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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ FRANCIS JOSÉ PEREIRA COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE DIESEL E ESTRATÉGIAS DE MARKETING PARA A DEMANDA DE BIODIESEL ILHÉUS – BAHIA 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

FRANCIS JOSÉ PEREIRA

COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE DIESEL E ESTRATÉGIAS DE MARKETING PARA A DEMANDA DE BIODIESEL

ILHÉUS – BAHIA

2008

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FRANCIS JOSÉ PEREIRA

COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE DIESEL E ESTRATÉGIAS DE MARKETING PARA A DEMANDA DE BIODIESEL

Dissertação apresentada para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, à Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC.

Área de concentração: Planejamento e Gestão Ambiental

Orientadora: Profa. Mônica de Moura Pires

ILHÉUS – BA 2008

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Lodária e Francisco, que, na sua simplicidade e amor pela vida, me

indicaram os melhores caminhos para viver com dignidade em um mundo tão complexo.

A Mirian, minha irmã, que sempre norteou os meus caminhos para o

desenvolvimento pessoal e profissional.

A minha primogênita, Maria Fernanda que, nos últimos doze meses, permitiu que as

suas cantigas de ninar renovassem as minhas energias para concluir mais este trabalho.

Realmente o meu mundo ficou muito melhor desde que você chegou por aqui.

Para Daniela, minha esposa, por compreender as ausências necessárias para a

construção deste projeto e por todo amor e carinho que destina para as nossas vidas.

E a todas as crianças, filhas de caminhoneiros, que, por circunstâncias da vida,

acompanham seus pais no difícil exercício desta profissão. Que o futuro delas seja melhor

do que a realidade dos seus pais.

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AGRADECIMENTOS

Acreditar que é possível construir um mundo melhor foi um dos fatores que

motivaram a construção deste trabalho. Não teria sentido este momento sem a colaboração

daqueles que compartilham do mesmo sentimento. Assim, expresso meus agradecimentos:

Ao amigo e profissional de marketing Lierbert Reis Júnior (in memoriam), com

quem aprendi os primeiros fundamentos da comunicação e do marketing. Hoje, atuar como

professor e consultor de marketing é fruto dos seus ensinamentos.

A minha orientadora, professora Mônica de Moura Pires, pela colaboração e

orientação. O seu profissionalismo e a sua forma de conduzir as orientações foram

fundamentais para o meu aprendizado.

Ao professor Guilhardes de Jesus Júnior, por indicar e contribuir para a

viabilização da parceria com um programa de mestrado que realmente poderia contribuir

para o nosso desenvolvimento. Você estava certo!

Ao professor Neylor Calasans Rego, extensivo a todos os professores do programa,

obrigado pelos encaminhamentos necessários para a conclusão do mestrado.

Aos colegas do programa, a minha gratidão pelas experiências compartilhadas em

sala de aula.

À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, pela oportunidade de ampliar meus

conhecimentos e retribuir à sociedade.

Aos gestores da Faculdade de Tecnologia e Ciências, pelo incentivo ao meu

desenvolvimento profissional.

Agradeço a Deus e aos meus familiares.

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SUMÁRIO

Resumo.................................................................................................................... i

Abstract................................................................................................................... ii

Lista de tabelas....................................................................................................... iii

Lista de figuras....................................................................................................... iv

Lista de siglas......................................................................................................... vi

1 INTRODUÇÃO 1

1.1 Uma visão geral da temática.................................................................................. 1

1.2 Implicações da ação antrópica na natureza............................................................ 2

1.3 Tecnologia e desenvolvimento............................................................................... 3

1.4 O problema............................................................................................................. 5

1.5 Objetivos................................................................................................................ 8

1.5.1 Geral....................................................................................................................... 8

1.5.2 Específicos.............................................................................................................. 9

1.5.3 Estrutura do trabalho.............................................................................................. 9

2 EMERGÊNCIA E EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE PRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E IMPACTOS AMBIENTAIS DAS FONTES DE ENERGIA

11

2.1 Produção e meio ambiente..................................................................................... 11

2.1.2 Desenvolvimento sustentável................................................................................. 15

2.2 O desenvolvimento da indústria nacional............................................................... 25

2.2.1 A influência dos governos na indústria nacional e o surgimento da indústria

automobilística.........................................................................................................

30

2.2.2 A indústria automobilística nacional e o meio ambiente......................................... 35

2.3 Fontes de energia e meio ambiente.......................................................................... 40

2.3.1 Biodiesel: conceitos fundamentais.......................................................................... 48

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2.3.2 O programa nacional de produção e uso do biodiesel............................................. 54

2.3.3 Aspectos ambientais a partir do uso do biodiesel.................................................... 57

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Modelos teóricos...................................................................................................... 59

3.1.1 Teoria microeconômica........................................................................................... 59

3.1.2.1 Teoria do consumidor.............................................................................................. 60

3.1.3 Princípios da Administração mercadológica........................................................... 62

3.1.3.1 Definição de marketing........................................................................................... 64

3.1.3.2 O ambiente de marketing......................................................................................... 66

3.1.3.3 Administração mercadológica................................................................................. 68

3.1.4 Comportamento do consumidor.............................................................................. 70

3.1.5 O modelo estímulo – resposta................................................................................. 72

3.1.6 Fatores que influenciam o comportamento ............................................................ 73

3.1.7 A decisão de compra............................................................................................... 77

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 80

4.1 Público alvo da pesquisa de campo......................................................................... 80

4.2 Caracterização da área de estudo............................................................................ 82

4.3 Método da pesquisa................................................................................................. 83

4.4 Amostragem............................................................................................................ 85

4.5 Tamanho da amostra............................................................................................... 86

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 88

5.1 Perfil sócio demográfico da amostra....................................................................... 88

5.2 Fatores que influenciam a decisão de compra do combustível............................... 90

5.3 Uso do veículo e poluição ambiental....................................................................... 98

5.4 Nível de informação e decisão em relação ao biodiesel.......................................... 103

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 107

6.1 Recomendação às estratégias de marketing............................................................. 109

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 113

ANEXO................................................................................................................... 117

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COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE DIESEL E ESTRATÉGIAS DE

MARKETING PARA A DEMANDA DE BIODIESEL

RESUMO

Os fatores econômicos, ambientais e sociais representam o principal foco das discussões e pesquisas sobre biodiesel produzido a partir de óleos vegetais in natura. As questões a respeito de produção do biodiesel, geração de emprego e renda, e determinados aspectos econômicos são relativamente contempladas no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. No entanto, estudos sobre o comportamento do consumidor que utilizará o biodiesel ainda estão ausentes de tais discussões. A partir da compreensão de que o conhecimento desse comportamento é relevante na formação de opinião pública em relação ao biodiesel, e pode influenciar o consumo do produto e o fortalecimento e a estruturação do mercado, este trabalho foi realizado com o objetivo de identificar e analisar os fatores que influenciam o processo de decisão de compra dos consumidores de diesel e sua interface com o consumo do biodiesel. Após um estudo exploratório, definiu-se como método a pesquisa descritiva. Como técnica de coleta de dados utilizou-se a entrevista estruturada, com a utilização de formulário. O público-alvo formou-se de consumidores de diesel que utilizam como meio de transporte de mercadorias o caminhão, nas suas diferentes variações. A amostra foi definida a partir técnica probabilística simples, que indicou 850 entrevistas, realizadas em posto de abastecimento localizado na cidade de Vitória da Conquista, Bahia. Os resultados indicam que as vantagens ambientais da utilização do biodiesel não representam fator de forte influência na decisão de consumo dos caminhoneiros entrevistados. No entanto, preço, qualidade e desempenho do combustível influenciam mais fortemente na decisão de compra dos consumidores de diesel. Apesar da ampla divulgação midiática do biodiesel, o consumidor alvo, neste estudo os caminhoneiros, tem pouco conhecimento a respeito do biodiesel e de suas vantagens para o meio ambiente. Assim, para a elaboração de estratégias de marketing mais efetivas, devem ser considerados os fatores de maior influência sobre o consumo, pois assim haverá um melhor atendimento dos objetivos propostos no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. PALAVRAS-CHAVE: biocombustível, fontes de energia renovável, comportamento do consumidor, marketing.

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DIESEL CONSUMER BEHAVIOUR AND MARKETING STRATEGIES FOR BIODIESEL DEMAND

ABSTRACT

The economical, environmental and social factors represent the main objective of the discussion and researches about biodiesel produced from vegetal oils in natura. Issues related to biodiesel productions, employment and income makimg, and some economical aspects are present in the National Production and Biodiesel Use Program. However, studies about consumer behaviour have not been discussed yet. Since knowledge of such behaviour is relevant to the public opinion formation in relation to biodiesel, and it can also influence on the product consumption, as well as on the market strengthening and structuring; this work aimed to identify and analyze factors which influence decision-making process for consumers to buy diesel and its interface with the consumption of biodiesel. After an exploratory study, it was defined the descriptive research as the method of study. As data collection technique, structured interview and application form were used. The target public was the diesel consumers who use a truck in its different variations as a means of transporting goods. The sample was designed from the simple probabilistic technique which showed 850 interviews carried out in gas station in Vitória da Conquista city, Bahia. The results indicate that the environmental benefits from biodiesel using do not represent a strong influence factor on the decision of consumption of the interviewed truck drivers. Nevertheless, price, quality and fuel performance influence more significantly on the diesel consumers purchase decission. Despite the wide biodiesel dissemination by media use, the target consumers, in this case the truck drivers, have little knowledge about biodiesel and about its benefits for the environment. Thus, to create more efective marketing strategies, factors having a higher influence on the consumption must be considered, in doing so, there will be a better meeting of the objectives proposed in the National Production and Biodiesel Use Program. KEYWORDS: biofuel, renewable energy sources, consumer behaviour, marketing.

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LISTA DE TABELAS

1 Biodiesel no Brasil até definição do marco regulatório.......................................... 7

2 Os números da indústria automobilística brasileira................................................. 36

3 Os números da produção automobilística brasileira em unidades.......................... 37

4 Frota estimada de autoveículos no Brasil-2006....................................................... 37

5 Emplacamento de veículos no Brasil em dezembro 2007 e acumulado anual........ 40

6 Evolução da produção de automóveis por combustível no Brasil entre 1957 e

2006.........................................................................................................................

81

7 Licenciamento de caminhões novos no Brasil por categoria 2002 a 2006.............. 82

8 Nível de instrução e fator de indicação dos colegas................................................ 93

9 Motivo de fazer revisão no motor............................................................................ 100

10 Nível de instrução e motivo de realizar revisão no motor do veículo..................... 102

11 Nível de instrução e motivo que levaria a utilizar o biodiesel................................. 103

12 Motivo que o levaria a utilizar biodiesel................................................................. 105

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LISTA DE FIGURAS

1 Evolução do consumo de combustíveis no setor de transporte no Brasil

1970 a 2006.............................................................................................................

6

2 Representação do desenvolvimento sustentável...................................................... 23

3 Oferta Mundial de energia em 1973 (a) e em 2004 (b)........................................... 41

4 Estrutura da oferta interna de energia renovável e não renovável no Brasil, no

mundo e nos países membros da OECD.................................................................

47

5 Matriz da oferta de energia elétrica no Brasil – 2006.............................................. 48

6 Processo de transesterificação de óleos vegetais..................................................... 50

7 Distribuição da produção nacional de biodiesel de acordo com os principais

enfoques estratégicos...............................................................................................

53

8 Fatores relevantes para a produção e uso do biodiesel............................................ 54

9 Regulamentação do biodiesel no Brasil................................................................... 57

10 Visão sistêmica de uma organização....................................................................... 64

11 Forças ambientais que afetam as organizações....................................................... 67

12 O conceito da administração mercadológica APIC................................................. 68

13 O processo da administração de marketing............................................................. 70

14 Modelo de estímulo-resposta................................................................................... 73

15 Fatores que influenciam o comportamento de compra............................................ 77

16 Processo de decisão de compra............................................................................... 78

17 Processo de decisão de compra organizacional....................................................... 79

18 Estado de origem dos entrevistados......................................................................... 89

19 Vínculo de trabalho dos entrevistados..................................................................... 89

20 Influência fator marca (a) e a influência do fator qualidade (b) no processo de

decisão de abastecimento com diesel......................................................................

91

21 Influência do fator indicação de colegas................................................................. 92

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22 Influência do fator condições de pagamento (a) e a influência externa na decisão

de abastecimento com diesel...................................................................................

94

23 Média mensal de consumo de diesel do entrevistado.............................................. 98

24 Como ficou sabendo sobre biodiesel....................................................................... 104

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LISTA DE SIGLAS

GEE Gases do efeito estufa

ANFAVEA Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

CTF Controle total de frotas

DENATRAN Departamento Nacional de Trânsito

FENABRAVE Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores

GEIA Grupo Executivo da Indústria Automobilística

IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo

CO2 Monóxido de carbono

OIE Oferta interna de energia

OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONU Organização das Nações Unidas

OVEG Programa Nacional de Energia de Óleos Vegetais

PIB Produto Interno Bruto

PNPB Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel

MME Ministério das Minas e Energia

ANP Agência Nacional do Petróleo

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

SEST Serviço Social do Transporte

SENAT Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Uma visão geral da temática

A publicação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), em

fevereiro de 2007, trouxe à discussão questões relacionadas à preservação do meio

ambiente que, ao longo da última década, vem sendo fortemente debatida pela comunidade

mundial. Mais uma vez, o uso dos recursos naturais como forma de garantir a sobrevivência

das gerações futuras é o tema mais relevante dessas discussões.

A cada relatório oficial divulgado nos meios de comunicação, travam-se novas

discussões na sociedade civil, em instituições públicas e privadas e em organizações não

governamentais. No entanto, poucas são as transformações observadas no mundo real ou,

mesmo, na adoção de políticas públicas que resultem efetivamente em mudanças relevantes

para os problemas ambientais observados.

Registra-se o despertar de alguns profissionais da área de comunicação para essa

temática desde os anos de 1960, nos encontros da Biosfera (Paris, 1968) e também do Meio

Ambiente (Estolcomo, 1972). Esses eventos constituíram um marco na influência da

produção midiática, voltada para as questões do meio ambiente. No entanto, com a

Conferência Rio-92 é que se percebeu uma maior divulgação a respeito da temática

ambiental na mídia. Porém, tais discussões, segundo Vieira (1996), acabaram por reforçar o

pensamento vigente de alguns grupos da sociedade, segundo o qual o debate sobre meio

ambiente era simplesmente um modismo.

Naquela Conferência, a produção midiática contribuiu para a propagação de

conceitos superficiais que não colaboravam para discussões de aspectos mais relevantes e

fundamentais que envolvem o meio ambiente. O desenvolvimento sustentável, por

exemplo, um dos temas centrais dos debates, após a Rio-92, passou a ser uma frase de

efeito utilizada sem critério por diferentes meios de comunicação, políticos, empresas e até

mesmo formadores de opinião.

Um dos fatores que contribuíram para que houvesse o uso inadequado de tal

conceito foi a publicação, nos veículos de comunicação daquela época, apenas de aspectos

político-econômicos do problema ambiental. Para Ramos (1996), essa postura reduziu a

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questão multidisciplinar do tema, pelo fato de ignorar as questões sociais e científicas,

ficando, assim, distante da visão mais sistêmica do problema. Esses fatos evidenciaram os

riscos de discutir tais questões ambientais a partir de objetivos de determinados grupos

sociais, resumindo-se a interesses próprios ou para projeção na mídia.

Atualmente, nas discussões a respeito de desenvolvimento sustentável, um dos

aspectos que mais têm despertado o interesse da comunidade científica mundial é a redução

da emissão dos gases provocadores do efeito estufa (GEE) na atmosfera. No entanto, essa

questão deve perpassar aspectos relativos à origem do problema.

1.2. Implicações da ação antrópica na natureza

Os debates em torno dos GEE estão relacionados, principalmente, à interferência

antrópica no clima. Segundo Cano (1998), a fonte de todos os bens é a natureza; é dela que

o homem obtém todos os bens naturais e dela provêm as fontes primárias de energia. Para

este autor, há três grupos de recursos da natureza utilizados pelo homem: o primeiro,

referente ao solo e ao subsolo que fornecem ao homem os vegetais e os minerais, o segundo

que diz respeito aos recursos hidrológicos, fornecedores de água e energia, alimentos,

matérias-primas e vias de transporte e o último, o clima, que, na sua visão, propicia e

condiciona a cultura de determinadas espécies vegetais e animais.

Ao longo do desenvolvimento da humanidade, os diferentes grupos sociais se

preocupavam em obter produtos que atendessem às suas necessidades básicas de

sobrevivência. Na sociedade antiga, afirma Cano (1998), o ser humano tinha como objetivo

atender às suas necessidades mínimas, o que contribuiria para a sua preservação. Com o

avanço das civilizações, as necessidades do homem passaram a contemplar outras

categorias de necessidades, tornando-se cada vez mais ilimitadas. Dessa forma, o homem

contemporâneo passou a ter um novo comportamento, desejando alimento, roupa, abrigo,

transporte, saúde, educação, lazer e etc., como forma de manutenção na sociedade, bem

como de pertencimento a determinado grupo social.

Assim, a busca permanente pela satisfação das necessidades faz com que o homem

desenvolva mecanismos e processos produtivos, para que possa responder a essas

demandas. Nesse sentido, Cano (1998) aborda que, na sociedade pretérita, o objetivo da

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produção era unicamente a satisfação das necessidades para o consumo imediato, enquanto,

na sociedade moderna e capitalista, o ato de produzir desvincula-se do consumo. Isso

porque as firmas têm como objetivo decorrente da produção os ganhos (lucros), que são

transformados nos atos de consumir e investir (comprando e aplicando sobras).

Conforme registra a história, inicialmente, os avanços tecnológicos, que ocorreram

ao longo do tempo, eram instrumentos auxiliares na disposição de expandir a produção.

Dessa forma, a tecnologia disponível era ainda incipiente e reduzida, o que, segundo Cano

(1998), não oferecia para esses grupamentos humanos alternativas de produção.

1.3 Tecnologia e desenvolvimento

Ao longo do desenvolvimento da sociedade, importantes avanços tecnológicos

contribuíram diretamente para a melhoria da qualidade de vida do homem. Segundo Souza

(2003), independentemente do Renascimento, que renovou a ciência, a literatura e outras

artes, e do Mercantilismo, doutrina econômica dos séculos XVI e XVII, que advogava que

a riqueza de um Estado estava na acumulação de reservas de ouro e prata, no dinamismo da

atividade industrial e no incremento das exportações, foi com a Revolução Industrial, na

Inglaterra, no período de 1750 e 1850, que se abriu o caminho para o desenvolvimento

moderno. Assim, foram introduzidas várias inovações tecnológicas na produção,

provocando a redução dos custos e o aumento da oferta dos bens de maneira dispersa na

economia mundial.

A invenção da máquina a vapor de Watt, no final do século XVIII e o navio a vapor

Fulton, no final do século XIX, foram, no entendimento de Cano (1998), fatores

determinantes na primeira Revolução Industrial. Assim, a partir da invenção de

equipamentos movidos a vapor, a invenção da eletricidade, o telégrafo e o maior uso da

ciência nos processos produtivos e, em meados da década de 1970, o desenvolvimento da

microeletrônica e da informática, verificam-se grandes transformações nos métodos de

produção, transporte e comunicações das economias.

Pari passu a esse processo evolutivo, foram desenvolvidos processos

administrativos, ainda que de forma rudimentar, que contribuiriam de forma relevante para

a consolidação do processo de industrialização. Segundo Maximiano, citado por Carvalho

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(2000), o ato de administrar é uma prática que existe desde os primeiros agrupamentos

humanos e que a moderna teoria geral da administração representa a formulação desses

conceitos que surgiram e vêm se aprimorando há muito tempo. Carvalho (2000) salienta,

ainda, que, até então, a maioria dos administradores operou com tentativas e erros,

sobretudo pela falta de uma teoria formal da administração. As primeiras tentativas de

sistematização e formalização aconteceram, basicamente, ao final do século XIX e início do

século XX.

Com as novas tecnologias e os processos administrativos direcionados para a

substituição do empirismo nos processos, começou a aumentar a eficiência da produção.

Cada vez mais insumos eram transformados em produtos para atender às necessidades do

mercado. Quanto mais mercadorias eram produzidas, mais se acirrava a competição entre

empresas e mais se procurava estimular o consumo; conseqüentemente, mais recursos

naturais eram demandados. Na seqüência deste processo, uma das ferramentas

fundamentais adotadas pela administração foi o marketing, com o objetivo de sistematizar e

direcionar as ações mercadológicas das firmas. Segundo Dias et al. (2003), o conceito de

marketing surgiu na década de 1950, quando a industrialização acirrou a competição entre

as empresas, impondo novos desafios pela disputa dos mercados.

Assim, o apenas produzir não garantia o consumo, uma vez que os consumidores

passaram a ter possibilidades de escolha em face da concorrência no mercado. O que antes

era realizado para atender às necessidades essenciais dos indivíduos passou a ser objeto de

estímulo ao consumo, evidenciando-se os primeiros sinais da sociedade consumista

estimulada principalmente pelas estratégias de marketing. Nesse processo de

industrialização e estímulo ao consumo, a ação do homem na natureza implicou em

alterações relevantes no meio ambiente e, atualmente, tal inferência e intervenção passaram

a colocar em risco a sua própria existência no planeta.

Um exemplo dessa ação é o aumento dos gases provocadores do efeito estufa, que

vem implicando na redução da camada de ozônio, o que acaba por provocar um

aquecimento global. Na década de 1970, alguns pesquisadores começaram a perceber a

existência desse fenômeno e o atribuíram ao aumento do nível de dióxido de carbono

lançado na atmosfera, especialmente pelas indústrias, conseqüentemente pelos países mais

desenvolvidos. Mas, em 1988 é que esse tema passou a ser discutido pelos países que

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fazem parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), criado pela

Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse grupo de estudos, cientistas de diferentes

partes do mundo participam de pesquisas que objetivam identificar a origem do

aquecimento global. Nos primeiros relatórios apresentados, verificava-se que o índice de

emissão dos GEE na atmosfera era alto, de acordo com os padrões utilizados por

pesquisadores, e com tendência a aumentar nos próximos anos, o que provocaria intensas

mudanças climáticas no planeta.

1.4. O problema

Muito da emissão dos GEE é de origem da queima de combustíveis fósseis e da

biomassa utilizados nos processos produtivos e ou de consumo. Um exemplo desse tipo de

influência antrópica é a indústria automobilística, que contribui para emissão de CO2 na

atmosfera, tanto no seu processo produtivo quanto na utilização dos seus produtos pelos

consumidores. Atualmente, o Brasil possui uma frota de 42,3 milhões de veículos (dados

do Departamento Nacional Trânsito - DENATRAN1 - para o ano de 2006) divididos entre

automóveis, bonde, caminhão, caminhão trator, caminhonete, camioneta, chassi plataforma,

ciclomotor, microônibus, motocicleta, motoneta, ônibus, quadriciclo, reboque, semi-

reboque, sidecar, trator de esteira, trator de rodas, triciclo e utilitários. O país está entre os

dez maiores produtores mundiais de veículos e, segundo a Associação dos Fabricantes de

Veículos Automotores2 (ANFAVEA), esse setor tem expressiva participação no Produto

Interno Bruto (PIB) Industrial do Brasil.

Esses indicativos evidenciam a relevância da indústria automobilística na emissão

de CO2 na atmosfera, decorrente tanto do processo produtivo quanto do uso do produto

gerado. Percebe-se, então, a necessidade de realização de pesquisas que identifiquem

alternativas energéticas que sejam menos poluentes e, com isso, possibilitem a redução de

gases poluentes e provocadores do efeito estufa na atmosfera (Figura 1). Nesse sentido,

muito tem sido pesquisado, nos últimos anos, norteando-se por tais perspectivas. Nesse

1 Disponível no site http://www.denatran.gov.br. Acesso em: 6 abr. 2007. 2 Disponível no site www.anfavea.com.br. Acesso em: 05 abr. 2007.

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contexto, o desenvolvimento de combustíveis alternativos, como, por exemplo, o biodiesel3

desponta nesse novo cenário econômico.

Figura 1 – Evolução do consumo de combustíveis no setor de transportes no Brasil, 1970 a

2006

Fonte: Ministério das Minas e Energia (2007)

Ao mesmo tempo em que o biodiesel desponta como alternativa para a redução da

emissão de CO2, entre a produção e o uso efetivo de tal alternativa de energia há, ainda,

um longo caminho a ser percorrido pelo Brasil. Nos últimos anos, as questões ambientais

passaram a ser o ponto fundamental no enfoque de alternativas energéticas menos

poluentes, pois a mudança de paradigma de produção e consumo provoca também efeitos

importantes sobre a geração de emprego e renda para a população, bem como seus

impactos sobre a cadeia alimentar. Para Hinrichs (2003), os benefícios ambientais

decorrentes do processo de produção do biodiesel estimulam, direta e indiretamente, a

geração de emprego e renda, especialmente pela possibilidade de inserção de regiões pouco

desenvolvidas do país.

3 Biodiesel é um combustível obtido a partir da reação de transesterificação de óleos e gorduras vegetais ou animais in natura ou residuais, com álcool, na presença de um catalisador.

ESTRUTURA DO CONSUMO NO SETOR DE

TRANSPORTES (%)

0

10

20

30

40

50

60

1970

1973

1976

1979

1982

1985

1988

1991

1994

1997

2000

2003

2006

ÓLEO DIESEL

GASOLINA

ÁLCOOL

OUTROS

GÁS NATURAL

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Segundo Hinrichs (2003), em 1982, o governo brasileiro, por meio do Ministério da

Indústria e Comércio, implementou o Programa Nacional de Energia de Óleos Vegetais

(OVEG) que tinha como objetivo geral avaliar a viabilidade da utilização de óleos vegetais

como combustíveis para a indústria automobilística. No entanto, posteriormente, as

pesquisas foram suspensas. Os primeiros estudos em torno de combustíveis de origem

vegetal iniciaram-se na década de 1920, conforme demonstrado na tabela 1.

Tabela 1 – Biodiesel no Brasil até a definição do marco regulatório

PERÍODO ÓRGÃOS ENVOLVIDOS AÇÃO

DÉCADA DE 20 Instituto Nacional de Tecnologia – IPT Combustíveis alternativos e renováveis

DÉCADA DE 70 Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT CEPLAC

Óleos vegetais como combustíveis

UFCE Desenvolveu o biodiesel

DÉCADA DE 80 PRODIESEL Programa de óleos vegetais

OVEG

OUTUBRO DE 2002

PROBIODIESEL - MCT Tecnologias de produção e mercado - 2010 – B10 e até 2020 – B20

2010 – B10 e até 2020 – B20

JULHO DE 2003 Programa Combustível Verde - MME Meta de produção 1,5 milhão de t biodiesel

ANO 2003 Grupo de Trabalho Interministerial (GTI)

Casa Civil – 11 ministérios

6/12/2004 Ministério de Minas e Energia - MME Lançamento do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel Marco Regulatório

Fonte: adaptado de PIRES, (2007)

O biodiesel, como combustível alternativo para uso em veículos automotores,

ressurge novamente nas discussões iniciadas desde a década de 1960, não apenas para os

aspectos econômicos, mas para os sociais e ambientais, ampliando, assim, a abrangência da

produção de biocombustíveis. Dessa forma, a viabilização desse projeto prevê benefícios a

curto e a longo prazo. A partir desse entendimento, com a realização deste trabalho,

propõe-se ampliar a discussão sobre a temática, evidenciando, principalmente, os aspectos

relacionados a questões ambientais e econômicas, uma vez que a inserção do biodiesel na

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matriz energética brasileira vem propiciando o surgimento de um novo produto no

mercado. Essas questões são analisadas tomando como referência o desenvolvimento das

estratégias de marketing. Portanto, procura-se compreender e identificar os fatores

determinantes na decisão de procura do consumidor, tomando-se como referência para

análise o demandante do diesel, fazendo-se uma interface com o consumidor de biodiesel e

subsidiar a elaboração de políticas públicas eficientes para o setor, bem como o

direcionamento de pesquisas e processos que envolvam a administração mercadológica.

Ainda sob este aspecto, é salutar acrescentar que os fatores econômicos, ambientais

e sociais representam o principal foco das discussões e pesquisas sobre biodiesel produzido

a partir de óleos vegetais in natura. Quanto aos fatores econômicos, a produção deste óleo,

oriundo de diferentes oleaginosas, poderá ser uma alternativa de investimento. No contexto

social, a produção de determinadas matérias-primas, com destaque para a mamona, poderá

contribuir nos projetos relacionados à agricultura familiar, sobretudo na região semi-árida

nordestina. Quanto às questões ambientais, espera-se que a produção de oleaginosas para

geração de energia respeite as condições edafoclimáticas e que as técnicas de produção

empregadas sejam eficientes, do ponto de vista econômico, utilizando racionalmente os

recursos naturais disponíveis.

Nessas condições, os governos federal e estadual têm sustentado as discussões a

respeito do biodiesel, identificando em tal produto uma grande oportunidade para o

desenvolvimento do país. As questões a respeito da produção do biodiesel, geração de

emprego e renda, e determinados aspectos econômicos são relativamente contempladas no

Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. No entanto, estudos sobre o

comportamento do consumidor que utilizará o biodiesel ainda são ausentes de tais

discussões. O conhecimento desse comportamento poderá ser relevante na formação de

opinião pública em relação ao biodiesel, influenciando a demanda pelo produto e

dinamizando a estruturação do mercado.

1.5. Objetivos

1.5.1 Geral

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Analisar os fatores que influenciam o processo de decisão de compra dos

consumidores de diesel, a fim de compreender o consumo do biodiesel.

1.5.2 Específicos

- Identificar os principais fatores que influenciam o comportamento dos

consumidores de diesel.

- Descrever como os consumidores de diesel vêem a inserção do biodiesel no

mercado em relação à questão ambiental e como essa variável pode influenciar a decisão de

compra.

- Identificar como é definido o processo de compra do diesel nos postos de

combustíveis

- Traçar o perfil do consumidor de diesel, relacionando-o ao de biodiesel;

1.5.3 Estrutura do trabalho

O presente estudo foi estruturado em 5 capítulos. O Capítulo 1, de forma

introdutória, registrou uma visão geral da temática em torno do desenvolvimento e da ação

antrópica no clima. Ao apresentar o desenvolvimento da indústria mundial, tendo como

exemplo a indústria automobilística, a questão da poluição ambiental é abordada de forma a

despertar para o problema do consumo de bens e serviços e do uso de energia de fonte não

renovável como geradora dos GEE. Diante de tal situação, colocam-se, de forma resumida,

as discussões em torno da busca de fontes de energia renováveis e o biodiesel nesse

cenário. A seguir delineiam-se o problema e os objetivos gerais e específicos.

No Capítulo 2 contextualiza-se a evolução das relações entre produção,

desenvolvimento econômico e os impactos ambientais decorrentes da demanda por fontes

de energia. Faz-se uma análise histórica da evolução dos processos produtivos,

especificamente no que diz respeito à busca de insumos para a transformação em produtos

acabados. Em seguida, discute-se o desenvolvimento da sociedade e o desenvolvimento

sustentável como forma de garantir a continuidade do desenvolvimento. Apresentam-se

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informações referentes à indústria automobilística nacional, como agente de

desenvolvimento. Na seqüência, discutem-se as fontes de energia, imprescindíveis para o

processo de desenvolvimento, além das implicações ambientais do seu consumo.

Apresenta-se, então, o biodiesel como uma alternativa, analisando-se os aspectos positivos

e limitações como fonte de energia para o Brasil.

O referencial teórico, Capítulo 3, parte da teoria do consumidor, analisada à luz da

teoria microeconômica e sua interdisciplinaridade com a administração mercadológica, do

processo de decisão de compra e dos fatores que influenciam o comportamento dos

consumidores.

No Capítulo 4 procura-se descrever a metodologia e todos os procedimentos

adotados na pesquisa, caracterizando a área de estudo, o público-alvo, o método e a técnica

implementados, a forma de coleta de dados e até as técnicas para sua apuração e

interpretação. No Capítulo 5 encontram-se as análises e a discussão dos resultados obtidos e

o Capítulo 6 refere-se às recomendações e às considerações finais.

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2 EMERGÊNCIA E EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE PRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E IMPACTOS AMBIENTAIS DAS FONTES DE ENERGIA 2.1 Produção e meio ambiente

Ao longo do desenvolvimento da sociedade, a utilização de processos

administrativos para ofertar produtos e serviços que atendessem às necessidades dos seres

humanos sempre foi parte no dia-a-dia dos agrupamentos sociais.

Os conceitos atuais da administração são oriundos de pensamentos registrados na

história antiga da humanidade. Dentre os inúmeros registros, alguns se destacaram.

Segundo Carvalho e Andrade (2000), “uma das mais antigas menções a respeito da

utilização de algum princípio de administração está documentado na bíblia, no livro do

Êxodo”. Esses autores registram, nessa passagem bíblica, que Jetro, ao observar Moisés

cuidando das demandas que o seu povo trazia, orientou-o a buscar homens com capacidade

e transformá-los em chefes de 10, 100 e 1.000 pessoas. Essa recomendação foi há mais de

3.500 anos e, até hoje, mantém-se atual, ou seja, o gestor deverá concentrar-se nas questões

mais importantes, enquanto os assuntos de rotinas devem ser desenvolvidos por seus

subordinados ou auxiliares.

Nesse contexto histórico, aqueles que assumiram a responsabilidade de administrar

os processos produtivos de bens e serviços utilizaram conhecimentos empíricos, uma vez

que não existia uma teoria formal relacionada à administração. Sobre essa situação,

Carvalho e Andrade (2000) defendem que “as primeiras tentativas de sistematização e

formalização só ocorreram no final do século XIX e início do século XX”. Evidentemente,

a utilização desse conhecimento, ainda que incipiente, leva os gestores a buscarem, na

natureza, diferentes recursos para seus processos produtivos.

De acordo com Cano (1998, p.27), “É a natureza, em primeiro plano, a fonte de

todos os bens. É dela que o homem obtém todos os bens naturais - animais, vegetais e

minerais -, e dela provêm as fontes primárias de energia: a luz e o calor solar, o vento, as

quedas d’água, as marés etc.”.

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Em um primeiro momento, as inovações tecnológicas que contribuíram para as

atividades dos seres humanos somente aconteciam em longos períodos. Para Cano (1998), o

conhecimento técnico-científico, ou seja, a tecnologia, à disposição do homem, por ser

precário e reduzido, não lhe oferecia muitas alternativas de produção. Posteriormente, o

processo de manipulação, ou transformação, dos recursos naturais passou a ocorrer a partir

da utilização de três elementos fundamentais – trabalho, recursos naturais e capital -

denominados pela teoria convencional de “fatores de produção”. O trabalho representa o

esforço humano na organização e na execução do processo de produção; os recursos

naturais estão associados ao seu estoque, muitas vezes definidos como terra e capital, e

significam o conjunto de recursos físicos e financeiros disponíveis e que têm por finalidade

diminuir o esforço e aumentar a eficiência do homem no processo produtivo (CANO,

1998).

Àquela época, os recursos naturais pareciam infinitos e o homem, mesmo ciente da

sua limitação, utilizava-os, muitas vezes, sem uma maior preocupação com os possíveis

impactos sobre a sua preservação e uso pelas gerações futuras. Na contemporaneidade,

porém, a utilização desses recursos passou a ser discutida em fóruns mundiais, pois os

avanços tecnológicos levaram a demandá-los desenfreadamente, em função da reprodução

do atual modelo de produção e consumo das sociedades. Nesse sentido, “O acesso a novas

tecnologias permite grandes lucros para as empresas e isso leva a gastar grandes somas de

recursos financeiros em P&D de novos produtos e novos processos de produção” (SOUZA,

2003, p. 20).

A busca permanente por produtos que possam atender às necessidades humanas

contribuiu para o surgimento e a estruturação de firmas cada vez mais especializadas em

atender às necessidades básicas do ser humano, mas também estimulou o consumo de

outros produtos que aguçam o atendimento de outras necessidades, muitas vezes

“imateriais”. Segundo Souza (2003), nas economias desenvolvidas e nas classes sociais

mais ricas dos países em desenvolvimento, em geral, o consumo ultrapassa as necessidades

fisiológicas dos indivíduos. Como fator agravante dessa questão, a autora indica o uso de

elementos como publicidade e ditames da moda. Do ponto de vista dessas organizações, as

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demandas humanas não são pensadas de forma harmônica com a natureza de onde vêm os

insumos para os processos produtivos.

Conforme registraram Carvalho e Andrade (2000), desde 1890 até os dias atuais,

foram constantes as interferências e as ações das empresas, no que diz respeito aos

processos de produção e estímulo ao consumo de bens e serviços, e a utilização dos

recursos naturais. Com o avanço da tecnologia imputada aos processos produtivos,

sobretudo à produção em escala, ampliou-se a fabricação de produtos artificiais e sintéticos,

o que contribuiu para o aumento no consumo de energias não renováveis, em substituição a

fontes renováveis, como animal, eólica, carvão, etc. Nesse contexto, um novo modelo

econômico começou a ser desenhado.

Num curto espaço de tempo, observou-se, no mundo ocidental, uma grande migração do campo para os meios urbanos em processo de industrialização. Estas cidades, além de portos para a chegada de carvão e comercialização dos produtos eram, também, centros de produção e consumo. Como conseqüência inicia-se uma grande mudança no pensamento econômico e as relações de mercado passam a ser estabelecidas pela lei da oferta e da procura (PORTILHO, s.d).

A cada etapa do processo de desenvolvimento, as firmas passam a preocupar-se

com seus resultados financeiros, estimulando permanentemente a reprodução do sistema.

Mais do que produzir mercadorias ou serviços, as empresas precisam de consumidores

dispostos a adquiri-los. “Aos poucos, a principal ferramenta da indústria passa a ser menos

a produção das mercadorias do que a produção de demandas para estas mercadorias”

(PORTILHO, s.d). O resultado desse sistema é um consumo excessivo dentro dos

agrupamentos sociais. No consumo reproduz-se nas relações estabelecidas das pessoas com

os objetos, com a coletividade e com o mundo, servindo de base ao sistema cultural

(PORTILHO, s.d). Assim, a utilidade não é fator mais relevante na escolha e, sim, o valor

de posse que o objeto passa a ter, ou seja, parte-se do argumento teórico das trocas

simbólicas. Segundo Souza (2003, p.21), “A teoria econômica supõe que as firmas e os

consumidores sejam racionais em suas decisões, isto é, que os empresários procurem o

máximo de lucro e os consumidores o máximo de satisfação no consumo de bens e

serviços”.

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Ao estimular as trocas, as empresas focam suas ações estratégicas no aumento do

volume de vendas. Assim, criam-se necessidades maiores de fatores de produção que, ao

longo do tempo, acabam por produzir impactos ambientais em função da intensidade de

demanda pelos recursos naturais. Nessa relação, a gestão administrativa voltada para a

utilização das estratégias de marketing passou a ser relevante, pois, segundo Dalrymple e

Parsons (2003), “o marketing é uma das mais poderosas ferramentas empregadas pelas

organizações em sua luta eterna pelo crescimento e sobrevivência”. Ainda nesta mesma

linha analítica, Souza (2003) afirma que o produtor procura minimizar custos e vender seus

produtos aos preços mais altos possíveis, resultando, assim, em uma maior lucratividade

para o negócio.

Se, por um lado, os avanços tecnológicos contribuíram diretamente para o

crescimento econômico da sociedade, conforme Souza (2003, p.319), por outro lado, a

sociedade, em certa medida, não conseguiu se apropriar desse processo e transformá-lo em

desenvolvimento econômico. Muitos dos estudos a respeito de crescimento, realizados no

período de pós-guerra até o fim dos anos 1960, restringiam suas análises aos indicadores de

crescimento de produto real ou crescimento real per capita. Considerava-se um país como

desenvolvido em função da taxa de crescimento da renda per capita. Por longo tempo, as

terminologias “crescimento” e “desenvolvimento” foram utilizados de maneira análoga.

Souza (2003), no entanto, apresenta distinção entre o conceito de crescimento

econômico e desenvolvimento econômico, pois,, enquanto o crescimento econômico

compreende a expansão do produto real da economia, durante certo período de tempo, sem

implicar, necessariamente em mudanças estruturais e em distribuição de renda, o

desenvolvimento econômico abrange, “[...] mudança de estrutura, como crescimento da

participação do produto industrial no produto total, melhoria dos indicadores sociais e da

distribuição de renda (redução da mortalidade infantil e analfabetismo queda do número de

pobres na população total etc.)” (SOUZA, 2003, p.318).

Diante dessa realidade, o termo crescimento econômico empregado atualmente deve

ser compreendido como um crescimento contínuo do produto nacional ao longo do tempo.

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A primeira condição do desenvolvimento é a de que a taxa de crescimento do produto seja sistematicamente superior à taxa do crescimento demográfico, isto é, que a renda per capita esteja crescendo. Em segundo lugar, é necessário que esteja ocorrendo uma melhoria da distribuição de renda em favor das classes menos favorecidas. Isso pode ser observado pelo aumento na participação das classes inferiores de renda no total da renda nacional e redução dos números de pobres em relação à população total, queda do desemprego etc. O desenvolvimento inclui, ainda, aperfeiçoamentos institucionais. É um fenômeno de longo prazo, implicando a ampliação da economia de mercado e a elevação geral da produtividade dos fatores (SOUZA, 2003, p.330)

Mesmo avaliando as questões sociais e a qualidade de vida da sociedade para

mensurar o desenvolvimento econômico, as questões relacionadas à degradação ambiental,

fruto da ação antrópica na natureza, geralmente, não são incluídas nesse tipo de análise.

A preocupação com a inclusão da variável ambiental nas análises a respeito de

desenvolvimento só é percebida, mais fortemente, nos estudos a partir do final da década de

1960. Isso ocorre porque um grupo de pesquisadores, preocupado com as implicações

ambientais decorrentes do desenvolvimento, critica de forma incisiva o modelo da

sociedade industrial. Da preocupação desses cientistas realizou-se, em 1970, o Clube de

Roma e, dois anos depois, a Conferência de Estolcomo, com o propósito de debater a

questão ambiental e dar encaminhamentos para a adoção de novos mecanismos que

preservem o meio ambiente. Para Cavalcanti (1995), a publicação do estudo Limites do

Crescimento, oriundo do Clube de Roma, em 1970 e a conferência de Estolcomo, realizada

em 1972, foram frutos dos debates, realizados nos anos de 1960, sobre a degradação do

ambiental. Esses estudos analisavam as implicações da industrialização dos países, o

emprego dos recursos naturais e os impactos gerados pelo uso do meio ambiente.

2.1.2 Desenvolvimento sustentável

A partir do momento em que a variável ambiental passou a ser inserida nas

discussões em torno do desenvolvimento, as empresas começaram a se preocupar com os

aspectos que ultrapassavam o social e econômico, para o ambientalmente correto. Todas as

abordagens procuram deixar claro que o desenvolvimento é importante para a

sobrevivência do homem, de forma a garantir a qualidade de vida das gerações presentes e

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futuras. No relatório de Brudtland4, um dos mais importantes para inserir uma consciência

ambiental na humanidade, evidencia-se a complexidade dessa questão. Para Cavalcanti

(1995), esse relatório parte de uma visão complexa das causas dos problemas

socioeconômicos e ecológicos da sociedade global, partindo-se das necessidades presentes,

mas preocupando-se com o futuro da humanidade. Assim, “[...] sublinha a interligação

entre economia, tecnologia, sociedade e política e chama também atenção para uma nova

postura ética, caracterizada pela responsabilidade tanto entre as gerações quanto entre os

membros contemporâneos da sociedade atual” (CAVALCANTI, 1995, p. 33).

Segundo Souza (1993), entre os pontos discutidos nesse relatório destacam-se o

crescimento do desmatamento, a pobreza, as mudanças climáticas, a extinção de espécies, a

crise da dívida e a destruição da camada de ozônio. No relatório foram incluídas, também,

orientações de conduta a serem seguidas pelo estado nacional. Algumas recomendações a

este documento são:

[...] a) limitação do crescimento populacional; b) garantia da alimentação a longo prazo; c) preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; d) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis; e) aumento de produção industrial nos países não-industrializados à base de tecnologias ecologicamente adaptadas; f) controle de urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores; g) as necessidades básicas devem ser satisfeitas (CAVALCANTI, 1995, p. 33).

A essas recomendações acrescentaram-se também as metas que deveriam ser

consideradas, em âmbito internacional, para que os objetivos traçados fossem alcançados.

Assim, “[...] h) as organizações do desenvolvimento devem adotar a estratégia do

desenvolvimento sustentável; i) a comunidade internacional deve proteger os ecossistemas

supranacionais como a Antártica, oceanos, o espaço; j) guerras devem ser banidas; k) a

ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentável” (CAVALCANTI,

1995, p.33).

4 O relatório de Brudtland de 1987 é o resultado do trabalho da Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED). Os presidentes desta comissão eram Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid, daí o nome do relatório final (CAVALCANTI, 1995).

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De maneira geral, o relatório reafirmou as linhas fundamentais que compõem o

conceito de desenvolvimento sustentável. Com base nessas discussões, Stamato (2004)

define desenvolvimento sustentável como “[...] aquele que atende às necessidades do

presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas

próprias necessidades”. Acrescenta, ainda, dois conceitos chaves nessa definição: “[...] a) o

conceito de ‘necessidades’, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que

devem receber a máxima prioridade; b) a noção das limitações que o estágio da tecnologia

e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades

presentes e futuras” (STAMATO, 2004, p.8).

As discussões que levaram às conclusões de Brudtland foram precedidas de

importantes acontecimentos que influenciaram os estudos em torno da sustentabilidade.

Posteriormente, fatos relevantes marcaram o caminhar da humanidade, na busca da

implementação de políticas e mecanismos que viabilizassem um mundo sustentável. As

recomendações da comissão de Brudtland contribuíram diretamente para a pauta de

discussão da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de

Janeiro, em junho de 1992. Na ocasião, comemorou-se o vigésimo aniversário da

Conferência de Estolcomo e publicou-se a Carta da Terra, posteriormente denominada de

Declaração do Rio, e também foi criada a Agenda 215.

Além dessas referências históricas, que registram a preocupação mundial com a

degradação ambiental, muitos trabalhos a respeito de desenvolvimento sustentável foram

produzidos em diferentes núcleos sociais, na tentativa de compreender melhor as

contradições oriundas da expansão do sistema capitalista. Para Stamato (2004), os

organismos internacionais e importantes teóricos vêm trabalhando no aperfeiçoamento e na

aplicabilidade do enfoque de desenvolvimento sustentável.

Para Zhouri (2005), os trabalhos fundados no desenvolvimento sustentável

apresentam a crise ambiental como um conjunto de “problemas ambientais” com que a

humanidade se defronta ao ameaçar os limites da biosfera. A autora complementa

5 A Agenda 21 é um plano de ação definido na Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992 (Rio-92), que tem como objetivo colocar em prática os programas direcionados para amenizar a degradação ambiental e transformar em realidade os princípios da declaração do Rio.

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afirmando que “a idéia de que “o homem” se defronta com os limites ecológicos à sua

existência não passa de uma abstração vazia de sentido”. Reforça o seu pensamento

abordando que:

Desde sempre, a atividade humana de transformação da natureza só pode se efetivar pela mediação de relações de produção determinadas específicas, as quais condicionam a magnitude e a qualidade dos impactos que a atividade humana exerce sobre a natureza, exatamente por condicionar a forma e os fins com que os homens, divididos em classes, organizam sua produção material e seu intercâmbio com a natureza (ZHOURI, 2005, p. 31).

Conforme reforça a autora, a ideologia do desenvolvimento sustentável advoga que

o desenvolvimento capitalista deve ser redirecionado de forma a promover a progressiva

diminuição das desigualdades sociais e de acesso aos “recursos” naturais. Complementa

afirmando que:

Mais uma vez, é preciso dizer que a crença nessa possibilidade decorre de abstração que se faz “daquilo” que se desenvolve. Com efeito, não apenas a questão da sustentabilidade de uma determinada forma de vida social, mas também o problema correlato da distribuição social do acesso e do uso das condições naturais e de suas conseqüências “positivas” e “negativas”, deriva das formas de propriedade e relações de produção vigentes (ZHOURI, 2005, p. 36).

No que diz respeito à origem da preocupação com a degradação ambiental e o uso

sustentável dos recursos naturais para a produção de mercadorias, registra-se que, ao longo

do desenvolvimento dos agrupamentos sociais, de alguma forma essa preocupação se fez

presente, não sendo, portanto, algo recente, pois,

Investigações históricas mais recentes demonstram que não é, em absoluto, invenção das últimas décadas a idéia de que o uso das condições naturais para a produção de mercadorias deve ser feito de forma politicamente planejada, de forma a controlar o “imediatismo” inerente a uma economia de acumulação de riqueza abstrata (ZHOURI, 2005, p.38).

A autora complementa dizendo que, no século XIX, intelectuais e políticos já

elaboravam propostas e ações voltadas “à gestão racional” das condições naturais como

recursos estratégicos em projetos de desenvolvimento econômico nacional. Em função do

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momento da história, Zhouri (2005) ressalta que essas idéias estavam condenadas a

permanecer no âmbito da especulação ou dos experimentos localizados e efêmeros.

Somente com os avanços tecnológicos, a preocupação com o desenvolvimento sustentável

se faz presente de forma mais efetiva;

[...] somente no último terço do século passado o desenvolvimento do sistema mundial de produção de mercadorias atingiu um grau em que a destruição intensa e global das condições naturais de produção de mercadorias e da vida levou as elites políticas a afirmar de forma mais generalizada a idéia de programas que objetivam a gestão política “racional” das condições naturais de produção (ZHOURI, 2005, p. 39).

De acordo com esse pensamento, Stamato (2004) argumenta que passa a existir uma

solidariedade incondicional entre as gerações, pois “[...] o que está em jogo é a patente

preocupação de associação dos aspectos econômicos à problemática social e ambiental”.

Conclui dizendo que “[...] trata-se, portanto, de refletir sobre um novo projeto de

civilização à luz da justiça social, da prudência ecológica e da eficiência econômica”.

Segundo a autora, basicamente, duas posições influenciaram nesse comportamento:

[...] A primeira argumentava sobre a necessidade de parar os processos de crescimento. Essa tendência – teoria do Crescimento Zero – foi mundialmente conhecida a partir do Relatório do Clube de Roma sobre o Dilema da Humanidade e que apontava para uma reflexão emergente sobre os limites da natureza. O modelo analítico desse estudo ressalta os aspectos determinantes e os limites impostos para o crescimento econômico, discorrendo sobre a problemática em nível mundial, procurando agrupar em um sistema elementos sócio-políticos, técnicos e econômicos atuantes uns sobre os outros (STAMATO, 2004, p.7).

A segunda estava relacionada “a projetos e programas de desenvolvimento em

países do terceiro mundo”. Para Maimon, apud Stamato (2004), a partir dessa ótica, a

questão ambiental praticamente foi criada pelos países desenvolvidos com o único

pensamento de “frear a ascensão do Terceiro Mundo e que, quando a renda per capita

aumentasse retornar-se-ia à discussão sobre deterioração ambiental”. Assim, segundo

Stamato (2004), foram suscitadas, nesses estudos, questões de âmbito mundial e de balanço

do século, no contexto da relação entre os povos e de aspectos normativos que gerenciarão

o futuro, numa economia altamente globalizada.

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As análises e os estudos em torno dessa temática indicam que é necessário um

reposicionamento no que diz respeito ao desenvolvimento. Os agrupamentos humanos

sempre estarão buscando atender às suas necessidades básicas a partir da utilização dos

recursos naturais disponíveis na natureza. A cada período, novas necessidades serão

identificadas e novos produtos serão desenvolvidos para atender a essas demandas e,

evidentemente, os insumos continuarão sendo retirados do meio ambiente. Sobre esse

aspecto, Miranda et al.(1998) afirmam que, em função dos valores contemporâneos, não se

pode limitar a qualidade de vida à disponibilidade de bens e serviços (materiais, ambientais

e espirituais), mas a democracia e a liberdade, a integração participativa do cidadão na vida

política e social devem constituir também objetivos das sociedades contemporâneas.

A explosão demográfica, segundo Stamato (2004), é mais um dos fatores que

colocam a relação da sociedade humana “com o meio ambiente em clima crescente de

tensão”, e o que “está em jogo é a sobrevivência da espécie”. E complementa “[...],

entretanto, novas necessidades afloram à consciência e ao dia-a-dia da humanidade,

algumas delas supérfluas e provocadas artificialmente”. Para a mesma autora:

O desenvolvimento do homem – seja indivíduo seja sociedade – não se perfaz com o simples crescimento econômico. É imprescindível uma conversão da mente – a “metanóia” de que falavam os gregos – para arrancá-lo à beira do abismo sem perspectiva que se chama consumismo. Os aspectos sociais do desenvolvimento estão a clamar por maior atenção da parte dos administradores; os aspectos culturais afirmam-se como complemento (e não simples suplemento) às necessidades básicas do ser humano. (STAMATO, 2004, p.8)

Stamato (2004) defende, ainda, que o meio ambiente é fonte de recursos para o

desenvolvimento, sendo terminologias recíprocas que não se entendem isoladas. A autora

compara o homem a um administrador de casa, que tem a função de conhecer melhor para

utilizá-la por mais tempo e assim cumprir a sua finalidade e assegurar a própria espécie;

uma mentalidade tipicamente ecológica. O desenvolvimento se processará em função do

homem e não à custa da sobrevivência do próprio homem.

Para que o desenvolvimento sustentável aconteça de forma efetiva é necessário que

as variáveis socioeconômicas e ambientais estejam incluídas e sejam analisadas. Pois, para

Cavalcanti (1995), a modernização não acompanhada da intervenção do Estado racional e

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das correções da sociedade civil, desestrutura a composição social, a economia territorial e

seu contexto ecológico. Acrescenta, ainda, que, em uma perspectiva multidimensional,

necessita-se do envolvimento entre economia, ecologia e política. Nesse sentido, o ponto

central dessas discussões está na teoria do desenvolvimento sustentável. Essa mesma

sistematização está em Zhouri (2005), quando analisa a ideologia do desenvolvimento

sustentável sob a ótica das tarefas teórico-práticas fundamentais do presente. Conduzida

com esse rigor, a reprodução social deve ser compatível com a natureza limitada.

Para viabilização desse desenvolvimento, será necessário, segundo Miranda et al.

(1998), que exista também uma relação entre as “condições e as características dos

ecossistemas e o modelo de organização da sociedade e da economia, com suas bases

estruturais, resultante, no final das contas, de escolhas políticas”. Na visão desses autores, o

conceito de desenvolvimento sustentável deve incluir áreas específicas e interligadas,

conforme descrevem na sua obra:

[...] o conceito encerraria três grandes conjuntos interligados e com características e papéis diferentes no processo de desenvolvimento, diferenciando os componentes econômicos, sociais e ambientais da proposta: - elevação da qualidade de vida e a equidade social constituem objetivos centrais do modelo de desenvolvimento, orientação e propósito final de todo esforço de desenvolvimento no curto, médio e longo prazos. - a eficiência econômica e o crescimento econômico constituem pré-requisitos fundamentais, sem os quais não é possível elevar a qualidade de vida com equidade. Dessa forma, representa uma condição necessária, embora não suficiente, do desenvolvimento sustentável. - a conservação ambiental é um condicionante decisivo da sustentabilidade do desenvolvimento e da manutenção no longo prazo, sem a qual não é possível assegurar qualidade de vida às gerações futuras e equidade social sustentável e contínua no tempo e no espaço (MIRANDA et al., 1998, p. 58).

Dessa forma, os aspectos midiáticos ou não, em torno do desenvolvimento

sustentável, tendem a simplificar a problemática dessa questão, passando a idéia de ser algo

viável e imediato. A transição do antigo modelo de desenvolvimento para o modelo

sustentável não pode ser entendida de forma simplista, pois envolve abordagens sistêmicas

e holísticas, sendo, portanto, bem mais complexo do que aparenta ser. Para Miranda et al.

(1998), “[...] o desenvolvimento sustentável requer uma mudança importante nos padrões

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básicos de organização da economia e da sociedade e das suas relações com a natureza,

envolvendo grandes dificuldades técnicas, políticas e culturais”. Profundas transformações

são necessárias para que a sustentabilidade passe a fazer parte do processo, pois, para esses

autores:

O desenvolvimento sustentável constitui um novo estilo de desenvolvimento baseado nos postulados de equidade social, conservação ambiental e eficiência e ampliação da base econômica. Dessa forma demanda uma profunda reestruturação do atual modelo de desenvolvimento predominante (pelo menos no Brasil e, especialmente, no Nordeste), com diferentes níveis e intensidades de desigualdade social e pobreza, degradação do meio ambiente e ineficiência econômica (MIRANDA et al,1998, p.60).

Para Miranda et al. (1998), torna-se relevante enfrentar a rigidez e as restrições

estruturais, que envolvem tempo e iniciativas transformadoras da base da organização da

sociedade e da economia. Assim, o desenvolvimento sustentável deve ser uma meta a ser

alcançada que, muitas vezes, não ocorre de forma imediata pelo fato de que “[...] a rigidez

estrutural do modelo econômico-social prevalecente, o desenvolvimento sustentável

termina sendo um objetivo a ser alcançado a médio e a longo prazo, à medida que

amadurecem as mudanças dos fundamentos estruturais, durante a transição entre os estilos”

(MIRANDA et al., 1998, p.61).

Qualquer forma ou ação que desconsiderem esses pontos poderão colocar em risco

o posicionamento da sociedade em relação ao desenvolvimento sustentável, segundo esses

autores. Ademais, eles apresentam o desenvolvimento sustentável como o processo que

leva a uma ampliação da área de interseção dos três círculos, combinando eqüidade

social, conservação ambiental e racionalidade ou eficiência econômica (Figura 2). E,

quanto maior a área de inserção, mais sustentável o desenvolvimento e maior a

compatibilização dos objetivos econômicos, sociais e ambientais. Quanto mais estreita a

referida área, maior o grau de insustentabilidade do desenvolvimento em determinada

realidade.

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AUSÊNCIA DE REALISMO

ECONÔMICO

DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

ELEMENTOS DEEQUIDADE

SOCIAL

ELEMENTOS DECONSERVACIONAISTAS

DEGRADAÇÃO DOMEIO AMBIENTE

POBREZA EDESIGUALDADE

ELEMENTOSDE RACIONALIDADE

ECONÔMICA

ESTRUTURA DEDISTRIBUIÇÃO

DE RENDA

BASE TECNOLÓGICA

PADRÃO DECONSUMO

Figura 2 – Representação do desenvolvimento sustentável.

Fonte: Adaptado de Miranda et al. (1998).

Portanto, uma mudança na estrutura de base do desenvolvimento será possível, de

acordo com Miranda et al. (1998), se houver “melhoria conjunta da oferta de bens e

serviços e emprego e renda, paralelamente à conservação dos recursos e à melhoria da

qualidade do meio ambiente”. Torna-se, assim, necessária uma transformação na base do

desenvolvimento, pois:

[...] as bases do desenvolvimento devem ser alteradas – favorecidas por mudanças na estrutura produtiva e, sobretudo, no padrão tecnológico – para que se obtenha, ao mesmo tempo, uma melhoria da qualidade pela via econômica e pela via ambiental [...] a trajetória deve contribuir para otimizar, com diferentes ritmos e características, os avanços permanentes e sustentáveis na equidade social, na conservação ambiental e na racionalidade econômica, ampliando a participação e consolidando a democracia (MIRANDA et al., 1998, p.66).

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Diante dessa realidade, as empresas representam uma das principais variáveis para

que se atinja o desenvolvimento sustentável. Nesse novo ambiente, Donaire (1994) afirma

que as empresas vêm desempenhando novos papéis, decorrentes de mudanças nos valores e

ideologias da sociedade. Acrescenta também que a sociedade tem exigido, por parte das

organizações, um posicionamento mais adequado e responsável no sentido de minimizar as

diferenças entre os resultados econômicos e sociais.

Um exemplo da importância das firmas no processo de produzir bens e serviços a

partir da compreensão e da utilização coerente das variáveis ambientais, sociais e

econômicas, objetivando a sustentabilidade, é o Dow Jones Sustainability Index6, que

avalia as empresas participantes em relação à sua intervenção no meio ambiente, o que

contribui para a valorização da firma no mercado financeiro mundial. No período de

2004/2005, foram avaliados mais de 2.500 empresas, 60 ramos industriais, 34 países e

selecionadas 318 empresas que representam um valor de mercado de US$ 6,5 trilhões7. O

resultado da divulgação contribui diretamente para a valorização das empresas no mercado

Fazem parte desse índice avaliativo os fatores desempenho financeiro, econômicos,

sociais e ambientais, além das estratégias empresariais, no que diz respeito a riscos e

oportunidades. A inclusão de uma empresa no índice contribui para agregar valor no

empreendimento, principalmente no que diz respeito ao reconhecimento público de seus

investimentos nos campos econômico, ambiental e social, despertando, ainda, interesses do

seu público, tanto interno quanto externo. As empresas incluídas são avaliadas nessas três

dimensões e, ainda, em relação a 28 temas e 84 itens8.

Alguns dos itens avaliados na dimensão econômica são a governança corporativa, as

relações com investidores, o planejamento estratégico, os indicadores, o gerenciamento de

riscos e crises, o código de conduta, o atendimento à legislação, o relacionamento com

clientes, as vendas no atacado e varejo, o gerenciamento do preço e as oportunidades de

mercado. No aspecto social, incluem-se as práticas trabalhistas, o desenvolvimento do

capital humano, a atração e a retenção de talentos, a gestão do conhecimento, os

fornecedores, o comprometimento com as partes interessadas, a cidadania e a filantropia e

6 O Dow Jones Sustainability Index é uma iniciativa conjunta do Dow Jones Indexes e do San Group. Foi lançado em 1999 como o primeiro indicador de desempenho financeiro das empresas líderes em sustentabilidade em nível global. 7 Dados levantados nos relatórios do 10º. Encontro Anual CEMIG-APIMEC ( 2007). 8 Dados levantados nos relatórios do 10º. Encontro Anual CEMIG-APIMEC (2007).

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os relatórios sociais. Em relação à questão ambiental, alguns dos pontos avaliados são a

política, a eco-eficiência, os relatórios ambientais, o sistema de gestão ambiental, a

performance ambiental e estratégia em relação ao clima.

2.2 O desenvolvimento da indústria nacional

A industrialização mundial implicou em transformações nos mais diferentes

contextos, como o político, o econômico, o social e o tecnológico. Os países que, ao longo

do tempo, vêm impondo um ritmo mais acelerado no progresso industrial são Inglaterra,

França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália e, posteriormente, Estados Unidos e Japão,

entre outros países asiáticos. Esses países tornaram-se grandes potências mundiais, com

destaque para os Estados Unidos. Anteriormente à expansão do capitalismo mercantilista, a

Revolução Industrial e também o descobrimento de outros territórios, dentre os quais o

brasileiro, foram fatores de grande importância para o desenvolvimento industrial. Sobre

isso Brumm (1987) afirma que o Brasil e os demais países da América Latina e, também, os

da África e Ásia, surgiram, na história do Ocidente, quando da expansão do capitalismo

mercantil europeu nos séculos XV e XVI. O mesmo autor acrescenta que:

A colonização do Brasil é dirigida oficialmente pelo governo português e processa-se, no decorrer de três séculos, sob a influência dominante dos interesses do capitalismo mercantil. [...] O Brasil é considerado uma grande fonte extrativista, integrada na engrenagem do sistema mercantilista, explorada em função da Metrópole e destinada a fornecer produtos primários para abastecer os centros econômicos da Europa (BRUMM, 1987, p.20).

O descobrimento do Brasil, a sua forma de colonização e os objetivos do

colonizador contribuíram para a sua dependência ao capital externo, conforme salientado

por Brum (1987). Em consonância com essa afirmativa, Souza (2007) reitera que o Brasil

nasceu como um projeto colonial da metrópole portuguesa, portanto, sob o signo da

dependência externa. Para este autor, foi com a subordinação econômica de Portugal ao

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capitalismo inglês do início do século XVIII e também baseado no Tratado de Methuem9

que a colônia brasileira passou a depender de Portugal e Inglaterra. Assim:

[...] a nova colônia passou a servir a dois senhores: o ouro que era aqui extraído servia para Portugal pagar suas dívidas com a Inglaterra, ao mesmo tempo em que o Brasil passou a ser um importante escoadouro dos produtos industriais que, através de Portugal, vinham da Inglaterra (SOUZA, 2007, p.1).

É neste ambiente que a economia brasileira inicia a sua estruturação. Ou seja, a

prioridade era atender às demandas estrangeiras e não à da sociedade local. Como

conseqüência, a dinâmica da sociedade do Brasil era fortemente influenciada pelo

pensamento do império português e do mundo. Era esse o pensamento econômico

predominante do país nos três primeiros séculos após a sua descoberta (BRUM, 1987).

A independência política aconteceu somente no início do século XIX e, segundo

Brum (1987), ocorreu justamente quando a Europa ingressava na era da Revolução

Industrial liderada pela Inglaterra. Mesmo com a independência política, o Brasil

continuava dependente dos interesses dominantes, uma vez que a Inglaterra foi ocupando e

assumindo o lugar de Portugal, no que diz respeito ao domínio sobre o Brasil (SOUZA,

2007). Mesmo com uma nova realidade:

A sociedade politicamente autônoma não consegue elaborar e implementar um projeto nacional próprio. Conseqüentemente, continua a ser reflexo das necessidades, interesses e ações de outros centros do poder – Inglaterra e França principalmente. Do mesmo modo que no período colonial, também durante o império o Brasil continua a desempenhar uma função complementar: produção e exportação de alguns gêneros alimentícios e matérias primas tropicais e importação de produtos manufaturados (BRUM, 1987, p.22).

Nesse momento, a base da economia do país resumia-se na produção e exportação

de café, um reflexo da condição de economia agroexportadora do período colonial. Souza

9 Segundo Souza (2007), este tratado comercial foi firmado, em 1703, entre Portugal e Inglaterra, e por meio dele Portugal dava preferência aos produtos industriais ingleses, enquanto a Inglaterra favorecia os vinhos e os azeites portugueses. Este mesmo autor cita o pensamento de Celso Furtado: “esse acordo significou para Portugal renunciar a todo desenvolvimento manofatureiro e implicou em transferir para a Inglaterra o impulso dinâmico criado pela produção aurífera no Brasil ( Furtado, Celso. Formação econômica do Brasil. 11.ed.São Paulo: Nacional, 1971, p.34).

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(2007) acrescenta que “[...] nessa economia, cabia aos bancos ingleses aportar os recursos

financeiros para a produção, transporte e comercialização do café10 e, aos industriais

ingleses fornecer produtos manufaturados ao Brasil. O poder econômico e político

concentravam-se na aristocracia rural e nenhum movimento político e social da época

abalou essa dominação”. Portanto, segundo Brum (1987), a economia brasileira

inicialmente “[...] esteve atrelada à demanda externa, sem que houvesse preocupação em

orientar a produção para a satisfação às necessidades essenciais da população do país”.

Com o passar dos anos, especificamente na década de 1920, na sociedade brasileira

passou a existir um descontentamento com esse modelo econômico11. Inicia-se, então, a

primeira crise nacional, denominada por alguns autores como crise de transição. Nesse

contexto, a Primeira Guerra Mundial também contribuiu diretamente para que a

dependência externa passasse a ser questionada (BRUM, 2007). Assim:

Alguns setores da sociedade passam a preocupar-se com a superação do atraso histórico e com a necessidade de imprimir um novo ritmo e um novo rumo ao país. A emancipação política passa a ser percebida mais como ficção do que como realidade efetiva. Apresenta-se, então, o desafio de buscar a construção da verdadeira independência. Para isso faz-se mister edificar a independência econômica e a independência cultural. Pensar em independência econômica é apontar no rumo da industrialização (BRUM, 1987, p.33).

A partir de então, teve inicio um momento de transformações em diferentes níveis

da sociedade, com destaque para o fortalecimento da industrialização da economia. Para

Brum (1987, p. 35), “as mudanças mais importantes que se operam na sociedade brasileira,

a partir da primeira Guerra Mundial, ocorreram no plano econômico, naturalmente com

repercussões nos demais campos da sociedade”. Acrescenta dizendo que “de um lado

esgotaram-se as possibilidades de crescimento da economia baseada na expansão da

10 Este autor cita, na sua obra, o acordo de Taubaté que, segundo ele, foi firmado entre os cafeicultores e estados produtores de café, em 1906, para a defesa e a valorização do produto, e implicava na tomada de empréstimo, junto aos bancos ingleses, para viabilizar a aquisição de excedentes. Cita como fonte: Furtado, Celso. Formação Econômica do Brasil. 11.ed. São Paulo: Nacional, 1977, p.179-185). 11 Segundo Brum (1987), coincidentemente, o ano do centenário da emancipação política brasileira - 1922 - pode ser tomado como o ano-chave desse processo de transição histórica da sociedade brasileira. É ele assinalado pela eclosão de alguns acontecimentos simbolicamente marcantes desta fase, com desdobramentos importantes no futuro. São eles: semana de arte moderna [...] fundação do partido comunista brasileiro [...] criação do centro D. Vital [...] revolta do forte de Copacabana.

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produção de bens primários destinados à exportação, particularmente o café. De outro se

intensifica o processo de industrialização”.

O café, como o principal produto da economia nacional, contribuiu de forma

relevante para o crescimento do país, conforme Souza (2007, p. 3) e, para “...a transição do

trabalho escravo para o assalariado”, transferindo “...para o Centro-Sul o núcleo central do

desenvolvimento econômico do país”. No entanto, a forte dependência da economia

brasileira em relação ao café, na geração de divisas para o país, contribuiu para a condição

de refém ao próprio sistema. Tanto que, no início do século XX, aconteceu a crise de

superprodução do café, que provocou a intervenção do governo federal, a partir do uso de

recursos federais, para garantir a compra e a armazenagem do produto, a fim de garantir

preço. Essa decisão beneficiou, principalmente, os grandes fazendeiros de café, ficando

conhecida como Acordo de Taubaté. Por outro lado, Souza (2007, p. 3) acredita que “ [...]

a economia exportadora do café já se esgotara no começo do século. Sua continuidade, a

partir de então, decorreu do artifício de compra do excedente estabelecida no Acordo de

Taubaté, em 1906, o qual engendrou um forte endividamento externo do país”.

A crise desse modelo econômico do Brasil, no ano de 1930, ocorreu em função das

suas contradições que Souza (2007) analisa da seguinte forma:

A primeira contradição decorre da vulnerabilidade característica de um modelo que, além de depender da exportação de praticamente um único produto primário, ainda se subordina à lógica do financiamento externo e do abastecimento do mercado interno por produtos industriais importados. Diante de qualquer crise mundial, uma economia com essas características tende a ser fortemente impactada. [...] o violento processo de urbanização resultante da intensificação do comércio exterior não se fazia acompanhar por um avanço correspondente da industrialização, resultando em desemprego e inflação (SOUZA, 2007, p. 3).

Paralelamente ao ciclo do café, alguns movimentos de industrialização aconteceram

no país, mas não conseguiram se desenvolver12. Brum (1987), em seu estudo sobre o

12 Nos estudos de Souza (2007), ele denomina essas tentativas de surtos industriais. Para ele, foram os seguintes: 1) no século XVIII, durante o ciclo da mineração; 2) na década de 1840, depois da instituição das tarifas alfandegárias Alves Branco; 3) na década de 1890, depois da primeira fase da República, os ministros da fazenda, Rui Barbosa e Serzedelo Correia, adotaram um programa industrializante; 4) durante a primeira Guerra Mundial, graças ao protecionismo natural ensejado pelo conflito bélico.

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desenvolvimento econômico brasileiro, assinala que, durante o Império e a República, em

função das circunstâncias e de alguns impulsos intermitentes, algumas indústrias surgiram,

mas não foram suficientes para influenciar e alterar o modelo da economia exportadora do

país. Para Lima (2007, p.20), “o processo industrial brasileiro era marginal, quando

comparado com a atenção e volume de recursos movimentados pela exploração do setor

agrícola, voltado para o abastecimento dos mercados internacionais, principalmente pela

economia cafeeira”. Na obra de Souza (2007) são apresentadas as seguintes razões para que

a industrialização não se consolidasse neste período:

[...] 1. a prática do livre comércio com a Inglaterra abria nossas fronteiras para os produtos industriais ingleses, inviabilizando a implantação da indústria infante no país; 2. a política de valorização do café garantia enorme rentabilidade para esse setor, deslocando para ele quase todos os capitais e recursos governamentais; 3. a preponderância da concentração fundiária limitava o desenvolvimento do mercado interno para produtos industriais; 4. a política estatal, hegemonizada pelos cafeicultores paulistas, era totalmente hostil à indústria, salvo nos momentos iniciais da república. (SOUZA, 2007, p.4)

Mesmo as tentativas de industrialização não tendo alcançado êxito, para Souza

(2003, p.4), a partir de 1924, “a indústria, que ainda não lograra um desenvolvimento auto-

sustentado, entrou em decadência”. Essa situação, somada à crise cafeeira que manteve as

exportações do café sem maiores ganhos, enfraqueceu a economia nacional que dependia

praticamente desse produto. Como agravante, em outubro de 1929, a Bolsa de Nova Iorque

quebrou, desencadeando, na visão de alguns pesquisadores, a Grande Depressão da

economia mundial. Assim, o café, principal produto de exportação brasileiro, sofreu

conseqüências imediatas. Outro fator que também influenciou neste contexto foi a crise

econômica dos EUA e da Europa, cujas medidas de recuperação influenciaram diretamente

a queda drástica no preço do café e do volume de exportações (BRUM, 2007). Dessa

forma, o café deixou de atrair investimentos. Os efeitos imediatos dessa crise mundial na

economia podem ser resumidos em dois aspectos:

[...] a) caíram violentamente os preços internacionais dos produtos primários, acarretando uma forte queda nas exportações de países, como o Brasil, que baseavam suas economias na produção e exportação desses produtos; b) tornaram-se escassos os créditos que vinham contribuindo

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para financiar a retenção dos estoques do café, com base no acordo de Taubaté (SOUZA, 2007, p.5).

A crise do café – cujo desfecho foi em 1929 -, somada ao bloqueio econômico

internacional, provocado pela guerra, que dificultava as importações de produtos

industrializados, evidenciou a necessidade de mudança do modelo econômico até aqui

voltado para o mercado externo, para o outro, com direcionamento para o mercado interno.

Os núcleos sociais que defendem a criação de novas fontes geradoras de renda defendiam o

processo de industrialização por entenderem que esta seria a melhor opção para tirar o país

do atraso colonial que impedia o seu crescimento (BRUM, 1987). Assim:

O centro dinâmico da economia brasileira se desloca. Essa mudança tem dimensões bastante profundas, pois durante quatro séculos a economia estivera orientada exclusivamente para e pelo exterior, mantendo as características agrárias da sociedade, e, agora, o centro dinâmico da economia se desloca em direção ao mercado interno, cada vez maior e mais firme, fortalecendo o crescimento industrial e urbano (BRUM, 1987, p.37).

Nesse contexto, teve início, pós 1930, a industrialização brasileira, por meio da

substituição de importações, uma vez que passou a produzir internamente os produtos que

até então eram importados (SOUZA, 2007).

2.2.1 A influência dos governos na industrialização nacional e o surgimento da

indústria automobilística

Paralelamente à crise econômica (1930), Getúlio Vargas assumiu a presidência do

país, para um mandato que se iniciava em 3 de novembro de 1930 e estava previsto para

encerrar em 1934. Mas, por uma decisão da Constituinte da época, aprovou-se um mandato

de mais quatro anos, devendo terminar em 1938, fato que não aconteceu em função da

imposição pelo presidente do “Estado Novo”13. O seu programa de governo baseava-se em

quatro pontos fundamentais: a garantia do direito de voto, a proteção a economia nacional,

13 O Estado Novo foi um regime ditatorial cujas características eram a centralização do poder e a maior interferência do Estado, na área do desenvolvimento econômico (LIMA, 2007).

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a proteção ao trabalho e o ensino público (SOUZA, 2007). Para que esses objetivos fossem

alcançados, seria necessário fazer negociações, pois:

As novas forças que assumem o poder e os novos interesses que representam, sem suficiente sustentação própria, têm necessidade de barganhar, tanto com os interesses do latifúndio agrário, quanto com o capital estrangeiro, agora sobre influência dos estados Unidos da América, apesar da postura urbano-industrial e nacionalista que o governo Getúlio Vargas procura assumir e se esforça para manter (BRUM, 1987, p.51).

Contrariando o pensamento de alguns grupos. que entendiam que o país somente

teria condições de crescer quando os países centrais retomassem o seu crescimento, o

governo de Getúlio, segundo Souza (2007, p.13), defendia que “ [...] a economia brasileira

poderia e deveria retomar o crescimento independentemente da dinâmica da economia

mundial, e de que, para isso seria necessário mudar o modelo econômico”. Com esta

filosofia e com a implementação de ações práticas, a industrialização desse período

contribuiu para o crescimento econômico. Para Lima (2007), essa missão foi a primeira que

se preocupou em estudar, analítica e sistematicamente, a estrutura da economia brasileira,

objetivando contribuir para o desenvolvimento nacional nesse momento de mudança da

política econômica.

Evidentemente, as mudanças propostas enfrentaram diferentes obstáculos dentro do

contexto sócio-político do país, com destaque para a postura daqueles que defendiam a

economia agroexportadora e que, naquele momento, perdia o seu espaço. Até mesmo

aqueles que defendiam o projeto tentariam dificultá-lo. Segundo Souza (2007, p.17),

“malogrado o levante de São Paulo, o governo Getúlio enfrentaria três anos depois, em

1935, um outro levante, dessa vez promovido por setores que queriam fazer mudanças, mas

estavam insatisfeitos com o seu ritmo”. Em 1946, deixou a presidência e assumiu o

candidato que tinha o seu apoio, Eurico Gaspar Dutra, que apesar de ter alterado, no seu

início de gestão, pontos fundamentais do programa de Vargas, manteve importantes

decisões do projeto do governo anterior no que diz respeito ao processo de industrialização

do Brasil (SOUZA, 2007).

De volta à presidência, em 1950, Getúlio Vargas, direcionou seus esforços para

conquistar definitivamente a independência econômica do país. No entendimento de Souza

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(2007), isso aconteceria somente com a implantação da indústria de base conforme se

verificou no período anterior. A proposta de Vargas:

[...] consegue, apesar de tudo, êxitos relativos, saindo vitoriosa, depois de árduas lutas, nos setores considerados fundamentais para a segurança do país (siderurgia e petróleo). As vitórias mais expressivas do nacionalismo brasileiro são representadas pela implantação da indústria pesada, através da criação da Companhia Siderúrgica Nacional, com a usina de Volta Redonda, iniciada em 1941, e a declaração do monopólio estatal do petróleo e a criação da Petrobrás, através da lei nº 2.004, de 3 de novembro de 1953 (BRUM, 1987, p.58).

O seu projeto nacionalista para o desenvolvimento nacional acabou esbarrando nos

importantes avanços tecnológicos e no advento da sociedade de consumo que:

[...] levavam à rápida obsolescência dos equipamentos industriais, principalmente nos ramos ligados aos bens de consumo “ de luxo” (setor II b). Nessa mesma época, Japão e a Alemanha, que haviam tido seu aparelho produtivo destruído durante a guerra, o estavam reconstruindo com tecnologias mais modernas descobertas durante o período bélico. A eventual manutenção nos EUA de equipamentos com tecnologia do começo do século – portanto, obsoleta – poderia eliminar da competição as empresas que o possuíam (SOUZA, 2007, p. 25).

Em função dessa realidade, e para evitar grandes prejuízos para as empresas, os

americanos procuraram direcionar a sua tecnologia intermediária para países que

estivessem em condições de absorvê-las. A partir de então, afirma Souza (2007, p.25),

inicia-se uma “[...] importante ofensiva do capital estrangeiro em direção a esses países,

tendo as grandes corporações estadudinenses como ponta-de-lança”. Mas, no Brasil, país

que se enquadrava no perfil desejado pelos EUA, houve resistência política e social dos

grupos que defendiam o caráter nacionalista do governo presidido por Getúlio Vargas. Um

dos acontecimentos que marcaram esse momento foi a campanha “O Petróleo é nosso”14

que tinha como causa a defesa da nacionalização e do controle da extração do petróleo no

território brasileiro. Com essa postura, Getúlio Vargas passou a ser a principal dificuldade

no que diz respeito ao avanço do capital estrangeiro no país, sobretudo o americano. Sob

14 A criação da Petrobrás representou uma grande referência do processo nacionalista, pois era um item de defesa nacional, redução da dependência e crescimento da função econômica do Estado (LIMA, 2007).

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pressão do governo americano e de forças de oposição ao seu governo, ele preferiu

suicidar-se a renunciar ao mandato de presidente do país. Esse ato, apesar de trágico,

comoveu a nação e contribuiu para impedir um golpe que já estava planejado, pois garantiu

a vitória nas urnas do seu candidato a sucessão, Juscelino Kubitscheck, ou JK.

Ao assumir a presidência, JK apresentou um Plano de Metas que, segundo Souza

(2007), “ [...] mandara elaborar com base nos estudos feitos pelo grupo do BNDE- Cepal

que visava superar os pontos de estrangulamento identificados pelos estudos da Comissão

Mista Brasil-Estados, criada na época de Getúlio Vargas”. Concentrava-se em quatro

pontos fundamentais:

[...] 1- investimentos estatais em infra-estrutura, principalmente transporte e energia elétrica, sendo que na área de transporte, a ênfase passava da ferrovia para a rodovia; 2- incentivo ao aumento da produção de bens de capital, como máquinas e equipamentos, e de bens intermediários, como aço, carvão, cimento, zinco, etc; 3- incentivo à introdução dos setores de bens de consumo duráveis; 4- estímulo à produção de alimentos ( SOUZA, 1987, p.30)

Defendeu, publicamente, que o seu plano econômico possibilitaria o avanço do país

equivalente a 50 anos, em um período mínimo de 5 anos. Brum (1987, p. 60) lembra que “o

otimismo do presidente busca popularizar através do slogan Cinqüenta Anos em Cinco,

expressando o desejo oficial de acelerar a marcha do país [...]”. Após a sua implementação:

O plano foi executado na íntegra. Dos 355,8 bilhões de cruzeiros previstos para investir-se no período 1957-61, 93,4% se destinavam ao investimento em energia, transporte e indústria de base (onde se incluía siderurgia, cimento, metais não ferrosos, fertilizantes, ou seja, insumos básicos fundamentais). As metas foram praticamente cumpridas (SOUZA, 2007, p.30)

No entendimento de Lima (2007), o maior período de desenvolvimento industrial

do país aconteceu a partir da execução do plano de metas apresentado por JK. Acrescenta

reforçando que “o plano de metas foi, senão o melhor, um dos melhores planos concebidos

em prol da industrialização brasileira, assim como, do ponto de vista da sua execução,

seguramente foi o melhor que atingiu as suas metas de realização de propostas, ou o que

mais se aproximou delas” (LIMA, 2007).

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Mas, nos estudos de Brum (1987), são apontadas críticas ao modelo vigente da

política econômica de JK, pois:

A pressa em percorrer a distância e recuperar o atraso do país, a deficiente e distorcida concepção de desenvolvimento, a sujeição aos interesses e pressões do capitalismo internacional e da burguesia nacional associada ou aliada ao capital estrangeiro, levam o governo JK à adoção de um modelo econômico que estimula e aprofunda a desnacionalização da economia do país, quer prejudicando o crescimento da indústria nacional de bens de produção, a indústria de base, quer incentivando a transferência do controle acionário de empresas brasileiras para as corporações estrangeiras, principalmente nos ramos mais dinâmicos e rentáveis. A indústria nacional fica relegada praticamente à sua própria sorte, sofrendo a concorrência dos grupos externos atraídos pelos incentivos e vantagens oficiais (BRUM, 1987, p.61).

Em contraponto a essa crítica, Souza (2007, p.30) lembra que “costuma-se

apresentar o governo de JK como patrocinador da penetração do capital estrangeiro em

nosso país”. E reitera dizendo que “o período de 1954 a 1964 é de grandes embates entre

duas concepções acerca dos rumos da economia brasileira”. Dessa forma, “esses combates

tomaram conta de toda a sociedade brasileira no período e penetraram no interior do

governo JK. Assim é que, ao mesmo tempo em que, em várias ações, Juscelino reafirmava

seu compromisso com o projeto nacional getulista, em outras abria espaço para a

penetração do capital estrangeiro” (SOUZA, 2007, p.30).

Mesmo com essas considerações, Souza (2007) concorda que, certamente, o início

da escalada do capital estrangeiro no país aconteceu no governo de JK. Um dos segmentos

que aproveitaram a oportunidade para se instalar no país foi a indústria automobilística.

Para BRUM (1987, p. 61), neste momento, “... opta-se pela indústria de bens de consumo

duráveis, automóveis e eletrodomésticos principalmente” e para atender aos “anseios da

burguesia cosmopolitista, implementa-se um modelo econômico que busca atrair e forçar as

empresas estrangeiras a investir no país”. Além de conceder vantagens, como as isenções

fiscais, foram permitidas as importações de máquinas e equipamentos ultrapassados. Dessa

forma, a indústria automobilística se estruturou no país (BRUM, 1987). Ou seja:

Sob a forma de empréstimos e financiamentos, houve um aumento sistemático a cada ano (com exceção de 1960), passando de US$ 231 milhões em 1956 para US$ 529 milhões em 1961. Cerca de 70% desses

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capitais, nas duas modalidades, entraram sob a forma de máquinas e equipamentos, compostos basicamente de fábricas usadas, obsoletas, nos EUA, mas “modernas” aqui, voltadas para a produção de bens de “luxo”, destacando-se a indústria automobilística. O investimento nessa indústria, em conseqüência, aumentou 764% entre 1954-55 e 1958-59 (SOUZA, 2007, p. 31).

2.2.2 A indústria automobilística nacional e o meio ambiente

No cinqüentenário da indústria automobilística, no ano de 2006, o segmento

comemorou a melhor marca na sua história no Brasil, ao completar mais dois milhões e

meio de veículos produzidos no ano anterior. Segundo a Associação Nacional dos

Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em 16 de agosto de 1956, Juscelino

Kubitschek criou o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), objetivando

estimular a fabricação local e não somente a montagem de veículos no Brasil. Essa

iniciativa foi um dos grandes pilares para o desenvolvimento do setor no Brasil e também

para o aumento da produção mundial de veículos automotores.

Ao longo de sua história, essa indústria acumulou números surpreendentes. São 24

montadoras que são abastecidas por mais de quinhentas autopeças. O seu complexo

industrial tem capacidade instalada para a produção de 3,5 milhões de veículos e 98 mil

máquinas agrícolas/ano. A produção é comercializada, em todo o Brasil, por uma rede de

3,6 mil concessionários. Em seu conjunto, emprega, de forma direta ou indireta, mais de 1,3

milhão de pessoas. Faturou, em 2005, US$ 42,5 bilhões, incluindo autopeças e US$ 18,1

bilhões em exportação, contribuindo para o saldo de comércio exterior de US$ 9,2 bilhões.

Após a implantação da primeira fábrica, em 1957, até dezembro de 2005, foram

produzidos, no Brasil, 36,1 milhões de automóveis, 6,8 milhões de comerciais leves, 2,8

milhões de caminhões e 613 mil ônibus, totalizando 46,4 milhões de veículos. Na produção

de máquinas agrícolas, entre 1960 e 1995, foi produzido 1,3 milhão de tratores de roda,

74,8 mil tratores de esteira, 145,4 mil colheitadeiras, 59,5 mil retroescavadeira, 126,1 mil

cultivadores motorizados, somando-se 1,8 milhão de máquinas produzidas. A geração de

tributos (PIS, ICMS, IPI E CONFINS) também é expressiva; somente no ano de 2005

chegou a R$ 21 bilhões (ANFAVEA, 2007). Pelos dados da Tabela 2 percebe-se a

importância da indústria automobilística para a economia brasileira.

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Tabela 2 Números da indústria automobilística brasileira

REFERÊNCIA CONTEXTO

Unidades industriais Fábricas: 45; regiões: 4; estados: 7; municípios: 26 (veículos, máquinas agrícolas e outros)

Capacidade/ano Autoveículos: 3,5 milhões; máquinas agrícolas: 98 mil

Comércio exterior 2005 Exportações: US$ 18,1 bilhões; importações: US$ 8,9 bilhões;

saldo: US$ 9,2 bilhões

Emprego (direto + indireto) 1,3 milhão de pessoas

Empresas Montadoras: 24; autopeças: 500; concessionárias: 3.600

Faturamento 2005 US$ 42,3 bilhões

(montadoras + autopeças)

Investimento 1994 – 2005 US$ 32 bilhões

(montadoras + autopeças)

PIB 2005 (montadoras + autopeças) PIB industrial: 14,9% - PIB total: 5,3%

Produtos Automóveis, comerciais leves, caminhões e chassis para ônibus, tratores de roda e de esteira, cultivadores motorizados, colheitadeiras, retroescavadeiras e outros

Ranking mundial 2005 Veículos produção: 9º; mercado interno: 9º; exportações: 11º

Relações intersetoriais 200 mil empresas

Tecnologia Engenharia automotiva própria

Tributos – veículos - 2005 IPI, ICMS, PIS, COFINS R$ 21 bilhões Fonte: adaptado de ANFAVEA, (2007)

Apesar do seu potencial, a Anfavea (2007) reitera que, da mesma forma que outros

segmentos, muitas foram as dificuldades enfrentadas, até se chegar a esse patamar de

resultados. Atravessaram o regime militar, viram nascer a democracia, enfrentaram

diferentes planos econômicos e também a abertura econômica. O volume total da produção

nacional das empresas afiliadas à Anfavea, no período entre 1957 a 2005, está descrito na

tabela 3.

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Tabela 3 Números da produção automobilística brasileira em unidades

VEÍCULOS UNIDADES Produção acumulada, de 1957 a 2005 46 milhões

Automóveis 36.105.689

Comerciais leves 6.894.293

Caminhões 2.843.980

Ônibus 613.757 TOTAL 46.457.719

MÁQUINAS AGRÍCOLAS UNIDADES Produção acumulada, de 1960 a 2005 1,8 milhão

Tratores de roda 1.378.094

Tratores de esteira 74.822

Colheitadeiras 145.495

Retroescavadeiras 59.572

Culitvadores motorizados 126.119

TOTAL 1.784.102

Fonte: adaptado de ANFAVEA, (2007)

Segundo o Anuário da Indústria Automobilística Brasileira de 2007, a frota

estimada de veículos, no ano de 2006, distribuía-se como descrito na Tabela 4.

Tabela 4 Frota estimada de autoveículos no Brasil, 2006

AUTOMOVEIS COMERCIAIS LEVES CAMINHÕES ONIBUS TOTAL Brasil 19.212 3.061 1411 386 24.059

DISTRIBUIÇÃO EM PERCENTAGEM DE FROTA DE AUTOVEÍCULOS POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO

São Paulo 37,13 31,65 27,54 31,01 35,77

Minas Gerais 10,19 10,83 11,43 11,32 10,36

Rio de Janeiro 9,05 6,42 4,93 9,46 8,48

Paraná 8,28 8,52 11,27 6,5 8,46

Rio Grande do Sul 8,39 7,26 9,13 7,39 8,27

Santa Catarina 5,21 4,73 6,39 3,63 5,19

Goiás 2,87 4,11 3,87 2,89 3,08

Bahia 2,71 3,86 3,53 5,42 2,95

Pernambuco 2,24 2,54 2,87 3,06 2,33

Distrito Federal 2,47 1,87 0,85 2,09 2,29

Ceará 1,73 2,39 2,05 2,27 1,84

Espírito Santo 1,58 1,96 2,52 2,43 1,7

Mato Grosso do Sul 1,16 1,94 1,91 1,1 1,31

Mato Grosso 0,96 2,23 2,58 1,2 1,22

Outros estados 6,02 9,69 9,15 10,23 6,74

Brasil 100 100 100 100 100

Fonte: adaptado da ANFAVEA, (2007).

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Diante desse panorama, as empresas buscam planejar suas ações futuras,

direcionando-as, principalmente, para o preço do petróleo e as questões ambientais, uma

vez que tais fatores poderão garantir o futuro do segmento, pois influenciam diretamente a

formação de opinião dos seus consumidores, por estarem cada vez mais presentes nas

discussões midiáticas (ANFAVEA, 2007).

Mesmo com a reconhecida importância para o desenvolvimento econômico

brasileiro, é impossível negar a sua parcela de responsabilidade na poluição do meio

ambiente, seja na transformação dos insumos em produto industrializado ou na utilização

dos mesmos pelos seus consumidores. Ao longo de sua história, a indústria automobilística

mundial, na qual o Brasil ocupa um lugar de grande influência, sempre foi criticada não

somente pela questão ambiental, mas também pelos fatores sociais inerentes à sua

existência. Uma dessas críticas aborda que:

Quando foi inventado, o carro tinha a finalidade de proporcionar a alguns burgueses muito ricos um privilégio totalmente inédito: o de circular muito mais rapidamente do que todos os demais. Ninguém até então tinha sequer sonhado com isso: a velocidade de todas as charretes era essencialmente a mesma, fosse você rico ou pobre; as carruagens dos ricos não eram muito mais velozes do que as carroças dos camponeses e os trens carregavam todos à mesma velocidade (eles não possuíam velocidades diferentes até começarem a competir com o automóvel e o avião). Assim, até a virada do século, a elite não viajava a uma velocidade diferente do povo. O automóvel iria mudar tudo isso: pela primeira vez as diferenças de classes seriam estendidas à velocidade e aos meios de transporte (GORZ, 2005, p.74).

Os veículos, na visão de Gorz (2005, p.76), “[...] obriga(m) o proprietário a

consumir e usar uma variedade de serviços comerciais e produtos industriais que somente

podem ser oferecidos por terceiros. A autonomia aparente do proprietário esconde a sua

radical dependência”. Acrescenta dizendo que “[...] os magnatas do petróleo foram os

primeiros a perceber o ganho que poderia ser extraído da difusão em larga escala do

automóvel: se o povo pudesse ser levado a circular em carros a motor, poderia vender-lhe o

combustível necessário à sua propulsão”. Diante disso, “pela primeira vez na história as

pessoas passariam a depender de uma fonte mercantilizada de energia para sua locomoção.

Haveria tantos clientes para a indústria de petróleo quanto houvesse motoristas - e, uma vez

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que haveria tantos motoristas quanto houvesse famílias, a população inteira se

transformaria em clientes dos magnatas do petróleo” (GORZ, 2005, p.74).

Por outro lado, as implicações sociais e ambientais da indústria automobilística

podem ter a seguinte compreensão:

[...] a produção e o uso do automóvel movido pela queima de combustíveis fósseis, em torno do qual se estrutura um complexo conjunto de atividades que estão no cerne da economia de acumulação, implicam necessariamente a produção de impactos ambientais extraordinários. Mais: a distribuição espacial das unidades de produção e consumo faz-se em função do uso do automóvel e, nessa medida, torna esse uso praticamente obrigatório, invalidando alternativas menos agressivas de locomoção (ZHOURI, 2005, p.33).

A crescente preocupação com as implicações ambientais a partir do final do século

XX atingiu os diferentes âmbitos da sociedade, sejam eles econômicos, políticos, sociais,

científicos, tecnológicos e etc., o que contribuiu para as discussões a respeito da crise

ecológica mundial. Os debates mais acirrados centravam-se na redução da camada de

ozônio, no aquecimento planetário devido ao efeito estufa, nas mudanças climáticas, na

diminuição da biodiversidade, na ameaça a diferentes ecossistemas e na contaminação do

ar, dos solos, da água, dos rios e dos oceanos (DIAS, 2007). Assim, a sociedade começou a

cobrar das indústrias um posicionamento em relação a tal cenário de produção. Para

Donaire (1994, p.69), “[...] a preocupação ecológica tem ganhado um destaque significativo

em face da sua relevância para a qualidade de vida das populações, o que tem exigido das

empresas um novo posicionamento em sua interação com o meio ambiente”. Sobre esta

questão:

Há certa concordância na comunidade científica e em parcelas significativas da população de que as causas destes problemas ambientais devem-se ao aumento extraordinário da população do planeta, ao consumo individual abusivo de parcelas significativas da população [...] e a continuação da utilização de processos e tecnologias de produção incompatíveis com a preservação dos recursos naturais (DIAS, 2007, p.1)

Diante dessas evidências, tanto a indústria automobilística brasileira quanto a

mundial buscam alternativas para demonstrar, para a sociedade, que desenvolvem ações

direcionadas para a preservação ambiental. No caso específico do Brasil, outro fator que

também justifica essa mudança é o potencial de consumo do segmento, conforme se pode

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observar nos dados Tabela 5. Por meio da tabela, percebe-se que o volume de veículos

emplacados no Brasil, no mês de dezembro de 2007, foi de 413.143 e, ao longo do mesmo

ano, alcançou 4.248.275 veículos emplacados.

Tabela 5 Emplacamento de veículos no Brasil, em dezembro de 2007 e acumulado anual

SEGMENTO

DEZEMBRO

ACUMULADO 2007

Autos (a) 192.595 1.977.135 Comerciais leves (b) 38.719 364.924 a + b 231.314 2.342.059 Caminhões (c) 8.937 98.695 Ônibus (d) 2.007 22.151 (c + d) 10.944 120.846 Subtotal

242.258

2.462.905

Motos 164.427 1.708.640 Implementos rodoviários 2.748 35.620 Outros 3.710 41.110 TOTAL 413.143 4.248.275

Fonte: adaptado da FENABRAVE, (2008).

Para atender a esta nova exigência do mercado consumidor, as indústrias

automobilísticas incluem no seu planejamento estratégico ações voltadas para o social e,

principalmente, para as questões ambientais. Um exemplo disso são as pesquisas que vêm

sendo realizadas e os testes para a transição suave e parcial dos combustíveis fósseis pelos

renováveis, no ritmo e na vocação de cada país (ANFAVEA, 2007).

2.3 Fontes de energia e meio ambiente

A disponibilidade de fontes de energia é fundamental para o desenvolvimento de

uma sociedade, uma vez que contribui diretamente para a geração e a produção de bens,

movimentando a economia de um país. Dessa forma, o comportamento consumista da

sociedade moderna está diretamente vinculado à disponibilidade de energia (Figura 3).

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(a) (b)

Figura 3 Oferta mundial de energia, em 1973 (a) e em 2004 (b).

Fonte: Ministério das Minas e Energia (2007).

Hinrichs (2003), ao abordar a utilização de energia, destaca que a sua presença em

todos os setores da sociedade, e que o seu uso, libertou a sociedade de trabalhos

desgastantes, permitindo, de certa forma, uma vida mais confortável, pois: “Os seres

humanos já dependeram de sua força muscular para gerar energia necessária para a

realização de seus trabalhos. Hoje, menos de 1% do trabalho feito nos países

industrializados depende da força muscular como fonte de energia” (HINRICHS, 2003,

p.2).

Diferentes foram as fontes de energia utilizadas até aqui. Por um longo período, a

humanidade utilizou sua própria força ou o auxílio de animais, da água e do vento para

produzir energia, objetivando que as suas necessidades fossem atendidas. No período pré-

industrial, utilizava fontes renováveis, como hídrica, eólica, solar e a biomassa. Já no século

XVIII, em função do processo de industrialização, passou a utilizar energia de origem não

renovável, como a queima de combustíveis fósseis, com o objetivo de produzir vapor para

as máquinas inventadas e também para a fundição de ferro (HIRINCHS, 2003).

1973

China7,2%

Europeus não

pertencentes

1,6%

Antiga União Soviética14,4%

Oriente Médio1,1%

África3,5%

America Latina3,7%

Ásia6,1%

OECD62,4%

6.034 106 tep 2004

OECD49,9%

Ásia11,5%

America Latina4,4%

África5,3%

Oriente Médio4,3%

Antiga União Soviética

8,9%

Europeus não

pertencentes

0,9%

China14,8%

11.059 106 tep

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Nesse contexto surgiu o petróleo15, uma fonte de energia não-renovável, de origem

fóssil, sendo a principal matéria-prima das indústrias que atuam no segmento petrolífero e

petroquímico. PARENTE (2005), nos seus estudos, apresenta este combustível como

tecnicamente oportuno e que deverá ser utilizado até a exaustão de suas reservas ou da

própria natureza. Acrescenta também que o fato de ter uma densidade energética elevada,

bem acima do melhor carvão mineral, somado à vantagem de ser líquido, contribuiu para

que se tornasse não somente a fonte de todos os combustíveis líquidos, mas também

matéria-prima de inúmeros produtos disponibilizados para consumo da sociedade moderna.

Aos poucos, o petróleo foi substituindo o carvão nas indústrias e nas usinas de

energia e o seu consumo aumentou após a invenção do motor de combustão interna, no ano

de 1870. Nesse sentido, Brum (1987, p.1690) afirma que “se no século XIX o carvão fora a

principal fonte utilizada, no século XX, o mundo passa a ser movido principalmente pelo

petróleo”. Alguns autores denominam este período como a Era do Petróleo. Assim:

O petróleo alimentou a maior parte do aumento do consumo global de energia desde a Segunda Guerra Mundial. Em 1950, o petróleo era responsável por menos de um terço do uso de energia mundial e hoje esta parcela já é de quase metade do total. O baixo custo do petróleo e sua adaptabilidade para diversos usos – de aquecimento a transporte e produção de energia elétrica – o tornaram a escolha mais adequada para uma economia em expansão (HIRINCHS, 2003, p. 18).

No entanto, em 1973, o mundo conheceu o poder dos países produtores de petróleo,

localizados no Oriente Médio, que são os principais produtores e distribuidores mundiais de

petróleo. Reunidos na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), desde o

ano de 1963, decidiram embargar o fornecimento de petróleo aos Estados Unidos e países

da Europa, em resposta ao apoio destes a Israel durante a Guerra Yon Kippur. A primeira

crise do petróleo, como ficou conhecida, aconteceu pelo fato de a OPEP, em represália aos

americanos e europeus, ter decretado a quadruplicação dos preços do óleo bruto. Em função

da brusca e acentuada elevação nos preços da principal fonte de energia mundial, a

15 O marco inicial da indústria mundial do petróleo ocorreu em 1859, quando o coronel Drake, um dos fundadores da empresa americana Sêneca Oil Co., desenvolveu a tecnologia de perfuração. Essa mesma empresa também desenvolveu a tecnologia de separação do petróleo por meio de aquecimento. (JÚNIOR, Osmani Prates Silveira, 2002).

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economia foi abalada diretamente, com mais impacto nos países subdesenvolvidos ou em

vias de desenvolvimento importadores de petróleo, entre eles o Brasil (BRUM, 1987).

Esse fato, no entendimento de Brum (1987, p.169), “[...] parece indicar o fim de

uma era e o início da outra. Termina a era do petróleo abundante e barato e começa a era do

petróleo mais caro e escasso”. Parente (2005), em consonância com as palavras de Brum

(1987), acrescenta que o ano de 1973 foi um marco na história energética mundial.

Segundo ele, o homem começou a se preocupar com a produção e o consumo de energia,

sobretudo as de origem não renováveis, como é o caso do petróleo, pois esta havia se

tornado fundamental no desenvolvimento dos países16.

Apesar de outros acontecimentos históricos17, registrados após 1973, que também

influenciaram o mercado mundial, foi nesse ano que se evidenciou, de forma mais concreta,

que o petróleo é um recurso energético finito. A sociedade mundial despertou para a

necessidade de identificar fontes alternativas de energia. Parente (2005) registra os esforços

realizados por diferentes países para a superação da crise. Trabalhavam em duas vias: uma

direcionada para a conservação da energia e a outra para o uso de fontes alternativas. No

Brasil, ainda sentindo os reflexos da crise de 1973, definiram-se as seguintes estratégias:

[...] ampliação do aproveitamento da energia hidráulica [...] intensificação de pesquisas e prospecções, buscando a descoberta de petróleo, através da Petrobrás, quer em terra firme quer na plataforma continental, ampliação dos chamados contratos de risco, já admitidos em 1975, que permitem a pesquisa e prospecção de petróleo no país por companhias estrangeiras; ampliação e intensificação do Programa Nacional de Álcool (Pró-Álcool) [...] elaboração e implantação de projetos voltados para a maior e melhor utilização do nosso carvão; racionalização do uso de derivados de petróleo [...] implantação do Programa Nuclear Brasileiro [...] estimulo ao aproveitamento de outras fontes energéticas (biomassa, xisto, energia solar, energia eólica etc); maior economia e racionalização do uso de energia de diferentes origens, particularmente através da pesquisa tecnológica e da substituição do transporte individual pelo transporte coletivo (BRUM, 1987, p.170).

16 Dias (2007) relata que, nos anos 1970, a crise do petróleo foi tão grave que assumiu seu ponto culminante com a alta dos preços do óleo, promovida pelos países árabes. A crise foi de tal gravidade que, na Europa, ocorreram algumas proibições de circulação de automóveis, havendo casos em que as ruas ficavam desertas em alguns momentos, como na Alemanha. A partir desse período, o preço do petróleo passou a ser um importante item na agenda política internacional. 17 Refere-se, principalmente, à Revolução Iraniana de 1979 e à Guerra do Golfo Pérsico, em 1991, que também fizeram com que a sociedade mundial atentasse para o quanto a energia é crucial para o funcionamento da sociedade (HINRICHS,2003).

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A crise energética de 1973, ao despertar a necessidade de fontes alternativas de

energia, evidenciou também os danos ao meio ambiente a partir do uso de fontes não-

renováveis de energia. O aumento do uso de combustíveis fósseis, desde o início da era

industrial, provocou um aumento em torno de 30% da concentração de dióxido de carbono

atmosférico e, provavelmente, a elevação da temperatura global de dióxido de carbono na

atmosfera. Atualmente pode-se considerar que aproximadamente 90% das fontes

comerciais de energia utilizadas no mundo sejam oriundas de combustíveis fósseis

(HINRICHS, 2003). Destes, “o combustível de uso mais comum, o petróleo, parece ter as

menores reservas globais, mas continua sendo a mercadoria que mais dependemos. De fato,

a dependência do petróleo especialmente para o transporte, deixa muitos países vulneráveis

à um desastre econômico de grandes proporções em caso da interrupção do fornecimento”

(HINRICHS, 2003, p.146).

A queima de combustível fóssil, especificamente o petróleo, interfere nas mudanças

climáticas globais, causadas pelos crescentes níveis de dióxido de carbono e outros gases

que se acumulam na atmosfera do planeta. Estima-se que mais de cinco bilhões de

toneladas de carbono sejam anualmente adicionados à atmosfera, em função da queima de

combustíveis fósseis18. A sua utilização como fonte de energia para veículos automotores

produz diferentes danos ao meio ambiente. Os principais poluentes encontrados na emissão

dos automóveis são monóxido de carbono (CO), hidrocarburetos e óxidos de nitrogênio. O

CO é formado na combustão incompleta do combustível no motor, quando não há oxigênio

disponível suficiente. Além dessas emissões, a conversão de combustível em energia útil

também produz resíduos de calor e libera, na água e no ar atmosférico, uma série de

poluentes (HINRICHS, 2003).

Segundo Conejero (2006), a emissão desses gases contribui diretamente para o

efeito estufa19 da Terra. No seu entendimento, o efeito estufa é benéfico para o planeta na

18 É importante registrar que os gases causadores do efeito estufa (GEE) são compostos, geralmente, por moléculas que se encontram naturalmente na atmosfera. As mais relevantes são dióxido de carbono (CO2), vapor de água (H20), metano (CH4), ozônio (CO3) e óxido nitroso (N2O). Esses gases têm essa nomenclatura em função da sua capacidade de reter calor. 19 Segundo Hinrichs (2003), o efeito estufa é causado por gases presentes na atmosfera terrestre e que absorvem determinados comprimentos de onda da radiação infravermelha emitida pelo planeta que, de outra forma, iriam ser irradiados para o espaço exterior. Em torno de 50% da energia que entra na atmosfera é absorvida pelas nuvens e pelas partículas ou é refletida de volta ao espaço. O restante é absorvido pela superfície terrestre. Uma parte desse calor absorvido é, então, irradiada de volta à Terra. O aumento na concentração de CO2 faz com que mais calor fique retido dento da atmosfera do planeta

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medida em que sua ausência implicaria a não existência de vida na Terra. Embora benéfico

nesse sentido, a sua intensificação poderá causar danos ambientais e, conseqüentemente,

econômicos. A emissão adicional dos gases de efeito estufa (GEE), gerada pela produção

agrícola, pecuária e industrial, bem como dos hábitos de consumo da sociedade, contribui

ativamente para o seu aumento na atmosfera, ocasionando o aquecimento global. Essa

interferência antrópica sobre o clima é um dos principais fatores pela busca de alternativas

de produção e consumo de energia. No entanto:

Os cientistas têm os mais diferentes pontos de vista com relação a esta questão e não existe consenso sobre quais atitudes, se é que existe alguma possível, devem se tomadas. Todavia, os resultados de estudos recentes levaram o United Nations Intergovernmental Painel on Climate Change (IPCC)20 a concluir que “existe uma nítida influência humana sobre o clima global através das emissões de gases estufa”. A justificativa para esta afirmação vem, em parte, da grande semelhança entre as previsões feitas por computador (para uma atmosfera aquecida por gases estufa) e real perfil de temperatura da Terra (HINRICHS, 2003, p.218).

Diante dessas evidências, diferentes movimentos sociais e governamentais vêm

buscando mobilizar a comunidade internacional para o desenvolvimento de ações que

possam amenizar a interferência antropogênica no planeta, a partir da redução das emissões

dos GEE na atmosfera. Um dos principais movimentos, e talvez o mais polêmico, é o

Protocolo de Quioto. Fruto de uma reunião realizada em dezembro de 1997, na cidade de

Quioto no Japão, que contou com a presença de mais de 167 nações, esse documento foi a

primeira tentativa internacional de, legalmente, estabelecer limites para as emissões de

gases, o efeito estufa, pelos países desenvolvidos. Ficou acordada, como meta, a redução,

até 2008, da emissão combinada de gases de efeito estufa pelos países desenvolvidos em

5%, com relação ao nível das emissões ocorridas em 1990 (HINRICHS, 2003). Mesmo

20 N.T.: Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da Organização das Nações Unidas, criado, em 1998, pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (PNUMA), após a realização, em Toronto, Canadá, da Conferência Mundial sobre Mudanças Atmosféricas: “The Changing Atmosphere Implications for Global Security”. É constituído por cientistas de diversos países e áreas de conhecimento, sendo dividido em três grupos de trabalho complementares e uma força-tarefa que estuda os gases relacionados com o “efeito estufa”. Foi criado em função do reconhecimento, pela Organização das Nações Unidas e pela comunidade acadêmica internacional, da enorme complexidade do sistema climático, do elevado risco trazido pela mudança climática e da urgente necessidade da existência de uma fonte de informação técnica, científica e socioeconômica sobre as causas e os impactos decorrentes da mudança climática e, também, de uma análise imparcial das possíveis medidas de resposta, incluindo a análise de custo/benefício da ação em comparação à da não-implementação de nenhuma ação.

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com a assinatura do documento, os termos de responsabilidades somente começariam a

vigorar no momento em que, no mínimo, 55% do total de países emissores estivessem

fazendo parte do acordo. Somente começou a vigorar:

Após mais de dez anos de negociações internacionais, o Protocolo entrou em vigor em 16 de fevereiro e 2005, com a assinatura de 141 países – que representam 61,6% das emissões de 1990-, embora sem a participação dos Estados Unidos21, principal emissor de gases do efeito estufa do mundo, e da Austrália, maior produtor mundial de carvão mineral (CONEJERO, 2006, p.122).

A sensibilização mundial em relação à busca de fontes alternativas de energia

contribuiu, de alguma forma, para que se compreendesse que é possível ter crescimento

econômico utilizando-se fontes de energias renováveis e também otimizando o consumo

dos nossos limitados recursos. Hinrichs (2003, p.477) defende que “ [...] reduzir a demanda

é muito mais barato do que aumentar a oferta de energia”. Mas, é necessária a utilização da

biomassa para que os objetivos acordados pelos países participantes do Protocolo de Quioto

sejam alcançados. Assim, surge uma crescente demanda por combustíveis renováveis,

como por exemplo, o biodiesel.

Segundo o Ministério das Minas e Energia (2007), por meio da resenha energética

brasileira do exercício de 2006, o Brasil tem grande potencial para a produção de energia

renovável. Do total da oferta interna de energia (OIE), 101,4 milhões, ou 44,9%, são de

energia renovável. Essa proporção é uma das mais altas do mundo e contrasta

significativamente com a média mundial, que é de 13,2% e mais ainda quando comparada

com os resultados dos países, na sua maioria considerados desenvolvidos, que fazem parte

da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE)22, que é de apenas

6,1% (Figura 4)

21 Apesar de o governo federal dos EUA não ser favorável à assinatura do Protocolo, 14 estados americanos já possuem regulamentações específicas para a redução de GEE. 22 Segundo o Ministério das Minas e Energia (2007), fazem parte da Organisation de Coopération et de Développement Économiques os seguintes países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Eslovaca, República Tcheca, Suíça, Suécia e Turquia. Além desses, também integra a OCDE a União Européia.

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ESTRUTURA DA OFERTA INTERNA DE ENERGIA BRASIL (2006)

RENOVÁVEL 44,9%

NÃO RENOVÁVEL

55,1%

ESTRUTURA DA OFERTA INTERNA DE ENERGIA MUNDO (2004)

NÃO RENOVÁVEL

86,8%

RENOVÁVEL 13,2%

ESTRUTURA DA OFERTA INTERNA DE ENERGIA PAÍSES MEMBROS DA OCDE (2004)

RENOVÁVEL 6,1%

NÃO RENOVÁVEL

93,9%

Figura 4 Estrutura da oferta interna de energia renovável e não renovável no Brasil, no

mundo e nos países membros da OECD, 2006.

Fonte: Ministério das Minas e Energia (2007).

Em relação ao potencial brasileiro para a produção de energia renovável, Vichi e

Mello (2007, p. 501) reiteram que “a matriz energética brasileira é, em sua maior parte,

renovável e não necessariamente baseada em combustíveis renováveis tradicionais, como a

madeira. Baseia-se em eletricidade de origem hidráulica e em combustíveis como o etanol”

(Figura 5). Esses autores evidenciam a sua preocupação com o fortalecimento e a

diversificação da matriz energética brasileira. No entendimento dele,s é necessário que o

país “[...] incorpore outras fontes – como a biomassa, em especial o etanol e o biodiesel, e

as energias solar e eólica”.

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MATRIZ DE OFERTA DE ENERGIA ELÉTRICA 2006 (% e TWh)

GÁS INDUSTRIAL0,8%

DERIVADOS DE PETRÓLEO

2,4%

NUCLEAR3,0%

HIDRO75,7%

CARVÃO MINERAL1,8%

BIOMASSA3,3%

GÁS NATURAL4,0%

IMPORTAÇÃO9,0%

Nota: inclui autoprodutores(41,7 TWh)

9,1%

T WhT OT A L 459 ,6H ID R O 347,8GÁS N A T UR A L 18,5D ER . P ET 10 ,9N UC LEA R 13 ,8C A R VÃO 8 ,5B IOM A SSA 15,2GÁS IN D . 3 ,7 IM P OR T A ÇÃO 41,2

Figura 5 Matriz da oferta de energia elétrica (% e em TWh), Brasil, 2006.

Fonte: Ministério das Minas e Energia (2007).

2.3.1 Biodiesel: conceitos fundamentais

Antes mesmo das primeiras discussões sobre a crise ambiental que atingiu o

planeta, levando a humanidade a buscar fontes de energias alternativas, Rudolf Diesel,

inventor dos motores de ciclo diesel, empregou, inicialmente, para o funcionamento dos

motores, óleos vegetais, o que proporcionaria, sob seu ponto de vista, o desenvolvimento da

agricultura dos países que a adotassem. Na opinião dele, essa possibilidade parecia um

sonho, mas, no futuro, com absoluta certeza, sua utilização como fonte de energia dos

motores a diesel poderia adquirir grande importância para a sociedade (BAHIAVIVA,

2005). Passados quase cem anos, o mundo volta suas atenções de forma mais efetiva para a

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busca das fontes de energia oriundas da biomassa23, confirmando, assim, o pensamento de

Diesel.

Entre as inúmeras fontes de biomassa já disponíveis, as que despertam mais a

atenção dos pesquisadores são as de origem vegetal, com destaque para o biodiesel. A

atenção para essas fontes se justifica uma vez que elas “[...] proporcionam uma geração

descentralizada de energia e um apoio à agricultura familiar, criando melhores condições de

vida (infra-estrutura) em regiões carentes, valorizando as potencialidades regionais e

oferecendo alternativas a problemas econômicos e sócio-ambientais de difícil solução”

(Ramos et al., 2003, p.29).

Na mesma linha destes últimos autores, Parente (2007) afirma que o biodiesel é um

dos energéticos mais importantes e aguça a curiosidade de um contingente enorme de

pessoas que têm preocupações não somente com os assuntos energéticos, mas também

econômicos, sociais e ambientais. Como definição: “O biodiesel é um combustível

derivado de fontes naturais e renováveis como os vegetais. Ele pode ser obtido a partir do

processamento de sementes de girassol, soja, dendê, castanha, buriti, amendoim, mamona,

algodão, entre outros vegetais. O biodiesel pode ser obtido a partir de gordura animal e de

óleo vegetal já utilizado em frituras” (VICHI; MELLO, 2003, p.495).

Na definição de Parente (2007), além do que Vichi e Mello apresentam, ele

acrescenta que o biodiesel é biodegradável e ambientalmente correto. É produzido a partir

de uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos de ácido graxos, a partir da reação de

transesterificação de qualquer triglicerídeo com um álcool de cadeia curta, metanol ou

etanol, respectivamente. Segundo Vichi e Mello (2003), de maneira simplista, o óleo

vegetal é filtrado, processado com materiais alcalinos para remover gorduras ácidas e,

então, misturado com álcool e um catalisador. Da reação formam-se ésteres e glicerol que

são separados (Figura 6). Ramos et al. (2003) acrescentam que o biodiesel é um substituto

natural do diesel de petróleo.

23 Segundo Vichi e Mello (2003), a energia oriunda da biomassa é a energia derivada de matéria viva como os grãos, as árvores e as plantas aquáticas; essa matéria viva é também encontrada nos resíduos agrícolas, florestais e nos resíduos sólidos municipais. “[...] é uma fonte de energia que é tão antiga quanto a humanidade e tão nova quanto o jornal de hoje”.

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BIODIESEL

GLICERINATRAN SESTERIFICAÇÃO

OLEOS VEGETAISsoja

ma monadendêpa lmaoutra s

METANOL OU ETANOL

CATALIZADOR+

Figura 6 Processo de transesterificação de óleos vegetais.

Fonte: elaboração própria.

Segundo a Lei nº 11.09724, de 13 de janeiro de 2005, o biodiesel “ é um

biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a combustão interna

com ignição por compressão ou, conforme regulamento, para a geração de outro tipo de

energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil”. O

Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel25 apresenta o biodiesel como um

combustível substituto ou complementar ao óleo diesel de petróleo utilizado em motores a

diesel. Nesse sentido, o biodiesel tem potencialidade para substituir os derivados de

petróleo que são a fonte principal para a combustão dos motores de ignição conhecidos

como motores de ciclo diesel. O processo substitutivo poderá acontecer sem maiores

problemas, uma vez que existe grande compatibilidade entre o biodiesel e o diesel

convencional, caracterizando-o como uma alternativa para atender a maior parte da frota de

24 Conhecida também como a Lei do Biodiesel. 25 Disponível em www.biodiesel.gov.br

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veículos a diesel existente no mercado, sem qualquer necessidade de investimentos

tecnológicos para o desenvolvimento de motores (Ramos et al., 2003). Assim:

Uma das grandes vantagens do biodiesel de boa qualidade é sua adaptabilidade aos motores já existentes do ciclo diesel. Enquanto a aplicação de outros combustíveis mais limpos que os convencionais, como o gás natural e o biogás, requer adaptação ou troca de motores, a combustão de biodiesel pode dispensar alterações, fornecendo uma alternativa de combustível renovável capaz de atender toda a frota hoje movida a diesel mineral (MARQUES Jr., 2006, p.132).

Mesmo com essas características de adaptabilidade, esses autores ressaltam que:

Biodiesel com características físico-químicas inadequadas, se usado puro ou mesmo em misturas maiores que 5%, pode causar uma variedade de problemas referentes à performance do motor, além de entupimentos dos filtros, carbonização dos injetores, furo e quebra dos anéis do pistão, ressecamento e ruptura dos selos e degradação severa do óleo lubrificante do motor. Por essa razão é recomendada a realização de testes e uma especificação mais detalhada do biodiesel puro, para garantir que não ocorram problemas com os motores convencionais (MARQUES; JOSEPH, 2006, p.133).

Em relação à sua utilização, pode ser feita como combustível puro ou 100%

(denominado de B100), em mistura com o diesel convencional, podendo variar de 5% (B5)

a 20% (B20)26 e também como aditivo ao combustível principal, em proporções baixas,

geralmente de 1% a 4% do volume total (VICHI;MELLO,2003). No Brasil, segundo o

Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, ele pode ser usado puro ou misturado

ao diesel27.

Mesmo com a Lei do Biodiesel, outorgada em 2005, as pesquisas vêm sendo

realizadas há muito tempo, culminando com o patenteamento do trabalho realizado pelo

professor Expedito Parente, juntamente com a sua equipe na Universidade Federal do

Ceará, registro da patente PI-8007957, no ano de 1982.

26 Cada 1 litro de diesel deve conter 5% de biodiesel, no caso de B5 ou 20% de biodiesel, no caso de B20. O B100 é a referência do biodiesel puro. 27 Segundo Campos (2006), o biodiesel só será efetivamente vendido aos consumidores nos postos se atenderem às especificações técnicas exigidas pela norma brasileira (Resolução ANP N° 42/04). Atualmente, é obrigatória a mistura de B2 -2% de biodiesel e 98% de diesel, pela ANP, para comercialização no território nacional.

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“[...] o Governo Federal lançou o Programa Nacional de Energia de Óleos Vegetais – Oveg, cujo objetivo central era avaliar a viabilidade da utilização de óleos vegetais como combustíveis para a indústria automobilística, e que era coordenado pelo Ministério da Indústria e Comércio. Mas como em 1985 o preço do petróleo no mercado mundial voltou a declinar, os investimentos pesados em pesquisas com óleos vegetais foram abandonados (VICHI; MELLO, 2003, p. 499).

Em outros países, a utilização do biodiesel já é uma realidade. Como exemplo,

Ramos et al. (2003) destacam a Alemanha e os Estados Unidos. Na Alemanha existe uma

significativa frota de veículos leves, coletivos e de carga que já circulam pelo país

utilizando o biodiesel originário das plantações de colza, um tipo de oleaginosa cultivada

em alguns países da Europa, e mais de 1.000 postos de abastecimento. O autor registra,

ainda, que alguns países da Europa têm desenvolvido programas nacionais e os resultados

começam a aparecer. Somente entre 1998 e 2000 o consumo de biodiesel aumentou em

200.000 toneladas. Segundo Nappo (2006), a Alemanha é uma das grandes referências pelo

fato de que as políticas de incentivos são adequadas às necessidades do mercado. Somente

no ano de 2006 a produção ultrapassou a dois milhões de toneladas.

O mercado alemão experimentou o ingresso do biodiesel, utilizando as frotas de táxis nas principais cidades. Os próprios veículos promoveram o combustível com o uso de folhetos, ressaltando vantagens e características operacionais. Bombas de abastecimento de combustíveis foram instaladas nos postos, de maneira que o usuário tinha ao dispor, duas saídas: uma para o diesel de petróleo e outra para o biodiesel. As misturas poderiam ser realizadas em diversas proporções, segundo a melhor escolha do comprador (DÁLIA, 2006, p.30).

Nos Estados Unidos, destacam Ramos et al. (2003, p.30) que as “ [...] leis aprovadas

nos estados de Minnesotta e na Carolina do Norte determinaram que, a partir de 1º de

janeiro de 2002, todo o diesel consumido deveria ter a incorporação de, pelo menos 2% de

biodiesel em base volumétrica”. Nappo (2006) registra que, em outubro de 2005, o

presidente Bush ratificou a lei que cria incentivos tributários para a produção e o consumo

do biodiesel. Com esses incentivos, a produção e os investimentos no produto começaram a

avançar (Figura 7).

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EN FOQUE ESTRATÉGICO

reduzir a dependênciado petróleo importa do

do oriente médio

EN FOQUE SOCIAL

promover a inclusã o socia l

gera ndo emprego e renda no ca mpo

EN FOQUE AMBIEN TAL

2% BIOCOMBUSTIVEIS (EM 2005)

5,75% DE BIOCOMBUSTIVEIS(EM 2010)

8% DE BIOCOMBUSTÍVEIS(EM 2020)

Figura 7 Distribuição da produção mundial de biodiesel, de acordo com os principais

enfoques estratégicos.

Fonte: Elaboração própria a partir de Nappo (2006).

Mesmo com as iniciativas brasileiras surgidas na década de 1980, os investimentos

não foram expressivos28 nesse setor de importância vital para o país. No entanto, as

oscilações no mercado internacional do petróleo, somadas às pressões que o setor

automobilístico tem sofrido dos órgãos ambientais, contribuíram para que o governo atual

investisse no segmento, a fim de fomentar a produção e o consumo do biodiesel no Brasil

(RAMOS et al., 2003). Nesse contexto foi definido o Programa Nacional de Produção e

Uso do Biodiesel (PNPB)29.

28 Segundo Parente (2007), em 1980, foram requeridas, ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial, duas patentes de invenção, das quais somente uma foi homologada. A Patente PI 9007957, de 1980, foi a primeira patente, em âmbito mundial, do biodiesel e do querosene vegetal de aviação, a qual entrou em domínio público, pelo tempo e desuso. 29 Antes do PNPB, o governo brasileiro criou, por meio do Ministério de Ciência e Tecnologia, o Programa Brasileiro de Biodiesel, o Probiodiesel, regulamentado pela Portaria MCT Nº702 de 30/10/2002. Este

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2.3.2 O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel

Na economia mundial, a energia renovável cada vez mais se confirma com um

grande diferencial para gerar vantagem competitiva. A produção do biodiesel, por exemplo,

é fundamental para os países, uma vez que, por um lado, contribui para a preservação

ambiental, atendendo ao que foi acordado em Quioto e, por outro, nos aspectos estratégicos

e econômicos, especificamente para a busca da auto-suficiência energética e geração de

emprego e renda. Rodrigues (2003, p.16) acrescenta que “como política e estratégia

energética, o Brasil procura diversificar as fontes de energia, buscando fortalecer a

participação de fontes renováveis no abastecimento do mercado interno, como forma de

prover segurança energética de forma sustentável”. Essas abordagens estão ilustradas na

Figura 8.

BIODIESEL

FATORES AMBIENTAIS E ECOLÓGICOS

FATORES MERCADOLÓGICOS

E ECONÔMICOS

REDUÇÃO DOS GEE

EFEITO ESTUFA

PROTOCOLO DE KYOTO

AUSÊNCIA DE ENXOFRE

EMPREGO E RENDA

AUTO SUFICIÊNCIA ENERGÉTICA

SUBSTITUIÇÃODO PETRÓLEO

FORTALECIMENTO DA MATRIZ ENERGÉTICA

VANTAGEM COMPETITIVA

Figura 8 Fatores relevantes para a produção e o uso do biodiesel

Fonte: Elaboração própria a partir de Nappo (2006).

A partir desse entendimento e considerando as potencialidades do Brasil para a

produção e a comercialização do biodiesel, como diversidade de matérias-primas e

capacidade de expandir a produção de oleaginosas, o Governo Federal criou o PNPB para

programa objetiva o desenvolvimento integrado em redes de produção, industrialização e uso de biodiesel e de misturas com diesel, a partir de óleos vegetais puros e residuais, produzidos regionalmente. São parceiros deste projeto universidades, centros de pesquisas, empresas e outros ministérios do governo que, juntos, integram a denominada Rede Brasileira de Biodiesel.

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introduzir o biodiesel na matriz energética brasileira ,objetivando aproveitar essas

potencialidades. Vários estudos foram realizados antes da sua implementação:

Em julho de 2003, foi criado, por Decreto presidencial, um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), coordenado pela Casa Civil da Presidência da República e integrado por representantes de 11 ministérios, objetivando analisar a viabilidade da produção e uso do biodiesel no Brasil. Como metodologia, optou-se por um ciclo de audiências, tendo sido ouvidos e consultados representantes de institutos de ciência e tecnologia, universidades, fabricantes de óleos vegetais, produtores e trabalhadores rurais, agricultores familiares, indústria automobilística, fabricantes de autopeças e parlamentares envolvidos com o assunto. Também se buscou conhecer a experiência internacional, como a legislação européia e a produção e uso de biodiesel na Alemanha e França, os dois maiores mercados de biodiesel (RODRIGUES, 2006, p. 16).

Após os trabalhos iniciais, o PNPB introduziu o biodiesel no mercado de

combustível brasileiro, de forma que atendesse ao critério de sustentabilidade - tanto

técnica quanto econômica – para a sua produção e uso, observando-se os aspectos sociais

para o desenvolvimento regional a partir da geração de emprego e renda (MME, 2006). A

expectativa do governo federal é produzir um biodiesel economicamente viável,

respeitando o meio ambiente e de forma inclusiva. As principais diretrizes desse Programa

são:

a) introdução do biodiesel na matriz energética nacional de forma sustentável,

permitindo a diversificação das fontes de energia, o crescimento da participação das fontes

renováveis e a segurança energética;

b) geração de emprego e renda, especialmente no campo, para a agricultura familiar,

na produção de matérias-primas oleaginosas;

c) redução de disparidades regionais, permitindo o desenvolvimento das regiões

mais carentes do país: Norte, Nordeste e Semi-Árido;

d) diminuição das emissões de poluentes e dos gastos relacionados ao combate aos

chamados males da poluição, especialmente nos grandes centros urbanos;

e) economia de divisas, com a redução de importações de diesel;

f) concessão de incentivos fiscais e implementação de políticas públicas

direcionadas a regiões e produtores carentes, propiciando financiamento e assistência

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técnica e conferindo sustentabilidade econômica, social e ambiental à produção do

biodiesel;

g) regulamentação flexível, permitindo uso de distintas matérias-primas oleaginosas

e rotas tecnológicas (transesterificação etílica ou metílica, craqueamento, etc.).

Com essa proposta, o governo federal espera também que não aconteça com o

biodiesel o que aconteceu com o etanol, quando se concentrou a produção na cana-de-

açúcar. Nesse sentido, a diversidade de matérias-primas no território brasileiro, segundo

Rodrigues (2006), é uma vantagem, mas, ao mesmo tempo, um desafio. A vantagem está

no fato de permitir a descentralização do processo produtivo e a participação de

agricultores de diferentes regiões. O desafio é selecionar fontes que apresentem melhores

vantagens e perspectivas para que sejam direcionadas políticas públicas para o

desenvolvimento tecnológico, as pesquisas, a logística e a distribuição.

O marco regulatório da inserção do biodiesel na matriz energética brasileira é a lei

11.097/2005, publicada no Diário Oficial da União de 13 de janeiro de 2005. Nesse marco

foram estabelecidos os atos legais e os percentuais de mistura do biodiesel ao diesel de

petróleo, a forma de utilização e o regime tributário diferenciado por região de plantio, por

oleaginosa e por categoria de produção (agronegócio e agricultura familiar), criação do selo

Combustível Social e a isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Na

regulamentação feita pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), responsável pela regulação

e fiscalização do novo produto, foi criada a figura do produtor de biodiesel e definidas as

especificações do combustível e a estrutura da cadeia de comercialização.

No PNPB ficou legalmente estabelecida a mistura de 2% de biodiesel ao diesel de

petróleo, denominada B2 e aumentos percentuais sucessivos ao longo do tempo. A

legislação, segundo Campos e Carmélio (2006, p.56), “[...] estabeleceu que, a partir de

janeiro de 2008, a mistura B2 passa a ser obrigatória no território nacional. Assim, todo o

óleo diesel comercializado no País deverá conter, necessariamente, 2% de biodiesel. Em

janeiro de 2013, este percentual passará para 5%”. Na Figura 9 tem-se, de forma resumida,

o processo de regulamentação do biodiesel.

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M I STURA COM PULSORIA - B2M ISTURA FACULTATIVA - ATÉ B5

BIODIESEL

M ARCO REGULATÓRIOLEI 11.097/ 05

B2MISTURA VOLUNTÁRIA

FASE 1JAN / 2 0 0 5

FASE 2JAN / 2 0 0 8

TEM PO N ECESSÁRIOPARA O RGAN IZAÇÃO

DA CADEIA PRODUTIVA

B2 : ESTRUTURADO R DO M ERCADO

B5:REGULADOR DO M ERCADO

M I STU RA CO M P U LSÓ RI AB 5

FASE 3JAN / 2 0 1 3

MERCADO MADURO

>

.

Figura 9 Regulamentação do biodiesel no Brasil.

Fonte: Elaboração própria a partir de Nappo (2006).

Vieira coloca dessa forma: “Os desafios colocados pelo programa serão

satisfatoriamente superados à medida que o Governo sinalize claramente para as diretrizes a

serem seguidas. Os arranjos necessários para promover o equilíbrio do tripé energético-

ambiental-social demandam uma ação efetiva das diferentes esferas de governo,

privilegiando aspectos técnicos” (VIEIRA, 2006, p.48).

2.3.3 Aspectos ambientais a partir do uso do biodiesel

Os ganhos ambientais a partir da utilização do biodiesel são fundamentais para a

redução da emissão dos GEE na atmosfera. Nos seus estudos, Vichi e Mello (2003, p.499)

demonstram que o biodiesel “[...] ao ser comparado com o diesel reduz em até 78% as

emissões de gás-carbônico (um dos grandes responsáveis pela ocorrência do efeito estufa)”.

Afirmam também que reduz “[...] em alguns casos, em 100% as emissões de enxofre”.

Finalizam destacando que a queima do biodiesel gera 90% menos particulados, aquela

cinza que forma fumaça negra. Ainda mesma linha analítica:

O biodiesel apresenta ótimo potencial de ganhos ambientais. Em média, a emissão de poluentes no uso em motores é reduzida em comparação ao diesel. Destaca-se a redução de SO2, particulados e hidrocarbonetos. Ademais, por ser renovável, contribui positivamente para evitar o efeito estufa. O CO2 emitido na queima do biodiesel é absorvido na etapa agrícola de seu ciclo produtivo (CAMPOS; CARMELO, 2006, p. 57).

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Nesse sentido, Ramos et al. (2003, p.34) entendem que “[...] a inserção de

combustíveis renováveis em nossa matriz energética precisa ser incentivada para frear as

emissões causadas pelo uso continuado dos combustíveis fósseis”. Apesar da importância

ambiental do biodiesel como fonte de energia, o PNPB parece negligenciar a questão ao

descrever, no item ambiental, que:

Estudos indicam os males do efeito estufa e o uso de combustíveis de origem fóssil tem sido apontado como o principal responsável por isso. Melhorar as condições ambientais, sobretudo nos grandes centros metropolitanos, significa também melhorar a qualidade de vida da população e evitar gastos dos governos e dos cidadãos no combate aos males da poluição (PNPB, 2007).

A forma simplista como a questão ambiental é tratada é evidente também quando se

posicionam afirmando que a atenção ao meio ambiente é uma das formas mais eficazes de

projetar um país no cenário mundial. Além disso, a produção de biodiesel possibilita

pleitear financiamentos internacionais em condições favorecidas (PNPB, 2007). Em

momento algum estão previstas ações de incentivos para a questão ambiental, sendo este

um dos pontos negativos do programa.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Modelos teóricos

3.1.1 Teoria microeconômica

Existe forte interdisciplinaridade entre marketing e microeconomia. A compreensão

da relação entre essas duas disciplinas auxilia no entendimento sobre o consumidor. Os

primeiros estudos interdisciplinares, segundo Dias (2007), foram publicados nos anos de

1950 e discutiam a soberania do consumidor. A partir de então, o estudo do marketing

tornou-se multidisciplinar e a sua integração com outras áreas, como, por exemplo, a

economia, foi ampliada.

Pinheiro et al. (2005, p.15) registram que “de uma perspectiva histórica, as

pesquisas acerca do comportamento do consumidor foram inicialmente empreendidas pela

microeconomia [...]”, e finalizam abordando que se justifica tal fato, uma vez que “[...] a

sua área de interesse está circunscrita à avaliação das interações entre consumidores e

produtores em um determinado mercado”.

A microeconomia faz parte da teoria econômica e tem como princípio estudar o

comportamento dos consumidores e das empresas em seus mercados. Nesse sentido, essa

teoria procura identificar as decisões de compra dos indivíduos e sua disposição em pagar

por um determinado produto ou serviço. Acrescentam-se a isso os motivos que levam uma

empresa a produzir uma mercadoria, os preços a serem praticados e, por fim, de que

maneira os tipos de mercado nos quais as empresas e os consumidores atuam influenciam

as decisões de compra e de produção (GONÇALVES et al., 2006). Na compreensão de

Baídya (1999, p. 11), a microeconomia “[...] estuda o comportamento dos tomadores de

decisão como células unitárias, sejam como proprietários ou gerentes de firmas sejam como

indivíduos comuns diante da escolha do adquirir”. De forma mais completa:

A microeconomia trata do comportamento das unidades econômicas individuais. Tais unidades abrangem consumidores, trabalhadores, investidores, proprietários de terra, empresas – na realidade, quaisquer indivíduos ou entidades que tenham participação no funcionamento da nossa economia. A microeconomia explica como e por que essas

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unidades tomam decisões econômicas. [...] Outra importante preocupação da microeconomia é saber como as unidades econômicas (empresas) interagem para formar unidades maiores – mercados e indústrias (PINDYCK, 2002, p. 3).

Ao discutirem o objeto de estudo da microeconomia, Gonçalves et al. (2006)

deixam claro que a microeconomia ao considerar o comportamento dos agentes

econômicos adota uma perspectiva de otimização dos objetivos, mas sujeita a restrições

orçamentárias e tecnológicas. Assim, “supõe que os consumidores, limitados pela renda

disponível, procuram maximizar sua satisfação ao optar por consumir um determinado

conjunto de bens e serviços, enquanto as empresas buscam maximizar seus lucros,

limitadas pela tecnologia de produção, pelos desejos dos consumidores e pelo ambiente de

mercado (pela concorrência)” (GONÇALVES et al., 2006, p. 16).

Mesmo com os limites destacados por Gonçalves et al. (2006), Pindyck (2002) faz

uma ressalva ao descrever que os agentes econômicos procuram maximizar seus objetivos

observando suas limitações e restrições para atingir tais metas. Nesse sentido, a busca é

alocar eficientemente os recursos disponíveis frente à sua escassez. Dessa forma, a

microeconomia, segundo Pindyck (2002, p. 4), acabar por descrever “[...] as relações de

equilíbrio que consumidores, trabalhadores e empresas encontram e mostram como essas

relações podem ser feitas da melhor maneira”.

Assim, o enfoque principal da teoria microeconômica centra-se no comportamento

do consumidor e da empresa, bem como a tecnologia empregada na produção de bens e

mercadorias e ambientes de mercado no qual os agentes econômicos estão inseridos

(GONÇALVES et al., 2006). De maneira geral, os teóricos dividem a microeconomia em

três grandes partes: teoria do consumidor, teoria da firma e estudo do equilíbrio do mercado

(BAÍDYA, 1999). Neste estudo enfoca-se a teoria do consumidor, em função da dimensão

analisada e objetivos propostos.

3.1.2.1 Teoria do consumidor

O consumidor é definido como uma unidade do setor de consumo, representada

tanto por um indivíduo quanto por uma família, que possui um orçamento disponível para

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gastos e tem todas as condições de decidir a respeito da sua utilização. Dentro do sistema

econômico, a decisão de compra do indivíduo é o elemento fundamental para o

desencadeamento do processo produtivo. Ao escolher um produto para atender às suas

necessidades, o denominado consumidor provocará uma cadeia de sucessivos

acontecimentos. De certa forma, as ações que definem o tipo e a quantidade de bem a ser

produzido inevitavelmente ficam condicionadas às decisões de compra do consumidor

(CARVALHO, 2000).

Partindo-se do conceito clássico da teoria microeconômica, os consumidores, dadas

as suas preferências e renda disponível (restrição orçamentária), procurarão adquirir bens e

serviços (cesta de mercadorias) que permitam maximizar sua satisfação, ou seja, o seu bem-

estar, realizando, assim, os processos de trocas na economia.

Baídya (1999) e Pindyck (2002) recomendam examinar a questão do

comportamento em três etapas. A primeira é constituída pelas preferências do consumidor e

consiste em encontrar uma forma prática de descrever por que as pessoas preferem uma

mercadoria a outra, ou seja, as escolhas dos indivíduos. A segunda refere-se às restrições

orçamentárias, uma vez que os consumidores terão de considerar os preços em função da

renda que dispõem. Por fim, as escolhas do consumidor, diante de suas preferências e da

limitação de renda, os levarão a adquirir mercadorias que maximizem sua satisfação.

Diante de uma denominada cesta de mercadorias, como os consumidores decidem

suas compras? Pindyck (2002, p.63) ressalta que “[...] usualmente, os consumidores

selecionam as cestas de mercadorias que os satisfaçam da melhor forma possível”. Nesse

sentido, estudar e analisar as preferências do consumidor são fundamentais para

compreender o processo de escolha.

De acordo com a teoria microeconômica, Vasconcellos (2000) apresenta três

premissas básicas: as preferências são completas, transitivas e reflexivas. Baídya (1999)

as identifica como “axiomas”: o primeiro da comparabilidade ou ordenabilidade, o

segundo da transitividade e o último, da racionalidade. Pindyck (2002, p. 63) descreve

cada uma delas da seguinte forma:

1- Integralidade. As preferências são completas. Isso significa em outras palavras, que os consumidores podem comparar e ordenar

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todas as cestas de mercadorias. [...] por indiferente indicamos que qualquer uma das cestas deixaria o indivíduo igualmente satisfeito.

2- Transitividade. As preferências são transitivas. Transitividade significa que se um consumidor prefere a cesta de mercadorias A a B e prefere B a C, então ele também prefere A a C. A transitividade representa assim como uma condição necessária para propiciar consistência às escolhas do consumidor.

3- Mais é melhor que menos. Parte-se do pressuposto que todas as mercadorias são desejáveis. Conseqüentemente, os consumidores sempre preferem quantidades maiores de cada mercadoria30. Assim, eles nunca ficam completamente satisfeitos ou saciados; mais é sempre melhor, mesmo quando se trata de um pouquinho mais.

Essas premissas constituem a base da teoria do consumidor e, apesar de explicarem

completamente as preferências do consumidor, conferem certo grau de racionalidade às

escolhas. Diante do exposto, percebe-se que a teoria do consumidor é importante na

definição das estratégias de marketing. Mesmo assim, existem limitações que devem ser

consideradas na sua utilização. Primeiro porque ela não considera as diferenças individuais,

sociais e culturais que influenciam o comportamento do consumidor. Segundo, pelo fato de

que se trata de “[...] uma abordagem centrada nos efeitos do consumo de um bem no

consumidor, mas que não permite uma compreensão mais aprofundada dos processos

psicológicos que permeiam o comportamento de compra. Por pertencer à dimensão

subjetiva, a percepção de utilidade do consumidor é de difícil quantificação” (PINHEIRO

et al., 2005, p. 16).

Apesar dessas limitações, Pinheiro et al. (2005) destacam também que “[...] a teoria

levanta uma série de questões importantes para a compreensão do fenômeno de compra,

especialmente no que diz respeito ao uso de estímulos de marketing que objetivem

influenciar o comportamento de compra dos consumidores” (PINHEIRO et al., 2005, p.16).

3.1.3 Princípios da administração mercadológica

As abordagens realizadas até aqui permitiram uma reflexão em relação ao

desenvolvimento da sociedade e suas implicações ao meio ambiente. Procuramos abordar,

de forma geral, o desenvolvimento econômico e a influência antrópica sobre o meio 30 N.T.: Em inglês, os economistas empregam o termo monsatiation para denotar que os consumidores, segundo essa suposição, não ficam saciados com o consumo de qualquer um dos bens considerados.

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ambiente. Nesse contexto, a indústria automobilística se configura como um dos principais

segmentos da indústria nacional, empregada para exemplificar questões que envolvem o

uso de fontes alternativas de energia e suas relações com o meio ambiente. Por fim,

procuraremos compreender as fontes de energia que suprem a necessidade das indústrias e

apresentamos o biodiesel como uma fonte de energia renovável para os veículos

automotores, que poderá contribuir para a continuidade do desenvolvimento econômico e

social, de forma ambientalmente responsável.

É importante acrescentar ao que foi exposto que os processos da administração são

fundamentais e imprescindíveis para o desenvolvimento das firmas, no contexto analisado

neste trabalho. A sociedade vem se desenvolvendo mediante a criação de organizações

(especializadas) com capacidade de fornecer bens e serviços. Salazar (2001, p.7) enfatiza

que “as organizações são instrumentos vitais para a sociedade. Suas realizações nos campos

da indústria, educação, saúde e defesa nacional resultaram em enormes aumentos nos

padrões de vida”. Segundo esse autor “[...] a própria grandeza das organizações que

tratamos no dia-a-dia deveria ilustrar, para cada um de nós, o vasto poder econômico, social

e político que possuem separadamente”.

Carvalho (2000) lembra que as primeiras tentativas de sistematização e

formalização aconteceram no final do século XIX e que cada uma das teorias

administrativas surgiu como resposta aos problemas empresariais mais relevantes de sua

época.

Para Megginson et al. (1998, p.13), a administração pode ser definida como “ [...] o

trabalho com recursos humanos, financeiros e materiais para atingir objetivos

organizacionais através do desempenho das funções de planejar, organizar, liderar e

controlar”. Esse conceito evidencia que a finalidade da administração é definir e alcançar os

objetivos da empresa no seu mercado de atuação a partir da utilização de recursos humanos,

financeiros e materiais. Basta et al. (2005, p.15) confirmam esse entendimento ao

defenderem que “[...] uma organização é um organismo vivo que tem valores e propósitos

específicos, com uma missão e objetivos a atingir”. Compreende-se, então, que uma

organização é um sistema único formado por diferentes sistemas que tem atividades e

funções específicas: suprimentos, produção, finanças, recursos humanos e marketing

(Figura 10). O funcionamento de cada subsistema deverá interagir com os outros,

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funcionando às vezes como cliente, às vezes como fornecedor, de forma harmônica,

integrada e sintonizada com os objetivos da empresa (BASTA et al., 2005).

ENTRADAmatérias primas

recursos humanosrecursos financeiros

infromaçõesequipamentos

energia

SUPRIMENTOS MARKETING

PROCESSO

SAÍDAprodutosserviçosidéias

^

^

FEEDBACK

Figura 10 Visão sistêmica de uma organização.

Fonte: elaboração própria; adaptada de Basta et al. (2007).

Mas, Bateman e Snell (1998) apresentam uma crítica a essa visão sistêmica do

processo administrativo, ao apresentarem, como limitação, a falta de direcionamento

quanto às funções e obrigações dos administradores. Por outro lado, Maximiano (1997)

aborda que o enfoque sistêmico trouxe conseqüências para o pensamento da teoria e prática

da administração, uma vez que: destacou a importância do pensamento holístico; instituiu

que o ambiente tem de ser considerado para que os objetivos sejam atingidos; demonstrou

que os processos administrativos devem estar sintonizados com o ambiente e que é

necessária uma visão global do processo para a eficácia das estratégias.

3.1. 3.1 Definição de marketing

Durante muito tempo, acreditava-se que o processo de marketing era basicamente

vendas ou simplesmente propaganda. Fato é que ,entre essa idéia inicial até as definições

mais recentes, o conceito de marketing31 evoluiu muito desde o seu surgimento.

31 Segundo Limeira (2003, p. 2), marketing é uma palavra em inglês, derivada de market, que significa mercado. É utilizada para expressar a ação voltada para o mercado. Assim, entende-se que a empresa que pratica o marketing tem mercado como a razão e o foco de suas ações.

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O fator determinante para a concepção do conceito de marketing foi o avanço da

industrialização mundial, que acirrou a competição entre as firmas, provocando disputa

pelos mercados. Produzir e vender produtos ou serviços de qualidade a custos competitivos

já não garantiam que o cliente estaria efetivando a compra. Pelo fato de ter a opção de

escolham os consumidores passaram a selecionar a alternativa que mais proporcionasse a

relação custo e benefício. A partir de então, teve início uma nova etapa, na qual a decisão

final sobre a compra estava literalmente nas mãos dos clientes. A preocupação agora é com

a satisfação das necessidades dos consumidores. Diante dessa nova realidade, as empresas

perceberam a necessidade de empregar estratégias para estudar, de forma permanente, o

mercado, sobretudo no que diz respeito ao comportamento dos consumidores e passam a

orientar suas ações, com direcionamento voltado para o mercado consumidor (LIMEIRA,

2003).

Para Kotler e Armstrong (1995), se o profissional de marketing realiza um estudo

aprofundado para identificar as necessidades e o comportamento dos seus clientes,

desenvolve produtos ou serviços com valor superior, define bem seus preços, define boas

estratégias promocionais e de distribuição, e os produtos serão comercializados com certa

facilidade. A partir dessa afirmativa, ele define que “[...] marketing é um processo social e

gerencial através do qual os indivíduos obtêm aquilo que desejam e de que necessitam,

criando e trocando produtos e valores uns com os outros [...]”. Como definição, Dalrymple

e Parsons (2003) salientam que o objetivo do marketing é satisfazer às necessidades dos

clientes e que seu primeiro desafio é encontrar um grupo de clientes e identificar suas

necessidades para que bens e serviços sejam desenvolvidos de forma apropriada com as

expectativas.

Ao apresentar a sua definição, Berkowitz et al. (2003) concordam com as definições

anteriores e acrescentam que é de grande importância que as trocas sejam benéficas, de

forma a satisfazer as necessidades não somente de quem compra como daqueles que

vendem os produtos, serviços e idéias. De forma mais objetiva, Richers (1981) afirma que

marketing é a intenção de compreender e atender o mercado. De modo geral, “[...] o

conceito de marketing pode ser entendido como uma função empresarial que cria

continuamente valor para o cliente e gera vantagem competitiva duradoura para a empresa,

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por meio da gestão estratégica das variáveis controláveis de marketing: produto, preço,

comunicação e distribuição (LIMEIRA, 2003, p.2).

Da mesma forma que as demais funções empresariais, o marketing abrange a

tomada de decisões, a gestão de recursos, a coordenação de processos e a avaliação de

resultados. Uma decisão imprescindível é a definição do composto mercadológico que deve

acontecer após o posicionamento de mercado da empresa. O composto mercadológico é

formado por quatro ferramentas, conhecidas também como os “4P” ou mix de marketing

que, reunidas, objetivam influenciar a demanda por seus produtos. Na sua obra, Kotler e

Armstrong (1998, p.31) definem mix de marketing como um “[...] grupo de variáveis

controláveis de marketing que a empresa utiliza para produzir a resposta que deseja o

mercado-alvo”.

Registra a história que James Culliton, em 1948, foi o pioneiro em utilizar

expressão marketing mix (composto mercadológico) para descrever os principais elementos

que interferem nas decisões de marketing. Mas, foi McCarthy, em 1960, quem resumiu

esses elementos do marketing mix, ficando, a partir de então, conhecidos como os 4P

(produto, preço, praça e promoção). No entendimento de McCarthy, a noção de serviço faz

parte da gestão de produtos, a pesquisa de marketing faz parte do planejamento e as forças

do ambiente são consideradas quando se elaboram estratégias de marketing (BASTA et al.,

2007).

É salutar ressaltar também que alguns dos conceitos aplicados ao marketing têm

origem em áreas como matemática, estatística, psicologia e sociologia. Essas áreas

contribuem para o surgimento de algumas terminologias utilizadas na prática empresarial,

como os conceitos de teoria da escolha individual, mercado de consumo e organizacional,

mercado-alvo, segmentação de mercado, necessidade inata e adquirida, satisfação, valor,

custo, vantagem competitiva, produto (atributos e benefícios), serviço, demanda de

mercado, potencial de mercado, demanda de produtos e ambiente de marketing (LIMEIRA,

2003).

3.1.3.2 O ambiente de marketing

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Os fatores externos ou internos que interferem na capacidade de gestão das firmas,

influenciando no resultado das suas estratégias de marketing, constituem o que se denomina

de ambiente de marketing. As forças de influência que estão próximas à empresa são

definidas como forças do microambiente e são formadas, basicamente, pela própria

empresa, pelos fornecedores, pelos canais de marketing, clientes, concorrentes e os

públicos em geral. Aquelas que estão mais distantes da empresa, mas que afetam o

microambiente, são denominadas forças de macroambinente. Fazem parte desta última as

forças demográficas, econômicas, naturais, tecnológicas, políticas e culturais (KOTLER e

ARMSTRONG, 1998).

Os mercados vivem em permanente mutação, sendo necessário, então, que as

empresas monitorem de forma permanente o seu ambiente de marketing. A identificação de

oportunidades e ameaças permite um melhor gerenciamento das estratégias de marketing,

além de identificar e interpretar possíveis tendências. Alguns desses fatores ambientais

escapam ao controle da gestão de marketing, sendo, portanto, incontroláveis: forças sociais,

tecnológicas, econômicas, competitivas e reguladoras (Figura 11).

SOCIAIS

deslocamentosdemograficos

mudanças culturais

ECONÔMICAS

condições macroeconômicas

renda do consumidor

TECNOLOGICAS

mudança de tecnologia

impacto da tecnologia

sobre o valor para o cliente

COMPETITIVAS

formas alternativas deconcorrência

componentesda concorrência

REGULADORAS

leis protetorasda concorrência

leis que afetam as ações do

mix de marketing

auto-regulamentação

FORÇAS AMBIENTAIS

FORNECEDORES

ORGANIZAÇÃOdepa rta mento de ma rketing

outros deprta mentos

emprega dos

CLIENTES

Figura 11 Forças ambientais que afetam as organizações.

Fonte: BERKOWITZ et al. (2003).

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3.1.3.3 A administração mercadológica

Mesmo gerenciando as variáveis controláveis do mix de marketing, a administração

mercadológica não é tão simples. As firmas desenvolvem suas atividades em um complexo

ambiente de marketing, formado por forças incontroláveis. Assim, precisam se adaptar

permanentemente ao mundo em mutação. Para que isso aconteça, é fundamental buscar

informações nesse ambiente, para que sejam identificadas ameaças e oportunidades e

definir as estratégias a serem adotadas. A utilização das informações que vêm do ambiente

de marketing é imprescindível para a administração mercadológica que:

[...] é definida como a análise, planejamento, implementação e controle dos programas destinados a criar, desenvolver e manter trocas de benefícios com os compradores-alvo a fim de atingir os objetivos organizacionais. Portanto, a administração de marketing envolve uma demanda administrada, que por sua vez envolve relacionamentos administrados com o cliente (KOTLER e ARMSTRONG, 1998, p.8).

Para um melhor entendimento e a compreensão dessa definição, na Figura 12 é

apresentado um esquema representativo, denominado de análise, planejamento,

implementação e controle (APIC32).

ESTRATÉGIAS TROCAS

ATEN DER AS N ECESSIDADESDO S CO N SU M IDO RES

ATEN DER AO S O BJETIVO SO RGAN IZACIO N AIS

A

P

I

C

Figura 12 O conceito da administração de marketing – APIC.

Fonte: elaboração própria. 32 Observando algumas dificuldades da compreensão desse conceito por parte dos discentes de graduação, o autor deste trabalho adaptou o conceito da administração de marketing, criando a sigla do APIC, a fim de colaborar no processo ensino aprendizagem dos seus discentes de graduação. O APIC foi utilizado pela primeira vez no ano de 2001.

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A administração mercadológica é dividida em duas áreas de responsabilidade: uma

estratégica e outra operacional. Na área estratégica, as decisões incluem a análise e a

segmentação de mercado, a definição de produtos e serviços, a definição de preços e canais

de distribuição e as estratégias de comunicação e promoção. As ações táticas e

operacionais33 compõem a responsabilidade operacional de marketing. Para o sucesso da

administração mercadológica, as duas áreas de responsabilidades têm de ser consideradas

em todo o processo, a partir de um trabalho inter-relacionado. Algumas empresas acreditam

que somente a operacional é importante para as suas ações de marketing e deixam a

estratégica para a direção da empresa. Essa postura é um equívoco e poderá implicar em

decisões precipitadas, sem a análise adequada das variáveis de mercado, influenciando

assim os seus resultados (LIMEIRA, 2003).

Na etapa da análise, a empresa deverá buscar as informações no ambiente de

marketing e, a partir de então, identificar as ameaças e oportunidades para a sua atividade.

Sendo ameaças, a empresa deverá buscar estratégias que possam reverter a situação e, até

mesmo, sair do mercado quando as possibilidades de revertê-las estiverem esgotadas e

qualquer tentativa poderá implicar em prejuízos maiores. Com a leitura ambiental e a

definição do cenário, a empresa deverá criar um planejamento de marketing em que serão

definidas as suas estratégias para atingir os objetivos previamente definidos. Uma vez

definido o planejamento, é necessária sua implementação, fazendo com que as estratégias

sejam transformadas em ações de marketing. Por fim, essas ações precisam ser avaliadas de

forma permanente, para que seus resultados previamente estabelecidos sejam alcançados.

Assim, o controle mercadológico objetiva avaliar as estratégias e realizar ações para

correção ou adequação do plano de marketing, quando necessário. Esse processo de

funcionamento do APIC é demonstrado na Figura 13.

33 Ações táticas e operacionais: execução de vendas, desenho e produção dos materiais de comunicação, atração, desenvolvimento e controle dos canais de vendas, gerenciamento de estoques nos canais, ações promocionais, como descontos em vendas, prêmios, brindes e amostra grátis (LMEIRA, 2003).

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AAN ÁLISE

AMBIENTE DE

MARKETINGINFORMAÇÕES

AMEAÇASE OU

OPORTUNIDADESDECISÃO DA EMPRESA

PPLAN EJAM EN TO

NÍVEL ESTRATÉGICO

NÍVEL OPERACIONAL

IIM PLEM EN TAÇÃO

CCON TROLE

Figura 13 O processo da administração de marketing.

Fonte: elaboração própria.

3.1.4 Comportamento do consumidor34

É na responsabilidade estratégica da administração de marketing que o

comportamento35 do consumidor deverá ser analisado e estudado, para direcionar as ações

de marketing. No ambiente existem diferentes estímulos que incitam o consumidor, como,

por exemplo, produto, preço, ponto, promoção, etc. e fatores que afetam o meio ambiente: a

tecnologia empregada, o ambiente econômico em que a empresa está inserida, a cultura e os

aspectos políticos. Na visão de Basta et al. (2005), os estímulos agem sobre o consumidor

que tem suas próprias características culturais, sociais, pessoais e psicológicas. Abordam

34 Para Sheth, Mittal e Newman, citados por Bretzke (2003), a utilização do termo consumidor, para referir-se a mercado de bens de consumo, é didática, pois, na prática, o termo amplamente utilizado nas lojas, bancos e prestadores de serviços é cliente. Para Bretzke (2003, p.38), “cliente designa uma pessoa ou unidade organizacional que desempenha um papel no processo de troca ou transação com uma empresa ou organização”. Apesar dessa abordagem e como a própria autora informa que a maioria dos livros didáticos trabalha com a terminologia consumidor, optamos em utilizá-lo neste trabalho. 35 Para Basta et al. (2005) comportamento é o conjunto das reações que se podem observar num indivíduo, estando em seu ambiente e em dadas circunstâncias; é o reflexo de sua personalidade, percepção, motivação, atitudes e aprendizagem.

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que “[...] dependo do estímulo, o resultado dessa reação pode levar o consumidor a uma

decisão de compra”.

O conhecimento do comportamento do consumidor permite que as empresas tenham

vantagem competitiva sobre seus concorrentes, pois esta informação permitirá o

desenvolvimento de estratégias mais realistas sobre o público alvo e sobre o processo de

decisão de compra (KOTLER; ARMSTRONG, 1998). Nesse sentido, Bretzke (2003, p. 49)

orienta que o gestor de marketing “[...] deve prestar atenção nos tipos de cliente, em suas

necessidades e expectativas de atendimento e no relacionamento individual que deseja ter

com ele”.

Estudar o comportamento do consumidor, nas observações de Solomon (2002, p.

24), é identificar e avaliar “[...] os processos envolvidos quando indivíduos ou grupos

selecionam, compram, usam ou dispõem de produtos, serviços, idéias ou experiências para

satisfazer necessidades e desejos”. Esse estudo que é realizado não somente em relação ao

que é comprado pelos consumidores, mas também por que, quando, onde, com que

freqüência e o significado específico, permite entender as suas ações de compra e também

conhecer o papel do consumo na sua vida (BASTA et al., 2005).

Além desses aspectos os estudos tornaram-se parte importante do planejamento

estratégico de marketing, uma vez que todas as ações estratégicas objetivam atender às

necessidades do consumidor. Solomon (2004, p. 25) descreve que os “[...] dados sobre os

consumidores auxiliam as organizações a definir o mercado e a identificar ameaças e

oportunidades para uma marca”.

Por muito tempo, a base dos estudos de comportamento se limitava a analisar o

momento em que o consumidor efetivamente realizava o pagamento da compra e recebia

em troca um bem ou serviço. A evolução do entendimento do comportamento evidenciou

que se trata de um processo contínuo, que envolve outras etapas, apesar do momento da

troca ser um dos mais almejados das estratégias de marketing. Nesse sentido, Solomon

(2002, p.24) afirma que, mesmo que “[...] a troca continue sendo uma parte importante do

comportamento do consumidor, a visão mais abrangente enfatiza todo o processo de

consumo [...]”. Nessa proposta de visão mais abrangente, o autor inclui as questões que

influenciam o consumidor não somente no momento da troca, mas, antes, durante e depois

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da compra. Berkowitz et al. (2003, p. 176) reiteram essa compreensão quando afirmam que

“quando um consumidor compra um produto, isso não é um ato, mas sim um processo”.

Para um melhor detalhamento do comportamento dos consumidores, alguns

pesquisadores os classificam em dois tipos. O primeiro é denominado consumidor final ou

usuário final e o segundo, o consumidor organizacional. O consumidor final compra bens e

serviços para o seu próprio uso e o outro, formado basicamente por organizações com ou

sem fins lucrativos, precisa comprar insumos, produtos e equipamentos para desenvolverem

as suas atividades (BASTA et al., 2005).

3.1.5 O modelo estímulo-resposta

É no ambiente de marketing que existe uma grande interação entre estímulos e

respostas. Para Basta et al. (2005), os estímulos que incitam o consumidor podem ser

representados por ações do mix de marketing (4P) e também por outros fatores que afetam

o meio ambiente, como, por exemplo, “[...] a evolução tecnológica (gerando novos e mais

sofisticados produtos), a economia (cujas políticas podem criar novas necessidades), a

cultura (capaz de influenciar fortemente o consumo) e os aspectos políticos (a estabilidade

política ou a falta desta, altera o modo de consumo)” (BASTA, et al., 2005, p. 53).

A esses estímulos acrescentam-se as características culturais, sociais, pessoais e

psicológicas que fazem parte da natureza humana. Dependendo da sua intensidade, esses

estímulos podem levar o consumidor a uma decisão de compra. Para Bretzke (2003, p.50),

os estímulos dos 4P, somados ao do ambiente de marketing, “[...] provocam impacto no

cliente, o qual irá prestar atenção, reter e reagir às informações de acordo com suas

características pessoais, percorrendo um processo de decisão que levará a uma resposta”.

Para melhor entendimento, um modelo de estímulo-resposta, no qual existe uma

seqüência de etapas que ao serem analisadas identificarão os aspectos que levam o

consumidor à decisão de compra, está ilustrado na Figura 14.

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CARACTERÍSTICAS

CULTURAISSOCIAIS

PESSOAISPSICOLÓGICAS

ESTÍMULO DE MARKETING

PRODUTOPREÇOPONTO

PROMOÇÃO

OUTROS ESTÍMULOS

ECONÔMICOSTECNOlÓGICOS

CULTURAISPOLÍTICOS

+AGEM

CONSUMIDORCLIENTE

PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA

RECONHECIMENTO DO PROBLEMABUSCA DAS INFORMAÇÕES

AVALIAÇÃO DAS ALTERNATIVASDECISÃO DE COMPRA

COMPORTAMENTO PÓS- COMPRA

Figura 14 Modelo estímulo-resposta.

Fonte: elaboração própria a partir de Kotler e Armstrong (1998), Basta et al. (2005).

3.1.6 Fatores que influenciam o comportamento

No que diz respeito aos fatores que influenciam o comportamento dos

consumidores, Cobra (1992) afirma que, para diferentes estudiosos, as decisões de compra

sempre são influenciadas por quatro fatores principais: culturais, sociais, pessoais e

psicológicos. Kotler e Armstrong (1998) deixam claro que é necessário compreender como

o comportamento de compra é afetado por suas características específicas e seu processo

individual de decisão. A busca por essa compreensão, como destaca Bretzke (2003), é um

dos grandes desafios dos profissionais de marketing, pois é necessário “[...] compreender

como esses fatores se combinam, se excluem ou se somam para gerar uma atitude favorável

no cliente e isolar os mais importantes e passiveis de serem modificados pelas decisões do

composto de marketing, a fim de atuar positivamente sobre um determinado segmento de

clientes” (BRETZKE, 2003, p.51).

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Os principais componentes que identificam as características do consumidor podem

ser definidos como:

a) Fatores culturais

A cultura, segundo Koltler e Armstrong (1998), Cobra (1992) e Basta et al. (2005),

é a causa mais determinante do comportamento da pessoa e, na sua maioria, é aprendida

dentro do seu contexto social. A cultura poderá ser subdividida em subculturas que, na

opinião de Basta et al. (2005), “é um segmento da sociedade baseado em variáveis

demográficas, como nacionalidade, religião, localização geográfica, raça, idade, sexo e até

profissão”. Além destes, também a classe social é fator de influência. Este fator, na visão

de Kotler e Armstrong (1998, p.98), “[...] são divisões relativamente permanentes e

homogêneas da sociedade, cujos membros partilham valores, interesses e comportamentos

semelhantes”.

b) Fatores sociais

O homem, como um ser social, necessita viver em grupos e estes podem influenciar

e moldar o comportamento de consumo daqueles que os compõem. Bretzke (2003, p.59)

esclarece que “o comportamento o ser humano é baseado na aprendizagem propiciada pela

interação social entre as pessoas”. Os grupos de referência, geralmente, são compostos

por família, amigos, colegas de trabalho e vizinhos (grupos primários); organizações

religiosas e de classe e clubes de lazer (secundários); partidos políticos (grupos formais) e,

ainda, grupos informais como, por exemplo, encontro de formandos (Basta et al., 2005). Os

autores são unânimes em afirmar que a família é o mais importante para o estudo do

comportamento do consumidor, uma vez que ela é o principal núcleo de consumo. Ao

conviver em grupo, uma pessoa participa de muitos grupos sociais e sua posição em cada

um desses grupos pode ser definida em termos do papel e do status social.

c) Fatores pessoais

Fazem parte dos fatores pessoais a idade e o ciclo de vida, a ocupação, a situação

econômica, o estilo de vida e a personalidade e o autoconceito. A idade e o ciclo de vida

influenciam diretamente na mudança de hábitos de compra ao longo da vida dos

consumidores; a ocupação influencia os bens e os serviços adquiridos; a situação

econômica afeta diretamente a escolha de um produto ou serviço; o estilo de vida

identifica a maneira como uma pessoa vive, refletindo o que ela pensa de si mesma e o que

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é valorizado por ela e, por último, a personalidade e os autoconceitos. Por personalidade

entende-se o conjunto de traços psicológicos únicos que levam a reações relativamente

coerentes e duradouras com o ambiente do indivíduo e autoconceitos têm como premissa

básica que as posses refletem a sua identidade (KOTLER; ARMSTRONG, 1998;

BRETZKE, 2003; COBRA; 1992).

d) Fatores psicológicos

Motivação, personalidade, percepção, aprendizagem, crenças e atitudes são fatores

psicológicos que influenciam no comportamento dos consumidores. A motivação que

orienta o comportamento humano é discutida por diferentes linhas de pensamento, como a

behaviorista, a cognitivista, a psicanalítica, a de Herzberg e a humanista. Na primeira,

behaviorista, a motivação tem como ponto central o conceito de impulso; na segunda,

cognitivista, reconhece que o comportamento depende tanto das escolhas conscientes do

indivíduo quanto de acontecimentos do meio, sobre qual não se tem controle e que o

influenciam, ou seja, a motivação depende do modo como a pessoa percebe os fatores de

influência. A psicanalítica sustenta que o comportamento humano é determinado por

motivações inconscientes e por impulsos instintivos. Na quarta, Herzberg, estabeleceu dois

fatores: os que causam insatisfação e os que causam satisfação, em que a ausência de um

fator de insatisfação não é suficiente para motivar alguém a consumir e a sua presença

afasta o consumidor. Na última, a humanista, o ser humano é motivado pelas necessidades

internas e externas que se manifestam fisiológica e psicologicamente, tendo como principal

pensador Abraham Maslow. Segundo a sua abordagem, as necessidades do ser humano são

priorizadas e hierarquizadas. Essa teoria é fundamentada, basicamente, em três hipóteses:

temos diferentes necessidades que podem ser hierarquizadas segundo a sua importância;

procuramos satisfazer à necessidade que nos pareça mais importante e, uma vez satisfeita a

necessidade mais importante, procuramos satisfazer às necessidades seguintes. A hierarquia

das necessidades apresentadas por este entendimento humanista, conhecida também como

“Pirâmide de Maslow”, tem a seguinte escala hierárquica: necessidades fisiológicas

(comida, água, abrigo), necessidades de segurança (segurança e proteção), necessidades

sociais (sensação de pertencer, amor), necessidades de estima (reconhecimento e status) e

necessidades de auto-realização (desenvolvimento e realização pessoal) (BASTA et al.,

2005).

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A percepção, para Kotler e Armstrong (1998, p.103), “é o processo pelo qual as

pessoas selecionam, organizam e interpretam informações para formarem uma imagem

significativa do mundo”. Para Basta et al. (2005), o consumidor pode ter diferentes

percepções em função dos processos de atenção seletiva, distorção seletiva e retenção

seletiva.

O aprendizado, na visão de Karsaklian (2000), ocorre quando o consumidor, após

conhecer o produto, começa, a partir de etapas sucessivas, a assimilar os seus diferentes

aspectos: a resolução extensiva do problema (REP), na qual o consumidor depara-se com

um novo conceito de produto e não sabe que benefícios pode tirar dele, necessitando,

assim, de informações; a resolução limitada do problema (RLP), em que o consumidor se

depara com uma marca desconhecida em uma categoria que ele já conhece e a resolução

rotineira do problema (RRP), na qual ele conhece a categoria de produtos e as principais

marcas e a sua atitude tende a ser estável e não questionar a sua capacidade de julgamento.

Ainda sobre o aprendizado, são apresentados quatro mecanismos diferentes: o

cognitivo, que acontece a partir da aquisição de informação de origem da comunicação oral

ou escrita; o clássico, em que o aprendizado acontece por associação; o condicionamento

instrumental, no qual as pessoas aprendem a reagir de determinada maneira quando

observam uma compensação e o último, a moldagem, que tem como premissa o

aprendizado a partir da observação de outras pessoas (SHETH, 2001).

Entende-se como crença aquilo em que se acredita, com ou sem fundamento. As

atitudes são avaliações, sentimentos e tendências relativamente consistentes quanto a um

objeto ou uma idéia. Expressam, ainda, a sua inclinação favorável ou desfavorável em

relação a um objeto. Existem três dimensões implícitas à atitude: o conhecimento

(cognição), o sentimento (afeto) e a ação (conação) (KOTLER e ARMSTRONG, 1998;

BASTA et al. 2005).

Além dos fatores que influenciam o comportamento dos consumidores finais, há

também os que influenciam os consumidores organizacionais. Neste grupo estão todos os

compradores de uma nação, exceto os consumidores finais. Compram e arrendam grandes

volumes de capital em equipamentos e matérias-primas, peças, suprimentos e serviços

empresariais (BERKOWITZ et al., 2003). Apesar da diferença entre os consumidores finais

e organizacionais, Bretzke (2003, p.52) ressalta que “[...] muitos fatores atuam em ambos

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os mercados, porém com intensidade e efeitos diferentes, como é o caso dos fatores

pessoais e psicológicos”.

Kotler e Armstrong (1998, p.132) registram que, da mesma forma que no mercado

de consumo, os “[...] vários fatores ambientais, individuais e interpessoais afetam os

compradores organizacionais, assim como fatores organizacionais que só acontecem no

ambiente de negócios”. Na Figura 15 verifica-se, na parte superior, os fatores que afetam o

mercado de consumo e, na parte inferior, aqueles que afetam o mercado de negócios.

MERCADO CULTURAL SOCIAL

PESSOALMERCADO ORGANIZACIONAL SOCIAL

PESSOAL

nível de oferta

emprego

crédito

ação concorrência

cultura

subcultura

classe social

grupos de referência

família

papéis eposições sociais

Idadeciclo de vida

instrução

estilo de vida

personalidade e autoconceitos

nível da demandacusto do dinheiro

negociação fornecedor

política fiscaldisponibilidade

dos recusroscondições

de fornecimentotecnologia

cultura corporativa

política

procedimentos

estrutura

organizacional

sistemas

autoridade

status

prestígio do cargo

influência dos outros papeis

no centrode compra

idade

instrução

cargo ocupado

estilo de decisão

personalidade

autoconceitos

PSICOLÓGICOS

MOTIVAÇÃO

PERCEPÇÃO

APRENDIZADO

CRENÇAS

ATITUDES

MERCADO DE CONSUMO

MERCADO DE NEGÓCIOS

Figura 15 Fatores que influenciam o comportamento de compra.

Fonte: Bretzke (2003).

3.1.7 A decisão de compra

O processo de compra de produtos realizado pelos consumidores tem início no

momento em que este reconhece a sua necessidade (CHURCHILL, 2000). Segundo Kotler

e Armstrong (1998, p.108), esse processo começa “[...] com o reconhecimento da

necessidade, ou seja, o comprador reconhecendo o problema ou necessidade. Ele percebe a

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diferença entre o seu estado real e algum estado desejado”. Para os estágios que compõem

este processo, no qual o comprador faz as escolhas sobre que produtos e serviços deve

comprar, Berkowitz et al., (2003) utiliza a mesma nomenclatura de outros estudiosos, ou

seja, processo de decisão de compra.

Bretzke (2003, p. 80) comenta, na etapa inicial, que “[...] certos estímulos de

marketing ou do ambiente chamam atenção de uma pessoa despertando uma necessidade,

que é um sentimento de discrepância entre o estado atual e o desejado (Figura 16)”. Ao

todo fazem parte deste processo cinco estágios: reconhecimento do problema/necessidade,

busca de informação, avaliação das alternativas, decisão de compra e comportamento pós-

compra (BERKOWITZ et al., 2003). Na fase pós-compra, Basta et al. (2005) destacam que

existem passos fundamentais que definem a fidelização do cliente: confirmação da decisão,

avaliação da experiência, satisfação ou insatisfação, abandono, reclamação ou lealdade.

BUSCA DEINFORMAÇÕES:

procurandovalor

RECONHECIMENTO DO PROBLEMA:

percebendo umanecessidade

AVALIAÇÃO DASALTERNATIVAS:

avaliando ovalor

DECISÃO DECOMPRA:

comprando valor

COMPORTAMENTOPÓS- COMPRA:

valor no consumoou no uso

Figura 16 Processo de decisão de compra. Fonte: Berkowitz et al. (2003 ).

As semelhanças entre consumidores finais e organizacionais se justificam uma vez

que as decisões são de responsabilidade das pessoas. Porém, conforme aborda Bretzke

(2003, p.83), “[...] no mercado de negócios os procedimentos de compra são mais

estruturados, envolvendo profissionais especializados e treinados para essa atividade, pois

enfrentam decisões de compra muito mais complexas”. Por outro lado, acrescenta que “os

fornecedores passam, normalmente, por um processo de avaliação e homologação, que é

mais ou menos rígido, de acordo com o tipo de produto e risco envolvidos”. Este processo

de decisão de compra é descrito na Figura 17.

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1- IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

2- DESCRIÇÃO DA NECESSIDADE

3- ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA

4- IDENTIFICAÇÃO FORNECEDORES

5- SOLICITAÇÃO DE PROPOSTA

6- SELEÇÃO DE FORNECEDOR

7- ESPECIFICAÇÃO ROTINEIRA DO PEDIDO

8- REVISÃO DE DESEMPENHO

Figura 17 Processo de decisão de compra – organizacional.

Fonte: Bretzke (2003).

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92

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 Público alvo da pesquisa de campo

O objetivo principal deste trabalho é explicar a decisão de consumo do biodiesel

pelos consumidores, tomando como norteador o diesel. Para tanto, se fez pesquisa de

campo, procurando responder tal questão.

A primeira etapa deste trabalho foi delimitar o público-alvo da pesquisa de campo.

Tomaram-se como referência as informações dispostas na Figura 1, que apresenta a

evolução do consumo de combustível no setor de transporte brasileiro, no período de 1970

a 2006. De acordo com essa figura, percebe-se que o diesel é o combustível mais

consumido no país, seja para escoamento da produção ou para oferta dos serviços de

transporte de pessoas. Diante dessas informações, definiu-se como alvo de estudo o

consumidor de diesel, que utiliza como veículo o caminhão, nas suas diferentes variações.

Outros fatores também foram relevantes para essa escolha, em especial:

1- a evolução da produção de automóveis, em especial o segmento de caminhões que

utilizam o diesel como combustível, no período de 1957 a 2006 (Tabela 6);

2- o volume de licenciamento dos caminhões no Brasil, no período de 2002 a 2006

(Tabela 7);

3- a falta de estudos a respeito do comportamento dos consumidores de diesel, após o

lançamento do PNPB;

4- o diesel é uma fonte de energia não-renovável;

5- o aumento no consumo de diesel implica em maior emissão de GEE.

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Tabela 6 Evolução da produção de automóveis por combustível no Brasil, entre 1957 e

2006

ANO CAMINHÕES ÔNIBUS TOTAL DE VEÍCULOS

GASOLINA ÁLCOOL DIESEL GASOLINA ÁLCCOL DIESEL GASOLINA ÁLCOOL FLEX DIESEL

1957 9.416 0 6.843 208 0 2.038 21.661 0 0 8.881

1958 15.247 0 11.751 144 0 3.530 45.702 0 0 15.281

1959 26.166 0 10.491 328 0 2.675 82.459 0 0 13.655

1960 27.090 0 10.720 552 0 3.325 118.701 0 0 14.340

1961 19.394 0 7.497 178 0 3.424 134.656 0 0 10.928

1962 26.222 0 9.952 151 0 3.345 177.270 0 0 13.924

1963 14.270 0 7.286 109 0 2.365 163.030 0 0 11.161

1964 14.732 0 7.058 63 0 2.641 171.771 0 0 11.936

1965 14.103 0 7.725 27 0 3.104 173.397 0 0 11.790

1966 19.296 0 11.802 43 0 3.912 207.995 0 0 16.614

1967 16.549 0 10.592 24 0 4.641 209.678 0 0 15.809

1968 23.403 0 17.239 6 0 7.038 254.489 0 0 25.226

1969 21.067 0 19.502 7 0 5.672 327.636 0 0 26.064

1970 17.150 0 21.238 25 0 4.033 390.225 0 0 25.864

1971 16.327 0 22.541 15 0 4.378 489.536 0 0 27.428

1972 23.245 0 30.312 36 0 5.194 586.077 0 0 36.094

1973 30.108 0 39.094 56 0 6.306 704.331 0 0 46.045

1974 34.405 0 45.008 112 0 8.150 852.123 0 0 53.797

1975 21.506 0 57.182 127 0 9.999 862.159 0 0 68.076

1976 11.198 0 72.693 12 0 12.047 900.373 0 0 86.238

1977 3.257 0 98.111 4 0 13.824 806.563 0 0 114.630

1978 1.336 0 84.933 2 0 14.338 960.311 0 0 103.703

1979 2.682 10 90.359 5 0 12.827 1.003.861 4.624 0 119.481

1980 3.938 14 98.065 0 0 14.465 778.464 254.015 0 132.695

1981 4.697 1.126 70.527 1 7 13.385 532.450 128.828 0 119.563

1982 628 904 45.166 0 3 9.817 452.462 237.585 0 169.223

1983 411 2.069 33.007 0 0 6.206 204.353 592.984 0 99.117

1984 84 2.590 45.823 0 15 7.325 195.224 560.492 0 108.936

1985 68 1.908 62.793 0 0 8.385 204.506 642.147 0 120.053

1986 544 1.452 82.548 0 0 11.218 219.347 699.183 0 137.802

1987 1.044 549 72.612 0 0 13.639 307.377 460.555 0 152.139

1988 232 121 71.457 0 0 18.427 344.190 569.310 0 155.256

1989 231 40 62.438 0 0 14.553 456.365 398.275 0 158.612

1990 308 0 51.289 0 0 15.031 701.860 83.259 0 129.347

1991 170 0 49.125 0 0 23.012 676.976 150.877 0 132.366

1992 303 0 31.722 0 0 24.286 749.195 193.441 0 131.225

1993 139 0 47.737 0 0 18.894 968.348 264.651 0 158.436

1994 60 0 64.077 0 0 17.435 1.259.228 142.760 0 179.401

1995 6 0 70.489 0 0 21.647 1.439.384 40.484 0 149.140

1996 0 0 48.712 0 0 17.343 1.660.059 7.732 0 136.537

1977 0 0 63.744 0 0 21.556 1.881.245 1.273 0 187.185

1998 0 0 63.773 0 0 21.458 1.388.852 1.451 0 195.988

1999 0 0 55.277 0 0 14.934 1.176.935 11.314 0 168.465

2000 116 0 71.570 0 0 22.672 1.471.166 10.106 0 209.968

2001 22 0 77.409 0 0 23.163 1.615.498 19.032 0 182.586

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94

Continua ANO CAMINHÕES ÔNIBUS TOTAL DE VEÍCULOS

GASOLINA ÁLCOOL DIESEL GASOLINA ÁLCCOL DIESEL GASOLINA ÁLCOOL FLEX DIESEL

2002 0 0 68.558 0 0 22.826 1.576.418 56.594 0 158.518

2003 2 0 78.958 0 0 26.990 1.561.285 34.919 49.264 182.323

2004 0 0 107.338 0 0 28.758 1.682.167 51.012 332.507 251.541

2005 0 0 118.000 0 0 35.387 1.334.189 51.476 857.899 287.276

2006 0 0 106.001 0 0 33.809 977.134 775 1.391.636 241.489 Fonte: ANFAVEA, 2007

Tabela 7 Licenciamento de caminhões novos no Brasil, por categoria, 2002-2006

ANO SEMILEVES LEVES MÉDIOS SEMIPESADOS PESADOS TOTAL 2002 7.304 19.427 9.907 15.276 13.972 65.886 2003 5.875 17.839 8.486 16.882 17.209 66.291 2004 7.577 20.137 8.642 22.364 24.285 83.005 2005 7.782 19.854 8.448 23.222 21.028 80.334 2006 7.795 19.329 9.538 20.416 19.180 76.258

Fonte: ANFAVEA, 2007

Todas essas informações delinearam o público alvo da pesquisa e,

conseqüentemente, as entrevistas realizadas com os caminhoneiros. Foram entrevistados

tanto os autônomos como os empregados de empresas transportadoras ou terceirizados.

4.2 Caracterização da área de estudo

As entrevistas foram realizadas na cidade de Vitória da Conquista, localizada no

sudoeste do estado da Bahia. Trata-se de uma localidade situada em ponto estratégico, o

que facilita a circulação de caminhões de diferentes regiões do país. Segundo Lopes (2003),

a área urbana da cidade está entre dois grandes eixos rodoviários. No sentido Norte-Sul, a

rodovia BR-116 (Rio-Bahia) permite o acesso tanto ao Centro-Sul como ao Norte e ao

Nordeste. No sentido Leste-Oeste, a BA-415 (sentido Itabuna) permite o acesso ao litoral e

a BA-262 (sentido Brumado) permite acesso ao Oeste do estado e é a principal rota de

entrada da região Centro-Oeste do país.

A área de estudo está localizada em uma região que facilita o transporte e a

distribuição de cargas para o país, haja vista que, nos últimos anos, a cidade tem atraído

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grandes empresas de logística e distribuição de cargas das diferentes regiões do país. Não

somente empresas especializadas são atraídas para a cidade, mas também restaurantes,

mecânica, autopeças, centros de apoio ao transporte, postos de gasolina para atendimento

aos caminhoneiros e órgãos governamentais, como, por exemplo, SEST/SENAT36. Dentro

desse eixo rodoviário, a BR-116 funciona como um verdadeiro centro de direcionamento

das rotas de carga. É nela que se concentram os principais postos de paradas37 e apoio aos

caminhoneiros.

Para a escolha do local da coleta dos dados, utilizou-se como critério a infra-

estrutura de serviços agregados que são oferecidos aos caminhoneiros. Realizou-se, então,

um levantamento empírico utilizando este critério. Após esse procedimento, foram

selecionados dois postos de combustível. O primeiro, denominado Pé da Serra que, além da

estrutura de abastecimento e serviços complementares, tem uma unidade do SEST/SENAT

instalada na sua área, que oferece serviços médicos e odontológicos, além de recreação. O

outro, conhecido como Posto São Jorge, é um dos preferidos dos caminhoneiros, por sua

excelente estrutura de apoio, como segurança, serviço bancário, banheiros, restaurante,

farmácia, cabeleireiro, oficina mecânica, borracharia e controle de acesso. Nesse posto,

cerca de 400 caminhões realizam parada diariamente, e boa parte dos caminhoneiros,

também por motivo de segurança, pernoitam neste local38.

Em função do grande fluxo de veículos nesse posto, decidiu-se realizar ali a maioria

das entrevistas. Ademais, no local circulam caminhoneiros oriundos de diferentes cidades

do Brasil e a estrutura disponibilizada permitiu ao entrevistador realizar as entrevistas de

forma mais segura.

4.3 Método de pesquisa

Em um primeiro momento, utilizou-se o método exploratório para o levantamento

de informações a partir de fontes secundárias. Esse procedimento é defendido por Mattar

36 SEST SENAT – Serviço Nacional do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte 37 Termo muito utilizado pelos caminhoneiros para identificar os locais onde abastecem ou param para descansar, pernoitar e se alimentar. 38 A administração do posto mantém uma equipe de segurança que atua de forma proativa, não permitindo a circulação de garotas de programa, vendedores “camelôs” e pessoas que possam levar desordem ao ambiente ou “fazer ponto” no posto. Esse procedimento desperta a sensação de segurança dos usuários, pois, geralmente, nos ambientes em que “tem ponto” ocorrem assaltos aos caminhoneiros.

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(2005), pois “[...] visa prover o pesquisador de um maior conhecimento sobre o tema ou

problema de pesquisa em perspectiva”. Parente (2003) destaca que a pesquisa exploratória

“[...] trata de questões não muito bem definidas, sobre as quais não haja nenhuma, ou

apenas, pouca pesquisa anterior”. Portanto, a realização da pesquisa exploratória contribuiu

diretamente para a definição das linhas analíticas deste estudo.

Uma vez analisados os dados levantados no estudo exploratório, optou-se por

utilizar a pesquisa descritiva que Parente (2003, p.371) definiu como “[...] aquela na qual os

problemas a serem investigados estão bem definidos e, em geral, procura-se obter

resultados quantitativos sobre aspectos do comportamento humano ou sobre o perfil dos

consumidores”. Para Sâmara (2002, p.30), o método descrito “[...] buscará uma análise

quantitativa das relações de consumo [...]”. Acrescenta que esses estudos devem ser

realizados “[...] a partir da elaboração de amostras da população, utilizando-se a estatística

para este fim, pois o que se pretende é extrapolar os resultados obtidos na amostra em

estudo para uma determinada população”.

Como técnica de coleta de dados, optou-se por utilizar a entrevista, pois esta é um

das mais utilizadas no âmbito das ciências sociais, além de ser uma técnica muito eficiente

para a obtenção de dados em profundidade acerca do comportamento humano. A sua

realização possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da vida

social e os dados obtidos são suscetíveis de classificação e de quantificação. Permite, ainda,

uma maior flexibilidade, pois o entrevistador pode esclarecer o significado das perguntas e

adaptar-se mais facilmente às pessoas e às circunstâncias em que se desenvolve a entrevista

(GIL, 1994).

Alguns autores apresentam limitações a esta técnica, mas, para evitar equívocos ou

distorções na sua aplicação, seguiu-se o ensinamento de Nogueira (1977, p.113), no qual o

que se deve fazer ao aplicar a técnica de entrevista é “[...] tomar as precauções possíveis

com o fim de evitar as falhas apontadas e aumentar a validade dos dados obtidos por este

expediente”. O mesmo autor acrescenta que, não obstante as críticas que se possam fazer à

entrevista, é uma técnica indispensável como instrumento de trabalho no campo das

pesquisas sociais (NOGUEIRA, 1977). Gil (1994, p.113) ressalta que, em função da sua

flexibilidade, “[...] é adotada como técnica fundamental de investigação nos mais diversos

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97

campos e pode-se afirmar que parte importante do desenvolvimento das ciências sociais nas

últimas décadas foi obtida graças à sua utilização”.

Após analisar os dados do perfil e do local da amostra, optou-se em realizar

entrevista do tipo estruturada, em que a ordem das perguntas e sua formulação são iguais

para todos os entrevistados. Esse tipo de entrevistas, por permitir o tratamento quantitativo

dos dados, é mais adequado para o desenvolvimento de levantamentos sociais (GIL, 1994).

Foi utilizado um formulário como instrumento para a coleta de dados, uma vez que

o mesmo seria preenchido pelo próprio pesquisador, à medida que recebesse as respostas do

entrevistado. Nogueira (1977, p.129) destaca que “[...] o formulário oferece também a

vantagem de poder ser aplicado a um grupo mais heterogêneo [...]”, como é o caso do

público-alvo deste trabalho. Nogueira (1977, p.136) acrescenta que não “[...] é

recomendável que se dê caráter definitivo a um formulário, antes de submetê-lo à

experiência”. Assim, antes de iniciar os trabalhos de campo, foram realizados pré-testes

com o objetivo de identificar os possíveis ajustes e a estrutura do formulário que foi

definido para a realização das entrevistas estruturadas. Para a sua definição, foram

considerados também os objetivos propostos neste trabalho.

Com duração média de 10 minutos cada, as entrevistas realizadas no período de

junho a outubro de 2007. Os dados coletados a partir deste método foram tabulados em

planilha de Excel e submetidos a análises da estatística descritiva. O programa utilizado

para processamento das análises foi o SPSS versão 11.5 for Windows.

4.4 Amostragem

No entendimento de Samara (2002), uma das vantagens de se trabalhar com

amostras é que, dependendo das proporções de uma população em estudo, é quase

impossível pesquisar todo o universo. Mattar (2005) acrescenta que a idéia básica de

amostragem está em que a coleta de dados, em alguns elementos de uma determinada

população, bem como a sua análise, poderá proporcionar relevantes informações de toda a

população. Nesse sentido, o autor entende que a amostragem tem uma relação direta com a

essência do processo de pesquisa descritiva por levantamentos, ou seja, pesquisar apenas

uma parte da população para inferir conhecimento para o todo, em vez de efetuar um censo.

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98

Nas pesquisas de marketing, a maioria dos estudos é desenvolvida a partir de

amostragem. Portanto, o planejamento da amostra da pesquisa requer atenção máxima, pois

é de fundamental importância determinar com precisão as características da população da

qual será extraída a amostra (SAMARA, 2002). Na mesma linha de pensamento, Mattar

(2005, p.267) aborda que a “essência de uma boa amostra consiste em estabelecer meios

para inferir, o mais precisamente possível, as características da população através das

medidas das características da amostra”.

As técnicas amostrais podem ser divididas em dois grupos. Um refere-se à amostra

probabilística que tem quatro formas de obtenção: simples, estratificada, sistemática e por

conglomerado; no outro, amostras não-probabilísticas que podem ser por conveniência, por

julgamento e por cota (SAMARA, 2002). Define-se a amostra probabilística como aquela

em que cada elemento da população tem uma chance conhecida e diferente de zero de ser

selecionado para compor a amostra. As não probabilísticas são definidas como aquelas em

que a seleção dos elementos da população para compor a amostra depende, ao menos em

parte, do julgamento do pesquisador ou do entrevistador no campo. Como implicação

dessas técnicas para as pesquisas de marketing, tem-se que as probabilísticas permitem o

controle do erro amostral e as não probabilísticas não permitem esse controle (MATTAR,

2005).

4.5 Tamanho da amostra

A amostra é parte do universo ou população escolhida segundo algum critério de

representatividade. Essa representatividade pode ser alcançada utilizando-se a técnica de

amostragem probabilística. Neste trabalho, utilizou-se a técnica de amostragem aleatória

simples sem reposição. Nesse tipo de amostragem, os elementos do universo da pesquisa

têm a mesma chance de serem escolhidos. Os elementos farão parte da amostra

aleatoriamente ou ao acaso, isto é, todos os elementos têm probabilidade igual de serem

sorteados. O dimensionamento da amostra se deu utilizando-se a expressão matemática

para população infinita (COSTA NETO, 2000), já que esta foi considerada como

desconhecida:

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99

)1(2

0

2/ ppe

zn

))−

α

em que n = tamanho da amostra necessária; Zα/2 = valor da tabela correspondente à área sob

a distribuição normal padronizada, para um nível de confiança de 90%; p = proporção da

população para a principal variável, de 0,5 e q = (1-p); e0 = erro amostral admitido de 3%.

O cálculo do tamanho da amostra, sem informações a priori do universo, utilizando-

se para a variável proporção de 50%, erro amostral de 3% e nível de confiança de 90%,

verificou-se que o tamanho da amostra seria de 752 entrevistas. No entanto, foram

entrevistados 850 caminhoneiros, que compuseram a amostra analisada. Adotou-se, assim,

o critério da variável mais relevante que, neste estudo, foi o preço, que representou 33,4%

das respostas relativas ao uso de biodiesel como combustível. Portanto, a partir dessa

amostra, aferiu-se o erro amostral, de 2,7% aproximadamente, e nível de confiança de 90%,

conforme a seguinte expressão matemática:

n

ppZe

)ˆ1(ˆ2/

−=

α

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100

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Perfil sócio-demográfico da amostra

Todos os entrevistados eram homens, o que confirma o dado secundário de que a

profissão de motorista de caminhão é, na maioria das vezes, exercida por eles. Destes,

77,8% são casados, 18,4% solteiros, 0,5% viúvos e o restante, 3,4%, responderam a outras

classificações, como “juntado”, divorciado, “amasiado” e “largado”39. O fato de a maioria

ser formada por casados permitiu encontrar, em algumas ocasiões, a presença da esposa e,

até mesmo, dos filhos que o acompanhava nas viagens, transformando a boléia em uma

extensão da própria casa. Interessante observar que, em algumas entrevistas, as esposas dos

motoristas autônomos assumiam a responsabilidade de controlar e, até mesmo, influenciar

nos gastos com o diesel e em outras despesas do caminhão. No entanto, não representaram

uma quantidade relevante dos pesquisados.

Dos entrevistados, 19,2% estão na faixa etária de 31 a 35 anos e 17,6%, entre 36 e

40 anos. Esses percentuais mostram que, na faixa de idade de 31 a 40 anos, chegam a

36,8%. Acima de 60 anos, somente 1,2% dos entrevistados e, de 18 a 25 anos, 4,4%. No

que diz respeito ao nível de instrução, 74% têm o ensino fundamental e 24,8%, o ensino

médio40.

A maioria dos entrevistados é originária do sul e sudeste do Brasil, sendo 20,5% de

Santa Catarina, 17,1% de São Paulo, 18,6% de Minas Gerais e 13,4% do Paraná (Figura

18). Os nordestinos representaram 17,2%. Estes dados refletem a distribuição no Brasil da

frota de autoveículos (caminhões), que foi apresentada na Tabela 4, segundo a qual o maior

percentual é dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.

39 Respostas transcritas da mesma forma que foram coletadas. 40 Em função do perfil dos entrevistados e da nova classificação do nível de instrução, optou-se por perguntar aos entrevistados até que ano escolar ele estudou. A partir das respostas, ele foi enquadrado em um nível, sem definir se ele completou ou não cada um dos níveis de instrução. Como nível fundamental, considerou-se até a oitava série e o ensino médio, quando mencionado segundo grau.

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101

20,5%17,1%

1,3%

18,6%

1,3%

13,4%

7,2% 3,6%8,1%

3,8% 5,0%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

1

ESTADO DE ORIGEM

PE

RC

EN

TU

AL

Santa Catarina Paraná Rio Gde do Sul São Paulo

Rio de Janeiro Espírito Santo Minas Gerais Bahia

Sergipe Pernambuco Outros

Figura 18 Estado de origem dos entrevistados.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

No que diz respeito ao tempo de profissão, 26% responderam de 6 a 10 anos,

seguidos por 20,8%, com 11 a 15 anos e 20,1%, acima de 25 anos. Do total de

entrevistados, 64,4% têm vínculo empregatício com empresas e 35,1% são autônomos

(Figura 19).

35,0%

64,4%

0,6%0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

1

VÍNCULO COM O TRABALHO

PE

RC

EN

TU

AL

autonômo motorista de empresa outros

Figura 19 Vínculo de trabalho dos entrevistados.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

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102

5.2 Fatores que influenciam a decisão de compra do combustível

Para avaliar os fatores que influenciam o processo de decisão de compra dos

motoristas, foram selecionadas 12 variáveis que fazem parte do dia-a-dia dos motoristas e

que podem influenciar na hora da escolha pelo abastecimento com diesel. Essas variáveis

foram: qualidade do combustível, marca do diesel, condições de pagamento, indicação de

colegas, preço, localização geográfica do posto, propaganda na estrada, propaganda de

rádio, propaganda televisiva, propaganda de px (rádio amador), conforto e segurança do

posto.

Uma das grandes preocupações dos motoristas é “ficar na estrada”41. Em muitas

entrevistas essa questão foi abordada de forma incisiva, evidenciando que, de todos os

problemas enfrentados, este é o que causa maior transtorno e prejuízos financeiros, pois

influencia diretamente no valor que recebem pelo frete das mercadorias transportadas.

Assim, justificam que a qualidade e a marca do diesel são os fatores mais relevantes no

momento do consumo. Quanto à qualidade do diesel, 81,2% afirmaram que este fator tem

forte influência na decisão de abastecimento (Figura 20) e interfere diretamente no risco de

ficar na estrada. Afirmam que a utilização do diesel sem qualidade pode provocar danos ao

motor, fazendo com que o caminhão não tenha um desempenho satisfatório e, muitas vezes,

fique sem condições de rodar, gerando prejuízos.

Em consonância com a qualidade, a marca do diesel, para 54,9% dos entrevistados,

representa forte influência na decisão; 36,4% responderam não ter influência e 8,7%,

disseram ter fraca influência (Figura 20). É importante registrar que uma marca pode

abranger até quatro níveis de significados. O primeiro diz respeito aos benefícios que são o

resultado esperado com o uso do produto; o segundo, os atributos que são as características

estéticas e funcionais do produto; o terceiro são os valores associados pela marca, como

questões familiares, sociais, ambientais e etc. e o último, a personalidade, representada

pelos traços de personalidade associados à marca (KOTLER, 1998). As respostas a esta

questão permitem enquadrar a opinião dos caminhoneiros, em relação à marca, no nível de

significância relacionado aos benefícios, uma vez que eles buscam resultado satisfatório a

41 “Ficar na estrada” é um termo muito utilizado pela classe para referir-se a qualquer problema que contribua para que o caminhão tenha algum problema e fique impossibilitado de deslocamento gerando com isso transtornos para os motoristas.

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103

partir do uso do diesel, o que contribui para melhores desempenho e rentabilidade no

exercício da sua atividade.

Durante as entrevistas, foi possível perceber que as bandeiras42 são compreendidas

como sinônimo de qualidade e, portanto, não existem diferenças significativas entre as

marcas. O estudo de Basta et al. (2005) justifica esta constatação, pois uma marca ou

bandeira terá maior valoração quando seus clientes forem fiéis, seja pela qualidade

comprovada ou por possuírem outros atrativos. Para os caminhoneiros, os postos que têm

bandeiras desconhecidas representam um risco à qualidade do diesel e, portanto, são

geralmente evitados. Assim, é possível concluir que, entre as marcas conhecidas, ou

tradicionais, não existe influência na escolha, pois os consumidores entendem que qualquer

uma tem a qualidade desejável. Fica evidenciado também que, neste segmento, que tem

como característica a “concorrência monopolística”, as estratégias de marketing para a

diferenciação do produto são de fundamental importância para influenciar na decisão de

compra dos consumidores. A diferenciação da concorrência apóia-se, principalmente, na

ampliação dos produtos e, nesse sentido, as empresas devem acrescentar às suas ofertas

benefícios que não somente satisfaçam às necessidades, mas, sobretudo, que superem as

expectativas dos consumidores (BASTA et al., 2005).

54,9%

8,7%

36,4%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

1

INFLUÊNCIA DO FATOR: MARCA DO COMBUSTÍVEL

PE

RC

EN

TU

AL

forte fraco sem influência

81,2%

5,4%13,4%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

1

INFLUENCIA DO FATOR: QUALIDADE DO COMBUSTÍVEL

PE

RC

EN

TU

AL

forte fraco Sem influência

(a) (b)

Figura 20 Influência do fator marca (a) e influência do fator qualidade (b) no processo de

decisão de abastecimento com diesel.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

A formação de opinião em relação à qualidade e à marca do diesel acontece, muitas

vezes, por grupos de referência. Percebeu-se, durante as entrevistas, que existe uma espécie

42 Referência que os caminhoneiros utilizam para identificar uma marca de posto de abastecimento de diesel.

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104

de sistema de informação entre eles que indica as melhores opções de marca e qualidade do

diesel para “não ficar na estrada”. Essa observação foi comprovada na questão em que foi

perguntado se a indicação de colegas influenciava na hora da decisão de abastecimento. A

maioria, 60,5%, afirmou que este fator tem forte influência na sua decisão (Figura 21).

Esses dados estão em consonância com os de Pinheiro et al. (2005), segundo os

quais o comportamento do consumidor é um processo social e, evidentemente, sofre a

influência dos grupos humanos sobre os indivíduos. Dessa maneira, os consumidores agem,

em grande parte, a partir de determinados padrões, a fim de se inserir em um grupo social.

Segundo esses autores, é dentro dos grupos de referência que alguns membros se destacam

por suas habilidades pessoais, conhecimento ou características individuais, exercendo,

assim, uma influência sobre o comportamento de outros indivíduos. Denominam-se as

pessoas que têm esta habilidade como líderes de opinião que influenciam no

comportamento dos consumidores. Basta et al. (2005) ressaltam que o grau de influência de

um grupo de referência depende da natureza do indivíduo, do objeto de consumo e de

outros fatores sociais específicos, como, por exemplo, a informação que ele tem sobre o

produto desejado e sua experiência de utilização do mesmo.

60,5%

16,2%23,3%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

1

INFLUÊNCIA DO FATOR: INDICAÇÃO DOS COLEGAS

PE

RC

EN

TU

AL

forte fraco sem influência

Figura 21 Influência do fator indicação dos colegas

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

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105

Na mesma questão, cruzando-se as respostas fornecidas com os dados sobre o nível

de instrução dos entrevistados, evidenciou-se que aqueles que têm ensino fundamental,

45,3%, são mais suscetíveis à influência de colegas, quando a classificação deste fator foi

definida como de forte influência (Tabela 8).

Tabela 8 Nível de instrução e fator indicação dos colegas

NÍVEL DE INSTRUÇÃO

FORTE

FRACO

SEM INFLUÊNCIA

TOTAL

analfabeto 0,4% 0,0% 0,0% 0,4% fundamental (até 8 série) 45,3% 10,8% 17,9% 74,0% médio (antigo 2º. grau) 14,6% 5,4% 4,8% 24,8% superior 0,2% 0,0% 0,5% 0,7% não sabe 0,0% 0,0% 0,1% 0,1%

TOTAL 100,0% Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Foram comuns os comentários sobre a remuneração que recebem pelo frete, no caso

dos autônomos e ou terceirizados e de salários e avaliação de desempenho, pelos motoristas

de empresas de transportes. A cada comentário foi possível observar o quanto o controle

dos gastos direciona as decisões pelo abastecimento. No entanto, a decisão pelo menor

preço do diesel acontece somente entre marcas de confiança, por motivo de prevenção.

Assim, a influência do fator preço revelou-se para 84,2% dos pesquisados. Esses resultados

indicam que a diferenciação, nos postos classificados como seguros pelos motoristas,

utilizando o preço como variável, poderá exercer maior influência na decisão de compra. O

que justifica também esta afirmativa é fato de que o preço é um dos elementos do

marketing mix (composto mercadológico: produto, preço, ponto e promoção), definido, em

1960, por McCarthy, e representa um estímulo de marketing para influenciar a resposta de

compra dos consumidores. A decisão de compra dos consumidores é muito influenciada

pela variável preço, conforme demonstrou esta questão e, conforme afirma Dias (2007),

geralmente, o preço constitui um impeditivo que poderá reduzir o consumo ou influenciar

na decisão de onde consumir.

Na mesma linha perguntou-se sobre o nível de influência das condições de

pagamento dos postos de abastecimento. Percebeu-se que parte dos caminhoneiros que têm

vínculo com empresas, apesar de opinarem que o fator preço tem forte influência na

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106

decisão do abastecimento, no momento da abordagem do fator condição de pagamento,

demonstrou que o mesmo é indiferente. O que pode explicar esta resposta é o fato de que as

empresas trabalham com alguns tipos de convênios, como cartões de abastecimento,

credenciamento, nota pré-datada e o controle total de frotas (CTF). Assim, segundo eles, o

abastecimento somente acontece nos locais onde são aceitos os convênios ou naqueles

credenciados pela empresa (Figura 22).

Esta constatação tem influência direta na decisão de abastecer com diesel o

caminhão e passou-se a considerá-la como dado relevante neste estudo. A comprovação

desta análise pode ser observada nas respostas para a questão da influência das condições

de pagamento, tendo 49,3% respondido que tem forte influência, mas 10,5% consideram

fraca e 40,2%, como sem influência.

Entre os que responderam que a decisão pelo local do abastecimento é feita de

acordo com a orientação da empresa, para aqueles empregados em empresas de transporte,

26,5% informaram que abastecem nos postos que aceitam o CTF; 12,2% fazem o

abastecimento com nota; 4,1% somente em postos credenciados e 0,8%, com cartão diesel.

Ou seja, este fator representa o total de 43,6% das decisões do abastecimento de diesel

(Figura 22). Importante acrescentar que alguns motoristas deste perfil ressaltaram que,

apesar da decisão da empresa pelo local de abastecimento, são eles quem avaliam os locais

credenciados. Dessa forma, se o posto de abastecimento não oferece uma estrutura mínima

que proporcione conforto e segurança ao motorista, eles mesmos interferem para que a

empresa substitua este local e credencie outro que ofereça tais condições.

49,3%

10,5%

40,2%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

1

INFLUÊNCIA DO FATOR: CONDIÇÃO DE PAGAMENTO

PE

RC

EN

TU

AL

forte fraco sem influência

26,5%

12,2%4,1% 0,8%

56,4%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%40,0%

50,0%60,0%

1

INFLUÊNCIA DO FATOR: AGENTE EXTERNO

PE

RC

EN

TU

AL

CTF NOTA CREDENCIAMENTO

CARTÃO DIESEL OUTRAS FORMAS

(a) (b)

Figura 22 Influência do fator condições de pagamento (a) e influência externa na decisão do

abastecimento de diesel.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

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107

Ainda levantando informações sobre o processo de decisão de abastecimento, outros

fatores também evidenciaram a importância do conforto e da segurança no dia-a-dia das

estradas para este público estudado. O fator localização geográfica do posto, ou seja, a

cidade ou o posto de abastecimento onde realizam suas “paradas”, influencia 70,1% dos

entrevistados na sua decisão de abastecimento do diesel, o que indica forte influência desse

fator. Alguns dos entrevistados fizeram questão de acrescentar fatores como “mão de

direção”, “descida”, “final da banguela”43 ou “subida”, que também influenciam na parada,

uma vez que manobrar um caminhão é uma tarefa muitas vezes difícil e perigosa. Para

93,3% dos entrevistados, o conforto do posto exerce forte influência na decisão do

abastecimento e 93,6% destacaram que a segurança também influencia na sua decisão.

Em relação à influência midiática no processo de decisão pelo abastecimento,

verificou-se que, ao contrário de outros segmentos, em que a mídia televisiva tem audiência

expressiva, a propaganda na televisão, para 61,3% dos entrevistados, não exerce influência.

É salutar acrescentar que a própria atividade não permite um tempo maior dos motoristas

para assistirem à programação televisiva. Geralmente, assistem a programação televisiva

nos locais de paradas, nos intervalos para almoço ou jantar e, esporadicamente, quando

passam finais de semana em outros locais que não seja a boléia do caminhão.

Da mesma forma que a mídia televisiva, a radiofônica não exerce forte influência

para 59,1% da amostra. Para 16,6%, tem fraca influência e forte influência para 24,4%. As

dificuldades em sintonizar as rádios na estrada, o baixo custo de aquisição de equipamentos

de som, CD e DVD, até mesmo de origem “pirata”, fazem com que boa parte prefira o

“som” ao rádio, já que é difícil sintonizá-lo com o caminhão em movimento. Alguns

acrescentaram que escutam rádio quando estão na zona urbana e nas paradas noturnas, onde

têm este veículo de comunicação como companhia durante a noite e no amanhecer do dia.

Conhecidos popularmente como “px”, os transceptores de rádio que operam na

faixa dos onze metros, conhecida como faixa do cidadão, é um meio alternativo de

comunicação entre os caminhoneiros. Por se tratar de uma mídia específica deste público e

entendendo que a indicação de colegas contribui para a decisão de consumo do diesel,

questionou-se sobre o seu nível de influência. Das respostas encontradas, 67,5%

43 Banguela é um termo muito utilizado pelos caminhoneiros, quando se aproveita de uma descida para deixar o veículo andar mais solto, seguindo a inclinação da pista. Esse procedimento é perigoso e não recomendado pelas autoridades e técnicos de trânsito, mas muito utilizado pelos motoristas de caminhão.

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108

consideram que esse meio não tem influência na sua decisão. Observou-se, nos comentários

dos entrevistados, que, apesar de ajudar na segurança e, de certa forma, diminuir a solidão

da estrada, o seu uso inadequado e até mesmo ilegal fizeram com que muitos deixassem de

utilizá-lo como meio de comunicação. Alguns fizeram questão de afirmar que a linguagem

imprópria em todos os sentidos não permite que boa parte dos caminhoneiros confie neste

meio de comunicação.

O último meio avaliado foi a propaganda na estrada. Para 45,5% dos entrevistados,

este é um fator de forte influência. Mas, 35,4% o consideraram sem influência, seguido de

fraca influência para 19,1%. Esses dados permitem concluir que, apesar de ter forte

influência, 54,1% o avaliaram como sendo de fraca ou sem influência. Para os que

classificaram como fator de forte influência, percebeu-se que o utilizam, principalmente,

para comparar os preços entre as bandeiras conhecidas, uma vez que a busca pelo menor

preço faz parte da sua rotina.

Os dados apresentados nessas questões evidenciam também um dos maiores

desafios das estratégias de marketing que é a definição da mensagem e do meio de

comunicação com o consumidor, de forma a influenciar a sua decisão e, conseqüentemente,

fazer com que se torne fiel a uma determinada marca. Galindo (2002) entende que o desafio

da comunicação é estabelecer e manter uma constante sintonia entre emissor e receptor, a

fim de garantir o máximo de fidelidade e o mínimo de ruído entre ambos. Sob essa mesma

perspectiva, Limeira (2003) defende que o efeito de uma comunicação de marketing, que

envolve, além de outros fatores, a definição dos veículos e da mensagem, somente poderá

ser mensurado a partir da impressão causada na mente do consumidor. Acrescenta que os

meios de comunicação devem ser escolhidos de acordo com as características do público-

alvo e dos objetivos da comunicação de um determinado produto. Assim, considerar a

influência das mídias sobre o público-alvo deste estudo é de suma importância para a

definição das estratégias que poderão influenciar na sua decisão de consumo.

De maneira geral, os motoristas são influenciados pela qualidade do diesel e não

percebem diferença significativa entre marcas tradicionais e mais conhecidas no mercado.

Procuram o diesel de qualidade em função do receio de utilizar um combustível de

procedência desconhecida que poderá fazer com que “fiquem na estrada”, em função dos

danos ao motor do veículo. Os grupos de referência, ou seja, os colegas de trabalho, têm

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109

forte influência na escolha do abastecimento, pois a qualidade e a economia de uma

determinada marca que é percebida por eles é divulgada e extensivamente discutida entre

eles nas suas paradas.

O fator preço exerce forte influência na decisão do caminhoneiro, mas sempre entre

as marcas conhecidas do mercado. Procuram o menor preço, pois o gasto com o diesel

influencia diretamente na sua rentabilidade. No entanto, o alto custo de manutenção do

veículo e o risco de ficar na estrada fazem com que a maioria escolha o menor preço entre

as marcas de confiança.

A condição de pagamento tem forte influência, mas, para aqueles que têm vínculo

com empresas de transporte, este fator não exerce influência direta, pois quem define as

condições de pagamento é a empresa. Outro fator que interfere na decisão do abastecimento

diz respeito à localização geográfica da parada para o abastecimento e também os serviços

que são oferecidos, como, por exemplo, o conforto e a segurança dos postos de

abastecimento.

Os meios de comunicação influenciam indiretamente nos processos de decisão, haja

vista os resultados apresentados. Os dados em relação à influência da TV, rádio,

propaganda na estrada e “px” permitem concluir que, embora exerçam uma forte influência

em parte dos entrevistados, a comunicação informal, apesar de não ser a mais confiável

para uma decisão de consumo é o principal meio de propagação de informações e,

conseqüentemente, formação de opinião. As experiências com o uso de determinada marca

de diesel ou com os serviços oferecidos pelos postos de abastecimento são

permanentemente discutidas nos grupos durante as paradas.

Constatou-se forte influência da comunicação informal na decisão de compra. No

entanto, não se pode descartar a influência da TV e do rádio, pois estes veículos têm parcela

expressiva na formação de opinião, haja vista que muitos comentam sobre as suas

experiências e, para justificá-las, acrescentam que “até no rádio e ou na TV já falaram sobre

a opinião dele”. Fazem referências a esses meios para dar mais veracidade às suas palavras.

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110

5.3 Uso do veículo e poluição ambiental

O transporte de carga no mercado brasileiro contribui diretamente para o consumo

de diesel, em toda a extensão do território nacional. Nas entrevistas realizadas foi possível

identificar a média de volume de diesel consumido mensalmente por caminhão. A

predominância nesta questão, 28,1%, foi para uma média mensal de 5.001 a 7.000 litros

consumidos mensalmente. A seguir, 3.001 a 5.000 litros, para 23,5%; 7.001 a 9.000 litros

para 18,8%; de 9.001 a 11.000 litros para 11,3% e até 3.000 litros para 10,5% (Figura 23).

Observando-se os estados de origem dos entrevistados é possível perceber a coerência

destas médias, uma vez que muitos dos deslocamentos referem-se ao trecho entre o

sul/sudeste e nordeste.

10,5%

23,5%28,1%

18,8%

11,3%

4,4%1,5% 1,2% 0,7%

0,0%5,0%

10,0%15,0%20,0%25,0%30,0%

1

MEDIA MENSAL DO CONSUMO DE DIESEL

PE

RC

EN

TU

AL

até 3.000 3001 a 5000 5001 a 7000

7001 a 9000 9001 a 11000 11001 a 13000

13001 a 15000 acima de 15000 n.sabe/n.respondeu

Figura 23 Média mensal de consumo de diesel dos entrevistados.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Durante as entrevistas, a maioria dos motoristas, principalmente os autônomos,

demonstrou que controla, mesmo que de forma empírica, o consumo do seu veículo, para

que seja possível garantir a sua rentabilidade. Por outro lado, alguns dos motoristas de

empresas acrescentaram à sua resposta que é muito importante conhecer a “média do

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111

diesel”44, pois o desempenho do motorista e o do caminhão interferem no reconhecimento

da empresa. Ou seja, o motorista que consegue dar “uma média de diesel” dentro dos

padrões estabelecidos é recompensado na forma de incentivos.

Um fator que contribui para o aumento do consumo do diesel é a falta de

conservação das estradas brasileiras, na opinião de 98% dos entrevistados. A necessidade

de reduzir a marcha do veículo, para transpor buracos ou irregularidades na pista, faz com

que o motor aumente o consumo, afetando diretamente o desempenho do veículo no trecho

a ser percorrido. Além do motor, outros componentes do caminhão também são afetados.

Trata-se, então, de uma força política, oriunda do ambiente de mercado, que contribui

negativamente para o maior consumo do diesel, afetando, assim, não somente os gastos de

viagem dos motoristas, mas também aumentando a emissão dos GEE na atmosfera.

Em relação à poluição ao meio ambiente, a partir da utilização do diesel como

combustível, o maior número de entrevistados, 78%, acredita que este combustível provoca

algum tipo de poluição e somente 17,6% responderam não provocar. Percebe-se, na maioria

das respostas, que os entrevistados não responderam prontamente ao questionamento,

indicando que não existe pleno conhecimento a respeito do assunto. Mesmo assim,

responderam acreditar que provoca danos ao meio ambiente, mas não sabem, porém, como

acontece este processo. Os resultados das questões apresentados a seguir confirmam esta

abordagem.

Além da preocupação com a falta de qualidade do diesel ou com a marca

desconhecida, a manutenção do motor também é um item ao qual eles destinam boa parte

do seu tempo. Ficar na estrada, seja pela qualidade inferior do diesel ou pela falta de

manutenção do motor, é sinônimo de prejuízo. A partir desta compreensão e objetivando

identificar se os motoristas compreendem a importância de ações preventivas para a

redução da poluição ambiental, questionamos se eram realizadas manutenções periódicas

no motor do veículo.

Na condição de autônomo ou de motorista de empresa, a maioria, 95,6%, respondeu

que realiza manutenção periódica. No entanto, dos que responderam sim, 2,9% justificaram

que utilizam esse procedimento para reduzir a emissão de poluentes do diesel e 1,5% para

44 Termo muito utilizado pelos motoristas para falar sobre quantos quilômetros são rodados com um litro de diesel.

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112

diminuir os impactos ambientais. Portanto, 4,4% realizam manutenção preventiva em

função de questões ambientais (Tabela 9); 33,1% dos entrevistados indicaram outros

motivos, sendo os mais presentes nas respostas a fumaça do motor e a segurança. Ter o

motor “fumaçando” é um dos indicativos da possibilidade de que se está utilizando diesel

adulterado (de bandeira ruim) e as providências para corrigir esta situação são tomadas sem

considerar a preocupação com o meio ambiente, mas sim a eficiência do motor.

Tabela 9 Motivo para fazer revisão no motor

MOTIVOS

PERCENTUAL

Outros 33,1% Aumentar a vida útil do motor 18,7% Reduzir o desgaste do veículo 15,5% Economizar combustível 13,2% Melhorar o desempenho do motor 11,2% Não faz manutenção 3,9% Reduzir a emissão de poluentes do diesel 2,9% Diminuir os impactos ambientais 1,5% TOTAL 100,0%

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Essas questões evidenciaram que existe um consumo considerável de diesel e que a

falta de conservação das estradas brasileiras é um fator político que contribui diretamente

para o aumento do consumo e, conseqüentemente, da emissão dos GEE na atmosfera. A

poluição ambiental é compreendida de forma simplista pela maioria e a manutenção

preventiva do motor do caminhão é realizada buscando contemplar três objetivos, sejam

eles dos autônomos ou das empresas de transporte. O primeiro refere-se à segurança, no

sentido de que a manutenção preventiva contribui para diminuir os riscos de ficar na estrada

aguardando por manutenção, o que implica em elevados gastos; o segundo, para evitar que

o motor fique “fumaçando”, o que, para eles, indica gasto elevado de diesel e o último, em

função do desempenho do motor, uma vez que este também tem relação direta com a

rentabilidade do transporte.

A questão ambiental não é a preocupação principal dos caminhoneiros, pois, diante

desses indicativos, fica evidente que a sua prioridade é garantir o desempenho do veículo

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113

para uma melhor rentabilidade financeira. Observa-se, então, que o caminhoneiro ou a

empresa de transporte têm como preocupação central a rentabilidade da sua atividade e, em

segundo plano, a consciência ambiental.

O que de certa forma justifica esta postura, no que diz respeito às empresas

transportadoras, é apresentando por Dias (2007), que afirma que algumas empresas ainda

utilizam o conceito do marketing tradicional, que objetivava exclusivamente alcançar seus

objetivos a partir da satisfação dos consumidores. Ou seja, ainda não incorporam a

melhoria da qualidade de vida na sociedade. O desenvolvimento sustentável ainda não é

considerado o componente fundamental para a gestão de suas empresas, conforme proposto

pela Comissão de Brundtland, da ONU, em 1987.

Por outro lado, os caminhoneiros, autônomos ou terceirizados, não priorizam as

questões ambientais, muito provavelmente pela falta de acesso à informação, uma vez que a

divulgação midiática da questão nem sempre prioriza a sua linguagem. O seu nível de

instrução, em média de 8 anos de estudos, também influencia esse aspecto, pois, no Brasil,

a questão ambiental ainda não é pauta obrigatória nas escolas. Segundo Dias (2007), no

Brasil, somente com a promulgação da Constituição Federal de 1998, o meio ambiente

apareceu, pela primeira vez, como um direito fundamental da pessoa humana.

Para um melhor entendimento da influência da educação neste contexto, realizou-se

o cruzamento entre o nível de instrução dos entrevistados e os motivos que os levam a fazer

revisão do motor. Foi possível, então, levantar indicativos da importância da educação

ambiental para a formação de opinião e a conscientização em relação às questões

ambientais. Nas respostas encontradas, até mesmo os motoristas com nível fundamental,

médio ou superior, não consideram este fator como um dos motivos de fundamentais a

serem considerados na hora de fazer revisão do motor do seu veículo.

Somando-se todas as respostas das duas questões que abordam a preocupação

ambiental (reduzir a emissão de poluentes do diesel e diminuir os impactos ambientais),

constatou-se que apenas 4,4%, entre todos os níveis de instrução, indicaram esta

preocupação como fundamental no momento de decidir a realização da revisão. É possível

observar esta análise na tabela a seguir, em que é demonstrado também que os fatores de

influência para a revisão do motor são, basicamente, a melhoria do desempenho, a redução

do desgaste do motor, a economia de combustível e o aumento da vida útil do motor. Todos

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estes fatores estão relacionados diretamente à rentabilidade da atividade dos caminhoneiros

ou das empresas de transporte, estando em consonância com outros dados analisados

anteriormente (Tabela 10).

Tabela 10 Nível de instrução e motivo de realizar revisão no motor do veículo.

FATOR

ANALFABETO

FUNDAMENTAL (até 8ª. série)

MÉDIO (antigo 2º.

grau)

SUPERIOR

NÃO SABE

Reduzir emissão de poluentes do diesel 0,0% 1,5% 1,4% 0,0% 0,0% Reduzir o desgaste do motor 0,0% 11,6% 3,9% 0,0% 0,0%

Diminuir os impactos ambientais 0,0% 1,4% 0,1% 0,0% 0,0% Melhorar o desempenho do motor 0,0% 9,2% 1,9% 0,1% 0,0% Economia de combustível 0,1% 8,8% 4,2% 0,0% 0,0%

Aumentar a vida útil do motor 0,1% 13,4% 5,2% 0,0% 0,0% Outros 0,1% 24,5% 7,8% 0,6% 0,1% Não sabe 0,0% 3,5% 0,4% 0,0% 0,0%

Total 0,4% 74,0% 24,8% 0,7% 0,1% Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Da mesma forma que os fatores ambientais analisados na Tabela 10 não são

determinantes para a realização da manutenção preventiva no motor, não serão decisivos

para a utilização do biodiesel. Este resultado demonstra, novamente, a importância da

educação ambiental para a conscientização em relação à adoção de medidas que amenizem

a poluição ambiental oriunda dessa atividade. Somando-se as respostas daqueles que têm o

nível de instrução fundamental com os de nível médio e superior, o total atinge 9,8% das

respostas que indicaram o fator preservação ambiental como um dos motivos principais

para utilizar o biodiesel. As demais respostas se resumiram na preocupação em garantir o

bom desempenho do veículo e também na economia das despesas com os deslocamentos,

haja vista, que o fator preço é um dos que mais influenciarão na utilização do biodiesel.

Os resultados discutidos nesta análise são apresentados na Tabela 11, evidenciando

que é de suma importância que as questões ambientais sejam incluídas de forma mais

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115

eficiente e até mesmo obrigatória nas instituições de ensino do Brasil. O futuro de todas as

ações em torno da preservação ambiental depende, principalmente, da conscientização da

população. Os resultados encontrados neste estudo demonstram esta necessidade.

Tabela 11 Nível de instrução e motivo que levaria a utilizar biodiesel

FATOR

ANALFABETO

FUNDAMENTAL (até 8ª. série)

MÉDIO (antigo 2º.

grau)

SUPERIOR

NÃO SABE

Desempenho 0,0% 3,3% 1,3% 0,0% 0,0% Economia 0,0% 2,2% 1,1% 0,0% 0,0% Preço 0,1% 23,6% 9,4% 0,1% 0,1% Influência de amigos 0,0% 0,4% 0,4% 0,0% 0,0% Propaganda 0,0% 0,2% 0,0% 0,0% 0,0% Preservar o meio ambiente

0,0% 5,4% 4,0% 0,4% 0,0%

Disponibilidade do produto

0,1% 2,5% 0,9% 0,0% 0,0%

Obrigatoriedade 0,0% 2,1% 0,7% 0,0% 0,0% Decisão da empresa 0,0% 2,9% 0,9% 0,0% 0,0% Outro 0,0% 6,2% 1,8% 0,0% 0,0% Sem resposta 0,1% 25,1% 4,4% 0,2% 0,0%

total 0,4% 74,0% 24,8% 0,7% 0,1% Fonte: Dados da pesquisa de campo.

5.4 Nível de informação e decisão em relação ao Biodiesel

Considerando-se que os entrevistados representam demanda potencial para o

biodiesel, buscou-se identificar o seu nível de conhecimento e opinião a respeito desse

combustível. No primeiro questionamento, perguntou-se se sabiam o que era o biodiesel.

Para 73,2%, a resposta foi afirmativa. Como fonte de informação sobre o biodiesel, dos que

responderam sim à questão, 40,5% indicaram a televisão (Figura 24). Esta resposta está em

sintonia com a questão da influência da televisão na decisão do abastecimento, uma vez que

a maioria respondeu que não, mas, nas paradas, que geralmente acontecem em horário de

almoço ou de jantar, assiste aos telejornais. Amigos representaram 10,5% e frentistas 2,6%

das respostas. A mídia radiofônica foi indicada por 2,2% e a mídia impressa

(jornais/revistas), por somente 1,9% dos entrevistados. Outras fontes de informação foram

citadas por 15,3%.

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116

40,5%

2,2% 1,9%

10,5%2,6%

15,3%

27,1%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

1

COMO FICOU SABENDO SOBRE O BIODIESEL

PE

RC

EN

TU

AL

TV Rádio Jornal/revista Amigos

Frentistas Outros meios Sem resposta

Figura 24 Formas de obtenção de informações a respeito do biodiesel.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

A seguir, perguntou-se o que era o biodiesel. Foram encontradas diferentes

definições. Algumas até, de certa forma, coerentes, mas nenhuma das respostas conseguiu

definir, ainda que de forma simplista, o que é biodiesel. Foram agrupadas algumas das

respostas para facilitar o entendimento e foi encontrada a predominância daqueles que não

souberam responder, em 26,8%. Como óleo de mamona, foram 18,7% das respostas; de

origem vegetal, para 8,8% e o que polui menos, 8,2%. A partir desses dados, foi possível

perceber que existe falta de conhecimento do que de fato é o biodiesel. As respostas em

torno da mamona somente confirmam que esta é a matéria-prima mais divulgada na mídia,

o que, evidentemente, influencia este resultado.

Em relação ao uso do biodiesel, 36,6% responderam que já abasteceram o veículo

com esse combustível, enquanto 36,4% ainda não e 27,1% não sabem se já utilizaram ou

não. Esses percentuais refletem certo desconhecimento quanto ao biodiesel e a pouca

efetividade, ainda, do programa brasileiro de biodiesel. Observou-se que 27,1% não sabem

se utilizaram ou não e a maioria comentou que não sabe se tem ou não biodiesel adicionado

ao diesel comum. A proximidade entre as respostas positivas e negativas demonstra que os

caminhoneiros não sabem se estão utilizando ou não o biodiesel.

Para reforçar esta análise, perguntou-se, aos que já utilizaram, se perceberam

alguma diferença em relação ao diesel puro e a maioria, 20,2%, respondeu ter observado

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diferenças. As principais diferenças observadas, segundo eles, foram no desempenho do

motor, que apresentou melhora para 2,9%, piora para 6,4%, enquanto para 8,9% foram

percebidas outras diferenças, com destaque para o menor volume de “fumaça” e o cheiro de

“batata frita” ou “óleo de fritura”.

Então, quais motivos justificariam o abastecimento de seus veículos com biodiesel?

Para 9,8 % dos entrevistados, seria preservar o meio ambiente, no entanto, o preço é o fator

mais relevante para 33,4% dos motoristas (Tabela 12). Somente quando o preço do

biodiesel fosse menor do que o diesel é que 62,4% afirmaram que utilizariam o biodiesel.

Como justificativa para o menor preço em relação ao diesel ,os entrevistados destacaram o

fato de ser um produto nacional e também que deve proporcionar economia para o

caminhoneiro. Alguns indicaram também que, por ser um produto “da natureza”, tem de ser

mais barato.

Tabela 12 Motivos que levariam os caminhoneiros a consumirem o biodiesel

MOTIVOS %

Preço 33,4 Sem resposta 29,8 Preservar o meio ambiente 9,8 Outro 8,0 Desempenho 4,6 Decisão da empresa 3,9 Disponibilidade do produto 3,5 Economia 3,3 Obrigatoriedade 2,8 Influência de amigos 0,7 Propaganda 0,2

TOTAL 100,00 Fonte: Dados da pesquisa de campo.

No geral, percebeu-se que o público estudado não tem um entendimento do que é a

proposta do biodiesel, haja vista a diversidade de definições apresentadas. A mídia, com

destaque para os programas jornalísticos, influenciou na massificação e na popularização da

terminologia biodiesel, mas sem contribuir para um entendimento em torno dos objetivos

deste combustível alternativo. As abordagens midiáticas em torno do biodiesel a partir do

óleo de mamona contribuíram somente para um entendimento mais popular do biodiesel,

ou seja, que é de mamona.

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118

Independente do marco regulatório do biodiesel no Brasil, os caminhoneiros ainda

não têm opinião formada em relação aos resultados a partir da utilização do biodiesel em

seu veículo. O fato de somente se adotar uma mistura (diesel + biodiesel) não permite que o

caminhoneiro avalie de forma efetiva o desempenho do veículo. No entanto, aqueles que

informaram perceber diferenças entre o biodiesel e o diesel puro, a maioria destacou a

diminuição da fumaça e a presença do “cheiro de fritura”, seguidas por um pior

desempenho do motor. Ao decidirem pelo uso do biodiesel, a questão ambiental não é um

fator de grande relevância para a sua decisão. O preço predominou nas respostas daqueles

que responderam a esta questão.

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119

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento econômico é imprescindível para a sociedade e a utilização de

fontes de energia é vital para que este objetivo seja alcançado. A demanda mundial por

energia apresenta indicativos de crescimento para os próximos anos, existindo, portanto,

fortes evidências de que ela será satisfeita por combustíveis de origem fósseis. O despertar

da humanidade para os valores ambientais poderá reverter este indicativo, desde que exista

um pensamento convergente entre as economias mundiais.

As discussões em torno deste assunto, de certa forma, já contribuem para algumas

mudanças na gestão das empresas, como, por exemplo, o estimulo e a prática do

desenvolvimento sustentável. Adotar estratégias que permitam o desenvolvimento

econômico e contribuam para a geração de emprego e renda sem degradar o meio ambiente

são fundamentos básicos desse novo modelo de gestão. É necessário conquistar mercados,

mas sempre de forma ambientalmente responsável. O que se propõe para as firmas é a

utilização de insumos ou fontes de energia de forma a preservar o meio ambiente e os

recursos de fontes não-renováveis.

As pesquisas em torno das fontes de energia renovável têm acontecido em

diferentes regiões do nosso planeta. A maioria é otimista em apontar que o uso de energia

renovável poderá contribuir significativamente para atender à demanda mundial de energia.

Atentos a essa movimentação e considerando-se que as questões ambientais passam a gerar

vantagem competitiva para as firmas, diferentes segmentos começam a investir em pesquisa

e desenvolvimento de produtos, de acordo com esta realidade de mercado. Como exemplo,

cita-se a indústria automobilística que, para uma grande parte dos pesquisadores, é um dos

principais agentes que contribuem para o aumento da emissão dos GEE na atmosfera,

gerando profundas mudanças climáticas.

Esta questão não é somente uma preocupação das empresas privadas, mas também

responsabilidade dos governos, que devem intervir e estimular as firmas a buscarem o seu

desenvolvimento, mas sempre voltadas para a preservação ambiental. Haja vista que, desde

as primeiras discussões em torno da questão, diferentes reuniões intergovernamentais

aconteceram, não somente para trocar experiências, mas para buscar alternativas de

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desenvolvimento que respeitem a humanidade, de forma a usar os recursos, mas sem

comprometer a vida das gerações futuras.

O biodiesel, como fonte de energia renovável, poderá contribuir, e muito, para a

preservação ambiental. Mas, para que seja possível atingir este objetivo, é necessário que

diferentes variáveis sejam consideradas, pois se trata de um novo produto que será

disponibilizado no mercado para o consumo. É necessário, portanto, conhecer o

comportamento dos consumidores, seus impactos e externalidades.

Identificou-se, neste estudo, um público-alvo com grande conhecimento sobre a

utilização de diesel, que circula diariamente pelas estradas do Brasil e que consome grande

quantidade deste combustível no exercício da profissão de motorista de veículos

automotivos. O dia-a-dia desse grupo é uma fonte imprescindível para qualquer estratégia

de mercado do PNPB, pois estes, de uma forma ou de outra, serão os que, de fato, utilizarão

o biodiesel. Ora, se, hoje, estes já têm uma vivência prática com o diesel comum, por que

mudariam para o biodiesel?

Os resultados mostraram que a questão ambiental não é o fator de influência na

decisão dos consumidores analisados. O que, de fato, a maioria busca são o menor preço e

um combustível de qualidade, que contribua para o melhor desempenho do motor ao longo

da sua rota de viagem. Há que se registrar, nesta conclusão, que este público, detentor de

informações relevantes sobre consumo de combustível, ainda não sabe, de fato, o que é o

biodiesel. A diversidade das respostas para esta questão comprovou que, mesmo sendo

discutido há muito tempo na mídia, este público não tem pleno conhecimento do que seja

de fato este combustível de fonte renovável.

Entende-se, portanto, que, para o sucesso desse projeto, é de fundamental

importância que o comportamento dos consumidores de diesel seja mais bem

compreendido e considerado no momento das decisões mercadológicas para a inserção do

biodiesel na matriz energética brasileira. Vale ressaltar que o governo brasileiro, a partir do

marco regulatório do biodiesel, já o considera como parte desta matriz, mas, até o presente

momento, pouco se considerou o comportamento dos consumidores de diesel para a

definição das linhas de trabalho relacionadas às estratégias de marketing, haja vista o nível

de desinformação encontrado neste estudo.

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Identificou-se que não somente o motorista autônomo tem um comportamento de

consumo que poderá afetar todo o projeto. As empresas de transporte, em grande parte, são

responsáveis pela decisão em relação ao consumo do diesel, uma vez que têm a

responsabilidade de decidir onde e como os seus motoristas devem abastecer os seus

veículos e utilizam diferentes métodos para controlar os gastos, como, por exemplo, o CTF.

Da mesma forma que o autônomo, as empresas de transporte também priorizam os fatores

preço e desempenho em detrimento das questões da preservação ambiental, no que diz

respeito à utilização do diesel. Nesse contexto, mesmo com uma pequena parcela dos

consumidores, autônomos ou não, adotando um comportamento ambientalmente correto, o

que de fato influencia são esses dois fatores.

Conclui-se, portanto, que os estudos do comportamento dos consumidores de diesel

são relevantes para o desenvolvimento do programa do biodiesel. Não somente o

comportamento consumidor, neste caso o motorista autônomo, deverá ser considerado, mas

também o comportamento do comprador organizacional que, conforme demonstraram os

resultados, representa um grupo significativo que influencia e decide como e onde

consumir o diesel.

Os dados levantados evidenciaram também que é preciso investir não somente na

implementação do programa de forma compulsória, mas também na educação ambiental,

para que as futuras gerações saibam de fato quais são os benefícios dessa fonte de energia

alternativa e que este seja o principal motivo do seu consumo.

Assim, todas as estratégias de marketing que envolvam a questão do biodiesel

devem ser desenvolvidas considerando-se estes fatores de influência. O ideal é desenvolver

um produto que seja economicamente viável para este público consumidor, ambientalmente

aceitável e socialmente justo. Ao conseguir viabilizar estas propostas, as estratégias de

marketing conseguirão mais facilmente estimular o seu consumo.

6.1 Recomendações às estratégias de marketing

Diante dos resultados encontrados e para que os objetivos sociais, ambientais,

estratégicos e econômicos do projeto do biodiesel sejam alcançados, recomenda-se

considerar, de forma prioritária, o comportamento dos consumidores nas estratégias de

marketing que vão divulgar e estimular o consumo do biodiesel.

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Para um melhor direcionamento dessas recomendações, elas serão apresentadas

utilizando o APIC, que resume o conceito da administração mercadológica. A ANÁLISE

do ambiente de marketing, especificamente no que diz respeito à questão do

comportamento do consumidor, demonstrou que é importante considerar os seguintes

fatores de influência da decisão de consumo:

1- os motoristas de caminhão são pessoas experientes e conhecem

profundamente a sua atividade, sobretudo no que diz respeito à questão

do diesel;

2- a maioria dos motoristas tem vínculos com empresas de transporte e,

portanto, a sua decisão de abastecimento é influenciada também pelo

planejamento da empresa, no que diz respeito aos locais de parada e de

abastecimento;

3- as empresas, como consumidoras organizacionais, objetivam o menor

custo e o maior desempenho no consumo do diesel;

4- tanto os motoristas autônomos quanto os de empresa preocupam-se com a

questão da segurança e do desempenho do consumo do diesel;

5- os consumidores não observam diferenças significativas entre as marcas

conhecidas do mercado e, entre estas, o fator preço é o que influencia na

decisão, seguido pela qualidade do diesel;

6- a localização geográfica, a segurança e o conforto dos postos de

abastecimento contribuem para a decisão do local de parada para

abastecimento;

7- um forte fator de influência na decisão do consumo é a comunicação

informal, realizada entre os motoristas e que contribui para a formação de

opinião e decisão de consumo;

8- a influência midiática, apesar de ser importante, não é a principal. Entre a

mídia televisiva, radiofônica, “px” e placas na estrada, esta última foi a

mais presente nas respostas, no que diz respeito a influenciar a decisão de

consumo;

9- a maioria acredita que o diesel provoca algum tipo de poluição no meio

ambiente, mas, ao fazerem a manutenção do motor do veículo, a maior

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preocupação não é com as questões ambientais e sim com o desempenho

e a economia do combustível;

10- a maioria dos entrevistados também afirmou que sabe o que é biodiesel.

Entre este grupo, a mídia televisiva foi a principal fonte para adquirir esse

conhecimento;

11- as diferentes definições de biodiesel apresentadas pelos entrevistados

demonstraram que existe um desconhecimento geral do que, de fato, é o

biodiesel;

12- as principais diferenças entre o diesel puro e o biodiesel, percebidas por

aqueles que já utilizaram o biodiesel, foram: pior desempenho do motor,

menor volume de fumaça e cheiro de “óleo de fritura”;

13- em função do pequeno percentual de biodiesel que foi inserido no diesel,

conforme o marco regulatório brasileiro, percebe-se que os próprios

motoristas têm dificuldades em perceber, de forma mais concreta, as

diferenças entre um e outro;

14- para escolher entre o biodiesel e o diesel comum, o fator de maior

influência, para a maioria, é o preço. O benefício ambiental representa

uma parcela bem menor das respostas;

15- dos que responderam em relação ao custo do biodiesel, a maioria entende

que deve ter um preço menor do que o diesel.

Ao definir o PLANEJAMENTO das estratégias de marketing, estas variáveis

comportamentais deverão ser consideradas para estruturar o composto mercadológico, ou

seja, definir o produto de acordo com a expectativa e a necessidade dos seus

consumidores, para que o mesmo tenha um posicionamento de mercado direcionado para a

realidade de quem estará consumindo. Ao definir o preço, buscar alternativas para que o

biodiesel seja economicamente viável e que contribua para o desempenho dos veículos,

além de proporcionar melhor rentabilidade para o motorista autônomo ou para as empresas

de transporte. A promoção deverá considerar os principais meios de comunicação

utilizados pelo público-alvo, com destaque para a comunicação informal, característica

principal deste consumidor objeto deste estudo. Desenvolver mensagens que considerem a

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linguagem desse grupo de consumidores contribuirá para o melhor esclarecimento do que

realmente é o biodiesel e os seus benefícios econômicos, sociais e ambientais. E, no que diz

respeito ao ponto de distribuição, buscar a melhor estruturação da distribuição do biodiesel,

de forma que esteja nas diferentes regiões do país, pois, ao estimular a demanda com as

estratégias de marketing e comunicação, é imprescindível o acesso ao produto nos seus

locais de venda.

Após a análise dos fatores que influenciam o comportamento, a definição e o

planejamento do composto mercadológico, é necessária a sua IMPLEMENTAÇÃO no

mercado, acompanhada, evidentemente, pelas estratégias de CONTROLE. Ou seja, pelo

fato de se estar trabalhando com uma variável comportamental, que é o ser humano, é

importante o monitoramento permanente das estratégias, no que diz respeito a avaliar como

elas estão sendo absorvidas e também os resultados esperados. Este controle permitirá

intervenções para garantir os objetivos propostos. Evidentemente, essas recomendações,

pelo fato de estarem considerando somente o aspecto do comportamento dos consumidores,

devem ser analisadas em conjunto com outras variáveis, para um melhor direcionamento

mercadológico do biodiesel.

Os indicativos de comportamento, as análises e as discussões realizadas neste

trabalho poderão despertar novas pesquisas em torno desta questão. As abordagens sobre o

desenvolvimento econômico, o consumo de energia, o meio ambiente, as estratégias de

marketing e o comportamento dos consumidores têm em comum o caráter multidisciplinar

e, portanto, não se esgotam neste estudo. Acredita-se que PNPB poderá alcançar os seus

objetivos, mas é necessário que diferentes áreas do conhecimento contribuam de forma

efetiva para a viabilização desse projeto. É preciso compreender o comportamento do ser

humano como consumidor, para uma melhor definição das estratégias de marketing que

devem, não somente estimular o consumo, mas fazê-lo de forma consciente e respeitando

os valores ambientais.

Por acreditar nesta construção coletiva é que, modestamente, esperamos contribuir

com novas descobertas que permitam o desenvolvimento socioeconômico, sem colocar em

risco as futuras gerações.

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ANEXO - Instrumento de coleta de dados

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