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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL SHEILA CARINE SOUZA SANTOS A PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM UM CMEI DA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SALVADOR/BAHIA Salvador 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SHEILA CARINE SOUZA SANTOS

A PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE

TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM UM CMEI

DA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SALVADOR/BAHIA

Salvador

2016

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SHEILA CARINE SOUZA SANTOS

A PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE

TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM UMA

ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE

SALVADOR/BAHIA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

Curso de Especialização em Docência na Educação

Infantil como pré-requisito parcial para a obtenção

do titulo em Especialista em Educação Infantil.

.

Professora Orientadora: Ms Karina Moreira Menezes

Salvador

2016

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À

Deus por mais esta conquista. Aos meus pais pelas possibilidades, incentivo, força e apoio que me dão nesta minha trajetória na educação e na vida. Ao meu irmão pelo carinho, coragem e confiança que deposita em mim. Aos meus familiares e amigos por acreditarem na minha jornada por uma educação infantil de qualidade.

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AGRADECIMENTOS

Às crianças participantes desta pesquisa. Sem elas este trabalho não seria realizado. A Prof.ª Karina Moreira Menezes, orientadora, amiga, ouvinte, por me orientar neste trabalho e me mostrar as pistas para descobrir o meu caminho. Ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Bahia e aos professores do curso pela possibilidade de me fazer refletir sobre que currículo pretendo construir para as crianças a Educação Infantil, não esquecendo que elas é que são as protagonistas desta construção. Aos membros da Banca Examinadora A amiga e colega de curso Denise Serra pelo carinho, amizade e paciência de todas as horas. Aos colegas da turma pela garra e esforço de concluir este curso Ao CMEI onde a pesquisa foi realizada e a toda equipe pedagógica que abraçaram e incentivaram a minha pesquisa

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“O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo [deve] começar com um ato de amor. Uma

semente há e ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de

serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: interpretes de sonhos”.

Rubem Alves (1994)

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RESUMO

SANTOS, Sheila Carine Souza. A percepção das crianças da Educação Infantil

sobre as tecnologias da informação e comunicação em um CMEI da Rede Municipal

de Salvador/Bahia. 62f. il.2016. TCC – Faculdade De Educação , Universidade

Federal da Bahia, Salvador, 2016

O presente trabalho tem como tema central as influências das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na construção de saberes pelas crianças da educação infantil em uma escola da rede Municipal de Educação na cidade de Salvador- Bahia. Tem como objetivo analisar a presença de Tecnologias da Informação e Comunicação entre crianças da Educação Infantil, identificando suas influências na construção de saberes em sala de aula. Para fundamentar este trabalho me apoie nos seguintes autores: Pierre Levy, Nelson de Lucca Pretto, Carla Viana Coscarelli, Vani Moreira Kenski, Claudia Lopes Pocho, Seymour Papert, Lynn Alves e Isa Coutinho, Marco Silva, que me ajudaram nos conceito sobre tecnologia, suas mudança através dos tempos, assim como a utilização dela em sala de aula e as modificações que elas fizeram e fazem na educação. Silvia Helena Vieira Cruz e Julia Oliveira Formosinho me mostraram através dos seus estudos de como é importante e necessário ouvir e dar voz a nossas crianças. A metodologia utilizada foi uma pesquisa qualitativa, do tipo descritivo, pois buscou retratar a realidade na qual a criança esta inserida. Os dispositivos utilizados para a produção de dados e busca de informações foram: questionário para os pais, entrevistas, rodas de conversa, registros escrito, observações participantes e diário de campo. Os resultados obtidos mostraram que a criança participante da pesquisa esta em um contexto onde as TIC se fazem presente e que a escola deve ressignificar este conhecimento que a criança já possui para a construção de novos saberes, novas aprendizagem utilizando as Tecnologias da Informação e Comunicação.

Palavras – Chave: Educação Infantil – Infância - Tecnologias da Informação e

Comunicação.

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LISTA DE SIGLAS

ADI - Auxiliar de Desenvolvimento Infantil

CMEI – Centro Municipal de Educação Infantil

DCME I – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

IBM – International Business Machine

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MEC – Ministério da Educação

PPP – Projeto Politico Pedagógico

SESI – Serviço Social da Indústria

TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação

UE – Unidade Escolar

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

1.1ABORDAGEM METODOLÓGICA ..................................................................... 14

2. REFERENCIAL TEORICO .................................................................................. 188

3.CAMPO DE PESQUISA....................................................................................... 255

3.1 SUJEITOS/ FONTE ......................................................................................... 27

4. TECNOLOGIAS NO PROJETO POLITICO PEDAGOGICO DO CMEI ............. 288

5. TIC NA SALA DE AULA: O QUE DIZEM AS CRIANÇAS ................................. 333

6.CONCLUSÃO ...................................................................................................... 566

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 599

ANEXOS ................................................................................................................. 611

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1.INTRODUÇÃO

A intenção deste estudo ocorreu a partir de uma observação que já faço há

alguns anos na escola em que leciono. É uma escola da rede pública municipal,

localizada no bairro de Brotas - cidade de Salvador, Bahia – que em 2015, passou a

atender somente o público da Educação Infantil.

Mas antes de apresentar o meu problema de pesquisa e minhas inquietações,

vou relatar um pouco das minhas memorias e vivências e falar sobre porque escolhi

o tema de estudo desta pesquisa.

Tive uma infância maravilhosa. Brinquei muito: sozinha (só tive irmão aos oito

anos de idade); com os meus pais e avó (que adoravam jogar comigo e ler histórias

na hora de dormir); com os primos e amigos. Os jogos sempre me fascinaram.

Sejam eles eletrônicos ou de tabuleiros.

Aconteceu um episódio marcante que me fez querer ser professora quando eu

estava na primeira série do primário. Meu pai quebrou o joelho e ficava todas as

tardes comigo. Meu passatempo preferido era comprar livros didáticos e cadernos e

passar as tardes jogando jogos de tabuleiro com ele. Brincávamos de escola todos

os dias. Umas vezes ele era o professor. Outras eu era a professora. Essa troca com

o meu pai, este jogo simbólico, foi primordial para eu me tornar o que sou hoje:

Educadora!

Na época da faculdade de Pedagogia, fui estagiar em uma Escola da rede

SESI – Serviço Social da Indústria - no bairro de Caminho de Areia, com uma turma

de crianças de cinco anos, também chamado grupo 5. Foi amor à primeira vista!

Adorava aquele local e aquelas crianças! O modo como elas aprendiam tudo muito

rápido me impressionava! A sede de conhecimento de algumas delas, querendo

saber tudo ao mesmo tempo, era estimulante e isso reforçava em mim a certeza da

carreira do magistério.

A minha sintonia foi tão grande com o Grupo 5 que propus à minha professora

de Prática Pedagógica, Fátima, que fizéssemos um projeto com a turma de

graduação a partir das perguntas curiosas que as crianças faziam, tais como: porque

os peixes dormem de olhos abertos? por que o céu é azul? Por que existe o arco-

íris? e outras. A maioria dos meus colegas da graduação não sabia responder tais

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perguntas. Minha turma da graduação abraçou o projeto que virou uma Feira de

Ciências e foi maravilhoso.

Atualmente, trabalho em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI). No

ano de 2015 houve esta mudança – pois até 2014 atendíamos também ao público

do Fundamental I - funcionando nos turnos matutino e vespertino. Em 2016

passamos a atender também a creche (grupos de 2 e 3 anos que estudam em

período total) e pré-escola (grupos 4 e 5 anos que estudam em período parcial).

Essa mudança aconteceu porque os professores da Educação Infantil fizeram um

trabalho tido como referência pela administração municipal.

Além disso, fatores como a falta de Centros Municipais de Educação Infantil

(CMEIS) no bairro e o próprio Plano Nacional De Educação, Lei nº13005/2014, que

tem como uma das suas metas universalizar a Educação Infantil na pré-escola para

as crianças de 4 e 5 anos (até o ano de 2016) e de ampliar a oferta em creches,

mínima 50%, de forma a atender as crianças de até 3 anos até o final da vigência do

Plano (PNE, 2014-2024), fizeram com que esta mudança ocorresse.

Alguns professores desta Unidade Escolar se queixavam que tinham poucos

recursos didáticos à sua disposição para trabalharem nas suas aulas. Sempre gostei

de aliar alguns aparatos tecnológicos (rádio, notebook, lousa interativa, jogos

eletrônicos) com a educação pois, esta é mais uma forma de desenvolver e

possibilitar a construção do conhecimento pela criança.

Em 2007 comecei um projeto com jogos digitais no antigo Infocentro – um

laboratório de informática onde existiam doze computadores e uma impressora - e o

público alvo era a Educação Infantil. Foi ótimo! Este projeto aliava o conteúdo

pedagógico que era dado em sala de aula pelo professor ao uso dos jogos digitais.

Porém, no ano de 2009, tivemos que parar o projeto com os jogos digitais, pois

o laboratório fechou por conta das chuvas que alagaram a escola e o espaço onde

se encontrava o laboratório foi alagado. Alguns professores, principalmente eu,

ficamos frustrados porque o projeto cresceu e se estendeu para todas as turmas de

Educação Infantil e, com as chuvas, todos os equipamentos ficaram danificados.

Após esta chuva tentei reativar o Infocentro, mas sem conseguir êxito. O setor

responsável pela manutenção das máquinas – Secretaria Municipal - não forneceu

suporte para que isso ocorresse. Levei as maquinas, uma a uma, para minha casa

e, com a ajuda do meu pai e irmão, conseguimos reativar umas três máquinas

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contudo, com o tempo, o desgaste e sem manutenção adequada, elas pararam de

funcionar definitivamente.

Porém, durante os meus anos de trabalho neste local, percebi que mesmo

existindo um laboratório de informática e algumas tecnologias da informação e

comunicação elas não eram utilizadas pelos professores. Seja porque a escola não

disponibilizava os recursos que os professores queiram ou porque os educadores

não sabiam ainda utiliza-los. Estes dispositivos eletrônicos poderiam ajudar nas

aulas destes educadores. Alguns deles são: uma lousa interativa, uma tela de

projeção e um data show que estão localizados no antigo Infocentro.

Ainda existem no CMEI dois computadores – Kidsmart - adaptados para uso

infantil que estão localizados nas duas salas de aula dos grupos 4(crianças de 4

anos). Três televisores que estão distribuídos nas três salas de grupos 2 ( crianças

de 2 anos), assim como aparelhos de DVD e aparelhos de som que estão

disponíveis nas sete salas de aulas que compõem a Unidade Escolar. Mesmo com a

presença destas tecnologias percebi ainda que os professores não as usam e

muitos aparelhos encontram-se inutilizados sejam nos armários das salas, sejam em

outros espaços.

Isso me deixava inquieta e apesar de ter feitos diversos cursos e

especializações na área da Educação Infantil sinto que falta algo específico para

estas crianças de zero a seis anos de idade. No ano de 2011 resolvi fazer uma

especialização em Tecnologias e Novas Educações, pesquisando o uso pedagógico

das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), onde o objetivo deste estudo

era compreender como os professores utilizavam as TIC na sua prática pedagógica

assim como os fatores que contribuíam ou dificultavam esta inclusão. Os sujeitos da

pesquisa foram professoras do segmento da Educação Infantil.

O resultado obtido no final da pesquisa mostrou que as professoras utilizavam

as TIC na sua prática pedagógica com as crianças utilizando aparelhos de som,

DVD e televisor. Porém, em relação ao Laboratório de Informática, a utilização deste

espaço não era feita ou por falta de conhecimento de algumas profissionais ou por

não acharem que este local fosse importante para a construção de aprendizagens

nas crianças. Todavia, após realizar a Especialização em Tecnologias e Novas

Educações identifiquei que as professoras pesquisadas não avaliam a sua prática

relacionando-a ao uso das TIC, mas informam que utilização do Infocentro iria

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melhorar a aprendizagem das crianças assim que o mesmo começasse a ser

utilizado por elas.

Não adianta equipar as escolas com tecnologias modernas e de última

geração, pois a simples presença destes aparatos não indicará sucesso ou fracasso

escolar. É preciso sim disponibilizar tecnologia de ponta para as nossas crianças

terem acesso, mas também, é preciso formar os profissionais de educação, pois eles

precisam dominar estas tecnologias para serem aplicadas na sua prática

pedagógica.

O que percebo é que na maioria das vezes a tecnologia chega às escolas não

por vontade do professor, mas sim por imposição do sistema educacional. O mesmo

sistema que não forma, contribui para que os seus professores não utilize as

tecnologias nas suas aulas. Faz se necessário a alfabetização tecnológica do

professor para o mesmo dominar a utilização das tecnologias para que isso facilite a

aprendizagem e a construção de conhecimento.

Sendo assim, com a minha experiência e formação na Educação Infantil e

como professora e mais recentemente como vice-gestora de um Centro Municipal de

Educação Infantil, a intenção deste estudo é aprofundar este tema, agora trazendo a

perspectiva da criança. As crianças são sujeitos de direitos. Ao assumi-las dessa

forma, reconhecemos os seus direitos fundamentais como o de provisão, proteção e

participação com base na Convenção dos Direitos da Criança (1989).

As crianças são agentes sociais que produzem significados e possibilitam, a

partir da escuta da sua voz, que possamos conhecer como a nossa sociedade

concebe o conceito de infância, já que esta criança não é um objeto e sim um sujeito

de direitos que tem voz e que deve ser legitimada. A criança tem sido sujeito de

estudo em muitas pesquisas onde ela é muito observada e pouco ouvida. A

Educação como um todo e, em especial a Educação Infantil, está carente de

estudos que busquem dar voz às crianças e conhecer seus pontos de vista, seja em

relação à vida e as decisões que podem tomar em relação à mesma.

Essa criança contemporânea precisa exercer sua condição de ator social

através das suas opiniões, ideias e sentimentos. Nesta sociedade em que esta

inserida onde as TIC fazem parte do nosso cotidiano, percebemos a tecnologia

presente em muitos espaços, principalmente o computador e - mais atualmente- os

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artefatos móveis como tablets e smartphones tornaram-se aparelhos presentes em

muitos lares.

Na educação não poderia ser diferente. Nós professores não podemos fugir

dessa sociedade tecnológica. Antigamente, nós professores, éramos os detentores

do saber “absoluto” e tínhamos a grande contribuição dos livros didáticos para expor

os nossos conhecimentos aos alunos. Na atualidade muitas crianças estão inseridas

nas sociedades industrializadas, tendo contato intenso com as tecnologias digital e

sendo influenciada por elas, a exemplo dos jogos digitais, possibilitando e alterando

os modos de vivenciar esta infância.

Como educadora, questiono porque não utilizarmos este conhecimento que

muitas crianças já possuem, a nosso favor e principalmente a favor delas, para uma

aprendizagem mais significativa e estimulante? Por que não relacionar este

conhecimento das crianças para a construção de novos saberes usando as

tecnologias, já que as crianças vivem imersas neste mundo digital, interagindo com

diversas mídias?

É de extrema importância que nós professores repensemos a nossa prática a

partir do diálogo com as nossas crianças. Precisamos iniciar um processo de escuta

destas crianças. Elas têm direito a participar da sua educação pois elas, mais do que

qualquer outro sujeito, devem opinar sobre questões que lhe dizem respeito. Dessa

forma poderemos assim reconhecer as crianças como agente sociais, legitimando os

seus direitos fundamentais que são os de provisão, proteção e participação.

Nesse sentido, propus uma investigação com o seguinte objetivo geral:

Analisar a presença de Tecnologias da Informação e Comunicação entre

crianças da Educação Infantil, identificando suas influências na construção de

saberes em sala de aula.

Ao qual se relacionam os objetivos específicos:

1- Identificar a percepção das crianças sobre as Tecnologias de Informação e

Comunicação que as cercam ;

2- Entender como as Tecnologias de Informação e Comunicação afetam a

educação de crianças;

3- Analisar o Projeto Político Pedagógico da Unidade Escolar à concepção e o

uso de TIC no cotidiano;

4- Verificar como as Tecnologias de Informação e Comunicação podem

influenciar a educação infantil através da perspectiva das crianças.;

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1.1ABORDAGEM METODOLÓGICA

A pesquisa utilizada neste estudo foi qualitativa do tipo descritiva porque

permitiu que a criança participante da pesquisa descrevesse aspectos importantes,

referentes ao objeto que está sendo investigado, como citam Lüdke e André

(1986): “[...] Este tipo de pesquisa oferece elementos para uma melhor compreensão

do papel da escola e suas relações com outras instituições da sociedade”. (LÜDKE

E ANDRE, 1986 p.24).

A etnopesquisa, na perspectiva trazida por Macedo (2004) tem como base a

pesquisa qualitativa. Sendo assim, ela vai trabalhar com as narrativas do sujeito

pesquisado, sujeito esse a criança em questão reconhecida como um sujeito de

direitos e por isso tem ideias, opiniões, ordena a sua vida social ativamente,

contextualizando as narrativas.

Nesses aspectos, valoriza-se intensamente a perspectiva qualitativa-fenomenológica, que orienta ser impossível entender o comportamento humano sem tentar estudar o quadro referencial e o universo simbólico dentro dos quais os sujeitos interpretam seus pensamentos, sentimentos e ações. (MACEDO, 2004, p. 145)

Assim sendo, confirma-se que apesar do objeto investigado estar num

contexto maior- Uma Escola Municipal- ele será pesquisado em um aspecto

particular: a sala de aula que leciono.

A investigação é de natureza qualitativa, pois buscou retratar a realidade na

qual esta criança esta inserida , assim como a busca de informações e dados que

foram coletados em diferentes momentos , a partir da voz das crianças. “Assim, o

estudo de caso tem por precaução principal compreender uma instancia singular,

especial”. (MACEDO, 2004, p. 150).

Os dispositivos utilizados para a produção de dados e busca de informações

foram: questionário, entrevista, rodas de conversa, observação participante,

registros escritos e uso do diário de campo. O material obtido nessas pesquisas será

rico em descrições.

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A fim de alcançar os objetivos propostos no estudo, utilizei um questionário

com dez perguntas objetivas que foi entregue pessoalmente aos pais com perguntas

referentes ao objeto da pesquisa (hábitos das crianças no que se refere ao uso das

TIC em casa). Dos 09 questionários que foram entregues, 07 foram devolvidos com

respostas.

A entrevista com as crianças foi um ótimo instrumento para coletar

informações referentes ao objeto pesquisado porque ela trabalha com narrativa,

descrição. Utilizei a entrevista semi estruturada, pois é o formato mais adequado

para entrevistar crianças e, apesar de ser flexível, tem que ter uma direção,

estruturação, sem, portanto deixar de registrar informações inesperadas que

ocorreram durante o processo de escuta das crianças, como explica Macedo (2004):

Poderoso recurso para captar representações, na entrevista os sentidos construídos pelos sujeitos assumem para o etnopesquisador o caráter da própria realidade, só que do ponto e vista de quem a descreve. A linguagem aqui é um forte fator de mediação para a apreensão da realidade e não se restringe apenas à noção de verbalização. Há toda uma gama de gestos e expressões densas de conteúdos indexais importantes para a compreensão das praticas cotidianas. (MACEDO, 2004, p. 164).

Importante ressaltar que as entrevistas aconteceram no próprio ambiente

escolar, ou seja, um local que a criança já domina e que pode também determinar as

respostas que a criança poderá vir a dar, se for num contexto diferente para a

mesma. “As entrevistas dão informação adicional sobre o que as crianças pensam e

gostam de fazer e, nesse sentido, permitem ao professor discutir com as crianças

“um conteúdo em profundidade”“. (FORMOSINHO, 2008 p. 119).

Em relação aos registros escritos pelas crianças este instrumento também foi

de extrema importância para coleta de dados pois, houve a necessidade de produzi-

los seja através dos desenhos das crianças ou das imagens. Assim, através das

Rodas de Conversa, outro instrumento utilizado, debatíamos a respeito do objeto

que estava sendo investigado.

Já a utilização e uso de diário de campo serviu para relatar estas experiências

que aconteciam a cada dia da pesquisa. Este instrumento é reflexivo para o

professor pesquisador porque ele pode ser utilizado também para conhecer quem é

este sujeito da sua pesquisa que , segundo Schon (2007, p.65) deve existir uma

reflexão durante sua ação, pois esta deve estar imbricada na pratica do professor.

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Ele também destaca a reflexão sobre a ação que seria a tomada de um fato já

acontecido para compreender um fato que, no nosso caso, esta sendo pesquisado.

Torna-se assim necessário o registro do pesquisador como fonte de reflexão

para sua pesquisa ou prática. Através do diário de campo o pesquisador reafirma-se

como autor da sua pesquisa pois, entra em contato direto com os sujeitos e seu

objeto estudado através das descrições minuciosas que este instrumento propõe,

pois ele revelará todos os movimentos feitos pelo pesquisador. Macedo (2004) nos

diz:

Trata-se, em geral, de um aprofundamento reflexivo sobre as experiências vividas no campo de pesquisa e no campo da sua própria elaboração intelectual, visando apreender de forma profunda e pertinente o contexto do trabalho de investigação cientifica... [...] (MACEDO, 2004, p. 195).

Diante dessas considerações, essa pesquisa está estruturada em quatro

capítulos:

No primeiro capitulo abordo o referencial teórico dialogando com os autores e

trazendo conceitos sobre educação e tecnologia.

No segundo capitulo apresento o Projeto Politico Pedagógico do Centro

Municipal de Educação Infantil Abrigo do Salvador no que diz respeito à utilização

das Tecnologias de Informação e Comunicação no seu contexto escolar.

No terceiro capitulo trago o campo de pesquisa assim como os sujeitos

participantes deste trabalho.

No quarto capitulo apresento a pesquisa de campo e a analise dos dados

coletados. Estes dados foram analisados com base nos referencias teóricos

descritos no primeiro e segundo capítulos.

No quarto capitulo informo as considerações finais sobre o trabalho, relatando

as conclusões e inconclusões sobre as questões inicias.

Portanto, o presente trabalho irá analisar a percepção das crianças sobre as

Tecnologias da Informação e Comunicação e a influencia na aprendizagem de

crianças da Educação Infantil e foi desenvolvido através de leituras do Estado da

Arte onde trago vários autores que discorrem sobre o tema com muita propriedade e

afirmam como o mundo tecnológico pode cruzar com sucesso os muros da escola,

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buscando ouvir o que as crianças pensam a respeito da influência das Tecnologias

da Informação e Comunicação na sua aprendizagem.

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2. REFERENCIAL TEORICO

O mundo globalizado e tecnológico de hoje exige que a cada dia nos

inteiremos das novas tecnologias e a incorporemos à sala de aula e ao nosso dia a

dia. As transformações estão ocorrendo de uma forma tão veloz que nem sempre

conseguimos acompanhar este ritmo. Há muita informação e ela está ao alcance de

muitos, a qualquer hora, e em toda parte do mundo. Nós – enquanto professores -

não podemos fugir desta realidade e a sala de aula não pode ser privada disso.

Segundo Levy (1999) o termo Cibercultura nada mais é do que uma grande

rede que está conectada mundialmente e um dos seus principais motores é a

inteligência coletiva pois, quanto melhor a apropriação desta tecnologia pela

população menos exclusão existirá. "Quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele

se torna universal.” (LEVY, 1999, p. 111)

Esta tecnologia que ao mesmo tempo une as nações e povos de todo o planeta

é ainda a mesma que exclui. Estar conectado é uma condição de pertencimento na

sociedade e, para isso, muitas vezes precisamos mudar nossos hábitos

econômicos, culturais, de lazer somente para estarmos inseridos neste mundo

tecnológico. Nesta perspectiva grande parte da população encontra-se excluída.

Para Levy (1999): “[...] o excluído é o que se encontra desconectado, não participa

da densidade relacional e cognitiva das comunidades virtuais e da inteligência

coletiva.” (LEVY, 1999 p.20)

No âmbito educacional as escolas precisam inserir nos seus currículos as

tecnologias de informação e comunicação trazendo-as como aliadas no processo

educativo. Estas tecnologias podem trazer mudanças positivas se forem realizadas a

partir de uma reestruturação curricular pois as escolas devem inserir nos seus

currículos a realidade que muitas crianças vivenciam hoje, tentando diminuir a

exclusão tecnológica que ainda esta inserida no nosso contexto. Como diz Pocho

(2003):

[...] julgamos que a educação tem a ver com a tecnologia justamente porque o avanço tecnológico ainda não chegou para todos, não tendo a maioria das pessoas ainda acesso ao conhecimento sobe ele. Logo, cabendo à escola agir com e sobre as tecnologias. Assim, a área da educação precisa dominar o potencial educativo das tecnologias e coloca-las a serviço do desenvolvimento de um projeto pedagógico que vise à construção da autonomia dos educandos e a formação para o exercício pleno da

cidadania. (POCHO, 2003, p.15)

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Essa citação me remete a minha infância. E, especificamente ,ao brincar na

infância. Esse ato tem um reflexo importante na minha prática pedagógica porque

vivenciei isso através dos jogos eletrônicos. Nunca tinha analisado esta questão.

Enquanto professora termino privilegiando no meu planejamento brincadeiras que

remetem ao jogo (seja ele simbólico ou digital) muito mais do que brincadeiras que

tenham movimento, organizando áreas para tais atividades como casa de bonecas,

mine mercados, salão de beleza, kidsmart, lousa interativa.

Outra questão importante é em relação aos jogos interativos. Quando a

escola possuía um laboratório de informática, sempre levava os meus alunos de

quatro anos para este espaço que além de me fascinar, os fascina também. Hoje em

dia somente possuímos um computador na minha sala de aula que é o kidsmart.

Na atualidade muitas crianças estão inseridas neste mundo digital utilizando

estes aparatos tecnológicos em outros espaços. Por isso, os privilegio no meu

planejamento de forma que estas crianças utilizem o conhecimento que já possuem

para a construção de novos saberes. Alves e Coutinho (2016) nos informam:

Considerando-se que muitas crianças estão inseridas em sociedades industrializadas e imersas no fenômeno da globalização contemporânea, elas têm contato intenso com as tecnologias digital e são afetadas por ela. Como exemplo destas tecnologias, temos os jogos digitais, artefatos cada vez mais comuns nos cotidiano das crianças. Os jogos digitais, portanto, possibilitam que elas alterem os modos de vivenciar a infância e influenciam as concepções dos adultos em torno desse novo tipo de vivencia e de infância contemporânea [...]. (ALVES e COUTINHO, 2016 p.210)

Um dado que merece destaque é em relação à entrada das tecnologias nas

escolas. Isso aconteceu por volta dos anos 60 quando a sociedade industrial

começou a produzir em larga escala no país. Em relação às escolas tivemos uma

esperança de que com a inserção destes aparatos tecnológicos nas unidades de

ensino, iriamos modernizar as escolas e os problemas da educação e exclusão seria

solucionado. Mas isso não aconteceu!

Mais ou menos na década de 80 ainda não existiam muitos computadores nas

escolas. Isso começou a mudar quando as administrações públicas começaram a

perceber que um computador na sala de aula era símbolo de um status, de poder.

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Ele não era visto como um símbolo de transformação, de uma mudança na

educação. Papert (1994) nos diz:

Este crescimento de uma “cultura de computação escolar” estava distante de uma megamudança, mas atingira proporções que o tornaram incomparavelmente mais rico como fonte de discernimento sobre mudanças educacionais do que as limitadas experiências da década anterior. (PAPERT, 1994, p. 39)

Há alguns anos escrevi um comentário no meu blog (2010) a respeito da

dimensão estruturante da tecnologia, que esta relacionada ao uso que fazemos

destas tecnologias e que não devem estar associadas a uma necessidade ou

apenas a um modismo. A tecnologia é muito mais do que isso! Ela quebra as

barreiras do tempo e do espaço geográfico. Ela leva conhecimentos a lugares

muitas vezes que nem imaginaríamos que pudesse ser possível. Porque então não

lançar mão desta tecnologia e levá-la para as nossas salas de aula. Como cita

Kenski (2007): “As tecnologias são oportunidades aproveitadas pela escola para

impulsionar a educação, de acordo com as necessidades sociais de cada época.”

(KENSKI, 2007, p.101)

A tecnologia deve ser vista como aliada para a construção do conhecimento

dos nossos alunos. Sendo assim, a idéia de tecnologia como estruturante tem o

objetivo de desenvolver espaços de produção, autoria e partilha de conhecimentos

provocando mudanças nas nossas salas de aula, sendo agora o professor o

mediador desta nova “forma de saber’, mudando a sua postura de transmissor de

conhecimento para mediador. Perceber de que maneira poderemos integrar esta

nova forma de pensar ao conhecimento e saberes das crianças.

Nesta perspectiva, é preciso reconhecer que a escola deixou de ser a única

detentora de todas as formas de conhecimento. Com a popularização das

tecnologias de informação e comunicação - somente a escola - já não consegue

mais desenvolver aprendizagens para os alunos e as TIC são uma importante aliada

para esta construção dos novos saberes, como diz Levy (1999):

[...] Não se trata aqui de usar as tecnologias a qualquer custo, mas sim de acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de civilização que questiona profundamente as formas institucionais, a mentalidade e a cultura dos sistemas educacionais tradicionais e, sobretudo os papeis de professor e de aluno. (LEVY, 1999, p. 172)

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A professora Bonilla (2005) traz uma importante reflexão crítica sobre

Educação e a Sociedade da Informação relacionando esses conceitos e

estabelecendo conexões com o uso das tecnologias da informação (TIC) na

Educação. A autora fala da possibilidade de construção de uma Escola Aprendente

onde asTIC sejam adotadas enquanto elementos estruturantes de uma nova forma

de pensar e não apenas, como mais um recurso didático-pedagógico a serviço de

uma educação que não dá mais conta dos desafios impostos por esta sociedade do

conhecimento.

Sendo assim, o papel das tecnologias na educação seria o de favorecer a

construção de novos saberes, no qual a criança passa a ser um sujeito atuante

nesta formação de conhecimentos pois, esta criança esta inserida num contexto

social onde o uso da internet, jogos, celular, tablet, faz parte do seu cotidiano. A

escola deve criar meios para receber este aluno que é considerado um nativo digital

e que hoje não consegue mais aprender somente com o giz, livros e a voz do

professor.

Importante analisar também a questão do preparo deste professor para lidar

com os aparatos tecnológicos. O professor não foi formado para utilizar as

tecnologias da informação e comunicação na sala de aula, até porque muitos deles,

também não sabem. O que pude perceber é que alguns colegas fizeram um

treinamento básico- muitas vezes oferecido pela própria Secretaria de Educação-

que não contempla o domínio destes aparelhos. Pocho (2001) nos afirma que:

[...] trabalhamos com base no conceito de alfabetização tecnológica do professor, desenvolvido a partir da ideia de que é necessário o professor dominar a utilização pedagógica das tecnologias, de forma que elas facilitem a aprendizagem, sejam objeto de conhecimento a ser democratizado e instrumento para a construção de conhecimento. Essa alfabetização tecnológica não pode ser compreendida apenas como o uso mecânico dos recursos tecnológico, mas deve abranger também o domínio critico da linguagem tecnológica. (POCHO, 2001, p.14).

Uma das interações presentes entre crianças e tecnologias digitais se dá pelos

jogos. Crianças e jovens em contato com as tecnologias dos games. Na década de

90, Papert (1994) já nos dizia:

[...] os videogames, sendo o primeiro exemplo de tecnologia de computação aplicada à fabricação de brinquedos, foram sem dúvida a porta de entrada das crianças para o mundo da Informática. Estes brinquedos, habilitando as crianças a testarem ideias como trabalhar dentro de regras e estruturas preestabelecidas de um modo como poucos outros brinquedos são capazes

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de fazer, provaram ser capazes de ensinar os estudantes, de uma forma que muitos adultos invejariam, sobre as possibilidades e empecilhos de um sistema recém-apresentado. (PAPERT, 1994, p. 12).

Hoje em dia, muitas crianças já jogam games on line (no seu tablet, notebook

ou celular) conectados a Internet, com outros parceiros de todo o mundo. Eles não

precisam mais de um aparelho de videogame preso a uma TV. Levar esta tecnologia

para a escola se faz necessário pois, a criança sendo detentora de conhecimentos

adquiridos no âmbito do seu meio e com outros pares, ela poderá construir

conhecimentos e saberes mais significativo porque este universo já faz parte das

suas vivências no contexto em que está inserida.

Ao utilizar esta tecnologia dos games no contexto educacional iremos propiciar

a criança aprendizagens significativas porque esta criança é convidada a superar

desafios, resolver problemas. Porém, de uma forma divertida e lúdica. Alves e

Coutinho (2016) afirmam que: “Pesquisas apontam que jogar videogames leva à

melhora na capacidade perceptiva e na atividade de processamento cognitivo,

provoca reações mais rápidas, melhora a capacidade motora e a acuidade visual.”

(ALVES e COUTINHO, 2016 p. 45).

Elas ainda vão mais além ao afirmar que:

[...] nesse sentido podemos levantar a hipótese de que o jogar vários jogos e de diferentes gêneros seria capaz de ampliar o leque de possibilidades de aprendizagens e, como resultante disso, uma melhor percepção de seus

efeitos por parte dos sujeitos. (ALVES e COUTINHO, 2016 p.55)

Portanto, a utilização das tecnologias de informação e comunicação pelas

crianças é tão natural- e elas são consideradas nativas digitais por muitos autores-

que terminam influenciando no seu modo de aprender, pensar e se relacionar com o

outro. “Utilizar as TIC na educação será um desafio para o professor, pois, logo ele

perceberá que logica interativa destas tecnologias requer uma postura diferenciada

daquela da sala de aula tradicional”. (PRETTO, 2005, p.155)

Dessa maneira, as escolas devem atualizar os seus currículos e projetos

educacionais, como afirma Kenski (2007):

[...]na ação do professor na sala de aula e no uso que ele faz de suportes tecnológicos que se encontram a disposição, são novamente definidas as relações entre o conhecimento a ser ensinado, o poder do professor e a forma de exploração das tecnologias disponíveis para garantir melhor aprendizagem pelos alunos. (KENSKI, 2007, p.19)

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Trago na minha pesquisa anterior, Santos (2011) que uma escola que dispõe

de um currículo tradicional - onde a realidade externa não esteja incorporada ao

currículo – mas que existem práticas diferenciadas das que estão inseridas na

proposta pedagógica, comprova que mesmo com esta mudança no projeto polític

pedagógico da escola, nada mudou já que é preciso alterar o currículo deste local.

Como afirma Macedo (2013):

[...] o currículo é uma construção social incessante realizada por homens e mulheres com opções cultural e historicamente constituídas em termo de conhecimentos eleito como formativos, de alguma forma validados por uma comunidade de práticas, e organizados por uma opção político-formativa. (MACEDO. 2013, p.117)

E como poderemos mudar o nosso currículo? A partir da voz da criança.

Através da percepção sensível do que ela quer, pois ela mais do que ninguém sabe

o que realmente é importante. Portanto, ao compreender a infância como a

estruturação dos modos de ser e de se comportar, e ao escutar e ver esta criança

como um sujeito que produz e reproduz cultura na sociedade, somos convidadas a

pensar sobre currículo.

Dessa forma, por entender que nos atos de currículo estão presentes opções

éticas políticas e estéticas manifestadas nas escolhas pedagógicas e de valores,

penso que as práticas escolares devem ser organizadas de modo que o currículo,

por ser um campo eminentemente pedagógico, deva partir da experiência concreta

da criança, buscando evitar os modos adultocêntricos de concebê-la.

Atualmente, a Educação Infantil no Brasil está pautada em algumas leis tais

como a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a Convenção sobre

os Direitos da Criança, o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1989, a LOAS

anotada, a LDB (lei 12.796 de 04 de abril de 2013), o PNE Plano Nacional de

Educação e a Resolução nº5, de 17 de dezembro de 2009, que dispõem sobre as

Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil.

Partindo dessa legislação nacional, compreendo que princípios, entendidos

como marcos curriculares, podem nortear propostas na construção de documentos e

práticas nas instituições de Educação Infantil. Temos por premissa a garantia de

que:

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As crianças vivenciem situações de que possam conquistar,

progressivamente, sua autonomia demonstrando autocuidado e cuidado para

com o outro (responsabilidade e respeito) e para com o ambiente em que vive

(social e histórico-cultural); ·.

Desenvolvam suas potencialidades humanas nos campos afetivos, cognitivo,

motor, social, ético, político e cultural, tendo suas necessidades relacionadas

aos aspectos biológicos atendidas;

Garantir o acesso e permanência de todas as crianças (inclusive aquelas com

necessidades educativas especiais) na Educação Infantil.

Nesta perspectiva as escolas precisam renovar os seus currículos e projetos

políticos pedagógicos a partir destes elementos estruturantes. Uma escola que ainda

dispõe de um currículo que não incorpore tais estruturas, e não ouve as suas

crianças, não esta inserida num contexto social atual e vive ainda fadada ao século

passado e possivelmente, ao fracasso já que não podemos negar a realidade

tecnológica que estamos inseridos. Coscarelli (2006) nos traz:

Uma educação comprometida com o desenvolvimento e a construção de conhecimentos não pode restringir-se a oferecer caminhos únicos ancorados em currículos áridos e enciclopédicos, desvinculados de contexto significativos para o aluno. As ações educativas têm de ser redirecionadas para colocar o aluno como o centro da aprendizagem, levando em consideração seu papel ativo no ato de aprender. (COSCARELLI, 2006, p.24)

Desse modo, pensar em Currículo na Educação Infantil, significa conceber a

criança enquanto sujeito de direitos, que deve ser respeitada, valorizada. Além

disso, o seu conhecimento de mundo deve ser acolhido. Assim o professor assume

o papel de mediador na construção de conhecimentos e o espaço da Educação

Infantil como aquele em que as interações, vivências e a ludicidade compõem o

cotidiano.

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3. CAMPO DE PESQUISA

A pesquisa foi realizada em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI),

localizado na cidade de Salvador/Bahia. A Escola atende somente ao público de

Educação infantil, de 1 ano e 9 meses a 6 anos de idade, possuindo sete salas de

aulas com aproximadamente 200 crianças de famílias de classe baixa e média. As

crianças dos grupos de 2 e 3 anos estudam em período integral. Já, as crianças dos

grupos de 4 e 5 anos estudam em período parcial, ou seja, no turno matutino ou

vespertino.

O surgimento da Escola aconteceu em meados dos anos 60 com outro nome

que não o atual. O objetivo da Escola era atender aos filhos dos funcionários de uma

Instituição localizada no local (já que o terreno foi cedido por esta Instituição) e da

comunidade local. Sua estrutura era de pré-moldado em um terreno de 200m² com

três salas e aulas, sanitário, cozinha e um pequeno pátio reservado para recreação.

Os professores e funcionários já faziam parte do quadro da Secretaria Municipal de

Educação.

No ano de 1978 a escola passou por uma ampliação e foram construídas

mais 03 salas de aulas, totalizando 06 salas. Na década de 90, com o surgimento de

um cemitério, a área que ficava a Unidade Escolar foi negociada com a Empresa de

Água e Saneamento da Bahia – EMBASA- para construção de reservatórios de água

que deveriam abastecer o bairro de Brotas e adjacências, ameaçando a segurança

física das crianças e jovens que estudavam na escola, pois, em função da obra que

estava sendo realizada, ficavam confinados numa pequena área para recreação. A

escola foi ameaçada de desativação, gerando um clima de insatisfação e

insegurança perante a comunidade. O Governo do Estado da Bahia , por meio da

Embasa, assumiu publicamente o compromisso de construir uma nova escola.

A escola ganhou um novo espaço em 27 de outubro e 1998, com novas e

modernas instalações. É considerada uma escola de médio porte, composta de sete

salas de aula, diretoria, sala de leitura, brinquedoteca, depósito de material e

merenda, refeitório, laboratório de informática, uma sala de dança, uma sala e

música área coberta, área aberta, dez sanitários. Em 2011, a escola foi totalmente

reformada.

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No ano de 2015 a Unidade Escolar passou a atender somente ao público da

Educação Infantil em período parcial. Não houve mudança no quadro de

professores, nem formação específica para tais profissionais. Já em 2016, a Escola

passou a ser Centro Municipal de Educação Abrigo do Salvador, com turmas no

período integral e parcial.

O CMEI conta hoje com sete salas de aula, diretoria, secretaria, sala dos

professores, biblioteca e brinquedoteca (com sala de projeção), depósito de

materiais, cozinha, depósito de merenda, refeitório para funcionários, refeitório para

as crianças, área coberta, área aberta, parque infantil, 04 chuveiros e 06 sanitários.

O quadro de professores foi ampliado por conta da implantação da reserva de

carga horária para estes profissionais da educação no ano de 2016. A escola

passou a contar com professores Segundos Regentes. Os grupos agora possuem

02 professores ou até 4 regentes a depender da turma.

No quadro a seguir segue um breve inventario de materiais disponíveis na

escola para uso dos professores em sua prática pedagógica

Quadro 1- RECURSOS MATERIAS E DE APOIO A PRATICA DOCENTE

MATERIAS QUANTIDADES

Televisores 03

Aparelhos de som 07

Aparelhos de DVD 07

Computadores 03

Impressoras 02

Telão 01

Lousa Interativa 01

Kidsmart 02

Data Show 01

Caixas de Som 02

Microfones 02

Ventiladores de teto Vários

Ventiladores de Chão 07

Ar condicionados 02

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Bebedouros 03

Geladeira 01

Freezer 01

Fogão industrial 01

Micro-ondas 01

Revistas Vários

Livros paradidáticos Vários

Jogos/ brinquedos Vários

Fantoches Vários

Fantasias Vários

Fonte: Sheila Carine

A Unidade escolar tem por meta a universalização de igualdade de acesso

(porém os grupos e 2 e 3 anos só tem acesso a Instituição a partir de uma pré-

matrícula e um sorteio de vagas feito posteriormente), permanência e sucesso, da

obrigatoriedade da Educação Básica e da gratuidade Escolar. Desse modo, o seu

objetivo é contribuir para a melhoria da qualidade da educação, a inclusão social e a

formação de uma cultura de respeito à dignidade humana. (PPP, 2010).

Achei interessante e importante trazer a historia do Centro de Educação

Infantil como também da sua infraestrutura porque isso poderia trazer algumas

respostas para a pesquisa, a partir do conhecimento de como se deu a construção

deste espaço, dos frequentadores deste local e da importância que este CMEI tem

para o bairro, assim como do seu objetivo em relação a esta comunidade local.

3.1 SUJEITOS/ FONTE

Os sujeitos da pesquisa são crianças da Educação Infantil da sala de aula da

qual leciono. São crianças do Grupo 4 (aproximadamente 9 crianças), com idades

entre 3 anos e 6 meses a 5 anos e, os seus respectivos pais ou responsáveis. São

sujeitos que moram na comunidade local.

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4. TECNOLOGIAS NO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CMEI

O Projeto Político Pedagógico – PPP- foi elaborado a partir da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Artigo 22. Este documento data do ano de

2010 e foi elaborado pelos professores da época em que funcionava como a Escola

Municipal e que contava com os segmentos da Educação Infantil e Fundamental I.

Apesar de a Instituição ter passado a ser um CMEI no final do ano de 2014, o seu

PPP ainda não foi atualizado, sendo o Projeto Político Pedagógico do ano de 2010

que direciona esta Unidade Escolar.

O projeto politico pedagógico representa a oportunidade de a direção, a coordenação pedagógica, os professores e a comunidade, tomarem sua escola nas mãos, definir seu papel estratégico na educação das crianças e jovens, organizar suas ações, visando a atingir os objetivos eu propõem. É

o ordenador, o norteador da vida escolar. (LIBÂNEO: 2000, p.48)

Este documento é baseado em uma proposta construtivista e sócio

interacionista pautado nas teorias de Jean Piaget e Lev Vygotsky. O PPP traz Piaget

e informa que o conhecimento é uma construção continua onde o indivíduo está

sempre mudando de um estado elementar para outros mais complexos, através das

trocas que faz com o ambiente.

Vygotsky é citado no PPP quando afirma que a educação na perspectiva

sócio interacionista é considerada como um processo de socialização, trocas e inter-

relações entre indivíduos, sendo que a escola deve propiciar estas interações para

que a criança torne-se um ser autônomo, formando novos conceitos, pois quanto

mais ele aprende, mais se desenvolve mentalmente.

A Unidade Escolar (que agora é Centro Municipal de Educação Infantil) define

uma das suas metas a partir dos diversos problemas de ordem social e econômico

das famílias das crianças que estudam neste espaço:

Se faz necessário neste contexto que seja resgatada autoestima dessas crianças com atividades que proporcionam a vivência de experiências prazerosas que possibilitem a sua socialização assim como a formação de atitudes, procedimentos e conceitos, incentive a criatividade e à descoberta, respeitando suas características físicas, psicologias, sociais e culturais. (Projeto Politico Pedagógico, 2010 p. 39).

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A meta descrita anteriormente nos remete a antiga função das creches que

era de cuidadora da saúde física e higiene da criança, também com um enfoque

assistencialista mas agora, com a responsabilidade de educar esta criança. Macedo

(2013) nos informa: “Entendemos que uma evidência significativa deste

reconhecimento social e da pertinência desta mudança histórica é a atenção que

vem sendo dada ao tema nos meios acadêmicos e na sociedade como um todo”.

(MACEDO: 2013, p. 172).

Apesar da Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, que regulamenta as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCMEI- já existir na

época da elaboração do PPP da Unidade Escolar, não percebi nenhuma referencia

a tal documento, sendo utilizado somente a LDB, onde o destaque pra a educação

infantil é:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a

ação da família e da comunidade. (LDB, Art. 29, Tit. V, Cap. III).

Ao longo do Projeto Político da Escola vem descrito varias dificuldades pela

qual a Unidade Escolar passa. Uma das que me chamou atenção, pois trata da

relação da comunidade externa com a escola, além de ser uma dificuldade da

Educação Infantil segundo a UE, é a ausência dos pais ou responsáveis na

instituição. “Uma das grandes dificuldades da Educação Infantil é a ausência das

famílias, impossibilitando a cooperação das mesmas no desenvolvimento das

crianças”. (Projeto Politico Pedagógico, 2010 p. 39).

No que se refere ao uso das Tecnologias da Informação e Comunicação o

PPP possui um capitulo que trata sobre este assunto. Porém, cita apenas um projeto

de Inclusão Sócio Digital. Este projeto pertencia à escola e era aberto tanto para os

alunos da Unidade Escolar quanto para as pessoas da comunidade. O objetivo geral

deste projeto seria de representar uma grande possibilidade de levar mais

conhecimento aos estudantes, sendo ainda um importante instrumento de melhoria

na qualidade e vida.

Sendo assim, a escola tinha como meta e principal objetivo, diminuir a

desigualdade social e digital, bem como promover a autoestima dos alunos tanto da

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comunidade interna quanto da comunidade externa. Isso esta explicito na

elaboração do seu PPP, em cima do Artigo 22 da LDB:

A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (LDB, Art. 22, Tit. V, Cap. III).

A Unidade Escolar também tinha outros objetivos relacionados aos usos das

Tecnologias de Informação e Comunicação no seu projeto de inclusão Sócio Digital

tais quais:

Possibilitar aos estudantes a capacitação necessária para utilizar os recursos

básicos de informática em atividades escolares e domésticas.

Permitir que o corpo docente e discente utilize o laboratório de informática

para por em prática às atividades e projetos desenvolvidos de forma

interdisciplinar.

Oferecer aos alunos atividades lúdicas e diversificadas que favoreça o

processo de ensino aprendizagem

Incentivar a pesquisa utilizando os programas e recursos tecnológicos

disponíveis na escola.

A Instituição demostrou, através deste projeto, que era importante o uso das

Tecnologias no ambiente escolar, recomendando a necessidade de “alfabetização

digital” em todos os níveis de ensino. Noffs afirma:

Se falar em inclusão digital na educação, não basta instalar computadores em escolas públicas. É preciso capacitar o professor para que ele transforme a sua aula utilizando a ferramenta digital. Além disso, seria preciso manter o laboratório de informática permanentemente aberto, com um profissional que o assumisse e ficasse responsável pela alfabetização digital. Primeiro, é preciso quebrar a barreira do acesso. Depois, é preciso manter esse acesso. (NOFFS,2003, p. 11).

Umas das preocupações do CMEI que vale ser ressaltar esta coerente com

os estudos de Bonilla (2005) ao destacar a importância de a escola manter o seu

laboratório aberto à comunidade externa, como forma de favorecer o processo de

construção da cidadania.

Para tanto, a escola, além de alterar suas estruturas físicas e inserir as tecnologias no seu contexto, necessita aprofundar a visão que tem sobre as tecnologias, sobre o seu papel enquanto agente educativo articulado em rede, questionar os significados instituídos e as situações novas com que se defronta... (BONILLA: 2005 p. 71 e 72).

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Contudo, este laboratório de informática ou Infocentro como até hoje é

chamado, não existe mais. Após uma chuva o laboratório foi desativado. No espaço

hoje existe uma brinquedoteca e uma lousa interativa que, na maioria das vezes,

serve apenas para a projeção de DVD. Não existe no Projeto Politico Pedagógico da

Escola outra proposta de utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação

como possibilidade de aprendizagem das crianças de dois a seis anos de idade (ou

do fundamental I, pois o PPP é antigo) além desta que era a utilização do Infocentro.

O CMEI, que também não atualizou o seu PPP, nos demostra talvez um retrocesso

quando percebemos a fala de Pocho que nos diz:

[...] procuramos estabelecer as bases em que se fundamentam, em nossa concepção, a relação educação e tecnologia, pois sabemos que a simples presença da tecnologia na sala de aula não garante qualidade nem dinamismo a pratica pedagógica. No entanto, já que as tecnologias fazem parte do nosso dia-a-dia trazendo novas formas de pensar, sentir e agir, a sua utilização na sala de aula passa a ser um instrumento para contribuir pra a inserção do cidadão na sociedade, ampliando sua leitura de mundo e possibilitando sua ação critica e transformadora. (POCHO, 2003, p.8).

O Projeto Politico Pedagógico de uma escola deve ser a cara desta escola, a

sua porta de entrada. A filosofia que acredita e as ideias que pretendem construir na

sua criança devem estar presentes no PPP. Ao analisar o Projeto do CMEI

pesquisado puder perceber uma primeira situação: o Projeto Politico Pedagógico

desta escola esta defasado. Ele data do ano de 2010 onde ainda era uma escola de

Educação Infantil e Ensino Fundamental. Hoje, seis anos se passaram, a escola

virou CMEI no fim do ano de 2014 e seu Projeto, a sua ideologia, esta focada ainda

no PPP de 2010.

Em relação ao uso das tecnologias de informação e comunicação, esse era

restrito ao uso do Infocentro: laboratório de informática, que não existe mais. O que

posso perceber é que a tecnologia não faz parte deste contexto escolar nem no

documento oficial – PPP- nem cotidianamente através da pratica dos educadores

deste local apesar do CMEI informar que o uso das TIC é muito importante nos dias

de hoje.

Papert já afirmava no século passado que: “A escola não virá a usar os

computadores “adequadamente” porque os pesquisadores lhe dizem como fazê-lo.

Ela virá a usá-los bem (se o fizer algum dia) como uma parte integral de um

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processo de desenvolvimento coerente”. (PAPERT: 1994, p.43). Mas isso precisa

primeiramente estar no PPP da escola. Um PPP construído pelos professores, pais

e principalmente pelas crianças. Pela voz das crianças. Elas precisam ser ouvidas e

consultadas porque, somente assim, a aprendizagem será significativa para elas:

quando dermos voz as nossas crianças.

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5. TIC NA SALA DE AULA :O QUE DIZEM AS CRIANÇAS

A pesquisa de campo aconteceu na época em que o CMEI ainda funcionava

em período parcial. Ela ocorreu na minha sala de aula, no turno vespertino, durante

as nossas aulas nos meses de outubro a dezembro do ano de 2015 num período de

21 dias de observação.

Apesar de não fazer parte do currículo das crianças, estas observações e

atividades foram realizadas no tempo pedagógico disponibilizado pela Unidade

Escolar. Contei com a ajuda de uma ADI – Auxiliar de Desenvolvimento Infantil –

que trabalha nesta turma, assim com a participação de nove crianças.

Os nomes das crianças foram preservados para manter a integridade das

mesmas, preferindo assim usar uma letra do alfabeto para nomeá-las. Realizei

também uma adaptação das falas das crianças para que o texto torne se mais

compreensível.

Sendo assim, apesar das TIC não fazerem parte do currículo destas crianças

da Educação Infantil, resolvi falar sobre estes aparatos tecnológicos com as crianças

do meu grupo por saber que estes aparelhos já fazem parte da vida de muitas delas

que estão em contato comigo todos os dias. Achei importante trazer este assunto

para sala de aula. Percebi isso através das conversas que tive com as crianças,

principalmente nas Rodas de Conversa e por existir, na nossa sala de aula, um

Kidsmart: computador revestido por um móvel colorido que tem um aspecto de

brinquedo.

No ano de 2008 a UE recebeu dois Kidsmarts. O computador foi doado pela

Empresa IBM que promovia uma ação mundial no qual o objetivo era contribuir para

a melhoria da educação básica. Várias escolas do município receberam e a nossa

foi uma das contempladas. O Kidsmart também fez parte da pesquisa sendo

utilizado em algumas atividades de observação.

Nesta perspectiva, tendo em vista os objetivos listados para esta pesquisa, os

resultados indicaram muitas descobertas em relação ao uso das tecnologias de

informação e comunicação pelas crianças: seja através de suas falas ou através dos

registros de atividades que foram escritos por elas ou pela análise dos resultados

dos questionários produzidos pelos pais.

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Em relação à percepção das crianças sobre as Tecnologias de Informação e

Comunicação que as cercam, a partir de uma atividade chamada apresentação de

um Smartphone, pude perceber que as crianças enxergam o celular e o smartphone,

como uma tecnologia que serve para o entretenimento. Seja a partir da possibilidade

de baixar e assistir vídeos, seja através de registros de fotografias ou mesmo

através do game ou jogo, tal como observamos nos diálogos abaixo:

A Criança L conta que o aparelho celular serve para jogar, ver e tirar fotos e

assistir vídeo. Perguntado se ela possui um aparelho ela informa:

Criança: Eu tenho um celular.

Prof.ª: Qual o número do seu smartphone?

Criança: Não tem número porque ele é de brinquedo. E é rosa das

Princesas. Tem que ligar no botão que fica ao lado (apontando para

o smartphone que esta na sua mão) para ele funcionar.

Profª: Que legal. E você faz o que com o seu aparelho?

Criança: Eu brinco com a minha irmã de conversar no zap, assistir

vídeos e muitas coisas.

A Criança I relata que o aparelho serve para jogar e tirar fotos. Perguntado se

ela possui um aparelho ela diz:

Criança: Tenho sim.

Profª: Qual o número do seu smartphone?

Criança: Não tem chip minha pró. Ele só serve para eu jogar e tirar

fotos do meu irmão, pai e mãe.

Profª: Quais os jogos que você mais gosta?

Criança: O jogo do macaco e o do Bem 10. Meu irmão tem um

celular com chip e ele fica no “zap”.

Profª: Você não tem whatsapp?

Criança: Não minha pró porque eu sou criança.

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A função primeira do celular – que seria fazer ligações telefônicas entre as

pessoas - não aparece registrada nestes relatos (somente pela criança S que

dialoga com a criança A) que informa que a sua mãe liga para uma tia.

Criança S: Minha pró isso é um telefone.

Criança A: Não é um telefone e sim um celular.

Profª: Qual diferença de um celular e um telefone criança A?

Criança A: O telefone é para ligar para as pessoas e um celular

serve para jogar.

Criança S: Mas o telefone da minha mãe serve para jogar e ligar

para as pessoas.

Estes diálogos servem para percebermos a visão da criança em relação ao

smartphone e sua mudança de função em relação ao celular: antes o celular servia

apenas para telefonar. Hoje em dia, esta é uma das funções que menos é utilizada,

na visão das crianças. Kenski (2007) nos diz que: “A ampliação e a banalização do

uso de determinada tecnologia impõem-se à cultura existente e transformam não

apenas o comportamento individual, mas o de todo o grupo social” (KENSKI, 2007,

p.21).

Em relação ao uso do aparato tecnológico tablet, na Roda de Conversa foi

apresentado às crianças esse aparelho. Depois que eles o manusearam, lancei a

seguinte pergunta: Crianças, quem sabe me dizer que tecnologia de informação e

comunicação é essa que esta em minhas mãos?

Todas as crianças que participaram desta roda disseram que era um tablet.

Somente a Criança Z falou que se tratava de um computador. Todos disseram que

servia para jogar. Enquanto me respondiam as perguntas, elas manuseavam o

tablet e jogavam o game Subway Surf: game que tem por objetivo correr o mais

longe possível em um mundo sem fim, evitando os obstáculos gerados

aleatoriamente que exigem que o jogador salte (ponta do dedo para frente), role

(ponta do dedo para trás) e desviem dos trens que se aproximam de uma forma

aleatória. Ele possui várias fases e à medida que o jogador vai passando as fases,

o game vai apresentando mais obstáculos Fonte:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Subway_Surfers)

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Diálogo com Criança R:

Profª: Que aparelho é esse?

Criança: Isso é um tablet pró.

Profª: Para que serve?

Criança: Ele serve para jogar os jogo e trabalhar.

Profª: Você tem um aparelho desse?

Criança: Eu tenho um tablet e foi meu pai que me deu.

Profª: Você usa e para que você usa o seu tablet?

Criança: Eu uso para jogar os jogos.

Profª: E você gosta deste aparelho?

Criança: Eu gosto de jogar o jogo que “constrói casas” e Subway

Surf.

Enquanto ia jogando o game Subway Surf, a criança ia conversando comigo:

Criança: “Minha pró eu consegui passar de fase” – a criança passou da 1ª Fase

Criança: “Tô eu outra fase. Já foi duas” crianças passou para 2ª Fase.

Criança: “De novo pró” – a criança avança mais uma fase.

Em um momento a criança para de jogar e olha para mim com cara de

felicidade e me diz: “minha pró eu adoro esse jogo”. E continua a jogar, sem tirar os

olhos da tela: “Já... corre, corre, corre”.

Após um tempo disse a ele que agora era hora de fazermos outra atividade e

ele dispara: “Poxa pró deixa jogar mais um pouquinho”.

Enquanto esta atividade ocorria na sala de aula, as outras crianças

encontravam –se nos ambientes em que mais lhe agradavam: cantinho da leitura ou

no salão de belezas ou no consultório médico ou no próprio Kidsmart. Para isso a

ajuda da Minha ADI foi primordial para o andamento das atividades de observação e

entrevista.

Neste momento em que as crianças poderiam fazer as suas escolhas por

determinados ambientes da sala, percebo o quanto é importante e necessário

brincar. Através da brincadeira a criança vai construindo conceitos e quanto mais ela

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brinca mais criativa ela fica. Kishimoto (2009) nos afirma que: “Quando desenvolvido

livremente pela criança, o jogo tem efeitos positivos na esfera cognitiva, social e

moral”. (KISHIMOTO, 2009, p.102)

Diálogo com a Criança Z:

Profª: Que aparelho é esse?

Criança: Um computador.

Profª: Para que serve?

Criança: Ele serve para jogar.

Profª: Você tem um aparelho desse?

Criança: Eu não tenho nem ninguém na minha casa tem dinheiro

para comprar.

Profª: Você já usou este aparelho em algum lugar ?

Criança: Só uma vez que vi na casa da minha tia. Ela tem um que

ela assiste vídeo, mas ela não deixa ninguém pegar para não

quebrar.

Eu conversava com a criança e perguntava se ela conhecia o jogo Subway Surf

e ela não conseguia me escutar de tão fascinada que estava com o aparelho.

Preguntei a ela quatro vezes e nada de repostas. Até que a criança parou do nada e

me respondeu que não sabia, nem estava conseguindo jogar direito.

Deixei a criança ficar mais uns dez minutos com o tablet e esta me falou que

nunca tinha brincado em um aparelho daqueles. A criança demostrou não ter muita

familiaridade com o mesmo, pois não sabia como manuseá-lo.

A partir desta atividade pude perceber que as crianças enxergam o tablet como

uma tecnologia que serve unicamente para o entretenimento: jogar. O game

terminou fazendo com que esta tecnologia fosse difundida mais rapidamente entre

os membros da sociedade, Silva (2006). E vai mais além: “[...] ao mesmo tempo, a

iniciação pelo jogo, pelo lúdico, a uma forma de cultura informática que se propaga,

se difunde através da sociedade. O jogo torna-se assim o modo de difusão

privilegiado das novas tecnologias junto ao público.” (SILVA, 2006, p. 37)

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Percebo também que apesar da grande maioria destas crianças já estarem

familiarizadas com esta tecnologia, existe uma criança no grupo que,

aparentemente, nunca tinha manuseado tal aparelho, negando a ideia de que todas

as crianças nascem nativas digitais como informa Perrenoud: “As crianças nascem

em uma cultura em que se clica...]” (PERRENOUD, p. 107)

Ao realizar outra roda de conversa com as crianças onde a proposta era saber

se elas lembravam quais as tecnologias de informação e comunicação que fizemos

uso durante a semana, levanteis algumas questões para o grupo:

Quais Tecnologias de Informação e Comunicação vocês conhecem?

Quais vocês têm em casa?

Quais temos na nossa Escola?

Qual tecnologia você mais gosta e o por quê?

Na Roda de Conversa as crianças foram pontuando e informando quais

tecnologias de informação e comunicação conheciam: tablet, celular, computador,

televisão, entre outros. Após esta conversa, elas foram convidadas a colorir uma

tarefa onde iriam dar um colorido especial às imagens que representam as TIC.

Após a atividade concluída, as crianças me explicaram porque coloriram tal imagem

e o uso que fazem desta tecnologia.

Diálogo com a Criança J

Profª: Quais tecnologias você conhece e para que serve?

Criança: Computador: serve para jogar.

Celular: serve para jogar, ver vídeos.

Lápis: serve para escrever.

Rádio: serve para ouvir som.

Lapiseira: serve para fazer a ponta do lápis.

Televisão: serve para jogar vídeo game rosa.

Profª: Você tem um vídeo game rosa?

Criança:Tenho sim pró. Eu jogo o jogo da Princesa Sofia. Se eu

trouxer você coloca na nossa televisão para a gente brincar?

Profª: Coloco sim!

Criança: Vou pedir a minha mãe e amanhã eu trago.

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Diálogo com a Criança L:

Profª: Quais tecnologias de informação e comunicação você conhece

e para que serve?

Criança: “Putador” (Computador) - serve para jogar e assistir Pepa

“Não sabia o nome e mostrou o desenho na atividade” (Joystick)-

serve para jogar vídeo game.

Televisão - serve para assistir desenho e ver a novela “Além do

Tempo” e “Malhação”.

Lápis - serve para pintar .

Pude perceber através desta atividade, que as crianças conseguem distinguir

tecnologias que estão presentes no cotidiano e o uso que fazemos delas.

A criança J e a criança L descrevem o lápis e lapiseira como tecnologia e para

que servem. Na verdade tudo o que é produzido pela espécie humana e utilizado por

ela é tecnologia. Porém, a análise desta tarefa era sobre as tecnologias de

informação e comunicação que elas conhecem. Segundo Kenski (2007): “As

tecnologias são tão antigas quanto à espécie humana. Na verdade, foi à

engenhosidade humana, em todos os tempos, que deu origem às mais diferenciadas

tecnologias.” (KENSKI, 2007, p.15)

Outro relato bastante significativo para perceber o olhar da criança a partir

das TIC que a cercam veio através de outra atividade realizada. Fizemos uma Roda

de Conversa e falávamos sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação.

Relembramos aquelas que usamos diariamente. .

Procurei saber das crianças quais eram as tecnologias de informação e

comunicação que elas conheciam e a sua preferida. Foi lançada para turma a

seguinte pergunta: Qual a Tecnologia de informação e comunicação que vocês mais

conhecem? Na Roda de Conversa eles foram pontuando e informando quais

Tecnologias que eles conheciam: tablet, celular, computador, televisão, rádio,

kidsmart, entre outros. Após esta conversa, chamei as crianças individualmente e fiz

estas seguintes perguntas:

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1- Qual tecnologia de informação e comunicação você conhece?

2- Qual você mais gosta?

Após elas responderem tais perguntas pedi para que as crianças, através da

utilização da massa de modelar, reproduzissem duas tecnologias que elas tinha me

respondido anteriormente. Uma seria a que elas mais gostassem e a outra a que

elas conheciam. Após conversar com todas elas fizemos uma exposição das

tecnologias que elas produziram.

Diálogo com Criança A:

Profª: Qual a tecnologia de informação e comunicação você

conhece?

Criança: Computador, tablet. Minha pró, como é o nome daquela

tecnologia que passa o papel?

Profª: Impressora.

Criança: Sim pró. Eu também conheço celular e rádio.

Profª: Qual você mais gosta?

Criança: O tablet.

Profª: Quais aparelhos você modelou?

Criança: O tablet e o celular.

Diálogo com a Criança S:

Profª: Qual a tecnologia de informação e comunicação você

conhece?

Criança: Telefone, rádio, tablet e notebook.

Profª: Qual você mais gosta?

Criança:Notebook.

Profª: Quais aparelhos você modelou?

Criança: Notebook e telefone.

A partir destes dados produzidos pelas crianças comprovei novamente qual a

tecnologia de informação e comunicação que as crianças preferem, apesar de

algumas não terem tal aparelho que escolheram, em suas casas, informando depois

o motivo de tal escolha. Elas também puderam relembrar quais tecnologias

conhecem e algumas que fazem parte do seu cotidiano. Foi uma atividade divertida

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e diferente onde elas puderam usar a massa de modelar para reproduzir as

tecnologias de informação e comunicação que foram listadas anteriormente por eles

durante a atividade. Ao final da atividade, fizemos uma exposição das TIC

produzidas por eles. Pretto (2005) afirma:

Para trabalhar com as tecnologias da informação e da comunicação na sala de aula, o professor terá que se colocar aberto para o novo, o inesperado, pois cada aluno irá trilhar caminhos diferentes e difíceis de serem previstos. É nesse sentido que acreditamos que, com a interatividade, não será possível haver determinações a priori, e o professor não será mais transmissor de conteúdos. É de se esperar que ele esteja disposto e disponível a abrir um leque de possibilidades par que o aluno realize escolhas, relacionando os novos saberes com outros já construídos. (PRETTO, 2005, p. 161)

No que diz respeito ao segundo objetivo deste estudo que é o de entender

como as Tecnologias de Informação e Comunicação afetam a educação das

crianças, propus uma atividade chamada apresentação de um Notebook. Gostaria

de saber das crianças se elas conheciam um notebook e lancei tais perguntas ao

grupo:

1. Que aparelho era aquele?

2. Para que servia?

3. Se algum deles tem?

4. Se eles usavam e para que?

5. Se eles gostavam?

Na Roda de Conversa foi apresentado as crianças um notebook. Eles

manusearam o aparelho e fui questionando: Quem sabe me dizer que Tecnologia de

Informação e Comunicação é essa que está em minhas mãos? Todas as crianças

que participaram desta roda disseram que era um computador. Somente a Criança

D falou que se tratava de um notebook. A maioria disse que servia para jogar.

Enquanto me respondiam as perguntas, elas manuseavam o notebook e mexiam em

todos os programas.

Diálogo com a Criança L:

Profª: Que aparelho é esse?

Criança: Isso é um computador.

Profª: Para que serve?

Criança: Ele serve para assistir desenho na sala do cinema.

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Profª: Você tem este aparelho na sua casa?

Criança: Na minha casa não tem não, pró.

Profª: Mas você já usou este aparelho?

Criança: Eu não porque não tenho.

Profª: Mas você está gostando de mexer nele agora?

Criança: Não porque eu não sei. Pró, coloca um desenho pra

gente assistir?

Profª: Hoje não pode porque a nossa rotina é outra. Amanhã nós

iremos para a biblioteca e assistimos ok? Mas você não está

gostando de usar o notebook?

Criança: Não, minha pró.

Diálogo com a Criança Z:

Profª: Que aparelho é esse?

Criança: Computador.

Profª: Para que serve?

Criança: Ele serve para assistir DVD e desenho.

Profª: Você tem este aparelho na sua casa?

Criança: Eu não tenho em casa porque minha mãe não trabalha e

não tem dinheiro pra comprar.

Profª: Mas você já usou este aparelho?

Criança: Eu nunca brinquei porque na minha casa não tem.

Profª: Mas você está gostando de mexer nele agora?

Criança: Eu gosto porque a senhora coloca os desenhos para a

gente assistir.

Profª: E qual o desenho você gosta de assistir?

Criança: Eu gosto de assistir o desenho da menina bonita do laço

de fita e o desenho do Negrinho do Pastoreio.

Esta atividade mostrou que as crianças enxergam o notebook primeiramente

não com esta nomenclatura, mas com o nome de computador. Um computador que

serve para ser utilizado em todos os ambientes porque agora ele é portátil, diferente

do Kidsmart que possuímos na sala de aula que não pode ser carregado para outros

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espaços por conta do tamanho. Através dos diálogos destas crianças percebemos

que elas comparam o notebook a uma televisão, pois elas pedem para ver vídeos.

Sendo assim a linguagem áudio visual mostra-se muito importante para as

crianças da Educação Infantil e isso se confirma através das falas das crianças L e

Z. Ao assistir e ouvir um filme, clip musical ou desenho animado, a criança pode

estabelecer uma relação daquilo que já conhece com aquilo que é novo para ela,

além de desenvolver a linguagem oral que é uma das linguagens primordiais para o

desenvolvimento da criança na Educação Infantil.

A maioria associa a utilização desta tecnologia ao uso do trabalho - podemos

ver isso através dos relatos onde algumas crianças informam que os pais possuem

para trabalhar ou fazer pesquisas.

Diálogo com a Criança A:

Profª: Que aparelho é esse?

Criança: Computador.

Profª: Para que serve?

Criança: Ele serve para jogar e assistir DVD. Pró meu pai faz

trabalho dele da escola no computador que ele comprou para

estudar.

Profª: Que legal. E você também faz?

Criança: Não. Porque a senhora não passa dever no computador.

[OBS: nesta hora não contive meus risos]

Profª: Então você tem este aparelho na sua casa?

Criança: Meu pai que tem.

Profª: Mas você já usou este aparelho?

Criança: Eu uso para assistir o DVD do Sítio do Pica Pau Amarelo

e jogar o jogo do Rato Mickey.

Profª: E você gosta de usá-lo?

Criança: Eu gosto porque meu pai e minha mãe jogam comigo e

assistem ao Sítio do Pica Pau Amarelo.

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Com este relato percebe-se um dado muito importante sobre o

desenvolvimento da criança: ela aprende através da imitação. As crianças se

comportam como os adultos que estão ao seu redor. A Criança A demostra este

desejo de imitar o pai quando relata que não faz o dever porque eu não faço

atividades no computador, indo mais além demonstrando o desejo de usar o

computador como um adulto. Kishimoto (2011) nos diz que:

É importante a imitação de esquemas de adultos, mas não por intervenção direta. A influencia indireta permite a observação, identificação e ação intencional da criança no sentido de repetir e recriar, contribuindo para o seu desenvolvimento oferecer oportunidades para visualizar diferentes formas de fazer estimula o surgimento de imitações e repetições de ações. (KISHIMOTO, 2011, p.146).

Algumas crianças relatam também que não utilizam este aparato tecnológico

porque não tem na sua casa e vão além: porque os pais não tem dinheiro para

comprar. Outro dado relevante é que elas informam que a utilidade desta tecnologia

também é a exibição de filmes, seja porque o utiliza desta maneira, ou seja, porque

ele é bastante utilizado assim na Unidade Escolar, com a ajuda de outra tecnologia

que possuímos na escola que é a Lousa Interativa. Este relato ocorreu durante o

mês de novembro e estávamos com o Projeto da Consciência negra no CMEI. Por

isso uma das crianças traz os filmes Negrinho do Pastoreiro e Menina Bonita do

Laço de Fita.

Sendo assim, trago Pocho (2001) que nos afirma que:

Consideramos que as tecnologias merecem estar presentes no cotidiano escolar primeiramente porque estão presentes na vida, mas também para: a) diversificar as formas de produzir e apropriar-se do conhecimento; c) permitir aos alunos, através da utilização da diversidade de meios,

familiarizam-se com a gama de tecnologias existentes na sociedade.” (POCHO,2001, p. 15).

Percebemos que no CMEI, que o notebook é apenas utilizado para a exibição

de filmes, clips musicais ou desenhos animados. Esta tecnologia tem muito mais

para oferecer as nossas crianças do que somente a simples exibição de filmes. O

desejo da criança A em utilizar o notebook para outros fins – neste caso “fazer

dever”- demonstra que nós, enquanto educadores, não devemos subutilizar uma

tecnologia que poderá nos dar varias possibilidades de uso simplesmente utilizando-

a para exibir imagens. A linguagem áudio visual é de extrema importância para o

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desenvolvimento da criança, mas temos outros aparatos tecnológicos para isso

como televisão e o DVD. Kenski (2007) nos afirma que:

As tecnologias comunicativas mais utilizadas em educação, porém, não provocam ainda alterações radicais nas estruturas dos cursos, na articulação entre os conteúdos e não mudam as maneiras como os professores trabalham didaticamente com seus alunos. Encaradas como recursos didáticos, elas ainda estão muito longe de serem usadas em todas as suas possibilidades para uma melhor educação. (KENSKI, 2007, p. 45).

Outra atividade que nos ajuda a entender como as Tecnologias de Informação

e Comunicação afetam a educação das crianças foi realizada na Roda de Conversa,

onde conversamos novamente sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação

que as crianças conheciam. Gostaria de saber se elas lembravam e quais eram as

tecnologias de informação e comunicação que elas realmente conheciam ou já

tinham visto. Levantei o seguinte questionamento: Quais as Tecnologias de

informação e comunicação vocês conhecem?

Na Roda de Conversa as crianças foram pontuando e informando quais

aparatos tecnológicos conheciam: tablet, celular, computador, televisão, vídeo game,

rádio. Alguns diziam também para que estas tecnologias eram usadas. Após esta

conversa, eles receberam uma folha de papel em branco e desenharam as TIC que

conheciam. Depois da atividade concluída, as crianças me explicaram o que

desenharam.

Criança B: Computador, celular, notebook e vídeo game.

Criança R: Rádio, computador, vídeo game, celular e televisão.

Criança J: Tablet, rádio, televisão, celular e computador.

Criança S: Celular e televisão.

Criança L: Computador, televisão, câmera de tirar foto, tablete, celular e rádio.

Criança Z: Televisão, computador e computador da sala (Kidsmart).

Criança I: Computador da sala (Kidsmart) rádio, televisão e celular.

Através desta atividade pude perceber novamente – já que anteriormente foi

aplicada uma atividade onde elas coloriram as TIC - que as crianças já conseguem

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distinguir quais são as tecnologias de informação e comunicação que estão

presentes no cotidiano da sua casa e da escola. Pretto(2005) afirma:

As TIC e a sala de aula já estão imbricadas, sendo que nesse processo estão se configurando novos contextos que vêm problematizar e potencializar as relações pedagógicas. Nesse sentido elas não vêm para solucionar os problemas educacionais, mas para trazer novas questões para o debate, outra visão de processo pedagógico. (PRETTO,2005 p. 131)

As TIC e a educação estão tão perfeitamente unidas que podem ser

confundidos uma com a outra. Mas as tecnologias de informação e comunicação

não vêm para salvar os problemas da educação. Não tem como se questionar que

as TIC trouxeram mudanças consideráveis para a educação, muitas vezes

mudanças positivas. Porém, equipar uma escola com modernos aparatos

tecnológicos não diz muita coisa. Para haver uma mudança na nossa educação

primeiro deveremos formar professores em relação ao uso pedagógico das TIC para

que assim - no futuro – possamos utilizar criticamente e com responsabilidade este

conhecimento das crianças nas nossas salas de aula. Não podemos esquecer que

esta tecnologia é usada pela criança fora da escola e, esta mesma criança, nos

cobra o uso destes artefatos tecnológicos, como verificamos novamente através do

diálogo com a Criança A:

Diálogo com a Criança A:

Profª: Que aparelho é esse?

Criança: Computador

Profª: Para que serve?

Criança: Ele serve para jogar e assistir DVD. Pró meu pai faz

trabalho dele da escola no computador que ele comprou para

estudar.

Profª: Que legal. E você também faz?

Criança: Não. Porque a senhora não passa dever no computador.

Não nos cabe mais uma sala de aula onde somente a transmissão de

conhecimentos do professor se faça presente. O professor do século XXI deve

oferecer possibilidades de construir saberes e aprendizagens a partir do contexto

que esta criança vive e dar voz ao que a criança quer aprender. A criança precisa

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ser ouvida, questionada, desafiada. Não podemos mais ter salas de aula como

afirma SILVA (2006):

Tradicionalmente, os professores vêm reproduzindo a sala de aula centrada na transmissão de informações. Tradicionalmente, a sala de aula é identificada com o ritmo monótono e repetitivo associado ao perfil de um aluno que permanece demasiado tempo inerte, olhando o quadro, ouvindo récitas, copiando e prestando contas. Assim tem sido a pragmática comunicacional da sala de aula: o falar/ditar do mestre. (SILVA, 2006, p. 21).

Outro relato bastante significativo para entender como as Tecnologias de

Informação e Comunicação afetam a educação das crianças veio através de outra

atividade realizada. Estávamos na Roda de Conversa e conversávamos sobre as

Tecnologias de Informação e Comunicação que existem na nossa escola e levantei

a seguinte questão: Quais as tecnologias de informação e comunicação que existem

na nossa escola?

Na Roda de Conversa as crianças foram pontuando e informando quais

Tecnologias que elas conheciam: tablet, celular, computador, televisão, rádio.

Perguntei a elas se todos aqueles aparatos tecnológicos existiam na nossa escola e

as convidei a fazer um passeio pela Unidade Escolar. Passamos por vários espaços

– secretaria, diretoria, biblioteca, cozinha, banheiro, brinquedoteca – e elas iam

reconhecendo as TIC nos espaços em que estávamos inseridos.

Sala da direção – computador, celular, impressora.

Secretaria – computador, impressora e celular.

Parque – não tem TIC

Sala de aula – rádio, televisão e kidsmart.

Biblioteca – notebook, lousa interativa (a maioria chama de tv grande), rádio,

Após o passeio, retornamos a sala de aula e elas foram convidadas a ilustrar

uma tarefa onde elas iriam dar um colorido especial às imagens das TIC que

existem na nossa escola. Depois da atividade concluída, as crianças me disseram

quais tecnologias elas coloriram.

Criança S: Computador, impressora, celular, notebook, rádio e televisão.

Criança I: Computado, impressora, notebook, celular, rádio e televisão.

Criança Z: Impressora, computador, celular, rádio, televisão e notebook.

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Criança R: Celular, computador, rádio, televisão e notebook.

Criança A: Computador, impressora, notebook, rádio, celular e televisão.

Criança J: Computado, celular e notebook.

Criança L: Impressora, parque infantil, celular, rádio, televisão e notebook.

A criança R e a criança J não coloriram a impressora e quando questionados

o motivo me disseram que ali não era uma tecnologia. A Criança J além de não ter

ilustrado a televisão e o rádio me informou que apesar da nossa sala ter estes

aparelhos eles não eram tecnologia. Perguntado o que é tecnologia para ela me diz:

tecnologia é celular, vídeo game, computador.

Já a criança L coloriu o parque infantil que existe na escola. Quando

questionada sobe as TIC que coloriu ela confirmou que o parque infantil faz parte

deste universo de brincadeiras.

Através de mais esta atividade pude comprovar que as crianças conseguem

distinguir quais são as tecnologias de informação e comunicação que estão

presentes na escola e nos espaços que compõem a Unidade Escolar. Algumas

ainda falaram sobre o uso que fazemos delas. Kenski (2007) cita: “O que se propõe

para a educação de cada cidadão dessa nova sociedade – e, portanto, de todos,

cada aluno e cada professor – é não penas formar o consumidor usuário, mas criar

condições para garantir o surgimento de produtores e desenvolvedores de

tecnologia”. (KENSKI, 2007, p. 67). Este deve ser o foco da escola, da sala de aula!

No que concerne verificar como as Tecnologias de Informação e

Comunicação podem influenciar a Educação Infantil através das perspectivas das

crianças propus uma atividade que seria registrada através do desenho das

crianças. Gostaria de saber das crianças se elas gostavam de desenhar e o que

preferiam: desenhar no caderno de desenho ou papel oficio e/ou no computador.

Na Roda de Conversa primeiro conversei com as crianças se elas gostavam e

o que elas gostavam de desenhar. No primeiro momento propus a elas que fizessem

um desenho livre, do que quisessem. Neste momento foi disponibilizado pra eles

papel oficio, lápis grafite, lápis cera e hidro cores. Elas começaram a atividade e

assim que terminaram - na roda de conversa - apresentaram seus trabalhos aos

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demais colegas e a auxiliar de desenvolvimento infantil. Após esta apreciação do

seu trabalho e dos colegas, chamei cada criança e lancei a seguinte pergunta: você

gosta de desenhar? Por quê?

Diálogo com a Criança A:

Criança: Sim. Minha pró, eu desenhei eu, você, meu pai e minha

mãe.

Profª: Que legal!

Criança: (Enquanto ela desenhava ela falava) Ah! A boca esta

faltando.

Profª: Então coloque. Por que você gosta de desenhar?

Criança: Eu gosto de desenhar porque eu faço você e eu.

Diálogo com a Criança Z:

Criança: Pró Sheila, eu desenhei uma praia, eu, você, Samires

(ADI) e meu amigo.

Profª: Que massa! E você gosta de desenhar?

Criança: Eu adoro!

Profª: Por quê?

Criança: Porque eu posso fazer sem minha mãe me ensinar.

Após conversar com as crianças propus a elas que utilizássemos agora o nosso

computador que tem na sala: O Kidsmart. Que utilizaríamos o Programa do Windows

chamado Paint para desenharmos livremente no computador e que elas poderiam

desenhar o que elas quisessem e gostassem. Chamei uma de cada vez para

desenhar livremente utilizando o Paint e depois fiz três perguntas a cada criança,

enquanto as outras brincavam nos outros ambientes da sala com o auxilio da ADI:

1- O que você desenhou?

2- Você gosta de desenhar utilizando o Kidsmart?

3- Você gosta mais de desenhar no papel ou no computador?

Diálogo com a Criança A:

Profª: O que você desenhou?

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Criança: Minha mãe.

Profª: Você gosta de desenhar utilizando o Kidsmart?

Criança: Gosto.

Profª: Você gosta mais de desenhar no papel ou no computador.

Criança: No computador porque tem muitas coisas que eu posso

desenhar.

Profª: Como o que?

Criança: Formas geométricas, ponto, muitas cores que não tem

aqui nos lápis, muitas coisas, minha pró.

Diálogo com a Criança Z:

Profª: O que você desenhou?

Criança: Minha casa.

Profª: Você gosta de desenhar utilizando o Kidsmart?

Criança: Adoro.

Pró: Você gosta mais de desenhar no papel ou no computador?

Criança: No computador é mais legal do que no papel porque entro

dele tem muita coisa legal.

Profª: Como o que?

Criança: O jogo do Sapato. (Um game instalado no Kidsmart).

Com esta atividade percebi que as crianças preferem desenhar no

computador. Através do programa do pacote Windows Paint, que está disponível no

Kidsmart da sala de aula, elas exploraram muitas possiblidades que o programa traz

para desenhar, observando e interagindo com os seus processos de produção e das

demais crianças, confirmando assim que apesar de gostarem de desenhar nos seus

cadernos de desenho elas preferem usar o computador em tal atividade. Marcos

Silva (2006) nos informa que: “A sala de aula interativa seria o ambiente em que o

professor interrompe a tradição do falar/ditar, deixando de identificar-se com o

contador de histórias, e adota uma postura semelhante a do designer de software

interativo...”. Ele ainda complementa dizendo: “O aluno, por sua vez, passa de

espectador passivo a ator situado num jogo de preferências, de opções, de desejos

[...]”. (SILVA, 2006, p.22).

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Outro relato bastante significativo para verificar como as Tecnologias de

Informação e Comunicação podem influenciar a Educação Infantil através das

perspectivas das crianças, foi realizada através de uma atividade da linguagem

matemática que seria relacionar o número a quantidade correspondente. Na Roda

de Conversa começamos a conversar sobre os números existentes no nosso

contexto escolar (representação gráfica) e sua utilização quando necessário pois,

gostaria de saber das crianças se elas já conseguiam relacionar à ideia de número a

quantidade correspondente. .

Começamos a nossa Roda de Conversa recitando oralmente músicas e

brincadeiras que falavam de sequências numéricas. Depois disso continuamos a

roda conversando se seria possível um número representar uma quantidade. As

crianças responderam que sim. Na nossa sala tínhamos uma sequência numérica

de 0 até 10 e elas me informaram que para isso teríamos que utilizar o número que

estava colado na parede. A partir desta resposta propus uma atividade fotocopiada

onde eles deveriam relacionar a ideia de número x quantidade. Foi utilizado até o

número cinco. Arrumei um canto na sala de aula e chamei-os de um em um para

fazer a atividade. Quando terminaram fiz a seguinte pergunta: Você gostou de fazer

esta atividade? Por quê?

Criança A: Sim. Porque tem ovos que eu posso pintar bem coloridos.

(A criança trocou os números 5 e 2)

Criança I: Sim. Porque eu adoro fazer tarefas de números, minha pró.

(A criança conseguiu relacionar todos os números a quantidade).

Após esta atividade fotocopiada, propus as crianças que utilizássemos agora o

nosso computador que temos na sala: O Kidsmart. No computador existem vários

softwares educativos incluindo um jogo, que eles adoram, chamado Fábrica de

Biscoitos. O jogo consiste na preparação de biscoitos e o ajudante da fábrica é um

rato. O objetivo do jogo é relacionar a ideia de número x quantidade. O Rato vai

solicitando a quantidade de confeitos que você deve colocar no biscoito que será

fabricado. Ele fala a quantidade e mostra o número. Porém, a criança devera clicar

com o mousse a quantidade solicitada pelo Ratinho. Se a criança “conseguir

relacionar” o rato aplaude. Se a criança “não conseguir” o rato come o biscoito.

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Chamei uma criança de cada vez para a atividade e no final perguntei se ela preferia

fazer à atividade de relacionar números à quantidade no papel ofício ou no

computador.

Diálogo com a Criança A:

O Rato ia solicitando a quantidade de confeitos que a criança deveria colocar no

biscoito. Estes números apareciam na tela do computador.

Nº 9: conseguiu

Nº 7: conseguiu

Criança: Minha pró, agora é o número dois. (e coloca a quantidade

de confeitos no biscoito). Oba! Consegui minha pró. Acertei!

Profª: Muito bem! Você prefere fazer a tarefa de relacionar números

x quantidade no papel ou no computador?

Criança: No computador.

Profª: Por quê?

Criança: Porque aqui o jogo é mais legal e tem mais números do

que no papel.

Diálogo com a Criança I:

O Rato ia solicitando a quantidade de confeitos que a criança deveria colocar no

biscoito.

Nº 3: conseguiu

Nº 5: conseguiu

Nº8: conseguiu

Profª: Parabéns! Você prefere fazer a tarefa de relacionar números

x quantidade no papel ou no computador?

Criança: No computador. Porque tem muitos números e gosto de

fazer biscoitos. E adoro computadores, minha pró Sheila

Esta atividade nos mostra que as tecnologias têm um papel importante na

aprendizagem das crianças. Com esta atividade percebi que as crianças aprendem

de uma forma prazerosa quando estão em contato com jogos e o com o

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computador. A maioria das crianças demonstra uma preferência por atividades no

Kidsmart. Este se transforma num espaço de criação e construção de saberes e

aprendizagens, fazendo com que o espaço da sala de aula se torne algo monótono

se o professor ainda se intitular como o único detentor do saber. Coscarelli (2006)

nos trás:

Torna-se cada vez mais necessário um fazer educativo que ofereça múltiplos caminhos e alterativas, distanciando-se do discurso monológico da resposta certa, da sequencia linear de conteúdos, de estruturas rígidas dos saberes prontos, com compromissos renovados em relação à flexibilidade, à interconectividade, à diversidade e à variedade, além da contextualização no mundo das relações sociais e de interesses dos envolvidos no processo de aprendizagem. (COSCARELLI, 2006 p.23)

Outro instrumento utilizado para a coleta de dados desta pesquisa foi um

questionário com perguntas objetivas que foi entregue a todos os responsáveis das

crianças. Dos nove questionários entregues sete foram devolvidos respondidos.

Foram feitos questionamentos como: quais tecnologias são uma realidade na sua

casa? Através de quais aparelhos seu filho tem acesso às tecnologias? Para que

seus filhos costuma usar esta tecnologia? Seu filho tem acesso à internet na sua

casa? Para cada uma destas perguntas existia opções de múltiplas escolhas.

A análise dos dados mostrou que muitas tecnologias fazem parte dos lares

destas crianças e elas a usam cotidianamente. Por exemplo, o uso dos tablets – por

05 crianças - para jogar ou assistir vídeos acontece quase na mesma proporção que

o uso da televisão – por 06 crianças - para assistir aos seus programas favoritos. O

uso do celular comparado à utilização do rádio aparece com a mesma proporção –0

6 crianças - e ambos são utilizados para ouvir as músicas preferidas das crianças.

É interessante perceber que a utilização da televisão e do rádio, que são

aparelhos tecnológicos de outra lógica e geração do que o tablet e o celular,

continuam sendo utilizados com bastante intensidade pelas crianças. Segundo

Coscarelli (2006):

Uma velha tecnologia dos centros urbanos, como o rádio, pode ser uma inovação em determinados contextos sócias, e uma nova tecnologia pode ser considerada velha porque não modificam em nada as relações dos sujeitos envolvidos, como ocorre muitas vezes, com o Datashow na sala de aula. O atributo de velho e novo não está no produto, no artefato em si mesmo ou na cronologia das invenções, mas depende da significação do humano, do uso que fazemos dele. (COSCARELLI, 2006, p.26).

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Todos os pais informaram que as crianças gostam de usar as tecnologias:

computador de mesa, notebook, tablet, vídeo game, celular, rádio, internet e

televisão. Isso demonstra que estes aparatos tecnológicos fazem parte do cotidiano

da maioria destas crianças – até porque somente 02 crianças utilizam o computador

ou notebook em sua residência - e elas os acessam bastante: 05 das crianças

pesquisadas acessam estas tecnologias todos os dias. Somente 02 acessam 03

vezes na semana.

Outro ponto que merece bastante destaque é que 06 das crianças participantes

da pesquisa costumam usar estas tecnologias para jogar e/ou assistir e baixar

vídeos, dedicando a maior parte do seu tempo a esta atividade, sendo que, em

relação à pergunta de possuir internet em casa, somente 04 crianças tem acesso à

internet na sua residência enquanto as outras 03 não tem. Este dado nos revela que

a nossa internet não é acessível a todos equitativamente.

Em relação à pergunta quanto tempo por dia o seu filho passa navegando na

internet, a maioria das respostas dadas pelos pais das crianças que participaram da

pesquisa foram até 02 horas por dia e 01 resposta tempo ilimitado. Bem, se

pegarmos esta maioria que respondeu 02 horas de uso diariamente, em uma

semana haverá um total de 14 horas e quase 60 horas por mês. Por outro lado, 03

crianças não utilizam a internet. Realidades bem diferentes.

Quanto ao tipo de acompanhamento de um adulto no momento em que seu

filho esta usando tecnologia, 07 pais responderam que fazem acompanhamento das

crianças, enquanto outros 02 disseram que não o fazem. Este dado é preocupante,

em relação a estas 02 crianças que não são acompanhadas por um adulto, pois,

pensemos em um aparelho de televisão. Nem tudo que se passa num rede de TV é

interessante nem apropriado a uma criança de 04 anos de idade, existindo antes da

exibição de qualquer programa, uma indicação para a faixa etária que tal

entretenimento é direcionado. Outra questão é em relação a baixar e assistir vídeos.

Sabemos que a internet traz milhares de vídeos acessíveis para todos. Vídeos com

conteúdos pornográficos e de outros gêneros que não podem e nem devem fazer

parte do universo infantil. A falta de vigilância em relação a isso é preocupante.

Cabe aos pais esta tarefa de olhar e acompanhar o que seu filho assiste e tem

acesso.

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Questionados sobre se os pais costumam jogar com o seu filho no tablet,

celular, vídeo game, 08 responsáveis disseram que sim, que fazem isso e somente

01 afirmou que não. Alves e Coutinho (2016) nos afirmam que:

Os jogos se tornam significativos para os jogadores, principalmente porque possibilitam viver uma experiência capaz de atribuir sentidos às informações. Ao entrar em um game, o sujeito é desafiado a explorar, a realizar missões, o que o coloca no controle do processo, no qual por meio de sua ação e interação (no e com o próprio ambiente do jogo, com um NPC ou outros jogadores – o que resulta em atividade constante), enfrenta problemas, escolhe caminhos e soluções, define estratégias, toma decisões, enfim, vive experiências, e tudo isso de forma divertida, favorecendo a imersão e o engajamento. (ALVES e COUTINHO, 2016, p.185).

Isso pode nos demostrar que apesar da nossa vida corrida de hoje em dia, é

prazeroso e significativo sentar com as nossas crianças para jogar, brincar, entreter

através de jogos eletrônicos.

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6. CONCLUSÃO

Este trabalho de pesquisa foi elaborado a partir de uma observação que fiz no

CMEI que leciono. Procurei analisar a presença das Tecnologias da Informação e

Comunicação entre crianças da Educação Infantil, identificando suas influências na

construção de saberes em sala de aula, pela perspectiva das crianças.

Para responder a essa questão, a pesquisa foi realizada com as crianças.

Quem mais do que elas sabem o que deve conter e compor o seu currículo, a sua

vida, a sua historia. A fala, o desejo, a percepção e a influência que estes aparatos

tecnológicos exercem na criança estiveram presentes no trabalho, o tempo inteiro,

através da voz e dos diálogos destas crianças. Para isso foi realizado rodas de

conversa, observações participantes, entrevistas, registros escritos e um

questionário que os pais ou responsáveis responderam sobre o hábito das crianças

em relação às TIC.

É valido ressaltar que esta pesquisa não foi elaborada com o objetivo de fazer

julgamentos mas, de investigar qual a influência que estas tecnologias têm nas

crianças da Educação Infantil da minha turma, verificando como elas afetam a

educação destas crianças.

A escola é um espaço privilegiado de interação humana. Porém, ela não é mais

a detentora de todas as formas de conhecimento e saberes. As crianças são

agentes sociais que produzem significados e tem opiniões sobre o mundo que a

cercam. Esta criança não é um objeto e sim um sujeito de direitos que tem voz e

que, esta voz, deve ser legitimada. Mesmo antes de chegar à escola a criança já

passou por muitas aprendizagens - no seu contexto familiar, igreja, comunidade - e o

que percebemos é que a escola não ressignifica este conhecimento para construção

de novas aprendizagens.

Um desses conhecimentos é em relação às Tecnologias de Informação e

Comunicação. Esta criança contemporânea que estamos falando esta inserida em

um contexto em que o uso do celular, computador, tablet, games, faz parte da sua

vida. Como esta criança pode estar num contexto escolar em que somente o uso do

giz e da voz do professor sejam os únicos motivadores de aprendizagens para elas?

Através da utilização das TIC em sala de aula poderemos promover novos saberes e

experiências entre as crianças.

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Mas porque esta construção não ocorre? Pode ser por vários motivos. Um

deles é a falta de tecnologias de informação e comunicação nas escolas ou há falta

de verbas para a manutenção destes aparatos tecnológicos.

Outro motivo é a falta de conhecimento dos professores em utilizar as TIC nas

suas salas de aulas. Nós não fomos formados para isso. Muitos de nós ainda nem

sabemos utilizar estes aparatos tecnológicos no nosso dia a dia imagine incorporar

tais aparelhos na nossa prática pedagógica. Algumas instituições oferecem um

treinamento de poucas horas para os seus profissionais , somente com o intuito de

transmitir habilidades técnicas para os seus professores, o que não é o suficiente.

Uma outra questão esta relacionada ao currículo. Este deve ser renovado e

atualizado, além do seu Projeto Politico Pedagógico. O currículo deve ter a voz da

criança partindo da sua experiência concreta, possibilitando e construindo novos

saberes e incorporando tudo o que a criança vive no mundo atual. Isso inclui as

tecnologias de informação e comunicação. A escola sendo uma instituição social e

educacional deve adotar novas abordagens pedagógicas, buscando sempre dialogar

com todas as instâncias da sociedade, a começar pelas nossas crianças. Não há

mais como a Escola fugir de propostas pedagógicas que envolvam o uso das TIC.

Através da pesquisa percebi que as crianças conhecem e utilizam nas suas

casas muitos aparatos tecnológicos tais como: tablet, notebook, smartphone, vídeo

game, televisão, rádio. Muitas utilizam estes aparelhos todos os dias, acessando

estes aparatos mais de duas horas por dia. Apesar da internet não fazer parte da

realidade de quase metade destas crianças, as crianças que tem acesso à internet

adoram baixar e ver vídeos e jogar on line os seus games preferidos.

A maioria das crianças fazem uso das TIC acompanhadas de um adulto e o

mais importante: este adulto, das nove crianças entrevistadas, oito deles jogam com

suas crianças. Brincam com os seus pequenos.

O CMEI – assim como as políticas públicas - ainda não se deram conta que a

utilização das tecnologias de informação e comunicação favorece o processo

pedagógico, tornando a aprendizagem algo prazeroso, reconhecendo que estes

aparatos tecnológicos possuem um grande potencial interativo e que pode e deve

ser explorado com caráter pedagógico.

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Seus profissionais precisam estar preparados e formados para esta realidade

através de formações constantes para que estes educadores não sejam meros

transmissores de conteúdos mas sim, facilitadores de aprendizagens. Professor e

aluno serão sujeitos de aprendizagens e construtores de conhecimentos.

Há certa urgência e uma necessidade grande da escola desenvolver o seu

Projeto Politico Pedagógico imbricado com as Tecnologias de Informação e

Comunicação e com a voz da criança - desde a Educação Infantil - para que estas

crianças, desde cedo, possam ampliar suas aprendizagens, construindo assim

novos saberes. Tudo isso a partir da percepção das crianças, do querer delas. Que

possamos ser para estas crianças, mais do que especialistas em ferramentas do

saber. Que sejamos para nossas crianças especialistas em amor: interpretes de

sonhos.

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ANEXOS

QUESTIONARIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ALUNA: SHEILA CARINE SOUZA SANTOS

Caro Responsável

Este questionário tem como objetivo investigar quais as tecnologias da informação e

comunicação fazem parte do cotidiano das crianças da educação infantil do Grupo

4C da Escola Municipal e como elas se relacionam com as mesmas. Desse modo,

solicito a sua contribuição com o preenchimento do questionário, o que tornará

possível a minha investigação.

Salvador, novembro de 2015.

1-Quais tecnologias são uma realidade na sua casa?

( ) Computador de mesa ( ) Tablet ( ) Celular

( )Internet ( ) Televisão ( ) Radio

( )Notebook ( ) Vídeo Game

2-Através de quais aparelhos seu filho tem acesso às tecnologias?

( ) Computador de mesa ( ) Tablet ( ) Celular

( )Internet ( ) Televisão ( ) Radio

( )Notebook ( ) Vídeo Game

3- As crianças gostam de utilizar essas tecnologias?

( ) Sim ( ) Não

4 - Quantos dias por semana seu filho tem acesso às tecnologias que você listou?

( ) 1 dia ( ) 2 dias ( ) 3 dias

( ) 4dias ( ) 5 dias ( )6 dias

( )Todos os dias

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5 - Para que seu filho costumar usar essas tecnologias?

( ) Jogar ( ) Assistir e /ou baixar vídeos

( )Acessar internet ( ) Outros. Quais? ______________

6-Seu filho tem acesso à Internet na sua casa?

( ) Sim ( ) Não

7-Seu filho usa a internet para:

( ) Jogar ( ) Assistir e /ou baixar vídeos

( )Acessar internet ( ) Outros. Quais? ______________

8-Quanto tempo por dia o seu filho passa navegando na internet?

( ) Ate 2 h ( )mais de 2 h ( )

ilimitado...

( )não usa

9 - Há algum tipo de acompanhamento de um adulto no momento em que seu filho

esta usando a tecnologia?

( ) Sim ( ) Não

1o- Você costuma jogar com seu filho no tablet, celular ou vídeo game?

( ) Sim ( ) Não

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