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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE RONDONÓPOLIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
SHEILA CRISTINA FERREIRA GABRIEL
"TEMPLO DO SABER” - A BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO
GROSSO : MODERNIDADE, CONHECIMENTO E PRÁTICAS DE LEITURAS
(1912-1950)
Rondonópolis
2013
SHEILA CRISTINA FERREIRA GABRIEL
"TEMPLO DO SABER” - A BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO
GROSSO : MODERNIDADE, CONHECIMENTO E PRÁTICAS DE LEITURAS (1912-
1950)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Mato Grosso, Campus Rondonópolis, na Linha
de Pesquisa Linguagem, Cultura e construção do conhecimento, Grupo de Pesquisa Alfabetização e
letramento escolar, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em Educação.
Orientadora: Profª. Drª. Cancionila Janzkovski
Cardoso
Rondonópolis
2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada por Sheila Cristina Ferreira Gabriel
Bibliotecária – CRB1 1618
G118u
Gabriel, Sheila Cristina Ferreira.
”Templo do Saber” – A Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso :
modernidade, conhecimento e práticas de leitura : (1912-1950) / Sheila
Cristina Ferreira Gabriel. – Rondonópolis, MT : UFMT, 2013.
176 f.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus
Rondonópolis, como requisito para obtenção do título de Mestre
em Educação.
Orientadora: Profª Drª Cancionila Janzkovski Cardoso
1. História da biblioteca. 2. História da leitura. 3. Prática de
leitura. 4. Pesquisa histórica. 5. Modernidade – leitura. 5. Biblioteca Pública
Estadual Estevão de Mendonça. I. Cardoso, Cancionila Janzkovski,
orient. II. Título.
CDU 027(091)
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO-RONDONÓPOLIS Rod. Rondonópolis.-Guiratinga, km 06 MT-270 - Campus Universitário de
Rondonópolis - Cep: 78735-901 -RONDONÓPOLIS/MT
Tel : (66) 3410-4035 - Email : [email protected]
FOLHA DE APROVAÇÃO
TÍTULO : "TEMPLO DO SABER - A BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO
GROSSO: MODERNIDADE, CONHECIMENTO E PRÁTICAS DE LEITURAS (1912-1950)"
AUTOR : Mestranda Sheila Cristina Ferreira Gabriel Melo
Dissertação defendida e aprovada em 28/02/2013.
Composição da Banca Examinadora:
_________________________________________________________________________________________
Presidente Banca /
Orientador
Doutor(a) Cancionila Janzkovski Cardoso
Instituição UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
Examinador Externo: Doutor(a) Eduardo Arriada
Instituição: Universidade Federal de PelotasInsti Examinador Externo: Elizabeth Madureira Siqueira
Instituição : UFMT Examinador
Suplente
Doutor(a) Lázara Nanci de Barros Amâncio
Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
RONDONÓPOLIS,05/03/2013.
Dedico este trabalho à minha mãe,
companheira de todas as horas, exemplo de
honestidade, perseverança e coragem.
Agradeço a Deus todos os dias por ela fazer
parte constante de minha vida.
AGRADECIMENTO
Este espaço é mais do que necessário, para que possamos externar nossa gratidão
àqueles que de alguma forma contribuíram com nossa formação.
Desta forma, o utilizarei para agradecer a todos que de uma maneira ou de outra
influenciaram no meu percurso, fazendo com que eu chegasse até aqui. Estas pessoas são
muitas e pode ocorrer de algumas não serem citadas em função do espaço limitado.
Inicio, agradecendo à minha família que é meu esteio, meus pilares que me dão
sustentação nos momentos que parecem insolúveis. Ao meu irmão Adriano, minha cunhada
Adriana, por acreditarem em mim e me apoiarem sempre, “enchendo minha bola” e
“massageando o meu ego”. Ao seu filhinho, meu sobrinho Felipe, por ser, mesmo que de
longe, um de meus combustíveis que me dá forças para seguir em frente. À minha irmã Kelly
e meu cunhado Léo, pelo carinho, apoio e por dividirem suas filhas comigo, para que eu
pudesse me abastecer de ânimo para continuar a caminhada.
Às minhas lindas e amadas sobrinhas Lívia e Ana Carolina, pelo amor, carinho,
aconchego, abraços e beijos, tão bem vindos, quando eu estava a ponto de “surtar”.
Ao meu irmão, e quase filho, Carlos, pelas palavras de apoio e por estar sempre
presente e disposto a me ajudar e me apoiar.
À minha mãe, minha fortaleza, meu porto seguro, minha amiga que sempre acreditou
em mim, me incentivou e apoiou de todas as maneiras possíveis. À você “mãezinha”
agradeço-te por tudo que és, e por tudo o que me ajudaste a ser.
Ao meu esposo Lindomar, pela paciência, companheirismo, incentivo. Por acreditar
em mim, mesmo quando eu não acreditava. Por me dar sustentação material e imaterial
durante todo este processo. Sei que não foi fácil para você. Obrigada por tudo!
Agradeço também aos funcionários do Arquivo Público do Estado de Mato Grosso,
especialmente ao Waltenberg, Aroldo, Jéssica, Lauro e Ruan pela paciência e atenção a mim
dispensados e por tornar minha permanência nesta instituição muito mais agradável do que eu
esperava.
À Juliana, pelo auxílio na pesquisa em todas as revistas do Instituto Histórico e
Geográfico de Mato Grosso e sua prima Jil pela gentileza em traduzir o resumo para o inglês.
À minha amiga Rosilene Lúcia por me socorrer, em um momento de tensão, me
emprestando seu notebook para que eu pudesse realizar os ajustes finais no meu trabalho.
À colega de mestrado e linha de pesquisa, Luiza, pela colaboração quando da pesquisa
no Arquivo Público do Estado de Mato Grosso do Sul para verificar a existência de fontes
sobre a Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso.
À Eliete, neta do segundo diretor da biblioteca, amizade conquistada em função da
pesquisa, que fez de meus dias em Cuiabá momentos prazerosos e profícuos. Nossas
conversas sobre Chartier e Bakhtin foram extremamente prazerosas. E à sua mãe Sra. Leonia
Hugueney por ter me acolhido de forma tão carinhosa.
À Vanda, historiadora e pesquisadora, por ter me emprestado seus ouvidos e ombro
para os desabafos ocasionais e por me mostrar que temos que nos desligar e relaxar, de vez
em quando.Nossos piqueniques no SESC Arsenal ficarão para sempre em minha memória.
Aos meus queridos amigos Carine e Álvaro.Não tenho palavras para agradecer tudo o
que fizeram por mim neste momento do mestrado, o qual seria muito solitário sem a presença
de vocês.
Um agradecimento mais que especial à duas amigas: Marcia Portela, companheira de
linha de pesquisa e de orientadora. Seu senso de humor e suas palavras incentivadoras e
alentadoras sempre nos momentos necessários me auxiliaram a seguir em frente e a não
perder a fé em mim mesma; e a Rosana Martins, que foi uma grande incentivadora, me
aconselhando, dando dicas para estudo quando do início do mestrado, me acalmando com
palavras sábias. Sentirei saudades dos nossos cafés com longas conversas motivadoras.
À Anabel pela paciência, carinho e cuidado com que sempre me dedicou. Obrigada
pelo empenho, compromisso e amizade que demonstrou em todo o percurso.
Aos professores do PPGEDU da UFMT, Campus de Rondonópolis por
compartilharem conosco seus conhecimentos resultando em valiosas contribuições, que foram
fundamentais para a construção do meu arcabouço teórico e que propiciaram o meu
desenvolvimento e crescimento intelectual e profissional.
À banca de qualificação do trabalho de conclusão do curso, pelo carinho com que
conduziram o processo e pelos comentários e sugestões, tão bem vindos e pertinentes. Tal
generosidade, em compartilhar comigo seus conhecimentos, foram essenciais no
aperfeiçoamento da versão final para defesa, o meu muito obrigada!
À minha querida e amada orientadora Kátia, todo o espaço da dissertação não seria
suficiente para que eu pudesse expressar a importância que ela tem em minha vida. Eu a
agradeço por tudo, por acreditar em mim no momento da entrevista e me acolher como sua
orientanda, pelo olhar certeiro em identificar meu perfil e minha inclinação, quando da
proposta de que eu realizasse uma pesquisa histórica, pela maneira como conduziu todo o
processo, cobrando resultados, porém, acreditando em mim a tal ponto, que me deixou
conduzir minha construção e produção. Por entender minhas limitações, mais acima de tudo,
por acreditar no meu potencial e fazer parte de uma etapa importantíssima e inesquecível de
minha vida
Enfim, a Deus que permitiu que todas estas pessoas fizessem parte de minha vida. Ele
é meu sustento e minha força, é Nele que me apoio para superar as barreiras e levantar quando
estou no chão. É por meio Dele que entendo que todas as provações e todos os erros que
cometemos são oportunidades para que possamos crescer e desenvolver como ser humano.
RESUMO
A presente dissertação tem por objetivo investigar como ocorreu a constituição da Biblioteca
Pública do Estado de Mato Grosso (BPEMT) e identificar aspectos de práticas de leitura em
seu interior, no período de 1912 a 1950. Para o alcance de tal objetivo direcionei-me por
meio dos seguintes questionamentos: Com que propósito a biblioteca foi criada? Quais
sujeitos estiveram envolvidos na criação dessa biblioteca? De que forma a estrutura física
influenciou na utilização do espaço? Como o acervo foi constituído e como foi sua
circulação? Quais obras eram mais consultadas, por conseguinte, o que, potencialmente, liam
os frequentadores da biblioteca? Quem eram os frequentadores, portanto possíveis leitores,
dessa instituição? A investigação insere-se na metodologia da pesquisa histórica, na
perspectiva da história cultural, tendo como método orientador das análises a hermenêutica
compreensiva de Dilthey. A pesquisa histórica envolve, dentre outras ações, a determinação
do marco temporal, no caso, optei pelo período de 1912 a 1950 que representa o primeiro
período de sua existência; a localização, seleção, organização e análise de fontes históricas,
sendo que minhas fontes foram as documentais localizadas e selecionadas no Arquivo Público
de Mato Grosso (APMT). O referencial teórico contempla estudos na perspectiva da história
cultural, história da leitura e das bibliotecas, sendo que utilizo como autores principais para o
direcionamento das análises Le Goff (1993), Chartier (1990; 1998; 1999a 1999b), Darnton
(2010), Burke (1997; 2008), Abreu (1999), Silva (1999), Deaecto (2010), Siqueira (1999),
Peres (2002) e Elias (2006, 2011). Com as análises, foi possível perceber, dentre outras coisas
que: a) a biblioteca foi criada para atuar como complemento à instrução, seu principal público
até a década de 30 eram os estudantes do ensino secundário e superior; b) as crianças não
frequentaram seu espaço; c) o espaço físico em vários momentos prejudicou o acesso ao
acervo da biblioteca; d) havia predileção pelas consultas aos jornais, revistas, obras históricas
e literárias. Acredito que, com a pesquisa, poderei contribuir para a construção da história
cultural de Mato Grosso, uma vez que com estudos sobre a história da biblioteca e da leitura
será possível reconstruir parte do caminhar da população mato-grossense nos trilhos das
letras (leitura e escrita).
Palavras-chave: História da biblioteca. História da leitura. Práticas de leitura. Pesquisa
histórica. Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça.
ABSTRACT
This dissertation aims to investigate how the constitution of the State Library of Mato
Grosso (BPEMT) happened and identify possible ways of reading practices in its interior, in
the period from 1912 to 1950. In order to achieve this goal I asked myself the following
questions: For what purpose was the library created? Who were the people involved in the
creation of this library? How the physical structure influenced the use of space? How the
collection was made and how was its circulation? What works were more consulted,
therefore, what potentially library goers read? Who were the regulars, therefore possible
readers, of this institution? The research is part of the methodology of historical research,
from the perspective of cultural history, and as a method of guiding comprehensive analysis
hermeneutics of Dilthey. This historical research involves, among other actions, determining
the timeframe, in this case, I opted for the period 1912 to 1950 representing the first period of
its existence, location, selection, organization and analysis of historical sources, and my
sources the documentary were located and selected in the Public Archives of Mato Grosso
(APMT). The theoretical studies include the perspective of cultural history, history of reading
and libraries, and use it as the main authors of the analysis for targeting Le Goff (1993),
Chartier (1990, 1998; 1999th 1999b), Darnton (2010), Burke (1997, 2008), Abreu (1999),
Silva (1999), Deaecto (2010), Smith (1999), Peres (2002) and Elias (2006, 2011). With the
analyzes, it was revealed, among other things: a) the library was created to act as a
complement to education, its main public until the 30s were the students of secondary and
higher education, b) children did not attend this space c) the physical space at various times
hindered access to library resources, d) that had a predilection for consulting the newspapers,
magazines, literary and historical works. I believe that with this research, I can contribute to
the construction of the cultural history of Mato Grosso, since studies on the history of the
library and reading will be possible to reconstruct part of walking the population mato-
grossense on the tracks of the letters (reading and writing).
Keywords: History of the library. History of Reading. Reading practices. Historical research
State Public Library Estevão de Mendonça.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Arquivo Público do Estado de Mato Grosso – APMT 20
Figura 2 - Regulamento da BPEMT – 1912 38
Figura 3 - Relatório da BPEMT - 1914 38
Figura 4 - Mensagem do governo à Assembleia – 1950 38
Figura 5 - Sede da Academia Mato-grossense de Letras na década de 50 41
Figura 6 - Linha de Tempo representando os espaços de leitura existentes em
Cuiabá (fim século XVIII até primeira metade do século XX) 60
Figura 7 - Palácio da Instrução na década de 50 64
Figura 8 - Palácio da Instrução, sede atual da BPEMT - 2012 73
Figura 9 - Anaes do Senado da Câmara de Cuiabá (1719 a 1830) 85
Figura 10 - Periódico encadernado constante no acervo da BPEMT em 1914 94
Figura 11 - Propagando Jornal O Ferrão 111
Figura 12 – Capa do livro A Retirada da Laguna, edição de 1871 120
Figura 13 – Capa do livro Inocência, edição 1872 120
Figura 14 - Página ilustrada do livro Viagem ao redor do Brasil, de 1875, lido no
interior da Biblioteca Pública de Cuiabá em 1912 e 1913 122
Gráfico 1 – Consultas realizadas na Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso
por ano 100
Gráfico 2 - Áreas mais consultadas pelos leitores da Biblioteca Pública em 1912
a 1914 124
Quadro 1 - Resultados das buscas efetuadas nas bases da CAPES e IBICT para
História da Biblioteca 29
Quadro 2 - Resultados das buscas efetuadas nas bases da CAPES e IBICT para
História da Leitura 30
Quadro 3 - Trabalhos sobre História da Biblioteca e História da Leitura por
região, estado e instituição 31
Quadro 4 - Endereços da BPEMT 72
Quadro 5 - Diretores da BPEMT 82
Quadro 6 - Total acervo por ano: aquisição por compra e doação, informando
obras em brochura ou encadernadas 90
Quadro 7 - Periódicos consultados em 1912 a 1914 106
Quadro 8 - Livros mais consultados em 1912 a 1914 116
Quadro 9 - Títulos menos consultados 126
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 13
2 PERCURSO METODOLÓGICO........................................................................... 20
2.1 O caminho percorrido para a coleta dos dados.................................................. 27
2.2 A história da leitura e da Biblioteca em Mato Grosso nas publicações
acadêmicas (dissertações, teses e artigos).................................................................. 33
2.3 Os espaços possíveis para coleta de dados........................................................... 37
2.4 Fontes localizadas, agora, o que fazer?............................................................ 39
3 PANORAMA GERAL DAS INSTITUIÇÕES CULTURAIS DE MATO
GROSSO: SÉCULO XIX E PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX............ 41
3.1 Espaços de práticas de leitura em Mato Grosso nos séculos XIX e
XX................................................................................................................................ 48
3.1.1 Associação Literária Cuiabana............................................................................ 52
3.1.2 Gabinete de Leitura.............................................................................................. 53
4 TEMPLO DO SABER: A BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO
GROSSO................................................................................................................................... 64
4.1 Em busca de um espaço possível.......................................................................... 71
4.2 Das formas de acesso ............................................................................................ 77
4.3 Reconstituindo a administração da Biblioteca Pública do Estado de Mato
Grosso........................................................................................................................... 81
5 Acervo: sua constituição e circulação............................................................. 85
5.1 Do disponível ao utilizado..................................................................................... 98
5.1.1 Das consultas efetivadas....................................................................................... 105
5.1.1.1 Consultas nos periódicos............................................................................ ....... 106
5.1.1.2 Consultas nos livros ......................................................................................... 115
5.1.2 Das consultas por área ........................................................................................ 122
5.2 Dos consulentes aos possíveis leitores ................................................................. 127
6 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 133
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 142
APÊNDICES................................................................................................................ 151
13
1 INTRODUÇÃO
O presente texto é resultado de uma pesquisa que teve como objetivos investigar como
ocorreu a constituição da Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso (BPEMT)1 e
identificar aspectos de possíveis práticas de leitura em seu interior, no período de 1912 a
1950.
Para o alcance de tais objetivos direcionei-me por meio dos seguintes
questionamentos: Com que propósito a biblioteca foi criada? Quais sujeitos estiveram
envolvidos na criação desta biblioteca? De que forma a estrutura física influenciou na
utilização do espaço? Como o acervo foi constituído e como foi sua circulação? Quais obras
eram mais consultadas, por conseguinte, o que, potencialmente, liam os frequentadores da
biblioteca? Quem eram os frequentadores, portanto, possíveis leitores, desta instituição?
Inserindo-me no universo da pesquisa histórica, percebi as inúmeras possibilidades de
estudo das questões culturais e a quase obsessão dos pesquisadores em vasculhar documentos
em busca de pistas que lhes direcionassem à resposta(s) aos seus questionamentos.
Para reconstituir a história da biblioteca, bem como os aspectos das possíveis práticas
de leitura realizadas em seu interior, me apoiei nos estudos da história cultural. Na
apropriação dos seus conceitos e premissas, foi possível construir minhas próprias percepções
do que é ou não possível de se reconstruir, baseando-me nos documentos e referenciais
teóricos e metodológicos, visando realizar, conforme Le Goff (1993), uma “construção
científica dos documentos”, uma vez que, segundo ele, “não há realidade histórica acabada,
que se entregaria por si própria ao historiador”, o trabalho deste é rastrear os dados,
analisando-os de forma a interpretar o passado.
Para a construção deste texto, tive contato com diversos conceitos como: pesquisa
histórica, métodos de pesquisa, modernidade, processo civilizatório, práticas culturais,
práticas de leitura, elite, classes populares, dentre outros. Com o fim de me apropriar de tais
conceitos, recorri a diversos autores para compor o meu quadro teórico-metodológico, citando
alguns deles: Chartier (1998, 1999a, 1999b, 1999c, 2001); Darnton (2010); Le Goff (1993);
Certeau (1998; 2002); Burke (1992, 2008); Ginzburg (2006), Abreu (1999); Schapochnik
1 Com o intuito de manter uniformidade quanto à denominação da Biblioteca , neste texto, optei por
utilizar ou a sigla BPEMT – Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso, ou, este nome por extenso
todas as vezes que me referir ao meu objeto de estudo.
14
(1999); Villalta (1999); Deaecto (2011); Siqueira (1999); Peres (2002), Leão (2007); Dilthey
(2010), Elias (2006, 2011) dentre outros.
A abordagem defendida pela História Cultural propicia a investigação de indivíduos
simples, comuns e sua relação com o meio em que vive, possibilita o estudo de Instituições
que antes só seriam consideradas de forma marginal, se estivessem relacionadas a um
monarca ou nobre.
As bibliotecas, antes da década de 50 do século XX, por exemplo, não seriam
consideradas em um projeto investigativo.
No entanto, no âmbito das pesquisas relacionadas aos aspectos culturais, a História da
Biblioteca e da leitura é uma preocupação relativamente recente. Inicialmente, a atenção foi
dada ao estudo da alfabetização, dentro da história da educação, que posteriormente
influenciou os estudos relativos à história do livro e história da biblioteca. (BURKE, 2008).
A realização desta pesquisa trouxe-me muita satisfação, talvez, porque meu interesse
predominante pela leitura e pela biblioteca vem de práticas realizadas desde a infância, nos
momentos em que minha mãe me apresentava os livrinhos de historinhas, histórias da
carochinha, como ela dizia.
Acostumei-me a ter sempre em mãos um livrinho de leitura quando criança. Depois, os
conteúdos foram se diversificando em função das práticas escolares, sendo que estas leituras
não me eram tão atrativas.
Na adolescência, eu comecei a comprar e a retirar, por empréstimo, livros na
Biblioteca Pública Estadual de Belo Horizonte; muitos livros de literatura, tanto brasileira,
como Rubem Fonseca, Paulo Coelho, quanto estrangeira, como Sidney Sheldon, Marion
Bradley Zimmer, entre outros. Para mim, era importante ler, ler, ler... Ler os romances,
contos, crônicas e algumas poesias, poucas, na verdade. Minha preferência era pelos
romances e eu os consumia avidamente.
Estas práticas de leitura não se limitavam ao lar, pois eu levava um livro, aonde fosse,
principalmente ao trabalho. Eu ia lendo no ônibus, em pé ou sentada, lia no intervalo do
almoço ou quando estava no ponto de ônibus. A leitura me fazia sair de mim mesma, da
realidade, e me transportava para outras paragens, eu não percebia todo o stress ao meu redor,
barulho, cansaço, calor, tumulto.
Foi assim, com um livro na mão, trabalhando no Barroca Tênis Clube, um tradicional
clube de Belo Horizonte, onde permaneci de 1990 a 1993, que um dia (em 1992) o meu chefe
me perguntou se eu não gostaria de ser transferida de cargo – de auxiliar de escritório para
15
atuar como auxiliar de biblioteca. Ele disse que, como sempre me via com um livro na mão,
achava que eu possuía o perfil para “tomar conta da biblioteca”, uma vez que a bibliotecária
iria se desligar da empresa.
Apesar de toda minha relação com a leitura, eu vinha de uma realidade em que temas
como graduação, faculdade, curso superior não eram abordados com frequência. Portanto, eu
não tinha conhecimento da existência da profissão de bibliotecário, muito menos, que esta era
resultado de um curso superior de 4 anos.
Tal informação eu adquiri quando comecei a trabalhar na biblioteca do clube e conheci
a bibliotecária que lá atuava. Foi por meio dela que iniciei meus conhecimentos em relação à
administração e organização de uma biblioteca. Ela me apresentou as possibilidades que a
profissão poderia proporcionar, incentivando-me, em um primeiro momento, a dar
continuidade aos estudos.
Por meio do incentivo desta profissional e de minha mãe, fui em busca de uma
formação superior, que se concretizou em 1994, quando passei no vestibular para cursar
biblioteconomia na Fundação Educacional Comunitária Formiguense, distante,
aproximadamente, 250 km de Belo Horizonte onde eu residia, concluindo em 1998.
Porém, antes mesmo de iniciar a graduação, trabalhei, em 1993, em uma biblioteca
escolar, em seguida, em 1998, em uma biblioteca especializada (jurídica), para depois vir para
Rondonópolis, no final de 1998, para trabalhar no Centro de Ensino Superior de
Rondonópolis – CESUR, onde fiquei até 2009, sendo que, de 2001 a 2009, como
coordenadora da biblioteca.
Em Rondonópolis, atuei também como professora no Curso de Biblioteconomia da
Universidade Federal de Mato Grosso, campus Rondonópolis, que iniciou em 2000. No
período de docência, lecionei diversas disciplinas, sendo uma delas História do Livro e da
Biblioteca, o que me motivou a ingressar, em 2002, no curso de Especialização em História e
Teoria da História, apresentando a monografia intitulada História do livro na Antiguidade.
No período de permanência no CESUR, desenvolvi vários projetos de leitura, que
visavam incentivar estas práticas no interior da biblioteca, seja por meio de hora do conto,
teatro de fantoche, concurso de poesia, promoção de minicurso destinado aos graduandos.
Sendo que tais ações eram movidas por minha crença de que a biblioteca, seja universitária,
pública, escolar, especial, especializada, tem a função de ser um centro difusor e incentivador
de práticas de leitura diversas.
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Toda vivência fez com que eu percebesse a leitura como um importante instrumento
para aquisição de conhecimentos que colabora para uma melhor compreensão do meu mundo
e do mundo do outro, e a biblioteca como um dos espaços possíveis para a efetivação das
práticas de leitura, que possui em seu âmbito as construções intelectuais produzidas através
dos tempos, com a função de guardá-las, preservá-las e disseminá-las.
No entanto, essa importante instituição nem sempre é valorizada como deveria e,
sendo assim, conhecer sua história se faz necessário para que possamos re(significar) as
nossas concepções em relação às bibliotecas e sua relevância para a prática de leitura que
deve ser propiciada a todos, sem exceção e, ainda, promover ações para protegê-las e
desenvolvê-las, de forma a contribuir com o crescimento da sociedade.
Nesse aspecto de valorização da instituição biblioteca por meio da reconstituição de
sua história, foi que vislumbrei a relevância de um estudo nessa perspectiva, especificamente
o da História da Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso, no contexto dos aspectos que
envolveram sua constituição e as possíveis leituras efetuadas em seu espaço.
Para “contar” a história da biblioteca foi necessário conhecer o contexto histórico do
período que antecedeu sua criação, a fim de entender algumas concepções percebidas nos
discursos inscritos nas fontes encontradas, por exemplo, a insistência em afirmar que Cuiabá
era uma cidade civilizada e formada por sujeitos cultos e instruídos e que a biblioteca
representaria este desenvolvimento intelectual.
Busquei descrever as iniciativas realizadas pela população cuiabana na criação de
espaços culturais no intuito de torná-la moderna, acompanhando o discurso do “processo
civilizatório”. Nesse percurso, percebe-se que as expectativas e iniciativas de Cuiabá eram as
mesmas de outras províncias do país. Predominava a ideia da instauração do projeto para o
Brasil moderno que determinava, entre outras questões, a instrução de toda a população para
garantir que todos, de acordo com sua classe, pudessem contribuir para o desenvolvimento do
país e também para que as classes populares fossem controladas e disciplinadas.
A garantia da instrução para esta camada da sociedade se limitava ao ensino primário-
elementar, sendo destinado, o ensino secundário e superior, à pequena parcela da sociedade
que pudesse arcar com os custos. Portanto, à elite era destinada a educação que lhe subsidiaria
atuar nos segmentos econômico, político e até mesmo cultural, permitindo-lhes a dominação e
imposição de suas concepções.
A ideologia do conhecimento, adquirido por meio da instrução, da alfabetização e da
leitura de livros, predominava. Acreditava-se que uma sociedade sem livros e
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consequentemente, sem bibliotecas estaria fadada ao fracasso ou ao subdesenvolvimento.
Esse fato pode ser ilustrado tanto em Pelotas, RS, por um extrato do jornal A Discussão (1885
apud PERES, 2002, p. 10, grifo nosso): “O adiantamento de um povo conhece-se pela
moralidade, pelo critério de sua imprensa, pelo número de suas escolas e pelas bibliotecas
que possue.”; quanto em Mato Grosso pelo jornal A Opinião, em que atesta: “Venham os
livros, venham as bibliotecas, que só assim teremos o povo” (A OPINIÃO, 1878 apud
RODRIGUES, 2008, p. 59). Certamente, tal concepção estava disseminada em outros estados
do país, por meio de seus documentos e periódicos.
A Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso foi idealizada e criada com o fim de
auxiliar e complementar a instrução escolar. Ela veio para representar o status intelectual dos
cidadãos cuiabanos e para atuar como guardiã da memória desta sociedade.
Para reconstituir a história da BPEMT foi necessário recorrer à fontes diversificadas,
como os regulamentos, relatórios, jornais, correspondências e mensagens do governo. E para
localizá-las, percorri um longo trajeto iniciado em 2011 e finalizado em 2012, totalizando,
aproximadamente, quatro meses. Esse percurso incluiu visitas a diversas instituições em
Cuiabá, capital de Mato Grosso, como: Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça,
Arquivo Público do Estado de Mato Grosso (APMT), Arquivo da Casa Barão de Melgaço,
Secretaria Estadual de Cultura, entre outros.
Os dados contidos nas fontes precisaram ser organizados e contextualizados de forma a
tornarem-se coesos. Esse processo de “caça”, citando Certeau (2002) e de busca de indícios,
mesmo que nas entrelinhas, conforme Ginzburg (2006), permitiu que dados, que poderiam
passar despercebidos aos olhos de outrem, compusessem o corpo textual que resultou nesta
dissertação.
Em toda a trajetória de pesquisa, fui movida pela convicção de que só valorizamos
aquilo que seja significante e que só conseguimos significar alguma coisa quando possuímos
a capacidade de criticizá-la e trazê-la ao encontro de nossos interesses. A crítica só pode ser
concretizada se houver conhecimento daquilo que se quer criticar. Desta forma, só posso
dizer se aceito ou, se gosto ou não, caso conheça o assunto. Não posso criticar, aprovar ou
descartar aquilo que não conheço.
Nesse aspecto, o saber histórico nos possibilita “conhecer” e, de posse deste
conhecimento, realizar uma leitura crítica e reflexiva, determinando o que é de nosso interesse
e internalizá-lo, ou quem sabe, identificá-lo como irrelevante e descartá-lo.
18
Partindo de tal pressuposto, me apropriei da metodologia da pesquisa histórica para
(re)construir um panorama da história da biblioteca em Mato Grosso, de forma que estes
conhecimentos do passado possam subsidiar a construção de novos conhecimentos no
presente.
Para apresentar a história da Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso, optei por
organizar o texto em 6 capítulos que descrevo a seguir:
Capítulo 1 - Introdução – Espaço em que situo o leitor a respeito do tema,
objetivos, objeto, metodologia utilizada e justificativa. Apresento os principais
conceitos utilizados, a base teórico-metodológica e as fontes utilizadas para a
execução da pesquisa;
Capitulo 2 - Percurso metodológico – Este capítulo é considerado essencial
em pesquisa desta natureza, por oportunizar ao leitor se contextualizar com o
percurso do autor, possibilitando maior familiaridade com o texto, visto serem
apresentados os procedimentos metodológicos utilizados para a execução da
pesquisa.
Capitulo 3 - Panorama geral das instituições culturais de Mato Grosso:
século XIX e primeiras décadas do século XX – Neste capítulo, inicio as
análises das fontes e procuro responder à questão relacionada ao contexto em
que a Biblioteca foi criada, as concepções que havia, no fim do século XIX e
início do século XX, por parte da população local e estrangeira, a respeito da
cultura mato-grossense. Relaciono, ainda, os espaços de leitura que foram
criados em Cuiabá no século XIX e XX.
Capítulo 4 – Templo do Saber: A Biblioteca Pública do Estado de Mato
Grosso – Apresento as reflexões que foram tecidas a partir das concepções
expressadas pela população e autoridades em relação à relevância da Biblioteca
Pública, apresentandoos sujeitos envolvidos na sua criação e direção. Aponto
as dificuldades enfrentadas quanto à estrutura física, mudança de endereço,
escassez de mobiliário, desconforto. Analiso como estes fatores influenciaram
na utilização do espaço pelos consulentes no período estudado. Descrevo,
também, as formas de acesso, horário de funcionamento, política de
19
empréstimo e de que forma essas regras impostas atuaram sobre as práticas dos
consulentes da biblioteca.
Capítulo 5 – Acervo: sua constituição e circulação – Nesse capítulo, busco
responder às questões: O que liam e quem, predominantemente, frequentava o
ambiente da biblioteca? Apresentei também reflexões a partir das fontes
encontradas que indicaram as obras e áreas consultadas por ano, doadores de
obras e os frequentadores da biblioteca. Levanto, também, questões sobre os
possíveis tipos de leitura realizadas, como de lazer, profissional, formativa e
informativa. Finalizo o capítulo com reflexões em torno de quem eram estes
consulentes, portanto, possíveis leitores.
Capitulo 6 – Considerações – Esse é um espaço que propicia ao pesquisador
refazer mentalmente todo o percurso da pesquisa, relacionar todos os capítulos
e apresentá-los de forma sintetizada ao leitor. Para tal fim, faço uma retomada
de todo o texto, destacando as questões que, ao meu ver, são mais relevantes e,
por isso, devem ser comentadas e ressaltadas. Apresento minhas impressões
sobre o resultado da pesquisa e as possibilidades que visualizo para estudos
futuros.
Acredito que a pesquisa contribuirá para a construção de uma parte da história cultural
de Mato Grosso, uma vez que com estudos sobre a história da biblioteca e da leitura será
possível reconstruir o caminhar da população mato-grossense nos trilhos das letras (leitura e
escrita). Desta forma, poderei disponibilizar subsídio informacional a todos que se interessam
pela temática e desejam se aprofundar em pesquisas na área, ou mesmo, por pessoas fora do
ambiente acadêmico que desejem conhecer um pouco sobre a história das bibliotecas e da
leitura em Mato Grosso.
Enfim, pensando em todo processo de construção do conhecimento pelo qual venho
passando, retomo o assunto que mais me motiva a pesquisar e escrever: a biblioteca e a
leitura. Todo o período do mestrado só fez reforçar em mim a crença de que a leitura é o
meio, senão único, o principal para que possamos desenvolver um arcabouço informacional
suficiente que, por meio da escrita ou da oralidade, nos permite a construção de novos
conhecimentos ou mesmo a reconstrução de saberes que, por falta de olhares mais atentos,
estavam invisíveis ou esquecidos.
20
2 PERCURSO METODOLÓGICO
Em história tudo começa com o gesto de separar, de reunir, de transformar em “documentos” certos
objetos distribuídos de outra maneira. [...] Na
realidade, ela consiste em produzir tais documentos, pelo simples fato de recopiar,
transcrever ou fotografar estes objetos mudando ao
mesmo tempo o seu lugar e o seu estatuto.
(CERTEAU, 2002, p. 81).
Figura 1 - Arquivo Público do Estado de Mato Grosso
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora (2012)
Todo empreendimento investigativo de caráter científico infere, para sua
concretização, procedimentos metodológicos que direcionem os passos do pesquisador
durante o processo, sendo necessária a apropriação de um marco teórico-metodológico que
lhe indique os caminhos possíveis e como trafegar por entre os imprevistos que poderão surgir
durante a trajetória.
A apropriação dos saberes necessários à concretização de uma pesquisa científica
ocorreu com minha inserção no Programa de Pós-Graduação em Educação/UFMT-
Rondonópolis- PPGEDU, em que apresentei uma proposta de investigação sobre a leitura na
perspectiva contemporânea. Porém, após valiosas conversas com a orientadora, percebi a
possibilidade de enveredar pelo caminho da pesquisa histórica, fato que muito me agradou,
uma vez que já realizei estudos sobre a história do livro e da biblioteca na Antiguidade, no
curso de especialização em História e Teoria da História, realizado na UFMT, campus
21
Rondonópolis, em 2001, e também por ter lecionado a disciplina História do livro e das
Bibliotecas, no curso de Biblioteconomia da UFMT.
Possuo uma predileção especial pelos assuntos históricos, portanto, a oportunidade de
aliar minhas preferências àquelas de minha orientadora colaboraram significativamente para
uma ótima sintonia nos momentos de orientação.
Após a decisão do tipo de pesquisa, parti para a definição do tema que me foi
apresentado por meio de uma busca exaustiva em um CD2 organizado pela professora Dra.
Elizabeth Madureira Siqueira da UFMT, Campus de Cuiabá, em que localizei informações
sobre a Biblioteca Pública de Mato Grosso, inaugurada em 1912.
Não me esquecerei da euforia quando tive acesso a essa informação, pois a
possibilidade de trabalhar com a biblioteca, aliada à leitura na perspectiva histórica, era tudo
que eu desejava.
Desta forma, ciente da existência de fontes que instigavam olhares mais atentos ao
patrimônio cultural existente no estado, vislumbrei a possibilidade de um estudo mais
aprofundado sobre a constituição da BPEMT e sua atuação como espaço, potencial, de
práticas de leitura.
A escolha do tema vem ao encontro à crença de que a leitura é um importante
instrumento para o desenvolvimento cognitivo e criativo do ser humano, colaborando para o
despertar do pensamento crítico e reflexivo, o qual propicia maior autonomia do sujeito,
favorecendo seu poder de decisão (FREIRE, 1983), sendo que um dos espaços possíveis para
a efetivação das práticas de leitura é a biblioteca.
No entanto, tais instituições nem sempre são valorizadas como deveriam, uma vez que
a história nos conta os diferentes e trágicos destinos de valiosas bibliotecas e a consequente
perda de conhecimentos histórico e cultural (CAMPOS, 1994).
Conhecer essa história se faz necessário para que possamos re(significar) as nossas
concepções em relação a estes espaços de práticas de leitura e de guarda, conservação e
disseminação dos conhecimentos e memória e sua relevância para a construção e preservação
da cultura de uma sociedade.
A apropriação da história da biblioteca oportuniza aos indivíduos percebê-la como um
espaço de democratização e socialização do conhecimento, que estimula a concretização de
2 Trata-se do “Catálogo de fontes educacionais MT - República”, organizado pelo Grupo de Estudo
Educação e Memória (GEM-IE-UFMT), coordenado por Nicanor Palhares Sá e assessorado por
Elizabeth M. Siqueira, dez. 2002.
22
práticas de leituras, as quais devem ser propiciadas a todos, sem exceção, incentivando a
promoção de ações, por parte destes indivíduos, para protegê-las e desenvolvê-las, de forma
que os produtos e serviços oferecidos pelas bibliotecas possam contribuir para o crescimento
da sociedade.
De posse destas crenças e após contato com as fontes encontradas, surgiram os
questionamentos:
Com que propósito a biblioteca foi criada? Quais sujeitos estiveram envolvidos na
criação desta biblioteca? De que forma a estrutura física influenciou na utilização do espaço?
Como o acervo foi constituído e como foi sua circulação? Quais obras eram mais consultadas,
por conseguinte, o que, potencialmente, liam os frequentadores da biblioteca? Quem eram os
frequentadores, portanto, possíveis leitores, desta instituição?
Motivada pela inquietação gerada por meio destes questionamentos no processo de
construção do conhecimento, me propus a investigar como ocorreu a constituição da
Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso (BPEMT) e identificar aspectos de possíveis
práticas de leitura em seu interior, no período de 1912 a 1950.
Para alcançar o objetivo, pretendo: compreender o contexto histórico de Cuiabá do fim
do século XIX e início do século XX, de forma a identificar com que propósito a biblioteca
foi criada e quais sujeitos fizeram parte desse processo; identificar como era a organização
estrutural e humana da biblioteca e de que forma poderia influenciar na utilização do seu
espaço; identificar a constituição e circulação do acervo e apontar o que liam e quem seriam
os frequentadores da biblioteca.
A primeira etapa, que é a delimitação do tema, já havia terminado. Desta forma me
direcionei às outras etapas concernentes a uma pesquisa histórica, a saber:
Definir o marco temporal;
Realizar uma pesquisa do tipo Estado do Conhecimento ou Estado da Arte para
identificar o que já existe sobre o tema;
Fazer um levantamento do referencial teórico sobre pesquisa histórica, história
cultural, história da leitura, história das bibliotecas e história de Mato Grosso;
Identificar os locais que poderíamos encontrar fontes sobre o tema;
Planejar e executar visita a estes locais (todos na capital do estado);
Localizar, avaliar, selecionar, fotografar e organizar todas as fontes encontradas;
Determinar um método para a análise das fontes selecionadas;
Analisar e interpretar as fontes;
23
Elaborar o trabalho de dissertação propriamente dito.
Enfatizo que as etapas descritas anteriormente não são estanques e/ou seriadas,
podendo acontecer em diversos momentos.
Das etapas elencadas anteriormente, duas se destacam: o trabalho com fontes
documentais, que normalmente se torna uma verdadeira maratona investigativa, e a outra que,
segundo Dilthey (2010), não pode faltar em uma pesquisa histórica que é a definição do
marco temporal.
A determinação de um marco temporal permite uma melhor organização dos
acontecimentos em nossa mente, nos dá a noção do antes e do depois, permite-nos relacionar
fatos que ocorreram em determinada época e as influências de um sobre os outros em função
do período em que ocorreram.
Nesse aspecto da delimitação do marco temporal, determinei o período de 1912, data
da inauguração da BPEMT, a 1950, período que encerra uma etapa de funcionamento da
mesma, uma vez que ela, praticamente, não atendeu ao público durante todo o período da
década de 50 por dificuldades em relação às suas instalações físicas. Portanto, este estudo se
detém no que considero ser o primeiro período de existência da biblioteca.
Outro fator a ser destacado é que no processo investigativo o pesquisador precisa se
apropriar de um ou mais métodos que lhe permita caminhar por entre os túneis obscuros da
pesquisa e, assim, um ponto inquestionável é que ele deverá se apropriar do seu pensar para ir
construindo seu marco metodológico e teórico, por meio das fontes disponíveis, dialogando
com os vestígios, questionando-os, tentando identificar, nas entrelinhas, o não dito.
Nesse sentido, o pesquisador, por meio da pesquisa histórica, deve, ao tentar
reconstituir um tempo passado, se apropriar de vestígios que, por meio dos questionamentos e
interpretação, o leve à elaboração de novos conhecimentos e à produção de documentos que
poderão contribuir e incentivar o desenvolvimento de outras pesquisas. Tais reflexões se
fundamentam em Certeau (2002, p. 81), quando afirma que:
Em história tudo começa com o gesto de separar, de reunir, de transformar em “documentos” certos objetos distribuídos de outra maneira. [...] Na
realidade, ela consiste em produzir tais documentos, pelo simples fato de
recopiar, transcrever ou fotografar estes objetos mudando ao mesmo tempo o seu lugar e o seu estatuto.
Ressalto que, no entanto, a reconstituição de que falamos provavelmente não
acontecerá da forma exata como os fatos ocorreram, sendo isso impossível, uma vez que o
24
pesquisador não estava lá no momento dos acontecimentos. E mesmo que estivesse, a leitura
que faz de uma ação, pode não ser a mesma leitura que o outro realiza.
Assim, parti em busca de um método que contemplasse minha proposta que não visava
dar uma explicação (no sentido positivista) aos fatos, mas interpretá-los, dialogando com o
contexto histórico da época, visando evitar o anacronismo, considerando os indivíduos que
participaram daquele momento histórico, uma vez que a história é constituída por meio das
ações humanas (DILTHEY, 2010).
Busquei em Dilthey3 as concepções que nortearam minhas análises, por meio do
método hermenêutico compreensivo, que prevê a compreensão e interpretação dos fatos numa
perspectiva do contexto da época em que eles ocorreram, sem desconsiderar o contexto do
pesquisador, que não pode se fazer neutro no processo. (DILTHEY, 2010).
A hermenêutica é um termo que remete, em um primeiro momento, à interpretação
minuciosa e detalhada dos textos da Bíblia que, segundo um dicionário da língua portuguesa
refere-se à: “1. Interpretação do sentido das palavras. 2. Interpretação dos textos sagrados [...]
3. Arte de interpretar leis” (FERREIRA, 1999a, p. 1.037).
Com o objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre a palavra hermenêutica,
busquei sua conceituação na perspectiva da filosofia e encontrei no dicionário básico de
filosofia de Japiassu e Marcondes (2001, p. 92) a seguinte descrição:
[...]1. Termo originalmente teológico. Designando a metodologia própria à
interpretação da Bíblia: *interpretação ou exegese dos textos antigos, especialmente dos tex-tos biblicos.
2. O termo passou depois a designar todo esforço de interpretação cientifica
de um texto dificil que exige uma explicação. [...]
3. Contemporaneamente. A hermenêutica constitui uma reflexão filosófica interpretativa ou compreensiva sobre os símbolos e os mitos em geral. [...].
No século XIX, por outro lado, o termo passa a ter ampliado o seu sentido com
Schleiermarcher, que estende a hermenêutica à interpretação de qualquer texto.
No entanto, de acordo com Lage (2003, p. 82), Dilthey vai além, quando indica o
método a qualquer expressão, obra ou produto do espírito (das expressões humanas).
3 Whilhelm Dilthey nasceu em 1833 e faleceu em 1911, era alemão e considerado, por alguns
estudiosos, como um dos maiores pensadores do século XIX. Foi teólogo, psicólogo, filósofo e posteriormente, historiador, considerado como “[...] o grande fundador da moderna hermenêutica” que
funcionará como base para o desenvolvimento das ciências humanas no século XX. (LAGE, 2003, p.
81).
25
Dilthey valoriza a vida humana e afirma que tudo, inclusive a natureza, o mundo físico
e a história, só existe em função do homem e suas vivências. Portanto, é necessário, tentar
entender, apreender as ações do ser humano e não só explicá-las utilizando-se da objetividade,
mas que a subjetividade deve ser considerada no processo de análise do pesquisador e um
método científico como o das ciências naturais não é suficiente ou indicado para dar conta do
mundo humano (LAGE, 2003).
A compreensão para Dilthey (2010) é a apreensão dos resíduos do passado, mas como
eles são resultado de movimentos contínuos do ser humano, não são passíveis de ser
compreendidos totalmente, portanto, o que o pesquisador deverá alcançar é sempre “um
conhecimento possível e sempre parcial da realidade histórico-social (LAGE, 2003, p. 70,
grifo do autor).
Na presente pesquisa procura-se apreender, por meio da compreensão dos conteúdos e
fragmentos contidos nas fontes, como ocorreu a constituição da BPEMT, tentando identificar,
em seu espaço e organização, aspectos que poderiam apontar possibilidades de práticas de
leitura em seu interior, no período de 1912 a 1950.
Para exercitar minha capacidade de compreensão, realizei leituras a respeito da
história cultural de Cuiabá –MT, tentando visualizar sua dinâmica no período do final do
século XIX e primeira metade do XX, com o objetivo de compreender em que cenário a
população cuiabana vivia.
Com estas leituras pude voltar meus olhos para as fontes com algum conhecimento e
perspectivas da época e contexto em que os fatos aconteceram, uma vez que o método
hermenêutico compreensivo permite, conforme assinala Reis (2003, p. 119), “[dar] vida aos
dados, articulando-os de tal modo que faz ‘reviver’ a individualidade que é objeto de
interpretação” dentro dos seus limites.
Neste contexto, apoio-me em Dilthey (2010) para afirmar que o conhecimento que já
possuímos sobre determinado assunto, influencia sobremaneira a nossa capacidade de
compreender um evento, quanto mais conhecemos um fato, pessoa, contexto, mais facilmente
e eficientemente poderemos extrair, por meio da compreensão, as informações que desejamos
e/ou necessitamos e que só há compreensão quando consideramos o contexto em que os
acontecimentos ocorreram.
A compreensão permite que, por meio de uma particularidade, obtenhamos resultados
que nos conectem com o todo, com o contexto, sendo que, nesse aspecto, Dilthey (2010, p.
214) define a compreensão como: “uma indução que deduz das particularidades parcialmente
26
determinadas para nós uma conexão que define o todo”, sendo que para ele as partes possuem
um significado para o todo, mas devem também ser consideradas sob o ponto de vista do
todo. Fato ilustrativo das operações que ocorrem com o método compreensivo é descrito por
Reis, afirmando que a operação compreensiva se assemelha:
[...] A leitura/compreensão deve integrar as palavras num sentido e o sentido dos vários componentes do texto na estrutura do seu todo. Numa sequência
de palavras, cada palavra é determinada e indeterminada; contém em si uma
variabilidade de sentido. As ligações entre as palavras podem fazer com elas assumam significados diversos. Dessas ligações determinadas nasce o
significado. As frases são membros de um todo e só são determináveis a
partir do todo. (REIS, 2003, p. 120-121)
A reflexão do autor nos leva a compreender que as fontes estão inseridas neste
contexto, uma vez que seu conteúdo só terá significado se relacionado com o todo, portanto,
os fatos e acontecimentos identificados nas fontes deverão ser confrontados com a realidade
política, econômica, cultural e social de cada momento histórico.
O método hermenêutico compreensivo exige que nós, enquanto pesquisadores,
tenhamos um conhecimento prévio sobre o espaço e o tempo que pretendemos pesquisar para
que possamos ter uma postura de alteridade, entendendo a particularidade a partir do todo,
uma vez que “o momento particular possui significado por meio de sua conexão com o todo
[...]” (DILTHEY, 2010, p. 224) e também a oportunidade de conhecermos melhor o todo, a
partir dos acontecimentos particulares.
Sendo assim, torna-se possível compreender parte da história cultural de Mato Grosso
tendo por base a reconstrução da história da BPEMT e das possíveis práticas de leitura
desenvolvidas em seu espaço, tendo em vista que a confrontação das situações particulares,
detectadas nas fontes, com o contexto da época, apreendidas por meio de pesquisa e diversas
leituras, possibilitará o mapeamento dos aspectos da cultura mato-grossense como um todo,
de forma a contribuir com a história da biblioteca e da leitura em Mato Grosso e
consequentemente do Brasil, o que converge com a concepção de Dilthey quando da
idealização do seu método de pesquisa aplicado às ciências humanas.
27
2.1 O caminho percorrido para a coleta dos dados
Como já abordado anteriormente, a condição essencial para a concretização de uma
pesquisa histórica é a existência de fontes para procedimento das análises. No entanto, onde
conseguir estas fontes? Por onde começar? A quem recorrer?
Localizar fontes nem sempre é uma tarefa fácil, tornando-se necessário que o
pesquisador tenha muita disposição, inclusive física, perseverança, “faro” de investigador que
não se deixa abater com um não inicial ou uma aparente ausência de documentos.
Quando iniciei as atividades no programa de mestrado, eu ainda não sabia que
realizaria uma pesquisa na perspectiva histórica, pelo contrário, meu projeto inicial inseria-se
na perspectiva contemporânea, apesar de se tratar do objeto leitura.
A decisão aconteceu dentro de um processo de construção do conhecimento, nos
momentos de orientação em que eu e minha orientadora nos deparamos com um dado “A
Primeira Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso” constante banco de fontes organizado
pelo Grupo de Pesquisa Memória – GEM-IE-UFMT, sob a coordenação dos Profºs. Drºs.
Nicanor Palhares Sá e Elizabeth Madureira Siqueira. Neste momento que percebi a
possibilidade de empreender uma pesquisa sobre a história da BPEMT relacionada com a
leitura.
Porém, ainda não havia determinado se abordaria a questão da circulação, práticas,
espaços ou representações desta leitura. A decisão aconteceu posteriormente, após muitas
leituras e contato com algumas fontes.
Foi no processo de elaboração da questão de pesquisa que localizei e empreendi a
análise do CD-ROM, em busca de alguma informação que sinalizasse o caminho a seguir.
Nesse percurso, me deparei com dados que indicaram a existência de: a) Um Gabinete de
leitura, no século XIX, b) A primeira biblioteca pública de Mato Grosso, século XX, e c)
outros espaços de leitura. Percebi a oportunidade de investigar uma dessas importantes
instituições/lugares de leitura que existiram em Mato Grosso. E foram as fontes que me
apontaram o caminho. Passei imediatamente a pesquisar todo o CD-ROM a procura de dados
ou informações que me subsidiassem o desenvolvimento da pesquisa na temática: Espaços da
circulação da leitura em Cuiabá no século XX.
28
O CD-ROM indicou dados que direcionavam aos documentos originais existentes no
Arquivo Público do Estado de Mato Grosso4, Casa Barão de Melgaço
5 todos situados na
capital do estado.
Em um segundo momento, realizei busca no site da Universidade Federal de Mato
Grosso – UFMT (www//ufmt.br) para verificar a existência de documentos que tratassem de
temas semelhantes, utilizando os descritores: História cultural; História da biblioteca;
Biblioteca Pública; Leitura; História da leitura e encontrei o trabalho de Rosa e Rosa (1975)
que aborda brevemente sobre um Gabinete de Leitura e também a tese de Elisabeth Madureira
Siqueira defendida em 1999.
O próximo passo foi a realização do estado do conhecimento6 com investigação nas
bases de dados IBICT, CAPES E SCIELO, visando identificar os trabalhos existentes que
tratassem especificamente da circulação da leitura em Cuiabá nos séculos XIX e XX.
O estado do conhecimento é um tipo de pesquisa que permite verificar se já existem
produções com a mesma perspectiva que sua intenção de estudos. O resultado de tal pesquisa
poderá sinalizar duas situações distintas: a existência de produções com enfoque aproximado,
porém não idêntico, que poderão colaborar como referencial teórico para a execução do
empreendimento; ou poderá indicar produções que correspondam exatamente à sua proposta
de estudo, sendo, neste caso, um importante instrumento que irá evitar perda de esforços em
uma investigação que já foi contemplada por outrem. (ANDRÉ, 2006; GATTI, 2004;
GUNTHER, 2006; SANTOS; ALCÂNTARA-ELIEL; ELIEL, 2006).
Partindo desse pressuposto, ressalto a relevância da investigação do tipo estado do
conhecimento, que consiste em um rastreamento exaustivo dos textos já produzidos sobre
determinado tema. Para alcance dos objetivos utilizei como instrumentos para pesquisa dois
suportes, a saber: teses e dissertações mais artigos de periódicos.
O estado do conhecimento, conforme Nóbrega-Therrien (2008, p. 8), objetiva “mapear
e discutir uma certa produção acadêmica em determinado campo do conhecimento”. Este
4 Nesta pesquisa utilizarei, em alguns momentos, a sigla APMT para designar Arquivo Público do
Estado de Mato Grosso 5 O Arquivo da Casa Barão de Melgaço engloba documentos do Instituto Histórico e Geográfico de
Mato Grosso (IHGMT) e da Associação Matogrossense de Letras (AML) 6 Esta pesquisa foi publicada no EDUCERE, para acessá-la na íntegra ver: GABRIEL, Sheila Cristina
Ferreira; ROCHA, Simone Albuquerque da; CARDOSO, Cancionila Janzkovski. A história da biblioteca em pesquisas: algumas considerações. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO,
10. EDUCERE. Anais... Curitiba: PUCPR, 2011. Comunicações. 1 CD ROM.
29
estudo resultou em valioso recurso para recuperação de dados substanciais ao corpus teórico-
metodológico do trabalho. Para a execução da pesquisa, direcionei-me por meio de algumas
questões, a saber: O que tem sido pesquisado no Brasil relacionado à história da leitura e
história da biblioteca? Que regiões e instituições do país abordam essa temática? Que
abordagem metodológica, tipo de pesquisa e instrumentos foram utilizados?
Os suportes utilizados para concretização da pesquisa foram as bases de dados da
BDTD – Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do IBICT e Banco de Teses da CAPES,
consideradas como instituições científicas fidedignas, de renome nacional e internacional que
contemplam publicações – teses e dissertações – produzidas no país e mesmo fora dele.
Importante ressaltar que só são recuperados trabalhos que forem indexados nas instituições
de origem e encaminhadas às bases, do IBICT ou CAPES.
O período contemplado por esta pesquisa foram os anos de 2005 a 2009. No entanto,
posteriormente encontrei um trabalho de Ferreira e Silva (2011), em que foi realizado um
estudo das pesquisas efetivadas no Brasil no período de 1965 a 2005 relacionados à leitura,
mais especificamente a história da leitura, que colaborou como complemento à investigação
que foi realizada.
Na pesquisa do período de 2005 a 2009, foram localizados 292 registros sobre
biblioteca, dos quais, apenas 17 tratavam da história da biblioteca.
O procedimento de busca que resultou nos números acima foi o seguinte: Utilizei o
descritor “História da Biblioteca” (HB) na CAPES e IBICT, em que não foi recuperado
nenhum registro. Então, alterei a estratégia, utilizando o descritor “Biblioteca” que recuperou
os registros descritos no quadro 1:
Quadro 1 – Resultados das buscas efetuadas nas bases da CAPES e IBICT para História da
Biblioteca
BASE
DE
DADOS
ANO DESCRITOR
BIBLIOTECA
QUE ABORDAM A HISTÓRIA DA
BIBLIOTECA
CAPES 2005 a
2009
251 17
IBICT 2005 a
2009
41 4* (desconsiderado na tabulação final)
TOTAL 292 17
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora: organizado após análise dos dados. *Estes 04 (quatro) registros encontrados no IBICT sobre História da Biblioteca foram redundantes
com os resultados da CAPES, portanto desconsiderados na tabulação, prevalecendo o total de 17
registros que tratavam da história da biblioteca.
30
Para chegar aos 17 trabalhos que abordavam o assunto “história da biblioteca”, foi
necessário analisar individualmente cada um dos 292 registros, verificando as palavras-chave,
resumo e algumas vezes a introdução do trabalho para tentar identificar o foco da pesquisa e
outras informações pertinentes.
Quanto ao descritor, história da leitura, dos 344 registros localizados, apenas 20
tratavam realmente sobre a leitura na perspectiva histórica.
O procedimento de busca que resultou nos números acima foi o seguinte: Utilizei o
descritor “Leitura” na base da CAPES, em que foi recuperado o total de 12.297 registros.
Devido a inviabilidade de análise destes números e por ter como foco a história da leitura,
refinei a busca para “História da Leitura” que recuperou os seguintes registros:
Quadro 2 – Resultados das buscas efetuadas nas bases da CAPES e IBICT para História da
Leitura
BASE
DE
DADOS
ANO DESCRITOR HISTÓRIA
DA LEITURA
QUE ABORDAM EFETIVAMENTE A
HISTÓRIA DA LEITURA
CAPES 2005 a
2009
337 17
IBICT 2005 a
2009
7 3
TOTAL 344 20
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora: organizado após análise dos dados.
Para chegar aos 20 trabalhos que abordavam o assunto “história da leitura”, foi
necessário analisar individualmente cada um dos 344 registros, verificando as palavras-chave,
resumo e algumas vezes a introdução do trabalho para tentar identificar o foco da pesquisa e
outras informações pertinentes.
De todo este processo o que pude perceber é a necessidade de estudos que
identifiquem as formas como os resumos, palavras-chave e mesmo introdução são elaborados,
no sentido de perceber se estes expressam de forma fidedigna os assuntos principais
abordados no trabalho. Essa é uma questão importante se considerarmos que os indexadores,
que traduzem os assuntos contidos no documentos, lançam os termos nas bases de dados
amparados, principalmente, no resumo, nas palavras-chave e, às vezes, na introdução do
trabalho analisado. Assim, muitos trabalhos que abordam a temática história da biblioteca e
31
história da leitura, poderiam, em tese, não ter sido recuperados em função da ausência dos
respectivos termos no resumo e palavras-chave.
De posse dos trabalhos localizados, foi possível, após análise dos mesmos, contemplar
o objetivo principal desta pesquisa, que era saber se já havia produções em Mato Grosso sobre
a temática, ou outras realizadas por pesquisadores de outras regiões, mas sobre o tema em
Mato Grosso. Portanto, foi relevante identificar este dado e ilustrá-lo.
No quadro a seguir, são apresentados os resultados para o descritor, história da
biblioteca e história da leitura.
Quadro 3 - Trabalhos sobre História da Biblioteca e História da Leitura por região, estado e
instituição
REGIÃ
O
HISTÓRIA DA BIBLIOTECA HISTÓRIA DA LEITURA
Estado
Instituiçã
o
Qtd % Estado
Instituição Qtd. %
Centro-
oeste
Mato
Grosso
UFMT 02 11,8% 0 0 0 0%
Goiás UFGO
Nordeste Maranhão UFMA 01 5,8% Ceará UFCE 07 35%
Paraíba UFPB
Sergipe UFSE
Norte 0 0 0 0 0 0 0 0%
Sudeste Minas
Gerais
UFJF/
UFMG
12 70,6% Minas
Gerais
UFMG 12 60%
Rio de
Janeiro
FIOCRUZ
/UFF
Rio de
Janeiro
UFRJ,
PUCRJ
São Paulo PUCAMP/
USP/
PUCSP
São
Paulo
UNESP,
PUCSP,
UNIV. SÃO
MARCOS,
UNICAMP,
USP
Sul Rio
Grande do
Sul
UFRS/UF
Pel
02 11,8% Santa
Catarina
UFSC 01 5%
TOTAL 17 100% 20 100%
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora: organizado após análise dos dados.
Vislumbra-se, neste quadro, no tocante à história da biblioteca, o fato que a sensível
maioria das publicações (71%) é desenvolvida na região Sudeste. De posse desses dados,
32
infere-se que um dos motivos seria que esta região contempla o maior número de programas
de pós-graduação stricto sensu do país (informação verbal)7.
Baseado nos dados coletados, percebe-se que Mato Grosso destaca-se pela quase
inexistência de publicações nesta temática específica, apenas 6%, tornando-se salutar que
outros pesquisadores se sintam motivados a trilhar por esse caminho, afirmação que está em
consonância com as pesquisa de Sguarezi (informação verbal)8.
Quanto ao descritor história da leitura, percebe-se que, no quadro 3, novamente, a
maioria, 60% das publicações, são desenvolvidas na região Sudeste. Acredito que um dos
motivos seja exatamente o local com maior número de programas de pós-graduação stricto
sensu.
No quadro, percebe-se, também, a inexistência de trabalhos na região Centro-Oeste.
Este fato me fez questionar se os resumos e palavras-chave são elaborados de forma a
descrever fidedignamente todo o trabalho, pois tenho ciência que 5 dos 8 deles sobre história
da alfabetização da região Centro-Oeste se enquadram na história da leitura, uma vez que esta
informação nos foi dada por uma das orientadoras dos trabalhos, Profª. Drª. Cancionila J.
Cardoso:
Veja, nós do Grupo ALFALE - e também nossas colegas de Minas, de Pelotas, de Vitória, do Rio e do Amazonas - temos investido desde 2001 em
pesquisas sobre história da alfabetização, de cartilhas, de livros. O que é a
alfabetização senão a porta de entrada para a leitura? Nossos trabalhos não aparecem em sua pesquisa porque não nos enquadramos nos descritores...
Temos errado em não colocar "história da leitura" ? Penso que sim.
(CARDOSO, 2011, p. 1).
Nesse aspecto, considero que a determinação dos descritores ou palavras-chave devam
ser pensados em uma perspectiva que contemple efetivamente as principais áreas em que o
trabalho esteja inserido, para que o mesmo seja recuperado nos campos de busca dos sistemas
de gestão da informação utilizados.
O resultado da pesquisa indica que não houve um crescimento significativo após a
pesquisa realizada por Ferreira e Silva (2011, p. 136), que visava apresentar quantitativamente
as produções sobre leitura nas teses e dissertações defendidas entre 1965 e 2005, uma vez que
foi constatado que “pouco mais de 5% têm-se voltado para uma perspectiva histórica e
7 Palestra proferida pela profa. Dra. Nilza de Oliveira Sguarezi, no dia 14 de março de 2011, na aula
magna do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso,
Campus Rondonópolis. 8Ibdem.
33
historiográfica, o que sugere que essa produção ligada à história da leitura, do livro e do leitor
apresenta muitos desafios para os atuais pesquisadores”.
Nesse aspecto, é relevante destacar que dos 5% trabalhos localizados pelas
pesquisadoras acima, nenhum se refere a história da leitura em Mato Grosso, alertando para a
possibilidade de investigação sobre a história da biblioteca e da leitura. Destes dados me
aproprio para afirmar que faz-se necessária a intensificação dos estudos do tipo pesquisa
histórica, nas áreas da história da leitura e principalmente a história da biblioteca em Mato
Grosso.
Desta pesquisa Estado do Conhecimento juntamente com pesquisa na base de dados da
UFMT, foi possível recuperar alguns trabalhos que foram valiosos no processo de formação
do arcabouço teórico-metodológico desta pesquisadora.
2.2 A história da leitura e da Biblioteca em Mato Grosso nas publicações acadêmicas
(dissertações, teses e artigos)
No processo de pesquisa do estado do conhecimento para localização de possíveis
trabalhos que abordassem o meu objeto e tema encontrei, uma dissertação de mestrado, de
Soely Aparecida Dias Soares (2006); uma tese de doutorado, de Eni Neves da Silva
Rodrigues (2008), e um artigo, publicado em evento, de Franceli Mello (2011), que discutiam,
de alguma forma, a leitura e a Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça.
No processo de pesquisa na base de dados da UFMT sobre trabalhos acadêmicos que
tratassem da história da leitura e história da biblioteca, foi encontrada a tese de doutorado da
professora Elizabeth Siqueira Madureira (1999)9.
O primeiro trabalho foi a dissertação de Soely Aparecida Dias Soares (2006) que
aborda as práticas de leitura da população cuiabana nos dias atuais, identificando as
concepções que os leitores têm do que é leitura. Apresenta a biblioteca como espaço para o
letramento, em uma perspectiva contemporânea, não se tratando de uma pesquisa histórica. A
autora tem a preocupação de investigar, por meio da observação e entrevista, como os leitores,
frequentadores da biblioteca, realizam suas práticas de leitura e com que finalidade.
9 Ressalto que este trabalho não foi recuperado na pesquisa estado do conhecimento, mas sim no
processo anterior quando da busca no site da UFMT. No entanto, torna-se relevante destacá-lo, por
abordar a história da instrução em Mato Grosso de forma aprofundada e apresentar, de forma
esclarecedora, os espaços culturais de Cuiabá, no século XIX.
34
A autora identifica que os leitores lêem para se munir de conhecimentos, para
conhecer outras realidades, para relaxar, para desenvolver seu senso crítico-reflexivo,
conforme apontam três respostas de suas entrevistas: “Ler é uma forma de você estar à frente
de tudo na vida. Você lê, então você adquire conhecimentos [...]” (JAKELINE, 2006 apud
SOARES, 2006, p. 127):
Ler é descobrir, é... matar aquela curiosidade de querer aprender, de saber
mais... de ir além [...] coisas que você não pode ter através do dinheiro, por exemplo. Você pode abrir um livro e viajar... Você pode conhecer paisagens,
lugares que você não tem condições de estar ali fisicamente, mas
psicologicamente, você pode estar. [...] (NILMA, 2006 apud SOARES, 2006, p. 128).
Eu vou mais pela visão de Paulo Freire, “ler o mundo”. Tudo é leitura. Porém, quando você lê o mundo, com o suporte de outras informações, de
outras leituras, você compara o teu mundo com mais probabilidade de
acertar, o que você lendo no mundo. Porque, se você lê o mundo, e não tem
aqueles outros suportes... Porque nós só podemos analisar uma coisa, se é boa ou ruim, com parâmetros. Então, como que você vai evoluir como
pessoa, como técnico, como tudo? Se você não tem parâmetros, do que é
bom, do que é melhor, e do que é menos pior, digamos... Você não pode só ter a leitura do mundo, como também não pode, só ter a leitura “formal”.
(VERA, 2006 apud SOARES, 2006, p. 129-130).
Estas falas indicam o porquê, ou, para que, os cuiabanos lêem o que eles entendem por
leitura. Portanto, o trabalho de Soares (2006) é de grande relevância para um entendimento
das práticas de leitura dos cuiabanos e, parcialmente, dos mato-grossenses. E mesmo não
sendo um estudo histórico, certamente contribui para a história da leitura em Mato Grosso.
Ainda no aspecto da efetivação da leitura nesse cenário,duas pesquisadoras
apresentam o resultado de suas pesquisas, abordando a questão da leitura em Mato Grosso em
uma perspectiva histórica, sendo elas: Eni Neves da Silva Rodrigues (2008), tese de
doutorado, e Franceli Aparecida da Silva Mello (2011), artigo em periódico.
A primeira, professora Eni Rodrigues (2008), apresenta um quadro representativo da
história da leitura em Mato Grosso no século XIX, em que, por meio de jornais da época e
obras de historiadores, identifica a circulação da leitura em Cuiabá, Corumbá e Poconé no
período de 1847 a 1899.
Por meio de leitura, análise e interpretação dos artigos dos jornais, ela apresenta os
acontecimentos relacionados à “proliferação de associações, o movimento do mercado
livreiro, o surgimento de textos de crítica literária nos jornais”. (RODRIGUES, 2008, p. 21).
35
Sua fonte principal são os jornais de 1847 a 1899. Por meio deles, ela identifica que os
periódicos mato-grossenses, seguiam o mesmo padrão de diagramação daqueles, impressos na
capital Rio de Janeiro (RODRIGUES, 2008, p. 26) e que circulavam em grande volume em
Cuiabá naquela época, o que induz a pensar que havia demanda da população, portanto, esta
exercia a prática da leitura de periódicos.
A leitura do trabalho de Rodrigues (2008) é clara, agradável e nos transporta para a
vida cultural em Cuiabá, Corumbá e Poconé do século XIX, enfatizando o interesse da
população mato-grossense pela cultura letrada, e seu esforço para criar e manter espaços
culturais, como teatro, gabinetes, clubes e associações literárias e a utilização dos jornais
como “embrião da crítica literária” (RODRIGUES, 2008, p. 32). A autora também apresenta o
trajeto das editoras-livrarias em Mato Grosso, bem como, os livros e autores mais
demandados.
Ela apresenta, ainda, reflexões sobre as representações que a população local e
estrangeira fazia de Mato Grosso e do acesso ao saber e, também, explicita as intenções
políticas atreladas à criação de espaços culturais.
Acredito que a pesquisa de Rodrigues (2008) torna-se leitura obrigatória para quem
quer conhecer e/ou pesquisar sobre a história da leitura, da literatura e do livro em Mato
Grosso.
A segunda pesquisadora, Franceli Mello, publicou, em 2011, um artigo, resultado de
uma pesquisa realizada entre os anos 2000 e 2004, sobre as práticas de leitura em Mato
Grosso no século XX. Ela lança mão de entrevistas com sujeitos leitores e pesquisa
adocumentos para identificar “o papel da biblioteca na formação do leitor”. (MELLO, 2011,
p. 74).
Mello (2011) apresenta, de forma abrangente, os espaços de leitura criados em Mato
Grosso desde 1770, em que destaca a criação da primeira biblioteca (particular) de Mato
Grosso, pertencente a José Barbosa de Sá, contendo 131 exemplares, que foi adquirida por
Joaquim da Costa Siqueira. Posteriormente, em 1874, cria-se o Gabinete de Leitura e, em
1884, a Associação Literária Cuiabana que teve o acervo transferido para a atual Academia
Mato-grossense de Letras. E, finalmente, cita a criação da Biblioteca Pública Estadual
Estevão de Mendonça, em 1912.
Nas entrevistas, percebe-se que os alunos das escolas públicas, não se lembravam da
existência de biblioteca em suas dependências, com exceção do Liceu Cuiabano. Essa
informação nos induz a refletir sobre a dificuldade que as pessoas das classes menos
36
favorecidas tinham para acessar um livro ou revista, uma vez que, dificilmente poderiam
comprar um exemplar e, não tendo o acesso na própria escola, restaria somente a Biblioteca
Pública para sanar suas necessidades?
A autora finaliza ressaltando a relevância da biblioteca para as práticas de leitura dos
mato-grossenses, enfatizando o descaso total em relação a esta instituição e a necessidade
urgente de implementação de políticas que direcionem, orientem e deem subsídios às
bibliotecas já existentes, bem como a criação de mais unidades no estado, conforme a autora:
“Infelizmente nem só de prazeres se dá o processo de aquisição da leitura, e ele é tanto
doloroso quanto mais atrasado e autoritário é o contexto em que ocorre.” (MELLO, 2011, p.
81).
A leitura do trabalho empreendido por Mello (2011) é relevante para se ter uma ideia
geral e ampla da história da leitura em Mato Grosso e para nos chamar a refletir sobre a
importância da Biblioteca Pública como colaboradora das práticas de leitura da população e
do descaso das autoridades públicas em relação a este importante órgão de difusão da cultura
letrada no estado.
Um outro trabalho de cunho acadêmico10
que foi de suma relevância para a construção
do meu arcabouço teórico-metodológico e não recuperado no processo da pesquisa do estado
do conhecimento, por não se enquadrar no período pesquisado, que foi 2005 a 2009, foi a
tese de doutorado de Elizabeth Madureira Siqueira, defendida em 1999, intitulada Luzes e
Sombras: educação e modernidade em Mato Grosso (1870-1889). Essa produção foi
localizada no banco de dados da Biblioteca da UFMT e descrita nesse espaço por apresentar
um panorama de Cuiabá, entre 1870 e 1889, que contextualiza um período que antecede e
influencia o espaço temporal da minha pesquisa.
Siqueira (1999) reconstitui a história da instrução pública em Mato Grosso no século
XIX. A autora apresenta o cenário europeu e nacional do período moderno, se detendo na
questão da instrução pública, seu foco de estudo. Enfatiza que as ações implementadas em
Mato Grosso eram decorrentes de um projeto maior de modernização instaurado no cenário
nacional e herdado de concepções europeias.
Siqueira (1999) lança mão de documentos do APMT, NDIHR, Instituto Memória do
Poder Legislativo e Arquivo da Casa Barão de Melgaço e por meio deles constroi um texto de
leitura agradável que nos transporta para o cenário educacional e cultural cuiabano do século
10 Considerar como “de cunho acadêmico” as monografias, dissertações e teses. Não incluo, neste
espaço, comentários de livros lidos para a elaboração deste trabalho.
37
XIX. A autora descortina tanto o contexto do universo dos homens livres pobres quanto o das
elites. No caso das elites, ela aborda os espaços agremiativos, associativos, enfim, os de
práticas culturais idealizados e mantidos pelos intelectuais da elite cuiabana.
Esse trabalho é leitura obrigatória para todos que se interessam pela história de Mato
Grosso, especificamente a história da educação. Por meio dele, é possível visualizar,
mentalmente, os espaços de instrução criados no estado, os tipos de escolas, métodos,
instrumentos de ensino, enfim, os mecanismos que envolveram o sistema de ensino instituído
em Mato Grosso no século XIX.
A localização e leitura destes trabalhos colaboraram para a construção do meu
arcabouço teórico-metodológico que, juntamente às fontes e à leitura de autores, que se
debruçam no assunto da História do livro, da leitura e das bibliotecas, forjam, em mim, uma
maior competência para desenvolver minha proposta de pesquisa.
2.3 Os espaços possíveis para coleta de dados
Após a pesquisa do estado do conhecimento, me dirigi a Cuiabá para uma pesquisa
mais apurada no acervo do Arquivo Público do Estado de Mato Grosso - APMT, o que
propiciou acessar várias fontes, como: jornais, livros, relatórios e atas que me indicaram a
possibilidade de concretização da proposta de estudo.
A pesquisa em arquivo requer dedicação, perseverança e paciência, exigindo do
pesquisador atenção e minúcia no processo de pesquisa, para que nenhum documento
localizado, relacionado ao objeto de estudo e ao marco temporal, deixe de ser analisado como
possível fonte. Para tanto, foi necessária uma leitura atenta destes documentos selecionando
aqueles que possam contribuir para a construção do conhecimento histórico sobre o objeto de
estudo.
A pesquisa no APMT se estendeu em torno de 4 meses, tendo sido consultados
jornais; documentos avulsos: todas as caixas e latas de 1912 a 1963, totalizando 307 caixas;
regulamento e relatórios11
da biblioteca pública e as mensagens do governo à Assembleia
Legislativa de 1912 a 1964.12
. Apresento a seguir, modelos das capas dos referidos
documentos.
11 Apresento apenas a capa do primeiro relatório a título de ilustração.
12 Apresentei somente uma capa, a mais legível dentre minhas fotos, apenas para ilustração. Por ser a
extensão cronológica das Mensagens muito extensas, seria inviável a inclusão de todas as capas.
38
Figura 2- Regulamento Figura 3 – Relatório da Figura 4 – Mensagem do
da BPEMT - 1912 BPEMT - 1914 governo à Assembleia- 1950
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora extraído do acervo do APMT (2012)
Como resultado da busca no arquivo, foram encontrados os documentos descritos no
apêndice A e B, pertinentes à intenção de pesquisa, tornando-se, portanto, fontes para o
processo de análise.
Além do APMT, me dirigi pessoalmente à Casa Barão de Melgaço; Biblioteca
Pública Estadual Estevão de Mendonça; à Secretaria de Justiça (ao qual a Biblioteca
inicialmente era subordinada, quando este órgão denominava-se Secretaria de Interior, Justiça
e Fazenda) por intermédio de uma Bibliotecária da Secretaria de Planejamento do Estado de
Mato Grosso – SEPLAN, todos localizados em Cuiabá-MT. Recorri ainda, ao Arquivo
Público de Mato Grosso do Sul, localizado em Campo Grande-MS, por meio de uma colega
de Mestrado, sendo que em nenhum destes órgãos foi localizado qualquer documento sobre a
biblioteca, no período de interesse.
Outra instituição pesquisada foi a Secretaria Estadual de Cultura em Cuiabá-MT, onde
localizei documentos interessantes, porém, do período de 1984 em diante, data em que essa
instituição foi criada.
Visitei também o Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional - NDHIR
, localizado no campus da UFMT Cuiabá, porém não localizando nenhum documento
pertinente à Biblioteca Pública.
De todas as instituições visitadas, apenas o APMT prevaleceu como base empírica
para a pesquisa. Desta forma, todas as fontes mapeadas, selecionadas e analisadas foram
39
localizadas no acervo desta instituição. Sendo assim, considero este espaço como fundamental
no meu processo de pesquisa.
2.4 Fontes localizadas, agora o que fazer?
Dentro do processo da pesquisa histórica documental, há um momento especial e
decisivo para o pesquisador: Haverá fontes? Em que estado se encontram? Poderei acessá-las?
Como? Ou ainda, o que fazer com tanto documento?
A primeira etapa para a pesquisa é a localização das fontes ou documentos. Este
momento envolve a visualização e o acesso às mesmas, é o momento de “tocar” no possível
“tesouro” que impulsionará e possibilitará a concretude da proposta de estudos, uma vez que
sem as fontes, determinadas questões de pesquisa não poderão ser respondidas, portanto, há a
inviabilidade de continuação da proposta e necessidade de mudança do tema, objeto, sujeito,
etc.
Por outro lado, há a possibilidade de encontrar inúmeros documentos que tratam do
tema ou do objeto, porém, nem todos pertinentes a sua intenção de estudos, exigindo-se nesse
momento a competência do pesquisador para avaliar e selecionar, dentre todos os
documentos localizados, aqueles que são pertinentes aos seus interesses, que poderão,
efetivamente, colaborar no momento de análise e interpretação.
Após a decisão de quais fontes serão utilizadas, vem a questão da reprodução das
mesmas, uma vez que, dependendo do período de sua produção, não poderiam ser
fotocopiadas mas, somente, fotografadas, transcritas manualmente, digitadas ou digitalizadas.
Este momento é importantíssimo, pois a qualidade das fotos ou a veracidade da transcrição
realizada manualmente poderão facilitar ou prejudicar o momento de diálogo e apreensão do
conteúdo das fontes.
Após a localização, análise, seleção e reprodução, o pesquisador provavelmente, terá
em mãos um montante de documentos, às vezes muito numerosos, que deverão ser
organizados, para estarem prontos ao diálogo. Para tanto, é imprescindível que eles estejam
devidamente organizados e acondicionados para que o trabalho possa ser realizado de forma
sistemática, evitando maiores percalços no processo de desenvolvimento do projeto.
Este é um fator às vezes desconsiderado no processo da pesquisa e que pode acarretar
perda de tempo e desgaste psicológico para o pesquisador, portanto, é fundamental determinar
um método de organização dos documentos localizados. Tal organização depende das
40
preferências do pesquisador, mas uma opção possível é que os impressos ou digitais, sejam
organizados em pastas por ordem alfabética e por assunto, de forma a facilitar sua rápida
localização. Importante também realizar um fichamento dos assuntos contidos nos mesmos, o
qual agilizará o processo de análise.
Após todo este processo que envolve desde a localização à organização das fontes, as
mesmas estarão prontas, aguardando o tão esperado momento do diálogo, interpretação e
compreensão, que resultará no registro das reflexões e considerações, esperando que o
conhecimento produzido por este trabalho possa contribuir para a construção de novos
conhecimentos.
41
3 PANORAMA GERAL DAS INSTITUIÇÕES CULTURAIS DE MATO GROSSO:
SÉCULO XIX E PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX
“Venham os livros, venham as bibliotecas, que
só assim teremos o povo” (A OPINIÃO, 1878
apud RODRIGUES, 2008, p. 59).
Figura 5 –Sede da Academia Mato-Grossense de Letras na década de 50
Fonte: MESQUITA (1978, p. 17).
Para compreender a relevância da criação de uma biblioteca pública para a população
cuiabana torna-se necessário conhecer um pouco do contexto histórico do período que
antecede sua criação. Este capítulo foi construído, por meio das fontes documentais e
bibliográficas, com a pretensão de situar o leitor sobre as concepções que os cuiabanos e os
visitantes que a conheceram construíram em relação à vida social e cultural de Cuiabá do final
do século XIX e início do século XX, bem como as iniciativas concretizadas para suprir as
necessidades percebidas.
Com a pesquisa, percebe-se que civilização, modernidade e progresso são palavras de
ordem para os cuiabanos a partir da segunda metade do século XIX, sendo que para alcançar o
propósito de se tornar uma cidade civilizada, moderna e que acompanhasse o progresso
nacional, a capital de Mato Grosso deveria providenciar alterações na sua infraestrutura e na
formação intelectual de sua população. E para alcançar tal objetivo seria imprescindível,
como aponta Siqueira (2000), a instrução e a formação de novos hábitos e costumes.
42
Tais premissas estão atreladas a um “processo civilizatório” perseguido por diversos
países ocidentais, inclusive o Brasil. Este processo civilizatório iniciou-se efetivamente com a
modernidade, ocasião em que se percebeu a necessidade de se instituir alguns padrões de
comportamento que iriam refletir na influência de uma classe social sobre outra e determinar
quem seriam os responsáveis pelas tomadas de decisão que definiriam o percursos de uma
determinada sociedade.
De acordo com Elias (2011), a teoria do “Processo civilizatório” é uma criação
ocidental e teve sua origem a partir de dois conceitos “courtoisie13” e “civilité”
14, que
posteriormente, no século XVII e XVIII, foram assimilados iniciando as práticas dos modos
civilizados pelos aristocratas europeus. Porém, o conceito francês de civilisation só foi
formulado no século XVIII, aparecendo pela primeira vez em 1760 (ELIAS, 2011).
A utilização dos “bons modos” foi assimilada, primeiramente, pela corte europeia e,
posteriormente, difundida a outras classes sociais. Desta forma, os gestos que envolviam as
práticas consideradas civilizadas, como educação à mesa, maneira de andar, falar, gesticular,
higiene do corpo, leitura de bons livros, elevações do pudor, começaram a indicar distinção
entre as classes sociais (LEÃO, 2007). O processo civilizatório, incluía, entre outras coisas, a
apropriação de conhecimentos que propiciassem aos indivíduos interferir na dinâmica da
sociedade, inclusive, modificando-a. Estes conhecimentos deveriam ser adquiridos por meio
da educação e instrução.
Nesse sentido, uma sociedade que não fosse civilizada não poderia se desenvolver e
seria, consequentemente, absorvida ou subvertida por outra nação. O conceito de civilização
incluía mais que “boas maneiras”, envolvia um sentimento de pertencimento de “consciência
nacional” resultado da passagem do habitus social15
para o habitus nacional16
(ELIAS, 2006).
Para Elias (2011, p. 24), uma nação civilizada:
13Courtoisie representa normas de boas maneiras, no período medieval, desde os cortesãos aos
senhores feudais, que englobava normas tanto para adultos quanto para crianças. Estas normas eram
disseminadas pelos Tratados de civilidade. (ELIAS2011). 14
Civilité foi um conceito disseminado na Renascença. Este, indicava os modos de comportamento, boas maneiras de se conduzir a vida (ELIAS, 2011) e, segundo Leão (2007, p. 21), “a sedimentação de
costumes para a boa educação das crianças”. 15
Segundo Leão (2007, p. 24), habitus social são “as experiências comuns a cada tradição cultural. 16
A mesma autora afirma que: “habitus nacional deve ser entendido como “uma comunidade
imaginada de sentidos e de sentimentos reconhecida por um conjunto de indivíduos que se
‘determinam reciprocamente em suas relações sociais e no modo pelo qual reagem diante de
acontecimentos pessoais e impessoais”. (LEÃO, 2007, p. 24).
43
[...] manifesta a autoconfiança de povos cujas fronteiras nacionais e
identidade nacional foram tão plenamente estabelecidos desde séculos, que
deixam de ser temas de qualquer discussão, povos que há muito se expandiram fora de suas fronteiras e colonizaram terras muito além delas.
No Brasil, a preocupação com a constituição de uma “unidade nacional” por meio de
um “projeto nacional” intensificou-se no século XIX, após sua Independência. O modelo ao
qual o Brasil precisava espelhar-se deveria ser importado da Europa, especialmente da França.
Nesse sentido, as bases para a realização de tal projeto viria das experiências e indicações das
elites17
que, segundo Siqueira (1999, p. 45) possuía uma “formação cultural europeia e
detentora de um saber específico, cujos valores norteariam a elaboração do projeto para o
Brasil moderno.”
A constituição do Estado nacional garantiria que a nação surgisse, conforme ressalta
Siqueira (1999, p. 46) “[...] coesa, minimamente uniforme e composta por um povo que, pelo
menos em sua base, estivesse unido por signos de identidade.” Esta assertiva vem ao encontro
do conceito de processo civilizatório elaborado por Elias (2011) e que Leão ressalta como
sendo: “[...] são as cadeias de interdependência que mantêm os indivíduos ligados e formam
os nexos mutáveis[...]” (LEÃO, 2007, p. 30).
Para a concretização de uma sociedade civilizada era imprescindível que “signos de
identidade” fossem identificados e que se tornassem referência que designariam a identidade
do Estado Imperial. Estes signos, de acordo com Siqueira (1999, p. 47, grifo nosso), seriam:
“[...] a língua nacional, a religião católica, a base instrucional e educacional única
(primário elementar), e o conjunto das leis que regia o país.”
No Brasil, políticos membros da elite elaboraram, em 1870, um Projeto para o Brasil
Imperial baseado nas experiências francesas que tinham como base a imposição de normas e
regras que condicionassem os comportamentos dos indivíduos, domesticando-os para que o
país saísse da barbárie e se tornasse efetivamente civilizado. Estas bases pretendiam moldar a
sociedade que deveria ser, citando Siqueira (1999, p. 46):
[...] regida pelo contrato social, onde leis e normas deveriam ser capazes de
estabelecer vínculos de identidade e homogeneidade, uma vez que todos os
componentes da sociedade seguiriam, indistintamente, essas regras.
17 O conceito de elite adotado neste trabalho converge com a concepção adotada por Peres (2002, p.
14) que a considera como um grupo social que detinha “[...] prestígio e influência econômica, política
ou intelectual ou [...] ostentavam um somatório destes ‘poderes’”.
44
No entanto, esta aparente igualdade deveria ser administrada com cuidado para que o
“segmento cidadão” da sociedade entendesse, conforme Siqueira (1999, p. 47) qual é “[...] o
seu lugar na sociedade”. Ou seja, garantir que os princípios, valores e ações da elite e dos
emergentes fossem “conhecidos e respeitados por todos.”
Nesse sentido, da apropriação dos valores da elite pelas classes populares18
, seria
necessário garantir que os indivíduos conhecessem as intenções implícitas no projeto,
portanto, fazia-se urgente a disponibilização de instituições que garantissem a formação
destas pessoas. Tais instituições, de acordo com Siqueira (1999), seriam as Escolas. E sua
criação e manutenção foi uma preocupação do Estado Imperial, que absorveu a
responsabilidade de educar e instruir a população. Assim nascia, na segunda metade do século
XIX, a “escola pública brasileira” (SIQUEIRA, 1999, p. 51).
As instituições de ensino deveriam cumprir a função de instruir os indivíduos para que
estes pudessem se civilizar, conhecendo as normas que ordenariam suas ações; e oferecer os
saberes necessários a cada camada da sociedade de acordo com o papel que ela deveria
desempenhar na sociedade (SIQUEIRA, 1999). Dessa forma, cada classe social receberia os
conhecimentos relativos à sua futura atuação. Assim, o ensino completo, do elementar ao
superior, deveria ser oferecido aos membros da elite, sendo que a educação básica aos
segmentos sociais, que não fossem escravos. Tal realidade também fora percebida por Peres
(2002, p. 140), quando afirma que: “Às classes populares bastava um conhecimento básico de
leitura, escrita e noções matemáticas”.
As escolas, portanto, deveriam disponibilizar os saberes essenciais a todos os
indivíduos, ou seja, ensinar a ler, escrever e contar. A aquisição desses saberes
possibilitariam o entendimento dos “princípios morais e cívicos capazes de evitar rebeldias e
desordens, e suficientes para operar modificações em seu comportamento, tido como
‘primitivo e ‘bárbaro’.” (SIQUEIRA, 1999, p. 49).
As pessoas que possuíssem a competência da leitura poderiam ler “bons livros”, como
a Bíblia, compêndios literários e os manuais de boas maneiras e/ou civilidade, amplamente
divulgados no Brasil na segunda metade do século XIX, conforme ressalta Leão (2007, p. 65):
“No Brasil, os manuais de civilidade foram amplamente difundidos no momento em que a
livraria francesa cruzou os mares e se instalou, em meados do século XIX, na corte do Rio de
18 Adotamos, neste estudo, o conceito de classes populares, conforme Peres (2002, p. 14)
considerando-a como “[...] o conjunto dos indivíduos marginalizados social, econômica e
culturalmente.”
45
Janeiro”. Em relação aos livros literários, a autora afirma que estes: “[...], num determinado
momento de sua história, assumem a função de suporte da civilidade, confundindo-se com os
manuais de etiqueta e até com alguns modelos de compêndios escolares.” Assim, ainda, de
acordo com Leão (2007), “o ato de ler é um exercício permanente de autocontrole, assim
como um modo de inscrição e aprendizado social[...]” (LEÃO, 2007, p. 64).
A leitura possibilitaria ao indivíduo tecer relações com outras realidades e culturas e
propiciaria o seu desenvolvimento crítico e criativo -- uma vez que a leitura é ao mesmo
tempo consumo e produção, recepção e criação (CERTEAU, 1998; CHARTIER, 1998).
Nesse sentido, a leitura contribuiria para que o indivíduo leitor transitasse de forma mais
fluída no contexto social.
A partir dessa crença, acreditava-se que o grau de desenvolvimento de uma sociedade
seria medido a partir do número de indivíduos que soubesse ler e escrever. Nesse aspecto,
Peres (2002, p. 143) ressalta que “Homens alfabetizados era uma condição primordial para
uma sociedade que se queria adiantada, moderna e próspera”. Portanto, havia uma
preocupação em manifestar, de forma explicita ou implícita, nos discursos oficiais e não
oficiais, a competência que sua população possuía para a prática de leitura, declarando-os
sujeitos cultos. Os meios eram tanto os documentos oficiais, divulgando índices de
alfabetização publicados pelos órgãos educacionais, quanto os jornais, que divulgavam
número de consultas nas bibliotecas, publicavam grande número de textos poéticos,
realizavam indicações de leituras, críticas literárias, e, por fim, as iniciativas para a criação de
gabinetes de leitura, associações literárias e bibliotecas.
Neste sentido, não só o número de escolas indicaria o grau de civilidade de uma
sociedade, mas também, outras instituições culturais e sociais dariam à sociedade o status de
desenvolvida, como exemplo, os teatros e as bibliotecas. Estas, especialmente, vêm com a
tinham como função de ser complemento e apoio à instrução e se proliferaram com maior
intensidade na segunda metade do século XIX (DEAECTO, 2011). Nesse aspecto, Peres
(2002, p. 70) reforça que “Todas as manifestações sobre a ideia de fundar uma Biblioteca
eram, reiteradamente, apresentadas sob o mesmo argumento: a necessidade de o
desenvolvimento intelectual de a cidade acompanhar o seu intenso crescimento material”
Nesse processo de constituição da “consciência nacional”, como define Elias (2011),
que visava instaurar a “ordem” e promover o desenvolvimento social, político e econômico,
insere-se Mato Grosso, que pretendia concretizá-los por meio de um projeto modernizador
instaurado a partir de 1870 pelos intelectuais-cientistas. As modificações seriam aplicadas em
46
vários setores, como: paisagem urbana; abastecimento de água, luz e comunicação; controle
de epidemias e instrução. No caso desta última, instituíram-se alterações no tempo escolar, no
sistema de punição, no conteúdo, método, material didático e até mesmo nos edifícios
escolares (SIQUEIRA, 2000, p. 15).
Necessário se faz ressaltar que a instrução era vista como uma forma de inserir os
indivíduos, inclusive os pobres, no processo civilizador que tinha como modelo, citando
Siqueira (2000, p, 88), “o universo cultural das elites”, sendo necessário preparar a camada
subalterna para o trabalho e para saber se comportar no novo cenário que se despontava, pois
não seria mais admissível a barbárie na sociedade brasileira e inclusive na mato-grossense.
Na perspectiva da instrução e criação de espaços de leitura pelos órgãos oficiais,
Deaecto (2011) ressalta que o objetivo do Estado era proporcionar meios para a população se
instruir e contribuir para o desenvolvimento da sociedade, tendo como um dos instrumentos
para esse desenvolvimento os livros, que segundo a autora “eram apresentados como
componente essencial para o esclarecimento das massas, em nome da civilização e do
progresso.” (DEAECTO, 2011, p. 230). Desta forma, a posse e o acesso ao livro era condição
imprescindível para o aperfeiçoamento instrucional do indivíduo e consequente
desenvolvimento da sociedade em que ele está inserido.
Nesse contexto insere-se a urgência de criação de espaços que propiciem a reunião de
livros, nas diversas áreas do conhecimento, com o fim de preservá-los e divulgá-los. Um
desses espaços seriam as Bibliotecas, que representariam o desenvolvimento intelectual de
uma determinada sociedade. Para uma cidade ser considerada civilizada necessitaria, também,
de Bibliotecas Públicas, além da infraestrutura e boas maneiras. Nesse momento tem início no
século XIX, a proliferação de bibliotecas públicas pelo país (DEAECTO, 2011).
Apesar de todo movimento nacional para o desenvolvimento de um Brasil moderno,
Cuiabá, pela sua posição geográfica e clima, que para muitos poderia ser insalubre, era
considerada como os “confins de mundo” onde só havia indivíduos que eram avessos ao
trabalho e que não possuíam ambição e, portanto, não tinham condições de tornar esta cidade
desenvolvida.
Siqueira (2000) apresenta alguns relatos de estrangeiros que deixaram suas impressões
sobre Cuiabá e penso ser importante ressaltá-las para que possamos compreender o empenho
das vozes oficiais e de opinião pública no século XX ao representar Cuiabá como uma cidade
promissora cultural e intelectualmente. A seguir, apresento dois extratos de representações
47
estrangeiras que ilustram como Cuiabá foi retratada e divulgada tanto nacional quanto
internacionalmente:
[...] se o Brasil banir a escravidão; se reconhecer que um homem não deve
ser escravo de outro [...] perece de fome a província de Mato Grosso? Há de
perecer... Seu principal defeito é a preguiça, é a indolência... A fome e a miséria são só devidas à preguiça do povo, que ali devia viver na abundância
[...]. Lance o governo um olhar de compaixão para aquele povo, e procure
lhe dar um remédio eficaz à preguiça, ao contrário terá de vê-lo sempre miserável. É-lhe necessário um reativo violento. (MOUTINHO, 1869, p. 32-
33 apud SIQUEIRA, 2000, p. 72).
Há uma classe como esta em todos os países, estrato inferior da civilização,
mas aparente talvez na América do Sul, porque é fácil viver nestas plagas
uberlosas, e porque as raças mestiças, tão comuns aqui, herdaram os hábitos
inertes e descuidados de seus antepassados índios e africanos; apenas alguns tem ambição de erguer-se da vida animal. Aumentam as listas da população,
mas para o estado são verdadeiros zero, [...] quase nada trazem ao mercado e
ainda menos levam para casa; vivem ao Deus dará satisfeitos porque tem provisões para um dia e palhoça que os abrigue. Hão de desaparecer em
grande parte à medida que da terra se forem apossando gentes mais
industriosas; hão de submergir-se e morrer diante da onda de imigração europeia. Pois que morram! É o único serviço que podem prestar ao país, e a
lei inexorável do progresso determinou sua extinção. (SMITH, 1922, p. 43
apud SIQUEIRA, 2000, p. 72).
Após a leitura de tais extratos, podemos perceber a ideia de “civilização” e progresso
incorporados ao discurso do viajante Smith, resultado das concepções construídas desde o
século XVIII, pelos europeus. (LEÃO, 2007). E ainda, imaginar como era para a população
cuiabana se ver retratada como bárbara e inculta, que nada poderia contribuir para o
desenvolvimento da nação. No entanto, essa representação não era apenas construída por
estrangeiros, pois olhos e vozes locais também identificavam a sociedade cuiabana como
ignorante e inerte, conforme retrata um artigo do jornal O Matto Grosso (1893, p. 1): “O
nosso maior inimigo é sem duvida alguma o estado de ignorancia e de abatimento intellectual
em que jaz a população. É d´ella que procedi a inercia e o desanimo.”
No entanto, apesar de todas as críticas proferidas, de sua população ser reduzida e da
situação geográfica muito afastada dos grandes centros, são desenvolvidas, em Cuiabá, várias
iniciativas no sentido da criação de associações culturais que, segundo Póvoas (1994, p. 39),
“exerceram um papel importantíssimo no desenvolvimento da cultura mato-grossense”.
Tais associações, aqui denominadas como Clubes Literários, Gabinetes de Leitura e
Associações Literárias, se desenvolveram de forma intensiva na década de 60 e 70 do século
XIX, como resultado, citando Deaecto (2011, p. 32), de uma “supervalorização dos elementos
48
culturais que conformam a vida urbana”. Este fenômeno pode ser percebido não somente em
Cuiabá, mas em várias partes do país, como exemplo em São Paulo, Rio de Janeiro,
Pernambuco, Porto Alegre, Bahia, Pelotas, Rio Grande do Sul (DEAECTO, 2011; MELLO,
2011).
Cuiabá foi uma cidade marcada por momentos de tensão e calmaria e que, apesar de
sua localização distanciada dos centros com maior efervescência cultural, abrigava uma elite
letrada que mantinha-se empenhada no ideal de firmar a cidade como uma capital civilizada e
composta por intelectuais que seriam capazes de contribuir para o crescimento do país.
Após a Guerra do Paraguai (1865-1870) teve início uma intensificação no processo de
modernização, incluindo a criação de instituições culturais e a proliferação da circulação de
periódicos, o que convergia com o desenvolvimento operado em todo o país, tendo como
principal influência, segundo Deaecto (2011, p. 230), “[...] a emergência de relações de
trabalho mais complexas características do meio urbano industrializado [...],”, sendo que para
Siqueira (2000, p. 12), Cuiabá inseria-se no cenário nacional com o objetivo de participar do
projeto maior “de modernização da sociedade brasileira”.
No campo cultural ocorreram várias iniciativas de criação de associações culturais que
podem ter sido potencialmente espaços de práticas de leitura.
3.1 Espaços de práticas de leitura em Mato Grosso no século XIX e XX
“Venham os livros, venham as bibliotecas, que só assim teremos o povo” (A
OPINIÃO, 1878 apud RODRIGUES, 2008, p. 59), assim acreditava, senão todos, mas uma
parcela da população cuiabana.
Movidos pela intenção de acompanhar o progresso, desmitificando a ideia de que
Mato Grosso era uma terra de “bárbaros” e ignorantes é que membros, governamentais e não
governamentais, da sociedade cuiabana empreenderam esforços para a instrução da população
e criação de espaços que propiciassem o acesso ao saber, por meio da arte e da leitura.
A instrução sempre foi uma ação intencional, da igreja, do Estado ou das classes
dominantes que foram conduzidas no decorrer da história por diferentes pretensões, seja com
fim doutrinador, civilizador ou disciplinador, possuindo diferentes objetivos, dependendo do
momento histórico vivido. Por exemplo, no século XIV, a alfabetização universal dos
cristãos, segundo Hébrard (1999, p. 37), foi instituída para divulgar “[...] a ciência da
salvação”.
49
No século XIX, a instrução foi, conforme o mesmo autor, colocada “a serviço da
civilização, da cultura e do espírito” (HÉBRARD, 1999, p. 48), com o fim de controlar as
agitações populares, o autor enfatiza, ainda que os governantes consideravam que “as classes
perigosas o seriam menos, desde que alfabetizadas. Pela promoção de bons livros, edificantes
e instrutivos [...]” (HÉRBRAD, 1999, p. 49).
No Brasil acontece o mesmo movimento de alfabetização das massas que tinha o
objetivo de conduzir os indivíduos ao processo civilizador do país, preparando-os para o
trabalho e para receber os princípios que os conduziriam ao progresso e a modernidade
(DEAECTO, 2011; SIQUEIRA, 2000).
Portanto, seguindo as reflexões de Hébrard (1999, p. 37), não há como “reconstruir
uma história da cultura escrita” sem perpassar pela instrução e escolarização. Desta forma,
veremos que a criação de espaços potenciais à realização de práticas de leitura, esteve de
alguma forma relacionada ao objetivo de instrução e educação de uma sociedade.
Assim, entende-se que o acesso à leitura e escrita perpassa pelo processo sistematizado
da instrução e que a circulação de livros, o acesso aos instrumentos e às práticas de leitura
estiveram sempre interligados com as concepções de instrução e educação, presentes nos
discursos político, social e cultural da sociedade cuiabana.
Dessa forma, percebe-se que as relações culturais são práticas coletivas permeadas por
outras relações, como as sociais, econômicas e políticas; neste aspecto me aproprio das
reflexões de Deaecto (2011, p. 35) para afirmar que “[...] o acesso à cultura letrada consiste,
muitas vezes, em práticas coletivas nas quais os meios de sociabilidade são determinantes
para sua difusão.”
É nessa perspectiva, das relações de sociabilidade, que percebo os empreendimentos
em Cuiabá, na criação de espaços de leitura, de arte e de lazer, sejam privados ou públicos. De
forma que, estudos indicam, a existência dessas instituições desde o século XVIII, com a
composição, em 1770, da primeira biblioteca em Mato Grosso. Nesse caso, uma biblioteca
particular, de propriedade de José Barbosa de Sá19
, contendo 131 exemplares e 79 títulos, nas
mais diversas áreas do conhecimento, predominando os livros jurídicos. Seu acervo foi
leiloado e arrematado por Joaquim da Costa Siqueira, um nobre de ascendência portuguesa,
19 José Barbosa de Sá foi, segundo Mesquita (1978) e Rosa e Rosa (1975), o primeiro cronista
cuiabano. Chegou em Cuiabá por volta de 1723, atuou como advogado, geógrafo e naturalista. Foi o
primeiro a registrar o cotidiano da vida cuiabana por meio de crônicas. Escreveu as obras: Relação das
povoações de Cuiabá e Mato-Grosso de seus primeiros thé os presentes tempos e Dados Geográficos,
Cronológicos, Políticos e Naturais (1769). (MESQUITA, 1978, p. 136-137).
50
que faleceu em 1821, deixando, do acervo, apenas 16 exemplares dos 131 adquiridos (ROSA,
ROSA, 1975; MESQUITA, 1978).
Posteriormente, em 22 de maio de 1853, foi fundada, segundo Siqueira (2012, p. 64), a
primeira associação ligada às artes e lazer, a Sociedade União dos Militares.
Quase vinte anos depois, em 17 de setembro de 1872, foi liberada a instalação de um
Gabinete de Leitura em Cuiabá, que ficaria sob a responsabilidade da Inspetoria Geral das
Aulas.
Em 23 de maio de 1877 surgiu a Sociedade Dramática Amor a Arte, que promovia
espetáculos para um público especificamente da elite cuiabana, que poderia pagar pelo acesso
à cultura. Dessa forma, somente seus sócios poderiam transitar pelas sessões artísticas.
Siqueira (2012, p. 69) ressalta que o teatro foi um espaço de socialização que “representou um
excelente mecanismo civilizatório, especialmente se tratando do século XIX.” e também
garantiria que “O comportamento no território da ‘barbárie’ seria, certamente, transformado a
partir das práticas educativas, sendo as encenações teatrais um importante mecanismo.”
(SIQUEIRA, 2012, p. 67).
Ainda na década de 70 do século XIX, Siqueira (2012, p. 69) relata a criação, em
outubro de 1879, de uma empresa de teatro intitulada Progresso Cuiabano.
Na década de 80 do mesmo século, surgiram várias sociedades e clubes, como:
1882 - Clube Literário: que veio, talvez, para suprir a ausência do Gabinete de
Leitura. O Clube Literário foi formado por alguns membros da sociedade
cuiabana que inauguraram-no em 14 de março de 1882. Esse Clube que
funcionou até, aproximadamente, 1883, tinha por objetivo a realização de
“palestras familiares e publicação de uma revista” (MENDONÇA, E. 1970, p.
128).
1883 - Terpsícore Cuiabana: Foi uma iniciativa do Partido Liberal que oferecia,
ao público, palestras, música, e saraus lítero-musicias (SIQUEIRA, 2000,
2012; PÓVOAS, 1994). Siqueira (2000, p. 96) ressalta que o viajante Karl von
den Steinen observou que as pessoas participantes desta sociedade eram de
“tez clara”.
1883 - Sociedade Recreio Cuiabano: Fundada pelo Partido Conservador. Essa
sociedade, segundo o mesmo viajante acima mencionado, se surpreende pelo
grande número de pessoas escuras (Siqueira, 2000, p. 96).
51
1883 - Club Instrução Recreio: Criado em 20 de junho, possuía como um dos
objetivos a aquisição de livros e criação de uma biblioteca. Essa instituição
criada a 20 de junho de 1883 teve duração de um ano e alguns meses (ROSA;
ROSA, 1975, p. 43; SIQUEIRA, 2012).
1884 – Associação Literária Cuiabana: Siqueira (2000, p. 130) considera sua
existência a partir de 1883, como continuidade do Club Instrução Recreio. Por
outro lado, Póvoas (1994, p. 40) e Rosa e Rosa (1975, p. 47) relatam sua
fundação em 1884. Optei, neste estudo, considerar a data constante nos
documentos relativos à fundação desta associação, ou seja, 1884.
1894 – Sociedade Grêmio Visconde de Taunay: Esta sociedade objetivava
estudar a história de Mato Grosso (MENDONÇA, 1919).
1897 – Clube Minerva: segundo Póvoas (1994, p. 40) foi uma “sociedade
lítero-musical” com atuação importante no movimento cultural de Mato
Grosso.
1899 - Sociedade Internacional de Estudos Científicos: Objetivava realizar
estudos e conferências nas áreas de Geografia, História do Brasil e História de
Mato Grosso (PÓVOAS, 1994, p. 40).
Das instituições citadas, destaco e discuto de forma mais detalhada duas delas, a
Associação Literária Cuiabana, que se manteve até a década de 20 do século XX, portanto,
convivendo em um mesmo espaço temporal da BPEMT; e o Gabinete de Leitura que foi,
segundo Siqueira (1999), o embrião da BPEMT.
3.1.1 Associação Literária Cuiabana
A Associação Literária Cuiabana surgiu, segundo Rosa e Rosa (1975, p. 47), em 21 de
outubro de 1884 e foi idealizada, conforme Mendonça (1919, p. 236), por: “Pedro Cândido
Jarcem, Francisco Corrêa da Costa Sobrinho, Flávio de Mattos, Antônio Modesto de Mello,
Antônio Joaquim de Faria Albernaz, João da Silva Pereira e Joaquim José Torquato” e teve
como sua primeira sede, conforme aponta Rosa e Rosa (1975, p. 47) a “[...] casa do negro
artesão Pedro Cândido Jarcem.”
Essa instituição possuía como objetivo principal criar um espaço para o acesso ao livro
e à leitura, proporcionando, de acordo com Mendonça, (1919, p. 236), uma “leitura variada
52
aos seus associados [...].” Conforme seu estatuto, seus idealizadores pretendiam: “crear uma
bibliotheca que lhe proporcione a diversão útil e agradável da leitura.” (ROSA; ROSA, 1975,
p. 51).
A Associação Literária Cuiabana foi mantida com recursos particulares, oriundos dos
seus sócios que eram membros da elite cuiabana. De acordo com Mendonça (1919, p. 236),
esse espaço era “[...] fortalecido pelos intelectuais daquella época e pela sua prosperidade
financeira.” que contribuíam com 300 réis mensais.
Sabemos que esse espaço potencial de práticas de leitura, atendeu a um determinado
público leitor, “os intellectuais”, membros da elite de Cuiabá e que, de acordo com seu
objetivo, possivelmente, possuía obras que proporcionassem aos seus sócios práticas de
leitura recreativa e utilitária, sendo que seus leitores a procuravam não com o objetivo apenas
de instrução, mas, sobretudo, de lazer e descontração.
Os espaços que abrigaram essa instituição foram diversos, dessa forma provavelmente
influenciaram as práticas realizadas, uma vez que o “onde”, o espaço, poderá influenciar no
processo de apropriação da leitura (DARNTON, 2010).
Nesse aspecto, a primeira sede, localizada no Sobrado da rua 11 de Julho, atual rua
Pedro Celestino, agradou ao público leitor, conforme relata Mendonça (1919, p. 236): o salão
de leitura “apresentava simpathico aspecto e nelle realizaram-se reuniões que ficaram
memoráveis [...].”
Dessa primeira sede, o acervo foi trasladado para vários outros endereços o que
ocasionou danos ao mesmo. Da Rua 11, mudou-se para uma das dependências da Câmara
Municipal de Cuiabá, desta, foi para a rua Antonio João, posteriormente, foi para a rua 13 de
Junho e, finalmente, para a Inspetoria de Higiene na rua Dr. Joaquim Murtinho e neste
momento, de acordo com Mendonça (1919, p. 236) “já em plena agonia”.
Infelizmente, como aponta Rosa e Rosa (1975), e como constatado na pesquisa do
Acervo da Casa Barão de Melgaço, quase nada sobrou dos registros de empréstimo, apenas
um livro de controle de empréstimo datado de 1898. Este fato torna-se relevante aos
pesquisadores, considerando-se que a existência desses livros poderia, de acordo com Rosa e
Rosa (1975, p. 53), “constituir-se em inestimáveis documentos sobre a vida cultural cuiabana,
durante as décadas de 80 e 90 do século XIX”.
Conforme ressalta Mendonça (1973, p. 221 apud ROSA; ROSA, 1975, p. 55), a
Associação Literária Cuiabana, em 1916, “estava em plena agonia” vindo a ser extinta em
1924 quando seu acervo foi doado ao Centro Matogrossense de Letras, criado em 7 de
53
setembro de 1921, atual Acadeia Mato-Grossense de Letras, com sede na Casa Barão de
Melgaço.
3.1.2 Gabinete de Leitura
Em 17 de setembro de 1872 foi liberada a instalação do Gabinete de Leitura, por meio
do Regulamento da Instrução Pública de 1872/1873, que, em seu Artigo 148, afirmava que:
Artigo 148º – Poderá o governo, estabelecer no lugar que entender mais
apropriado, na capital, um Gabinete de Leitura, formado de livros que
forem adquiridos, mediante donativos particulares, e mediante compra de outros, compra –– que será oportunamente resolvida pelo corpo legislativo.
O gabinete estará a cargo e sob responsabilidade da inspetoria geral das
aulas –– que fará observar o regulamento que o governo em tempo baixará.
(MATO GROSSO. Regulamento da Instrução Pública, 1872 apud SIQUEIRA, 1999, p. 252).
No entanto, sua inauguração, somente, aconteceu em 31 de dezembro de 1874
(ROSA; ROSA, 1975, p. 33). O mesmo foi instalado, segundo Mendonça (1919) “em um
compartimento da Câmara Municipal” e ficou sob a responsabilidade do advogado Antonio
de Paula Corrêa, seu primeiro diretor. Posteriormente, sua organização ficou a cargo da
secretaria da Escola Normal20
. (MENDONÇA, 1919, p. 214).
O Gabinete de Leitura foi destinado às práticas de leitura em Cuiabá, no século XIX e
considerado por Siqueira (1999) como a primeira Biblioteca Pública de Mato Grosso. Esse
espaço supriu a lacuna existente quanto a uma das exigências requeridas para a concretização
do projeto do Brasil moderno, que era a existência de espaços que reunissem obras nas
diversas áreas do conhecimento que contribuíssem para a elucidação do espírito, apoiando a
instrução e descentralizasse as ações realizadas estritamente no universo familiar, ampliando-
as para o espaço público. Nesse sentido, a autora afirma que:
[...] o projeto para o Brasil Moderno, exigiu rompimentos com o mundo
familiar, abrindo um amplo espaço público, as Bibliotecas foram montadas
pelos governos e por ele gerenciadas e fiscalizadas, para dar aos indivíduos condições de romper com o acanhado mundo localizado, penetrando no
universal.(SIQUEIRA, 1999, p. 253).
20 A Escola Normal foi inaugurada em 1 de fevereiro de 1911 (AMÂNCIO, 2008, p. 88).
54
Nesse contexto, acompanhando as iniciativas realizadas em todo o Brasil, projetou-se
e instalou-se a primeira instituição pública de leitura de Mato Grosso, o Gabinete de Leitura,
que, segundo Siqueira (1999, p. 256), “[...] foi uma instituição pública criada para atender aos
interesses das elites e serviu como representação do nível de alfabetização e ’civilização’ dos
mato-grossenses que compunham o quadro de dirigentes regional”.
Esse espaço objetivava atender à parcela letrada da comunidade cuiabana, ou seja, os
membros da elite, principalmente, segundo Siqueira (1999. p. 187), os alunos do Seminário
Episcopal da Conceição, “uma instituição de caráter privado-religioso” criado em 1858, que
oferecia o ensino secundário particular. E também, a partir de 7 de março de 1880, os alunos
do Liceu Cuiabano, que disponibilizava o ensino secundário gratuito. Porém, estes alunos
tiveram a oportunidade de frequentar o espaço do Gabinete apenas por um ano, uma vez que o
mesmo foi extinto em 1881 (RODRIGUES, 2008; MELLO, 2011)
De acordo com Siqueira (1999, p. 268), os alunos somente adquiriam competência
maior para a leitura por meio do ensino secundário, uma vez que o ensino primário-elementar
apenas preparava os alunos para a decifração dos signos, reconhecendo palavras, mas não
garantia uma leitura mais “ampla” e fluida. A aquisição da competência, citando Siqueira
(1999, p. 268) “para ler correntemente, dominar regras gramaticais, frequentar bibliotecas ou
gabinetes, falar em público, decorar poemas,[...]”, seria garantida aos filhos da elite cuiabana.
Assim, o principal público frequentador desse espaço, na visão de Siqueira (1999, p.
269), eram “os alunos secundaristas [...], pois representavam a promissora reprodução das
elites.” Isso justifica-se porque, dos alunos que conseguissem terminar o ensino primário,
somente os membros das classes mais abastadas continuavam os estudos adentrando ao
ensino secundário.
Além dos alunos secundaristas, havia um público composto pelos homens letrados da
comunidade cuiabana. Ficava excluída das práticas de leitura realizadas nesse ambiente, a
classe popular, que, segundo Siqueira (1999), era majoritariamente analfabeta ou
semianalfabeta. Assim, a autora afirma que o Gabinete de Leitura era um espaço que
privilegiava o aperfeiçoamento intelectual e cultural de uma “minoria integrante das elites”
(SIQUEIRA, 2000, p. 222).
Infelizmente -- apesar da influência positiva que, provavelmente, o Gabinete de
Leitura exerceu na comunidade de leitores da sociedade cuiabana -- sua existência foi fugaz,
somente de oito anos, uma vez que, seu acervo, composto por 779 livros encadernados e 546
brochuras, foi transferido para o Liceu Cuiabano (RODRIGUES, 2008; MELLO, 2011).
55
O início de suas dificuldades foram percebidas e relatadas em 1879, pelo Inspetor
Geral dos Estudos, Pedro de Alcântara Sardemberg, que afirmava ser sofrível a situação do
Gabinete de Leitura:
[...] afirmava ter encontrado o Gabinete em anarquia, à mercê do
encarregado e do público, sem regulamento, regimento ou sequer portaria
que o regesse. Extremado em seu papel, Sardemberg denuncia todos os ex-encarregados do Gabinete, responsabilizando-os pela ‘falta de 31 volumes’
que depois se reduzem a 18. Suas denúncias parecem voltar-se com maior
força contra Antônio de Paula Corrêa que, inquirido através de uma ‘
circular’, simplesmente não respondeu. (ROSA; ROSA, 1975, p. 35).
Em 1880, o acervo do Gabinete foi transferido para a escola Liceu Cuiabano21
. Nesse
momento, iniciou-se o movimento de extinção do acervo, fato ressaltado por Rosa e Rosa
(1975, p. 35) quando afirmam que:
[...] o transporte da biblioteca do Gabinete de Leitura para o Liceu Cuiabano,
em 1880, deu início ao processo de sua definitiva extinção, já que o
secretário do Liceu, Manoel Ricardo Menacho (a quem coube zelar pela biblioteca), promoveu a dispersão das obras de maior valor, fazendo
presentes de muitas a pessoas de suas relações.
Em 1882, segundo Rosa e Rosa (1975), os documentos oficiais passam a designar seu
acervo como pertencente à Biblioteca do Liceu. No entanto, a extinção definitiva do Gabinete
de Leitura, segundo Mendonça (1919, p. 214), ocorreu apenas em 1906, quando do
movimento armado liderado por Generoso Ponce e Pedro Celestino para afastar do governo
de Mato Grosso, o então Presidente Antonio Paes de Barros. De acordo com o autor, essa
revolução promoveu a total destruição do acervo.
Percebe-se que o Gabinete de Leitura sofreu o que hoje a maioria das bibliotecas
públicas ainda sofre: a falta de verbas, as quais deveriam ser disponibilizadas pelo poder
público. O acervo do Gabinete era composto por doações de obras, que muitas vezes não
atendiam às necessidades da sua comunidade de leitores, segundo um jornal da época: “Um
gabinete com livros sem importância, restos de livrarias particulares onde as diferentes classes
não encontram a instrução que necessitam é sem préstimo algum para a grande obra da
instrução pública. (OPINIÃO, 1878 apud RODRIGUES, 2008, p. 59).
21 O Liceu Cuiabano foi criado em 7 de março de 1880 (SIQUEIRA, 1999, p. 187).
56
No entanto, apesar de todas as dificuldades pelas quais passou o Gabinete de Leitura, o
mesmo influenciou de forma positiva, as práticas culturais de leitura e propiciou à sociedade
cuiabana(letrada) a oportunidade de contato com obras diversificadas em um ambiente
propício à efetivação da leitura de forma individual e compartilhada, constituindo assim, uma
comunidade específica de leitores (CHARTIER, 1998). Dessa forma, atuou, conforme
ressalta Siqueira (Informação verbal),22
“como o embrião da Biblioteca Pública de Cuiabá”.
Após a discussão relacionada aos espaços potenciais de leitura do século XIX,
adentro-me, agora, no século XX. Nesse aspecto, cito alguns grêmios e instituições que
fomentavam a cultura letrada:
1904 - Clube Internacional: Que, dentre outras atividades, organizava
“conferências literárias, concertos, partidas de danças e muitas outras
manifestações de cultura.” (PÓVOAS, 1994, p. 41). E que, segundo a Revista
A Violeta (1949), possuía uma biblioteca.
1908 – Grêmio Olavo Bilac (PÓVOAS, 1994, p. 41).
1911 – Grêmio Literário Álvares de Azevedo: Este grêmio era considerado,
pela opinião pública, como uma sociedade dos “novos vultos da literatura
mato-grossense” (CORREIO DA SEMANA, 1938, p. 2; PÓVOAS, 1994, p.
41).
1912 – Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso: Este espaço de práticas
de leitura é o objeto de minha pesquisa e será abordado a partir do capítulo 4.
1913 aprox. - Grêmio Normalistas: Criado com o objetivo de “promover o
desenvolvimento intelectual dos seus associados, avigorar lhes a educação
cívica, por meio de uma publicação de uma revista lítero-pedagógica.” (A
NOTICIA, 1913, p. 1).
1916 – Grêmio Literário Júlia Lopes: Formado por mulheres cuiabanas
promovia diversas atividades culturais como saraus lítero-musicais, palestras,
bailes. Publicou, em 1916, a revista A Violeta, designada pelos meios de
comunicação impressa da época como sendo uma publicação, “animada das
22 Contribuições fornecidas no momento da banca de qualificação no dia 30 de novembro de 2012 na
UFMT, Campus Universitário de Rondonópolis.
57
mais risonhas esperanças, tem por fim unico e exclusivo, o cultivo das letras
femininas e patrícias”. (A JUVENTUDE, 1916).23
1919 – Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT) – Esse
instituto foi fundado em 1º de janeiro de 1919 e instalado em 8 de abril do
mesmo ano. Sua criação foi uma iniciativa de intelectuais da sociedade
cuiabana, a saber: presidente do estado e arcebispo Dom Francisco de Aquino
Corrêa, desembargadores Joaquim Pereira Ferreira Mendes e Luiz da Costa
Ribeiro; advogado e historiador Estevão de Mendonça, capitão Carlos Gomes
Borralho, doutores Emílio Amarante Peixoto de Azevedo, Virgilio Alves
Corrêa Filho e José Barnabé de Mesquita, majores Ovídio de Paula Corrêa e
João Cunha, capitão Antonio Fernandes de Souza e o professor Philogonio de
Paula Corrêa. Seu objetivo era, de acordo com o Instituto Histórico e
Geográfico de Mato Grosso ([2010?], p. 1) zelar “pela memória, pela história,
geografia e cultura de Mato Grosso [...]”. Seus diretores foram: D. Francisco
de Aquino Corrêa, Isác Póvoas, Francisco Alexandre Ferreira Mendes, Luis-
Philippe Pereira Leite, Paulo Pitaluga Costa e Silva, Elizabeth Madureira
Siqueira, João Carlos Vicente Ferreira e Anna Maria Ribeiro Fernandes
Moreira da Costa. Desde sua fundação, a Revista do IHGMT reúne, com o fim
de preservação e disponibilização, os documentos históricos e geográficos
relativos ao estado publicados desde o século XIX, incluindo as doações de
documentos, livros, quadros e outros objetos, realizadas por instituições
extintas, ou, pelas famílias de membros da sociedade mato-grossense já
falecidos. O IHGMT, tem sua sede, desde 23 de novembro de 1930, na Casa
Barão de Melgaço, situada à Rua Barão de Melgaço, n. 3869, Centro, Cuiabá.
(INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MATOGROSSO, [2010?],
p. 1).
1921 – Centro Matogrossense de Letras (CML): Criado em 22 de maio e
objetivava, segundo Mesquita (1941, p. 8) “prestar a cultura mental de Mato-
Grosso os mais assinalados serviços”. A primeira reunião desse centro foi
realizada na casa de José de Mesquita à rua 13 de junho, n. 173. Seus
23 Para mais informações sobre esse Grêmio, consultar a dissertação de mestrado de Otávio Bandeira
de Lamônica Freire, intitulada Revista A Violeta: um estudo de mídia impressa e gênero, defendida
em 2007 na Universidade Paulista-UNIP.
58
fundadores foram: José de Mesquita, Lamartine Mendes, João Barbosa de
Faria, D. Aquino Corrêa, Estevão de Mendonça, João Cunha, Virgílio Corrêa
Filho, Miguel Carmo de Oliveira Mello, Philogonio de Paula Corrêa, Cesário
Prado, Carlos Gomes Borralho e Franklin Cassiano. O CML editou em 1922 a
sua Revista e promoveu horas literárias, mantinha intercâmbio com outros
estados e realizava permuta de publicações. Organizou uma biblioteca em
1921, que permitia o acesso ao público em geral. A biblioteca, segundo
Mesquita (1941, p. 10) “[...] prestou, por outro lado, apreciáveis serviços à
cultura cuiabana [...]”. O CML transformou-se, em 15 de agosto de 1932, na
Academia Mato-Grossense de Letras direta] (MESQUITA, 1941).
1922 aprox. - Sociedade Literária Ruy Barbosa (CORREIO DO ESTADO,
1923, p. 3; REVISTA A VIOLETA, 1922, p. 8-10).
1925 – Grêmio Castro Alves: Composto por José de Mesquita e Philogonio
Corrêa, foi criado “com o fito de estudar e propagar as letras patrias,
fomentando, dest’arte, inda mais a diffusão do belletrismo, em suas multiplas
concepções, dentro das raias do nosso caro torrão natal.” (CORREIO DO
ESTADO, 1922, p. 2).
1928 – Selecto Club Associação Recreativa: Criado em 22 de setembro,
objetivava “Propugnar os foros de cultura e mesmo o desenvolvimento do
Estado, sob todas as modalidades opportunas e possíveis na esphera de seu
caracter e recursos". (SELECTO CLUB ASSOCIAÇÃO RECREATIVA,
1928, p. 1).
1932 – Academia Mato-Grossense de Letras (AML) – Transformou-se em
Academia em 15 de agosto de 1932 a partir do Centro Matogrossense de
Letras. Essa mudança foi estimulada pela criação da Federação das Academias
estaduais que pretendia, de acordo com Mesquita (1941, p. 10) “um mais
estreito concurso e uma cooperação mais eficiente no sentido do
desenvolvimento intelectual do país”. Manteve as 24 cadeiras e substituiu a
Revista do Centro Matogrossense de Letras pela Revista da Academia Mato-
Grossense de Letras, em 1933. Sua sede, incluindo sua biblioteca, foi instalada
na Casa Barão de Melgaço (doação do estado). A AML tornou-se responsável
pela divulgação das publicações dos escritores mato-grossenses, além de
59
promover atividades artísticas por meio de “festivais, vocações musicais e
declamatórias”. (MESQUITA, 1941, p. 12).
1936 – Grêmio Literário José de Mesquita: Promovia, entre outras atividades,
hora literária, palestras e apresentações musicais, publicou a revista estudantil
O Abecê. (PÓVOAS, 1994, p. 41; FOLHA JUVENIL,1937).
1940 - Grêmio Literário Machado de Assis: Instalado a 14 de abril de 1940,
com sede no Palácio da Instrução. Seus associados foram: Corsíndio Monteiro
da Silva (presidente); Maria da Conceição Carvalho (primeira vice-presidente);
Helena Müller (segunda vice-presidente); José Torquato Júnior (primeiro
secretário); Aluizio Pinto dos Santos Reis (segundo secretário); Clélia da Costa
Marques (oradora oficial); Fábio Corrêa Horta (tesoureiro); Aloisio de Lima
Bastos (bibliotecário) (GRÊMIO LITERÁRIO MACHADO DE ASSIS, 1940,
p. 1).
É possível perceber com as iniciativas promovidas pelos cuiabanos, especialmente da
elite, a preocupação com as causas relacionadas ao estudo, pesquisa, e leitura recreativa. Um
fato relevante de se destacar é que, em grande parte desses espaços culturais e de lazer,
estiveram presentes membros envolvidos com a instrução pública o que indica que a intenção
de instruir, ilustrar os membros da comunidade, mobilizou várias iniciativas para a criação de
sociedades, associaçõesetc. (SIQUEIRA, 2012).
A mobilização para criação desses espaços mostra, também, a capacidade de
organização da comunidade letrada que se uniu para divulgar os conhecimentos produzidos
pelos pares e se manter atuante no cenário cultural mato grossense.
Ainda na perspectiva destes espaços, visando uma visualização mais ampla, elaborei
uma “linha de tempo” apresentando o processo de criação dos espaços culturais e de leitura de
Mato Grosso do século XVIII, XIX e XX.
60
Figura 6 – Linha de Tempo representando os espaços de leitura existentes em Cuiabá (fim século XVIII até primeira metade do século XX)
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Século
XVIII Século XIX
Século XX
Fonte: Linha de Tempo elaborada pela pesquisadora, baseada nos documentos selecionados no APMT (2012).
61
Todas as iniciativas no sentido de criação de um espaço cultural possuem estreita
relação com a instrução, sendo a educação e as práticas culturais, premissas indispensáveis,
consideradas como estratégias para demonstrar a civilidade e potencialidade da cidade.
Esta concepção apresenta-se latente no discurso oficial e também da opinião pública,
como atesta uma passagem de um artigo do Jornal O Matto Grosso (1917, p. 3) onde afirma-
se que: “edificio grandioso do futuro de Matto-Grosso tem por alicerce a instrucção de seus
filhos e, portanto, cumpre que um a um, por mais humildes, lancemos a nossa pedrinha ao seu
levantamento.” Outra concepção, agora no discurso oficial, sobre a educação:
Não compreendo. Senhores Deputados real e fecunda administração, sem a organização de um aparelhamento cultural, que torne o povo cada vez mais
apto as condições atuais da vida e cada vez mais capaz de produzir a
valorização das possibilidades espontâneas que o meio oferece. Facilitar-lhe e ministrar-lhe os processos de adaptação ao progresso da
civilização e da cultura, orientar-lhe o envolver mediante a educação e a
instrução, tirando assim de cada indivíduo o máximo de aptidões, constitui uma das mais nobres missões do homem de estado, não somente do
educador, que a complexidade social colocou em função daquele. (MATO
GROSSO. MENSAGEM, 1937, p. 14).
Talvez, em função de tantas críticas sofridas, principalmente no século XIX, é que no
século XX torna-se imperativo mostrar que Cuiabá, ao contrário dos discursos proferidos –
descrevendo-a como uma cidade bárbara, sem cultura, sem instrução, sem intelectuais -- era,
ao contrário, uma cidade culta, que incentivava as práticas culturais e do espírito.
Várias são as ocorrências em Jornais, Relatórios e Mensagens em que esta concepção
se sobressai. Apresento a seguir uma ilustração desta afirmativa:
Relativamente, considerando o meio deficiente e a posição geographica de Mato-Grosso, afastado do centro irradiador da cerebração brasileira, a nossa
cultura pode ser julgada com o mais acariaciador e justificavel optimismo.
Um relancear d'olhos por toda a vastidão do territorio mato-grossense divisa logo, não só nas cidades principaes como Cuiabá, Corumbá, Tres Lagoas,
Campo-Grande mas tambem nas de menor importancia como Potna Prã,
Sant'Anna do Paranahiba um orgão de publicidade, uma agremiação em que se cultuam as letras, como o litero musical de Coxim, e se, em cada
individuo não se acha um letrado envernizado ou do catalogo dos grandes
centros, acha-se contudo um homem que, apezar das maneiras atabalhoadas
de matutão tem uma visão clara, às vezes luminosa das questões que se agitam attinentes as necessidades da sociedade ou do individuo tomado
insuladamente [...]novel e esperançoso, todos nas suas tortulias tem
patenteiado o amor e a tendencia pelo estudo, e interesse pelas elevadas cogitações do espirito. (CORREIO DO ESTADO, 1922, p. 2, grifo nosso).
62
Outro texto que retrata o afã da elite letrada em mostrar que Cuiabá era uma cidade
composta por uma população alfabetizada e civilizada, se dá no artigo da Revista do Centro
Matogrossense de Letras, conforme extrato a seguir:
Mas lá fora, Matto Grosso é apenas uma expressão geográphica, para os que
estão ainda nas faixas de ABC. Para taes espíritos esta Revista será uma
revelação. Revelação de que aqui se pensa, aqui se lê, aqui se escreve
alguma coisa [...]. (REVISTA DO CENTRO MATTO GROSSENSE DE
LETRAS, 1922, p. 2, grifo nosso).
Neste contexto de preocupações e iniciativas para o desenvolvimento da instrução e da
cultura cuiabana e mato-grossense é que, segundo Siqueira, com o advento da República a
partir de 191024
, puderam ser implementadas em Mato Grosso expressivas transformações,
inclusive no campo cultural. (SIQUEIRA, 2000).
A Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso insere-se neste cenário de
desenvolvimento cultural, como um espaço para o acesso ao conhecimento, que possibilitaria
o desenvolvimento espiritual dos indivíduos com o fim de desmistificar a visão que se tinha
de uma Cuiabá incivilizada e que não acompanhava as iniciativas de outros estados
brasileiros.
A necessidade da instalação de uma biblioteca que atendesse à população como um
todo e não apenas a elite, era premente e acompanhava uma tendência nacional. Essa
percepção foi divulgada nos principais meios de comunicação da época, as revistas e jornais.
Na Revista Matto Grosso (1908), por exemplo, foi publicado um artigo que tomou
mais de uma página, abordando a necessidade de criação de uma Biblioteca Pública que
atendesse às necessidades da população, a “camada média inferior.” (SIQUEIRA, 2004, p.
10). A biblioteca deveria complementar o processo de instrução daquela camada da
sociedade que não possuía as condições para arcar com a manutenção dos estudos, no tocante
à aquisição de livros:
24 Em 1910 foi instaurada em Mato Grosso a Reforma da Instrução Pública, pelo governador Pedro
Celestinho Corrêa da Costa, por meio do Regulamento da Instrução Pública Primária do Estado de
Mato Grosso, que dentre outros aspectos, destacava o ensino da leitura. De acordo com Amâncio
(2008), essa reforma pretendia dar continuidade ao projeto de modernização do Brasil, sob os moldes adotados por São Paulo, inclusive trazendo normalistas paulistas para organizar a instrução em Mato
Grosso e criar a Escola Normal. Dois destes normalistas que atuaram de forma intensa na instrução em
Cuiabá foram os professores: Leowegildo Martins de Mello que dirigiu a Escola Normal e Modelo
Anexa e Gustavo Kuhlmann que dirigiu o Grupo Escolar do 2° Distrito. (AMÂNCIO, 2008).
63
Dahi a imperiosa razão de ser da existencia de uma Biblioteca Publica, onde
haja os elementos necessarios para diffundir as luzes das sciencias, das artes
e das industrias, tornando accessiveis as consultas, proclamando o Direito e a Verdade. Ninguem pode ignorar a incontestavel utilidade de uma instituição
desse genero. Quasi todos os dias estamos testemunhando os erros e
prejuizos advindos da falta absoluta que temos de um repositorio de
consultas e informações de natureza inadiaveis. Nada, entretanto, poderia supprir essa lacuna, imperdoavel entre nós, do que a creação e manutenção
de uma Biblioteca Publica [...] (REVISTA MATTO-GROSSO, 1908, p. 90).
Essa ausência de espaço apropriado que disponibilizasse um acervo que atendesse à
demanda infere uma impossibilidade na efetivação das práticas de leitura pela camada
popular, que não possuía acesso ao livro.
O texto mostra também, em outro momento, a concepção que se tinha da biblioteca
como “templo” do saber, que colaboraria para o crescimento intelectual da população,
consequentemente, elevando-a à condição de sociedade culta e civilizada.
Tal fato é destacado na fala do redator da Revista Matto-Grosso, quando aponta a
necessidade de criação de uma biblioteca pública: “cuidemos ja de assentar as primeiras
pedras do alicerce sobre o qual devemos edificar o templo grandioso do nosso resurgimento
moral, justificando assim, ainda uma vez, o direito de sermos um povo culto”. (REVISTA
MATTO-GROSSO, 1908, p. 91, grifo nosso).
Assim, a concepção que os cuiabanos possuíam em relação à biblioteca não destoava
da concepção universalmente propagada. Neste sentido, Chartier (1999b, p. 68) ressalta que
desde há muito tempo prevalecia a visão de que a biblioteca separaria “o mundo dos profanos
e ignorantes daquele dos eleitos do saber” e ainda, de que não haveria “nenhum meio mais
honesto e seguro para adquirir um grande renome entre os povos do que construir belas e
magníficas bibliotecas”. (NAUDÉ, 1990, p. 12 apud CHARTIER, 1999b, p. 69).
ABiblioteca Pública do Estado de Mato Grosso foi constituída neste cenário de
empenho do estado em desenvolver a instrução pública, acreditando que a mesma era uma
força prodigiosa que levaria, pelo menos parte de sua população, a galgar as mais elevadas
posições sociais e, consequentemente, colabor para o desenvolvimento da cidade e do estado.
A intenção ela criada com o fim de colaborar e complementar o processo de instrução da
população cuiabana.
64
4 TEMPLO DO SABER: A BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO
O 'Onde' da leitura é mais importante do que se
pode pensar, porque a contextualização do leitor em seu espaço pode fornecer indícios sobre a
natureza de sua experiência. (DARNTON, 2010, p.
180).
Figura 7 – Palácio da Instrução na década de 50
Fonte: Freitas ([20--?]).
Neste capítulo adentro ao universo da Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso a
partir de 1912. É possível visualizar como a mesma foi constituída, quais sujeitos fizeram
parte de sua fundação e direção, como se organizou sua administração, no sentido de
disponibilização dos serviços de consulta e empréstimo, horário de funcionamento, e espaço
físico pelos quais seu acervo foi trasladado.
Para contar a história da BPEMT foi preciso conhecer a história das bibliotecas desde
tempos remotos para realizar mentalmente as conexões e construções que permitiram
compreender a relevância dessa instituição para as sociedades. Assim, a história da BPEMT
não está dissociada da história de tantas outras bibliotecas que, desde tempos remotos,
objetivaram preservar o patrimônio escrito elaborado e registrado pelos sujeitos no decorrer
dos tempos. Posteriormente, com a modernidade, suas preocupações e ações foram ampliadas
para atender à demanda de leitura de uma determinada comunidade de leitores.
Os registros, produzidos e inscritos em diversos suportes (pedra, argila, papiro,
pergaminho, papel), eram organizados em bibliotecas, na Antiguidade, com o propósito de
65
resguardar para a posteridade o patrimônio histórico-cultural da humanidade, não tendo,
inicialmente, a preocupação com a socialização dos conhecimentos existentes nos referidos
suportes (CAMPOS, 1994; MARTINS, 1998).
Com a Renascença, a Invenção da imprensa, a Revolução Francesa e a Revolução
industrial, as concepções de biblioteca, começam a se alterar, iniciando-se maior preocupação
em proporcionar o acesso à leitura e à informação, uma vez que era requisito para o
desenvolvimento de uma nação possuir pessoas capazes de atuar na produção, na instrução, na
administração e em outros seguimentos da sociedade. Portanto, era necessário propiciar ao
sujeito o acesso à instrução (aprender a ler e escrever) para que ele pudesse ter os
conhecimentos mínimos necessários para contribuir com o crescimento de sua sociedade.
O acesso à instrução, mesmo que restrito a poucos, o aprender a ler, estimulou as
pessoas a buscarem leituras diversificadas. Este fator, aliado à inexistência ou deficiência das
bibliotecas das escolas e dificuldade de acesso ao livro por meio de compra, desencadeou a
necessidade de criação de espaços públicos para estudo e leitura gratuita.
As bibliotecas sempre foram espaços potenciais para a efetivação da leitura. Na
antiguidade e idade média, eram frequentadas por um público muito restrito, pertencentes ao
clero e realeza. Possuía o principal fim de guardar e preservar os documentos contidos em seu
acervo. Na modernidade, iniciou-se a concepção de biblioteca como espaço de
democratização e socialização do conhecimento. Nesse processo de progressão, as bibliotecas
passam a ter, na atualidade, um papel não só de mantenedoras dos livros, mas de difusoras e
incentivadoras da leitura e, consequentemente, do conhecimento (MARTINS, 1998).
Com a modernidade surgiu a necessidade de instruir o maior número de pessoas
possível. Dessa maneira, torna-se salutar a disponibilização de recursos que possibilitassem a
concretização de tal preceito. A instrução, no século XIX, deveria acontecer nas escolas de
forma sistematizada sob a administração do estado. Nesse contexto, o governo estadual
deveria providenciar os recursos que dariam o suporte para que a educação e instrução fossem
concretizadas de forma satisfatória. Dentre estes recursos inseria-se os materiais instrucionais,
como os livros, imprescindíveis para que os alunos adquirissem os conhecimentos que lhes
dariam competência para atuar de forma mais ativa e produtiva, na sociedade em que
estivessem inseridos.
No entanto, as escolas nem sempre disponibilizavam livros ou outro material
instrucional. Esta responsabilidade foi assumida pelas bibliotecas públicas, criadas
inicialmente, com o principal fim de atender ao público estudantil. Portanto, a relação da
66
Biblioteca com a educação escolar fora muito próxima e a existência de uma Biblioteca em
uma cidade, prestava a esta um status de local desenvolvido ou pelo menos em
desenvolvimento, como afirma Mello (2011, p. 74), “O discurso oficial sempre associou a
prática de leitura a índices de progresso e civilização [...]”, sendo o acesso à instrução e à
leitura uma condição para se inserir na conjuntura político-econômico-social dos demais
países.
Mato Grosso preocupou-se, desde muito cedo, em se manter no rol destas cidades
desenvolvidas, cuidando em manter seus cidadãos instruídos, como ressalta Corrêa Filho
(1922, p. 287) que em 1799:
O Senado da Camara de Cuiabá recebia ordens para ‘que se enviassem sete
estudantes para a Europa, afim de se instruírem nas artes e sciencias uteis a esta capitania’, para cada um dos quaes foi arbitrada a pensão mensal de dez
mil réis.
Segundo o autor, essa tarefa pode não ter sido concluída em função das ”questões
graves” políticas, administrativas e financeiras, que se abateram sobre o estado e que, somente
em 1910, iniciou-se melhorias no âmbito da educação em Mato Grosso (CORRÊA FILHO,
1922, p. 288-289).
Nesta perspectiva, Rodrigues (2008) aponta dois acontecimentos que influenciaram o
desenvolvimento de Mato Grosso, após 1799, no tocante às letras e às artes. O primeiro, em
1870, foi a implantação de um projeto de modernização de Mato Grosso no qual um dos
critérios era preparar a população para “receber a modernidade, tendo de se alfabetizar, se
educar, adquirir novos hábitos para poder usufruir dos prazeres que os novos tempos
poderiam lhe proporcionar.” (RODRIGUES, 2008, p. 34) O outro acontecimento, foi o fim da
Guerra do Paraguai, também em de 1870, que ocasionou a abertura da navegação e desafogou
os cofres públicos.
Independente das questões relativas ao pouco investimento na educação em Mato
Grosso, aconteceram várias iniciativas para a criação de espaços de leitura que objetivavam
propiciar à população mato-grossense momentos de aquisição da cultura letrada. Abaixo,
extrato de uma carta do presidente da província solicitando doações para o Gabinete de
Leitura, criado em 1874, reforçando a ideia de que Mato Grosso deveria acompanhar o
progresso.
67
Para a realização de semelhante idéia peço a valorosa coadjuvação de V.Sª.
A oferta desde já de livros para o Gabinete será o começo de um grande
melhoramento moral. Ao corpo legislativo me designei pedindo os necessários auxílios. Entretanto, bom será que os filhos da província, que os
habitantes dela, sejam os primeiros a dar o exemplo. Não é uma coisa nova
que se inicia, é uma necessidade geralmente reconhecida e que em quase
todos os pontos do império acha-se vantajosamente provida. O Mato Grosso não deve ficar aquém de suas irmãs no caminho do progresso. (MATTO
GROSSO, 1872 apud SIQUEIRA, 2000, p. 222, grifo nosso).
É evidente o empenho da camada letrada de Cuiabá em criar espaços de práticas
culturais, especificamente de leitura, de forma que a BPEMT concretizou-se, no século XX,
como resultado de uma necessidade sentida e expressada desde o século XIX.
Foi possível, no capítulo anterior, perceber, por meio dos discursos proferidos pelas
vozes oficiais e não oficiais, em que contexto a Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso
surgiu, criada em meio a uma necessidade sentida pela sociedade e registrada nos periódicos
que circulavam na época e nos documentos burocráticos e oficiais emitidos.
Uma das funções principais das bibliotecas públicas, no século XX, era colaborar para
o processo da instrução pública, possibilitando às “últimas camadas sociais” (O DEBATE,
1912, p. 2) e sem recursos o acesso ao livro, que era um objeto acessível apenas à minoria da
população possuidora de recursos suficientes para aquisição de um bem material que não era
de primeira necessidade. Tais aspectos são ilustrados em fragmentos de artigos apresentados
a seguir:
Nem todos podem comprar livros. A fortuna conquanto adstrita à lei
imperiosa da relatividade tem suas predileções e os seus eleitos. Por outro
lado, uma Biblioteca Pública define o grau de adiantamento intelectual do povo. (O DEBATE,1912, p.1).
[...] Difficilmente um rapaz pobre poderá acompanhar a revolução
intellectual universal; primeiramente, porque as obras dos grandes pensadores não chegam até nós; secundariamente pela exorbitancia do preço
que os mercadores mandando-os buscar, exploram. [...] (CORREIO DO,
ESTADO,1922).
Esta concepção da biblioteca como suporte à classe estudantil e à camada popular sem
recursos, foi também identificada no discurso do diretor Leonel Hugueney, quando ele afirma
que: “Incontestavelmente as bibliothecas bem aparelhadas são o complemento das escolas,
proporcionando variados conhecimentos às pessoas de todas as idades e facilitando às de
pouco recurso, a leitura de obras cuja acquisição não lhes seria possível.” (BIBLIOTHECA
PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1915, p. 1).
68
Portanto, foi com este mesmo discurso que o Presidente do Estado de Mato Grosso,
Joaquim Augusto da Costa Marques, criou, por meio do Decreto n. 307 de 26 de março de
1912, a Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso, com o fim de “facilitar a instrucção de
todas as classes”, atuando como “[...] um complemento indispensável e um auxiliar ao ensino
popular, levando ao alcance de todos os elementos imprescindíveis à elucidação do espírito.”
(BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p. 2).
A Biblioteca Pública recebeu diversas denominações nos documentos oficiais no
decorrer dos anos. Foi possível recuperar, por meio das capas dos Relatórios, algumas
denominações que apresento a seguir:
1912 a 1914– Bibliotheca Pública (MATO GROSSO. BIBLIOTECA
PÚBLICA, 1913; 1914)
1918 – Bibliotheca Publica do Estado (MATO GROSSO. BIBLIOTECA
PÚBLICA, 1918).
1919 – Bibliotheca Publica (MATO GROSSO. BIBLIOTECA PÚBLICA,
1920).
1922 – Bibliotheca Publica Estadual (RELATORIO 1922).
1925 - Bibliotheca Publica (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1912- 1926).
1929 – Biblioteca Publica [do] Estado de Mato-Grosso (RELATORIO 1929).
1936 – Bibliotheca e Archivo Publicos (MATO GROSSO. MENSAGEM,
1937, p. 21).
1940 e 1041 – Biblioteca e Arquivo Público (MATO GROSSO. MENSAGEM,
1941-1942, p. 19).
1947 a 1949 – Biblioteca e Arquivo Públicos (MATO GROSSO.
MENSAGEM, 1948, p. 65, 1949, p. 27, 1950, p. 50).
1983 (04 de agosto) – Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça.25
É possível perceber a não padronização no tocante à denominação da Biblioteca.
Desse modo, tornou-se difícil decidir por uma forma de me referir à instituição no decorrer do
trabalho. Com o intuito de manter uniformidade quanto à denominação da Biblioteca, neste
25 O nome atual da biblioteca consta no site da Biblioteca Nacional como: Biblioteca Pública Estadual
Estevão de Mendonça. (BRASIL, 2008).
Disponível em: <http://www.bn.br/snbp/coordenadorias.html> Acesso em: 5 jan. 2013.
69
texto, optei por utilizar ou a sigla BPEMT – Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso ou
esse nome por extenso, todas as vezes que me referir ao meu objeto de estudo.
A fundação da BPEMT, efetivada em maio de 1912, objetivava propiciar o acesso da
população mato-grossense à cultura escrita, auxiliando o ensino e a instrução da população,
portanto, exercendo também a função de biblioteca escolar. Visava ainda, resguardar e
divulgar as tradições históricas e criações intelectuais “nos diversos ramos da actividade
humana”, tendo como princípio o livre acesso e atendimento de toda a população
(BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p. 2).
Esses “elementos imprescindíveis à elucidação do espírito” (BIBLIOTHECA
PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p. 2), seriam contemplados por meio
da leitura dos títulos disponíveis, sendo que, para Chartier (2001), a leitura se torna uma
prática intelectual com as exigências investidas pela escola e universidade. A partir daí, o
texto escrito converge para além do objetivo de preservar o conhecimento para a posteridade,
mas também para disseminar, divulgar e colaborar para a produção de novos conhecimentos,
promovendo sua apropriação, por meio da leitura.
Sendo assim, de acordo com o discurso oficial, a biblioteca torna-se, além de
repositório do conhecimento registrado, um espaço para o acesso e concretização das práticas
de leitura de todos os indivíduos que deverão se preparar, por meio da instrução, para serem
cidadãos partícipes do processo de construção e desenvolvimento da cidade de Cuiabá.
Neste cenário, de grande preocupação com a instrução do povo, fica evidente a função
da BPEMT como espaço de complemento da instrução pública, sendo que esta concepção se
estende de 1912 a 1921. A partir desta data, muda-se o discurso, de um espaço que
fomentava as práticas escolarizadas para um Centro de Cultura popular, sendo que o termo
Cultura aparece pela primeira vez em 1921.
Com a pesquisa, foi possível acompanhar as mudanças e/ou nuanças nas concepções
sobre a função da biblioteca, expressas em formas linguísticas. Considerei relevante destacá-
las, porque estas diferentes formas de se referir à biblioteca poderia suscitar, em outros
pesquisadores, um interesse em aprofundar-se nessa questão. Nesse sentido, aproprio-me de
Peres (2002, p. 18) para ressaltar que “[...] qualquer teoria ou trabalho empírico que não levar
em consideração a linguagem” não perceberá, conforme afirma Scott (1990, p. 11 apud
PERES, 2002, p. 18) “[...] os poderosos papéis que os símbolos, as metáforas, e os conceitos
jogam na definição da personalidade e da história humana.” Portanto, a seguir apresento
cronologicamente os termos utilizados.
70
Décadas de 10 a 20- Casa de Estudos (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE
MATTO GROSSO, 1918).
Décadas de 20 e 30 - Centro de cultura popular, Instituto de Cultura popular,
Estabelecimento de Educação popular, (MATO GROSSO, 1922).
Década de 40 (início) –Difusor cultural, auxiliar da cultura (MATO GROSSO, 1941).
Década de 40 (final) Casa de Leitura (MATO GROSSO, 1947, 1948).
Percebe-se a mudança dos termos, no entanto, na prática, a biblioteca continuou, no
decorrer das décadas, como espaço potencial de práticas de leitura do público estudantil e
pouco foi feito para o desenvolvimento de ações que contemplassem e estimulassem práticas
diferenciadas de leitura e de cultura no geral.
Parece que as iniciativas em relação à prestação de serviços que propiciassem novas
práticas culturais dentro da biblioteca ocorreram apenas na década de 40, em que se pretendia
a realização de: “[...] conferências e exposições, o que aliás constitui uma das finalidades de
tais institutos.” (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1941-1942, p. 21). Dessa forma, poder-se-
ia ampliar as relações sociais e culturais e a disseminação do conhecimento, incentivando
novas práticas de leitura. No entanto, não me foi possível comprovar se tais ações foram
realmente efetivadas.
No aspecto, das possíveis práticas efetivadas no interior da biblioteca, um fator
relevante se destaca: o concernente ao espaço físico, que pode colaborar, prejudicar ou, até
mesmo, impedir a concretização das consultas e/ou práticas de leitura pelos frequentadores da
biblioteca. Este item não despertou a preocupação do poder público, de forma que, em toda a
história da BPEMT, até o período estudado, a destinação de verbas para a construção de um
espaço específico e próprio para a instalação da biblioteca foi desconsiderada na elaboração
das políticas públicas do estado.
Havia sim, o empenho em destacar que pouco se gastava com a biblioteca, que não era
necessário despender recursos consideráveis para sua manutenção, portanto, ficando patente
que esse espaço não merecia maiores investimentos.
Exemplo de tal realidade é registrado nos relatórios e mensagens, como no caso de
1913, que foram despendidos 3:000$000 (três mil réis) e em 1918, 1:000$000 (hum mil réis).
Outra situação foi que: “Em 1919, o Estado despendeu com este serviço 12:244$800, em vez
71
da importância consignada de 14:700$000, resultando dali uma economia de 2:455$200.
(MATO GROSSO. MENSAGEM, 1919).
Portanto, indo na contramão da lógica de que se deveriam aumentar os investimentos,
deparamo-nos com o corte de verba, revelando, assim, a pouca importância, apesar do
discurso, que a BPEMT possuía perante as autoridades.
A própria criação da biblioteca foi justificada pela garantia de que ela não pesaria nos
cofres públicos e que o governo “gastou apenas 6.124$700”, cuidando o governador de
ressaltar ainda que “o seu custeio pouco pesará em nosso orçamento”. (MATO GROSSO.
MENSAGEM, 1912).
Analisando os discursos contidos nas fontes tentei entender porque a biblioteca sofreu
tanto com a falta de investimento. Identifiquei que um dos fatores poderia ter sido as
constantes dificuldades financeiras pelos quais o estado passou, em 1913, por exemplo,
segundo Sá e Sá (2011, p. 48) em função “[...] da queda do valor da borracha, principal fonte
de renda da região.” Em 1914 devido à guerra que assolava o mundo e, em 1917, devido a
uma guerra interna denominada Caetanada. (SÁ; SÁ, 2011, p. 48). No entanto, apesar de
todas as dificuldades, os investimentos na instrução de 1907 a 1929, segundo Sá e Sá (2011),
não sofreram subtração. Porém, para a biblioteca os investimentos foram reduzidos, desta
forma considero que, na verdade, destinar verbas para a instituição, nunca foi uma
preocupação do poder público, nem mesmo no momento de sua fundação.
4.1 Em busca de um espaço possível
A BPEMT sofreu com as mudanças constantes, que danificaram e extraviaram o
acervo, com a falta de recursos que dificultava execução das atividades administrativas e
técnicas como a aquisição de obras e investimento em pessoal para atender a comunidade
leitora.
No início de seu funcionamento, a biblioteca carecia de investimento, conforme
solicitação de Leonel Hugueney, em relatório de 1912, em que ele reinvidicava que fosse
providenciada a pintura da biblioteca; em outro momento, pedia mudança de prédio, alegando
que o local em que a biblioteca estava instalada era impróprio para a pesquisa, em função do
calor excessivo em seu interior, o que inviabilizava a permanência dos leitores e também dos
funcionários, conforme ilustra o texto a seguir:
72
As difficuldades do momento e o desejo de não demorar a installação desta
Repartição devem ser as causas determinantes da adopção de um local tão
impróprio para esta Bibliotehca. Faltando espaço e ventilação torna-se sobremodo encommoda a permannencia naquella estufa que nos dias de
regoroso calor é absolutamente insupportavel levando o desanimo as pessoas
que prectendem fazer suas consultas. (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO
ESTADO DE MATTO GROSSO, 1913, p. 31).
Nesse aspecto, percebe-se, ainda, nos relatórios posteriores as mesmas angústias por
parte dos outros diretores que de forma incansável solicitavam providências em relação às
instalações, porém sem grande sucesso.
As mudanças constantes demonstram a ausência de políticas públicas que
incentivassem um projeto que viabilizasse a instalação da biblioteca em um espaço adequado
para a realização de suas funções.
A BPEMT, no decorrer de sua história, passou por vários endereços, sendo que as
mudanças contribuíram para o extravio e dano de vários documentos.
No quadro 4 são revelados alguns endereços pelos quais a biblioteca passou, os que
foram possíveis de serem recuperados por meio das fontes.
Quadro 4 – Endereços da Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso
ANO ENDEREÇO FONTE
1912 a 28 fev 1913 Rua Joaquim Murtinho, n. 8 sede da
Inspetoria de Higiene (Atual rua
Joaquim Murtinho)
Relatório 1912
1913 à 1916 aprox. Rua 1º de Março n. 14 (atual Rua
Galdino Pimentel)
Mensagem 1914
1917 (setembro) até a
década de 30
Rua Antonio João n. 31 (atual
calçadão Antonio João)
Jornal A Juventude -1 de outubro de
1917, n. 37 , anno 1: (foto n. 2)
Mensagem 1928; Póvoas (1983, p.
152); O MattoGrosso, 1931, p. 3.
1941 à 1945 aprox. prédio próprio do estado mensagem 1941
1946 Praça da República n. 41 Randazzo (1982)
1956 Palácio da Instrução – andar térreo
(situado até o tempo presente, à rua
Antonio Maria, n. 151, centro, em
frente à Praça da República)
Randazzo (1982)
Fonte: Documentos diversos localizados no APMT (2012).
73
Atualmente, a BPEMT está instalada no Palácio da Instrução26
, que foi restaurado no
governo Blairo Maggi em 2003-2004, trabalho executado com os recursos da Associação
Brasileira dos Produtores de Algodão e entregue em 6 de dezembro de 2004 (MATTOS;
BARBOSA, 2007, p. 5). Apresento, na figura 8, o prédio atual e restaurado do Palácio da
Instrução.
Figura 8 – Palácio da instrução, sede atual da BPEMT
Fonte: Conte ([20--?], p. 43).
No decorrer das décadas, os diversos diretores que passaram pela biblioteca deixaram
registrada sua insatisfação em relação aos investimentos destinados à manutenção da estrutura
e acervo da mesma. Como exemplo, cito o excerto do Regulamento da BPEMT de 1925, no
qual o diretor enfatiza que: “O funccionamento desta Bibliotheca corre com perfeita
regularidade, embora ressentindo-se de vários melhoramentos.” (MATO GROSSO.
MENSAGEM, 1926).
Os espaços destinados à biblioteca, normalmente eram residências alugadas que não
possuíam as condições necessárias para acolher o acervo e os leitores. Na década de 30,
especificamente 1935, a situação continuava insatisfatória segundo o diretor da biblioteca :
26 O Palácio da Instrução foi inaugurado em 15 de agosto de 1914, no governo de Joaquim Augusto da
Costa Marques. O prédio localiza-se na rua Antonio Maria, n. 151 - centro, Cuiabá- MT, em frente a
praça da República (SOARES, 2006).
74
A casa onde funcciona esta repartição de propriedade particular e alugada
pela importância de 400$000 mensaes, se vae tornando já exígua para o
funccionamento da mesma, achando-se alem disso, bastante estragada, principalmente nos compartimentos dos fundos, que apresentam até algumas
paredes fendidas. (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1936, p. 21).
As constantes mudanças, realizadas sem os devidos cuidados, acarretaram perdas
irremediáveis ao acervo e certamente, dificultaram o uso mais efetivo de seu espaço,
impossibilitando que a biblioteca se tornasse uma referência entre os cuiabanos.
Em 1958, a BPEMT ainda não possuía prédio próprio (MATO GROSSO.
MENSAGEM, 1959), esta realidade é confirmada por Randazzo (1982, p. 18) quando atesta
que as instalações da Biblioteca e Arquivo Público se encontravam em estado lastimável,
sendo impossibilitado ao público realizar suas pesquisas e práticas de leitura, conforme relato
do então arquivista José Monteiro da Silva em 1958:
[...] acresce ainda, que o aludido prédio não dispõe de capacidade de
comportamento necessário ao conveniente acondicionamento do rico e
importante acervo do Arquivo, ficando as prateleiras e estantes colocadas uma sobre outra, sem espaço nenhum entre elas, que possibilite o
Arquivismo ou o consulente interessado transitar no espaço entre as
prateleiras e estantes, para proceder as observações imprescindíveis á
descoberta de documentos desejados. (RANDAZZO , 1982, p. 18).
A dificuldade enfrentada no tocante às instalações físicas na década de 50, é também
registrada, mesmo que somente por uma nota, na Mensagem de 1959, referente a 1958:
BIBLIOTÉCA E ARQUIVO PUBLICOS
Ainda não nos foi possível dotar este Departamento de prédio e equipamentos indispensáveis à sua reorganização.
Quanto à parte do Arquivo, procedemos à ordenação dos pacotes, que estão
sendo recompostos. Os documentos já se acham selecionados e distribuídos por assunto. (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1959).
Na década de 60, era ainda visível o não investimento na estrutura física da instituição,
e que, apesar da promessa do governo em providenciar acomodações satisfatórias, isto só
ocorreu definitivamente na década de 80. Sendo que em 1961 a biblioteca continuava
instalada:
[...] não muito cômodamente, numa dependência do pavimento térreo em que funciona o tradicional Grupo Escolar “Barão de Melgaço” [no prédio do
Palácio da Instrução].O Arquivo acha-se instalado em um prédio da rua
Barão de Melgaço, nº 128. (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1962).
75
Ainda na década de 60, especificamente em 1964, sob a direção de Nilo Póvoas, a
Biblioteca e Arquivo Público encontrava-se com sérios problemas na instalação física, o que
tornava as atividades de organização e atendimento ao público leitor quase impraticáveis,
conforme relato descrito a seguir:
A Biblioteca e Arquivo Público tem sido sempre relegada para um plano
secundário como se fosse uma Repartição sem importância, uma sinecura qualquer. Agora, entretanto, chegou a necessidade a um ponto tal que não é
possível mais esperar [...]. (RANDAZZO, 1982, p. 20).
Apesar de toda insatisfação demonstrada pelos diretores da biblioteca em relação as
suas instalações, localizamos no livro de Humberto Soares da Costa a informação de que, em
1949, as instalações da biblioteca seriam satisfatórias e condizentes com suas atividades,
conforme discurso a seguir: “A Biblioteca e Arquivo Público do E. de Mato Grosso, bem
instalada [...] Sediada em amplo prédio de propriedade do Estado, tem o acervo distribuído
por várias salas, convenientemente mobiliadas.” (COSTA, 1953, p. 98-99).
O livro de Humberto de Campos, Bibliotecas do Centro-Oeste do Brasil, foi produto
do relatório final das visitas realizadas nas bibliotecas de Mato Grosso. Esse produto foi parte
de um projeto idealizado e executado pelo INL - Instituto Nacional do Livro, em que se
determinou comissões para visitar todas as bibliotecas do Brasil, sendo que a BPEMT teria
sido uma delas e foi visitada por esta comissão em 1949.
No entanto, em nenhum documento localizado, inclusive nas Mensagens, foi abordada
a vinda de uma comissão do INL ao estado com o fim de propor melhorias às bibliotecas, nem
pelas autoridades, nem pela opinião pública.
A realidade apontada por Costa (1953) não é confirmada por Randazzo (1982) que
relata a situação da Biblioteca e Arquivo Público como sendo lastimável. No entanto, é
importante ressaltar a concepção que os membros do projeto do INL possuíam acerca do que
seria um espaço aceitável para instalação de uma Biblioteca.
Torna-se bem claro que a preocupação era tão somente com a implantação de um
espaço onde pudesse ser acondicionados livros, não havendo a necessidade de que este
mesmo espaço fosse minimamente agradável ou confortável. Prevalece aí a intenção de
mostrar que o estado havia propiciado o acesso à leitura com a instalação de Bibliotecas “em
todo lugar onde houver uma centelha de vida e de inteligência” e que, para isso, não seriam
76
necessários “prédios especiais para sediar as bibliotecas, nem mobiliário suntuoso para
guarnecê-las.” (COSTA, 1953, p. 11).
Na concepção do INL, para a existência de uma biblioteca, bastaria que ela se
instalasse com o mínimo de condições indispensáveis, isto é, sala “[...] para leitura e serviço
interno, algumas cadeiras, mesas e estantes, simples e mesmo pobres [...] (COSTA, 1953, p.
11).
O termo “pobres” poderia inferir como perfeitamente aceitável os móveis que
estivessem caindo aos pedaços. Outrossim, o objetivo maior deste projeto era, em
consonância com os ideais oficiais, preparar o povo para a atuação profissional para o
desenvolvimento da nação, sob rigoroso controle e censura. (MILANESI, 2003).
Assim, as ações idealizadas pelo INL, que se adequaram aos ideais do governo
autoritário, não incluíam a preocupação em proporcionar às bibliotecas públicas condições
adequadas e necessárias ao uso do espaço que, efetivamente, poderia motivar as práticas de
leitura. Mas, apenas e, sobretudo, para “inflar os dados estatísticos e os egos” (MILANESI,
2003. p, 119). Conforme atesta o discurso a seguir:
É essencialmente neste ponto que se concentra toda a capacidade realizadora
da campanha e, portanto, o máximo valor da ação das bibliotecas, porque
seriam fornecidos a cada grupo proletário, ao lado de livros de leitura
recreativa --- viagens, aventuras, biografias, romances, etc. – elementos
versando a técnica profissional e problemas correlatos, destinados ao
aperfeiçoamento gradativo dos respectivos níveis, assim como aos não alfabetizados seria proporcionada uma série de palestras semanais abordando
aspectos ligados ao seu “metier” e que lhes renovassem o conhecimento.
(COSTA, 1953, p. 12, grifo nosso).
Neste aspecto, temos dois pontos de vista divergentes, a saber: o discurso externo
(INL) e o discurso de pessoas que estavam diretamente envolvidas com as dificuldades
enfrentadas pela instituição. Desses, destaca-se o discurso de Randazzo (1982), que estava
diretamente envolvida com a causa do Arquivo e da Biblioteca Pública de Mato Grosso e
registrou o descaso que as autoridades destinaram a este órgão. Penso que o discurso do INL
esteja mais direcionado ao que as autoridades públicas quisessem que fosse divulgado.
77
4.2 Das formas de acesso
A Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso foi criada com o propósito de atender
a comunidade estudantil e de representar o desenvolvimento cultural do estado frente às
outras cidades do território brasileiro.
Portanto, seu horário de funcionamento foi idealizado, certamente, com o intuito de
atender, principalmente, a classe estudantil de Cuiabá e também zelar para um maior conforto
dos consulentes. Isso porque a administração da biblioteca cuidava para que a mesma
atendesse ao público nos períodos mais frescos do dia, fechando das 11h as 17h. Tal fato,
certamente, devia-se ao clima, conhecidamente, quente de Cuiabá.
Desta forma, o Art. 11º do Regulamento de 1912 para a biblioteca pública determina
que: “A Bibliotheca Pública do Estado estará aberta das 8 ás 10 da manhã e das 5 ás 8 e meia
horas da noite.” (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p.
7).
No entanto, por motivos que não foram possíveis precisar, os horários de
funcionamento foram constantemente alterados. Essas inconstâncias aliadas às diversas
mudanças de endereço podem ter acarretado dúvidas e confusão por parte dos frequentadores,
culminando em possíveis quedas de frequência ao espaço da BPEMT.
Ressalto ainda que, mesmo com a instalação da luz elétrica na biblioteca, em 1920, a
mesma não atendeu à noite neste ano, voltando a atender no período noturno apenas em 1922.
Portanto, a biblioteca manteve-se fechada ao público, no período noturno, de 1918 a 1921.
A seguir, apresento alguns dos diversos horários de funcionamento pelos quais a
biblioteca passou, conforme foi possível identificar nas fontes disponíveis:
1912 a 1914 – 8h às 10h e 17h às 20h30
1918 – Mudança de horário, não funcionando a noite, mas não foi possível
identificar o período exato
1920 – 8h às 11h e 13h às 17h
1922 – 8h ás 10h e 17h às 20h30
1925 – 8h às 11h e 18h ás 20h30
1935 – 9h às 12h e 18h às 21h
1947 – 8h às 11h e 14h ás 17h
As concepções que se tinha sobre biblioteca eram de que a mesma preservasse, entre
suas paredes, o maior número possível dos produtos do trabalho intelectual da humanidade,
78
havendo, ainda, uma grande preocupação com a guarda e preservação destes produtos, mais
que com a disponibilização e acesso. (CHARTIER, 1999c, 2001).
Tal assertiva se concretiza nas práticas de disponibilização do acervo da BPEMT, que
não realizava o empréstimo domiciliar como prática ordinária, zelando, portanto, mais pela
preservação do seu acervo, do que pela democratização do acesso.
A questão dos empréstimos suscita a reflexão de que as práticas de leitura podem ser
efetivadas em diversos momentos e ambientes: em casa, na escola, ao ar livre, na biblioteca,
etc. No entanto, em algumas situações a leitura é coordenada ou até mesmo ‘fiscalizada’, por
exemplo, na biblioteca. Nesse caso, podemos nos remeter tanto à censura quanto ao incentivo
às práticas inovadoras de leitura, considerando-a como um processo criativo onde permeiam
relações que envolvem o eu e o outro. Desta forma, a biblioteca pode se destacar como espaço
de incentivo ou de repressão às práticas de leitura. (CHARTIER, 1999a, 1999b; FREIRE,
1983, DARNTON, 2010, ABREU, 1999; SILVA, 1999a; DEAECTO, 2010).
Neste contexto, as limitações dos empréstimos, que só eram realizados mediante
autorização expressa pelo presidente do estado, denotava sua destinação a poucos indivíduos,
enfatizando que estes deveriam possuir “reputação notória” (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO
ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p. 9). Percebe-se claramente o poder da biblioteca
como cerceadora de práticas potenciais de leitura, uma vez que não se sabe que critérios
seriam utilizados para determinar quais indivíduos possuíam a reputação necessária para ser
contemplado com a prática do empréstimo domiciliar. (CARNEIRO, 2007).
A seguir apresento extrato do Regulamento (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO
ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p. 9) que normatiza o empréstimo:
Do empréstimo de livros
Art. 24º - Só poderão ser emprestados livros de facil acquisição, e isso mesmo a pessoas residentes nesta capital e de reputação notória, mediante
autorisação expressa do Secretario do Interior.
Art. 25º - A duração do emprestimo não poderá exceder a oito dias, e, em caso de extravio, a pessoa responsável pagará o dobro do valor da obra
extraviada.
Art. 26º - Os chefes das repartições publicas do Estado poderão gosar do
privilegio do empréstimo, desde que assim o requisitem da Secretaria do Interior [...].
de 1912 a 1941, as consultas somente poderiam ser realizadas no interior da
biblioteca, com algumas exceções, devidamente autorizadas pela secretaria do governo,
porém, não foi possível precisar quem foram esses leitores privilegiados pelo empréstimo
79
domiciliar, apesar que tenho como hipótese, que estes seriam os próprios membros da elite
cuiabana ou autoridades que acreditavam serem merecedores deste privilégio. (DEAECTO,
2011).
No entanto, por volta do fim da década de 20, provavelmente após 1925, visto que
nessa data o diretor relata que houve autorização de empréstimo domiciliar, o diretor da
BPEMT, Fernando Leite de Campos, recusava-se a liberar empréstimo domiciliar para quem
quer que fosse, independente de ser membro da elite ou autoridade local. Conforme relato de
Póvoas (1983, p. 152), quando um major assistente do governador foi retirar um livro por
empréstimo para alguma alta figura do Governo, recebeu a resposta: “[...] que de lá não saía
nenhum livro emprestado, para NINGUÉM [...].”
É perceptível a resistência por parte de alguns diretores em conceder privilégios,
independente da classe social ou posição hierárquica, garantindo, assim, o caráter do público
sobre o privado, evitando a ocorrência de práticas comuns, conforme ressalta Deaecto (2011,
p. 59), herdadas do período imperial, que é a: “[...] concessão de favores, de privilégios, que
funcionavam como mecanismo de distinção no uso da coisa pública[...].”
Após a revolução de 30, o diretor Fernando Leite de Campos foi exonerado do cargo,
assumindo seu lugar o jornalista João Bento Rodrigues Lima, sendo que a partir daí iniciou-se
o empréstimo domiciliar, que segundo Póvoas (1983, p. 153) “delapidou o patrimônio da
Instituição”.
Portanto, é possível perceber que em alguns períodos foi permitido o empréstimo a
alguns indivíduos, por determinados diretores, e, em outros, esta prática não foi autorizada.
A prática do empréstimo domiciliar, oficialmente autorizada a todos os frequentadores
da biblioteca, ocorreu a partir de 1941, conforme texto a seguir:
Cumprindo a sua finalidade, vai este Departamento Estadual funcionando
regularmente e alcançando realizar, de modo eficaz, alguns dos seus
superiores objetivos de difusão cultural entre o povo. Assim, de acôrdo com a orientação atual da alta administração do País, a Diretoria da Biblioteca
instituiu o serviço de empréstimo, que não somente veio ao encontro das
necessidades do público ledor da nossa Capital [...] (MATTO GROSSO. MENSAGEM, 1941-1942, p. 19).
Apesar do discurso, não foi possível comprovar se a prática do empréstimo domiciliar
foi realmente efetivada, uma vez que, de acordo com o relatório de Costa (1953, p. 99-100)
sobre a Biblioteca de Cuiabá, em 1949, a mesma “Não adota o empréstimo domiciliário,
limitando-se a consultas na sede, que são controladas por meio de talões de requisição de
80
obras”. Ele insere, ainda, em seu relatório outros dados como: Acervo: possuía um total de
19.029 volumes; frequência: pequena; frequentadores: adultos; número de frequência: 900
consultas mensais.
Esta ampliação de acesso às obras constantes no acervo da biblioteca permitiria a
inserção de novas práticas de leitura, uma vez que, mudando o local, mudam-se as práticas, de
forma que o “onde”, conforme aponta Darnton (2010), muito influencia no processo de
apropriação do texto.
Nesse aspecto, uma prática que no interior da biblioteca aconteceria apenas em
silêncio, sendo o livro acessado somente por um leitor, pode ser modificada, ampliando-se a
leitura para outros espaços e outros leitores.
Imagina-se que, com o material cedido pela biblioteca, o leitor poderia se sentir livre
para fazer sua leitura de forma mais criativa, menos “censurada”, com mais conforto e de
forma mais intensiva. Os cuiabanos, sócios da Associação Literária Cuiabana, que estavam
acostumados com o empréstimo domiciliar, possuíam uma prática de leitura “commoda e
reflectidamente” (CORREIO DO ESTADO, 1922, p. 2). Caso a Biblioteca Pública
disponibilizasse este tipo de empréstimo, provavelmente possibilitaria ao seu público leitor
práticas aproximadas.
O empréstimo domiciliar também permitiria compartilhar o momento da leitura com
outros sujeitos de sua convivência, oportunizando a realização de leituras oralizadas dentro do
lar, ou mesmo em outros espaços.
Por outro lado, a leitura no interior da biblioteca não deve ter sido uma prática
totalmente confortável e agradável, uma vez que se percebe em sua história que, desde sua
fundação até 1950, foram, suas dependências, impróprias como espaço de leitura, por serem
insalubre (quente, empoeirado), mal iluminada, sem espaço, com móveis sempre necessitando
de reformas, o que não motivava os indivíduos que estavam se constituindo leitores
(BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1913; RANDAZZO,
1982).
Em Chartier (2001) e Darnton (2010), amparo-me para afirmar que o espaço da
biblioteca poderia exercer influência no resultado final da apropriação e construção do sentido
por parte do leitor, porque o ambiente, o espaço físico tanto quanto o objeto e conteúdo, são
importantes na avaliação da qualidade das práticas de leitura.
81
Outro fator que provavelmente influenciava na realização das práticas dos consulentes
era a existência ou não do catálogo que, de acordo com os diretores, poderia agilizar o acesso
às obras por todos que frequentassem a biblioteca.
Por meio dele, os leitores teriam acesso imediato ao conteúdo do acervo, para
escolher, dentre o que estava disponível, obras de seu interesse. A ausência do catálogo
exigiria que os consulentes recorressem ao registro geral, o que acarretaria perda de tempo no
processo de busca das obras, ou mesmo, limitaria seu conhecimento do que a biblioteca
possuía, ficando a cargo do funcionário retirar o livro especificamente solicitado, conforme
ressalta o diretor Leonel Hugueney:
Torna-se urgente necessidade a impressão do catalogo das obras existentes
para facilitar aos consultantes e mesmo para se fazer larga destribuição como é do interesse dos fins para que foi creada este estabelecimento.
Presentemente os interessados são obrigados a se recorrerem aos registro
geral dos volumes para o fim acima indicado o que traz, difficuldades e outros inconvenientes de tempo e de conservação do alludido registro que
precisa estar constantemente em poder do secretario para fazer a inscripção
das obras novas. O regimen actual atraza o serviço e não satisfaz convenientemente o publico. ( BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO
DE MATTO GROSSO, 1913, p. 3).
Nessa perspectiva, o catálogo configura-se como um importante instrumento de acesso
ao material escrito, o que permitiria ampliação das possibilidades de consultas e efetivação de
possíveis práticas de leitura. Sua importância se confirma no sentido de que, apesar do
número reduzido de funcionários, os diretores se empenhavam em elaborar esse instrumento
que envolvia uma atividade que, segundo Deaecto (2011, p. 256), “[...] demandava longas
horas de dedicação, não raro entrecortados por outras tarefas do dia-a-dia.”
4.3 Reconstituindo a administração da Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso
Vários indivíduos pertencentes à sociedade cuiabana participaram da história da
biblioteca atuando como diretores, que se empenharam em fazer da instituição um espaço de
guarda, preservação e acesso ao conhecimento registrado, insistindo na necessidade de novos
investimentos.
Considero relevante ressaltar a atuação desses sujeitos no processo de constituição e
desenvolvimento da biblioteca. Isto porque os diretores certamente, influenciaram, com suas
ações, o fluxo de consulentes e as suas práticas de leitura, seja zelando pela estrutura física,
82
pelas políticas de aquisição para composição do acervo, ou mesmo pelo poder de exercer o
controle sobre as práticas dos frequentadores da biblioteca (AUGUSTI, 1998).
Assim, por meio de diferentes fontes, elaborei um quadro cronológico ilustrativo dos
diretores que deixaram suas marcas na administração da BPEMT que apresento a seguir:
Quadro 5 – Diretores da Biblioteca Pública (1912-1966)
PERÍODO NOME PROFISSÃO FONTE
03 de maio de 1912 a
28.06.1912
Estevão de
Mendonça
Advogado Regulamento
29.06.1912 a 1917 - 5 anos Leonel Hugueney Funcionário Público
- escrivão
Relatório 1912
1918 a 1930 - 12 anos Fernando Leite de
Campos
Professor Póvoas (1983, p. 152)
e Documentos
Avulsos
1930 a 1931 - 1 ano João Bento Roiz
de Lima
Jornalista Jornal A Plebe, 1931;
Póvoas (1983, p. 153)
1932 a 1936 - 4 anos Alexandre Magno
Addôr
Coronel Documento avulso f
21.10.1937 a 14.01.1942
aprox. - 4 anos
José Joaquim G.
de Pina Filho
Foi vereador de
1900-1902
Documento avulso e
Mesquita (1937, p. 21)
1942 a 1944 - 2 anos Manoel Soares de
Campos
Farmacêutico Randazzo (1982, p.
15)
28.06.1945 a 12.03.1946 - 09
meses
Gervásio Leite Bacharel em direito
e historiador
Documento avulso e
Randazzo (1982, p.
16)
30.08.1947 a 20.02.1948 - 06
meses
Jocelim Leocádio
da Rosa
Não identificado Randazzo (1982, p.
16)
1948 a 1950 aprox. - 2 anos Zeferino Pereira
Borges
Jornalista Randazzo (1982, p.
17)
1951 a 1955 aprox. - 4 aos Antonio C. F. da
Costa e Silva
Não identificado Documento avulso
foto n. 32
1956 a 1961 - 5 anos Zeferino Pereira
Borges
Jornalista Randazzo (1982, p.
17)
1962 a 1965 - 3 anos Nilo Póvoas Advogado e
Professor
Randazzo (1982, p.
19); Póvoas (1983, p.
153)
1965 a (não foi possível
identificar)
Cenita Bertoldo
Soares*
Não identificado Póvoas (1983, p. 154)
jan. 1965 a fev. 1966 Arcílio Pompeu de
Barros*
Funcionário Público Randazzo (1982, p.
20)
14 Diretores no
período
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora, baseado em documentos diversos localizados no APMT (2011-2012).
83
É possível perceber que todos os diretores, do período de 1912 a 1950, foram homens,
o que reflete a característica da sociedade da época, regida majoritariamente por indivíduos do
sexo masculino que eram responsáveis pelo processo civilizatório naquele período. Tais
diretores eram pessoas da elite letrada de Cuiabá e, provavelmente, pessoas influentes na
sociedade cuiabana. Neste contexto, Peres (2002, p. 50), ressalta que “A hegemonia
masculina estava fortemente presente na organização social, quer pela ocupação dos espaços
públicos, quer pela organização da vida cultural, religiosa e política.”
Provavelmente, o cargo de “diretor da biblioteca” proporcionava status ao sujeito que
o ocupava, uma vez que esperava-se que o responsável pela biblioteca fosse um “intelectual”,
que possuísse um conhecimento amplo acerca das ciências e artes. Portanto, ser diretor de
uma instituição que representava o desenvolvimento intelectual de uma sociedade, imprimia
ao indivíduo um caráter de erudito, intelectual, detentor de saber e, portanto, de determinado
poder perante a sociedade. Essa percepção se faz presente nas considerações de Peres (2002,
p. 77), quando afirma que: “Participar das atividades da Biblioteca – fosse como professor,
conferencista, assistente, benemérito -, fazer parte da diretoria, ter de alguma forma o nome
ligado à instituição, era possuir ‘status’ na sociedade.
Assim, os diretores por serem membros de destaque da sociedade cuiabana
imprimiriam ao cargo e a instituição um status de respeitabilidade, e por outro lado, fazer
parte de uma instituição que, no imaginário coletivo, significava espaço de “alimento para o
espírito”, de “culto ao saber” também lhes garantiria maior respeito perante a sociedade
cuiabana.
Dentre os diretores que dedicaram seu tempo à administração da BPEMT, destaca-se,
por exemplo, Estevão de Mendonça, considerado um intelectual que exercia a advocacia,
além de ser autor de diversas obras históricas; Nilo Póvoas, também autor de obras históricas
e Leonel Hugueney, que foi funcionário público e prefeito de Cuiabá na década de 60.
No entanto, apesar dos escolhidos para direção da biblioteca serem nomes de peso na
sociedade local, isso não influenciava na valorização, por parte do poder público, no sentido
de maior destinação financeira à instituição. A biblioteca, realmente, não era um foco de
preocupação na elaboração das políticas públicas e manter-se na direção de uma instituição
não valorizada deveria ser desgastante e desestimulante, gerando até mesmo situações de
constrangimento, conforme parte de um artigo, sem autoria, do Jornal O Mato Grosso:
84
Daí a falta que faz uma boa bibliotéca. Mas realmente boa, com livros
próprios para os estudantes e também com aqueles que nutrem com o pão do
espírito as pessoas que amam a ciência ou as artes. Já vimos o acanhamento do Diretor da Bibliotéca em face de visitantes estranhos à cidade. Realmente
é humilhante dirigir uma coisa daquela, que depõe e muitíssimo da nossa
civilização. Cuiabá reclama, Cuiabá exige uma Bibliotéca que seja realmente
uma Bibliotéca e não uma simulação. (O ESTADO DE MATO GROSSO, 1957).
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas e relatadas pelos seus diretores, no
decorrer de sua existência, a Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso continuou com
suas atividades, atendendo ao público na medida do possível, com maiores dificuldades na
década de 50, em que ficou praticamente desativada. A BPEMT exerceu a função de espaço
de guarda, preservação e acesso às informações contidas em seu acervo e, também, de espaço
potencial para práticas diversificadas de leitura.
85
5 ACERVO: SUA CONSTITUIÇÃO E CIRCULAÇÃO
[...] os acervos de bibliotecas passaram a indicar as
preferências culturais, as influências literárias e as tendências das publicações e importações de livros.
(FERREIRA, 1999b, p. 332).
Figura 9 – Anaes do Senado da Câmara de Cuiabá (1719 a 1830)
Fonte: ANNAES... (2007)
O estudo do acervo da biblioteca permite-nos identificar, conforme aponta Silva
(1999b, p. 154), as “leituras possíveis de uma determinada sociedade”. Portanto, nesse espaço
pretendo apresentar como ocorreu a constituição do acervo, sua circulação, dificuldades na
sua preservação, consultas realizadas, livros e periódicos consultados e público que
frequentava seu espaço, portanto, os possíveis leitores.
Para a construção desse capítulo, utilizei os relatórios emitidos pelos diretores da
biblioteca, as mensagens do governador à Assembleia Legislativa e os artigos de jornais para
identificar o que foi adquirido por compra e doação e o número total do acervo.
Interessante enfatizar que nos relatórios e mensagens tais dados eram acompanhados,
normalmente, de comentários sobre a insuficiência do acervo e da falta de investimento, que
eram mínimos e não condizentes com a necessidade da instituição.
86
Ressalto que, em função da inexistência de fontes – dificuldade relatada por vários
historiadores, dentre eles Villalta (1999); Abreu (1999), Schapochnick (1999) e Darnton
(2010) – não foi possível acompanhar o desenvolvimento do acervo no período da fundação
até o ano de 1950, não sendo possível apresentar um quadro ilustrativo de todo o período
devido às lacunas existentes da década de 30, 40 e principalmente 50, em que percebi uma
ausência de informações sobre a biblioteca, seja nas mensagens ou nos jornais. Enfatizo que
não foi encontrado nenhum relatório da biblioteca desse período. Tal fato, causou-me
estranheza e levou-me aos seguintes questionamentos: Por que a ausência de qualquer
documento desse período, por que o silêncio? As respostas, possíveis, vieram com a leitura do
artigo de Randazzo (1982), ao relatar as dificuldades enfrentadas pela Biblioteca e Arquivo
Público na década de 30 em diante – lembrando que a Biblioteca foi incorporada ao Arquivo
Público em 1931, desmembrado posteriormente em 1973 – sendo possível perceber uma
maior crise na década de 50.
Acredito que, dentre os motivos para a falta de informações nas Mensagens do
período, estivesse a intenção do estado em não deixar registradas as mazelas pelas quais esta
instituição vinha passando, não sendo interessante que o governo fosse acusado de descaso
para com a coisa pública. Além disso, a ausência de investimentos poderia estar relacionada a
uma crise, sentida mundialmente, em função da guerra que influenciou os cofres públicos.
Diante disto, haveria prioridades a serem consideradas na destinação das verbas, que
deveriam ser revertidas, provavelmente, para as escolas, hospitais e outros órgãos. A
biblioteca não estaria entre estas prioridades.
Faço esta afirmação porque, de acordo com Randazzo (1982), os relatórios
continuavam a ser emitidos pelos diretores, que bradavam e quase suplicavam por socorro,
porém, tais súplicas não foram incorporadas nas Mensagens do governo à Assembleia sendo,
por conseguinte, negado à população o acesso àa informação sobre a real situação da
biblioteca, conforme ilustra a alegação do diretor Zeferino Pereira Borges, que dirigiu a
BPEMT de 1948-1951 e 1956 a 1961. Este, relata em 1956 o seguinte:
Em estado verdadeiramente lastimável foi recebido o Arquivo Público. Uma
grande prateleira foi encontrada partida, caída no solo, com todo seu
conteúdo espalhado pelo chão e outra prateleira de grande porte, onde estão acondicionados documentos vindos da Justiça Eleitoral, seriamente
ameaçada de cair-se em dolo e espalhar todos os documentos, bem como
derrubar outras prateleiras; o piso umedecido, em consequência das goteiras abertas nas dependências do Arquivo, danificaram os documentos
espalhados. Caminhões de livros, revistas e jornais foram jogados no
Arquivo, pelas janelas, como se fossem materiais de construção,
87
transformando o Arquivo em depósito de papéis, sem atentar para a
importância e valor dos preciosos documentos ali arquivado. (RANDAZZO,
1982, p. 17).
O relato de um funcionário da BPEMT, datado de 1956, descrito a seguir, reforça a
hipótese de que a biblioteca estaria praticamente desativada para o uso do público leitor, na
década de 50:
Devido à impossibilidade de ter abertas suas janelas em virtude de prateleiras contendo livros que a elas foram encostadas, a atmosfera reinante
no salão onde fica o Arquivo é irrespirável e insalubre. Várias goteiras
tornaram o ar ambiente bastante úmido, ocasionando mofo. Nota-se um grande armário no chão, quebrado, com seu conteúdo espalhado, bem como
uma prateleira de grande porte, em vias de ceder, necessitando ambos de
reparos. Por outro lado julgamos pequenos os espaços disponíveis no salão, para se proceder a uma reorganização racional do conteúdo do Arquivo [...]
(RANDAZZO, 1982, p. 17).
Outro fator que colaborou para que, hoje, não fosse possível acessar as fontes e que
poderia fornecer respostas aos questionamentos, está relacionado exatamente às constantes
mudanças e falta de espaço vivenciados pela biblioteca. As instalações insuficientes e o
depósito inapropriado dos documentos, que ficavam “amontoados”, jogados e até mesmo
guardados no forro da biblioteca, promoveram a sua extinção. (RANDAZZO, 1982;
PÓVOAS, 1983; ENTREVISTA, 2012).
Portanto, valioso acervo se perdeu em função da ação das enchentes, de insetos,
roedores e animais peçonhentos, como cobras e escorpiões, ou mesmo, pelo descarte
imprudente de documentos por pessoas que, ao realizar a análise, se é que essa análise e
avaliação foram realizadas, não possuíam uma visão “histórica” que amparasse a decisão
sobre quais documentos seriam dignos de serem preservados (CHARTIER, 2001).
Digo isso porque , segundo Entrevista (2012) com funcionários da biblioteca, em
tempos relativamente recentes, já no século XXI, foi descartado todo o catálogo impresso da
Biblioteca. Portanto, seja pela ação do tempo, de animais e insetos ou pela ação humana,
certamente os relatórios, livro tombo, livro de controle de empréstimo e outros tantos
documentos importantes para a reconstrução da história da biblioteca se perderam ou foram
propositalmente destruídos.
Lenine Póvoas apresenta impressão semelhante sobre o descaso com a documentação
do arquivo e biblioteca quando relata sobre “a precariedade das fontes de informação, dada a
88
facilidade com que se permitiu, em nossa terra, a criminosa destruição de arquivos e o pouco
caso com que quase sempre foram tratados”. (PÓVOAS, 1994, p. 39).
Amparada pelas justificativas explicitadas, apresento os dados que me foram possíveis
identificar por meio dos documentos disponíveis. Tais documentos permitiram-me mapear e
reunir as informações dispersas sobre livros adquiridos por compra, doação e os que foram
consultados. De posse dos dados elaborei uma lista (catálogo) com todas as obras existentes
no acervo da biblioteca no período pesquisado.
Relevante ressaltar que o acervo da biblioteca era dividido em seções: Impressos,
Manuscritos e Numismática. Ao seu espaço, foram destinados diversos objetos, além de
livros, jornais e revistas. Entre estes, incluía-se na seção de manuscritos: correspondências,
atas, relatórios, convites, folhetos, ofícios, regulamentos, memorando, discurso, orçamentos,
inclusive do século XIX; na seção de numismática: moedas de diversos países, quadros e uma
espada pertencente ao Barão de Melgaço.
À biblioteca foi doada, pelo advogado e historiador Estevão de Mendonça, uma obra
que pela sua importância foi destacada no relatório do diretor Leonel Hugueney em 1912,
quando este percebeu que faltavam várias páginas no manuscrito. Trata-se dos Annaes do
Sennado da Camara de Cuyabá – 1719-1830 (figura 9). Essa publicação possuía o registro dos
acontecimentos ocorridos na colônia, e posteriormente província, e sua publicação era uma
exigência do Governo colonial a todas as câmaras municipais. O diretor despendeu no
relatório um considerável espaço para relatar a situação ao secretário do interior, conforme o
extrato a seguir:
Bibliotheca Publica em Cuyabá, 7 de Janeiro de 1913 – N. 2. – Exm. Sm. Dr. Manoel Paes de Oliveira, M. D. Secretario do Interior, Justiça e
Fazenda. – Cumpro o dever de levar ao conhecimento de V. Exc. Que
tendo obtido do meu antecessor advogado Estevão de Mendonça a chave
da caixa que encerra o livro intitulado – Annaes da Camara de Cuyaba – precioso repositório dos factos mais importan tes occorridos nesta capital
em período remoto, cujo objecto encontrei nesta Bibliotheca fasendo parte
do seu patrimonio, foi procedida a respectiva abertura pelos Reverendos Padre Aquino e Frei Ambrosio, que por autorisação de V. Exc. Tinham
vindo consultar o referido livro afim de extrahir elementos para publicação.
Nessa occasião se verificou a falta de quarenta e duas folhas constantes das paginas que decorrem de folhas duas a oito, oitenta e quatro e oitenta e
cinco, noventa e quatro a noventa e nove, cento e quatro a cento e sete,
cento e trinta e dois a cento e quarenta e trez e cento e quarenta e cinco a
cento e cincoenta e quatro. E considerando que a citada obra está por essa forma mutilada e não
querendo que no futuro venha sobre mim recahir a responsabilidade da
depreciação que muito lamento, de uma obra justamente considerada como
89
valiosa relíquia do passado, apresso-me em denunciar a V.Exc. esse facto
pedindo a permissão para fazer no respectivo livro de inscripção a inclusão
do mencionado Annaes da Camara de Cuyaba com as declarações das faltas encontradas, de modo que em todo tempo se torne patente que
alludido livro teve entrada nesta Bibliotheca já desfalcado das citadas
folhas. Reitero-vos os meus protestos de elevado apreço e destincta
consideração. Attenciosas saudações (assignado) Leonel Hugueney. Director. (BIBLIOTHECA PUBLICA DO ESTADO DE MATTO-
GROSSO, 1913, p. 24).
A existência desses itens na biblioteca aponta que a mesma exerceria o papel de museu
e arquivo, preservando, em seu acervo, além de informação, também e sobretudo, a memória
da sociedade cuiabana e mato-grossense. Siqueira (Informação verbal)27
.
A pertinência dos dados relativos ao acervo, títulos existentes, forma de aquisição e
formato poderão indicar o que estava disponível aos leitores da BPEMT, quais políticas para
aquisição eram utilizadas, ressaltando que a reconstituição de parte de seu acervo poderá
indicar as possíveis práticas de leitura dos cuiabanos na primeira metade do século XX
(CARNEIRO, 2007).
Para proceder à próxima análise, apresento o quadro 6, que ilustra, anualmente, a
quantidade de obras adquiridas por compra ou doação e seu formato.
27 Contribuições fornecidas no momento da banca de qualificação, no dia 30 de novembro de 2012, na
UFMT, Campus Universitário de Rondonópolis.
90
Quadro 6 - Total acervo por ano – Aquisição por compra e doação; informando obras em brochura e encadernadas. Ano Compra
broc e enc.
Compra
broch
Compra
enc
Total compra valor e % Doações broch
e enc.
Doações
broch.
Doações enc. Total Doações valor e
%
Total
Aquisição Total de
Exemplares
1912* 0 7 328 335 23,78% 0 1050 23 1073 76,22% 1408 1408
1912 0 5 298 213 23,78% 0 376 307 683 76,22% 896 2304
1914** NI*** NI NI 0 0,00% 246 NI NI 246 100,00% 246 2550
1915 NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI 2607
1916 0 0 136 136 70,94% 0 56 0 56 29,17% 192 2799
1918 NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI 3070
1919 145 NI NI 145 100,00% 0 0 0 0 0,00% 145 3215
1920 112 NI NI 112 58,34% 77 NI NI 77 40,74% 189 3404
1921 NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI 3423
1922 14 NI NI 14 16,28% 72 NI NI 72 83,72% 86 3509
1923 NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI 3588
1924 102 NI NI 102 100,00% 0 0 0 0 0,00% 102 3690
1925 NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI 3805
1926 151 NI NI 151 100,00% 0 0 0 0 0,00% 151 3956
1927 82 NI NI 82 52,23% 75 NI NI 75 47,78% 157 4113
91
1929 NI NI NI 23 19,00% NI NI NI 98 81,00% 121 4234
1935 NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI 5084
1939 NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI 10409
1960 NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI 10303
1961 NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI NI 10266
1962 NI NI NI NI NI 1566 NI NI 1566 100,00% 1566 11832
TOTAL............................................... 1313 25% 3946 75% 5259
Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora, baseado em fontes diversas selecionadas no APMT (2012).
* Acervo inicial da biblioteca na data de sua fundação. **Em 1914 inseri as aquisições como doação, porque no relatório não houve indicação de compra de livros e no Jornal O Debate de 1914, foram publicadas
doações de livros.
***NI – Não informado.
92
Os dados apresentados mostram que o acervo foi composto, em sua maior parte, 75%,
por doações realizadas pela comunidade local, especialmente a elite letrada, em formato de
brochura e encadernados. Outras, por instituições de outros estados, como Maranhão, Sergipe
e Bahia e, provavelmente, a partir de 1937, com o primeiro programa brasileiro de incentivo
às bibliotecas públicas realizadas pelo INL, a biblioteca teria recebido algumas doações desse
instituto (MILANESI, 2003).
Dessa forma, a inserção no acervo da BPEMT de obras doadas – que foram,
provavelmente28
, suportes para práticas de leitura diversas, por parte de seus doadores, seja no
âmbito de seu lar seja para fins profissionais – contribuiu para a formação de uma nova
camada de leitores, aqueles frequentadores e usuários da biblioteca que, certamente, incluía
estudantes e profissionais da sociedade cuiabana.
Neste aspecto, conforme afirma Ferreira (1999b, p. 333), os “Conjuntos de obras
compradas, doadas ou leiloadas foram incorporados às bibliotecas públicas e serviram de base
para a formação de novas camadas letradas [...]”, no caso da BPEMT essa nova camada
letrada envolvia os estudantes e profissionais residentes em Cuiabá, conforme os excertos a
seguir: “[...] A freqüência diária dos leitores bem demonstra a importância desta instituição e
da aceitação do que a mesma tem tido e bem assim da sua incontestável utilidade no que diz
respeito a instrução popular.” (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1914, p. 107, grifo nosso).
Na mensagem de 1924, o diretor da biblioteca enfatiza o perfil do público frequentador da
instituição: “Sendo a classe dos seus consulentes, na maioria, constituída de alunos do Liceu
Cuiabano e Escola Normal29
[...]” (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1924, p. , grifo nosso).
O fato de alunos do Liceu Cuiabano e Escola Normal serem o principal público da
biblioteca, confirma que o público infantil não frequentava esse ambiente, conforme
contemplado no Regulamento, que somente pessoas acima de 14 anos frequentariam a
biblioteca : “Art. 12º - Na bibliotheca serão admittidas as pessoas de ambos os sexos, maiores
de 14 anos, que se apresentarem decentemente vestidas [...]” (BIBLIOTHECA PUBLICA DO
ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p. 7).
Partindo deste pressuposto é possível argumentar que os alunos do primário não
utilizariam esse espaço, uma vez que conforme Siqueira (1999), estes não teriam, ainda, a
competência para a prática da leitura de textos mais densos. Assim sendo, o público
28 Digo “provavelmente” porque conforme afirma Chartier (1999c) e outros historiadores da leitura, o
fato de o indivíduo se apossar de uma obra, por compra, empréstimo ou outros meios, não significa
que a leitura foi efetivamente realizada. 29
Essas duas escolas disponibilizavam o ensino secundário. (SIQUEIRA, 1999)
93
frequentador da biblioteca restringia-se aos jovens e adultos letrados intelectuais e os alunos
do secundário e ensino superior.
E ainda, no Jornal A Plebe, um artigo sobre a BPEMT, enfatiza quem seria o público
frequentador, portanto possível leitor do seu acervo:
Completou hoje 19 anos de existencia a nossa Biblioteca Publica. Fundada sob os auspícios do governo Costa Marques, foi ela inaugurada a 3 de maio
de 1912. O seu primeiro bibliotecário foi o nosso grande historiógrafo Adv.
Estevam de Mendonça. Não precisamos encarecer o que tem sido esse estabelecimento no que concerne de útil e proveitoso, o seu fim. Abstemo
nos tambem de apontar os innumeros benefícios adveidos depois da sua
criação a mocidade, aos estudantes em geral porque todos o conhecem. (A
PLEBE, 1931, p. 2, grifo nosso).
Ainda no contexto da constituição do acervo da BPEMT, formado em sua maioria por
títulos doados, insere-se a possibilidade de predominância da indicação do doador, do seu
gosto ou de sua preferência, não prevalecendo, as necessidades e expectativas do público
frequentador, leitor da BPEMT. Dessa forma, o público lia o que estava disponível e não
necessariamente o que ele realmente gostaria de ler, pois, conforme Milanesi (2003, p. 121),
“Os critérios relativos à qualidade pertencem ao selecionador (no caso, do doador) e não do
público.”
O quadro 6 ilustra, também, que houve, mesmo que de forma ínfima, aquisição por
compra, pelo menos até a década de 193030
. Esse dado demonstra o tímido aumento do acervo
por meio de obras que, efetivamente, poderiam vir ao encontro da demanda, o que denota a
escassez de investimento, de acordo com o diretor Fernando Leite de Campos em 1919:
Os illustres senhores legisladores estaduaes tem sido, nestes últimos annos,
menos justos para com esta Bibliotheca; perguntando, não se comprehende
como é que, sendo Ella de natureza geral, possa collimar o seu objectivo dispendendo, como o tem feito de certo tempo a esta parte, a insignificante
importância de 1:000$,[...]” (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE
MATTO GROSSO, 1920).
A falta de recursos requeria que os diretores estabelecessem estratégias para melhor
administrar o acervo da biblioteca, de forma que, algumas vezes, a verba destinada à
30 Há uma lista de livros adquiridos por compra em 1930. Totalizando 44 exemplares, registrado pelo
secretário Antiocho do Couto em 13/5/1931 (DOCUMENTO AVULSO, 1930), ver no Apêndice F
94
aquisição de livros era utilizada na encadernação das obras, o que denota maior preocupação
com a preservação e menos com a inovação ou atualização do acervo. Deve-se ressaltar que
tal prática, de encadernar os materiais em brochura, era comum à outras bibliotecas brasileiras
no século XIX e início do século XX, porque grande parte dos livros publicados eram
vendidos em folhas soltas ou em capítulos para serem encadernados posteriormente.
(CARNEIRO, 2007).
Esta prática foi uma herança das gráficas da Europa que, para tornar alguns textos
acessíveis as classes “menos abastadas”, vendiam os livros sem encadernação. Exemplo disso
foi a impressão da Bibliothéque Bleue, em que, de acordo com Darnton (2010, p. 198 ):
[...] as editoras Oudot e Garnier de Troyes começaram a publicar uma
coleção popular de brochuras baratas conhecida como bibliothéque bleue
[...] A nova estrutura tipográfica supunha um novo tipo de leitura e um novo
público; gente humilde que não tinha facilidade nem tempo para acompanhar trechos extensos de narrativa.
Diante da necessidade de conservar e preparar as obras para o manuseio, os diretores
se deparavam com o conflito de manter o acervo preservado ou atualizado. Tal fato reflete,
entre outras possibilidades, a falta de políticas públicas no sentido de investimentos
destinados, especificamente, à atualização do acervo da biblioteca que fica evidente nos
relatos dos diretores, conforme texto a seguir: “Reduzidissimo foi o numero de obras
adquiridas por compra; este facto, porém, explica-se por havermos empregado a verba votada
para isso na encadernação de importantes obras existentes na Bibliotheca, em brochura.”
(BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1920).
Figura 10 – Periódico encadernado
constante no acervo da BPEMT em 1914
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora
extraído do APMT (2012).
95
Pela relação das doações, é possível perceber o interesse dos cidadãos cuiabanos,
provavelmente letrados, em contribuir e participar do desenvolvimento da biblioteca, fazendo
doações com a intenção de colaborar para o crescimento intelectual de seus conterrâneos,
fazendo com que os livros circulassem na sociedade, propiciando, assim, a sua recepção e
apropriação por pessoas menos abastadas e que não teriam condições de adquirir um objeto
que era de difícil acesso, contribuindo, dessa forma, para o processo de circulação da cultura
escrita em Cuiabá. (DARNTON, 2010).
Ou ainda, poderia ser com o simples objetivo de liberar espaço em suas residências,
como é correntemente feito atualmente pelas pessoas que, muitas vezes, doam materiais para
as bibliotecas sem nenhuma avaliação prévia da utilidade do material àquele órgão, mas tão
somente com a intenção de se desfazer de um montante de “papel velho”.
Penso ser, no caso dos doadores da BPEMT, principalmente no início do século XX, a
primeira opção mais condizente, posto que possuir uma biblioteca particular, composta de
muitos exemplares daria ao seu possuidor um status de sujeito letrado e culto.
Assim, desfazer-se de um acervo, que naquela época era muito difícil de reunir em
função do alto custo dos livros e das dificuldades de transporte para aquisição deste material,
provavelmente, não seria interessante; a não ser para deixar registrado o seu nome como
colaborador do processo de desenvolvimento da sociedade cuiabana por meio das doações
realizadas à BPEMT31
.
Dentre os doadores podemos destacar: Bartira de Mendonça, Carlos Addôr Filho,
Alcebíades Calháo (jornalista), Armindo Paes de Barros, Augusto Cavalcanti (Dr.), Estevão
Alves Corrêa (Dr.), Fernando Leite de Campos (professor), Francisco Muniz (Dr.), Gustavo
Khulmann (professor), Isac Póvoas (escritor), Joaquim Augusto da Costa Marques (Dr.), João
Celestino Corrêa Cardoso (Coronel), Octavio Pitaluga, entre outros. Sendo que, Estevão de
Mendonça foi considerado como um dos maiores contribuidores da biblioteca, conforme
relatam os diretores nos relatórios:
Continúa o acervo desta secção a ser enriquecido: O illustrado advogado matogrossense Estevão de Mendonça, com o seu habitual carinho para com
esta Bibliotheca, teve a gentileza de offerecer uma valiosa collecção de
quinze missivas, escriptas em francês [...] (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1920, p. ).
31 Ver quadro com nome dos doadores no Apêndice C
96
GALERIA DE BEMFEITORES
Foi inaugurado no dia 3 de Maio, em uma das salas do edifício da
Bibliotheca, o retrato do illustrado historiador matogrossense – advogado Estevão de Mendonça, a quem este departamento da publica administração
deve assignalados serviços. Prestando esta singela mas bem merecida
homenagem a este benemérito conterrâneo, tem a Bibliotheca saldado a sua
divida de gratidão para com um dos seus maiores bemfeitores. (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1923,
p.)
É necessário ressaltar que os doadores, pelo menos em sua maioria, eram membros da
camada letrada e da elite cuiabana, os mesmos eram advogados, médicos, professores,
escritores, e militares. Estes sujeitos faziam parte de um grupo social que, conforme Peres
(2002, p. 14), detinham “[...]prestígio e influência econômica, política ou intelectual ou [...]
ostentavam um somatório destes ‘poderes”. Dessa forma, considerei os homens (e mulheres)
ligados à política, os magistrados, profissionais liberais, grandes proprietários e comerciantes,
como pertencentes à elite cuiabana.
A constatação realizada pelas listas de doações é confirmada pela opinião pública,
representada pela imprensa que afirma que o acervo da biblioteca é composto “pela generosa
dadiva da maior parte dos seus volumes pela elite intellectual dos cuyabanos. (O MATTO
GROSSO, 1917, p. 3).
Partindo do pressuposto que os doadores seriam também possíveis leitores que
utilizavam o espaço da biblioteca, poderíamos inferir que os frequentadores eram, em sua
maioria, homens, uma vez que 90,42% dos doadores eram do sexo masculino e somente
8,5% eram mulheres. (Apêndice C) Porém, não é meu objetivo, nesta investigação,
aprofundar-me nas questões de gênero, apesar de sua relevância para os estudos históricos, até
porque não disponho de fontes suficientes para adentrar nessa discussão.
Durante os anos de 1912 a 1914, a biblioteca divulgou suas aquisições no jornal O
Debate, que listava as obras doadas e seus doadores, prática que tornou possível a localização
de parte do acervo da biblioteca, reunindo os dados dispersos. Esse levantamento permite
visualizar o que era disponibilizado aos leitores, ou seja, o que potencialmente era lido,
possibilitando apreender por meio dos movimentos de entrada dos livros no acervo, seja por
compra ou doação, quais os títulos circulantes em uma dada época e sociedade (DEAECTO,
2011).
Nesse contexto, é relevante ressaltar que dos títulos existentes, provavelmente, muitos
ficaram sem uso, seja por dificuldade em sua localização, em função da falta do catálogo, ou
por estarem em formato de brochura – número considerável demonstrado no quadro 5, os
97
quais somavam, no mínimo, 1000 exemplares – que era proibido de ser acessado, o que
corrobora com a concepção de biblioteca como espaço de guarda e preservação que tem o
poder de cercear o acesso ao seu público, conforme artigo 14º do Regulamento da Biblioteca:
Nenhum livro em brochura será facultado ao publico a não serem as revistas
litterarias e scientificas, nacionaes ou extrangeiras, e isso mesmo a pessoas
que fizerem estudos sérios, ou que pelos seus precedentes na Bibliotheca houverem provado o seu zelo no modo de tratar os livros. (BIBLIOTHECA
PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p. 7).
No sentido da preservação, é evidente a concepção da biblioteca enquanto templo e
repositório do saber, considerada como um local sagrado (CARNEIRO, 2007), entendida
como espaço de conservação do patrimônio histórico, que deve zelar pela preservação dos
itens constantes em seu interior, mesmo que para isso tenha que impedir ou limitar o acesso
do público leitor a determinadas obras. Assim, a concepção de biblioteca, nesse período, ainda
era, conforme aponta Deaecto (2011, p. 34), a de “um acervo de livro. Espaço de preservação
da memória dos livros e dos homens [...].”
Essa era também a visão compartilhada pela sociedade cuiabana do início do século
XX, que afirmava ser a biblioteca: “[...] repositório sagrado das nossas tradições históricas e
das nossas conquistas nos diversos ramos da actividade humana, e quem por seu intermédio,
melhor se divulgarão.” (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO,
1912, p. 2).
Tal concepção era percebida ainda na década de 60, considerando a biblioteca como:
um complemento indispensável e um valioso auxiliar ao ensino popular,
como veículo de difusão cultural e como um repositorio sagrado das nossas
tradições históricas e das conquistas do povo brasileiro nos diversos ramos do saber humano. (BIBLIOTÉCA E ARQUIVO PÚBLICO, 1961, p. 1, grifo
nosso).
Nessa complexa relação entre o dispersar e o reunir entre o preservar e disponibilizar,
a BPEMT se insere como um espaço que, possivelmente, possibilitava práticas de leitura,
porém, em alguns momentos não disponibilizando o acervo em sua totalidade. (CHARTIER,
1999a, 2001; CARNEIRO, 2007).
Do que era disponível e liberado ao público, foi possível identificar o número de
consultas, de 1912 até a década de 1920, e os títulos que foram consultados no período de
1912 a 1914, conforme discutido no item seguinte.
98
5.1 Do disponível ao utilizado
A leitura é uma açãoesperada daqueles indivíduos que transitam pelo mundo letrado e
sua prática contribuiria para o crescimento da sociedade, portanto, o nível de desenvolvimento
de uma sociedade ou seu status como uma nação desenvolvida seria medido pela quantidade
de analfabetos e alfabetizados. Dessa forma, o número de consultas realizadas na biblioteca
poderia revelar ou representar a capacidade da população em relação às letras, ao acesso ao
conhecimento e, consequentemente, à produção de novos conhecimentos que influenciariam
na própria capacidade do estado em produzir bens e serviços.
O número de consultas realizadas poderia indicar o nível de interesse da população
cuiabana pelo acesso à informação e cultura, assim como indicaria a importância da biblioteca
como espaço fomentador de tais práticas culturais.
Digo isso porque havia uma preocupação em registrar, tanto nos relatórios e
mensagens, quanto em alguns jornais, as obras consultadas no interior da biblioteca. Os dados
das consultas realizadas começaram a figurar incompletos ou a não serem localizados,
principalmente, a partir da década de 30, talvez em função das dificuldades enfrentadas pela
biblioteca, quando de sua incorporação ao Arquivo Público do Estado de Mato Grosso, em
1931.
As consultas, segundo a concepção dos dirigentes da biblioteca, relacionavam-se
diretamente à importância sentida pela comunidade em relação à instituição, sendo que, a
razão de ser da mesma era atender à população, portanto, caso não houvesse procura pelos
seus serviços, não haveria razão para a sua existência. E ainda serviam como dado relevante
para comprovar, perante as autoridades responsáveis, sua utilidade para a comunidade,
conforme extrato a seguir.
É-me sobremodo agradável levar ao conhecimento de V. E. que vai num
crescendo animador a frequência de consulentes a esta casa de estudo. Este
facto assaz significativo sobre demonstrar de modo inequívoco a utilidade
desta instituição, serve ao mesmo tempo, de incitar os poderes públicos a olharem-na com mais carinho ainda, para que Ella possa melhormente
corresponder ao fim que dictou a sua creação: facilitar a instrucção de todas
as classes sociais. (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1923, p. 1).
Nesse aspecto, predominava a ideia de que havendo muitos leitores em suas
dependências significaria que a população de Cuiabá apoiava a existência da biblioteca e que
99
a mesma foi uma iniciativa positiva por parte do governo e, por conseguinte, deveria receber a
atenção devida do mesmo, conforme implícito no relato do diretor Leonel Hugueney:
O facto de se encontrar o salão de leitura sempre frenquentado de
consultantes, indica sobejamente o acolhimento que a população dispensa ao
acto do Governo do Estado, creando esta Bibliotheca, e prova o accerto dessa medida que desde muito se impunha. (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO
ESTADO DE MATTO GROSSO, 1915, p. 1).
Para ilustrar e permitir uma visualização ampla do movimento de consultas realizadas
no interior da biblioteca, apresento o gráfico a seguir:
100
Gráfico 1 - Consultas realizadas na Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso por ano
Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora a partir dos dados extraídos de documentos diversos localizados no APMT (2011-2012).
101
Observando o gráfico 1, percebe-se alternâncias em relação às consultas nos diversos
anos, que foram, muitas vezes, justificadas pelos seus diretores.
Devo ressaltar que os dados se referem ao número de consultas e não ao número de
consulentes, informado apenas nos anos de 1915, 1935, 1939 e 1941. De todos estes anos foi
possível, dividindo o número de consultas por dois, determinar uma média de 2 itens
consultados por cada leitor. Os resultados permitiram-me construir uma visão aproximada do
número de consulentes que frequentaram a biblioteca nos anos apontados no gráfico. Para
ilustrar o número de, possíveis, leitores que frequentaram a biblioteca na década de 10 a 40,
apresento, a seguir, a média de consulentes por década, apresentando o mínimo e o máximo
destes:
Década de 10 – 942, em 1912 e 2.278 consulentes, em 1916;
Década de 20 – 782, em 1929 e 2.806 consulentes, em 1922;
Década de 30 – 2.515, em 1935 e 3.541 consulentes, em 1939;
Década de 40 – 2.369, em 1947 e 7.822 consulentes, em 1941;
No tocante ao número de consultas, percebi que, do ano de 1912 para 1913, houve um
aumento de 56,80%, 1.070 consultas. Tal fato poderia estar relacionado à mudança de prédio
da biblioteca. O edifício onde a biblioteca foi instalada em 1912 não atendia às necessidades
do público leitor. A mudança ocorreu em 1913, de um compartimento anexo ao prédio da
Inspetoria de Higiene, para a rua 1º de Março (atual rua Galdino Pimentel).
De 1913 a 1915 não houve aumento expressivo nas consultas, variando de 361
(12,2%) e 152 (4,59%) consultas a mais por ano.
Porém, em 1916, as consultas voltaram a ser realizadas de forma mais volumosa, um
aumento de 1.089 (23%), do ano 1915 para 1916. Esse fato me causou curiosidade, mas não
consegui identificar qualquer causa para este fenômeno. Será que ocorreu algum fato na
sociedade cuiabana em 1916 que influenciou o aumento das consultas registradas, no interior
da biblioteca pública que, provavelmente, influenciariam nas práticas de leitura realizadas
pelos consulentes? Ou, será que houve um registro mais sistemático das consultas neste ano?
Voltei a fazer a mesma pergunta quando percebi que houve queda expressiva de 1916
para 1917, 42,7%, correspondente a 1.945 consultas a menos. Quanto a esta ocorrência, o
diretor da biblioteca justifica dizendo que a frequência foi reduzida em função da “epidemia
de gripe” que aconteceu na capital (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1918). Tal motivo é
procedente, no sentido de que o contágio pela gripe acontece facilmente, portanto, o uso de
102
um ambiente fechado, pequeno, que tendia a acumular poeira, como a biblioteca, pode
aumentar o risco de contágio.
Nessa perspectiva, percebe-se que as questões sociais de saúde pública também afetam
as práticas de leitura efetivadas no interior da BPEMT, de forma que as práticas culturais não
estão alienadas de outros aspectos da sociedade como o econômico, o urbano e o de infra
estrutura (DEAECTO, 2011).
Outro momento que se destaca no movimento de consulta, acontece em 1922, com o
aumento de 23,84%, 1.080 acessos à obras do acervo, justificado pela Mensagem de 1922, um
indício da “utilidade maior” da biblioteca, não prestando maiores esclarecimentos. (MATO
GROSSO. MENSAGEM, 1922).
Considero, no entanto, que o fato de a biblioteca começar a atender novamente no
período noturno, em 1922, pode ter ocasionado aumento nas consultas, uma vez que de 1918
a 1921 a biblioteca não atendeu no período noturno. A disponibilidade de acesso à noite mais
a vantagem da luz elétrica, instalada na biblioteca em 1920, deve ter melhorado bastante a
prática de leitura e estimulado os leitores a fazerem uso mais efetivo deste espaço.
Porém, as vantagens resultantes da instalação da luz elétrica não foram sentidas no ano
seguinte, de forma que, exatamente a deficiência da luz foi um dos motivos apontados pelo
diretor da queda nas consultas do ano de 1923, (27,41%), o que representou o montante de
1.538 consultas a menos, sendo, outro fator, o fechamento da biblioteca para reforma,
conforme apontado na Mensagem de 1923:
[...] Duas circunstancias concorreram para esse notável decréscimo, assignaladas pelo dedicado director da instituição, Sr. Fernando Leite de
Campos, em seu relatório e foram ellas o fechamento do estabelecimento no
decidio de 15 a 25 de maio, durante o qual o edifício da Bibliotheca passou
por necessários reparos, e a deficiência de illuminação elétrica, o que restrigio extraordinariamente o número de consulentes nocturnos. (MATO
GROSSO. MENSAGEM, 1923).
Continuando a análise do gráfico, percebe-se uma queda na prática de consultas nos
anos de 1924 e 1925, justificada pelo diretor como resultado da abertura de bibliotecas
escolares na Escola Liceu Cuiabano e Escola Normal, em 1924, conforme excerto a seguir:
“[...] é natural que a freqüência tenha decrescido em virtude da fundação das bibliotecas
escolares, iniciadas nesses dois institutos pelas suas respectivas diretorias, com proveito
notável pelos alunos.” (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1924). Este dado reforça a premissa
de que o público majoritário, que frequentava a BPEMT, eram os estudantes do ensino
103
secundário. Outros fatores que justificariam a queda do número de consultas seriam: as
reformas no edifício da biblioteca e a autorização para consultas domiciliares.
Esta diminuição de consultas do ano de que se trata, explica-se:
a) pela larga autorização da Secretaria Geral para as consultas domiciliares;
b) pela recente criação das pequenas bibliotecas do Centro de Letras, Liceu Cuiabano e Escola Normal;
c) pelo fechamento da sala de leitura da Biblioteca, em conseqüência dos
reparos por que passou o edifício em que funciona esta repartição. (MATO
GROSSO. MENSAGEM, 1925).
Dessa forma, novamente a questão da estrutura física atuou como importante fator
para a limitação de práticas de leitura no interior da biblioteca, podendo ser motivo para a
pouca frequência até 1929, uma vez que, em 1927, o diretor reclamou da falta de
investimento:
Não obstante a lenta expansão que tem tido a nossa única Biblioteca em 16
anos de existência, pois foi instalada em 1912, já ela se recente da falta de
estantes para acomodar o número de obras que vem acumulando. Durante o ano passado apenas foi possível a aquisição pela verba
orçamentária respectiva, de uma estante pela quantia de 400 mil réis, ainda
assim insuficiente para conter as novas obras adquiridas pela Biblioteca, a qual precisa, além disso, de melhorar o seu velho mobiliário, de forma a
dar uma feição mais atraente e confortável a esse centro de cultura da
nossa população estudiosa. (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1928, grifo nosso).
Neste aspecto, o espaço físico torna-se relevante na medida que percebe-se a
existência de uma preocupação dos diretores em providenciar melhorias no ambiente, seja
lutando por um espaço mais amplo, com ventilação adequada, mobiliários que suportem a
demanda, tanto do acervo quanto dos leitores, enfim, um ambiente mais confortável e
agradável ao público frequentador. Portanto, estima-se que o espaço, o ‘onde’, influenciava as
práticas de leitura realizadas no interior da biblioteca, o que condiz com a afirmação de
Darnton (2010) que o “onde” pode revelar aspectos de possíveis práticas de leitura.
No tocante aos anos de 1930-1934, não foram encontrados documentos que
subsidiassem dados e reflexões. Foi possível perceber, no entanto, um aumento expressivo
das consultas, entre 1935 e 1939, em relação a quase toda a década de 1920.
Retomo a análise relativa ao ano de 1941, período em que foi registrado o maior
número de consultas. Fenômeno justificado pela implantação do empréstimo domiciliar, o que
104
provavelmente foi registrado juntamente com as consultas locais, resultando assim neste alto
índice de consultas. O empréstimo teria ocasionado um maior movimento na biblioteca:
A Diretoria da Biblioteca instituiu o serviço de empréstimo, que não
somente veio ao encontro das necessidades do público ledor da nossa
Capital, senão que vai já demonstrando os seus resultados pelo interesse que despertou, em todas as classes sociais, por obras que até agora jaziam
intactas e como inertes, nas prateleiras e armários. (MATO GROSSO.
MENSAGEM, 1941-1942).
No tocante ao movimento de 1947, 1948 e 1949, percebe-se um aumento expressivo
no último ano, porém não possuo fontes suficientes que me apontem os possíveis motivos. No
entanto, continuo acreditando que o número menor de consultas foi resultado das dificuldades
de estrutura e organização pelas quais a BPEMT passou, e a possibilidade de que o aumento
tenha relação com o registro simultâneo das consultas locais e domiciliares.
Conforme já explanado no item 4.1 e 5, não encontrei documentos que fornecessem
qualquer informação sobre a década de 50.
Porém, pode-se inferir que a biblioteca ficou inutilizada para o público nesse período,
visto que, estava quase desativada, devido à ausência de instalações adequadas para as
consultas públicas, conforme relata Nilo Póvoas, seu diretor, em relação as instalações na
década de 60 (PÓVOAS, 1983, p. 154):
Ultimamente a desprezada Biblioteca Pública vira-se comprimida num
apartamento residencial, na rua Candido Mariano, sem as mínimas condições
de funcionamento. Ao lado das mesas de consultas estava a copa que fazia o
cafezinho dos funcionários... Livros, aos milhares, empilhados em guarda-roupas embutidos, sem ventilação e sem possibilidade de limpeza, ao sabor
das traças...
A BPEMT, após muito sofrer com as mudanças e consequente dilapidação do seu
patrimônio, só veio a ser reativada na década de 1970, quando Lenine C. Póvoas assumiu a
administração da Fundação Cultural e despendeu grandes esforços para a reestruturação da
biblioteca, enfatizando que somente a partir de 1973 a BPEMT “ressuscitou”. (PÓVOAS,
1983, p. 155)
De acordo com os relatos, mostrava-se impossível a leitura no interior da Biblioteca,
apontando para a hipótese de que a mesma, por mais de 10 anos (a partir da década de 50 até a
década de 60), atendeu seu público leitor de forma muito limitada, sendo a sociedade
105
cuiabana privada de acessar obras e documentos pertinentes aos seus interesses intelectuais,
profissionais ou de lazer.
Portanto, as consultas e possíveis práticas de leitura nesse período, no interior da
BPEMT, foram muito prejudicadas devido às condições de sua estrutura física. Tal
constatação indica que o ‘onde’ influencia nas práticas de leitura, podendo inclusive
incentivá-las ou inviabilizá-las, conforme o que ocorreu na BPEMT.
5.1.1 Das consultas efetivadas
Para análise do que os cuiabanos frequentadores da BPEMT, possivelmente, liam,
concentrei-me nos dados que apontavam para as consultas realizadas na biblioteca. Sendo que
minha fonte principal para extração deste dado foi o jornal O Debate, que realizou, do ano de
1912 a 1914, a divulgação das obras consultadas.
Vale ressaltar que não foi possível identificar quem eram os consulentes (nomes, sexo,
idade) – foi possível perceber a categoria destes consulentes, em sua maioria composto por
estudantes, conforme discutido no item 5.2 -- nem quantas vezes cada obra foi acessada, isto
porque, cada número do jornal, às vezes, divulgava consultas referentes a três dias, sendo
inviável, sem o acesso aos livros de registro de consulta, saber quais obras foram consultadas
em cada dia e por quantas vezes.
É possível, por meio das informações coletadas, realizar um “quadro ilustrativo”
(SIQUEIRA, 2000) relacionado ao ’o que’ os frequentadores da biblioteca possivelmente
liam, sendo que conforme Abreu (1999); Schapochnik (1999) e Deaecto (2011) a
identificação das obras consultadas nos fornece uma possibilidade de identificar quais as
preferência de leitura de uma determinada comunidade de leitores, portanto, fornecendo
subsídios para a construção de uma história da leitura.
Nesse sentido, os dados divulgados nesta pesquisa poderão contribuir com futuras
pesquisas, no sentido de apontar possíveis leituras efetivadas pelos frequentadores da
Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso. As informações sobre os livros que foram idos
naquele ambiente poderão auxiliar na efetivação de futuros estudos, conforme aponta Chartier
(1998, p. 124) “da maneira como os textos , e os impressos que lhes servem de suporte,
organizam a leitura que deles deve ser feita [...]” e/ou quem sabe, como os leitores
efetivamente se apropriaram destas leituras.
106
5.1.1.1 Consultas nos periódicos
Na intenção de analisar o que o público da biblioteca provavelmente lia, organizei dois
quadros, um para consultas em periódicos e outro para consultas em livros.
A seguir, apresento, no quadro 7, as consultas nos periódicos, por meio do qual
realizei as reflexões e considerações.
Quadro 7 – Periódicos consultados em 1912 a 1914 TITULO ANO TOTAL %
1912 1913 1914
Almanaque de Lembranças 0 1 0 1 0,27%
Almanaque do Rio Grande do Sul 0 0 1 1 0,27%
Almanaque Garnier 0 1 0 1 0,27%
Jornal A Arte 0 1 0 1 0,27%
Jornal A Coligação de 1906 1 0 0 1 0,27%
Jornal A Cruz 7 12 5 24 6,68%
Jornal A Gazeta do Sul 1 0 0 1 0,27%
Jornal A Liça 0 0 3 3 0,83%
Jornal A Luz 2 3 0 5 1,39%
Jornal A Noticia 7 1 0 8 2,22%
Jornal A Opiniao Publica 0 0 3 3 0,83%
Jornal A Reação (publicada no Paraguai) 9 8 4 21 5,84%
Jornal A Verdade 0 1 0 1 0,27%
Jornal A Tribuna 0 0 0 1 0,27%
Jornal Diario de Corumbá 0 0 2 2 0,55%
Jornal Eco do Povo 0 0 1 1 0,27%
Jornal Extremo Norte 0 1 0 1 0,27%
Jornal Gazeta oficial 0 5 3 8 2,22%
Jornal O Argos 3 6 2 11 3,06%
Jornal O Comercio 0 1 0 1 0,27%
Jornal O Cruzeiro 0 1 0 1 0,27%
107
Jornal O Echo 0 0 1 1 0,27%
Jornal O Debate 28 17 7 52 14,48%
Jornal O Estado (1900) 0 1 0 1 0,27%
Jornal O Estado de Mato Grosso 0 0 1 1 0,27%
Jornal O Gladiador 0 0 1 1 0,27%
Jornal O Mato Grosso 1 8 4 13 3,62%
Jornal O Farol 1 0 0 1 0,27%
Jornal O Imparcial 0 8 3 11 3,06%
Jornal O Novo Mundo 0 1 0 1 0,27%
Jornal O Rebate 1 0 0 1 0,27%
Jornal O Republicano 1 1 0 2 0,55%
Jornal O Revérbero 0 0 3 3 0,83%
Jornal Opinião Publica 0 5 0 5 1,39%
Jornal Rua do Ouvidor 1 1 0 1 0,27%
Jornal Tempo 0 0 2 2 0,55%
Revista A Liga Marítima 2 0 0 2 0,55%
Revista A Luz 1 0 0 1 0,27%
Revista A Nova Época 1 0 0 1 0,27%
Revista A Renascença 4 0 0 4 1,11%
Revista Acadêmica e Militar 1 0 0 1 0,27%
Revista Caras e Caretas 0 1 4 5 1,39%
Revista Careta 3 2 2 7 1,94%
Revista Defesa da Borracha (Boletim de 30 de
junho)
0 1 0 1 0,27%
Revista de Jurisprudência 1 0 0 1 0,27%
Revista El Hogar 0 1 0 1 0,27%
Revista Figuras e Figurões 0 1 2 3 0,83%
Revista Fon-Fon 2 1 1 4 1,11%
Revista Heliópolis 0 1 0 1 0,27%
108
Revista Ilustração 1 10 0 11 3,06
Revista Ilustração Brasileira 17 0 3 20 5,57%
Revista II Brazile 0 1 0 1 0,27%
Revista Ilustraçao Italiana 7 9 3 19 5,29%
Revista Ilustraçao Portuguesa 3 0 0 3 0,83%
Revista Ilustrazione Italiana 0 0 2 2 0,55%
Revista Ilustração Universal 0 1 0 1 0,27%
Revista Je suis tout 0 0 1 1 0,27%
Revista Kosmos 0 1 3 3 0,83%
Revista L´Ilustration 0 2 0 2 0,55%
Revista La Hacienda 3 4 3 10 2,78%
Revista Leitura para todos 0 1 2 3 0,83%
Revista Leitures pour tours 0 0 1 1 0,27%
Revista Liga Marítima brasileira 8 4 0 12 3,34%
Revista Matto Grosso 1 5 1 7 1,94%
Revista Mundial Magazine 0 1 1 2 0,55%
Revista N.O. P.T.B. 0 1 0 1 0,27%
Revista Nick Carter 3 0 0 3 0,83%
Revista O Filhote 1 0 0 1 0,27%
Revista O Malho 8 4 3 13 3,62%
Revista O Novo Mundo 1 1 0 2 0,55%
Revista O Ocidente 1 0 0 1 0,27%
Revista P.B.T. 2 0 0 2 0,55%
Revista Renascença 0 3 0 3 0,83%
Revista Revue Franco-Brasiliense 0 3 1 4 1,11%
Revista Superintendencia da Defesa da
Borracha (31 de julho)
0 1 0 1 0,27%
Revista Tico-Tico 2 0 2 4 1,11%
Revista Tray Mocho 0 1 3 3 0,83%
109
Revista Vida Moderna 1 0 0 1 0,27%
TOTAL..................... 137 145 83 359
Fonte: Arquivo pessoal da autora. Dados extraídos de diversos documentos consultados no PMT
(2011-2012).
Ressalto que o total, por periódico32
, é referente ao número de vezes que os mesmos
apareceram listados no jornal O Debate e não necessariamente o número de vezes que foram
consultados. O total de jornais compulsados também não converge com o das consultas
constantes nos relatórios e mensagens, exatamente pelo fato aventado e, também, porque
houve lacunas na divulgação das obras consultadas, de forma que não foi localizada, a
listagem das obras consultadas em alguns números do jornal.
Um aspecto curioso dos periódicos é que eles, em grande maioria, divulgavam novas
publicações, faziam indicações de leitura e crítica literária. Imagino que a leitura desses
jornais pela população, e inclusive pelo público frequentador da biblioteca, despertava o
interesse e instigava olhares mais atentos às obras literárias disponíveis para leitura, inclusive,
no acervo da biblioteca.
Antes de iniciar a análise, ressalto que registrei, no quadro acima, todos os periódicos
que foram consultados, porém, destes extraí os que tiveram acima de 10 ocorrências, no jornal
O Debate, para efetuar as minhas considerações.
Nessa perspectiva, identifiquei que, de acordo com a fonte analisada, o jornal mais
consultado foi O Debate, que era um veículo de divulgação das ideias políticas do governo da
época, sempre enaltecendo a iniciativa estadual em criar uma instituição que colaboraria,
segundo sua percepção, com o desenvolvimento intelectual da sociedade cuiabana e,
consequentemente, contribuindo para o progresso da cidade, conforme fragmento
selecionado:
Para o alcance último desta benfazeja obra de progresso intelectual que é um
dos fatores em destaque na formação literária de um povo, colaboraram
concomitantemente elementos de reconhecida tenacidade de espírito, o Exmo. Sr. Dr. Presidente do Estado com o seu apoio, e o seu digno
secretário do interior com a sua dedicação. Fundando uma Biblioteca
Pública, à sombra da qual a mocidade terá sempre luz para as suas
locubrações, o estado constrói uma grande obra de benefício coletivo, cujos alicerces firmes serão os esteios do futuro, quando a população agradecida
gozar à farta os proventos incalculáveis desses melhoramento superior. (O
DEBATE, 1913, p. 2).
32 Nesse estudo, considerar como periódicos os jornais, revistas, boletins e anais.
110
O momento da análise dos dados é singular, envolve um trabalho intelectual árduo e
de reflexão profunda que demanda do pesquisador um “olhar” apurado para identificar nos
detalhes e, às vezes, naqueles aparentemente sem importância, possibilidades para
questionamentos, considerações ou levantamentos de hipóteses que possam contribuir,
mesmo que de forma ínfima, para um projeto maior. Nesse aspecto, me apossei da assertiva
de Darnton (2010, p.113) para afirmar que “Em história é preciso enxergar o universo num
grão de areia".
Assim, olhei para os dados que revelavam o elevado número de consultas realizadas
ao jornal O Debate e me questionei: Será que o jornal mais consultado era realmente O
Debate, ou, isso ocorria exatamente porque esse jornal era o principal divulgador das
informações da biblioteca e por ser um divulgador das ideias do poder político da época? Será
que os leitores desse periódico se sentiam estimulados a frequentar a biblioteca? Ou até
mesmo se decidiam por um livro constante no acervo da biblioteca por meio da leitura do
jornal?
Será que O Debate foi um instrumento de leitura que incentivava novas práticas de
leitura no espaço da BPEMT? Se a resposta fosse positiva, entenderíamos que as práticas de
leitura realizadas na biblioteca eram influenciadas por fatores sociais e culturais inscritos nas
páginas de um jornal local, inferindo, ainda, que as práticas de leitura sofreriam, mesmo que
de forma indireta, a coerção (DARNTON, 2010) pelos formadores de opinião, a saber: os
redatores e editores do jornal, que por sua vez divulgavam e reproduziam ideias do poder
estatal, sendo que estas poderiam ser representadas, inclusive, pelas indicações de leitura
realizadas.
Nesse sentido, a leitura dos jornais poderia incentivar determinadas práticas de leitura,
tanto por meio do seu conteúdo quanto das formas como os mesmos eram expostos. Tendo
em conta que o formato, a forma como um texto é disponibilizado, influencia nas formas de
apropriação por parte do leitor. Logo, há o enfrentamento da liberdade do leitor e da coerção
exercida direta ou indiretamente pelo autor (neste caso os autores dos artigos e/ou os
editores).
Na história da leitura, identificamos estratégias de autores e/ou editores que
inscrevem, nas páginas dos livros e periódicos, fórmulas ou indicações de como os mesmos
devem ser lidos, ou, disposição diferenciada dos tipos, ou ainda, a utilização de papel com alta
qualidade, gravuras extremamente luxuosas, para atrair a atenção do leitor.
111
Há publicações que são elaboradas de forma a indicar ao leitor o caminho a seguir,
seja dando coordenadas por meio da ‘orelha’ do livro, do prólogo ou mesmo da organização.
Darnton (2010). A seguir, (figura 11 ), apresento a foto de uma propaganda em um jornal de
Cuiabá do século XX, que apresenta de forma diferenciada o texto aos seus leitores, sendo
que a disposição, em forma de balão, chama a atenção do leitor, em especial, para “um lindo
e variado sortimento de fogos para as festas de S. João e S. Pedro”.
Figura 11 – Propaganda Jornal O Ferrão
Fonte: O Jornal (1929)
De toda a reflexão, foi possível extrair que os jornais teriam sido grandes
estimuladores e incentivadores das práticas de leitura no âmbito da biblioteca, conforme
apontaRodrigues (2008, p. 130):
[...] os jornais, embora não tenham sido os únicos, exerceram o importante papel na formação do gosto do leitor, além de serem responsáveis pela
divulgação e circulação de alguns livros em detrimento de outros.
Nessa perspectiva, podemos afirmar, hipoteticamente, que muitas das leituras
realizadas no interior da biblioteca foram influenciadas por fatores externos a ela, como os
jornais que circulavam em Cuiabá. Talvez, estudos posteriores possam confirmar ou não tal
hipótese.
112
Seguindo a ordem dos títulos mais consultados (de acordo com as ocorrências no
jornal O Debate) a partir de 10 ocorrências, destacamos: jornal A Cruz (23); jornal A Reação
(21); Revista Ilustração Brasileira (21); Revista Ilustração Italiana (19); jornal O Mato
Grosso (13); Revista O Malho (13); Revista Liga Marítima (12); Ilustração (11); jornal O
Argos (10) e Revista La Hacienda (10).
Desses títulos, destaco a Revista Ilustração Brasileira, com 5,57% das consultas,
veiculada como indicação de leitura pelo jornal Echo do Povo de 1914, inclusive sendo mais
consultada exatamente nesse ano, retornando, portanto, às hipóteses levantadas anteriormente
em relação ao O Debate: Será que a apropriação das indicações de leitura nos jornais
incentivavam ou direcionavam o público da biblioteca a uma determinada prática de leitura?
De acordo com o registro no Jornal O Debate, o segundo jornal mais pesquisado foi A
Cruz, com 6,68% da consultas, este objetivava veicular notícias sobre a comunidade, poesias,
política e também temas relacionados à religião católica e à igreja.
Ainda, de acordo com os dados extraídos do Jornal O Debate, com consultas muito
aproximadas do jornal A Cruz, aparece o jornal A Reação, que se autoafirmava como um
“Espaço para reação à igreja, críticas ao jornal A Cruz” e que tinha o fim de combater a “
ignorância e a hypocrisia – livrar os ingênuos das garras do clero”. (A REAÇÃO, 1912).
Atrevo-me a sugerir que, talvez, porém, não na totalidade, mas parcialmente, os mesmos
leitores de um eram os leitores do outro, pelo fato de que esses jornais debruçavam-se na
tarefa de se “alfinetarem” e de se contradizerem. Havendo críticas fortíssimas de ambos os
lados, o que poderia gerar no leitor curiosidade em verificar as réplicas e tréplicas. O jornal A
Reação publicava matérias que criticavam as ações e ideologias da Igreja, conforme
fragmento que selecionei para ilustrar a afirmação:
A IGREJA E A ESCOLA --D’onde vens tu, mulher, como a desgraça esquálida?
Que precoce velhice em tua fronte alveja? Quem é tu? D’onde vens, ó mízera, tão pálida?
Eu sou a Ignorância, e venho duma igreja! **
--E tu, bela mulher, rozada, alegre e pura,
Que ostentas no semblante a seiva das corolas,
Quem és tu? D’onde vens, pujante criatura?
--Eu sou a Educação, e venho das escolas!
S. Paulo - Castro Fonseca. (A REACÇÃO, 1912 p. 2).
113
Ao considerar que os artigos de ambos os jornais possuíam um caráter altamente
crítico, pode-se imaginar que seus leitores gostassem de exercitar a reflexão e a crítica, além
de familiarizarem-se com as discussões que circulavam na sociedade. Porém, posso, apenas,
realizar conjecturas por não ter fontes que me subsidiem nessas reflexões. Tal fato soma-se ao
agravante da dificuldade do historiador em compreender a apropriação e recepção do texto
pelo leitor, por ser esta, segundo Darnton (2010), a etapa mais complexa da História da
Leitura que continua, ainda, por ser decifrada
É possível identificar que houve consultas em revistas e jornais de língua francesa (3);
espanhola (2) e italiana (1), havendo predominância dos periódicos de língua francesa, o que
aponta o interesse da população cuiabana pela obras de origem francófona, uma tendência
herdada do século XIX, sendo uma prática inclusive dos leitores da Associação Literária
Cuiabana, em 1886. Essa tendência procede da influência deste país nas práticas culturais
brasileiras e mato-grossense do século XIX (RODRIGUES, 2008), e que persistiram ainda no
início do século XX. Nesse sentido, Ferreira (1999b, p. 316) ressalta a influência francesa no
cenário brasileiro:
A análise das leituras realizadas em diversas instituições no Rio de Janeiro
em 1890, indica uma marcante preferência pelos textos em francês.
Estudando as ações do governo brasileiro, verifica-se que desde os anos 30 se tornou aguda a preocupação do Estado na busca a utilização de modelos
europeus, mas com predominância de influências francesas
Os jornais possuem a característica de oferecer ao seu leitor informações
contemporâneas, atualizadas, diversificadas e de serem economicamente mais acessíveis. Aos
cuiabanos, afastados geograficamente dos grandes centros urbanos de maior efervescência
política e cultural, era primordial a leitura deste veículo de comunicação, que, para
Canavarros e Silva (2001, p. 4-5), possuía diversas vantagens e atrativos que mobilizava a
população cuiabana a sua leitura:
[...] ao contrário dos livros caros e volumosos e sem rede de distribuição especializada (eram raras as livrarias e poucas as papelarias), os jornais eram
práticos (podia-se lê-los em qualquer lugar, a qualquer hora), de leitura fácil,
diversificada, ilustrada e, por muitos motivos, motivadora. Para o letrado de poucos recursos e sedento de informações, o jornal diário ou semanal
satisfazia plenamente. Além do mais, eles eram verdadeiros almanaques
(muito populares no Brasil), traziam variado leque de informações curiosas: horóscopo, necrológicos, efemérides, hagiografia, culinária, literatura e
lcrônica da cidade e do país (política, cultural, policial, etc). E por último,
ainda serviam para embrulhos após a leitura.
114
Dessa forma, partindo do pressuposto que os jornais não requerem uma leitura
intensiva e que foram frequentemente consultados pode-se cogitar que os leitores iam à
biblioteca, muitas vezes, apenas para uma leitura rápida de um jornal, para se inteirar de
assuntos diversos, dos acontecimentos local, regional e nacional, conforme atesta a fala do
diretor Leonel Hugueney, em 1914, ao dizer que a biblioteca era procurada “pelas pessoas
estudiosas e interessadas no conhecimento do movimento social do que dão notícia os jornaes
e revistas [...].” (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1915, p.).
A leitura desses suportes não é movida, normalmente, pela intenção do estudo e da
reflexão aprofundada e sistematizada, caracteriza-se, portanto, como uma leitura extensiva,
discutida por Chartier (1999a) e por todos que se interessam pela história da leitura. Ela
permite o acesso a um grande número de informações em um período curto de tempo, sendo
um dos principais suportes os periódicos: jornais, boletins, revistas.
A prática desse tipo de leitura pode ser percebida em outros estados do país, sendo
uma característica dos leitores modernos e contemporâneos inseridos em uma sociedade que
demanda diferente papéis a serem desempenhados, muitas vezes não sobrando tempo para
leituras demoradas (CARNEIRO, 2007; DEAECTO, 2011, SCHAPOCHNIK, 1999).
O leitor moderno também se depara com inúmeras possibilidades de objetos textuais
disponíveis, resultado da explosão informacional, que o impele a manter-se a par do que
acontece ao seu redor. Assim , ele precisa apropriar-se de estratégias que lhe garanta o acesso
a informação o mais atualizada possível, encontrando no periódico o suporte ideal para a
efetivação de tal prática.
Ainda na perspectiva dos periódicos, inferimos ser esta uma prática que se destacava
entre os leitores da biblioteca em função de seu interesse por uma leitura de lazer e
informativa (ABREU, 1999), e, ainda, por ser este o meio de comunicação predominante na
sociedade cuiabana capaz de munir seus leitores de informações atualizadas.
Entretanto, o público frequentador da BPEMT tinha interesse para além da leitura
informativa e de lazer, sendo isso percebido por meio das consultas aos livros, tema abordado
a seguir.
115
5.1.1.2 Consultas nos livros
Na intenção de identificar o que os cuiabanos liam no interior da biblioteca pública,
organizei os dados coletados que se encontravam dispersos e elaborei uma lista de (Apêndice
D) todos dos itens consultados que foram divulgados nos jornais O Debate e O Echo.
Para análise, selecionei dessa lista, que contém 546 obras consultadas, aquelas mais
solicitadas nos anos de 1912 a 1914, com porcentagem acima de 0,5%, conforme ilustra o
quadro a seguir:
116
Quadro 8 – Livros mais consultados de 1912 a 1914
QTD % TITULO* AUTOR ÁREA ANO
12 2,19% Guerra russo-japonesa E. Noronha História 1912,1913 e 1914
12 2,19% Historia universal C. Cantu História 1912, 1913 e 1914
11 2,01% Retirada da Laguna (A) Taunay História 1912 e 1914
11 2,01% Sertão (O) Coelho Neto Literatura 1912, 1913 e 1914
8 1,46% Como eu atravessei a Africa Serpa Pinto Viagens Exploração 1912 e 1913
8 1,46% Dicionario Larousse Portugues 1912 e 1913
8 1,46% Historia do Brasil R. Shoutley História 1912, 1913 e 1914
8 1,46% Viagem ao redor do Brasil Severiano da Fonseca Viagens expedições 1912 e 1913
7 1,28% Diccionario contemporâneo Caldas Aulete Português 1912, 1913 e 1914
7 1,28% Inocencia V. de Taunay Literatura 1912, 1913 e 1914
7 1,28% Mato Grosso Ferreira Moutinho Viagens e expedições 1912 e 1913
7 1,28% Poesias Olavo Bilac Literatura 1912, 1913 e 1914
6 1,09% Algebra F.I.C. Álgebra 1912
6 1,09% Escrituração mercantil Tavares da Costa Escrituração 1914
6 1,09% Evolucionismo e o positivismo no Brasil (O) Sylvio Romero Politica 1913
117
6 1,09% Memórias C. Teffé Memórias 1912
6 1,09% Robson Crusoé De Fvé (nas fontes: Foé, De Foi, De
Foé)
Literatura 1912
5 0,91% Astronomia popular C. Flamarion Astronomia 1912 e 1913
5 0,91% Historia natural Pereira História natural 1912 e 1913
5 0,91% Marrocos D. Amicis História 1912, 1913 e 1914
5 0,91% Terra ilustrada F.I.C. Geografia 1912, 1913 e 1914
4 0,73% Ano sem par (A) T. Mendes 1912 e 1912
4 0,73% Ciencias naturais Rodolfo Teófilo Ciências naturais 1913
4 0,73% Cristo nunca existiu Emilio Bossi 1912 e 1913
4 0,73% Durch Central Brasilien Von den Steinen 1912 e 1914
4 0,73% Filosofia fundamental Jaime Balms Filosofia 1913
4 0,73% Historia universal Gama Berquó História 1913 e 1914
4 0,73% Velhice do Padre Eterno (A) Guerra Junqueiro 1912, 1913 e1914
3 0,54% Guerra da Triplice Aliança Schemeides História 1913
3 0,54% Isaú e Jaco Machado de Assis Literatura 1912 e 1913
3 0,54% Jardim das Oliveiras Coelho Neto 1913
118
3 0,54% La Vita Infernale E. Gâaorian 1912
3 0,54% Literatura brasileira Sylvio Romero Português 1912, 1913 e 1914
3 0,54% Literatura Nacional Pinheiro Português 1912
3 0,54% Margem da história (A) E. Cunha História 1912
3 0,54% Marilia de Dirceu T. A. Gonzaga Literatura 1912 e 1913
3 0,54% Maxima, pensamentos e reflexões Marquês de Maricá Literatura 1913
3 0,54% N delito al teatro dell opera F. Boigobey Literatura 1912
3 0,54% Poder da vontade (A) S. Smiles 1913
3 0,54% Rascunhos e perfis E. Senna 1912
3 0,54% Reisen in Mato Grosso P. Vogel 1912
3 0,54% The New Brazil Marie Robineon Wright 1913
3 0,54% Viagem ao Araguaia Couto de Magalhaes Viagens e expedições 1912
3 0,54% Vida das flores (A) E. Ponse Kass Ciências naturais 1912 e 1914
Fonte: Banco de dados da pesquisadora – Elaborado a partir dos jornais consultados no CD organizado por Elisabeth Madureira Siqueira e também aqueles
localizados no APMT (2012).
*Optou-se por transcrever os títulos como aparecem nas fontes, mantendo a grafia original. Considerei relevante manter a fidedignidade, pois estas formas de
grafia poderão chamar a atenção para futuras pesquisas e para a possível localização das obras.
119
Dos textos literários, destacam-se as obras de Visconde de Taunay, mais conhecido
regionalmente, pelo seu pseudônimo Silvio Dinarte, que teve grande circulação em Mato
Grosso no século XIX (RODRIGUES, 2008, p. 120).
É possível perceber uma grande recepção das obras desse autor, sendo um dos motivos
a familiaridade no processo de apropriação de questões sociais e culturais de Mato Grosso.
Taunay inseria, em suas linhas, assuntos curiosos e entrelaçava ficção com experiências
vivenciadas no estado. O autor vivenciou o momento histórico da Guerra do Paraguai travada
em campos mato-grossenses, o qual relatou em forma de prosa fictícia, na obra A Retirada da
Laguna, editada em 1871, inserindo aspectos da realidade de Mato Grosso, conforme relata
Trubiliano e Martins Junior (2008, p. 11) a obra apresenta Mato Grosso como um:
‘sertão bruto’, mas cheio de encantos, onde, posteriormente, se
desenvolveria o enredo de Inocência. Em A Retirada da Laguna, os quadros bucólicos da natureza servem para distrair o leitor, ao mesmo tempo em que
contribuem para acentuar os horrores da guerra.
Rodrigues (2008) ressalta a grande divulgação das obras de Taunay nos jornais locais,
inclusive descrevendo-o como:
um escritor talentoso e revelar-se um profundo conhecedor da alma humana e dos costumes da terra – província de Mato Grosso ou “suas irmãs mais
próximas, Minas e São Paulo” – retratados por ele com muita fidelidade. (O
LIBERAL, 1874 apud RODRIGUES, 2008, p. 120).
Nesse aspecto, considero que a vasta utilização das obras de Taunay e sua divulgação
nos jornais, já no final do século XIX, poderia ainda influenciar as práticas realizadas no
início do século XX. Imagino que este seja um dos motivos da procura (3,38%) pelas obras: A
Retirada da Laguna e Inocência. A obra Inocência, segundo Trubiliano e Martins Junior
(2008, p. 9) trata-se de “romance regionalista ambientado em Mato Grosso, apontado pela
crítica como seu melhor trabalho, editado em 1871” e foi inspirada na obra A Retirada da
Laguna (ver figuras 12 e 13)
120
Figura 12 – Capa do livro A Retirada da
Laguna, edição 1871
Figura 13 – Capa do livro Inocência, edição
1872
Fonte: Blog E-Books grátis ([20--?]) Fonte: WIKIPÉDIA (2012)
A leitura de Taunay, possivelmente, proporcionava aos leitores da BPEMT decifrar as
impressões que o autor tinha do estado. Nesse sentido Rodrigues (2008, p. 133) afirma que ele
fazia sempre alusões aos aspectos culturais de Mato Grosso, inclusive de Cuiabá. Podendo-se
exemplificar com a passagem de um extrato do conto Ierecê a Guaná , publicado em 1874, em
que ele relata, por meio de um dos personagens, que:
[...] as causas da prisão nesta boa terra são: a meiguice das mulheres, as
cabeças dos pacus e as caudas das piraputangas [...] se não quiser encalhar
em Cuiabá, a olhar pouco para o sexo frágil e não provar das extremidades
daqueles dois peixes senão com muita reserva e cautela. (TAUNAY apud RODRIGUES, 2008, p. 133).
Relevante ressaltar que não é meu objetivo aprofundar-me na questão da recepção da
obra deste autor, nem mergulhar no universo de sua produção. Considerei destacá-lo em
função do número de consultas e os possíveis motivos para este fenômeno. Dessa forma,
levanto aqui possibilidades para futuras investigações.
Dentre as obras históricas, destaca-se, como a mais consultada, a Guerra Russo-
japonesa (2,19%). Por se tratar de um livro que, juntamente com A Guerra da Tríplice
Aliança e A Retirada da Laguna, aborda tema relacionado a conflitos e guerras.
121
A procura pelas obras acima pode ter relação com o cenário mato-grossense que
participou ativamente da guerra do Paraguai (Guerra da Tríplice Aliança), por estar sempre
envolvido em combates internos como o da luta armada denominada Caetanada33
e, ainda, em
função da efervescência em relação a uma possível guerra que se concretizaria em 1914.
Portanto, poder-se-ia pensar que a grande procura por obras bélicas teria alguma relação com
o período histórico vivido naquele momento. Logo, podemos considerar que a realidade
social, econômica e política vivida por uma sociedade, poderá influenciar nas suas práticas de
leitura, inclusive em ambientes como a Biblioteca. (DEAECTO, 2011).
Outra obra bastante consultada e possivelmente lida no ambiente da biblioteca foi:
Viagem ao redor do Brasil, que abordava em, suas páginas, aspectos relacionados a Mato
Grosso, especialmente, ao seu espaço geográfico. Um fato que me chamou a atenção, após
consulta à obra por meio da internet (uma vez que ainda não me foi possível consultá-lo
fisicamente) é que este livro pode ter chamado a atenção pela riqueza das ilustrações, que
permitiam aos leitores que frequentavam a biblioteca, criarem, mentalmente, um cenário dos
acontecimentos narrados na obra. Neste sentido, talvez, a materialidade do texto, ou seja, a
forma como o livro foi editado pode ter suscitado um maior interesse pela sua leitura, de
forma que, conforme Chartier (1998, p. 127) “[...] não existe nenhum texto fora do suporte
que o dá a ler, que não há compreensão de um escrito, qualquer que ele seja, que não dependa
das formas através das quais ele chega ao seu leitor.” Desse modo, futuras pesquisas que
tivessem como objeto, por exemplo esta obra (de preferência a obra original, se ainda existir
no acervo da biblioteca), poderiam fornecer indícios (GINZBURG, 2006), dos modos como
os leitores se apropriaram do seu conteúdo.
Neste contexto, o estudo desta obra poderia indicar se o leitor fora coagido a se
apropriar do texto de uma determinada maneira e não de outra e a seguir determinado
protocolo de leitura (CHARTIER, 1998). Investigações desta natureza suscitariam reflexões
que comprovariam a tese de Chartier (1998) de que não somente as competências de leitura
anteriores do leitor ou sua capacidade de decifrar os signos influenciam sua apropriação, mas
também o formato e estrutura textual que são inseridas pelo autor, editor ou impressor
colaboram para o processo de leitura e recepção do texto. A seguir, apresento foto de uma
página do livro em questão, que chama a atenção do leitor pela sua apresentação:
33 A Caetanada foi, segundo Sá e Sá (2011. p. 48), uma luta armada que envolveu dois partidos rivais,
o Partido Republicano Conservador e o Partido Republicano Mato-grossense. Este movimento armado
foi motivo de muitas mortes e despertava muito medo na sociedade. Perdurou até 1917.
122
Figura 14 - Página ilustrada do livro Viagem ao redor do Brasil, edição de 1875, consultado
no interior da Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso em 1912 e 1913
Fonte: Desafiando o rio mar. Disponível em: http://desafianooriomar.blogspot.com.br. (2012)
A visualização das obras consultadas, que indicam leituras potenciais efetivadas no
interior da biblioteca, estimula a realização de um estudo individual da obra (as mais
consultadas ou as menos consultadas, de preferência aquela que ainda permanece no acervo
da biblioteca) com o intuito de identificar as possibilidades de apropriação ou as “maneiras de
ler” da comunidade de leitores de Cuiabá de um determinado período, considerando conforme
enfatiza Chartier (1998, p. 127): “[...] o texto, o objeto que lhe serve de suporte e a prática que
dele se apodera” o leitor.
5.1.2 Das consultas por área
É verdadeiramente motivador e fascinante perceber que as fontes nos conduzem por
diversos caminhos, descortinando várias possibilidades de análise. Isto porque, utilizando-me
de uma mesma fonte, a saber, as consultas realizadas registradas nos jornais da época e nos
relatórios, foi possível identificar aspectos de possíveis práticas de leitura da população
cuiabana que frequentou as dependências da BPEMT, concernentes ao que eles
(possivelmente) liam e quais eram as disciplinas e áreas predominantes.
123
Na perspectiva de compreender quais as áreas de maior interesse por parte do leitor da
BPEMT, tabulei e organizei os dados encontrados nos Relatórios e Mensagens por ano e
disciplina e elaborarei o quadro descrito no Apêndice E, porém, para análise, selecionei as
áreas mais consultadas, utilizando como critério, aquelas que tiveram o mínimo de 0,5% de
ocorrência nos jornais.
124
Gráfico 2 – Áreas mais consultadas pelos leitores da Biblioteca Pública (1912-1914)
Fonte: Mensagens e Relatórios, selecionados no APMT (2012). *Reuni os dados do quadro referente a Ciências sociais e direito com os dados de Direito, legislação e jurisprudência.
**Reuni História, História Universal e História do Brasil.
125
Do gráfico 2, é possível perceber uma maior incidência de consultas aos jornais e
revistas, totalizando 33,82%, o que confirma a tendência dos cuiabanos pela leitura
informativa e de lazer, assunto anteriormente abordado.
Relevante ressaltar, que os livros de história e história do Brasil somam 5,23% das
consultas, e que estas obras foram acessadas em todos os anos, o que não é comum à outras
áreas consultadas.
Tal tendência pode ser entendia a partir do período vivido pelo Brasil, com o advento
da República, em que a modernidade exigia a apropriação de conhecimentos que preparassem
o indivíduo para assumir uma posição na sociedade, seja em cargos público, políticos,
docência ou outros, inclusive se preparando para o ensino superior (CARNEIRO, 2007).
Outro fator que pode ter colaborado para um maior interesse por obras históricas, pode
estar relacionado aos constantes conflitos vivenciados em Mato Grosso por questões relativas
à divisas de terras e domínio do poder político.
Os dados apontam, também, a grande procura pelas obras na área de literatura,
18,18%, o que converge com o quadro de obras consultadas analisadas anteriormente, em que
os livros de literatura foram bastante consultados.
Este dado aponta para uma prática de leitura voltada ao lazer e recreação, como uma
forma de transportar o leitor para uma outra realidade, sem a pressão que a leitura para estudo
exige e que requer o raciocínio de forma mais sistemática.
A leitura literária permitiria uma relação mais lúdica e subjetiva com o texto, em que o
leitor teria maior liberdade no momento da leitura, apesar dos protocolos sempre constantes
tanto no objeto quanto no espaço que influencia a apropriação do texto lido. (CHARTIER,
1998, 1999b; DARNTON, 2010).
No tocante às obras de matemática (2,96%), física (11,56%) e química (0,69%),
provavelmente seriam consultadas por estudantes, como forma de complemento aos
ensinamentos efetuados em sala de aula. Estes se enquadrariam, possivelmente. na categoria
dos livros didáticos que eram os mais consultados, conforme texto a seguir: “a exígua, verba
consignada na lei orçamentaria para a compra de livros, foram adquiridos 151 volumes, de
preferência didáticos, por serem os desta natureza os mais consultados pelos que frequentam a
Biblioteca.” (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1927).
Por meio das áreas mais consultadas, foi possível identificar o que predominava nas
práticas dos leitores da biblioteca, culminando na hipótese de que suas consultas coincidem
com práticas predominantemente informativas e formativas.
126
Porém, além de ressaltar as obras mais consultadas, é relevante destacar algumas
áreas que, apesar de terem sido infimamente procuradas, também podem colaborar para a
construção do “panorama possível” (SCHAPOCHNIK, 1999, p. 295) das leituras efetivadas
pelos cuiabanos no espaço da Biblioteca Pública no período estudado, sendo que, para tal
análise apresento o quadro 9 que ilustra as obras que tiveram menos que 0,5% de consultas.
Quadro 9 - Títulos menos consultados* DISCIPLINA CONSULTA
S
% DISCIPLINA CONSULTA
S
%
Agricultura 3 0,00
%
Physiologia 1 0,00
%
Arte e Industria 22 0,03
%
Poesias 103 0,15
%
Astronomia 6 0,00
%
Politica e
adminsitração
1 0,00
%
Biographias 5 0,00
%
Quadro
Chorografico de
MT
3 0,00
%
Boletins 2 0,00
%
Relatorios e
mensagens
43 0,06
%
Catalogo 1 0,00
%
Religião 28 0,04
%
Ciencias aplicadas 135 0,20
%
Sciencas 268 0,40
%
Encyclopedia 12 0,00
%
Sciencias
medicas/Medicin
a
33 0,04
%
Instrução e
Educação/Educaçã
o e ensino
207 0,31
%
Sciencias fisicas e
naturais
136 0,20
%
Mythologia 1 0,00
%
Sociologia 4 0,00
%
Pedagogia 1 0,00
%
Viagens e
explorações
29 0,04
%
Philosophia 175 0,26
%
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora elaborado a partir de diversos documentos extraídos do APMT (2012)
*Optei pela grafia original, uma vez que a visualização destes títulos, por parte dos leitores deste
trabalho, poderá suscitar curiosidade e possíveis ideias para futuras pesquisas. E, ainda, facilitar a busca no acervo atual da BPEMT.
Das disciplinas menos consultadas, faço uma pequena análise das áreas de ciências
sociais. A disciplina de sociologia, por exemplo, foi consultada somente em 1914. Será que
essa pouca ocorrência possui alguma relação com as disciplinas ministradas nas escolas,uma
vez que, a criação das cadeiras de sociologia e filosofia só ocorreu em 1925 no Liceu
Cuiabano? (MATO GROSSO. MENSAGEM, 1926). Penso ser uma hipótese plausível, se
127
considerarmos que o público majoritário da Biblioteca Pública era composto por estudantes –
conforme já apontado no capítulo 5 --- portanto, os mesmos somente iniciariam a busca por
estas obras na biblioteca, após o início das disciplinas nas escolas que só ocorreu em 1925.
Outro dado interessante de se destacar é a pouca ocorrência de consultas à obras de
Religião -- exceção somente das leituras do Jornal A Cruz, que continha em suas páginas
assuntos relacionados à política, literatura, notícias, entre outros e, não exclusivamente, textos
religiosos ou teológicos . As consultas às obras de cunho religioso só ocorreram em 1912 e
1914, início do século XX. Este fato pode sinalizar e reforçar a progressão do caráter laico da
Biblioteca Pública no século XX, desvinculada da influência da Igreja, no sentido da gestão e
da obrigatoriedade da existência de obras de caráter religioso em detrimento das obras
relacionadas às diversas áreas do conhecimento humano, como ocorriam nas Bibliotecas
medievais. (SCHAPOCHNIK, 1999; MARTINS, 1998). Neste aspecto, os frequentadores da
BPEMT interessados neste tipo de leitura, a religiosa, deveria, provavelmente, fazê-la em
outros espaços. Outro fator poderia ser o diminuto acervo de obras religiosas disponíveis aos
leitores.
Quanto às obras relacionadas à política, houve apenas uma consulta, em 1912. Em
relação a esse fato, penso que os leitores preferiam se manter politicamente informados por
meio dos jornais que veiculavam o assunto em grande escala.
5.2 Dos consulentes aos possíveis leitores
O número de consulentes não representa, conforme concepção de Chartier (1999c) o
número de leitores reais, pois a posse ou manuseio de um texto escrito não garante a
efetividade de sua leitura. Ou seja, um indivíduo pode possuir uma grande biblioteca
particular e não ter lido todos os livros lá contidos, ou, pode manusear um livro, revista, jornal
ou outro objeto textual, sem necessariamente se apropriar do seu conteúdo por meio da
leitura.
No entanto, pode-se afirmar que os indivíduos que frequentavam a biblioteca eram
leitores potenciais. Certamente, muitos deles, realizavam a prática de leitura do material que
consultavam.
Nesse sentido, podemos partir do perfil dos consulentes para obter um quadro
ilustrativo do público leitor que realizava leituras no interior da biblioteca, ou em casa, por
meio de empréstimo domiciliar.
128
Com a investigação foi possível perceber que a BPEEM possuiu, desde sua fundação,
e ainda muito fortemente na década de 1930, um forte caráter de coadjuvante no processo de
instrução da população cuiabana, complementando com seu acervo a efetivação dos estudos
dos alunos das instituições de ensino existentes, sendo que, em seus relatórios, os diretores
enfatizavam a função da biblioteca como espaço de práticas de leitura formativa e
informativa, o que converge com a concepção de leitura escolarizada que, segundo Chartier
(2001, p. 40), “é uma leitura que busca o deciframento, uma leitura da inteligibilidade, da
compreensão”.
ABPEMT foi criada com o fim de contribuir com a instrução pública, atuando como
complemento da escola e como uma extensão da mesma no processo de construção do
conhecimento dos habitantes de Cuiabá. Tal assertiva se confirma no Decreto n. 307, quando
aponta a biblioteca como um:
[...] instituto [que] consiste um complemento indispensável e um auxiliar do ensino popular, levando ao alcance de todos os elementos imprescindíveis a
elucidação do espírito [e servindo] para facilitar a instrucção de todas as
classes. (BIBLIOTHECA PUBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p. 2).
Sendo assim, o público principal, pelo menos nos seus primeiros vinte anos, que
efetivava suas leituras no espaço da biblioteca, era os estudantes do ensino secundário,
conforme atesta o seu diretor no ano de 1924: “Sendo a classe dos seus consulentes, na
maioria, constituída de alunos do Liceu Cuiabano e Escola Normal[...].” (MATO GROSSO.
MENSAGEM, 1925).
Dessa forma, as principais leituras realizadas no interior da biblioteca, até a década de
30, eram as leituras formativas realizadas por estudantes, de forma intensiva e compenetrada,
buscando o deciframento e a compreensão do que se lia, utilizando-se de livros didáticos de
matemática, física, história, geografia que foram utilizados pelos leitores da biblioteca.
Destacam-se, também, as leituras informativas realizadas de forma mais extensiva nos
jornais e revistas, conforme alto índice de consultas apontadas no gráfico 2.
A incidência de um público fundamentalmente estudantil se confirma no relatório do
diretor em 1935, quando diz que: “Não me furtarei ao dever de deixar aqui consignada o
apreciável concurso que a nossa Biblioteca Publica, embora modesta ainda, vem prestando á
mocidade estudiosa desta terra, a frequentadora principal dessa Casa de Estudos.” (MATO
GROSSO. MENSAGEM, 1935).
129
Infelizmente não foi possível recuperar os livros de registro de consulta e empréstimo,
dificultando, assim, a determinação de quem era o público leitor. Restando-me somente os
indícios constantes nos relatórios, mensagens e jornais.
Com a junção da biblioteca ao arquivo público, em 1931, percebe-se um aumento
significativo no número de consultas e maior heterogeneidade entre os consulentes, que agora
não só realizavam uma leitura formativa, informativa e de lazer, mas também uma leitura dita
profissional. Tal afirmação justifica-se porque, com a união da Biblioteca e Arquivo Público,
iniciou-se um maior interesse pela prática de leitura que não aquela relacionada à instrução.
A Mensagem de 1938, ressalta a presença de diversos profissionais no uso da
biblioteca:
[...]demonstra um pronunciado e confortador movimento cultural no Estado,
manifestado no interesse para com o estudo e a cultura, por parte da população, em todas as suas classes sociais e profissões, qual o indica a
classificação das fichas usadas no serviço daquele repartição, e que
compreende estudantes, professores, advogados, funcionários públicos,
engenheiros civis e militares, médicos, agrônomos, jornalistas, serventuários da Justiça, militares e auxiliares do comércio. (MATO
GROSSO. MENSAGEM, 1939, grifo nosso).
As leituras realizadas no interior da biblioteca, provavelmente eram feitas de acordo
com uma necessidade seja intelectual, profissional ou de lazer que convergia com as
expectativas dos professores, pais, padres ou chefes uma vez que, segundo Chartier (2001, p.
31), “todo leitor pertence a uma comunidade de interpretação”. Assim, , suas leituras seriam
influenciadas pelas concepções da sociedade cuiabana daquele tempo.
Dificilmente um consulente pediria um livro ao atendente que não fosse considerado
como uma leitura “legítima” e aceitável. As leituras realizadas no interior da biblioteca
deveriam, pelo menos até a década de 30, ser estimuladas por obras que fossem “fontes de
leitura aprimorada, instrutiva e amena”, portanto, a leitura voltada para os objetivos da escola
e da instrução se destacava como práticas dos leitores da Biblioteca Pública. (MATO
GROSSO. MENSAGEM, 1925).
Dessa forma, as possibilidades de práticas de leitura na biblioteca eram permeadas por
toda uma concepção da comunidade local do que seria interessante e digno de ser lido, do que
seria uma leitura que iria convergir com o que se esperava de um sujeito culto comprometido
com seu crescimento intelectual e profissional.
130
Nesse aspecto, a própria instituição ditava, direcionava ou controlava o que seria
permitido ler, haja vista que alguns materiais só poderiam ser consultados por pessoas que
fossem realizar “estudos sérios” e, também, que os materiais em brochura não poderiam ser
manuseados. (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1912, p. 8).
Portanto, o frequentador da BPEMT não tinha liberdade de consultar todo e qualquer
material disponível no acervo, sendo que o princípio da coerção se instaurava, limitando o
acesso do leitor a conteúdos considerados pela autoridade competente como impróprios para a
leitura ou como muito valiosos, devendo ser resguardados das mãos dos leitores imprudentes
ou descuidados e direcionando este mesmo leitor a conteúdos e objetos autorizados.
(CARNEIRO, 2007).
Outro fator preponderante, que certamente influenciava no processo de apropriação do
texto escrito, era a limitação ao número de títulos consultados simultaneamente, uma vez que,
de acordo com o Regulamento de 1912, o leitor poderia consultar apenas um material (livro
ou periódico) por vez.
Consequentemente, o leitor não teria a opção de realizar sua pesquisa consultando, ao
mesmo tempo, mais de uma obra, limitando, portanto, as possibilidades de comparações,
reflexões e novas construções. Deve-se considerar que cada indivíduo possui formas
específicas de apropriação do conteúdo, sendo que, provavelmente, alguns leitores iriam
preferir ter ao seu dispor alguns títulos para seleção, e leituras paralelas. Destarte, a biblioteca
ditava a maneira como o leitor deveria proceder sua leitura, influenciando na sua liberdade no
ato da produção de sentido. (CERTEAU, 1998).
Há também uma mudança no discurso da leitura instrutiva para uma prática de leitura
em busca do crescimento cultural, de Casa Estudos, até a década de 20, para Espaço Cultural
a partir desta década. (BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO,
1920; MATO GROSSO. MENSAGEM, 1920). Desse modo, amplia-se, provavelmente, as
possibilidades de gêneros a serem consultados ou, pelo menos, diminui o preconceito em
relação às leituras menos instrutivas e formativas, abrindo-se precedentes para uma maior
diversidade de práticas de leitura de lazer.
Acompanhando a trajetória da instituição, percebe-se que os leitores frequentadores da
biblioteca foram, em um primeiro momento, estudantes e pessoas letradas da comunidade,
conforme ilustra a fala do diretor da biblioteca em 1925: “Sendo a classe dos seus
consulentes, na maioria, constituída de alunos do Liceu Cuiabano e Escola Normal[...].”
(MATO GROSSO. MENSAGEM, 1925).
131
Posteriormente, com a junção da Biblioteca ao Arquivo Público, em 1931,
intensificaram-se práticas de leitura profissional e posteriormente, na década de 40,
provavelmente, o público se diversificou em função da abertura para empréstimo domiciliar, o
que permitiu que os leitores, sem tempo de permanecer no interior da biblioteca,
pudessemutilizar seu acervo e realizar suas leituras em casa ou em outros espaços.
Assim sendo, considero que, alguns cuiabanos poderiam preferir uma prática de leitura
intensiva e cômoda em que eles pudessem se apropriar do texto de forma tranquila sem a
preocupação com regras sociais e regimentais, por exemplo, exigidas em um ambiente como a
biblioteca. Neste sentido, Alcindo de Camargo, ao falar da Associação Literária Cuiabana,
afirma que a mesma permitia o empréstimo domiciliar quando relata que:
[...] já em outros dias constituio a nota elegante do escol cuiabano com as
conerencias e sessões em que se tratavam dos mais serios problemas visando o progresso material e intellectual da soceidade, facilitou grandemente a
propagação da instrucção, permittindo nos a leitura de seus livros em
casa, commoda e reflectidamente. (CORREIO DO ESTADO, 1922, n. 102
de 12 de novembro, p. 2).
No entanto, havia também um público potencial que estaria excluído das possibilidade
de práticas de leitura no interior da biblioteca. As crianças abaixo de 14 anos, que só
apareceriam como preocupação do estado na década de 40, mesmo assim com a proposta de
criação de uma biblioteca específica para atender suas necessidades e não como uma
possibilidade de ampliação do acervo da biblioteca pública para atendê-las.
Um fator que poderia justificar esta determinação imposta pelo Regulamento da
BPEMT, impedindo o acesso das crianças abaixo de 14 anos, refere-se ao nível de
alfabetização das mesmas. Os alunos do ensino primário e elementar, que inclui esta faixa
etária, não estariam preparados para a realização de uma leitura mais fluente, de textos mais
densos e complexos. Este nível de ensino, segundo Siqueira (1999) daria aos discentes apenas
os rudimentos básicos para a leitura e escrita, não capacitando-os para a apropriação de textos
diversificados.
Essa impossibilidade de acesso poderia se justificar, também, pela concepção de
biblioteca enquanto espaço de silêncio, concentração e também por não ser seu acervo
constituído de obras que atendessem a esse tipo de clientela específica. Porém, a realidade
contradiz o discurso do diretor que, em 1914, afirma ser a biblioteca “[...] um complemento
das escolas, proporcionando variados conhecimentos as pessoas de todas as idades e
132
facilitando às de pouco recurso, a leitura de obras cuja acquisição não lhes seria possível.”
(BIBLIOTHECA PÚBLICA DO ESTADO DE MATTO GROSSO, 1915).
Dando continuidade às reflexões, não é possível fazer conjecturas a respeito das
possíveis práticas de leitura na década de 50, por ter sido, este período, um momento crítico
em que a biblioteca ficou praticamente desativada e sem condições de uso. E devido às
constantes mudanças e falta de espaço apropriado e políticas de conservação, as fontes que
possivelmente nos indicariam o caminho para tais reflexões foram extraviadas ou destruídas
completamente, conforme já abordado.
Apesar das lacunas, considero que foi possível levantar alguns aspectos relevantes
para a história da leitura na BPEMT, mesmo que de forma fragmentada, uma vez que a
reconstrução da história é um exercício complexo que depende, essencialmente, do conteúdo
das fontes mapeadas além da competência do pesquisador para analisá-la.
Espero que, com os dados apresentados e as reflexões realizadas, seja possível aos
leitores deste estudo perceber de que forma ocorreu a constituição da Biblioteca Pública do
Estado de Mato Grosso, bem como, identificar aspectos de práticas de leitura que puderam ser
concretizadas nesse ambiente institucionalizado, como é o caso de uma biblioteca pública.
133
6 CONSIDERAÇÕES
Este é um momento da escrita da dissertação em que realizamos uma retrospectiva de
toda a trajetória percorrida no decorrer da pesquisa. Há conflitos de sensações, entre o dever
cumprido e a impressão de que muito mais poderia ter sido feito. Tenho neste momento um
sentimento de “inconclusão”, mas penso que isso não deve ser considerado de forma negativa,
mas uma constatação de que a vida e, portanto, a história é sempre inconclusa, já que é feita
por seres humanos e estes são mutantes, em constante transformação. Não há uma
“conclusão” definitiva, pois as impressões, constatações são constantemente modificadas e
reconstruídas.
Nesse sentido, acredito que essa pesquisa contribui com o processo de reconstrução da
história cultural de Mato Grosso, porém ela é apenas uma parte de uma história que poderá ser
complementada futuramente, ou até mesmo, quem sabe, modificada ou atualizada por outros
pesquisadores.
O papel do pesquisador que lida com a pesquisa histórica é vasculhar, escavar a
procura de fontes que lhe permitam responder às suas questões e alcançar o seu objetivo, que
neste trabalho, foi investigar como ocorreu a constituição da Biblioteca Pública do Estado de
Mato Grosso (BPEMT) e identificar aspectos de possíveis práticas de leitura em seu interior,
no período de 1912 a 1950.
Foi com esse propósito que investi toda minha energia nos momentos de localização e
interpretação das fontes que, juntamente com a base teórica utilizada, me propiciou realizar
algumas reflexões e constatações.
O primeiro contato com as fontes me despertou para uma questão: Porque tanto os
discursos dos jornais quanto dos documentos oficiais, ressaltavam repetidamente a
importância de Cuiabá como uma cidade civilizada, de letrados, de pessoas que eram
produtivas e intelectualmente desenvolvidas? Fiquei impressionada com a necessidade dessa
autoafirmação por parte da camada letrada de Cuiabá, inclusive pelo seu governo.
Percebi, então, que precisaria voltar um pouco no tempo para tentar compreender este
fenômeno identificado nos documentos consultados. Assim, parti para a localização e leitura
de fontes que antecediam o meu marco temporal e também para trabalhos publicados que
abordavam Cuiabá no século XIX.
134
Nesse aspecto, foi possível perceber que Mato Grosso absorveu e inseriu-se no ideário
do processo civilizador, que direcionava as ações implementadas no Brasil no século XIX,
herdados das ideias propagadas pela Europa, principalmente a França.
Portanto, foi com essa concepção que tanto os viajantes quanto algumas vozes locais,
no século XIX, e também no início do século XX, divulgaram em livros e em periódicos o
discurso de que Mato Grosso, incluindo Cuiabá, era constituído de indivíduos analfabetos,
não produtivos e preguiçosos que não contribuíam com o desenvolvimento da sociedade local
e, consequentemente, nada agregavam ao país.
Nesse momento ficou evidente a necessidade da população cuiabana, já no fim do
século XIX e início do século XX, de divulgar de forma intensiva a ideia de que Cuiabá era,
sim, constituída por indivíduos letrados, intelectuais, detentores de conhecimentos e atitudes
que, ao contrário do que fora divulgado, colaboravam para o desenvolvimento político,
econômico, cultural e social de Mato Grosso e do Brasil.
Para a concretização desses princípios foi instituído, em Mato Grosso, um projeto
modernizador, adotado em todo o país, que almejava o alcance de “Um Brasil Moderno”, o
qual determinava ações no sentido de desenvolver a infraestrutura, a saúde, o comércio,
indústria e, sobretudo, a implantação de uma instrução pública para todos.
Segundo o pensamento moderno, a instrução seria o pilar, a base para a concretização
de todos os outros projetos. Por meio dela seria possível preparar os indivíduos para o
trabalho – sendo que a cada camada social, já estaria predestinado a função que exerceria,
portanto, o nível de instrução necessário. Para as classes populares, a instrução deveria
domesticá-la e controlá-la, de forma que esta servisse aos interesses da elite dominante. Para a
elite, era destinado o ensino até o mais alto nível, garantindo que esta camada social
assumisse cargos no governo e em outros segmentos que exigissem maior qualificação34
.
Todas as atenções voltaram-se para a instrução e para sua concretização eram
necessários novos métodos, estrutura física adequada, pessoas qualificadas e, inclusive,
manuais e/ou livros que direcionassem o trabalho do professor.
O objetivo principal era a preparação dos indivíduos para a leitura e escrita. Este fato
desencadeou uma maior preocupação com a disponibilização de livros que poderiam
34 Observe-se que, nesse trabalho, não entrei na discussão da submissão e resistência das classes
populares.
135
propiciar, por meio da leitura, o acesso aos conhecimentos, “às luzes”, uma vez que o livro
conteria em suas páginas o “alimento para o espírito”.
Porém, onde reunir o maior número possível de livros que atendesse às diversas áreas
do conhecimento, zelando pela sua preservação e disseminação? Esse espaço seriam as
Bibliotecas e, assim, nesse momento, inicia-se a proliferação de bibliotecas públicas no país.
Apesar da necessidade, de acordo com os princípios do projeto modernizador, de que
o Estado criasse, mantivesse e conduzisse o ensino primário-elementar, Mato Grosso não
conseguiu acompanhar os outros estados, uma vez que, em alguns momentos, passou por
dificuldades nos cofres públicos. Tal fato, pode ter contribuído para que não houvesse, até a
segunda metade do século XIX, grande empreendimento na criação de escolas, por sua vez,
muito menos empenho na criação de Bibliotecas Públicas.
No entanto, apesar da ausência do Estado em investir no segmento cultural, várias
iniciativas, no sentido de criação de espaços culturais e de leitura foram concretizadas em
Mato Grosso, especificamente em Cuiabá no século XIX e XX. Umas com maior êxito, outras
de forma fugaz.
Duas instituições destacaram-se como facilitadoras do acesso à Leitura e
incentivadoras dessa prática: a) O Gabinete de Leitura, criado em 1872; b) A Associação
Literária Cuiabana, criada em 1884. A maioria das iniciativas foi de cunho privado. Com
exceção do Gabinete de Leitura, que foi uma iniciativa pública, porém com um maior
investimento da iniciativa privada, uma vez que o acervo foi constituído e mantido (quase em
sua totalidade) por doações da sociedade cuiabana.
Em Mato Grosso, somente com a instauração da Reforma da Instrução Pública em
1910, medidas mais intensivas de criação de grupos escolares35
foram implementadas,
incluindo a preocupação com os profissionais mais qualificados, infraestrutura e materiais
didáticos. No entanto, não fora nesse momento disponibilizada, nas escolas, bibliotecas que
atendessem às necessidades dos alunos e professores.
Até 1912 os cuiabanos dispunham apenas da Associação Literária Cuiabana que, por
ser de caráter privado, não era aberta ao público em geral. As primeiras Bibliotecas Escolares
foram instaladas, apenas em 1924, nas escolas do Liceu Cuiabano e Escola Normal.
Portanto, nesse cenário de preocupação com a instrução da população -- e com todo
um discurso importado de outros estados da relevância de se possuir uma Biblioteca Pública,
35 Para um maior aprofundamento sobre os grupos escolares ver: Amâncio, Lázara Nanci de Barros.
Ensino de Leitura e Grupos Escolares: Mato Grosso: 1910-1930. Cuiabá: EdUFMT, 2008.
136
posto que a mesma ratificaria à cidade o status de civilizada e desenvolvida -- foi que a
Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso foi criada, em 1912.
A Biblioteca Pública de Mato Grosso foi um espaço potencial para a realização de
práticas de leitura em Cuiabá no início do século XX, criada com o principal objetivo de
atender aos estudantes, complementando as atividades de instrução oferecidas nas escolas. A
concepção de biblioteca como “Casa de estudos” perdurou até 1921, momento em que se
muda o discurso para “Centro de cultura popular”, sendo a primeira vez que a palavra cultura
aparece nos documentos e na década de 40 aparece como “Casa de leitura”.
No entanto, percebem-se modificações apenas nas formas linguísticas, uma vez que
não foi identificada nenhuma atividade cultural ou lúdica oferecida pela biblioteca durante seu
funcionamento, pelo menos até a década de 40. Em 1941, pela primeira vez, fala-se em
exposições e conferências a serem promovidas pela biblioteca, porém não foi encontrado
nenhum documento que confirmasse que tais atividades teriam sido concretizadas.
A BPEMT foi idealizada e dirigida, até a década de 60, por homens da elite letrada de
Cuiabá. Tal fato tem relação com o contexto histórico em que havia a hegemonia masculina
que era responsável pelo processo civilizatório. A biblioteca por ser uma instituição que no
imaginário coletivo significava “templo do saber”, espaço destinado a “elucidação do
espírito”, que historicamente foi dirigida por sábios e/ou intelectuais e exercia um importante
papel no contexto do “civilizado e moderno”, certamente daria ao seu diretor um status de
homem erudito, intelectual, detentor de saber e, por conseguinte, de determinado poder
perante a sociedade.
Por outro lado, os diretores, por serem membros de destaque da sociedade cuiabana
imprimiriam ao cargo e à instituição um status de respeitabilidade perante a sociedade.
No entanto, apesar da relevância desses diretores no cenário social e cultural de
Cuiabá e de suas constantes manifestações de insatisfação em relação aos investimentos
destinados à biblioteca, estes diretores não tiveram as suas solicitações atendidas
satisfatoriamente. Desse modo, os consulentes que frequentaram a biblioteca, por diversos
momentos, não foram contemplados com um espaço condizente com uma prática confortável
e agradável de leitura. Isso porque desde sua criação até o período estudado, suas instalações
foram insuficientes para atender de forma adequada ao seu público leitor.
Apesar do cuidado da direção em manter o funcionamento da biblioteca nos períodos
mais frescos do dia, seu espaço apresentava-se insalubre, quente, sem ventilação e sem
137
iluminação adequada. Faltava-lhe espaço para disposição de mesas para leitura e estudo, além
de espaço e estantes para acondicionar, satisfatoriamente, o acervo.
Em vários momentos a BPEMT foi prejudicada em função das goteiras e enchentes,
fato que danificou muito seu acervo e impossibilitou o funcionamento da mesma por diversos
períodos.
Outro motivo que causou limitação da utilização do espaço da biblioteca pelos
consulentes foi as constantes mudanças pelas quais a biblioteca passou exigindo que seu
acervo fosse por diversas vezes trasladado o que resultou em extravios e danos a considerável
parte do mesmo. As mudanças constantes ocasionaram dificuldade quanto ao uso mais efetivo
do espaço pelos consulentes, fazendo com que seus frequentadores ficassem sem referência
sobre a localização da BPEMT.
Todas as dificuldades relatadas foram sentidas com maior intensidade na década de
50, período em que o acervo da biblioteca foi dividido em três espaços diferentes, ficando
praticamente sem condições de ser consultado. Estes espaços eram insuficientes para o
acondicionamento do acervo e movimentação de pessoas simultaneamente. Assim, o uso da
biblioteca para a efetivação de práticas de leitura foi prejudicado pela insuficiência do seu
espaço físico. Nesse sentido confirma-se a assertiva de Darnton (2010) de que o espaço pode
influenciar o leitor no sentido de incentivar, ou mesmo, impossibilitar a efetivação de práticas
de leitura.
Outro aspecto que pode ter interferido nas possíveis práticas de leitura da população
cuiabana, foi o sistema de acesso ao acervo instituído pela biblioteca. Era permitido aos seus
consulentes consultar as obras da biblioteca, até a década de 40, somente no seu espaço
interno (na sala de leitura). O acesso ao acervo, somente, por meio da consulta local,
provavelmente, influenciou e inclusive limitou determinadas práticas de leitura que poderiam
ter sido concretizadas de forma mais satisfatória pelos consulentes, devido às deficiências da
sua estrutura e o controle por parte dos funcionários.
Por outro lado, o empréstimo domiciliar, autorizado em 1941, poderia ter oportunizado
práticas diferenciadas de leitura, de forma mais confortável, livre, reflexiva, ampliando o
acesso a outros indivíduos que, por algum motivo, não frequentavam a biblioteca. Tal
assertiva converge com as concepções de Chartier (2001) e Darnton (2010) quando afirmam
que o ambiente, o espaço físico tanto quanto o objeto e conteúdo, são importantes na
avaliação da qualidade das práticas de leitura.
138
A BPEMT possuía um acervo diversificado de livros; revistas; manuscritos, como o
Anaes do Senado da Câmara de Cuiabá; quadros; moedas e inclusive uma espada que
pertenceu ao Barão de Melgaço. Todo este acervo foi constituído, em grande parte, por
doações da elite letrada de Cuiabá; o que sinaliza a predominância da indicação do doador, do
seu gosto ou de sua preferência, não prevalecendo, portanto, as necessidades e expectativas do
público frequentador, possível leitor da BPEMT. Por consequência, o público lia o que estava
disponível, e não necessariamente, o que ele realmente gostaria de ler.
No entanto, é importante ressaltar que apesar disto, certamente, dos títulos existentes,
alguns contemplavam ou se aproximavam das expectativas dos consulentes. Isso porque o
acervo foi bastante utilizado pela população e a biblioteca manteve-se atuante, mesmo que,
em alguns momentos de forma precária, e permanece atendendo ao seu público até os dias
atuais.
O acervo da biblioteca era disponibilizado, até a década de 40, para consulta local,
dentro de suas dependências. Sua circulação foi divulgada em alguns periódicos locais,
durante os anos de 1912 a 1914. Esses dados, relativos ao número de consultas realizado na
biblioteca, poderiam revelar ou representar o nível de interesse da população cuiabana pelo
acesso à informação e cultura, assim como indicaria a importância da biblioteca como espaço
fomentador de tais práticas culturais.
A frequência ao espaço da biblioteca foi influenciada por fatores, algumas vezes,
externos à ela. Houve alternância, até a década de 40, nos números de consultas durantes os
anos e esses fenômenos foram justificados pelos diretores em seus relatórios. Algumas
justificativas foram: Mudanças de prédio e/ou reformas; epidemia de gripe; atendimento no
período noturno; dificuldades na recém-instalada iluminação elétrica; abertura de bibliotecas
escolares; autorização de empréstimos domiciliares.
Desse modo, percebe-se que as questões sociais e de saúde pública também afetaram
as práticas de leitura efetivadas no interior da BPEMT, de forma que as práticas culturais não
estão alienadas a outros aspectos da sociedade como o econômico, político, urbano e o de
infraestrutura.
Não há documentos que indiquem consultas ao acervo na década de 50. Os únicos
registros encontrados relatam que se tornara impossível a leitura no interior da biblioteca,
apontando para a hipótese de que a mesma, por mais de 10 anos (a partir da década de 50 até a
década de 60), atendeu seu público leitor de forma muito limitada. Tal fato indica que a
sociedade cuiabana foi privada de acessar obras e documentos da biblioteca pertinentes aos
139
seus interesses intelectuais, profissionais ou de lazer. Portanto, as consultas e possíveis
práticas de leitura nesse período, no interior da BPEMT, foram muito prejudicadas devido às
condições de sua estrutura física.
Para análise do que os frequentadores da BPEMT, possivelmente, liam, nos
concentramos nos dados que apontavam para os títulos e áreas consultadas.
Após análise dos dados foi possível perceber que havia uma maior incidência de
consultas aos jornais e revistas, inclusive em língua francesa, inglesa e espanhola. A opção
pelos periódicos pode sinalizar para uma leitura extensiva indicando que os leitores iam à
biblioteca, muitas vezes, para uma leitura rápida de um jornal, para se inteirar de assuntos
diversos, dos acontecimentos local, regional e nacional, enfim, para uma leitura de lazer e
informativa. Outro fator que justificaria uma maior procura pelos jornais seria a sua
predominância como meio principal de comunicação na sociedade cuiabana capaz de manter
seus leitores atualizados.
Das consultas aos livros que foram registradas e divulgadas, destaca-se maior
ocorrência às obras literárias e históricas, como: A Retirada da Laguna e Inocência de
Visconde de Taunay; A Guerra Russo-Japonesa de E. Noronha; A Guerra da Tríplice Aliança
de Schemeides e Viagem ao redor do Brasil de Severiano da Fonseca.
A leitura de Taunay, possivelmente, proporcionava aos leitores da BPEMT decifrar as
impressões que o autor tinha do estado, uma vez que ele fazia sempre alusões aos aspectos
culturais de Mato Grosso, inclusive de Cuiabá.
A incidência de consultas às obras históricas e bélicas pode ter relação com: a) o
cenário mato-grossense que participou ativamente da guerra do Paraguai (Guerra da Tríplice
Aliança) e por estar sempre envolvido em combates internos; b) a efervescência em relação a
uma possível guerra que se concretizaria em 1914. Assim, podemos considerar que a
realidade social, econômica e política vivida por uma sociedade podem influenciar nas suas
práticas de leitura, inclusive em ambientes como a Biblioteca.
Outro livro bastante consultado foi Viagem ao redor do Brasil, que pode ter chamado
a atenção pela riqueza das ilustrações, que permitiam aos leitores que frequentavam a
biblioteca, criarem, mentalmente, um cenário dos acontecimentos narrados na obra, além
disso, ela também aborda questões pertinentes ao espaço histórico-geográfico de Mato
Grosso. Acredito que futuras pesquisas que tenham como objeto, por exemplo, esta obra (de
preferência a obra original se ainda existir no acervo da biblioteca), poderiam fornecer
indícios dos modos como os leitores se apropriaram do seu conteúdo.
140
As fontes indicaram também as áreas pesquisadas, que converge com os títulos
consultados, destacando-se as áreas de história e literatura.
No tocante às obras históricas pode-se compreender a predominância dessas consultas
a partir do período vivido pelo Brasil com o advento da República, em que a modernidade
exigia a apropriação de conhecimentos que preparassem o indivíduo para assumir uma
posição na sociedade, sejam em cargos público, políticos, docência ou outros, inclusive se
preparando para o ensino superior. E também pela convivência dos cuiabanos com constantes
conflitos vivenciados em Mato Grosso por questões relativas às divisas de terras e domínio do
poder político.
Quanto às consultas a área literária, é possível considerá-las como uma prática de
leitura voltada ao lazer e recreação, sem a pressão que a leitura para estudo exige. A leitura
literária permitiria uma relação mais lúdica e subjetiva com o texto, em que o leitor teria
maior liberdade no momento da leitura, apesar dos protocolos sempre constantes tanto no
objeto quanto no espaço que influencia a apropriação do texto lido.
Os indivíduos que frequentavam a biblioteca eram leitores potenciais e, certamente,
muitos deles, realizavam a prática da leitura do material que consultavam para satisfazer uma
necessidade intelectual, profissional ou de lazer.
Estes possíveis leitores foram, predominantemente, pelo menos até a década de 30, os
estudantes do ensino secundário e superior da elite letrada de Cuiabá. A partir de 1931, a
biblioteca começou a atender de forma mais intensiva, além dos estudantes, a um público
profissional, como: advogados, professores, engenheiros civis, médicos, agrônomos,
jornalistas, funcionários públicos, auxiliares do comércio e militares.
Relevante ressaltar que a faixa etária foi um fator de exclusão para as possíveis
práticas de leitura concretizadas no interior da BPEMT que, apesar do discurso de que a
mesma deveria atender “às pessoas de todas as idades”, não permitia o acesso das crianças
abaixo de 14 anos que não teriam proficiência para realizar a leitura dos textos disponíveis na
biblioteca.
Tal fato poderia ter como justificativas: a) o nível de alfabetização das crianças nessa
faixa etária, uma vez que os alunos do ensino primário e elementar não estariam preparados
para a realização de uma leitura mais fluente, de textos mais densos e complexos; b) o acervo
que não possuía obras que atendessem a esta faixa etária e; c) o paradigma da biblioteca como
um espaço “sagrado” que exigia silêncio e disciplina, duas atitudes que poderiam não ser
facilmente contempladas pelas crianças.
141
A partir do público frequentador da biblioteca, das concepções de “Casa de estudos”
para “Casa de Cultura” e das obras mais consultadas, pode-se considerar que , até a década de
20, as leituras praticadas foram, predominantemente, de caráter formativo e informativo. A
partir dessa década amplia-se para uma maior possibilidade de leitura de lazer.
Posteriormente, na década de 30, com a junção da biblioteca e o arquivo público, iniciou-se
uma procura mais intensa por documentos para atender às necessidades profissionais. Deste
modo a BPEMT passa a atender a um público mais diversificado que buscava leituras
formativas, informativas, de lazer e profissional.
Com a investigação da constituição da BPEMT foi possível perceber que a mesma
exerceu o papel de guardiã do patrimônio histórico e cultural de Mato Grosso, mas também
democratizou o acesso à informação, uma vez que como espaço público, permitia o acesso de
grande parte da população as suas instalações e ao acervo.
A Biblioteca Pública do Estado de Mato Grosso, apesar de todas as dificuldades pelas
quais passou, foi e continua sendo um importante espaço de preservação da memória da
sociedade mato-grossense e de democratização e socialização do conhecimento por meio dos
documentos contidos em seu acervo.
Essa instituição, que em março de 2013, completa 101 anos, mantém-se firme na sua
missão de possibilitar a todos os indivíduos que a procurem, o acesso ao seu espaço e acervo
que, atualmente, atende também às crianças de todas as idades, aos estudantes, profissionais,
homens e mulheres das classes populares ou da elite que desejem “beber” do conhecimento
mantido, preservado e disponibilizado em seu espaço.
Acredito que o estudo e registro da constituição da BPEMT poderão contribuir para a
construção da história cultural, especificamente, a história das bibliotecas e da leitura em
Mato Grosso, agregando mais um conhecimento aos anteriormente construídos e colaborando
com futuros empreendimentos investigativos no campo da pesquisa histórica que se detém ao
espaço geográfico mato-grossense.
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1999, 420 f. Tese (Doutorado em Educação) – PPGE - Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá, 1999.
______. Palestra abertura semana de história. Rondonópolis: [s.n.], 2004.
______. Universo Cultural de Mato Grosso no século XIX: bases fundantes da Academia
Mato-Grossense de Letras. Revista da Academia Mato-Grossense de Letras: 90 anos,
Cuiabá, edição comemorativa de 90 anos, 2012.
150
SOARES, Soely Aparecida Dias. Biblioteca Pública Estadual “Estevão de Mendonça”:
espaço de letramento do leitor, 2006, 196 f. Dissertação (Mestrado)- Universidade Federal de
Mato Grosso, Cuiabá, 2006.
TRUBILIANO, Carlos Alexandre Barros; MARTINS JÚNIOR, Carlos. Revisitando A
Retirada da Laguna: um debate entre a Memória, História e Turismo. História e Reflexão:
Revista Eletrônica de História, Dourados, n. 3, v. 2, p. 1-21, jan./jun. 2008.
VILLALTA, Luiz Carlos. O leitores e os usos dos livros na América Portuguesa. In: ABREU,
Márcia (Org.). Leitura, história e história da leitura. São Paulo: FAPESP, 1999.
WIKIPÉDIA. Inocência (livro). [S.l.: s.n.], 2012. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Inoc%C3%AAncia_(livro)>. Acesso em: 5 jan. 2013.
151
APÊNDICE A – Quadro de documentos (Relatórios e Mensagens) localizados no processo de coleta de dados
ANO36
TÍTULO ANO 37
PÁG. AUTOR ASSUNTO
OBSERVAÇÕES
1912 Regulamento para a Bibliotheca Publica do
Estado de Matto-Grosso approvado pelo Decreto
n. 302, de 26 de Março de 1912
1912
11 f. Joaquim A. da
Costa
Marques e
Manoel Paes de Oliveira
Contém:
* Ordem n. 56 de 7 de fevereiro de 1912 que designa o
Sr. Professor Estevão de Mendonça para organizar o
projeto para uma Bibliotheca Pública *Decreto n. 307 de 26 de Março de 1912, que cria a
Bibliotheca Pública do Estado de Matto-Grosso
*Decreto n. 308, de Março de 1912, que baixa o
Regulamento para a Bibliotheca Pública
Obs: Documento datilografado
1912 Relatório apresentado ao Exm. Semr.
Desembargador Joaquim P. Ferreira Mendes D.D.
Secretario do In terior, Justiça e Fazenda pelo
Director da Bibliotheca Publica
1912 33 f. Leonel
Hugueney
Relata o movimento referente ao ano de 1914, conforme
exigência do artigo 4, parágrafo 4 do Regulamento da
Biblioteca
Obs: documento manuscrito
1914 Relatório apresentado ao Exm. Semr.
Desembargador Joaquim P. Ferreira Mendes D.D.
Secretario do In terior, Justiça e Fazenda por
Leonel Hugueney, Director da Bibliotheca
Publica
1913 09 fl. Leonel
Hugueney
Relata o movimento referente ao ano de 1913, conforme
exigência do artigo 4, parágrafo 4 do Regulamento da
Biblioteca
Obs: documento datilografado
1919 Relatorio que ao Dr. Benito Esteves, D.D.
Secretario de Interior apresenta o Diretor Fernando Leite de Campos
1918 12 fl. Fernando
Leite de Campos
Relata o movimento referente ao ano de 1918, conforme
exigência do artigo 4, parágrafo 4 do Regulamento da Biblioteca
Obs: documento manuscrito
1920 Relatorio que ao Dr. Benito Esteves, D.D.
Secretario de Interior apresenta o Diretor
Fernando Leite de Campos
1919 14 fl. +
anexos
Fernando
Leite de
Campos
Relata o movimento referente ao ano de 1919, conforme
exigência do artigo 4, parágrafo 4 do Regulamento da
Biblioteca
Obs: documento manuscrito
1923
Relatório
apresentado ao Exmo. Snr. Dr. Secretario do
1922
11
fl
Fernando
Relata o movimento referente ao ano de 1919, conforme
36 Ano da entrega do relatório
37 Ano referente às atividades realizadas
152
Interior, Justiça e Fazenda Leite de Campos
exigência do artigo 4, parágrafo 4 do Regulamento da Biblioteca
Obs: documento datilografado
1924 Somente um fragmento encontrado na caixa de
1924
1923 2 fls Relata o movimento referente ao ano de 1923, conforme
exigência do artigo 4, parágrafo 4 do Regulamento da
Biblioteca. Parte localizada fala sobre as consultas
Obs: documento datilografado
1930 Relatorio apresentado ao Exmo. Senr. Major João
Cunha, digníssimo Secretario do Interior, Justiça
e Finanças
1929 11f. Fernando
Leite de
Campos
Relata o movimento referente ao ano de 1929, conforme
exigência do artigo 4, parágrafo 4 do Regulamento da
Biblioteca
Obs: documento datilografado
1912 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1912 p. 30 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1913 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1913 Nenhuma menção à Biblioteca Pública
1914 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1913 Fonte: CD
Madureira
Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1915 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1914 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1916 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1915 p. 82 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1917 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1916 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1918 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1917 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1919 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1919 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1920 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1920 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1921 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1921 p. 21 e
22
Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1922 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1922 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1923 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1923 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1924 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1924 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
153
1925 Mensagem do Governo do Estado apresentado à Assembleia Legislativa
1925 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1926 Mensagem do Governo do Estado apresentado à Assembleia Legislativa
1926 Fonte: CD Madureira
Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1927 Mensagem do Governo do Estado apresentado à Assembleia Legislativa
1927 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1928 e 1929 Mensagem do Governo do Estado apresentado à Assembleia Legislativa
1927 e 1928
NÃO LOCALIZADO
1930 a 1935 Mensagem do Governo do Estado apresentado à Assembleia Legislativa
1929 a 1934
NENHUMA MENÇÃO À BIBLIOTECA
1936 Mensagem do Governo do Estado apresentado à Assembleia Legislativa
1935 21 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1937 a 1938 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1936 e
1937, 1938
NÃO LOCALIZADO
1939
Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1939
Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1940 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1940 NÃO LOCALIZADO
1941-1942 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1941 Traz informações sobre a Biblioteca Pública
1942 A
1946
Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1942,
1943,
1944, 1945
NÃO LOCALIZADO
1947 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1946 NENHUMA MENÇÃO À BIBLIOTECA
1948 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1947 65- Traz informações sobre a Biblioteca e Arquivo Público
1949 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1948 27 Traz informações sobre a Biblioteca e Arquivo Público
1950 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1949 Traz informações sobre a Biblioteca e Arquivo Público
1951 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1950 NENHUMA MENÇÃO À BIBLIOTECA
1952 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1951 NÃO LOCALIZADO
1953 Mensagem do Governo do Estado apresentado à 1952 NENHUMA MENÇÃO À BIBLIOTECA
154
Assembleia Legislativa
1954 a 1957 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1953 a
1956
NENHUMA MENÇÃO À BIBLIOTECA
1958 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1957 Traz informações sobre a Biblioteca e Arquivo Público
1959 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1958 Somente uma nota sobre a Biblioteca e Arquivo Público
1960 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1959 Refere-se somente ao Arquivo, nenhuma informação
sobre a Biblioteca
1961 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1960 Uma menção ao projeto que cria o cargo de
Bibliotecônomo Arquivista
1962 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1961 Traz informações sobre a Biblioteca e Arquivo Público
1963 Mensagem do Governo do Estado apresentado à
Assembleia Legislativa
1962 Traz informações sobre a Biblioteca e Arquivo Público
Fonte: APMT (2011-2012)
155
APÊNDICE B – Jornais Pesquisados no APMT
TÍTULO DADOS ASSUNTOS
A Cruz 05 maio 1912 - p. 2 - ano III - n. 74 NOTÍCIA SOBRE A BIBLIOTECA
A Cruz 28 de julho de 1912 - p. 3 - ano III n. 85 NOTÍCIA SOBRE A BIBLIOTECA
A Cruz - até 1919 06 de abril 1913 - p. 2, ano iii, n. 121 NOTÍCIA SOBRE A BIBLIOTECA
A Defesa 1933-1934 Nenhuma menção à Biblioteca
A Imprensa Janeiro a Junho de 1913 Nenhuma menção à Biblioteca
A Juventude 15 de Novembro de 1915 a 01 de Dezembro de 1917 – faltando vários exemplares
dentro deste período
NOTÍCIA SOBRE A BIBLIOTECA
A Liça 1914-1915 Nenhuma menção à Biblioteca
A Luz 1924 N. 16 FOI CENSURADO Nanhuma menção à Biblioteca
A Notícia 1913 Nanhuma menção à Biblioteca
A Nova Era 1932 – um número só Nanhuma menção à Biblioteca
A opiniao Set, out, Nov 1914 Nanhuma menção à Biblioteca
A Plebe 1928-1929-1939-1931-1933 NOTÍCIA SOBRE A BIBLIOTECA
A reacção 1928-1929 Nenhuma menção à biblioteca
A Reacção 1912- 1913(danificado)- 1914 - microfilme 1928-1929 Nenhuma menção à biblioteca
Alliancista 1937 Nenhuma menção à biblioteca
Boletim de Defesa 1934 – um número só Nenhuma menção à biblioteca
Constitucional 1933- 1934 Nenhuma menção à biblioteca
Correio da Semana 1939; 1938 fev. mar. Abr. maio. Jun. jul. out. Nenhuma menção à biblioteca
Correio do Estado 1922/1923/1925 Nenhuma menção à biblioteca
Correio do Estado 1924 - Cd madureira Nenhuma menção à biblioteca
Correio Esportivo 1937 – um número só Nenhuma menção à biblioteca
Correio Mato Grossense 1946-1947 Nenhuma menção à biblioteca
Diário da tarde 1915 Nenhuma menção à biblioteca
156
Echo do Povo Nenhuma menção à biblioteca
Folha do Norte Nenhuma menção à biblioteca
Folha Juvenil 1937 Nenhuma menção à biblioteca
O Commercio Não estava na caixa
O Debate ACBM – Acervo de Jornais Jornal “O Debate ”, nº 184, nº - p. 2 ; Artigo: Biblioteca
Pública; Cuiabá, 3 de maio de 1913
NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Debate ACBM – Acervo de Jornais; Jornal “O Debate ”, nº 197, nº - p. 3 ; Artigo: Biblioteca Pública; Cuiabá, 19 de maio de 1912
NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Debate ACBM – Acervo de Jornais - Jornal “O Debate” nº 210 – Ano I - p. 2 - Artigo:
Instrução Pública Secundária - Cuiabá, 6 de junho de 1912
NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Debate ACBM –Acervo de Jornais Jornal “O Debate” nº186 – Ano I - p. 2 Artigo: Biblioteca
Pública. Cuiabá, 5 de maio de 1912
NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Debate 8 de julho de 1914 n. 810 NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Delio 1931 Nenhuma menção à biblioteca - Mas
fazia parte do acervo da mesma
O Echo 1914-1915 NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Estado 1915-1916 Nenhuma menção à biblioteca
O Estado de Mato
Grosso
1934 Nenhuma menção à biblioteca
O Estado de Mato
Grosso
1939 NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Estado de Mato
Grosso
1940 - 22 de nov de 1940 - n. 352 Nenhuma menção à biblioteca
O Estado de Mato
Grosso
1957 NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Estudante 1934 ago. a dez. Nenhuma menção à biblioteca
O Ferrão 1928-1931 Nenhuma menção à biblioteca
O Fifó 1925 Nenhuma menção à biblioteca
O Gladiador 1914 out.; 1915, fev. Nenhuma menção à biblioteca
157
O Imparcial Nenhuma menção à biblioteca
O Jornal 1921/1922/1929/1930 Nenhuma menção à biblioteca
O Luctador 1933- 1934 Nenhuma menção à biblioteca
O Matto Grosso 1913; 1918, 1919 NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Matto Grosso 1912 a 1917 APMT Nenhuma menção à biblioteca
O Matto Grosso 9 de junho de 1912 - anno XXIII - n. 1140 - p. 1 Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=716189
NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Matto grosso cuyaba, 27 de abril de 1912 n. 1185 - anno XXIV - p.2 NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Matto Grosso 1918 a 1920 Nenhuma menção à biblioteca
O Matto Grosso cuyaba, 24 de maio de 1917 n. 1410 - anno XXVIII - p. 3 - Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=716189
NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Matto Grosso 1913;1918,1919 Representações sobre os cuiabanos
O Matto Grosso 1921 a 1922 Nenhuma menção à biblioteca
O Matto Grosso 1928 a 1934 Nenhuma menção à biblioteca
O Matto Grosso 1935 a 1937 Nenhuma menção à biblioteca
O Matto Grosso 1913, 1918, 1919; 1920 NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Matto Grosso 1933 - Disponivel em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=716189 Nenhuma menção à biblioteca
O Matto Grosso 1893- anno XV - cuyaba, 5 de março de 1893 - n. 674 -. P. 1- bn hemeroteca CONCEPÇÕES SOBRE
BIBLIOTECA
O Matto grosso Anno XXIX, Cuyaba 7 de outubro de 1917 - numer 1441 - p. 2 NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Matto Grosso anno XXXII, Cuyaba, 7 de outubro de 1920 - n. 1706 - p. 1 -
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=716189&PagFis=2481&Pesq=
BIBLIOTHECA
Nenhuma menção à biblioteca
O Matto Grosso anno XXXIX - Cuyaba, 25 de março 1928 - numero 2096 - p. 1 - http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=716189&PagFis=2481&Pesq=
BIBLIOTHECA
Nenhuma menção à biblioteca
O Matto Grosso anno LII- Cuyaba, 13 de abril de 1930 numero 2153 - p. 1 - http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=716189&PagFis=2481&Pesq=
BIBLIOTHECA
NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
158
O Matto Grosso anno LIIi, Cuyaba, 18 OUTUBRO 1931 - N. 2225 P. 3 NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
O Matto Grosso anno LV - Cuyaba, 2 de abril de 1933 - numero 2300 Nenhuma menção à biblioteca
O Pharol 1902 a 1926- Disponivel em site biblioteca nacional
http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5D826005211908.DocLstX&pesq=
Nenhuma menção à biblioteca
O Republicano 1916 Nenhuma menção à biblioteca
O Revérbero 1914 Nenhuma menção à biblioteca, mas fazia parte do acervo da mesma
O Semeador 1933 (um só número) e 1934 Nenhuma menção à biblioteca, mas
fazia parte do acervo da mesma
O Trabalhista 1951 - Cuyaba, junho; 1952-1953 Nenhuma menção à biblioteca
Revista A Violeta 1917 a 1934 - 1941 a 1950 Nenhuma menção à biblioteca
Revista do Centro Matto
grossense de letras
ano I, n. I, Cuyaba, janeiro 1922 Nenhuma menção à biblioteca
Revista do Centro Matto
grossense de letras
1924 - ano III n. 5 Nenhuma menção à biblioteca
Revista do Centro Matto
grossense de letras
1928 - ano VII n. 13 Nenhuma menção à biblioteca
Revista Matto Grosso 1907 a 1915 - Disponível em
http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5D826005211908.DocLstX&pesq=
NOTICIA SOBRE A BIBLIOTECA
Tribuna Acadêmica 1958 Nenhuma menção à biblioteca
Voz do Bom Jesus 1956 Nenhuma menção à biblioteca
Fonte: Diversas, conforme descrito no próprio quadro
159
APÊNDICE C – Lista dos sujeitos que contemplaram a Biblioteca com suas doações
N. NOME FONTE SEXO N. NOME FONTE SEXO
1 Agenor Gomes do Prado Relatório 1912 M 25 Carlos Luiz de Mattos Relatório 1912 M
2 Agnaldo R. Macedo Relatório 1912 M 26 Carls Landiman Relatório 1912 M
3 Alberto Trigo de Loureiro Relatório 1912 M 27 Clementino Paraná Relatório 1912 M
4 Alcebiades Calháo Relatório 1912 M 28 Cypriano Cosme de Siqueira Relatório 1912 M
5 Alencarliense Fernandes da Costa (dr.)
Relatório 1912 M 29 Dario Rocha Relatório 1912 M
6 Alfredo de Marignier (dr.) Relatório 1912 M 30 delina Thereza Paes de Barros Relatório 1912 F
7 Alzira Valladares Relatório 1912 F 31 Deusdedit Pinto de Carvalho Relatório 1912 M
8 Amarilio de Almeida Relatório 1912 M 32 Esequiel Ribeiro de Siqueira Relatório 1912 M
9 Americo Gomes de Barros Relatório 1912 M 33 Estevão Alves CorrÊa (dr.) Relatório 1912 M
10 Andre Vergilio Pereira de
Albuquerque
Relatório 1912 M 34 Estevão de Mendonça (adv) Relatório 1912-
1919
M
11 Annibal de Toledo (dr) Relatório 1912 M 35 Esther de Mendonça Relatório 1912 F
12 Antonio de Cerqueira Pereira Leite Relatório 1912 M 36 Euphrosina de Mattos Relatório 1912 F
13 Antonio Fernandes de Souza Relatório 1912 M 37 Fabio Lima Relatório 1912 M
14 Antonio Guerino de Araujo (dr.) Relatório 1912 M 38 Fernando Leite de Campos Relatório 1912 M
15 Antonio Pereira Pinto Relatório 1912 M 39 Florianno Peixoto Keller Relatório 1912 M
16 Antonio Pinto de Souza Leque Relatório 1912 M 40 Francisco Alves e Compa Relatório 1912 M
17 Armindo Paes de Barros Relatório 1912 M 41 Francisco Muniz (dr.) Relatório 1912 M
18 Arthur Portella Moreira Relatório 1912 M 42 Francisco Pompeu de Barros Relatório 1912 M
19 Augusto Cavalcanti (dr.) Relatório 1912 M 43 Frederico Teixeira Relatório 1912 M
20 Augusto Gurgel do Amaral Junior Relatório 1912 M 44 Gabriel Monteiro Relatório 1912 M
21 Augusto Seixas Relatório 1912 M 45 Gustavo Khulmenn Relatório 1912 M
22 Bartira de Mendonça Relatório 1912 F 46 Helena Paes de Oliveira Relatório 1912 F
23 C. I. F. Dario Relatório 1912 M 47 Heron Keller Relatório 1912 M
24 Carlos Addôr Filho Relatório 1912 M 48 Humberto da Silva Pereira Relatório 1912 M
49 Isac Póvoas Relatório 1912 M 76 Mariana Ponce Relatório 1912 F
160
50 Ivo Soares (dr.) Relatório 1912 M 77 Mariano de Figueiredo Relatório 1912 M
51 Jacintho de Mendonça Relatório 1912 M 78 Mario Neves (dr.) Relatório 1912 M
52 Jayme de Carvalho Relatório 1912 M 79 Mario Serra Relatório 1912 M
53 João Bento Rodrigues de Lima Relatório 1912 M 80 Missão Salesiana Relatório 1912 I
54 João Celestino CorrÊa Cardoso (coronel)
Relatorio 1919 M 81 Nelson Silva Relatório 1912 M
55 João Cunha Relatório 1912 M 82 Nuno de Mendonça Relatório 1912 M
56 João da Costa Marques Relatório 1912 M 83 Octavio Carlos Schimmenes Relatório 1912 M
57 Joaquim Augusto da Costa Marques
(dr.)
Relatório 1912 M 84 Octavio de Moraes Navarros Relatório 1912 M
58 Joaquim Paes de Barros Relatório 1912 M 85 Octavio Pitaluga Relatório 1912 M
59 Jorge Bordstein Relatório 1912 M 86 Osvaldo de Mattos Relatório 1912 M
60 José G. de Freitas Coutinho (dr.) Relatório 1912 M 87 Paulino de Assis Monteiro Relatório 1912 M
61 José Gentil da Silva (dr.) Relatório 1912 M 88 Raphael Herlangieri Filho Relatório 1912 M
62 José Maria CorrÊa Relatório 1912 M 89 Salustianno Antunes Maciel Relatório 1912 M
63 José Pina Filho Relatório 1912 M 90 Sebastião Pompeu de Barros Relatório 1912 M
64 Josino Leite da Rocha Relatório 1912 M 91 Theotinno Ribeiro Relatório 1912 M
65 Kallil Silva Relatório 1912 M 92 Thomaz d'Aquino Figueiredo Relatório 1912 M
66 Lamartine Ferreira Mendes Relatório 1912 M 93 Victal de Araujo Relatório 1912 M
67 Leonel Gomes de Barros Relatório 1912 M 94 Victorino de Miranda Relatório 1912 M
68 Licinio de Veneza Relatório 1912 M
69 Luiz da Costa Ribeiro Filho Relatório 1912 M De 94 doadores; 8 são mulheres correspondendo a
8,5% 70 Luiz Portella Moreira Relatório 1912 M
71 Lygia Addôr Relatório 1912 F
72 Manoel Bodstein Relatório 1912 M
73 Manoel Escolastico Virginio Relatório 1912 M
74 Manoel Paes de Oliveira Filho Relatório 1912 M
75 Manoel Pessoa de Souza Relatório 1912 M
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora extraído de documentos localizados no APMT (2011-2012)
161
APÊNDICE D - Obras (livros e jornais) consultados na Biblioteca
TITULO QTDE.
OCORRÊNCIAS
NOS JORNAIS
AUTOR DATA DA
CONSULTA
FONTE
5 Semanas em balão 2 J. Verne 1913 O Debate 9 de fevereiro n. 406 p. 1
A amante de Jesus 2 Aliredo Gallis 1914 O Debate 10 de março n. 719 p. 2
A guerra da Triplice Aliança (A) 1 Schineides 1913 O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Algebra 6 F.I.C. 1912 O Debate 11 de maio n. 191 p. 2
Algebra 1 Bourlet 1912 O Debate 3 de dezembro n. 353 p. 2
Algebra 1 F.X. 1912 O Debate 5 de outubro n. 306 p. 1
Algebra 1 E.S.C. 1912 O Debate 23 de julho n. 247 p. 3
Alma Dorida 2 Cyro de Azevedo 1912 e 1913 O Debate 19 de novembro n. 630 p. 2
Almirante Barroso à Volta do
Mundo (A)
2 F. Almeida 1912 O Debate 3 de dezembro n. 353 p. 2
Altares da Europa 1 S. Pimentel 1913 O Debate 11 de abril n. 454 p. 1
Amante de Jesus (A) 1 Alfredo Galle 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
America portuguesa 1 R. Pitta 1913 O Debate 14 de fevereiro n. 410 p. 1
Amor de perdição 1 Castelo Branco 1912 O Debate 27 de outubro n. 325p. 1
Anais do Senado da Camara 2 Barbosa de Sá 1913 O Debate 20 de junho n. 505 p. 2
Anatomie descriptivel 1 J. A Fort 1912 O Debate 31 de dezembro n. 375 p. 2
Anatomie discriptive et dissecton 1 B. J. A. Fort 1912 O Debate 28 de dezembro n. 373 p. 1
Angustia 1 Maximo Gocki 1913 O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Ano sem par (A) 4 T. Mendes 1912 e 1912 O Debate 24 de novembro n. 346 p. 2
e 3
Ao esvoaçar da ideia 1 Carmem Dolores 1913 O Debate 20 de junho n. 505 p. 2
Ao redor do planeta 1 C. Melo 1912 O Debate 22 de novembro n. 344 p. 2
Apostrofes 1 Júlio Macia 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Aritmética 1 F.S.C. 1912 O Debate 18 de outubro n. 317 p. 1
Arquivo judiciario e coleção de leis
e decretos do poder executivo do
Estado de Mato Grosso 1913
1 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Astronomia popular 5 C. Flamarion 1912 e 1913 O Debate 24 de janeiro n. 393 p. 2
162
Atlas de geografia 1 1912
Atribuições do promotor publico
da Republica
1 Tavares Bastos 1912 O Debate 6 de julho n. 233 p. 1
Aves implumes 2 Casemiro Cunha 1913 O Debate 12 de novembro n. 625 p. 2
Batalha naval do Riachuelo 1 Barão de Teffé 1912 O Debate 18 de julho n. 243 p. 2
Bem Hur 1 Lawis Walace 1913 O Debate 6 de dezembro n. 645 ´p. 2
Boletim do Partido Progressista
(1910)
1 1913 O Debate 9 de fevereiro n. 406 p. 1
Brasil 1 Fernando Denis 1913 O Debate 25 de novembro n. 635 p. 1
Brasil em Haia (O) 2 F. Estead 1913 O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Brasil mental (O) 1 Bruno 1912 O Debate 5 de outubro n. 306 p. 1
Cadáver (A) 1 J. Elslander 1912 O Debate 3 de dezembro n. 353 p. 2
Capital federal (A) 1 Anselmo Ribas 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Caracteres humanos (O) 2 Paulo Mantegazza 1913 e 1914 O Debate 14 de abril n. 747 p. 1
Caramuru 1 S. R. Durão 1913 O Debate 9 de fevereiro n. 406 p. 1
Carater (A) 1 Samuel Spencer 1912 O Debate 5 de julho n. 232 p. 2
Catedral (A) 1 Vicente Blasco 1912 O Debate 31 de dezembro n. 375 p. 2
Cenas e Perfis 1 E. Senna 1912 O Debate 15 de maio n. 193 p. 3
Céu e o inferno (A) 1 Allan Kardec 1912 O Debate 6 de agosto n. 258 p. 2
Chaman 2 Graça Aranha 1913 O Debate 25 de novembro n. 635 p. 1
Cida das flores (A) 1 Alphonse Rarr 1912 O Debate 13 de setembro n. 288 p. 2
Ciencia moderna (A) 1 Emile Picard 1913 O Debate 11 de dezembro n. 648 p. 2
Ciencias naturais 4 Rodolfo Teófilo 1913 O Debate 7 de novembro n. 621 p. 1
Cinematografo 2 Joao do Rio 1913 O Debate 14 de novembro n. 627 p. 1
Coisas espantosas 1 Camilo Castelo
Branco
1912 O Debate 18 de julho n. 243 p. 2
Coleção das leis de 1884 1 1912 O Debate 25 de agosto n. 273 p. 2
Coleções de leis do Brasil 1882 e
1884
1 1912 O Debate 22 de novembro n. 344 p. 2
Colibri (coleção) (A) 1 coleção 1912 O Debate 12 de junho n. 215 p. 3
Combate naval do Riachuelo 2 Barão de Teffé 1912 O Debate 6 de julho n. 233 p. 1
Como eu atravessei a Africa 8 S. Pinto 1912 e 1913 O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Conferencias literarias 2 Coelho Neto 1913 O Debate 4 de novembro n. 618 p. 2
Constantinopla 3 Edmundo de Amicis 1912 e 1914 O Debate 20 de março n. 728 p. 2
163
Contos de um neurotico 2 N. O. P. Silva 1913 O Debate 6 de dezembro n. 645 ´p. 2
Contra o militarismo 2 Rui Barbosa 1912 e 1913 O Debate 7 de novembro n. 621 p. 1
Corda do carrasco (A) 2 A. Petosi 1913 O Debate 28 de novembro n. 638 p. 1
Corographia do Brasil 1 Villa Lobos 1912 O Debate 27 de outubro n. 325p. 1
Cosmographia 2 H. Martins 1912 e 1913 O Debate 28 de novembro n. 638 p. 1
Cristo nunca existiu 4 Emilio Bossi 1912 e 1913 O Debate 4 de novembro n. 618 p. 2
Cultura acadêmica 1 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Curso de fisica 2 Pereira 1913 e 1914 O Debate 20 de junho n. 509 p. 2
Curso gradual de lingua inglesa 1 Sadler 1912 O Debate 18 de outubro n. 317 p. 1
Dal microbio All´uomo 1 Enrico Ferro 1913 O Debate 20 de junho n. 505 p. 2
Dama Gatuna (A) 3 A. Reschaal 1913 O Debate 11 de abril n. 454 p. 1
Dias e noites 2 Tobias Barreto 1912 O Debate 23 de julho n. 247 p. 3
Diccionario contemporaneo 7 Caldas Aulete 1912, 1913 e
1914
O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Dicionario de educação e ensino 1 E. E. Campagne 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Dicionario de geographia do Brasil 1 T. de Carvalho 1912 O Debate 12 de junho n. 215 p. 3
Dicionario de Portugues 2 C. Aulete 1912 e 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Dicionario italiano-portugues 1 Rafaelle E. Raquent 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Dicionario 8 Larousse 1912 e 1913 O Debate 4 de setembro n. 281 p. 1
Dicionário popular 1 Pinheiro Chagas 1913 O Debate 7 de novembro n. 621 p. 1
Dicionario pratico ilustrado 1 Jaime de Seguird 1913 O Debate 4 de novembro n. 618 p. 2
Dicionario universal 1 Nº P. Larousse 1912 O Debate 17 de agosto n. 267 p. 3
Dictionaire de Commerce 1 A. Sacré 1912 O Debate 31 de dezembro n. 375 p. 2
Direito (O) 3 1912 e 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Direito (O) 1 1912 O Debate 26 de setembro n. 298 p. 2
Direito administrativo 1 V. de Castro 1912 O Debate 24 de dezembro n. 370 p. 2
Direito comercial 1 Denault 1912 O Debate 24 de novembro n. 346 p. 2
e 3
Direito constitucional brasileiro- O
Direito vol. 5 e 83
1 Alfredo Varella 1912 O Debate 3 de dezembro n. 353 p. 2
Direito v. 113 (O) 1 1913 O Debate 6 de dezembro n. 645 ´p. 2
Direito v. 4 e 6 (O) 1 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Direito v. 99 (O) 1 1913 O Debate 9 de fevereiro n. 406 p. 1
Direito vol. 115 (O) 1 1912 O Debate 12 de junho n. 215 p. 3
164
Direito vol., 20, 28, 30, 35 e 40 1 1913 O Debate 20 de junho n. 509 p. 2
Divina Comédia (A) 2 Dante Alighieri 1912 O Debate 24 de novembro n. 346 p. 2
e 3
Doroit comercial 1 Lyon; Caen e L. Renault
1912 O Debate 31 de dezembro n. 375 p. 2
Droit Constitucional 1 Sainty Girous 1913 O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Durch Central Brasilien 4 Von den Steinen 1912 e 1914 O Debate 20 de março n. 728 p. 2
Educação da vontade 2 Julio Payot 1913 O Debate 6 de dezembro n. 645 ´p. 2
Egito 1 Jorge Ebers 1913 O Debate 12 de novembro n. 625 p. 2
Elementos de algebra 2 F.J.C. 1912 O Debate 18 de outubro n. 317 p. 1
Elementos de aritmética 1 F.I.C 1913 O Debate 24 de janeiro n. 393 p. 2
Elementos de Gramática Bororo 1 1912 O Debate 15 de dezembro n. 363 p. 2
Elementos de gramática latina 1 Lhomond 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Em Amerique Latine 2 Henri Turot 1913 O Debate 6 de dezembro n. 645 ´p. 2
Em frente da bandeira 2 Julio Verne 1914 O Debate 10 de março n. 719 p. 2
Emancipação da mulher (A) 1 J. Novicow 1913 O Debate 11 de abril n. 454 p. 1
Enciclopedia Portuguesa ilustrada 2 Maximiano Lemos 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Episodios militares 1 J. Pimentel 1913 O Debate 19 de novembro n. 630 p. 2
Epitome da Historia do Brasil 1 M. Pinto 1912 O Debate 28 de dezembro n. 373 p. 1
Esaú e Jacó 2 Machado de Assis 1913 O Debate 20 de junho n. 505 p. 2
Escrituração mercantil 6 Tavares da Costa 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Espumas flutuantes 1 Castro Alves 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Estrelas propicias 1 Castelo Branco 1912 O Debate 31 de dezembro n. 375 p. 2
Eurico 3 A. Herculano 1912 e 1913 O Debate 15 de maio n. 193 p. 3
Evangelho segundo o espiritismo
(A)
2 Alan Kardec 1912 e 1914 O Debate 23 de julho n. 247 p. 3
Evolucionismo e o positivismo no
Brasil (A)
6 Sylvio Romero 1913 O Debate 25 de novembro n. 635 p. 1
Expedição a Mato Grosso 2 Dantas Barreto 1913 e 1914 O Debate 20 de março n. 728 p. 2
Exploitation comerciale 1 C.C.F. e P 1912 O Debate 4 de setembro n. 281 p. 1
Exploradores do séc. XIX 1 J. Verne 1913 O Debate 14 de fevereiro n. 410 p. 1
Fabulario 2 Coelho Neto 1912 O Debate 3 de agosto n. 256 p. 2
Fatos da linguagem 1 Heráclito Graça 1912 O Debate 15 de maio n. 193 p. 3
Filosofia do positivismo v. 5 1 A. Comte 1912 O Debate 24 de dezembro n. 370 p. 2
165
Filosofia positiva 1 August Comte 1912 O Debate 9 de julho n. 235 p. 2
Fisolofia fundamental 4 Jaime Balms 1913 O Debate 7 de novembro n. 621 p. 1
Flor de maio 1 Vicente Blasco 1912 O Debate 31 de dezembro n. 375 p. 2
Folhas esparsas 1 Adolpho Fraga 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Fonte das perolas (A) 1 Bridget e Kanagk 1913 O Debate 19 de novembro n. 630 p. 2
Fonte das perolas (A) 1 Coelho Neto 1912 O Debate 12 de junho n. 215 p. 3
Fonte de perolas (A) 1 K. Karamach 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Fora dos eixos; A mulher do
Capitão Bramincam
1 J. Verne 1913 O Debate 9 de fevereiro n. 406 p. 1
Galeria historica da Revolução
Brasileira e Avanturas d eSherlock
Holmes
2 Urias da Silveira 1913 O Debate 11 de abril n. 454 p. 1
Galerias Historicas da revolução
brasileira
1 Urias da Silveira 1912 O Debate 26 de setembro n. 298 p. 2
Gazeta juridica 2 1913 O Debate 12 de novembro n. 625 p. 2
Generais do exercito brasileiro (O) 2 A. N. O. P. Maciel da
Silva
1913 e 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Geographia geral 1 F. N P. Bittencourt 1914 O Debate 10 de março n. 719 p. 2
Geometria 1 Thimotheo Pereira 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Geometria 1 Clairant 1912 O Debate 11 de maio n. 191 p. 2
Geometrie Analytique 3 Comte 1913 O Debate 4 de novembro n. 618 p. 2
Girândola de amores 1 Azevedo 1912 O Debate 27 de outubro n. 325p. 1
Gli amori de uma amelenatrice 1 E. Gaborian 1912 O Debate 5 de outubro n. 306 p. 1
Gramatica 1 Caldas Aulete 1912 O Debate 23 de julho n. 247 p. 3
Gramatica da lingua esperanto 1 L. De Beaufronte 1913 O Debate 24 de janeiro n. 393 p. 2
Gramatica Gerobe (?) 1 Pereira 1912 O Debate 26 de setembro n. 298 p. 2
Gramática italiana 1 Pereira 1912 O Debate 6 de julho n. 233 p. 1
Gramática italiana 1 Carciatto 1912 O Debate 9 de julho n. 235 p. 2
Gramatica latina 1 Joaquim Alves de
Sousa
1914 O Debate 20 de março n. 728 p. 2
Gramática nacional 1 F.J.C. Azevedo 1912 O Debate 20 de setembro n. 294 p. 2
Gramatica portuguesa 1 Pacheco Junior 1913 O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Gramatica portuguesa 3 Freitas Coutinho 1912 e 1913 O Debate 4 de novembro n. 618 p. 2
Grammatica Allemã 1 Otto Prevot 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
166
Grammatica Portugueza 1 Lameira de Andrade 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Grecia 1 E. Gomes Carrillo 1914 O Debate 20 de março n. 728 p. 2
Guerra da Triplice Aliança 3 Schemeides 1913 O Debate 25 de novembro n. 635 p. 1
Guerra russo-japonesa 12 E. Noronha 1912,1913 e 1914 O Debate 24 de janeiro n. 393 p. 2
Guia de Mato Grosso (O) 1 Eduardo Noronha 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Historia da Idade Media 2 Joao F. Pereira 1913 e 1914 O Debate 14 de abril n. 747 p. 1
História da inquisição 2 A. Herculano 1912 O Debate 15 de maio n. 193 p. 3
Historia da Instrucção 1 Costa 1912 O Debate 27 de outubro n. 325p. 1
Historia da republica romana 1 Oliveira Martins 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Historia da revoluçao francesa 1 F. A. Magnet 1914 O Debate 14 de abril n. 747 p. 1
História de Napoleão 1 La Croix 1913 O Debate 12 de novembro n. 625 p. 2
Historia do Brasil 1 Antonio Vieira da
Rocha
1913 O Debate 25 de novembro n. 635 p. 1
Historia do Brasil 2 Pereira da Silva 1912 O Debate 6 de agosto n. 258 p. 2
Historia do Brasil 8 R. Shoutley 1912, 1913 e
1914
O Debate 26 de setembro n. 298 p. 2
Historia do comercio 1 Pereira 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Historia natural 2 Noir 1912 O Debate 11 de maio n. 191 p. 2
Historia natural 5 Pereira 1912 e 1913 O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Historia universal 3 Mattoso Maia 1913 e 1914 O Debate 10 de março n. 719 p. 2
Historia universal 4 Gama Berquó 1913 e 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Historia universal 12 C. Cantu 1912, 1913 e
1914
O Debate 20 de março n. 728 p. 2
Historia universal 1 Onkens 1913 O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Historias e costumes 1 Mello Moraes Filho 1913 O Debate 28 de novembro n. 638 p. 1
Holanda (A) 1 Ramalho Ortigão 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Homos +e Xualismo 2 Dr. Pires de Almeida 1912 O Debate 31 de dezembro n. 375 p. 2
Hora do correio (A) 1 Souza Filho 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Horas de Paz 1 Camillo 1912 O Debate 5 de outubro n. 306 p. 1
Ilusões 1 Douradas 1913 O Debate 20 de junho n. 505 p. 2
Ilustração Brasileira - coleção de
1910
1 1912 O Debate 11 de maio n. 191 p. 2
Indias negras (As) 1 Julio Verne 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Indicador Paranaense 1 José Antonio Fonseca 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
167
Indice alfabetico 1 J. J. Coutinho 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Indice alfabetico dos decretos e leis
do estado
1 1913 O Debate 14 de novembro n. 627 p. 1
Inocencia 7 V. de Taunay 1912, 1913 e 1914
O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Instrucções para os candidatos a
matricula do Collegio Militar
1 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Isaú e Jaco 3 Machado de Assis 1912 e 1913 O Debate 12 de junho n. 215 p. 3
Jardim das Oliveiras 3 Coelho Neto 1913 O Debate 28 de novembro n. 638 p. 1
La Vita Infernale 3 E. Gâaorian 1912 O Debate 24 de dezembro n. 370 p. 2
Le dictionaire des Six Langues 1 F. de Almeida 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Le Fordemente Psichologique de la
morale
1 Andre Joussam 1913 O Debate 11 de dezembro n. 648 p. 2
Le morale des differenes peuples 1 H. Spencer 1912 O Debate 5 de julho n. 232 p. 2
Le Théatre 1 1912 O Debate 11 de maio n. 191 p. 2
Legislativa des Caux 1 J. C. T. No. P. 1913 O Debate 11 de abril n. 454 p. 1
Leis e decretos do Brasil 1 1912 O Debate 5 de julho n. 232 p. 2
Leis e decretos do império 1874 1 1914 O Debate 10 de março n. 719 p. 2
Leis e decretos do poder executivo
do planalto central
1 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Lendas e narrativas 1 Alexandre Herculano 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Les progrés Bresilien 1 B. d´Authoward 1912 O Debate 9 de julho n. 235 p. 2
Lírio do vale (O) 1 H. de Balzac 1913 O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Literatura brasileira 3 Sylvio Romero 1912, 1913 e
1914
O Debate 7 de novembro n. 621 p. 1
Literatura Nacional 3 Pinheiro 1912 O Debate 22 de novembro n. 344 p. 2
Livro de leitura 1 Joao F. Pereira 1914 O Debate 14 de abril n. 747 p. 1
Livro dos espiritos (A) 1 A. Kardec 1912 O Debate 26 de setembro n. 298 p. 2
Los primeiros principios 1 Herbert Spencer 1914 O Debate 14 de abril n. 747 p. 1
Mae (A) 1 Maximo Gorki 1913 O Debate 11 de dezembro n. 648 p. 2
Magnetismo Curador 1 Alphone Bue 1913 O Debate 19 de novembro n. 630 p. 2
Manifesto do Circulo Wenceslau 1 Emilio Bossi 1913 O Debate 4 de novembro n. 618 p. 2
Mão e a luva (A) 1 Machado de Assis 1912 O Debate 5 de outubro n. 306 p. 1
Mares e campos V. Varzea 1912 O Debate 27 de outubro n. 325p. 1
168
Margem da historia (A) 1 E. da Cunha 1914 O Debate 14 de abril n. 747 p. 1
Margem da história (A) 3 E. Cunha 1912 O Debate 22 de novembro n. 344 p. 2
Marilia de Dirceu 3 T. A. Gonzaga 1912 e 1913 O Debate 9 de fevereiro n. 406 p. 1
Marrocos 5 D. Amicis 1912, 1913 e
1914
O Debate 02 de abril n. 446 p. 1
Mato Grosso 7 Ferreira Moutinho 1912 e 1913 O Debate 19 de novembro n. 630 p. 2
Maxima, pensamentos e reflexoes 3 Marquês de Maricá 1913 O Debate 19 de novembro n. 630 p. 2
Mecanique 1 G. Daries 1912 O Debate 6 de agosto n. 258 p. 2
Medicina homeopathica 1 Laurie (dr.) 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Memoria de um Sandeu 1 Eugenio Niel 1913 O Debate 4 de novembro n. 618 p. 2
Memoria do meu tempo 1 N. O. P. Silva 1913 O Debate 9 de fevereiro n. 406 p. 1
Memorial 1 Barão de Teffé 1913 O Debate 12 de novembro n. 625 p. 2
Memórias 6 C. Teffé 1912 O Debate 20 de setembro n. 294 p. 2
Memorias de Sherlock Holmes (As) 1 Canan Doyle 1913 O Debate 20 de junho n. 509 p. 2
Mentiras convencionais (As) 2 Mas Nordau 1912 O Debate 20 de dezembro n. 367 p. 1
e 2
Missão Salesiana 1 1912 O Debate 15 de dezembro n. 363 p. 2
Mistério do Natal 2 Coelho Netto 1912 O Debate 5 de julho n. 232 p. 2
Moço loiro (O) 1 J. M. de ;acedo 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Monge de Cister (O) 1 Herculano 1913 O Debate 14 de fevereiro n. 410 p. 1
N delito al teatro dell opera 3 F. Boigobey 1912 O Debate 24 de dezembro n. 370 p. 2
Na prisão e a mãe 1 M. Gork 1912 O Debate 13 de setembro n. 288 p. 2
Napoleao, o pequeno 2 Victor Hugo 1913 O Debate 4 de novembro n. 618 p. 2
Noivo da menina Saint Mour (A) 1 V. de Lucena 1912 O Debate 27 de outubro n. 325p. 1
Noticia sobre a provincia de Mato
Grosso
1 Ferreira Moutinho 1912 O Debate 12 de junho n. 215 p. 3
Noventa e três 1 V. Hugo 1912 O Debate 5 de outubro n. 306 p. 1
Obras completas 2 Castro Alves 1912 e 1914 O Debate 4 de setembro n. 281 p. 1
Obras poeticas 1 Laurindo Rabello 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Ornamentos da memória 1 J. Roquette 1913 O Debate 7 de novembro n. 621 p. 1
Otelo 1 C.C. Branco 1913 O Debate 14 de fevereiro n. 410 p. 1
Palmares (Os) 1 Jorge Velho 1912 O Debate 18 de outubro n. 317 p. 1
Patria 2 Guerra Junqueiro 1912 e 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Paulo e Virginia 1 S. Pierre 1912 O Debate 12 de junho n. 215 p. 3
169
Pensamentos consoladores de S.
Francisco de Salles
1 Padre Huguet 1912 O Debate 28 de dezembro n. 373 p. 1
Peregrino (O) 1 J. Benjamim 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Pessoa jurídica 1 Lacerda de Almeida 1912 O Debate 24 de novembro n. 346 p. 2 e 3
Philosophie positive 1 Auguto Comte 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Physica 1 Barçau 1912 O Debate 20 de setembro n. 294 p. 2
Poder da vontade (A) 3 S. Smiles 1913 O Debate 25 de novembro n. 635 p. 1
Poesias 1 Fagundes Varela 1913 O Debate 20 de junho n. 509 p. 2
Poesias 1 Silva Alvarenga 1913 O Debate 9 de fevereiro n. 406 p. 1
Poesias 1 Gonçalves Dias 1912 O Debate 15 de dezembro n. 363 p. 2
Poesias 2 Silva Alvarenga 1912 O Debate 5 de julho n. 232 p. 2
Poesias 7 Olavo Bilac 1912, 1913 e 1914
O Debate 4 de novembro n. 618 p. 2
Poesias 1 Silva Alvarenga 1912 O Debate 9 de julho n. 235 p. 2
Preludios 1 Luís Feitosa 1913 O Debate 7 de novembro n. 621 p. 1
Principio de biologia 1 Herbert Spencer 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Processo criminal brasileiro 1 João Mendes 1912 O Debate 6 de julho n. 233 p. 1
Programas de ensino do Collegio
militar
1 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Puritanos Escócia (Os) 1 Scott 1912 O Debate 5 de outubro n. 306 p. 1
Quadro Chorographico 1 Estevão de Mendonça 1914 O Debate 10 de março n. 719 p. 2
Queda de um anjo (A) 2 Castelo Branco? 1913 O Debate 25 de novembro n. 635 p. 1
Queda de um anjo (A) 1 C. Cantu? 1913 O Debate 14 de fevereiro n. 410 p. 1
Rabi da Galiléia (O) 2 Augusto Lacerda 1912 O Debate 5 de julho n. 232 p. 2
Rabi da Galiléia (O) Augusto Lacerda 1912 O Debate 6 de julho n. 233 p. 1
Rafael 1 Lamartine 1912 O Debate 12 de junho n. 215 p. 3
Rascunhos e perfis 3 E. Senna 1912 O Debate 22 de novembro n. 344 p. 2
Recordações literarias 1 Soares R. Junior 1914 O Debate 20 de março n. 728 p. 2
Redor do planeta (Ao) C. Melo 1912 O Debate 24 de novembro n. 346 p. 2
e 3
Região Ocidental de Mato Grosso 1 Dr. E. C. Marques 1913 O Debate 19 de novembro n. 630 p. 2
Reisen in Mato Grosso 3 P. Vogel 1912 O Debate 27 de outubro n. 325p. 1
Relatorio da Comissao chefiada do 1 L. Cruls 1914 O Debate 20 de março n. 728 p. 2
170
planalto central do Brasil
Relatório sobre o povoamento do
solo
1 Gonçalves Junior 1912 O Debate 27 de outubro n. 325p. 1
Religião (A) 2 Diderot 1912 O Debate 24 de novembro n. 346 p. 2 e 3
Retirada da Laguna (A) 11 Taunay 1912 e 1914 O Debate 6 de julho n. 233 p. 1
Revista de jurisprudencia 1 Raja Gabaglia 1913 O Debate 20 de junho n. 509 p. 2
Robson Crusoé 6 De Fvé (nas fontes:
Foé, De Foi, De Foé)
1912 O Debate 4 de setembro n. 281 p. 1
Rudimentos de historia universal 1 Maria E. Leal 1914 O Debate 20 de março n. 728 p. 2
Satiricos Portugueses 1 Joao Ribeiro 1913 O Debate 14 de novembro n. 627 p. 1
Science Du Beau 1 A. E. de Chaignet 1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Scionoias naturais 1 Rodolfo Teófilo 1913 O Debate 12 de novembro n. 625 p. 2
Seleção Literária 1 Fausto Barreto 1914 O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Sermões seletos 1 Nº P. Antonio Vieira 1913 O Debate 11 de abril n. 454 p. 1
Sertanejo (O) 2 J. de Alencar 1912 e 1914 O Debate 1 de abril n. 738 p. 2
Sertão (O) 11 Coelho Neto 1912, 1913 e
1914
O Debate 6 de julho n. 233 p. 1
Sugestão mental (A) 1 Dr. Ochocowicz 1913 O Debate 14 de fevereiro n. 410 p. 1
Teoria das obrigações 1 Giorgio 1912 O Debate 24 de novembro n. 346 p. 2
e 3
Teoria e pratica do codigo Filipino 1 Paula Batista 1912 O Debate 17 de agosto n. 267 p. 3
Terra ilustrada 5 F.I.C. 1912, 1913 e
1914
O Debate 2 de julho n. 805 p. 2
Terra ilustrada (A) 1 A. Sacré 1912 O Debate 31 de dezembro n. 375 p. 2
The New Brazil 3 Marie Robineon Wright
1913 O Debate 20 de junho n. 509 p. 2
The New Brazil Wright 1912 O Debate 22 de novembro n. 344 p. 2
The New Brazil 1 Roberto Southey 1912 O Debate 13 de julho n. 239 p. 2
Theorie delle obligazione 1 Giorgi 1912 O Debate 31 de dezembro n. 375 p. 2
Tratado das obrigações pessoais e
reciproca
1 M. Pathier 1912 O Debate 17 de agosto n. 267 p. 3
Tratado de matéria médica 1 Pereira 1912 O Debate 13 de setembro n. 288 p. 2
Turbilhao 2 Coelho Neto 1912 O Debate 5 de outubro n. 306 p. 1
171
Turbilhao Coelho Neto 1912 O Debate 27 de outubro n. 325p. 1
Velhice do Padre Eterno (A) 4 Guerra Junqueiro 1912, 1913 e1914 O Debate 14 de abril n. 747 p. 1
Viagem ao Araguaia 3 Couto de Magalhaes 1912 O Debate 3 de agosto n. 256 p. 2
Viagem ao redor do Brasil 8 Severiano da Fonseca 1912 e 1913 O Debate 25 de novembro n. 635 p. 1
Viagem ao redor do mundo em 80
dias
1 Júlio Verne 1912 O Debate 20 de dezembro n. 367 p. 1 e 2
viagem e estudos sobre o Vale do
Baixo Guaporé
1 Dr. Manuel E. Cunha
Marques
1912 O Debate 28 de dezembro n. 373 p. 1
Vida das flores (A) 3 E. Ponse Kass 1912 e 1914 O Debate 20 de março n. 728 p. 2
Vingança 1 Castelo Branco 1912 O Debate 13 de julho n. 239 p. 2
Visionario 1 Matheus de
Albuquerque
1914 O Echo n. 4 - 4 e 5 de dezembro p. 2
Vocabulario 1 Coelho Neto 1912 O Debate 6 de agosto n. 258 p. 2
Vocabulario ingles 2 Pereira 1913 O Debate 14 de fevereiro n. 410 p. 1
Vocabulario italiano 1 Felix Pereira 1913 O Debate 25 de novembro n. 635 p. 1
Vocabulário sônico 1 Pereira 1912 O Debate 18 de outubro n. 317 p. 1
Volta ao mundo em 80 dias (A) 1 Julio Verne 1913 O Debate 28 de novembro n. 638 p. 1
546
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora, elaborado a partir das fontes encontradas no APMT e no CD organizado por Elizabeth Madureira
Siqueira
172
APÊNDICE E - Lista obras consultadas por disciplina
DISCIPLIN
A
ANO TOTAL
19
12
19
13
19
14
19
18
19
19
19
20
192
1
19
22
19
23
19
24
19
25
193
5*
194
7*
VAL
OR
%
Agricultura 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0,00
%
Annuarios e
revistas
416
46 653
1425
822
732
921 982
820
0 422
211 729 8179 12,35%
Arte e
Industria
12 0 10 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 22 0,03
%
Astronomia 0 0 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 0,00
%
Biographias 0 0 2 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 0,00
%
Boletins 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0,00
%
Catalogo 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,00
%
Chimica 0 0 0 65 50 0 58 60 46 41 17 123 0 460 0,69
%
Chorograph
ia e
Chorograph
ia do Brazil
8 0 7 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 16 0,02
%
Ciencias
aplicadas
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 135 135 0,20
%
Ciencias
sociais e
direito
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 170 170 0,25
%
Cosmograp
hya
0 0 0 10 0 0 0 0 0 21 2 3 0 36 0,54%
Direito,
Legislação e
Jurispruden
cia
55 0 79 14
25
82
2
73
2
921 98
2
82
0
0 0 68 0 5904 8,90
%
Discurso 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,00
%
Diversas 0 0 0 0 0 13 0 0 0 0 0 0 0 13 0,01
%
Encyclopedi
a
0 0 12 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 12 0,00
%
Escrituraçã
o mercantil
0 0 1 0 0 0 191
8
0 14
25
0 0 3 0 3347 5,05
%
Estatistica 0 0 0 2 0 0 191
9
0 82
2
0 0 0 0 2743 4,14
%
Genealogia 0 0 1 0 0 0 1920
0 732
0 0 0 0 2653 4,00%
Geographia 4 0 33 58 63 68 117 38 2 21 19 68 0 491 0,74
%
Historia/uni
versal
507
47 391
63 62 120
333 264
118
164
228
90 248 2635 3,97%
173
Historia do
Brazil
0 0 6 68 31 66 159 16
0
11
2
20
9
23 0 0 834 1,25
%
Historia
natural
0 0 11 0 29 22
1
71 0 18
8
13
9
15
0
170 0 979 1,47
%
Instrução e
Educação/E
ducação e
ensino
11
6
22 63 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 207 0,31
%
Jornaes 21
8
50 11
86
70
6
56
6
63
2
588
8
10
75
86
3
63
9
28
8
752 0 1286
3
19,4
2%
Litteratura 29
3
49 25
5
84
3
10
10
16
64
967 17
96
10
32
90
2
47
1
132
6
143
3
1204
1
18,1
8%
Mathematic
a
0 0 4 13
1
97 17
0
260 21
9
22
6
32
5
29
0
244 0 1966 2,96
%
Miscellania
e obras
gerais
0 0 0 32 28 0 453 59
8
34
8
77 22 323 0 1881 2,84
%
Mythologia 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,00
%
Pedagogia 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,00
%
Philologia e
linguistica
50 12 28
0
30
9
34
5
46
4
512 22
2
16
1
60
8
47
9
523 373 4338 6,55
%
Philosophia 18 0 82 0 0 0 0 4 27 10 22 12 0 175 0,26
%
Physica 0 0 0 0 28 35 150 46 43 96 43 43 107 766 11,5
6%
Physiologia 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,00
%
Poesias 36 7 60 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 103 0,15
%
Politica e
adminsitraç
ão
1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,00%
Quadro
Chorografic
o de MT
0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0,00
%
Relatorios e
mensagens
1 0 3 0 38 1 0 0 0 0 0 0 0 43 0,06
%
Religião 5 0 23 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 28 0,04
%
Revistas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 422
211 729 1362 2,05%
Sciencas 0 14 52 0 0 0 0 0 0 0 0 0 202 268 0,40
%
Sciencias
medicas/Me
dicina
6 0 27 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 33 0,04
%
Sciencias
fisicas e
naturais
39 0 0 35 0 0 0 62 0 0 0 0 0 136 0,20%
Sociologia 0 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0,00
%
174
Transporte 0 0 0 14
25
0 0 0 0 0 0 0 0 0 1325 2,00
%
Viagens e
explorações
99 0 53 29 0 0 0 0 0 0 0 0 0 29 0,04
%
TOTAL
GERAL DE
CONSULT
AS
18
85
21
63
33
13
66
36
39
91
49
18
165
67
65
08
77
85
32
52
28
98
417
0
412
6
6622
2
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora, elaborado a partir dos documentos selecionados no
APM
175
APÊNDICE F – RELAÇÃO DAS OBRAS ADQUIRIDAS NO ANO DE 1930
Relação das Obras compradas durante o anno de 1930*
Nome do autor Quantiade Titulo da Obra Preço
Antonio Bento de Faria 2 vol. Codigo penal do Brazil 30.000
Pontes de Miranda 1 “ Historia e pratica do Habeas-
copos
10.000
Rodrigo Octavio e Paulo D.
Vianna
1 “ Elementos do Direito Publico 10.000
Silva Marques 1 “ Direito publico e constitucional 20.000
J. Novicon 1 “ Politique Interncionale 10.000
M. N. Bouillet 1 “ Dictionnaire Universal De
Histoire et de Géographie
50.000
Antonio Bento de Faria 1 “ Direito Romano 15.000
Antonio Joaquim Ribas 1 “ Da Posse e das Acções
Possessorias
20.000
Martinho Garcez 2 “ Nullidades dos Actos Juridicos 30.000
J. C. Carvalho Saavedra 1 “ Fisica Experimental 10.000
Henrique Monat e Gastão Ruch 2 “ Methodo pratico para
aprender a Lingua Franceza
16.000
Othello Souza Reis 1 “ Europa, Asia, Africa, Oceania e
America de hoje
3.500
Selecta de leituras Allemãs 1 “ A. Apell 8.000
Exercicios de Geometria 1 “ H. Costa – E. Roxo – O. Castro 7.000
Exercicios de trigonometria 1 “ H. Costa – E. Roxo – O. Castro 7.000
Lafayette R. Pereira 1 “ Zoologia 18.000
Lafayette R. Pereira 1 “ Botanica 18.000
Grammatica secundaria da
Lingua Portuguesa
1 “ M. Said Ali 10.000
Jose Oiticica 1 “ Manual de Estilo 8.000
176
Secretaria da Bibliotheca Publica, em Cuiabá, 31 de Dezembro de 1930.
O Secretario
Antiocho do Couto. Registrado no livro competente em 13/5/1931.
*Documento digitado pela pesquisadora a partir do documento original que encontra-se na
Caixa de 1930 – Documentos avulsos no acervo do APEMT.
Fonte: Relação das Obras compradas durante o anno de 1930 (1930) – Acervo do APMT (1930)
Oliveira Lima 1 “ Historia da civilização 20.000
Gastão Ruch 3 “ Historia Geral da Civilização 40.000
Augusto Magno 1 “ Gammatica Latina 19.000
H. Pauthier e J. Pauthier 1 “ Nottions d Histoire 18.000
C. Vanzolini 1 “ Curso Theorico-pratico da
Lingua Italiana
18.000
29 “ 415.500
A. de Padua Dias 1 “ Curso elementar de Physica 18.000
Ruy de Lima e Silva e W. Potsch 1 “ Elementos de mineralogia e
Geologia
18.000
Cecil Thiré 1 “ Exercicios de Algebra 8.000
Cecil Thiré e J. C. Mello e Souza 1 “ Problemas e Formulário de
Geometria
8.000
Floriano Brito e Gastão Ruch 1 “ Grammatica Elementar da
Lingua Franceza
10.000
José Verissimo 6 “ Estudos de Literatura Brazileira 60.000
Antenor Nascentes 4 “ O Idioma Nacional 30.000
44 567.500