UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ … · Quanto ao levantamento do perfil geral do turista,...

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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS ANÁLISE DO AGENCIAMENTO DOS ROTEIROS TURÍSTICOS CULTURAIS EM ILHÉUS – BA: Uma abordagem econômica e sócio-cultural ILHÉUS - BA 2005

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS

ANÁLISE DO AGENCIAMENTO DOS ROTEIROS TURÍSTICOS CULTURAIS EM ILHÉUS – BA: Uma abordagem econômica e sócio-cultural

ILHÉUS - BA

2005

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ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS

ANÁLISE DO AGENCIAMENTO DOS ROTEIROS TURÍSTICOS CULTURAIS EM ILHÉUS – BA: Uma abordagem econômica e sócio-cultural

Dissertação apresentada, para obtenção do título de Mestre em Cultura & Turismo, à Universidade Estadual de Santa Cruz. Área de Concentração: Política, planejamento e configuração de produtos e serviços turísticos. Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata.

ILHÉUS – BA

2005

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ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS

ANÁLISE DO AGENCIAMENTO DOS ROTEIROS TURÍSTICOS CULTURAIS EM ILHÉUS – BA: Uma abordagem econômica e sócio-cultural

Dissertação apresentada, para obtenção do título de Mestre em Cultura & Turismo, à Universidade Estadual de Santa Cruz.

Área de Concentração: Política, planejamento e configuração de produtos e serviços turísticos.

Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata.

Ilhéus/ BA 27/09/2005

___________________________________________________________________ Henrique Tomé da Costa Mata – Dr.

UESC Orientador

___________________________________________________________________ Ada de Freitas Maneti Dencker – Drª.

USP

___________________________________________________________________ Jorge de Souza Araújo – Dr.

UEFS

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho às pessoas mais importantes da minha vida: minha mãe, Antonia, meus irmãos Luciano e Júnior, minha sobrinha, Letícia, meu marido Adriano e ao meu bebê.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, meu orientador maior.

À minha mãe, pelas orações e pela torcida.

Ao meu amigo irmão, Cleverson Suzart, pelo exemplo, incentivo e dedicação de sempre.

Ao meu Orientador Henrique Tomé, pela compreensão e demonstração de respeito.

À professora Odaléia Queiroz, pela orientação e apoio nos primeiros momentos da pesquisa.

Ao professor Jorge Araújo, pela disponibilidade em todos os momentos.

Aos professores do curso, em especial aos professores Hélio Barroco e Odilon Pinto.

Aos meus colegas de turma que se tornaram grandes amigos, Adailson, Ana Paula, Cíntia Paula e Moabe, pelos momentos maravilhosos que passamos nesse período.

Mais uma vez a Adailson, pelo companheirismo nos momentos finais.

Ao meu irmão Júnior, que me ajudou nas pesquisas de campo.

À funcionária Graça Argolo, pela eterna paciência e solicitude.

À NV turismo, especialmente a Márcia, Rodrigo Victório e todos os guias turísticos, pelo apoio e disposição em ajudar.

Aos turistas que colaboraram com a pesquisa.

À Universidade Estadual de Santa Cruz, por ser a minha casa desde a graduação.

À Coordenadora do Mestrado em Cultura e Turismo, professora Sandra Sacramento.

Enfim, a todos que torceram por mim.

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AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao grande amor da minha vida, companheiro de todas as horas,

Adriano Lemos.

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ANÁLISE DO AGENCIAMENTO DOS ROTEIROS TURÍSTICOS CULTURAIS EM ILHÉUS – BA: Uma abordagem econômica e sócio-cultural

Autor: ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS

Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata

RESUMO

Analisa-se o serviço de roteiros turísticos culturais prestados pelo setor de agenciamento turístico receptivo da cidade de Ilhéus-Ba. Objetiva-se abordar os aspectos econômicos e sócio-culturais envolvidos na prestação desse serviço, com base no estudo do perfil do cliente. Especificamente, busca-se descrever os roteiros turísticos culturais agenciados no município, identificar o perfil geral dos turistas e analisar suas preferências e atitudes através do estudo de algumas variáveis psicográficas. Para o desenvolvimento da pesquisa, adota-se o estudo descritivo aliado ao método quantitativo. Utilizam-se como técnicas de pesquisa o questionário e a observação sistemática. A amostra é do tipo probabilística e foi estimada com base nas informações passadas pelo agente receptivo. Quanto ao levantamento do perfil geral do turista, ratificam-se as tendências apontadas pelos autores da área em relação às características predominantes dos demandantes pela atividade turística. No que concerne ao perfil psicográfico, observam-se como características mais importantes e preponderantes: que os turistas têm de moderado a muito interesse por cultura; que os gostos são diversificados quanto aos atrativos culturais oferecidos pela cidade de Ilhéus; que existe a preferência por um percurso mais lento, voltado à qualidade da visita; que os turistas desejam uma interação com a comunidade local e requerem que essa interação tenha uma intensidade moderada; que priorizam a qualidade e o aprofundamento das informações transmitidas durante o roteiro, com a interpretação do guia turístico; e que desejam uma monitoração moderada por parte da agência de receptivo no decorrer do percurso. Demonstra-se, através dos resultados obtidos e do cruzamento dos dados do perfil geral com os dados do perfil psicográfico, que os turistas estudados, de uma forma geral, estão dispostos a realizar uma atividade turística cultural mais integrativa com o local e com a sua comunidade e que desejam uma atividade menos estandardizada, que considere as preferências individuais e permita mais possibilidades de escolha. As informações obtidas e as discussões efetuadas sinalizam possíveis adequações a serem consideradas por parte do agenciamento receptivo da cidade de Ilhéus-Ba.

Palavras-chave: Turismo; Agenciamento receptivo; Roteiros turísticos culturais; Perfil do turista.

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ANALYSIS OF THE AGENCY OF THE CULTURAL TOURIST SCRIPT-WAYS IN ILHÉUS - BA: A economic and social-cultural boarding

Author: ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS

Person who orientates: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata

ABSTRACT

The service of cultural tourist ways-scripts given by the sector of receptive tourist agency of the city of Ilhéus-Ba is analyzed. It objective to approach involved the economic and social-cultural aspects in the installment of this service, on the basis of the study of the profile of the customer. Specifically, it searchs to describe the cultural tourist ways-scripts of the agencies in the city, to identify the general profile of the tourists and to analyze its preferences and attitudes through the study of some psicografics variables. For the development of the research, the descriptive study is adopted ally to the quantitative method. The questionnaire and the systematic comment are used as research techniques. The sample is of the probabilist type and was esteem on the basis of the information passed for the receptive agent. About the survey of the general profile of the tourist, the trends pointed for the authors of the area in relation to the predominant characteristics of the plaintiffs for the tourist activity are ratified. About the psicografic profile, they are observed as characteristic more important and preponderant: that the tourists have of moderate the much interest for culture; that the preferences are diversified about the cultural attractive offered for the city of Ilhéus; that the preference for a slower passage exists, come back to the quality of the visit; that the tourists desire an interaction with the local community and require that this interaction has a moderate intensity; that they prioritize the quality and the deepening of the information transmitted during the script, with the interpretation of the tourist guide; e that desires that the agency of receptive monitorns moderately in elapsing of the passage. It demonstrates, through the gotten results and of the crossing of the data of the general profile with the data of the psicografic profile, that the studied tourists, of a form generality, want to realize a integrative cultural tourist activity with the place and its community and that they less desire an activity standard, that considers the individual preferences and allows more possibilities of choice. The gotten information and the effected quarrels signal possible adequacies to be considered on the part of the receptive agency of the city of Ilhéus-Ba. Word-key: Tourism; Receptive agency; Cultural tourist scripts; Profile of the tourist.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1

Igreja de Nossa Senhora da Escada Olivença

p.49

Figura 2

Cristo Redentor de Ilhéus

p.50

Figura 3

Ilhéos Hotel

p.51

Figura 4

O Bataclã

p. 52

Figura 5

Igreja de Nossa Senhora da Vitória

p. 53

Figura 6

Palacete que pertenceu ao Coronel Misael Tavares

p. 55

Figura 7

Igreja Matriz de São Jorge

p. 56

Figura 8

Rua Antonio Lavigne de Lemos

p. 56

Figura 9

Loja de artesanato da Vovó Aidil

p. 57

Figura 10

Casa dos Artistas

p. 58

Figura 11

Atriz representando Gabriela

p. 58

Figura 12

Entrada Lateral da Casa de Cultura Jorge Amado

p. 59

Figura 13

Sala de Vídeo da Casa de Cultura Jorge Amado

p. 60

Figura 14

Teatro Municipal de Ilhéus

p. 61

Figura 15

Catedral de São Sebastião

p. 62

10

Figura 16

Bar Vesúvio

p. 63

Figura 17

Visita a uma plantação de cacau

p. 65

Figura 18

Entrada da Fazenda Primavera

p. 66

Figura 19

Turistas Conhecendo a Barcaça

p. 68

Figura 20

Casa Sede da Fazenda Primavera

p. 68

Figura 21

Museu da Fazenda Primavera

p. 70

Figura 22

Museu Casa Verde

p. 71

Figura 23

Interior do Museu Casa Verde

p. 72

Figura 24

Opinião do turista quanto à qualidade do atendimento da agência de receptivo

p. 83

Figura 25

Demonstração gráfica do interesse dos turistas por atrativos culturais

p. 85

Figura 26

Demonstração gráfica da opinião dos turistas em relação à velocidade dos roteiros

p. 91

Figura 27

Demonstração gráfica da importância atribuída pelo turista à interação com a comunidade local no decorrer do roteiro

p. 95

Figura 28

Avaliação do turista quanto à intensidade da interação com a comunidade local durante o roteiro

p. 98

Figura 29

Preferência dos turistas quanto à velocidade das informações passadas durante o roteiro

p. 102

Figura 30

Demonstração da distribuição percentual da preferência dos turistas em relação aos intérpretes das informações passadas durante o roteiro

p.107

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1

Demonstração da distribuição percentual dos meios que influenciaram a escolha dos turistas pela agência de receptivo

p.79

Tabela 2

Demonstração da distribuição percentual do interesse do turista pelos atrativos culturais da cidade de Ilhéus

p.88

Tabela 3

Grau de monitoração da agência desejado pelos turistas durante o percurso

p.111

Tabela 4

Avaliação dos turistas sobre a importância dos serviços prestados pelo receptivo durante a realização de roteiros

p.115

12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1

Demonstração simplificada do perfil geral dos turistas pesquisados

p.74

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SUMÁRIO RESUMO ...................................................................................................................... vi

ABSTRACT vii

LISTA DE FIGURAS viii

LISTA DE TABELAS .................................................................................................. x LISTA DE QUADROS ................................................................................................ xi 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1 1.1 O problema e a sua importância ................................................................................ 3 1.2 Objetivos................................................................................................................... 4 2 METODOLOGIA ...................................................................................................... 6 2.1 Procedimentos de coleta e análise de dados ............................................................... 7 2.2 População e amostragem ........................................................................................... 9 3 O AGENCIAMENTO TURÍSTICO DE ROTEIROS CULTURAIS 3.1 Turismo e agenciamento: Aspectos conceituais ......................................................... 12 3.2 Novos posicionamentos do setor de agenciamento turístico frente aos desafios do mercado ..................................................................................................................... 18 3.3 A importância do estudo do cliente no mercado de serviços ...................................... 23 3.4.Roteiros turísticos culturais: Abordagens conceituais e estruturais............................. 30 3.5 As responsabilidades dos agentes envolvidos na interface entre a cultura e o turismo..................................................................................................................... 36 4 ROTEIROS CULTURAIS AGENCIADOS EM ILHÉUS/BA 4.1 Ilhéus: Da agricultura ao turismo............................................................................... 42 4.2 Descrição dos roteiros culturais agenciados em Ilhéus/Ba ......................................... 47 4.2.1 Roteiro City Tour histórico..................................................................................... 47 4.2.2 Roteiro fazenda de cacau........................................................................................ 64 5 ANÁLISE DO PERFIL DO TURISTA CULTURAL AGENCIADO EM ILHÉUS/BA 5.1 Análise do perfil geral do turista................................................................................ 73 5.2 Análise do perfil psicográfico do turista .................................................................... 78 5.2.1 A influência dos meios de informação na escolha dos turistas pela agência ........... 79 5.2.2 A satisfação dos turistas em relação os serviços prestados pela agência ................. 83 5.2.3 O interesse por atrativos culturais pelos turistas agenciados em Ilhéus................... 84 5.2.4 Atrativos culturais da cidade de Ilhéus que despertam o interesse dos turistas agenciados ..................................................................................................................... 88 5.2.5 Opinião dos turistas quanto à velocidade dos roteiros agenciados ......................... 91 5.2.6 A importância dada pelo turista à interação com a comunidade local durante os roteiros.......................................................................................................................... 95

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5.2.7 A preferência dos turistas quanto ao grau de interação com a comunidade local durante os roteiros........................................................................................................ 97 5.2.8 A opinião dos turistas quanto à quantidade de informações passadas durante os roteiros ..................................................................................................................... 102 5.2.9 A escolha dos turistas quanto ao intérprete das informações passadas durante os roteiros .................................................................................................................... 106 5.2.10 A preferência dos turistas em relação ao grau de monitoração da agência durante o roteiro............................................................................................................. 111 5.2.11 A avaliação dos turistas sobre a importância de alguns serviços prestados durante a realização de roteiros ..................................................................................... 115 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 118 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 122 APÊNDICE A ........................................................................................................ ......... 129 APÊNDICE B .................................................................................................................. 131 APÊNDICE C ....................................................................................................... .......... 132 ANEXO

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1 INTRODUÇÃO

A atividade turística possui características tão dinâmicas e peculiares que a tornam

uma atividade econômica e também sócio-cultural. Econômica, porque envolve todo um

complexo de serviços estruturados para atender às necessidades daquele que se desloca com

a finalidade de fazer turismo, gerando investimentos, renda e emprego. Sócio-cultural, já que

contempla deslocamento de pessoas, integração entre povos, troca de conhecimento, vivência

de novos costumes e fazeres1.

Diante desse contexto, qualquer análise sobre o turismo não pode desconsiderar a

dinâmica da atividade, nem dissociar os aspectos econômicos e sócio-culturais envolvidos.

Na presente pesquisa analisa-se a prestação dos serviços de roteiros de turismo cultural

realizados pelas agências de viagens em Ilhéus, cidade localizada no litoral Sul do Estado da

Bahia, tendo como parâmetro o perfil geral (geográfico, demográfico, social e econômico) e

psicográfico do turista que viaja em busca de cultura.

A análise considera o turismo do ponto de vista econômico, já que tem como foco a

apreciação sistemática de aspectos mercadológicos que compreendem a prestação de um

serviço turístico específico, mas também contempla discussões acerca dos fatores sócio-

culturais existentes na atividade estudada. Nesse sentido, foi escolhida a área de

agenciamento turístico em virtude das transformações que estão ocorrendo no setor e da

importância dessa atividade para o turismo que, junto às transportadoras e meio de

hospedagem, compõe o chamado “tripé” do turismo.

1 Conforme as concepções de Moesch (2002) e De La Torre (1992).

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O desenvolvimento da análise se efetivou em torno do serviço receptivo das agências,

mais especificamente, dos roteiros culturais realizados por essas prestadoras de serviço, pois

interessa à pesquisa a identificação do perfil geral e de alguns aspectos do perfil psicográfico

(preferências, comportamentos, atitudes) dos turistas agenciados que buscam conhecer os

atrativos históricos e culturais da cidade. Por outro turno, a cidade de Ilhéus foi eleita como

área de estudo pelo fato de possuir grande potencial para o desenvolvimento do turismo

cultural, tendo importantes atrativos culturais, como o patrimônio arquitetônico, o legado da

cultura cacaueira e a literatura, representada por escritores como Jorge Amado e Adonias

Filho.

O trabalho está estruturado em tópicos, onde, introdutoriamente são apresentados o

tema, o problema e a sua importância, e os objetivos. No tópico 2, são traçados os

procedimentos metodológicos que subsidiaram o estudo. No tópico 3, para uma melhor

compreensão do processo de agenciamento turístico, recorre-se aos aspectos conceituais

dessa atividade e se discute, a seguir, o atual posicionamento e as novas possibilidades para

esse setor no mercado turístico. Depois são apresentadas as características especiais do

setor de serviços, enfocando-se também a importância do estudo do cliente para este

segmento da economia. Logo após, apresenta-se a base conceitual dos elementos que

compõem um roteiro turístico cultural. E, por fim, analisa-se o papel dos agentes envolvidos

na realização dessa modalidade de turismo.

No tópico 4, é feita uma breve exposição da evolução histórico-econômica do

município de Ilhéus para, em seguida, se descreve os roteiros culturais agenciados na cidade.

No tópico 5, os resultados da pesquisa são analisados onde, além do estudo do perfil geral do

turista, são demonstradas e discutidas as variáveis que formaram a base para análise do seu

perfil psicográfico. Por fim, delineiam-se as considerações finais do trabalho, onde também

são expostas as sugestões propostas com base nos resultados encontrados. Na seqüência do

trabalho, encontram-se os apêndices e anexos.

1.1 O problema e a sua importância

A importância de se estudar o perfil dos clientes relaciona-se diretamente ao conceito

de qualidade na área de serviços, considerando que a intangibilidade inerente à prestação de

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um serviço atrela a mensurabilidade de um atendimento eficaz à percepção do serviço pelo

cliente, ou seja, ao grau de atendimento de desejos e expectativas. Karl Albrecht (1992, p. 254)

diz que um serviço de qualidade relaciona-se “à capacidade que uma experiência ou qualquer

outro fator tenha para satisfazer uma necessidade, resolver um problema ou fornecer

benefícios a alguém”.

Las Casas (1995, p. 16), por sua vez, chama a atenção para a importância do

sentimento do cliente em relação ao atendimento de suas necessidades: “O produto final de

um serviço é sempre um sentimento. Os clientes ficam satisfeitos ou não, conforme as suas

expectativas”. Cunha (1997), por outro lado, afirma que a satisfação das expectativas dos

consumidores torna dinâmico o conceito de qualidade dos serviços, pois exige um

acompanhamento das preferências, o que no turismo assume relevância peculiar, pois a

procura turística reflete as mudanças da sociedade que, por sua vez, está em constante

mudança. As transformações na sociedade definem e redefinem gostos, comportamentos e

atitudes.

“Olhar para o cliente” tornou-se uma diretriz organizacional, e todo esse processo

reflete uma exacerbada competitividade entre as organizações e se acelera com o movimento

de globalização e o desenvolvimento tecnológico que, aliados a outros fatores, dinamizaram

as transformações ocorridas nas últimas décadas. Além disso, a dinâmica globalizante e

tecnológica foram capazes de impor, de forma irreversível, uma busca constante da

construção de um referencial de necessidades por parte dos consumidores a serem

conhecidas e satisfeitas pelos prestadores de serviço das diversas áreas.

Para o setor de agenciamento turístico, como fundamentalmente prestador de serviço,

já que atua com o planejamento de viagens, realiza a intermediação entre o consumidor e as

empresas turísticas, assume o papel de consultor e facilitador dos processos burocráticos da

viagem, além de prestar serviços de receptivo, o conhecimento das preferências dos

consumidores turísticos se torna essencial para balizar as ações mercadológicas dessas

empresas e possibilitar novos posicionamentos frente às mudanças impostas pelo ambiente

de mercado. Atenta a esse contexto e considerando a área de atuação previamente

estabelecida, esta pesquisa estuda o perfil geral e psicográfico do turista que participa de

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roteiros culturais agenciados e discute possíveis adequações mercadológicas que surgem a

partir do levantamento dessas informações.

As formulações aqui apresentadas representaram o problema que norteou as

investigações da pesquisa. As discussões propostas permitem uma investigação acerca das

possibilidades de adaptação da prestação de um serviço específico – os roteiros culturais – à

dinâmica inerente à atividade turística. Por considerar a importância dessas informações para

o setor analisado e para a atividade turística da área escolhida para estudo, tornou-se

relevante realizar esse trabalho.

1.2 Objetivos

Este trabalho teve como objetivo geral a análise da prestação do serviço de

agenciamento do turismo cultural em Ilhéus, atentando aos aspectos econômicos e sócio-

culturais envolvidos, e tomando como base a análise do perfil do turista que participa de

roteiros culturais. Especificamente, procurou-se descrever os roteiros estudados, definir

o perfil geral do turista agenciado e, em seguida, identificar as preferências e atitudes

dos turistas em relação à atividade turística cultural representada pelos roteiros em

questão.

Para possibilitar o alcance dos objetivos propostos, foram estudadas as condutas

metodológicas mais adequadas para a realização da pesquisa. No tópico seguinte, são

apresentados o método e as técnicas de coleta e análise dos dados utilizados, como

também é demonstrado o procedimento usado para o levantamento da amostragem.

19

20

2 METODOLOGIA

De acordo com Dencker (1998, p. 121) a metodologia “é a maneira de realizar a busca

do conhecimento desejado de forma racional e eficiente”, sendo esse processo o “fio

condutor” da pesquisa, orientando “como” e “o que” fazer para responder aos objetivos e

chegar aos resultados esperados. O estudo descritivo se mostrou o mais adequado para a

pesquisa, por ser, segundo Oliveira (2002), um estudo que possibilita ao pesquisador um

maior entendimento sobre os diversos fatores que influenciam um dado fenômeno.

A pesquisa teve como foco o agenciamento turístico dos roteiros culturais, pela qual

se buscou ter uma maior compreensão acerca do perfil dos turistas praticantes dessa

modalidade de turismo, bem como estudar e relacionar algumas variáveis importantes para a

compreensão das preferências e atitudes do público estudado, como subsídio para uma

análise da condução dessa atividade pelas agências locais. De acordo com Gil (2002), é

peculiar às pesquisas descritivas o estudo das características de um grupo, como sua

distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde física e

mental etc. Além disso, o autor salienta que são incluídas neste grupo de pesquisas as que

buscam levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população.

O método quantitativo se mostrou apropriado para auxiliar no desenvolvimento da

pesquisa com os turistas, já que sua característica descritiva impõe a necessidade de

estabelecer a relação entre variáveis e solicita um método mais objetivo. Esse método,

conforme o próprio termo indica, quantifica opiniões, dados, nas formas de coleta de

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informações. Oliveira (2002) explica que o método quantitativo é muito empregado no

desenvolvimento das pesquisas de âmbito social, econômico, de comunicação,

mercadológicas, de opinião, de administração e representa, em linhas gerais, uma forma de

garantir a precisão dos resultados, evitando com isso distorções de análise e interpretações.

2.1 Procedimentos de coleta e análise de dados

Os dados são as informações obtidas a partir do momento em que o pesquisador entra

na fase operacional da pesquisa. Para que a coleta desses dados seja possível, são utilizadas

as técnicas de pesquisa que são os instrumentos de auxílio ao pesquisador na busca de um

determinado resultado: ensino, descoberta, aprendizado, invenção, investigação (OLIVEIRA,

2002). Nas pesquisas descritivas, que têm como objetivo primordial a descrição das

características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de

relações entre variáveis, uma das características mais significativas, está na utilização de

técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação

sistemática (GIL, 2002).

Para atender aos objetivos propostos, a coleta de dados foi dividida em dois

procedimentos que se realizaram de forma concomitante: 1) a observação sistemática, que

ofereceu suporte para a descrição dos roteiros culturais realizados pelos turistas agenciados;

e 2) a aplicação de questionários aos turistas agenciados, que geraram os dados que deram

suporte à identificação do perfil geral dos turistas e das suas preferências e atitudes.

Conforme Lakatos e Marconi (2001), a observação sistemática se caracteriza pela

intencionalidade, planejamento prévio, e realização em condições controladas, com a

utilização de instrumentos para coleta dos dados ou fenômenos estudados. Na observação

sistemática, o observador sabe o que procura e o que carece de importância em determinada

situação. Para auxiliar a observação sistemática, foram utilizados como instrumentos de

pesquisa anotações ordenadas durante todo o percurso dos roteiros estudados e uma

máquina fotográfica para registrar os atrativos turísticos visitados.

Já na pesquisa com os turistas, como se tratou de uma avaliação de fatores

preferenciais e atitudinais, a técnica de questionário se apresentou mais apropriada. Sobre a

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aplicação dessa técnica em pesquisas na área do turismo, Dencker (1998) afirma que é uma

maneira sistemática e ordenada de obter informações em relação a uma população ou amostra

determinada. Essas informações, ainda segundo a autora, podem dizer respeito, por exemplo,

a quem são os turistas, o que fazem, o que pensam, suas opiniões, sentimentos, crenças,

esperanças, desejos etc., o que se aplica aos propósitos dessa pesquisa. Gil (1994) corrobora

a afirmação de Dencker, quando assegura que o objetivo do questionário é o conhecimento de

opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas e situações vivenciadas.

Com relação à apreciação dos resultados, inicialmente, os dados foram codificados2 e

tabulados3. Em seguida, deu-se início ao procedimento de análise interpretativa, onde se

procurou estabelecer as relações existentes entre as variáveis, bem como efetivar vinculações

com os conhecimentos teóricos que embasaram a pesquisa. De acordo com Oliveira (2002), a

interpretação é a atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às

respostas, vinculando-as a outros conhecimentos. Ainda de acordo com esse autor, a

interpretação esclarece não só o significado do material, mas também faz ilações mais amplas

dos dados discutidos. Para Dencker (1998), nessa fase, compete ao pesquisador realizar

ligações lógicas e comparações, bem como enunciar princípios e fazer generalizações.

2.2 População e amostragem

O universo ou população é definido por Oliveira (2002, p.160) como “conjunto de seres

animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum”. No

estudo em questão, a pesquisa para se determinar o perfil dos turistas foi realizada de forma

seccional e diacrônica4. O universo correspondeu ao número de visitantes que realizaram

roteiros de turismo cultural agenciados na cidade de Ilhéus em dois períodos de alta estação:

jan/fev 2004 e jan/fev 2005.

2 Divisão em categorias. 3 Contagem para determinar o número de casos que estão nas várias categorias. 4 Seccional, pois se realizou em dois momentos (Jan/Fev 2004 e Jan/Fev 2005), e diacrônica, porque os períodos foram consecutivos.

23

Após estudo de campo preliminar, foi constatado que a única agência que realizava de

forma constante o serviço de receptivo na cidade de Ilhéus era a NV turismo que, no período

do estudo, absorvia quase a totalidade da demanda por roteiros turísticos locais, competindo

com os agentes informais (vans e agências não-cadastradas) e serviços intermitentes de

receptivo realizados por outras agências, que atrelam normalmente esses serviços a

solicitações esporádicas de clientes das companhias aéreas com as quais trabalham.

A NV turismo trabalha em parceria com a CVC, operadora turística que atua em todo o

país, o que justifica a sua demanda consideravelmente elevada e constante. As demais

agências trabalham essencialmente com turismo emissivo e serviços de câmbio. Diante dessa

conjuntura, a pesquisa concentrou-se nos roteiros culturais realizados pela NV turismo. Os

dois roteiros estudados, City Tour Histórico e Fazenda de cacau, foram escolhidos por serem

os únicos que possuíam o foco nos atrativos culturais da cidade. Os demais roteiros estavam

voltados para atividades ecológicas e de turismo de aventura.

Para a realização da pesquisa com os turistas, através de informações passadas pela

agência estudada, a população foi estimada e a amostra extraída através da fórmula

demonstrada a seguir:

212

2

)( )2/( .

)2/.

εσ

σ

+

=

Nzqp

p.q (zNn

Onde:

n = Tamanho da amostra;

N = Tamanho da população;

p = Proporção de ocorrência na amostra, considerando o valor de 50%, aceito

geralmente para população com distribuição normal;

q = Proporção de não ocorrência na amostra, assumindo o valor (1 – p);

σσσσ = Desvio padrão da população;

Z = Valor da variável z para o nível de confiabilidade adotado;

εεεε = Erro amostral.

Com base na fórmula adotada, foi estimado um tamanho amostral de aproximadamente

92 turistas, que representam em torno de 1,5% do total de turistas que realizam roteiros

culturais na agência estudada. Gil (1994, p. 92) define amostra como “subconjunto do universo

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ou da população, por meio do qual se estabelecem ou se estimam as características desse

universo ou população”.

A amostra utilizada foi do tipo probabilística e aleatória. De acordo com Oliveira (2002,

p. 161), “a probabilidade significa um conjunto de regras por meio das quais se calcula o

número de casos que devem ocorrer para que aconteça um fato ou fenômeno”. As datas de

acesso do pesquisador aos passeios foram estabelecidas pela agência pesquisada e o critério

de aleatoriedade adotado foi a aplicação do questionário a todos os passageiros que estavam

sentados em poltronas ímpares do veículo condutor dos turistas aos roteiros. Quanto ao nível

de confiança, ficou estabelecido para a pesquisa 95%. Gil (1994, p. 99) explica que “o nível de

confiança de uma amostra refere-se à curva normal definida a partir dos desvios-padrão em

relação à sua média”. O erro máximo permitido, ou seja, o percentual de erro de medição

tolerado foi de 10%.

O tópico e sub-tópicos seguintes sistematizam os elementos teóricos necessários à

condução das discussões propostas pela pesquisa, onde inicialmente, são apresentados os

aspectos conceituais da atividade turística e do setor de agenciamento turístico.

25

3. O AGENCIAMENTO TURÍSTICO DE ROTEIROS CULTURAIS

3.1 Turismo e agenciamento: Aspectos conceituais

Antes de iniciar a abordagem conceitual sobre o setor de agenciamento turístico, é

importante discorrer um pouco sobre a atividade que o abarca, o turismo, apresentando seu

conceito e delimitando sua abrangência neste trabalho. Existem diversas definições para a

atividade turística, que têm como pontos comuns, a característica temporária da atividade, o

caráter não-lucrativo da viagem e a espontaneidade da busca pelo prazer, ou seja, da

satisfação de desejos. Os conceitos de Moesch e de La Torre mostraram-se mais apropriados

ao estudo, pois dá ao turismo um conceito amplo e abrangente:

O turismo é uma combinação complexa de inter-

relacionamentos entre produção e serviços, em cuja

composição integram-se uma prática social com base cultural,

com herança histórica, a um meio ambiente diverso, cartografia

natural, relações sociais de hospitalidade, troca de informações

interculturais (MOESCH, 2002, p. 09)

O turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento

voluntário e temporário de indivíduos ou grupo de pessoas que,

fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura

ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro,

no qual não exercem atividade lucrativa nem remunerada,

gerando múltiplas inter-relações de importância social,

econômica e cultural (DE LA TORRE, 1992, p.19).

26

Denota-se, portanto, que seria simplista classificar o turismo como atividade

puramente econômica, tendo em vista que a complexidade de fatos que estão enredados no

27

processo, o torna também uma atividade sociocultural, que se utiliza de elementos culturais e

naturais para a formação da sua prestação de serviço. Ainda de acordo com Moesch (2002), a

soma desta dimensão sociocultural gera um fenômeno, recheado de

objetividade/subjetividade, consumido por milhões de pessoas: o produto turístico que,

segundo Lage e Milone (2001), deve ser analisado em termos de suas atrações, facilidades e

acessibilidade.

As atrações são definidas como elementos do produto que são determinantes da

escolha do turista (praias, rios, cachoeiras, patrimônio arquitetônico). As facilidades não são

determinantes do fluxo turístico, mas podem comprometer a procura por atrações, se

ausentes (acomodações, restaurantes, farmácias, postos de gasolina etc.). E a acessibilidade

abrange o transporte para as atrações e as vias de comunicação que possibilitam o turismo

(aeroportos, auto-estradas, túneis, pontes).

As atrações ou atrativos são aqui entendidos como sinônimos de recursos,

embasando-se em Barretto (2001) que considera um recurso turístico “a matéria-prima com a

qual se pode planejar o turismo num determinado local”, a exemplo de praias, montanhas,

cataratas, entre outros atrativos. As facilidades e a acessibilidade, por sua vez, compõem

juntamente com a infra-estrutura básica urbana (ruas, iluminação pública, saneamento básico)

a chamada infra-estrutura turística. Sendo as facilidades formadas por equipamentos

turísticos (alojamentos, agências e transportadores), equipamentos de apoio (rede de atenção

médico-hospitalar, rede de entretenimento, rede de atenção ao automóvel etc.) e a

acessibilidade constituída pela infra-estrutura de acesso (estradas, aeroportos, portos

rodoviárias, estações de trem).

A existência de uma infra-estrutura turística condiciona, portanto, a validade da

atividade turística e do produto turístico, que deve ter todo um aporte organizacional e

governamental para assim ser considerado. Essa acepção moderna do turismo, apoiado em

bases infra-estruturais, surgiu no século XIX, após a revolução industrial, com as primeiras

viagens planejadas por agências, tendo tomado impulso apenas depois da segunda guerra

mundial, no século XX, o que, de acordo com Ruschmann (1997, p.13), foi “conseqüência dos

aspectos relacionados à produtividade empresarial, ao poder de compra das pessoas e ao

bem estar resultante da reestruturação da paz no mundo”.

28

Rejowski e Solha (2002) também citam acontecimentos intervenientes e facilitadores

da expansão da atividade turística a partir de 1950, acrescentando aos motivos apontados por

Ruschmann (1997) outros fatores de ordem política, econômica, educacional, cultural,

sociológica e trabalhista, como: a consolidação da classe média, com aumento do tempo livre

e mais dias de férias; a expansão da educação e da cultura e maior interesse em conhecer

povos e civilizações; os desejos de evasão para ambientes naturais, em oposição à

industrialização e ao crescimento da população; a redução da jornada de trabalho e criação

das férias anuais remuneradas; os avanços tecnológicos nas comunicações e transporte

(automóvel, avião), com redução progressiva dos preços; aplicação de técnicas de marketing e

publicidade.

Segundo Trigo (1993, p.19), “os fatores que levaram ao desenvolvimento do turismo

nestas três últimas décadas foram os mesmos que transformaram profundamente o planeta,

seja ao âmbito das relações econômicas e políticas, seja no das relações sociais e culturais”.

Parafraseando Rejowski e Solha (2002), as últimas décadas do século XX mostraram o caráter

complexo e abrangente do turismo num mundo de mudanças contínuas, onde tudo é

questionado, inovado, recriado e reformatado. Diante desse cenário, impõem-se a

sustentabilidade e a globalização. Esses desafios conduzem à importância do planejamento e

gestão estratégica, à formação e capacitação de recursos humanos de qualidade e ao

desenvolvimento de pesquisas e estudos científicos.

Essas transformações que impulsionam o turismo também dinamizam, modificam e

propõem novos posicionamentos às atividades básicas deste setor. A atividade de

agenciamento turístico, um dos componentes do chamado “tripé” do turismo, também

composto por hotéis e transportadoras, é uma das atividades que mais sentiram os impactos

dos avanços tecnológicos e de outras mudanças que afetaram a atividade turística. Mas, antes

de analisar esses impactos e novas possibilidades para o setor de agenciamento, é necessário

recorrer aos aspectos históricos e conceituais, como também entender a sua classificação.

A história do agenciamento turístico começa em 1941, na Inglaterra, quando um

vendedor de bíblias chamado Thomas Cook organiza uma viagem de ida e volta de trem (11

29

milhas) para 570 pessoas, incluindo lanches, jogos, dança e bilhete para participação em um

congresso de alcoolismo (MONTEJANO, 2001). A partir desse momento, surge a noção da

viagem organizada, como também a pessoa do agente de viagens, um profissional que planeja

e organiza viagens.

O planejamento de viagens por agências, como dito anteriormente, marca o

surgimento do turismo moderno, onde o pacote turístico, viagem com tudo incluído

(hospedagem, transporte, alimentação) a um preço único, surge como marca essencial do

trabalho desse setor, que utiliza a informação como matéria-prima e entremeia a relação entre

os turistas e os fornecedores de serviços turísticos. Esse papel de intermediação, desde o

surgimento das agências, se constitui uma importante função do setor e está presente, de

forma implícita ou explícita, nas abordagens conceituais sobre as agências de viagens, apesar

da possibilidade de reconfiguração do setor em virtude de mudanças proporcionadas no seu

ambiente mercadológico, que serão depois discutidas.

Montejano (2001) conceitua agências como sendo empresas mercantis que, de posse

do correspondente título-licença outorgado pela Administração Pública, se dedicam

profissional e comercialmente em exclusividade ao exercício das atividades de

assessoramento, mediação e organização de serviços turísticos, podendo utilizar meios

próprios na prestação destes ou sendo, na maioria dos casos, agente intermediário entre os

prestadores de serviços e os clientes. Para Oliveira (2000, p.109):

As agências de viagens são sociedades comerciais com

personalidade jurídica de direito privado e regidas por

legislação própria, prestadoras de serviços turísticos dedicadas

à organização de viagens, atuando como intermediárias entre

os prestadores de serviços e os usuários finais, com o objetivo

de obter lucros financeiros.

30

Beni (1998, p.182), por sua vez, define que “agências de turismo são empresas

comerciais com a finalidade de realizar viagens. Por conseguinte, são prestadoras de serviços,

que informam, organizam e tomam todas as medidas necessárias, em nome de uma ou mais

pessoas que desejam viajar”. Andrade (1999, p.189), por outro turno, entende as agências

como “pontos de planejamento, de organização, de venda e de difusão sistemática e técnica

dos produtos turísticos”.

Os prestadores ou provedores de serviços, aqui rotulados, são as empresas que

fornecem os serviços de que as pessoas necessitam para a realização da sua viagem e

estadia, como as transportadoras aéreas, marítimas, fluviais e rodoviárias, a indústria hoteleira

e demais provedores/fornecedores de produtos e serviços receptivos (restaurantes, museus,

casas de espetáculo, entre outros). Os usuários finais, por sua vez, são os turistas,

compreendidos como pessoas que se deslocam para um lugar diferente do seu local de

moradia, com finalidades e motivações diversas (lazer, cultura, negócio, visita a parentes etc.),

e que requerem um suporte em termos de serviços durante a sua permanência.

As agências são, portanto, empresas prestadoras de serviços que fazem um papel de

intermediadoras entre os turistas e os diversos produtos e serviços que compõem a atividade

turística, usando a informação como fator essencial para realizar as atividades de

planejamento e organização da viagem. Para entender melhor os papéis exercidos pelas

agências, é indispensável recorrer à sua classificação. Conforme o decreto nº 84.934/80, as

agências brasileiras são classificadas em duas categorias: Agências de Viagens e Turismo e

Agências de Viagens (OLIVEIRA, 2000, p.111).

As agências de viagens e turismo também são conhecidas como operadoras de

turismo. São aquelas que, além dos serviços que prestam ao cliente, atuam no planejamento e

organização de produtos para as agências de viagens, ou seja, são produtoras de pacotes

turísticos. De acordo com Beni (1998, p.183):

As operadoras turísticas, além de intermediárias, são também

produtoras de serviços turísticos, o que requer um perfeito

conhecimento do mercado, tanto da oferta quanto da demanda,

para poder compor os pacotes a preços competitivos e de

acordo com o desejo dos consumidores.

31

As agências de viagens e turismo, servindo como intermediárias e distribuidoras na

prestação de serviços entre a oferta e a demanda, ou seja, entre aqueles que desejam viajar e

aqueles que desejam receber os turistas, tornam-se ícones principais na distribuição do

produto até o consumidor final. Caracterizam-se fortemente como componentes do setor de

viagens que se preocupam com a atividade pelo tipo e segmento de mercado responsável pelo

atendimento das necessidades finais dos turistas (TOMELIN, 2001).

As agências de viagens, por sua vez, atuam apenas como intermediárias na relação

entre os clientes e os diversos produtos e serviços turísticos, com a “função de facilitar e

resolver todos os problemas dos turistas a fim de que possam realizar suas viagens da

maneira mais satisfatória possível” (BENI, 1988, p.183). Integram o mercado intermediário,

constituindo um canal de distribuição dos produtos turísticos para o mercado final

(PETROCCHI e BONA, 2003). São empresas pequenas, cuja principal função é a mediação de

serviços turísticos avulsos ou de pacotes elaborados por operadoras de turismo

(MONTEJANO, 2001).

As agências de viagens, desta forma, não elaboram seus próprios produtos. Revendem

viagens com “pacotes” preestabelecidos que são organizados por operadoras de turismo.

Essas agências, entretanto, podem oferecer os serviços de receptivo (ACERENZA, 1992).

Assim, as agências de viagens de receptivo prestam serviços para as operadoras de

turismo e as demais agências de viagens por meio do oferecimento ao turista de uma gama

variada de serviços, como transporte entre o aeroporto e o hotel (e vice-versa), city tour

(passeio pela cidade) e assessoria ao turista enquanto ele estiver no destino da viagem. Além

de prestarem serviços e serem pagas pelas operadoras e pelas agências, as agências de

receptivo obtêm receitas pela montagem de passeios e programas que são oferecidos ao

turista e cobrados à parte do pacote turístico.

Apesar da clareza distintiva entre os conceitos das diversas categorias de agência,

elas têm como ponto comum o processo de mediação entre os prestadores de serviços

turísticos e os consumidores finais, o que se configura, como dito anteriormente, na essência

do seu serviço. Essa atuação como elemento integrador entre oferta e demanda de serviços

turísticos suscetibiliza esse setor às diversas mudanças que influenciam o mercado turístico,

32

exigindo muitas vezes reposicionamentos de ordem estrutural e funcional, como será

abordado no tópico a seguir.

3.2 Novos posicionamentos do setor de agenciamento turístico frente aos desafios do mercado

O setor de agenciamento turístico é muito afetado por influências externas, tais como desempenho dos sistemas de turismo, os cenários socioeconômicos, as mudanças tecnológicas, as regulamentações governamentais, o câmbio, a disponibilidade de mão-de-obra, a preservação do meio ambiente etc. Daí a necessidade de uma gestão estratégica, que direcione novos posicionamentos frente às novas realidades.

Em relação às influências do ambiente externo, Tomelin (2001) aponta que a realidade

do mercado de agências de viagens e turismo vem interagindo com fenômenos que

revolucionaram a atividade, onde se destacam a guerra de tarifas entre as companhias aéreas,

a desvalorização cambial, a desregulamentação do transporte aéreo, a Internet e o

aperfeiçoamento dos sistemas globais de distribuição (GDS5).

A guerra de tarifas entre as companhias aéreas provocou impactos diferenciados no

setor de viagens. A competitividade entre as companhias promoveu a queda dos preços, o que

beneficiou o cenário turístico em geral e o próprio negócio das agências de viagens e turismo,

mas reduziu o comissionamento, impactando negativamente o mercado das agências de

viagens e turismo. A desregulamentação do transporte aéreo, por sua vez, reduziu o controle

do governo sobre esse mercado, já que a regulamentação determinava rotas, as companhias

que podiam servir tais rotas, o número de vôos, os terminais disponíveis nos aeroportos para

pousos e decolagens, a capacidade de assentos de cada rota, os preços cobrados

(MIDDLETON, 2002).

A eliminação de regulamentação governamental reduz ou minimiza muitas restrições

sobre a atividade competitiva das empresas. Em muitos casos, a desregulamentação derruba

barreiras ao ingresso de empresas novas, restrições geográficas à prestação de serviços, dá

mais liberdade para competir em termos de preço e faz com que as empresas existentes

possam se expandir para novos mercados ou novas linhas de negócios (LOVELOCK e

WRIGHT, 2004). Esse processo de desregulamentação do tráfego aéreo ocorreu antes da

redução do comissionamento provocado pela guerra de tarifas, tendo inclusive influenciado

essa redução, já que possibilitou acordos e alianças entre diferentes companhias, diminuindo

5 Global Distribution System.

33

os custos de operação, padronizando os serviços e redimensionando o quadro de recursos

humanos (TOMELIN, 2001).

No que tange às influências da Internet sobre o setor de agenciamento, existe uma

relação dialética. Ao mesmo tempo em que se configura num ambiente com novas

possibilidades de negócios para o setor, em virtude da agilidade e da disponibilidade de

informações, pode representar uma grande ameaça, tendo em vista que o usuário final, ou o

turista pode ter acesso direto aos programas e, portanto, dispensar a participação de

intermediários.

Em relação a esse processo, Barretto (2001) comenta que os computadores em rede

permitem que o consumidor realize suas próprias reservas, de operadoras ligadas à Internet

ou similares, e que se informe por meios de serviços, como o Dialog, sobre onde fazer melhor

suas compras ou quais os eventos que estão acontecendo no mundo, sem intermediários.

Tomelin (2001, p.76) reitera os comentários de Barreto (2001), apontando novas possibilidades

para o setor de agenciamento:

[...] a própria Internet constitui-se no mais novo tipo de

distribuidor dos serviços diretamente ao consumidor,

desafiando a existência da agência convencional rumo a novos

paradigmas, tais como novos diferenciais de serviço para se

manter competitivo no mercado e fidelizar seus clientes pela

vantagem da personalização dos serviços, compensando a

impessoalidade como limitação na utilização da Internet.

A Internet tem se configurado, portanto, num desafio do ponto de vista comercial para

as agências de turismo. Se, por um lado, o comércio eletrônico faculta um maior número de

informações e possibilidades de negócio e reduz consideravelmente os custos operacionais

das agências, promovendo o enxugamento da sua estrutura burocrática tradicional, por outro

lado, a maior autonomia do consumidor, proporcionada pelo acesso direto aos serviços

intermediados pelas agências, pressiona o setor para um novo posicionamento competitivo,

que leve em conta a prestação de serviços diferenciados e direcionados à preferência pessoal

do cliente.

34

Outra tendência de ordem tecnológica que tem afetado o mercado de agenciamento

turístico é o aperfeiçoamento e expansão dos sistemas globais de reserva. Os GDSs são bases

de dados de abrangência mundial que, além de servir para a escolha de vôos, são utilizados

também para a reserva de hotéis, locação de veículos, emissão de bilhetes, cálculo de tarifas,

câmbio e outros. Esses sistemas, que foram a princípio impulsionados pelas companhias

aéreas e hoteleiras como ferramentas de resolução dos problemas operacionais e de

comercialização, passaram de um simples meio facilitador para uma efetiva ferramenta de

ajuda às empresas turísticas e aos canais padronizados, através do qual se efetua um grande

número de operações ligadas à distribuição (TOMELIN, 2001).

Os GDSs foram precursores dos desenvolvimentos subseqüentes do uso da Internet

para as reservas de viagens e hoje estão integrados às opções de informações e comércio

eletrônico (MIDDLETON, 2002). É justamente a integração desses sistemas de distribuição à

Internet, que possibilita ao consumidor final um acesso direto a reservas e pagamentos, o que,

por sua vez culmina na redução da comissão dos intermediários, apesar do aumento em

volume de vendas proporcionado pela agilidade do sistema.

Diante de todo esse contexto de mudanças apresentado para o mercado de agência de

viagens, surge o que Tomelin (2001) chama de tendência da desintermediação e

reintermediação. A tendência da desintermediação, para esse autor, seria o oposto à

intermediação, ou seja, de deixar de praticar a ação convencional de uma agência de viagens,

que seria a mediação na negociação do produto turístico colocando-se como prestadora de

serviços entre os provedores de transporte/hospedagem/serviços receptivos complementares

e os consumidores de viagens – seus clientes para, enfim, atuar adquirindo definições

próprias para a sobrevivência e readaptação no mercado, em forma de fusão, redes, franquias

ou agências virtuais, como processos de reintermediação.

A fusão com outras agências ajudaria as empresas a enfrentarem a concorrência do

mercado como uma sociedade mais competitiva e com maior poder de negociação; A

configuração em redes e franquias viria possibilitar a redução dos custos sem comprometer

as vendas nem diminuir a qualidade dos serviços, o que seria possível através de uma central

única de operações e a compra de produtos em grande volume. A atuação no ambiente virtual

seria a possibilidade de adaptação das agências a uma nova forma de demanda, em um

35

ambiente de negócios novo, cujo tempo real de duração das negociações é diferenciado, já

que parte de uma operação on-line proveniente do ambiente Internet.

Esses novos posicionamentos seriam, portanto, alternativas de recolocação do setor de

agenciamento frente às mudanças apresentadas, representando possibilidades de

reintermediação. É importante, entretanto, considerar que todo o processo de busca por um

novo posicionamento no mercado por parte do setor de agenciamento turístico não pode se

dar apenas através de alterações na estrutura funcional ou logística dos produtos/serviços

ofertados, devendo passar também por alterações essenciais na condução do negócio, levando

em consideração as transformações de ordem social e cultural que afetam a demanda e,

consequentemente, também devem se constituir como parâmetros na condução do negócio.

Sobre esse aspecto, são sinalizadas mudanças na estrutura demográfica e social das

populações, configurando a volatilidade dos fluxos, anteriormente mais tradicionais e

estáveis, a diminuição da duração das viagens e a maior freqüência das mesmas, o que estaria

propiciando alterações graduais no perfil dos turistas. A expectativa por melhor qualidade, a

valorização do dinheiro e o interesse pela satisfação ambiental, também estariam se

configurando como novos e importantes fatores que afetam a demanda como um todo

(REJOWSKI e SOLHA, 2002).

Além desses fatores, aponta-se para a diversificação de interesses, o que para o setor

de agenciamento turístico, particularmente, implicaria na necessidade de especialização da

atividade, através da organização de viagens para uma finalidade específica. A necessidade de

se conhecer as individualidades dos grupos e o atendimento personalizado de interesses seria

a base para a condução de um negócio competitivo. Para uma melhor compreensão desses

aspectos, no tópico a seguir serão abordadas as características peculiares do setor de serviços

e será ampliada a discussão acerca da importância do conhecimento do cliente por parte das

empresas frente a um cenário em constante mudança.

36

3.3 A importância do estudo do cliente no mercado de serviços

O entendimento dos aspectos conceituais e distintivos do setor de serviços se torna

relevante para a pesquisa, ao passo que o conhecimento das características peculiares a esse

setor é essencial para a compreensão dos processos que envolvem a prestação de um serviço

e da atuação diferenciada que as empresas desse setor devem ter em relação aos seus

clientes. Gronroos (2002) define serviço como um processo que consiste em uma série de

atividades mais ou menos intangíveis que, normalmente, mas não necessariamente sempre,

ocorrem nas interações entre o cliente e os funcionários de serviço e/ou recursos ou bens

físicos e/ou sistemas do fornecedor de serviços e que são fornecidas como soluções para

problemas do cliente.

Para Dias (2004, p.04), “Serviço é um bem intangível, uma ação ou um desempenho

que cria valor por meio de uma mudança desejada no cliente ou em benefício dele”.

Lovelock e Wright (2004), por sua vez, afirmam que os serviços são atividades econômicas

que criam valor e fornecem benefícios para clientes em tempos ou lugares específicos, como

decorrência da realização de uma mudança desejada no – ou em nome do – destinatário do

serviço. Kotler (1998, p.142) diz que “serviço é qualquer ato ou desempenho que uma

pessoa possa oferecer a outra e que seja essencialmente intangível e não resulte na

propriedade de nada. Sua produção pode ou não estar vinculada a um produto físico”.

É importante notar, que os conceitos apresentados formam um consenso acerca da

finalidade de um serviço, que tem sempre como resultado algum valor agregado para o

cliente, seja através de uma solução, um benefício ou uma mudança esperada. “Criar valor”

para o cliente através da prestação de um serviço se configura um desafio para as empresas

desse setor, tendo em vista a subjetividade implícita nessa idéia. Como cada cliente é único

37

e possui expectativas e preferências diferenciadas, o valor criado pela empresa terá

percepções também diferenciadas por cada cliente.

Além disso, é importante considerar que o setor de serviços possui ainda outras

características que o identificam e tornam seu processo de consecução diferenciado em

relação à produção de bens físicos. De acordo com Dias (2004) e Lovelock e Wright (2004)

as principais características dos serviços são:

1. a intangibilidade, que se refere à impossibilidade de os serviços serem tocados;

2. a envolvimento do cliente no processo, o que implica em sua participação na

consecução do serviço;

3. a perecibilidade, que está diretamente ligada ao fato de o serviço não poder ser

estocado, já que é produzido e consumido simultaneamente;

4. as pessoas como parte do serviço, uma vez que experiências são vividas entre

clientes e funcionários e, em muitos casos, entre os próprios clientes;

5. a dificuldade de avaliação dos serviços por parte dos clientes, que decorre da

subjetividade dos serviços e da conseqüente complexidade em se criar fatores

objetivos para julgamento dos clientes;

6. a não obtenção de propriedade por parte do cliente, que reside no fato de o

serviço consistir numa ação em torno da realização de um benefício, que não

implica na aquisição de elementos tangíveis;

7. a importância relativa exercida pelo tempo, tendo em conta que a velocidade

da prestação do serviço em muitos casos é fundamental para uma boa

percepção do serviço por parte do cliente;

8. a distribuição por diferentes canais, que está relacionada à possibilidade de os

serviços serem entregues em meio físico, eletrônico, ou através da combinação

de ambos.

38

Diferente dos autores citados, Gronroos (2002) prefere destacar três características

identificadas na maioria dos serviços: a natureza de processo; a produção e o consumo

simultâneos e a participação do cliente no decorrer da produção. Gronroos (2002) explica

que serviços são processos porque consistem em uma série de atividades nas quais vários

tipos diferentes de recursos – pessoas, bem como outros tipos de recursos – são utilizados,

muitas vezes em interações diretas com o cliente, de modo a encontrar uma solução para o

problema deste. Destaca ainda que, como processos, são produzidos e consumidos

simultaneamente, o que também é caracterizado como inseparabilidade.

Em relação à participação do cliente, Gronroos (2002) afirma que este não é apenas

um recebedor do serviço, ao passo que também participa do processo de serviço como um

recurso de produção. Por causa disso e das outras características, não é possível manter os

serviços em estoque do mesmo modo que as mercadorias. Gronroos (2002) não descarta a

intangibilidade como característica dos serviços, entretanto, não confere a esse atributo o

grau de importância dado por outros autores, com base no argumento de que os bens físicos

também são percebidos subjetivamente pelos clientes, o que não tornaria a intangibilidade

um atributo distintivo do setor de serviços.

Outro fator questionado por esse autor é a característica de não propriedade dos

serviços. Para Gronroos (2002), existem situações em que a prestação do serviço culmina

com a entrega de um bem físico. Nessas situações, os produtos se constituem partes do

serviço oferecido, a exemplo da prestação de serviços de vendas no varejo, onde o consumo

do serviço prestado pela empresa resulta na propriedade de um bem tangível.

Lovelock e Wright (2004) discordam de Gronroos e argumentam que o serviço é um

ato oferecido por uma parte à outra e, embora o processo possa estar ligado a um produto

físico, o desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta em propriedade

de nenhum dos fatores de produção. Mas, independente das divergências de classificação

39

estabelecidas, denota-se que as peculiaridades atribuídas ao setor devem ter considerada

relevância pelos prestadores comprometidos com a qualidade do serviço que fornecem,

tendo em conta que essas características distintivas são imbuídas de forte abstratividade, o

que impossibilita fácil controle ou mensurabilidade, como no caso dos bens físicos.

As empresas turísticas, incluindo as agências de turismo, têm a prestação de serviço

como essência das suas atividades e, embora existam também fatores tangíveis a serem

avaliados pelos consumidores, o resultado final da prestação do serviço turístico será

sempre um sentimento, já que as pessoas viajam por motivos eminentemente subjetivos,

como descansar, conhecer, se divertir ou socializar idéias. E é esse caráter subjetivo

apresentado, que torna o cliente o elemento central do processo de prestação de qualquer

serviço, incluindo o turístico, considerando que além da sua participação e interatividade

exercida no decorrer da entrega do serviço, é das suas expectativas, preferências e

percepções que depende a avaliação sobre a qualidade do que está sendo ofertado.

É determinante, portanto, que as análises ou discussões acerca da oferta de um serviço

turístico atentem para o cliente e suas aspirações, como fonte para o entendimento dos

fatores que determinam comportamentos e atitudes e que, portanto, poderão balizar

adequações na concepção desse serviço por parte do prestador. Ao buscar a compreensão do

comportamento de um público demandante de um dado serviço, é preciso considerar vários

fatores que o determinam, onde se faz mister analisar variáveis de ordem geográfica,

demográfica, econômica, social e psicográfica.

Os estudos geográficos dividem o mercado em variáveis como localização e densidade

populacional. Segundo Michael J. Weiss (1988) apud Dias (2004, p.21), “o lugar onde se

vive determina a maneira como se vive. Conhecendo onde e como as pessoas vivem, fica

mais fácil atender às suas necessidades com mais chance de sucesso”. Os critérios

geográficos podem ser: países, Estados, municípios, comarcas, bairros e microrregiões. A

40

seleção do critério será sempre em função dos objetivos de penetração e/ou ocupação de

mercado pretendida (DIAS, 2004).

No caso do turismo, em especial, é de salutar importância saber a origem dos

indivíduos já que essa informação delineará os principais pólos emissores, como também

pode apontar novas possibilidades de mercado, através da detecção de regiões ainda não

atingidas, mas que podem ter potencialidade para se tornarem emissoras. Além disso, como

fora aludido, a partir da proveniência das pessoas, é possível se conhecer hábitos e costumes

e, portanto, facilitar as relações com o cliente.

A demografia, por sua vez, estuda estatisticamente as populações e suas

características. Algumas de suas principais variáveis são: faixa etária, sexo, tamanho médio

das famílias, estado civil, número de unidades domiciliares, nacionalidade, religião, raça e

genealogia (DIAS, 2004). Para Mattar (2001), a faixa etária é um elemento muito

importante para o estudo da demanda, uma vez que as exigências das pessoas, assim como

suas expectativas, diferem conforme a idade. Pesquisar o gênero também é fundamental,

pois, ao formatar um produto, “é preciso levar em consideração o caráter das motivações

tanto femininas como masculinas” (MATTAR, 2001, p.197).

Para os estudos sobre demanda turística, a faixa etária e o gênero são essenciais, pois

ambos os fatores determinam as preferências por atividades turísticas específicas. O turismo

de aventura ou desportivo é geralmente preferido pelos jovens, ao passo que atividades mais

amenas, como as culturais, são normalmente escolhidas pelos mais velhos. Da mesma

maneira, homens e mulheres têm particularidades preferenciais que os tornam, em algumas

ocasiões, público de atividades distintas. A pesquisa de identificação das variáveis

demográficas conduz, portanto, a informações bastante relevantes para a meta de

identificação e qualificação de mercado, bem como fornece dados relevantes sobre a

dimensão de mercados potenciais (DIAS, 2004).

41

Os estudos dos fatores econômicos, por sua vez, são traçados com base no poder

aquisitivo e nível de renda dos indivíduos. Para a microeconomia, quanto mais alto o poder

de compra, maior será o montante de produtos demandados. Assim, a renda dos

consumidores é a mais importante variável econômica juntamente com os preços dos bens e

serviços (LAGE e MILONE, 2001).

O turismo é um exemplo típico de atividade não acessível a todas as camadas da

população. Apenas os indivíduos que possuem um poder aquisitivo mais elevado podem

realizar viagens de turismo. Além disso, o status do indivíduo exerce influência no padrão

de vida, interesses e preferências do consumidor de turismo (MATTAR, 2001).

Em relação aos fatores sociais, entre as variáveis mais importantes, estão a educação, a

ocupação, o estado familiar e até o estilo de vida dos indivíduos (LAGE e MILONE, 2001).

As diferenças de escolaridade afetam os tipos de experiências em viagens. Para as pessoas

com elevado nível de educação e conhecimento intelectual, em geral é de se esperar que

ganhem mais e possam assumir um status superior nas viagens do que os indivíduos com

menor escolaridade (LAGE e MILONE, 2001, p.107). Para Mattar (2001), o nível cultural

determina a escolha do destino, as atividades e as preferências do consumidor de turismo.

Os fatores psicográficos estão diretamente relacionados com o conceito de estilo de

vida e, consequentemente, com o que as pessoas estão dispostas a adquirir em termos de

produtos e serviços, se suas condições econômicas permitem (MATTAR, 2001). As

pesquisas psicográficas estudam o modo como as pessoas pensam e levam suas vidas.

Podem ser analisados estilos de vida, fatores psicológicos, antropológicos e sociológicos,

autoconceito, personalidade, valores, atividades, interesses e opiniões (DIAS, 2004).

O termo psico reflete o conjunto de idéias do comportamento, ou do estado mental

(personalidade) de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos. Em turismo, uma análise

psicográfica refere-se a uma análise psicológica dos indivíduos identificando preferências

42

diversas por um ou mais produtos turísticos (LAGE e MILONE, 2001). Além de apontar a

preferência por determinados produtos turísticos, um estudo psicográfico pode levantar

preferências e atitudes do turista em relação à prestação de um serviço específico,

sinalizando aspectos positivos e pontos a melhorar.

É com base nos estudos sobre demanda, e levando em consideração todas as

variáveis citadas de forma isolada ou conjunta, que determinadas atividades ou organizações

identificam grupos específicos de clientes e optam pela segmentação do seu mercado. De

acordo com Middleton (2002), segmentação de mercado é o processo onde as empresas

organizam seus conhecimentos sobre os grupos de clientes atuais e potenciais e voltam as

suas atenções àqueles cujas necessidades e desejos podem ser mais bem atendidos com

seus produtos/serviços, agora e no futuro.

No caso do turismo, existem várias possibilidades de segmentação, não havendo

inclusive consenso entre os autores sobre os segmentos básicos. Turismo de aventura,

turismo cultural, turismo para a terceira idade, turismo de negócios, são alguns dos

segmentos citados, mas que possibilitam novos desmembramentos. Sobre o setor de

agenciamento turístico, Middleton (2002) cita algumas possibilidades de segmentos – Jovens

solteiros e casais, dos 18 aos 30 anos; Famílias com crianças; Aposentados /idosos/ solteiros;

Participantes de esportes / atividades; Turistas em busca de cultura – mas evidencia que os

segmentos listados não estão completos, mas refletem a gama de possibilidades que existe

para cada setor.

Interessa aos objetivos desse estudo o segmento do turismo formado por pessoas que

estão em busca de cultura, já que o estudo tem como objeto os roteiros culturais agenciados.

No tópico a seguir, serão discutidos os principais conceitos ligados a esse segmento e ao

objeto de estudo, especificamente, como também serão fundamentadas as discussões

propostas pela pesquisa relativas à compreensão do turismo como atividade sócio-cultural.

3.4 Roteiros turísticos culturais: Abordagens conceituais e estruturais

43

Para uma melhor compreensão das atividades turísticas com interesses culturais, é

importante que se apresente o conceito de cultura, que nessa pesquisa segue a linha

antropológica. De acordo com Martins (2003), o conceito de Cultura é complementar ao

conceito de sociedade. A sociedade é definida como um conjunto de indivíduos que fazem

parte de um grupo social, constituído de homens e mulheres de diferentes gerações, ou uma

família realizando o processo social total, ou várias famílias nucleares no desenvolvimento de

relações dependentes e comuns. Já a Cultura relaciona-se ao fazer dos homens, portanto, às

suas obras, conteúdos e símbolos que governam estas relações da sociedade e que dão

significado e continuidade às mesmas.

Desta forma, a sociedade pode ser entendida como um processo em que existe

interdependência e troca de relações entre indivíduos que pertencem a grupos comuns. Já a

cultura, representa os significados, valores e objetos construídos e transmitidos por esses

indivíduos dentro da sociedade. Para Kroeber apud Martins (2003, p. 45):

O conceito de cultura constitui para a antropologia, uma

categoria de importância semelhante ao que teve e tem o

conceito de evolução para as ciências biológicas. Sua

importância está no fato de se tratar de uma categoria

empiricamente demonstrável e explicável. Demonstrável por

referir-se aos atos de pensamentos dos homens, e explicável

por seu sentido de significação presente nas finalidades e nas

funções de comportamento.

Outro conceito importante para o turismo voltado para os aspectos culturais é o de

patrimônio, já que os bens culturais se constituem os principais atrativos dessa atividade.

Interessa a esse estudo o conceito de patrimônio cultural entendido no seu sentido mais

amplo, incluindo “não apenas os bens tangíveis como também os intangíveis, não só as

manifestações artísticas, mas todo o fazer humano, e não só aquilo que representa a cultura

das classes mais abastadas, mas também o que representa a cultura dos menos favorecidos”

(BARRETTO, 2001, p.11).

A definição mais ampla de patrimônio cultural, considerando manifestações materiais e

imateriais do “fazer humano” e abrangendo a todas as classes sociais, se constitui um

44

parâmetro conceitual relativamente novo. O termo patrimônio cultural era, até a primeira

metade do século passado, atribuído a obras de arte consagradas, propriedades de grande

luxo, associadas às classes dominantes e pertencentes à sociedade política ou civil

(BARRETO, 2001). A consciência tardia do significado talvez explique o fato da permissividade

de destruição do patrimônio cultural, que só há algumas décadas vem sendo devidamente

considerado como elemento integrador do homem com a sua história e, por conseguinte,

despertado a necessidade de preservação.

Atualmente, o significado de patrimônio cultural é muito amplo, incluindo outros produtos do sentir, do pensar e do agir humanos – esculturas, pinturas, textos escritos (feitos à mão ou impressos), variadas peças de valor etnológico, arquivos e coleções bibliográficas, desenhos de sentido artístico ou científico, peças significativas para o estudo da ergologia6 de um povo ou de uma época; o que, no conjunto, se poderia definir como o meio ambiente artificial. (MACEDO e RIBEIRO, 1999, p. 14).

Como exemplo de bens culturais, Macedo e Ribeiro (1999) citam alguns casos: A

indumentária, túmulos; desenhos e fotografias documentais (de paisagens, de famílias, de

eventos), culinária regional, filmes, gravação de lendas, de músicas e de outras manifestações

orais documentando também a fala regional, coleção de jornais (espelhando a vida da

comunidade onde foram editados) e imagens religiosas. Também são citados bens imóveis:

igrejas, fortes militares, sedes de fazendas, conjuntos arquitetônicos, cidades inteiras – o que

importa, de acordo com os referidos autores, é a representatividade que cada um tem na

cultura em que estiveram ou estão inseridos.

A prática do turismo que tem como foco central a cultura, o chamado turismo cultural,

tem como característica o deslocamento de pessoas com a finalidade de presenciar

“manifestações artísticas, culturais, arqueológicas, monumentais e, em geral, qualquer

manifestação humana que signifique um enriquecimento cultural” (BALANZÁ e NADAL, 2003,

p. 159). Os autores supracitados afirmam que essa modalidade de turismo é muito flexível, já

que normalmente combina a cultura com outras motivações, o que representa um fácil manejo

da demanda sempre que for oferecido o que se procura. O turismo rural, por exemplo, pode se

6 A ergologia se constitui num ramo da etnologia que estuda a cultura material.

45

constituir numa modalidade de turismo cultural, tendo em conta que, além da interação com a

natureza a partir da convivência do dia-a-dia das propriedades rurais, conhecendo sua

atividade agropecuária produtiva, o turista pode conhecer as riquezas culturais existentes,

através do patrimônio arquitetônico rural, histórias regionais, saberes, lendas, cantigas,

objetos, entre outros, pertinentes à realidade local (CAIRO, 2003).

Quando o turista realiza um turismo organizado, ou seja, estruturado por agências,

normalmente, são elaborados percursos compostos por atrativos e serviços, com o objetivo

de melhorar a funcionalidade da visita e facilitar a compreensão das pessoas sobre os locais

visitados. No caso do turismo cultural, esses atrativos são geralmente monumentos com

significado cultural para o local visitado, onde os turistas, além da contemplação dos aspectos

arquitetônicos, têm a oportunidade de ter contato com bens imóveis de importante valor

cultural (esculturas, quadros, documentos etc). Além disso, em alguns casos, conhecer a

cultura imaterial, através da música, história oral ou outras manifestações culturais, como

podem também dispor de serviços, a exemplo da gastronomia, sempre baseados nos aspectos

culturais do lugar.

Esses percursos organizados normalmente tomam a forma de trilhas ou roteiros. Uma

trilha é uma rota, existente ou planejada, que liga pontos de interesses em ambientes urbanos

ou naturais. Além de funcionais, ligando e revitalizando espaços públicos do tecido urbano e

natural de uma cidade, são também educativas e de lazer valorizando marcos e atrações ao

longo de um percurso (GOODEY, 2002).

Os roteiros, por sua vez, são percursos mais amplos do que as trilhas e podem ser

realizados através de qualquer meio de locomoção: bicicleta, cavalo, carro, barco e até mesmo

a pé. Não importa a forma que tomem, sempre serão pontuados por atrações e serviços ao

longo do caminho, entre os quais certamente figurarão trilhas para caminhadas (GOODEY,

2002).

Conforme a classificação de Goodey (2002), as trilhas e roteiros podem ser temáticos,

espaciais ou gerais. São temáticos quando baseados em tópicos específicos, como arte,

arquitetura, música, literatura, geologia ou eventos históricos. Espaciais, se relacionados a

46

determinadas áreas residenciais e comerciais, a parques urbanos e naturais. E gerais, caso

sejam desenhados para apresentar áreas inteiras, como uma cidade, um parque, uma região

com sítios e vilarejos ligados por um tema comum.

Interessa ao estudo, especificamente, os roteiros que tenham como tema central a

cultura. Para Murta (2001, p.46), “os roteiros culturais prestam-se bem a integrar não apenas

circuitos de turismo histórico cultural, mas também as diferentes formas de turismo rural e de

natureza”.

Como já citado anteriormente, um dos elementos mais importantes que compõem os

roteiros de turismo cultural são os monumentos. A palavra latina monumentum remete à raiz

indo-européia men, que exprime uma das funções essenciais do espírito humano, a memória

(memini). De acordo com as suas origens filológicas7, o monumento é tudo o que pode evocar

o passado e perpetuar a recordação (MACEDO e RIBEIRO, 1999).

Os monumentos ditos intencionais, na acepção comum do termo, são as edificações ou

construções que pretendem perpetuar a memória de um fato, de uma pessoa, de um povo.

Elementos “co-memorativos”8, a exemplo dos obeliscos egípcios, os arcos de triunfo

romanos, as lápides tumulares, as estátuas de personagens etc. (CAMARGO, 2002). Já o

monumento histórico, conceito construído pelo patrimônio nacional, são bens patrimoniais.

Bens patrimoniais são aqueles que “têm uma importância reconhecida para um determinado

lugar, região, país ou mesmo para a humanidade” (CAMARGO, 2002, p.24).

A intencionalidade, entretanto, não descarta a historicidade do monumento. Alguns

monumentos intencionais têm uma característica simbólica que ultrapassa o seu significado

primeiro e intencional, sendo também monumentos históricos. Os obeliscos egípcios e os

7 Vale salientar que a filologia se constitui no estudo das sociedades e civilizações antigas através de documentos e textos legados por elas, privilegiando a língua escrita e literária como fonte de estudos. 8 Termo entendido como aquilo que comemora ou traz à memória; que envolve ou é digno de comemoração; comemorativo.

47

arcos de triunfo romanos também são monumentos intencionais históricos (CAMARGO,

2002).

A apresentação de monumentos históricos através de trilhas e/ou roteiros pode ser feita

com ou sem a presença de um intérprete. As trilhas são normalmente autoguiadas, já os

roteiros, como são mais amplos, normalmente dispõem da presença de um profissional que

direciona o percurso e interpreta os locais visitados para os turistas.

Quando as trilhas e roteiros são percorridos através de caminhadas e excursões guiadas, os visitantes são conduzidos por uma guia que os acompanha pessoalmente, e fornece explicações no local. O desenvolvimento da chamada interpretação ao vivo requer habilidades especiais e treinamento profissional do intérprete (GOODEY, 2002, p.77).

De acordo com a definição da International Association of Tour Managers e da

European Federation of Tourist Guide Associations (EFTGA), citadas por Valle (2003), o

guia é a pessoa responsável pela condução de grupos ou indivíduos, para outros países ou

dentro do seu país de origem, ao redor de monumentos, lugares e museus de uma cidade ou

região, para interpretar, de uma maneira inspiradora e divertida, na linguagem de escolha dos

turistas, os patrimônios cultural e natural.

Valle (2003) também referencia o conceito da Professional Tour Guide Association of

San Antonio, que afirma que, além dessa efetiva combinação de entusiasmo, conhecimentos e

qualidades pessoais, o guia deve possuir um alto padrão de conduta ética para liderar grupos a

lugares importantes, enquanto proporciona interpretação e comentários sobre o local visitado.

O sucesso do guia consiste em identificar-se, positivamente, com o que faz e com as pessoas

envolvidas no processo.

Destarte, é inegável a importância da qualificação desse profissional, já que lhe é

atribuída a responsabilidade de transmitir, durante o percurso dos roteiros turísticos culturais,

com autenticidade e entusiasmo, informações sobre lugares e fatos que representam a história

e a riqueza cultural de pessoas, cidades, ou até mesmo regiões inteiras. E é justamente a

48

complexidade que envolve a temática cultura que exige um tratamento diferenciado dessa

modalidade de turismo, não só por parte dos profissionais do setor, como também dos

organismos públicos competentes e da própria comunidade, que tem valores e interesses

importantes envolvidos, no sentido de estabelecer parâmetros éticos de conduta no momento

da “apropriação” econômica de elementos culturais cujo valor é inestimável.

Nesse sentido, considera-se importante ampliar a discussão acerca do compromisso

dos agentes relacionados na interconexão entre o patrimônio cultural e a atividade turística. O

tópico subseqüente trata de alguns aspectos importantes que devem ser considerados por

todos os agentes envolvidos, no momento em que uma localidade decide expor a sua cultura

como atrativo turístico.

3.5 As responsabilidades dos agentes envolvidos na interface entre cultura e turismo

Assim como são incontestáveis as conseqüências econômicas positivas do turismo,

essa atividade, quando praticada de forma desordenada e sem preocupações com a

sustentabilidade9, pode se constituir fator de ameaça aos núcleos receptores, na medida em

que essa falta de compromisso provoca impactos que, dependendo da maneira como são

controlados, podem ser bastante prejudiciais à sociedade, ao seu meio ambiente e à sua

cultura. O foco de discussão desse tópico está nas interações e possíveis impactos que a

utilização da cultura pelo turismo pode causar para uma localidade, levando-se em

consideração o papel dos agentes envolvidos na organização dessa atividade, como também

avaliar a posição dos agentes que sofrem os impactos.

Com base na perspectiva de Cooper (2001), a mercantilização da cultura material

(artesanato) e imaterial (cerimônias e rituais), com a conseqüente destruição do verdadeiro

significado, e a perda de autenticidade cultural, através da realização de encenações para

atender às necessidades dos turistas, são alguns exemplos de impactos negativos que podem

ser ocasionados pela exploração turística da cultura. De acordo com esse autor, as políticas

9 Minimização dos impactos negativos do turismo como forma de garantir o uso dos recursos pelas gerações futuras.

49

de preservação podem ser o meio mais ativo de manutenção do patrimônio cultural, porém,

para serem realmente eficazes e justas, devem ser representativas dos interesses de todos os

envolvidos. Na perspectiva de Barreto (2001, p.14):

Determinar o que é digno de preservação é uma decisão

político-ideológica, que reflete valores e opiniões sobre quais

são os símbolos que devem permanecer para retratar

determinada sociedade ou determinado momento, donde

surgem os grandes questionamentos sobre quem têm ou

deveria ter autoridade para decidir.

Dentro desse contexto, o conflito de interesses se torna latente. Por um lado, a

comunidade receptora dos pólos turísticos tem a intenção de manter sua herança cultural e o

seu meio ambiente, mas precisa aproveitar as possibilidades de melhoria de posição

econômica e social proporcionada pelo turismo. Por outro, os turistas querem sair de suas

regiões para mudar os horizontes, descobrir coisas novas e aumentar seus conhecimentos do

mundo. As empresas, instituições e o poder público, por sua vez, têm interferência direta no

sistema do turismo e possuem interesses de caráter profissional e mercadológico sobre o

mesmo (KRIPPENDORF, 2000).

Essas diferentes aspirações levam os agentes envolvidos com o turismo cultural a

exercer papéis distintos e, em alguns casos, contraditórios no seu envolvimento com essa

atividade. Um importante agente desse processo é o turista, pois, apesar da inegável

possibilidade de interação que o turismo cultural pode proporcionar aos povos, não se pode

desconsiderar que a relação do turista com comunidades frágeis e despreparadas em nível de

planejamento pode ocasionar transformações profundas e irreversíveis para os autóctones.

Goodey (2002) acredita que o estabelecimento do respeito imediato aos valores locais

e sua compreensão pelo visitante estão no cerne de qualquer desenvolvimento de um

ambiente turístico sustentável para a comunidade e para o visitante. Para o referido autor,

esse respeito se fundamenta na compreensão dos valores culturais e das crenças que levam

as pessoas a ter comportamentos distintos, onde é fundamental a comunicação – bem como

todos os outros meios de que a indústria do turismo pode hoje se valer – mas também requer

que a comunidade conheça a si própria.

50

Para Krippendorf (2000), o desenvolvimento natural dessa troca cultural entre os povos

parece estar passando por um processo evolutivo e um dia pode atingir o estado de

emancipação, porém, esse processo de aprendizado e maturação, que devem adotar os

turistas, não se realiza do dia para a noite. Uma evolução desse tipo deveria ser fomentada

pela população local e exigiria tempo, experiência e educação.

O poder público, outro importante agente no processo de uso do patrimônio cultural

como atrativo turístico, exerce um papel relevante e ao mesmo tempo conflitante, pois precisa

conciliar a atuação como representante legítimo das aspirações da comunidade local com os

interesses essencialmente econômicos na exploração da atividade turística. Apesar de não

excludentes, essas duas proposições exigem que governo local estabeleça prioridades. O

turismo é uma atividade que gera empregos e renda para a população local e os seus efeitos

econômicos são multiplicadores, mas a exploração meramente mercadológica da atividade

pode levar à destruição do patrimônio e à perda de identidade pela comunidade local. Sobre

esse aspecto, Simões (2001, p.2) comenta que:

A ousadia é que faz grandes idéias tornarem-se realidade. A

vontade política, o olhar lúcido e comprometido com o bem

estar social, também. Mas é necessário que isso esteja aliado à

idéia de um desenvolvimento comprometido com a cultura

local. Assim, é possível um turismo cultural garantidor da

preservação do patrimônio cultural e natural. Somente dessa

forma, a sustentabilidade não se restringirá a aspectos

econômicos, mas também atentará para o respeito aos

cidadãos e às comunidades locais.

É necessário mencionar também a relação entre o poder público e a iniciativa privada

no processo de condução do uso turístico do patrimônio cultural, já que a parceria entre essas

duas instâncias, com a devida delimitação de atribuições e responsabilidades, é cada vez mais

representativa no contexto turístico. Para Beni (2002), a participação da iniciativa privada no

desenvolvimento turístico tem se intensificado, o que pode diminuir o papel do governo no

sentido operacional, mas não no controle de gestão. Na concepção de Beni (2002), o governo

ainda é o responsável pela aceitação completa do turismo que desenvolve, assim como detém

51

a responsabilidade total de assegurar que os benefícios recebidos do turismo, inclusive os

econômicos, sejam obtidos mediante a satisfação prioritária das necessidades sociais,

culturais e ambientais.

Simões (2003), por sua vez, defende que as atuações públicas precisam ser revistas no

sentido de considerarem a inclusão social e a diferença, dando prioridade a ações educativas.

De acordo com essa autora, para a implementação de uma política justa se faz necessário

realizar, com ações práticas, os princípios da sustentabilidade cultural.

Para Silveira (2002), a sustentabilidade cultural implica na busca de soluções de âmbito

local, utilizando-se as potencialidades das culturas específicas, considerando a identidade

cultural e o modo de vida local, assim como a participação da população local nos processos

decisórios e na formulação e gestão de programas e planos de desenvolvimento turístico.

A comunidade local é certamente o segmento mais frágil de todos os “atores”

envolvidos na relação da cultura com o turismo, pois além de estar vulnerável aos diversos

tipos de impactos que a atividade turística pode causar, é a parte envolvida que possui menor

ou nenhuma representatividade junto às políticas de planejamento. De acordo com Goodey

(2002, p.48), existem alguns aspectos que caracterizam uma comunidade local:

1. um grupo mutável de pessoas que compartilha um território conhecido – um

vilarejo, um prédio de apartamentos, uma rua etc.;

2. um padrão de uso do solo, determinados marcos, símbolos, nomes e

percepções que estabelecem uma geografia particular do lugar;

3. um conjunto de opiniões compartilhadas – em geral parcialmente – sobre como

a área e sua população devem ser administradas;

4. uma visão parcialmente explicitada e compartilhada sobre como a região

poderá vir a ser no futuro, para além do tempo de vida da população que hoje

nela existe;

5. uma convicção de que a maioria dos esforços físicos e financeiros oriundos

daquela região deveriam ser investidos em infra-estrutura e serviços públicos;

52

6. certa relutância em aceitar gente de fora (visitantes ou imigrantes) e mudanças

(novas estradas ou desenvolvimentos) que impliquem em uma modificação

significativa no estilo de vida local.

O turismo, para muitas comunidades receptoras, principalmente aquelas com extrema

dificuldade econômica, representa a possibilidade de melhoria das condições de vida, ao

passo que implica na geração de renda, empregos, melhorias de infra-estrutura. Essa evidente

contribuição econômica do turismo, no entanto, às vezes vem acompanhada de uma série de

transformações na vida cotidiana da população nativa que, em longo prazo, podem causar

danos de ordem sócio-cultural, comprometendo inclusive a manutenção da atividade turística

no local.

Processos de perda de identidade, valores, costumes, significados, marginalização,

exclusão social, bem como o uso indevido e equivocado do patrimônio material, são alguns

exemplos de impactos que o turismo não sustentável sócio-culturalmente pode causar à

comunidade receptora. Sobre esses aspectos, Goodey (2002, p. 53) afirma que:

Pode-se observar uma gradual alienação dentro da comunidade, linhas distintas separando o visitante dos moradores, uma crescente degradação do produto que é oferecido ao visitante, o consumo dos recursos tangíveis e intangíveis, uma mudança fundamental de longo prazo para a comunidade, em troca de vantagens a curto prazo.

De acordo com Simões (2003), as políticas devem contemplar o cidadão enquanto

indivíduo atuante e enunciativo, transformando o processo de exclusão e marginalização em

contribuição participativa. Com base nessa concepção, a prática sustentável do turismo,

implicaria em ações políticas que privilegiassem os interesses da população, que deve ter um

papel importante no processo de planejamento.

Outro ponto muito importante que o processo de planejamento participativo deve

contemplar é a educação da população que, para conseguir uma legítima representatividade,

deve ter conhecimento dos seus “bens” e direitos. Para Goodey (2002), a essência do

planejamento turístico está no envolvimento da comunidade local que, em todos os seus

segmentos, precisa ter consciência de seu patrimônio, tanto do patrimônio material quanto do

53

imaterial, para que possa decidir sobre aquilo que deseja compartilhar e o que deseja mudar

só para si, e que escolha onde e como deseja que esta troca ocorra.

Nesse sentido, as comunidades locais precisam, portanto, mesmo em vista das

limitações políticas impostas pelo Estado, obter maior controle sobre seus recursos e seu

futuro, o que só pode ser possível a partir do momento em que tiverem acesso a uma

educação que considere prioritário o processo de resgate de valores identitários que foram se

perdendo através do processo de exclusão social (GOODEY, 2002).

Os entendimentos aqui discutidos fazem parte de todo o contexto turístico e devem ser

levados em consideração no estudo de qualquer atividade empresarial vinculada a esse setor

econômico. No momento da discussão dos resultados da pesquisa, algumas considerações

aqui abordadas darão subsídio às análises das variáveis estudadas.

O tópico seguinte dá início às abordagens mais específicas propostas pelos objetivos

da pesquisa, onde, inicialmente, se apresenta uma breve evolução histórico-econômica do

município de Ilhéus, para, depois, se efetivar a descrição dos roteiros culturais agenciados

nessa cidade.

54

4 ROTEIROS CULTURAIS AGENCIADOS EM ILHÉUS/BA

4.1 Ilhéus: da agricultura ao turismo

O município de Ilhéus, área de estudo deste trabalho, foi sede de momentos e

acontecimentos muito relevantes para a história da Região, do Estado e até mesmo do país.

De uma riqueza cultural inquestionável, Ilhéus tem um ciclo de vida que remonta à época das

capitanias hereditárias, passa pelo período próspero da civilização cacaueira, pelos momentos

de crise da lavoura, até chegar às novas possibilidades trazidas pelo turismo e outras

atividades econômicas.

É essencialmente esse caráter opulento e diverso de sua história que torna a cidade

uma área potencial de estudo, principalmente quando se trata de investigações das ciências

sociais que levam em conta elementos de ordem cultural. Como a pesquisa se dá em torno

dos roteiros turísticos culturais agenciados em Ilhéus, é importante conhecer um pouco da

trajetória da cidade através de uma breve descrição dos seus principais momentos históricos,

considerando que os períodos e fatos descritos serão a principal “matéria” explorada pelos

roteiros turísticos estudados.

Tudo começou no século XVI com a vinda do locotenente Francisco Romero que, sob

a ordem de Jorge Figueiredo Correia, veio tomar a posse da capitania recebida do Rei de

Portugal D. João III. O marco de fundação da cidade foi o outeiro de São Sebastião, onde

55

foram edificadas as primeiras casas, a primeira igreja e as primeiras fortificações. O período

de desbravamento das terras foi marcado por muitas lutas entre os colonizadores e os nativos,

os povos indígenas. Sesmarias foram doadas e começa-se a plantar e moer cana-de-açúcar

produzindo riquezas que despertavam cobiça em outros povos europeus, fazendo-os

desembarcar na região. Além dos colonos europeus, os jesuítas também desembarcaram com

o objetivo de evangelizar os índios e manter viva a religiosidade no país conquistado

(MACEDO e RIBEIRO, 1999).

Marcada por momentos de prosperidade e crise, a Capitania teve vários donatários,

sendo o último D. Antonio de Castro, quando foi extinto o sistema de capitanias, em 1761, e

as terras passaram a pertencer à coroa de Portugal. Em 1881, a vila de S. Jorge de Ilhéus

passou à categoria de cidade, tendo como primeiro Intendente o Dr. João Batista de Sá

Oliveira. Já após a proclamação da República, em 1889, a comarca de Ilhéus foi dividida em

municípios e, em 1890, foi criado o município de Ilhéus (ANDRADE, 2003).

De 1890 a 1989, a história de Ilhéus é a história dos coronéis do cacau. A história da

lavoura cacaueira em Ilhéus se confunde com a própria história da Região Sul da Bahia, pois

o cacau provocou desbravamento para o interior, fundação de cidades, formação de gerações.

O cacau propiciou uma “civilização”, um patrimônio, uma identidade histórico-cultural

(MACEDO e RIBEIRO, 1999).

De acordo com Andrade (2003), a história da lavoura do cacau pode ser dividida em

fases com características distintas. Nos parágrafos a seguir, tem-se uma sucinta descrição de

cada uma delas.

A primeira fase começa com a introdução das primeiras sementes, em 1746, passa por

períodos de conflitos pela posse da terra e se estende até 1930, quando o Brasil ocupava o

primeiro lugar na produção mundial. O Sul da Bahia, ainda sem conhecimento técnico

adequado, produziu mais de um milhão de sacas e ocupou o segundo lugar da produção

56

mundial, suplantado apenas por Gana, na África Ocidental. Nesta fase, começou a

industrialização do cacau, quando o suíço Hugo Kaufmanm criou a Cacau Industrial e

Comercial SA, pioneira em processamento de cacau no Brasil.

A segunda fase vai de 1930 até 1957, quando a lavoura ficou economicamente

organizada, o que proporcionou grande produção, comercialização e exportação de cacau. Foi

a fase da expansão e do apogeu, mas também de muitas crises, causadas pelo esgotamento da

terra e queda do preço do produto no mercado internacional.

A terceira fase começa em 1957 e vai até 1988, quando ocorreu a crise da

produtividade. Nesse período, o governo federal criou a CEPLAC (Comissão Executiva do

Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira) com o objetivo de recuperar e racionalizar a

lavoura. As crises cíclicas foram constantes: ora frio e chuvas excessivas provocavam uma

doença chamada podridão parda, ora o calor forte e a chuva reduziam a produção, ora os

preços do mercado caíam. Apesar da crise, a região ainda viveu um grande momento em

1970, quando a produção foi boa e os preços dispararam.

A quarta fase, da destruição e recuperação, teve início em 1988, quando a situação da

lavoura já era crítica em virtude da queda de produtividade, da expansão da cacaicultura no

Sudeste da Ásia (Indonésia e Malásia), da queda nos preços e do aparecimento da doença

vassoura-de-bruxa (Crinnipellis perniciosa), que fez reduzir a produção de 400 mil toneladas

/ano para 127 mil.

Após quatro anos do aparecimento da vassoura-de-bruxa, a CEPLAC apresentou os

primeiros resultados dos estudos para proteger a lavoura, através de medidas profiláticas para

retirada da vassoura e o emprego de fungicida, sem muito sucesso. Somente depois de várias

tentativas frustradas de proteção da lavoura, a CEPLAC desenvolveu o cacau clonado, que

possui material genético resistente à doença e se constitui hoje na principal esperança de

recuperação da lavoura.

57

Os fazendeiros que apostaram na lavoura do cacau, mesmo com dificuldades,

renovaram a plantação com clones de alta produtividade e resistentes à vassoura-de-bruxa e já

começaram a sentir o resultado com o aumento da produção. Entretanto, os cacauicultores de

hoje diferem muito dos de ontem. Eles estão se profissionalizando, procurando uma

transformação nessa atividade econômica, descobrindo novas técnicas.

Além disso, para sair da crise provocada pela monocultura do cacau, Ilhéus direciona

sua economia em busca de alternativas em outros setores como a pecuária, a indústria, a

piscicultura e, sobretudo, o turismo, que surge como grande alternativa de saída da crise,

considerando a vocação natural da cidade, que possui um ambiente natural exuberante, já que

é circundada pela mata atlântica, tem um litoral extenso, com belas praias, além de uma

riqueza cultural proveniente do seu movimento histórico, principalmente dos tempos

prósperos do cacau, que sempre foram retratados pelo escritor Jorge Amado, que nasceu na

região e, através das suas obras, difundiu o nome da cidade e criou personagens ilheenses que

“habitam” o imaginário dos turistas que visitam a cidade.

Ainda não se pensa em Ilhéus “sem associá-la à saga dos valentes e poderosos

Coronéis como Sinhô e Juca Badaró, ou à audácia e destemor de jagunços como Inuri e

Cajango, ou ainda a sensualidade e beleza da mulata Gabriela” (MACEDO e RIBEIRO, 1999,

p. 17). Todos esses personagens, retratados por Jorge Amado e Adonias Filho, viveram no

contexto da civilização cacaueira, o que dá a essa fase da história ilheense um papel de

destaque como fator de atratividade turística.

De acordo ainda com Macedo e Ribeiro (1999), a cidade de Ilhéus continua a sofrer

influências desse período, sendo fortemente marcada pelas presenças do coronel, do jagunço e

de imigrantes estrangeiros e nacionais na sua formação social, o que lhe proporcionaria uma

fantástica riqueza cultural. A reciclagem do poder oligárquico e a decadência da lavoura

58

cacaueira não modificaram, significativamente, segundo os autores, esses traços

predominantes.

Além da herança da lavoura cacaueira, a cidade de Ilhéus possui tradições populares e

folclóricas peculiares de uma cidade do interior que, aliadas a outros fatores, como o clima

quente e a localização litorânea, possibilitam a sua classificação na posição de terceiro pólo

turístico da Bahia, atrás apenas de Salvador e Porto Seguro.

De acordo com informações obtidas no último censo do IBGE (2000), a cidade de

Ilhéus possui hoje uma área de 1.841,03 quilômetros quadrados, com uma população de

221.883 pessoas, sendo 110.272 homens e 111.611 mulheres. O acesso rodoviário para o

município se dá através da BA- 261, pela cidade de Uruçuca, a BR-415, por Itabuna

utilizando-se a BR–101 como acesso, e a Rodovia Canavieiras / Ilhéus, passando por Una

(ANDRADE, 2003). Com relação à infra-estrtura turística, Ilhéus possui um aeroporto

habilitado a receber vôos nacionais; um porto internacional; 40 pontos de alimentação

entre bares, restaurantes e lanchonetes; 117 estabelecimentos de acomodação entre

resorts, hotéis, pousadas, campings e albergues; e cerca de 15 agências de viagens10.

Da infra-estrutura turística citada, interessam a esse estudo as agências de

viagens, segmento escolhido para a realização das análises propostas. Como já abordado

no tópico que trata da metodologia, apesar de a cidade de Ilhéus possuir em torno de

quinze agências de viagens, no período em que se realizou a pesquisa, apenas uma

agência trabalhava de forma regular com o turismo receptivo e mais especificamente

com a realização de roteiros turísticos culturais. Por atender à classificação de passeios

culturais, O CityTour histórico e a visita à fazenda de cacau, roteiros agenciados pela NV

turismo, foram escolhidos para o desenvolvimento desse estudo. O próximo tópico

apresenta a descrição de cada um dos roteiros citados, destacando as informações

transmitidas e obedecendo à cronologia do percurso.

10 Bahia. Salvador, 2005. Disponível em <http://www.bahia.com.br> Acesso em: 26/08/2005.

59

4.2 Descrição dos roteiros turísticos culturais agenciados em Ilhéus-BA

A descrição desses roteiros teve o objetivo de possibilitar uma noção geral do trajeto

percorrido pelos turistas, do tempo gasto no percurso como um todo e em cada parada, da

quantidade de monumentos visitados, das informações passadas, enfim, dos aspectos gerais

que envolvem os referidos passeios.

Com a finalidade de facilitar o entendimento, além da descrição, optou-se por

apresentar fotografias entremeando o texto, com vistas a melhor compor a produção textual e

facilitar a compreensão. Cabe ainda destacar que as referências bibliográficas das notas de

rodapé referem-se à confirmação das informações passadas pelo guia turístico, que é o

principal intérprete dos locais visitados durante o roteiro.

4.2.1 Roteiro City Tour histórico

A finalidade desse roteiro é apresentar aos turistas a cidade de Ilhéus, dando ênfase aos

aspectos históricos que envolvem o local. Durante o trajeto, o guia relata aos turistas o

período que se inicia com a fundação da Vila de São Jorge de Ilhéus, a fase em que a cidade

viveu o ciclo do cacau, até os dias atuais. As histórias do lugar, da gente e dos monumentos e

locais que simbolizam a história oficial, são contadas em consonância com a passagem do

veículo que conduz os turistas pelas regiões da cidade que simbolizam tais fatos, personagens

ou personalidades.

Em geral, os usuários de excursões a pé percorrem uma pequena parte da cidade de cada vez, embora possam também, conjugar as caminhadas com passeios de ônibus, cobrindo assim temas espalhados em uma grande área urbana, como aqueles ligados à evolução arquitetônica da cidade. Quando a

60

excursão é planejada como uma introdução geral à cidade, é normalmente feita de ônibus (MURTA e GOODEY, 2002, p.40/41).

O City Tour histórico tem início em Olivença, distrito de Ilhéus, situado no km 17 da

Rodovia Ilhéus/Canavieiras e caracterizado pela presença do mar, de águas minerais com

propriedades medicinais, além de uma rica história ligada à presença dos índios Tupinambás

nessa região e outras tradições populares típicas das pequenas cidades, como a puxada do

mastro de São Sebastião, festa que mistura o sagrado e o profano e se realiza todo ano no mês

de janeiro.

A Igreja de Nossa Senhora da Escada (Figura 1), construída pelos padres jesuítas e

pelos índios, situada na Praça Cláudio Magalhães, é o primeiro local onde o ônibus do roteiro

pára. Nesse ponto, o guia que comanda a excursão fornece aos turistas informações sobre a

construção do monumento, que é do século XVII.

Outro aspecto abordado é a localização estratégica da Igreja, que fica no ponto mais

alto do distrito e com vista para o mar, pelo fato de, na época da sua construção, ser a área

mais protegida em relação a ataques de povos inimigos vindos do oceano. Além disso, o guia

ainda relata a costume festivo da puxada do mastro de São Sebastião, descrevendo aos turistas

a tradição envolvida nessa festa popular local e, por fim, fala das águas ferruginosas do local e

cita seus componentes (Iodo, Ferro e Magnésio). Apesar de o ônibus do passeio realizar a sua

primeira parada, não há descida dos passageiros no distrito de Olivença e o tempo total gasto

nesse local é de 10 minutos.

A maioria das comunidades procura alcançar um entendimento de suas vidas por meio da referência de um sistema de crenças, que se expressa através de atividades regulares de reverência a um sistema de crenças, cerimônias, ritos de passagens e sacrifícios. Independentemente do tipo de religião, das indígenas às cristãs, a prova das crenças do lugar estará espalhada por toda a cidade. Por serem locais considerados sagrados, eles são os mais respeitados e os mais preservados de uma cidade. Além disto, é provável que sejam destacados pela altura, decoração, materiais construtivos ou localização (MURTA e GOODEY, 2002, p.79)

61

Figura 1 – Igreja de Nossa Senhora da Escada - Olivença

Fonte: www.ilhéus.com.br, 2004

Já a caminho da cidade de Ilhéus, na rodovia BA 001, o guia fala sobre a sua história

ainda como Capitania Hereditária e relata o conflito ocorrido entre índios Tupiniquins, antigos

habitantes da região, e colonos ligados ao governador Mem de Sá que, com tal ajuda,

conseguiram vencer os índios numa luta travada nas águas do mar da praia do Cururupe (entre

Ilhéus e Olivença), que ficou conhecida como “batalha dos nadadores11”. O trajeto

Olivença/Ilhéus tem uma duração aproximada de 15 minutos.

Na chegada ao perímetro urbano do município de Ilhéus, o guia informa a data de

fundação da cidade, sua localização geográfica, a quantidade atual de habitantes e passa a

enfatizar o período em que a cidade e a região viverem o ciclo do cacau. Na passagem pelo

bairro do Pontal, são destacados dois momentos da história local, o da fundação da Vila de

São Jorge de Ilhéus, no morro do Outeiro de São Sebastião, e os encontros dos Coronéis e

suas amantes que se davam nesse bairro na época em que a cidade vivia a civilização

cacaueira.

No centro da cidade, sempre com o ônibus em movimento, além do antigo porto,

são apontados aos turistas três importantes monumentos da cidade, o Cristo, o Ilhéos

Hotel e o Bataclã. Como não há a parada do veículo condutor, as informações são 11 FREITAS, Antonio Fernando G de. PARAISO, Maria Hilda Baqueiro. Caminhos ao Encontro do Mundo: A capitania, os frutos de ouro e a princesa do Sul – Ilhéus, 1534-1940. Ilhéus, Ba: Editus, 2001.

62

passadas de forma acelerada, destacando-se as principais características dos referidos

monumentos históricos da cidade. A estátua do Cristo (Figura 2), situada na Avenida 2

de Julho, foi inaugurada em 1942, no governo de Mário Pessoa, antigo prefeito que tinha

a intenção de tornar Ilhéus parecida com a cidade do Rio de Janeiro12. Além de dar

destaque a essa história, no momento da passagem, o guia fala sobre o tamanho da

estátua, que possui 7 metros.

Figura 2 – Cristo Redentor de Ilhéus Fonte: Aline Caldas, 2005

O Ilhéos Hotel (Figura 3), é uma construção da década de 1930 e pertencia ao Coronel

Misael Tavares, que foi considerado o maior produtor individual de cacau do mundo. Esse

prédio foi o primeiro a ser construído em cidades do interior do Norte e Nordeste do país e o

primeiro dentre os edifícios baianos a implantar elevador. Além do hotel, funcionavam no

local a Casa Bancária particular do Coronel e dois depósitos de cacau13. Todas essas

informações são relatadas aos turistas no instante da passagem do ônibus pelo local.

12 VINHÁES, José Carlos. São Jorge dos Ilhéus: da capitania ao fim do século XX. Ilhéus-Ba: Editus, 2001. 13 Fundação Cultural de Ilhéus. Ilhéus, 2004. Disponível em <http://www.fundaci.com.br>. Acesso em: 28/10/2004. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).

63

Figura 3 – Ilhéos Hotel Fonte: www.ilhéus.com.br, 2004.

O Bataclã (Figura 4), localizado na Avenida 2 de Julho, é o prédio onde funcionava

um antigo cabaré, ponto de encontro de Coronéis do cacau e que ficou famoso ao ser narrado

no romance Gabriela cravo e canela, do escritor Jorge Amado, sendo a personagem Maria

Machadão a proprietária. Esse local hoje é um espaço turístico-cultural que, além de possuir

Ciber Café e sala para exposições e apresentações, exibe a reprodução do quarto da Maria

Machadão. Apesar da sua importância, o Bataclã também não é visitado internamente. Além

das informações básicas sobre o local, os turistas têm apenas a possibilidade de avistar a sua

fachada.

64

Figura 4 – O Bataclã Fonte: www.ilhéus.com.br, 2005.

Da entrada no perímetro urbano, incluindo a passagem pelos três monumentos citados,

até o primeiro ponto com descida dos turistas para visitação interna, o tempo gasto é de

aproximadamente 15 minutos.

O primeiro local do roteiro com descida para visitação é o conjunto arquitetônico da

Piedade, formado pelo Convento e Igreja Nossa Senhora da Vitória (Figura 5), que foi

fundado pelas irmãs ursulinas em 1916 e está localizado numa elevação da cidade chamada

Alto da Piedade. No local também funcionam um colégio dirigido pelas freiras e o Museu

Nossa Senhora da Piedade, que fica em duas salas do antigo Palácio Episcopal, doado às

freiras Ursulinas. O acervo do Museu é caracterizado pela presença de mobiliários antigos,

imagens sacras, peças de arte, indumentárias, louças, quadros e objetos diversos e de uso

pessoal de Madre Thais do Sagrado Coração Pillart, a sua fundadora14.

14 MACEDO, Janete Ruiz; RIBEIRO, André Luiz Rosa. Ilhéus: tempo, espaço e cultura. Itabuna: Agora Editora Gráfica, 1999.

65

Figura 5- Igreja de Nossa Senhora da Vitória Fonte: www.ilhéus.com.br, 2004.

Os turistas pagam um taxa para adentrar o monumento, cobrada pelas freiras para

manutenção do lugar. Na visita à Igreja, que tem estilo neogótico, o guia conta a história da

sua construção e fala da sua importância para a sociedade local, oferecendo também

oportunidade de reflexão e orações aos visitantes. Na visita ao Museu, não existe um

acompanhamento de pessoa vinculada ao monumento, nem do próprio guia, para explicar

sobre os bens históricos ali contidos.

O padrão especial e a idade das edificações religiosas, as rotas e caminhos religiosos são guias valiosos para se entender o padrão de crescimento urbano. Tanto o estilo arquitetônico quanto o simbolismo histórico tendem a ser pontos de interesse da atenção acadêmica. Isto não significa a impossibilidade de uma interpretação pessoal e acessível sobre esses lugares, não só como símbolos profundamente enraizados da comunidade, mas também como locais que ainda refletem a vitalidade de pelo menos uma parte dela (MURTA e GOODEY, 2002, p.80)

Ainda no Alto da Piedade, os turistas são levados ao mirante que tem acesso pelos

fundos do convento, onde podem avistar uma das principais avenidas da cidade, a Soares

Lopes, antiga Avenida Beira Mar, também construída no governo do prefeito Mário Pessoa

66

em homenagem à cidade do Rio de Janeiro, história que é relatada aos turistas pelo guia. Do

mirante é possível avistar, ainda, o atual porto da cidade e outros locais importantes. Essa

parada dura em torno de 20 minutos.

O próximo destino do roteiro é o Quarteirão Jorge Amado, circuito turístico idealizado

pela Setur (Secretaria de turismo do município de Ilhéus), que contempla dois roteiros (O

Cravo e o Canela) com nomes que homenageiam uma das principais personagens do escritor

Jorge Amado, a Gabriela, também representada no cinema e em novela televisiva. O

Quarteirão é formado por monumentos escolhidos pela prefeitura e que simbolizam,

principalmente, os tempos áureos da lavoura cacaueira, um dos principais temas explorados

pelo escritor Jorge Amado em seus romances.

No Quarteirão Jorge Amado, a agência não segue os roteiros formatados pela Setur,

destacando, apenas, alguns locais julgados mais importantes para a visita: a “Casa de Tonico

Bastos”, o “Palacete do Coronel Misael Tavares”, a Igreja Matriz de São Jorge, a Casa dos

Artistas, a Casa de Cultura Jorge Amado, o Teatro Municipal, o Bar Vesúvio e a Catedral de

São Sebastião.

Na Praça Ruy Barbosa, ponto inicial da visita, o guia turístico mostra ao grupo dois

importantes monumentos: o palacete do Coronel Misael Tavares (Figura 6), inaugurado em

189215, hoje sede da Maçonaria, e a casa do Coronel Tonico Bastos, dono de um antigo

cartório, transformado pelo escritor Jorge Amado em personagem importante no romance

Gabriela cravo e canela, onde atualmente funciona um Spa. Em ambos os monumentos, os

turistas só avistam as fachadas, que mantêm o aspecto original. A impossibilidade de visitas

ao interior se deve ao fato de esses prédios sediarem atividades que estão em funcionamento

normal, como já citado anteriormente, além do fato de não preservarem a originalidade do seu

ambiente interno, já totalmente reformado e sem as características da época da sua construção.

15 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus Passado e Presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003.

67

Figura 6 – Palacete que Pertenceu ao Coronel Misael Tavares

Fonte: Foto da autora, 2005

Algumas casas são com certeza especiais, e tiveram donos especais, mas a maioria das moradias de uma cidade, principalmente aquelas localizadas nas proximidades do centro, são menos visíveis. Levam tempo para se compreenderem os desenhos de plantas, os materiais e os detalhes construtivos que nos dão pistas sobre as origens e os diferentes períodos de uma cidade (MURTA e GOODEY, 2002, p.81)

O ponto seguinte é a Igreja Matriz de São Jorge (Figura 7), que está localizada na

esquina das ruas Conselheiro Dantas e Antonio Lavigne de Lemos e tem construção apurada

do final do século XVII. Além de ser uma construção com inegável valor histórico, essa Igreja

ainda possui um museu no seu interior com obras sacras muito valiosas, datadas dos séculos

XVI a XIX16. E apesar dessa importância cultural e histórica, os turistas nem sempre têm a

chance de conhecer melhor a Igreja e o museu, já que, por falta de segurança no local, os

religiosos responsáveis pelo monumento preferem mantê-lo fechado em boa parte do tempo,

visando a preservar a integridade das peças de grande valor contidas no seu interior. São

16 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus Passado e Presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003. MACEDO, Janete Ruiz; RIBEIRO, André Luiz Rosa. Ilhéus: tempo, espaço e cultura. Itabuna, Ba: Agora Editora Gráfica, 1999.

68

usados mais 15 minutos para apresentação da casa de Tonico Bastos, do Palacete do Coronel

Misael Tavares e da Igreja Matriz de São Jorge.

Figura 7 – Igreja Matriz de São Jorge Fonte: Foto da autora, 2005

Paralela à Igreja Matriz de São Jorge, fica a Rua Antonio Lavigne de Lemos (Figura

8), que tem um calçamento especial, feito com pedras importadas da Europa, que teriam sido

compradas especialmente para o casamento da filha de um Coronel no ano de 1907, de um

navio inglês que teria aportado em Ilhéus17.

Figura 8 – Rua Antonio Lavigne de Lemos

17 VINHÁES, José Carlos. São Jorge dos Ilhéus: da capitania ao fim do século XX. Ilhéus-Ba: Editus, 2001. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).

69

Fonte: Foto da autora, 2005

Toda essa história é narrada pelo guia, que conduz o grupo de turistas através dessa

rua até o “artesanato da vovó Aidil” (Figuras 9 e 10), onde são oferecidos alguns produtos

artesanais (panos bordados, roupas, miniaturas de cacau em cerâmica, bolsas, entre outros),

cartões postais da cidade, além de licores, cachaças e doces como geléias, chocolates e

cocadas, tudo feito com o cacau da região. Nesse local, além de compras, os turistas podem

fazer a degustação das bebidas e dos doces e têm cerca de 15 minutos para permanecer no

lugar.

Figura 9 – Loja de Artesanato da Vovó Aidil Fonte: Foto da autora, 2005

Na Rua Jorge Amado, o primeiro local visitado é a Casa dos Artistas (Figura 10),

antiga residência do Coronel Adami de Sá, que também foi prefeito de Ilhéus no início do

século XX. Após a aquisição desse monumento por um empresário suíço, a casa, que ainda

preserva a fachada original, foi transformada num local de apoio aos artistas locais, que

expõem suas obras e realizam apresentações teatrais18.

18 Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).

70

Figura 10 – Casa dos Artistas Fonte: Foto da autora, 2005

Na Casa dos Artistas, os visitantes, além de apreciar e poder adquirir objetos de arte

local, como pinturas, esculturas e também literatura de cordel, presenciam um pequeno

espetáculo teatral, realizado por um grupo de teatro ilheense, onde os personagens Gabriela

(Figura 11) e Tonico Bastos contracenam entre si e interagem com o público. A visitação à

casa, incluindo a apresentação do espetáculo, dura em torno de 30 minutos.

Figura 11 – Atriz Representando Gabriela Fonte: Foto da autora, 2005

71

Ainda na Rua Jorge Amado, os turistas vistam a Casa de Cultura Jorge Amado

(Figuras 12 e 13), onde podem conhecer a história do monumento, do escritor, e ter contato

com alguns objetos pessoais de Jorge Amado, algumas fotos e capas de edições nacionais e

internacionais das suas publicações, além de capas de livros publicados por outros escritores

regionais, como Adonias Filho, Hélio Pólvora, Cyro de Mattos, Jorge Araújo e Telmo

Padilha. Também é possível a aquisição de algumas lembranças relacionadas ao escritor

homenageado, como livros e miniaturas em cerâmica, além de outros artesanatos locais.

Construída na década de 20 pelo pai de Jorge Amado, o Coronel João Amado Faria, a

casa foi o local onde o escritor redigiu alguns capítulos do romance O país do carnaval. Além

da Casa de Cultura, o prédio hoje é também a sede da Fundação Cultural de Ilhéus, mas, em

tempos anteriores, já foi sede do Clube dos Bancários, da Faculdade de Ilhéus, da Academia

de Letras e do Instituto Histórico de Ilhéus19.

Figura 12 – Entrada Lateral da Casa de Cultura Jorge Amado Fonte: Foto da autora, 2005

19 Fundação Cultural de Ilhéus. Ilhéus, 2004. Disponível em <http://www.fundaci.com.br>. Acesso em: 28/10/2004. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).

72

A casa de Jorge Amado é o único monumento visitado onde o guia deixa de transmitir

as informações e passa a função para os funcionários e estagiários que trabalham na Casa de

Cultura, encarregados de contar a história do monumento, da passagem de Jorge Amado pela

casa, bem como apresentar um vídeo sobre a vida e a obra do escritor (Figura 18). A vista ao

local dura aproximadamente 20 minutos.

O turista cultural chega pedindo licença, e assim pode visitar a história não só conhecendo

as evidências materiais do passado, presentes em sítios, monumentos e objetos

consagrados como patrimônio, mas também escutando e lendo relatos e lembranças dos

que vivenciaram e fizeram a história do lugar (FREIRE e PEREIRA, 2002, p.128)

Figura 13 – Sala de Vídeo da Casa de Cultura Jorge Amado Fonte: Foto da autora, 2005

A próxima parada do roteiro é a Praça Dom Eduardo, em frente ao Teatro Municipal

de Ilhéus (Figura 14), antigo “Cine-Theatro de Ilheos”, onde os visitantes são apresentados ao

monumento inaugurado em 1932. O Teatro Municipal de Ilhéus foi palco de grandes

companhias líricas, atores, atrizes e cantores nacionais e internacionais nos tempos prósperos

73

do cacau. A partir de 1950 entrou em decadência em razão das crises do cacau. Em 1982 foi

doado, em ruínas, à prefeitura de Ilhéus pela família Rehem da Silva, à qual pertencia. No ano

de 1986 teve o seu interior recuperado, e, em 1997, após sofrer grande reforma, foi

reinaugurado20.

Formas organizadas de entretenimento foram igualmente importantes para o sucesso de uma cidade. [...] O legado cultural de encenações encontra-se nos teatros, nas salas de concerto, nas galerias e antigas salas de cinema. [...] Apesar das pressões do desenvolvimento tenderem a empurrar tais práticas para outros locais, é provável que a população local saiba os lugares onde tudo isso costumava acontecer (GOODEY, 2002, p.81).

Figura 14 – Teatro Municipal de Ilhéus Fonte: Foto da autora, 2005

Os turistas se restringem a conhecer e a tirar fotos apenas da fachada do Teatro, já que

nesse monumento os visitantes também não podem entrar para maior conhecimento. Ainda na

Praça Dom Eduardo, após a exibição do Teatro Municipal, são apresentados aos turistas a

Catedral de São Sebastião e o Bar Vesúvio.

20 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus passado e presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).

74

A Catedral de São Sebastião (Figura 15), um dos padroeiros da cidade, foi inaugurada

em 1967. É um monumento eclético, já que contempla o estilo neoclássico, possui vitrais

artísticos, colunas coríntias e abóbadas romanas. Foi construída sobre ruínas da primeira

igreja, demolida em 1926 por D. Manoel Paiva. Os Coronéis queriam abrir mão da

simplicidade da antiga igreja, para construir um monumento imponente, que estivesse à altura

da cultura cacaueira21.

Figura 15 – Catedral de São Sebastião Fonte: Aline Caldas, 2005

Já o bar Vesúvio (Figura 16), é uma atração que faz parte do imaginário dos turistas

pelo fato de ter sido um dos cenários do romance de Jorge Amado, transformado

posteriormente em novela. Representa também a história real da cidade de Ilhéus, já que nos

tempos áureos do cacau, era ponto de encontro de Coronéis, que lá discutiam assuntos

políticos, contavam histórias e falavam das suas lutas e conquistas.

21 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus Passado e Presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).

75

Figura 16 – Bar Vesúvio Fonte: Foto da autora, 2005

Nesse ponto, após explicar o significado de cada um desses monumentos para a cidade

de Ilhéus, o que dura cerca de 10 minutos, o guia anuncia aos visitantes o fim do roteiro e

estipula mais 30 minutos livres para que possam visitar a Igreja, ir ao Bar Vesúvio conhecer a

sua gastronomia, ou tomar sorvete na Ponto Chic Sorveteria. Após esse tempo, os turistas são

conduzidos de volta ao transporte para que retornem aos hotéis onde estão hospedados. O

roteiro completo tem duração aproximada de três horas.

É necessário salientar que o modelo de roteiro descrito considera a versão mais ampla

do passeio. Não existe uma padronização rígida em relação aos locais visitados e ao tempo de

visitação. O conjunto arquitetônico da Vitória, que era ponto certo de visitação, por exemplo,

em virtude de reforma do prédio, não está incluído no roteiro do verão de 2005. É necessária,

entretanto, sua citação no trabalho, pois sua exclusão é provisória. Outra importante

consideração é a inconstância da visitação a Olivença. A depender do hotel onde os turistas

estão hospedados e do dia da semana, nem sempre Olivença está incluída no roteiro.

76

4.2.2 Roteiro fazenda de cacau

Outro roteiro cultural realizado pela agência estudada, consiste na visitação a dois

locais: uma fazenda de cacau, a Fazenda Primavera, situada no km 22 da Rodovia Ilhéus-

Itabuna, de propriedade do Sr. Virgílio Amorim, e o Museu Casa Verde, situado na antiga

residência de um Coronel de Cacau, na cidade de Itabuna, administrado pela Universidade

Estadual de Santa Cruz. A finalidade desse roteiro é apresentar a saga da cultura cacaueira

para os turistas, dando ênfase à história dos coronéis, narrando a ostentação de riqueza do

período, como também as lutas pelo poder e pela terra.

A fazenda, como um dos principais símbolos dessa época, além de local escolhido

pela agência para relatar esse período, também atende a finalidade de demonstração do

processo de plantio, colheita e beneficiamento do cacau. O Museu Casa Verde, por sua vez,

retrata a antiga residência urbana de um coronel do cacau, o Cel. Henrique Alves, o que

complementa a visita e possibilita aos visitantes o conhecimento de hábitos do período,

demonstrados através dos diversos mobiliários, utensílios domésticos e objetos pessoais do

Coronel e da sua família.

O roteiro Fazenda de Cacau tem início com a saída dos veículos que conduzem os

turistas do hotel até a Fazenda Primavera. Durante o trajeto, o guia introduz, de forma

bastante generalista, a história do período em que a região viveu a saga do cacau, dando

destaque ao período áureo do ciclo. Esse percurso dura em torno de 40 minutos.

Com a chegada à fazenda, todos são recebidos pelo Sr. Virgílio Amorim que, a partir

desse momento, passa a ser o transmissor das informações para os turistas que, inicialmente,

adentram a plantação de cacau (Figura 17), onde são apresentados ao cacaueiro e ao fruto do

cacau, colhido na hora e aberto para que os visitantes tenham a oportunidade de prová-lo.

77

Figura 17 – Visita a uma Plantação de Cacau Fonte: Foto da autora, 2005

Nesse ponto da visita, o Sr. Virgílio relata a origem amazônica do cacau e a chegada

das primeiras sementes ao Sul da Bahia, trazidas pelo colono francês Frederico Warneau, em

1746. Uma fazenda do município de Canavieiras, que pertencia no período à Capitania de

Ilhéus, foi o primeiro local onde o cacau foi plantado na região. A semelhança de clima e solo

com a região amazônica favoreceu a expansão do cacau nessas terras. Mas, apesar de as

primeiras sementes terem chegado à região no século XVIII, somente no século XIX, a partir

de 1822 é que a cultura do cacau teve início na região 22.

O Sr. Virgílio fala da importância da Mata Atlântica, que proporciona a sombra

requerida pelo cacaueiro para um bom desempenho agrícola, da importância do clima quente

e úmido, do processo de plantio e dos períodos de colheita. Além disso, conta sobre a

expansão do cacau, a história dos coronéis, dos jagunços, da gente de outras regiões que veio

à procura de uma vida próspera, dos abusos de poder da riqueza vividos pelos cacauicultores,

até chegar ao período em que o cacau foi praticamente dizimado e a região viveu a crise com

conseqüências ainda hoje sentidas.

22 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus Passado e Presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003

78

O fazendeiro ainda relata as perspectivas do cacau clonado, explica sua origem e

evolução, inclusive citando o exemplo da sua propriedade, que já dispõe do fruto resistente à

vassoura-de-bruxa. Fala sobre a importância da diversificação da lavoura e de outras

atividades que foram agregadas e que surgiram como alternativas de superação da crise,

inclusive o turismo, caso da Fazenda Primavera.

Em seguida, é demonstrado ao grupo de turistas como se efetiva a colheita do fruto do

cacau, que se dá através da utilização de um instrumento de uso manual chamado podão, que

deve cortar o talo do fruto de cima para baixo, sem jamais ser empurrado em direção ao

tronco, pois assim poderá causar ferimento na almofada floral e no próprio tronco. Também é

explicado que, depois da colheita, os frutos são dispostos em “bandeiras” ou “rumas”, onde

em seguida inicia-se a quebra23. Essa parte da visita dura em torno de 20 minutos.

Figura 18 – Entrada da fazenda Primavera Fonte: Foto da autora, 2005

Depois de experimentarem os frutos colhidos, os visitantes são conduzidos pelo guia e

o fazendeiro até as instalações de beneficiamento do cacau. Nesse momento, são relatados

dois importantes procedimentos do processo de beneficiamento do fruto: a fermentação e a

23 GRAMACHO. I da C. P; MAGNO, A.E. S; MANDARINO, E. P e MATOS, A. Cultivo e Beneficiamento do Cacau na Bahia. Ilhéus, CEPLAC, 1992.

79

secagem das sementes. A importância da fermentação se deve ao fato desse procedimento ser

responsável pelo início da formação dos precursores do sabor e aroma do chocolate. Sr.

Virgílio explica que, para uma boa fermentação as sementes precisam ser originárias de frutos

maduros, já que as sementes de frutos verdes não possuem quantidade suficiente de açúcar

para uma fermentação adequada. O cocho é o local onde ocorre a fermentação24.

A secagem, por sua vez, é o processo de eliminação do excesso de água contida nas

sementes, visando à redução do seu teor de umidade. Além disso, durante a secagem

continuam e terminam as mudanças químicas que darão o sabor e aroma característicos ao

chocolate. A secagem, quando bem feita, permite a redução da acidez das amêndoas25. Os

visitantes têm a oportunidade de conhecer a barcaça, que é a mais tradicional instalação para

secagem natural de cacau. Esse processo proporciona um produto de qualidade superior,

tendo um ganho de 12% de peso a mais em relação aos processos artificiais de secagem26.

Os turistas são levados a conhecer a parte superior das barcaças (Figura 19), onde o

cacau é secado. Construídas de um vigamento que pode ser de madeira ou concreto armado,

as barcaças são sustentadas por pilares de madeira, tijolinhos ou pedra. Sobre o vigamento é

instalado o lastro de tábuas para a área de secagem do cacau. Nas vigas laterais, são instalados

trilhos e sobre estes correm rodas ou roldanas presas a uma cobertura móvel, cuja estrutura

pode ser feita de madeira, ferro ou alumínio, e coberta com telas de zinco ou alumínio. A

barcaça é amplamente utilizada por pequeno, médio e grande produtor; e é uma instalação de

imprescindível necessidade em qualquer fazenda de cacau27. A vista a barcaça dura

aproximadamente 20 minutos.

24 GRAMACHO. I da C. P; MAGNO, A.E. S; MANDARINO, E. P e MATOS, A. Cultivo e Beneficiamento do Cacau na Bahia. Ilhéus, CEPLAC, 1992 25 Ibidem. 26 Ibidem. 27 Ibidem.

80

Figura 19 – Turistas Conhecendo a Barcaça Fonte: Foto da autora, 2005

Depois de conhecerem um pouco mais do processo de plantio, colheita e

beneficiamento do cacau, os turistas são conduzidos até a sede da fazenda (Figura 20) para

tomar o suco do cacau e conhecer a casa, onde se encontra um pequeno museu organizado

pelo Sr.Virgílio. Nesse momento, na área externa da sede, os turistas, além de provarem o

suco, conhecem todos os instrumentos utilizados na colheita do cacau. Além disso, é

explicado pelo Sr. Virgílio o processo de preparação do chocolate artesanal, também feito na

fazenda.

Figura 20 – Casa Sede da Fazenda Primavera Fonte: Foto da autora, 2005

81

Ainda antes de conhecer o museu particular do fazendeiro (Figura 21), os visitantes

conhecem uma cobra criada em cativeiro pelo Sr. Virgílio, que também é responsável pela

extração do veneno dos ofídios e envio desse material para um instituto em Minas Gerais, que

o transforma em soro antiofídico, posteriormente doado pelo dono da fazenda aos hospitais

públicos das cidades de Ilhéus e Itabuna. O tempo gasto na visita à parte externa da sede tem

uma duração de 20 minutos.

Após as explicações, o grupo adentra a casa, onde conhece a história da família

Amorim, que já está na sétima geração, sendo descendente de alemães e portugueses que,

após casamento, uniram duas sesmarias que deram origem à atual Fazenda Primavera. Os

visitantes têm a oportunidade de ver fotos dos ascendentes do fazendeiro, além de diversos

objetos antigos e importantes documentos, alguns pertencentes à família e outros adquiridos

pelo Sr. Virgílio, que se interessa por antiguidades. Dentre os objetos, encontram-se louças e

outros utensílios domésticos, aparelho de rádio, máquinas de datilografia, quadros e objetos

de decoração, além de mobiliários.

Outro ponto abordado na visita que desperta a atenção dos turistas foi a utilização da

fazenda para gravação de algumas cenas da novela Renascer, da Rede Globo de televisão, que

teve como cenário o ambiente rural da região de Ilhéus. Na sede da fazenda, além da réplica

da cama utilizada pelo coronel da novela, representado pelo ator Antonio Fagundes, há um

facão utilizado pelo mesmo personagem e que, segundo o guia turístico, foi doado ao dono da

fazenda pelo ator.

82

Figura 21 – Museu da Fazenda Primavera Fonte: Foto da autora, 2005

Antes do encerramento da visita, o Sr. Virgílio enfatiza, ainda, a importância do

turismo para a fazenda e o reconhecimento de sua propriedade como ponto turístico pela

mídia. São apresentadas aos turistas algumas reportagens sobre o turismo na Fazenda

Primavera em importantes jornais como a Gazeta Mercantil e periódicos nacionais, a exemplo

das revistas Veja, da Editora Abril, e Isto é, da Editora Três, além de publicações periódicas

internacionais. No processo de visitação ao Museu são gastos mais 20 minutos.

Com a conclusão da visita à fazenda, os turistas entram novamente no ônibus da

agência para se deslocarem até a cidade de Itabuna, outro importante “cenário” da cultura

cacaueira, onde conhecerão o Museu Casa Verde (Figuras 22 e 23), um dos mais ricos acervos

regionais e que guarda a memória da cultura cacaueira do Sul da Bahia da primeira metade do

século XX. São gastos mais 15 minutos no deslocamento até o Museu.

83

Figura 22 –Museu Casa Verde – Itabuna-Ba Fonte: CEDOC/UESC, 2003

O Museu Casa Verde reúne mais de duas mil peças pertencentes à família do

comerciante, cacauicultor, político e "Coronel" Henrique Alves dos Reis, um dos fundadores

do município de Itabuna. Dentre os objetos mais preciosos da coleção, destacam-se os

aparelhos de jantar e café Limoges (franceses), cristais Bacarat (Bohemia, Sul da Alemanha),

móveis à moda Luís XV, fardas, espadas e moedas de prata, exemplares do primeiro jornal da

cidade "O Intransigente", além de vestidos, chapéus e leques de Dona Cordolina Loup Reis,

esposa do "Coronel"28.

O Museu,localizado à rua Miguel Calmon, 123, no centro da cidade de Itabuna, é

administrado pela Universidade Estadual de Santa Cruz que, através do CEDOC (Centro de

Documentação da Uesc), tem contribuído com o resgate e a manutenção de documentos, tanto

em nível municipal quanto estadual. Na chegada ao museu, os visitantes são recebidos pelo

funcionário responsável, que relata um pouco a história do coronel Henrique Alves e da sua

28 Itabuna- Ba. Itabuna, 2005. Disponível em <http://www.itabuna-ba.com.br/news-museu-casa-verde.htm> Acesso em: 22/05/2005.

84

família, conduzindo os turistas pelos cômodos da casa e explicando a origem das peças e

algumas características culturais da época.

O Museu é um importante empreendimento cultural da cidade de Itabuna, onde foram

reconstituídos os costumes e a época de uma das fases mais importantes da história regional.

De um tempo em que a riqueza proveniente da cacauicultura permitia a importação de objetos

e um requintado padrão de vida29. A vista ao Museu Casa Verde dura em torno de 20 minutos.

Figura 23 – Interior do Museu Casa Verde Fonte: CEDOC/UESC, 2003

Antes do retorno aos hotéis, os turistas ainda têm cerca de 20 minutos para tomar sorvete na sorveteria Danúbio Azul, na Avenida do Cinqüentenário, centro da cidade de Itabuna. Assim como o City Tour Histórico, o roteiro Fazenda de Cacau completo tem uma duração aproximada de três horas.

O tópico seguinte analisa os roteiros aqui descritos, discutindo os aspectos mercadológicos inerentes à atividade de agenciamento turístico receptivo, como também abordando os fatores de ordem sócio-culturais envolvidos nessa atividade. O estudo foi delineado a partir da determinação do perfil geral do turista, bem como de seu perfil psicográfico.

29 ANDRADE, Maria Palma; ROCHA, Lourdes Bertol. De Tabocas a Itabuna: um estudo histórico-geográfico. Ilhéus, Ba: Editus, 2005.

85

5 ANÁLSE DO PERFIL DO TURISTA CULTURAL AGENCIADO EM ILHÉUS/BA

5.1 Análise do perfil geral do turista

Para o levantamento do perfil geral dos turistas pesquisados, foram consideradas

variáveis geográficas, demográficas, sociais e econômicas. A partir da importância para a

atividade turística, foram consideradas relevantes as informações referentes a origem, gênero,

faixa etária, estado civil, nível de escolaridade e renda. Com referência a esse tipo de análise,

Middleton (2002, p.125) comenta:

No nível mais simples de análise, familiar à maioria dos

usuários, os segmentos de clientes podem ser definidos em

termos de descrições básicas de idade, sexo, ocupação, renda

e local de residência. Conhecidos, como perfis do cliente, esses

fatos, são, em geral, facilmente obtidos para os clientes

existentes na indústria de viagens e turismo, como subproduto

de registros de reservas, procedimentos de registros e

pesquisas regulares com clientes [...].

O Quadro 1 apresenta uma síntese do perfil dos turistas pesquisados30, onde se

considera, para efeito de discussão, os estratos da amostra que apresentaram percentuais

mais elevados. De acordo com a referida tabela, 73% dos turistas agenciados que visitam

Ilhéus com a finalidade de realizar roteiros culturais são do sexo feminino. As regiões de

origem desses turistas são o Sudeste e o Sul do país, principalmente o Estado de São Paulo,

responsável por 51% do total de visitantes pesquisados. Com relação a estado civil, os turistas

estão

30 As tabelas completas com os dados sobre o perfil geral do turista encontram-se no apêndice B, p. 132.

86

divididos de forma equilibrada entre solteiros e casados, numa abrangência de 75% da

amostra. A faixa etária de 31 a 45 anos se mostrou predominante, com 33%. Além disso, 63%

têm nível superior completo e 35% estão na faixa de renda entre 5 e 10 salários mínimos.

Quadro 1 – Demonstração Simplificada do Perfil Geral dos Turistas Pesquisados.

Em relação ao local de origem, as regiões do país economicamente mais

desenvolvidas, mais urbanizadas e, conseqüentemente, com maior poder aquisitivo, aparecem

como principais pólos emissores dos turistas agenciados. De acordo com dados do Instituto

Variável Geográfica

São Paulo 54%

Minas Gerais 17% Origem

Rio Grande do Sul 15%

Variáveis Demográficas

Gênero Feminino 73%

16 a 30 anos 24%

31 a 45 anos 33% Faixa Etária

46 a 60 anos 18%

Solteiro 35% Estado Civil

Casado 40%

Variáveis Sociais e Econômicas

Superior completo 63% Escolaridade

Ensino médio completo 16%

Funcionário de empresa pública 17%

Funcionário de empresa privada 38%

Aposentado 12%

Estudante 7%

Autônomo 7%

Ocupação

Profissional liberal 6%

Até 5 Salários Mínimos 13%

+5 até 10 Salários Mínimos 35%

+10 até 15 Salários Mínimos 16% Renda

+15 até 25 Salários Mínimos 12%

87

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)31, em pesquisa sobre a participação das grandes

regiões no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, as regiões Sudeste e Sul aparecem com os

maiores percentuais, 59,9% e 16,4%, respectivamente. A região Nordeste apresentou um

percentual de 12,5%, a região Centro-Oeste, 8,1% e a região Norte, 3,1%. Quando se considera

o PIB per capita, São Paulo e Rio Grande do Sul, que estão entre os principais Estados

emissores de turistas para o agenciamento receptivo em Ilhéus, se encontram entre os cinco

Estados que apresentaram os valores mais elevados.

É importante ter o PIB como indicador econômico, já que este se constitui na soma dos

valores monetários de todos os bens produzidos em um país, ao longo de determinado

período de tempo, adicionado das rendas recebidas do exterior e da diminuição das rendas

enviadas para o exterior e acrescido das depreciações dos bens de capital (LAGE e MILONE,

2001). De acordo com Middleton (2002) onde quer que os mercados de viagens e turismo

sejam estudados, as variáveis econômicas dos países ou regiões onde moram os turistas

reais e potenciais representam o conjunto de fatores mais importantes que influenciam o

volume da demanda gerada.

As regiões emissoras apontadas pela pesquisa também estão entre as mais populosas

e urbanizadas do país. Conforme o último censo realizado pelo IBGE, em 2002, as regiões

Sudeste, Nordeste e Sul são as mais populosas do Brasil e as regiões Norte e Centro-Oeste, as

que possuem menor população. Quanto aos Estados, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande

do Sul estão entre os cinco mais populosos do Brasil. No tocante à taxa de urbanização, as

regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul aparecem com mais de 70% de urbanização, ao passo que

o Norte e o Nordeste ainda apresentam um índice inferior ao mencionado.

De acordo com Middleton (2002), um importante fator geográfico é o tamanho da

comunidade em que vivem as populações. Cidades, lugarejos e suas comunidades periféricas,

que também refletem os fatores de poder aquisitivo e escolaridade, em geral geram mais

turismo per capita do que as populações de comunidades rurais menores.

Ainda no que concerne à origem, quando se leva em consideração a demanda geral, de

acordo com a Pesquisa de Demanda Consolidada, realizada pela Bahiatursa (2002)32, as

principais regiões emissoras de turistas para a cidade de Ilhéus são o Sudeste, o Centro-Oeste

31 Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais, Contas Regionais do Brasil 1999-2002. 32 Bahiatursa – Empresa de Turismo da Bahia S/A. – é o órgão oficial de turismo da Bahia.

88

e o Sul do país, com 51,8%, 32,5% e 7,6%, respectivamente. Com referência aos Estados

emissores, São Paulo, Minas Gerais e o Distrito Federal aparecem como principais

demandantes com 23,5%, 12,1% e 11,9%, respectivamente. Numa análise comparativa com os

dados da pesquisa entre os turistas agenciados, tem-se a confirmação da região Sudeste

como a mais importante emissora, através dos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Nota-se,

porém, a existência de um não aproveitamento de demanda pela agência com relação à região

Centro-Oeste, principalmente quando se tem em conta o Distrito Federal, terceiro pólo emissor

quando se considera a demanda geral.

Na análise das variáveis demográficas, os dados demonstram uma grande

predominância do público feminino, como também apontam para a preponderância de um

público mais maduro, embora a presença dos jovens também seja marcante, o que desfaz a

suposição de que o interesse por cultura sempre parte de um público com idade mais

avançada. Além disso, na variável estado civil, as classes dos solteiros e casados são

hegemônicas em relação às demais.

O conhecimento de gênero e faixa etária das populações no estudo do perfil da

demanda, na perspectiva de Mattar (2001), se torna importante, uma vez que a idade e o

gênero das pessoas determinam diferentes expectativas e motivações, o que possibilita a

formatação de produtos segmentados, que atendam às distintas características dos grupos.

Com relação às variáveis socioeconômicas, quando se analisa a escolaridade, os

dados revelam que o público dos roteiros culturais realizados pelas agências é eminentemente

formado por pessoas bem escolarizadas. A influência da escolaridade como um determinante

importante das viagens, de acordo com Middleton (2002), não é facilmente desassociada das

mudanças relacionadas à renda, classe social e composição das famílias. Para fins comerciais

e de lazer, quanto maior o nível de escolaridade, maior o número de viagens feitas, o que é

reflexo, sobretudo, de um maior conhecimento das oportunidades de viagens disponíveis.

No que se refere à variável renda, predominaram os turistas com renda de 5 a 10

salários mínimos. Uma pesquisa realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas

Aplicadas), com dados de dezembro de 2003 a abril de 2005, sobre os rendimentos médios

reais efetivamente recebidos por posição na ocupação, demonstrou que, nos meses de janeiro

89

de 2004 e janeiro de 200533, respectivamente, a renda dos funcionários de empresa pública foi

de R$ 1.369,60 e R$ 1.478,60, dos funcionários de empresa privada, de 884,10 e R$ 887,50, dos

autônomos, de R$ 736,90 e R$ 742,20 e do total geral de ocupados, de R$ 966,10 e R$ 940,70.

Ao ter em conta os salários mínimos dos meses pesquisados - R$ 230,00 em 2004 e R$ 260,00

em 2005 - observa-se que a renda do limite inferior do estrato com maior representatividade

percentual é maior do que o valor do total geral de rendimentos médios recebidos pelos

brasileiros ocupados no mesmo período. A mesma observação pode ser feita se considerado

como parâmetro a renda dos funcionários de empresa privada, os maiores demandantes dos

estratos analisados na variável ocupação.

Tal constatação corrobora a vinculação da renda à possibilidade de realização de

viagens turísticas. Lage e Milone (2002) afirmam que, quanto mais alto o poder aquisitivo dos

turistas, maior será o volume de gastos demandados. Com referência à atividade turística,

muitas vezes considerada como um bem de luxo, só desfrutado por aqueles que já tenham

satisfeito às necessidades de consumo de bens e serviços de primeira necessidade, as

classes sociais com menor nível de renda dificilmente participarão da demanda por causa das

restrições orçamentárias.

Assim como na variável renda, o perfil predominante dos turistas agenciados, em

todas as variáveis estudadas, ratificaram as tendências apontadas pelos autores da área em

relação às características predominantes dos demandantes pela atividade turística. Todas as

informações levantadas com este estudo possibilitam às empresas atuantes na área, não

somente conhecerem as características reais e dimensão da sua demanda, como também

identificarem mercados potenciais.

Vale salientar, entretanto, que apesar de extremamente relevantes, essas informações,

quando aliadas ao estudo do perfil psicográfico, podem trazer contribuições ainda maiores

para o conhecimento da demanda. Dessa forma, o tópico seguinte busca retratar algumas

características consideradas proeminentes para o estudo do perfil psicográfico do turista

agenciado que realiza roteiros culturais na cidade de Ilhéus, com vistas a atribuir maior valor

às informações já levantadas.

5.2 Análise do perfil psicográfico do turista

33 Meses em que a pesquisa com os turistas agenciados se realizou.

90

Para o estudo psicográfico dos turistas pesquisados, foram abordadas informações

sobre fatores preferenciais e atitudinais da demanda com relação ao roteiro cultural realizado.

Para um maior detalhamento das informações, além dos dados gerais, foram levantados dados

estratificados, baseados no cruzamento dos dados obtidos com as variáveis estudadas no

perfil geral do turista e alguns dados das variáveis psicográficas. O objetivo desse cruzamento

foi identificar peculiaridades atitudinais e comportamentais nos grupos estratificados.

5.2.1 A influência dos meios de informação na escolha dos turistas pela agência

A Tabela 1 mostra que os turistas, de uma forma geral, escolhem a agência

principalmente através de operadoras (48%), o que demonstra uma forte vinculação da

comunicação ao canal de distribuição (ponto de venda), como também evidencia a existência

de uma parceria consolidada entre a operadora de turismo e a agência de viagens.

Tabela 1 – Demonstração da distribuição percentual dos meios que influenciaram a escolha

dos turistas pela agência de receptivo

Meio de escolha da agência %

Operadora 48

Internet 19

Amigos e parentes 22

Outros 11

Fonte: Dados da pesquisa

Em tempos de desintermediação e reintermediação34, essa união de forças pode

representar, assim como no caso das fusões, um fortalecimento frente à concorrência, através

da aquisição de maior competitividade e poder de negociação. No caso da parceria entre a

operadora CVC e a NV turismo, especificamente, essa conjectura pode ser corroborada

quando se constata que essa agência de receptivo detém quase a totalidade dos clientes que

buscam esse serviço na cidade de Ilhéus.

34 Conforme a compreensão de Tomelin (2000).

91

A informação de amigos e parentes surge como segundo meio determinante da

escolha da agência de receptivo. Sobre esse aspecto, Ikeda (1998) explica que, como as

agências de viagens vendem serviços que implicam em alto grau de envolvimento emocional,

deve dar especial atenção ao relacionamento direto com o cliente e à comunicação boca-a

boca, além das outras formas convencionais de divulgação. Em pesquisa realizada por esta

autora sobre o grau de participação de diversas mídias na escolha das agências de viagens,

ficou constatado que a comunicação informal é um meio bastante efetivo de influência, o que

fortalece a necessidade de atenção em relação ao relacionamento direto com o cliente por

parte dessas prestadoras de serviço.

Outro dado interessante é a presença da internet como elemento influenciador da

escolha para quase 20% dos turistas pesquisados, o que vem comprovar a elevada influência

da tecnologia da informação no oferecimento de opções para os clientes. De acordo com

Avighi (2000), atualmente, as redes globais de comunicação são fundamentais para todos os

setores de informação e têm acarretado mudanças no mundo contemporâneo, estabelecendo

também novas perspectivas do turista em relação às possibilidades de viagens.

Na opção sobre outros meios que influenciaram a escolha da agência de viagens, os

turistas apontaram os jornais e o próprio hotel onde estavam hospedados. A diversificação

dos canais de comunicação se constitui numa importante estratégia para a divulgação dos

serviços, sobretudo na atividade turística, quando se atende a um público com características

diferenciadas e instalado em qualquer parte do mundo.

Para efeito de cruzamento de dados entre as variáveis do perfil geral dos turistas e o

meio de influência na escolha da agência35, levou-se em consideração, quanto à origem, os

principais pólos emissores. O Estado de São Paulo teve, como principais determinantes na

escolha da agência, a operadora de turismo, com 56% e a internet, com 22%. No Rio Grande

do Sul, houve um equilíbrio na distribuição percentual dos turistas que escolheram a agência

através de operadora e por meio de informações dos amigos, 33% para cada estrato. O

mecanismo informacional através da internet influenciou apenas 8% das pessoas pesquisadas

nesse Estado. Em Minas Gerais, o que mais influenciou a escolha da agência por parte dos

turistas foi a opinião de amigos e parentes com 50%, seguido da operadora de turismo com

35 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e o meio que influenciou a escolha da agência encontram-se no apêndice C, p. 133.

92

36%. Assim como no Rio Grande do Sul, o uso da internet em Minas foi bastante restrito, com

apenas 7% dos turistas se utilizando desse meio para escolha da agência.

Para complementar a análise sobre a origem, a amostra também foi dividida por

regiões emissoras (Sudeste e Sul do país). A região Sudeste teve uma maior adesão à

operadora na escolha da agência, com 52%, mais que a região Sul, com 39%. As outras

alternativas (internet e opinião de amigos e parentes) apresentaram índices percentuais

próximos nos dois Estados estudados. A região Sul, no entanto, apontou, de forma mais

significativa que a região Sudeste, 17% e 6%, respectivamente, outros meios alternativos

influenciando na escolha da agência.

Com relação ao gênero, os dados estratificados não apresentaram diferenças

percentuais significativas em relação aos dados gerais. É importante registrar apenas uma

leve diferença da influência dos amigos: sobre as mulheres , 24% e em relação aos homens,

17%.

Quanto à faixa etária, também foram considerados para efeito de cruzamento de dados,

os intervalos que apresentaram as maiores distribuições. Em todas as faixas de idade

estudadas, a operadora se mostrou como principal meio de influência na escolha da agência,

ocorrendo, no entanto, acentuadas diferenças percentuais entre as faixas. Para os turistas que

têm entre 16 e 30 anos, a operadora definiu a escolha em 50% dos casos, os amigos e parentes

em 29% e a internet em 21%. Para os turistas na faixa de 31 a 45 anos, as diferenças

percentuais se mostraram mais equilibradas, tendo a operadora de turismo determinado a

escolha em 35% dos casos, seguido da opinião de amigos e parentes, com 29%, e da internet,

com 26%. Já entre os que estão na faixa dos 46 aos 60 anos, a influência da operadora de

turismo, com 67%, foi maior do que para as demais faixas. Os amigos e parentes e a internet

influenciaram em apenas 5% dos casos. Essa faixa também demonstrou a peculiaridade de ser

significativamente influenciada por outros meios como jornais e o local de hospedagem.

Com referência ao estado civil, foi considerada a predominância percentual dos

estratos representados pelos solteiros e casados, não se observando relevantes diferenças na

proporção percentual entre os dados gerais e estratificados. É importante sinalizar, no

entanto, que o percentual de casados influenciados pela operadora de turismo na escolha da

agência (54%) foi maior que o percentual de solteiros (44%) e que a influência da internet sobre

93

os solteiros, com 23%, se mostrou suavemente maior em relação aos casados, que aderiram a

esse meio em 17%. Além disso, 12% dos casados tiveram outros fatores de influência.

Para efeito da análise cruzada dos dados gerais e da variável escolaridade, foi

considerado o total da amostra, dividida entre os turistas que têm do ensino fundamental até o

ensino médio e aqueles que são graduados ou pós-graduados. Apesar de os resultados não

apresentarem alterações em relação aos dados gerais, é importante destacar que os turistas

com até o ensino médio completo sofreram maior influência da operadora de viagens, com

56%, percentual maior que o de turistas com nível superior, com 46%, assim como os turistas

com nível superior foram mais influenciados pela internet, com 23%, do que os turistas com

até o ensino médio completo, com 11%.

A exemplo da variável escolaridade, para estudo dos resultados obtidos com o

cruzamento dos dados gerais e da variável renda, foi considerada a totalidade da amostra

(exceto aqueles que não declararam a renda), que foi dividida entre os que têm uma renda de

até 10 salários mínimos e os que possuem uma renda superior a esse valor. Além de não

ocorrerem discrepâncias entre os dados gerais e dos estratos analisados, os resultados se

mostraram bastante equilibrados em termos percentuais, ressalvando-se apenas a influência

de amigos e parentes na escolha da agência, que se apresentou maior entre os turistas com

renda de até 10 salários mínimos, com 29%, em relação àqueles que percebem salários

superiores, com 17%.

Os dados cruzados apresentaram como informações mais relevantes o maior uso da

internet pelos turistas originários do Estado de São Paulo em comparação com os demais

Estados; a importância da opinião dos amigos e parentes para os turistas mineiros, que já não

foram tão influenciados pela operadora quanto os demais Estados; e o maior uso da internet

pelos turistas jovens e mais escolarizados. Esses fatores podem subsidiar o planejamento de

ações mercadológicas específicas para os grupos por parte da agência de receptivo, como

também direcionar melhor o campo de atuação estratégica da operadora.

5.2.2 A satisfação dos turistas em relação aos serviços prestados pela agência de receptivo

94

A Figura 24 apresenta os dados relativos ao atendimento da agência de receptivo, onde

se nota um elevado índice de satisfação quanto à qualidade dos serviços prestados, visto que

52% dos entrevistados consideraram que os serviços estão entre os níveis ótimo e excelente.

18

34

39

5 4

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

excelente ótimo bom regular deficiente

Conceitos

Per

cen

tual

Figura 24 – Opinião dos turistas quanto à qualidade do atendimento da agência de receptivo.

Fonte: Dados da pesquisa

Na atual conjuntura turística, o termo qualidade, enquanto ferramenta de planejamento

estratégico da atividade, tem assumido alto grau de importância. Essa gradativa preocupação

com qualidade se deve ao fato de estar ocorrendo uma série de regulamentações de ações dos

diversos segmentos turísticos em direção à criação de métodos para se alcançar a melhoria

dos serviços, levando-se em conta a satisfação do turista.

Para Ikeda (1998), uma das principais formas de se diferenciar uma empresa de serviço

é a oferta de qualidade superior à dos seus concorrentes. Para tanto, faz-se necessário atingir

ou superar as expectativas de qualidade que os clientes desejam, onde cabe aos fornecedores

o conhecimento dessas expectativas a fim de projetarem serviços eficazes.

Com base na perspectiva de Cunha (1997), o acompanhamento das preferências, que já

é um processo dinâmico, na área turística assume a singularidade de também levar em

consideração as mudanças ocorridas na sociedade, esta também inserida num contexto de

imprevisibilidades. Nesse sentido, para as empresas que atuam no setor, como é o caso das

agências de turismo, torna-se ainda mais relevante a mensuração e a monitoração constante

95

da satisfação do cliente em relação à prestação dos seus serviços, bem como no que se refere

ao acompanhamento de possíveis alterações preferenciais e atitudinais refletidas pelas

mudanças sociais que atingem a atividade turística.

5.2.3 O interesse por atrativos culturais pelos turistas agenciados em Ilhéus

Com o objetivo de aprofundar a análise dos diversos fatores que influenciam

comportamentos e atitudes dos turistas em relação à realização de roteiros, essa pesquisa,

inicialmente, buscou saber o grau de interesse dos turistas por atrativos culturais. A Figura 25

expõe que 90% dos turistas pesquisados têm de moderado a muito interesse por conhecer

esses atrativos.

38

52

9

10

10

20

30

40

50

60

Muito interesse Moderadointeresse

Pouco interesse Sem resposta

Grau de interesse

Per

cen

tual

Figura 25 – Demonstração gráfica do interesse dos turistas por atrativos culturais.

Fonte: Dados da pesquisa

Esse resultado pode ser justificado se forem consideradas as vocações turísticas da

cidade de Ilhéus que, além dos atrativos naturais, detém considerável tradição histórica. Tal

afirmativa pode ser confirmada quando se tem em conta a opção voluntária dos turistas

pesquisados pela realização de roteiros que exploram os aspectos eminentemente culturais da

cidade.

Na concepção de Ikeda (1998), a opção pelo turismo cultural reflete a vontade de

realizar uma viagem voltada à experimentação ou participação em estilos de vida que estão

96

desaparecendo da memória das pessoas. Locais pitorescos e suas arquiteturas são

geralmente as principais atrações dessas viagens. As principais atividades turísticas dessa

modalidade de turismo incluem festas folclóricas, apreciação de comidas típicas e vistas a

feiras e artesanatos locais.

No que tange à interseção dos dados geodemográficos e socioeconômicos com o nível

de interesse dos turistas pesquisados por atrativos culturais36 observa-se, na consideração

dos dados relativos à origem, que os turistas vindos do Estado de São Paulo foram aqueles

que demonstraram um maior interesse por cultura e os turistas provenientes de Minas Gerais

os que demonstraram menor interesse. 45% dos turistas paulistas disseram ter muito

interesse por atrativos culturais, entre os gaúchos esse percentual cai para 33% e, entre os

mineiros, se apresenta em apenas 21%. Em um nível moderado de interesse encontram-se 52%

dos paulistas, 58% dos gaúchos e 36% dos mineiros. E, com pouco interesse por cultura,

aparecem 2% dos paulistas, 8% dos gaúchos e 36% dos mineiros.

Quando a análise da origem tem em conta as regiões emissoras (Sul e Sudeste), os

resultados obtidos se mostraram estáveis, tanto numa análise comparativa entre os estratos

estudados, quanto em relação aos dados gerais.

Com relação ao gênero, observa-se um maior interesse cultural por parte dos turistas

do sexo feminino, com 43% demonstrando ter muito interesse por atrativos culturais.Entre os

homens esse percentual foi consideravelmente menor, 23%. Corroborando com essa

tendência, entre os turistas que apresentaram pouco interesse por atrativos culturais, os

homens se sobressaíram, apresentando um percentual superior ao das mulheres, 18% e 5%,

respectivamente.

Na análise sobre a variável faixa etária, os turistas mais velhos apresentaram um maior

interesse por cultura. Na classe entre 41 e 60 anos, 44% disseram ter muito interesse por

atrativos culturais. Entre os turistas das demais faixas, esse percentual foi de 33%. No nível

moderado de interesse se encontraram 67% dos turistas entre 16 e 30 anos, 48% dos que

possuem entre 31 e 45 anos e 50% daqueles que estão entre 46 e 60 anos. A única faixa etária

que apresentou turistas com pouco interesse por cultura foi a de 31 a 45 anos, com 18%.

36 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e o nível de interesse por atrativos culturais encontram-se no apêndice C, p. 134.

97

Com referência ao estado civil, os solteiros apresentaram maior interesse por cultura,

tendo em vista que 43% disseram ter muito interesse por atrativos culturais contra 33% dos

casados que fizeram essa opção. Com relação ao interesse moderado, os percentuais se

mantiveram equilibrados. E, por fim, demonstrando pouco interesse por cultura estão 13% das

pessoas casadas e apenas 5% das solteiras.

No que diz respeito à escolaridade, turistas com nível superior demonstraram ter maior

interesse por atrativos culturais, tendo em conta que 44% desses afirmaram ter muito

interesse por cultura, em contraponto a 26% dos que têm até o nível médio. Com interesse

moderado estão 67% dos que possuem até o ensino médio e 47% dos graduados. Entre os que

possuem pouco interesse por cultura observa-se um equilíbrio percentual entre os estratos

considerados na variável escolaridade e os dados gerais.

Sobre a variável renda, os que estão na faixa salarial de até 10 salários mínimos

demonstram maior interesse por atrativos culturais, já que 43% afirmaram ter muito interesse

por cultura, frente a 34% dos que recebem acima de 10 salários mínimos mensais. Afirmando

ter interesse moderado por cultura estão 59% dos turistas que ganham mais de 10 salários

mínimos e 45% dos que recebem até 10 salários mínimos. Com relação aos que disseram ter

pouco interesse por atrativos culturais, considerando a variável renda, os percentuais se

mantiveram em equilíbrio com os dados agregados para ambas as faixas salariais estudadas.

Em termos gerais, é relevante a constatação do maior interesse por cultura por parte

das mulheres, como também do previsível maior interesse por cultura pelos mais velhos e

mais escolarizados. Além disso, é importante saber que não existe uma relação positiva entre

rendimentos e interesse por cultura, já que esse interesse foi maior entre os que têm menor

renda. Assim como no caso da variável “meio de escolha da agência”, os resultados

apresentados possibilitam ao receptivo a condução de atitudes de marketing voltadas para um

público mais específico, identificado pelo perfil, como também pode suscitar o estudo de

métodos para atingir outros segmentos.

5.2.4 Atrativos culturais da cidade de Ilhéus que despertam o interesse dos turistas agenciados

98

Além do grau de interesse por atrativos culturais, a pesquisa buscou mensurar quais os

atrativos que mais despertam o interesse dos turistas que vêm a Ilhéus dispostos a realizar

roteiros culturais. A Tabela 2 mostra a existência de relativo equilíbrio em relação ao tipo de

atrativo cultural ilheense que desperta mais a atenção dos turistas. As informações sobre a obra

de Jorge Amado e o conhecimento do patrimônio arquitetônico, representado pelos casarões

dos coronéis do cacau e pelas igrejas da cidade, foram as opções que despertaram mais

interesse dos visitantes. As opções por visitas a fazendas de cacau e pela participação em

festas populares e religiosas aparecem com percentuais menores, 23% e 16%, respectivamente,

porém significativos, o que demonstra uma variedade de interesses por parte dos visitantes e

aponta para uma diversidade de elementos que as agências podem “explorar” no destino.

Tabela 2 – Demonstração da distribuição percentual do interesse do turista agenciado pelos

atrativos culturais da cidade de Ilhéus.

Atrativos culturais %

Literatura de Jorge Amado 29

Patrimônio Arquitetônico 32

Fazendas de Cacau 23

Festas Populares e Religiosas 16

Fonte: Dados da pesquisa

Nesse sentido, dentro do segmento trabalhado pela agência, ao considerar a

diversidade de interesses, surgem novas possibilidades de segmentação, que podem

proporcionar o atendimento de preferências específicas dos grupos e atender, de forma

customizada37 e voltada para a qualidade a partir da satisfação das necessidades dos clientes.

De acordo com Balanzá e Nadal (2003), a segmentação é conseqüência dos diferentes gostos,

necessidades e estilos de vida das pessoas. Como hoje não é possível falar de mercados

muito amplos, surge a possibilidade de microssegmentação, que demanda um estudo ainda

mais profundo do mercado.

37 Quando o produto/serviço é adequado ao gosto do cliente.

99

Ao transpor essa perspectiva para os dois roteiros culturais estudados (City Tour

Histórico e Fazenda de Cacau), denota-se uma clara delimitação de dois temas: a história de

Ilhéus e a saga do cacau. No entanto, essas duas abordagens temáticas e a quantidade de

atrativos “explorados” nos roteiros, sobretudo no City Tour, podem sofrer outros

desdobramentos temáticos que atendam a interesses de grupos específicos de turistas.

Na relação entre as variáveis do perfil geral dos turistas e os atrativos de interesse na

cidade de Ilhéus38, os resultados encontrados demonstram, quanto à variável origem, que os

turistas oriundos do Estado de São Paulo, com percentuais semelhantes aos dados gerais da

pesquisa, demonstraram maior interesse pela literatura e pelo patrimônio, com 29 % e 31%

respectivamente, seguido pelas fazendas de cacau com 22% e as festas populares com 18%.

Entre os turistas provenientes do Estado do Rio Grande do Sul, diferentemente dos dados

gerais, a preferência maior foi pelas fazendas de cacau, com 43%, e pelo patrimônio

arquitetônico, com 36%. A literatura e as festas populares apresentaram percentuais menores,

14% e 7%, respectivamente. Já entre os mineiros, a literatura teve maior adesão, 47%, com o

patrimônio em segundo lugar na preferência (29%) e as fazendas e festas populares com

menores percentuais, 18% e 6%, respectivamente.

Ainda em relação à variável origem, quando se analisam as regiões emissoras,

observa-se que a literatura teve maior adesão na região Sudeste (32%) do que na região Sul do

país (26%). Nos demais atrativos, os percentuais entre os estratos se apresentaram

semelhantes.

No tocante ao gênero dos turistas pesquisados, os visitantes do sexo masculino

demonstraram acentuada preferência pelo patrimônio arquitetônico, com 41%, mantendo um

equilibro percentual no interesse pelas demais opções, com uma média de 20%. Já entre o

sexo feminino houve um equilíbrio na preferência pela literatura e pelo patrimônio

arquitetônico, com 31% e 29%, respectivamente. As fazendas tiveram 24% da escolha feminina

e as festas populares um percentual menor, 16%.

Com referência à variável faixa etária, entre os mais jovens e a faixa etária

intermediária, as preferências entre os atrativos citados mantiveram percentuais bastante

38 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e os atrativos de interesse em Ilhéus encontram-se no apêndice C, página 135.

100

semelhantes aos dados gerais, onde o patrimônio teve maior destaque, com 33% de adesão

dos turistas que estão na classe dos 15 aos 30 anos e 31% entre os que possuem de 31 a 45

anos . Já na a faixa etária mais avançada, de 46 a 60 anos, a preferência se deu pela literatura,

com 36%, seguida pelo patrimônio arquitetônico, com 32%. As fazendas e as festas populares

apresentaram percentuais menores, 21% e 11%, respectivamente.

Ao considerar a variável estado civil, entre os solteiros a preferência maior foi pela

literatura e pelo patrimônio arquitetônico, 31% e 29%, respectivamente. Já entre os casados

houve uma acentuada predileção pelo patrimônio arquitetônico (36%), seguido do interesse

pela literatura (24%). As fazendas de cacau e as festas populares tiveram percentuais

semelhantes aos dados gerais em ambos os estratos considerados na variável estado civil.

Em relação aos aspectos socioeconômicos, os estratos analisados na variável

escolaridade e os considerados na variável renda, se mantiveram com resultados equivalentes

aos obtidos nos dados gerais da pesquisa.

De uma forma geral, assim como na análise do total da amostra, os resultados

apresentados pelos estratos mostraram a diversidade de interesses existente e, de forma

interessante, em alguns momentos, os dados dos grupos analisados apresentaram

percentuais diferenciados quando comparados aos dados gerais. Na variável origem, por

exemplo, quando os turistas vindos do Rio Grande do Sul demonstram maior interesse pelas

fazendas de cacau do que pelo patrimônio e pela literatura, comprovam que os interesses não

só são diversificados, mas diferenciados, e que a apresentação de uma variedade de roteiros,

com o intuito de atender aos interesses de segmentos específicos, pode ser uma importante

estratégia para as agências de receptivo.

5.2.5 A opinião dos turistas quanto à velocidade dos roteiros culturais agenciados

Para dar seqüência ao levantamento das preferências dos turistas, a pesquisa abordou

a duração dos roteiros, em que a velocidade do percurso foi ponto de avaliação. A Figura 26

demonstra que a grande maioria dos turistas tem preferência por um percurso mais lento, que

priorize a qualidade da visita em detrimento da quantidade de locais visitados, o que revela

101

uma preocupação da maior parte dos turistas no aprofundamento da experiência turística e da

vivência no local.

Sem resposta9%

Lento 57%

Rápido34%

Figura 26 – Demonstração gráfica da opinião dos turistas em relação à velocidade dos roteiros

Fonte: Dados da pesquisa

Entre os turistas que optaram por um percurso mais rápido, a maioria alega, em suas

justificativas, que o tempo da estada é muito curto e por isso preferiam conhecer

simplificadamente tudo sobre a cultura da cidade. Alguns disseram que gostariam de ter a

oportunidade de conhecer vários locais diferenciados e outros afirmaram que um passeio

longo seria muito cansativo.

Os que optaram por um percurso mais lento embasaram suas justificativas,

principalmente, na possibilidade de avaliar, questionar e registrar os fatos, passear pelos

locais, apreciar melhor e com mais profundidade as belezas dos lugares visitados, aprender

mais sobre a cultura, a maneira de viver e fazer das pessoas da cidade. Alguns argumentos se

deram em torno da absorção maior das informações passadas pelo condutor do passeio, que

deveriam ser mais detalhadas.

As colocações corroboram a perspectiva de uma integração maior com o lugar por

grande parte do grupo pesquisado. Para Avighi (2000, p.102), transformações ocorridas na

sociedade contemporânea, impulsionadas, sobretudo, pela globalização e pelos avanços

tecnológicos, começam a definir um novo perfil de turismo e a induzir uma redefinição dos

modelos convencionais da ação turística. O turismo programado, direcionado,

homogeneizado, superficial e controlado, pode, de acordo com esse autor, ceder lugar ao

102

turismo caracterizado pelo conhecimento acerca da história do lugar e da identidade local.

Avighi (2000) usa o termo “novo turista”, para designar aqueles visitantes que buscam a

realização interior e dão ênfase ao meio ambiente e à compreensão da cultura e da história de

outros lugares.

A linha de pensamento do autor, independente de vir a se constituir uma tendência

universal e efetiva, chama a atenção do setor turístico para novas possibilidades de ação, que

levem em conta uma maior flexibilidade em relação às programações oferecidas, de forma a

permitir maior liberdade ao turista. No caso das agências, especificamente, que trabalham com

pacotes eminentemente estandardizados, além de abrir uma nova perspectiva de atuação

mercadológica, não exclui as atuações convencionais, já que muitos clientes ainda preferem

serviços homogêneos e controlados.

Com referência aos roteiros analisados, constatou-se, através da técnica de

observação que, em ambos os passeios, apesar de não haver uma padronização sistemática

em relação à seqüência com que os monumentos são apresentados, como já abordado na

descrição aqui, o controle do tempo e das atividades é bastante rigoroso, bem como a

passagem por alguns monumentos de valor histórico importante é feita de forma superficial, o

que demonstra que o modelo de ação ainda está pautado nos moldes convencionais de uma

agência de viagens. Esse modo de proceder impossibilitou uma apreciação mais profunda dos

lugares visitados por parte dos turistas, que dão prioridade a um percurso mais lento, o que

pode provocar a existência de uma lacuna entre o serviço esperado e o efetivamente prestado.

Na análise cruzada entre as variáveis do perfil geral do turista e a velocidade do

percurso dos roteiros culturais39, com relação à variável origem, observou-se que, nos três

Estados avaliados (São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul), a preferência por um

percurso mais lento, que priorize a qualidade da visita, foi acentuadamente maior, mantendo,

inclusive, uma grande semelhança com os resultados encontrados dos dados agregados.

Quando se avalia a variável origem levando em consideração as regiões emissoras,

também houve a predileção por um percurso mais lento em ambos os estratos, porém com um

maior intervalo percentual, 52% na região Sudeste e 67% na região Sul.. Diante disso, o

39 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a velocidade do percurso do roteiro cultural encontram-se no apêndice C, p. 137.

103

número de turistas da região Sudeste que optaram por um percurso mais rápido se mostrou

mais elevado, 38%, do que o apresentado pela região Sul, 28%.

No que se refere ao gênero, entre os homens houve um equilíbrio nas opiniões sobre a

velocidade do percurso, ocorrendo uma leve predominância daqueles que preferem um

percurso mais rápido, 50%, sobre os que preferem um percurso mais lento, 45%. Já entre os

turistas do sexo feminino, houve uma acentuada preponderância daquelas que preferem um

percurso mais lento, 60%, sobre as que priorizam a quantidade de locais visitados, optando

por um percurso mais rápido, 30%.

No quesito faixa etária, também predominou a preferência por um percurso mais lento

em todos os estratos considerados com uma média de aproximadamente 55%. No entanto, é

importante pontuar que entre os turistas de faixa etária mais avançada, 46 a 60 anos, a escolha

por um percurso mais rápido teve maior adesão, 44%, em comparação com os demais

estratos.

A mesma observação pode ser feita em relação à variável estado civil onde, entre os

casados, a adesão por um percurso mais rápido, com 40%, foi maior do que entre os solteiros,

com 31%, embora ainda tenha predominado nos dois estratos analisados a opção pela

qualidade da visita, através de um percurso mais lento, 60% para os solteiros e 50% para os

casados.

Assim como nas demais variáveis estudadas, os estratos socioeconômicos

considerados mantiveram, de uma forma geral, a preferência pela realização de um roteiro com

um percurso mais lento.

Com relação à variável escolaridade, os percentuais dos estratos analisados

demonstraram concordância com os dados gerais da pesquisa. Já no tocante à renda, é

importante citar apenas uma maior preferência pela rapidez do percurso do roteiro por parte

daqueles com renda de até 10 salários mínimos, com 43%, sobre aqueles que ganham um

valor superior a 10 salários mínimos, com 31%.

Apesar de não demonstrar grandes discrepâncias em relação aos dados gerais da

pesquisa, a análise dos dados cruzados mostrou, como informação relevante, a preferência

por um percurso mais rápido por parte dos homens, o que pode ser aludido ao menor

interesse demonstrado pela cultura por parte desse segmento, como também às

104

peculiaridades de gostos e atitudes dos gêneros. Além disso, a maior adesão dos mais velhos

ao percurso mais rápido pode sinalizar um certo receio de que o passeio se torne cansativo.

5.2.6 A importância dada pelo turista à interação com a comunidade local durante os roteiros

Outro aspecto abordado pela pesquisa foi a relação entre o turista e a comunidade

local. A Figura 27 ilustra que 93% dos turistas que realizam os roteiros culturais agenciados na

cidade de Ilhéus atribuem elevada importância à existência da interação com a comunidade

local durante o percurso do roteiro. O turista demonstrou que não quer só conhecer o local,

mas também deseja saber um pouco mais sobre as pessoas e o seu modo de vida.

Sim93%

Não6%

Sem resposta1%

Figura 27 – Demonstração gráfica da importância atribuída pelo turista à interação com a

comunidade local no decorrer do roteiro

Fonte: Dados da pesquisa

Os argumentos apresentados nas respostas abertas demonstraram que esse

desejo de integração parte, sobretudo, de uma necessidade de maior conhecimento, por

acreditar que os nativos, de forma mais simples e cotidiana, têm bastante a dizer e

conhecem as ”histórias reais” do lugar. Afirmaram, ainda, que é necessário saber o que

105

o nativo pensa, sente, seus hábitos, costumes, raízes, lamentando que nem sempre esse

contato seja possível.

Entre os poucos turistas que não se mostraram abertos a uma integração com a

comunidade local, as alegações partiram, mais uma vez, em torno da escassez de tempo

durante a viagem. Além disso, argumentaram que o conhecimento sobre o local pode ser

apreendido de outras maneiras.

Os resultados apresentados, mais uma vez, demonstram a aderência da maioria dos

turistas pesquisados a uma atitude mais integrativa em relação ao local e aos seus habitantes,

o que é ratificado nas respostas abertas, quando os turistas se mostraram interessados no

conhecimento cotidiano e simples passado pela pessoa do local. Para Goodey (2002), algumas

características centrais da comunidade local são exatamente o que o visitante quer ver,

experimentar, compartilhar e talvez levar consigo. O visitante gosta de entrar num mundo

diferente do seu e de experimentar coisas e produtos desconhecidos, até mesmo atitudes

diferentes em relação à sociedade a ao meio ambiente.

De acordo com Macedo e Ribeiro (1999), a imagem de uma cidade é construída,

também, por imagens que nascem de seus moradores e sua relação com o lugar habitado. E é

essa relação que facilita a abertura da percepção, da imaginação e da fantasia. Ainda de

acordo com esses autores, uma rua ou um prédio não são puramente funcionais. Esses

elementos urbanos abrigam a memória e as experiências humanas significativas, é a idéia do

espaço como uma marca, como uma expressão das relações sociais.

Para Goodey (2002), o que ocorre com mais freqüência é esse patrimônio ser retirado

da responsabilidade da comunidade local e passado para as mãos de especialistas e de

autoridades. A comunidade então se esforça como nunca para salvaguardar o que ela

considera como seu e assim o lugar passa a desenvolver duas culturas, a oficial e a local. Na

106

concepção do autor, o visitante eventual pode até pagar para ver a cultura oficial, mas jamais

perceberá a local, e é ela que possivelmente contém a essência do lugar.

Ao contrário do desejo despertado, durante a realização dos roteiros estudados os

turistas não têm a oportunidade de estabelecer contatos espontâneos, dentro do ambiente mais

cotidiano, com a comunidade ilheense. As poucas pessoas do local com quem os turistas

estabelecem contato fazem parte do contexto do roteiro e obedecem a uma programação

previamente estipulada para a apresentação dos atrativos onde trabalham ou da história oficial

do local. Essa constatação reafirma a tendência à padronização e homogeneização do serviço

prestado, que ainda não se mostra atento à flexibilidade e à atuação customizada.

Na análise estratificada, o estabelecimento da relação entre as variáveis do perfil geral

do turista - tanto as geodemográficas quanto as socioeconômicas - e a importância da

existência de interação entre turista e comunidade40 demonstraram lógica semelhança com os

dados gerais obtidos, apresentando percentuais sempre acima dos 80% para a alternativa de

interação com a comunidade local, em todos os estratos analisados.

5.2.7 A preferência dos turistas quanto ao grau de interação com a comunidade local durante os

roteiros

Ainda na investigação da relação do turista com a comunidade local, a pesquisa

buscou saber o grau de integração desejado pelos turistas. A Figura 28 mostra que, apesar de

existir o desejo de interação, a maioria dos turistas entrevistados prefere que esse

envolvimento seja moderado.

40 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a importância da interação do turista com a comunidade local encontram-se no apêndice C, p. 138.

107

15

67

117

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Muito intensa Intensidademoderada

Pouco intensa Sem resposta

Grau de interação

Po

rcen

tag

em

Figura 28 – Avaliação dos turistas quanto à intensidade da interação com a comunidade local

durante o roteiro.

Fonte: Dados da pesquisa

Os turistas que optaram por uma integração maior justificaram essa escolha por

acreditarem que, para ser verdadeira, a integração deve ser intensa. De acordo com os

depoimentos, só através de um contato mais próximo haveria a possibilidade de conhecer os

hábitos, o modo de falar e de vestir dos nativos, bem como conhecer as histórias locais

contadas por eles.

Entre os turistas que preferiram a alternativa de uma integração moderada com a

comunidade local, houve uma equilibrada divisão de opiniões, com cerca da metade alegando

escassez de tempo, necessidade de realizar outras atividades no local ou ainda um certo

receio de invasão de privacidade. A outra metade, apesar de ter escolhido uma integração

mais moderada, demonstrou, em suas justificativas, um desejo muito grande em conhecer a

cultura através do contato com a comunidade local. Houve ainda quem optasse por essa

alternativa por acreditar que uma integração mais profunda poderia causar danos para a

própria comunidade, que não deveria ter sua rotina atrapalhada, nem se sentir importunada

pelos visitantes.

Os resultados demonstram que o pouco tempo da estada tem sido apontado nas

justificativas como um dos principais fatores determinantes na opção por um roteiro mais

108

rápido e superficial. A própria natureza dos pacotes turísticos, que normalmente impõem uma

rotina muito cansativa, faz do tempo um fator importante a ser considerado nas escolhas dos

clientes. Para Goodey (2002), a maioria dos turistas procurará ter uma experiência bem

estruturada, que os entretenha, informe e acrescente lembranças positivas de sua viagem de

férias; somente uma minoria – geralmente bem informada, aberta e sensível, procurará ter um

contato mais próximo com os valores mais enraizados da comunidade. Goodey (2002) afirma,

ainda, que não se pode esquecer que as férias são apenas um breve afastamento do contexto

e dos valores familiares.

É importante destacar também, a preocupação por parte de alguns turistas

pesquisados em preservar a comunidade local de possíveis danos que uma interação mais

intensa pode causar.Em relação a esse aspecto, sob o prisma da sustentabilidade cultural e

social, o nível de interação requerido pela maioria dos turistas pode até ser mais benéfico para

a própria comunidade local, que fica mais resguardada de possíveis impactos negativos.

Sem contar que a própria comunidade é quem deve, sobretudo, estabelecer o nível de

contato adequado, levado em conta seus próprios interesses. Sobre esse aspecto, Goodey

(2002) diz que a comunidade, como portadora do conhecimento e da experiência do lugar, com

um planejamento adequado, pode administrar e controlar tudo isso de modo a alcançar um

resultado sustentável. Com alguma ajuda e com o apoio positivo de organizações regionais e

nacionais, a comunidade pode aprender a lidar com os visitantes que chegam, de forma a

equilibrar suas próprias necessidades e expectativas.

Na interseção entre as variáveis geodemográficas e socioeconômicas e a intensidade

de interação entre o turista e a comunidade local durante o roteiro41, quanto à variável origem,

denota-se que os turistas provenientes do Estado de Minas Gerais, quando comparados aos

demais, demonstraram menor interesse na integração com a comunidade local, tendo em vista

que 50% disseram preferir uma interação com intensidade moderada e 21% optaram por uma

interação pouco intensa. Nos demais Estados analisados, o percentual dos que optaram por

uma intensidade moderada de interação foi maior, com uma média de 74%. A alternativa de

pouca intensidade na interação, nesses Estados, teve uma média de adesão em torno de 7%.

41 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a intensidade da interação do turista com a comunidade local encontram-se no apêndice C, p. 139.

109

Quanto à opção de uma interação muito intensa, os percentuais entre os estratos se

mantiveram semelhantes e também consoantes com os dados gerais.

Quando consideradas as regiões, os percentuais dos estratos não demonstraram

grandes discrepâncias entre si e em relação aos dados gerais da pesquisa. É necessário

sinalizar apenas que a região Sul teve um percentual maior de turistas que optaram por uma

interação pouco intensa com a comunidade local, 17%, quando comparada com a região

Sudeste, que obteve 10%.

Quanto à variável gênero, não foram observadas alterações entre os percentuais

obtidos nos estratos considerados e os dados agregados.

Em relação à variável faixa etária, os turistas com idade mais avançada demonstraram

maior interesse por uma interação mais intensa com a comunidade local, 28%, em comparação

com os percentuais dos demais estratos investigados, que tiveram uma média de 10%.

Afirmaram ter preferência por uma interação com intensidade moderada 79% dos turistas com

faixa etária entre 15 e 30 anos, 70% dos que estão na faixa de idade entre 31 e 45 anos e 44%

dos que se encontram entre 46 e 60 anos de idade. Já em relação à alternativa de pouca

intensidade na interação com a comunidade autóctone a faixa etária entre 31 e 45 anos obteve

maior percentual, 15%, em relação aos demais estratos estudados, que apresentaram 5% em

média.

Com referência à variável estado civil, não houve alterações significativas entre os

percentuais obtidos em cada estrato pesquisado, com a manutenção da proporção obtida nos

dados gerais da pesquisa.

Na análise da variável escolaridade, os dados mostram que a grande maioria dos

turistas com até o ensino médio, 85%, têm preferência por uma interação de intensidade

moderada com a comunidade local, com as demais alternativas (muita interação e pouca

interação) ficando com apenas 4% de adesão. Já entre os turistas de nível superior, a escolha

pelos limites mais extremos de intensidade na interação com a comunidade teve percentuais

maiores, 24% para muita interação e 15% para pouca interação, se comparados aos turistas de

até nível médio, apesar de a preferência por uma interação moderada ainda prevalecer, com

56%.

110

Já no que concerne à variável renda, a proporção percentual entre os estratos quando

se considera a preferência por uma interação com intensidade moderada se manteve

equilibrada, com 60% para os de renda menor e 62% para os que recebem uma renda superior

a 10 salários mínimos. O mesmo ocorreu com a opção de pouca intensidade de interação, que

obteve a adesão de 13% dos turistas que recebem até 10 salários mínimos e 14% dos que

ganham um valor maior. Já em relação à opção de uma intensidade maior na interação com a

comunidade, os turistas que recebem mais de 10 salários mínimos apresentaram um

percentual maior (21%) do que os turistas com até 10 salários mínimos (15%).

Na análise das informações mais relevantes sobre os dados cruzados, observa-se que,

entre os mineiros, assim como foi menor o interesse por cultura, também é menor o interesse

por uma integração com a comunidade local quando comparado com os outros segmentos

analisados. Outra constatação importante é que entre a faixa etária mais avançada, que

também demonstrou maior interesse por cultura do que as demais faixas analisadas, o

interesse pela integração é maior. Denota-se, portanto, a existência de um vínculo positivo

entre essas duas variáveis.

5.2.8 A opinião do turista agenciado quanto à quantidade das informações passadas durante o roteiro

Em relação à averiguação sobre a aquisição de conhecimento durante o percurso, a

pesquisa procurou saber se os turistas tinham preferência por uma transmissão mais rápida,

que priorizasse a quantidade de informações, ou se desejariam um aprofundamento do

conhecimento, através de explicações mais lentas e minuciosas. Sobre esse aspecto, a Figura

29 mostra que houve uma predominância da preferência da qualidade da informação em

prejuízo da quantidade.

111

Rápida39%

Lenta51%

Sem Resposta10%

Figura 29 – Preferência dos turistas quanto à velocidade das informações passadas durante o

roteiro.

Fonte: Dados da pesquisa

Entre os turistas que justificaram a opção por uma transmissão mais rápida, os

argumentos citados demonstraram, mais uma vez, uma preocupação com a escassez do

tempo e com a necessidade de visitar outros locais. Também houve alegações de que a

quantidade de informações deveria ser priorizada, como também de que as informações

passadas durante o percurso não são totalmente absorvidas, e por isso os guias deveriam

destacar as mais importantes e de interesse do grupo.

Já entre os que preferem informações mais aprofundadas, as argumentações

enfatizaram, sobretudo, a importância de uma maior assimilação do conhecimento, um

entendimento mais profundo, sem pressa, já que a cidade possui tantas riquezas históricas.

Também houve sugestões de aumento da quantidade de roteiros, com a formação de grupos

com interesses diferenciados.

Denota-se, portanto, que o desejo de conhecimento obtido através da interpretação do

local é comum, e para grande parte do grupo deve ser transmitido de forma mais aprofundada,

embora existam os que priorizem a utilização de outros meios para o aprofundamento dessas

informações, justificados pela escassez do tempo. Outro fator relevante é a sugestão pela

personalização da prestação do serviço através da formação de grupos com homogeneidade

de interesses.

112

Para Morales (1998) apud Miranda (2002, p.95), “a interpretação do patrimônio é a arte

de interpretar in situ o significado do legado natural, cultural, ou histórico, ao público que

visita esses lugares em seu tempo livre”. Para isso, é preciso, sobretudo, escolher a

metodologia mais adequada a esses usuários.

Sobre a importância da assimilação do conhecimento pelo grupo, Miranda (2002, p.100)

afirma que “um roteiro lógico é a linha do argumento, estruturada em seqüências lógicas, para

que a informação “encaixe” e seja assimilada em um contexto”. Esse autor defende que o

roteiro de qualquer conversa, audiovisual, caminho/rota, exibição etc. deveria se ater a cinco

ou menos idéias ou pontos a tratar, pois, se tiverem mais, as pessoas esquecerão.

Com referência a esse aspecto, quando se avaliam os roteiros estudados, percebe-se

duas configurações diferenciadas. No caso do City Tour, apesar de haver uma delimitação do

tema a ser tratado - a história da cidade de Ilhéus - , a própria grandeza temporal do

município, que viveu vários ciclos históricos, faz com que esse tema gere diversos

desdobramentos e uma infinidade de informações. Além disso, a quantidade de monumentos

visitados durante o roteiro torna a visita extremamente superficial, em função do tempo

destinado à realização do passeio. Em relação à visita à Fazenda de Cacau, o processo se dá

de forma diferente, pois se trabalha com um foco temático mais específico – a saga do cacau –

em ambientes também específicos, o que torna a vista mais substancial em termos de

aprofundamento de conhecimento.

No cruzamento das variáveis que formam o perfil geral dos turistas e a velocidade das

informações transmitidas durante o roteiro42, em relação à origem, tanto quando se analisam

os principais pólos emissores, ou quando se consideram as regiões, todos os estratos

estudados apresentaram percentuais equivalentes aos dados gerais da pesquisa.

Com alusão ao gênero, entre os homens, os percentuais obtidos pelas alternativas

sobre a velocidade com que as informações são passadas durante o percurso se mantiveram

em equilíbrio, ocorrendo um suave predomínio daqueles que preferem que as informações

sejam passadas de forma rápida, 45%, sobre os que preferem que as informações durante o

percurso sejam transmitidas de forma mais lenta, 41%. Já entre as mulheres, houve uma

42 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a velocidade das informações passadas durante o percurso encontram-se no apêndice C, página 141.

113

predominância bem maior daquelas que preferem que as informações sejam emitidas de forma

mais lenta, 58%, sobre as que priorizam a quantidade de informações passadas no decorrer do

trajeto, 35%.

No que tange à variável faixa etária, entre os turistas que possuem de 16 a 30 anos

houve um equilíbrio percentual na escolha das alternativas, com 39% tendo preferência por

uma transmissão mais rápida de informações durante o percurso e 46% optando por um maior

aprofundamento das informações. Entre os que estão numa faixa etária intermediária, os

percentuais também não foram muito discrepantes, com 48% dos pesquisados demonstrando

preferência pela transmissão mais lenta e detalhada das informações e 39% optando pela

quantidade e rapidez na passagem das informações durante o trajeto do roteiro. Na faixa entre

46 e 60 anos, no entanto, o intervalo percentual entre os que optaram por uma transmissão

mais lenta e dos que escolheram a rapidez na passagem de informações foi maior, 56% e 28%,

respectivamente.

Quando considerada a variável estado civil, houve uma equilibrada divisão de opiniões

entre os solteiros: 46% optaram pela condução mais lenta das informações e 43% pela rapidez

na transmissão de informações durante o percurso. Já entre os casados, os percentuais entre

as alternativas foram mais destoantes, com 53% dos pesquisados optando pela qualidade das

informações e 35% escolhendo a quantidade de informações.

Os estratos analisados na variável escolaridade demonstraram discordâncias

relevantes entre si e também em comparação com os dados gerais da pesquisa. Entre os que

têm até o ensino médio, a preferência por uma transmissão mais rápida das informações no

decorrer do roteiro foi maior, 48%, do que a escolha pela passagem mais lenta das

informações, 41%. Já entre os turistas que têm nível superior completo, a opção por uma

transmissão mais lenta foi bem maior, 56%, do que a preferência pela condução mais rápida

das informações durante o percurso do roteiro, 29%.

Na variável renda, no entanto, os percentuais entre as alternativas apresentadas se

mantiveram equilibrados quando considerados os estratos analisados, como também em

comparação com os dados gerais da pesquisa.

No que tange à análise do cruzamento de dados, as pessoas com mais idade, do sexo

feminino e com escolaridade maior, demonstraram maior interesse pelo aprofundamento das

114

informações. Ao recorrer às análises anteriores, mais uma vez, denota-se que o grau de

interesse por cultura se reflete nas demais escolhas, tendo em vista o perfil dos turistas que

priorizam a qualidade corresponder ao perfil dos que têm maior interesse por cultura.

5.2.9 A escolha dos turistas quanto ao intérprete das informações passadas durante o roteiro

Ainda no que se refere à aquisição de conhecimento, a pesquisa buscou saber a

preferência dos turistas entrevistados quanto ao responsável pelas informações durante o

percurso. A Figura 30 evidencia que 46% dos turistas dão prioridade à figura do guia turístico

e à sua capacidade técnica em repassar o conhecimento. Entretanto, 44% das pessoas

pesquisadas admitem a participação da comunidade local na interpretação das informações,

de forma independente ou acompanhada pelo guia turístico.

15

46

29

46

05

101520253035404550

Pessoa dolocal

Guia daagência

Ambos Outro Sem resposta

Intérprete preferencial

Per

cen

tual

Figura 30 – Demonstração da distribuição percentual da preferência dos turistas em relação

aos intérpretes das informações passadas durante o roteiro.

Fonte: Dados da pesquisa

A preferência pelo guia é facilmente justificável, quando se recorre à tradicional

importância que esse profissional tem no contexto turístico em geral. É salutar considerar o

caráter profissional desse intérprete, que tem sua prática laboral regulamentada e fiscalizada

pela Embratur.

Cabe destacar também que as habilidades e os valores requeridos para o guia turístico, embutidos nos conceitos elaborados pelas associações próprias dessa profissão, são suficientes para dar base à confiabilidade atribuída a esse profissional pelos turistas.

115

Interpretação, entusiasmo, conhecimentos, qualidades pessoais, liderança e conduta ética são algumas das características que qualificam o guia profissional43.

Quanto ao envolvimento da comunidade local na transmissão das informações, como

já foi discutido anteriormente, a participação da comunidade é importante, no entanto, requer

um planejamento prévio e embasado em critérios que levem em conta a sustentabilidade

cultural. Na perspectiva de Simões (2003), a comunidade não pode nem deve ter um papel

marginal, mas contribuir de forma mais efetiva. Para isso é necessário que haja um

planejamento, que contemple a educação da população, de forma a possibilitar uma legítima

representatividade através do conhecimento dos seus “bens” e direitos.

Como já abordado no tópico que descreve os roteiros estudados, o guia é o

transmissor das informações durante o percurso, quando exerce os papéis de condutor, líder

e entusiasta do grupo. No exercício de intérpretes do patrimônio cultural durante quase todo o

roteiro, os guias que acompanharam os turistas durante os passeios culturais demonstraram

ter conhecimento acerca da história local e preparação didática na transmissão dessas

informações. O preparo demonstrado é fundamental para reafirmar a credibilidade desse

profissional frente ao grupo, como também reflete, de forma positiva, na avaliação da agência

de receptivo pelos turistas.

Na análise cruzada dos dados do perfil geral dos turistas e a preferência sobre o

transmissor das informações44 durante o roteiro, sobre a variável origem, os dados apontam

que nos três Estados considerados no estudo, o guia foi transmissor preferencial das

informações no decorrer do roteiro, perfazendo uma média de 47%. A possibilidade de uma

pessoa local ser a propagadora das informações teve a adesão de 14% dos paulistas e 17%

dos gaúchos, não sendo votada entre os mineiros. Já a alternativa do guia e alguém do local

transmitirem juntos as informações necessárias durante o trajeto teve a aceitação de 32% dos

paulistas, 25% dos gaúchos e 43% dos mineiros.

No que se refere às regiões emissoras, os dados mostram que, na região Sudeste, 46%

dos turistas preferiram o guia como transmissor preferencial das informações, 34% optaram

pela transmissão conjunta do guia com alguém da comunidade local e 10% demonstraram

preferência pela interpretação realizada por uma pessoa do local. Já na região Sul, 50% dos

43 De acordo com o conceito Professional Tour Guide Association of San Antonio citado por Valle (2003). 44 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a preferência sobre o transmissor das informações durante o roteiro encontram-se no apêndice C, p. 142.

116

turistas escolheram o guia turístico, 17%, alguém do local, e 17%, o guia e um representante

do local.

Com relação à variável gênero, observa-se que entre os homens a preferência pelo guia

turístico como transmissor preferencial das informações adquiriu percentual bastante elevado,

68%, ao passo que as demais possibilidades não obtiveram muita adesão: pessoa do local,

5%, e o guia junto com uma pessoa do local, 18%. Já entre as mulheres, apesar de o guia

também ter sido apontado pela maioria, 38%, como condutor preferencial das informações

durante o percurso, foi dada grande importância à presença de uma pessoa do local em

conjunto com o guia nas interpretações, 32%. Além disso, o percentual de mulheres que

acreditam em alguém do local como o melhor repassador das informações foi de 15%.

Consideravelmente maior em relação aos homens, 5%.

Quanto à variável faixa etária, a preferência pelo guia como transmissor das

informações manteve percentual semelhante nos estratos estudados, com uma média

aproximada de 52%. Em relação à preferência por uma pessoa pertencente à comunidade

local, a faixa etária mais jovem teve uma adesão suavemente maior, 17%, em relação aos

demais estratos, que aderiram com 12%, em média. A aceitação da transmissão conjunta de

informações pelo guia e alguém da comunidade local foi maior entre os mais velhos, 33%, em

comparação com as outras faixas, que mantiveram percentuais equilibrados, com uma média

de 23%.

No que concerne à variável estado civil, a preferência pelo guia como condutor das

informações no decorrer do percurso prevalece em ambos os estratos, 43% para os solteiros e

48% para os casados. Porém, quando se avalia a aceitação da participação de uma pessoa da

comunidade local, entre os solteiros a preferência foi de 23% contra 10% dos casados.

Considerando a atuação conjunta do guia com alguém da comunidade, entre os solteiros a

adesão foi de 31% e, entre os casados, de 28%, o que evidencia uma maior aceitação do

envolvimento da comunidade na transmissão das informações por parte dos solteiros.

No estudo da variável escolaridade, houve equilíbrio percentual entre os estratos na

preferência pelo guia, 48% para os turistas com até o ensino médio e 45% para aqueles que

possuem nível superior. Quando se considera a preferência pela pessoa do local, a adesão das

pessoas com até ensino médio completo foi maior, 19%, do que a aceitação dos turistas com

117

nível superior completo, 11%. Já quando se analisa o envolvimento de alguém da comunidade

em interação com o guia, a adesão dos turistas que possuem nível superior completo foi mais

elevada, 33%, quando comparada àqueles que possuem até o ensino médio completo, 22%.

Quando se considera a variável renda, dos turistas que ganham até 10 salários

mínimos, 43% apontaram uma predileção pelo guia como condutor das informações durante o

roteiro, 20% afirmaram ter preferência por alguém da comunidade local e 28% demonstraram o

desejo de uma atuação conjunta da pessoa do local com o guia turístico. Com os turistas que

têm renda maior, a preferência pelo guia como responsável por passar as informações durante

o roteiro ficou em 48%. A possibilidade da condução das informações ser efetuada por uma

pessoal do local teve a adesão de apenas 7% do referido estrato, que deu uma maior

importância à interpretação conjunta do guia com alguém da comunidade local, 34%.

A análise dos dados, de uma forma geral, corrobora a preferência pelo guia como

transmissor preferencial das informações em todas as variáveis analisadas, embora, em

alguns casos, ocorra uma discrepância no percentual de turistas que admitem uma maior

participação da comunidade local no processo interpretativo.

5.2.10 A preferência dos turistas em relação ao grau de monitoração da agência durante o roteiro

Para avaliar o grau de liberdade desejado pelos turistas durante a realização dos

roteiros, a pesquisa investigou a opinião do turista sobre a monitoração pretendida durante o

percurso. Como demonstra a Tabela 4, os turistas, de uma forma geral, demonstraram desejo

de serem acompanhados pela agência, no entanto, esperam uma monitoração moderada, que

permita um certo grau de liberdade.

Tabela 4 - Grau de monitoração da agência desejado pelos turistas durante o roteiro.

Grau de monitoração %

Muito intenso 23

Intensidade moderada 63

118

Pouco intenso 2

Nenhuma monitoração 2

Sem Resposta 9

Fonte: Dados da pesquisa

Nas suas justificativas, os turistas que optaram por uma monitoração mais intensa,

deixaram evidente uma sensível preocupação com o fator segurança e com o conforto de um

atendimento imediato em caso de problemas. Em muitos casos, os turistas qualificaram a

monitoração como um indicador de qualidade, que assegura a prestação de um serviço

eficiente e preparado para satisfazer ao turista.

Entre os que preferem uma monitoração moderada, muitos disseram que acham

importante a monitoração em virtude da segurança, porém não querem se sentir “sufocados”

nem vigiados e também anseiam por privacidade e liberdade para satisfazer às suas

curiosidades e atender aos seus interesses pessoais. Os turistas que optaram por pouca ou

nenhuma monitoração, disseram que desejam conhecer o lugar no instante e na intensidade

de sua vontade, que não gostam de cumprir “obrigações” e preferem ter liberdade.

Os resultados obtidos apenas ratificam as constatações anteriormente estabelecidas

de que os turistas pesquisados anseiam de fato por um conhecimento mais profundo sobre o

local, o que, por sua vez, solicita mais tempo livre no decorrer do roteiro. Nesse sentido, pode-

se afirmar que o comportamento do grupo pesquisado se encontra em consonância com a

compreensão de Avighi (2000, p.104), do crescimento de um “novo turismo”, “realizado por

um turista que anseia pelo lugar que o recebe, pelas pessoas e seus estilos”.

A nova concepção de turismo, no entender de Avighi (2000, p.104), instala uma aliança

entre o planejamento econômico-financeiro e de infra-estrutura e a percepção mais ampla,

interessada em bens culturais, estilos de vida e que provoque a imaginação. Desse modo, não

se descarta a existência do aparato infra-estrutural, apenas se indica uma maior valorização da

privacidade de escolha dos turistas.

Ao aplicar essa perspectiva aos roteiros culturais agenciados em Ilhéus, pode-se

atestar que ainda existe uma monitoração bastante excessiva, tendo em vista que, nos dois

roteiros, o controle e a vigilância por parte da agência são intensos. Apenas no término dos

passeios os turistas têm tempo livre (cerca de 20 a 30 minutos apenas) para satisfazer a

119

curiosidades particulares. Denota-se, portanto, que a agência de receptivo ainda não está

atenta a essa nova possibilidade de serviço, que ofereça o aporte de segurança necessário,

sem “castrar” a imaginação e o desejo contemplativo do turista.

Com relação à análise cruzada entre os dados do perfil geral do turista e o grau de

monitoração da agência de turismo durante a realização do roteiro cultural45, a partir da

avaliação sobre a variável origem, percebe-se um equilíbrio entre os estratos estudados em

relação à preferência por uma intensidade moderada de monitoração da agência durante o

percurso do roteiro cultural. Entre os gaúchos, no entanto, houve um número maior de turistas

que escolheram a opção de uma monitoração mais intensa, 33%, em comparação aos demais

Estados, que tiveram uma média de 21%. Também entre os gaúchos houve uma parcela maior

de pessoas que não desejam monitoração, 8%, em comparação aos paulistas, 2%, e aos

mineiros, que não aderiram a essa opção.

Com referência à análise das regiões, percebe-se um relativo equilíbrio percentual

entre os estratos. Vale somente pontuar que os turistas vindos da região Sul apresentaram

uma adesão um pouco maior, tanto em relação a uma monitoração mais moderada, com 72%,

quanto em referência à opção por nenhuma monitoração, 6%, se comparada com a região

Sudeste, onde os turistas aderiram em 64% por uma monitoração moderada e em 2% por

nenhuma monitoração.

Na avaliação da variável gênero, observa-se que, tanto entre os homens quanto entre

as mulheres, existe a preferência por uma monitoração moderada por parte da agência de

turismo durante a realização do roteiro cultural, 73% e 60%, respectivamente. No entanto, nota-

se que, entre as mulheres a preocupação com uma monitoração mais intensa por parte da

agência de turismo é maior, com 25%, em relação aos homens, com 7%.

No que tange à variável faixa etária, apesar de a opção por uma monitoração moderada

ter obtido a preferência da maioria dos turistas em todos os estratos analisados - 58% para a

faixa dos 16 aos 30 anos, 73% para os que possuem entre 31 e 45 anos e 50% para os que

estão entre 46 e 60 anos - , quando consideradas as demais opções, os percentuais

apresentaram pequenas discrepâncias. As pessoas que compõem o estrato de idade mais

45 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e o grau de monitoração da agência durante o roteiro encontram-se no apêndice C, página 143.

120

avançada, por exemplo, demonstraram uma maior preocupação com a monitoração intensa da

agência no decorrer do percurso, 39%, se efetivada uma análise comparativa com os demais

estratos, que apresentaram uma média de 20%. Quando avaliadas as alternativas de pouca e

nenhuma monitoração, os mais jovens aderiram em 4% e os turistas com idade intermediária

em 6%. Entre os mais velhos não houve adesão, o que confirma uma preocupação maior com

o aspecto monitoração por parte desse último.

Com referência à variável estado civil, entre solteiros e casados, a preferência por uma

monitoração moderada foi preponderante, 54% e 68%, respectivamente. Quando se analisa a

opção por uma intensidade maior de monitoração da agência durante o roteiro, os solteiros

apresentaram uma adesão maior, 29%, em relação aos casados, 20%. Já quando se considera

as opções pouca ou nenhuma monitoração, os solteiros aderiram em 6% e os casados em 3%.

Sobre a variável escolaridade, a opção dos turistas por uma monitoração moderada

por parte da agência de turismo prevaleceu, com uma preferência mais acentuada entre os que

têm até o ensino médio, 74%, em comparação aos turistas que possuem nível superior, 58%. A

discrepância percentual entre os estratos nesse item é entendida quando se analisa a opção

por uma intensidade maior de monitoração, que se mostrou muito mais elevada entre as

pessoas com nível superior, 31%, do que entre os que têm até o ensino médio, 7%. Nas demais

alternativas (pouca e nenhuma monitoração), os índices percentuais entre os estratos se

mantiveram em equilíbrio.

Com alusão à variável renda, os valores percentuais entre os estratos analisados

apresentaram semelhança entre todas as alternativas consideradas, bem como se comparados

com o resultado geral da pesquisa.

Com menção à análise dos dados cruzados, mostrou-se importante pontuar a

existência de uma maior preocupação por parte das mulheres e dos mais velhos em relação a

uma maior monitoração por parte da agência durante o roteiro. O principal argumento dos

turistas que optaram por esse grau de monitoração se deu em torno da necessidade de

segurança e da rápida resolução dos problemas. Os dois segmentos citados possuem

características fisiológicas mais frágeis, o que pode justificar essa preferência e apontar a

121

adaptação dos roteiros ao condicionamento físico dos participantes como fator a ser

considerado pelos agentes.

5.2.11 A avaliação dos turistas sobre a importância de alguns serviços prestados durante a realização

de roteiros

O último ponto abordado na pesquisa procurou avaliar a importância para os turistas

de alguns dos serviços que podem ser prestados pela agência de receptivo durante o roteiro.

Para isso, foram apresentadas algumas opções para avaliação dos turistas (numa escala de 0 a

10 pontos) quanto à importância atribuída à realização desses serviços.

A Tabela 5 demonstra que a segurança, o transporte e a interpretação foram os

serviços avaliados pelos turistas como os mais importantes. A segurança, inclusive, já havia

sido citada por alguns turistas como fator decisivo na opção por uma maior monitoração da

agência durante os roteiros. O transporte, de certa forma, também faz parte do contexto da

segurança, tendo em vista que, quando satisfatório, possibilita mais conforto e tranqüilidade

para os visitantes. Já a importância dada à interpretação, mais uma vez, ratifica o valor

atribuído à aquisição de conhecimento pelos turistas.

Tabela 5 – Avaliação dos turistas sobre a importância dos serviços prestados pelo receptivo

durante a realização de roteiros. (0 a 10 pontos).

Avaliação dos turistas %

Segurança 8,6

Transporte 8,5

Interpretação 8,3

Atividades culturais 7,9

Restaurantes e Lanchonetes 6,7

122

Lojas de souvenires 6,5

Fonte: Dados da pesquisa As atividades culturais também receberam grande importância na avaliação dos

turistas, o que pode sinalizar a necessidade de implantação de novas formas de prestação de

serviço pela agência de receptivo, que ainda não despertou para essa possibilidade. Quanto à

existência de restaurantes, lanchonetes e lojas de souvenirs, o interesse dos turistas não se

mostrou tão elevado, apesar da valorização desses aspectos pela agência que sempre inclui

esses serviços durante os roteiros.

Alguns turistas aproveitaram o espaço reservado para a apresentação de sugestões de

serviços e para fazer algumas solicitações e propostas. Entre as proposições mais citadas

estão: a apresentação das atrações noturnas da cidade; a melhoria dos serviços hoteleiros; a

criação de mais opções de roteiros; informações sobre acessibilidade dos locais para as

pessoas idosas; a caracterização do perfil do grupo por parte da agência; o conhecimento de

idiomas por parte dos profissionais de turismo; a visitação a uma maior variedade de lojas de

artesanato e a apresentação de mais lugares e programas.

Esse tipo de avaliação é importante porque, além de aproximar empresa e expectativas

dos clientes, pode mensurar alguns elementos tangíveis da prestação dos serviços e atenuar,

de certa forma, sua natureza intangível. Permite, ainda, analisar a possibilidade de inclusão de

novas estruturas e serviços que, na ótica do cliente, são considerados importantes.

Dias (2004) usa o termo “valor” para designar aquilo que é importante para o cliente.

De acordo com esse autor, valor é quanto valem para um determinado cliente os benefícios

técnicos, econômicos, de serviços e sociais de um produto ou serviço. Para identificar o valor

percebido por um consumidor, é preciso investir em conhecimento, o que significa levantar

informações que assegurem uma melhor tomada de decisão. Uma vez mensurado o valor

percebido pelo cliente, é possível estabelecer uma estratégia sobre o que realmente tem

significado e importância para esse cliente. Para a área de serviços, a identificação do que tem

123

valor para o cliente se torna ainda mais essencial, tendo em vista a participação do cliente na

produção do serviço e a intangibilidade do processo.

Todas as discussões realizadas no presente tópico imputam ao setor de agenciamento

turístico receptivo de Ilhéus a realização de uma revisão de algumas atitudes empresariais,

como também levantam outras questões de cunho mais filosófico. O tópico seguinte tece

reflexões últimas acerca dos resultados aqui demonstrados e discutidos, sinalizando para a

necessidade de novos posicionamentos por parte do setor estudado e projetando algumas

conjecturas que abrangem a atividade turística como um todo em relação aos aspectos

abordados.

124

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do contexto de crise vivido pelo setor de agenciamento turístico, que tem sido

afetado pelo crescente avanço do processo de desintermediação, por sua vez gerado por

demandas ambientais que fogem ao controle dos agentes, as empresas do setor precisam

buscar novos posicionamentos e novas possibilidades de negócio.

Para as grandes operadoras, os meios que levam à reintermediação (fusões, redes,

franquias e agências virtuais) têm sido a grande saída para “driblar” a crise. No entanto, como

essas adaptações exigem investimentos, para as agências de viagens, empresas normalmente

de menor porte e sem grandes possibilidades financeiras, a busca por esses meios de

reintermediação nem sempre é a melhor saída.

De uma forma geral, dos serviços prestados pelas agências de viagens, os serviços de

receptivo são menos afetados pela crise, já que não estão diretamente vinculados ao processo

de intermediação, podendo ser realizados de forma independente, inclusive atendendo a

turistas que viajam de forma independente.

Nesse sentido, os serviços de receptivo, aí incluídos os roteiros turísticos, podem se

constituir a grande “válvula de escape” para as agências menores, especialmente aquelas

localizadas em cidades com potencial turístico.

125

Trazendo essas reflexões para o contexto do mercado de agências de viagens em

Ilhéus, denota-se que os empresários locais ainda não estão atentos a essa possibilidade, tendo

em vista que a grande maioria ainda insiste em trabalhar com o turismo emissivo. Uma cidade

como Ilhéus, possuidora de atrativos naturais, culturais e históricos, tem grande potencial para

o desenvolvimento de atividades de receptivo, o que representa oportunidade para empresas

que desejam atuar nesse segmento.

No entanto, é importante considerar que, nos serviços de agenciamento receptivo, a

relação existente entre a agência e o turista se torna ainda mais intensa, o que exige uma série

de conhecimentos e adaptações, que passam, de forma especifica, pelo estudo do mercado e,

de forma mais ampliada, pelo acompanhamento de mudanças de ordem econômica, social e

cultural, que se refletem no comportamento do próprio consumidor, como também nas formas

de organização das atividades turísticas.

Considerando esses fatores, este trabalho de pesquisa investigou, no contexto do

agenciamento receptivo da cidade de Ilhéus, os aspectos mercadológicos e sócio-econômicos

envolvidos numa atividade específica de receptivo, os roteiros culturais, com a finalidade de

vislumbrar, através do estudo do cliente, novas oportunidades de negócios.

A análise do perfil geral do turista demonstrou que as pessoas do sexo feminino têm maior

sensibilidade em relação aos aspectos culturais da viagem. Além disso, confirmou a vinculação do

poder econômico à possibilidade de se fazer turismo, tendo em vista que os Estados mais ricos e

as pessoas com renda acima da média nacional, foram os principais demandantes. Por fim,

também demonstrou a existência da relação entre instrução e idade e o gosto por atividades

culturais, já que os mais escolarizados e mais idosos foram maioria no grupo.

Os dados do perfil psicográfico, de uma forma geral, mostraram que os turistas

pesquisados têm de moderado a muito interesse por cultura e que são vários os atrativos da

cidade de Ilhéus que despertam esse interesse. Demonstraram, também, que a maioria prefere

126

realizar o roteiro de forma mais lenta, priorizando o maior aprofundamento do contato com o

lugar e que a interpretação das informações passadas pelo guia durante o percurso sejam mais

detalhadas . A maioria dos turistas acredita, ainda, que é importante ter contato com a

população local durante o passeio e deseja que essa interação se realize de forma moderada,

sem prejuízos para os setores envolvidos. Além disso, a maior parte do grupo deseja uma

monitoração moderada da agência durante o percurso do roteiro, optando por uma maior

liberdade de escolha e de ação.

Os resultados levantados a partir dos cruzamentos de dados evidenciaram que os

gêneros masculino e feminino têm perspectivas e interesses diferenciados em relação aos

aspectos culturais da viagem. Mostraram também que os Estados emissores apresentam

peculiaridades em relação a interesses e forma de informação em relação à viagem. Os dados

comprovaram, ainda, que a idade interfere nas preferências e escolhas e que a escolaridade

também define diferentes gostos e atitudes. Quanto à renda e ao estado civil, não foram

constatadas informações que permitam ilações.

Em relação aos aspectos abordados pela pesquisa, algumas reflexões podem ser

realizadas. Inicialmente, é importante considerar que o turismo cultural mostrou-se um

segmento consolidado, com um público com características bem definidas e atento à dinâmica

envolvida nessa atividade.

De uma forma geral, os resultados se mostraram consoantes com a perspectiva de um

“novo turismo”, realizado de forma mais consciente, preocupado com os valores culturais e

com a realização de experiências mais individualizadas e voltadas para o respeito às

diferenças. O desejo de interação com a comunidade local, demonstrado pela quase totalidade

do grupo pesquisado, evidencia, de forma irrefutável, essas constatações.

Todo esse processo induz à revisão do modelo tradicional de turismo agenciado, que

tende à padronização das atividades, à homogeneização de gostos e atitudes e à monitoração

127

rigorosa da ação do turista. Um maior entendimento dessas mudanças é necessário por parte

dos agentes, que devem buscar um maior conhecimento para propor soluções que melhor

atendam às novas demandas dos turistas.

Ainda em relação à homogeneização, é importante que os agentes considerem que os

grupos possuem características distintas e que os interesses também são diferenciados. A

atuação “pulverizada”, sem levar em conta as individualidades, já não cabe mais no atual

contexto de competitividade do mercado, que solicita a realização de serviços segmentados,

voltados às características específicas dos grupos e à prestação diferenciada de benefícios.

O agenciamento receptivo de Ilhéus, em conformidade com as análises, ainda não se

mostra preparado para essas exigências de mercado. Os serviços analisados obedecem aos

padrões comuns das demais agências e se mostram estandardizados e voltados à

homogeneização de gostos dos turistas. Essa constatação indica uma condução equivocada,

tendo em conta as considerações aqui efetuadas, e sinaliza para a necessidade de mudanças e

revisão dos conceitos tradicionais por parte dos agentes locais.

Por fim, é importante considerar que as empresas, de um modo geral e, sobretudo, as

turísticas, em função dos aspectos sócio-culturais envolvidos na atividade, não podem

desconsiderar o ambiente onde estão inseridas. Sobre esse aspecto, é relevante refletir sobre a

posição marginal da comunidade em relação à atividade empresarial turística estudada que, apesar

de “usar” a cultura como “produto”, ainda não se mostrou sensível em relação à necessidade do

envolvimento efetivo, autêntico e responsável das pessoas do lugar durante os roteiros.

A sustentabilidade de qualquer atividade passa, antes de tudo, pela estima ao lugar e às

pessoas que nele moram. O respeito ao meio ambiente e à cultura não podem ficar restritos ao

discurso empresarial e acadêmico, mas, antes de tudo, deve se refletir em ações práticas que

se revertam em vantagens reais para a comunidade local.

128

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134

APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO PARA ANÁLISE DA QUALIDADE DOS ROTEIROS CULTURAIS REALIZADOS PELAS AGÊNCIAS DE TURISMO NA CIDADE DE ILHÉUS/BA

Pesquisa do Programa de Mestrado em Cultura e Turismo da UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz) em convênio com a UFBA (Universidade Federal da Bahia)

01. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 02. Cidade, Estado e País de origem: ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ............

03. Faixa etária: ( ) Até 15 anos ( ) de 16 a30 anos ( ) de 31 a 45 anos ( ) de 46 a 60 anos ( ) acima de 60 anos 04. Estado civil: ( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Viúvo (a) ( ) Divorciado (a)/Desquitado (a) ( ) Outros 05. Grau de escolaridade: ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Especialização ( ) Ensino fundamental completo ( ) Superior incompleto ( ) Mestrado ( ) Ensino médio incompleto ( ) Superior completo ( ) Doutorado

06. Ocupação atual: ( ) Estudante ( ) Funcionário do setor Privado ( ) Autônomo ( ) Funcionário Público ( ) Profissional Liberal ( ) Aposentado 07. Nível de renda: ( ) Até 5 salários mínimos ( ) + de 15 até 25 salários mínimos ( ) + de 5 até 10 salários mínimos ( ) + de 25 salários mínimos ( ) + de 10 até 15 salários mínimos 08. Como escolheu esta agência de viagem? ( ) Através da operadora de viagem ( ) Pela Internet ( ) Informação de amigos e parentes ( ) Outros ......... ....... ........ ....... ............... .............. .............. ....... ........ ....... ........ ....... .............. .............. ......... 09. Como foi o atendimento na agência de viagem? ( ) Excelente ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 10. Qual o seu grau de interesse por atrativos culturais? ( ) Muito interesse ( ) Moderado interesse ( ) Pouco interesse ( ) Nenhum interesse 11. Dentre os atrativos culturais oferecidos pela cidade de Ilhéus, quais os que mais despertam o seu

interesse? ( ) A literatura de Jorge Amado ( ) O patrimônio arquitetônico ( ) As fazendas de cacau ( ) As festas populares e religiosas ( ) Outros.......... ....... ........ ....... ............... .............. .............. ....... ........ ....... ........ ....... .............. .............. ............... .... 12. Na sua opinião, como deveria ser o percurso do roteiro? ( ) Rápido, priorizando a quantidade de atrativos visitados ( ) Mais lento, priorizando a qualidade da visita Por quê? ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ .............. ............... ....... ....... ....... ........ .

135

13. Você considera importante a interação do turista com a comunidade local durante a realização do roteiro? ( ) Sim ( ) Não Justifique a sua resposta: ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ............... ....... .............. ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ . 14. Em caso afirmativo, como deveria ser essa interação? ( ) Muito intensa ( ) Intensidade moderada ( ) Pouco intensa Por quê? ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ....... .............. .................. ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ............... ....... .............. ........ . 15. Como você acha que deveriam ser apresentadas as informações sobre os atrativos ao longo do percurso? ( ) De forma rápida e superficial, priorizado a quantidade de informações ( ) De forma mais lenta, priorizando um maior aprofundamento das informações Por quê? ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ............... ....... .............. ........ . 16. Quem deveria passar essas informações? ( ) Pessoa do local ( ) O guia da agência contratada ( ) Pessoa do local e o guia da agência contratada ( ) Outro ...... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ ....... ............... ............. ........ .. 17. Como você acha que deveria ser o grau de monitoração da agência durante o percurso? ( ) Muito intenso ( ) Intensidade moderada ( ) Pouco intenso ( ) Nenhuma monitoração Por quê? ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ........ ....... ....... .............. .................. ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ .............. ............... ....... ....... ....... ........ . 18. Analise os serviços citados abaixo e atribua uma pontuação (1 a 10) que avalie o grau de importância desses serviços para a qualidade do roteiro turístico cultural na sua opinião: ( ) Interpretação e informações sobre local e atrativos ( ) Qualidade do transporte ( ) Apresentação de variedade de lanchonetes e restaurantes ( ) Segurança ( ) Apresentação de diversidade de lojas de souvenires ( ) Realização de atividades culturais Cite outros: ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .

136

APÊNDICE B

Gênero dos turistas pesquisados Sexo % Masculino 27 Feminino 73 Origem dos turistas pesquisados Estado / País %

São Paulo 54 Rio G do Sul 15 Rio de Janeiro 4 Santa Catarina 1 Paraná 6 Catalúnia/Espanha 1 Minas Gerais 17 Sem Resposta 2 Faixa Etária dos turistas pesquisados Classes %

Até 15 anos 2 de 16 a 30 anos 29 de 31 a 45 anos 40 de 46 a 60 anos 22 acima de 60 anos 5 Sem Resposta 1 Estado Civil dos turistas pesquisados Estado Civil %

Solteiro 43 Casado 49 Viúvo 1 Divorciado 4 Outros 4

Escolaridade dos turistas pesquisados

Escolaridade % Ensino Fundamental Completo 1 Ensino Fundamental Incompleto 4 Ensino Médio Completo 16 Ensino Médio Incompleto 4 Superior Completo 63 Superior Incompleto 9 Especialização 4 Ocupação dos turistas pesquisados

Ocupação % Estudante 7 Funcionário do Setor Público 17 Funcionário do Setor Privado 38 Profissional Liberal 6 Autônomo 7 Aposentado 12 Não trabalha 2 Sem Resposta 10 Renda dos turistas pesquisados

Classes (salários mínimos) % Até 5 13 + 5 até 10 35 + 10 até 15 16 + 15 até 25 12 + 25 7 Sem Resposta 16

137

APÊNDICE C

Sexo / Meio que influenciou a escolha da agência

Sexo Escolha da agência

Masculino (%) Feminino (%) Operadora 48 48 Internet 22 19 Amigos e parentes 17 24 Outros 13 10 Origem por Estados / Meio que influenciou a escolha da agência

Origem (Estados) Escolha da agência

SP (%) RS (%) MG (%) Operadora 56 33 36 Internet 22 8 7 Amigos e parentes 18 33 50 Outros 4 25 7 Origem por Regiões / Meio que influenciou a escolha da agência

Origem (Regiões) Escolha da agência

Sudeste (%) Sul (%) Operadora 52 39 Internet 17 22 Amigos e parentes 24 22 Outros 6 17 Faixa Etária/ Meio que influenciou a escolha da agência

Faixa Etária Escolha da agência

16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Operadora 50 35 63 Internet 21 26 5 Amigos e parentes 29 29 5 Outros 0 9 26

138

Estado Civil/ Meio que influenciou a escolha da agência

Estado Civil Escolha da agência

Solteiro (%) Casado (%) Operadora 54 44 Internet 23 17 Amigos e parentes 23 27 Outros 0 12 Escolaridade/ Meio que influenciou a escolha da agência

Escolaridade Escolha da agência

Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Operadora 56 46 Internet 11 23 Amigos e parentes 19 25 Operadora 11 5 Sem resposta 4 0 Renda/ Meio que influenciou a escolha da agência

Renda (Salários Mínimos) Escolha da agência

Até 10 (%) Maior que 10 (%) Operadora 45 48 Internet 19 21 Amigos e parentes 29 17 Outros 7 10 Sem resposta 0 3 Sexo / Interesse dos turistas por atrativos culturais

Sexo Interesse por atrativos culturais

Masculino (%) Feminino (%) Muito 23 43 Moderado 59 50 Pouco 18 5 Nenhum 0 0 Sem resposta 0 2 Origem por Estados / Interesse dos turistas por atrativos culturais

Origem (Estados) Interesse por atrativos culturais

SP (%) RS (%) MG (%) Muito 45 33 21 Moderado 52 58 36 Pouco 2 8 36 Nenhum 0 0 0 Sem resposta 0 0 7

139

Origem por Regiões / Interesse dos turistas por atrativos culturais

Origem (Região) Interesse por atrativos culturais

Sudeste (%) Sul (%) Muito 38 39 Moderado 51 56 Pouco 10 6 Nenhum 0 0 Sem resposta 2 0 Faixa Etária / Interesse dos turistas por atrativos culturais

Faixa Etária Interesse por atrativos culturais

16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Muito 33 33 44 Moderado 67 48 50 Pouco 0 18 0 Nenhum 0 0 0 Sem resposta 0 0 6 Estado Civil / Interesse dos turistas por atrativos culturais

Estado civil Interesse por atrativos culturais

Solteiro (%) Casado (%) Muito 43 33 Moderado 54 53 Pouco 3 13 Nenhum 0 0 Sem resposta 0 3 Escolaridade / Interesse dos turistas por atrativos culturais

Escolaridade Interesse por atrativos culturais

Até o Ensino Médio (%) Superior (%) Muito 26 44 Moderado 63 47 Pouco 7 9 Nenhum 0 0 Sem resposta 4 0 Renda / Interesse dos turistas por atrativos culturais

Renda (Salários Mínimos) Interesse dos turistas por atrativos culturais

Até 10 (%) Maior que 10 (%) Muito 45 34 Moderado 45 59 Pouco 8 7 Nenhum 0 0 Sem resposta 3 0

140

Sexo / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus

Sexo Atrativos de Interesse

Masculino (%) Feminino (%) Literatura de Jorge Amado 22 31 Patrimônio arquitetônico 41 29 Fazendas de cacau 19 24 Festas populares e religiosas 19 16 Outros 0 0 Origem por Estados / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus

Origem (Estados) Atrativos de Interesse

SP (%) RS (%) MG (%) Literatura de Jorge Amado 29 14 47 Patrimônio arquitetônico 31 36 29 Fazendas de cacau 22 43 18 Festas populares e religiosas 18 7 6 Outros 0 0 0 Origem por Regiões / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus

Origem (Regiões) Atrativos de Interesse

Sudeste (%) Sul (%) Literatura de Jorge Amado 32 26 Patrimônio arquitetônico 30 30 Fazendas de cacau 21 26 Festas populares e religiosas 15 17 Outros 0 0 Faixa Etária / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus

Faixa Etária Atrativos de interesse

16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Literatura de Jorge Amado 26 27 36 Patrimônio arquitetônico 33 31 32 Fazendas de cacau 26 25 21 Festas populares e religiosas 14 17 11 Outros 0 0 0 Estado Civil / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus

Estado Civil Atrativos de interesse

Solteiro (%) Casado (%) Literatura de Jorge Amado 31 24 Patrimônio arquitetônico 29 36 Fazendas de cacau 24 24 Festas populares e religiosas 17 16 Outros 0 0

141

Escolaridade / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus

Escolaridade Atrativos de interesse

Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Literatura de Jorge Amado 32 28 Patrimônio arquitetônico 32 32 Fazendas de cacau 21 23 Festas populares e religiosas 15 17 Outros 0 0 Renda / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus

Renda (Salários Mínimos) Atrativos de interesse

Até 10 (%) Até 10 (%) Literatura de Jorge Amado 30 30 Patrimônio arquitetônico 33 33 Fazendas de cacau 20 23 Festas populares e religiosas 17 14 Outros 0 0 Sexo / Velocidade do percurso dos roteiros culturais

Sexo Percurso Masculino (%) Feminino (%)

Rápido 50 30 Lento 45 60 Sem resposta 5 10 Origem por Estados / Velocidade do percurso dos roteiros culturais

Origem (Estados) Percurso

SP (%) RS (%) MG (%) Rápido 36 33 29 Lento 52 58 64 Sem resposta 11 8 7 Origem por Regiões / Velocidade do percurso dos roteiros culturais

Origem (Regiões) Percurso

Sudeste (%) Sul (%) Rápido 38 28 Lento 52 67 Sem resposta 10 6

142

Faixa Etária / Velocidade do percurso dos roteiros culturais

Faixa Etária Percurso

16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Rápido 29 39 44 Lento 58 58 50 Sem resposta 13 3 6 Estado Civil / Velocidade do percurso dos roteiros culturais

Estado Civil Percurso

Solteiro (%) Casado (%) Rápido 31 40 Lento 60 50 Sem resposta 9 10 Escolaridade / Velocidade do percurso dos roteiros culturais

Escolaridade Percurso

Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Rápido 33 36 Lento 59 58 Sem resposta 7 5 Renda / Velocidade do percurso dos roteiros culturais

Renda (Salários Mínimos) Percurso

Até 10 (%) Até 10 (%) Rápido 43 31 Lento 50 62 Sem resposta 8 7 Sexo / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Sexo Interação do turista com a comunidade local Masculino (%) Feminino (%)

Sim 95 92 Não 5 7 Sem resposta 0 2 Origem por Estados / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Origem (Estados) Interação do turista com a comunidade local SP (%) RS (%) MG (%)

Sim 93 100 93 Não 5 0 7 Sem resposta 2 0 0

143

Origem por Regiões / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Origem (Regiões) Interação do turista com a comunidade local

Sudeste (%) Sul (%) Sim 92 94 Não 7 6 Sem resposta 2 0 Faixa Etária / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Faixa Etária Interação do turista com a comunidade local 16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Sim 100 91 83 Não 0 9 11 Sem resposta 0 0 6 Estado Civil / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Estado Civil Interação do turista com a comunidade local

Solteiro (%) Casado (%) Sim 97 90 Não 0 10 Sem resposta 3 0 Escolaridade / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Escolaridade Interação do turista com a comunidade local Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Sim 93 93 Não 7 5 Sem resposta 0 2 Renda / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Renda (Salários Mínimos) Interação do turista com a comunidade local

Até 10 (%) Até 10 (%) Sim 90 97 Não 8 3 Sem resposta 3 0 Sexo / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Sexo Intensidade de interação

Masculino (%) Feminino (%) Muito intensa 18 15 Intensidade moderada 68 67 Pouco intensa 9 12 Sem resposta 5 7

144

Origem por Estados / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Origem (Estados) Intensidade de interação

SP (%) RS (%) MG (%) Muito intensa 16 17 14 Intensidade moderada 73 75 50 Pouco intensa 7 8 21 Sem resposta 5 0 14 Origem por Regiões / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Origem (Região) Intensidade de interação

Sudeste (%) Sul (%) Muito intensa 15 17 Intensidade moderada 67 67 Pouco intensa 10 17 Sem resposta 8 0 Faixa Etária / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Faixa Etária Intensidade de interação

16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Muito intensa 8 12 28 Intensidade moderada 79 70 44 Pouco intensa 4 15 6 Sem resposta 8 3 22 Estado Civil / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Estado civil Intensidade de interação

Solteiro (%) Casado (%) Muito intensa 14 15 Intensidade moderada 71 63 Pouco intensa 9 13 Sem resposta 6 10 Escolaridade / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Escolaridade Intensidade de interação

Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Muito intensa 4 24 Intensidade moderada 85 56 Pouco intensa 4 15 Sem resposta 7 5

145

Renda / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro

Renda (Salários Mínimos) Intensidade de interação

Até 10 (%) Até 10 (%) Muito intensa 15 21 Intensidade moderada 60 62 Pouco intensa 13 14 Sem resposta 13 3 Sexo / Velocidade das informações passadas durante o roteiro

Sexo Velocidade das informações

Masculino (%) Feminino (%) Rápida 45 35 Lenta 41 58 Sem resposta 14 7 Origem por Estados / Velocidade das informações passadas durante o roteiro

Origem (Estados) Velocidade das informações

SP (%) RS (%) MG (%) Rápida 36 42 36 Lenta 50 50 57 Sem resposta 14 8 7 Origem por Regiões / Velocidade das informações passadas durante o roteiro

Origem (Regiões) Velocidade das informações

%SUD %SUL Rápida 38 39 Lenta 51 50 Sem resposta 11 11 Faixa Etária / Velocidade das informações passadas durante o roteiro

Faixa Etária Velocidade das informações

16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Rápida 42 39 28 Lenta 46 48 56 Sem resposta 13 12 17

146

Estado Civil / Velocidade das informações passadas durante o roteiro

Estado Civil Velocidade das informações

Solteiro (%) Casado (%) Rápida 43 35 Lenta 46 53 Sem resposta 11 13 Escolaridade / Velocidade das informações passadas durante o roteiro

Escolaridade Velocidade das informações

Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Rápida 48 29 Lenta 41 56 Sem resposta 11 15 Renda / Velocidade das informações passadas durante o roteiro

Renda (Salários Mínimos) Velocidade das informações

Até 10 (%) Até 10 (%) Rápida 30 34 Lenta 55 52 Sem resposta 15 14 Sexo / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro

Sexo Transmissão das informações

Masculino (%) Feminino (%) Pessoa do local 5 15 Guia da agência 68 38 Ambos 18 32 Outro 5 8 Sem resposta 5 7 Origem por Estados / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro

Origem (Estados) Transmissão das informações

SP (%) RS (%) MG (%) Pessoa do local 14 17 0 Guia da agência 43 50 50 Ambos 32 25 43 Outro 5 8 7 Sem resposta 7 0 0

147

Origem por Regiões / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro

Origem (Regiões) Transmissão das informações

Sudeste (%) Sul (%) Pessoa do local 10 17 Guia da agência 46 50 Ambos 34 17 Outro 5 11 Sem resposta 5 6 Renda / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro

Faixa Etária Transmissão das informações

16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Pessoa do local 17 12 11 Guia da agência 50 55 50 Ambos 25 21 33 Outro 4 9 0 Sem resposta 4 3 6 Estado Civil / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro

Estado Civil Transmissão das informações

Solteiro (%) Casado (%) Pessoa do local 23 10 Guia da agência 43 48 Ambos 31 28 Outro 3 5 Sem resposta 0 10 Escolaridade / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro

Escolaridade Transmissão das informações

Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Pessoa do local 19 11 Guia da agência 48 45 Ambos 22 33 Outro 0 5 Sem resposta 11 5 Renda / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro

Renda (Salários Mínimos) Transmissão das informações

Até 10 (%) Até 10 (%) Pessoa do local 20 7 Guia da agência 43 48 Ambos 28 34 Outro 3 3 Sem resposta 8 7

148

Sexo / Grau de monitoração da agência durante o roteiro

Sexo Monitoração

Masculino (%) Feminino (%) Muito intenso 7 25 Intensidade moderada 73 60 Pouco intenso 0 3 Nenhuma monitoração 5 2 Sem resposta 5 10 Origem por Estados / Grau de monitoração da agência durante o roteiro

Origem Monitoração

SP (%) RS (%) MG (%) Muito intenso 20 33 21 Intensidade moderada 64 58 64 Pouco intenso 0 0 0 Nenhuma monitoração 2 8 0 Sem resposta 14 0 14 Origem por regiões / Grau de monitoração da agência durante o roteiro

Origem Monitoração

Sudeste (%) Sul (%) Muito intenso 21 22 Intensidade moderada 64 72 Pouco intenso 0 0 Nenhuma monitoração 2 6 Sem resposta 13 0 Faixa Etária / Grau de monitoração da agência durante o roteiro

Faixa Etária Monitoração

16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Muito intenso 25 15 39 Intensidade moderada 58 73 50 Pouco intenso 4 3 0 Nenhuma monitoração 0 3 0 Sem resposta 13 6 11 Estado Civil / Grau de monitoração da agência durante o roteiro

Estado Civil Monitoração

Solteiro (%) Casado (%) Muito intenso 29 20 Intensidade moderada 54 68 Pouco intenso 3 0 Nenhuma monitoração 3 3 Sem resposta 11 10

149

Escolaridade / Grau de monitoração da agência durante o roteiro

Escolaridade Monitoração

Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Muito intenso 7 31 Intensidade moderada 74 58 Pouco intenso 7 2 Nenhuma monitoração 0 4 Sem resposta 11 5 Renda / Grau de monitoração da agência durante o roteiro

Renda (Salários Mínimos) Monitoração

Até 10 (%) Até 10 (%) Muito intenso 25 21 Intensidade moderada 63 62 Pouco intenso 3 3 Nenhuma monitoração 3 3 Sem resposta 8 10

150

ANEXOS

151

Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (Parte interna). Fonte: Setur

152

Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (Parte externa). Fonte: Setur