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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO ALINE DE MEIRA GUIMARÃES INCUBAÇÃO DE REDES LOCAIS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA UM DESENHO AVALIATIVO DO CASO MATARANDIBA – UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Salvador 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

ALINE DE MEIRA GUIMARÃES

INCUBAÇÃO DE REDES LOCAIS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA:

CONTRIBUIÇÕES PARA UM DESENHO AVALIATIVO DO CASO

MATARANDIBA – UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Salvador

2012

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ALINE DE MEIRA GUIMARÃES

INCUBAÇÃO DE REDES LOCAIS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA:

CONTRIBUIÇÕES PARA UM DESENHO AVALIATIVO DO CASO

MATARANDIBA – UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-graduação em

Administração, Escola de Administração, Universidade

Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau

Mestre em Administração.

Orientador: Profº Genauto França Filho

Salvador

2012

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"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim" (Chico Xavier)

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RESUMO

A incubação de redes locais de economia solidária vem sendo discutida como uma forma

inovadora de promover o desenvolvimento local, trazendo a tona novos desafios no campo da

incubação em economia solidária. Neste sentido, surge com grande potencial a ideia de

promover a avaliação desta forma inovadora de incubar territórios, de modo a mantê- la

sustentável diante dos seus desafios. Assim, o objetivo deste trabalho é identificar os desafios

que se impõem no processo de incubação da rede local de economia solidária em Matarandiba

– Vera Cruz/BA, tanto do ponto de vista da Incubadora Tecnológica de Economia Solidária

(ITES) quanto da própria comunidade. O aporte teórico pautou-se nas temáticas do

Cooperativismo popular no Brasil e Economia Solidária, bem como na apresentação das

práticas de incubação tecnológica no campo empresarial e no campo da economia solidária,

focando na incubação de redes locais de economia solidária. A metodologia utilizada foi o

estudo de caso sobre o processo de incubação de constituição da rede local Ecosmar, que

possui quatro anos de existência na comunidade e que ainda encontra-se em fase de execução.

Para a coleta de dados, utilizou-se de técnicas como entrevista, observação participante e

análise documental. Para análise dos resultados foram elencados desafios tanto do ponto de

vista dos moradores da comunidade que fazem parte do projeto Ecosmar, quanto do ponto de

vista da incubadora que exerce a intervenção no território (ITES). Os resultados apontaram

quatro principais desafios para ambos atores. Na visão da comunidade são eles: mobilização

dos moradores; mudar a lógica atual mercantil para a lógica solidária; conflitos internos;

desafios na formação dos empreendimentos. E na visão da incubadora destacam-se:

metodologia de incubação; identificar as potencialidades locais; conflitos internos; desafios na

formação dos empreendimentos. Conclui-se que a realidade local da rede estudada aponta

elementos desafiadores que estão imbricados entre si e que são fundamentais para o

desenvolvimento e sustentabilidade de redes de economia solidária tanto para os projetos

ITES quanto para demais intervenções promovidas por outras instituições.

Palavras-chave: redes, economia solidária, incubação.

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ABSTRACT

Incubation of local networks of economic solidarity has been discussed as an innovative way

to promote local development, bringing out new challenges in the field of incubation in

solidarity economy. In this sense, there is great potential with the idea of promoting the

evaluation of this innovative way to incubate territories in order to hold it before their

sustainable challenges. The objective of this work is to identify the challenges facing the

incubation process from the local social economy in Matarandiba - Vera Cruz / BA, both from

the point of view of the Technological Incubator of Solidarity Economy (ITES) as the

community itself. The theoretical framework was based on the popular theme of Cooperatives

and Solidarity Economy in Brazil, as well as the presentation of technological incubation

practices in the business field and the field of social economy, focusing on incubating local

networks of economic solidarity. The methodology used is the case study of the hatching

process of constitution of the local network Ecosmar, who has four years of existence in the

community and that is still in progress. To collect data, we used techniques such as

interviews, participant observation and document analysis. To analyze the results were listed

challenges both from the point of view of community residents who are part of the project

Ecosmar, as the point of view of the incubator holding the intervention in the territory (ITES).

The results ind icated four main challenges for both actors. In view of the community they are:

mobilization of residents; changing the current mercantile logic to the logic of solidarity,

internal conflicts, challenges in training ventures. And in view of the incubator include:

methodology incubation; identify local potential; internal conflicts; challenges in training

ventures. We conclude that the local reality of network study demonstrates challenging

elements that are interwoven with each other and that are critical to the development and

sustainability of the solidarity economy networks both for ITES projects and for other

interventions promoted by other institutions.

Keywords: networks, solidarity economy, incubation.

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS

Quadro 1 - Processo de Incubação nas Incubadoras de Base Tecnológica.................... 27

Quadro 2 – Principais projetos da ITES......................................................................... 37

Figura 1 - Figura 1: Mapa de Localização de Matarandiba na Ilha de Vera Cruz.......... 41

Figura 2 - Mapa de localização da Ilha de Vera Cruz e Matarandiba na Ilha de Itaparica e Região Metropolitana de Salvador e no estado da Bahia...............................

42

Tabela 1 - Situação ocupacional dos moradores............................................................. 43

Tabela 2 - Escolaridade dos moradores.......................................................................... 43

Tabela 3 - Experiência profissional dos moradores........................................................ 44

Tabela 4 - Moradia por condição de ocupação............................................................... 45

Tabela 5 - Condições da casa (estrutura interna)............................................................ 45

Figura 3 - Oficina de capacitação................................................................................... 49

Figura 4 – Sede do Banco Comunitário Ilhamar em Matarandiba................................. 50

Figura 5 – Cédula da Moeda Social CONCHA.............................................................. 51

Figura 6 - Logomarca ASCOMAT.................................................................................

53

Figura 7 – Samba de Roda Voa Voa Maria....................................................................

54

Figura 8 – Logomarca.....................................................................................................

55

Figura 9 – Horta..............................................................................................................

60

Figura 10 - Rede Ecosmar..............................................................................................

61

Figura 11 - Desafios do processo de incubação da rede Ecosmar..................................

63

Figura 12 - Desafios do processo de incubação da rede Ecosmar – imbricados............

74

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADS Agências de Desenvolvimento Solidário

ANPROTEC Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos

Inovadores

ARTSOMA Grupo de Artesanato

ASCOMA Associação Comunitária de Matarandiba

ASCOMAT Associação Sociocultural de Matarandiba

CCM Conselho Comunitário de Matarandiba

CNAES Conselho Nacional de Economia Solidária

CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DIEESE Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos

DRS Desenvolvimento Regional Sustentável

EAUFBA Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia

EBDA Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola

ECOSMAR Economia Sustentável e Solidária de Matarandiba

EES Empreendimentos de Economia Solidária

FBS Fórum Brasileiro de Economia Solidária

FDC Fórum de Desenvolvimento Comunitário

FECOL Fórum Econômico Local

FEES Fóruns Estaduais de Economia Solidária

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

GEM Global Entrepreneurship Monitor

GT Grupo de Trabalho

OCB Organização das Cooperativas Brasileiras

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFBA Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia

ITCP Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares

ITES Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do

Desenvolvimento Territorial

MST Movimento dos sem-terra

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

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ONG Organização Não Governamental

OEA Organização dos Estados Americanos

RLES Rede Local de Economia Solidária

SENAES Secretaria Nacional de Economia Solidária

SESOL Superintendência de Economia Solidária

SETRE Secretaria do Trabalho e Emprego

UCSAL Universidade Católica do Salvador

UFBA Universidade Federal da Bahia

UNEB Universidade do Estado da Bahia

UNIFACS Universidade Salvador

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................10

1.1 PROBLEMÁTICA.............................................................................................................10

1.2 PRESSUPOSTOS...............................................................................................................12

1.3 OBJETIVOS......................................................................................................................13

1.3.1 Objetivo Geral .................................................................................................................13

1.3.2 Objetivos Específicos ......................................................................................................13

1.4 RELEVÂNCIA DO TEMA E DA PESQUISA .................................................................14

1.4 METODOLOGIA...............................................................................................................14

1.4.1 Classificação da Pesquisa ................................................................................................15

1.4.2 Delineamento da pesquisa ...............................................................................................16

1.4.3 Coleta de Fontes e Evidências .........................................................................................17

2 Compreendendo a temática do objeto de avaliação...............................................................20

2.1 COOPERATIVISMO POPULAR NO BRASIL E ECONOMIA SOLIDÁRIA ..............20

2.2 A PRÁTICA DE INCUBAÇÃO TECNOLÓGICA NO CAMPO EMPRESARIAL........24

2.3 A PRÁTICA DA INCUBAÇÃO TECNOLÓGICA NO CAMPO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA.............................................................................................................................29

2.3.1 INCUBAÇÃO TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS POPULARES ....................310

2.3.2 INCUBAÇÃO DE REDES LOCAIS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA.........................352

2.4 A INCUBADORA TECNOLÓGICA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – ITES ...................................................................36

3 Apresentando e discutindo o caso de Matarandiba................................................................40

3.1 A COMUNIDADE DE MATARANDIBA........................................................................40

3.2 O PROJETO ECOSMAR ENQUANTO PROCESSO DE INCUBAÇÃO .......................44

3.3 DESAFIOS NO PROCESSO DE INCUBAÇÃO ..............................................................61

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3.3.1 Desafios na visão da comunidade ....................................................................................61

3.3.1.1 Mobilização dos moradores ..........................................................................................62

3.3.1.2 Mudar lógica atual mercantil para uma lógica solidária...............................................63

3.3.1.3 Conflitos Internos .........................................................................................................65

3.3.1.4 Desafios na formação dos empreendimentos ...............................................................67

3.3.2 Desafios na visão da incubadora......................................................................................69

3.3.2.1 Metodologia de incubação ............................................................................................69

3.3.2.2 Identificar as potencialidades locais .............................................................................70

3.3.2.3 Conflitos internos..........................................................................................................71

3.3.2.4 Desafios na formação dos empreendimentos ...............................................................71

3.4 PERSPECTIVAS FUTURAS DA INCUBAÇÃO .............................................................71

4. Construindo uma síntese em formato de pesquisa pré-avaliatória........................................74

4.1 Porque este formato............................................................................................................74

4.2 Compreensão e descricao breve do objeto.........................................................................75

4.3 Problematização dos pontos importantes...........................................................................76

4.4 Contornos do problema de avaliação e insumos para o processo avaliatório.....................77

5.0 Limitações do trabalho........................................................................................................81

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................822

ANEXO A – DADOS SELECIONADOS DO MAPEAMENTO DE PRODUÇÃO E.........854

CONSUMO DE MATARANDIBA .......................................................................................854

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1 INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMÁTICA

O presente estudo visa trazer elementos para uma pesquisa avaliativa, a partir do tema

da incubação tecnológica em economia solidária, perpassando pela relação entre uma

universidade pública e uma comunidade.

A avaliação, segundo Boullosa (2009), volta-se para a expressão de um juízo ou

síntese avaliatória, direcionado a um fim. Como desenho da avaliação entende-se, um

percurso que deve ser percorrido por um conjunto de atores envolvidos no processo que será

desencadeado, de tal maneira que um processo de incubação de rede de economia solidária

pode vir a construir este seu desenho.

A prática da incubação em economia solidária de acordo com França Filho e Cunha

(2009) trata-se de uma das maiores inovações no âmbito da extensão universitária brasileira

dos últimos anos, e segundo eles, sua ascensão se deve primeiro pelo avanço do número de

experiências que se articulam em torno de duas redes nacionais denominadas de Rede Uni

trabalho e Rede de ITCPs. Em segundo, pelo crescente reconhecimento institucional de tais

experiências com o marco no ano de 2004, que foi a criação Programa Nacional de Nacional

de Apoio às Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares do Ministério do Trabalho

(Proninc). Essa ascensão é comprovada pelos recentes editais públicos de apoio às

Incubadoras Tecnológicas, oriundos de secretarias de governo em parcerias com fundações e

institutos de apoio a pesquisa (FRANÇA FILHO E CUNHA, 2009).

A incubação tecnológica é um tema que surgiu no Brasil no início da década de 80

com o objetivo de desenvolver incubadoras e parques tecnológicos e incluir as universidades

como agentes indutores neste processo, colocando-as lugar dos institutos de pesquisa. As

incubadoras universitárias se caracterizavam por deixar de ser os provedores gratuitos de

conhecimento para serem atores do processo de privatização do conhecimento. (Souza et.al,

2003)

Cada vez mais as universidades se debruçam sobre a temática da incubação. Logo, no

mesmo período, emergia outro movimento que relaciona a incubação universitária com

populações menos favorecidas. A essas incubadoras deu-se o nome de incubadora tecnológica

de cooperativas populares (ITCPs), que se caracterizam pela ligação com fatores

socioeconômicos e políticos dessa época (SOUZA et al., 2003).

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A primeira ITCP no Brasil teve origem em 1995 na Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ), com o objetivo inicial de estabelecer contato com comunidades interessadas

na formação de cooperativas populares oferecendo assessoria ao seu processo de constituição,

acesso ao mercado, elaboração de projetos, planejamento, definição de produtos, capacitação

dos cooperados e tudo que fosse necessário à formação da cooperativa.

Para Culti (2007), tais incubadoras são espaços que agregam professores,

pesquisadores, técnicos e acadêmicos de diversas áreas do conhecimento. Elas são também,

programas internos nas universidades para desenvolverem pesquisas teóricas e empíricas

sobre a economia solidária, além das atividades de incubação de empreendimentos

econômicos solidários, com o objetivo de atender trabalhadores que intencionam organizar

seus próprios empreendimentos sejam cooperativas, associações ou empresas

autogestionárias, tanto urbanas quanto rurais.

Mais tarde, emerge o conceito de incubação de vários empreendimentos cooperativos

sobre um mesmo território, através de uma ligação em rede sob a lógica econômica solidária

com o objetivo principal de fomentar o desenvolvimento socioterritorial gerando trabalho e

renda em comunidades de baixa renda. E é nesse contexto que surgem as incubadoras

tecnológicas de redes locais de economia solidária , as quais não se tratam de um outro tipo de

Incubadora (em relação as ITCPs) mas sim, possuem um enfoque metodológico diferente.

A rigor, apenas a Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do

Desenvolvimento Territorial (ITES) nasceu com essa diferenciação metodológica que tende a

ser seguida por outras ITCPs. Criada em 2005, e localizada na Escola de Administração da

Universidade Federal da Bahia (EAUFBA) é especializada na elaboração e execução de

projetos destinados à constituição de redes locais de economia solidária. Entre os projetos da

ITES, se inclui o projeto intitulado Economia Sustentável e Solidária de Matarandiba

(ECOSMAR), que visa promover o desenvolvimento local sustentável da comunidade de

Matarandiba, situada no município de Vera Cruz/Bahia, que se baseia na criação de

empreendimentos solidários voltados para a produção, consumo e gestão de serviços públicos

locais com vistas à institucionalização de uma rede local de economia solidária.

Esta rede foi selecionada, por já estar em seu quarto ano de incubação e ter passado

por muitas vivencias além de possuir uma rede de economia solidária constituída, podendo

desta forma, contribuir melhor no fornecimento de respostas para a questão proposta.

Diante desses aspectos, o presente trabalho se propõe analisar a experiência de

incubação da rede local de economia solidária no projeto Ecosmar tendo como questão

fundamental:

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Quais são os elementos do desenho da avaliação que se impõem no processo de

incubação da rede local de economia solidária na comunidade de Matarandiba no

município de Vera Cruz, Bahia?

1.2 PRESSUPOSTOS

Com o intuito de direcionar a atenção para alguns elementos relevantes, o estudo

partirá dos pressupostos de que os desafios que se impõem numa dinâmica de incubação dessa

natureza envolvem, ao menos, três dimensões absolutamente inter-relacionadas: o contexto

local, a metodologia de intervenção ou incubação e o arranjo institucional mais amplo de

articulação em torno do processo de incubação.

A primeira dimensão, do contexto local, diz respeito às características da cultura

política local, ou seja, o perfil das lideranças comunitárias, o nível de organização

associativista e capacidade de mobilização local, o padrão de sociabilidade na relação entre as

pessoas e grupos comunitários (nível de coesão e solidariedade, grau de conflitividade etc.), o

grau de amadurecimento e autonomia das pessoas e grupos, entre outros.

A segunda dimensão refere-se às características do processo de incubação na relação

entre os agentes externos da Universidade e a Comunidade em termos tanto da relação

humana que está sendo construída entre as pessoas de parte a parte (grau de respeito e

confiança entre as partes, capacidade de trabalho em grupo) quanto dos mecanismos e

diretrizes metodológicas postas em ação (se estas efetivamente apontam para a promoção da

autonomia das pessoas e grupos ou envolvem soluções adequadas ao contexto e realidade

local, ou ainda, favorecem um efetivo processo de apropriação pelas pessoas, localmente, das

soluções em termos de tecnologias sociais geradas na dinâmica de incubação, etc.).

A terceira dimensão concerne ao grau de articulação institucional construída no

processo de apoio à dinâmica da rede local com vistas a sua efetiva capacidade de

perenização. Neste sentido, verifica-se a capacidade de construção de parcerias institucionais

para além do núcleo inicial de apoio em torno do tripé Universidade-Empresa-Comunidade.

Isso significa observar se existem articulações com o poder público local ou com

instâncias de governos supra- locais (como articulação com secretarias estaduais ou federais

para realização de ações ou projetos, participação em editais públicos), ou com diferentes

instâncias de organização da sociedade civil (movimentos sociais, fóruns de economia

solidária etc.), ou ainda, com outras comunidades.

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Dessa forma, levando-se em conta os avanços obtidos tanto em articulações

institucionais em torno do projeto Ecosmar, quanto na própria efetividade da metodologia na

capacidade de gerar iniciativas de organização que perduram (além dos vínculos sociais

expressivos que foram construídos na relação incubadora-comunidade), os maiores desafios

são derivados de algumas características do contexto local, como o conflito latente entre dois

grupos principais e um conjunto de déficits sociais da população que inibem uma maior

participação das pessoas. Em resumo, o maior desafio parece residir na dificuldade de contar

com um grupo cada vez maior de pessoas na comunidade para sustentar a própria capacidade

de expansão e consolidação da rede local.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Identificar os desafios que se impõem no processo de incubação da rede local de

economia solidária em Matarandiba, tanto do ponto de vista da ITES quanto da própria

comunidade.

Desenhar os contornos de uma pesquisa de avaliação da experiênc ia de incubação de

RLES em Matarandiba destacando os possíveis desafios que se impõem neste processo.

1.3.2 Objetivos Específicos

§ Discutir a temática da incubação tecnológica no campo da economia solidária;

§ Analisar o que são redes locais de economia solidária;

§ Definir o que é incubação tecnológica em redes de economia solidária e apontar sua

distinção tanto em relação à incubação de cooperativas populares, de um lado, quanto em

relação à incubação de empresas de outro;

§ Descrever a experiência de incubação de rede local de economia solidária

desenvolvida na comunidade de Matarandiba pela incubadora ITES;

§ Conhecer a realidade da comunidade de Matarandiba;

§ Discutir o projeto Ecosmar como processo de incubação;

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1.4 RELEVÂNCIA DO TEMA E DA PESQUISA

A incubação em economia solidária, nos últimos anos, vem crescendo no país por

intermédio (pelo fomento) de diversas entidades, públicas e privadas, como o governo em

suas instâncias (municipal, estadual e federal), empresas, organizações sociais, bem como no

interior das universidades e principalmente das públicas que, segundo França Filho e Cunha

(2009), se constitui uma estratégia para o desenvolvimento local.

As universidades são as entidades que mais apoiam o desenvolvimento da economia

solidária através das suas ações de pesquisa e extensão. Não somente pelo suporte estrutural,

mas, principalmente, pela força metodológica que favorece o desenvolvimento dos projetos.

Na região metropolitana de Salvador é possível destacar diversas incubadoras

universitárias que atuam sob a temática da economia solidária, sendo elas: a Universidade

Salvador (UNIFACS), a Universidade Católica do Salvador (UCSAL), a Universidade

Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e o Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA).

Porém, a ITES/UFBA, é a pioneira no processo de incubação de redes locais de

economia solidária com ênfase nos bancos comunitários de desenvolvimento. Ela visa atuar

sob o tripé ensino-pesquisa-extensão, gestando novos métodos e instrumentos para atender às

necessidades das comunidades incubadas, além de contribuir para formação acadêmica de

estudantes e professores. Desta forma, compreender os desafios através dos processos de

incubação das comunidades é também de vital importância para garantir a sustentabilidade

dos empreendimentos construídos na rede local de economia solidária, uma vez que, de

acordo com o coordenador da ITES, a sustentabilidade de uma rede local de economia

solidária é um dos grandes desafios das comunidades e incubadoras.

Além disso, abordar os desafios do projeto Ecosmar, através de uma pesquisa

exploratória, pode contribuir ao aprimoramento dos processos de incubação em rede local de

economia solidária.

Assim, a rede foi selecionada, por já estar em seu quarto ano de incubação e ter

passado por muitas vivencias além de possuir uma rede de economia solidária constituída,

podendo desta forma, contribuir melhor no fornecimento de respostas para a questão proposta.

1.4 METODOLOGIA

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A metodologia pressupõe o caminho escolhido pelo pesquisador para orientar sua

pesquisa. Isso implica considerar não somente aspectos relacionados à condução e formulação

de roteiros de entrevista. Segundo Sauders, Lewis e Thornhill (2000), é necessário, antes de

atingir o ponto central da pesquisa – os métodos de coleta de dados –, distinguir a filosofia da

pesquisa, o enfoque, a estratégia e o horizonte do tempo da pesquisa.

1.4.1 Classificação da Pesquisa

Classificar uma pesquisa significa aceitar de forma ampla o método em que o estudo

pode ser enquadrado. Para Quivy e Campenhoudt (1998, p.25):

Um procedimento é uma forma de progredir em direção a um objetivo. Os métodos não são mais do que formalizações particulares do procedimento, percursos diferentes concebidos para estarem mais adaptados aos fenômenos ou domínios estudados.

Outra classificação para a pesquisa é apresentada por Creswell (2003). O autor

argumenta que as escolhas das estratégias e do método adotado contribuem para que a

pesquisa tenda a uma ter uma abordagem mais quantitativa, qualitativa ou mista.

Considerando seu argumento, o autor apresenta as seguintes definições:

§ Uma abordagem quantitativa em que o investigador se utiliza principalmente, do

discurso pós-positivista para desenvolver conhecimento, emprega como estratégia de pesquisa

experimentos e levantamentos e coleta informação com instrumentos pré-determinados que

possam sofrer análise estatística.

§ Alternativamente, a abordagem qualitativa é um processo de pesquisa que busca o

entendimento baseado em tradições metodológicas que exploram um problema social ou

humano (CRESWELL, 1998). O pesquisador se utiliza de estratégias tais como narrativas,

fenomenologias, etnografias, estudos de grounded theory ou estudos de caso.

§ A abordagem de métodos mistos em que o pesquisador tende a basear seu

conhecimento em solo pragmático. Ele emprega estratégias de pesquisa que envolvem coletar

informação tanto simultaneamente quanto sequencialmente para melhor entender os

problemas da pesquisa. A coleta de informações envolve a procura por informações

numéricas e textuais para que seu banco de dados represente ambas as informações

quantitativas e qualitativas.

Esta pesquisa empírica tem, portanto, natureza qualitativa e exploratória devido ao

fato de se ter pouco conhecimento acumulado e sistematizado a respeito do processo de redes

locais de economia solidária na Bahia.

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Como afirmam Saunders, Lewis e Thornhill (2000), os estudos exploratórios buscam

responder a seguinte pergunta: “O que está acontecendo?”. São úteis quando se deseja

compreender mais sobre um determinado problema. A investigação também pode ser

considerada descritiva, porque visa descrever elementos inerentes ao processo de incubação

de redes locais de economia solidária.

1.4.2 Delineamento da pesquisa

A fase do projeto determinada como delineamento refere-se ao planejamento da

pesquisa em sua dimensão mais ampla, envolvendo tanto a sua diagramação quanto a previsão

de análise e interpretação dos dados (GIL, 1999). Este estudo adotou os métodos de analise

documental e de estudo de caso.

A análise documental, segundo Oliveira (1997, p. 119), é realizada em bibliotecas,

institutos, centros de pesquisas, museus ou em outros locais que se constituírem fonte de

informações para comprovar ou não uma hipótese. Já para Godoy (1995, p. 21) o exame de

material de natureza diversa, que ainda não recebeuum tratamento analítico, ou que pode ser

reexaminado, buscando-se novas e/ou interpretações complementares, constitui o que se

denomina pesquisa documental. Para esta pesquisa foram utilizados os seguintes documentos:

documentos sistematizados do Projeto de Desenvolvimento Local de Matarandiba,editais

lançados para disponibilizar recursos aos projetos da ITES/UFBA e relatórios emitidos para

entidades financiadoras,.

O método de caso de acordo com Yin (2001) é um estudo empírico que investiga um

fenômeno atual dentro do seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre o fenômeno e

o contexto são não claramente definidas e no qual são utilizadas várias fontes de evidência.

Ela visa basicamente servir a pesquisa com diferentes propósitos, tais como:

§ Explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos;

§ Descrever a situação do contexto em que se está sendo feita determinada

investigação;

§ Explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito

complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos.

Segundo Godoy (2007, p.119), o uso do estudo de caso denota que o interesse do

pesquisador está mais voltado à compreensão dos processos sociais que ocorrem num

determinado contexto do que às relações estabelecidas entre as variáveis. Ocorre também sua

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preocupação com a elaboração de uma teoria sobre o que se está estudando, sendo esta

entendida como possível ‘versão do mundo’, sujeita à revisão, avaliação, construção e

reelaboração contínuas.

É possível, então, considerar que esta pesquisa é um estudo de caso sobre o processo

de incubação da Rede Local de Economia Solidária Matarandiba, incubada pela Incubadora

Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do Desenvolvimento Territorial da Universidade

Federal da Bahia (ITES/UFBA).

Durante o período que compreendeu os anos de 2011 e 2012 foi possível realizar cinco

visitas a comunidade de Matarandiba que proporcionaram a observação simples e participante

em eventos e atividades desenvolvidas pela ASCOMA, sendo eles; aniversários de

moradores; apresentação do samba de roda Voa-Voa Maria; presença em uma reunião do

Comitê de Avaliação de Crédito (CAC); em dois intercâmbios de experiências realizadas pelo

banco ECOSMAR com outras comunidades; reunião da ASCOMA para melhoria da

ostreicultura; participação na confecção do evento de inauguração do ponto de leitura;

presença em oficinas sobre economia solidária na UFBA com participação da comunidade de

Matarandiba; conversas com especialistas; uma reunião da ASCOMA com a prefeitura de

Vera Cruz; e outra com a DOW Brasil.

1.4.3 Coleta de Fontes e Evidências

Para Yin (2005), nenhuma fonte única possui uma vantagem indiscutível sobre as

outras. Na verdade, as várias fontes são altamente complementares e um bom estudo de caso

utilizará o maior número possível de fontes. Segundo Cresswell (2003), a fase de coleta de

dados (ou coleta de fontes de evidência) inclui escolher a delimitação para o estudo e coletar

informações através de: observações; entrevistas estruturadas; entrevistas não estruturadas (ou

semiestruturadas); documentos e materiais visuais, assim como estabelecer um protocolo para

guardar as informações.

A observação direta não participante ocorre quando o pesquisador não atua como

membro do grupo observado e utiliza apenas seu roteiro de observação para registrar o

máximo de ocorrências que interessam ao seu trabalho (RICHARDSON, 1999). Para Seráfico

(1996), na observação se trata “não de um instrumento de coleta de dados, mas de uma

conduta metodológica diante dos fenômenos”, sendo a conduta que o pesquisador assume

diante do objeto que deseja conhecer. Gil (1999) salienta que a observação utiliza os sentidos

com a finalidade de adquirir os conhecimentos necessários. A vantagem desse método sobre

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os outros é que os fatos são percebidos diretamente, sem qualquer itermediação, sendo assim,

a subjetividade que permeia todo o processo de investigação tende a ser reduzida.

Neste estudo, as evidências foram coletadas através de observações diretas in loco e

participantes, além de entrevistas semiestruturadas, com duração de até três horas, com atores

envolvidos no Projeto ECOSMAR, sendo eles: Genauto França Filho-coordenador da

incubadora ITES; Leonardo Leal- técnico da incubadora responsável pelo projeto Ecosmar;

Barbara e Rose agentes de crédito do banco comunitário Ilhamar; José Mário como membro

da ASCOMA; Deni – agente de cultura da ASCOMAT; Lucas-Secretário de Turismo da

Prefeitura de Vera Cruz; Sr. Totoco-Empreendedor local; e demais moradores através de

conversas informais.

Para Patton (2002), as vantagens da utilização da observação deve-se aos seguintes

aspectos: o investigador estará mais apto a compreender e captar o contexto em que as

pessoas interagem; o contato com o cenário e as pessoas facilita a abertura, a descoberta e a

indução; oportunidade de verificar fatos que passam despercebidos a quem os vivencia

rotineiramente, podendo descobrir coisas que ninguém nunca tinha prestado atenção;

descobrir coisas que as pessoas geralmente não gostam de falar ou não se sentem a

vontade para tal em uma entrevista; oportunidade de ir além da percepção seletiva dos

outros; utilização do conhecimento pessoal na análise e interpretação formal dos dados, por

meio de reflexão e das impressões e sentimentos do pesquisador.

As entrevistas constituem são uma fonte essencial de evidências para os estudos de

caso, já que a maioria delas trata das questões humanas. No entanto, devem sempre ser

consideradas apenas como relatórios verbais. Como tais, estão sujeitas a velhos problemas,

como preconceito, memória fraca e articulação pobre ou imprecisa. Novamente, uma

abordagem razoável dessa questão é corroborar os dados obtidos em entrevistas com

informações obtidas através de outras fontes (YIN, 2001, p. 113-114).

Os dados obtidos das entrevistas foram transcritos, e depois foi feita a análise do seu

conteúdo. Na descrição do caso, alguns depoimentos serão destacados para que se possa

observar a autenticidade, porém, serão utilizados códigos para os entrevistados que variam de

E1 a E8 com objetivo de manter o sigilo .

Demais dados foram coletados através da análise de documentos fornecidos pela

ASCOMA, de relatórios do projeto Ecosmar providos pela ITES e busca bibliográfica.

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2 CONTEXTO DA PESQUISA DE AVALIAÇÃO

2.1 COOPERATIVISMO POPULAR NO BRASIL E ECONOMIA SOLIDÁRIA

Durante a década de 90, a prática da incubação em economia solidária teve início sob

a influência importante dos princípios do cooperativismo popular. Nesse contexto, Singer

(1999) explicava que a globalização financeira e comercial induzia a desindustrialização de

diversos países, diminuindo a oferta de emprego para a classe trabalhadora, o que provocou o

renascimento do cooperativismo na Europa e na América Latina.

O referido autor distingue o cooperativismo tradicional e o novo cooperativismo. Para

ele o novo cooperativismo constitui a reafirmação da crença nos valores centrais do

movimento operário socialista: democracia na produção e distribuição, desalienação do

trabalhador, luta direta dos movimentos sociais pela geração de trabalho e renda, contra a

pobreza e a exclusão social (SINGER, 1999).

A situação do cooperativismo difere de país a país, conforme afirma Singer (1999). É

possível analisar, que o cooperativismo emergiu no Brasil como resultado das novas formas

de luta do sindicalismo e oposição à globalização na sua modalidade neoliberal, durante a

referida década de 90.

Nesse instante, para Culti (2002) as cooperativas são impulsionadas tanto para

possibilitar a reinserção na produção de pessoas que já foram dela excluídas, quanto para

evitar a perda de mais postos de trabalho quando as empresas empregadoras entravam em

processo de falência ou extinção. Os trabalhadores, portanto, se organizaram sob orientação

dos sindicatos que os representam, pleitearam o controle do patrimônio da empresa para

mantê- la produzindo, evitando assim, o desemprego iminente, tornando-se um

empreendimento autogestionado pelos trabalhadores.

Como consequência desse cenário cooperativo uma ampla gama de experiências de

economia solidária tem se fortalecido no Brasil, revelando as possibilidades de um novo

modelo de organização sócioeconômicos. Para França Filho (2008) pode-se identificar neste

contexto a mudança de uma via insercional-competitiva para uma via sustentável-solidária,

em termos de soluções para a baixa oferta de trabalho.

Segundo o autor, a via insercional-competitiva é concebida como solução baseada

exclusivamente numa lógica econômico-mercantil: trata-se de inserir no circuito formal da

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economia a população desempregada, seja através da criação direta do emprego, seja através

da criação do auto-emprego na forma de ação empreendedora privada. Entende-se por circuito

formal, os empregos gerados pelo setor privado (economia de mercado) e, subsidiariamente,

pelas instituições públicas de Estado quando contratam, na maior parte dos casos, por meio de

concurso público. A via sustentável-solidária, por sua vez, segundo França Filho (2008),

parte da premissa de que “toda forma de combate à pobreza ou promoção do desenvolvimento

local” (p.223), não pode ser baseada em soluções individuais dispersas, mas sim através de

um esforço coletivo de reorganização de economias locais a partir do debate público entre os

próprios moradores na perspectiva de se criar as ofertas de trabalho com base em demandas

efetivas identificadas localmente. Trata-se desse modo de se conceber novos mecanismos de

regulação econômico-sociais dos territórios. Se as razões principais para a falta de emprego

são sobretudo de ordem estrutural (devido a própria incapacidade da economia de mercado de

absorver a demanda por trabalho), torna-se necessário então conceber-se outros modos de

regulação econômica da própria sociedade.

Nessa perspectiva, os territórios são tidos como de extrema importância, A premissa

aqui é a de que “todo local, bairro ou comunidade, por mais pobre que seja, pode ser portador

de soluções para os seus próprios problemas” (p.223). É neste sentido que a economia

solidária surge como estratégia complexa e inovadora de cooperação para promoção do

desenvolvimento local (FRANÇA FILHO, 2008).

As experiências de economia solidária são concebidas como um “conjunto de

atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito –

organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras sob a forma coletiva

e autogestionária” (ATLAS, 2006, p.11), que vem se apresentando como uma alternativa

inovadora de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão social (SENAES,

2011).

De acordo com a SENAES (2011) a economia solidária compreende uma diversidade

de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes

de troca, empresas auto-gestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam

atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio

justo e consumo solidário.

A economia solidária, segundo a SENAES (2011), possui as seguintes características:

a cooperação, com a existência de objetivos e interesses comuns, propriedade coletiva de

bens e partilha dos resultados; a autogestão, pela qual os próprios moradores são

responsáveis pela gestão da comunidade; a dimensão econômica, que envolve o conjunto de

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elementos de viabilidade econômica, como os bancos comunitários, crédito, comércio justo e

consumo; e a solidariedade , como caráter primordial.

Para Gaiger (1999) os empreendimentos econômicos solidários (EES) carregam essas

características. Contudo, este autor ainda acrescenta: a democracia, no sentido de que as

decisões do empreendimento são tomadas em conjunto; a participação, através da

regularidade e frequência nas reuniões e assembleias; o igualitarismo, no qual deve ser

garantido uma divisão equitativa da remuneração; capacidade de autosustentação, no sentido

do empreendimento ser capaz de produzir atividades econômico-financeiras que viabilizem o

desenvolvimento local; e, o desenvolvimento humano, no sentido da formação cidadã e da

qualificação profissional. Tanto na visão do referido autor, quanto da própria Senaes, a

solidariedade é vista como característica essencial para o desenvolvimento local.

Esta solidariedade – foco da definição da economia solidária - representa para Arruda

(2000, p.1) “o profundo desejo de felicidade, que não pode existir sem auto-respeito, respeito

mútuo de laços de amor entre as pessoas”. Arruda (2000) ainda considera que a economia

solidária seria uma ferramenta para construção de um projeto maior:

Nós falamos de uma solidariedade consciente, construída como parte de um projeto teleológico. Portanto, que envolve fins que nós lançamos em nossa ação; um projeto para iluminar a nossa ação. Essa é a concepção do amor como lei natural de convergência, como uma tendência natural da humanidade (ARRUDA, 200, p.208).

Cunha (2009, p 105) enfatiza a importância de uma lógica de dádiva nas práticas de

economia solidária. Ele explica que o circuito da economia solidária é composto do dar,

receber e retribuir, e que o laço entre as pessoas é alimentado através deste processo. Ele se

utiliza do conceito de dádiva como elemento no circuito, afirmando que a economia solidária

“é vista como uma reposição de vários elementos deste processo de trocas tradicionais” e que

o processo produtivo, na economia solidária, não existe sem as relações sociais. Pela dádiva,

entende-se uma lógica na qual a circulação de bens e/ou serviços pauta-se, sobretudo, na ideia

de eternizar os laços sociais através do circuito comentado.

Nota-se assim um claro intento sobre a formulação de novas propostas, especialmente

em relação a um novo fazer econômico. Corroborando com essa perspectiva, França Filho e

Laville (2004, p.15) trazem uma definição plural da economia para melhor entender a

economia solidária, a saber:

Um outra economia que se gesta em diferentes partes do mundo a partir de iniciativas, sobretudo de natureza cooperativista e associativista, oriundas da sociedade civil e dos meios populares. Tais iniciativas assumem diferentes

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configurações, desde aquelas que criam o seu próprio circuito de produção e consumo, alimentando cadeias sócio-produtivas autônomas e, em alguns casos, fortemente baseadas em relações não-monetarizadas, até outras que empreendem relações mais permanentes com o mercado e desenvolvem diferentes tipos de parcerias com os poderes públicos. As formas assumidas por esta economia também variam de acordo com as diferentes regiões e países: de cooperativas de produção e prestação de serviços, passando por bancos comunitários, clubes de trocas e associações de serviços em países latino-americanos, até as cooperativas sociais, as sociedades cooperativas de interesse público, as empresas sociais ou os sistemas de trocas locais, entre outros, em países europeus.

A noção de economia plural, adotada por França Filho (2007 p. 159) corresponde à

ideia de uma economia que admite uma pluralidade de formas de produzir e distribuir

riquezas. Trata-se de outro modo de entender a realidade do funcionamento da economia,

permitindo uma ampliação do próprio olhar sobre o que é o econômico, em que a noção

capitalista de mercado deixa de ter centralidade (diferentemente da visão predominante),

muito embora esteja contida nesta abordagem ampliada. Com esse outro olhar sobre o

econômico, é possível “perceber certas singularidades, próprias às práticas de economia

solidária”.

A economia solidária aparece então como uma nova proposta para produção e geração

de renda, que valoriza as potencialidades produtivas locais, expressas por meio do trabalho

das pessoas enquanto uma importante ferramenta para a emancipação cidadã (TOWS e

SANTOS, 2008).

É dentro desta ideia de uma nova economia que Singer (2008) sublinha um ponto de

vista antagônico da economia solidária em relação ao sistema capitalista, ao afirmar que a

economia solidária nega a separação entre trabalho e posse dos meios de produção, que é

reconhecidamente a base do capitalismo. Ao afirmar que o capital da empresa solidária é

possuído pelos que nela trabalham e apenas por eles. Trabalho e capital estão fundidos porque

todos os que trabalham são proprietários da empresa e não há proprietários que não trabalhem

na empresa, todos são sócios. A propriedade da empresa é dividida por igual entre todos os

trabalhadores, para que todos tenham o mesmo poder de decisão sobre ela. Empresas

solidárias são, em geral, administradas por sócios eleitos para a função e que se pautam pelas

diretrizes aprovadas em assembleias gerais ou, quando a empresa é grande demais, em

conselhos de delegados eleitos por todos os trabalhadores.

Singer (2002) demonstra as diferenças entre empreendimentos econômicos solidários

e empresas capitalistas. A começar por dizer que os empreendimentos solidários estão

pautados na solidariedade e que todos são iguais diante da forma de produzir, comercializar,

consumir e poupar. Em seguida ele comenta que na cooperativa de produção, que segundo ele

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é um protótipo de empresa solidária, todos os sócios têm a mesma parcela do capital e, por

decorrência, o mesmo direito de voto em todas as decisões. O autor ressalta que na empresa

solidária, todos são sócios e não recebem salário, além disso, toda retirada é decidida

coletivamente, em assembleia, se devem ser iguais ou diferenciadas. A empresa solidária é

então, administrada democraticamente, através da autogestão. Parece repetição de conteúdo

do parágrafo anterior

2.2 A PRÁTICA DE INCUBAÇÃO TECNOLÓGICA NO CAMPO EMPRESARIAL

O termo incubação tem sido historicamente mais associado à realidade da incubação

de empresas, de fato, na origem de acordo com Lalkaka e Bishop (1996) as incubadoras são

ambientes de trabalho projetados para auxiliar o crescimento de novas empresas emergentes,

com a finalidade de ampará- las durante o seu estágio inicial. Pode, ainda, conforme afirma

Salomão (1998) estimular a criação de novas ideias. Isso porque elas são responsáveis por

promover aos empreendedores expertises necessárias para gerenciar suas empresas,

estabelecendo redes de contato e ferramentas que contribuam para a sua consolidação no

mercado (NBIA, 2000).

Para melhor entender a incubação, é possível buscar o entendimento nas incubadoras

hospitalares. No contexto hospitalar, o termo incubação refere-se às incubadoras de recém-

nascidos prematuros em estado de saúde fragilizado. Coelho (2010, p.3) diz que “as

incubadoras hospitalares visam criar as condições ótimas e necessárias para que os recém-

nascidos possam crescer num ambiente mais protegido e seguro, diminuindo assim, a taxa de

mortalidade infantil”.

Do mesmo modo, no contexto empresarial o termo incubação passou a ser utilizado

para denominar o processo pelo qual as empresas buscam consolidar-se para crescer em um

ambiente competitivo e diminuir suas taxas de mortalidade. Nesse sentido, as incubadoras

surgiram incialmente dentro das próprias empresas conhecidas como “ninhos de empresas”.

De acordo com Coelho (2010), nesse tipo de incubação privilegiam-se as pequenas empresas,

microempresários, empreendedores, ou entidades provenientes do setor empresarial ou da

indústria.

Segundo Souza et al. (2003) a primeira incubadora no Brasil surgiu na década de 80

com o auxilio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e

com adesão de agências como a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Dessa parceria

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foi constituída, em 1987, a Associação Nacional de Entidades Promotoras de

Empreendimentos de Tecnologia Avançada (ANPROTEC), na qual se inserem as

Incubadoras de Base Tecnológica que visam fornecer apoio em infraestrutura física e suporte

empresarial para que novas ideias sejam desenvolvidas e colocadas no mercado com grande

competitividade (REDE BAIANA DE INCUBADORAS, 2009).

Souza et al. (2003) afirmam ainda que o surgimento das incubadoras esteve ligado a

existência de uma lacuna institucional que promovesse a relação entre o ambiente acadêmico

e o setor empresarial. E que apenas no início dos anos oitenta, as universidades são postas no

lugar dos institutos de pesquisa e passam a ser indutores do processo de incubação.

As incubadoras universitárias nasceram para apoiar o desenvolvimento de empresas ou

organizações recém-criadas, quer de empreendedores individuais quer coletivos que

constituíram recentemente um negócio ou, ainda, para apoiar territórios que se encontrem

num estado precário quanto à sua sustentabilidade e crescimento (COELHO, 2010).

Nessa perspectiva, a incubação universitária dirige-se tanto ao desenvolvimento de

empresas e/ou ideias tidas como inovadoras (incubação universitária empresarial), quanto ao

suporte de desenvolvimento territorial através da incubação universitária em economia

solidária, por meio das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares e Incubadoras

Tecnológicas de Economia Solidária, foco deste estudo.

As incubadoras universitárias voltadas para o apoio de empresas estão fortemente

influenciadas pelo discurso predominante sobre empreendedorismo. Para a Rede Baiana de

Incubadoras RBI, (2009) é um processo testado e consagrado há mais de trinta anos em todo

o mundo que visa oferecer a empreendedores com grande potencial, apoio em infraestrutura

física e suporte empresarial (consultoria e apoio nas áreas de capacitação, estratégia,

marketing, finanças, tecnologia, jurídica, contábil, RH, etc) para que novas ideias sejam

desenvolvidas e colocadas no mercado com grande competitividade.

A Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias

Avançadas (ANPROTEC, 2002,) afirma que :

Uma incubadora de empresas é um ambiente flexível e encorajador, onde é oferecida uma série de facilidades para o surgimento e crescimento de novos empreendimentos. Além da assessoria na gestão técnica e empresarial da empresa, a Incubadora oferece a infraestrutura [sic.] e serviços compartilhados necessários para o desenvolvimento do novo negócio, como espaço físico, salas de reunião, telefone, fax, acesso à Internet, suporte em informática, entre outros. Dessa forma, as incubadoras de empresas geridas por órgãos governamentais, universidades, associações empresariais e fundações, são catalisadoras do processo de desenvolvimento e consolidação de empreendimentos inovadores no mercado competitivo.

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A ANPROTEC é uma associação que representa os interesses das incubadoras de

empresas, parques tecnológicos e empreendimentos inovadores no Brasil. O papel dela é

promover atividades de capacitação, fazer articulações políticas e contribuir para a geração e

disseminação do conhecimento. O foco é atuar no segmento do chamado “empreendedorismo

inovador”, por meio do apoio a entidades promotoras de inovação e pela capacitação de

empreendedores e gestores do movimento nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de

Empresas.

As incubadoras de empresas visam, portanto, a construção de ambiente propício ao

desenvolvimento de um negócio nascente, além de facilitar o acesso ao conhecimento e a

entidades que fornecem financiamentos. A ANPROTEC e o Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) destacam as vantagens que as incubadoras de

empresas representam para as empresas incubadas (ANPROTEC e SEBRAE, 2002, p.59), ao

considerá- las como agentes do processo de geração e consolidação das micro e pequenas

empresas, pela detenção de mecanismos que estimulam o desenvolvimento dessas empresas,

indústrias, por meio de formação complementar do empreendedor em seus aspectos técnicos

gerenciais além de serem facilitadores no processo de empresariamento e inovação

tecnológica para as micro e pequenas empresas.

A National Business Incubation Association (NBIA, 2003), conceitua a incubadora

como um processo dinâmico de desenvolvimento de empresas de negócios. As incubadoras

ajudam as novas empresas a sobreviver e crescer durante o período inicial em que são mais

vulneráveis, fornecendo auxílio de gerência, financiamento e serviços de sustentação técnica,

além de oferecer também serviços compartilhados de escritório, acesso a equipamentos,

aluguéis e espaços flexíveis.

Medeiros e Atas (1994, p. 325), por sua vez, agregam ao conceito a ideia de finalidade

das incubadoras de empresas, e relatam que a incubadora é um espaço especialmente

configurado para transformar ideias em produtos, processos ou serviços. Para Quadros (2004,

p.26), primordialmente, o objetivo de uma incubadora de empresas é minimizar a taxa de

mortalidade das micro e pequenas empresas.

Para alcançar os objetivos de maneira efetiva, as incubadoras atuam na definição de

uma metodologia capaz de nortear o processo de incubação. Os cuidados oferecidos passam

pela orientação do novo negócio desde o projeto, montagem, instalação do empreendimento e

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preparação gerencial para as dificuldades oriundas da inserção no mercado. O quadro 01

apresenta o processo de incubação de acordo com Freitas e Mendes (2009).

Quadro 1: Processo de Incubação

Empresa Incubação

Externa (à distância) A empresa recebe suporte, mas não está instalada fisicamente na incubadora

Pré-incubação Estimula o empreendedorismo e prepara os projetos que tenham potencial de negócios em empresas, durante um curto período (de 6 meses a 2 anos no máximo).

Incubada Desenvolve produtos ou serviços inovadores, está abrigada em incubadoras de empresas e passa por processos de seleção, recebendo todo o apoio técnico, gerencial e financeiro da rede de instituições, constituídas especialmente para criar e acelerar o desenvolvimento de pequenos negócios.

Graduada Passa pelo processo de incubação e alcança desenvolvimento suficiente para ser habilitada a sair da incubadora, devido ao seu conhecimento e gerenciamento consolidados, estando, por isso, apta a desenvolver suas atividades sem a necessidade de apoio direto da incubadora.

Associada Empresas existentes no mercado e interessadas em estabelecer parceria estratégica com a incubadora em seu âmbito de atuação. Ao associarem-se, as empresas usufruem das possibilidades de gerar negócios com as empresas incubadas, ampliando o acesso a esses empreendimentos inovadores.

Fonte: Freitas e Mendes (2009)

Para Atrasas (2003), fundamentalmente são três as etapas pelas quais as empresas

incubadas passam dentro de um processo de incubação: 1) fase de implementação,

representada por todo processo de seleção; 2) a fase de crescimento ou consolidação, na qual

a empresa incubada recebe todo o assessoramento administrativo necessário para o seu

desenvolvimento e ingresso no mercado por seus próprios meios e 3) a fase de maturação, que

é a saída da empresa incubada da incubadora, passando a ser chamada de empresa graduada.

O ciclo de vida das empresas incubadas inicia-se com a sua seleção para ingressar na

incubadora através de edital e termina com a sua graduação, período em que a empresa é

considerada apta para atuar sozinha no mercado. O tempo de permanência da empresa na

incubadora é dividido em etapas, denominadas fases do processo de incubação. (BEUREN e

RAUPP, 2005).

Na pré-incubação, a empresa passa por todos os processos internos, com ênfase no

plano de negócios, na pesquisa de mercado e na formação do gestor do negócio. Esta etapa

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Visa preparar os empreendimentos para ingresso na Incubadora. Beuren e Raupp (2005)

apresentam alguns requisitos necessários para a instalação de empreend imentos nas

incubadoras como um dos primeiros desafios aos empreendedores que buscam no processo de

incubação o suporte necessário para o crescimento do negócio, são eles: Viabilidade do

negócio, características inovadoras do produto, tecnologia do produto, perfil do

empreendedor, setor de atuação do empreendimento, experiência do empreendedor no setor

de atuação, geração de emprego, processo de produção não poluente, idoneidade comercial e

pessoal do proponente, importância da empresa no apoio às empresas já instaladas,

possibilidade de interação com a universidade e retorno financeiro do empreendimento.

Esta fase inicial de seleção é um momento crucial não só para identificar a viabilidade

do empreendimento e as capacidades do empreendedor, mas também para selecionar

empresas cujo suporte administrativo, financeiro e de estrutura disponibilizado pela

incubadora possa favorecê- las. A maioria desses fatores são abordados por Medeiros e Atas

(19995) como os principais critérios adotados no Brasil para seleção de empresas candidatas a

ocupar uma vaga na incubadora.

Para participar do processo de seleção, o empreendedor deve apresentar uma proposta

nos moldes solicitados pela incubadora. No Brasil, afirma Freitas e Mendes (2009), a maioria

das incubadoras não exige Plano de Negócios, como é comum em outros países. A seleção é

realizada através de uma série de entrevistas, a partir de uma proposta preliminar com o

objetivo da incubação. Nesta primeira fase são pré-selecionados empreendimentos que em

seguida recebem orientação para elaboração do Plano de Negócios.

Depois de concluído esse documento, é analisado e, caso aprovado, a incubação

inicia-se de fato. As incubadoras denominam essa fase de pré-incubação, que dura de seis até

dois anos. As incubadoras podem oferecer cursos preparatórios para os potenciais

empreendedores, usualmente cursos de noções de empreendedorismo (para o perfil da

incubadora) e planos de negócios. Esses cursos funcionam mais como um processo de

conscientização do empreendedor. E também são oferecidos por instituições parceiras de

incubadoras, como o SENAI, o SEBRAE e as Universidades.

Sendo selecionada, a empresa é então incubada e passa a dispor além das orientações,

de espaço físico na incubadora para iniciar seus trabalhos o que pode incluir sala equipada

com computadores, telefone, acesso a internet, mesas, cadeiras etc.

Após saída da incubadora, para assegurar mudanças periódicas comentam Freitas e

Mendes (2009), é estipulado um período, geralmente de 2 a 3 anos, depois do qual a empresa

incubada deverá graduar-se e deixar a incubadora. Na maioria dos casos, há regras que

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obrigam a empresa a graduar-se e a instalar-se em outro local depois de ultrapassado o

período de incubação. No entanto, há em geral, flexibilização das regras sobre esse período,

com o objetivode evitar que “quebrem”, terminado o prazo estipulado de incubação. Decisões

a respeito de quando e como poderá ocorrer maior flexibilidade das regras de admissão e de

saída, devem ser tomadas pela equipe de gerenciamento, à luz das circunstâncias específicas

envolvendo a questão. Deve haver um mínimo de diretrizes preestabelecidas para nortear esse

tipo de decisão.

As incubadoras também têm regras de como a empresa incubada estará sujeita à

revisão regular de seu desempenho. Algumas incubadoras estipulam que as empresas que não

conseguem atingir as metas acordadas e registradas em seus planos de negócios, estarão

sujeitas à intervenção da incubadora em seus procedimentos gerenciais ou, então, devem

deixar a incubadora.

Freitas e Mendes (2008), também salientam que a avaliação de desempenho da

incubadora é essencial para o seu constante aprimoramento. A ANPROTEC (2005) elaborou

uma metodologia de avaliação e autoavaliação específica para incubadoras e empresas

incubadas. Entre os principais indicadores destinados à avaliação da incubadora, a

ANPROTEC sugeriu os seguintes para medir a eficiência na gestão dos recursos recebidos:

produtividade; processos que indiquem gestão da qualidade; investimentos realizados em

inovação (tais como: capacitação de recursos humanos, formação dos empresários, marketing,

promoção e divulgação, melhoramento de processos, número de pessoas treinadas); número

de empregos gerados; número de empresas graduadas; número de impostos gerados; grau de

utilização dos recursos disponíveis; número de produtos apoiados pela incubadora; demanda

por vaga na incubadora.

Destaca-se que os indicadores, bem como a metodologia, podem variar de incubadora

para incubadora, principalmente nas chamadas incubadoras de economia solidária, as quais

serão abordadas na próxima seção.

2.3 A PRÁTICA DE INCUBAÇÃO TECNOLÓGICA NO CAMPO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

A prática da incubação tecnológica no campo da economia solidária ocorre

principalmente em universidades públicas a partir da década de 90, tendo iniciado na

Universidade Federal do Rio de Janeiro inspirado por um movimento em prol da cidadania

contra a fome e a miséria, sob a liderança de Betinho em 1992. O objetivo eraobter o resgate

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da cidadania dos trabalhadores e a viabilização dos seus negócios geridos de forma

autogestionária. Com isso, impulsionara o movimento da economia solidária no Brasil que

nesta época, praticamente não existia. (SOUZA et.al, 2003, p. 3).

Para Coelho (2010, p.5) essas incubadoras têm como objetivo criar novas ferramentas

de gestão e novos conhecimentos de base tecnológica apropriadas à realidades específicas de

organizações comunitárias a partir da disseminação de conceitos de economia solidária, de

cidadania, de autogestão, de cooperativismo e de democracia participativa.

Esse tipo de incubação é realizado por alunos, professores e investigadores, através de

programas de extensão (promovidos por Pró-Reitorias e núcleos de extensão ou pelas mais

diversas faculdades) os quais têm com destinatárias populações e organizações populares e de

economia solidária (COELHO, 2010).

Devido a essas especificidades, a incubação universitária em economia solidária é

distinta da incubação universitária empresarial que se dirige ao desenvolvimento de empresas

e/ou ideias tidas como inovadoras, uma vez que o objeto a ser incubado é um território, o qual

atuará sob uma lógica socioeconômica distinta e objetivos destinados ao desenvolvimento

local, não apenas em termos econômicos, mas também nas dimensões politica, social,

ambiental e cultural.

Dessa maneira, a incubação universitária em economia solidária segundo Coelho

(2010) foca o desenvolvimento da investigação científica e tecnológica para o trabalho ou a

sociedade, invertendo uma lógica tradicional de investimento direcionado ao mercado (a

ciência direcionada para a tecnologia empresarial). Esses dois tipos de incubação, vivem,

portanto, dentro de contextos totalmente diferentes. Para o caso da incubação em economia

solidária o contexto não é mercadológico, mas sim, de desenvolvimento territorial com foco

no avanço cidadão e geração de emprego e renda.

2.3.1 INCUBAÇÃO TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS POPULARES

As cooperativas populares contam com apoio das ITCPs para sua formação e

desenvolvimento. Esta incubação universitária de cooperativas populares difere-se da

incubação tecnológica mais conhecida, aquela dirigida a organizações empresariais. “A

incubação universitária de empreendimentos populares dirige o desenvolvimento da

investigação e da ciência para o trabalho ou a sociedade, invertendo uma lógica tradicional de

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investimento direcionado ao mercado (a ciência direcionada para a tecnologia empresarial)”

(COELHO, 2011, p.5).

Coelho (2011, p. 6) define ITCP como “programas de extensão universitária que

baseiam as suas atividades nos princípios do cooperativismo no âmbito da economia solidária,

dirigindo-se exclusivamente a indivíduos ou organizações populares em territórios com alta

exclusão social”. A maioria das ITCP´s possui vinculação com a economia solidária e os

princípios relativos ao tipo de cooperativa a ser incubada está ligado à autogestão, à

viabilidade econômica, à valorização do trabalho e à valorização da educação pública e

gratuita continuada, em todos os níveis. (CRUZ, 2004).

O projeto das ITCPs foi inspirado pelo movimento em prol da cidadania contra a fome

e a miséria. Liderado por Betinho e professores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em

parceria com a Universidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, tal projeto nasceu da

necessidade de criação de uma cooperativa popular, formada por moradores da região de

Maré – RJ, que pudessem prestar serviços para a própria Fiocruz, surgindo assim, a

Cooperativa de Manguinhos. A experiência bem-sucedida de Manguinhos fez com que alunos

e professores da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coordenação de Programas

de Pós-Graduação da Engenharia - COOPE) decidissem criar em 1995, a primeira iniciativa

de Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, cujo objetivo inicial foi estabelecer

contato com comunidades das favelas interessadas na formação de cooperativas de trabalho.

(SOUZA, et al, 2003).

Foi a partir da experiência da ITCP/COPPE-UFRJ que outros grupos, em outras

Universidades iniciaram o desenvolvimento de outras ITCP´s. Esse movimento foi reforçado

pela Rede de ITCP´s. No entanto cada incubadora tem sua forma específica de construir seus

trabalhos e cumprir seus objetivos. A variedade de produtos e serviços incubados pelas ITCPs

é grande, indo da indústria de transformação (metalúrgica, têxtil, vidros etc.) até extração

mineral (pedras ornamentais) ou pesca, passando por serviços (coleta e seleção de lixo,

limpeza vigilância, turismo, finanças etc.) e pela pequena agricultura familiar.

O estudo de Cruz (2004) revelou as ações mais realizadas durante o processo de

incubação nas ITCPs. Em praticamente todas elas, existem dois tipos de ações vinculadas ao

processo de incubação e que podem ocorrer em fases distintas ou paralelamente, a depender

da metodologia adotada. São elas: assessoria e consultoria, de um lado, e formação e

qualificação, do outro. O objetivo básico da primeira ação é ajudar as cooperativas a

estruturar-se e viabilizar-se economicamente; a segunda ação visa garantir que a cooperativa

continue funcionando e crescendo depois de completada a incubação (CRUZ, 2004).

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Quanto ao processo de incubação, as ITCPs não delimitam um prazo para sua entrada,

nem saída, mas, como já mencionado, há distintos enfoques com relação aos conteúdos e ao

método pedagógico utilizado. As etapas de incubação são, no entanto, bem semelhantes a

incubação de empresas, a saber: pré- incubação, incubação ou desenvolvimento e

desincubação ou maturação.

Cruz (2004) caracteriza ainda um período de aproximação e de identificação das

potencialidades do processo em cada caso, com estudos de grupo e de viabilidade econômica.

Assim, a incubação articula assessoria e formação com diferentes ritmos, conteúdos e

métodos pedagógicos.

2.3.2 INCUBAÇÃO DE REDES LOCAIS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

Segundo Higa (2005) as redes de economia solidária são consequência da luta pela

cidadania e democracia no país. As redes visam articular principalmente os setores do Estado,

da sociedade civil e do meio acadêmico para elaboração teórica e apoio na formação de

empreendimentos solidários que tem por objetivo a inclusão social e democratização das

relações de trabalho. Elas estão, cada vez mais, em evidencia na temática da economia

solidária e contam, inclusive, com o apoio do Estado para sua formação através de

financiamento, assessoria e fomento às iniciativas.

O autor sublinha o fato de tradicionalmente segmentos da esquerda, existentes no

Brasil, apoiarem as rede de ECOSOL, “no sentido de incluir pessoas e ampliar o espectro de

influência em um setor destituído de cidadania” (p.18). Nessa visão, as experiências

anarquistas, socialistas, comunistas e de outras organizações políticas estariam

proporcionando uma espécie de retorno a experiências históricas ocorridas

internacionalmente. Essa troca de experiências e o diálogo teórico permitiriam, assim, a

ampliação do debate e superação de algumas visões instrumentais e deterministas sobre a

tecnologia (HILGA, 2005).

Dessa maneira, Hilga (2005) conclui que as redes de economia solidária se enquadram

na lógica das redes de atores sociais uma vez que elas possuem uma dinâmica tanto local

quanto internacional. Suas ligações estão sujeitas à lógica dos movimentos sociais e, portanto,

são construídas de acordo com o processo histórico. A construção social está delimitada pelos

atores sociais que a apoiam, e as divergências são tratadas através da experiência

desenvolvida pela sociedade civil brasileira nas últimas décadas.

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Pode-se afirmar, ainda segundo Higa (2005) que as redes de economia solidária têm como

princípio a autogestão e a radicalização da democracia . Já que seus objetivos contemplam a

sobrevivência, o equilíbrio financeiro, a sustentabilidade e a melhoria das condições de trabalho.

Nessa perspectiva, a cooperação no consumo, na produção, no financiamento, além da

preocupação com a educação, a pesquisa e a cultura aparecem como características ideais das

redes de economia solidária. Ao contrário das empresas convencionais e suas redes, que são

dominantes e têm ao seu redor a legislação e o poder para se desenvolver, as redes de ECOSOL

vão “contra a maré”, no sentido de que elas compartilham carências (legais, econômicas e

políticas) e defendem alternativas de organização produtiva num contexto de grandes dificuldades

e muitos desafios para o seu desenvolvimento.

Ao afirmar a importância do direito ao trabalho, tais redes tendem a incorporar forte

caráter de movimento social, diferentemente das redes de empresas direcionadas exclusivamente à

lógica de mercado (HIGA, 2005).

Num outro esforço de entendimento sobre o que é uma rede de economia eolidária,

Mance (2001, p. 24) a define como:

uma articulação entre diversas unidades que, através de certas ligações, trocam elementos entre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que podem se multiplicar em novas unidades, as quais, por sua vez, fortalecem todo o conjunto na medida em que são fortalecidas por ele, permitindo-lhe expandir-se em novas unidades ou manter-se em equilíbrio sustentável. Cada módulo da rede representa uma unidade e cada fio um canal por onde essas unidades se articulam através de diversos fluxos.

Já França Filho e Cunha (2009) dão mais ênfase à noção de redes locais de economia

solidária (RLES), diante da constatação de insuficiência da incubação voltada para o

empreendimento pontualmente, cujas possibilidades de êxito diminuem quando atuam

isoladamente. Para esses autores, uma RLES “implica uma associação ou articulação de

vários empreendimentos e/ou iniciativas de economia solidária com vistas à constituição de

um circuito próprio de relações econômicas e de intercâmbio de experiências e saberes

formativos” (2009, p. 225).

Esses autores argumentam que os objetivos da rede de economia solidária são

“permitir a sustentabilidade dos empreendimentos e/ou iniciativas de economia solidária e

fortalecer o potencial endógeno de um território quanto à sua capacidade de promover seu

processo de desenvolvimento”.

De modo mais amplo, as redes de economia solidária podem ainda ser classificadas de

três modos, segundo França Filho (2008) em: transterritorial, territorial ou mista.

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No nível transterritorial, o autor afirma que uma rede desse tipo pode envolver uma

articulação de vários empreendimentos que atuam na cadeia produtiva de determinado

produto. Além disso, pode também envolver acordos e contratos bilaterais (ou multilaterais)

entre iniciativas ou organizações em diferentes áreas ou níveis de atuação. “A rede

transterritorial pode abarcar, ainda, empreendimentos de um mesmo tipo que compartilham

princípios, saberes e um modo de funcionamento próprio, muito embora preservem sua

autonomia enquanto organização individual, fruto de um contexto particular” FRANÇA

FILHO (2008, p.224).

No nível territorial, uma rede de economia solidária envolve, numa mesma base

territorial, a articulação de empreendimentos e/ou iniciativas de economia solidária em

diferentes âmbitos de atuação: consumo ético, finanças solidárias, tecnologias livres,

comércio justo, produção autogestionária e serviços locais, entre outros. Este tipo de rede

supõe articulação entre iniciativas de distintas naturezas - sócio-econômicas, sócio-políticas,

sócio-culturais e sócio-ambientais – e admite diferentes níveis de articulação com a economia

local pré-existente ou já estabelecida (FRANÇA FILHO, 2008)

E o terceiro tipo denominado de misto, para França Filho (2008) supõe uma dimensão

terrritorial, porém envolvendo parcerias e articulações transterritoriais. Para ele, na prática,

“as redes locais de economia solidária tendem ao caráter misto, pelo fato de que, raramente,

se encontra alguma experiência limitada a um âmbito geográfico específico, por razões,

inclusive, de sustentabilidade da própria rede, que tende a conectar-se com outras redes

através da expansão de suas atividades” (p. 224).

Feitas essas considerações sobre rede, pode-se concluir que a diferença na incubação

da ITCP em relação àquela de redes locais de economia solidária, conforme salienta Coelho

(2011), é essencialmente uma questão de metodologia empregada. Isto é, as ITCPs incubam

os empreendimentos (cooperativas, associações, experiências, etc.) de forma isolada e não

articulada ou em redes.

Além disso, na incubação em rede não existem fases de incubação pré-definidas,

portanto, não ocorrem avaliações periódicas, há, como uma prestação de contas, reuniões nos

quais a incubadora apresenta ao agente fomentador a evolução do território. Cada comunidade

é dotada de características próprias e de necessidades diferenciadas que impedem a

formulação pré-definida de um processo de incubação.

Na ideia de incubação de RLES, prevalece a noção de que, para que ocorra o

desenvolvimento de um território, é preciso estabelecer uma rede solidária, constituída de

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determinados empreendimentos que irão gerar emprego e renda na comunidade, restabelecer a

cultura local e intensificar as relações sociais.

Para França Filho e Cunha (2009, p. 224) a incubação RLES volta-se a um público de

baixa renda; nela não incidem taxas sobre os empreendimentos incubados e “a incubação em

economia solidária diz respeito, sobretudo a empreendimentos solidários, preferencialmente

no formato de cooperativas, incitando a constituição de processos de autogestão nos

empreendimentos criados”.

A incubação de territórios compreende uma profunda relação entre atores da

Universidade (professores, técnicos e estudantes) e os sujeitos sociais do território

(moradores, profissionais, lideranças comunitárias, representantes dos poderes públicos e

outras instituições). O processo envolve diferentes tipos de economia solidária, entre formas

sócioprodutivas e sócio organizativas. Torna-se necessário abordar, no processo, iniciativas de

natureza sociocultural, sociopolítica e socioambiental (FRANÇA FILHO; CUNHA, 2009).

Mance (2005, p. 9), também apresenta possíveis etapas de como elaborar uma rede de

economia solidária. Para ele, “é preciso partir do que já existe nos territórios, considerando-se

as demandas concretas de consumo das famílias e as potencialidades locais, cabe realizar um

bom diagnóstico, seguido da elaboração de projetos que, preferencialmente, sejam

complementares e, depois, selecionar adequadamente os instrumentos ou tecnologias sociais a

serem adaptadas e empregadas para fortalecer esse arranjo produtivo local, que vai se

constituindo com a organização da rede socioeconômica”.

O diagnóstico deve considerar: as demandas de consumo final; as atividades locais

produtivas (inclusive de autossubsistência, familiares ou coletivas); os recursos típicos da

região além de sugestões, propostas e estudos de produção local (anteriormente realizados, se

houver) que atendam a tais demandas e que incorporem esses recursos como insumos

(MANCE, 2005).

Mance (2005, p. 10) considera que, para a elaboração dos projetos de

empreendimentos solidários, se deve considerar as demandas de consumo e as atividades

produtivas já existentes levantadas no diagnóstico. O projeto deve possibilitar: “a) articular as

demandas de consumo locais já mapeadas com atividades produtivas locais ou regionais de

caráter solidário, visando satisfazê- las; b) reorganizar progressivamente as cadeias produtivas

dos produtos e serviços solidários já ofertados ou a serem oferecidos com a criação de novos

empreendimentos; c) estabelecer uma estratégia logística adequada, facilitando o processo de

armazenamento, distribuição e comercialização”.

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O autor também alerta que, no momento de selecionar e adaptar os instrumentos e

tecnologias sociais, o objetivo maior deve ser potencializar as atividades projetadas com

vistas a promover o desenvolvimento local e sustentável. Cabe, então, selecionar e adaptar os

instrumentos e tecnologias sociais mais adequados a cada situação concreta (MANCE, 2005).

Para ele, a discussão sobre redes, que ele denomina de redes de colaboração solidária,

se processaria em um circuito fechado. Elas possuem características culturais, políticas e

econômicas distintas do mercado, pois criam criam formas de sociabilidade e de relação que

envolvem idealmente produção, comércio, distribuição e serviços em um ambiente

comunitário. Logo, haveria a construção de um ambiente na qual a circulação de bens e

serviços se daria através de trocas e de relações sociais na dimensão local.

Higa (2005), na mesma direção, complementa que a solidariedade e o

compartilhamento de valores permitem a essas redes uma forma de pensar, produzir e de se

relacionar vinculadas às comunidades e a concepções de mundo semelhantes. Nesse sentido o

autor argumenta que o processo de formação de uma rede de ECOSOL é um processo

inovador, uma vez que a tecnologia é uma construção social que influencia as relações sociais

dos trabalhadores.

A adoção de inovações sem uma perspectiva crítica e a busca de alternativas de

produção que contemplem formas de ampliação de uma cidadania plena e ativa são essenciais

para se caminhar para o centro de cadeias produtivas, criar novos produtos e se inserir de

forma relevante nas decisões sobre o desenvolvimento social, econômico e científico-

tecnológico, contemplando a sustentabilidade (HIGA, 2005).

2.4 A INCUBADORA TECNOLÓGICA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – ITES

A Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do Desenvolvimento

Territorial da Universidade Federal da Bahia (ITES/UFBA) é pioneira na constituição de

redes locais de economia solidária e já atua há sete anos na área. Trata-se de um programa de

extensão da UFBA, que também está envolvida com a pesquisa. A constituição da ITES é

resultado do acúmulo de estudos e experiências, teoria e experimentação prática com o tema

da economia solidária desenvolvida na Escola de Administração da UFBA.

Foi a partir de um projeto requisitado pela empresa pública Petrobras à UFBA que

surgiu a incubadora, no ano de 2005 com o foco em prestar assessoria a projetos de criação de

redes locais de economia solidária em territórios menos favorecidos do Estado da Bahia. O

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projeto pioneiro chamou-se Eco Luzia em decorrência do território incubado, a comunidade

de Santa Luzia, bairro localizado no município de Simões Filho (Região Metropolitana de

Salvador/Bahia). Fez-se então a tríade UFBA, comunidade de Santa Luzia e a empresa

Petrobras. Esse projeto contava com uma equipe formada por quatro estudantes bolsistas e um

coordenador.

Desde então a ITES atua na implantação de RLES. É possível notar, de acordo com o

quadro 2, que a incubadora não limita sua atuação a localidades próximas a sua sede na

Escola de Administração da UFBA, no bairro do Vale do Canela-Salvador/Bahia mas, sim, a

diferentes municípios no Estado da Bahia.

Quadro 02: Principais Projetos da ITES

Projeto Localidade EcoLuzia Santa Luzia, município de Simões Filho Estado da Bahia Ecosmar Matarandiba, município da Ilha de Vera Cruz Estado da Bahia Ecosamper Saramandaia, município de Salvador Estado da Bahia Renascer Município de Cairu Estado da Bahia Rede Nordeste de Bancos Comunitários de Desenvolvimento

Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Ceará. Outros bancos na Bahia estão sendo apoiados pela iniciativa

Eco-Redes Ambiental

Município de Cairu, comunidade de Santa Luzia no município de Simões Filho, comunidade de Matarandiba, município de Vera Cruz, Estado da Bahia

Pintadas Município de Pintadas, Estado da Bahia Fonte: Adaptado pela autora.

Atualmente, a ITES conta com o desenvolvimento de cerca de doze projetos e uma

equipe de aproximadamente trinta membros entre professores e pesquisadores, estudantes em

nível de graduação e pós-graduação, técnicos e estagiários, além de parcerias no apoio ao

desenvolvimento dos seus projetos tais quais: Ministério da Educação e Cultura (MEC);

Ministério das Comunicações; Petrobras; Companhia Hidro Elétrica do São Francisco

(CHESF); Dow Brasil; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB);

Governo do Estado da Bahia ; Prefeituras municipais (Pintadas, Vera Cruz, Camamu);

Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT); Financiadora Estudos e Projetos (FINEP);

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); Secretaria Nacional de Economia Solidária

(SENAES); Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão (FAPEX); e Secretaria do Trabalho;

Emprego, Renda e Esporte (SETRE/BA).

Para desenvolver os seus projetos a ITES concebe o seu desenho de intervenção

metodológico baseado na promoção de tecnologia social para a criação de trabalho e renda de

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forma sustentável em contextos territoriais específicos, podendo ser um bairro popular, uma

comunidade ou um povoado no entorno de pequenos municípios ( ITES, 2012).

A metodologia da ITES propõe uma relação dialógica de interação entre a

universidade (professores, técnicos e estudantes em diferentes níveis) com as comunidades

(através dos seus diferentes atores: lideranças associativas, comerciantes, empreendedores

locais e moradores em geral) (FRANÇA FILHO e CUNHA, 2009). O enfoque da incubação

compreende todo o território, entre formas sócioprodutivas e sócio-organizativas. O processo

não é limitado à formação de empreendimentos socioeconômicos, pois há a preocupação

também em resgatar a autoestima da comunidade através de iniciativas de empreendimentos

sociocultural, sóciopolítico e socioambiental, porque, o fortalecimento da dinâmica

associativista local é vista como de fundamental importância em tais processos de incubação

pelo fato de favorecerem a construção de espaços públicos em tais territórios (LAVILLE,

DACHEUX, 2003 apud FRANÇA FILHO, 2006).

Pelo fato do processo de incubação construir uma rede, os espaços públicos são de

extrema importância, já que constituem espaços de reflexão e orientação ou encaminhamento

sobre a estruturação da rede através de debates públicos. Trata-se de espaços que estimulam o

exercício e aprendizado de uma cultura política democrática nos territórios onde atuam.

Assim, a importância das redes decorre ainda, conforme afirma Mance (2005), do fato

de serem construídas através de relações sociais, econômicas, políticas e culturais pré-

existentes. Em termos socioeconômicos, a ITES tem valorizado bastante a formação dos

Bancos Comunitários de Desenvolvimento, com vistas ao fortalecimento do comércio local.

Para França Filho e Cunha (2009), além do entrevistado E4, os BCDs possuem um caráter

impulsionador no processo de incubação, pois, além de ser o vetor da dinâmica

socioeconômica da rede, ele financia muitas iniciativas.

O processo de incubação da ITES não acontece através de fases pré-determinadas,

mas, sim, é um processo estruturado através de quatros eixos de intervenção: A formação, a

pesquisa, o planejamento e a experimentação.

A formação é uma necessidade permanente, pode ocorrer sempre, principalmente

porque os territórios incubados possuem déficits educacionais. A formação passa por

capacitação técnica para a gestão de iniciativas da economia solidária, capacitação

profissional relativa à área de atuação do empreendimento na rede, formação geral em

cidadania, associativismo e economia solidária. Ela trabalha “de maneira simultânea a

dimensão de sociabilidade e de gestão do conhecimento na construção de uma cultura do

trabalho democrático e autogestionário” (FRANÇA FILHO e CUNHA, 2009 p.731).

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A pesquisa é momento de estudar e analisar a realidade local a fim de que seja feito o

diagnóstico sobre o contexto socioeconômico e os aspectos culturais do território. A pesquisa

se baseia no mapeamento da produção, dos serviços e do consumo local. O objetivo é obter

subsídios para projetar a rede que será constituída, indicando assim, quais empreendimentos

devem ser criados ou fortalecidos (FRANÇA FILHO e CUNHA, 2009).

O eixo do planejamento está muito ligado ao da pesquisa, porque ele define os

contornos da rede como estratégia de desenvolvimento da comunidade através da indicação

das iniciativas e empreendimentos a serem criados. França Filho e Cunha (2009) explicam

que o casamento entre o planejamento e a pesquisa é amplamente inspirado na metodologia

de Plano Local de Investimento Estratégico (PLIES), desenvolvida pelo Banco Palmas.

O ultimo eixo, o da experimentação, é a vivência prática da economia solidária por

meio da rede desenvolvida, ou em desenvolvimento. Tal experimentação já pode acontecer

antes da pesquisa e do planejamento, pois, segundo França Filho e Cunha (2009), existem

empreendimentos que são indispensáveis à formação de redes locais de economia solidária, a

exemplo dos BCDs. O objetivo da experimentação é fortalecer o processo de incubação, de

modo que permita a apropriação da rede por parte da comunidade.O processo de incubação

construído pela ITES é visto assim como amplamente influenciado por um processo de

aprendizagem local, como uma premissa dentro da lógica de incubação (FRANÇA FILHO e

CUNHA, 2009). A ideia é que, para haver efetivo processo de transformação local, é

necessário haver aprendizado de uma outra cultura de relações de trabalho e isso apenas é

possível num exercício cotidiano de construção de novas práticas. A lógica desse tipo de

processo requer o envolvimento direto dos moradores em todas as fases do processo de

incubação, já que são eles os protagonistas no desenvolvimento do território. É precisamente

esse aspecto que traduz o princípio da emancipação cidadã como um dos nortes deste tipo de

prática.

Os eixos de intervenção podem ser identificados no capítulo que segue, com a

descrição do processo de incubação da rede local de economia solidária de Matarandiba,

através do projeto Ecosmar.

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3 PROBLEMATIZANDO O CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA DO CASO

3.1 A COMUNIDADE DE MATARANDIBA

Matarandiba é uma pequena vila de pescadores situada às margens da Baia de Todos

os Santos no município de Vera Cruz/BA. Encontra-se distante cerca de 40km da sede do

município (Mar Grande) e 251km da Cidade do Salvador via BR-324 e BR-101 ou 194km via

BA-001, conforme ilustra as Figuras 1 e 2.

Figura 1: Mapa de Localização de Matarandiba na Ilha de Vera Cruz

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Figura 2: Mapa de localização da Ilha de Vera Cruz e Matarandiba na Ilha de Itaparica e Região Metropolitana de Salvador e no estado da Bahia

Fonte de dados para os mapas: elaborado pela autora a partir do Google Maps (www.maps.google.com.br).

Registros históricos sobre a ilha de Vera Cruz destacam a vinda, em 1510, do

navegador português Diogo Álvaro Corrêa, o Caramuru; e conferem aos índios tupinambás o

título de primeiros habitantes da ilha (IBGE, 2012). Da mesma forma, a comunidade de

Matarandiba também tem suas origens ligadas ao povo indígena. Um conto popular mais

conhecido no lugar informa sobre a existência de uma índia chamada Diba, que quando as

índias encontraram, eles gritaram alto “MataramDiba”, e assim haveria surgido o nome da

comunidade. Em outra lenda contada, o nome está associado a um tipo de árvore abundante

no local que os índios denominavam Matarandiba.

Mesmo sem registros oficiais que historiem a formação da comunidade, os relatos dos

moradores mais antigos dão conta de o fato da vila ter sido povoada por índios, e apenas

posteriormente passou a ser ocupada pelos pescadores da Ilha de Vera Cruz.

A pesca constituiu a base da economia local, e mesmo diante das transformações

socioeconômicas dos últimos tempos, a pesca continua sendo uma importante fonte de

subsistência para a maior parte dos moradores. Segundo dados do mapeamento do projeto

ECOSMAR (2009), a maioria da população vive da atividade pesqueira e doméstica, e os

demais são empregados terceirizados na Prefeitura de Vera Cuz e da Companhia Dow

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Química. Ainda de acordo com esse mapeamento, a comunidade é formada por

aproximadamente setecentos habitantes, e desses 52,8% não trabalham. Conforme, dados da

tabela 1.

Tabela 1: Situação ocupacional dos moradores

Situação Ocupacional Qt. Cit. Freq. Assalariado c/ carteira 45 9,6% Assalariado s/ carteira 24 5,1% Conta Própria – regular 48 10,3% Serviços informais irregulares 21 4,5% Pensionista / aposentado 56 12,0% Desempregado 27 5,8% Não Trabalha (estudante e dona de casa) 247 52,8% TOTAL 468 100,0%

Fonte: Mapeamento projeto ECOSMAR (2009).

Esses dados revelam que a comunidade se encontra numa situação social

marginalizada, com pouco acesso a emprego formal, o que pode decorrer de dois fatores: a

baixa escolaridade e a falta de profissionalização. No que se refere à escolaridade (Tabela 2),

a maioria da população (29,3%) possui o primeiro grau completo, e apenas 0,9% possui nível

superior completo. Observa-se ainda uma taxa de analfabetismo de 6%.

Tabela 2: Escolaridade dos moradores

Escolaridade Qt. cit. Freq. Freq. Acum.

Analfabeto 28 6,0% 6,0% Alfabetizado 24 5,2% 11,2% Sem Idade Escolar 16 3,4% 14,7% Pré-Escolar 41 8,8% 23,5% 1ª a 4ª série 91 19,6% 43,1% 1º Grau Incompleto 136 29,3% 72,4% 1º Grau Completo 20 4,3% 76,7% 2º Grau Incompleto 33 7,1% 83,8% 2º Grau Completo 65 14,0% 97,8% Superior Incompleto 6 1,3% 99,1% Superior Completo 4 0,9% 100,0% TOTAL 464 100,0%

Fonte: Mapeamento projeto ECOSMAR (2009)

No que diz respeito ao nível de escolaridade, importa salientar que Matarandiba conta

com duas escolas: a Escola Hilton Rodrigues, voltada para o ensino infantil, e a Juvenal

Galvão, para o ensino fundamental. Essas escolas funcionam regularmente e possuem em

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média cinco professores, três com formação em pedagogia, e uma diretora. A ausência de

escolas que ofereçam ensino médio impõe aos alunos desse nível a necessidade de

deslocamento até a sede do município, em Mar Grande, com o ônus de custear as despesas de

transportes.

Esses fatores impactam na experiência profissional dos moradores, como pode ser

observado na tabela 3.

Tabela 3: Experiência profissional dos moradores

Experiência profissional Qt. Cit. Freq. Mariscagem/ pesca 71 14,9% Agricultura 3 0,6% Serviços de construção civil 31 6,5% Trabalhos domésticos 61 12,8% Empreendedor 5 1,0% Outros 103 21,6% Não se aplica 203 42,6% TOTAL CIT. 477 100,0%

Fonte: Mapeamento projeto ECOSMAR (2009).

Ademais, o isolamento territorial da comunidade por muitos anos pode ter sido um

agravante no seu desenvolvimento. O isolamento da comunidade deve-se em grande medida a

dificuldade de transporte para outras localidades na Ilha de Vera Cruz e Itaparica. O sistema

de transporte é um dos maiores problemas para a comunidade, tanto pela incipiência de

transportes quanto pelas barreiras geográficas. Uma moradora entrevistada relata que no

passado, em Matarandiba, não havia transporte regular, fazendo com que os moradores

caminhassem cerca de 7 km até a rodovia BA-001, na qual teriam acesso a meios de

transporte rodoviário.

Atualmente, esse problema foi parcialmente sanado, haja vista que a Prefeitura de

Vera Cruz disponibiliza um transporte coletivo, ao custo de R$2,50 por pessoa nos com

horários fixos saindo da Vila às 05:30min e 13:00h até o terminal de Bom Despacho com

retorno para a Vila 11:15min e 16:15min. Além disso, a Associação dos moradores, a

ASCOMA, fechou contrato com um motorista e faz o mesmo roteiro, também com horários

fixos, com saídas da Vila às 05:45min, 10:00h e 14h até o terminal de Bom Despacho na Ilha

de Itaparica, com retorno à Vila às 09:00h, 12:00h e 17h ao um preço de R$2,00.

Ainda no que se refere à problemática do desenvolvimento local, dois fatores se

destacam: saúde e moradia. Quanto à saúde, Matarandiba possui um posto de atendimento

médico, com funcionamento frágil no que tange ao número de profissionais de saúde –

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médicos e enfermeiros – alocados, bem como à frequência desses atendimentos. Em

situações graves, os moradores necessitam se deslocar para a sede do município de Vera Cruz,

que conta, segundo dados do IBGE (2009), com dezessete postos municipais e três postos

privados; ou ainda para a Cidade do Salvador.

Com relação à moradia, no entanto, verifica-se na tabela 4, uma situação satis fatória

onde 93,4% possuem casa própria em situação de infraestrutura apropriada para moradia. (ver

tabela 5)

Tabela 4: Moradia por condição de ocupação

TIPO DE MORADIA Qt. Ct. FREQUENCIA

Alugado 6 4,4% Próprio 127 93,4% Cedido/Emprestado 2 1,5% Ocupado/Invadido 0 0,0%

Outro 1 0,7% TOTAL OBS. 136 100% Fonte: Mapeamento projeto ECOSMAR (2009)

Tabela 5: Condições da casa (estrutura interna).

CONDIÇÕES DA CASA Qt. Cit. FREQUENCIA Água encanada 118 86,8% Água não encanada 18 13,2% Energia elétrica com conta 120 88,2% Banheiro com vaso 122 89,7% Banheiro sem vaso 6 4,4% Cozinha com gás 125 91,9% Cozinha sem gás 20 14,7% Piso de cerâmica 82 60,3% Piso de cimento 47 34,6% Terra batida 7 5,1% TOTAL OBS. 136 Fonte: Mapeamento projeto ECOSMAR (2009)

Os dados revelados nesta pesquisa de mapeamento foram de grande importância no

processo de implantação da rede Ecosmar, conforme será descrito no item que segue.

3.2 O PROJETO ECOSMAR ENQUANTO PROCESSO DE INCUBAÇÃO

Antes da implementação do Projeto ECOSMAR (Economia Sustentável e Solidária de

Matarandiba), a localidade possuía um débil processo de organização comunitária. De acordo

com relatos de moradores, a movimentação comunitária teve início no ano de 2003,

atendendo uma exigência da então Dow Química, hoje Dow Brasil, que possui há cerca de

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trinta anos, uma unidade industrial de exploração de sal-gema (matéria-prima para a produção

de cloro e soda cáustica) na localidade. A empresa atua na Bahia desde a década de 60, com

os primeiros estudos para a exploração das jazidas de sal-gema em Matarandiba (DOW

BRASIL, 2012).

A empresa orientou, então, a criação de um conselho local em função das constantes

reivindicações realizadas pela comunidade, porque, a relação empresa-comunidade acontecia

de forma desarticulada e baseada em apoios e auxílios isolados, conforme demandas

pessoalizadas, o que caracterizava uma relação fragmentada e pulverizada de apoio, sem a

eficácia de resultados que a própria empresa almejava. Com o conselho local, a intenção

também era que houvesse um interlocutor nesse conselho que de forma legitimada atuasse

como o porta-voz da comunidade, em encontros bimensais. O conselho foi então instaurado

em 2003 sob a denominação de Conselho Comunitário de Matarand iba (CCM), porém não

havia um estatuto nem era registrado oficialmente, logo não existiam regras de adesão da

comunidade. Ou seja, qualquer morador que tivesse interesse podia fazer parte do conselho.

Em paralelo ao CCM, a empresa estimulou a criação de uma associação local,

surgindo então a Sociedade Beneficente de Matarandiba (SOBEMA). Tal associação foi então

criada com intuito de obter um cadastro de pessoa jurídica e desta forma adquirir produtos

alimentícios fornecidos pelo governo da época, além de viabilizar juridicamente o repasse de

recursos de apoio da Dow para a comunidade. Contudo, a Sobema não nasce fruto de uma

cultura propriamente democrática de associativismo (ausência de assembleias e das rotinas

regulares de gestão de uma associação), não assumindo portanto uma característica de

construção de tal cultura na relação com os moradores. Sua função acaba sendo muito mais de

viabilização de um PJ, ou seja, de uma pessoa jurídica para facilitação de repasse de recursos.

No ano de 2004 o CCM começa então a cobrar da empresa projetos em prol da

comunidade, conforme comenta o morador entrevistado (E3). Uma das reivindicações citada

por ele foi a de que crianças fossem estudar fora da comunidade, para tanto foi implantado o

projeto intitulado; Projeto Educacional de Matarandiba (MEP).

Para legitimar as reivindicações, os integrantes do conselho buscaram meios para

registrar o conselho, e criar um estatuto. Segundo o morador (E3), "este foi o nosso primeiro

desafio, eu mesmo, não sabia nem o que era uma ata." No fim de 2006, quase três anos na

tentativa de legalizar o conselho, foi possível criar um estatuto. Para tanto, a equipe contou

com a orientação de um contador, indicado por outras comunidades.

Foi a partir desse momento, que o conselho ganhou força para requerer melhorias na

comunidade. Diante disto, a empresa passou a se preocupar com a estruturação de um efetivo

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projeto de apoio à comunidade, numa tentativa inclusive de se separar das suas próprias

práticas tradicionais de apoio, com caráter mais assistencialista. Ela vai então informar-se

sobre diferentes projetos de responsabilidade social com características inovadoras e assim

toma conhecimento da experiência do projeto Eco-Luzia (Relação UFBA-Petrobras). A ITES

é então procurada com fins de celebração de parceira institucional para elaboração e

implementação de um projeto na comunidade. É nesse momento então que a ITES no diálogo

com a comunidade propõem um processo mais amplo de intervenção enquanto projeto

voltado para o desenvolvimento da comunidade como um todo. Nasce aí o projeto intitulado

Economia Sustentável e Solidária de Matarandiba (ECOSMAR), que em 2007 realiza seu

primeiro contato com o CCM.

O projeto ECOSMAR (2007, p. 5) parte da premissa de que “todo território pode ser

portador de soluções para os seus próprios problemas desde que haja conhecimento sobre as

reais potencialidades das pessoas e seu local, investindo-se então em sua capacidade de

sustentabilidade territorial”.

Ou seja, a ideia é de redesenhar a organização da economia local e seu funcionamento ou modo de regulação, com vistas: a) ao reforço do seu tecido de relações de sociabilidade (dimensão social); b) ao resgate e valorização da sua memória histórico-cultural (dimensão cultural); c) ao fortalecimento da capacidade cidadã das pessoas através da organização associativista (dimensão política); d) à preservação e uso sustentável dos seus próprios recursos naturais (dimensão ambiental); e, e) a constituição de tecnologia socialmente apropriada pela população local (dimensão de gestão). (...) “O intuito do projeto é aumentar o grau de conhecimento, participação e implicação das pessoas em torno dos problemas comuns afetando a vida de todos em seu local. Além disso, busca-se fomentar um amplo processo de capacitação dos habitantes locais para assumir a própria gestão do seu processo de desenvolvimento local.” (ECOSMAR, 2007, p.5).

Diante do entendimento das premissas e objetivos, o ECOSMAR prosseguiu com suas

primeiras ações, que foram a) de mobilização comunitária com base na estruturação do

associativismo local; b) de diagnóstico da realidade local através tanto do diagnóstico sócio-

econômico (através da pesquisa de mapeamento da produção e do consumo local) quanto do

diagnóstico mais sóciopolítico (através da pesquisa histórico-cultural de Matarandiba); e, c)

de constituição de duas iniciativas em fase experimental: o Banco Comunitário de

Desenvolvimento e o Infocentro Comunitário.

A mobilização esteve ligada à participação dos moradores como princ ípio básico

fomentador do processo de incubação e condição essencial para o êxito, principalmente pela

busca da sustentabilidade territorial. Essa ação foi estruturada através de um conjunto de

ações de mobilização da comunidade, a exemplo de maior nível de conhecimento e

compreensão sobre a realidade do seu desenvolvimento local (obstáculos, desafios e

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possibilidades/caminhos); e capacitação para auto-organização comunitária via fortalecimento

do associativismo local.

Para tanto, segundo comenta o entrevistado (E1), a ITES trouxe outro modelo de

estatuto para o conselho, num formato associativista, e com a ideia de implantar um banco

comunitário. O CCM continua a existir como tal, porém nasce também a Associação

Comunitária de Matarandiba (ASCOMA). Um conjunto de atividades viabilizou a

implementação e estruturação da ASCOMA, não apenas como personalidade jurídica, mas

também enquanto espaço privilegiado para discussão pública de problemas locais e fóruns de

deliberação coletiva da comunidade.

A ASCOMA tem, portanto, o objetivo de promover a mobilização da comunidade, ela

tem o papel de reunir as várias representações locais, além das instituições parceiras da rede

ECOSMAR. O seu papel é monitorar a implementação dos vários empreendimentos criados

na rede, além de constituir-se como interlocutor privilegiado da comunidade junto ao poder

público municipal. Do ponto de vista do processo de incubação, fez parte da estruturação da

ASCOMA a realização de um planejamento estratégico para a mesma, a criação de estatuto

jurídico e a realização de 24 oficinas de formação em associativismo que se somaram às doze

oficinas de formação em economia solidária.

Durante a fase de estruturação da ASCOMA, a ITES passa então a proposta inicial do

ECOSMAR, de fazer um mapeamento na comunidade a fim de identificar quais

empreendimentos deverão ser constituídos para atender a comunidade.

Em abril de 2007 a incubadora iniciou os trabalhos de mapeamento (ver anexo A).

Através dos dados coletados foi possível identificar os empreendimentos a serem construídos,

pois o mapeamento possibilitou um estudo minucioso sobre as características da realidade

socioeconômica da comunidade. A equipe técnica envolveu a comunidade nesse estudo tanto

na aplicação dos questionários da pesquisa, quanto na tabulação dos dados coletados. Para

tanto, foi preciso capacitar os moradores através de atividades que proporcionassem a

apropriação das ferramentas de tecnologia da informação que estiveram disponíveis à

comunidade.

O objetivo do mapeamento foi, portanto, de conhecer detalhadamente a realidade da

economia local, tanto em termos do que se consome, quanto do que se produz, sempre com o

foco de se obter a sustentabilidade dessas alternativas. De acordo com um integrante da

equipe técnica da ITES, o pressuposto metodológico do projeto que, com base nos resultados

da pesquisa, a própria comunidade pudesse discutir e planejar as iniciativas a serem

constituídas, ou seja, os contornos fundamentais da rede a ser implantada na etapa posterior.

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Tal planejamento supõe um redesenho sustentável da economia local a partir da participação

direta dos próprios moradores.

No processo de envolvimento dos moradores no projeto ECOSMAR, foram realizadas

também oficinas para capacitação de pessoas, apresentação e discussão do projeto com a

comunidade (FIGURA, 3).

Figura 3: Oficina de capacitação

Fonte: ASCOMA, 2012

Para tanto, foram desenvolvidas atividades de construção conjunta para seminário de

mobilização das pessoas a fim de pensar o desenvolvimento local de Matarandiba e para

engajamento no projeto. Além disso, o tema da economia solidária foi também discutido nas

oficinas, e houve um levantamento de informações sobre a realidade local, tanto em termos de

resgate da memória histórico-cultural do lugar, quanto em termos das condições mais gerais

de vida relativas aos aspectos econômicos, ambientais, sociais, etc.

Em paralelo, outras oficinas também foram criadas para montar o infocentro e o banco

comunitário, tanto em razão do diagnóstico de precariedade em relação ao acesso as

tecnologias digitais (apenas quatro computadores existiam na comunidade como um todo, e

eram de uso privado, quanto em razão da importância estratégia do BCD no horizonte de

criação de uma rede local de economia solidária.

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O Banco Comunitário Ilhamar e o Infocentro Comunitário (Ver figura 4) foram, então,

construídos no mesmo espaço físico da ASCOMA, sendo inclusive tal entidade responsável

pela gestão deles, que contam com suas próprias equipes de trabalho.

Figura 4 – Sede do Banco Comunitário Ilhamar em Matarandiba Fonte: Fotografia tirada pela autora

Do ponto da vista da lógica de incubação, o banco comunitário representa o vetor de

viabilidade socioeconômica da rede, ao se responsabilizar pelo financiamento e apoio técnico

ao desenvolvimento das demais iniciativas. O propósito do BCD, nessa lógica de incubação, é

de disseminar um sistema de finanças solidárias no território através da prática do

microcrédito popular-solidário cujo intuito é financiar tanto a produção e prestação de

serviços locais, quanto o próprio consumo na comunidade (PROJETO ECOSMAR, 2008a).

Em conjunto com essas práticas, o banco comunitário também fomenta uma série de

outras ações no campo das chamadas finanças de proximidade, a exemplo da adoção de

moeda socia l como circulante local lastreado em moeda oficial. A moeda social adotada na

Comunidade de Matarandiba chama-se concha (ver Figura 5). O nome da moeda reflete um

apelo identitário já que está associado às características locais da comunidade, dada a

abundância de conchas e ostras nas praias de Matarandiba. O banco Ilhamar disponibiliza a

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moeda concha em cinco valores diferentes: cinquenta centavos de concha, uma concha, duas

conchas, cinco conchas e dez conchas.

Para ter acesso à moeda, os moradores da comunidade devem se dirigir ao banco e

efetuar a troca do real pela concha.

Figura 5 – Cédula da Moeda Social CONCHA Fonte: ASCOMA, 2012

“A moeda social surgiu após o mapeamento socioeconômico feito no local.

Verificamos que menos de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) eram gastos na comunidade.

Os 80% restantes iam para outros locais”, ressaltou o entrevistado (E2). Mercadinhos, salões

de beleza, lan houses, sapataria, bares e pousadas passaram a aceitar a concha.

Já o infocentro comunitário (Infomar) veio para cumprir quatro funções vitais na

dinâmica de constituição da rede, segundo a metodologia da incubação. Em primeiro lugar,

permitir a própria realização do mapeamento, devendo funcionar como espaço aglutinador das

atividades, tanto aquelas atividades relativas à própria formação dos moradores, quanto

àquelas destinadas às várias etapas do mapeamento, como por exemplo, a tabulação dos

dados. Em segundo lugar, o Informar busca potencializar a capacidade de desenvolvimento da

rede local através de sua conexão com outras redes fora do território, seja através da

efetivação de intercâmbios e toda forma de relação econômica ou de outra natureza, no intuito

de fortalecer a rede local por meio da comunicação instantânea. Em terceiro lugar, a ideia é de

viabilizar a gestão da informação na rede, por meio da articulação com o banco comunitário.

Em quarto lugar, a iniciativa representa um espaço fundamental de promoção de um processo

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de inclusão digital na comunidade, através de formação e capacitação de moradores. Tal

iniciativa, portanto, se constituiu como condição indispensável para alavancagem do

desenvolvimento local, uma vez que sem o acesso às novas tecnologias da informação torna-

se difícil imaginar a sustentabilidade territorial e da rede (PROJETO ECOSMAR, 2008a).

Além do banco comunitário Ilhamar e do infocentro Infomar, ainda nesta primeira

etapa de intervenção, é importante sublinhar a importância dos resultados do mapeamento

sócioeconômico, que foram enriquecidos com outras informações sobre o histórico

sóciocultural e ambiental, num esforço de constituir uma base sólida de conhecimento para

pensar os destinos da comunidade, isto é, as próximas etapas do projeto.

Buscou-se criar novos empreendimentos com base então no mapeamento da produção,

prestação de serviços e consumo local; a continuidade do processo de formação e capacitação

geral da comunidade; e, início do processo de qualificação profissional específica para os

empreendimentos criados. Conforme comenta um morador entrevistado (E1), durante o

mapeamento, foram feitas entrevistas com pessoas idosas que resgataram as lembranças das

manifestações culturais. Por isso, foi concluído que um empreendimento cultural seria

necessário no processo de incubação. O entrevistado se recorda de uma das entrevistas em que

uma das mais idosas moradoras da comunidade, cantou antigas canções, temas de

manifestações culturais em Matarandiba. Foi então, durante as oficinas que uma das

moradoras demonstrou interesse em levar à frente uma associação de cultura em Matarandiba.

No final do ano de 2008 com o objetivo de resgatar e preservar a história e cultura da

comunidade surgiu a, Associação Sociocultural de Matarandiba (ASCOMAT). Além disso,

houve também a criação de um grupo de capoeira e artesanato, com o objetivo de reforçar as

atividades culturais locais, além do grupo de Produção Agroecológica de Alimentos. Tais

atividades continuavam expressando o processo de ampliação da Rede ecosmar.

O grupo de artesanato, denominado ARTSOMA, surgiu da iniciativa de um grupo de

mulheres que de maneira espontânea começaram a trabalhar com artesanato utilizando

material como barro, conchas, panos, garrafas PET entre outros, encontrados como refugos

locais. Num esforço de fortalecimento do grupo foi feita uma articulação com o Centro

Público de Economia Solidária do Governo do Estado da Bahia que viabilizou realização de

capacitação específica, abordando temas como identidade cultural, pontos de coleta de

material, desenho de produto, desenho de embalagem e escolha do conselho gestor do grupo.

Este último foi formado com representação da ASCOMA, da ASCOMAT e do Centro público

de economia solidária da Sesol/Setre do governo estadual. Na sequência, foi realizada

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parceria com o Instituto Mauá em Salvador. Contudo, dificuldades internas do grupo no

âmbito do seu próprio relacionamento inviabilizaram a continuidade da iniciativa.

De todo modo, e em paralelo, a ASCOMAT seguia se fortalecendo. Ela mobilizou a

comunidade através das dinâmicas culturais, realizando diversas ações como a construção da

identidade visual da associação, a qual foi realizada em conjunto com membros da ASCOMA

e do INFOMAR. Através de uma oficina que contou com a participação do designer do

Centro Público Estadual de Economia Solidária e da Superintendência de Economia Solidária

do Governo do Estado da Bahia, apresentaram-se duas propostas de logomarcas. Através de

votação, as associadas escolheram a logomarca final, a qual pode ser vista na figura 6.

Figura 6- Logomarca ASCOMAT

Fonte: ECOSMAR, 2009

A ASCOMAT atuou através de um plano de comunicação para atrair e informar os

moradores da comunidade. Foram confeccionadas camisetas, banners, placas, site/blog e

material de papelaria, para fortalecer a imagem do grupo dentro e fora da comunidade. Um

dos propósitos maiores da associação foi o compromisso com o resgate de manifestações

culturais tradicionais do local, algumas até esquecidas. Nesse intuito, foi feito um esforço

inicial importante de levantamento de informações sobre como é feita cada uma das

manifestações culturais de Matarandiba. Informações como: Quando é realizada? Em que

local? Por quem? Quais os recursos necessários? Estas foram algumas questões discutidas

entre técnicos da incubadora e membros da ASCOMAT.

O resultado desse esforço coletivo, que envolveu a construção de oficinas com relatos

e depoimentos de antigos moradores da comunidade, foi um levantamento sobre todas as

manifestações que fazem parte da história cultural de Matarandiba. As manifestações que

foram resgatadas através da constituição dos grupos e suas respectivas apresentações foram:

São Gonçalo, Boi Estrela, Terno das Flores, Samba de Roda Voa-Vôa Maria, Presente dos

Pescadores a Iemanjá e a Encenação do Zé do Vale.

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As oficinas e os relatos dos moradores contribuíram não somente para sistematizar as

atividades da ASCOMAT, mas serviram como informações importantes subsidiando as

propostas de projetos da associação em diferentes editais públicos a partir de então. O êxito

em tais editais rendeu recursos valiosos na continuidade das ações da associação. A Figura 7

expõe o grupo Samba de Roda Vooa Voa Maria apresentando-se para a comunidade de

Matarandida.

Figura 7 – Samba de Roda Voa Voa Maria Fonte: Propriedade da autora

Com a legalização da ASCOMAT e sua participação exitosa em editais públicos

houve um fortalecimento do seu processo de auto-organização. É nessa dinâmica que se fez

necessária a nomeação de uma agente de cultura de Matarandiba. Nessa perspectiva, a equipe

ITES e a ASCOMAT elaboraram um plano de trabalho para a ASCOMAT e propuseram sua

fusão com o Grupo de Trabalho (GT) de Comunicação e Cultura da ASCOMA, a fim de

possibilitar uma maior interação entre as duas associações.

Tanto para o entrevistado E1, quanto para o entrevistado E3, o surgimento da

ASCOMAT foi muito importante para aliviar os trabalhos da ASCOMA, podendo ela focar

no seu processo de reestruturação associativa.

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As ações da ASCOMA se destacam sob dois aspectos: o primeiro, de organização

interna; e o segundo, relativo ao seu projeto para a comunidade. Para dar conta de suas ações,

a associação estruturou-se por meio de coordenações e grupos de trabalho sendo: um

conselheiro administrativo, e um suplente, um conselheiro financeiro, e um suplente, um

conselheiro de comunicação e cultura, e um suplente, um conselheiro de esporte e lazer, e um

suplente, um conselheiro de Meio Ambiente e um suplente e, por fim, um conselho fiscal.

Nesse período, foi possível criar uma identidade visual para a associação. Essa

atividade foi realizada juntamente com membros do Infomar. As oficinas contaram com a

participação do designer do Centro Público Estadual de Economia Solidária, que apresentou

duas propostas de logomarcas. Através de votação, os associados escolheram a logomarca

final abaixo :

Figura 8 – Logomarca

Fonte: ASCOMA, 2012

Nesse mesmo período, o Infomar, com o objetivo de ampliar o acesso ao uso de

computadores e internet na comunidade de Matarandiba, buscou profissionalizar o seu

processo de gestão bem como o de capacitação de agentes. Para isso foi estendida a oferta de

serviços à comunidade por intermédio de cursos de capacitação em software livre e

manutenção de computadores. Os cursos foram oferecidos inicialmente para os agentes locais

da rede e mais cinco moradores que foram selecionados através de um processo seletivo

aberto aos interessados. O curso teve o objetivo de oferecer uma capacitação inicial básica

para que os participantes pudessem se tornar multiplicadores.

Para apoiar esse objetivo, foram adquiridos novos equipamentos no total de sete

computadores com acesso a internet, que recebem manutenção periódica. Um outro aspecto

importante é a ampliação do catálogo de serviços do infocentro, a fim de oferecer, a baixo

custo, serviços como acesso a internet, digitação, elaboração de documentos, xerox, scaner,

gravações em mídia, impressão, entre outros.

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A intenção das ações realizadas no Infomar é tornar o espaço referência na

comunidade como ponto de encontro, que proporcione um local de estudo e pesquisa através

do acesso à internet, como complemento à formação escolar de estudantes e adultos. Entre as

atividades realizadas pelo Infomar no contexto da incubação, destacam-se (conforme relatório

do projeto ECOSMAR): avaliação e acompanhamento do infocentro; oficinas de gestão

financeira; oficinas de criação da logomarca em parceria com CESOL/SETRE;

acompanhamento e análise da gestão financeira; oficinas de gestão do Infocentro oficinas de

atendimento a usuários para as agentes do Infocentro; manutenção periódica dos

equipamentos; curso para formação de instrutores em informática básica com suíte open

office; curso para formação de instrutores em Linux Intermediário; curso para formação de

instrutores em montagem e manutenção de computadores; relação solidária entre o infocentro

comunitário Infomar e lan house local; oficina de infocentro para os membros da ASCOMA e

ASCOMAT.

Com o fortalecimento das primeiras iniciativas e/ou empreendimentos, fez-se

necessário, na comunidade, criar um fórum como espaço de proposição, diálogo e atitude

sobre as questões econômicas e os impactos destas na vida das pessoas. Surgiu, então, o

Fórum Econômico Local de Matarandiba (FECOL) com o objetivo geral de promover o

desenvolvimento econômico da comunidade a partir da organização local de líderes

populares, produtores e produtoras, comerciantes, prestadores de serviço e consumidores.

Os objetivos específicos são: fortalecer o comércio local; fortalecer o banco

comunitário Ilhamar; propor ações para geração de trabalho e renda na comunidade e propor

políticas públicas para o desenvolvimento da comunidade. O Fórum é formado por uma

coordenação executiva e uma secretaria executiva. A primeira reunião para construção do

FECOL aconteceu no dia 30 de março de 2009, com a presença da equipe da ITES e os

agentes comunitários, quando foram definidos três grupos de trabalhos (GTs): GT de

Comunicação/Mobilização; GT de Organização/Alimentação e o GT de Metodologia.

(ECOSMAR, 2009).

O GT de Comunicação/Mobilização é responsável pela confecção e distribuição de

cartasconvite, cartilhas, cartazes e faixas, divulgação boca a boca e em carro de som. O GT de

Metodologia é responsável pela confecção da cartilha juntamente com o GT de

Comunicação/Mobilização, pela elaboração da apresentação e condução da primeira reunião

do FECOL e da prestação de contas do banco Ilhamar à comunidade; e o GT de

Organização/Alimentação é responsável por preparar toda a infraestrutura necessária ao

funcionamento da reunião do FECOL.

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Mas, antes mesmo de 2009, durante as oficinas de capacitação, surge a oportunidade

de realização de oficina de Agroecologia, esta é uma forma diferente de pensar e agir em

relação à natureza, especialmente com a produção de alimentos através de uma agricultura

menos agressiva ao meio ambiente, voltada para a promoção da inclusão social e melhoria das

condições de vida dos agricultores e da comunidade. Assim, dois moradores de Matarandiba

participaram do curso de Agroecologia da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola

(EBDA), realizado na cidade de Irecê/BA. O curso abordou temas como: consequência da

agricultura convencional, formação do solo, sustentabilidade, manejo de pragas, princípios da

agroecologia, produção de biofertilizantes, legislação da produção orgânica entre outros.

Após o curso, foram desenvolvidas atividades agroecológicas, como a de produção de

alimentos para a comunidade, sendo os dois participantes referências na comunidade e

responsáveis pelo desenvolvimento desse novo empreendimento da rede. A proposta consiste

em cultivar alguns gêneros alimentícios mais consumidos na comunidade de modo que

possam ofertar produtos com alto valor nutritivo, livre de agrotóxicos, produzidos na

comunidade e que gerem trabalho e renda. A proposta apresenta ainda alto potencial de

reaplicação junto a outros moradores da comunidade, levando ao aperfeiçoamento de técnicas

agroecológicas e segurança alimentar e nutricional para toda a comunidade.

O Banco Comunitário de desenvolvimento Ilhamar garantiu o crédito para iniciar as

atividades, como a compra de insumos e equipamentos. A proposta também contou com

outros parceiros como a Superintendência de Agricultura Familiar e o Instituto de

Permacultura da Bahia (IPB).

Nesse período, outras oficinas também foram realizadas com vistas a contribuir com o

processo de empoderamento local através da disseminação de conhecimentos específicos que

permitissem aos participantes identificar demandas locais geradoras de mobilização social,

trabalho e renda, buscando a solução de seus problemas. Exemplos de outras oficinas

realizadas nesse período foram: Economia Solidária: conceitos e princípios; Manifestações da

Economia Solidária: Práticas; Autogestão; O que é Cultura; Associativismo; Cooperativismo

e Clube de Trocas.

Voltando ao ano de 2009, as ações promovidas pela incubadora tiveram o com o

intuito de fortalecer os empreendimentos já implantados com vistas a ampliar seus contatos na

rede e os laços existentes. O intuito era a consolidação da rede e sua expansão qualificada.

Nesse momento, notava-se o papel fundamental que a ASCOMA vinha desempenhando,

como núcleo aglutinador do conjunto das ações, além de ser a base de organização local

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fundamental que deveria ser fortalecida para que o processo de autonomia local e êxito na

lógica de incubação pudesse prosseguir.

Já a ASCOMAT continuava revelando grande capacidade de mobilização da

comunidade a partir das suas manifestações culturais. A ASCOMAT se inscreveu no projeto

Prêmio Culturas Populares/MinC - Edição Mestra Dona Isabel, com o objetivo de dar

continuidade a uma política de captação de recursos para o fomento da cultura local, e

promoveu ações de resgate e preservação cultural das manifestações da comunidade. Diversas

atividades foram realizadas, como, por exemplo: comemoração do dia dos pais, nos dias 08 e

09 de agosto, com a realização de atividades esportivas e culturais, tais como: maratona

esportiva, regata de canoas, torneio de dominó e bingo dançante com premiação;

comemoração do dia das crianças, com a realização da 1º Gincana Infanto-Juvenil de

Matarandiba, com de brincadeiras socioeducativas, que objetivou estimular o

desenvolvimento dos pilares da educação “aprender a conviver, aprender a fazer, aprender a

pensar e a conhecer, aprender a cooperar, aprender a ser, aprender a empreender e aprender a

transcender” e apresentação de manifestações folclóricas na festa do São Gonçalo na

comunidade de Baiacu em Vera Cruz/BA e no aniversário de emancipação do município de

Vera Cruz, no dia 30 de julho de 2009. (PROJETO ECOSMAR, 2008b)

Segundo E8 e E1, a ASCOMA tornou-se o principal elo na rede, dada a sua

capacidade de mobilização e articulação entre os demais empreendimentos da rede, bem como

entre os moradores da comunidade. No entanto, eram notadas fragilidades, principalmente, na

gestão da associação. Para saná- las, a ITES em 2010 realizou ações que melhorassem a gestão

da associação por meio do avanço no controle dos processos contábeis, financeiros e de

prestação de contas à comunidade. É possível destacar a preparação de oficinas de

sensibilização em contabilidade, assistência jurídica e certificações públicas como meio de

mobilização de recursos e reconhecimento político e social da ASCOMA.

No mesmo ano, o Informar também enfrentou desafios, tanto de condições estruturais

quanto de gestão. Entre as condições estruturais, encontravam-se: dificuldade de acesso a

internet, dada a baixa qualidade do sinal de internet em Matarandiba; e a necessidade de

manutenção dos computadores. Já quanto à gestão, destacam-se dificuldades na gestão

financeira e na sistematização de rotinas. Além disso, o Informar também enfrentou

dificuldades quanto à utilização das máquinas, pois, conforme relata uma das moradoras da

vila, "as pessoas só vêm aqui para jogar no computador".

Para tanto, foi preciso um acompanhamento mais intensivo da incubadora para

viabilizar a realização da manutenção dos computadores e orientar a gestão financeira do

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Informar. Nesse período, o Ilhamar também passava por dificuldades na gestão financeira.

Através de uma auditoria nos instrumentos de controle financeiro, foi verificado que os

problemas enfrentados eram decorrentes da não separação entre as finanças do Ilhamar e da

ASCOMA. Para sanar esta questão foi realizada a separação das contas, e o banco passou a

prestar contas à comunidade.

Além disso, foi detectado alto índice de inadimplênc ia da comunidade, em torno de

13%, o que dificultava as operações do banco. Esse índice resultou na diminuição do volume

e do valor das liberações de crédito, bem como acarretou na diminuição da circulação da

concha. A diminuição da circulação da concha também foi influenciada por fatores externos

ao banco. Um dos principais comerciantes da cidade, em situação de conflito pessoal com um

membro da Ascoma, deixou de aceitar a moeda social. Diante dessa problemática, o Fórum de

Desenvolvimento Comunitário (FDC), antes chamado FECOL discutiu junto com a

comunidade possíveis soluções para o banco. Outras ações foram tomadas em conjunto com a

ITES, dentre elas destaca-se a atividade de ostreicultura familiar, articulada em rede

envolvendo mais doze comunidades da região do baixo sul baiano.

Outra ação foi a formação do grupo de produção agroecológica de alimentos, com

o propósito de cultivar alguns gêneros alimentícios mais consumidos na comunidade.

Entretanto, o grupo passou por algumas dificuldades na produção das hortaliças e legumes:

dificuldades de acesso à água, pragas e terreno limitado. Com isso, o trabalho do grupo

consistiu em pensar estratégias e introduzir técnicas para superação desses problemas, tais

como: escolher novas áreas para o cultivo que apresentassem mais espaço disponível e

melhores condições de produção. A ideia futura consiste em ampliar a oferta de produtos para

a comunidade, acessar crédito e participar do sistema de compras da agricultura familiar.

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Figura 9: Horta Fonte: ASCOMA (2012)

Com o objetivo de melhor capacitar a comunidade e subsidiar as ações da

agroecologia, em 2010, foi elaborado um curso constituído por doze módulos de gestão, com

os seguintes temas: Introdução à Economia Solidária; Planejamento em Organizações de

Economia Solidária; Gestão Financeira; Gestão da Comunicação; Gestão com Pessoas /

Autogestão; Circuitos Econômicos; Produto / Serviço; Gestão Material; Gestão Logística;

Legislação para Economia Solidária; Elaboração e Análise de Projetos em Economia

Solidária.

A ITES, desde 2011, vem desenvolvendo ações de capacitação comunitária com vistas

a melhorar as articulações políticas e reforçar tanto os empreendimentos criados quanto

promover o desenvolvimento de novas iniciativas. Nesse sentido, para o banco Ilhamar foram

promovidas oficinas de capacitação a fim de acompanhar as movimentações financeiras do

banco, capacitar as agentes de crédito para assessorar iniciativas, efetivar parceria com

outros bancos para implementação do serviço de correspondente bancário e elaboração de

software de gerenciamento do Banco.

Já na ASCOMA, a principal ação desenvolvida tem sido a consolidação dos grupos de

trabalhos, a saber: a) o GT de Comunicação e Cultura, com o objetivo de fortalecer o processo

de constituição da Rádio Comunitária de Matarandiba, acompanhar atividades e programas da

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rádio e fortalecer o processo de constituição do cineclube – Cinemar; b) o GT de Meio

Ambiente, que objetiva promover ações de combate à pesca predatória, implementar o

programa de melhoria da coleta de lixo, realizar mutirões de limpeza das praias e fontes e

ampliar participação nos Conselhos Municipais de Saúde e Meio-Ambiente; c) o GT de

Esporte e Lazer, que tem como finalidade promover e apoiar eventos desportivos em

Matarandiba, tais como a Regata de Canoas e a Capoeira; d) o GT de Transporte, que tem

como principal propósito consolidar a gestão do transporte comunitário, já iniciada, e

implantar formalmente um empreendimento específico para tanto; e) o GT de Artesanato que

tem realizado oficinas para capacitação em elaboração de projetos culturais, e juntado

esforços para elaboração de projeto para inscrição em editais de artesanato.

Dito isso, as ações decorrentes do processo de incubação permitiram a construção de

uma rede local de economia solidária formada principalmente pela ASCOMA, FDCM,

Inforcentro, ASCOMAT, BCD Ilhamar, DOW, ITES/BA, e outros empreendimentos e

iniciativas solidárias, tal como ilustra a figura 9.

Figura 10: Rede Ecosmar Fonte: Adaptado de ASCOMA (2011)

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O processo de incubação da rede Ecosmar, conforme descrito neste item, permitiu

a construção da Rede Local de Economia Solidária em Matarandiba, que atualmente apresenta

essa configuração. No entanto, é importante perceber que essa rede se encontra em constante

processo de construção, reprodução e alteração. Pois as redes locais de economia solidária são

formadas pelos fatores contextuais tanto em nível individual quanto coletivo. Isso implica um

processo que requer permanente esforço dos seus membros para aproveitar oportunidades e

enfrentar desafios. Os desafios se constituem, portanto, não apenas como limitações e riscos,

mas como impulsos para a articulação e fortalecimento da rede. Atuam assim, como vetores

socioeducacionais capazes de representar oportunidades no processo de incubação.

3.3 DESAFIOS DO PROCESSO DE INCUBAÇÃO

Os desafios do processo de incubação da rede Ecosmar podem ser definidos através de

dois eixos analíticos que se relacionam através de suas contribuições, conforme ilustra a

figura 11. O primeiro deles são os desafios na visão da comunidade e o segundo foram os

desafios na visão da incubadora.

Figura 11: Desafios do processo de incubação da rede Ecosmar Fonte: Elaborado pela autora.

3.3.1 DESAFIOS NA VISÃO DA COMUNIDADE

De acordo com a observação realizada, entrevistas e conversas informais com atores

ligados ao projeto Ecosmar, foi possível levantar alguns desafios na visão da comunidade, que

perpassam por quatro aspectos, sendo eles: Mobilização dos moradores; Mudar a lógica atual

mercantil para uma lógica solidária; Conflitos Internos e Desafios na formação dos

empreendimentos.

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3.3.1.1 Mobilização dos moradores

A mobilização dos moradores, esta relacionada à participação e contribuição dos

moradores de Matarandiba, no projeto, de forma ativa. Isso foi percebido através do relato de

um dos moradores que descreveu que as pessoas geralmente encontravam-se desacreditadas,

em decorrência do insucesso e descontinuidade de outros projetos desenvolvidos na

comunidade, em anos anteriores, e que muitos deles não se interessavam mais, em participar

de nenhum outro projeto.

Dessa maneira envolver os membros da comunidade para a rede Ecosmar tornando-as

principais agentes desse processo é um dos mais importantes desafios a serem enfrentados

tanto pela ASCOMA quanto pelos técnicos da ITES. Isto porque o processo de incubação de

territórios e de construção de uma rede local de economia solidária necessita de uma efetiva

partic ipação dos sujeitos socia is do território, sejam eles moradores, lideranças comunitárias,

profissionais da incubadora, representantes dos poderes públicos e outras instituições que

contribuam com o fomento das ações.

Nessa direção, a ASCOMA tem se revelado como um articulador decisivo no processo

de incubação, tanto por vias econômicas quanto de inserção social, sendo este um ponto

convergente entre os entrevistados. Percebeu-se pelas falas destes, que as atividades

desenvolvidas pela associação, desde a sua criação, tem sido capaz de motivar esses sujeitos

para o consumo solidário, e para integrarem a rede Ecosmar, uma vez que a comunidade pôde

perceber e sentir mudanças, inclusive na sua vida pessoal, ao ingressarem na rede. Cabe

destacar que as atividades contemplaram desde eventos comemorativos e culturais bem como

reuniões formativas e de capacitação.

Dessa maneira, segundo o entrevistado (E2), o aspecto econômico foi um fator latente

para mobilização dos moradores . Segundo ele “sempre que a gente conseguia mais recursos,

seja com a Dow, ou com a ITES, a gente conseguia mais participantes para os

empreendimentos”.

Diante disso, observa-se que à medida que a ASCOMA foi desenvolvendo suas ações

e angariando recursos externos, foi possível atrair novos associados para operacionalização

das atividades na rede e proporcionar retorno financeiro a alguns agentes locais através de

bolsas. Pelo exposto, percebe-se que aspectos econômicos foram essenciais para adesão de

mais pessoas na rede.

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Portanto, faz-se importante notar que a mobilização comunitária tem permitido o

fortalecimento do tecido econômico e sócio político na comunidade de Matarandiba, pela via

sustentável-solidária tal como pressupõe França Filho (2009).

Há de ressaltar também que a presença do Banco comunitário e que a sua moeda

própria (conhca) se configura como um importante catalizador da mobilização dos moradores,

isto porque ela contribui significativamente para interação dos atores em rede, além dela

permitir a comercialização de produtos que trouxeram emprego e renda paraa comunidade.

Outros aspectos levantados pelos entrevistados e observados no campo, foi com

relação as ações de mobilização na comunidade.Nesse sentido, a ASCOMA em parceria com

a ITES tem realizado ações, tais como: divulgações das ações dos empreendimentos e seus

resultados alcançados; conversas individuais nas quais os agentes buscam incentivar

moradores; carros de som circulando pelas ruas da comunidade informando e divulgando os

eventos; distribuição de panfletos; acesso com facilidade as dependências da ASCOMA.

3.3.1.2 Mudar lógica atual mercantil para uma lógica solidária

O segundo desafio: mudar lógica atual mercantil para uma lógica solidária, se

constitui como a razão de ser de todo o processo da incubação realizada pela ITES.

O mudar, é no sentido de fazer com que os moradores passem a atuar com o

pensamento e conduta solidária, que apesar de viverem em uma rede com elementos

mercantis que se conjugam com a dinâmica solidária, ele possa agir em prol do

desenvolvimento local da sua comunidade.

Entende-se que este é o mais audacioso dos desafios, pois, trata-se de romper uma

lógica capitalista de produção inerente ao atual sistema mundial para uma lógica inovadora,

em um novo campo de práticas econômicas, que permite fortalecer o potencial endógeno da

comunidade de Matarandiba na sua capacidade de promover seu próprio desenvolvimento.

Essa finalidade é para França Filho (2008) um dos principais objetivos da criação de uma rede

local de economia solidária.

Para tanto, foram estimuladas a criação de empreendimentos e iniciativas de economia

solidária e aprimorados os já existentes. As ações pautaram-se na instauração do Banco

Comunitário, no Informar, na ASCOMAT, nas iniciativas ligadas a ostreicultura e

agroecologia visando permitir a sustentabilidade da rede e de seus empreendimentos.

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Nesse contexto, o Banco Comunitário Ilhamar, possui expressivo destaque uma vez

que ele se constitui como núcleo sócio-econômico fundamental na dinâmica da rede. Ele é a

instância central de financiamento, e da quebra de paradigma, pois visa tecer a rede sobre

outra ótica ao trazer a moeda social (concha) e proporcionar microcrédito popular e

financiamento direto da própria produção ou prestação de serviços na comunidade, além de

favorecer o surgimento de novas iniciativas.

A introdução da concha como circulante local lastreado em real revela-se uma

tecnologia social com caráter profundamente educativo e capaz de gerar grande impacto na

realidade local, tanto em termos econômicos, pela sua capacidade em evitar evasão de

recursos financeiros da comunidade incrementando o consumo local, quanto em termos

sociais, políticos ou culturais, ao fomentar o sentimento identitário dos moradores, uma vez

que a moeda social é dotada de forte valor simbólico.

Em Matarandiba, introduzir essa nova lógica solidária, também, através da concha, se

constitui num desafio, pois de acordo com relatos dos entrevistados, alguns comerciantes

locais possuem resistência em aceitar a moeda social, já que para alguns a transação por meio

dessa gera transtornos operacionais e temporais porque precisam estar constantemente em

contato com o banco para realizar o cambio, a saber.

Ressalta-se ainda, o fato de alguns comerciantes não terem abertura a transação dessa

moeda, devido a conflitos ge rados com membros da rede, bem como, com princípios do

banco o qual, segundo o entrevistado E1, solicitava que todos os produtos vendidos através da

concha oferecessem um desconto à comunidade.

Outra ação importante para o fortalecimento do laço solidário foi o empreendimento

Infomar. Este possui o enfoque de inclusão digital gratuito para comunidade, visando a

prestação de serviço a preços abaixo dos praticados fora da comunidade, além de propiciar a

realização de estudos, pesquisas e contribuir para trabalhos da rede. Porém, observou-se que

este não esta funcionando em seu propósito pleno devido as limitações operacionais como o

acesso a internet precário, bem como não se percebe adesão mais contundente por parte da

comunidade.

A ASCOMAT promove o fortalecimento dos laços solidários via construção de

espaços sócio educativos e sócio culturais, visando a manutenção da identidade social através

do resgate da cultura local e da memoria da comunidade.

Os empreendimentos da ostreicultura e da agroecologia buscam trazer seus membros e

como consequência a comunidade para dentro da lógica solidária, pois desde a sua criação

eles buscam produzir em prol do desenvolvimento local e na geração de emprego e renda.

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Porém, uma questão limitante das ações da agroecologia é que a comercialização dos

seus produtos se dá tanto pela concha quanto pelo real. Essa atitude gera acomodação por

parte dos consumidores, possibilitando a eles, a não obrigatoriedade da troca das moedas. Este

fator merece uma crítica, pois não contribui para a mudança da lógica mercantil para uma

lógica solidária em Matarandiba.

Outras ações relacionadas a mudança da lógica estão pautadas na educação e formação

das pessoas da comunidade. Assim, foram elaboradas e distribuídas cartilhas sobre o tema da

ECOSOL pela comunidade, ao passo da realização de oficinas sobre os princípios do

colaboracionismo solidário. Isso, permitiu que os membros conhecessem e assumissem a

concepção solidária como uma alternativa para mudar as práticas de relação de

comercialização, consumo e de relação socioprodutiva na comunidade.

3.3.1.3 Conflitos Internos

As relações sociais em qualquer grupo social são margeadas por conflitos e jogos de

poder. Na rede Ecosmar eles se caracterizam entre os moradores da comunidade e entre a

ASCOMA e a ASCOMAT, conforme foi possível ser percebido durante as entrevistas.

Percebe-se que entre os moradores o conflito é de cunho político. Conforme relata o

entrevistado (E1): “há na comunidade uma família que domina as atividades político e social

locais, o que inibe a participação de moradores e até mesmo o andamento de algumas ações

realizadas pelos empreendimentos da rede”.

Atrelado a isto, existem pessoas na comunidade dotadas de posses e com

empreendimentos particulares que visualizam as ações da rede como concorrência,

acarretando no distanciamento por parte desta parcela da comunidade na rede Ecosmar e

influenciando demais moradores na não mobilização e inserção nos projetos.

Atividades importantes para o desenvolvimento da rede, como a circulação da concha

ficou comprometida por desentendimentos pessoais entre os comerciantes e por critérios

adotados para a circulação da moeda na comunidade.

Existe ainda, segundo informação do entrevistado (E1), que alguns moradores

desacreditam na confiabilidade da gestão dos recursos operados pela rede e por isso, preferem

não se envolver nas ações promovidas pele rede. Cabe destacar que esta visão, não foi

explicitada por meio de fatos ocorridos mas por sentimentos gerados em situações de tomada

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de decisão que desgastaram a relação social de alguns participantes, gerando “burburios” na

comunidade.

Outro fator de conflito é a postura autônoma da ASCOMAT em relação a outros

atores da rede. De acordo com o entrevistado (E1) “a ASCOMAT não participa mais de

nenhuma reunião da rede, a rede só fica sabendo depois que eles irão fazer alguma ação”.

Esse conflito gera consequência tanto na implantação da lógica solidária, quanto na

mobilização dos moradores, afinal ela enfraquece as relações da rede.

Este fator deve-se ao fato da ASCOMAT se vê estruturada o suficiente, em termos de

organização e gestão, a ponto de não querer se envolver em rede. Esses conflitos sociais

somados aos conflitos internos da rede estimulados pelas relações interpessoais tornam-se o

terceiro desafio a ser enfrentado no processo, de forma geral, da incubação.

3.3.1.4 Desafios na formação dos empreendimentos

Dentre os desafios na formação dos empreendimentos destacam-se: as limitações de

infraestrutura e ambiente; gestão dos empreendimentos; e a articulação entre os

empreendimentos que compõe a rede Ecosmar.

No que se referem à questão das limitações em infraestrutura, França Filho e Cunha

(2009) afirmam que as características do contexto local e a condições mais gerais de

infraestrutura e recursos disponíveis são aspectos relevantes na construção dos

empreendimentos. A ASCOMA, o Ilhamar, o Infomar e a rádio comunitária atuam sob o

mesmo espaço físico alugado pela associação, o qual, tanto os agentes locais quanto a ITES

consideram com limitações.

Nesse sentido observou-se que faltam instalações pertinentes as especificidades dos

empreendimentos citados acima. O que se coloca como um desafio é a busca por melhores

condições de trabalho e infraestrutura mais adequada a realização das atividades de cada ator.

Dentre os itens de infraestrutura citados pelo o entrevistado (E1) estão: ar-condicionado,

instalações elétricas, mesas, cadeiras e armários que suportem a demanda de pessoas e

documentos. Há ainda a ausência de um espaço adequado para reuniões. Isto foi notado pela

imersão da pesquisadora na comunidade em que observou que algumas das reuniões, entre

elas a que ocorreu com membros do governo municipal, os agentes locais, a ITES. Além de

outras reuniões para troca de experiência com outras comunidades que aconteciam nos fundos

da casa, sob calor intenso e presença de insetos.

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O isolamento de Matarandiba também é visto como um desafio, uma vez que a

distancia condiciona na dificuldade das melhorias em infraestrutura. A comunidade é carente

não somente de empreendimentos capazes de suprir a necessidade em infraestrutura, mas

também pela reduzida de mão de obra capacitada no território isso aponta para um grande

desafio, da rede enquanto formadora e capacitadora do agente local e dos moradores do

território. Isto porque no contexto das RLES este fator importante para sobreposição de

mazelas sociais e empoderamento da comunidade local.

Conforme comenta o entrevistado (E2), “o Informar é o empreendimento da rede que

mais sofre com a falta de profissionais para fazer a manutenção das máquinas” e ainda existe

a dificuldade de acesso a internet o que ocasiona no fluxo insatisfatório de moradores no

empreendimento. O problema de acesso a internet é oriundo muito mais da ausência de sinal

de rede na região do que uma questão puramente técnica e orçamentária do Informar. A

ASCOMA que gere o empreendimento, inclusive, já realizou contatos com empresários para

que fosse disponibilizado o sinal de rede para Matarandiba. A ASCOMAT, no entanto,

apresenta instalações satisfatórias no que toca suprir a demanda do empreendimento, pois a

ela conta com uma casa exclusiva para o seu funcionamento, o que proporciona espaço para

guardar os figurinos usados nas manifestações culturais. Além disso, possui um ponto de

leitura para a comunidade com presença diária de uma agente de cultura para assessorar a

leitura e empréstimo de livros.

Em suma, a ausência de infraestrutura adequada é um dos aspectos que exigem dos

agentes locais engajamento quanto a gestão dos empreendimentos, o que faz deste, mais um

desafio presente na rede, além dos aspectos relacionados a de gestão de recursos financeiros.

Sendo assim, a ASCOMA lidera a gestão dos empreendimentos da rede, exceto a

ASCOMAT. Para dotar a associação de recursos, a ASCOMA capta subsídios não apenas da

Dow Brasil, mas também de editais públicos para gerenciar as iniciativas da rede. Torna-se

portanto, elemento importante na autonomia financeira da rede.

Importante frisar que embora exista uma relação de conflito, entre a ASCOMAT e a

ASCOMA, a gestão da primeira por exemplo, ocorre não somente através do repasse

financeiro que a ASCOMA promove a partir dos recursos fornecidos pela Dow Brasil mas

também possui o seu próprio estatuto que possibilita gerar recursos próprios através da

participação em editais de apoio e fomento.

Quanto aos desafios na gestão dos demais empreendimentos, a agroecologia e

ostreicultura precisaram do intenso suporte da ASCOMA e da ITES. Foram realizadas

oficinas de capacitação do manejo da terra para o caso da agroecologia e da expertise da pesca

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de ostras para a ostreicultura, porém para a Associação tornar esses empreendimentos

sustentáveis os desafios se configuram principalmente no que tange a captação de recursos

para compra de instrumentos necessários ao processo produtivo, formação e capacitação

técnica dos profissionais, mobilização de novos membros para o exercício da atividade e

mantê- lo ativo.

Algumas ações já podem ser vizualizadas no intuito de suprir essas necessidades.

Dentra elas destaca-se a compra do terreno para a produção agroecologica e aquisição de

materiais necessários para pesca da ostra. É possível observar também empenho por parte de

alguns moradores e membros da rede no cultivo de verduras e hortaliças tais como quiabo,

alface, couve, milho, amendoim e coentro,Produtos estes comercializados na comunidade de

Matarandiba, a preços inferiores aos praticados pelas mercearias locais e que podem ser

adquiridos tanto através da concha quanto através do real.

No que se refere os desafios na gestão do banco Ilhamar de acordo com o entrevistado

(E2), ele esta pautado na oferta de linhas de crédito, na melhor adesão da concha tanto por

parte dos moradores quanto por parte dos comerciantes, ou seja, de fortalece-la enquanto

tecnologia social.

Dentre as estratégias para alavancar o Ilhanar dentro da comunidade, o entrevistado

(E2) citou a necessidade de ampliar a oferta de microcrédito, a qual hoje disponibiliza créditos

para consumo, produção, reformas e o crédito ao jovem. Para o entrevistado, ampliar as linhas

de crédito, bem como o valor deste, que hoje está no valor de R$300,00, iria atrair mais

moradores para o banco.

Para atingir melhor adesão da moeda é necessário que seja realizada conscientização

da comunidade com relação a proposta da moeda de modo que eles entendam quais são os

seus benefícios e passem a aderi- la.

Desta maneira, a sustentabilidade é um desafio inerente ao banco, por isso a

importância dele estar articulado com outros empreendimentos, pois é justamente a sua

articulação com os demais empreendimentos que viabilizam as finanças e a permanência da

concha.

A articulação dos empreendimentos é o último desafio levantado pela comunidade no

que suscita os desafios na formação dos empreendimentos. A ASCOMA atua como principal

propulsor dessa integralidade ao manter em contato os empreendimentos da rede bem como

com outras RLES. Para o entrevistado, ela é porta voz ativa da comunidade, e está envolvida

com todos empreendimentos da rede Ecosmar.

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De acordo com o entrevistado (E3), a articulação dentre os empreendimentos da rede

Ecosmar ainda precisa melhorar. O fato de a ASCOMAT ter uma relação conflituosa com a

ASCOMA fez com que este empreendimento se desarticulasse da rede, no sentindo de não se

comunicar com os demais empreendimentos da rede, estando ausente em oficinas de

capacitação e reuniões lideradas pela ASCOMA.

A questão da articulação, porém, não é somente entre os empreendimentos, mas

também com as instituições de apoio e fomento e com outras redes de economia solidária.

Isso é importante pois quando mais bem relacionada a ASCOMA for com as instituições,

mais chances ela tem de conquistar recursos para a gestão dos empreendimentos e para

fortalecimento da rede.

Por fim, enfatiza-se que vários desses desafios listados na visão da comunidade foram

observados também na percepção da ITES , conforme descrito na próxima seção.

3.3.2 DESAFIOS NA VISÃO DA INCUBADORA

O segundo eixo analítico refere-se aos desafios na visão da incubadora que foram

verificados por meio de entrevistas realizadas com técnicos envolvidos no Ecosmar e pela

análise de documentos e relatórios institucionais. Os desafios na visão da incubadora

contemplam os aspectos relacionados a: Metodologia de incubação; Identificação das

potencialidades locais; Conflitos Internos e Desafios na formação dos empreendimentos.

3.3.2.1 Metodologia de incubação

O primeiro deles diz respeito ao desafio de obter uma metodologia eficaz ao processo

de incubação do território. França Filho e Cunha (2009) comentam que o desafio da

metodologia está ligado ao aperfeiçoamento dos instrumentos didáticos e de gestão, na

perspectiva de que seja possível consolidar o entendimento sobre essa tecnologia social de

incubação de territórios.

Segundo o entrevistado (E8) o desafio da incubadora em Matarandiba, é

“problematizar o que é incubar um território e como é possível incubar sujeitos ao ponto de

mudar sua cultura ou rotina diária”. Os territórios incubados são, em sua maioria, ocupados

por uma população com baixo índice educacional o que exige da incubadora um esforço

pedagógico especial na implantação da cultura solidária.

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O fato de estar incubando um território imprime que a ITES busque e inove em

diretrizes metodológicas que gerem efetiva promoção da autonomia das pessoas e grupos

inseridos na comunidade, diretrizes essas que envolvam soluções adequadas ao contexto e a

realidade local, ou ainda, favorecem um efetivo processo de apropriação pelas pessoas,

localmente, das soluções em termos de tecnologias sociais geradas na dinâmica de incubação.

Isso porque, cada comunidade é dotada de características próprias e de necessidades

diferenciadas que impedem a padronização do processo de incubação. Dessa forma as

especificidades locais exigem para esse tipo de intervenção sejam adaptáveis às diferentes

realidades exigindo que a incubadora esteja preparada para lidar com mudanças nas dinâmicas

da rede. Além disso, ela deve estar imbuída de criatividade e flexibilidade para atuarem dessa

maneira nas intervenções que se propor realizar.

3.3.2.2 Identificar as potencialidades locais

Em consonância ao tópico anterior, outro desafio é a identificação das potencialidades

locais. Essa fator esta diretamente relacionado a entender a cultura local e quais são os laços

preexistentes na comunidade que foi um desafio apontado pelo entrevistado (E8).

Para a ITES pensar na incubação e de que forma constituir a rede torna-se um desafio,

pois cada território é único e possui suas próprias dinâmicas locais.

Ações por parte da incubadora já tem sido implementadas. No ano de 2008 a equipe

técnica da ITES buscou através do mapeamento e da imersão na comunidade de Matarandiba

entender a cultura local e quais laços poderiam ser formados dentro do território, isto, no

entanto, é algo dinâmico que pode mudar ao longo do processo de incubação, conforme

denota o processo metodológico.

Para o entrevistado (E8), outro fator desafiante na atuação dos técnicos foi o fato da

comunidade de Matarandiba ser um território isolado e muito limitado quanto ao seu

tamanho. O que dificulta o conhecimento mais profundo de outras potencialidades sociais,

culturais e produtivas ainda não identificadas.

Na mesma direção, o entrevistado (E8) frisou que um território muito pequeno “limita

as possibilidades de avanço da rede, uma vez que a economia avança mais facilmente em boas

condições demográficas no sentido de para quem produzir (demanda) e possibilitar mais

facilmente o escoamento da produção”.

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3.3.2.3 Conflitos Internos

Balizados pelo contexto social o entrevistado (E8) afirmou que durante as

intervenções é perceptível a existência de conflitos internos que dificultam o alcance dos

objetivos pelo qual o Ecosmar se propõe.

O perfil de algumas lideranças, o relacionamento fragilizado entre a ASCOMA e a

ASCOMAT, a não receptividade da concha por alguns comerciantes e moradores e condições

de infraestrutura e recursos disponíveis, já discutidos nas seções anteriores, são aspectos

importantes na geração dos conflitos internos na visão da Incubadora.

Do ponto de vista técnico do entrevistado E8, tratar o conflito na comunidade é um

desafio, haja vista que França Filho e Cunha (2009) enfatizam que o cenário político local é

muito importante para a formação de parcerias e andamento das atividades.

Denota-se então que os desafios verificados são percebidos tanto na visão da

comunidade, quanto na visão da incubadora. No que tange a incubadora, isso causa

fragilidades em sua atuação de assessoria, consultoria, formação e qualificação da rede.

3.3.2.4 Desafios na formação dos empreendimentos

Os desafios na visão da incubadora para a formação dos empreendimentos convergem

em sua maioria com os apresentados pela comunidade, sendo eles: limitações de infraestrutura

e ambiente; na gestão dos empreendimentos; e a articulação entre os empreendimentos que

compõe a rede Ecosmar.

Porém, em relação ao banco comunitário, diferente do comentado pela comunidade, o

desafio esta relacionado ao fato de implementar uma metodologia que direcione as ações do

Ilhamar. Pois para a incubadora isso supõe um nível de articulação muito grande já que é

necessário integrar o comércio local, sensibilizar a comunidade sobre o que é um banco

comunitário, para que ele serve e de que forma eles podem acessar os serviços de oferta de

microcredito. Existe por parte da incubadora a preocupação de como conquistar a confiança

da comunidade e dos comerciantes. Já que a metodologia de incubação proposta pela ITES

possui como meio estruturante a formação do banco comunitário

Em relação aos outros empreendimentos, os comentários dos entrevistados pautaram

nos seguintes aspectos: no Infomar o desafio maior é questão do acesso à internet e

computadores, o que recai sob uma melhoria na qualidade do serviço prestado; na

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Ostreicultura, que ainda está em fase experimental, o desafio é de fortalecer o grupo, e de

comercializar a produção; na agroecologia é necessário a busca pela especialização no cultivo,

que hoje conta com o apoio de um técnico agrícola; o Cineclube enfrenta o desafio de espaço

para as exibições e espera que isso seja sanado com construção da nova sede esportiva.

Finalmente, os desafios no processo de incubação da rede Ecosmar então imbrincados,

ou seja, estão relacionados uns aos outros gerando a relação em teia uma vez que o desafio

gera o outro bem como, a solução de um desafio pode acarretar na solução de outro, conforme

ilustra a figura 12.

Figura 12: Desafios do processo de incubação da rede Ecosmar - imbricados Fonte: Elaborado pela autora.

3.4 PERSPECTIVAS FUTURAS DA INCUBAÇÃO

Os desafios no processo de incubação da rede Ecosmar, são desafios constantes que

necessitam com frequência de ações. Embora muitos deles tenham sido enfrentados diante de

determinadas ações, outros ainda continuam necessitando de esforços para saná-los, haja vista

as diversas perspectivas de ações futuras na comunidade.

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Os objetivos futuros para a ASCOMA e a ITES estão inicialmente na implantação dos

empreendimentos de panificação, ampliação e desenvolvimento da produção agroecologica,

implantação do empreendimento de galinhas caipira, regulação nas reuniõesdo FDCM,

reforma da sede esportiva, formação de novas lideranças, construção do turismo de base

comunitária e expansão do banco para outras comunidades.

Foi elaborado também, um planejamento de comunicação para divulgar o projeto

Ecosmar, criação de um portal da rede Ecosmar, elaboração de peças de comunicação para

divulgação da Concha, confecção de folder e cartaz para a comunidade com explicação do

funcionamento do banco, a moeda social e as linhas de financiamento do banco e benefícios

com a utilização da moeda. Material de comunicação com uma tabela de preços e serviços

oferecidos pelo Infocentro, Cartilha da produção agroecológica, que tenha informações sobre

o que é agroecologia, o que são alimentos orgânicos e os benefícios para a saúde, Confecção

de Spot de rádio para o Banco Ilhamar, Folder de divulgação do Cinemar contendo a sinopse

dos filmes que serão exibidos assim como ficha técnica, campanha de conscientização contra

pesca com bomba e captação de recursos para compra de lixeiras a serem distribuídas nas

praças e ruas de Matarandiba (com a marca da ASCOMA).

Além de expandir o banco comunitário para outras comunidades é objetivo do banco

Ilhamar fixar parceria para correspondente bancário, adquirir novo espaço para o banco e

trabalhar com a promoção de compras coletivas para desta forma fortalecer e melhorar a

circulação da moeda concha. A ASCOMA pretende adquirir um espaço para que as reuniões

do FDCM possa ocorrer regularmente, e com isto poder fortalecê-lo e obter mais a

mobilização da comunidade, tal qual desafio apontado. A ideia é portanto reformar a sede

esportiva de Matarandiba de modo que neste espaço seja possível abranger todos os

empreendimentos e com isto fortalecer a rede como um todo e as relações interpessoais

daqueles que atuam ativamente no projeto também.

A implantação de uma padaria é algo também relevante como desafio futuro, uma vez

que os moradores precisam esperar o pão que chega de fora, tendo que muitas vezes se

deslocar para fora da comunidade para adquirir este produto. Não somente a compra do pão,

mas também com o intuito de fornecer hortaliças e verduras, é objetivo da agroecologia obter

incentivos também para aumentar a sua produção tal qual da ostra.

A questão relacionada aos conflitos pode ser tratada como o desafio mais delicado a

ser enfrentado, para o entrevistado E1 os moradores precisam entender que "aqui se trabalha

não para enriquecer, mas para darmos boa qualidade de vida a todos e de maneira

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sustentável". A incubadora busca então formar novas lideranças de modo que seja possível

renovar o foco da tomada de decisão na comunidade.

O Informar terá como desafio atrair a presença dos moradores pois ele ainda é pouco

frequentado, pois, segundo o entrevistado E1, “o sinal para internet aqui é muito ruim, e sem

internet, a frequência é pouca”.

Em conjunto com a ITES, a ASCOMA irá fazer reuniões para apresentar novos

projetos, como por exemplo, a corrida de canoas para o inverno, conscientização da pesca

predatória, trabalhos em esporte e meio ambiente. Para a agroecologia, pretende-se melhoria

no plantio. Trabalhar para que ocorra o turismo de base comunitária, com prjeto da corrida.

Implantar a Radio comunitária, que já esta em formação. Proporcionar a exibição de filmes,

de 15 em 15 dias. Participar de mais editais, conquistando verbas de outras instituições, não

somente da Dow Brasil.

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4 CONSTRUINDO UMA SÍNTESE EM FORMATO DE PESQUISA PRÉ-AVALIATÓRIA

4.1 PORQUE ESTE FORMATO

Este capitulo tem o objetivo de fornecer instrumentos necessários para a construção

de uma pesquisa pré-avaliatória para o projeto Ecosmar. Trata-se portanto, de um capitulo

independente que resgatará muitas das informações já comentadas ao longo dos capítulos

anteriores.

Este formato justifica-se através da crença de que depois realizada a pesquisa não é

possível fazer uma avaliação isolada mas sim, deve ser um processo relacional e experimental

além de bem alinhado com o perfil do objeto, que neste caso ressalta-se o fato de se estar mais

próximo da dinamica e caracteristicas do objeto, o que requer uma avaliação participativa.

É importante que haja pesquisa pre-avaliatória para que se construa boas avaliacões

com foco na aprendizagem dos envovidos, como é o caso do projeto Ecosmar que visa

envolver os moradores no processo.

No sentido mais amplo as avaliações podem ser consideradas como sistemas

articulados cognitivamente, utilizados através ou não de instrumentos metodológicos que

constróem, reconhecem e sistematizam aprendizagens. A ideia sobre avaliação permite

pluralidade de conceitos, concepções e aplicações, sua utilização depende fundamentalmente

do que se pretende chegar, ou melhor, utilizar. (BOULLOSA, 2009).

Para Rosana Boullosa (2009) avaliação cumpre o papel de gerar aprendizagem quando

ela é relacional e empreendida pelo processo metodológico e das práticas cotidianas dos

atores envolvidos. A autora diz que avaliações formam aprendizagem capaz de produzir

conhecimento útil e reit erar conhecimentos explicitados, ela complementa que “Avaliação e

aprendizagem caminham juntas há muito tempo, através desta relação implícita uma serve a

outra”. As idéias sobre aprendizagem organizacional estão alicerçadas na capacidade que os

indivíduos e coletivos tem em realizar reflexão, ações, produzir autoconhecimento e agir

sobre situações e problemas diversos. Para Boullosa (2009) aprendizagem organizacional

depende das interpretações e compreensões dos envolvidos onde a maioria das vezes essas

condições são de incertezas, dinâmicas e conflituosas.

Além do já dito, este desafio também é de caracter científico porque há uma lacuna na

bibliografia nacional sobre pesquisa de pré-avaliacão, provalvemnete pela história de

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avaliacões gerencialistas que existem no país, onde o avaliador é visto como um sujeito de

racionalidade plena, capaz de gerir todo o processo sozinho, e que facilmente perde o

interesse dos "avaliados".

Aqui o leitor poderá encontrar indicações para a construção de uma pesquisa pré-

avaliatória conforme sugere metodologia de Boullosa (2012) e será apresentada em três partes

conforme indica os itens abaixo.

4.2 COMPREENSÃO E DESCRIÇÃO BREVE DO OBJETO

O foco deste estudo é o projeto Ecosmar. Trata-se do desenvolvimento de uma rede

local de economia solidária na Vila de Matarandiba, ilha de Vera Cruz/BA através da geração

de trabalho e renda, tendo como base a criação de empreendimentos coletivos solidários

voltados para a produção, consumo e gestão de serviços públicos locais.

O projeto Ecosmar é fruto de uma parceria entre a Dow Brasil, a Incubadora ITES e o

Conselho Comunitário de Matarandiba (CCM). O projeto nasce de uma preocupação da Dow

Brasil com a realidade da comunidade, levando-a a convidar a ITES para apresentação de uma

proposta de intervenção local.

Nesse sentido, o presente objeto deve ser compreendido como parte de um processo

mais amplo de promoção do desenvolvimento local da Vila de Matarandiba, que envolve

fundamentalmente quatro grandes etapas.

Durante a primeira etapa buscou-se além do diagnóstico e planejamento do processo

de construção da rede local de economia solidária, considera-se ainda a dinâmica de

reestruturação associativa com constituição dos primeiros empreendimentos. Desta forma, as

ações na primeira etapa foram; a mobilização comunitária e fortalecimento do associativismo

local; a constituição do Infocentro Comunitário; o levantamento inicial sobre a realidade

histórico-cultural da comunidade; a constituição do Banco Comunitário de Desenvolvimento;

a realização de pesquisa de mapeamento sobre a realidade sócio-econômica da comunidade.

A segunda etapa fundou-se na consolidação das iniciativas criadas na primeira etapa:

Banco comunitário e Infocentro comunitário; na criação de novos empreendimentos como

fruto dos resultados da pesquisa de mapeamento da produção, prestação de serviços e

consumo local e na continuidade do processo de formação e capacitação geral da comunidade

e início do processo de qualificação profissional específica para os empreendimentos criados.

Na terceira etapa buscou-se consolidar os empreendimentos e iniciativas implantadas

na segunda etapa: Banco Comunitário Ilhamar; Infocentro Comunitário de Matarandiba

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(Infomar); Associação Comunitária de Matarandiba (Ascoma); e, Associação Sócio-Cultural

de Matarandiba (Ascomat); Estímular à constituição de novos empreendimentos e iniciativas

através das atividades de capacitação, suporte e apoio técnico do núcleo de formação em

economia solidária de Matarandiba bem como reforma e melhoramento do espaço físico

abrigando atualmente o Centro Associativo de Economia Solidária (CAES/Matarandiba que

reúne o Banco Ilhamar, o Infomar e a Ascoma).

A quarta etapa, pela qual se encontra o Ecosmar atualmente visa consolidar as

primeiras iniciativas da rede Ecosmar; Permitir o desenvolvimento de novos

empreendimentos; Fortalecer o processo de articulação institucional para viabilização de

ações de consolidação das iniciativas da rede local; Dar continuidade ao processo de

capacitação em gestão de empreendimentos solidários enquanto estratégia de disseminação de

tecnologias sociais para o desenvolvimento local; Construção de novo espaço físico para

abrigar o Centro Associativo de Economia Solidária (CAES) de Matarandiba – Núcleo central

de atividades da rede Ecosmar.

O Ecosmar a partir do ano de 2012 vem se consolidando como uma RLES pois ela

existe essencialmente como um meio de geração de emprego e renda para a comunidade.

4.3 PROBLEMATIZAÇÃO DOS PONTOS IMPORTANTES

De acordo com Boulossa (2009) é relevante levar em consideração o que move a

demanda da avaliação, o que se espera da avaliação e quais serão seus possíveis usos.

Diante dos desafios apresentados do projeto Ecosmar em Matarandiba que são:

mobilizar os moradores; mudar a lógica atual mercantil para uma lógica solidária; gerenciar

conflitos internos; dos desafios na formação dos empreendimentos; construir uma

metodologia de incubação e identificar as potencialidades locais, é que se dirige a necessidade

que move a avaliação ou seja, são eles os impulsionadores no desenho pré-avaliativo.

Para esta avaliação estarão envolvidos os membros da ASCOMA, representantes da

comunidade e os técnicos da ITES que trabalham no projeto Ecosmar. Os envolvidos na

avaliação visam um objetivo único final, que é o de tornar a rede Ecosmar sustentável. No que

tange a ITES isso se representa claramente através das ações que veem propondo para a

comunidade, fazendo com que eles sejam ativos no processo de incubação.

A avaliação portanto deve prover a rede de insumos capaz de torna- la

autossustentável. Desta maneira, o que se espera da avaliação é que ela seja capaz de dotar

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tanto a comunidade quanto a ITES, de instrumentos que venham a tornar a rede sustentável e

que sejam encontrados meios de monitorar os desafios.

A equipe responsável pela avaliação, fará o que se entende por avaliação participativa

devido ao contato direto entre os atores envolvidos no Ecosmar através de entrevistas e

experiências vividas no local.

Esta avaliação estará alinhada com a abordagem construtivista, que pressupõe que a

realidade observada e avaliada também é construída pelo observador. Portanto, esta

abordagem assumiu a subjetividade do olhar do avaliador como um dos aspectos

constituidores do próprio objeto de pesquisa. (BOULLOSA, 2009)

A questão então pode se dar em entender como a rede se comporta diante dos seus

desafios, como monitora- los e quais são os critérios mais adequados para avaliar.

4.4 CONTORNOS DO PROBLEMA DE AVALIAÇÃO E INSUMOS PARA O

PROCESSO AVALIATÓRIO

Para construir a avaliação e alcançar o objetivo final, é necessário ponderar os desafios

que envolvem o objeto. Os atores irão pactuar com a avaliação no momento em que eles

definirem juntos quais serão seus papeis na avaliação.

No quadro abaixo é possível ponderar os desafios apresentados pelos elos

demandantes da avaliação por ordem de prioridade.

Desafios Ator Responsável Ator Responsável Comunidade ITES Mobilizar moradores 2 6 Mudar a lógica atual mercantil para lógica solidária 1 5 Conflitos internos 3 4 Na formação dos empreendimentos 4 3 Construção da metodologia de incubação - 1 Identificar as potencialidades locais - 2

Diante dos desafios que repercutem no Ecosmar, para a comunidade, iniciar a

avaliação identificando possíveis meios de conscientizar a população de Matarandiba, é etapa

primordial para balizar as ações do Ecosmar, pois a própria comunidade deve ser o agente

fomentador de todo o processo.

No caso da ITES avaliar a metodologia aplicada o processo de incubação parece ser

relevante uma vez que ela será balizadora no processo de intervenção da incubadora.

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Além disso, para desenvolver um sistema de avaliação a ser implementado no

Ecosmar, seria necessário entender através de quais critérios isto poderá ser feito. É relevante

então utilizar um sistema que seja útil para a ITES, para a comunidade e as entidades

apoiadoras (parceiros) do Ecosmar, levando em conta cada empreendimento da rede.

Desta maneira, seria importante levar em consideração o que fez com que o Ecosmar

evoluísse, pois avaliação neste caso estaria diretamente relacionada com o desenvolvimento

da comunidade, no que tange seus aspectos, políticos, sociais, ambiental e cultural. Fazer uma

analise do que foi objetivado e do que foi atingido ao longo das etapas parece ser decisivo

para entender quais foram os pontos de avanços e de problema. Esta analise pode acontecer

através de entrevistas no local com a própria comunidade, com os técnicos da ITES e também

analise dos documentos redigidos pela ITES.

Para Boullosa (2009) deve-se também evitar uma avaliação baseada apenas no sucesso

ou no fracasso ou em respostas afirmativas ou negativas, e sim recorrer a métodos

quantitativos e qualitativos de coleta e análise de dados. Ela também afirma que é importante

que a avaliação ocorra de forma sistemática, constante de modo que possibilite a incubadora

identificar em tempo hábil os pontos fracos no processo de incubação ou até antecipá- los

evitando futuros problemas.

A falta de critérios estruturados de avaliação geral, entre outros, problemas para

órgãos de fomento e patrocinadores não-governamentais em avaliar a eficiência do apoio

financeiro voltado para as incubadoras e comunidades beneficiadas, pode inibir o incentivo de

um determinado tipo de programa.

Uma vez implantados os mecanismos de avaliação, é possível medir o desempenho

das atividades da rede de economia solidária bem como o da incubadora, decidindo quanto à

continuidade, interrupção ou redirecionamento de ações.

No caso de Matarandiba, é possível dizer que a avaliação pode se basear nas seguintes

dimensões:

• Resultados ou produtos gerados pela rede Ecosmar;

• Insumos utilizados para construção da rede sejam estes físico-financeiros,

tecnológicos, materiais ou recursos humanos;

• Processos organizacionais e produtos propriamente dito;.

• Contexto socioeconômico, político e cultural, referente às instituições mais

diretamente ligadas ao processo de incubação;

• Estas dimensões podem ser avaliadas sobre os seguintes critérios:

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• Parceiros relevantes que apoiam e suportam o processo de incubação da rede;

• Benefícios esperados por esses parceiros/ financiadores;

• Conexão em rede;

• Existência de uma associação comunitária ativa na rede;

• Existência de uma dinâmica de capacitação/conscientização para moradores da

comunidade;

• Indicadores e metas que possibilitem mostrar o nível de participação da

comunidade no processo de incubação;

• Existência de um conjunto de indicadores que atenda às necessidades da

incubadora e dos diversos parceiros.

• Existência de relatórios que demonstre os resultados alcançados em cada fase

do processo de incubação;

Com esta consideração, pretende-se compreender o Ecosmar em suas dimensões e

todas suas especificidades, enquanto instrumento de transformação social e enquanto

ferramenta estratégica para a sustentabilidade de Matarandiba.

Por isso, dentre os diversos modelos de metodologias-chave para avaliação, há

algumas em que o desenho favorece a obtenção do resultado sobre o ângulo pretendido. As

metodologias-chave utilizadas para a compreensão do projeto Ecosmar, são: avaliação por

objetivos e avaliação participativa. Da primeira depreende-se que o Projeto será avaliado

segundo seus objetivos e metas, que tem como principal referência Ralph Tyler (1950). A

partir desta metodologia, pode ser avaliado: (1) os atores envolvidos no Projeto e suas

relações de comprometimento com os objetivos e metas do Ecosmar; (2) a pertinência dos

objetivos e metas face aos dados secundários (análise bibliográfica) e primários (entrevistas).

A avaliação participativa deve ser realizada em contato direto com os atores

envolvidos no Ecosmar através das entrevistas das quais seja possível perceber as nuances,

sob uma visão plural. A avaliação então pode ser dividida em dois momentos, o primeiro

deles com análises documentais dos documentos submetidos pela ITES para obtenção de

recursos junto a entendidades apoiadoras. A análise documental também pode percorrer

relatórios, demonstrativos financeiros, planilhas de custos e planos de trabalho. É importante

destacar que nesta etapa objetiva-se a compreensão do projeto como um todo, os valores

frente aos desafios, o potencial local com vistas a autonomia socioeconômica, as

potencialidades e fragilidades do projeto face ao desenho e gestão do mesmo, e também

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correlações entre os objetivos e resultados esperados diante a contextualização de

vulnerabilidade quanto a sustentabilidade do projeto.

No processo de avaliação, portanto, será necessário perceber se as ações realizadas

pelo Ecosmar, seja os empreendimentos ou ações de fomento a rede conseguiram de forma

articulada gerar impactos de transformação socioeconômica e culturais na vida da

comunidade de Matarandiba. Estruturado em uma compreensão da temática, percepção e

entendimento dos desafios do Ecosmar, a avaliação deverá partir de uma análise criteriosa

desde o seu desenho à implementação da quinta etapa do projeto.

Segundo Boullosa (2009), a argumentação baseia-se na informação qualificada, desde

a sua coleta à sua análise. A qualidade da informação também é um fator que merece atenção,

pois é a própria avaliação que define tal qualidade, pois esta está carregada de subjetividade,

dada a sua natureza de construto social (BOULLOSA, 2009, p.42).

Desta forma, de acordo com Junior (2012, p.10) a avaliação contribuiu para o

refinamento dos “óculos cognitivos” do avaliador o que pode ser compreendido como

aprendizagem de primeiro ciclo, e, em seu segundo ciclo, com as recomendações vistas às

observações e coleta de dados durante a avaliação, dado o distanciamento focal do avaliador

sobre o projeto Ecosmar, possibilitará um retorno às organizações envolvidas no mesmo

(ITES, ASCOMA e Dow Brasil), com noções de reflexões internas e organizacionais que se

desdobrarão em aprendizagens coletivas, que por sua vez irá gerar novas ações pertinentes ao

que se pretende.

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5 LIMITAÇÕES DO TRABALHO

É possível identificar algumas limitações neste trabalho. Quanto a sua metodologia,

pode-se comentar quanto a coleta de dados, uma vez que poderia ter havido mais entrevistas,

junto a equipe técnica e a outros moradores da comunidade de Matarandiba. Neste caso, se

recorreu muito a análise de documentos da Incubadora e da ASCOMA e conversas informais,

pessoalmente e por telefone. De certo modo que a realização de entrevistas estruturadas

poderia embasar observações dos relatórios. A observação participante também poderia ter

sido instrumento importante no que tange melhor entendimento a cerca do que foi e é

relevante para o sucesso do processo de incubação do Ecosmar.

Quanto a contribuição mais importante deste trabalho, é possível citar o debate sobre o

tema da incubação em economia solidária, especialmente no que toca à questão dos desafios

no processo de incubação em redes locais de economia solidária para o desenvolvimento

territorial e processo de incubação para construção do conhecimento.

A contribuição mais relevante pode ser o de apontar, baseado nas dificuldades e nos

sucessos da experiência aqui relatada e analisada, caminhos que possam ajudar a desenhar

modelos de intervenção para o desenvolvimento local, tanto do ponto de vista de políticas

públicas encampadas pelos poderes públicos, quando por outras instituições, ONGs ou

empresas que tenham interesse em apoiar um processo que busque os mesmos resultados.

No que diz respeito às perspectivas futuras, torna-se relevante estudar com mais afinco

de que maneira tornar as redes locais de economia solidária, sustentáveis diante de tantos

desafios. Parece, portanto, relevante avaliar estas experiências, de modo que seja possível

levantar indicadores de desempenho e qualidade que procurassem medir mais diretamente os

resultados do projeto, especialmente ao final do processo de incubação utilizando-se ainda da

perspectiva da sustentabilidade.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO A – DADOS SELECIONADOS DO MAPEAMENTO DE PRODUÇÃO E

CONSUMO DE MATARANDIBA

Segundo Cunha, 2099 o mapeamento da produção e consumo consiste no primeiro

passo para criação de uma rede de socioeconomia solidária no território.

Também, são prospectados os locais onde os produtores e consumidores estão

realizando suas compras, bem como a localização dos fabricos, comércios e serviços

existentes no bairro. Além disso, intenciona-se colher dados para traçar o perfil social das

famílias da comunidade.

Para Cunha, 2009 são objetivos de um mapeamento:

§ "Direcionar a criação de empreendimentos produtivos que venham a suprir a demanda

da comunidade, combinando assim o que chamamos de a construção conjunta da

oferta e da demanda";

§ “Evitar a competição entre os integrantes da rede, a partir da oferta excessiva de um

mesmo produto. O mapa da produção possibilita a montagem das cadeias produtivas

onde cada empreendedor produz em função das necessidades de insumos do outro”;

§ “Orientar linhas de crédito de um banco comunitário para priorizar o financiamento de

bens e serviços que atendam a demanda local”;

§ “Reduzir os custos de produção a partir das compras conjuntas de insumos e

equipamentos”; 1

• Fazer com que a comunidade conheça mais a si mesma, conhecendo suas

potencialidades e dificuldades, e o principal, o poder de consumo que esta tem,

consumo aqui também definido além de tudo como um ato político.

1 Melo Neto, J. e Magalhães, S., “Banco Palmas – ponto a ponto”, Fortaleza: ed. do Instituto Banco Palmas, 2006. Informções extraídas no Relatório Final da Fase 1 de Matarandiba

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Figura 1: Pirâmide etária de Matarandiba

(0, 10)

[10, 20)

[20, 30)

[30, 40)

[40, 50)

[50, 60)

[60, 70)

[70, 80)

[80, 90)

[90, 100)

-13% -10% -8% -5% -3% 0% 3% 5% 8% 10% 13%

Pirâmide etária

FemininoMasculinoId

ade

Participação (%)

Figura 2: Número de componentes por domicílio

De 1,00 a2,00

22

De 2,00 a3,00

27

De 3,00 a4,00

25

De 4,00 a5,00

24

De 5,00 a6,00

18

De 6,00 a7,00

9

De 7,00 a8,00

6

De 8,00 a9,00

2

De 9,00 a10,00

0

De 10,00a 11,00

3

NÚMERO DE COMPONENTES

0

27

Tabela 1: Local de origem do morador

Local de origem Qt. Cit.

Freq.

Matarandiba 306 63,9%Outro local na ilha 48 10,0%Salvador 48 10,0%Outra Cidade 62 12,9%Outro Estado 14 2,9%Exterior 1 0,2%TOTAL CIT. 479 100,0%

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Tabela 2: Motivo da mudança para Matarandiba

Motivo da mudança

Qt. Cit.

Freq.

Aposentadoria 4 0,8% Família 138 28,9% Trabalho 21 4,4% Não se aplica 315 65,9% TOTAL CIT. 478 100,0%

Tabela 3: Moradia por condição de ocupação

TIPO DE MORADIA

AlugadoPróprioCedido/EmprestadoOcupado/InvadidoOutroTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

6 4,4% 127 93,4%

2 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

136 100%

Tabela 4: Número de cômodos da moradia

NÚMERO DE CÔMODOS

Não respostaMenos de 2,00De 2,00 a 4,00De 4,00 a 6,00De 6,00 a 8,00De 8,00 a 10,00De 10,00 a 12,00Mais de 12,00TOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

6 4,4% 4 2,9% 4 2,9%

51 37,5% 51 37,5% 15 11,0%

4 2,9% 1 0,7%

136 100% Mínimo = 1, Máximo = 19Soma = 778Média = 5,98 Desvio-padrão = 2,09

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Tabela 5: Condições da casa (estrutura interna)

CONDIÇÕES DA CASA

Água encanadaÁgua não encanadaEnergia elétrica com contaEnergia elétrica sem contaBanheiro com vasoBanheiro sem vasoCozinha c/ gásCozinha s/ gásPiso de CerâmicaPiso de CimentoTerra batidaTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

118 86,8% 18 13,2%

120 88,2% 15 11,0%

122 89,7% 6 4,4%

125 91,9% 20 14,7% 82 60,3% 47 34,6%

7 5,1% 136

Tabela 6: Condições da água utilizada

CONDIÇÕES DA ÁGUA

FervidaFiltradaTorneiraMineralOutroTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

1 0,7% 56 41,2% 68 50,0%

9 6,6% 2 1,5%

136 100%

Outro: Purrão (1); Fonte (1)

Tabela 7: Material de construção da moradia

MATERIAL DA CASA

Tijolo/blocoMadeiraPlástico/LonaTaipaOutroTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

132 97,1% 0 0,0% 0 0,0% 4 2,9% 0 0,0%

136 100%

Múltiplo: taipa e tijolo

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Tabela 8: Material predominante no teto da casa

C038: também laje

Tabela 9: Aparelhos e serviços existentes no domicílio

APARELHOS DA CASA

TelevisãoGeladeiraFogãoMáquina de lavarMicrocomputadorFreezerDVDTelefone fixoTelefone celularTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

125 91,9% 114 83,8% 135 99,3%

17 12,5% 8 5,9%

27 19,9% 83 61,0% 43 31,6% 68 50,0%

136

Nível de Escolaridade

Tabela 10: Escolaridade dos moradores

Escolaridade Qt. cit. Freq. Freq. Acum. Analfabeto 28 6,0% 6,0% Alfabetizado 24 5,2% 11,2% Sem Idade Escolar 16 3,4% 14,7% Pré Escolar 41 8,8% 23,5% 1ª a 4ª série 91 19,6% 43,1% 1º Grau Incompleto 136 29,3% 72,4% 1º Grau Completo 20 4,3% 76,7% 2º Grau Incompleto 33 7,1% 83,8% 2º Grau Completo 65 14,0% 97,8% Superior Incompleto 6 1,3% 99,1% Superior Completo 4 0,9% 100,0% TOTAL CIT. 464 100,0%

TETO DA CASA

Telha de CerâmicaPlásticoTelha Amianto (Eternit)LajeMisto (Cerâmica e Eternit)OutroTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

126 92,6% 0 0,0% 2 1,5% 7 5,1% 1 0,7% 0 0,0%

136 100%

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Trabalho e Renda

Tabela 11: Experiência profissional dos moradores

Experiência profissional

Qt. Cit.

Freq.

Mariscagem/ pesca 71 14,9% Agricultura 3 0,6% Serviços de construção civil 31 6,5% Trabalhos domésticos 61 12,8% Empreendedor 5 1,0% Outros 103 21,6% Não se Aplica 203 42,6% TOTAL CIT. 477 100,0%

Tabela 12: Situação ocupacional dos moradores

Situação Ocupacional Qt. Cit.

Freq.

Assalariado c/ carteira 45 9,6% Assalariado s/ carteira 24 5,1% Conta Própria - regular 48 10,3% Serviços informais irregulares 21 4,5% Pensionista / aposentado 56 12,0% Desempregado 27 5,8% Não Trabalha (estudante e dona de casa) 247 52,8% TOTAL CIT. 468 100,0%

Por fim, 141 moradores (30,2% disseram realizar alguma atividade comunitária).

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91

Renda Mensal

69

18

84

16

10 106

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

De 0,00 a150,00

De 150,00 a300,00

De 300,00 a450,00

De 450,00 a600,00

De 600,00 a750,00

De 750,00 a900,00

De 900,00 a1150,00

Figura 3: Distribuição da renda em Matarandiba

Tabela 13: Dados estatísticos da variável renda

Dado estatístico Dados com outliers e zeros:

Dados sem outliers e zeros

Soma 77.834,80 68.054,80

Média 167,75 319,51

Contagem 464 213,00

Desvio Padrão 293,55 231,63

Máximo 2.500,00 1.000,00

Tabela 14: Fonte da renda (fora trabalho)

Fonte da Renda Qt. Cit.

Freq.

PETI 0 0,0% Bolsa Família 51 10,8% Outros programas governamentais 2 0,4% Ajuda de parentes ou amigos 3 0,6% Defeso 0 0,0% Não se Aplica 417 88,2% TOTAL CIT. 473 100,0%

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Condições de Alimentação

Tabela 15: gasto mensal com alimentação por domocílio

GASTO ALIMENTAÇÃO

Menos de 120De 120 a 240De 240 a 360De 360 a 480De 480 a 600De 600 a 720De 720 a 840TOTAL CIT.

Qt. cit. Freq.

20 15,9% 41 32,5% 32 25,4% 21 16,7%

6 4,8% 5 4,0% 1 0,8%

126 100% Mínimo = 20, Máximo = 2800Soma = 37070Média = 289,61 Desvio-padrão = 278,02

Outliers: R$ 2.800,00 e 1.000,00

Tabela 16: ocorrência de falta de comida nos últimos 12 meses

FALTA DE COMIDA

SimNãoTOTAL CIT.

Qt. cit. Freq.

19 14,1% 116 85,9% 135 100%

Tabela 17: ajudante na falta de comida

AJUDANTE

VizinhosParentesPrefeituraNão recebe ajudaOutroTOTAL CIT.

Qt. cit. Freq.

2 10,5% 13 68,4%

0 0,0% 2 10,5% 2 10,5%

19 100%

Outro: Dow (cesta básica) C057

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Tabela 18: freqüência em que faltou comida nos últimos 12 meses

FREQUENCIA DA FALTA

Todos os diasDe três em três diasUma vez por semanaUma vez por mêsOcasionalmenteTOTAL CIT.

Qt. cit. Freq.

3 15,8% 1 5,3% 4 21,1% 3 15,8% 8 42,1%

19 100%

O preparo da alimentação é realizado principalmente pela mãe (79,4%), mas é perceptível que há uma participação do pai nesta atividade (13,2%). Sobre a freqüência da alimentação, percebe-se que a maior parte das famílias toma três ou mais refeições por dia 93,3% (Ver Tabela 19 e

Tabela 20).

Tabela 19: pessoa responsável pela preparação da alimentação em casa

PREPARO DA ALIMENTAÇÃO

PaiMãeFilho/FilhaAvô/AvóOutroTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

18 13,2% 108 79,4%

27 19,9% 2 1,5% 7 5,1%

136

OUTRO: Namorada (1); Nora (2); Irmã (1) Dona Carmelita (1) Betinha (1); Irmã (1)

Tabela 20: Número de refeições realizadas diariamente pela família

NÚMERO DE REFEIÇÕES

UmaDuasTrêsMais de trêsTOTAL CIT.

Qt. cit. Freq.

1 0,7% 8 5,9%

77 57,0% 49 36,3%

135 100%

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Tabela 21: motivo para não realizar as compras em Matarandiba

MOTIVO PARA COMPRAR FORA

Os produtos no bairro são mais carosA qualidade dos produtos não permite que faça as compras aquiFora do bairro existe facilidades para compra, como cartão de crédito e crediárioO bairro não oferece os produtos que gosto de comprarO bairro não oferece os produtos que necessitoOutroTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

69 50,7% 7 5,1%

21 15,4% 16 11,8% 44 32,4%

0 0,0% 136

Tabela 22: Dados de consumo de alimentos (semanal)

Alimentos Valor médio

Valor mínimo

Valor máximo

Desvio-padrão

Soma

Arroz (kg) 2,15 0,20 8,00 1,54 272,85

Feijão (kg) 1,80 0,20 10,00 1,51 233,65

Açúcar (kg) 2,71 0,50 15,00 2,10 330,50

Farinha (kg) 2,22 0,10 12,00 1,90 284,10

Macarrão (kg) 1,12 0,13 4,00 0,89 125,83

Óleo de Cozinha (l) 0,85 0,10 4,00 0,71 106,57

Leite Líquido (l) 3,21 0,25 36,00 5,82 137,85

Leite em Pó (kg) 0,67 0,10 8,00 1,00 72,98

Café (kg) 0,45 0,10 4,00 0,55 52,80

Margarina (kg) 0,60 0,10 6,00 0,70 67,57

Fubá (kg) 1,19 0,20 7,50 1,19 76,15

Biscoito (pct) 2,23 0,50 9,00 1,41 252,00

Refrigerante (l) 2,56 0,25 12,00 2,11 210,25

Frutas (kg) 4,10 0,50 15,00 2,69 385,00

Verduras (kg) 3,89 0,50 49,00 6,37 439,95

Pão Francês (un) 46,31 2 175 34,86 5557

Carne Bovina (kg) 2,37 0,25 16,00 1,98 279,95

Carne de Frango (kg)

2,60 0,50 8,00 1,72 309,50

Peixe (kg) 2,78 0,50 16,00 2,52 277,75

Marisco (kg) 1,36 0,30 6,00 0,93 77,80

Ovos (un) 12,79 2 72 10,34 1164

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Tabela 23: local onde a família realiza as compras de alimentos

LOCAL DA COMPRA DE ALIMENTOS

SalvadorMar GrandeEm outra comunidadeNa comunidadeTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

5 3,7% 38 27,9% 34 25,0%

100 73,5% 136

Tabela 24: formas de pagamento utilizadas nas compras de alimentos

FORMA DE PAGAMENTO ALIMENTOS

DinheiroChequeCartão de créditoFiadoCrediárioOutraTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

93 68,4% 0 0,0%

36 26,5% 43 31,6% 11 8,1%

0 0,0% 136

Tabela 25: Dados de consumo de produtos de limpeza (mensal)

Material de Limpeza

Valor médio

Valor mínimo

Valor máximo

Desvio-padrão

Soma

Sabão em Pó (kg) 1,44 0,25 7,50 0,95 177,55

Sabão em Barra (un)

4,72 1 20 3,71 562

Água Sanitária (l) 3,13 1,00 20,00 2,78 388,00

Desinfetante (l) 2,70 0,50 20,00 2,28 324,00

Detergente (l) 2,15 0,10 8,00 1,39 231,70

Amaciante (l) 1,62 0,50 7,00 1,13 105,00

Lustra Móveis (l) 0,34 0,10 1,75 0,31 20,65

Cera (kg) 0,49 0,40 0,50 0,03 4,40

Esponja de Aço (pct)

1,53 0,10 8,00 1,05 189,69

Esponja (un) 2,63 0 10 1,27 313

Vassoura (un) 1,00 0,08 4,00 0,49 121,76

Mata Insetos (un) 1,60 0 4 0,93 80

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Tabela 26: locais de realização de compras de materiais de limpeza

LOCAL DA COMPRA DE MATERIAL DE LIMPEZA

SalvadorMar GrandeEm outra comunidadeNa comunidadeTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

3 2,2% 29 21,3% 29 21,3% 77 56,6%

136

Tabela 27: formas de pagamento utilizadas na compra de materiais de limpeza

FORMA DE PAGAMENTO MATERIAL DE LIMPEZA

DinheiroChequeCartão de CréditoFiadoCrediárioOutraTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

99 72,8% 0 0,0%

28 20,6% 35 25,7% 10 7,4%

0 0,0% 136

Tabela 28: dados de consumo de produtos de higiene pessoal e beleza (mensal)

Higiene pessoal e beleza Valor médio

Valor mínimo

Valor máximo

Desvio-padrão

Soma

Sabonete (un) 4,78 1 20 2,67 598

Pasta de Dente (un) 3,16 1 12 1,97 398

Absorvente (pct) 3,14 0,12 24,00 3,68 254,32

Papel Higiênico (un) 9,53 1 80 8,54 1172

Desodorante (un) 2,81 0,15 22,00 2,65 328,75

Hidratante de Corpo (un) 1,57 0,10 11,00 1,28 153,60

Creme de Barbear (un) 1,42 1 4 0,81 44

Barbeador (un) 4,13 1 20 2,91 471

Xampu (un) 1,41 0,20 11,00 1,17 151,20

Condicionador para Cabelo (un)

1,43 0,20 11,00 1,18 146,20

Gel de Cabelo (un) 1,44 1 3 0,73 23

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97

Creme de Cabelo (un) 1,81 0,35 11,00 1,56 195,15

Alisante (un) 1,39 0,00 11,00 1,64 63,80

Tintura (un) 1,20 0,15 4,00 0,75 56,61

Esmalte (un) 3,23 0 30 4,99 171

Batom (un) 1,55 0,15 10,00 1,50 78,80

Colônia (un) 2,32 0,08 22,00 2,72 267,23

Tabela 29: local de realização de compras de produtos de higiene pessoal e beleza

LOCAL DA COMPRA HIGIENE

SalvadorMar GrandeEm outra comunidadeNa comunidadeTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

11 8,1% 38 27,9% 32 23,5% 74 54,4%

136

Tabela 30: formas de pagamento utilizadas na compra de produtos de higiene pessoal e beleza

FORMA DE PAGAMENTO HIGIENE

DinheiroChequeCartão de créditoFiadoCrediárioOutraTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

103 75,7% 0 0,0%

27 19,9% 32 23,5%

7 5,1% 0 0,0%

136

Tabela 31: dados do consumo de vestuário e calçado (anual)

Vestuário e calçado Valor médi

o

Valor mínimo

Valor máximo

Desvio-padrão

Soma

Camisa 6,82 1 24 4,93 607

Calça 3,17 1 15 2,32 292

Blusa 8,87 1 36 7,16 834

Saia 7,36 1 31 7,00 545

Vestido 4,06 1 15 3,07 268

Bermuda 7,06 1 50 6,64 657

Short 8,31 1 30 6,81 582

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98

Meias 4,29 1 30 4,42 352

Peça Íntima Masculina 12,69 2 50 8,20 1.117

Peça Íntima Feminina 17,55 1 72 12,85 1.685

Roupa de Banho Masculina 2,68 1 10 2,00 158

Roupa de Banho Feminina 3,18 1 11 2,22 251

Camisola 2,81 1 10 2,00 202

Sapato 3,79 1 15 2,92 383

Sandália 5,91 1 68 7,61 632

Fralda 345,73

0 1200 380,52 3.803

Tabela 32: local onde é realizada a compra de produtos de vestuário e calçados

LOCAL DA COMPRA DE VESTUÁRIO

SalvadorMar GrandeEm outra comunidadeNa comunidadeTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

68 50,0% 10 7,4% 30 22,1% 14 10,3%

136

Tabela 33: formas de pagamento utilizadas na compra de produtos de vestuário e calçados

FORMA DE PAGAMENTO VESTUÁRIO

DinheiroChequeCartão de CréditoFiadoCrediárioOutraTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

99 72,8% 0 0,0%

43 31,6% 20 14,7%

5 3,7% 0 0,0%

136

Referente ao consumo de serviços, o ítem mais consumido (em valor monetário – R$) é o de luz elétrica. O que chama a atenção, nesta modalidade de consumo é a utilização de Mar Grande como local de compras (69,9% - ver Tabela 35). Isto se explica principalmente pela disponibilidade da realização do pagamento de contas. Neste sentido, chama a atenção a utilização maciça do pagamento por dinheiro (90,4% dos casos – ver

Tabela 36).

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99

Tabela 34: dados referentes ao consumo de serviços (mensal)

Serviços Valor médio

Valor mínimo

Valor máximo

Desvio-padrão

Soma

Luz (R$) 60,08 3,00 500,00 56,54 7.330,00

Gás (UN) 1,25 0,15 35,00 3,03 160,03

Telefonia (R$) 63,43 10,00 200,00 37,76 3.362,00

Internet (R$) 102,00 100,00 104,00 2,83 204,00

Lazer (R$) 74,21 8,00 300,00 69,77 3.933,00

Beleza (R$) 29,33 2,00 100,00 22,10 1.789,00

Educação (R$) 108,12 8,00 500,00 113,29 4.649,00

Outros (R$) 43,84 5,00 300,00 75,74 833,00

Tabela 35: local onde é realizada a compra de serviços

LOCAL DA AQUISIÇÃO DOS SERVIÇOS

SalvadorMar GrandeEm outra comunidadeIvoneteNa comunidadeTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

19 14,0% 95 69,9% 12 8,8%

7 5,1% 78 57,4%

136

Tabela 36: formas de pagamento utilizadas na compra de serviços

FORMA DE PAGAMENTO SERVIÇOS

DinheiroChequeCartão de créditoFiadoCrediárioOutraTOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

123 90,4% 0 0,0%

13 9,6% 14 10,3%

2 1,5% 0 0,0%

136

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100

Tabela 37: Resposta à pergunta se a família realiza alguma atividade produtiva

ATIVIDADE PRODUTIVA

SimNãoTOTAL CIT.

Qt. cit. Freq.

54 40,0% 81 60,0%

135 100%

Tabela 38: Tipos de atividades produtivas realizadas pelas famílias

TIPO DE ATIVIDADE Qt. Cit.

Freq.

Mariscagem 19 38,0%

Pesca 9 18,0%

Mariscagem, Pesca 3 6,0%

Comércio 2 4,0%

Geladinho 2 4,0%

Salão de Beleza 2 4,0%

Cocada, geladinho 1 2,0%

Costura 1 2,0%

Costura, Pastel, Mariscagem, Tapetes

1 2,0%

Crochê 1 2,0%

Doces, Confecções 1 2,0%

Frango abatido 1 2,0%

Geladinho, cocada e outros 1 2,0%

Geladinho, Pesca 1 2,0%

Mariscagem, Manicure 1 2,0%

Pedreiro 1 2,0%

Pousada e mercadinho 1 2,0%

Produtos de Limpeza 1 2,0%

Salgados e Artesanato 1 2,0%

TOTAL CIT. 50 Quantidade de valores diferentes: 20

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101

Setor de Atividade

82,4%

23,5%

23,5%

Produção

Serviço

Comércio

Figura 4: Distribuição dos empreendimentos por tipo de atividade

Tabela 39: Situação do empreendimento quanto à formalização

FORMALIZAÇÃO Qt. cit. Freq.

Sim 4 23,5%

Não 13 76,5%

TOTAL OBS. 17 100%

Tabela 40: Tipo de sociedade do empreendimento

SOCIEDADE Qt. cit. Freq.

Individual 16 94,1%

Associado 1 5,9%

TOTAL OBS. 17 100% Associado: 1 pessoa

Tabela 41: Resposta à pergunta se a família é proprietária dos meios de produção

PROPRIEDADE PRODUÇÃO

Qt. cit. Freq.

Sim 13 76,5%

Não 3 17,6%

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102

Não Resposta 1 5,8% TOTAL OBS. 17 100%

Tabela 42: Local onde é realizada a venda do produto ou serviço

LOCAL Qt. cit. Freq.

Em casa 5 27,8%

Em ponto comercial no bairro

10 58,8%

Em outro município/cidade 1 5,9%

Em outros ilhas/comunidade 1 5,9%

Na praia 0 0,0%

Outros 1 5,9%

TOTAL OBS. 17 Outro: Salvador

Faturamento Bruto dos empreendimentos

2 2

6

0

1 11

0

1

2

3

4

5

6

7

Menos de150

De 150 a300

De 300 a450

De 450 a600

De 600 a750

De 750 a900

De 900 a1050

Figura 5: Distribuição do faturamento bruto dos empreendimentos (sem outliers)

Tabela 43: Dados estatísticos sobre o faturamento dos empreendimentos

Dados com outliers

Dados sem outliers

Mínimo 100,00 100,00

Máximo 5.000,00 1.000,00

Soma 12.060,00 5.060,00

Média 804,00 389,23

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103

Desvio-padrão 1.257,05 255,60

Tabela 44: Levantamento dos produtos dos empreendimentos

Principais Produtos Produção

Mensal Preço de

venda (R$) Caju (UN) 7,5 1,00 Tamarindo (UN) 7,5 0,50 Aipim (kg) 20 1,00 Cana (UN) 12 1,00 Feijão de corda (Saco) 10 3,00 Banana (UN) 300 42,00 Mariscagem (kg) 6 Costura (UN) Salgados (UN) 300 0,60 Lanches (UN) 140 1,50 Suco (Copo) 30 1,00 Tira gosto (Porção) 50 5,50

Tabela 45: Sazonalidade da produção

Mês Qt. cit. Freq.

Janeiro 2 50,0%

Fevereiro 3 75,0%

Março 1 25,0%

Abril 0 0,0%

Maio 0 0,0%

Junho 1 25,0%

Julho 0 0,0%

Agosto 0 0,0%

Setembro 1 25,0%

Outubro 0 0,0%

Novembro 1 25,0%

Dezembro 2 50,0%

O ano inteiro 4 100% TOTAL CIT. 4

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104

Tabela 46: Levantamento dos principais insumos e matérias primas utilizados na produção dos empreendimentos

Insumos/ Matérias Primas

Consumo mensal (Qtde) Fornecedor

Preço de compra (R$)

Caju (UN) 200 Comunidade 0,10

Açúcar (kg) 10 Mar Grande / Lico / Totoco 1,30

Cravo (colher) 4 0,25 Tamarindo (kg) 1 1,30 Leite (L) 4 Mar Grande 2,60 Queijo (kg) 5 Mar Grande 6,80 Presunto (kg) 5 Mar Grande 4,90 Alface (UN) 5 Mar Grande 1,00 Tomate (kg) 5 Mar Grande 1,00 Óleo (L) 3 Mar Grande 3,50 Margarina (kg) 1 Mar Grande 5,20

Tabela 47: Formas de pagamento utilizadas na compra de matérias primas e insumos da produção

FORMA DE PAGAMENTO MP PRODUÇÃO

DinheiroChequeCartão de créditoFiadoCrediárioOutraTOTAL CIT.

Qt. cit. Freq.

4 100% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 4 100%

Serviços prestados

Tabela 48: Levantamento dos principais serviços prestados

Principais Serviços Produção

mensal Preço de

venda (R$) Relaxamento (UN) 8 42,50 Escova (UN) 27 8,50 Pintura (UN) 10 15,00 Unha (UN) 25 7,00 Dormida (DIÁRIA) 30 25,00 Almoço (UN) 20 0 Janta (UN) 30 0 Café da manhã (UN) 30 0 Corte de cabelo (UN) 15 3 Locação de vídeo game (H) 50 1,25 Locação de DVD (DIÁRIA) 20 2,00

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105

Conserto de bicicleta (UN) 20 2,00 Polimento de CD (UN) 10 1,00 Conserto de controle remoto (UN) 5 5,00 Transporte (PASSAGEM) 1000 2,00

Tabela 49: Sazonalidade na prestação dos serviços

MÊS Qt. cit. Freq.

Janeiro 1 25,0%

Fevereiro 0 0,0%

Março 0 0,0%

Abril 0 0,0%

Maio 0 0,0%

Junho 0 0,0%

Julho 0 0,0%

Agosto 0 0,0%

Setembro 0 0,0%

Outubro 0 0,0%

Novembro 1 25,0%

Dezembro 1 25,0%

O ano inteiro 4 100%

TOTAL CIT. 4

Tabela 50: Levantamento dos Principais Insumos e Matérias Primas utilizadas na prestação dos serviços

Insumos / Matérias Primas

Consumo mensal

Fornecedor Preço de compra (R$)

Pintura (g) 150 Salvador 3,1 Relaxamento (g) 300 Casa da Manicure 277 (2kg) Shampoo (L) 2 Casa da Manicure 8 (5L) Creme (L) 2 Casa da Manicure 8 (5L) Esmalte (UN) 30 1,39 Lixa (UN) 20 70,50 (12) Lâmina 7 Mercado 0,3 CD 5 Loja J/A 4

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106

Fitas (games) 3 Loja J/A 25 Controle 1 Loja J/A 20 Pasta p/polimento 1 Loja J/A 5

Tabela 51: Formas de pagamento utilizadas na prestação dos serviços

FORMA DE PAGAMENTO MP SERVIÇO

DinheiroChequeCartão de créditoFiadoCrediárioOutraTOTAL CIT.

Qt. cit. Freq.

3 75,0% 0 0,0% 1 25,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 4 100%

Tabela 52: Levantamento das principais mercadorias comercializadas no comércio local

Principais Mercadorias

Venda mensal

(R$)

Venda mensal (Qtde)

Fornecedor Preço de compra

(R$) Pão (UN) 510 900 Jiribatuba 0,15 Farinha (kg) 630 495 Nazaré, São Nogeu 1,38 Bebida (GRF) 100 120 Brahma 0,75 Açucar (kg) 528 355 Nazaré, São Nogeu 1,17 Café (kg) 430 33 Nazaré 8,50

Feijão (kg) 455 80 Centro Sul, São Joaquim,

São Nogeu 5,25

Arroz (kg) 266 170 Centro Sul, São Joaquim,

São Nogeu 1,70 Carne (kg) 540 0 Centro Sul Soja (kg) 132 0 Centro Sul Óleo (L) 270 20 Centro Sul, São Nogeu 3,30 Sorvete (Bola) 100 60 Soveteria Tairu 2,25 Picolé (UN) 50 100 Soveteria Tairu 0,25 Cremosinho (UN) 60 100 Soveteria Tairu 0,35 Cachorro quente (UN) 20 20 Mercado 0,60 Doces (UN) 110 50 Bomboniere, Mar Grande 12,55 Roupas em geral (UN) 125 10 Salvador Cerveja (GRF) 2.256 1.512 Schin/Skol 1,51 Refrigerante (2L) 594 174 Schin/Skol 1,34 Macarrão (PCT) 30 20 São Nogeu 1,30 Leite (L) 105 30 São Nogeu 3,20 Ovos (UN) 75 10 São Nogeu 15,00

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Calabresa (kg) 80 10 São Nogeu 120,00 Frango (UN) 420 50 Fornecedor 3,50 Perfume (UN) 120 10 Catálogos 3,00 Mariscos (kg) 350 200 Matarandiba 4,00 Peixes (kg) 200 60 Matarandiba 0,00 Refeições (UN) 500 1 Matarandiba 300,00 Água ardente (Dose) 216 24 Schin 3,00 Whisky (Dose) 350 6 Santo Antônio 60,00 Gás (UN) 2.016 56 MPC 30,00 Chumbinho (kg) 200 40 Matarandiba 3,50 Siri de mangue (corda) 200 0 Matarandiba 3,50 Ostra (kg) 160 20 Matarandiba 7,00 Sururu (kg) 105 15 Matarandiba 6,00 Siri catado (kg) 300 20 Matarandiba 10,00 Lanche (UN) 210 140 Fab. Própria 1,50 Suco (Copo) 30 30 Mar Grande 0,30 Cinquenta e um (dose) 200 30 1,17 Água mineral (500mL) 100 40 0,75

Tabela 53: Formas de pagamento utilizadas nas compras de matérias primas para o comércio

FORMA DE PAGAMENTO MP COMÉRCIO

Qt. cit. Freq.

Dinheiro 10 71,4%

Cheque 5 35,7%

Cartão de crédito 0 0,0%

Fiado 3 21,4%

Crediário 3 21,4%

Outra 0 0,0%

TOTAL OBS. 14

Tabela 54: Sazonalidade do comércio local

MÊS Qt. cit. Freq.

Janeiro 5 35,7%

Fevereiro 5 35,7%

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108

Março 1 7,1%

Abril 0 0,0%

Maio 0 0,0%

Junho 2 14,3%

Julho 0 0,0%

Agosto 0 0,0%

Setembro 1 7,1%

Outubro 1 7,1%

Novembro 4 28,6%

Dezembro 5 35,7%

O ano inteiro 11 78,6%

TOTAL CIT. 14 100%

Tabela 55: Estrutura financeira do empreendimento

Rubrica Valor médio Desvio-padrão

Soma

Faturamento Total 829,20 777,70 8292,00

Custos Compras 717,20 574,22 7172,00

Despesa Água 44,00 44,61 264,00

Despesa Luz 168,14 133,44 1177,00

Despesa Aluguel 155,00 134,35 310,00

Despesa Funcionário 85,00 44,35 340,00

Despesa Impostos 20,00 10,00 60,00

Outras Despesas 265,00 162,63 530,00