UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PROGRAMA DE … · dos jornais Correio da Bahia e A Tarde...
Transcript of UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PROGRAMA DE … · dos jornais Correio da Bahia e A Tarde...
1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E
MEIO AMBIENTE
HELLEN ROCHA RAMOS
O JORNALISMO AMBIENTAL NA MODERNIDADE: uma análise de conteúdo dos jornais Correio da Bahia e A Tarde
ILHÉUS - BAHIA 2008
2
HELLEN ROCHA RAMOS
O JORNALISMO AMBIENTAL NA MODERNIDADE: uma análise de conteúdo dos jornais Correio da Bahia e A Tarde
Dissertação apresentada à Universidade Estadual de Santa Cruz, como exigência para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, à Universidade Estadual de Santa Cruz. Área de concentração: Jornalismo Ambiental Orientadora: Prof. Drª. Raquel Maria de Oliveira Co-orientadora: Prof. Drª. Moema Mª Badaró Cartibani Midlej
ILHÉUS-BAHIA 2008
3
R175 Ramos, Hellen Rocha. O jornalismo ambiental na modernidade: uma análi-
se de conteúdo dos jornais Correio da Bahia e A Tarde / Hellen Rocha Ramos .– Ilhéus, BA: UESC, 2008.
xii, 119f. : il.
Orientadora: Raquel Maria de Oliveira. Dissertação (Mestrado) –- Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa de Pós-graduação em Desenvol- vimento Regional e Meio Ambiente. Inclui bibliografia e apêndice. 1. Meio ambiente. 2. Jornalismo – Aspectos sociais. 4. Comunicação de massa e meio ambiente. I. Título.
CDD 363.7
4
HELLEN ROCHA RAMOS
O JORNALISMO AMBIENTAL NA MODERNIDADE: uma análise de conteúdo dos
jornais Correio da Bahia e A Tarde
Ilhéus-BA 5/03/2008.
___________________________________ Raquel Mª de Oliveira – DS
UESC/DCA (Orientadora)
___________________________________ Moema Mª Badaró Cartibani Midlej – DS
UESC/DCEC (Co-orientadora)
__________________________________ Prof. Dr. Elis - DS
UESC/ (Examinador Interno)
________________________________ Prof. Dr. Leandro Colling - DS
UFRB (Examinador externo)
5
Aos meus fiéis companheiros de
caminhada: meu pai, José Américo, minha
mãe, Hélia (in memoriam), meu namorado,
Gean, e aos grandes e poucos amigos que
sempre estão a postos nos momentos bons
e nos ruins também, dedico.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que confiaram em minhas propostas de trabalho e,
conseqüentemente, em minha capacidade de levá-las até o fim. Dessa forma, não
poderia deixar de lembrar os nomes do professor Salvador Trevizan, por ter me
recebido nesta casa, por seu incentivo e, hoje, por sua amizade. Ao professor Paulo
Terra, pela sua forma tão compromissada e ética ao me entrevistar durante a seleção
do mestrado. Ao professor Max, pela receptividade, pelas conversas de corredor bem
antes da seleção. E ao jornal A Tarde, nas pessoas de Walter Garrido – assessoria de
projetos especiais – e Ana Helena – assessoria de marketing, pelo apoio à pesquisa, na
doação dos jornais.
À amiga Thereza Raquel, por ter dividido suas experiências no curso até o último
instante. À professora Raquel de Oliveira, que, por confiar em minha capacidade de ir
até o fim, permaneceu ao meu lado e por incentivar meu desenvolvimento na vida
acadêmica. Até aqueles que me confundiram mais do que contribuiram, porque, em
qualquer circustância, boa ou ruim, aprendemos.
Aos meus sinceros colegas que, na troca de informações, sugestões e conversas
amigas, contribuíram para um bom trabalho e bom ambiente de convivência.
À profª Moema Cartibani, que, chegando num período avançado da pesquisa,
tornou-se peça chave para minha segurança enquanto pesquisadora e, assim, trouxe
dinamismo ao trabalho. Pelas conversas e até pela disposição em ouvir meus
desabafos, isso é uma raridade! Agradeço a ela, agora publicamente, por seu
comprimisso e dedicação, mesmo porque disso tudo ela já sabe. A senhora terá minha
eterna admiração!
Ao meu pai, pelo incentivo ao meu crescimento pessoal e profissional, e ao meu
namorado, que já incentiva ao doutorado. A minha mãe (in memoriam), pela inspiração
7
em acreditar sempre numa vida melhor, e a Zélia, por sua dedicação às pequenas
coisas da vida, mas que são de extrema importância.
A todos aqueles que não foram nomeados aqui, mas que continuarão sendo
lembrados por sua contribuição seja na pesquisa ou na vida, e aos irmãos que
conquistei durante esta trajetória.
viii
JORNALISMO AMBIENTAL NA MODERNIDADE: uma análise de conteúdo dos
jornais Correio da Bahia e A Tarde
RESUMO
Esta pesquisa consiste na análise de conteúdo dos jornais de circulação estadual Correio da Bahia e A Tarde, estudando as temáticas ambientais, em especial o aquecimento global ante a repercussão do relatório do IPCC (sigla em inglês), Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, em fevereiro de 2007, com recorte temporal de 01 a 28 do citado mês. A pesquisa é contextualizada por teorias relacionadas à sociedade moderna e sua relação com o meio ambiente. O objetivo geral da pesquisa foi avaliar a importância das informações ambientais na imprensa baiana. Especificamente, os objetivos foram fazer uma análise temática, quantificar as matérias sobre aquecimento global (AG), bem como outros assuntos como: biodiesel, transposição do rio São Francisco e cheia do rio São Francisco para fins de comparação; e analisar o conteúdo apresentado nas matérias selecionadas. Valeu-se de uma análise quali-quantitativa, aliando a análise de conteúdo, em seus aspectos quantitativos e qualitativos, associados à abordagem fenomenológica. O trabalho busca caracterizar o jornalismo ambiental baiano, destacando essa especialidade do jornalismo na modernidade, pois, através da divulgação de informações sobre o meio ambiente, pode-se contribuir para que a sociedade tenha consciência de sua própria realidade e, potencialmente, incentivar debates públicos acerca dos rumos e das alternativas para a crise ambiental moderna, que ora vivencia-se. Os resultados da pesquisa apontam para uma importância periférica dada ao tema aquecimento global, em relação aos demais assuntos destacados na pesquisa, e a falta de abordagens diversificadas acerca da questão.
Palavras-chave: Modernidade, Jornalismo; Meio ambiente.
ix
MODERN ENVIRONMENTAL JOURNALISM: an analysis of Correio da Bahia and A Tarde newspapers content
ABSTRACT
This research consists in an analysis of state circulation newspapers, Correio da Bahia and A Tarde, studying environmental themes, mainly, global heating against the repercussion of IPCC (Inter-governmental Panel of Climates Changes) report, in February 2007 between the 1 to 28 days of the said month. The research is contextualized by theories related to modern society and its relations with the environment. The main objective of the research was evaluate the importance of environmental news on baiana free press. Specifically, the objectives are: make a an thematic analysis, quantify the reports about Global Heating (GH) as well as other subjects: biodiesel, transposition and flood of Sao Francisco River to comparisons endings; and analyze the presented content of the selected news. A content analyze with qualificative and quantitative aspects was made with an association of phenomenological boarding. The work pursuit characterize the environmental baiano journalism, pointing out this particularity of modern newspaper, because through information broadcast about environment it’s possible to contribute with the society knowledge about its own reality and, potentially, encourage public debates around the ways and alternatives of modern environmental crisis, which is lived nowadays. The research’s results point to a peripherical importance given to Global Heating theme, in relation to the others outstanding subjects in the research and the lack of diversified boardings among the Global Heating question. Keywords: modernity, journalism, environment
x
LISTA DE TABELAS
1 - Produção de textos relacionados aos grupos de palavras-chave dos jornais A Tarde e Correio da Bahia, no período de 01 a 28 de fevereiro de 2007..... 57
2 - Número de textos por grupos de palavras-chave coletados nos jornais Correio da Bahia e A Tarde no período de 01 a 28 de fevereiro de 2007...... 59
3 - Número e percentagens de matérias jornalísticas relacionadas aos variados grupos de palavras-chave................................................................ 61
4 - Número de matérias que mereceram chamada na capa, relacionadas em todos os grupos de palavras-chave................................................................ 64
5 - Grupos de palavras-chave específicos por número de chamadas na capa... 64
6 - Número de matérias originárias de agências de notícias e da redação do jornal e respectivas sucursais......................................................................... 66
7 - Número de matérias por grupo de palavras-chave apenas sobre aquecimento global......................................................................................... 68
8 - Número de matérias sobre aquecimento global que tiveram chamada na capa................................................................................................................. 69
9 - Quantidade de matérias que tiveram chapéu (tema aquecimento global) no Correio da Bahia............................................................................................. 79
10 - Quantidade de matérias que tiveram chapéu (tema aquecimento global) no A Tarde............................................................................................................ 80
xi
LISTA DE QUADROS
1 - Lista dos grupos de palavras-chave que emergiram do corpus da pesquisa.......................................................................................................... 54
2 - Grupos de palavras-chave relacionados ao tema aquecimento global, discriminando os textos que fizeram menção ao relatório do IPCC................ 68
3 - Co-ocorrências/relações do jornal A Tarde associadas à palavra-chave aquecimento global, IPCC, meio ambiente e mudança climática................... 82
4 - Co-ocorrências/relações do jornal Correio da Bahia associadas à palavra-chave aquecimento global, IPCC, meio ambiente e mudança climática......... 85
5 - Palavras-chave de onde se originou a generalização apresentada nos resultados da pesquisa, jornal Correio da Bahia............................................. 101
6 - Palavras-chave de onde se originou a generalização apresentada nos resultados da pesquisa, jornal A Tarde........................................................... 102
7 - Co-ocorrências de onde se originou a generalização apresentada nos resultados da pesquisa, jornal A Tarde........................................................... 104
8 - Co-ocorrências de onde se originou a generalização apresentada nos resultados da pesquisa, jornal Correio da Bahia............................................. 107
xii
LISTA DE FIGURAS
1 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal A Tarde. Data: 03/02/2007................................................................................. 70
2 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal A Tarde. Data: 03/02/2007................................................................................. 71
3 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal A Tarde. Data: 04/02/2007................................................................................. 72
4 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal A Tarde. Data: 06/02/2007................................................................................. 73
5 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal A Tarde. Data: 21/02/2007................................................................................. 73
6 - Chamada na capa de duas matérias referentes ao aquecimento global do jornal Correio da Bahia. Data: 03/02/2007..................................................... 74
7 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal Correio da Bahia. Data: 04/02/2007............................................................... 74
8 - Local de produção matérias, em porcentagens, publicadas no Correio da Bahia............................................................................................................... 76
9 - Local de produção matérias, em porcentagens, publicadas no A Tarde.............................................................................................................. 76
xiii
LISTA DE SIGLAS
AG
Aquecimento global
CB
Correio da Bahia
CEJ (sigla em Inglês)
Centro de Jornalismo Ambiental
IPCC (sigla em Inglês)
Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
SEJ (sigla em Inglês)
Sociedade de Jornalismo Ambiental
TME
Teoria da Modernização Ecológica
TSR
Teoria da Sociedade de Risco
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
AP Associated Press
14
SUMÁRIO
Resumo............................................................................................................ vii
Abstract.......................................................................................................... viii
1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 15
1.1 Objetivo geral.................................................................................................. 19
1.2 Objetivos específicos..................................................................................... 19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................... 20
2.1 A modernidade: uma perspectiva sociológica da relação sociedade-natureza...........................................................................................................
20
2.2 As instituições modernas o que pode definir a complexa modernidade? ................................................................................................
21
2.3 Sociedade-natureza: a crise ambiental........................................................ 25
2.3.1 Desastre ambiental, um parâmetro para análise 29
2.4 Cultura e modernidade.................................................................................. 30
2.5 Reflexões sobre a formação do sujeito moderno....................................... 33
3 JORNALISMO E OPINIÃO PÚBLICA.............................................................
38
3.1 Jornalismo especializado.............................................................................. 40
3.2 O meio ambiente nos meios de comunicação/mídia.................................. 42
3.3 Jornalismo ambiental..................................................................................... 44
3.4 Jornalismo ambiental no Brasil.................................................................... 47
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICAS.................................. 49
4.1 O método auxiliar: análise de conteúdo...................................................... 50
4.2 Universo da pesquisa.................................................................................... 52
4.3 Instrumentos de coleta de dados................................................................. 53
4.4 Procedimentos de análise............................................................................. 53
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 56
5.1 Dados gerais................................................................................................... 56
15
5.2 Conteúdo ambiental e jornais estaduais...................................................... 56
5.2.1 Aquecimento global e imprensa baiana: proximidade, atualidade,
identificação social e universalidade na imprensa baiana................................
59
5.3 Alguns aspectos comparativos do anúncio ambiental na imprensa
baiana: Correio da Bahia e A Tarde..............................................................
60
5.3.1 Escala de importância dos temas..................................................................... 60
5.3.2 Penetração da temática ambiental na primeira página.................................... 63
5.3.3 Regionalização/contextualização de temas ambientais................................... 65
5.4 O conteúdo específico: aquecimento global............................................... 68
5.4.1 Aquecimento global e IPCC: sua importância na imprensa baiana................. 68
5.4.2 Aquecimento global dá manchete? ................................................................. 69
5.4.3 Regionalização/contextualização das matérias: o tema aquecimento global,
precisão e visibilidade......................................................................................
75
5.4.4 Identificação: chapéu, mais uma forma de atrair o leitor.................................. 79
5.4.5 Jornalismo impresso, jornalismo em profundidade: e a Bahia? ...................... 80
5.5 Análise de co-ocorrência nas matérias sobre aquecimento global
relacionadas ao IPCC.....................................................................................
82
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 90
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 96
APÊNDICE A................................................................................................... 101
APÊNDICE B................................................................................................... 104
APÊNDICE C................................................................................................... 110
16
1 INTRODUÇÃO
A comunicação é um direito humano fundamental, pré-requisito para manutenção
de muitos outros, inclusive o alcance da demanda contemporânea por uma melhor e
mais justa ordem social democrática, que só pode ser atingida através do entendimento
e tolerância alcançados em larga escala pela livre, aberta e equilibrada comunicação
(UNESCO, 1980). No atual contexto, em que o fenômeno da globalização torna as
situações distantes fisicamente conectadas e faz com que complexos processos de
força de mudança atravessem fronteiras, atingindo comunidades e organizações
(GIDDENS, 1999; MCGREW apud HALL, 2004), a sociedade culmina sobre um
constante estado de risco, emergido do estilo de vida moderno, disseminado desde o
século XVII.
A Teoria da Sociedade de Risco (TSR), do sociólogo alemão Ulrich Beck,
destaca o desenvolvimento dos riscos paralelo à manutenção das necessidades
materiais da sociedade moderna e levanta questões sobre a dependência do homem
comum, denominado pelo sociólogo como “ator leigo”, em relação aos técnicos
(conhecedores do tema) para perceberem os riscos a que a sociedade está submetida.
Assim, entende-se a importância que o jornalismo especializado ganha na perspectiva
da sociedade moderna. Nesse mesmo cenário, o jornalista e especialista em gestão
ambiental André Trigueiro (2004) afirma que a parceria entre jornalistas e cientistas
configuraria um serviço de utilidade pública, os cientistas fornecendo as informações e
os jornalistas “traduzindo-as” (grifo nosso) para que o público leigo ao qual se refere
Beck compreenda melhor o que se passa em sua realidade.
São muitos os questionamentos levantados pelo modo de vida moderno, um dos
aspectos mais polêmicos é a crise ambiental e os fatores que a provocam. As questões
ambientais têm conquistado espaços em discussões políticas, econômicas e
tecnológicas. Esse fato se deve ao ecoalarmismo1 disseminado na década de setenta e
1 Alarme ecológico disseminado na década de setenta através de repercussões de descobertas como o buraco na camada de ozônio.
17
a evolução do debate ambiental até o século XXI, passando por transformações nos
modos de ver e sentir os reflexos da atuação do homem sobre o meio ambiente
(SPAARGAREM; MOL, 2002). Uma dessas transformações pode ser notada através da
percepção de uma nova consciência ecológica, que tem permeado a sociedade desde
que as descobertas científicas notificaram a limitação dos recursos naturais. Outro fator
relevante é que a evolução tecnológica tem levantado questionamentos sobre os riscos
advindos dela, considerando desastres classificados de baixa probabilidade, embora
tenham ocorrido, como o desastre de Chernobyl (SPAARGAREM; MOL, 2003).
Desastres como esses conquistaram a atenção do público, que passou a questionar os
modos como a sociedade tem se relacionado com a natureza, incluindo governos,
empresas estatais e privadas (NASSAR; FIGUEIREDO, 1995; DONAIRE, 1999).
Baseado nessa nova consciência, empresas passaram a preocupar-se com seu
desempenho ambiental percebendo que o uso de tecnologias limpas é vantajoso por
conta da economia que promove, além das vantagens que o mercado financeiro tem
oferecido às empresas com bom desempenho ambiental (OTIENO, 2001).
Uma outra reação ao debate ambiental promovido por esse novo pensamento é
a mobilização da imprensa, que volta seus olhos para as empresas que apresentam um
comportamento não ético em relação ao meio ambiente (DONAIRE, 1999). Essa
postura atende às expectativas dos consumidores em lidar com empresas éticas e ao
interesse jornalístico, que é conseqüência do interesse humano (CANELLA, 2004).
O direito à informação é assegurado pela Constituição Brasileira, em seu quinto
capítulo (BITELLI, 2002; CONSTITUIÇÃO, 1988). Entretanto, Villar (1997) destaca que
raramente a imprensa brasileira trata com profundidade questões ambientais,
abordando-as como discussões de interesse público. As exceções se devem a esforços
pessoais e isolados. Por outro lado, o meio ambiente tem ocupado as manchetes e
ganhado espaço na cobertura diária quando aborda desastres ambientais, assim como
quando um ecologista famoso morre ou quando as pautas tratam das queimadas na
Amazônia, tendo maior recorrência pautas provenientes de agências internacionais.
É necessário aproximar as informações ambientais do grande público sem
banalizar o tema. Por exemplo, um cientista, em uma entrevista, assume a posição de
educador e ao jornalista cabe transformar a informação em notícia. Assim, o jornalismo
18
ambiental figura como um mediador da informação técnica, tratando os dados para que
estes sejam recebidos de forma inteligível à comunidade.
No entanto, questiona-se se o jornalismo voltado aos temas de meio ambiente
tem contribuído para informar a sociedade sobre questões ambientais. Há espaço
dedicado a temáticas ambientais gerais e específicas? Qual o espaço dedicado às
temáticas ambientais? Como se caracterizam os textos jornalísticos que tratam de
questões ecológicas? Eles são educativos? Informativos? Coloquiais? Factuais? Ou de
atualidades? As matérias jornalísticas ofertam conhecimento ao público sobre como se
precaver quanto a problemas ecológicos diante da ansiedade elevada pelos riscos
presentes na sociedade moderna?
Tais questionamentos são oportunos, dado o período de crise ambiental que ora
se faz sentir. Esta pesquisa volta-se especificamente ao trato da informação ambiental
após a repercussão do Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas, conhecido também como Relatório do IPCC2 (sigla em inglês), divulgado em
fevereiro de 2007, que apresentou conseqüências e tendências do aquecimento global
em escala mundial.
No período que sucedeu a divulgação desse relatório, esperava-se uma
recorrência mais aprofundada à temática por parte dos meios de comunicação,
especificamente os jornais impressos, que permitem o aprofundamento, a interpretação
e a explicação dos fatos, a fim de que os leitores tivessem acesso às diversas formas
de abordagem sobre o tema, que figuravam nos diversos setores da sociedade,
inclusive o científico, com um tratamento editorial que priorizasse o incentivo ao debate
social, considerando que é um assunto de suma importância, caracterizado como de
abrangência mundial, em que todos serão atingidos, independente de sua localização.
Outrossim, selecionaram-se as publicações impressas dos jornais diários A Tarde e
Correio da Bahia de todo o mês de fevereiro de 2007; tais periódicos foram escolhidos
por serem os de maior circulação no estado da Bahia, dentre aqueles que têm sede no
próprio Estado. Trata-se de um trabalho exploratório sobre a imprensa baiana, que vem
elencar os diversos caminhos que a pesquisa multidisciplinar, envolvendo
principalmente o jornalismo e o meio ambiente, pode seguir, trazendo dados relevantes
2 Intergovernmental Panel on Climate Change
19
que merecem serem aprofundados. Dessa forma, esclarece-se que não é intenção
deste trabalho esgotar essas discussões, muito ao contrário, o intuito é reunir dados
que ensejem novos questionamentos.
Esta pesquisa utiliza como técnica complementar de análise o método da Análise
de Conteúdo. Tal procedimento demonstrou eficácia por ser utilizado amplamente no
estudo de conteúdos jornalísticos desde o princípio do século XX, tendo em sua prática
a avaliação qualitativa através da análise das ocorrências temáticas e quantificação das
mesmas, inferindo através destes fatores entre outros, o processo de produção dos
textos, ou seja, a prioridade ou não de determinado tema em cada publicação.
Com os resultados do estudo que se apresenta espera-se subsidiar discussões
sobre a importância e atuação do jornalismo frente à crise ambiental e reunir dados que
levem a uma reflexão a respeito da influência das publicações sobre a comunidade e,
conseqüentemente, em suas decisões.
O estudo que se segue constitui-se de cinco seções: a primeira, que trata da
introdução apresentando a idéia geral e alguns conceitos que impulsionaram o
desenvolvimento da pesquisa, tais como as mudanças na sociedade atual associadas
ao meio ambiente. A segunda apresenta a fundamentação teórica que agrega os
conceitos principais embasadores da pesquisa e uma breve história dos mesmos, um
exemplo é o jornalismo ambiental. O método de abordagem utilizado na presente
pesquisa é o fenomenológico, assim, na terceira seção, são explanados o procedimento
metodológico e as técnicas utilizadas. Na quarta seção, apresentam-se os resultados
da pesquisa, bem como a discussão através da citação de pesquisas semelhantes,
além de comparações acerca dos resultados; nesse ponto não só os temas relativos ao
aquecimento global fazem parte do debate, mas também demais dados surgidos
durante a pesquisa, a fim de se fazer um comparativo entre a importância – do ponto de
vista quantitativo – dada aos variados temas ambientais divulgados no mês de fevereiro
de 2007, período explorado pela pesquisa. Na quinta seção, são retomados resultados
e apresentadas as considerações finais acerca da pouca importância dada ao tema
aquecimento global no mês de apresentação do relatório do IPCC.
20
1.1 Objetivo geral
Avaliar a importância dada ao jornalismo ambiental na imprensa baiana,
priorizando as publicações impressas, em especial as de circulação estadual,
especificamente os jornais diários A Tarde e Correio da Bahia.
1.2 Objetivos específicos
Fazer uma análise temática, quantificando as matérias relacionadas ao
aquecimento global, principal assunto do Relatório do IPCC, e temas ambientais
recorrentes nas publicações do mês selecionado para a avaliação.
Analisar o conteúdo apresentado nas matérias selecionadas.
21
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A modernidade: uma perspectiva sociológica da relação sociedade-natureza
O termo modernidade remete-se a um estilo, um modo de vida ou organização
social, recortado espaço-temporalmente pela localização de seu princípio na Europa, no
século XVII, e que posteriormente disseminou-se por quase todo o mundo (GIDDENS,
1991).3
Para Touraine (1994), a idéia de modernidade ainda não tem definição aceita
universalmente. E vai além, questionando como chamar de moderna uma sociedade
que se baseia numa revelação divina ou na essência nacional? E, ao contrário de
Giddens (1991), que elenca a mudança, o distanciamento espaço-tempo dentre outros
fatores, como características da modernidade, Alain Touraine (1994, p. 18) afirma que
ela não é só pura mudança, sucessão de fatos, “ela é difusão de produtos da atividade
racional, científica e tecnológica, administrativa”.
São variados os estudos sobre a modernidade, entretanto acredita-se que as
ciências sociais ainda não conseguiram abranger suficientemente os questionamentos
sobre a sociedade e a modernidade. São exemplos disso as previsões positivas dos
sociólogos clássicos Durkheim, Marx e Weber sobre a modernidade. Tais autores não
consideraram a industrialização de guerra, nem acreditavam no desdobramento político
dos regimes totalitários no século XX, que foi marcante, ou o armamento nuclear que
ceifou mais de 100 milhões de vidas, fazendo deste o século das guerras, marcado pelo
maior número de vidas perdidas em guerras na história da humanidade, mesmo
considerando o aumento da população (GIDDENS, 1991).
3 É importante salientar que tal período também é chamado de pós-moderno por outros autores. Um exemplo é Stuart Hall, citado ao longo da pesquisa. Para Alain Touraine, também citado nesta pesquisa, o período é chamado de moderno, isso vem demonstrar de forma simplificada o constante processo de mudança que permeia esse recorte sociológico do tempo, bem como a necessidade de refinamento das discussões acerca desse período. Não é intuito da pesquisa definir a melhor forma de chamar o referido recorte, seja modernidade, pós-modernidade ou modernidade tardia.
22
Durkheim acreditava que a expansão do industrialismo estabeleceria uma vida
social harmoniosa e gratificante. Marx, embora percebesse a luta de classes como fonte
de problemas fundamentais do sistema capitalista, acreditava no desenvolvimento de
um sistema social mais humano. Weber foi um pouco pessimista, para ele, o progresso
material só poderia ser obtido a custa de uma expansão burocrática que suprimiria a
autonomia individual e a criatividade (GIDDENS, 1991).
Apesar de perceberem que o trabalho industrial moderno traria conseqüências
degradantes, por conta da atividade repetitiva e maçante a que estavam submetidos os
seres humanos, os autores não previram o poder destrutivo do desenvolvimento das
forças de produção em relação ao meio ambiente. Desde aquele período, as questões
ecológicas tradicionalmente ocupavam poucos espaços nas discussões sociológicas.
Ou seja, nenhum deles previu o quão extenso seria o lado sombrio da modernidade
(GIDDENS, 1991).
2.2 As instituições modernas: o que pode definir a complexa modernidade?
Marx defende que a modernidade se baseia no capitalismo, ou seja, que a busca
pelo investimento-lucro-investimento tende a fazer o lucro decair e daí surge a
necessidade de expansão. Para Durkheim, as considerações de Marx tomam posições
marginais, considerando o industrialismo como instituição marcante da modernidade,
pois, ao passo que as necessidades humanas tentam ser sanadas, executa-se uma
exploração industrial da natureza. A concepção de Weber, apresentada por Giddens,
aproxima-se mais das idéias de Durkheim, apesar de denominar o “capitalismo” de
“capitalismo racional”. Weber a afirmava com as mesmas características que Marx, mas
o termo designava algo completamente diferente, pois a racionalização, como na
tecnologia e na organização das atividades humanas, na forma da burocracia, era o
que predominava (GIDDENS, 1991).
Touraine (1994) destaca que a modernidade, segundo a ideologia ocidental,
está estritamente ligada à racionalização. Esta estaria substituindo a idéia de um Deus
no centro social pela ciência, relegando as crenças religiosas para a vida privada.
23
Entretanto, existem outros fatores que ensejariam uma sociedade moderna, além da
utilização das tecnologias provenientes da ciência, são elas: proteção da atividade
intelectual em relação às propagandas políticas ou crenças religiosas, da
impersonalidade das leis contra o nepotismo, contra o clientelismo e a corrupção; deve
ser assegurado que as administrações públicas não sejam utilizadas como instrumentos
privados, deve haver uma separação entre a vida pública e a privada, bem como as
fortunas devem ser separadas do orçamento do Estado ou das empresas4.
O propósito da racionalização estaria no prazer e nos interesses dos indivíduos,
assim o autor afirma que a história dos progressos e da razão são também da liberdade
e da felicidade, em paralelo à destruição de crenças, costumes e objetos tradicionais.
Em sua forma mais ambiciosa, o projeto da modernidade afirma que “o homem é o que
ele produz”, assim existir encontra-se ligado a produzir, e esta ação torna-se mais
eficiente através da ciência e da tecnologia.
Para Touraine (1994), a ideologia ocidental disseminou a idéia de modernidade
como uma revolução, entretanto a modernização européia diferenciou-se pelo fato de
ter se disseminado na revolução industrial, potencializada por um movimento social. No
caso das idéias ocidentais, a modernidade se confunde com um nascimento dentro da
própria modernização. Ela é produto da ciência, tecnologia e educação, bem assim
suas preocupações giram em torno das políticas públicas de modernização que têm
como objetivo principal possibilitar o caminhar da racionalidade, eliminando
regulamentações, ou defesas impulsionadas pelo espírito de corpo, bem como barreiras
alfandegárias, criando um ambiente tranqüilo do qual empresários necessitam,
formando administradores e técnicos competentes que colaborem com os propósitos da
racionalização.
Então, o que define uma sociedade como moderna? Giddens (1991) discute
sobre várias instituições que definiriam as características da modernidade, essas
discussões são importantes na medida em que tratam de características presentes no
dia-a-dia da formação social, podendo, assim, influenciar em seu cotidiano.
4 Nessas idéias, Touraine (1994) apresenta características próprias de uma sociedade moderna, sem as quais uma sociedade não poderia ser considerada moderna, destacando fatores diferentes da ciência e tecnologia, bem como suas aplicações, os quais são falhos na sociedade brasileira.
24
Acerca do capitalismo, o supracitado autor define como um sistema em que se
produz mercadorias, baseado na relação entre o trabalho assalariado sem posse da
propriedade e a propriedade privada do capital com tal relação formando o cerne de um
sistema de classes. A empresa capitalista prescinde da produção para mercados
competitivos com os preços servindo de sinal para investidores, produtores e
consumidores.
Sobre o industrialismo, suas discussões destacam como qualidade principal “o
uso de fontes inanimadas de energia material na produção de bens, combinado ao
papel central da maquinaria no processo de produção” (GIDDENS, 1991, p. 61). Nesse
caso, a máquina é definida como um artefato que executa atividades empregando
essas fontes de energia como possibilitadores de suas operações. Na discussão do
autor, o industrialismo implica numa organização social ajustada da produção, com o
objetivo de coordenar a atividade humana, as máquinas e suas aplicações e produções
de matéria-prima e bens. E desmistifica: “o industrialismo não deve ser compreendido
num sentido muito estreito – como sua origem na “Revolução Industrial” nos tenta fazer
crer” (GUIDENS, 1991, p. 62). Não se deve prender a imagem do carvão e da
maquinaria a vapor tão somente, mas também se deve lembrar dos cenários de alta
tecnologia, nos quais a eletricidade é a fonte de energia e os microcircuitos eletrônicos
são os dispositivos mecanizados. O industrialismo afetaria o local de trabalho, mas
também os transportes, as comunicações e a vida doméstica.
Definido isso, o autor discorre acerca das dimensões institucionais da
modernidade, das quais se pode observar o entrelaçamento entre o capitalismo e o
industrialismo. Mas vale ressaltar a presença da natureza nessa discussão, quando
associa o industrialismo ao uso de fontes inanimadas de energia material para manter a
produção.
Assim, fala-se sobre as características institucionais específicas das sociedades
capitalistas. A primeira delas é sua ordem econômica, baseada no mercado competitivo
e expansionista, que acaba por implicar numa insaciável busca por inovações
tecnológicas, que, por conseqüência, torna-se constante e difusa. É importante lembrar
que, para essa expansão e inovações tecnológicas, é inerente o uso de energia. A
segunda é a economia, qualificada como razoavelmente distinta, ou seja, separada de
25
outras instâncias sociais, especificamente instâncias políticas; dadas as altas taxas de
transformações no campo econômico, o mesmo tem considerável influência sobre
outras instâncias. Em terceiro lugar, a separação da economia e do estado se
fundamenta sobre a superioridade da propriedade privada dos meios de produção.
Nesse sentido, esclarece que a posse do capital está intrinsecamente ligada ao que se
chama de fenômeno da despossessão de propriedade, ou seja, a transformação do
trabalho assalariado em mercadoria – no sistema de classes. E em quarto lugar, fica a
autonomia do estado que se encontra condicionada, ainda que não caracterizada por
um elo forte, pela dependência da acumulação de capital, o qual não controla
fortemente.
Uma infinidade de termos tem povoado as discussões sociais acerca do
momento que se vive. Modernidade, Pós-modernidade, Modernidade Tardia, e que por
muitas vezes tem o intuito de encerrar um momento, marcando o surgimento de um
novo sistema social, utilizando os seguintes significantes: Sociedade da Informação,
Sociedade de Consumo, Sociedade Pós-Industrial. Entretanto, cabe ressaltar que a
maioria dos estudos apresentados sobre tais temas são envolvidos em controvérsias
por, na maioria das vezes, dedicar-se a estudos de questões filosóficas e
epistemológicas e pelo fato de que o campo em que figuram esses estudos, a
sociologia, é muito grande e diversificado. Assim, quaisquer generalizações do ponto de
vista sociológico são questionáveis, o que não é o intuito desse trabalho. Aqui se
destacam os processos que se inserem nesse período delimitado ora como moderno,
ora com pós-moderno, não sendo primordial utilizar o melhor significante para definir-se
o período.
Assim, apesar das visões diferenciadas, provenientes de vários teóricos,
Giddens (1991), após apresentar as diferentes posições de teóricos sociais, sugere,
devido à complexidade do tema que ora é designado como modernidade tardia, ora
como modernidade e, por vezes, pós-modernidade, apesar de designar o mesmo
período histórico, que não se pode definir exclusivamente essa força dominante que
molda esse modo de vida social, mas que a modernidade é multidimensional no que se
refere às suas instituições.
26
Esse autor afirma que, ao invés de estarmos entrando na pós-modernidade,
como Jean-François Lyotard, em seu livro Condição pós-moderna, estaríamos
alcançando um momento em que se manifestam as conseqüências da modernidade,
tornando-se mais radicalizada e mais universalizada do que antes. Apresenta-se, nas
seções seguintes, o que se entende como demonstrações de conseqüências radicais
da modernidade.
2.3 Sociedade-natureza: a crise ambiental
A concepção de modernidade, às vezes, fez da razão uma ferramenta para os
indivíduos alcançarem o prazer, para se desvencilhar das tradições, das crenças, de
uma visão estreita em prol do progresso, através do conhecimento e da participação
fundada em princípios racionais, ou seja, atender as suas necessidades sem que uma
lógica baseada numa verdade divina viesse a tolher o alcance do “objeto” desejado
(TOURAINE, 1994).
A sociedade moderna é marcada pelo controle que exerce sobre a natureza,
utilizando-se da base de sustentação para atender suas necessidades e, para isso, tem
se desenvolvido sobre um modelo que desconsidera os recursos naturais como força
produtiva (SPAARGAREN; MOL, 2002). Esse conceito se assemelha à idéia de
Durkheim de que o elemento central da modernidade é a ordem industrial, a qual se
desenvolveu para atender as necessidades humanas, explorando industrialmente a
natureza. Entretanto, é importante ressaltar que se assume aqui o caráter
multidimensional da modernidade, não excluindo de suas dimensões o capitalismo,
bem como outros fatores (GIDDENS, 1991).
Entretanto, ao passo que as descobertas científicas alertaram para o caráter
limitado dos recursos naturais, percebendo-se que o desenvolvimento econômico
poderia ser afetado, a sociedade tem elevado suas preocupações sobre o futuro da
base de sustentação sob o aspecto ecológico (TREVIZAN, 1999) e o meio ambiente,
conquistado uma posição mais justa ao lado das instituições política e econômica nas
discussões sociais (SPAARGAREN; MOL, 2002).
27
A modernidade é representada por uma sociedade que alterou o ambiente
natural; observa-se uma substituição do complexo, orgânico, harmonioso sistema eco-
social, por sistemas simplificados e inorgânicos, aumentando a separação homem-
natureza, distanciando o homem do próprio homem (SPAARGAREN; MOL, 2002). Os
autores destacam ainda que o controle sobre a natureza na cultura ocidental não trouxe
apenas a idéia de separação do homem e da natureza, mas uma divisão da natureza
em natureza intuída, considerada aquela do dia-a-dia, e a natureza científica como
sendo aquela teorizada, ou melhor dizendo, dominada. As alterações no modo de a
sociedade moderna tratar o meio ambiente, influenciando suas decisões sobre sua
relação com o mesmo, coincidem com a emergência da sociedade moderna.
No contexto racionalizador, a sociedade ocidental desenvolveu-se sobre o
domínio da natureza, desconsiderando o caráter limitado de recursos naturais. O ritmo
acelerado de desenvolvimento da sociedade capitalista-industrial culminou na
sobreexploração de recursos naturais, gerando outputs que, com a sobreexploração,
trouxeram problemas ambientais; estes aliados ao caráter espaço-temporal da
modernidade tornaram-se problemas transnacionais, configurando a crise ambiental
(SPAARGAREN; MOL, 2002).
Segundo Giddens, o distanciamento espaço-tempo, na era moderna, é muito
maior do que, em períodos anteriores e eventos sociais locais distantes, são
conectados devido à globalização, cuja existência forma uma rede em toda a superfície
terrestre, conectando diferentes contextos sociais e regiões. Para ele, a globalização é
definida como a intensificação das relações sociais em escala planetária, ligando
localidades longínquas de forma que acontecimentos locais são delineados por eventos
que acontecem a milhas de distância e vice-versa (apud SPAARGAREN; MOL, 2002;
GIDDENS, 1991). Assim, do século XX, emergiram muitas preocupações ambientais,
essas foram impulsionadas pelas descobertas científicas que chamaram a atenção para
o caráter finito dos recursos naturais (SPAARGAREN; MOL, 2002).
Tais preocupações geraram questionamentos que impulsionaram os estudos da
Sociologia Ambiental, uma combinação híbrida de ecologia e sociologia. Esta
subdisciplina, conhecida também por ecologia social, sociologia ecológica, ecologia
humana ou nova ecologia humana direciona seus estudos basicamente em definir
28
como o desenvolvimento institucional da sociedade está ligado às diversas
manifestações de problemas ambientais (SPAARGAREN; MOL, 2002).
Os estudos referentes às abordagens sociológicas sobre a relação entre meio
ambiente e modernidade já datavam dos anos setenta, com um pequeno grupo de
estudiosos que se proclamavam sociólogos ambientais. O discurso sociológico assume
diversas abordagens, a contra-produtiva, a perspectiva marxista e a dimensão industrial
da modernidade (SPAARGAREN; MOL, 2002).
De abordagens sociológicas relacionadas à crise ambiental, têm emergido várias
discussões. A dimensão ecológica principiou debates acerca das instituições na
sociedade contemporânea. Dessas discussões, destacam-se a Teoria da Modernização
Ecológica (TME) e a Teoria da Sociedade de Risco (TSR), que têm como principal
debate o papel da ciência e tecnologia na crise ambiental.
A Teoria da Modernização Ecológica, defendida inicialmente por Joseph Huber,
agrega também outros teóricos como Arthur P. J. Mol, Gert Spaagaren, Albert Weale,
Maarten A. Hajer e John Dryzek. Propõe uma reviravolta nos modos de produção e
consumo na sociedade moderna através da ciência e tecnologia, em que se acredita
residir o princípio dos problemas ligados à crise ambiental. Apresenta-se como uma
abordagem construtiva que vê com otimismo o papel da ciência e tecnologia como
alternativa para a crise ambiental, na qual, através dos avanços nesses campos, a
sociedade moderna caminharia para o uso de tecnologias limpas, que já se apresenta
como uma alternativa dominante em países industrializados (LENZI, 2003;
SPAARGAREN; MOL, 2002).
A TSR é defendida pelo sociólogo alemão Ulrich Beck, que afirma que, na base
da crise ambiental, encontram-se a ciência e a tecnologia. Sua explanação apresenta
de forma pessimista o desenvolvimento dessas instituições modernas, guiada pela
lógica de que, enquanto as necessidades materiais da sociedade eram sanadas, os
riscos ambientais cresciam paralelamente através dos outputs que eram gerados,
reagindo em escala global (SPAARGAREN; MOL, 2003). O conceito de sociedade de
risco está diretamente ligado ao de globalização: os riscos são democráticos, afetando
nações e classes sociais sem respeitar suas fronteiras (PIMENTEL, 2003). Spaargaren
e Mol citam Beck, que destaca: “Fome é hierárquica, fumaça é democrática” (1993, p.
29
29). A partir dessa premissa, destaca-se que os problemas ambientais já não podem
ser considerados em escala local, pois as ligações do mundo globalizado facilitam a
disseminação dos problemas ambientais em escala global, envolvendo toda a
sociedade nas discussões sobre a problemática ambiental.
Na TSR, segundo Beck, a ciência e a tecnologia são tão importantes quanto na
TME, entretanto, com valores diametralmente opostos. Para Beck, a ciência e a
tecnologia obtiveram legitimidade social na fase da “simples modernização” por
aliviarem as necessidades materiais da sociedade; tal legitimação passa por pressões
ao final da época da simples modernização, porque, ao passo que aliviava essas
necessidades, contribuíam substancialmente para a criação dos riscos da
modernização. O teórico enfatiza que a orientação da ciência e tecnologia para a
produção material faz com que tais instituições - ciência e tecnologia - tornem-se parte
significante do problema, ou seja, da criação dos riscos dentro da sociedade moderna
(apud SPAARGAREN; MOL, 2003).
Entretanto, pode-se observar que as preocupações levantadas pela TSR
colaboram para manter a sociedade dentro do discurso em busca de alternativas para
sair da crise ambiental em que o mundo se insere hoje, apesar de seu caráter
pessimista da defesa do desmantelamento de instituições da sociedade moderna. Essa
teoria cumpre o papel de manter acesa a preocupação com as reações dos
ecossistemas às intervenções do homem na natureza.
Beck enfatiza o caráter negativo unilateral da ciência e tecnologia, ou seja, de
acordo com as idéias defendidas por esse teórico, torna-se difícil imaginar um outro
papel para essas instituições a não ser o de criadoras de riscos após o fim da simples
modernidade, mesmo ao acenar com a alternativa de novos métodos para a ciência
como a interdisciplinaridade, diferentes relações para a racionalidade científica e social
etc. afirmam que se trata de uma questão muito aberta e enfatizam que a resistência da
sociedade aos riscos foi semeada também pela ciência, a qual é fonte de argumentos
para o movimento ambientalista moderno no que se refere aos novos sistemas de
conversão para os sistemas de produção e de consumo mais limpos. Esses sistemas
de conversão aliam-se às idéias de Huber, referindo-se à reviravolta ecológica,
colaborando para a sociedade moderna ultrapassar as barreiras entre o período da
30
sociedade industrial para uma organização ecologicamente racional da produção e do
consumo (SPAARGAREN; MOL, 2003).
2.3.1 Desastre ambiental, um parâmetro para análise
A relação população-meio ambiente sofre interferências dos resultados dos
hazards e desastres ambientais, tais como mobilidade e ordenamento espacial da
população. Os referidos temas são objeto de estudo de vários teóricos, dentre os quais
os geógrafos estadunidenses que iniciaram na década de 1920, no caso dos hazards,
bem antes dos apelos acerca da degradação ambiental e melhoria de qualidade de
vida. Essa tradição teórica encontra relação nas teorias da Sociedade de Risco e
Modernização Reflexiva. Apesar disso, não há estudos que façam as dadas teorias
dialogarem. Os autores Marandola e Hogam (2004) buscaram esse diálogo no intuito
de contribuir para o desenvolvimento teórico não isolado. Nesse sentido, faz-se
necessário destacar os conceitos de desastres ambientais e hazards.
Dentro da literatura consultada, observa-se que os hazards são fenômenos
complexos, difíceis de classificar, tais como: tornados, enchentes, ciclones,
deslizamentos, erupções vulcânicas, pragas, epidemias etc. Os mesmos são resultado
de interações físicas e humanas, pois se tratam de fenômenos geológicos e humanos
por referenciarem-se a eventos e reações sociais. Baseando-se em parâmetros
conceituais, os hazards são classificados com base nos processos desencadeadores
geológicos, hidrológicos e meteorológicos (BUTZKE; MATTEDI, 2001). Os estudos
sobre os hazards datam de 1920, mas foi na década de setenta que se passou a
considerar o conceito de hazards como produto das ralações humanas. Dessa forma,
fenômenos naturais que não afetem as atividades humanas não podem ser
considerados hazards (MARANDOLA; HOGAN, 2004; BUTZKE; MATTEDI, 2001).
Em contrapartida, numerosos relatos costumam referenciar os desastres a todo
tipo de infortúnio súbito, inesperado ou extraordinário. Do ponto de vista sociológico, um
desastre está relacionado a um ou uma série de acontecimentos que modificam o modo
rotineiro da sociedade. Esses desastres são provocados por fenômenos naturais ou
31
criados pelo homem, dos quais se pode destacar: incêndios, terremotos, epidemias,
erupções vulcânicas, contaminações etc. Alguns pesquisadores enfatizam o aspecto
físico dos desastres e outros dão ênfase a aspectos sociais, como duração do impacto,
comparando reações sociais. Em ambos os conceitos de desastre, levam-se em
consideração as ralações entre a sociedade e a natureza, destacando-se as relações
sociais. Considerados como eventos sociais não rotineiros, os desastres ou “desasters”
apresentam quatro dimensões analíticas: eventos, impactos, unidade social e
respostas.
Observa-se que Butzke e Mattedi (2001) tratam de forma diferenciada os
hazards e os desasters. A apresentação de tais abordagens contribui para unificar o
parâmetro utilizado ao se tratar de temas ambientais numa escala interdisciplinar. A
evolução do campo metodológico voltado aos desastres culminou, nos anos setenta,
nesse sentido, na análise dos desastres observa-se: organização social, priorização de
grupos em vez de indivíduos, comportamento coletivo pré-impacto e pós-impacto.
A classificação de um evento em desastre ou harzard é motivada por um
problema prático de gestão de perdas vitais e materiais (MARANDOLA; HOGAN, 2004).
Para Ken J. Gregory, citado por Marandola e Hogan (2004), o estudos dos hazards “é o
despertar para os impactos da ação humana”. A Teoria da Sociedade de Risco, ao
defender o crescimento dos riscos à medida que se fez uso da ciência e tecnologia,
dialoga com os estudos sobre desastres e hazards, pois se volta aos danos causados
pela ação humana, localizando a ciência à tecnologia na base da crise ambiental.
2.4 Cultura e modernidade
As mudanças trazidas pela organização social moderna, além de levantar
questionamentos sobre a relação sociedade-natureza, fizeram emergir também
indagações sobre a identidade do próprio indivíduo dentro da sociedade em face das
mudanças estruturais pelas quais o estilo de vida moderno tem passado.
Uma característica importante para entender o que se passa com a identidade do
sujeito na perspectiva estudada é a mudança. As sociedades modernas são marcadas
32
por sua constante mudança, diferenciando-se, assim, definitivamente, das sociedades
tradicionais. Marx e Engels (apud HALL, 2004, p. 14) já refletiam sobre ela ao
caracterizarem a modernidade como “o permanente revolucionar da produção, o abalar
ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos [...] todas
as relações recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se.”
Outra característica marcante da modernidade que interfere na cultura é a
reflexividade, esta se refere à vida social moderna e trata-se da constante prática de
examinar as ações sociais à medida que novas informações são produzidas sobre tais
ações. A reflexividade esteve e está presente em todas as culturas; rotineiramente
analisam-se as práticas sociais à luz de novas informações e, por vezes, modificam-se
tais práticas, mas é na modernidade que a rotina da reflexividade torna-se radical,
aplicando-se a todos os aspectos da vida, incluindo aí as transformações no mundo
material sob a influência da tecnologia. Daí as idéias divididas sobre a tecnologia ou
técnica e ciência, ora relatada em seção anterior. A reflexão sobre os efeitos da
tecnologia sobre a organização social fez perceber pontos negativos antes ignorados,
mais especificamente, sobre a relação sociedade-natureza (GIDDENS, 1991).
A modernidade não é apenas um conjunto de experiências com mudanças
rápidas e contínuas, mas ela é constituída pelo constante ato de refletir sobre as ações
sociais, inclusive as de transformações materiais (tecnologia). Nesse sentido, a
globalização – outro fator da modernidade – amplia a abrangência da reflexividade, pois
a globalização interconecta regiões diferentes e, ou longínquas através dos meios de
comunicação e, assim, movem ondas de transformações sociais que atingem todo o
globo, mesmo que virtualmente (GIDDENS, 1991; HALL, 2004).
Com base nas informações elencadas anteriormente, observam-se tendências
no pensamento sociológico que consideram que a identidade cultural tem sofrido
influências dessa mudança estrutural pela qual a sociedade tem passado nesse fim do
século XX e início do século XXI. Trata-se de uma transformação que se processa no
núcleo do indivíduo moderno, uma crise de identidade, mais uma mudança motivada
pela modernidade (HALL, 2004).
O autor supracitado argumenta que o sujeito, até o iluminismo, considerado
unificado, tem sido fragmentado, surgindo novas e múltiplas identidades. As identidades
33
antigas (unificadas) estão em declínio e, paralelamente, surgindo o indivíduo moderno.
Sustenta-se que existem três concepções de sujeito: o iluminista, o sociológico e o pós-
moderno. O iluminista é caracterizado como um sujeito individualista, um indivíduo
centrado, “unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação”, seu
centro era formado por um núcleo interno, este se desenvolvia desde o nascimento do
sujeito, entretanto não se modificava essencialmente, permanecendo o mesmo por toda
a vida, seu centro era considerado a sua identidade (HALL, 2004, p. 10).
O sujeito sociológico era o reflexo da crescente complexidade do estilo de vida
moderno, e diferenciava-se do iluminista por não ter um núcleo autônomo e
independente. Este era constituído através das relações com pessoas presentes em
seu redor, estas representavam símbolos, sentidos e valores, ou seja, a cultura do
ambiente que ele habitava; o sujeito sociológico permanece com seu núcleo, sua
essência, embora ele seja constituído e reconstituído pelo diálogo constante com
mundos exteriores e suas identidades. Assim, o sujeito era caracterizado pela interação
entre o eu e a sociedade. Entretanto, são as características do sujeito sociológico que
estão em transformação, esse sujeito unificado e predizível está se fragmentando.
O sujeito pós-moderno não é composto de uma identidade, mas de várias
identidades por vezes contraditórias e mal resolvidas. Constata-se que o sistema de
identificação pelo qual se projetam as identidades culturais dos sujeitos encontra-se
mais provisório, inconstante e problemático e é isso que constitui o sujeito pós-
moderno. Este não possui uma identidade fixa, essencial e constante. Hall (2004) a
chama de “uma celebração móvel”; ela é constituída e reconstituída incessantemente
pelas identidades que as representam ou que as interpelam através dos sistemas
culturais que a rodeiam. A depender do momento o indivíduo assume uma nova
identidade que não é coesa, fazem parte desse processo os sistemas de significações
e representações culturais que ao se multiplicarem fazem com que os sujeitos entrem
em contato com inúmeras identidades, com as quais um sujeito pode se identificar,
mesmo que temporariamente, com cada uma delas.
A identidade cultural pode se basear pela classe, gênero, pela cor da pele e se
modificar de acordo com a identidade cultural externa ora apresentada. Nesse sentido,
o sujeito muda de acordo com o modo como ele é interpelado ou representado, embora
34
essa identificação não seja automática, entretanto pode tanto ser ganha bem como
perdida, ela tornou-se politizada, por exemplo, quando as pessoas deixam de se
identificar com outra pela cor da pele em comum para identificar-se com as idéias de
um partido ecológico. Quando se trata de preocupar-se com o meio ambiente, a cor da
pele já não se torna preponderante para se filiar ao partido, mas, quando se trata de
preservar a cultura remanescente, identifica-se com o partido comunista, que possui
inclinação para as questões de raça etc. (HALL, 2004).
O conceito de hibridação, que corrobora essa constante mudança da identidade
levantada por Hall (2004), é um conjunto de processos culturais em estruturas e
práticas, que, existindo de forma separada, unem-se para dar lugar a novas práticas,
estruturas e objetos. Tais mudanças e práticas podem ocorrer de modo não planejado
através do intercâmbio econômico ou comunicacional. Os estudos acerca de narrativas
identitárias afirmam que as identidades não devem ser consideradas fixas, ou mesmo
afirmá-las como essencialmente influenciadas por uma etnia ou sendo de uma nação
(CANCLINI, 2003).
2.5 Reflexões sobre a formação do sujeito “moderno”
Hall (2004) afirma que se o conceito de sujeito muda, é porque essa
conceituação tem uma história e, portanto, pode, mais uma vez mudar, bem assim
morrer. É comum dizer que a época moderna inaugurou um individualismo radical, mas
é bom esclarecer que, mesmo na época pré-moderna, o individualismo estava presente,
embora seu conceito seja diverso do conhecido na atualidade. Faz-se necessário dizer
que se tem o intuito de demonstrar quais as idéias norteiam o conceito de sujeito
moderno, inclusive as influências sofridas por ele, portanto não se falará profundamente
em teses contraditórias.
No período entre o Humanismo Renascentista (século XVI) e o Iluminismo
(XVIII), encontram-se vestígios das idéias que formam o sujeito centrado, estável. É
nesse período que surge o sujeito soberano, rompendo as ligações do indivíduo com
apoios centrais. Antes as regras sociais mantinham o homem sob o domínio das
35
tradições, em que a ordem divina era que guiava o progresso do mundo (HALL, 2004).
Touraine (1994) destaca que, após a modernidade, crenças como a religiosidade
passaram para um plano particular, ou seja, só eram cultivadas dentro dos muros das
casas. O progresso e a racionalização teriam relegado “o divino” ao segundo plano.
A Reforma e o Protestantismo foram responsáveis por propiciarem a libertação
da consciência individual das instituições religiosas da Igreja, baseados pelas idéias de
ser indivisível, que é totalmente unificada em seu interior e jamais pode ser dividida,
além de ser uma entidade singular, distintiva e única.
René Descartes também contribuiu para a concepção de sujeito moderno, sobre
a qual ora refletimos. Matemático, cientista e fundador da geometria analítica e da ótica,
foi extremamente influenciado pela nova ciência do século XVII. A ciência da qual se
fala é aquela que marcou o Renascentismo, deslocando Deus do centro do universo.
Nesse contexto, em que o ceticismo metafísico se fazia constantemente presente,
Descartes posicionou Deus como o “Primeiro Movimentador de toda a criação”,
explicando o resto do mundo através da matemática e da mecânica. Daí surge o sujeito
cartesiano, em que Descartes explica, é formado por “mente” e “matéria”, secularizando
a fala “Penso, logo existo”. Nessa mente, ele localizou o sujeito individual, daí o
conceito de sujeito racional, pensante e centro do conhecimento (HALL, 2004).
O movimento contra o feudalismo também deu uma nova tônica à existência
individual humana, relacionada ao colapso da ordem social, econômica e religiosa
medieval. Tal movimento posicionou o homem “acima e além de seu lugar e sua função
numa rígida sociedade hierárquica”. Esse individualismo pode ser observado na
concepção do “contrato” de Hobbes, em que se considerava a propriedade privada; é a
partir de então que se iniciam as relações econômicas ou comerciais (WILLIAMS, apud
HALL, 2004, p. 28).
As sociedades modernas tornaram-se mais complexas e o Estado-Nação
precisava dar conta das populações que formam a democracia moderna. Assim,
desenvolve-se a economia, a indústria e o capitalismo moderno, baseados nas teorias
clássicas liberais modernas que, por sua vez, se baseava nos direitos e consentimento
individuais. Assim, dentro das máquinas burocráticas e toda a massa que formava a
36
democracia moderna, o sujeito viu-se mais social, embora bem localizado e definido
dentro dessas estruturas, características próprias do sujeito iluminista.
O Estado-Nação lançou influências sobre o processo de formação do sujeito
moderno através do modelo educacional utilizado, o qual se caracteriza pelo monopólio
da educação que objetiva a homogeneização cultural, o que promoveu uma
mobilização cultural descendente, levando às massas a cultura das elites da qual
resultou uma mobilidade social ascendente, trazendo ao processo uma margem de
manobra pessoal, possibilitando, a milhões de sujeitos (ocidentais), o rompimento com
determinações sociais (LOPES, 2006).
Em sociedades tradicionais e pré-industriais, a identidade do sujeito se construía
com pouca autonomia pessoal, o indivíduo estava submetido a regras ou
determinações socializadoras e a uma cultura fortemente estratificada e codificada. A
ordem social ou casta, a tradição e o costume, o gênero, a normatividade e o controle
social rígido, além de papéis pré-definidos, deixavam pouco espaço para uma auto-
determinação identitária do indivíduo, do qual se esperava estar em conformidade com
às normas (LOPES, 2006).
Ampliando o campo das idéias que fundamentam o sujeito moderno, encontram-
se dois eventos importantes: a “biologização” do indivíduo e o surgimento das novas
ciências sociais. A biologização se dá pela fundamentação racional da natureza
proveniente dos estudos darwinianos, os quais forneceram também uma
fundamentação para o desenvolvimento físico do cérebro, ou a “mente”. As ciências
sociais mantiveram o indivíduo soberano como figura central da economia moderna; o
dualismo de Descartes foi institucionalizado, separando como mente e matéria os
estudos dentro das ciências sociais entre psicologia e as demais; e principalmente a
sociologia, carregando em seu bojo a dualidade sociedade e indivíduo, teorizou sobre
as relações do homem, a integração social e a influência do meio na formação do
sujeito, caracterizando o sujeito sociológico (HALL, 2004).
Este sujeito mais definido e estável emergiu na metade do século XX, período
este em que as ciências sociais fomentavam-se como campo disciplinar. Ao mesmo
tempo se formava o quadro de perturbações do sujeito e sua identidade, seria o
prelúdio do sujeito moderno que se manifestava em movimentos estéticos e individuais,
37
como, por exemplo, através da literatura, personificado em personagens que
caracterizavam a alienação e o exílio, embora qualificados mesmo em meio a multidões
e a confusão sob a burocracia como “K” em O Processo, de Franz Kafka (HALL, 2004).
Hall (2004), autor que defende a fragmentação das identidades pós-modernas,
esclarece que não é apenas uma desagregação, mas um deslocamento das
identidades na modernidade tardia impulsionado por várias rupturas no pensamento
moderno, dentre elas a reinterpretação dos escritos de Marx, na afirmação de que os
“homens fazem a história, mas apenas sob as condições que lhes são dadas”. Isso
levou a crer que o homem não é o autor da história, mas sim ator em meio às condições
deixadas por outros através de recursos materiais e culturais; nem possuía uma
essência individual, pois não se baseava na essência humana, mas sim em relações
sociais, como os modos de produção, a exploração do trabalho e os circuitos do capital.
Não importa aqui julgar a correta interpretação dos escritos de Marx, entretanto cabe
refletir sobre a revolução que moveu no pensamento da época, primeira metade do
século XX.
Dentre vários descentramentos, destacamos o pensamento de Freud, que deitou
por terra a frase “Penso, logo existo”, de Descartes. Freud defendia que nossas
identidades, sexualidade e desejos são formados por processos psíquicos ocorridos em
nosso inconsciente, suas reflexões sobre amor e ódio dentro das relações familiares
demonstram que o indivíduo está constantemente dividido, esse é um outro traço do
descentramento das identidades na modernidade tardia, ou a segunda metade o século
XX. Assim, fica caracterizada a formação do sujeito pós-moderno, como baseada numa
identidade constantemente em transformação, fragmentada e influenciada pelas
culturas e identidades que a circundam (HALL, 2004).
A cultura midiática, nesse contexto delineado pelo Estado-Nação, trouxe maior
fluidez a essa integração cultural, levando traços mais populares às elites. A esses
somam-se a igualdade de jure, a democracia e a cultura de direitos moderna, além da
técnica e da ciência, da mutabilidade axiológica, da perda de sentidos unificadores, da
relatividade cultural. Assim, uma combinação complexa de fatores políticos,
econômicos, tecnológicos e culturais, processos próprios da modernidade e da
globalização em curso, conduzindo ao enfraquecimento do papel dos Estados-Nação, à
38
perda de influência de instâncias socializadoras tradicionais, à “crise” das instituições
modernas, ao enfraquecimento da coesão social endógena e dos vínculos comunitários
e sentidos de pertença, e dos mecanismos de controle social (LOPES, 2006). Hall
(2004) também se coaduna a essas idéias ao afirmar que a identidade torna-se uma
celebração móvel através das transformações incentivadas pelas formas pelas quais
“somos” (indivíduos sociais) interpelados/representados pelos sistemas culturais que
nos rodeiam. Assim, à medida que os sistemas de significação e representação cultural
se multiplicam, a sociedade e cada indivíduo entram em contato com uma quantidade
de identidades sem precedentes.
39
3 JORNALISMO E OPINIÃO PÚBLICA
A sociedade vive um contexto de crise, a crise ambiental, conforme
considerações apregoadas por Spaargarem e Mol (2002; 2003), apresentadas
anteriormente. Tal situação acentua ainda mais a importância do jornalismo ante a
sociedade. A gênese do jornalismo está intimamente ligada ao caos, ao abismo.
Conforme a própria Bíblia registra na primeira frase de seu primeiro livro, Gêneses (1,
1-2): No princípio, era caos. Havia trevas sobre a face do abismo. A palavra caos,
khínein em grego, significa abismo, os gregos faziam relação desta palavra com a
confusão e a desordem em oposição radical às idéias de estabilidade e organização. A
idéia de abismo está relacionada ao desconhecido, a incapacidade de dominar os
fenômenos naturais e ordenar o mundo (PENA, 2005).
De fato, segundo o autor, a impotência de dominar a natureza impulsiona uma
obsessão em dominá-la, ou seja, elucidar o caos, buscando ter previsões convictas que
evitem o abismo, que culminem no desconhecido. O receio pelo desconhecido não vem
só da natureza, mas da geografia – “o que existirá em além-mar” – no espaço sideral,
“haverá vida em outros planetas?” Com base nessas elucubrações, diz-se que a
natureza do jornalismo está no medo. Impulsionado pelo medo do desconhecido, o
homem busca conhecer, aprender, acreditando que pode gerir a vida de uma forma
mais firme e coerente através de uma sensação de segurança para encarar o dia-a-dia
“aterrorizante” do meio ambiente. No entanto, para isso, não basta apenas produzir
cientistas e filósofos ou impulsionar astronautas, navegadores e demais viajantes para
o conhecer, é de extrema relevância que sejam feitos os relatos, que se informem
outros membros da sociedade que também estão em busca de estabilidade e
segurança trazidas pelo conhecimento. A este trabalho de reportar informações, sob
determinadas condições éticas e estéticas, poder-se chamar de jornalismo (PENA,
2005).
40
O jornalismo é uma atividade social. Nasceu da própria organização societária
que se desenvolveu e se ampliou ao passo que se desenvolviam e se ampliavam os
códigos éticos, as indústrias e as técnicas, tornando-se uma instituição indispensável
para a formação e orientação dos povos – a promoção dos meios tendentes a
assegurar o bem comum. As histórias e as idéias destacadas pelos veículos
jornalísticos têm o “propósito de permitir ao homem um pronunciamento, uma decisão,
de impulsioná-los à ação” (BELTRÃO, 1960).
Para Karam (1997), desde que o homem entrou, em diferentes épocas e
culturas, no espaço e no tempo, num mundo concreto das relações sociais, a ligação
entre o movimento cotidiano e sua abstração/reflexão esteve mediada pela linguagem,
e afirma que vários momentos e circunstâncias sociais e políticas da trajetória humana
são sintetizadas pelas formulações conceituais como: Direito de Expressão, Liberdade
de Informação, Direito de Comunicação, Direito de Informação, Direito à informação,
Direito Social à Informação.
As notícias são a substância do jornalismo; depois de serem conhecidas ou
divulgadas é que os temas a que faz referência podem ser interpretados, comentados
e, ou pesquisados. A notícia pode ser divulgada por diversos veículos: televisão, rádio,
Internet, jornal, dentre tantos outros. O século XX é marcado pela proliferação dos
media (KARAM, 1997).
Embora se proliferem, cada vez mais, veículos ditados pela velocidade, como o
rádio, a televisão e a internet, duros concorrentes da imprensa escrita, o jornalismo
impresso, apesar de não apresentar imagens coloridas e em movimento, ou dar a
notícia no momento em que o fato acontece, continua apresentando vantagens, pois a
televisão, por exemplo, é superficial por natureza, não aprofunda, não possibilita a
recuperação de informações. Em vista disso, tudo que ela apresenta deve ser captado
em toda sua profundidade em horário determinado, o que não é o caso do jornal
impresso, que dá ao leitor a opção de escolher o local e a hora em que consumirá a
notícia; o consumidor pode reler o que não compreendeu numa primeira leitura, obter
textos interpretativos acerca dos acontecimentos e utilizá-los como fonte de pesquisa,
pode encontrar mais pormenores e extensão que em demais veículos (ERBOLATO,
2004).
41
Para o autor supracitado, os meios de comunicação refletem as transformações
do mundo moderno, através da revolução das comunicações que se apresenta em
ritmo de crescimento e complexidade. Pode-se perceber que o rádio, a tv e satélites
reduziram a distância e o tempo.
Uma das características da modernidade é o desenvolvimento das ciências, bem
como dos novos conhecimentos de forma tão acelerada que nem o mais aplicado dos
homens conseguiria dar conta e versar-se em todos eles. Gasino (2007) cita o poeta
clássico Píndaro, que definiu homem como aquele que esquece, o “esquecedor”, e este
homem acreditava que as máquinas o ajudariam a lembrar, entretanto, a máquina –
aplicação tecnológica da ciência – ampliou o número de informações. O homem
moderno sofre com o estresse informativo, pois é bombardeado por um elevado número
de informações que são disseminadas a todo instante. Nesse contexto, o homem
simples perde-se nas entrelinhas da economia, das ciências e suas invenções e
necessita de orientação. Daí o fato de o jornalismo moderno caracterizar-se por noticiar
os fatos, trazendo à tona explicações e interpretações sobre os mesmos, apresentando
seus antecedentes e suas perspectivas, culminando num objetivo maior, o de colaborar
com o leitor para que este compreenda melhor o que ouve e lê (ERBOLATO, 2004).
3.1 Jornalismo especializado
O jornalismo sempre foi marcado por sua variedade, abrangendo os mais
variados assuntos, guiando-se para satisfazer as necessidades do espírito humano, ou
seja, temas que despertam o interesse humano. Desde o princípio, o jornalista foi
caracterizado por ser aquele profissional que se diferenciava dos demais, como o
poeta, o romancista, o teatrólogo, o biografista, por dever estar onde os fatos
acontecem, diferente destes que procuravam se afastar dos acontecimentos,
trabalhando na solidão. Essa característica se deve ao fato de o jornalista ter de estar
bem informado para poder informar; a variedade de assuntos a cobrir exigia essa
proximidade do jornalista, como ainda exige hoje (BELTRÃO, 1960).
42
Nos antigos jornais, não existiam as seções, como as colunas que se pode
observar nos diários de hoje; fazia-se uma estranha ligação entre os mais diversos
temas. No século XVI, as técnicas eram pouco avançadas e não se faziam essas
distinções vistas na contemporaneidade. Só em 1836, com o jornalista Émile de
Girardin, na publicação La Presse, surgem as seções. Com o avanço das
comunicações, a facilidade de enviar e receber informações, a fome das sociedades
civilizadas por notícias impôs a especialização jornalística, diminuindo a
responsabilidade do jornalista enciclopédico. Antes a dificuldade estava em transmitir
as informações a longas distâncias, o que resultavam num fluxo de comunicação
reduzido, hoje a dificuldade está em assimilar o grande volume de informações.
Variedade e especialização complementam-se para assim atenderem os fins dessa
atividade (BELTRÃO, 1960).
Juarez Bahia (1990) destaca que o jornalismo especializado é uma necessidade
social, na medida em que é resultado do desenvolvimento das relações sociais, e
discorre sobre a evolução do jornalismo especializado desde 1808, marcado pela
atividade jornalística utilizando-se das crônicas (de costumes) e ensaios (político e
literário); em meados de 1880 a 1930, essas são substituídas pela notícia, que passa a
predominar; e em 1930, ocorre uma reestruturação nos meios de comunicação com
uma inclinação para uma maior especialização. Em meados da década de 60, as
notícias de cunho científico passam a chamar a atenção do interesse público por conta
de a ciência ser vista como integrante dos assuntos da política, economia e cultura. A
partir de então, surge a necessidade dos jornalistas científicos.
A imprensa brasileira ainda possui essa idéia de que o jornalista é especialista
em tudo. Isso se reflete na falta de cursos de especialização voltados aos jornalistas, e
do escasso apoio de proprietários de veículos nesse necessário aperfeiçoamento.
Dessa maneira, o jornalista faz uma matéria sobre energia nuclear hoje, amanhã uma
sobre o urbanismo, em seguida uma entrevista com o ministro das relações exteriores
da Arábia Saudita, correndo todos os riscos de fazer uma colocação equivocada. Isso
diminui significativamente a qualidade da informação (ROSSI, 1980).
Jornais costumam recorrer a um especialista no assunto a ser abordado na
matéria, mas essa é uma fórmula condenada, não só por restringir o campo de atuação
43
do jornalista, mas principalmente porque o especialista, no geral, escreve de acordo
com seu vocabulário, o que resulta numa comunicação voltada para outros
especialistas e ininteligíveis para o público a que se destina, opondo-se ao trabalho
jornalístico, que é disponibilizar informações sobre determinado assunto aos não
iniciados (ROSSI, 1980).
Mas essa realidade tem se modificado, mesmo que lentamente, segundo Clóvis
Rossi (1980), nos últimos 40 ou 45 anos, com as macroespecializações, como
jornalistas políticos e econômicos começaram a se firmar. Mas ainda está faltando a
microespecialização, até lá, os jornalistas interessados em atender as expectativas na
produção de um tema específico têm como alternativa recorrer aos arquivos sobre o
assunto.
3.2 O meio ambiente nos meios de comunicação/mídia
Tem-se observado em variadas publicações que a sociedade tem demandado, a
cada dia mais, informações sobre o meio ambiente, demanda esta ampliada dia após
dia pela preocupação com o futuro dos recursos naturais e os estudos que avaliam a
sua degradação (DONAIRE, 1999; TACHIZAWA, 2002; SPAARGAREN; MOL, 2002,
2003; RAMOS, 1995).
A crise ambiental publicizada na década de 60, com a divulgação dos primeiros
estudos sobre a limitação dos recursos naturais, instaurou a crescente necessidade de
informações ambientais. Os primórdios da informação ambiental em âmbito nacional
tiveram partida neste mesmo período com a divulgação de pesquisas sobre poluição
em São Paulo, demonstrando os aspectos negativos do desenvolvimento industrial ou
progresso (SOUZA et al., 2004).
A década de 60 guardou avanços tímidos para o movimento ambientalista. Para
Viola e Leis (1998), nesse período, ainda não existia ao menos uma preocupação
marginal por parte da opinião pública sobre o que se refere à problemática
ambientalista; a Conferência Mundial para Desenvolvimento e Meio Ambiente, de
Estocolmo, em 1972, também não gerou um debate amplo, impactando minimamente
44
os meios de comunicação, embora o tema tenha figurado com maior freqüência na
imprensa internacional, após esse evento.
Para Neither (1998), a década de 70 privilegiou a notícia ambiental. Foi nesse
período que a imprensa passou a cobrir os crescentes protestos de entidades
ambientalistas gaúchas, berço do movimento ambientalista brasileiro. E destaca o
chamado “primeiro ato eco-político do Brasil”, que se refere à notícia que tomou mais de
30 páginas da cobertura local, alcançando nível nacional e internacional de que o
estudante Carlos Dayrell subiu em uma árvore em frente faculdade de direito da
UFRGS para impedir que a mesma fosse cortada para construção de um viaduto pela
prefeitura municipal.
Com a introdução do conceito de desenvolvimento sustentável, inaugurado pelo
Relatório Brundtland, as necessidades das gerações futuras e o compromisso com as
mesmas aumentaram o interesse por informações ambientais.
Ao analisar os movimentos sociais por sua produtividade histórica, ou seja, pelo
seu impacto em valores culturais e instituições sociais, Castells (1999) afirma que o
movimento ambientalista conquistou avançadas posições neste último quarto de século
XX, observando que, nos anos 90, 80% da população norte-americana e mais de dois
terços dos europeus identificavam-se como ambientalistas. Políticos, órgãos
internacionais, empresas, inclusive aquelas responsáveis por grandes índices de
poluição, incluíram a questão ambientalista em suas atividades.
Para o supracitado autor, o crescimento positivo do movimento ambientalista
deve-se ao fato de que o mesmo, mais do que qualquer outra força social, tem
demonstrado “notável capacidade de adaptação às condições de comunicação e
mobilização” necessárias ao novo paradigma tecnológico. Apesar de o movimento
depender de organizações de base, as suas atividades acontecem em função de fatos
que sejam apropriados para divulgação midiática. Ao desenvolverem eventos que
chamam a atenção dos meios de comunicação, os ambientalistas fazem com que sua
mensagem atinja uma audiência superior à contabilizada na base do movimento
ambientalista.
Percebem-se, claramente, atividades ambientalistas globais voltadas
especificamente à cobertura da mídia, como os eventos do Greenpeace. Suas
45
atividades são orientadas à criação de fatos que sensibilizem a opinião pública com o
intuito de pressionar o poder instituído, não deixando de, no dia-a-dia, manter o
cotidiano da luta ambientalista em âmbito local. Veículos de comunicação, como o
rádio, os jornais locais e os noticiários de TV tornaram-se instrumentos de divulgação
de ambientalistas, ocasionando reclamações de grandes corporações e de políticos de
que é a imprensa, não os ambientalistas, que mantém a mobilização em torno da
temática ambiental (CASTELLS, 1999).
Para este autor, a ligação entre ambientalismo e comunicação é explicada por se
tratar de este ser um movimento que não faz uso de violência na década de 70,
gerando informações passíveis de compor uma boa reportagem e considerando a
necessidade de imagens novas nos noticiários. Outro fator que chamou a atenção da
mídia foram os factóides gerados pelas ações ambientalistas inspiradas na tradicional
tática anarquista francesa de l´action explaire.5
3.3 Jornalismo ambiental
O jornalismo ambiental é uma especialização do jornalismo, com todas as regras
gerais da profissão. Para alguns, as notícias ambientais constituem-se em fazer
jornalismo científico (LIMA, 2007; CALDAS, 2007). Para Roberto Villar, o jornalismo
ambiental e o jornalismo científico têm interesses convergentes, embora com diferenças
marcantes. Este estudioso acredita que os jornalistas científicos (e conseqüentemente
o jornalismo científico) procuram disseminar a “idéia de que a ciência vale
simplesmente por ser ciência, pelo método”. O jornalismo ambiental não desacredita a
ciência, ao contrário, a utiliza em sua prática, muitas vezes, embasando duas teses
sobre ela do ponto de vista do método e a do ponto de vista social. É nesse último
ponto que é marcada a grande diferença entre o jornalismo ambiental e o científico.
Villar acredita que a primeira grande reportagem do jornalismo ambiental foi Hiroshima,
escrita por John Hersey, que narrou a história de sobreviventes da explosão do ano de
5 L´action explaire: um ato espetacular que sensibiliza o imaginário coletivo e provoca debate e fomenta mobilizações, por exemplo auto-sacrifício, uso dos próprios corpos para impedir o corte de árvores para futuras construções, interrupções de cerimônias.
46
1945, pois considera que tal reportagem tornou-se um grande alerta sobre os riscos
nucleares. Entretanto, o jornalismo científico representar-se-ia, por exemplo, por uma
matéria sobre o funcionamento da bomba atômica (BUENO, 2004). Já para James A.
Shannon, diretor do National of Health, o jornalismo científico, por tratar de temas que
não fazem parte do cotidiano do leitor, deve se caracterizar por textos interpretativos
(AMARAL, 2001).
O marco do pleno desenvolvimento do campo, em âmbito nacional e
internacional, foi a Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento. A partir de então, sua demanda cresceu devido à
comunidade internacional, que principiou o que se pode chamar hoje de globalização
dos problemas ambientais (LIMA, 2007; VILLAR, 1997).
Diante dos problemas ambientais desvelados no século XX, a sociedade tem
enfrentado críticas situações (decisões difíceis) sobre o meio ambiente e, apesar de
essas decisões serem complexas, ainda assim cidadãos e fazedores de políticas
devem tomá-las e a forma como essas escolhas serão entendidas terão um impacto
maior na política e nas políticas públicas; os meios de comunicação (news media) são
vital para esse processo. A forma de eles analisarem e traduzirem questões ambientais
complicadas pode contribuir para a tomada de decisões mais informadas, mas isso só
acontecerá se jornalistas estiverem bem informados sobre uma ampla gama de
assuntos econômicos, científicos, sociais e políticos. Tal conhecimento não é fácil de se
conseguir (CENTER, 2007).
A reportagem ambiental, conforme missão da Society of Environmental
Journalism (SEJ)6, tem como objetivo aumentar o entendimento das questões
ambientais, para tanto, é necessário possibilitar o aumento da qualidade, precisão e a
visibilidade das mesmas (SEJ, 2007).
Assim, recentemente tem-se observado o crescimento dos estudos
interdisciplinares ou transdisciplinares, integrando assuntos antes estudados
separadamente, como é o caso da ecologia, da conservação dos recursos naturais e da
economia. Atualmente, com a globalização, tais assuntos são dificilmente estudados
em separado, pois agora se pode perceber mais claramente a influência de ações de
6 Sociedade de Jornalismo Ambiental.
47
uma determinada área em uma outra área. Hoje, tratar de ecologia não se trata de falar
sobre a natureza intocável; trata-se de falar sobre indústria, agricultura, meio ambiente,
pobreza e desenvolvimento, por fim, a sociedade (NEITHER, 1998). As associações
voltadas para o jornalismo ambiental, ou seja, para seu desenvolvimento,
aprimoramento, centros de pesquisa e educação tiveram um expressivo
desenvolvimento na década de 1990 como a CEJ, em 92, e a SEJ, em 90 (VILLAR,
1997; CEJ, 2007; SEJ, 2007).
Entretanto, ainda é necessário que a imprensa perceba seu papel educador na
sociedade, conscientizando-se que muitos que lêem e assistem só possuem este canal
para informar-se, que sua audiência, muitas vezes, não freqüenta escolas, nem tem
acesso a livros e que muitos pais, ao acessarem informações ambientais, poderiam
passar o conhecimento adquirido a seus filhos, evitando que estes não joguem papel
pela janela do carro, potencializando o entupimento dos bueiros em épocas de chuva
(LIMA, 2007).
O jornalismo possui cinco principais funções: política, econômica, educativa e de
entretenimento, assim considerado em países capitalistas, pois em países socialistas a
função educativa eleva-se como principal, sendo considerado um fator do regime e uma
força a favor do regime. Destaca-se a função educativa nas palavras de Pierre Denoyer,
chefe-redator de Selection du Reader´s Digest, ao criticar os mestres do jornalismo,
diretores, redatores-chefes, cronistas populares, pois estes têm responsabilidades com
seu público, no entanto, é lamentável que tão poucos se convençam da mesma. Há que
se observar também a estrutura comercial da imprensa, o que se caracteriza como um
atenuante. Denoyer afirma que se é difícil para um jornal, seja por sugestão ou demais
meios, levar leitores a votar em um ou outro candidato; não é difícil para o veículo
configurar o clima, pois o homem guarda sua decisão, mas as imagens que conduzem
seus pensamentos são trazidas à sua mente e boa parte pelas revistas e jornais que
costuma ler. Assim, é importante perceber que a educação do homem não termina na
escola, ela continua na idade adulta, principalmente através das revistas e jornais
(AMARAL, 2001).
Embora o crescimento expressivo do jornalismo ambiental, considerado uma
tendência irreversível na imprensa mundial, ocorreu um retrocesso da atividade nos
48
Estados Unidos e no Brasil após a Rio 927, em contrapartida ao seu desenvolvimento
no Leste da Europa. Apesar do retrocesso, e da conseqüente perda de espaço e tempo
na imprensa de alguns países, entidades de jornalistas especializados em meio
ambiente, nesse mesmo período, trabalhavam na formação de profissionais da área, a
fim de melhorar a qualidade das matérias. A primeira instituição voltada para essa
finalidade nasceu na década de 60, na França (VILLAR, 1997).
3.4 Jornalismo ambiental no Brasil
Foi na década de 80, com a descoberta do buraco na camada de ozônio e as
primeiras suposições sobre o aquecimento global aliado às atividades humanas, que
emergiu a nova onda ambientalista. Em reação às preocupações dos países
industrializados, a imprensa brasileira se voltou para os problemas ambientais da
Amazônia.
Foi em agosto de 1989 que se realizou, em São Paulo, o Seminário "A Imprensa
e o Planeta", organizado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão
e pela Associação Nacional de Jornais. A Federação Nacional dos Jornalistas, três
meses depois, no final de novembro, em Brasília, realizou o encontro mais relevante
para o jornalismo ambiental brasileiro, o Seminário para Jornalistas sobre População e
Meio Ambiente. Compareceram especialistas internacionais, como o francês François
Terrason, especialista em planejamento ecológico e agricultura, a norte-americana
Diane Lowrie, da Global Tomorrow Coalition, a jornalista argentina Patricia Nirimberk,
da Fundação Vida Silvestre, o tcheco Igor Pirek, da Agência de Notícias CTK, o
educador Pierre Weil, da Universidade Holística Internacional, e especialistas
brasileiros, como o repórter Randau Marques, o professor Paulo Nogueira Neto, o físico 7 Eco-92 é o nome mais popular entre os brasileiros dado à Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Cúpula ou Cimeira da Terra e Rio 92. Realizada no Rio de Janeiro, reuniu Ongs e chefes de estado de quase todo o globo sob o objetivo fundamental de conciliar desenvolvimento socioeconômico e conservação dos ecossistemas. Foi durante e após esse evento que o conceito de Desenvolvimento Sustentável se disseminou por todo o globo. Foi na Rio-92 que a convenção da Biodiversidade foi assinada pelos 168 dos 175 países signatários da Agenda 21, em tal convenção, os países comprometiam-se com a conservação da biodiversidade, o uso sustentável dos recursos naturais e a distribuição eqüitativa e justa dos benefícios gerados com a utilização de recursos genéticos (BRASIL, 2008; WIKIPEDIA, 2008).
49
Luis Pinguelli Rosa, o agrônomo Sebastião Pinheiro e o jornalista Fernando Gabeira
(VILLAR, 1997).
Para o autor acima citado, a imprensa brasileira raramente aborda temáticas
ambientais, a grande imprensa sabe que não pode desmerecer o noticiário ambiental,
principalmente, por uma questão de mercado, portanto abre espaços periféricos para a
notícia ambiental, que apenas destacam-se quando apresenta grandes desastres, e,
salvo as exceções, ocupa postos marginais.
Essa especialidade jornalística apresenta características diversas que, no Brasil,
variam de região para região. A qualidade da notícia está diretamente ligada à
mobilização da sociedade em redor da temática. É sabido que as Organizações Não
Governamentais têm dificuldade em divulgar suas informações em todo o país, mas
nota-se que, onde a atuação dessas entidades é fraca, o noticiário sobre crises
ecológicas é praticamente nulo (VILLAR, 1997).
Como todas as outras especialidades jornalísticas, a reportagem ambiental tem
de ser vendida atendendo o interesse do público, destacando a originalidade, a
linguagem simples, os conceitos científicos, recorrendo a fontes confiáveis e
pesquisando os antecedentes da notícia. O jornalista deve buscar manchetes
interessantes para disputar espaço nos noticiários, diferenciando-se por um trabalho de
qualidade (DUARTE, 2003).
O campo de notícias ambientais tem sido confundido por mídias conservadoras
com marketing verde ou ecopropaganda, tendo seu potencial para despertar
consciências ignorado, o que o coloca como alvo de ações mercadológicas e interesses
políticos. Tais setores da comunicação têm termos, práticas e conceitos distintos, que
se detêm em compromissos de outra ordem (BUENO, 2007).
O objetivo final do jornalismo ambiental é o desenvolvimento sustentável,
considerando-o como a qualidade de vida dos cidadãos e vai além de questões apenas
econômicas. Está ligado ao monopólio dos meios de comunicação que entravam o livre
debate de idéias, incentivando o consumo desenfreado, que, via de regra, traz prejuízos
ao meio ambiente (BUENO, 2007).
50
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICAS
A fenomenologia é utilizada como método de abordagem da presente pesquisa.
Etimologicamente é a ciência dos fenômenos, que se fundamenta no saber empírico.
Para Kant, o estudo de uma fenomenologia geral caracterizar-se-ia por uma introdução
à metafísica demonstrando os limites entre o mundo sensível e o mundo inteligível
(ZILLES, 1996).
O fenômeno é tudo que se apresenta à consciência de forma intencional, tendo
para esta um significado. A função da fenomenologia8 é estudar a significação das
vivências da consciência. Para Husserl (apud MIDLEJ, 2004), a fenomenologia não
estuda apenas o que é apreendido pela consciência, mas sim o conjunto do ser (objeto)
e o significado que a consciência tem dele, o fenômeno é o conjunto de ambos. Logo,
estudar o significado consciente de um fenômeno é o ponto de partida para a
compreensão dos vários significados ou sentidos que o fenômeno pode ter. Por meio
deste método, busca-se o fundamento certo e evidente do objeto e seus
aparecimentos.
Sobre o pensamento de Edmund Husserl, diz-se que o principal recurso para se
alcançar o conhecimento é a intuição, já que as essências são dadas intuitivamente
(MIDLEJ, 2004). As essências nada mais são que as características apreendidas
quando o fenômeno lhe é apresentado; tais qualidades são fundamentadas por
conceitos que servem de parâmetro para discernir e classificar os fatos. Dessa forma, a
fenomenologia é a ciência das essências, posto que se baseia na intuição (ZILLES,
2006). Bem assim, alia-se a ótica fayrerbendiana em que tudo é válido. Fugindo de uma
racionalidade engessada num método, em busca da melhor percepção do objeto
(FAYERABEND, 1989).
8 Para Husserl, os filósofos devem se guiar pelo mundo interior, ou seja, o transcendental. O transcendente seria o real ou ideal, mas nunca fictício. O autor entende que se deve ir em busca da riqueza que existe no mundo transcendental, o filósofo não necessita do mundo transcendente, ele deve buscar a evidência necessária ou que não deixe dúvidas na subjetividade transcendental por meio da descrição dos fenômenos puros.
51
Assim, utiliza-se o método fenomenológico para descrever o fenômeno, ou seja,
os textos jornalísticos aliando vivências, desvelando evidências que estão
indissociavelmente presentes na consciência dos produtores da notícia, com o objetivo
de entender a importância e o significado dado às informações ambientais.
O estudo, fundamentado no pensamento de Husserl, utiliza-se da intuição para
compreender e interpretar o mundo que se apresenta intencionalmente à consciência,
caracteriza-se como um conhecimento qualitativo, “uma doação de sentido, enfatizando
a experiência pura do sujeito” (MIDLEJ, 2004, p. 127) .
Sob a visão dos estudos fenomenológicos, a análise de conteúdo também é
reconhecida no aspecto qualitativo. Para a pesquisa fenomenológica, é relevante aquilo
que faz sentido para o sujeito, considerando um evento posto em evidência, como este
é percebido e é expressado através da linguagem, dedica-se ainda aquilo que é
importante no contexto em que a percepção e a expressão acontecem (SILVA et al.,
2004).
4.1 O método auxiliar: análise de conteúdo
A análise de conteúdo é um conjunto de procedimentos metodológicos tais
como: conceituação, codificação, categorização que podem ser utilizados quando se
lança mão deste recurso interpretativo (COREGNATO; MUTTI, 2006). Pode também
ser especificada pela definição que a destaca como um conjunto de técnicas de análise
das comunicações (BARDIN, 2004).
O uso de tais técnicas não dispensa um arcabouço teórico que o acompanhe nas
análises, assim evidencia-se aqui a inspiração na abordagem fenomenológica, que se
apresenta coerente com a proposta da análise de conteúdo qualitativa da presente
pesquisa. Dessa forma, entende-se como essencial tal percurso metodológico que ora
expõe-se. Esse conjunto de técnicas vem sendo utilizado desde longa data em busca
52
de uma análise de significação. A Hermenêutica9 é uma de suas técnicas mais antigas.
Estudos revelam que, desde 1640, já se fazia análise de conteúdo. Entretanto, esse
método vem sendo recorrente em estudos de comunicações de massa10 desde o
princípio do século XX, com Berelson e Lazarsfeld. Suas contribuições, aliadas a de
outras áreas do conhecimento, refinaram o conceito que, de forma geral, atualmente
enfatiza que este seja o conjunto de técnicas voltado à análise das comunicações,
através de procedimentos ordenados e objetivos de descrição11 do conteúdo das
mensagens, de indicadores (quantitativo ou não) que possibilitem a dedução de
conhecimentos relacionados às condições de produção/recepção (variáveis inferidas)
das mensagens (BARDIN, 2004).
Dessa maneira, tal abordagem tem por objetivo executar “deduções lógicas e
justificadas” relacionadas à origem das mensagens “tomadas em consideração” (o
emissor e seu contexto ou casualmente, os efeitos da mensagem). Comparativamente,
a análise documental visa a representação simplificada para fins de consulta e
conservação, já a análise de conteúdo é o manuseio das mensagens (o conteúdo e o
que ele expressa) objetivando clarificar os indicadores que possibilitem a inferência
sobre uma realidade diferente da encontrada na mensagem (BARDIN, 2004).
9 Hermenêutica: “(gr. Hermeneutike) arte de interpretar o sentido das palavras, das leis, dos textos etc. Especialmente da interpretação dos textos sagrados e dos que têm valor histórico” (SILVA, 1965, p. 730). “A arte de interpretar os textos sagrados ou misteriosos é uma prática muito antiga” (BARDIN, 2004, p. 11). 10Os estudos sobre a imprensa marcaram as primeiras quatro décadas do século XX e frisaram uma tendência da análise de conteúdo, a quantificação e a medida iniciada pela Escola de Jornalismo de Colúmbia que incentiva a multiplicação dos estudos quantitativos dos jornais. Assim, mede-se o inventário das rubricas, o grau de sensacionalismo dos artigos comparando semanários rurais e diários urbanos e desdobra-se o interesse pela medida e pela contagem, considerando superfície das matérias, tamanho dos títulos, localização na página. Em contrapartida com a I Guerra Mundial, aumenta-se o interesse pela análise de conteúdo da propaganda na II Guerra Mundial. Aqui se faz necessário falar da importância de H. Lasswell que, desde 1915, já fazia análises de imprensa e propaganda (BARDIN, 2004). 11
Análise de conteúdo não tem a característica exclusiva de ser o método meramente descritivo como, por exemplo, os inventários de jornais feitos sob as regras desse conceito no princípio do século XX, mas toma-se consciência de que o objetivo do método ou a sua função é a inferência. A inferência deve basear-se em indicadores de freqüência ou em indicadores combinados (análise de co-ocorrências) e, cada vez mais, percebe-se que, a partir dos resultados, é possível retornar às causas e avançar sobre os efeitos das comunicações analisadas (BARDIN, 2004).
53
Como método de análise qualitativa, dedica-se ao estudo de um fenômeno
complexo, sem tendência à quantificação dos dados, procurando compreender um
fenômeno dentro de um contexto social e cultural (COREGNATO; MUTTI, 2006).
A análise de conteúdo é um método maleável que pode ser utilizado sob
diversas abordagens – quantitativa e, ou qualitativa. A análise qualitativa corresponde a
um processo intuitivo, flexível e passível de adaptações a índices não previstos e ao
desenvolvimento de hipóteses. É importante salientar que a pesquisa qualitativa não
exclui qualquer forma de quantificação, podendo o investigador fazer testes
quantitativos sobre índices a fim de comparar com discursos semelhantes.
4.2 Universo da pesquisa
O universo da pesquisa é composto por publicações de dois jornais de circulação
estadual: Correio da Bahia (CB) e A Tarde, considerados representativos por sua
abrangência em circulação.
O Correio da Bahia foi fundado em 1978 e passou a publicar edição dominical
em 2000, tem circulação estadual e publica 20 mil exemplares de segunda a sexta; 23
mil aos sábados e 25 mil aos domingos. Possui 15 mil assinantes e faz parte da Rede
Bahia, de propriedade da família Magalhães. A Rede é composta por duas rádios, uma
delas leva o nome de Globo FM e uma rede de tv com quatro emissoras que abrangem
todo o estado da Bahia, todas afiliadas da Rede Globo (JORNAL, 2008).
O jornal A Tarde foi fundado em 1912, tem circulação estadual, com tiragem em
dias úteis de 23 mil exemplares (17 mil exemplares na capital e 6 mil no interior). Aos
sábados são produzidos 25 mil exemplares (19 mil para a capital e 6 mil para o interior).
E aos domingos o número sobe para 76,5 mil exemplares (65 mil na capital e 11,5 mil
no interior), além de possuir 28 mil assinantes na capital e no interior (A TARDE, 2008).
O período de análise, de 01 a 28 de fevereiro de 2007, foi definido por este ter
sido o mês em que o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas foi
divulgado, o qual repercutiu, em variados veículos de comunicação por todo o globo,
conseqüências e tendências do aquecimento global para todo o planeta.
54
4.3 Instrumentos de coleta de dados
Durante a pesquisa, procedeu-se a leitura dos exemplares dos jornais
selecionados, excetuando-se os cadernos de classificados e esportes. Para
catalogação dos dados, foi utilizado o programa de computador Excel for Windows,
onde dados dos textos como: data da publicação, página, chamada de capa,
caderno/editoria, título, subtítulo, sobretítulo, chapéu12, origem, repórter (quando
assinada) e palavras-chave foram selecionados e inseridos em colunas diferentes,
intituladas com o próprio nome do dado para posteriormente fazer-se a quantificação.
4.4 Procedimentos de análise
Um dos recursos utilizados nesta pesquisa, originário das técnicas da análise de
conteúdo, foi a análise temática, ou seja, quantificar os diversos temas ou itens de
significação presentes numa unidade de codificação, que pode ser uma frase, bem
como o utilizado aqui, os jornais selecionados para fazer parte do corpus13 (BARDIN,
2004).
Embora o tema específico da pesquisa tenha sido decidido a priori –
aquecimento global - para fins de comparação, incluíram-se outras temáticas
ambientais na primeira fase da pesquisa. Assim, selecionaram-se os temas a)
aquecimento global; b) biodiesel; c) transposição do rio São Francisco, d) enchente do
rio São Francisco; e e) São Francisco – Revitalização. A seleção ocorreu por suas
predominâncias nas unidades de pesquisa, ou seja, essas ocorrências demonstraram
maior potência na percepção dos objetos da pesquisa – os jornais. A definição dos
12 Chapéu: Jargão jornalístico que nomeia a identificação localizada logo acima do título ou sobretítulo (FOLHA, 2000). 13 Corpus: é o conjunto de textos selecionados através da leitura flutuante, que é o primeiro contato com os documentos (BARDIN, 2004).
55
temas foi feita durante a aplicação da leitura flutuante, técnica utilizada na seleção dos
textos para compor o corpus da pesquisa.
O critério de seleção dos textos se deu através da definição de palavras-chave
relacionadas aos temas, ou seja, que emergiram do próprio objeto em análise,
conforme se observa no Quadro 1. De cada matéria, selecionaram-se as palavras que
identificavam os temas principais do texto, encontraram-se variáveis14 diversas
relacionadas ao tema aquecimento global, bem como as demais temáticas. Com a
finalidade de simplificar a apresentação dos dados, generalizaram-se as palavras-
chave, assim, figuram nos grupos de palavras os significantes que foram considerados
para a seleção dos textos. As diferentes co-ocorrências (palavras associadas) foram
eliminadas da representação.
Quadro 1 - Lista dos grupos de palavras-chave que emergiram do corpus da pesquisa
Dessa maneira, os textos que apresentavam uma ou mais das palavras listadas
acima, foram selecionados para fazer parte do corpus da pesquisa. O último grupo de
palavras chave, e) São Francisco – Revitalização, refere-se apenas ao jornal A Tarde,
devido ao volume de matérias relevante, se comparadas às publicadas no jornal
Correio da Bahia.
14 As diversas variáveis de onde emergiram as palavras chaves encontram-se listadas no APENDICE A. 15 PAC: Plano de Aceleração do Crescimento.
Tema Grupos de palavras-chave Aquecimento global – mudança climática - efeito estufa Aquecimento Global Aquecimento global – mudança climática - efeito estufa – IPCC
Biodiesel Biodiesel – biocombustíveis – produção Enchente do Rio São Francisco São Francisco – enchente – cheia
Transposição - São Francisco Transposição - São Francisco – PAC15
Transposição
Revitalização - São Francisco
56
Durante a análise das publicações, observou-se a localização das matérias, em
editorias específicas, notificando a relevância dada ao fato através de sua localização
na primeira página.
Outro fator que participou das análises, foi o local de produção do texto, na
redação e sucursais do veículo ou se são provenientes de agências de notícias ou
publicações de outros estados. Nessa primeira fase, a ordem de importância é
estabelecida através da quantificação.
Para quantificação, utilizou-se o recurso de Tabela Dinâmica do software Excel
for Windows, dessa forma, fez correlação entre os dados da matéria e o número destes
com chamada de capa, sempre utilizando dois ou três dados para fazer a quantificação.
Os resultados obtidos através desse recurso são apresentados na seção resultados e
discussão.
A aplicação do método também se utilizou da análise de co-ocorrência, ou seja,
observou as unidades (palavras) que se relacionavam com a ocorrência (palavra-
chave). Para esta fase, utilizaram-se apenas os textos selecionados sobre o tema
aquecimento global.
As palavras-chave trazem consigo significações importantes na compreensão
das condições de produção do texto e são consideradas o tronco da análise. As
relações entre ocorrências e co-ocorrências é que dão sentido e determinam as
intenções presentes no texto, que independem do pesquisador.
Extraídas as co-ocorrências, estruturou-se uma grade onde foram diferenciadas
as co-ocorrências entre positivas, negativas e neutras, relacionadas ao tema
aquecimento global, que é o interesse específico da pesquisa, demonstrando como a
temática se apresenta aos leitores, inclusive sob quantificação, as quais levou-se em
consideração a seção 2.3.1 a revisão de literatura – Desastre ambiental, um parâmetro
para análise.
Ao fim, considerar-se-á cada dado, tais como: quantidade e localização das
matérias, identificação etc., para aplicar os conhecimentos e, baseado nos indicadores
de freqüência e indicadores combinados (análise de co-ocorrência), fazer as
inferências, buscando sentido para a compreensão dos elementos de significação. Tais
resultados fundamentam a discussão da pesquisa.
57
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Dados gerais
O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas apresentado
em fevereiro de 2007, pela ONU, fez emergir de forma mais drástica a gravidade das
conseqüências do aquecimento global, assim, esperava-se que os debates em meios
impressos se diversificassem, trazendo opiniões variadas.
É importante salientar que nenhum dos teóricos abordados no corpo da pesquisa
problematizou a função do jornalismo ambiental atrelando-o a dados quantitativos.
Assim, essa avaliação não tem caráter definitivo, pois não se encontra respaldo na
literatura para avaliar se a quantidade de matérias de determinado jornal atende às
necessidades funcionais do jornalismo ambiental.
5.2 Conteúdo ambiental e jornais estaduais
Os resultados discutidos apresentam dados comparados a pesquisas afins que
demonstram as diferenças e semelhanças entre veículos análogos – jornais de outros
estados e revistas informativas de circulação nacional.
Assim, das publicações analisadas, emergiram os resultados constantes na
Tabela 1:
58
Tabela 1 - Produção de textos relacionados aos grupos de palavras-chave dos jornais A Tarde e Correio da Bahia, no período de 01 a 28
de fevereiro de 2007
Jorn
al
Grupos de palavras-chave 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Total
geral
Aquecimento global - mudança
climática - efeito estufa 2 1 2 4 1 4 1 1 1 2 1 1 21
Aquecimento global - mudança
climática - efeito estufa – IPCC 1 2 1 1 5
Biodiesel - biocombustíveis –
produção 1 1 1 2 1 2 1 2 11
São Francisco - enchente (cheia) 1 1 2 1 1 2 1 1 1 2 4 3 3 4 1 28
São Francisco – Revitalização 2 2
Transposição - São Francisco 1 3 1 1 1 3 3 1 1 1 16
A T
ard
e
Transposição - São Francisco –
PAC 1 1
Total 5 2 4 5 3 7 2 4 4 2 1 1 4 2 3 2 1 2 2 3 9 5 5 5 1 84
Aquecimento global - mudança
climática - efeito estufa 1 1 1 1 1 1 2 8
Aquecimento global - mudança
climática
efeito estufa – IPCC
3 1 4
Biodiesel - biocombustíveis –
produção 1 1 1 3 1 1 1 9
São Francisco - enchente (cheia) 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 1 13
Transposição - São Francisco 1 2 6 1 1 2 3 2 3 3 3 27
Co
rrei
o d
a B
ahia
Transposição - São Francisco –
PAC 1 2 3
Total 2 4 4 3 1 7 3 1 3 2 3 4 2 3 4 6 3 5 4 64
Total geral 5 4 8 9 6 8 9 7 5 5 3 1 7 2 3 6 1 2 4 6 13 11 3 10 9 1 148
Porcentagem 3,38 2,70 5,41 6,08 4,05 5,41 6,08 4,73 3,38 3,38 2,03 0,68 4,73 1,35 2,035 4,05 0,68 1,35 2,70 4,05 8,78 7,43 2,03 6,76 6,08 0,68 100
59
A partir desses dados, detectou-se que, durante todo o mês de fevereiro, em
apenas dois dias não houve publicação de matérias relacionadas aos grupos de
palavras-chave selecionados pela pesquisa. Isso se deve ao fato de que o período
carnavalesco na Bahia se deu nesses dois dias e, por conta disso, o jornal Correio
da Bahia nem chegou a ser publicado no referido espaço de tempo.
Dos 54 exemplares analisados, 96,29% publicaram textos relacionados às
temáticas ambientais selecionadas pela pesquisa, com média diária do mês de
fevereiro de 5,28 textos.
Observou-se que o número de matérias nos dois jornais estudados foi
superior aos encontrados por Bosquetti (2006) em sua análise de conteúdo do jornal
O popular (Estado de Goiás), que, de 19 de abril de 2005 a 19 de maio de 2005,
apresentou apenas 14 matérias relacionadas a meio ambiente, as quais foram
publicadas em nove edições, pois nove dessas matérias estão reunidas em quatro
edições, reduzindo o campo de exemplares que figuram informações ambientais, ou
seja, apenas 30% dos exemplares analisados pela autora apresentaram algum texto
ambiental. Entretanto, cabe aqui salientar que o trabalho da autora não se ateve à
transdisciplinaridade que o tema meio ambiente está submetido, conforme Neither
assinala (1998), pois se dedicou apenas a matérias de caráter estritamente
ecológico, relacionadas a preservação e, ou conservação da biodiversidade,
excluindo-se aspectos ambientais que sofrem interferência dos campos políticos e
econômicos já explicitados na revisão de literatura e que recentemente têm sido
trabalhados pela subdisciplina Sociologia Ambiental, como outputs provenientes dos
avanços da ciência e tecnologia na contemporaneidade.
É interessante lembrar a pesquisa de Targino (1994), que, ao avaliar revistas
informativas, semanais e de circulação nacional, estudando todas as matérias
concernentes ao meio ambiente, apurou que, de 39 fascículos analisados, apenas
43,59% veicularam alguma informação ambiental, com média mensal de 1,89 textos.
Tais dados parecem animadores, pois a presente pesquisa selecionou temas a
serem estudados de acordo com sua potência, aferida durante a leitura flutuante.
Assim, entende-se que, resguardando as diferenças de formatação das publicações,
houve um avanço na presença de temáticas ambientais em publicações impressas.
Tais dados vêm demonstrar o que Spaargaren e Mol (2002) já discutiam sobre o
avanço do meio ambiente nas discussões sociais modernas que tem conquistado
posição ao lado de instituições como a política e a economia.
60
5.2.1 Aquecimento global e imprensa baiana: proximidade, atualidade, identificação
social e universalidade na imprensa baiana
Nilson Lage (1989) discute acerca da qualidade técnica do conteúdo
jornalístico e destaca os seguintes critérios de produção jornalística: atualidade,
proximidade, identificação social, intensidade e ineditismo. Relativamente, o tema
ambiental tem todas essas características. Otto Groth, citado por Melo (1994), já
discutia a “totalidade jornalística” de forma semelhante aos critérios de produção
jornalística de Lage (1989). Groth listou a periodicidade, universalidade, atualidade e
a difusão como características do jornalismo. Ambos estão ligados. A periodicidade
e a difusão que se refere à capacidade tecnológica de transmitir os fatos, tornando-
os acessíveis à coletividade (difusão coletiva); a partir de então, a periodicidade
torna-se possível, ou seja, “a capacidade da instituição jornalística de captar e
reproduzir os fatos” (p. 16). A atualidade e a universalidade, por sua vez,
respectivamente estão ligadas pela necessidade de a sociedade tomar
conhecimento dos fatos do mundo (atualidade), para utilizar tais informações de
forma prática na construção de um posicionamento ideológico ou auxiliar numa
decisão para posterior ação e, dessa maneira, não se desvincula das expectativas
da coletividade (universalidade) que se pretende atender/influenciar.
Ao distribuir os textos, reunindo os dados em seus respectivos grupos de
palavras-chave, alcançamos os resultados presentes na Tabela 2.
Tabela 2 - Número de textos por grupos de palavras-chave coletados nos jornais
Correio da Bahia e A Tarde no período de 01 a 28 de fevereiro de 2007
Com base na Tabela 2, observou-se que o tema “transposição do rio São
Francisco” teve maior recorrência na imprensa baiana (29,05%), tomando como
Grupo de palavras-chave Total % Aquecimento global – mudança climática - efeito estufa 29 19,59 Aquecimento global – mudança climática - efeito estufa – IPCC 9 6,08 Biodiesel - biocombustíveis – produção 20 13,51 São Francisco - enchente (cheia) 41 27,70 São Francisco – revitalização 2 1,35 São Francisco – transposição 43 29,05 Transposição - São Francisco – PAC 4 2,70 Total geral 148 100,00
61
imprensa baiana os maiores jornais baianos em circulação analisados na presente
pesquisa. Tal recorrência se deu de certo por conta da proximidade do tema, as
discussões polêmicas que ainda sucedem o assunto, além do anúncio do PAC -
Plano de Aceleração do Crescimento - divulgando a transposição como um de seus
pontos altos; também por sua atualidade, identificação e universalidade, critérios de
produção jornalística levantados por Lage (1989) e Groth, citado por Melo (1994).
Houve também matérias que exploraram o tema comentando o posicionamento do
governo estadual baiano dentre os demais governos de estados da bacia do São
Francisco, pois este era o único que apoiava a execução do PAC. Os temas que se
seguiram foram: enchente do rio São Francisco (27,70%), em segundo lugar, e
aquecimento global (25,67 %), em terceiro. Os resultados apontam maior
importância dada ao assunto transposição do rio São Francisco, contrariando as
expectativas da pesquisa. Isso é possivelmente em decorrência de
jornalistas/dirigentes dos jornais entenderem que a matéria aquecimento global não
se configura como próxima do público leitor e, logo, não tem identificação social
maior ou igual aos assuntos que o antecederam nesta avaliação. Mais a frente, é
explorado também o ponto de vista político desse resultado.
5.3 Alguns aspectos comparativos do anúncio ambiental na imprensa baiana:
Correio da Bahia e A Tarde
5.3.1 Escala de importância dos temas
Observou-se nos dados apresentados na tabela 3, que o jornal Correio da
Bahia privilegiou o tema transposição do rio São Francisco (42,19%), seguido pelo
tema enchente do rio São Francisco (20,31%). O tema aquecimento global (18,75%)
ocupou o terceiro lugar em escala de importância, seguido da temática biodiesel
(14,06%), quando relacionados ao número de matérias publicadas no período
estudado, bem como aos demais grupos de palavras-chave.
O jornal A Tarde concedeu a segunda posição, na escala de importância, ao
tema aquecimento global, em comparação à dada pelo Correio da Bahia,
representada na Tabela 3, pois este tema ocupou a segunda colocação (25,95%)
62
entre as temáticas analisadas, logo atrás do tema transposição do rio São Francisco
(19,05%). E, em primeiro lugar, ficou a enchente/cheia do rio São Francisco
(33,33%).
Tabela 3 - Número e percentagens de matérias jornalísticas relacionadas aos variados grupos de palavras-chave
Correio da Bahia A Tarde Grupos de palavras-chave Total % Total % Aquecimento global - mudança climática – efeito estufa 8 12,50 21 25,00 Aquecimento global – mudança climática – efeito estufa – IPCC 4 6,25 5 5.95 Biodiesel - biocombustíveis – produção 9 14,06 11 13,10 São Francisco - enchente/cheia 13 20,31 28 33,33 Transposição - São Francisco 27 42,19 16 19,05 Transposição - São Francisco – PAC 3 4,69 1 1,19 São Francisco – revitalização - - 2 2,38 Total geral 64 100,00 84 100,00
Baseando-se em características do jornalismo discutidas no tópico anterior,
pode-se dizer que, dentre os demais temas, o aquecimento global não é
considerado um assunto com proximidade maior ou igual às discussões acerca do
rio São Francisco para ambos os jornais; acredita-se ser reflexo de uma percepção
errônea disseminada na sociedade que acaba por ser considerado, na figura dos
jornalistas/dirigentes e da própria coletividade, um tema de relevância social de
proporções planetárias menos importante que polêmicas envolvendo o rio São
Francisco, quem apresenta uma proximidade física dos consumidores e produtores
da notícia. Embora o aquecimento global seja associado, com freqüência, a
catástrofes naturais, a enchente do rio São Francisco, em nenhum momento, foi
vinculada ao fenômeno, que também poderia ser reflexo do AG; assim, um
especialista como fonte discutiria o campo das possibilidades, aumentando a
variedade de pontos de vista, empobrecida por interesses políticos, que se comenta
ainda nesta seção.
Nesse sentido, tais resultados vêm corroborar o que afirma o Center of
Journalism Environmental sobre a necessidade de jornalistas mais bem informados,
pois, embora os problemas ambientais tenham se tornado, a cada dia, questões
mais complexas, mesmo assim as decisões referentes a esses temas têm de ser
tomadas, tendo os meios de comunicação responsabilidade em como tais escolhas
63
serão entendidas pela coletividade. Assim, tais profissionais devem estar preparados
para apresentar os fatos e suas variadas interpretações.
Observa-se a predominância da temática enchente do rio São Francisco na
editoria “Poder”16, dos dados analisados no jornal Correio da Bahia, notadamente
dedicada aos temas políticos; pode-se inferir que a recorrência a este tema voltou-se
a demonstrar ao leitor a lentidão do governo do Estado em atender os desabrigados
pela cheia. É sabido que, no período de análise das unidades, o maior adversário
político do governo do estado era o senador Antonio Carlos Magalhães (ACM), sua
família é proprietária do jornal Correio da Bahia e demais veículos de comunicação
constituintes da Rede Bahia. Tal leitura corrobora o que Bosquetti (2006) comenta
sobre o fato de o domínio da informação estar diretamente ligada ao poder de
intervir e reorientar as atividades humanas e da sociedade com a natureza. Assim, a
editoria “Poder” parece ter tentado demonstrar aos leitores que o governo estadual
não estava preparado para atender às necessidades da população atingida pela
cheia do rio São Francisco. Lembra-se aqui o que Peterson et al., citado por
Bosquetti (2006), afirmaram: as comunicações têm sido usadas por governantes ou
grupos mais poderosos para estabelecer o poder e o controle social, em todas as
sociedades.
Bem assim, o nome da editoria que trata dos assuntos ligados à política no
jornal Correio da Bahia, “poder”, tem uma relação íntima com o que parece ser o
intuito do veículo: interferir e reorientar a opinião do leitor com base nos temas
abordados em suas publicações. Essa realidade lembra que a mídia, em
democracias liberais, assumiu um caráter econômico por se constituir como um
negócio privado, ou seja, que visa aferir benefícios aos proprietários, submetendo-se
a parâmetros comerciais (MOTTA et al., 2006). O ideal seria o contrário, o veículo
trazer benefícios aos leitores, pois os negócios privados têm compromissos de outra
ordem (BUENO, 2007).
A base dessa inferência citada – os dados quantitativos – também faria
sentido se, no caso do jornal A Tarde, não fosse o elevado número de matérias
ambientais (84) e sua distribuição, em certa medida, semelhante entre os temas AG
(26), cheia do rio São Francisco (28) e transposição do rio São Francisco (17).
16 Editoria: Cada equipe ou seção que constituem a Redação do jornal. Cada editoria é responsável pela cobertura de campos temáticos pré-determinados (FOLHA, 2000).
64
Pode-se observar, a partir desses resultados, a importância relativa do tema
rio São Francisco, no período em análise, tanto no que se refere às matérias sobre a
transposição, quanto às catástrofes naturais como enchentes etc. São contribuições
que podem ter influenciado essa prioridade do Correio da Bahia e uma relevância
considerável no A Tarde o fato de o Rio São Francisco figurar como um tema mais
próximo do imaginário coletivo dos produtores das notícias do que o aquecimento
global; também o fato de o jornal Correio da Bahia ser, atualmente, um jornal de
oposição ao governo estadual, de forte influência política no Estado, e por isso as
matérias relacionadas ao Rio São Francisco figurarem predominantemente na
editoria de política, e serem recorrentes durante todo o mês de fevereiro, procurando
demonstrar a lentidão do governo estadual em atender os municípios atingidos pela
enchente.
Perterson et al., citados por Bosquetti (2006), falam sobre controle social
através das comunicações. Esse controle parece ganhar mais força na modernidade
devido à mudança, característica preponderante da modernidade, esta mais
influenciada pela reflexividade – que é a constante prática de examinar as ações
sociais à luz de novas informações – e que se tornou mais radical na modernidade
(GIDDENS, 1991). Tais informações, que se coadunam às reflexões sobre a
fragmentação do sujeito sociológico (HALL, 2004), reunidas, levam a uma
ponderação sobre a responsabilidade das comunicações, em especial o jornalismo
(objeto desta pesquisa), nas necessárias mudanças institucionais da sociedade
moderna, as quais os sociólogos ambientais defendem (SPAARGAREN; MOL, 2002;
2003). Assim, diante das influências dos sistemas culturais na formação do sujeito
sociológico e, em avanço, essa característica de constante mudança do sujeito
moderno (reflexividade), considera-se que ao sujeito moderno é creditado como uma
celebração móvel. Nesse sentido, entende-se que os sistemas de comunicação têm
responsabilidade nessa mudança por serem disseminadores dos sistemas culturais
de que fala Hall (2004).
5.3.2 Penetração da temática ambiental na primeira página
A manchete é dada ao assunto de maior importância no dia, ou seja, é dada a
principal notícia do dia (FOLHA, 2000). Junta-se a isso o critério de importância
65
comentado, dentre outros, por Erbolato (2004) que leva à escolha da notícia,
relatando que tal critério está nas mãos do editor. Já a chamada ou chamada de
capa é caracterizada por um texto curto, na primeira página, que remete o leitor para
a cobertura extensiva. Contudo, a pesquisa revelou que as chamadas foram
utilizadas com referência aos temas ambientais, não sendo explorados em
manchete alguma.
Assim, consideraram-se como relevantes para os dirigentes dos jornais as
matérias que obtiveram chamadas na capa. Dessa maneira, apurou-se que, de
forma generalizada, a temática ambiental tem pouca penetração nos interesses
editoriais, pois, contabilizando todas as matérias dos diversos grupos de palavras-
chave no Correio da Bahia, apenas 20,31% mereceram espaço na primeira página,
conforme Tabela 4. Para fins de contabilização, representamos na tabela as
matérias que obtiveram chamadas na capa (Sim) e que não obtiveram (Não). No A
Tarde, apenas 26,19% tiveram chamada na capa. Comparativamente, os temas
enchente do rio São Francisco (Correio da Bahia) e transposição do rio São
Francisco (A Tarde) tiveram espaço privilegiado em detrimento do assunto
aquecimento global, como se pode comprovar na Tabela 5.
Tabela 4 - Número de matérias que mereceram chamada na capa, relacionadas em todos os grupos de palavras-chave
Correio da Bahia A Tarde Chamada na capa Total % Total % Não 51 79,69 62 73,81 Sim 13 20,31 22 26,19 Total geral 64 100,00 84 100,00
Tabela 5 - Grupos de palavras-chave específicos por número de chamadas na capa
A Tarde Correio da
Bahia Grupos de palavras-chave Não Sim total não Sim total Aquecimento global - mudanças climáticas - efeito estufa 16 5 21 5 3 8 Aquecimento global - mudanças climáticas - efeito estufa – IPCC 5 5 3 1 4 Biodiesel - biocombustíveis – produção 11 11 6 3 9 São Francisco - enchente (cheia) 18 10 28 11 2 13 São Francisco – Revitalização 2 2 - - - São Francisco – transposição 10 6 16 22 5 27
66
A Tarde Correio da
Bahia Grupos de palavras-chave Não Sim total não Sim total Transposição - São Francisco – PAC 1 1 3 3 Total geral 63 21 84 50 14 64
Observam-se as semelhanças percentuais apresentadas na Tabela 4: o título,
a manchete e a chamada são elementos importantes para atrair o leitor para a
leitura da matéria e são elementos que pesam muito na pauta do dia (MONITOR,
2007). Para Jorge Pedro Souza (2001), o título tem a função de chamar a atenção,
tornar a matéria atraente, “agarrar o leitor, antecipar a história sem a esgotar,
anunciar e apresentar a história, organizar graficamente o espaço de um jornal e
ajuda a hierarquizar as peças”. Nesse sentido, a primeira página demonstra a escala
de importância dos temas, sua hierarquia.
Assim, a primeira página dos objetos estudados demonstra que a temática
ambiental ainda deve ser melhor debatida no âmbito da empresa jornalística, a fim
de que seja percebida sua importância para o desenvolvimento social e econômico -
já percebida em países desenvolvidos apresentada nas discussões de Spaargaren e
Mol (2003; 2002), bem como nos estudos de Joseph Huber e Ulrich Beck citados
por Spaargaren e Mol (2003; 2002), a saber Alemanha e Holanda – de maneira que
a temática ambiental seja observada não só do ponto de vista quantitativo, mas
também qualitativo dentro de publicações jornalística baianas, tendo ascensão no
espaço editorial, com chamadas na capa e manchetes e conquistando mais espaços
no interior dos jornais.
5.3.3 Regionalização/contextualização de temas ambientais
O interesse em contextualizar os dados de forma a trabalhar as temáticas
locais pode ser medido pelo número de matérias produzidas na redação ou
sucursais representados na Tabela 5. Destarte, no Correio da Bahia, o número de
matérias provenientes de agências de notícias, especificamente internacionais,
demonstra o compromisso em esclarecer os processos ambientais em escala local.
Assim, à medida que o número de matérias internacionais é maior que aquelas que
tratam de temas locais, considera-se que a temática local é menos valorizada. O
67
estudo revelou que 21,87% das matérias relacionadas aos temas ambientais
listados nesta pesquisa foram produzidas fora das redações do supracitado jornal,
ou seja, foram produzidas em agências de notícias ou com a colaboração de outro
órgão. No caso do A Tarde, apenas 11,90% das matérias ambientais tiveram origem
fora do jornal.
Tabela 6 - Número de matérias originárias de agências de notícias e da redação do jornal e respectivas sucursais
Bosquetti (2006) apurou, em sua análise, que o número maior de matérias
produzidas por editores jornalísticos (publicações de editores e subeditores do
encarte de O Popular), ou seja, duas manchetes, que equivalem a 12,28%, total
semelhante das agências, em detrimento de matérias provenientes do governo: um,
equivalente a 7,14% e outros (matérias não assinadas) que totalizaram três, com
percentual de 21,42%; parece ser indício de profissionais que se preocupam em
informar problemas de meio biótico e abiótico, dessa maneira, deixando de abordar
aspectos socioeconômicos.
17 Dado que 78,13% dos textos ambientais do Correio da Bahia foram produzidos nas redações e sucursais do veículo, 21,87% dos textos foram produzidos em agências de notícias. 18 Dado que 88,10% dos textos ambientais do A Tarde foram produzidos nas redações e sucursais do veículo, 11,90% dos textos foram produzidos em agências de notícias.
Correio da Bahia A Tarde Origem Total % Total % Agência Estado 1 1,56 - - Agência Estado e Reuter 1 1,19 Agência Globo 2 3,13 - - Agência Globo, Brasília - - 1 1,19 Agências Estado e Brasil - - 1 1,19 Agências Estado e EFE - - 1 1,19 Agência Nacional de Petróleo E Agência Globo 1 1,56 - - Associated Press 1 1,56 - - Cláudio Bandeira e Agências - - 1 1,19 EFE (Agência de Notícias Espanhola) 4 6,25 - - Folhapress 4 6,25 4 4,76 Folhapress, Reuter e redação - - 1 1,19 Publicação simultânea com o Jornal do Brasil 1 1,56 - - Matérias da redação e sucursais 50 78,1317 74 88,1018 Total geral 64 100,00 84 100,00
68
Trata-se de um dado interessante, entretanto, a pesquisadora atribui aos
editores jornalísticos a preocupação com determinadas questões ambientais, mas é
necessário ressaltar que, antes de manifestar uma preocupação no exemplar de um
jornal, tal preocupação já figura na linha editorial do mesmo. Dessa forma, não se
trata de uma preocupação particular do jornalista, mas do veículo em questão.19
Amaral (1978) frisa o caráter pobre da notícia produzida a poucas mãos,
como ocorre no mercado noticioso global, pois o mercado internacional de agências
de notícias é restrito, formado pela Associated Press (AP) e United Press dos
Estados Unidos, Reuter da Grã-Bretanha, France-Presse da França e TASS da
Rússia. Acrescente-se a estas as agências citadas por Bahia (1990), a Ansa, da
Itália, DPA, da Alemanha, EFE, da Espanha e a Nova China, esta última mais
influente no leste europeu e na Ásia. Entretanto, com base nos dados coletados na
pesquisa, observa-se que as informações de Amaral (1978) continuam atuais,
mormente nos jornais baianos; assim, as agências que figuram pelo mercado
noticioso baiano com matérias que chegam a ser publicadas são: AP, Reuter e
principalmente a EFE. E entre as nacionais, destacaram-se: Agência Globo, Agência
Estado e Folhapress.
Com o mercado de notícias com poucas empresas dominantes, a notícia
vendida ao atacado, como lembra Bahia (1990) e a crítica feita por Amaral (1978),
aplica-se aqui. A mesma notícia produzida por poucas empresas traz “monotonia e
insipidez” ao noticiário, além do preocupante controle sobre informações políticas.
Assim entende-se que, nos jornais baianos, figuram o interesse por temáticas
ambientais, demonstrado pela produção de matérias sobre meio ambiente, ou
relacionados ao mesmo; entretanto, é necessário o aumento na variedade dos
pontos de vista abordados nas mesmas, seja pela introdução de novas empresas
noticiosas no mercado, ou pela recorrência a novas fontes que apresentem
pensamentos variados sobre os temas abordados e até uma variação maior de
temas, pois ainda se faz indispensável a sensibilização da sociedade moderna para
buscar alternativas para a crise ambiental que ora vive-se.
19 Um exemplo de idéias defendidas por uma linha editorial é a da Folha de São Paulo, que, no princípio, era apenas a “Folha da Noite”; seu interesse era atrair leitores das classes média urbana e operária. Depois foi lançado o “Folha da Manhã”, da mesma empresa. Posteriormente, em 1931, os jornais foram vendidos e sua linha editorial foi modificada, seu objetivo era defender os interesses dos agricultores paulistas. Mais a frente, em 1945, o controle acionário da empresa passou às mãos do Jornalista José Nabantino e mudou novamente sua linha editorial, que voltou a defender os interesses da classe média urbana (FOLHA, 2000).
69
5.4 O conteúdo específico: aquecimento global
Como o foco da pesquisa é a temática aquecimento global (AG), optou-se por
apresentar os resultados em separado, portanto, reuniram-se, nessa seção, os
resultados dos seguintes grupos de palavras-chave:
Quadro 2 - Grupos de palavras-chave relacionados ao tema aquecimento global, discriminando os textos que fizeram menção ao relatório do IPCC.
5.4.1 Aquecimento global e IPCC: sua importância na imprensa baiana
Dos temas ambientais observados pela pesquisa, o aquecimento global teve
12 ocorrências, o que reflete 18,75% do total de ocorrências ambientais, no
montante de 64 analisadas no CB; destas, três relacionaram o tema ao Relatório do
IPCC, o que reflete 4,68%. O A Tarde apresentou 30,95% (26), um número bastante
superior em comparação ao CB; destes, apenas 5,95% (5) relacionaram-se com o
relatório do IPCC, conforme Tabela 3. Em separado, os textos sobre AG
relacionados ao IPCC, no CB, ocuparam apenas 33,33%, no A Tarde apenas
19,23%, conforme Tabela 7:
Tabela 7 - Número de matérias por grupo de palavras-chave apenas sobre aquecimento global
Correio da Bahia A Tarde Grupo de palavras-chave Total % Total % Aquecimento global – mudança climática – efeito estufa 8 66,67 21 80,77 Aquecimento global – mudança climática – efeito estufa – IPCC 4 33,33 5 19,23 Total geral 12 100,00% 26 100,00%
Ao estudar os números apresentados na Tabela 7, percebe-se a
superioridade dos dados referentes ao jornal A Tarde que publicou mais que o dobro
de matérias sobre o assunto em relação aos dados do Correio da Bahia.
Grupos de palavras-chave Aquecimento global – mudança climática – efeito estufa Aquecimento global – mudança climática – efeito estufa – IPCC
70
Observa-se que os dados divulgados pelo relatório do IPCC não obtiveram
ascensão no espaço editorial, contrariando o que foi feito na imprensa televisiva,
jornalismo considerado superficial por Erbolato (2004) por sua velocidade. Para
Erbolato (2004), o jornalismo impresso possibilita maior profundidade das
informações e interpretação.
5.4.2 Aquecimento global dá manchete?
O Novo Manual da Redação da Folha de São Paulo (2000) define manchete
como o título principal da edição, ou o assunto de mais importância do dia recebe a
manchete da primeira página. Há também a manchete interna, ou seja, o assunto de
maior importância de uma página recebe sua manchete.
Entretanto, não houve manchete para o tema aquecimento global em ambos
os jornais da pesquisa. Assim, dos textos sobre AG do CB, apenas 25% (3),
conforme Tabela 8, mereceram chamada de capa, contra 19,23% (5) do A Tarde.
Tabela 8 - Número de matérias sobre aquecimento global que tiveram chamada na capa
Correio da Bahia A Tarde Chamada na capa Total % Total % Não 9 75,00 21 80,77 Sim 3 25,00 5 19,23 Total geral 12 100,00 26 100,00
Para Sousa (2001), o uso dos diagramas, mapas e formas gráficas de
hierarquizar e sistematizar a informação leva a concluir que foi percebido que os
leitores são mais receptivos se o conteúdo é interessante e a paginação do produto
garante legibilidade e clareza tornando o jornal mais bonito. Assim, elementos como
a manchete e a chamada na capa fazem referência à hierarquização da notícia, o
que é mais importante no dia, ou na edição conforme Rabaça e Barbosa (1978), e é
posicionado como matéria principal através da manchete externa; temas menos
importantes, embora de relevância, recebem chamada na capa, a fim de chamar a
atenção do leitor para matérias internas. Nesse caso, destaca-se que, para os textos
sobre aquecimento global, não houve manchete, em ambos os jornais, notificando-
71
se apenas chamadas na capa, que, em número percentual, não alcançou nem a
metade dos textos contabilizados na pesquisa. Essa hierarquização demonstrada
pelo posicionamento dos textos avaliados evidencia o grau de importância do tema
aquecimento global nas publicações estudadas. As figuras a seguir demonstram o
espaço dedicado ao tema em tamanho real.
Figura 1 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal A Tarde. Data: 03/02/2007.
90x56mm
760x318mm
72
Figura 2 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal A
Tarde. Data: 03/02/2007.
30x26mm
760x318mm
73
Figura 3 - Chamada na capa de texto (tecnicamente considerado artigo editorial)
referente ao aquecimento global do jornal A Tarde. Data: 04/02/2007.
760x318mm
260x55mm
74
Figura 4 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal A
Tarde. Data: 06/02/2007.
Figura 5 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal A Tarde. Data: 21/02/2007.
760x318mm
39x51mm
760x318mm
52x63mm
75
Figura 6 - Chamada na capa de duas matérias referente ao aquecimento global do jornal Correio da Bahia. Data: 03/02/2007.
Figura 7 - Chamada na capa de matéria referente ao aquecimento global do jornal Correio da Bahia. Data: 04/02/2007.
760x318mm 85x45mm
760x318mm
56x47mm
76
Essa seção vem demonstrar, através de mais um fator estudado, que os
jornais baianos ainda necessitam ampliar seu ponto de vista sobre o que é de
interesse da coletividade, ou seja, conhecer de fato o que tem ocorrido no campo
das ciências ambientais, que refletem na qualidade de vida de todos, dado que o
fenômeno de que tratamos caracteriza-se por ser transnacional, sem fronteiras, pois
atingirá a todos, caso não seja contornado, e não tem sido explorado de acordo com
sua gravidade. Ao fazer isso, contribuirá para que a sociedade tenha uma idéia mais
realista de sua própria realidade. Disseminar idéias diferenciadas é importante para
que a população construa sua opinião acerca da crise ambiental que ora vivemos,
mas sem uma diagramação, hierarquização que priorize esse debate tal iniciativa se
anula, pois um texto que não é lido não cumpre a sua função.
5.4.3 Regionalização/contextualização das matérias: o tema aquecimento global,
precisão e visibilidade
O interesse em regionalizar os temas foram observados a partir do local de
produção das matérias – redação e, ou sucursais, ou agência de notícias e, ou
jornais de outras regiões – assim, a presente pesquisa se alia ao fato de que a
notícia local é que chama mais a atenção dos leitores.
A análise sobre a origem das matérias revelou que, no CB, metade (6) dos
textos relacionados ao aquecimento global foi produzida por agências de notícias.
Este número representa 42,85% entre todas (14)20 as matérias analisadas durante a
pesquisa, que foram produzidas fora da redação e sucursais do Correio da Bahia
(observe Tabela 6). Isso quer dizer que um número bastante representativo das
matérias provenientes de agências foi sobre o aquecimento global. Ou seja, esta
temática não figura entre aquelas que merecem matérias contextualizadas e que
devem ser exemplificadas em situações regionais.
20 Tal valor é resultado da subtração do total geral de textos do Correio da Bahia pelo total de textos da redação e sucursais, ou seja, 64-50=14 (total de textos produzidos fora da redação e sucursais).
77
1 1
4
6
0
2
4
6
8
1
Agências
Agência Estado
Associated Press
EFE
Redação e sucursais
Figura 8 - Local de produção matérias, em porcentagens, publicadas no Correio da Bahia.
Nas análises sobre o A Tarde, observou-se que 19,23% (5) das matérias
sobre AG foram produzidas fora da redação e, ou sucursais. Tal número representa
50% do total de textos (10) dos variados grupos de palavras-chave (Tabela 6)
analisados na supracitada unidade de pesquisa.
1 1 1 1 1
21
0
5
10
15
20
25
1
Agências
Agência Estado eReutersAgência Globo, Brasília
Agências Estado e EFE
Folhapress
Folhapress, Reuters eredaçãoRedação/sucursais
Figura 9 - Local de produção matérias, em porcentagens, publicadas no A Tarde.
Targino (1994), citando Silva, destaca que a emissão de informações deve ter
função didática, oportunizando apreensão de significado, no intuito de provocar
mudanças comportamentais e, apesar de o jornalismo ambiental ser uma
subespecialização do jornalismo, ele assimila funções do jornalismo científico, bem
como suas disfunções. Nos resultados apresentados nesta seção, observa-se uma
das disfunções destacadas pela autora, o “afeganistantismo”, ou seja, o destaque
dado a outras localidades, em detrimento do contexto local.
O próprio Honoré de Balzac, citado Amaral (1978), já questionava o grau de
controle sobre informações políticas que as agências de notícias poderiam ter,
78
devido ao predomínio de poucas empresas no mercado, a conseqüente pobreza das
notícias e uniformidade das interpretações do material comercializado pelas
mesmas.
Portanto, é preocupante o fato de os jornais mais conhecidos do Estado da
Bahia não priorizarem a produção de notícias sobre aquecimento global,
considerando aspectos regionais, que seriam alcançadas se as mesmas fossem
produzidas localmente, tais resultados levam a crer que existe um ciclo vicioso em
que não se sabe, mas é necessário estudar, se a percepção do tema como um fato
distante demonstrado pelos dados discutidos anteriormente, sobre a escala de
importância dada aos temas estudados, são reflexo da percepção dos jornalistas e
dirigentes que influenciam a coletividade ou das agências amplamente utilizadas
para tratar do tema, ou até da própria comunidade. Isso leva a lembrar o que dizem
algumas conclusões e recomendações do relatório Many Voices, que destaca a
comunicação como um direito humano fundamental, responsável pela manutenção
de muitos outros direitos. Entretanto, o Center of Environmental Journalism (2007)
destaca a necessidade de jornalistas mais bem informados para atender à
sociedade de maneira que a definição de políticas feitas pelos tomadores de decisão
sejam entendidas pelos cidadãos; os meios de comunicação contribuem
possibilitando essa interpretação, pois os media são parte vital desse processo.
Assim, no aspecto origem/contextualização da matéria, a qualidade e
precisão são depostas de sua posição, dentre as características do produto
jornalístico, contrariando o que apregoa a SEJ (2007), Society of Environmental
Journalism sobre a reportagem ambiental. Sua missão seria aumentar o
entendimento das questões ambientais, para tanto, é necessário possibilitar o
aumento da qualidade, precisão e visibilidade dessas questões. Mas o uso prioritário
de matérias provenientes de agências deixa a desejar no caráter precisão e
conseqüentemente visibilidade, pois passa a impressão de que este não é um
problema próximo da comunidade leitora do veículo, pois não exemplifica com fatos
locais, contextualizando, de forma local ou regional, um problema que é global.
Abre-se aqui uma seção para discorrer um pouco sobre essa dualidade entre o
global e o local. Stuart Hall (1994), em seu quinto capítulo, fala de pelo menos uma
“contratendência” acerca do assunto. Ele destaca que, em vista do fato de a
globalização estar homogeneizando as culturas – através dos sistemas culturais dos
quais já se tratou aqui (interferindo na formação do sujeito moderno) –, nesse
79
sentido, para alguns estudiosos, falar em homogeneização cultural seria o mesmo
que prever o fim da unidade das culturas nacionais. O autor cita Kevin Robin, que
acredita que, apesar da homogeneização, também há uma tendência a uma
fascinação pelo diferente juntamente com a mercantilização da etnia. Dessa forma,
existe, com a interferência do global, um novo interesse pelo local, que, deixando
claro, não se faz referências a velhas identidades. Nesse sentido, está a importância
de tratar temas locais e, ou regionais impulsionado pelo local ou vice-versa. Hall
(1994) afirma ainda que “é improvável que a globalização vá simplesmente destruir
as identidades nacionais” e completa, crendo que é mais plausível se produzir novas
identificações “globais” e novas identificações “locais” (grifos do autor).
Nesse ponto, o desenvolvimento jornalístico brasileiro, especificamente, se
depara com o que Rossi (1980) já discutia: a falta de especializações voltadas aos
jornalistas, que ainda hoje são vistos como enciclopédias ambulantes por parte do
grande público. Embora essa realidade venha se modificando, as
macroespecializações de que fala o autor, em política e economia, já se firmaram,
mas ainda são incipientes especializações de áreas específicas; como alternativa
recorre-se aos arquivos sobre o assunto em questão ou a especialistas que detêm o
conhecimento, tornando a coletividade refém dos especialistas, conforme Beck
destaca em sua Teoria da Sociedade de Risco (apud SPAARGAREN; MOL, 2003).
Nesse sentido, lembra-se uma das disfunções do jornalismo que se pode
encontrar em textos escritos tanto por especialistas/cientistas ou mesmo jornalistas
que não têm o compromisso ético com sua missão na sociedade, a filosofia do time
de casa, destacada por Targino (1994, p. 12), citando Silva: que é a “omissão de
dados julgados nocivos ao progresso de ‘sua’ cidade”, ou de sua pesquisa, bem
como de seus financiadores.
Além do mais, a recorrência restrita a especialistas traz um grande risco.
Geralmente os especialistas escrevem em linguagem própria, sendo inteligível para
outros especialistas, que não é corriqueira para o leitor médio de jornais diários,
tornando a leitura de difícil entendimento para o público a que se destina a
publicação, como lembra Rossi (1980).
Bem assim, destaca-se o que Trigueiro disse e que se coaduna com a missão
da SEJ (2007), relatada anteriormente: é necessário simplificar os temas sem
banalizá-los. Para esse autor, o especialista deve assumir o papel de educador e ao
jornalista cabe transformar a informação em notícia inteligível, configurando o
80
jornalismo ambiental como um mediador da informação técnica para que a
coletividade possa compreendê-la.
Os resultados dessa seção confirmam o que Villar (1997) afirmou 11 anos
atrás sobre a recorrência a pautas provenientes de agências internacionais, quando
o assunto é meio ambiente. Nesse caso, especificamente, quando o assunto é
aquecimento global, parte considerável das pautas é proveniente de agências de
notícias, considerando os textos em sua totalidade, no Correio da Bahia (50%), ou
aliando textos da redação local, como ocorre no A Tarde (19,23%), que podem ser
observados especificamente nas Figuras 8 e 9, na página 76. Entretanto, cabe
ressaltar que, dentre todas as temáticas abordadas nessa pesquisa, para além do
aquecimento global, figuraram, em sua maioria, textos originários das redações e
sucursais.
5.4.4 Identificação: chapéu, mais uma forma de atrair o leitor
Outro fator observado foi a identificação presente acima do título chamada no
jargão jornalístico de chapéu. Esta identificação adianta dados que podem atrair o
leitor para a leitura da matéria, antes mesmo da apresentação do título. Dentre as
matérias sobre o aquecimento global (12) no CB, apenas 25% (3) tiveram uma
identificação, especificamente falando do aquecimento global, destacou-se apenas
8,33% (1), conforme Tabela 10. Na unidade de análise jornal A Tarde, com 26
textos, houve mais chapéus; 53,84% (14) das matérias apresentaram tal
identificação, que tiveram significantes variados, predominantemente relacionados à
temática ambiental, pois se utilizaram palavras como: aquecimento global, ambiente,
clima, efeito estufa, meio ambiente, totalizando 49,99%. Apenas um dos chapéus –
UFBA – não tinha relação com a temática AG. Especificamente, o chapéu AG (ou
efeito estufa) apresentou-se em 23,08% das matérias, conforme Tabela 10.
Tabela 9 - Quantidade de matérias que tiveram chapéu (tema aquecimento global) no Correio da Bahia
Identificação Total % Aquecimento Global 1 8,33
Câmara 1 8,33 Europa 1 8,33
81
Identificação Total % Matérias sem chapéu 9 75,00 Total geral 12 100,00
Tabela 10 - Quantidade de matérias que tiveram chapéu (tema aquecimento global) no A Tarde
Identificação Total % Ambiente 2 7,69 Aquecimento global 5 19,23 Clima 2 7,69 Efeito estufa 1 3,85 Meio Ambiente 3 11,54 UFBA 1 3,85 Matérias sem identificação alguma 12 46,15 Total geral 26 100,00
Segundo Sousa (2001), os elementos de design eram prescindíveis antes do
século XX, o que importava era o conteúdo, mas hoje se percebe a importância do
design de imprensa ou infografia para chamar a atenção do leitor para o produto
jornalístico. Ao que parece, o Correio da Bahia encontra-se em desvantagem nessa
escala de evolução no âmbito dos elementos do jornalismo impresso de que fala o
autor. O A Tarde explorou mais o uso do chapéu e relacionou com significantes
conhecidos que faziam referência ao meio ambiente.
5.4.5 Jornalismo impresso, jornalismo em profundidade: e a Bahia?
Diz-se que a morte de jornais e revistas já é anunciada há mais ou menos um
século, entretanto, estudos apontam que a sobrevivência destes veículos está no
fato de os mesmos poderem ofertar uma notícia em profundidade, atentando para os
antecedentes, mapeando o passado dos envolvidos e comparando-o a
acontecimentos semelhantes; dessa forma, compete com a rapidez e a vivacidade
de outros veículos, como a televisão (ERBOLATO, 2004). Segundo a pesquisa
Newspaper Daily Section Readership 2007, solicitada pela Newspaper Association
of América, 83% dos leitores adultos recorrem ao jornal diário em busca de notícias
locais, 56% buscam notícias nacionais/internacionais e 88% buscam principalmente
as notícias da primeira página (NAA, 2007). Uma outra enquete, da Newspaper
82
Association of America e pela American Society of Newspaper Editors, feita em 1997
apontou que os leitores buscam os jornais quando querem saber informações de
sua comunidade. Para 64% dos leitores, os jornais diários são boas fontes de
notícias, contra 41% que optaram pela televisão, 40%, pelo rádio e 27%, pelas
revistas (SCHARF, 2004).
Apesar disso, no Correio da Bahia, as variadas temáticas ambientais
obtiveram 21,87% (14) de suas matérias produzidas fora da redação e, ou sucursais
(Tabela 6), especificamente, o tema AG, de um total de 12 matérias, 50% (6) foram
produzidas em agências de notícias (Figura 8). Tal resultado aponta que, no caso
das temáticas ambientais, o CB tem atendido às expectativas que os leitores
alimentam ao continuarem a recorrer ao jornalismo impresso, ou seja, a busca por
notícias mais próximas do seu dia-a-dia; entretanto, no caso do tema AG, tal o CB
recorreu a agências de notícias em metade das publicações, volume este que
poderia ter sido superior, seguindo a tendência das demais temáticas emergidas da
leitura flutuante.
Dessa forma, esperava-se que as discussões levantadas pelo relatório do
IPCC fossem tratadas através de acontecimentos locais, seja pelas matérias
veiculadas em mídia televisiva, como queimadas na Mata Atlântica, ou ovos de
tartarugas encontrados cozidos nas praias que servem de berçário para essa
espécie, ou até resultados de pesquisas científicas, bem como o posicionamento de
pesquisadores locais relacionando o tema com realidades estaduais ou nacionais.
Os resultados do A Tarde apontaram que 11,90% (10) de suas matérias
ambientais foram produzidas fora das redações e, ou sucursais do jornal (Tabela 6);
destas, 50,00% (5) se dedicavam ao tema aquecimento global (Figura 9). Desses
dados, aliados aos dados do CB, pode-se perceber que o AG tem uma tendência em
ser considerado menos importante que temáticas difundidas em debates públicos de
caráter econômico, como o biodiesel, que levanta interesses não só nacionais como
internacionais. Nos resultados do A Tarde, das matérias relacionadas ao tema
biodiesel (11), apenas uma foi produzida em agência de notícias. No CB, dos nove
textos sobre biodiesel, quatro foram produzidos fora da redação e sucursais.
Um elemento importante na apresentação da matéria é o título, uma forma de
identificação da matéria antes mesmo da leitura do texto. Dentre os elementos que
mais chamam a atenção do leitor estão gráficos e tabelas (80%); fotos (75%); títulos
(60%); anúncios (54%); chamadas (32%); subtítulos (29%) e textos (25%). Pode-se
83
observar que, em relação aos elementos textuais, os títulos ocupam o primeiro lugar
entre os que chamam a atenção do leitor (SCHARF, 2004). O resultado da pesquisa
mostrou que, no CB, apenas 25% (3) das matérias sobre AG obtiveram um chapéu
e, destas, 8,33% (1) obtiveram um chapéu que se relacionasse com o tema como
AG, efeito estufa ou mudança climática (Tabela 9). No caso do A Tarde, 53,85% (14)
das matérias sobre AG obtiveram chapéu; destas, apenas 23,08% das identificações
referiam-se ao AG (ou efeito estufa). Logo se observa que um tema, como o AG, de
interesse planetário – inclusive sobre os seus reais causadores – não tem merecido
uma exploração maior de maneira a chamar mais atenção do leitor para o assunto,
aproveitando melhor os elementos infográficos.
É importante salientar que, sobre a questão do aquecimento global, ainda
existem controvérsias, embora esses variados pontos de vista ou modos de
apresentar o tema não sejam discutidos, ou mesmo utilizados nesses jornais diários.
5.5 Análise de co-ocorrência nas matérias sobre aquecimento global relacionadas ao IPCC
Conforme procedimentos metodológicos e técnicas do item 4, foi executada a
análise de co-ocorrências dos textos que faziam referência ao aquecimento global
juntamente com o relatório do IPCC.
Tal análise tem como questão central a reflexão sobre os sentidos em que
são utilizadas as variadas ocorrências das palavras-chave aquecimento global e
IPCC, nos jornais. Dessa maneira, busca-se compreendê-los, através das leituras
dos textos publicados pelos objetos da pesquisa sobre o tema aquecimento global,
bem como dos conceitos utilizados.
Através da análise de conteúdo das matérias publicadas nos jornais
analisados, partindo-se da seleção das palavras-chave, do levantamento de
freqüência com que ocorreram no texto e na identificação das co-ocorrências com
associações positivas e, ou negativas e, ou neutras, montou-se um quadro geral,
que possibilitou a exploração dos resultados. Assim, apresentam-se os dados no
Quadro 3:
Quadro 3 - Co-ocorrências, relações do jornal A Tarde associadas à palavra-chave aquecimento global, IPCC, meio ambiente e mudança climática.
84
Jornal A Tarde
Unidades de análise
5
Relações Associações
positivas Nº Associações
negativas Nº Associações
neutras Nº
Discussão global
1 Associação física (catástrofes)
9 Comunidade científica
2
Combustíveis fósseis
1 Conseqüências (gravidade)
3
Atividade humana (incentivo/provocado)
2
Conseqüências econômicas
4
Aquecimento global (18)
IPCC 1 Aspectos da produção
agrícola (decréscimo) 2 Comunidade
científica 2
Conseqüências físicas (catástrofes naturais)
5 Termos empregados (fortes)
1
Projeção pessimista 1 Aprovação unanimidade
1
IPCC (11)
Gravidade das conseqüências
1
Causa humana 1 Mudança climática (2) Protesto 1
Homem (danos) 1 Instituição
pública 3
Políticas públicas
1
Meio ambiente (6)
Fundos municipais (recursos financeiros)
1
Através do sentido das palavras nas visões dos objetos da pesquisa,
projetam-se os significados disseminados pelo veículo de comunicação, associados,
por exemplo, aos aspectos físicos negativos, como catástrofes “naturais”, que
também são associadas a atividades humanas. Destaca-se que se apresenta aqui
um quadro geral, no qual associações de caráter conotativo semelhante foram
reunidas em um significante. Os quadros com associações diferenciadas e mais
especificas encontram-se no Apêndice A.
85
Observa-se que as associações negativas, como se esperava, são
quantitativamente mais representativas que as positivas, assim como as de caráter
neutro em ambos os jornais.
Buscando-se o sentido dessas relações nas visões dos objetos da pesquisa,
põem-se em relevo as relações mais freqüentes das palavras “aquecimento global,
IPCC, mudança climática e meio ambiente”.
Em apreciação, infere-se que o aquecimento global, no jornal A Tarde,
encontra-se associado mormente a catástrofes naturais, configurando as principais
associações negativas, associando ao conceito de desasters já citado. Embora em
número pequeno, a palavra associa-se à ação humana como causadora do
fenômeno, conseqüências locais e gravidade do fenômeno de forma geral.
Relevante número de ocorrências (4) apresenta preocupações do ponto de
vista econômico, como a queda na produção de arroz projetada para o futuro, a
infertilidade do solo, além da produção agropecuária que pode cair devido a abortos
em animais, ocasionando a queda na produção de leite, assim como a produção de
ovos.
A surpresa fica para uma das especificações positivas: as vantagens que o
Brasil levará nesse contexto catastrófico por seu avanço na produção de
biocombustíveis, além de propostas de discussões acerca dos problemas para
propor novas alternativas. O inesperado encontra-se no fato de o jornal demonstrar
a produção como uma alternativa positiva de forma unilateral. Entretanto, é
necessário lembrar que a produção de biocombustíveis, em sua grande maioria,
está ligada à monocultura, incentivando o desmatamento, em especial em áreas já
degradadas. Estas monoculturas, como outros ciclos econômicos como o do café,
da mineração, e da pecuária (YOUNG, 2005), poderão avançar e forçar o aumento
de fronteiras agrícolas, desmatando áreas ainda não estudadas, como ocorre na
Amazônia. Dentre as associações neutras, estão dados históricos sobre
aquecimento global, como o primeiro IPCC, além da comunidade científica que
debate o assunto.
Ao que se refere ao IPCC, existem associações semelhantes às do
aquecimento global, ou seja, estão associadas ao relatório do IPCC as catástrofes
naturais, os prejuízos no campo econômico, bem como a gravidade das
conseqüências do AG. Nas associações neutras, figuram novamente a comunidade
científica e organização relacionada ao clima, além da aprovação por unanimidade
86
dos termos presentes no relatório do IPCC. Não existem associações positivas
relacionadas ao IPCC nas matérias do A Tarde.
Avaliou-se também a palavra-chave mudança climática, que obteve apenas
duas ocorrências nos cinco textos analisados; associadas a ela encontraram-se
restritamente associações negativas, prioritariamente relativas à ação humana. Uma
peculiaridade encontrada foram as relações estritamente neutras relativas à palavra-
chave meio ambiente, que esteve ligada a instituições sociais e, ou públicas, como
secretarias de governo voltadas a questões do meio ambiente, o que demonstra um
avanço nos debates sobre essa temática, não pendendo apenas para questões
bióticas, como a perda de biodiversidade, mas também político-econômicas como
Spaargaren e Mol já afirmaram (2002, 2003).
No caso do Correio da Bahia, encontra-se uma marcante diferença: as
associações feitas à palavra-chave aquecimento global, que podem ser observadas
no Quadro 4.
Quadro 4 - Co-ocorrências relações do jornal Correio da Bahia associadas à palavra-chave aquecimento global, IPCC, meio ambiente e mudança climática
Correio da Bahia
Unidades de análise:
4
Relações
Associações positivas
Nº Associações negativas
Nº Associações Neutras
Nº
Alerta 1 Emissões de gases 5 Resposta imediata 1
Conseqüências (associação física)
3 Desmatamento Amazônia (monitoramento)
1
Causa humana 2 Relatório/Documento IPCC
1
Amazônia (possível conseqüência/afetar)
2
Criação de novo organismo de proteção
1
Brasil (responsável/causa)
1
Países industrializados (causa)
1
Inequívoco 1
Aquecimento global (16)
Evidente 1
87
Correio da Bahia
Unidades de análise:
4
Relações
Associações positivas
Nº Associações negativas
Nº Associações Neutras
Nº
Irreversível 1 Previsões
preocupantes 3 Advertência 1
Aquecimento global Projeções (previsões/desdobramentos dos efeitos do AG)
1
Acusações Presidente (organização)
1
Projeções de altas temperaturas
Preocupação 1
IPCC (9)
Eqüidade crítica Mudança climática (2)
Atividade humana
Organização da ONU (Onue)
1 Espaço físico e biológico
1
Governo mundial
1
Projeções sobre mudanças climáticas
1
Meio ambiente (5)
Encontro internacional
1
Em referência aos dados do jornal do Correio da Bahia, observou-se que o
aquecimento global está principalmente ligado às emissões de gases, essa
associação física, bem como as freqüentes associações negativas às
conseqüências do aquecimento global, novamente referências físicas (aumento de
temperatura, enchentes, chuvas e tempestades), demonstram que ainda é
necessário abranger a percepção dos produtores das notícias para observarem o
caráter transdisciplinar do meio ambiente, assim como os fenômenos ligados ao
mesmo, como já destacou Neither (1998).
Nesse ponto, é interessante fazer um contraponto com os dados do A Tarde,
que já faz associações de caráter econômico aos danos projetados pela mudança
climática, possivelmente por conta de perdas materiais, que interessam a uma
sociedade neoliberal, como a que se vive na contemporaneidade, mas que
demonstram um avanço na visão sobre o meio ambiente, que conquista espaços ao
lado de instituições políticas e econômicas, como já foi observado em países
88
europeus como a Alemanha e a Holanda (SPAARGAREN; MOL, 2002). A causa
humana também é uma associação negativa relacionada ao fenômeno, considerada
quantitativamente relevante para a pesquisa, dado o número de textos analisados.
A partir da perspectiva das teorias sociológicas abordadas na seção 2,
observa-se a gravidade dos problemas ambientais na modernidade e sua
abrangência. As mudanças potencializadas, pelo que se chama, no campo
sociológico, de TME, já avançam na Europa, rumo a uma organização
ecologicamente racional de produção e consumo. Mas o que é importante observar
é que a globalização e sua influência na escala de problemas ambientais, tornando-
os globais, faz necessário o envolvimento de toda a sociedade moderna nas
discussões sobre a problemática ambiental, como afirma Spaargarem e Mol (2003).
São inegáveis as transformações que o estilo de vida moderno trouxe ao meio
ambiente e às próprias relações entre o homem e seu meio. Para minimizar ou ao
menos reduzir, de forma perceptível, os danos aos recursos naturais, é necessária
uma urgente reforma institucional na sociedade moderna (SPAARGAREN; MOL,
2002), seja no modo de produção ou de consumo.
Os sociólogos ambientais ainda não definiram bem quais as características
institucionais podem ser responsabilizadas pela crise que se vivencia; dentre esses
teóricos, há diferentes pontos de vista acerca destas características. Entretanto, a
SEJ (2007) já postulou o que ainda é incipiente - considerando o conteúdo
jornalístico baiano -, que os jornalistas devem estar mais bem informados para
contribuírem no processo de interpretação das políticas públicas por parte da
coletividade.
Assim, é importante lembrar o que diz o Relatório Many Voices da Unesco
acerca da comunicação, que se resume em um direito humano fundamental,
responsável pela manutenção de tantos outros direitos, pois, sem conhecê-los e a
sua própria realidade, como influenciá-la conscientemente? Como opinar sobre a
cobrança “exorbitante” de impostos sem saber onde, quando e como os recursos
angariados são utilizados? Como se posicionar ante a crise ambiental sem saber
dos riscos e dos interesses envolvidos, se muitos nem têm conhecimento de estar
vivendo uma crise ambiental?
Beltrão (1960, p. 102) destaca o dever do jornalismo de dar à sociedade
maior consistência no conhecimento que esta tem de si mesma, habilitado-a a tomar
decisões frente aos problemas do dia-a-dia. São exemplos levantados por esse
89
autor de benefícios assinalados à coletividade por campanhas jornalísticas como a
revolução dos hospitais de sangue, iniciada com métodos de higiene até o momento
nunca vistos, através da escrita do primeiro correspondente de guerra, na Criméia,
William Howard Russel, do Times, de Londres; ainda liderada pelo Times, em 1929,
uma campanha que levantou doações para compra de radium para os hospitais
ingleses e, durante a II Guerra Mundial, recebeu e orientou doações que atingiram
altas somas para o fundo da Cruz Vermelha; além da campanha movida contra as
roletas mecânicas nos Estados Unidos, assim como as brasileiras lideradas pelos
Diários Associados como as da viação civil e dos postos de puericultura.
Em meio ao contexto do mês de fevereiro, com a publicação do Relatório do
IPCC e a grande repercussão de suas conclusões, bem como o debate sóciopolítico
e econômico que se seguiu entre diversos atores sociais, o posicionamento dos
países industrializados veiculados pelos telejornais e pela internet, esperava-se um
tratamento editorial que priorizasse a divulgação de opiniões diversificadas com um
agendamento que propiciasse a retroalimentação das discussões na esfera pública
com enquadramentos diferenciados, situando o tema no contexto da
contemporaneidade, reunindo informações referentes ao aquecimento global,
mudanças climáticas e sua influência na vida social, as alternativas propostas para
se resolver a crise ambiental que ora se instala e os posicionamentos divergentes.
Tais questionamentos, impulsionados por esse estudo, visam impelir novos
questionamentos e reflexões acerca do papel dos meios de comunicação na
divulgação de temáticas ambientais na contemporaneidade.
Não se pode esquecer que a característica marcadamente comercial que a
mídia adquiriu fez com que outros fatores avançassem também. Um deles é a
rapidez das rotinas produtivas que depreciam a qualidade da informação,
especificamente a diversidade e a pluralidade de opiniões acerca dos temas
abordados, em especial as questões sociais, que são complexas, e que fazem parte
do interesse público.
As idéias supracitadas de Beltrão (1960), sobre o dever do jornalismo em dar
maior consistência ao conhecimento que a sociedade tem de si mesma, se aliam à
análise feita por Spaargaren e Mol (2003) sobre o papel da Teoria da Sociedade de
Risco (TSR) e a Teoria da Modernização Ecológica (TME), pois, para os autores, a
TSR, com seu discurso apocalíptico, manteria a sociedade alerta e, avalia-se aqui,
sempre em busca de novas informações acerca de sua realidade, dos riscos que
90
tem corrido em seu dia-a-dia e, conseqüentemente, impelidos ao debate público
sobre os rumos da crise ambiental em que ora se inserem. Os resultados apurados
na análise de co-ocorrências, que predominantemente relacionou o AG a
associações negativas, parece se aliar ao que prega a TSR, apresentando
constantes riscos, tragédias, desastres “naturais”.
Seguindo o raciocínio dos autores e atendendo aos interesses jornalísticos
(interesse humano) de maneira a equilibrar o pensamento negativo de Beck, não
propalando ideias unilateralmente apocalípticas, ou seja, falando apenas de riscos, o
jornalismo deve vir a esclarecer os riscos, seus antecedentes, proceder a
retroalimentação das discussões públicas, bem como ir em busca das novas
alternativas para a crise ambiental, seja no campo das vivências sociais, seja na
produção de novos conhecimentos na academia, como a TME, bem como as novas
invenções inspiradas nesta. Como Bueno (2007) ressalta, o jornalismo ambiental,
como o saber ambiental, não é propriedade de quem possui o monopólio da fala,
mas deve estar ligado ao pluralismo e à diversidade.
Tais discursos, pessimista e otimista, trariam um equilíbrio às discussões ora
iniciadas. E o jornalismo, que se volta a tudo que é de interesse humano, bem
assim, dedica-se a todas as alternativas que tragam qualidade de vida ao homem e
devem se inserir amplamente nesse processo, cumprindo a sua missão, mediando o
diálogo entre os tomadores de decisão e à coletividade, de maneira que esta –
através dos vários pontos de vista e interpretações – decida, conscientemente, o
que deseja para a pós-modernidade ou outra denominação que se venha a dar ao
período posterior ao que se vive agora. Esta missão é defendida pela Society of
Environmental Journalism (2007).
91
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estilo de vida moderno, atrelado à ideologia de que “você é o que você
produz”, impulsionou a sociedade a um desenvolvimento que se deu sobre a
dominação da natureza. O uso dos recursos naturais renováveis e não renováveis
sem critérios levantou questionamentos sobre a vida das gerações futuras.
O desenvolvimento da sociedade industrial relegou a natureza ao plano
secundário nos projetos de desenvolvimento, elevando a política e a economia ao
status de instituições primordiais para o desenvolvimento.
Questionamentos acerca da relação sociedade e natureza desembocaram na
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que envolveram
representantes de diversos países debatendo sobre o futuro do planeta. Desta
reunião, disseminou-se o conceito de desenvolvimento sustentável, até então, pouco
conhecido.
Passados 21 anos desde a divulgação do Relatório Brundtland, em 1987, o
conceito de desenvolvimento sustentável é debatido no âmbito das instituições
públicas, privadas e organizações não governamentais, entretanto, com poucas
soluções práticas, quando se considera as proporções continentais do Brasil no
plano nacional; e o fenômeno da globalização, que diminui distâncias no espaço e
no tempo, tornando problemas antes considerados locais em problemas sem
fronteiras, ou seja, globais.
Ainda se debate muito que modelo de desenvolvimento deve estar inserido
nesse conceito. Aquele largamente utilizado, que se baseia na acumulação de
capital, disseminado por quase todo o mudo, ou um que priorizasse a qualidade de
vida. Qual desses modelos é mais conhecido da população? Nenhum. Grande parte
da população não conhece o modelo em que está inserida, apenas faz parte do
processo, como o continente americano fez parte do processo de modernização,
diferente dos europeus, que passaram por uma revolução impulsionada por lutas
sociais.
Ainda é comum ouvir-se dizer: “isso é conversa, a água do mundo não vai
acabar nunca” ou “se cortar, nasce outro, a gente tem mais é que derrubar, porque
92
precisamos sobreviver” ou “deixar mato crescer pra quê, a gente tem mais é que
produzir”. Embora estudos demonstrem que o meio ambiente tem penetrado nas
discussões institucionais da sociedade, por alguns setores desta terem percebido
sua importância para as gerações futuras, bem como para o contínuo
desenvolvimento econômico, ainda é necessário um amplo debate nas várias
camadas da sociedade a fim de desmistificar a preocupação com o meio ambiente
como um entrave ao “desenvolvimento”. Um exemplo disso é a reação contrária dos
Estados Unidos frente ao Protocolo de Kioto, com vistas a resguardar seu
crescimento industrial.
Os meios de comunicação são parte importante desse processo. A
comunicação é considerada um direito humano fundamental, responsável pela
manutenção de vários outros direitos. Para tanto, é necessário um compromisso
ético maior dos dirigentes e jornalistas que compõem o veículo.
Atualmente o volume de informações é muito superior que a própria
capacidade do homem em absorvê-lo. O homem enganou-se ao achar que a
máquina o ajudaria a selecionar as boas informações. Hoje o número de publicações
especializadas cresce a cada momento. Assim, conhecer sobre sua realidade
tornou-se tarefa complicada na contemporaneidade. Com um grande número de
textos descartáveis, o indivíduo moderno está exposto a um grande volume de
informação diária, informações essas que podem influenciá-lo, dado o seu caráter
mutável dentro da “pós-modernidade”.
Diante da realidade que se vive, configurada desde o século XVII com origem
na Europa de onde de iniciou o que chamamos de modernidade, com todas as suas
características, seja pela mudança que se tornou dominante nesse período e, por
conseqüência, o aumento da reflexividade – capacidade de mudar à luz de novas
informações – ou pela globalização que tornou muitos problemas transnacionais, a
comunicação tem grande responsabilidade nos processos de formação da
identidade do indivíduo moderno.
Nesse contexto, o jornalismo é parte importante do processo através do
agendamento dos temas difundidos na formação social, tão prioritária quanto a
própria discussão desses temas, que, sem um debate amplo na sociedade,
alimentado com pontos de vistas variados, não tem razão de ser, já que vivemos
uma realidade predominantemente, em regime democrata, a fim de que a
coletividade interfira nos rumos tomados pela sociedade, e não os deixem
93
prevalecer nas mãos de representantes pressionados por lobistas. Para tanto, é
necessário que o jornalismo cumpra sua função social de manter a sociedade
informada sobre os principais assuntos da atualidade, para que os cidadãos possam
atuar em plenitude na vida societária.
O interesse inicial da pesquisa era saber como a imprensa baiana vinha
tratando a notícia ambiental. Assim, a presente pesquisa reuniu esforços na
avaliação do jornalismo ambiental praticado pela imprensa baiana, especificamente,
sua atuação no período em que foi divulgado o relatório do IPCC, que fazia
referência ao aquecimento global. O tema é atual, de interesse global, porém com
identificação social local.
A partir de estudos iniciais, definiu-se o objetivo geral, que se dedicou a
avaliar a importância dada ao jornalismo ambiental na imprensa baiana, priorizando
as publicações impressas, em especial as de circulação estadual, para que se possa
observar a ocorrência de notícias regionais. São elas os jornais diários A Tarde e
Correio da Bahia. Para tanto, os objetivos específicos foram: fazer uma análise
temática, quantificando as matérias relacionadas ao aquecimento global, e temas
ambientais recorrentes nas publicações do mês selecionado para a avaliação;
analisar o conteúdo apresentado nas matérias selecionadas.
Esperava-se que houvesse uma recorrência constante dos objetos da
pesquisa ao tema, dado o apelo social que ele tem em âmbito global, com variados
pontos de vistas acerca do tema, além do interesse em demonstrar a proximidade
do fenômeno através de exemplos locais.
Avaliou-se que, em geral, a temática ambiental vem conquistando campos no
espaço editorial. Resultado interessante foi o fato de os temas transposição do rio
São Francisco e enchente do rio São Francisco serem considerados mais
importantes ao avaliar quantitativamente a ocorrência dos temas; o aquecimento
global ocupou o terceiro plano na escala de importância.
Comparativamente, no jornal A Tarde, a temática ambiental obteve mais
inserção que no Correio da Bahia. Observou-se que, ao tema enchente do rio São
Francisco, foi dada mais importância no jornal A Tarde; e no Correio da Bahia o rio
São Francisco também teve destaque, mas com referência à polêmica proposta de
transposição do mesmo.
Outro fator avaliado foi a escala de importância na avaliação de espaços
editoriais nobres, como a manchete e a chamada na capa, das quais os resultados
94
apontaram que as temáticas ambientais têm pouca penetração, nos quais o
aquecimento global não mereceu nenhuma manchete externa, ocupando espaços
periféricos da capa, com algumas chamadas relacionadas a outros temas.
O terceiro item observado foi a contextualização da matéria a partir do local
de produção da mesma, ou seja, se foi produzida na redação e, ou sucursais,
entende-se que há um interesse em contextualizá-la, de trazê-la para mais próximo
da realidade do leitor, abordando circunstâncias nacionais.
Assim, observou-se o número de matérias produzidas em agências de
notícias, o que, de forma geral, considerando todas as temáticas ambientais,
demonstrou um interesse em aproximar o tema do leitor, embora, no caso específico
do assunto aquecimento global, ficou claro que o mesmo, no caso do Correio da
Bahia, não tem recebido o devido valor em sua pauta diária, metade de suas
matérias foram produzidas fora da redação; enquanto que, no A Tarde, o tema, além
de ter obtido maior número de matérias, também teve um número maior dessas
produzidas em sua redação, o que demonstra não só o interesse pelo tema como
também um preparo maior dos jornalistas para abordar o assunto, elevando a
qualidade de seu produto jornalístico que acaba por se diferenciar do produto
proveniente de agências, considerado um produto feito em atacado e, logo, com
semelhantes pontos de vista, o que empobrece os textos. Ao que parece, para o
Correio da Bahia, o fenômeno do AG não atinge a Bahia, trata-se de um problema
que ocorre na Europa, pois, em suas páginas, ecoam visões européias do
fenômeno, através de notícias provenientes de agências noticiosas.
A identificação das matérias de maneira a atrair o leitor foi analisada, nesse
sentido quantificou-se o número de chapéus presentes em textos sobre aquecimento
global. Os resultados demonstraram que o Correio da Bahia utiliza muito pouco essa
identificação, deixando de fazer uso dessa ferramenta de atração do leitor para os
temas ambientais. Em contrapartida, o A Tarde, além de usá-las extensivamente, os
significantes utilizados têm predominantemente relação com o tema ambiental
abordado.
Os resultados alcançados nesta pesquisa levam a inferir que, em geral, as
temáticas ambientais, apesar de virem conquistando espaços nas discussões
institucionais, mormente na Europa, ainda têm pouca penetração no espaço editorial
baiano, com ocupação pequena em espaços nobres, e pouca contextualização
temática, não aproximando o leitor do assunto abordado.
95
Com base nos dados citados acima, entende-se que o processo de tomada
de decisões de forma democrática está comprometido, considerando que a
população necessita de uma ampla discussão sobre o tema em questão, com
acesso a variados pontos de vista e retroalimentação do assunto para que a
sociedade tenha consciência das circunstâncias que a rodeiam.
O jornalismo surgiu da necessidade da sociedade em tomar conhecimento
dos fatos ocorridos em lugares longínquos e desenvolveu-se a partir de então. Hoje,
divulga conhecimento voltado à atualidade de uma sociedade cada vez mais
complexa e mutável. Tal saber volta-se para que os cidadãos cientes da realidade
circundante possam atuar em plenitude da vida societária. Bem assim, o jornalismo
deriva da necessidade de saber para agir de forma adequada alimentados pela
informação, crítica e interpretação dos fatos.
Como já foi dito, os processos comunicacionais são de suma importância para
o processo de manutenção dos direitos humanos e, quando o jornalismo se afasta
das ações que o legitimam, perde sua função social. No caso do jornalismo
ambiental baiano, demonstrou-se que o assunto meio ambiente é abordado embora
pouco explorado, com poucas matérias, bem como sem o debate entre idéias
divergentes, tão comuns entre políticos, empresários e organizações não
governamentais quando o tema é meio ambiente.
Ainda é necessário sensibilizar mais os dirigentes e jornalistas a fim de que o
meio ambiente seja, de fato, percebido com uma força produtiva e, portanto,
necessária para o contínuo “desenvolvimento”, para que, de forma realista e mais
próxima da sociedade capitalista, possa-se trabalhar em prol da sensibilização da
sociedade e impulsioná-la a participar dos debates que, com a participação dela ou
não, definirão os rumos do que um dia terá sido o estilo de vida moderno.
O trabalho ora apresentado é caracterizado por uma pesquisa exploratória
acerca da importância dada à informação ambiental em jornais baianos. A pesquisa,
embora tenha priorizado os aspectos quantitativos da análise de conteúdo,
demonstrando a influência positivista do curso onde fora desenvolvida, utilizou-se de
aspecto qualitativos explorados seja pela análise de co-ocorrência ou pelas
impressões da pesquisadora, permitida pela abordagem metodológica utilizada, a
fenomenologia. Entretanto, tais análises qualitativas foram utilizadas de forma
complementar. Assim, faz-se necessária, ainda, a análise qualitativa do conteúdo
96
latente nos textos que compõem o corpus da pesquisa, dando prosseguimento à
análise do jornalismo ambiental baiano.
Recomenda-se que novos estudos acerca do jornalismo ambiental dêem
conta de levantar informações sobre a grade curricular dos cursos de jornalismo e a
importância dada aos temas relativos ao meio ambiente, bem como a opinião do
público do jornalismo impresso e dos próprios jornalistas inseridos nesses veículos
sobre a necessidade de informações ambientais e sua veiculação em jornais
impressos.
É importante também analisar o uso de instrumentos comunicacionais, como
a assessoria de imprensa, para sugestão de pautas importantes para a manutenção
da base de sustentação por parte de instituições voltadas à conservação ambiental,
de maneira a influenciar na pauta diária dos jornais impressos, inserindo temas
importantes para o desenvolvimento de um debate amplo, que alia vários pontos de
vista, observando a contribuição das instituições voltadas à conservação ambiental,
como ONGs, associações, movimentos etc., nessa inserção de pontos de vistas
variados no noticiário ambiental.
97
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A TARDE. Dados cedidos pela Assessoria de Marketing via e-mail. Em 31-01-2008.
AMARAL, Luiz. Técnica de Jornal e Periódico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2001. 259 p.
BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica: as técnicas do jornalismo. São Paulo: Ática, 1990.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa/ Portugal: Edições 70, 2004.
BELTRÃO, Luiz. Iniciação à filosofia do jornalismo. Rio de Janeiro: Agir, 1960.
BITELLI, Marcos Alberto Sant'Anna. Constituição federal: Coletânea de legislação de comunicação social. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 1438 p.
BONNER, William. A notícia na TV: critério de decisão no telejornalismo In: Manual de Comunicação e Meio Ambiente. São Paulo: Peirópolis, 2004.
BOSQUETTI, Lorrayne de Barros. Análise do conteúdo ambiental de trinta edições do jornal "O popular". III Encontro da ANPPAS, 23 a 26 de maio de 2006. Anais... Brasília: 2006.
BRASIL Escola. Eco 92. Disponível em: http://www.brasilescola.com/geografia/eco-92.htm. Acesso em 03 jan. 2008.
BUENO, Wilson Costa. Jornalismo ambiental: histórias e compromissos. Entrevista Roberto Villar. Disponível em: http://www.agricoma.com.br/rev1entrevistarobertovillar.htm. Acesso em 01 ago. 2007.
BUENO, Wilson da Costa. Comunicação, jornalismo e sustentabilidade: uma leitura crítica. In: Comunicaçao, jornalismo e meio ambiente. Mojoara, 2007. 1999. Disponível em: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=321959Acesso em 19 nov. 2007.
CALDAS, Graça. Jornalistas e cientistas: uma relação de parceria. Disponível em: http://www.jornalismocientifico.com.br/ Acesso em 01 ago. 2007.
CANCLINI, Nestor. Introdução à edição de 2001. In: Cultura Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução Heloísa P. Cintrão, Ana Regina Lessa;
98
tradução prefácio à segunda ed. Gêneses. 4. ed. São Paulo: Edusp, 2003.
CANELLAS, Marcelo. O ovo de Colombo. In: Manual de Comunicação e Meio Ambiente. São Paulo: Peirópolis, 2004.
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. A era da informação: economia, sociedade e cultura. v. 2. Tradução: Klauss Brandini Gerhardt. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CENTER for Environmental Journalism. CEJ Mission. Disponível em: http://www.colorado.edu/journalism/cej/about_cej/mission.html Acesso em 30 jul. 2007.
CENTRO de Recursos Ambientais. Rumo a um desenvolvimento sustentável: indicadores ambientais. Tradução: Ana Maria S. F. Teles. Salvador, 2002. 242p. Série Caderno de Referência Ambiental.
CONSTITUIÇÃO, Brasileira. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao_Compilado.htm Acesso em 03 nov. 2007.
COREGNATO, Rita C. A.; MUTTI, Regina. Pesquisa qualitativa: análise de discursos versus análise de conteúdo. Texto Contexto Enferm, Florianopólis, out.-dez. 15 (4): 679-684, 2006.
DONAIRE, Denis. Gestão Ambiental na Empresa. São Paulo: Atlas, 1999. 169 p.
DUARTE, Vieira. A mídia impressa e o meio ambiente: um estudo para a prática do jornalismo ambiental. Monografia (Graduação em Comunicação Social). Colegiado de Comunicação Social, Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, 2003.
FAYERABEND, Paul. Contra o método. Francisco Alves. 3 ed. 1989. 488p.
FOLHA de São Paulo. Novo Manual da Redação. São Paulo, 2000.
GAZINO, Wilson. O “esquecedor” e a sociedade da informação. Disponível em: http://www.hottopos.com.br/videtur9/esquece.htm. Acesso em: Acesso em 20 set. 2007.
GIDDENS. Antony. As conseqüências da modernidade. Tradução: Raul Fiker. Ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1991. 177 p.
GONÇALVES, Daniel Bertoli. Desenvolvimento sustentável: o desafio da presente geração. Revista Espaço Acadêmico, ago. 2005, n. 51, mensal. Disponível em http://www.espacoacademico.com.br/051/51goncalves.htm. Acesso em 20 set. 2007.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Silva e Guacira Louro. 9 ed. Rio de Janeiro: Ed. DP&A, 2004. 97 p.
99
JORNAL Correio da Bahia. Rede Bahia. Salvador. 2008. Disponível em: http://www.redebahia.com.br/. Acesso em: 30 jan. 2008.
KARAM, Francisco José. Linguagem Humana, Mediação Jornalística e Direito à informação. In: Jornalismo Ética e Liberdade. São Paulo: Summus, 1997.
LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1989. 116 p.
LIMA, Eliana de S. A importância da mídia na conscientização ambiental. Disponível em: http://www.jornalismocientifico.com.br/ Acesso em: 01 ago. 2007.
LOPES, Nelson Artur. Auto-determinação do sujeito Pós-Moderno. A Página da educação n. 155. abr. 2006. Disponível em: http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=4529. Acesso em 05 jan. 2008.
MARANDOLA JR, Eduardo; HOGAN, Daniel Joseph. Natural Hazards: o estudo geográfico dos riscos e perigos. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/asoc/v7n2/24689.pdf. Acesso em 30 mar. 2008.
MATTEDI, Marcos Antônio; BUTZKE, Ivani Cristina. A relação entre o social e o natural nas abordagens de hazards e de desastres. Ambiente & Sociedade, v. VII n. 2. jul./dez. 2004.
MEDINA, Cremilda. A ação das forças autoritárias sobre a informação jornalística. In: Objetividade Jornalística: ética e técnica. Cadernos Intercom. São Paulo: Editora Cortês, 1985.
MELO, José M. Conceito e categorias do jornalismo. In: A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 7-34.
MIDLEJ, Moema Mª B. C. Universidade e Região: Territorialidade da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Tese (Doutorado). Universidade Federal da Bahia, 2004.
NAA Business Analysis & Research Dept. Newspaper Daily Section Readership 2007. 2007. Disponível em: http://www.naa.org/docs/Research/2007_newspaper_section_readership_daily.pdf. Acesso em: 19 nov. 2007.
NASSAR, Paulo; FIGUEIREDO, Rubens. O que é comunicação empresarial. São Paulo: Brasiliense, 1995. 90 p.
NETHER, Jairo Ivã. Ecojornlismo impresso: análise do jornalismo ambiental em Porto Alegre. Disponível: http://www.jornalismoambiental.jor.br/jornalismoambiental/images/stories/MONOGRFIAS/jairo_iva_nether.pdf. Acesso em 01 ago. 2007. Universidade Luterana do Brasil, Canoas, junho 1998.
OTIENO, Jeff. Nunca foi tão lucrativo investir em meio ambiente. Águaonline,[S.I] setembro 2001. Disponível em: <http://fafitfacic.com.br/curso/apoio/apoio100520064641_377.doc> Acesso em: 20 jun. 2006.
100
PETERSON, JENSEN e RIVERS. Os meios de comunicação e a sociedade moderna. Rio de Janeiro: Edições GRD, 1966. p. 35-6.
PIMENTEL, Pessoa César. Crise ambiental e Modernidade: da oposição entre natureza e sociedade à multiplicação dos híbridos. Rio de Janeiro: UFRJ/ IP/EICOS, 2003. 88 p.
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo. Dicionário de comunicação. Com colaboração de Muniz Sodré. Rio de Janeiro: Ed. Codecri, 1978. 512 p.
RAMOS, Luiz Fernando A. Meio Ambiente e Meios de Comunicação. São Paulo: Annablume, 1995.
ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. São Paulo: Brasiliense, 1980.
SCHARF. Regina. O jornalismo impresso. In: Manual de Comunicação e Meio Ambiente. São Paulo: Peirópolis, 2004.
SILVA, Adalberto Prado e. (Org.) Novo Dicionário Brasileiro ilustrado Vol. II. 3 ed. Melhoramentos, 1965.
SILVA, Cristiane R; GOBBI, Beatriz C.; SIMÃO, Ana A. O uso da análise de conteúdo como ferramenta para a pesquisa qualitativa: descrição e aplicação do método. Organizações rurais industriais, Lavras, v. 7, n. 1, p. 70-81, 2005.
SOCIETY of Enviromental Jornalism. SEJ's vision and mission. Disponível em: http://www.sej.org/about/index1.htm. Acesso em: 30 jul. 07.
SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de jornalismo impresso. Porto, 2001. Disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf. Acesso em 28 jan. 2001.
SOUZA. Anaelson Leandro de; BARRETO. Betânia Maria Vilas Boas; ALBUQUERQUE. Eliana C.P. T. A notícia e o anuncio ambiental: Analisando o Dia Mundial do Meio Ambiente na mídia impressa, 2004. Disponível em: http://reposcom.portcom.intercom.org.br/dspace/bitstream/1904/17862/1/R1823-2.pdf. Acesso em 01 ago. 2007.
SPAARGAREN, Gert; MOL, Arthur P. J. Meio Ambiente, Modernidade e Sociedade de Risco: O horizonte apocalíptico da reforma ambiental. Traduzido por: Salvador Dal Pozzo Trevizan. Ilhéus: Editus, 2003. 63p .
SPAARGAREN, Gert; MOL, Arthur P. J. Sociologia, Meio Ambiente e Modernidade – Modernização ecológica: uma teoria de mudança social (Trad. Salvador D. P. Trevizan). Ilhéus: Editus, 2002.
TACHIZAWA, Takeshy. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa. São Paulo: Atlas, 2002. 381p.
TARGINO, Maria das Graças. Informação ambiental: uma prioridade nacional? Inf. & Soc., Est, João Pessoa, v. 4, n. 1, p. 38-61, jan./dez. 1994. Disponível em:
101
http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/190/1411. Acesso em: 17 set. 2007.
TAYRA, Flavia. O conceito do desenvolvimento sustentável. Disponível em: http://www.semasa.sp.gov.br/admin/biblioteca/docs/doc/conceitodesenvsustent.doc Acesso em: 20 set. 2007.
TOURAINE, Alain. Crítica da Modernidade. Tradução. Elia Ferreira Edel. 6 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. 410p.
TREVIZAN, Salvador D. P. Sociedade-Natureza: uma concreta e necessária integração. Rio de Janeiro: Papel Virtual, 1999.148 p.
TRIGUEIRO, André. Ambientalistas e jornalistas: uma relação de utilidade pública In: Manual de Comunicação e Meio Ambiente. São Paulo: Peirópolis, 2004.
UNESCO. Many voices, One wold: Conclusions and Recommendations: Introduction and Part I. Paris. 1980. Disponível em: http://www2.hawaii.edu/~rvincent/mcbcon1.htm. Acesso em: 02 nov. 2007.
VILLAR, Roberto. Jornalismo Ambiental: Evolução e Perspectivas. Laboratório Ambiental de jornalismo. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, out de 1997. Disponível em: <http://www.agirazul.com.br/artigos/jorental.htm>Acesso em: 14 set. 2006.
VIOLA, Eduardo J.; LEIS, Héctor R. O ambientalismo multissetorial no Brasil para além da Rio-92: o desafio de uma estratégia globalista viável. In: Meio Ambiente, Desenvolvimento e Cidadania: desafios para as Ciência Sociais. São Paulo: Cortez: Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1998.
WIKIPEDIA. Eco 92. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ECO-92. Acesso em 03 jan. 2008.
YOUNG, Carlos Eduardo F. Causas socioeconômicas do desmatamento na Mata Atlântica Brasileira. In: Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e perspectivas. Ed. Carlos Galindo-Leal, Ibsen de G. Câmara. Traduzido por Edma R. Lamas. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica; Belo Horizonte: Conservation International, 2005. p. 94-118.
ZILLES, Urbano. Introdução. In: A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental. Husserl, Edmund, 2006.
102
APÊNDICE A
Quadro 5. Palavras-chave de onde originou-se a generalização apresentada nos resultados da pesquisa, jornal Correio da Bahia. Generalização de palavras-chave Palavras-chave Total Aquecimento global - mudança climática - efeito estufa Aquecimento global 1 Aquecimento global - catástrofe - impacto - conseqüência 1 Aquecimento global - etanol – exportação 1 Aquecimento global -mudança climática - previsões 1 Efeito estufa - aquecimento global - mudanças climáticas 1 Meio ambiente - mudança climática –ecossistema 1 Mudança climática - efeito estufa – protesto 1
Questão ambiental - transposição - aquecimento global - parlamentares – debates 1
Relatório IPCC - mudanças climáticas – cientistas 1 Aquecimento global - mudança climática - efeito estufa Total 9 Aquecimento global - mudança climática - efeito estufa – IPCC Amazônia - mudanças climáticas - aquecimento global - IPCC 1 Aquecimento global - crise ecológica - IPCC - mudanças climáticas 1 Mudança climática - grandes poluidores - IPCC - 1 Aquecimento global - mudança climática - efeito estufa - IPCC Total 3 Total geral 12
103
Quadro 6. Palavras-chave de onde originou-se a generalização apresentada nos resultados da pesquisa, jornal A Tarde.
Generalização/ Grupo de palavras-chave que englobe assuntos semelhantes Palavras-chave originais Total Aquecimento global - mudanças climáticas - efeito estufa Amazônia - aquecimento global - desflorestamento – reportagem 1 aquecimento global - holocausto – irreversível 1 Aquecimento - Kyoto – morte 1 Aquecimento - natureza - pessimismo - mudanças climáticas 1 Aquecimento global - agrícola – agropecuária – queimadas 1 Aquecimento global - comemorações - escola politécnico 1 Aquecimento global - ecologistas – riscos 1
Aquecimento global - efeito estufa - Amazônia - transamazônica – EU 1
Aquecimento global - EUA – cientistas 1 Aquecimento global - furacões - mudança climática 1 Aquecimento global - mudança climática - Floresta Amazônica 1 Aquecimento global - mudanças climática – corais 1 Aquecimento global - mudanças climáticas - El Nino 1 Aquecimento global - mudanças climáticas – tornados 1 Aquecimento global - poluição - soluções - educação ambiental 1 Desmatamento - Amazônia - aquecimento global 1 Efeito estufa - combustíveis fósseis – projetos ecológicos 1 EU – meta global - aquecimento global 1
Mudança climática - aquecimento global - impacto Praia do Porto – católicos 1
Mudanças climáticas - políticas globais – aquecimento 1 Palestra - aquecimento global – UFBA 1
Presidência dos EU - aquecimento global - Tratado de Kyoto - temas prioritários 1
Questões ambientais - fórum social - aquecimento global 1 Aquecimento global - mudanças climáticas - efeito 23
104
Generalização/ Grupo de palavras-chave que englobe assuntos semelhantes Palavras-chave originais Total estufa Total Aquecimento global - mudanças climáticas - efeito estufa - IPCC Aquecimento global - cidades litorâneas - conseqüências – IPCC 1 IPCC - aquecimento global - motores elétricos 1 Mudança climática - feijão – IPCC 1 Aquecimento global - mudanças climáticas - efeito estufa - IPCC Total 3 Total geral 26
105
APÊNDICE B
Quadro 7. Co-ocorrências de onde se originou a generalização apresentada nos resultados da pesquisa, jornal A Tarde.
A Tarde Relações Associações
positivas Associações negativas Associações
neutras Aquecimento global (2)
Associação física (catástrofes)
Conseqüências locais
Aquecimento global (7)
Furacões, Katrina Atividade humana
(incentivo/provocado)
Aumento tempestades continente americano
OMM - tempestades do passado
Furacões mais fortes Comunidade
científica dividida
Furacões Ação humana Discussão global Aquecimento global (4)
Mudança climática
Produção de arroz Fertilidade do solo
(problema)
Gravidade Doenças nas plantas
(fungos, bactérias)
Aquecimento global (3)
Efeitos em animais (produção de leite e ovos; abortos)
Alterações no clima; aumento de temperatura
Situações climáticas extremas
Discussão global Aquecimento global (1)
Gravidade das conseqüências
106
A Tarde Relações Associações
positivas Associações negativas Associações
neutras Combustíveis
fósseis
Aquecimento global (1)
IPCC
Tornados, furacões e tempestades
IPCC (2) Pesquisa científica/grupo estudo
Aspectos da produção agrícola (decréscimo)
IPCC (5) Aumento força furacões / ciclones (1970)
Aquecimento global Aumento tempestades
fortes
OMM – Organização Metereológica Mundial
Termos empregados (fortes)
Aprovação unanimidade
IPCC (1) Previsão clima mundial (queda na produção agrícola)
IPCC (1) Projeção pessimista IPCC (1) Gravidade das
conseqüências
IPCC (1) Tornados, furacões e tempestades
Aquecimento global Meio ambiente (6)
Homem (danos)
Instituição estadual (secretaria)
Instituição estadual (Assembléia Legislativa)
Política públicas
107
A Tarde Relações Associações
positivas Associações negativas Associações
neutras Fundos
municipais (recursos financeiros)
Instituição representativa (secretaria)
Meio ambiente sem ocorrência
Associações
Mudança climática (2)
Causa humana
Protesto
108
Quadro 8 - Co-ocorrências de onde se originou a generalização apresentada nos resultados da pesquisa, jornal Correio da Bahia
Correio da Bahia
Relações
Associações positivas
Associações negativas
Associações neutras
Emissões de CO2 Aquecimento global (2)
Criação de novo organismo de proteção
Emissões de CO2 Efeito estufa Emissões de
gases
Irreversível
Aquecimento global (3)
Resposta imediata Amazônia Brasil Desmatamentos
Amazônia
Combustíveis fósseis
Países industrializados
Aquecimento global (4)
Floresta Amazônica
Alerta Inequívoco Causa humana Relatório/Documento IPCC Evidente Elevações na
temperatura (física)
Aquecimento global (7)
Causa humana
109
Correio da Bahia
Relações
Associações positivas
Associações negativas
Associações neutras
Conseqüências (menor número de dias frios, noites mais quentes; ondas de calor letais; enchentes e chuvas pesadas, secas devastadoras e aumento na força de tempestades e furacões)
Emissão de gases (física)
Emissão de gases (física)
Conseqüências (elevação dos mares)
Projeções de altas
temperaturas IPCC (1)
Advertência
Projeções (previsões/desdobramentos dos efeitos do AG)
IPCC (3)
Presidente (organização) Preocupação Aquecimento
global
IPCC (3)
Acusações Visão sombria
meio ambiente
Previsões preocupantes
IPCC (2)
Previsões preocupantes (elevação de temperatura (física))
Eqüidade crítica Mudança climática (2) Atividade humana
110
Correio da Bahia
Relações
Associações positivas
Associações negativas
Associações neutras
Meio ambiente (2)
Espaço físico e biológico
Organização da ONU (Onue)
Gorverno mundial
Projeções sobre mudanças climáticas
Meio ambiente (3)
Encontro internacional
111
APÊNDICE C
Lista de textos inseridos no corpus da pesquisa Jornal A Tarde LAURA, Cristina. Rio enche e causa transtornos. A Tarde, Salvador, 01 fev. 2007. Bahia. p. 13. EUA Minimizam aquecimento global. A Tarde, Salvador, 01 fev. 2007. Curtas. p. 14. LULA: "PAC pode ter R$ 1 trilhão. A Tarde, Salvador, 01 fev. 2007. Economia. p. 18 JÚNIOR, Paulo Noqueira Batista. Macroeconomia do PAC. A Tarde, Salvador, 01 fev. 2007. Opinião econômica. p. 18. VERÍSSIMO, Luis Fernando. Conversões. A Tarde, Salvador, 01 fev. 2007.Veríssimo. p. 20. GOMES, JC Teixeira. Fornalha global. A Tarde, Salvador, 02 fev. 2007. JC Teixeira. p. 3. AQUECIMENTO fortalece furacões. A Tarde, Salvador, 02 fev. 2007. Mundo. p. 23. AUMENTO de temperatura afetará a produção agrícola. A Tarde, Salvador, 03 fev. 2007. Especial. p. 21. SILVA, Danniela. Clima no planeta vai subir até 4 graus. A Tarde, Salvador, 03 fev. 2007. Especial. p. 21. TORNADO atinge região da Flórida e deixa 19 mortos. A Tarde, Salvador, 03 fev. 2007. Especial. p. 21. TERRA Ameaçada. A Tarde, Salvador, 03 fev. 2007. Opinião. Editorial. p. 03. SIMÕES, Renato. A morte anunciada. A Tarde, Salvador, 04 fev. 2007.Renato Simões. p. 1. DIVISOR de águas. A Tarde, Salvador, 04 fev. 2007. Opinião. Editorial. p. 3. ANDRADE, Maiza de. Estudos revelam o fundo do mar. A Tarde, Salvador, 04 fev. 2007. Verão 2007. p. 11. JORGE, Gilson. A nova cara da política dos Estados Unidos. A Tarde, Salvador, 04 fev. 2007. Mundo. p. 27.
112
FLORESTA amazônica pode virar cerrado. A Tarde, Salvador, 04 fev. 2007. Ciência e Saúde. p. 29. MELO, Jair Fernandes de. Aquecimento global na pauta da igreja. A Tarde, Salvador, 05 fev. 2007. Salvador, p. 09. LAURA, Cristina.Juazeiro sofre com chuva e alta do São Francisco. A Tarde, Salvador, 05 fev. 2007. Bahia. p. 10. CURSO de gestão da cadeia de produção. A Tarde, Salvador, 05 fev. 2007. Caderno Rural. p. 02. EFEITO estufa. A Tarde, Salvador, 06 fev. 2007. Espaço do leitor. p. 02. TORREÃO, Luisa. Bahia tem o verão mais quente dos últimos 12 anos. ATarde, Salvador, 06 fev. 2007. Verão 2007. p. 6. BANDEIRA, Cláudio. e Agências. Temperatura cresce 4º até 2100. A Tarde, Salvador, 06 fev. 2007. Verão 2007. p. 6. EUA querem fazer parceria com o Brasil. A Tarde, Salvador, 06 fev. 2007. Economia. p. 16. AMORIM recebe críticas feitas ao Brasil. A Tarde, Salvador, 06 fev. 2007. Últimas notícias. p. 20. FRAGA, Danilo.Dois filhos de São Francisco. A Tarde, Salvador, 06 fev. 2007. Caderno 10. p. 08. REVITALIAZAÇÃO recebe 65 vezes menos. A Tarde, Salvador, 06 fev. 2007. Caderno 10. p. 08. LAURA, Cristina. Lixão contamina rio e prejudica quilombolas. A Tarde, Salvador, 07 fev. 2007. Bahia. p. 12. MACÁRIO, Caio. Cheia avança e ameaça sede de malhada. A Tarde, Salvador, 07 fev. 2007. Bahia. p. 12. BISPO em movimento. A Tarde, Salvador, 08 fev. 2007. Tempo. p. 02. LULA e o rio. A Tarde, Salvador, 08 fev. 2007. Tempo. p. 02. NASCIMENTO, Pedro Brito do. A revitalização do Velho Chico. A Tarde, Salvador, 08 fev. 2007. Opinião. p. 03. MACÁRIO, Caio. Malhada planeja retirar moradores. A Tarde, Salvador, 08 fev. 2007. Bahia. p. 02.
113
SOUZA, Luiz. Bahia ganha unidade de produção de biodiesel. A Tarde, Salvador, 09 fev. 2007. Economia. p. 19. ESTRADAS em péssimas condições. A Tarde, Salvador, 09 fev. 2007. Economia. p. 19. TALENTO, Baggio. Para ministro, transposição não afeta geração de energia. A Tarde, Salvador, 09 fev. 2007. Economia. p. 19. CAMPOS, Umberto. Municípios da Bahia recebem ajuda federal. A Tarde, Salvador, 09 fev. 2007. Últimas notícias. p. 24. LAURA, Cristina.Emergência em Juazeiro com a enchente do rio. A Tarde, Salvador, 10 fev. 2007. Bahia. p. 11. DEFESA Civil pronta para ser acionada. A Tarde, Salvador, 10 fev. 2007. Bahia. p. 11. CRISTINA Laura Mais de mil pessoas ainda precisam de água. A Tarde, Salvador, 11 fev. 2007. Bahia. p. 15. PRODUÇÃO de biocombustível estimula cultivo de mamona. A Tarde, Salvador, 12 fev. 2007. Suplemento rural. p. 7. AQUECIMENTO global. A Tarde, Salvador, 13 fev. 2007. Espaço do leitor. p. 11. SILVA, Danniela. ANP realiza quinto leião de biodiesel. A Tarde, Salvador, 13 fev. 2007. Economia. p. 17. STEINBRUCH, Benjamim. O que será, será!. A Tarde, Salvador, 13 fev. 2007. Economia. p. 17. LAURA, Cristina. Água de canais sobe e alaga bairros de Juazeiro. A Tarde, Salvador, 13 fev. 2007. Bahia. p. 11. LAURA, Cristina. Chuva amplia cheia no norte. A Tarde, Salvador, 14 fev. 2007. Bahia. p. 13. CARROS trazem propostas mais limpas. A Tarde, Salvador, 14 fev. 2007. Motor. p. 02. PULMÃO do mundo é tema de reportagem. A Tarde, Salvador, 15 fev. 2007. Caderno turismo. p. 03. LAURA, Cristina. Reduzida a vazão de Sobradinho. A Tarde, Salvador, 15 fev. 2007. Bahia. p. 13. MACÁRIO, Caio. Nível da água continua subindo em Malhada. A Tarde, Salvador, 15 fev. 2007. Bahia. p. 13.
114
TAVARES, Mônica. OLIVEIRA, Eliane. Mudança climática ameaça alimentos. A Tarde, Salvador, 18 fev. 2007. Economia. p. 18. IBAMA vai recorrer para garantir a transposição. A Tarde, Salvador, 18 fev. 2007. p. 21. ENTENDA o caso. A Tarde, Salvador, 18 fev. 2007. p. 21. BIOCOMBUSTÍVEL em debate. A Tarde, Salvador, 19 fev. 2007. Suplemento rural. p. 02. SOUZA, Luiz. Biodiesel dá novo fôlego à Chapada. A Tarde, Salvador, 20 fev. 2007. Economia. p. 18. PRODUTORES e empresários divergem sobre o preço pago pela mamona. A Tarde, Salvador, 20 fev. 2007. Economia. p. 18. PACHECO, Lenilde. Governadores defendem avanço da transposição. A Tarde, Salvador, 21 fev. 2007. p. 36. EU aprova metas ambiciosas de redução de gases poluentes. A Tarde, Salvador, 21 fev. 2007. pg. 36. BISPO ameaça com nova greve. A Tarde, Salvador, 22 fev. 2007. Política. p. 16. TALENTO, Biaggio. Arcebispo desmente Wagner. A Tarde, Salvador, 22 fev. 2007. Política. p. 17. FONSECA, Adilson. Comitê vê ilegalidade no projeto. A Tarde, Salvador, 22 fev. 2007. Política. p. 17. EFEITO estufa. A Tarde, Salvador, 23 fev. 2007. Espaço do leitor. p. 17. JÁ são 4 mil famílias desabrigadas. A Tarde, Salvador, 23 fev. 2007. Salvador. p. 04. FONSECA, Adilson. Cidades ficam isoladas e nível da água sobe. A Tarde, Salvador, 23 fev. 2007. Salvador. p. 05. LAURA, Cristina. Drenagem ameniza situação de morador. A Tarde, Salvador, 23 fev. 2007. Salvador. p. 04. FERNANDES, Jane. e Redação. Previsão é de mais chuvas na cabeceira do Rio São Francisco. A Tarde, Salvador, 23 fev. 2007. Salvador. p. 04. AQUECIMENTO global. A Tarde, Salvador, 23 fev. 2007. p. 08. CAMPOS, Umberto de. Bispo alerta o País contra transposição. A Tarde, Salvador, 23 fev. 2007. Política. p. 12.
115
ZIMMERMAN, Patrícia. Ministro minimiza impacto e descarta adiamento do projeto. A Tarde, Salvador, 23 fev. 2007. Política. p. 12. ZIMMERMAN, Patrícia. Decisão do governo Lula é "lamentável", diz comitê. A Tarde, Salvador, 23 fev. 2007. Política. p. 12. COSTA, Camila. Como enfrentar poluição e aquecimento global. A Tarde, Salvador, 24 fev. 2007. A Tardinha, p. 4 e 5. FONSECA, Adilson. e Redação População de Malhada sem acesso a serviços de saúde. A Tarde, Salvador, 24 fev. 2007. Salvador. p. 8. FERNANDES, Jane. 4.734 famílias sem abrigo. A Tarde, Salvador, 24 fev. 2007. Salvador. p. 8. HERMES, Miriam. Ibotirama sucumbe à cheia do São Francisco. A Tarde, Salvador, 24 fev. 2007. Salvador. p. 9. BIAGGIO. Talento Souto elogia "lucidez" do bispo. A Tarde, Salvador, 24 fev. 2007. Política. p. 15. FONSECA, Adilson. Cheia causa a terceira morte. A Tarde, Salvador, 26 fev. 2007. Bahia. p. 09. ISOLADO, município de malhada só pode ser alcançado de barco. A Tarde, Salvador, 26 fev. 2007. Bahia. p. 09. PONTE destruída interdita tráfego de veículos entre Barra e Xique - xique. A Tarde, Salvador, 26 fev. 2007. Bahia. p. 09. HERMES, Miriam Protesto contra a transposição. A Tarde, Salvador, 26 fev. 2007. Bahia. p. 09. AULA inaugural. A Tarde, Salvador, 26 fev. 2007. Tempo presente. p. 02. FONSECA, Adilson. Bom Jesus da Lapa tem 8 mil pessoas desabrigadas. A Tarde, Salvador, 27 fev. 2007. Bahia. p. 10. FAMÍLIAS ribeirinhas resistem a deixar as moradias e enfrentam enchente. A Tarde, Salvador, 27 fev. 2007. Bahia. p. 10. CHEGAR aos locais isolados é uma aventura de alto risco. A Tarde, Salvador, 27 fev. 2007. Bahia. p. 10. GOMES, Márcia. Meteorologia indica redução das chuvas. A Tarde, Salvador, 27 fev. 2007. Bahia. p. 11. LAURA, Cristina. Protesto contra transposição. A Tarde, Salvador, 27 fev. 2007. Bahia. p. 11
116
FONSECA, Adilson. Rio sobe e inunda Ibotirama. A Tarde, Salvador, 28 fev. 2007. Bahia. p. 13
117
Jornal Correio da Bahia
BAIXA. Correio da Bahia, Salvador, 02 fev. 2007. Poder. p. 02. LUZES apagadas em protesto contra a mudança climática. Correio da Bahia, Salvador, 02 fev. 2007. Exterior. p. 13. BRASIL não está preparado para o efeito. Correio da Bahia, Salvador, 03 fev. 2007. Brasil. p. 06. FARIA, Tales. Relatório da NAE é culpa dos ricos. Correio da Bahia, Salvador, 03 fev. 2007.p. 07. CHIRAC pede “Revolução ecológica” para salvar o planeta. Correio da Bahia, Salvador, 03 fev. 2007. Exterior. p. 10. MUDANÇA climática é obra humana. Correio da Bahia, Salvador, 03 fev. 2007. Exterior. p. 10. TRANSPOSIÇÃO:. Correio da Bahia, Salvador, 04 fev. 2007. p. 06. COSTA, Flávio. Cheia do Rio São Francisco atinge 14 municípios. Correio da Bahia, Salvador, 04 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 11. LEITÃO, Miriam. Um Novo Tempo. Correio da Bahia, Salvador, 04 fev. 2007. Índices. p. 15. PAÍSES pedem política ambiental para salvar o planeta. Correio da Bahia, Salvador, 04 fev. 2007. Exterior. p. 18. TORRES, Jony. Inundação pode atingir a sede do município de Medalha. Correio da Bahia, Salvador, 05 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 02. CHINA na frente. Correio da Bahia, Salvador, 05 fev. 2007. Índices. p. 6. FÓRUM publica nota contra projeto de Lula. Correio da Bahia, Salvador, 05 fev. 2007. Poder. p. 3. RIBEIRO, Perla. Enchente do Rio São Francisco já prejudica 4,9 mil famílias. Correio da Bahia, Salvador, 06 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 02. ENTIDADES ingressam com ação no STF contra transposição. Correio da Bahia, Salvador, 07 fev. 2007. Poder. p. 6. AÉCIO defende a revitalização. Correio da Bahia, Salvador, 07 fev. 2007. Poder. p. 6.
118
MAPA político. Correio da Bahia, Salvador, 07 fev. 2007. Poder. p. 6. AUTORITARISMO de Lula. Correio da Bahia, Salvador, 07 fev. 2007. Poder. p. 6. BISPO cobra posição do Presidente da República. Correio da Bahia, Salvador, 07 fev. 2007. Poder. p. 6. MANIFESTAÇÃO reúne dois mil na orla de Aracaju. Correio da Bahia, Salvador, 07 fev. 2007. Poder. p. 6. LEITÃO, Miriam. O álcool e a mata. Correio da Bahia, Salvador, 07 fev. 2007. Índices. p. 10. AMARAL, Alan. Unidade industrial será inaugurada neste sábado. Correio da Bahia, Salvador, 08 fev. 2007. Economia. p. 7. AL Gore pede compromisso ambiental. Correio da Bahia, Salvador, 08 fev. 2007. Exterior. p. 10. RIOS, Mariana. Enchente atrapalha início do ano letivo no interior. Correio da Bahia, Salvador, 08 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 5. BRITO, Cilene. Polícia conclui relocação de famílias em Malhada. Correio da Bahia, Salvador, 09 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 2. BOEING testa bioquerosene brasileiro de aviação. Correio da Bahia, Salvador, 10 fev. 2007. Economia. p. 9. OFERTA de álcool é tema de estudo. Correio da Bahia, Salvador, 10 fev. 2007. Economia. p. 9. LULA inaugura nova usina de biodiesel . Correio da Bahia, Salvador, 10 fev. 2007. Economia. p. 9. WAGNER faz tapa-buracos emergencial para viagem de Lula. Correio da Bahia, Salvador, 11 fev. 2007. Poder. p. 03. PAÍS não está preparado para ampliar exportações de álcool. Correio da Bahia, Salvador, 11 fev. 2007. Economia. p. 15. VÍTIMAS das enchentes. Correio da Bahia, Salvador, 13 fev. 2007. Poder. p. 03. LEITÃO, Miriam. Perder a hora. Correio da Bahia, Salvador, 13 fev. 2007. Índices. p. 10. Agronegócio baiano sofre impactos do aquecimento global. Correio da Bahia, Salvador, 13 fev. 2007 . Suplemento rural. p. 6. MEIO Ambiente passa a dominar debates. Correio da Bahia, Salvador, 18 fev. 2007. Poder. p. 02.
119
FARRA do governador*. Correio da Bahia, Salvador, 18 fev. 2007. Informe Bahia. p. 03. UM rio que passou*. Correio da Bahia, Salvador, 18 fev. 2007. Brasil. p. 04. LEITÃO, Miriam. Às Marianas. Correio da Bahia, Salvador, 18 fev. 2007. Índices. p. 08. BISPO protesto contra transposição. Correio da Bahia, Salvador, 21 fev. 2007. Índices. p. 12. PAÍS pode produzir 1,3 bilhão de litros. Correio da Bahia, Salvador, 21 fev. 2007. Economia. p. 12. DOM Cappio protesta contra transposição. Correio da Bahia, Salvador, 22 fev. 2007. Poder. p. 02. PROTESTOS recomeçam em Minas Gerais. Correio da Bahia, Salvador, 22 fev. 2007. Poder. p. 02. TORRES, Jony. Nível do Velho Chico sobe sete centímetros em Malhada. Correio da Bahia, Salvador, 22 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 05. D. CAPPIO quer barrar projeto de transposição. Correio da Bahia, Salvador, 23 fev. 2007. Poder. p. 02. GOVERNO descarta adiar projeto. Correio da Bahia, Salvador, 23 fev. 2007. Poder. p. 02. PROTESTO em Minhas. Correio da Bahia, Salvador, 23 fev. 2007. Poder. p. 02. BRITO, Cilene. Enchente continua espalhando caos em vários municípios. Correio da Bahia, Salvador, 23 fev. 2007.Aqui Salvador. 02. ONGS combaterão transposição. Correio da Bahia, Salvador, 24 fev. 2007. Poder. p. 02. FRENTE parlamentar vai debater projeto no Congresso. Correio da Bahia, Salvador, 24 fev. 2007. Poder. p. 02. LIMA, Manoel. Wagner e a transposição. Correio da Bahia, Salvador, 24 fev. 2007. Palavra do leitor. p. 03. CHUVAS causam mortes no Piauí e transtornos em todo o país. Correio da Bahia, Salvador, 24 fev. 2007. Brasil. p. 05. DILMA e Marina empacam o PAC. Correio da Bahia, Salvador, 24 fev. 2007. Economia. Informe JB. p. 07.
120
PREJUÍZOS do mau tempo. Correio da Bahia, Salvador, 24 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 03 O INTERESSE na transposição. Correio da Bahia, Salvador, 25 fev. 2007. Poder. Informe Bahia. p. 02. CARTA. Correio da Bahia, Salvador, 25 fev. 2007. Poder. Informe Bahia. p. 02 DEPUTADO propõe audiência para debater projeto de Lula. Correio da Bahia, Salvador, 25 fev. 2007. p. 03. FRUSTRAÇÃO geral. Correio da Bahia, Salvador, 26 fev. 2007. Poder. Informe Bahia. p. 02 AUDIÊNCIA. Correio da Bahia, Salvador, 26 fev. 2007. Poder. Informe Bahia. p. 02 SENADOR diz que Wagner está isolado. Correio da Bahia, Salvador, 26 fev. 2007. Poder. p. 02 PASTORAL de pescadores promete protestar em Brasília. Correio da Bahia, Salvador, 26 fev. 2007. Poder. p. 02. RIBEIRO, Perla. Cheia do São Francisco causa quinta morte na Bahia. Correio da Bahia, Salvador, 26 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 02. DEPUTADO critica projeto de Lula e defende revitalização do Velho Chico. Correio da Bahia, Salvador, 27 fev. 2007. Poder. p. 04. ENTIDADES vão protestar em Brasília. Correio da Bahia, Salvador, 27 fev. 2007. Poder. p. 04. BRITO, Cilene. Em nome do Velho Chico. Correio da Bahia, Salvador, 27 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 1. BRITO, Cilene. Famílias serão retiradas de municípios atingidos pela cheia. Correio da Bahia, Salvador, 27 fev. 2007. Aqui Salvador. p. 3.