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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ CAMPUS DE UNIÃO DA VITÓRIA
COLEGIADO DE MATEMÁTICA
PAULO RICARDO DA SILVA
ANÁLISE DO CONCEITO DE FUNÇÃO EM LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA
UNIÃO DA VITÓRIA 2016
PAULO RICARDO DA SILVA
ANÁLISE DO CONCEITO DE FUNÇÃO EM LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como requisito parcial para
conclusão do Curso de Licenciatura em
Matemática da Universidade Estadual do
Paraná – UNESPAR, campus de União
da Vitória.
Orientador: Prof.ª Mestre Carolina Soares
Bueno.
UNIÃO DA VITÓRIA
2016
“A vida é uma tragédia quando vista de perto,
mas uma comédia quando vista de longe.”
Charles Chaplin
AGRADECIMENTOS
Inicialmente gostaria de agradecer a Deus por toda a força fornecida neste
momento difícil, conturbado e de grandes mudanças.
A minha família por todo o suporte que me forneceram durante o
desenvolvimento deste trabalho, além da compreensão da minha ausência.
Aos meus amigos que apoiaram e incentivaram neste momento, em especial
aos colegas de turma que ao longo destes quatro anos, tornaram-se irmãos.
Aos professores do curso de Licenciatura e Matemática da UNESPAR, os
quais de diferentes maneiras contribuíram para a minha formação profissional, em
especial a minha orientadora Professora Carolina Soares Bueno, a qual me ajudou
em inúmeros momentos, provendo ideias e incentivo até a idealização deste
trabalho.
RESUMO: Na busca pela melhoria do ensino e da aprendizagem dos alunos veio à
tona o questionamento: “De que maneira é feita a abordagem do conteúdo no que
diz respeito ao estudo de função? ”. Procuramos compreender o passado dos livros
didáticos, verificando o seu objetivo quando fora criado e o papel assumido nos dias
atuais. O livro didático tem proporcionado a milhares de alunos uma fonte de
conhecimento, visto que em muitas localidades o acesso a informação ainda é
restrito. Devido a este material estar presente na sala de aula de milhares de
escolas verificamos seu papel dentro das mesmas, evidenciando que o livro serve
como uma ponte entre as interações de professor e aluno, promovendo argumentos
para ambos, através da mediação do professor. O professor como mediador, busca
utilizar e articular as situações apontadas pelo livro, enfatizando e ponderando o que
considera pertinente a construção do conhecimento do aluno, fornecendo ao livro
um caráter de ferramenta, auxiliando no ensino. Porém isto só acontece quando o
professor assume analisar e averiguar se o material é de boa qualidade, não se
apoiando inteiramente no livro. Analisamos três livros didáticos com base nos
aspectos da teoria antropológica didática e organização praxeológica, evidenciando
os aspectos da teoria no que diz respeito a introdução do conceito de função.
PALAVRAS-CHAVE: Livro Didático, Conceito de Função, Análise.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Mapa referente a distribuição de obras didáticas de todas as disciplinas em
2016 .......................................................................................................................... 12
Figura 2: Esquema de interações entre Professor, Aluno, Livro Didático e
Matemática ................................................................................................................ 17
Figura 3: Diagrama de relação T. .............................................................................. 30
Figura 4: Capa livro 01 .............................................................................................. 33
Figura 5: Capa livro 02 .............................................................................................. 33
Figura 6: Capa livro 03 .............................................................................................. 33
Figura 7: Livro 01, Introdução. ................................................................................... 36
Figura 8: Livro 01, Questionamentos. ....................................................................... 37
Figura 9: Livro 01, nota sobre Euler e Leibniz. .......................................................... 38
Figura 10: Livro 01, Exemplo 01. ............................................................................... 39
Figura 11: Livro 01, Exemplo 03. ............................................................................... 41
Figura 12: Livro 01, Exercício 03. .............................................................................. 43
Figura 13: Livro 01, Exercício 04. .............................................................................. 43
Figura 14: Livro 01, exercício 06. .............................................................................. 44
Figura 15: Livro 02, Exemplo 01. ............................................................................... 46
Figura 16: Livro 02, exemplo 02. ............................................................................... 47
Figura 17: Livro 02, exemplo 03. ............................................................................... 48
Figura 18: Livro 02, exemplo 04. ............................................................................... 50
Figura 19: Livro 02, ênfase do exemplo 04 ............................................................... 50
Figura 20: Livro 02, exercício 01. .............................................................................. 51
Figura 21: Livro 02, exercício 02. .............................................................................. 52
Figura 22: Livro 02, desafio. ...................................................................................... 53
Figura 23: Livro 03, exemplo 01. ............................................................................... 55
Figura 24: Livro 03, exemplo 02. ............................................................................... 57
Figura 25: Livro 03, exemplo 03. ............................................................................... 58
Figura 26: Livro 03, definição de Domínio e Imagem. ............................................... 59
Figura 27: Livro 03, exemplo 04. ............................................................................... 60
Figura 28: Livro 03, exemplo 04, resolução............................................................... 61
Figura 29: Livro 03, Exemplo 05. ............................................................................... 62
Figura 30: Livro 03, exemplo 06. ............................................................................... 63
Figura 31: Livro 03, exercício 03 ............................................................................... 64
Figura 32: Livro 03, exercício 06. .............................................................................. 66
Figura 33: Livro 03, Exercício 08. .............................................................................. 67
Figura 34: Livro 03, Definições de Plano cartesiano. ................................................ 67
Figura 35: Livro 03, definição de função. .................................................................. 68
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO: ........................................................................................................... 1
1 LIVRO DIDÁTICO .................................................................................................... 4
1.1 A ESCOLHA DO LIVRO DIDÁTICO ............................................................... 5
1.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DO LIVRO .......................................................... 7
1.2.1 Um pouco da história do Programa Nacional do Livro Didático - PNLD .. 8
1.3 O USO DO LIVRO DIDÁTICO ..................................................................... 12
1.4 O PAPEL DO LIVRO DIDÁTICO NAS AULAS DE MATEMÁTICA .................. 16
2 CONCEITO DE FUNÇÃO ...................................................................................... 19
2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DAS FUNÇÕES: .................................................. 21
2.2 FUNÇÃO .......................................................................................................... 23
3 ASPÉCTOS METODOLÓGICOS ........................................................................... 26
3.1 TEORIA ANTROPOLOGICA DO DIDÁTICO - TAD ....................................... 27
3.2 ORGANIZAÇÃO PRAXEOLÓGICA ................................................................. 29
3.3 LIVROS A SEREM ANALISADOS: .................................................................. 32
4 ANÁLISE DOS LIVROS. ........................................................................................ 36
4.1 LIVRO 01: ........................................................................................................ 36
4.1.1 Considerações sobre o livro: ..................................................................... 45
4.2 LIVRO 02: ........................................................................................................ 46
4.2.2 Considerações sobre o livro: ..................................................................... 53
4.3 LIVRO 03: ........................................................................................................ 54
4.3.1. Considerações sobre o livro: .................................................................... 68
4.5 COMPARAÇÕES ENTRE OS LIVROS ........................................................... 69
4.5.1 Tabela de comparação dos tipos de tarefas. ............................................ 71
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 73
6 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 76
1
INTRODUÇÃO:
Durante toda a trajetória escolar, somos submetidos à utilização do livro
didático como base para o desenvolvimento das atividades escolares. Este
apresenta encaminhamentos para os conteúdos que devem ser trabalhados durante
o ano letivo. No momento que desempenhamos o papel de aluno, não percebemos
que este material pode apresentar deficiências em diversos aspectos, como escrita,
especificidade e conteúdo teórico.
Nas escolas públicas, o livro didático é indispensável para o trabalho em sala
de aula. Considera-se que este uso faz dos professores e alunos, uma espécie de
“escravos” do seu uso. Ao refletir sobre esta problemática, fica difícil não nos
questionarmos: Será que os livros disponíveis atendem às necessidades do aluno e
professor? Será que apresentam propostas que possibilitem a construção do
conhecimento? Estes são apenas alguns questionamentos que podem surgir a
partir da reflexão do seu uso.
Refletindo sobre a futura profissão de professor de Matemática, nos
deparamos com questões relacionadas ao ensino da disciplina. É possível observar
a presença da Matemática nas atividades humanas das diversas culturas. Muitas
ações cotidianas requerem competências matemáticas que devem ser
desenvolvidas no contexto escolar. Porém, os resultados como PISA, ENEM e
SAEB evidenciam que as competências matemáticas de cálculo não bastam, é
preciso atender às exigências de uma sociedade cada vez mais matematizada.
Segundo Perez (2012), a maioria dos alunos encontra dificuldades para
aprender os conceitos matemáticos e pouco conseguem perceber a utilidade e
aplicação do que aprenderam. Tendências matemáticas como a Etnomatemática,
Modelagem Matemática ou Resolução de problemas, além de outras, buscam trazer
a vida real para as aulas de Matemática.
Neste momento, percebemos o papel que o livro didático pode desempenhar.
Um livro didático que não apresenta aplicações para a matemática apresentada faz
com que alunos não percebam a sua utilidade. É importante salientar que não
consideramos apenas o livro didático como agente principal no processo de ensino e
aprendizagem. Destacamos também o papel do professor para o desempenho
2
desse processo. Concordamos com Tardif (2014), quando afirma que professor é,
antes de tudo, alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir
esse saber a outros. Ainda, definimos os professores como educadores e
profissionais do ensino.
Entendemos que o livro didático faz parte da cultura educacional brasileira.
Ele faz parte da memória de muitas gerações de estudantes ao longo dos tempos.
Ainda hoje, ele possui uma função relevante na sala de aula. Tanto para professores
como para alunos, atuando como mediador na construção do conhecimento.
Dessa maneira, considerando o livro didático como um material muito
utilizado em sala de aula, percebe-se que ele se transformou num manual para o
professor. Pois é muito mais fácil seguir a proposta de um livro didático e usá-lo
como um guia para o planejamento escolar. De acordo com Silva:
O livro didático tem assumido a primazia entre os recursos didáticos utilizados na grande maioria das salas de aula do Ensino Básico. Impulsionados por inúmeras situações adversas, grande parte dos professores brasileiros o transformaram no principal ou, até mesmo, o único instrumento a auxiliar o trabalho nas salas de aula (SILVA, 2012, p. 806).
A motivação para essa pesquisa que aqui é apresentada surgiu do
questionamento: De que maneira é feita a abordagem do conteúdo no livro didático
de matemática no que diz respeito ao estudo de função? Ainda, existia uma
inquietação acerca dos livros didáticos de matemática. Para nortear essa pesquisa
foi traçado como objetivo principal analisar a abordagem do conteúdo de funções em
três livros didáticos de Matemática do Ensino Médio, especificamente livros do 1º
ano. Para que esse objetivo fosse alcançado, inicialmente foi realizado um
aprofundamento teórico sobre o livro didático e o seu uso pelos professores de
Matemática. Posteriormente, foram selecionados 3 livros didáticos para uma análise
de conteúdo, baseada na Teoria Antropológica do Didático e a Organização
Praxeológica de Chellavard (1999).
Os livros escolhidos são de autores distintos e apresentam o conteúdo inicial
sobre funções com diferentes abordagens, favorecendo a análise desta pesquisa. O
primeiro livro foi escolhido por trazer uma abordagem utilizando tecnologia; o
3
segundo esteve presente no período escolar do autor deste trabalho; e o terceiro,
por trazer uma abordagem de fácil compreensão para o leitor, trazendo exemplos
didáticos de relações de dependência relacionados ao cotidiano.
O trabalho está dividido em quatro capítulos. No primeiro, apresenta-se um
estudo teórico a respeito do livro didático e o seu uso, apontando o seu aspecto
histórico e descrevendo o Programa Nacional do Livro Didático. O capítulo 2 refere-
se ao conceito de função, visto que este é o conteúdo matemático que será
analisado nos livros escolhidos. Neste capítulo, apresentam-se pesquisas
relacionadas ao estudo de funções e busca-se também evidenciar a história do
estudo de funções. No capítulo 3 deste trabalho, apresentam-se os aspectos
metodológicos que delinearam esta pesquisa. E o último capítulo apresenta uma
análise dos livros baseada na Teoria Antropológica do Didático e a Organização
Praxeológica de Chevallard (199).
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1 LIVRO DIDÁTICO
Na sala de aula, encontramos dois importantes personagens que se
relacionam. Estes personagens são representados pelo professor e aluno. O foco do
professor é intermediar a construção do conhecimento do aluno, e para que isto
aconteça, o professor conhecer sobre sua matéria e saber ensiná-la. Como enfatiza
Bulgraen:
O professor além de ser educador e transmissor de conhecimento, deve atuar, ao mesmo tempo, como mediador. Ou seja, o professor deve se colocar como ponte entre o estudante e o conhecimento para que, dessa forma, o aluno aprenda a “pensar” e a questionar por si mesmo e não mais receba passivamente as informações como se fosse um depósito do educador (BULGRAEN, 2010. p.31).
Para que o professor possa auxiliar na construção do conhecimento, este
necessita de ferramentas para auxiliar o seu trabalho. Ferramentas estas que
também podem auxiliar o trabalho dos alunos. Uma destas ferramentas é o livro
didático, o qual se faz presente na maioria das escolas. Este material, segundo
Frizon (et all, 2009), possui um grande destaque justamente pela facilidade de ser
encontrado, além de que muitas escolas fornecem estas obras a seus alunos.
Destacamos que em muitos casos, ele é o primeiro livro, abrindo caminho
para o hábito da leitura e aprendizado. A última edição da pesquisa Retratos da
Leitura no Brasil, divulgada em 2012, aponta a importância do livro didático para a
formação de leitores. Este é o mais abrangente estudo sobre o perfil do leitor
brasileiro realizado pelo Instituto Pró-Livro. O livro didático é o gênero mais lido e a
mesma pesquisa revela também o papel do professor como incentivador da leitura.
O livro didático deve servir de argumentos para ambas as partes debaterem
sobre os conteúdos. Esta discussão é relevante ao processo de leitura e
compreensão dos textos e cabe ao professor explorar esses pontos a fim de
alavancar suas aulas, gerando situações intrigantes e ao mesmo tempo
interessantes, e não somente se apoiar no roteiro. Segundo Frizon et all:
5
O livro didático confere extrema importância para a aprendizagem dos alunos, mas para isso deve contar com esforços de professores e estudantes para que ele seja utilizado com a função de transmitir informações e conhecimentos que ao serem sistematizados em sala de aula possibilitem a aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes (FRIZON et all, 2009, p.6).
Consideramos que para que o livro se torne uma ferramenta para o processo
de ensino e aprendizagem, este deve ser bem elaborado por seus autores.
Este capítulo tem como objetivo, apresentar uma breve discussão sobre o uso
do livro didático em sala de aula, apresentando a sua história, razões para seu uso e
seu papel no processo de ensino e aprendizagem.
1.1 A ESCOLHA DO LIVRO DIDÁTICO
Para Januario (2010), os livros didáticos são utilizados pelos professores com
o objetivo de promover a compreensão de conceitos. Com esse intuito os
professores podem avaliar o tratamento dado pelos autores e verificarem se
possibilitam aos alunos a construção de seus próprios conhecimentos. Pesquisas
apontam que quase todos os professores de escolas públicas no Brasil (98%), usam
livros didáticos, segundo levantamento do Qedu: Aprendizado em Foco, uma
parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann, organização sem fins lucrativos
voltada para a educação. Do restante, 1% acredita que o livro não é necessário e
1% não usa porque a escola não tem. O levantamento é baseado nas
respostas ao questionário socioeconômico da Prova Brasil 2011, aplicado pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
A escolha do livro didático tem uma importância significativa, pois este é um
material de apoio utilizado por quase todas as disciplinas escolares. A equipe
pedagógica juntamente com os professores devem analisar as possibilidades das
obras disponíveis e identificar a melhor escolha. Destaca-se Januario:
6
A escolha do livro didático que melhor promova situações investigativas e problematizadoras de modo a despertar a curiosidade e o interesse por parte dos alunos. A escolha do livro didático e a reflexão crítica sobre o modo que os autores desses materiais abordam os conteúdos se constituem atividades que requer rigor do professor, pois é a partir da seleção de conteúdos que o docente fará uma transposição do currículo prescrito, portanto oficial, para o currículo praticado, aquele efetivamente desenvolvido (JANUARIO, 2010, p.12).
Uma escolha errada pode acarretar em inúmeros problemas, até o desuso de
muitos livros. É preciso estar ciente que após a escolha, o mesmo livro será
utilizado pelos próximos três anos.
Para analisar se os livros didáticos disponíveis são de qualidade e atendem
as necessidades do professor e dos alunos, é importante verificar suas resenhas
que podem ser encontradas no guia do Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD). Desta maneira, esta análise permite identificar contribuições para o
processo de ensino e aprendizagem. Segundo o Ministério da Educação (MEC,
2016), o livro didático que deve ser escolhido é o que melhor corresponde ao Projeto
Político-Pedagógico da Escola (PPP), com alunos e professores além da realidade
sociocultural das instituições.
Compreendemos que deve haver um cuidado para com a seleção dos livros
didáticos. Estes materiais irão beneficiar diretamente os alunos e deverão atender às
necessidades por três anos consecutivos. Não fazer o seu uso seria desprezar o
potencial deste instrumento, que pode abrir novos caminhos para os alunos.
Caminhos estes que podem alavancar e instigar pontos como a atenção,
compreensão e discussão. Nos dias atuais o livro é um dos instrumentos mais
presentes na rede de ensino, e em muitos casos o único instrumento de informação
com o qual os alunos têm contato. O livro deve ser utilizado, mas não como fonte
única do conhecimento, em casos que o aluno não tenha contato com outras fontes
de informação, cabe ao professor tentar trazer outros meios para que os alunos
possam ver a grandeza proporcionada pelo conhecimento, e onde podemos
encontrar outros meios de informação.
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1.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DO LIVRO
Os livros didáticos são distribuídos pelo governo através do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
Este programa é considerado o mais antigo dos programas voltados à distribuição
de obras didáticas aos estudantes da rede pública de ensino brasileira, a qual teve
início com as obras do ensino fundamental datada em 1929.
Segundo o Decreto Lei 1006 da legislação de 1938, é evidenciada em nível
oficial o início da história do livro didático no Brasil. Nesta época, o livro didático
desempenhava outro papel, sendo considerado um instrumento de educação política
e ideológica, evidenciado pelo Estado que era o avaliador deste material. A partir do
decreto, os professores tiveram acesso à escolha de livros por meio de uma lista
pré-determinada. Também, nesta época, foi criado o artigo 208, inciso VII, da
constituição Federal do Brasil, a qual assegura que o livro didático é um Direito
Constitucional do estudante brasileiro.
Contudo, foi somente durante as reformas curriculares da década de 1990,
que surgiu a necessidade de que os livros didáticos fossem adaptados e
remodelados para que contemplassem as exigências de uma educação de
qualidade para o século XXI. Segundo Verceze (2008. p.87), “na qual o
conhecimento os valores, a capacidade de resolver problemas e aprender, como a
Alfabetização Científica e Tecnológica, são elementos essenciais”. Para que
houvesse uma regulamentação vigente sobre os livros didáticos, fora criado o
decreto n.9154/85, que iniciou o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD),
programa tem como objetivo avaliar os livros didáticos periodicamente.
A regularização do PNLD vem por meio da resolução nº 603, de 21 de
fevereiro de 2001. Buscando uma padronização, o Ministério da Educação e Cultura
(MEC) propiciou a criação de inúmeras comissões avaliadoras dos materiais a
serem produzidos e distribuídos, a fim de zelar por uma boa qualidade das obras
literárias. Porém estes inúmeros processos acarretam certa lentidão, onde se
percebe um determinado confronto editorial. Consideramos que este confronto pode
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prejudicar a qualidade do livro didático, que por sua vez acarreta em diversos
problemas na utilização do professor e de seus alunos. Assim, entende-se que uma
qualidade ruim do livro didático pode proporcionar dificuldades no processo de
ensino e aprendizagem.
1.2.1 Um pouco da história do Programa Nacional do Livro Didático - PNLD
O Programa Nacional do Livro Didático – PNLD é o responsável por prover os
livros um grande acervo de livros literários e obras didáticas, bem como dicionários e
manuais. Estes livros são destinados aos alunos do ensino fundamental e médio a
nível nacional. A seguir, apresentamos um quadro que apresenta momentos
importantes na história do PNLD:
Quadro 1: Histórico do PNLD
HISTÓRICO DO PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO - PNLD
1929
O Instituto Nacional do Livro (INL) foi criado como órgão específico para legislar sobre políticas do livro didático.
1938 Instituída a Comissão Nacional do Livro Didático – CNLD (Decreto-Lei n. 1.006, de 30 de dezembro de 1938), uma das
funções desta comissão é controlar a produção e a circulação dos livros didáticos pelo País.
1945
Decreto-Lei n. 8.460, de 26 de dezembro de 1945.
Com este decreto foi consolidado a legislação sobre a produção, importação e a utilização do livro didático.
Também restringiu a escolha ao professor.
1966 Neste ano foi sancionado um acordo entre o Ministério da Educação (MEC) e a Agência Norte Americana para o
Desenvolvimento Internacional (Usaid). Com este acordo o MEC foi capaz de distribuir 51 milhões de livros
gratuitamente (durante 3 anos). Este acordo permitiu a criação de uma nova comissão denominada: Comissão do
livro técnico e do livro didático – COLTED, o objetivo principal desta comissão era controlar a produção, edição e
distribuição dos livros didáticos.
1970 Portaria n. 35, de 11 de março de 1970, do Ministério da Educação.
Através de uma parceria com as editoras nacionais e recursos do Instituto Nacional do Livro (INL), foi possível
criar um sistema de coedição.
1971 Neste ano o Instituto Nacional do Livro, instituiu um novo
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programa, este era o Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental (PLIDEF).
Também neste período ocorreu o termino da parceria entre o MEC e a USAID, logo a INL passa a assumir funções do COLTED, passa a administrar e gerenciar os recursos
financeiros subsidiados pelas unidades federadas ao Fundo do Livro Didático.
1976 Decreto n. 77.107, de 4 de fevereiro de 1976.
Por meio deste decreto chega ao fim o INL, o governo passa a assumir uma parcela da compra e distribuição de livros as
escolas e das unidades federadas.
A responsabilidade da administração dos livros didáticos passa para a Fundação Nacional do Material Escolar
(FENAME), os recursos provêm do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e também de uma
parcela das Unidades da Federação.
Neste ano ouve uma grande falta de recursos o que acarretou a exclusão das escolas municipais do programa.
1983 Criação da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), a qual passa a assumir o PLIDEF.
É proposto que os professores participem na escolha dos livros e com isso ouve a ampliação do programa, o qual
passou a incluir mais séries do ensino fundamental.
1985 Decreto n. 91.542, de 19 de agosto de 1985.
Fim do PLIDEF e fundação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Com esta mudança os professores passam
a poder indicar os livros e reutiliza-los, este fato terminou com o problema dos livros descartáveis. Deste modo
também foi possível melhorar a qualidade dos livros, uma vez que estes podem ser reutilizados necessitavam de uma
melhor estruturação, tanto técnica quanto de conteúdo. Também foi possível estabelecer o banco dos livros
didáticos e a contribuição dos estados fora extirpada. Todo o Controle e critérios ficam a cargo da FAE.
1992 Ano extremamente difícil para a distribuição dos livros didáticos, leis orçamentárias acabaram por reduzir a
abrangência de distribuição. Apenas até a 4º série do ensino fundamental pode receber livros.
1993 Resolução CD FNDE n. 6, de julho de 1993.
Vincula recursos para a aquisição dos livros didáticos destinados aos alunos das redes públicas de ensino, deste
modo foi possível consolidar um fluxo regular de verbas para a aquisição e distribuição do livro didático.
1993/1994 Implementado novos critérios para avaliação dos livros didáticos, com a publicação “Definição de Critérios para
Avaliação dos Livros Didáticos” MEC/FAE/UNESCO.
1995 A partir deste ano aos poucos o programa dos livros didáticos caminha para a normalização e universalização da
distribuição. Também neste ano entra as disciplinas de matemática e língua portuguesa.
Em 1995, são contempladas com obras didáticas as
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disciplinas de matemática e língua portuguesa.
1996 Os livros que eram inscritos para o PNLD, passam por um processo de avaliação pedagógica. Deste modo fora
publicado o primeiro Guia de Livros Didáticos. (da 1º a 4º série).
O Guia de Livros Didáticos continua passando por mudanças em seus critérios até os dias atuais. Livros que apresentam
qualquer tipo de discriminação, preconceito, erros conceituais, indução a erros ou desatualização nas
informações a serem transmitidas são automaticamente excluídos do Guia do Livro Didático.
Em 1996 é contemplada a disciplina de ciências com a produção de livro didático.
1997 1997 a disciplina de geografia e história ganham obras didáticas através do programa.
Finalização da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE). O que passa toda e a administração do PNLD ao
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)
O Ministério da Educação passa a contemplar com livros didáticos:
Alfabetização, língua portuguesa, matemática, ciências, estudos sociais, história e geografia para todos os alunos de
primeira à oitava série do ensino fundamental público.
2000 O PNLD passa a distribuir Dicionários de Língua portuguesa.
2001 A partir deste ano o Programa evolui drasticamente, passando a entregar as obras didáticas no ano anterior ao
ano letivo de sua utilização.
2001 Inicia-se a distribuição e ampliação do programa para poder contemplar alunos com deficiência, fazendo a impressão de
livros em braile.
2002 Primeiras reposições e complementações para séries iniciais.
2003 Criada a Resolução CD FNDE n. 38, de 15 de outubro de 2003.
Com base nesta resolução é criado o Programa Nacional do Livro didático para o Ensino Médio - PNLEM
2004 Criado o Siscort, Sistema de Controle de Remanejamento e Reserva Técnica, o qual tem por objetivo registrar e controlar
o remanejamento de livros e a distribuição da Reserva Técnica, no âmbito do PNLD. O Siscort passa a ter uma filial em cada estado, deste modo foi possível atender às turmas
do primeiro ao quarta série.
O atendimento ao Ensino Médio foi instituído de maneira gradativa, a partir deste ano foram distribuídos livros de
matemática e português para alunos do primeiro ano nos estados do norte e nordeste.
2005 Em 2005, foram incluídas no sistema (Siscort) as turmas do quinto ao nono ano.
Em caráter de reposição e complementação, são distribuídos livros didáticos de todos os componentes curriculares para
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os alunos do ensino fundamental, sendo plena a complementação dos livros consumíveis de primeiro ano. No
âmbito do
Para o ensino médio houve distribuição de livros de português e matemática para todos os anos e regiões.
2006 Distribuição de Dicionários ilustrados Trilíngues (língua Brasileira de sinais/Língua portuguesa/língua inglesa) para Escolas de primeira à quarta série. Estes dicionários eram
direcionados para alunos com Surdez.
2007 Publicada a Resolução CD FNDE n. 18, de 24 de abril de 2007.
Programa Nacional do Livro Didático é regulamentado para a alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA). Passa a distribuir
por meio de doações obras didáticas para entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado.
2008 Distribuição de livros de física e química para o ensino médio.
2009 Publicada a Resolução CD FNDE n. 51, de 16 de setembro de 2009. A qual regulamenta o Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLD EJA).
Também publicada a Resolução CD FNDE n. 60, de 20 de novembro de 2009. Instituído que a partir do próximo ano (2010) todas as escolas públicas devem aderir ao PNLD
para que possam adquirir Obras didáticas. Por meio desta resolução também foi possível adicionar a língua estrangeira (inglês/espanhol) a distribuição para 6º e 9º anos. O ensino
médio também seria contemplado com livros de língua estrangeira, bem como livros de Filosofia e Sociologia (porém estes foram feitos em volume único e edições
consumíveis)
2010 Decreto n. 7.084, de 27 de janeiro de 2010.
Contempla procedimentos para execução dos programas de material didático: o Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD) e o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE).
2011 Por meio do FNDE foi adquirido e distribuído integralmente livros para o ensino médio e Educação de jovens e adultos. A Modalidade EJA também passa a receber livros de Língua
estrangeira, Filosofia e Sociologia (caráter consumível)
Fonte: Adaptado de Brasil, 2012.
Desde 2002, o PNLD compra e distribui obras didáticas aos alunos do Ensino
Fundamental e Médio, na modalidade regular ou Educação de Jovens e Adultos
(EJA). Para garantir o atendimento a todos os alunos, são distribuídas também
versões acessíveis (áudio, Braille e Mecdaisy1) dos livros aprovados e escolhidos no
1 Mecdaisy é uma ferramenta tecnológica que permite a produção de livros em formato digital acessível. Possibilita a geração de livros digitais falados e sua reprodução em áudio, gravado ou sintetizado, possui facilidade de navegação pelo texto, permitindo a reprodução sincronizada de
12
âmbito do PNLD. O Programa foi capaz de distribuir em 2016 milhares de obras
didáticas para escolas de nível fundamental e médio (figura 1), tanto para áreas
urbanas quanto para áreas rurais. Hoje é um importante meio de apoio para as
escolas em âmbito nacional.
Figura 1: Mapa referente a distribuição de obras didáticas de todas as disciplinas em 2016
Fonte: <http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didático>
1.3 O USO DO LIVRO DIDÁTICO
Um ponto que merece destaque a respeito do livro didático é a distorção de
sua finalidade, a utilização desenfreada desta ferramenta a transforma como uma
fonte única de conhecimento. Muitas vezes, o professor segue cegamente os
conteúdos rotulados dentro da obra e essa utilização, pode levar a um problema
pertinente a mecanização do ensino. Desta maneira, o aluno fica fadado a decorar
conteúdos e reproduzir de maneira tradicionalista2, focando apenas em um algoritmo
trechos selecionados, o recuo e o avanço de parágrafos e a busca de seções ou capítulos. (Machado, 2009) 2 O Método tradicional de ensino, (ou pedagogia tradicional), como diz Saviani (1999), coloca o professor com uma interação vertical para com seu aluno, instigando o autoritarismo por parte do professor, não fornecendo espaço para que o aluno possa se expressar, o professor assume o papel
13
desprezando o potencial do conceito a ser explorado dentro de uma situação
proposta pelo livro didático. Como enfatiza Oliveira:
Muitos professores utilizam o livro didático como seu fiel escudeiro onde nele se apoiam para estar em condições duvidosas de poder enfrentar uma sala de aula e a disciplina, tendo em vista que, chegou a tal ponto que ele (o professor) não tem mais a capacidade de inovar, dependendo única e exclusivamente do livro didático para poder compreender e repassar o conteúdo para os alunos, e ainda utilizam este recurso didático de um modo completamente equivocado sem procurar envolver o conteúdo programático com a realidade do aluno, se prendendo a um método extremamente teórico com uma leitura monótona e cansativa para ambos (professores e alunos), e de difícil compreensão (OLIVEIRA, 1997, p.04).
Vemos que nesse momento a condução do professor é de extrema
importância, pois seus apontamentos podem gerar a produção do conhecimento ou
apenas a reprodução. Corroborando com isto, apontamos Verceze & Silvino:
O livro didático se encontra longe de ser uma fonte de sabedoria, capaz de orientar os professores no desenvolvimento da personalidade integral das crianças e constituir uma responsabilidade de natureza social e política. E o professor quem deve ter uma boa preparação para desenvolver essa atividade de vital importância, pois, embora haja, por um lado, o desenvolvimento das novas tecnologias, da mídia, dos textos digitais, por outro, o livro continua sendo o mais fiel aliado do professor e um recurso imprescindível para os alunos (VERCEZE & SILVINO, 2008, p.05).
Desta maneira podemos observar que o livro didático tem seu potencial
elevado com a utilização correta do professor, o qual deve ponderar seu uso aliado
ao seu conhecimento, não dispensando novos meios de informação e novos
recursos para utilizar em suas aulas. O professor deve estar sempre em contato com
outros meios de informação além do livro, mas como esse recurso em muitos casos
é o qual seus alunos dispõem, cabe a ele administrar o uso do livro didático da
melhor maneira possível, fazendo enxertos de conteúdo ou ponderando as
de vigiar e aconselhar, corrigir e ensinar a matéria e por sua vez o aluno tinha o objetivo de entender e assimilar o conteúdo.
14
informações que o livro traz. Ainda, segundo Januario (2010), essa prática do
professor analisar e ponderar o que irá trabalhar com seus alunos, e como trabalhar,
se pauta em uma análise crítica dos conteúdos e situações-problema que muitas
vezes os livros disponibilizam, porém, o professor observa como os autores do livro
retratam os cenários que ele quer explorar, e avalia se realmente o que o livro traz
irá contemplar o aluno a construir o significado esperado.
Como ressaltado anteriormente, vimos que inicialmente os livros didáticos
brasileiros tinham um teor político e ideológico, proveniente do Estado sendo seu
censor. Essa visão inicial cria um ponto de partida, podemos indagar qual seria a
concepção dada ao livro didático nesta época? Bittencourt (2004) ressalta esta
dúvida, mostrando que é importante conhecer o passado histórico do livro didático,
analisando quem foram seus precursores (autores) e qual a finalidade dos livros em
sua criação, se os mesmos queriam que este instrumento fosse incorporado como
ferramenta de trabalho para o professor ou se fora criado para ser um substituto. A
autora evidencia também que nesta época a formação de professores e instituições
que forneciam cursos para o ensino das primeiras letras quanto para o nível
secundário eram muito precárias ou quase inexistentes.
Neste contexto, podemos perceber grande interesse por parte do governo,
que nesta época (1938), idealizou um enorme investimento na aquisição e criação
de livros didáticos; os autores incumbidos destas obras foram tidos como patriotas.
O objetivo da ação do governo nesta época foi de direcionar a maior quantidade
possível de livros a fim de abranger um atendimento escolar de qualidade a maior
quantidade possível de alunos. Mas, o termo “Educação de qualidade” tinha outra
característica, a concepção de Educação de qualidade é mutável perante o tempo.
Podemos perceber essa diferença quando olhamos para o século XIX o que se tinha
como Educação de qualidade, era adequação ao contexto sociocultural. Segundo o
decreto nº 1325 de 10 de fevereiro daquele ano, constavam no artigo 7º e parágrafo
primeiro, Sales et al (2008) cita que os delegados do distrito, por mais que não
fossem magistrados deveriam visitar estabelecimentos escolares trimestralmente
tendo a responsabilidade de averiguar as condições do mesmo:
Estabelecimentos particulares desse gênero [escolas] que tenham sido autorizados, observando se neles são guardados os preceitos da moral e as
15
regras hygienicas. Se o ensino dado não e contrario constituição, à moral e ás Leis; e se cumprem as disposições deste regulamento (SALES et al,2008, p. 77).
Com isso vemos claramente que para a época a concepção de Educação de
Qualidade era a ideia de lei e ordem, comprimento das mesmas em conformidade
com a moral. É importante conhecer esses aspectos passados, pois eles refletem
diretamente sobre a criação dos livros didáticos, são aspectos da política
educacional brasileira que residem dentro dos livros didáticos, pois estes
estabelecem segundo Apple:
Grande parte das condições materiais para o ensino e aprendizagem nas salas de aula de muitos países através do mundo e considerando que são os textos destes livros que frequentemente definem qual é a cultura legitima a ser transmitida (APPLE, 1989, p.82)
O livro didático assume um papel como um intercessor entre o currículo
proposto e a prática, ou seja, dentro dele devemos encontrar o conhecimento
específico constituídos entraves dos componentes curriculares o qual toma forma
através do professor evidenciando realidades socioculturais. Demonstrando que o
currículo que está intrínseco na criação do livro refletindo diretamente uma
redemocratização histórica do país.
Porém, o livro não deve ser inteiramente constituído somente do currículo
contendo ações separadas que norteiam pontos do ensino, mas de uma teia que
une os conhecimentos mostrando caminhos diversos.
No que se refere à redemocratização, o Programa Nacional do Livro Didático
ganhou força com o decreto nº 91542 de 19 de agosto de 1985, pós-ditadura militar,
que constituiu o PNLD com a finalidade de alavancar a presença dos magistrados
(professores) na escolha do livro didático, trazendo uma nova alvitra para o ensino.
Desta maneira ouve a constituição da política pública do livro didático, esta política
teve como objetivo nortear obstáculos como os problemas da aprendizagem, má
qualidade do ensino dentre outros.
16
Voltando o nosso olhar para o passado, podemos refletir que o livro didático
foi um dos materiais que mais sustentou as escolas públicas até os dias de hoje.
Mas mesmo com investimentos altos injetados pelo governo essa abrangência ainda
não é absoluta. Existem diversas instituições precárias em estruturas e materiais, o
que dificulta muito o processo de ensino e aprendizagem. Considerando que em
muitas regiões o único acesso à informação é por meio do livro didático, a evidência
do papel fundamental do livro didático ganha ainda maior destaque.
1.4 O PAPEL DO LIVRO DIDÁTICO NAS AULAS DE MATEMÁTICA
O papel do livro didático nas aulas de matemática é um dos pontos chave
desta pesquisa e com base nas Orientações Curriculares do Ensino Médio (OCEM,
2006), vemos que este papel está ligado diretamente com o uso do professor. É
importante ressaltar que com a utilização do livro didático acabamos trazendo mais
uma variável para dentro da sala de aula, onde não mais somente professor e aluno
estão presentes e interagindo. A utilização da obra didática traz a presença do autor
indiretamente para um diálogo, caracterizando uma nova relação entre Professor-
autor-aluno. A presença do autor intrínseco na obra didática serve como pilar para
um debate entre as partes professor-aluno, propiciando assim momentos reflexivos
e dialéticos, onde os pontos de vista das três partes podem ir ao encontro uns aos
outros ou concordarem. Ainda, destacamos que com a orientação do professor
pontos importantes dos conteúdos podem ser melhores explorados.
Com as orientações do professor, o mesmo pondera os conteúdos a serem
trabalhados e situações a serem investigadas junto aos alunos, evita-se o uso
desenfreado do livro didático, contornando um problema antigo, que é a distorção da
finalidade deste material. No entanto, ainda vemos a roteirização do livro didático em
muitas escolas, os conteúdos são trabalhados do início ao fim sem questionamentos
dentro da estrutura do livro didático, deste modo perde-se a autonomia do professor
em explorar pontos chaves e abranger atividades e discussões que o livro poderia
propiciar em auxílio da compreensão de um conteúdo. Este fato por muitas vezes se
17
dá por falta de conhecimento do professor acerca das orientações curriculares ou
acesso as mesmas.
Durante as aulas com a utilização do livro didático, podemos estabelecer um
diálogo entre professor-livro-aluno, o livro serve como um “elo” promovendo um
colóquio entre as partes, e desta maneira diversas interações são possíveis,
podemos visualizar no seguinte diagrama:
Figura 2: Esquema de interações entre Professor, Aluno, Livro Didático e Matemática
Fonte: MANDARINO, 2010.
Podemos traduzir estas interações da seguinte maneira, o livro didático deve
assumir algumas finalidades específicas dentro deste diálogo, estas são enfatizadas
por Gerard e Roegiers (1998), onde a interação livro-aluno tem como função:
Contemplar o aluno a adquirir conhecimento socialmente relevante;
Avultar competências cognitivas, tornando o aluno capaz de ser
autônomo;
Capacidade de apropriar-se, consolidar, ampliar, aprofundar e integrar
todos os conhecimentos adquiridos;
Assessorar na auto avaliação da aprendizagem;
Auxiliar na formação social e cultural, também desenvolver a
capacidade de convivência e de exercício da cidadania;
Olhando as perspectivas do autor no diálogo entre Professor-livro, os
aspectos mais relevantes são os seguintes:
Contribuir para o planejamento e preparo das aulas, permitindo o
professor uma melhor perspectiva dos assuntos, o mesmo pode
enfatizar pontos chaves que considere pertinentes para a
aprendizagem efetiva dos alunos, bem como auxiliar no preparo de
atividades, trabalhos e avaliações.
18
Contemplar a aquisição de conhecimentos, favorecendo uma
renovação ao professor, desta forma o livro traz textos que ilustram
novos cenários e referências.
Contemplar a formação didático-pedagógica;
Contribuir na avaliação da aprendizagem dos alunos;
A partir destes objetivos, podemos perceber que para que eles ocorram, o
professor deve ter plena compreensão da utilização do livro didático, bem como os
conceitos a serem ensinados, não desvalorizando a sua formação e as concepções
adquiridas sobre o ensino da matemática e da própria Matemática, a utilização feita
por ele do instrumento livro didático com seus alunos, refletirá diretamente nas
funções descritas anteriormente, podendo abrir assim novas vertentes ou acabar
não contemplando a todas. O professor deve refletir sobre o impacto que o uso da
ferramenta livro didático, pode causar sobre suas práticas pedagógicas, alunos e
sobre o planejamento escolar ou projeto político pedagógico (PPP).
O diálogo estabelecido pelo uso do livro didático jamais poderá ocupar um
espaço de concentração da conversação entre professor e aluno, deve ser tratado
como uma ferramenta de ensino a qual auxilia as aulas, porém não a única, deste
modo o professor deve abrir espaço para utilização de outras ferramentas de ensino,
sempre buscando uma melhor qualidade para suas aulas e aprendizagem de seus
alunos, não levando em conta que o livro seja fonte única de conhecimento, esta
ideia deve ser repassada a seus alunos, motivando-os a buscar novas fontes de
conhecimento.
19
2 CONCEITO DE FUNÇÃO
A Matemática está presente na vida do homem desde a antiguidade, como
ciência dos números e dos cálculos auxilia na vida e organização da sociedade. O
desenvolvimento da matemática está intrínseco nas primeiras civilizações, e tornou
possível o desenvolvimento do comércio, construções, manejo e medição de terras
dentre outras situações.
O campo da matemática é muito amplo, comportando um gigantesco volume
de informação que transcendeu o tempo, e é excepcional para a humanidade, seu
desenvolvimento e para seu futuro.
Para poder estudar matemática, ela é particionada em diversos níveis de
conhecimento e dentre eles em subníveis, é imprescindível aprender seus conceitos
através de etapas. Esta prática tem por objetivo facilitar a aprendizagem. Quando
completamos uma destas etapas e assimilamos seu conceito, podemos partir para a
próxima e assim sucessivamente, estes conhecimentos podem ser paralelos ou não,
mas sempre podemos ver algumas relações existentes entre muitos dos conteúdos.
Um conceito da matemática importante para este estudo é o ensino de
funções. No estado do Paraná, segundo as diretrizes curriculares, alunos do Ensino
Médio têm como objetivo ampliar seus conceitos sobre Funções, a fim de aprofundar
estes conhecimentos.
Conhecimentos estes que tornam o aluno capaz de identificar regularidades,
estabelecer generalizações e apropriar-se da linguagem matemática, para assim ser
capacitado a interpretar e raciocinar sobre fenômenos de seu cotidiano ou situações
específicas, que exigem uma interpretação matemática, como linguagem gráfica que
favorece a compreensão dos dados e grandezas envolvidas.
Contudo, existem inúmeras problemáticas que cercam o tema função e essas
problemáticas estão diretamente ligadas ao seu ensino. Com isso foram
desenvolvidas algumas pesquisas sobre o tema, as quais tiveram bases diferentes,
buscando a partir de estudos históricos, epistemológicos e de transposição didática
do conceito dessa temática. Algumas pesquisas que se destacam são as
elaboradas por Oliveira (1997), Rossini (2006) e Maia (2007), cada um desses
20
autores evidenciou fatos inerentes ao estudo de funções, que refletem diretamente
acerca do uso do livro didático.
Oliveira (1997) evidenciou grande dificuldade por parte de seus alunos no
campo conceitual das funções. Para transpor este problema decidiu trabalhar com
sequências didáticas, enfatizando para seus alunos a construção de significado para
o conceito de função.
Rossini (2006) teve a colaboração de outros professores, os quais o ajudaram
a analisar as dificuldades que os docentes encontram para ensinar o conceito de
função para seus alunos. Deste modo, chegaram à conclusão de que depende de
como o professor dever elaborar uma sequência didática para tal estudo. Ainda
verificaram que conforme os professores moldavam o caminho para chegar ao
conceito, os mesmos reestruturavam seus conhecimentos sobre Função.
A pesquisa de Maia (2007) teve foco com base no ensino de funções por
meio do uso de softwares, para chegar até a aprendizagem do conceito. Em sua
pesquisa, o tema chave foi o ensino de funções quadráticas, utilizando o software
Winplot. Esta pesquisa fora aplicada com alunos do 9º ano, os mesmos trabalharam
graficamente e algebricamente com o uso do software. Segundo Maia, houve uma
melhora significativa na aprendizagem do conceito de função quadrática.
As três pesquisas citadas anteriormente, mostram pontos de vista distintos
sobre o mesmo tema, desta forma somos levados a refletir, qual é a melhor
abordagem para o tema funções, e como os livros didáticos poderiam abordar
inicialmente o tema? Com base nessas pesquisas podemos ver que é de grande
importância que pesquisas sejam elaboradas para contemplar e melhorar os livros
didáticos, agregando um potencial aos conteúdos, pois os livros devem tratar os
conteúdos de formas diferenciadas a fim de instigar os alunos a aprender e
desenvolver o conhecimento.
Esta pesquisa além de trazer uma visão sobre o ensino de funções serve
para que os professores possam refletir, também se autocriticar, para que assim se
preocupem com a escolha do livro, também com a organização dos conteúdos a
serem trabalhados, os caminhos escolhidos pelo professor, a fim de alcançar o
objetivo de que seus alunos consigam construir o conhecimento.
21
Com o auxílio do professor, o aluno pode ser capaz de construir seu
conhecimento, mas o que definirá esta construção será a conduta do professor,
segundo Januario:
A postura do docente influencia não somente sua atuação com a classe, mas, também, no momento de escolha de atividades que propiciem um ambiente favorável para que o aluno possa investigar, tentar, errar, construir, averiguar e socializar o que está trabalhando. Assim, a escolha por conteúdos que propiciem esse ambiente é um fator que promoverá a aprendizagem significativa (JANUARIO, 2010. p. 15).
Como podemos analisar até o momento, o professor é um ponto chave na
utilização do livro didático, mas no que diz respeito aos conteúdos e abordagens que
o livro pode trazer, a pesquisa e análise do livro didático podem contribuir para que o
professor possa transpor as dificuldades que os alunos apresentam a respeito do
tema de função, identificando pontos chaves a serem explorados, e como explorar
essas situações.
2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DAS FUNÇÕES:
Nesta sessão iremos abordar um quadro referente aos aspectos históricos,
uma breve perspectiva sobre o tema, para observar o desenvolvimento do conceito
de funções durante o tempo. A história das funções pode melhorar a compreensão
de algumas de suas definições atuais. A partir do estudo histórico podemos refletir,
qual era a visão dos matemáticos do passado sobre o tema e como o conceito de
função se desenvolveu até a visão atual. Refletindo entre passado e presente.
Durante muitos anos o conceito de função sofreu diversas alterações, desde a
Antiguidade, Idade Média até o Período Moderno, o que causa grandes divergências
quanto ao verdadeiro período de surgimento do conceito, esta ideia é apresentada
por Youschkevitch (apud Maia, 2007), o qual também divide nestes mesmos três
períodos históricos, pelo qual houve discussões sobre o conceito e o
22
desenvolvimento das funções, Youschkevitch faz um apanhado geral destes três
períodos até metade do século XIX:
Antiguidade: Durante este período ouve diferentes estudos das relações de
dependência entre duas quantidades, mas ainda não eram isoladas as
noções gerais de quantidades variáveis e de funções.
Idade Média: Etapa ao longo da qual, na ciência europeia do século XIV, a
noção de dependência é expressa pela primeira vez de uma maneira precisa,
de uma forma ao mesmo tempo geométrica e mecânica, A dependência entre
duas quantidades era definida por uma descrição verbal ou por um gráfico
mais que por uma fórmula.
Período Moderno: A partir do fim do século XVI e especialmente durante o
século XVII, as expressões analíticas de funções começam a prevalecer,
desta forma, passa-se a muito utilizar as funções analíticas.
Durante anos diversas Civilizações já utilizavam conceitos de funções, na
Antiguidade temos como exemplos Babilônicos e Egípcios, que utilizaram conceitos
de funcionalidade, para resolver problemas práticos, porém como Eves (2008)
aponta em seu trabalho, estes povos ainda não tinham desenvolvido métodos de
generalização, ou seja, em toda nova situação, eles deveriam partir de uma nova
análise, contudo ambos os povos criaram instrumentos como tábuas, que continham
informações de correspondência, o que facilitava.
No período da Idade Média, em meados do século XVII começaram a surgir
às primeiras ideias sobre o conceito de função. Com a necessidade de observação
dos fenômenos e das leis que buscavam explicá-las, Galileu Galilei (1564 – 1642) e
Isaac Newton (1642 – 1727), já utilizavam noções sobre a lei de dependência, como
hoje sabemos fortemente ligadas ao conceito de “função”. Este termo ainda não
havia sido formalizado nesta época.
Durante o decorrer dos anos, com a chegada do Período Moderno, houve
grandes avanços em relação à definição do termo função. Estes avanços vieram no
século XVIII com Bernoulli (1667 – 1748), matemático suíço, o qual utilizou o termo
função, assim designando valores obtidos por operações entre variáveis e
constantes. Porém neste mesmo século, outros dois matemáticos tiveram grande
influência sobre as funções, um deles foi Leonard Euler (1707 – 1783), o qual
23
utilizou as notações atuais “f(x)”, mas foi o matemático Gottfried Wilhem Leibniz
(1946 -1783) quem supostamente criou o termo função.
Durante este período somos contemplados com estudos advindos das
necessidades em aprimorar instrumentos de medidas, os quais mobilizaram
matemáticos a estudarem as noções de funções através da observação.
Acarretando em uma evolução do conceito, desenvolvendo o tratamento
quantitativo, onde x e y entram em relações de dependência.
2.2 FUNÇÃO
Para que possamos analisar os livros didáticos, primeiro devemos apresentar
o tema Função, e algumas definições formais, de modo que estes pontos, em
conjunto com as peculiaridades apresentadas na sessão anterior possam contribuir
para uma visão mais abrangente quanto ao conteúdo presente no livro didático.
O ponto a ser analisado nos livros é o conceito de função, parte inicial e
introdutória ao tema das Funções. Deste modo vamos primeiramente interpretar o
que é “conceito de função”.
Para Caraça (1951), da mesma forma que os conjuntos numéricos surgem
para cada necessidade, os naturais da necessidade de contagem, o número racional
da medida, número real para assegurar a compatibilidade lógica de aquisições
diferentes, as funções surgem naturalmente como uma ferramenta para
necessidades especificas, a necessidade aparece e a situação cria este instrumento.
Este instrumento são as funções, que são chamadas pelo autor de “ferramentas”.
Sua criação está atrelada ao desenvolvimento humano, com base nas observações
dos fenômenos naturais o ser humano buscou entende-los, e disto derivou a ciência,
que buscou acumular, sistematizar, sintetizar e modelar estes fenômenos, a ciência
por si só é um produto resultante da curiosidade humana.
Caraça (1951) também evidencia que para se analisar ou observar algum
fenômeno, é necessário observar uma parcela proveniente deste fenômeno, deste
modo cria-se uma relação de interdependência entre os fenômenos e o conjunto
24
isolado de elementos inerentes a este, desta forma estamos considerando aspectos
quantitativos. A partir disto Caraça traz esta definição:
Sejam A e B dois componentes de um isolado; entre eles existem relações de interdependência. Consideramos uma dessas relações; nelas podemos distinguir dois sentidos: um de A para B, e outro B para A; diremos do primeiro sentido, que tem antecedente A e consequente B, do segundo, que tem antecedente B e consequente A; distingui-los-emos respectivamente pelas notações: sentido de relação 𝐴 → 𝐵 e sentido de relação 𝐵 → 𝐴 (CARAÇA, 1951. p.113).
Com base nos fenômenos buscamos encontrar regularidades – Lei
quantitativa, a lei aparece como uma correspondência entre dois conjuntos com uma
relação Unívoca no sentido de A para B, esta “lei” está na correspondência entre
dois conjuntos, para estudar leis quantitativas temos que criar um instrumento
matemática cuja essência seja a correspondência entre estes dois conjuntos.
Caraça (1951) evidencia a importância de construir a definição passo a
passo, deste modo ele coloca em destaque princípios que fundamentam o conceito,
estes princípios são interdependência e a fluência, que partem da realidade do meio
em que vivemos; noção de isolado, que é uma parte observada da realidade; noção
de qualidade e quantidade provenientes do isolado; e por último a noção de variável
e com ela suas particularidades.
Deste modo é definido Função, segundo Caraça, da seguinte forma:
Sejam x e y duas varáveis representativas de conjuntos numéricos, diz-se que y é função de x e escreve-se y = f(x), se entre as duas variáveis existe uma correspondência unívoca no sentido 𝑥 → 𝑦. A x chama-se variável independente, a y variável independente (CARAÇA, 1951. p.129).
Partindo para uma definição mais atual, segundo Oliveira podemos definir
Função por meio de cinco aspectos, estes são:
25
Sejam A e B dois conjuntos não vazios. Chama-se função de A em B, qualquer relação de A em B que associa a cada elemento de A um único elemento de B.
Uma relação de A em B é uma função se e somente se todo elemento de A tem imagem em B, a Imagem de cada elemento A é única. Indica-se: 𝑓: 𝐴𝐵 𝑥 → 𝑌 = 𝑓(𝑥) (lê-se: F e uma função de A em B, que associa a cada x de A um único y em B, dado pela lei 𝑦 =𝑓(𝑥)
Uma relação R: A B é uma função ou aplicação de A em B se, e somente se, para todo qualquer xA existe um único yB, tal que (x,y)R
Dados dois conjuntos, A e B, não vazios dizemos que a relação de A em B é uma função se, e somente se, para qualquer x pertencente ao conjunto A, existe em correspondência, um único y pertencente a B, tal que o par ordenado (x,y) pertença a f. Simbolicamente: f é uma função de A em B (xA, yB / (x,y)f).
Sempre que duas grandezas, x e y estão relacionadas entre si de modo que - X pode assumir qualquer valor em um conjunto A; - A cada valor de x corresponde um único valor de y em conjunto B; Dizemos que a grandeza que assume valores y é uma função da grandeza que assume valores x, isto é, que y é uma função de x. (OLIVEIRA, 1997, p. 31-32)
26
3 ASPÉCTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo será evidenciado os pontos que conduzirão a análise da
introdução ao conceito de Função. Em busca de comparações entre o conceito
inicial de funções que é o objeto deste trabalho, será feita uma pesquisa qualitativa
que investigará como os livros retratam estes conteúdos, de que forma eles
abordam a temática e qual sua metodologia.
Em Goldenberg (2004), metodologia é uma definição de um possível caminho
para uma pesquisa científica. Dessa maneira, envolve uma escolha do pesquisador
a respeito de como realizar um trabalho para a investigação de um problema de
pesquisa e para comunicar os resultados encontrados. Gatti (2002) aponta para a
importância de critérios de escolhas dos procedimentos que subsidiarão a análise e
a interpretação das informações coletadas no processo da pesquisa. Ainda, segundo
Gatti (2002), os resultados encontrados passam a ser de interesse não só de quem
pesquisa, mas também de um grupo que compartilha as mesmas inquietações.
Na pesquisa que aqui é apresentada, optamos por utilizar a metodologia de
pesquisa qualitativa, pois esta é uma investigação que não se preocupa “com a
representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da
compreensão de [...] uma trajetória” (GOLDENBERG, 2004, p. 14).
De acordo com Rosa:
Destacando o fato que metodologia de Pesquisa Qualitativa não se resume na expressão dos procedimentos adotados na coleta de dados, compreendemos que o processo investigativo possui diversos outros elementos importantes. A começar pela inquietação inicial do pesquisador, a qual possui um contexto específico que deve ser levado em consideração e que desencadeia um processo de busca; passando, no caso da Educação Matemática como região de inquérito, pelas visões de conhecimento, de aprendizagem, de Matemática, de Educação Matemática, de mundo e de ser humano; até chegar às escolhas referentes à teoria que dá embasamento ao estudo, aos procedimentos de coleta e de análise dos dados da pesquisa (ROSA, 2012, p. 242).
27
De acordo com Merriam (1988, apud Godoi e Balsini, 2006), pesquisa
qualitativa é um conceito “guarda-chuva”, que abrange várias formas de pesquisa e
nos ajuda a compreender e explicar o fenômeno social com o menor afastamento
possível do ambiente natural. Para Godoi e Balsini (2006), nas pesquisas de cunho
qualitativo, tanto a delimitação quanto a formulação do problema possuem
características próprias. Ambas exigem do pesquisador a imersão no contexto que
será analisado.
Buscando responder à pergunta que gerou este trabalho – De que maneira é
feita a abordagem do conteúdo no que diz respeito ao estudo de função? -, foram
escolhidos três livros didáticos de Matemática do 1º ano do ensino médio, aprovados
pelo PNLD. Estes três livros apresentam o conteúdo de introdução ao conceito de
funções e foram escolhidos pautados nos seguintes critérios: (i) um dos livros
apresenta uma introdução para o conteúdo baseado em novas tecnologias; (ii) um
dos livros esteve presente no período escolar do autor deste trabalho; (iii) um dos
livros apresenta exemplos didáticos de relação de dependência relacionados ao
cotidiano. A gama de livros disponíveis a nível nacional é muito grande, mensurar a
qualidade de todos os livros seria impossível para esta pesquisa, tendo em vista
esse motivo optamos por selecionar apenas três livros para esta análise.
Para a análise crítica das estratégias utilizadas pelos autores nos pautamos
na Organização Praxeológica presente na Teoria Antropológica do Didático
(CHEVALLARD, 1999), referente às Tarefas, Técnicas, Tecnologias e Teorias.
3.1 TEORIA ANTROPOLOGICA DO DIDÁTICO - TAD
Chevallard (1999) considera que não existe um mundo institucional ideal no
qual as atividades humanas sejam geridas por praxeologias bem apropriadas que
permitam realizar todas as tarefas desejadas de uma maneira eficaz, segura e
inteligente. De acordo com Barbosa e Lins:
28
As praxeologias envelhecem na medida em que seus elementos (tipos de tarefas, técnicas, tecnologias ou teorias) perdem seus créditos ou tornam-se opacos, dando origem à constituição de novas praxeologias, necessárias ao melhor funcionamento de uma determinada instituição, em consequência dos novos tipos de tarefas (tipos de problemas) que se apresentam a essa instituição (BARBORA; LINS, 2013, p.30).
Segundo Chevallard (1999, p.1), a Teoria Antropológica do Didático estuda o
homem perante o saber matemático e, mais especificamente, perante situações
matemáticas. O termo antropologia foi adotado, pois se refere à área do saber que
estuda o homem no que concerne origem, evolução, desenvolvimentos físico,
material e cultural, fisiologia, psicologia, características raciais, costumes sociais,
crenças, entre outras características (JANUARIO, 2010).
Segundo a teoria de Chevallard (1999), existe um postulado básico que
admite que toda atividade humana pode ser submetida a um modelo único, ou seja,
uma praxeologia. Digitar um texto, calcular o valor de uma função em um ponto,
construir um gráfico, estas são atividades humanas, tarefas que devem ser
realizadas.
Para Rossini, há diferenças entre as atividades humanas e as atividades
matemáticas como destacaram a seguir:
o que distingue a atividade matemática das outras atividades humanas é que, diante de uma tarefa, é preciso saber como resolvê-la. O “como resolver a tarefa” é o motor gerador de uma praxeologia: é preciso ter (ou construir) uma técnica, que deve ser justificada por uma tecnologia, a qual, por sua vez, precisa ser justificada por uma teoria (ROSSINI, 2006, p.26).
Ainda, refletindo sobre essa perspectiva, Chevallard, Bosch e Gascón
ressaltam:
na atividade matemática, como em qualquer outra atividade, existem duas partes, que não podem viver uma sem a outra. De um lado estão as tarefas e as técnicas e, de outro, as tecnologias e teorias. A primeira parte é o que podemos chamar de “prática”, ou em grego, a práxis. A segunda é composta por elementos que permitem justificar e entender o que é feito, é
29
o âmbito do discurso fundamentado – implícito ou explícito – sobre a prática, que os gregos chamam de logos (CHEVALLARD; BOSCH; GASCÓN, 2001, p. 251).
As partes interdependentes e inseparáveis, definidas como prática (práxis) e
saber (logos) integram a praxeologia, estruturada pelos conceitos de tarefa, tipos de
tarefa, técnica, tecnologia e teoria (CHEVALLARD, 1999). Tais conceitos vão
permitir modelizar as práticas sociais em geral as atividades matemáticas, como
descreveremos a seguir.
3.2 ORGANIZAÇÃO PRAXEOLÓGICA
Segundo Barbosa e Lins (2013), uma organização praxeológica é a realização
de certo tipo de tarefa t que se exprime por um verbo, pertencente a um conjunto de
tarefas do mesmo tipo T, através de uma técnica (𝜏), justificada por uma tecnologia
θ, que, por sua vez, é justificada por uma teoria Θ. Esta definição parte do postulado
que qualquer atividade humana põe em prática uma organização, denominada por
Chevallard (1999) de praxeologia, simbolizada pela notação [t, 𝜏, θ, Θ].
Para Chevallard (1999), o par [t, 𝜏] tem relação com a prática, e pode ser
compreendido com um saber-fazer, e o par [θ, 𝛩] relacionado à razão, são
compreendidos como o saber. Sendo o conteúdo de função, o objeto do nosso
trabalho, destacamos Rossini:
Nesta perspectiva, no estudo do conceito de função, não se pergunta mais o que é função, mas quais são os tipos de tarefas a serem executadas e de técnicas envolvidas e quais são as respectivas justificativas tecnológicas e teóricas. Assim, o conceito de função emerge dessas praxeologias, que existem em um dado momento histórico, em uma determinada instituição (ROSSINI, 206, p. 132).
Para compreendermos o que é tarefa, vamos considerar que tarefa é aquilo
que algum ser humano faz regularmente. Por exemplo, a resolução de exercícios
30
que envolvem a área de triângulos pode ser considerada como tarefa dos alunos, já
o ato de ensinar o conteúdo de área de triângulos, pode ser considerada como
tarefa do professor. Pensando em tarefas fora do contexto escolar, o escritor tem
como tarefa escrever um livro, levantar uma parede de tijolos pode ser tarefa do
pedreiro, etc.
No contexto matemático, podemos exemplificar a ideia de tarefa como:
“Calcular”, é um gênero de tarefa, calcular o valor de uma função num ponto, é um
tipo (T) de tarefa e calcular o valor da função f(x) = x² + 2 para 𝑥 = 3 é a tarefa (t)
propriamente dita.
A relação entre o tipo de tarefa (T) e suas respectivas tarefas (𝑡1, 𝑡2, … , 𝑡𝑛)
pode ser mais facilmente compreendida por meio de uma representação gráfica
(figura 6), apresentada por Zanardi, Kneubi e Pereira (2013):
Figura 3: Diagrama de relação T.
Fonte: Zanardi, Kneubi e Pereira (2013)
A técnica pode ser entendida como o método pelo qual se realizam as tarefas.
A técnica (𝜏) é a maneira de se resolver ou realizar um determinado tipo (T) de
tarefas. Pensando no contexto escolar, a resolução de uma equação de 2º grau
deve ser entendida como uma tarefa (T), que pode ser realizada por diferentes
técnicas (𝜏). O aluno pode utilizar o complemento dos quadrados ou a fórmula de
Bhaskara, além de outras maneiras. Zanardi, Kneubi e Pereira (2013) destacam que
toda técnica tem alcance limitado, pois só funciona para algumas tarefas.
Ao solicitar a tarefa de multiplicar dois números inteiros, o aluno pode
desenvolver técnicas como:
31
𝜏1: Interpretar a multiplicação como somas sucessivas e então, ao invés de
multiplicar, o aluno faz a operação da adição dos termos.
𝜏2: Multiplicar com a conta armada, utilizando o algoritmo da multiplicação e
assim, fazendo o uso da tabuada.
No caso de algumas tarefas, uma única técnica pode não ser suficiente.
Segundo Chevallard (1999), uma praxeologia relativa a um tipo de tarefa t necessita,
em princípio, de uma técnica 𝜏 relativa. Porém, uma técnica 𝜏 pode funcionar para
uma parte p(𝜏) das tarefas t e fracassar para outras partes.
De acordo com Barbosa e Lins (2013), a tecnologia (θ) é definida como um
discurso racional sobre uma técnica 𝜏, cujo primeiro objetivo consiste em justificá- la
racionalmente, isto é, em assegurar que a técnica permita que se cumpra bem a
tarefa do tipo t. Segundo Zanardi, Kneubi e Pereira (2013), a tecnologia (θ) garante
que a técnica (𝜏) irá cumprir seu propósito e explica de que maneira ela consegue
fazer isto.
No campo da matemática, podemos entender as demonstrações como
justificação de alguma técnica 𝜏. Barbosa e Lins destacam um segundo objetivo para
a tecnologia:
O segundo objetivo da tecnologia consiste em explicar, tornar inteligível e esclarecer uma técnica 𝜏 , isto é, em expor por que ela funciona bem. Além disso, a tecnologia tem também a função de reproduzir novas técnicas, mais eficientes e adaptadas à realização de uma determinada tarefa (BARBOSA; LINS, 2013, p.35).
Resta-nos definir o que é teoria (Θ). Para Zanardi, Kneubi e Pereira:
A teoria justifica e explica as afirmações da tecnologia. É o discurso racional sobre a tecnologia. Ela tem, em relação à tecnologia, o mesmo papel que esta tem em relação à técnica, ou seja, a teoria é a tecnologia da tecnologia. A tecnologia é quem justifica, explica e gera técnicas e a teoria é quem justifica, explica e gera tecnologias e que possibilita interpretar técnicas e provar tecnologias (ZANARDI; KNEUBI; PEREIRA, 2013, p.9).
32
Nessa perspectiva, compreendemos que toda tecnologia deverá estar ligada
a uma explicação teórica. Portanto, não existe tecnologia sem teoria.
Para encerrar o aspecto estrutural da TAD (praxeologia), uma última
colocação terminológica se faz necessária. Para Zanardi, Kneubi e Pereira (2013),
uma organização Praxeológica é determinada pelo conjunto dos quatro “t’s ”: (t, 𝜏, θ,
Θ). Dessa maneira, um tipo (T) de tarefa pode agregar inúmeras organizações
Praxeológicas (t, 𝜏, θ, Θ), uma vez que, como visto anteriormente, podem existir
muitas tarefas únicas (t) que pertencem a um grupo maior de tipo de tarefas (T) e
que podem ser resolvidas por uma mesma técnica 𝜏.
3.3 LIVROS A SEREM ANALISADOS:
Para a análise crítica das estratégias para introduzir o conceito de função
utilizado pelos autores, o trabalho foi pautado na Organização Praxeológica presente
na Teoria Antropológica do Didático (CHEVALLARD, 1999), referente às Tarefas,
Técnicas, Tecnologias e Teorias.
Os livros foram escolhidos com base nos critérios anteriormente citados, e os
mesmos são: Novo olhar Matemática (1ª série); Matemática (volume único),
Matemática Completa (1ª série), os três livros foram aprovados e distribuídos pelo
PNLD.
Quadro 2: Livros escolhidos
Livro 01: Novo Olhar
Matemática
Livro 02: Matemática Livro 03: Matemática
Completa.
33
Figura 4: Capa livro 01
Figura 5: Capa livro 02
Figura 6: Capa livro 03
PNLEM 2012/2013/2014 PNLEM 2009/2010/2011 PNLEM 2009/2010/2011
Código: 25133C0201 Tipo: L
Código: 102400 Tipo: L
Código: 102393 Tipo: L
O livro 01, Novo olhar Matemática, foi escrito pelo autor Joamir Roberto de
Souza, Professor graduado em Matemática pela Universidade Estadual de Londrina
(UEL), é especialista em Estatística pela mesma universidade e atua na rede pública
de ensino. Este livro teve sua 1º edição idealizado através da editora FTD S.A. em
São Paulo no ano de 2010.
Neste livro o autor enfatiza a contextualização do conteúdo, apresentando
informações de diferentes formas dos mais diversos meios de comunicação visando
contribuir para interpretação crítica do aluno. Antes de cada capítulo há uma
introdução com textos de outras áreas de conhecimento, mostrando situações em
que a matemática pode ser encontrada e relacionada ao tema de estudo da unidade.
Também é possível perceber uma preocupação do autor quanto à consolidação do
conhecimento apresentado, para isso, o autor recorre a diversos exemplos e
atividades resolvidas em cada capítulo.
O livro 01 é composto por 4 temas, Conjuntos, Funções, Progressões e
Trigonometria, dividindo o livro em 9 capítulos. O autor também traz ao término do
livro uma sessão especial Intitulada “Ampliando seus conhecimentos”, com diversos
exercícios de vestibulares e do ENEM, além de sugestões de livros, autores e sites
para pesquisa.
O livro 02, é intitulado apenas Matemática, fora escrito por Luiz Roberto
Dante, publicado em sua 1ª edição em São Paulo, 2009 pela Editora Ática S.A., é
dividido em 8 unidades e 35 capítulos, as unidades são: Álgebra (I), Geometria
34
Plana, Trigonometria, Álgebra (II), Estatística e Matemática Financeira, Geometria
espacial: de posição e métrica, Geometria analítica e Álgebra (III). Para completar a
obra ao término do livro o autor traz questões de vestibulares de universidades do
estado de São Paulo, e do Enem de 2000 e 2004. Para o autor em seu discurso de
apresentação é evidenciado que o mesmo se preocupa com a contextualização,
para fazer com que o aluno compreenda e saiba aplicá-las na resolução de
problemas do mundo real.
Esta obra em particular é popularmente conhecida pelo sobrenome de seu
autor “Dante”. Em especial este livro foi escolhido por fazer parte do período escolar
do autor, utilizado durante dois anos do ensino médio (2ª e 3ª série) por se tratar de
um livro de Volume único. Uma das características marcantes ao abrir o livro, é a
estrutura em colunas em todas as páginas.
O autor desta obra é Mestre em Matemática pela Universidade Estadual de
São Paulo (USP), Doutor em Psicologia da educação: Ensino da matemática pela
Universidade Católica de São Paulo (PSC-SP), Pesquisador em ensino e
aprendizagem da matemática (UNESP – Rio Claro, SP), foi ex-professor da rede
pública do estado de São Paulo, Dante também publicou outras obras pela mesma
editora:
Didática da resolução de problemas de matemática
Didática da matemática na pré-escola
Coleção vivencia e construção (1ª a 4ª séries)
Tudo é matemática (5ª a 8ª Séries)
Contexto & Aplicações (3 volumes)
Matemática – Contexto & Aplicações (volume único)
O terceiro livro escolhido tem como título “Matemática Completa”, livro
destinado a 1ª série do ensino médio, faz parte da coleção com o mesmo nome,
publicado em 2005 através da editora FTD S.A. de São Paulo. Este Livro didático foi
escrito por Giovanni & Bonjorno, José Ruy Giovanni é Bacharel e Licenciado em
Matemática Pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é
professor em escolas de ensino médio e fundamental desde 1960, José Roberto
Bonjorno é Bacharel e Licenciado em Física pela Pontifícia Universidade Católica de
35
São Paulo (PUC-SP), é professor de matemática e física em escolas de ensino
médio e fundamental desde 1973.
Este livro é dividido em 11 sessões: Geometria Métrica Plana, Trigonometria
nos Triângulos, Conjuntos, Funções, Funções Polinomiais, Funções Modular,
Funções Exponenciais, Função Logarítmica, Noções de Matemática Financeira,
Trigonometria no Ciclo e Progressões. No final do livro também há uma sessão com
sugestões de sites e livros para leitura e pesquisa.
No discurso inicial dos autores para apresentar seu livro, fica evidente que os
mesmos estão buscando preparar o aluno para a prática da cidadania, tentando
torná-los críticos e éticos. Buscam em suas sessões trazer textos interdisciplinares
para instigar seus leitores a buscarem mais conhecimento.
No próximo capítulo deste trabalho, apresentaremos a análise dos três livros.
A análise, como já mencionado, será baseada na teoria antropológica do didático e
na organização praxeológica de Chevallard (1999). Nosso intuito é analisar o
conteúdo que diz respeito somente à introdução de função em livros do 1º ano do
Ensino Médio.
36
4 ANÁLISE DOS LIVROS.
Neste capítulo faremos a análise dos três livros didáticos, no que diz respeito
a abordagem inicial do Conceito de Função, buscando verificar segundo os critérios
estabelecidos no capítulo de metodologia com base no autor Chevallard (1991),
apresentaremos situações, tarefas e técnicas abordadas. Também serão
apresentados comentários no decorrer da análise. Para tal, analisaremos cada livro
individualmente, mostrando como cada um destes é estruturado, no que diz respeito
ao conteúdo inicial do conceito de função.
4.1 LIVRO 01:
O livro 01 fora escrito por Souza possui uma abordagem e um discurso
diferenciado, logo na abertura da sessão sobre funções, é exposto um infográfico
alusivo à evolução dos transistores3. Esta evolução está relacionada a quantidade
dos mesmos que a cada ano só aumenta, devido a evolução dos aparelhos
eletrônicos. Deste modo, o autor traz um texto de abertura sobre a lei de Moore4 e a
evolução da tecnologia.
Figura 7: Livro 01, Introdução.
3 O transístor é um componente eletrônico semicondutor com várias funções, nomeadamente: amplificador de sinal (tensão), comutador de circuitos e amplificador e regulador de corrente. 4 A Lei de Moore surgiu em 1965 através de um conceito estabelecido por Gordon Earl Moore. Tal lei dizia que o poder de processamento dos computadores (entenda computadores como a informática geral, não os computadores domésticos) dobraria a cada 18 meses. Vale frisar que de modo algum Gordon queria se referenciar a sua empresa (Gordon é co-fundador da Intel), pois ele não havia como ter certeza que a empresa conseguiria evoluir em tal ritmo.
37
Fonte: SOUZA, 2010, p.44.
Ao termino desta introdução é exposto ao leitor alguns questionamentos,
estes são:
Figura 8: Livro 01, Questionamentos.
Fonte: SOUZA, 2010, p.45.
Esta introdução é extremamente chamativa, o texto nela apresentado possui
uma linguagem simples e de fácil entendimento, além de ser informativo. A partir dos
dois primeiros questionamentos, o autor busca inteirar o aluno sobre o assunto,
fazendo o mesmo se questionar perante a evolução dos transitores. Por meio do
intermédio do professor é possível abranger esta introdução para uma pesquisa
mais relevante sobre o assunto. Em sequência, uma terceira pergunta apresenta
um caráter do conceito de função intrínseco, deste modo o professor pode aproveitar
o ensejo para uma tarefa exploratória. Para buscar respostas para o terceiro
questionamento, os alunos podem utilizar conhecimentos já adquiridos na trajetória
escolar. Como por exemplo, fazer uma tabela para encontrar o número de
transitores, ou então utilizar progressões e ainda, até mesmo tentar de imediato criar
38
uma fórmula para a situação. Tudo é possível desde que o professor prepare a aula
já pensando nestas possíbilidades.
Deste modo a introdução já nos permite analisá-la segundo a TAD:
Tarefa: Encontrar a quantidade de transitores, com base no texto/infográfico.
Técnica: Criar uma fórmula relacionando a quantidade de transitores com os
anos, tabelar os valores, utilização de progreção.
Discurso teórico antropológico: Definição de função a partir da dependência
de duas variáveis.
Após a introdução, o livro traz um novo subtítulo, “Estudando Funções”, neste
momento o autor traz para o leitor um breve histórico sobre a criação das funções,
citando alguns matemáticos que contribuiram para o avanço deste tema, tais como
Newton (1642 – 1727) , Leibniz (1646 – 1716), Euler (1707 – 1783) e Furrier (1768 –
1830). Há uma nota a respeito de Leonhard Euler incluindo sua foto. Nos demais
capítulos, o autor introduz novas notas a respeito de cada um dos matemáticos
citados no breve histórico, estas notas tem por objetivo enfatizar algumas das
contribuições destes matemáticos referente ao tema de funções.
Figura 9: Livro 01, nota sobre Euler e Leibniz.
39
Fonte: SOUZA, 2010, p.46.
Após este breve histórico o livro entra diretamente em três exemplos práticos.
Dois dos exemplos trazem situações reais com base em tabelamento, por serem
análogos, apresentaremos apenas o primeiro exemplo e o terceiro. Vejamos a
seguir:
Exemplo 01: Biodisel
Figura 10: Livro 01, Exemplo 01.
40
Fonte: SOUZA, 2010, p.46.
Neste primeiro exemplo, a situação faz referência a produção de biodiesel
através da mamona. Um quadro com a quantidade de mamona e respectivamente a
quantidade de biodiesel produzida a partir da mesma, é apresentado logo em
sequência. Deste modo o autor já aponta que há uma relação entre estas
grandezas, discriminando quem são estas, isto inclui atribuir letras para representá-
las. A partir deste exemplo, o autor apresenta uma equação para representar a
situação. Com a equação, é possível calcular quantos litros serão produzidos a partir
de uma determinada quantidade de mamona. Também há uma nota ao lado do
exemplo dizendo ao leitor que a “quantidade de biodiesel produzida está em função
da quantidade de mamona”
41
Analisando o exemplo, vemos que ele se caracteriza por ser direto, não
apresenta nenhuma forma de interlocução entre o autor e o leitor, apenas aponta o
que o leitor deve perceber. Contudo, o processo de construção do conceito de
função é gradativo e é necessário fazer o aluno perceber a relação. Nesta situação
cabe ao professor mediar o exemplo para poder explorar acerca da sistematização
de uma equação capaz de representar o problema. Concluem-se os seguintes
elementos a partir da TAD que:
Tarefa: perceber as relações de dependencia entre grandezas, escrever uma
fórmula a partir da tabela.
Técnica: Analisar a tabela afim de encontrar um padrão.
Discurso teórico antropológico: Definição de função a partir da dependência
de duas variáveis.
Exemplo 03: Área do Quadrado.
Figura 11: Livro 01, Exemplo 03.
Fonte: SOUZA, 2010, p.47.
Neste exemplo (figura 11), logo no início é apresentada a figura de um
quadrado, ao lado a fórmula para a área de qualquer quadrado e em sequência um
tabelamento atribuindo valores para o lado e encontrando uma nova área
42
correspondente. Na tabela existem três colunas: uma para o valor do lado, outra
para o cálculo (substituindo o valor de l) e a terceira com o valor da área. Em
sequência é evidenciado quem é a variável independente e dependente. Porém,
novamente assim como no primeiro e no segundo exemplo, é apresentado todas as
informações prontas, o tabelamento, a lei de formação, quem é a variável
independente e dependente, assim como mostra a substituição da letra l por um
determinado valor (situação que os alunos têm extrema dificuldade), e não há
nenhum questionamento que provoque o aluno a raciocinar. O aluno não é
provocado a encontrar uma equação, nem testar os valores, pois tudo já é
apresentado logo no início. Percebe-se que pode haver um total desperdício do
potencial do exemplo. Para melhorar a utilização destes exemplos, o professor pode
explorar as situações propostas sem solicitar que os alunos utilizem o livro em um
primeiro momento. Neste exemplo, apresentamos a seguinte análise:
Tarefa: perceber as relações de dependencia entre grandezas, escrever uma
fórmula a partir da tabela e figura.
Técnica: Analisar a tabela afim de encontrar um padrão, recordar conceitos já
adqueridos como calcúlo de área.
Discurso teórico antropológico: Definição de função a partir da dependência
de duas variáveis.
A partir destes exemplos o livro já traz exercícios, estes retratam situações
reais e teóricas que podem ser analisadas. Caso o professor siga apenas os
exemplos apresentados, os alunos podem demonstrar enormes dificuldades para
compreender o tema. Conforme evidenciado anteriormente, um dos passos mais
importantes é a construção do conceito de função. Para isso o aluno deve ter o
amparo do professor, a liberdade de poder errar, explorar e construir seu
conhecimento.
Apresentaremos a seguir três exercícios propostos e analisaremos segundo
os critérios estabelecidos:
Exercício 03: Locadora de Automóveis.
43
Figura 12: Livro 01, Exercício 03.
Fonte: SOUZA, 2010, p.48.
Tarefa: Com base no texto identificar as variáveis dependente e
independente, substituir uma grandeza para encontrar a outra, com base na
fórmula pré-estabelecida.
Técnica: Substituir os valores dados na fórmula a fim de encontrar um valor
correspondente.
Discurso teórico antropológico: Definição de função a partir da dependência
de duas variáveis.
Exercício 04:
Figura 13: Livro 01, Exercício 04.
44
Fonte: SOUZA, 2010, p.48.
Tarefa: Com base na representação, escrever uma fórmula para representar o
perímetro, calcular o valor de uma grandeza dada à outra.
Técnica: Substituir os valores das grandezas na fórmula encontrada.
Discurso teórico antropológico: Definição de função a partir da dependência
de duas variáveis.
Exercício 06:
Figura 14: Livro 01, exercício 06.
Fonte: SOUZA, 2010, p.49.
Tarefa: Determinar a lei de formação a partir do texto.
45
Técnica: Substituir os valores de uma das grandezas, a partir desta encontrar
as demais.
Discurso teórico antropológico: Definição de função a partir da dependência
de duas variáveis.
4.1.1 Considerações sobre o livro:
Esta obra didática escrita por Souza apresenta uma linguagem de fácil
interpretação, porém com pouco conteúdo escrito, o que pode levar a muitas
dúvidas referentes a certas situações apresentadas. O livro apresenta apenas três
exemplos de maneira direta, sem questionamentos. Nota-se que o foco é apenas em
uma reprodução mecânica. Para utilização deste livro é recomendável ao professor
mediar discussões, explorar o tema e cada situação para que os alunos possam
construir um novo conhecimento de maneira gradativa e eficiente. É possível trazer
outros exemplos ou até mesmo utilizar um exercício proposto pelo livro também
pode ser uma boa opção durante as explicações.
Este livro apresenta estruturação de qualidade, infográficos, notas, tabelas e
quadros bem apresentados e chamativos, com uma linguagem de fácil
compreensão. Também podemos notar a utilização de contexto histórico, fato que
pode aguçar a curiosidade dos alunos e também pode ser um ponto a ser explorado.
Com relação aos exercícios, pode-se dizer que o livro é bem balanceado
entre atividades teóricas e com contextos reais, o que ajuda o aluno a perceber que
pode escrever qualquer situação em uma linguagem matemática.
Porém, de modo geral os exemplos claramente são fracos, apenas mostram
que podemos aplicar fórmulas matemáticas. Muitos conceitos e características são
simplesmente expostos só quando o aluno parte para a resolução dos exercícios. No
momento dos exercícios é que eles verificarão se realmente compreenderam.
Considera-se então que os exemplos podem não ser suficientes para a introdução
de função. Deste modo, entende-se que falta conteúdo.
Consideramos que apenas expor as características e nomeá-las pode não ser
uma das melhores formas de se ensinar.
46
4.2 LIVRO 02:
O tema sobre Funções inicia-se no capítulo 2, página 32. Este capítulo recebe
o título de “Funções”. O autor não traz nenhum texto introdutório ao tema, apenas
faz uma ressalva de que o conceito de função é um dos mais importantes da
matemática e que está presente sempre que relacionamos duas grandezas
variáveis.
Para iniciar o estudo o autor apresenta o seguinte subtítulo “1. Explorando
intuitivamente a noção de função”. Nesta sessão é retratado 4 exemplos para que o
leitor perceba as relações de dependência e independência de variáveis. Os
exemplos são os seguintes:
EXEMPLO 01: Números de litros de gasolina e preço a pagar.
Figura 15: Livro 02, Exemplo 01.
Fonte: DANTE, 2009, p.32.
Neste exemplo vemos um tabelamento do número de litros de gasolina e
preço total a pagar. O autor introduz a palavra função logo após a tabela, no
47
momento em que diz: “O preço a pagar é dado em função do número de litros...” e,
em sequência, mostra como deveria ser escrita uma lei de formação. Abre-se uma
nota dizendo “Lei da função ou fórmula matemática da função ou regra da função”.
Este exemplo é extremamente direto, e já apresenta solução. O intuito principal aqui
é apenas mostrar quando estamos utilizamos “funções”. Reconhecem-se as
seguintes características da TAD:
Tarefa: Escrever uma fórmula a partir da tabela.
Técnica: Observar a relação de dependência entre o número de litros como
sendo uma variável independente e o preço a pagar, variável dependente.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
de duas variáveis.
EXEMPLO 02: Lado do quadrado e perímetro.
Figura 16: Livro 02, exemplo 02.
Fonte: DANTE, 2009, p.32.
48
Neste segundo exemplo, podemos notar similaridade com exemplo 03 do livro
01. O autor traz a ideia de função utilizando o perímetro de um quadrado. O intuito
deste exemplo é mostrar que o perímetro do quadrado depende do tamanho do
lado. Sendo assim, o lado é uma variável independente, enquanto que o perímetro é
uma variável dependente. O autor novamente utiliza a palavra função no contexto de
seu exemplo dizendo que “o perímetro está em Função da medida de seu lado”. Em
sequência é apresentada a lei de formação para esta situação, mostrando que o
perímetro é igual a quatro vezes a medida do lado. A generalização deste caso
pode ser expressa por: "𝑃 = 4. 𝐿" , onde P é o perímetro e L o tamanho do quadrado.
Também é possível observar a introdução da ideia de domínio e imagem sutilmente
citada pelo autor quando se refere: “A cada valor dado para a medida do lado
corresponde a um único valor para o perímetro”. A partir da análise baseada na
TAD, podemos perceber:
Tarefa: Escrever uma fórmula a partir de uma tabela.
Técnica: Observar através da tabela as relações de dependência, da situação
em que o perímetro depende exclusivamente do tamanho do lado admitido.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas variáveis.
EXEMPLO 03: Máquina de dobrar.
Figura 17: Livro 02, exemplo 03.
49
Fonte: DANTE, 2009, p.32.
A partir deste terceiro exemplo, o autor começa a introduzir notações para a criar
a lei de formação, dizendo que o número de saída é “(n)”, e que este é igual a duas
vezes o número de entrada “(x)”. Em sequência, é apresentado a lei de formação
"𝑛 = 2𝑥". Neste momento, o autor enfatiza a introdução de letras para representar
as variáveis e então, retrata novamente que podemos chamar esta fórmula de:
“regra da função ou lei da função, ou, ainda, fórmula matemática da função”.
Percebe-se as seguintes características:
Tarefa: Escrever uma fórmula a partir do esquema.
Técnica: Observar o que acontece com os valores a partir do esquema
(“máquina de dobrar”), exemplo simples com intuito de visualizar facilmente
um padrão, para assim generalizar através de uma função.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas variáveis.
EXEMPLO 04: Tempo e distância.
50
Figura 18: Livro 02, exemplo 04.
Fonte: DANTE, 2009, p.33.
Este exemplo permite o aluno identificar um padrão entre os dados tabelados,
ou seja, encontrar uma relação entre o tempo e distância. A partir deste exemplo, o
autor começa a enfatizar os termos: variável independente e variável dependente ao
generalizar uma fórmula matemática. Discrimina-se o exemplo através de um
esquema:
Figura 19: Livro 02, ênfase do exemplo 04
Fonte: DANTE, 2009, p.33.
Nota-se as seguintes características no exemplo acima:
51
Tarefa: Escrever uma fórmula a partir de um texto e tabela.
Técnica: Construir uma tabela. Atribuir valores a x e encontrar seus
respectivos valores em y.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
Exemplos como esse mostram aplicações reais, onde o aluno pode identificar
a utilização do conceito de função, vendo que podemos escrever em notações
matemáticas diversas situações.
Após os exemplos o livro traz apenas 4 exercícios e 1 desafio, os quais
caracterizam problemas similares aos exemplos. Devido aos 4 exercícios serem
similares entre si, apresentando tabelamento e praticamente os mesmos
questionamentos, destacaremos apenas dois deles e o desafio, além das
características da análise de cada um.
EXERCÍCIO 01:
Figura 20: Livro 02, exercício 01.
Fonte: DANTE, 2009, p.33.
52
Tarefa: Identificar as grandezas envolvidas, quem é a variável independente e
dependente, escrever uma fórmula matemática a partir da tabela, calcular o
valor de uma grandeza dada a outra.
Técnica: Construir uma tabela. Descobrir a fórmula e substituir os devidos
valores.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
EXERCÍCIO 02:
Figura 21: Livro 02, exercício 02.
Fonte: DANTE, 2009, p.33.
Tarefa: Encontrar uma fórmula matemática a partir de cada situação
Técnica: Construir as representações para visualizar a situação.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
DESAFIO:
53
Figura 22: Livro 02, desafio.
Fonte: DANTE, 2009, p.33.
Tarefa: Escrever uma fórmula a partir da tabela.
Técnica: Construir uma tabela, atribuir valores a x e encontrar seus
respectivos valores em y.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
4.2.2 Considerações sobre o livro:
Dentre os três livros analisados, este se destaca de modo geral. O destaque é
devido à quantidade de conteúdo e exercícios, fornecendo ao professor a
possibilidade de analisar e dar os encaminhamentos que julgar necessário, bem
como escolher o que aprofundar ou não. Esta obra mostra muitos conceitos e
características sobre as funções quando entramos mais a fundo no tema, o que os
outros não mostram, como a abordagem de sequências, equações de
circunferências dentre outros.
Mas no que diz respeito a abordagem inicial sobre o tema, é relativamente
fraca, pois não apresenta nenhuma interlocução nos poucos diálogos entre o livro e
o leitor. Apenas apresenta os conceitos que devem ser assumidos como verdade
única. As possibilidades para explorar estes conceitos importantes que irão
fundamentar o conhecimento do aluno acerca do tema de função, está nas mãos e
habilidades do professor, pois o mesmo pode ponderar a utilização e informações do
livro.
54
Os exercícios trazidos pelo autor são em sua maioria exercícios de
vestibulares de universidades importantes (a grande maioria do Estado de São
Paulo). Os níveis dos exercícios requerem um bom conhecimento, porém, é
importante ressaltar a repetição de um mesmo modelo, focando em um processo
mecânico de resolução. De modo geral em quase todas as sessões encontramos
pelo menos um desafio/problema, seja em meio aos exemplos ou nos exercícios e
desafios. Consideramos este ponto como interessante, pois estimula o pensamento
do aluno, fugindo um pouco de exercícios teóricos, mas sem deixar as
características matemáticas de lado.
O livro está dividido em duas colunas por página, o que consideramos como
uma poluição visual. Porém, este fato não afeta a compreensão. Por ter essa
característica, vemos pouco texto e mais definições e exemplos diretos, sem muita
articulação. Tratando-se de um livro de ensino médio, não deve causar muito
desconforto aos alunos, que já podem ter uma boa compreensão de texto. Porém,
não deve ser descartada por parte do professor, a possibilidade de que os alunos
possam não compreender o que o livro quer dizer em muitos momentos.
Este livro basicamente segue a trindade: “conteúdo, exemplo e exercício”.
Observamos alguns exemplos com aplicações práticas, porém o livro foca em suma
na teoria. Apenas alguns exemplos e exercícios que retratam um cenário de
realidade e a empregabilidade do conteúdo estudado. A problematização também
não é muito presente, a ideia geral do livro é capacitar o leitor a extrair a informação,
compreender e aplicá-la em um exercício teórico. É possível que a mediação do
professor possa auxiliar neste processo.
O auxílio do professor é imprescindível, já que o mesmo deve mediar o uso
do livro em conciliação com as metodologias que julgar mais adequadas. Em
resumo é um livro excepcional, sem dúvidas é uma ótima indicação para utilização.
4.3 LIVRO 03:
O tema Funções inicia-se no capítulo quatro, com o seguinte título “A ideia de
função”. Inicialmente os autores trazem em forma de texto uma breve introdução de
55
onde é empregada a “ideia” de função, apresentando relações de dependência que
ocorrem no dia a dia. Como por exemplo, a conta de luz que depende do consumo
por hora ou uma viagem que depende da velocidade média desenvolvida no trajeto.
Exemplos simples, que apesar de ser uma breve introdução escrita, pode ser
explorado pelo professor de maneira a incentivar os alunos a observar em quais
meios eles podem perceber relações de dependência no dia a dia. Este primeiro
passo é importante, pois o aluno deve adquirir a percepção de que há inúmeras
situações as quais possuem relações de dependência. Proporcionar ao aluno
reflexões sobre o que se quer estudando funções, traz benefícios conforme
aprofunda-se o conteúdo. Passa-se de um discurso extremante teórico e entra-se
em um meio de construção de um conceito.
Em sequência os autores trazem um novo título “Relação entre grandezas
variáveis”. Para este novo tópico os autores têm uma preocupação em mostrar
diversas maneiras de representar as relações entre duas grandezas, para isso
utilizam 3 exemplos, vejamos a seguir:
Exemplo 01: Correios.
Figura 23: Livro 03, exemplo 01.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.104.
56
Neste exemplo, vemos as tarifas praticadas pelo correio brasileiro no envio de
carta comercial e cartão-postal. O intuito deste exemplo é fazer o aluno perceber as
relações de dependência, notando que o “peso” é uma variável independente e a
tarifa é uma variável dependente, logo que a mesma depende exclusivamente do
peso.
Para fazer o aluno perceber estas relações o livro retrata três perguntas que
podem ser mediadas pelo professor:
a. Qual o valor a ser pago por uma carta que “pesa’’ 62g?
b. Qual o “peso” máximo de uma carta para que sua tarifa não ultrapasse R$
1,00?
c. É possível que duas cartas com tarifas diferentes tenham o mesmo ”peso”?
Estas perguntas são bem direcionadas a fazer com que o aluno perceba as
relações de dependência. Na terceira questão, começa a ser introduzido o princípio
de relação unívoca, por mais que não seja comentado. Destacamos as seguintes
características deste exemplo:
Tarefa: identificar as grandezas envolvidas, descobrir o valor a ser pago a
partir da tabela.
Técnica: para esta situação é possível utilizar conteúdos já conhecidos para
solucionar os questionamentos (como por exemplo, regra de três) ou buscar a
construção de uma fórmula.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
Exemplo 02: Taxa de desemprego.
57
Figura 24: Livro 03, exemplo 02.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.105.
Neste segundo exemplo, o gráfico mostra a variação da taxa de desemprego
mensal na cidade de São Paulo, no período de março de 2004 a março de 2005.
Acredita-se que o intuito principal dos autores com este exemplo é proporcionar que
o aluno verifique a relação entre o mês e a taxa de desemprego, sendo o mês a
variável independente e a taxa de desemprego a variável dependente. Também é
possível encaminhar o aluno a observar que cada mês possui uma única taxa de
desemprego correspondente. Encontram-se as características a seguir:
Tarefa: Identificar as grandezas envolvidas, quem é a variável independente e
dependente, a partir do gráfico.
Técnica: observação da tabela.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
Exemplo 03: Área do Quadrado.
58
Figura 25: Livro 03, exemplo 03.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.105.
Neste terceiro exemplo, de uma maneira direta os autores trazem para o
aluno a fórmula da área do quadrado e desta apresentam a relação para quando o
lado for igual a 5 a área será de 25cm² (exemplo também encontrado nos livros 01 e
02). Acredita-se que o intuito deste exemplo é mostrar que o lado é uma variável
independente, e a área é uma variável dependente do lado. Porém, consideramos
que se tratando de um exemplo, o professor poderia explorar a situação, caso o livro
não apontasse a fórmula da área. Neste momento, pode-se haver uma perda de
potencial no exemplo, pois por meio dele é possível rever conceitos da geometria
plana, como área e perímetro. Uma sugestão é de o professor pode fazer uma
adaptação, utilizando outros polígonos regulares, para que os alunos possam buscar
formular uma relação entre área e perímetro de outras situações provenientes da
geometria. Apontam-se as seguintes características na análise:
Tarefa: Identificar as grandezas envolvidas, quem é a variável independente e
dependente, escrever uma fórmula matemática a partir da tabela, calcular o
valor de uma grandeza dada a outra.
Técnica: Escrever uma fórmula matemática através da representação.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
Estes três exemplos são apresentados de maneira direta ao leitor, apenas
com intuito de forçar o mesmo a interpretar as relações de variável dependente e
independente. Sem a mediação do professor, além da perda de potencial a ser
explorado por meio dos mesmos junto aos alunos, estes exemplos se tornam
desnecessários, pois o aluno pode acarretar que as relações de dependência se
59
manifestem apenas em situações similares. A partir destes três exemplos o autor
enfatiza que estas situações são as mais usadas para representar a relação entre
variáveis (gráficos, tabelas e fórmulas).
Até o momento não é apresentado nenhum exercício ou exemplo para que o
aluno possa testar seu conhecimento. Os exemplos anteriores não possuem foco na
resolução, este está apenas na leitura e discussão. Porém em sequência é
apresentado um novo título “Função como uma relação especial”. Neste tópico é
evidenciado pelos autores que as situações anteriores possuíam duas únicas
características, estas eram:
A todos os valores da variável independente estão associados valores da variável
dependente.
Para um dado valor da variável independente está associado um único valor da
variável dependente.
A partir daí, os autores apontam que as relações que possuem estas
características são chamadas de Funções. Neste momento eles retornam as três
situações exemplos e as completam da seguinte forma:
A tarifa postal é dada em função do “peso” da carta
A taxa de desemprego é dada em função do mês
A área do quadrado é dada em função da medida do seu lado.
Logo em sequência os autores evidenciam um conceito importante referente a
funções. Os conceitos de domínio e imagem aparecem em um quadro, conforme a
figura 28:
Figura 26: Livro 03, definição de Domínio e Imagem.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.106.
Em sequência o livro apresenta novos exemplos para caracterizar o uso das
funções, porém este não sistematiza nenhuma das situações de forma a encontrar
60
uma lei de formação, a preocupação dos autores está em apenas direcionar o aluno
gradativamente a adquirir a capacidade de averiguar padrões e assim conseguir
sistematizar/generalizar a situação onde há relações de dependência, ou seja,
encontrar uma função.
Vejamos agora os novos Exemplos:
Exemplo 04: Vídeo locadora.
Figura 27: Livro 03, exemplo 04.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.106.
A figura 29 mostra um exemplo onde encontramos uma tabela com o número
de fitas de vídeo alugadas e o preço a pagar. Logo após a apresentação da tabela,
vemos afirmações prontas, como o “O número de fitas alugas é a variável
independente” e “o preço a pagar é a varial dependente”, assim como as afirmações
a respeito da imagem e domínio. Neste exemplo á três questionamentos que devem
ser calculados para se obter a resposta para os mesmos. Porém estas situações
não buscam encontrar uma fórmula para descrever situação, o foco dos autores
61
neste momento é apenas encontrar a resposta para os questionamentos. A
resolução trazida por eles pode ser vista na figura 30 a seguir:
Figura 28: Livro 03, exemplo 04, resolução.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.107.
Fazemos a seguinte análise neste exemplo:
Tarefa: Encontrar o valor a ser pago pelas fitas alugadas.
Técnica: Utilização da regra de três, multiplicação e divisão, criar uma fórmula
para a situação.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
.
Exemplo 05:
62
Figura 29: Livro 03, Exemplo 05.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.107.
De acordo com a figura 31, o exemplo apresenta uma fórmula que
corresponde ao valor a ser pago em função do número de fotos tiradas. Também
são feitos comentários acerca de variável independente, dependente, domínio e
imagem.
Tarefa: Encontrar o valor a ser pago a partir de determinado número de fotos,
e encontrar o número de fotos a partir do valor pago, utilizando a fórmula
apresentada.
Técnica: Substituição dos valores correspondentes a variável p na função
para encontrar o respectivo valor de n, e substituição dos valores de n para
encontrar o valor de p.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
Exemplo 06:
63
Figura 30: Livro 03, exemplo 06.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.108.
O terceiro e último exemplo, apontado na figura 30, utiliza um gráfico
correspondente a estrutura familiar e suas mudanças ao longo dos anos. Com base
neste gráfico, são feitas considerações acerca de domínio, imagem, variável
independente e dependente. Também é feita a introdução de notações de maneira
subentendida, as “linhas” correspondentes as representadas através de letras
(respectivamente f e g), que futuramente serão notações utilizadas nas funções.
Evidenciam-se as seguintes características:
Tarefa: Encontrar um ponto em comum, encontrar aproximadamente o
número atual total de famílias no ano de 1999.
64
Técnica: para a primeira situação, apenas observação do gráfico, para a
segunda, pode ser utilizada regra de três.
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
Destes três exemplos, observa-se que apenas o segundo exemplo traz uma
função já estabelecida. Nas outras duas situações, o autor do livro preocupa-se
apenas em resolver a situação com técnicas simples. No decorrer dos exemplos faz
comentários acerca de características das funções, como domínio, imagem e tipos
de variáveis. Contudo, até o momento não há preocupação em buscar criar uma
função para as situações. Dessa maneira, destacamos que o professor pode
trabalhar neste contexto.
Após o término desta sessão do capítulo, ainda não é evidenciado uma
definição formal para função. Apenas são apresentados exercícios, que foram
propostos de maneira equilibrada. Dentre eles, vemos exercícios simalares aos
exemplos, onde basta analisar e útilizar técnicas simples para solucionar os
questionamentos e outros que buscam a útilização de uma fórmula já apresentada.
Nenhum dos exercícios propostos solicita a criação de uma fórmula para representar
a situação. Vejamos a seguir 3 exercícios selecionados:
Exercício 03: Locadora de Veículos:
Figura 31: Livro 03, exercício 03
65
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.108.
Tarefa: Verificar as variáveis dependente e independente, através do texto e
tabela.
Técnica: Utilização de técnicas simples como regra de três; criação da uma
fórmula para a situação.
66
Discurso teórico antropológico: Definição de Função a partir da dependência
entre duas varáveis.
EXERCÍCIO 06: CUBO.
Figura 32: Livro 03, exercício 06.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.111.
Tarefa: Determinar o domínio da Função; determinar a imagem de um número
conhecida a lei de formação da Função;
Técnica: Substituir o valor de “l” da lei de formação, o qual corresponde ao
domínio (medida da aresta) para encontrar um valor “v” correspondente a
imagem (volume) pelo valor.
Discurso teórico antropológico: Domínio e Imagem de uma Função.
EXERCÍCIO 08:
67
Figura 33: Livro 03, Exercício 08.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.111.
Tarefa: Utilização da fórmula já estabelecida para encontrar a solução para os
questionamentos.
Técnica: Substituir os valores correspondentes as variáveis na função;
Discurso teórico antropológico: Definição de função por meio da dependência
de duas variáveis.
A definição para função vem apenas na sessão 2 do capítulo. Inicialmente é
apresentado um breve comenário, conforme figura 36 e exposto definições acerca
do plano cartesiano e suas relações:
Figura 34: Livro 03, Definições de Plano cartesiano.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.111.
68
Após estas definições e um exemplo simples sobre relações de conjuntos e
representação no plano cartesiano, o autor aponta a definição formal de função
conforme mostra a figura 37:
Figura 35: Livro 03, definição de função.
Fonte: GIOVANI J. R., BONJORNO, J. R., 2005, p.112.
4.3.1. Considerações sobre o livro:
O livro escrito por Giovanni & Bonjorno, apresenta uma linguagem simples, de
fácil interpretação, facilitando sua utilização em turmas com dificuldade de
interpretação textual. Também apresenta muitas resoluções e comentários,
exemplos bem apresentados e chamativos para os alunos. Porém, possui um foco
um tanto quanto disperso em relação a sistematizar as situações a fim de encontrar
uma função para estas. Nas sessões subsequentes após a apresentação da
definição, o estudo sobre funções recai sobre conceitos teóricos, para só então
entrar no conceito sistematizado. As aplicações e situações problemas são deixadas
um tanto quanto de lado. Nota-se que apesar de estarem presentes, ainda são
poucas.
Em suma é um livro interessante, mas que requer muita atenção e mediação
por parte do professor, pois em termos de conteúdo o mesmo apresenta pouca
ênfase em encontrar a lei de formação nas relações de dependência. Ressalta-se
que o professor pode tirar proveito desta situação, explorando os conceitos, partindo
da simples resolução até a sistematização.
Outro ponto importante do livro foi a abordagem por meio de noções intuitivas,
pois vemos poucos livros com essa caracterização. Apontar para os alunos que
podemos resolver com conhecimentos já adquiridos fundamentam e ajudam na
69
percepção do aluno ao se deparar com padrões a fim de poder sistematizar a
situação.
4.5 COMPARAÇÕES ENTRE OS LIVROS
Analisando os três livros, expus alguns pontos fortes e fracos fazendo
comentários no decorrer da análise, mostrando na íntegra o que foi possível, desta
maneira, constatei algumas características individuais de cada livro.
Comparando os mesmos, pude evidenciar que o livro 01 e 02 possuem uma
preocupação maior em evidenciar em sua abordagem inicial, a relação de
dependência entre as variáveis, ou seja, buscam conceituar Função através desta
característica, mostrando relações entre duas grandezas em seus exemplos, já o
livro 03 possui quase a mesma característica porém, este possui a preocupação de
enfatizar a interdependência entre essas grandezas, mostrando variações da
mesma, também há uma preocupação maior por parte dos autores do livro três em
mostrar as principais formas de mostrar relações de dependência (gráficos, fórmulas
e tabelas), utilizando como base situações reais e teóricas. Dos três livros, apenas o
livro 02 traz alguns problemas em meio aos exercícios.
Dentre os três livros, o livro 01 e 02 traz logo no início do conteúdo, junto aos
seus exemplos, a forma como podemos resolvê-los. Faz-se a introdução dos
conceitos de variável dependente e independente, assim como as funções que
representam a situação-problema, gerando assim uma certa mecanização, pois
quando o aluno parte para a resolução das atividades propostas, estas são
extremamente similares aos exemplos. Tornando-o passivo no que diz respeito a
participação, pois irão apenas seguir a resolução mostrada pelos exemplos.
O livro 03 compartilha desta situação, mas não por completo, pois o mesmo
preocupa-se em questionar o aluno durante os três primeiros exemplos. Dessa
maneira, passa-se a caracterizar o uso das funções. Contudo, o mesmo não busca
sistematizar suas situações problemas, apenas resolvê-las como for possível. Neste
ponto, notamos que há uma perda de potencial do livro, visto que até mesmo seus
exemplos não têm como principal objetivo encontrar uma função. Em alguns casos,
70
ela já é apresentada e basta utilizá-la. Vale ressaltar que a partir da mediação do
professor, o mesmo pode explorar estas situações a fim de incentivar e questionar
seus alunos para que os mesmos busquem encontrar as funções para as situações
problema.
No que diz respeito ao aspecto histórico da matemática, apenas o livro 01 traz
algumas notas e menções a alguns matemáticos que desenvolveram algo sobre o
tema. Destaca-se que estas apresentações são descontextualizadas, apenas
quadros no meio do texto.
Sobre as formas de representações, tomamos como base Duval (2003) e
seus estudos sobre Registros de representações.
A representação gráfica surge apenas no livro 03. O mesmo apresenta
gráficos em seus exemplos e exercícios para análise. Porém, a análise é o único
objetivo, não há questões que envolvam a formulação de uma função na situação.
No livro 01, apresenta-se apenas um exercício para o preenchimento de
tabela. Nos demais livros, utilização de tabela pode ser considerada apenas como
técnica para alguma das tarefas propostas. Em alguns casos, já é apresentada uma
tabela contendo os dados, para a partir dela escrever uma lei de formação
representam a linguagem natural, passando pela representação da tabela para
então chagar a lei de formação.
Na abordagem inicial nenhum dos livros traz representações através de
diagramas de flechas. Todos os livros apresentam pelo menos duas representações
distintas para as Funções. Como citado anteriormente, o livro 3 utiliza três
representações e os livros 01 e 02, fazem uso maior das tabelas e leis de formação,
bem como a utilização de textos e a partir dos mesmos, escrever a lei de formação.
De acordo com Duval (2003), esta situação representa a passagem da linguagem
natural para a lei.
Fica evidente que todos os livros utilizam diferentes representações para o
objeto de estudo, fazendo a transição entre estas linguagens. Porém, estas
representações caminham apenas em um sentido. Nenhum dos livros busca a
articulação entre as representações.
As representações das variáveis por meio de letras são mais evidentes nos
livros 01 e 02. Os mesmos utilizam as letras costumeiras x e y, apontadas no
decorrer dos textos ou por flechas, indicando qual grandeza cada uma está
71
representando. Observa-se que no livro 03 aparece em alguns exercícios as
representações por letras, porém o mesmo não utiliza as letras x e y.
Consideramos que a representação por meio de letras é um ponto importante,
no qual o professor precisa tomar partido e explorar este momento, pois os alunos
em geral apresentam muitas dificuldades em compreender o que as letras
representam. Em geral, acabam por interpretar erroneamente nas tarefas.
Creio que devido ao conteúdo em questão, os livros se restringiram mais a
apenas mostrar os conceitos iniciais de forma rápida e direta, para logo passar para
o estudo de casos particulares e teóricos. Mesmo mostrando situações de
aplicabilidade, os mesmos não mostram uma preocupação em explorar a construção
do conceito de função, apenas utilizam estas situações-problemas para expor
características importantes referentes ao tema. Levando assim, o professor regente
a ter que aproveitar os momentos propícios para criar oportunidades de
aprofundamento. Fazem-se necessárias atividades diferenciadas e explicações, as
quais proporcionem ao aluno a construção do conceito de função.
4.5.1 Tabela de comparação dos tipos de tarefas.
A seguir, na tabela 3 será apresentada uma tabela com a comparação dos
tipos de tarefas encontradas nos três livros didáticos, exemplos (EX) e os exercícios
propostos (EP). Na primeira coluna é discriminado qual o tipo de tarefa em questão.
quadro 3: Tipos de Tarefas
Tipos de Tarefas Livro 01 Livro 02 Livro03
EX EP EX EP EX EP
Completar Tabela 1
Determinar a fórmula a partir de uma tabela 3 2 4 4 1
Determinar a lei de formação de uma função a 4
72
partir de um texto.
Relação entre grandezas 3 1 4 3 6
Verificar se uma grandeza é diretamente
proporcional a outra.
2 1
Identificar qual grandeza é Função da outra ou
se uma é Função da outra.
1 1
Analisar a variação das grandezas. 2 4 4 3 5
Calcular o valor de uma grandeza dada o valor
da outra.
3 6 4 3
Analise de gráficos 2 2
Análise de Figuras/Diagramas 1 1 2
Verificar se a relação dada é uma Função. 1
Determinar o Domínio da Função. 3 3
Determinar a imagem de um número conhecida
a lei de formação da Função.
3 3
Construir o gráfico de uma Função.
Representar pontos no plano cartesiano.
73
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ensinar não é uma tarefa fácil. Para tanto, o professor precisa de ferramentas
as quais o auxilie em seu trabalho de maneira eficiente. Uma destas ferramentas é o
livro didático, mas para que este seja efetivo, é necessário que o professor
estabeleça critérios para eventualmente fazer uma boa escolha do material.
Considerando que este o ajudará em seu trabalho, para elaboração de atividades,
avaliações, trabalhos, problemas, situações que possam instigar seus alunos e
promover um ambiente agradável e de construção do conhecimento, uma boa
escolha se torna fundamental.
Estabelecer critérios não é uma tarefa simples. É necessário que o professor
esteja inteirado sobre teorias que fundamentem suas escolhas, visando o
crescimento e aprimoramento do conhecimento de seus alunos. Definir critérios,
nada mais é do que estipular pontos chaves que nortearão suas escolhas,
promovendo uma visão investigativa e meticulosa sobre o material que irá utilizar em
seu dia a dia, junto de seus alunos. Pesquisar sobre os livros, suas abordagens,
seus autores, bem como conteúdos favorecem uma boa escolha, assim como levar
em consideração o cenário escolar.
A organização Praxeológica ajuda o docente a verificar de que modo os livros
são divididos, de que forma e qual o tratamento dado pelos autores sobre o assunto,
bem como perceber brechas as quais ele pode explorar com seus alunos,
transpondo de simplesmente seguir o livro como um roteiro, promovendo atividades
com caráter exploratório, problematizadas, investigativas e até mesmo modelagens.
Além de a praxeologia ajudar o docente a averiguar os livros, promove um
crescimento profissional, pois o professor pode adquirir uma visão cada vez mais
crítica, a qual leva a perceber detalhes importantes, não só nas divisões
apresentadas nos livros, como também no raciocínio de seus alunos, pois quando
analisamos tarefas buscando identificar suas possíveis técnicas, adquirimos a
habilidade de averiguar possíveis caminhos tomados pelos alunos, interpretar as
ideias dos mesmos a fim de incentivá-los por mais que em algumas situações
possam estar equivocadas, o professor pode fazer intervenções a aproveitar cada
momento para promover a construção do conhecimento de seus alunos. Também é
74
possível fazer comparações entre possíveis resoluções, abrangendo ainda mais a
visão do aluno sobre o conteúdo, analisar o livro didático, selecionar organizar e
desenvolver o currículo de um modo mais dinâmico.
Na busca de respostas para a pergunta que gerou este trabalho - De que
maneira é feita a abordagem do conteúdo do livro didático de matemática no que diz
respeito ao estudo de função? Buscamos resgatar um pouco da sua história do livro
didático, sua utilização dentro da sala de aula e, por fim, analisamos por meio da
Organização Praxeológica três livros didáticos distintos.
Ao analisar estes livros evidenciamos que de modo geral os livros nem
sempre trazem um suporte eficiente para os alunos. Mostrando assim, que a
participação do professor é imprescindível, pois o mesmo deve mediar, organizar,
selecionar e buscar o aprofundamento das situações que julgar necessárias e
pertinentes. Deste modo, favorecendo a construção do conhecimento no que diz
respeito ao Conceito de Funções, objeto de estudo deste trabalho.
O que constatamos nos livros didáticos analisados é que são abordadas
poucas situações-problemas. Muitas das situações são simplesmente expostas, não
trazendo nenhum questionamento pertinente, apenas apresentando o conteúdo.
Deste modo, o aluno não é incentivado a pensar, raciocinar ou investigar.
Na nossa concepção, os livros apresentam uma qualidade insatisfatórias das
tarefas. O livro 1 possui poucas tarefas e as apresentadas são repetitivas. No livro 2,
temos contextos distintos, porém, assim como o livro 1, suas resoluções são de
modo mecânico. Já no livro 3, existe a apresentação de um pouco mais de
exercícios, porém estes exercícios não têm como objetivo construir uma função, o
intuito principal é identificar as relações de dependência e independência.
Consideramos que o livro 02 permite que o professor possa explorar as situações
com mais facilidade.
A partir deste estudo, fica mais evidente para o futuro professor de
matemática a importância de que o professor possua domínio sobre o conteúdo.
Ainda, a postura que o mesmo pode assumir perante a utilização do livro pode ser
um fator importante para a condução da sua aula. Se o mesmo buscar apenas
seguir o roteiro por comodismo, estará sacrificando oportunidades de
aprendizagens. Buscar ponderar a prática com a teoria é deveras difícil, porém para
a construção do conhecimento sobre funções, entender o conceito e tornar o aluno
75
capaz de interpretar situações de dependência requer uma grande habilidade por
parte do professor.
Os livros analisados mostram a aplicabilidade das funções, porém é uma
mera alusão ao seu uso, tornar o aluno capaz de interpretar uma situação e
raciocinar matematicamente é o foco principal, uma das formas de se explorar este
ponto chave, é utilizar diversos caminhos, diversas representações para uma
mesma situação transitando entre as mesmas, apenas contextualizar de uma
maneira errônea apenas para mostrar uma aplicabilidade, não é conveniente e pode
gerar desinteresse.
Ao longo deste trabalho, transitamos por diversos temas, os quais proveram
reflexões importantes para a futura prática docente. Reflexões estas que
proporcionaram uma nova visão crítica sobre os materiais que dispomos. O livro
didático fornece um apoio para o professor, mas o mesmo deve ter plena
consciência de que sua utilização deve ser ponderada. Deste modo, percebemos
que a preparação prévia é tão importante quanto analisar, selecionar materiais,
conteúdos e atividades. Essa visão crítica permite avaliar o que é importante para
nossos alunos e reflete diretamente na nossa competência como educadores.
Por fim, encerrando aqui o que é exposto e refletindo sobre a questão central
desta pesquisa, entende-se que os livros didáticos podem contribuir para o ensino,
desde que estes sejam escolhidos e utilizados com sabedoria pelos professores. Os
quais devem visualizá-lo como uma ferramenta de grande potencial, a qual pode
utilizar para mediar diversos conteúdos e não se apoiando simplesmente no roteiro
trazido pelo mesmo.
Adquirimos com este trabalho a percepção da importância da mediação do
professor no processo de aprendizagem de seus alunos, como afirma Paulo Freire:
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a
sua própria produção ou a sua construção”. (Paulo Freire)
76
6 REFERÊNCIAS
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