UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ · Buarque compunham letras que tratavam dos temas...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

Campus de Cornélio Procópio

CENTRO DE LETRAS, COMUNICAÇÃO E ARTES

FICHA PARA CATÁLOGO

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: Um cantinho e um violão na sala de aula

Autor Cláudia Antonia Alves De Oliveira Estevão

Escola de Atuação Colégio Estadual Cecília Meireles - Ensino Médio Normal e Escola Estadual Agmar Mendonça Scardazzi - Ensino Fundamental

Município da escola Sertaneja - Pr

Núcleo Regional de Educação

Cornélio Procópio – PR

Orientador Silvana Rodrigues Quintilhano

Instituição de Ensino Superior

UENP – Campus de Cornélio Procópio – PR

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Produção Didático-pedagógica

Unidade Didática

Relação Interdisciplinar História, Arte e Sociologia

Público Alvo 2º ano do Ensino Médio

Localização: Colégio Estadual Cecília Meireles – Ensino Médio e Normal

Rua Monsenhor Celso, 423, Centro.

Sertaneja - Pr

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Apresentação: Esta unidade didática propõe uma

alternativa metodológica para ensino de

leitura no ensino médio, com o objetivo

de implementar estratégia de leitura

textual a partir da leitura significativa de

textos poéticos e letras de músicas

partindo destas para se chegar a leitura

de obras literárias.A unidade didática

está pautada nas cinco etapas do

Método Recepcional de Bordini e Aguiar

(1993), que organiza as atividades de

maneira precisa de trabalhar o gênero

poesia, música e obras literárias.Com

propósito de analisar poemas

comparando com a música popular

brasileira tendo como eixo temático a

repressão e a Ditadura Militar brasileira

Palavras-chave Ensino leitura, Método Recepcional,

Música, Poesia.

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CLÁUDIA ANTONIA ALVES DE OLIVEIRA ESTEVÃO

UNIDADE DIDÁTICA

SERTANEJA – PR

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COORDENÇÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

PDE

UNIDADE DIDÁTICA

Proposta de Ação na escola em forma de Unidade Didática apresentada à Coordenação Estadual do Programa de Desenvolvimento do Paraná como requisito parcial à obtenção do título de professor PDE sob a orientação da professora Ms Silvana Rodrigues Quintilhano.

SERTANEJA - PR 2011

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1. IDENTIFICAÇÃO

1.1. PROFESSORA PDE: Cláudia Antonia Alves de Oliveira Estevão

1.2. ÁREA PDE: Língua Portuguesa

1.3. NRE: Cornélio Procópio

1.4. PROFESSORA ORIENTADORA: Ms. Silvana Rodrigues Quintilhano

1.5 IES: UENP Campus de Cornélio Procópio – Pr

2. TEMA DE ESTUDO

Música e poesia: voz nos estilhaços da ditadura militar. Uma proposta para alunos do

Ensino Médio

3. TÍTULO

Um cantinho e um violão na sala de aula

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UNIDADE DIDÁTICA

APRESENTAÇÃO............................................................................................................5

UNIDADE I - Determinação do horizonte de expectativa.............................................6

Música “Alegria, alegria” de Caetano Veloso...............................................................7

UNIDADE II - Atendimento do horizonte de expectativa.............................................8

Filme: “O que é isso, companheiro?” de Bruno Barreto.............................................9

Música: “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré.......................10

Vídeo: ”Uma noite em 67” de Renato Terra & Ricardo Calil......................................11

UNIDADE III - Ruptura do horizonte de expectativa....................................................11

Poema:” Vandré “de Mauro Luís Iasi ….......................................................................12

Livro:” Memórias da Guerrilha Imaginada” de Edson Gabriel Garcia......................13

Poema: “Agosto 1964” de Ferreira Gullar....................................................................14

UNIDADE IV – Questionamento do horizonte de expectativa...................................15

Produção do jornal..........................................................................................................6

UNIDADE V – Ampliação do horizonte de expectativa...............................................16

Conto: “Rush” de André Sant’Anna.............................................................................17

Livro: “Febepá 1” de Stanislaw Ponte Preta...............................................................17

Livro: ”Cadeiras proibidas” de Ignácio Loyola Brandão.......................................... 17

Livro: “Zero” de Ignácio de Loyola Brandão...............................................................17

AVALIAÇÃO....................................................................................................................18

REFERÊNCIA..................................................................................................................18

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APRESENTAÇÃO

A presente Unidade Didática propõe atividades que serão desenvolvidas ao longo

do terceiro período do PDE. A metodologia escolhida foi o Método Recepcional

desenvolvido pelas autoras Bordini e Aguiar (1993), cuja base teórica pauta-se na

Estética da Recepção. Esse método é dividido em cinco etapas que serão desenvolvidas

ao longo dessa proposta. O público-alvo para aplicação dessa proposta metodologia será

a segunda série do Ensino Médio, período matutino, do Colégio Estadual Cecília Meireles

Ensino Médio e Normal, localizado no município de Sertaneja.

Vários estudos teóricos comprovam a resistência dos alunos adolescentes com

relação à leitura prazerosa, e ainda convivemos num país com alto índice de

analfabetismo, tornando pertinente à necessidade do professor buscar alternativas

metodológicas que priorizem as experiências vividas pelos alunos, e promova sua auto-

valorização como indivíduo. Conforme ressalta Paulo Freire (2006), o indivíduo só

constrói e avança a partir do que ele já domina.

Portanto, a partir os murmurinhos dos cantos da sala de aula, optamos por

atividades com letras de músicas para construção do conhecimento. Letras que

desenvolvem a sensibilidade crítica e a criatividade. Letras que marcaram decisivos

momentos históricos, como a Música Popular Brasileira durante a Ditadura Militar.

“Caminhando contra o vento” em épocas repressivas, promovendo anseios de liberdade

entre os jovens que mudariam futuramente as estruturas políticas, econômicas e sociais

do país.

A música sempre foi a expressão da arte. Jovens músicos e entusiastas brasileiros

compunham canções de protesto que ganharam espaço. Caetano Veloso e Chico

Buarque compunham letras que tratavam dos temas perturbadores da época, ora de

forma explícita ora de maneira velada por meio de metáforas. A esfera da cultura era vista

como ameaça à ordem vigente, jovens subversivos e comunistas, assim denominados,

servia do campo da cultura com suas composições de qualidade lírica, para denunciar os

abusos de repressão e de poder. Além de compositores eram porta-vozes de um tempo

com dilemas da sua geração.

Pautada nas cinco etapas do Método Recepcional, de Bordini e Aguiar (1993) e

nas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Estado do Paraná,(2008) nosso

objetivo nesta Unidade Didática é analisar poemas comparando com letras de músicas da

MPB, evidenciando o contexto repressivo da Ditadura Militar no Brasil.

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As cinco etapas do Método Recepcional a serem desenvolvidas serão:

determinação do horizonte de expectativas; atendimento do horizonte de expectativas;

ruptura do horizonte de expectativas; questionamento do horizonte de expectativas e

ampliação do horizonte de expectativas. Cada qual correspondendo a um capítulo dessa

Unidade Didática.

UNIDADE I

DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta etapa, conforme o Método Recepcional de Bordini & Aguiar (1993) será feito

atividades dialogadas em sala de aula para detectarmos os horizontes de expectativas.

São questionamentos que tratararão dos seus gostos, estilo de vida, preferências quanto

ao trabalho e ao lazer. Para iniciarmos este diálogo com os educandos será questionado

pelo professor:

“Vocês sabiam que a música é um gênero textual, ou seja, ela ganha uma melodia, mas

sua letra pode ser pensada como texto?”.

“Vocês já observaram como temos gostos musicais diferentes uns dos outros?”,

“O que vocês, aqui da sala, ouvem no rádio ou no celular?”,

“Se eu pedisse para vocês cantarem um trecho de uma música do gosto de vocês, vocês

cantariam?”

Após os questionamentos será confeccionado um painel musical com estilos

preferidos dos alunos e elaborado um ranking das músicas mais tocadas nas rádios de

maiores audiências. Dividir a sala em dois grandes grupos. Um grupo ficará responsável

pelos estilos preferidos, o outro grupo fará um outro painel com o ranking das músicas

mais tocadas. Logo após a confecção do painel haverá exposição dos resultados obtidos

pelas equipes.

“Os estilos mais citados apareceram no ranking das mais tocadas?”

Este questionamento irá nortear o diálogo com a sala.

A próxima atividade será dividir a sala em pequenos grupos que tenham as

mesmas afinidades musicais e solicitar que tragam para a próxima aula uma música que

será ouvida por todos com uma pequena análise da letra da música selecionada pelo

grupo.

A música será inserida de maneira prazerosa, conforme o Método

Recepcional,(1993) a partir do horizonte de expectativas dos nossos alunos. O professor,

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como mediador, também trará uma música a ser apresentada com uma pequena análise.

A música selecionada pelo professor poderá ser “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso.

Segue a letra:

Alegria, alegria

Composição: Caetano Veloso

Caminhando contra o vento Sem lenço, sem documento No sol de quase dezembro Eu vou O sol se reparte em crimes, Espaçonaves, guerrilhas Em cardinales bonitas Eu vou Em caras de presidentes Em grandes beijos de amor Em dentes, pernas, bandeiras Bomba e brigitte bardot O sol nas bancas de revista Me enche de alegria e preguiça Quem lê tanta notícia Eu vou Por entre fotos e nomes Os olhos cheios de cores O peito cheio de amores. Amores vãos Eu vou Por que não, por que não Ela pensa em casamento

E eu nunca mais fui à escola Sem lenço, sem documento, Eu vou Eu tomo uma coca-cola Ela pensa em casamento E uma canção me consola Eu vou Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil Sem fome sem telefone No coração do brasil Ela nem sabe até pensei Em cantar na televisão O sol é tão bonito Eu vou Sem lenço, sem documento Nada no bolso ou nas mãos Eu quero seguir vivendo, amor Eu vou Por que não, por que não..

Disponível em www.vagalume.com.br

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A sugestão dessa música justifica-se pela intertextualidade a vários assuntos

da época. É como se fosse uma composição cinematográfica onde as imagens se

compõem. Analisando os seguintes versos: o sol se reparte em crimes/

espaçonaves guerrilhas/ em Cardinales bonitas. A palavra sol era um jornal da

época, espaçonaves se refere à fase áurea dos norte-americanos, a palavra

“guerrilha” se refere a Ernesto Che Guevara (1928 a 1967), herói da revolução

cubana que preparava os países latino–americanos para a arrancada socialista.

Cardinales se refere à cantora e atriz italiana Cláudia Cardinale (1939), estrela da

época. E Brigitte Bardot uma espécie de Marilyn Monroe (1926 a 1962). A música é

um protesto misturado a uma combinação de imagens cinematográficas para driblar

a censura da época.

UNIDADE II

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Conforme Bordini e Aguiar (1993), essa etapa consiste em levar ao aluno

aquilo que identificamos na primeira etapa como sendo seu gosto musical ou

literário. O que ouvem no rádio e os downloads que realizam pelos meios virtuais

indicarão qual a cultura musical da sala de aula. É a partir daí que se inicia o diálogo

de leitura com o aluno. O atendimento é o convite às leituras seguintes que se

concretizarão nas etapas.

Após ouvir as músicas apresentadas e analisadas pelos alunos, será

levantado os seguintes questionamentos: : “Sabem em quais circunstâncias o autor

escreveu esta música?”, “A música faz sucesso pelo ritmo ou pela qualidade da

letra?”, “Esta é uma música que poderá ser considerada importante para a geração

de vocês no futuro? Por quê?”.

Será importante ressaltar que somos reflexo do que lemos e ouvimos,

porque é assim que formamos o nosso pensamento. Portanto, levar o educando a

pensar que ele deve e pode fazer escolhas e que nestas escolhas se firmará sua

verdade ao interpretar a sociedade.

Após apresentação dos grupos da atividade com músicas, inclusive a

apresentação do professor de Alegria, alegria, de Caetano Veloso, a motivação deve

então encaminhar-se à exibição do filme “O que é isso, companheiro?”(1997), de

autoria de Fernando Gabeira, cuja adaptação para os cinema foi feita pelo diretor

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Bruno Barreto e está disponível em

http://www.interfilmes.com/filme_14060_o.que.e.isso.companheiro..html .

Sinopse do filme O que é isso, companheiro?

Em 1964, um golpe militar derruba o governo democrático brasileiro e,

após alguns anos de manifestações políticas, é promulgado em dezembro de 1968 o

Ato Constitucional nº. 5, que nada mais era que o golpe dentro do golpe, pois

acabava com a liberdade de imprensa e os direitos civis. Neste período vários

estudantes abraçam a luta armada, entrando na clandestinidade, e em 1969

militantes do MR-8 elaboram um plano para seqüestrar o embaixador dos Estados

Unidos (Alan Arkin) para trocá-lo por prisioneiros políticos, que eram torturados nos

porões da ditadura.

Após a exibição do filme O que é isso, companheiro?(1997), do diretor

Bruno Barreto, os alunos serão conduzidos ao laboratório de informática para que,

em grupos, selecionem cinco imagens da ditadura militar e. em seguida, o professor

pedirá para os alunos compararem a sequência de imagens à ideologia do filme.

Feitas as comparações responderão e discutirão às seguintes questões:

1. Caso você vivesse no período ditatorial, de que lado você ficaria?

2. Os guerrilheiros podem ser considerados bandidos?

3. Ficar do lado da ditadura, representaria concordar com o quê?

4. Por que eles escolheram um embaixador? O que esta figura representa?

5. O país representado pelo embaixador traz qual ideologia?

Após o tempo determinado pelo professor, cada grupo apresentará as

respostas para a turma.

Através da TV multimídia ouviremos a apresentação da música Pra não

dizer que falei das flores, de Geraldo Vandré, que se tornou o hino da ditadura, esta

canção representou o desejo de liberdade do povo. Ela foi apresentada no III

Festival Internacional da Canção, (FIC) em 1967 e classificada em segundo lugar. A

canção que também é conhecida como Caminhando foi aplaudida por 20 mil

pessoas no Ginásio do Maracanãzinho localizado na cidade do Rio de Janeiro e a

partir desta data a canção foi proibida durante anos.

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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

Composição: Geraldo Vandré

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais, braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas, campos, construções.

Caminhando e cantando e seguindo a canção.

[Refrão]:

Vem, vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Pelos campos a fome em grandes plantações

Pelas ruas marchando indecisos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores vencendo o canhão

( refrão)

Há soldados armados, amados ou não

Quase todos perdidos de arma na mão

Nos quartéis lhes ensinam a antiga lição

De morrer pela pátria e viver sem razão

Disponível em: http://www.vagalume.com.br/charlie-brown-jr/pra-nao-dizer-que-eu-

nao-falei-das-flores.html#ixzz1PMhe

Após ouvirem a música Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré,

os alunos assistirão fragmentos do documentário “Uma noite em 67” dos diretores

Renato Terra e Ricardo Calil. A atividade será realizada através da TV Multimídia e

está disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=g9bAMJxeuSU . O vídeo

apresenta cantores da época da ditadura brasileira que são entrevistados. São

relatos sobre como a palavra ganhava sentido subjetivo para driblar a censura. Após

a apresentação faremos uma discussão apresentando os pontos positivos e

negativos da censura que serão expostos em um painel.

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UNIDADE III

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

De acordo com Bordini e Aguiar (1993), a ruptura do horizonte de

expectativas é momento para apresentar para a sala de aula leituras que possam

sugerir incertezas a vivências arraigadas até então.

Portanto, o professor iniciará essa etapa com a leitura do poema “Vandré”,

de Mauro Luís Iasi .

Nota para o professor

É importante falar da biografia do autor do texto.

Mauro Luís Iasi, nasceu em 1960, é formado em História pela PUC, SP,

professor titular de Sociologia Geral da Umesp, Doutor em Sociologia pela

FFLCH USP, educador popular do Núcleo de Educação popular – 13 de

Maio e militante do PCB. Autor de vários livros, entre eles, O dilema de

Hamlet, o ser e o não ser da consciência:; As metamorfoses do

Consciência de classe. Seu primeiro livro de poesia – Aula de Vôo e

outros poemas.

IASI, Mauro Luis. Meta amor fases: coletânea de poemas. 1ª. ed. São

Paulo: Expressão Popular, 2008.p.192.

VANDRÉ

De todas as mortes que carrego,

Marcadas em minha alma feita cicatrizes,

De todos os crimes da ditadura

Um me dói de forma especial.

Não é a multidão de mortos

Com seus corpos dilacerados.

Não são os ossos perdidos

Que buscam por seus nomes.

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Não é o tiro

O choque

O murro.

É o poema que não foi feito,

A música inacabada,

Aquela melodia presa na mente

Soterrada pelo medo.

Os dedos inúteis longe das cordas,

O acorde que nunca foi desperto,

Os olhos secos das lágrimas justas,

A voz calada.

Que requinte mais perverso de crueldade

Matar alguém e deixar seu corpo vivo

Como testemunha da morte inacabada.

IASI, Mauro Luís. Meta amor fases, Editora Expressão Popular, Ed. 1. São Paulo

2008, p.99.

Nessa aula expositiva serão apresentadas informações como: a relação

intertextual entre o contexto da ditadura e o poema. Nem sempre se pôde cantar o

que se queria no Brasil. De 1964 a 1984 nomes como Vandré foram obrigados a

calar suas opiniões e sentimentos pelo Brasil. Por todos os cantos do território

chegaram ecos de proibições que limitaram a liberdade de expressão da população.

As músicas, peças teatrais e o cinema, por serem espelho da cultura, foram vigiados

pelos censores. Não se podia mais escrever letras e versos com autonomia de

pensamento e alguns intelectuais e artistas chegaram a ser exilados no exterior

como é o caso do escritor brasileiro Edson Gabriel Garcia que escreveu um livro

intitulado Memórias da Guerrilha Imaginada (1994), ele viveu no período da ditadura

e narra o contexto da época através da personagem Rubinho.

Sinopse do livro Memórias da Guerrilha Imaginada (1994), do autor

Edson Gabriel Garcia.

O enredo trata do ano de 1970, além de estar encravado entre uma década

e outra, tem algumas peculiaridades interessantes. É o ano em que a seleção

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brasileira de futebol, a “pátria em chuteiras”, consegue o, maior feito nesse esporte,

sagrando-se tri campeã mundial, tendo à frente Pelé. Por outro lado, foi um ano em

que grupos de guerrilha urbana impuseram derrotas ao regime militar seqüestrando

embaixadores e exigindo em troca da sua libertação a liberdade e o exílio político a

brasileiros presos.

Ao lado dos generais, Delfim Neto, Leila Diniz, Caetano, Gil, Chico Buarque,

Jovem Guarda, Itaipu, entre outros, eram notícia.

Tudo que o jovem Rubinho queria quando deixou, nesse cenário, a pequena

nova Esperança rumo à cidade era uma vida melhor. Mas acabou ganhando

também consciência política ao descobrir um Brasil que ainda não conhecia a brutal

repressão da ditadura militar. Graças a Eva, uma simpatizante da guerrilha por quem

se apaixonou loucamente.

A leitura desta obra será realizada como atividade extra classe, os alunos

farão a leitura individualmente. Após a leitura, a sala será dividida em grupos que

selecionarão um capítulo para posterior dramatização.

A próxima atividade será a apresentação do poema de Ferreira Gullar,

Agosto de 1964. Realizada a leitura passaremos para o próximo passo que será a

organização de um grande debate do livro Memórias da Guerrilha Imaginada (1994)

juntamente com os poemas de Iasi e Gullar verificando o estilo particular de cada

autor e a temática pertinente.

Agosto 1964

Ferreira Gullar

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,

mercados, butiques

viajo

num ônibus Estada de Ferro – Leblon

Volto do trabalho, a noite em meio,

fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,

relógio de lilases, concretismo,

neoconcretismo, ficções de juventude, adeus,

que a vida

eu a compor à vista aos donos do mundo.

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Ao peso dos impostos, o verso sufoca,

a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

Digo adeus à ilusão

Mas não ao mundo. Mas não à vida,

Meu reduto e meu reino.

Do salário injusto,

da punição injusta,

da humilhação, da tortura,

do terror,

retiramos algo e com ele construímos um artefato

um poema

uma bandeira.

GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991, p.170.

Para complementar esta etapa o professor irá apresentar informações

históricas do país que comprovem o regime de não-democracia da época. Por

exemplo, “o que foi o AI-5?”, “quais as consequências dos Atos Institucionais?”,

“quem os concretizava?”, “quais eram os principais alvos?”. Estas informações serão

complementadas com duas pessoas da comunidade, que vivenciaram o regime

militar. Serão convidados para uma mesa redonda um ex - militar e um ex -

professor de História, assim poderemos verificar pensamentos diferenciadas dentro

das suas profissões, pois um está ligado à força física e a ordem, enquanto que o

outro à força intelectual. Após as informações dadas pelo professor e pelos

convidados os alunos se dividirão em grupos e farão perguntas aos convidados.

UNIDADEIV:

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Conforme o Método Recepcional (1993), o questionamento do horizonte de

expectativas tem como objetivo confrontar o conhecimento trazido pelo aluno e o

conhecimento apresentado pelo professor a este primeiro na terceira etapa. O

professor irá propor como atividade um quadro comparativo entre os diferentes

gêneros textuais, poemas. Músicas e a narrativa Memórias da Guerrilha

Imaginada.(1996) Esta atividade será feita em grupos e no papel craft. Depois de

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concluída será discutida em sala de aula para analisarmos diferenças e

semelhanças entre as comparações. A segunda atividade desta etapa será a

produção de manchetes de jornais sobre o tema Ditadura. Nesta produção, os

alunos deverão tentar driblar a censura, como os cantores da época faziam. . As

manchetes de jornais serão analisadas por dois grupos que funcionarão como

censores apresentando os resultados à turma oralmente.

Ao final da atividade o professor proporá questionamento acerca da

“Repressão implícita na sociedade contemporânea brasileira”O professor levará

para os alunos uma caixinha de perguntas. Um representante do grupo retirará uma

pergunta da caixinha que deverá ser respondida no caderno e exposta para a turma

que poderá fazer inferências às respostas dadas.

As questões serão:

1. As eleições, no Brasil, são livres? E por que as pessoas vendem votos por

camisetas, somos realmente livres para pensar?

2. Por que grupos de pessoas discriminam outros grupos por considerá-los

diferentes e de menor valor social? Por exemplo, homossexuais e negros são

espancados na rua, frequentemente. Esta não seria uma cultura de violência?

3. O que é liberdade para vocês?

4. A União Nacional Estudantil – UNE, foi um movimento social de jovens que

foram às ruas para pedir o fim da ditadura. Vocês conhecem alguma coisa

sobre a UNE? O que aprendemos sobre esta unidade estudantil em nossas

leituras?

5. Muitos brasileiros foram exilados durante a ditadura, ou seja, foram obrigados

a morar no exterior para não mais influenciar o pensamento da população

brasileira. Por que os intelectuais não podiam permanecer aqui em tempos de

censura?

6. Se fosse possível, qual personagem histórico perseguido pela ditadura você

gostaria de conhecer pessoalmente?

Para finalização desta etapa será produzido um jornal texto pelo grupo que será

entregue ao professor sobre o tema debatido: “Repressão implícita na sociedade

contemporânea brasileira”. O jornal será composto pelos seguintes elementos:

charges, crônicas, poesias, notícias, fotos, cruzadas, piadas editorial e entrevistas.

Cada grupo será responsável pela edição de dois elementos jornalísticos. A

montagem do jornal será feita no laboratório de informática da escola. As cópias dos

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jornais ficarão disponíveis na biblioteca da escola, sala dos professores e no edital

do aluno podendo também ser postada no site da escola.

UNIDADE V

AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta última etapa, conforme afirmam Bordini & Aguiar (1993), os alunos

perceberão que os textos literários não são apenas tarefas da vida escolar, mas

estarão conscientes das aquisições feitas e das alterações vividas por meio da

experiência com a Literatura, assim sendo, eles buscarão outras leituras, isso

ampliará ainda mais os seus horizontes. A partir dessa etapa, o processo se reinicia

com uma nova aplicação do método.

A leitura do conto Rush, de André Sant’ Anna (2003), será o texto prioritário

para a finalização desta etapa, no entanto segue sugestões de outra leituras.

1- SANT’ANNA, André. Rush (2003),. Geração 90: os transgressores, os melhores

contistas brasileiros surgidos no final do século XX. Trata-se de uma história onde o

narrador é personagem e também responsável por toda a ação. A ação que se

desenvolve de maneira brutal, pois vemos o taxista reproduzir autoritariamente todos

os clichês sociais estratificados pela ótica de seu preconceito, uma vez que tudo

deturpa pois descontextualiza os fatos com um flash-back constante referente à

época da ditadura.

2-PONTE PRETA, Stanislaw. Febeapá, 1° Festival de Besteiras que Assola o País.

O livro é uma reação cômica, irreverente, à mediocridade política da época, que

embora tenha sido lançado em 1966, adapta-se muito bem aos dias de hoje.

3- BRANDÃO, Loyola Ignácio. Cadeiras proibidas. Foi escrito em plena vigência da

Ditadura Militar, o que justificaria em parte a sua intenção intervencionista e

combativa que, não raras vezes, secundou as preocupações de acabamento, dando

aos contos um tom panfletário.

4- BRANDÃO, Loyola Ignácio. Zero. o romance Zero (Ignácio de Loyola Brandão)

apresenta a problematização da política brasileira, no período compreendido entre 1960 e

1970, durante o auge da militarização do Brasil, cuja situação caótica de tensão política e

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fragmentação social. A linguagem, predominantemente coloquial, cheia de humor

negro, aproxima o leitor, colocando em relevo a perspectiva popular característica na

narrativa de Loyola.

AVALIAÇÃO

A aplicação desse método obterá sucesso e eficácia desde que nossos

estudantes sintam-se motivados a ir além, ultrapassem o seu horizonte de

expectativas ao encontro de novas leituras, as quais contribuirão para que a visão

de mundo do aluno possa ser ampliada. Também deverão estar aptos para analisar

os textos literários lendo nas entrelinhas, comparando-os com o mundo real e

questionando as situações vividas pelos personagens com senso crítico.

REFERÊNCIAS AGUIAR, Vera Teixeira; BORDINI, Maria da Glória. Literatura e Formação do

Leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola

Editorial, 2003.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 3ª. ed. São Paulo: Martins Fontes,

2000.

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<http://www.interfilmes.com>. Acessado em 08/08/2011

BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras Proibidas. São Paulo: Global Editora, ed.

10ª, 2010.

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CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. 8ª.

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IASI, Mauro Luis. Meta amor fases: coletânea de poemas. 1ª. ed. São Paulo:

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JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação a teoria literária.

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MOTTA, Nelson. Noites Tropicais. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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