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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO EM GEOGRAFIA
REJANE MARIA DE SOUZA
O BENFICA DA EDUCAÇÃO: PAISAGEM E FOTOGRAFIA
FORTALEZA - CEARÁ
2014
REJANE MARIA DE SOUZA
O BENFICA DA EDUCAÇÃO: PAISAGEM E FOTOGRAFIA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico
em Geografia do Programa de Pós - Graduação em Geografia
do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de
mestre em Geografia. Área de concentração: Análise
Geoambiental e Ordenamento de Territórios de Regiões
Semiáridas e Litorâneas.
Orientador: Prof. Ph.D. Raimundo Elmo de Paula
Vasconcelos Júnior.
FORTALEZA - CEARÁ
2014
A Deus, aos meus pais Cira e José, e todos
aqueles que contribuíram nessa jornada.
AGRADECIMENTOS
Agradecer sempre é uma difícil tarefa, ainda mais nessa pesquisa, na qual diversas pessoas
tiveram importantes contribuições nesse momento gratificante e ao mesmo tempo bastante
delicado, necessitando de muito esforço e dedicação para a conclusão da tão merecida
dissertação.
Primeiramente desejo agradecer a Deus por ter me proporcionado a realização e a continuação
dos meus estudos, não me deixando em nenhum momento desamparada. Nos momentos mais
difíceis de angústia, ele me ajudou, dando-me forças para continuar essa jornada.
Merece destaque nesse momento a minha família, que me apoiou em todas as decisões e não
mediu esforços para que eu pudesse prosseguir na carreira acadêmica. Para os meus pais deixo
a minha eterna gratidão, pois apesar de todas as dificuldades nunca desacreditaram minha
capacidade, e me proporcionaram o melhor para que pudesse concluir essa importante etapa da
minha vida.
Uma pessoa a quem tenho muito a agradecer é meu orientador, professor Dr. Elmo
Vasconcelos, que desde o início da minha graduação sempre me incentivou, crendo no meu
potencial e me fazendo a cada dia acreditar que eu poderia melhorar nas minhas atitudes;
observando os meus erros e acertos, sem perder a seriedade de um orientador e a afabilidade de
um amigo.
Aos moradores e frequentadores do bairro, assim como aos estudantes, aos professores e aos
funcionários da Universidade Federal do Ceará (UFC), desejo agradecer profundamente pelas
importantes contribuições que deram à pesquisa. Sem vocês os resultados alcançados nessa
dissertação não seriam possíveis. Apesar de todos esses terem sua importância, gostaria de
destacar o apoio da funcionária da UFC, Mônica Monteiro Vasconcelos. Suas contribuições
foram de grande relevância no período das entrevistas e também durante a fase de pesquisa
sobre a história da Universidade.
Ainda desejo agradecer à minha turma de Mestrado, à Fundação Cearense de Apoio a Pesquisa
(FUNCAP) pelo apoio financeiro, ao Programa de Pós Graduação em Geografia (PROPGEO)
e à sua coordenadora Prof.ª. Drª Lucia Brito. Aos professores que contribuíram para o
desenvolvimento da pesquisa e o meu amadurecimento intelectual deixo os meus sinceros
agradecimentos. Não poderia deixar de lembrar das secretárias do Propgeo, Júlia e Adriana, que
sempre com sorrisos me recebiam quando necessitava resolver os assuntos burocráticos. À
Aparecida, auxiliar de serviços gerais, agradeço pelo café, me ajudando quando as poucas horas
de sono eram insuficientes.
Aos professores que participaram da banca examinadora, Dr. Josier Ferreira da Silva e Drª Keila
Andrade Haiashida, desejo agradecer profundamente pelo tempo que disponibilizaram para a
participação desse tão importante momento.
“Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco
de si e leva um pouquinho de nós” (Charles Chaplin). Desejo agradecer ao Anderson por toda
a paciência nestes dois anos, ele sempre fez parte dos momentos de alegrias, assim como os de
tristeza e angústia. O Seu apoio foi de fundamental relevância para a conclusão da pesquisa,
pois sempre tive sua compreensão nos momentos mais difíceis.
Desejo falar a todos aos meus amigos o meu muito obrigada. Sempre levarei comigo os
momentos que vivemos juntos, não somente aqueles de boemia e diversão, mas também aqueles
mais complexos em que vocês me ajudaram. Recebam o meu abraço, Erica Pinheiro, William
Yanone, Kinsley, Jean Felipe, Heron Freire, Camila Dutra, João Vitor, Naiana Paula, Stanley
Braz, Rachel Facundo, Josué, Yara Castro, Sandra Gomes e Ana Maria Amaral.
Entre os amigos, alguns merecem destaque, por sua lealdade e companheirismo, como a Erica
Pinheiro. Sua companhia foi inquestionável em todo o meu percurso acadêmico, ou melhor,
desde o cursinho pré-universitário. Essa, além de me alegrar nos dias de esforço teórico na sala
de estudos do Propgeo, apoiou-me em todos os momentos difíceis durante todo o período do
mestrado.
RESUMO
O bairro Benfica, localizado na cidade de Fortaleza, é um espaço que se destaca pelas diversas
instituições de educação do ensino básico e superior, dentre elas a Universidade Federal do
Ceará (UFC). Essa instituição, ao longo do tempo, alterou significativamente a paisagem do
bairro, principalmente com as diversas instalações administrativas e acadêmicas, assim como o
intenso fluxo de pessoas nesse espaço, que mantém constantes relações com o bairro e a
Universidade. A paisagem se destaca como um dos importantes conceitos da geografia. A partir
dela, são verificadas as práticas culturais refletidas no dia a dia pelos sujeitos do bairro Benfica:
moradores antigos, frequentadores, professores, alunos e funcionários da UFC. A pesquisa tem
como objetivo entender as alterações na paisagem do bairro Benfica após a criação da UFC
através da percepção das fotografias antigas pelos diferentes sujeitos que compõem o bairro.
Na análise, a fotografia foi selecionada como fonte principal. A partir dela, é possível analisar
as alterações na paisagem do bairro através da percepção dos sujeitos. Em virtude da
importância desses, e de suas percepções, a base teórica e metodológica é fundamentada na
abordagem realizada pela Nova Geografia Cultural e no método fenomenológico. Para o
desenvolvimento da pesquisa, foram necessários alguns procedimentos operacionais, tais como
a revisão bibliográfica, a elaboração de mapas e o trabalho de campo. Nesse, foram realizadas
entrevistas semiestruturadas com os sujeitos da pesquisa. Juntamente com as entrevistas, foram
mostradas diferentes fotografias antigas do bairro para os entrevistados. Com essas, foram
obtidos resultados pertinentes acerca da percepção dos sujeitos sobre a paisagem. Para eles, a
UFC possui grande relevância nas alterações na paisagem do Benfica, propiciando, ao mesmo
tempo, a preservação do patrimônio cultural do bairro. Os sujeitos demonstraram que as
relações que possuem com o bairro vão além de um simples lócus de trabalho, moradia, lazer e
estudo, revelando sentimento de pertencimento com o lugar a partir da análise da paisagem.
Palavras – chave: Paisagem. Benfica. Fotografia. Sujeitos.
ABSTRACT
The Benfica district, located in the city of Fortaleza, is a space that is distinguished by the
different educational institutions of basic education and higher education, among them the
Federal University of Ceará (UFC). This institution, over time, significantly alter the landscape
of the neighborhood, especially with the various administrative and academic facilities, as well
as the intense flow of people in that space, which maintains constant relations with the
neighborhood and the University. The landscape stands as one of the important concepts of
geography. From it, are verified cultural practices reflected in everyday life by the subject of
the ancient dwellers Benfica: neighborhood regulars, teachers, students and employees of the
UFC. The research aims to understand the changes in the landscape of the Benfica
neighbourhood after the creation of the UFC through the perception of old photographs by
different subjects that make up the neighborhood. In the analysis, the photograph was selected
as primary source. From it, it is possible to analyze the changes in the landscape of the
neighborhood through the perception of the subject. In view of the importance of these, and of
their perceptions, the theoretical and methodological basis is based on the approach undertaken
by the New Cultural geography and the phenomenological method. For the development of
research, it took some operational procedures, such as the literature review, the preparation of
maps and fieldwork. In this, semi-structured interviews were conducted with the subjects of the
research. Along with the interviews, were shown different old photographs of the neighborhood
for respondents. With those relevant results were obtained concerning the subjects ' perception
about the landscape. For them, the UFC has great relevance in the changes in the landscape of
Benfica, providing, at the same time, the preservation of the cultural heritage of the
neighborhood. The subjects demonstrated that relationships that have with the neighborhood
go beyond a single locus of work, housing, leisure and study, revealing sense of belonging with
the place from the analysis of the landscape.
Keywords: Landscape. Benfica. Photo. Subject.
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1- Visita do Reitor Martins Filho à reforma da Reitoria e à construção da
ConchaAcústica...............................................................................................
59
Fotografia 2 - Visita do presidente Humberto de Alencar Castelo Branco à UFC para a
inauguração da residência estudantil universitária..........................................
61
Fotografia 3 - Avenida Visconde do Cauípe. ........................................................................ 78
Fotografia 4 - Ginásio Santa Cecília . ................................................................................... 79
Fotografia 5 - Ginásio Santa Cecília . ................................................................................... 80
Fotografia 6 - Escola Industrial.. ........................................................................................... 80
Fotografia 7 - Palacete João Gentil........................................................................................ 83
Fotografia 8 - Grupo Escolar Benfica.................................................................................... 84
Fotografia 9 - Palacete de José Gentil Alves de Carvalho..................................................... 85
Fotografia 10 - Casa de João Tomé de Sabóia e Silva............................................................ 85
Fotografia 11 - Giratório entre as Avenidas 13 de maio e Universidade................................ 86
Fotografia 12 - Portão do Palacete Gentil aproveitado por muito tempo como entrada
principal da Reitoria........................................................................................
87
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Localização da área de estudo............................................................................ 15
Mapa 2 - Ruas e limites do bairro Benfica......................................................................... 19
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADAUFC Associação de Docentes Aposentados e Pensionas de Docentes
Aposentados da Universidade Federal do Ceará
CAEN Curso de Pós-Graduação em Economia
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará
CETREDE Centro de Treinamento e Desenvolvimento Regional
CLEC Centro de Línguas Estrangeiras do CEFET-CE
CEPEP Centro de Estudo e Pesquisa em Eletrônica Profissional e Informática
Limitada
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEU Clube dos Estudantes Universitários
CNPQ Conselho Nacional de Pesquisa
FACED Faculdade de Educação
FEAAC Faculdade de Economia, Administração, Atuária, Contabilidade e
Secretariado Executivo
FIEC Federação das Indústrias do Ceará
FUMDHAM Fundação Museu do Homem Americano
IFCE Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
GEPECED Grupo de Pesquisa em Espaço, Cultura e Educação
GLBTT Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais
LABOMAR Instituto de Ciências do Mar
MAG Mestrado Acadêmico em Geografia
IPE Instituto de Pesquisas Econômicas
ICA Instituto de Cultura e Arte
OEA Organização dos Estados Americanos
PSD Partido Social Democrático
PROPGEO Programa de Pós Graduação em Geografia
SAL Sistema de Automação Universitária
SIGS Sistemas de Informações Geográficas
UECE Universidade Estadual do Ceará
UDN União Democrática Nacional
UFC Universidade Federal do Ceará
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................. 14
2 OS CONCEITOS DE PAISAGEM E IMAGEM .......................... 31
2.1 APONTAMENTOS SOBRE O CONCEITO DE PAISAGEM NA
GEOGRAFIA....................................................................................
31
2.2 A IMAGEM FOTOGRÁFICA........................................................... 41
3 A EDUCAÇÃO NA PAISAGEM DO BENFICA DE ONTEM E
DE HOJE............................................................................................
52
3.1 UM POUCO DA HISTÓRIA DO BAIRRO ....................................... 52
3.2 A HISTÓRIA DA UFC...................................................................... 55
3.2.1 Primeiro período: A criação da UFC, a escolha do primeiro reitor,
e os doze primeiros anos de instituição.......................................
56
3.2.2 Segundo Período: Os principais feitos dos reitorados de 1967 até
os dias atuais.......................................................................................
63
3.3 A UFC E AS ALTERAÇÕES NA PAISAGEM DO BAIRRO
BENFICA.............................................................................................
67
4 A FOTOGRAFIA COMO POSSIBILIDADE DE LEITURA DA
PAISAGEM DO BENFICA..............................................................
75
4.1 A PAISAGEM DO BENFICA EXPRESSADA EM SUAS
FOTOGRAFIAS...................................................................................
75
4.2 A FOTOGRAFIA E O ESPECTADOR................................................ 88
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. 95
REFERÊNCIAS.................................................................................. 98
APÊNDICES .......................................................................................
104
14
1 INTRODUÇÃO
(...) qualquer paisagem é composta não apenas por aquilo que está à
frente dos nossos olhos, mas também por aquilo que se esconde em
nossas mentes (MEINIG, 2002, p. 35).
A presente dissertação está inserida nos estudos relacionados à paisagem, à
geografia e à fotografia. Nessa iremos analisar, através da percepção dos sujeitos que compõem,
o bairro Benfica - localizado na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará (Mapa1) -, e as
alterações em sua paisagem a partir da criação de uma importante instituição de ensino, a
Universidade Federal do Ceará (UFC). Nessa abordagem, a fotografia está inserida
intrinsicamente, demostrando, através da percepção dos sujeitos sociais, o entendimento sobre
a paisagem do bairro.
Tendo por base as ideias de Charlot (2000), os sujeitos são seres humanos abertos
ao mundo. Esses possuem historicidades e são portadores de desejos, e são movido por eles. O
sujeito é um ser social que tem uma história e interpreta o mundo a partir de suas experiências
e vivências. Os sujeitos são ativos e, ao mesmo tempo que eles agem sobre o mundo, é
produzido um conjunto de relações sociais no qual eles se inserem.
A pesquisa a ser apresentada teve seu início nos estudos realizados na graduação
juntamente com o Grupo de Pesquisa em Espaço, Cultura e Educação (GEPECED), que tem
como coordenador o Prof. Dr. Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Júnior, meu orientador.
Os estudos desenvolvidos no GEPECED resultaram no trabalho para a conclusão
do curso de graduação em geografia, cujo título foi o seguinte: O Benfica da educação: uma
análise espacial do bairro enquanto lócus de instituições educacionais. Nesta pesquisa buscou-
se entender a relação entre as políticas educacionais e as modificações na dinâmica espacial.
15
Mapa 1- Localização da área de estudo
Fonte: Salvador ,2014.
16
A partir do trabalho de conclusão da graduação e no decorrer dos estudos
geográficos relacionados ao Benfica como espaço da educação, desenvolveu-se um olhar
peculiar referente às alterações que ocorreram, e que continuam acontecendo em sua paisagem
após a criação da UFC. Essa perspectiva foi de fundamental relevância para a elaboração do
projeto de pesquisa junto ao Mestrado Acadêmico em Geografia (MAG), originando
posteriormente essa dissertação.
O Benfica é um espaço privilegiado para os estudos das paisagens urbanas. Fatores
históricos e atuais fazem do bairro um lócus onde podemos desenvolver diversos estudos em
diferentes áreas do conhecimento, como a geografia, a nossa base para o estudo a ser
apresentado.
Esse bairro possui muitas referências históricas para a cidade de Fortaleza, dentre
elas as muitas famílias importantes do cenário social, político e econômico que residiam no
Benfica. Entre essas, é incontestável a significância da família Gentil, que tinha como patriarca
o comerciante e empresário José Gentil Alves de Carvalho. Suas raízes se encontram em Sobral,
município localizado na região norte do estado do Ceará.
Essa importante personalidade veio residir no Benfica, onde comprou uma chácara
para ser a sua residência. Essa passou por diversas reformas e, posteriormente no ano de 1959,
foi vendida para a UFC para ser a sede da reitoria (VASCONCELOS JÚNIOR, 1999).
A importância de José Gentil Alves de Carvalho está interligada à compra de
terrenos vizinhos a sua residência no Benfica, onde o mesmo construiu diversos tipos de
moradia para diferentes classes sociais que estavam se fixando na cidade de Fortaleza, como
profissionais liberais, professores, médicos e advogados. Essa área demarcada pelas residências
construídas pelo empresário ficou conhecida como Gentilândia. Com esta denominação,
podemos perceber a relevância do patriarca da família Gentil na história do bairro Benfica, pois
a Gentilândia se localizava dentro do bairro Benfica (VASCONCELOS JÚNIOR, 1999).
Continuando as abordagens ligadas à história do bairro, além das importantes
famílias que se localizavam nesse, como explicamos anteriormente, outros importantes fatores
locacionais, como a proximidade com o Centro da cidade e a Estrada de Arroches1, fizeram do
Benfica um bairro de destaque para a história de Fortaleza.
1 O Caminho de Arronches tem sua origem a Parangaba. Por essa passava o gado e os gêneros alimentícios para
abastecer a cidade de Fortaleza (COSTA, 2007).
17
Assim como os fatores apresentados acima, outro importante fato para a história,
que se mantém firme na atualidade no Benfica, foi a criação e fixação da UFC no ano de 1955.
Vale ressaltar que, antes da criação da universidade, o ensino superior já se apresentava no
estado, com a Faculdade de Direito, Faculdade de medicina, Faculdade de Farmácia e
Odontologia e a Escola de Agronomia.
A criação da UFC consolidou o Benfica como espaço da educação. No entanto, o
bairro já possuía outras instituições de ensino, destacando-se o Ginásio Americano, o Colégio
Santa Cecília e o Ginásio Nossa Senhora das Graças. Ainda que essas instituições tenham
deixado suas contribuições para o contexto educacional do bairro, nenhuma delas alterou de
forma significativa a dinâmica social nesse espaço, como vem acontecendo após a criação da
Universidade (VASCONCELOS JÚNIOR,1999).
O Benfica, localizado ao sul do que se denomina Centro de Fortaleza, é hoje espaço
que concentra várias atividades, configurando-se como um bairro que vai além de espaço de
residências. Nos últimos cinquenta anos, o bairro vem concentrando inúmeras instituições de
ensino, provocando no mesmo diversas transformações. Uma das mudanças ocorridas foi a
concentração de estudantes, professores e funcionários da UFC. Ainda foram constatadas outras
relações propiciadas pela Universidade, como as manifestações de cunho artístico e cultural, o
lazer e a boemia.
As mudanças no Benfica podem ser observadas sob diversas perspectivas, dentre
elas, as alterações na paisagem do bairro. É importante esclarecermos que, mesmo antes da
criação da Universidade, os sujeitos sociais vêm alterando a paisagem de acordo com suas
necessidades. No entanto, acreditamos que após a criação da Instituição as alterações ocorreram
de forma mais acelerada, seja com a intensificação do fluxo de pessoas, ou com o aumento de
comércios, ou aquisição de imóveis para as instalações da principal instituição de ensino
superior do bairro.
A Educação é um referencial para quem conhece o Benfica, pois destacou-se como
um bairro universitário devido ao fato de possuir diversas instalações da UFC. Essa área onde
se encontram as instalações da Universidade no bairro é denominada Campus do Benfica. De
acordo com a entrevista realizada com o prefeito do campus, Murilo Holanda Dodt, em
dezembro de 2013, os limites do campus são diferentes dos limites do bairro (Mapa 2). Segundo
esse, o campus do Benfica tem início na Praça da Bandeira, na Rua Clarindo de Queiroz, onde
está localizada a Faculdade de Direito. O fim do campus está na direção da região sul, na Rua
Padre Francisco Pinto, com os anexos da reitoria. Esta informação será mostrada
posteriormente, no capítulo dois, com a apresentação do mapa do campus em análise.
18
O Campus do Benfica, compõe uma área de 13 hectares. Nesse estão localizadas as
seguintes estruturas da UFC: Reitoria; Pró-reitora de Planejamento; Pró-reitora de
administração; Pró-reitora de Assuntos Estudantis; Centro de Humanidades; Faculdade de
Direito, Faculdade de Educação; Faculdade de Economia, Administração, Atuária e
Contabilidade (FEAAC), Curso de Arquitetura e equipamentos culturais.
Atualmente a UFC é composta por seis campi, denominados Campus do Pici,
Campus do Porangabuçu e o Campus do Benfica, apresentado anteriormente, todos localizados
no município de Fortaleza2. O Campus do Pici abrange uma área de 212 hectares, onde se
encontram o Centro de Ciências; o Centro de Ciências Agrárias; o Centro de Tecnologia; a Pró-
reitora de Graduação; a Pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação; o Instituto de Cultura e Arte; o
Instituto de Educação Física e Esportes; o Instituto UFC Virtual; a Biblioteca Universitária;
a Secretaria de Tecnologia da Informação e núcleos e laboratórios diversos, além de área para
a prática de esportes.
Já o Campus do Porangabuçu, possui uma área menor, 8 hectares. Nesse estão
presentes a Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem; a Faculdade de Medicina;
o complexo hospitalar (Hospital Universitário Walter Cantídio, Maternidade-Escola Assis
Chateaubriand e Farmácia-Escola) e laboratórios e clínicas.
2 As informações apresentadas referentes à estrutura dos campi da UFC de Fortaleza tiveram como referência o
seguinte site da instituição: www.ufc.br
19
Mapa 2 - Ruas e limites do bairro Benfica
Fonte: Salvador, 2014,
20
Além dos Campi de Fortaleza, a Universidade possui outras áreas no município,
dentre elas o sítio Alagadiço Novo, localizado no bairro Messejana. Esse abriga a Casa José de
Alencar3, as ruínas do primeiro engenho a vapor do Ceará, o Museu Arthur Ramos, a Pinacoteca
Floriano Teixeira, a Biblioteca Braga Montenegro e um restaurante. Outra área da UFC na
capital cearense é o Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR), cuja localização é na Avenida
Beira Mar.
A instituição de ensino em questão também expandiu o ensino superior para o
interior do estado do Ceará e possui dois campi. O primeiro deles é localizado na cidade de
Sobral. Esse Campus possui os seguintes cursos de graduação: Ciências Econômicas,
Engenharia da Computação; Engenharia Elétrica; Finanças; Medicina; Licenciatura em Música;
Odontologia e Psicologia. O mesmo ainda conta com o curso de Administração em Gestão
Pública, na modalidade semipresencial, com o curso de Especialização em Coordenação
Pedagógica e com os mestrados nas áreas de Biotecnologia e Saúde da Família4.
O segundo campus da UFC no interior do estado se localiza na cidade de Quixadá.
Esse possui quatro cursos de graduação na área da informática: Sistemas de Informação, Redes
de Computadores, Engenharia de Software e Ciências da Computação5. O terceiro campus da
UFC no interior do estado se encontra na cidade de Iguatu. Esse foi criado recentemente no mês
de abril de 2014 (JORNAL O POVO, 2014).
No contexto sobre os campi da UFC no interior do estado, vale ressaltar que a
Universidade possuiu um campus localizado na Região do Cariri, nas cidade do Crato, Juazeiro
do Norte e Barbalha. No entanto, com a recente criação da Universidade Federal do Cariri
(UFCA), em junho de 2013, o campus avançado, que era mantido pela UFC, agora é pertencente
a UFCA6.
A partir das informações apresentadas, compreendemos a importância da UFC no
cenário educacional do estado e para cidade de Fortaleza. Dentro da relevância das diversas
localidades que compõem o campus da UFC se encontra o Benfica, bairro onde desenvolvemos
nossos estudos, afim de compreender a realidade desse a partir daqueles que mantém relações
constantes com esse espaço geográfico.
Em virtude dos aspectos históricos e das influências da UFC no bairro, o Benfica
se apresenta como um importante espaço para os estudos relacionados à paisagem. Portanto,
3 Casa onde nasceu o escritor cearense José de Alencar. 4 Em relação às informações sobre o Campus de Sobral, a referência é o seguinte site: www.campussobreal.ufc.br 5 A base das informações sobre o campus de Quixadá se encontra no seguinte endereço eletrônico:
www.quixada.ufc.br 6 A informação referente à criação da UFCA teve como fonte o site da Instituição, disponível em: www.ufca.edu.br
21
apresentaremos adiante a estrutura da pesquisa que desenvolvemos sobre o Benfica e sua
paisagem, dividida entre objetivos, método, procedimentos operacionais, referencial teórico e
apresentação dos capítulos que compõem essa dissertação.
Como objetivo principal da pesquisa foi estabelecido o seguinte: entender as
alterações na paisagem do Benfica após a criação da UFC através da percepção das fotografias
antigas pelos diferentes sujeitos que compõem o bairro. A partir deste, foram desenvolvidos os
seguintes objetivos específicos: (i) analisar a evolução do conceito de paisagem na geografia;
(ii) compreender os principais usos e teorias da imagem fotográfica; (iii) entender o processo
de evolução histórica do bairro Benfica dentro do contexto urbano de Fortaleza; (iv) apresentar
fatos relacionados à criação e expansão da Universidade Federal do Ceará; (v) analisar como a
fotografia possibilita o estudo das alterações da paisagem do Benfica através das percepções
dos sujeitos que compõem o bairro.
Com o estabelecimento dos objetivos, buscou-se a escolha do método mais
adequando para obtenção dos resultados a serem alcançados que, em nosso caso, foi o
fenomenológico. Esse método busca entender a realidade através dos fenômenos, analisando os
aspectos vividos e as relações entre o sujeito e o objeto.
Estamos cientes das dificuldades do método fenomenológico, assim como os
fenômenos humanos, pois este é sensível, afetivo, valorativo e opinativo. A análise desses
fatores é difícil devido ao processo de observação, que pode ser de caráter externo e também
introspectivo. Tudo isso não deve ser empecilho para a pesquisa cientificamente embasada, haja
vista que o método tem como objetivo ajudar a compreensão, nos mais amplos termos
Pretendemos mostrar aqui a importância da fenomenologia, assim como algumas
de suas abordagens. Em nenhum momento temos como pretensão de mostrar todos os seus
usos, assim como as diversas teorias presentes no método fenomenológico, até porque este não
é o nosso objetivo.
Os estudos fenomenológicos na ciência geográfica são evidentes na abordagem da
nova geografia cultural, formulada a partir da década de 70. Nessa, o espaço geográfico é
analisado a partir da cultura, relacionando os aspectos vividos presente nos sujeitos. Estes são
analisados através das percepções com o lugar, entrando em discussões as crenças, as emoções,
a identidade, dentre outros.
A fenomenologia na nova geografia cultural é somada a múltiplas abordagens. O
método fenomenológico tornou-se presente nas análises geográficas a partir do surgimento da
nova perspectiva cultural na geografia, denominada como uma nova geografia cultural;
22
geografia fenomenológica (Relph, 1971); geografia da percepção ou geografia humanística
(OLIVEIRA, 1983; HOLZER, 1992).
Vale ressaltar que os estudos culturais já possuíam importância na ciência
geográfica, na qual podemos citar as contribuições do geógrafo norte-americano Carl Sauer.
Para Sauer a cultura era vista como uma entidade supraorgânica, com suas próprias leis, em que
os indivíduos eram apenas mensageiros da cultura, que era concebida como algo exterior aos
indivíduos de um grupo social (SAUER, 1998).
Já a nova abordagem cultural na geografia parte do pressuposto que a cultura está
intrínseca aos sujeitos, através da qual podemos apreender costumes, hábitos, sentimentos,
representações simbólicas e experiências dos grupos sociais com o espaço geográfico, dentre
elas as análises referentes à paisagem.
Os estudos direcionados à análise da paisagem são remotos, diferindo entre
diversas abordagens e perspectivas teóricas e metodológicas. A importância do estudo desse
conceito na ciência geográfica ressurge com a nova abordagem cultural, na qual a paisagem é
vista além de sua morfologia, entrando em discussão os aspectos vividos e as experiências entre
aqueles que a experimentam no dia a dia.
Nessa perspectiva está calcada nossa análise, que busca entender como os diversos
sujeitos compõem o bairro Benfica e compreendem as alterações na paisagem. Nessa análise,
além dos aspectos cognitivos estão inseridos os sentimentos, afinal o homem é um ser repleto
de emoções, atribuindo valores e significados à paisagem.
Em virtude da importância da percepção dos sujeitos sobre a paisagem do bairro
que estamos estudando, a fenomenologia está inserida em nossa análise. Pensaremos os sujeitos
da pesquisa não como meros informantes dos dados necessários para os resultados a serem
alcançados, mas como autores, pois a experiência vivida por eles será a principal fonte de
interpretação de nossas reflexões. Desejamos, como fez Merleau Ponty, pensar que:
Todo universo da ciência é constituído sobre o mundo vivido, e se queremos pensar a
própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu sentido e seu alcance, precisamos
primeiramente despertar essa experiência do mundo [...] (PONTY, 1996, p.01).
Baseado nesta visão de ciência é que olharemos os cidadãos do Benfica, sujeitos de
nossa pesquisa, analisando suas percepções sobre a paisagem como o conhecimento sobre elas.
Tentaremos interpretar as informações dos sujeitos tal como eles nos demonstrarão, e a
fenomenologia nos dá sustentação para isso, pois ela é a tentativa de uma descrição direta da
experiência tal como ela é.
23
A fenomenologia busca aquilo que se apresenta como o princípio básico do
pensamento filosófico, que é ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido
de apreendê-la na sua totalidade, destacando a importância das percepções e da subjetividade
do pensamento, que, como um todo, constitui nosso mundo-vivido, o qual envolve as histórias,
os sentimentos, os valores e as emoções.
A fenomenologia é um método de investigação que tem o propósito de apreender o
fenômeno, “isto é, a aparição das coisas à consciência” (HUSSERL apud DARTIGUES, 1992,
p. 214). A origem dos estudos fenomenológicos se reporta ao filósofo alemão Edmund Husserl.
A filosofia husserliana traz consigo o método de investigação que irá exercer grande influência
no meio acadêmico, o que fará da fenomenologia um marco imprescindível na filosofia
contemporânea (DARTIGUES,1992)
O objetivo da análise fenomenológica não é negar a existência do mundo material,
mas compreender como o conhecimento acontece através das intencionalidades. Para Husserl
a palavra intencionalidade significa a característica geral da consciência de ser consciência de
alguma coisa. Eis o ponto de partida adotado pelo filósofo alemão na análise dos fenômenos no
âmbito da consciência, no intuito de se tentar apreender as coisas em si mesmas, isto é, como
elas são (DARTIGUES, 1992).
Baseado nas ideias de Husserl, o autor aborda a intencionalidade da seguinte
maneira:
(...) O princípio de intencionalidade é que a consciência é sempre ‘consciência de
alguma coisa’, que ela só é consciência estando dirigida a um objeto (sentido de
intentio). Por sua vez, o objeto só pode ser definido em sua relação à consciência, ele
é sempre objeto-para-um-sujeito. (...) Isto não quer dizer que o objeto está contido na
consciência como que dentro de uma caixa, mas que só tem seu sentido de objeto para
uma consciência (DARTIGUES, 1973 p. 212).
Buttimer (1985) corrobora com a temática afirmando que:
A noção fenomenológica da intencionalidade sugere que cada indivíduo é o foco de
seu próprio mundo, ainda que possa esquecer de si próprio como centro criativo
daquele mundo”. Lembrando Husserl, ressalta: “cada conhecedor deveria reconhecer-
se como um sujeito intencional, isto é, como um conhecedor que usa palavras com
significação intencional- para expor suas intuições objetivas e comunicáveis
(BUTTIMER, 1985, p. 168).
De acordo com Nogueira (2005), a partir do princípio da intencionalidade Husserl traçou o
da “Redução Fenomenológica”. Aqui ele percebe a realidade primeiramente como concebe o “senso
comum”, isto é, como existindo em si, independente de todo o ato de consciência ou como
ressaltava ainda “é um voltar às coisas mesmas” (HUSSERL apud DARTIGUES, 1992, p. 18).
24
De acordo com Merleau-Ponty (1992) a redução fenomenológica é uma admiração
diante do mundo. Este princípio nos remete às experiências vividas por cada homem antes das
reflexões filosóficas e científicas sobre eles. A experiência aqui ressaltada é a dos homens que
a vivem, a que é resultado do envolvimento dele com e no mundo.
Além das abordagens fenomenológicas de Husserl, destacamos outros importantes
teóricos, como Sartre com a fenomenologia do existencialismo, Bachelard com a
fenomenologia da imaginação, Merleau-Ponty com a fenomenologia da percepção.
Entendemos que as diversas contribuições dos diferente teóricos sobre a
fenomenologia são relevantes para as pesquisas geográficas de cunho humanista. No entanto,
em nossa análise sobre a paisagem do Benfica, enfocaremos a abordagem realizada por
Merleau-Ponty. Este foi um discípulo de Husserl, que em seus estudos fenomenológicos aborda
o homem como o núcleo dos debates sobre o conhecimento intencional, baseando sua
construção teórica na maneira de se portar do corpo e na captação de impressões dos sentidos
(NOGUEIRA, 2005).
Uma das principais contribuições de Merleau-Ponty foi inserir o homem por meio
da percepção, experiência, sensibilidade e outras afecções somáticas no centro de diversas
contradições, com isso tornando o corpo perceptivo um mediador de tais antinomias, agora não
mais como termos inconciliáveis. É o caso da contradição entre sujeito e objeto, ser e aparência,
tempo e espaço, consciência e coisa, razão e sensibilidade, dentre algumas outras. Todavia,
estas dicotomias são passíveis de serem interpretadas como pares diferenciais que se
complementam (LIMA, 2007).
Outra temática discutida por Merleau-Ponty está relacionada ao uso da linguagem.
Essa dispõe de um certo número de signos fundamentais, composta por e ligada aos
significados. Ela, a linguagem, exprime significados, porque reconduz todas as nossas
experiências ao sistema de correspondências iniciais entre os signos e as significações de que
tomamos posse ao apreender a língua, “pois nenhum pensamento permanece na palavra e
nenhuma palavra no puro” (MERLEAU-PONTY, 1992, p. 23).
Vale ressaltar que o autor, em seus estudos sobre a linguagem, traz para a discussão
as abordagens referentes à arte e à paisagem. Merleau-Ponty defende o papel da arte na
representação do mundo, enfatizando a pintura. Ele mostra a importância do pintor, pois esse
primeiramente visualiza a paisagem e a exprime segundo sua visão de mundo, demostrando a
subjetividade entrelaçada na relação com imagem, representação e paisagem.
Merleau-Ponty analisa a paisagem através da pintura, todavia isso não quer dizer
que ele negue a paisagem fora das telas. Sua filosofia prioriza a percepção como o primeiro ato,
25
através do corpo, para se valer como sujeito diante da paisagem, do mundo e do meio de
existência. Portanto, entendemos que a partir da análise da paisagem através da percepção pelos
sujeitos sociais, o autor, assim como a fenomenologia, nos fornecerá importantes contribuições
na análise da paisagem do Benfica (SOUZA, 2012).
Souza (2012), baseado nas ideias de Merleau-Ponty (1992), nos fala que, a partir
da análise sobre a paisagem, podemos verificar diversas relações existentes por intermédio de
uma linguagem indireta existente na mesma. Nesta abordagem há sempre que considerar a
perspectiva por parte daquele que direciona o seu olhar.
O olhar é de suma importância para a geografia, e consequentemente para a análise
da paisagem. Souza (2012), apud Fernandes (2009), nos fala que a subjetividade torna-se vital
para a apreensão do conceito geográfico de paisagem, tornando-se o olho uma ferramenta
indispensável para a análise dessa. Através do olhar podemos apreender a essência real da
paisagem; a partir dele vemos e, posteriormente, sentimos o que as paisagens representam no
sentido mais amplo: o mundo (SOUZA, 2012).
A partir da análise sobre a paisagem, Souza (2012) nos traz a seguinte passagem:
“Saber não é suficiente, é preciso compreender” (SOUZA, 2012 apud SODRÉ 1976, p. 07).
Isto nos remete às seguintes questões: O que a paisagem quer nos transmitir? O que a mesma
tem a nos oferecer?
As paisagens oferecem múltiplas perspectivas para analisar a realidade e
transmitem diversas percepções sobre o mundo, mostrando como o homem vem alterando o
espaço geográfico, através de suas experiências, vivências, intencionalidades e até mesmo para
a sua sobrevivência. Nesta abordagem, o homem torna-se como elemento primordial da
paisagem.
A partir do método, buscamos os procedimentos operacionais mais adequados para
a pesquisa. Primeiramente iniciamos uma revisão bibliográfica sobre os principais conceitos a
serem utilizados que, em nosso caso, foi o de paisagem no âmbito da geografia e o de imagem,
enfocando a fotografia no centro de nossa discussão. Posteriormente consultamos diversas
obras sobre os aspectos históricos do bairro Benfica, com o intuito de entender como ocorreu a
evolução do bairro dentro do contexto urbano de Fortaleza.
A partir da análise da história do Benfica, entendemos a importância de
conhecermos os principais fatos referente a criação e expansão da UFC, sendo possível através
de diversas leituras sobre a temática. Assim como a revisão de literatura, a internet foi de
fundamental relevância em nossa coleta de informações. Através dessa, utilizamos diversos
26
artigos disponibilizados em periódicos eletrônicos, assim como informações em sites,
principalmente o endereço eletrônico da UFC7.
Após realizarmos a revisão de literatura, entendemos que seria necessário a
elaboração de mapas, mostrando a localização da área de estudo e as principais ruas e avenidas
do bairro. Realizada a revisão de literatura e a elaboração dos mapas, demos continuidade ao
trabalho de campo. Esse foi desenvolvido no decorrer do segundo ano da pesquisa, em 2013.
Coletamos fotografias antigas do bairro, destacando o arquivo do historiador, pesquisador e
jornalista Miguel Ângelo de Azevedo (NIREZ). Além desse arquivo, buscamos fotografias
sobre a UFC no arquivo ligado ao setor do memorial da Instituição de ensino. Esse nos forneceu
importantes imagens, retratando diversos períodos importantes para a história da Universidade.
No decorrer do trabalho de campo, realizamos diversas visitas à Universidade, afim
de coletar informações sobre a história, assim como os aspectos locacionais da instituição.
Nessa parte destacamos as entrevistas realizadas com a assistente social, Petrúcia Guimarães
dos Santos, o Prefeito do Campus do Benfica Murilo Holanda Dodt e a funcionária Monica
Monteiro Vasconcelos. Esta contribui de forma significativa para a pesquisa, mostrando
interesse em ajudar quando surgiam dúvidas.
Como falamos anteriormente, na análise sobre o método os diversos sujeitos que
fazem parte do bairro foram a base de nossa pesquisa. A partir deles alcançamos os resultados
pertinentes ao estudo. Por isso foram realizadas diversas entrevistas, afim de coletar
informações sobre a percepção desses.
Devido a análise estar concentrada nas alterações na paisagem após a criação da
Universidade, preferimos selecionar os entrevistados de acordo com as relações que eles
mantinham com o bairro e a instituição de ensino. Portanto, dividimos os entrevistados em
cinco grupos, realizando o número de dez entrevistas com cada grupo, totalizando cinquenta.
Os grupos de entrevistados foram divididos da seguinte maneira: moradores antigos,
frequentadores, Professores, alunos e funcionários da UFC.
As entrevistas que realizamos foram semiestruturadas8. Ressaltamos que nessa o
pesquisador elabora um roteiro principal de perguntas, podendo ser complementadas por outras
questões momentâneas (TRIVIÑOS, 1987). Com as entrevistas semiestruturadas tivemos a
7Endereço eletrônico da UFC: www.ufc.br 8 De acordo com Trivinõs (1987) a entrevista semiestruturada tem como característica questionamentos básicos
apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Os questionamentos dariam novas
hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes. O autor afirma que a entrevista semiestruturada [...]
favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade
[...]” além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações
(TRIVIÑOS, 1987, p. 152).
27
pretensão de obter informações de maneira mais livre, deixando o entrevistando à vontade sobre
a temática, com o intuito de obter resultados significativos.
Essas foram iniciadas a partir de um roteiro, contendo diversas perguntas sobre a
UFC e o Benfica. Entendemos que cada pessoa possui uma percepção diferente sobre a
paisagem, assim como cada grupo selecionando, por isso, optamos por realizar roteiros
diferentes para cada grupo. Ressaltamos que muitas perguntas dos roteiros eram semelhantes,
por se tratar do mesmo objeto.
Além dos roteiros, selecionamos dez fotografias antigas do bairro, com o intuito
dessas “ajudarem” os sujeitos a perceberem as alterações na paisagem do Benfica, já que muitos
dos entrevistados não tinham nascido no período de criação da Universidade. Portanto, no final
das entrevistas, eram mostradas as fotografias selecionadas, tendo como objetivo apreender as
percepções dos diversos grupos que entrevistamos.
A fotografia foi a nossa fonte principal das alterações na paisagem do Benfica,
tornando-se relevante no momento das entrevistas, despertando interesse e aguçando a
percepção dos sujeitos. Essa análise das fotografias com a percepção do sujeitos será
apresentada posteriormente no terceiro capítulo da dissertação.
Antes de descrevermos como ocorreram as entrevistas, ressaltamos que, ao
iniciarmos as mesmas, não falávamos o objetivo principal da pesquisa, pois o nosso intuito era
apreender a essência da percepção dos sujeitos. No entanto, ao iniciar as entrevistas explicamos
que a temática dessas era em relação ao bairro Benfica. Em nenhum momento poderíamos
influenciar nas respostas fornecidas, por isso que optamos ter neutralidade, afim de alcançarmos
os resultados pela aplicação do método fenomenológico.
Quando iniciamos a escolha dos entrevistados, compreendemos a importância dos
moradores antigos, pois eles nos poderiam fornecer importantes informações através da
percepção e da vivência cotidianas no espaço do bairro. Além disso, ressaltamos que muitos
deles moram ou moraram no bairro antes do surgimento da UFC, portanto possuem uma
importante percepção frente às alterações na paisagem, já que eles acompanharam todo esse
processo.
As entrevistas foram iniciadas com os moradores antigos em novembro de 2013.
Algumas delas foram coletadas no grupo denominado Confraria da Gentilândia 9 e as demais
9 O Grupo Confraria da Gentilândia é composto por moradores do bairro Benfica. Esses Senhores se reúnem
semanalmente para conversar sobre diversos assuntos, dentre eles o Benfica, contribuindo para a vivacidade da
história e memória do bairro (VASCONCELOS JÚNIOR, 1999).
28
foram através de visitas nas casas deles, onde a maioria foram solistas, entendendo a
importância da pesquisa
Os outros grupos também mantêm relações constantes com o bairro e a
Universidade, dentre eles os frequentadores. Optamos por entrevistá-los por fazerem parte da
dinâmica o bairro, frequentando o Benfica frequentemente e percebendo a importância da UFC.
Nessa análise, ressaltamos que muitos dos frequentadores já tiveram relações com a
Universidade e com o bairro, muitos deles moraram no Benfica e (ou) já estudaram na
Universidade.
Os professores da Universidade fazem parte do Benfica e frequentemente
estabelecem relações com a paisagem do bairro, assim como os alunos e os funcionários da
Instituição. Nessa análise ressaltamos que os mesmos estudam ou trabalham no campus do
Benfica, afinal nosso intuito é compreender as alterações na paisagem do bairro Benfica,
portanto os entrevistados foram todos pertencentes a esse campus.
As análises junto aos frequentadores foram a partir de encontros em momentos de
lazer, em restaurantes, lanchonetes, bares ou praças. Com os estudantes, as entrevistas foram
concretizadas, principalmente, na Faculdade de Educação (FACED) e no Centro de
Humanidades. Com os funcionários e os Professores da UFC, elas foram realizadas na Reitoria,
onde se encontra administração da Universidade, portanto nesse lócus, conseguimos entrevistas
com diferentes funcionários e docentes. Do mesmo modo, completamos a análise com os
professores na Associação de Docentes Aposentados e Pensionas de Docentes Aposentados da
Universidade Federal do Ceará (ADAUFC) e na FACED.
Apesar de termos realizado todas as entrevistas e alcançado resultados
significativos, muitas dificuldades foram encontradas no decorrer desse percurso. Ao
perguntarmos a algumas pessoas se elas poderiam responder perguntas sobre o Benfica, muitos
alegaram que não tinham tempo e outros demonstraram que não tinham interesse. Mas o que
nos chamou atenção nesse processo, foi o desinteresse de muitos professores, demostrando
dificuldade em responder as perguntas. Isso contradiz os princípios das pesquisas, já que muitos
deles realizaram trabalhos de cunho acadêmico.
Com os devidos procedimentos operacionais realizados, houve a continuação da
escrita da dissertação, composta pela presente introdução e três capítulos. O primeiro retrata as
orientações teóricas com os conceitos de paisagem e imagem. Sobre a paisagem, optamos por
abordar a temática através das evolução do conceito no âmbito da geografia, mostrando as
diversas contribuições de importantes geógrafos, formuladas ao longo do tempo. No entanto,
destacarei nessa análise, principalmente, as contribuições com base na Nova Geografia
29
Cultural, formulada a partir da década de 70. O referencial teórico utilizado nessa parte destaca
as ideias de Duncan (1990), Cosgrove (1998; 2003), Melo (2003), Holzer (1999), Luchiari
(2001), Corrêa (1997; 1999; 2001; 2007; 2011).
Outra relevante base teórica para o desenvolvimento da pesquisa está calcada na
análise da fotografia. Para o entendimento aprofundado sobre a fotografia, mostraremos
importantes contribuições de diferentes autores e áreas do conhecimento, destacando as ideias
apresentadas por Aumont (2012), Barthes (1984), Dubois (1993; 1994), Joly (2007) e Kossoy
(2012).
Nessa parte inicial foi importante abordarmos além da imagem fotográfica,
revelando a perspectiva de diversos estudiosos sobre o conceito de imagem, assim como os
aspectos históricos e usos dessa no decorrer da história da humanidade. Tendo em vista a difícil
tarefa de analisar a imagem, pretendemos focar sobre a compreensão dessa pelos sujeitos
sociais.
Na tentativa de alcançar os objetivos da pesquisa, se faz necessário entender os
aspectos históricos do bairro e da UFC, mostrados no segundo capítulo, titulado Educação na
Paisagem do Benfica de Ontem e de Hoje. A estrutura desse capítulo é composta pelos seguintes
subitens: Um pouco da história do Benfica; A Criação da UFC e, por fim, a UFC e as Mudanças
na Paisagem do Benfica. O primeiro subitem retrata os principais aspectos históricos do bairro
e apresenta a evolução do mesmo dentro do contexto urbano de Fortaleza. Seguindo o percurso
a ser desenvolvido, analisamos o contexto em que foi criada a Universidade, mostrando como
ocorreu esse importante fato na história do Ceará, assim como os principais agentes envolvidos
nesse processo. Dividimos esse subitem em duas partes. A primeira retrata o período da criação
da Universidade, a escolha do primeiro reitor e os doze primeiros anos da universidade. A
segunda parte mostra os principais feitos divididos pelos mandatos dos reitores a partir de 1967
até aos dias atuais. Entendemos que existem múltiplos fatos que foram relevantes no decorrer
da história da Universidade, por isso nossa análise privilegiou a criação de cursos assim como
a expansão das áreas físicas, tendo como foco o campus do Benfica, objeto de estudo da
dissertação.
Para Finalizar o segundo capítulo, apresentaremos as alterações na paisagem do
bairro após a chegada da instituição de ensino, mostrando a importância dessa no processo de
desenvolvimento do bairro e, consequentemente, da sua paisagem. Mais uma vez destacamos a
importância dos sujeitos, pois nesse capítulo apresentamos suas diversas falas retratando a
percepção dos mesmos sobre os objetivos da pesquisa.
30
O terceiro e último capítulo, titulado A fotografia como Possibilidade de Leitura da
Paisagem do Benfica, é divido em dois subitens. No primeiro, A paisagem do Benfica
Expressada em suas fotografias, apresentamos e descrevemos detalhadamente os aspectos
históricos e atuais sobre as dez fotografias antigas selecionadas do bairro. No segundo, A
fotografia e o Espectador, analisamos a relação dessa fonte com aqueles que a analisaram,
mostrando as diversas percepções dos sujeitos através de informações orais sobre as alterações
na paisagem do objeto de estudo dessa dissertação.
31
2 OS CONCEITOS DE PAISAGEM E IMAGEM
2.1 APONTAMENTOS SOBRE O CONCEITO DE PAISAGEM NA GEOGRAFIA
A paisagem é constituída como uma importante temática que ao longo do tempo
tem atraído a atenção dos geógrafos. As abordagens referentes ao tema se reportam aos estudos
de geografia, iniciados no século XIX, na Europa. Nesses enfoques, a geografia, para muitos
desses estudiosos, era considerada a ciência das paisagens. (MELO, 2001).
Na análise da paisagem podemos apreender a cultura de determinados grupos
sociais, observando como estes acompanham as mudanças que ocorrem cotidianamente a seu
redor. Em virtude da importância desse conceito, não só para a geografia, pretendemos analisar,
como já falamos anteriormente, as alterações que ocorreram na paisagem do Benfica após a
criação da UFC. Para tanto, é necessário apresentar a trajetória deste conceito no âmbito da
Geografia, a fim de compreender o desenvolvimento da pesquisa.
Esse estudo tem por objetivo resgatar algumas das análises surgidas ao longo do
tempo sobre a paisagem apresentando sua evolução, porém, sem a pretensão de abranger todos
os momentos de discussão, já que este conceito teve e tem muitas definições e estudos. Aqui
seguirão momentos nos quais a mudança na percepção da paisagem foi mais marcante, dando
ênfase a sua construção dentro do contexto da nova geografia cultural.
A interpretação da paisagem diverge dentro de múltiplas abordagens, em que é
possível observar que existem certas tendências, mostrando que o entendimento do conceito
depende, e muito, das influências culturais, históricas e discursivas entre aqueles que a
analisam.
Tradicionalmente os geógrafos diferenciam a paisagem natural e a paisagem
cultural. A paisagem natural refere-se aos elementos combinados, como vegetação, solos, rios,
lagos, dentre outros fatores. Por sua vez, a paisagem cultural inclui todas as modificações feitas
pelo homem, como os espaços urbanos e rurais. De modo geral, o estudo da paisagem exige um
enfoque, onde são feitas avaliações que definem o conjunto dos elementos envolvidos, a escala
a ser considerada e a temporalidade na paisagem. Enfim, trata-se da apresentação do objeto em
seu contexto geográfico e histórico.
A partir do século XV a paisagem adquire finalidade estética, expressada através
de pintores e artistas que associaram a ela vínculos afetivos e emocionais. Para Cosgrove
(1998), a palavra paisagem para o mundo ocidental surgiu no Renascimento, indicando uma
nova relação entre os seres humanos e o meio ambiente.
32
No mesmo período, a astronomia, a cartografia e a arquitetura, assim como as outras
ciências, estavam sendo revolucionadas pela aplicação de regras formais matemáticas e
geométricas, implicando diretamente na maneira de pensar e agir da sociedade. Em virtude
dessas mudanças ocorridas no momento histórico vigente, o homem intensificou o processo de
modificação da paisagem, pois na medida em que o mesmo se distancia da natureza e se
apropria das técnicas, começa a vê-la como algo possível de transformar. De acordo com Schier
(2003):
A partir deste momento a paisagem começa a ter um significado diferenciado,
deixando de ser apenas uma referência espacial ou um objeto de observação. Ela se
coloca num contexto cultural e discursivo, primeiramente nos discursos das artes e
pouco depois nas abordagens científicas que rompem com a ideia da Idade Média de
que o mundo inteiro seja a criação de Deus, e por isso santificado e indecifrável
(SCHIER, 2003 p. 81).
Observamos que o estudo da paisagem foi ganhando grande significância, tornando
necessário apresentar as principais ideias de alguns geógrafos clássicos, como Humboldt,
destacando sua visão holística da paisagem, associando elementos diversos da natureza e da
ação humana. Com Karl Ritter, a Geografia tornou-se, além do positivismo dinâmico e
histórico, uma ciência enciclopédica, organizando o conhecimento sobre determinados países e
regiões. A paisagem, no entanto, não era o seu principal objeto de estudo (ZANATTA, 2008).
Diferente de Humboldt, Friedrich Ratzel utilizou o conceito de paisagem levando
em conta os aspectos antropogênicos, demonstrando que ela é o resultado do distanciamento do
espírito humano e do seu meio natural. Dessa forma, descrevia os elementos fixos da paisagem
natural como o solo e os rios, passando, então, aos elementos culturais como as técnicas e
utensílios produzidos por uma determinada sociedade.
A cultura possui destaque na obra de Ratzel, no entanto ela era analisada da seguinte
forma:
Friedrich Ratzel, em seu livro Antropogeografia, de 1880, apresenta o conceito de
paisagem de forma diversa, porque inclui primordialmente a cultura na paisagem,
embora proponha uma concepção limitada da cultura (influência darwinista) ao
confundida com os artefatos utilizados pelos homens para dominar o espaço (Claval,
2001, p. 22)
Em Zanatta (2008), concluímos que:
O termo cultura foi introduzido pela primeira vez na geografia alemã, por meio do
livro Friedrich Ratzel, publicado em 1882, denominado Antropogeografia, obra em
que analisou os fundamentos culturais da diversidade das repartições dos homens e
das civilizações, adotando encaminhamento ora etnográfico, ora político (ZANATTA,
2008, p. 255).
33
Assim como Ratzel, Vidal de La Blache contribuiu de forma significativa para a
sistematização da Geografia acadêmica na Europa, principalmente na França. O mesmo
buscava refletir sobre as relações que são estabelecidas entre seres os humanos e o meio,
elaborando o conceito de gênero de vida e permitindo organizar elementos para a análise das
diferentes paisagens modificadas pelo homem. No entendimento da cultura, La Blache possuía
visão semelhante à de Ratzel.
Para ele, a cultura pertinente deveria ser aquela que se apreende por intermédio dos
instrumentos, utensílios, técnicas e maneiras de habitar que as sociedades utilizam
para modelar a pertinente deveriam ser aquela que se apreende por intermédio dos
instrumentos, utensílios, técnicas e maneiras de habitar que as sociedades utilizam
para modelar a paisagem. Do seu ponto de vista, a noção de gênero de vida permitia
organizar estes elementos de tal forma que explicassem as diferentes paisagens
construídas (ZANNATA, 2008, p. 257).
Ainda que haja semelhança entre Ratzel e Vidal de La Blache em relação a
concepção de cultura, é relevante entendermos que na obra de Ratzel é evidente a influência do
evolucionismo, do darwinismo e do positivismo, enquanto que Vidal assume uma posição
fundamentada no historicismo e no espiritualismo (CAPEL, 1981).
Assim, na Geografia tradicional a materialidade da cultura é inquestionável na
análise da paisagem, estando exposta a objetivação analítica do tipo positivista, o que
comprometeu, durante muito tempo, uma explicação cultural mais aprimorada. No entanto, a
ciência geográfica foi evoluindo e, consequentemente, aqueles que a abordavam buscavam
novas formas de apreensão da realidade a partir de novas leituras, resultando em novos olhares,
em especial, influenciados agora, pelo neopositivismo, dominante nos estudos geográficos até
metade do século XX.
Após a Segunda Guerra Mundial, muitos pesquisadores perceberam que a posição
neopositivista não mais satisfazia os anseios para a análise da realidade, já que na tradição
neopositivista, a geografia apresentava, em seus estudos, amplos discursos sobre a natureza e o
funcionamento das sociedades. Destacando a primeira como detentora das possibilidades de
desenvolvimento da segunda (CLAVAL, 2001).
Nas primeiras décadas do século XX, à medida que a geografia humana progredia,
persistindo nas relações entre sociedade, ambiente natural e cultura, o conceito de paisagem
humanizada tornou-se objeto de investigação geográfica. Nesta época, na Alemanha, adquire
relevância o conceito de paisagem cultural elaborado por Otto Schulter. Esse dava ênfase às
34
marcas que os homens produziam na paisagem, buscando apreender a organização e a
morfologia da paisagem cultural. (ZANATTA, 2008).
Otto Schulter teve como base para os seus estudos as influências de Kant, e Von
Richthofen. Schulter elaborou uma metodologia baseada na análise da paisagem, na qual a
morfologia deste conceito era em virtude das marcas que o homem deixava na superfície
terrestre (SEEMANN, 2004).
Em relação aos estudos sobre a paisagem cultural, ele pesquisou as obras humanas
que se inserem na superfície terrestre e que imprimem expressões e características. Em suas
análises, além das distinções entre a paisagem natural e cultural, também as classificou de
acordo com a intervenção humana. Nessa classificação, fez diferenciações entre a paisagem
original, que seria a paisagem antes da intervenção humana; a paisagem natural, que seria
quando todos os elementos antrópicos sumiriam e apenas as forças da natureza atuariam – para
essa ainda tem a paisagem antiga, que seria a paisagem no começo da intervenção humana,
quando foram abertas clareiras e drenados pântanos para a agricultura; e, por fim, a paisagem
cultural, que seria aquela que mostra as marcas das obras do homem. (SEEMANN, 2004).
A paisagem analisada a partir da cultura foi um dos primeiros temas desenvolvidos
pelos geógrafos alemães e franceses. Nesse enfoque, como foi apresentado anteriormente, era
privilegiado a análise morfológica da paisagem, sendo a cultura entendida através das técnicas
e dos utensílios, ou seja, dos aspectos materiais utilizados pelo homem, de forma a modificar o
ambiente natural, visando torná-lo mais produtivo. Tal abordagem é explicada pelo fato de que,
nessa época, a epistemologia da Geografia era de inspiração naturalista ou positivista.
Consequentemente, os geógrafos desse período não puderam dar à cultura seu devido papel na
explicação dos problemas geográficos.
As discussões sobre a dimensão cultural da paisagem estenderam-se aos Estados
Unidos da América no início do século XX, adquirindo expressividade a partir de 1925, ano em
que Carl Ortwin Sauer definiu a paisagem geográfica como resultado da ação da cultura sobre
a paisagem natural ao longo do tempo. Carl Sauer fundou a escola norte-americana de geografia
cultural, originando uma sólida tradição que, em parte, foi inspirada nos geógrafos europeus,
inclusive a ênfase na dimensão material da cultura (CORRÊA, 1999).
O principal objetivo dos estudos geográficos na visão de Sauer (1998) era analisar
as paisagens culturais, de modo que a morfologia física deveria ser vista como um meio
transformado pelo agente que é a cultura. Para Sauer a cultura era vista
35
[...] como uma entidade supraorgânica, com suas próprias leis, pairando sobre os
indivíduos, considerados como mensageiros da cultura, sem autonomia. A cultura era
assim, concebida como algo exterior aos indivíduos de um grupo social; sua
internalização se faz por mecanismos de condicionamento, gerador de hábitos,
entendidos como cultura. [...] nesta visão não havia conflitos, predominando o
consenso e a homogeneidade cultural. (SAUER, 1998, p.45)
Apesar das críticas feitas à obra de Sauer, não há como negar sua grande
contribuição para o pensamento geográfico, reafirmando os estudos sobre a abordagem cultural
da paisagem. Para Holzer (1999), Sauer foi sem dúvida o mais importante difusor do conceito
geográfico de paisagem. Na medida que incorporou o termo da geografia alemã, o geógrafo
norte americano delineou suas características mais marcantes. O termo landscap, utilizado
pelos alemães, chegou a geografia norteamericana através de Sauer, que cuidadosamente
enfatizava a semelhança aos estudos alemães de formatar a terra, implicando uma associação
de formas físicas e culturais.
De acordo com a visão de Sauer, as paisagens não deviam ser definidas apenas
como uma cena que é vista pelo observador, já que tratam primordialmente das generalizações
derivadas da observação e de cenas individuais. Para ele, a individualidade da paisagem só é
reconhecida comparada a outras paisagens (SAUER, 1994).
Até a década de 40, o interesse da geografia cultural era principalmente pelas
marcas que a cultura imprimia na paisagem ou pela noção de gênero de vida. Apesar das
diferentes abordagens, ambas acentuavam a cultura material (artefatos, técnicas, utensílios,
habitat e instrumentos de trabalho), não acompanhando a evolução dos estudos antropológicos
que já davam destaque à cultura mental e aos aspectos psicológicos das sociedades
(ZANATTA, 2008). Claval (1997), corrobora com a temática transcorrendo que, no decorrer
desse período, os geógrafos valorizaram quatro temas associados ao estudo das relações entre
sociedade e natureza, tais como a análise das técnicas, os instrumentos de trabalho, a paisagem
cultural e os gêneros de vida.
A paisagem cultural, segundo uma ótica morfológica, perdurou até a década de 40.
Durante as décadas de 50 e 60, o estudo da temática não foi predominante, mas a partir da
década de 70 os geógrafos se reconciliam com a tradição que remonta ao passado, em que a
paisagem volta a ser um dos conceitos chave da Geografia. (CORRÊA, 1997).
Nessa perspectiva Zanatta (2008) nos fala que:
Assim, com base nas contribuições da geografia social marxista, da geografia
humanista e da filosofia dos significados, os conceitos de base da Geografia - espaço,
território, meio-ambiente, lugar e paisagem - foram reelaborados, tendo em vista a
36
complexa rede simbólica que envolve sua construção cultural (ZANATTA, 2008,
p.254).
Nas contribuições de Claval (2001) entende-se que:
A modernização da Geografia Cultural delineia-se no final dos anos 1950 e no
decorrer da década seguinte. Os geógrafos deixaram de se considerar naturalistas. Não
mais hesitam em abordar as decisões humanas e a lógica que preside das escolhas que
delas precedem (CLAVAL, 2001, p. 36).
Continuando a abordagem acerca do conceito de paisagem, observamos que a
década de 70 foi de extrema relevância para ciência geográfica. Aqui irá se desenvolver a
Geografia Humanista Contemporânea e a Geografia Crítica. Na Geografia Crítica a paisagem
não foi abordada como conceito principal, em alguns estudos são privilegiadas as abordagens
sobre espaço e lugar. Já na Geografia Humanista, o conceito de paisagem é resgatado,
considerando os aspectos subjetivos pela análise dos significados (CLAVAL, 2001). Assim
como a paisagem, o espaço na abordagem humanista passa a ser concebido como espaço vivido,
ou seja, como lugar da vida, construído e representado por seus atores sociais. O território é
visto através das dimensões sociopolítica (controle, apropriação) e cultural (significado,
identidade). Além disso, temáticas relacionadas à religião, à percepção ambiental, às
representações sociais, à identidade espacial e à interpretação de textos (literatura, música,
pintura, cinema) destacam-se entre outras que foram retomadas ou emergiram diante das
transformações sociais, políticas, econômicas e culturais vivenciadas pela sociedade
contemporânea (ZANATTA, 2008).
Na Geografia Humanista, “o ambiente que envolve o homem, seja físico, social ou
imaginário, influencia sua conduta” (RISSO, 2001, p. 33). Os estudos referentes à percepção
da paisagem são fundamentais para analisar os valores, a imaginação e os sentimentos que a
sociedade possui com o lugar, onde a subjetividade contida na paisagem passa a ser estudada
com o intuito de compreender os significados que os indivíduos infligem ao espaço
(RISSO2003).
O processo de construção da paisagem pelo imaginário é configurado pela
representação das práticas sociais e, consequentemente, daqueles que a constroem. Quem forma
a paisagem é a ação humana, cujo conceito isoladamente é um vetor passivo quando não é
somado ao vetor social. É através das ações praticadas pela sociedade que podemos observar a
história, a cultura e outros fatores , na construção do universo subjetivo dos atores sociais
(LUCHIARI, 2001).
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A Geografia Humanista estuda o universo subjetivo, onde estão incluídos os
sentimentos em relação às paisagens, ou seja, experiências, valores, afetividade, representações,
identidades dentre outros tão relevantes como estes. As diferentes experiências que o indivíduo
ou os grupos sociais adquirem com determinadas paisagens reflete diversos comportamentos
em relação a mesma, pois para cada um a paisagem terá significados e valores distintos.
Os valores que atribuímos às Paisagens compreendem a relação estabelecida entre o
indivíduo e a Paisagem. Por sua vez, esta relação provém dos processos de percepção
e cognição ambiental, influenciado pelos aspectos culturais e pelo inconsciente, que
resultará em sentimentos e significados em relação a determinada Paisagem,
valorizando-a ou desvalorizando-a. Embora, ainda que inserido no contexto de uma
determinada Cultura, um indivíduo possa ter uma percepção diferente em relação ao
meio, geralmente são observáveis certos padrões de comportamento que ocorrem em
relação à Paisagem de uma cultura ( RISSO, 2003 p. 73).
No enfoque da nova abordagem cultural na geografia, todo o ambiente que envolve
o homem, seja físico, social ou imaginário, provoca influências no seu cotidiano. A realidade
apresentada é interpretada, onde os fatos são observados como parte de uma realidade mais
abrangente. Neste contexto, a paisagem é percebida pelo indivíduo não como uma soma de
objetos próximos, mas sim de forma simultânea, como um todo.
Nas discussões da paisagem geográfica de cunho humanista e existencialista, as
análises de Lowenthal foram de extrema relevância, pois esse geógrafo é um dos precursores
da Geografia Humanista, contribuindo para revitalizar a Geografia Cultural e Histórica.
Segundo Lowenthal um dos principais objetivos da Geografia era considerar o subjetivo da
relação homem-meio, não recusando o método científico, pois na sua concepção uma visão
puramente perceptiva do mundo seria defeituosa e falsa (LOWENTHAL, 1979 apud MELO,
2001).
Na Geografia Humanista enfatizada por Lowenthal, o homem seria a medida de
todas as coisas, pois toda a explicação só seria satisfatória baseada nos valores humanos. Nesse
sentido, o caráter da cultura seria baseado na percepção e subjetividade, o que a torna concebível
além dos aspectos materiais (LOWENTHAL, 1979 apud MELO, 2001).
Outra importante contribuição foi a de James Duncan, com destaque para seu
trabalho The City as Text. Nesse ele apresenta três objetivos para o estudo da paisagem
estabelecidos da seguinte forma: fornecer uma metodologia para a interpretação de paisagens;
mostrar como a paisagem, entendida como processo cultural, pode servir a reprodução e a
contestação do poder político, e analisar o relacionamento entre o poder político em um lugar e
38
tempo determinado, na qual podemos dar como exemplos os estudos do autor em a capital real
do Kandy, no Sri Lanka (DUNCAN, 1990).
As abordagens apresentadas por Duncan representam uma ruptura com a geografia
tradicional. Tal fato diz respeito a alguns aspectos que não foram considerados pela geografia
cultural tradicional, como o papel da paisagem nos processos sociais e culturais, o diálogo
estabelecido entre os pesquisadores das ciências sociais e a importância da hermenêutica na
interpretação da paisagem (DUNCAN, 1990).
Na análise de Duncan, a paisagem é analisada como um texto, em um contexto de
intertextualidade, onde o contexto de um texto são outros textos (DUNCAN 1990). No contexto
em que as paisagens são produzidas e lidas podem ser textos escritos ou em outros meios, como
a fotografia. Em seus estudos, ao analisar as transformações de um meio para o outro, o autor
adota a concepção de cultura de Raymond Williams, na qual o mesmo considera a cultura como
um sistema significante, cujos elementos centrais dentro de um sistema cultural são
comunicados, experimentados e reproduzidos (WILLIAMS, 1969).
Nessa mesma perspectiva, Cosgrove (1998) nos fala que a Geografia Cultural
renovada considera a paisagem como um texto cultural, reconhecendo que os textos possuem
múltiplas possibilidades de interpretações e olhares, oferecendo leituras diferentes, simultâneas
e igualmente válidas.
A análise da paisagem na produção de Cosgrove (2003) e de Berque (2004) emerge
significados distintos. Berque (2004) fala da paisagem marca e da paisagem matriz, enquanto
Cosgrove identifica paisagens da cultura dominante e paisagens alternativas.
O conceito de paisagem adquiriu novas abordagens com o tempo, e diversos
teóricos de diferentes nacionalidades contribuíram para a evolução desse conceito,
acompanhando as trasnformações ocorridas na sociedade e, consequentemente, nas ciências. A
Geografia francesa também passou por uma evolução em relação aos estudos da paisagem,
cujo conceito foi abordado a partir de dois coletivos: enquanto espetáculo e espaço vivido (
HOLZER, 1999).
A análise que leva em conta a abordagem do espetáculo, se remente ao sentido
original que, nas palavras de Lacoste, é de ”[...] olhar para uma porção do espaço concreto, e
portanto espetáculo”(1977, p.72). Nessa perspectiva destacamos os trabalhos de Ronai (1977)
e Sautter (1979). O primeiro analisaria o seu surgimento renascentista e o outro relacionaria o
surgimento da paisagem ao interesse capitalista, afim de torná-la um objeto de mercado. Já na
investigação da paisagem enquanto espaço vivido, leva-se em conta os aspectos históricos,
abordando-a como um produto da prática entre indivíduos, analisando os aspectos cognitivos
39
e perceptivos. Em relação a essa abordagem foram de extrema relevância as contribuições de
Bailly, Raffestin e Reymond (1980), Collot (1986) e Berque ( 1985) ( HOLZER, 1999).
Na análise da paisagem enquanto espaço vivido, os estudos de Bailly, Raffestin e
Reymond apontam que a paisagem é um produto da prática e da realidade material,
apresentando diversos aspectos frente aos processos históricos. Na perspectiva apresentada
pelos autores, para a realização de estudos sobre a paisagem, é necessária a análise do nível
perceptivel a patir do nível cognitivo e das intencionalidades (BAILLY, RAFFESTIN E
REYMOND , 1980.)
Os autores acima defendem a proposta de uma metodologia para os estudos
referentes à paisagem, que leve em conta a subjetividade pessoal assim como as semelhanças
existenciais e criadora.Umas das questões aprsentadas por eles é se podemos estudar os objetos
como eles são, ou se podemos analisá-los pelas forças não observávies, as subjetivas.
Na análise da paisagem em ralação aos aspectos perceptivos, Collot (1990) afirma
que a paisagem não é um objeto autonômo, supondo que para a sua condição de existência,
sejam necessárias as atividades constituintes dos sujeitos.
[...] A paisagem não é objeto autônomo em si, face do qual o sujeito poderia se situar
em uma relação de exterioridade; ela se revela numa experiência em que o sujeito e
objeto são inseparáveis, não somente porque o objeto espacial é constituído pelo
sujeito, mas também porque o sujeito, por sua vez, aí se acha envolvido pelo espaço
(COLLOT, 1990, p. 22).
Collot (1990) realiza diversas consideraçõe sobre a percepção da paisagem,
abordando a relação existente entre os sujeitos e a paisagem. Para ele, a paisagem é constituída
como uma totalidade coerente, formando um todo, em que tanto a coerência como os aspectos
contituitivos são elementos que tornam a paisagem apta a ter significações para aqueles que a
vivenciam. Ainda para o autor “a paisagem aprsenta-se como uma unidade de sentidos, ela fala
a quem olha” (COLLOT, 1990, p. 24). A ação de ver para ele é configurada a partir das relações
estabelecidas com o observador, não se limitando ao registrar os fluxos sensoriais, mas
organizando e interpretando de maneira a fazer as sensações estabelecidas uma mensagem.
A partir das análises dos diferentes autores e teóricos acima, entendemos que esses
foram de extrema relevância para a contrução do conceito de paisagem. Holzer (1999)
corrobora com essa ideia, mostrando que, assim como os geógrafos franceses, americanos e
alemães, os geógrafos culturais ingleses tiveram importantes contribuiçõees na análise da
temática, radicalizando as questões ontológicas e espistemológicas.
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Sobre a temática acima, Cosgrove (1998) nos fala que:
Os trabalhos incluídos na perspectiva de abordagem da nova geografia cultural foram
desenvolvidos principalmente pelos geógrafos anglo-saxões, que até então não
haviam demonstrado interesse pela geografia cultural, sendo os temas culturais
abordados no âmbito da geografia norte-americana (COSGROVE: 1998, p. 13).
Aliada às teorias dos diferentes teóricos apresentados, novas matrizes
epistemológicas, teóricas e metodológicas marcaram os estudos direcionados à paisagem a
partir da década de 70. De acordo com Corrêa (2001), paralelamente a Fenomenologia e a
Hermenêutica, matrizes contrastantes do materialismo histórico e dialético geraram,
primeiramente, o desenvolvimento da Geografia Humanista, liderada por Y-Fu Tuan, enquanto
a segunda parte desempenhou um importante papel na nova geografia cultural. Ou seja, as três
influenciaram na nova Geografia Cultural.
Para a consolidacao da nova Geografia Cultural buscou-se fundamentações teóricas
e metodológicas que pudessem atender os anseios para essa nova abordagem de investigação
geográfica. Meinig (1979) nos fala que, devido às mudanças metodológicas que estavam
ocorrendo, tornou-se necessário diferenciar alguns conceitos correlatados, que muitas vezes
eram usados pelos geógrafos indistintamente, como paisagem, natureza, cenário e ambiente.
Para Meining (1979), a paisagem é diferenciada da natureza pelo caráter unitário
que ela expressa em nossos sentidos, pois este conceito não se relaciona apenas aos aspectos
estéticos. Já em relação ao ambiente, ela é diferenciada pelo fato de não se tratar apenas de
nossa sustentabilidade enquanto seres vivos, havendo sentimentos que interferem na relação
entre as pessoas e a paisagem.
Ainda para Meining, (1979), a paisagem se diferencia de região e de área devido ao
sentido do simbólico. Em relação aos lugares, a diferença está que esse se refere aos indivíduos
e são nomeados, diferentemente da paisagem, que é uma superfície contínua, que não exige
foco de atenção.
A Geografia Cultural pós 1980 diversificou muito as conexões com outras áreas
do conhecimento. As fontes para emergir a nova Geografia Cultural foram de combinações
distintas, destacando a importância das Ciências Sociais e Interpretativas nesse processo, na
qual destacamos a Antropologia, a Linguística, a História da Arte e a Semiótica. Nas palavras
de (Duncan, 2000), “Trata-se da heterotopia, onde estão presentes, entre outros, Barthes,
Bourdieu, Eagleton, Eliade, Foucault, Geertz, Gombrich, Gramsci, Heidegger, Panofsky e
Williams” (DUNCAN, 2000).
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A paisagem apresenta-se como um conceito abrangente e impreciso, e, em nossa
opinião, assim deve permanecer, pois desse modo incita-nos a olhar para outros horizontes
disciplinares, a fim de ampliarmos e aprofundarmos a compreensão de sua natureza e
significado.
Na visão de Corrêa (2007), a paisagem cultural é o resultado da interação
complicada entre determinada comunidade humana, abrangendo certas preferências e
potenciais culturais. A paisagem está ligada a um conjunto particular de circunstâncias naturais,
sendo uma herança do período da evolução natural e de muitas gerações do esforço humano.
A paisagem cultural é multidimensional, apresentando dimensões morfológicas,
funcionais, espaciais e temporais. Ela une o passado e o presente de maneira dinâmica, servindo
como fonte documental para análise da realidade. Dessa forma, a paisagem cultural pode ser
interpretada como uma associação de aspectos naturais e socioculturais, em que na interação
desses fatores é formado o espaço a partir de manifestações simbólicas. Por essa razão, através
do patrimônio histórico, da memória local e das representações simbólicas, o estudo da
paisagem é consolidado como um excelente instrumento para a análise dos significados do lugar
(CORRÊA e ROSENDHAL, 1998).
Para Cosgrove (1998), revelar os significados da paisagem cultural exige habilidade
imaginativa de entrar no mundo dos outros de maneira autoconsciente, onde o conceito é
analisado com o intuito de mostrar os significados expostos e refletidos a partir das múltiplas
abordagens que o mesmo oferece.
Assim como apresentamos os diversos enfoques sobre o conceito de paisagem ao
longo do tempo, na segunda parte deste capítulo mostraremos a importância da imagem, dando
um enfoque mais aprimorado na imagem fotográfica, que é o um dos principais focos da
pesquisa que seguirá adiante.
2.2 A IMAGEM FOTOGRÁFICA
O termo imagem é bastante empregado, oferecendo diferentes tipos de enfoques e
significados. Torna-se uma tarefa complexa a definição que mostre todas as maneiras de
empregá-la. De acordo com Joly (1994), apesar dos significados dessa palavra, compreendemos
que ela designa algo que, embora não remetendo sempre para o visível, toma de empréstimo
alguns traços ao visual e, em todo o caso, depende da produção de um sujeito, tornando de
difícil compreensão a análise, seja ela imaginária ou concreta.
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O conceito de imagem parece, a uma primeira abordagem, de simples definição, e
revela-se após um estudo mais aprofundado, de difícil precisão. Desde os primórdios da história
do conhecimento, que filósofos e pensadores se debruçam sobre a complexa relação que une
imagem e realidade, bem como sobre as diversas definições.
Platão e Aristóteles vão defendê-la e combatê-la pelo mesmo motivo, imitadora
para alguns e enganadoras para outros. A imagem oferece diversas intepretações para aqueles
que a analisam, assim como educa, ela também pode enganar, tornando-se necessário
explicações mais profícuas para sua análise (JOLY, 1994).
Visualmente imitadora, pode enganar ou educar. Reflexo pode levar ao conhecimento.
A sobrevivência, o sagrado, a morte, o saber, a verdade, a arte, se tivermos um mínimo
de memória, são os campos que o simples termo imagem nos vincula. Consciente ou
não, essa história nos constitui e nos convida a abordar a imagem de uma maneira
complexa, a atribuir-lhe espontaneamente poderes mágicos vinculados a todos os
grandes mitos (JOLY, 1994, p. 19).
Os aspectos culturais estão fortemente presentes nas imagens desde os seus
primórdios. Além desses, Joly (1994) propõe reflexões entre a natureza e as imagens, dando
como exemplo umas das mais antigas definições de imagem realizada por Platão, na qual este
esclarece que as imagens, em primeiro lugar, são as sombras e, em segundo lugar, os reflexos
na água e as superfícies dos corpos opacos, polidos e brilhantes.
A qualquer lugar que frequentemos existem imagens, por todo o lado do mundo o
homem deixou registros de sua imaginação; nas rochas desde o tempo paleolítico até a época
moderna. (SILVA; ALVES, 2007). Completando esta abordagem, Joly (1994) afirma que as
imagens no paleolítico destinavam-se à comunicação, e muitas delas “foram as pré-
anunciadoras da escrita” (JOLY, 1994, p. 19).
Reafirmando os pensamentos de Joly (1994) e Silva e Alves (2007), Oliveira
(2008) nos fala que a história da imagem está presente de forma direta na análise da sociedade.
Muito antes do surgimento da escrita, as imagens já eram um meio de informação e
comunicação, onde o conhecimento da pré-história só foi possível através das inscrições
rupestres10 e outros sinais encontrados em locais onde o ser humano vivia (OLIVEIRA, 2008).
Em cada período da história humana, a imagem cumpre determinadas funções. No
início, essas funções tinham caráter ritual; não faltam exemplos nas civilizações antigas, como
10 Inscrições rupestres são pinturas e desenhos registrados no interior de cavernas, abrigos rochosos e ao ar livre.
São artes do período Paleolítico, também chamada de arte parietal. Informação disponível no endereço eletrônico
da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM). Disponível em: www.fumdham.org.br
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os Maias, os Astecas e os Incas que representaram tão bem seus cultos e sacrifícios. Ainda na
antiguidade destacaram-se as funções informativas e narrativas. Na Idade Média, predominou
a função didática que revelava detalhes da vida dos santos. Com o Renascimento, a história e a
realidade predominam nos signos imagéticos, cabendo essa mesma função à fotografia a partir
do século XIX (OLIVEIRA, 2008).
O desenvolvimento da imagem se confunde com a história da arte e da humanidade,
quando se verifica sua importância no contexto histórico, social político e econômico,
qual expressa valores de uma época. No Egito, a grandiosidade da civilização dos
faraós; na Grécia, a adoração à figura humana; na Idade Média, a hegemonia da
religião oferece ao homem a possibilidade de escapar às dimensões contingentes de
espaço e tempo em que vive, nos primórdios da Era Cristã, com a representação do
irrepresentável; na Renascença, a supremacia da racionalidade e a revalorização da
figura humana, haja vista que, nesse período surgiu a perspectiva, que deu uma nova
concepção de ser humano (SILVA; ALVES, 2007, p. 3).
Entendemos que a análise da imagem atualmente vem de períodos distantes,
atribuindo a ela diversos valores e significados. A imagem não surgiu com os meios de
comunicação contemporâneos, como a televisão, jornal e a internet. Suas raízes são bem mais
profundas, tornando necessário estudos profícuos a fim de conhecer sua gênese, assim como
seus usos.
Os usos das imagens são diversos, havendo diferentes possibilidades em relação às
perspectivas teóricas, metodológicas e técnicas. As imagens tornaram-se uma importante fonte
documental para as pesquisas em diversas áreas, como as Artes, a Comunicação, as Ciências
Sociais e a Geografia, como iremos abordar no decorrer dessa dissertação.
Desde sua origem, a Geografia esteve associada às imagens, fazendo parte da
tradição geográfica conceber as imagens como instrumentos de percepção e compreensão do
mundo. No entanto, de acordo com Gomes e Ribeiro (2013), nos últimos dez anos houve um
crescente interesse sobre as imagens por parte dos pesquisadores na Geografia, destacando-se
os estudos de “GODLEVSKA, 1999; ROSE, 2003, 2006; DRIVER, 2003; RYAN, 2003;
THORNES, 2004; GOMES, 2007, 2008a, 2008b, 2009, 2010; COSGROVE, 1993, 2008;
BERDOULAY e Saule-SORBÉ, 1998, 1999; BERDOULAY e GOMES, 2010; DANIELS et
al., 2011”. (GOMES; RIBEIRO, 2013: 28).
Gomes e Ribeiro (2013) afirmam que esse despertar a nível global mostra a
pretensão de estabelecer a maneira pela qual as imagens colaboram com a construção do
pensamento geográfico. Esse interesse é conduzido segundo duas principais orientações:
A primeira, quase absoluta em número, reagrupa os estudos nos quais são diretamente
procurados conteúdos geográficos nas imagens, tenham sido elas produzidas com esse
44
fim ou não. Trata-se dos estudos que examinam pinturas, desenhos, fotografias,
filmes, mas também mapas, cartogramas, gráficos etc., e procuram reconhecer a
autoridade pedagógica e de comunicação desses instrumentos e meios (BESSE, 2003;
ROBIC, 1993, 2000; MENDIBIL, 1993, 1999, 2006) (GOMES; RIBEIRO 2013, p.
28).
A partir da citação acima, observamos que a maior parte desses casos não é
atribuído à ação de produzir imagens, provocando efeitos insuficientes sobre a produção do
conhecimento e restringindo o papel das imagens à função ilustrativa.
A segunda orientação parte do pressuposto de que as imagens participam
diretamente na construção do pensamento geográfico, tendo como principal finalidade
compreender como se desenvolve uma reflexão a partir das imagens ou junto a elas. “Dito
assim, parece que esse procedimento é original e inédito, mas, na verdade, é possível encontrar
fortes raízes dele na história do pensamento geográfico e, sobretudo, entre aqueles que se
notabilizaram como grandes intelectuais da Geografia” (GOMES; RIBEIRO, 2013: 28).
É notável a importância das imagens no conhecimento geográfico, sejam através de
mapas, de gráficos ou tabelas, assim como no plano do simbólico, com análises profícuas na
abordagem da nova Geografia Cultural, estudando os significados das pinturas, das fotografias
e do cinema.
Nos estudos geográficos as imagens ainda estão aliadas à ampliação da tecnologia.
Com o desenvolvimento do sensoriamento remoto, assistimos a Associação dos Bancos de
Dados com bases espaciais, gerando os Sistemas de Informações Geográficas – SIGS,
correspondendo a uma nova geração de sistemas para reunir informações geográficas (GOMES;
RIBEIRO, 2013).
Nas análises relacionando imagem e geografia, podemos destacar, dentre outros,
as pesquisas de Denis Cosgrove. Esse geógrafo estudava as imagens enquanto representações
iconográficas, cartográficas, por meio de pinturas, fotografias e imagens de satélite, assim como
nas abordagens da paisagem cultural, verdadeiras e ricas fontes de pesquisa e reflexão
(CORRÊA, 2011).
De acordo com Corrêa (2011), o interesse de Cosgrove pelas imagens teve início
na Inglaterra, manifestou-se na Veneza renascentista e ampliou-se na temporada que ele passou
na Califórnia. Para Cosgrove, as imagens são textos a serem decodificados necessitando de
análises, pois as imagens não são mensagens diretas de fácil apreensão.
Em virtude da importância da imagem para a Geografia e outras áreas do
conhecimento, a imagem fotográfica será uma fonte de grande relevância em nossa pesquisa.
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Com isso, destaca-se a importância de demostrar os principais conceitos, usos e temáticas da
imagem, mostradas a partir das perspectivas de diferentes autores.
Sabendo da complexidade de sua análise, concentramos nossos esforços,
principalmente, na abordagem da imagem fotográfica, a fim de dar suporte teórico para a
compreensão das fotografias antigas do bairro Benfica, analisadas no terceiro capítulo do
estudo.
Nessa análise é importante ressaltarmos que serão utilizadas diversas abordagens
no âmbito de várias áreas do conhecimento, tais como a Comunicação, as Artes e a História.
Apesar de apresentarmos diferentes percepções sobre a imagem, a ênfase desta pesquisa é
concentrada nos sujeitos que veem as fotografias, as analisam e as sentem. Nas palavras de
Aumont (2012), podemos chamá-los de sujeito espectador; Kossoy (2009) os designa como
receptor e Roland Barthes (1984) os analisa como Spectador.
A imagem fotográfica se apresenta de forma intrínseca na obra de Roland Barthes,
abordando a temática em uma de seus mais importantes livros, A Câmara Clara (1984). Nesse,
o autor analisa a fotografia como ponto de linguagem, questionando o método a seguir. A partir
disso, encontra-se em todas as fotografias por ele examinadas dois elementos essenciais à
imagem que terão denominações em latim, devido à falta de um correspondente em francês: o
studium e o punctum (BARTHES, 1984).
O studium é o referente visual que nos estimula, humana, cultural e moralmente.
Por outro lado, o punctum, na compreensão de Barthes, seria um elemento, um detalhe que salta
da fotografia e nos atinge como uma flecha. Punctum seria, então, uma picada, algo que nos
fere, que nos atinge. Nesse contexto, o punctum faz o personagem “sair da fotografia” e assumir
vida à parte, sendo, portanto, como se a imagem lançasse o desejo para além daquilo que ela dá
a ver. (BARTHES, 1984).
Barthes em sua obra realiza outra abordagem calcada na relação entre o Operador,
o Spectador e o Spectrum. O Operador é o Fotógrafo, o Spectator somos nós e o Spectrum é o
que é fotografado, o alvo, o referente. (BARTHES, 1984).
O operador, o fotógrafo, possui uma significativa relevância, pois é ele que capta a
imagem, selecionando e limitando na perspectiva que ele deseja. O Spectrum, a fotografia, é a
base para a análise, o objeto a ser olhando e captado. O Spectador, para o autor, seríamos nós
que vemos e sentimos as imagens.
Assim como Barthes, Kossoy (2009) analisa as diversas interpretações provocadas
pela imagem fotográfica. No entanto, diferente de Barthes, Kossoy chama de “receptor” aquele
que vê, sente e faz sua própria leitura do documento. A reconstituição histórica ou pessoal de
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uma imagem fotográfica implica em um processo de criação de realidades, pois é elaborada a
partir dos indicativos do receptor.
De acordo com Kossoy (2009), no mundo da representação fotográfica existem
duas realidades: a primeira realidade e a segunda realidade. A primeira é o próprio referente,
ou seja, o que será fotografado e também o seu processo de representação. A segunda é a própria
imagem fotográfica, resultado do registro da primeira realidade. Essa segunda realidade é
sujeita a diferentes interpretações, conforme a visão dos receptores.
Jaques Aumont realiza significativas abordagens sobre a temática em sua obra
titulada A imagem. Ele mostra que na compreensão e análise da mesma há dois tipos de sujeito:
o sujeito operador, que seria o fotógrafo, e o sujeito espectador, aquele que analisa e interpreta
as imagens. Para Aumont (2012), o sujeito espectador não é fácil definir, pois possui muitas
determinações contraditórias e muitas vezes de difícil compreensão. Além da capacidade da
interpretação, entra na análise dos sujeitos espectadores o aspecto subjetivo, que está intrínseco
nele.
Na obra que mencionamos anteriormente de Aumont, o mesmo afirma que o sujeito
espectador é a base dos modelos psicológicos para estudar e compreender a relação entre sujeito
e imagem. Ele, o sujeito espectador, exerce um papel na relação com a imagem, pois sem ele
a imagem não possuiria funções e finalidades. Baseado nas ideais de Gombrich, Aumont
demostra “o papel do espectador” (AUMONT, 2012, p. 86). Essa análise designa “o conjunto
de atos perceptivos e psíquicos, pelos quais, ao compreendê-la e percebê-la, o expectador faz
existir a imagem” (AUMONT, 2012: 86).
Gombrich em seus estudos sobre a percepção visual demostra que a imagem é um
processo quase experimental, implicando um sistema de expectativas para o espectador, nas
quais são emitidas hipóteses, que em seguida são verificadas ou anuladas. Esse sistema de
perspectivas é informado pelo conhecimento prévio que temos das imagens (GOMBRICH,
1971, apud AUMONT, 2012).
As imagens exercem funções que, no curso da história, foram de todas as produções
humanas. Como uma das principais funções da imagem é estabelecer uma relação com o
mundo, o autor mostra que dessa relação três modos principais são atestados: o modo simbólico,
o modo epistêmico e o modo estético (AUMONT, 2012).
No modo estético, a imagem tem como função agradar o espectador, oferecendo-
lhe sensações específicas. No epistêmico, a imagem traz informações visuais sobre o mundo
que pode ser reconhecido, podendo ter como exemplo os cartões postais, um mapa rodoviário
e um cartão de banco. Já no modo simbólico, entendemos que na história da humanidade as
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imagens serviram de símbolos, como os religiosos, vistos como capazes de dar acesso à esfera
do sagrado pela manifestação de uma presença divina. São inúmeros os exemplos de
iconografia religiosa, como as imagens de Zeus, Buda ou Cristo.
Na perspectiva de Aumont, a produção de imagens jamais é gratuita. Desde sempre
as imagens foram criadas para determinados usos e funções, sejam elas individuais ou coletivas.
A imagem demonstra, além de requintes técnicos, os aspetos psíquicos, vinculando, em geral,
a imagem com o domínio do simbólico, o que faz que ela esteja em situação de mediação entre
o espectador e a realidade.
Joly (2007) corrobora com os aspectos psíquicos empregados na imagem
apresentados na seguinte citação:
Empregamos ainda o termo imagem para falar decertas atividades psíquicas tais como
as representações mentais, o sonho, a linguagem pela imagem, etc.(...) A imagem
mental corresponde à impressão que temos quando, por exemplo, lemos ou ouvimos
a descrição de um lugar, a impressão de o ver quase como se lá estivéssemos. Uma
representação mental é elaborada de um modo quase alucinatório e parece pedir
emprestadas as suas características à visão (JOLY, 2007, p. 20).
Ainda podemos empregar o termo imagem para falar de outras atividades psíquicas,
como as representações mentais, os sonhos e as linguagens advindas dessa. A imagem que é
ligada ao subjetivo corresponde, por exemplo, quando escutamos uma música ou lembramo-
nos de uma determinada paisagem.
Embora a imagem se mostre como representação subjetiva de objetos que integram
a realidade externa, também podemos tomar como referência a imagem como uma síntese que
apresenta esboços, cores e alguns elementos visuais exibidos simultaneamente, com a
permissão de explorá-la por partes, até que chegue à sua totalidade ou como sistema de símbolo.
Continuando as abordagens realizadas por Joly (2007), sabemos que qualquer
sistema de símbolo é uma invenção do homem. Tais invenções ou refinamentos, que costumam
ser chamados de linguagem, foram em outros tempos provenientes da percepção do objeto
dentro de uma concepção de imagens.
As imagens oferecem diversas explicações, apesentando múltiplas interpretações
para aqueles que as veem e a analisam. Sabe-se que seu estudo remete a significados distintos,
ligado ao cultural, pois através das leituras das imagens podemos apreender a cultura de um
determinado grupo social.
As imagens revelam diferentes realidades, podendo ser analisadas através dos
aspectos cognitivos e simbólicos. Isso remete a leituras além dos aspectos visuais, entrando
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nesse estudo o plano do imaginário, revelando valores distintos, pois o universo subjetivo
reflete sensações intrínsecas ao observador.
Para ler uma imagem, deve-se ter em mente alguns objetivos, principalmente sobre o
que se quer ver/ler. Podem ser identificados na leitura de uma imagem os aspectos
referentes ao sentido e ao significado, que remetem ao plano do simbólico; pode-se
buscar também a origem, a explicação de determinada realidade, pois as imagens
guardam em si vestígios da realidade, caracterizando-se dessa forma como uma
narrativa que conduz o espectador pelos caminhos do imaginário, pois, ao representar
o real, cria-se uma nova realidade (COELHO, 2009, p. 5).
A produção de imagens sempre esteve ligada à história da humanidade com a
função de, muitas vezes, representar a realidade. Os diversos tipos de imagens, como as pinturas
e as esculturas, foram importantes para a construção de pensamentos e teorias sobre a mesma.
No entanto, a sua popularização ocorreu com o surgimento da fotografia. A invenção da
fotografia ocorreu na primeira metade do século XIX, por Josephe Nicéphore Niépce, porém
foi popularizada por Louis Jacques Mandé Daguerre. Sua popularização correu em 1839 na
França, tornando-se um símbolo de modernidade e técnica para a época (SILVA, 2001).
No Brasil, a fotografia chega em 1840, ano em que se antecipa a maioridade de D.
Pedro II. O surgimento da fotografia no Brasil coincide e necessariamente se confundirá com o
II Império, tendo o príncipe herdeiro um grande apreço pelas artes, incluindo a fotografia. Nesse
período, Dom Pedro II tornar-se-ia um dos primeiros fotógrafos brasileiro e, sem dúvida, um
grande colecionador de fotografias no Brasil até a atualidade (CHIARRELI, 2002).
O desenvolvimento da fotografia nesse período esteve ligado ao projeto da
implantação de uma “civilização” nos trópicos. Esse projeto tinha como objetivo a relação entre
civilização e natureza, tendo à frente o Estado monárquico, portador e impulsionador do projeto
civilizatório, e a natureza, como base territorial e material desse Estado. (KOSSOY, 2009).
O Imperador esteve à frente do processo civilizatório, patrocinando diversas
atividades, como no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. De acordo com Kossoy (2009),
Dom Pedro II era um homem culto e atento às manifestações artísticas, às descobertas
cientificas, aos avanços tecnológicos e às matrizes culturais, que geralmente eram engendradas
no continente europeu. Devido à importância da influência desse continente nos aspectos
culturais do Imperador, ele incentivaria e promoveria a ida de artistas brasileiros à Europa com
bolsas de estudo.
A fotografia esteve presente neste período apresentando, através da imagem, um
país e uma família real, contribuindo, no caso, para a construção da história nacional. Trata-se
de cenas do progresso material, enfatizando-se os avanços das técnicas, como a implantação
49
das obras das estradas de ferro, dos progressos da agricultura e principalmente as
transformações urbanas (KOSSOY, 2009).
Nas ideias de Silva (2001), compreendemos que:
Na origem da utilização das fotografias enquanto documento histórico no Brasil
ressalta-se uma orientação ideológica voltada para a construção de uma história
nacional baseada nos parâmetros da modernidade técnica a exemplo das fotos que
acompanham as obras ferroviárias, portuárias, as reformas humanas, as instalações
industriais e outras [...] (Silva, 2001, p. 75).
Outras temáticas também se inserem no processo de construção da história
nacional, como os triunfos dos militares, tendo como exemplo o episódio de Canudos, a
exaltação da natureza, mostrando como símbolo da exuberância paisagística o Pão de Açúcar
e, também, as manifestações artísticas e culturais.
No processo de evolução da fotografia, o Brasil participou de importantes eventos
relacionados à temática, como a exposição internacional de Paris em 1855. Posteriormente,
houve no país a primeira exposição nacional de fotografia, que ocorreu no Rio de Janeiro em
1861 (SILVA, 2001). Na mesma cidade, em 1881, houve uma exposição na Biblioteca
Nacional, titulada a História do Brasil. Nessa podemos perceber a estreita relação da fotografia
com a análise da história, onde tal fonte aparecia ao lado de documentos manuscritos, mapas,
dentre outros. Esse fato nos mostra a importância da fotografia como parte do saber
especializado na busca da construção e da interpretação da realidade (SILVA, 2001).
Na análise da realidade brasileira, o século XX foi marcado por diversas conquistas
tecnológicas, implicando de forma direta a modificação das paisagens urbanas, os novos
modelos urbanísticos e a alteração dos padrões da percepção do mundo objetivo. Esse meio
urbano que vinha sendo desenvolvido influenciou de forma direta na percepção dos fotógrafos
e da sociedade de maneira geral.
A paisagem urbana brasileira foi passando por intensas transformações, numa
relação de transformação a cada novo modelo urbanístico criado. Temos como exemplo a
reforma realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1903, projetada por Pereira Passos. As
características principais dessa reforma eram: a abertura de grandes avenidas, alargamentos de
ruas, programas de saneamento básico e construções de edifícios de grande porte. A partir do
plano de urbanização da cidade do Rio de Janeiro, muitas outras cidades brasileiras iniciaram
importantes mudanças em seu espaço, alterando não só a paisagem, mas também as funções e
o modo de vida da população (SILVA, 2001).
50
Em virtude das mudanças que foram ocorrendo no espaço urbano, concentrando
população e atividades econômicas e políticas, as cidades brasileiras tornaram-se objeto de
estudo e análise de várias ciências. Sendo assim, a fotografia tornar-se-ia um recurso
imprescindível para o registro de tais mudanças. A fotografia passou a registar intensamente as
demolições e construções nas cidades, substituindo, muitas vezes, a memória urbana que não
conseguia acompanhar o intenso ritmo das mudanças que estavam acontecendo na paisagem
(SILVA, 2001).
As modificações que estavam ocorrendo na sociedade interferiram diretamente na
fotografia, pois, assim como a arte, a fotografia tinha como uma de suas principais
preocupações registrar as mudanças que estavam acontecendo na dinâmica vida moderna,
apresentando uma nova maneira de olhar para a cidade.
A fotografia como imagem de representação social e espacial possui elementos que
interagem com a perspectiva representada pelo espectador. Assim, a partir de sua interpretação,
é gerado de forma simbólica um discurso sobre o mundo (AUMONT, 2012). Assim, a imagem
fotográfica auxilia na compreensão da realidade, através do olhar que vai além dos aspectos
materiais, palpáveis e concretos.
A fotografia possibilita analisar a paisagem a partir da representação da realidade.
Podemos observar diversos aspectos relevantes do passado a partir das múltiplas interpretações.
A análise só é possível de ser realizada através de aspectos concretos da realidade. No entanto,
não podemos desconsiderar a análise subjetiva, na qual os espectadores encontram um
“universo” de possibilidades.
Uma fotografia traz mais do que a pretensão de nos mostrar uma genuína parcela
da realidade. Ela revela inúmeras versões, realizando um elo entre passado e presente. Para
Dubois (1993), o espaço fora da imagem faz parte do que está dentro, como imutável, congelado
e acessível no seu significado em qualquer tempo futuro.
Através do estudo das fotografias podemos entender os aspectos referentes ao
passado, e consequentemente compreender as mudanças ocorridas em uma determinada
sociedade. Nela encontramos marcas que mostram traços culturais, seja pela arquitetura de um
prédio, por uma paisagem natural ou até mesmo por um vestuário. A partir desses aspectos,
entendemos que o estudo da fotografia está intrinsicamente relacionado à cultura.
Os aspectos culturais são significantes nas fotografias, apesar de nem sempre em
sua leitura ela transmitir mensagens para todos, já que para alguns certas fotografias não
transmitem informações importantes. Já para outros, elas são carregadas de significados,
tornando-se uma parte do passado congelado, resgatando os sentimentos presentes na memória.
51
A fotografia representa estruturas profundas ligadas ao exercício de uma
linguagem, assim como a vinculação a uma organização cultural e simbólica. Ela é também um
meio de comunicação e representação do mundo e, a partir do registro imagético de um lugar e
de um momento, possibilita constantes visitas ao “passado”.
A imagem fotográfica contém em si o registro de um fragmento selecionado do
real: o assunto “recorte espacial” congelado num determinado momento de sua ocorrência
“interrupção temporal”. Em toda fotografia há um “recorte espacial” e uma “interrupção
temporal”, fato que ocorre no instante do (ato) registro (KOSSOY, 2009:29).
Temos na imagem fotográfica um documento criado, construído, razão pelo qual a
relação entre o documento/representação/realidade é indissociável. A representação a partir da
fotografia oferece inúmeras interpretações, fornecendo diferentes leituras que cada receptor faz
dela em um determinado momento (KOSSOY, 2009).
Pode-se dizer que a foto realmente eterniza uma imagem, mesmo que esta
não corresponda à verdade absoluta, mas a uma verdade fabricada, aquela que se quer passar
adiante. O caráter subjetivo da fotografia não pode ser desprezado. A imagem retratada, ao
mesmo tempo em que apreende o real, reflete o ponto de vista de seu autor e a análise do
espectador, discussão que iremos aprofundar no terceiro capítulo.
A partir das abordagens realizadas neste capítulo, entendemos que a imagem
fotográfica é uma fonte indispensável para os estudos da realidade. Sabendo da sua importância
para análise da sociedade e do espaço geográfico, a fotografia fará parte de nossas análises,
assim como os sujeitos que compõem o bairro Benfica e a UFC.
Na busca de uma análise mais completa referente às mudanças que a Universidade
ocasionou e ainda ocasiona, se faz necessário conhecer e analisar os aspectos históricos
referentes ao Benfica e à instituição de ensino que estamos analisando, demonstrados no
decorrer do capítulo seguinte.
52
3 A EDUCAÇÃO NA PAISAGEM DO BENFICA DE ONTEM E DE HOJE
3.1 UM POUCO DA HISTÓRIA DO BAIRRO
A partir das décadas iniciais do século XX, com a expansão urbana de Fortaleza, o
Benfica começou a se destacar por suas edificações, denominadas à época de chácaras e d
bangalôs, cujos principais proprietários eram personalidades da política, comerciantes e
profissionais liberais conhecidos da cidade.
O bairro se caracterizava, no final do século XIX e início do século XX, como uma
área destinada ao descanso. Raimundo Girão (1959) destaca o Benfica como local de chácaras
com extensos pomares e casas recuadas, marcando a paisagem da estrada que era usada para
abastecer a capital cearense com gêneros alimentícios trazidos do interior do estado.
De acordo com Pereira (2009), a formação do bairro possui uma relação com a
história econômica, cultural e educacional de Fortaleza. Com a recuperação da economia do
estado, afetada pela estiagem no final do século XIX, uma parte da elite econômica se deslocou
para o Benfica, se distanciando do centro da cidade e tornando- o um bairro domiciliar.
Esse movimento foi proporcionando por diversos fatores, como o sistema de
transportes público, destacando o bonde, que era um dos transportes mais modernos da época.
Ressaltamos que o bairro possuía duas linhas de bonde, a do Benfica e a do Prado, ambas
inauguradas no ano de 1913 (VASCONCELOS JÚNIOR, 1999). A evolução do transporte
público favoreceu ao bairro, pois, através desse, as pessoas poderiam se locomover para outras
áreas da cidade, principalmente para o centro de Fortaleza.
A localização geográfica foi outro fator relevante para a evolução do Benfica, de
onde podemos destacar algumas características, como o clima ameno, o verde proporcionado
por seus mangueirais, a lagoa do Tauape (aterrada na década de 40) e o riacho que corria por
trás do atual prédio da Reitoria em direção à referida lagoa. Outros pontos locacionais foram
importantes, como a proximidade com o centro da cidade, assim como a sua principal via de
acesso, denominada Visconde de Cauípe, e sua continuação à av. João Pessoa, conectando o
centro da cidade ao Distrito de Parangaba. Originalmente denominado de Arronches
(VASCONCELOS JÚNIOR, 1999)
Sobre a temática, Costa (2007), nos fala que:
Mais para o interior, na estrada dos Arronches, em zona arborizada, onde se
localizavam as fontes de água onde abasteceram Fortaleza durante a seca de 1877-79,
53
começa a desenhar no final do século XIX, o Benfica com sobrados, bangalôs, e casas
recuadas com jardins. O bairro foi dotado de estrutura pelo prefeito Álvaro Wayne
(1930-35). Nos anos 30 era o bairro mais elegante da cidade de Fortaleza, atraindo a
população por sua paisagem, bosques, praça arborizada (Praça da Gentilândia),
clubes, Campo do prado (hoje CEFET) e a missa da Igreja dos Remédios [...]
(COSTA, 2007, p. 68).
Assim como a importância dos fatores apresentados acima, o lazer já possuía
destaque no bairro, haja vista os muitos eventos importantes até a década de 40, como as
corridas de cavalos no Prado, área ocupada atualmente pelo IFCE e o Estádio Presidente
Vargas. Nesse mesmo espaço aconteciam as partidas de futebol e eram localizadas as sedes
das primeiras associações futebolísticas da cidade, como o Gentilândia Esporte Clube, o
Ferroviário Esporte Clube, o Maguary Sporting Clube, o Fortaleza Esporte Clube, como
também o Ceará Sporting Club (BARROSO,2004).
Aos poucos o bairro foi crescendo e as mudanças ocorridas na paisagem do bairro
foram devido a diversos fatores, dentre eles o acelerado processo de urbanização do Brasil e o
fenômeno das migrações internas, que levaram ao aumento da população das principais
metrópoles brasileiras. De acordo com as ideias de Souza (2009), Fortaleza não ficou de fora
desse processo, pois o aumento da população da cidade trouxe diversas implicações de ordem
econômica e social, estabelecendo a necessidade de mais investimentos em infraestrutura social
e mais oportunidades de empregos.
A cidade foi crescendo, organizando e projetando vários planos urbanísticos para
atender às necessidades políticas, econômicas e sociais da população. Fortaleza crescia no
sentido do litoral para o interior, sendo acompanhada pela expansão de equipamentos urbanos,
inclusive das instituições de ensino (COSTA, 2007). Nesse contexto foram surgindo muitos
bairros novos, ampliando a área considerada mais antiga, compreendida pelo Centro, por
Jacarecanga e pelo Benfica.
Fortaleza, a capital do Estado do Ceará, se consolidava como centro comercial e de
serviços, fazendo emergir uma classe social de funcionários públicos, profissionais liberais e
pequenos e médios comerciantes que necessitavam de imóveis para as suas moradias. Nesse
período destacamos que a realidade dos imóveis era contraditória, com bangalôs, chácaras e
palacetes de um lado, e do outro, cortiços e casas de taipa.
Assim como ocorria o crescimento de Fortaleza, o Benfica ia evoluindo e,
consequentemente, houve o aumento de sua população com a fixação de muitas famílias
aristocráticas, dentre elas a família Gentil, que tinha à sua frente o patriarca José Gentil Alves
de Carvalho, banqueiro, comerciante e responsável pelo maior empreendimento imobiliário da
54
época na cidade, a construção planejada de um conjunto de ruas e vilas com casas de vários
tamanhos, contendo o que havia de mais moderno em equipamentos urbanos: um sistema
coletivo de esgoto e água e energia elétrica. Esse espaço era denominado Vila Gentil, e
posteriormente de Gentilândia11, em sua homenagem (VASCONCELOS JÚNIOR, 1999).
Vasconcelos Júnior (1999) corrobora com a temática afirmando que:
O que torna o Benfica importante na abordagem em relação ao contexto urbano de
Fortaleza, é que desde o seu início, com a chegada de famílias importantes da cidade
como a do engenheiro João Thomé de Sabóia, os Mansos Valente e principalmente da
família Gentil, o bairro vai mudando o seu aspecto aristocrático de grandes mansões
circundadas por sítios ou extensas áreas ajardinadas, para abrigar ou inserir o moderno
da época (VASCONCELOS JÚNIOR, 1999 p. 48).
Para Vasconcelos Júnior (1999), o bairro foi progredindo e ganhando novas
características, com a formação de ruas e construção de muitos imóveis, tornando o Benfica um
espaço onde podia ser observado um misto de casas com características mais urbanas e casas
com muitos espaços no seu entorno, com aparência, como já dissemos, de bangalôs e chácaras.
Continuando as ideias do autor citado acima, a paisagem do Benfica se destacava
por diferentes tipos de residências. Além das mansões, havia moradias para a classe média que
ocupavam as vias principais. As vias secundárias eram compostas por vilas, com casas menores
destinadas à população menos favorecida. Encontramos em Barroso (2004) exemplos da
realidade apresentada, mencionando as seguintes vilas existentes ainda hoje: Vila Antônio de
Souza, Vila Demétrio, Vila Apertada Hora, Vila Campelo, Vila Alegre, Vila Arteiro e Vila
Gentil.
Diante do processo de modernização em Fortaleza, observamos que diversas
mudanças ocorreram na cidade. Residências localizadas no Benfica cederam lugar à construção
de condomínios, houve reformas em fachadas de algumas casas antigas e também a
intensificação de um maior número de estabelecimentos comerciais. Esses fatos nos mostram
que, nesse período, entre os anos de 50 e 60, o bairro passou por um processo de mudança
funcional, provocado, entre outros, pela especulação imobiliária que avançava na cidade.
Segundo Vasconcelos Júnior (1999), esse processo não foi maior por conta da
oportunidade que os antigos inquilinos das casas da Vila Gentil tiveram em adquirir, através de
contrato de compra e venda, suas residências. Muitas dessas famílias continuaram residindo no
11 Na planta da cidade de Fortaleza e subúrbios, organizada por Adolpho Herbster, de 1875, já se vislumbra a área
denominada Benfica. É neste bairro que o empresário José Gentil construirá sua residência e, posteriormente, na
área adjacente à sua residência, abrirá vilas e ruas e nelas construirá centenas de casas. Este espaço, com o tempo,
torna-se a Gentilândia, para muitos um bairro dentro de outro, o Benfica. A Gentilândia tornou-se bairro apenas
em 1999 por decreto municipal (VASCONELOS JÚNIOR,1999).
55
bairro e esses imóveis foram, de certa forma, conservados.
A venda desses imóveis foi realizada pela imobiliária Frota Gentil, de propriedade
da família Gentil, pois a mesma possuía, além da Vila Gentil, muitas propriedades na cidade.
As vendas foram realizadas pelos herdeiros do empresário José Gentil. Muitos imóveis que
pertenciam à referida família foram adquiridos pela UFC, inclusive o Palacete Gentil, atual
prédio da Reitoria da referida universidade.
Com a criação da UFC, continuou ocorrendo a evolução do bairro. Essa
proporcionou no Benfica diversas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais.
Com isso, o bairro adquiriu características modernas, ao mesmo que é preservado a sua história
através de muitos prédios antigos mantidos pela instituição de ensino em questão.
A presença da Universidade é incontestável no Benfica, provocando alterações na
paisagem do bairro, que são percebidas pelos diversos sujeitos que o compõem. Portanto, para
haver uma compreensão mais aprimorada, o próximo subitem demonstrará a história da
Universidade, mostrando os principais fatos do decorrer de sua história.
3.2 A HISTÓRIA DA UFC
A instalação da UFC solidificou o Benfica como espaço da educação, visto que o
bairro já vinha recebendo, antes da UFC, instituições educacionais de importância na cidade,
dentre elas o Ginásio Santa Cecília (atualmente instalado na Av. Virgílio Távora), o Ginásio
Nossa Senhora das Graças, que, ao se transferir para o bairro de Fátima, cedeu lugar ao Ginásio
Americano e, a mais importante destas instituições, a Escola Industrial, hoje Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
As edificações onde funcionaram as instituições educacionais acima mencionadas,
com exceção do IFCE, foram adquiridas com o tempo pela UFC, como resposta à necessidade
de novos espaços para os cursos que estavam sendo criados pela nova universidade.
A educação é uma das principais referências para a análise da paisagem do Benfica.
Em virtude do bairro ter se tornado lócus educacional, é necessário para essa análise
compreender uma discussão histórica sobre a evolução espacial e consequentemente de sua
paisagem.
Na análise, a UFC se destaca como instituição de ensino superior que provocou
intensas mudanças no bairro. Portanto, é necessário entender o processo histórico de sua criação
e expansão no Benfica. Para tanto, é necessário recorrermos a fatos importantes frente à
educação superior no Ceará, nos remetendo a períodos de criação de escolas de ensino superior
56
e faculdades12.
Na abordagem frente ao processo de criação da instituição de ensino, iremos
mostrar os principais fatos referentes à história da UFC por períodos, a fim de detalhar e facilitar
a compreensão. Nessa, será focado o campus do Benfica como lócus de criação da
Universidade, assim como objeto que esta dissertação pretende elucidar.
Dividimos a história da Universidade em dois períodos. No primeiro analisaremos
a criação da Instituição, a escolha do primeiro reitor e os primeiros doze anos de funcionamento
da Instituição, mostrando a sua expansão através dos cursos que foram criados, assim como a
aquisição de muitos imóveis no campus do Benfica para as instalações da Universidade.
A temporalidade estabelecida para esse primeiro período é devido a importância
das primeiras instalações da Universidade e das bases educacionais que foram criadas através
de escolas e faculdades. Outro fator determinante para a escolha de analisar os doze primeiros
anos da instituição de ensino é devido à contribuição e importância do Professor Antônio
Martins filho para a UFC e o ensino superior no Ceará. Este foi o primeiro reitor da
Universidade, completando quatro mandatos consecutivos que se concentram entre os anos de
1955 e 1967.
No segundo período, iremos analisar a história da Universidade através dos
reitorados seguintes, analisando os principais fatos referentes à Universidade ao longo do
tempo. Para isso, foram analisados todos os reitorados após o ano de 1967 até aos dias atuais,
nos quais demonstraremos os principais feitos referente à criação de cursos, equipamentos
culturais e expansão das áreas físicas da Universidade.
3.2.1 Primeiro período: A criação da UFC, a escolha do primeiro reitor, e os doze
primeiros anos de Instituição
Antes da criação da UFC, o ensino superior já se apresentava no território cearense,
através da criação da Faculdade de Direito no ano de 1903, no centro de Fortaleza, nas
proximidades do bairro Benfica, da Faculdade de Farmácia e Odontologia no ano de 1916, da
Escola de Agronomia em 1918 e da Faculdade de Medicina no ano de 1948. Destacamos que
estas, juntamente à Faculdade Católica de Filosofia, foram incorporadas à Universidade no ano
12 Na abordagem realizada nesse subitem, utilizamos como fonte para as informações apresentadas as seguintes
obras do Prof. Antônio Martinho Filho: História Abreviada da UFC,1996; UFC & BNB: Educação para o
Desenvolvimento, 1994. Outra importante fonte que utilizamos neste capítulo, foi o site da Instituição, disponível
no seguinte endereço eletrônico: www.uf.br
57
de 1955.
Para apresentarmos os fatos associados à criação da primeira universidade no
Ceará, consultamos as publicações de autoria do Prof. Antônio Martins Filho, primeiro reitor e
considerado, por muitos, o principal articulador da criação, implantação e consolidação da já
mencionada Universidade. Outra importante fonte foi o site13 da UFC, pois através desse
pudemos ter acesso a importantes datas referente à história da Universidade, como a criação de
cursos e os diversos equipamentos culturais mantidos pela instituição de ensino em questão.
De acordo com Martins Filho (1996), no ano de 1944 iniciaram-se as negociações
políticas nas esferas estadual e federal para a criação da uma universidade no Ceará. A primeira
iniciativa deu-se através do médico Dr. Antônio Xavier Oliveira, encaminhando ao Ministério
de Saúde e Educação um relatório sobre a federalização da Faculdade de Direito. Naquele
momento foi mencionada pela primeira vez a criação de uma universidade cuja sede seria na
cidade de Fortaleza. A ideia de uma universidade na capital cearense começou a ser tema de
diversos debates, pois a cidade estava crescendo e tinha condições suficientes de atender às
demandas que necessitavam para a criação e instalação de uma instituição superior pública de
ensino. Outra tentativa foi a de Antônio Martins Filho que, no ano de 1953, elaborou um
documento no qual especificava a necessidade da instalação de uma universidade no Ceará,
com sede em Fortaleza.
No momento em que decorria o debate sobre a criação da universidade, o ministro
da Educação e Saúde de Getúlio Vargas, Professor Clemente Mariano, visitou o Ceará. O
mesmo foi recepcionado pela Faculdade de Direito, na qual fez um importante pronunciamento
referente à necessidade da tão esperada universidade, enfocando também a solicitação do
alunado através de mais de 10 mil assinaturas solícitas à criação da instituição de ensino. O
pedido em relação à criação da universidade foi levado também ao governador do Ceará, àquela
época, o Desembargador Faustino de Albuquerque, que deu total apoio à causa pleiteada.
Nesse período, a morte do Presidente Getúlio Vargas em 1954 poderia ter se tornado
um empecilho. Essa fatalidade poderia desencadear um golpe militar, o Congresso poderia ser
fechado e, com isso, o processo de criação da universidade seria arquivado. No entanto, fatos
relacionados à posse do vice-presidente Café Filho, associados à vitória de Paulo Sarasate na
eleição ao governo do Ceará, fez surgir novas esperanças, por conta das boas relações políticas
entre o Executivo Federal e o recém-eleito para o Estado.
O pleito obteve êxito e, em 16 de dezembro de 1954, foi aprovada a lei que criava
13 Endereço eletrônico da UFC: www.ufc.br
58
a Universidade do Ceará. Com a lei aprovada, uma das preocupações mais persistentes era quem
iria ser nomeado ao cargo de reitor. A lista era formada pelo deputado João Otávio Lobo e os
professores Renato Braga e Antônio Martins Filho. Um dos nomes mais citados para assumir a
reitoria era o do deputado João Otávio Lobo, sobre o qual a suspeita tendia a ser confirmada
com a visita do presidente Café Filho ao Ceará. A escolha do reitor era de muita preocupação
para o governador do estado, Paulo Sarasate, que era da União Democrática Nacional (UDN),
partido opositor ao governo de Vargas, pois João Otávio Lobo fazia parte do Partido Social
Democrático (PSD), remetendo à questão se, caso o mesmo assumisse a Reitoria, a Instituição
poderia tornar-se uma forte arma política.
Para a escolha do reitor foi formado um conselho com seis professores que iriam
votar nos três candidatos escolhendo o mais apto para coordenar a Universidade. Na votação, o
escolhido foi Antônio Martins Filho para compor o mais alto cargo da atual universidade. A
publicação de seu nome no Diário Oficial ocorreu em 18 de maio de 1955.
Com a escolha do reitor realizada e a incorporação de escolas e faculdades, agora a
principal preocupação era onde seria a sede da Reitoria. A primeira sede ficava localizada na
Rua Senador Pompeu, na Praça da Bandeira, há poucos metros da Faculdade de Direito. A
Reitoria permaneceu nessa sede pelo período de seis meses.
No ano de 1956 tornou-se possível adquirir, través da Imobiliária Frota Gentil, o
palacete que pertencia à referente família Gentil para sede da Reitoria da nova universidade. A
aquisição do prédio onde seria a nova Reitoria foi proveniente de recursos do Ministério da
Educação através de muitos esforços, pois no mesmo ano já havia sido adquirido o prédio da
Faculdade de Direito do Ceará, motivo que se poderia ter tornado um empecilho aos projetos
de novas aquisições pela recém-instalada Universidade do Ceará.
Sendo liberados os recursos necessários para a efetuação da compra do palacete, o
Reitor Martins Filho, efetivou a aquisição do imóvel pelo preço de cinco milhões de cruzeiros.
O palacete foi adquirido com os bens móveis, que se tornariam o mobiliário da nova Reitoria.
A inauguração ocorreria em 26 de junho de 1956.
A Reitoria foi ampliada várias vezes, não perdendo, por conta dessas reformas, o
seu estilo arquitetônico original neoclássico. Outras edificações foram construídas em seu
entorno, como a Concha Acústica com o seu auditório ao ar livre, ambas inaugurados em 1959.
O prédio significa mais do que uma sede administrativa da Universidade, ele é um símbolo
representativo da cultura e educação no Benfica para a cidade de Fortaleza.
59
Fotografia 1 - Visita do Reitor Martins Filho à reforma da Reitoria e à construção da Concha
Acústica
-
Fonte: Arquivo UFC, 1958.
Outra aquisição importante da Universidade foi o prédio onde se localizava na Rua
Major Facundo a tipografia Lusitana. O imóvel foi adquirido pelo valor de 700.000.00 mil
cruzeiros. O seu proprietário, Clóvis Carvalho Pereira, tornar-se-ia, na aquisição, funcionário
da Instituição e o primeiro diretor da gráfica. A intenção em relação à compra do prédio era a
instalação da Imprensa Universitária no mesmo.
No decorrer do ano de 1956 houve a incorporação de vários imóveis, dentre eles
onde funcionariam a Faculdade de Ciências Econômicas do Ceará, que era mantida pelo
Governo do Estado, a Escola de Serviço Social do Instituto Social de Fortaleza e a Escola de
Enfermagem São Vicente de Paulo.
Observamos que em um curto período de tempo a Universidade ia se expandindo,
tornando-se em pouco tempo referência para o contexto do ensino público superior no Ceará.
A administração da UFC não só se preocupava com a parte estrutural da Universidade, mas
também com os assuntos estudantis. Frente às necessidades das questões dos estudantes, foi
criado o Clube dos Estudantes Universitários (CEU), passando a funcionar em 1957. O mesmo
tinha como objetivo agrupar todas as demandas dos estudantes e suas necessidades
assistenciais.
Outro ponto de extrema relevância na história do ensino superior no estado do Ceará
60
foi a interiorização do ensino através da iniciativa do professor Antônio Martins Filho. Ele
articulou junto ao Ministério da Educação e Cultura e o Conselho Universitário a criação do
Instituto de Ensino Superior do Cariri. Com a criação desse, foi possível, em 1960, a instalação
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras na cidade do Crato. Posteriormente, no ano de
1961, foi criada a Faculdade de Ciências Econômicas na mesma região.
Além da criação das Faculdades acima apresentadas na região Sul do estado, a
região Norte igualmente foi comtemplada por instituições de ensino superior, através da criação
da Faculdade de Filosofia Dom José, na cidade de Sobral no ano de 1961.
Em 1964 houve a implantação de um dos projetos de grande importância para a
Universidade, o Centro de Treinamento e Desenvolvimento Regional (CETREDE). Sua criação
esteve em convênio com a Faculdade do Arizona, com o Instituto de Pesquisas Econômicas
(IPE) e com a Organização dos Estados Americanos (OEA). O CETREDE tinha apoio de
órgãos como o Banco do Nordeste, em especial quando a sua presidência estava nas mãos de
Raul Barbosa.
Os planos referentes ao ensino na área da economia continuaram sua consolidação
com a criação do Centro de Aperfeiçoamento Econômico no Nordeste (CAEN), providenciando
cursos stricto sensu e lacto sensu, com o objetivo de qualificar o público da área em pós-
graduação, assim como desenvolver o crescimento regional.
Paralelo à ampliação das estruturas de ensino da UFC, iniciava-se a consolidação
de um projeto em benefício da arte e cultura cearense, a criação do Museu de Arte da UFC
(MAUC). O grande colaborador nesta empreitada foi o maranhense Floriano Teixeira,
convidado posteriormente para fazer parte do corpo de funcionários da Universidade. Ele tinha
a função de pesquisador, realizando viagens principalmente para alguns estados do Nordeste,
como Pernambuco e Maranhão, com a finalidade de adquirir material artístico para a
composição do museu. O MAUC foi inaugurado no dia 25 de junho de 1961.
Com o golpe militar em 1964, tem início no país um período de repressão. O ensino
em todos os níveis é reformado por atos institucionais e as universidades públicas pressionadas
por uma legislação de censura. Para Martins Filho (1996), aquele período político pelo qual o
país estava passando poderia interferir no desenvolvimento das questões estruturais e do ensino
frente à universidade. No entanto, com a nomeação do Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, cearense, ao posto de Presidente da República, haveria certa comodidade, pois o
mesmo poderia interferir de uma maneira positiva frente às demandas de que a Universidade
necessitava.
61
Fotografia 2 - Visita do presidente Humberto de Alencar Castelo Branco à UFC para a
inauguração da residência estudantil universitária .
Fonte: Arquivo UFC, 1966.
Em diversas ocasiões o Presidente Castelo Branco visitaria a UFC, acatando os
pleitos do Reitor Martins Filho. Em uma das viagens do Presidente ao Ceará, ele visitou a casa
onde tinha nascido o escritor e Romancista José de Alencar, localizada no Sítio Alagadiço
Novo. Devido às péssimas condições em que se encontrava esse local, o presidente incumbiu
ao Reitor a realização de reformas adequadas nesse local.
O Reitor Martins Filho acatou o pedido de Castelo Branco, tornando-se possível a
conclusão das obras em 1965. Nesse momento, a Universidade completaria dez anos de
existência, então o reitor sugeriu ao presidente a reimpressão do livro Iracema, a fim de
comemorar o centenário da obra, as reformas no Sitio Alagadiço Novo e o aniversário da
Universidade.
No ano de 1965, as medidas de controle das verbas e a excessiva centralização dos
órgãos do governo prejudicaram gradativamente o funcionamento das universidades federais.
No entanto, o mesmo ano para a Universidade foi bastante proveitoso, pois o projeto da reforma
da Casa José de Alencar, no sitio Alagadiço Novo, havia sido aprovado, assim como verbas
para a construção de uma biblioteca no mesmo espaço, galeria de arte, auditório, entre outros
benefícios. No mesmo ano foram realizadas reformas como: a parte esquerda da Reitoria; a
construção de três blocos destinados à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras; o conjunto de
62
edifícios destinados a institutos básicos, onde funcionavam os cursos de Química, Física e
Matemática; o prédio reservado ao Museu de Arte; a Residência Universitária; os edifícios
sedes para a Escola de Engenharia; o prédio onde iria funcionar a Escola de Arquitetura e
Urbanismo, criada no ano de 1964, e por fim, a edificação onde seria a nova sede da Imprensa
Universitária.
Outro importante feito nesta época foi a criação das Casas de Cultura. Essas são
continuadoras dos antigos Centros de Cultura Estrangeira, inauguradas pelo Prof. Pe. Francisco
Batista Luz, quando o mesmo era Diretor da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
Criados oficialmente por decisão do Conselho Universitário, os antigos Centros de
Cultura Estrangeira estão hoje como responsabilidade da Coordenadoria Geral das Casas de
Cultura Estrangeira, da direção do Centro de Humanidades e da Pró-reitora de Extensão. Seis
unidades foram inauguradas ao longo de sete anos. Foram elas em ordem cronológica: Centro
de Cultura Hispânica, 1961; Alemã, 1963; Italiana e Britânica, 1964; Portuguesa, 1964 e a
Francesa, em 1968. Mais tarde foram criados os Cursos de Esperanto e Russo.
Ainda no final dessa década inicial de criação da Universidade do Ceará, no ano de
1964 foi criado o curso de Biblioteconomia e o Teatro Universitário. Já em 1965 foram criados
a sede do Conservatório de Música, Alberto Nepomuceno, e o curso de Comunicação Social.
Quando foi criado esse curso ele, era polivalente, formando bacharéis na área. Foi somente no
ano de 1988 que foi implantada a habilitação para jornalismo e, dez anos mais tarde, a
habilitação para Publicidade e Propaganda. Atualmente o curso de Comunicação Social faz
parte do Instituto de Cultura e Arte – ICA –, concentrado no bairro do Benfica. No entanto, o
curso deve ser transferido futuramente para o campus do Pici.
Compreendemos que esses doze anos de universidade consolidaram as bases do
ensino superior para o estado do Ceará, percebidas através das palavras do grande articulador
desse projeto, o memorável Prof. Antônio Martins filho. Nas palavras desse no final do seu
mandato em 1966:
[...] estavam em pleno funcionamento nove Faculdades e Escolas incorporadas;
mantidas pelo Governo da União; oito Escolas e Faculdades agregadas, sendo três
com sede no interior do Estado; Três Intuitos Básicos e oito Institutos Aplicados;
cinco Centros de Cultura, um curso de Esperanto, o único no mundo pertencente a
uma instituição universitária; dez Programas Especiais com administração autônoma;
cinco Órgãos Suplementares- Casa José de Alencar, Museu de Arte, Imprensa
Universitária, curso de Arte Dramática e Coral Universitário, todos subordinados a
reitoria mais com administração própria. (MARTINS FILHO, 1996, p. 214).
63
3.2.2 Segundo Período: Os principais feitos dos reitorados de 1967 até os dias atuais
Nas abordagens iniciais sobre esse segundo período, compreendemos que a
expansão da Universidade foi prejudicada devido à ditadura militar no Brasil entre os anos de
1964 e 1985. Nesse momento histórico, pelo qual o país estava passando, as diretrizes baixadas
pelo governo através do Ministério da Educação e Cultura foram bastante rígidas e criaram uma
série de obstáculos para a administração das universidades federais, como exemplo o fato de o
governo cercear o princípio da autonomia, condição de extrema relevância para o
desenvolvimento das instituições universitárias.
Além dos fatores apresentados acima, faltava para o reitor seguinte, o Prof.
Fernando Leite, que teve seu mandato entre os anos de 1967 e 1971, “promover articulações
com as lideranças na esfera estadual, federal e também com a administração anterior da
Universidade” (MARTINS FILHO, 1994, p. 76).
Foi no mandato do professor Fernando Leite que houve a Reforma Universitária a
nível federal no ano de 1968. De acordo com Veiga (1982), o contexto na qual estavam
inseridas as universidades federais era marcado pela repressão de um poder centralizador e
ditatorial. As mudanças processadas nas universidades brasileiras denotam a necessidade de
adequar essa instituição a um novo modelo de organização social, modelo esse que incentivou
a intensificação do ingresso de capital e de tecnologia estrangeira no Brasil.
Apesar das dificuldades que se apresentavam nesse período, observamos que a
expansão da UFC teve continuidade através da criação de diversos cursos no decorrer da década
de 70, dentre eles: Ciências Biológicas e Geologia. Todas essas inovações resultaram em
beneficio para a Instituição e, consequentemente, para a população e o mercado de trabalho
local e regional. .
No mandato do Prof. Fernando Leite, assistimos à implantação do Centro de
Humanidades, em 1969. Esse foi criado a partir da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
instituída no ano de 1961. Ao ser criado, o Centro de Humanidades passou a ser constituído
pelas Faculdades de Letras, Ciências Sociais, Filosofia e pela Faculdade de Artes e Arquitetura,
que hoje é tida como o curso de Arquitetura e Urbanismo, integrado ao Centro de Tecnologia.
Continuando a abordagem referente ao segundo período, apresentaremos o mandato
do professor Walter Moura Cândido estando à frente da administração da Universidade entre
os anos de 1971 e 1975. Uma das primeiras providências do seu reitorado foi a atualização do
sistema do concurso vestibular. Ainda coube ao presente mandato à incumbência da efetivação
da Reforma Universitária. Por outro lado, houve uma significante expansão da área física da
64
UFC, notadamente no campus do Pici. Esse crescimento foi bastante significativo, havendo a
construção de 40 novos blocos. Além das atividades desenvolvidas no plano material,
acrescentam-se os programas de extensão universitária, assim como a continuidade da criação
de cursos de graduação, como o de Psicologia, no ano de 1974, integrado ao Centro de
Humanidades, localizado no campus do Benfica.
Além da criação de cursos, observamos que este período é marcado pela valorização
cultural, explicitado pela inauguração, no ano de 1971, da Casa Amarela Eusélio Oliveira. Essa
atualmente oferece cursos na área de cinema, fotografia, animação e audiovisual, buscando
difundir a memória do povo cearense através de curtas metragens relacionados à temática da
nossa história. Nela está presente um significativo acervo de filmes, vídeos e fotografias, e são
organizadas periodicamente exposições e mostra de filmes.
O mandato do Reitor Professor Pedro Teixeira Barroso ocorreu entre 1975 e 1979.
Esse recebeu a Universidade em condições favoráveis em relação à área física e às atividades
acadêmicas, científicas e técnicas. Esse período merece destaque, devido aos cursos criados,
junto com sua excelente administração e o pleno funcionamento dos mesmos. Mencionamos,
por exemplo, os de graduação em Administração de empresas, assim como os cursos de
mestrado em diversas áreas, dentre elas Tecnologia de Alimentos, Sociologia do
Desenvolvimento, Ciências do Solo, Engenharia de Pesca, Engenharia Agrícola, Física,
Química, Zootecnia, Educação, Direito Público e Farmacologia.
O reitorado seguinte, o do Prof. Paulo Elpídio Menezes Neto, entre 1979 e 1983, se
distinguiu dos outros reitores pelo conjunto de medidas que beneficiaram todas as áreas da
UFC. Nesse houve a implantação dos estágios supervisionados na graduação e a aproximação
da Universidade com a área empresarial, contando com a participação da Federação das
Indústrias Cearenses (FIEC).
Houve também a implantação de núcleos de pesquisas, pós-graduação e ênfase no
programa editorial, com a criação de periódicos em diversas áreas. Nesse destacamos os
convênios de cooperação com universidades francesas e alemãs, assim como a participação de
professores visitantes com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) e do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ).
Outro ponto que merece destaque na administração do professor Elpídio, foi a
criação das Edições UFC, com a publicação de aproximadamente 90 título de escritores
cearenses e brasileiros, assim como traduções de obras estrangeiras.
O sexto reitorado da UFC, foi o do Professor José Anchieta Esmeraldo Barreto, que
ocorreu entre 1983 e 1987. Nessa gestão houve investimentos no Centro de Ciências Agrárias
65
e Ciências da Saúde, bem como na Biblioteca Central Universitária. Nesse período houve
também uma significativa contribuição para especializações em diversas áreas, como a
Educação, a Engenharia de Pesca, a Economia, o Ensino de Português, dentre outras.
Nas áreas de extensão houve a execução de diversos projetos, como o I Festival de
Fortaleza do Cinema Nacional e o Projeto de Ação Comunitária da UFC fora de Fortaleza. Nas
áreas de Educação, Saúde e Cultura houve os Encontros Nordeste Musical de Corais e
Orquestras e a criação da Coleção Alagadiço Novo. Esta deu destaque à UFC na área de
editoração que para Martins Filho (1996) “Não há programa similar nas universidades
brasileiras, e para ter ideia nítida de sua importância, somente em 1997 foram impressos 48
títulos”. (MARTINS FILHO, 1996, p. 238).
O Sétimo reitor da UFC foi o Professor Raimundo Neto Leite, sua gestão foi entre
os anos de 1987 e 1991. Importantes feitos neste reitorado foram realizados, como a
implantação do Sistema de Automação Universitária (SAU), que deu início à rede de
computação da UFC. Além disso, esse reitor estabeleceu contratos com muitas universidades
estrangeiras, dentre elas as Universidades de Nova York, Califórnia, Boston e Virginia, assim
como a renovação do contrato com a Universidade do Arizona, uma das mais antigas parcerias
da UFC.
Destaca-se nesse reitorado incentivos a pós-graduação com a criação do Doutorado
em Física, Química Orgânica e Farmacologia, assim como cursos de Mestrado em Letras e
Patologia Tropical e mais de dez cursos de especialização distribuídos em diversas áreas.
Já no reitorado do Prof. Antônio de Albuquerque Sousa e Filho, que ocorreu entre
os anos 1991 e 1995, foi marcado pelos avanços tecnológicos na área da informática, tendo em
vista que o reitor adquiriu 1285 computadores e instalou 42 laboratórios de informática nos
diversos cursos da UFC. Além dos benefícios realizados no campo da informática, foi
estabelecido um verdadeiro mutirão de obras em toda a universidade, compreendendo a
recuperação e as reformas das bibliotecas setoriais, a melhoria das instalações dos
departamentos, a execução do laboratório de Física de Nuvens e as reformas no CETREDE, no
Museu de Arte, na Casa Amarela e nas Casas de Cultura Hispânica, Britânica e Italiana.
No reitorado seguinte, o Prof. Roberto Cláudio Frota Bezerra permaneceu como
reitor da Universidade por dois mandatos, o primeiro de 1995 a 1999, e o segundo de 1999 a
2003. Esse elegeu como ideia matriz de seus mandatos o avanço qualitativo da Instituição.
Dentro de uma nova concepção pedagógica, o reitor introduziu a norma de um único vestibular
por ano, tornando-o mais qualitativo e menos eliminatório.
Neste reitorado foram implantados novos cursos considerados estratégicos para a
66
região do Ceará, tais como: Engenharia de Transportes, Zootecnia, Políticas Públicas e
Agricultura Irrigada. A criação desses buscava fortalecer o esforço do Estado para o
desenvolvimento regional, um dos principais temas e objetivos da Instituição em questão.
No ano de 2003 tivemos a posse de mais um reitor, o Prof. René Teixeira Barreira,
cujo mandato teve duração até ao ano de 2006. Neste reitorado houve continuidade com a
expansão de diversos cursos, como o de Engenharia de Teleinformática, no ano de 2003, e os
de Engenharia Metalúrgica, Educação Física e Música em 2005.
O mandato do Professor René Teixeira foi interrompido no ano de 2006, embora
ainda pudesse permanecer por mais um ano no reitorado. O Motivo da saída foi o fato de ele
ter que assumir a Secretaria de Ciências e Tecnologia do Governo do Estado do Ceará. Com a
saída do Reitor René Teixeira, o vice-reitor, Prof. Ícaro de Sousa Moreira, era para ter sido
empossado no mais alto cargo administrativo da UFC. No entanto, no ano de 2006 iria haver
eleições para reitor, e o Prof. Ícaro era um dos candidatos. Devido a esse fato, ele não pôde
assumir o cargo de reitor. Com isso, iria assumir a reitoria o mais velho Pró-reitor da presente
administração, o Prof. Luís Carlos Uchôa Saunders.
Nesse período, no mandato do Reitor Luís Carlos Uchôa Saunders, assistimos a
importantes avanços na Educação a Distância, com a criação de diversos cursos nesta
modalidade de ensino, na qual podemos explicitar Administração, Física, Letras, Pedagogia,
Química, dentre outros tão relevantes quanto esses. Na modalidade presencial houve a criação
do curso de Oceanografia.
O Mandato do Prof. Luís Carlos foi bem curto, entre os anos de 2006 e 2007,
passando o cargo para o Prof. Ícaro, que havia ganhado as eleições para reitor em 2007. No
entanto, houve uma grande tragédia que abalou toda a comunidade acadêmica da UFC, a morte
do recente reitor Ícaro de Sousa Oliveira, em 28 de março de 2008, tendo como causa do
falecimento, infarto (DIÁRIO DO NORDESTE, 2008).
Com a morte do Prof. Ícaro, o vice-reitor Prof. Jesualdo Pereira Farias assumiu o
cargo. O seu primeiro mandato foi entre os anos de 2008 e 2012, e o segundo, que ainda está
em vigor, teve início em 2012, com duração até 2016. Nos anos em que o Prof. Jesualdo esteve
à frente da administração da UFC, trouxe significativos avanços com a criação dos seguintes
cursos, nos respectivos anos de criação: Biotecnologia, Engenharia Ambiental, Engenharia do
Petróleo, Engenharia de Recursos Renováveis, Cinema e Audiovisual, Ciências Ambientais,
Fisioterapia, Sistema de Mídias Digitais, Finanças e Teatro, em 2009; Dança, em 2010, e
Design, em 2011.
Entendemos que todos os reitorados tiveram sua importância, seja na criação de
67
curso de graduação e pós-graduação, seja na expansão de projetos de extensão, expansão das
áreas físicas da Universidade e continuidade do processo de interiorização do ensino superior
no estado. Com essas informações apresentadas, podemos entender como esta Instituição é de
grande relevância não somente para a cidade de Fortaleza, mas para todo o estado do Ceará.
Devido à criação e expansão dessa instituição de ensino, entendemos que a mesma
provocou constantes alterações na paisagem do território cearense, dentre elas a paisagem na
cidade de Fortaleza e no bairro Benfica. Portanto, para o entendimento das alterações da
paisagem cultural urbana, é necessário a realização de diversos estudos, como iremos fazer a
seguir, no final deste capítulo e no próximo desta dissertação.
3.3 A UFC E AS ALTERAÇÕES NA PAISAGEM DO BAIRRO BENFICA
Entendemos que o Benfica é um espaço privilegiado para o estudo das paisagens
urbanas e de suas representações simbólicas, percebidas a partir do domínio dos sentidos.
Segmentos sociais diversos entram nesse processo no dia a dia, moradores, alunos, professores,
servidores públicos, comerciários, administradores, gestores, planejadores urbanos, vendedores
de todo o tipo, comtemplando, mesmo que seja por um momento, os vários contextos
paisagísticos. Em relação a esse contexto, Cosgrove (1998) nos fala que a paisagem não surgiu
a partir de indivíduos ou pequenos grupos, ela é configurada a partir de um processo dialético
entre a produção cultural e as práticas sociais, em um determinado momento histórico.
A análise da paisagem do Benfica possibilita múltiplas possibilidades de enfoques,
permitindo analisar o bairro através de diferentes aspectos da relação homem-lugar. No
presente estudo, estão expressos vários momentos da ação da cultura e da acumulação de
tempos sobre o espaço, refletindo as práticas sociais que são estabelecidas nesse local.
Para Luchiari (2001), ao pensarmos a paisagem como ação da cultura, iremos
perceber que a passagem do tempo altera suas formas em múltiplas combinações. Se as formas
são alteradas pela ação do tempo sobre o espaço, as funções e os significados também se
transformam, fazendo com que a cidade esteja constantemente se refazendo. Ainda para a
autora, a paisagem contemporânea é híbrida, um palimpsesto que exige a convivência de vários
ritmos, percepções, escalas e perspectivas.
Na tarefa de estudar a paisagem, é necessário estar ciente do desafio de decifrar as
representações contidas na mesma, na qual é preciso desenvolver um olhar especial que permita
alcançar as diversas dimensões do espaço e do tempo, pois a paisagem traz marcas dos
68
indivíduos que a construíram, sendo possível ver essa dinâmica no espaço transformado,
destruído e degastado pelo tempo (COELHO, 2009).
No decorrer do tempo, diversos momentos foram relevantes para a história do
Benfica. No entanto, com a presente pesquisa, apresentaremos a importância da UFC no
contexto das alterações da paisagem do bairro, onde é inquestionável a significância das
relações propiciadas pela Universidade no Benfica, podendo serem observadas nas análises das
fotografias antigas e nas observações, principalmente, daqueles que estão envolvidos nesse
processo.
Quando caminhamos pelo Benfica, principalmente na Avenida da Universidade,
percebemos que muitas construções refletem a intensa presença da Universidade nesse espaço.
Nessa artéria se visualiza inúmeros prédios que pertencem à UFC, destacando os Centros de
Humanidades 1 e 2, a Faculdade de Economia, Administração, Atuarias e Ciências Atuariais –
FEAAC –, a Imprensa Universitária, as Casas de Cultura, o Museu de Arte da UFC – MAUC
–, o Restaurante Universitário, o Conservatório de Música Alberto Nepomuceno e a Reitoria,
que é um símbolo arquitetônico para a cidade de Fortaleza.
No processo de criação e consolidação da Universidade, esses prédios passaram
por diversas reformas para a adequação da Instituição. A maioria dessas reformas foram
realizadas no espaço interno dos imóveis. Dessa forma, muitos prédios conservaram sua
fachada arquitetônica, propiciando ao observador uma viagem no tempo e uma percepção de
um estilo de morar e viver na cidade em décadas passadas.
Além dos aspectos materiais que envolvem a paisagem, é essencial levarmos em
conta a subjetividade que está contida na paisagem do Benfica, assim como as ações dos
sujeitos. As modificações realizadas na paisagem por esses, não são consequências somente dos
padrões de consumo impostos pela sociedade moderna, pois na mesma encontramos os
sentimentos e as simbologias.
São várias as abordagens realizadas sobre o conceito a ser estudado, estando no
centro do conflito diversas dicotomias, tais como: objetivo e subjetivo, sensível e factual, físico
e fenomenológico. Pensar a paisagem em toda a sua complexidade é estar ciente dessas
dicotomias, podendo ser explicitada na relação entre objeto e sujeito. Das palavras de Berque
(2004) se compreende que:
A paisagem não reside somente no objeto, nem somente no sujeito, mas na interação
complexa entre os dois termos. Esta relação coloca em jogo diversas escalas de tempo
e espaço, implica tanto a instituição mental da realidade quanto a constituição material
das coisas (BERQUE, 2004, p. 85).
69
A paisagem cultural possui sentido através da construção coletiva da sociedade,
pois as práticas culturais realizadas no dia a dia dão sentido àquilo que os nossos olhos
conseguem captar. Mas a paisagem vai além do visual, pois nela está contida os sentimentos
daqueles, que a todo o momento a (re)constroem.
As mudanças na paisagem não são sentidas pelas pessoas somente no olhar as
edificações da UFC, mas através do ir e vir de inúmeros moradores, frequentadores estudantes,
professores e funcionários da Instituição que se apropriam destes espaços, inserindo novas
formas, uso e ocupação. Informação essa que pode ser observada nos grupos reunidos à sombra
das árvores, no entorno das cantinas, nos bares e lanchonetes próximos e nos pontos de ônibus,
onde ocorre um intenso fluxo de pessoas nas proximidades da Universidade.
Para muitos, o Benfica vai além de um simples bairro de Fortaleza, apresentando-
se como um lugar que simboliza “segurança”, acolhimento e liberdade. Essa observação pode
ser conferida nas manifestações de cunho político e ideológico realizadas no bairro, das quais
podemos explicitar como exemplo o movimento LGBTT14 e suas reivindicações. Assim, na
paisagem do Benfica, o bairro se mostra como palco de momentos singulares na cidade,
envolvendo diversos sujeitos na dinâmica da paisagem do bairro.
Devido à importância dos sujeitos que compõe o bairro, foi de extrema relevância
a análise com os mesmos. No presente estudo sobre as alterações na paisagem do bairro Benfica,
buscou-se realizar entrevistas com aqueles que dinamizam a paisagem do bairro no dia a dia.
Portanto, buscou-se a percepção daqueles que estão mais envolvidos na percepção da paisagem.
Para isto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas sobre diversos aspectos frente ao
objetivo que se pretende alcançar com esta análise.
Na tentativa da melhor compreensão da análise da percepção dos sujeitos, optamos
por realizar entrevistas separadamente através de cinco grupos, divididos da seguinte forma:
moradores antigos, frequentadores do bairro, estudantes, professores e alunos da UFC, como já
foram apresentados anteriormente na introdução desta dissertação.
A relações que os sujeitos estabelecem com o Benfica vai além do estudo, trabalho
e moradia. Para muitos dos entrevistados o sentimento de pertença com o lugar é nítido,
demonstrando a afetividade e o sentindo de pertencimento com o bairro. Assim, sendo
14 Significado da sigla LGBTT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
70
observadas estas características, perguntamos qual a importância do Benfica para eles, e muitas
das respostas se assemelham às seguintes citações abaixo:
A partir do Benfica eu comecei a perceber um novo mundo. Eu comecei a fazer
faculdade e eu percebi a quantidade de coisas que eu não conhecia e que eu tinha a
possibilidade de estar conhecendo, lugares diferentes e pessoas diferentes. Hoje em
dia o Benfica é um pedaço da minha vida, ele foi muito importante enquanto a minha
formação de ser humano (informação verbal).15
O Benfica é importante para mim devido ser o lugar da minha formação acadêmica,
sendo que ele vai muito além da minha graduação, pois todo cantinho do Benfica faz
parte de mim. Ele é muito acolhedor, aqui você se encontra de qualquer maneira, ele
parece um mundo além de fortaleza (informação verbal). 16
Além de ser funcionária, também sou moradora do bairro e estudei no bairro o ensino
médio e depois fiz a graduação. Aqui para mim foi um elo de muita coisa, de proposta
de trabalho, lazer e estudo. Por isso eu não posso sair do Benfica. Por que para mim
ele é completo. Eu atribuo todas essas questões, conhecimento, trabalho e lazer
(informação verbal). 17
Através das citações apresentadas acima, percebemos que para os sujeitos
envolvidos na construção e também nas alterações na paisagem do bairro, o sentimento que
esses possuem com o lugar é bastante perceptível nas falas, mostrando como o bairro é
importante para eles. O Benfica para os entrevistados é o lugar do acolhimento, da liberdade e
da valorização cultural, em que tal aspecto se torna raro frente às constantes mudanças que estão
ocorrendo em nossa sociedade.
Quando foram realizadas as entrevistas com os grupos, a cultura foi bastante
mencionada, mostrando que o aspecto cultural identifica bastante o bairro. Na fala dos
entrevistados a cultura se apresenta, principalmente, através da preservação da arquitetura do
bairro, das manifestações artísticas, como o grafite, através das festas que a Universidade
promove no bairro, como o Festival de Cultura da UFC e as calouradas.
Essa observação pode ser constatada na fala dos seguintes entrevistados:
O contexto mais importante é o cultural. Este foi o primeiro que eu me identifiquei,
pois eu fazia parte de um grupo de reisado que também se inseria no contexto do pré-
carnaval. Posteriormente a parte da Boemia, os amigos. Foi a partir da cultura que eu
pude conhecer meus amigos e interagir mais com o meio ambiente (informação
verbal).18
15 Cristiane Lima Mesquita, frequentadora do bairro. Entrevista realizada em Fortaleza, em novembro de 2013. 16 Naiana Viera da Cunha, estudante do curso de Letras. Entrevista realizada em Fortaleza, em novembro de 2013. 17 Diocleciana Paula da Silva, Professora da UFC. Entrevista realizada em Fortaleza, em novembro de 2013. 18 Cristiane de Mendonça Rodrigues, frequentadora do bairro. Entrevista realizada em Fortaleza, em novembro de
2013.
71
Aspecto mais importante é o cultural, ligado à universidade. Embora os aspectos que
você citou sejam muito importantes, a universidade mudou o Benfica. Sempre que
chega um campus universitário no bairro há uma proliferação muito grande de Xerox,
papelaria, restaurantes e lanchonetes. Isso vai mudando o bairro, e a própria vida
acadêmica em torno do campus, através da sociabilidade, pois a dinâmica na
paisagem do Benfica modifica o espaço social. O Benfica potencializou isso tudo,
pois tem um sentimento de identidade muito forte, tem o movimento Quem é de
Benfica, que virou carnaval. Tem uma série de coisas que da identidade ao Benfica,
e os bairros estão perdendo identidade (informação verbal).19
A valorização da cultura foi persistente na análise com os entrevistados. Eles viram
esse ponto como positivo com a chegada da Universidade, afirmando que, se não fosse a UFC,
o Benfica não teria o aspecto cultural que o mesmo possui atualmente, seja pelos carnavais de
rua, pelos shows da concha acústica, seja pelo patrimônio cultural arquitetônico, através da
preservação de muitos prédios que se encontram no bairro e que pertencem à Universidade.
Junto com a cultura, o lazer e a boemia estão fortemente presentes na paisagem do
Benfica. O lazer se apresenta nas festas que acontecem no bairro, assim como a boemia se
apresenta através do grande número de bares e restaurantes, evidenciando outra possibilidade
do ir e vir de moradores e transeuntes nesse espaço. Esse fato é perceptível à noite caminhando
pelo bairro, na concentração de estudantes, professores, moradores, frequentadores e
funcionários da UFC. Podemos observar na informação verbal de um deles fatos relacionados
à temática que estamos apresentando: “Eu acho que o Benfica é um bairro de referência, em
termo cultural e divertimento. Eu, por exemplo, quando saio de casa para tomar uma cervejinha,
eu venho para esses lados de cá, então é uma referência” (José Carlos Vasconcelos Mendes,
funcionário da UFC há mais de 10 anos)
Vários fatores na dinâmica da paisagem do Benfica são referências para o bairro,
tanto nas rodas de conversa dos moradores antigos, nos grupos de estudantes e professores nos
bares nos finais das aulas, evidenciando o aspecto boêmio no bairro, como no aspecto
educacional, devido ao fato de muitos dos frequentadores do bairro, possuírem ou já terem
possuído alguma ligação com a Universidade.
Assim como o aspecto cultural, o lazer e a boemia, o aspecto educacional foi
evidenciando nas entrevistas. Quando perguntamos qual seria o aspecto mais relevante na
dinâmica espacial do bairro, muito responderam “o educacional”, tendo a UFC como a
instituição de ensino mais importante do bairro.
Ao indagarmos se a paisagem do Benfica tinha sido modificada com o tempo
através da instalação e fixação da Universidade, a maioria respondeu que sim, retratando que
19 Rui Martinho Rodrigues, professor da UFC. Entrevista realizada em Fortaleza, em dezembro de 2013.
72
as mudanças ocasionadas pela instituição de ensino são percebidas devido aos prédios que
pertencem à UFC. No entanto, junto com as mudanças, a preservação do patrimônio cultural
foi apresentada com relevância, mostrando a evidência do aspecto cultural, como apresentamos
anteriormente.
Quando a universidade chega, qualquer universidade, principalmente as públicas elas
mudam a realidade social. Agora no caso da Universidade Federal do Ceará O Benfica
era um bairro pequeno e com sítios e em pouco tempo se transformou em um bairro
importante depois da expansão do centro, então teve um impacto muito forte e ao
mesmo tempo trouxe transformações eu acho que também deu uma importância a
tradição. Se formos prestar atenção o Benfica se transformou e ao mesmo tempo
respeitou a tradição (informação verbal).20
Outro fator que mostra as mudanças na paisagem é o intenso fluxo de pessoas nesse
lugar. Acreditamos que muitas das pessoas que frequentam o bairro, seja por lazer, trabalho ou
estudo, estejam interligadas à Universidade. Essa observação foi bastante corroborada pelos
entrevistados, constatando o argumento de que a paisagem vai além dos aspectos materiais.
Pelo que eu conheço da história, houve grandes mudanças mesmo. Mudanças que com
a chegada da universidade aproxima o bairro de outra realidade. Isto porque tem esse
trânsito de pessoas de outros bairros, pessoas que provavelmente não estariam aqui
senão fosse à universidade, pois a cara do bairro era outra, ele era mais um bairro de
descanso. Eu acho que paulatinamente ele vai se tornando mais cosmopolita com a
universidade e os estudantes (informação verbal).21
Continuando as abordagens referentes às alterações da paisagem do Benfica, o
comércio também possui significância no bairro. Aqui mais uma vez destacamos a sua relação
com a educação, pois muitos desses estabelecimentos comerciais têm como objetivo principal,
atender a demanda do público que reside e frequenta o bairro, destacando-se as papelarias,
livrarias, lanchonetes e lan houses. Outras edificações também possuem uma relação direta com
a educação, as quitinetes, moradias com preços acessíveis para os estudantes que vêm de outros
lugares do Brasil e do mundo.
A partir dos fatos apresentados neste capítulo, entendemos a importância do bairro
dentro do contexto urbano de Fortaleza, destacando a Universidade no processo de construção
da paisagem, fazendo-nos refletir que, apesar da paisagem urbana ser múltipla e diversificada,
em muitos lugares são encontrados significados e símbolos que refletem a cultura no espaço
urbano.
20 Raimundo Nonato de Lima, professor da UFC. Entrevista realizada em Fortaleza, em dezembro de 2013. 21 Roberto Augusto Leal Sacramento, estudante da UFC. Entrevista realizada em Fortaleza, em dezembro de
2013.
73
Em relação a presente análise, Netto e Alves (2011) descrevem que:
A paisagem urbana pode ser vista, modificada, usada, destruída, consumida, vendida
e também pode causar prazer estético, sendo tratada, por vezes, apenas como um
“produto” sociocultural. Mais do que isto, ela é constitutiva das relações
socioculturais, pois é, ao mesmo tempo, estruturada e estruturante. Sendo assim,
paisagem é uma configuração de símbolos e signos socioculturais dispostos a
inúmeras interpretações e percepções subjetivas, principalmente diante dos
complexos processos urbanos da atualidade (NETO E ALVES, 2011, p. 15).
Nesse sentido, entendemos que a cidade é interpretada como sendo palco onde se
produzem e se revelam inúmeras transformações sociais e culturais, operando em diversas
direções numa intensa rede de relações. Dessa maneira, a paisagem urbana não pode ser
concebida como uma forma que se produz simplesmente pela quantidade de moradias ou pelo
adensamento populacional. É preciso assumir a perspectiva de uma construção coletiva que
envolve as representações e imaginações como estratégias para a compreensão das simbologias
da paisagem.
A paisagem cultural não pode ser vista como única, mas como múltipla. Nela
existem diversos olhares e vários fragmentos de diferentes realidades temporais que revelam a
relação do indivíduo e dos segmentos sociais com a paisagem, assim como os valores
dominantes nacionais e transacionais que influenciam esse processo.
A cidade de Fortaleza nesse contexto é resultante de processos históricos, sociais e
culturais. Esses foram associados à diferentes valores e definições, tornando a metrópole
cearense singular e complexa. As paisagens na cidade apresentam essas características,
podendo ser analisadas através dos seus prédios, avenidas, bairros e funcionalidades, que
representam tempos diversos, o ontem, o hoje, e projeção do que será o futuro, vislumbrado nas
novas construções, nas reformas e nas novas práticas culturais.
Compreendendo o ontem e o hoje no Benfica enquanto processo de acumulação, na
desconstrução e construção, o bairro concentrou instituições de ensino superior, tecnológico e
profissional. Não obstante, encontrarmos também escolas da Educação Básica, como o Colégio
Farias Brito, o Christus e o Colégio Adventista, de caráter privados, e escolas públicas de
Ensino Fundamental e Médio, como a do Centro dos Retalhistas, Figueiredo Corrêa e o Centro
de Educação de Jovens e Adultos. Também há no Benfica um centro de ensino técnico
profissionalizante, de caráter privado – o Centro de Estudo e Pesquisa em Eletrônica
Profissional e Informática Limitada (CEPEP) –, oferecendo cursos técnicos e
profissionalizantes.
A concentração de instituições educacionais no Benfica transformou o bairro,
74
ampliando suas funções e propiciando novos olhares e novas temáticas para os estudiosos do
espaço urbano, em especial para aqueles que pesquisam as relações entre paisagem e
instituições de ensino.
Portanto, estudar a paisagem do Benfica é perceber as alterações no seu conjunto
arquitetônico e em sua dinâmica social, propiciada pelos estudantes, funcionários, professores,
frequentadores e moradores. Tais mudanças as apresentamos neste capítulo através da revisão
de literatura sobre o conceito estudado, dos aspectos históricos do bairro e da UFC, assim como
também as apresentamos na fala dos entrevistados expostos neste capítulo e que seguirão no
próximo acerca da percepção da paisagem através da análise das fotografias antigas do bairro.
75
4 A FOTOGRAFIA COMO POSSIBILIDADE DE LEITURA DA PAISAGEM DO
BENFICA
4.1 A PAISAGEM DO BENFICA EXPRESSADA EM SUAS FOTOGRAFIAS
Na análise das alterações que ocorreram na paisagem do Benfica, as fotografias
antigas e as entrevistas serão os nossos principais suportes, enquanto registro de diferentes
períodos e testemunhos das modificações do espaço do bairro.
Portanto, no estudo da paisagem do Benfica, foram selecionadas dez fotografias
antigas de diferentes períodos da história do bairro. Com essas, buscou-se analisar as alterações
que ocorreram em sua paisagem. Além das análises, que seguem descrevendo cada uma delas
e surgem no decorrer deste capítulo, foram realizadas entrevistas com diversos grupos acerca
de suas próprias percepções sobre as mudanças na paisagem observadas nas fotografias.
A fotografia nesta pesquisa foi a fonte histórica documental mais importante. A
partir de sua análise, somos conduzidos a uma área do conhecimento que trata das criações e
produções deixadas pelo homem ao longo do tempo, refletidas através das experiências, dos
significados e das simbologias.
Na fotografia encontramos informações relevantes frente aos acontecimentos do
passado no qual, a partir das informações observadas na imagem, podemos entender as ações
do presente. Mauad (1997) aponta que, ao considerarmos as imagens como fontes históricas,
iremos perceber o contexto em que foram produzidas e as diferentes visões de mundo em torno
das relações sociais envolvidas. Assim, as fotografias mostram as marcas do passado.
As fotos não são meros registros do passado captados apenas por sorte ou
coincidência. São imagens produzidas com requintes técnicos, captadas por avanços na
tecnologia de gravação de imagens e que servem não só para a apreciação daqueles que as
visualizam, mas também podem servir para ilustrar e analisar momentos da vida social. Desta
forma, as fotografias podem servir como fonte avaliativa da sociedade, a partir da análise da
paisagem que está inserida em sua imagem.
As fotografias não se esgotam em si mesmas, elas são apenas o ponto de partida, a
pista na busca de desvendar o passado. Elas nos mostram um fragmento selecionado
das coisas, dos fatos, das pessoas, tal como foram congelados num dado momento de
sua existência/ocorrência. (KOSSOY, 2012, p.37).
Na imagem fotográfica estão indissociavelmente incorporados elementos materiais,
ou seja, os de ordem técnica, que são os ópticos, químicos, eletrônicos, indispensáveis para a
76
materialização da fotografia, mas também estão presentes os elementos de ordem imaterial, que
são os imagéticos e os culturais. “Estes últimos se sobrepõem hierarquicamente aos primeiros
e, com eles, se articulam na mente e nas ações dos fotógrafos ao longo do tempo”. (KOSSOY,
2012, p.27).
Através das análises das imagens fotográficas podemos apreender a história de uma
determinada sociedade, assim como as práticas culturais. De acordo com Kossoy (2012), os
conteúdos das imagens sempre devem ser considerados como fontes históricas de abrangência
multidisciplinar, podendo tornar-se uma fonte decisiva nas diferentes vertentes da investigação
histórica.
A fotografia é uma representação a partir do real segundo o ponto de vista do seu
autor. Entretanto, levando em conta a materialidade registrada na imagem, a aparência de algo
que se passou na realidade concreta, em dado espaço e tempo, pode ser considerada, também,
como um documento do real, uma fonte histórica (KOSSOY, 2012).
Os registros deixados pelas fotografias nos revelam um campo de conhecimento
que trata das criações e produções humanas como uma experiência sensível do mundo,
oferecendo diversas leituras e significados. Para observar uma imagem é necessário ter em
mente alguns objetivos sobre o que se vê e lê. Podem ser identificados na leitura de imagens
aspectos referentes aos sentidos e aos significados, que remetem ao simbólico. Portanto, nas
imagens fotográficas encontramos explicações de diversas realidades, pois estas guardam com
elas vestígios do cotidiano e do imaginário popular (COELHO, 2009).
As fotografias projetam elementos culturais que mantêm o universo imaginário,
revelando sistemas de expressão que afetam e interferem na rede de possibilidades do
observador. Ela é um documento que transmite significados culturais envolvendo múltiplos
olhares na rede simbólica da paisagem, seja ela urbana ou rural.
Nela percebemos a interação indissociável entre elementos subjetivos e objetivos.
Quem a observa se depara com um mundo real projetado em um suporte material, sem descartar
o caráter imaginário estabelecido na dimensão perceptiva que vai além do senso comum.
Nas ideias de Reyes (2005) entendemos que:
O imaginário tem relevância indispensável na constituição da paisagem citadina,
desde que a sua concepção esteja fundamentada na experiência que cerca o real, ao
passo que essa “realidade” que se cria da/na cidade física não é tão sólida e rígida
quanto o senso comum acredita, ela é cada vez mais constituída de fluxos e de
movimentos constantes (Reyes, 2005, p. 157).
77
Dubois (1993), por sua vez, ressalta que a fotografia não é um símbolo neutro,
possui codificações de diferentes temáticas no imaginário da sociedade e emerge quadros que
são determinados ou determinantes culturais. Para o autor, tudo que se impõe ao receptor é fruto
de uma concepção que necessita de um aprendizado, de um conhecimento que é representado
através da cultura e das experiências vividas.
Assim, Mauad (1997) apud Melo (2009) considera que:
O que está revelado na imagem, integra a materialização da experiência vivida, a doce
lembrança do passado, é a memória de uma trajetória de vida, e ou ainda uma
mensagem codificada em signos. O entendimento de uma fotografia perpassa o
desvelamento de uma intricada rede de significações culturais (MAUAD 1997 apud
MÉLO 2009: 61).
Aumont (2012) nos mostra a relação entre imagem fotográfica e paisagem, pois
para o autor a fotografia é ligada a multiplicidades de linhas graduadas na vida social, em que
o pano de fundo são as narrativas acerca da paisagem. De tal modo, entendemos que a paisagem
possui uma ligação direta com as imagens e suas formas de representação.
A paisagem é um reflexo aparente da sociedade, na qual a fotografia serve de fonte
para análise da mesma, nos mostrando os significados e simbolismos que perpassam o tempo.
A sua análise enfatiza diversas leituras fundamentadas na representação da realidade,
modeladas por estruturas profundas ligadas a um exercício de uma linguagem imagética
carregada de uma organização simbólica para os sujeitos envolvidos na rede de significados.
Nesse sentido, centramos em nossos esforços compreender as características
atribuídas à fotografia, no entendimento das representações, dos significados e das alterações
na paisagem do Benfica relacionadas à UFC, dentro do contexto de apropriações espaciais,
reformas e preservação de imóveis, objeto que esta dissertação objetivou compreender a partir
da análise das seguintes imagens:
78
Fotografia 3 - Avenida Visconde do Cauípe
Fonte: Arquivo Nirez,1938.
A fotografia acima reflete um dos mais importantes pontos do Benfica, a Avenida
Visconde de Cauípe, atual Avenida da Universidade. A partir da Rua Paulino Nogueira em
direção ao centro da cidade, vê-se ao fundo o bonde na linha do Benfica. De propriedade da
Imobiliária Frota Gentil, do lado direito, podemos observar o muro da casa onde moraram o Sr.
Aziz Kalil, avô do Sr. Tasso Jereissati (três vezes governador do Ceará), posteriormente o Sr.
José Albuquerque Monteiro e por último o casal Heitor e Nancy de Albuquerque Gentil, período
em que o imóvel junto com outros dois desta quadra foram vendidos para a UFC. O muro
seguinte é o da casa de José Campos Paiva e Da. Beatriz Gentil Campos; o próximo é do
Palacete do Cel. José Gentil Alves de Carvalho. Do lado esquerdo, encontra-se o muro da
Chácara do Dr. Edgar Cavalcante de Arruda, atual CETREDE - UFC; o imóvel seguinte era a
chácara de propriedade de Manuel João Alpiniano Pombo. Com a venda da chácara para
Almerinda Albuquerque, seria instalado no local o Ginásio Santa Cecília, adquirido
posteriormente pelas Irmãs Damas da Instrução Cristã e finalmente adquirido pela UFC.
Atualmente no local funcionam o Curso de Arquitetura e o MAUC, Museu de Artes da UFC22.
22 A Informação teve como fonte o seguinte site: www.cepimar.org.br
79
Fotografia 4 - Ginásio Santa Cecília
Fonte: Arquivo Nirez, 1952.
Percebemos que, na descrição da fotografia acima, muitos imóveis localizados na
Avenida Visconde de Cauípe, atual Avenida da Universidade, entre as ruas Padre Francisco
Pinto e Avenida Domingos Olímpio, foram adquiridos pela UFC, reforçando a importante
presença da Instituição no bairro. Como já discorremos na primeira foto, funcionava nesse
imóvel o Ginásio Santa Cecília; atualmente funciona no local o Curso de Arquitetura e o
MAUC.
Além dos imóveis acima, outra foto que retrata um importante símbolo para o bairro
e a cidade de Fortaleza é a da Casa de Cultura Germânica, onde é oferecido o curso de Língua
Alemã. Esse imóvel também pertence à Universidade, no entanto vale ressaltar que, antes de
ser adquirida pela UFC, essa casa pertencia ao Sr. Francisco Queiroz Pessoa (BARROSO,
2004).
80
Fotografia 5 - Ginásio Santa Cecília
Fonte: Arquivo Nirez, 1952.
Fotografia 6- Escola Industrial
Fonte: Arquivo Nirez, 1952.
81
O aspecto educacional no Benfica é relevante mesmo antes da criação da UFC,
como mostramos, anteriormente, na fotografia antiga do Ginásio Santa Cecília. A imagem
acima é da Escola Industrial, atual IFCE. Analisando a evolução23 do IFCE, vale ressaltar que
a sua história teve início em 23 de setembro, no ano de 1909, com a antiga Escola de Aprendizes
de Artífices, localizada na Avenida Alberto Nepomuceno. Houve mudança da localização de
sua sede, em 1914, para o imóvel que abrigava a milícia estadual em frente à praça Nogueira
Acioly, que atualmente integra o patrimônio do Teatro José de Alencar. Já no ano de 1932, a
escola passa a funcionar no prédio onde funcionaria a Escola de Aprendizes de Marinheiro, no
bairro Jacarecanga.
No ano de 1937, no governo de Getúlio Vargas, período popularmente conhecido
como Estado Novo, houve a promulgação do decreto-lei n° 378, que transformou a Escola em
Liceu Industrial do Ceará. A nova instituição funcionaria no prédio que atualmente é o Liceu
do Ceará.
Em 17 de janeiro de 1940, o Interventor do Ceará, Francisco Pimentel, fez a doação
de um terreno que se localizava no bairro do Prado, atualmente pertencente ao Benfica, para as
edificações da nova sede do chamado Liceu Industrial do Ceará.
Outras mudanças foram de extrema importância, como a que ocorreu no governo
dos militares, no período em que o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco se
encontrava no poder. O presidente acarretou mudanças em relação a instituição, que passou a
ser Escola Industrial Federal do Ceará. Ainda no governo dos militares, precisamente no do
Marechal Artur Costa e Silva, a escola passou a ofertar cursos técnicos de nível médio nas áreas
de Edificações, Estradas, Eletrotécnica, Mecânica, Química, Telecomunicações e Turismo.
Outro avanço de extrema importância foi no ano de 1994, no governo de Itamar Franco, pois a
Escola Industrial Federal do Ceará passou a atuar não somente no ensino, mas também na
pesquisa e na extensão, passando a ser um Centro Federal de Educação Tecnológica. Já no
governo de Fernando Henrique Cardoso, tornou-se a Escola Técnica Federal do Ceará.
No ano de 1998, o MEC protocolizou o processo para a transformação da Escola
Técnica em Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará(CEFET-CE). Já em 14 de
setembro de 2004, sob a presidência de Luís Inácio Lula da Silva, reconhece-se a vocação
institucional dos CEFETs para ministrar ensino superior, graduação e pós-graduação lato sensu
e stricto sensu.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE) atualmente atende
23 As informações referentes à evolução histórica do IFCE apresentadas neste capítulo têm como fonte o seguinte
site: www.ifce.edu.br
82
45 municípios do estado do Ceará e conta com a participação de mais 14 mil estudantes por
meio da oferta de cursos regulares de formação técnica e tecnológica, nas modalidades
presenciais e a distância. São oferecidos cursos superiores tecnológicos, licenciaturas,
bacharelados, além de cursos de pós-graduação, mais precisamente especialização e mestrado.
O mesmo continua localizado com o seu principal campus no bairro Benfica, na Avenida 13 de
Maio.
Dando continuidade à apresentação de fotografias de imóveis adquiridos pela UFC,
onde funcionavam instituições educacionais, a fotografia abaixo apresenta o Palacete do
empresário João Gentil Alves de Carvalho, filho do patriarca José Gentil Alves de Carvalho,
proprietário da maioria dos imóveis que foram adquiridos pela UFC, na sua dinâmica
expansionista.
Após a morte do pai do empresário João Gentil, esse construiu uma mansão na
praia do Meireles. O imóvel retratado então foi alugado para ali funcionar, entre 1945 e 1950,
o Ginásio Nossa Senhora das Graças da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de
Maria: as “Cordimarianas”. Com a construção de sede própria no bairro de Fátima, o imóvel
foi arrendado pela família Gracie, que instalou no local o Ginásio Americano, que funcionou
até 1954. O palacete foi adquirido pela UFC em 1958 e, antes de sua demolição, funcionou no
local o Instituto de Química. No lugar foi erigido o prédio onde funciona a Fundação Cearense
de Pesquisa e Cultura da UFC (FCPC), localizado na Av. da Universidade24.
24 As informações apresentadas teve como fonte o seguinte site: www.cepimar.org.br
83
Fotografia 7 - Palacete do João Gentil
Fonte: Arquivo Nirez, 1952.
Assim como o Ginásio Americano, outra instituição de ensino que se destacava no
bairro era o Grupo Escolar Benfica. O prédio que abrigava a Instituição, localizado na Avenida
Visconde de Cauípe, ficou pronto e foi inaugurado em 02 de janeiro de 1923, como um projeto
do arquiteto José Gonçalves da Justa. Depois essa Instituição passou a denominar-se Grupo
Escolar Rodolfo Teófilo. Posteriormente, em 20 de agosto de 1956, o estabelecimento de ensino
foi transferido para outra rua nas proximidades, e no prédio passou a funcionar o Museu
Antropológico e o Instituto do Ceará. Dez anos depois foi feita uma permuta com a UFC: o
Instituto do Ceará passou a funcionar na Rua Barão do Rio Branco, na Praça do Carmo, onde
ainda se encontra, e o museu foi para uma casa na Avenida Barão de Studart. (SILVA, 2010).
Como podemos observar na fotografia abaixo, após a mudança, o prédio onde
funcionava o Grupo escolar Benfica passou a acolher a Faculdade de Ciências Econômicas do
Ceará, fundada pelo Professor Djacir Menezes, em novembro de 1938. A faculdade era uma
instituição privada, porém o Decreto Estadual n° 833, de 20 de novembro de 1957, encampou
a Faculdade de Ciências Econômicas e a Faculdade de Farmácia e Odontologia.
Depois das modificações, atualmente funciona no prédio os cursos de
Administração, Economia, Atuariais e Ciências Contábeis, a FEAAC, da Universidade Federal
do Ceará (SILVA, 2010).
84
Fotografia 8 - Grupo Escolar Benfica
Fonte: Arquivo Nirez, 1942.
Como mostramos anteriormente, a instituição de ensino adquiriu diversas
residências importantes para as suas instalações. No entanto, a primeira aquisição e a mais
notável de todas foi o Palacete do José Gentil Alves de Carvalho, como podemos observar na
fotografia abaixo, que mostra a casa e a imagem de José Gentil, está no canto superior direito
(MARTINS FILHO, 1994; 1996).
José Gentil Alves de Carvalho adquiriu a chácara no ano de 1909, no entanto já
residia na cidade de Fortaleza. No ano de 1918 inaugurou um belíssimo palacete para ser a sua
residência, mas foi vendida no ano de 1956 pela imobiliária Frota Gentil para a UFC, tornando-
se a Reitoria da Universidade até os dias atuais (SILVA, 2010).
Apesar de ter passado por diversas reformas para atender a demanda da Instituição,
a Reitoria ainda permanece com o seu estilo arquitetônico original, tornando-se um símbolo
não só para o bairro Benfica, mas para toda a cidade de Fortaleza.
85
Fotografia 9 - Palacete do José Gentil Alves de Carvalho
Fonte: Arquivo Nirez,1922.
Fotografia 10 - Casa do João Tomé de Sabóia e Silva
Fonte: Arquivo Nirez, 1932.
86
A fotografia acima mostra a bela residência de uma importante personalidade da
história da construção civil no Ceará, o engenheiro, empresário e político João Tomé de Sabóia
e Silva. Assim como ressaltamos nas análises anteriores, essa casa também foi adquirida pela
UFC no seu processo de criação e expansão. No entanto, a mesma não foi preservada e sim
demolida para ceder lugar ao prédio onde está situado o Centro de Humanidades II, entre as
Avenidas 13 de maio e Avenida da Universidade, sede do curso de Comunicação Social.
(BARROSO, 2004).
Apesar de ter ocorrido a demolição da casa, podemos observar que ainda resta na
paisagem um pouco da história dessa residência. O dono da casa tinha nos fundos do imóvel
uma edificação semelhante a uma torre onde fazia suas pesquisas astronômicas; esse
observatório astronômico foi preservado e atualmente funciona o Centro Acadêmico do Curso
de Comunicação Social, e é o local mais conhecido pelos estudantes como “torrinha”.
Fotografia 11 - Giratório entre as Avenidas 13 de maio e Universidade
Fonte: Arquivo Nirez, 1968.
Esta fotografia mostra a rotatória erigida no cruzamento da Av. 13 de maio com
Av. da Universidade. Nessa rotatória foi instalada uma fonte ornamentada de cavalos que,
originalmente, estava localizada na Praça da Lagoinha, no centro de Fortaleza. Essa fonte
permaneceu por muito tempo na Praça da Lagoinha, atualmente ela se encontra na Praça do
87
Banco do Nordeste do Brasil (BNB), localizada no centro da cidade de Fortaleza. Essa rotatória
e sua fonte ficaram no Benfica entre os anos de 1967 e 1970 (BARROSO, 2004).
Muitos dos moradores antigos, ao ver essa fotografia, mostraram indignação por
terem retirado a fonte desse local. Para esses, o motivo principal dessa mudança foi o aumento
do fluxo de carros nessa região, e a fonte era empecilho para a fluidez do trânsito local.
Fotografia 12- Portão do Palacete Gentil, aproveitado por muito tempo como entrada principal
da Reitoria
Fonte; Arquivo Nirez, 1958.
Por fim, a fotografia acima mostra o portão da casa do Palacete Gentil, de
propriedade do empresário José Gentil Alves de Carvalho, aproveitado por muito tempo como
entrada da reitoria pela UFC. Devido às reformas que ocorreram na Reitoria, o portão foi
retirado e a entrada modificada, o que mostra um pouco da história desse importante símbolo
arquitetônico.
A partir da análise das fotografias acima, podemos perceber um pouco da história
do bairro e algumas das mudanças que ocorreram em sua paisagem. No entanto, a paisagem só
existe através da análise e compreensão dos interesses dos diversos grupos sociais envolvidos
no processo de (re)construção, ampliação, demolição dessas paisagens.
Portanto, no próximo subitem analisaremos a relação entre a fotografia e o
espectador e mostraremos as diversas percepções dos diferentes sujeitos acerca das mudanças
que ocorreram e continuam acontecendo na paisagem do bairro Benfica, pela análise das
fotografias acima apresentadas.
88
4.2 A FOTOGRAFIA E O ESPECTADOR
Na análise das fotografias, devemos considerar na imagem o que nela está inserido
e os diversos sujeitos que se apresentam na composição e na sua análise. Para Barthes (1984),
existem três sujeitos fotográficos: o sujeito-operador, o sujeito fotografado e o sujeito
espectador. No entanto, para a presente pesquisa concentraremos nossa atenção no sujeito
espectador, na perspectiva de entender como esses compreendem as mudanças na paisagem do
Benfica a partir da interpretação das fotografias do bairro.
O sujeito espectador é aquele que participa de forma efetiva na análise das imagens
e tenta compreender e também reconhecer o que nela está inserido. Para Barthes (1984), o
sujeito espectador “[...] somos todos nós que consultamos jornais, livros, álbuns e arquivos,
coleções de fotografias. E aquele ou aquilo que é fotografado? É o alvo, referente [...]”
(BARTHES, 1984: 17).
Na compreensão da fotografia pelo espectador são reveladas diversas
interpretações, pois para cada um a fotografia representará valores distintos, fazendo parte das
práticas culturais ali construídas pela história do lugar. Quando o espectador observa a imagem,
antes de analisar o caráter subjetivo, o mesmo reconhece aquilo que já foi projetado em sua
mente, havendo na fotografia uma relação entre aspectos cognitivos e subjetivos.
O espectador é um parceiro ativo da imagem, emocional e cognitivamente; o
espectador constrói a imagem e a imagem constrói o espectador (AUMONT, 2012). A relação
entre a fotografia e o espectador não é uma análise simples, muitas determinações diferentes e
até contraditórias entram no estudo. Além da capacidade interpretativa, entram na abordagem
os afetos, as crenças, as emoções que, por sua vez, são vinculadas a uma determinada cultura.
Apesar de na fotografia os sujeitos não serem os mesmos, os acontecimentos terem
mudado e a história tome outras conotações, mesmo assim a imagem permanece como um
dispositivo capaz de revelar a memória de uma paisagem em um duplo sentido: aquilo que
aparece e aquilo que permanece como um legado simbólico observado pelo espectador
(REYES, 2005).
O que o sujeito encontra na imagem nos revela estruturas profundas próprias da
mente humana, pois o mesmo faz existir a imagem a partir do conjunto dos atos perceptivos e
psíquicos. Tudo o que ele observa na imagem fotográfica resulta do conhecimento e da
consciência do ver e do saber. No entanto, quando analisamos as expectativas do espectador,
privilegiamos os aspectos cognitivos, embora saibamos que ele é, também, um sujeito de afetos,
89
pulsões e emoções. Tais sentimentos intervêm consideravelmente na sua relação com a imagem
(AUMONT, 2012).
A compreensão da fotografia só é possível devido aos sujeitos que a constroem, em
que cada um desempenha um papel relevante, seja o fotógrafo que seleciona o ambiente e o
tempo, ou o espectador, que faz da fotografia uma das diversas possibilidades de analisar o
espaço geográfico, e consequentemente a paisagem, assim como é o principal objetivo desta
pesquisa.
Ao considerar a fotografia como ato também do espectador, encontramos as
descontinuidades entre um real inapreensível e uma realidade construída a partir das emoções
e dos aspectos culturais. A necessidade de criar uma nova sintaxe que acolha a desordem
causada pela apreensão da imagem fotográfica “nos leva a um jogo, no qual tanto observadores
como fotógrafos podem mexer as peças” (AUMONT, 2012: 45).
A imagem existe e é a partir da sua existência material que podemos estabelecer
essa negociação de causas e efeitos, seja sob a forma de análise técnica ou subjetiva. O que está
representado na imagem fotográfica reflete ações praticadas pela sociedade, indo além do
caráter técnico desse recurso, pois nela são revelados símbolos presentes na história da
humanidade.
Através da compreensão das imagens pelos espectadores, podemos analisar as
alterações na paisagem do Benfica, sobre as quais será inquestionável a importância da
percepção dos sujeitos que compõem o bairro e fazem parte das constantes mudanças que estão
ocorrendo.
Organizamos em cinco grupos os entrevistados: no primeiro estão os moradores
mais antigos do bairro; em segundo lugar, os frequentadores do bairro; em terceiro lugar, os
professores da UFC; em quarto lugar os alunos da UFC e, em quinto, os servidores dessa mesma
instituição.
Com as entrevistas buscou-se a percepção desses sobre as mudanças que ocorreram
na paisagem do bairro. Como intermédio entre a percepção dos sujeitos que compõem o Benfica
e as alterações em sua paisagem, foram analisadas junto aos entrevistados, fotografias de
diferentes períodos que compõem a história do bairro e da UFC. O intuito de mostrar as
fotografias foi o de entender como eles percebem as mudanças que ocorreram no bairro através
das análises das imagens apresentadas.
Nesse sentido, a leitura da paisagem do Benfica vincula-se a uma articulação entre
aqueles que integram a trama relacional da vida social. Como partes integrantes desse aspecto,
tem-se a cultura como agente, a área do bairro como meio e a paisagem como um conjunto de
90
resultados, através dos quais a imagem fotográfica fornece orientações sobre a dinâmica sócio
espacial.
Na relação entre as alterações na paisagem, as fotografias antigas do bairro e os
grupos entrevistados, os moradores antigos nos revelaram um significativo saudosismo ao ver
as fotografias antigas do bairro. O sentimento de pertença e identidade com o bairro é muito
forte, pois ao perguntar se os moradores gostavam de morar nesse espaço, todos responderam
que sim, mostrando as vantagens de morar nesse lugar, assim como as suas peculiaridades frente
aos demais bairros de Fortaleza.
Quando iniciamos a análise através da percepção dos moradores antigos do bairro,
percebemos que, apesar das mudanças que tinham ocorrido em diversos espaços e na arquitetura
do bairro, muitos reconheciam os lugares apresentados na fotografia, lembrando com alegria
dos momentos vividos no bairro, como mostra a citação abaixo:
Eu adoro morar aqui. Daqui eu só saio para o Parque da Paz. Eu gosto de morar aqui
primeiro porque foi minha infância, ou seja, a minha vida toda, os primeiros bares, as
primeiras namoradas. O Benfica foi tudo para mim, a minha missão de vida
(informação verbal). 25
No entanto, ao contrário das lembranças de alegria dos momentos vividos em
alguns espaços do bairro, como ruas, praças e bares, muitos demonstraram melancolia devido
às mudanças que ocorreram na paisagem do Benfica. Para eles muitas coisas mudaram no
bairro, mas as mudanças nem sempre foram somente positivas. Fato que podemos observar na
fala do morador abaixo:
Muita coisa mudou, pois deu uma valorização no bairro muito importante. Muitos
prédios foram construídos e conservados, mas muitas árvores foram derrubadas e eu
sinto muita falta disto. E é importante também dizer que a UFC tem que dar uma
maior abertura para o bairro e interagir mais com a comunidade (informação verbal).26
A partir da fala do morador acima, entendemos que as mudanças que ocorreram na
paisagem do bairro foram positivas e negativas. Como exemplo dessas, ele citou a derrubada
de muitas árvores que cederam lugar para diversas construções no bairro. Além desse morador,
outros também mencionaram a questão abordada, explicitada nas seguintes citações:
25 Francisco Newton de Ferreira Miranda, morador do bairro há 65 anos. Entrevista realizada em Fortaleza, em
dezembro de 2013. 26 Silvio Mendes (Roberto Carlos), morador do bairro há 64 anos. Entrevista realizada em Fortaleza, em novembro
de 2013.
91
A paisagem mudou muito, pois isso aqui era um mangueiral. Tinham muitas árvores
e depois foram derrubando. Era um bairro cheio de Mangueiras. Eu acho que aqui
nesta rua a única é essa da esquina, antes tinham muitas outras aqui na paisagem do
bairro (informação verbal).27
Mudou. Até o nome da avenida, que era visconde do Cauípe, mudou para a Avenida
da Universidade. E as mudanças podem ser percebidas através da retirada das árvores,
porque aqui era cheio de árvores antes da chegada da universidade (informação
verbal).28
Além dessa visão negativa dos moradores antigos, é importante ressaltar que os
mesmos acreditam que, com a criação e a expansão da Universidade no bairro, aumentou
significativamente a violência, pois muitas noites de conversas nas calçadas foram prejudicadas
e outras até mesmo extintas por ser perigoso permanecer durante a noite em frente das casas
conversando com vizinhos e amigos. Esta explicação está refletida na voz do morador Pedro
Gervásio Moreira Martins. Para ele “Mudou muita coisa, mas foram mudanças super negativas,
como o asfaltamento das ruas, o aumento do fluxo de carros e também da violência”.
A questão também foi abordada por alguns professores da UFC, observada neste
pronunciamento:
Ao ver as fotografias é uma Fortaleza bucólica ainda, mudou muito porque se você
comparar estas imagens com as imagens contemporâneas você irá ver uma fortaleza
contemporânea e urbanizada que também trouxe muita violência, o que é muito triste,
porque o Benfica é um bairro muito charmoso (informação verbal).29
Quando eram observadas as diversas fotografias antigas do Benfica, como a foto da
Casa de Cultura Germânica, a da Reitoria, a da FEAAC e a da Avenida da Universidade há
mais de 50 anos, grande parte dos que foram entrevistados falaram que, em relação ao aspecto
arquitetônico, pouca coisa foi modificada, havendo uma grande preservação do patrimônio
cultural. Para os entrevistados isso é devido ao fato de muitos prédios antigos que são
preservados pertencerem à UFC.
Essa informação pode ser observada na fala do seguinte morador antigo do bairro:
Muitos mais perceptíveis depois que eu vi as fotografias e eu acredito que foi a
Universidade que ainda preservou alguma coisa, senão fosse a Universidade isso
daqui estaria uma loucura. O que preservou muito o bairro foi a Universidade através
27 Pedro Gervásio Moreira Martins, morador do bairro há 46 anos. Entrevista realizada em Fortaleza, em novembro
de 2013. 28 João Batista de Aragão Viana, morador do bairro há 64 anos. Entrevista realizada em Fortaleza, em novembro
de 2013. 29 Eduardo Girão Santiago, professor da UFC. Entrevista realizada, em Fortaleza, em dezembro de 2013.
92
da preservação de muitos prédios, como a reitoria e as casa de cultura (informação
verbal).30
Através da observação das fotografias, percebemos que muitos dos entrevistados
reconheciam muitas das fotos que estavam sendo mostradas, apesar de muitas datarem de mais
de 50 anos. Para eles, isso se deve ao fato de muitas paisagens estarem sendo mantidas e
preservadas pela UFC. A partir disso, entendemos que a instituição de ensino possui um papel
significativo na conservação da memória e da cultura no bairro.
Esta observação pode ser constatada na fala da entrevistada a seguir:
Claro que mudou, né. Eu não tenho dúvida, mas eu acredito que muita coisa foi
preservada, pois teoricamente poderia não ter sido, pois sem a presença da
universidade você acha que alguém ia preservar um prédio desse? Isto daqui é um
custo alto, é uma construção antiga, a própria reitoria, a própria casa de cultura alemã.
Enfim, todos esses prédios demandam uma manutenção constante e um custo muito
alto, e o que não é interesse de que não tem essa visão, os empresários por exemplo
(informação verbal). 31
Apesar de terem ocorrido significativas preservações de muitos prédios localizados
no bairro pela Universidade, constatamos que muitos foram derrubados e bastante modificados
pela instituição de ensino em questão, como a casa que pertencia ao engenheiro João Tomé de
Sabóia, que cedeu lugar a área que abrange o Centro de humanidades II e também uma
residência onde funcionava o Colégio Santa Cecília, onde posteriormente houve a construção
do Museu de Arte da UFC (MAUC).
Na fala do seguinte frequentador do bairro podemos entender a percepção dele
sobre a temática abordada no parágrafo anterior:
Depois de ver as fotografias com certeza mudou, resgatando a história e a memória
como aquele espaço se modificou, vendo hoje a gente que convive e passeia pelo
Benfica percebe estas mudanças. Eu fiquei supresso porque muitos prédios foram
derrubados. Fiquei pensando que poderia ter sido feito uma preservação melhor desta
memória (informação verbal). 32
Além da preservação e da destruição de alguns imóveis adquiridos pela UFC,
constatamos que alguns sofreram mudanças na parte interna, passando por muitas reformas
resultantes da necessidade da Instituição e até mesmo por motivos de segurança, pois muitas
30 Francisco Newton Ferreira de Miranda, morador do bairro há 65 anos. Entrevista realizada em Fortaleza, em
dezembro de 2013. 31 Gerda de Souza Holanda, funcionária da UFC. Entrevista realizada em Fortaleza, em dezembro de 2013. 32 Heronilson Pinto Freire, frequentador do bairro. Entrevista realizada em Fortaleza, em dezembro de 2013.
93
possuíam estruturas antigas e necessitavam de investimentos para o adequado funcionamento.
Como exemplos citamos as reformas realizadas na Reitoria e na Casa de Cultura Germânica.
A pesar de muitas coisas terem mudado com a criação e permanência da
Universidade, para alguns dos entrevistados muitas das mudanças que ocorreram são
justificadas pelo crescimento das grandes cidades e pelas novas necessidades dos grupos sociais
envolvidos no processo de modificação da paisagem. No entanto, quando uma universidade
pública é criada e fixada em um determinado espaço, como foi o caso do bairro que estamos
estudando, ocorrem mudanças intensas, sejam elas no aumento do fluxo de pessoas, na
arquitetura, nos transportes, sejam nos estabelecimentos criados para atender o grande número
de estudantes, como as gráficas rápidas e as livrarias.
Quando realizamos as entrevistas e perguntamos sobre as mudanças que haviam
ocorrido no bairro antes da chegada da Universidade, muitos ficaram em dúvida e outros não
sabiam o que responder. Alguns não recordavam como era a paisagem do bairro antes da
fixação da Instituição devido à intensidade das mudanças que aconteceram e continuam
ocorrendo. Já outros, por não terem vivido o momento de criação da Universidade, mostraram
indiferença na resposta. No entanto, após verem e analisarem as fotografias, muitos deles
demonstraram que as imagens os fizeram entender as mudanças que tinham ocorrido no bairro
e também relembraram momentos de vivência nesse espaço.
Portanto, as análises das fotografias foram de fundamental relevância na realização
das entrevistas, mostrando a importância das mesmas para a pesquisa e para os entrevistados,
pois até mesmo aqueles que não possuíam a percepção sobre as mudanças que tinham ocorrido
na paisagem do bairro as perceberam através das imagens. Fato que podemos observar a partir
das citações abaixo:
Depois que eu vi as fotografias deu para perceber que muitas coisas foram mudadas
na paisagem do Benfica, como as casas, os prédios e também tem muito mais gente
andando nas ruas, muitos estudantes que estão aqui no bairro por causa da UFC
(informação verbal). 33
As fotografias demonstram, pode até achar que foi acelerada a presença da
Universidade estar aqui e atrair pessoas de todos os lugares da cidade de Fortaleza,
consequentemente isso mexe com a estrutura do bairro. Obviamente sem a presença
da universidade isso iria crescer, eu não sei se nessa dimensão ou nessa direção, mas
33 Mario Noelio (Lacerdinha), morador do bairro há 60 anos. Entrevista realizada em Fortaleza, em novembro de
2013.
94
que a influência é forte, ela é. A universidade trouxe a Engenharia, a Faculdade de
Educação e o Museu de Arte (informação verbal). 34
Assim como os moradores antigos, os frequentadores, os professores e funcionários
da UFC e os estudantes da instituição que foram entrevistados durante a pesquisa de campo
mostraram um relativo interesse na análise das fotografias. Muitos dos estudantes relataram
que, apesar de estudar na UFC, não sabiam muita coisa sobre a história do bairro e da
Instituição.
Através das fotografias, eles relataram que puderam conhecer um pouco mais da
história do Benfica e analisar como a paisagem daquele entorno que eles vivenciam mudou.
Mas o que foi bastante significativo na análise com os estudantes, foi que alguns disseram que
depois dessa pesquisa estavam mais interessados em saber sobre a história do Benfica.
Através da percepção da seguinte estudante podemos nos certificar sobre essa
análise:
Depois que eu vi as fotografias eu percebi que o Benfica mudou muito, antes ele
parecia mais um bairro residencial. Estas mudanças podem ser percebidas em tudo,
com a chegada da universidade circula um público totalmente diferente dos que
frequentavam o bairro. Eu não sabia de muitas coisas sobre o bairro, agora eu vou
pesquisar mais [...] (informação verbal). 35
A partir da análise das fotografias, em todos os grupos que entrevistamos, as
mudanças para os entrevistados foram perceptíveis, e, como abordamos anteriormente, a
questão cultural e a preservação do patrimônio histórico do bairro foi relevante para os
entrevistados. Para esses, a presença da UFC propicia esta relação entre o moderno e o
tradicional. Moderno devido às contínuas pesquisas realizadas pela Instituição e àqueles que
frequentam o bairro; tradicional por apresentar arquitetura preservada nos prédios pertencentes
à Instituição.
Foi através das fotografias, que é uma representação do real, que pudemos
estabelecer esta relação entre as mudanças na paisagem do Benfica com a percepção dos
sujeitos. Ela propiciou importantes resultados diante dos objetivos a serem alcançados nesta
dissertação, pois sem elas os resultados não teriam sido tão pertinentes.
34 Carlos Cavalcante de Pereira Marques, funcionário da UFC. Entrevista realizada em Fortaleza, em dezembro de
2013. 35 Jessica Maria de Leite Lima, estudante da UFC. Entrevista realizada em Fortaleza, em dezembro de 2013.
95
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando sentimos a necessidade de uma discussão acerca do espaço geográfico, foi
na intenção de ampliar os olhares para a construção do mundo a nossa volta. Dessa forma,
pensamos como se vão constituindo as paisagens e as transformações nesse espaço, realizados
por todos nós. Assim, entendemos a importância dos estudos da paisagem no âmbito da
geografia, em que ela é analisada além dos aspectos materiais, estando as sensações humanas e
as práticas culturais no centro das discussões acerca desse importante conceito para a ciência
geográfica.
Compreendemos que, na análise da paisagem cultural, o homem se encontra no
centro das discussões. Portanto, nesse trabalho, foi de extrema relevância a análise com os
sujeitos que compõem o bairro Benfica. Eles nos mostraram resultados significativos a partir
de suas percepções, demostradas através dos sentidos e das vivências dos mesmos nesse
importante lócus para a cidade de Fortaleza.
Nas narrativas dos sujeitos sobre a paisagem, destacam-se elementos de diferentes
situações históricas e atuais, percebidas através das falas dos entrevistados em diferentes
momentos da pesquisa, demostrando, ao mesmo tempo, diferenças e semelhanças em suas
análises. Todavia, um aspecto foi significativo em quase todas as entrevistas: a inquestionável
presença da Universidade e as alterações propiciadas pela mesma no bairro.
Na análise com sujeitos do Benfica, os moradores antigos demostram significância
com o bairro, onde, apesar das mudanças negativas que o Benfica está passando, dentre elas o
aumento da violência, muitos deles permanecem no bairro, demostrando o sentimento de
pertencimento com esse lugar. O gostar do bairro foi evidenciado pelos outros grupos de
entrevistados, demostrado a partir da compreensão com os frequentadores, estudantes,
funcionários e professores da UFC. A partir dos estudos realizados com esses, compreendemos
que as relações estabelecidas com o local vão além de trabalho, estudo, e/ou simples lócus para
o lazer, entrando nessa discussão as emoções vivenciadas no dia a dia com a paisagem.
A partir disso, concluímos que as percepções sobre as alterações da paisagem do
bairro são constantemente analisadas por esses, pois, através do gostar do bairro, os sujeitos
preocupam-se com as modificações que ocorrem no lugar. Nessa perspectiva, compreendemos
que, para os entrevistados a UFC, alterou-se a paisagem de forma significativa, e ao mesmo
tempo que a instituição de ensino modificou, ela também preservou o património histórico do
bairro.
Dentre a preservação do patrimônio cultural no bairro, é interessante perceber que,
96
mesmo sendo um símbolo de modernidade, a Universidade Federal do Ceará não destruiu o
Palacete Gentil. Pelo contrário, ao ampliá-lo transformando-o em sede da Reitoria, preservou o
modelo arquitetônico e, claro, outros importantes símbolos culturais, como a Casa de Cultura
Germânica.
Mesmo assim, a UFC poderia ter mudado de maneira absoluta e irreversível as
práticas do cotidiano dos sujeitos do bairro, pois a modernidade não se expressa somente no
fixo, ela vai muito além, sendo percebida principalmente nas práticas sociais que vão anexando
técnicas e novos movimentos ao cotidiano.
Ao mesmo tempo que a Universidade preservou, ela alterou e estabeleceu outras
relações profícuas no bairro, percebidas através da cultura, com a preservação do patrimônio
cultural, como falamos anteriormente: a boemia, através dos inúmeros bares que estão presentes
no bairro como ponto de encontros nos finais das aulas; o lazer, representado pelas calouradas,
e os aspectos educacionais, presente no Benfica mesmo antes da criação da UFC.
A Instalação da UFC, de início com a maioria de seus cursos no Benfica, preenche
uma lacuna na necessidade que Fortaleza e o estado possuíam na formação a nível superior. A
partir da criação da instituição de ensino novas relações se estabeleceram, principalmente no
lócus de sua criação, proporcionando novos olhares para os estudiosos em diversas áreas do
conhecimento, dentre elas a geografia, como foi o nosso caso
Percebemos que as relações entre sujeitos e paisagens são constituídas a partir das
práticas sociais inseridas no dia a dia, onde a UFC, como importante instituição de ensino do
bairro Benfica, proporciona um maior fluxo de pessoas, ocasionando alterações em diversos
aspectos, dentre eles, o aumento populacional, assim como a expansão das áreas físicas
pertencentes a Instituição. Com isso, ela proporciona alterações na paisagem, que são
percebidas por todos aqueles que vivenciam esse espaço.
Entendemos que a pesquisa nunca se esgota, que sempre irão surgir novos olhares
acerca da paisagem do Benfica. Portanto, com esse estudo, demostramos importantes aspectos
referentes à história do bairro e da UFC, assim como as alterações em sua paisagem. Em
nenhum momento dissemos verdades absolutas e irrefutáveis, afinal nossa análise sempre
esteve calcada na percepção dos sujeitos, mostrando em nossos resultados o modo como os
mesmos sentem e percebem a paisagem do Benfica.
Dentre os nossos objetivos, estabelecemos a mediação entre os sujeitos e o objeto,
demostrando as diversas relações estabelecidas e utilizando importantes fontes, como a
fotografia. Essa foi essencial em nossa pesquisa. Através dela, os sujeitos perceberam
relevantes aspectos históricos e atuais frente às alterações que ocorreram e continuam
97
acontecendo na paisagem do Benfica com a criação e fixação da Universidade.
As pesquisas necessitam de múltiplas fontes de análises – como foi o nosso caso a
partir do estudo sobre a fotografia –, assim como de diversas perspectivas teóricas em diversas
áreas do conhecimento, nos utilizando da análise multidisciplinar que essa fonte nos oferece.
Foi necessário muitas vezes nos debruçarmos em autores da história, filosofia
comunicação e da antropologia, na perspectiva de ampliarmos o nosso referencial teórico,
buscando subsídios profundos, afim de abrirmos as possibilidades de estudos que oferece a
paisagem do Benfica. No entanto, em nenhum momento nos desvinculamos do nosso principal
objetivo, assim como da nossa base cientifica, a Geografia.
Estudar o Benfica é perceber as permanentes alterações em sua paisagem ao longo
do tempo, evidenciadas, em nosso caso, pela intensa presença da Universidade nesse espaço
geográfico. Entendemos que as alterações na paisagem não são percebidas somente no Benfica,
mas compreendemos que, devido a esse bairro possuir um intenso fluxo de pessoas como uma
intensa rede de relações, as alterações na paisagem são percebidas de maneira mais profícua,
mas ao mesmo tempo parecendo contraditório, pois muito foi preservado no bairro após a
instituição de ensino.
Para não concluir, acreditamos que assim como a nossa pesquisa, outras surgirão,
partindo da intensa busca pelo conhecimento, tão presente nos pesquisadores. Na tentativa de
entender o espaço geográfico, onde estão inseridas as paisagens culturais, os geógrafos estão
em constantes discussões acerca da complexidade que envolve os estudos sobre o espaço
urbano, entendendo que tal é múltiplo, possibilitando diversas abordagens sobre a sociedade,
afinal, o mundo, o espaço geográfico e a paisagem só possuem sentido, a partir dessa.
.
98
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104
APÊNDICES
105
APÊNDICE A – Perguntas norteadoras para as entrevistas com os moradores antigos
Nome
Idade
Quanto tempo vive no bairro?
O Senhor gosta de morar no Benfica?
Qual a importância que o bairro Benfica representa para o Sr.?
Percebemos que o Benfica se destaca dentro de vários contextos, como no lazer, no
cultural e no educacional. Em sua opinião, qual desses tem mais a “cara” do Benfica?
Para o Sr., qual instituição educacional é a mais importante?
O que mudou na paisagem do Benfica com a chegada da Universidade?
Como podemos perceber estas mudanças?
Mostrar fotografias e relacionar com a percepção dos mesmos sobre as mudanças nas
paisagens.
Autorizo a Srta. Rejane Maria de Souza utilizar minhas respostas acima, referentes às
perguntas a mim proferidas, sobre o bairro Benfica.
Fortaleza, 03 de dezembro de 2013.
_____________________________________________________________________
106
APÊNDICE B – Perguntas norteadoras para as entrevistas com os frequentadores
Nome
Bairro onde vive?
Já morou no Benfica?
Você frequenta o Benfica há quanto tempo? Em quais dias?
Quais s
ão os espaços que você frequenta no bairro?
Qual o principal atrativo que o bairro representa para você?
Você somente frequenta o bairro ou possui outro vínculo?
Qual a importância que o bairro Benfica representa para você?
Percebemos que o Benfica se destaca dentro de vários contextos, como no lazer, no
cultural e no educacional. Em sua opinião, qual desses tem mais a “cara” do Benfica?
Para você qual a instituição educacional localizada no bairro é a mais importante?
O que mudou na paisagem do Benfica com a chegada da Universidade Federal do Ceará?
Como podemos perceber estas mudanças?
Mostrar fotografias e relacionar com a percepção dos mesmos sobre as mudanças nas
paisagens.
Autorizo a Srta. Rejane Maria de Souza utilizar minhas respostas acima, referentes às
perguntas a mim proferidas, sobre o bairro Benfica.
Fortaleza, 03 de dezembro de 2013.
_____________________________________________________________________
107
APÊNDICE C – Perguntas norteadoras para as entrevistas com os estudantes da UFC
Nome
Idade
Bairro onde vive
Você é estudante da UFC?
Qual curso?
Você realiza algum curso no bairro além da graduação?
Você frequenta o bairro nos momentos de lazer? Em quais dias?
Qual a importância que o bairro Benfica representa para você?
Percebemos que o Benfica se destaca dentro de vários contextos, como no lazer, no
cultural e no educacional. Em sua opinião, qual desses tem mais a “cara” do
Benfica?
Para você qual instituição educacional localizada no bairro é a mais importante?
O que mudou na paisagem do Benfica com a chegada da Universidade?
Como podemos perceber estas mudanças?
Mostrar fotografias e relacionar com a percepção dos mesmos sobre as mudanças
nas paisagens.
Autorizo a Srta. Rejane Maria de Souza utilizar minhas respostas acima, referentes às
perguntas a mim proferidas, sobre o bairro Benfica.
Fortaleza, 03 de dezembro de 2013.
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108
APÊNDICE D – Perguntas norteadoras para as entrevistas com os professores da UFC
Nome
Bairro onde vive
Em qual curso ministra as aulas?
Há quanto tempo trabalha na Instituição?
O vínculo que você mantém com o bairro é somente o empregatício?
Você frequenta o bairro nos momentos de lazer? Em quais dias?
Qual a importância que o bairro Benfica representa para você?
Percebemos que o Benfica se destaca dentro de vários contextos, como no lazer, no
cultural e no educacional. Em sua opinião, qual desses tem mais a “cara” do Benfica?
Para você qual instituição educacional localizada no bairro é a mais importante?
O que mudou na paisagem do Benfica com a chegada da Universidade?
Como podemos perceber estas mudanças?
Mostrar fotografias e relacionar com a percepção dos mesmos sobre as mudanças nas
paisagens.
Autorizo a Srta. Rejane Maria de Souza utilizar minhas respostas acima, referentes às
perguntas a mim proferidas, sobre o bairro Benfica.
Fortaleza, 03 de dezembro de 2013.
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109
APÊNDICE E – Perguntas norteadoras para as entrevistas com os funcionários da UFC
Nome
Bairro onde vive
Já morou no Benfica?
Há quanto tempo trabalha na Instituição?
Em qual setor trabalha?
O vínculo que você mantém com o bairro é somente o empregatício?
Você frequenta o bairro nos momentos de lazer? Em quais dias?
Qual a importância que o bairro Benfica representa para você?
Percebemos que o Benfica se destaca dentro de vários contextos, como no lazer, no
cultural e no educacional. Em sua opinião, qual desses tem mais a “cara” do Benfica?
Para você qual instituição educacional localizada no bairro é a mais importante?
O que mudou na paisagem do Benfica com a chegada da Universidade?
Como podemos perceber estas mudanças?
Mostrar fotografias e relacionar com a percepção dos mesmos sobre as mudanças nas
paisagens.
Autorizo a Srta. Rejane Maria de Souza utilizar minhas respostas acima, referentes às
perguntas a mim proferidas, sobre o bairro Benfica.
Fortaleza, 03 de dezembro de 2013.
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110
APÊNDICE F – Casa de Cultura Alemã
Fonte: elaborada pela autora (2013).
111
APÊNDICE G – FEAAC
Fonte: elaborada pela autora (2013).
112
APÊNDICE H – Residência universitária localizada na praça da Gentilândia, na Rua Paulino
Nogueira
Fonte: elaborada pela autora (2013).
113
APÊNDICE I – Centro de Humanidades área 1
Fonte: elaborada pela autora (2013).