UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO … · RISONEIDE HENRIQUES DA SILVA PATOS-PARAÍBA...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
CAMPUS DE PATOS
ETNOBOTÂNICA COMO SUBSÍDIO PARA CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS PELA POPULAÇÃO RIBEIRINHA DO RIO
PIRANHAS, SÃO BENTO, PARAÍBA
RISONEIDE HENRIQUES DA SILVA
PATOS-PARAÍBA 2015
RISONEIDE HENRIQUES DA SILVA
ETNOBOTÂNICA COMO SUBSÍDIO PARA CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS PELA POPULAÇÃO RIBEIRINHA DO RIO
PIRANHAS, SÃO BENTO, PARAÍBA
Monografia apresentada ao curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Campina Grande, campus de Patos, PB, para obtenção do grau de Licenciado em Ciências Biológicas.
Profa. Orientadora Dra. Maria das Graças Veloso Marinho Profº. Coorientador Dr. Edevaldo da Silva
PATOS-PARAÍBA 2015
RISONEIDE HENRIQUES DA SILVA
ETNOBOTÂNICA COMO SUBSÍDIO PARA CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS PELA POPULAÇÃO RIBEIRINHA DO RIO
PIRANHAS, SÃO BENTO, PARAÍBA
Monografia apresentada ao curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Campina Grande, campus de Patos, PB, para obtenção do grau de Licenciado em Ciências Biológicas.
APROVADO EM: 17/ DEZEMBRO/ 2015
________________________________________________
Profa. Dra. Maria das Graças Veloso Marinho Orientadora
UACB/CSTR/UFCG
________________________________________________ Profa. Dra. Maria de Fátima de Araújo Lucena
I Examinador UACB/CSTR/UFCG
________________________________________________ Profª. Msc. Cleomária Gonçalves da Silva
II Examinador 5º REGIÃO DE ENSINO/PB
PATOS-PARAÍBA 2015
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSRT DA UFCG S586e
Silva, Risoneide Henriques da
Etnobotânica como subsídio para conservação das espécies vegetais utilizadas pela população ribeirinha do Rio Piranhas, São Bento, Paraíba / Risoneide Henriques da Silva. – Patos, 2015. 42f.: color.
Trabalho de Conclusão de Curso (Ciências Biológicas) – Universidade
Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, 2015. “Orientação: Profa. Dra. Maria das Graças Veloso Marinho”.
“Coorientação: Prof. Dr. Edevaldo da Silva”
Referências. 1. Mata ciliar. 2. Conhecimento tradicional. 3. Sertão paraibano.
I. Título.
CDU 581
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus, criador de todos os seres bióticos e abióticos da terra. Sem ele nada
seria possível, e sequer cairiam as folhas de uma singela árvore. A minha Orientadora Drª.
Maria das Graças Veloso Marinho, um exemplo de vida e dedicação à botânica, por ter me
proporcionado o privilégio de sua orientação e as inúmeras oportunidades de crescimento
profissional ao longo de minha graduação.
Ao meu Coorientador, Dr. Edevaldo da Silva, por ter me aberto portas para o pensamento
científico, guiando-me pelos melhores caminhos em busca de desvendar a ciência de forma
clara e prazerosa. Agradeço também pelos conselhos, sugestões e atenção voltados ao
desenvolvimento desse trabalho.
A minha família que tanto amo, Rita Pereira da Silva Henriques (Mãe), Genard Henriques
Sobrinho (Pai), Risolene Henriques da Silva e Ivaldo da Silva Henriques (Irmãos), laços
inseparáveis e essenciais de minha trajetória de vida, fonte infinita de amor e o meu pilar de
sustentação em todos os momentos.
A todos os integrantes da equipe do Herbário CSTR e em especial a Prof.ª e Curadora Drª.
Maria de Fátima de Araújo Lucena pelo carinho e atenção com que trata todos os seus
aprendizes, agradeço também pelo privilégio em fazer parte dessa família e compartilhar
experiências de vida e o saber botânico.
Aos meus amigos Francione Gomes Silva, Rafael Francisco Lopes Silva, Jacyelle de Souza
Rodrigues, amigos inseparáveis, confidentes, que sempre estiveram ao meu lado em todos os
momentos, me incentivando a não desistir no meio do caminho. Também os agradeço pelo
auxílio durante a coleta de dados.
As minhas colegas de residência universitária (RUSAN), não poderia deixar de citá-las: Aline
Ferreira, Danielly Lucena, Rosângela Santos, Claudenice Arruda, Anaisa Bidô, Juliana Maria
Maria Aparecida, Rubênia, Ariany Malheiro, Marcela e Marthana Miranda, pelo convívio do
cotidiano, das histórias, alegrias, tristezas, conversas jogadas ao vento, confidências.
Aos meus colegas de graduação, Rafael Medeiros, Francione Gomes, Maria Aparecida (Cida
Mendel), Giselly Campos, Davi Argemiro (o reprodutor), Edneide Lopes, Anaisa Thereza,
Diego Alves, Geovanna Matos, Josefa Patrícia, Antônio de Pádua, Raiani & Mosar Diniz,
Kevison Rômulo, Verbênia Marcolino, Eulina Lacerda, Alda Leaby, Monasses + Ítalo Társsis
(os inseparáveis), Thalita Luana, Évila Maylle, Israel Soares, Larrisa Araújo, Elinaldo Silva,
Leandro Lima, Nila Alves, Milca Nóbrega, Vivianne Kelveny, Leonora Ferreira, Vanessa
Pereira, Leuda Cabral, Stefany Linhares, Humarah Danielle, Jéssica Pereira, Netinha Sousa,
Isabela Fernandes, Arthur, Gilvânia Sales, Elza Almeida, Renúzia Siqueira, Renata Araújo,
Sayanne Leite e Jaelbson Carvalho. De cada um levarei a lembrança de sorrisos e uma imensa
saudade!
A todos os professores que fazem ou um dia fizeram parte da unidade acadêmica de Ciências
Biológicas do Centro de Saúde e Tecnologia Rural, em especial o professor Jair Moíses, Erich
Mariano, George Nascimento, Carlos Eduardo, Solange Kerpel, Marcelo Kokubum, Luciano
de Brito, Cynthia Helena, José Medeiros, Vicente Queiroga, Diércules, Onaldo Guedes,
Edevaldo da Silva, Maria das Graças, Maria de Fátima, Flávia Moura, Stephenson Abrantes,
Fernando Zanella, Pedro Paulo, Elzenir, Rosalva e Veneziano. Que suas marcas permaneçam
em mim por toda a vida!
A Cleomária Gonçalves Silva e Maria de Fátima de Araújo Lucena por fazer parte desse
momento importante e pelas contribuições para o enriquecimento desse trabalho.
Ao seu Chagas e Dona Francisca, pais de Francione (Cionin ou Mariano) por ter aberto as
portas do seu lar, e me recebido com igual carinho como se fosse uma filha durante o
desenvolvimento dessa pesquisa. E a todas as pessoas das comunidades Várzea da Serra e
Manga, que se dispusera a participar desse estudo.
A todos, o meu muito obrigado!
“A Ciência nos convida a acolher os fatos, mesmo
quando eles não se ajustam às nossas preconcepções”.
Carl Sagan
RESUMO As espécies vegetais são utilizadas pelo homem desde a antiguidade para fins alimentícios, construção de abrigos, vestuário, elaboração de utensílios ou tratamento de enfermidades. Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi resgatar o conhecimento botânico tradicional por meio do levantamento etnobotânico das espécies vegetais utilizadas pela população que reside às margens do Rio Piranhas, município de São Bento, Paraíba, e fornecer informações para conservação de sua mata ciliar. O estudo foi desenvolvido nas comunidades rurais Várzea da Serra (06º28’19.6”S e 37º 27’10.0”W) e Manga (06°28’40.5’’S e 037° 27’ 37.9’’W). A coleta dos dados foi realizada no período de Abril a Maio de 2015 por meio de questionário semiestruturado. As entrevistas foram realizadas com um chefe familiar de cada domicílio visitado, totalizando 46 informantes. As amostras do material botânico foram obtidas por meio de indicação dos representantes familiares e os procedimentos de coleta, prensagem e herborização seguem as técnicas usuais encontradas na literatura específica. A identificação dos táxons foi realizada a partir da utilização de bibliografia especializada e por comparações com material já identificado no acervo do Herbário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural (Herbário CSTR). Os dados quantitativos foram analisados e dispostos por número de citações e expressos em porcentagem. A nomenclatura e grafias dos táxons estão de acordo com a Lista de Espécies da Flora do Brasil. O valor de uso das espécies foi calculado através da razão entre somatório das citações de uso para uma determinada espécie e o número total de informantes (Vu=ΣUs/ns). Foram catalogadas 13 espécies, distribuídas em 10 famílias botânicas e 10 gêneros. Dentre as famílias, a mais representativa em número de espécies foi Fabaceae (04 spp.), as demais estão representadas por uma única espécie cada. A categoria que reuniu o maior número de espécies foi à madeireira, e a atividade medicinal foi a mais importante em valor de uso nas duas comunidades. Lippia alba (Mill.) N.E.Br., representa a espécie de maior valor de uso e a atividade antropogênica frequentemente desenvolvida pelas comunidades é a agricultura. Conhecer a importância e potencial de uso dos recursos naturais e as ações antrópicas existentes na área, pode se tornar um propósito importante para conservação das espécies vegetais do Rio Piranhas e fundamentar iniciativas para proteção de sua mata ciliar. Palavras-chave: Mata ciliar, conhecimento tradicional, Sertão Paraibano.
ABSTRACT Plant species have been used by man since ancient times for food purposes, construction of shelters, clothing, utensils elaboration or treatment of diseases. In this context, this study aimed to rescue the traditional botanical knowledge through ethnobotanical survey of the species used by people living on the banks of the Rio Piranhas river, municipality of São Bento, Paraíba, and provide information to conservation of its riparian forest. The study was carried in rural communities Várzea da Serra (06º28’19.6”S and 37º 27’10.0”W) and Manga (06°28’40.5’’S e 037° 27’ 37.9’’W). Data collection was carried out from April to May 2015 through semi-structured questionnaire. Interviews were held with a familiar head of each household visited, totaling 46 informants. The samples of the botanical material were obtained by through indication of the family representatives and the collection procedures, pressing and herborization follow the usual techniques found in scientific literature. The identification of the taxons was based on the use of specialized literature and comparisons with material already identified in the collection from the Herbarium of the Center of Health and Rural Technology (Herbarium CSTR). The quantitative data were analyzed and disposed in number of citations and expressed as a percentage. The nomenclature and spellings of the taxons are in accordance with the Species List of the Brazil flora. The value of use of the species was calculated from the ratio between the sum of the use citations for a determined species and the total number of informants (Vu=ΣUs/ns). They were cataloged 13 species, distributed in 10 botanical families and 10 genera. Among the families, the most representative in number of species were Fabaceae (04 spp.), the others are represented by a single species each. The category that gathered the largest number of species was the timber, and medicinal activity was the most important value in use in both communities. Lippia alba (Mill.) N.E.Br., represents the species of greatest value in use and the anthropogenic activity often developed by communities is agriculture. Knowing the importance and potential use of the natural resources and anthropic actions existing in the area, may become an important way for the conservation of plant species of the Rio Piranhas river and support initiatives to protect its riparian forest.
Keywords: Riparian vegetation, traditional knowledge, Sertão Paraibano.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1- Mapa do Estado da Paraíba, em destaque o município de São Bento.
..............................................................................................................................................
22
FIGURA 2- Fisionomias da vegetação que compõe a mata ciliar do Rio Piranhas, São
Bento, Paraíba, Brasil. Fonte: Arquivo pessoal F.G.Silva..................................................
23
FIGURA 3- Nível de instrução dos entrevistados: A-Comunidade Várzea da Serra, B-
Comunidade Manga, São Bento, Paraíba.........................................................................
26
FIGURA 4- Valor de uso por atividade desenvolvida nas comunidades ribeirinhas do
Rio Piranhas, São Bento, Paraíba. A-Várzea da Serra, B-Manga.........................................
28
FIGURA 5-. Valor de uso geral das espécies vegetais utilizadas pela população ribeirinha do Rio Piranhas, São Bento, Paraíba. A-Várzea da Serra. B-Manga....................................................................................................................................
30
FIGURA 6- Atividades antrópicas desenvolvidas às margens do Rio Piranhas, São Bento, Paraíba: A-Várzea da Serra, B-Manga...................................................................... 32
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 13
2 OBJETIVOS................................................................................................................... 15
2.1 Objetivo Geral........................................................................................................... 15
2.2 Objetivos Específicos............................................................................................... 15
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................ 16
3.1 Etnobotânica.............................................................................................................. 16
3.2 Mata Ciliar................................................................................................................. 18
3.3 Recursos vegetais da Caatinga................................................................................... 20
4 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................... 22
4.1 Área de estudo........................................................................................................... 22
4.2 Coleta dos dados........................................................................................................ 23
4.3 Análise dos dados...................................................................................................... 24
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 25
5.1 Perfil sociocultural dos informantes.......................................................................... 25
5.2 Espécies vegetais úteis da mata ciliar do Rio Piranhas............................................. 26
5.3 Atividades antrópicas desenvolvidas na área............................................................. 31
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 36
APÊNDICES.................................................................................................................. 43
13
1 INTRODUÇÃO Desde a ocupação do Brasil pelos colonizadores portugueses, a cobertura vegetal
nativa de seus diferentes biomas foi sendo fragmentada, cedendo lugar para grandes áreas
destinadas à pecuária e culturas agrícolas.
Essa ocupação foi expressiva principalmente em ambientes com potencial hídrico
elevado, onde diversas populações se estabeleceram para usufruir de seus recursos
naturais, gerando consequências notórias por essa ocupação (SILVA et al., 2011; SILVA;
OLIVEIRA; SILVA, 2012). Neste panorama, as matas ciliares brasileiras não foram
poupadas da degradação, e vem sofrendo ao longo do tempo com a intensificação dos
impactos causados pelo uso desordenado de seus recursos.
Esse quadro se torna ainda mais agravante no semiárido brasileiro, onde a
vegetação ciliar tem atingido índices elevados de degradação, e em áreas de caatinga no
estado da Paraíba, a degradação se torna evidente (LACERDA et al., 2003; LACERDA;
BARBOSA; BARBOSA, 2007). De acordo com Ferraz; Meunier; Albuquerque (2005) a
exploração dos recursos vegetais da região vem ocorrendo a muito tempo, através da
extração das espécies de maior interesse. E as relações do homem com as matas ciliares
estão intimamente ligadas ao processo de extração desses recursos (GUARIM-NETO et
al., 2008).
As matas ciliares são áreas de preservação permanentes, e importantes refúgios da
fauna, atuando como corredores de fluxo gênico, sendo de extrema relevância para a
conservação do solo e dos recursos hídricos (CAMPOS et al., 2007; LACERDA et al.,
2009). No entanto, Lacerda; Barbosa; Barbosa (2007) afirmam que no Brasil a vegetação
ciliar encontra-se em distintos estágios de sucessão ecológica, pouco conservada, exceto
em áreas de difícil acesso.
Dessa forma, a pesquisa socioambiental e etnodirigida permitem coletar
informações sobre o modo de vida das populações e como elas estão vinculadas ao
ambiente em que vivem, possibilitando a comparação de distintas áreas e a descoberta de
diversos padrões de uso de uma mesma espécie vegetal (LIMA, 2010).
Pasa; Ávila (2010) ressaltam que, se a riqueza cultural está interligada a
diversidade biológica, por que não utilizar do conhecimento tradicional que evoluiu junto
com o meio natural, para conservar, preservar ou recuperar esse ambiente?
De acordo com Fonseca-Kruel; Peixoto (2004) pesquisas etnobotânicas podem
subsidiar trabalhos sobre uso sustentável dos recursos naturais, a partir da valorização e
14
aproveitamento do conhecimento empírico, permitindo a definição de sistemas de manejo
adequados, incentivo a geração de conhecimento científico e tecnológico voltados à
sustentabilidade.
O conhecimento tradicional é de extrema relevância para a conservação da
biodiversidade, possibilitando identificar os diferentes usos e pressões a que as espécies
locais são expostas, elaborando ações que permitam a integração das demandas
populacionais com a disponibilidade dos recursos ofertados (FERRAZ; MEUNIER;
ALBUQUERQUE, 2005).
Estudos etnobotânicos associados às matas ciliares são escassos no Semiárido
paraibano, evidenciando a importância de levantamentos nesses ambientes. Isso permite
conhecer os diferentes usos adotados pelas populações ribeirinhas na utilização das
espécies vegetais, fato que pode ser utilizado como elemento chave para conservação da
área.
Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi resgatar o conhecimento botânico
tradicional por meio do levantamento etnobotânico das espécies vegetais utilizadas pela
população que reside às margens do Rio Piranhas, município de São Bento, Paraíba, e
fornecer informações para conservação de sua mata ciliar.
15
2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral
Resgatar o conhecimento botânico tradicional por meio do levantamento
etnobotânico das espécies vegetais utilizadas pela população que reside às margens do
Rio Piranhas, município de São Bento, Paraíba, e fornecer informações para conservação
de sua mata ciliar.
2.2 Objetivos Específicos
• Analisar a composição das espécies vegetais em categorias de uso;
• Estimar os valores de uso das espécies vegetais consideradas úteis;
• Coletar e identificar as espécies vegetais utilizadas;
• Identificar as atividades antrópicas desenvolvidas na área;
• Ressaltar a importância de conservação da mata ciliar.
16
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 ETNOBOTÂNICA
O termo etnobotânica foi utilizado inicialmente em 1895 pelo americano John W.
Harshberger que apresentou uma definição aceitável, no entanto, antes desse período,
dados etnobotânicos foram empregados nos estudos sobre a origem e distribuição de
plantas cultivadas, destacando-se o trabalho de Alphonse De Candolle (Origin of
cultivated plants), publicado em 1886 (ALBUQUERQUE, 2005).
Aristóteles já descrevia o uso das plantas pelas populações humanas e a existência
de estudos sobre plantas úteis na Europa e Ásia, no entanto, foram os colonizadores das
Américas que desenvolveram relatos detalhados sobre a utilização de plantas por
populações nativas (LIMA, 2010).
A partir de meados do século XX, a etnobotânica começa a ser compreendida
como o estudo das inter-relações entre povos primitivos e plantas, envolvendo o fator
cultural e sua interpretação (ARAUJO, 2009). No Brasil, a construção da etnobotânica
ocorreu em um cenário de diversidade cultural, envolvendo conhecimentos e práticas da
população e a diversidade biológica (OLIVEIRA et al., 2009).
A etnobotânica representa o estudo das sociedades humanas, passadas e presentes,
e suas interações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas,
e constitui um importante instrumento no levantamento, compreensão e registro de dados
sobre o conhecimento popular (ALVES et al., 2007). Segundo Franco; Lamano-Ferreira;
Ferreira (2011) a etnobotânica é uma ferramenta de pesquisa acessível que favorece a
relação do homem com a diversidade vegetal.
Amorozo (1996) define a etnobotânica como o estudo do conhecimento e das
conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal,
englobando a maneira como o homem classifica as plantas e os usos que dá a elas.
Albuquerque (2005) ressalta que a etnobotânica está presente no domínio mais amplo da
etnobiologia e compreende o estudo dos sistemas de classificação do mundo vivo por
qualquer cultura.
De acordo com Marinho; Andrade (2011) é a partir da etnobotânica que se busca
conhecer e resgatar o saber botânico tradicional sobre a utilização dos recursos da flora.
A etnobotânica visa às inter-relações entre ser humano-planta e o resgate das informações
17
passadas de geração em geração, valorizando o conhecimento tradicional e a prática de
utilização das espécies vegetais (ANSELMO et al., 2012).
No entanto, a cultura global e o capitalismo, aos poucos tende a dissipar essa
riqueza que o homem construiu de forma simbólica com o ambiente ao seu redor (PASA;
ÁVILA, 2010). O estudo do uso de plantas para diversos fins em comunidades
tradicionais está se tornando uma necessidade urgente, considerando, que essas
comunidades vêm sofrendo crescentes pressões econômicas e culturais, com
consequências drásticas para suas culturas (LEÃO; FERREIRA; JARDIM, 2007).
Morais (2011) afirma que estudos sobre as etnoespécies tornam-se ainda mais
necessários em locais onde os conhecimentos tradicionais são constantemente
ameaçados. Nos ambientes com intensa transformação ambiental e social, a etnobotânica
permite o registro de informações das interações entre pessoas e plantas, evitando que tais
informações sejam perdidas (GANDOLFO; HANAZAKI, 2011).
Nos últimos anos, diversos trabalhos têm sido desenvolvidos sobre o
aproveitamento dos recursos biológicos pelos povos de diferentes regiões e etnias, e
dentre as diversas abordagens, um dos campos mais desenvolvidos é o da etnobotânica
(ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002). Segundo Oliveira et al. (2009), no Brasil o
desenvolvimento da etnobotânica como ciência propiciou o aumento significativo de
trabalhos na área, porém, com predomínio de estudos sobre plantas medicinais ou
abordagens descritivas.
De acordo com Albuquerque; Andrade (2002) a maior parte desses estudos
resume-se a listas de espécies úteis, não havendo nenhuma atenção sobre a percepção
desses recursos e o seu manejo pelas populações estudadas.
Porém, estudos etnobotânicos têm demonstrado que grande parte das populações
locais possui alto grau de conhecimento sobre o ambiente onde vivem, e que a maioria
delas apresentam sistemas de manejo que permitem suprir suas necessidades com o
mínimo de prejuízo ao meio ambiente (ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002; COSTA,
2013).
Isso mostra que as informações coletadas nas comunidades tradicionais são
fundamentais para a obtenção de dados específicos de cada localidade, e o registro das
práticas locais sobre uso da flora permite não só a identificação das espécies e os
diferentes usos, mas também, a consequente valorização destas como fontes de
18
conhecimento para futuras pesquisas em distintas áreas (LIMA, 2010; LOBLER et al.,
2014).
Dessa forma, estudos etnobotânicos ou etnoecológicos podem contribuir para o
aperfeiçoamento de formas de manejo sustentável dos recursos naturais e fornecer
subsídios para realização de ações em Educação Ambiental, tomando como base a
realidade socioambiental e as formas de cognição específicas de cada comunidade
estudada (CARNEIRO; BARBOZA; MENEZES, 2010; QUINTEIRO; TAMASHIRO;
MORAES, 2013).
3.2 MATA CILIAR
Na literatura são encontrados vários termos que são utilizados para designar as
formações vegetais que ocorrem ao longo dos cursos d’água, são elas: Matas ciliares,
florestas ripárias, matas de galeria, florestas beiradeiras, florestas ripícolas e florestas
ribeirinhas (MARTINS, 2011).
Segundo Oliveira et al. (2009); Ab’Saber (2009), a expressão floresta ou mata
ciliar representa toda a vegetação arbórea situada à margem de cursos d’água,
independente da área, região de ocorrência e composição florística. Nicácio (2001) define
mata ciliar como a vegetação que cresce junto às margens de rios ou ao longo deles,
podendo ser composta de plantas de porte médio, árvores e arbustos.
A vegetação ciliar constitui ecótonos entre os ecossistemas terrestres e aquáticos,
geralmente circundadas por faixas de vegetação não florestal, onde há transição brusca
com formações savânicas e campos que facilitam o seu reconhecimento (FORESTO,
2008; SANTOS; SPAROVEK, 2011).
As matas ciliares possuem a função de proteção dos recursos hídricos e
manutenção do ciclo hidrológico das bacias hidrográficas, atuando como uma barreira
física que impede a entrada de sedimentos e materiais estranhos como adubos e
agrotóxicos (NICÁCIO, 2001; COSTA-PRIMO; VAZ, 2006). Elas proporcionam abrigo
e sustento para a fauna, reduzem a propagação de pragas e doenças em culturas agrícolas,
fixam carbono, reduzem os gases do efeito estufa e funcionam como corredores
ecológicos, facilitando o fluxo gênico entre populações animais e vegetais (BARBOSA,
2006; MARTINS, 2011).
Apesar de sua importância, as matas ciliares encontram-se seriamente
comprometidas em grande parte do país e a vegetação que ocorre nas margens e
19
nascentes dos corpos d’água estão reduzidas e suprimidas formando verdadeiros
mosaicos (KIPPER et al., 2010; SILVA; OLIVEIRA; SILVA, 2012). As principais
causas de sua degradação são o desmatamento para expansão agrícola e de áreas urbanas,
extração de madeira, areia, incêndios e construção de empreendimentos turísticos mal
planejados (MARTINS, 2011).
Na região semiárida brasileira as matas ciliares são pouco estudadas, o que tem
gerado uma lacuna no conhecimento com relação à influência da heterogeneidade desses
ambientes na composição da flora local (SOUZA; RODAL, 2010). De acordo com
Lacerda et al. (2005) as bacias hidrográficas da região enfrentam forte pressão sobre os
recursos disponíveis em áreas de vegetação ciliar, consideradas ambientes de exceção,
por apresentarem padrão fisionômico e florístico diferenciado das regiões de entorno.
No bioma Caatinga as matas ciliares estão presentes ao longo de rios intermitentes
e são de significativa relevância para a proteção e realização de diversas funções que
regulam e mantém a diversidade biológica (LACERDA; BARBOSA; BARBOSA, 2007).
Porém, a vegetação ciliar da caatinga é alvo de constante degradação devido à
proximidade do recurso hídrico, fertilidade do solo e condição de clima amena
(ARAUJO, 2009). De acordo com Albuquerque; Andrade (2002), as formas de
aproveitamento e uso da terra nesses ambientes são precárias, desrespeitando a
complexidade desses delicados ecossistemas.
Dessa forma, a exploração dos recursos da caatinga deve passar pelo prévio
conhecimento de suas características ecológicas, uma vez, que se trata de um ambiente
composto de ecossistemas frágeis (PAREYN, 2010). No entanto, a disponibilidade de
recursos e presença de um solo fértil encontrado nas matas ciliares na região, incentiva o
homem explorá-la de forma irracional (BESSA; MEDEIROS, 2011).
As matas ciliares constituem ambientes protegidos por lei, onde devem ser
adotadas ações prioritárias para a recomposição e proteção de suas áreas por programas
de conservação da natureza que visem não só a recuperação da vegetação ciliar, mas,
também, a reabilitação de suas características estruturais e funcionais (ANDRADE et al.,
2006; NUNES; PINTO, 2007). O intenso processo de desmatamento evidencia a sua
urgente recuperação e a manutenção da vegetação junto aos corpos d’água por meio do
desenvolvimento de técnicas de manejo adequadas (LACERDA; FIGUEIREDO, 2009).
20
3.3 RECURSOS VEGETAIS DA CAATINGA
As práticas extrativistas estão presentes em diversas sociedades e culturas, e a
utilização dos recursos vegetais aumentou de forma significativa entre populações locais
em todas as partes do mundo (PASA, 2004; PINHEIRO; SANTOS; FERREIRA, 2005).
Pesquisas recentes revelam o potencial e os padrões de uso da vegetação do semiárido
brasileiro e a importante contribuição das espécies vegetais nativas no atendimento das
necessidades locais (LUCENA et al., 2012).
No bioma Caatinga as plantas constituem objeto de estudo em distintas áreas da
ciência, e pesquisas na área de etnobotânica têm sido desenvolvidas no intuito de
evidenciar o potencial de uso dessa vegetação, destacando-se os trabalhos de
Albuquerque; Andrade (2002); Almeida; Albuquerque (2002); Ferraz; Meunier;
Albuquerque (2005); Ferraz; Albuquerque; Meunier (2006); Lucena et al. (2012); Roque;
Loiola (2013).
Diversas comunidades inseridas em áreas de caatinga tiram seu sustento a partir
dos recursos ofertados por sua vegetação, e essas pessoas tendem a conceber as plantas
um significado amplo de utilidade (ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002; SILVA et al.,
2015). As espécies vegetais da Caatinga são utilizadas para diversos fins, como
alimentação, remédios, forragem e madeira como fonte de energia para indústrias e
residências (ROQUE, 2009; SANTOS; JÚNIOR; PRATA, 2012). Outros produtos não
madeireiros são utilizados em menor escala, como frutos, fibras, sementes e cascas de
árvores (PAREYN, 2010).
De acordo com Albuquerque; Andrade (2002), produtos medicinais e madeireiros
são coletados durante todo o ano, apesar de algumas espécies vegetais estarem restritas
pela sazonalidade. Segundo os autores durante a estação seca obtêm-se principalmente
troncos e ramos de árvores que são utilizados na produção de medicamentos, utensílios,
materiais de construção, carvão, etc.
No entanto, durante o processo de ocupação da caatinga, as atividades econômicas
acompanhadas de desmatamentos indiscriminados, associados à fragilidade natural desse
ecossistema, propiciaram drásticas consequências para seus geótopos e biocenoses
(ALVES; NASCIMENTO, 2010).
Atualmente as indústrias sertanejas têm provocado acentuados desequilíbrios e
danos ambientais á preservação da biodiversidade do semiárido, destacando-se as
cerâmicas, caieiras, indústrias de óleos vegetais, de sabão e as pradarias (CNRBC, 2004).
21
Segundo Leal et al. (2005), o corte de madeira para lenha e a remoção indiscriminada da
vegetação para fins pecuários tem levado ao empobrecimento ambiental da Caatinga.
Porém, apesar dos efeitos sofridos pelas ações humanas e as secas prolongadas, o
bioma caatinga possui uma rica diversidade a ser estudada, principalmente no que diz
respeito ao conhecimento local sobre o uso dos recursos vegetais (FERRAZ; MEUNIER;
ALBUQUERQUE, 2005).
22
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Área de estudo
O presente estudo foi desenvolvido nas comunidades rurais Várzea da Serra
(06º28’19.6”S e 37º27’10.0”W) e Manga (06°28’40.5’’S e 037°27’37.9’’W), situadas às
margens do Rio Piranhas, São Bento, Paraíba, localizado na região oeste do estado,
mesorregião do Sertão e microrregião de Catolé do Rocha (Figura 1).
Figura 1. Mapa do Estado da Paraíba, em destaque o município de São Bento-PB.
O Rio Piranhas está inserido nos domínios da bacia hidrográfica Piancó-Piranhas-
Açú, que possui uma área total de drenagem de 43.681,50 km², onde 26.183 km²
correspondem a 60% de área no estado da Paraíba. Sua nascente encontra-se situada no
município de Bonito de Santa Fé-PB, desaguando na costa Potiguar (AESA, 2015).
As precipitações médias anuais ao longo da bacia variam entre 400 e 800 mm, que
estão concentradas entre os meses de Fevereiro a Junho. O clima predominante é o do
tipo BSHs’ segundo a classificação de Köeppen (1948), com temperaturas elevadas na
média de 28°C, e a cobertura vegetal predominante é a caatinga hiperxerófila herbáceo-
arbustiva (Figura 2).
A bacia abrange, total ou parcialmente, 147 municípios, 102 no estado da Paraíba
e 45 no Rio Grande do Norte, onde vivem aproximadamente 1.280.000 pessoas (CBH-
PIRANHAS-AÇU, 2015), e podem ser encontradas as barragens Armando Ribeiro
23
Gonçalves e o sistema de reservatórios Curema-Mãe D’Água, considerados estratégicos
para o desenvolvimento socioeconômico da região (AESA, 2015).
Figura 2. Fisionomias da vegetação que compõe a mata ciliar Rio Piranhas, São Bento, Paraíba, Brasil. Arquivo pessoal: F.G. Silva. 4.2 Coleta dos dados
Os dados etnobotânicos foram obtidos durante o período de Abril a Maio de 2015
através de visitas quinzenais às comunidades. O instrumento de coleta adotado foi o de
entrevistas semiestruturadas, constituídas de questões socioculturais e ambientais que
foram direcionadas a um chefe familiar de cada domicílio visitado.
A definição do tamanho amostral foi realizada segundo Rocha (1997), por meio
da Equação n = 3,841. N.0,25/((0,1)².(N-1) + 3,841.0,25), onde: n = número de amostras
a realizar; N = Número total de pessoas entrevistadas; 3,841 = Valor tabelado proveniente
do Qui-Quadrado; 0,25 = Variância máxima para um desvio padrão 0,5. Foi considerando
o erro padrão de 10%, definindo assim, uma população amostral de 28 domicílios da
comunidade Várzea da Serra e 18 domicílios na comunidade Manga.
O presente estudo foi desenvolvido com a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da Fundação Francisco Mascarenhas/Faculdades
Integradas de Patos-FIP, parecer nº 1.074.666. Conforme instruções da Resolução nº
466/12, todos os participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE).
O material botânico foi obtido através de indicação dos representantes familiares e
os procedimentos de coleta, prensagem e herborização das amostras seguem a
24
metodologia proposta por Judd et al. (2009) e IBGE (2012). A identificação dos táxons
foi realizada a partir da literatura específica, e por comparações com material já
identificado no acervo do Herbário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da
Universidade Federal de Campina Grande, onde toda a coleção resultante desta pesquisa
encontra-se depositada.
4.3 Análise dos dados
Os dados quantitativos foram analisados, dispostos por número de citações e
expressos em porcentagem. A organização da lista florística segue o sistema de
classificação APG III-Angiosperm Phylogeny Group (APG, 2009) e a nomenclatura e
grafias dos táxons foram consultadas no banco de dados da Lista de Espécies da Flora do
Brasil (2015).
O valor de uso das espécies foi calculado através da razão entre somatório das
citações de uso para uma determinada espécie e o número total de informantes, através da
fórmula Vu = ΣUs/ns proposta por Phillips; Gentry (1993), onde: Vu = Valor de uso da
espécie; Us = número de usos mencionados por cada informante para a espécie; ns =
número total de informantes. Para este trabalho, ns é sempre 1 (um) para todas as
espécies, pois cada informante foi entrevistado apenas uma única vez.
25
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Perfil sociocultural dos informantes
Na comunidade Várzea da Serra, verificou-se que 67,9% dos informantes estão
representados pelo gênero feminino, estando o gênero masculino composto por apenas
32,1% do total. Na comunidade Manga, 33,3% dos informantes são mulheres e 66,7%
homens. A faixa etária variou entre 19-65 e 26-78 anos nas duas comunidades.
Em estudos etnobotânicos, o tempo de residência, a faixa etária e o nível de
instrução dos informantes são importantes na determinação do nível de precisão sobre o
conhecimento tradicional, que geralmente varia entre homens e mulheres.
Foi observado na comunidade Várzea da Serra que 42,8% dos informantes de
ambos os sexos residem no local entre o intervalo de tempo de 11-30 anos, e está
representado por 35,7% do gênero feminino, enquanto na comunidade Manga, o tempo
de residência predominante foi de 0,9-10 anos, correspondendo a 44,5% dos informantes,
todos do gênero masculino (Tabela 1).
Tabela 1-Tempo de residência por gênero dos informantes nas comunidades rurais Várzea da Serra e Manga, São Bento, Paraíba.
Várzea da Serra Manga
Tempo de residência
Feminino* Masculino* Tempo de residência
Feminino* Masculino*
0,5-10 anos 25 21,5 0,9-10 anos
0 44,5
11-30 anos 35,7 7,1 11-30 anos
22,3 5,5
31-50 anos 7,1 0 31-50 anos
5,5 11,2
>50 anos 0 3,6 >50 anos 5,5 5,5 *Dados em porcentagem (%).
Quanto ao grau de escolaridade dos informantes, na comunidade Várzea da Serra
foram observados os níveis de instrução: Analfabeto (21,5%), fundamental incompleto
(50%), fundamental completo (7,1%), médio incompleto (7,2%), médio completo
(10,7%) e ensino superior (3,5%). Na comunidade Manga, verificou-se que 33,3% dos
informantes são analfabetos e os demais apresentam ensino fund. incompleto (39%),
fund. completo (22,2%) e ens. superior (5,5%), (Figura 3).
Nessas comunidades prevaleceu o grau de instrução fundamental incompleto.
Pasa; Ávila (2010) em um levantamento etnobotânico realizado com ribeirinhos no
26
município de Rondonópolis, Mato Grosso, também observaram que a maior parte dos
entrevistados possuíam o ensino fundamental incompleto.
Figura 3. Nível de instrução dos informantes: A-Comunidade Várzea da Serra, B-Comunidade Manga, São Bento, Paraíba.
5.2 Espécies vegetais úteis da mata ciliar do Rio Piranhas
Foram catalogadas 13 espécies, pertencentes a 10 famílias e 10 gêneros. Fabaceae
foi a família de maior representatividade com 4 espécies, e as demais encontram-se
representadas por uma única espécie cada, correspondendo a 69,2% do total amostrado.
Diversos trabalhos encontrados na literatura evidenciam Fabaceae como família
de expressiva riqueza de espécies em vários levantamentos florísticos feitos na Caatinga.
Em estudo realizado por Lacerda et al. (2005) no Rio Taperoá, estado da Paraíba,
Fabaceae apresentou posição de destaque com 12 espécies inventariadas. Resultados
semelhantes foram obtidos por Queiroga; Silva; Lucena (2013) durante um estudo em
uma área de mata ciliar no Semiárido paraibano, onde registrou a ocorrência de 18
espécies para a família.
De acordo com Queiroz (2009), Fabaceae corresponde a terceira maior família
botânica de distribuição cosmopolita e inclui 727 gêneros e 19.327 espécies, tendo sido
inventariadas para a caatinga, 86 gêneros e 320 espécies.
O hábito predominante foi o arbóreo, o que confirma o observado por Ferraz;
Albuquerque; Meunier (2006), segundo os autores os recursos vegetais da região
semiárida são basicamente constituídos por árvores que se encontram disponíveis durante
0%
10%
20%
30%
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(%
)
Nível de instrução
B
27
todo o ano, diferentemente do estrato herbáceo que é efêmero por causa da sazonalidade
local, aparecendo com vigor apenas na estação chuvosa.
A categoria que reuniu o maior número de plantas foi à madeireira com 7 espécies
(Tabela 2), citadas pelos informantes da comunidade Várzea da Serra, e 3 espécies pela
comunidade Manga, seguida da medicinal com 5 e 3 espécies, respectivamente.
Tabela 2- Lista de espécies indicadas pelos informantes das comunidades Várzea da Serra e Manga, com família/ espécie, nome popular, categoria de uso, hábito e nº tombo. Família/Espécie Nome
Popular Categoria
de Uso Hábito Nº
Tombo
Anacardiaceae Anacardium occidentale L.
Cajueiro
ME
Árvore
5937
Apocynaceae Aspidosperma pyrifolium
Mart.
Pereiro
M
Árvore
5928
Combretaceae Combretum leprosum Mart.
Mofumbo
M; E
Arbusto
5931
Chrysobalanaceae Licania rigida Benth.
Oiticica
M; E; C
Árvore
5933
Euphorbiaceae Cnidoscolus urens (L.) Arthur
Urtiga Branca
ME
Arbusto
5927
Fabaceae Inga vera Willd. Geoffroea spinosa Jacq. Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Prosopis juliflora (Sw.) DC.
Ingá
Marizeiro Jurema preta
Algaroba
M; F
T; M; F; ME
M; E M; E
Árvore Árvore Árvore
Árvore
5926 5936 5930
5832
Lamiaceae Vitex gardneriana Schauer.
Jaramataia
ME
Arbusto
5935
Polygonaceae Triplaris gardneriana Wedd.
Cuaçú
T
Árvore
5934
Rhamnaceae Ziziphus joazeiro Mart.
Juazeiro
E; ME; M
Árvore
5929
Verbenaceae Lippia alba (Mill.) N.E.Br.
Erva Cidreira
ME
Subarbusto
5925
*ME=medicinal, F=forrageira, C=construção, M=madeireiro, E=energético, T=tecnológico.
Resultados distintos foram encontrados por Ferraz; Albuquerque; Meunier (2006)
em um levantamento do valor de uso da vegetação lenhosa no Riacho do Navio, Floresta-
PE, onde a categoria com maior número de espécies foi a forrageira.
28
As espécies mais versáteis por serem enquadradas em maior número de categorias
de uso pela comunidade Várzea da Serra foram: Geoffroea spinosa Jacq., utilizada em
fins madeireiro, forrageiro e tecnológico, e Inga vera Willd., usada como madeira e
forragem.
Além dos usos mencionados, Lorenzi (2002) destaca que G. spinosa pode ser
empregada na carpintaria, fabricação de móveis rústicos, produção de lenha, carvão, e
suas folhas são consideradas medicinais. O autor ainda ressalta que os recursos
madeireiros ofertados por I. vera, pode ser adotado na confecção de caixotes, construções
domésticas, e seus frutos são comestíveis e bastante apreciados por animais.
Na comunidade Manga, destaca-se Mimosa tenuiflora (Willd.), empregada em
fins energéticos e madeireiros. Segundo Albuquerque; Andrade (2002), essa planta é
bastante apreciada devido à qualidade de sua madeira, que pode ser utilizada na produção
de cercas e carvão. Na caatinga suas folhas e vagens são consumidas por cabras, ovelhas
e bovinos, e a casca é usada na medicina popular como cicatrizante e anti-inflamatório,
para curtir couro, além de ser uma planta melífera (COSTA et al., 2002).
A atividade medicinal foi a mais importante em valor de uso para os informantes
das comunidades Várzea da Serra e Manga (Vu= 0,41 e 0,52), respectivamente (Figura
4). Em estudo realizado por Roque; Loiola (2013), em uma área de caatinga no estado do
Rio Grande do Norte observou-se que a categoria medicinal apresentou o maior número
de citações com 62 espécies utilizadas pela população local.
Figura 4. Valor de uso por atividade desenvolvida nas comunidades ribeirinhas do Rio Piranhas, São Bento, Paraíba. A-Várzea da Serra, B-Manga.
0
0,1
0,2
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Atividade
B
29
A atividade madeireira representou a segunda maior em valor de uso na
comunidade Várzea da Serra (Vu=0,38), enquanto na comunidade Manga, foi a atividade
energética (Vu=0,26).
A prevalência da atividade medicinal pode estar associada a maior disseminação
do conhecimento sobre os usos medicinais pelas comunidades, quando comparado com
saber sobre as potencialidades de uso para os demais recursos vegetais existentes na área.
Além disso, alguns moradores costumam cultivar algumas plantas medicinais nos
quintais de suas residências, principalmente as herbáceas, o que possibilita um maior
contato com as espécies.
Com base nos dados obtidos, observou-se a influência do sexo nas proporções das
citações nas categorias medicinal, energética e madeireira entre os informantes da
comunidade Várzea da Serra, com maior frequência de informação sobre o uso medicinal
e energético por parte das mulheres, do que entre os homens, onde prevaleceu a categoria
madeireira.
O maior conhecimento das mulheres sobre o uso medicinal e energético pode
estar ligado ao fato delas assumirem os afazeres domésticos, geralmente na busca por
combustível para o preparo de alimentos e o cuidado com a saúde da família, como foi
apontado por Caniago; Siebert (1998).
Já a atividade madeireira geralmente desenvolvida pelos homens, pode está
associada à remoção da vegetação nativa para a confecção de mourões e estacas
destinados a construção de cercas, que requerem maior esforço físico, sendo, na maioria
das vezes desempenhadas pelo sexo masculino. Na comunidade Manga, não foram
observadas tais diferenças, e a categoria medicinal obteve o maior número de citações
entre ambos os sexos.
Constatou-se que parte das citações sobre as espécies vegetais úteis foram
realizadas por homens com idades entre 30 e 75 anos, revelando um maior contado destes
com o ambiente do seu entorno, onde desempenham diversas atividades como
agricultura, criação de gado, etc. Também foi observada relação entre o número de
citações e a faixa etária dos informantes entre 30 e 78 anos de ambos os sexos, que
citaram um número igual ou superior a duas espécies úteis.
Lippia alba (Mill.) N.E.Br., representa a espécie com maior valor de uso entre as
comunidades Várzea da Serra (Vu=0,29) e Manga (Vu=0,61) (Figura 5), corroborando
30
com a predominância da atividade medicinal desenvolvida no local, sendo utilizada pelos
habitantes no tratamento de problemas gastrointestinais e como calmante.
Figura 5. Valor de uso geral das espécies vegetais utilizadas pela população ribeirinha do Rio Piranhas, São Bento, Paraíba. A-Várzea da Serra. B-Manga.
Atti-Serafini et al. (2002), destaca L. alba como uma planta nativa da América do
Sul, ocorrendo em solos arenosos de margens de rios e lagoas. E segundo Lorenzi; Matos
(2008), ela representa uma planta medicinal com ação espamolítica, sedativa, ansiolítica,
expectorante, além de ser eficaz no alívio de pequenas cólicas uterinas e intestinais.
Outras espécies também apresentaram valores de uso significativos, destacando-se
M. tenuiflora (Vu=0,14) e G. spinosa (Vu=014) na comunidade Várzea da Serra, e M.
tenuiflora (Vu=0,33), A. occidentale (Vu=0,22) e P. juliflora (Vu=0,17) na comunidade
Manga. As demais espécies apresentaram valores de uso igual ou inferior a 0,11.
É importante ressaltar que A. occidentale citada durante a pesquisa é uma espécie
cultivada as margens do rio, e não representa uma planta nativa das matas ciliares da
região estudada, sendo usada pela população como medicinal. Segundo Lorenzi; Matos
(2008), essa planta pode ser utilizada no tratamento da diabetes, diarreia, asma, como
antisséptico, anti-inflamatório, possui função adstringente, depurativa e tônica. Seus
pseudofrutos são largamente consumidos frescos, na forma de sucos, doces e suas
castanhas torradas se tornam comestíveis (LORENZI et al., 2006).
Enquanto P. juliflora se caracteriza como uma espécie exótica de potencial
invasor, usada nas comunidades como madeira na forma de mourões e estacas para
construção de cercas, e como combustível para consumo doméstico. Lorenzi et al. (2003),
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Espécies Vegetais
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Espécies Vegetais
B
31
destaca que a espécie possui madeira compacta e rígida, apropriada para construção civil,
e suas vagens são usadas na alimentação do gado.
Essa espécie torna-se subespontânia em algumas áreas de caatinga cujas
plantações foram abandonadas, e invade preferencialmente as matas ciliares diminuindo
drasticamente a riqueza de árvores e arbustos nativos, afetando a regeneração natural da
vegetação (QUEIROZ, 2009; ANDRADE, 2013).
As espécies medicinais utilizadas nas comunidades são: G. spinosa, C. urens; L.
alba; V. gardneriana; Z. joazeiro e A. occidentale.
O chá das folhas de G. spinosa é utilizado no alívio de diarreias. As raízes de C.
urens, são empregadas pela população na forma de decocção para o tratamento de
infecções do trato geniturinário feminino. As folhas de L. alba são usadas como calmante
e para tratar diarréia, sendo seu preparo feito através da infusão. V. gardneriana é
utilizada para o tratamento de ameba e problemas renais, e o seu preparo também é
realizado por meio da infusão das folhas. A raspa do caule de Z. joazeiro é adotada na
higiene bucal e combate a cáries, e a casca de A. occidentale é empregada como
macerado para inflamações e processos cicatrizantes.
Como recurso madeireiro são adotados G. spinosa; I. vera; M. tenuiflora; A.
pyrifolium ; L. rigida , P. juliflora e Z. joazeiro, utilizados na construção de cercas para
retenção do gado, proteção de áreas cultivadas e como limite entre propriedades.
No uso energético são empregadas M. tenuiflora, L. rigida, P. juliflora, Z.
joazeiro e C. leprosum, utilizados como combustível (lenha) para o preparo de alimentos.
Para fins tecnológicos, utiliza-se G. spinosa e T. gardneriana na confecção de cabos de
madeira para ferramentas do campo (enxadas e foices), sendo a primeira espécie ainda
usada na produção de cangas de boi para puxar carroças.
Na forragem são utilizadas as folhas de G. spinosa e I. vera para suprir as
necessidades do gado durante os períodos de estiagem. É importante pontuar que os usos
das espécies vegetais permanecem os mesmos nas duas comunidades, exceto, L. rigida,
utilizada exclusivamente pela comunidade Manga em construções domésticas.
5.3 Atividades antrópicas desenvolvidas na área
Verificou-se que a maior parte dos habitantes dessas comunidades desenvolvem
atividades de elevado potencial antrópico nas margens do rio ou em áreas adjacentes a
ele, afetando direta ou indiretamente suas condições naturais e agredindo a biota local
(Figura 6).
32
Figura 6. Atividades antrópicas desenvolvidas às margens do Rio Piranhas, São Bento, Paraíba: A-Várzea da Serra, B-Manga.
Na comunidade Várzea da Serra, as atividades frequentemente desenvolvidas são:
Agricultura (11 citações), seguida de pecuária (8), pastagem (5), carcinocultura (2) e
piscicultura (4). Na comunidade Manga, destacam-se também a agricultura (7 citações),
seguida de pecuária (5) e pastagem (2).
A prática dessas atividades evidência a pressão a que as espécies locais
encontram-se expostas, indo desde a conversão de extensas áreas de vegetação em
pastagens, implantação de monoculturas, até a poluição da água e solo, assoreamento,
erosão, etc.
Segundo Rodrigues; Gandolfi (2009), a atividade agrícola e a pecuária são os
principais responsáveis pela degradação de grandes áreas de vegetação ciliar. A
agricultura altera a ciclagem de nutrientes, provoca a perda de matéria orgânica, biomassa
e atividade microbiana, causando a compactação do solo (VASCONCELLOS et al.,
2013). A presença do gado promove o pisoteio do solo úmido, destruindo sua estrutura e
produzindo condições eutróficas impróprias aos organismos nativos (GIULIETTI et al.,
2004).
Além disso, os usos indiscriminados do recurso hídrico observado na criação de
peixes e camarões também têm provocado impactos ao Rio Piranhas, através do descarte
dos dejetos provenientes dessas atividades no curso principal do rio e seus efluentes,
proporcionado a poluição das águas. Pinto et al. (2009), ressaltam que os efluentes
gerados pelo cultivo de camarões provocam impactos negativos nos ambientes aquáticos,
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Atividades
B
33
através da produção de elevadas concentrações de compostos inorgânicos, orgânicos e
patógenos.
Soma-se as atividades mencionadas à extração mineral de areia e argila para
construção civil, o aporte de águas residuais domésticas e industriais que favorecem a
contaminação por microrganismos e metais pesados, e o descarte de resíduos sólidos em
suas margens provenientes das práticas de lazer. Além disso, observa-se ainda o cultivo
de plantas invasoras como Azadirachta indica A. Juss. para o sombreamento de áreas
destinadas ao lazer em alguns trechos do rio.
Quando questionados sobre os impactos que as atividades desempenhadas pelos
moradores locais causam ao rio, 17,9% dos informantes da comunidade Várzea da Serra
reconheceram que elas provocam dano ambiental, enquanto 82,1% responderam de forma
negativa. Na comunidade Manga, todos os informantes acreditam que o desenvolvimento
de tais atividades não causa nenhum impacto ao meio ambiente.
Porém, mais de 60% dos informantes de ambas as localidades consideram a
vegetação ciliar de extrema importância para a manutenção da qualidade de vida dos
habitantes locais, evidenciando que embora se reconheça a importância da mata ciliar, a
maior parte dessas pessoas ignoram as consequências de suas práticas cotidianas para a
vegetação. O desconhecimento das potencialidades da flora local tem influenciado a
desvalorização das espécies e o seu consequente extrativismo, sem se levar em
consideração a importância de tais recursos.
Estudos etnobotânicos em diversas partes do mundo têm revelado que mudanças
sociais e o processo de aculturação vêm afetando o conhecimento tradicional. De acordo
com Santos (2012), a cidade de São Bento, possui mais de 300 pequenas, médias e
grandes indústrias têxteis que fabricam aproximadamente 600 mil redes por mês,
atendendo vários estados brasileiros e também do exterior como Bolívia e Paraguai.
Fatores como a proximidade das comunidades com o meio urbano e a forte
indústria têxtil local, que oferece o pagamento por serviços prestados, têm permitido que
as famílias ampliem a renda mensal, elevando o seu poder de compra. Isso tem gerado a
procura por produtos vegetais a venda nas feiras da cidade, especialmente aqueles
destinados ao uso medicinal, ao invés da busca por eles nas matas próximas as
residências, como foi relatado por alguns moradores.
Esses dados se mostram preocupantes, pois revelam a ausência de um maior
contato dos habitantes locais com o seu ambiente, tornando o saber tradicional restrito a
34
alguns moradores e não difundido através das gerações. Talvez esse fato ocorra pela
inexistência de uma rede de diálogo entre os habitantes ou mesmo pelo desinteresse por
partes dos jovens em aprender, já que quase tudo pode ser obtido pronto e sem muito
esforço.
Para as novas gerações dessas comunidades, experiências educativas que
propiciem uma visão mais integral do meio ambiente são fundamentais, pois, ajudarão no
resgate dos valores da etnobotânica e também podem contribuir na minimização da
degradação ambiental na região por meio de uma relação mais harmoniosa entre eles e a
natureza que os cercam (SILVA, et al., 2014; SILVA et al., 2015; VASCONCELOS;
SILVA, 2015).
Sem o conhecimento etnobotânico é difícil traçar ações que possibilitem conciliar
a demanda da população e a disponibilidade dos recursos ofertados pelas matas ciliares
da região. Portanto, conhecer a importância e potencial de uso dos recursos naturais
existentes na área pode se tornar um propósito importante para conservação das espécies
vegetais do Rio Piranhas e fundamentar iniciativas para o manejo de tais recursos.
35
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados encontrados revelam a pequena quantidade de espécies vegetais
adotadas nas comunidades, e evidencia que o conhecimento sobre as potencialidades da
vegetação que compõem as matas ciliares da região encontra-se escasso, estando o saber
condicionado a uma pequena parcela dos habitantes locais.
O fato mais preocupante é que esse conhecimento torna-se cada vez mais restrito,
e ao mesmo tempo em que se observa sua perda, se intensificam as ações antrópicas que
destroem a vegetação da região, provocando sérios impactos ao conjunto que compõe a
vida na mata ciliar.
Não se pode conservar a vegetação do Rio Piranhas sem que se conheça a sua
importância para o bem estar de seus habitantes e os benefícios advindos dela, portanto é
necessário medidas que visem a conscientização da população, bem como dos produtores
rurais, e que os órgãos públicos assumam a responsabilidade de vigia constante para essa
vegetação.
Por fim, recomenda-se estudos em outras áreas de seu curso, que busquem
conhecer os diferentes usos adotados para sua vegetação e as pressões humanas a que
essas espécies encontram-se submetidos, para que se possam subsidiar iniciativas para o
adequado manejo de sua bacia, promovendo a sua conservação.
36
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Guia ilustrado-Espécies vegetais úteis da mata ciliar do Rio Piranhas, São Bento, Paraíba.
A- Anacardium occidentale L.(Cajueiro), B- Aspidosperma pyrifolium Mart. (Pereiro), C- Combretum leprosum
Mart. (Mofumbo), D- Licania rigida Benth. (Oiticica), E- Cnidoscolus urens (L.) (Urtiga Branca), F- Inga vera
Willd. (Ingá), G- Geoffroea spinosa Jacq. (Marizeiro), H- Mimosa tenuiflora (Willd.)Poir. (Jurema-Preta), I- Prosopis juliflora (Sw.) DC. (Algaroba), J- Vitex gardneriana Schauer. (Jaramataia), K- Triplaris gardneriana
Wedd.(Cuaçú), L- Ziziphus joazeiro Mart.(Juazeiro), M- Lippia alba (Mill.) N.E.Br.(Erva Cidreira), N-O-
Fisionomias da mata ciliar do Rio Piranhas, São Bento, PB.
B C
D F
G I
J K L
M N O
H
E
A
APÊNDICE-A
APÊNDICE-B
PESQUISA DE CAMPO
ENTREVISTA Nº _____ DATA: _____/_____/______ LOCAL: ______________________________________________
DADOS PESSOAIS:
01. NOME:_____________________________________________ 02. GÊNERO: ( ) F ( ) M IDADE:____________ 03. Há quantos anos reside no local? _________________________ 04. Qual o seu nível de instrução?
( ) Analfabeto ( ) Fundamental incompleto ( ) Fundamental Completo ( ) Médio incompleto ( ) Médio Completo ( ) Superior Incompleto ( ) Superior
SOBRE AS ESPÉCIES VEGETAIS: 01. Você costuma usar espécies vegetais provenientes do Rio Piranhas para alguma
finalidade? Sim ( ) Não ( )
02. (No caso de resposta positiva) Com que frequência utiliza?________________________
03. Há quanto tempo utiliza essas espécies?________________
04. Quantidade de pessoas por residência que utilizam as espécies vegetais.
Quantidade de pessoas Quantas usam as plantas Gênero/Idade
05. Responda o quadro abaixo:
Nome popular Categoria de uso* Hábito
*Medicinal, forrageira, alimentícia, construção, madeireiro, energético, etc.
06- Alternativa que melhor reflete a opinião do entrevistado sobre a importância das plantas
provenientes do Rio Piranhas para sua vida. Considere o nível de gradação: 1-Nenhuma importância; 2-Quase nenhuma; 3-Pouca; 4-Alguma importância; 5-Muita importância.
( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5
07- Quais atividades do cotidiano ou de trabalho sua família desenvolve próximo ao Rio Piranhas?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________
08- Em sua opinião essas atividades causam danos a área vegetal do Rio? ( ) Sim ( ) Não
APÊNDICE-C
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Nome da pesquisa: ETNOBOTÂNICA COMO SUBSÍDIO PARA CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS PELA POPULAÇÃO RIBEIRINHA DO RIO PIRANHAS, SÃO BENTO, PARAÍBA.
Pesquisadora responsável: MARIA DAS GRAÇAS VELOSO MARINHO
Aluna pesquisadora: RISONEIDE HENRIQUES DA SILVA
Informações sobre a Pesquisa: Estamos realizando um estudo sobre o conhecimento e utilização das espécies vegetais do Rio Piranhas, e para isso, solicitamos a sua colaboração respondendo algumas questões sobre este assunto. O objetivo dessa pesquisa é resgatar o conhecimento botânico tradicional por meio do levantamento etnobotânico das espécies vegetais utilizadas pela população que reside às margens do Rio Piranhas, município de São Bento, Paraíba. A sua participação é muito importante, pois trará contribuição em relação ao tema abordado tanto para as participantes do estudo como também para o ensino e a pesquisa.
Eu, _____________________________________________________, abaixo assinado, tendo recebido as informações acima, concordo em participar da pesquisa, pois estou ciente de que terei de acordo com a Resolução 466 de 12 de dezembro de 2012, item IV, todos os meus direitos abaixo relacionados:
– A garantia de receber todos os esclarecimentos sobre as perguntas do questionário antes e durante o transcurso da pesquisa, podendo afastar-se em qualquer momento se assim o desejar, bem como está assegurado o absoluto sigilo das informações obtidas. – A segurança plena de que não serei identificado (a), mantendo o caráter oficial da informação, assim como está assegurado que a pesquisa não acarretará nenhum prejuízo individual ou coletivo. – A segurança de que não terei nenhum tipo de despesa material ou financeira durante o desenvolvimento da pesquisa, bem como, esta pesquisa não causará nenhum tipo de risco, dano ou mesmo constrangimento moral e ético ao entrevistado. – A garantia de que toda e qualquer responsabilidade nas diferentes fases da pesquisa é dos pesquisadores, bem como, fica assegurado que poderá haver divulgação dos resultados finais em órgãos de divulgação científica em que a mesma seja aceita. – A garantia de que todo o material resultante será utilizado exclusivamente para a construção da pesquisa e ficará sob a guarda dos pesquisadores, podendo ser requisitado pelo entrevistado em qualquer momento.
Tenho ciência do exposto acima e desejo participar da pesquisa.
SÃO BENTO – PB, _____ de __________________ de___________.
Pesquisadora responsável: Maria das Graças Veloso Marinho. Endereço: Inácio Fernandes, 220. Bairro: Jardim Queiróz, Patos-PB. Telefone: (83) 88069352. ______________________________________________
Atenciosamente, _______________________________________
Assinatura do (a) participante
Digital do(a) participante Assinatura da Pesquisadora Responsável