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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS EDGAR MORIN, BACHELARD E A COMPLEXIDADE: UMA DISCUSSÃO SOBRE A REFORMA DO ENSINO E A CONSTRUÇÃO DE CABEÇAS BEM- FEITAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA JOSEFA PATRÍCIA SÉRVULO DOS SANTOS PATOS- PB 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

EDGAR MORIN, BACHELARD E A COMPLEXIDADE:

UMA DISCUSSÃO SOBRE A REFORMA DO ENSINO E A CONSTRUÇÃO DE

CABEÇAS BEM- FEITAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

JOSEFA PATRÍCIA SÉRVULO DOS SANTOS

PATOS- PB

2015

JOSEFA PATRÍCIA SÉRVULO DOS SANTOS

EDGAR MORIN, BACHELARD E A COMPLEXIDADE:

UMA DISCUSSÃO SOBRE A REFORMA DO ENSINO E A CONSTRUÇÃO DE

CABEÇAS BEM- FEITAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da

Universidade Federal de Campina Grande,

Campus de Patos/PB, como parte das exigências

para a obtenção do grau de Licenciado em

Ciências Biológicas.

PATOS- PB

2015

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSRT DA UFCG

S237e

Santos, Josefa Patrícia Sérvulo dos

Edgar Morin, Bachelard e a complexidade: uma discussão sobre a

reforma do ensino e a construção de cabeças bem-feitas para a educação

brasileira / Josefa Patrícia Sérvulo dos Santos. – Patos, 2015.

36f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Ciências Biológicas) – Universidade

Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, 2015.

"Orientação: Profa Dra Maria de Fátima Araújo Lucena”

"Co-orientação: Prof Msc. Jair Moisés de Sousa”

Referências.

1. Epistemologia. 2. Conhecimento. 3. Complexidade. I. Título.

CDU 37.015.4

Dedico

a todos os docentes que

contribuíram imensuravelmente

à minha formação, desde as séries

iniciais, até o nível superior.

Em especial, a minha primeira e inesquecível

Professora Maria Cândido Pereira –

Escola João Cavalcanti Sula.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida, pela saúde de todos os dias. Pela coragem

que me foi dada para enfrentar as dificuldades diárias, pela força e disposição para as

inúmeras viagens em que fiz, pelas amizades proporcionadas, pelo dom da paciência, pela

iluminação das minhas escolhas, pela fé e esperança inabaláveis que não me permitiram

desistir em nenhum momento. E porque é Dele todo o merecimento e honrarias que devo

prestar.

A minha família, pelo apoio concedido, pelas palavras de entusiasmo e animação, à minha

mãe Cida, pelo amor e carinho em que a encontrava nas horas que retornava para casa. Ao

meu pai Neto, que mesmo com a sua simplicidade, nunca me desanimou um só momento, ao

contrário, sempre me motivando para estudar e ao meu irmão Júnior, a qual está no lado

direito do meu peito. Por meio deles, agradeço também a todos os meus familiares.

Ao meu marido Antônio Téu, pelo companheirismo, pelo apoio diário, pelas palavras

motivacionais, pelas sugestões e dicas, pela paz do seu coração, por todos os instantes que a

sua presença foi a resposta para as minhas perguntas. Por deixar de viver a sua vida, para

viver a minha e por dois anos ter omitido a sua vontade de estudar o que mais desejava, para

me acompanhar e viver o meu sonho. Por tudo que passei, inexistente foi o momento em que

não esteve comigo. Para ele, todo amor do mundo. Te amo Antônio!

Aos meus companheiros de curso, Leandro e Leonila, pelos momentos difíceis que vivemos

no decorrer desses cinco anos, pelos sacrifícios compartilhados, pelas lutas enfrentadas, pelos

desafios vencidos juntos, um pelo outro. Amizade é a palavra que tenho para vocês, podem

contar comigo sempre!

A todas as gestões municipais que forneceram ônibus para a cidade de Patos. Diante das

dificuldades, a falta de um transporte poderia ter sido um grande empecilho, não só para mim,

mas para todos os universitários que utilizavam esta maneira para estudar, pois a grande

maioria, como eu, trabalhavam em horário oposto. O dinheiro público deve sim, ser voltado

para fins como esse. E por menor que a minha cidade seja, me orgulho de ver gestores

municipais assim, que acreditam na educação e ofertam ônibus de forma gratuita para

universitários. Apreço também, por todos os motoristas.

Aos gestores escolares Janaína Alvarenga Guimarães e Edineide dos Santos Madalena pelo

apoio fornecido durante os estágios, como também aos professores Ana Angélica Pinto,

Cassiana Genuíno, Maria Livoneide Alves e Luciano de Brito Júnior pela forma como me

orientaram. O amor que possuem pela educação é motivante.

Aos meus amigos de Boa Ventura, grande gratidão que existe em meu coração por tê-los em

minha vida e poder contar sempre. Maria Emília, Sayonara, Thaís, Suzana, Joseane, Laíla,

Sara, Janaína, Elizângela, Maria do Socorro e Jaires obrigada pelo apoio e carinho

continuamente.

Aos meus orientadores Jair Moisés e Maria de Fátima, ambos foram pessoas excelentes

comigo. Nunca irei esquecer os momentos vividos com eles e o quanto contribuíram para a

profissional que estou me tornando. Em especial ao Professor Jair, pela sua paciência,

dedicação e por ter me proporcionado inúmeras descobertas. Me espelho em vocês, muito

obrigada!

A todos os Professores do Campus de Patos, pelos saberes compartilhados, pela humildade,

pela competência dos seus trabalhos. Agradecida eternamente, sentirei saudades!

“Eu tentei noventa e nove vezes e falhei.

Mas na centésima tentativa eu consegui.

Nunca desista de seus objetivos, mesmo

que esses pareçam impossíveis.

A próxima tentativa pode ser a vitoriosa.”

Albert Einstein

RESUMO

O presente artigo propõe uma discussão sobre a reforma de pensamento para os educadores

acerca do ensino, e faz ênfase a uma também reforma de instituições no Brasil. Analisa

algumas obras de Edgar Morin, filósofo, de origem francesa, formado em Sociologia,

História, Direito e Geografia, pensador que sugere muitas propostas extraordinárias para a

educação. Por meio da sua visão contemporânea de mundo e do pensamento complexo,

sugere adaptações que permeiam grandes reflexões para os educadores. Analisando obras

como o Livro “A Cabeça Bem-Feita” e “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”

propomos o que é necessário para iniciarmos esta mudança; para nós, começa com a reforma

do pensamento. Assim então, para entendermos a carência de uma reforma, busca-se aqui

demonstrar o que é a complexidade. Para este fim, abordamos inevitavelmente também o

pensamento e a obra de Gaston Bachelard. A complexidade, tema de estudos desses dois

grandes pensadores é aqui analisada com direcionamento ao modelo atual da ciência na

educação brasileira e aos conhecimentos atuais, que encontram-se divididos e fragmentados,

utilizando-se também de diversos outros autores que são a favor de uma mudança no padrão

de educação brasileira. Conhecedores da fragmentação e acumulação de saberes sem nexo, é

possível utilizar a complexidade, como instrumento de transformação desta realidade atual e,

por intermédio dela, construir a reforma do pensamento; iniciando mesmo não oficialmente,

em um trabalho coletivizado e reflexivo. Com o auxílio dos sete saberes postulados por

Morin (considerar os erros e ilusões da ciência, construir o conhecimento pertinente,

reaprender a nossa construção humana, reconhecer que somos indivíduos com identidade

terrena, enfrentar as incertezas do conhecimento, ensinar e aprender a compreensão e discutir

exercitando a ética), tem-se uma consistente “bússola pedagógica” para iniciarmos esta

mudança que o Brasil necessita na educação. Demonstrar que é possível sim interligar saberes

e avançar no conhecimento para a construção de “cabeças bem-feitas” como afirma Morin,

ainda que simplesmente, cada um comece fazendo a sua parte.

Palavras-chave: Epistemologia, Conhecimento, Complexidade

ABSTRACT

This article proposes a discussion about the reform of thought for the educators about

teaching, and is also emphasis on a reform of institutions in Brazil. Analyzes some works of

Edgar Morin, philosopher, of French origin, graduated in Sociology, History, Law and

Geography, which features many extraordinary proposals for education. Through his

contemporary vision of the world and the complex thought, suggests adjustments that

permeate large reflections for educators. Analyzing works as the Books "A Cabeça Bem-

Feita" and "Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro" propose what is needed to

begin this change; for us, begins with thought reform. Therefore, to understand the need for

reform, we seek to demonstrate what is the complexity, study theme of these two great

thinkers and compares it to the current model of science in Brazilian education and the current

knowledge, lying divided and fragmented also using up several other authors who favor a

change in the pattern of Brazilian education. Connoisseurs of fragmentation and accumulation

of knowledge without connection, you can use the complexity, such as transformation of

current reality instrument and, through it, build the thought reform; starting even unofficially,

in a collectivized and reflective work. With the help of Seven Knowledge postulated by Morin

(consider the errors and illusions of science, build relevant knowledge, relearn our human

construction, recognize that we are individuals with earthly identity, face the uncertainties of

knowledge, teaching and learning to understand and discuss exercising ethics), it has been a

consistent "pedagogical compass" to begin this change that Brazil needs in education.

Demonstrate that it is possible to link knowledge and advancing knowledge for the

construction of "well-made heads" as says Morin, even simply, each start doing their part.

Keywords: Epistemology, Knowledge, Complexity.

SUMÁRIO

Introdução Geral........................................................................................... 01

Introdução......................................................................................................03

Os Tipos de Conhecimento.......................................................................... 06

Considerações Sobre a Construção do Conhecimento................................. 09

Bachelard, Morin e a Teoria da Complexidade............................................ 12

Avaliando a atual situação dos docentes frente aos saberes e o conhecimento

...................................................................................................................... 15

Discutindo o Início de uma reforma............................................................. 20

Considerações Finais.................................................................................... 28

Referências................................................................................................... 30

Anexos.......................................................................................................... 35

1

1

INTRODUÇÃO GERAL

Um dos problemas atuais da educação é a maneira como o conhecimento está

posicionado na sociedade, principalmente no ensino, na visão dos discentes e também dos

educadores. Assim, as escolas estão cada vez mais formando “fábricas de trabalhadores”

(ALMEIDA, 2012) e não indivíduos aptos a se posicionarem na sociedade com suas

indagações, concepções e ideias.

Por isso, estamos prestes a um colapso de excessos e faltas, o que nos conduz a

um pensamento de reforma, que vise algo diferente dos currículos e não esteja presa a

aumento de salário. Deve ser levado em conta simplesmente a necessidade de valorização do

conhecimento e suas especificidades. Autores de trabalhos na área da educação, como Kassab

e Santana, exprimem as suas reflexões, com auxílio das ideias de Morin e Mais, sobre como

deve caminhar a sociedade com os progressos do conhecimento, visando focar em pontos

diferentes de toda a sua história.

Como proposição para começarmos uma reforma, e levando em conta a nossa

condição humana, Silva sugere (2011) que iniciemos com a construção de “cabeças-bem-

feitas”, para os alunos se tornarem completos e compreensivos. E para o professor trabalhar

para uma educação com cabeça bem-feita, tem como primordial buscar o que é relevante nas

relações entre os fenômenos naturais, políticos, sociais e culturais, e interligar todos eles.

Diante disso, conscientes da necessidade de uma reforma, também devemos

enxergar toda a educação planetária em que estamos inseridos e entender com uma visão

complexa. Para isso, o trabalho proposto é uma discussão sobre uma reforma do ensino e a

adoção do modelo de “cabeça-bem-feita” e não mais “cabeça bem-cheia”. Através desse

enfoque, tratamos a complexidade, firmada por Bachelard e Morin, como essencial para se

pensar em uma verdadeira reforma, e livros, que também podem auxiliar como um guia, “A

Cabeça Bem-Feita” e “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”, ambos obras de

Edgar Morin.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, M. C. Ciências da Complexidade e Educação: razão apaixonada

e politização do pensamento. Natal: EDUFRN, 2012.

KASSAB, P. M.; SANTANA, A. J. O exercício da sensibilidade estética na

dinâmica de construção da cabeça pensante. IX Colóquio de Pesquisa Sobre

Instituições Escolares – História e Atualidade do Manifesto dos Pioneiros da

Educação Nova, 2013.

SILVA, L. E. Por uma Educação para uma cabeça bem-feita. Revista

Educação-UnG, v. 6, n. 2, p. 64-73, 2011.

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EDGAR MORIN, BACHELARD E A COMPLEXIDADE:

_____________________________________________________________

UMA DISCUSSÃO SOBRE A REFORMA DO ENSINO E A CONSTRUÇÃO

______________________________________________________________

DE CABEÇAS BEM- FEITAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA.

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Josefa Patrícia Sérvulo dos Santos1

Maria de Fátima de Araújo Lucena2

Jair Moisés de Sousa3

Edgar Morin, de origem francesa, antropólogo e sociólogo, graduado em

História, Geografia e Direito, possui inúmera parte de sua produção científica

acerca dos novos pensamentos e concepções sobre a educação e o ensino que

aconteceram ao longo do século XX em contexto com a Ciência da Informação

(FRANCELIN, 2003). Como Almeida (2004) simplificadamente define “É um

pensador inclassificável, múltiplo, um ‘eterno estudante’”. Morin aborda, também,

em várias de suas obras, a ciência, a epistemologia do ensino, o pensamento

complexo e a reforma das instituições e do pensamento. Por meio de sua

explanação, torna-se possível avaliar a atual situação do conhecimento frente aos

padrões da sociedade e, principalmente, entender a educação e o ensino de

maneiras diferentes.

O pensamento de Edgar Morin é, sem dúvida, fascinante e, assim

sendo, tem para nós educadores imensa contribuição, porque através de suas

conclusões podemos buscar uma reforma do ensino, nos avaliar como cidadãos e

ao mesmo tempo fazer modificações para o novo século, alterações estas

necessárias para um inédito modelo de educação voltado para a construção de

alunos e pessoas apaixonadas pelo conhecimento, e que ao mesmo tempo

possuam estes saberes interligados por intermédio de uma “cabeça bem-feita” –

modelo em que o aluno aprende para a vida inteira, porque os seus saberes são

constituídos de ligações, resultando no sentido complexo do aprendizado.

Segundo Morin, a cabeça bem-cheia deve ser eliminada de uma vez por todas,

pois é possuidora tão somente de conhecimentos estéreis, e enfatiza a importância

A

R

T

I

G

O

T

E

M

Á

T

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C

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de uma “cabeça-bem-feita”. Para que seja valorizado todo o conhecimento do aluno;

é necessária que exista, para ele, a noção de ligação dos conteúdos em sala de aula

e também que compreenda as várias versões do conhecimento e as suas

particularidades. Porque como sugere:

[...] todo acontecimento cognitivo necessita da conjunção de processos

energéticos, elétricos, químicos, fisiológicos, cerebrais, existenciais,

psicológicos, culturais, linguísticos, lógicos, ideais, individuais,

coletivos, pessoais, transpessoais e impessoais, que se encaixam uns

nos outros. O conhecimento é, portanto, um fenômeno

multidimensional, de maneira inseparável, simultaneamente físico,

biológico, cerebral, mental, psicológico, cultural, social. (MORIN, 2012,

p.18).

Com base nisso, comparando as perspectivas de Morin aos dias atuais é

perceptível a necessidade da reforma do pensamento, e construção do ensino para

formação de cabeças bem-feitas e não apenas fartas de conhecimentos

desconectados e isolados. Ele indica um auxílio para conseguirmos mudar essa

realidade. São “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”; um ótimo

caminho para que sejam dribladas dificuldades históricas e planetárias, excluindo-as

do dia-a-dia estudantil, ao mesmo tempo auxiliando na construção de indivíduos

inteligentes e proprietários dos seus conhecimentos, novos homens e novas

mulheres, cidadãos completos e complexos. Conforme Morin, o propósito dos sete

saberes é fazer revisão dos currículos; integrar as disciplinas religando os saberes;

modificar e reorganizar o pensamento; abrir outros campos de saberes; recusar

separações que não são positivas, como a razão da emoção, a ciência da arte e a

ciência do mito e por fim estimular o diálogo entre diferentes disciplinas, utilizar a

multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade.

Bachelard outro importante pensador do século XX, também introduz o

conceito de uma nova pedagogia, que chamou de pedagogia complexa ou científica,

buscando auxiliar uma nova prática científica-docente, instruindo uma prática para a

cultura científica e a aquisição de uma forma de conhecimento que, na visão dele,

acaba se traduzindo automaticamente numa reforma de espírito (FONSECA, 2008)

algo além da condição humana.

O conhecimento é de extrema valia para a vida das pessoas, simboliza

uma riqueza inestimável que nenhuma espécie de moeda pode adquirir. Grande

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parte da sociedade, tristemente, associa o conhecimento como algo para satisfazer

exclusivamente às necessidades financeiras, para estes, o saber está relacionado

diretamente ao poder (RIBEIRO,1993) transformando-o assim simplesmente em um

mecanismo que um dia gere dinheiro, e, assim sendo, seja convertido em forma de

padrão social, produzindo lucro. Infelizmente, sendo associado a altos padrões de

vida, o conhecimento permanece, em grande parte das sociedades, preso e

enclausurado às universidades. Alguns cientistas e professores universitários

mantêm uma postura na maioria das vezes diferente do que realmente deveria ser,

pois atuam como caixas de segredos, abertas somente em território permitido. É

necessário repensar o uso do status social e científico em que se vive para que, este

seja colocado também e sempre a serviço da nação.

Nas escolas, por meio de disciplinas, a educação fica fragmentada em

tópicos isolados, nos quais o conhecimento se encaminha de toda a ordem, mas não

da desordem proporcionada pelos fragmentos (RAMOS, 2008). Este é o modelo

padrão do sistema de ensino no Brasil e na maioria dos países.

Nascimento e Carvalho (2004) ressaltam várias pesquisas de KHALICK e

LEDERMAN (2000); LEDERMAN (1992); GIL-PÉREZ et.al., (1993) na área das

ciências, sugerindo que na grande maioria os discentes possuem ou formulam

concepções inadequadas sobre a natureza do conhecimento científico. Talvez essas

concepções sejam fruto do modelo de educação em que estão inseridos. Assim, há

necessidade de uma reforma de pensamento e de instituição.

Sobre a formação docente, ela deve objetivar a constituição reflexiva,

transformadora e crítica do professor frente ao conhecimento (PIETROBON, 2006).

Bachelard enfatiza a necessidade dos docentes em valorizar os conhecimentos do

senso comum dos alunos diante do processo de ensino (ANDRADE et. al., 2000).

Porquanto as escolas apresentam, como objetivo principal, a formação do

conhecimento, uma vez que não devem apenas centrar suas expectativas na

produção do conhecimento científico. Dessa forma, é importante que o aluno

mantenha seus valores e princípios e, mais ainda, continue ligado à sociedade na

qual está inserido (LOPES, 1997), consciente de que todo o saber que traz de sua

casa, da observação de seus pais acerca da natureza, dos modos em que lidam

com os animais ou com a agricultura, tem realmente a sua lógica; e que esse

conhecimento não está pronto, pode ser aprimorado (CARVALHO FILHO &

ERNANE, 2006) e cada vez mais fazer sentido a seus olhos. Também é importante

6

que todo o saber proporcionado nas instituições seja interligado, e, nesse sentido, o

aluno possa fazer conexões entre diversas disciplinas, que até então eram

totalmente distintas para ele, antagônicas.

Pfuetzenreiter (2001, p.13) afirma que “a utilização de um modelo de

ensino que estimule os alunos a pensar de maneira não fragmentária supõe uma

profunda reflexão do papel da universidade e do tipo de profissional que se pretende

formar”. Raciocinemos sobre o nosso modelo de ensino. Será que estamos

corretos?

Com esse enfoque, o presente artigo analisa, por meio principalmente do

pensamento de Edgar Morin e de Bachelard, mas também de outros autores, a

necessidade emergente de avaliação do processo de ensino, proporcionando,

sobretudo, uma discussão sobre a reforma que não só deverá ocorrer na Educação

Básica, brasileira, mas também se expandir ao Ensino Superior. É observável

atualmente uma certa quantidade de autores que utilizam a complexidade para tratar

dessa possível reforma e para vencer os obstáculos contemporâneos, inerentes ao

conhecimento, advindos da sociedade moderna que estamos inseridos. Por este

motivo, algumas explanações sobre a proposta de complexidade serão feitas, além

de tratarmos questões sobre o conhecimento, o seu significado para os alunos antes

da reforma e hipoteticamente após a reforma. Visto que a própria sociedade clama

por um conhecimento que tenha nexo, ou podemos dizer de interpretações e

conexões.

OS TIPOS DE CONHECIMENTO

O conhecimento é o objeto de estudos da filosofia em algumas de suas

vertentes: “crítica do conhecimento”, “gnosiologia”, “epistemologia”, “teoria do

conhecimento” (MORA, 1998). Propõe que um possível resultado de tal

fenomenologia é bem nítido aos nossos olhos: conhecer é o que ocorre quando um

sujeito (possivelmente chamado “cognoscente”) apreende algo ou um objeto

(chamado “objeto de conhecimento”). E, por fim, o resultado disso não é o esperado

e nem é simplório. Ainda é citado que não só “o conhecimento da realidade sensível

está baseado em impressões”, mas também o conhecimento está nas realidades

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nada sensíveis, como os números, figuras geométricas e ainda tudo o que é surreal

e ideias.

Podem-se definir inúmeros tipos de conhecimento: senso comum ou

saberes da tradição, científico, religioso ou teológico, filosófico, político, entre outros.

Milhares de explanações podem ser feitas sobre cada um, pois, todos são fruto da

capacidade humana.

Os Saberes da Tradição – também conhecido como saber popular se

desenvolveu no homem logo após o nascimento, a partir do instante em que o

indivíduo vem ao mundo ele constrói as suas ideias e faz isso até o dia da sua morte

(CORREIA, 2006). Um fator importante para esse conhecimento e sua disseminação

é a cultura dos povos, porque os indivíduos possuidores de saberes elaborados ao

longo de anos vão herdando e reproduzindo de geração em geração. Um exemplo

inicial e histórico são as pinturas rupestres, responsáveis por originar uma das

maiores dádivas da inteligência humana – a escrita, definindo territórios, domínios e

expressando através de signos as primeiras representações culturais formuladas por

esses povos (MOSÉ, 2013). A exemplo também do conhecimento dos indígenas,

mesmo habitando em meio as matas e afastados das cidades desenvolveram desde

muito tempo atrás diversificada alimentação, elaboração de rituais para vários fins,

medicina natural com ervas que realmente demonstram curar inúmeras

enfermidades até os dias atuais e as formas como tratam ferimentos e picadas de

animais venenosos; também os habitantes de comunidades quilombolas, povos que

são representantes vivos de escravos fugidos para o quilombo, semelhante aos

índios adquirem muitos saberes para continuarem vivendo da maneira que estão até

hoje. Ambos constroem suas ideias, seus limites e através da própria construção,

resolvem os problemas, entendem o sentido das coisas que os rodeiam, como o

passar dos dias, a chegada da lua e o pôr do sol.

Conhecimento Científico - é o tipo de conhecimento que organiza

sistematizando um saber que até antes era disperso e compartimentado (Morin,

2000). Na ciência, todas as descobertas realizadas precisam ser necessariamente

comprovadas. Para esse fim de comprovação se utiliza do método científico.

Bachelard (1996) em “O Espírito Científico” diz que quando procuramos uma

explicação lógica para o motivo do progresso da ciência, logo chegamos ao

convencimento de que é em termos de obstáculos que a problemática do

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conhecimento científico deve ser exposta. Talvez por se valer da crítica permanente,

reavaliando-se sempre para provar a veracidade de suas teorias é que o método

crítico tem garantido ao processo cientifico a confiabilidade temporária, pois localiza

constantemente dificuldades, contradições e erros, se reformulando sempre. “Cada

nova teoria provoca uma ruptura com as teorias existentes e pode levar décadas

para se tornar a mais aceita” (JUSTINA & FERRARI, 2000, p. 129). Diferente, por

exemplo, da Filosofia, que lida com a razão, a Ciência utiliza-se da experimentação

para validar os fatos, para que sejam criadas leis e apresentadas descobertas, que,

muitas vezes, surpreendem a humanidade. Principalmente no que diz respeito à

cura de doenças, novas tecnologias, alimentos transgênicos, entre outros. Também

para Karl Pooper, filósofo (1902-1994) austríaco naturalizado britânico, que é

considerado um dos mais importantes do século XX a pesquisar e tratar da filosofia

da ciência, o pensamento é semelhante ao de Bachelard. Ambos acreditam que a

teoria científica é conjectural e provisória. Ao mesmo tempo, Bachelard acredita na

existência de uma grande quebra entre o conhecimento científico e o conhecimento

de senso comum, porque enquanto o conhecimento vulgar é formulado através de

princípios empiristas de utilidade ou alguma finalidade, o científico cada dia mais é

formulado por princípios racionais, o que o torna mais e mais teórico (ANDRADE, et.

al, 2000). Por fim, ousemos dizer que a evolução das ciências e suas descobertas,

conhecidas por nós, proporcionam a todo tempo conforto, segurança e hábitos cada

vez maiores, que nos induzem ao apego, por exemplo, a um mundo virtual, que nos

guia a uma sociedade cheia de liames ao artificial, e nada ao natural. Além de ter

permitido a realização de muitos sonhos antigos dos homens, como voar, navegar

em baixo d’água, chegar à lua, aumentar sua expectativa de vida, tudo frutos de

muito sacrifício (DIAS, 2012).

Conhecimento filosófico - o homem também faz indagações mais

profundas, racionalizações de eventos que circundam a natureza, os fenômenos

científicos e a sua vida. Este tipo de conhecimento, busca por respostas

inesperadas, que não precisam de comprovação, mas, sim, entender o indivíduo e o

mundo complexo ao seu redor. Diferente dos conhecimentos populares, o

Conhecimento Filosófico tem contribuído significativamente para a ciência. Citam-se

grandes nomes, como Aristóteles, Sócrates, Platão, dentre outros não

contemporâneos a estes célebres filósofos. Para Morin (2012) a Filosofia é, acima

de tudo, uma força de interrogação e de reflexão, dirigida para os grandes

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problemas do conhecimento e da condição humana. Sendo desta maneira, uma

forma de situar o homem na realidade da sociedade, investigando a sua posição

diante dos fatos. Chaui (1987) afirma que ainda hoje muitas pessoas se questionam

sobre a importância dessa ciência e até muitos alunos resumem seus professores

“filósofos” como pessoas distraídas e com a cabeça no mundo da lua. Mesmo diante

dessas considerações, ela diz que a filosofia continuará se questionando sobre o

homem, a razão e a sua vontade. Não poderia ser diferente, pois é um campo muito

importante, oferecendo contribuição para o estudo de várias ciências, como as

humanas e da natureza. O problema de fato, é a falta de conhecimento por parte

das pessoas. Karl Popper, o grande epistemólogo denominou a sua filosofia de

“Racionalismo Crítico” e para ele a verdade é inalcançável. Não podemos falar sobre

filosofia no século XX sem citar o seu nome.

Conhecimento Religioso ou Teológico - Desde o surgimento da geração

humana, as pessoas já possuíam suas crenças, nas mais variadas formas,

apoiando-se numa doutrina ou religião, que, atualmente, alguns ainda conservam

assim; a única diferença é, portanto, a pluralidade de manifestação de fé que

encontramos hoje. Enfim, ambas fazem parte da religiosidade humana. Acreditam

que existe um ser, que é superior a todas as forças, inclusive as da natureza. Por

meio da fé, os possuidores do conhecimento teológico, discordam de muitas

descobertas da ciência, porque se fundamentam na divindade de um Ser Supremo.

Alimentamos a nossa consciência e o nosso coração com crenças motivadas pela

nossa fé, assim, o conhecimento possuído ganha consistência e poder, (MORIN,

2003) muitas vezes ninguém consegue modificar este saber de quem o possui. Entre

a Ciência e a Religião existem conflitos que ainda resistem de muito tempo atrás. De

fato, pode-se afirmar que estes dois tipos de conhecimento mantêm uma rivalidade

que resiste após séculos.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

A humanidade vivenciou muitos fatos históricos e, acontecimentos que

proporcionaram várias reflexões e diálogos, estes sempre alimentados por

perguntas, movem o ser humano, possuidor de um sentimento de curiosidade.

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Buscando entender de alguma forma os acontecimentos que o rodeia, o ser humano

constantemente anseia por respostas para os mais distintos fenômenos que ocorrem

perceptíveis ou não aos seus olhos. A ciência é uma forma particular de

conhecimento, ao passo que este não é reduzido à ciência, (ALMEIDA, 2012) sendo,

pois, pertinente a outros campos e visões que não são científicas, como visto

anteriormente.

A partir do momento em que o indivíduo, valendo-se de um mecanismo

de internalização, concentra-se em suas reflexões, ele estará sendo,

automaticamente, direcionado e transportado para um mundo sem limites e sem

desfechos. Com isso, buscando compreender as mais variadas situações que

ocorrem ao seu redor, o homem situa-se em um lugar que é só dele – sendo

eminentemente proprietário da sua consciência – a partir do qual é capaz de

encontrar de fato soluções para os seus questionamentos.

Será, portanto, possuidor de riquezas – atributos que estarão intimamente

intrínsecos e imanentes ao indivíduo – a partir do momento em que este consegue

responder as suas próprias indagações (BACHELARD, 1996). Com os olhos e a

mente centrados para enxergar o que muitos não conseguem ver, tornam-se

compreensivos os acontecimentos que surgem ao seu redor. Pode-se, pois, relatar

que, tendo o homem, então, vivenciado todo esse processo, terá ele, o prazer de

conhecer. Romão (2000), enfatiza a teoria do conhecimento, e a destaca como

sendo própria ao indivíduo, influenciando diretamente na sua escala de valores:

De fato, se cada indivíduo tem sua própria teoria do conhecimento e sua própria escala de valores, a construção da consistência científica e da ética social somente se torna possível pela coincidência entre os valores da ordem interior e hegemônicos na sociedade, objetivados numa exterioridade estranha, porque conceitos e valores dos demais também se remeteriam a uma exterioridade que tem o interior do primeiro indivíduo como parte constitutiva. Além disso, esta verdadeira migração ética para o próprio interior dificulta a objetividade das referências axiológicas, na medida em que cada indivíduo, convenientemente, pode aderir a um conjunto de valores expressos ou dominantes na sociedade, apenas quando sentir que tal adesão lhe é conveniente (ROMÃO, 2000, p.35).

O conhecimento compreende toda informação, observação, pensamento

e resultados que são encontrados nas simples e complexas reflexões, que são feitas

11

em busca de respostas, para a compreensão de eventos variados que circundam a

natureza, os seres e os seus fenômenos. É algo de magnífico, que não pode e nem

deve ser comparado com certos objetos. Por certo, não pode ser um instrumento

como os outros, pois é utilizado para conhecer os outros instrumentos e a si mesmo

(MORIN, 1986).

O valor que o Conhecimento tem para a humanidade é algo inestimável,

que, embora muitos não saibam ou desconheçam essa vertente, são capazes de, na

sua simplicidade, compreender e abdicar de um momento, para fazerem uma

viagem extraordinária, não só dentro de uma escola, mas também fora dela. O que

basicamente é necessário, para conduzir sua mente a busca de saberes e

conhecimentos, é um bom livro ou um simples minuto gasto de observação ao seu

redor. Para que isso aconteça, é preciso interesse, reflexão, curiosidade -

capacidade inata que o ser humano possui. Como destacou René Descartes (1637),

em O Discurso do Método, a possibilidade de estar sozinho e bem aquecido em um

quarto, o propiciava a chance de se entreter com os seus pensamentos. Diante

disso, é possível fazer uma reflexão acerca de que não só Descartes poderia realizar

esse feito, como também qualquer outro que se mantivesse fixado e com o mesmo

intuito de buscar saberes na imensidão da infinidade dos conhecimentos.

Após refletir sobre cada conhecimento, seus detalhes, embora

conseguidos e elaborados de maneiras distintas, sempre foram frutos da consciência

humana, da curiosidade, da sua inteligência.

. Por que não? Se o homem conseguiu tantos conhecimentos, que somos

capazes de dividi-los em tipos diferentes, como demonstrado anteriormente, não

seríamos competentes o suficiente para contextualizar todos eles, integra-los a um

tecido inteiro, compreende-los em um nível mais avançado?

Morin, por sua vez, ao tratar deste assunto no livro “A Cabeça Bem-Feita”,

afirma que devemos tornar a complexidade um desafio. A complexidade podemos

dizer, que são as características existentes na nossa realidade, elaboradas a partir

das várias observações e percepções que são tidas do nosso mundo e da nossa

vida, fatos esses que costumam não dar continuidade ao que está formulado e sim

propor mudanças contínuas (MARTINAZZO, 2010). Quando os educadores no geral

compreenderem essa teoria dessa maneira, e talvez alguns poucos se tornarem

12

sensíveis a ela, poderão se dispor para reformar as suas mentes e as instituições de

ensino.

BACHELARD, MORIN E A TEORIA DA COMPLEXIDADE

“Portanto, o desafio da globalidade é também um desafio de complexidade”.

Edgar Morin

“Na realidade não há fenômenos simples; o fenômeno é um tecido de relações”.

Gaston Bachelard

Não podemos falar sobre complexidade, sem narrarmos um sucinto

discurso com nomes de autores como Bachelard e Morin. Conforme Morin cita em

suas obras, as raízes da complexidade foram firmadas por Bachelard.

Gaston Bachelard nasceu no ano de 1884 na França Campesina e

morreu em 1962 em Paris. Poeta e filósofo pretendia se formar em engenharia, ao

passo que a 1ª Guerra Mundial eclodiu, impedindo-o da realização de tal feito. Ele

vivenciou a ruptura entre os séculos XIX e XX, o campo e a cidade, elementos

inspiradores que o propiciaram várias reflexões e pensamentos (LOPES, 1996).

Quando professor lecionava as disciplinas de Física e Química e, posteriormente,

passou a lecionar Filosofia. Demonstrava-se preocupado com o ensino e também

era a favor do “Racionalismo”. Lopes (1996) afirma que Bachelard expõe a

importância de nós educadores conhecermos e valorizarmos os conhecimentos

anteriores dos alunos, isso em seu livro “A formação do Espírito Científico” (La

formation de l’espirit scientifique).

Digamos que era um autor com pensamentos muito além da sua época,

também propondo rupturas com a pedagogia atual (FONSECA, 2008); já afirmava

que no futuro, “o conhecimento seria fruto da sua própria negação”, até por este

motivo ficou conhecido como filósofo da desilusão (HALMENSCHLAGER &

13

GEHLEN, 2009), por pregar o ser como passível a erros e a retificação, que deveria

ser contínua. Dessa maneira, ele acreditava que a correção e aceitação do erro

produziam novos acertos, respectivamente conduzindo o indivíduo rumo ao

conhecimento. “O conhecimento então era um ato social, ao passo que não podia se

pensar na sua produção no isolamento” (CARVALHO FILHO & ERNANE, 2006).

Enfim, visto alguns momentos da vida do escritor, já que não nos cabe

aqui detalhar toda a sua trajetória, e não esquecendo a notada importância de

Bachelard como filósofo da epistemologia do conhecimento, vamos compreender a

sua significativa contribuição para a teoria da complexidade. Em suma, o que faz

Morin afirmar com plena certeza que Bachelard foi o filósofo da ciência no qual ele

iniciou suas reflexões e falas sobre a complexidade, é a independência e a relação,

o determinismo, a priori e a posteriori em suas relações e inter-relações, o infinito e a

indefinição, e o princípio da incerteza, pontos observados por Bachelard acerca do

pensamento científico; tornando-o de fato o primeiro a propor a complexidade.

(OLIVEIRA & RODRIGUES, 2008). Ou como Fonseca (2008) nos fala, o filósofo e

escritor que rompeu com as evidências cartesianas, sua forma de pensar e ver o

mundo em seus significados apontavam para ele a necessidade de reler o simples

sob o múltiplo numa visão mais complexa das coisas.

No momento, já certos da importância de Bachelard, vamos voltar a Edgar

Morin, que por muitos é considerado o pai da complexidade, mas na verdade, foi o

responsável pelo aprofundamento sobre o tema. Ambos são a favor do abandono

dos padrões em que a ciência está enquadrada, ou seja, modificar o pensamento

simplório e traduzi-lo ao complexo. É fundamental enxergar o ser por inteiro, toda a

sua magnitude, não fragmentando e dividindo. Claramente Morin define a

complexidade em seu livro “Introdução ao Pensamento Complexo”:

A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxodo uno e do múltiplo. Num segundo momento, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico. Mas então a complexidade se apresenta com os traços inquietantes do emaranhado, do inextricável, da desordem, da ambiguidade, da incerteza... Por isso o conhecimento necessita ordenar os fenômenos rechaçando a desordem, afastar o incerto, isto é, selecionar os elementos da ordem e da certeza, precisar, clarificar, distinguir, hierarquizar... Mas tais operações, necessárias à inteligibilidade, correm o risco de provocar a cegueira, se

14

elas eliminam os outros aspectos do complexus; e efetivamente, como eu o indiquei, elas nos deixaram cegos (MORIN, 2005, p.14).

Em se tratando do pensamento complexo, reafirmamos que Morin

aprofundou cada vez mais esta teoria, fazendo na maioria dos seus livros alguma

referência à complexidade, principalmente nas coleções de “O Método”. Onde o

próprio Morin afirma ser o método da complexidade, pois é a temática principal desta

obra. Como data para o surgimento oficial do então Paradigma da Complexidade é a

partir da década de 70, do século XX que é originado através de Edgar Morin

(RAMOS, 2008). Comprovamos então que a maioria dos trabalhos que se

referenciam em Bachelard, têm tratado apenas aspectos relacionados ao ensino-

aprendizagem de ciências, em especial na Química, Física e Biologia; análises das

concepções de Bachelard presentes no currículo de ciências para o ensino

fundamental e educação em saúde; e como filósofo do conhecimento cientifico,

(HALMENSCHLAGER & GEHLEN, 2009) mas infelizmente, poucos o apresentam

como iniciante na complexidade, mascarando o real surgimento desta teoria, algo

não bom para a ciência e o conhecimento.

Em tempos de tecnologia e mudanças, é fundamental e indispensável

entender a complexidade. Ainda que de forma simplória, nós educadores

precisamos ser conhecedores desse tema, pois é claro e perceptível que o modelo

atual de educação realmente tem nos tornado cegos, porque não estamos

enxergando a dinâmica das coisas, o sentido das ciências. Não é por menos, que

quando se fala em complexidade até parece que estamos tratando de algo

extraordinário e que desperta receio. O nosso conhecimento está incompleto e

fragmentado. Sendo assim, para tratarmos de uma reforma no ensino, a busca de

conhecimentos interligados e até da construção de cabeças bem-feitas se faz

necessário um pleno entendimento da teoria da complexidade, para assim

buscarmos reformar nossas mentes e instituições. Embora conhecida por poucos

educadores, atualmente a complexidade já é citada por considerável número de

escritores. Como Santos e Hammerschmidt (2012) que ressaltam em seu artigo a

inter-relação reflexiva da complexidade com a religação de saberes interdisciplinares

na Enfermagem/Saúde e descrevem o pensamento complexo:

Assim, o pensamento complexo visa mover, conjugar, articular os diversos saberes compartimentados nos mais variados campos do

15

conhecimento, sem perder a essência e a particularidade de cada fenômeno, religando matéria e espirito, natureza e cultura, sujeito e objeto, objetividade e subjetividade, arte, ciência, filosofia. Considera igualmente o pensamento racional-lógico-científico e o mítico-simbólico-mágico. O pensamento complexo se estabelece como requisito para o exercício da interdisciplinaridade (2012, p.564).

Martinazzo (2010), sintetiza o valor da complexidade para a ciência e o

conhecimento, associando a uma civilização planetária. O modo de civilização

planetária está relacionado ao modelo de sociedade em que nós estamos inseridos,

isso tudo relativo às tecnologias, às novas comunicações e aos atributos disponíveis

aos professores para o manuseio de atividades lúdicas e diferenciadas. Dessa

maneira, Martinazzo destaca a importância do pensamento complexo para essa

nova era planetária. Afirma que a escola, como instituição, ainda está muito simples

e a humanidade atual exige um conhecimento que supere o que é imposto pelas

disciplinas, e ainda religue, conecte e contextualize os saberes. Na opinião de

Nicolescu (1999) a complexidade está por todas as partes e em todas as ciências,

desde exatas a humanas, as flexíveis e mesmo as mais fechadas também

comportam a complexidade. Nos dá o exemplo da biologia e da neurociência que

demonstram novas complexidades a cada dia.

AVALIANDO A ATUAL SITUAÇÃO DOS DOCENTES FRENTE AOS SABERES E O

CONHECIMENTO

O Educador diante da construção dos conhecimentos e de suas

concepções sobre a ciência apresenta-se como um cientista. Como cientista, o seu

papel é estar ampliando os seus horizontes, pesquisando e mostrando ótimos

resultados com a investigação a qual realiza todos os dias em sala de aula e fora

dela.

No século XVI aulas eram ministradas para os nobres, pois só eles

podiam pagar pelos seus estudos, muitos até recebiam professores particulares, que

ensinavam individualmente nos cômodos da própria casa do aluno, as conhecidas

escolas domésticas. No Brasil, os colonos e escravos permaneciam “cegos” frente

ao conhecimento, não aprendiam a ler e não tinham chance de deparar-se com um

16

livro para folheá-lo, só após alguns anos passaram a ser catequizados. Podemos

afirmar que a constituição de 1934 dá os primeiros passos para estruturar a

educação no Brasil, porque estabelece o seu controle juntamente com o estado,

sistematizando as escolas públicas, privadas e laicas religiosas (RAMOS, 2008).

Distante do passado obscuro e diante do panorama educacional brasileiro

atual, podemos ressaltar que o conhecimento nos dias de hoje é parcialmente

acessível a todos àqueles que o buscam, pois nos currículos escolares e

universitários no geral, tudo é planejado, muitas vezes não sendo modificado nem

para abordar assuntos relevantes. O professor, sem dúvidas é o mediador para

conduzir o aluno à porta de entrada do novo mundo do conhecimento, embora o

indivíduo possa e deva caminhar também com suas próprias pernas. Para isso, além

de expor conteúdos, pesquisar para dar suas aulas, fazer planos e mais planos de

aula. O docente deve também ser um educador e auxiliar as crianças e os jovens a

se posicionarem na sociedade. Para Carvalho Filho e Ernane:

Educar não é, então, descarregar uma massa de conteúdos sem nexo, mas promover caminhos que facultem, ao educando, a oportunidade de superar as suas limitações e os obstáculos na aquisição de um conhecimento cada vez mais avançado. Porquanto o acúmulo de conteúdo não é garantia de aprendizagem, porque o estudante que domina uma grande quantidade de assuntos, de uma determinada ciência, pode não estar pensando de acordo com aquela área do saber e esse saber pode não ter promovido uma mudança na maneira de perceber o mundo. (2006, p.03)

Com esse enfoque, é possível classificarmos o docente como um

instigador que provoca e possibilita descobertas todos os dias, exercendo a função

de facilitar diálogos com os vários saberes, (SANTOS, 2008) respeitando acima de

tudo, o indivíduo no processo de ensino-aprendizagem. E não erradamente,

podemos afirmar que o professor também é um cientista.

Atualmente os professores estão inseridos em uma sociedade que está

mudando rapidamente e a todo o momento, a sociedade planetária a qual já foi

traduzida. Junto dela, a educação também está sendo moldada, passando por várias

situações culturais e históricas. Cada dia mais são criados novos cursos de nível

superior, incluindo inúmeros cursos técnicos, com o objetivo basicamente de

conduzir os indivíduos mais rapidamente ao mercado de trabalho. As ciências estão

sendo fragmentadas. O resultado produzido é a formação de profissionais e

17

conhecedores de uma ciência isolada, que não exercitam a interação entre as outras

ciências. Morin (2003, p.13) apresenta, em sua obra, uma citação de Lichnerowicz

que enfatiza a real situação do ensino:

Nossa Universidade atual forma, pelo mundo afora, uma proporção demasiado grande de especialistas em disciplinas predeterminadas, portanto artificialmente delimitadas, enquanto uma grande parte das atividades sociais, como o próprio desenvolvimento da ciência, exige homens capazes de um ângulo de visão muito mais amplo e, ao mesmo tempo, de um enfoque dos problemas em profundidade, além de novos progressos que transgridam as fronteiras históricas das disciplinas.

Não enfatizamos que os especialistas não sejam importantes, ou que

devam ser extintos da ciência. Claro que, com o número de descobertas e o avanço

mundial a cada dia, faz-se necessário, em todas as áreas, pessoas bem

conhecedoras de diferentes assuntos, aptas em ramos distintos da ciência, ao passo

que não é possível, de fato, ser conhecedor de todos os saberes ao mesmo tempo.

As disciplinas científicas inspiradas no modelo cartesiano de conhecimento não

ampliam os caminhos para a agregação de saberes, em contrapartida, permitem a

facilitação da assimilação de distintos conhecimentos (MARTINAZZO, 2010).

Portanto, o cabível é a existência da comunicação entre as áreas, ligação,

necessidade traduzida pelo surgimento da interdisciplinaridade e da

pluridisciplinaridade na metade do século XX (NICOLESCU, 1999). Como

importantes opções pedagógicas para o problema do isolamento das disciplinas nas

escolas, esta estratégia permite maior interação entre os professores na troca de

ideias e no trabalho coletivo.

Mosé (2013) afirma que da forma como estamos, há a produção somente

de “fragmentos desconectados” e não de pessoas, porque nos tornamos

especialistas cada vez mais desatentos da realidade, focados nos fragmentos,

afastados das grandes questões humanas, sociais, planetárias, ou seja, estamos

juntos a uma parcela tão pequena da realidade que esquecemos quem somos, o

que fazemos no mundo e o que buscamos, sendo levados por outros a qual ela

refere como “os que falam mais alto”.

De acordo com Guazelli et. al., (2005), a escola tem sido vista e tratada

como uma instituição que tem a função de estabelecer intercâmbio entre os alunos e

os saberes que são constituídos a cada dia pela sociedade, de forma que a nova

18

geração de alunos possa se apropriar desses saberes. O conhecimento que foi

produzido pelas gerações passadas deve ser valorizado pelas novas gerações. É

interessante que exista uma cultura de saberes. Os jovens necessitam passar uns

para os outros não só os conhecimentos científicos, mas também todo o

conhecimento conquistado de forma simples, embora não menos importante que a

ciência. Mas que as observações feitas por seus avôs e bisavôs tenham valor para

eles como conhecimento. Isso se faz extremante necessário.

Segundo a III Conferência Latino-Americana de Promoção de Saúde e

Educação Para a Saúde, realizada em São Paulo, no ano de 2002, estamos

convivendo com a extinção e a segregação de outros saberes que foram

acumulados pelas gerações durante toda a história. Esta crise nos conduz ao

movimento que a cada dia vem se esforçando para religar saberes, conservar

conhecimentos e formar diálogos com várias culturas, para aumentar o

conhecimento da realidade, intervindo com responsabilidade para garantir a vida

com qualidade (ERDMANN et. al., 2006). Deve acontecer uma reforma do

pensamento; esta, por seu turno, conduzirá a reforma do ensino, e a reforma do

ensino, por conseguinte, contribuirá positivamente para a valorização da reforma do

pensamento (MORIN, 2003).

Há uma nova visão sobre a maneira de ensinar, embora obscura ainda

para muitos educadores. Uma parcela dos nossos educadores têm plena

consciência de que o ensino clama por mudanças. É fato a ausência de amor pelo

aprender, por parte dos alunos; alguns estão na escola porque são cobrados,

porque ganham celulares, tabletes ou mesadas para estudar, porque precisam

passar no Enem e, consequentemente, cursarem medicina ou direito, pois são, na

realidade, os sonhos dos seus pais. Mas é lógico e, portanto, perceptível aos nossos

olhos que ainda são poucos os que possuem motivação própria para enveredar no

mundo do conhecimento. E sobre o formato da escola dos dias atuais Mosé nos diz

“Sem perspectivas diante dos inúmeros desafios do mundo atual, a escola já não

satisfaz ninguém: nem alunos, nem professores, nem gestores, nem as cidades,

nem o mercado”. (MOSÉ, 2013, p.54) É intrincado para os discentes se apaixonarem

pelo aprendizado em uma instituição que a tempos omite o que é, e não agrada nem

o mercado. Diante das dificuldades de natureza diversa que a sociedade enfrenta,

estamos sendo expostos a um padrão de vida e de educação que não desejamos.

Precisamos nos centrar em uma grande mudança; talvez seja necessário utilizar-se

19

das novas tecnologias com métodos distintos dos tradicionais (JACINSKI &

FARACO, 2002). Seria um bom começo? Achamos que tem muito a ser mudado

pela frente.

Diante disso, Almeida (2012) nos convida a perguntar sobre o nosso

papel como educadores, nos avaliar, ter atenção as nossas metodologias e nos

propor a educar para a complexidade que existe no mundo atual e a incerteza dos

conhecimentos. Além do mais, como a autora bem fala, ninguém pode fazer isso por

nós, essa tarefa é intransferível. Complementando as palavras de Almeida (2012),

Mosé (2013) nos questiona em seu livro “A Escola e os Desafios Contemporâneos”

sobre o porquê da escola preparar o aluno para o futuro, em vez de ajudá-lo e ser a

vida dele no presente? E por que a escola não é um espaço democrático onde as

crianças possam exercer sua cidadania, ao mesmo tempo em que aprendem a se

respeitar e participar da produção do conhecimento? Ela enfatiza que ao contrário

disso, a escola tem sido um presídio, um lugar onde se fornecem conhecimentos

sem sentido e fragmentados, um desrespeito aos saberes que os alunos já possuem

do seu dia a dia e levam para a escola. Sendo assim, não podem nem participar da

construção do conhecimento. O que causa desestímulo e afastamento cada vez

mais por parte dos estudantes.

Para que os alunos tenham prazer durante os estudos e sintam-se

convidados e estimulados a participar ativamente das aulas, recentes pesquisas

apontam aos professores a realização de práticas que proporcionem a construção

do conhecimento pelos alunos. E sobre a formação docente, ela deve objetivar a

constituição reflexiva, transformadora e crítica do professor frente ao conhecimento

(PIETROBON, 2006). O educador deixará a acomodação e passará a exigir dos

alunos reflexões, comentários, simplificadamente um autodidatismo será cobrado,

ainda que o professor permaneça lado a lado com os discentes. Em certo momento,

é como se não houvesse a sua presença, para que por meio da ausência inexistente

do educador, o educando possa desenvolver seu pensamento crítico.

Tudo isso é, claro, muito novo ainda para nós. É, em verdade, um desafio

que pode significar grandiosamente na mudança dos padrões da educação

brasileira. Para que o professor seja capaz de enfrentar este desafio da educação

numa realidade complexa, ele necessita desenvolver a reflexão profunda sobre sua

prática, avaliar os seus métodos, refletir sobre o seu modo de agir durante anos em

20

uma sala de aula, para que assim busque conhecer o conhecimento elaborado

historicamente e por ele mesmo, no sentido de identificar as suas incompletudes e

incertezas, assim como a responsabilidade sobre o conhecimento produzido

(MARTINELLI & BERTASSONI, 2004).

A educação em si apresenta fatores que talvez impeçam o crescimento e

o avanço do conhecimento. Existem raízes que prendem e solidificam muitos

professores. A estagnação não será jamais um ponto positivo na busca insensata e

na luta pelo saber. Por isso, compreendemos que os professores não caminham em

meio às rosas, e, devido a tudo isso, alguns autores retratam o campo pedagógico

focando seus pontos altos e baixos.

DISCUTINDO O INÍCIO DE UMA REFORMA

“Que fique bem entendido: a reforma deve originar-se dos

próprios professores e não do exterior. Pode ser estimulada por

eles”. (MORIN, 2013, p.37)

Por sugestão de Jack Lang, Ministro da educação na França, foi que

Morin iniciou em um manual para alunos e professores o projeto que deu origem ao

Livro “A Cabeça Bem-Feita” – Repensar a Reforma, Reformar o Pensamento.

Embora o livro seja voltado à educação da Europa, é possível contextualiza-lo à

nossa realidade.

No livro dividido em nove capítulos e partes que são denominadas de

anexos, Morin sugere desafios, o modelo de cabeça bem-feita e a condição humana;

indica como aprender a viver e ao mesmo tempo enfrentar a incerteza, a obter a

aprendizagem cidadã, também demonstra a reforma nos três graus de ensino,

propõe a reforma do pensamento, fala sobre as contradições e o que existe além

delas. Acerca do modelo de cabeça bem-feita, Martinazzo (2010) afirma que pode

ser denominada de “cabeça culta”, o que realmente faz sentido, porque é apta a

transitar em meio a várias culturas, o modelo visa um cidadão completo e não uma

21

cabeça cheia, que ao mesmo tempo encontra-se vazia. Tanto que muitos estudantes

costumam esquecer o que aprendem com poucas semanas depois.

Com base em todos esses aspectos e também nos sete saberes

propostos por Morin em seu outro livro “Os Sete Saberes Necessários à Educação

do Futuro”, é possível trazermos a nossa realidade brasileira uma discussão sobre a

possibilidade de reforma no ensino, que conduza o humano a muito além do que é,

o torne um cidadão na mais alta complexidade. E também motivar a eliminação de

vários conhecimentos empilhados em uma cabeça bem-cheia, e sim interligá-los,

para que os alunos e a comunidade científica compreendam passo a passo todas as

ciências, os seus limites e as suas ligações. Pois atualmente a transmissão do

conhecimento tem sido simplificadora e mutilante, ao mesmo tempo em que o saber

científico está totalmente fragmentado não comunicante com os saberes do povo, “o

saber tradicional entendido como ‘popular’ tratado como filho bastardo da aventura

do conhecimento e excluído do âmbito da socialização e transmissão oficial”

(ALMEIDA, 2012, p.206) erroneamente tornando esse conhecimento como algo sem

importância e incerto por não ser comprovado cientificamente.

Sobre os desafios podemos nos deparar a todo o momento com muitos. O

saber científico ainda restrito a poucos, enquanto isso, uma expansão descontrolada

de conhecimentos surgindo, se modificando infinitamente, o que faz com que as

descobertas e a ciência nunca parem, aumentando cada vez mais o número de

saberes para serem compreendidos. Os frutos desses novos conhecimentos vão

sendo encaixados nas disciplinas, que desde o princípio nos ensinam a fragmentar,

reduzir e o nosso sistema educacional continua colaborando com esse modelo, e

Em vez de corrigir esses desenvolvimentos, nosso sistema de ensino obedece a eles. Na escola primária nos ensinam a isolar os objetos (de seu meio ambiente), a separar as disciplinas (em vez de reconhecer suas correlações), a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar. Obrigam-nos a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está ligado; a decompor, e não a recompor; e a eliminar tudo o que causa desordens ou contradições em nosso entendimento (MORIN, 2003, p.15).

Devemos refletir sobre a maneira como estamos agindo, simplesmente

contribuindo para a formação de cabeças-cheias, empilhadas e procurar nos

aprimorar e melhorar como seres humanos (KASSAB & SANTANA, 2013). O

professor deve investir na curiosidade dos alunos, isso é natural ao indivíduo e

22

infelizmente a instituição escolar acaba atrofiando. A inteligência geral da

curiosidade para existir e o seu exercício está sempre ligado a dúvida, a partir do

momento em que o indivíduo se questiona, ele organiza todo o seu conhecimento,

que constitui uma interpretação dos fatos, uma tradução e uma resposta que pode

ocorrer de várias maneiras.

É necessário buscar compreender e ensinar o que é a condição humana,

nos ver como indivíduos plurais, culturais e biológicos, químicos, tudo isso ao

mesmo tempo. Entender a nossa complexidade para entender o mundo ao nosso

redor. Fazer com que os alunos se auto questionem. A principal missão do ensino

está ligada muito mais a aprender a religar, do que continuar aprendendo a separar

tudo, como acontece atualmente, sendo necessário aprender a problematizar

(MORIN, 2013) para então solucionar com criatividade e dar rumo ao conhecimento

pertinente.

No capitulo quatro do livro “A Cabeça Bem-Feita” Morin nos diz que

devemos aprender a viver, isso comporta toda uma informação. Resumindo, iniciar a

nossa lucidez, porque nenhum conhecimento dispensa interpretação. E a nossa

lucidez e compreensão nunca devem ser extintas. Para aprendermos a viver, de fato

devemos também aprender a ensinar e a enfrentar a incerteza, para termos sempre

a certeza de que nenhum conhecimento é certo totalmente, ou será o mesmo

sempre. Poderá mudar ou a qualquer momento ser refutado.

Para uma reforma completa de pensamento e instituição deve também

ser ensinada a aprendizagem cidadã, o indivíduo deve se entender como membro e

colaborador do planeta em que vive. Para isso,

A EDUCAÇÃO deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão. [...][...]Somos verdadeiramente cidadãos, dissemos, quando nos sentimos solidários e responsáveis. Solidariedade e responsabilidade não podem advir de exortações piegas nem de discursos cívicos, mas de profundo sentimento de filiação (affiliare, de filius, filho), sentimento matripatriótico que deveria ser cultivado de modo concêntrico sobre o país, o continente, o planeta. (MORIN, 2003, p. 65, 74)

Levando em consideração a reforma nos três graus de ensino que Morin

descreve no livro para aquele país, que são eles o primário, o secundário e a

23

universidade. Trazendo essa proposição para a nossa realidade brasileira na

educação básica e o superior, que se aproximam um pouco desse formato,

avaliamos que também é possível reabilitar cada modo de ensino para o seu grau.

Na educação básica principalmente nas séries iniciais, nunca deve ser extinta a

curiosidade de um aluno, ao contrário, estimulá-lo cada dia mais para a reflexão e o

questionamento. Uma parte difícil da reforma, porém não impossível é a interligação

das disciplinas que devem ser feitas nesta fase do ensino, para os alunos iniciarem o

seu aprendizado de forma complexa. Morin na sua realidade cita o modelo:

É interrogando o ser humano que se descobriria sua dupla natureza: biológica e cultural. Por um lado, seria dado início à Biologia; daí uma vez discernido o aspecto físico e químico da organização biológica, seriam situados os domínios da Física e da Química; depois, as ciências físicas conduziriam à inserção do ser humano no cosmo. Por outro lado, seriam descobertas as dimensões psicológicas, sociais, históricas da realidade humana. Assim, desde o princípio, ciências e disciplinas estariam reunidas, ramificadas umas às outras, e o ensino poderia ser o veículo entre os conhecimentos parciais e um conhecimento do global (MORIN, 2003, p.75).

Os homens devem entender e contextualizar a sua cultura. Pois bem, a

cultura é algo diverso, que é capaz de ser ao mesmo tempo o físico, o biológico, o

psicológico, o individual e o coletivo e gira em torno da tríade indivíduo-sociedade-

espécie (ALMEIDA, 2012) sendo produzida e elaborada por meio dos sujeitos que

vivem e formulam os seus saberes. Para isso, também na educação básica, nas

séries finais os alunos deveriam ter aulas baseadas em descobertas de pessoas

comuns, de fatos inusitados, dos saberes do povo, a verdadeira cultura a que

estabelece o diálogo entre cultura das humanidades e cultura científica. A

universidade como campo de pesquisa deve estar mais próxima das pessoas e da

sociedade, abrir as portas para o conhecimento e romper as barreiras que existem

entre as ciências.

Precisamos de fato, reformar o nosso pensamento e no capitulo oito,

Morin rebate a necessidade de “substituir um pensamento que isola e separa por um

pensamento que distingue e une.” Nossas instituições e nossa mente precisam ser

mudadas, necessitamos substituir o pensamento simplório e abstrato pelo complexo,

o “tecido junto”. Morin afirma no último capítulo que existem muitas contradições e

algo além delas. Mas a motivação de um professor pela educação derruba qualquer

24

barreira. Imaginemos ainda inúmeros professores juntos com esse mesmo intuito de

reformar o ensino, de buscar a complexidade, abandonar a fragmentação e os

conceitos soltos para formação de cabeças bem-feitas. Infelizmente os que

conhecem autores como Morin e propostas como a dele, costumam ser uma

minoria, e mesmo alguns conhecedores nem se quer fazem uso de novas

metodologias, mas quem sabe um dia poderemos ser muitos.

Os sete saberes realmente podem ser auxílios no rumo de uma

esplêndida mudança. O primeiro deles é “o erro e a ilusão”, o conhecimento

comporta o erro e a ilusão e se assim não for visto, será concebido de maneira

errada. Bachelard já propunha o desafio de refletir sobre o que pensamos acerca

dos erros no processo de ensino-aprendizagem. Para ele, devem acontecer de

maneira natural e não serem encarados de forma negativa ou o contrário do

conhecimento verdadeiro, pois possuem função indispensável no processo de

aprendizagem (LOPES, 1996). Assim sendo, o papel da educação é mostrar a

possibilidade dos erros, demonstrando que existem e de fato são importantes para a

ciência e para o conhecimento. Acerca desse compromisso entre escola e

comunidade Morin vem nos dizer:

A educação deve mostrar que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão. [...] O conhecimento não é um espelho das coisas ou do mundo externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções e reconstruções cerebrais com base em estímulos ou sinais captados e codificados pelos sentidos. Daí resultam, sabemos bem, os inúmeros erros de percepção que nos vêm de nosso sentido mais confiável, o da visão. Ao erro de percepção acrescenta-se o erro intelectual. (MORIN, 2005, p.19,20)

Complementando as palavras de Morin, sem a existência dos erros e da

nossa percepção e verificação sobre eles, os conhecimentos e a ciência estariam

presos a paradigmas incertos e sem nenhuma credibilidade.

O segundo é “o conhecimento pertinente”, que deve ser construído. Esse

conhecimento destrói de vez a fragmentação, pois conduz o indivíduo a organização

de suas ideias e desse modo o desenvolvimento da inteligência geral. É importante

salientar quando falamos de conhecimento pertinente, que em nenhum momento

deve ser abandonado o conhecimento prévio do aluno. Ao contrário disso, o

professor deve fazê-lo entender que todos os conhecimentos não são prontos, nem

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tão pouco definitivos e relativizando os conhecimentos existentes, o docente poderá

auxilia-lo a assimilar os novos (CARVALHO FILHO & ERNANE, 2006). Os

conhecimentos precisam ser situados ao todo, a humanidade, ao indivíduo por

inteiro. Nesse sentido, o professor pode estimular o aluno a pensar, a refletir e a

contextualizar toda uma situação, porque dessa maneira, o que ele aprender será

pertinente de verdade, ou seja, possibilitará acima de tudo a construção própria do

indivíduo acerca das suas ideias. Com esse intuito, Morin nos fala:

O conhecimento, ao buscar construir-se com referência ao contexto, ao global e ao complexo, deve mobilizar o que o conhecedor sabe do mundo. [...] A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. (2005, p.39)

O terceiro é “reaprender a nossa condição humana”, a nossa unidualidade

– o humano do humano. E para isso, a educação deve colaborar para que a pessoa

assuma a sua identidade como ser, e vivendo em sociedade aja com solidariedade e

responsabilidade para si mesmo e para os outros (KASSAB & SANTANA, 2013).

Somos seres multifuncionais, biológicos, físicos e culturais. Precisamos nos

compreender, nos conhecer para poder conhecer o mundo do conhecimento. Dessa

forma devemos nos questionar a todo momento, até sobre a nossa condição como

humanos e ter respostas que podem modificar totalmente a nossa posição no

universo.

Para auxiliar o professor a tratar assuntos sobre a condição humana,

podemos nos basear mais uma vez em Bachelard que propõe uma forma diferente

de relacionamento entre professor-aluno, através do diálogo cada um exerce o seu

papel sem estar preso a ele (CARVALHO FILHO & ERNANE, 2006). Mesmo com

funções diferentes, um respeitando o lugar do outro podem trocar ideias e construir

um momento de compartilhamento de saberes. Assim será mais fácil o aluno se

entender como humano em uma sociedade, pois estará ligado ao seu professor e

revendo seus valores.

O quarto saber é “ensinar a nossa identidade terrena”, nos ver como

seres humanos que vivem em um planeta consumindo e utilizando com devaneios. A

observação dessa faceta nos obriga a pensar como parte integrante desse lugar, o

26

objetivo da identidade terrena é criar dentro de nós a sustentabilidade, antes que

muitas respostas da natureza comecem a surgir. Devemos então:

Discutir com os alunos, logo no início da sua formação, as diferentes formas de produzir a existência é fazer ciência, é construir o conhecimento, de modo a torná-los competentes (técnica e socialmente) para intervir na natureza e se relacionar com os outros homens (RIBEIRO, 1993, p.72).

Ao se relacionar com a natureza e os homens diretamente, haverá a

conscientização da necessidade de cuidado em sustentar a harmonia entre ambos.

O quinto saber é “conscientizar-se e pregar a incerteza”. O conhecimento

nunca nos remeterá a plena certeza. Todos os conhecimentos comportam e devem

gerar a dúvida. Pois a certeza torna o homem estagnado, como também as

instituições escolares comprometidas com o fixo. Os alunos são fãs da certeza, das

aulas que já conhecem e do mesmo modo em que o professor age todas às vezes.

Porém,

O princípio da incerteza está integrado à vida e é íntimo dos seres humanos, que o manipulam em razão da sua própria sobrevivência. A construção da certeza proporciona ao homem normalidade, no entanto, trata-se de uma normalidade em termos não absolutos, porque o seu contrário é uma presença acoplada. (SANTOS, 2008, p.78)

O sexto saber é muito importante, é “a compreensão”. Os indivíduos

devem ser compreendidos e agir com sensatez para não se tornarem

incompreensivos iguais as nossas instituições e as disciplinas como estão agora. Ao

passo que os professores compreendam os alunos, até na maneira como fazem

questões e como ensinam, procurando formas que o auxiliem na produção dos seus

conhecimentos e seus saberes (CARVALHO, 1992).

E o sétimo, não menos importante do que os outros é “promover a ética

do gênero humano”. Embora o termo seja complexo, pode ser simplificado ao ato do

humano que respeita os outros e as coisas como a ele próprio. O ensino da ética

humana – antro-poética é algo bom que pode ser pensado para introdução nas

escolas. Morin resume que:

A antropo-ética compreende, assim, a esperança na completude da humanidade, como consciência e cidadania planetária. Compreende,

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por conseguinte, como toda ética, aspiração e vontade, mas também aposta no incerto. Ela é consciência individual além da individualidade. (MORIN, 2005, p. 106)

Podemos refletir com as palavras de Maria da Conceição de Almeida,

escritora de uma bela obra sobre as Ciências da Complexidade e Educação sobre

as nossas instituições e profissionais:

Alargando as reflexões de Albert Einstein, reitero a necessidade de problematizar o papel das instituições educacionais. Elas não são fábricas de trabalhadores. Muito menos uma incubadora de técnicos e cientistas dessubjetivados e imersos no mundo da repetição maquínica, vivido por Charles Chaplin no filme “Tempos Modernos”. A educação deve ser uma escola da vida, o lugar do aprendizado da condição humana, onde aprendemos as diversas formas de ver e atuar no mundo; o espaço que pode fazer emergir aptidões cognitivas mais imaginativas, mobilizadoras e dialogais; o lugar onde os estudantes se exercitem como sujeitos implicados no mundo, na teia da vida, no conjunto social, na construção mítica, nos desmandos da civilização, na poética da natureza, no destino da espécie, na servidão dos despossuídos das benesses do progresso. A escola pode facilitar uma aprendizagem mestiça, capaz de transformar experiências singulares em configurações mais híbridas, abertas, policompetentes. (ALMEIDA, 2012, p.103)

É compreensível de fato, a possibilidade de reforma, embora um pouco

distante de nós, podemos lutar como um trabalho de formiguinha. Os que estiverem

entusiasmados e se sentirem desafiados, podem ir reformando as suas mentes e

também suas metodologias. A escola cada vez mais deverá ser um lugar acolhedor,

aberto, em que os alunos sintam-se atraídos e motivados. Também lugar de cultura,

atribuir vida à instituição escolar, pois se não houver vida, por conseguinte não

haverá educação, formação e muito menos aprendizagem. A cidade deve ser

parceira da escola, investir em centros, bibliotecas, locais divertidos, ambientes

naturais, cinemas, se não teatros, mas algo parecido. (MOSÉ, 2013) O

comprometimento entre ambas deve existir para integrar, incluir e não punir alunos

com instituições que pararam no tempo.

Enfim, para que o professor ensine com base na perspectiva de

Bachelard e Morin, é fundamental que mesmo estando repleto de contaminação da

visão tradicional, deve, pois se disponibilizar a esse novo padrão, ajudando

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sobretudo os alunos a romperem os obstáculos no aprendizado dos conhecimentos

científicos (CARVALHO FILHO & ERNANE, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O proposto pelo presente artigo é uma discussão sobre uma nova

maneira para conduzir os caminhos da educação no Brasil, sobre uma possível

reforma de instituições e do pensamento, para depois modificar o ensino e a

educação. A análise aqui realizada com base nas ideias desses dois grandes

pensadores sobre a teoria da complexidade oferece o norte para a execução de

novas práticas de educar, a partir da mudança de pensamento. As áreas do

conhecimento precisam buscar a união, a interdisciplinaridade, a

multidisciplinaridade.

Na prática, podemos promover momentos para os alunos entenderem o

que é o conhecimento, compreender a sua trajetória e verificar que como eles muitos

passaram por retificações e dúvidas. Como Nascimento e Carvalho propõe:

Conhecer o passado histórico e a origem do conhecimento pode ser um fator motivante para os estudantes, pode fazer com que os estudantes percebam que a dúvida encontrada por eles para a aprendizagem de um conceito também foi encontrada, em outro momento histórico, por um cientista hoje reconhecido, ou seja, que suas dúvidas estiveram presentes em algum momento na construção de um conceito científico, assim como na sua própria construção. (NASCIMENTO & CARVALHO, 2004, p.06)

Respeitar os alunos, os seus conhecimentos, as suas concepções de vida

e a suas opiniões é outra prática a ser exercitada. Ninguém é um saco vazio, isso é

importante saber. São pessoas normais, talvez com muitos problemas, dotados de

sentimentos. E o aprendizado será melhor apreendido se este critério e a sua

inteligência for respeitada. Sobre o respeito, as palavras de Lopes (1993, p.328)

significam muito: “E para haver esse respeito ao aluno é preciso ser aluno com ele,

participar das dificuldades psicológicas pelas quais ele passa no seu processo de

mudança de cultura. Estabelecer com o aluno a vigilância mútua do saber: aluno-

mestre o mestre-aluno”.

Em contrapartida, no caso das universidades, muito também pode ser

feito para interligar os conhecimentos do senso comum aos científicos e estender as

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várias descobertas para além das paredes das faculdades, para promover uma

associação entre pesquisadores e ouvintes, professores e alunos, cientistas e

comunidade. Assim como sugere Carvalho Filho e Ernane, “O conhecimento

humano é um ato social. Não se pode pensar a produção do conhecimento no

isolamento.” (2006, p.14) O conhecimento deve ser coletivizado, todos devem

participar e entender sobre a sua reformulação.

Pelas palavras de Morin (2003, p. 104) “A reforma de pensamento é uma

necessidade histórica fundamental”. A sugestão dos sete saberes de Morin pode ser

uma grande ajuda para conduzir a reforma do ensino e atuar com a complexidade.

Somos seres complexos por natureza, como demonstrado durante o artigo, somos

capazes de encabeçar uma grande mudança.

Com a adoção destas proposições, em nossas instituições, aos poucos

seriam abolidos os conteúdos fixos e, com uma nova proposta curricular,

poderíamos conectar todos os saberes, possibilitando a assimilação dos alunos e,

mais ainda, despontando na construção de cabeças bem-feitas, ou seja, capazes de

unir os saberes conhecidos e interligar várias ciências distintas. Os sete saberes

realmente têm muito a oferecer para tornar os homens cidadãos completos, que se

conhecem, conhecem o outro, a condição humana, valorizam a natureza e são

pessoas dotadas de ética, o que os faz complexos e completos. Lamentavelmente

ainda são poucos os professores que conhecem obras com as de Morin e

pesquisadores brasileiros que utilizam as de Bachelard (JUSTINA & FERRARI,

2000).

Por fim, não nos coloquemos sempre negativos a essa mudança,

continuemos nós acreditando em um novo modelo, uma nova forma ou fórmula. A

educação precisa do nosso crédito de confiança, a partir da nossa própria mudança

de pensar e agir. Essa reforma depende principalmente de todos nós. Compreender

a teoria da complexidade é entender a necessidade dessa religação e, mesmo que

esta reforma, não seja executada inicialmente de maneira oficial pelo nosso sistema

de ensino, é possível cada um fazer a sua parte e lutar por um “ensino educativo”

exposto por Morin. Tentar ao máximo acabar com a fragmentação do conhecimento,

pregando e buscando a coletividade para reformarmos as nossas instituições.

30

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Anexo – Normas da Revista Educativa

Normas Editoriais

1 – Para submissão de trabalhos o autor poderá utilizar o sistema SEER da Educativa e optar

por uma das três seções editoriais da Educativa: Artigos temáticos - artigos de diferentes

concepções sobre a mesma temática; Temas em Debate - artigos multitemáticos; Ponto de

Vista - trabalhos de diferentes formatos, tais como entrevistas, relatos de experiência,

documentos históricos, resenhas comentadas, ensaios opinativos destinados ao debate de

temas atuais ou polêmicos do campo da Educação. A indicação da seção por parte do autor

será submetida à homologação da equipe editorial.

2 - Serão aceitos para publicação originais inéditos, de autores brasileiros e estrangeiros, que

resultem de estudos investigativos sobre temas pertinentes ao campo da Educação.

3 - A responsabilidade da revisão linguística do trabalho enviado é do(a) autor(a).

4 - Excepcionalmente, serão aceitos trabalhos que foram publicados em periódicos

estrangeiros (com indicação de fonte), sujeitos à mesma avaliação dos artigos inéditos. O

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originalmente publicado.

5- Serão aceitos trabalhos em português, espanhol e inglês.

6- A Comissão Editorial da Educativa se reserva o direito de introduzir alterações nos

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respeitando, porém, o estilo e a opinião do autor. As provas não serão enviadas aos autores.

Apresentação de Trabalhos

1 - O texto deve ser digitado no programa Word, em papel A4, fonte Arial, corpo 12,

espaçamento duplo, margem superior de 3cm, inferior de 2cm, esquerda de 3cm, direita de

2cm. Deve-se observar a ortografia oficial e fazer constar, na primeira lauda do original, o

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em que trabalha; cargo ou função) e e-mail.

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3 - O título do artigo deve ser breve, específico e descritivo, contendo palavras que

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