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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE ARTES E DESIGN PÓS-GRADUAÇÃO EM MODA, CULTURA DE MODA E ARTES FERNANDA BONIZOL FERRARI O homem contemporâneo e sua relação com a moda. Juiz de Fora 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE ARTES E DESIGN

PÓS-GRADUAÇÃO EM MODA, CULTURA DE MODA E ARTES

FERNANDA BONIZOL FERRARI

O homem contemporâneo e sua relação com a moda.

Juiz de Fora 2013

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FERNANDA BONIZOL FERRARI

O homem contemporâneo e sua relação com a moda.

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Moda, Cultura de Moda e Arte. Orientadora: Profª. Drª. Elisabeth Murilho da Silva – UFJF

Juiz de Fora 2013

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Ficha catalográfica elaborada através do Programa de geração automática da Biblioteca Universitária da UFJF,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Bonizol Ferrari, Fernanda.

O homem contemporâneo e sua relação com a moda. / Fernanda

Bonizol Ferrari. -- 2013.

46 p.

Orientador: Elisabeth Murilho da Silva

Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) -

Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de Artes e

Design. Especialização em Moda, Cultura de Moda e Arte,

2013.

1. Moda. 2. Masculinidade. 3. Consumo. I. Murilho da

Silva, Elisabeth, orient. II. Título.

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FERNANDA BONIZOL FERRARI

O homem contemporâneo e sua relação com a moda.

Monografia apresentada ao Programa de Pós - Graduação do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Moda, Cultura de Moda e Arte. Orientadora: Profª. Drª. Elisabeth Murilho da Silva – UFJF

Aprovada em _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Profª. Drª. Elisabeth Murilho da Silva Universidade Federal de Juiz de Fora

______________________________________________

Prof. Ms. Afonso Celso Carvalho Rodrigues Universidade Federal de Juiz de Fora

______________________________________________

Prof. Ms. Javer Volpini Universidade Federal de Juiz de Fora

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A todos aqueles que me incentivaram a fazer

desse sonho realidade.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que apesar de distantes fisicamente, jamais deixaram de se fazer presentes.

A minha irmã Flávia e minha tia Mariza pelo incentivo, dedicação e compreensão em todos

os momentos desta e de outras caminhadas.

A minha orientadora, Elisabeth Murilho, pela confiança e credibilidade no meu trabalho.

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RESUMO

O tema do presente trabalho aborda a construção da masculinidade contemporânea a partir da sua relação com a moda, a maneira pelo qual as modas contribuíram para uma aparência masculina e quais os critérios adotados atualmente por este público para seu consumo de moda. A construção social da masculinidade e sua consequente visibilidade através da moda foram abordadas a partir das teorias contemporâneas que buscam categorizar a moda a partir de seus ambientes de surgimento, superando a questão da distinção entre as classes sociais. O trabalho apresenta também uma pesquisa de campo que busca ilustrar como o fenômeno da moda é visto pelo público masculino. Dessa maneira, pretende-se analisar o consumo de moda não mais como imposição de uma determinação de classe, mas como parte da construção de uma aparência e de uma postura social assumida pelo homem contemporâneo. Palavras-Chave: Moda. Masculinidade. Consumo.

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ABSTRACT

The theme of the present study approaches the construction of contemporary masculinity from his relationship with fashion, how did fashion contribute to a masculine appearance and which criteria are currently adopted by this audience for their fashion clothing consumption. The social construction of masculinity and its resulting visibility through fashion were initiated from the contemporary theories that seek to categorize fashion from their appearance environments, overcoming the class division issue. This work also presents a field study that intends to illustrate how the fashion phenomenon is seen by the male audience. Thus, we intend to analyze the fashion consumption, no longer as an obligation to divide class, but as part of the construction of an appearance and a social posture assumed by the contemporary man. Keywords: Fashion. Masculinity. Consumption.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 08

1 MODA, MODOS E ESTILOS DE VIDA........................................................................ 10

2 MODA E MASCULINIDADES....................................................................................... 19

2.1 A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE MASCULINA.................................................... 19

2.2 OS HOMENS E A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA MASCULINIDADE.................... 24

3 CONSUMO DE MODA MASCULINA: PESQUISA DE CAMPO............................. 28

3.1 DELINEADORES METODOLÓGICOS DA PESQUISA DE CAMPO................... 28

3.2 PERCEPÇÃO SOBRE O FENÔMENO ................................................................... 30

3.3 INFORMAÇÕES DE MODA..................................................................................... 31

3.4 AS PREFERÊNCIAS.................................................................................................. 32

3.5 ELEMENTOS DE VALORIZAÇÃO E INFLUENCIADORES NA AQUISIÇÃO

DE ARTIGOS DO VESTUÁRIO..................................................................................

34

3.6 PREOCUPAÇÕES SOCIAIS E IMPRESSÕES......................................................... 37

3.7 O ATO DA COMPRA (FREQUÊNCIA, LUGAR E RAZÕES)................................ 38

4 CONCLUSÃO.................................................................................................................... 39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................. 42

ANEXOS.................................................................................................................................. 44

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INTRODUÇÃO

Verdadeiro zeitgeist1 contemporâneo, a moda é um signo de expressão social e cultural

de uma determinada época e pode representar ideias, possibilidades, vontades, sentimentos,

explicitados ao mundo através de roupas, texturas e cores. Atualmente, as pessoas adotam a

moda conforme seus objetivos e interesses, independendo de idade, sexo, nível intelectual ou

social. Ultrapassando as questões da mera necessidade a moda estimula um interesse especial

ao se vestir e seu estudo é capaz de apresentar informações que ultrapassam, e muito, sua

primordial função de cobrir e proteger o corpo.

Mesmo não ocupando um espaço de destaque nas pesquisas acadêmicas a moda é tida

como um poderoso instrumento de análise social capaz de traduzir, ou ao menos indicar, os

rumos que a sociedade contemporânea toma.

A presente pesquisa parte das teorias da moda que buscam explicá-la não mais como

um critério estabelecido na divisão de classes sociais e sim como algo mais abrangente. O que

se busca é isolar grupos e nichos culturais como disseminadores de tendências de moda e

utilizadores desse instrumento como sistema de identificação. O que antes funcionava apenas

como uma barreira de divisão social hoje é analisado como uma ponte, um complexo aparelho

capaz de promover, além dos tradicionais distanciamentos, movimentos de aproximação entre

grupos opostos.

O tema central desta pesquisa aborda a conduta masculina diante da moda como

fundamento para estudar a formação da identidade do homem contemporâneo. O consumo de

moda será utilizado como um instrumento de mensuração dessa relação. Assim, a construção

da identidade masculina percebida através das escolhas de moda e seu consequente consumo

foi o tema escolhido, considerando a sua relevância e convergência com os campos da moda,

do consumo, da sociologia, antropologia e economia.

A pesquisa é descritiva, uma vez que busca apresentar aspectos relevantes

estabelecidos na relação entre o consumo de moda e a formação da identidade masculina na

sociedade contemporânea. Quanto aos procedimentos metodológicos técnicos adotados são

eles: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, com base na leitura de livros, artigos

científicos e acesso a sites; e entrevistas exploratórias, que foram realizadas com o público

investigado mediante entrevistas pré-orientadas por questionários.

1 Termo alemão que significa o “espírito do tempo”, que pode ser definido com base na observação de todas as manifestações culturais de uma época.

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A fim de sustentar teoricamente o presente trabalho, entre outros, foram utilizados

Georg Simmel, Pierre Bourdieu, Diana Crane e Gilles Lipovetsky para compreensão da noção

de moda e estilos de vida na contemporaneidade. Stuart Hall, Joan Scott, Anne Hollander e

Gilda de Melo e Sousa foram utilizados no que tange a construção da identidade masculina.

Por sua vez, Dario Caldas e Sócrates Nolasco foram imprescindíveis para se discutir a noção

de masculinidade contemporânea. O consumo na moda foi tratado a partir das teorias de

Néstor Canclini e Ana Paula de Miranda.

Conceitos de moda e estilos de vida orientam o leitor no primeiro capítulo, intitulado

“Moda, Modos e Estilos de Vida”, abordando a moda a partir de sua ligação com os conceitos

de individualidade, subjetividade e estilos de vida.

No segundo capítulo é abordado o tema central do presente trabalho e busca discutir a

moda e suas influências nas questões comportamentais do gênero masculino enquanto

consumidores de bens de moda; a construção da identidade masculina contemporânea; bem

como a relação estabelecida com a moda utilizando o consumo como instrumento avaliativo

dos resultados desse processo de formação de identidade.

O terceiro capítulo apresenta a pesquisa de campo realizada, ilustrando como o

fenômeno da moda é visto pelo público masculino abordado. Foram realizadas entrevistas

orientadas por um questionário pré elaborado com consumidores de um shopping localizado

na cidade de Juiz de Fora, voltado para um público de classe média.

Por fim, pretende-se com o presente trabalho mostrar que a moda, há muito tempo,

deixou de ser assunto de mera necessidade ou banalidade e está presente em questões sociais,

culturais, políticas e econômicas e, consequentemente, comportamentais.

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1 MODA, MODOS E ESTILOS DE VIDA

A moda superou a sua materialidade e desnaturalizou um dos aspectos mais regulares

da sociedade: vestir. Analisada sob os mais variados aspectos, seus reflexos podem ser

percebidos em teorias nas áreas da arte, psicologia, economia, sociologia e antropologia. Sua

interpretação já teve como fundamento a proteção para o corpo, os encobrimentos morais, as

leis suntuárias, as divisões de classes sociais. Entretanto, a moda encontrou uma nova base

para construir seus fundamentos: sua ligação com os conceitos de individualidade,

subjetividade de e estilos de vida.

Sempre associada a manifestações estéticas temporárias, a moda é aliada da

efemeridade. Entretanto, essa “facilidade de mudar” de que é dotada funciona como um

verdadeiro dispositivo social capaz de refletir as muitas facetas do comportamento humano e

apontar futuras mudanças. A moda é, assim, então vista como uma forma de expressão da

individualidade e da variedade dos estilos de vida.

A moda participa da vida de cada um. Símbolo de expressão social e cultural, a moda

assume seu papel na sociedade contemporânea como forma de igualar ou diferenciar,

individualizar ou agregar, unindo e formando grupos. Neste sentido, ela desempenha uma

dupla função: ao mesmo tempo em que comunica a um grupo preferências e partilhamentos

comuns (identificação coletiva) se torna meio hábil para diferenciação individual (distinção

pessoal), conforme analisou Simmel (2008).

Uma das primeiras teorizações sobre a moda levando em conta suas implicações de

cunho social apresenta a distinção como tema central dos discursos de moda, sendo George

Simmel “considerado um pioneiro nos estudos acadêmicos sobre moda, particularmente

dentro do âmbito das ciências sociais” (SIMIONI, 2007, p. 27). Para Simmel a principal

função da moda está na distinção, seja pela integração, formando vínculos entre aqueles que

ocupam uma mesma posição, seja pela exclusão, diferenciando aqueles afastados dos grupos

já estabelecidos.

Para o autor, o grande motor da moda é a diferenciação das classes sociais, no qual as

camadas mais altas se distinguem das mais baixas, reunindo um círculo e isolando-o ao

mesmo tempo dos outros. Assim, as novas modas serão sempre modas de classes altas não

ocorrendo, ao menos nesse momento, movimentos inversos.

A moda é criada com a justa finalidade de se tornar moda e seu prazo de validade está

diretamente relacionado à sua disseminação. Assim que é lançado, um determinado modismo

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é adotado por um determinado grupo. Entretanto, uma vez conhecida, essa moda se torna

passível de imitação. Esse fenômeno aproxima tais grupos anteriormente opostos, igualando-

os. Uma vez igualados surge, novamente, a necessidade de diferenciação, fazendo surgir uma

nova moda.

Ela satisfaz, por um lado, a necessidade de apoio social na medida em que é imitação; ela conduz o indivíduo às trilhas que todos seguem. Ela satisfaz, por outro lado, a necessidade da diferença, a tendência à diferenciação, à mudança, à distinção, e, na verdade, tanto no sentido da mudança de seu conteúdo, o qual confere um caráter peculiar à moda de hoje em contraposição à de ontem e à de amanhã, quando no sentido de que modas são sempre modas de classe (SIMMEL, 2008, p. 160)

A moda passa então a ser analisada a partir de seus movimentos dualistas e

antagônicos. A oposição entre aproximação e distanciamentos, igualar e diferenciar, reunir e

afastar, ontem e amanhã, individualidade e coletividade, classes altas e baixas passam então a

fazer parte dos conceitos de moda. Para Simmel (2008), dualidades são unidas,

indissoluvelmente, dando fundamento ao conceito de moda e tornando possível a sua

realização.

Esse antagonismo, segundo o autor, é materializado na imitação unindo o “interesse

pela permanência, pela unidade, pela igualdade, ao interesse pela mudança, pela

particularidade pela singularidade” (SIMMEL, 2008, p. 164), trazendo para o indivíduo a

segurança de não estar sozinho na difícil tarefa de sustentar sua aparência diante da sociedade.

Entretanto, a teoria de Simmel encontra barreiras se aplicadas às sociedades

contemporâneas, caracterizadas pela grande fragmentação social. A reprodução das classes e

dos gostos foi discutida por Pierre Bourdieu e sugere que a disseminação da moda enquanto

fenômeno social deve ser vista por outra perspectiva. Segundo Bourdieu (2007), as classes

sociais e suas estruturas são fundamentadas em um complexo sistema de gostos culturais e

estilos de vida ao qual cada uma se associa. Assim, os conflitos de interesses e gostos ocorrem

não apenas entre as classes, mas também do interior delas e a moda reflete estas escolhas.

Dentro das classes os indivíduos fazem suas escolhas com base no estilo de vida ao

qual estão acostumados, ilustrando um conjunto de disposições.

A lógica do funcionamento dos campos de produção de bens culturais e as estratégias de distinção que se encontram na origem de sua dinâmica fazem com que os produtos de seu funcionamento [...] estejam predispostos a funcionar diferencialmente, como instrumentos de distinção, em primeiro lugar, entre as frações e, em seguida, entre as classes. (BOURDIEU, 2007, p. 217)

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Segundo Bourdieu (2007), é a classe alta quem dita as regras que conferem valor

moral e social aos gostos. Estes gostos são os responsáveis pela aproximação entre coisas e

indivíduos através de um “mútuo acordo”. Entretanto, a resposta das classes média e baixa a

estas regras não são prontamente atendidas.

A base de conhecimento social e cultural das classes média e baixa a “impedem de

assimilar totalmente os gostos da classe alta” (CRANE, 2006, p. 33). Segundo o entendimento

de Bourdieu (2007) a moda está ligada a questões de distinção social, mas a disseminação dos

gostos relativos à moda dentro das estruturas sociais ultrapassam a ideia de imitação. Segundo

ele, as estruturas sociais são complexos sistemas formados pelos gostos e estilos de vida

específicos de cada grupo, diretamente relacionados às práticas culturais de sua classe. Os

critérios de avaliação e julgamento de classes distintas também serão distintos. Assim, a

classe operária, por exemplo, encontra dificuldade ainda maior em assimilar tais padrões

culturais.

O consumo de bens culturais associados às classes média e alta pressupõe atitudes e conhecimentos que não são de fácil acesso aos membros da classe operária. De acordo com Bourdieu, os gostos dos homens da classe operária seriam baseados em uma “cultura da necessidade”, característica de sua classe. (CRANE, 2006, p.32)

Dessa forma, um estilo de vida já internalizado por cada indivíduo determina escolhas

que não dependem, exclusivamente, da distinção de classes sociais. A diferenciação percebida

através da moda ultrapassa esses limites e passa a ser interpretada levando em conta as

experiências e percepções de cada indivíduo em relação ao seu grupo e à outras classes.

É neste sentido que segue a interpretação de Bourdieu (2007). A partir dos diferentes

gostos e padrões de consumo a moda, interpretada como um instrumento de distinção social e

força de diferenciação, leva em consideração padrões comportamentais absorvidos por cada

um em seu ambiente de convivência. Entretanto, esse distanciamento abordado pelo autor

entre as classes sociais tem se estreitado. À medida que a penetração da economia monetária

proporcionou às classes operárias maior acesso à informação e a participação na vida social, o

conceito de estilo de vida assumiu novos papéis, principalmente no que tange a moda.

A moda que antes atuava apenas como uma forma de distinção entre as classes sociais,

hoje opera na desorganização dessas barreiras. O que antes era interpretado exclusivamente a

partir da necessidade de diferenciação de classes sociais, agora leva em consideração outros

fatores como a possibilidade de expressão de si e de estilos de vida. Se antes o que importava

era apenas pertencer, ou tentar pertencer, a certa classe social, hoje, são as expressões de

subjetividade que aproximam e diferenciam.

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Essa maneira de entender e pensar a moda modifica profundamente a compreensão da

relação estabelecida entre a sociedade contemporânea e os usos que se faz das modas. “Em

vez de uma cultura de classes, há uma fragmentação crescente de interesses culturais dentro

das classes sociais” (CRANE, 2006, p. 36).

Lipovetsky (1989) lança seu olhar sobre a moda atribuindo-lhe especiais relevos. Ao

contrário de Simmel e Bourdieu, o autor não considera a distinção social o fundamento da

moda e, para ele, sua verdadeira natureza está centrada na valorização da individualidade

humana. Nas sociedades contemporâneas, o valor dado à individualização tomou tamanha

relevância que a moda serviria muito mais a este propósito do que à necessidade de

pertencimento a grupos e classes sociais. O posicionamento do autor diante do assunto é

favorável ao tema: enquanto a maior parte dos estudiosos tem uma visão pessimista a respeito

da relação estabelecida entre o sujeito e a moda, Lipovetsky a considera como instrumento

favorável à democratização da sociedade.

A moda não é mais um enfeite estético, um acessório decorativo da vida coletiva; é sua pedra angular. A moda terminou estruturalmente seu curso histórico, chegou ao topo do seu poder, conseguiu remodelar a sociedade inteira à sua imagem: era periférica, agora é hegemônica (LIPOVETSKY, 1989, p.12).

Segundo o autor, a moda atingiu uma posição de centralidade nas sociedades

contemporâneas, dotada de potencial força econômica e social. Essa força é por ele

considerada um fenômeno típico das sociedades modernas, afirmando a historicidade da moda

como manifestação expressiva de ideais e valores culturais cronologicamente determináveis e

fundamentais para o entendimento.

O ponto de partida de Lipovetsky para compreender a moda está relacionado a valores

que comporiam a cultura moderna: “a moda não deixa de estar referida à estratificação social,

mas teria um significado mais profundo na medida em que não funciona apenas como

mecanismo de diferenciação e hierarquização de classes e grupos sociais” (ALMEIDA, 1995,

p. 04). Esses novos valores que passariam então a impor os ditames na compreensão da moda

são a noção de novo e individualidade.

Para tanto, é fundamental analisar o fenômeno da moda a partir das novas forças

percebidas em determinado espaço geográfico e de tempo, que foram capazes de impulsionar

seu aparecimento. A partir da maneira pela qual a moda é utilizada nestes períodos históricos,

mesmo que diferentemente daquelas forças que inicialmente a movimentaram, é que se torna

capaz de determinar sua função social. Dessa maneira, “o fato de a moda servir à distinção

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social não define sua verdadeira natureza; esta só pode ser apreendida quando relacionamos

sua origem histórica à formação dos valores próprios das sociedades modernas” (ALMEIDA,

1995, p. 02).

Ao contrário do imperialismo dos esquemas da luta simbólica das classes, mostramos que, na história moderna da moda, foram os valores e as significações culturais dignificando em particular o Novo e a expressão da individualidade humana, que tornaram possíveis o nascimento e o estabelecimento do sistema da moda (LIPOVETSKY, 1989, p.11).

Foi no século XX, a partir dos anos 1960, que a sociedade adquire novos contornos. A

cultura de classes, que caracterizou as relações sociais na Modernidade no século anterior,

abre espaço para uma nova explicação: a noção de estilos de vida. Gostos, preferências e

costumes em comum passam a servir de critérios para aproximar e distanciar as pessoas umas

das outras. O pertencimento a uma ou outra classe sócio-econômica continua a ser um critério

relevante, mas não o único.

A moda que dominou o período que vai da metade do século XIX até a década de

1960 era caracterizada, segundo Lipovetsky (1989), por um sistema de produção e criação

altamente centralizado, que funcionava como um interlocutor de categorias sociais como

gênero, classe social, ocupação, estado civil e etc. Paris era a principal referência e as

tendências seguidas na criação eram consensuais entre os criadores. Durante este período, que

Lipovetsky chama de “moda de cem anos”, as roupas eram um artigo de luxo voltado para

uma elite.

A partir da segunda metade do século XX, a sociedade se tornou mais complexa e, ao

mesmo tempo, culturalmente fragmentada. De acordo com Crane (2006), esse processo de

descentralização e complexificação social foram fundamentais para o desenvolvimento de

subculturas urbanas. Não há mais uma única fonte cultural legítima. A moda, enquanto

reflexo de circunstâncias e contextos sociais específicos, acompanha todas estas

transformações. Ao invés de servir apenas para que as diferenças de classe fossem claramente

expostas a partir das roupas, a moda passa a servir como uma produtora de subjetividade,

democratizando e personalizando as escolhas.

As “transformações organizacionais, sociais, culturais, desde os anos 1950 e 1960, alteraram a tal ponto o edifício anterior, que se tem o direito de considerar que uma nova fase da história da moda fez sua aparição” (Lipovetsky, 1989, p. 107).

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Ao trazer para a discussão sobre moda a individualidade, o autor valoriza as questões

de subjetividade existentes na relação que se forma entre o indivíduo e a moda. Essa visão

ultrapassa os limites das teorias tradicionais centradas apenas na diferenciação social e nos

conceitos básicos e predeterminados. Neste sentido, a moda deixa de lado a conceituação que

dá conta apenas de seus aspectos materiais relacionados ao consumo de itens de vestuário

como a imposição de tendências, cores e modelagens.

Segundo Lipovetsky (1989), as escolhas dos itens de vestuário são resultado de

motivações subjetivas resultado das interações nos espaços sociais. A partir destas escolhas a

moda entra em um constante movimento de produção e cada indivíduo assume um papel ativo

na construção da moda. Assim, as práticas de vestimenta assumidas por um indivíduo não

seriam resultado de ditames da moda e sim fruto de costumes e normas comportamentais que

podem ser percebidas socialmente. Para o autor, os indivíduos são dotados de capacidade

decisiva e utilizam de procedimentos interpretativos para analisarem as representações

simbólicas e significações do vestuário de acordo com suas preferências subjetivas.

Enquanto a maior parte dos teóricos assume uma posição crítica diante das

consequências e decorrências sociais da moda, Lipovetsky adota uma postura diversa,

defendendo que o paradoxo da moda se encontra justamente no seu potencial democrático:

“quanto mais avança o efêmero, mais impulso para a subjetividade autônoma, quanto mais

impõe-se a frivolidade, mais desenvolve-se uma consciência crítica e tolerante.” (ALMEIDA,

1985, p. 02). A efetivação histórica do fenômeno da moda é capaz de traduzir hábitos e

costumes advindos de manifestações culturais inerentes ao grupo e estas manifestações são

representações diretas de princípios políticos das sociedades liberais e da plena expressão da

individualidade humana (não por determinação de uma necessidade histórica, mas pela ação

consciente dos sujeitos envolvidos) (ALMEIDA, 1995, p. 02).

Assim, a moda não deixa de se ligar à estratificação social, mas possui uma

significação mais profunda: “é por referência à história cultural - identificada à história dos

valores e, de maneira mais ampla, das representações - que podemos apreender o sentido

fundamental do nascimento histórico da moda e seu posterior desenvolvimento” (ALMEIDA,

1995, p. 04).

A moda não é mais um enfeite estético, um acessório decorativo da vida coletiva, é sua pedra angular. A moda terminou estruturalmente seu curso histórico, chegou ao topo do seu poder, conseguiu remodelar a sociedade inteira a sua imagem: era periférica, agora é hegemônica. (LIPOVESTSKY,

1989, p. 12).

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A moda sempre teve sua relevância no meio social. Entretanto, se antes estar na moda

se atinha apenas a uma condição de status, hoje, tornou-se um meio concreto e aferível de

expressar a identidade individual e social. Diana Crane (2006) defende que as culturas de

classe deixaram de ser relativamente homogêneas, tornando-se fracionadas em centenas de

nichos com base em diferentes combinações de idades, etnicidades, renda, gêneros e é preciso

buscar nestes ambientes de surgimento, semelhanças e diferenças para a compreensão de

diversos fatos sociais que envolvem o fenômeno da moda.

Crane (2008) afirma que as teorizações clássicas a respeito da moda têm como

fundamento aspectos diferentes de suas manifestações: a moda tida por seu conteúdo

(buscando o seu significado), pelo seu processo de disseminação (referindo à noção de

imitação) e a partir de suas funções (diferenciação social). “As tentativas de teorizar a moda

tendem a contemplar apenas um destes aspectos, negligenciando outros” (CRANE, 2008, p.

161) e, segundo ela, a correta compreensão do fenômeno da moda apenas poderá se dar

quando parte-se de uma conjugação dessas interpretações.

Ao analisar o conteúdo em busca de seu significado, Crane (2008) diz ser fundamental

diferenciar moda de modismo. Segundo a autora, “as modas são um aglomerado de normas e

códigos que constituem estilos reconhecidos em períodos específicos [...] que são

continuamente revisados e modificados” (CRANE, 2008, p. 159). Os modismos são itens

específicos de vestuário que se tornam populares por um curto espaço de tempo, tendendo a

desaparecer.

Os modismos são muito mais efêmeros que as modas e podem ter pouca ou nenhuma ligação com estas. Sua visibilidade relativa tende a esconder a continuidade da moda, contribuindo para a percepção desta como forma trivial e efêmera” (CRANE, 2008, p. 159).

É justamente neste sentido que a autora critica os posicionamentos que levam em

consideração apenas o conteúdo da moda na sua definição, sem conjugá-los com seus outros

aspectos interpretativos.

Crane (2006) rebate a ideia do processo de disseminação da moda unicamente

baseados na imitação de estilos de vestuário adotados por classes superiores em busca de

equiparação. A autora que alega que “hoje em dia, os modelos apresentados pela cultura

popular são amplamente copiados” e “não se pode presumir que todos copiem os estilos da

última moda” (CRANE, 2008, p. 159). Dessa forma, a autora chama a atenção para o

movimento de disseminação das tendências de moda na contemporaneidade.

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A moda é criada tanto em instituições formais quanto em grupos informais. Modas de cima para baixo são criadas num grupo de instituições altamente complexas e fragmentadas, situadas em países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão. As modas de baixo para cima têm sua origem entre os grupos jovens, geralmente oriundos de classes mais baixas e em subculturas marginais, como os hippies. Em seguida, são disseminadas para cima. Nesse modelo, a disseminação para acima não ocorre de maneira sistemática dos níveis sociais mais baixos para os mais altos, mas podem ocorrer em qualquer nível em que os indivíduos sejam expostos a tais tendências, particularmente os jovens, consumidores vorazes de cultura. (CRANE, 2008, p. 161).

Quando trata da função da moda enquanto meio de diferenciação na estrutura de

classes sociais, a autora levanta a questão da atual fragmentação da sociedade, que já não

pode ser dividida entre ricos e pobres, unicamente. As novas dicotomias que a sociedade

contemporânea utiliza para definir a moda a parte de outras ambivalências de identidade

social: “juventude versus maturidade, masculinidade versus feminilidade, androgenia versus

singularidade, trabalho versus lazer, conformidade versus rebeldia” (CRANE, 2008, p. 160).

Uma vez considerada catalisadora de reflexos e mudanças sociais, a moda

contemporânea tornou-se mais difícil de explicar e, para a análise da moda enquanto

embasamento do estudo sociológico é preciso agregá-la, além de suas relações com as

questões de identidade e estilos de vida, ao consumo como um elemento fundamental para sua

compreensão. Se antes a moda era considerada de “classe”, hoje é de “consumo”.

Até o final do século XIX e início do século XX o que prevaleceu foi a moda de classe

nos moldes do posicionamento das classes sociais, com normas claras e específicas a serem

seguidas pelos indivíduos. “A identificação com certa classe social era um dos principais

fatores que afetavam o modo como os indivíduos percebiam a sua identidade e suas relações

como ambiente social” (CRANE, 2008, p. 163). Já a moda de consumo é fruto da

fragmentação da sociedade contemporânea, muito mais ambígua e multifacetada, criada para

satisfazer exigências dos consumidores que buscam algo mais que apenas vestir-se e torna-se

expressão e definição de identidade pessoal. Assim, a moda de consumo se transforma em um

poderoso instrumento de afirmação individual e social.

Na sociedade de consumo contemporânea, públicos e consumidores distintos

necessitam de estilos diferentes de moda, e o que motiva cada indivíduo na sua escolha não

mais depende da conformidade com categóricas normas de vestir referentes a classes sociais.

Agora, o que determina as escolhas é a identificação com grupos sociais que compartilham

interesses e gostos.

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18

O consumidor pós-moderno é visto como um intérprete sofisticado de códigos, capaz de discriminar entre várias alternativas e, ao mesmo tempo, identificar os produtos escolhidos, de modo a expressar uma determinada persona. Nas culturas pós-modernas, o consumo é tido como forma de desempenhar papéis, na medida em que os consumidores buscam projetar concepções de identidade que estão constantemente evoluindo. (CRANE, 2006, p. 39)

Se a trajetória social da moda foi pautada pela necessidade de demonstração de

diferenciação social, hoje os critérios estabelecidos neste sentido são bem menos limitados.

Apesar de as diferenças de classes sociais serem facilmente percebidas na moda, critérios

como idade, cultura, profissão, gênero são fortes influenciadores na definição das escolhas de

moda, bem como a sua importância na definição da identidade da personalidade dos

indivíduos na pós modernidade.

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2 MODA E MASCULINIDADES

A formação da identidade do indivíduo contemporâneo é observada a partir de

diferentes perspectivas. Uma dessas associações é a moda que opera promovendo

distanciamentos e aproximações entre os gêneros e apresentando identidades fragmentadas e

multifacetadas. A construção da identidade masculina percebida através das escolhas de

vestuário perpassa por inúmeros campos de conhecimento, promovendo um amplo

entendimento acerca do tema. O consumo se insere neste contexto como um instrumento de

mensuração destes movimentos, abrindo espaço para pensar a moda.

Os valores estéticos e simbólicos percebidos na moda masculina e sua relação com o

consumo de itens do vestuário serão tratados neste capítulo.

2.1 A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE MASCULINA

Desde a segunda metade do século XIX a ideia que se formou de homem ainda

permeia os tradicionais estereótipos daquilo que se tem como masculino. Nas palavras de

Souza (1987), o século XIX pode ser considerado um divisor de águas na formação da

identidade de gêneros, delimitando os contornos daquilo que é tradicionalmente considerado a

postura masculina tradicional, visto como uma oposição àquilo que é tipicamente feminino.

Nesta formação, o modelo masculino se afasta do contato, da troca e da cumplicidade,

e se aproxima da força, do sucesso e do poder. Segundo Nolasco (1997), a ideia de intimidade

e sensibilidade diretamente relacionada ao modelo feminino de comportamento se opõe aos

padrões comportamentais exigidos. “Para o homem, a noção de intimidade não pertence a seu

processo de socialização, não é algo que ele vá aprender, exercitar e desenvolver”

(NOLASCO, 1997, p. 20), e é no século XIX que este distanciamento se mostra mais

evidente.

O século XIX ainda está muito perto de nós, com a divisão nítida dos dois mundos se espelhando no conjunto das atividades humanas, a barreira inexorável se elevando a todo momento entre os dois sexos. [...] Ao mesmo tempo, um duplo padrão de moralidade regia as relações humanas, código de honra do homem sendo diverso do da mulher (SOUZA, 1987, p. 58).

Filho e Zica (2010) utilizam a literatura para o entendimento tanto dos modos de

construção de masculinidades e confirmam essa obrigatoriedade a partir do entendimento de

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Bourdieu e Welzer-Lang, quando alegam que “os “homens” são vítimas do privilégio de

participar dos jogos de dominação, e, como asseverava Welzer-Lang (2004), são vítimas,

justamente porque não têm opção de não participarem dos jogos e disputas que se prestam a

organizar o poder e a hierarquização masculina” (FILHO e ZICA, 2010, p. 181).

Segundo Caldas (1997), esse modelo de Homem foi herdado da sociedade patriarcal, a

burguesia clássica, cuja austeridade foi vinculada ao valor do trabalho trazido pela Revolução

Industrial. Cabe ao homem ser forte, provedor, poderoso e político e, ao mesmo tempo, deve

se afastar daquilo que remete ao seu universo oposto, o feminino.

Entretanto, a partir da segunda metade do século XX o tradicional e rígido modelo de

identidade masculina,, até então construído, passa a ser questionado. Segundo o sociólogo

Stuart Hall (2006), a partir desse momento, não existe mais um único modelo referencial a ser

seguido, como percebido em alguns períodos da história recente. As referências se tornaram

multifacetadas, dando origem a identidades também múltiplas.

Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. (HALL, 2006, p. 02).

Hall (2006) analisa a questão da construção das identidades na pós-modernidade sob a

esfera de coletividade, como uma representação que é resultado de um conjunto de

significados compartilhados em sistemas culturais específicos. Segundo o autor, a concepção

sociológica de identidade não é mais definida biologicamente, mas sim historicamente, fruto

da interação entre o indivíduo na sua singularidade e a sociedade. Dessa forma, “preenche o

espaço entre o interior e o exterior - entre o mundo pessoal e o mundo público. (...) Estabiliza

tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos

reciprocamente mais unificados e predizíveis” (HALL, 2006, p. 02).

Entretanto, esse modelo unificado e estável de identidade está se tornando cada vez

mais fragmentado. O equilíbrio entre as identidades individuais (espaço interior) e as

"necessidades" objetivas da cultura (espaço exterior) já não são mais capazes de trazer a

estabilidade anteriormente vista nas sociedades. “O próprio processo de identificação, através

do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e

problemático” (HALL, 2006, p. 02).

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Resultado dessas mudanças estruturais e institucionais, Hall (2006) entende que a

formação das identidades na pós-modernidade acabou por se mostrar cada vez mais

provisória, fragmentada e em constante construção.

Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma "celebração móvel": formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. (HALL, 2006, p. 02).

Nesta perspectiva de identidade compreendida como culturalmente formada, segundo

Hall (2006), as transformações percebidas nas sociedades modernas no final do século XX

fragmentaram o cenário cultural que, até então, oferecia estáveis posicionamentos para os

indivíduos, tanto na esfera social quanto nas próprias identidades pessoais, alterando

profundamente o entendimento sobre variados campos, inclusive as questões relativas à

construção das identidades de gêneros.

A discussão a respeito da masculinidade na pós-modernidade tem alcançado relevos

também cada vez mais fragmentados e multifacetados. Segundo Scott (1989), o estudo do

gênero coloca em debate questões que vão muito além do sexo e da sexualidade, incluindo

pontos que ultrapassam o caráter fixo da tradicional oposição binária homem-mulher, há tanto

discutida.

O gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as “construções sociais” – a criação inteiramente social das ideias sobre os papeis próprios aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres. O gênero é, segundo essa definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. (SCOTT, 1989, p.7).

Se a oposição biológica entre homem e mulher é evidente, a oposição entre masculino

e feminino é discutível. Em uma entrevista dada em 2012 sobre a possibilidade de uma

cultura sem distinção de gêneros, Ann Pellegrini alega que a divisão da sociedade em gêneros

é algo do qual não se pode fugir.

A fantasia, vou chamar de fantasia, de que alguém pode ser livre de gênero está destinada a falhar porque não vivemos numa cultura que permite isso. [...] Nós vivemos num mundo que sempre nos divide em dois grupos quando se trata de, abro aspas, sexo feminino e masculino. E nos confrontamos diariamente com uma escolha. Uma placa diz: loja masculina. A outra, loja feminina. Qual delas devemos escolher? (Pellegrini, 2012).

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De acordo com Lipovetsky (1989) as diferenças biológicas e simbólicas entre homens

e mulheres persistem, sem possibilidades de completa anulação. Entretanto, se esta

impossibilidade se atrela às características sexuais biológicas, no tocante às construções

sociais e simbólicas, esta linha divisória se torna cada vez mais tênue. A construção da

feminilidade e das masculinidades atende a contextos sociais impostos, percebidos e refletidos

de maneiras distintas e a moda reflete este processo.

A moda não elimina todos os conteúdos referenciais, não faz flutuar as referências na equivalência e na comutabilidade total: a antinomia do masculino e do feminino aí está em vigor como uma oposição estrutural estrita, onde os termos são tudo salvo substituíveis. (Lipovetsky, 1989, p. 132).

Nesta seara, a identidade masculina e seus referenciais de formação identitária são

postos em discussão. Ao discutir o uso da categoria do gênero historicamente, Scott (1990)

chama a atenção para a representação socialmente construída acerca do conceito de

masculinidade. Segundo a autora, os discursos que permeiam os contextos sociais vigentes

são determinantes dos papéis que devem ser seguidos pelos homens. Assim, o gênero

masculino é uma representação cultural, construída por discursos sociais pertinentes e úteis a

dado momento histórico, passível então de influencias de processos sociais.

Desde a modernidade, esses padrões vêm sendo constantemente alterados pelos novos

papeis que homens e mulheres vêm assumindo. Os critérios que antes estabeleciam o que era

pertencente ao gênero masculino não mais podem ser utilizados como padrão comportamental

em uma sociedade que se mostra tão multifacetada.

Com a fragmentação das identidades na segunda metade do século XX, a visão

conservadora da masculinidade começa a sofrer profundas transformações. Papeis e funções

sociais são constantemente questionados, no que é chamado de crise da masculinidade:

“muitos homens relutam em projetar uma imagem que se desvie dessas normas. Em geral,

para a mentalidade popular, a identidade masculina é fixa e inata, e não socialmente

construída” (CRANE, 2006, p. 354).

Com a transição para a sociedade pós-industrial, no final da década de 1960, a

construção da identidade masculina passa a ser afetada por fatores que antes não exerciam

influência.

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Pelo fato de os homens se identificarem mais estritamente com a esfera profissional que as mulheres – já que elas ainda permanecem até certo ponto como “intrusas”, cuja presença é tolerada em razão da necessidade econômica ou da legislação governamental - a tese pós industrial é particularmente pertinente à natureza das identidades masculinas. (CRANE, 2006, p. 339).

Os movimentos de contracultura e de libertação sexual propuseram uma nova visão

acerca do tradicional papel desempenhado pelo modelo masculino vigente. Segundo Godelier

(2010), as feministas, ao chamar a atenção para o papel social das mulheres, levantaram

questões muito mais amplas e profundas, colocando em debate as tradicionais análises quanto

à diferenciação de gêneros. A partir dos novos papeis desempenhados pelas mulheres na

sociedade, a onipresença masculina em certos campos do cenário social perde seu espaço. O

homem, até então estabilizado em seu papel, se viu diante de uma nova realidade social, onde

sua irrevogável importância foi questionada. A masculinidade, então, adentra uma

conceituação muito mais simbólica que fática, se relacionando com processos de subjetivação,

que aponta para ideais culturais.

As transformações percebidas nos conceitos de identidade e masculinidade são

reflexos diretos das mudanças sociais contemporâneas, em processos contínuos, e cada vez

mais rápido. Estas transformações acabam por gerar uma instabilidade na formação e

determinação dos padrões identitários dos homens em seu meio social. Hall trata essa

instabilidade como uma crise de identidade e a situa como “parte de um processo mais amplo

de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e

abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável do

mundo social.” (HALL, 2006, p.07).

A identidade masculina se configura, neste sentido, como parte desta crise de

identidade vista em um amplo processo de mudança, que deslocou o indivíduo de seu papel

social até então estabelecido, tornando os homens prisioneiros de seus valores. Assim, sua

masculinidade, enquanto valor simbólico, foi recriada e resignificada de acordo com os novos

padrões sociais e, cada vez mais, esta posição vem dando lugar a uma maior e mais ampla

seara de discussão e o espaço do homem na sociedade ganhando novos contornos.

As razões para a implosão do modelo patriarcal de masculinidade são numerosos, indo bem além das questões de especificidade de gênero. […] Atualmente existem masculinidades plurais, ou seja, não há mais apenas um modelo a ser seguido. O homem contemporâneo constrói novos significados

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sobre o seu corpo e começa a manipular muito mais elementos para sua constituição visual corporal. (SENA E CASTILHO, 2011, p. 52).

Todas estas mudanças percebidas no comportamento masculino podem ser analisadas

a partir de muitos aspectos. A moda e suas escolhas de vestuário são, segundo Crane (2006),

um instrumento de suma importância tanto na construção dessa nova identidade como na

comunicação destes novos parâmetros para a sociedade.

2.2 OS HOMENS E A E CONSTRUÇÃO SOCIA DA MASCULINIDADE

Se antes o homem se via em uma posição segura e confortável no que se refere aos

reflexos de seu comportamento a partir de suas escolhas, hoje isto é posto em xeque. “O

mundo hoje vive (e reivindica) uma existência do plural, do indivíduo múltiplo vagando e

manipulando uma teia de identidades” (SANTANA, 2002, p. 89) e os homens precisam se

posicionar. A moda, enquanto construção social simbólica e relativa de comportamentos se

insere neste contexto.

Foi na segunda metade do século XIX que a moda passa a ser tratada como um

assunto eminentemente feminino. Segundo Braga (2008), com a emergência da sociedade

capitalista, o homem passa a se impor pelo que produz, ao mesmo tempo em que se distancia,

cada vez mais, do que participa do mundo feminino. O ideal de homem deste período era

aquele que correspondia ao modelo burguês onde os valores morais masculinos eram oriundos

do trabalho.

Esteticamente, a moda continuou sendo uma preocupação, mesmo no âmbito

masculino. Estilos e modos foram seguidos pelos homens no século XIX, mas “a roupa

masculina é influenciada, em vários níveis, por uma preocupação em cancelar o feminino (...)

o ridículo de vestir-se de um modo que possa ser visto pelos outros como feminino”

(HARVEY, 2003, p. 256).

Assim, segunda Souza (1987), o século XIX pode ser considerado mais expressivo

quando se trata do distanciamento da moda feminina e masculina. A vestimenta masculina

deixa de lado todos os excessos típicos da vestimenta feminina, no qual o princípio de

sedução ou atração é o norteador, adotando trajes cada vez mais ascéticos, condizentes com

aquilo que se espera da roupa moderna.

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Segundo Anne Hollander (1996), os padrões de elegância masculina neste período são

originários da aristocracia inglesa que se posicionavam em direta oposição aos hábitos

exibicionistas e exagerados da corte francesa. Os volumes foram totalmente retirados e o traje

masculino era reto e justo. As cores eram sempre as mais sóbrias e escuras possíveis. Os

acessórios davam conta de diferenciar aqueles dotados de poder econômico e posição social

elevada: gravata, cartola e relógio de bolso eram fundamentais nos trajes. A barba bem

cortada e volumosa complementava o visual masculino do século XIX.

Muitas das categorias estéticas até hoje designadas para determinar os valores de

masculinidades foram delineadas ainda no século XIX. Segundo Crane (2006), os estilos de

vestuário masculino seguiram uma tradição restrita e limitada, sempre voltada para o passado.

As inspirações masculinas, por muito tempo, se ativeram ao período anterior a Segunda

Grande Guerra, principalmente quando o traje em questão é o terno. Segundo a autora, nas

décadas de 1980 e 1990 a grande inspiração neste tipo de vestimenta ainda eram os astros do

cinema da década de 1930 e a realeza britânica.

Na moda, as diferenciações entre masculino e feminino são facilmente percebidas.

Essa capacidade de expressão da qual a roupa é dotada funciona como uma verdadeira forma

de comunicação, representando sentimentos, ambições, possibilidades e ideais materializados

e apresentados ao mundo sob forma de roupas.

Quando se observam os desfiles de moda, tem-se um universo dividido em gêneros, masculino e feminino, sendo que alguns estilistas chegam a se especializar ou a serem reconhecidos através de roupas feitas principalmente para homens ou para mulheres. [...] As distinções mais óbvias que podem ser observadas no mercado de moda são, portanto, aquelas que dizem respeito às diferenças de gênero, independente da classe ou do grupo social a que se faça referência. (BERGAMO, 2004, p.85).

Entretanto, apesar de todo o tradicionalismo ainda presente na moda masculina, a

segunda metade do século XX aponta para as primeiras mudanças significativas na relação do

homem com a moda.

Falava-se, então, de peacock revolution – a “revolução do pavão”, termo que se referia ao fato de que os homens estariam permitindo-se mais vaidade, integrando em sua forma de vestir elementos antes exclusivos das mulheres, como as cores fortes e o brilho. É o momento em que explodem a “moda jovem”, o jeans, o unissex (CALDAS e QUEIROZ, 1997, p. 150).

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A moda, que até então parecia hegemônica, inquestionável e imutável, opera em uma

outra direção. “Nos anos de 1950 e nas transformações do pós-guerra, o consumo se acentuou

e novas possibilidades começaram a se abrir ao vestuário masculino.” (SENA e CASTILHO,

2011, p. 49). Segundo as autoras, duas vertentes da moda masculina podem ser notadas: de

um lado o visual contestador dos jovens e de outro o estilo tradicional que, embora não

explore tanto a beleza como a juventude, começa a valorizar os cuidados com o corpo e com

as escolhas de vestuário em nome de uma “boa aparência”.

Nos anos 1960 a construção das novas identidades masculinas alcança outros

patamares e, segundo Caldas e Queiroz (1997), a palavra de ordem é libertação, permitindo

aos homens uma relação com a vaidade e com seu corpo. Para os autores, o interesse

masculino pela moda é um reflexo desse momento. “A visão conservadora que regia a moda

masculina começa, afinal, a passar por transformações. Como uma verdadeira revolução, com

prós e contras, os homens começaram a se rebelar diante das tradições” (BARROS, 1997, p.

137).

Ao longo dos anos 1970, estas modificações se aprofundam ainda mais. “Muitas

possibilidades despontam no decorrer das conquistas, seja do feminino nos negócios ou do

masculino nas passarelas” (CALDAS e QUEIROZ, 1997, p. 152). Segundo Barros (1997), a

importância que a roupa assumiu na vida moderna, assim como as novas e mais fáceis

possibilidades de aquisição são as grandes transformações percebidas no cenário masculino

no século XX e que persistem no século XXI.

É neste sentido que o consumo de itens de moda pelo público masculino

desempenha seu mais relevante papel social. Abandona a ideia tradicional de necessidade e

critérios de divisão de classe social e funciona como um instrumento de mensuração para o

estudo das práticas sociais e da construção das identidades de gênero. Assim, “a moda é o

fenômeno que melhor demonstra esta capacidade e necessidade de mudanças da sociedade,

que é refletida no processo de consumo” (MIRANDA, 2008, p. 17).

Comprar objetos, (...) são recursos para se pensar o próprio corpo, a instável ordem social e as interações incertas com os demais. Consumir é tornar mais inteligível num mundo onde o sólido se evapora. Por isso, para além de serem úteis para a expansão do mercado e a reprodução da força de trabalho, para nos distinguirmos dos demais e nos comunicarmos com eles, como afirmam Douglas e Isherwood, “as mercadorias servem para pensar”. (CANCLINI, 1995, p.59).

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De acordo com Canclini (1995), o consumo não pode ser interpretado como um

simples cenário de trocas supérfluas, mas sim como um espaço de reflexão e questionamento,

uma maneira eficaz de mesurar os resultados desse processo de formação da identidade. O

autor acredita que a identidade contemporânea está diretamente relacionada àquilo que cada

um deseja possuir, pautada por reflexos de grupos e influências culturais. Assim, a mudança

da postura masculina em relação à moda reflete as profundas transformações do papel dos

homens na sociedade, extrapolando esse contexto.

Essa nova identidade masculina que está surgindo necessita de identificação e

legitimação. Nesse sentido, a mídia exerce um papel de propagador dessas novas identidades

contribuindo para a proliferação dos valores simbólicos percebidos entre as novas

possibilidades de formação da identidade masculina e a moda.

A mudança para uma estrutura social pós-industrial com uma cultura de mídia pós-moderna aumentou as possibilidades de auto-expressão e diminuiu as restrições sociais e organizacionais tradicionais. Nesse novo terreno cultural proliferam códigos culturais, na medida em que os grupos procuram estabelecer nichos culturais em que seus membros possam assimilar seletivamente as influências da mídia e de seu ambiente mais próximo. O resultado é uma complexa cultura multicodificada [..]. (CRANE, 2006, p. 394).

Assim, moda, mídia e consumo caminham juntos na formação da identidade do

homem contemporâneo. A construção da identidade masculina contemporânea, tendo o

consumo de moda como possível mecanismo de mensuração destes aspectos, se mostra um

tema de grande relevância nos estudos que investigam a moda em seus movimentos de

reflexão e produção, embasados em processos e interpretações sociais na convergência com

outros campos do conhecimento para uma análise crítica de moda.

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3 O CONSUMO DE MODA MASCULINA: PESQUISA DE CAMPO

O consumo a partir dos gêneros foi pouco estudado academicamente, sobretudo as

relações entre o gênero masculino e a moda. A compreensão das mudanças nas escolhas de

moda reflete as profundas transformações do papel do homem contemporâneo, extrapolando

esse contexto.

À primeira vista, isso poderia parecer apenas um fenômeno de passarela, mas a questão era mais complexa: as mudanças da moda refletiam, exemplarmente, transformações mais decisivas que estariam ocorrendo no comportamento e nos papéis masculinos, fruto, por sua vez, da crise de identidade que o homem contemporâneo atravessa e que vem sendo estudada por psicólogos e sociólogos há mais de uma década. (CALDAS, 1997, p. 149)

A partir deste questionamento deu-se início a uma pesquisa de campo que buscou

avaliar a importância dada à moda pelos homens contemporâneos.

3.1 DELINEADORES METODOLÓGICOS DA PESQUISA DE CAMPO

A pesquisa de campo foi realizada na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, e teve

como público alvo os frequentadores de um shopping localizado na cidade voltado para um

público de classe média. O Independência Shopping está situado na zona sul da cidade e é

considerado o maior de toda a região.

Até a inauguração do shopping, ocorrida em abril de 2008, todo o comércio da cidade

era localizado no centro, que abarcava tanto o comércio popular quanto o voltado para outras

camadas da sociedade. Com a construção do shopping, percebeu-se uma divisão no comércio

local. Apesar de o centro da cidade ainda ser o responsável pela maior parte das lojas de

varejo masculino de moda, é neste novo estabelecimento que se concentram as lojas voltadas

para o público aqui pesquisado.

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Assim, o Independência Shopping foi escolhido por conter uma concentração grande

de lojas de vestuário masculino voltadas para a classe média, público aqui pesquisado. A

pesquisa foi realizada entre os dias 17 e 23 de dezembro, período de bastante movimento no

local em função das festas de fim de ano.

Nos primeiros dois dias de pesquisa foi realizada uma observação no local a fim de

observar a presença de homens, bem como a sua categorização condizente com a escolhida

como público alvo da pesquisa. Durante esta observação percebeu-se que o fluxo de homens

era quase inexpressivo nos turnos da manhã e da tarde. A incidência de homens também foi

maior no final de semana. Outro ponto bastante observado foi o fato de que, na maior parte

das vezes, observa-se que a presença dos homens neste ambiente de comércio se dá na

companhia de alguma mulher.

A proposta da pesquisa foi realizar uma entrevista com homens que frequentam o

local, independente de terem ou não efetuado a compra de algum item de moda. Como o

objetivo principal da pesquisa é avaliar a importância dada à moda pelos homens

contemporâneos, a aquisição ou não de produtos não tem efetiva relevância no resultado.

A amostragem aleatória foi a abordagem metodológica escolhida. A pesquisa se deu

no interior do shopping, nas proximidades das lojas voltadas especificamente para este

público. É importante ressaltar que todos os homens abordados durante a pesquisa se

propuseram a participar. Quando informados a respeito do assunto da pesquisa, as reações

foram as mais diversas, oscilando em um interesse imediato às manifestações de total

desconhecimento sobre o assunto.

Foram entrevistados 10 (dez) homens com idades variando entre 20 e 41 anos. Apesar

de não ser exigido que os participantes se identificassem nenhum deles se manifestou no

sentido de manter sua identidade em sigilo. Duarante a análise e exposição dos dados apenas

seus prenomes, profissões e idade serão apresentados. Os entrevistados foram: Adilson, 34

anos, médico; Roberto, 38 anos, representante comercial; Lucas, 31 anos, sushiman; Pedro, 32

anos, dentista; Matias, 20 anos, estudante; Artur, 24 anos, estudante; Wanderson, 41 anos,

funcionário público; Tiago, 29 anos, empresário; Alan, 30 anos, personal trainer; Daniel, 43

anos, professor.

O roteiro utilizado na entrevista segue anexo a este trabalho e foi dividido em duas

etapas. Na primeira etapa foram analisadas as questões referentes à noção de moda, o

conhecimento sobre o assunto e a importância dada ao tema pelos entrevistados. Na segunda

etapa, foi abordada a questão do consumo de moda buscando elucidar questões referentes a

objetivos e valoração desses produtos.

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Na análise o que se buscou foi apresentar uma análise acerca do conteúdo discutido,

com critérios qualitativos e não quantitativo. O que se buscou foi traçar pontos de

convergência e distanciamento no tocante a moda e sua percepção pelo publico masculino.

3.2 PERCEPÇÃO SOBRE O FENÔMENO

As duas primeiras perguntas do questionário dizem respeito à percepção do fenômeno

da moda para os entrevistados:

1) O que você entende por moda e o que importância isso tem para você?

2) O que é estilo para você e como definiria o seu?

Dos dez participantes da pesquisa, oito deles conceituaram a moda como aquilo que se

percebe como o mais utilizado no vestuário, mas não sabiam ao certo conceituar o termo.

Quanto à importância dada ao fenômeno da moda, a maior parte deles disse não ser este algo

relevante em suas vidas. Dois deles, o mais novo da pesquisa e o mais velho, alegaram não

entender nada a respeito de moda e não se interessar em absoluto pelo assunto.

“É o que está todo mundo usando, a tendência do momento. Às vezes eu gosto de algumas coisas e acabo seguindo” Alan, 30 anos, personal trainer. “Moda é aquilo que a maioria das pessoas está usando” Artur, 24 anos, estudante. É aquilo que está vestindo. Acho legal saber, mas não sou fanático com essas coisas” Pedro, 32 anos, dentista. “Não entendo nada de moda. Às vezes tenho que colocar umas coisas melhores porque a mulherada gosta” Matias, 18 anos, estudante. “Não entendo muito não. Acho que isso é coisa mais de mulher” Daniel, 43 anos, professor.

Quanto à questão de estilo nove dos dez participantes associaram o estilo ao gosto

particular de cada um, sendo este um reflexo das preferências subjetivas do indivíduo em

relação aquilo que gosta no vestuário. Apenas um dos entrevistados associou a questão do

estilo a conhecimento de moda, a um diferencial nas escolhas pessoais.

“Eu acho que tem a ver com o que cada um escolhe, as preferências. O meu é básico, comum’ Pedro, 32 anos, dentista.

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“Estilo é o que cada um gosta, o que te interessa. Eu gosto de muita coisa. Não sei definir o meu.” Lucas, 31 anos, sushiman. “Eu sou bem exigente, gosto do que é bom e do que me cai bem. Acho que um estilo só eu não tenho. Vou misturando um pouco das coisas que gosto” Adilson, 34 anos, médico. “Estilo é o que a pessoa gosta. Eu gosto de coisa prática, fácil de combinar” Artur, 24 anos, estudante. É aquele cara que conhece as coisas, quando a gente diz “aquele cara tem estilo’. Quando usa umas coisas diferentes” Alan, 33 nos, personal trainer.

3.3 INFORMAÇÕES DE MODA

As perguntas 04 e 05 do questionário abordaram a questão da informação a respeito da

moda e das tendências que estão sendo oferecidas:

4) Como você sabe o que “está na moda” e o que já não é mais usado. Isso influencia as suas

escolhas?

5) Você busca informações sobre tendências de moda, aonde?

Nenhum dos entrevistados manifestou se interessar pelas informações de moda e que

não buscam estas informações. Entretanto, seis deles relataram que acabam obtendo estas

informações de maneiras indiretas. Dentre as principais fontes foram citados os programas de

televisão e aquilo que é visto nas ruas e entre os amigos mais próximos.

“Não procuro, mas acabo vendo na TV” Adilson, 34 anos, médico. “Não. Vai do que a gente vê na rua, com os amigos” Alan, 30 anos, personal trainer. “Não procuro, mas a gente fica de olho. Os colegas, na rua, na balada. Dá para ter uma noção. A TV também é bem legal pra isso” Lucas, 31 anos, sushiman. “Vejo muito pelo o que os meus amigos que entendem mais disso estão usando” Wanderson, 41 anos, funcionário público “Vejo em alguns programas que dão uns toques legais sobre isso, mas não procuro” Thiago, 29 anos, empresário.

Quando questionados sobre a importância em “estar na moda” nas suas escolhas,

alguns se manifestaram em total discordância com esta imposição. Outros alegaram que não

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se trata de uma norma que deve ser seguida a risca e que determinadas imposições são

exageradas, tanto em se tratando de modismo quanto de peças que estão totalmente em

desuso. Entretanto, mesmo não seguindo ficou claro que todos os participantes da pesquisa

sabem o quanto a moda oscila e que aquilo que muitos modismos são temporários.

“Uso o que eu gosto há muito tempo. Não gostos destes modismos não” Adilson, 34 anos, médico. “Não influencia muito não. Eu compro quase sempre as mesmas coisas. Nem sei se está na moda.” Roberto, 38 anos, representante comercial. Influencia um pouco. Se eu gosto, eu uso. O que eu não gosto, eu não uso. Hoje é fácil saber o que ta na moda” Tiago, 29 anos, empresário. “Tem umas coisas que a gente sabe que já passou, que não dá mais pra usar” Pedro, 32 anos, dentista. “Depende. Tem umas coisas que são muito esquisitas e aí não rola de usar, outras a gente já usa.” Alan, 30anos, personal trainer.

3.4 AS PREFERÊNCIAS

As preferências de cada um quanto à moda foram abordadas tanto nas questões

relativas à moda quanto na parte do questionário que trata do consumo, nas questões 06, 14 e

15.

6) O que você gosta de vestir, de usar? Como são essas peças? Algum acessório?

14) Que peça você mais gosta de comprar e o que você não usaria de maneira alguma?

15) Você já se arrependeu de alguma peça que tenha comprado? Tem alguma peça que deseja

muito ter?

Quando questionados sobre aquilo que era de sua preferência vestir todos os

entrevistados especificaram claramente aquilo que gostavam e que tipo de peça vestiam.

Nenhum deles diferenciou roupas de acessórios, descrevendo todos os itens em um grande

conjunto. Outro ponto observado nesta pergunta diz respeito à importância dada aos trajes de

trabalho. As atividades eram levadas em consideração na hora descrever suas preferências,

mesmo quando não há a exigência de um traje específico ou de um uniforme.

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“O que eu mais uso são roupas esportiva por causa do meu trabalho” Alan, 30 anos, personal trainer. “Como trabalho de branco gosto de usar roupas coloridas quando saio. É muito difícil eu usar branco fora do consultório” Pedro, 32 anos, dentista. “Gosto de umas roupas mais modernas. Esse estilo muito tradicional não me agrada, não. No geral, uso quase de tudo” Tiago, 29 anos, empresário. “Calça, camisa social, sapato e cinto. Só as cores que podem variar. É isso quase sempre” Roberto, 38 anos, representante comercial. “Sou básico, nada de muito especial. No trabalho que fica um pouco mais complicado: por causa do branco não dá para inventar muito” Adilson, 34 anos, médico “Gosto de calça jeans, bermuda e camiseta e tem que ser grande. Gosto muito dessas camisas de instituições, congressos, ONGs... coisas da minha área” Daniel, 43 anos, professor. “Gosto muito de camisas de cores forte e botas.” Wanderson, 41 anos, funcionário público “Não gosto de nada muito sério, roupa tipo social. é jeans, camiseta e tênis. No trabalho é sempre o uniforme então não conta” Lucas, 31 anos, sushiman. “Uso calça, bermuda, camisa de malha e tênis, quase sempre, 99% do tempo. Só não gosto que a camisa marque a barriga.” Artur, 24 anos, estudante “Como eu ando muito de skate as roupas tem que ser larga. Não dá pra ficar apertando. É bermuda, camisa e tênis.” Matias, 20 anos, estudante.

Quando perguntados sobre as peças que mais gostam de comprar seis dos dez

entrevistados manifestaram a preferência por sapatos e tênis na hora da compra. O outro item

que foi também bastante mencionado foram camisas e camisetas. Quanto àquilo que não

usariam de maneira alguma não usaria de maneira alguma, as repostas foram bem variadas,

mas todos os participantes mencionaram algo que eles realmente não gostavam.

“Camiseta. Calça social eu não uso não.” Matias, 20 anos, estudante. “Gosto muito de camisas. Não uso calça xadrez. Tenho visto nas lojas, mas não conseguiria usar.” Adilson, 34 anos, médico. “Camisas, gosto muito. Essas calças coloridas, justas. De jeito nenhum.” Roberto, 38 anos, representante comercial “Gosto de comprar camisa pólo, de todas as cores, inclusive branca por causa do trabalho.” Pedro, 32 anos, dentista.

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“Gosto muito de comprar sapato e tênis. O que eu não uso é bermuda jeans, detesto!” Tiago, 29 anos, empresário. “De tênis eu gosto muito. Camisa estampada só em festa a fantasia.” Alan, 30 anos, personal trainer. “Camiseta e tênis são o que eu mais compro. Essas sandálias masculinas de couro eu não uso, não.” Artur, 24 anos, estudante.

Quando perguntados sobre possíveis arrependimentos sobre alguma peça comprada e

sobre peça que deseja muito comprar as repostas foram bem diversas. Quanto aos

arrependimentos, quatro dos entrevistados alegaram não se arrepender ou de não se lembrar

de nada neste sentido. Daqueles que haviam se arrependido, este se deu na maior parte das

vezes nas compras por impulso e em promoções. Já no que tange aos desejos para as próximas

compras, apenas cinco dos entrevistados mencionaram já terem algum item em vista, variando

entre tênis, relógios, casacos e calças jeans.

“Sim, ainda mais quando compro em promoção apara aproveitar o preço. Acabo não usando. Hoje quero comprar uma calça jeans” Adilson, 34 anos, médico. “Umas camisas muito coloridas que comprei e acabei não usando. Quero um casaco de couro para o próximo inverno.” Roberto, 38 anos, representante comercial “Um cachecol caro que eu comprei de onda e nunca consegui usar” Tiago, 29 anos, empresário “Tenho um caso muito bonito que comprei, mas está todo desfiado. Foi barato e não valeu à pena” Daniel, 43 anos, professor. “Tenho um terno que comprei pra uma formatura. Foi a única vez que usei.” Devia ter alugado! Quero comprar um tênis que acabei de ver na loja, mas ta caro. Vai esperar” Lucas, 31 anos, sushiman. “Várias vezes. Aproveito as promoções e acabo não usando a maior parte. Quero um tênis novo” Wanderson, 41 anos, funcionário público. “Não me lembro de nada que tenha arrependido. Estou querendo um relógio” Pedro, dentista, 32 anos.

3.5 ELEMENTOS DE VALORIZAÇÃO E INFLUENCIADORES NA AQUISIÇÃO DE

ARTIGOS DO VESTUÁRIO

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Quando avaliados os critérios de valoração masculina a respeito da moda, foram feitas

dois tipos de abordagem. Em uma pergunta discursiva, questão 03, foi questionado o que

significava para cada um deles estar bem vestido. Em seguida, em questões objetivas,

questões 10 e 11, foi pedido que cada um determinasse aquilo que era valorizado na hora da

compra e o quanto eles pagariam por cada um das peças mencionadas.

3) O que é estar bem vestido para você e como você sabe que alguém está bem vestido?

10) Quando você vai comprar uma roupa ou um acessório, o que você valoriza?

� Preço

� Modelagem

� Beleza

� Conforto

� Qualidade e Acabamento

� Conformidade com a moda

� Outros________________

11) O quanto você considera o valor máximo para se pagar nas peças abaixo: Calça Jeans R$ ________________________ Relógio R$ ____________________________ Camisa Social R$ _____________________ Sapato Social R$ _______________________ Camisa Social R$_______________________ Tênis R$_____________________________ Camiseta R$_________________________

Quando questionados sobre o que cada um considera estar bem vestido, tanto ele

mesmo quanto terceiros, metade dos entrevistados atribuiu a características da própria roupa

as razões para se estar bem vestido. Nestes casos, qualidade e preço foram os atributos mais

mencionados. Os demais participantes alegaram que o fundamental para que alguém possa ser

considerado bem vestido é a roupa estar de acordo com o gosto de cada um.

“É estar bem, ficar bonito na roupa. Tem coisa que fica bem “naquela” pessoa. Tem que combinar com o cara.” Lucas, 31 anos, sushiman. “Tem que ficar bacana, combinar com a pessoa. Tem gente que fica parecendo personagem de filme” Pedro, 32 anos, dentista. “Depende do que cada um gosta, do estilo de cada um.” Alan, 30 anos, personal trainer. “Tem que Sr uma calça boa, uma camisa de uma loja importante, uma roupa chique, boa.” Wanderson, 41 anos, funcionário público “E quando a roupa fica boa, veste bem sem apertar.” Roberto, 38 anos, representante comercial “É usar roupa de qualidade. Acho que é o mais importante para estar bem vestido.” Tiago, 29 anos, empresário

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No que se refere ás questões objetivas, o preço apareceu como o critério de valoração

mais observado, seguido do conforto. Beleza, qualidade e acabamento, modelagem foram

critérios pouco escolhidos. Apenas um dos participantes alegou que estar na moda é um

critério observado quando se busca uma roupa. Os resultados estão na tabela abaixo.

Critérios oferecidos

Preço 8

Modelagem 2

Beleza 3

Conforto 7

Qualidade e acabamento 3

Conformidade com a moda 1

Outros 0

Ao serem questionados sobre o quanto pagariam, no máximo por algumas peças de

roupa, aquelas que foram mais valoradas são aquelas por eles consideradas básicas, de uso

rotineiro como a calça jeans, a camiseta e o tênis. Itens como camisa social, terno, relógio e

sapato social foram considerados, por alguns dos participantes, inúteis e por isso eles

alegaram que valeria a pena pagar nada por eles. O relógio foi o item pelo qual os

entrevistados se mostraram mais propensos a pagar mais. Os valores e média total estão no

quadro abaixo.

Item Maior valor

atribuído

Menor valor

atribuído

Média de

valoração

Calça Jeans R$ 500,00 R$ 70,00 R$ 195,00

Camisa Social R$ 250,00 R$ - R$ 120,00

Camiseta R$ 200,00 R$ 30,00 R$ 213,00

Terno R$ 500,00 R$ - R$ 220,00

Relógio R$ 1.000,00 R$ - R$ 460,00

Sapato Social R$ 300,00 R$ - R$ 130,00

Tênis R$ 500,00 R$ 150,00 R$ 330,00

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3.6 PREOCUPAÇÕES SOCIAIS E IMPRESSÕES

Para avaliar as preocupações e impressões de cunho social atribuída as roupas foram

propostas duas questões, 7 e 8.

7) A impressão que a roupa causa em outras pessoas influencia a sua escolha?

8) Que impressão você busca passar para os outros com suas roupas?

Neste sentido a roupa foi considerada pela maioria um importante instrumento no

tocante a impressões sociais sobre eles. Parecerem “bem”, bonitos foi a principal impressão

relatada que se busca passar através daquilo que eles escolhem pra vestir. Roupas que estejam

de acordo com o ambiente de trabalho e passem credibilidade também foi apontado como

algo importante na hora da escolha do que vestir. Outro fator mencionada diz respeito a idade.

Em alguns casos, os entrevistados mencionaram que buscam parecer mais jovens através das

roupas.

“Com certeza, ainda mais na minha profissão. Sou vaidoso, gosto de estar bem vestido, acho que demonstra capricho” Adilson, 34 anos, médico. “Influencia. Gosto de roupa jovem, mais moderna. Gosto de parecer jovem, não quero parecer coroa.” Daniel, 43 anos, professor. “Gosto de parecer a idade que tenho, não gosto de roupas que me deixem mais velho” Artur, 24 anos, estudante. ‘No meu trabalho, tem quase um uniforme, então isso fica bem definido. Pra sair eu gosto de roupas bonitas, pra fica bonitão. No trabalho tenho que estar impecável. Fora isso, é ficar bem” Pedro, 32 anos, dentista. “Claro, ainda mais no meu caso que trabalho com o corpo. Isso tudo influencia muito. Preciso parecer saudável, forte. Isso é fundamental no meu trabalho, Escolho as minhas roupas por aí.” Alan, 30 anos, personal trainer. “Claro! A gente quer ficar bem. Não dá para usar qualquer coisa, em qualquer lugar. Quero ficar bem, com uma roupa bacana, arrumado. Mulher gosta de homem arrumado” Lucas, 31 anos, sushiman. “Influencia. Vão achar que a gente não sabe comprar roupa. A pessoa tem que ter boa aparência. No dia a dia não ligo muito não. Quando eu saio gosto de usar umas coisas melhores, escolho mais” Wanderson 41 anos, funcionário público. “Sim, ainda mais no trabalho. Tem que estar bem vestido, passar boa impressão. Gosto de estar bem, mostra que eu me cuido. Acho isso importante” Tiago, 29 anos, empresário.

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3.7 O ATO DA COMPRA (FREQUÊNCIA, LUGAR E RAZÕES)

A forma como cada um dos entrevistados compra suas roupas foi abordada em três

perguntas que buscaram aferir freqüência, motivação e lugar para compra, nas questões 9, 12

e 13 do questionário.

9) Quando foi a última vez que você comprou uma roupa? Qual peça? Por qual motivo?

12) Onde você costuma comprar suas roupas e outros artigos do vestuário e por quê?

13) Quanto à frequência, de quanto em quanto tempo você compra roupas? Existe alguma

ocasião especial em que você compra?

A maior parte dos entrevistados, seis deles, alegou não se lembrar exatamente de qual

foi a sua última compra. Dois dos participantes disseram que suas roupas geralmente são

compradas por outras pessoas (mãe e esposa). Os outros dois haviam acabado de comprar

peças.

Quanto ao lugar escolhido para compras, nove dos dez participantes alegaram que o

conforto e praticidade são fundamentais na gora de escolher. Um dos entrevistados respondeu

que costuma fazer compras na sua cidade, São João Nepomuceno, pela variedade e preço que

encontra lá. Somente um dos entrevistados disse utilizar a internet para fazer compras.

A maior motivação para as compras masculinas ainda é a necessidade. Quanto a uma

motivação específica, nenhum deles mencionou datas ou eventos especiais como razão para

compra de novos itens de vestuário.

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4 CONCLUSÃO

A pesquisa de campo realizada através do questionário foi uma experiência de

sondagem que não permite generalizações, mas aponta pistas. Mostra que o consumo de moda

entendido a partir de suas perspectivas culturais é um instrumento eficaz para a compreensão

dos ideais de masculinidade do homem contemporâneo. As manifestações masculinas em

relação à moda apontam para uma maior interatividade com fenômeno, já anteriormente

observado por estudos históricos desse campo: a importância das escolhas de vestuário,, da

formação da identidade do indivíduo e sua relação com os estilos de vida.

Dentre os elementos que foram observados para se demarcar aproximações e distanciamentos,

destaca-se: 1) trabalho e lazer como esferas distintas para a imagem masculina; 2) o suposto

desinteresse pela moda em oposição à disposição em pagar um alto preço por ela; 3) a

importância em parecer jovem e impressionar mulheres como novas tarefas para o ideal de

masculinidade; 4) resistência à utilização de peças que fogem ao tradicional.

O questionamento acerca da importância da moda na vida dos entrevistados

demonstrou que imagem masculina se divide entre trabalho e lazer. Quando questionados a

esse respeito nota-se que a esfera do trabalho ainda é tida pelos homens como um espaço não

propício a inovações de moda, tendendo a manter certa rigidez nos padrões e regras de

vestuário. Esse comportamento observado nas entrevistas é corroborado por Crane (2006),

que relata que a construção e exercício das identidades encontram mais espaço para

manifestação na esfera do lazer. Segundo a autora os ambientes de trabalho ainda se associam

às identidades de classe social, enquanto o mundo do lazer permite uma maior aproximação

das identidades pessoais. A moda, e o amplo campo de escolhas que ela oferece, acompanha

essa tendência se manifestando com maior relevância quando inseridas nas atividades de

lazer.

Quanto analisada a importância da moda na vida dos entrevistados percebe-se uma

heterogeneidade entre esta e outras respostas dadas na entrevista. Apesar de não assumirem a

moda como um fator de relevância, pontos de intercruzamentos são notados quando

analisadas questões relativas a valoração e impressão que a roupa causa em outras pessoas.

A valoração dos objetos de moda é um dos pontos de maior dissonância na pesquisa.

Quando comparadas as respostas das perguntas 10, que questiona o que é valorizado no ato da

compra e 11, que trata do valor máximo pago por determinadas peças, nota-se que há uma

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disparidade interessante. O preço foi considerado o principal atrativo de uma peça de roupa.

Entretanto, aos serem questionados em relação a quanto pagar, determinadas peças foram

bastante valorizadas, como o tênis que atingiu altas médias de valoração. Se os homens

consideram que o preço é o principal atrativo, é estranho que considerem pagar tão caro por

algumas peças, visto que todo o resto se destaca por uma certa displicência em relação à

moda. Essa tendência é apontada por Crane (2006) que descreve a dificuldade do público

masculino em assumir a importância da moda, considerando a ideia tradicional que liga a

moda aos assuntos femininos. Se em um primeiro momento a moda é tratada com

desinteresse, no decorrer da entrevista notam-se que alguns elementos podem ser

identificados como “preferências” e por isso, são altamente valorados.

A oitava pergunta “Que impressão você busca passar para os outros com suas

roupas?” apontou para duas tarefas para o ideal de masculinidade: a importância em parecer

jovem e impressionar mulheres. Segundo Caldas (1997), a aproximação do homem

contemporâneo com a moda reflete as profundas transformações em seu comportamento e

papel social. Segundo o autor, há uma liberdade maior na exteriorização da vaidade

masculina. Se há algum tempo a preocupação com idade era objeto de preocupação feminina,

hoje os homens também comungam desta inquietação.

Outro ponto observado é a resistência à utilização de peças que fogem ao tradicional.

Percebe-se que as compras rejeitadas são de itens que fogem do vestuário masculino

habitual: calças coloridas ou xadrez, camisa estampada e sandálias de couro. Mesmo como

itens de moda, esses objetos parecem ainda sofrer de falta de legitimação como adereço

masculino. Caldas (1997) trata essa questão apontando que a relação dos “novos homens”

com a moda caminha por “ligeiros desvios” em relação a moda tradicional, em um abandono

lento, mas progressivo, do modelo de masculinidade criado pela sociedade patriarcal.

Quanto às fontes e referências de moda disponíveis para o público masculino, a mídia

televisiva foi aquela que, mesmo de maneira indireta, acaba exercendo maior influência.

Apesar de não haver uma postura ativa na busca por informações acerca de tendências de

moda, os entrevistados relataram que acabam obtendo estas informações e, eventualmente,

acabam por influenciar suas escolhas. Aquilo que é visto nas ruas e entre os amigos mais

próximos também foi apontado como fontes de informação. Essa aproximação da moda

masculina com a moda de rua é apontada por Caldas (1997) que a ruas, o “fenômeno street”,

como um grande propagador de tendências masculinas. Segundo o autor, o fato de esse tipo

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de moda ser desprendido de normas possibilita ao homem uma aproximação gradual “relida e

recriada” a sua maneira.

Neste sentido, o consumo é avaliado não apenas no âmbito da coletividade e o sujeito

e suas escolhas são postos em discussão. Mesmo sendo tratada com ressalvas, a moda aponta

para a importância da postura ativa homem contemporâneo na formação de dessa identidade e

como suas escolhas implicam na determinação dos estilos de vida que optam em seguir.

Como já foi dito, a pesquisa de campo aqui discutida foi uma experiência de

sondagem. Mesmo não permitindo generalizações, é capaz de apontar para novos contornos

comportamentais masculinos, ainda pouco delineados e em processo de construção. Dessa

maneira, o discurso da moda inserido na construção dessa nova identidade masculina é de

fundamental importância para a compreensão desse processo, ora de aproximação, ora de

distanciamento, que se nota no consumo de moda masculina.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

Roteiro da entrevista

Nome (opcional):________________________________________________________

Idade: _______Profissão:________________Estado Civil________________________

ETAPA 01: MODA

1) O que você entende por moda e o que importância isso tem para você?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

2) O que é estilo para você e como definiria o seu?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

3) O que é estar bem vestido para você e como você sabe que alguém está bem vestido?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

4) Como você sabe o que “está na moda” e o que já não é mais usado. Isso influencia as suas

escolhas?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

5) Você busca informações sobre tendências de moda, aonde?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

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6) O que você gosta de vestir, de usar? Como são essas peças? Algum acessório?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

7) A impressão que a roupa causa em outras pessoas influencia a sua escolha?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

8) Que impressão você busca passar para os outros com suas roupas?

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ETAPA 02: CONSUMO

9) Quando foi a última vez que você comprou uma roupa? Qual peça? Por qual motivo?

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10) Quando você vai comprar uma roupa ou um acessório, o que você valoriza?

Preço

Modelagem

Beleza

Conforto

Qualidade e Acabamento

Conformidade com a moda

Outros ___________________

11) O quanto você considera o valor máximo para se pagar nas peças abaixo: Calça Jeans R$____________ Camisa Social R$____________ Camiseta R$____________ Terno R$____________

Relógio R$____________ Sapato Social R$____________ Tênis R$____________

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA …...relação com a moda, a maneira pelo qual as modas contribuíram para uma aparência masculina e quais os critérios adotados atualmente

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12) Onde você costuma comprar suas roupas e outros artigos do vestuário e por que? ___________________________________________________________________________

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13) Quanto a frequência, de quanto em quanto tempo você compra roupas? Existe alguma ocasião especial em que você compra? ___________________________________________________________________________

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14) Que peça você mais gosta de comprar e o que você não usaria de maneira alguma? ___________________________________________________________________________

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15) Você já se arrependeu de alguma peça que tenha comprado? Tem alguma peça que deseja muito ter? ___________________________________________________________________________

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