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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS
COLEGIADO DE ADMINISTRAÇÃO
LAÍS LAWINSCKY DE MELLO
O PAPEL DAS POUSADAS FILIADAS AO BEM RECEBER, NO TOCANTE À PROBLEMÁTICA AMBIENTAL: o que pensam e fazem
na gestão de suas práticas sustentáveis?
ILHÉUS – BAHIA 2008
LAÍS LAWINSCKY DE MELLO
O PAPEL DAS POUSADAS FILIADAS AO BEM RECEBER, NO TOCANTE À PROBLEMÁTICA AMBIENTAL: o que pensam e fazem
na gestão de suas práticas sustentáveis?
Monografia apresentada ao Colegiado de Administração de Empresas da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC, como parte dos requisitos para a avaliação do último crédito da disciplina Estágio Supervisionado II. Orientadora: Profª Katianny G. S. Estival Área de concentração: Administração.
ILHÉUS – BAHIA 2008
LAÍS LAWINSCKY DE MELLO
O PAPEL DAS POUSADAS FILIADAS AO BEM RECEBER, NO TOCANTE À PROBLEMÁTICA AMBIENTAL: o que pensam e fazem
na gestão de suas práticas sustentáveis?
Ilhéus – BA, ____ de ________ de 2008.
_________________________________
Profª Ms Katianny Gomes Santana Estival
(Orientadora)
__________________________________
Profª Dra. Liliane de Queiroz Antonio
__________________________________
Prof° Ms Samuel Leandro Oliveira Mattos
FOLHA DE IDENTIFICAÇÃO
a. Universidade Estadual de Santa Cruz – Departamento de Ciências Administrativas e Contábeis
b. Tipo de estágio: Estágio Curricular
c. Título do estágio: O papel das pousadas filiadas ao Bem Receber na
problemática ambiental: o que pensam e fazem na gestão de suas práticas
sustentáveis.
d. Palavras-chave: Gestão sustentável, pousadas, programa Bem Receber,
desenvolvimento sustentável, qualidade ambiental, práticas sustentáveis
e. Nome da estagiária: Laís Lawinscky de Mello
f. Nome da orientadora: Katianny G. S. Estival
g. Local do estágio: Pousadas filiadas ao Programa Bem Receber, situadas nas
cidades de Ilhéus, Itacaré e Maraú.
h. Local e data: Ilhéus/BA, 03 de dezembro de 2008.
iv
O PAPEL DAS POUSADAS FILIADAS AO BEM RECEBER NA PROBLEMÁTICA AMBIENTAL: o que pensam e fazem na gestão de suas práticas sustentáveis?
Autor: LAÍS LAWINSCKY DE MELLO Orientadora: Profª Ms Katianny Gomes Santana Estival
RESUMO
O presente estudo objetivou analisar o modelo de gestão sustentável adotado pelas pousadas localizadas no litoral Sul da Bahia, segundo os requisitos ambientais determinados pelo programa Bem Receber, com a finalidade de destacar a importância das ações sustentáveis no setor hoteleiro, como forma de garantir o desenvolvimento sustentável dos destinos turísticos, bem como para manter a qualidade dos recursos ambientais neles existentes. Foram analisadas as práticas relativas à gestão dos resíduos sólidos, foco central do estudo, bem como a gestão do uso de água e da eficiência energética. Quanto aos fins, trata-se de uma análise exploratória, que utilizou como meios a pesquisa bibliográfica, documental e a visita de campo, como fontes de levantamento de informações imprescindíveis à formulação e conclusão deste trabalho. Por fim, diagnosticou-se que a gestão ambiental dos empreendimentos possui fragilidades, pois apesar de algumas práticas sustentáveis serem plenamente executadas, existem gargalos relativos à destinação final adequada do lixo, à economia de água e energia. Palavras-Chave: Pousadas, programa Bem Receber, desenvolvimento sustentável, práticas sustentáveis, qualidade ambiental.
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................... iv
1.0 INTRODUÇÃO...................................................................................... 01
1.1 Caracterização das Empresas e do Ambiente...................................... 03
1.1.1 Ilhéus................................................................................................... 03
1.1.2 Itacaré................................................................................................. 04
1.1.3 Maraú.................................................................................................. 06
1.2 Problema e Sua Importância................................................................ 07
1.3 Justificativa.......................................................................................... 08
1.4 Objetivos............................................................................................... 09
1.4.1 Objetivo Geral................................................................................. 09
1.4.2 Objetivos Específicos....................................................................... 09
2.0 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................... 10
2.1 Evolução da Questão Ambiental o Surgimento do Conceito de
Desenvolvimento Sustentável.................................................................... 10
2.2 Sustentabilidade Empresarial................................................................ 12
2.3 Sustentabilidade do Turismo............................................................. 14
2.4 Hotelaria................................................................................................. 17
2.5 Programa Bem Receber ....................................................................... 18
2.6 NBR ISO 14000..................................................................................... 19
2.6.1 O Que é a ISO ? ................................................................................ 19
2.6.2 ISO 14000/01 e o Sistema de Gestão Ambiental (SGA).................... 20
2.6.3 Setor Hoteleiro e o Sistema de Gestão Ambiental.............................. 21
2.7 Logística Reversa (LR) como Prática Sustentável................................. 24
2.7.1 A Questão Ambiental como Fomentadora da LR................................ 24
2.7.2 Conceito de Logística Reversa (LR).................................................... 25
2.7.3 Fatores Necessários e Modificadores.................................................. 27
3.0 METODOLOGIA..................................................................................... 29
3.1 Tipo de Pesquisa.................................................................................... 29
3.2 Coleta e Análise de Dados..................................................................... 30
3.3 Limitações............................................................................................... 30
4.0 ANÁLISE DOS RESULTADOS.............................................................. 31
5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 37
6.0 REFERÊNCIAS...................................................................................... 40
APÊNDICES................................................................................................. 43
ANEXO......................................................................................................... 47
1
1.0 INTRODUÇÃO
Desde a década de 90, as empresas do setor turístico estão cada vez mais
preocupadas em alcançar e demonstrar um desempenho aceitável em relação à
sustentabilidade, pois além de dependerem do meio ambiente para receber turistas1,
devem adequar-se as novas exigências do mercado. Algumas destas organizações
gerem o impacto de suas atividades, produtos ou serviços, traçando políticas e
objetivos no sentido de alcançar uma gestão de acordo com os princípios da
sustentabilidade.
Tal comportamento se insere no contexto de uma legislação mais rigorosa, do
desenvolvimento de políticas econômicas, de medidas que visam estimular a
proteção ao meio ambiente e ao patrimônio cultural. Vê-se também uma crescente
preocupação das partes interessadas, principalmente dos clientes, em relação à
qualidade, às questões ambientais e ao desenvolvimento sustentável.
É imprescindível destacar que a sustentabilidade do turismo passa
necessariamente pelas atitudes das organizações de adotarem práticas sustentáveis
para as suas atividades. Esta discussão inclui planejamento a longo prazo e a
utilização de indicadores de desempenho que monitoram a valorização econômica e
ambiental.
Nesse contexto, insere-se o Programa Bem Receber, antes denominado
Programa de Certificação em Turismo Sustentável (PCTS), como fomentador do
turismo sustentável no Brasil, tendo como enfoque as empresas do setor hoteleiro
de pequeno e médio porte. Este programa é uma iniciativa brasileira implementada
com ampla parceria com as empresas do setor de turismo, Governo Federal,
instituições organizadas da sociedade civil, municípios e comunidades sob a 1 Segundo Cury et al (2000) o ambiente é o núcleo do produto turístico e os ganhos com a atividade turística dependem da manutenção dos destinos turísticos que as pessoas desejam visitar. Este fator denota a relevância das empresas ligadas ao turismo, tais como os meios de hospedagem, cuidarem da conservação dos recursos naturais.
2
liderança do Instituto de Hospitalidade (IH). É desenvolvido em parceria com o
Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável (CBTS), possuindo como base a Norma
Nacional de Meios de Hospedagem – requisitos para a sustentabilidade (NIH-
54:2004), em que são pautados os critérios que devem ser observados e praticados
pelas empresas para o recebimento da certificação.
A presente pesquisa tem como foco o quesito quinto da citada norma, que
descreve requisitos ambientais para o turismo sustentável, centrando-se
principalmente na questão dos resíduos sólidos (NIH-54, p.18, quesito 5.5.1).
Também abordará as questões da eficiência energética e da conservação e gestão
do uso da água nas pousadas de pequeno porte localizadas no Sul da Bahia, mais
especificamente nas cidades de Ilhéus, Itacaré e Maraú. Nesse sentido estes
empreendimentos devem planejar e traçar políticas de redução do consumo de água
e de energia, bem como estabelecer metas e implementar medidas para reduzir,
reutilizar e/ou reciclar os resíduos sólidos para o recebimento da certificação
oferecida pelo programa, alicerçada no sistema de gestão da ISO 14001.
Segundo Leite (2003), a conciliação entre o desenvolvimento econômico e o
aspecto ambiental e o conceito de responsabilidade ética é muito apropriado. No
entanto, é imprescindível desenvolver ferramentas mais objetivas para sua perfeita
avaliação.
A gestão de resíduos sólidos pode ser auxiliada pela ferramenta logística
reversa (LR), quando utilizada em uma proposta de produção e consumo
sustentável capaz, se bem aplicada, de minorar os problemas ocasionados pelos
resíduos gerados, desde a confecção do produto, sua destinação para
reaproveitamento e reciclagem, até a disposição final em local adequado.
Este estudo terá enfoque na LR de pós-consumo, que segundo Leite (2003)
engloba os canais reversos constituídos pelo fluxo reverso de uma parcela de
produtos e materiais constituintes originados no descarte dos produtos após
finalizada sua utilidade original e que retornam para o ciclo produtivo de alguma
maneira, por meio ou de canais reversos de reciclagem ou pelos canais reversos de
re-uso.
Dentro dessa perspectiva, o projeto visa realizar um diagnóstico sobre o
modelo de gestão sustentável adotado pelos empreendimentos hoteleiros filiados ao
Programa Bem Receber, localizados nas cidades de Ilhéus, Itacaré e Maraú no Sul
3
da Bahia, com a finalidade de destacar a importância de práticas de gestão
sustentável como forma de garantir a permanência destes empreendimentos diante
do mercado local e global.
1.1 Caracterização das Empresas e do Ambiente
O presente trabalho abrange oito pousadas de pequeno porte filiadas ao
Programa Bem Receber, sendo que três destas localizam-se na cidade de Ilhéus,
quatro em Itacaré e uma no município de Maraú. O critério utilizado para a escolha
dessas pousadas como a área de estudo do presente trabalho, foi a participação no
citado programa, sendo que elas representam o total de empreendimentos
participantes do Bem Receber na Costa do Cacau2. Por se situarem em locais
distintos revela-se importante descrever o contexto atual de cada cidade onde as
pousadas localizam-se.
1.1.1 Ilhéus
A cidade de Ilhéus, situada na Costa do Cacau, representa um dos mais
expressivos e importantes municípios baianos, tendo como principais atividades
econômicas a agricultura, as indústrias, o comércio e o turismo. Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007) a população estimada em
2007, corresponde a 220.144 habitantes.
O município é constituído de uma área de aproximadamente 1.847,7 km²,
com extenso litoral de águas mornas, clima tropical úmido e temperaturas médias
anuais em torno de 24º C e com áreas remanescentes de mata atlântica. Na área
litorânea e nas margens dos rios, apresenta vegetação típica como mangues e
restingas. A hidrografia é constituída principalmente pelos rios Cachoeira, Almada e
Santana.
O grande potencial turístico de Ilhéus, alicerçado por seu patrimônio natural,
cultural e histórico, apresenta-se como uma alternativa importante para um
desenvolvimento sustentável, desde que ajustado ao novo paradigma de
preservação e conservação dos ecossistemas.
2Informação disponível no site do programa Bem Receber: http://www.bemreceber.org.br/site/home/indexInt
4
Contudo, o município está longe de resolver seus problemas sócio-
econômico-ambientais. Existem ameaças ao desenvolvimento da atividade turística
como a falta de investimentos públicos, baixa qualidade na educação pública,
excesso de mão-de-obra desqualificada, além da expansão urbana acelerada e sem
planejamento, o que compromete espaços de fragilidade ambiental como
manguezais, rios, matas, assim como a existência de lixão, anteriormente localizado
no sítio histórico Cururupe e que por falta de espaço foi transferido para a Zona de
Tijuípe. Diante deste cenário, observa-se que o ambiente natural que abriga os
atrativos no município encontra-se sob forte impacto ambiental.
Segundo Nascimento (2001) o aspecto mais negativo do município de Ilhéus
para o turista está na precariedade da limpeza, seguido da poluição das praias.
Atualmente, a cidade produz diariamente em torno de 154 (cento e cinqüenta e
quatro) toneladas de resíduos sólidos urbanos (lixo), domésticos, hospitalares e
comerciais que são enviados, em quase sua totalidade, para o lixão do Itariri.
Percebe-se através destes dados, que a problemática do lixo na cidade causa
grande impacto ambiental, além de causar impactos negativos no setor turístico.
1.1.2 Itacaré
A cidade de Itacaré, um dos principais destinos da Costa do Cacau – Sul da
Bahia - tem como principal atividade econômica o turismo. Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2004) a população estimada em
2007, corresponde a 24.639 habitantes. Os atrativos turísticos englobam praias com
densos coqueirais, que unidos à variedade da vegetação – mata atlântica nativa e
extensos manguezais – compõem o patrimônio natural de Itacaré. Tais atrativos
proporcionam ao destino grande potencial para o turismo de caráter ecológico (o
ecoturismo).
Em essência, o ecoturismo deve se desenvolver respeitando critérios sócio-
ambientais, o que garantirá sustentabilidade à atividade. Contudo Oliveira (2007)
aponta que na prática, em alguns destinos com potencial ecoturístico, ocorre a
exploração dos ambientes naturais sem nenhum respeito a estes critérios. Desta
forma, a comunidade local arca com os impactos advindos do turismo, sem usufruir
dos benefícios trazidos pelo mesmo.
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Itacaré enquadra-se nesse contexto. É um destino que se destaca por seu
potencial ecoturístico, mas que vem sofrendo sérios impactos sócio-ambientais,
devido à falta de planejamento, de infra-estrutura e ao crescimento descontrolado da
população. O rápido crescimento da atividade turística tem acarretado sérios
problemas ao município, tais como aumento da violência, especulação imobiliária,
inflação, ocupação desordenada dos espaços urbanos (formação de favelas),
aumento dos índices de prostituição e do tráfico de drogas, além de proporcionar a
degradação ambiental ao patrimônio natural da cidade, ameaçando o futuro da
atividade na localidade.
Na alta estação o município recebe um intenso fluxo de turistas. Em 2005,
registrou-se um fluxo de 120.000 turistas, número seis vezes maior que a sua
população. Isto tem contribuído de forma significativa para a degradação ambiental,
ocasionando a poluição das praias, desmatamento e gerando grande quantidade de
lixo.
De acordo com Oliveira (2007) esta degradação revela que o consumo do
espaço turístico não se dá de maneira sustentável, além de que não está sendo
respeitada a capacidade de carga ambiental da localidade, isto é, a capacidade de
turistas que um local pode suportar sem que sejam causados impactos negativos ao
meio ambiente. Como conseqüência, percebe-se que os atrativos naturais que
compõem os produtos turísticos de Itacaré estão sob forte impacto ambiental, o que
ameaça a longo prazo a sobrevivência do destino.
Um dos grandes desafios da gestão municipal de Itacaré hoje é a gestão dos
resíduos sólidos (lixo). Na alta estação, época em que o fluxo turístico aumenta
significativamente na cidade, conforme dado anteriormente citado, a quantidade de
lixo produzida fica em torno de trinta e seis toneladas por dia, enquanto que nos
períodos de baixa estação, apenas oito. Este acúmulo de resíduos provoca impactos
significativos, agravados pela inexistência de infra-estrutura adequada para
comportar tal quantidade de lixo.
Em 2004, a ONG Yonic elaborou um programa de gestão ambiental
denominado lixomania, com investimento inicial de US$ 1,8 milhão, com o objetivo
de transformar a atividade de coleta de resíduos sólidos numa forma de divulgação
de Itacaré como o primeiro município brasileiro a reciclar e reaproveitar todos seus
resíduos sólidos (produzidos nas residências, no comércio e na feira livre), através
de atividades educacionais e utilização de técnicas inovadoras e ambientalmente
6
corretas. O programa abrangia também o lixão da cidade, onde a Yonic atuava junto
aos catadores de materiais recicláveis.
Para o ano de 2006 estava prevista a finalização das obras do aterro sanitário
de Itacaré, com vida útil estimada de 15 anos, mas a construção foi paralisada por
representar risco iminente de dano ambiental. A continuação da obra só se daria
após estudos de impacto ambiental e audiências públicas na comunidade, conforme
resolução do Ministério Público. Na prática, nada disso foi realizado até hoje e a falta
de gerenciamento e local adequado para destinação final dos resíduos sólidos
continua a ocasionar sérios danos ao meio ambiente.
Com a extinção da ONG em início de 2007 e com o embargo da construção
do aterro sanitário, todo o sistema de gestão dos resíduos sólidos implantado
sucumbiu. A situação do lixo na cidade é bastante alarmante. Por não possuir aterro
sanitário controlado, todo o lixo produzido na cidade é disposto diretamente sobre o
solo e a céu aberto, sem nenhum tipo de tratamento.
Diante desse quadro, constata-se a precariedade do sistema de coleta pública
no município de Itacaré. Faz-se necessária a implementação de medidas eficazes
do governo municipal e o engajamento da sociedade para a amenização, quiçá a
solução do problema. A intervenção do Conder no “lixão” da cidade e na construção
do aterro sanitário controlado, também são ações imprescindíveis.
1.1.3 Maraú
A cidade, inicialmente chamada de Mayrahú, possui 774 km² e uma
população de 17.029 habitantes (IBGE 2007). Sua origem remonta a uma antiga
aldeia indígena denominada Mayra, a qual foi descoberta em 1705 pelos frades
Capuchinhos italianos, elevando-se a categoria de cidade somente em 1938,
quando passou a chamar-se de Maraú.
Fazendo parte da Costa do Dendê, possui belíssimas praias distribuídas entre
seus vários povoados, além de dezenas de ilhas, cachoeiras, manguezais e
quilômetros de Mata Atlântica totalmente preservada. Logo, para que o cenário atual
de Maraú não se degrade com o crescente desenvolvimento econômico, a
preservação ambiental torna-se questão prioritária, exigindo mobilizações e
mudanças de comportamento de todos os setores da sociedade.
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Diante disso, faz-se necessário saber que existem várias maneiras de
diminuir o impacto ambiental e, sobretudo, o lixo urbano e rural (resíduos sólidos),
resultante das atividades humanas no ambiente, o qual tem contribuído para a
poluição de mananciais, a contaminação do solo, subsolo, águas subterrâneas,
superficiais, proliferação de vetores, liberação de gases danosos, entre muitos
outros riscos associados.
Com o intuito de possibilitar o desenvolvimento econômico sustentável, a
articulação do Município de Maraú em 2006, através do Plano Diretor, previu a
implantação de um sistema de coleta e disposição do lixo urbano, incluindo a
construção de aterro sanitário, assim como a elaboração do Plano de Disposição de
Lixo urbano para a Sede. No entanto, a partir do levantamento feito em 2007 pelo
Ministério Público do Estado da Bahia, acerca da disposição dos resíduos gerados
na cidade, foi verificado que os resíduos são encaminhados para um lixão a céu
aberto, o que fere a legislação ambiental.
A situação é agravada por não haver recobrimento do lixo, sistema de
impermeabilização e tratamento de efluentes líquidos, o que permite a infiltração do
chorume produzido pelo lixo no subsolo. A avaliação realizada do ponto de
disposição final de resíduos sólidos do município de Maraú demonstrou que este
não está adequado para um manejo seguro dos resíduos. Logo serão necessárias
medidas para redução dos impactos negativos ao ambiente provenientes do lixão.
Por fim, espera-se que as autoridades e a sociedade civil possam encontrar meios
eficazes para que uma tragédia silenciosa não venha ocorrer.
1.2 Problema e sua Importância
Devido à grande relevância da problemática ambiental, em âmbito mundial,
percebe-se que o alcance do desenvolvimento sustentável é pré-requisito
indispensável para se obter um modelo de vida apropriado, que garanta a
conservação ambiental para as gerações atuais e vindouras, isto é, sabe-se que os
recursos naturais são limitados e que se deve respeitar o ritmo de renovação da
natureza.
Por outro lado é imprescindível destacar que muitas das necessidades
humanas atuais somente podem ser atendidas com a industrialização de bens e
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serviços, em razão dos elevados volumes consumidos. Assim, um grande desafio
para as empresas é a conciliação dos interesses econômicos e da preocupação
relativa ao meio ambiente. Para tal, faz-se necessária a utilização de ferramentas
que possibilitem práticas ambientalmente responsáveis, como exemplos o sistema
de gestão ambiental e a logística reversa.
Em face do desafio da compatibilização dos interesses econômicos e da
sustentabilidade, o problema científico proposto apresenta como questionamento: a
gestão sustentável dos estabelecimentos hoteleiros em análise tem sido
devidamente implementada, no que concerne aos objetivos do desenvolvimento
sustentável e à minoração dos impactos ambientais na região onde se situam?
1.3 Justificativa
Atualmente a questão ambiental tem estado em evidência, tornando-se um
tema freqüente na pauta de diversos encontros inter-governamentais e de empresas
de vários segmentos. Discute-se, cada vez mais, sobre como harmonizar o
desenvolvimento econômico com a denominada sustentabilidade. Aliado a isso, a
sociedade atual tem se mostrado atenta às degradações ambientais e tomado
consciência sobre a necessidade de minorar os impactos ambientais advindos das
atividades humanas.
Nesse sentido, tem-se exigido que as empresas respeitem a natureza e a
própria sociedade, através do estabelecimento de normas e procedimentos legais e
gerenciais. Em particular no caso das atividades industriais e da prestação de
serviços, esse fator encontra-se intrinsecamente relacionado à sobrevivência e à
ampliação de mercado dessas organizações, frente a um cenário mais competitivo e
exigente. Destarte, uma imagem empresarial positiva em face da crescente
globalização dos mercados passa a ser fator estratégico de competitividade,
tornando-se fator essencial para as empresas conciliarem seus processos de
negócios à gestão ambiental.
Em se tratando da indústria turística como um todo e da hotelaria,
particularmente, Gonçalves (2004) destaca que estes setores têm a obrigação e a
responsabilidade de fazer da ética ambiental parte integrante de suas metas
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gerenciais, visto que dependem diretamente da “saúde” do meio ambiente para o
sucesso de seus negócios.
Neste contexto, este projeto visa avaliar a gestão ambiental de empresas
hoteleiras de pequeno porte, buscando evidenciar a importância de atitudes
ambientalmente responsáveis por parte das empresas, para o fomento do
desenvolvimento sustentável da região. Ademais, busca-se despertar o interesse
conjunto do poder público, do setor produtivo e da sociedade para tais questões, tão
relevantes para a manutenção da atividade turística de maneira sustentável. Vale
destacar que o turismo não pode comprometer as regiões nas quais se desenvolve,
pois isto pode por em risco a sobrevivência do destino a longo prazo.
Seguindo as proposições abordadas torna-se válido e importante o presente
projeto, que apesar de não ter o intuito de esgotar o tema, visa propiciar a abertura
de questões para discussões que sejam pertinentes aos interessados que
desempenham ações e/ou trabalhos direcionadas a tal assunto e tenham o interesse
em adquirir amplos conhecimentos sobre o tema.
1.4 Objetivos
1.4.1 Objetivo geral:
Analisar as práticas de gestão sustentável implementadas pelos
estabelecimentos hoteleiros filiados ao Programa Bem Receber, nas cidades de
Ilhéus, Itacaré e Maraú.
1.4.2 Objetivos específicos:
• Identificar os fatores que levaram as pousadas a aderirem ao programa;
• Identificar as práticas ambientais adotadas pelos estabelecimentos (água,
energia, lixo, etc);
• Descrever as práticas sustentáveis implementadas pelos estabelecimentos
hoteleiros.
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2.0 Referencial Teórico
2.1 Evolução da Questão Ambiental e o Surgimento do Conceito de
Desenvolvimento Sustentável
As preocupações de cunho ambiental, relativas à conservação ambiental e à
degradação da biosfera pelo homem, podem ser identificadas em tempos mais
remotos, nas obras de autores consagrados como Darwin, Malthus e Spinoza. Por
outro lado, tal debate começou a se intensificar e a ganhar maior evidência na
segunda metade do século XX, pois foi neste lapso temporal que o homem começou
a debater a problemática ambiental considerando os riscos do desenvolvimento
descontrolado.
Na década de 60 surgiu o tema relativo à conscientização ecológica, o que
desencadeou em décadas posteriores a criação de leis ambientais no sentido de
regulamentar as questões ambientais e de se obter um maior controle ambiental.
Segundo Valle (2000) nesta mesma época a crise energética causada pelo aumento
do petróleo traz temas como a racionalização do uso da energia, combustíveis mais
puros e fontes renováveis.
A partir daí órgãos mundiais passaram a se reunir em fóruns e conferências,
para traçar metas e planos que objetivavam estabelecer princípios básicos
universais a serem seguidos por todos os povos com respeito ao meio ambiente e
ao desenvolvimento. Passou-se então a se considerar o conceito de
desenvolvimento sustentável.
Brundtland apud Magera (2004, p. 55) propôs a seguinte definição para
desenvolvimento sustentável “aquele que harmoniza o imperativo do crescimento
econômico com a promoção da eqüidade social e a preservação do patrimônio
natural, garantindo assim que as necessidades das atuais gerações sejam atendidas
11
sem comprometer o atendimento das necessidades das futuras gerações”. Leite
contribui também acerca desta temática afirmando que:
A teoria do desenvolvimento sustentado prega a necessidade de se encontrar maneiras de alcançar o desenvolvimento econômico, preservando as condições ambientais corretas às novas gerações. A origem da idéia do limite do crescimento se deve ao fato de que, se o nível de consumo e energia e matérias-primas em geral, nos países de primeiro mundo, fosse ampliado para todo o mundo, não haveria recursos naturais para todos. Assim, serão necessários avanços de todas as ordens, tecnológicos, de redução de uso, de reaproveitamento, entre outros, para que todos possam usufruir dos recursos naturais (2003, p.143).
A origem do conceito provém do relatório “Limites do Crescimento” elaborado
e publicado pelo Clube de Roma, em 1972. Segundo Portilho (2003), o estudo
constatava que, se mantidos os níveis de crescimento relativos à população
mundial, à poluição, à produção agrícola, à exaustão de recursos naturais e à
produção industrial, os limites de crescimento neste planeta seriam alcançados em
cem anos. O relatório aponta a necessidade de se estabelecer limites ao
crescimento populacional, e o abandono da concepção de que o meio ambiente tem
que arcar com os custos do desenvolvimento tecnológico e industrial.
Segundo Valle (2000) em 1978 na Alemanha surge o primeiro selo ecológico,
“o Anjo Azul” que rotulava produtos que eram considerados ambientalmente
corretos. Além disso, os resíduos perigosos passam a ocupar lugar de destaque nas
discussões sobre a contaminação ambiental (Chernobyl, URSS), assim como o
problema relativo à destruição progressiva da camada de ozônio. Nessa época, a
proteção ambiental ainda era vista de forma defensiva e as medidas eram apenas
corretivas baseadas no estrito cumprimento da legislação.
Em 1987 foi publicado o Relatório “Nosso Futuro Comum”, conhecido também
como relatório de Brundtland, elaborado na Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento. O tema do desenvolvimento sustentável recebeu
maior divulgação, numa abordagem que busca conciliar as questões sociais,
econômicas e ambientais.
Segundo Carvalho (2004), o relatório apresenta a sustentabilidade como
estratégia de desenvolvimento, além de estabelecer medidas a serem tomadas no
nível do Estado Nacional, tais como limites do crescimento populacional, diminuição
do consumo de energia, desenvolvimento de tecnologias ecologicamente adaptadas,
12
dentre outras. Em resumo, conforme relatado pela Ex-ministra do meio ambiente
Marina Silva (2007), o estudo consolidou uma visão crítica do modelo de
desenvolvimento adotado pelos países industrializados e mimetizados pelas nações
em desenvolvimento, ressaltando a incompatibilidade entre os padrões de consumo
e produção vigentes, o uso racional dos recursos naturais e a capacidade de suporte
dos ecossistemas.
A Conferência das Nações Unidas do Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada no Rio de Janeiro, em 1992, também denotou a intensificação do interesse
mundial pelo futuro do planeta. Vários países deixaram de ignorar as relações entre
desenvolvimento sócio-econômico e os impactos gerados no meio ambiente. O
evento objetivava a elaboração de estratégias que interrompessem e revertessem os
efeitos da degradação ambiental.
A agenda 21 foi a resposta desta conferência à comunidade internacional.
Este documento estabelece princípios e ações sobre a gestão ambiental para o
século XXI, ressaltando a importância do compromisso de cada país, local e global,
na reflexão sobre a forma pela qual os governos, as empresas, as ONGs e todos os
setores da sociedade poderiam cooperar no estudo dos problemas sócio-ambientais.
Desde então, este tema tem se tornado de vital importância para todos os
setores da sociedade, inclusive para as empresas engajadas e preocupadas com
estas questões e que buscam por meio disso destacar-se no mercado, pela
adequação às políticas ambientais visando adquirir certificações que atestem sua
responsabilidade sócio-ambiental e, assim, atrair clientes ambientalmente
responsáveis.
2.2 Sustentabilidade Empresarial
Ao longo das últimas décadas, a questão ambiental passou a ser vista como
um fator essencial a ser considerado no processo de gestão (GOBBI; BRITO, apud
Gallon (2005)). Nesta perspectiva, o desenvolvimento sustentável, com foco na
sustentabilidade empresarial, oferece inúmeras oportunidades de novos negócios
que conciliam viabilidade econômica e ganhos sócio-ambientais.
Beni (2004) afirma que o desenvolvimento sustentável é um conceito útil à
medida que aponta para a necessidade de reflexões ao estabelecimento de uma
13
visão da estrutura da organização da economia, da sociedade e de suas relações de
troca com o meio ambiente. O mesmo autor define sustentabilidade como o conceito
que “pretende refletir uma política e estratégia de desenvolvimento econômico e
social contínuo, sem prejuízo do ambiente e dos recursos naturais, de cuja
qualidade depende a continuidade da atividade humana e do desenvolvimento”
(2003, p. 3).
De acordo com MAY et al (2003) as organizações compreendem cada vez
mais que o custo financeiro de administrar conflitos sociais e minorar o passivo
ambiental pode ser mais elevado do que o custo “de fazer a coisa certa”, isto é, de
respeitar o meio ambiente e os direitos humanos de todos os povos, visto que
influenciam a percepção da opinião pública sobre a organização. Leite corrobora a
assertiva afirmando:
A variável ambiental, tanto quanto a social, é introduzida na reflexão estratégica de empresas líderes como um diferencial competitivo, por meio da percepção de que o posicionamento e o reforço de suas imagens corporativas permitirão a perenização de seus negócios, em um ambiente em que essa diferenciação é extremamente difícil por meio de outras variáveis mercadológicas (2003, p. 134).
Swarbook (2000) aponta também que há um interesse crescente nos padrões
éticos do negócio. Por isso, as empresas têm sido estimuladas a se
responsabilizarem com mais seriedade em relação ao meio ambiente. A autora
destaca aspectos que influenciam esta tendência, tais como a ameaça ao futuro do
negócio caso haja a destruição dos recursos naturais dos quais a empresa depende
e o comprometimento com a sociedade como forma de contribuir para melhoria da
qualidade de vida.
Conforme Filho (2007, p. 13) são apontados como pré-requisitos para o
desenvolvimento sustentável:
• Operações dentro dos limites ecologicamente aceitáveis, onde os serviços prestados pelos ecossistemas sejam mantidos a níveis atuais ou melhores;
• Garantir o acesso saudável e responsável aos recursos naturais tendo em conta as gerações atuais e futuras;
• Minimizar o risco e abandonar e/ou rejeitar políticas e práticas que possam causar impactos ambientais negativos e inaceitáveis;
• Engajar-se de forma transparente visando promover maior participação e formar parcerias;
• Responsabilização de ações e tomada de decisão através de uma boa administração.
14
Neste contexto, conforme May (2003) a oposição entre a preservação
ambiental e o crescimento econômico tende a ser flexibilizada na proporção em que
as empresas passam a perceber que podem gerar mais lucros e ficarem mais
competitivas ao incluírem preocupações ambientais em suas estratégias
empresariais, por meio de práticas ecologicamente mais adequadas – adoção de
tecnologias ambientais, implantação de sistema de gestão ambiental, racionalização
do uso dos recursos naturais, dentre outros.
Além disso, as empresas buscam provar que na discussão do
desenvolvimento sustentável, elas podem ser parte da solução ao invés do
problema. “Para muitas organizações, essa atitude é parte de uma campanha mais
ampla para que passem a ser vistas como éticas em suas ações, na crença de que
isso poderia elevar sua posição competitiva no mercado” (Swarbook, 2000, p. 11).
Pelo exposto pode-se observar que a sustentabilidade é hoje uma tendência e
que as empresas buscam adequar-se as novas exigências, como forma de
conquistar visibilidade no mercado e garantir a sobrevivência do negócio.
2.3 Sustentabilidade do turismo
Entre as empresas de serviços, o Turismo, por ser um dos setores
econômicos que mais cresce no mundo, vem sendo objeto de atenção em relação à
sua potencial contribuição para o desenvolvimento sustentável e ao mesmo tempo
quanto aos impactos que pode provocar nos campos ambiental, sócio-cultural e
econômico.
De acordo com a OMT – Organização Mundial do Turismo - (2001) o
crescimento sustentável tem sido relacionado, tradicionalmente, ao conceito de meio
ambiente, mas atualmente esta definição ganhou uma conotação mais global, que
inclui numerosos campos de interação dentro do conceito de sustentabilidade, como
os aspectos econômicos e sócio-cuturais. Em outras palavras, o desenvolvimento
sustentável tem como base um conceito mais amplo de desenvolvimento turístico
que engloba critérios sobre o meio ambiente, socioculturais e econômicos.
15
O turismo deve estabelecer procedimentos éticos de negócio visando engajar
a responsabilidade social, econômica e ambiental de todos os integrantes da
atividade, incrementando o comprometimento do seu pessoal, fornecedores e
turistas, em assuntos de sustentabilidade desde a elaboração de sua missão,
objetivos, estratégias, metas, planos e processos de gestão.
O conceito de sustentabilidade está ligado a três fatos importantes: qualidade,
continuidade e equilíbrio. “O desenvolvimento do turismo sustentável implica a
tomada de decisões políticas que podem ser severas e que requerem uma visão de
longo prazo, principalmente na hora de efetivar o processo de planejamento”. Assim,
o turismo sustentável é definido como modelo de desenvolvimento econômico
projetado para (OMT, 2001, p. 276):
• Melhorar a qualidade de vida da população local, das pessoas que vivem e trabalham no local turístico; • Prover a experiência de melhor qualidade para o visitante; • Manter a qualidade do meio ambiente da qual depende a população e os visitantes; • A efetivação de aumento dos níveis de rentabilidade econômica da atividade turística para os residentes locais; • O negócio turístico deve ser rentável, caso contrário, os empresários esquecerão o compromisso de sustentabilidade e o equilíbrio será alterado.
No Brasil os princípios mínimos de sustentabilidade são estabelecidos pelo
Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável (CBTS) apud Dias (2003) constituindo-
se em referencial nacional para as práticas de turismo sustentável, que são:
• Respeitar a legislação vigente: o turismo deve respeitar a legislação
vigente, em todos os níveis, no país e as convenções internacionais de que o
país é signatário.
• Direitos das populações locais: o turismo deve promover mecanismos e
ações de responsabilidade social, ambiental e de equidade econômica,
inclusive a defesa dos direitos humanos e de uso da terra, mantendo ou
ampliando, a médio e longo prazos, a dignidade dos trabalhadores e
comunidades envolvidas.
• Considerar o patrimônio cultural e valores locais: O turismo deve
reconhecer e respeitar o patrimônio histórico-cultural das localidades
16
receptoras e ser planejado, implementado e gerenciado em harmonia às suas
tradições
• Desenvolvimento social e econômico dos destinos turísticos: o turismo
deve contribuir para o fortalecimento das economias locais, a qualificação das
pessoas, a geração crescente de trabalho, emprego e renda e o fomento da
capacidade local de desenvolver empreendimentos turísticos.
• Conservação do ambiente natural: em todas as fases de implantação e
operação, o turismo deve adotar práticas de mínimo impacto sobre o
ambiente natural, monitorando e mitigando efetivamente os impactos, de
forma a contribuir para a manutenção das dinâmicas e processos naturais em
seus aspectos paisagísticos, físicos e biológicos, considerando o contexto
social e econômico existente
• Garantir a qualidade dos produtos, processos e atitudes: o turismo deve
avaliar a satisfação do turista e verificar a adoção de padrões de higiene,
segurança, informação, educação ambiental e atendimento estabelecidos,
documentados, divulgados e reconhecidos.
• Sustentabilidade da atividade: a viabilidade econômica do turismo deve
considerar os custos ambientais e sociais.
• Planejamento e gestão responsáveis: o turismo deve estabelecer
procedimentos éticos de negócio visando engajar a responsabilidade social,
econômica e ambiental de todos os integrantes da atividade, incrementando o
comprometimento do seu pessoal, fornecedores e turistas, em assuntos de
sustentabilidade desde a elaboração de sua missão, objetivos, estratégias,
metas, planos e processos de gestão.
Em suma, o desenvolvimento turístico deve se fundamentar em critérios de
sustentabilidade, como forma de assegurar a viabilidade dos destinos e
empreendimentos a longo prazo. Surge também como condição para que o turismo
possa contribuir para a promoção do desenvolvimento econômico e social, para a
proteção do meio ambiente e da diversidade cultural.
17
2.4 Hotelaria
A indústria do turismo é composta por subsetores tais como de transporte,
serviços de alimentação, hospedagem, dentre outros. O presente estudo, como foi
abordado, terá enfoque no setor de hospedagem, daí a necessidade de se
apresentar algumas definições do que são a empresa hoteleira e os meios de
hospedagem.
O Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) considera a empresa hoteleira “a
pessoa jurídica que explore ou administre meio de hospedagem e que tenha em
seus objetivos sociais o exercício da atividade hoteleira”. A hotelaria pode ser
definida também como “o sistema comercial de bens materiais e intangíveis
dispostos para satisfazer às necessidades básicas de descanso e alimentação dos
usuários fora de seu domicílio” (VIEIRA, 2002, p. 79).
A NIH-54 (2004, p. 6) define meio de hospedagem como o empreendimento,
público ou privado, que fornece dentre as suas atividades, serviços de acomodação
e outros tipos de serviços turísticos (lazer, alimentação, etc). Segundo Vieira (2002)
compreende-se como meios de hospedagem os estabelecimentos que apresentam
estrutura e satisfazem algumas condições específicas e básicas para receber
hóspedes3.
No Brasil, têm-se como os principais tipos de meios de hospedagem e turismo
os hotéis, os resorts e as pousadas. Conforme definição dada pelo CNTur n. 1.118,
de 23/08/78 apud Schenini, hotel é um “estabelecimento comercial de hospedagem,
que oferece aposentos mobiliados, com banheiro privativo, para a ocupação
eminentemente temporária, oferecendo serviço completo de alimentação, além dos
demais serviços inerentes a atividade hoteleira” (apud Castelli, 1982, p.47).
Por fim, Vieira (2002) define pousada como o meio de hospedagem com
aspectos arquitetônicos e construtivos, equipamentos e serviços mais simplificados,
normalmente limitados, apenas o necessário à hospedagem do turista para o
aproveitamento do atrativo turístico junto ao qual o estabelecimento se situa. Pode
3 Dentre essas condições, estabelecidas pelo Embratur, estão: 1) seja licenciado pelas autoridades competentes para prestar serviços de hospedagem; 2) ofereça alojamento para uso temporário em unidades habitacionais (UHs); 3) mantenha os padrões previstos no Regulamento dos Meios de Hospedagem conforme deliberação normativa n. 387/1998; 4) promova a manutenção, limpeza e arrumação das áreas e equipamentos de uso do hóspede, etc.
18
ser definida ainda segundo Geroni (2006) como os estabelecimentos de
hospedagem mais simples e integrados à região, apesar de existir algumas
pousadas consideradas luxuosas.
2.5 Programa Bem Receber Diante de um cenário otimista para o turismo nacional e da necessidade de
planejamento turístico conforme os princípios do turismo sustentável como
alternativa de assegurar a viabilidade dos empreendimentos e a competitividade dos
destinos brasileiros, foi criado o PCTS (Programa de Certificação do Turismo
Sustentável), posteriormente denominado Programa Bem Receber.
O Programa objetiva melhorar a competitividade e a qualidade do setor
turístico, com foco principal em médias e pequenas empresas (PME), fomentando
um melhor desempenho nas áreas econômica, ambiental e social, através da
adoção de normas e de um sistema de certificação, além de contemplar ações no
sentido de aumentar a participação no mercado internacional por meio da promoção
comercial no exterior.
Conforme apresenta a NIH-54 (2004), trata-se de normalizar os aspectos do
sistema de gestão do empreendimento que constituem fatores-chave da
sustentabilidade. Isto é, não se restringe ao controle dos impactos ambientais no
meio natural, porém visa buscar os resultados que irão proporcionar ao
empreendimento:
1) contribuição ativa para a conservação, revitalização e a recuperação dos
recursos naturais;
2) buscar resultados econômicos com ética, prezando pela justiça social e a
valorização da cultura local;
3) buscar a legitimidade política em termos de participação e transparência nos
processos de decisão e representação comunitária;
4) interagir com os integrantes da cadeia produtiva do turismo de maneira a
construir as condições operacionais para implementar sistemas de gestão da
sustentabilidade do turismo com abrangências setorial e geográfica.
19
O sistema de gestão da sustentabilidade proposto pelo programa aos
estabelecimentos baseia-se em outros modelos de gestão já estabelecidos, dentre
os quais se destacam como principais referências, a NBR ISO 9001 (sistema de
gestão da qualidade) e a NBR ISO 14001 (sistema de gestão ambiental), da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Constitui-se também como
referência básica o ciclo PDCA (plan-do-check-act) e a Norma Nacional para Meios
de Hospedagem – requisitos para a sustentabilidade (NIH-54:2004).
Como um dos enfoques do presente trabalho é o sistema de gestão
ambiental, torna-se válido descrever, mesmo que de maneira breve, a norma ISO
14001, que serve de alicerce ao Programa Bem Receber.
2.6 NBR ISO 14001
2.6.1 – O que é a ISO ?
A ISO – International Organization for Standardization (Organização
Internacional de Normalização) – é um organismo normatizador com sede em
Genebra, na Suíça. Foi fundado em 1947 e, a partir do final da década passada,
quando foram criadas as normas da série 9000 (1987), passou a imperar na Europa
e posteriormente em todo o mundo como referência de excelência em Sistemas de
Gerenciamento de Garantia da Qualidade. Confere às empresas o padrão de
qualidade aceito e, por vezes, exigido pelo mercado. É a prova de que seu negócio
se classifica entre aqueles, em todo mundo, que respondem pela qualidade de seus
produtos e serviços, além de obter benefícios diretos em termos de redução de
desperdícios e aumento da competitividade.
A ISO tem como objetivo fixar normas técnicas essenciais de âmbito
internacional que traduzem o consenso de diferentes países. No mundo inteiro, já
são mais de 120.000 certificados emitidos pela ISO, sendo que o Brasil já conta com
1.300 certificados e possivelmente outros tantos em vias de emissão.
20
2.6.2 - ISO 14000/01 e o SGA (Sistema de Gestão Ambiental)
A ISO 14000 pode ser definida como um conjunto de normas voluntárias
que tem como principal objetivo fornecer diretrizes para a utilização de um sistema
de gestão ambiental. Para tanto, essa norma pretende fornecer uma estrutura que
assegure a adequação dos processos da empresa à legislação ambiental vigente,
mostrando o comprometimento com a preservação do meio ambiente e, ainda,
aumentando a produtividade através da introdução de processos mais eficazes.
As normas ISO 14000 têm sido adotadas por organizações de diversos
países como base para seu sistema de gestão ambiental. Com o Brasil não foi
diferente. Vem crescendo no País o número de empresas com ISO 14000,
demonstrando uma tendência positiva à adoção desse tipo de sistema de gestão.
Schenini (2004) aponta as seis áreas de abrangência da norma: sistema de gestão
ambiental, auditorias ambientais, avaliação de desempenho ambiental, rotulagem
ambiental, aspectos ambientais nas normas de produtos, análise do ciclo de vida do
produto.
A ISO 14001 trata dos sistemas de gestão ambiental, contendo
especificações e diretrizes para implantação, manutenção, auditoria e melhoria
contínua do SGA. Ou seja, a empresa deve gerenciar seu processo produtivo para
impedir o impacto ambiental ou reduzir seus efeitos em níveis aceitáveis. No Brasil,
a ABNT adotou essa norma com a denominação de NBR ISO 14001. “Certificar um
Sistema de Gestão Ambiental significa comprovar junto ao mercado e a sociedade
que a organização adota um conjunto de práticas destinadas a minimizar impactos
que imponham riscos à preservação da biodiversidade” (site ABNT, acesso em
15/06/08).� Valle (2000) destaca três exigências básicas para que uma empresa
atinja a certificação ambiental: a) a implantação de um SGA; b) cumprir a legislação
ambiental aplicável ao local de instalação; e c) comprometer-se com a melhoria
contínua de seu desempenho ambiental.
Segundo Gaia apud Schenini (2004), a implantação e certificação do SGA
torna-se uma tendência mundial frente a necessidade de uma atuação que
considera um desenvolvimento sustentável, as legislações ambientais cada vez mais
rigorosas e como diferencial competitivo, visando fornecer produtos ou serviços por
meio de processos ecologicamente adequados. A implantação desse sistema
21
proporciona a redução de custos, melhora a qualidade de vida dentro e fora da
organização, além de melhorar a imagem da organização.
A norma ISO 14001 (2004, p. 18) baseia-se na premissa de que a organização
que implementar um SGA irá, periodicamente, analisa-lo e avalia-lo para identificar as
oportunidades de melhoria. A norma requer que uma organização:
a) estabeleça uma política ambiental apropriada; b) identifique os aspectos ambientais decorrentes de atividades passadas, existentes ou planejadas da organização, produtos e serviços para determinar os impactos ambientais significativos; c) identifique os requisitos legais aplicáveis e outros requisitos subscritos pela organização; d) identifique prioridades e estabeleça objetivos e metas ambientais apropriados; e) estabeleça uma estrutura e programa (s) para implementar a política e atingir objetivos e metas; f) facilite as atividades de planejamento, controle, monitoramento, ação preventiva e corretiva, auditoria e análise, de forma a assegurar que a política seja obedecida e que o sistema da gestão ambiental permaneça apropriado; g) seja capaz de adaptar-se à mudança de circunstâncias.
2.6.3 O Setor Hoteleiro e o Sistema de Gestão Ambiental
O setor produtivo é considerado como o que possui maior potencial de gerar
impactos ao meio ambiente. Por outro lado, faz-se necessário frisar que os recursos
naturais são utilizados por todos, e que, portanto, todos devem ter responsabilidade
ética com o meio ambiente. Além disso, pessoas mais conscientes dos problemas
ambientais buscam usufruir produtos e serviços que causem impactos mínimos.
Diante dessa realidade, as empresas, até como forma de sobrevivência e aumento
da competitividade, buscam trabalhar através de modelos de gestão mais
responsáveis.
Conforme Schenini (2002) estabelecimentos hoteleiros do mundo todo estão
trazendo o gerenciamento ambiental para o cotidiano dos seus negócios,
considerando as preocupações com a utilização dos recursos naturais
crescentemente ameaçados. O mercado hoteleiro prevê a médio e longo prazo sua
sobrevivência ligada à atratividade proporcionada pela localização do hotel e às
características inerentes ao próprio estabelecimento. Em se tratando do Brasil, esta
22
realidade é potencializada visto que o patrimônio natural do país é seu maior
atrativo.
Dessa forma, Cavalcanti (2006) diz que empreendimentos do segmento de
hospitalidade começam a priorizar ações ambientais, inserindo-as de maneira
sistêmica nos seus modelos de gestão, considerando os benefícios econômicos que
estas poderão trazer para a empresa, tais como melhoria da imagem corporativa,
redução de custos, além de racionalizar a aquisição e a utilização de insumos e
matérias-primas.
Assim, a identificação de um novo modelo, onde o meio ambiente serve de
norte para o estabelecimento de estratégias e ações em prol do uso racional dos
recursos, serve de base também para as empresas de hospedagem que precisam
se adequar no sentido de requalificar seus produtos e serviços. Cavalcanti (2006,
p.5) diz que:
“Cria-se assim a expectativa de atender às novas exigências que se estabelecem pautadas no discurso da responsabilidade ambiental, seja pela legislação vigente, pela pressão dos órgãos ambientais ou mesmo pelo fator custo. Programas de gestão ambiental, certificação, ações individuais, selos verdes compõem um arsenal de estratégias a disposição dos empresários do setor”.
O mercado hoteleiro nacional é constituído por diversos empreendimentos
hoteleiros de pequeno e médio porte, que vistos isoladamente consomem
relativamente pouca energia, água, alimentos, papéis e outros tipos de recursos, em
comparação com segmentos que causam danos diretos ao meio ambiente através
das diversas formas de poluição.
Por outro lado, é imprescindível se ter uma visão holística do mercado, isto é,
tudo está integrado, interligado, todos os elementos do sistema devem ser auto-
sustentáveis para que todos atinjam um desempenho ambiental aceitável. Segundo
Cavalcanti (2006) o subsistema hoteleiro, no processo de distribuição da atividade
turística, pode configurar uma série de impactos negativos se gerenciado de forma
incorreta, uma vez que a soma dos processos das muitas operadoras hoteleiras
pode gerar um relativo potencial degradante ao meio ambiente.
Os impactos gerados por este tipo de empreendimento decorrem do lixo
gerado, dos equipamentos turísticos, dos produtos de uso diário, de efluentes
23
líquidos misturados com detergentes e outros dejetos orgânicos lançados em mares
e rios. Assim, Schenini (2002, p.3):
A adoção de um SGA – Sistema de Gestão Ambiental, especialmente o que atenda a ISO 14001, representa importante passo para a organização hoteleira, principalmente porque passa a ser vantagem competitiva em um mercado onde as organizações apenas atuam nos limites das conformidades de Leis Ambientais. Dessa forma, os estudos feitos para a implementação de um SGA na hotelaria, serão conduzidos com base às questões contidas nas normas oficiais, que atenda as exigências da ISO 14001 visando à certificação.
Ainda conforme Schenini (2002) um SGA bem implantado, tende a
proporcionar significantes melhorias nos custos das empresas; consegue
racionalizar a aquisição e utilização de insumos e matérias-primas, contratação de
serviços e o uso de recursos naturais. Gera bons resultados ao empreendimento,
além de diminuir de maneira significativa o impacto ambiental.
A ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), como principal
representante do setor hoteleiro, estabeleceu o programa “Hóspedes da Natureza”,
que propõe a implantação de um sistema de gestão ambiental em empreendimentos
hoteleiros. Este programa pode ser citado como exemplo, já que as empresas que
aderiram ao mesmo obtiveram a redução do consumo de recursos naturais,
apresentado como resultados: economia de até 30% no consumo de energia
elétrica; redução de 20% no consumo de água; redução de até 25% e 15% na
geração de resíduos sólidos e no consumo de gás, respectivamente.
Este programa orienta os empresários hoteleiros desde o levantamento dos
tipos e quantidades de resíduos gerados, formas de destino final, custos envolvidos,
até a verificação das possibilidades de reduzir, reutilizar e reciclar. Além disso, é
proposta a implantação de um plano de ação e monitoramento dos resíduos sólidos,
com a incorporação de sistemas de separação e triagem na fonte dos materiais
recicláveis até a eliminação do uso de produtos tóxicos, compostagem do lixo
orgânico e substituição de produtos descartáveis.
24
2.7 Logística Reversa (LR) como Prática Sustentável
2.7.1 A Questão Ambiental como Fomentadora da LR
É notório que em todo mundo a sociedade se preocupa cada vez mais com os
diversos aspectos do equilíbrio ecológico. Um dos aspectos em evidência é o
aumento do volume de lixo gerado pela sociedade, sendo hoje um dos assuntos
mais discutidos na atualidade. O inchaço populacional, o avanço do grau de
industrialização e o estímulo ao consumo só aumentam a complexidade do
problema da disposição do lixo na zona urbana.
Conforme Leite (2003) a poluição por meio do excesso de produtos pós-
consumo que não retornam ao ciclo produtivo, causam custos tanto à sociedade,
voltados para destinação final desses excedentes (aterros e lixões), quanto para as
empresas, repercutindo de forma negativa em sua imagem corporativa. Numa visão
mais profunda estes custos ultrapassam essas duas dimensões (sociedade e
empresa), constituindo um custo ecológico, provocado pelo impacto desses produtos
no ambiente.
Segundo Arnaldo Jardim (2007) a discussão sobre a destinação adequada
dos resíduos sólidos se insere entre as principais preocupações mundiais, no
enfrentamento das mudanças climáticas, no questionamento do atual padrão de
produção e consumo e na preservação dos recursos naturais. Afirma ainda que o
caminho da sustentabilidade exige um esforço conjunto do poder público, do setor
produtivo e da sociedade.
Nesse contexto, a logística reversa (LR) é uma nova área da logística que se
desenvolveu à luz da preocupação ambiental. Mueller (2007) diz que as
preocupações com o meio-ambiente fazem parte do perfil do novo consumidor, visto
que ele possui ciência dos impactos que os rejeitos podem provocar em um futuro
próximo. Esta preocupação é refletida nas empresas e indústrias que são
responsabilizadas pelo aumento destes resíduos. É considerando estas variáveis
25
que surgem políticas de processos que contribuam para o desenvolvimento
sustentável.
A logística reversa pós-consumo, insere-se nesta tendência, trazendo o
conceito de administrar não somente a entrega do produto à mão do cliente, mas
também do seu retorno, direcionando-o para o descarte, reutilização e reciclagem.
Ballou (1993) foi um dos pioneiros a apontar o aumento das
responsabilidades e das oportunidades para os especialistas em logística
empresarial. Segundo o autor, aspectos de relevância como a conscientização da
população em relação ao desperdício, o aumento dos resíduos sólidos como
também a escassez e o custo da matéria-prima original, contribuiriam para o
questionamento de alternativas mais lógicas do que a dispersão dos resíduos
gerados pela sociedade no meio-ambiente.
Para Leite (2003) a revalorização ecológica é tida como a maneira que a
empresa recaptura valor ao bem pós-consumo por meio da logística reversa,
mitigando o impacto de seus produtos no meio-ambiente. Assim, tem-se exigido das
empresas constantes redefinições de seus papéis ante o meio ambiente, pois se
observa o crescimento de uma nítida consciência dos consumidores com relação ao
impacto dos produtos no meio ambiente, devido ao nível maior de informação ou a
intensidade dos problemas advindos dessas agressões.
Diante disso, percebe-se que a utilização da ferramenta da logística reversa é
uma alternativa viável que fomenta práticas de desenvolvimento sustentável, visto
que minora os impactos ocasionados pelo lixo no meio-ambiente.
2.7.2 Conceito de Logística Reversa (LR)
Nas décadas de 50 e 60, o conceito de logística limitava-se à distribuição
física. A primeira ampliação do conceito ocorreu na década de 70, quando foi
estabelecida uma relação entre a administração de materiais e a logística, passando
a ser entendida como a integração tanto da administração de materiais quanto da
distribuição física (BALLOU, 1993). Até então a logística empresarial se concentrava
no exame dos fluxos da cadeia produtiva direta, ou seja, aquele que vai das
matérias-primas ao consumidor final.
26
Com o decorrer do tempo a logística vem evoluindo, deixando de ser uma
atividade meramente técnica e operacional, para se tornar estratégica. Para Ballou
(1993, p. 27) a logística empresarial pode ser assim definida:
A logística empresarial trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo dos produtos desde o ponto de aquisição da matéria prima até o ponto de consumo final, assim como os fluxos de informação que colocam os produtos em movimento , com o propósito de providenciar níveis de serviços adequados aos clientes a um custo razoável.
A evolução do conceito de logística do tradicional para o amplo não cessou
neste estágio. Outras áreas de negócios, além dos processos produtivos industriais
convencionais apontam oportunidades para o desenvolvimento e aplicação da
logística. Entre as áreas com maior demanda futura concentram-se as empresas de
serviços, em que se têm os exemplos da importância da estruturação dos canais de
distribuição para o comércio on-line.
A logística reversa é uma área nova dentro da logística empresarial, originária
da ênfase dada à questão ambiental, quer pela pressão dos governos e sociedades,
ou pelas novas posturas estratégicas adotadas pela empresa. Este ramo segundo
Dowlatshahi (2000) ganha importância crescente como estratégia de negócio
lucrativa e sustentável, sendo considerado um conceito novo na logística e na
cadeia de suprimentos.
Segundo Mueller (2006) as principais razões que induzem as empresas a
implementarem a logística reversa são a legislação ambiental cada vez mais
rigorosa em relação ao descarte de embalagens e inservíveis, a crescente
preocupação ambiental dos consumidores, os benefícios econômicos obtidos com o
retorno dos produtos ao processo de produção (retorno financeiro), razões
competitivas e consolidação da imagem corporativa.
De acordo com Leite (2003) a logística reversa pode ser entendida como a
área que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas
correspondentes, do retorno de bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de
negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos,
agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, de
imagem corporativa, entre outros. Já Hawks (2008, p.1) estabelece o conceito de
logística reversa como:
27
O processo de planejamento, implementação e controle eficiente e eficaz do fluxo de matérias-primas, no processo de administração de materiais acabados e informações, do ponto de consumo ao ponto de origem para fins de recapturação de valor ou destinação final adequada.
A proposta do modelo de gestão de logística reversa é muito mais que a
reutilização e reciclagem de embalagens. O gerenciamento do fluxo reverso das
embalagens utilizará menos material, proporcionará a redução da energia e da
poluição ocasionada pelo transporte. A LR inserida no conceito amplo passa a
representar uma forma de obtenção de vantagem competitiva não somente para as
indústrias, mas também para outras áreas como serviços e gerenciamento de
resíduos.
No passado era notório o descaso com relação ao fluxo de reutilização e
reciclagem de materiais, no entanto este cenário vem sendo alterado. Hoje se
observa que a preocupação no estabelecimento destes chamados “canais reversos”
passa a ser uma questão de sobrevivência, como no caso dos países da União
Européia, onde já existe a obrigatoriedade legal exigindo que o produtor se
responsabilize pelo destino final dos produtos fabricados; ou côo uma questão de
competitividade, como no caso das indústrias de papel, alumínio, vidro, plásticos e
materiais de microinformática, que verificam diretamente os impactos econômicos
positivos através da redução e reciclagem de materiais.
2.7.3 Fatores Necessários e Modificadores
Segundo Leite (2003) existem fatores dentro do canal reverso que influenciam
o processo de logística reversa de maneira significativa, classificados como
necessários e modificadores.
Os fatores necessários podem ser: econômicos, tecnológicos e logísticos. Os
fatores de caráter econômico englobam as condições que permitem a realização das
economias necessárias à reintegração dos matérias recicláveis ao ciclo produtivo e
que financiam a remuneração adequada de todos os agentes da cadeia produtiva
reversa.
Os fatores tecnológicos referem-se às tecnologias disponíveis para o
tratamento econômico dos resíduos no pós-descarte, em sua captação como pós-
consumo, na desmontagem, separação dos materiais constituintes, reciclagem ou
28
processo de transformação dos resíduos em matérias-primas recicladas que
substituirão as novas na sua reintegração ao processo produtivo e logístico que se
reporta às condições de organização, localização e sistemas de transporte entre os
diversos elos da cadeia de distribuição reversa.
Os fatores modificadores são assim classificados por Leite (2003) devido ao
potencial que apresentam em se tornarem “motores” ou incentivadores da
organização das cadeias reversas, devido às pressões da sociedade e governos
frente às questões ambientais. Envolve fatores legislativos que são modificadores
por intervenção governamental, visando à regulamentação, à promoção, à educação
e ao incentivo à ampliação do retorno dos produtos ao ciclo produtivo e os
ecológicos que são aqueles motivados pela sensibilidade ecológica de qualquer
agente do canal reverso, independente da posição que ocupe, seja governo ou
consumidor.
29
3.0 METODOLOGIA
3.1 Tipo de Pesquisa
A metodologia utilizada obedeceu ao conceito de Vergara (2006), que
classifica os tipos de pesquisa em dois critérios básicos: quanto aos fins e quanto
aos meios.
Quanto aos fins a pesquisa é exploratória, porque, conforme Vergara (2006,
p. 47) “é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e
sistematizado”, ou seja, não se verificou a existência de estudos que abordem o
sistema de gestão ambiental das empresas estudadas.
Quanto aos meios a pesquisa é bibliográfica, documental e de campo.
Bibliográfica porque foram usados livros, artigos científicos e sites eletrônicos, isto é,
material acessível ao público em geral, visando criar um referencial teórico
consistente para fundamentação do tema proposto.
Foi feita também uma investigação documental para levantamento de
informações acerca dos aspectos normativos relativos ao Programa Bem Receber
no estabelecimento em análise, através da observância da Norma Nacional para
Meios de Hospedagem – requisitos para a sustentabilidade (NIH-54:2004).
E por fim, realizou-se a pesquisa de campo, que conforme Vergara (2003,p.
47) “ é a investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um
fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-los”. No momento da visita será
utilizado o método de observação direta às instalações dos meios de hospedagem,
assim como as entrevistas semi-estruturadas para obtenção das informações
desejadas.
30
Vale destacar que o presente trabalho baseou-se na amostra total dos
estabelecimentos hoteleiros participantes do programa Bem Receber no Litoral Sul
da Bahia, especificamente localizados nas cidades de Ilhéus, Itacaré e Maraú.
3.2 Coleta e análise de Dados
Os dados primários foram coletados através de entrevista semi-estruturada
com a gerência das pousadas em análise. A entrevista semi-estruturada é
caracterizada por ser parcialmente aberta, isto é, tem como base a utilização de
questões-guia (pré-estabelecidas), quase sempre abertas. Essas questões
elaboradas podem não ser utilizadas durante a realização da entrevista, assim como
é possível a introdução de novas questões, que surgem de acordo com o que
acontece no processo, a depender das informações que se deseja obter.
Já os dados secundários foram obtidos através de livros, artigos científicos e
dissertações, ou seja, a partir de informações fornecidas pela pesquisa bibliográfica.
A análise dos dados foi realizada de forma qualitativa e quantitativa através
das informações obtidas por meio das entrevistas. Destas se originarão relatórios
parciais referentes a cada pousada em análise. E finalmente, a confecção do projeto
sobre os resultados obtidos em todos os estágios da pesquisa.
3.3 Limitações Inicialmente o projeto se propôs a analisar as práticas de logística reversa
relativa à gestão de resíduos sólidos nas pousadas filiadas ao programa Bem
Receber. No entanto, percebeu-se a ausência de tais práticas, o que implicou na
mudança do escopo do trabalho para as práticas sustentáveis adotadas por estas,
englobando além da gestão dos resíduos, a eficiência energética e a gestão do uso
de água, ampliando assim a abrangência da temática escolhida.
31
4.0 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados apresentados a seguir foram obtidos através da análise de
dados, organizados em relatórios, de sete entrevistas semi-estruturadas realizadas
pessoalmente com os gestores das pousadas filiadas ao Programa Bem Receber
durante visitas de campo, bem como por meio da observação direta nas empresas.
O Programa Bem Receber objetiva melhorar a competitividade e a qualidade
do setor turístico, com foco em médias e pequenas empresas, fomentando um
melhor desempenho nas áreas econômica, ambiental e social, através de um
sistema de certificação baseado nas normas ISO 9000 e 14001, buscando a
harmonização da atividade hoteleira com os princípios do turismo sustentável. A
presente análise estará centrada nos requisitos ambientais determinados pelo
programa para o recebimento da certificação.
Inicialmente, este programa foi identificado pelas oito pousadas analisadas
como uma oportunidade de melhoria de gestão e da qualidade dos serviços
prestados. Também foram considerados aspectos como o aumento da
competitividade e maior divulgação do negócio (estratégia de marketing), sendo que
o quesito ambiental não foi citado pelos gestores como fator relevante/impulsionador
da inserção destes estabelecimentos no programa.
Para Beni (2003), a certificação ambiental revela-se um instrumento relevante
de política ambiental, porque além de auxiliar o consumidor na escolha de produtos
e serviços menos nocivos ao meio ambiente, serve de instrumento de marketing
para as empresas que diferenciam seus produtos no mercado. Porém, percebeu-se
que as pousadas desistiram da certificação oferecida pelo Bem Receber, pois se
adequaram apenas parcialmente às exigências de uma gestão sustentável, sendo
32
que sete delas não deram continuidade ao processo de adaptação às normas
relativas aos requisitos ambientais estabelecidos pelo programa4, e isto representou
um dos fatores que levaram à interrupção do processo de certificação nos
estabelecimentos.
Apesar disso, a maior parte das empresas analisadas (75%) afirmam possuir
perfil ecológico, em razão de apresentarem arquitetura integrada à paisagem,
conservação da área natural em que estão localizadas e a adoção de algumas
práticas ecologicamente corretas, antes e durante a implantação do programa, tais
como a redução do consumo de energia e de água e a destinação final adequada de
parte dos resíduos sólidos gerados (conforme indica tabela em apenso, p. 47).
Dentre as práticas adotadas para garantia da eficiência energética nos
empreendimentos destacam-se a utilização de fontes alternativas de energia,
principalmente de energia solar e de gás natural para o aquecimento de água. Uma
das pousadas localizada em Maraú utiliza também fontes de energia eólica e
gerador – é válido apontar que a energia convencional (elétrica) chegou a esta
pousada recentemente.
Outras medidas implementadas foram a troca de lâmpadas convencionais por
fluorescentes (mais econômicas), compra de equipamentos (eletrodomésticos) com
base no critério de eficiência energética e utilização de menos bombas elétricas para
a captação de água dos poços, ações estas realizadas por 75%, 60% e 25% das
pousadas, respectivamente.
Em relação à gestão e ao consumo de água, as ações implementadas
englobam apenas trocas de roupa de cama e toalhas por demanda, geralmente em
dias alternados, em 75% das empresas, bem como o controle de vazamentos (50%).
A maioria das pousadas disponibilizam de duas fontes de abastecimento de água, a
Embasa e os poços (artesianos ou semi-artesianos). Nestes, normalmente não há
controle do consumo de água, o que torna necessária a instalação de hidrômetro
para efetuar a medição.
Apesar das ações implantadas visando diminuir o desperdício e o consumo
de água e energia, foi constatado que apenas 25% das pousadas em estudo
controlam e registram a utilização destes recursos, o que denota a fragilidade das
4 Ver o anexo I, em que são descritos os requisitos ambientais relativos aos resíduos sólidos e à gestão de água e energia determinados pela NIH-54 (norma fundamental do Programa Bem Receber) que devem ser implantados pelas pousadas para a adequação ao programa.
33
ações relativas à minimização do consumo. Tampouco são estabelecidas metas de
redução, que considerem a demanda, o desempenho histórico da pousada e o
levantamento de referências regionais de consumo em estabelecimentos de mesmo
padrão.
Ademais, destes estabelecimentos, cerca de 40%, buscam informar e
conscientizar os clientes, mesmo que de maneira informal e/ou através de
informativos, da importância da redução do consumo de energia e água, na tentativa
de encorajá-los a participar das ações da pousada para a economia destes recursos.
Vários gestores apontaram que encontram bastante resistência dos hóspedes em
relação à adequação e contribuição destes para a manutenção destas práticas.
O atendimento aos requisitos ambientais do programa engloba também a
gestão adequada dos resíduos sólidos gerados pelos empreendimentos hoteleiros,
foco central deste estudo. A principal dificuldade apontada pelos gestores é a
inexistência de um sistema de coleta seletiva e a falta de aterro sanitário controlado
nos municípios onde atuam.
Vale mencionar que no Brasil os problemas na gestão dos resíduos sólidos
urbanos atingem a maioria dos municípios. A população de 187 milhões de
habitantes (IBGE, 2008), gera diariamente, em média, 1 quilo e 100 gramas de
resíduos sólidos urbanos por pessoa, totalizando 61,5 milhões de toneladas/ano.
Apenas 39% destes resíduos são destinados de forma adequada para aterros
controlados e usinas de reciclagem. As regiões Norte e Nordeste apresentam as
situações mais críticas, com destinação adequada de apenas 15% e 25%
respectivamente dos resíduos (ABRELPE, 2007).
Diante das dificuldades da gestão dos resíduos sólidos no Brasil, os resíduos
gerados no setor hoteleiro, assim como em qualquer outra atividade, devem ser
reduzidos na fonte geradora, encaminhados à reciclagem, reutilizados ou receber
um destino final adequado, conforme os preceitos da logística reversa pós-consumo.
Em se tratando das oito pousadas analisadas, seis delas realizam a separação do
lixo úmido (orgânico) do lixo seco (papel, vidro, plástico, embalagens, etc). Apesar
disso, parte do lixo continua sendo encaminhado à coleta pública, isto é, para o
“lixão” da cidade, o que gera impactos negativos na atratividade do destino turístico,
além de contribuir diretamente para a degradação ambiental.
Por se tratar de pousadas a maior parte do lixo produzido é orgânico, sendo
que mais de 60% delas possuem lugar adequado para destinação final destes
34
resíduos, que passam ou pelo processo de compostagem para transformar-se em
adubo ou são utilizados na alimentação de animais. Apenas uma das pousadas
utiliza o óleo de cozinha para a fabricação de sabão. As demais ou colocam num
vaso pet e destinam à coleta pública ou despejam diretamente no meio ambiente.
O principal gargalo relativo aos resíduos gerados pelas pousadas é a
destinação adequada do lixo seco. Apenas 25% das pousadas vendem os materiais
a depósitos de material reciclável ou doam para catadores ou para escolas, o
restante encaminha o lixo para a coleta pública, onde o material ficará exposto a céu
aberto, sem o devido tratamento. É importante apontar que nenhuma das pousadas
sabe a quantidade de lixo que produz periodicamente (dia/mês/ano), o que denota a
ausência de controle também neste quesito.
Com o objetivo de manter as práticas supracitadas em funcionamento é
fundamental a participação dos funcionários. Contudo, apenas quatro pousadas
afirmaram treinar os colaboradores formalmente, através de cursos de capacitação
esporádicos oferecidos por instituições como o SEBRAE e o SENAC5, sendo que
uma delas utiliza o método multiplicador, isto é, um dos membros da empresa
participa de cursos de formação e dissemina o conhecimento adquirido para os
colegas. As demais empresas oferecem treinamento para seu pessoal de maneira
informal, na própria empresa, através de orientações dadas por funcionários mais
antigos.
Além disso, a não familiaridade com a formulação dos procedimentos
operacionais, como o controle de documentos e o processo de padronização,
dificultam o andamento das atividades, pois as empresas em estudo são de caráter
familiar e não dão prioridade ao treinamento formal e ao profissionalismo de todos
os membros da organização.
Nessa perspectiva, o treinamento é essencial para se alcançar resultados
palpáveis em relação à conservação ambiental e à minoração dos impactos
causados pelas empresas, já que a sua ausência resulta na total falta de qualquer
parâmetro documental de aferição do desempenho passado, bem como a projeção
de metas comparativas para o futuro. É válido destacar que esses colaboradores
são quase sempre da comunidade local, e possivelmente desconhecem o contexto
5 Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, respectivamente.
35
de qualidade e meio ambiente. Portanto, necessária se mostra a disseminação dos
conhecimentos adquiridos através do programa em todos os níveis da empresa.
Outro fator de desestímulo é o público alvo dos empreendimentos. Vale
ressaltar que os clientes das pousadas em estudo são predominantemente
brasileiros, da própria Bahia e do Sudeste (São Paulo e Minas Gerais), sendo que o
fluxo de estrangeiros é bastante baixo. No contexto cultural brasileiro, a exigência
dos clientes sobre a questão ambiental é bastante incipiente (há pouca repercussão
no meio hoteleiro). A maioria dos hóspedes não considera a variável ambiental um
efetivo fator de diferenciação, e por este motivo se mostram avessos a pagar preços
diferenciados (geralmente maiores) ao empreendimento que assume uma postura
de responsabilidade ambiental.
Em regra, a escolha do hóspede baseia-se em variáveis como preço,
qualidade dos serviços e conforto. Se o empreendimento possui uma postura
responsável em relação ao meio ambiente, as ações implantadas são notadas e
recebem elogios dos clientes, mas não são consideradas como fator crítico de
sucesso, isto é, não servem de parâmetro no momento da escolha do lugar em que
o hóspede se alojará. Destarte, segundo Gonçalves (2004) a escassez de
“consumidores verdes”, principalmente em países em desenvolvimento como o
Brasil, implica um fraco incentivo para uma atuação do setor empresarial nas
questões ambientais. Como resultado, o empresariado se questiona sobre a
validade de implantar processos ambientalmente corretos que oneram suas
empresas (geração de custos).
Além disso, as empresas estudadas pouco divulgam sobre as práticas que
adotam. Isso se revela como uma oportunidade, pois estes empreendimentos
podem melhorar seu posicionamento competitivo diante da concorrência, mesmo
que a longo prazo, caso invistam na divulgação das atitudes ambientalmente
responsáveis que implementam.
Apesar da pouca repercussão das exigências ambientais em meios hoteleiros
é possível perceber que hoje o tema é muito mais discutido que há anos atrás, e
aparentemente, a conscientização ambiental atrelada a responsabilidade
empresarial tende a ser mais valorizada pelo mercado e pelos consumidores, o que
pode trazer benefícios à imagem da empresa, além de atrair clientes verdes em um
futuro próximo.
36
Enfim, como não houve continuidade do Programa Bem receber em sete das
pousadas analisadas e como conseqüência as ações propostas não foram, em sua
maioria, efetivamente implementadas, pelo menos quatro pousadas estão iniciando
o processo de adaptação a um novo programa, denominado Clube de Excelência,
que possui um escopo bastante semelhante ao Bem Receber. De fato é visto como
uma nova oportunidade de adequação das pousadas aos paradigmas de
sustentabilidade que tendem a ser incorporados à hotelaria, afinal as questões
relativas ao meio ambiente são fundamentais para essa atividade, por depender dos
recursos naturais para existir.
37
5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo revelou que o modelo de gestão sustentável das pousadas
analisadas possui certa fragilidade. Apesar da adoção de algumas práticas
sustentáveis, existem alguns gargalos relativos à destinação final adequada do lixo
e à economia de água e energia, cuja gravidade varia de acordo com a realidade de
cada pousada.
O processo de adequação às exigências do programa Bem Receber é
exaustivo, requer investimentos, dedicação, comprometimento dos colaboradores e
formalização das rotinas administrativas. Ou seja, é um processo de reestruturação
complexo, que implica uma forma padronizada de trabalho, visando garantir a
sobrevivência do negócio (lucratividade) e a obtenção de vantagem competitiva
frente à concorrência.
Associado a este processo longo e árduo, o excesso de requisitos exigidos
(tendência à burocratização), a falta de estímulos do Poder Público, o aumento nos
custos de gestão, a impossibilidade de retorno imediato e a apatia dos clientes e da
sociedade em relação às questões ambientais, foram os principais entraves e
fatores de desmotivação apontados pelos empresários à implantação efetiva dos
requisitos ambientais exigidos pelo programa.
Foi possível constatar também certa distorção entre o discurso e a prática
exercida pelos empreendimentos. Os proprietários das pousadas denotaram
consciência da importância de práticas sustentáveis para o negócio e para a
conservação e minoração dos impactos gerados no meio ambiente, porém quando
analisada a efetiva ação empresarial diante da questão ambiental, vale ressaltar
que, apesar de alguns esforços dispersos, a grande maioria do empresariado não
38
considera a atuação ambiental como fonte de vantagem competitiva para seus
negócios, mas sim como custos.
Considerando as práticas existentes nas pousadas percebe-se a carência de
controle e metas de redução no consumo de água e de energia, visto que apesar de
existir ações para diminuir a utilização destes recursos, não há medição ou registros
escritos e periódicos do consumo. Portanto, faz-se necessária a geração de
relatórios destinados ao controle, que sirvam de parâmetro para o estabelecimento
das metas de consumo das pousadas.
No que diz respeito à gestão dos resíduos sólidos, a organização das
pousadas locais torna-se essencial, com o objetivo de pressionar o poder público no
sentido de implementar ações como a coleta seletiva do lixo e a determinação de
lugar apropriado para a destinação final e tratamento dos resíduos sólidos, além de
exigir a realização de um plano desenvolvimento turístico e legislação ambiental
adequados à realidade local. Pode-se ainda cobrar da prefeitura o recebimento de
estímulos, tais como redução dos impostos cobrados e/ou o recebimento de bônus,
para empresas que busquem participar de programas de gestão como o do Bem
Receber, como forma de incentivar a participação de outras empresas da região
nestes programas.
Atrelada a essa organização do empresariado local faz-se necessário
também o estabelecimento de parcerias com cooperativas, empresas de outros
segmentos, ONGs, depósitos de material reciclável da região, com o intuito de
desenvolver projetos que tracem ações efetivas em relação ao lixo produzido,
buscando reduzí-lo na fonte e encaminhá-lo à reciclagem.
Deve-se ainda criar mecanismos de incentivos para a participação dos
hóspedes nas práticas sustentáveis adotadas pelas pousadas. Demonstrar a
importância de tais ações e fomentar a educação ambiental, através de informativos,
folders, vídeos educativos, são algumas maneiras de despertar o interesse do
hóspede para a questão ambiental. Além disso, a empresa pode promover eventos,
como gincanas periódicas, em que sejam abordados temas relacionados ao meio
ambiente, oferecendo brindes e/ou descontos nas diárias aos hóspedes mais
participativos.
Outro quesito bastante relevante é a inserção da comunidade local nas
práticas sustentáveis. O empresariado, por si só, não conseguirá garantir a
qualidade do meio ambiente. Torna-se, portanto, essencial disseminar a educação
39
ambiental para sensibilizar a população, bem como evidenciar a importância de
atitudes ambientalmente responsáveis e das práticas de redução de consumo para a
conservação dos recursos naturais, que são tão necessários para a manutenção da
atividade turística na região.
O investimento em treinamento representa também um fator chave. São os
colaboradores da empresa que garantem a manutenção das práticas adotadas e
promovem as mudanças necessárias. Se os mesmos não entendem a importância
das ações que implementam, o processo de adaptação da cultura organizacional ao
escopo e aos parâmetros exigidos pelo programa fica comprometido. Torna-se
imprescindível a sensibilização desses trabalhadores também através da educação
ambiental.
Pode ser proposta ainda a criação de software destinado aos meios de
hospedagem de pequeno porte, que norteie o processo de implantação e
manutenção de um sistema de gestão ambiental, facilitando a adaptação aos
requisitos exigidos, visto que os recursos humanos e financeiros são bastante
limitados em empresas desse tipo.
Por fim, constata-se que há um longo caminho a ser percorrido para o alcance
da tão sonhada sustentabilidade nas pousadas e conseqüentemente nos destinos
turísticos onde se localizam. A iniciativa destas pousadas em participar de
programas de melhoria de gestão, como o Bem Receber, revela uma tendência à
profissionalização e à especialização do setor hoteleiro na região, não se
relacionando, à priori, a uma preocupação de manter a qualidade ambiental, mas
sim a uma oportunidade de aumentar a competitividade em relação aos
concorrentes, através da melhoria dos processos administrativos e dos serviços
ofertados.
40
6.0 REFERÊNCIAS
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41
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42
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43
APÊNDICES
44
APÊNDICE A – Entrevista semi-estruturada aplicada nas pousadas filiadas ao Bem Receber dos municípios de Ilhéus, Itacaré e Maraú
Estabelecimento: Cidade: Nome do entrevistado: Como o estabelecimento tomou conhecimento do Programa Bem Receber, e como foram realizados os processos relativos à sua participação no programa? (internet, contato com outras pousadas, etc) Como está sendo a relação da empresa com o programa, trouxe melhorias para o estabelecimento? Quais fora, os fatores considerados para a inserção no programa? O quesito ambiental foi considerado como fator relevante para inserção deste estabelecimento no programa Bem receber? Se sim, quais aspectos foram observados? (poluição das águas, emissão de gases, escassez de recursos materiais, geração de lixo). Que ações foram implementadas em função disso? O que a empresa tem feito para garantir a qualidade do meio ambiente? A empresa desenvolve algum tipo de programa de Educação ambiental interno (para os funcionários) ou em comunidades locais? A empresa comunica aos seus clientes as suas práticas ambientais ou referentes à responsabilidade social? De que forma? Qual a receptividade destes clientes no que diz respeito às ações ambientais adotadas pela empresa? Eles denotam alguma preocupação com a questão ambiental? Quais os benefícios auferidos pela empresa por sua postura de responsabilidade ambiental? (elogios, maiores vendas, premiações) A questão do lixo foi considerada? Por qual(is) motivo(s)? Qual o volume de lixo produzido, média/dia, na alta, média e baixa estação? Antes da implementação do programa havia algum tipo de preocupação em relação ao lixo gerado no hotel? Há separação do lixo seco (papel, plástico, metal, vidro) do lixo orgânico (restos de alimentos)? Os funcionários são conscientizados da importância da separação?
45
Em que setores (cozinha, apartamento, recepção, etc) o lixo orgânico é produzido? Há coleta separada desse material? Quantas vezes ao dia e horários? Qual o destino dado para este material? (coleta pública (lixão), aterro sanitário controlado, catadores, venda a depósitos de material reciclável diretamente) E o lixo seco, é produzido principalmente por qual setor? Há uma coleta seletiva desse material? Possui lugar específico para o acondicionamento desses materiais? Há alguma prática de redução de consumo? (água, energia, lixo) Se sim, quais? Por que motivo? Estas práticas são realizadas desde quando? Houve uma redução significativa? Qual o consumo médio de água e energia no período de um ano antes e após a implementação do Programa Bem Receber? A empresa ganhou competitividade e melhorou sua imagem corporativa, após a adoção destas práticas sustentáveis?
46
APÊNDICE B
Principais Práticas Sustentáveis Adotadas pelas Pousadas
Fonte: Dados da pesquisa Legenda Pousadas analisadas Práticas realizadas pelas pousadas
Práticas
Sustentáveis Solarium Maresia Aldeia do Mar Chalés
Pedra torta
Eco Village Indaiá
Praia Bela
Casa Branca
Maris Turismo
e Ecologia
Conservação da área natural
Utilização de fontes alternativas de energia
(gás, solar, etc)
Troca de roupa de cama e lençóis em dias
alternados
Uso de lâmpadas e eletrodomésticos com eficiência energética
garantida
Busca despertar nos hóspedes uma
consciência ambiental
Separação do lixo seco do lixo orgânico
Processo de composta- gem ou reutilização
(alimentação de animais) do lixo orgânico
Envio do lixo seco para reciclagem ou para aterro sanitário
controlado
Treinamento formal dos colaboradores
Utilização de materiais recicláveis e
biodegradáveis
Tratamento de esgoto
47
ANEXO
48
ANEXO I 5. Requisitos Ambientais para o Turismo Sustentável As práticas do empreendimento devem ser sustentáveis e minimizar a degradação do ambiente. 5.5. Resíduos sólidos e efluentes 5.5.1 Resíduos sólidos O empreendimento deve planejar e implementar medidas para reduzir, reutilizar ou reciclar os resíduos sólidos. O planejamento deve incluir o estabelecimento de metas de redução, reutilização e reciclagem, de acordo com as condições locais. A gestão dos resíduos deve ser efetuada de acordo com a boa técnica, inclusive os resíduos gerados pelos clientes quando em campo, com a utilização de práticas como:
- aquisição preferencial de produtos em embalagens para grandes quantidades, quando compatível com as condições ambientais locais; - prevenção do uso de embalagens descartáveis; - utilização de recipientes adequados para a coleta; - separação e coleta seletiva; - reutilização dos resíduos orgânicos, inclusive como insumo de produção para as comunidades locais.
O estabelecimento deve dispor de um local específico e vedado para resíduos sólidos contaminantes de acordo com a legislação vigente. 5.5.2 Efluentes líquidos O empreendimento deve planejar e implementar medidas para minimizar os impactos provocados pelos efluentes líquidos ao meio ambiente e à saúde pública. As medidas devem incluir o tratamento das águas residuais (seja mediante a conexão ao sistema público de coleta e tratamento, se ele existir, seja mediante a existência de instalações de tratamento próprias). Devem existir planos de contingência para prevenir e mitigar falhas dos sistemas de tratamento e coleta utilizados e medidas para prevenir a contaminação das águas residuais por produtos tóxicos ou perigosos. O empreendimento deve dar destinação adequada aos resíduos líquidos de motores a explosão. 5.6 Eficiência energética
49
O empreendimento deve planejar e implementar medidas para minimizar o consumo de energia, em particular de fontes não renováveis. 5.6.1 O empreendimento deve controlar e registrar o consumo de energia (em kWh por hóspede/noite) de fontes externas e de fontes próprias renováveis e não renováveis. 5.6.2 O empreendimento deve estabelecer metas de consumo, considerando a demanda, o seu desempenho histórico e o levantamento de referências regionais de consumo em estabelecimentos de mesmo padrão. As metas de consumo devem considerar o "consumo fixo" e "variável". 5.6.3 É recomendável que o empreendimento faça uso de fontes de energia renováveis, na extensão e de acordo com as suas especificidades e tecnologias disponíveis, levando em conta os aspectos de viabilidade econômica e ambiental. 5.6.4 O empreendimento deve ter implementado um procedimento para assegurar que as luzes e equipamentos elétricos permaneçam ligados apenas quando necessário. 5.6.5 Os procedimentos de aquisição de equipamentos e insumos que consomem energia (como lâmpadas, equipamentos de refrigeração, geladeiras e frigoríficos, fogões, aquecedores, lavadoras de roupa, etc.) devem incluir como critério sua eficiência energética e a possibilidade do uso de fontes de energia alternativas. 5.6.6 A arquitetura das construções deve utilizar as técnicas para maximizar a eficiência energética, tais como, por exemplo:
- isolamento térmico de paredes e forros; - ventilação natural; - otimização do uso da sombra e insolejamento; - otimização do uso da iluminação natural; - minimização das fugas e perdas de calor nas instalações hidráulicas, de aquecimento e de refrigeração; - utilização de equipamentos e dispositivos de aquecimento ou refrigeração com eficiência energética maximizada.
5.6.7 O empreendimento deve planejar e implementar medidas para reduzir o consumo de energia dos meios de transporte próprios e utilizados nas suas atividades. Nota: tais medidas podem incluir o uso de veículos eficientes do ponto de vista energético, efetuar as manutenções regulares, planejar o uso da frota otimizando a sua eficiência, escolhendo trajetos e horários mais eficientes, treinamento dos motoristas em condução econômica e outras medidas equivalentes.
50
5.6.8 O empreendimento deve informar aos clientes o seu comprometimento com a economia da energia e encorajar o seu envolvimento. 5.7 Conservação e gestão do uso de água O empreendimento deve planejar e implementar medidas para minimizar o consumo de água e assegurar que o seu uso não prejudica o abastecimento das comunidades locais, da flora, da fauna e dos mananciais. 5.7.1 O empreendimento deve controlar e registrar o consumo de água de fontes externas e de fontes próprias. 5.7.2 O empreendimento deve estabelecer metas de consumo, considerando a demanda e o seu desempenho histórico e o levantamento de referências regionais de consumo em estabelecimentos de mesmo padrão. As metas de consumo devem considerar o "consumo fixo" e "variável". 5.7.3 O empreendimento deve planejar e implementar medidas que asseguram que a captação e o consumo de água não comprometam a sua disponibilidade para as comunidades locais, flora e fauna, a vazão dos corpos d’água e o nível e proteção dos mananciais preservando o equilíbrio dos ecossistemas. As medidas devem incluir ações tais como:
- utilização de dispositivos para economia de água (como, por exemplo, torneiras e válvulas redutoras de consumo em banheiros, lavabos, chuveiros e descargas); - programas específicos como trocas não diárias de roupa de cama e toalhas; - programas de inspeção periódica nas canalizações e sua manutenção com vistas à minimização das fugas de água. Devem ser mantidos registros dessas inspeções e reparos; - a captação e armazenamento de águas pluviais; - preservar e revitalizar os mananciais de água.
5.7.4 O empreendimento deve promover, quando aplicável, o uso de águas residuais tratadas para atividades como rega, lavagem de veículos e outras aplicações. 5.7.5 O empreendimento deve controlar a qualidade da água utilizada e assegurar a potabilidade daquela utilizada para consumo humano. Esse controle deve incluir a realização periódica de ensaios de potabilidade da água. A periodicidade deverá ser estabelecida pelo empreendimento, considerando aspectos como:
- legislação vigente;
- boas práticas;
- as características das instalações hidráulicas;
- origem da água captada ou recebida;
- estado das cisternas e estado de limpeza das caixas d’água;
- histórico do uso da água pelo empreendimento;
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- ocorrência de incidentes de segurança alimentar.
5.7.6 O empreendimento deve estabelecer procedimentos que minimizem o consumo de água em piscinas. Esta água deve ter a sua qualidade monitorada periodicamente. 5.7.7 O empreendimento deve informar aos clientes o seu comprometimento com a economia da água e encorajar o seu envolvimento mediante campanhas de economia dirigidas aos hóspedes e aos seus trabalhadores.