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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS
HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA
ANÁLISE DE GÊNEROS TEXTUAIS NAS TAREFAS 3 E 4 DA PARTE ESCRITA DO
EXAME CELPEBRAS
LAISY DE FRANÇA CRUZ CAVALCANTE
Orientadora: Profª. Drª. MARGARETE VON MUHLEM POLL
João Pessoa – PB
JUNHO/2016
LAISY DE FRANÇA CRUZ CAVALCANTE
ANÁLISE DE GÊNEROS TEXTUAIS NAS TAREFAS 3 E 4 DA PARTE ESCRITA DO
EXAME CELPEBRAS
Trabalho apresentado ao Curso de
Licenciatura em Letras da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) como requisito
para obtenção do grau de Licenciada em
Letras, habilitação em Língua Portuguesa.
Profª. Drª. Margarete von Muhlen Poll.
JOÃO PESSOA – PB
JUNHO/2016
LAISY DE FRAÇA CRUZ CAVALCANTE
ANÁLISE DE GÊNEROS TEXTUAIS NAS TAREFAS 3 E 4 DA PARTE ESCRITA DO
EXAME CELPEBRAS
Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) como requisito para obtenção do grau de Licenciada em Letras, habilitação
em Língua Portuguesa.
Data de aprovação: _____/_____/______
Banca examinadora
__________________________________________________________
Profª. Drª. Margarete von Muhlen Poll, DLCV, UFPB
orientadora
_________________________________________________________
Profª. Drª. Maria de Fátima Benício de Melo
professora 2
________________________________________________________
Profª. Drª. Oriana Nadai Fulaneti
professora 3
Aos meus pais e avô, meus primeiros e maiores
professores, que me ensinaram o valor da
educação: pelos desafios enfrentados para que
eu chegasse até aqui.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida e vida em abundância.
À Profª. Drª. Margarete von Muhlen Poll, por ter me apresentado ao mundo docente, por
todos os ensinamentos e, sobretudo, pela atenção que sempre me dedicou.
À minha mãe, Liana de França Cruz, por ser minha maior inspiração e incentivo para a vida
acadêmica.
Ao meu pai, Leonardo Cavalcante da Silva, por sempre ter me apoiado.
Ao meu avô Luiz Gonzaga da Cruz, meu grande incentivo na busca pela melhora de vida,
apoio dedicado a mim e sua superproteção.
Ao meu irmão, Liedo, e à minha cunhada quase irmã, Mylane, pela união e divertimento de
todos os dias.
À Fernanda Morais, amiga tão estimada e admirada que tem sempre me apoiado e
acompanhado minha trajetória nos últimos anos.
Aos amigos especiais que acompanharam minha vida acadêmica e sempre me apoiaram e
acreditaram no meu potencial.
Às colegas do Programa Linguístico-Cultural para Estudantes Internacionais (PLEI), pela
convivência harmoniosa e pelo compartilhamento de ideias.
RESUMO
O Celpebras é um exame que certifica falantes não nativos de língua portuguesa quanto ao domínio e proficiência da língua portuguesa. Para essa comprovação, o Exame utiliza, como instrumentos, tarefas que abrangem atividades que atingem as quatro competências: falar, ouvir, ler e escrever. A abordagem das tarefas é tomada a partir de gêneros textuais sobre os quais buscamos analisar quanto à recorrência dos gêneros textuais mais abordados no referido Exame. Restringimo-nos a analisar os textos de apoio e as solicitações das tarefas 3 e 4 da Parte Escrita de Exame. Nosso objetivo é saber qual o gênero textual mais recorrente nos textos de apoio e nas produções solicitadas pelas tarefas. Para tal, analisaremos essas tarefas das edições dos anos de 2010 a 2015.
Palavras-chave: Celpebras; gênero textual; proficiência.
ABSTRACT
Celpebras is an exam that certifies non-native Portuguese speakers concerning the domain and proficiency of Portuguese language. In order to prove it, the exam uses, as instruments, tasks that embrace activities concerning the four competences: speaking, listening, reading and writing. The approach of these tasks is based on textual genres which we aim to analyze concerning the occurrence of most common textual types in the same Exam. We restrict ourselves to the analysis of support texts and the 3rd and 4th tasks of written parts of the Exam. Our objective is to know which is the most common of support texts and requested productions. To reach this objective, we will analyze the tasks of the years between 2010 and 2015.
Keywords: Celpebras; textual genres; proficiency
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
1. O CELPEBRAS ..................................................................................................... 11
1.1 O surgimento ................................................................................................ 11
1.2 O Exame ...................................................................................................... 13
1.3 A correção .................................................................................................... 14
1.4 Breve estatística do exame .......................................................................... 15
2. OS GÊNEROS TEXTUAIS .................................................................................... 16
3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DOS GÊNEROS TEXTUAIS
COMO INSTRUMENTO PARA AQUISIÇÃO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA .............. 20
3.1 A abordagem comunicativa no ensino de PLE ................................................ 21
4 ANÁLISE DA RECORRÊNCIA DOS GÊNEROS TEXTUAIS NO CELPEBRAS .... 23
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................30
ANEXOS ................................................................................................................... 32
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INTRODUÇÃO
O exame Celpebras é um instrumento de certificação de proficiência em
língua portuguesa para estrangeiros e brasileiros que não têm o português como
língua materna. O exame funciona por etapas de avaliação em que coloca o
candidato frente a situações comuns e reais de uso da língua. As tarefas realizadas
nessa prova compreendem duas etapas: uma coletiva, com outros candidatos,
realizando as tarefas de compreensão leitora e auditiva com produção textual
escrita; e outra individual, na qual o examinando se submete a uma entrevista sobre
temas variados, guiada por elementos motivadores. O foco dessas tarefas é a
observação do quanto o candidato é capaz de desenvolver a comunicação nas
situações cotidianas no país.
Os textos de apoio às tarefas elaboradas para o Celpebras, sejam escritos,
visuais ou auditivos, inserem-se em determinados gêneros textuais que, por sua vez,
fazem o papel de norteadores da situação em questão.
Sabe-se que toda situação discursiva requer, além de seu conteúdo, estrutura
e estilo próprios para efetivar a comunicação. Todo ato de comunicação se adequa a
uma forma empregada pela língua a que é chamada gênero textual. Cada gênero
possui características próprias no que concerne ao tipo de assunto abordado, bem
como, a quem está falando, para quem está falando, à sua finalidade, ao tipo de
texto, e esse conjunto de características destina o discurso à sua função na
linguagem.
O ensino de língua, qualquer que seja essa língua, deve ser pautado no uso e
na função comunicativa, afinal a língua está para a comunicação. Os gêneros
textuais, nesse caso, exercem papel fundamental, pois a língua só poderá se realizar
de acordo com a intenção discursiva a que se quer chegar. Levando, assim, em
consideração a importância dada pelo Celpebras aos gêneros textuais para a
avaliação da capacidade de uso da língua pelos examinandos, este trabalho fará
uma verificação sobre os gêneros textuais mais recorrentes nos textos de apoio das
tarefas 3 e 4 da Parte Escrita do Exame, bem como as produções textuais
solicitadas aos examinandos.
10
Sabendo-se do considerável crescimento do exame Celpebras nos últimos
anos, o que atrai diversos pesquisadores, este trabalho pretende também contribuir
com as diversas pesquisas sobre as tarefas do Exame no que diz respeito aos
gêneros textuais nele presentes.
O interesse que levou a esta pesquisa se deu pela minha inserção no PLEI-
UFPB (Programa Linguístico-Cultural para Estudantes Internacionais da
Universidade Federal da Paraíba), no qual, por meio de estágio, ministrei aulas de
PLE (português como língua estrangeira) de 2011 a 2014. Além disso, o interesse
também se deve à importância do referido Exame para estrangeiros que
queiram/necessitem comprovar a proficiência da língua portuguesa.
Este trabalho organizar-se-á em cinco capítulos. No primeiro abordaremos o
Exame Celpebras, onde o exporemos seus aspectos mais relevantes desde seu
contexto histórico, até os critérios para avaliação das tarefas; no segundo
tomaremos os Gêneros textuais e suas relações com o uso da língua sob os estudos
de Bakhtin e Marcuschi; no terceiro, abordaremos o ensino de PLE e seus
mecanismos; no quarto faremos a análise das tarefas 3 e 4 que compõem a Parte
Escrita do Exames das edições dos anos de 2010.1 a 2015.2, e no quinto capítulo,
nossas considerações sobre os dados obtidos em nossa análise.
11
1. O CELPEBRAS
O Celpebras é um certificado de proficiência da língua portuguesa destinado a
estrangeiros que precisam comprovar o domínio do idioma (português) a fim de
ingressar em universidades brasileiras para cursos de graduação e/ou pós-
graduação, bem como para validar diplomas, entre outros. Esse certificado é o único
reconhecido oficialmente no país. O Ministério da Educação realiza o Exame duas
vezes ao ano. Os níveis de certificação dos candidatos aprovados são de níveis
Intermediário, Intermediário Superior, Avançado e Avançado Superior. Se um
examinando obtiver o nível Avançado na Parte Oral, mas, na Parte escrita, não
conseguir atingir o nível Intermediário, ele não obterá a certificação, pois deve haver
um equilíbrio de desempenhos em ambas as partes, Oral e Escrita, visto que a
proficiência de uma língua abrange as quatro competências: falar, ouvir, ler e
escrever. Não existe a certificação de nível básico.
1.1 O surgimento
Segundo Schlatter (2014), coordenadora da comissão técnica do Celpebras, a
inspiração para a criação desse processo de avaliação surgiu no ano de 1993 e foi
tomada pela ideia inicial dos professores Leonor C. Lombello, José Carlos Paes de
Almeida Filho, Itacira Araújo Ferreira e Matilde Scaramucci, que já haviam elaborado
uma prova dessa espécie na UNICAMP. Já havia, por parte dos profissionais da
área de português como língua estrangeira, interesse na elaboração de um exame
de proficiência da língua, visando, como público alvo, estrangeiros que
necessitassem comprovar o domínio do idioma.
Inicialmente, o Celpebras trazia a proposta de fazer um exame oficial que
atendesse a alunos de intercâmbio, em especial, os do Programa de Estudantes-
Convênio de Graduação (PEC-G), que vêm de países em desenvolvimento e,
juntamente com o MEC, oferece ensino superior em universidades brasileiras a
esses candidatos. Porém, o exame se estendeu a atender, também, a estrangeiros
que ingressem no país a fim de interesses profissionais.
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A primeira reunião para definir as ações necessárias à elaboração do referido
Exame ocorreu em 1993, em Brasília, afirma Schlatter (2014). A Portaria abaixo,
estabelecia os parâmetros iniciais para a organização do Celpebras:
N° 101 - Art. 1° constituir Comissão composta pelos professores LUIZ CASSEMIRO
DOS SANTOS, Chefe de Gabinete da SESu; RAIMUNDO HÉLIO LEITE, Diretor do
Departamento de Desenvolvimento do Ensino Superior da SESu; MAURICIO DE
PINHO GAMA, Coordenador Geral de Apoio Estratégico da SESu;
MARGARETE SCHLATTER, do departamento de Línguas Modernas do Instituto de
Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; JOSÉ CARLOS PAES DE
ALMEIDA FILHO, do Departamento de Linguística Aplicada, do Instituto de Estudos
da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas e MARIA JANDYRA CUNHA,
do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução do Instituto de Letras da
Universidade de Brasília para, sob a coordenação do primeiro, desenvolver as ações
necessárias à elaboração dê um teste padronizado de português para estrangeiros.
(Pág. 4. Seção 2. Diário Oficial da União (DOU) de 11 de Junho de 1993)
Segundo a comissão organizadora, era necessária uma certificação do
conhecimento da língua, já que esses estrangeiros que ingressariam na
universidade precisariam lidar com situações do dia a dia. Para atestar o domínio
desse novo idioma, o exame deveria criar atividades que envolvessem as quatro
habilidades: ouvir, falar, ler e escrever. O Exame, então, criou tarefas que avaliariam
essas quatro competências de forma integrada, aproximando o candidato ainda mais
de situações comuns de comunicação e, para tanto, as tarefas mesclariam interação
face a face e atividades de produção textual, sempre de uma maneira aproximada
ao cotidiano.
Na época, foram dados 180 dias para que a comissão formasse essas
atividades, realizasse testes-piloto e todos os procedimentos necessários para a
conclusão da elaboração do referido exame. Devido à importância de sua aplicação,
era fundamental propor exercícios que, de acordo com Schlatter (2014), fossem o
mais próximo possível de usos autênticos da língua em tarefas de compreensão de
textos escritos e orais e a produção também escrita e oral desses textos.
Desde o início da elaboração da prova, houve uma preocupação com a
preparação dos candidatos à realização do Exame. Era essencial que os
examinandos se preparassem a partir do mesmo tipo de proposta do Exame. Para
13
isso, era essencial que os professores de Português como Língua Estrangeira
(doravante PLE) praticassem o ensino a partir de parâmetros que focassem o uso da
língua. Isso, então, demandava a preparação desses professores e, a princípio, o
método utilizado para tal era a reunião dos professores dos postos aplicadores do
exame para o evento de correção na sede, em Brasília.
1.2 O Exame
O Exame é composto por atividades que são desenvolvidas em duas etapas.
A primeira etapa compõe-se da parte escrita do processo, a qual solicita, através de
textos de apoio (escritos, de áudio e de vídeo) aos candidatos, a produção de textos
escritos; a segunda, constitui-se da entrevista oral do candidato sobre temas
variados, norteados por elementos provocadores.
A Parte Escrita do exame, que é objeto de estudo deste Trabalho de
Conclusão de Curso, insere o examinando numa tarefa de interação com questões
de assuntos culturais e sociais do Brasil, de modo que essa interação envolva três
fatores essenciais: a ação, o propósito e o interlocutor. A ação, por exemplo,
consiste na leitura dos textos de apoio das tarefas, como publicações de revistas ou
de reportagens. Além disso, consiste na própria ação de produzir textos conforme o
gênero solicitado pela tarefa, seja carta, e-mail, artigo, entre outros. O fator propósito
é a intenção comunicativa do autor (nesse caso, o examinando) em relação à ação,
ou seja, pode ser uma argumentação, opinião, sugestão. E o interlocutor é a pessoa
a quem o autor se dirigirá. Nas produções solicitadas pelo Celpebras, sempre haverá
um propósito e um interlocutor para que o candidato possa ajustar seu texto à
situação de comunicação.
Ainda sobre a Parte Escrita do Exame, cabe salientar que ela é realizada em
uma sala com todos os candidatos, num período de três horas, e é composta por
duas tarefas que integram compreensão oral e produção escrita e duas tarefas que
integram leitura e produção escrita. A primeira tarefa tem um tempo total de trinta
(30) minutos, que são destinados à leitura do enunciado, à exibição do vídeo por
duas vezes e à produção textual. Após esse tempo, os examinadores avisam sobre
o término da primeira tarefa e ocorre a reprodução do áudio, também por duas
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vezes, para o início da segunda tarefa. Depois de ouvir o áudio, a organização das
questões 2, 3 e 4 fica a critério do examinando, podendo voltar quando e se quiser a
questão, uma vez que os textos para as tarefas 3 e 4, objeto de estudo deste
Trabalho de Conclusão de Curso, são de compreensão escrita, até completar as três
horas do exame. Este trabalho de Conclusão de Curso analisará as questões destas
duas últimas tarefas.
A segunda parte do Exame é conversacional: uma entrevista com duração de
20 minutos, que é guiada por elementos provocadores, que são espécies de capas
de revista com imagens e pequenos temas, que iniciam a conversa entre o
examinando e o avaliador sobre assuntos atuais e culturais veiculados pela mídia.
Vale ressaltar que a entrevista, aqui, não se trata de perguntas e respostas, mas de
uma conversa. Nesse momento, o examinando fala o que sabe sobre o assunto,
opina da maneira mais natural possível numa situação de diálogo com o avaliador,
que deve articular as questões às respostas do examinando de modo a contribuir
com o desenvolvimento da conversa. Para avaliação da comissão do Celpebras
quanto ao nível de proficiência, faz parte da entrevista o uso de um gravador que
permanece ligado até o final da avaliação.
1.3 A correção
O objetivo do Exame é explorar as habilidades de compreensão leitora e
auditiva, e a produção oral e escrita. Então, o domínio da língua é comprovado a
partir da capacidade do examinando de concluir as tarefas com êxito, tarefas essas
que, como já mencionado, simulam situações do dia a dia.
A Parte Oral é avaliada no momento da entrevista por dois aplicadores
especialmente capacitados: o entrevistador e o observador. As notas são dadas por
eles de forma individual, de modo que cada um tenha sua própria avaliação do
entrevistado. O entrevistador lhe atribui uma nota fundamentada na interação do
entrevistado nesse momento. Paralelo a isso, o outro avaliador, o observador,
analisa o entrevistado com base nos seis critérios estipulados pelo exame:
compreensão, competência interação, fluência, adequação lexical e gramatical e
pronúncia. Estes critérios são observados de maneira gradual, de acordo com o
15
desempenho do entrevistando. Além disso, as entrevistas gravadas são enviadas
para o Inep para análise e aferição.
Até a edição de 2015.1, a correção da Parte Escrita era realizada na sede do
Inep, em Brasília, por avaliadores supervisionados pelo Inep e pela Comissão
Técnico-Cientifica do Celpebras. Os critérios de avaliação dessa etapa do exame
são previamente definidos e embasados na circunstância comunicativa apresentada
no enunciado de cada tarefa. A correção é feita por dois corretores também de forma
independente, integrando a compreensão e a produção do candidato, de modo que
essa produção textual responda adequada e relevantemente aos textos orais ou
escritos integrantes da tarefa solicitada.
Considerando-se a proficiência da língua, espera-se que o candidato faça o
uso adequado da linguagem. Assim, a avaliação da produção, seja oral ou escrita, é
realizada sob o aspecto comunicativo, ou seja, o uso da língua deve ser adequado
ao contexto. O texto deve atender os propósitos de leitura e escrita de maneira que
apresente coesão e adequação linguística.
1.4 Breve estatística do exame
Segundo as estatísticas apuradas pelo MEC e INEP, o número de
examinandos tem aumentado gradativamente desde sua primeira aplicação, em
1998, que atendeu a 127 candidatos, enquanto que, em 2015, nas duas edições, a
quantidade de examinandos ultrapassou os dez mil. Não diferente, a quantidade de
postos aplicadores também cresceu dez vezes desde a sua primeira aplicação,
quando ainda contava apenas com oito postos aplicadores. Atualmente, o Celpebras
conta com 81 postos, sendo 22 deles situados no Brasil, e os outros 59, distribuídos
em países dos continentes americano, africano, asiático e europeu.
Ao longo do tempo, o Exame passou por mudanças não só em seu
crescimento, mas na própria organização e estrutura da prova. Houve alterações
que percorreram o layout da capa, o caderno de questões e caderno de respostas, o
tempo de duração da Parte Escrita da avaliação e os elementos provocadores da
Parte Oral da avaliação.
16
2. OS GÊNEROS TEXTUAIS
Os gêneros, para Bakhtin (2003), são enunciados estáveis que são formados
a partir de uma intenção comunicativa. Para ele, o tema, o estilo e a construção
composicional estão amarrados entre si no conjunto do enunciado para determinar o
ato da comunicação. O autor conclui que cada enunciado particular é individual, mas
cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, aos quais denominamos gêneros do discurso (BAKHTIN, 2003). Sob
essa perspectiva, então, entendemos que o Celpebras, avaliando o uso da língua,
está avaliando também o uso dos gêneros, pois o candidato terá de se inserir no
contexto dado pelas tarefas e desempenhar o papel interlocutivo.
A interlocução é essencial quando se trata de gênero textual. Bakhtin (2003)
afirma que a língua é usada para um propósito, e o interlocutor delimita o que se
pode dizer em determinada situação. É o caso de adequação dos discursos: há
determinados assuntos que devem ser adequados quanto às pessoas a quem são
dirigidos e aos lugares em que são ditas. Tudo depende do contexto no qual se está
inserido e, então, o interlocutor assumirá o papel que lhe é definido pelo momento da
interação.
O desenvolvimento da ciência e da linguagem fez com que os gêneros
ganhassem cada vez mais espaço na Linguística. De acordo com a evolução e a
variedade das ações que a humanidade realiza, surgem gêneros novos, oriundos de
outros gêneros, que apresentam necessidade de transformação à medida que o
mundo evolui e a sociedade vai se desenvolvendo. Então, podemos enxergar os
gêneros sob uma perspectiva de prática social.
Paralelamente aos avanços alcançados pela tecnologia e a comunicação, os
gêneros ganham transformações que se adequam cada vez mais aos novos meios
de comunicação. A exemplo disso, as propagandas apresentadas há alguns anos
são diferentes das propagandas veiculadas na contemporaneidade, assim como as
cartas, que hoje se fazem presentes em outras modalidades e/ou outros suportes de
uso e circulação, tais como e-mails, mensagens de celular, entre outros.
17
Desse modo, podemos considerar os gêneros textuais como ações sociais
que se encontram em determinados contextos da comunidade. Assim, a forma que
os gêneros assumem, não se restringe unicamente à sua estrutura, mas à função
que estabelecem sócio-culturalmente em aspectos discursivos e ideológicos dentro
do conjunto das práticas em que estão inseridos. Portanto, os gêneros estabilizam
as práticas concomitantemente à construção de outras, por isso, são, por Bakhtin
(2003), considerados estáveis.
A organização estrutural do texto está presente nos gêneros para determinar
os fins comunicativos sócio-pragmáticos. Podemos observar que todo texto tem sua
finalidade, funcionalidade, lugar discursivo, seja ele qual for. Portanto, recorremos às
regras do gênero quando produzimos ou solicitamos textos, como um relatório, uma
carta, um currículo, trabalhos acadêmicos, que sabemos exigir uma forma, mas que
essa forma não é o que o definirá.
Linguistas contemporâneos observam os gêneros através de muitos pontos
de vista e principalmente através dos contextos de práticas sociais, isso porque o
que se chama Pós-modernidade permitiu a análise multidisciplinar do texto, à qual
nada passa despercebido.
Os estudos de Mikhail Bakhtin (2003), um dos teóricos que mais contribuíram
para uma apreensão da língua que vai além de sua estrutura, atualmente, são
considerados a base teórica quando se trata da questão do gênero textual na
atualidade.
Para ele, a linguagem se constrói como um conjunto de fatores e deve ser
vista sob a perspectiva de organização social. Isso justifica o fato de o autor
considerar aspectos não-estruturais, porém fundamentais para a compreensão do
funcionamento da estrutura e de como se realiza a comunicação.
Para observar o fenômeno da linguagem, é preciso situar os sujeitos – e receptor do
som – bem como o próprio som, no meio social. Com efeito, é indispensável que o
locutor e o ouvinte pertençam a mesma comunidade linguística, a uma sociedade
claramente organizada. (BAKHTIN, 1999, p.70)
Bakhtin pontua que as variadas maneiras em que a língua se desenvolve
ocorrem para satisfazer a função das atividades humanas. Assim, a comunicação se
organiza quanto a sua finalidade e “elabora seus tipos relativamente estáveis de
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enunciados, sendo isso o que denominamos gêneros do discurso” (BAKHTIN, 1979,
p.262).
De acordo com a multiplicidade das atividades humanas e das tecnologias, os
gêneros passam por transformações para atender às necessidades comunicativas
das esferas sociais. A essas transformações Bakhtin chama de heterogeneidade do
discurso, que abrange vários domínios discursivos que vão de uma simples
conversa a documentos oficiais, entre outros.
Também no âmbito nacional, as pesquisas sobre gêneros vêm se
desenvolvendo com destaque. Dos que mais contribuíram, Marcuschi (2008) se
destaca, tanto pela análise de diferentes gêneros, como por fazer leituras de autores
internacionais. O autor trabalha com os gêneros sob uma perspectiva
sóciointeracionista de caráter discursivo e toma os gêneros como imprescindíveis na
organização das atividades diárias e práticas sociais da linguagem.
Marcuschi (2002) não só desconsidera os conceitos de gênero como forma,
mas aponta ainda para a problemática para defini-lo. O autor defende a
compreensão a partir do uso, por fatores sociais e pragmáticos na esfera da prática
social da comunicação, onde o discurso se estabelece. Assim, os gêneros são
definidos como “ações sóciodiscursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo,
construindo-o de algum modo” (MARCUSCHI, 2002, p. 20).
Para Marcuschi (2008), a língua se dá em função das atividades de uma
sociedade, bem como sua cultura. Segundo ele, é impossível haver comunicação
verbal sem que seja através de gênero ou texto, pois é por meio deles que nos
interagimos com o mundo a nossa volta, isto porque os gêneros textuais estão
intimamente ligados à cultura, e esta, à linguagem para que se efetive a
comunicação entre os povos.
O aspecto histórcio-cultural do texto é levado em consideração tanto para a
criação de novos textos, como para a variabilidade desses textos, sejam eles orais
ou escritos. Para entender melhor, as mudanças que ocorrem nos gêneros decorrem
de uma questão histórica, ou seja, cada época é perpassada por inovações que
ocorrem gradativamente, principalmente de acordo com avanços tecnológicos, claro,
no âmbito da comunicação. Essas inovações fazem surgir um conjunto de gêneros
19
conforme as particularidades de uma determinada cultura e tempo. Percebemos,
então, que os gêneros vão se transformando, surgindo novos a partir de outros já
existentes, porém adaptados para novas situações, de acordo com as mudanças
pelas quais a sociedade enfrenta.
20
3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DOS GÊNEROS TEXTUAIS
COMO INSTRUMENTO PARA AQUISIÇÃO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
Primeiramente, vale lembrar que o ensino de língua materna associado a
gêneros textuais leva o aluno a se inteirar e a se familiarizar com diversas situações
de comunicação. Isso acarreta, para o aprendiz, oportunidades de saber como lidar
em certas situações e também de se beneficiar do conhecimento das práticas
socioculturais e linguística, ainda que seja de grupos dos quais não faz parte.
Não se pode deixar de associar os gêneros textuais às práticas sociais, uma
vez que, segundo Marcuschi (2008), as práticas sociais realizam a comunicação e
sua função e o gênero a que está veiculada se transforma à medida que as relações
comunicativas e tecnologias evoluem. Isso nos leva a concluir que as razões que
encaminham ao avanço e às transformações dos gêneros são de natureza
meramente cultural e no contexto educacional de língua estrangeira, isso não é
diferente.
Sobre as questões culturais, Moita Lopes (1996) aponta para conceitos
antropológicos da relatividade cultural, ou seja, tanto a cultura da língua materna
como a cultura da língua estrangeira devem ser tomadas com bom senso, clareando
suas diferenças. O benefício disso é aprender a língua sob suas práticas à medida
que o aluno vai aprendendo os gêneros para as necessidades comunicativas e sem
que ocorra perda da identidade linguístico-cultural deste aprendiz.
É imprescindível que a aquisição de uma nova língua seja orientada com
base na inserção da sociedade no mundo e em suas relações, não apenas no seu
âmbito estrutural, normativo. É possível afirmar que o estudante de língua
estrangeira que é colocado frente às competências dos gêneros textuais como
instrumento de aprendizado, compreenderá o sentido de determinado texto e sua
função no meio social mais facilmente. A comunicação tem influente poder sobre o
aprendizado dos gêneros pelo fato de envolver a esfera social e a interação entre os
povos.
Queremos dizer, ao comentar o aprendizado de uma língua que, para a
efetivação da comunicação, faz-se necessária a complementação de alguns
aspectos. Tais aspectos estão em torno da finalidade pela qual se faz o uso da
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linguagem, a quem seu interlocutor está se dirigindo e o assunto abordado por ele.
Nesse sentido, o Celpebras, ao propor tarefas que empregam gêneros textuais,
busca inserir o candidato em situações que simulem a realidade bem como práticas
sociais. Ao solicitar uma produção textual que atenda o gênero indicado, o Exame
fornecerá subsídios necessários para a desenvoltura comunicativa do examinando.
O sucesso de seu desempenho o certificará quanto o domínio e do conhecimento da
língua portuguesa e comprovará que este examinando é passível de desempenhar
com aptidão as atividades sóciocomunicativas e culturais comuns à vida no país.
3.1 A abordagem comunicativa no ensino de PLE
No processo de aquisição de nova língua, fatores como a associação do
aprendizado a situações reais do cotidiano, ou valores culturais expressos pela
língua direcionam o aprendiz à competência/proficiência para usá-la fluentemente.
A abordagem comunicativa, como um desses fatores, é uma teoria
desenvolvida nas duas últimas décadas do século XX e representa uma evolução no
que se refere ao processo de ensino-aprendizagem de línguas. A abordagem
defende que o elemento essencial da língua é o ato comunicativo em que o
significado prevalece sobre a frase, e a competência comunicativa é o seu objetivo
final. Então, a abordagem comunicativa considera que, para que essa competência
se realize, a língua deve ser trabalhada/estudada com base no uso do dia-a-dia que,
além de levar o aprendiz à melhor compreensão da sua gramática, levá-lo-a a
desenvolver as quatro habilidades da língua (ler, escrever, ouvir e falar) e, assim,
atingir a proficiência. Para tanto, é importante que a língua seja trabalhada centrada
em funções comunicativas e relevantes às práticas sociais da comunidade usuária.
Krashen (1981) elaborou a teoria da abordagem comunicativa na distinção
entre LANGUAGE ACQUISITION (assimilação) e LANGUAGE LEARNING (estudo
formal). Este último representa a abordagem tradicional usada nas escolas no que
se refere ao ensino de língua. Esse processo equivale a ao ensino de gramática e de
normas da língua. Aqui encontra-se a forte distinção entro o correto e o errado. No
caso do ensino de língua estrangeira, são apresentadas questões gramaticais e
estruturais da língua. Além disso, é trabalhada a memorização de vocabulário.
22
Assim, a questão do uso da língua dentro da esfera comunicativa fica solta,
resultando na dificuldade do aprendiz conseguir assimilar em que situação cabe usá-
la.
Já o primeiro, o LANGUAGE ACQUISITION, representa o processo de
assimilação da língua de forma natural, ou seja, resultado da interação de situações
reais de uso da mesma. Isso, segundo Krashen, leva o novo usuário à posição de
sujeito ativo desse meio. Esse processo é semelhante ao mesmo processo que
ocorre com as crianças com a língua materna, as quais, até então, não possuem
conhecimento normativo algum.
Estrangeiros que moram em países que não os seus, conseguem, com certo
tempo, alcançar um nível de fluência da língua estrangeira por meio da assimilação,
decorrente da sua inserção naquela comunidade linguística onde o conhecimento da
língua é adquirido.
23
4 ANÁLISE DA RECORRÊNCIA DOS GÊNEROS TEXTUAIS NO CELPEBRAS
O Celpebras avalia a capacidade do examinando de se expressar
eficientemente na variante brasileira da língua portuguesa. Suas tarefas partem do
uso da língua como um propósito social e, nessas atividades, o gênero textual não é
utilizado apenas para estruturar um texto, mas como critérios para avaliação do êxito
da comunicação do examinando nessa língua. Assim, passaremos a analisar quais
os gêneros textuais mais recorrentes tanto nos textos de apoio como no das
produções solicitadas.
Nossa análise compreende os textos de apoio e as propostas de produção
textual das Tarefas 3 e 4 da Parte Escrita dos Exames das duas edições anuais de
2010 a 2015. A essas tarefas são reservados os textos de apoio de natureza escrita,
dos quais consideraremos os gêneros do texto de apoio associado ao gênero textual
da produção solicitada.
Explicando melhor nosso corpus de análise, as Tarefas 3 e 4 funcionam,
inicialmente, da mesma maneira. Em um primeiro momento da tarefa,
estruturalmente, a produção textual é solicitada, informando o examinando qual
gênero ele terá de produzir e a partir de que posição o autor deve se colocar, ou
seja, na proposta, o Exame descreve quais informações o texto deve conter: a que
interlocutor se dirigirá e qual a intenção comunicativa do texto. Apresentada a
solicitação, a tarefa apresenta o texto de apoio, um texto no qual a produção do
examinando se baseará quanto à forma e ao conteúdo.
É interessante notar a relação entre texto de apoio e produção textual. Apesar
de manterem o mesmo conteúdo temático, se diferenciam pelo caráter não só
estrutural, mas como prática social e intenção comunicativa.
A seguir, apresentamos um quadro contendo informações básicas sobre cada
texto de apoio e proposta de produção textual que compõem nosso corpus de
análise. Adotamos, para cada parte do corpus, as respectivas siglas: ED, para o ano
de edição do Exame; TAP3, para texto de apoio à tarefa 3; T3, para tarefa 3; TAP4,
para texto de apoio à tarefa 4; T4, para tarefa 4. As colunas intituladas TAP são
preenchidas com o título/tema do respectivo texto de apoio. Por uma questão
prática, optamos por expor neste quadro as referências dos textos de apoio antes
das referências das tarefas correspondentes. As tarefas, na íntegra, poderão ser
conferidas em anexo.
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QUADRO 1: DE SISTEMATIZAÇÃODAS TAREFAS
REFERÊNCIAS DO OBJETO DE PESQUISA
ED TAP3 T3 TAP4 T4
2010.1 Banho de lua Texto argumentativo para blog para incentivo da prática
Carta a um jovem internauta
“Escreva para o jornal emitindo sua opinião sobre a advertência feita pelo autor”
2010.2 Movimento contra o Botox
Carta de desistência de aplicação de Botox a médico explicando a decisão
Relacionamento empresa e cliente
Completar um quadro concordando ou não com as afirmações sobre o texto e justificando com opinião
2011.1 Beleza é fundamental – Cosméticos para homens
Carta de sugestão de criação de linha de produtos à diretoria de uma empresa
O Brasil não possui pedra preciosa
E-mail (como vendedor) para comprador convencendo-o da legitimidade de uma jóia e justificando seu valor
2011.2 Mercado de trabalho - A vez dos idosos
Texto informativo para subsidiar o tema para reunião de uma empresa sobre contratação.
Mão pesada – inibidor de apetite
Texto argumentativo para blog de apoio a obesos
2012.1 Faxina no céu – Lixo espacial
Carta de solicitação de discussão sobre o tema ao Greenpeace
Anuncie no samba-enredo e salva o carnaval
Carta de solicitação de patrocínio à empresas apresentando vantagens do investimento
2012.2 Empreguetes Texto de apresentação da situação do setor “empregada doméstica” para site para estimular novos cadastramentos
Crônica – A morte do automóvel
Carta do leitor à revista com mesmo posicionamento do autor
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2013.1 Bolinhos dos sonhos
Texto de apresentação de publicação de cozinheira para catálogo de editora
Viagem a dois E-mail incentivando funcionários da empresa a participar do programa “Caronetas”
2013.2 Turismo de inclusão
Texto publicitário para divulgar o novo serviço da empresa
Morar sozinho Artigo de opinião sobre o tema para jornal
2014.1 Biblioteca comunitária Ilê Ará
Carta de apresentação do trabalho e descrição de iniciativa convencimento de merecimento de premiação
Zeca Baleiro – Última palavra GPS
Troca de posicionamento em relação ao uso do GPS (o examinando deverá se posicionar como personagem antagonista)
2014.2 Conheça o mundo e ajude a mudá-lo
Carta de apresentação e candidatura de vaga à org. de voluntariados expor motivações e apontar locais de atuação
Leitura e tecnologia *A cultura literária vai acabar – Philip Roth *O futuro do livro – Robert Darnton
Artigo de opinião sobre tema e discutir as duas opiniões do texto
2015.1 Os eletrossensíveis
Carta de solicitação de criação de zona especial ao prefeito explicando a doença e argumentando a necessidade da área.
Pais do lar Carta do leitor à revista expondo opinião e posicionamento sobre licença paternidade
2015.2 Cozinheira faz iguarias com o que ia para o lixo
E-mail para empresas solicitando patrocínio. Descrever o projeto.
Azulejos valiosos – Depredações dos casarões
Carta aberta à prefeitura. Descrever problema e argumentar sobre necessidades
Observando o quadro, é possível notar uma incidência de características
comuns entre os textos de apoio e as tarefas. Para cada tarefa, há um texto a ela
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correspondente que tematiza quanto ao assunto abordado. As referências
localizadas nas colunas TAP3 e TAP4 estão reservadas aos títulos dos textos.
Importante ressaltar que todos são textos reais retirados de jornais e/ou revistas e,
em geral, são de cunho informativo/descritivo. Os textos de gênero reportagem
representam 90% dos textos de apoio, enquanto 10% deles são de gênero crônica.
É importante também notar que a Tarefa 3 e a Tarefa 4 trabalham o mesmo tipo de
atividade e pretendem o mesmo conhecimento.
A partir da leitura dos textos de apoio e de suas respectivas tarefas,
observamos que as propostas de produção textual atendem, de fato, aos critérios
que o examinando deve se ater e que serão considerados na correção, previamente
advertidos no Manual do Exame, tais quais, ação, propósito e interlocutor. Esses
textos servem de base para a produção escrita do candidato no quesito
conteúdo/tema, mas não mantêm a sua estrutura também como base. Notamos que
grande parte das tarefas solicitam que o candidato posicione seu discurso em um
outro gênero, em um outro contexto e para um outro interlocutor subjacente e a partir
de um novo propósito comunicativo estabelecido pela tarefa diferente, do texto de
apoio. Ou seja, a mudança não ocorre apenas quanto à sua estrutura, mas também
quanto ao aspecto de adequação do discurso.
Observamos algumas características nas solicitações das produções textuais.
Em 66% delas, o gênero textual em que o examinando deve redigir seu texto é
diretamente explicitado, sendo 81,25% de gênero carta, 12,5% artigo de opinião e
6,25% texto publicitário. Os textos cujos gêneros não foram definidos, 34% do total
de solicitações de nosso corpus de trabalho, são os que representam em nosso
quadro a T3 e T4 da ED2010.1, a T4 da ED2010.2, T3 e T4 da ED2011.2, T3 da
ED2012.2, T3 da ED2013.1 e T4 da ED2014.1. Nesse conjunto de textos, apesar de
não ser requerido um gênero “X”, a tarefa descreve, a partir dos requisitos ação,
propósito e interlocutor, como o examinando deve escrever seu texto que, não
requerem peculiaridades em sua estrutura como uma carta, por exemplo.
Das tarefas solicitadas nessas edições que exigem diretamente a escrita de
carta, a elas são indicados uma “subespécie”, dentre as quais temos três cartas de
solicitação, duas de apresentação, uma de comunicação, uma de sugestão, uma
27
carta aberta, duas cartas ao leitor, e três e-mails, que consideramos tal qual uma
carta, por ter uma composição estrutura-texto semelhante.
Quanto à mudança de propósito, exigida pelas tarefas, a T4 da ED2011.1 é
um exemplo de bastante claro. O TAP4, é de gênero reportagem, que apresenta
determinada prática, a aplicação de Botox, e alerta para os possíveis danos à saúde,
dentre outros, à própria estética, bem como, apresenta opiniões/críticas de pessoas
famosas/da área de saúde e estética; a T4 solicita a escrita de um e-mail. Houve
uma reformulação de sua estrutura a partir do atendimento aos critérios que a pré-
estabelecem, dentre os quais a mudança de contexto, ao “colocar” o examinando
frente a uma nova situação: comunicar a seu médico a desistência de um
procedimento anteriormente marcado (aplicação do produto) e justificar a decisão
tomada. Assim, a ação, o propósito e o interlocutor são fornecidos pela tarefa. Esse
é um dos exemplos de mudança de propósito comunicativo mais evidentes que
compõem o conjunto de textos e tarefas do corpus deste trabalho, não obstante,
todos as outras tarefas seguem a mesma linha de proposta, cada um com suas
particularidades e/ou gêneros, propósitos diferentes.
Quanto à realidade dos temas, os textos de apoio atendem com êxito a esse
ponto, que pode ser constatada até mesmo pelo gênero textual ao qual está
veiculado, reportagem, de âmbito jornalístico, e crônica, texto que descreve cenas
do cotidiano, ambos causam concordância com o uso da língua.
Os TAP4 da ED2012.2 e ED2014.1 se configuram como “textos atípicos”
dentro desse panorama das edições que analisamos, que não tratam de
reportagem. Ambos, estruturados em gênero crônica e, vale ressaltar, publicadas em
jornal/revista, não noticiam, mas fazem alusão ou crítica à realidade vivenciada pela
população em determinado momento/contexto histórico. Enquanto o primeiro retrata
a situação caótica do trânsito nas grandes cidades, o segundo retrata o uso e a
confiança exacerbados nos aparelhos de GPS. É interessante lembrar, também, que
a crônica é um gênero textual que tende a abordar histórias que apresentem
assuntos da realidade.
Não poderíamos deixar de mencionar o TAP 4 da ED 2010.1 que pretende
ser uma carta, mas não apresenta estrutura como tal. Apesar disso, é importante
atentarmos para a possibilidade de compreensão do gênero a partir do uso, como
28
diz Marcuschi (2002). “Carta a um jovem internauta”, apesar não seguir o formato
carta, a abordagem e o fim comunicativo levam o interlocutor a identificar o texto
como uma carta, a partir do contexto, da finalidade e da prática discursiva e
intencional que o autor quis transmitir.
Houve um caso especial: o preenchimento de um quadro de opiniões e
justificativas. A T4 da ED2010.2 não exigiu uma escrita mais original dos
examinandos e solicitou que eles apenas respondessem a um quadro que continha
algumas afirmações sobre o TAP4, da mesma edição. Os examinandos deveriam
concordar ou não com as afirmações apresentadas e, em seguida, justificá-las.
O examinando que responder a essas tarefas com êxito, atende à teoria do
LANGUAGE ACQUISITION proposta por Krashen, justamente pelo fato de o
Celpebras fornecer subsídios suficientes para que o uso da língua, no momento do
exame, se torne o mais real possível. Vemos, tanto nos Textos de apoio quanto nas
Tarefas, expostas em nosso quadro, temas que são de abordagens comuns a
qualquer conversa ou até mesmo leitura em determinado meio de comunicação em
nosso país.
Mais um dado importante podemos notar a partir da referência de tema/título
de cada um dos Textos de apoio, colocados em nosso quadro: não há uma
recorrência de assunto abordado quanto aos temas. Diferentemente das propostas
das Tarefas que, como notamos, há uma incidência muito clara e repetitiva quanto à
estrutura. A variabilidade sobre os gêneros textuais é muito pouca. Comprovamos
que a produção textual do gênero carta é solicitado com muita frequência.
29
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Exame Celpebras, prova oficial de proficiência em portuguesa na variante
brasileira, é conduzido por atividades sóciointeracionistas a partir de tarefas
comunicativas, divididas em duas Partes, uma Oral e outra Escrita, que funcionam
como instrumentos de avaliação a que os examinandos se submetem para mostrar o
melhor desempenho possível, quanto à naturalidade da comunicação, a fim de obter
seu certificado de proficiência. Um examinando proficiente deve apresentar domínio
das competências discursivas de acordo com as formas interativas tais quais as
usadas pelos nossos falantes nativos escolarizados. Um fato relevante sobre o
Exame é a atenção que os examinandos devem prestar às diversidades de
situações comunicativas e usos dos gêneros.
Neste Trabalho de Conclusão de Curso, com base na teoria dos gêneros
textuais, buscamos fazer uma verificação quanto ao uso dos gêneros em vinte (20)
tarefas (3 e 4) das edições do Celpebras de 2010.1 a 2015.2. Concluímos que as
tarefas do Exame fornecem subsídios suficientes, quanto ao conteúdo, para a
execução da produção textual pelo examinando.
Por outro lado, é fundamental que os examinandos adquiram, previamente ao
Exame, conhecimento não só do domínio estrutural e da gramática da língua, mas
também do uso da língua no âmbito de práticas sócias. Para tal, é importante pautar
a aquisição dessa língua a partir de variados gêneros textuais para atingir a
proficiência da língua e realizar o Exame com êxito.
Como podemos observar, as tarefas, via de regra, propõem produção de um
texto novo que atenda a todos os critérios solicitados para tal. Constatamos
considerada incidência de “carta” como o gênero mais solicitado nas edições dessa
pesquisa.
Entendendo que o Celpebras é realizado por diversos profissionais, com os
mais variados interesses que os levaram a obter o certificado de proficiência da
língua portuguesa, seria interessante que houvesse uma diversificação maior em
relação aos gêneros textuais. O gênero “carta” já é tido como referência por parte
das produções solicitadas por essas tarefas.
30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira; com a colaboração de Lúcia Teixeira Wisnik e Carlos Henrique D. Chagas Cruz. 9.ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
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________. Manual do examinando. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/manuais/manual-do-examinando-versao-eletronica-simplificada-2012-2>
________. Caderno de questões 2010.1. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2010_1>
________. Caderno de questões 2010.2. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2010_2>
________. Caderno de questões 2011.1. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2011_1>
________. Caderno de questões 2011.2. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2011_2>
________. Caderno de questões 2012.1. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2012_1>
________. Caderno de questões 2012.2. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2012_2>
________. Caderno de questões 2013.1. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2013_1>
________. Caderno de questões 2013.2. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2013_2>
________. Caderno de questões 2014.1. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2014_2>
________. Caderno de questões 2014.2. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2015_1>
________. Caderno de questões 2015.1. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2015_1>
________. Caderno de questões 2015.2. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras/arquivos/Provas/2015_2>
31
Diário Oficial da União (DOU) de 11 de Junho de 1993. Pág. 4. Seção 2.
MARCUSCHI, L. A. (2002). “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” In DIONÍSIO, Â. et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna
________. Análise de gêneros e compreensão – São Paulo: Parábola Editorial, 2008
MOITA LOPES, L. P. Discourse analysis and syllabus design: an approach to the teaching of reading. Tese de doutoramento. Universidade de Londres, 1986.
SCHLATTER, Margarete. Celpe-Bras: avaliação, ensino e formação de professores de português como língua adicional. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/acervocelpebras> Acesso em: 08 abr. 2016.
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ANEXOS
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ANEXO 1
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ANEXO 2
35
ANEXO 3
36
ANEXO 4
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ANEXO 5
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ANEXO 6
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ANEXO 7
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ANEXO 8
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ANEXO 9
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ANEXO 10
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ANEXO 11
44
ANEXO 12
45
ANEXO 13
46
ANEXO 14
47
ANEXO 15
48
ANEXO 16
49
ANEXO 17
50
ANEXO 18
51
ANEXO 19
52
ANEXO 20
53
ANEXO 21
54
ANEXO 22
55
ANEXO 23
56
ANEXO 24