UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA … · pelo Prof. Dr. Jaime Olbrich Neto,...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” CURSO DE HIGIENE OCUPACIONAL DIAGNÓSTICO DE SAÚDE AMBIENTAL EM UMA UNIDADE DE ENSINO JOSÉ CARLOS COELHO LENICE DE PAULA LUIZ FERNANDO DOS SANTOS MARIA CECÍLIA DOS SANTOS Botucatu São Paulo 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

CURSO DE HIGIENE OCUPACIONAL

DIAGNÓSTICO DE SAÚDE AMBIENTAL EM UMA UNIDADE DE ENSINO

JOSÉ CARLOS COELHO

LENICE DE PAULA

LUIZ FERNANDO DOS SANTOS

MARIA CECÍLIA DOS SANTOS

Botucatu – São Paulo

2010

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

CURSO DE HIGIENE OCUPACIONAL

DIAGNÓSTICO DE SAÚDE AMBIENTAL EM UMA UNIDADE DE ENSINO

JOSÉ CARLOS COELHO

LENICE DE PAULA

LUIZ FERNANDO DOS SANTOS

MARIA CECÍLIA DOS SANTOS

Monografia apresentada ao Curso de Extensão em

Higiene Ocupacional, oferecido pela UNESP, como

exigência para Conclusão de Curso sob a orientação

do Prof. Dr. Jaime Olbrich Neto.

Botucatu – São Paulo

2010

DEDICATÓRIA

Dedico a Deus, que brota em todas as formas

de vida, e nos dá a força necessária para que

alcancemos os nossos objetivos.

AGRADECIMENTO

Agradecemos ao Prof. Dr. Jaime Olbrich Neto

pela paciência na orientação e incentivo que

tornaram possível a conclusão desta monografia

EPÍGRAFE

“Só sabemos com exatidão quando sabemos

pouco; à medida que vamos adquirindo

conhecimentos, instala-se a dúvida.”

Johann Wolfgang Von Goethe

RESUMO

Informações sobre os efeitos de ácaros, fungos do pó de feno e amônia para as condições

brasileiras são escassas. Este trabalho, realizado no Departamento de Produção Animal da

FMVZ/UNESP – Campus de Botucatu (Confinamento - Bovinocultura), tem como objetivo

avaliar a saúde ambiental tanto do servidor que presta serviços nesses locais, bem como do

ambiente a que ele está exposto. Foram avaliados riscos físicos: calor, frio e ergonomia e riscos

biológicos: fungos e ácaros. Para tanto os servidores que prestam serviços no local passaram por

exames laboratoriais, testes alérgicos, dermatológicos e espirométricos (avaliação da função

pulmonar). Estes testes foram aplicados por servidores capacitados na área de saúde e orientados

pelo Prof. Dr. Jaime Olbrich Neto, docente do departamento de pediatria da Faculdade de

Medicina de Botucatu, especialidade imunologia. Medidas preventivas como adequação do

projeto arquitetônico do galpão de confinamento bovino, considerando-se que este é um projeto

piloto dentro da UNESP, são sugeridas.

Palavras chave: bovino de corte, saúde ambiental, ácaros e fungos.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 10

1 DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO ANIMAL ................................................................ 16

2 METODOLOGIA - Sujeitos e Métodos …............................................................................ 17

2.1 Análise Ambientais ............................................................................................................. 17

2.1.1 Temperatura e Umidade Relativa do Ar ........................................................................ 17

2.1.2 Contagem de Ácaros e Fungos ....................................................................................... 20

2.1.3 Ergonomia ........................................................................................................................ 26

2.2 Exames Médicos no Trabalhador ..................................................................................... 30

2.2.1 Testes de Puntura ..............................................................................................................30

2.2.2 Anticorpo IgE Total .......................................................................................................... 32

2.2.3 Espirometria (Prova de Função Pulmonar) ................................................................... 33

3 DISCUSSÃO ............................................................................................................................ 35

4 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 39

5 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 40

LISTA TABELA

TABELA 1 Temperatura (ºC) e Umidade Relativa do ar (%) registrada no galpão

de confinamento bovino do Departamento de Produção Animal da

FMVZ/UNESP – Campus de Botucatu ............................................................ 19

TABELA 2 Colônia de fungos .................................................................................................. 24

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Classificação dos Distúrbios Ventilatórios ......................................................... 12

QUADRO 2 Classificação dos Distúrbios Ventilatórios Segundo a

Gravidade – SBPT, 1996 ....................................................................................... 12

QUADRO 3 Localização das dores no corpo, provocadas por posturas inadequadas ........ 14

QUADRO 4 Resultado do Prick Test (teste de Puntura) em servidores

da FMVZ ................................................................................................................ 32

QUADRO 5 Resultado do teste de espirometria nos servidores ............................................ 34

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Termo-higrômetro instalado no galpão de confinamento de bovinos ................ 18

FIGURA 2 Ácaro ........................................................................................................................ 20

FIGURA 3 Ácaro ........................................................................................................................ 20

FIGURA 4 Preparação do aspirador para coleta .................................................................... 21

FIGURA 5 Coleta ácaros (estocagem de feno) ......................................................................... 21

FIGURA 6 Coleta ácaros (confinamento bovino) .................................................................... 21

FIGURA 7 Coleta ácaros (estocagem de ração) ...................................................................... 21

FIGURA 8 Coleta fungos (confinamento bovino) .................................................................. 23

FIGURA 9 Coleta fungos (confinamento bovino) ................................................................... 23

FIGURA 10 Coleta fungos (área externa) ................................................................................ 23

FIGURA 11 Coleta fungos (estocagem feno) ........................................................................... 23

FIGURA 12 Coleta fungos (estocagem ração).......................................................................... 23

FIGURA 13 Placas com fungos (área escritório) ..................................................................... 24

FIGURA 14 Placas com fungos (área escritório) ..................................................................... 24

FIGURA 15 Placas com fungos (estocagem ração) ................................................................. 25

FIGURA 16 Placas com fungos (estocagem ração) ................................................................. 25

FIGURA 17 Placas com fungos (área externa) ........................................................................ 25

FIGURA 18 Placas com fungos (área externa) ........................................................................ 25

FIGURA 19 Placas com fungos (galpão confinamento) .......................................................... 25

FIGURA 20 Placas com fungos (galpão confinamento) .......................................................... 25

FIGURA 21 Vista do galpão com a localização das duas salas (escrit.– estoc.ração) ...........26

FIGURA 22 Piso superior (onde ficam animais) ..................................................................... 27

FIGURA 23 Piso superior (onde ficam animais) ..................................................................... 27

FIGURA 24 Parte externa do confinamento (onde caem os dejetos) .....................................27

FIGURA 25 Abertura por onde o funcionário entra no piso inferior .................................. 28

FIGURA 26 Vista lateral do piso inferior do galpão de confinamento .................................. 29

FIGURA 27 Funcionário em pé durante a lavagem da parte inferior do galpão ................. 29

FIGURA 28 Funcionário sentado durante a lavagem da parte inferior do galpão .............. 30

FIGURA 29 Teste de Puntura ................................................................................................... 31

FIGURA 30 Teste de Puntura ................................................................................................... 31

FIGURA 31 Resultado teste alérgico cutâneo .......................................................................... 31

FIGURA 32 Exame de espirometria ......................................................................................... 33

10

INTRODUÇÃO

A saúde ocupacional é uma estratégia importante que garante a saúde dos trabalhadores e

contribui positivamente para a produtividade, qualidade dos produtos, motivação e satisfação no

trabalho, portanto, para a melhoria geral na qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade

como um todo. Atualmente, as organizações buscam aperfeiçoar-se por meio de modelos de

gestão, incorporando conceitos de boas práticas.

A produção intensiva de animais tendo como principal objetivo a transformação da carne

em alimentos para o homem, gera uma quantidade muito elevada de subprodutos e resíduos que

provocam impactos ambientais, na qualidade do ar, do solo e da água. Prejudicando o homem e

os próprios animais devido a sua alta capacidade de poluição, seja na forma líquida, sólida ou

gasosa.

O ambiente de confinamento bovino é muito propício a proliferação de ácaros, pois

apresenta uma temperatura elevada e alto teor de umidade relativa do ar. Os ácaros são

responsáveis por processos alérgicos, pertencem à família das aranhas e, como elas, possuem

quatro pares de patas. Existem várias espécies de ácaros, sendo que a mais freqüentemente

relacionada à alergia é o Dermatophagoides ssp., que significa, “aquele que se alimenta de pele”.

Mesmo invisíveis a olho nu, os ácaros podem fazer mal à saúde, principalmente aos alérgicos.

Estes aracnídeos minúsculos são responsáveis por diversos problemas, como conjuntivite,

eczema, espirros, coceiras e até mesmo asma.

Existem muitos métodos de testes de alergia. Entre os mais comuns estão os testes

cutâneos e o teste radioalergossorbente (RAST). Quando alguém é alérgico, ele o é por inteiro,

porém a alergia se manifesta num órgão de choque, ou seja, ela afeta os pulmões (asma), o nariz

(rinite), a pele (urticária). Normalmente, o sistema imune funciona como defesa do organismo

contra agentes invasores, como as bactérias e vírus. Entretanto, na maioria das reações alérgicas,

11

o sistema imune (de defesa) está respondendo de forma inadequada, porém segundo um

determinante genético. A pessoa entra em contato com um alérgeno e o sistema imune trata este

como um invasor e mobiliza-se para atacá-lo.

O sistema imune gera nas alergias quantidades aumentadas de uma classe de anticorpo

chamado IgE. Cada anticorpo IgE é específico para um tipo particular de alérgeno.

Os testes cutâneos facilitam o diagnóstico causal da alergia do paciente e diagnosticam os

alérgenos aos quais o paciente é sensível. Os testes alérgicos de preferência são os cutâneos, pela

facilidade de execução, interpretação, baixo custo e diminuição de risco sistêmico. Além disso,

podem-se testar inúmeros alérgenos ao mesmo tempo. Tal procedimento produz uma reação

alérgica em pequena escala quando expomos intencionalmente o paciente à quantidade mínima

de alérgeno. Os testes intradérmicos tem sido muito utilizados ultimamente.

Quando um alérgeno (pólen, pó ou outro) entra em contato com seu anticorpo IgE

específico, vários elementos químicos são liberados no sangue e passam a agir em várias partes

do corpo, assim como no sistema respiratório, causando os sintomas da alergia. No sistema

respiratório, a alergia poderá manifestar-se como uma doença alérgica no nariz (rinite alérgica) já

nos pulmões e vias aéreas (asma ou hiper-reatividade brônquica).

A IgE total é um teste sangüíneo laboratorial para identificar a quantidade de anticorpos

IgE presente no sangue. Esses anticorpos estão presentes quando houver uma reação alérgica, ou

em presença de parasitose intensa. O exame avalia os valores acima dos quais se podem sugerir

sensibilização maior ou menor. A dosagem do IgE especifica pelo RAST (radioalergosorbent),

tem o mesmo valor que o teste de puntura, e este último é preferido por ser mais barato, e in vivo.

A Espirometria (PFVs) é um exame que se realiza para a identificação de doenças ou

envolvimento pulmonar, quantificação da doença, diagnóstico, detecção precoce da doença,

investigação da dispnéia, acompanhamento e resposta ao tratamento e avaliação da incapacidade

laboral. O exame de Espirometria está regulamentado pela Medicina Ocupacional – Lei 6514 de

12

22/12/1977 – NR7 Portaria 3214 de 08/06/1978 – Portaria 19 de 09/04/1998, Artigo 1º - Altera o

Quadro II. Existem vários tipos de espirômetros: Selo d´água, Fole ou Pistão e Eletrônicos

(Pneumotacômetros, Termístores e Turbinômetros).

Quadro 1 – Classificação dos Distúrbios Ventilatórios

CVF VEF1 FEV1/CVF

Restritivo Diminuída Diminuído Normal

Obstrutivo Normal * Diminuído Diminuído

Misto Diminuído Diminuído Normal

Fonte: CINCOTTO (2001)

Capacidade Vital Forçada (CVF): representa o volume máximo de ar exalado com esforço máximo, a partir do

ponto de máxima inspiração.

Volume Expiratório Forçado Cronometrado (VEF1): representa o volume de ar exalado num tempo especificado

durante a manobra de CVF; por exemplo, VEF1 é o volume de ar exalado no primeiro segundo da manobra de CVF.

FEV1/CVF: Razão entre volume expiratório forçado (cronometrado) e capacidade vital forçada

Quadro 2 – Classificação dos Distúrbios Ventilatórios Segundo a Gravidade – SBPT, 1996

CLASSIFICAÇÃO VEF1

%PREVISTO

CVF

%PREVISTO

VEF1 CVF

%PREVISTO

Leve 60 – LI 60 – LI 60 – LI

Moderado 41 -59 51 -59 41 -59

Severo < 40 < 50 < 40

Fonte: CINCOTTO (2001)

Outro problema sério que ocorre no ambiente de trabalho e que interfere diretamente na

produtividade e principalmente na qualidade de vida dos trabalhadores é a ergonomia. Trata-se

do estudo da adaptação do trabalho ao homem (VIEIRA, 2000; IIDA, 2003). Foi definida como

“o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários à concepção de

13

instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto,

segurança e eficiência” (LAVILLE, 1977).

O que se observa, normalmente, é a adaptação do homem ao trabalho. O inverso é mais

difícil, pois o ser humano nem sempre é adaptável ao trabalho. Daí tem-se que o homem é o

ponto de partida para projetos de trabalho, adaptando-os às capacidades e limitações humanas

(SANTOS, 1999). Portanto, para o estudo da ergonomia é importante conhecermos

características: do homem nos aspectos físicos, fisiológicos, psicológicos, sociais, assim como

idade, sexo, treinamento e motivação; da máquina como equipamentos, ferramentas mobiliários e

instalações; do ambiente físico do trabalhador quanto à temperatura, ruídos, vibrações, luz, cores,

gases, etc, além de conseqüências do trabalho, entre outros. A ergonomia se preocupa com todos

esses fatores objetivando a segurança, satisfação e bem estar dos trabalhadores em seus

relacionamentos com os sistemas produtivos ( PINHEIRO; MARZIALE, 2000 ).

Alguns conhecimentos em ergonomia foram convertidos em normas oficiais, com o

objetivo de estimular a aplicação dos mesmos. No Brasil a norma regulamentadora NR 17 –

Ergonomia, Portaria n° 3214, de 08. 06.78 do Ministério do Trabalho, modificada pela Portaria n°

3.751 de 23.11.1990 do Ministério do Trabalho, dispõem sobre o assunto (DUL, 1998; VIEIRA,

2000; CHEREN 2001; ROSSI, 2001).

Tratando de ergonomia, segundo IIDA (2003), têm-se o seguinte quadro de localismo de

dores.

14

Quadro 3 – Localização das dores no corpo, provocadas por posturas inadequadas.

POSTURA RISCO DE DORES

Em pé Pés e pernas (varizes)

Sentado sem encosto Músculos extensores do dorso

Assento muito alto Parte inferior das pernas, joelhos, pés, dorso e

pescoço

Braços esticados Ombros e braços

Pegas inadequadas em ferramentas Antebraços

Fonte: IIDA (2003)

Esse trabalho será desenvolvido no setor de confinamento de bovinos, pertencente ao

Departamento de Produção Animal da FMVZ/UNESP – Campus de Botucatu, instalado na

Fazenda Experimental Lageado, e teve a orientação do Prof. Dr. Jaime Olbrich Neto, docente do

Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Botucatu - Imunologia. Serão relatados

os resultados aferidos da temperatura ambiente, da umidade relativa do ar, das análises

microbiológicas para detectar ácaros e fungos no ambiente de confinamento de bovinos de corte.

Também os resultados dos exames de saúde realizados nos servidores lotados neste setor e se

possível propor soluções para melhorar o ambiente, mas principalmente apontar correções na

construção de novos galpões de confinamento de bovinos, porque este galpão é um projeto piloto

da UNESP.

Segundo Sampaio et al. (2006), a exposição a agentes ambientais do ar pode desencadear

o aparecimento de doenças alérgicas e respiratórias com efeitos tóxicos diretos, sendo que

doenças respiratórias nos servidores são causadas principalmente pela amônia e poeira

provenientes do alimento (feno – esterco).

O grupo almeja promover à prevenção de riscos e agravos a saúde do trabalhador,

indicando mecanismos que minimizem esses efeitos. A prevenção ultrapassa o meio de trabalho,

15

objetivo principal é atuar no bem estar em geral do funcionário, propiciando uma melhor

qualidade de vida.

Objetivo:

Apontar os problemas de saúde que os servidores que prestam serviço na área de

confinamento bovino têm apresentado, tais como: dermatites, doenças do trato respiratório e

dores na coluna vertebral. Que além de danos e riscos específicos que agravam a saúde do

servidor, vem causando prejuízos a Universidade devido a afastamentos dos mesmos e também

aos custos dos tratamentos de saúde prestados pela Seção Técnica de Saúde.

16

1 DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO ANIMAL

O Departamento de Produção Animal da FMVZ/UNESP – campus de Botucatu visa

desenvolver o Ensino, a Pesquisa e a Extensão de Conhecimento e Tecnologia à Comunidade na

área de Produção Animal. As Áreas de produção do Departamento contam com rebanhos e

populações experimentais de espécies que produzem alimentos nobres (carne, leite, ovos e mel),

fibras e couros, além de animais de esporte, lazer e da fauna silvestre.

A área escolhida para estudo no presente trabalho é a Bovinocultura de Corte, que fornece

estrutura física e material didático para as aulas de Bovinocultura de Corte ministradas aos cursos

de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia; para as pesquisas efetuadas nesta área de

conhecimento; e para outras aulas e pesquisas que necessitem de bovinos. Esta área despertou

interesse pois os três servidores que prestam serviço no confinamento bovino vêm apresentando

problemas de saúde como: alergias (rinite, asma e urticária), conjuntivites, lombalgias e

pneumonia.

Vista aérea do Departamento de Produção Animal

FMVZ/UNESP-Botucatu

17

2 METODOLOGIA – Sujeitos e Métodos

No presente trabalho foram analisados os seguintes riscos presentes no ambiente de

confinamento de bovinos de corte: temperatura ambiente, umidade do ar, ácaros, fungos e

ergonomia. Também fizemos exames médicos para analisar a saúde dos três servidores que

prestam serviços neste local. Foram feitos os seguintes exames: testes alérgicos, exame de sangue

(imunológico) e espirometria (prova de função pulmonar).

2.1 Análises Ambientais

2.1.1 Temperatura e Umidade Relativa do Ar

Para a medição da temperatura e umidade do ar foi utilizado um termo-higrômetro digital,

modelo TH-439 com medições de temperaturas máxima e mínima interna, externa (ambiente) e

umidade relativa (ambientes), da marca Equitherm. O aparelho foi colocado dentro do galpão de

confinamento de bovinos, no período de 26 de agosto a 20 de setembro de 2010. As leituras eram

realizadas diariamente em dois horários: às 8:00 e às 14:00 horas.

Dimensões do aparelho: 130 x 75 x 18 mm.

18

Figura 1 Termo-higrômetro instalado no galpão

de confinamento de bovinos

Resultados:

Foi observado que há uma grande variação de temperatura e Umidade Relativa do ar,

sendo que a temperatura média às 8:00 horas ficou em 18,08ºC e às 14h00 em 26,73ºC. A média

da Umidade Relativa do Ar às 8:00 horas ficou em 53,73% e às 14:00 em 30,67%. A menor

temperatura foi de 14,0ºC, registrada no dia 06 de setembro às 8:00 horas e a maior temperatura

foi de 32,0ºC, registrada no dia 29 de agosto às 14:00 horas. Quanto a Umidade Relativa do ar a

menor registrada foi de 16,0%, às 14:00 horas do dia 03 de setembro e a maior 91%, registrada às

8:00 e às 14:00 horas do dia 07 de setembro. Como pode ser observado na tabela 1.

19

Tabela 1. Temperatura (ºC) e Umidade Relativa do ar (%) registrada no galpão de confinamento

bovino do Departamento de Produção Animal da FMVZ/UNESP – Campus de

Botucatu

DATA TEMPERATURA (ºC) UMIDADE RELATIVA (%)

8:00 HORAS 14:00 HORAS 8:00 HORAS 14:00 HORAS

26/08/2010 18,0 31,0 30,0 20,0

27/08/2010 20,5 30,5 27,0 18,0

28/08/2010 20,6 30,0 31,0 19,5

29/08/2010 21,0 32,0 32,0 20,0

30/08/2010 20,8 26,5 35,0 24,0

31/08/2010 16,2 27,1 73,0 20,0

01/09/2010 18,3 27,0 45,0 20,0

02/09/2010 19,5 28,3 40,0 18,0

03/09/2010 20,3 29,6 33,0 16,0

04/09/2010 21,0 31,1 40,0 20,0

05/09/2010 19,9 23,3 45,0 42,0

06/09/2010 14,0 17,0 71,0 80,0

07/09/2010 14,1 16,5 91,0 91,0

08/09/2010 15,9 21,8 75,0 46,0

09/09/2010 14,5 24,1 74,0 24,0

10/09/2010 15,5 25,0 76,0 32,0

11/09/2010 17,1 28,9 59,0 33,0

12/09/2010 21,3 30,1 25,0 23,0

13/09/2010 21,8 31,1 23,0 26,0

14/09/2010 21,1 28,2 27,0 28,0

15/09/2010 18,3 25,0 80,0 40,0

16/09/2010 16,0 27,6 73,0 29,0

17/09/2010 19,2 31,1 75,0 20,0

18/09/2010 15,1 20,3 72,0 26,0

19/09/2010 14,5 23,6 69,0 36,0

20/09/2010 15,5 28,3 76,0 26,0

20

2.1.2 Contagem de Ácaros e Fungos

Coleta e contagem de ácaros

A coleta realizada por amostras em três áreas distintas, sendo elas: galpão de

confinamento, área de estocagem de ração e área de estocagem de feno; para cada área foram

realizadas cinco coletas em pontos distintos, onde se utilizou sacos de tecido acoplado ao bico de

entrada de ar de um aspirador de pó doméstico com potência suficiente. O mesmo permaneceu

por cinco minutos ligados aspirando o ar do ambiente, sendo que nos diferentes pontos de coleta

foram utilizados diferentes sacos. O material coletado foi levado para avaliação e a contagem dos

ácaros ocorreu de forma visual com o auxilio de uma lupa da marca Zeiss com aumento de 40x.

Os ácaros são animais de dimensões microscópicas (0,05mm).

Figura 2 Ácaro Figura 3 Ácaro

Fonte: PORTAL DE EDUCAÇÃO SÃO FRANCISCO Fonte: MESMO? (2008)

Nas figuras 4 a 7, pode-se observar como foi realizada a coleta de matérias para contagem

de ácaros.

21

Aparelho Utilizado:

- Aspirador de pó – modelo Neo 1200W de potência – marca: Electrolux

- Saco de pó descartável – tamanho: 4,0x7,0cm

Figura 4 Preparação do aspirador para coleta Figura 5 Coleta ácaros (estocagem de feno)

Figura 6 Coleta ácaros (confinamento bovino) Figura 7 Coleta ácaros (estocagem de ração)

22

Resultado:

Pelo método utilizado não foram encontrados ácaros nas amostras coletadas. Segundo o

Prof. Dr. Carlos Gilberto Raetano, especialista em acarologia, a possível causa de não ter sido

detectado ácaros, nas amostras coletadas, se deve ao fato de que o material utilizado no preparo

da ração tem grande porcentagem de farelo de amendoim. O qual produz toxinas que impedem a

proliferação de ácaros.

Coleta, contagem dos fungos

A coleta foi realizada por amostras em quatro áreas distintas, sendo elas: galpão de

confinamento, área de estocagem de ração, área externa do galpão e escritório, onde para cada

área foram realizadas oito coletas em pontos distintos, sendo que para o escritório foram

coletadas apenas cinco. Foram utilizadas placas de petri plásticas medindo 90x15mm contendo

meio de cultura BDA (Batata, dextrose, ágar). As placas foram distribuídas no local a uma altura

média de 1,50 metros, em seguida abertas e expostas ao ambiente por 6 horas consecutivas. Após,

foram fechadas e embaladas, as quais permaneceram durante oito dias em estufa de incubação a

25ºC. Em seguida procedeu-se a contagem das colônias e identificação dos fungos.

Nas figuras 8 a 12, pode-se observar como foi realizada a coleta de materiais para

identificação e contagem de fungos.

23

Figura 8 Coleta fungos (confinamento bovino) Figura 9 Coleta fungos (confinamento bovino)

Fonte: Coelho et al., 2010 Fonte: Coelho et al., 2010

Figura 10 Coleta fungos (área externa) Figura 11 Coleta fungos (estocagem feno)

Fonte: Coelho et al., 2010 Fonte: Coelho et al., 2010

Figura 12 Coleta fungos (estocagem ração)

Fonte: Coelho et al., 2010

24

Resultados:

Tabela 2. Colônia de Fungos

Placa

Número de colônias por placa

Estocagem de

ração

Galpão de

confinamento Área externa Escritório

1 183 196 145 96

2 155 220 72 112

3 220 233 177 149

4 233 207 108 125

5 154 293 83 132

6 241 179 157 -

7 191 209 160 -

8 183 310 182 -

Média 195 231 136 123

Fungos identificados: Aspergilus e Penicillium.

Identificação Visual:

Nas figuras 13 a 20, pode-se observar as placas de petri (medindo 90x15mm contendo

meio de cultura BDA) com os fungos encontrados.

Figura 13 Placas com fungos (área escritório) Figura 14 Placa com fungos (área escritório)

25

Figura 15 Placas com fungos (estoc. ração) Figura 16Placas com fungos(estoc. ração)

Figura 17 Placas com fungos (área externa) Figura 18 Placas com fungos (área externa)

Figura 19 Placas com fungos (galpão conf.) Figura 20 Placas com fungos (galpão conf.)

26

2.1.3 Ergonomia

Estrutura física e arquitetônica

O galpão de confinamento tem dois pisos, com pé direito de 4,0m no piso superior, onde

ficam os animais, e de 1,0m no piso inferior, onde os funcionários permanecem durante a

limpeza. No piso superior onde os animais ficam confinados também estão localizadas duas salas,

uma é destinada ao escritório e a outra a estocagem de ração.

Nas figuras 21 a 23, pode-se observar a parte superior do galpão de confinamento de

bovinos,onde ficam as duas salas e os animais confinados (pé direito de 4,0m).

Figura 21 Vista do galpão com a localização das duas salas (escritório – estocagem ração)

Escritório Sala estocagem-ração

27

Figura 22 Piso superior (onde ficam animais) Figura 23 Piso superior (onde ficam animais)

O prédio é construído em alvenaria e os dejetos dos animais caem sobre o piso inferior.

Durante a limpeza os servidores permanecem por cerca de 2 horas no piso inferior utilizando uma

mangueira, com forte jato de água, para empurrar os dejetos que caem em uma valeta a céu

aberto. Como pode ser observado na figura 24. A avaliação ergonômica foi realizada por meio de

fotos durante a execução do trabalho.

Figura 24 Parte externa do confinamento (onde caem os dejetos após a

lavagem do piso inferior)

28

Resultados:

Um dos maiores problemas ergonômicos observado durante o acompanhamento da

execução dos serviços realizados foi a posição em que os servidores ficam por cerca de 2 horas

durante a lavagem do piso inferior do galpão de confinamento. Esses ficam sob o piso do galpão

que tem uma altura de 1,00m, utilizam um banquinho de 10,0cm de altura para sentar e

manipulam uma mangueira pesada, com forte jato de água. Como pode-se observar o funcionário

realizando a limpeza do piso inferior do galpão de confinamento de bovinos (figuras 25 a 28).

Figura 25 Abertura por onde o funcionário entra para proceder a lavagem do

piso inferior do galpão de confinamento bovino (30 x 60cm)

29

Figura 26 Vista lateral do local onde o funcionário efetua a lavagem da parte

inferior do galpão de confinamento bovino

Figura 27 Funcionário em pé durante a lavagem da parte inferior do galpão de

confinamento de bovinos (altura 1,0m e 2 horas de trabalho)

1,00m

30

Figura 28 Funcionário sentado durante a lavagem da parte inferior do galpão

de Confinamento de bovinos (banquinho com 10cm de altura)

2.2 Exames Médicos no Trabalhador

2.2.1 Testes de Puntura

No teste de puntura, o médico poderá definir se o paciente tem na sua pele anticorpos do

tipo IgE que reagem a determinado alérgeno. Foram utilizados extratos diluídos de alérgenos

como o pó dos ácaros, polens ou mofos para realizar o teste. O teste de puntura foi realizado

conforme descrito a seguir:

Na superfície volar do antebraço respeitando a distância de 5cm do punho e 3cm da fossa

cubital. A superfície foi limpa com álcool 70ºGl, cada antígeno foi depositado sob a forma de

31

gota sobre a pele e após foi feita uma puntura com instrumento plástico, próprio para este fim,

denominado punctor.

A interpretação foi feita considerando-se que: é positiva quando a púpula formada com o

antígeno em teste é maior que a metade da púpula do controle positivo e 3mm maior que o

controle negativo. A leitura foi feita em 15-20 minutos.

Os testes de Puntura (TP) são convenientes, de custo baixo e o mais especifico método de

triagem para detectar sensibilização em pacientes com história de sensibilidade a alérgenos.

Obs.: Foi utilizado um puntor para cada alérgeno, para evitar a contaminação cruzada.

Nas figuras 29 a 31, pode-se observar como foi realizado o teste e como se faz a leitura do

resultado.

Figura 29 Teste de Puntura Figura 30 Teste de Puntura

Fonte: MORAES (2008) Fonte: CAMINHA (2008)

Figura 31 Resultado teste alérgico cutâneo

Fonte: MORRIS (2009)

32

2.2.2 Anticorpo IgE Total

Para realizar a dosagem de IgE total, foram coletados amostra de sangue venoso de dois

servidores que prestam serviços na área de confinamento de bovinos.

Resultados:

Realizado o Teste de Puntura (TP) e exame de sangue (dosagem de IgE total) nos

servidores.

Quadro 4. Resultado do Prick Test (Teste de Puntura) em servidores da FMVZ

PRICK TEST

Servidor Ácaros Barata Fungos Polens Penas Ep. Eqüinos IgE

1 S N S S S N Aumentado

2 S S N S N S Nl

Prick Test – “mede” a sensibilização, isto é a capacidade de reagir produzindo inflamação,

medida por IgE.

IgE Total – Pode estar dentro do valor de normalidade, mas a IgE específica contra um

determinado antígeno (ácaros) pode estar elevada.

33

2.2.3 Espirometria (Prova de Função Pulmonar)

É a medição do ar inalado e exalado pelos pulmões, da velocidade com que isto acontece

e da variabilidade por fatores físicos e químicos. Na figura 32, pode-se observar como foi

realizado o exame de espirometria.

Figura 32 Exame de espirometria

Fonte: ESPIROMETRIA (2010)

Nesse trabalho utilizou-se o espirômetro Spire KOKO para realizar os testes. Foi utilizado

os seguintes parâmetros de medida: Capacidade Vital (CV), Capacidade Vital Forçada (CVF),

Volume Expiratório Forçado Cronometrado (VEF1) e Expiração Forçada em 1 segundo (FEV1).

Os resultados obtidos foram comparados com o quadro 1 – Classificação dos Distúrbios

Ventilatórios e classificados segundo o quadro 2 – Classificação dos Distúrbios Ventilatórios

Segundo a Gravidade – SBPT, 1996.

Resultados:

Os testes foram realizados nos três servidores que prestam serviço na área de

confinamento bovino.

34

Quadro 5. Resultado do teste de espirometria nos servidores

Servidor PFP

Servidor nº 1 N

Servidor nº 2 N*

Servidor nº 3 N*

* Bronquíolos podem estar comprometidos, devem fazer novo PFP

PFP - “mede” o comprometimento do pulmão.

35

3 DISCUSSÃO

As condições inadequadas do ambiente levam o servidor a um freqüente contato com as

fezes e urina dos animais e conseqüentemente aos gases gerados pelos dejetos (amônia e metano).

Quanto à presença de fungos no ambiente de trabalho, os resultados (Tabela 2) revelaram

a existência desses microrganismos. E em um servidor foi observado resposta positiva quanto à

sensibilização a fungos (prick test) não podendo, entretanto afirmar se esta sensibilização ocorreu

antes, ou durante a permanência do servidor na atividade que realiza. Certo é que a presença de

fungos e a sensibilização de servidores sugerem risco para desencadeamento de reações

inflamatórias persistentes (doenças alérgicas) entre os sensibilizados, é possível o risco de

sensibilização entre os não sensibilizados, ainda.

Embora os resultados tenham sido dados como normais, se considerado FEV1, pode-se

observar que a FEF 25 – 75% que avalia a complacência de brônquios menores estava alterada

em dois dos servidores, sugerindo possível comprometimento que deverá ser investigado.

Quanto à ergonomia no ambiente e na prática pode-se observar que o desempenho das

atividades não está de acordo com o previsto pela norma regulamentadora NR 17 – Ergonomia,

Portaria n° 3214, de 08. 06.78 do Ministério do Trabalho. A postura na execução do trabalho de

limpeza do piso inferior do galpão é inadequada. O servidor quando está em pé fica com

acentuada curvatura para caber dentro do espaço, quando sentado, sem encosto, com curvatura de

coluna, postura inadequada e pernas em curvatura. Com elevado esforço muscular para manter a

postura que permita lavagem. Esta inadequação decorre, devido à estrutura física, isto, o baixo

padrão arquitetônico dos prédios, o que leva a posições anatômicas que podem causar problemas.

A coluna vertebral é um pilar único de sustentação cuja estabilização lateral e antero

posterior depende exclusivamente de força muscular. As articulações da coluna vertebral não

travam como as articulações do joelho e quadris, e as curvaturas antero posteriores normais estão

36

constantemente sujeitas a torques gravitacionais que tendem a acentuá-las, destruindo assim, a

estabilidade ereta. Se os músculos espinhais forem fracos pode-se acentuar notavelmente a

curvatura em qualquer direção e os ligamentos podem ficar sujeitos a tensões agudas ou crônicas.

As lombalgias são causadas por uma ou por combinação de várias causas. No histórico

das lombalgias pode ser levado em consideração, a estatura, fatores psicológicos, resistência

isométrica, trabalho físico pesado, levantamento de peso ou inclinação, efeito inflamatório do

núcleo pulposo e prolongadas posturas no trabalho.

De acordo com Kendall (2002), a postura é composta das posições de todas as

articulações do corpo em um dado momento e do equilíbrio muscular e os desequilíbrios entre

estas estruturas responsáveis pela postura adequada ou alinhamentos defeituosos podem resultar

em sobrecarga e tensão sobre os ossos, articulações e músculos.

Medidas preventivas:

Posturas ideais não são atingidas se os postos de trabalho são inadequados, mesmo que as

atitudes posturais sejam adequadas. A postura submete-se às características anatômicas e

fisiológicas do corpo humano, obedecendo leis da Física e da Biomecânica.

A ergonomia visa propiciar posturas anatômicas nos postos de trabalho, as quais não

induzam a distorções ou o façam dentro de limites aceitáveis, além de determinar as posturas

ideais para cada situação de trabalho. Ocorre sobrecarga geral e/ou específica do sistema

musculoesquelético em posturas inadequadas, principalmente nas que exigem contrações

musculares estáticas, sendo um dos fatores principais da origem do DORT (Distúrbios Osteo-

musculares Relacionados ao Trabalho).

Além da fadiga muscular imediata, os efeitos a longo prazo de posturas inadequadas são

vários: sobrecarga imposta ao aparelho respiratório, formação de edemas e varizes e afecções nas

37

articulações, principalmente na coluna vertebral. São atores determinantes das posturas e têm

uma influência direta na postura do executante: exigências visuais; exigências de precisão dos

movimentos; exigências da força a ser exercida; espaços onde o operador atua; ritmo de

execução.

A prevenção da lombalgia passa pela utilização de todas as condições que possam influir

no melhor rendimento do trabalho com menos desgaste fisico-energético. Essas condições estão

relacionadas com: utilização da técnica correta; treinamento especializado; organização no

trabalho

A estrutura física, arquitetônica revela inadequação para os serviços de higienização do

local onde são drenados os dejetos dos animais. Chama a atenção que o prédio (galpão) de

alvenaria obriga o servidor a ficar em postura inadequada que, seguramente, leva o desgaste

físico. O pé direito onde ficam os animais confinados é 4 x maior, quando comparado com o piso

inferior, onde fica confinado o servidor durante a realização do trabalho.

Soluções arquitetônicas foram encontradas para o conforto animal e neste caso foi

insuficiente para as boas práticas relacionada à ergonomia. No ambiente urbano, as soluções

arquitetônicas buscam o conforto e segurança, fato não observado na construção deste local com

características de ambiente rural. O ambiente pequeno, baixo, e onde se acumulam dejetos e

gases, revelou-se o mais sério problema observado neste estudo.

Os demais ambientes, e práticas, como estocagem de ração, não evidenciam as mesmas

distorções que se pode constatar no tocante à higienização do local (piso inferior). A estocagem

de ração propicia um ambiente adequado para o crescimento de ácaros e fungos.

Neste estudo não se encontrou ácaros, pelos métodos utilizados, porém as placas para

crescimento de fungos revelaram contaminação em todos ambientes. Os fungos estão presentes

nos mais diversos locais, mesmo em ambiente domésticos, incluindo colchões e travesseiros,

porém a diversidade e as condições mais propícias para o crescimento destes agentes ficam

38

evidentes quando avaliamos as condições de temperatura e umidade do local. Calor e umidade

são condições boas para crescimento de fungos e ácaros. A exposição a estes antígenos pode

levar o servidor a se sensibilizar e então, em contato posterior (o que ocorre todos os dias)

desencadeiam manifestações alérgicas.

Atividades físicas como o corte de cana manual, sofreram intervenções para garantir

melhorias ao trabalhador, mas esta evolução não contempla todos os trabalhadores de áreas

rurais.

Dois servidores fizeram o prick test, os dois apresentaram sensibilização aos ácaros, e um

a fungos. Não pode-se afirmar que esta sensibilização tenha ocorrido no local de trabalho, mas

podemos afirmar que a presença de alérgenos aos quais o servidor está sensibilizado é condição

suficiente para desencadear manifestações alérgicas. Estas podem ser de pequena intensidade ou

em função da exposição crônica levam a inflamação persistente.

Entre as manifestações relativas à sensibilização e inflamação, podem-se destacar as

alergias respiratórias. Para se investigar essa afirmação foi medida a função pulmonar dos

servidores e não se encontrou alterações mais grosseiras, porém alterações sugestivas de

pequenos brônquios (bronquíolos) são sugestivas. Isto também não pode ser atribuído às

condições de trabalho, porém, da mesma forma que com os fungos, a presença de fatores que

possa estimular, e agredir, as vias respiratórias, são preocupantes, principalmente em pessoas

com manifestações alérgicas ou já sensibilizadas. Os gases podem ser irritantes para a mucosa,

assim como a grande variação de umidade e temperatura ambiente.

39

4 CONCLUSÃO

O local de trabalho, avaliado neste estudo, revelou condições inadequadas quanto à

ergonomia e contaminação ambiental. Os servidores apresentaram sensibilização a agentes

comuns nestes locais de trabalho. A estrutura arquitetônica não privilegia o trabalho de

higienização, não se tratando de necessidade estética, mas fundamental para compor ambientes

saudáveis ao trabalhador.

A grande preocupação com o ambiente de trabalho nas corporações urbanas esconde o

que ocorre nas áreas rurais, ou em atividades com menor glamour ou menor envolvimento físico.

Face as condições encontradas e por este galpão ser um projeto piloto dentro UNESP, sugerimos

que por ocasião da construção de novos galpões em outras unidades, os mesmos sejam construído

com pé direito do piso inferior de pelo menos 2,0m.

40

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