UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE … · cuidado e alcance de integridade institucional...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE DOUTORADO EM CUIDADOS CLÍNICOS KEILA MARIA DE AZEVEDO PONTE MARQUES TEORIA DO CONFORTO NO CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM PARA PESSOAS COM CORONARIOPATIAS: diálogos profissionais pela pesquisa- cuidado e alcance de integridade institucional FORTALEZA-CE 2015

Transcript of UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE … · cuidado e alcance de integridade institucional...

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR

CENTRO DE CINCIAS DA SADE

PROGRAMA DE PS-GRADUAO CUIDADOS CLNICOS EM ENFERMAGEM

E SADE

DOUTORADO EM CUIDADOS CLNICOS

KEILA MARIA DE AZEVEDO PONTE MARQUES

TEORIA DO CONFORTO NO CUIDADO CLNICO DE ENFERMAGEM PARA

PESSOAS COM CORONARIOPATIAS: dilogos profissionais pela pesquisa-

cuidado e alcance de integridade institucional

FORTALEZA-CE

2015

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KEILA MARIA DE AZEVEDO PONTE MARQUES

TEORIA DO CONFORTO NO CUIDADO CLNICO DE ENFERMAGEM PARA

PESSOAS COM CORONARIOPATIAS: dilogos profissionais pela pesquisa-cuidado

e alcance de integridade institucional

Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Ps Graduao Cuidados Clnicos em Enfermagem e Sade da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial obteno do ttulo de Doutora em Cuidados Clnicos e Sade. rea de Concentrao: Cuidados Clnicos em Enfermagem e Sade.

Orientadora: Prof. Dr. Lcia de Ftima da Silva

FORTALEZA-CE

2015

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3

4

Dedico mais esta conquista s quatro

pessoas mais importantes da minha vida,

razo de minha existncia, amor

incondicional e cumplicidade incessante:

meus pais, Manoel Euladio Ponte (in

memorian) e Maria Arlene de Azevedo

Ponte; meu marido, Jean Marques de

Morais; e meu filho, Heitor de Azevedo

Ponte Marques.

5

AGRADECIMENTOS

Finalizar esta pesquisa foi uma tarefa desafiadora diante dos empecilhos pessoais

ocorridos neste perodo de doutorado. No entanto, tive a graa de ser curada e de

ter pessoas abenoadas perto de mim, que me fortaleceram, ajudaram e

incentivaram a continuar. Agradeo ento:

A Deus, pelo dom da vida, bnos e fortaleza nos momentos de fraqueza, guiando-

me e sendo Luz nesta longa caminhada.

Ao meu pai, Euladio Ponte (In memorian), pelos ensinamentos, por todos os

momentos compartilhados juntos, por ser a fonte de inspirao para o estudo nesta

rea. Amo voc! Obrigada por tudo! Saudades eternas...

A minha me, Arlene Ponte, pelo amor, f, educao, incentivo e apoio constante

em todos os meus objetivos. Sem voc jamais chegaria at aqui. Amo voc!

Obrigada por tudo!

Ao meu marido, Jean Marques, pelo amor e parceria incondicional em todos os

momentos de felicidade, ou no, sempre disponvel. Amo voc! Obrigada por tudo!

Ao meu filho, Heitor Marques, melhor graa recebida neste perodo, Amor Maior,

fonte de alegria em todos os momentos desta caminhada. Amo voc! Desculpe a

ausncia para construo desta...

A minha av, Rita Parente, e ao Alexandre Azevedo (In memorian), pelos

ensinamentos de simplicidade e resilincia.

A minha orientadora, amiga, mestre, Lcia de Ftima da Silva, por tudo que aprendi

e convivi com voc. Obrigada por acreditar em mim!

A querida amiga, eterna orientadora e mestre, Eliana Arago (Lili), pelo incentivo,

parceria e ensinamentos acadmicos e de vida.

A todos os enfermeiros do Hospital do Corao Padre Jos Linhares Ponte, em

especial: Raimunda de Lima, Claudiane Albuquerque, Ana Clia Carneiro, Glacie

Suely, Vivian Vieira, Antnia Maria Sousa, Iasmine Guerreiro, Talita Bantim, Giovana

Randal, Jackson Lima e Ansia Furtado, por abraar os objetivos deste estudo com

dedicao, compromisso e amor. Muito obrigada! Vocs foram imprescindveis!

A todos da minha Famlia Azevedo, Ponte, Marques pelo apoio, ajuda e carinho.

6

A Coordenao de Apoio as Pessoas de Nvel Superior pela concesso da bolsa de

pesquisa.

A Profa. Dra. Vilani Guedes, pelos ensinamentos e potencial de mestre. Obrigada

pela amizade e contribuies significativas neste estudo.

A Profa. Dra. Ivete Zagonel, pela rica experincia no mtodo pesquisa-cuidado, pelo

carinho e disponibilidade em contribuir nesta pesquisa.

A Profa. Dra. Katharine Kolcaba, pela idealizao da Teoria do Conforto e por emitir

opinio significativa na finalizao desta tese.

A Profa. Dra. Marta Damasceno pela apreciao e contribuio neste trabalho.

Ao Dr. Klauber Roger e Fabiene de Lima pela confiana e apoio na realizao da

pesquisa no Hospital do Corao de Sobral.

Ao Prof. Dr. Oscar Rodrigues Jnior pelo apoio e liberao para realizao deste

doutorado.

A todos os professores do Programa de Ps Graduao Cuidados Clnicos em

Enfermagem e Sade (PPCCLIS), pelos ensinamentos, ateno e incentivo.

Aos amigos desbravadores da primeira turma do doutorado do PPCCLIS: Albertina

Sousa, Ana Clia Sousa, Leilson Lira, Patrcia Vasconcelos, Roberta Oliveira,

Terezinha Queiroz e Viviane Pennafort, pelos momentos compartilhados juntos.

A todos do Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educao, Sade e Sociedade

(GRUPEESS), em especial aos colegas da Linha de Pesquisa: Fundamentos e

Prticas do Cuidado Clnico em Enfermagem e Sade, pelos momentos de

aprendizagem compartilhados juntos.

Em especial, s pessoas com coronariopatias que participaram desta pesquisa, pelo

aceite e contribuio com esta investigao.

A todos que direta ou indiretamente contriburam para a construo desta tese...

Venci esta etapa, agora vem o desafio de lutar cada dia mais por uma Enfermagem

melhor!

7

H um tempo em que preciso

abandonar as roupas usadas, que j tem

a forma do nosso corpo, e esquecer os

nossos caminhos, que nos levam sempre

aos mesmos lugares. o tempo da

travessia: e, se no ousarmos faz-la,

teremos ficado, para sempre, margem

de ns mesmos.

(Fernando Pessoa)

http://pensador.uol.com.br/autor/fernando_teixeira_de_andrade/

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RESUMO

Estudo do cuidado clnico de enfermagem para o conforto de pessoas com

coronariopatias com vistas a obter melhores prticas e melhores polticas com o

alcance da integridade institucional, por meio de comportamentos de busca em

sade. Os objetivos foram caracterizar as pessoas com coronariopatias e suas

demandas de conforto pela aplicao da Teoria do Conforto, mediada pela

pesquisa-cuidado; identificar necessidades de cuidados em sade, medidas de

conforto e comportamentos de busca em sade de pessoas com coronariopatias; e

descrever melhores prticas e melhores polticas na prtica clnica de enfermeiros

em unidade coronariana, com vistas ao alcance da integridade institucional.

Pesquisa qualitativa do tipo pesquisa-cuidado com fundamento na Teoria do

Conforto, realizada com dezoito enfermeiros, denominados de pesquisadores-

cuidadores, e 21 pessoas com coronariopatias, chamadas de pesquisados-cuidados,

em um hospital pblico em Sobral-Cear-Brasil. A coleta das informaes

transcorreu de abril de 2014 a janeiro de 2015 e seguiu as etapas do mtodo

adotado. Para tanto, foram efetivados seis dilogos de pesquisa e cuidado com os

pesquisadores-cuidadores, tendo como contextos de discusso a apresentao do

projeto, pesquisa em enfermagem, teoria de enfermagem, conforto, orientao para

realizao da pesquisa, discusso do processo de pesquisa-cuidado e possibilidade

da integridade institucional. Os resultados foram organizados em nove categorias e

mostraram a apresentao dos enfermeiros pesquisadores-cuidadores,

caracterizao dos pesquisados-cuidados, os dilogos de pesquisa em enfermagem,

as conversas acerca de Teorias de Enfermagem, os estudos sobre conforto,

implementao dos cuidados clnicos de conforto s pessoas com coronariopatias,

exposio dos cuidados clnicos de enfermagem voltados ao conforto de pessoas

com coronariopatias, alcance da Integridade Institucional em torno do fenmeno

conforto, e comportamentos de busca em sade de pessoas com coronariopatias

em unidade coronariana. Esta pesquisa confirmou a tese que a Teoria do Conforto

no cuidado clnico de enfermagem direcionado s pessoas com coronariopatias,

mediada pela pesquisa-cuidado, permite dilogos entre enfermeiro pesquisador e

enfermeiros da prtica clnica e favorece o alcance da integridade institucional.

Palavras-chave: Enfermagem; Cuidados de conforto; Comunicao em sade;

Coronariopatias; Pesquisa em enfermagem clnica.

9

ABSTRACT

This is an analysis of nursing clinical care for the comfort of patients with coronary

diseases, in order to get best practices and policies with the obtainment of

institutional integrity through health seeking behaviors. The main aims of this analysis

were: to characterize people with coronary diseases and people comfort demands,

by applying the Comfort Theory, which was mediated by the care-research; to

identify health care needs, comfort measures and procedures aimed to the health of

people with coronary diseases; and to portray best practices and best policies in the

clinical practice of nurses from coronary unit, in order to obtain the institutional

integrity. This care-research is qualitative and was based on the Comfort Theory. It

was held in a public hospital - located in Sobral, Cear, Brazil - with 18 nurses called

caregivers-researchers, and 21 patients with coronary diseases, named cared-

researched. The data collection proceeded from April of 2014 to January of 2015 and

followed the steps of the method chosen. Therefore, six research and care dialogues

have been implemented by the caregivers-researchers, bearing as discussion

frameworks: the presentation of the project, nursing research, nursing theory,

comfort, guidance for the research acomplishment, discussion of the care-research

process and the possibility of the institutional integrity. The results were organizeds

into nine categories and they have shown the presentation of the nurses named

caregivers-researchers, the characterization of cared-respondents, the nursing

research dialogues, the discussions concerning Nursing Theories, the studies on

comfort, implementation of comfort clinical care for people with coronary diseases,

exposure of nursing clinical care aimed to provide comfort for people with coronary

diseases, obtainment of Institutional Integrity around the comfort phenomenon, and

attitudes aimed to the health of people with coronary diseases from coronary unit.

This research confirmed the thesis that the Comfort Theory in the nursing clinical

care of people with coronary diseases, mediated by care-research enables

dicussions between research nurses and nurses from clinical practice and it benefits

the obtainment of institutional integrity.

Keywords: Nursing; Comfort care; Health communication; Coronary Artery Disease;

Research in clinical nursing.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA American Nursing Association

CBS Comportamentos de Busca em Sade

CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

DCV Doenas Cardiovasculares

DM Diabetes Mellitus

EPC Enfermeiros Pesquisadores Cuidadores

GO Grupo Observador

GRUPPESS Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educao, Sade e Sociedade

GV Grupo Verbalizado

ICD Instrumento de Coleta de Dados

IMC ndice de Massa Corprea

INTA Instituto Superior de Teologia Aplicada

PC Pesquisados-cuidados

PPCCLIS Programa de Ps Graduao Cuidados Clnicos em Enfermagem e

Sade

SCA Sndrome Coronariana Aguda

SINOCEC Simpsio Norte Cearense de Enfermagem em Cardiologia

SUS Sistema nico de Sade

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UECE Universidade Estadual do Cear

UNIFOR Universidade de Fortaleza

UTI Unidade de Terapia Intensiva

UVA Universidade Estadual Vale do Acara

11

SUMRIO

1 INTRODUO ........................................................................................ 13

2 OBJETIVOS ............................................................................................ 20

3 REVISO DE LITERATURA .................................................................. 21

3.1 CUIDADO CLNICO DE ENFERMAGEM ............................................... 21

3.2 CONFORTO COMO RESULTADO DO CUIDADO CLNICO DE

ENFERMAGEM ......................................................................................

24

3.3 CUIDADOS DE ENFERMAGEM VOLTADOS AO CONFORTO NA

UNIDADE CORONARIANA ...................................................................

28

4 REFERENCIAL TERICO: Teoria do Conforto de Katherine

Kolcaba ..................................................................................................

33

4.1 CONCEITOS E DEFINIES ................................................................ 33

4.2 METAPARADIGMAS .............................................................................. 38

4.3 PRESSUPOSTOS E ETAPAS PARA EFETIVAO ............................. 39

4.4 CONTEXTOS E TIPOS DE CONFORTO ............................................... 40

5 A INVESTIGAO PELO MTODO PESQUISA-CUIDADO ................ 42

5.1 APROXIMAO COM O OBJETO DE ESTUDO ................................... 44

5.1.1 Primeiro dilogo de pesquisa e cuidado: Apresentao do Projeto

e cuidados de conforto..........................................................................

46

5.1.2 Segundo dilogo de pesquisa e cuidado: Pesquisa em

Enfermagem ..........................................................................................

48

5.1.3 Terceiro dilogo de pesquisa e cuidado: Teorias de Enfermagem e

conforto .................................................................................................

49

5.2 ENCONTRO COM O SER PESQUISADO CUIDADO .......................... 52

5.3 ESTABELECIMENTO DAS CONEXES DE PESQUISA, TEORIA E

PRTICA .................................................................................................

56

5.4 AFASTAMENTO DO SER PESQUISADOR-CUIDADOR E SER

PESQUISADO-CUIDADO .......................................................................

59

5.5 ANLISE DO APREENDIDO .................................................................. 60

5.5.1 Quarto e quinto dilogos de pesquisa e cuidado: discusso do

processo de pesquisa-cuidado ...........................................................

62

5.5.2 Sexto dilogo de pesquisa e cuidado: possibilidade da

12

integridade institucional ....................................................................... 65

6 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................. 68

6.1 APRESENTAO DOS ENFERMEIROS PESQUISADORES-

CUIDADORES ........................................................................................

68

6.2 CARACTERIZAO DOS PESQUISADOS-CUIDADOS ....................... 74

6.3 OS DILOGOS DE PESQUISA EM ENFERMAGEM ............................ 80

6.4 AS CONVERSAS ACERCA DE TEORIAS DE ENFERMAGEM ............ 88

6.5 OS ESTUDOS SOBRE CONFORTO ..................................................... 93

6.6 IMPLEMENTAO DOS CUIDADOS CLNICOS DE CONFORTO S

PESSOAS COM CORONARIOPATIAS PELA PESQUISA-CUIDADO

FUNDAMENTADA NA TEORIA DO CONFORTO ..................................

101

6.7 EXPOSIO DOS CUIDADOS CLNICOS DE ENFERMAGEM

VOLTADOS AO CONFORTO DE PESSOAS COM

CORONARIOPATIAS .............................................................................

105

6.8 ALCANCE DE INTEGRIDADE INSTITUCIONAL ................................... 119

6.8.1 Melhores prticas em torno da integridade institucional ................ 121

6.8.2 Melhores polticas em torno da integridade institucional ................ 129

6.9 COMPORTAMENTOS DE BUSCA EM SADE DE PESSOAS COM

CORONARIOPATIAS EM UNIDADE CORONARIANA .........................

136

7 CONCLUSO ......................................................................................... 139

REFERNCIAS ...................................................................................... 145

APENDICES ........................................................................................... 158

ANEXOS ................................................................................................. 179

13

1 INTRODUO

Para principiar a apresentao deste estudo, mostra-se a discusso

contextual e fundamentada do seu objeto. Em seguida, expe-se a aproximao

temtica, discorrendo acerca da trajetria e justificativa para escolha do tema de

pesquisa, finalizando com os aspectos de relevncia social da investigao.

Trata-se do estudo de investigao acerca do cuidado clnico de

enfermagem para o conforto de pessoas com coronariopatias mediado pela

pesquisa-cuidado de Neves e Zagonel (2006), com fundamento na Teoria do

Conforto de Katharine Kolcaba (2003) e alcance da integridade institucional.

O cuidado de enfermagem direcionado recuperao e bem estar da

pessoa, presena, solicitude, preocupao, um ato de responsabilidade que o

profissional exibe quando incorpora princpios e valores do cuidado com

envolvimento genuno ao entender, respeitar e ajudar o ser que se encontra

vulnervel. Para o cuidar humano sensvel, tico e esttico, o enfermeiro busca o

sustentculo na internalidade da profisso, na criticidade do saber-fazer, nos

referenciais terico-filosficos da pesquisa cientfica e nas teorias de enfermagem

(CRIVARO; ALMEIDA; SOUZA, 2007; NBREGA; SILVA, 2009; WALDOW, 2015).

Portanto, o cuidado profissional de enfermagem corresponde essncia

da profisso e se realiza mediante aes de cuidado e orientaes para manter e

conservar a vida, ancorado em saberes estruturados e humansticos que permitem

manter o conforto do ser cuidado (HERNANDEZ, et al, 2011).

No que se refere ao cuidado clnico de enfermagem, este abrange uma

relao entre profissional de enfermagem e pessoas que necessitam de cuidado, e

se constitui em uma perspectiva de estabelecer novas relaes com os envolvidos

no processo de cuidar, na formao de espaos onde a subjetivao possa ser

construda a partir dos desejos destas pessoas, e do respeito s formas de significar

a sade e a doena, transcender o plano do consumo de tecnologias e

procedimentos. So, portanto, intervenes realizadas em todo o ciclo vital, seja na

preveno, tratamento ou reabilitao, com fundamentao em conhecimentos

cientficos, tericos e filosficos, alm das experincias prvias ancoradas em

preceitos ticos e habilidades tcnicas que busquem contribuir no restabelecimento

14

ou manuteno da sade (PONTE et al., 2012; SOUZA et al., 2012; SILVEIRA et al,

2013).

Neste estudo, o restabelecimento da sade foi pensado como meio de

atender a satisfao do conforto de pessoas com coronariopatias por enfermeiros da

prtica de cuidar. Kolcaba (2003) define conforto como uma experincia imediata e

holstica, que reforada por meio de satisfao das necessidades de alvio,

tranquilidade e transcendncia, presentes em quatro contextos da experincia

humana: fsico, psicoespiritual, sociocultural e ambiental.

Nesta perspectiva, as medidas de conforto so relevantes para o

restabelecimento da sade do paciente, pois por este meio que a equipe de

enfermagem promove interao, vnculo efetivo, confiana, esperana, consolo,

apoio, encorajamento e cuidado de qualidade (POTT et al., 2013).

Destaca-se, portanto, a importncia do conforto proporcionado por meio

do cuidado clnico de enfermagem como meta dos enfermeiros que prestam cuidado

em diversos cenrios e contextos de prtica clnica, dentre os quais em pessoas

com coronariopatias em Unidade Coronariana (UCO).

Estes setores hospitalares abrigam internaes de pessoas adoecidas do

corao, em especial, enfrentando as denominadas Sndromes Coronarianas

Agudas (SCA). Trata-se de importante causa de internao hospitalar com

mortalidade em torno de 5,53%, sendo o Infarto Agudo do Miocrdio (IAM) a terceira

causa de hospitalizao pelo Sistema nico de Sade (SUS). Neste contexto, a

Angina Instvel o diagnstico mais frequente (42%), com mortalidade de 3,06%;

seguida pelo IAM com supradesnivelamento do segmento ST no eletrocardiograma

(35%), com mortalidade de 8,10%; IAM sem supra ST (20%), com mortalidade de

6,80%; e diagnstico no comprovado 2,7%, com mortalidade 1,36% (PIEGAS et al,

2013).

Neste contexto, Lucchetti, Lucchetti e Avezum Junior (2011) relataram

que os pacientes cardacos, por apresentarem muitas vezes doenas crnicas de

desfechos fatais, podem ser beneficiados por uma histria espiritual e religiosa, e

isto pode trazer conforto.

Segundo Cunha e Zagonel (2008), para cuidar do ser humano nos

ambientes de terapia intensiva primordial uma reflexo dos profissionais de sade

no que se refere imprescindibilidade de continuidade da dissociao entre priorizar

15

o uso de tecnologias duras s aes humanas de cuidado dirigido ao ser humano, j

que imperativo o uso destas duas vertentes de cuidar nestes ambientes.

Assim, para cuidar e confortar pessoas nestas circunstncias, os

enfermeiros necessitam de um saber ancorado na fundamentao terica da

profisso, que regido tanto pelas cincias bsicas, que fornecem a base para o

cuidado, quanto pelo seu saber prprio, tendo como exemplo as Teorias de

Enfermagem.

Desta maneira, percebe-se, na Enfermagem, a importncia de

operacionalizar o cuidado, embasado em teorias que facilitem e permeiem a prtica

de cuidar que permita a satisfao da pessoa adoecida. Diante do exposto,

escolheu-se como fundamento para direcionar o presente estudo, a Teoria do

Conforto de Katharine Kolcaba (KOLCABA, 2003), considerando os fatores da teoria

que condicionam e possibilitam a apreciao investigativa sobre o fenmeno

conforto como meta do cuidado de enfermagem, fornecendo suporte coleta,

anlise e interpretao de informaes recolhidas em pesquisas, alm de direcionar

a prtica.

Considera-se ainda que para operacionalizao de estudo desta

natureza, o mtodo de pesquisa-cuidado, proposio de Neves e Zagonel (2006),

que integra teoria, pesquisa e prtica, possvel por facilitar a implementao de

uma teoria na prtica de cuidar, para isto essencial o dilogo entre enfermeiro

pesquisador e enfermeiros assistenciais como meio de conduzir a implementao de

uma teoria e um mtodo de pesquisa no cotidiano.

Vale enfatizar que a chave para o sucesso da profisso Enfermagem est

no fato de os enfermeiros ensinarem outros enfermeiros (DONNER; LEVONIAN;

SLUTSKY, 2005). Tornando-se cada vez mais necessrio que ocorram programas

voltados a educao continuada e de desenvolvimento de pessoal para aprimorar as

habilidades clnicas dos enfermeiros (BASTABLE, 2010).

Destaca-se que um dos desafios metodolgicos para a enfermagem na

pesquisa do cuidado est justamente em aprender e desenvolver propostas de

pesquisa como prtica de rotinas de modo a transformar e melhorar a qualidade do

cuidado nos servios de sade. Para isto necessrio o envolvimento e participao

ativa dos enfermeiros nos processos de investigao, e que isto lhes permita

identificar os problemas e solucion-los por meio da pesquisa (TRUISI, 2010).

16

O interesse em pesquisar cuidados clnicos de enfermagem para

promover conforto no adoecimento cardiovascular advm de fatores pessoais,

profissionais e acadmicos da pesquisadora. Os fatores pessoais nascem do

adoecimento por problemas cardacos do seu genitor, que em decorrncia disto

faleceu em dezembro de 2003, aps enfrentar vrias internaes hospitalares.

Desde ento, revelou-se o interesse em conhecer tanto acerca da fisiopatologia

como do processo de cuidar de pessoas com doenas cardiovasculares no contexto

de Unidade Coronariana, considerando as necessidades de conforto que a situao

desencadeava.

Outro fator de aproximao com a temtica adveio da experincia

profissional de seis anos no exerccio do cuidado clnico como enfermeira

assistencial em uma UCO, assim como ter cursado a especializao em

Enfermagem Cardiovascular na Universidade Estadual do Cear (UECE).

Associadas a estas vivncias se destacam as contribuies da insero

no Programa de Ps Graduao Cuidados Clnicos em Enfermagem e Sade

(PPCCLIS), da UECE, na linha de pesquisa: Fundamentos e Prticas do Cuidado

Clnico em Enfermagem e Sade e no Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educao,

Sade e Sociedade (GRUPEESS). Acrescenta-se aos fatores motivacionais para o

fortalecimento da temtica alguns dos estudos produzidos pela referida linha de

pesquisa, voltados para o conforto de mulheres em adoecimento cardiovascular

(PONTE; SILVA, 2010; SILVA, et al., 2011; PONTE et al., 2012; RABELO et al.,

2012; PONTE; SILVA, 2013; AQUINO et al., 2013; PONTE et al., 2014; PONTE;

SILVA, 2014a; PONTE; SILVA, 2014b; PONTE; SILVA, 2015).

Neste contexto, elaborou-se a dissertao na qual foram analisadas as

tecnologias do cuidado clnico de enfermagem para o conforto de mulheres com

IAM, ocasio em que foi possvel implementar cuidados de conforto e em

consequncia destes cuidados, as participantes da pesquisa apresentaram-se

satisfeitas com a relao interpessoal estabelecida no contexto de cuidado. O

estudo reforou a importncia do cuidado individualizado, integral e humanizado,

uma vez que este foi concebido de forma a considerar a individualidade das

mulheres envolvidas e a relao interpessoal entre cuidadora e pessoas cuidadas

(PONTE, 2011).

17

A investigao permitiu concluir que os cuidados clnicos dirigidos a

mulheres com doenas cardiovasculares ancorados em uma teoria de enfermagem,

a Teoria do Conforto de Katharine Kolcaba, assim como a estratgia de pesquisa

utilizada, a pesquisa-cuidado, foram capazes de revelar os fatores causadores de

des(conforto), favorecer sua percepo de conforto, possibilitando a integrao e

proximidade entre pesquisador e participantes, alm de proporcionar resultados

imediatos pela implementao do cuidado durante a coleta dos dados da pesquisa

(PONTE, 2011). Este conhecimento, por certo, aplicvel a variados contextos de

cuidado clnico de enfermagem dirigido a pessoas adoecidas do corao, bem como

de outros transtornos de sade.

Assim, faz-se relevante a preocupao com a oferta de cuidados clnicos

de enfermagem direcionados a promover o melhor conforto possvel s pessoas

com coronariopatias em unidade coronariana, pois elas ficam expostas execuo

de diversos procedimentos tcnicos, alm de permanecerem segregadas da famlia

e dos entes queridos. A interao com profissionais desconhecidos e tudo isso

pode induzir-lhes percepo de desconforto destes pacientes (PONTE et al, 2014).

Para proporcionar conforto, Kolcaba (2003) recomenda na Teoria do

Conforto, o seguimento de trs momentos, quais sejam: no primeiro momento, o

enfermeiro avalia o paciente, identifica as necessidades de conforto, implementa

intervenes e aprecia a satisfao de conforto. No segundo momento, as atividades

que promovem conforto so intensificadas e o paciente preparado a desenvolver

comportamentos que buscam seu bem estar. J no terceiro momento corresponde

integridade institucional, que ocorre quando instituio e equipe de cuidados so

preparadas para a tentativa de aperfeioar a qualidade dos servios com melhores

polticas e prticas de sade direcionadas a confortar sua clientela.

Assim considerando, a dissertao referida (PONTE, 2011), conseguiu

alcanar o primeiro e o segundo momentos propostos pela teoria. O terceiro

momento no era ento considerado como foco do estudo, pois no envolvia a

participao direta de profissionais da instituio. Na pesquisa de Doreen, Byirne e

Kolcaba (2006), que adotaram a Teoria do Conforto foi identificado que o enfermeiro

pode contribuir para melhorar o conforto trmico e diminuir a ansiedade de pacientes

em properatrio, contudo a terceira parte da teoria tambm no foi usada. Estes

autores recomendaram que outros estudos inclussem questes relativas

18

satisfao do paciente com o cuidado, reduo do nmero de complicaes e

readmisses, reduo do tempo de permanncia no centro cirrgico e ps

operatrio.

Com base no exposto, Kolcaba (2010a) apresenta como objetivo deste

terceiro momento o alcance da Integridade Institucional, que deve ser includos

satisfao do paciente, reduo de custos, melhoria do acesso, menor ndice de

morbidade, diminuio de internaes e reinternaes, melhores resultados

relacionados sade, eficincia dos servios, relao positiva custo-benefcio.

Nesta perspectiva, Kolcaba (2010b) solicita que outros enfermeiros

possam realizar pesquisas que mostrem a relao positiva entre conforto,

comportamentos de busca em sade e integridade institucional, sendo que a

satisfao do paciente com as medidas de conforto j uma medida de integridade

institucional avalivel e que pode ser relacionada a outros comportamentos de busca

em sade.

Deste modo, a possibilidade de atingir a totalidade da proposio da

Teoria do Conforto proposta por Katharine Kolcaba, assim como a viabilidade de

interao entre pesquisadora, enfermeiros e instituio hospitalar aventaram o

desejo de na oportunidade desenvolver uma tese de doutorado no contexto do

cuidado clnico de enfermagem dirigido s pessoas com adoecimento

cardiovascular, buscando abarcar todos os momentos da teoria.

Para isto, fez-se necessrio inicialmente envolver enfermeiros para o uso

da pesquisa e Teoria do Conforto na prtica. Posto que sua viabilizao, a partir da

tica da pesquisadora, na dissertao inviabilizou atingir a sua totalidade, uma vez

que estes profissionais no foram envolvidos. Assim, com a participao dos

enfermeiros, considerava-se que poderiam ser mediadores e incentivadores para o

alcance do conforto das pessoas com coronariopatias, por meio da pesquisa

fundamentada na Teoria do Conforto.

Com isto, aventou-se nesta investigao fortalecer o cuidado clnico de

enfermagem, por meio da insero de uma teoria e do incentivo pesquisa na

prtica assistencial, como possibilidade do alcance da integridade institucional em

torno do fenmeno conforto de modo a melhorar as polticas e prticas institucionais.

Deste modo, confirma-se a necessidade de pesquisas que possibilitem

maior proximidade entre enfermeiros pesquisadores e os que esto na prtica do

19

cuidar com vistas a permitir implementao de prticas baseadas em referenciais

tericos prprios da profisso.

Frente ao exposto, este estudo tem como questo norteadora: Como

alcanar a integridade institucional pela aplicabilidade da Teoria do Conforto,

mediada pela pesquisa-cuidado, s pessoas com coronariopatias?

Este estudo relevante por permitir trocas de saberes entre enfermeiro

pesquisador e enfermeiros da prtica de cuidar, com oportunidade de adotar a

Teoria do Conforto, mediante o mtodo de pesquisa-cuidado, com vistas ao alcance

do conforto possvel de pessoas com coronariopatias em UCO.

20

2 OBJETIVOS

-Caracterizar as pessoas com coronariopatias e suas demandas de conforto pela

aplicao da Teoria do Conforto, mediada pela pesquisa-cuidado.

-Identificar necessidades de cuidados em sade, medidas de conforto e

comportamentos de busca em sade de pessoas com coronariopatias.

-Descrever melhores prticas e melhores polticas na prtica clnica de enfermeiros

em unidade coronariana, com vistas ao alcance da integridade institucional.

21

3 REVISO DE LITERATURA

Com o intuito de propiciar aproximao com o objeto de estudo, foi

primordial a apreciao de textos acerca dos conceitos de cuidado e conforto, bem

como conhecer a prtica de cuidar na unidade coronariana. Realizaram-se buscas

de pesquisas que tivessem relao e impacto para esta investigao.

Neste sentido, esta reviso de literatura foi organizada em trs categorias:

cuidado clnico de enfermagem, cuja apresentao aborda definies de cuidado e

clnica; conforto como resultado do cuidado clnico de enfermagem, o qual se

discorre acerca da interpretao do conforto e sua relao com a prtica de

enfermagem; e cuidados de enfermagem voltados ao conforto na Unidade

Coronariana, descrevendo a importncia da prtica de cuidar de pessoas com

doenas cardiovasculares neste contexto de cuidados crticos.

3.1 CUIDADO CLNICO DE ENFERMAGEM

O enfermeiro para exercer de fato sua profisso necessita ter

conhecimentos cientficos, tcnicos e habilidades psicomotoras, mas antes de tudo

precisa ter conscincia da necessidade de desempenhar cuidado humano e tico.

Nesta perspectiva, torna-se essencial discorrer acerca das definies de cuidado

para a prtica de enfermagem, j que desde o incio da profisso este conceito vem

sendo discutido e referido como inerente prxis do enfermeiro.

Waldow (2015) aborda que o cuidado como uma ao interativa que

ocorre entre ser que cuida e ser cuidado um fenmeno existencial, relacional e

contextual. Existencial porque faz parte do ser e o diferencia como um ser humano

dotado de racionalidade, cognio, intuio, espiritualidade, sensibilidade e

sentimentos. Relacional porque ocorre, e s ocorre, em relao ao outro, na

coexistncia com outros seres, na convivialidade. E contextual porque assume

variaes, intensidades e diferenas nas suas maneiras e expresses de cuidar

conforme o contexto em que se apresenta a cada circunstncia.

Cuidar antes de tudo um ato de vida, por representar uma variedade

infinita de atividades dirigidas a manter e conservar a vida, um ato de

reciprocidade que se tem que dar a qualquer pessoa, temporariamente ou

22

definitivamente, que requer ajuda para assumir suas necessidades vitais

(HERNANDEZ et al., 2011).

tambm uma forma de conhecer e perceber o outro pois envolve

intuio, sensibilidade, desejo de paz e de amor, energtico, dialtico, tem

movimento e envolvimento, afeto e considerao, agir para promover o bem estar

do outro; embora o cuidado seja atribudo s diversas reas, na enfermagem este

genuno e peculiar, sendo a razo existencial da profisso; e ainda, os enfermeiros

so os profissionais que lideram pesquisas e estudos aprofundados sobre o cuidado

(WALDOW, 2006).

Em uma perspectiva filosfica, Heidegger (2001) considera o cuidado

como um modo de ser no mundo, o ser-no-mundo estar em relao, um vir-a-

ser, em se completando, em se fazendo, indicando potencialidades e

possibilidades, solicitude, preocupao com e estar com, a essncia do ser. o

que confere a condio de humanidade ao ser humano, assim sendo, o homem por

si s j um ser de cuidado, pois nasce com o potencial de cuidar; entretanto nem

todas as pessoas cuidam em seu sentido tico e esttico, ou seja, demonstrando

sensibilidade e responsabilidade, de modo que prticas e comportamentos de no

cuidado esto cada vez mais presentes na contemporaneidade (WALDOW, 2015).

O cuidado compreende o fazer pelo outro, escuta atenta e insero da

famlia como extenso das relaes sociais do paciente, alm de atender as

necessidades dos pacientes e os cuidados preconizados em cada processo de

adoecimento (PINHO; SANTOS, 2008).

Cunha e Zagonel (2008) destacam o cuidado como movimento de

complementaridade de sentimentos, aes e reaes, que se d de forma humana,

calorosa e atenciosa, com envolvimento, atitude e emoo de um ser humano para

com o outro, ancorado em um processo interativo de modo a respeitar a dimenso

existencial do ser e valorizando a experincia de vida nos momentos de cuidar.

Com base nisto, nem todos os profissionais de enfermagem cuidam no

seu real sentido, de modo que aes teraputicas, intervenes, procedimentos,

tcnicas, constituem algumas aes que so consideradas cuidados de

enfermagem, no entanto, o que distingue o cuidar no o que se faz, mas como se

est sendo feito (WALDOW, 2015).

23

nesta perspectiva que se torna necessrio inserir a clnica na prtica de

cuidar do enfermeiro, com vistas a se relacionar com o outro que necessita cuidado

de modo mais cauteloso, gentil e valorizando a subjetividade e individualidade do

sujeito.

Na proposta terico-metodolgica do PPCCLIS da UECE, a clnica

concebida como prtica inerente ao cuidado, que necessita ser ampliada, bem como

o modo de olhar, escutar e produzir afetos entre profissional e sujeitos que recebem

o cuidado, ressignificando tambm os seus propsitos e modos de produzir a

ateno sade no contexto assistencial do SUS, permitindo deste modo novos

arranjos para o cuidado em sade e na enfermagem (SILVEIRA et al, 2013).

Para Vieira, Silveira e Franco (2011), a clnica no mbito da sade e da

enfermagem carrega em si uma polissemia que abarca desde uma perspectiva de

interpretao de sinais e sintomas da doena no corpo at um plano relacional que

tem nos sujeitos e em suas existncias o inicio para sua abordagem.

Neste mbito, o cuidado clnico de enfermagem no se limita apenas ao

uso do raciocnio clnico, diagnstico, prescrio e avaliao do plano de cuidados

do enfermeiro, envolve tambm as relaes do profissional com a pessoa cuidada,

os modos que o sujeito encontra significado e apropriao de sua histria de vida,

seus signos e sintomas (SILVEIRA et al, 2013).

Silva e Monteiro (2011) defendem a clnica ampliada ou clnica do sujeito

que considera o objeto do cuidado como a pessoa e no a doena; de modo que a

doena pode estar na vida do sujeito, mas no o desloca totalmente, pois o ser

cuidado biolgico, social, subjetivo e histrico, cujas necessidades pessoais

alteram no tempo j que seus valores e desejos so re(construdos) socialmente; o

cuidado clnico de enfermagem transcende a esfera conceitual da prtica

profissional.

Vidal et al. (2012) apostam e asseveram o cuidado clnico de

Enfermagem de modo crtico-dialgico, onde pelo dilogo entre profissional e

pessoa cuidada possvel haver reflexo, re(criao) de um conhecimento coletivo

articulado com saberes mediatizados pelas experincias do mundo; nesta tica,

possvel compor uma clnica na enfermagem voltada emancipao do sujeito de

modo a valorizar as estratgias encontradas pelo paciente de significar sua histria

de vida, seus signos e seus sintomas.

24

De acordo com Silva et al. (2013), o olhar e a perspectiva fenomenolgica

podem colaborar para a ressignificao do cuidado clnico de enfermagem na prtica

cotidiana, permitindo ao enfermeiro buscar novos modos de cuidar que suplanta as

questes biolgicas.

Desta maneira, a estrutura conceitual, acadmica e curricular do

PPCCLIS da UECE est vinculada necessidade de construo de metodologias de

cuidado que suplantem a assistncia fragmentada e a excluso do sujeito, com

vistas a inserir a pessoa no contexto de produo do cuidado com seus saberes,

olhares e subjetividade (SILVEIRA et al., 2013).

Para tanto, Ponte et al. (2014) analisaram positivamente as contribuies

do cuidado clnico de enfermagem com vistas ao conforto de mulheres com IAM,

pela Teoria do Conforto por meio da pesquisa-cuidado. Deste modo, ao oferecer o

cuidado essencial que durante a relao ocorra vnculo, dilogo e confiana para

identificar e satisfazer as necessidades individuais de conforto.

3.2 CONFORTO COMO RESULTADO DO CUIDADO CLNICO DE

ENFERMAGEM

Para o desempenho de cuidados clnicos de enfermagem eficazes e

eficientes, fundamental que as necessidades de conforto da pessoa cuidada

tenham sido satisfeitas, e o enfermeiro precisa identificar e atender as demandas,

visto que o conforto individual e subjetivo.

Realizou-se ento uma reviso integrativa acerca da produo cientfica

de enfermagem brasileira de 2004 a 2013 acerca do fenmeno conforto como

resultado do cuidado de enfermagem e evidenciou-se 191 unidades de registros

como sendo as medidas de conforto, sendo 47% no contexto fsico, 28% no contexto

sociocultural, 17% no contexto psicoespiritual e 8% no contexto ambiental (PONTE;

SILVA, 2015).

Neste contexto, o conforto apontado por Kolcaba (2003) como resultado

do cuidado de enfermagem, e vem sendo sua meta de cuidado desde o incio da

histria da profisso.

Mussi (2005) apresentou a evoluo do conceito conforto, iniciando nos

primrdios da profisso com realizao de simples cuidados relacionados

25

alimentao, higiene, lavagem de roupas e feridas para obter o conforto da alma do

doente e a prpria salvao.

Coadunando com o exposto, Almeida e Rocha (1986) faziam referncias

ao conforto desde o incio do cristianismo, onde o cuidado aos doentes era realizado

por diconos e diaconisas, por meio de banho, curativos, fornecendo alimentos e

proporcionando conforto fsico e espiritual aos pacientes. Isto com vistas a obter a

salvao de suas almas, um modo de obter o perdo para os seus pecados. Ainda

neste contexto, os autores referem que na dcada de 1980, o conforto e a

segurana do paciente eram concebidos como a finalidade mais importante dos

procedimentos de enfermagem e que o cuidado de enfermagem at 1860 tinha

como objetivo promover o conforto da alma dos doentes.

Existem dois enfoques definidos do conforto na prtica da enfermagem: o

primeiro e mais antigo aborda o cuidado de enfermagem sob influncia religiosa,

agindo independentemente das prticas mdicas e sendo as nicas administradoras

e provedoras de conforto; o segundo enfoque ocorreu quando os cuidados de

conforto passaram a ser gradualmente subordinados racionalidade mdico-

cientfica e s exigncias polticas e econmicas institucionais (MUSSI, 2005).

Tutton e Seers (2003) exploraram o conceito de conforto na literatura e

apontaram que sua definio pode ser encontrada na literatura de enfermagem,

dicionrios e outras reas. O termo conforto origina-se do latim confortare,

significando fortificar, certificar, conceder, consolar, aliviar, assistir, ajudar e auxiliar.

Tem significados diferentes de pessoa para pessoa, conforme as realidades

vivenciadas, sendo um estado de equilbrio pessoal e ambiental (ROSA et al., 2008).

O conforto seja como processo, o ato de confortar, ou como um resultado,

as intervenes, um conceito nobre e subjacente s intervenes dos profissionais

de sade que atuam no processo de sade-doena e nas respostas humanas a este

meio (APOSTOLO et al., 2012).

Morse, Bottorf, Hutchinson (1994) concebem o conforto como estado de

concretizao que est alm da conscincia, sendo o melhor alcance quando as

situaes de desconforto so aliviadas, est alm da capacidade fsica ou mental,

pois fcil falar de dores, problemas e fraquezas, difcil encontrar uma linguagem

que descreva os estados de conforto.

26

Destaca-se que para o enfermeiro conhecer a multidimensionalidade do

conforto, preciso entender os referenciais filosficos do cuidado e conforto e do

cuidado de si como meio de perceber as necessidades do outro e de si mesmo.

Ressalta-se que viver com conforto no significa estar confortvel em todos os

aspectos da vida ao mesmo tempo, mas sim a capacidade de manter ou restaurar o

bem estar subjetivo, dentro de suas possibilidades, no equilbrio entre suas

limitaes e potencialidades (DURANTE; TONINI; ARMINI, 2014).

Assim, mesmo que o completo estado de conforto seja muitas vezes uma

meta inalcanvel para muitos pacientes, isso no nega a necessidade dos

enfermeiros reconhecerem as experincias de desconfortos vivenciados pelos

pacientes e ajud-los na busca de qualquer conforto possvel, neste sentido, os

enfermeiros so desafiados a encontrar estratgias inovadoras que contribuam

neste processo (MORSE; BOTTORF; HUTCHINSON, 1994).

Para Durante, Tonini e Armini (2014) apesar do cuidado no ser exclusivo

de uma nica profisso, o enfermeiro quem tem o privilgio de mais cuidar do

outro, incorporando este ato como objeto essencial de sua prtica, desta maneira, a

equipe de enfermagem tem como assistir e apoiar o paciente em suas necessidades

fsicas, emocionais, sociais e espirituais promovendo assim o melhor conforto

possvel.

Observa-se na prtica que o conforto percebido como algo esperado

pelos usurios dentro do processo de cuidar e, ao mesmo tempo, uma

preocupao e meta do enfermeiro (MUSSI; FREITAS; GIBAUT, 2014).

Com base no exposto, a enfermagem precisa conhecer os primeiros

sinais de desconforto apresentado pelas pessoas cuidadas, assim como conhecer

as intervenes que podem ser usadas para alivi-las ou que impeam o aumento

da intensidade do desconforto. Para promover conforto necessrio uma

abordagem sistemtica ao problema e pessoa, atentando-se para o registro dos

cuidados implementados para que a equipe de sade tenha conhecimento e possa

propagar tais cuidados de conforto, pois as necessidades de conforto so individuais

e por isto a enfermagem deve encontrar a medida mais eficaz para cada ser

cuidado. Os resultados esperados por meio das medidas de conforto que os

pacientes sintam-se confortveis em todos os momentos da internao, isto pode

ser evidenciado pela expresso facial, no inquietao, outros sinais externos

27

indicativos de desconforto, verbalizao, diminuio na frequncia de solicitao de

analgsicos ou outras demandas de cuidados (DUGAS, 2008).

Para enfermeiros diaristas e plantonistas de um hospital federal, o

conforto refere-se quase que exclusivamente ao conforto fsico obtido por meio da

realizao dos procedimentos tcnicos, e no se referem ao conforto

psicossocioespiritual. Para eles, o conforto parece ter uma relao direta com a

ausncia de condies fsicas que elas julgam indesejveis para os seus clientes,

como percepo da dor e dispneia (DURANTE; TONINI; ARMINI, 2014).

Pott et al. (2013) apontam ainda que a promoo de medidas de conforto

inerente profisso do enfermeiro e imprescindvel ao cuidado humanizado,

contudo, muitas vezes minimizada diante das tecnologias presentes em ambientes

de cuidados crticos.

Conforme Lamino, Turrini e Kolcaba (2014), os profissionais de sade

devem preocupar-se com o melhor conforto de cuidadores de pessoas com cncer

transmitindo confiana, esperana, disponibilidade e amabilidade; destaca-se o uso

do General Comfort Questionnaire (GCQ) como facilitador na identificao de fatores

intervenientes para o conforto dos paciente e para identificar necessidades que

permitam intervenes do profissional de sade, de modo que os aspectos positivos

devem ser estimulados e valorizados com vistas a melhorar o bem estar.

A identificao de estratgias de cuidado para contemplar o conforto no

contexto ambiental uma tarefa desafiadora diante da presena de outras pessoas

hospitalizadas, assim, devem-se satisfazer as necessidades de um, sem, contudo,

interferir no conforto do outro (PONTE et al., 2014).

O conforto compreendido a partir das interaes estabelecidas pelos

usurios dos servios de sade, nesta perspectiva, as prticas de cuidar de

enfermagem so objeto de interao destes usurios e pode promover conforto ou

desconforto (MUSSI; FREITAS; GIBAUT, 2014).

O significado de conforto, na perspectiva de pacientes com IAM, pode ser

descrito de formas variadas, no dependendo exclusivamente da assistncia de

enfermagem, e est relacionado s condies materiais ou financeiras, o desfrutar

das interaes pessoais, as sensaes de bem estar psicolgico, fsico e espiritual,

o funcionar normalmente, isto , ter esperana de recuperar-se, no ter doenas e

28

poder desempenhar as atividades habituais (MUSSI; FRIEDLANDER; ARRUDA,

1996).

Diante da execuo da pesquisa-cuidado em UCO, observou-se o

ambiente e verificaram-se alguns fatores capazes de ocasionar desconforto, dentre

os quais se destacam: excesso de luminosidade; alarme de bombas infusoras,

monitores e ventilador mecnico; e odores desagradveis (PONTE et al., 2014).

Um aspecto relevante que interfere no conforto de pessoas internadas em

unidade coronariana o burburinho diuturno, provocado pela conversao entre os

profissionais de sade. Cabe recordar que neste ambiente o silncio precisa ser

mantido como meio de proporcionar tranquilidade para os pacientes. E como os

pacientes ficam atentos ao que esto ouvindo, recomenda-se a escolha cuidadosa

dos assuntos discutidos, evitando conversas ntimas e relativas ao quadro clnico da

clientela atendida, como meio inclusive de preservao dos aspectos ticos

envolvidos no processo de cuidar (PONTE et al., 2014).

3.3 CUIDADOS DE ENFERMAGEM VOLTADOS AO CONFORTO NA UNIDADE

CORONARIANA

Dentre as diversas situaes de cuidar desempenhado pelo enfermeiro

citam-se os pacientes com doenas cardiovasculares em situaes mais crticas em

Unidade Coronariana. Por ser um local limitado a atender pessoas em condies

especficas de doenas do corao, requer preparo e ateno especial dos

profissionais de sade ali presentes.

Vale-se destacar que o adoecimento cardiovascular a maior causa de

morte no Brasil e no mundo (BHAKTA; MOOKADAM; WILANSKY, 2011;

JOHANNES; BAIREY, 2011). Dougherty (2011) aponta que a mortalidade por

Doenas Cardiovasculares (DCV) em mulheres maior que em homens e que as

mulheres possuem um atraso de dez anos para morbidade e mortalidade

cardiovascular em relao aos homens, atraso este sugestivo da idade da

menopausa e da relao protetora do estrognio. Os diagnsticos mdicos mais

presentes em pacientes em UCO foram infarto do miocrdio 53,5%, angina 25,6%,

insuficincia cardaca congestiva 7,0%, edema agudo de pulmo 4,7% e outros

9,3% (MAROSTI; DANTAS, 2006).

29

Pela alta prevalncia no meio social torna-se cada vez mais importante a

sapincia dos profissionais de sade acerca da fisiopatologia e modos de cuidar nos

ambientes crticos de pessoas com doenas cardiovasculares.

A Unidade Coronariana um ambiente de terapia intensiva onde os

cuidados so direcionados a pessoas com coronariopatias, requer do enfermeiro

multiplicidade de conhecimentos e habilidades na rea e versatilidade na sua

atuao; o cuidado de enfermagem neste ambiente requer viglia e ateno

permanentes s respostas orgnicas do paciente, por isto a necessidade das

tecnologias de monitorizao (AGUIAR et al., 2010).

Desta maneira, a hospitalizao torna-se necessria para o

reestabelecimento da sade, devido ao suporte tcnico e ambiente controlado e

seguro para as condies de sade-doena; no entanto, tambm responsvel pela

separao da pessoa adoecida de seu contexto habitual, o que gera sofrimento e

desconforto (APOSTOLO et al., 2012).

Neste sentido, como no IAM, a internao hospitalar em UCO ocorre de

forma sbita e inesperada, comum desencadear no paciente e famlia

insegurana, sofrimento e medo da morte, da invalidez, do desconhecido, da solido

como, tambm, depresso e angstia; isto ocorre devido mudana na rotina do

paciente, que na maioria das vezes se encontrava ativo e inserido socialmente

(SCHNEIDER et al., 2008)

Assim, o enfermeiro precisa fornecer subsdios para satisfazer as

demandas apresentadas pelos pacientes sob seus cuidados neste ambiente,

buscando mant-los acolhidos e o mais prximo possvel de suas famlias.

J que o simples fato de adoecer torna o paciente mais vulnervel, pois

seu prognstico desconhecido traz ansiedade e expectativas, internar-se em uma

UTI, ento, gera mais desconfortos, pois o fator cultural da proximidade com a morte

ainda bem presente, e ficar longe da famlia, em um momento em que mais se

precisa do apoio desta ou de que poderia contar com ela, deve ser to difcil quanto

enfrentar sua prpria doena; pacientes hospitalizados neste local revelaram

sentimentos de isolamento acompanhados de solido e tristeza, por estar longe da

famlia e de casa (ALMEIDA, 2012).

importante, tanto para o paciente e famlia como para a equipe de

sade, a compreenso de que a internao na UTI uma etapa fundamental para

30

superao da doena, assim como importante aliviar e proporcionar conforto,

independentemente do prognstico. A equipe deve estar orientada para o respeito

dignidade e autodeterminao de cada pessoa internada, por meio da humanizao

do seu trabalho, buscando amenizar os momentos difceis vivenciados por paciente

e pela famlia. Desta forma, a UTI ser vista, sem dvida, como um ambiente onde o

avano teraputico beneficiar a sade de muitos (ALMEIDA, 2012).

Nesta perspectiva, Ponte et al. (2014) referem que indispensvel a

existncia de cuidados clnicos de enfermagem para promover o conforto possvel

de pessoas com coronariopatias em unidade coronariana, pois elas ficam expostas a

realizao de procedimentos tcnicos, alm de ficarem segregadas do contexto

familiar e em interao com pessoas desconhecidas.

A assistncia de enfermagem em UCO necessita de planejamento dirio

e estabelecer reais prioridades com a finalidade de promover cuidado individualizado

e de qualidade; outro aspecto relevante o bom relacionamento e comunicao

eficiente entre a equipe de cuidado (AGUIAR et al., 2010).

Para isto indispensvel na unidade coronariana que haja clima

harmonioso no exerccio das funes. Com respeito e confiana entre os

profissionais da equipe, haver maior prazer em cuidar culminando em melhora na

autoestima; do contrrio se ocorrer desmotivao e insatisfao poder

desencadear-se consequncias negativas para as relaes de trabalho e no cuidado

ao paciente (AGUIAR et al., 2010).

Em UCO, os pacientes permanecem alertas ao ambiente em sua volta,

observam o movimento dos profissionais de sade, a situao de outros pacientes, e

muitas vezes compreendem o que est ocorrendo naquela ocasio (PONTE et al,

2014).

Tambm importante conhecer os diagnsticos de enfermagem

evidenciados com maior frequncia em pessoas hospitalizadas por doenas

cardiovasculares: ansiedade 76,7%, dor aguda 70,7%, dbito cardaco diminudo

56,7%, percepo sensorial perturbada (visual) 56,3%, insnia 46,7%, disfuno

sexual e intolerncia atividade 36,7% e perfuso tissular ineficaz 30,0%. Quanto s

caractersticas definidoras presentes nos pacientes com DCV para que fossem

estabelecidos estes diagnsticos citam-se: agitao, estado ansioso, insnia,

preocupaes expressas em razo de mudanas e eventos da vida, dispneia,

31

distenso de veia jugular e edema, fadiga, mudana na acuidade visual, distores

sensoriais, alteraes eletrocardiogrficas refletindo arritmias, desconforto aos

esforos, verbalizao de disfuno sexual, limitaes reais impostas pela doena,

dficit percebido de desejo sexual e nictria (PEREIRA et al., 2011).

A dor considerada a maior causa de desconforto nos pacientes em

UCO. Deste modo, torna-se essencial a realizao de medidas de conforto voltadas

para este sintoma. Dentre as principais medidas esto: a administrao de

analgsicos conforme a prescrio, cuidado e ateno a fatores que podem

provocar maior dor, como desconforto do leito, acesso venoso precrio, tcnicas de

relaxamento, melhora do sistema de apoio por meio da permanncia ao lado da

pessoa, conversar e orientar o paciente quanto ao processo de adoecimento que

est vivenciando (MAROSTI; DANTAS, 2006; LINCH et al., 2008; PONTE, 2011;).

Ponte et al. (2012) abordaram os cuidados clnicos de enfermagem que

foram implementados em mulheres com adoecimento cardiovascular para promover

conforto no contexto psicoespiritual, quais sejam: fortalecer a espiritualidade,

esclarecer acerca do adoecimento e da hospitalizao, contribuir para o

enfrentamento da nova condio de sade e ajudar em situaes de confuso

mental e desorientao.

Neste mbito, Linch et al. (2008) identificaram os fatores causadores de

estresse e, consequentemente, de desconforto em pacientes submetidos a cirurgia

de revascularizao do miocrdio e angioplastia coronariana percutnea. Dentre os

quarenta estressores, os cinco mais presentes foram ter dor, ouvir sons e rudos

desconhecidos, no conseguir dormir, escutar o barulho, alarmes dos equipamentos

e no ter explicaes sobre o tratamento.

Coadunando com o exposto, Marosti e Dantas (2006) identificaram os

fatores estressantes de pessoas em unidade coronariana, e os resultados

mostraram que os fatores mais estressantes foram a dor, dificuldade para dormir,

saudades da famlia, pouco tempo da visita da famlia e amigos, e no conseguir

mexer as mos e braos devido presena de cateteres; outros itens classificados

como menos estressantes foram: ser examinado por mdicos e enfermeiros com

frequncia, ter a equipe de enfermagem realizando tarefas ao redor do leito e

escutar o telefone tocar.

32

Em um estudo realizado com pessoas aps serem submetidas a

cateterismo cardaco, Russo e Azzolin (2010) descreveram como desconforto

apresentado pelos pacientes durante o repouso no leito: a dor cervical, dificuldade

para urinar, cefaleia, dor lombar, dificuldade para alimentar-se, nuseas, vmitos e

parestesia nos membros inferiores; alm destes, o hematoma no local da puno

foram identificados pelas pesquisadoras.

Cuidados de enfermagem em terapia intensiva, como aes de higiene

oral e aspirao orotraqueal, no estudo de Pott et al. (2013), foram desenvolvidas

sem aplicao de medidas de conforto em 60% das situaes. Deste modo, durante

a realizao destas tcnicas no foram consideradas as aes que visam o conforto

dos pacientes, precaues como o tempo de aspirao, execuo de tcnica de

modo a evitar traumas nas vias areas e proteo do paciente contra secrees.

Com base no exposto, primordial a insero da pesquisa e teoria de

enfermagem na prtica assistencial como subsdio para o processo de cuidar do

enfermeiro s pessoas adoecidas do corao em unidades de cuidados crticos.

Aliado ao exposto relevante a produo de pesquisas que envolvam a

crescente significncia do cuidado clnico de enfermagem de modo a buscar

inovaes que fortaleam a profisso como meio para seu reconhecimento como

cincia humana direcionada ao bem estar dos seres cuidados (PONTE; SILVA,

2014a).

A aplicao de uma teoria de enfermagem desperta o pesquisador para a

importncia da utilizao de referenciais tericos prprios da profisso, pois estes,

so nascidos e desenvolvidos no mbito desta prtica e direcionados para a

melhoria dela. Ademais, ao utilizar o corpus prprio de saberes, fortalecem-se a si

prprios como promotores de cuidado de qualidade, e profisso, como uma prtica

baseada em evidncias cientficas e voltada para o seu aperfeioamento contnuo

(SILVA, 2013).

Com base no exposto, foi essencial a compreenso das definies dos

conceitos de cuidado, clnica e conforto no contexto da UCO, bem como para

vislumbrar a importncia da pesquisa para a prtica de cuidar do enfermeiro e

identificar as publicaes nesta linha de investigao.

33

4 REFERENCIAL TERICO: Teoria do Conforto de Kolcaba

A teorista Katharine Kolcaba nasceu em 1944 em Cleveland, Ohio-

Estados Unidos, graduada em Enfermagem (1965) pela St. Lukes Hospital School

of Nursing, em Cleveland. Trabalhou em tempo parcial como enfermeira especialista

em cuidados mdicos-cirrgicos, considerando o cuidado prolongado e domiciliar

(KOLCABA, 2010b).

Ela realizou especializao em gerontologia e assumiu o cargo de

enfermeira responsvel por uma unidade de tratamento de idosos com demncia.

Nesta referida unidade, foram iniciados os estudos sobre o conforto. Na ocasio,

concebia conforto como um estado desejado para aqueles pacientes ao realizarem

atividades especiais. Obteve Ph.D em Enfermagem pela Frances Paine Bolton

School of Nursing, na Case Western Reserve University, em 1997. membro do

Conselho de Elderlife, uma comunidade e rede de apoio para idosos do American

Nurses Association (ANA), Honor Society of Nursing e Sigma Theta Tau (KOLCABA,

2010b).

Ela vem elaborando estudos sobre conforto em diferentes contextos do

cuidado de enfermagem, quais sejam, mulheres com cncer de mama (KOLCABA;

FOX, 1999), pacientes idosos (KOLCABA; PANNO; HOLDER, 2000); peditricos

(KOLCABA; DIMARCO, 2005); pessoas no perioperatrio (KOLCABA; WILSON,

2004; KOLCABA; WAGNER; BYRNE, 2006); em psiquiatria (KOLCABA;

APSTOLO, 2009), pacientes com cncer (LAMINO; TURRINI; KOLCABA, 2014),

dentre outros.

A elaborao da Teoria do Conforto, considerada de fcil

operacionalizao, ocorreu a partir do desenvolvimento de sua dissertao e tese de

ps-graduao stricto sensu, quando analisou o conceito de conforto na pesquisa,

teoria e prtica.

4.1 CONCEITOS E SUAS DEFINIES

A palavra conceito deriva do latim concepturn, que significa uma ideia

abstrata e geral sob o qual se unem diversos elementos, assim, a compreenso de

um conceito um conjunto de caracteres que permitem sua definio (JAPIASSU;

34

MARCONDES, 2006). Os conceitos so termos que so definidos e se referem a

fenmenos ocorridos na natureza ou no pensamento, podem ser uma ou duas

palavras, ou uma frase (MCEWEN; WILLS, 2009).

A definio de conceito no apenas um produto abstrato do

entendimento, e sim, ponto fundamental do ato de pensar, esprito vivo da

realidade. O estudo de conceitos possui interesses simbolizados e encarnados na

filosofia, pois comportar-se filosoficamente , essencialmente, questionar conceitos,

sentidos e pressupostos (RUSS, 2010).

Os conceitos de uma teoria carregam significados identificveis que so

transmitidos em definies. Estas definies variam em preciso e perfeio, mas o

significado conceitual deve ser identificvel em uma teoria. O significado para os

conceitos criados pela teorista o que fornece seu carter particular (CHIN;

KRAMER, 1995).

Malinowski e Stamler (2002) fizeram uma busca na literatura acerca do

conceito de conforto que revelou no existir um consenso quanto definio deste

conceito, contudo abordado como uma necessidade humana bsica e, tendo em

vista o foco atual de cuidados na promoo da sade, e considerando a conexo

entre o conforto e bem estar, tambm o conforto deve ser considerado como um

elemento indispensvel do cuidado humano holstico, sendo um conceito de valor

relevante para a enfermagem e para as pessoas que esto sob seus cuidados.

Existem dezoito conceitos apresentados na teoria, estes vo desde a

definio de conforto, aos pressupostos e proposies: conforto, alvio,

tranquilidade, transcendncia, contextos fsico, psicoespiritual, sociocultural,

ambiental, medidas de conforto, necessidades de cuidados de sade,

comportamentos de busca em sade, integridade institucional, variveis

intervenientes, comportamentos internos, comportamentos externos, morte pacfica,

melhores prticas e melhores polticas (PONTE; SILVA, 2013).

O maior conceito usado na teoria o de conforto, definido como uma

experincia imediata sendo fortalecida por meio da satisfao das necessidades de

alvio, tranquilidade e transcendncia nos quatro contextos da experincia humana

fsico, psicoespiritual, sociocultural e ambiental (KOLCABA, 2003).

Para elaborao desta definio, Kolcaba (2003) seguiu as seguintes

etapas: seleo do conceito; objetivos e propsitos de anlise; identificao de todos

35

os usos do conceito; identificao dos atributos definidores; desenvolvimento de

casos (caso modelo, caso incerto, caso relacionado, caso inventado, caso contrrio,

caso ilegtimo e anlise dos casos modelos); identificao dos antecedentes e

consequentes do conceito; e especificao do referencial emprico.

Na definio de conforto na referida teoria, identificou-se que h um

conceito maior que conforto, com sete subconceitos organizados, quais sejam:

alvio, tranquilidade, transcendncia, contexto fsico, contexto psicoespiritual,

contexto sociocultural e contexto ambiental. Estes tambm so definidos pela

teorista conforme segue.

O alvio representa a sensao de ter uma necessidade de conforto

satisfeita; tranquilidade caracteriza-se por um estado de calma ou de

contentamento; e transcendncia uma condio na qual a pessoa consegue

suplantar um problema ou dor (KOLCABA, 2001).

Os quatro contextos de realizao do conforto so tambm definidos na

teoria: o fsico est relacionado a sensaes corporais e mecanismos

homeostticos, ou seja, do equilbrio do corpo; psicoespiritual refere-se

conscincia interna de si mesmo, o que inclui autoestima, autoconceito, sexualidade,

significado na vida de algum de uma ordem superior de existncia e sua relao

com ela. J sociocultural envolve as relaes interpessoais, familiares e sociais,

alm de tradies familiares, rituais e prticas religiosas; e o ambiental pertence

base externa da experincia humana, incluindo temperatura, iluminao, rudos,

odores, cor, mobilirio e paisagem (KOLCABA, 2001).

Nos postulados da teoria apresentam-se outros dez conceitos menores

quais sejam: medidas de conforto, necessidades de cuidados de sade,

comportamentos de busca em sade, integridade institucional, variveis

intervenientes, comportamentos internos, comportamentos externos, morte pacfica,

melhores prticas e melhores polticas.

As necessidades de cuidados de sade so necessidades em qualquer

contexto de conforto que surgem a partir de situaes de cuidados de sade

estressantes e que no so satisfeitas pelo sistema de suporte natural (KOLCABA,

2010a).

Para Galn (2010), estas necessidades de cuidados em sade incluem

necessidades fsicas, psicoespirituais, sociais, ambientais, fisiopatolgicos, de apoio,

36

educao, assessoramento e interveno financeira que podem ser observadas por

meio da comunicao verbal e no verbal.

De acordo com Kolcaba (2010a), medida de conforto um conceito de

Watson e, na teoria, so intervenes de enfermagem planejadas e implementadas

com vistas a satisfazer as necessidades de cuidados em sade. Tem o objetivo de

melhorar o conforto imediato do paciente como meio de facilitar comportamentos de

busca em sade.

As variveis intervenientes so fatores que cada paciente traz para a

situao em sade e que tm impacto sobre o sucesso das intervenes. Estes

fatores no podem ser alterados pelos enfermeiros. So exemplos destas variveis

as experincias passadas, idade, postura, estado emocional, sistemas de apoio,

prognsticos, finanas e a totalidade dos elementos da experincia do paciente

(DOWD, 2004; KOLCABA, 2010b).

Os comportamentos de busca em sade so comportamentos em que os

pacientes desenvolvem consciente ou inconscientemente com vistas ao bem estar,

criando um modelo de atividades que promovem conforto. Podem ser internos,

externos ou uma morte pacfica (KOLCABA, 2010b).

Os comportamentos internos ocorrem em nvel celular ou dos rgos tal

como a cura, cicatrizao, formao de clulas protetoras e a oxigenao. J os

comportamentos externos so os comportamentos observveis, tais como

autocuidado, permanncia no hospital, deambulao. A morte pacfica definida na

teoria como uma morte na qual os conflitos so resolvidos, os sintomas so bem

conduzidos, ocorrendo a aceitao por parte dos membros da famlia e do paciente,

de modo a permitir que o mesmo se v em silncio e com dignidade (KOLCABA,

2003).

A integridade institucional visando conforto quando instituio e equipe

de cuidados esto fazendo o melhor por seus pacientes, inclui satisfao dos

pacientes, reduo de custos, reduo de morbidade e reinternaes,

estabelecendo melhores polticas e melhores prticas (KOLCABA, 2003).

Assim considerando, pode ser afirmado que os conceitos maiores e

menores possuem relao com o conceito maior, com subconceitos que o

conforto; assim como os conceitos maiores possuem relao entre si em qualquer

configurao. Os conceitos menores esto relacionados de modo ordenado.

37

Os conceitos menores esto organizados de maneira ordenada, e tem

uma estrutura (Figura 1) que contm implicitamente os conceitos maiores, contudo,

estes conceitos menores podem ser compreendidos fora desta estrutura.

Os conceitos maiores so amplos em seus propsitos apesar de estarem

extremamente relacionados ao tema conforto, esto organizados de maneira a

definir o conceito de conforto e podem ser organizados em qualquer configurao,

todos estes foram definidos, como apresentado anteriormente.

Os conceitos menores tambm so amplos em seus propsitos e esto

relacionados s proposies da Teoria do Conforto, contudo possuem uma

ordenao lgica de organizao. Todos os conceitos foram definidos na teoria.

So considerados conceitos abstratos em seus propsitos e definidos de

modo geral: conforto, alvio, tranquilidade, transcendncia, necessidades de

cuidados em sade, medidas de conforto, comportamentos de busca em sade e

integridade institucional. E so empricos em seus propsitos e especficos em suas

definies os contextos de conforto: fsico, psicoespiritual, sociocultural, ambiental;

variveis intervenientes, comportamentos internos, comportamentos externos e

morte pacfica.

Os conceitos concretos so os que podem ser observveis no cotidiano

seja pelo visual, auditivo ou pelo sentido, so limitados por tempo e espao; j os

conceitos abstratos no so perceptveis de maneira direta ou indireta, devendo ser

definidos com termos de conceitos observveis (MCEWEN; WILLS, 2009).

O equilbrio entre os conceitos abstratos e os empricos ocorre quando se

d a definio e a juno dos conceitos para formar uma ordem lgica. Para isto, as

definies apresentadas na teoria trazem exemplos que ajudam na compreenso

citando pacientes e ocorrncias como definidos os conceitos considerados empricos

neste artigo.

Os conceitos definidos esto de acordo com o comum convencionado, ou

seja, com o preconizado por outras teoristas, Orlando, Henderson, Paterson e

Zderad, Watson e Rozella Schlotfeldt.

Vale-se apresentar que vrios conceitos usados na literatura da

enfermagem so adaptados ou sintetizados de outras disciplinas (MCEWEN; WILLS,

2009).

38

Estes conceitos so explicitados pela Teoria do Conforto na

operacionalizao das proposies, nos pressupostos e nas pesquisas, discusses

e reflexes da terica, que podem ser encontradas em Kolcaba (2003) ou no site

http://www.thecomfortline.com e em publicaes (KOLCABA, 2001; KOLCABA;

DIMARCO, 2005; KOLCABA; APSTOLO, 2009).

Ressalte-se que a principal obra de Katharine Kolcaba Comfort

Theory and Practice, cuja ltima edio data de 2003. A autora mantm, na rede

mundial de dados, vastas informaes sobre a teoria, entrevistas concedidas, artigos

publicados e vdeos produzidos. Alm disso, disponibiliza o endereo eletrnico

[email protected] para quaisquer intercmbios com pesquisadores e outros

profissionais interessados pela temtica Conforto no mbito da enfermagem.

4.2 METAPARADIGMAS

Metaparadigmas da enfermagem so conceitos centrais de uma teoria.

Os preconizados na elaborao das teorias de enfermagem e definidos como os

quatro maiores metaparadigmas so: Enfermagem, Pessoa, Ambiente e Sade.

Na Teoria do Conforto de Kolcaba (2003), o metaparadigma

Enfermagem caracterizado como a avaliao intencional de necessidades de

conforto, estabelecimento de intervenes de medidas de conforto para atender s

necessidades. Assim, o enfermeiro reavalia pacientes, famlias ou comunidade aps

a implementao das medidas de conforto em comparao com a base anterior.

Paciente so os receptores de cuidados de sade que podem ser

indivduo, famlia ou comunidade; Ambiente caracteriza-se por influncias exteriores

(espao fsico ou da casa, polticas, instituies entre outros), que podem ser

manipulados pelo enfermeiro para melhorar o conforto; e Sade o funcionamento

timo, ideal de um paciente, famlia ou comunidade, facilitado pela ateno s

necessidades de conforto (KOLCABA, 2010b).

http://www.thecomfortline.com/

39

4.3 PRESSUPOSTOS E ETAPAS PARA EFETIVAO DA TEORIA DO

CONFORTO

Na teoria do conforto, as concepes de seus pressupostos so de

acordo com a teoria holstica, na qual seres humanos tm respostas globais aos

estmulos complexos, bem como o corpo fsico que se relaciona com mente, esprito,

emoo, ambiente e sociedade (KOLCABA, 2010a).

Com base nessa compreenso, o conforto um objetivo e um resultado

holstico desejvel e pertinente a partir dos cuidados de enfermagem. Os seres

humanos se esforam para satisfazer suas necessidades bsicas de conforto ou

para que algum as satisfaa, tratando-se de um esforo ativo; os resultados das

medidas de conforto so percebidos pelos sentidos do tato, olfato, paladar, audio,

viso e proprioception; e o conforto individual, representando mais que ausncia

de dor; a integridade institucional se baseia em um sistema de valores orientado aos

receptores de cuidado (KOLCABA, 2003).

Katharine Kolcaba representa graficamente as proposies de sua teoria

como forma de facilitar a compreenso por seus usurios:

Figura 1. Conceptual Framework for Comfort Theory.

HealthCare

Needs ofPT/Family

ComfortingInterventions

InterveningVariables

EnhacedComfort

HealthSeeking

Behaviors

Institutionalintegrity

Best Practices

Best Policies

InternalBehaviors

PeacefulDeath

ExternalBehaviors

Fonte: http://www.thecomfortline.com

A Figura 1 apresenta o modelo da Teoria do Conforto de Katharine

Kolcaba com os principais conceitos articulados pela teorista. Ao viabilizar a

compreenso do conforto como resultado dos cuidados de enfermagem, como

mencionado, tm-se as proposies da teoria que podem ser divididas em trs

momentos (KOLCABA, 2003).

http://www.thecomfortline.com/

40

No primeiro momento, o enfermeiro avalia o paciente de forma global,

buscando identificar as necessidades de conforto no satisfeitas a partir dos

contextos fsico, psicoespiritual, sociocultural e ambiental e, simultaneamente,

implementa intervenes. Ao tempo, avalia a satisfao de conforto proporcionada

por cada ao praticada (KOLCABA, 2003).

No segundo momento, as atividades que promovem conforto so

intensificadas e o paciente preparado, consciente ou inconscientemente, a

desenvolver comportamentos que buscam bem estar, criando um modelo de

atividades que promovam conforto. Esses comportamentos de busca de sade

podem ser internos, externos ou morte tranquila (KOLCABA, 2003).

Katharine Kolcaba desenvolveu estratgias com vistas a demonstrar se

h relao entre o conforto da pessoa cuidada em um contexto institucional ou

comunitrio, o seu empenho nos comportamentos de busca em sade e a dimenso

da satisfao dos doentes com o cuidado aps a alta hospitalar de modo que a

primeira e segunda partes da teoria j foram testadas, entretanto a relao entre

conforto e integridade institucional ainda precisam ser experimentadas (DOWD,

2004).

4.4 CONTEXTOS E TIPOS DE CONFORTO

Para o aprofundamento e a estruturao da taxonomia da Teoria do

Conforto, como citado, foram definidos os quatro contextos da experincia humana

em que ocorre conforto: fsico, psicoespiritual, ambiental e sociocultural.

Conforto fsico pertence s sensaes fsicas, mecanismos homeostticos

e funes imunes; conforto psicoespiritual conscincia interna de si mesmo,

incluindo a autoestima, o autoconceito, a sexualidade, o significado na vida de

algum e a relao com o Ser mais elevado (Deus). Trata-se da combinao do

estado mental, emocional e espiritual (KOLCABA, 2003).

J conforto ambiental tem foco no ambiente, nas condies e influncias

externas, incluindo cores, iluminao, sons/rudos, odor, temperatura, elementos

naturais e artificiais. Deste modo, o objetivo do enfermeiro deve estar voltado para

interao do paciente com o ambiente. No contexto sociocultural, inserem-se as

relaes interpessoais, familiares, sociais, incluindo questes financeiras, educao,

41

cuidado de sade pessoal, assim como tradies familiares, culturais, rituais e

prticas religiosas (KOLCABA, 2003).

No concernente aos tipos de conforto, na elaborao conceitual do

fenmeno conforto, a teorista considerou conhecimentos contidos em outras teorias

de enfermagem, quais sejam: alvio, proposto por Ida Orlando; tranquilidade,

proposta por Virginia Henderson; e transcendncia, sugerido por Josephine

Paterson e Loreta Zderad (KOLCABA, 2001).

Alvio representa a sensao de ter uma necessidade de conforto

satisfeita, estado em que a pessoa apresenta uma necessidade especfica, na

ocorrncia de satisfao de algum mal estar; tranquilidade caracteriza-se por um

estado de calma ou contentamento/satisfao, considerando as treze funes

bsicas dos seres humanos para manter a homeostasia, inclui o conforto do corpo e

mente; e transcendncia uma condio na qual a pessoa consegue superar as

dificuldades com ajuda dos enfermeiros, pode suplantar um problema ou dor, assim

como as medidas de conforto que engrandecem ou fortalecem uma pessoa

(KOLCABA, 2001; GALN, 2010).

Nessa linha de pensamento, a teoria de Kolcaba (2010) permite

considerar o fenmeno conforto associado ao cotidiano da prtica dos profissionais

de enfermagem, sendo proporcionado por meio de intervenes/aes de

enfermagem denominadas medidas de conforto.

Considerando esses ensinamentos, o referencial terico de Kolcaba

constituiu base para a realizao deste estudo, em que envolve a satisfao do

conforto de pessoas com coronariopatias em Unidade Coronariana. Para tanto

seguiram-se todas as etapas propostas pela Teoria do Conforto mediada pelo

mtodo de pesquisa-cuidado, estratgia metodolgica adotada nesta investigao.

42

5 A INVESTIGAO PELO MTODO DE PESQUISA-CUIDADO

Trata-se de uma pesquisa com desenho qualitativo, caracterizada como

uma pesquisa-cuidado. Os estudos com abordagem qualitativa ajudam os

enfermeiros na formao de percepo a respeito de um problema ou situao,

assim como potenciais solues e compreenso de experincias e preocupaes

dos pacientes. Possui flexibilidade, sendo capaz se ajustar conforme surjam

descobertas emergentes no curso da coleta e anlise das informaes (POLIT;

BECK, 2011).

Ademais, os pesquisadores qualitativos tendem a ser criativos e intuitivos

capazes de reunir, a partir do material coletado, uma compreenso ampla do

fenmeno, alm de serem importantes pela prpria presena na condio de

pesquisador e pela capacidade de reflexo do fenmeno estudado durante a coleta

(POLIT; BECK, 2011; FLICK, 2009).

Na pesquisa qualitativa se abstm de estabelecer um conceito bem

definido daquilo que estudado e de formular hipteses para depois test-las, em

vez disto, os conceitos so desenvolvidos e refinados no decorrer da pesquisa

(FLICK, 2009).

Lacerda et al. (2008) apontam que as pesquisas qualitativas por meio da

pesquisa-cuidado so investigaes prprias da enfermagem, j que o objeto de

trabalho da profisso est voltado para o ser humano e sendo possvel manter

ligao de reciprocidade entre profissional e paciente, com resultados que subsidiem

a prtica.

Nesta linha de pensamento, e em consonncia com o objeto de estudo

desta investigao, adotou-se a pesquisa-cuidado, como mtodo de suporte na

coleta das informaes. A pesquisa-cuidado um desdobramento da pesquisa-ao

e os seus resultados podem subsidiar a prtica por envolver o cuidado com uma

pessoa. Estes cuidados so decididos pelo pesquisador por ser o detentor do

conhecimento cientfico, embora haja tambm a participao do ser pesquisado

(LACERDA et al., 2008).

A pesquisa-cuidado uma proposio de Neves e Zagonel (2006) que

integra pesquisa e cuidado como elementos essenciais atuao do enfermeiro,

43

alm de ser uma busca por um processo de cuidar-pesquisar que promova cada vez

mais conforto para quem pesquisa-cuida e para quem pesquisado-cuidado.

Para viabilizar uma pesquisa-cuidado, Neves e Zagonel (2006) propem o

seguimento de cinco etapas que se sucedem: aproximao com o objeto de estudo;

encontro com o ser pesquisado-cuidado; estabelecimento das conexes da

pesquisa, teoria e prtica do cuidado; afastamento do ser pesquisador-cuidador e

ser pesquisado-cuidado; e anlise do apreendido. A efetivao destas etapas

acontece conforme ocorre o encontro do pesquisador-cuidador e do ser pesquisado-

cuidado.

Coadunando o exposto, Catafesta et al. (2007) relataram que a pesquisa-

cuidado vincula pensamento e ao, pois simultaneamente se cuida de uma ideia e

de uma pessoa. Por isso serve aos propsitos da Enfermagem ao reafirmar o

enfoque central do cuidado em funo do ser pesquisado, permitindo mostrar-se por

si mesmo.

Neste sentido, as idealizadoras deste mtodo referem que o pesquisador-

cuidador, assim como um artista, inicialmente esvazia sua mente de julgamentos

pr-concebidos, de modo a deixar fluir a relao de encontro e exteriorizar os

sentimentos de beleza e riqueza que vm de seu interior, colocando-se a para o

outro na relao de cuidado, disponvel para compreender o manifestado pelo ser

pesquisado e para discutir alternativas de ao que visem minimizar seu desconforto

ou melhorar seu nvel de conforto (NEVES; ZAGONEL, 2006).

A escolha pelo mtodo pesquisa-cuidado decorreu da possibilidade de

esta metodologia viabilizar a articulao entre pesquisa, teoria e prtica, por meio do

estabelecimento de uma relao interpessoal de cuidado entre o pesquisador

(enfermeiro) e pessoa cuidada (paciente). uma tcnica de pesquisa com dimenso

humanista, coerente com a essncia da Enfermagem, cuja perspectiva a

ocorrncia de uma relao peculiar de cuidado, como presena genuna dos

envolvidos, promovendo conforto tanto para quem pesquisa-cuida como para quem

pesquisado-cuidado.

Com base no exposto, apresentam-se na sequncia as etapas

percorridas pelo mtodo pesquisa-cuidado, conforme proposto para o

desenvolvimento da investigao.

44

5.1 APROXIMAO COM O OBJETO DE ESTUDO

Segundo Neves e Zagonel (2006), nesta fase da investigao ocorre o

delineamento da pesquisa, ocasio em que se deve ter procedido a uma reviso de

literatura e ter-se o conhecimento existente sobre o tema delimitado. A questo

norteadora deve ser definida, assim como se deve ter escolhido um referencial

terico.

A aproximao com o objeto de estudo pela pesquisadora, como referido

na introduo, ocorreu por fatores pessoais, profissionais e acadmicos. Foi

imprescindvel tambm a configurao da reviso de literatura descrita nesta

investigao para auxiliar na delimitao do objeto de estudo, como forma de

analisar o conhecimento existente, propiciar novas incurses temtica, oferecer

segurana ao pesquisador, permitir delimitao de um modelo para seguimento

pesquisa, bem como encontrar lacunas do conhecimento na rea de estudo.

Como referencial terico, conforme apresentado, a escolha recaiu sobre a

Teoria do Conforto de Kolcaba para fundamentar e articular com o objeto e o mtodo

de estudo.

Nesta etapa da pesquisa-cuidado considerou-se a proximidade dos

enfermeiros da prtica clnica com as pessoas com coronariopatias e buscou-se

tambm aproxim-los ao conhecimento da Teoria do Conforto e do mtodo de

pesquisa-cuidado. Para isto estabeleceram-se dilogos de pesquisa e cuidado entre

enfermeiro pesquisador e os da prtica de cuidar.

Esta pesquisa subsidiou o cuidado clnico de enfermagem s pessoas

com coronariopatias fundamentado na Teoria do Conforto e mediado pela pesquisa-

cuidado, de modo que os enfermeiros ficaram empoderados deste saber, pois foram

capacitados, acompanhados e estimulados a implementar a referida teoria e mtodo

de pesquisa na sua prtica clnica de cuidar.

Por isto, como dito, esta investigao tem como pergunta norteadora:

Como alcanar a integridade institucional pela aplicabilidade da Teoria do Conforto,

mediada pela pesquisa-cuidado, s pessoas com coronariopatias?

Em um primeiro movimento, para viabilizar os dilogos de pesquisa com

os enfermeiros da prtica clnica de cuidar de pessoas com coronariopatias,

contactou-se a diretora de enfermagem do Hospital do Corao Padre Jos Linhares

45

Ponte em Sobral-Cear, que forneceu a relao nominal de todos os enfermeiros da

instituio. De posse destas informaes, foram formulados convites individuais

(APNDICE A), com agendamento de um primeiro momento para apresentao do

projeto de pesquisa desta investigao. Naquela ocasio, eles j demonstraram

interesse em participar do estudo.

No incio da coleta das informaes desta investigao, eram vinte e

cinco enfermeiros contratados no hospital. A priori seriam convidados a participar do

estudo somente os dezessete enfermeiros da Unidade Coronariana, contudo na

apresentao do projeto de pesquisa dire