dos alunos dos
conhecimentos nele veiculados, de modo a não permitir a exclusão por falta de
conhecimento” (MATO GROSSO, 2010a, p. 9).
A partir de 1998, o Ensino Médio no Estado de Mato Grosso começou a se expandir
com a oferta de vagas para essa etapa. De acordo com a “Lei de Diretrizes de Bases” em
vigência, o Ensino Médio é parte integrante da Educação Básica, e sua oferta deve ser
assegurada para todos, mesmo com a possibilidade de distintas modalidades de organização.
Nessa perspectiva, as orientações Curriculares-MT mantém a concepção de escola única
Todos os alunos, independentemente de sua classe social, têm direito de
escolher a modalidade que melhor atenda às suas motivações e
34
especificidades e todas as modalidades deverão articular o trabalho
intelectual e atividade prática (MATO GROSSO, 2010a, p. 18).
Ao ofertar diferentes modalidades no Ensino Médio, os alunos têm direito de escolher
qual delas atende seus anseios e motivações, supondo as diferentes realidades dos jovens
matogrossenses, pois as Orientações Curriculares “priorizam a formação científico-
tecnológica e cultural para todos” (MATO GROSSO, 2010a, p. 18).
O mesmo documento descreve que o “Ensino Médio deverá responder aos desafios de
atender as questões relacionadas ao trabalho e a continuidade de estudos, com competências e
compromisso” (MATO GROSSO, 2010a, p. 69), especificando suas finalidades e seus
objetivos, conforme apresentamos no quadro a seguir.
Quadro 2 – Finalidades e Objetivos do Ensino Médio em Mato Grosso
Finalidades e Objetivos
I – A consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando
o prosseguimento de estudos.
II – A preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser
capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores.
III- O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
autonomia intelectual e do pensamento crítico.
IV – A compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
com a prática, no ensino de cada disciplina.
Fonte: Mato Grosso, 2010a, p. 69. Organizado pela pesquisadora.
O Ensino Médio no Estado de Mato Grosso é ofertado de diferentes formas e
modalidades. Conforme o “Orientativo Pedagógico” de 2017, encaminhado às escolas no
início do ano passado, o Ensino Médio Regular está subdividido em: Ensino Médio Diurno
(800 h até 1000 h), Ensino Médio Inovador–ProEMI (1000 h), Ensino Médio Noturno (800
h), Ensino Médio Semestral (400 h), Ensino Médio em Tempo Integral (1800 h) e a
modalidade do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional–EMIEP (a partir de 1200 h).
Enfocamos especificamente, a seguir, o Ensino Médio regular diurno.
No que diz respeito a essa modalidade, alguns projetos foram encaminhados para a
Superintendência da Educação Básica (SUEB) visando a ampliação da carga horária, sendo
proposto até 960 horas para a Língua Portuguesa e a Matemática, assim como intervenção
pedagógica para as turmas do 1º ano de Ensino Médio. A aula, acrescida à matriz curricular,
precisa do acompanhamento pedagógico dos estudantes, conhecido como “apoio
35
pedagógico”, que iniciou, no ano de 2016, por adesão das escolas dos municípios de Cuiabá e
Várzea Grande.
Apesar dessas adequações, as taxas de aprovação, reprovação e abandono, no período
de 2010 a 2015, do Ensino Médio no Estado de Mato Grosso, mostram que o número de
reprovações persiste, contrariando a proposta de qualidade de ensino, apesar de que, no ano de
2015, os índices diminuíram. Os dados podem ser notados na figura a seguir.
Figura 4 - Taxas de aprovação, reprovação e abandono escolar no Ensino Médio em Mato
Grosso (2010 a 2015)
Fonte: Censo escolar 2015, MEC/Inep/Qedu. Organizado pela pesquisadora.
Analisando os dados referentes aos anos de 2006 a 2014, no estado de Mato Grosso,
segundo o “Observatório do Plano Nacional de Educação” (PNE) – Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em média, 50,12% dos jovens até 19 anos terminam o Ensino
Médio. Para além desse número concluímos que existe um percentual consideravelmente
amplo de alunos que não concluíram essa etapa, pois, desde a sua entrada no primeiro ano até
a sua conclusão, são submetidos a um crivo da reprovação e desistência.
Outro dado relevante a considerar é a evasão escolar dos alunos matriculados no
primeiro ano do Ensino Médio, sendo um total de 12,7%, seguido por 12,1% dos alunos do
segundo ano que se evadem da escola, segundo dados do Censo Escolar de 2014 e 2015,
resultado divulgado pelo INEP (2017), pois desde 2007 até 2013 ocorreu uma queda nas taxas
de evasão, sendo modificadas a partir de 2014. A repetência no primeiro ano, segundo o
mesmo órgão, chega a 15,2%.
Segundo Périgo (2017), muitas são as justificativas dadas por professores, alunos e
pais, relacionadas à evasão e repetência dos alunos no primeiro ano. Destacamos, dentre elas,
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
2010 2011 2012 2013 2014 2015
Taxas de aprovação, reprovação e abandono escolar - Ensino
Médio em MT ( 2010 a 2015)
Aprovação Reprovação Abandono
36
a transição entre os anos finais do Ensino Fundamental para o Ensino Médio, período esse de
adaptação dos alunos a um novo ambiente físico, cultural e social, uma fase de transição entre
a infância e a fase adulta e, ainda, que o aluno pode trazer um déficit de aprendizagem das
etapas anteriores.
Diante do exposto, entendemos que o Ensino Médio deve constituir uma etapa da
Educação Básica com qualidade, visando a ampliação da visão de mundo dos sujeitos jovens
e adultos, concordando com Ramos (2004), pois não são seres abstratos e estão inseridos num
contexto social e cultural, buscando ampliar seus conhecimentos e suas relações consigo
mesmo e com os outros, tentando compreender, em toda a complexidade, as formas de
realizar suas próprias escolhas.
Reafirmar que, em nossa pesquisa, propomos compreender a formação continuada de
professores de Matemática no Ensino Médio, e com isso trazemos, a seguir, algumas
reflexões relativas sobre o ensino da disciplina.
1.3 A Matemática no Ensino Médio
Existem muitos sinais de atividades matemáticas em todo o mundo que surgiram
fundado nas necessidades humanas e, dessa forma, foram se organizando os contextos sociais
e econômicos. Segundo D`Ambrosio (2006, p. 6), “a matemática é quase tão antiga quanto a
espécie humana. Bem antes da invenção dos números, os primeiros homens tiverem que
desenvolver métodos para resolver problemas cotidianos”.
Neste sentido, ao iniciarmos uma reflexão sobre a Matemática no Ensino Médio
concebemos que os conhecimentos matemáticos fazem parte da nossa vida e estão
diretamente ligados às nossas atividades. Para tanto, precisamos nos perguntar que
conhecimentos matemáticos são necessários para a nossa vida na sociedade atual? Qual é a
formação matemática que os jovens no Ensino Médio precisam ter?
Para responder aos questionamentos julgamos que a escola pode mediar a construção
dos conhecimentos juntamente com os professores na perspectiva de que os fundamentos
matemáticos foram construídos sócio historicamente, dando sentido para a continuidade dos
seus estudos. Assim, concordamos com Lopes (2011, p. 7):
O estudo da Matemática torna-se significativo quando os alunos percebem as
relações entre o conhecimento matemático produzido pela humanidade e os
conhecimentos produzidos por outras áreas. A Matemática contribui com o
desafio da escola que é formar os estudantes para a autorrealização,
37
propiciando-lhes oportunidades educativas que lhes permitem desenvolver
habilidades e adquirir competências.
A escola precisa se organizar para dar condições aos estudantes para desenvolverem as
habilidades dentro da sociedade na qual estão inseridos, a fim de perceber qual é a
importância da Matemática na construção do conhecimento. “O Ensino Médio,
particularmente, tem o desafio de promover a ampliação da visão de mundo dos estudantes, e
desenvolver suas competências gerais, a fim de articular os conhecimentos e os usarem na
vida cotidiana” (LOPES, 2011, p. 9).
Neste sentido, entendemos que, para o desenvolvimento de atividades que mobilizem
a construção do conhecimento da Matemática no Ensino Médio, são necessárias ações
pedagógicas e metodológicas que valorizem o raciocínio lógico matemático, a criação de
hipóteses, a argumentação diante de situações problemas.
Ponderando sobre o ensino da Matemática, desde o tempo em que os jesuítas tinham a
exclusividade do processo de ensino em nosso país, constatamos que o Ensino Secundário se
pautava no modelo clássico humanístico e “as matemáticas passariam a ser consideradas
como um dos ‘melhores elementos culturais’” (MIORIN, 1998, p. 82). A autora descreve, em
seus estudos, que, na primeira metade do século XIX, as aulas de Matemática tinham um
número reduzido e eram pouco frequentadas. Nesse período, se manifestaram os defensores
dos estudos clássicos-humanísticos e os que defendiam o desenvolvimento dos estudos
científicos, pois objetivo de todos os estabelecimentos de Ensino Secundário, na Colônia e no
Império, era a preparação para as Academias Militares e para as Escolas Superiores.
No processo de reorganização do Ensino Secundário a Matemática ainda aparecia de
maneira tímida, todavia “as matemáticas – aritmética, geometria e álgebra – tiveram, assim,
seu lugar garantido e aparecem em todas as oito séries do curso” (MIORIM, 1998, p. 87),
sendo que o estudo de cada um de seus ramos era feito separadamente, garantidos em
determinadas séries do curso.
Quando o Brasil passou por várias modificações sociais e econômicas, as mesmas se
refletiram, consequentemente, na educação. “A partir deste momento os processos de ensino e
aprendizagem da matemática foram marcados pelo Movimento da Matemática Moderna,
sendo assim justificadas as preocupações com a ‘modernização’ dos conteúdos matemáticos”,
que vinham sendo “ensinados nas escolas de nível médio” (MIORIM, 1998, p. 107).
O “Movimento da Matemática Moderna”, discutido no período, teve sua organização
estabelecida num tripé, explicitado a seguir.
38
A organização da Matemática moderna baseava-se na teoria dos conjuntos,
nas estruturas matemáticas e na lógica matemática. Esses três elementos
foram responsáveis pela “unificação” dos campos matemáticos, um dos
maiores objetivos do movimento. Para isso, enfatizou-se o uso de uma
linguagem matemática precisa e de justificações matemáticas rigorosas. Os
alunos não precisariam “saber fazer”, mas, sim, “saber justificar” por que
faziam (MIORIM, 1998, p. 114).
Entretanto, a Matemática Moderna não conseguiu resolver todos os problemas
enfrentados pela disciplina e, ainda hoje, verificamos a presença das ideias daquele
movimento, principalmente quando se relaciona com a teoria dos conjuntos. Mas, cabe
refirmar que o ensino da Matemática foi se modificando e sendo discutido dentro de nossas
escolas a partir do Movimento da Matemática Moderna.
Segundo D´Ambrosio (1999), a Matemática nas escolas não pode estar desvinculada
de outras atividades humanas, pois as ideias matemáticas estiveram presentes em toda a
evolução histórica da humanidade, permanecendo presentes em todas as formas de fazer e de
saber.
Atualmente a realidade do ensino da Matemática nas escolas necessita ser destituída
“de um caráter de conhecimento difícil, inacessível à grande maioria dos estudantes e que
potencialize e desenvolva capacidades que todos os alunos tenham ou possam desenvolver”
(SANTOS, 2014, p. 18).
Acreditamos que “[...] o ensino da Matemática deva considerar a historicidade da
criação do conceito, a partir de situações problemas, que possibilitem aos professores e alunos
vivenciá-las como protagonistas e não como meros transmissores e expectadores”
(AMARAL; PALMA, 2015, p. 95). Consideramos, também, que “[...] os conhecimentos
matemáticos estão sempre em processo de construção e transformação e que todos são
capazes de construir conhecimentos matemáticos” (AMARAL; PALMA, 2015, p. 95).
De acordo com os PCNEM (2002), a Matemática deve “ser compreendida como uma
parcela do conhecimento humano essencial para a formação de todos os jovens, que contribui
para a construção de uma visão de mundo”, indo além do papel instrumental, tendo
características próprias de “investigação e de linguagem” (BRASIL, 2002, p. 11).
O professor, nesse caso, assume um papel importante, tendo em vista que ele é o
responsável por promover ações pedagógicas e metodológicas interessantes e desafiadoras,
que envolvam e despertem no aluno o interesse em aprender, em construir o conhecimento,
pois “destacamos o professor que, como “autor” no cenário educativo, tem como função
39
primordial, ligada diretamente à atividade dos estudantes, a organização do ensino”
(MORETTI et al; 2010, p. 25).
O jovem chega ao Ensino Médio proveniente de diferentes ambientes culturais e
sociais, integrando-se ao novo contexto que vivenciará a partir da realidade da escola.
Portanto, deve ser bem acolhido, considerando seus interesses por meio de projetos
educacionais com as características da vivacidade da juventude, revendo como ensino da
Matemática pode contribuir, nesse processo, a fim de superar a concepção de que a sala de
aula ou a própria escola é considerada um lugar desinteressante.
A Matemática, em determinadas situações, privilegia os cálculos e a memorização
com base em um ensino voltado para técnicas operatórias e prescrição de procedimentos sem
justificativas, os quais são cobrados da mesma forma nas avaliações. Assim, os alunos
entendem que a Matemática é efetuar, simplificar, determinar. Nessa perspectiva, os alunos
não relacionam a Matemática como ciência desafiadora e curiosa, que se relaciona com as
situações vivenciadas em inúmeras situações.
Em contraposição a essa concepção, consideramos a “formação integral do estudante”
(BRASIL, 2012, Art. 5º, Inciso I), na qual o jovem aluno do Ensino Médio poderá se sentir
importante e participante do processo de aprendizagem, que se constrói de maneira única e
pessoal. De acordo com Moretti (2010, p. 13),
[...] explicar o que constitui o “ser humano” é uma forma de buscar
compreender o que nos faz tão semelhantes e tão únicos, tão universais e tão
singulares ao mesmo tempo. Mais do que uma inquietação teórica, explicar
aquilo que caracteriza o ser humano, no que tange ao seu processo de
aprendizagem, suas necessidades e suas motivações, é uma forma de buscar
compreender a própria essência humana.
Reafirmamos que os conhecimentos matemáticos precisam ser relevantes,
considerando suas aplicações e contextualizações, abordando a formação humana integral. A
articulação do processo de ensino com a realidade faz-se necessário para que o professor
adeque sua prática a fim de construir novos percursos no cotidiano das práticas pedagógicas,
superando a concepção sobre a quantidade dos conteúdos que precisam ser repassados aos
alunos, conforme reflexão de D´Ambrosio, B. (1989, p. 16).
Uma das grandes preocupações dos professores é com relação a quantidade
de conteúdo trabalhado. Para esses professores o conteúdo trabalhado é a
prioridade de sua ação pedagógica, ao invés da aprendizagem do aluno. É
difícil o professor que consegue se convencer de que seu objetivo principal
do processo educacional é que os alunos tenham o maior aproveitamento
40
possível, e que esse objetivo fica longe de ser atingido quando a meta do
professor passa a ser cobrir a maior quantidade possível de matéria em aula.
Conforme as “Orientações Curriculares para o Ensino Médio” (BRASIL, 2006), a
Matemática precisa fazer parte da realidade dos alunos, do local onde a escola está inserida,
fazendo com que os alunos resolvam problemas práticos do cotidiano. Desta forma,
[...] a escola deverá organizar-se de forma a dar condições aos estudantes de
desenvolverem habilidades e competências necessárias para a compreensão
de uma nova sociedade da natureza complexa, competitiva e carente de
valores morais e éticos e de cidadãos críticos e reflexivos, conscientes de seu
papel na família e na sociedade, e da importância que a matemática
representa na construção do conhecimento científico ao longo da história da
humanidade, e da necessidade da apropriação deste conhecimento para atuar
numa sociedade altamente tecnológica (LOPES, 2011, p. 8).
Ao enfatizarmos a necessidade de organização da escola para que os alunos tenham as
condições necessárias para aprender, verificamos que é fundamental a realização de ações
referentes ao ensino da Matemática, a fim de superar o resultado das avaliações externas,
tendo em vista as taxas de aprovação quando comparamos as matriculas do 1º ano com as do
3º ano do Ensino Médio nas escolas estaduais de Mato Grosso. No quadro, a seguir,
apresentamos o resultado do IDEB, as notas de Matemática da Prova Brasil e as taxas de
aprovação no Ensino Médio, entre 2007 e 2015.
Quadro 3 – Resultados e taxas do Ensino Médio-Escolas Estaduais em MT
Ano
IDEB Notas Prova
Brasil
(Matemática)
Taxa de aprovação-Ensino Médio
Resultado
alcançado
Meta
projetada 1º ano 2º ano 3º ano
2007 3,0 2,6 256,95 65,8% 73,7% 77,1%
2009 2,9 2,7 254,61 64,5% 72,4% 77,0%
2011 3,1 2,9 261,22 59,5% 71.3% 77,5%
2013 2,7 3,1 255,69 51,1% 68,3% 75,5%
2015 3,0 3,5 257,74 53,1% 72,4% 80,6%
Fonte: MEC/INEP/Qedu. Organizado pela pesquisadora.
Observando os dados acima, verificamos que o Ensino Médio no Estado de Mato
Grosso se encontra em uma situação preocupante, pois fica notadamente claro que, em 2015,
a média das taxas de aprovação no primeiro ano do Ensino Médio não atingem 60% dos
alunos, podendo inferir, portanto, que 40% desses alunos tendem a não concluir essa etapa da
41
escolaridade. Também, cabe questionar que as notas de Matemática na Prova Brasil
evidenciam que os jovens não estão dando sentido e significado à aprendizagem matemática.
Além dos resultados até aqui apresentados, taxas e índices do Programme for
International Student Assessment-PISA9 realizado, na maioria das vezes, com alunos do
Ensino Médio, vem demonstrando que o desempenho em Matemática no Brasil continua com
uma média menor que aquela alcançada pelos alunos de outros países. Em nosso país, as
questões relacionadas com atividades matemáticas do cotidiano dos alunos apresentam
melhor desempenho do que aquelas que envolvem noções geométricas de forma e espaço.
Podemos observar no quadro, a seguir, os resultados da avaliação do PISA, de 2003
até 2015, na disciplina de Matemática.
Quadro 4 – Resultados do Pisa/Brasil – Proficiência na disciplina de Matemática
PISA 2003 2006 2009 2012 2015
Matemática
(pontos) 356 370 386 389 377
Fonte: INEP / MEC – 2015 - Organizado pela pesquisadora
O ensino da Matemática na escola tem sido baseado em cálculos, resolução de
operações, aplicação de fórmulas pré-estabelecidas, que tem necessidade de ser revisto, pois
“estudos em Educação Matemática têm demostrado que muitos conceitos são desenvolvidos
de forma mecânica, superficial, sem que os alunos consigam atribuir significado” (SANTOS,
2014, p. 76).
As aulas de Matemática, na maioria das vezes, acontecem com a repetição de
exercícios pelos alunos com as explicações dadas pelo professor de maneira expositiva, sendo
utilizado somente o quadro negro e giz. Ao contrário, as práticas pedagógicas dentro das
escolas deveriam dar sentido e “significado aos conteúdos matemáticos” (SANTOS, 2014, p.
76).
Nacarato, Mengali e Passos (2011, p. 34), contribuem com a reflexão sobre o ensino
da Matemática, quando afirmam que
[...] a convicção de que aprender seja um processo gradual, que exige o
estabelecimento de relações. A cada situação vivenciada, novas relações vão
sendo estabelecidas, novos significados vão sendo produzidos, e esse
movimento possibilita avanços qualitativos no pensamento matemático.
9PISA – Avaliação de Estudantes a cada três anos e teve a sua primeira edição em 2000 – Programme for
International Student Assessment, da organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
buscando a melhoria da educação básica, produz indicadores com objetivo de contribuir para a discussão da
qualidade da educação nos países.
42
Os avanços no pensamento e na construção do conhecimento matemático vêm ao
encontro da relação que se estabelece entre o aluno e a matemática, que é
[...] construída, fundamentalmente na escola, e o trabalho cotidiano do
professor em qualquer ano está voltado para o desenvolvimento de
expectativas que compreendem também o domínio de conceitos e processos,
bem como o desenvolvimento de atitudes em relação ao conhecimento
matemático (SANTOS, 2014, p. 48).
Ao estabelecer relações com os conhecimentos matemáticos, precisamos levar em
consideração o ambiente, os contextos em que todos os envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem estão inseridos. As aulas de Matemática requerem uma dinâmica “em que
alunos e professores precisam envolver-se na atividade intelectual de produzir matemática -
ou matematizar” (NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2011, p. 42).
A Matemática deve ultrapassar os muros da escola de acordo com as relações que os
alunos estabelecem nas aulas e com os conhecimentos construídos, pois, considerando que
estão na etapa final da escolarização básica, a elaboração dos conhecimentos científicos, a
adequação aos avanços científico-tecnológicos e a percepção do mundo numa dimensão
científica, como estabelece a LDB, devem ser priorizados.
1.3.1 O que dizem os documentos oficiais sobre a Matemática no Ensino Médio
Considerando que os documentos apresentam objetivos e metas para a Educação e
que, na maioria das vezes, é a única referência para auxiliar os professores na organização de
suas práticas pedagógicas, julgamos necessário apresentar dois documentos: as “Orientações
Curriculares” (OCS), elaborado pela SEDUC/MT, e as “Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Básica” (DCNEM).
Ao tentar reorganizar a Matemática no Ensino Médio, foram estabelecidos alguns
parâmetros para a organização do seu ensino. Os PCNEM (1998) destacam aspectos buscando
atender as necessidades de promoção da aprendizagem dos alunos, “[...] com diferentes
motivações, interesses e capacidades, criando condições para a sua inserção num mundo em
mudança e contribuindo para desenvolver as capacidades que deles serão exigidas em sua
vida social e profissional” (BRASIL, 1998, p. 40).
Considerando que a Matemática no Ensino Médio não tem apenas o caráter formativo
e instrumental, o referido documento descreve que “deve ser vista como uma ciência, com
características estruturais específicas” (BRASIL, 1998, p. 40), buscando estabelecer conexões
43
com as habilidades que devem ser desenvolvidas, dentro da contextualização e da
interdisciplinaridade, relacionando temas, afim de
[...] permitir conexões entre diversos conceitos matemáticos e entre
diferentes formas de pensamento matemático, ou ainda, a relevância cultural
do tema, tanto no que diz respeito às suas aplicações dentro ou fora da
Matemática, como à sua importância histórica no desenvolvimento da
própria ciência (BRASIL, 1998, p. 43).
Ampliando as discussões sobre a Matemática no Ensino Médio, os PCNEM + (2002),
vêm discutindo que ela faz parte do conhecimento humano, indispensável para a formação de
todos os jovens, “que contribui para a construção de uma visão de mundo, para ler e
interpretar a realidade e para desenvolver capacidades que deles serão exigidas ao longo da
vida social e profissional” (BRASIL, 2002, p. 111).
Pautada nas “Orientações Curriculares Nacionais”, a SEDUC/MT, por meio do
“Departamento de Política do Ensino Médio”, encaminhou, no ano de 2010, as OCS para os
professores, apresentando reflexões com o objetivo de oferecer alternativas didático-
pedagógicas ao atendimento das necessidades de ensino e aprendizagem.
Apresentamos, a seguir, as referências para o ensino da Matemática no estado de Mato
Grosso que buscam contribuir com as discussões previstas nos PCNEM (2002) e nos
PCNEM+ (2002) sobre como ela pode concorrer para que os alunos “desenvolvam
habilidades relacionadas à representação, compreensão, comunicação, investigação e,
também, a contextualização sociocultural” (MATO GROSSO, 2010b, p. 69).
Lembramos que a política educacional em Mato Grosso publicou os cadernos com as
“Orientações Curriculares para a Educação Básica” em 2010, distribuídos por área do
conhecimento. No quadro a seguir destacamos as capacidades e ações a serem desenvolvidas
na disciplina de Matemática.
44
Quadro 5 – Eixos articuladores e capacidades no âmbito da Matemática para o Ensino Médio em
Mato Grosso
Eixos
Articuladores Capacidades no âmbito da Matemática
RE
PR
ES
EN
TA
ÇÃ
O E
CO
MU
NIC
AÇ
ÃO
- Reconhecer e utilizar símbolos, códigos e nomenclatura da linguagem Matemática;
- Identificar, transformar e traduzir adequadamente valores e unidades básicas apresentadas
através de diferentes formas;
- Ler e interpretar dados ou informações apresentadas em diferentes linguagens e
representações;
- Traduzir uma situação dada em determinada linguagem para outra;
- Selecionar diferentes formas para representar um dado ou conjunto de dados e informações
reconhecendo as vantagens e limites de cada uma delas;
- Ler e interpretar diferentes tipos de textos com informações apresentadas em linguagem
matemática;
- Acompanhar e analisar os noticiários e artigos relativos à ciência em diferentes meios de
comunicação;
- Expressar-se com clareza utilizando a linguagem matemática;
- Produzir textos analíticos para discutir e sistematizar formas de pensar, fazendo uso,
sempre que necessário, da linguagem matemática;
- Expressar-se de forma oral para comunicar ideias, aprendizagens e dificuldades de
compreensão;
- Compreender e emitir juízos próprios sobre informações relativas à ciência e tecnologia,
de forma analítica e crítica, posicionando-se com argumentação clara e consciente.
INV
ES
TIG
AÇ
ÃO
E C
OM
PR
EE
NS
ÃO
- Identificar os dados relevantes em uma dada situação-problema para buscar possíveis
resoluções;
- Identificar as relações envolvidas e elaborar possíveis estratégias para enfrentar uma dada
situação-problema;
- Frente a uma situação ou problema, reconhecer a sua natureza e situar o objeto de estudo
dentro dos diferentes campos da Matemática;
- Identificar regularidades em situações semelhantes para estabelecer regras, algoritmos e
propriedades;
- Reconhecer a existência de invariantes ou identidades que impõem condições a serem
utilizadas para analisar e resolver situação-problema;
- Identificar transformações entre grandezas ou figuras para relacionar variáveis e dados;
- Perceber as relações e identidades entre diferentes formas de representação de um dado
objeto;
- Reconhecer a conservação contida em toda igualdade, congruência ou equivalência;
- Identificar e fazer uso de diferentes formas e instrumentos apropriados para efetuar
medidas ou cálculos;
- Identificar diferentes formas de qualificar dados numéricos para decidir se a resolução de
um problema requer cálculo exato, aproximado, probabilístico ou análise de médias;
- Fazer previsões e estimativas de ordens de grandeza de quantidade ou intervalos esperados
para os resultados de cálculos ou mediações;
- Compreender a necessidade de fazer uso apropriado de escalas;
- Interpretar, fazer uso e elaborar modelos e representações matemáticas para analisar
situações;
- Construir uma visão sistematizada das diferentes linguagens e campos de estudo da
matemática;
- Compreender a Matemática como ciência autônoma que investiga relações, formas e
eventos e desenvolve maneiras próprias de descrever e interpretar o mundo;
- Adquirir uma compreensão do mundo da qual a Matemática é parte integrante;
- Reconhecer relações entre a matemática e outras áreas de conhecimento.
45
CO
NT
EX
TU
AL
IZA
ÇÃ
O
SO
CIO
CU
LT
UR
AL
- Compreender a construção do conhecimento matemático como um processo histórico, em
estreita relação com as condições sociais, políticas e econômicas de uma determinada
época;
- Compreender o desenvolvimento histórico da tecnologia associado a campos diversos da
Matemática;
- Perceber o papel desempenhado pelo conhecimento matemático no desenvolvimento da
tecnologia e a complexa relação entre ciência e tecnologia ao longo da história.
- Compreender a Matemática como parte integrante da cultura contemporânea;
- Perceber a dimensão da Matemática e da ciência em espaços específicos de difusão e
mostras culturais;
- Compreender formas pelas quais a Matemática influencia nossa interpretação do mundo
atual;
- Acompanhar criticamente o desenvolvimento tecnológico contemporâneo;
- Compreender a responsabilidade social associada à aquisição e uso do conhecimento
matemático;
- Conhecer recursos, instrumentos e procedimentos econômicos e sociais para posicionar-se,
argumentar e julgar sobre questões de interesse da comunidade;
- Promover situações que contribuam para a melhoria das condições de vida da cidade onde
vive ou da preservação responsável do ambiente.
Fonte: Orientações Curriculares para a Educação Básica. Área de ciências da natureza e matemática (2010b).
Organizado pela pesquisadora.
Segundo as “Orientações Curriculares para a Educação Básica de Mato Grosso” na
área da Ciência da Natureza e Matemática, quando buscamos compreender a Matemática
como agente de produção, “os objetivos não são extraídos da realidade imediata, mas são
frutos do desenvolvimento de ideias, representações e relações” (MATO GROSSO, 2010b, p.
135).
O mesmo documento preconiza que a Matemática propõe a articulação lógica das
ideias e dos conteúdos matemáticos seguindo três eixos ou temas estruturadores, a serem
trabalhados nos três anos do Ensino Médio, de maneira interdisciplinar: Geometria e medidas;
Álgebra: números e funções e Análise de dados e tratamento da informação. Para o
desenvolvimento dos temas foram determinadas unidades temáticas, descritas no quadro a
seguir.
Quadro 6 - Temas e unidades temáticas das OCS-Matemática
Tema Unidade temática
Geometria e medidas
Geometria plana
Geometria espacial
Métrica
Geometria analítica
Álgebra: números e funções Variação de grandezas
Trigonometria
Análise de dados e tratamento das
informações
Matemática financeira e estatística
Contagem
Probabilidade
Fonte: Orientações Curriculares para a Educação Básica do Mato Grosso (2010b).
(Organizado pela pesquisadora).
46
Ao tratarmos os conteúdos matemáticos trabalhados em nossas aulas, precisamos
compreender que eles são “sínteses produzidas por certos grupos sociais ao lidarem com
problemas” (MOURA, 2002, p. 148). Segundo, ainda, o mesmo autor,
Os conteúdos matemáticos são aqueles que permanecem como patrimônio
cultural porque, de algum modo, contribuem para a solução de problemas
ainda relevantes para o convício social. É certo que alguns conteúdos
permanecem na escola apenas por força da tradição, mas estes um dia serão
questionados. Inicialmente, serão considerados como pouco relevantes e
posteriormente serão objetos de questionamento sobre a sua própria
necessidade de estar no currículo (MOURA, 2002, p. 148).
Reafirmando as reflexões apresentadas sobre o ensino da Matemática no Ensino
Médio, referendamos as considerações do autor, destacando o entendimento que os conteúdos
matemáticos possuem um contexto a ser explorado, que precisam ser revistos em nossos
currículos escolares, procurando alcançar maior clareza quanto aos objetivos relacionados à
aprendizagem dos nossos alunos.
Outro documento oficial que relacionamos foram as “Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Básica” (2013), que tratam do Ensino Médio e da Matemática. As
propostas voltadas para o Ensino Médio são disciplinares, com metodologias mistas e
atividades integradoras interdisciplinares. Persiste, ainda, a dificuldade de se trabalhar a
interdisciplinaridade, uma vez que é “entendida como uma abordagem teórico-metodológica
com ênfase no trabalho de integração das diferentes áreas do conhecimento” (BRASIL, 2013,
p. 184).
Outra observação importante, expressa nas referidas Diretrizes, é que Base Nacional
Comum e parte diversificada devem atender as características da comunidade escolar.
Cada escola/rede de ensino pode e deve buscar o diferencial que atenda às
necessidades e características sociais, culturais, econômicas e a diversidade e
os variados interesses e expectativas dos estudantes, possibilitando formatos
diversos na organização curricular do Ensino Médio, garantindo sempre a
simultaneidade das dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da
cultura (BRASIL, 2013, p. 185).
Os componentes obrigatórios dos currículos do Ensino Médio, segundo as DCNEM
(2013), em termos de operacionalização devem ser divididos por áreas de conhecimento. A
Matemática passa a ser uma área específica, contemplando-se especificamente essa disciplina.
Por fim, enfatizamos que a Matemática é uma construção humana, desenvolvida ao
longo do processo histórico, possuí características próprias que devem ser levadas em
47
consideração quando trabalhadas em sala de aula ou em outras atividades desenvolvidas pelos
alunos. Por fazer parte de uma área do conhecimento deve se relacionar de maneira
interdisciplinar com as demais áreas do currículo escolar.
A construção dos conhecimentos matemáticos deve ser mobilizada durante os
processos de ensino e aprendizagem e nessa interação vão se estabelecendo novos
significados para os mesmos, deixando de ser apenas um processo mecânico e repetitivo, pois
“o ensino da matemática focalizando exclusivamente o determinismo é, portanto, inadequado,
como insuficiente, para explicar, entender e lidar com a realidade” (D`AMBROSIO, 2016, p.
2).
Desta forma, algumas justificativas são dadas para as deficiências no ensino-
aprendizagem da Matemática, que recaem muitas vezes em cima do professor. Acreditamos
que é necessário oferecer condições aos professores, para que dentro de sua profissão tenham
“espaço para suas reflexões, sobre o porquê e o como das condições de trabalho na educação
do mundo atual, no cotidiano escolar” (D`AMBROSIO, 2016, p. 4).
Diante do exposto, buscamos nortear alguns aspectos sobre o Ensino Médio,
mencionando seus aspectos históricos, passando pela sua universalização e democratização
dos seus alunos, pelas avaliações, até chegar à proposição da nova legislação, trazendo
significação dentro da pesquisa, uma vez que se refere especificamente ao Ensino Médio.
Discutimos, também, como o Ensino Médio está organizado em Mato Grosso,
compreendendo quais são as finalidades, objetivos e índices dessa etapa da Educação Básica,
buscando entender como a Matemática se relaciona com os conhecimentos que fazem parte de
nossa vida e estão diretamente ligados às nossas atividades.
Salientamos que, na presente pesquisa nos interessam, além dos aspectos
mencionados, as discussões sobre formação continuada dos professores de Matemática, por
estarem relacionadas diretamente com a busca na qualidade do ensino. Sendo assim,
trataremos, a seguir, da formação dos professores de Matemática no Ensino Médio,
compreendendo como vivenciam os processos na formação inicial e continuada.
48
2 OS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO E SUA FORMAÇÃO
Neste capítulo abordamos a formação inicial e continuada dos professores de
Matemática, a escola como o local de formação, bem como a formação continuada em Mato
Grosso, mediada pela Portaria nº161/2017.
Também, desenvolvemos uma breve análise da proposta de formação continuada do
professor de Matemática no Ensino Médio pelo CEFAPRO/Alta Floresta.
2.1 Formação inicial
Muitas reflexões estão sendo feitas em relação à Educação, dentre elas, a formação
inicial e continuada de professores. Ao tratarmos da formação inicial, Imbernón (2010, p. 12)
explica que “foi exercida [...] desde a antiguidade, desde o momento em que alguém decidiu
que outros educariam seus filhos e esses outros tiveram que se preocupar em fazê-lo”.
Na atualidade, para os que pretendem atuar no magistério da Educação Básica, as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial e continuada foram estabelecidas
pela Resolução nº 2, de 1º de julho de 201510, definindo princípios, fundamentos, dinâmicas
formativas e procedimentos a serem observados no desencadear das formações.
No percurso da formação inicial e continuada dos professores muitos desafios
necessitam ser enfrentados, uma vez que
[...] questões antigas e recorrentes continuam sendo muito atuais,
considerando diferentes contextos. Elas são permeadas tanto pela
necessidade de se formar bons professores para cada sala de aula de cada
escola, quanto pelo desafio de oferecer processos formativos pertinentes a
um mundo em mudanças (MIZUKAMI, 2013, p. 214).
O professor vivencia processos que se desenvolvem ao longo de sua vida, assim, “a
formação inicial [...] deve ser destacada como um momento formal em que processos de
aprender a ensinar e aprender a ser professor começam a ser construídos de forma sistemática,
fundamental e contextualizada” (MIZUKAMI, 2013, p. 216). De acordo com Leite (2016, p.
43),
10 A Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015 do CNE define as “Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação
inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de
segunda licenciatura) e para a formação continuada”.
49
A formação inicial pode ser considerada como um espaço formal, que de
maneira intencional visa sistematizar alguns dos conhecimentos profissionais
e, portanto, necessários à prática docente, tais como: do currículo, da área
específica, didático-pedagógico, avaliação, de como organizar e gerir uma
sala de aula, entre outros. Além disso, ao considerar a legislação vigente, a
formação inicial se constitui no único espaço formativo institucionalizado
que todos os profissionais docentes obrigatoriamente têm que cursar para
que possa exercer a profissão de professor na Educação Básica.
Sentimos a necessidade de elencar algumas considerações sobre a formação inicial de
professores de Matemática que atuam no Ensino Médio, uma vez que nossa pesquisa tem
como foco a formação continuada desses professores e uma das condições para atuarem nessa
etapa da educação é a formação na Licenciatura em Matemática.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para as licenciaturas em Matemática (2001, p. 4)
descrevem as capacidades que o futuro professor de Matemática terá que desenvolver, as
quais destacamos a seguir:
a) elaborar propostas de ensino-aprendizagem de Matemática para a
Educação Básica;
b) analisar, selecionar e produzir materiais didáticos;
c) analisar criticamente propostas curriculares de Matemática para a
Educação Básica;
d) desenvolver estratégias de ensino que favoreçam a criatividade, a
autonomia e a flexibilidade do pensamento matemático dos educandos,
buscando trabalhar com mais ênfase nos conceitos do que nas técnicas,
fórmulas e algoritmos;
e) perceber a prática docente de Matemática como um processo dinâmico,
carregado de incertezas e conflitos, um espaço de criação e reflexão, onde
novos conhecimentos são gerados e modificados continuamente;
f) contribuir para a realização de projetos coletivos dentro da escola básica.
Algumas discussões acerca da formação inicial no Brasil vêm se concretizando e são
descritas nos documentos elaborados no “Seminário Nacional de Licenciaturas em
Matemática”, realizado pela “Sociedade Brasileira de Educação Matemática” (SBEM) (2003),
com o objetivo de estabelecer discussões sobre os cursos de licenciatura, bem como sobre a
reformulação curricular dos mesmos e a formulação de políticas públicas nesse contexto.
Algumas lacunas foram apresentadas durante o referido Seminário no campo institucional e
curricular, descritos no quadro a seguir.
50
Quadro 7 - Problemas identificados nos cursos de licenciaturas no Brasil-SBEM 2013
Campo institucional
Proposta pedagógica do curso à organização institucional,
o isolamento entre escolas de formação e distanciamento
entre as instituições de formação de professores e os
sistemas de ensino da educação básica.
Campo curricular
Desconsideração do repertório de conhecimento dos
ingressantes, a seleção de conteúdos para a constituição
de competências profissionais e o seu tratamento
inadequado, a falta de oportunidades para
desenvolvimento cultural dos alunos, o tratamento restrito
da atuação profissional limitando-a à sala de aula, a
concepção restrita de prática, a inadequação do
tratamento da pesquisa, a ausência de conteúdos relativos
às tecnologias da informação e das comunicações, a
desconsideração das especificidades próprias dos níveis
e/ou modalidades de ensino em que são atendidos os
alunos da educação básica (como a educação de jovens e
adultos, por exemplo), entre outros.
Fonte: SBEM (2013, p. 1)
Além dos problemas identificados no Seminário, o documento traz o perfil do
professor da matemática, que é exigido hoje,
[...] deve ser um profissional com grande competência para formular
questões que estimulem a reflexão de seus alunos, que possua sensibilidade
para apreciar a originalidade e a diversidade na elaboração de hipóteses e de
proposições de solução aos problemas. [...] deve ser criativo para criar
ambientes e situações de aprendizagem matematicamente ricos. Também
terá que possuir uma ampla capacidade para dar resposta ao imprevisto e
desenhar modelos que se adaptem às incertas e mutantes condições de
aprendizagem que ocorrem nas aulas de Matemática (SBEM, 2013, p. 2-3).
Acreditamos que a formação inicial requer atenção especial assumindo novos desafios
por meio dos procedimentos que adota. Desta maneira, a formação do professor de
Matemática “não pode ter como objetivo principal o acúmulo de informações”, mas
possibilitar ao professor construir o “seu próprio conhecimento” e desenvolver ao longo de
sua formação estratégias que permitam “intercâmbio de saberes profissionais” e “interação
com outros professores” (SBEM, 2013, p. 3) pois, ao iniciar a carreira, o docente conta com a
insegurança de estar em uma sala de aula e de conduzir suas aulas de maneira que os alunos
aprendam.
Além das reflexões sobre os aspectos que levam os futuros docentes a se apropriarem
do conhecimento enquanto professor de Matemática, nota-se que os currículos estabelecidos
pelas instituições que oferecem licenciaturas interferem direta e indiretamente na formação
51
dos professores desde a Educação Infantil, Ensino Fundamental até o Ensino Médio, devendo
influir significativamente abarcando todos os aspectos da profissão.
Concordamos com Imbernón (2011, p. 64) quando relata o papel das instituições ou
cursos de preparação para a formação inicial: “[...] ter um papel decisivo na promoção não
apenas do conhecimento profissional, mas de todos os aspectos da profissão docente,
comprometendo-se com o contexto e a cultura em que esta se desenvolve”.
Desse modo, a formação inicial deve preparar o professor para entender e agir dentro
das novas situações que a profissão lhe propõe, sendo capaz de atuar conforme as
necessidades dos alunos, construindo novas metodologias, investigando novas práticas e
buscando o desenvolvimento do seu conhecimento profissional.
No entanto, exercer a profissão exige estar constantemente em processo de formação,
que atenda, não só os sistemas escolares, mas também as necessidades individuais e coletivas
dos professores, buscando criar situações de aprendizagens e espaços de reflexões entre eles.
Em seguida, abordamos a formação continuada e os aspectos de sua
institucionalização, buscando compreender o contexto no qual ela é desenvolvida e
relacionando as experiências vivenciadas pelo professor no movimento da formação, quando
se tem em vista a aprendizagem dos alunos.
2.2 Formação continuada
A sociedade atual está em constantes transformações e a Educação está presente no
processo. Assim, o professor e seus saberes, como base de sua prática educativa, não podem
ser desvinculados de sua profissionalidade e de sua formação.
Pensar em Educação presume pensar na formação do professor e na prática
pedagógica com qualidade, pois sabe-se que a escola é um lugar para aprender e ensinar. Por
essa razão, a busca de conhecimentos pelo professor será necessária para que aconteça a sua
qualificação, que estejam relacionados com atividades significativas de aprendizagem. As
exigências da qualificação e valorização profissional são fatores importantes no processo de
formação, pois o professor pode desenvolver a capacidade de avaliar as suas ações e decidir
por novos procedimentos, ferramentas e estratégias na busca de seus objetivos de ensino.
Segundo Garcia (1995), a formação dos professores é considerada uma área de
conhecimentos, de investigações e de propostas teóricas e práticas, que se relacionam de
maneira coletiva ou individual com as experiências de aprendizagens. Consideramos que, por
meio delas, os professores podem ampliar os seus conhecimentos, competências e
52
disposições, permitindo as intervenções nas ações profissionais durante o ensino, buscando,
assim, melhorar a qualidade da Educação que os alunos recebem.
A formação continuada de professores não deve ser considerada como uma proposta
“compensatória destinada a preencher lacunas da formação inicial” (GATTI; BARRETO,
2009, p. 200). Segundo as mesmas autoras, os estudos sobre a formação continuada apontam
que
[...] é a limitada, senão ausente, a participação dos professores na definição
de políticas de formação docente, como categoria profissional, e na
formulação de projetos que têm a escola e o seu fazer pedagógico como
centro. Nestas condições, eles não se envolvem, não se apropriam dos
princípios, não se sentem estimulados a alterar sua prática, mediante a
construção de alternativas de ação, ao mesmo tempo em que se recusam a
agir como meros executores de propostas externas (GATTI; BARRETO,
2009, p.201-202).
Quando há o envolvimento dos professores nos processos de formação continuada
percebemos que as construções e as ações desenvolvidas partem das necessidades que
apresentam e vivenciam.
Desta forma, concebemos que as propostas de formação continuada alcançam além
das capacitações ao considerar o que o professor já sabe, sendo “[...] mais centrada no
potencial de auto crescimento do professor” (GATTI; BARRETO, 2009.p. 202).
As representações, atitudes, motivação dos professores passam a ser vistas
como fatores de capital importância a se considerar na implementação de
mudanças e na produção de inovações na prática educativa. O protagonismo
do professor passa a ser valorizado e a ocupar o centro das atenções e
intenções nos projetos de formação continuada (GATTI; BARRETO, 2009,
p. 202-203).
Fiorentini e Lorenzato (2005, p. 9) corroboram com a afirmação sobre a autonomia
profissional, bem como sobre a participação dos professores nos processos de formação, ao
afirmarem que poderão
[...] ajudá-los a se tornar os principais protagonistas de seu desenvolvimento
profissional e do processo educacional à medida que participam da
construção dos conhecimentos do trabalho docente e da construção do
patrimônio cultural do grupo de profissional ao qual pertencem. Essa é uma
possibilidade que os professores têm de superar sua principal limitação que á
sua reduzida autonomia profissional.
53
Ao nos reportarmos ao processo histórico da formação continuada, observamos que
alguns aspectos relacionados são observados ainda hoje, pois, segundo Imbernón (2010), até
por volta da década de 1970 a formação do professor como campo do conhecimento não tinha
iniciado seu desenvolvimento. Alguns seminários e oficinas eram realizados de forma
autônoma, diferentes daqueles propostos de forma impositiva pelas administrações ou
universidades, levantando vários questionamentos em relação à necessidade de formação. No
período citado, a formação se caracteriza por um “modelo”, devendo o professor seguir as
mesmas atividades que lhes eram passadas, acreditando facilitar o processo de ensino e
aprendizagem.
O cenário educacional em 1970, segundo Pimenta e Ghedin (2005), foi marcado por
características de racionalidade técnica, evidenciando o controle burocrático do trabalho do
professor, dando continuidade à exclusão social, sem resolver os problemas encontrados na
democratização do ensino.
Nesse período, observamos que os modelos apresentados de formação pouco
contribuíram para as práticas dos professores, bem como para a construção de seus saberes.
Segundo Fiorentini e Lorenzato (2005, p. 8) várias foram às causas.
A principal delas é que esses cursos de formação continuada promoviam, na
verdade, uma prática de formação descontínua: descontínua em relação à
formação inicial dos professores; descontínua, em relação ao saber
experiencial dos professores, os quais não eram tomados como ponto de
partida da formação continuada; descontínua, ainda, em relação aos reais
problemas e desafios da prática escolar; e descontínua, sobretudo, porque
eram ações pontuais e temporárias, tendo data marcada para começar e
terminar.
Percebemos que essas práticas ainda estão presentes em nossas escolas, ao notarmos
que as formações continuadas, das quais participamos, se apresentam com o mesmo formato,
deixando de atender as necessidades formativas expressas pelos professores.
Gatti (2010) descreve que, ao longo da história da formação de professores no Brasil, a
formação inicial foi proposta, no final do século XIX, com a criação das Escolas Normais,
que correspondiam ao nível secundário. A partir da Lei nº 9.394/96 a formação de professores
para o trabalho com os primeiros anos do Ensino Fundamental e com a Educação Infantil
passa a ser em nível superior. Só no início do século XX é que aparece a preocupação com a
formação dos professores do Ensino Secundário em cursos regulares e específicos, sendo que,
até então, esse trabalho docente era exercido por profissionais liberais ou autodidatas.
54
A institucionalização da formação continuada também aconteceu pelos anos de 1970
em alguns países, em outros por volta de 1980. Considerando os diversos contextos, a
formação continuada “nasce com a intenção de adequar os professores aos tempos atuais,
facilitando um constante aperfeiçoamento de sua prática educativa e social, para assim adaptá-
las às necessidades presentes e futuras” (IMBERNÓN, 2010, p. 19).
A formação de professores tem sido tema de muitas pesquisas nos dias atuais e, desta
maneira, buscamos entender o que significa formação continuada sobre diferentes olhares
teóricos.
Segundo Gatti e Barreto (2009, p. 200) “[...] a ideia de formação continuada como
aprimoramento profissional foi se deslocando também para uma concepção de formação
compensatória destinada a preencher lacunas da formação inicial”. Em oposição a essa
concepção, entendemos que a formação continuada vai além de completar o processo da
formação inicial, e sim ser desenvolvida ao longo de toda a vida profissional do professor.
Segundo André (2010), o foco da formação é o professor, suas opiniões, suas
representações, saberes e práticas, investigando os caminhos mais efetivos para alcançar um
ensino de qualidade, que se reverta em aprendizagem significativa para os alunos, levando em
consideração o processo individual e coletivo para o seu desenvolvimento profissional.
A formação continuada não acontece de maneira isolada, mas está inserida num
contexto histórico da construção social, pois “a formação está indissociavelmente ligada à
‘produção de sentido’ sobre as vivências e sobre as experiências” (NÓVOA, 1995, p. 26). A
formação continuada dos professores quando acontece de maneira isolada pode contribuir
para a aquisição de conhecimentos a partir da necessidade e interesses pessoais de formação
de cada professor. Entretanto, as atividades de formação desenvolvidas no coletivo aprimoram
os conhecimentos com as trocas de experiências, sendo que os processos de interação com o
grupo podem dar sentido ao processo desenvolvido.
Práticas de formação continuada organizadas em torno dos professores
individuais podem ser úteis para a aquisição de conhecimentos e técnica,
mas favorecem o isolamento e reforçam uma imagem dos professores como
transmissores de um saber produzido no exterior da profissão. Práticas de
formação que tomem como referência as dimensões coletivas contribuem
para a emancipação profissional e para a consolidação de uma profissão que
é autônoma na produção dos seus saberes e dos seus valores (NÓVOA,
1995, p. 27).
A LDB 9394/96 propõe a permanente formação para o aprimoramento profissional,
atendendo às mudanças do processo na comunidade escolar e assumindo o compromisso com
55
a educação. Assim, a escola deve propiciar condições para que as informações, que por ela
transitam, possam ser analisadas e criticadas, deixando de cumprir meramente o papel de
transmissora das informações.
A preocupação com a formação continuada de professores está cada vez mais
premente nas discussões do modo como vem se configurando atualmente. Para Garcia (1999,
p. 26) o processo de formação continuada de professores em formação ou atuando implica em
[...] experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram
os seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite
interferir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo
e da escola, com objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos
recebem.
Essa consideração possibilita refletir sobre a importância das experiências vivenciadas
pelo professor no movimento de formação continuada quando se tem em vista a aprendizagem
dos alunos. Nos últimos tempos a formação continuada dos professores alcançou avanços
importantes, como a análise do tipo de formação oferecida, a crítica à formação vertical, a
formação realizada perto dos professores, levando em conta as necessidades do contexto de
cada escola e a concepção de que o professor é o principal ator do processo.
Segundo Imbernón (2009, p. 9), para a formação permanente11 do professor é
fundamental que o método faça parte do conteúdo, ou seja, é tão importante o que se pretende
ensinar quanto a forma de ensinar. Verificamos em nossas escolas que a preocupação está
voltada para os conteúdos a serem estudados, deixando de lado a maneira como se dará o
processo de formação, pois vale salientar que durante o processo de formação “muitos
elementos não se ensinam, se aprendem, e esse é o desafio” (IMBERNÓN, 2016, p. 168).
Levando em consideração o contexto de cada unidade escolar, para que a inovação e a
mudança aconteçam, o autor faz importante reflexão.
Ganha espaço a opção de não se querer analisar a formação somente como o
domínio das disciplinas científicas ou acadêmicas, mas sim, de propor a
necessidade de estabelecer novos modelos relacionais e participativos na
prática da formação. Isso nos leva a analisar o que aprendemos e o que nos
falta aprender (IMBERNÓN, 2010, p. 23).
A formação continuada como espaço para a reflexão sobre a aprendizagem, tanto dos
alunos como dos professores, nos leva a caminhar em direção à solução de problemas com os
11 O autor ao utilizar o termo “formação permanente” se refere à formação continuada de professores.
56
quais nos deparamos em nossas salas de aulas, nas nossas próprias práticas e as dificuldades
de aprendizagem dos alunos.
Desta forma, Imbernón (2016) salienta que a formação deve partir das reais
necessidades dos professores. A tomada de decisões, o clima nas escolas, a descentralização,
as mudanças da organização da formação e a construção de um projeto coletivo são os pilares
para a formação centrada no professor, tendo em vista que
[...] para mudar a educação, é preciso mudar o professorado, e que a
formação é uma boa ferramenta, mas não a única nem apenas ela, mas deve
ser acompanhada de mudança no ambiente onde esse professorado realiza
seu trabalho docente (IMBERNÓN, 2016, p. 145).
O processo de formação continuada poderá levar o professor a buscar a revisão das
estratégias consideradas importantes na sua prática pedagógica, com possibilidades de
inovação, buscando novas metodologias e desenvolvendo novas habilidades de maneira a
contextualizar seu planejamento, considerando o contexto social em que os alunos estão
inseridos, buscando a melhoria na qualidade do ensino e aprendizagem. Por conseguinte,
[...] a formação permanente deve estender-se ao terreno das capacidades,
habilidades, emoções e atitudes, e questionar permanentemente os valores e
as concepções de cada professor e da equipe coletivamente. Ou seja, precisa
pôr sobre a mesa o que faz em sala de aula e na escola, o que implica não
apenas mudar a localização, mas também a metodologia da formação
permanente (IMBERNÓN, 2016, p. 148).
Ao refletir sobre a formação continuada, concordamos com Nóvoa (1995, p. 30) que
descreve a formação relacionada com as necessidades formativas dos professores, assim como
sua associação com os projetos profissionais e organizacionais, devendo
[...] capitalizar as experiências inovadoras e as redes de trabalho que já
existem [...]. A formação implica a mudança dos professores e das escolas, o
que não é possível sem um investimento positivo das experiências
inovadoras que já estão no terreno. Caso contrário, desencadeiam-se
fenômenos de resistência pessoal e institucional, e provoca-se a passividade
de muitos actores educativos. É preciso conjugar “lógica da procura”
(definida pelos professores e pelas escolas) com a “lógica da oferta”
(definida pelas instituições de formação), não esquecendo nunca que a
formação é indissociável dos projectos profissionais e organizacionais.
57
Diante de tantas mudanças dentro das escolas, acreditamos que os professores
enfrentam grandes batalhas nas salas de aulas devido ao avanço tecnológico e à maneira com
que as informações chegam até nossos alunos em velocidade maior que esperamos. Assim
teremos que nos esforçar para continuar aprendendo, considerando a formação continuada
uma estratégia que poderá nos levar a compreender vários significados diante das
problemáticas enfrentadas na escola. Imbernón (2009, p. 49) aponta-nos um conceito de
formação continuada que consiste em
[...] descobrir, organizar, fundamentar, revisar e construir a teoria. Se
necessário, deve-se ajudar a remover o sentido pedagógico comum,
recompor o equilíbrio entre os esquemas práticos dominantes e os esquemas
que os sustentam. Esse conceito parte da base de que o profissional de
educação é construtor de conhecimento pedagógico de forma individual e
coletiva.
Neste sentido, a formação continuada também leva o professor a ser o próprio autor de
seu aprendizado. Desta forma, Fiorentini (2008), Gatti e Barreto (2009), Garcia (1995)
destacam que a formação é um continuo ao longo da vida, que se relaciona com as práticas
pedagógicas e com a busca de soluções para as adversidades encontradas na profissão.
Assim, consideramos a formação como um contínuo, pois o professor tem a
necessidade de buscar soluções em diferentes fases da vida profissional, “[...] o início da
carreira, o processo de desenvolvimento e os tempos mais avançados em que o professor
consolida sua experiência profissional”, sendo que, no percurso, o “processo de formação é
definido como um movimento orientado a responder diversos desafios [...]” (GATTI;
BARRETO, 2009, p. 2003), enfrentados na atividade docente.
Ao estar diretamente ligado ao seu processo de formação, voltado para o aprendizado
no coletivo e individualmente,
O professor e a educação passaram, nesse contexto, a ser vistos como peças
chaves para a formação do sujeito global que a sociedade da informação e da
comunicação requer. Para isso, o professor precisa aprender a ensinar de um
jeito diferente daquele que experienciou como estudante. Ou seja, precisa
saber desenvolver e aplicar estratégias de sala de aula cognitivamente
profundas, emocionalmente envolvidas e socialmente ricas. Um docente que
promove seu próprio aprendizado contínuo e construa organizações de
aprendizagem; um agente de mudança qualificado promovendo
aprendizagem cooperativa e metacognitiva [...] (FIORENTINI, 2008, p. 60).
Os processos de construção das aprendizagens docentes, quer sejam coletivas ou
realizadas individualmente, requerem um projeto de formação que provoque as mudanças
58
desejadas. A seguir, destacamos algumas considerações sobre os projetos de formação e a
maneira como são descritos para potencializar as aprendizagens dos professores no contexto
escolar.
Ao vivenciarmos as formações em vigência, percebemos que os projetos de formação
continuada são estabelecidos a partir de propostas ou projetos já elaborados, sem a
participação efetiva dos professores. Segundo Gatti e Barreto (2009, p. 202), as formações são
propostas com “as características de um modelo ‘em cascata’, no qual o primeiro grupo de
profissionais é capacitado e transforma-se em capacitador de um novo grupo que por sua vez
capacita um grupo seguinte”. A afirmação das autoras nos reporta à formação que vem se
desenvolvendo, quando nos referimos ao PEIP, pois os professores formadores do CEFAPRO
são capacitados, e por sua vez capacitam os coordenadores pedagógicos que formam os
professores.
Quando pensamos em projeto de formação continuada, concordamos com Trindade
(2011, p. 246), que
[...] a necessidade da formação continuada ser desenvolvida através de
projetos autónomos face aos projetos de formação inicial, [...] estes sejam
construídos de forma mais plural e complexa, subordinados, neste caso, à
necessidade de envolver os professores na resolução dos problemas e no
desenvolvimento dos projetos de intervenção educativa com os quais se
relacionam. Situação esta que é entendida, também como uma oportunidade
de os professores participarem quer na construção do seu conhecimento
profissional, que, por isso, na construção de coletivos docentes onde se
exploram soluções, se discutem problemas e questões e se partilham,
igualmente, soluções ou recursos.
Neste sentido, a formação continuada precisará de “um projeto de formação”,
ancorado em uma “base teórica que sustentará a construção de estratégias, bem como a
organização de espaços formativos na escola” (SANTOS; ANDRADE, 2015, p. 97).
Assim, pretende-se que a formação continuada seja organizada de maneira a envolver
todos os profissionais, centrada nos trabalhos em conjunto com a equipe gestora, professores
e funcionários, buscando as soluções para as diversas situações problemáticas vivenciadas na
escola.
Além do trabalho colaborativo, outras situações precisam ser avaliadas, quando
tratamos da organização, metodologia e elaboração dos projetos de formação continuada.
Pois, “já se sabe que toda metodologia em formação docente se situa nas limitações
administrativas e nas estruturas organizacionais” (IMBERNÓN, 2016, p. 163). Ao se pensar
na metodologia utilizada na formação continuada de professores, concordamos com Imbernón
59
(2016, p. 164), quando descreve a metodologia da formação e propõe o que se deve evitar a
fim de que “[...] seja vista como uma receita de caráter normativo”. Segundo o mesmo autor,
[...] deve-se assumir a necessidade de uma revisão crítica da própria prática
formativa de cada um e coletivamente. Pensar que o professorado é
inteligente para não realizar uma formação baseada no usuário ignorante e
sujeito de sua própria formação (IMBERNÓN, 2016, p. 164).
Compreendemos que, no processo de formação continuada, algumas mudanças de
ordem metodológica devem ocorrer no seu desenvolvimento com o objetivo de refletir sobre
as contribuições produzidas no interior das nossas escolas, uma vez que as mesmas procuram
modificar a realidade e as práticas desenvolvidas pelos professores.
Assim, a formação assume um processo em que, em vez de dar uma
instrumentação já elaborada, será necessário que o conhecimento de todos
seja submetido a crítica em função do seu valor prático e analisando os
pressupostos educacionais e ideológicos em que se baseia. Na mudança das
pré-concepções sobre o ensino do professorado está em questionamento o
que se faz. Em seguida, é preciso compartilhar essas pré-concepções para
analisar se devem ser justificadas, modificadas ou destruídas (IMBERNÓN,
2016, p.166).
Neste sentido, acreditamos que a formação continuada deve voltar-se também para
áreas específicas do conhecimento.
A seguir, buscamos tratar da formação continuada de professores de Matemática.
2.3 Formação continuada dos professores de Matemática
Ensinar Matemática nos dias atuais tem sido uma tarefa difícil, diante de tantas
situações vivenciadas na escola, principalmente nos referimos às dificuldades que os alunos
têm na disciplina, que muitas vezes está desassociada da prática vivenciada por eles; como
também quando refletimos sobre as questões relativas à formação do professor que ensina
Matemática.
Quanto à formação continuada dos professores que ensinam Matemática, Nacarato
(2006, p.137) argumenta:
[...] o que as pesquisas brasileiras sobre formação de professores de
matemática vêm revelando não diferem muito da formação em outras áreas
do conhecimento e convergem para as discussões internacionais sobre o
60
assunto. O professor vem sendo considerado um produtor de saberes e um
ator do processo educacional que precisa ser ouvido e deve participar dos
projetos que lhe dizem respeito, quer no âmbito das políticas públicas, quer
no âmbito do contexto escolar. O professor passa a ser visto como o
protagonista do processo educativo.
Ao propiciar formação continuada aos professores de Matemática deve-se considerar a
construção dos saberes docentes e como eles servem para ensinar os conteúdos em sala de
aula. Assim “as pesquisas vêm evidenciando a necessidade de que, em programas de
formação, os conteúdos matemáticos sejam visitados e revisitados, mas é necessário pensar
sob que olhar isso deveria acontecer” (NACARATO; PAIVA, 2013, p. 14).
Nacarato, Mengalli e Passos (2011) descrevem um repertório de saberes que deve ser
incluído no conhecimento profissional do professor de matemática.
Saberes de conteúdo matemático. É impossível ensinar aquilo sobre
o que não se tem um domínio conceitual;
Saberes pedagógicos dos conteúdos matemáticos. É necessário
saber, [...] como trabalhar com os conteúdos matemáticos de
diferentes campos??? [...]. Saber como relacionar esses diferentes
campos entre si e com outras disciplinas, [...];
Saberes curriculares. É importante ter claro quais recursos podem
ser utilizados, quais materiais estão disponíveis e onde encontrá-los;
ter compreensão dos documentos curriculares; e, principalmente, ser
uma consumidora crítica desses materiais, em especial, do livro
didático (NACARATO; MENGALLI; PASSOS, 2011, p. 35-36).
No que diz respeito aos saberes do professor, observamos em nossas escolas a
necessidade de que a formação continuada dos professores de Matemática aconteça em grupo
para que juntos possam tirar dúvidas, encontrar soluções no coletivo sobre as práticas
docentes, refletindo sobre sua formação, bem como serem atores principais do processo, tendo
em vista as necessidades de aprendizagem dos alunos verificadas em sala de aula. Paiva
(2013, p. 92) menciona que
[...] saber por que se ensina, para que se ensina, para quem e como se ensina
é essencial ao fazer em sala de aula. O professor precisa estar em constante
formação e processo de reflexão sobre seus objetivos e sobre a consequência
de seu ensino durante a formação, na qual ele é o protagonista, assumindo a
responsabilidade por seu próprio desenvolvimento profissional.
Quando temos clareza onde queremos chegar, quais os objetivos que pretendemos
alcançar, a formação se faz necessária para que os professores sejam atuantes, construam
61
novos conhecimentos e que possam ter significado na ação pedagógica, alcançando reflexos
positivos na sala de aula. Segundo Cyrino (2013, p. 78), “a formação do professor de
Matemática não se inicia no momento em que ele é admitido num curso de licenciatura em
Matemática”, mas se dá ao longo de toda sua trajetória acadêmica e profissional.
Tanto a formação continuada como o desenvolvimento profissional dos professores de
Matemática tende a valorizar o docente, levando em consideração suas aprendizagens.
Concordamos com a afirmação de Albuquerque e Gontijo (2013, p. 83).
É importante saber que a formação contribui para o desenvolvimento
profissional, sendo seu elemento constituinte, mas ambos não têm
significados equivalentes. Pode-se afirmar que o processo de
desenvolvimento profissional contém a formação inicial e continuada.
Para Garcia (1999, p. 137), outro aspecto elencado sobre o desenvolvimento
profissional do professor na formação é a importância de
[...] uma abordagem na formação que valorize o seu carácter contextual,
organizacional e orientado para a mudança. Esta abordagem apresenta uma
forma de implicação e de resolução de problemas escolares a partir de uma
perspectiva que supera o carácter tradicionalmente individualista das
actividades de aperfeiçoamento dos professores.
O trabalho coletivo na formação continuada é necessário para que os professores
possam ter um espaço para discutir e organizar suas práticas pedagógicas levando em
consideração os conteúdos matemáticos, fazendo com que os alunos consigam ao longo do
processo de escolarização, principalmente na etapa final da Educação Básica, relacioná-los
com o mundo à sua volta. Entende-se, como Nacarato e Paiva (2013, p. 14), “que os
conteúdos de Matemática escolar sejam estudados sob um ponto de vista avançado, mas
problematizando-os na perspectiva da formação do professor”.
Durante o processo de formação, os professores, ao adquirirem os conhecimentos e
elaborá-los para serem vivenciados na sala de aula, devem “[...] assegurar que aprendizagem
dessa apropriação seja desenvolvida de forma ativa e efetiva pelos alunos, de maneira a
possibilitar não só a compreensão do que está sendo ensinado, mas potencializá-lo para a
elaboração de novos conhecimentos” (PALMA, 2010, p. 43). Aqui a autora nos reporta à
formação inicial, porém tais considerações cabem também para a formação continuada dos
professores de Matemática do Ensino Médio.
62
Verificamos que a formação continuada dos professores de Matemática e a
investigação nesse contexto necessita de estudos para “[...] tentar romper o círculo vicioso,
instaurado em nossas escolas, da não aprendizagem matemática” (PALMA, 2010, p. 43).
Desta forma, alguns desafios são postos para os professores de Matemática, pois “além
de lidar com a indisciplina e o desinteresse dos alunos, a esse professor cabe ainda a tarefa de
romper com o estigma de a matemática ser uma disciplina difícil e privilégio de poucos”
(FREITAS et al; 2005, p. 99).
Consideramos, também que a Matemática “não trata de verdades eternas, infalíveis e
imutáveis, mas dinâmica, está enraizada numa trajetória histórica, no seio de uma cultura,
revelando crenças e valores” (CYRINO, 2005, p. 86). Assim, nos processos de formação
continuada, essas reflexões devem ser consideradas, pois a escola faz parte de um contexto e é
nela que os encaminhamentos do ensino-aprendizagem se dão.
Acreditamos que a escola necessita ser o foco da formação continuada, uma vez que se
trata do espaço em que professor está inserido, portanto, pode propiciar trocas de experiências
entre os docentes. Sobre a questão apresentamos, a seguir, nossas considerações
2.4 Formação continuada centrada na escola
Quando associamos a escola com o lugar de formação do professor, nos referimos ao
local onde está inserido para desenvolver suas atividades docentes, preparando seus planos em
busca da qualidade do ensino, acreditando que é onde as práticas pedagógicas podem ser
objeto de reflexão, oportunizando conhecimentos práticos e teóricos para sua formação. Desta
maneira, os professores somente mergulhados em suas atividades podem identificar quais são
realmente as necessidades de formação e tomar iniciativas para poder melhorá-la.
A formação centrada na escola “tem suas origens remotas aos movimentos que se
denominam desenvolvimento curricular baseado na escola” (IMBERNÓN, 2016, p. 149).
Segundo o autor, a intenção era desenvolvê-lo para superar o individualismo, com técnicas
apropriadas às instituições e com a finalidade de analisar determinada organização. A
formação centrada na instituição educacional surgiu no Reino Unido, em meados da década
de 1970, promovida pelo Advisory Council for the Supply and Training of Teacher (ACSTT).
Essas organizações recebem vários nomes: “sistemas de apoio profissional mútuo,
autoavaliação institucional, formação baseada na prática profissional ou no posto de trabalho”
(IMBERNÓN, 2016, p. 149-150).
63
Outro aspecto a ser considerado, pautando-nos em Imbernón (2016), é o que
entendemos como “formação em escola” e “formação na escola”. A “formação em escola”
refere-se somente ao local em que está sendo desenvolvida; “formação na escola” retrata as
necessidades formativas dos professores inseridos no processo orientado por finalidades
definidas.
Para Imbernón (2016, p. 151-152), quatro ideias são fundamentais para a “formação
na escola,
A formação centrada na instituição educacional compreende todas as
estratégias que os formadores e o professorado empregam para
dirigir os programas de formação, de maneira que respondam às
necessidades definidas da instituição educacional. As necessidades
de formação são estabelecidas pelos professores. [...] A reflexão
sobre a prática permite que expressem seus sucessos, problemas e
dificuldades na tarefa que desempenham.
[....] A escola se converte na unidade básica de mudança e inovação.
Isso significa que os professores aos quais se dirige a proposta
formativa é toda a equipe docente, que deve realizar seu trabalho em
conjunto em virtude das decisões que devem tomar
colaborativamente.
A formação pretende gerar dinâmicas que repercutam diretamente a
instituição, favorecendo o desenvolvimento de equipes docentes.
Os professores participam de todo o processo de gestão e
planejamento da formação, desde seu planejamento até a sua
avaliação [...]”.
Entendemos que a formação centrada na escola possibilita resolvermos os problemas
que surgem durante o fazer pedagógico, bem como propormos a melhor maneira de
solucioná-los. Além disso, o professor aprende construindo seu conhecimento em conjunto
com toda a equipe docente que faz parte do processo da formação.
Consideramos que a escola está inserida na sociedade e vários conhecimentos são
vivenciados na construção social e histórica de cada membro pertencente a ela. “E nesta
sociedade haverá muitos aspectos importantes que só poderão ser aprendidos na escola; entre
eles, a de ser um cidadão que respeite a si mesmo e aos outros, sejam eles quem forem, bem
como o seu ambiente” (IMBERNÓN, 2016, p. 52).
Concordamos com Moretti (2010, p. 22), quando menciona que “a priorização de
modalidades de formação “centradas na escola” seria a chave para mudanças efetivas nas
escolas e nos professores ao promover novos modos de socialização profissional”.
Assim, a formação centrada na escola possibilita ao professor discutir e refletir sobre
suas práticas, trocar experiências e buscar soluções para os problemas encontrados nela.
64
Apresentamos, a seguir, como vem sendo estabelecida a formação continuada no Mato
Grosso. Para que consigamos compreender os processos da formação continuada em nosso
estado, descrevemos uma investigação referente à proposta de formação continuada, mais
especificamente as formações continuadas de professores de Matemática no Ensino Médio
realizadas pelo CEFAPRO/Alta Floresta, na última década, bem como a normatização
proposta pela Portaria nº 161/2016.
2.5 Formação continuada no Estado de Mato Grosso
No Mato Grosso, a SEDUC/MT, juntamente com os CEFAPROs, tem desenvolvido
ações de formação continuada vinculadas aos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas. A
implantação e implementação se realizou com o primeiro “Orientativo” datado do ano de
2003 até o período de 2015, com algumas alterações no nome do programa/projeto “Sala de
Professor” e/ou “Sala de Educador”.
Nesse contexto buscamos compreender como está organizada a formação continuada
dos professores no Mato Grosso, uma vez que os colaboradores da presente pesquisa são
professores da rede estadual de ensino. Entendemos que um dos motivos que levaram os
governos do estado do Mato Grosso a se preocupar com a formação dos professores foram os
resultados das avaliações externas e, ainda, alguns questionamentos sobre a qualidade da
educação pública oferecida, instituindo, então, uma nova proposta de formação, a qual teve
início e término no ano de 2016.
A seguir, buscamos referir a formação continuada dos professores de Matemática
descrevendo, ainda, as propostas de formações pelo CEFAPRO/Alta Floresta, apresentando
um breve levantamento específico sobre as formações dos professores de Matemática do
Ensino Médio.
2.5.1 Proposta de formações continuadas de Matemática no Ensino Médio – CEFAPRO/Alta
Floresta
Durante a última década verificamos a necessidade de constantes formações no que
diz respeito aos professores de Matemática face os desafios encontrados pelos professores
diante da interdisciplinaridade, das tecnologias, das mudanças curriculares, questionando
como a formação pode auxiliar nesse contexto.
65
A valorização dos profissionais da educação mediante a formação continuada como
finalidade, como propõe a LDB 9.394/96, tem mobilizado estados e municípios para que
organizem as formações continuadas dos professores, procurando atender suas especificidades
no interior de cada escola, considerando a busca de soluções para as diversas situações
encontradas no trabalho escolar.
No estado de Mato Grosso, a SEDUC/MT, por intermédio dos CEFAPROs, vem
propiciando formações continuadas para os professores.
O CEFAPRO, polo de Alta Floresta, situado no extremo norte do estado de Mato
Grosso, atende as escolas dos municípios de Alta Floresta, Apiacás, Carlinda, Nova
Bandeirantes, Nova Canaã, Nova Monte Verde e Paranaíta, buscando participar do processo
de formação continuada e promover a escola como espaço de formação e produção coletiva.
Neste sentido, Mizukami (2006, p. 12) destaca a escola como lócus de formação, na
qual os professores possam refletir sobre suas práticas pedagógicas no coletivo e “refere-se à
construção e manutenção de uma comunidade de aprendizagem no local de trabalho, que
possa estabelecer relações entre processos formativos vivenciados durante a formação inicial
e os vivenciados na escola”.
Assim, apresentamos as formações continuadas de Matemática que foram
desencadeadas na última década pelo CEFAPRO de Alta Floresta, no sentido de identificar,
mapear e discutir aquelas que tratam especificamente dos conteúdos de Matemática do Ensino
Médio. O período de abrangência foi de 2006 a 2016, disponibilizadas nos livros de registros
de formação continuada do centro de formação e nos documentos dos professores formadores
da área, localizados na sede do CEFAPRO de Alta Floresta.
Apresentamos, a seguir, um quadro das formações continuadas de Matemática
oferecidas pelo CEFAPRO de Alta Floresta, com dados relativos à última década.
Quadro 8 - Formação de Matemática - CEFAPRO/Alta Floresta
Local da Formação Título da formação Carga
Horária Ano
Alta Floresta Formação continuada de professores de matemática
no MT – Projeto Eterno Aprendiz
100h 2006
Alta Floresta Capacitação de multiplicadores de língua
portuguesa e matemática - Projeto Eterno Aprendiz
24h 2006
Escolas do Polo de Alta
Floresta
Curso alfabetização e matemática 20h 2008
Escolas do Polo de Alta
Floresta
Gestar II – Matemática 300h 2009
Apiacás Utilização de materiais manipuláveis nas aulas de
matemática
4h 2010
Paranaíta Caracterização dos elementos que compõem o
lúdico, brincadeiras antigas e jogos
4h 2010
66
contemporâneos
Alta Floresta Utilização de tecnologias e softwares nas aulas de
matemática
4h 2010
Alta Floresta Resolução e análise de uma situação problema e de
um problema tradicional.
4h 2010
Alta Floresta O uso da calculadora 4h 2010
Alta Floresta Abordando os “porquês matemáticos” 4h 2010
Escolas do Polo de Alta
Floresta
Formação alfabeletrar de matemática, linguagem e
alfabetização
120h 2013
Escolas do Polo de Alta
Floresta
GEOGEBRA Ensino Médio e Fundamental 8h 2013/2014/2
015
Alta Floresta Ideias envolvidas nas operações fundamentais para
professores da escola indígena (I etapa)
8h 2014
Alta Floresta Lúdico no Ensino da Matemática 4h 2014/2015
Alta Floresta Ideias envolvidas no conceito de frações
(significados)
4h 2014
Alta Floresta Matemática no contexto social 4h 2014
Escolas do Polo de Alta
Floresta
Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino
Médio
200h 2014/2015
Alta Floresta A matemática presente na cultura indígena (Escola
Itaawejak)
8h 2014
Alta Floresta Formação continuada para o ensino da natureza e
matemática, com foco na utilização de
experimentos relacionados à microscopia óptica
8h 2015
Alta Floresta Os conceitos de frações (II etapa) 8h 2015
Escolas do Polo de Alta
Floresta
Resolução de problemas. Jornada Formativa
(Ensino Médio e Fundamental).
20h 2015/2016
Alta Floresta Utilização do material dourado 4 h 2015
Fonte: Livro de registros de certificados e pastas de planejamentos dos professores formadores da área de
matemática do CEFAPRO/Alta Floresta. Quadro organizado pela pesquisadora.
Um dado a ser observado é que no ano de 2012 não foram encontrados registros de
formações para professores de Matemática.
Outro dado que consideramos importante destacar é a carga horária das formações que
compreendia um intervalo de tempo curto para que os professores pudessem socializar e
refletir sobre os conteúdos trabalhados durante a formação.
Uma das formações continuadas, que chamou nossa atenção, foi o “Gestar II” cujo
objetivo foi provocar discussões e reflexões sobre os problemas do ensino, sobre a articulação
com a proposta pedagógica, curricular e plano de ensino. Entretanto, as atividades foram
realizadas de maneira semipresencial, individuais e à distância, embora as oficinas coletivas
tivessem por objetivo propiciar a troca de experiências e conhecimentos dos professores com
os conteúdos dos “Cadernos de Teoria e Prática” (TP).
Observamos, ainda, que 68% das formações foram realizadas com uma carga horária
de quatro ou oito horas. No período em que os formadores visitavam os municípios
pertencentes ao polo do CEFAPRO, as atividades foram realizadas de maneira dinâmica,
sendo observado como aconteciam as mobilizações dos professores, suas discussões e
reflexões sobre o conhecimento, envolvendo as práticas pedagógicas. As avaliações realizadas
67
das formações indicavam a necessidade de demandar mais tempo para o desenvolvimento das
mesmas.
Da pesquisa supracitada elencamos vinte e duas formações, dentre as quais
destacamos apenas quatro relacionadas com a Matemática ensinada no Ensino Médio,
conforme apresentado no quadro a seguir.
Quadro 9 – Formações de professores de Matemática no Ensino Médio
Local da Formação Título da formação Carga
Horária
Ano
Escolas do Polo de Alta
Floresta
GEOGEBRA Ensino Médio e Fundamental 8h 2013/2014/
2015
Escolas do Polo de Alta
Floresta
Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio 200h 2014/2015
Alta Floresta Formação continuada para o ensino da natureza e
matemática, com foco na utilização de experimentos
relacionados à microscopia óptica
8h 2015
Escolas do Polo de Alta
Floresta
Resolução de problemas. Jornada Formativa (Ensino
Médio e Fundamental)
20 h 2015/2016
Fonte: Livro de registros de certificados e pastas de planejamentos dos professores formadores da área de
matemática do CEFAPRO/Alta Floresta. Quadro organizado pela pesquisadora.
É facilmente perceptível, no quadro acima, o número reduzido de formação para
professores de Matemática, na etapa final da Educação Básica.
Outro aspecto levantado é a carga horária das formações, que os professores
consideraram com duração de tempo, muitas vezes, insuficiente para desenvolvimento das
atividades, comprometendo a socialização da prática realizada em sala de aula. Observamos
também que as formações oferecidas pelo governo federal foram as que tiveram a maior carga
horária.
Segundo as DCNEM (2012), no artigo 5º, inciso I, a escolarização deve ser voltada
para a formação humana integral. Portanto, devemos considerar que os alunos do Ensino
Médio são jovens com projetos pessoais a serem desenvolvidos nas relações sociais. Para
tanto, a formação continuada dos professores de Matemática precisa vir ao encontro dessas
expectativas de aprendizagem, relacionando-as com as situações do cotidiano de maneira
prática.
Os professores tornam-se protagonistas do processo de formação quando ela é
relacionada com as práticas pedagógicas e os saberes docentes. Concordamos com Nacarato e
Paiva (2013, p. 15), “No que diz respeito à formação continuada, o papel dos cursos e/ou
projetos começa a ser avaliado/analisado a partir da perspectiva dos professores”, então, a
formação passa a ter significado na trajetória profissional do professor, interferindo na
aprendizagem dos alunos.
68
Uma das formações realizadas durante os anos de 2013 a 2015 foi com o software
“Geogebra” com o objetivo de utilizar o recurso nas aulas de Matemática como uma
ferramenta que auxilia o trabalho do professor com os conteúdos de geometria, álgebra,
funções, entre outros. A formação aconteceu no laboratório de informática do próprio
CEFAPRO, onde os professores realizaram as atividades em forma de oficinas utilizando o
software, deixando claro quais os objetivos a serem alcançados e construindo novos
conhecimentos. Alguns professores utilizaram o software em suas aulas, outros, porém, não
conseguiram fazer uso do recurso devido ao mau funcionamento dos laboratórios de
informática, outros ainda utilizaram o próprio material dos alunos para o desenvolvimento das
atividades com o “Geogebra”.
Na formação oferecida pelo projeto “Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino
Médio” apenas um caderno foi destinado para a disciplina de Matemática. O projeto tem
como objetivo a valorização da formação do professor e dos demais profissionais da
Educação a partir do diálogo entre os conhecimentos teóricos e as experiências docentes,
como também da gestão pedagógica, compreendendo que o professor elabora e produz
conhecimento com base na interpretação da realidade e nas possibilidades de transformação
da sociedade. A formação específica de Matemática propõe a todos os professores uma
reflexão sobre o desenvolvimento de ações curriculares integradas entre as áreas do
conhecimento com vistas ao favorecimento da formação humana integral. A formação teve
momentos de atividades individuais e coletivas, nos quais os professores puderam socializar
as reflexões dos estudos individuais, de acordo com a organização e situações encontradas em
cada escola. Nas atividades coletivas, os professores puderam refletir sobre aspectos teóricos,
bem como analisar as práticas pedagógicas. Neste sentido, Imbernón (2016, p. 151) destaca:
“A reflexão sobre a prática permite que expressem seus sucessos, problemas e dificuldades na
tarefa que desempenham”.
Podemos observar que as formações do ponto de vista das propostas metodológicas
atenderam as necessidades dos professores e vieram ao encontro do desafio de trabalhar de
maneira interdisciplinar, favorecendo a formação humana integral dos alunos, principalmente
nas atividades desenvolvidas na formação do “Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino
Médio”. Porém, percebemos que os conteúdos trabalhados nas formações precisam estar
relacionados com as necessidades de cada escola e que a aprendizagem dos conteúdos de
Matemática não pode ser apenas um acúmulo de regras e procedimentos, considerando, assim,
que a formação dos professores pode contribuir para a construção do conhecimento dos
conceitos matemáticos.
69
Ao mapear e conhecer as formações continuadas dos professores de Matemática,
contabilizando o número de formações realizadas pelo CEFAPRO, polo de Alta Floresta, e ao
considerar o conjunto de pesquisas sobre o tema, enfatizamos a necessidade de dar
prosseguimento às formações para professores de Matemática do Ensino Médio.
Assim, ao considerar os aspectos de formação inicial e formação continuada para os
professores do Ensino Médio, apresentamos, a seguir, como vem sendo estabelecida a
formação continuada no Mato Grosso a partir da portaria que normatizou a formação
continuada no ano de 2016, intitulada “Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica” (PEIP).
2.5.2. Formação continuada em Mato Grosso: Portaria nº 161/2016/GS/SEDUC/MT
A SEDUC/MT, por meio dos CEFAPROs, tem desenvolvido ações coletivas de
formação com base no documento intitulado “Política de Formação dos Profissionais da
Educação Básica de Mato Grosso”, com o objetivo de delinear as diretrizes da formação
inicial e continuada dos profissionais da Educação da Rede Estadual de Mato Grosso,
propondo uma
[...] concepção de formação que possibilite a articulação do desenvolvimento
profissional, compreendido como processos contínuos e ininterruptos,
orientados pela concepção metodológica dialética que permite responder ao
dinamismo da prática educativa e as contradições de seu contexto,
orientando para a sua formação (MATO GROSSO, 2010c, p. 13-14).
O documento destaca que a formação continuada deve ser concebida “[...] como todo
o processo formativo que ocorre depois da formação inicial, seja em nível médio ou superior”,
sendo que o mesmo documento compreende a formação como um “processo permanente,
contínuo, não pontual, realizada no cotidiano da escola, em horários específicos e articulada à
jornada de trabalho” (MATO GROSSO, 2010c, p. 15).
Segundo a referida política de formação de Mato Grosso (2010c), a formação
continuada não deve ser entendida como correção da formação inicial, mas sim como
construtora da gestão democrática e da organização da vida social da comunidade escolar,
sendo considerada espaço para construção e socialização de conhecimentos docentes.
A formação continuada no estado se concretizou mediante a elaboração e execução do
“Projeto Sala de Professor/Educador” que iniciou em 2003, quando o primeiro “Orientativo”
foi publicado, se estendendo até o ano de 2015.
70
No ano de 2016, a SEDUC/MT instituiu o “Projeto de Estudos e Intervenção
Pedagógica” (PEIP) e o “Projeto de Formação Continuada dos Profissionais Técnicos e Apoio
Administrativos Educacionais” (PROFTAAE), via Portaria nº 161/2016, como projetos
experimentais da “Política de Formação e Desenvolvimento Profissional dos Profissionais da
Educação Básica em Mato Grosso”.
A partir do estudo da portaria, que estabeleceu o PEIP, fomos instigados a
compreender como os professores de Matemática do Ensino Médio conceberam e
vivenciaram o processo de formação.
A referida portaria é composta de oito artigos e um anexo único, contendo um
“orientativo” para a “Formação e Desenvolvimento Profissional na Escola”.
Com o intuito de oferecer elementos para interpretação e inferências sobre o projeto de
formação proposto, organizamos a figura, a seguir, com a base na sua organização.
Figura 5 - Base da organização do “Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica” (PEIP)
Fonte: Mato Grosso (2016a). Organizado pela pesquisadora
No Art. 3º, § 2º, o texto destaca que o PEIP tem como “foco a análise de necessidades
de aprendizagem dos estudantes, para superar as dificuldades diagnosticadas ou potencializar
a aprendizagem discente, por outro lado, a aprendizagem profissional docente”. A proposta de
formação continuada constitui o NDPE, coordenado pelo coordenador pedagógico da escola.
Nesse processo cabe à escola destinar espaços específicos e condições estruturais para
o funcionamento do NDPE. A execução do PEIP deve ser realizada pelos docentes em
regência, professores articuladores e professor do laboratório de aprendizagem, incorporando
suas intervenções junto aos alunos.
No Art. 5º, a referida portaria descreveu dois enfoques denominados de Educação
Permanente: a formação continuada e o desenvolvimento profissional docente. Para a
•Análise de aprendizagensde alunos e superação dedificuladades.
•Aprendizagemprofissional docente comoconsequência das referidasanálises.
Base da Formação
•Formação continuada.
• Desenvolvimentoprofissional.
Educação permanente
•Superintendência deFormação dosProfissionais daEducação Básica.
• CEFAPROS.
Monitoramento e avaliação
71
SEDUC/MT a formação continuada é “aquela que tem sido realizada pelas instituições
formadoras, [...] por agentes de formação, [...] ofertadas na modalidade de cursos, oficinas,
seminários, supervisão, ciclo de estudos, palestras workshop, etc.” (MATO GROSSO, 2016a,
p. 41), com certificações e financiamentos.
No que se refere ao desenvolvimento profissional, segundo a portaria, “é um processo
de médio a longo prazo”, sendo
[...] processos de levantamento de necessidades de aprendizagem, nas
superações das dificuldades de aprendizagem, na potencialização da
aprendizagem, na participação dos professores na definição das ações de
intervenção pedagógica, nos conteúdos concretos a serem apreendidos, [...]
nos contextos de aprendizagem (formação centrada na escola), na
relevância da formação centrada nas práticas pedagógicas, no impacto na
aprendizagem dos estudantes e na aprendizagem profissional (MATO
GROSSO, 2016a, p. 41) (Grifo da pesquisadora).
Neste sentido, acreditamos que a formação continuada poderá contribuir com a
construção das aprendizagens, bem como com o desenvolvimento profissional ao longo de
toda a vida, considerando todas as fases da profissão docente.
2.5.3. Orientativo para a Formação e Desenvolvimento Profissional na Escola/2016
A reorganização das políticas educacionais do Estado de Mato Grosso considerou a
inserção da “Avaliação Diagnóstica do Ensino Público Estadual” (ADEPE-MT12) e o
“Programa de Gestão para Resultados em Educação”, dentre outros documentos, como
orientadores para elaboração e efetivação do PEIP.
Segundo a portaria, as avaliações externas e internas dão indicativos das proficiências
dos alunos, e os professores devem utilizar seus resultados como subsídios para a reflexão
sobre sua prática pedagógica e sobre as necessidades de aprendizagem dos estudantes. Assim,
o projeto de “Estudos e Intervenção pedagógica” (PEIP) constitui um instrumento de
planejamento das ações de formação e desenvolvimento profissional nas escolas.
A proposta de formação continuada do “Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica”
foi dividida em duas etapas: a primeira correspondeu à elaboração de um cronograma de
12 Avaliação em larga escala, inserida na reorganização das “Políticas Públicas Educacionais do Estado de Mato
Grosso”, como ação estratégica, objetiva produzir e disseminar informações que subsidiem a reflexão do
professor sobre a sua prática. A partir de uma matriz de referência, os alunos das escolas estaduais do 2º, 4º, 6º e
8º anos do Ensino Fundamental e 1º e 2º anos do Ensino Médio realizam testes de língua portuguesa e de
matemática, no ano de 2016, sendo sintetizados em uma escala de proficiência caracterizando os padrões de
desempenho.
72
estudos que contemplasse as seguintes temáticas: projeto de intervenção, avaliação
educacional e pesquisa ação; a segunda, compreendeu a execução do PEIP, momento em que
o professor articula seus estudos com o planejamento e desenvolvimento das ações em sala de
aula. A seguir tratamos sobre os estudos coletivos que subsidiam a elaboração do PEIP.
Estudos coletivos que subsidiam a elaboração do PEIP
Ao estabelecer os estudos coletivos, as ações contemplaram duas etapas; I Etapa do
PEIP - Estudo coletivo com temáticas propostas e II Etapa do PEIP – Realização das
ações de intervenções e estudos específicos, as quais detalhamos a seguir.
I Etapa do PEIP - Estudo coletivo com temáticas propostas, nessa etapa, de acordo
com a portaria, a escola, sob a direção do coordenador pedagógico, deve organizar um
cronograma de estudos coletivos para os professores com as seguintes temáticas: projeto de
intervenção, pesquisa-ação e avaliação educacional.
A seguir, apresentamos o rol de sugestão de textos, como propostas de leitura, em que
destacamos que a aquisição das referências para o estudo das temáticas foi de
responsabilidade da escola ou do CEFAPRO, previstos no “Projeto Político Pedagógico”
(PPP) ou no “Projeto Pedagógico de Desenvolvimento do CEFAPRO” (PPDC).
Quadro 10 - Referências para os estudos coletivos
Temáticas
propostas Referências sugeridas
Pro
jeto
de
inte
rven
ção
CORTESÃO, L. Projecto, interface de expectativa e de intervenção. In: LEITE, E.; MALPIQUE,
M.; DOS SANTOS, M. R. Trabalho de projecto, v. 2, 3. ed. Porto: Afrontamento, 1993.
LEGRAND, L. A pedagogia do projecto. In: LEITE, E.; MALPIQUE, M.; DOS SANTOS, M. R.
Trabalho de projecto, v. 2, 3. ed. Porto: Afrontamento, 1993.
VILLAS BOAS, B. M. de F. Projeto de intervenção na escola: Mantendo as aprendizagens em
dia. Campinas, SP: Papirus, 2010. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
VEIGA, I. P. A. Projeto de ação didática: Uma técnica de ensino para inovar a sala de aula. In:
VEIGA, I. P. A. (org.). Técnicas de ensino: Novos tempos, novas configurações. Campinas:
Papirus, 2006. p. 69-84.
73
Pes
qu
isa-
ação
ABDALLA, M. F. B. A pesquisa ação na análise do trabalho docente. VI Seminário Redestrado –
Regulação Educacional e trabalho Docente, 06 e 07 de novembro de 2006, UERJ – Rio de
Janeiro. Disponível em: <www,ufmg.br/estrado/cd_viseminario/...3/a_pesquisa_acao.doc.>.
TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Revista Educação e Pesquisa. São
Paulo, v. 31, p. 443-466, set. 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a09v31n3.pdf.>.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
Av
alia
ção
Edu
caci
on
al
CARVALHO, R. B. F. Avaliação para a aprendizagem: a articulação entre ensino, aprendizagem
e avaliação: Mato Grosso – Brasil. Tese de doutorado, Instituto de Educação da Universidade de
Lisboa, Lisboa, 2014.
FERNANDES, D. (Orgs.). Avaliação em Educação: olhares sobre uma prática social
incontornável. Pinhais: Melo, 2011.
FREITAS, L. C. de et al. Avaliação educacional: caminhando pela contramão. Petrópolis:
Vozes, 2009.
HOFFMANN, J. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2005.
______. Avaliar para promover as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001.
SILVA, J. F.; HOFFMANN, J.; ESTEBAN, M. T. (orgs.). Práticas avaliativas e aprendizagens
significativas em diferentes áreas do currículo. Porto Alegre: Mediação, 2003.
Fonte: Mato Grosso, (2016a, p. 41-42). Organizado pela pesquisadora.
Ao enfatizar as temáticas propostas e finalizar os encontros de formação e
desenvolvimento profissional, os professores devem ser “[...] capazes de compreender e
responder de forma crítica e proativa, com base nas referências estudadas, nas práticas de
avaliações que têm sido feitas e nas necessidades de aprendizagens diagnosticadas dos
estudantes (resultado das avaliações)” (MATO GROSSO, 2016a, p. 42).
Algumas questões são formuladas para encaminhar a discussão dos textos: O que é
avaliação educacional? Para que serve a pesquisa-ação, entre outras metodologias, que visam
subsidiar a elaboração do PEIP, considerando os resultados da ADEPE-MT? Para as escolas
que não participam da ADEPE-MT, a elaboração do PEIP pode ser feita a partir de outros
resultados: IDEB, ANA, ENEM, etc., e dos resultados das avaliações internas?
Para atender as necessidades de aprendizagens dos alunos, cada escola elabora o seu
PEIP composto por três macros ações, que destacamos a seguir.
Quadro 11 – Ações componentes do PEIP
Ações Período
Ação 1 – Estudos Gerais - Estudo dos temas: Avaliação
Educacional, Projeto de intervenção, e Pesquisa-Ação
1º semestre
Ação 2 - Planejamento da intervenção pedagógica 2º semestre
Ação 3 - Intervenção (na regência), estudos específicos e a
socialização
2º semestre
Fonte: Mato Grosso, (2016a). Organizado pela pesquisadora
74
II Etapa do PEIP – Realização das ações de intervenções e estudos específicos,
etapa, segundo o documento que regulamentou a formação, deve ser realizada no segundo
semestre do ano letivo. Voltada para a execução do PEIP, é dividida em três momentos de
trabalho a serem elaborados no tempo da hora atividade13.
Fica a critério da escola incluir ou não na etapa os “objetos de aprendizagem de
programas externos (federais, internacionais, dentre outros), desde que haja um planejamento
prévio, com a participação do CEFAPRO, em consonância com a Política do Estado” (MATO
GROSSO, 2016a, p. 43).
Para a elaboração e execução do projeto de intervenção, a ADEPE–MT é analisada por
meio dos diagnósticos sistematizados sobre as necessidades de aprendizagem dos alunos. A
portaria apresenta, também, exemplos de instrumentos para a sistematização do diagnóstico,
como portfólio, caderno de campo e outros documentos que os professores podem utilizar
para observar o desempenho dos alunos e subsidiar a construção e a execução do PEIP.
O primeiro momento da II Etapa, foi apresentado como “Etapa de aquisição e
compilação dos referenciais e estudo das temáticas propostas, elaboração do cronograma de
estudos ao CEFAPRO”, com uma carga horária de 4 (quatro) horas de “atividade semanal”
(MATO GROSSO, 2016a, p. 43). As temáticas propostas foram determinadas como: Projeto
de Intervenção, Pesquisa-ação e Avaliação Educacional. Os textos para os estudos
relacionados a cada temática foram anteriormente descritos no Quadro 10. No retorno após a
greve dos profissionais da educação, duas novas temáticas foram incluídas aos estudos dos
professores: Métodos de Ensino e Teorias de Aprendizagem, segundo a Portaria nº 322/2016.
Segundo a portaria nº 161/2016, as escolas podem organizar seus estudos em dias e
horários conforme decisão coletiva, desde que cumpram 4 horas semanais, em que sejam
discutidos os textos de leitura e feito o registro reflexivo individual, e socializados nos trinta
minutos iniciais do próximo dia de formação, sob organização do coordenador pedagógico ou
um mediador de estudos. Outro aspecto, relacionado na mesma portaria, foi o registro
reflexivo, a ser elaborado individualmente com a “finalidade de potencializar as discussões,
fortalecer o processo de formação e desenvolvimento profissional docente” (MATO
GROSSO, 2016a, p. 43).
13 Entende-se por hora atividade aquela destinada à preparação e avaliação do trabalho didático, à colaboração
com a administração da escola, às reuniões pedagógicas, à articulação com a comunidade e ao aperfeiçoamento
profissional, de acordo com a proposta pedagógica da escola. Ficado assegurado 33,33% correspondente a sua
jornada de trabalho semanal (Lei nº 050/98, Art. 37 e 38). Assim, com a jornada de 30 horas semanais, os
professores computam 20 horas em regência, e 10 horas com atividades pedagógicas e formação. No caso da
referida formação continuada foi destinado 4 horas semanais de estudos, prevista dentro da hora atividade.
75
Para o segundo momento da II Etapa, a portaria determina as seguintes formações: a)
formação de professores formadores, que aborda as disciplinas de português, matemática e
temas sugeridos para estudos coletivos; b) formação dos coordenadores pedagógicos pelo
CEFAPRO; c) elaboração dos subprojetos de intervenção por disciplina e estudos específicos
(MATO GROSSO, 2016a, p 45). Várias foram as datas estabelecidas na portaria para as
formações dos formadores, porém vale ressaltar que nenhuma delas foi realizada no tempo
previsto.
Após o período de formação, que seria previsto de maio a junho, os professores
elaboram os subprojetos de intervenção por disciplina e estudos específicos, para atender as
necessidades de aprendizagem dos alunos. Sendo que as ações de intervenção devem
acontecer no período de regência, em que os professores articulam a aprendizagem da
formação com o desenvolvimento profissional.
Os subprojetos no processo de formação não foram realizados como indicação da
portaria, pois essa atividade foi considerada como sendo um projeto do grupo de estudos,
envolvendo todos os professores, não de forma específica para cada área, sem considerar o
que já havia sido elaborado pela coordenação para a formação em geral.
A data para o envio do PEIP aos CEFAPROs foi marcada até o final do mês de junho
do referido ano, para que o órgão possa avaliar e dar a devolutiva para a escola, com parecer
autorizando o início das ações de intervenção até final do mês de julho.
A estrutura do PEIP deve ser realizada conforme o documento apresentado na figura a
seguir, apesar de modificada pela Portaria nº 322/2016/GS/SEDUC/MT, que altera o processo
de construção e execução do PEIP, Anexo I e o cronograma de estudos devido à greve dos
servidores estaduais.
Figura 6 - Estrutura do PEIP
Fonte: Mato Grosso, (2016b).
76
No terceiro momento da II Etapa, o de socialização, as escolas podem organizar um
“Seminário de Experiências de Intervenção Pedagógica” (MATO GROSSO, 2016a, p. 46),
com no mínimo quatro horas de carga horária, sob a coordenação do diretor e do coordenador
pedagógico e, se necessário, contar com a ajuda dos assessores pedagógicos e do CEFAPRO.
Porém, esse terceiro momento da formação não aconteceu, uma vez que nem as
atividades propostas foram contempladas durante a experiência de formação, como também a
própria SEDUC/MT determinou, na Portaria nº 322/2016, a alteração na construção e
execução das atividades do PEIP, considerando o período de greve de todos os profissionais
da educação.
Atores da formação e desenvolvimento profissional
A Portaria nº 161/2016 também especifica as atribuições de todos os profissionais da
educação envolvidos no processo, bem como a previsão dos recursos financeiros necessários à
execução do PEIP. Os professores, diretor, coordenador pedagógico, assessores pedagógicos,
profissionais administrativos, profissionais do CEFAPRO e “Superintendência de Formação
dos Profissionais da Educação” (SUFP), devem trabalhar colaborativamente, conforme as
seguintes atribuições:
Atuar como mediadores da formação contínua e do desenvolvimento
profissional;
Promover o fluxo de comunicação/informação das ações de formação no
espaço entre SEDUC – CEFAPRO – Assessoria – Escola – SUFP - SAPE
e vice-versa;
Utilizar-se da formação e desenvolvimento profissional como meios para
melhorar o desenvolvimento pessoal, profissional, institucional e garantir
a aprendizagem dos estudantes;
Promover o diálogo entre os atores e os colaboradores;
Promover a cultura teórica e prática de responsabilização (MATO
GROSSO, 2016a, p. 46).
Além das atribuições normatizadas para serem desenvolvidas colaborativamente,
destacamos as específicas do coordenador pedagógico e dos professores relacionadas ao
PEIP, os quais estão diretamente ligados ao processo da formação. Elencamos as atribuições
do coordenador pedagógico e do professor no quadro, a seguir.
77
Quadro 12 - Atribuições do coordenador pedagógico e do professor (PEIP)
Co
ord
enad
or
ped
agóg
ico
- Ler o “Orientativo 2016”, atentamente;
- Propiciar acesso ao “Orientativo” do PEIP 2016;
- Organizar um momento de estudo, com as ações de formação e desenvolvimento profissional
na escola conforme o “Orientativo” e estratégias colaborativas;
- Estabelecer coletivamente o dia e hora de execução do PEIP;
- Zelar pelo cumprimento da carga horária;
- Coordenar a elaboração do PEIP;
- Coordenar a organização do grupo de estudo das temáticas comuns e dos grupos de estudos de
temáticas específicas (por disciplina);
- Coordenar, com os docentes, a análise dos resultados da avaliação diagnóstica (ADEPE-MT) e
das demais avaliações externas e internas para elaboração do diagnóstico que subsidiará o
PEIP;
- Intermediar as dificuldades de ordem teórico-práticas dos profissionais com o apoio do
CEFAPRO, solicitando orientações e/ou outras demandas formativas;
- Incentivar a leitura antecipada do material a ser estudado, como atitude plausível de cultura
profissional;
- Monitorar o cumprimento da carga horária do PEIP.
Pro
fess
ore
s d
a es
cola
- Ler o “Orientativo 2016”, atentamente;
- Contribuir na elaboração coletiva e colaborativa do PEIP;
- Inserir-se no grupo de estudo de temáticas comuns e no grupo específicos de sua disciplina;
- Estar presente na hora e local determinado para o desenvolvimento do PEIP;
- Contribuir com o embasamento teórico e metodológico diante das necessidades suscitadas
pelos diagnósticos, análises e ações de intervenções;
- Utilizar os dados fornecidos pelos órgãos federais, estaduais e municipais (IDEB, ADEPE-MT,
SIGA e outros) como apoio para o diagnóstico e tomadas de decisão acerca de seu próprio
processo formativo e intervenções pedagógicas no processo de aprendizagem dos estudantes;
- Solicitar ao coordenador pedagógico apoio para as ações de formação e desenvolvimento
profissional, caso encontre dificuldade teórico-prática;
- Utilizar-se da formação como meio para melhorar o desenvolvimento pessoal, profissional e
institucional com vistas à promoção da qualidade no processo de ensino e aprendizagem, bem
como da própria profissionalidade;
- Assumir a função de mediador, no grupo de estudos específicos.
Fonte: Mato Grosso, (2016a, p. 46-47). Organizado pela pesquisadora.
Assim, para melhor compreender o PEIP, apresentamos a seguir, um diagrama com
cada etapa da formação descrita na referida portaria.
78
Figura 7 - Diagrama das etapas do PEIP
Fonte: Mato Grosso, (2016a). Organizado pela pesquisadora.
Monitoramento e avaliação da formação e desenvolvimento profissional
A função de monitorar, avaliar, orientar e realizar as intervenções da implementação
da “Política de Formação e Desenvolvimento Profissional” foi atribuída ao CEFAPRO.
Segundo a Portaria nº 161/2017, essas ações são necessárias para verificar os avanços no
processo formativo, pois muitas vezes os professores desanimam frente aos obstáculos a
79
serem superados, acabando “por participar da formação contínua, apenas motivados pela
certificação, para garantir a contagem de pontos” (MATO GROSSO, 2016a, p. 47). Para
melhor compreensão do processo explicitado, apresentamos, a seguir, a síntese do
monitoramento proposto.
Figura 8 - Monitoramento do PEIP
Fonte: Mato Grosso (2016a). Organizado pela pesquisadora.
A referida portaria estabelece, também, que a avaliação deve considerar: a Avaliação
Diagnóstica, a Avaliação Formativa e a Avaliação Somativa, sendo que o conjunto de
avaliações objetiva “contribuir para evidenciar as necessidades formativas para melhoria das
práticas profissionais” (MATO GROSSO, 2016a, p. 48).
Para subsidiar teoricamente a portaria do PEIP registra-se, em suas referências,
algumas legislações: Constituição Federal (1988), a LDB (1996), a Lei complementar nº 50
(1998) e o Parecer nº 879/UAS/2012 – AD 52.
Ao tratar de projeto de intervenção a Portaria se apoiou em Veiga (2006) e Villas Boas
(2010); para estabelecer a função do professor dentro do PEIP cita Weiz (2003); para falar de
monitoramento e avaliação cita De Ketele et al (1994); a respeito dos resultados e feedback
das avaliações apoiam-se em Vianna (2003) e Boston (2002).
80
Explicitamos a formação inicial e continuada de professores de Matemática,
destacando que mudanças ainda são necessárias para que as formações aconteçam de maneira
satisfatória.
Muitas relações precisam ser estabelecidas no contexto escolar entre alunos,
professores e comunidade, além das modificações nas estruturas, nas políticas públicas, para
que a qualidade de ensino seja alcançada. No entanto a formação é essencial para o professor,
reafirmando que ele deve assumir o papel principal de autor do seu próprio aprendizado,
buscando melhorias em sua profissão, com oportunidades de aprender, planejar e trocar
experiências com os demais.
Com o objetivo de analisar como os participantes da nossa pesquisa compreendem,
desenvolvem e avaliam o PEIP apresentamos, a seguir, o percurso metodológico da
investigação realizada, a fim de compreender o caminho percorrido para obter, organizar e
interpretar os dados produzidos junto aos professores colaboradores da pesquisa e demais
profissionais da escola envolvidos.
81
3 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA
Visando responder como os professores de Matemática do Ensino Médio de uma
escola estadual, localizada no município de Paranaíta, compreendem e encaminham o
“Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica” (PEIP), estabelecido pela SEDUC/MT,
apresentamos, a seguir, o caminho metodológico assumido pela pesquisa, caracterizando a
abordagem metodológica, o contexto, os participantes, os instrumentos e procedimentos de
produção e análise dos dados.
3.1 Caracterização da pesquisa
Nossa opção metodológica foi a abordagem qualitativa interpretativa do tipo estudo de
caso. Para o desenvolvimento da investigação, buscando analisar a compreensão e as
concepções dos professores diante da formação continuada do PEIP, na disciplina de
Matemática do Ensino Médio, entendemos que o caminho metodológico da pesquisa permitiu
o contato direto do pesquisador com os participantes da pesquisa, como orientam Bogdan e
Biklen (1994, p. 16), destacando que “o investigador introduz-se no mundo das pessoas que
pretende estudar”. Desse modo, estando presente na escola, nos momentos de formação
conseguimos levantar dados sobre o nosso objeto de estudo.
Quanto à pesquisa qualitativa, Stake (2012, p. 59) descreve que “o caso, a atividade,
os acontecimentos são vistos como únicos, mas também comum”. Desta maneira, a
interpretação do contexto em que realizamos nossa pesquisa e a observação de diversas
situações nos nortearam para as análises considerando as vozes dos professores de
Matemática do Ensino Médio, pois o estudo de caso “busca retratar a realidade de forma
profunda e mais completa possível, enfatizando a interpretação ou a análise do objeto, no
contexto em que se encontra, mas não permite a manipulação de variáveis e não favorece a
generalização” (FIORENTINI; LORENZATO, 2012, p. 110).
Ao realizar a pesquisa em uma das escolas do município que atendem o Ensino Médio,
concordamos com Lüdke e André (1986), que apresentam algumas características
fundamentais do estudo de caso: “visa à descoberta”, enfatiza a “interpretação em contexto”,
busca retratar a realidade de forma “completa e profunda”, trazendo uma “variedade de fontes
de informações”, podendo até afastar suposições, pois podemos verificar a realidade de
diferentes posições (LÜDKE E ANDRÉ, 1986, p. 18-19).
82
Assim, o estudo de caso nos auxiliou no desenvolvimento da investigação, pois ao
conhecer o contexto individual dos professores participantes, ampliamos nosso entendimento
sobre os processos da formação continuada, desenvolvidos no ano de 2016, destacando os
relatos dos professores de Matemática, suas expectativas e anseios em relação ao PEIP.
André (1995, p. 26) recomenda o estudo de caso:
1. Quando se está interessado numa instância em particular, isto é, numa
determinada instituição, numa pessoa ou num específico programa ou
currículo;
2. Quando se deseja conhecer profundamente essa instância particular em
sua complexidade e em sua totalidade;
3. Quando se estiver mais interessado naquilo que está ocorrendo e como
está ocorrendo do que nos resultados;
4. Quando se busca descobrir novas hipóteses teóricas, novas relações, novos
conceitos sobre um determinado fenômeno; e
5. Quando se quer retratar o dinamismo de uma situação numa forma muito
próxima do seu acontecer natural.
O estudo de caso, por meio do contato direto com a escola pesquisada, com os
professores participantes, permitiu-nos perceber que nem todas as etapas determinadas pela
portaria, que instituiu a formação, foram realizadas. No entanto, aquelas que foram elaboradas
e desenvolvidas pela escola nos possibilitaram maior observação in loco, percebendo a
realidade na qual estão inseridos os professores, compreendendo o sentido que a formação
continuada de Matemática no Ensino Médio conferiu para a formação docente.
Nos processos da pesquisa qualitativa devemos levar em conta as transformações das
situações vivenciadas em nossas escolas, que é uma realidade em constante mudança, o que é
significativo para os participantes que nela atuam. Assim, o pesquisador deve superar a fase
da utilização de instrumentos de coletas de dados e estar atento para articular a construção
teórica com a experiência adquirida, construindo as informações produzidas de maneira ativa
e intelectual. Por isso concordamos com González Rey (2015, p. 5) que descreve que essa
perspectiva “implica compreender o conhecimento como produção e não como apropriação
linear de uma realidade que se nos apresenta”.
Para melhor compreender o objeto da pesquisa, detalhamos, a seguir, o contexto da
pesquisa e seus participantes.
3.2 Contexto e participantes da pesquisa
A pesquisa foi realizada no município de Paranaíta, em que reside a pesquisadora,
fundado em 29 de junho de 1979, localizado ao norte do Estado de Mato Grosso, a 845 km de
83
Cuiabá. A cidade “surgiu” na década de 1970, de um projeto idealizado pelo colonizador
Ariosto da Riva, quando a “Colonizadora Empresa Integração, Desenvolvimento e
Colonização” (INDECO) tinha o intuito de implantar um complexo de investimentos
agroflorestal, agroindustrial e extrativista na região, porém a descoberta do ouro tomou
espaço do projeto inicial14. Com a chegada de várias famílias, no ano de 1979, houve a
necessidade de iniciar as primeiras aulas, que foram ministradas dentro de uma garagem da
empresa de ônibus, que fazia a linha do local. Atualmente, o município conta com três escolas
estaduais, das quais duas atendem o Ensino Médio, e oito escolas municipais que atendem a
Educação Infantil e o Ensino Fundamental.
3.2.1. Critérios de seleção da escola
Como pretendíamos realizar nossa pesquisa em escolas estaduais, buscamos
estabelecer critérios para selecionar o lócus da pesquisa, os quais destacamos a seguir:
Escolas que atendessem o Ensino Médio.
Escolas onde os professores que ensinam matemática atuassem em pelo menos
uma turma do Ensino Médio Regular e que aceitassem participar da pesquisa.
Escolas que os professores estivessem participando da formação continuada,
instituída pela SEDUC/MT, no ano de 2016.
A preferência pelas escolas estaduais do Município de Paranaíta se deu em virtude de
estar situada na cidade em que a pesquisadora reside, facilitando o processo de investigação.
Assim, ficou definido que a pesquisa fosse realizada em uma escola situada no perímetro
urbano, por ser a única que oferece o Ensino Médio.
3.2.2. Caracterização da escola
Como expusemos anteriormente, selecionamos uma escola estadual localizada no
perímetro urbano, que atende o Ensino Médio, no município de Paranaíta. Os gestores (diretor
e coordenador) e os dois professores de Matemática da escola aceitaram participar da
pesquisa.
14 Na década de 1990, com a diminuição da extração do ouro, a agropecuária passou a desenvolver-se. Além
disso, hoje, uma das maiores obras do ramo hidrelétrico no Brasil se estabeleceu no Rio Teles Pires, em
Paranaíta, a Usina Teles Pires, e já em fase de construção a Usina Hidrelétrica São Manoel, que deve gerar cerca
de 4 mil empregos.
84
No quadro, a seguir, mostramos a caracterização da Escola π15, cujas informações
foram obtidas por meio do “Questionário de Caracterização da Escola” (QCE), respondido
pela técnica administrativa, correspondente ao ano letivo de 2016. Alguns dados foram
retirados do “Projeto Político Pedagógico” (PPP) da escola e obtidos nas conversas com a
equipe gestora.
Quadro 13 - Caracterização da Escola π
Data de fundação 04/05/1979
Níveis de Ensino
Ensino Médio Regular e Educação de Jovens e Adultos
(EJA)
Ensino Fundamental – Educação de Jovens e Adultos
(EJA)
Turnos de funcionamento Matutino, vespertino e noturno
Número de salas de aulas 11
Número total de alunos por turno
Matutino – 140 alunos
Vespertino – 179 alunos
Noturno - 207 alunos
Número de alunos matriculados no Ensino
Médio por turno
Matutino – 140
Vespertino - 134
Noturno- 98
Número de professores Efetivos – 08
Contratados- 12
Fonte: Questionário de Caracterização da Escola π (QCE).
A escola escolhida para o desenvolvimento da pesquisa possui ambiente próprio para
as dependências administrativas, com sala da secretária, da direção, da coordenação e dos
professores, com 7 (sete) computadores para a realização dos trabalhos pedagógicos dos
professores, bem como armários individuais para cada um.
Possui uma biblioteca com aproximadamente quatro mil livros e periódicos,
cadastrados em sistema próprio, organizados com etiquetas coloridas, que correspondem à
classificação descrita na cartilha elaborada pela SEDUC/MT para organização das bibliotecas.
Além desses, a biblioteca possui livros didáticos destinados aos professores e alunos para
estudo e planejamento, adquiridos por meio dos programas do MEC, como também com
recursos das verbas estaduais (PDE).
Conta com um laboratório de informática com instalações específicas, porém
máquinas desatualizadas, na maioria das vezes não funcionam. A sala de vídeo é um espaço
que possui aparelhos de retroprojetor, computador, lousa digital, televisão 42’ para utilização
15 O pseudônimo “Escola π” foi dado à unidade escolar participante da pesquisa para preservar a sua identidade.
85
nas atividades programadas pelos professores, com planejamento e agendamento prévio e
apreciação da coordenação pedagógica.
Além desses espaços, a escola possui autorização para o funcionamento dos projetos
financiados pela SEDUC/MT. O projeto “Educomunicação” com o objetivo de contribuir para
a construção de espaços comunicativos, no qual o estudante desenvolve habilidades que
passam a intervir na sua vida social e comunitária, com espaço próprio e materiais de
multimídia específicos. Outro projeto que a escola vem desenvolvendo, desde 2014, é o
projeto “Interdisciplinar de Artes na Escola – Prinart” com o propósito de utilizar a arte para
incentivar o estudo dos alunos, sua permanência na escola e desenvolver novos talentos,
realizado em oficinas, com espaço próprio. A partir de 2015 todas as dependências da escola
foram climatizadas.
A equipe gestora da Escola π é composta por uma diretora, dois coordenadores
pedagógicos (habilitados em biologia e letras) e um secretário escolar. Os docentes são 8
professores efetivos e 12 professores contratados.
Tomando contato com as informações sobre a escola e sobre os profissionais que nela
atuam, iniciamos nossa pesquisa junto aos professores que atenderam nossos critérios de
seleção.
3.2.3 Caracterização dos professores
Apresentamos, a seguir, as características dos professores que participaram da
pesquisa, obtidas através da aplicação do “Questionário de Caracterização dos Professores”
(QCP). Antes vamos descrever os critérios de escolha desses professores colaboradores da
pesquisa pautada nos seguintes itens:
Ser professor de Matemática no Ensino Médio;
Ter participado da formação continuada, instituída pela SEDUC/MT, no ano de 2016;
Aceitar participar da pesquisa.
Ao atender os critérios, os professores foram nomeados como professor “Lírio”,
professora “Margarida” e professora “Rosa16”. Para manter o anonimato de nossos
colaboradores e de suas narrativas, os nomes fictícios foram escolhidos pelos próprios
professores participantes.
16 No início de nossa investigação contávamos com a professora Rosa, porém durante a pesquisa a mesma esteve
afastada de suas atribuições por licença para candidatar-se ao pleito eleitoral de vereadora e após continuou com
atestado para licença de tratamento de saúde, participando apenas de quatro encontros da formação continuada
até o encerramento do ano letivo de 2016. Em janeiro de 2017 ainda não tinha voltado às suas atribuições.
86
O professor Lírio tem 43 anos. Graduou-se em Matemática pela Universidade
Estadual de Mato Grosso (UNEMAT), no município de Sinop, na modalidade presencial,
concluindo em 2001. Está cursando especialização em “Metodologia de Ensino de
Matemática e Física”, pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI). Tem 15 anos de
experiência, atua nas redes estadual e municipal, cumprindo uma carga horária de 60 horas
semanais; não exerce outra profissão, sendo efetivo em ambas as redes de ensino e, na Escola
π, trabalha nos períodos vespertino e noturno, completando sua carga horária, na outra
unidade, também nos períodos matutino e vespertino.
O professor começou a atuar como professor assim que terminou o Ensino Superior,
ministrando as disciplinas de Matemática, Química e Física. Em relação à formação
continuada o profissional participou do “Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino
Médio”, assistindo algumas apresentações e palestras, e também da formação da “Editora
Aprende Brasil”, oferecida pela rede municipal, que não considera como formação continuada
em Matemática.
A professora Margarida tem 32 anos de idade. Graduou-se em Matemática pela
Universidade de Cuiabá (UNIC), no polo de Alta Floresta, na modalidade semipresencial,
concluindo no ano de 2009. A professora iniciou, em 2017, a licenciatura em Física pela
UNIASSELVI.
Em relação à formação continuada, a professora Margarida participou do “Pacto
Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio” e da oficina oferecida pelo CEFAPRO sobre
o “Geogebra”. Sobre a formação continuada de Matemática, a professora não participou de
nenhuma atividade, mas descreveu que conseguiu realizar atividades diferenciadas
melhorando sua prática em sala de aula.
No quadro, a seguir, caracterizamos resumidamente nossos professores colaboradores
da pesquisa, considerando sua vida pessoal e acadêmica, bem como sua situação e experiência
profissional.
Quadro 14 - Síntese da caracterização dos professores participantes da pesquisa Professor Lírio Professora Margarida
Idade 45 32
Graduação Matemática Matemática
Instituição UNEMAT UNIC
Ano de conclusão 2001 2009
Modalidade do curso Presencial Semipresencial
Pós-graduação (especialização) Está cursando Não cursou
Situação funcional Efetivo Contratada
87
Turno que trabalha na escola
estadual
Vespertino e noturno Matutino, vespertino e noturno
Atuação em outra escola Sim Não
Jornada de trabalho semanal 60 horas 38 horas
Exercício em outra profissão Não Não
Tempo de docência no Ensino Médio 15 7
Atuação em quais etapas da
educação
Anos finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio -
Regular e Educação de Jovens
e Adultos (EJA)
Anos iniciais e finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio -
Regular e Educação de Jovens e
Adultos (EJA)
Turmas que atuaram 1º, 2º e 3º anos 1º, 2º e 3º anos
Fonte: Questionário de caracterização dos participantes da pesquisa (QCP)
No quadro podemos observar que os dois professores são licenciados em Matemática;
o professor Lírio está cursando especialização em uma rede privada e a professora Margarida
iniciou uma nova formação, licenciatura em Física, na rede privada, em curso semipresencial.
Os dois professores atuam nos três anos do Ensino Médio, podendo assim relatar suas
experiências relativas a cada ano.
A seguir, apresentamos os instrumentos e procedimentos da produção de dados que
utilizamos na pesquisa.
3.3. Instrumentos e procedimentos da produção de dados
Para interpretar como os professores compreenderam e desenvolveram a formação do
PEIP, na disciplina de Matemática no Ensino Médio, nos valemos de instrumentos para
acessar os dados que, segundo Gonzáles Rey (2015, p. 42), “por instrumento [concebemos]
toda situação ou recurso que permite ao outro expressar-se no contexto de relação que
caracteriza a pesquisa” e, produzir dados, “porque realmente os dados não se coletam, mas se
produzem” e “o dado é inseparável do processo de construção teórica no qual adquire
legitimidade” (GONZÁLES REY, 2015, p. 100). Vamos, então, descrever, a seguir, os
instrumentos e fontes utilizados na nossa investigação, pois acreditamos que por meio deles
obtemos as expressões comprometidas dos participantes, bem como estimulamos sua
colaboração na produção dos dados.
Questionário: Em nossa investigação utilizamos dois questionários com a finalidade
de levantar informações que nos possibilitassem elaborar a caracterização da escola em que a
pesquisa foi realizada e a caracterização dos professores participantes da investigação, sendo
que, de acordo com Fiorentini e Lorenzato (2012, p. 117), “eles podem ajudar a caracterizar e
88
a descrever os sujeitos do estudo, destacando algumas variáveis como idade, sexo, [...]
número semanal de horas-aula do professor, etc.”.
Assim, ao conhecer a realidade, consideramos que o questionário pode “servir como
uma fonte complementar de informações, sobretudo na fase inicial e exploratória da pesquisa”
(FIORENTINI; LORENZATO, 2012, p. 117). Na sequência, apresentamos as estrutura e
finalidade dos questionários no quadro a seguir.
Quadro 15 – Questionários
Questionário Estrutura e finalidade
Questionário de
Caracterização da Escola (QCE)
Composto de questões mistas que teve como objetivo obter
informações sobre a estrutura e o funcionamento da escola, bem
como dos projetos, acervo de materiais pedagógicos, de
multimídia e livros da escola lócus da pesquisa.
Questionário de
Caracterização dos Professores
(QCP)
Constituído de questões mistas que teve como objetivo obter
informações dos professores participantes sobre a formação
acadêmica, as experiências profissionais, bem como sobre a
formação continuada em Educação Matemática.
Fonte: Organizado pela pesquisadora.
A aplicação do questionário ocorreu em agosto de 2016, após a aprovação do projeto
pelo Comitê de Ética em Pesquisa - CEP17. Respondido o questionário de caracterização da
Escola π (Apêndice D), conseguimos organizar o quadro 13, que estabeleceu o perfil da
escola.
Os professores responderam o questionário (Apêndice E) no mês de agosto de 2016,
que expõe a caracterização da sua formação acadêmica e profissional, conforme apresentamos
no quadro 14.
Entrevista foi realizada visando compreender quem são e em que contexto atuam os
participantes da pesquisa, bem como concebem e se inserem no processo da formação
continuada proposta pelo PEIP, no ensino de Matemática no Ensino Médio, instituído pela
SEDCU/MT. Conforme destacam Fiorentini e Lorenzato (2012, p. 120), a entrevista é “o
procedimento mais usual no trabalho de campo. Trata-se de uma conversa a dois com
propósitos bem definidos”.
As entrevistas juntamente com as observações constituíram estratégias que nos
auxiliaram para organizar e analisar como os professores compreenderam, desenvolveram e
avaliaram a formação continuada realizada na Escola 𝝅.
17 Comitê de Ética em Pesquisa, Humanidades da Universidade Federal de Mato Grosso é um colegiado
interdisciplinar e independente, que existe na instituição que realiza pesquisas com seres humanos, para defender
os interesses dos sujeitos em sua integridade e dignidade para contribuir com o desenvolvimento da pesquisa
dentro dos padrões éticos.
89
As entrevistas foram compostas por um roteiro com perguntas semiestruturadas,
divididas em três blocos (Apêndice F). No primeiro bloco, o objetivo foi compreender a
construção dos conhecimentos matemáticos e o ensino da Matemática, especificando o
percurso escolar e profissional dos professores participantes da pesquisa, buscando apresentar
o contexto no qual estavam inseridos. No segundo bloco, os professores narraram a
elaboração do PEIP na disciplina de Matemática e, por fim, o terceiro bloco abordou a
efetivação do PEIP na disciplina de Matemática.
Ao realizar as entrevistas percebemos que, segundo Fiorentini e Lorenzato (2012),
alguns pontos, que foram contemplados no roteiro das entrevistas, precisaram ser alterados e
até formuladas questões que não foram previstas no início das entrevistas.
Buscamos, nas entrevistas realizadas, valorizar a espontaneidade dos participantes da
pesquisa, suas observações, dando ênfase aos pensamentos e experiências adquiridas durante
o processo de formação continuada, que aconteceu na escola. Aprofundamos as suas
considerações sobre o estudo das portarias e dos textos propostos durante a formação, sobre a
construção do projeto de realização das ações de intervenção pedagógica.
As entrevistas foram realizadas em momentos diferenciados com cada professor
individualmente, durante o momento da hora-atividade, de acordo com suas disponibilidades.
Aconteceram em uma sala de aula e na biblioteca da escola, sendo gravadas e transcritas.
As entrevistas foram divididas em três momentos durante toda a investigação. No
quadro, a seguir, descrevemos os eixos das entrevistas e as datas de sua realização.
Quadro 16 - Entrevistas Entrevista Eixos Data
Entrevista (E1)
Caracterização do perfil dos professores quanto à escolaridade,
formação inicial e continuada.
Expectativas sobre a formação continuada, suas considerações
sobre a avaliação ADEPE-MT e os projetos de intervenção.
21/10/2016
Entrevista (E2)
Elaboração e intervenções do PEIP, os estudos das temáticas e
leituras dos textos, os conflitos de aprendizagens manifestadas a
partir dos projetos de intervenções.
11/01/2017
Entrevista (E3)
Elaboração e intervenções do PEIP, os estudos das temáticas e
leituras dos textos, os conflitos de aprendizagens manifestadas a
partir dos projetos de intervenções (continuação).
12/01/2017
Fonte: Organizado pela pesquisadora.
Documentos escolares: Diante da problemática de nossa pesquisa buscamos analisar
os planejamentos das ações dos professores, os projetos de intervenção pedagógica, a
avaliação realizada pela SEDUC/MT: ADEPE-MT, considerando que os documentos
escolares “não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num
90
determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto” (LÜDKE,
ANDRÉ, 1986, p. 39). No quadro, a seguir, relacionamos os documentos escolares
mencionados.
Quadro 17- Documentos escolares
Documentos Descrição
Documentos do CEFAPRO e
das unidades escolares
Registro das formações para professores que ensinam matemática no Ensino
Médio, planejamento anual de matemática, etc.
Resultado da ADEPE-MT e
das avaliações internas ou
externas
Registro das avaliações externas e internas utilizadas para elaborar o
diagnóstico dos alunos do Ensino Médio.
Documentos produzidos no
decorrer da formação
Projetos de intervenções, caderno de registro do professor, registro dos
alunos, etc.
Fonte: Organizado pela pesquisadora
Caderno de campo teve por objetivo registrar as informações obtidas por meio das
observações, pois constitui um dos “mais ricos instrumentos de coleta de informações durante
o trabalho de campo” (FIORENTINI; LORENZATO, 2012, p. 18). Nesse instrumento
descrevemos as observações e atividades desenvolvidas durante os encontros de formação
continuada, os diálogos e os aspectos que nos chamaram atenção, observados nos processos
da formação.
Nos momentos de conversas com os professores e com a coordenação escolar,
procuramos descrever, da forma mais minuciosa possível, as impressões, comentários, as
atividades realizadas e os eventuais diálogos realizados no momento da formação para que
pudéssemos compreender as manifestações dos professores em relação ao processo formativo.
O caderno de campo também nos auxiliou quando descrevemos as observações das
aulas da professora Margarida, no mês de dezembro de 2016, quando a docente realizou
algumas atividades de intervenção pedagógica estabelecidas no processo de formação. A
mesma observação não foi descrita em relação ao professor Lírio por ele não ter desenvolvido
a referida atividade.
A observação fez parte do processo de investigação, constituindo um procedimento de
pesquisa. De acordo com Stake (2012, p. 79), “a observação qualitativa trabalha com
episódios de relação única para dar forma a uma história ou descrição única do caso” e, dessa
forma, nos auxilia na compreensão e análise das informações, destacando a maneira com que
foi abordada a formação, como foi a interação dos professores nesse contexto e se os
processos de formação contribuíram com as práticas pedagógicas.
91
Nossa produção de dados ocorreu no período de agosto de 2016 a janeiro de 2017, por
meio de observações durante a participação na formação continuada dos professores que
ensinam Matemática, com o foco nas definições de seus projetos de intervenção pedagógica,
nos elementos que constituíram as escolhas das ações, na condução da operacionalização dos
projetos, como também o movimento de acompanhamento das ações após a efetivação das
mesmas.
3.4 Leitura e organização dos dados
Na pesquisa, como vimos, assumimos a abordagem qualitativa interpretativa no intuito
de responder nosso problema de investigação: como professores de Matemática do Ensino
Médio, de uma escola estadual, localizada no município de Paranaíta, compreendem e
encaminham o Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica (PEIP), estabelecido pela
SEDUC/MT?
Com base na reflexão sobre os fundamentos que embasam nossa pesquisa, recorrendo
aos autores selecionados, e na sistematização dos dados coletados organizamos dois eixos de
análises, que destacamos a seguir.
Vivências dos professores no processo de formação: Neste eixo abordamos a
dinâmica, as expectativas e as manifestações dos professores sobre o PEIP. Iniciamos a
discussão apresentando a dinâmica dos estudos coletivos estabelecida pela escola, as
manifestações dos professores sobre os estudos dos textos propostos pela portaria, a
sistematização dos estudos e das leituras realizadas pelos professores, bem como a
participação de todos os envolvidos na formação.
O processo de construção, execução e avaliação do PEIP: o que dizem os
professores: Neste eixo abordamos o processo de elaboração e execução do PEIP, as análises
das avaliações externas e internas, as ações de intervenção pedagógica em Matemática
desenvolvidas durante a formação, assim como os registros e acompanhamento das
intervenções realizadas pelos professores. Compreendemos como os professores avaliaram a
formação e quais as suas expectativas em relação a uma formação que atenda às necessidades
formativas com espaços para reflexões de aprendizagens, tanto dos alunos como dos
professores.
Para identificar os participantes e as entrevistas semiestruturadas, apresentamos as
siglas utilizadas durante a produção dos dados em nossas análises. As entrevistas foram
identificadas pela letra E (da palavra entrevista), e o número correspondente a ordem da
92
entrevista realizada, antecedida pelo pseudônimo do professor colaborador. Exemplo: (Lírio -
E2), indicando a fala do professor, durante a segunda entrevista.
As demais fontes, instrumentos e procedimentos utilizados em nossa investigação
foram descritos sem abreviações ou siglas durante a nossa análise. A seguir apresentamos o
inventário dos dados da pesquisa.
Quadro 18- Inventário dos dados
Fontes/Instrumentos e procedimentos Quantidade
Questionário Caracterização da Escola 1
Questionário de Caracterização dos Professores 1
Caderno de Campo 1
Entrevistas semiestruturadas (1, 2 e 3) 6 ( 3 com cada
professor
Cadernos dos professores (formação) 2
Portaria PEIP 2
Revistas ADEPE - MT 2
Planejamento de Matemática do Ensino Médio 1
Projeto de Intervenção 1
Cronograma dos encontros 2
Fonte: Organizado pela pesquisadora.
Desta forma, no próximo capítulo, expomos o movimento de construção dos nossos
eixos de análises, no qual apresentamos e discutimos os dados da pesquisa.
93
4 O QUE DIZEM OS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO
SOBRE O PROJETO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA (PEIP)
Ao considerar os pressupostos teóricos que fundamentam o objeto de nossa
investigação, julgamos necessário entendê-los em todo o contexto da formação continuada
realizada na escola, no ano de 2016. Assim, os dados produzidos a partir dos questionários de
caracterização da escola e dos professores, das entrevistas em que os professores narraram
como compreenderam a proposta e o desenvolvimento das ações do PEIP na escola π, dos
documentais produzidos durante a formação continuada e da observação permitiram a análise
qualitativa interpretativa.
Emergiram, então, termos relevantes no desenvolvimento da formação que foram
organizados em dois eixos de análise. No primeiro eixo: Vivência dos professores no
processo de formação, no qual analisamos, a partir da dinâmica da formação estabelecida, as
vozes dos professores sobre os estudos coletivos, sobre a sistematização das leituras, bem
como o estudo do planejamento, apresentando suas expectativas e manifestações.
No segundo eixo: O processo de construção, execução e avaliação do PEIP: o que
dizem os professores, as análises foram estruturadas com base nas narrativas dos professores
sobre as avaliações internas e externas, no diagnóstico e na elaboração das ações do projeto de
intervenção, evidenciando aquelas desenvolvidas em matemática e como foram registradas e
acompanhadas. Por fim, analisamos quais foram as avaliações dos professores em relação ao
processo de formação.
4.1 Vivências dos professores no processo de formação
Neste eixo, iniciamos as nossas discussões a partir das dinâmicas, expectativas e
manifestações dos professores sobre o PEIP, em especial sobre o que dizem os professores
sobre os estudos coletivos, sobre as sistematizações das leituras e estudos dos textos, bem
como o estudo do planejamento anual.
A voz dos professores sobre os estudos coletivos
A formação continuada na Escola 𝝅 foi realizada nos períodos vespertino e noturno
para que pudesse atender a maioria dos professores da escola. As discussões da formação se
iniciaram na primeira reunião pedagógica do ano de 2016, para combinar os horários em que
94
a mesma aconteceria e qual seria a dinâmica de estudos de cada grupo. Segundo a
coordenadora, responsável pela formação, teria apenas um grupo de estudos, o que não foi
possível devido à organização dos horários da escola e da agenda profissional dos professores.
Assim, dois grupos foram constituídos, um grupo de professores se reunia nas quartas-feiras,
das 13h às 17h, e outro nas quintas-feiras, das 18h15 min às 22h15 min. Os professores
colaboradores de nossa pesquisa participaram do grupo do período noturno.
No primeiro encontro os professores realizaram a leitura da portaria e após
organizaram o cronograma de estudos com as orientações do CEFAPRO. Segundo a
coordenadora
Os grupos de estudos do período matutino e vespertino já discutem e fazem
os relatórios das partes dos textos, enquanto que o grupo do período
noturno não entrou em acordo sobre a organização, não escolheram os
monitores para os encontros para iniciar o encontro e as discussões, têm
dificuldade de se chegar num consenso dos horários (Caderno de campo –
Registro em 02/09/2016).
A fala da coordenadora traduz a dificuldade do grupo de professores que atua no
período noturno em realizar o trabalho coletivamente. Ainda dialogando com a coordenadora,
ela nos explicou que os textos para a formação, com as temáticas de cada semana, foram
disponibilizados nos e-mails dos professores, impressos para a leitura e discussão, como
também em um blog elaborado para o incentivo e disponibilidade do material dos estudos,
com endereço fixado no mural para o acesso de todos os profissionais da educação da escola.
Durante nossa pesquisa a escola aderiu à greve geral da categoria, que se estendeu de
31 de maio até 5 de agosto de 2016, o que fez com que o cronograma da formação da Escola
𝝅 fosse alterado. No Quadro 18 demonstramos a organização do cronograma elaborado pela
escola, com as datas anteriores e posteriores à greve.
95
Quadro 19 – Cronograma de estudos da Escola π
ESCOLA ESTADUAL π – Paranaíta /MT
CRONOGRAMA DO PROJETO DE ESTUDOS E INTERVENÇÃO
PEDAGÓGICA-PEIP
Data
anterior à
greve
Data
posterior à
greve
VILLAS BOAS, B. M. F. Projeto de intervenção na escola: Mantendo as
aprendizagens em dia. Campinas, SP: Papirus, 2010. (Coleção Magistério:
Formação e Trabalho Pedagógico).
24/04/16 24/04/16
VEIGA, I. P. A. Projeto de ação didática: Uma técnica de ensino para inovar a sala
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GITIRANA, V. Práticas avaliativas em língua portuguesa e matemática.
Disponível em:
<http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2002/aas/aastxt2b.htm>. Acesso em:
08 dez. 2016.
08/12/16
Fonte: Cronograma do PEIP da Escola π. Organizado pela pesquisadora.
Observamos, no quadro acima, que aproximadamente 75% dos textos selecionados
para os estudos foram os sugeridos pela portaria, apenas três deles foram propostos pela
escola. Contudo, a necessidade de formação continuada não partiu da própria escola, e sim de
uma política de formação instituída pela portaria nº161/2016. Esse é um problema, destacado
por Imbernón (2016), quando trata das propostas de formação continuada, pois a maioria das
propostas não
[...] enfatiza o suficiente o interesse de cada professor e professora por sua
formação e por sua atualização científica, pedagógica e cultural, que não é
uniforme, que difere em função da pessoa, da situação profissional, do
número de anos do exercício da profissão e também das circunstâncias
educativas, sociais e culturais do ambiente que exerce sua tarefa docente
(IMBERNÓN, 2016, p. 189).
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Diante desses diferentes aspectos (idade, atuação, anos de exercício, disciplina que
leciona) que interferem no interesse e nas necessidades formativas dos docentes, o autor
destaca que pensar, planejar e desenvolver a formação continuada é “uma tarefa complexa
que exige propostas complexas e não raro arriscadas; embora saibamos que muitas vezes,
mais que estudar o contexto, se opta por copiar receitas mais ou menos validadas que geram
práticas uniformes” (IMBERNÓN, 2016, p. 189-190).
Desta maneira, questionamos como os professores compreenderam o processo de
formação instituída pela SEDUC/MT, o PEIP, analisando os estudos dos textos, segundo a
voz dos professores. Conforme as orientações da referida portaria nº161/2016, a Escola 𝝅
organizou-se para a formação continuada. Em conversa referente aos estudos realizados, os
professores colaboradores da pesquisa relataram suas considerações a respeito das leituras e
registros desenvolvidos na formação.
Questionado o professor Lírio sobre as leituras dos referenciais descritos no
cronograma, visando as possíveis contribuições para a formação, o mesmo afirma: “Nós
fizemos leituras dos textos, no caso, sobre o projeto, planejamento, foi feito leituras e os
indicativos que teve aí, da avaliação ADEPE, das avaliações dos bimestres, as notas do
Enem também” (Lírio – E1). Dando seguimento ao diálogo, Lírio enfatiza o referencial
estudado, afirmando que “contribuiu um pouco, mas...”, antes de dar continuidade, esboça um
sorriso e reafirma: “contribuiu pouco”. O professor permanece em silêncio por alguns
instantes, talvez refletindo sobre sua fala.
Compreendemos, diante dos relatos expressos pelo professor Lírio, a necessidade de
estudos que deem sentido à formação continuada, conforme relata Lorenzato (2010, p. 11) de
que “[...] é fundamental que ele possua ou adquira o hábito da leitura, além da constante
procura de informações que possam melhorar sua prática pedagógica”.
Concordamos com Vasconcellos (2008) de que os desafios do cotidiano escolar são
muitos e precisam ser enfrentados e, para isso, os espaços para a formação e estudos são
necessários, “portanto, para enfrentá-los com competência, o educador precisa estar sempre
estudando, lendo, buscando (não basta assistir palestra de vez em quando...). A escola não
pode ser vista apenas como o local de trabalho; deve ser ao mesmo tempo espaço de
formação” (VASCONCELLOS, 2008, p. 123).
O professor Lírio, em uma das conversas, nos respondeu como foi feita a dinâmica da
leitura da portaria: “Então foi feita a leitura, um lia e era aberto pra discussão. Cada passo
parava pra discutir. Ah! Um ou outro só que discutia, mas a maioria ficava quieto” (Lírio –
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E3). E em relação ao relatório, professor Lírio complementou: “da minha parte eu não anotei
nada. Só a leitura mesmo” (Lírio – E3).
O professor, ao relatar sobre cada um dos textos lidos, enfatizou que as leituras foram
feitas individualmente, dentro do horário estabelecido para a formação e narra a participação
nos encontros.
Foi feito a leitura, mais assim individual, lendo e observando os pontos, [...]
e depois feito um resumo, uma síntese individual, dentro do horário da
formação, acho que foram dois encontros, nós tivemos alguns assuntos fora
do texto discutido, [...]. Do texto, nós discutíamos, mas nem todo mundo
participava, então ficava um que fazia o resumo só dele (Lírio – E3) (Grifo
da pesquisadora).
No trecho da fala do professor Lírio evidencia-se, que, por vezes, os professores
discutiam assuntos que não eram relacionados ao texto. Entendemos que a dispersão se deu
devido os textos não fazerem sentido no processo de formação continuada e nem estarem
relacionados com as necessidades e interesses dos professores. De acordo com Nóvoa (1995,
p. 26) “a formação está indissociavelmente ligada à ‘produção de sentido’ sobre as vivências e
sobre as experiências”, não acontece de maneira isolada, está inserida num contexto histórico
no qual o professor está intimamente ligado.
Compreendemos que o projeto de formação continuada foi estabelecido a partir de
propostas prontas, sem a participação dos professores. Segundo Trindade (2011), a
participação dos professores de maneira plural e complexa oportuniza aos mesmos se
comprometerem com a construção do seu conhecimento profissional, pois as construções no
coletivo exploram, discutem as soluções dos problemas encontrados na escola.
Quando conversamos com a professora Margarida sobre sua opinião a respeito das
temáticas estudadas, ela descreveu que nem todos os textos sugeridos na portaria foram lidos:
“Não. Não foi feito a leitura de todos os textos. Que eles mandaram?”. Sinalizou com a
cabeça que não, e afirmou “não”(Margarida – E2).
Continuando, a professora Margarida ressaltou sobre as discussões desencadeadas
durante a formação continuada,
[...] cada um lia por si, e cada um fazia o seu resumo[...] ou você fazia o
resumo e a gente pegava, eu fazia o resumo e você pegava, no começo. Ai
depois foi falado pra fazer a leitura, que começou a melhorar a questão da
leitura, pra discutir todo mundo e tal. E depois que veio a tal da ficha
(Margarida - E2) (Grifo da pesquisadora).
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Com base no relato da professora, podemos afirmar que a dinâmica para esse grupo
não foi estabelecida. Ou, apesar dos professores estarem em grupo, em cada reunião um fazia
o resumo e disponibilizava para os demais. A professora relata que não estava entendendo
qual era o objetivo das leituras, dos estudos dos textos.
Não, não consegui. É igual aquelas fichas que a gente pegou, a gente não
compreendeu se era pra fazer o projeto, se era pra relatar as partes do
planejamento, se era pra falar sobre o planejamento, será para fazer o
planejamento novo, o que era pra fazer (Margarida – E2).
Segundo os relatos do professor Lírio e da professora Margarida, os textos propostos
para estudo pouco contribuíram para a reflexão sobre os processos de formação continuada e
sobre suas práticas docentes.
Em seus relatos, a professora Margarida declara ainda, de maneira bem enfática, não
ter gostado dos textos: “Não gostei, eu não sei se foi porque eu não entendi. Ele não me
chamou atenção. [...] pra mim não chamou a atenção aqueles textos” (Margarida – E1). E
segue declarando sua insatisfação com as leituras por não conterem questões específicas da
Matemática.
Não sei se o papel está comigo, naquele problema falava assim [a professora
estava descrevendo sobre o texto estudado anteriormente na formação] sobre
o plantio de uma árvore não sei de onde, não sei, não tinha nada a ver com
matemática, queria saber assim: se a árvore, se o caule da árvore era isso,
se o caule da árvore aquilo. O que é que eu tenho a haver com isso? Isso me
remete à biologia, se a matemática separou da biologia, a área das ciências
da natureza? O que é que eu tenho que ficar lendo isso aqui? (Margarida –
E1) (Grifos da pesquisadora).
Acreditamos que no processo de formação continuada dos estudos da área específica,
no caso os professores de Matemática que atuam no Ensino Médio, os mesmos poderiam
trazer maior contribuição para as práticas pedagógicas, levando à melhor compreensão dos
próprios conceitos trabalhados durante as aulas, pois, nessa etapa da Educação Básica, sente-
se a necessidade do aprofundamento dos conceitos relativos à disciplina de Matemática.
Além disso, quando observamos que a professora questionou o estudo de textos que
não contemplavam a disciplina de Matemática, parece-nos que se deixou de tentar realizar um
trabalho interdisciplinar. Segundo as DCNEM (2013, p. 184), a interdisciplinaridade é “uma
abordagem que facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se em caminhos
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facilitadores da integração do processo formativo dos estudantes, pois ainda permite a sua
participação na escolha de temas prioritários”. Talvez a maneira como foi encaminhado o
estudo não tenha suscitado essa discussão.
Apesar da portaria estabelecer que a carga horária para a formação fosse de 4 (quatro)
horas de atividades semanais, em seu relato, a professora Margarida explica que os
professores estavam participando da formação no horário das 17h às 19 horas, em dois dias,
durante a semana. Sob a orientação do CEFAPRO, a escola se reorganizou para atender a
portaria para instituir a dinâmica dos estudos. Relata a professora Margarida:
Nós estávamos fazendo no começo, num grupo total, fazia das 17 às 19, e
depois veio o povo do CEFAPRO, e falou que não podia fazer das 17 às 19,
que não estava em hora atividade, que não podia ser, que das 17 às 19 a
escola não estava funcionando. E como a escola funciona a noite, a gente
começou a fazer das 18 e 15 e não podia ser ininterrupto. Então a gente
estava fazendo em dois dias. Agora não pode mais, não pode interromper,
tem que ser as 4 horas seguidas. Ai... [a forma de expressão da professora
demonstrou sua insatisfação], às 4 horas seguidas, daí continuava fazendo
em grupo, grupão, fazia a noite. Agora está separado, matemática pra um
lado, ciências humanas pro outro, da natureza (Margarida – E1).
Em outro trecho da professora Margarida, vários questionamentos são levantados a
respeito da organização e carga horária da formação: “4 horas? É muito cansativo,
principalmente pra quem trabalha o dia inteiro. 4 horas seguidas, principalmente quando a
gente estava fazendo a leitura daqueles textos, lê, lê, lê, lê...e discutia só era muito cansativo”
(Margarida - E1).
O professor Lírio também descreveu que “a carga horária é puxada, é muito
cansativo, eu acho que se fosse menor, umas duas horas eu acho que era mais produtivo que
ser quatro horas” (Lírio- E1).
Compreendemos que os professores necessitam de tempo para a organização de suas
atividades pedagógicas e, por meio da formação continuada, buscam êxito em seu trabalho
docente, ficando claro que a proposta de formação não atendeu as necessidades formativas
dos professores e nem da organização das atividades da Escola π, pois “eram ações pontuais e
temporárias, tendo data marcada para começar e terminar” (FIORENTINI; LORENZATO, p.
2005, p. 8).
Nos relatos observamos descontentamento com a carga horária estabelecida para a
formação, mesmo sendo realizada no período destinado à hora atividade, pois os professores
colaboradores da pesquisa ministram uma grande quantidade de aulas. O professor Lírio
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trabalha 60 horas, em duas unidades escolares; a professora Margarida em uma unidade só,
mas com a licença da professora Rosa, acabou assumindo as aulas da mesma, ficando com um
total de 59 horas semanais, relatando que “estou ficando louca das ideias, e tem que continuar
a sala do educador” (Margarida – E2), referindo-se ao PEIP.
A crescente ampliação das atividades dos docentes tem contribuído para que o
professor se atarefe, deixando o tempo destinado à formação continuada, muitas vezes,
ocupado com outras atividades como projetos da escola, preenchimento de diários, entre
outras.
Podemos verificar a sobrecarga de atividades que os professores vêm desempenhando
quando a professora Margarida anuncia: “É muita coisa pra fazer, é diário eletrônico, é
projeto, é sala de aula, é sala do educador que você tem que vir... Tem os cursos de fora, que
você tem que fazer... e a vida pessoal, aquele ciclo. Tomara que a gente consiga”... [risos]
(Margarida – E2). Apesar da professora citar todas as atividades que precisa desenvolver,
ainda tem esperanças no exercício de sua profissão.
Na portaria, como descrito no Capítulo II, os professores teriam que realizar estudos
específicos para atender as necessidades de aprendizagem dos alunos. Procuramos analisar,
dentre os textos elencados no cronograma de estudos da escola, bem como no caderno de
registros dos professores colaboradores, aqueles que são específicos para a formação, e
constatamos que apenas um texto é relacionado com a disciplina de Matemática. Na
observação do planejamento da formação encontramos a indicação da leitura do texto:
“Práticas avaliativas em língua portuguesa e matemática”18. No entanto, os professores
colaboradores não participaram do encontro. A professora Margarida, em conversa informal
na sala dos professores, nos relatou: “Não estou mais participando do PEIP” (Caderno de
Campo), assim como também o professor Lírio, embora sendo efetivo na rede, apenas nos
cumprimentou e se retirou da sala.
Percebemos nas falas da professora e no contexto apresentado, que o estudo do texto
planejado não chamou a atenção dos professores, embora fosse sobre a Matemática o único
texto proposto na formação específica da disciplina. No horário de estudo os professores
estavam fazendo lançamento do diário eletrônico e desenvolvendo outras atividades referentes
ao fechamento do bimestre.
18 GITIRANA, Verônica. Práticas avaliativas em língua portuguesa e matemática. Disponível em:
http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2002/aas/aastxt2b.htm. Acesso em: 08 dez. 2016.
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Apesar de todas as exigências estabelecidas pela escola, “os professores têm de
aprender a conhecê-las e a lidar com elas” (MIZUKAMI, 2013, p. 217), pois muitos são os
ajustes que necessitam ser realizados para que todas as tarefas sejam cumpridas, “[...] metas
sociais do processo de escolarização; exigências burocráticas; exigências de políticas
públicas; relações com as famílias dos alunos, etc.” (MIZUKAMI, 2013, p. 217), como
também o processo de formação continuada e, neste sentido, a formação especifica de
professor de Matemática.
Acreditamos que a formação específica em Matemática contribui para a construção
dos saberes docentes e servem para o desenvolvimento das práticas pedagógicas, ao trabalhar
os conteúdos em sala de aula. Além disso, Nacarato e Paiva (2013) sinalizam que os
conteúdos matemáticos precisam ser visitados e revisitados nos programas de formação e,
assim a formação específica se faz necessária.
Em síntese, a voz dos professores sobre o projeto e a metodologia adotados
demonstram que a formação continuada do PEIP foi uma estratégia utilizada pela
SEDUC/MT como uma proposta já determinada, sem a efetiva participação dos professores,
embora compreendemos que “toda metodologia de formação docente se situa nas limitações
administrativas e nas estruturas organizacionais” (IMBERNÓN, 2016, p. 163). Porém, a
proposta de formação corresponde ao que Imbernón (2016, p. 64) destaca a ser evitado “como
uma receita de caráter normativo”.
Outro aspecto a ser considerado foi que o PEIP possui características da racionalidade
técnica, evidenciando práticas que pouco contribuem com a formação dos professores.
Segundo Fiorentini e Lorenzato (2005, p. 8), uma das características foi a descontinuidade
“em relação aos reais problemas e desafios da prática escolar. E descontínua ainda, sobretudo,
porque eram pontuais e temporárias, tendo data marcada para começar e terminar”. Esses
aspectos foram observados nas falas dos professores e nos parece retratar especificamente o
tipo de formação da qual nossos respondentes participaram.
Compreendemos que desde os primeiros encontros ocorreram dificuldades na
organização dos estudos, pois deveriam atender a portaria no que se refere à organização
quanto a quantidade de horas para a formação, que deveria ser de 4h ininterruptas.
Em relação aos estudos específicos da área de Matemática não foram realizados, pois
elencado um único texto que envolvia a Matemática, e que o mesmo não foi estudado pelos
professores colaboradores, devido a necessidade de realizarem várias atividades específicas da
profissão docente.
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Dando continuidade aos relatos dos professores sobre a sistematização das leituras e
estudos dos textos, buscamos descrevê-los no item a seguir.
Sistematização das leituras e estudos dos textos
Outro aspecto, relacionado na Portaria nº 161/2016, foi o registro reflexivo, elaborado
de maneira individual com a “finalidade de potencializar as discussões, fortalecer o processo
de formação e desenvolvimento profissional docente” (MATO GROSSO, 2016a, p. 43).
Segundo a referida portaria, os registros reflexivos deveriam seguir as sugestões apresentadas
a seguir, conforme as figuras 9 e 10.
Figura 9: Modelo de registro reflexivo 1
Fonte: Mato Grosso (2016, p. 44)19
Figura 10: Modelo de registro reflexivo 2
Fonte: Mato Grosso (2016, p. 44)
19 Disponível em:
<http://cos.seduc.mt.gov.br/upload/permanente/Arquivo/D.O.%2014.04.16%20Portaria%20161%202016%20-
%20Institui%20o%20Projeto%20de%20Estudos%20e%20%20Interven%C3%A7ao%20Pedag%C3%B3gica,%2
0PROFTAAE8492789.pdf>
103
Em um dos encontros de formação que participamos, com a presença da coordenadora,
os professores foram orientados para que acompanhassem o exemplo da figura 10 (modelo de
registro reflexivo 2), disponibilizado aos professores conforme a figura 11, elaborado pela
coordenadora, para que realizassem o relatório.
Em nossas conversas, a professora Margarida relatou que uma única vez utilizaram o
modelo para realizar os relatórios dos estudos. Em suas palavras: “Acho que foi uma só, só de
um texto. Antes a gente estava fazendo cada um por si e o grupo de vez em quando lia e não
foi conseguido fazer todas as leituras não”, os demais relatórios “Era um resumo”
(Margarida – E2). A figura 11 é o único registro que a professora apresenta, segundo o
estabelecido pela portaria.
Figura 11 – Relatório reflexivo da professora Margarida
Fonte: Acervo da pesquisadora.
O modelo elaborado pela coordenadora, intitulava-se “Sala do Educador20”, como uma
síntese de um estudo realizado e não como um registro reflexivo.
O professor Lírio expressa que, apesar de ter um modelo a ser seguido para os
relatórios dos estudos, especificado cada componente do quadro a ser preenchido, realizaram
20 O documento apresentado sobre o relatório traz o título de “Sala do Educador”, porém foi elaborado para o
PEIP, como também o blog criado pela coordenadora possui o nome de “Sala do Educador”, para a maior
disponibilidade dos textos a serem estudados. Todavia, não são relacionados à formação anterior denominada
“Sala de Educador”.
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sínteses dos textos estudados, quando diz que “foi feito estudo, colocando as etapas, conceito,
definição, aplicação, as análises e observações críticas [...]. Fizemos a síntese e colocamos
aqui” (Lírio - E3) (Grifo da pesquisadora).
Em nosso entendimento, o professor ao descrever seu relatório, registra que fez apenas
um resumo do texto, não refletiu sobre o que estudou e realizou somente uma atividade
mecânica. Neste sentido, concordamos com Darsie e Carvalho (1996, p. 91) de que o
professor deve passar durante a formação
[...] pela reflexão sobre o seu saber e seu saber fazer, assim como, diante da
nova aprendizagem, refletir sobre essa e sua utilização. Teorias, práticas e
experiências escolares passadas deverão ser comtempladas como objeto de
estudo e de reflexão, pois elas são indissociáveis e a mudança de uma delas
implica o repensar e o mudar de outra.
Prosseguindo a narrativa, ao ser questionado sobre os registros reflexivos, o professor
Lírio fala: “da minha parte eu fiz por fazer, pra cumprir a carga horária” (Lírio – E3).
Embora o professor afirme estar fazendo os registros por obrigação, quando foi perguntado
sobre os modelos que deveriam seguir para os relatórios reflexivos, afirmou sorrindo que
“deu uma melhorada um pouco, mais...” (Lírio – E3). Ambos os professores demonstram em
seus relatos que a sistematização das leituras e estudo dos textos não contribuíram para o
processo de formação.
Concordamos com Freitas e Fiorentini (2008) que a escrita potencializa as reflexões
dos professores e “oferecem elementos para auto-reflexão”; compreendemos, ainda, que se
fazem necessárias para propor modificações na prática pedagógica, pois “permitem [...] a
intervenção problematizadora do formador sobre as concepções, crenças e saberes dos futuros
professores sobre a matemática e seu processo de ensino aprendizagem” (FREITAS;
FIORENTINI, 2008, p. 139). Neste caso, embora as afirmações dos autores estejam
associadas aos licenciandos em Matemática, consideramos pertinente relacioná-las com a
formação continuada dos professores, em que o registro reflexivo dos estudos não deve ser
somente uma obrigação. Busca-se, além da comunicação oral, a “escrita reflexiva, discursiva
e narrativa sobre aquilo que se aprende e se ensina” (FREITAS; FIORENTINI, 2008, p. 139).
Outra forma de registro que os professores colaboradores fariam, além daqueles
propostos pela portaria, seria o uso de um caderno específico para registros da formação
continuada. Observamos que os cadernos dos professores investigados continham a data dos
encontros, uma mensagem inicial, na maioria das vezes impressa, e a atividade que seria
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realizada no dia. Percebemos, também, que os cadernos continham resumos dos textos
estudados, relacionados anteriormente.
Segundo o professor Lírio foi “feito na escrita, cada um fez o seu, tipo um resumo”
(Lírio-E2). Quando questionado sobre a sua opinião sobre a sistematização, o professor
afirmou que: “Eu penso que não funcionou, não” (Lírio – E2). Quando perguntei o porquê
dessa afirmação, Lírio apresentou sua opinião: “Eu acho que se tivesse partido pra fazer o
projeto, ver mesmo o ponto chave, que era fazer um projeto em cima das dificuldades dos
alunos. Não precisava ter lido todos aqueles textos” (Lírio – E2).
Nas falas dos professores, percebemos que os registros não foram significativos e não
constituíram instrumentos de reflexão. Nas suas pesquisas André e Darsie (2010) apontam os
registros como
[...] um instrumento apropriado para a formação continuada do professor,
especialmente para o desenvolvimento do profissional reflexivo, pois
permite a tomada de consciência das próprias aprendizagens, das condutas
obtidas e das dificuldades encontradas, levando a mudanças conscientes no
trabalho docente (ANDRÉ; DARSIE, 2010, p. 29).
Os registros dos aspectos relevantes de um estudo podem ampliar os conhecimentos
sobre determinados assuntos, porém, compreendemos que nem todo registro levará à reflexão.
Segundo André e Darsie (2010, p. 29), a escrita reflexiva pode mobilizar reflexões, além da
“tomada de consciência e reelaboração dos conhecimentos e aprendizagens, favorecendo,
portanto, a construção de novos conhecimentos”, que seria um dos caminhos do processo de
formação dos professores.
Ao sistematizar os conhecimentos construídos no processo de formação, o professor
pode socializá-los com os pares na busca de soluções para as dificuldades apresentadas no
contexto escolar, pois, ao refletir sobre a sua prática, acreditamos que o processo pedagógico
pode ser modificado. Além disso, o professor consegue “refletir sobre os conteúdos
trabalhados, as maneiras como se trabalha a postura frente aos educandos” (GHEDIN, 2005,
p. 135).
Entendemos que a reflexão no processo de formação precisa ser contínua na busca da
melhoria das práticas pedagógicas e, neste sentido, acreditamos que os relatórios reflexivos
podem servir de instrumento de formação dos professores. Assim, segundo Freitas e
Fiorentini (2008), o professor ao organizar por escrito os seus pensamentos, suas ideias, os
seus conhecimentos docentes tendem a ser identificados, problematizados e (re)significados,
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com a liberdade de pensamento dentro do ambiente escolar, propiciando o protagonismo no
seu modo de atuar e organizar o trabalho pedagógico. No entanto, ao observar os relatórios e
as narrativas dos professores participantes da pesquisa, podemos perceber que não foram
instrumentos desencadeadores de registros reflexivos.
Na sequência, apresentamos o estudo do planejamento anual, atividade realizada nos
encontros, após a formação para coordenadores pedagógicos pelo CEFAPRO.
Estudo do planejamento anual
Além da sistematização das leituras e estudos dos textos estabelecidos no cronograma,
os professores realizaram estudo sobre o planejamento anual, o qual foi repassado pela
coordenação, em forma de oficina, no dia 27/10/16, que correspondia ao 15º encontro de
formação. Em nossas observações e em conversas informais com a coordenadora, que foram
gravadas e transcritas no caderno de campo, ela nos relatou sobre como foi o encaminhamento
da formação aos professores. A coordenadora explicou que nem todos os professores faziam o
planejamento anual: “Imprimi um planejamento, porque tem professor até hoje falando que
não tem o planejamento, que não sabe” (Caderno de campo). Ao continuar a descrição da
atividade com os professores expressou: “Percebi assim, que eles não, principalmente a
turma da noite, não viram nada que precisasse mudar nos planejamentos deles” (Caderno de
campo).
Apesar da coordenadora afirmar que os professores não observaram a necessidade de
realizar alterações no planejamento, o professor Lírio relata a necessidade de mudanças
bimestrais: “Vendo os planejamentos em si, que geralmente a gente faz, não faz isso. Teria
que estar fazendo cada bimestre, vendo o planejamento, mudando alguma coisa” (Lírio –
E1). Porém, segundo o professor, essas mudanças não foram realizadas: “Não fizemos, era
pra fazer as alterações. Não fizemos alterações. Muitas coisas estavam de acordo, faltou
outras” (Lírio - E3)( Grifo da pesquisadora).
Reafirmando a narrativa do professor Lírio, a professora Margarida também fala que
não realizaram nenhuma alteração no planejamento anual: “Não foi mexido mais nada”
(Margarida - E2).
Nas declarações anteriores fica evidenciado que as atividades de reelaboração dos
planejamentos anuais não fizeram parte das atividades dos professores, apontando um
distanciamento entre a elaboração e a prática pedagógica. O planejamento muitas vezes é
deixado de lado, elaborado com base no sumário de livros didáticos ou pautados na própria
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experiência do professor, que trabalha com os mesmos conteúdos por vários anos
consecutivos. Quando a atividade desenvolvida pelo professor faz sentido e sente a
necessidade da realização da mesma, a elaboração do planejamento torna-se a “hora de
tomada de decisões, de resgate dos princípios que embasam a prática pedagógica”
(VASCONCELLOS, 2010, p. 41).
Na etapa de reformulação do planejamento, os professores Lírio e Margarida, embora
afirmem a necessidade de mudanças, como observamos em suas narrativas, não evidenciam
que a ação de planejar tenha sido desenvolvida no sentido de promover efeitos na prática
pedagógica. Pois, “entender que o professor precisa organizar o ensino é uma aprendizagem
essencial do professor”, e “[...] que este necessita se conscientizar que é um eterno aprendiz”
(MOURA, 2002, p. 145).
As atividades de planejamento, a serem desenvolvidas pelos professores na referida
oficina, foram impressas e entregue a eles contendo três atividades: Quadro 1 – Do plano de
ensino anual; Atividade 2 – Da avaliação da aprendizagem; Atividade 3 - Da
investigação ação. As atividades deveriam ser preenchidas conforme o planejamento anual
da disciplina de matemática.
A primeira atividade, organizada em forma do Quadro 1 – Do plano de ensino anual,
era destinada para que os professores identificassem e registrassem os elementos do
planejamento e trazia a sugestão de como deveria ser: inferência do diagnóstico, objetivos,
conteúdos, procedimentos metodológicos, recursos didáticos, avaliação da aprendizagem
(concepção, instrumentos, métodos), e outros elementos que pudessem ser identificados. Após
completar o quadro, baseado nas informações especificadas, o professor deveria apresentar
indicativos de como pensa o ensino e o que propõe para que os alunos aprendam.
Em nossas conversas, os professores colaboradores da pesquisa narram que olharam os
planejamentos, mas a atividade não teve sucesso, pois “quando olhamos os planejamentos
não fizemos, era pra fazer alterações, não fizemos alterações. Muitas coisas estavam de
acordo, faltou outras. Aqui né era pra fazer esses negocinhos” [o professor se referia aos
quadrinhos da atividade] (Lírio – E1).
Da mesma forma, a professora Margarida relatou: “Não foi mexido mais nada. Só
aquele dia foi o dia dos pontinhos” (Margarida - E2.) Ao analisar as falas dos professores,
concordamos com Vasconcellos (2010, p. 16) quando a atividade de “planejar parece
identificado a ‘preencher planos’, e ainda, ‘para outros’ (supervisão, direção, secretaria)”, ela
se torna ineficaz.
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A professora Margarida reafirma que somente preencheu os quadros, sem modificar
seu planejamento, portanto, não dando sentido à atividade educativa de planejar, segundo o
que esclarece o autor citado,
[...] na realidade a gente está preenchendo quadradinhos e não está
chegando pra fazer o nosso, se eles querem que a gente mude nossos
planejamentos? A gente tem que fazer, está lá preenchendo quadradinho. E
a outra atividade também, que a gente fez no outro encontro, foi preencher
quadradinho (Margarida - E1).
Observamos que a realização do planejamento na formação continuada em análise, se
reporta aos anos 1970, segundo Vasconcellos (2010), em que planejar era significado de
preencher formulários com objetivos educacionais gerais, conteúdos programáticos com
estratégias de ensino e a avaliação deveria ser realizada de acordo com os objetivos propostos,
reproduzindo um sistema pré-determinado. Destacamos que concordamos com o autor ao
tratar que “o fator decisivo para a significação do planejamento é a percepção do sujeito da
necessidade de mudança” (VASCONCELLOS, 2010, p. 30, grifo do autor) e não apenas
cumprimentos de obrigações impostas pelo sistema de ensino.
Em relação às modificações no planejamento, a professora Margarida assim relata:
[...] quando você pega o seu planejamento, e vai mexer no seu planejamento
fica complicado querer mudar alguma coisa. Mais ai a gente viu que pode
separar por bimestre. Que o nosso planejamento de matemática não está
separado por bimestre, está tudo junto. Olhe, [mostrou o planejamento] ele
está anual [...] e os objetivos, colocar cada conteúdo aqui é esse objetivo.
Ou aqui relacionado a esse bimestre. Para ficar mais organizado, mais
prático pra quem vai pegar, porque está tudo junto. Os procedimentos e
recursos no nosso planejamento estão tudo junto. Então foi interessante essa
primeira parte. Que nem se chega uma pessoa que não é eu, você [...] já
esta acostumado com esse planejamento, mas se chega uma outra pessoa
[...]pegou as aulas, não tinha planejamento pra ela, porque ela viu tudo
junto e misturado o que ela vai fazer? (Margarida - E1).
A seguir, podemos observar as atividades que os professores colaboradores da
pesquisa preencheram referente ao plano de ensino anual. Observamos que são unânimes em
suas respostas pelo fato de estarem realizando a atividade em grupo.
109
Figura 12 - Atividade 1 do plano anual de ensino - Professor Lírio
Fonte: Caderno de registro do PEIP do professor Lírio.
Figura 13- Atividade 1 do plano anual de ensino - Professora Margarida
Fonte: Caderno de registro do PEIP da professora Margarida.
110
Ao verificarmos o planejamento anual da disciplina de Matemática da Escola π,
percebemos que o mesmo foi elaborado no ano de 2015 para ser utilizado até o ano de 2017,
até que fosse realizada a escolha do livro didático para o ano de 2018. Nas conversas
informais, relatadas no caderno de campo, o professor Lírio descreveu que ele e o
coordenador pedagógico participaram de formações oferecidas pelo CEFAPRO, para a
reformulação do planejamento.
Em nossas observações ficou evidente que a reestruturação do planejamento não foi
um trabalho realizado no coletivo, com a participação de todos os professores de Matemática
e da coordenação pedagógica. Considerando as dimensões de elaboração do planejamento,
segundo Vasconcellos (2010), muitas vezes se traduzem em preocupações com o quê, como
será ensinado aos alunos, tendo como referência as três dimensões da ação humana consciente
e intencional: realidade, finalidade e plano de ação mediadora.
A próxima atividade desenvolvida foi intitulada: Atividade 2 – Da avaliação da
aprendizagem. A professora Margarida demonstrou em seus comentários que, após
realizarem a atividade, percebeu que estava respondendo errado por não compreender que se
tratava do plano de ensino. “É mais na realidade, a gente descobriu que tudo isso aqui está
errado [mostra o quadro 2], essas respostas aqui. Porque não era em relação ao aluno. É em
relação ao nosso plano de ensino que era pra responder aqui” (Margarida – E1).
Figura 14 - Atividade 2 da avaliação da aprendizagem - Professor Lírio
Fonte: Caderno de registro do PEIP do professore Lírio.
111
Figura 15 – Atividade 2 da avaliação da aprendizagem - Professora Margarida
Fonte: Caderno de registro do PEIP da professora Margarida
Ao realizarem a atividade, ficou claro que a coordenadora não estava presente para
orientar a formação, pois, segundo a professora Margarida, os professores estavam tentando
entender para poder responder as atividades: “Aqui está, agora aqui a gente foi respondendo
em relação aos alunos. O que está sendo avaliado? Na realidade não é o aluno, na realidade
é o nosso plano, planejamento” (Margarida - E1).
Apesar de estarem respondendo a atividade, como verificamos nas figuras anteriores, a
professora Margarida relatou que considerou os alunos e não o planejamento em si e, após
uma passagem rápida do outro coordenador na sala, onde estava sendo realizado o encontro,
ele explicou que a atividade estava relacionada ao planejamento. “A gente foi descobrir, na
realidade não é sobre aluno esse aqui. As avaliações do quadro 1, é sobre o planejamento,
análise dos instrumentos de avaliação da aprendizagem utilizados pelos professores”
(Margarida – E1).
Segundo a professora Margarida, essa atividade foi desenvolvida juntamente com o
professor Lírio, mas ainda assim demonstrou dúvidas em relação ao seu desenvolvimento. Em
suas palavras: “Só de matemática, não fala se é só o grupo de matemática, se por área, se
não é” (Margarida - E1). Compreendemos que as dúvidas que surgiram durante a realização
das atividades foram resultantes do não acompanhamento da coordenação pedagógica durante
o processo de formação.
112
Ao relatarem sobre a atividade da oficina de planejamento, percebemos que os
professores colaboradores não preencheram a ficha, tão pouco realizaram as alterações no
planejamento. Compreendemos que as atividades realizadas não serviram para possibilitar
reflexões acerca das mudanças necessárias. O planejamento requer a participação voltada para
a mudança e, concordamos com Vasconcellos (2010, p. 92), quando destaca
[...] o planejar como uma oportunidade de repensar todo o fazer da escola,
como um caminho de formação de educadores e educandos, bem como a
humanização, da desalienação e de libertação. Colocamos como pano de
fundo de todo o processo de planejamento, o desafio da transformação, ou
seja, de conseguirmos efetivamente criar algo novo, ousar, avançar, dar um
salto qualitativo. [...] A participação é um valor, é uma necessidade humana;
[...] é uma questão de respeito pelo outro, de reconhecimento de sua
condição de cidadão, de sujeito do sentir, pensar, fazer, poder.
Compreendemos que, ao planejar, o professor tem possibilidades de mudanças em
suas práticas pedagógicas, alterando a direção daquilo que pode não ter sido tão significativo
na construção da aprendizagem dos seus alunos, pois podem modificar o que foi resultado da
improvisação ou do documento engavetado, feito para cumprir aspectos burocráticos da
profissão ou ainda, por não atribuírem sentido à listagem de conteúdos e objetivos
relacionados nos planos.
Desta forma, “torna-se necessária a organização das ações educativas de modo a
atender as especificidades dos propósitos da escola. [...] As ações necessárias para a
concretização desta atividade de ensino são as mais variadas. O planejamento do estudo pode
ser uma das ações” (MOURA, 2002, p. 159). Entendemos que o planejar é fundamental na
ação docente, uma vez que envolve posicionamento e tomadas de atitudes dos professores
diante da prática pedagógica; possibilita acreditar nas mudanças que poderão acontecer, pois
as dificuldades encontradas na sala de aula são muitas quando se tem um planejamento e,
seguramente, será mais difícil enfrentá-las sem ele.
Segundo a portaria do PEIP, os atores da formação continuada são os professores,
diretor, coordenador pedagógico, assessores pedagógicos, profissionais administrativos,
profissionais do CEFAPRO e SUFP. Em nossa análise vamos no ater aos professores e ao
coordenador pedagógico.
Nos momentos em que estivemos na Escola π observamos que, nos encontros de
formação realizados, os atores do processo cumpriram suas funções de maneira tímida, em se
tratando especialmente da coordenadora pedagógica, pois o mesmo não tinha horário
113
estabelecido para o dia de formação do grupo, do qual participavam nossos professores
colaboradores.
O professor Lírio destaca a necessidade de orientação para o desenvolvimento dos
estudos no processo de formação: “Só que tá assim meio chato, é porque a gente não tem
orientação, não sabe o rumo que tomar, pra onde vai, o que vai fazer. O que falta é uma
pessoa capacitada, pra te orientar” (Lírio – E1).
Ao relembrar da formação “Sala de Educador” a professora Margarida narrou:
“Naquela época que a gente sentava todo mundo discutia, fazia as leituras e discutia [...] os
textos e conversava, cada um falava, que era separado o da matemática, física, química,
história, biologia, cada um” (Margarida - E2). Quando descreve que todos discutiam durante
a formação, percebe-se que no formato anterior havia interação entre a coordenação
pedagógica e os professores, dando indicativos de que a formação acontecia de maneira
integrada com todos os envolvidos no processo. E ao afirmar, que na forma anterior era
melhor, em suas palavras, “Dai era melhorzinho, porque assim” (Margarida- E2), a
professora demonstra a insatisfação com a formação continuada do PEIP.
Ao considerar a participação da coordenadora nos encontros de formação, o professor
Lírio relatou como foi: “[...] a coordenadora estava neste dia, só que ela não ficou o tempo
todo, só deu uns passos e tinha que cuidar da coordenação, trabalhamos sozinho também,
sem orientação” (Lírio – E3).
A professora Margarida também descreveu a orientação e antes de responder ficou
alguns instantes em silêncio e após sorriu,
[...] o que faltou, acho que faltou vontade de todo mundo: da coordenação,
do CEFARPO, da gente mesmo, não sei se é orientação. Um pouco de
vontade dos professores, estão enjoados com esse negócio da sala de
educador, [...] desanimados, e aí é a questão de orientação também, porque
nós ficávamos sozinhos a maioria do tempo (Margarida - E2).
A professora relata, ainda, “Os primeiros encontros que a gente fez estávamos
sozinhos, [...] a noite ela veio uma vez, ela participava mais a tarde, [...] aí a gente ficava
sozinho, desestimulado, eu acho” (Margarida – E2).
Sentindo-se desorientados, os professores revelam o sentimento de estar estudando
sem direção. Acreditamos que, quando a parceria acontece entre os atores da formação, acaba
por estimular os professores a melhorar o processo de formação continuada, bem como o
trabalho pedagógico.
114
De acordo com Placco e Souza (2012, p. 28),
[...] o trabalho coletivo é construído por cada educador e promovido pelo
coordenador, responsável pela mediação nesse processo de construção.
Como cada sujeito é único, sejam professores, sejam gestores, sejam alunos,
não há modelo de trabalho coletivo a ser adotado para as escolas, pois cada
processo deverá ser construído com base em seus atores, que deverão tomar
parte efetiva dele, para que a adesão ao coletivo seja possível.
Apesar de vários indícios na fala dos professores sobre a falta de acompanhamento, a
Portaria nº 161/2016 estabelece as funções do coordenador pedagógico, citadas anteriormente.
Durante nossas observações, identificamos que a professora coordenadora não
acompanhou a formação na escola, pois esteve presente em poucos encontros. Porém,
segundo nossas anotações no caderno de campo, a função de incentivar a leitura antecipada do
material a ser estudado foi realizada, pois, como descrevemos anteriormente, os textos foram
disponibilizados no e-mail dos professores, bem como em um blog criado para esse fim.
Sabemos da importância que a equipe da gestão escolar tem na articulação e no
desenvolvimento das ações na unidade escolar, pois segundo Placco e Souza (2012) a tarefa
do coordenador pedagógico é planejar as atividades que serão implementadas no processo
formativo dos professores, possibilitando as mudanças na sua atuação pedagógica, buscando a
sua participação intensa e significativa na formação.
Diante das discussões sobre a formação continuada em Mato Grosso, estabelecidas
pelo PEIP, concordamos com Callejas (2017, p. 64) quando se refere que
[...] os programas de formação continuada devem contribuir para que a
construção da identidade docente aconteça de forma articulada com os
demais profissionais da escola: gestores, coordenadores pedagógicos e entre
os próprios professores. Entendemos a formação vinculada às experiências
vivenciadas constantemente na prática pedagógica e na apropriação de
conhecimentos, devendo ter as condições necessárias a sua continuidade.
Cabe-nos aprofundar, na pesquisa, quais fatores concorreram para a não participação
da coordenação pedagógica na formação proposta.
Em síntese, verificamos que nas narrativas do professor Lírio e da professora
Margarida sobre que o processo de formação, a partir da dinâmica estabelecida para os
estudos coletivos, não foi realizado, visto que os textos estudados partiram de um rol
selecionados pela Portaria nº 161/2016, mas pouco contribuíram para reflexão dos processos
de formação e de suas práticas docentes.
115
Ao relatar a sistematização dos estudos, por meio de relatórios reflexivos, os
professores realizaram a atividade como uma obrigação, em forma de resumos e completando
um modelo especificado na portaria. Apesar de ter um caderno específico para registro da
formação continuada, podemos perceber que não foi instrumento desencadeador de registros
reflexivos. Acreditamos que, ao sistematizar os conhecimentos e discutir com outros docentes
durante a formação, poderiam refletir e possivelmente modificar suas práticas pedagógicas,
pois os relatórios reflexivos servem de instrumento de formação para os professores, em que
podem expressar suas ideias, bem como “(re)significar seu modo de atuar e organizar o
trabalho pedagógico” (FREITAS; FIORENTINI, 2008, p. 148).
Concordamos com os professores Lírio e Margarida no sentido de que os
planejamentos deveriam ter modificações durante o ano letivo. No entanto, percebemos que
essas alterações não foram desencadeadas e, segundo a fala dos professores, constatamos um
distanciamento entre a sua elaboração e a prática pedagógica. Compreendemos que, ao
planejar, o professor tem possibilidades de modificar e dar uma nova direção em sua prática
pedagógica, e não apenas cumprir com um dos aspectos burocráticos estabelecidos pela
escola. Muitas situações são vivenciadas em sala de aula quando se tem um planejamento e,
seguramente, será mais difícil enfrentá-las sem ele.
De modo geral, as falas dos professores ao abordar a dinâmica, expectativas e as
manifestações sobre o PEIP na Escola π, constatamos que a formação estabelecida não surgiu
das perspectivas e necessidades dos professores. Compreendemos que a formação centrada na
escola possibilita resolver problemas que surgem durante o fazer pedagógico e, segundo
Imbernón (2016), o professor deve ser o protagonista de sua formação. Todavia, pudemos
constatar, nos relatos dos professores colaboradores da pesquisa, a dependência da
coordenadora pedagógica que também tinha sua demanda de trabalho a cumprir, acrescida da
tarefa de buscar atender as necessidades formativas.
A seguir trataremos do processo de elaboração, execução e avaliação do PEIP, de
acordo com o que dizem os professores.
4.2 O processo de construção, execução e avaliação do PEIP: o que dizem os professores
Buscamos compreender como os professores colaboradores da pesquisa construíram e
executaram o PEIP, após os estudos e a tentativa de reelaboração do planejamento e a
116
utilização dos conhecimentos construídos em sala de aula, de acordo com a proposta da
portaria anteriormente descrita.
Na etapa da formação continuada, que trata da construção e execução do PEIP, a
escola deveria dar ênfase à intervenção pedagógica, possibilitando aos docentes “estarem com
as informações e análises das necessidades de aprendizagem dos alunos – criarem condições
para garantir o ‘direito de aprendizagem’ de todos” (MATO GROSSO, 2016a, p. 43).
Para a elaboração do PEIP, os professores deveriam realizar um diagnóstico das
necessidades de aprendizagens dos alunos. Para isso utilizariam os resultados das avaliações.
Desse modo, apresentamos e discutimos, na sequência, as avaliações externas e
internas, o diagnóstico da disciplina de Matemática e a elaboração das ações de intervenção,
uma vez que a portaria se refere aos resultados das avaliações como sendo o caminho que
subsidia as intervenções pedagógicas.
4.2.1 Avaliações externas e internas, diagnóstico da disciplina de Matemática e elaboração
das ações pedagógicas
Buscando reorganizar as políticas educacionais, a SEDUC/MT inseriu a ADEPE-MT
que, a partir de seus resultados, determinaria as ações de intervenções do PEIP.
Ao relacionar as avaliações externas (ADEPE-MT, IDEB, PROVA BRASIL, ANA,
ENEM, dentre outras) e internas (avaliações advindas das disciplinas do currículo, PPP, atas
de resultados finais, relatórios descritivos, objetivos de aprendizagem da Avaliação Sistêmica-
SIGEDUCA) que, segundo a Portaria nº 161/2016, dariam indicativos sobre a proficiência
dos alunos, os professores deveriam elaborar o PEIP, fazendo um estudo criterioso sobre os
resultados, com a proposição de ações de intervenção promovendo as aprendizagens dos
alunos.
Quando se trata de tais avaliações, nos questionamos se realmente elas nos dão os
indicativos da aprendizagem dos alunos e, deste modo, corroboramos com Ribeiro e Darsie
(2010) de que os significados das avaliações devem partir da concepção dos professores no
momento de avaliar, diretamente ligado ao processo educacional, como uma atividade
humana inerente, aliadas à prática cotidiana.
Considerando que a avaliação deve estar associada ao processo de aprendizagem,
cremos que em nossas aulas o professor é quem realmente saberá quais as atividades e em
quando deverão ser realizadas. Assim, nos apoiamos em Paula (2010, p. 74) ao afirmar que o
professor é o “[...] responsável direto e gestor do planejamento metodológico e da execução
117
do processo avaliativo”, e neste processo, “[...] além de selecionar os dispositivos e
instrumentos avaliativos, pode definir momentos ideais para recolher as informações que lhe
auxiliarão nos registros dos processos de ensino e das aprendizagens dos alunos”.
Desta forma, ao se pensar em avaliações, concordamos com Paula e Darsie (2015, p.
192) que venham “constituírem-se num instrumento retroalimentador do processo ensino-
aprendizagem em Matemática, assumindo uma perspectiva formativa à avaliação no projeto
educativo”.
Assim, na elaboração e efetivação do PEIP, a avaliação diagnóstica foi considerada
como determinante e se constituiu num instrumento de planejamento das ações de formação.
Neste sentido, os professores foram orientados, segundo a portaria, que fizessem um
diagnóstico criterioso sobre as avaliações externas e internas que dão os indicativos da
proficiência dos alunos. A SEDUC/MT, em parceria com o Centro de Políticas e Avaliação da
Educação – CAEd/Universidade Federal de Juiz de Fora, desencadeou a ADEPE-MT como
“ação estratégica, que objetiva produzir e disseminar informações que subsidiem a reflexão do
professor sobre sua prática pedagógica, as necessidades de aprendizagem dos estudantes”
(MATO GROSSO, 2016a, p. 41).
Segundo Kapitango-a-Samba e Costa (2016, p. 12) a partir da ADEPE-MT tem-se
estrategicamente três expectativas:
[...] a primeira é a de que ela possa oferecer informações aos gestores
públicos que permitam diagnosticar as necessidades de aprendizagem dos
estudantes e planejar, executar e orientar ações e políticas públicas focadas
na melhoria da educação, [...] fomentar ações de formação e
desenvolvimento profissional dos profissionais da Educação Básica,
contando sempre com a participação dos educadores como protagonistas de
transformação social e inovação no ensino, na aprendizagem e gestão
educacionais; a segunda, é a de possibilitar aos docentes conhecer o que cada
aluno sabe, [...] e, a terceira, é de garantir – com esse processo - o direito à
educação a todos os estudantes marcando o caráter inclusivista da avaliação.
Observamos que a principal expectativa dos autores sobre a avaliação são os
resultados para orientação das políticas públicas, e consideram o professor como protagonista,
uma vez que a portaria estabelece que o foco deve ser as necessidades de aprendizagens dos
alunos. Os autores descrevem, ainda, que “avaliar não é resolver problemas, mas adquirir
indicadores de qualidade do resultado esperado na execução da ação educativa. A resolução
de problemas cabe aos atores (docentes, discentes, gestores, organizações educacionais)
auxiliados pela avaliação” (KAPITANGO-A-SAMBA; COSTA, 2016, p. 11). Fica evidente
que a avaliação é apenas uma alavanca para produzir resultados e não tem, como único
118
objetivo, a promoção, mas sim “incluir os alunos no processo socioeducacional” (RIBEIRO;
DARSIE, 2010, p. 23).
Os resultados da avaliação realizada foram publicados no dia 26 de agosto de 2016, no
site da SEDUC/MT e na revista elaborada por essa Secretaria: “Revista da Gestão Escolar”,
que contém dados sobre como foi desenvolvida a avaliação na ADEPE-MT, como a escola
poderia se apropriar dos resultados da avaliação, e a descrição das estratégias pedagógicas que
poderiam ser utilizadas para desenvolver as habilidades na disciplina de Matemática.
Para o processamento dos resultados da ADEPE-MT foi utilizada a “Teoria de
Respostas ao Item” (TRI)21, que determina as proficiências, relacionando o conhecimento do
estudante com a probabilidade de acertos no teste, por meio de uma escala de proficiência22.
A partir das escalas de proficiência são determinados os padrões de proficiência dos alunos,
os quais destacamos a seguir: abaixo do básico (muito abaixo do mínimo), básico, proficiente
(adequado), avançado (desejável). Neste contexto apresentamos os resultados da ADEPE-MT
nas figuras 16 e 17.
21 A” Teoria de Resposta ao Item” (TRI) permite a produção de uma medida mais robusta do desempenho dos
estudantes, porque leva em consideração um conjunto de modelos estatísticos capazes de determinar um
valor/peso diferenciado para cada item que o estudante respondeu no teste de proficiência (Revista de Gestão
Escolar – ADEPE-MT, 2016, p. 20). 22 Tem por objetivo traduzir medidas de proficiência em diagnósticos qualitativos do desempenho escolar
(Revista de Gestão Escolar- ADEPE-MT, 2016, p. 22).
119
Figura 16 – Resultado da ADEPE-MT – Matemática – 1º ano
Fonte: ADEPE-MT- Revista Pedagógica – Matemática 1º e 2º anos do Ensino Médio (2016)23
23 Disponível em : <http://www.adepemt.caedufjf.net/wp-content/uploads/2016/08/MT-ADEPE-ENCARTE-2016-RP-MT-
1EM_2EM-WEB1.pdf.>
120
Figura 17 – Resultado da ADEPE-MT – Matemática – 2º ano
Fonte: ADEPE-MT- Revista Pedagógica – Matemática 1º e 2º anos do Ensino Médio (2016).
Além do resultado geral da avaliação, os dados apurados foram analisados por turmas,
especificando a porcentagem de acertos, a proficiência e o padrão de desempenho por aluno.
121
Nos resultados podemos observar que oito turmas da escola pesquisada foram avaliadas,
sendo que apenas 6,06% dos alunos obtiveram o padrão de desempenho proficiente, o qual é
adequado para a etapa e área do conhecimento que foram avaliadas, em se tratando da
Matemática, segundo a tabela de desempenho estabelecido e descrito na revista pedagógica da
ADEPE-MT.
Os dados das avaliações externas quando apenas enviados para as escolas não fazem
sentido, pois não são articulados com as avaliações realizadas pelo professor na sala de aula.
Um dos exemplos são os resultados do SAEB, que são disponibilizados em um site. Os
resultados das avaliações são encaminhados para a escola “com o objetivo de que seja
examinada pelos profissionais de cada escola e alternativas sejam elaboradas com a finalidade
de melhorar as práticas de ensino e aprendizagem” (FREITAS et al., 2011, p. 65). Desta
forma, entendemos que a avaliação não teve significado no processo de construção das ações
pedagógicas estabelecidas na Escola π, pelos professores de Matemática.
A ADEPE-MT foi mais uma das avaliações realizadas sem considerar o contexto
escolar, pois como poderiam saber quais conteúdos os professores estavam trabalhando? Qual
a sequência do trabalho? Em que período foi realizado? Segundo Gatti (2007), os conteúdos
são definidos por aproximações, por especialistas, pois, mesmo que a elaboração das matrizes
curriculares tenha suas bases nos PCNS, nem sempre os Parâmetros são do conhecimento de
muitos professores.
Gatti (2007, p. 54) contribui com a discussão, ao afirmar, “Considerando que algumas
questões políticas foram guiadas por resultados dessas avaliações, alguma coisa se passa no
interior das redes e das escolas que merece uma atenção especial”. Segundo a autora, “[...]
três aspectos - desconsideração pelas avaliações, descontinuidade de políticas, e, problemas
intrínsecos às atividades de ensino nas escolas - se mostram bem claramente na cena
educacional do país” (GATTI, 2007, p. 54). A consideração da autora nos leva a questionar se
a qualidade da educação se traduz em resultados de avaliações, pois podemos observar que a
ADEPE-MT, na opinião dos professores, não subsidiou a reflexão com as informações
necessárias, nem tão pouco possibilitou que fossem elaboradas ações que atendessem as
necessidades de aprendizagem dos alunos.
Por outro lado, nos questionamos se realmente os resultados obtidos por meio de testes
representam a aprendizagem dos alunos ou o padrão de desempenho. Concordamos com
D´Ambrosio (2012, p. 71) quando afirma que “a avaliação mediante testes e exames diz muito
122
pouco sobre a aprendizagem. Na verdade, os alunos passam em testes para os quais são
treinados. É essencial distinguir educação de treinamento”.
Segundo a professora Margarida, a avaliação ADEPE-MT não foi uma boa estratégia
para verificar a aprendizagem dos alunos.
Não, a ADEPE-MT na realidade, os alunos fizeram sem vontade nenhuma,
principalmente do primeiro ano, quem aplicou a prova falou que eles
fizeram em menos de 20 minutos, eles tinham terminado de resolver as
questões. [...] o professor de matemática não podia nem chegar perto, tinha
que ficar fechadinho na sala dos professores (Margarida- E2).
Porém, o professor Lírio considerou ser a ADEPE-MT uma boa estratégia: “É, foi uma
boa. Você tem que ser avaliado pra saber o conhecimento dos alunos” (Lírio - E2). Em outro
momento, o professor Lírio argumentou que o aluno não pode ser avaliado com apenas uma
avaliação, o que ressaltou quando descreveu como foi o processo da ADEPE-MT: “Olha, toda
avaliação [demonstrou um sorriso sarcástico] tem seus poréns, do tipo que foi feito eu acho
que [hesitou em continuar falando] bem fraco, avaliar um aluno, vir ai com uma
avaliaçãozinha só, teria que ser mais, ter mais tempo, não vir como um vestibular” (Lírio -
E3) (Grifo da pesquisadora).
Concordamos com o professor Lírio que a avaliação não pode ser apenas um momento
e, sim, deve estar em todo tempo presente, orientando nossa “atuação na escola e na sala de
aula”, pois a avaliação “não incorpora apenas objetivos escolares, das matérias ensinadas, mas
também objetivos ligados à função social da escola no mundo atual” (FREITAS et al, 2011, p.
17).
Ao discutir sobre os objetivos a serem alcançados, descritos na portaria sobre a
ADEPE-MT, concordamos com Gatti (2007) que outros fatores necessitam ser tratados.
Segundo a autora,
[...] precisamos discutir o sentido das provas, os fundamentos e matrizes
curriculares em que se apoiam o tipo de itens e seus conteúdos, as formas
como os resultados são expressos e as formas de disseminação de seus
resultados nos sistemas educacionais. Tem-se que considerar que a prática
desses processos deveria incluir a premissa de que em seu planejamento e
implementação houvesse uma concepção, uma expectativa do valor, em
relação ao trabalho a ser desenvolvido, e não apenas a busca de resultados
pontuais, flagrantes estáticos de uma medida pré-definida em referentes
pouco claros, numa prova para a qual os alunos não têm como fazer um
preparo, por revisão, por exemplo, como é o caso para outras situações em
que provas são utilizadas (GATTI, 2007, p. 56).
123
Quando questionamos os professores sobre o resultado da avaliação ser produto da
nossa realidade, os dois professores colaboradores da pesquisa foram unânimes em afirmar
que sim, ficando evidente em suas falas, descritas a seguir
Algumas, sim, mesmo eles sem ter vontade, é a realidade. A questão das
dificuldades deles é sim, mais a falta de vontade deles é muito. Eu fico vendo
aquela questão que passa na televisão, dele escolher que vai estudar
[falando da reforma do ensino médio], eu fico pensando. Meu Deus do céu o
que eles vão estudar, eles não têm vontade (Margarida - E2).
Corresponde, [...]. É mais aquelas lá, e outras. O cara que não sabe uma
tabuada (Lírio – E1).
A professora Margarida ainda afirma que os alunos não foram preparados para a
avaliação: “Eles fizeram [...] só pra marcar x” (Margarida – E1).
Os professores colaboradores de nossa pesquisa relataram a importância da avaliação,
embora não tenham utilizado e nem analisado os resultados para o planejamento de suas
práticas pedagógicas. As avaliações podem modificar as ações dos professores ao controlar
“os objetivos, o conteúdo e até sobre os métodos da escola” (FREITAS, 2014, p. 1092).
Quando questionamos a professora Margarida sobre o diagnóstico a ser produzido, ela
relatou: “Interessante, a gente estava vendo aqui a questão do diagnóstico, principalmente
no planejamento. Que vai ser colocado, é interessante. A gente não tinha, de onde esses
alunos vêm, como que eles vêm, o que eles sabem” (Margarida – E1) (Grifo da
pesquisadora). Afirmou, ainda, que não analisaram os resultados da avaliação: “Não, não foi
olhado nada. Não foi olhado na questão da ADEPE-MT. Não foi comparada a dificuldade
que ele tem na sala de aula com a ADEPE-MT, não” (Margarida – E2).
Percebemos que, na fala da professora Margarida, um dos objetivos do PEIP não foi
efetivado, uma vez que os resultados das avaliações deveriam fazer parte do diagnóstico.
Considerando que o diagnóstico se faz ao iniciar um processo educativo, compreendemos que
a professora estava preocupada em conhecer realmente quem eram os seus alunos e quais
conhecimentos foram construídos até o momento da elaboração do diagnóstico. Segundo
Paula (2010, p 54), “é através do diagnóstico e inventário que obtemos o espectro sobre onde
direcionar nossas ações para alcançarmos nossos objetivos”, podendo constatar “[...] pontos e
aspectos que podem ser potencializadores e/ou aspectos mais limitantes e problemáticos a
serem mitigados” no processo educativo.
124
Já o professor Lírio relatou que a ADEPE-MT não pode ser utilizada como referencial
para a elaboração do projeto de intervenção pedagógica.
Eu acho que não. Eu pra mim pego as minhas referências nas minhas
avaliações, nas que eu fiz durante o bimestre. E outra, eu acompanhei eles
ali durante um ano, pra daí montar meu projeto, por exemplo, o aluno faz a
avaliação talvez no dia não está bem, às vezes é um aluno bom. Às vezes é
um aluno que só joga no bicho e acerta um monte de questão (Lírio – E1).
Ao descrever as referências que tem ao considerar a avaliação, o professor Lírio
aponta alguns aspectos que considera importante, ou seja, um deles foi que a avaliação
externa, no caso a ADEPE-MT, que não significou um instrumento de reflexão sobre o
processo de ensino-aprendizagem. Concordamos com Almeida e Darsie (2010, p. 124) ao
tratar a avaliação como uma “reflexão transformada em ação”.
Segundo Paula (2010), o professor é o responsável pelas condições da avaliação,
buscando alternativas de como se organizam as aprendizagens dos alunos para poder definir e
compreender as situações que se apresentam durante as suas ações pedagógicas.
Compreendemos que a organização, que o próprio professor busca em seu dia a dia,
faz com que as avaliações tenham maior proximidade com as aprendizagens vivenciadas no
contexto escolar, apesar de muitas situações ainda estarem voltadas para o processo de
treinamento para as avaliações,
[...] se de um lado, dispor de descritores é importante, de outro, a avaliação
de qualidade ser a eles reduzida, conduz a preocupações entre os educadores,
[...] as matrizes, as comparações e indicadores e metas propostos, sem um
questionamento mais sério de seus fundamentos, origens e pertinência, são
erigidas de modo funcional e fragmentário, em eixo das ações políticas em
educação (GATTI, 2014, p. 20).
Na realização do diagnóstico e sua sistematização, os professores colaboradores
consideraram importante o resultado da ADEPE-MT para verificar em que os alunos estão
com dificuldades. O professor Lírio explicou: “É importante porque vai pra saber onde está
nossas dificuldades, as falhas, para poder melhorar” (Lírio – E1), porém sinalizou o fato de
não ter utilizado as avaliações para o desenvolvimento de suas ações pedagógicas: “Não, não,
só olhamos no geral” (Lírio – E3). Em outro momento, quando foi questionado sobre quais
seriam os resultados que utilizaria para a sistematização dos dados, respondeu: “ADEPE-MT
e as notas do primeiro bimestre” (Lírio – E1). Afirmou, ainda, que, além da sistematização,
as ações de intervenção não são elaboradas a partir dos resultados da ADEPE-MT: “Não, é só
125
mesmo pela dificuldade dos alunos com nota baixa. Não olhei na ADEPE não. Só no
bimestre, nas notas do bimestre” (Lírio- E2).
Quando perguntado à professora Margarida sobre o diagnóstico, ela respondeu e
voltou a se referir aos estudos dos textos, demonstrando o distanciamento da realidade da
escola: “Eu acho que não mexeu com a nossa realidade, naquele momento a gente não
conseguia trazer para a nossa realidade” (Margarida – E1). Ao contrário de Lírio, a
professora Margarida declarou não saber como faria a sistematização e relatou que, nas
próprias observações em sala de aula, pode verificar quais alunos estão com dificuldades de
aprendizagem, procurando fazer o diagnóstico: “Não sei, [a professora permaneceu um
período em silêncio]. Não sei, não sei como que eu vou diferenciar, qual precisa, qual não
precisa. A gente vê no dia a dia com os alunos” (Margarida – E1).
Em relação à sistematização do diagnóstico, o professor Lírio sugeriu:
Poderia fazer um questionário, poderia perguntar quais são as dificuldades
dos alunos, em que ele está com nota baixa e matemática, se ele tem que
estudar mais tabuada, o que ele não aprendeu, se falta os conhecimentos,
senão sabe, se é interesse, se é trabalho, se é família. Fazer tipo um
diagnóstico, com mais questões relacionadas com a matemática (Lírio- E1).
Concordamos com o professor Lírio quando descreve que o diagnóstico não deveria
ser feito com base só no resultado das avalições, e sim considerar todo o processo de ensino-
aprendizagem, evidenciando que as aprendizagens não são apenas cognitivas, outros aspectos
devem ser considerados, como as emoções e o contexto em que o aluno está inserido. Para
que as aprendizagens sejam estabelecidas, os alunos precisam estar envolvidos, manifestando
vários pontos de vista sobre a necessidade e o desejo de aprender. Desta forma, seu
relacionamento com os colegas, com o professor são estabelecidos de maneira confortável.
Ao se tratar do diagnóstico, como sugere o professor Lírio, o professor deve
considerar o aluno como um todo, pois ele não é apenas um ser social, cultural ou cognitivo, e
sim uma pessoa na sua integralidade.
Embora o professor Lírio sugerisse a realização do diagnóstico com questionários
respondidos pelos alunos, que fazem parte do processo e do coletivo em que estão envolvidos
no ensino e na aprendizagem, compreendemos que as sugestões são levantamentos de dados,
de problemas, com descrição da realidade. Cabe ressaltar que o diagnóstico não é uma lista de
problemas e dados que são apresentados sem ter clareza de seu significado, sem estarem
fundamentados, pois muitas vezes não contribuem se não forem embasados nos princípios de
seleção, definidos pelo coletivo da escola.
126
Nosso sistema de ensino está em constante avaliação e, após analisarmos a ADEPE–
MT, acabamos por verificar que as avaliações externas não têm alcançado seus objetivos, pois
seus resultados não serviram como base para a mudança das ações dos professores, embora
sentissem em suas atividades pedagógicas a necessidade de buscarem apoio nos resultados
apresentados.
Verificamos que a ADEPE-MT, considerada como avaliação diagnóstica, não
observou toda a esfera em que a escola estava envolvida, pois nem mesmo o diagnóstico que
deveria ser realizado fez sentido para os professores, a fim de compreenderem a necessidade
de saberem onde estão e onde querem chegar. Porém, a avaliação esteve centrada no
rendimento escolar, seguindo um padrão, sem ser incluída no planejamento do professor.
Outro aspecto a ser considerado é que os resultados da ADEPE-MT não foram
discutidos, foram apenas deixados em exposição em cima da mesa, na sala dos professores,
sem que os mesmos e os gestores compreendessem seus resultados. Metodologicamente, a
elaboração dos itens propostos na avaliação foi baseada na “Teoria de Resposta ao Item”
(TRI), pois, segundo Gatti (2007), para fins estatísticos ela tem se mostrado eficiente. Ainda,
de acordo com a autora, que nos sugere o questionamento sobre a metodologia: “O que se
pretende avaliar é um conjunto de habilidades. Como associar essas ‘habilidades’ enunciadas
com o trabalho cotidiano de ensino, com os processos envolvidos nas aprendizagens?”
(GATTI, 2007, p. 60). O questionamento da autora nos faz refletir sobre como buscar meios
para que todos envolvidos no processo compreendam e replanejem suas ações pedagógicas
diante das avaliações externas.
Diante do exposto, concordamos com Freitas et al (2011, p. 78) que “avaliar é
promover no coletivo a permanente reflexão sobre os processos e seus resultados, em função
de objetivos a serem superados” e não um processo em que se exclui ou mesmo classificam os
alunos, considerando que, além de buscar reorganizar o planejamento pedagógico, possibilita
ao professor acompanhar as aprendizagens construídas, fazendo parte de todo o processo
pedagógico.
Nas análises, até aqui apresentadas, verificamos na narrativa dos dois professores
colaboradores, que a ADEPE-MT foi mais uma das avaliações realizadas sem considerar o
contexto escolar, embora a revista pedagógica descreva que a avaliação teve como referência
as “Orientações Curriculares de Mato Grosso” e a análise dos registros nos diários de classe
das turmas avaliadas. Entretanto, as informações não subsidiaram a reflexão, nem tão pouco
subsidiaram a elaboração de ações que atendessem as necessidades de aprendizagem dos
alunos.
127
As demais avaliações externas, como PROVA BRASIL, ANA, ENEM e os índices do
IDEB nem sequer foram anunciados pelos professores em nossas entrevistas. Portanto,
entendemos que seus resultados não fizeram parte do processo de elaboração de suas
intervenções pedagógicas e nem de seus planejamentos.
A seguir analisamos como o PEIP foi formulado, suas estratégias, compreendendo
como os professores elaboraram e acompanharam as ações de intervenção.
4.2.2 O projeto de intervenções e as ações desenvolvidas em Matemática
Ao ser instituído, o PEIP deveria ser executado pelos professores, fazendo
intervenções junto aos estudantes mediante a elaboração de um projeto com referências aos
indicadores dos resultados, a partir da análise das avaliações externas e internas, buscando
potencializar as aprendizagens dos alunos.
Nas entrevistas referentes ao PEIP, o professor Lírio demonstrou estar de acordo com
a implementação do mesmo, acreditando que ajudaria na recuperação das notas baixas:
“Então sobre esse projeto PEIP, tem que ser feito mesmo, pra ver se recupera, ver se
recupera esses alunos com nota baixa, só com projeto mesmo pra estar melhorando isso”
(Lírio – E1).
A professora Margarida descreveu a falta de sentido na elaboração do PEIP, pois,
segundo ela, constitui somente uma estratégia, sem considerar todo o processo do
desenvolvimento: “É pra fazer o projeto de intervenção, ai a gente estava comentando ontem,
de voltar a semana prêmio, porque é uma maneira de ver se estimula, se estimula aqueles
alunos que têm problema. Na maioria é nosso primeiro ano” (Margarida - E1). Ao se referir
à “semana prêmio”, a professora explicou que os alunos que atingem a nota média ficam uma
semana em casa, e os demais que estão abaixo da média participam da aula normalmente,
como se fosse uma semana de recuperação.
Ao se referir à volta de uma prática realizada anos atrás na escola, ‘a semana prêmio’,
compreendemos que a professora não se deu conta de que esse tratamento exaltaria aquele
aluno que já tem condições de aprendizagem e, os que não aprenderam, seriam punidos. Estar
na escola deveria ser o prêmio e não estar fora dela. Em uma semana por bimestre ou no final
do ano letivo os alunos que foram punidos podem também alcançar melhora na
aprendizagem. Assim, entendemos que isso não é equidade e sim uma maneira de exclusão
dentro da própria unidade escolar.
128
Diante das informações prestadas, percebemos que os professores expressaram
interesse em elaborar o PEIP na tentativa de buscar soluções para os problemas evidenciados,
como a respeito da nota baixa. Segundo Cortesão (1993), o trabalho com projetos pode ser
considerado um instrumento metodológico, que diante de uma situação problema estudada,
busca soluções, melhorando a situação em que a aprendizagem se encontra.
O projeto que deveria ser elaborado pelos professores, segundo nossas observações,
não se assemelha ao instrumento citado pelo autor, pois quando perguntei à professora
Margarida sobre a organização para a elaboração do projeto de intervenção, após um
momento, a mesma questionou: “Que projeto de intervenção”? (Margarida - E1). Na fala da
professora percebemos que havia dúvidas sobre a realização das atividades propostas pela
formação e que não estavam esclarecidas. Contudo, as observações para a elaboração do
projeto se relacionavam com as dificuldades dos alunos. Como afirma a professora
Margarida: “A gente pensou na questão dessas dificuldades dos alunos mesmo” (Margarida-
E2).
Por sua vez, o professor Lírio descreveu que o projeto deveria ser elaborado por meio
das observações realizadas em sala de aula, e continuou: “Eu acho que está tudo relacionado
em cima do professor, porque é o projeto. É o nosso planejamento que está fraco e a nossa
forma de trabalhar. Mais ainda é a avaliação” (Lírio - E1).
Na elaboração do projeto de intervenção, a Portaria 161/2016/GS/SEDUC/MT, na
página 45, estabelece uma estrutura, a qual os professores deveriam seguir. Após a greve, o
CEFAPRO encaminhou à escola um novo modelo de estrutura de projeto, para que fossem
descritos itens coletivos e individuais, específicos para cada disciplina, em que os professores
deveriam, por meio do diagnóstico, elaborar ações de intervenções, diferente do estabelecido
na Portaria nº 322/2016. Na nossa percepção, isso não condiz com a realidade vivenciada
pelos professores da Escola π, pois, nas falas citadas, o diagnóstico não foi realizado. No
entanto, a fase do diagnóstico é um processo necessário em nossas práticas pedagógicas, a fim
de organizarmos as ações durante o processo pedagógico.
Os professores realizaram a leitura do texto proposto para a elaboração do projeto,
porém, novamente o professor Lírio enfatizou que esta ação foi feita individualmente: “O da
estrutura do projeto a gente pegou os temas do projeto, com todos os segmentos certinhos,
justificativa, leu, discutiu. A leitura foi feita individual” (Lírio – E3) (Grifo da pesquisadora).
Diante dos relatos referidos, concordamos com Nacarato (2005, p. 186) quando afirma
“[...] que o trabalho coletivo – os estudos, as discussões, os planejamentos coletivos – dá ao
129
docente a segurança de que necessita para enfrentar o trabalho e, sobretudo instiga
experiências inovadoras. Mas isso não significa anular as diferenças ou a subjetividade de
cada um”.
Ao questionar os professores Lírio e Margarida sobre como realizaram o planejamento
das ações de Matemática, a serem descritas no projeto de intervenção, se reportaram à oficina
realizada pela coordenadora, em um dos dias da formação. Segundo o professor Lírio: “Nós
fizemos um quadradinho que tinha” (Lírio - E3). Igualmente a professora Margarida
descreveu a atividade, porém acreditava que a elaboração do projeto podia ser concretizada,
como afirmou: “Vai, eu acho que vai. Acho que vais se a gente pegar pra fazer realmente,
vai. Na verdade, é a última folha, que é o projeto de intervenção” (Margarida - E1).
Entendemos que os projetos de intervenção escolar vão além do preenchimento de
fichas, demandam um trabalho com objetivos claros, com desejos de fazer a diferença nas
aulas, privilegiando a aprendizagem dos alunos, pois estão “[...] associado ao reconhecimento
da importância do envolvimento dos alunos e dos professores nos processos de construção
dos saberes significativos e funcionais, isto é, de saberes que partem das situações reais e que
são transferíveis para essas situações” (CORTESÃO; LEITE; PACHECO, 2002, p. 23).
O trabalho com projetos e ações de intervenção deve ter sentido, fazer parte do
cotidiano escolar dos professores, alunos, gestão escolar e dos demais funcionários. Como cita
Veiga (2006, p. 77), “trabalhar com projeto é uma maneira de organizar o processo didático.
Trata-se de uma escolha didática”, que nos parece não ter acontecido no processo de formação
pesquisada. A portaria estabelecia que o projeto deve ser elaborado e executado com modelos
de estruturas e datas previstas que não foram cumpridas, causando um certo descompasso na
formação, considerando o período de greve dos funcionários da educação, bem como a
organização das formações para os formadores estabelecidas pela SEDUC/MT.
O projeto (não) elaborado
Apesar das várias situações apresentadas, como a falta de entendimento sobre a
elaboração e a execução do projeto, o cronograma proposto e demais situações, o grupo de
professores que participou da formação no período noturno, da qual fizeram parte o professor
Lírio e a professora Margarida, elaborou um projeto intitulado: “Despertar do saber: tecendo
conhecimento através da leitura e interpretação”. Conforme narrativa do professor Lírio sobre
a elaboração: “Foi feito lá no grupo, por partes, separamos com a Margarida pra nós ver
130
alguma coisa de matemática, mais depois juntou todos, e depois o projeto em geral” (Lírio -
E3).
Embora o professor Lírio tenha se referido às ações de intervenção de Matemática, na
elaboração do projeto verificamos apenas três objetivos específicos da disciplina descritos no
projeto geral, o qual deveria ter ações coletivas e individuais. Os objetivos são elementares,
considerando que estamos nos reportando ao ensino da Matemática no Ensino Médio, os
quais destacamos a seguir:
Alargar habilidades centradas em leitura e interpretação de mapas e
gráficos;
Aumentar aptidões de leitura e interpretação de situações
problemas;
Ampliar capacidades de resolução de problemas a partir de
situações do cotidiano (Projeto de intervenção - Grupo noturno -
Escola π).
Não encontrando nenhuma ação de intervenção mais específica em Matemática
descrita no projeto, acreditamos que sua elaboração não significou uma forma de reflexão, tão
pouco procurou atender os problemas enfrentados pelos professores em sala de aula, assim
como também não contemplou o objetivo de sua formação, nem se vinculou à realidade dos
alunos. Quando nos referimos ao ensino-aprendizagem de Matemática acreditamos que “[...] o
ensino da matemática deva considerar a historicidade da criação do conceito, a partir de
situações problemas, que possibilitem aos professores e alunos vivenciá-las como
protagonistas e não como meros transmissores e expectadores” (AMARAL; PALMA, 2015,
p. 95).
Entendemos também que os objetivos propostos no projeto de intervenção dos
professores da Escola π não buscaram articular a lógica das ideias e os conteúdos
matemáticos, segundo os eixos articuladores das “Orientações Curriculares do Estado de
Mato Grosso” (2010), que estabelecem o trabalho de maneira interdisciplinar, procurando
garantir a lógica, a valoração e o significado do aprendizado dos alunos, compreendendo o
tempo e os mecanismos de desenvolvimento, evitando, assim, a utilização de nomes
excessivos e ênfase às particularidades, mas às situações que se relacionam com as vivências
dos alunos, sem deixar de considerar os aspectos científicos.
Outra observação que nos chamou atenção foi que os objetivos do projeto foram
timidamente sistematizados nos três eixos de conteúdos matemáticos descritos nas OCs:
131
“geometria e medidas, álgebra: números e funções e análise de dados e tratamento das
informações” (MATO GROSSO, 2010a, p. 140).
Parece-nos que a formação continuada proposta não potencializou as necessidades
formativas, diante das falas apresentadas pelos professores colaboradores da pesquisa, pois,
em nossas entrevistas, as discussões não versaram sobre o desenvolvimento dos conceitos
matemáticos específicos do Ensino Médio. Com ressalva a professora Margarida cita, em
alguns momentos, os conteúdos específicos do primeiro ano do Ensino Médio. O referido
projeto foi apresentado no dia 05/11/2016, quando os dois grupos de professores, vespertino e
noturno da Escola π, se reuniram para a apresentação das atividades de intervenção
planejadas ou desenvolvidas. As apresentações iniciaram com o grupo de professores do turno
vespertino.
Em seguida começou a apresentação do grupo de professores que estão
fazendo a formação no período noturno. Explicaram que entenderam que era
para escrever um projeto em comum. Com justificativa, metodologia, com os
objetivos para atender as dificuldades dos alunos, as dificuldades, segundo
os professores eram de leitura e escrita. O nome que deram para o projeto
foi: “Despertar do saber”. A professora de português explicou que eles
discutiram que cada professor irá considerar a nota da sua disciplina para
fazer atividades diferenciadas para cada turma. Não descreveram nenhuma
atividade (ação) que iriam desenvolver ou desenvolveram (Caderno de
campo – Registro 05/11/16).
Observando a descrição acima, percebemos que os professores colaboradores não se
manifestaram durante a apresentação do projeto. Do mesmo modo, as questões específicas das
ações de intervenções não foram citadas. Outra observação é em relação ao diagnóstico, o
qual a portaria determinava que fosse realizado e ficou evidenciado que não analisaram os
resultados da ADEPE-MT.
No entanto, e como já dissemos, projectos não é apenas intenção; é também
acção, acção essa que deve trazer um valor acrescentado à situação presente
e que se concretize no futuro. Por isso, não faz qualquer sentido dizermos
que “já fizemos o nosso projecto”, quando acabamos apenas de fazer o
documento em que registramos as intenções que o orientam, os motivos que
os justificam, as atividades que estão previstas e os efeitos que esperamos
produzir. Isso é apenas uma dimensão do projecto. Para que ele produza, de
facto, os efeitos previstos (e mesmo outros que não prevíamos), há que agir,
ou seja, há que passar do plano à acção (CORTESÃO; LEITE; PACHECO,
2002, p. 25).
132
Compreendemos que o projeto não pode estar apenas descrito no papel, e sim fazer
parte das ações pedagógicas de todos os envolvidos no processo. Concordamos com os
autores Cortezão, Leite e Pacheco (2002), que os projetos não são receitas prontas a serem
aplicadas, com procedimentos determinados, mas sim a busca de respostas a cada situação
real que se apresente na escola.
No entanto, ainda em relação à elaboração do projeto, a professora Margarida
enfatizou sobre desenvolver um por turma, analisando as dificuldades por alunos.
Eu acho que vai ser um projeto pra cada turma, porque as nossas realidades
são diferentes, como o primeiro ano, tem diferença entre os dois primeiros
anos da manhã. Em relação aos primeiros anos da tarde também. [...] eu
vejo assim que no primeiro ano A, são os nossos que tem mais dificuldades,
no primeiro ano B, a questão, se eles realmente focassem. Não tem tanta
dificuldade, a dificuldade não é tão grande, é a questão do comportamento
(Margarida – E1).
Concordamos com a fala da professora Margarida, uma vez que a elaboração de um
plano de intervenção específico por turma poderia atender suas especificidades e aquelas do
aluno, desenvolvendo um trabalho em que a aprendizagem seria o foco das ações: “Optamos
pelas propostas que colocam o aluno como o centro do processo educacional enfatizando o
aluno como um ser ativo no processo de construção de seu conhecimento”. Pois, partir “do
princípio de que o aluno está constantemente interpretando seu mundo e suas experiências e
essas interpretações ocorrem inclusive quando se trata de um fenômeno matemático”
(D´AMBROSIO, B., 1989, p.16).
Embora no projeto de intervenções elaborado não houvessem ações descritas, os
professores colaboradores destacaram aquelas que foram realizadas na própria sala de aula,
criando mecanismos e buscando situações para atender os alunos que apresentaram
dificuldade de aprendizagem, criando alternativas de ensino diante das condições de trabalho
e fazendo as adaptações necessárias. A professora Margarida relatou suas preocupações e
aflições com os resultados das avaliações que realizou.
Vou voltar trabalhar contra turno com meus alunos do primeiro ano. A hora
que eu olhei aquelas notas, [...] porque eu dei quatro atividades avaliativas
e comecei a dividir por quatro, aquilo foi ficando, ai não tinha [...] chamei o
coordenador e falei: senta aqui do meu lado, me dá um auxílio, me ajuda. O
que eu faço? Ai você chama eles no contra turno [se referindo aos alunos],
veio da sala toda dos alunos que eu chamei, veio dois, três. Eles não estão
vindo (Margarida – E1).
133
A professora, ao descrever a participação dos alunos na atividade de contra turno,
relatou que os alunos não vieram participar. Parece-nos que as atividades não fizeram sentido
para a aprendizagem dos alunos, uma vez que não encontraram motivação para aprender e
participar das aulas. Assim, a atividade talvez fosse desinteressante e não motivou os alunos
para a aprendizagem.
Seguindo com a descrição das ações que realizaram, os professores elencaram os
parâmetros para a escolha dos alunos que participariam das atividades de intervenção na
disciplina de Matemática, conforme relatam.
Ahhh, ia desenvolver mais os alunos que estavam assim, por exemplo, que
têm dificuldade, que não conseguiu a média. Olhando na nota dos bimestres
que estiver com nota baixa, com média cinco, com média seis (Lírio – E2).
Não sei como que eu vou diferenciar qual precisa, qual não precisa. A gente
vê no dia a dia com os alunos. Eu pensei na questão [...] a gente só
trabalhou, com essa correria, só conseguiu trabalhar o primeiro ano, os
outros a gente não conseguiu trabalhar. E no primeiro ano eu pensei
naqueles alunos que via na sala de aula que tinha os problemas, as
dificuldades (Margarida - E2).
Em nosso entendimento, o projeto de intervenção deve ser uma proposta metodológica
realizada no coletivo, com professores e alunos, como também com os demais funcionários,
pois “tem que ver com um trabalho que se elabora em conjunto, crescendo com contribuições
e atividades por vezes muito diversificado” (CORTESÃO; LEITE; PACHECO, 2002, p. 23).
Desta forma, a análise das necessidades formativas e de aprendizagens tem de buscar
[...] os conhecimentos que os alunos já têm e os que ainda não têm sobre o
problema ou tema, levanta as expectativas e define conjuntamente os
objetivos do projeto. Convém ainda estabelecer uma série de
hipóteses/indagações que devem ser respondidas; especificar o fio condutor
do projeto para além dos aspectos informativos e instrumentais; selecionar e
organizar os conteúdos, atividades e fontes de informação, bem como fazer
uma previsão dos recursos didáticos e tecnológicos necessários ao
desenvolvimento do projeto e adequar a proposta de avaliação aos
pressupostos do projeto de ação didática (VEIGA, 2006, p. 79-80).
Assim, percebemos que essa etapa da formação continuada não foi contemplada, pois
o diagnóstico não foi realizado. Os professores Lírio e Margarida utilizaram suas próprias
observações durante as aulas, não utilizaram os resultados das avaliações externas,
principalmente a proposta pela SEDUC/MT, e sim as notas bimestrais, considerando a média
estabelecida pela escola.
134
Acreditamos que se todos fossem envolvidos no processo, tanto alunos como
professores, a estratégia poderia ser uma alternativa para anemizar as dificuldades
encontradas pelos professores em trabalhar com os alunos que estão em dificuldade de
aprendizagem. Concordamos com os professores que as suas observações durante as aulas
poderiam ser potencializadoras na construção de estratégias de intervenções, em que os
conteúdos curriculares “são vistos como instrumentos necessários para a compreensão e
intervenção da realidade estudada em um contexto que lhes dá sentido” (VEIGA, 2006, p.
80). Ainda, que a interação na realização do projeto
[...] está associado ao reconhecimento de que a qualidade do ensino e a
capacidade de corresponder aos problemas do dia-a-dia passa pelo
envolvimento das escolas e dos seus agentes em planos que trabalhem esses
problemas e que, por isso, criem condições para uma formação, com sentido,
para todos (CORTESÃO; LEITE; PACHECO, 2002, p. 23).
O professor Lírio, em nossas conversas, destacou que pretendia realizar as ações de
intervenção observando “as avaliações e as atividades” (Lírio – E1), buscando implementar
atividades diferenciadas: “Então, penso em fazer as aulas diferenciadas. Partir de uma
maneira mais simples. Outro caminho, não o que a gente está fazendo, fazer alguma coisa
assim, pra ver se torna mais fácil pra eles, a aprendizagem deles” (Lírio – E2). Contudo, o
professor citou que a sua intenção foi realizar atividades mais simples, porém não descreveu
como foram e que pretendia realizá-las “no horário de aula, porque o pessoal do noturno não
tem como, [...] É uma aula só na semana” (Lírio - E2). Porém, declarou que não desenvolveu
nenhuma das atividades que havia discutido com a professora Margarida“[...] então, aquelas
atividades. Eu mesmo não passei nenhuma” (Lírio – E2). Após voltar das férias de dezembro
e retornar às atividades escolares em janeiro, devido à reposição da greve, o professor afirmou
novamente: “Não sei se a Margarida fez, mais eu não fiz. Não fiz ainda não. Agora que eu
vou desenvolver, por exemplo, esse primeiro ano, está vindo quatro a cinco alunos, mas todos
eles têm a dificuldade, [...] Então eu já vou passar logo pra todo mundo” (Lírio - E2).
A intenção do professor era desenvolver as atividades diferenciadas, citadas por ele
anteriormente, contudo surgiu outro empecilho, os alunos não estavam presentes em
decorrência da reposição de aulas serem em janeiro. Por fim, relatou
É, eu mesmo não tinha feito nenhuma intervenção e nem fiz ainda, e nem
vou fazer [risos]. Deixar para o ano que vem. Mais fizeram várias
atividades, nas outras disciplinas, só que também não foi assim, bastante
135
resultados. Eu não vi nenhum resultado, se foi positivo se foi negativo (Lírio
– E3).
A fala do professor revela que a elaboração das ações de intervenções e a execução
das mesmas não fizeram sentido para a sua prática pedagógica, uma vez que trabalhou as
aulas dentro de seu próprio planejamento de Matemática e parece-nos que não houve o
envolvimento dos professores. Compreendemos que a formação deve “ajudá-los a se tornar os
principais protagonistas de seu desenvolvimento profissional e do processo educacional a
medida que participam da construção dos conhecimentos do trabalho docente [...]”
(FIORENTINI; LORENZATO, 2005, p. 9).
A formação realizada na escola orientava que o PEIP, por meio dos resultados das
avaliações, deveria nortear as necessidades de aprendizagens e identificar problemas a serem
resolvidos com intervenções em sala de aula. Neste sentido, compreendemos que o processo
de formação continuada pouco potencializou a formação, nem tão pouco teve relevância as
proposições de elaboração do projeto de intervenção. Conforme Cortesão, Leite e Pacheco
(2002, p. 59), um projeto deveria “mobilizar e integrar conhecimentos práticos específicos e
também gerais adquiridos pelos alunos [...], esse projecto poderá oferecer oportunidade de
reforçar uma aproximação a contextos reais”.
Ações de intervenção: professora Margarida
Em nossas conversas, a professora Margarida relatou algumas ações de intervenção
que desenvolveu durante o ano letivo, porém, não estavam descritas no projeto elaborado
juntamente com o grupo de professores que participaram da formação no período noturno. Ao
realizar observações em sua sala de aula, principalmente das turmas de primeiros anos, a
professora relatou o trabalho com os alunos no contra turno, com aulas de reforço e, além
dessas atividades, utilizou “o bingo” e o “dominó de tabuada”, pois, segundo ela, muitas
vezes os alunos não têm interesse em aprender ou têm dificuldades em aprender certos
conteúdos.
Quando nosso diálogo versou sobre as dificuldades dos alunos, indagamos quais eram.
Porque se você sabe a matemática básica você consegue. Que nem
potenciação, eles estão lá na função exponencial. Pra saber função
exponencial você tem que saber potenciação, pra saber potenciação você
tem que saber multiplicação, [...] Função exponencial, se ele não sabe
136
multiplicação, fazer o quê? Se eles não sabem quanto que é 2 vezes 10.
(Margarida – E1).
Ainda relatando sobre o conteúdo que estava trabalhando, a professora buscou realizar
uma atividade diferenciada, que considerou como uma intervenção diante da situação em que
se encontrava a turma,
[...] agora eu cheguei na função exponencial, se eles não sabem a
multiplicação, a tabuada essas coisas como eu vou explicar pra eles o que é
função exponencial. Hoje eu trabalhei, [...] a questão da tabuada, não é
interessante ficar tomando tabuada? Não é. Só que com eles vou ter que
fazer pra ver se eles conseguem adquirir esses conhecimentos. A gente tem
aquele dominó de tabuada, separei eles em grupo, tinha uma aula só, [...]
eles ficaram jogando, daí eu expliquei de mesa em mesa como que era o
processo. - Professora é só isso? - É só isso. Pensa numa aula que flui
assim. Falei pra diretora, a gente vai ter que fazer alguma coisa
diferenciada, pelo menos uma vez na semana (Margarida – E1).
Outra atividade desenvolvida pela professora Margarida foi o “bingo de tabuada”, com
que tentou amenizar as dificuldades da multiplicação. Em nosso caderno de campo, anotamos
como a professora descreveu o processo da confecção das cartelas até a execução da
atividade, nos mostrando o registro em folhas de caderno, que pediu que os alunos fizessem
antes de marcar o resultado da multiplicação na cartela. Observamos que as operações de
multiplicação eram com números do conjunto dos números naturais até dez. Percebemos que
a professora evidenciou a multiplicação (tabuada) como um instrumento de memorização.
Neste contexto, consideramos a atividade por ela proposta empobrecida, acreditando que a
memorização não oportunizará aos alunos construírem os conceitos e terem claros os
princípios fundamentais da multiplicação. Considerando que a atividade desenvolvida foi
com alunos do primeiro ano do Ensino Médio, essa atividade se tornou elementar em se
tratando dos conteúdos específicos para a etapa.
Ao descrever a aula de reforço a professora Margarida nos relatou que o convite aos
alunos para participação das aulas foi realizado verbalmente, porém nem todos estiveram
presentes. O principal problema descrito pela professora foi o horário das aulas, pois os
alunos são trabalhadores, moram na zona rural e utilizam o transporte escolar: “O horário e o
horário deles também, porque como os dois, que nem o A e B moram no sítio. [...] E eu com
um monte de aula também” (Margarida - E2). Vieram participar da aula de reforço,
realizado no período noturno, dois alunos. “Os alunos vieram a noite, o aluno A e o B. O
aluno A tem muita dificuldade, ele fala pra mim que ele tem muita dificuldade, como eu
137
trabalho com ele biologia e matemática, eu sei que como biologia é texto, leitura e tem as
questões, ele faz tranquilo, mas no cálculo” (Margarida – E3).
Quando os alunos participaram da aula de reforço, segundo a professora, conseguiram
compreender o conteúdo que estava sendo trabalho na sala de aula, embora fosse a revisão das
atividades relacionadas à resolução de equações do primeiro grau, como observamos na figura
a seguir.
Figura 18 – Atividades da aula de reforço aluno A
Fonte: Arquivo da pesquisadora
Acreditamos que o professor é parte integrante do processo de ensino-aprendizagem,
uma vez que pode determinar as características e ritmos de aprendizagem de cada aluno.
Assim, ao elaborar seu plano de aula específico, precisa analisar se as ações que vai
desenvolver são atividades que buscam superar as dificuldades de aprendizagem dos alunos.
Compreendemos que a organização desse trabalho pedagógico necessita ter uma forma
diferenciada, não consistir apenas em uma mera repetição ou execução das aulas sobre
conteúdos não aprendidos. Concordamos com Vasconcellos (2008, p. 82), que salienta,
138
Recuperar aprendizagem não é “repetir a explicação” (mera reiteração do
discurso e das estratégias); trata-se de conceber e organizar situações que
favoreçam a efetiva construção do conhecimento; é procurar outras formas
de abordagem do mesmo assunto/conceito junto ao aluno. È trabalhar a
partir de onde o aluno está (e não de onde se gostaria que estivesse...); é
ajudar o aluno a se reintegrar no processo de aprendizagem, respeitando o
seu ritmo e suas experiências de vida adequando os conteúdos e métodos
aos seus estágios de desenvolvimento (Grifo do autor).
Os alunos quando estavam com a professora Margarida na aula de reforço, segundo
sua narrativa, conseguiram entender e realizar a atividade: “[...] foram dois dias que eles
vieram a noite comigo. Ai eles falaram: “- Mais era só isso professora que era pra fazer”?
(Margarida - E3). Com base nessas informações não podemos afirmar que realmente os
alunos tenham construído o conceito do conteúdo trabalhado.
A professora citou alguns alunos que considerou terem dificuldades de aprendizagem
e serem repetentes na disciplina, porém os mesmos não vieram participar das aulas de reforço,
“Não sei se só trabalhar o contra turno vai resolver” (Margarida – E3).
Outra situação elencada pela professora é a mudança que os alunos do primeiro ano
passam ao entrarem no Ensino Médio, quando comparados com os alunos das demais séries,
por estarem acostumados com o sistema de ciclo no Ensino Fundamental, “[...] já conseguem
ver que eles precisam disso pra chegar a algum lugar, agora do primeiro não, eles ainda
estão assim, estão no oitavo ano, nono ano, fácil passar, eles estão vindo do ciclo, nossa
maior mudança” (Margarida - E1).
O professor Lírio relatou que as aulas de reforço deveriam ser repensadas, pois podem
comprometer as horas atividades dos professores, pois outros professores, como a professora
Margarida, estavam desenvolvendo essas aulas.
Já tem professor que já está fazendo, pra sanar essas dificuldades, só que
acho que a carga horária do professor? Onde que está o planejamento?
Preparar sua aula? Dar o teu tempo de estar lançando diário eletrônico e
tudo. Você vai ter que tirar, e a gente que dez horas atividades, duas horas
deve ser com aluno, reforço, contra turno. E se colocasse no projeto que tem
que ter aula de contra turno, vai ter que especificar bem, quantidade, se é
uma só, no máximo duas porque não tem como. [...] de repente vamos ter
que dar dez horas de contra turno, toda a carga horária. Então tem que
cuidar pra não ser um tiro no pé. No meu caso eu tentei recuperar ele em
sala mesmo, eu passo algum exemplo só, algum conteúdo, e fazendo revisão.
Daí já tem que ser a avaliação que está em cima (Lírio – E1.)
139
O professor Lírio pareceu estar consciente sobre a importância da realização de uma
atividade para superação das dificuldades dos alunos. Entretanto não concordou com as aulas
de contra turno, apontando a importância dos planejamentos, dos planos das aulas.
[...] uma vez diagnósticas eventuais dificuldades de aprendizagem em
matemática, torna-se possível a elaboração de mediações, de forma que
alunos antes considerados “fracassados” em determinados conteúdos sejam
auxiliados a estabelecer uma nova compreensão, culminando em sua
aprendizagem (ALMEIDA, 2017, p. 51).
Nesse contexto, entendemos que os alunos têm seu tempo para aprender e cabe ao
professor acompanhar o processo. Como descreve Vasconcellos (2008), o direito do aluno de
aprender o essencial na sala de aula, pois nela as dificuldades devem ser superadas, tomando
cuidado para não “estigmatizá-lo ou rotulá-lo (nem deixar que rotulem) em função de suas
dificuldades” (VASCONCELLOS, 2008, p. 83).
Descrevemos, a seguir, como os professores colaboradores da pesquisa acompanharam
e registraram as ações desenvolvidas na etapa da elaboração e execução do PEIP.
Registro e acompanhamento das intervenções
Os registros e o acompanhamento das intervenções em nossas práticas pedagógicas se
fazem necessários uma vez que norteiam a direção do trabalho pedagógico, proporcionando
reflexões sobre o processo.
Segundo Paula e Darsie (2015, p. 194), “os objetivos traçados para a Educação
Matemática devem convergir para o desenvolvimento do pensamento matemático dos
indivíduos” e quando estamos trabalhando projetos com alunos, “nossa reflexão deve ser no
sentido de identificar aspectos indicativos desse desenvolvimento, se ele está ocorrendo, como
está ocorrendo; caso contrário, detectar quais fatores o estão dificultando e em que sentido”.
Desta forma, buscamos apresentar como os professores colaboradores da nossa
pesquisa registraram e acompanharam as ações de intervenções.
Embora o professor Lírio tenha narrado que não realizou as ações de intervenção,
destacou como pretendia realizar esses registros, “[...] eu não fiz nenhuma intervenção, [o
professor sorria], tem que ver nas atividades resolvidas, que no decorrer da aula eu sei como
é que eles resolvem. [...] olhando nos cadernos” (Lírio - E2).
140
Quando perguntamos ao professor sobre como seria o acompanhamento dos alunos,
sua resposta deixou claro, novamente, que ainda não tinha realizado as ações de intervenções
específicas do PEIP.
Que eu vou atender [o professor demonstra dúvida na realização da
atividade], eu tenho que marcar separado, certinho no caderno, aula de
intervenção, pra marcar certo. Que dia que foi, quem foi os alunos que
estavam. Marca no caderno e depois pede pra eles assinar (Lírio - E2).
Quanto à avaliação das atividades, o professor relatou: “Vai ter que ver as atividades
que ele está fazendo no decorrer, avaliando através das atividades e fazer uma avaliação
escrita, com nota tudo certinho” (Lírio - E2).
Na entrevista com a professora Margarida, percebemos que o registro das atividades
de reforço foi em uma ficha, assinada pelo aluno e pelo coordenador. “Naquela tabelinha e no
sistema também, lancei lá no sistema que eu chamei alguns alunos pra estar vindo no contra
turno, lá no diário tem, dependendo da página que imprimir, tem” (Margarida - E2).
Figura 19 – Ficha de acompanhamento da Professora Margarida
Fonte: Arquivo da pesquisadora
Quando perguntamos sobre como avaliaria o rendimento das aulas do contra turno e
das demais atividades desenvolvidas, a professora Margarida afirmou sobre o aluno A: “Ele
tem muita dificuldade, eu não sei como que vai ser, como que tem que fazer pra ele, porque
[...] é muito grande a dificuldade em relação à matemática” (Margarida - E2). Ao perguntar
como avaliaria o rendimento, a professora não respondeu quais seriam as estratégias, e sim
evidenciou novamente a dificuldade do aluno.
141
Constatamos que algumas reflexões precisam ser consideradas no processo de
formação continuada, ou seja, fazer com que os professores reflitam sobre como o aluno
poderá aprender por meio de ações pedagógicas individuais e coletivas com seus pares.
Assim, entendemos que o projeto de intervenção é uma ação didática que deve ser realizado
no coletivo. Concordamos com Cortesão, Leite e Pacheco (2002, p. 24).
Um projecto é um estudo em profundidade um plano de acção sobre uma
situação, sobre um problema ou um tema. Distingue-se de uma atividade
tradicional e isolada de ensino-aprendizagem pelo sentido que possui, pela
intencionalidade que o orienta, pela organização que pressupõe, pelo tempo
de realização que o acompanha e pelos efeitos que produz.
De modo geral, as falas dos professores colaboradores da pesquisa nos mostraram que
a elaboração e execução dos projetos de intervenção no processo de formação necessitam de
maiores discussões, com objetivos claros a serem atingidos a partir das necessidades
formativas apresentadas pelos professores, considerando o contexto escolar.
Ao sintetizar as reflexões sobre a elaboração e execução do PEIP, compreendemos que
os professores realizaram as atividades como imposição estabelecida pela Portaria nº
161/2016, como parte do processo da formação continuada, sem terem esclarecidos os
objetivos e nem tão pouco, de forma significativa, as práticas pedagógicas e de formação.
Percebemos que a realização das atividades propostas na formação, muitas vezes, foi o
preenchimento de fichas, com estruturas predeterminadas das atividades, sem que fossem
consideradas um instrumento metodológico para possíveis mudanças das práticas
pedagógicas, com o objetivo de superar as dificuldades encontradas na sala de aula.
Compreendemos que, ao elaborar as ações dos projetos de intervenções, as mesmas
deveriam ampliar as aprendizagens dos alunos. As ações de intervenção realizadas pela
professora Margarida demonstraram sua preocupação em atender os alunos que apresentavam
dificuldade de aprendizagem. Da mesma forma, o professor Lírio, mesmo sem ter realizado as
ações de intervenção, buscou atender seus alunos durante o período de suas aulas.
Pareceu-nos não haver o envolvimento dos professores, pois compreendemos que
realizaram as atividades baseados em seu próprio planejamento de Matemática, sem a
realização do diagnóstico proposto pela formação.
Destacamos que as atividades, realizadas pela professora Margarida, nos pareceu
elementares para alunos do Ensino Médio, no caso do “bingo de tabuada” e do “dominó de
multiplicação”. A descrever as aulas do contra turno (reforço), percebemos a não participação
dos alunos, pois segundo a professora todos eles foram convidados a participar. Portanto,
142
compreendemos que possivelmente essa aula é apenas a repetição das explicações e
atividades trabalhadas em sala de aula, sem serem motivadoras para buscar amenizar as
dificuldades de aprendizagem.
Assim, entendemos que o professor é parte integrante do processo de ensino-
aprendizagem, cabendo-lhe levar em conta as características e ritmos de aprendizagens dos
alunos ao organizar o trabalho pedagógico, e essencial não serem rotulados nem
estigmatizados, em função de suas dificuldades, como propôs Vasconcellos (2008). Também
os registros do acompanhamento do desenvolvimento do pensamento matemático dos alunos
se fazem necessários para guiar as novas ações a serem propostas na sala de aula.
Analisamos, a seguir, quais foram as expectativas e a avaliação dos professores em
relação à formação realizada, apresentando os relatos dos professores colaboradores da nossa
pesquisa.
4.2.3 Avaliação dos professores sobre o processo de formação
No texto, a seguir, nossa atenção se volta para as expectativas e avaliações dos
professores acerca da formação. Temos o objetivo de compreender se os estudos, a elaboração
e desenvolvimento do projeto de intervenção buscaram atender as necessidades de
aprendizagem diagnosticada na disciplina de Matemática, bem como as suas próprias
aprendizagens no processo de formação.
O professor Lírio, referindo-se à formação, destacou: “Deu uma parada pra refletir, é
difícil ensinar quem não quer aprender né, na maioria não tem interesse e não quer
aprender” (Lírio - E1) (Grifo da pesquisadora).
O professor salienta a reflexão no processo de formação e a dificuldade encontrada em
sua sala de aula. Segundo Darsie e Carvalho (1998), no processo de formação a reflexão tem
se revelado essencial na construção dos conhecimentos teóricos e dos conhecimentos práticos.
Neste sentido, acreditamos que no processo de formação continuada o professor, ao buscar
reflexões, tem consciência da necessidade de continuar aprendendo, e concluímos que o
depoente considerou importante o tempo destinado à formação.
A professora Margarida a respeito da formação instituída, ficou alguns instantes em
silêncio antes de falar. Referiu-se à questão da dependência do aluno na disciplina de
Matemática como um dos problemas em relação à formação estabelecida pela SEDUC/MT.
143
[Silêncio] De verdade! De verdade! Eles querem que os alunos passem. Sem
aprender nada. A dependência. O cidadão pode fazer dez dependências, e
tem que ser aprovado... [...] a fala do cidadão lá, da SEDUC/MT, o aluno
tem que ser aprovado... e agora vem lá, a gente tá lá, com aquelas notas
lindas. O que que eu fiz com meu aluno? Ele não pode ficar com aquela
nota... E aí ele vai ter que vir para contra turno, tem que dar recuperação...
para que ele passe, aí vem aquela prova linda maravilhosa da ADEPE-MT
(Margarida - E1).
Nas declarações da professora, podemos perceber que, ao invés de responder sobre
como entende o processo de formação do PEIP, nem sequer descreveu seu objetivo. Relatou
outros problemas que a escola precisa solucionar, um deles relacionado às “dependências”24
dos alunos, pois, a escola recebeu orientações da SEDUC/MT para sua organização.
Ainda versando sobre a ADEPE–MT, a professora Margarida nos parece não
concordar com a avaliação.
Em relação às expectativas sobre a formação, a professora relatou: “Do PEIP”? Ela
sempre nos questionava, para após responder: “Que conseguisse nos mostrar um caminho. E
até agora eu não consegui achar esse caminho, ainda não... porque a gente está em uma
realidade... Eu não consegui encontrar o caminho” (Margarida - E1) (Grifo da
pesquisadora).
Ao relatar a realidade vivenciada, percebemos que a professora retratou a formação
estabelecida distante daquela que deveria ser desenvolvida na escola. Como destacamos
anteriormente, a escola como local de formação faz todo sentido, pois é nela “onde surgem e
se podem resolver a maior parte dos problemas de ensino” (GARCIA, C.; 1999, p. 171). Estar
em processo de formação no próprio ambiente de trabalho proporciona refletir sobre as
práticas pedagógicas, oportunizando buscar soluções para possíveis problemas de
aprendizagem encontrados.
Segundo Imbernón (2016), a formação na escola se concretiza com a elaboração de
projetos que traduzam a cultura da organização a fim de relacionar as perspectivas internas e
externas da comunidade escolar, pois quando as pessoas “estão próximas de seu trabalho têm
uma melhor compreensão do que se requer para melhorá-lo. Se os professores tiverem a
possibilidade, podem desenvolver propostas que melhorem as instituições educacionais e o
ensino” (IMBERNÓN, 2016, p. 152-153).
24 Disciplinas que os alunos poderão cursar no ano seguinte, através da matrícula de progressão parcial, no caso
de não aprovação das mesmas, não excedendo 4 disciplinas.
144
A expectativa do professor Lírio sobre a formação está relacionada com atividades
prontas, com algumas possíveis mudanças de acordo com as necessidades da escola, porém
pertinente aos conteúdos específicos para serem desenvolvidos em sala de aula. Desta forma,
o professor se manifestou:
Eu pensava que ia ter um projeto já, pronto. Ia ter um projeto pra gente
estudar, mudar alguma coisa e aplicar em sala, com atividades relacionadas
com os conteúdos, na portaria... Um projeto, planejamento, eu achava que
já vinha prontinho assim, para mudar umas coisinhas... aplicar aquilo em
sala (Lírio - E1).
Diferente da professora Margarida, a expectativa do professor Lírio em relação à
formação era de uma proposta pronta, portanto não seria protagonista do processo de
formação, pois não seria desencadeada a partir da necessidade formativa dos próprios
professores, bem como das problemáticas elencadas pela escola. Porém, parece-nos ter
destacado atividades com os conteúdos específicos da disciplina de Matemática, embora não
deixasse claro sua posição nas narrativas que registramos.
De acordo com Nóvoa (1995, p. 28) os professores são os mobilizadores dos saberes
no exercício de sua profissão.
Os professores têm de se assumir como produtores da ‘sua’ profissão [...] da
mesma maneira que a formação não se pode dissociar da produção de saber.
[...] As escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores; e
estes não podem mudar sem uma transformação das instituições em que
trabalham (Grifo do autor).
Acreditamos que a produção dos saberes proporciona aos professores maior autonomia
diante do fazer pedagógico, podendo relacioná-lo diretamente com a formação continuada.
Durante a formação, ao discutir com o coletivo, os professores podem relacionar suas
experiências, os saberes construídos produzem significados a partir do grupo em que estão
inseridos, destacando os estudos específicos da Matemática.
Muitos são os questionamentos em relação à disciplina que constitui importante área
de conhecimento da Educação Básica. Ao nos referirmos à Matemática no Ensino Médio, o
processo de formação dos professores ainda precisa ser repensado, pois em nosso referencial
teórico inicialmente apresentado, nos reportamos às formações dos professores de Matemática
no Ensino Médio, no CEFAPRO/Alta Floresta, no qual a Escola π é atendida. Encontramos
quatro formações específicas em uma década e, apenas uma delas com carga horária maior,
pois foi oferecida pelo governo federal.
145
Quando questionado as formações de Matemática específicas para o Ensino Médio,
Professor Lírio pareceu demonstrar sua necessidade: “Vixi, não temos formação, específica
para o ensino médio...”(Lírio – E1). Ficando alguns momentos em silêncio, completou,
“Ahhh ajuda, ajuda mais..., um pouco, não é muita coisa não” (Lírio – E1).
Da mesma forma a professora Margarida relatou a respeito das formações dos
professores de Matemática para o Ensino Médio. Antes de responder ficou em silêncio,
parecendo demonstrar dúvidas.
Qual? Desse ano? A única coisa que teve foi o Pacto, de formação na
matemática, continuada, porque esse ano a gente está falando sobre o
planejamento. Eu e a outra professora, a gente estava comentando porque
teve um curso que fomos, que foi aquela do fenômeno (Margarida - E1).
Os professores entrevistados confirmam o reduzido número de formações oferecidas
para os docentes de Matemática, pelo CEFAPRO/Alta Floresta, conforme apresentamos na
pesquisa. Na última década, dentre vinte e duas formações elencadas, somente quatro delas
foram relacionadas com a Matemática a ser ensinada no Ensino Médio.
Em nossas conversas, o professor Lírio expressou quais seriam seus anseios sobre o
que precisaria estudar nas formações.
É o planejamento, ver direito, mais tem que .... focando mais. Sabendo os
porquês. Porque o aluno não tira nota, porque tem que estar revendo tudo
isso aí, porque está assim, porque o aluno foi mal, o que faltou, o que vou
deixar de fazer, no planejamento e na minha forma de avaliar ele (Lírio –
E1).
Em outro momento declarou, “Precisava ser diferente” (Lírio – E3). As palavras do
professor expressam que o modelo de formação instituído pela portaria, para o ano de 2016,
não supriu as necessidades formativas e, como sugestão, mencionou que poderiam“[...] já
partir para montar um projeto, metodologia. Achar uma metodologia, por exemplo” (Lírio –
E3). Segundo sua fala, compreendemos que os encaminhamentos assumidos durante o
processo de formação, destacando os específicos de Matemática, não estavam presentes.
D´Ambrosio (2005, p. 20) afirma que “Talvez a maior dificuldade inerente à formação
de professores seja a determinação do conteúdo necessário para que se obtenha o melhor
desempenho possível”.
Segundo Mizukami (2005), as perspectivas dos processos formativos de professores,
em determinado contexto, devem enfatizar três eixos essenciais como base do conhecimento
para a docência:
146
a) os alunos, seus processos de desenvolvimento e seus contextos
socioculturais, o que envolve conhecimentos sobre aprendizagem,
desenvolvimento humano e aquisição e desenvolvimento da linguagem; b) a
matéria que os professores ensinam e o currículo em face de objetivos
educacionais mais amplos e c) o ensino de diferentes matérias, de
diferentes alunos, de formas de avaliação e de manejo de classe
(MIZUKAMI, 2005, p. 215-216) (Grifos da autora).
Se observarmos as considerações da autora e as compararmos com a proposta de
formação estabelecida pela SEDUC/MT, compreendemos a preocupação do professor Lírio
em buscar uma forma diferenciada de conteúdos na formação, buscando novos conhecimentos
e contextos a serem mobilizados: “Eu acho assim, alguma coisa tem que ser feito pra
melhorar, mais eu acho que esse projeto aí, não. Os encontros pra mim não valeu pra nada,
foi tempo praticamente perdido” (Lírio – E3).
Percebemos na fala do professor que ele considera a formação como um momento
importante dentro da profissão, porém, da maneira que o PEIP foi proposto, pareceu não ter
alcançado os objetivos pretendidos.
Concordamos com Gatti e Barreto (2009) que a motivação do professor deve ser
considerada na implementação das mudanças e nas produções das práticas educativas, sendo o
professor o protagonista nos projetos de formação continuada.
Outra afirmação da professora Margarida, quando a formação estava acontecendo após
o período de greve, no ano de 2017, e as portarias para atribuições do ano letivo de 2017 já
estavam publicadas, merece ser contemplada: “Quando eu descobri quando não tinha mais
pontuação para interino me deu vontade de sumir, correr no mundo com aquele negócio, ai
ficou o Lírio sozinho” (Margarida – E2). Podemos perceber que a professora participou da
formação com interesse na certificação, sem ressaltar a importância da construção dos
conhecimentos e, nem tampouco, a formação levou “a analisar o que aprendemos e o que nos
falta aprender” (IMBERNÓN, p. 2010, p. 23).
Em síntese, podemos concluir que as reflexões na formação continuada não emergiram
das necessidades dos professores, nem sequer o processo, como realizado, foi essencial para a
ampliação da construção dos conhecimentos teóricos e práticos, pois as ações foram pré-
determinadas.
Um dos aspectos que consideramos importante foi o tempo destinado à formação, pois
notamos que em conversas informais com os professores a organização relacionada com o
tempo por eles não pode ser atendida, e sim a organização do tempo destinado pela portaria.
147
Os professores Lírio e Margarida demonstraram em suas falas não terem clareza dos
objetivos da formação continuada proposta. Em vários relatos sobre quais eram suas
expectativas em relação à formação, destacaram as necessidades formativas dos professores,
os quais ansiavam em encontrar um caminho para a solução das situações problemas
enfrentadas na sala de aula.
Novamente reafirmamos a escola como local apropriado para a formação continuada,
pois é no ambiente de trabalho que podemos refletir sobre as práticas pedagógicas, buscando
solucionar os possíveis problemas apresentados e, juntamente com todos os profissionais da
escola, tomar decisões referentes à comunidade na qual está inserida, considerando sua
construção social e histórica.
Ao divergirem no que diz respeito à formação proposta, a professora Margarida,
descreve que a mesma deveria levar o docente a encontrar um caminho, o que não aconteceu;
o professor Lírio, porém, supunha que a formação traria ações prontas. Percebemos que
nenhuma das respostas contemplou a necessidade formativa dos professores, pois deixariam
de se afirmar como protagonistas e autores de sua formação.
Compreendemos também que, ao não fazer sentido e atender as necessidades dos
professores, a formação não deu autonomia, nem considerou as experiências e saberes já
construídos por eles com respeito à Matemática no Ensino Médio. O levantamento que
realizamos e apresentamos no início da dissertação demonstrou que as formações continuadas
para professores de Matemática do Ensino Médio têm sido deficitárias.
Os professores consideram que a formação continuada é um momento importante na
profissão docente, porém a maneira como o PEIP foi instituído, pareceu-nos não ter alcançado
os objetivos, pois as atitudes, motivações e o protagonismo dos professores não foram
considerados na proposta. Assim, o importante no processo de formação continuada é o que
aprendemos, construímos e como iremos demonstrar durante nossa atuação como
profissionais nos processos pedagógicos, relacionando-os de maneira direta com a
aprendizagem dos alunos.
148
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na presente pesquisa investigamos como os professores de Matemática do Ensino
Médio, de uma escola estadual, localizada no município de Paranaíta, compreendem e
encaminham o “Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica” (PEIP), estabelecido pela
Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso.
A partir da problemática formulada, consideramos importante analisar quais foram as
percepções dos professores acerca dos estudos propostos na formação continuada;
compreender como as avaliações externas e internas nortearam a elaboração das ações de
intervenção dos projetos e seus significados no processo de formação; identificar se os
estudos específicos foram desenvolvidos e avaliados pelos professores a fim de atender as
necessidades de aprendizagem diagnosticadas na disciplina de Matemática; conhecer quais os
dilemas, conflitos e aprendizagens foram manifestados pelos professores no desenvolvimento
da formação continuada.
Na produção de dados, que ocorreu no período de agosto de 2016 a janeiro de 2017,
utilizamos os seguintes instrumentos: questionários de caracterização da escola e dos
professores, documentos escolares (registros das avaliações, documentos produzidos durante a
formação, planejamento anual de matemática) e entrevistas semiestruturadas divididas em três
momentos durante o processo da formação, que foram gravadas e transcritas. Como
procedimento, recorremos às observações que foram descritas no caderno de campo.
A partir da leitura dos dados e análise, optamos por dividir as nossas considerações em
duas etapas: 1) Aspectos da proposta de formação através das portarias nº 161/2016 e nº
322/2016; 2) O processo de formação desenvolvido na Escola π.
Foi necessário analisar os aspectos de formação de duas portarias devido à alteração
da Portaria nº 161/2016 pela nº 322/2016, em decorrência da greve no ano vigente.
A formação proposta pela SEDUC/MT, instituída pela Portaria nº 161/2016,
caracteriza-se como projetos experimentais da “Política de Formação e Desenvolvimento
Profissional”, a qual incluiu todos os profissionais da Educação Básica, contudo não
estabeleceu estudos coletivos entre os mesmos. A formação dos profissionais técnicos e
apoios administrativos foram realizadas através do projeto de formação contínua específica
para os mesmos, com características próprias, não mais como era realizado o “Projeto Sala de
Educador”, em que os espaços de formação eram construídos coletivamente, buscando o
comprometimento de todos os profissionais e com momentos de estudos específicos. Desta
149
forma, a formação foi destinada no PEIP para os docentes, e o projeto de “Formação Contínua
dos Profissionais Técnicos e Apoio Administrativos Educacionais” – PROFTAAE, para os
demais funcionários da unidade escolar.
A Portaria nº 161/2016 foi publicada no Diário Oficial do dia 14 de abril de 2016, nº
26758, com oito artigos e um anexo único, conforme descrito inicialmente na dissertação,
sendo a certificação computada segundo a participação efetiva dos professores, obedecido o
cronograma elaborado pela escola. A Portaria nº 322/2016 foi publicada no Diário Oficial do
dia 23 de setembro de 2016, nº 26868, alterando o processo de construção e execução do
PEIP do anexo I e o cronograma de estudos de intervenção pedagógica, estabelecido pela
Portaria nº161/2016, devido à greve geral dos profissionais da educação, que se estendeu de
31 de maio a 09 de agosto de 2016.
A mudança no processo de formação causou, segundo nossas observações, estranheza
a todos os envolvidos no processo, implicando em resistências no desenvolvimento da
formação. Relacionamos este fato à percepção que os professores tiveram em relação à
construção dos conhecimentos não ter sido significativa, pois não partiu de uma problemática
a ser enfrentada pela escola, sendo que a metodologia utilizada deveria estar intimamente
ligada à participação de todos os profissionais, não apenas em um documento que estabelece
os encaminhamentos a serem seguidos e realizados.
Ao buscar alcançar os objetivos de incentivar a reflexão dos professores e que suas
práticas sejam (re)orientadas é necessário tecer críticas sobre as metodologias utilizadas.
Acreditamos que, no processo, as mudanças tendem a trazer novos encaminhamentos para a
formação de maneira a serem trabalhadas com o envolvimento dos professores. Após as
análises realizadas, partir em busca de soluções para os problemas encontrados em sala de
aula e na prática pedagógica, sendo a socialização entre os pares uma constante no decorrer da
formação.
Ao instituir a proposta de formação, a Portaria 161/2016 descreveu que o projeto de
intervenção deveria analisar em todos os sentidos o contexto de ensino e aprendizagem.
Contudo, pareceu-nos que não foi buscada a resolução de problemas que enfrentam os
professores e alunos e, tão pouco, ocorreu o acompanhamento do processo. O processo de
formação deve ser acompanhado, de modo que a formação realizada no grupo poderá ajudar a
solucionar vários problemas coletivos. Os professores colaboradores da pesquisa enfatizaram
as dúvidas sobre a realização das atividades propostas pela formação, expressando a
necessidade do acompanhamento durante a mesma.
150
Percebemos que a preocupação da SEDUC/MT, no que concerne ao objetivo para a
elaboração do PEIP, foi a utilização dos resultados das avaliações como indicativos para
melhorias das práticas profissionais e de proficiência dos alunos. O documento referido
esmerou-se em descrever, em um único anexo, o “Orientativo” com as duas etapas da
formação.
Na Escola π, a primeira etapa foi realizada, embora com atrasos, devido à divulgação
dos resultados da ADEPE–MT; a segunda etapa, que foi dividida em três momentos, os dois
primeiros foram realizados, segundo a análise que apresentamos de forma crítica. A partir do
acompanhamento e observações, verificamos que o terceiro momento da segunda etapa não
foi desenvolvido pela Escola π. Para essas etapas de formação, a qual descreve a portaria, os
profissionais da educação não foram consultados para que pudessem discutir quais os
problemas seriam enfrentados com a colaboração entre todos.
Embora a Escola π possuísse um clima de relações interpessoais favorável para o
desenvolvimento da formação, o processo vivenciado não considerou as necessidades
formativas, centradas no trabalho coletivo com o objetivo de solucionar as dificuldades
encontradas na escola, e, neste sentido, os professores não consideraram os estudos, a
organização, elaboração e desenvolvimento do PEIP de maneira significativa, pois no projeto
de intervenção, elaborado pelos professores, não foram desenvolvidas e nem ao menos
descritas as ações específicas do ensino da Matemática.
Ao analisar a portaria, constatamos que em todo o estado os professores deveriam
realizar o estudo dos mesmos textos, embora viessem como sugestão de leitura.
Outro ponto a ser destacado foi sobre os prazos estabelecidos para a efetivação das
etapas do PEIP nas escolas. De acordo com o caderno de relatórios da formação dos
professores colaboradores, as primeiras leituras da portaria aconteceram a partir do dia
28/04/2016, sendo que o período de estudo do documento e aquisição do material sugerido
tinha o prazo final em 20/04/2016. Assim, observamos que os prazos estabelecidos não
condiziam com a realidade da Escola π, contudo, consideramos que os estudos fazem parte do
processo da formação quando considerado o contexto e as necessidades formativas.
Ao se tratar dos estudos específicos, por disciplina, especificamente da Matemática,
sendo nosso objetivo analisar como os professores de Matemática do Ensino Médio
compreendem, desenvolvem e avaliam essa formação, podemos observar que um único texto
foi sugerido para estudos relacionados com essa disciplina. Porém, esse texto não foi lido,
151
pois não ocorreu a participação dos professores colaboradores da pesquisa por estarem
realizando atividades burocráticas nos prazos estabelecidos.
Entendemos que a formação deve partir das reais necessidades dos professores, da
tomada de decisões e do clima nas escolas, da descentralização, das mudanças da organização
da formação, da construção de um projeto coletivo, tendo em vista que são os pilares para a
formação centrada no professor, considerando todos os envolvidos no ambiente escolar, não
de maneira imposta e preestabelecida como as atividades do PEIP.
Outro ponto, referido na Portaria n º 161/2016, foi o registro reflexivo, que deveria ser
elaborado de maneira individual, conforme modelos preestabelecidos no documento. Ao
observar os relatórios e as narrativas dos professores colaboradores da pesquisa podemos
perceber que não foi um instrumento desencadeador de registros reflexivos. Entendemos que
os registros dos aspectos relevantes de um estudo podem ampliar os conhecimentos sobre
determinados assuntos, bem como a troca de experiências dos professores são momentos que
deveriam ser suscitados durante o processo de formação. Quando o professor reflete sobre sua
prática, entendemos que o processo pedagógico pode ser modificado.
No segundo momento, a portaria determinava a formação de professores formadores
como também de coordenadores pedagógicos. No entanto, vale ressaltar que nenhuma delas
foi realizada na data prevista. Após o período de formação, a elaboração dos projetos de
intervenção por disciplina, os estudos específicos e as intervenções realizadas pelos
professores em regência, também não foram realizados segundo as datas estabelecidas pela
portaria.
Entendemos que cada unidade escolar, juntamente com todos os profissionais, deveria
organizar, segundo suas necessidades, os momentos de formação, estabelecendo seu próprio
cronograma de estudos, diferente do que nos apontou o documento proposto pela
SEDUC/MT.
O PEIP deveria seguir estruturas com modelos estabelecidos no documento, apesar de
ter sido a Portaria nº 322/2016/GS/SEDUC/MT que alterou o processo de construção e
execução do PEIP, no Anexo I e o cronograma de estudos devido à greve dos servidores
estaduais, como vimos, com datas de envio e devolutiva para a escola, com a participação do
coordenador pedagógico, do diretor da escola, do assessor pedagógico e dos professores, com
atribuições específicas.
Segundo nossas observações, a participação do coordenador pedagógico e do assessor
pedagógico foi um tanto quanto insuficiente. Apesar do documento detalhar as atribuições do
coordenador pedagógico, vale ressaltar a preocupação com a carga horária a ser cumprida,
152
apresentando duas vezes o zelo pelo cumprimento dos horários de formação, sendo uma delas
como vigia.
Notamos, por meio de nossa investigação, que a proposta de formação realizada focou
na melhoria da aprendizagem dos estudantes como objetivo principal, e o professor passou de
protagonista à executor de ações de intervenção para que as melhorias acontecessem baseadas
nos resultados de proficiências, realizadas pelas avaliações externas ou internas.
Outro aspecto, que consideramos importante ressaltar, foi que os professores deveriam,
nos grupos de estudos específicos, assumirem a função de mediador. Compreendemos que
esta função não se ajustou com a realidade da escola, pois alguns professores estavam atuando
fora de sua área de formação específica ou até mesmo existia apenas um professor habilitado
para a disciplina.
No processo da formação uma ação prevista era a realização do diagnóstico das
avaliações, como subsídio para elaboração das ações de intervenções. Uma das atribuições
dos professores seria a utilização dos dados como apoio nas tomadas de decisões.
Constatamos que esse procedimento não se deu de maneira a contribuir com as tomadas de
decisões, pois as ações de intervenção descritas pelos professores colaboradores da pesquisa
não foram relacionadas com o resultado da ADEPE-MT. Percebemos que o diagnóstico não
foi realizado, embora tenha sido considerado importante, segundo o relato dos professores
colaboradores da pesquisa.
Entretanto, no relatório de avaliação da formação realizada na Escola π, encaminhado
para o CEFAPRO, não foi possível observar a efetiva participação dos professores no
processo da elaboração do mesmo. Somente o coordenador pedagógico foi envolvido na
elaboração do referido relatório, sem nenhuma consideração sobre os momentos de
monitoramento, nem sobre as responsabilidades dos envolvidos no processo de formação.
Constatamos que o relatório foi divergente das ações realizadas durante o processo de
formação, pois em nossas observações e na voz dos professores, apenas poucos alunos
participaram das atividades de intervenções.
Para subsidiar teoricamente a portaria do PEIP, especificamente, registra-se em suas
referências algumas legislações e referências sobre o projeto de intervenção, monitoramento e
avaliação, feedback das avaliações, além das referências citadas, que foram os textos
selecionados para o estudo dos professores.
No primeiro eixo: “Vivências dos professores no processo de formação”, os dados
indicam que a formação continuada do PEIP foi proposta pela SEDUC/MT sem a efetiva
participação dos professores, embora devesse ser organizada de maneira a atender as
153
necessidades formativas dos professores. Efetivou-se como um processo de formação
continuada seguindo passos ou determinações impostas pela portaria, sem compreender o
contexto escolar.
Outro aspecto evidenciado foi que as práticas desenvolvidas na formação pouco
contribuíram com a formação dos professores, por apresentarem datas estipuladas e modelos a
serem seguidos. Nos encontros de formação houve dificuldades na organização dos estudos,
pois deveria atender a portaria no que se referia à organização como também quanto à
quantidade de horas de sua duração, tendo em vista que deveriam ser de 4h ininterruptas,
desconsiderando que a Escola π funciona nos turnos diurno e noturno.
Verificamos nas narrativas do professor Lírio e da professora Margarida, que o
processo de formação dos estudos coletivos não foi estabelecido de maneira adequada, em
razão de que os textos estudados pouco contribuíram para desencadear reflexões sobre o
processo de formação e sobre as práticas docentes.
No que se refere aos estudos, chamou nossa atenção a ausência referente a área de
Matemática, pois em todo o contexto da formação continuada foi elencado apenas um único
texto que envolvia essa disciplina, contudo, o mesmo não foi estudado pelos professores
colaboradores da pesquisa, por estarem finalizando o ano letivo.
Ao sistematizar as leituras e estudos realizados no PEIP, seguindo um calendário
organizado em conjunto com todos participantes da formação, com a finalidade de
potencializar as discussões e os professores seguirem os modelos sugeridos, foram realizados
como uma atividade mecânica, que não permitiu refletir sobre as aprendizagens e sua
utilização, buscando relacionar a teoria com a prática.
Entendemos que a reflexão no processo de formação precisa ser contínua na busca da
melhoria das práticas pedagógicas e, neste sentido, acreditamos que os relatórios reflexivos
podem servir de instrumento de formação dos professores. No entanto, ao observar os
relatórios e as narrativas dos professores colaboradores da pesquisa, pudemos perceber que
não foram instrumentos desencadeadores de registros reflexivos, pois foi uma atividade
realizada como obrigação, em forma de resumos, completando fichas, de maneira insuficiente,
ainda que houvesse um caderno específico para o registro da formação continuada.
Acreditamos que, ao sistematizar os conhecimentos e discutir com outros docentes
durante a formação, os professores poderiam refletir e possivelmente modificar suas práticas
pedagógicas, pois os relatórios reflexivos servem de instrumento de formação, nos quais
154
podem expressar suas ideias, buscar novas alternativas para a organização do trabalho
pedagógico.
A única formação ministrada pelo CEFAPRO, que a coordenadora pedagógica
participou foi relacionada ao estudo do planejamento anual e posteriormente desenvolvida
com os professores. Concordamos com os professores Lírio e Margarida no sentido de que os
planejamentos deveriam ter modificações durante o ano letivo, no entanto, percebemos que
essas alterações não foram desencadeadas, apesar da formação ter sido desenvolvida e,
segundo a fala dos professores, percebemos um distanciamento entre a sua elaboração e a
prática pedagógica. Compreendemos que, ao planejar, o professor tem possibilidades de
modificar e dar uma nova direção à sua prática pedagógica, e não apenas cumprir aspectos
burocráticos estabelecidos pela escola. Muitas situações são vivenciadas em sala de aula
quando se tem um planejamento, e seguramente será mais difícil enfrentá-las sem ele.
Vale destacar também que, de modo geral, as falas dos professores ao abordar a
dinâmica, expectativas e as manifestações sobre o PEIP na Escola π, retratam que a formação
não surgiu das perspectivas e necessidades dos professores e, se assim fosse, muitos dos
problemas enfrentados na escola poderiam ser solucionados, pois o protagonismo do
professor poderia motivá-los a construir conhecimentos, atendendo as necessidades
formativas apresentadas no contexto escolar.
No segundo eixo: “O processo de construção, execução e avaliação do PEIP: o que
dizem os professores”, ao analisar como as avaliações externas e internas, o diagnóstico da
disciplina de Matemática interferiu na elaboração das ações pedagógicas, verificamos na
narrativa dos dois professores que a ADEPE-MT foi mais uma das avaliações realizadas sem
considerar o contexto escolar, embora a revista pedagógica descreva que a avaliação tem
como referência as “Orientações Curriculares de Mato Grosso” e as análises dos registros dos
diários de classe das turmas avaliadas. Neste sentido, as informações não subsidiaram a
reflexão, nem tão pouco contribuíram para a elaboração de ações que atendessem as
necessidades de aprendizagem dos alunos.
Constatamos que os índices do IDEB, bem como as demais avaliações externas, como:
PROVA BRASIL, ANA, ENEM nem sequer foram relacionados pelos professores em nossas
entrevistas, pois não fizeram parte do processo de elaboração de suas intervenções
pedagógicas e nem de seus planejamentos.
Percebemos que a ADEPE-MT não alcançou seus objetivos, segundo relatos dos
professores, pois seus resultados não serviram de base para as mudanças das ações e, mesmo
155
que tenham revelado a necessidade de se apoiarem neles, não foram discutidos e nem
utilizados no diagnóstico e, como consequências, as ações pedagógicas não foram revistas.
A elaboração do diagnóstico não fez sentido para os professores, embora
compreendessem a necessidade de saber quem são seus alunos e onde querem chegar,
considerando o aluno na sua integralidade. A reorganização do planejamento pedagógico, do
diagnóstico e a avaliação podem possibilitar ao professor acompanhar as aprendizagens
construídas, fazendo parte de todo o processo pedagógico, bem como considerar o
envolvimento com o grupo, com o professor, a necessidade e o desejo de aprender.
Ao analisar o projeto de intervenção e as ações desenvolvidas em Matemática, os
professores não tinham clareza de como seriam realizadas as atividades, principalmente
quando se tratava de descrevê-las e como seriam propostas aos alunos. Essas ações da
formação continuada não foram significativas diante de suas práticas pedagógicas e de sua
formação.
As atividades propostas na formação, muitas vezes, se caracterizaram pelo
preenchimento das atividades, com estrutura pré-estabelecida. Parece-nos que o projeto não
foi considerado como um instrumento metodológico para possíveis mudanças das práticas
pedagógicas, superando as dificuldades encontradas na sala de aula.
Compreendemos que ao elaborar as ações nos projetos de intervenções, essas
deveriam ampliar as aprendizagens dos alunos. Em nossa pesquisa, verificamos que somente
a professora Margarida realizou algumas ações de intervenção, demonstrando preocupação
em atender aos alunos que apresentavam dificuldade de aprendizagem. Da mesma forma, o
professor Lírio, mesmo sem ter realizado as ações de intervenção, buscou atender seus alunos
durante o período de suas aulas.
Pareceu-nos não haver o envolvimento dos professores no que diz respeito às ações de
intervenção propostas pelo modelo de formação continuada, pois compreendemos que
realizaram as atividades baseados em seu próprio planejamento de Matemática, sem o
diagnóstico determinado pela portaria, nem como subprojetos específicos por área.
Destacamos as atividades de intervenção realizadas pela professora Margarida, pois o
professor Lírio não as realizou, porém, o uso do “bingo de tabuada” e do “dominó de
multiplicação” pareceu-nos atividades muito elementares para alunos do Ensino Médio. A
descrição das aulas do contra turno (reforço) registra a não participação dos alunos, embora
todos fossem convidados a comparecer. Percebemos que possivelmente essas aulas foram
apenas a repetição de explicações e atividades trabalhadas em sala de aula, sem serem
motivadoras e buscarem amenizar as dificuldades de aprendizagem.
156
Compreendemos que o professor é parte integrante do processo de ensino-
aprendizagem, cabendo-lhe, ao organizar o trabalho pedagógico, considerar as características
e ritmos de aprendizagens dos alunos, considerando essencial que os mesmos não sejam
rotulados, nem classificados em função de suas dificuldades.
Os avanços do acompanhamento do desenvolvimento do pensamento matemático dos
alunos precisam ser registrados para que as novas ações sejam guiadas por esses resultados,
buscando novas práticas a serem propostas nas salas de aulas.
Apesar dos professores relatarem que a formação continuada proposta levou-os a
refletir, analisamos que essa reflexão não partiu da necessidade de compreender quais eram as
suas necessidades e nem sequer conscientizou-os de que o processo seria essencial para a
ampliação da construção dos conhecimentos teóricos e práticos, pois foi realizado com ações
pré-determinadas.
Ao analisar as falas dos professores sobre suas expectativas de formação, percebemos
que na maioria das vezes incluíam outros assuntos que revelavam suas necessidades
formativas, e direcionavam a conversa para a necessidade de encontrar um caminho para a
solução das situações problemas enfrentados na sala de aula.
Assim como apresentamos o déficit no levantamento sobre as formações continuadas
para professores de Matemática do Ensino Médio, a formação continuada investigada não
contemplou a área específica dessa disciplina, continuando deficitária a formação do docente.
Através das manifestações dos professores podemos afirmar que na escola investigada
o PEIP não atingiu o objetivo que tinha como foco a superação das dificuldades de
aprendizagem dos alunos, uma vez que a elaboração do diagnóstico e consequentemente as
ações de intervenção não foram realizadas.
Por fim, compreendemos que os professores consideram que a formação continuada é
um momento importante na profissão docente, porém a maneira como o PEIP foi instituído,
pareceu-nos não ter alcançado os objetivos, pois as atitudes, motivações e o protagonismo dos
professores não foram considerados na proposta, causando conflitos e até mesmo dilemas
entre propor organizações na formação ou seguir aspectos preestabelecidos na portaria,
atender a burocracia ou estudar. No entanto, é importante destacar que também não
observamos nenhum movimento por parte dos professores em propor outra dinâmica para a
formação.
O importante no processo de formação continuada é o que aprendemos, construímos e
como iremos demonstrar durante nossa atuação como profissionais nos processos
pedagógicos, relacionando-nos de maneira direta com a aprendizagem dos alunos.
157
Verificamos que, no ano de 2017, outra proposta de formação continuada foi
desenvolvida nas escolas estaduais, intitulada “Pró-Escolas Formação na Escola” (PEFE),
também propondo projeto de estudos e intervenção pedagógica desenvolvidos pelas e nas
escolas, considerando um diagnóstico situacional, destacando que a formação continuada
deve ser um dever, um direito e necessidade dos professores. Embora tenha mudado de nome
e ao invés de portaria foi direcionado às escolas por meio do “Orientativo”, pareceu-nos
pouco se distanciar das características do PEIP. Um dos aspectos que difere foi a definição
das temáticas para os estudos, as quais seriam evidenciadas pelos docentes.
Compreendemos assim, que a formação continuada desencadeada nas escolas
estaduais ainda precisa ser repensada, dando maior autonomia aos professores para atender
suas necessidades formativas, com atividades significativas para aprimorar o processo do
fazer pedagógico, buscando a qualidade na educação.
Muitas foram as reflexões até aqui, mas as discussões não se esgotam, tendo em vista
que muitos debates ainda são necessários sobre a formação de professores, principalmente dos
professores de Matemática, na etapa final da Educação Básica. Pretendemos que a nossa
pesquisa possa contribuir com o acervo de pesquisas que discutem o tema, evidenciando a
formação de professores de Matemática no Ensino Médio, fomentando discussões e reflexões
sobre a temática.
No processo de investigação muitos questionamentos foram surgindo e instigando
outros estudos e pesquisas sobre a formação continuada de professores de Matemática. Será
que existem formações que estão contribuindo para o aprimoramento das práticas pedagógicas
dos professores e para construção do seu conhecimento, na busca da qualidade do ensino e da
aprendizagem em nossas escolas? Como se tem dado as formações continuadas para os
professores de Matemática do Ensino Médio no Estado de Mato Grosso? Como essas
formações deveriam ser a fim de atenderem a qualidade no ensino de Matemática nas escolas
públicas?
Assim, finalizamos a pesquisa com a certeza da oportunidade que tivemos de
aprender, de nos desenvolver profissionalmente e estar novamente no ambiente acadêmico,
percebendo que a profissão docente nos proporciona a ampliação do conhecimento. Desta
maneira, os estudos, a produção, a organização e análises de dados levou-nos a ampliar e
compreender as dificuldades encontradas nos processos de formação continuada de
professores de Matemática do Ensino Médio, bem como relacioná-las com o que é possível
modificar.
158
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167
APÊNDICES
APÊNDICE A - Autorização do Diretor ............................................................................. 168
APÊNCIDE B – Autorização do Professor ......................................................................... 169
APÊNCIDE C – Autorização do Coordenador ................................................................... 170
APÊNCIDE D – Questionário de caracterização da escola ................................................ 171
APÊNCIDE E – Questionário de caracterização e professores .......................................... 172
APÊNCIDE F – Roteiro da Entrevista ................................................................................ 175
168
APÊNDICE A – Autorização do Diretor
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro, por meio deste termo, que autorizo o desenvolvimento da pesquisa intitulada
“O PROJETO DE ESTUDOS E INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS NA
DISCIPLINA DE MATEMÁTICA: NARRATIVAS E PRÁTICAS DE
PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO” que será desenvolvido nesta unidade escolar
pela mestranda Marcela Bonet Becher Schavaren, vinculada ao Programa de Pós-
graduação da Universidade Federal de Mato Grosso. Estou ciente que a pesquisa
objetiva investigar como os professores compreendem e concebem a formação através
do Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica na disciplina de Matemática no Ensino
Médio. Fui informado (a), ainda, que a pesquisa está sob a orientação da Profª Drª Rute
Cristina Domingos da Palma, a quem poderei contatar quando julgar necessário através
do telefone (65) 3615.8452 (período vespertino). E caso necessite de maiores
esclarecimentos posso entrar em contato com o “Comitê de Ética em Pesquisa-
Humanidade”, atualmente sob a coordenação da Srª Rosangela Kátia Sanches
Mazzorana Ribeiro que pode ser contatada pelo telefone (65) 3615-8935, pelo
endereço eletrônico: [email protected] e no endereço: Avenida Fernando Corrêa da
Costa, 2.367, Instituto de Educação – sala 31, Boa Esperança, Cep: 78060-900.
Afirmo que aceitei o desenvolvimento da pesquisa nesta unidade por minha
própria vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a
finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa e que fui informado (a) dos
objetivos estritamente acadêmicos do estudo.
Estou ciente de que os dados da pesquisa serão produzidos a partir da
observação das atividades da formação continuada, bem como utilização de caderno de
campo, questionários de caracterização de professores e entrevistas semiestruturada, por
meio de registros de audio, documentos escolares, além dos próprios registros escritos
participantes. O acesso à análise dos dados produzidos será feito apenas pela aluna
pesquisadora e sua orientadora. Não serão repassados a terceiros. Os nomes da
escola e professores serão mantidos em sigilo, absoluto anonimato e a privacidade
dos participantes durante todas as fases da pesquisa, bem como a garantia de
indenização diante de eventuais danos decorrentes da mesma. Fui ainda informado (a), que posso retirar esta unidade escolar da pesquisa a
qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou constrangimentos.
Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido.
Permissão para o uso de imagens: ( )SIM ( )NÃO
Cuiabá, ____ de _________________ de 2016.
Assinatura do (a) Diretor(a): _____________________________________________
Assinatura do (a) pesquisador(a): _________________________________________
169
APÊNDICE B – Autorização do Professor
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PROFESSOR (A)
Declaro, por meio deste termo, que aceitei participar da pesquisa intitulada “O
PROJETO DE ESTUDOS E INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS NA DISCIPLINA
DE MATEMÁTICA: NARRATIVAS E PRÁTICAS DE PROFESSORES DO
ENSINO MÉDIO” que desenvolvido pela mestranda Marcela Bonet Becher Schavaren,
vinculada ao Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Mato Grosso.
Estou ciente que a pesquisa objetiva investigar como os professores
compreendem e concebem a formação através do Projeto de Estudos e Intervenção
Pedagógica na disciplina de Matemática no Ensino Médio.
Fui informado (a), ainda, que a pesquisa está sob a orientação da Profª Drª
Rute Cristina Domingos da Palma, a quem poderei contatar quando julgar necessário
através do telefone (65) 3615.8452 (período vespertino). E caso necessite de maiores
esclarecimentos posso entrar em contato com o “Comitê de Ética em Pesquisa-
Humanidade”, atualmente sob a coordenação da Srª Rosangela Kátia Sanches
Mazzorana Ribeiro que pode ser contatada pelo telefone (65) 3615-8935, pelo
endereço eletrônico: [email protected] e no endereço: Avenida Fernando Corrêa da
Costa, 2.367, Instituto de Educação – sala 31, Boa Esperança, Cep: 78060-900.
Afirmo que aceitei o desenvolvimento da pesquisa nesta unidade por minha
própria vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a
finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa e que fui informado (a) dos
objetivos estritamente acadêmicos do estudo.
Estou ciente de que os dados da pesquisa serão produzidos a partir da
observação das atividades da formação continuada, bem como utilização de caderno de
campo da pesquisadora, questionários de caracterização de professores e entrevistas
semiestruturadas, por meio de registros de audio, documentos escolares, além dos meus
próprios registros escritos durante o processo de formação e sua efetivação. O acesso à
análise dos dados produzidos será feito apenas pela aluna pesquisadora e sua
orientadora. Não serão repassados a terceiros. Os nomes da escola e professores
serão mantidos em sigilo, absoluto anonimato e a privacidade dos participantes
durante todas as fases da pesquisa, bem como a garantia de indenização diante de
eventuais danos decorrentes da mesma. Fui ainda informado (a), que posso retirar-
me da participação da pesquisa a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou
constrangimentos.
Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido.
Permissão para o uso de imagens: ( )SIM ( )NÃO
Paranaíta, ____ de _________________ de 2016.
Assinatura do (a) Professor(a): _____________________________________________
Assinatura do (a) pesquisador(a): ___________________________________________
170
APÊNDICE C – Autorização do Coordenador
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro, por meio deste termo, que estou ciente sobre o desenvolvimento da pesquisa intitulada
“O PROJETO DE ESTUDOS E INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS NA
DISCIPLINA DE MATEMÁTICA: NARRATIVAS E PRÁTICAS DE
PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO” que será desenvolvido nesta unidade escolar pela
mestranda Marcela Bonet Becher Schavaren, vinculada ao Programa de Pós-graduação da
Universidade Federal de Mato Grosso. Estou ciente que a pesquisa objetiva investigar como
os professores compreendem e concebem a formação através do Projeto de Estudos e
Intervenção Pedagógica na disciplina de Matemática no Ensino Médio. Fui informado
(a), ainda, que a pesquisa está sob a orientação da Profª Drª Rute Cristina Domingos da
Palma, a quem poderei contatar quando julgar necessário através do telefone (65) 3615.8452
(período vespertino). E caso necessite de maiores esclarecimentos posso entrar em contato com
o “Comitê de Ética em Pesquisa-Humanidade”, atualmente sob a coordenação da Srª
Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro que pode ser contatada pelo telefone (65)
3615-8935, pelo endereço eletrônico: [email protected] e no endereço: Avenida Fernando
Corrêa da Costa, 2.367, Instituto de Educação – sala 31, Boa Esperança, Cep: 78060-900.
Afirmo que aceitei o desenvolvimento da pesquisa nesta unidade por minha própria
vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade
exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa e que fui informado (a) dos objetivos
estritamente acadêmicos do estudo.
Estou ciente de que os dados da pesquisa serão produzidos a partir da observação das
atividades da formação continuada, bem como utilização de caderno de campo, questionários de
caracterização de professores e entrevistas semiestruturada, por meio de registros de audios,
documentos escolares, além dos próprios registros escritos participantes. O acesso à análise dos
dados produzidos será feito apenas pela aluna pesquisadora e sua orientadora. Não serão
repassados a terceiros. Os nomes da escola e professores serão mantidos em sigilo,
absoluto anonimato e a privacidade dos participantes durante todas as fases da pesquisa,
bem como a garantia de indenização diante de eventuais danos decorrentes da mesma. Fui ainda informado (a), que posso retirar esta unidade escolar da pesquisa a qualquer
momento, sem nenhum prejuízo ou constrangimentos.
Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Permissão para o uso de imagens: ( )SIM ( )NÃO
Paranaíta, ____ de _________________ de 2016.
Assinatura do (a) Coordenador(a): _____________________________________________
Assinatura do (a) pesquisador(a): _________________________________________
171
APÊNDICE D – Questionário de Caracterização da Escola
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
QUESTIONÁRIO I – CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
Dados da Escola
Nome da Escola:______________________________________________________
Nome do (a) diretor (a):__________________________________________________
Endereço:____________________________________Telefone:_________________
E-mail:_____________________________________ Data da fundação:__________
Turnos de funcionamento da escola: ( ) matutino ( ) vespertino ( ) noturno
Nº total de salas: __________Nº de alunos por período: Matutino : _______________
Vespertino:______________
Noturno: ________________
Nº total de professores: Efetivos ________________ contratados: ________________
A escola dispõe de:
Biblioteca: ( ) sim ( ) Não . Outros: ___________________________________
Laboratório de informática : ( ) sim ( ) não
Sala de Video: ( ) sim ( ) não
Materiais pedagógicos: ( ) sim ( ) não . Quais ?
- Materiais de multimídia? ( ) som portátil ( ) Microfone ( ) projetor de
imagem ( ) Televisão. Outros _______________
- Livros didáticos ( ) sim ( ) Não
- Livros para estudos e planejamento dos professores? ( ) sim ( ) não
- Livros de literatura suficientes? ( ) sim ( ) Não
A escola desenvolve algum projeto educativo oferecido pela SEDUC? ( ) sim ( )
não. Em caso afirmativo quais?____________________________________________
172
APÊNDICE E – Questionário de Caracterização dos Professores
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
QUESTIONÁRIO CARACTERIZAÇÃO DE PROFESSORES (QCP)
Professor (a): __________________________________________________________
1. Dados Pessoais
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
Data de Nascimento: ______/______/______ Natural de: _________________
E-mail: ________________________________ _________________________
Telefone: ( ) __________ - __________ Cel.: ( ) __________ - __________
2. Formação Acadêmica
Graduação
Curso/Habilitação: ________________________________________________
Instituição: ______________________________________________________
Cidade/Estado: ___________________________________________________
Modalidade do curso: ( ) Presencial ( ) Distância ( ) Semipresencial
Ano de Início: _____________________ Ano de término: _________________
Pós-graduação
( ) Especialização
( ) Mestrado
( ) Não cursei ou não completei curso de Pós-Graduação
Ano de início: _____________________ Ano de término: _________________
Área: ___________________________________________________________
3. Situação e Experiência Profissional
a) Qual sua situação trabalhista:
( ) Efetivo
( ) Concursado em estágio probatório
( ) Prestador de serviço por contrato
b) Turno que trabalha nesta escola:
( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno
173
c) Você trabalha em outra escola? ____________________________________
d) Qual sua jornada de trabalho semanal? ______________________________
e) Exerce outra profissão além de professor?
( ) Sim
( ) Não
Qual? _______________________________ Onde? _____________________
f) Há quantos anos você leciona? _____________________________________
g) Já atuou em quais etapas da Educação Básica?
Ensino Fundamental: ( ) Anos Iniciais ( ) Anos Finais ( )Ensino Médio
h) Há quantos anos você trabalha nesta escola?______________________________
i) Há quantos anos você leciona no Ensino Médio?____________________________
4. Formação continuada:
a) Você participou de alguma atividade de formação em que se discutiu o Ensino
Médio e a Matemática? Caso a resposta seja positiva, qual foi a natureza das atividades
(projetos de pesquisa, grupo de estudo, seminários, oficinas, congressos, cursos, palestras...) e
a carga horária?
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
b) Você participou de alguma atividade de formação continuada em Educação
Matemática nos últimos cinco anos? Caso a resposta seja positiva, qual foi a natureza das
atividades (projetos de pesquisa, grupo de estudo, seminários, oficinas, congressos, cursos,
palestras...) e a carga horária?
174
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
c) A formação continuada em Matemática contribuiu para a melhoria de sua prática
em sala de aula? Se não, justifique. Se sim, em que aspectos?
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Paranaíta, ______/______/ 2016.
Obrigada pela sua atenção!
175
APÊNDICE F – Roteiro da Entrevista
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
BLOCO 1 – Sobre a construção dos conhecimentos matemáticos e do ensino de
Matemática (trajetória escolar e profissional):
a) Como você se tornou professor da Matemática? Conte a sua história.
b) Quando você fez a opção em ser professor matemática?
c) Em sua opinião, o que o professor precisa saber pra ensinar Matemática?
d) Você sente dificuldades pra ensinar Matemática? Quais?Justifique.
e) Você acha que os alunos apresentam dificuldades para a prender matemática?
f) Como tem sido as formações continuadas de Matemática? E as formações
continuadas de Matemática no Ensino Médio?
g) Já fez cursos específicos para professor de Matemática?
BLOCO 2 – Elaboração do Projeto de estudo e intervenções pedagógicas na disciplina
de matemática:
h) Quais são as suas considerações sobre a portaria nº 161/2016, que institui o Projeto
de Estudos e Intervenção Pedagógica (PEIP)?
i) Como está acontecendo a organização dos estudos da formação continuada?(leitura
da portaria, estudo do referencial teórico).
j) Qual é a sua opinião sobre a carga horária destinada à formação? (leituras,
planejamentos)
k) Qual é as sua opinião sobre os temas de estudos gerais escolhidos para os estudos?
(Avaliação educacional, projeto de pesquisa e intervenção pedagógica e pesquisa - ação)
l) A portaria prevê a realização de um diagnóstico de cada turma. Acha relevante
trabalhar com esses dados?
176
m) Como sistematizará o diagnóstico de necessidades de aprendizagem de
matemática dos alunos do Ensino Médio? (ENEM, ADEPE- MT).
n) Quais são as suas expectativas sobre a formação continuada instituída pela
SEDUC?
BLOCO 3 – Efetivação do Projeto de estudo e intervenções pedagógicas na disciplina
de matemática:
l) Como você pretende avaliar o rendimento dos processos de ensino e aprendizagem
após a efetivação do subprojeto de intervenções?
177
ANEXO
ANEXO A – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa ............... 178
178
ANEXO A – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa
179
180