UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE … · problema de saúde pública, e o Brasil...

68
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS BELARMINO EUGÊNIO LOPES NETO AVALIAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA FORTALEZA-CEARÁ 2012

Transcript of UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE … · problema de saúde pública, e o Brasil...

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA FACULDADE DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

BELARMINO EUGÊNIO LOPES NETO

AVALIAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

FORTALEZA-CEARÁ 2012

BELARMINO EUGÊNIO LOPES NETO

AVALIAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Veterinárias. Área de Concentração: Reprodução e Sanidade Animal. Linha de Pesquisa: Reprodução e sanidade de carnívoros, onívoros, herbívoros e aves. Orientadora: Profa. Dra. Diana Célia Sousa Nunes Pinheiro.

FORTALEZA-CEARÁ 2012

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará

Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho

L864a Lopes Neto, Belarmino Eugênio

Avaliação do estresse oxidativo na leishmaniose visceral canina / Belarmino Eugênio Lopes Neto. — 2012.

00 f. : enc. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Ceará,

Faculdade de Veterinária, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Fortaleza, 2012.

Área de Concentração: Reprodução e Sanidade Animal. Orientação: Profa. Dra. Diana Célia Sousa Nunes Pinheiro.

1. Leishmaniose visceral canina. 2. Estresse oxidativo. 3. Catalase. 4. Glutationa peroxidade. 5. Biomarcador. I. Título.

CDD: 616.9364

BELARMINO EUGÊNIO LOPES NETO

AVALIAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA LEISHMANIOSE CANINA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Veterinárias.

Aprovado em: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________ Profa. Dra. Diana Célia Sousa Nunes Pinheiro

Universidade Estadual do Ceará

Orientadora

_________________________________ __________________________________ Profa. Dra. Erika Freitas Mota Profa. Dra. Virgínia Claudia Carneiro Girão

Universidade Federal do Ceará Universidade Federal do Ceará

Examinadora Examinadora

________________________________ Dr. José Claudio Carneiro de Freitas

Prefeitura Municipal de Fortaleza

Examinador

Aos meus pais,

Francisco Barroso Pinto e Maria Celina,

Dedico.

AGRADECIMENTOS

À Deus, pai supremo e fidedigno, por ter me concedido o dom da vida e da

sabedoria, me guiando e dando forças em mais esta etapa da minha vida.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo

apoio financeiro concedido durante os dois anos de Mestrado.

À Profa. Dra. Diana Célia Sousa Nunes Pinheiro, por sempre ter acreditado no

meu potencial, por sua inestimável orientação, colaboração, compreensão, incentivo e

acima de tudo amizade, meus sinceros agradecimentos.

À Profa. Dra. Romélia Gonçalves Pinheiro pela colaboração junto ao Laboratório

de Pesquisa em Hemoglobinopatias Genéticas das Doenças da UFC, permitindo a

realização de etapas fundamentais na execução deste trabalho.

Aos colegas do Laboratório de Imunologia e Bioquímica de Animais (LIBA), em

especial Glauco Jonas Lemos Santos, Adam Leal Lima e Tiago Cunha, cujas ajudas

foram de fundamental importância para a realização desse trabalho.

A todos os funcionários da Faculdade de Veterinária (FAVET), em especial aos

professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV) da

UECE, pelos conhecimentos e experiências compartilhados.

Aos meus pais, Francisco Barroso Pinto e Maria Celina Lopes Barroso, que são

base da minha vida, por todo amor, carinho e dedicação, e por estarem sempre ao meu

lado, me apoiando em qualquer situação.

A minha noiva, Larissa Silva Barros, que teve paciência e me incentivou a sempre

seguir este caminho de dedicação e por todo o amor que existe nós.

RESUMO

A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma doença que pode comprometer

diversos órgãos e tecidos. Estudos recentes têm sugerido a participação de espécies

reativas do oxigênio (ERO) na patogenia de diversas doenças infecciosas e parasitárias

em cães, incluindo a LVC. Neste trabalho objetivou-se avaliar o papel do estresse

oxidativo na LVC. Para tanto, foram utilizados 27 cães de ambos os sexos, com peso,

idade e raças variadas, oriundos do Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza e de

um canil particular. Os animais foram considerados com leishmaniose quando

apresentaram título ≥ 1:40 para Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) e Ensaio

Imunoenzimático (ELISA), associado a três ou mais sinais característicos da doença. Os

animais foram divididos em dois grupos, Grupo A (n=12), animais sadios e o Grupo B

(n=15), animais positivos para LVC. Amostras de sangue foram coletadas por

venopunção jugular, distribuídas em tubos contendo anticoagulante (EDTA) e tubos

com gel de separação, para determinação dos parâmetros leucocitários, hematológicos,

bioquímicos séricos e as atividades das enzimas glutationa peroxidase (GPx; mU/mg

Hb) e catalase (CAT; mU/mg Hb) eritrocitárias. Os resultados foram expressos em

média e desvio padrão e a análise dos dados foi realizada através do teste t de Student

sendo as diferenças entre os grupos, consideradas significativas quando p < 0,05.

Também foi aplicado o teste de correlação de Pearson entre a variável GPx com He e

Hb e entre variável CAT com He e Hb. O protocolo experimental foi aprovado pelo

CEUA/UECE, n° 11516675-0/65. Dentre os parâmetros bioquímicos séricos, somente

as proteínas totais e a fosfatase alcalina encontravam-se elevadas no Grupo B. Para os

achados hematológicos, a contagem total de hemácia (He; p<0,001), hematócrito (Ht; p

< 0,05) e hemoglobina (Hb; p < 0,01) foi menor no Grupo B. As atividades de CAT e

GPx apresentaram-se inferiores (p < 0,001) no grupo B (189,358 ± 90,385; 3609,659 ±

1569,078) em relação ao grupo A (326,671±104,528; 5055,622±1569,078),

respectivamente. Houve correlação positiva entre hemácias e CAT, contudo, não foi

significativa. O estresse oxidativo está estabelecido na LC, além disso, a atividade da

enzima GPx e CAT pode ser utilizado como marcador da patogenia da doença associada

a outros resultados.

Palavras-chave: Estresse oxidativo, Catalase, Glutationa peroxidade, hemácias, leishmaniose visceral canina.

ABSTRACT

Canine visceral leishmaniasis (CVL) is a disease which affects many tissues and organs. Recent

studies suggested the involvement of reactive oxygen species (ROS) in the pathogenesis of

various infectious and parasitic diseases in dogs, including CVL. The aim of this work was to

evaluate the role of oxidative stress in the LVC. Therefore, we used 27 dogs, both sexes, weight,

age and varied breeds, from the Fortaleza Center of Zoonosis Control and also from a private

kennel. The animals were considered when presented with leishmaniasis titer ≥ 1:40 for

Immunofluorescence Assay (IFA) and enzyme linked immunosorbent assay (ELISA),

associated with three or more characteristic signs of the disease. The animals were divided into

two groups, Group A (n = 12), healthy animals, and Group B (n = 15), animals positive for

CVL. Blood samples were collected by jugular venipuncture, distributed into tubes containing

anticoagulant (EDTA) or separating gel for determination of leukocyte parameters,

hematological, serum biochemical and glutathione peroxidase (GPx, mU / mg Hb) and catalase

(CAT; mU/mg Hb) erythrocyte enzymes activities. Results were expressed as mean and

standard deviation. Data analysis was performed using the Student t test and the differences

between groups considered significant at p <0.05. It was also used Pearson correlation test

between the variable GPx with He and Hb and between variable CAT with He and Hb. The

experimental protocol was approved by CEUA / UECE, No. 11516675-0/65. Among the serum

biochemical parameters, only the total protein and alkaline phosphatase were higher in Group B.

Concerning the hematological findings, the total count of red blood cells (RBC, p <0.001),

hematocrit (Ht, p <0.05) and hemoglobin (Hb, p <0.01) were lower in Group B. The activities of

CAT and GPx showed up lower (p <0.001) in group B (189.358 ± 90.385; 3609.659 ±

1569.078) than in group A (326.671 ± 104.528, 5055.622 ± 1569.078) respectively. A positive

correlation between RBC and CAT, however, was not significant. These data suggest that

oxidative stress is laid on the CVL, and also that GPx and CAT enzyme can be used as a marker

of pathogenesis of disease associated with other results.

Keywords: Oxidative stress, catalase, glutathione peroxidase, erythrocytes, canine visceral

leishmaniasis.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Formas amastigotas (a) e promastigotas (b) de Leishmania........................... 17

Figura 2. Fêmea de flebotomíneo ingurgitada............................................................. 17

Figura 3. Cão soropositivo para Leishmania chagasi sintomático apresentando severa emaciação.......................................................................................................... 22

Figura 4. Cão soropositivo para Leishmania chagasi apresentando Ceratoconjuntivite Seca............................................................................................................................ 22

Figura 5. Cão soropositivo para Leishmania chagasi apresentando lesão no focinho............. 22

Figura 6. Cão soropositivo para Leishmania chagasi apresentado onicogrifose...................... 23

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Estudos que investigaram o estresse oxidativo associado ao estado fisiológico canino.

34

Tabela 2. Estudos que investigaram o estresse oxidativo associado às infecções caninas. 35

CAPÍTULO I

Tabela 1. Parâmetros hematológicos e bioquímicos de cães saudáveis e com LVC. 47

Tabela 2. Parâmetros hematológicos e marcadores antioxidantes de cães saudáveis e de cães com LVC.

47

10

LISTA DE ABREVIATURAS

CAT Catalase

CAnT Capacidade antioxidante total

CDV Vírus da cinomose canina

CCZ Centro de Controle de Zoonoses

CD4+ Células T auxiliares

CD8+ Células T citotóxicas

CIC Complexos Imunes Circulantes

CPV Vírus da parvovirose canina

CREA Creatinina

CVL Canine Visceral Leishmaniasis

Cu+ Cobre

EAT Estado antioxidante total

EDTA Anticoagulante

ELISA Ácido etilenodiaminotetracético

ERO Espécie reativa ao oxigênio

ERN Espécie reativa ao nitrogênio

FA Fosfatase alcalina

Fe2+ Ferro

GPx Glutationa peroxidase

GSH Glutationa reduzida

GSH-Rd Glutationa-redutase

GSSH Glutationa oxidada

Hb Hemoglobina

HNO2 Ácido nitroso

Ht Hematócrito

HO•2- Radical hidroperoxil

H2O2 Peróxido de hidrogênio

IFN-γ Interferon gama

IgG Imunoglobulina G

IgM Imunoglobulina M

11

IL-2 Interleucina-2

IL-4 Interleucina-4

IL-10 Interleucina-10

IL-12 Interleucina-12

LC Leishmaniose canina

LC Leishmaniose canina

LO• Radical alcoxila

LOO• Radical peroxila

LOOH Hidroperóxido

LPO Lipoperoxidação

LT Leucócitos totais

LV Leishmaniose visceral

LVC Leishmaniose visceral canina

Ml Mililitros

MPO Mieloperoxidase

nm Nanômetros

NADPH Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato

NO• Óxido nítrico

NOS Óxido nítrico sintetase

NOX NADPH oxidase

NO2− Nitritos

NO3−, Nitratos

N2O3 Óxido nitroso

O2 Oxigênio

O•2- Ânion superóxido

OCl- Hipoclorito

OH• Radical hidroxila

ONOO- Peroxinitro

ONOOH Forma protonada do peroxinitro

Prx Perorredoxinas

PT Proteínas totais

RBC Red blood cel

RIFI Reação de Imunofluorescência Indireta

RPM Rotações por minuto

12

SOD Superóxido dismutase

SRD Sem padrão de raça definida

TBARS Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico

TGO Transaminase glutâmico-oxaloacética

TGP Transaminase glutâmico-pirúvica

TNF-α Fator de necrose tumoral alfa

Trx Tioredoxina

U/L Unidades por litro

µL Microlitros

U Uréia

13

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................ 6

ABSTRACT 7

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ 8

LISTA DE TABELAS ........................................................................................... 9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................... 10

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14

2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................... 16

2.1. Leishmaniose................................................................................... 16

2.1.1 Agente etiológico, vetor e reservatório........................................ 16

2.1.2 Resposta imunológica e patogênese à infecção por Leishmania.......

18

2.1.3 Apresentações Clínicas.....................................................................

21

2.2 O estresse oxidativo................................................................................. 25

2.2.1 Oxidantes........... .............................................................................. 25

2.2.2 Antioxidantes .................................................................................. 29

2.3 Estresse oxidativo em condições fisiológicas e patológicas................... 32

3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 35

4 HIPÓTESE CIENTÍFICA ................................................................................. 36

5 OBJETIVOS ........................................................................................................ 37

6 CAPÍTULO I ....................................................................................................... 38

8 CONCLUSÕES ................................................................................................... 55

9 PERSPECTIVAS ................................................................................................ 56

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 57

ANEXO 1................................................................................................................. 65

ANEXO 2................................................................................................................. 66

14

1. INTRODUÇÃO

As leishmanioses são zoonoses causadas pela infecção de um dos diferentes

protozoários das espécies do gênero Leishmania spp. A transmissão do parasito ocorre

através da picada de insetos dípteros, da família Psychodidae, gênero Phlebotomus e

Lutzomyia (GONTIJO; MELO, 2004). O complexo das leishmanioses representa grave

problema de saúde pública, e o Brasil está entre os países da América Latina que

apresenta maior número de casos humanos, cerca de 90% dos casos anuais

(MONTEIRO et al., 2005).

Leishmania spp. possui ciclo biológico heteroxeno, desenvolvendo-se no

aparelho digestivo do inseto flebotomíneo fêmea, atravessando estágios morfológicos

de diferenciação até se transformar na forma promastigota metacíclica infectante

(CAMARGO-NEVES et al., 2006). Após a picada do inseto infectado, o protozoário

continua seu desenvolvimento no hospedeiro mamífero no qual a forma promastigota

dentro do fagossomo transforma-se em amastigota, que persiste e prolifera dentro de

várias células do sistema imune (MORDASKI et al., 2009; REILING et al., 2010;

KAYE; SCOTT, 2011).

As diferentes espécies de Leishmania spp. são responsáveis por um amplo

espectro de doenças que acometem os mamíferos. Vale salientar que, embora o homem

possa atuar tanto como hospedeiro quanto reservatório do agente, outros mamíferos

podem atuar da mesma forma, incluindo os canídeos, roedores e marsupiais, sendo estes

apontados como responsáveis pela manutenção por longo prazo da Leishmania na

natureza. Diferente dos demais hospedeiros que estão localizados nas regiões rurais ou

silvestres, o cão se encontra adaptado às zonas urbanas, o que lhe é atribuído como um

dos principais responsáveis pela manutenção da cadeia epidemiológica urbana da

leishmaniose (RIBEIRO, 2007).

A leishmaniose visceral canina (LVC) é caracterizada por diferentes

apresentações, desde uma doença não aparente até casos severos, podendo levar o cão à

morte (BRASIL, 2006). Estes diferentes quadros clínicos vem sendo atribuídos à

resposta imune do cão e à cepa do parasito inoculado pela picada do vetor (SILVA,

2007). Portanto, a participação do sistema imune é determinante para a progressão ou

resolução da infecção (FREITAS; PINHEIRO, 2010).

Leishmania spp. são parasitos intracelulares obrigatórios e infectam células

fagocíticas as quais utilizam mecanismos químicos e celulares de resposta rápida para

controlar o crescimento ou eliminação do agente invasor (ABBAS, 2008). A eliminação

15

do material fagocitado pode ocorrer por mecanismos oxidativos e não oxidativos. O

mecanismo oxidativo é gerado através de processos que utilizam um elevado consumo

de oxigênio plasmático (explosão respiratória), sendo produzido quando um complexo

enzimático, NADPH oxidase (NOX), na membrana dos fagócitos é formado, resultando

na geração de produtos microbicidas, como intermediários reativos do oxigênio, do

nitrogênio e hipoaletos produzidos pela mieloperoxidase (SEGAL, 2005). Contudo, o

acúmulo dos produtos microbicidas tem como contrapartida a lesão de biomoléculas e,

se não controlados pelo sistema antioxidante tornam-se excessivos desenvolvendo-se o

estresse oxidativo. Nesse contexto, a leishmaniose canina vem sendo estudada quanto à

participação do status antioxidativo enzimático e não enzimático (BILDIK et al., 2004;

BRITTI et al., 2008).

16

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Leishmaniose

As leishmanioses são zoonoses que acometem o homem quando ele entra em

contato com o ciclo de transmissão do parasito (BRASIL, 2006). Existem várias formas

da apresentação, quais sejam as formas tegumentar, cutânea e mucocutânea, e visceral.

A doença visceral é caracterizada por uma evolução crônica com comprometimento

sistêmico e, se não tratada, pode resultar na morte em até 90% dos casos (MAIA-

ELKHOURY et al., 2008). Além do homem, alguns mamíferos podem ser acometidos

de leishmaniose, como as raposas (Dusicyonvetuluse cerdocyonthous), os marsupiais

(Didelphis albiventris), os saguis (Callithrix penicillata), o cão (Canis lupus familiares),

o gato (Felis catus), os quais podem servir como reservatório (BRASIL, 2006;

COELHO et al., 2010).

2.1.1 Agente etiológico, vetor e reservatórios

Os agentes causadores da leishmaniose canina (LC) são protozoários

pertencentes ao Reino Protista, da família Trypanosomatidae, gênero Leishmania, e no

Brasil são encontradas diversas espécies, como Leishmania amazonensis, L. braziliensis

e L. guyanensis, responsáveis pela leishmaniose tegumentar; e L. chagasi, responsável

pela forma visceral. Embora se discuta sobre a presença de outra espécie como agente

etiológico da leishmaniose visceral canina (LVC), Leishmania (Leishmania) infantum,

estudos com base nos perfis isoenzimáticos demonstram que os dois protozoários, na

realidade, sejam um só (BRASIL, 2006).

Em seu ciclo biológico, Leishmania spp. apresenta três formas morfológicas, a

forma amastigota (Figura 1a), medindo 2 a 5 µm, de corpo oval contendo um núcleo

excêntrico e flagelo não visível, em que a forma é intracelular obrigatória, sendo

encontrada nas células do sistema fagocítico mononuclear (SFM) do hospedeiro

vertebrado, a outra é a forma promastigota (Figura 1b), medindo de 10 a 15 µm, com

um flagelo longo de até 20 µm, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e no

hospedeiro vertebrado, quando este acaba de ser picado pelo inseto flebotomíneo e a

outra forma é a paramastigota, encontrada no hospedeiro invertebrado, que possui um

flagelo mais curto e mais robusto. Estes parasitos apresentam uma estrutura

característica contendo DNA mitocondrial (cinetoplasto), estando ligada a um corpo

17

basal, que dá origem a um único flagelo (CIARAMELLA; CORONA, 2003;

CAMARGO-NEVES et al., 2006).

Figura 1. Formas amastigotas (a) e promastigotas (b) de Leishmania spp.

(Fonte: http://www.fcfrp.usp.br/dactb/Parasitologia/Arquivos/Genero_Leishmania.htm)

O vetor biológico responsável pela transmissão das formas promastigotas da

Leishmania spp. são insetos dípteros da família Psychodidae, que pertencem ao gênero

Lutzomya encontrado nas Américas. No Ceará, o único flebotomíneo até hoje apontado

como transmissor da LVC é o Lutzomya longipalpis (BRASIL, 2006).

Figura 2. Fêmea de flebotomíneo ingurgitada (Fonte: BRASIL, 2006).

18

A infecção do vetor ocorre quando a fêmea do flebotomíneo (Figura 2) ao sugar

o sangue de mamíferos infectados, ingere células do sistema imune fagocítico

parasitadas com a forma amastigota da Leishmania. No trato digestivo do flebotomíneo

ocorre o rompimento dos macrófagos infectados liberando essa forma, que se reproduz

por divisão binária e se diferencia rapidamente em promastigota, que também se

reproduz rapidamente por divisão binária para a forma paramastigota que colonizam o

esôfago e a faringe do vetor, onde ficam aderidas ao epitélio pelo flagelo e,

posteriormente, se diferencia na forma infectante promastigota metacíclica

(MORDASKI et al., 2009).

Os animais que podem se contaminar com a Leishmania spp. através da picada

do flebótomo são mamíferos selvagens, como as raposas (Dusicyonvetuluse

Cerdocyonthous) e os marsupiais (Didelphisalbiventris), além do próprio homem que

também pode ser um reservatório (BRASIL, 2006). Com o incremento do processo de

domiciliação do ciclo zoonótico de transmissão das leishmanioses, animais

sinantrópicos e domésticos tem assumido importância relevante na infecção (DANTAS-

TORRES, 2007).

O papel do cão (Canis lupus familiaris) como reservatório da Leishmania foi

relatado pela primeira vez por Nicolle, em 1908, na Tunísia, quando experimentalmente

foi comprovada a infecção deste animal. Posteriormente, em inquérito realizado naquele

país, foi comprovada a transmissão natural em cães e assim registrado o primeiro foco

de LVC no mundo. No Brasil, a primeira evidência de transmissão da LVC foi em

Abaeté (PA), como resultado dos trabalhos desenvolvidos por comissão instituída pelo

Instituto Oswaldo Cruz para a avaliação dessa problemática. Porém, apenas em 1955 é

que foi estabelecido por Deane e Deane o papel do cão como reservatório da LVC,

quando constatada a transmissão em cães residentes em zona urbana do município de

Sobral (CE), verificando-se elevada carga parasitária nesses animais. Brener, em 1957,

concluiu frente aos achados de outros autores, que o cão tinha papel fundamental na

epidemiologia da leishmaniose visceral no Brasil (CAMARGO-NEVES et al., 2006).

2.1.2Resposta imunológica e a patogênese da infecção por Leishmania spp.

A infecção por diferentes espécies de Leishmania, em grande parte, depende do

tipo de resposta imunológica que o organismo do hospedeiro irá desenvolver (KAYE;

SCOTT, 2011). Nas infecções parasitárias, o sistema imune pode controlar tanto o

19

número de parasitos presentes no organismo quanto à resistência a infecção (ABBAS,

2008).

O estabelecimento da infecção implica que o parasito tem de entrar nas células

fagocitárias, monócitos, macrófagos residentes, células dendríticas e polimorfonucleares

neutrófilos através de um processo denominado fagocitose e, uma vez no interior da

célula, resistir à ação microbicida. Imediatamente após a infecção, um processo

inflamatório local é iniciado, e nas primeiras horas pós-infecção, as primeiras células a

serem recrutadas ao local são os polimorfonucleares neutrófilos, seguidos pelos

monócitos/macrófagos dois ou três dias depois (AGA et al., 2002). Após a fagocitose do

protozoário, mecanismos intrínsecos podem ser ativados fazendo com que o parasito se

torne resistente à ação das enzimas hidrolíticas e das espécies reativas ao oxigênio

(ASSCHE et al., 2011).

A disseminação e a localização estável do parasito no organismo é um requisito

prévio para a progressão do processo patogênico e, consequente manifestação clínica da

doença. Desta forma, o elemento patogênico primário na LVC é a infecção,

sobrevivência e multiplicação do parasito no interior das células do sistema

mononuclear fagocitário (MARQUES, 2008). Depois de se multiplicarem dentro dos

macrófagos no local da infecção após a picada do inseto, os parasitos podem deixar a

pele e se disseminar para os fagócitos mononucleares do sistema reticuloendotelial,

incluindo órgãos como baço, fígado e medula óssea, levando a uma doença crônica, e às

vezes fatal (GOTO; PRIANTI, 2009).

O sistema imunológico, além de agir inicialmente através dos mecanismos inatos

de defesa, também aciona os mecanismos específicos de defesa. Os linfócitos T

desempenham função no controle da infecção, tanto diretamente, por mediarem

respostas celulares e moleculares, quanto indiretamente, na regulação e produção de

anticorpos produzidos e secretados por linfócitos B ativados especificamente (ABBAS

et al., 2008).

A sintomatologia clínica da LVC tem sido associada às alterações imunológicas

com a participação das subpopulações de Linfócitos T efetores. Estas alterações incluem

a ausência de hipersensibilidade do Tipo IV aos antígenos da Leishmania, decréscimo

de Linfócitos T no sangue periférico, ausência de produção de interferon gama (IFN-γ)

e de Interleucina-2 (IL-2) pelas células mononucleares do sangue periférico in vitro.

Além disso, altos títulos de anticorpos anti-Leishmania foram detectados em animais

sintomáticos, principalmente da classe de Imunoglobulina G (IgG) (BARBIÉRI, 2006).

20

As principais subpopulações de linfócitos T incluem os Linfócitos T CD4+ (LT

CD4+, auxiliares, Th) e os Linfócitos T CD8+ (LT CD8+, citotóxicos). Em resposta aos

antígenos protéicos dos microorganismos, LT CD4+ podem se diferenciar em células

efetoras, denominadas Th1, Th2, que produzem e secretam distintos grupos de

citocinas, além dos Linfócitos T regulatórios, Treg (MCMAHON-PRATT;

ALEXANDER, 2004; GLAICHENHAUS et al., 2011). Várias pesquisas demonstraram

a participação de células efetoras LTCD4+ com a resistência ou susceptibilidade à

infecção por Leishmania (ALEXANDER; BRYSON, 2005).

Um perfil de aparente resistência a LVC tem sido observado quando a resposta

imune celular é mediada predominantemente por Th1, através da participação das

citocinas Interferon gama (IFN-γ), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e Interleucina

2 (IL-2). Esta resistência é atribuída à ativação dos macrófagos pelas citocinas, IFN-γ e

TNF-α, capazes de ativar mecanismos que envolvem a participação do óxido nítrico

para eliminar formas amastigotas intracelulares (BARBIÉRI, 2006). Por outro lado, tem

sido relatada a participação de Treg que medeiam respostas supressoras através das

citocinas Interleucina 10 (IL-10) e fator de crescimento de transformação beta (TGF-β),

interferindo no controle da infecção por L. infantum em humanos e camundongos

(GLAICHENHAUS et al., 2011). A participação de Th2, através das citocinas

Interleucina 4 (IL-4) e IL-10, neste processo vem sendo relacionada a doença

progressiva, pois estão implicados mecanismos que elevam a produção de anticorpos

específicos anti-Leishmania. LTCD8+ podem também estar envolvidos no processo de

resistência ao parasito (KAYE; SCOTT, 2011).

Alguns estudos demonstraram que a formação das diferentes subclasses de

Imunoglobulinas da classe G (IgG) pode servir de indicador da evolução da LVC.

Assim, em cães assintomáticos foi observado um aumento de anticorpos anti-

Leishmania do tipo IgG1, e em animais clinicamente doentes um predomínio de

anticorpos anti-Leishmania do tipo IgG2 (INIESTA et al., 2005; FREITAS et al.,

2012b). Entretanto, Silva (2005) não conseguiu estabelecer uma correlação entre os

níveis de imunoglobulinas IgG, IgG1 e IgG2 com a classificação clínica dos cães

infectados por L. chagasi.

Outro fator importante no componente imunológico da resposta humoral é a

formação de complexos imunes circulantes (CIC), que se formam pela união de

antígenos de Leishmania, com anticorpos específicos das classes IgG ou IgM e que

possuem sítios de ligação para frações do complemento (principalmente a fração C3), os

21

quais podem ser depositados em órgãos e tecidos estratégicos, promovendo diversas

alterações patológicas, como vasculite, glomerulonefrite, artrite, entre outras

(MARQUES, 2008).

Além dos fatores imunológicos, as parasitoses, infecções secundárias, doenças

crônicas e alguns medicamentos podem levar ao aparecimento da LVC secundariamente

no indivíduo. Isto pode estar relacionado ao fato de alterarem o tipo de resposta imune

que o animal desenvolve, levando a ruptura do equilíbrio existente entre hospedeiro e

parasito, traduzindo-se na manifestação clínica da LVC (SILVA, 2007).

2.1.3Apresentações Clínicas

Como foi anteriormente relatado, cães com leishmaniose podem apresentar

diferentes apresentações sintomatológicas. Os animais infectados podem desenvolver

sintomas acentuados da infecção, podendo resultar em morte, enquanto outros

permanecem assintomáticos, ou ainda desenvolvem um ou mais sintomas brandos,

sendo classificados como oligossintomáticos (BRASIL, 2006).

A LVC, sendo uma doença de caráter crônica, pode apresentar sinais clínicos

com manifestacão de três meses a sete anos após a infecção. A apresentação clínica

inicial corresponde a uma alteração do estado orgânico do animal, com perda de peso

progressiva acompanhada de astenia, apatia e em casos extremos anorexia e febre, que

caracterizam uma síndrome geral inespecífica, de instalação lenta e evolução

progressiva (MARQUES, 2008).

Na leishmaniose, o estado geral do animal pode estar comprometido por diversas

manifestações clinicas, como emagrecimento, caquexia, apatia, prostração,

desidratação, febre, mucosas hipocoradas, epistaxe, esplenomegalia e linfoadenopatia

(SANTOS, 2006; ALBUQUERQUE et al., 2007; ABREU-SILVA et al., 2008;

MARQUES, 2008; PINHÃO, 2009; FREITAS et al., 2012a). A linfoadenomegalia é

um sinal característico da LVC, e esse aumento no tamanho dos linfonodos ocorre

devido à proliferação linfoplasmohistiocitário, podendo conter lesões hipertróficas nas

regiões corticais e medulares com formas amastigotas dentro de macrófagos medulares

(SILVA, 2007).

22

Figura 3. Cão soropositivo para Leishmania chagasi sintomático apresentando severa

emaciação.

O emagrecimento do animal (Figura 3) pode ser causado pela competição

parasitária por nutrientes, por mediadores químicos que induzem ao estado de caquexia.

A sintomatologia renal pode levar a anorexia, a anemia, tornando-o progressivamente

mais fraco e apático, podendo até ficar letárgico (PINHÃO, 2009).

Figura 4. Cão soropositivo para

Leishmania chagasi apresentando

Ceratoconjuntivite Seca.

Figura 5. Cão soropositivo para Leishmania chagasi

apresentando lesão no focinho.

23

24

Figura 6. Cão soropositivo para Leishmania chagasi apresentado onicogrifose.

As principais alterações cutâneas observadas são as dermatites crônicas,

alopécia, principalmente na zona periocular, pregas de pele e articulações, anomalias de

cornificação, seborréia seca, hiperqueratose, paroníquia, onicogrifose (Fig. 6), úlceras e

crostas; lesões no focinho (Fig. 5) e ponta da orelha (SANTOS, 2006; ABREU-SILVA

et al., 2008; MARQUES, 2008; PINHÃO, 2009; FREITAS et al., 2012a) .

As alterações dermatológicas são bastante relatadas em estudo clínico em cães

com leishmaniose, podendo chegar a 90% dos cães infectados (ALBUQUERQUE et al.,

2007). Este fato pode ser explicado por um processo inflamatório no local da picada do

vetor, migração de novas células para o sítio da infecção, gerando um infiltrado

inflamatório composto de neutrófilos, macrófagos e linfócitos que levam à formação de

granuloma. Neste ocorre a multiplicação do parasito em novas células, liberando

mediadores do processo inflamatório, ativação de células que culminam com a

ulceração superficial da pele (RIBEIRO, 2004). Os animais podem ainda apresentar

alopécia, que geralmente tem início na cabeça e orelhas, atingindo depois o tronco e os

membros. Esta pode também localizar-se ao redor dos olhos, dando origem a uma

imagem característica de “óculos” (PINHÃO, 2009).

As alterações oculares são bastante relatadas nos cães com leishmaniose, e

dentre elas a ceratoconjuntivite (Fig. 4), blefarite, inflamação mononuclear-

plasmocitário do trato uveal, conjuntivite, exoftalmia, corrimento e panoftalmia

(BRITO et al., 2004; COUTINHO, 2005; FREITAS et al., 2012a).

As lesões renais são a principal causa de óbito por LVC (RIBEIRO, 2004). Nos

rins, a deposição de imunocomplexos nos glomérulos pode acarretar em

glomerulonefrite membranoproliferativa e nefrite intersticial com comprometimento da

função renal (ALBUQUERQUE et al., 2005), muitas vezes sendo a principal causa da

morte dos cães. A nefropatia pode ser causada pelo infiltrado de LTCD4+ detectados na

região glomerular e intersticial dos rins de cães naturalmente infectados com L. chagasi

(COSTA et al., 2000). A insuficiência renal pode estar presente em cães sem os sinais

clássicos sistêmicos de LVC. A presença persistente de proteína na urina pode levar ao

aparecimento de sinais clínicos compatíveis com síndrome nefrótica, tais como

hipoalbuminemia, ascite, edema periférico e hipercolesterolemia (MARQUES, 2008).

No fígado, ocorre um infiltrado de células mononucleares devido à presença de

antígenos de Leishmania. Sant’ana et al. (2007) observaram que ocorre uma intensa

25

formação de granulomas hepáticos na LVC, e cães assintomáticos apresentam maior

número de granulomas do que os animais oligossintomáticos e sintomáticos.

Outro achado frequente na LVC é a esplenomegalia. As alterações patológicas

apresentam graus variados de intensidade, e o aspecto macroscópico das lesões está

relacionado com a evolução da doença (LUVIZOTTO, 2006). No baço ocorre uma

reação inflamatória crônica e difusa, com macrófagos organizados em granulomas e

repletos de amastigotas resultando em hipertrofia do órgão (XAVIER et al., 2006).

O exame citológico e histológico da medula óssea mostra padrão variável de

acordo com a fase da doença, podendo ser observado hipocelularidade das células da

linhagem eritrocitária e leucocitária, macrófagos repletos de hemossiderina, indicativo

de acúmulo de ferro não utilizado na produção de hemácias, sendo esse achado

relacionado à anemia profunda que, frequentemente, ocorre no desenvolvimento da

leishmaniose visceral, e que pode ser detectado ao exame necroscópico (LUVIZOTTO,

2006).

Outros sinais como complicação cardiorrespiratória e digestiva têm sido

associados aos animais com LVC. As alterações articulares também podem ser notadas,

como claudicação, dor, restrição de movimento e aumento de temperatura intra-articular

(EUGÊNIO et al., 2008).

26

2.2. Estresse oxidativo

2.2.1 Oxidantes

O oxigênio (O2) é uma molécula altamente requerida na formação de energia

pelos organismos aeróbicos, cerca de 85% a 90% do O2 é consumido na mitocôndria,

por meio da cadeia transportadora de elétrons. O restante é utilizado por diversas

enzimas oxidases e oxigenases e, ainda, por reações químicas de oxidação direta

(BARBOSAet al., 2010). Esta molécula participa na formação de vários agentes

oxidante por sua característica de ser um aceptor de elétrons, ou seja, possui elétrons

desemparelhados na sua última camada eletrônica pronta para receber outros elétrons

(IMLAY, 2003).

Os agentes oxidantes podem ser divididos em vários grupos, dependendo da sua

natureza ou sua reatividade. Uma classificação amplamente utilizada é se as moléculas

oxidantes são ou não radicais livre, ou seja, contém elétron não pareado na sua estrutura

química, levando a instabilidade da molécula (LYKKESFELDT; SVENDSEN, 2007).

A ação dos agentes oxidantes nas moléculas biológicas pode ocorrer através da

abstração de uma molécula de hidrogênio, abstração de um elétron, ou pela adição de

oxigênio. Por originarem-se bastante do metabolismo do oxigênio, as moléculas

oxidantes geralmente são classificadas como espécie reativa do oxigênio (ERO) como,

por exemplo, o ânion superóxido (O•2-) e peróxido de hidrogênio (H2O2). Os radicais

derivados do oxigênio representam a classe mais importante das espécies de radicais

gerados em sistemas vivos, principalmente por ter considerado grau de reatividade

(VALKO et al., 2007).

EROs são produzidas e liberadas no organismo por diferentes vias, como na

mitocôndria, pelas quais o oxigênio que escapa da cadeia de transporte de elétrons e

pode extravasar para o sarcoplasma. Também pode ter origem no endotélio capilar, em

que o processo de isquemia e reperfusão acontecem durante o exercício, além da

formação dos agentes oxidantes através de células inflamatórias mobilizadas para

reparar o dano tecidual e a auto-oxidação das catecolaminas, mioglobinas e

hemoglobina (KOHEN; NYSKA, 2002; CAMPOS; YOSHIDA, 2004). A formação da

grande maioria das EROs origina-se da redução de um único elétron de O2 que gera o

ânion superóxido, uma espécie de radical pouco reativo que tem dificuldade de

atravessar membranas biológicas. No entanto, o O•2- na sua forma protonada, isto é,

quando recebe um átomo de hidrogênio, forma o radical hidroperoxil (HO•2-). O radical

HO•2- tem maior facilidade em penetrar estruturas biológicas, embora o superóxido se

27

encontre mais na sua forma carregada sob pH fisiológico. Quando o radical O•2- sofre

dismutação, produz peróxido de hidrogênio, uma molécula altamente difusível no

organismo (UNDERHILL; OZINSKY, 2002).

Ao contrário dos radicais livres, o H2O2 tem meia vida longa no organismo e é

capaz de atravessar membranas celulares desencadeando mecanismos potencialmente

tóxicos para as células. Esta toxicidade pode ser aumentada em dez mil vezes pela

presença de ferro (DEATON; MARLIN, 2003). Além de ter ação deletéria em

moléculas orgânicas, o H2O2é utilizado como fonte para outros agentes oxidantes,

principalmente o radical hidroxila (OH•), formado via oxidação de metais de transição,

como os íons de ferro (Fe2+) e cobre (Cu+). O ferro é o metal pesado mais abundante no

organismo e está biologicamente mais capacitado para catalisar as reações de oxidação

de biomoléculas. Desta forma, através das reações de oxirredução dos íons de ferro pela

reação de Fenton (equação 1) ou Haber-Weiss (equação 2 e 3) é formado o radical

peróxido de hidrogênio (KOHEN; NYSKA, 2002).Radical OH• é um dos mais reativos

oxidantes das biomoléculas capaz de retirar átomos de hidrogênio do grupo metileno de

ácidos graxos poliinsaturados, dando início à peroxidação lipídica que acaba

provocando a lise de membranas(CAMPOS; YOSHIDA, 2004). A sua formação está

associada com danos celulares em diferentes níveis, incluindo danos a proteínas, ao

DNA e a própria membrana celular (POULSEN, 2005).

Fe2++ H2O2 → OH• + OH- + Fe3+ (1)

Fe3++ O•2- → Fe2++ O2 (2)

O2 + OH• +OH- → O•

2- + H2O2 (3)

Todas as membranas celulares são especialmente vulneráveis à oxidação devido

à sua alta concentração de ácidos graxos poliinsaturados. O processo de peroxidação

lipídica resulta na formação de três importantes EROs a partir dos lipídios insaturados:

o radical alcoxila (LO•), radical peroxila (LOO•) e o hidroperóxido (LOOH). Como no

caso do H2O2, o LOOH não é um radical livre, mas ele é uma molécula bastante

instáveis na presença de metais de transição. Já o LOO•e o LO• são radicais livres muito

reativas que participam diretamente do processo de propagação da lipoperoxidação

(HALLIWELL; GUITTERIDGE, 2007). As ações deletérias dos peróxidos lipídicos

mais frequentes são a ruptura da membrana celular, mutação do DNA, oxidação dos

lipídios insaturados, formação de resíduos químicos como o malondialdeído (MDA) e o

28

comprometimento dos componentes da matriz extracelular, proteoglicanos, colágeno e

elastina (LIMA; ABDALLA, 2001).

A formação dessas espécies ocorre através de uma reação em cadeia iniciada por

radicais livres (equação 4, 5 e 6) (LIMA; ABDALLA, 2001). Além disso, íons de

metais de transição, como Fe2+e Fe3+podem participar do processo catalisando a

formação de radicais lipídicos alcoxila, peroxila e hidroxila a partir dos hidroperóxidos

(equação 7 e 8).

LH+ OH• (ou LO•)→ L•+ H2O (ou LOH) (4)

L•+ O2 → LOO• (5)

LOO• + LH → LOOH + L• (6)

LOOH + Fe2+→ LO• + OH• + Fe3+ (7)

Fe3+ + LOOH → LOO• H+ + Fe2+ (8)

O mais importante complexo enzimático desencadeador da geração das EROs

nos processos inflamatórios e infecciosos é a NADPH oxidase (NOX). O NOX é um

conjunto de enzimas espalhadas na membrana e citoplasma das células de defesa, como

neutrófilos e macrófagos. Quando o fagócito é ativado, este complexo enzimático se

rearranja devido a diversas interações iônicas com suas proteínas, dando início a um

fenômeno chamado explosão respiratória. A molécula de nicotinamida adenina

dinucleotídeo fosfato (NADPH) que é gerado no ciclo das pentoses é oxidada pelo NOX

e uma molécula de oxigênio aceita um elétron doado, levando a geração do ânion

superóxido (equação 9). A interação de duas moléculas de O•2-são catalisadas pela

enzima superóxido dismutase (SOD), gerando uma molécula de peróxido de hidrogênio

(equação 10) (BABIOR, 2004).

NADPH + 2O2NOX

→NADP+ + H+ + 2O•2- (9)

2O•2- + 2H+SOD-Zn→H2O2 + O2 (10)

O peróxido de hidrogênio serve como substrato para formação de compostos

bactericidas, através da ação da mieloperoxidase (MPO). A MPO é uma das mais

importantes enzimas da explosão respiratória, pois catalisa a reação entre o H2O2e os

íons haletos (equação 11), produzindo hipoaletos (OCl-, OBr-, OI-, OSCN-). O

hipoclorito é o principal hipoaleto utilizado pelos neutrófilos devido a sua propriedade

29

de não se acumular nos sistemas biológicos, dissipando-se em múltiplas reações. A

formação do OCl- contribui para destruição das bactérias por meio da oxidação de suas

proteínas e lipídios, além de aumentar a atividade bactericida das enzimas lisossômicas

(SEGAL, 2005; van der VEEN et al., 2009).

H2O2 + Cl-MPO

→ H2O + OCl- (11)

Outra forma de eliminar os organismos invasores é através da produção de óxido

nítrico (NO•). O NO• é gerado quando ocorre a oxidação do aminoácido ʟ-arginina para

ʟ-citrulina na presença da molécula de oxigênio (equação 12), sendo esta reação

catalisada pela enzima óxido nítrico sintetase (NOS) (FRITZSCHE et al, 2010). A NOS

é uma enzima encontrada no organismo em diferentes isoformas, sendo duas

constitutiva geradas no endotélio e no tecido neuronal (eNOS e nNOS) e uma com

expressão induzida por uma ampla variedade de células e tecidos (iNOS) (BABIOR,

2004).

ʟ-arginina + NADPH + O2 → ʟ-citrulina + NO• + NADP+

(12)

O aumento da produção do óxido nítrico não necessariamente pode estar

relacionado com o estresse oxidativo. NO• pode ser observado desenvolvendo o papel

de mensageiro indutor da vasodilatação sanguínea, além de sua função como

mensageiro neuronal (LYKKESFELDT; SVENDSEN, 2007). Assim, o aumento da

produção de NO• por si só não é um indicador do estresse oxidativo, embora elevadas

concentrações desta molécula possam levar ao aumento da formação de oxidantes

deletérios denominados espécies reativas do nitrogênio (ERN). Podemos observar a

formação de ERN a partir do óxido nítrico formando o peroxinitro (ONOO-, equação

12), a forma protonada do peroxinitro (ONOOH) que é altamente reativo ao radical

hidroxila (equação 15), além do óxido nitroso (N2O3), ácido nitroso (HNO2), nitritos

(NO2−) e nitratos (NO3

−, equação 16) (VALKO et al., 2006).

NO• + O•2- → ONOO- (13)

ONOO- + H+ → ONOOH (14)

30

ONOOH → OH• + NO2 (15)

OH• + NO2 → NO3-+ H (16)

ERN são muito tóxicas, podendo causar danos diversos, como a peroxidação

lipídica através do processo de nitração, além de nitrar aminoácidos aromáticos, por

exemplo, a tirosina gerando nitrotirosina e as bases de DNA como a guanina se

transformando em 8-nitroguanina (BARREIROS et al., 2006).

2.2.2 Antioxidantes

EROs são encontradas em baixas concentrações nas células e tecidos biológicos.

Sua concentração é determinada pelo equilíbrio entre a taxa de produção e sua taxa de

remoção efetivada por várias enzimas e composta antioxidantes (DRÖGE, 2002). O

efeito prejudicial dos agentes oxidante ocorre quando eles estão em quantidade

excessiva no organismo, ultrapassando a capacidade do organismo de neutralizá-los

com os seus sistemas naturais. Para proteger-se, as células possuem sistema de defesa

que pode atuar em duas linhas. Uma delas atua como detoxificadora dos agentes antes

que eles causem lesões. Esta linha é constituída pelas enzimas glutationa reduzida

(GSH), superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx) e

vitamina E. A outra linha de defesa tem a função de reparar a lesão ocorrida, sendo

constituída pelo ácido ascórbico, pela glutationa-redutase (GSH-Rd) e pela GPx, entre

outros. Com exceção da vitamina E (α-tocoferol), que é um antioxidante estrutural da

membrana, a maior parte dos agentes antioxidantes está no meio intracelular e no

organismo (CAMPOS; YOSHIDA, 2004; NAITO et al., 2010).

Todos os componentes que auxiliam na defesa do organismo contra o

desequilíbrio da homeostase provocado por agentes oxidantes formam uma rede de

moléculas antioxidantes. Esta rede pode atuar evitando as fontes de espécies reativas ou

fazendo a varredura dos mesmos, além de favorecer o reparo e a reconstituição de

estruturas biológicas (NAITO et al., 2010). Os principais componentes enzimáticos da

rede antioxidante são a SOD, CAT e GPx, visto que sua atividade catalítica em

transformar o ânion superóxido em peróxido de hidrogênio e água, podendo inativar

relevantes quantidades de oxidantes. Oligoelementos como selênio (Se), zinco (Zn),

cobre (Cu) e manganês (Mn) desempenham importante papel catalisador da atividade

enzimática de GPx com Se e SOD com Zn/Cu/Mn (KLOTZ et al., 2003;

KIRSCHVINK et al., 2008).

31

A primeira linha de frente do organismo contra agentes oxidantes são os

antioxidantes enzimáticos. A SOD participa do início da prevenção dos oxidantes e tem

como ação converter através do processo de dismutação o ânion superóxido em

peróxido de hidrogênio e oxigênio na presença do próton H+ (equação 10) (BATINIC-

HABERLE et al., 2010). Existem duas formas de SOD no organismo, a primeira

contém Cu2+ e Zn2+ como cofatores e ocorre no citosol, sendo que sua atividade não é

afetada pelo estresse oxidativo. A segunda contém Mn2+ como cofator, ocorrendo na

mitocôndria e sua atividade aumenta com o estresse oxidativo.

O produto final da dismutação do peróxido de hidrogênio pode ser removido

pela atividade da CAT e por membros da família das peroxidases e a GPx

(BARREIROS et al., 2006).

2H2O2CAT

�2H2O + O2 (17)

2GSH + H2O2GPx-Se

� GSSH + 2H2O (18)

GSSH + NADPH + H+GSH-Rd� 2GSH + NADP+ (19)

2H2O2+ NADPH + H+GSH

� 2H2O + NADP+ (20)

O peróxido de hidrogênio é uma das espécies reativas ao oxigênio mais comum

na biosfera, assim tanto o H2O2 como o produto de sua decomposição, o radical OH•

devem ser controladas, pois podem ser prejudiciais a quase todos os componentes

celulares (ZAMOCKY et al., 2008). A catalase é uma hemeproteína citoplasmática que

catalisa a redução de H2O2 em oxigênio e água utilizando o NADPH (equação 17),

encontrada em organelas intracelulares, como nos peroxissomas e em baixa

concentração na mitocôndria e reticulo endoplasmático. Dessa forma, o H2O2

intracelular não pode ser eliminado, a menos que se difunda para os peroxissomas

(LIMÓN-PACHECO; GONSEBATT, 2009). A atividade catalítica da CAT está

presente em todos os tecidos, porém com atividade enzimática elevada nos eritrócitos,

fígado, rim e tecido adiposo e uma baixa atividade no tecido nervoso (LIMA, 2004).

H2O2 também é alvo de compostos tióis que são potentes agentes redutores

graças ao grupamento sulfidrila (-SH), sendo o principal componente a glutationa na sua

forma reduzida (GSH). Para exercer sua atividade antioxidante o GSH liga-se a GPx

ligada ao cofator selênio, transformando o H2O2 em H2O mais glutationa oxidada

(GSSG) (equação 18). Para manter o nível de GSH basal é necessário que a enzima

32

GSH-Rd dependente de NADPH adicione elétrons na GSSG (equação 19). Além disso,

a GPx reduz tanto o peróxido de hidrogênio como hidroperóxidos orgânicos. Existem

várias isoformas de GPx as quais são específicas para fase lipofílica ou hidrofílica

(LIMA, 2004; LUBOS et al., 2011).

Outro antioxidante enzimático é a tioredoxina (Trx) e as perorredoxinas (Prx).

Trx são enzimas que reparam grupamentos -SH, removem H2O2 e removem radicais

livres e podem estar presentes em diversos compartimentos celulares como mitocôndria,

núcleo e citossol. Estas enzimas também estão envolvidas na regeneração do ácido

ascórbico oxidado (NAKAMURA, 2005). As enzimas antioxidantes Prx, também

chamadas de tioredoxina peroxidase pertencem à família de proteínas multifuncionais

cujas principais ações são a proteção celular contra o estresse oxidativo e a modulação

da cascata de sinalização que regulam a proliferação e diferenciação celular e a

expressão gênica e apoptose (IMMENSCHUH; VOGT, 2005).

Os antioxidantes que também têm suas atividades reconhecidas são os não-

enzimáticos. O ácido ascórbico (vitamina C) é encontrado no organismo na forma de

ascorbato, uma molécula bastante solúvel em água e de baixo peso molecular,

localizada nos compartimentos aquosos e nos tecidos orgânicos. O ascorbato atua como

agente redutor, reduzindo metais de transição, principalmente Fe3+ e Cu2+ presente nos

sítios ativos das enzimas ou em suas formas livres no organismo. Outros antioxidantes

não-enzimáticos que agem intensamente nas membranas prevenindo sua

lipoperoxidação são os tocoferóis (vitamina E). O α-tocoferol é um dos principais

antioxidantes na fase lipofílica do organismo e podem agir como doadora de prótons H+

para o radical peroxila, interrompendo o processo radicalar em cadeia da peroxidação

lipídica. Os carotenóides, principalmente o β-caroteno age como desativadores do

oxigênio singleto ou como sequestradores dos radicais peroxila, reduzindo a oxidação

do DNA e lipídios (SONG, 2004; BARREIROS et al., 2006).

O estresse oxidativo é conhecido como uma ruptura no equilíbrio dinâmico entre

moléculas oxidantes e antioxidantes, favorecendo assim a viabilidade dos agentes

oxidantes no organismo. No entanto, a detecção direta da produção destes oxidantes

livres no organismo é muito difícil, uma vez que estas moléculas têm uma meia vida

curta e por serem altamente reativos. Desta forma, os danos oxidativos são geralmente

analisados através de seus produtos secundários, incluindo os derivados de

aminoácidos, ácido nucléico e a peroxidação lipídica (KOHEN; NYSKA, 2002).

33

Pode-se medir o estresse oxidativo através de diversos marcadores. Glutationa

reduzida e glutationa oxidada (GSH/GSSH) são ótimos indicadores do processo

oxidativo no organismo, pois a GSH é um antioxidante primário das células, e

geralmente sua concentração apresenta-se baixa nas doenças crônicas. Outros

compostos químicos inflamatórios que são medidos no sangue ou urina para confirmar

o estresse oxidativo excessivo são o óxido nítrico (NO) e os produtos da peroxidação

lipídica, como o malondialdeído (MDA) (MANDELKER; VAJDOVICH, 2011).

A avaliação da peroxidação lipídica é amplamente utilizada como um indicador

do estresse oxidativo, já que a maioria dos EROs e ERNs reage com os ácidos graxos

poliinsaturados presentes na membrana celular, podendo levar a destruição estrutural da

célula, à falência dos mecanismos de troca metabólica e à morte celular. Desta forma, a

avaliação dos níveis de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) é útil na

investigação da peroxidação lipídica e é expresso como resultado da lipoperoxidação

(LPO) (LIMA; ABDALLA, 2001).

O perfil antioxidante também é utilizado para avaliação do equilíbrio de

oxirredução no organismo. Para tanto, são avaliados os componentes enzimáticos

(SOD,CAT, GSH, GSH-Rd, GPx) e não enzimáticos (α-tocoferol, β-caroteno, ácido

ascórbico), entre outros (MANDELKER; VAJDOVICH, 2011).

Também outros marcadores do perfil antioxidante podem ser citados, como a

coenzima Q (CoQ), que é uma ubiquinona lipossolúvel, sendo este o único lipídio

sintetizado endogenamente no organismo que apresenta função redox auxiliando na

inibição da lipoperoxidação das membranas (BARREIRAS et al., 2006). As proteínas

de transporte de metais de transição como a transferrina e a ceruloplasmina são

indicadas para demonstrar a concentração de íons metálicos que são agentes pro-

oxidantes, como o Fe2+ e o Cu+ (VANSCONCELOS et al., 2007).

Alguns testes conseguem estimar a quantidade e a capacidade antioxidante total

do organismo, como os testes da capacidade antioxidante total (CAnT), do índice de

estresse oxidativo (IEO) e estado antioxidante total (EAT). CAnT tem como principal

vantagem, medir a capacidade antioxidante de virtualmente todos os componentes de

uma amostra biológica (sangue, urina, fezes) e não somente de um ou outro composto

(FERRARI, 2008). Esses tipos de análises são bastante úteis na visão geral do

organismo, mas o decréscimo destes marcadores não significa necessariamente que o

dano oxidativo ocorreu, pois pode ser resultado simplesmente de que os mecanismos de

defesa cumpriram sua função habitual (VASCONCELOS, 2007).

34

2.3. Estresse oxidativo em condições fisiológicas e patológicas

A formação de EROs ocorre naturalmente no organismo dos mamíferos, pois

muitos mecanismos fisiológicos estão associados a formação desses compostos (Tabela

1). Alguns estudos têm tentado padronizar valores de referência para a espécie canina

dos biomarcadores do estresse oxidativo, dentre eles os produtos do metabolismo

oxidativo e as moléculas antioxidantes (TODOVA et al., 2005; PASQUINE et al.,

2008).

Estados fisiológicos comumentes relacionados ao estresse oxidativo na espécie

canina já foram relatados por alguns estudos, como em cadelas prenhes (VANNUCCHI

et al., 2007) e em cães submetidos a diversos tipos de exercícios (Tabela 1) .

Tabela 1. Estudos que investigaram o estresse oxidativo associado ao estado fisiológico canino. Estado fisiológico Alteração apresentadas Referências

Gestação Diminuição do Retinol, Tocoferol e Magnésio

(VANNUCCHI et al., 2007)

Exercício de caça Aumento do d-ROM e diminuição do NPBA

(PASQUINI et al., 2010)

Exercício de corrida Diminuição de Tocoferol e aumento de Isoprostanos

(HINCHCLIFF, 2000)

Exercício com trenós Aumento CAnT (DUNLAP et al., 2006)

d-ROM: metabólitos reativos derivados do oxigênio; NPBA: nível do potencial biológico antioxidante; Retinol: vitamina A; Tocoferol: vitamina E; Isoprostanos: indicador da peroxidação lipídica; CAnT: capacidade antioxidante total

As alterações observadas no estresse oxidativo podem ser encontradas em

indivíduos saudáveis, contudo podem ser controladas pelos mecanismos antioxidantes.

Por outro lado, indivíduos que se encontram doentes, em sua grande maioria,

apresentam um desequilíbrio nos mecanismos de oxirredução, favorecendo um intenso

estresse oxidativo no organismo (DRÖGE, 2002). Estudos têm relacionado à

participação das desordens oxidativas nas diferentes doenças infecciosas nos animais

domésticos, incluindo equinos, bovinos, caprinos, ovinos, caninos e felinos

35

(LYKKESFELDT; SVENDSEN, 2007; WEBB et al., 2008; CELI, 2010;

PALTRINIERI et al., 2010).

Na espécie canina, a formação de EROs em condições patológicas pode estar

presente na atopia (KAPUN et al., 2011), no diabetes (CHANSAISAKORN et al.,

2009) e em diferentes tipos de câncer (PLAVEC et al., 2008). Além disso, o estresse

oxidativo vem sendo atribuído à patogênese de várias doenças infecciosas e parasitárias

(Tabela 2), incluindo infecções por Babesia canis, B. gibsoni, Ehrlichia canis,

Hepatozoon canis e Leishmania spp. (KIRAL et al., 2005; BRITTI et al., 2008;

CHAUDHURI et al. 2008; CRNOGAJ et al., 2010).

Tabela 2. Estudos que investigaram o estresse oxidativo associado às infecções caninas. Parasito Alterações apresentadas Referências Leishmania chagasi Aumento do MDA e SOD.

Diminuição do ácido ascórbico, β-caroteno e ceruloplasmina

(BILDIK et al., 2004; BRITTI et al., 2008)

Babesia canis & B.gibsoni Aumento do MDA, LPO, SOD, CAT e GSH-Rd

(CHAUDHURI et al., 2008; CRNOGAJ et al., 2010)

Ehrlichia canis Aumento da LPO quando associada à B. gibsoni

(KUMAR et al., 2006)

Hepatozoon canis Aumento do MDA, GSH e NO

(KIRAL et al., 2005)

Vírus da cinomose canina (CDV)

Aumento do MDA, ceruloplasmina, nitrito e nitrato Diminução do GSH, ácido ascórbico, retinol e β-caroteno

(KARADENIZ et al., 2008)

Parvovírus canino (CPV) Aumento da LPO, SOD e CAT

(PANDA et al., 2009)

Demodex canis Aumento da LPO e SOD Diminuição da CAT e GSH-Rd

(DIMRI et al., 2008)

Sarcoptesscabieivar. canis Aumento da LPO, EAT, IEO e LOOH Diminuição na SOD, CAT, GPx e GSH

(CAMKERTEN et al., 2009; SINGH et al., 2011)

MDA: malondialdeído; LPO: lipoperoxidação; SOD: superóxido dismutase; CAT: catalase; GSH: glutationa; GPx: glutationa peroxidase; GSH-Rd: glutationa redutase; NO: óxido nítrico; EAT: estado antioxidante total; IEO: índice de estresse oxidativo; LOOH: lipídio hidroperóxido.

36

3 JUSTIFICATIVA

O estresse oxidativo é conhecido como uma ruptura no equilíbrio dinâmico entre

moléculas oxidantes e antioxidantes. As alterações observadas no estresse oxidativo

podem ser encontradas em indivíduos saudáveis, contudo podem ser controladas pelos

mecanismos antioxidantes. Por outro lado, indivíduos que se encontram doentes, em sua

grande maioria, apresentam um desequilíbrio nos mecanismos de oxirredução,

favorecendo um intenso estresse oxidativo no organismo. O estresse oxidativo vem

sendo atribuído à patogênese de várias doenças infecciosas e parasitárias. O papel da

imunidade inata na defesa contra as diferentes espécies de Leishmania spp vem sendo

estudado, embora a função dos radicais livres na patogênese e na progressão de várias

doenças tenha sido discutida. A formação de espécies reativas ao oxigênio (ERO) de

maneira exagerada nas doenças infecciosas pode levar o organismo a um desequilíbrio

entre os agentes oxidantes e antioxidantes, proporcionando o estabelecimento do

estresse oxidativo. Este processo pode conduzir à oxidação de biomoléculas com

consequente perda de suas funções biológicas ou a um desequilíbrio homeostático que é

manifestado no organismo pela modificação de macromoléculas celulares, morte celular

por apoptose ou necrose, além de danos estruturais nos tecidos. Este assunto não tem

sido amplamente investigado na leishmaniose, o que torna a determinação de oxidantes

e antioxidantes no soro de grande valor e que podem funcionar como marcadores da

evolução na doença canina.

37

4. HIPÓTESE CIENTÍFICA

As enzimas antioxidantes podem ser utilizadas como marcadores do estresse

oxidativo na leishmaniose visceral canina.

38

5. OBJETIVOS

5.1. Objetivo geral

Avaliar o estresse oxidativo em cães naturalmente infectados com Leishmania chagasi. 5.2 Objetivos específicos

5.2.1

Avaliar os parâmetros leucocitários de cães naturalmente infectados com L. chagasi.

5.2.2 Avaliar os parâmetros hemáticos de cães naturalmente infectados com L.

chagasi. 5.2.3 Avaliar os parâmetros bioquímicos séricos de cães naturalmente infectados com

L. chagasi. 5.2.4 Determinar as atividades das enzimas glutationa peroxidase (GPx) e catalase

(CAT) eritrocitária em cães naturalmente infectados com L. chagasi. 5.2.5 Correlacionar os parâmetros hemáticos com a atividade das enzimas

antioxidantes.

39

6. Capítulo 1

Atividade das enzimas Catalase e Glutationa peroxidase em cães naturalmente

infectados por Leishmania chagasi

Catalase and glutathione peroxidase in dogs naturally infected with Leishmania

chagasi

Junho, 2012

40

Catalase and glutathione peroxidase in dogs naturally infected with Leishmania

chagasi

Belarmino Eugênio Lopes-Netoa; Glauco Jonas Lemos Santosa; Adam Leal Limaa;

Maritza Cavalcante Barbosab; Talyta Ellen Jesus dos Santosb; Daniel Couto Uchoac;

Evanisa Alves Venturad; Romélia Gonçalves Pinheirob; Diana Célia Sousa Nunes-

Pinheiroa*

aPrograma de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de

Veterinária/UECE; bLaboratório de Pesquisa em Hemoglobinopatias Genéticas das Doenças

Hematológicas/UFC; cCanil Grande Canafistula;

dCentro de Controle de Zoonoses de Fortaleza-CE

Corresponding author:

Universidade Estadual do Ceará/Laboratório de Imunologia e Bioquímica de

Animais/PPGCV/UECE, Av. Paranjana, 1700, CEP 60740-903 Fortaleza, Ceará, Brasil.

Fone. 55. 85.31019853; fax 55.85.31019860

e-mail: [email protected] ou [email protected]

41

Resumo: A leishmaniose visceral canina (LVC) é provocada por protozoário intracelular

obrigatório do gênero Leishmania e compromete diversos órgãos e tecidos. Estas

alterações podem resultar na geração de espécies reativas ao oxigênio (ERO). Estudos

recentes têm sugerido a participação de ERO na patogenia de diversas doenças. Neste

trabalho objetivou-se avaliar as atividades das enzimas antioxidantes na LC. Para tanto,

foram utilizados cães de ambos os sexos, peso, idade e raças variadas, oriundos do

Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza e de um canil particular de Fortaleza. Foi

considerada LVC animais com título ≥ 1:40 para Reação de Imunofluorescência

Indireta e para o Ensaio Imunoenzimático, associado ao sinais e sintomas característicos

da doença. Os animais foram divididos em dois grupos, Grupo A (n=12), animais sadios

e o Grupo B (n=15), animais com LVC. Foram determinados os parâmetros

leucocitários, hematológicos e bioquímicos séricos e as atividades das enzimas

glutationa peroxidase (GPx) e catalase (CAT) eritrocitárias. O estudo foi aprovado pelo

CEUA/UECE, n° 11516675-0/65. Dentre os parâmetros bioquímicos somente as

proteínas totais e a fosfatase alcalina encontravam-se elevados no grupo B. Os

parâmetros hemáticos do grupo B encontravam-se inferiores (p<0,05) aos do grupo A.

CAT e GPx apresentaram-se inferiores (p<0,001) no grupo B (189,358±90,385;

3609,659±1569,078) em relação ao grupo A (326,671±104,528; 5055,622±1569,078),

respectivamente. Houve correlação positiva entre hemácias e CAT, contudo, não foi

significativa. Conclui-se que CAT e GPx estão envolvidas no estresse oxidativo da

LVC.

Palavras-chaves: Estresse oxidativo, Catalase, Glutationa peroxidade, hemácias, Leihsmaniose canina.

42

Abstract

Canine visceral leishmaniasis (CVL) is caused by an obligatory intracellular parasite of

the Leishmania gender and undertakes several organs and tissues. These changes can

result in generation of reactive oxygen species (ROS). Recent studies address the role of

in the pathogenesis of many diseases. In this study, we aimed to access the activity of

the antioxidant enzymes in CVL. Therefore, were used dogs of both sexes, and varied

weight, ages and breeds, obtained in accordance with the Zoonosis Control Center in

Fortaleza city, Ceará, Brasil. Dogs were considered infected with ≥ 1:40 sera titration

for indirect immunofluorescent assay and ELISA, associated with classical symptoms of

the disease. The animals were divided in two groups, Group A (n=12), healthy animals

and group B (n=15), animals infected with CVL. The leukocytes, hematological and

biochemical parameters were assessed, along with the enzyme activity glutathione

peroxidase (GPx) and catalase (CAT) at erythrocyte. The present study was approved

by animal experimentation committee CEUA/UECE, nº 11516675-0/65. Among the

biochemical parameters only the total protein and alkaline phosphatase were increased

in group B. The hematological parameters in group B were decreased (p < 0.05) when

compared with group A. CAT and GPx also exhibited lower values (p < 0.001) in group

B (189.358±90.385; 3,609.659±1,569.078) when compared with group A

(326.671±104.528; 5,055.622±1,569.078), respectively. There was a positive

correlation between erythrocytes and CAT; however, it was not significant. We

conclude that CAT and GPx are involved in oxidative stress in CVL.

Keywords: Oxidative stress, erythrocyte, antioxidants enzymes, canine visceral

leishmaniasis.

43

1. Introdução

A leishmaniose é uma antropozoonose causada pela infecção de um dos

diferentes protozoários das espécies do gênero Leishmania. Sua transmissão ocorre

através da picada de insetos dípteros, da família Psychodidae, gênero Phlebotomus e

Lutzomyia (GONTIJO; MELO, 2004). Os diferentes tipos de Leishmania spp. são

responsáveis por um amplo espectro de doenças que acometem os mamíferos, e embora

o homem também possa ser hospedeiro e reservatório do agente, outros mamíferos

podem atuar da mesma forma, incluindo os canídeos, roedores e marsupiais, sendo estes

apontados como responsáveis pela manutenção a longo prazo da Leishmania na

natureza. Diferente dos demais hospedeiros que estão localizados nas regiões rurais ou

silvestres, o cão se encontra adaptado às zonas urbanas, o que lhe é atribuído como um

dos principais responsáveis pela manutenção da cadeia epidemiológica urbana da

leishmaniose (RIBEIRO, 2007).

A leishmaniose visceral canina (LVC) é caracterizada pelas diferentes

apresentações, podendo ser uma doença não aparente até casos severos, podendo levar à

morte. Estes diferentes quadros clínicos dependem da resposta imune do cão e da cepa

do parasito inoculado pela picada do vetor (SILVA, 2007). A participação do sistema

imunológico na disseminação da Leishmania no hospedeiro vertebrado é determinante

para a progressão ou resolução da infecção. LVC é uma doença sistêmica capaz de

comprometer diversos órgãos e tecidos, proporcionando alterações clinicopatológicas

nos animais como onicogrifose, hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia, alopecia,

anemia (FREITAS et al., 2012b).

Estudos recentes têm sugerido a participação de espécies reativas ao oxigênio

(ERO) na patogenia de diversas doenças infecciosas e parasitárias em cães, incluindo a

cinomose (KARADENIZ et al., 2008), parvovirose (PANDA et al., 2009), babesiose

(CHAUDHURI et al., 2008), infecção por Hepatozoon canis (KIRAL et al., 2005),

sarna (SINGH et al 2011) e a própria LVC (BILDIK, 2004; BRITTI et al., 2008). A

formação de espécies reativas ao oxigênio (ERO) de maneira exagerada nas doenças

infecciosas pode levar o organismo a um desequilíbrio entre os agentes oxidantes e

antioxidantes, proporcionando o estabelecimento do estresse oxidativo. Este processo

pode conduzir à oxidação de biomoléculas com consequente perda de suas funções

biológicas ou a um desequilíbrio homeostático que é manifestado no organismo pela

modificação de macromoléculas celulares, morte celular por apoptose ou necrose, além

44

de danos estruturais nos tecidos (LYKKESFELDT E SVENDSEN, 2007; BARBOSA et

al., 2010).

Apesar do envolvimento do estresse oxidativo nos mecanismos fisiológicos e

nos mecanismos patológicos, poucos estudos foram realizados na leishmaniose canina.

Baseado no exposto, este estudo teve como objetivo avaliar atividade das enzimas

antioxidantes na leishmaniose canina.

2. Material e Métodos

2.1. Animais

Foram utilizados 27 cães adultos, ambos os sexos, com peso e idade variados,

sem raça definida. Os animais provenientes do Centro de Controle de Zoonoses de

Fortaleza (CCZ), recolhidos em domicílio através do programa SOS Cão, após

identificação de cães sorologicamente positivos para Leishmania chagasi, compuseram

o grupo teste, soropositivos. Os animais provenientes de Canil particular,

sorologicamente negativos para L. chagasi, compuseram o grupo controle,

soronegativos. O protocolo experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética para o Uso

de Animais da Universidade Estadual do Ceará (CEUA/UECE), n° 11516675-0/65.

2.2. Sorologia para Leishmaniose

A sorologia foi realizada no CCZ, através da reação de Imunofluorescência

Indireta utilizando-se o kit IFI-leishmaniose-canina-Bio-Manguinhos (IFI-LC) e do

teste ELISA com o kit EIE-leishmaniose-canina-Bio-Manguinhos (EIE-LC), cujos

antígenos foram obtidos das formas promastigotas de L. chagasi. Os kits utilizados são

produzidos por Bio-Manguinhos/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, Brasil, e todos os

procedimentos foram realizados de acordo com as instruções do manual técnico (Lira et

al., 2006). Foi considerado positivo os animais com títulos de IFI e ELISA ≥ 1:40.

2.3. Grupos experimentais

Os animais foram divididos em dois grupos, Grupo A (n=12), controle,

soronegativo e o Grupo B (n=15), teste, com LVC. O Grupo B, além de conter animais

soropositivos, apresentava dois ou mais sinais fortemente associados à doença incluindo

caquexia, onicogrifose, hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia, alopecia, lesões

cutâneas, lesões perioculares, epistaxe, além de outros sinais relacionados à doença.

45

Foram considerados controles os cães sorologicamente negativos e sem sinais clínicos

característicos ou específicos de leishmaniose.

2.4. Amostras de sangue

Foram coletados 8 mL de sangue por venopunção jugular dos cães soropositivos

e soronegativos. Para tanto, utilizou-se uma seringa estéril, distribuindo-se 4 mL de

sangue em tubo contendo anticoagulante EDTA e 4 mL de sangue em tubo contendo gel

de separação, sem anticoagulante. As amostras foram devidamente transportadas em

caixas térmicas rapidamente para os laboratórios no intuito de prevenir a oxidação in

vitro do material. As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de

Bioquímica e Imunologia Animal - LIBA/FAVET/UECE e no Laboratório de Pesquisa

em Hemoglobinopatias Genéticas das Doenças Hematológicas - UFC.

2.5. Avaliação hematológica e bioquímica sérica

As amostras de sangue em EDTA foram homogeneizadas e submetidas ao

aparelho de automação (HemaScreen® 18) para realização do hemograma completo. Os

resultados do hemograma foram realizados tendo-se como valores de referência

FELDMAN et al. (2000). Os parâmetros hematológicos avaliados da série branca

incluem a contagem de leucócitos totais (LT, x103/dL) e diferenciais: neutrófilos,

eosinófilos, monócitos, basófilos e linfócitos, e da série vermelha, a contagem de

hemácias (He, mm3), a dosagem de hemoglobina (Hb, g/dL) e a determinação do

hematócrito (Ht, %) além da contagem total de plaquetas.

Nas amostras de soros foram dosados os teores de uréia (U, mg/dL), creatinina

(CREA, mg/dL), proteínas totais (PT, g/dL) e a atividade das enzimas transaminase

glutâmico oxalacética (TGO, U/L), transaminase glutâmico pirúvica (TGP, U/L) e

fosfatase alcalina (FA, U/L) e proteínas totais em aparelho de automação (Metrolab®

2300 Plus) com Kits específicos utilizando-se as metodologias dos fabricantes.

2.6. Avaliação da atividade das enzimas antioxidantes

A atividade da enzima catalase (CAT) foi detectada seguindo o método descrito por

Aebi (1984), no qual a atividade da enzima é feita pela mensuração do decaimento de

um preparado de peróxido de hidrogênio em espectrofotometria. O método consiste na

preparação de um solução contendo o tampão da catalase (TRIS-HCl 1M e EDTA mM)

pH 8,0 acrescido de peróxido de hidrogênio a 30%. Previamente, as amostras de sangue

46

em EDTA foram centrifugadas a 4000 rpm por 15 minutos para separação das hemácias

do plasma e leucócitos. Em seguida foram realizadas três lavagens das hemácias com

solução fisiológica 0,9% sempre descartando o sobrenadante. Após a última lavagem as

hemácias foram hemolisadas com água destilada. Para avaliar CAT, 20µL da amostra

de sangue hemolisado foi adicionada a 2 mL da solução tampão e lida a uma

absorbância de 240 nm. O resultado foi expresso em U/mg Hb.

A medida da glutationa peroxidas (GPx) nas hemácias foi determinada

utilizando-se o kit Ransel® RS505 (Randox), para a determinação indireta da enzima. A

análise é baseada na oxidação da glutationa reduzida (GSH) para glutationa oxidada

(GSSG), catalizada pela GPx utilizando a glutationa redutase (GSH-Rd) e fosfato de

nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADPH). A diminuição na absorbância do

NADPH medida a 340 nm, durante a oxidação de NADPH para NADP+ é indicativo da

atividade de GPx.Os resultados foram expressos em mU/mg Hb.

2.7. Análise estatística

Os resultados foram expressos em média e desvio padrão. O teste t de Student

não pareado foi utilizado para determinar as diferenças entre os grupos (p< 0,05). O

teste de correlação de Pearson foi realizado entre as variáveis GPx, hemácias e

hemoglobina e entre CAT, hemácias e hemoglobina. Todos os resultados foram

calculados através do programa GraphPadPrism® 5.04.

3. Resultados

Para a avaliação laboratorial dos animais dos Grupos A e B foram feitas

determinações hematológicas e análises bioquímicas cujos resultados encontram-se na

tabela 1. Os valores médios obtidos para os diferentes parâmetros nos Grupos A e B não

diferiram significativamente entre os grupos e todos se encontram dentro dos valores de

referência para a espécie canina. Contudo, os teores de proteínas totais e de fosfatase

alcalina encontram-se elevados no grupo B em relação ao grupo A. Estes dados

implicam em um aumento na produção de imunoglobulinas associadas à resposta imune

a L. chagasi. A fosfatase alcalina elevada juntamente com a gama glutamil transferase

(não determinada) pode estar associada a danos hepáticos.

47

Tabela 1. Parâmetros hematológicos e bioquímicos de cães saudáveis e com LVC.

Parâmetros Grupo A

(Controle, n=12) Grupo B

(Teste, n=15) Valores de Referência*

Leucócitos (x10³) 12,934 ± 1,777 12,47 ±2,429 6.000-17.000 Neutrófilos (%) 60,5 ± 17,753 68 ± 5,527 66-77 Linfócitos (%) 35,8 ± 19,949 30,25 ± 5,154 12-30 Monócitos (%) 3,3 ± 2,908 1,667 ± 1,435 3-10 Plaquetas (x10³) 297,667 ± 82,226 254,334 ± 213,213 200-500 Ureia (mg/dL) 33,334± 10,039 16,857 ± 6,212 21,4-59,92 Creatinina (mg/dL) 1,322 ± 0,188 0,996 ± 0,807 0,5-1,5 Proteínas totais (g/dL) 6,47 ± 1,11a 8,23 ± 1,22b 6-8 TGO (U/L) 30,084 ±13,419 24,143 ± 11,753 23-66 TGP (U/L) 42,834 ± 12,890 27,143 ± 13,518 21-102 FA (U/L) 109,083 ± 38,313a 165,4 ± 46,402b 20-156 * FELDMAN et al., 2000. Letras diferentes na mesma linha representam diferenças significativas ao nível de 1%.

Como a atividade das enzimas antioxidantes foi realizada nas hemácias, os

parâmetros da série vermelha foram colocados juntamente com os resultados da

avaliação do estresse oxidativo demonstrados na tabela 2.

As médias da contagem de hemácias (p < 0,001), a concentração de hematócrito

(p < 0,05) e o teor de hemoglobina (p < 0,01) do grupo B encontravam-se inferiores aos

do grupo A. Estes dados diferiram significativamente (p < 0,001) entre os grupos.

Tabela 2. Parâmetros hematológicos e marcadores antioxidantes de cães saudáveis e de cães com LVC.

Marcadores

Grupo A (Controle, n=12)

Grupo B (Teste, n=15)

Valor de p

Hemácias (x106/dL) 7,012 ± 0,656 5,559 ± 0,451 p<0,001 Hematócrito (%) 52,125 ± 2,439 48,155 ± 5,692 p<0,05 Hemoglobina (g/dL) 16,492 ± 1,308 14,744 ± 1,797 p< 0,01 CAT (U/g Hb) 326,6712 ± 104,528 189,358 ± 90,385 p <0,001 GPx (mU/mg Hb) 5055,622 ±1569,078 3609,659 ± 1569,078 p <0,001

Os valores médios da atividade das enzimas CAT e GPx apresentaram-se

inferiores nos animais do grupo B (189,358 ± 90,385; 3609,659 ± 1569,078) em relação

aos animais do grupo A (326,6712 ± 104,528; 5055,622 ±1569,078), respectivamente.

Estes dados diferiram significativamente (p < 0,001) entre os grupos.

Na tentativa de se verificar uma possível correlação entre os parâmetros

hematológicos e os marcadores do estresse oxidativo, verificou-se uma correlação

48

positiva entre a contagem de hemácias e CAT, contudo esta correlação não foi

significativa.

4. Discussão

As alterações relacionadas ao estresse oxidativo podem ser encontradas

fisiologicamente em indivíduos saudáveis, porém controlada por mecanismos que

levam a homeostase. Por outro lado, indivíduos que se encontram doentes, em sua

grande maioria, apresentam um desequilíbrio nos mecanismos redox, favorecendo um

intenso estresse oxidativo (DRÖGE, 2002).

O indivíduo necessita de um bom sistema de defesa para conseguir reverter a

multiplicação dos radicais livres e consequente injúria provocada por eles. Isto é

possível através dos agentes antioxidantes que atuam na prevenção oxidativa e na

regeneração tecidual e celular, tendo como linha de frente as enzimas glutationa

reduzida (GSH), superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutationa peroxidase

(GPx) (CAMPOS; YOSHIDA, 2004; NAITO et al., 2010).

A leishmaniose canina é uma doença causada por um parasito intracelular

obrigatório caracterizada por apresentar evolução crônica com envolvimento sistêmico

em diversos órgãos e tecidos do hospedeiro (MAIA-ELKHOURY et al., 2008). A

sintomatologia clínica da LVC tem sido associada às alterações imunológicas

envolvendo células do sistema fagocítico mononuclear e diferentes populações de

linfócitos T efetores dos tipos Th1, Th2 e Treg, caracterizados pela secreção das

citocinas específicas das subpopulações celulares, bem como a produção de anticorpos

específicos através da produção de diferentes subclasses de imunoglobulinas

(BARBIÉRI, 2006; GLAICHENHAUS et al., 2011; KAYE; SCOTT, 2011; FREITAS

et al., 2012).

O desequilíbrio dos agentes oxidantes e antioxidantes está presente nas

diferentes espécies de animais domésticos em diversas situações patológicas, incluindo

as doenças infecciosas e parasitárias (LYKKESFELDT; SVENDSEN, 2007; WEBB et

al., 2008; CELI, 2010; PALTRINIERI et al, 2010). Neste trabalho é dado ênfase aos

marcadores do estresse oxidativo através da avaliação das atividades das enzimas CAT

e GPx (Tabela 2), as quais foram detectadas em hemácias. CAT é uma hemeproteína

citoplasmática que transforma o peróxido de hidrogênio (H2O2) em oxigênio e água

(PACHECO; GONSEBATT, 2009). A atividade enzimática da CAT está presente em

todos os tecidos, porém com sua função elevada nos eritrócitos, fígado, rim e tecido

49

adiposo e uma baixa atividade no tecido nervoso (ZAMOCKY et al., 2008). A alta

produção do H2O2 deve ser controlada pelo organismo através das enzimas

antioxidantes GPx e CAT, o que poderia levar a um grande exigência catalítica destas

enzimas. GPx é uma enzima que cataliza a redução do peróxido de hidrogênio (H2O2)

utilizando a glutationa como substrato, além de outros hidroperóxidos orgânicos

(HALLIWELL; GUTTERIDGE, 1999).

Quanto aos parâmetros hemáticos, neste estudo, a contagem de hemácias, a

concentração do hematócrito e o nível de hemoglobina de cães naturalmente infectados

com L. chagasi estavam reduzidos (p<0,05) em relação ao controle. Resultados

semelhantes foram encontrados por Britti et al. (2008). Tem sido relatado que a anemia

é um dos achados mais comuns na leishmaniose canina, afetando cerca de 60% dos

animais infectados (CIARAMELLA; CORONA, 2003), e em algumas situações é

caracterizada como severa somente em cães sintomáticos (REIS et al., 2006). As

alterações hematimétricas observadas nos cães com leishmaniose sugerem uma possível

correlação da anemia com o aparecimento dos sinais clínicos, que nem sempre é

observada (COSTA-VAL et al., 2007).

Os eritrócitos contém abundantemente as enzimas SOD, CAT e GPx, portanto,

alterações nestas células refletirão nas atividades destas enzimas. Sendo assim, neste

trabalho as mudanças no metabolismo de EROs na LVC foram determinadas através de

CAT e GPx nos eritrócitos. Em nosso estudo, somente CAT apresentou correlação

positiva com a contagem total de hemácias, contudo não foi significativa. Britti et al.

(2008) estudando LVC encontraram correlação positiva (p< 0,01) entre a atividade da

enzima GPx tanto com hemácias quanto com hemoglobina.

No presente estudo foi observado que GPx estava com atividade reduzida. Estes

resultados corroboram com o estudo realizado por Britti et al. (2008), que

demonstraram uma diminuição da GPx na LVC, embora não tenha sido significativa.

Contudo, estes mesmos autores encontraram uma correlação positiva entre a contagem

de hemácias e a atividade da GPx e entre os níveis de hemoglobina e a atividade da GPx

em animais com LVC. Estes resultados sugerem que a diminuição da atividade

detoxificante pode estar relacionada com a diminuição da concentração de eritrócitos e

que a atividade da GPx depende das alterações dos mecanismos de controle do sistema

antioxidante na LVC. Além disso, este resultado poderia estar associado com a

diminuição do número de células sanguíneas nos animais com LVC, pois a GPx é uma

50

enzima eritrocitária que desenvolve importante papel na proteção da hemoglobina

contra os danos oxidativos (LUBOS et al., 2011).

Bildik et al. (2004) estudando o estresse oxidativo e a atividade antioxidante não

enzimática em cães com leishmaniose visceral relataram que os níveis de ácido

ascórbico, β-caroteno e ceruloplasmina estavam reduzidos nos animais doentes, porém

os mesmos autores encontraram alto nível de malondialdeído (MDA). Estes dados

indicam a ocorrência da peroxidação lipídica na LVC. Em nosso trabalho a FA

encontrava-se aumentada no Grupo B, corroborando com o que foi encontrado em cães

com leishmaniose apresentando hepatite crônica (RALLIS et al., 2005).

Estudos avaliando o estresse oxidativo em cães infestados com Sarcoptes scabiei

var. canis relataram uma menor atividade da GPx nos animais com escabiose (SINGH

et al., 2011) o que levou os autores a conclusão de que a diminuição da enzima pode

estar relacionada coma produção excessiva dos agentes oxidante gerados nas células

inflamatórias recrutadas para combater o parasito, o que acarretaria na exaustão do

sistema antioxidante.

Outra enzima antioxidante importante identificada no presente estudo foi a

catalase. Animais com LVC apresentaram menor (p <0,001) atividade da enzima CAT

em relação aos animais controles. Resultados semelhantes foram encontrados na

leishmaniose cutânea em humanos (EREL et al., 1999). Cães com sarna demodécica

(Demodex canis) apresentaram uma atividade reduzida da enzima CAT (DIMRI et al.,

2008). Outros autores verificaram um aumento na atividade da CAT em cães com

parvovirose (PANDA et al., 2009) e babesiose (CHAUDHURI et al., 2008).

Este estudo torna-se relevante, pois existem poucos dados na literatura que

avaliam o perfil oxidativo na leishmaniose visceral canina.

6. Conclusão

Conclui-se que CAT e GPx estão envolvidas no estresse oxidativo da

leishmaniose canina, as quais podem funcionar como biomarcadores. Outros estudos

são necessários para avaliar o envolvimento completo do estresse oxidativo na

participação da patogenia da LVC nas diferentes formas clínicas, além de ser útil no

acompanhamento do tratamento desta doença.

8. Referências

Aebi, H., 1984. Catalase in vitro. Methods in Enzymology. 105, 121-128.

51

Barbiéri,C.L., 2006. Immunology of Canine leishmaniosis. Par. Immu. 28, 329-337.

Barbosa, K.B.F., Costa, N.M.B., Alfenas, R.C.G., de Paula, S.O., Minim, V.P.R.,

Bressan, J., 2010. Estresse oxidativo: conceito, implicações e fatores modulatórios. Rev.

Nut. 23, 629-643.

Bildik, A., Kargın, F., Seyrek, K., Pasa, S., Özensoy, S., 2004. Oxidative stress and

non-enzymatic antioxidative status in dogs with visceral Leishmaniasis. Res. Vet. Sci.

77, 63-66.

Britti, D., Sconza, S., Morittu, V.M., Santori, D., Boari, A., 2008. Superoxide dismutase

and Glutathione peroxidase in the blood of dogs with Leishmaniasis. Vet. Res.

Commun. 32, 251-254.

Campos, E.B.P., Yoshida, W.B., 2004. O papel dos radicais livres na fisiopatologia da

isquemia e reperfusão em retalhos cutâneos: modelos experimentais e estratégias de

tratamento. J. Vasc. Br. 3, 357-66.

Celi, P. 2010. The role of oxidative stress in small ruminants’ health and production. R.

Bras. Zootec. 39, 348-363.

Ciaramella, P., Corona, M., 2003. Canine leishmaniasis: clinical and diagnostic aspects.

Vet. Learn. 25, 358-368.

Chaudhuri, S., Varshney, J.P., Patra, R.C., 2008. .Erythrocytic antioxidant defense, lipid

peroxides level and blood iron, zinc and copper concentrations in dogs naturally

infected with Babesia gibsoni. Res. Vet. Sci. 85, 120–124.

Costa-Val, A.P., Cavalcanti, R.R., Gontijo, N.F., Michalick, M.S.M., Alexander, B.,

Williams, P., Melo, M.N., 2007. Canine visceral leishmaniasis: Relationships between

clinical status, humoral immune response, haematology and Lutzomyia (Lutzomyia)

longipalpis infectivity. The Vet. Journal. 174, 636-643.

52

Dimri, U., Ranjan, R., Kumar, N., Sharma, M.C., Swarup, D., Sharma, B., Kataria, M.

2008. Changes in oxidative stress indices, zinc and copper concentrations in blood in

canine demodicosis. Vet. Parasitol. 154, 98–102.

Dröge, W., 2002. Free radical in the physiological control of cell function. Physiol Rev.

82, 47-95.

Erel, O., Kocyigit, A., Bulut, V., Gurel, M.S., 1999. Free Radical Metabolisms in

Cutaneous Leishmaniasis. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 94, 179-183.

Freitas, J.C.C., Pinheiro, D.C.S.N., 2010. Aspectos celulares e moleculares da resposta

imunitária a Leishmania spp. RPCV. 109, 11-20.

Freitas, J.C.C., Pinheiro, D.C.S.N., Lopes-Neto, B.E., Santos, G.J., Abreu, C.R., Braga,

R.R., Campos, R.M., Oliveira, L.F., 2012a. Clinical and laboratory alterations in dogs

naturally infected by Leishmania chagasi. Rev.Soc. Bras. Med. Trop. 45, 24-29.

Freitas, J.C.C., Lopes-Neto, B.E., , Abreu, C.R., Coura-Vital, W., Braga, S. L., Reis, A.

B., Pinheiro, D.C.S.N., 2012b. Profile of anti-Leishmania antibodies related to clinical

picture in canine visceral leishmaniasis. Res. Vet. Sci. 93, 705-709.

Glaichenhaus, N., Mougneau, E., Bihl, F., 2011. Cell biology and immunology of

Leishmania. Immunol. Ver. 240, 286-296.

Gontijo, C.M.F., Melo, M.N., 2004. Leishmaniose Visceral no Brasil: quadro atual,

desafios e perspectivas. Ver. Bras. Epidemiol. 7, 338-349.

Halliwell, B., Guitteridge, J.M.C., Free Radicals in Biology and Medicine.4.ed. New

York: Clarendon Press, 2007, p.880.

Jain, N.C., 2000. Schalm’s, Veterinary Hematology. In: Feldman, B.F., Zinkl J.G vol. 1,

5th ed. Lippincott Williams & Wilkin,Philadelphia, pp. 1344.

53

Karadeniz, A., Hanedan, B., Cemek, M., Börküm, K., 2008. Relationship between

Canine Distemper and Oxidative Stress in dogs. Revue Méd. Vét.159, 462 – 467.

Kaye, P., Scott, P., 2011. Leishmaniasis: complexity at the host–pathogen interface.

Nature Rev. Microbiol., 9, 604-615.

Kiral F., Karagenc, T., Pasa, S., Yenisey, C., Seyrek, K., 2005. Dogs with Hepatozoon

canis respond to the oxidative stress by increased production of glutathione and nitric

oxide. Vet. Parasitol. 131, 15- 21.

Lima, M.H., 2004. Oxygen in biology and biochemistry: role of free radicals. In:

Storey, K.B., Functional Metabolism: Regulation and Adaptation, 4th ed. Wiley-

Iiss,New Jersey, pp. 319-366.

Lubos, E., Loscalzo, J., Handy, D.E., 2011. Glutathione Peroxidase-1 in Health and

Disease: From Molecular Mechanisms to Therapeutic Opportunities. Antioxid. Redox

Signal. 15, 1958-1969.

Lykkesfeldt, J., Svendsen, O., 2007. Oxidants and antioxidants in disease: Oxidative

stress in farm animals. The Vet. Journal. 173, 502–511.

Maia-Elkhoury, A.N.S., Alves, W.A., Sousa-Gomes, M.L., Sena, J.M., Luna, E.A.,

2008. Leishmaníase visceral no Brasil: evolução e desafios. Cad. Saúde Pública. 24,

2941-2947.

Mancianti, F., Gramiccia, M., Gradoni, L., Pieri, S., 1988. Studies on canine

leishmaniasis control. Evolution of infection of different clinical forms of canine

leishmaniasis following antimonial treatment. Trans. R. Soc. Trop. Med. Hyg, 82, 566–

567.

Martinez, F.O., Helming, L., Gordon, S., 2009. Alternative activation of macrophages:

An immunologic functional perspective. Ann. Rev. Immunol. 27, 451-483.

54

Naito, Y., Lee, M.C., Kato, Y., Nagai, R., Yonei, Y., 2010. Oxidative stress markers.

Anti-Aging Medicine. 7, 36-44.

Pacheco, J.L., Gonsebatt, M.E., 2009. The role of antioxidants and antioxidant-related

enzymes in protective responses to environmentally induced oxidative stress. Mutat.

Res. 674, 137–147.

Panda, D., Patra, R.C., Nandi, S., Swarup, D., 2009. Oxidative stress indices in

gastroenteritis in dogs with canine parvoviral infection. Res. Vet. Sci. 86, 36–42.

Rallis, T., Day, M.J., Saridomichelakis, M.N., Adamama-Moraitou, K.K., Papazoglou,

L., Fytianou, A., Koutinas, A.F., 2005. Chronic hepatitis associated with canine

leishmaniosis (Leishmania infantum): a clinico pathological study of 26 Cases.

J.Comp.Path. 132, 145–152.

Reis, A.B., Martins-Filho, O.A., Teixeira-Carvalho, A., Carvalho, W.M., Mayrink, W.,

França-Silva, J.C., Giunchetti, R.C., Genaro, O., Corrêa-Oliveira, R., 2006. Parasite

density and impaired biochemical/hematological status are associated with severe

clinical aspects of canine visceral leishmaniasis. Res. Vet. Sci. 81, 68-75.

Ribeiro, V.M., 2007. Leishmaniose visceral canina: aspectos de tratamento e controle.

Clínica Vet., 71, 66-76.

Silva, F.S., 2007. Patologia e patogênese da leishmaniose visceral canina. RT-CAB. 1,

20-31.

Singh, S.K., Dimri, U., Sharma, M.C., Swarup, D., Sharma, B., 2011. Determination of

oxidative status and apoptosis in peripheral blood of dogs with sarcoptic mange. Vet.

Parasitol. 178, 330–338.

Webb, C., Lehman, T., Mccord, K., Avery, P., Dow, S. 2008. Oxidative stress during

acute FIV infection in cats. Vet. Immunol. Immunopathol. 122, 16-24.

55

Zamocky, M., Furtmüller, P.G., Obinger, C., 2008. Evolution of Catalases from

Bacteria to Humans. Antiox. Redox Signal. 10, 1527-1547.

56

7. CONCLUSÕES

As atividades das enzimas glutationa peroxidase (GPx) e catalase (CAT)

eritrocitária apresentaram-se reduzidas em cães naturalmente infectados com L. chagasi

e houve correlação positiva moderada entre CAT e hemoglobina (Hb).

Estes dados nos levam a concluir que CAT e GPx estão envolvidas no estresse

oxidativo da LVC e que podem ser utilizadas como biomarcadores. Contudo, outros

estudos são necessários para avaliar outros marcadores do estresse oxidativo na

patogenia da LVC em suas diferentes formas clínicas.

57

8. PERSPECTIVAS

A leishmaniose visceral canina no Brasil é uma doença presente em quase todas

as regiões do país e por ser uma zoonose, representa grave problema de saúde pública

levando vários desafios para os profissionais da saúde. Desta forma, há uma necessidade

cada vez maior de ações voltadas para o controle da leishmaniose visceral canina, já que

as infecções nestes animais precedem a infecção humana.

Pela grande relevância desta zoonose, todos os estudos que forneçam dados para

melhor compreensão da leishmaniose tornam-se importantes, pois muitos fatores ainda

não são bem esclarecidos na patogenia da doença. Assim, os resultados encontrados

neste trabalho são os primeiros descritos na literatura na leishmaniose visceral canina no

Brasil. Novos estudos devem ser realizados com o objetivo de avaliar o estresse

oxidativo de maneira sistêmica e nos diferentes órgãos e tecidos dos animais infectados

por L. chagasi.

58

9. REFERÊNCIAS

ABREU-SILVA, A.L.; LIMA, T.B; MACEDO, A.A.; DIAS, E.; BATISTA, Z.S.;

CALABRESE, K.S.; MORAES, J.L.; RABÊLO, J.M.; GUERRA, R.M.

Soroprevalência, aspectos clínicos e bioquímicos da infecção por Leishmania em cães

naturalmente infectados e fauna de flebotomíneos em uma área endêmica na ilha de São

Luís, Maranhão, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 17, supl. 1,

p. 197-203, 2008.

ABBAS, A. B. ; LITCHMAN A. H. ; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 6 ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 564p.

AGA, E.; KATSCHINSKI, D.M.; van ZANDBERGEN, G.; LAUFS, H.; HANSEN, B.;

MULLER, K.; SOLBACH, W.; LASKAY, T. . Inhibition of the spontaneous apoptosis

of neutrophil granulocytes by the intracellular parasite Leishmania major. The Journal

of Immunology, v. 169, p. 898-905, 2002.

ALBUQUERQUE, A.R.; ARAGÃO, F.R.; FAUSTINO, M.A.G.; GOMES, Y.M.; LIRA, R.A.; NAKASAWA, M.; ALVES, L.C. Aspectos clínicos de cães naturalmente infectados Leishmania

(Leishmania) chagasi na região metropolitana de Recife. Clínica Veterinária, v. 71, p.

78-84, 2007.

ALEXANDER, J.; BRYSON, K. T helper (h)1/Th2 and Leishmania: paradox rather

than paradigm. Immunology Letters, v. 99, p. 17–23, 2005.

ARTHER, R.G. Mites and Lice: Biology and Control. Veterinary Clinics Small Animal

Practice, v. 39, p. 1159–1171, 2009.

ASSCHE, T.V.; DESCHACHT, M.; DA LUZ, R.A.I.; MAES, L.; COS, P.Leishmania–

macrophage interactions: insights into the redox biology. Free Radical Biology &

Medicine, v.51, p. 337-351, 2011.

BABIOR, B.M. NADPH oxidase. Current Opinion in Immunology, v. 16, p. 42–47,

2004.

BARBIÉRI C.L. Immunology of canine leishmaniosis. Parasite Immunology, v. 28, p.

329-337, 2006.

BARREIROS, L.B.S.; DAVID, J.M.; DAVID, J.P. Estresse oxidativo: relação entre

geração de espécies reativas e defesas do organismo. Química Nova, São Paulo, v.

29, n. 1, 2006.

59

BATINIC-HABERLE, I.; REBOUÇAS, J.S.; SPASOJEVIC, I. Superoxide dismutase

mimics: chemistry, pharmacology, and therapeutic potential. Antioxidants & Redox

Signaling, v. 13, n. 6, p. 879-918, 2010.

BILDIK, A; KARGIN, F; SEYREK, K.; PASA, S.; ÖZENSOY, S. Oxidative stress

and non-enzymatic antioxidative status in dogs with visceral Leishmaniasis. Research in

Veterinary Science, v. 77, n.1, p.63-66, 2004.

BRASIL, Ministério da Saúde. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose

Visceral. Brasília: Ministério da Saúde, 2006, 120 p.

BRITO, F. L. C ; et al. Uveitis associated to the infection by Leishmania chagasi in dog

from Olinda city, Pernambuco, Brazil, Ciência Rural, n.34, p. 925-929, 2004.

BRITTI, D; SCONZA, S; MORITTU, V. M.; SANTORI, D; BOARI, A. Superoxide

dismutase and Glutathione peroxidase in the blood of dogs with Leishmaniasis.

Veterinary Research Communication, v. 32, n. 1, p. 251-254, 2008.

CAMARGO-NEVES V. L. F. et al. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose

Visceral Americana do Estado de São Paulo.São Paulo: Secretaria de Estado da Saúde,

2006, 145 p.

CAMKERTEN, I.; SAHIN, T.; BORAZAN, G.; GOKCEN, A.; EREL, O.; DAS. A.

Evaluation of blood oxidant/antioxidant balance in dogs with sarcoptic mange.

Veterinary Parasitology, v. 161, p. 106–109, 2009.

CAMPOS , E.B.P.; YOSHIDA, W.B. O papel dos radicais livres na fisiopatologia da

isquemia e reperfusão em retalhos cutâneos: modelos experimentais e estratégias de

tratamento. Jornal Vascular Brasileiro, v. 3, n. 4, 2004.

CHANSAISAKORN, W.; SRIPHAVATSARAKORN, P.; SOPAKDITTAPONG, P.;

TRISIRIROJ, M.; PONDEENANA, S.; BURANAKARL, C. Oxidative stress and

intraerythrocytic concentrations of sodium and potassium in diabetic dogs. Veterinary

Research Communication, v. 33, p. 67–75, 2009.

CHAUDHURI, S.; VARSHNEY, J.P.; PATRA, R.C. Erythrocytic antioxidant defense,

lipid peroxides level and blood iron, zinc and copper concentrations in dogs naturally

infected with Babesia gibsoni. Research in Veterinary Science, v. 85, p. 120–124, 2008.

CIARAMELLA, P.; CORONA, M. Canine leishmaniasis: clinical and diagnostic

aspects. VetLearn, v. 25, n.5, p. 358-368, 2003.

COELHO, W.M.D.; LIMA, V.M.F.; AMARANTE, A.F.T.; LANGONI, H.; PEREIRA,

V.B.R.; ABDELNOUR, A.; BRESCIANE, K.D.S. Occurrence of Leishmania

(Leishmania) chagasi in a domestic cat (Felis catus) in Andradina, São Paulo, Brazil:

60

case report. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 19, n. 4, p. 256-258,

2010.

COSTA, F. A. I. et al. CD4+ T cells participate in the nephropathy of canine viceral

leishmaniasis. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 33, p. 1455-

1458, 2000.

COUTINHO, J. F. V. Estudo clínico-laboratorial e histopatológico de cães naturalmente

infectados por Leishmania chagasi com diferentes graus de manifestação clínica. 2005.

p. 102. Dissertação (Mestrado em Bioquímica) – Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, Natal. 2005.

CRNOGAJ, M.; PETLEVSKI, R.; MRLJAK, V.; KIS, I.; TORTI, M.; KUCER, N.;

MATIJATKO, V.; SACER, I.; STOKOVIC, I. Malondialdehyde levels in serum of

dogs infected with Babesia canis. Veterinary Medicine, v. 55, n. 4, p. 163–171, 2010.

DANTAS-TORRES, F. The role of dogs as reservoirs of Leishmania parasites with

emphasis on Leishmania (Leishmania) infantum and Leishmania (Viannia) brazileinsis.

Veterinay Parasitology, v. 149, p. 139-146, 2007.

DEATON, C.M.; MARLIN, D.J. Exercise-associated oxidative stress. Clinical

Techniques in Equine Practice, v. 2, n. 3, 2003.

DIMRI, U.; RANJAN, R.; KUMAR, N.; SHARMA, M. C.; SWARUP, D.; SHARMA,

B.; KATARIA, M. Changes in oxidative stress indices, zinc and copper concentrations

in blood in canine demodicosis. Veterinary Parasitology, v. 154, p. 98–102, 2008.

DRAPER, H.H.; HADLEY, M. Malondialdehyde determination as index of lipid

peroxidation. Methods in Enzymology, v. 186, p. 421–431, 1990.

DRÖGE W. Free radical in the physiological control of cell function. Physiological

Reviews, v.82, n. 1, 2002.

DUNLAP, K.L.; REYNOLDS, A.J.; DUFFY, L.K. Total antioxidant power in sled

dogs supplemented with blueberries and the comparison of blood parameters associated

with exercise. Comparative Biochemistry and Physiology, v. 143, p. 429 – 434, 2006.

EUGÊNIO, F.R.; ANDRADE, A.L.; BABO-TERRA, V.J. Estudo clínico-laboratorial

das articulações na leishmaniose experimental em cães. Veterinária e Zootecnia, v. 15,

n. 2, p. 278-287, 2008.

FERRARI, C.K.B. Capacidade antioxidante total (CAT) em estudos clínicos,

experimentais e nutricionais. Journal of the Health Sciences Institute, v. 28, p. 307-

310, 2010.

61

FREITAS, J. C. C.; PINHEIRO, D. C. S. N. Aspectos celulares e moleculares da

resposta imunitária a Leishmania spp. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v.

109, p. 11-20, 2010.

FREITAS, J. C. C.; PINHEIRO, D. N.; LOPES-NETO, B. E.; SANTOS, G. J.;

ABREU, C. R.; BRAGA, R. R.; CAMPOS, R. M.; OLIVEIRA, L. F. Clinical and

laboratory alterations in dogs naturally infected by Leishmania chagasi. Revista da

Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 45, n.1, p. 24-29, 2012a.

FREITAS, J. C. C. ; LOPES NETO, B. E.; ABREU, C. R. A.; COURA-VITAL, W.;

BRAGA, S. L.; REIS, A. B.; PINHEIRO, D. C. S. N. Profile of anti-Leishmania

antibodies related to clinical picture in canine visceral leishmaniasis. Research in

Veterinary Science, v. 93, p. 705-709, 2012b.

CONTIJO, C.M.F.; MELO, M.N. Leishmaniose visceral no Brasil: quadro atual,

desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 7, n. 3, p. 338-349,

2004.

GOTO, H.; PRIANTI, M.G. Immunoactivation and immunopathogeny during active

visceral leishmaniasis. Revista do Instituto de Medicina tropical de São Paulo,v. 51, n.

5, p. 241-246, 2009.

GLAICHENHAUS, N.; MOUGNEAU, E.; BIHL, F. Cell biology and immunology of

Leishmania. Immunological Reviews, v. 240, p. 286-296, 2011.

HALLIWELL, B.; GUITTERIDGE, J. M. C. Free Radicals in Biology and Medicine.

4.ed. New York: Clarendon Press, 2007, p.880.

HINCHCLIFF, K.W.; REINHART, G.A.; DISILVESTRO, R.; REYNOLDS, A.

BLOSTEIN-FUJII, A. SWENSON, R.A. Oxidant stress in sled dogs subjected to

repetitive endurance exercise. American Journal of Veterinary Research, v. 61, n. 5,

p. 512-517, 2000.

IMLAY, J.A. Pathways of oxidative damage. Annual Review of Microbiology, v. 57, p.

395–418, 2003.

IMMENSCHUH, S.; VOGT, B. PEROXIREDOXINS, oxidative stress, and cell

proliferation. Antioxidant & Redox Signaling, v. 7, p. 768–777, 2005.

INIESTA, L.; GÁLLEGO, M.; PORTÚS, M. Immunoglobulin G and E responses in

various stages of canine leishmaniosis. Veterinary Immunol and Immunopathology, v.

103, n. 1/2, p. 77–81, 2005.

62

KAPUN, A.P.; SALOBIR, J.; LEVART, A.; KOTNIK, T.; SVETE, A.N. Oxidative

stress markers in canine atopic dermatitis. Research in Veterinary Science, v. 92, p.

469-470, 2012.

KARADENIZ, A.; HANEDAN, B.; CEMEK, M.; BÖRKÜM. K. Relationship between

Canine Distemper and oxidative stress in dogs. Revue Médicine Véterinaire, v.159, n. 8-

9, p. 462 – 467, 2008.

KAYE, P.; SCOTT, P. Leishmaniasis: complexity at the host–pathogen interface.

Nature Reviews: Microbiology, v. 9, p. 604-615, 2011.

KIRAL F, KARAGENC T, PASA S, YENISEY C, SEYREK K, , Dogs with

Hepatozoon canis respond to the oxidative stress by increased production of glutathione

and nitric oxide. Veterinary Parasitology, v. 131, p. 15- 21, 2005.

KIRSCHVINK, N.; MOFFARTS, B.; LEKEUX, P. The oxidant/antioxidant

equilibrium in horses. The Veterinary Journal, v. 177, p. 178–191, 2008.

KLOTZ, L.O.; KRONCKE, K.D; BUCHCZYK, D.P.; SIES, H. Role of copper, zinc,

selenium and tellurium in the cellular defense against oxidative and nitrosative stress.

The Journal of Nutrition, v. 133, p. 1448-1451, 2003.

KOHEN, R.; NYSKA, A. Oxidation of biological systems: Oxidative stress

phenomena, antioxidants, redox reactions, and methods for their quantification.

Toxicologic Pathology, v. 30, n. 6, p. 620-650, 2002.

KUMAR, A.; VARSHNEY, J.P.;. PATRA A .R. Comparative study on oxidative stress

in dogs infected with Ehrlichia canis with or without concurrent infection with Babesia

gibsoni. Veterinary Research Communications, v. 30, p. 917–920, 2006.

LIMA, E.S; ABDALLA, D.S.P. Peroxidação lipídica: mecanismos e avaliação em

amostras biológicas. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 37, n. 3, p. 293-

303, 2001.

LIMA, M. H. Functional metabolism: regulation and adaptation, edited by Kenneth B.

Storey. 2004. 594 p. Ontario Canada. Editado por Wiley-Iiss, Inc., Hoboken, New

Jersey.

LIMÓN-PACHECO, J. L.; GONSEBATT, M. E. The role of antioxidants and

antioxidant-related enzymes in protective responses to environmentally induced

oxidative stress. Mutation Research, v. 674, p. 137–147, 2009.

LUBOS, E.; LOSCALZO, J.; HANDY, D.E. Glutathione peroxidase-1 in health and

disease: from molecular mechanisms to therapeutic opportunities. Antioxidants & Redox

Signaling, v. 15, n. 7, p. 1958-1969, 2011.

63

LUVIZOTTO, M.C.R. Alterações patológicas em animais naturalmente infectados. IN:

1º Fórum sobre Leishmaniose Visceral Canina. Faculdade de Ciências Agrárias e

Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, março, 2006.

LYKKESFELDT, J.; SVENDSEN, O. Oxidants and antioxidants in disease: oxidative

stress in farm animals. The Veterinary Journal, n. 173, p. 502–511, 2007.

MCMAHON-PRATT D.; ALEXANDER, J. Does the Leishmania major paradigm of

pathogenesis and protection hold for new world cutaneous leishmaniases or the visceral

disease? Immunological Reviews, v. 201, p. 206-224, 2004.

MANDELKER, L.; VAJDOVICH, P. Oxidative stress in applied basic research and

clinical practice. 1ed. New York: Humana Press, 2011, 260p.

MARQUES, M. I. L. M. Leishmaniose canina. 2008. p. 131. Dissertação (Mestrado) –

Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa. 2008.

MONTEIRO, E.M.; SILVA, J.C.; COSTA, R.T.; BARATA, R.A., PAULA, E.V.;

LINS, G.L.; ROCHA, M.F.; DIAS, E.S. Leishmaniose visceral: estudo de

flebotomíneos e infecção canina em Monte Claros, Minas Gerais. Revista da Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical,v.38, n.2, p. 147-152, 2005.

MORDASKI, R.Y.; SOUSA, J.C.; COSTA, J.F.; FREITAS, K.C.; PASSONI, C.R.

Sousa. Leishmaniose visceral: ciclo biológico. Cadernos da Escola de Saúde, n. 03, p.

1-2, 2009.

NAITO, Y.; LEE, M.C.; KATO, Y.; NAGAI, R.; YONEI, Y. Oxidative stress markers.

Anti-Aging Medicine, v. 7, n. 5, p. 36-44, 2010.

NAKAMURA, H. Thioredoxin and its related molecules: Update 2005. Antioxidant &

Redox Signaling, v. 7, n.5, p. 823-828, 2005.

PALTRINIERI, S.; RAVICINI, S.; ROSSI, G.; ROURA, R. Serum concentrations of

the derivatives of reactive oxygen metabolites (d-ROMs) in dogs with leishmaniosis.

The Veterinary Journal, v. 186, p. 393–395, 2010.

PANDA, D.; PATRA, R. C.; NANDI, S.; SWARUP, D. Oxidative stress indices in

gastroenteritis in dogs with canine parvoviral infection. Research in Veterinary Science,

n. 86, p. 36–42, 2009.

PASQUINI A.; LUCHETTI, E.; MARCHETTI, V.; CARDINI, G.; IORIO, E.L.

Analytical performances of d-ROMs test and BAP test in canine plasma. Definition of

the normal range in healthy Labrador dogs. Veterinary Research Communication, v. 32,

p. 137–143, 2008.

64

PASQUINI, A.; LUCHETTI, E.; CARDINI, G. Evaluation of oxidative stress in

hunting dogs during exercise. Research in Veterinary Science , v.89, p. 120–123, 2010.

PIN, D.; BENSIGNOR, E.; CARLOTTI, D.N.; CADIERGUES, M.C. 2006.

Localisedsarcoptic mange in dogs: a retrospective study of 10 cases. The Journal of

Small Animal Practice, v. 47, n. 10, p. 611-614, 2006.

PINHÃO, C. P. R. Leishmaniose canina: estudo de 158 casos da região de Lisboa.

2009. p. 54. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade

Técnica de Lisboa, Lisboa. 2009.

POULSEN, H.E. Oxidative DNA modifications. Experimental and Toxicologic

Pathology, v. 57, p. 1161-1169, 2005.

RIBEIRO V.M. 2004. Leishmaniose visceral canina. Manual técnico – Leishmaniose

Visceral Canina. Fort Dodge. 52p.

RIBEIRO, V. M. Leishmaniose visceral canina: aspectos de tratamento e controle.

ClínicaVeterinária, n.71, p. 66-76, 2007.

SANT’ANA, J. A .P. et al. Hepatic granulomas in canine visceral leishmaniasis and

clinical status. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59, n.5,

p.1137-1144, 2007.

SANTOS, C. A. C. Percepção, epidemiologia e aspectos clínicos da leishmaniose

visceral canina em área urbana do Estado de Pernambuco. 2006. p. 61. Dissertação

(Mestrado em Ciência Veterinária) – Departamento de Medicina Veterinária,

Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife. 2006.

SEGAL, A.W. How neutrophils kill microbes. Annual Review Immunology, v. 23, p.

197-223, 2005.

SILVA, M. V. Avaliação de testes sorológicos para leishmaniose visceral canina

utilizando coleta de amostra sanguínea em papel filtro. 2005. p. 163. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, 2005.

SILVA, F. S. Patologia e patogênese da leishmaniose visceral canina. Revista tropica –

Ciências Agrárias e Biológicas.v. 1, n. 1, p. 20-31, 2007.

SINGH, S. K. ; DIMRI, U. ; SHARMA, M. C. ; SWARUP, D. ; SHARMA, B.

Determination of oxidative status and apoptosis in peripheral blood of dogs with

sarcoptic mange. Veterinary Parasitology, v. 178, p. 330–338, 2011.

SONG, O. Oxidative stress: a theoretical model or a biological reality? Comptes Rendus

Biologies, v. 327, p. 649–662, 2004.

65

TODOROVA, I.; SIMEONOVA, G.; KYUCHUKOVA, D.; DINEV, D.; GADJEVA,

V. Reference values of oxidative stress parameters (MDA, SOD, CAT) in dogs and cats.

Comparative Clinical Pathology, v. 13, p. 190–194, 2005.

UNDERHILL, D.M.; OZINSKY, A. Phagocytosis of microbes: complexity in action.

Annual Review Immunology, v. 20, p. 825-852, 2002.

VALKO, M.; LEIBFRITZ, D.; MONCOL, J.; CRONIN, M.T.D.; MAZUR M.;

TELSER, J. Free radicals and antioxidants in normal physiological functions and human

disease. The International Journal of Biochemistry & Cell Biology, v.39, p. 44-84, 2007.

van der VEEN, B.S.; MENNO, P.J.; de WINTHER.; HEERINGA, P. Myeloperoxidase:

molecular mechanisms of action and their relevance to human health and disease.

Antioxidant & Redox Signaling, v. 11, n. 11, p. 2900-2937, 2009.

VANNUCCHI, C.I.; JORDAO, A.A.; VANNUCCHI H. Antioxidant compounds and

oxidative stress in female dogs during pregnancy. Research in Veterinary Science, v.

83, p. 188-193, 2007.

VASCONCELOS, M. F. Aves observadas no Parque Paredão da Serra do Curral, Belo

Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Atualidades Ornitológicas, v. 136, p. 6–11, 2007.

WEBB, C.; LEHMAN, T.; MCCORD, K.; AVERY, P.; DOW, S.Oxidative stress

during acute FIV infection in cats. Veterinary Immunology and Immunopathology, v.

122, p. 16-24, 2008.

XAVIER, S.C. et al. Canine visceral leishmaniasis: a remarkable histopathological

picture of one asymptomatic animal reported from Belo Horizonte, Minas Gerais,

Brazil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.58, p.994-1000,

2006.

ZAMOCKY, M.; FURTMÜLLER, P. G.; OBINGER, C. Evolution of catalases from

bacteria to humans. Antioxidants & Redox Signaling, v. 10, n. 9, p. 1527-1547, 2008.

66

Anexo 1

67

Anexo 2

Comprovante de submissão