UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA CENTRO DE … · A Deus pelas oportunidades obtidas de conquistas...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
CENTRO DE TECNOLOGIA E URBANISMO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
DE EDIFICAÇÕES E SANEAMENTO
CONCEPÇÃO DE UM SISTEMA CONSTRUTIVO LEVE DE
ALTO DESEMPENHO PARA VEDAÇÃO VERTICAL E
ANÁLISE DO SEU COMPORTAMENTO TÉRMICO
Reginaldo de Matos Manzano Orientando
Profa. Dr a. Berenice Martins Toralles Carbonari
Orientadora
Londrina, junho de 2007.
REGINALDO DE MATOS MANZANO
CONCEPÇÃO DE UM SISTEMA CONSTRUTIVO LEVE DE
ALTO DESEMPENHO PARA VEDAÇÃO VERTICAL E
ANÁLISE DO SEU COMPORTAMENTO TÉRMICO
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Saneamento da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção ao título de Mestre.
Orientadora: Profª Drª Berenice M. Toralles Carbonari
Londrina
2007
CONCEPÇÃO DE UM SISTEMA CONSTRUTIVO LEVE DE
ALTO DESEMPENHO PARA VEDAÇÃO VERTICAL E
ANÁLISE DO SEU COMPORTAMENTO TÉRMICO
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Saneamento da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção ao título de Mestre.
COMISSÃO EXAMINADORA
Profª Drª Berenice M. Toralles Carbonari
Prof. Dr. Fernando Barth
Prof. Dr. Jorge Daniel de Melo Moura
Profª Drª Miriam Jerônimo Barbosa Londrina, 29 de junho de 2007.
DEDICATÓRIA
Ao meu pai, Mauro (in memorian), sem o
qual não teria chegado até aqui. Para quem
a maior riqueza eram os filhos, e ver-me
concluindo mais esta etapa certamente o
faria feliz. No entanto, Deus o levou logo
após a minha formatura na graduação...
Obrigado Sr. Mauro (in memorian), por
teres existido, e por constituir a motivação
e o melhor exemplo para tudo que me
proponho a fazer.
AGRADECIMENTOS
A Deus pelas oportunidades obtidas de conquistas e aprendizagens,
com serenidade e plenitude;
A minha Mãe Conceição, juntamente com meu pai Mauro (in
memorian), por terem me norteado sempre no caminho da dignidade e ensinado o
valor do esforço;
À Profa. Dra. Berenice Martins Toralles Carbonari, pelo
encaminhamento do tema, orientação, críticas e sugestões que muito contribuíram
para o enriquecimento do trabalho;
Aos Professores, Dra. Miriam Jerônimo Barbosa e Dr. Jorge Daniel de
Melo Moura pelo empenho, ajuda e orientação na finalização do estudo;
Ao Prof. Dr. Fernando Barth, pela análise crítica do trabalho, as
preciosas observações e as sugestões expressas no exame de qualificação;
Ao Prof. Mestre Eduardo M. Cortelassi, pelo apoio e ensinamento,
fundamentais a concretização desta pesquisa;
A todos os Professores do Curso, os quais, com cada parcela individual
de dedicação tornaram este, um exemplo de vida;
Aos colegas de mestrado, pelo constante incentivo e agradável
convívio;
A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a
realização deste trabalho.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO I
Objeto de estudo II
Colocação do problema II
Contexto geral do desenvolvimento da pesquisa II
Questão de pesquisa IV
Objetivo IV
Relevância da pesquisa IV
Estruturação da dissertação V
1.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 01
1.0. Introdução 02
1.1. Habitação 04
1.1.1. A habitação e seus significados 04
1.1.2. Caracterização das exigências humanas 05
1.1.3. Modificações no projeto-base 11
1.1.4. Habitação e o conceito de desempenho 12
1.2. Coordenação modular 22
1.2.1. Aspectos históricos da modulação 22
1.2.1.1. Gregos 22
1.2.1.2. Romanos 23
1.2.1.3. Idade Média 24
1.2.1.4. Japoneses 24
1.2.1.5. Revolução Industrial 25
1.2.1.6. Século XX 25
1.2.1.7. Le Corbusier – “Le Modulor” 26
1.2.2. A modulação como instrumento de racionalização da construção
29
1.2.3. Modulação 32
1.2.4. Terminologia referente à modulação 33
1.2.4.1. Módulo 33
1.2.4.2. Componente modular 35
1.2.4.3. Projeto modular 36
1.2.5. Peculiaridades da construção civil 37
1.2.6. Normas Técnicas 39
1.3. Sistemas construtivos 42
1.3.1. Sistemas construtivos em madeira 45
1.3.1.1. A madeira 45
1.3.1.2. Propriedades físicas e mecânicas da madeira 46
1.3.1.3. A madeira serrada 52
1.3.1.4. Os processos de secagem da madeira 53
1.3.1.5. Classificação das peças estruturais de madeira 53
1.3.1.6. Caracterização do Pinus 57
1.3.1.7. Durabilidade e tratamento 59
1.3.1.8. Ligações de peças estruturais 61
1.3.1.8.1. O sistema de ligação por CDE’S 62
1.3.1.9. Estruturas em madeira 65
1.3.1.9.1. Sistema construtivo Plataforma 66
1.3.1.9.2. Sistema construtivo “Balloom Frame” 67
1.3.2. Placas 69
1.3.2.1.Placas cimentícias 70
1.3.2.2. Placas cimentícias existentes no mercado 72
1.4. Detalhes construtivos 76
1.4.1. Sistema construtivo em placas de gesso acartonado e cimentícias – detalhes construtivos
76
1.4.2. Sistema construtivo em madeira – detalhes construtivos 81
1.5. Conforto térmico 87
1.5.1. Caracterização das exigências humanas de conforto térmico
87
1.5.2. Caracterização do clima de Londrina - PR 91
1.5.3. Levantamento dos critérios relativos ao desempenho térmico estabelecidos em cada norma
93
1.5.3.1. Norma NBR 15220:2005 93
1.5.3.2. Projeto de norma NBR 02:136.01 95
2.0. Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social
97
2.1. Concepção de um projeto habitacional de interesse social 99
2.2. Desenvolvimento do sistema construtivo baseado nos conceitos de modulação
109
3.0. Análise do desempenho térmico do sistema construtivo proposto 119
3.0. Análise do desempenho térmico do sistema construtivo proposto 120
3.1. Verificação do desempenho térmico pelo método simplificado 120
3.2. Verificação do desempenho térmico por simulação computacional
122
3.2.1. O programa Energy Plus 122
3.2.1.1. Balanço de energia utilizado pelo programa E+ 123
3.2.1.2. Radiação solar 124
3.2.1.3. Dados climáticos 124
3.2.1.4. Infiltração e ventilação 125
3.2.2. Simulação térmica 125
3.2.2.1. Características térmicas do concreto celular espumoso de alto desempenho
126
3.2.2.2. Entrada de dados no Energy Plus 127
3.2.2.3. Os resultados obtidos pelo processo de simulação computacional do desempenho térmico do protótipo habitacional desenvolvido
129
4.0. Considerações finais e conclusões 134
4.1 Considerações finais e conclusões 135
4.2 Sugestões para trabalhos futuros 137
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
LISTAS DE FIGURAS
01. “Le Modulor” – Le Corbusier 28
02. Reticulado modular 37
03. Estrutura de cobertura executada com CDE’S como elemento de união nas ligações
62
04. Exemplo de um CDE 63
05. Desenho esquemático do esqueleto estrutural no sistema plataforma – edificação de dois pavimentos
67
06. Vista geral do sistema “Balloom Frame” 68
07. Solução técnica apresentada pelo fabricante Placo. Detalhe do encontro da parede com o piso
77
08. Solução técnica apresentada pelo fabricante Placo. Detalhe do encontro da parede com o piso
78
09. Especificação de projeto para área do boxe do banheiro – parede simples
79
10. Especificação de projeto para área do boxe do banheiro – parede dupla
80
11. Solução técnica apresentada pelo fabricante Eternit para o tratamento de juntas aparentes
81
12. Detalhe dos painéis de vedação – Protótipo BATTISTELLA-UFSC 82
13. Detalhe da parede cega e do painel com janela – Protótipo BATTISTELLA-UFSC
82
14. Especificação de projeto para a área do boxe do banheiro – solução técnica proposta por KRAMBECK
83
15. Detalhe do canto do canto externo da edificação. Propostas apresentadas pelo Protótipo BATTISTELLA-UFSC e KRAMBECK
84
16. Detalhe da ampliação do projeto básico, solução técnica proposta por KRAMBECK
84
17. Detalhe da ancoragem do subsistema parede a fundação, solução técnica proposta por KRAMBECK
85
18. Mapa das zonas climáticas 88
19. Divisão em grandes áreas de atividade 101
20. Projeto-base de acordo com a implantação mais adequada em relação à radiação solar
104
21. Ventilação pela orientação leste, direção predominante dos ventos em Londrina
105
22. Detalhe da câmara de ar proporcionada pelo sistema construtivo desenvolvido
106
23. Detalhe do brise em madeira localizado na fachada oeste 107
24. Cobertura 108
25. Detalhe da viga de amarração quer contorna toda a edificação 110
26. Família de placas cimentícias 111
27. Disposição das placas cimentícias com sua dimensão maior no sentido vertical
113
28. Detalhe da junta entre as placas cimentícias 113
29. Detalhe da ligação entre a ossatura em madeira e o baldrame 114
30. Detalhe da ligação entre as peças componentes da ossatura em madeira
114
31. Detalhe da ligação entre a ossatura em madeira e as placas cimentícias
115
32. Possibilidade de produção de placas pigmentadas 116
33. Possibilidade de produção de placas pigmentadas 116
34. Detalhe da fixação do brise 117
35. Detalhe da fixação do telhado frontal 117
36. Facilidade em ampliações do projeto-base 118
37. Interface do programa Energy Plus 123
38. Lançamento da geometria por meio de coordenada 128
39. Lançamento das aberturas por meio de coordenada 128
40. Arquivo DXF resultante dos dados lançados 129
41. Gráfico do desempenho térmico do protótipo no dia típico de verão 131
42. Gráfico do desempenho térmico do protótipo no dia típico de inverno
132
LISTAS DE TABELAS
01. Déficit habitacional III
02. Valores de áreas mínimas de construção, dos tipos de unidades habitacionais mais construídos por Companhia de Habitação
06
03. Escala conceitual de valores a serem atribuídos a cada requisito 09
04. Móveis e equipamentos padrão 09
05. Dimensões mínimas de mobiliários e circulação 10
06. Aspectos relevantes ao desempenho segundo BLÀCHERE 15
07. Aspectos relevantes ao desempenho segundo HANDLER 16
08. Exigências do usuário segundo ISO 6241/1984 18
09. Requisitos do usuário segundo projeto de norma NBR 02:136.01.001:2007
19
10. Comparação entre o projeto de norma da ABNT, a ISO 6241 e os requisitos de HANDLER E BLÀCHERE
20
11. Publicação das primeiras normas de Coordenação Modular 26
12. Lista de normas da ABNT sobre Coordenação Modular 40
13. Defeitos máximos permissíveis em madeiras serradas macias, segundo a norma DIN - 4074
55
14. Limitações nos defeitos em cada classe para peças de seção transversal de 3,5 cm X 12,5 cm, e comprimento de 2,6 m, segundo a ASTM D245-93
55
15. Classificação da madeira de Pinho para exportação segundo o decreto 30/835
56
16. Valores médios de madeiras de coníferas nativas e de reflorestamento
57
17. Caracterização do Pinus elliottii e Pinus Taeda nas idades de 10, 20 e 25 anos
58
18. Princípios gerais e detalhes do sistema construtivo Plataforma 67
19. Princípios gerais e detalhes do sistema construtivo “Balloom Frame”
68
20. Tensões mínimas admissíveis para ruptura por flexão de placas cimentícias – classificação
71
21. Requisitos mínimos a serem atendidos pelas placas cimentícias, previsto no projeto de norma NBR 18:406.03:2005
72
22. Características das principais placas cimentícias comercializadas no Brasil
74
23. Valores climáticos mensais do ano de 1986, identificado como ano climático de referência para o período de 1979 a 1990
92
24. Valores climáticos mensais do ano de 1996, identificado como ano climático de referência para o período de 1989 a 1998
92
25. Médias climáticas do ano de 1976 a 2006 92
26. Transmitância térmica, atraso térmico e fator solar admissíveis para cada tipo de vedação
93
27. Diretrizes bioclimáticas estabelecidas para cada zona bioclimática 94
28. Diretrizes construtivas relativas a aberturas para ventilação 94
29. Critério de avaliação de desempenho térmico para condições de verão
95
30. Critério de avaliação de desempenho térmico para condições de inverno
96
31. Características do Concreto Celular Espumoso de Alto Desempenho (CCEAD).
111
32. Resultados obtidos para placa cimentícia com 25 mm 120
33. Resultados obtidos para placa cimentícia com 30 mm 121
34. Resultados obtidos para placa cimentícia com 35 mm 121
35. Resultados obtidos para coberturas com laje mista 121
36. Resultados referentes a cálculos de ventilação necessários para simulação no programa Energy Plus
125
37. Condutividade térmica das amostras de CCEAD 127
38. Resultados obtidos em simulações 130
LISTAS DE ABREVIATURAS
ABIMCI Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AEP Associate Environmental Professional
ASHRAE American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers
ASTM American Society for Testing and Materials
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BLAST Building Loads Analysis and System Thermodynamics
BNH Banco Nacional da Habitação
CCA Arsenato de cobre cromatado
CCB Borato de cobre cromatado
CCEAD Concreto Celular de Alto Desempenho
CDE Chapas metálicas com dentes estampados
CIB Conseil International du Bâtiment
COBRACON Comitê Brasileiro da Construção
COHAB Companhia de Habitação
COHAPAR Companhia de Habitação do Paraná
CREA Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura
DIN Deutsches Institut fur Normung
E+ Programa Energy Plus
GFRC Glass Fiber Reinforced Concrete
HIS Habitação de Interesse Social
IAPAR Instituto Agronômico do Paraná
ICC Indústria da Construção Civil
IDEG Instituto de Desenvolvimento Econômico e Gerencial
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo
ISO International Organization for Standardization
IWC International Weather for Energy Calculations
LWF Light Wood Frame
M Módulo ou módulo-base
NB Normas Brasileiras (nomenclatura utilizada antes da unificação com a ABNT)
NR Norma Regulamentar
NBR Normas Brasileiras
OSB Oriented Strand Board
PBQP-H Programa Brasileiro de Qualidade e produtividade da Construção Habitacional
RU Resistente a umidade
S.D. Sem data
Sepurp Secretaria de Políticas Públicas
SFH Sistema Financeiro da Habitação
TMY Test Meteorological Year
TRY Test Reference Year
UIOF União Internacional de Organizações Familiares
USFC Universidade Federal de Santa Catarina
RESUMO MANZANO, R. M. Desenvolvimento de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico. Londrina, 2007. 212p. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Engenharia Civil,
Centro de Tecnologia e Urbanismo, Universidade Estadual de Londrina.
Visando os princípios da sustentabilidade este trabalho enfoca a concepção de um
sistema construtivo leve de alto desempenho destinado a vedação vertical e, a
análise do seu comportamento térmico. Estes princípios serviram de base tanto na
definição dos materiais e componentes utilizados como no projeto do sistema
construtivo, uma vez que a sustentabilidade define como um dos requisitos a
minimização do emprego de materiais não renováveis. Com intuito de compatibilizar
este requisito com o desempenho de durabilidade, propõem-se um sistema
construtivo para vedação vertical que utiliza a madeira de reflorestamento (material
renovável) como estrutura autoportante e o Concreto Celular Espumoso de Alto
Desempenho na forma de placas passíveis reutilização. O projeto do sistema
construtivo também foi embasado nos conceitos da coordenação modular, buscando
propiciar flexibilidade à planta e facilidade a futuras ampliações e alterações no
projeto-base. Com a definição do projeto avaliou-se o comportamento térmico, por
dois métodos previstos em normas técnicas da ABNT, sendo que os resultados
obtidos apresentaram 1191 horas de desconforto para o clima do Município de
Londrina, comprovando um desempenho adequado.
Palavras-chave: sustentabilidade, ossatura em madeira, placas cimentícias,
sistemas construtivo, coordenação Modular, conforto Térmico.
ABSTRACT MANZANO, R. M. Conception of a Constructive System Develop of high performance to vertical blockading and analysis of its thermal behavior. Londrina, 2007. 212p. Lecture (Master) – Civil Engineer Department, Town Planning
and Technology Centre, Universidade Estadual de Londrina.
Aiming the sustainability principles, this essay focus the conception of a slight
constructive system of high performance destined to a vertical blockading and, the
analysis of its thermal behavior. This principles served as a base as in the material
definition and components used as in the constructive system project, once
sustainability defines as one of the requirement the minimizing of materials not
renewable usage. With the willing to share this requirement with the durability
performance, it’s proposed a constructive system to vertical blockading that uses the
reforest wood (renewable material) like auto carry structures and the Foamy Cellular
Concrete of High Performance in forms of plates that can be reused. The project of
the constructive system was also founded on the concepts of the modular
coordination, reaching flexible provide to the plant and facilities to futures
enlargement and changes in the base-project. With the project definition was
assessed the thermal behavior, by two previewed methods in the ABNT technical
norms, being the obtained results showed 1191 hours of uncomfortable to Londrina
Town weather, proving an appropriate performance.
Key-Words: sustainability, light wood frame, cement plates, Constructive System,
Module Coordination, and Thermal Comfort.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
I
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
II
OBJETO DE ESTUDO
Esta pesquisa consiste no desenvolvimento de um sistema construtivo
que se subdivide em: ossatura em madeira de reflorestamento, utilizado como
estrutura, e placas cimentíceas leves, utilizadas em camada dupla para vedação
vertical, destinado a Habitações de Interesse Social (HIS) e, na avaliação deste em
relação ao comportamento térmico. Sendo a Moradia Popular ou habitação de
interesse social de acordo com Código de Obras do Município de Londrina, Lei
281/55, e o Ato 37/92 do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia do Estado do Paraná – CREA-Pr, uma residência unifamiliar de um
pavimento, única no lote, não exigindo cálculo estrutural, com área de construção
igual ou inferior a 70 m2, unitária, isolada e não constituindo parte de um
agrupamento ou conjunto habitacional.
COLOCAÇÃO DO PROBLEMA
O sistema construtivo a ser desenvolvido compõe-se de dois
componentes trabalhando em conjunto. O primeiro é a ossatura, executada em
madeira, e o segundo são placas cimentíceas, produzidas em Concreto Celular
Espumoso de Alto Desempenho (CCEAD). O problema de pesquisa refere-se ao
desenvolvimento do projeto de um sistema construtivo que atenda aos parâmetros
mínimos de conforto térmico estabelecidos por norma.
CONTEXTO GERAL DO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Segundo os últimos censos habitacionais realizados no Brasil é
possível constatar que o Déficit Habitacional tem aumentado consideravelmente nos
últimos anos. Isto se deve ora pelo crescimento populacional, ora pela ausência de
políticas públicas que visem a sua redução. De acordo com a estimativa do
Ministério das Cidades o déficit habitacional no Brasil em 2005 foi entorno de 7,2
milhões de unidades. (Déficit Habitacional no Brasil: Municípios selecionados e
micro-regiões geográficas, Ministério das Cidades, 2005)
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
III
Na tabela 01 são apresentados dados relativos à evolução do déficit
habitacional no estado do Paraná e na cidade de Londrina.
Tabela 01 - Déficit habitacional.
Ano Déficit habitacional (unidades)
Londrina (%) Paraná (%)
1991 24.000 - 133.000 -
2000 30.106 25 229.069 72
Fonte: Autor (COHAB/COHAPAR 2006)
Os dados da tabela 01 apresentados pela COHAPAR (Companhia de
Habitação do Paraná) e pela COHAB (Companhia de Habitação – Londrina)
referentes ao déficit habitacional do estado do Paraná e da cidade de Londrina,
demonstram uma evolução de 72% e 25%, respectivamente, no período de
aproximadamente uma década.
Segundo a COHAPAR e a COHAB parte deste déficit inclui as
habitações existentes que não atendem de forma satisfatória as condições mínimas
de habitabilidade, ou seja, o atendimento às condições climáticas, e aos seguintes
requisitos do usuário de: estanqueidade, durabilidade, resistência mecânica e as
questões culturais.
Na busca de alternativas para reverter o déficit habitacional, são
desenvolvidas anualmente muitas propostas inovadoras de sistemas construtivos e
componentes. No entanto, poucas têm satisfeito de forma adequada aos requisitos
mínimos de habitabilidade.
Atualmente, no Brasil, encontra-se em desenvolvimento um projeto de
norma para avaliação do desempenho de edificações de até cinco pavimentos, com
o objetivo de estabelecer os requisitos mínimos de habitabidade. Entretanto, deve-se
ressaltar que o projeto restringe-se apenas as questões físicas da habitação:
durabilidade, estanqueidade, resistência mecânica e atendimento as condições
climáticas, sendo denominado de NBR 02:136.01.001 (ABNT, 2007). No entanto,
este projeto de norma não estabelece os requisitos do usuário e as questões
relativas aos aspectos culturais.
INTRODUÇÃO
IV
Nos últimos anos acrescentou-se a todos os requisitos citados a
questão ambiental, de tal forma que toda edificação tem de ser sustentável para ser
considerada eficiente. A aplicação dos conceitos de sustentabilidade em uma
construção envolve as fases da concepção, da escolha do sistema construtivo a ser
adotado – englobando os materiais –, e da execução. Em razão desta necessidade
de uma edificação ser sustentável têm se difundido muito os processos e sistemas
construtivos baseados na construção seca, por contribuírem com a minimização das
perdas de matéria-prima e, conseqüentemente, proporcionar uma redução na
geração de entulho.
Os requisitos que compõe o contexto acima contribuem na justificativa
do projeto do sistema construtivo a ser proposto. Sistema este baseado no princípio
da construção seca, na rapidez de execução, na praticidade de manutenção, na
redução da geração de entulho e, na reutilização das peças no fim da vida útil da
construção.
QUESTÃO DE PESQUISA
Como desenvolver o projeto de um sistema construtivo composto de
placas de concreto celular espumoso de alto desempenho (CCEAD) e ossatura de
madeira, atendendo aos parâmetros mínimos de conforto térmico estabelecidos em
projeto de norma NBR 02:136.01.001:2007.
OBJETIVO
Desenvolver o projeto de um sistema construtivo com a utilização do
CCEAD e madeira de reflorestamento, bem como avaliar pelo método simplificado e
por simulação o desempenho térmico deste.
RELEVÂNCIA DA PESQUISA
Recentemente, tem se constatado o desenvolvimento de inúmeras
soluções construtivas originadas da experiência vernacular ou de pesquisas
científicas. Estes sistemas construtivos desenvolvidos pelo Estado ou pela iniciativa
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
V
privada têm como objetivo final a redução dos custos de modo tornar a habitação um
direito do cidadão. Entretanto, essas soluções têm proporcionado como resultado
final: a diminuição da área construída, construções menos duráveis e um baixo
padrão de qualidade. Em contraposição a este quadro, pretende-se desenvolver um
sistema construtivo que atenda de forma adequada aos requisitos relacionados ao
conforto térmico previsto em projeto de norma.
ESTRUTURAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
Este trabalho teve início com a definição de parâmetros que
subsidiaram o projeto do sistema construtivo a ser proposto, buscando conceituá-lo
através da revisão bibliográfica que trata do assunto. Posteriormente, definiu-se a
metodologia mais adequada ao desenvolvimento do projeto e da avaliação térmica
sistema construtivo.
Em função disto, o trabalho foi estruturado da seguinte forma:
CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste capítulo busca-se abranger de maneira sucinta tópicos
relevantes sobre habitação, sistema modular, sistemas construtivos, sistemas
construtivos em placas, e desempenho térmico.
CAPÍTULO 2: DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DO SISTEMA
CONSTRUTIVO DE VEDAÇÃO VERTICAL DESTINADO A HABITAÇÕES DE
INTERESSE SOCIAL
Considerando-se as definições e recomendações apresentadas no
capítulo anterior, desenvolve-se a metodologia empregada na concepção do projeto
habitacional de interesse social e na elaboração do sistema construtivo.
INTRODUÇÃO
VI
CAPÍTULO 3: ANÁLISE DO DESEMPENHO TÉRMICO DO SISTEMA
CONSTRUTIVO
Este capítulo busca avaliar pelo método simplificado, previsto na norma
NBR 15220:2005, e por simulação computacional, no programa Energy Plus, o
desempenho térmico do sistema construtivo.
CAPÍTULO 4: CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES
Apresentação das conclusões retiradas durante o desenvolvimento da
pesquisa e as possibilidades para futuras investigações.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
1
CAPÍTULO 1.0
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
2
1.0. INTRODUÇÃO
Este capítulo encontra-se subdividido em cinco grandes subtemas
que se inter-relacionam, tanto na concepção arquitetônica do projeto habitacional de
interesse social como no desenvolvimento do projeto do sistema construtivo. Cada
um deles busca abranger de maneira sintética questões relativas à história,
conceitos básicos e normas de referência, itens que servirão de base para o
desenvolvimento da pesquisa.
Apesar destes se encontrarem separados em subtemas, ambos
fazem parte de um único tema que é o projeto habitacional, ou seja, todos poderiam
estar agrupados em um único grupo. Mas esta unificação tornaria mais complexa à
compreensão do projeto como um todo. Isto porque os conceitos não se inserem
uma única vez durante a concepção. Alguns conceitos se encontram presentes
desde a fase inicial até a final do projeto, que é a habitação construída. No esquema
abaixo, busca-se demonstrar como cada um deles se insere na concepção
arquitetônica do projeto habitacional e no desenvolvimento do projeto do sistema.
No entanto, ressalta-se que este esquema restringe-se apenas a etapa de projeto, a
qual está delimitada a pesquisa.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
3
HABITAÇÃO SISTEMAS CONSTRUTIVOS
COORDENAÇÃO MODULAR
MODIFICAÇÕES DO PROJETO BASE
CONCEITO DE DESEMPENHO
FUNCIONALIDADE
SISTEMAS LWF
NORMAS TÉCNICAS
DESEMPENHO TÉRMICO
NORMAS TÉCNICAS
CONCEITO
REQUISITOS DO USUÁRIO
HISTÓRIA
CONCEITO
HISTÓRIA
TIPOS DE SISTEMA CONSTRUTIVO
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
TÉRMICO
MÉTODO SIMPLIFICADO
PROCESSOS DE AVALIAÇÃO
SEQÜÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
HISTÓRIA
COORDENAÇÃO MODULAR
CONCEITO
FERRAMENTAS MODULARES
SISTEMAS MODULARES
DEFINIÇÃO DA ESPESSURA DAS PLACAS E DA DENSIDADE DO CONCRETO CELULAR ESPUMOSO DE ALTO DESEMPENHO
CONCEPÇÃO DO SISTEMA
CONSTRUTIVO
ESCOLHA DA TIPOLOGIA
CONSTRUTIVA
CONCEPÇÃO DO PROJETO
HABITACIONAL
PROJETO EXECUTIVO
PROJETO FINAL
CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES
HABITAÇÃO E O CONCEITO DE DESEMPENHO
PLACAS CIMENTÍCIAS
DETALHES CONSTRUTIVOS
SISTEMAS EM MADEIRA
SISTEMAS DRYWALL
HABITAÇÃO E SEUS SIGNIFICADOS
REQUISITOS DO USUÁRIOS
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
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1.1. HABITAÇÃO
1.1.1. A HABITAÇÃO E SEUS SIGNIFICADOS
O projeto habitacional traz em si implicações profundas sobre as
pessoas e atividades que vai abrigar, sendo o elemento da organização social, que
ao longo do tempo foi incorporando diversos significados. O significado essencial da
habitação, presente desde os primeiros abrigos, constitui-se em teto, alojamento e
refúgio, lugar de proteção, defesa e autonomia de seus ocupantes contra as
intempéries e ameaças externas.
Na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX,
o conceito de habitação como mero alojamento foi alvo de críticas profundas pelos
letrados da época. Suas condições sanitárias foram questionadas e seu papel na
reprodução da família e na produtividade do trabalho foi discutido. Simultaneamente,
novos modelos de habitação foram elaborados e difundidos, com profundos
impactos sobre a relação do indivíduo com seu corpo, a vida familiar, o uso do
espaço público e, especialmente, sobre a relação do indivíduo com a casa. Nesse
processo, novos significados foram incorporados ao conceito de habitação.
Segundo CORREIA (2004), cronologicamente os significados
incorporados ao conceito de habitação foram: o de espaço sanitário, baseado na
difusão dos mecanismos disciplinares no âmbito doméstico; o de santuário
doméstico, lugar propício ao fortalecimento da vida familiar; o de propriedade,
convertendo a moradia em expressão de direito básico consagrado pela sociedade
burguesa e também em instrumento de controle social; o de estojo do homem
privado, expressão de Walter Benjamin, espaço onde o morador procura afirmar sua
individualidade, imprimindo a cada recanto o seu gosto pessoal, suas lembranças e
belos objetos que amealhou ao longo de sua existência; o de máquina de morar,
articulando três preocupações básicas: garantir a reposição de energias para o
trabalho, reduzir os custos com construção e conservar e agilizar as tarefas
domésticas.
Através da análise do conceito de habitação e da evolução deste ao
longo do tempo, descrito por CORREIA (2004), pode-se constatar que o programa
de necessidades e o projeto-base foram se alterando ao longo do tempo. No
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
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entanto, observa-se, também, que surge uma forte tendência à individualidade e a
propriedade por parte do usuário, o que acaba contribuindo com a alteração do
programa de necessidades e/ou do projeto-base da habitação.
1.1.2. CARACTERIZAÇÃO DAS EXIGÊNCIAS HUMANAS DA ADAPTAÇÃO AO USO
Em relação ao desenvolvimento de um projeto habitacional deve-se
atentar as exigências humanas de adaptação ao uso, tentando minimizar os motivos
que levam o usuário a modificar o projeto-base. Uma vez que este, naturalmente,
tende a ser alterado pelo usuário, motivado pela necessidade de impor a sua
individualidade a habitação. Sendo que, as principais exigências humanas
relacionadas a adaptação ao uso são: a área útil mínima por ocupante e a
funcionalidade.
a) ÁREA ÚTIL MÍNIMA POR HABITANTE
A necessidade de construir habitações econômicas resultou na
utilização de materiais e processos construtivos de menor custo, com padrão de
acabamento e de conforto inferiores, havendo uma diminuição pura e simples do
tamanho da moradia. Esta minimização da habitação, segundo LEITE (2006),
ocorreu também devido a elevação do custo do binômio terreno-construção. No
entanto, o processo de compactação das áreas a um limite abaixo da relação ideal
por habitante faz com que a edificação deixe de cumprir sua função essencial, ao
ponto de seu valor de compra não corresponder ao serviço que esta presta.
Este não é um fato recente, tem ocorrido desde a metade do século
XX, quando se pretendia tornar a habitação cada vez mais eficiente e impessoal. O
número de cômodos foi aumentando, em compensação, a área útil de cada cômodo
foi sendo drasticamente reduzida. Um exemplo concreto desta redução ao longo
tempo encontra-se na tabela 02 retirada de BARBOSA (1997), em que é possível
constatar a redução de áreas na maioria dos estados onde a COHAB tem atuado.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
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Tabela 02 – Valores de áreas mínimas de construção, dos tipos de
unidades habitacionais mais construídos por Companhia de Habitação.
COHABs 60/70 Área média (m2)
80/90 Área média (m2)
ACRE 30,00 21,00
PARÁ 45,00 26,00
RONDÔNIA - 40,23
PIAUI 45,00 30,00
RIO GRANDE DO NORTE 45,00 40,00
PARAÍBA 27,00 31,00
PERNAMBUCO 42,00 27,00
SERGIPE 27,00 27,00
MINAS GERAIS 37,00 37,00
VOLTA REDONDA 45,00 25,00
RIO URBE - 28,12
SÃO PAULO 35,00 24,00
CDHU SP 47,00 40,00
CAMPINAS 42,00 38,00
BANDEIRANTES 46,00 40,00
BAURU 41,37 39,43
RIBEIRÃO PRETO 49,70 32,17
ARAÇATUBA - 28,94
PARANÁ 39,50 48,30
CURITIBA 50,00 40,00
LONDRINA 38,00 31,00
SANTA CATARINA 39,40 36,30
PORTO ALEGRE 30,00 30,00
MATO GROSSO DO SUL 40,00 40,00
CAMPO GRANDE - 36,00
GOIÂNIA 41,40 46,70
BRASÍLIA 40,00 30,00
MÉDIA 40,10 33,82
VALOR MÁXIMO 50,00 48,30
VALOR MÍNIMO 27,00 24,00
Fonte: BARBOSA, 1997.
Em oposição à redução gradual da área útil mínima por habitante,
constatado nas últimas décadas, alguns pesquisadores, como BLÀCHERE,
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
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CHOMBART de LAUWE e ROSSO, propuseram a fixação de uma metragem mínima
com intuito de obter um melhor desempenho funcional da habitação.
Segundo BLACHÉRE (1978), as exigências de habitabilidade ou
adaptação da moradia correspondem ao atendimento às atividades familiares
realizadas dentro de uma área mínima determinada pelo número de habitantes. A
partir deste conceito este autor dividiu a moradia em três categorias de área útil de
superfície por pessoa: a modesta, com 14 m2, a mediana com 18 m2, e a superior
com 22 m2.
ROSSO (1980) divulgou um trabalho realizado por CHOMBART de
LAUWE, no qual se determina como fatores importantes à habitação, os requisitos
de higiene a partir da relação área por morador, onde abaixo de 8 m2 por pessoa, as
condições físicas e mentais do morador estariam comprometidas, estabelecendo
assim um limite patológico na relação área mínima por morador. O pesquisador
apresenta ainda, dados referentes à variação de área útil unitária, segundo diversas
composições familiares, fixadas por países europeus e organismos internacionais.
Os técnicos europeus fixaram como limite crítico a área mínima de 12 m2 por pessoa
e, também, como limite patológico 8 m2 por pessoa, sendo que alguns recomendam
como limite de segurança a área de 16 m2 por pessoa. Tais dados definem como
metragem quadrada adequada à habitação de interesse social para um número de
quatro pessoas o intervalo entre 48 m2 e 64 m2.
Nos países em desenvolvimento o valor médio de área por morador
adotado para as habitações de interesse social é de 11 m2, valor acima do mínimo
estipulado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que é 10,5 m2 e,
abaixo do determinado pela União Internacional de Organizações Familiares (UIOF),
que é de 16,6 m2. Tanto o BID como a UIOF consideram como composição familiar
um número mínimo de três pessoas, o que implica na existência de no mínimo 2
dormitórios por habitação.
Em Londrina e em diversas cidades do Brasil, são os Códigos
municipais que regulamentam os critérios que definem as áreas mínimas da
habitação.
No desenvolvimento do projeto da habitação de interesse social
pressupõe-se a determinação de uma família tipo, com isto as normas passam a ser
elaboradas visando atender as funções e necessidades domésticas desta família.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
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Alguns países procuram obter melhor aproveitamento de espaço mínimos a partir da
análise dos equipamentos e mobiliário mínimo e da necessidade de espaço para a
circulação, sendo que em muitos casos são fixadas normas que se aplicam somente
a habitações financiadas pelo Estado. Na Europa é comum a definição de medidas
mínimas para os ambientes de acordo com a função que estes cumprem (área útil
mínima, espaço mínimo habitável por pessoa, capacidade cúbica e distribuição de
mobiliário).
b) FUNCIONALIDADE DA EDIFICAÇÃO
A produção massificada da habitação de interesse social tem se
caracterizado pela excessiva padronização e redução dimensional das áreas
internas, resultando em minúsculos ambientes dispostos em edificações,
tecnicamente, mal concebidas, o que acaba comprometendo a sua funcionalidade.
Na habitação de interesse social, os espaços destinados ao
descanso e lazer foram, ao longo e das experiências dos empreendimentos sociais,
deixados para um segundo plano, comprometendo a sua funcionalidade. No entanto,
constata-se que a funcionalidade aderida ao produto habitação tem proporcionado
ao consumidor maior garantia de satisfação as suas necessidades. (LEITE, 2006)
Na busca pela melhora da funcionalidade da edificação LEITE
(2006) desenvolveu um método com a função de identificar as falhas nos projetos
e/ou edificações. Este método denominado pelo autor como Funcionalidade.com,
busca através da identificação das falhas, ainda na fase projeto, tornar possível a
realização de pequenas mudanças na disposição e no tamanho dos cômodos, que
visem o aumento da funcionalidade da edificação.
A Funcionalidade.com consiste, basicamente, na avaliação dos
espaços através da análise de alguns requisitos relacionados à funcionalidade dos
espaços. Requisitos estes referentes aos equipamentos mínimos e adicionais e, a
acessibilidade (locomoção e acesso a todos os equipamentos instalados). A
funcionalidade do ambiente resulta da média dos valores atribuídos a cada requisito
(tabela 03) e, conseqüentemente, a da edificação à média entre todos os ambientes.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
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Tabela 03 – Escala conceitual de valores a serem atribuídos a cada
requisito.
Escala conceitual
FUNCIONALIDADE
Extremamente precário
Muito adequadamente
precário
Precariamente adequado
Parcialmente adequado
Plenamente adequado ou atende
Atende mais que
plenamente
Extremamente precário
Muito precário Precário Parcial Atende Supera
Escala numérica
20 40 60 80 100 120
Fonte: RIFRANO, 2006.
Em 12 de janeiro de 2007, o COBRACON (Comitê Brasileiro da
Construção), visando a funcionalidade da edificação lançou uma nova atualização
do projeto de norma NBR 02:136.01-001, que em seu item 16.1.1 - Disponibilidade
mínima de espaços para uso e operação da habitação, determina o móveis e
equipamentos padrão para cada cômodo/atividades essenciais (tabela 04).
Tabela 04 – Móveis e equipamentos padrão.
Atividades essenciais / Cômodo Móveis e equipamentos padrão
Dormir / Dormitório Casal Cama de casal + guarda roupa + criado mudo (mínimo 1)
Dormir / Dormitório para duas pessoas (2º. Dormitório)
Cama de solteiro (duas) + guarda roupa + criado mudo ou mesa de estudo
Dormir / Dormitório para uma pessoa (3º. Dormitório)
Cama de solteiro + guarda roupa + criado mudo
Estar Sofá de dois ou três lugares + armário/estante + poltrona
Cozinhar Fogão + geladeira + pia de cozinha + armário sobre a pia + gabinete + apoio para refeição (2 pessoas)
Alimentar/ tomar refeições Mesa + quatro cadeiras
Fazer higiene pessoal Lavatório + chuveiro (box) + vaso sanitário
Obs.: no caso de lavabos, não é necessário o chuveiro
Lavar, secar e passar roupas Tanque (externo para unidades habitacionais térreas) + máquina de lavar roupa
Estudar, ler, escrever, costurar, reparar e guardar objetos diversos
Escrivaninha ou mesa + cadeira
Fonte: NBR 02:136.01.001:2007.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
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Ainda nesta mesma atualização do projeto de norma, no item 16.1.2
– Dimensões mínimas dos cômodos; este define as dimensões mínimas dos
mobiliários e da circulação interna para cada cômodo (tabela 05).
Tabela 05 – dimensões mínimas de mobiliários e circulação.
Ambiente Mobiliário Circulação (m) Observações
Móvel ou Equipamento dimensões (m) L p
Sala de Estar
Sofá de 3 lugares c/ braço 1,70 0,70 . Prever espaço de 0,50 m na frente da assento, para sentar, levantar e circular.
. Largura mínima da sala de estar: 2,40 m. . Número mínimo de assentos determinado pela quantidade de habitantes da unidade, considerando o número de leitos.
Sofá de 2 lugares c/ braço 1,20 0,70 Poltrona c/ braço 0,80 0,70 Sofá de 3 lugares s/ braço 1,50 0,70 Sofá de 2 lugares s/ braço 1,00 0,70 Poltrona s/braço 0,50 0,70
Estante / Armário para TV 0,80 050 0,50 m . Espaço para o móvel obrigatório
Mesinha de centro ou cadeira de apoio
- - - . Espaço para o móvel opcional
Sala Estar/Jantar Sala de Jantar Copa Copa/Coz
Mesa redonda p/ 4 lugares D= 0,95 - . circulação mínima de 0,75 m a partir da borda da mesa (espaço para afastar a cadeira e levantar)
. Largura mínima da sala de estar/jantar e da sala de jantar (isolada): 2,40m. . Mínimo: 1 mesa p/ 4 pessoas. . Admite-se layout c/ o lado menor da mesa encostado na parede, desde que haja espaço p/seu afastamento, quando da utilização.
Mesa redonda p/ 6 lugares D= 1,20 -
Mesa quadrada p/ 4 lugares 1,00 1,00
Mesa quadrada p/ 6 lugares 1,20 1,20
Mesa retangular p/ 4 lugares 1,2 0,80
Mesa retangular p/ 6 lugares 1,50 0,80
Cozinha Pia 1,20 0,50 . circulação mínima de 0,85m frontal à pia, fogão e geladeira.
. Largura mínima da cozinha: 1,50m . Mínimo: pia, fogão e geladeira e armário
Fogão 0,55 0,60
Geladeira 0,70 0,70
Armário sob a pia e gabinete - - - . Espaço p/ móvel obrigatório
Apoio para refeição (2 pessoas)
- - - . Espaço p/ móvel opcional
Dormitório Casal (dormitório principal)
Cama de casal 1,40 1,90 . circulação mínima entre o mobiliário e/ou paredes de 0,50m.
. Mínimo: 1 cama, 2 criados e 1 guarda-roupa. . Admite-se apenas 1 criado-mudo, quando o 2O interferir na abertura de portas do guarda-roupa.
Criado-mudo 0,50 0,50
Guarda-roupa 1,60 0,50
Dormitório p/ 2 pessoas (2o dormitório)
Camas de solteiro 0,80 1,90 . circulação mínima entre as camas de 0,60m . Demais circulações mínimo de 0,50m.
Mínimo: 2 camas, 1 criado e 1 guarda-roupa. Criado-mudo
0,50 0,50
Guarda-roupa 1,50 0,50
Mesa de estudo 0,80 0,60 - Espaço para o móvel opcional
Dormitório para 1 Pessoa (3o
Cama de solteiro 0,80 1,90 . circulação mínima entre o mobiliário e/ou paredes de
. Mínimo: 1 cama, 1 guarda-roupa e Criado-mudo 0,50 0,50
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
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dormitório) Armário 1,20 0,50 0,50m 1criado.
Mesa de estudo 0,80 0,60 - Espaço para o móvel opcional
Banheiro Lavatório 0,39 0,29 . Circulação mínima de 0,4 m frontal ao lavatório, vaso e bidê .
. Largura mínima do banheiro: 1,10 m, exceto no box. . Mínimo: 1 lavatório, 1 vaso e 1 box.
Lavatório com bancada 0,80 0,55
Vaso sanitário (caixa acoplada)
0,60 0,70
Vaso sanitário 0,60 0,60
Box quadrado 0,80 0,80
Box retangular 0,70 0,90 Bidê 0,60 0,60 Peça opcional
Área de serviço
Tanque 0,52 0,53 . Circulação mínima de 0,50 m frontal ao tanque e máquina de lavar.
. Mínimo: 1 tanque e 1 máquina, (tanque de no mínimo 20 litros). Máquina de lavar roupa 0,60 0,65
Notas: 1) Esta Norma não estabelece dimensões mínimas de cômodos, deixando aos projetistas a competência de formatar os ambientes da habitação segundo o mobiliário previsto, evitando conflitos com legislações estaduais ou municipais que versam sobre dimensões mínimas dos ambientes. 2)) Em caso de adoção em projeto de móveis opcionais, as dimensões mínimas devem ser obedecidas.
Fonte: NBR 02:136.01.001:2007.
Apesar da norma ainda se encontrar na fase de projeto, esta pode
auxiliar no desenvolvimento de projetos que visem a maior satisfação do usuário-
morador. O atendimento a esta garante maior funcionalidade a cada cômodo e a
habitação como um todo, pois a disposição dos mobiliários-padrão e da circulação
recomendados acabam resultando em uma área útil mínima por habitante superior a
limite patológico constatado por pesquisadores, ou seja, a 8m2.
1.1.3. MODIFICAÇÕES NO PROJETO-BASE
O desconhecimento e/ou o não atendimento aos requisitos
prescritos em projeto de norma tem resultado em habitações inadequadas as
necessidades dos usuários, ocasionando modificações no projeto original.
KOWALTOWSKI e PINA (1995) destacam a área reduzida destas edificações como
um dos motivos responsáveis por estas alterações, pois segundo as pesquisadoras
os seus usuários as consideram muito pequenas para suas necessidades.
Em virtude disto, as pesquisadoras comentam sobre a necessidade
de se evitar tipologias de casas como edícula ou sobrado, pois as consideram
menos favoráveis a modificação. O prejuízo da casa do tipo edícula alterada é a falta
de ventilação, insolação, iluminação dos ambientes originais e problemas
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
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construtivos na configuração do telhado. O sobrado, mesmo muito desejado,
apresenta uma evolução construtiva problemática, onde o telhado é criado somente
na conclusão da casa, expondo os cômodos iniciais a infiltrações. O sobrado
também exige técnicas construtivas (escada, estrutura reforçada e andaimes) muitas
vezes pouco dominadas pelo auto-construtor. Há ainda as restrições às técnicas de
pré-fabricação com métodos construtivos complexos e o uso de equipamentos na
obra fora do alcance do pequeno auto-construtor. (KOWALTOWSKI e PINA, 1995).
No entanto, mesmo que a habitação venha a suprir as necessidades
dos usuários de uma determinada faixa de renda, esta não estará isenta a
alterações, pois segundo SANTOS (S.D), a moradia é um espaço de vida, onde o
morador e a família não são passíveis de padronização, pois constituem
individualidades cujas necessidades não se pode generalizar.
1.1.4. HABITAÇÃO E O CONCEITO DE DESEMPENHO
Durante as últimas décadas do século XIX e a primeira metade do
século XX, a moradia urbana no Brasil passou por uma ampla reforma, que envolveu
desde mudanças de ordens espaciais a alterações de usos e significados.
A partir da década de 1870, a situação das moradias nas principais
cidades brasileiras – que passavam por acelerado processo de crescimento e
adensamento das áreas centrais – começou a inquietar os setores da elite. O
crescimento desordenado das cidades causou ou teve como conseqüência o
agravamento da falta de condições sanitárias devido ao aumento na geração de lixo
e dejetos, e a disposição incorreta das habitações. Escritores, médicos, engenheiros
e administradores públicos expressaram sua preocupação com a moradia urbana,
uma vez que esta era vista por muitos, de modo geral, como um ambiente prejudicial
à saúde de seus moradores.
Segundo CORREIA (2004), a habitação do pobre era entendida
como ameaça tanto à saúde quanto à moralidade e à produção. Esta era vista como
local impróprio à saúde e à virtude; como lugar sujo e desconfortável, propício à
geração de doenças e a transmissão de epidemias ao resto da população da cidade;
como ambiente imoral e promíscuo, que corrompia seus moradores. Por não ser um
ambiente acolhedor, essa moradia era responsabilizada por atirar seus moradores
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
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às ruas, aos bares e bordéis, onde estes estariam expostos aos vícios, a devassidão
e ao ócio.
Nas décadas finais do século XIX, teve início a preocupação da
burguesia com a má qualidade da habitação popular, pois a inadequação desta a
afetava indiretamente. A falta de saneamento básico e de acesso à água potável
pelo proletariado facilitava a proliferação de doenças (vetores) que, geralmente,
transformavam-se em epidemias. Como parte desta população tinha acesso às
casas burguesas, devido ao tipo de trabalho que exerciam (empregadas domésticas,
motoristas, cozinheiras, etc.), disseminavam, assim também, doenças entre a elite
da sociedade.
Outro fator que também motivou tal preocupação por parte da
burguesia refere-se à queda no nível de produtividade das indústrias, ocasionada
pela inadequação destas habitações, o que comprometia a reposição das energias
gastas pelo trabalhador.
Diante do exposto, conclui-se que tal preocupação por parte da
burguesia na época era simplesmente motivada pelo interesse, ora nos lucros
obtidos em suas indústrias, ora em sua própria qualidade de vida.
Na segunda metade dos anos setenta, houve uma procura pelo
aumento nos níveis de produção, motivado pelo crescente déficit habitacional e por
políticas públicas. Diante deste novo contexto, sistemas e processos construtivos
inovadores foram introduzidos visando à construção de um grande número de
habitações no menor tempo e custo possíveis em detrimento de quaisquer outras
características, como conforto e durabilidade, (FRANCO, 1992).
Com a crise do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), no início
dos anos 80, o subsetor de edificações teve de rever suas prioridades. A eficiência
na utilização dos recursos e a qualidade da habitação tenderam a assumir maior
importância para as empresas, motivadas por um mercado em retração. O cliente
passou a ser a um só tempo, contratante, usuário e financiador, tendo esta relação
por característica a exigências relativas a prazos, qualidade e controle de custos. No
entanto, com o surgimento de novos riscos inerentes a desistência por parte dos
compradores, antes da entrega do imóvel, os compradores se viram obrigados a
reduzirem ainda mais os custos para manterem a sua rentabilidade. Entretanto, esta
redução não se limitou apenas a adoção da racionalização construtiva, constatando-
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
14
se, nos meio dos anos 80, a absorção predatória de mão-de-obra e o
comprometimento da qualidade da habitação. Esta postura mostrou-se, ao longo do
tempo, geradora de sérios problemas para as empresas, sendo registrado um
volume considerável de processos de mutuários em que o problema apontado
decorreu de “vícios de construção”, repercutindo de forma negativa sobre as
construtoras, não apenas em termos de imagem, mas também sob forma de custos
adicionais, (FARAH, 1992).
Na busca por avaliar a qualidade destas habitações, Rosso realiza
os primeiros estudos sobre o conceito de desempenho no fim da década de 70. No
entanto a aplicação prática deste conceito só veio a ocorrer na década de 80 após o
desenvolvimento de normas e diretrizes para avaliação de soluções inovadoras
destinada a habitações térreas unifamiliares pelo Instituto de Pesquisa Tecnológica
de São Paulo (IPT).
O conceito de desempenho de edificações surgiu na década de 30
com a expressão inglesa “performance requeriments” (SOUZA, 1983). Mas, somente
em 1975, o conceito de desempenho foi definido pelo CIB (“Conseil International du
Bâtiment”) como sendo o comportamento de um produto em utilização (FRANCO,
1992). A palavra desempenho, segundo SOUZA (1983), foi escolhida para
caracterizar o fato de que um produto deve apresentar certas propriedades que o
capacitem para cumprir sua função quando sujeita a certas ações.
De acordo com SOUZA (1983), os produtos que compõem os
edifícios estão sujeitos a uma grande variedade de ações, no sentido amplo do
termo, ações estas devidas aos fenômenos de origem natural, devidas à utilização
do edifício e mesmo decorrentes de sua própria concepção.
A partir da década de 80, o IPT realizou diversas avaliações de
componentes, elementos e sistemas construtivos, incluindo questões inerentes aos
requisitos de habitabilidade definidos por BLACHÉRE e HANDLER e incorporados à
normalização internacional – ISO 6241. Com intuito de alavancar as discussões
sobre a qualidade dos processos e sistemas construtivos voltados para as
habitações de interesse social, foi criado o Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade da Construção Habitacional (PBQP-H), subordinado à Secretaria de
Políticas Públicas (Sepurp), que em parceria com o Instituto de Pesquisas
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
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Tecnológicas (IPT) definiu alguns “Critérios- Mínimos de Desempenho para
Habitações Térreas de Interesse Social” (1997). (SILVA, 2000)
Atualmente, muito se tem discutido sobre o conceito de desempenho
das edificações de interesse social, mas estas discussões não devem limitar-se
apenas a produção de uma habitação adequada aos recursos da população, sendo
necessário considerar tanto os custos quanto os requisitos mínimos de dignidade,
higiene e segurança. (SILVA, 2000)
Todos estes requisitos são englobados quando se pensa em
desempenho de uma edificação. Nas tabelas 06 e 07 encontram-se apresentadas
duas formas de aplicação do conceito de desempenho. A primeira refere-se aos
aspectos considerados mais relevantes ao desempenho por BLACHÈRE (1978) e a
segunda refere-se aos aspectos estabelecidos por HANDLER (SILVA, 2000).
Tabela 06 – Aspectos relevantes do desempenho segundo
BLÀCHERE (1978):
Aspectos relevantes ao desempenho – BLÀCHERE, 1978.
1) Exigências do usuário:
a) Exigências de habitabilidade: - Fisiológicas: ligadas aos processos vitais; - Psicológicas: ligadas aos processos mentais; - Sociológicas: ligadas às intervenções entre pessoas e grupos;
b) Exigências econômicas: - Durabilidade; - Custo.
2) Condições de exposição:
a) Condições ambientais: - De origem natural; - Geográfica; - Impostas pelo homem;
b) Condições de ocupação: - Impostas pelo usuário; - Impostas pela concepção do produto.
Fonte: Síntese de BLÀCHERE (1978).
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
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Tabela 07 – Aspectos relevantes ao desempenho segundo
HANDLER (SILVA, 2000):
Aspectos relevantes ao desempenho – HANDLER (SILVA, 2000)
1) Desempenho técnico e ambiental;
- Grau de eficiência com que os componentes e elementos físicos do edifício desempenham as funções designadas a eles;
- Critérios e parâmetros que descrevem qual deve ser o desempenho de um componente específico;
- Escolha de soluções que atendam aos requisitos técnicos, com a máxima eficiência dadas as condições existentes.
2) Desempenho humano:
- Razão para os objetivos e padrões de natureza técnica;
- Avaliação do edifício por seu efeito sobre o usuário, seu comportamento e desempenho;
- Eficiência com que o usuário executa suas tarefas e atividades no ambiente que lhe foi criado;
- Medido segundo os seguintes objetivos: a) Saúde: processos fisiológicos (temperatura do corpo, ritmo metabólico, pressão sanguínea, ritmo cardíaco e pulsação); b) Bem-estar: sensação subjetiva de conforto (térmico, visual, auditivo e olfativo); c) Vivacidade ou vigilância: reações humanas a nível físico ou perceptual (sensibilidade, discriminação e unidade); d) Eficiência de tarefa: velocidade e exatidão com que a atividade é desenvolvida, quantidade e qualidade do produto e o “custo humano”.
3) Desempenho simbólico:
“Um edifício desempenha um efeito simbólico quando aponta algo além da sua existência física e parece incorporar um princípio de validade universal”.
4) Desempenho econômico:
A melhor alocação dos recursos em face dos diferentes usos. Balanços entre custos e benefícios derivados dos atendimentos a cada um dos objetivos visados.
Fonte: Síntese de SILVA (2000)
Apesar das mudanças no mercado consumidor e a concorrência dos
importados alertarem aos construtores sobre a necessidade da adoção da avaliação
de desempenho de seus produtos, a aplicação desta sem a devida orientação tem
proporcionado poucos resultados tanto para o construtor quanto para o usuário.
(FARAH, 1992)
Para SOUZA (1983), a aplicação do conceito de desempenho tem
início com a definição das exigências impostas pelo usuário, baseados nas
necessidades e condições de exposição a que estará submetido o edifício em
condições normais de uso; posteriormente aplicam-se os métodos que verificam o
atendimento a estas condições estabelecidas. A verificação do comportamento do
produto pode ser feita com a utilização de modelos matemáticos e físicos e a
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
17
realização de ensaios e medida em protótipos. A metodologia básica para a
aplicação do conceito segue os seguintes passos:
1º - Identificar as exigências do usuário, adaptando-as a realidade
do local;
2º - Identificar as condições de exposição do edifício, de seus
elementos e componentes;
3 º - Listar os requisitos de desempenho a serem atendidos,
expressos qualitativamente;
4º - Definição dos critérios de desempenho a serem atendidos pelo
edifício, seus elementos e componentes, expressos quantitativamente;
5º - Definição dos métodos de avaliação, envolvendo ensaios,
medidas e procedimentos de cálculo.
As exigências do usuário consistem num conjunto de necessidades
a serem atendidas pela edificação, de tal forma que esta desempenhe a função de
abrigo para as atividades humanas. Estas exigências são abordadas de maneira
objetiva e abrangente por BLACHÈRE e posteriormente foram utilizadas como
referência pelo CIB e pela ISO 6241 (tabela 08) na definição qualitativa e
quantitativa das exigências humanas.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
18
Tabela 08 – Exigências do usuário segundo ISO 6241/1984:
ISO 6241/1984 – Performance Standards in building : Principles for their preparation and factors to be consisdered
EXIGÊNCIAS DO USUÁRIO 1) Exigências de segurança estrutural;Estabilidade e resistência mecânica. 2) Exigências de segurança ao fogo;Limitações do risco de início e propagação de um incêndio, segurança dos usuários. 3) Exigências de segurança à utilização;Segurança dos usuários e segurança a intrusões. 4) Exigências de estanqueidade;Estanqueidade aos gases, aos líquidos e aos sólidos. 5) Exigências de conforto higrotérmico;Temperatura e umidade do ar e das paredes. 6) Exigências atmosféricas; Pureza do ar e limitações de odores. 7) Exigências de conforto acústico;Isolação acústica e níveis de ruído.8) Exigências de conforto visual;Aclaramento, aspecto dos espaços e das paredes, vista para o exterior. 9) Exigências de conforto tátil;Eletricidade estática, rugosidade, umidade e temperatura da superfície. 10) Exigências de conforto antropodinâmico;Acelerações, vibrações e esforços de manobra. 11) Exigências de higiene; Cuidados corporais, abastecimento de água, eliminação de matérias usadas. 12) Exigências de adaptação à utilização;Número, dimensões, geometria e relações de espaços e de equipamentos necessários. 13) Exigências de durabilidade;Conservação do desempenho ao longo do tempo. 14) Exigências de economia. Custo inicial e custos de manutenção e reposição durante o uso.
Fonte: ISO 6241/1984.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
19
Tabela 09 – Requisitos do usuário segundo Projeto de Norma NBR
02:136.01.001:2007:
REQUISITOS DO USUÁRIO PROJETO DE NORMA NBR 02:136.01.001:2004
1) Desempenho Estrutural;
2) Segurança contra incêndio;
3) Segurança ao uso e operação;
4) Estanqueidade;
5) Desempenho térmico;
6) Desempenho acústico;
7) Desempenho lumínico;
8) Saúde, higiene e qualidade do ar;
9) Durabilidade e manutenibilidade;
10) Conforto tátil-visual e antropodinâmico;
11) Exigências do usuário;
12) Adequação ambiental;
13) Funcionalidade e acessibilidade.
Fonte: NBR 02:136.01.001:2007.
Apesar do projeto de norma da ABNT ser dedicado exclusivamente
a avaliação do desempenho de edificações de até cinco pavimentos, NBR
02:136.01:2007, e este ter sido baseado na ISO 6241 de 1984, constatou-se,
entretanto, que nem todos os requisitos constantes na ISO foram incorporados pelo
mesmo. Algo semelhante, também, acontece com a ISO 6241, que segundo SOUZA
(1983), teve por base para a sua elaboração os requisitos estabelecidos por
HANDLER e BLÀCHERE. Através da tabela 10, pode-se observar que nas duas
normas citadas os requisitos referentes ao desempenho humano, desempenho
simbólico e a exigências de habitabilidade foram excluídos. Talvez, um dos aspectos
que motivaram a exclusão destes das duas normas esteja relacionado ao fato de
estes serem requisitos de caráter qualitativo, ou seja, subjetivos, o que dificulta a
mensuração dos mesmos e, conseqüentemente, o seu atendimento pelas empresas
da construção civil.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
20
Tabela 10 – Comparação entre o Projeto de Norma da ABNT, a ISO
6241, e os requisitos de HANDLER e BLÀCHERE.
REQUISITOS DO USUÁRIO PROJETO DE NORMA NBR 02:136.01.001:2007
REQUISITOS DA ISO 6241 DE 1984 QUE NÃO SÃO ABRANGIDOS PELO PROJETO DE NORMA DA ABNT
1) Desempenho Estrutural;
2) Segurança contra incêndio;
3) Segurança ao uso e operação;
4) Estanqueidade;
5) Desempenho térmico;
6) Desempenho acústico;
7) Desempenho lumínico;
8) Saúde, higiene e qualidade do ar;
9) Durabilidade e manutenibilidade;
10) Conforto tátil-visual e antropodinâmico;
11) Exigências do usuário;
12) Adequação ambiental;
13) funcionalidade e acessibilidade.
14) Exigências de economia. Custo inicial e custos de manutenção e reposição durante o uso.
REQUISITOS DE HANDLER QUE NÃO SÃO ABRANGIDOS PELA ISO 6241 E PELO PROJETO DE NORMA DA ABNT
2) Desempenho humano: - Medido segundo os seguintes objetivos: c) Vivacidade ou vigilância: reações humanas a nível físico ou perceptual (sensibilidade, discriminação e unidade); 3) Desempenho simbólico: “Um edifício desempenha um efeito simbólico quando aponta algo além da sua existência física e parece incorporar um princípio de validade universal”.
REQUISITOS DE BLÀCHERE (1978) QUE NÃO SÃO ABRANGIDOS POR HANDLER, PELA ISO 6241 E PELO PROJETO DE NORMA DA ABNT
1) Exigências do usuário: a) Exigências de habitabilidade: - Sociológicas: ligadas às intervenções entre pessoas e grupos;
Fonte: Autor.
Com base na revisão bibliográfica realizada, conclui-se que toda
edificação encontra-se sujeita a modificações, seja por necessidade de ampliação
de área e/ou pelo caráter individual do usuário. A partir desta constatação, durante a
etapa de definição de um projeto habitacional deve-se levar em conta a possibilidade
de mutabilidade da edificação, de forma, que esta possa se adequar as
necessidades do usuário, ou seja, o projeto deve ser flexível a ponto de permitir
mudanças, tanto de função como ampliações.
A possibilidade de se promover mudanças em uma edificação
encontra-se diretamente relacionada ao tipo de sistema construtivo adotado, ou seja,
para que esta vem há ocorrer é necessário optar-se por um sistema simples e de
fácil absorção pelo usuário. Após a definição do sistema a ser utilizado, outros
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
21
fatores devem ser levados em conta na concepção do projeto habitacional: a área
útil mínima por habitante, a funcionalidade e o desempenho da edificação, de forma,
a proporcionar maior qualidade de vida a seus futuros ocupantes.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
22
1.2. COORDENAÇÃO MODULAR
A Coordenação Modular apresenta-se como uma importante
ferramenta de racionalização tanto dos processos como da construção em si, pois
esta padroniza os componentes construtivos, possibilitando maior controle da
qualidade na produção da edificação. A opção pela adoção da Coordenação
Modular baseou-se não só nestas características, mas, também, na possibilidade de
flexibilidade que esta permite adicionar a edificação.
1.2.1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA MODULAÇÃO
A Coordenação Modular não consiste em uma inovação técnica
recente de racionalização dos processos construtivos, mas sim, um instrumento
muito utilizado a milhares de anos na concepção de grandes monumentos. Esta foi
utilizada tanto para conseguir um efeito estético-harmônico (gregos, Idade Média e
Le Corbusier) quanto para privilegiar a funcionalidade da edificação (Romanos,
Japão, Revolução Industrial e Século XX), constatando-se uma divisão clara em
duas vertentes. Sendo a modulação utilizada para o efeito estético-harmônico regida
pela progressão geometria e a utilizada para privilegiar a funcionalidade pela
progressão aritmética.
A seguir será realizado um breve histórico sobre modulação
abrangendo desde os gregos até Le Corbusier (século XX), buscando demonstrar
aplicação das duas vertentes ao do tempo.
1.2.1.1. GREGOS
Os primeiros indícios da utilização da Coordenação Modular são
encontrados na civilização grega, onde segundo ROSSO (1976), esta assume
caráter estético. A proporção dos elementos da ordem expressava harmonia e
beleza, e a unidade básica das dimensões era o diâmetro da coluna. Esta dimensão
regia não só o tamanho da coluna, mas todas as dimensões da obra arquitetônica.
Mesmo sendo esta a dimensão moduladora, o tamanho da coluna varia conforme a
edificação. Sendo assim, as ordens gregas – corínthia, dórica e jônica – não se
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
23
apoiavam em uma unidade de medida constante, mas cada uma seguia as suas
proporções.
Pitágoras, baseando-se no pentágono regular e no pentagrama,
polígono regular estrelado de cinco pontas inscrito no pentágono regular, buscou
explicar à proporção geométrica ideal dos aspectos físicos dos elementos naturais,
principalmente a relacionada ao corpo humano ideal. Definiu, então, uma relação de
proporção particular que se encontra no pentágono regular e no pentagrama, a da
divisão de um segmento em média e extrema razão. Euclides, posteriormente,
definiria esta relação como: um segmento se divide em média e extrema razão
quando todo o segmento está para a parte maior como esta última está para a
menor. O que equivaleria a expressão algébrica ...618,1)( =÷+=÷ ababa , que
solucionado resulta na seguinte equação de segundo grau (x2–x–1=0) cujas as
raízes são ( )[ ] ...618,1215 ±=÷+± que posteriormente ficou conhecido como o
Número de Ouro.
Segundo MARTINS (2002), o Número de Ouro foi à chave de
diversas construções geométricas notadamente na arquitetura. Sendo encontrado
seu traçado em muitos elementos da pirâmide de Queóps no Egito e no Partenon na
Grécia (foi utilizado na concepção da planta e fachada). Em homenagem ao escultor
grego Phídias, que decorou o Partenon em Atenas, o Número de Ouro recebeu o
nome da letra grega Φ (phi).
1.2.1.2. ROMANOS
Posteriormente, os romanos baseado no passus, que era múltiplo do
pé, planejavam cidades e edificações obedecendo ao retículo modular. Nos
romanos, segundo Rosso (1976), o módulo assumia o caráter estético-funcional.
Mas, para KURENT (S.D., apud BALDUF, 2004), a propriedade mais importante das
séries dimensionais romanas no que tange à composição consiste no que Vitruvius
denominava ratio symetriarum: os tamanhos modulares dos componentes
construtivos romanos eram pequenos múltiplos de várias unidades-padrão. Dessa
forma, os romanos aplicaram uma modulação flexível desde o pequeno componente
até a grande cidade.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
24
1.2.1.3. IDADE MÉDIA
Na Idade Média, o matemático Leonardo de Pisa, mais conhecido
pelo nome de Fibonacci, baseado no conhecimento matemático desenvolvido pelos
árabes, abstraiu o sentido concreto de áreas, na seção áurea, ao transformar o
relacionamento geométrico em uma série de números reais positivos, que crescem
em proporção contínua. Esta seqüência ficou conhecida como “Série Fibonacci”.
Segundo RIBEIRO (1997), a série de Fibonacci
0:1:1:2:3:5:8:13:21:34:55:89:144:233:377, foi construída de forma que cada número
é a soma dos dois números precedentes e está sempre em relação proporcional
com o número anterior e o seguinte. Esta série tem como peculiaridade o fato de
cada número guardar com o seu antecedente uma razão próxima ao Número de
Ouro, bem como um certo par em relação ao par subseqüente. A série de Fibonacci,
como ficou conhecida, é um recurso para se obter uma proporção próxima à áurea,
sem a necessidade de se lidar com números incomensuráveis. Quanto mais essa
razão cresce mais vai se aproximar do número de ouro Φ.
1.2.1.4. JAPONESES
A unidade clássica de medida japonesa, o shaku, tem origem
chinesa. Praticamente equivale ao pé ingles e é divisível em unidades decimais.
Durante a segunda metade da Idade Média, no Japão, implantou-se outra medida, o
ken. Com a trama modular do ken se instauraram dois métodos de projeto. No
primeiro, o método inaka-ma, a trama do ken (que pasou a ser 6 shaku) determinava
a separação entre eixos das colunas. Por conseqüência, o tradicional tatame (3 x 6
shaku ou ½ x 1 ken) variava ligeiramente, tendo em conta o diâmetro da coluna
(CHING, 1998). No método kýo-ma o tatame tinha dimensões constantes (3,15 x
6,30 shaku) e entre-colunas (módulo ken) oscilava entre 6,4 e 6,7 shaku (CHING,
1998).
O tatame, por ser usado em todos os locais internos, levou à
necessidade de os espaços serem dimensionados de forma a poderem receber, no
piso, um número inteiro deste, dando à modulação um caráter prático-funcional
(ROSSO, 1976).
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
25
Em função de sua modulação 1:2, os tatames podiam ser
distribuídos em um grande número de posições para qualquer dimensão de
habitação, e para cada uma delas se fixava uma altura de teto que se calculava a
partir da seguinte igualdade: altura de teto = número de tatames x 0,3 (CHING,
1998).
1.2.1.5. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A primeira aplicação moderna da Coordenação Modular foi o Palácio
de Cristal, projetado por Joseph Paxton e construído entre 1850 e 1851 para
Exposição Universal de Londres (ROSSO, 1976). O pavilhão de 71.500 m2 foi
totalmente construído com componentes pré-fabricados produzidos no próprio
canteiro de obra. O elemento condicionador da escolha do módulo foi o vidro,
aplicado em grandes placas, cuja medida máxima de fabricação era de 8 pés (240
cm), dimensão que determinou o reticulado da malha. (ROSSO, 1976; BALDAUF,
2004).
1.2.1.6. SÉCULO XX
No período entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, 1914-
1918 e 1939-1945 respectivamente, a Coordenação Modular é utilizada como
contribuição fundamental na reconstrução das edificações residenciais destruídas
pela guerra, principalmente na Alemanha, em função da rapidez e redução dos
custos proporcionados pela utilização desta, (BALDAUF, 2004).
A partir desta época, um grupo expressivo de países passou a
discutir sobre a racionalização dos processos construtivos. Sendo que dentro deste
grupo destacaram-se os países industrializados, que já se utilizam de normas para
impor à indústria da construção civil a adoção de medidas que visassem à
racionalização no processo de produção e construção de sistemas construtivos
abertos, dentre estas, a “Coordenação Modular”. (PEREIRA, 2005).
Apesar de aparecer como um dos primeiros países em nível mundial
a aprovar uma norma referente à Coordenação Modular, a NB-25R datada de 1950,
o Brasil (tabela 11) dedicou-se ao seu estudo, desenvolvimento e aplicação na
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
26
construção civil até o início da década de 80. Após este período, com o fim Banco
Nacional da Habitação (BNH), houve uma estagnação das pesquisas relacionadas a
Coordenação Modular.
Tabela 11: Publicação das primeiras normas de Coordenação
Modular.
País Módulo Ano
França 10 cm 1942
Estados Unidos 4 polegadas 1945
Bélgica 10 cm 1948
Finlândia 10 cm 1948
Itália 10 cm 1949
Polônia 10 cm 1949
Brasil 10 cm 1950
Bulgária 10 cm 1951
Alemanha 12,5 cm e 10 cm 1951
Noruega 10 cm 1951
Hungria 10 cm 1951
Suécia 10 cm 1952
Portugal 10 cm 1953
União Soviética 10 cm 1954
Grécia 10 cm 1955
Romênia 10 cm 1956
Áustria 10 cm 1957
Iugoslávia 10 cm 1958
Dinamarca 10 cm 1958
Tchecoslováquia 10 cm 1960
Bielorússia 10 cm 1962
Holanda 10 cm 1965
Inglaterra 4 polegadas 1966 Fonte: adaptado de BAUDALF, 2004.
1.2.1.7. LE CORBUSIER – “LE MODULOR”
Le corbusier está inserido dentro do século XX, mas optou-se por
sua colocação em um item específico por causa de sua grande importância para a
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
27
área da arquitetura. Ele foi um dos precursores no desenvolvimento e utilização do
sistema modular destinado a concepção arquitetônica.
Le Corbusier (1962) passou toda a sua vida estudando a formulação
do “Modulor”, que acreditava ser um sistema de medidas que satisfaria tanto às
exigências de beleza – por ser derivado da seção áurea – quanto as funcionais – por
ser adequado às dimensões humanas. Para ele, este era um instrumento universal,
fácil de empregar, e que podia ser usado no mundo inteiro para se obter
racionalidade nas proporções de tudo o que é produzido pelo homem. Assunto este,
explanado em dois livros denominados “Modulor – ensaio sobre uma medida
harmônica à escala humana, aplicável universalmente à arquitetura e mecânica”, o
primeiro em 1948 e o segundo em 1955 (uma continuação).
Le Corbusier propôs uma regra de proporções para o
desenvolvimento de projetos empregando o número de ouro (1,618), inicialmente,
estabeleceu como estatura média do ser humano a medida de 1,75 m. No entanto,
sob pretexto de considerar a média de altura dos policiais ingleses e, ciente da
progressiva evolução da estatura do ser humano, ao menos na Europa, resolveu
adotar 1,83 m, como ponto de partida para o Modulor. Por outro lado, assim poderia
também compatibilizar o sistema métrico com o sistema britânico de medidas,
aspecto para ele importante naquele momento, pois na França vigorava o primeiro e
nos Estados Unidos o segundo.
A seguir apresenta-se um trecho do Modulor a partir de duas
medidas adotadas.
Caso A – Homem com 175 cm
Série Vermelha
10:16:26:41:67:108:175:283:458:741:1199
Série Azul
20:32:52:82:134:216:349:565:915:1480:2395
Caso B – Homem com 183 cm
Série Vermelha
10:16:27:43:70:113:183:296:479:775:1254
Série Azul
20:33:53:86:140:226:366:592:957:1549:2506
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
28
Como se pode perceber a construção do Modulor é feita a partir da
seqüência:
at = a0*1,618
a2= a1*1,618 = a0*1,618*1,618 = a0*1,6182
a3= a2*1,618 = a0*1,618*1,618*1,618 = a0*1,6183
an= an-1*1,618n
Figura 01 – “Le Modulor” – Le Corbusier
Le Corbusier (1961) define o Modulor como um entramado de
proporções, utensílio eventual de medida das pré-fabricações, acomodando a ordem
matemática à estatura humana. Um homem com o braço levantado dá os pontos
determinantes da ocupação do espaço - o pé, o plexo solar, a cabeça, a ponta dos
dedos (estando o braço levantado) - três intervalos que definem uma série de
seções áureas de Fibonacci; e por outra parte, a matemática oferece a variação
mais simples e mais forte de um valor: o simples, o dobro e as duas seções áureas.
No Renascimento ficou constatado que o corpo obedece à regra áurea. Quando os
anglo-saxões adotaram as medidas lineares, se estabeleceu uma correlação entre o
valor pé e o valor polegada, a qual se estende (implicitamente) a outros valores
correspondentes do corpo.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
29
Diante do exposto sobre o histórico da Coordenação Modular, em
que fica nítida, a divisão desta em duas vertentes: a estético-harmônica e a
funcional, observa-se que em determinados períodos adotou-se uma ou outra de
acordo com a necessidade de cada civilização.
Assim com base nas características próprias de cada vertente,
acabou-se por optar pela utilização da modulação funcional, pois esta pesquisa
consiste na pré-fabricação dos componentes construtivos em uma central e, num
simples processo de montagem destes no canteiro de obra. Outro fator que também
motivou à adoção da modulação funcional foi a facilidade em compatibilizá-la aos
componentes existentes, o que resultou num número reduzido de família de placas
de CCEAD. Esta característica específica da Coordenação Modular fez com que ela
se tornasse uma importante ferramenta na busca pela racionalização construtiva.
1.2.2. A MODULAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE RACIONALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO
A partir da década de 80, segundo FARAH (1992), pode-se observar
a primeira tendência de mudança do processo de construção de edificações no
segmento de promoção estatal. Neste segmento, voltado à produção de habitações
de baixo custo, as empresas procuraram introduzir no canteiro de obras novos
sistemas construtivos, com ênfase a pré-fabricação de elementos estruturais
(pilares, vigas e lajes), de forma, a garantir a flexibilidade através do
desenvolvimento ou adaptação de sistemas abertos. Estes novos sistemas se
orientavam para a simplificação da execução, através da transferência parcial de
atividades para centrais de produção, procurando-se deixar para o canteiro, na
etapa da estrutura, apenas operações de montagem.
Esta alteração gradual da forma de construir está resultando em
processos mais eficientes, com redução de tempo e aumento da qualidade das
partes. No entanto, a qualidade das partes componentes não determina a qualidade
total do edifício, mas sim, a forma como elas são agrupadas. Neste sentido, a
modulação é uma ferramenta importante na busca da racionalização dos processos
construtivos e da qualidade da edificação.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
30
Entretanto, a qualidade da habitação de interesse social deve
adequar-se ao aporte financeiro da população a que é destinada, possuindo um
mínimo de condições de habitabilidade. Com base neste contexto a racionalização
através da modulação pode oferecer além da redução dos custos de construção,
devido à minimização da freqüência de cortes das peças e do tempo de execução, a
flexibilidade da planta e, posteriormente, a facilidade de ampliação da edificação.
Embora o conceito de racionalização não seja recente e, tenha um
significado compreendido, tanto coloquialmente, como no meio técnico, esta não tem
sido muito difundida na área da construção civil. Segundo um dos mais utilizados
dicionários da língua portuguesa, o termo racionalização pode ser entendido como o
ato ou efeito de racionalizar alguma coisa, ou seja, tornar racional, tornar mais
eficiente os processos de trabalho ou de organização de empreendimentos
(FERREIRA, 1986).
Para ROSSO (1980), a racionalização é o processo mental que
governa a ação contra os desperdícios temporais e materiais dos processos
produtivos, aplicando o raciocínio sistemático, lógico e resolutivo, isento do influxo
emocional; é o conjunto de ações reformadoras que se propõe substituir as práticas
rotineiras convencionais por recursos e métodos baseados em raciocínio
sistemático, visando eliminar a casualidade nas decisões.
Ainda segundo o pesquisador a racionalização deve ser aplicada
tanto como produto quanto como processo, ou seja, o edifício precisa ser
racionalizado na fase de concepção. Sendo exatamente neste momento a
possibilidade de auferir maiores ganhos com as ações de racionalização,
estendendo, então, essas ações para a etapa de produção, a fim de que possam ser
efetivamente implementadas, obtendo-se os ganhos previamente definidos.
Para SABBATINI (1989) a racionalização construtiva compreende
um processo composto pelo conjunto de todas as ações que tem por objetivo
otimizar o uso dos recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos,
tecnológicos, temporais e financeiro disponíveis na construção em todas as fases.
No entanto, segundo o pesquisador, o que torna a racionalização da construção um
processo complexo é que não é simples encontrar-se soluções ótimas para
problemas com uma quantidade imensa de variáveis.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
31
Segundo FRANCO (1992), os objetivos específicos da
racionalização construtiva que serão apresentados a seguir podem estar presentes
numa mesma medida de racionalização.
- Diminuição do consumo de materiais. Este é um dos principais
aspectos presentes nas medidas de racionalização da produção, uma vez que a
construção civil trabalha normalmente com índices relativamente altos de
desperdício de materiais, quando comparados com os demais setores;
- Diminuição do consumo de mão-de-obra. Embora em termos
globais, o planejamento de um empreendimento contemple a otimização do
emprego de mão-de-obra, a racionalização na utilização desta em termos de tarefas
construtivas ou técnicas é muito pequena;
- Uniformização do produto. A falta de padronização dos produtos
resultantes das técnicas construtivas é uma realidade alimentada pelo baixo nível de
especificação e detalhamento dos projetos, bem como pela de uma política de
treinamento da mão-se-obra;
- Preparação para aplicação de técnicas racionalizadas em fases
posteriores. Neste caso, o objetivo de uma medida de racionalização é garantir as
condições exigíveis para aplicação posterior de outra técnica racionalizada;
- Aumento do nível de organização do trabalho. A possibilidade de
tornar a execução de uma tarefa mais previsível, tento em termos de desempenho,
quanto de custo e prazo;
- Aumento da segurança, diminuindo as perdas materiais e humanas
associadas a acidentes;
- Aumento do desempenho e da qualidade, evitando-se os custos de
“má-qualidade” do produto;
- diminuição de problemas patológicos. Estes correspondem também
a um aumento de desempenho, mas por sua importância, pode ser tomado
isoladamente como objetivo.
A aplicação da racionalização na construção civil tem como um dos
principais instrumentos a utilização dos princípios da Coordenação Modular, pois
com a utilização destes durante a etapa de concepção da habitação é possível
reduzir o desperdício de componentes construtivos, padronizar processos executivos
e, proporcionar uma redução no tempo de construção.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
32
1.2.3. MODULAÇÃO
Conceitualmente a modulação é definida como a ferramenta
utilizada na compatibilização dimensional dos espaços de uma edificação. Na
construção civil este conceito envolve uma gama de considerações, como por
exemplo, o número de componentes, a montagem e execução, e a forma de
conciliar estes componentes em projeto. A coordenação destes elementos é
denominada “Coordenação Modular”, envolvendo a repetição e a organização (NUIC
et. al., 2003).
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), em uma
publicação intitulada “Síntese da Coordenação Modular” define-a como sendo a
aplicação específica do método industrial por meio da qual se estabelece uma
dependência recíproca entre produtos básicos (componentes), intermediários de
série e produtos finais (edifícios), mediante o uso de uma unidade de medida
comum, representada pelo módulo (1975). Na NBR 5706/77: “Coordenação Modular
da construção - procedimento”, a ABNT usa como definição técnica que permite
relacionar as medidas de projeto com as medidas modulares por meio de um
reticulado espacial modular de referência (BALDAUF, 2004). Greven (2000, apud
BALDAUF) a considera como a ordenação dos espaços na construção civil, sendo
esta a definição mais adequada a área.
A coordenação modular dispõe de quatro instrumentos fundamentais
que norteiam a sua estruturação:
- Sistema de referência: formado por pontos, linhas e planos em
relação ao qual fica determinada a posição e a medida de cada componente da
construção, permitindo, assim, sua conjugação racional no todo ou em parte;
- Sistema modular de medidas: é baseado na unidade de medida
básica da coordenação modular, ou seja, o módulo e em alguns múltiplos inteiros ou
fracionários do mesmo. O módulo constitui o espaço entre os planos do sistema de
referência em que se baseia a coordenação modular. Além do módulo-base são
necessários multimódulos – n.M, onde n é um número positivo inteiro qualquer – e
submódulos – M/n, onde n é um número positivo inteiro qualquer;
- Sistema de ajustes e tolerâncias ou ajuste modular: estabelece a
relação dos componentes da construção com o sistema de referência, permitindo
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
33
definir com segurança os limites dimensionais dos elementos em função das
exigências de associação ou montagem;
- Sistema de números preferenciais: O uso de um sistema modular
de medidas realiza naturalmente uma seleção de medidas, mas a utilização de
outros instrumento de seleção faz-se necessária para otimizar o tipo e o número de
formatos de cada componente de maneira a permitir um redução das séries de
produção ao mínimo indispensável para atender as exigências de mercado sem
perder a flexibilidade. Estes são escolhidos de forma adequada em relação as
características do sistema modular e de maneira a obedecer as regras numéricas
seletivas e que permitam uma seleção organizada de dimensões (ROSSO, 1976).
Segundo Mascaró (1976, apud BALDAUF), o sistema de números preferenciais
caracteriza-se:
a) por ter fixos os seus limites pelas características técnicas dos
componentes e as razões econômicas de sua fabricação;
b) pela função que desempenha;
c) por sua forma de união (junta entre os componentes construtivos);
d) por sua possibilidade de dividir-se sem desperdício.
1.2.4. TERMINOLOGIA REFERENTE À MODULAÇÃO
Nesta seção serão definidos os principais termos que compõe um
sistema modular. Sendo sistema modular uma organização harmônica entre o todo e
as partes.
1.2.4.1. MÓDULO
Segundo a NBR 5706/77, módulo é a distância entre dois planos
consecutivos do sistema que origina o retículo espacial modular de referência.
Sendo o módulo ou módulo-base universalmente representado por “M” e, na maioria
dos países representado pelo sistema decimétrico (10 cm). Desde 1950, com a
publicação da NB-25R, o Brasil já adota o decímetro como módulo-base.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
34
Em agosto de 1955, na convenção realizada pela AEP em Munique,
foram estabelecidos cinco requisitos na adoção da medida correspondente ao
módulo (YRAOLA, 1966):
a) a dimensão do módulo deve ser suficientemente grande para que
seja possível estabelecer uma correlação satisfatória entre as dimensões modulares
dos componentes e os espaços modulares do projeto;
b) o módulo deve ser suficientemente pequeno para que seus
múltiplos correspondam, com todas as dimensões de que necessitem, aos diferentes
elementos da gama industrial, constituindo uma unidade conveniente de incremento
de uma dimensão modular à seguinte, de modo que se reduzam ao mínimo tanto as
variações a serem introduzidas nos elementos já produzidos atualmente, para
adaptá-los à medida modular mais próxima, quanto as variações correspondentes
dos espaços previstos no projeto;
c) será eleito como módulo a maior medida possível, a fim de
proporcionar a máxima redução da variedade atual de componentes;
d) para comodidade de uso, a dimensão do módulo deve ser
expressa por um número inteiro e ser caracterizada por uma relação numérica
simples com o sistema de medidas ao qual se refere;
e) a dimensão do módulo deve ser eleita por unanimidade dos
países que pretendem adotar a Coordenação Modular e será, portanto, dentro dos
limites possíveis, igual para todos os países.
Ainda, segundo a AEP (1962), o módulo deve desempenhar três
funções essenciais:
a) é o denominador comum de todas as medidas ordenadas;
b) é o incremento unitário de toda e qualquer dimensão modular a
fim de que a soma ou a diferença de duas dimensões modulares também seja
modular;
c) é um fator numérico, expresso em unidades do sistema de medida
adotado ou a razão de uma progressão.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
35
1.2.4.2. COMPONENTE MODULAR
Segundo ROSSO (1976), os componentes são produtos
intermediários fabricados como unidades independentes, com dimensões definidas e
fixas pelo menos em duas direções. Estes se subdividem em: - Componentes semi-terminados ou sub-componentes: são produtos
derivados de processos de transformação de matéria prima amorfa e que supõem
operações adicionais de caráter industrial para serem integrados na
edificação/produto final ou nos componentes/produtos intermediários. Ex: perfis,
tubos, fios, folha, etc.
- Terminados simples: são produtos, derivados de processos de
transformação de matéria-prima amorfa ou de produtos semi-terminados, que já
possuem o caráter de componentes intermediários definidos e as seguintes
propriedades:
a) Três dimensões fixas;
b) Dimensões reduzidas;
c) Formas simples;
d) Utilização específica.
Exemplos deste tipo de material são: tijolos, blocos, placas, chapas,
telhas, aparelhos, etc.
- Terminados compostos: são o resultado de processos de
transformação que utilizam os produtos das categorias anteriores (amorfos, semi-
terminados e terminados simples) para dar lugar a produtos dotados das seguintes
características:
a) Dimensões médias;
d) Formas complexas;
c) Utilização específica;
d) Funcionalidade completa, simples.
Sendo exemplos deste tipo de material: uma viga, uma escada, um
aparelho sanitário, uma lâmpada, um motor elétrico, etc.
- Terminados complexos: são os que podem satisfazer as várias
exigências funcionais, simultaneamente. Por exemplo: uma janela, um conjunto
sanitário pré-fabricado, um painel portante, etc.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
36
- Elementos associados ou órgãos construtivos: são partes da
edificação com função definida e definitiva, obtidas “in situ”, mediante a união ou
junção de componentes. Ex: estruturas, vêdos, instalações, revestimento, etc.
No entanto, para um componente ser considerado modularmente
coordenado, segundo a ABNT (1975), deve atender a três critérios básicos:
- Seleção: deve possuir um número reduzido de variedade de tipos
de maneira a atender às necessidades dos projetistas, simplificar as linhas de
produção e facilitar a estocagem;
- Correlação: deve ter definidas as relações de reciprocidade que
facilitem a disposição dos componentes;
- Intercambialidade: deve assegurar as condições que facilitem a
montagem, estabelecendo critérios e normas para os ajustes e as tolerâncias.
(BALDAUF, 2004).
1.2.4.3. PROJETO MODULAR
O projeto modular, segundo o BNH/IDEG (1976) é baseado no
sistema de referência, através do quadriculado modular de referência. Dessa forma,
as plantas, fachadas e cortes que compõem o projeto se desenvolvem sobre o
quadriculado, permitindo coordenar a posição e dimensões dos componentes de
construção.
O Reticulado Modular Espacial de Referência ou Sistema de
Referência (figura 02) é constituído pelas linhas de interseção de um sistema de
planos separados entre si, por uma distância igual ao módulo e paralelo a três
planos ortogonais dois a dois. Já a Quadrícula Modular de Referência baseia-se na
quadrícula com espaçamento entre suas linhas igual a 1M. Sendo a Quadrícula
Multimodular de Referência àquela com espaçamento entre as suas linhas igual a
2M ou 3M, empregados de forma separada ou conjunta.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
37
Figura 02 – Reticulado Modular.
A zona não modular entre retículos modulares espaciais de
referência, destinada a absorver partes da construção de difícil modulação, por suas
características técnicas ou funcionais, é definida como Zona Neutra.
1.2.5. A CONSTRUÇÃO CIVIL E A MODULAÇÃO
Apesar de ser constatados indícios da utilização da Coordenação
Modular a milhares de anos, observa-se, atualmente, um abandono de seus
conceitos por parte das empresas da área de construção civil, ou por
desconhecimento ou mesmo por negligência. No entanto, em empresas da área da
manufatura a utilização destes conceitos tem sido amplamente difundido na busca
pela redução dos custos e pela ampliação da produção.
Para MESSEGUER (1991), as ações de qualidade desenvolvidas e
aplicadas em outros setores industriais, como Coordenação Modular e a
Racionalização, não podem ser transportadas diretamente para a construção civil,
pois esta indústria possui características peculiares que as diferencia dos demais
setores da indústria de transformação. Para MESSEGUER (1991), estas
peculiaridades são:
- A construção é uma indústria de caráter nômade, na qual a
constância das características nas matérias-primas e nos processos é mais difícil de
se conseguir do que em outras indústrias, de caráter fixo;
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
38
- Salvo algumas exceções, a indústria da construção cria produtos
únicos e não produtos seriados;
- Na construção, diferente de outras indústrias, não é possível
aplicar a produção em cadeia (produtos móveis passando por operários), mas sim a
produção centralizada (operários móveis em torno de um produto fixo), o que
dificulta a organização e controle dos trabalhos, provocando interferências mútuas,
etc.;
- Frente a outras indústrias mais jovens e dinâmicas, a construção é
uma indústria muito tradicional, com grande inércia às alterações;
- A construção utiliza em geral mão-de-obra pouco qualificada,
sendo que o emprego destas pessoas tem um caráter eventual e suas
possibilidades de promoção são escassas. Tudo isto repercute na baixa motivação
no trabalho e em perdas de qualidade;
- Outras indústrias realizam seus trabalhos em ambientes cobertos
enquanto a construção é feita à intempérie, com dificuldades para um bom
armazenamento, submetidas às adversidades do tempo, a ações de vandalismo,
etc. A proteção, em todos os sentidos da palavra é mais difícil;
- Nas indústrias que fabricam produtos de vida limitada, o ciclo de
aquisição-uso-requisição de um novo produto se repete várias vezes na vida do
comprador, o que origina uma experiência do usuário que repercute em uma
exigência na qualidade. Na construção, pelo contrário, o produto é único ou quase
único na vida do usuário e, conseqüentemente, sua experiência não repercute
posteriormente. Em outras palavras, na construção o usuário influi pouco na
qualidade do produto;
- Independentemente do grau de complexidade do produto, outras
indústrias empregam especificações simples e claras. A construção emprega
especificações complexas, quase sempre contraditórias e muitas vezes confusas e
desta forma a qualidade resulta mal definida desde a origem;
- Em outras indústrias, as responsabilidades se encontram
relativamente concentradas e estão bem definidas. Na construção, as
responsabilidades são dispersas e pouco definidas, o que sempre origina zonas
obscuras de qualidade;
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
39
- O grau de precisão com que trabalha a construção é, em geral,
muito menor do que em outras indústrias, qualquer que seja o parâmetro que se
contemple: orçamento, prazo, resistência mecânica, etc. A conseqüência é que, na
construção, o sistema é por demais flexível e, confiantes em tal flexibilidade,
aceitam-se compromissos de difícil cumprimento que provocam sempre uma
diminuição da qualidade. Na construção se diz não menos vezes do que as
necessárias.
1.2.6. NORMAS TÉCNICAS
As normas técnicas brasileiras atuais que tratam especificamente da
Coordenação Modular somam um total de 26 (tabela 12), com datas de publicação
de 1977 a 1982. Todas foram produzidas pelo CB-2, o “Comitê Brasileiro de
Construção Civil” e pelo CE-2:02.15, a “Comissão de Estudos de Coordenação
Modular da Construção”.
Apesar de todas as normas presentes na tabela 12 encontrarem-se
em vigor de acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), estas
possuem caráter apenas orientativo. Dentre as normas constantes nesta tabela,
cerca de 13, referem-se a simbologias, métodos e diretrizes necessárias a aplicação
da coordenação modular. O restante destas refere-se apenas à normalização de
alguns componentes construtivos, na tentativa de padronizá-los, facilitando a
compatibilização entre estes. Com o Código do Consumidor (CDC) de 2002 as
normas técnicas passaram a ser de uso obrigatório, tornando-se necessário,
entretanto, que estas sejam freqüentemente atualizadas para que as mesmas
possam ter caráter normativo. Quando isto não ocorre às mesmas perdem a força
legal com o tempo.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
40
Tabela 12 – Lista de normas da ABNT sobre Coordenação Modular. Norma Código Status Publicação Ajustes modulares e tolerâncias NBR 5725 (orig. NB 417) Em vigor 02/1982
Altura modular de teto-piso (entre pavimentos consecutivos)
NBR 5713 (orig. NB 331) Em vigor 02/1982
Alturas modulares de piso a piso, de compartimento e estrutural
NBR 5710 (orig. NB 305) Em vigor 02/1982
Alvenaria modular NBR 5718 (orig. NB 340) Em vigor 02/1982
Bloco vazado modular de concreto NBR 5712 (orig. NB 307) Em vigor 02/1982
Coberturas NBR 5720 (orig. NB 344) Em vigor 02/1982
Componentes de cerâmica, de concreto ou de outro material utilizado em lajes mistas na construção coordenada modularmente
NBR 5716 (orig. NB 338) Em vigor 02/1982
Coordenação modular da construção – Terminologia NBR 5731 (orig. TB 202) Em vigor 02/1982
Coordenação modular da construção – Procedimento NBR 5706 (orig. NB 25) Em vigor 12/1977
Detalhes modulares de esquadrias NBR 5728 (orig. NB 423) Em vigor 02/1982
Divisória modular vertical interna NBR 5721 (orig. NB 345) Em vigor 02/1982
Equipamento para complemento da habitação na construção coordenada modularmente
NBR 5727 (orig. NB 422) Em vigor 02/1982
Espaço modular para escadas NBR 5717 (orig. NB 339) Em vigor 02/1982
Esquadrias modulares NBR 5722 (orig. NB 346) Em vigor 02/1982
Forro modular horizontal de acabamento (placas, chapas ou similares)
NBR 5723 (orig. NB 372) Em vigor 02/1982
Local e instalação sanitária modular NBR 5715 (orig. NB 337) Em vigor 02/1982
Multimódulos NBR 5709 (orig. NB 304) Em vigor 02/1982
Painel modular vertical NBR 5714 (orig. NB 332) Em vigor 02/1982
Posição dos componentes da construção em relação a quadrícula modular de referência
NBR 5707 (orig. NB 302) Em vigor 02/1982
Princípios fundamentais para a elaboração de projetos coordenados modularmente
NBR 5729 (orig. NB 424) Em vigor 02/1982
Revestimentos NBR 5719 (orig. NB 343) Em vigor 02/1982
Série modular de medidas NBR 5726 (orig. NB 420) Em vigor 02/1982
Símbolos gráficos empregados na coordenação modular da construção
NBR 5730 (orig. SB 62) Em vigor 02/1982
Tacos modulares de madeira para soalhos na construção coordenada modularmente
NBR 5724 (orig. NB 373) Em vigor 02/1982
Tijolo modular de barro cozido NBR 5711 (orig. NB 306) Em vigor 02/1982
Vãos modulares e seus fechamentos NBR 5708 (orig. NB 303) Em vigor 02/1982
Fonte: BALDAUF, 2004.
Na década de 50, a adoção da coordenação modular pelo Brasil
teve por intuito padronizar a elaboração dos componentes construtivos (tijolos
cerâmicos, painéis, revestimentos cerâmicos), de forma, a garantir a sua
adaptabilidade a qualquer técnica, processo ou sistema construtivo. Atualmente,
muitos estudos têm comprovado a grande utilidade da coordenação modular no
processo de racionalização da construção. Em destaque, encontram-se as
pesquisas realizadas por ROSSO, GREVEN, BNH/IDEG, BALDAUF e PEREIRA
com intuito de divulgar a utilização desta ferramenta pelo meio técnico.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
41
Apesar dos sucessos nos estudos realizados e na aplicação
histórica da coordenação modular na edificação, torna-se difícil compreender o
abandono desta ferramenta pela indústria da construção brasileira após a década de
80. Esta prática, principalmente, pelo setor responsável pelo revestimento cerâmico,
tem ocasionado dificuldades na compatibilização entre os componentes construtivos,
comprometendo qualquer tentativa de racionalização na construção.
Com base nestes aspectos, conclui-se, também, que para a
aplicação da racionalização construtiva na totalidade da edificação, esta tem de ser
precedida por uma rigorosa seleção de componentes construtivos que possam ser
utilizados.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
42
1.3. SISTEMAS CONSTRUTIVOS
Para subsidiar a concepção do sistema construtivo a ser proposto,
nesta seção realiza-se um breve levantamento bibliográfico que busca abordar de
maneira sucinta os aspectos sociais e de recursos humanos, econômicos e
tecnológicos.
Segundo a versão de 2004 do projeto de norma NBR 02:136.01,
sistema construtivo vem a ser um conjunto de elementos e instalações, constituindo
um todo que atenda ao programa de necessidades previamente estabelecido
(habitação, escola, creche, etc.) e, o processo construtivo é definido como conjunto
de métodos e técnicas de produção de componentes, elementos e sistemas
construtivos. No entanto, em sua nova versão, lançada em janeiro de 2007, o termo
sistema construtivo aparece como sinônimo de processo construtivo, o que é
considerado por pesquisadores como SABBATINI (1989) como uma utilização
equivocada do termo. Desta forma o presente trabalho tomará como referência para
sistemas construtivos a definição da versão 2004.
Segundo PICARELLI (1986), os sistemas construtivos podem ser
classificados em tradicionais, convencionais, racionalizados e industrializados.
- Sistemas tradicionais: são aqueles que utilizam métodos e
processos empíricos, intuitivos, materiais locais e equipamentos de uso comum;
- Sistemas convencionais: são aqueles que utilizam métodos e
processos parcialmente normalizados, com componentes padronizados do tipo:
tijolos maciços, blocos de concreto, blocos cerâmicos, elementos esses produzidos e
outro local. Os sistemas convencionais caracterizam-se também pela produção
manual, pelo desperdício de material e pelo longo espaço de tempo necessário à
sua utilização;
- Sistemas racionalizados: são aqueles que utilizam métodos e
processos sistemáticos de organização, visando eliminar o desperdício de material,
diminuir o custo e o prazo de execução, simplificar as etapas construtivas e melhorar
a qualidade do sistema.
- Sistemas industrializados: são aqueles que utilizam métodos e
processos de produção em série, de pré-fabricação total ou parcial, utilizando
equipamentos mecânicos e mesmo automatizados, visando diminuir a quantidade de
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
43
material utilizado, o custo e o tempo necessário à execução, aumentar a qualidade e
garantir a intercambiabilidade dos componentes construtivos.
Inicialmente, o setor da construção baseava a sua produção no auto-
consumo e gradativamente está foi sendo direcionada para suprir uma demanda de
mercado. Esta alteração gradual foi acelerada com a difusão da tecnologia da
alvenaria, motivada, principalmente, pela expansão das olarias em torno da cidade
de São Paulo, e pelo adensamento dos centros urbanos, induzido por mudanças na
área rural. Neste período, o processo de formação de mão-de-obra ocorria através
da iniciação e da colaboração na execução das tarefas, por transmissão direta dos
conhecimentos produtivos do trabalhador de ofício para seu ajudante (FARAH,
1998).
Após a Segunda Grande Guerra Mundial, a construção mudou
consideravelmente do ponto de vista da tecnologia e das demandas de mercado. O
direcionador destas mudanças foi o desenvolvimento de novos materiais e
equipamentos e, a pré-fabricação.
Na década de 50, o país experimentou uma intensa industrialização,
procurando suprir um grande mercado de massa não atendido. Porém, de 1955 a
1964 ocorreu uma fase de obstrução da acumulação de capital devido à falta de
uma estrutura financeira para a produção. Já o período de 1964 a 1968,
caracterizou-se pelos ajustes estabelecidos pela nova estrutura de desenvolvimento
e pela intervenção do governo na economia, o que propicio a retomada do
crescimento a partir de 1968. (PEREIRA, 2005)
De 1968 a 1973 o país experimentou um rápido, porém notável
desenvolvimento econômico, refletindo-se em níveis altos de atividades da Indústria
da Construção Civil (ICC). Neste período, com a necessidade de suprir o déficit
habitacional brasileiro, observou-se o surgimento de novos sistemas construtivos,
como alternativa aos produtos e processos tradicionais até então utilizados, visando
principalmente à racionalização da construção. Entretanto, as altas taxas de juros
internacionais no início dos anos 80 frustraram as expectativas, provocando a dívida
que ocasionou a crise, a estagnação econômica e a explosão inflacionária da
década de 80. (BAER, 1996)
Diante deste contexto, constatou-se que entre as décadas de 60 e
80, ocorreu uma excessiva padronização arquitetônica e urbanística resultando em
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
44
espaços impessoais e insatisfatórios aos moradores (SZÜCS, et. al., 1998). No
entanto, a partir da década de 80 a racionalização da construção surge como uma
alternativa, pois esta permitiria o crescimento da produtividade sem grandes
investimentos. Ainda nesta década, as construtoras, para garantir a sua
sobrevivência num mercado em retração e altamente competitivo, tiveram de adotar
estratégias que visassem atender as condições ambientais. Segundo FARAH
(1992), estas estratégias dividem-se em quatro tendências: a incorporação de novos
sistemas construtivos à atividade produtiva; transferência de frações da execução da
obra para um canteiro central; intensificação da prática de subcontratação; e, ênfase
na gestão do processo de produção, buscando maior eficiência, produtividade e
redução de custos.
A partir do esforço pela industrialização dos procedimentos da
indústria da construção, entre as décadas de 50 e 80, surge a discussão sobre
sistemas construtivos abertos e fechados. Sendo sistema construtivo aberto aquele
desenvolvido a partir de um elenco de elementos e componentes da construção
(paredes, lajes, coberturas, janelas, portas) os quais podem ser combinados em
diferentes soluções arquitetônicas em que se variam à quantidade, dimensões e
disposição dos diversos cômodos. O sistema construtivo fechado são aqueles
usualmente implementados através de fábricas que produzem a totalidade ou
grande parte do sistema construtivo.
O sistema construtivo em desenvolvimento encontra-se baseado nos
princípios da industrialização e da racionalização, pois este prevê a produção dos
componentes em uma central, resultando em um simples processo de montagem da
edificação no canteiro de obras. Para que isto foi possível, concebeu-se um sistema
composto por ossatura em madeira de reflorestamento com fechamento em placas
executadas em concreto celular espumoso de alto desempenho. Com base nestas
características do sistema proposto, será realizado nos próximos subitens um
levantamento bibliográfico sobre madeira (pinus) e placas cimentícias.
1.3.1. SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM MADEIRA
Neste subitem busca-se abordar tópicos relacionados ao material
madeira, aos sistemas construtivos baseados em entramado de madeira,
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
45
denominados como Light Wood Frame (LWF). Os assuntos que serão abordados
neste subitem serviram como referencial no desenvolvimento do sistema construtivo
destinado a vedação vertical de habitações de interesse social.
1.3.1.1. A MADEIRA
O Brasil é um dos países que detêm uma das maiores reservas
florestais do planeta e sua capacidade de produção sustentada é considerada
extremamente elevada, em virtude das grandes áreas reflorestadas existentes no
país. (Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente,
2004)
Atualmente, o Brasil possui 5,4 milhões de hectares de áreas
reflorestadas, predominando o plantio de Eucalyptus e Pinus, que correspondem,
respectivamente, a 60% e 36% da área. As plantações de Pinus abrangem
2 milhões de hectares e, encontram-se concentradas na região sul do país,
particularmente nos estados do Paraná e Santa Catarina. Por sua vez, os plantios
de Eucalyptus cobrem 3,3 milhões de hectares distribuídos, principalmente, pelos
estados de Minas Gerais, São Paulo e Bahia.
No Brasil, tanto o Pinus quanto o Eucalyptus têm se uso destacado
na atividade da construção civil. Os Pinus tem sido utilizado por ser, geralmente,
leve e fácil de trabalhar, embora a sua baixa resistência natural, este é bastante
permeável a soluções de tratamento preservativo, o que lhe assegura a durabilidade
desejada.
O reflorestamento oferece como contribuição ao meio ambiente a
captura do carbono existente na atmosfera (assunto em pauta de recentes
discussões a nível mundial devido ao aquecimento global) e, a atividade da
construção civil uma fonte renovável de matéria-prima. Um exemplo disto é o Pinus,
quando reflorestado, este alcança sua maturidade entre 15 e 25 anos. Outro fator
relevante em relação à madeira refere-se ao baixo consumo de energia durante a
produção, uso e descarte da mesma.
A seguir serão apresentadas as características físicas e mecânicas
mais relevantes do material madeira, com intuito de justificar a concepção do
sistema construtivo.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
46
1.3.1.2. PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DA MADEIRA
A madeira como material de construção oferece vantagens que
superam outros materiais tradicionais como o aço, o concreto e a alvenaria. Dentre
suas potencialidades destacam-se a sua resistência mecânica, o seu baixo peso e o
pouco consumo de energia necessário para a sua produção. Além disto, esta é
capaz de suportar sobrecargas de curta duração de tempo, como rajadas de vento.
(CÉSAR, 2002)
A madeira se diferencia de muitos materiais de construção por não
ser um material elaborado, mas orgânico, que geralmente é utilizado em seu estado
natural. Dentre os numerosos fatores que influenciam em sua resistência, os mais
importantes são: a densidade, os defeitos naturais e a umidade.
As madeiras utilizadas na construção civil distinguem-se em duas
categorias principais:
a) As madeiras duras - são as provenientes de árvores frondosas
(com folhas achatadas e largas), de crescimento lento, como peroba, ipê, aroeira e
carvalho; as madeiras duras de melhor qualidade são também denominadas de
madeira de lei;
b) As madeiras macias - são as provenientes, em geral, de árvores
coníferas (com folhas em forma de agulhas), de crescimento rápido, como pinheiro
do Paraná e pinheiro-bravo ou pinheirinho, pinheiros europeus e norte-americanos.
As duas categorias distinguem-se pela estrutura celular dos troncos
e não propriamente pela resistência.
As árvores produtoras de madeira de construção são exógenas, ou
seja, crescem pela adição de camadas externas, sob a casca. A seção transversal
de um tronco de árvore revela as seguintes camadas, do exterior para o interior:
a) A casca - proteção externa sem interesse estrutural;
b) O alburno ou branco - camada formada por células vivas que
conduzem a seiva;
c) O cerne ou durâmen - com o crescimento, as células vivas do
alburno tornam-se inativas e constituem o cerne, passando a ter apenas função de
sustentar o tronco;
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
47
d) A medula - esta resulta do crescimento vertical, é a madeira
geralmente mais fraca ou defeituosa.
As madeiras para construção devem ser retiradas de preferência do
cerne, por se apresentar mais durável, pois o alburno produz madeira imatura, não
endurecida, ou seja, mais sujeita à deterioração.
Os troncos das árvores crescem pela adição de anéis em volta da
medula; os anéis são gerados por uma pequena camada situada sob a casca.
Nos climas frios e temperados, o crescimento do tronco depende da
estação. Na primavera e início do verão, o crescimento da árvore é intenso,
formando-se no tronco grandes células de paredes finas. No final do verão e outono,
o crescimento da árvore diminui, formando-se células pequenas, de paredes
grossas. Como conseqüência, o crescimento do tronco se faz em anéis anuais,
formados por duas camadas: uma clara, de tecido macio correspondente à
primavera; outra escura, de tecido mais resistente, correspondente ao outono.
Contando-se os anéis, pode-se saber a idade da árvore. Nos climas equatoriais, os
anéis nem sempre são perceptíveis.
Os principais elementos resistentes da madeira são as fibras
longitudinais, formadas por células ocas, alongadas, com diâmetro entre
10 e 80 micras e comprimento de 1 a 8 mm. As células são constituídas por celulose
e um carboidrato (C6H10O5). No cerne, as células são reforçadas por depósito de
lignina.
A lignina é um composto aromático de alto peso molecular, que
exerce na madeira a função de cimento ou adesivo, dando rigidez e dureza aos
conjuntos de cadeias de celulose.
Nas árvores frondosas, as células longitudinais são fechadas nas
extremidades; a seiva circula por outras células de grande diâmetro, com
extremidades abertas, justapostas, denominadas vasos ou canais. Nas coníferas, as
células longitudinais são abertas nas extremidades, por onde a seiva é conduzida,
não existindo os vasos. As fibras longitudinais se distribuem em anéis
correspondentes aos ciclos anuais de crescimento.
As árvores dispõem ainda de fibras radiais, denominadas raios
medulares, formados por grupos de células dirigidos do centro do tronco (medula)
para a periferia; essas fibras permitem a circulação radial da seiva.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
48
A estrutura celular da madeira constitui a base da identificação
micrográfica das espécies. A distribuição do parênquima compõe uma verdadeira
impressão digital da madeira. O parênquima é um tecido pouco resistente, formado
por grupo de células espalhadas na massa lenhosa, e cuja função consiste em
armazenar e distribuir matérias alimentícias; nas coníferas, o parênquima se reduz
ao tecido celular que reveste os canais resiníferos.
A madeira, por ser um material orgânico, ou seja, natural, apresenta
propriedades físicas distintas de outros materiais utilizados pela atividade da
construção civil, que afetam de forma direta a sua resistência. As principais
propriedades físicas da madeira são:
Anisotropia - Devido à orientação das células, a madeira é um
material anisotrópico, apresentando três direções principais: longitudinal, radial e
tangencial. A diferença de propriedades entre a direção radial e tangencial
raramente tem importância prática, bastando diferenciar as propriedades na direção
das fibras principais (direção longitudinal) e na direção perpendicular às mesmas
fibras.
Densidade - O peso específico das diferentes espécies de madeira é
determinado pela disposição e tamanho das células ocas, assim como pela
espessura das paredes das células. A resistência da madeira está intimamente
relacionada com sua densidade. O peso da substância lenhosa em todas as
espécies é aproximadamente de 1,53 vezes o peso da água, porém as células da
madeira contêm ar em diferentes proporções, ou seja, o peso varia não só pela
densidade, mas também pela umidade.
Umidade - A umidade da madeira tem grande importância sobre as
suas propriedades. O grau de umidade é medido pelo peso de água dividido pelo
peso da amostra seca na estufa. A quantidade de água das madeiras verdes ou
recém-cortadas varia muito com as espécies e com a estação do ano. Quando a
madeira é posta a secar, evapora-se a água contida nas células ocas, atingindo-se o
ponto de saturação das fibras. Neste ponto as paredes das células ainda estão
saturadas, porém a água no seu interior já se evaporou, correspondendo ao grau de
umidade de cerca de 30%. A madeira neste estado é então denominada meio seca.
Continuando-se o processo de secagem, a madeira atinge um ponto de equilíbrio
com o ar, sendo então denominada de seca ao ar; o grau de umidade desse ponto
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
49
depende da umidade atmosférica. Face ao efeito da umidade nas outras
propriedades da madeira, é comum referirem-se estas propriedades a um grau de
umidade padrão. No Brasil e na Europa adota-se 15% como umidade padrão e, nos
Estados Unidos 12%.
Retração da madeira - As madeiras sofrem retração ou inchamento
com a variação da umidade entre 0% e o ponto de saturação das fibras (30%),
sendo a variação aproximadamente linear. O fenômeno é mais importante na
direção tangencial; para redução da umidade de 30% até 0%, a retração tangencial
varia 5% a 10% da dimensão verde, conforme as espécies. A retração na direção
radial é cerca da metade da direção tangencial. Na direção longitudinal, a retração é
menos pronunciada, valendo apenas 0,1% a 0,3% da dimensão verde, para
secagem de 30% a 0%.
Dilatação linear - O coeficiente da dilatação linear das madeiras, na
direção longitudinal, varia de 0,3 X 10-5 a 4,5 X 10-5 por oC, sendo pois, da ordem de
1/4 do coeficiente de dilatação linear do aço. Na direção tangencia ou radial, o
coeficiente de dilatação varia com o peso específico da madeira, sendo da ordem de
4,5 X 10-5 oC-1 para madeiras duras e 8,0 X 10-5 oC-1 para madeiras moles. Diante
disto, constata-se que o coeficiente de dilatação linear na direção perpendicular às
fibras, varia de 4 a 7 vezes o coeficiente de dilatação do aço.
Defeitos da madeira - Qualquer irregularidade na madeira que afete
sua resistência ou durabilidade é considerada um defeito. Por causa de suas
características naturais, existem vários defeitos inerentes a todos os tipos de
madeira, que afetam a sua resistência, aparência e durabilidade. Os defeitos podem
provir da constituição do tronco ou do processo de preparação das peças. A seguir
descrevem-se os principais defeitos da madeira.
a) Nós - Imperfeição da madeira nos pontos do tronco onde existiam
galhos. Os galhos ainda vivos na época do abate da árvore produzem nós firmes,
enquanto os galhos mortos originam nós soltos. O nós interrompem a direção das
fibras, dando origem aos veios transversos localizados com pronunciadas
inclinações. Quando estes se encontram situados próximos as fibras extremas de
uma viga, reduzem consideravelmente a sua resistência à flexão e à tração, na
proporção da largura que eles ocupam na viga.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
50
b) Fendas – São aberturas nas extremidades das peças, produzidas
pela secagem mais rápida da superfície; ficam situadas em planos longitudinais e
radiais. As fendas reduzem a resistência ao cisalhamento em peças solicitadas à
flexão, e admite-se que este efeito seja aproximadamente proporcional à redução da
área resistente ao cisalhamento. Entretanto, as fendas não afetam a resistência de
peças submetidas a esforços de compressão paralela, cuja limitação de emprego de
tais peças, neste caso, deve-se tão somente ao fato de que as fendas contribuem
para o rápido apodrecimento da madeira.
c) Gretas ou ventas - Separação entre os anéis anuais, provocada
por ação de intempéries ou secagem inadequada. Estes tipos de defeitos reduzem a
resistência ao esforço cortante; portanto, os membros sujeitos à flexão são
diretamente afetados por sua presença.
d) Abaulamento - Encurvamento na direção da largura da peça.
e) Arqueadura - Encurvamento na direção longitudinal, isto é, do
comprimento da peça.
f) Veio transverso - Fibras não paralelas ao eixo da peça. Este é
prejudicial em peças submetidas a esforços de compressão paralela, visto que os
mesmos originam componentes de tensão que agem através dele, em cuja direção a
madeira é mais fraca. Além disso, o veio transverso contribui para o rápido
empenamento das peças, por ocasião da variação do teor de umidade da madeira.
g) Esmoada ou quina morta - Canto arredondado, formado pela
curvatura natural do tronco. A quina morta significa elevada proporção da madeira
macia (alburno).
h) Os buracos – Os buracos são provocados pelas quedas dos nós,
por insetos e vermes que atacam a madeira, ou por instrumentos utilizados no
manejo das toras. O principal efeito causado pela presença dos buracos na
resistência da madeira é a diminuição da área útil em uma seção transversal, e os
requisitos de aproveitamento, neste caso, são os mesmos adotados para os nós.
i) Bolor - Descoloração da madeira provocada por fungos; indica
início de deterioração.
j) Apodrecimento - Desintegração avançada da madeira produzida
por fungos. O apodrecimento pode ser facilmente reconhecido porque a madeira
torna-se fraca, esponjosa e se esfarela. O ar, a umidade e temperatura favorável
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
51
propiciam o crescimento dos fungos. Se o ar for eliminado como, por exemplo,
quando a madeira está constantemente submergida não ocorrerá o surgimento de
fungos.
k) Bolsas de resina - As bolsas de resina são aberturas paralelas
aos anéis anuais que contém resina, sólida ou líquida. Por influírem muito pouco na
resistência da madeira, normalmente, despreza-se a presença de bolsas de resinas
no estabelecimento de categorias de resistência. Entretanto, se um determinado
número de bolsas de resina se situar dentro de uma camada de crescimento, é
possível que exista uma separação entre estas camadas; e, em razão disso a peça
deve ser cuidadosamente examinada para certificar-se se houve a ocorrência de
fendas.
As madeiras utilizadas na atividade da construção civil encontram-se
classificadas em duas categorias:
a) madeiras maciças:
- madeira bruta: ou roliça;
- madeira falquejada;
- madeira serrada;
b) madeiras industrializadas:
- madeira laminada ou colada;
- madeira compensada.
A madeira bruta ou roliça é empregada em forma de tronco, servindo
para estacas, escoramentos, postes e colunas.
A madeira falquejada tem as faces laterais aparadas a machado,
formando seções maciças, quadradas ou retangulares; é utilizada em estacas,
cortinas cravadas e pontes.
Como elemento estrutural a madeira serrada é o produto mais
comumente usada. O tronco é cortado nas serrarias em dimensões padronizadas
para o comércio, passando depois por um período de secagem.
A madeira laminada e colada é o produto estrutural de madeira mais
importante nos países industrializados. A madeira selecionada é cortada em
lâminas, de 15 mm ou mais de espessura, que são coladas sob pressão, formando
grandes vigas, em geral de seção retangular.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
52
A madeira compensada é formada pela colagem de lâminas finas,
com as direções das fibras alternadamente ortogonais.
A madeira a ser utilizada no desenvolvimento deste trabalho,
encontra-se situada na categoria de madeiras maciças, uma vez que, para a
concepção da ossatura está previsto a utilização de madeira serrada. Com base
neste requisito do sistema construtivo será apresentado no próximo item temas
referente a este produto.
1.3.1.3. A MADEIRA SERRADA
As árvores devem ser abatidas de preferência ao atingir a
maturidade, ocasião em que o cerne ocupa a maior percentagem do tronco,
resultando, então, em madeira de melhor qualidade. O período de tempo necessário
para que a árvore atinja maturidade varia entre cinqüenta e cem anos, conforme as
espécies.
A melhor época para o abate é a estação seca, quando o tronco tem
pouca umidade. O desdobramento do tronco em peça deve fazer-se o mais cedo
possível após o corte da árvore, a fim de evitar defeitos decorrentes da secagem da
madeira. Se a árvore for cortada na estação chuvosa, deixa-se secar as toras
durante algum tempo para reduzir o excesso de umidade. Os troncos são cortados
em serras especiais, de fita contínua, que os divide em lâminas ou pranchas
paralelas, na espessura desejada. Em alguns casos, é conveniente dividir
inicialmente o tronco em duas metades, para facilitar a operação da máquina.
As serras de fita possuem comandos mecânicos para o avanço do
tronco, que garantem a espessura uniforme das lâminas. As espessuras obedecem
em geral a padrões comerciais, com bitolas nominais em polegadas.
Outro processo de desdobramento consiste na divisão inicial do
tronco em quatro partes, e este é realizado na direção radial. O desdobramento
radial produz material mais homogêneo, porém, é mais oneroso, razão pela qual
este é utilizado com menor freqüência.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
53
1.3.1.4. OS PROCESSOS DE SECAGEM DA MADEIRA
Antes de ser utilizada nas construções, a madeira serrada deve
passar por um período de descanso para reduzir a umidade, este processo é
denominado de secagem. Ao eliminar a água as células fibrosas se contraem, a
contração dessas fibras produz esforços internos que podem originar rachaduras.
Em geral as madeiras macias se contraem mais que as duras.
O melhor método de secagem consiste em empilhar as peças,
colocando separadores para permitir circulação livre do ar em todas as faces. No
entanto, deve-se proteger as pilhas da chuva, colocando-as em galpões abertos e
bem ventilados. O tempo necessário para secagem natural é de um a dois anos para
madeiras macias e de dois a três anos para madeira de lei.
Como a secagem natural é lenta, desenvolveram-se processos
artificiais de secagem. Estes consistem em fazer circular ar quente entre as peças
de madeira serrada, empilhadas de forma semelhante a secagem natural. A
temperatura e a umidade do ar insuflado devem ser controladas para evitar
evaporação demasiadamente rápida da madeira, o que pode prejudicar a
durabilidade da mesma.
Outro processo artificial de secagem consiste em deslocar a madeira
lentamente através de um túnel alongado, no qual a temperatura do ar circulante
aumenta à proporção que a madeira avança, de modo a manter uma velocidade de
evaporação mais ou menos constante. O tempo necessário para a secagem artificial
da madeira verde é de dez dias a um mês, por polegada de espessura da peça.
A diferença entre as retrações axial, radial e tangencial explica a
maior parte dos defeitos que ocorrem durante a secagem da madeira, tais como
rachaduras e os empenamentos. Esses defeitos, principalmente, os empenamentos,
são muito ampliados quando os vasos e fibras da madeira se apresentam retorcidos.
1.3.1.5. CLASSIFICAÇÃO DAS PEÇAS ESTRURAIS DE MADEIRA
A resistência das peças de madeira varia com as espécies vegetais
e, dentro da mesma espécie, varia de uma árvore para outra, ou ainda, conforme a
posição da amostra no tronco. Além de tais variações, é muito grande a influência
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
54
dos defeitos sobre a sua resistência. A avaliação da incidência dos defeitos se faz
por inspeção visual.
A NBR 7190:1997 (Projeto de Estruturas de Madeira) não apresenta
os procedimentos para classificação das peças de madeira visualmente. Porém a
qualidade da madeira é levada em conta no dimensionamento por meio do
coeficiente parcial de modificação Kmod3. Este coeficiente é adotado igual a 1,0 no
caso de madeira de primeira categoria e, igual 0,8 no caso de madeira de segunda
categoria. A condição de madeira de primeira categoria descrita na norma NBR
7190:1997 somente pode ser admitida se todas as peças estruturais foram
classificadas como isentas de defeitos, por meio de método visual normatizado, e
também submetido a uma classificação mecânica que garanta a homogeneidade da
rigidez das peças que compõem o lote.
Segundo o decreto no 5.714 de 27/05/1940, as peças estruturais em
madeira macia são geralmente classificadas em três categorias:
a) Primeira categoria - Madeira de qualidade excepcional, sem nós,
retilínea, quase isenta de defeitos.
Nesta classificação a madeira deve se encontrar seca, limpa em
ambas as faces, corretamente serrada na bitola exata, com arestas no esquadro,
sem esmoado.
b) Segunda categoria - Madeira de qualidade estrutural corrente com
pequena incidência de nós firmes e outros defeitos.
Nesta classificação deve-se satisfazer em uma das faces às
características da primeira categoria.
c) Terceira categoria - Madeira de qualidade estrutural inferior, com
nós em ambas as faces.
De acordo com a classificação desta categoria, madeira deve se
apresentar seca com nós ou furos de larvas, com manchas de bolores ou de outra
natureza, de cor natural, corretamente serrada e de bitola exata, com quinas no
esquadro.
A madeira que não alcançar por inspeção visual, a terceira categoria
deverá receber, segundo este decreto, a denominação de refugo.
Existem várias técnicas e procedimentos destinados a realização da
inspeção visual das peças estruturais de madeira, com intuito de classificá-la
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
55
visualmente em categorias que determinam as qualidades desta em relação a sua
resistência. No entanto, a grande parte destas faz referência a peças de madeira
como tábuas ou pranchas. Diante disto, neste trabalho serão apresentados os
parâmetros recomendados por três métodos, o primeiro refere-se a DIN 4074 (tabela
13), o segundo a ASTM D245-93 (utilizada na avaliação de Pinus, tabela 14) e, o
terceiro ao decreto 30/835 de 21/12/1951 para avaliação visual de Pinho (tabela 15).
Tabela 13 - Defeitos máximos permissíveis em madeiras serradas
macias, segunda a norma DIN - 4074.
Defeito Categoria das Madeiras
1ª. 2ª. 3ª.
Diâmetro máximo de nó isolado, dividido pela largura da face (em tábuas e pranchas, tomar a média nas faces de maior dimensão)
1/5 1/3 ½
Diâmetro máximo de nó isolado em vigas maciças 5cm 7cm -
Soma dos diâmetros contidos numa face (num comprimento de 15 cm) dividida pela largura da face (em tábuas e pranchas, tomar a média nas faces de maior dimensão)
2/5 2/3 ¾
Inclinação nas fibras em relação ao eixo da peça 7% 12% 20%
Inclinação das trincas de retração em relação a direção das fibras 10% 20% 32%
Flecha de curvatura, medida no comprimento de 2 m. 5 mm 8 mm 15 mm
Flecha de curvatura, medida no comprimento total e da peça l/400 l/250 -
Fonte: PFEIL,1980.
Tabela 14 – Limitações nos defeitos em cada classe para peças de
seção transversal de 3,5 cm X 12,5 cm, e comprimento de 2,6 m, segundo a ASTM
D245-93.
Classe
Fibras
inclinadas
Nós Fendas
Rachas
superficiais
Esmoado
No centro da face
Na borda da face larga
Face estreita
D (cm) L (cm)
Select Structural
1:12 4,8 2,7 1,7 8,8 12,5 60,0 0,9
Nº 1 1:10 6,2 3,6 2,1 10,4 12,5 60,0 0,9
Nº 2 1:8 7,5 4,5 2,6 11,4 18,8 90,0 1,2
Nº 3 1:4 9,4 6,2 2,7 12,5 43,3 - 1,8
Fonte: CARREIRA, 2003.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
56
Tabela 15 – Classificação da madeira de Pinho para exportação
segundo o decreto 30/835.
Defeito
Dimensão máximas permitidas relativamente as faces e outras limitações
1ª. Categoria 2ª. Categoria
Nós
a) Nas faces estreitas
b) Nas faces largas (marginais)
c) Nas faces largas (centrais)
1/4 da espessura
1/8 da largura
1/4 da largura
2/5 da espessura
1/5 da largura
2/5 da largura
Fio diagonal e fio torcido 1/14 (em flexão)
1/11 (em compressão)
1/10 (em flexão)
1/8 (em compressão)
Fendas (limitadas para os esforços de corte) 1/3 da largura em madeira abrigada
1/4 da madeira exposta ao tempo
1/2 da largura em madeira abrigada
2/5 da madeira exposta ao tempo
Descaimento (medido na face mais larga) 1/6 a 1/8 da largura 1/4 a 1/5 da largura
Empenos (medidos num comprimento de 3m)
a) Em arco
b) Em hélice
c) Em meia cana (medido em seção transversal)
d) Em aduela
6 mm
Ângulo de 3º
1 mm em 10 mm
Não permitido
12 mm
Ângulo de 6º
2 mm em 10 mm
Não permitido
Bolsas de resina Permitidas, quando em pequeno número
Permitidas
Ataques de inseto Não permitidos Permitidos quando devido a xilófagos que só atacam a
madeira na árvore
Ataques de fungos
a) Ardido
b) Cardido
c) Azulado
d) Podridões
Não permitido
Não permitido
Permitidas pequenas manchas
Não permitidas
Permitido
Permitido quando for muito limitado em extensão
Permitido
Não permitidos
*Estas categorias são definidas por forma a corresponderem o material com 85% a 60% da madeira sem defeitos.
Fonte: FURIATI, 1983.
Os três métodos apresentados de classificação visual da madeira
buscam de certa forma auxiliar na determinação de peças que sejam adequadas ao
nível de resistência e qualidade desejada para alguns tipos de estruturas. Segundo
CARREIRA (2003) o método proposto pela ASTM D245-93, mostrou-se eficiente na
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
57
determinação da resistência da madeira, apresentando uma variação de erro muito
pequena.
No entanto, há uma discordância entre pesquisadores sobre a
viabilidade da aplicação destes métodos de classificação visual da madeira. Para
Furiati (1983) a aplicação desta encareceria a produção da madeira serrada. No
entanto, Carreira (2003), em sua pesquisa de doutorado comentou que o método
proposto pela ASTM D245-93 se apresentou barato e eficaz. De acordo com este
pesquisador foi possível com somente dois operários classificar 7 m3 de madeira em
dois dias.
1.3.1.6. CARACTERIZAÇÃO DO PINUS
De acordo com os resultados obtidos na pesquisa de SZÜCS,
VELLOSO (2006), tabela 17, observa-se que existe uma grande diferença de
constituição lenhosa com reflexos no comportamento físico e mecânico, tanto entre
espécies, como também entre as idades em uma mesma espécie, tabela 17.
Tanto os resultados obtidos nesta pesquisa como os valores
apresentado pela norma NBR 7190:1997 (tabela 16) para o Pinus elliotii e Pinus
taeda, demonstram um desempenho um pouco superior do segundo sobre o
primeiro. Com base nestes dados, optou-se pela utilização do Pinus taeda por
apresentar um bom desempenho mesmo aos 10 anos.
Tabela 16 - Valores médios de madeiras de coníferas nativas e de
reflorestamento.
Nome comum (coníferas)
Nome científico
ρap(12%) (Kg/m3)
fc0
(MPa) ft0
(MPa) ft90
(MPa) fv
(MPa) Ec0
(MPa)
N
Pinus elliottii Pinus elliottii var. elliottii 560 40,4 66,0 2,5 7,4 11889 21
Pinus taeda Pinus taeda L. 645 44,4 82,8 2,8 7,7 13304 15
ρap(12%) = massa específica aparente a 12% de umidade fc0 = resistência à compressão paralela às fibras ft0 = resistência à tração paralela às fibras ft90 = resistência à tração normal às fibras fv = resistência ao cisalhamento Ec0 = módulo de elasticidade longitudinal obtido no ensaio de compressão paralela às fibras n = número de corpos de prova ensaiados
Fonte: NBR 7190:1997.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
58
Tabela 17 - Caracterização do Pinus elliottii e Pinus Taeda nas
idades de 10, 20 e 25 anos.
Caracterização do Pinus elliottii e Pinus taeda nas idades 10, 20 e 25 anos.
Simbol. Unidade Pinus elliottii Pinus taeda
10 anos 20 anos 10 anos 25 anos
Composição lenhosa média - análise microscópica
Lenho inicial (precoce) - (%) 85,33 71,67 86,5 66,67
Lenho final (tardio) - (%) 14,67 28,33 13,5 33,33
Ultra-som Velocidade da onda – direção longitudinal
- (m/s) 3821 4249 3936 4906
Teor de umidade
U (%) 12 12 12 12
Densidade Aparente ρap (kg/m3) 365 414 368 441
Básica ρbas (kg/m3) 308 351 310 369
Retração Radial εr,2 (%) 2,97 3,09 2,33 3,22
Tangencial εr,3 (%) 5,63 6,06 5,63 5,8
Inchamento Radial εi,2 (%) 2,69 2,73 1,94 2,32
Tangencial εi,3 (%) 5,88 6,2 5,4 5,77
Compressão paralela as fibras
Resistência característica fc0,k (MPa) 18,76 22,12 20,32 32,94
Rigidez média Ec0,m (MPa) 5711 7215 4828 8550
Compressão normal as fibras
Resistência característica fc90,k (MPa) 3,05 3,06 3,38 3,44
Rigidez média Ec90,m (MPa) 287,2 292,85 302,34 353,57
Tração paralela e tração normal às fibras
Resistência característica – tração paralela
ft0,k (MPa) 36,72 45,41 39,16 56,45
Resistência característica – tração normal
ft90,k (MPa) 1,7 1,75 1,8 1,89
Cisalhamento paralelo as fibras
Resistência característica ao cisalhamento
fv0,k (MPa) 1,84 2,5 2,51 2,84
Fendilhamento Resistência característica ao fendilhamento
fs0,k (MPa) 0,29 0,33 0,26 0,36
Dureza Dureza normal fH0,k (N/cm2) 1690,56 2362,03 2050,29 2589,84
Dureza paralela fH90,k (N/cm2) 1160,85 1484,58 1109,08 1492,76
Impacto na flexão
Energia ocasionada na fratura
fbw,k (KJ/m2) 24051,38 28982,48 24370,04 26402,89
Flexão Resistência característica fM,k (MPa) 24,07 34,99 27,52 46,88
Rigidez média EM0 (MPa) 4742 7910 5567 9530
Enquadramento por classe de resistência, segundo a NBR 7190:2007
fc0,k (MPa) - 20 20 30
Fonte: SZÜCS, VELLOSO, 2006.
No próximo item serão abordados de maneira sucinta alguns tipos
de tratamentos químicos disponíveis atualmente para prolongar a vida útil da
madeira, principalmente, quando esta é utilizada como estrutura em ambiente
externo, buscando-se apresentar os pontos positivos e negativos de cada um
destes.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
59
1.3.1.7. DURABILIDADE E TRATAMENTO
Um dos maiores preconceitos existentes em relação à madeira,
principalmente, a de reflorestamento, está relacionado à durabilidade, isto devido a
madeira ser um material de origem orgânica, que dependendo das condições
ambientais a que seja submetida, irá sofrer deterioração por agentes biológicos
como microorganismos (bactérias e fungos), insetos (coleópteros e térmitas) e
brocas marinhas (moluscos e crustáceos).
Apesar do preconceito, a habitação em madeira pode ter grande
durabilidade. Um dos aspectos fundamentais refere-se a questões relacionadas ao
projeto, ou seja, ao uso de detalhes construtivos que possam proporcionar proteção
à peça em madeira. No entanto devem-se respeitar as limitações do material e
especificar a espécie adequada para cada uso. (LAROCA, 2002)
Segundo BARILLARI (2002), a madeira quando usada em contato
direto com o solo é atacada por agentes biológicos, principalmente fungos
apodrecedores e cupins subterrâneos. Uma maneira de ampliar as possibilidades de
utilização das espécies de baixa durabilidade natural, como as do gênero Pinus, é
através do tratamento químico preservante.
A madeira do gênero Pinus possui características que permitem
variada gama de aplicações, mas a carência de conhecimento e tradição no uso da
madeira preservada, bem como a falta de especificações técnicas e informações
sobre o comportamento em serviço, restringem sua utilização.
A proteção das peças em madeira pode ser realizada de forma
natural através de simples medidas previstas em projeto, que visem à proteção das
mesmas contra a umidade proveniente do solo e de outras fontes e, a utilização de
barreiras físicas que contribuam na durabilidade da madeira. Tais medidas, se não
eliminam a necessidade de tratamento químico, podem contribuir para a redução da
quantidade de produtos químicos utilizados no tratamento da madeira
(BENEVENTE, 1995)
Segundo CAMPOS (2006), é importante ressaltar a relevância da
etapa de secagem da madeira, essa é uma etapa do processamento mecânico da
produção da madeira e visa à diminuição do teor de umidade, que varia conforme o
uso final do produto. Os objetivos da secagem são: a redução da variação
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
60
dimensional; a inibição ao ataque por fungos; a melhoria na trabalhabilidade e o
aumento da resistência mecânica.
Para BARILLARI (2002) a preservação química é um método antigo
e o mais utilizado. Mas esse tipo de preservação é questionável, devido ao seu
potencial de contaminação ao homem e ao meio ambiente.
Os preservantes podem ser classificados de acordo com suas
características físicas e químicas em dois grandes grupos, os dos oleosos e
oleossolúveis e o dos hidrossolúveis.
Esses produtos químicos são aplicados, geralmente, por processos
industriais, que utilizam o sistema de autoclave, onde esses são injetados por meio
de vácuo e alta pressão em câmaras cilíndricas.
Os principais preservantes para utilização em contato com o solo
são o creosoto (preservante oleoso), o pentaclorofenol (preservante oleossolúvel), o
CCA (arsenato de cobre cromatado) e O CCB (borato de cobre cromatado), ambos
preservantes hidrossolúveis.
Apesar de aparecerem como uma estratégia para o aumento da
durabilidade da madeira contra a umidade e o ataque de fungos ou insetos, nenhum
dos tratamentos químicos tem sua eficiência comprovada. O creosoto e o
pentaclorofenol são considerados altamente tóxicos ao homem e ao meio ambiente,
sendo inclusive de uso proibido no Brasil, o CCA pode comprometer a resistência da
madeira e, o CCB não tem sua eficácia comprovada a longo prazo. (BARILLARI,
2002)
Com base nos métodos preservativos destacados acima, conclui-se
que a preservação através de estratégias de projeto que visem a prolongar a
durabilidade da madeira, evitando que esta tenha contado com a umidade
proveniente do solo e de outras fontes, acaba sendo menos onerosa e mais
eficiente, causando menos danos a saúde ao homem e ao meio ambiente.
Com a determinação da resistência das peças de madeira, surge a
necessidade de se definir os sistemas de ligações que irão intermediar os esforços
entre os membros de ossaturas estruturais. Sendo assim serão abordados a seguir
temas referentes a estes tipos de ligações, itens considerados relevantes ao
desenvolvimento deste trabalho.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
61
1.3.1.6. LIGAÇÕES DE PEÇAS ESTRUTURAIS
Na concepção das estruturas de madeira o desenho das juntas
requer uma atenção especial. No passado, o tamanho dos elementos era
determinado com freqüência pelo tipo da junta e pela reduzida área da seção
transversal resultante dos encaixes e entalhes.
Para se confeccionar as estruturas, as peças são ligadas entre si,
utilizando-se diversos dispositivos. Os principais tipos de ligação empregados são:
colagem, pregos, grampos, braçadeiras, pinos, parafusos, conectores metálicos,
tarugos e entalhe.
Os grampos e braçadeiras são utilizados apenas como elementos
auxiliares de montagem, não sendo considerados elementos de ligação estrutural.
A colagem é utilizada em larga escala, nas fábricas de peças de
madeira laminada e madeira compensada. Nas peças laminadas de grande
comprimento, as lâminas individuais são emendadas com cola, empregando-se uma
seção denteada ou plana enviesadas.
Os pregos são peças metálicas, em geral cravadas na madeira com
impacto. Eles são utilizados em ligações de montagem e ligações definitivas.
Os pinos são eixos cilíndricos, de aço ou de madeira dura. Estes são
colocados em furos feitos a máquina, com diâmetro ligeiramente inferior ao deles.
Os pinos são, assim, instalados sem folga, de modo a entrarem em carga sem haver
deformação relativa das peças ligadas.
Os parafusos são de dois tipos:
a) parafusos rosqueados auto-atarraxantes;
b) parafusos com porcas e arruelas.
Os parafusos auto-atarraxantes são muito utilizados em marcenaria,
ou para prender acessórios metálicos em postes e dormentes; não se empregam em
geral como elementos de ligação de peças estruturais de madeira.
Os parafusos utilizados nas ligações estruturais são cilíndricos e
lisos, tendo numa extremidade uma cabeça e na outra uma rosca e porca. Eles são
instalados em furos com folga máxima de 1 a 2 milímetros e depois apertados com a
porca. Para reduzir a pressão de apoio na superfície da madeira, utilizam-se arruelas
metálicas.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
62
Os conectores são peças metálicas especiais, encaixadas em
ranhuras, na superfície da madeira e apresentando grande eficiência na transmissão
de esforços. No local de cada conector, coloca-se um parafuso para impedir a
separação das peças ligadas. Os conectores usuais são em formas de anel ou
placas.
Os entalhes e encaixes são ligações em que a madeira trabalha à
compressão associada a corte. Nessas ligações, a madeira realiza em geral o
principal trabalho de transmissão dos esforços, utilizando-se grampos ou parafusos
para impedira separação das peças.
Os tarugos ou chavetas são peças de madeira dura ou metálicas,
colocadas no interior de entalhes, com a finalidade de transmitir esforços. Os tarugos
são mantidos na posição por meio de parafusos auxiliares.
O trabalho em desenvolvimento visa à utilização de placas metálicas
do tipo gang nail, ou seja, chapas metálicas com dentes estampados (CDE’S), nas
ligações entre os membros da ossatura estrutural em madeira. Com base nisto, no
próximo item será abordado temas referentes a este tipo de produto.
1.3.5.6.1. O SISTEMA DE LIGAÇÃO POR CDE
Um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento internacional
da indústria das estruturas de madeira tem sido o emprego das chapas metálicas
com dentes estampados (CDE) na produção de estruturas treliçadas para cobertura,
figura 03.
Figura 03 - Estrutura de cobertura executada com CDE´s como elemento de união
nas ligações.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
63
Tal sistema foi originalmente desenvolvido em 1955 nos Estados
Unidos por J. Calvin Jureit, e é composto por ligações e fixações de elementos de
madeira através de cobre-juntas metálicas, projetadas para maximizar sua
resistência em função das condições de trabalho (tração, compressão, flexão e
cisalhamento). A inovação recebeu o nome de sistema Gang-Nail e a empresa
Automated Building Components, Inc. passou a fabricar e distribuir esses
conectores, inicialmente nos Estados Unidos e, em seguida, para países como o
Brasil, boa parte da América Latina, Europa e África, sendo a sua primeira patente
outorgada em 1959, BARROS (1992).
Esses conectores foram concebidos como alternativa econômica
para confecção de ligações e, conseqüentemente, de coberturas mais leves com
madeira de espécies menos nobres, utilizando-se peças de menores dimensões,
promovendo uma melhor distribuição de cargas e, finalmente, um alívio das tensões
atuantes nessas peças, gerando economia de madeira, maior eficiência de
montagem e melhor controle de qualidade nas obras.
Figura 04 - Exemplo de um CDE
Essas “chapas prego”, como são usualmente chamadas, figura 04,
tem pequena espessura e boa resistência, solucionando inconvenientes como a
exigência de pregos ou parafusos de diâmetro e peso elevados. Estas também
evitam as rachaduras na madeira e permitem a diminuição da área útil da seção
transversal das peças.
Inicialmente, nessas talas metálicas, os pregos eram colocados um
a um, em trabalho mais demorado e artesanal. Na continuação, surgiu a chapa com
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
64
pregos já estampados segundo ângulos retos em relação a seu plano. O processo
de ligação consiste basicamente em se colocar esta nas peças a serem ligadas,
posicionando-se as chapas e procedendo-se à respectiva prensagem. Isto possibilita
a produção em larga escala, contribuindo para justificar a idéia da industrialização
das estruturas de madeira.
SHRESTHA e ALBANI (1996 apud CARVALHO, 2002) realizaram
interessante estudo a respeito dos conectores metálicos e seu comportamento em
serviço. Apesar de serem desenvolvidos para trabalhar apenas com solicitações no
plano em que são utilizados, em diversas situações acabam sendo solicitados fora
do plano durante o transporte, manuseio e içamento das estruturas. Foi avaliada
então a capacidade de quatro diferentes tipos de conectores metálicos, verificando-
se que sua resistência, para carregamentos fora do plano da estrutura, é da ordem
de 11% da resistência para carregamentos no plano, com os conectores orientados
paralelamente às fibras e paralelamente ao carregamento. Este fato mostra que são
necessários cuidados especiais com o transporte e o lançamento de tais estruturas.
GROOM (1994) estudou o efeito da variação cíclica da umidade no
comportamento das ligações por chapas com dentes estampados. Este estudo
mostra-se bastante relevante, uma vez que não são raras as regiões cujas variações
climáticas sejam acentuadas. O autor conclui em seu trabalho que a variação da
umidade produz um efeito negativo no comportamento mecânico destas ligações.
Parte deste efeito se dá, por exemplo, pelo simples fato de ocorrer um relaxamento
da madeira ao redor dos dentes do conector. O estudo mostra, ainda, que uma
variação cíclica, mesmo não sendo de grande magnitude, das condições de
umidade resulta em um decréscimo significativo dos valores de rigidez e de
resistência. Neste mesmo trabalho, o autor verificou ainda as alterações de
comportamento nas ligações com o uso de um adesivo, na cravação dos conectores,
frente às mesmas condições anteriormente descritas. Verificou que existe um ganho
em resistência e em rigidez, mas, sobretudo, o efeito se dá na resistência última da
ligação, o que ocorre, pois o adesivo diminui o efeito de relaxação da madeira junto
aos dentes dos conectores.
Um aspecto importante que pôde ser observado na revisão
bibliográfica é que há um consenso quanto aos modos de falha deste tipo de
ligação, que são: a ruptura da chapa de aço por tração; a ruptura da chapa de aço
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
65
por cisalhamento; a ruptura por arrancamento dos dentes da chapa das peças de
madeira; e, a ruptura da madeira por cisalhamento, fendilhamento ou tração.
Para se evitar parte das falhas constatadas em relação a utilização
deste tipo de ligação, alguns pesquisadores recomendam, sempre que possível,
dimensionar estes um pouco acima do necessário, de formar, a garantir que o
número mínimo de dentes fixados seja fixado a cada peça em madeira.
Após a definição do sistema de ligação entre os membros da
ossatura estrutural, buscou-se definir entre as madeiras de reflorestamento
disponíveis localmente, ou seja, o Pinus, qual destas se mostraria mais adequada à
aplicação em um sistema construtivo que prima pelo desempenho global. Diante
deste contexto será apresentada no item subseqüente a caracterização de duas
espécies de Pinus.
O sistema construtivo em desenvolvimento constitui-se basicamente
de uma ossatura em madeira de reflorestamento, vedada verticalmente por uma
camada dupla de placas cimentícias executada em CCEAD. Diante disto, serão
apresentados no próximo item temas referentes a estruturas em madeira.
1.3.1.9. ESTRUTURAS EM MADEIRA
Cada sistema construtivo possui uma maneira particular e típica de
dispor os elementos estruturais. Entretanto, segundo BENEVENTE (1995), as
condições de uso são determinantes na durabilidade da madeira, pois estas dizem
respeito ao grau de exposição do material ao intemperismo, a sua localização em
relação ao solo e a outras fontes de umidade.
Na estrutura, segundo pesquisador, os pontos mais preocupantes
quanto à durabilidade são as suas extremidades, pois estas absorvem mais umidade
ficando vulneráveis ao ataque de microorganismos e de alguns insetos. Na fixação
dos pilares, o desempenho relaciona-se à sua proximidade com o solo, ao sistema
de ligação com a fundação e ao seu grau de exposição às intempéries.
O sistema estrutural em madeira deve ser perfeitamente definido nos
seus elementos constituintes e no seu conjunto, de forma, a evitar manifestações
patológicas conseqüentes de equívocos. O pesquisador ainda sugere a imediata
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
66
cobertura da estrutura, anterior à execução do seu fechamento, de maneira a
propiciar proteção aos elementos já em uso.
Para a concepção da ossatura, em madeira de reflorestamento,
levou-se em consideração algumas características presentes tanto no sistema
plataforma como no sistema “Balloom Frame”. Estes sistemas serão apresentados
de forma sucinta nos itens subseqüentes.
1.3.5.9.1. SISTEMA CONSTRUTIVO PLATAFORMA
O sistema plataforma consiste basicamente em uma estrutura de
madeira sobre a qual se constroem as paredes exteriores e as divisórias internas
evitando, desta maneira, o uso de andaimes, uma vez que a própria estrutura serve
de base segura para a montagem do próximo piso.
O conjunto estrutural deste tipo de sistema construtivo pode ser
entendido como um conjunto formado pela parte portante: fundação, painéis de
estrutura de parede e piso, a estrutura do telhado e as estruturas complementares,
tais como: as vedações horizontais, formados pelos assoalhos e forros e as verticais
pelo fechamento das paredes.
Os detalhes construtivos referentes a este sistema podem ser
observados na tabela 18.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
67
Tabela 18 – Princípios gerais e detalhes do sistema construtivo
Plataforma.
DETALHES CONSTRUTIVOS DO SISTEMA PLATAFORMA
1) Soleira ou Frechal inferior (base): componente fixo na fundação sobre a qual se monta o entramado das paredes.
Figura 05 - Desenho esquemático do esqueleto estrutural no sistema plataforma – edificação de dois pavimentos.
2) Cabeçal: componente de fechamento dos topos das vigas de piso, formando a borda da plataforma.
3) Assoalho: apoiado no vigamento de piso e à soleira superior, se fixam sobre ele e os diafragmas da parede.
4) Soleira Inferior do diafragma: componente inferior do diafragma que recebe os montantes e são diretamente fixos à plataforma do primeiro ou segundo piso.
5) Soleira superior do diafragma: componente superior do diafragma da parede onde se fixam os montantes e recebe também a soleira superior de amarração.
6) Soleira superior de amarração: elemento horizontal contínuo fixo sobre o diafragma, proporcionando travamento entre eles e recebe também a estrutura do teto ou vigamento do segundo piso.
7) Montante, esteio pé-direito: elemento estrutural vertical do diafragma, possui comprimento igual a altura de um pavimento sendo fixado às soleiras inferiores e superiores.
8) Vigamento de piso inferior: elemento estrutural de piso colocado sobre a soleira inferior (base) e fixo a esta e ao cabeçal.
9) Vigamento do piso superior: elemento estrutural colocado sobre a soleira de amarração e fixo a ela e ao cabeçal.
Fonte: Adaptado de BENEVENTE (1995)
1.3.1.9.2. SISTEMA CONSTRUTIVO “BALLOOM FRAME”
O sistema “Balloom Frame” consiste basicamente numa estrutura
disposta, de maneira, a formar um diafragma de parede com altura de dois
pavimentos. Neste caso os montantes verticais (esteio ou pé-direito) são contínuos,
com pé-direito duplo (do primeiro piso até o teto do segundo). Estes montantes são
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
68
geralmente espaçados em 40 ou 60 cm. A estrutura de piso é apoiada na viga
mestra a qual une os montantes na horizontal conferindo-lhe travamento.
A tabela 19 apresenta os detalhes construtivos deste sistema.
Tabela 19 – Princípios gerais e detalhes do sistema construtivo
“Balloom Frame”.
DETALHES CONSTRUTIVOS DO SISTEMA “BALLOOM FRAME"
1) Soleira ou Frechal inferior (base): componente em madeira fixo à fundação e sobre o qual se levanta o diafragma das paredes.
Figura 06 - Vista geral da estrutura do sistema “Balloom Frame”.
2) Soleira inferior do diafragma: componente inferior do diafragma, recebe os montantes verticais e é fixo sobre a soleira inferior ou frechal.
3) Montante, esteio ou pé-direito: componente estrutural vertical do diafragma da parede que se estende através de dois pisos é fixado nas soleiras (inferior ou superior)
4) Vigas mestras: componentes contínuos perpendiculares aos montantes, recebem ou suportam o vigamento do piso. São fixos nos montantes conferindo travamento ao conjunto.
5) Soleira superior do diafragma: componente superior da parede, onde são fixados os montantes e recebem a soleira superior de amarração.
6) Soleira superior de amarração: componente contínuo que corre sobre o diafragma da parede, proporcionando o travamento entre eles suportando a estrutura do teto. É fixado na soleira superior do diafragma.
7) Vigamento do primeiro piso: componente estrutural do piso, colocados sobre a soleira inferior do diafragma e fixado nos montantes.
8) Vigamento do segundo piso: componente estrutural apoiado e fixo na viga mestra que une os montantes verticais.
Fonte: Adaptado de BENEVENTE (1995) A distinção entre os sistemas Plataforma e “Balloom Frame”
consiste, basicamente, nas diferenças dimensionais entre os montantes verticais. No
sistema plataforma estes possuem comprimento equivalente a um pavimento
enquanto que no sistema “Balloom Frame” estes se estendem do piso do pavimento
térreo até o teto do segundo.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
69
Dos sistemas construtivos apresentados adotaram-se algumas
características peculiares aos dois, dentro os quais se destacam: o conceito de
montagem, flexibilidade e possibilidade de ampliação; o próprio sistema, ou seja, a
utilização de uma ossatura de madeira vedada por placas ou painéis; e, a
concepção do sistema, baseado na coordenação modular.
1.3.2. PLACAS
Na procura pela redução do tempo de construção de uma edificação
outros sistemas surgiram em oposição a alvenaria, propondo elementos de vedação
maiores e mais industrializados, como painéis de pequenas dimensões para ser
transportados por duas pessoas e painéis de grande dimensões, a base de cimento,
transportados e erguidos por equipamentos especiais. Paralelamente a estes,
surgem sistemas baseados em chapas de madeira reconstituídas, em gesso e a
base de cimento, aplicadas sobre uma estrutura delgada de madeira ou metal.
Todos produzidos industrialmente e aplicados manualmente na obra, caracterizando-
se pela leveza dos componentes tanto estrutural como de vedação.
Muitos destes sistemas, ainda hoje, continuam sendo utilizados em
diversos lugares, por razões culturais, disponibilidade de matéria-prima e domínio da
tecnologia empregada no processo construtivo. Nas culturas com maior domínio
tecnológico, tem-se uma maior utilização dos componentes industrializados
constituídos por painéis de vedação de pequenas dimensões, como também por
componentes leves empregados para compor o sistema de vedação com chapas de
madeira, gesso acartonado e cimentícias.
Entre as placas de madeira reconstituídas destacam-se o OSB e o
compensado. O Oriented Strand Board, mais conhecido por OSB, são chapas de
madeira prensada de espessura variável, produzida a partir de pequenas lascas de
madeira maciça. Já o compensado é um produto multilaminado, fabricado a partir de
lâminas de toras de madeiras.
O gesso acartonado, é composto por placas de gesso produzidas a
partir de gpsita natural e cartão duplex (geralmente de papel reciclado). Possui como
característica uma superfície lisa que facilita a atividade de acabamento, que devido
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
70
a sua regularidade geométrica, dispensa a camada de regularização (TANIGUTI,
1999).
A placa cimentícia é um produto resultante da mistura de cimento
Portland, adições ou aditivos com reforços de fibras, fios, filamentos ou telas, com
exceção de fibras de amianto.
As placas podem ser fixadas tanto no sentido horizontal com no
vertical. No entanto, a fixação no sentido vertical é a mais utilizada, Isto devido ao
fato de reduzir o número de juntas no sentido horizontal, consideradas as mais
críticas e de difícil solução. No caso das juntas no sentido vertical busca-se, sempre
que possível, localizá-las sobre um elemento estrutural de forma a proporcionar
maior estanqueidade ao sistema.
1.3.2.1. PLACAS CIMENTÍCIAS
Dentre as diversas composições de placas apresentadas, acabou-se
optando pela adoção das placas cimentícia. De acordo com o projeto de norma da
ABNT NBR 18:406.03:2005 são consideradas placas cimentícias, placas que
possuem as seguintes características: comprimento nominal de até 3000 mm,
largura nominal de até 1200 mm e espessuras entre 4 mm e 30 mm.
A placa cimentíciea surgiu paralelamente ao gesso acartonado,
como alternativa para as áreas externas e úmidas, devido à baixa resistência
oferecida pelo gesso acartonado a umidade. Atualmente, com os novos avanços
tecnológicos na produção das chapas de gesso acartonado, estas são passíveis de
utilização mesmo em áreas externas como em áreas úmidas. Entretanto, o gesso
acartonado, devido a sua fragilidade inicial a umidade, teve um papel importante na
divulgação das placas cimentíceas que, nos dias atuais, ocupam um segmento
próprio de mercado.
A placa cimentícia é um material que pode ser utilizado para
vedações externas e internas, podendo ser exposta a umidade e a intempéries. O
material é definido, segundo o Projeto de Norma 18:406.03 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005), como um produto resultante da
mistura de cimento Portland, adições mineirais e aditivos com reforço de fibras, fios
filamentos ou telas, com exceção de fibras de amianto. Este ainda propõe uma
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
71
classificação para as placas cimentícias, Classe A e B, para aplicação interna e
externa sujeita a intempéries.
Classe A podem ser fornecidas com revestimento e devem atender
aos ensaios de tensão de ruptura por flexão, impermeabilidade, resistência ao gelo,
água quente, calor, chuva, imersão e secagem. As placas da classe A são
classificadas em quatro categorias de acordo com a resistência a ruptura por flexão
(tabela 20).
Classe B: as placas não são submetidas a ensaio de qualificação e
subdividem-se em cinco categorias de acordo com a resistência a ruptura por flexão
(tabela 20).
Tabela 20 – Tensões mínimas admissíveis para ruptura por flexão
de placas cimentícias – classificação.
CATEGORIA TENSÃO MÍNIMA DE RUPTURA POR FLEXÃO (MPa)
CLASSE A CLASSE B
1 - 4
2 4 7
3 7 10
4 13 16
5 18 22
Fonte: Adaptado do Projeto de Norma 18:406.03 (ABNT, 2005)
As diferenças existentes entre os valores estabelecidos para as
tensões mínimas admissíveis de ruptura por flexão entre as placas da classe A e B,
deve-se ao fato de que as placas da classe A são ensaiadas em condições
saturadas, ou seja, quando as condições de resistência apresentam-se menores. O
mesmo não acontece com as placas da classe B, pois estas são ensaiadas em
condições de equilíbrio com o meio ambiente.
O projeto de norma ainda propõe requisitos específicos a serem
atendidos pelas placas cimentícias. Esses requisitos são apresentados na tabela 21.
Com base em outras normas referentes a desempenho de estruturas
e de componentes construtivos, como blocos cerâmicos, e, principalmente, no
projeto de norma NBR 02.136.01:2004 (destinada a avaliação de desempenho de
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
72
edificações de até cinco pavimentos), nota-se que este projeto ainda não apresenta
requisitos referentes a resistência ao fogo.
Tabela 21 – Requisitos mínimos a serem atendidos pelas placas
cimentícias, previstos no projeto de norma NBR 18:406.03:2005.
Características recomendadas Requisitos
Características dimensionais e
geométricas
Dimensionamento nominal (comprimento e largura)
Comprimento nominal de até 3000 mm Largura nominal de até 1200 mm
Espessura nominal Espessuras de 4 mm a 30 mm
Tolerâncias dimensionais
Comprimento e largura; Classe A: + 2 mm Classe B: + 3 mm Espessura: Classe A: + 10% Classe B: + 10%
Tolerância sobre a forma Linearidade das bordas: 3 mm/m Esquadro da placa: 4 mm/m
Características
mecânicas e físicas
Tensões de ruptura à flexão Vide tabela 14.
Massa volumétrica aparente
A massa volumétrica mínima para cada categoria deve ser especificada pelo fabricante
Características específicas de qualificação
para placas da Classe A
Permeabilidade
Quando ensaiadas, podem apresentar traços de umidade na face inferior, mas em nenhum caso deve haver a formação de gotas sob elas
Água quente Quando ensaiadas – limite Li > 0,75
Imersão e secagem Quando ensaiadas – limite Li > 0,75
Li é o limite inferior do intervalo de confiança de 95% da média r. A média r é o resultado individual de relação entre a tensão de ruptura por flexão do i-ésimo par de corpo de prova submetido ao teste (por imersão na água quente / após 25 ciclos de imersão e secagem) e a tensão de ruptura por flexão do i-ésimo par de corpo de prova de referência.
Fonte: Adaptado do Projeto de Norma 18:406.03 (ABNT, 2005)
1.3.2.2. PLACAS CIMENTÍCIAS EXISTENTES NO MERCADO
A chapa cimentícia, inicialmente, foi utilizada como um componente
complementar ao gesso acartonado, sendo utilizada na vedação de áreas
molháveis. No entanto, as suas funções extrapolaram essa aplicação. Estas
acumularam funções desde revestimentos para vigas estruturais até base para
pisos.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
73
Para permitir essa diversidade de utilizações, há algumas diferenças
fundamentais de composição das chapas cimentícias. Existem a princípio dois
grandes grupo com fibras: as que são dispersas na matriz (argamassa) e, as malhas
de fibra de vidro aplicadas em ambas as superfícies. Os produtos do primeiro tipo
foram desenvolvidos a partir de matrizes de cimento que continham amianto, com o
tempo, estes foram gradualmente substituídos pelas matrizes que contenham fibras
de plásticas, de vidro ou celulósica, isto devido a indefinições legais a respeito do
uso deste tipo de fibra (amianto).
As chapas cimentícias que se utilizam de fibras de vidro em sua
composição são denominadas de GFRC (Glass Fiber Reinforced Concrete). Sendo
um dos principais requisitos a ser considerado na utilização deste tipo de fibra a
resistência destas aos álcalis do cimento.
O mercado brasileiro, em relação a placas cimentícias, encontra-se
ainda na fase inicial, existindo poucas empresas que se dediquem a fabricação
destas. As principais características das placas cimentícias comercializadas no
Brasil são apresentadas na tabela 22.
Tabela 22 – Características das principais placas cimentícias
comercializadas no Brasil.
Fabricante
Definição
Composição
Dimensão Resistência
à flexão (MPa)
Absorção de água
(%) Largura
(mm) Comprimento
(mm) Espessura
(mm)
A
Placas com fios
de reforços (Polipropileno) dispersas na
matriz
Cimento Portland,
agregados naturais e celulose.
Reforçada com fios sintéticos.
1200
2000
2400
3000
4 6 8
10
14 (condição ambiental)
9
(condição saturada)
25
a
28
B
Placas em concreto leve reforçado com
telas de fibra de vidro nas duas
faces
Concreto e agregados
leves. Reforçada com tela de fibra de
vidro
1200
2400
12,7
7
(condição saturada)
29
Fonte: Revista Techné, 2003 e manuais técnicos dos produtos.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
74
Tabela 22 – Características das principais placas cimentícias
comercializadas no Brasil (continuação).
Fabricante
Definição
Composição
Dimensão Resistência
à flexão (MPa)
Absorção de água
(%) Largura
(mm) Comprimento
(mm) Espessura
(mm)
C
Placa cimentícia com fibra dispersa
em matriz
Pasta de cimento
Portland com aditivos
especiais, agregada com malha de fibra
de vidro polimerizada
nas superfícies
1220
2300
12,5
5,3 (condição saturada)
10
D
Placas com fios de reforços
(PVA – Poli Vinil Álcool) dispersas na
matriz
Mistura homogênea de
cimento Portland,
agragados naturais e celulose.
Reforçada com fios sintéticos.
1200
2000
2400
3000
4
6
8
10
10
(condição ambiental)
7
(condição saturada)
25
a
28
E
Chapas cimentícias
com agregados
leves
Agregado leve de argila
expandida e tela de fibra de
vidro
914
1828
12,7
9
(condição saturada)
5
F
Chapa cimentícia com fibra dispersa
na matriz
Cimento, celulose, fibras
sintéticas e aditivos
1200
2400
10
12,4
22,3
Fonte: Revista Techné, 2003 e manuais técnicos dos produtos.
De acordo com a tabela 18, pode-se observar que cada fabricante
determinou características específicas para seus produtos, não existindo uma
padronização das dimensões. Constata-se, ainda, que devido às variações de
composição e do processo de fabricação, as placas apresentam características
mecânicas e físicas com diferenças significativas, destacando-se à resistência a
flexão, que em condições saturadas apresentam uma variação entre 5,3 MPa e 9,0
MPa, apresentando uma variação de 169,81%.
O tratamento das juntas é realizado com objetivo de absorver
tensões ocasionadas pelas movimentações térmicas e higroscópicas das placas
cimentícias. Para aliviar a tensão ocasionada por essas movimentações deve-se
prever, na união das placas, juntas de dilatação e, conforme o pano de fechamento,
juntas de controle.
Nas últimas décadas, a atividade da construção civil, no Brasil, tem
passado por profundas modificações em relação aos métodos, processos e sistemas
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
75
construtivos. A introdução gradativa dos conceitos da industrialização está
transformando os canteiros de obra e a própria atividade construtiva, caminhando,
cada vez mais, para um processo de simples montagem de componentes
industrializados.
Os processos e sistemas construtivos convencionais estão sendo
gradativamente substituídos por sistemas baseados em ossaturas metálicas ou em
madeira, revestidos, geralmente, por chapas de OSB, gesso acartonado ou
cimentícias. Esta substituição dos sistemas e processos vem ocorrendo devido à
necessidade das empresas do setor da construção civil se adequarem a atual
tendência do mercado, que é oferecer um produto de boa qualidade a um baixo
custo.
Diante do contexto atual, os sistemas compostos por ossatura em
madeira, denominados de Light Wood Frame (LWF), tem se difundido pelo Brasil.
Esta difusão tem sido favorecida devido às grandes áreas de reflorestamento
existentes no país e, a própria característica do material (madeira).
Baseado neste novo segmento de mercado da construção civil,
muitas empresas tem se dedicado a produção de chapas cimentícias, destinadas a
vedação destes novos sistemas. No entanto, cabe ressaltar, que não existe, ainda,
uma norma nacional que regulamente a produção destas. O projeto de norma
apresentado neste capítulo encontra-se ainda em processo de aprovação, para
posterior publicação. Por outro lado, preocupadas com o padrão de qualidade
exigido pelo mercado atual, estas empresas tem se baseado em normas
internacionais nos desenvolvimentos de seus produtos.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
76
1.4. DETALHES CONSTRUTIVOS
Dentro do planejamento de um produto, segundo BAXTER (1998),
deve-se incluir a análise de produtos similares. Esta análise consiste em destacar as
características dos produtos, buscando-se identificar e avaliar as oportunidades de
inovação das que forem consideradas relevantes ao produto em desenvolvimento.
Com base nesses princípios estabelecidos por BAXTER, busca-se
neste subitem apresentar alguns detalhes técnicos considerados relevantes para a
pesquisa. Estes detalhes contribuirão de forma significativa no desenvolvimento do
sistema construtivo de vedação vertical.
1.4.1. SISTEMA CONSTRUTIVO EM PLACAS DE GESSO ACARTONADO E CIMENTÍCIAS – DETALHES CONSTRUTIVOS
Atualmente, apesar do forte apelo à adoção de elementos e técnicas
sustentáveis, constatou-se que a maioria das empresas que comercializam o
sistema Drywall e, paralelamente, as placas cimentícias, tem-se utilizado da
ossatura metálica. Como o tema de pesquisa não abrange este assunto, os detalhes
apresentados estarão restritos a vedação de juntas e aos cuidados relativos às
áreas úmidas.
Inicialmente, serão apresentadas quatro soluções técnicas referente
à vedação vertical de áreas úmidas. As duas primeiras, figuras 03 e 04, são
soluções técnicas apresentadas pelo próprio fabricante e as duas últimas, figuras 05
e 06, são soluções técnicas apresentadas por dois escritórios.
As figuras 07 e 08 referem-se a soluções técnicas apresentadas pelo
fabricante Placo para proteção com pintura impermeabilizante da base da parede de
gesso acartonado em ambientes úmidos. O fabricante recomenda que seja utilizado
em áreas úmidas, como banheiro, cozinha e área de serviço, chapas de gesso
acartonado resistente a umidade (RU). Mas, o fabricante ressalta de que é
necessário o tratamento das bases da parede.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
77
FIGURA 07 – Solução técnica apresentada pelo fabricante Placo. Detalhe do
encontro da parede com o piso. Fonte: MEDEIROS (S.D.)
A altura de impermeabilização que o fabricante Placo recomenda é
de 10 a 20 cm de altura, na parede e a mesma dimensão no piso. O rodapé metálico
de impermeabilização comercializado pela Placo possui uma altura de 22 cm,
permitindo que a proteção mecânica e a manta de impermeabilização empregadas
tenham 20 cm de altura. A dimensão horizontal do rodapé é de apenas 3 cm.
Na utilização de revestimento cerâmico, recomenda-se o uso de
argamassas flexíveis e impermeáveis. Os pontos de utilização e passagem de tubos
devem ser vedados com selante flexível apropriado (tipo silicone, antifungo).
Os fabricantes Knauf e Lafarge apresentam recomendações
semelhantes, exceto para a solução do uso do rodapé metálico, na base da parede.
Esses dois fabricantes sugerem que as paredes do boxe do banheiro sejam
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
78
impermeabilizadas em toda a sua superfície. Para as demais paredes das áreas
úmidas, é recomendado apenas o uso de impermeabilizante na base da parede,
com altura de 20 cm.
FIGURA 08 – Solução técnica apresentada pelo fabricante Placo. Detalhe do
encontro da parede com o piso. Fonte: MEDEIROS (S.D.)
As figuras 09 e 10 referem-se a soluções técnicas de vedações
verticais para as áreas úmidas apresentadas por dois escritórios. Os projetistas
optaram pelo uso da placa cimentícia na área do boxe do banheiro ao invés da
chapa de gesso acartonado resistente a umidade, sendo, portanto, segundo
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
79
MEDEIROS (S.D.), mais exigentes que as recomendações na França e até mesmo
nos EUA.
Figura 09 – Especificação de projeto para a área do boxe do banheiro – parede
simples. Fonte: MEDEIROS (S.D.)
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
80
Figura 10 – Especificação de projeto para a área do boxe do banheiro – parede
dupla. Fonte: MEDEIROS (S.D.)
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
81
O sistema em desenvolvimento tem por princípio a possibilidade de
remoção e/ou substituição das placas cimentícias, de modo, a facilitar futuras
ampliações da edificação. Para possibilitar estas alterações decidiu-se pela
utilização de juntas aparentes. As juntas invisíveis solidarizariam as placas,
formando um único pano, dificultando a remoção e/ou substituição das placas. Com
base neste requisito de projeto, será apresentada uma solução técnica para o
tratamento de juntas aparentes proposta pelo fabricante Eternit (figura 11),
responsáveis pelas placas cimentícias Eterplac.
Figura 11 – Solução técnica apresentada pelo fabricante Eternit para o tratamento
de juntas aparente.
O fabricante recomenda, para o preenchimento da junta, a utilização
de um selante adesivo com propriedades elásticas. O espaçamento entre as juntas
pode variar, porém este nunca poderá ser inferior a 3 mm.
1.4.2. SISTEMA CONSTRUTIVO EM MADEIRA – DETALHES CONSTRUTIVOS
Neste subitem serão apresentados detalhes construtivos do projeto
realizado no sistema plataforma, expondo as soluções técnicas propostas para o
protótipo BATTISTELLA-UFSC e, também as inovações propostas por KRAMBECK
(2006).
O subsistema Parede é constituído por ossatura e revestimento em
ambos os lados. A ossatura é composta por montantes de madeira maciça que
formam painéis de 122 x 244 cm, correspondendo às dimensões das chapas
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
82
laminadas que constituem o revestimento interno. Este trabalha estruturalmente,
estabilizando os painéis. As três variações do painel de vedação podem ser
observadas na figura 12.
Figura 12 – Detalhe dos painéis de vedação – protótipo BATTISTELLA-UFSC.
Fonte: KRAMBECK (2006).
O fechamento externo é realizado por meio de manta isolante e
tábuas dispostas horizontalmente (siding). Já o fechamento interno consiste na
sobreposição de chapas de laminado compensado e placas de gesso acartonado.
Estes detalhes encontram-se apresentados na figura 13.
Figura 13 – Detalhe da parede cega e do painel com janela – protótipo
BATTISTELLA-UFSC. Fonte: KRAMBECK (2006).
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
83
Nos pisos de áreas úmidas, é utilizada uma manta de
impermeabilização entre as chapas de fechamento e o revestimento. No encontro
das chapas de fechamento do piso com as paredes, os cantos são arredondados
com massa epóxi, de maneira, a evitar o rompimento da manta. Esta solução ainda
permite a passagem de tubulação entre o fechamento do piso e o forro (figura 14).
Figura 14 – Especificação de projeto para a área do boxe do banheiro – solução
técnica proposta por KRAMBECK. Fonte: KRAMBECK (2006).
Nos cantos, a solução proposta para o protótipo BATTISTELLA-
UFSC apresenta muitas juntas, o que pode comprometer a sua estanqueidade. No
caso de KRAMBECK, a solução apresentada mostra-se bem resolvida no quesito
estanqueidade, uma vez que esta prevê uma peça única e, a utilização de material
elástico para a vedação das juntas. Os dois detalhes construtivos podem encontram-
se apresentados na figura 15.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
84
Figura 15 – Detalhe do canto externo da edificação. A solução técnica da
esquerda é a proposta para o protótipo BATTISTELLA-UFSC e, a da direita é a proposta por
KRAMBECK. Fonte: KRAMBECK (2006).
Figura 16 – Detalhe da ampliação do projeto básico, solução técnica proposta por
KRAMBECK. Fonte: KRAMBECK (2006).
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
85
A figura 16 apresenta soluções propostas por KRAMBECK (2006)
para as junções entre parede existente e nova. KRAMBECK ainda sugere que o
siding das paredes existentes, nas partes adjacentes a ampliações não seja
substituído por chapas laminadas e placas de gesso acartonado. Além de aumentar
os custos e o trabalho no canteiro, o siding não poderia ser reaproveitado, já que a
fixação se faz por meio de pregos. O que acaba dificultando o processo de
ampliação e, comprometendo a qualidade estética da habitação.
A figura 17 apresenta um exemplo, ilustrando a ancoragem do
subsistema parede à fundação. Devido à ação dos ventos, considera-se necessário
a execução deste detalhe, de maneira, a garantir a estabilidade da edificação.
Figura 17 – Detalhe da ancoragem do subsistema parede a fundação, solução
técnica proposta por KRAMBECK. Fonte: KRAMBECK (2006).
De acordo com BAXTER (1998), o conhecimento de produtos
similares, suas soluções técnicas e suas falhas, auxiliam no desenvolvimento de um
produto novo ou mesmo de uma inovação tecnológica.
Com base neste princípio, buscou-se destacar neste subitem,
soluções referentes à estanqueidade de juntas e de áreas úmidas, propostas para
sistemas com vedação de placas de gesso acartonado e cimentícias e, para o
protótipo BATTISTELLA-UFSC.
A escolha dos detalhes teve por base o fato de que sistemas
compostos por ossatura em madeira e vedação por chapas, geralmente, apresentam
como um requisito importante a estanqueidade de suas juntas e áreas úmidas. Isto
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
86
porque a umidade elevada pode comprometer a durabilidade dos componentes em
madeira, reduzindo a vida útil do sistema.
Destacaram-se, também, neste subitem as soluções propostas por
KRAMBECK (2006) para ampliação do projeto base e para a ancoragem do
subsistema parede a fundação do protótipo BATTISTELLA-UFSC. Detalhes estes
essenciais na composição de um sistema baseado em ossatura em madeira.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
87
1.5. CONFORTO TÉRMICO
Este subitem abordará conceitos e normas técnicas relacionadas à
análise do desempenho térmico de uma edificação. As normas técnicas presentes
neste subitem subsidiaram o desenvolvimento do projeto do protótipo, uma vez que
se buscou de maneira gradual e simultânea ir adequando o projeto de forma que
este atendesse aos parâmetros previstos tanto na norma NBR 15220:2005 como no
projeto de norma NBR 02:136.01.001:2007. Para tanto serão abordados os métodos
para avaliação, a caracterização do clima de Londrina e os critérios estabelecidos
pelas normas técnicas.
1.5.1. MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO
O IPT em 1981, e posteriormente em 1995, apresentou uma
proposta de avaliação do desempenho térmico de edificações unifamiliares, onde
está incluso um zoneamento climático composto por nove zonas de inverno e onze
zonas de verão, definidas a partir da variável climática radiação solar. De acordo
com Barbosa (1997), em 1981 foram definidos como requisitos de avaliação: a
admissividade térmica, a condensação, o desconforto no contato dos pés com o piso
e o sombreamento. Ou seja, a avaliação térmica consistia apenas na comparação
dos valores de transmitância (U) ou resistência (R) com os limites estabelecidos na
proposta de conforto higrotérmico; na análise da orientação, dimensão e
sombreamento das janelas, com atenção especial para o não prejuízo da ventilação
e da iluminação. Sendo o recomendado para a renovação do ar 18 m3/hora por
pessoa para todas as zonas bioclimáticas.
Recentemente, a ABNT publicou uma norma que pretende servir de
orientação no desenvolvimento de projetos que privilegiem a aplicação dos
conceitos de conforto térmico, a NBR 15220:2005 (Desempenho térmico de
edificações). Esta norma subdivide-se da seguinte forma:
NBR 15220-1:2005 - Desempenho térmico de
edificações - Parte 1: Definições, símbolos e unidades.
NBR 15220-2:2005 - Desempenho térmico de
edificações - Parte 2: Métodos de cálculo da transmitância térmica,
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
88
da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar de
elementos e componentes de edificações.
NBR 15220-3:2005 - Desempenho térmico de
edificações - Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes
construtivas para habitações unifamiliares de interesse social.
NBR 15220-4:2005 - Desempenho térmico de
edificações - Parte 4: Medição da resistência térmica e da
condutividade térmica pelo princípio da placa quente protegida.
NBR 15220-5:2005 - Desempenho térmico de
edificações - Parte 5: Medição da resistência térmica e da
condutividade pelo método fluximétrico.
Esta norma surge com o intuito de orientar e incentivar a adoção de
medidas que visem proporcionar uma maior qualidade do ar interno das edificações
durante a vida útil, proporcionando uma melhora na condição de vida do usuário final.
Ainda, nesta norma, elaborou-se um novo zoneamento bioclimático que abrange
todo o território nacional, composto por somente oito zonas (figura 18). Para cada
zona bioclimática, são colocadas diretrizes construtivas que possuem caráter apenas
orientativo. Estas diretrizes são relativas a aberturas, paredes e coberturas mais
adequadas para cada zona bioclimática.
Figura 18 – Mapa das zonas climáticas (ABNT – NBR 15220-3:2005)
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
89
Paralelamente, ao lançamento da NBR 15220:2005 a ABNT
encontrava-se desenvolvendo uma nova norma que tem por objetivo avaliar o
desempenho global de edificações de até cinco pavimentos. Atualmente, por se
encontrar ainda em fase de projeto esta é denominada NBR 02:136.01, sendo
composto por seis partes, que buscam abranger a edificação como um todo.
Em sua versão de 2004, este projeto de norma previa três
procedimentos alternativos para avaliação da adequação de habitações as oito
diferentes Zonas Bioclimáticas determinadas pela NBR 15220:2005:
Procedimento 1 – Simplificado: verificação do atendimento aos
requisitos e critérios estabelecidos para fachadas e coberturas, nos documentos:
- Desempenho de Edifícios Habitacionais de até
cinco pavimentos – Parte 4: Fachadas e paredes internas;
- Desempenho de Edifícios Habitacionais de até
cinco pavimentos – Parte 5: Coberturas.
Procedimento 2 – Simulação: verificação do atendimento aos
requisitos e critérios estabelecidos neste documento, por meio da simulação
computacional do desempenho térmico do edifício.
Procedimento 3 – Medição: verificação do atendimento aos
requisitos e critérios estabelecidos neste documento, por meio da realização de
medições em edificações ou protótipos construídos.
No entanto, em sua atual versão, janeiro de 2007, somente a
avaliação de acordo com a NBR 15220:2005, ou seja, pelo método simplificado,
passou a ser recomendada por este projeto de norma.
Na publicação “Critérios mínimos para a avaliação de desempenho
de habitações unifamiliares de interesse social” (1997), a verificação das condições
de conforto térmico, propostas pelo IPT, parte da análise global e não somente do
comportamento de elementos de vedação. O processo de avaliação é composto
pela caracterização das exigências humanas baseado na norma ISO 7730 (Critério
para avaliação de conforto térmico de ambientes com condições térmicas
moderadas) que estabelece uma satisfação de 80% dos ocupantes de um ambiente
térmico, da caracterização das condições climáticas a que o edifício está exposto, a
partir dos valores horários de temperatura, umidade relativa do ar, radiação solar
global, velocidade média e direção do vento para dias típicos de projeto; da
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
90
caracterização da edificação e de sua ocupação e comportamento dos materiais,
componentes e elementos; da caracterização do comportamento térmico da
edificação, resposta térmica das condições típicas de exposição verificada através
de cálculos.
Segundo esta mesma publicação (Critérios mínimos para a
avaliação de desempenho de habitações unifamiliares de interesse social), a
temperatura do ar produzirá condições de conforto no intervalo entre 12ºC e 29ºC,
sendo a temperatura máxima de conforto para verão e 29ºC, para velocidade do ar
menor que 0,5 m/s, para roupas leves e serviços leves. A temperatura mínima de
conforto no inverno deve corresponder a 17ºC, para a velocidade do ar menor ou
igual a 0,25 m/s para roupas típicas de inverno e serviços leves, e 12ºC para pessoa
dormindo à noite com roupas pesadas.
Sob essas condições de conforto, são apresentados três níveis de
desempenho térmico da habitação (níveis A, B e C). Entretanto, as edificações com
desempenho térmico classificado como nível C, seja para a condição de verão ou de
inverno, de acordo com a publicação são descartadas.
No verão o nível A corresponde ao atendimento das condições de
conforto durante todo o dia, com temperatura interna do ar menor ou igual a 29ºC;
quando essas exigências não são atendidas, e se o valor máximo diário da
temperatura do ar interior não ultrapassar o valor máximo diário da temperatura do
ar exterior, o nível de classificação é B. Quando o valor máximo da temperatura do
ar interno é maior que o máximo diário da temperatura do ar externo, o nível de
classificação é C. Na situação de inverno, o nível A corresponde ao atendimento das
exigências de conforto durante todo o dia, com temperatura do ar interno maior ou
igual a 17ºC, quando essas exigências não são atendidas e o valor mínimo diário da
temperatura é maior ou igual ao valor da temperatura mínima de referência, a
edificação é classificada no nível B. Quando o valor da temperatura do ar interno é
inferior ao valor da temperatura mínima de referência, a edificação é classificada
como nível C.
Segundo Barbosa (1997) o intervalo adotado pelo IPT não se
apresenta adequado aos padrões dos países tropicais, como é o caso do Brasil.
Uma vez que, o método desenvolvido pelo IPT utilizou como referência a ISO 7730,
que foi fundamentada na equação de Fanger que teve como base experimentos com
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
91
pessoas dinamarquesas e americanas. Ainda segundo a pesquisadora, os limites
de conforto estabelecidos por GIVONI (1992) para países com clima quente e em
desenvolvimento, foram escolhidos como representativa para países de clima
quente. No verão, em situação de umidade baixa, o intervalo de temperatura de
conforto varia entre 25ºC e 29ºC, e com umidade alta entre 25ºC e 26ºC, podendo
chegar a 32ºC com ventilação de 2 m/s. No inverno os limites mínimo e máximo são
18ºC e 25ºC, respectivamente para 80% de umidade relativa.
BARBOSA (1997) com base nos limites da zona de conforto, para
países em desenvolvimento, estipulados por GIVONI (1992) e, em simulações de
desempenho térmico de cinco sistemas construtivos no programa COMFIE,
determinou, em sua pesquisa de doutorado, que 1000 horas de desconforto é o
limite aceitável culturalmente para o clima do município de Londrina no estado
Paraná, ou seja, pouco acima dos 10% de horas de um ano.
1.5.2 CARACTERIZAÇÃO DO CLIMA DE LONDRINA – PR
O desenvolvimento do projeto do protótipo será embasado nos
parâmetros de conforto térmico estabelecidos por GIVONI para países em
desenvolvimento, pela NBR 15220:2005 e pelo projeto de norma NBR
02:136.01.001:2007 e no clima do Município de Londrina. Por este motivo, neste
subitem será abordado, de maneira sucinta, as características do clima regional.
A cidade de Londrina encontra-se localizada no Norte do Estado do
Paraná, entre as latitudes 23º08’47” e 23º55’46” e as longitudes 50º52’26” e
51º19’11”, e, possui clima do tipo subtropical úmido, com chuvas em todas as
estações, podendo, no entanto, ocorrer secas no inverno. O regime térmico, no
período de novembro a março, é influenciado pelas correntes quentes inter-tropicais,
que geram temperaturas acima de 22ºC. No período frio, o regime térmico é
influenciado pelas correntes frias extra-tropicais do sul, que geram temperaturas
mais baixas, ocasionando até geadas entre maio e setembro.
Com base nos dados contidos na tabela 23 e 24, obtidos por
BARBOSA (1997), PICANÇO e BARBOSA (1999) e Instituto Agronômico do Paraná
(IAPAR, 2006), observa-se que os meses de novembro, dezembro, janeiro e
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
92
fevereiro apresentam-se como os meses mais quentes e, os meses de junho e julho
como os meses mais frios.
Tabela 23 – Valores climáticos mensais do ano de 1986, identificado
como ano climático de referência para o período de 1979 a 1990.
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
TEMP. MED. MÁX (ºC) 30,6 28,8 28,9 28,6 24,6 23,0 24,0 25,8 25,8 29,0 30,4 28,6
TEMP. MED. MÍN. (ºC) 20,2 19,7 18,5 17,7 15,2 11,5 10,7 13,9 14,2 15,7 18,5 19,5
UR (%) 73 81 80 72 81 72 69 71 64 57 62 79
Fonte: BARBOSA, 1997.
Tabela 24 – Valores climáticos mensais do ano de 1996, identificado
como ano climático de referência para o período de 1989 a 1998.
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
TEMP. MED. MÁX (ºC) 29,9 29,6 29,2 28,5 25,2 22,9 23,5 27,2 26,0 28,0 29,0 29,3
TEMP. MED. MÍN. (ºC) 20,3 20,2 19,0 17,1 13,8 11,6 10,3 13,2 14,3 16,7 18,4 20,0
UR (%) 78 81 79 72 73 71 62 56 66 71 68 79
Fonte: Sintetizado de BARBOSA, 1999, p.53.
Com intuito de verificar a predominância dos ventos na região de
Londrina utilizou-se as médias climáticas do ano de 1976 a 2006 (tabela 25),
apresentadas pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). De acordo com estes
dados pode-se constatar que a predominância dos ventos em Londrina é da
orientação leste, com velocidades entre 2,0 e 2,8 m/s.
Tabela 25 – Médias climáticas do ano 1976 a 2006.
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
TEMP. MED. MÁX (ºC) 29,6 29,7 29,7 27,9 24,4 23,1 23,5 25,8 26,3 28,6 29,4 29,4
TEMP. MED. MÍN. (ºC) 19,6 19,5 18,7 16,6 13,5 11,9 11,5 12,8 14,4 16,7 17,9 19,0
DIREÇÃO DOS VENTOS 270 270 270 270 270 315 270 270 270 270 270 270
DIREÇÃO DOS VENTOS E E E E E NE E E E E E E
VEL. DOS VENTOS (M/S) 2,4 2,2 2,2 2,3 2,1 2,0 2,3 2,4 2,8 2,8 2,8 2,6
UR (%) 76 76 74 71 74 75 69 62 65 66 66 73
Fonte: IAPAR (http://www.iapar.br/Sma/Estacoes_IAPAR/Londrina.htm)
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
93
1.5.3 LEVANTAMENTO DOS CRITÉRIOS RELATIVOS AO DESEMPENHO TÉRMICO ESTABELECIDOS EM CADA NORMA
Neste subitem serão abordados os parâmetros mínimios
recomendados tanto pela Norma NBR 15220:2005 quanto pelo Projeto de Norma
NBR 02:136.01.001:2007, que servirão de base para a análise do comportamento
térmico do projeto do protótipo desenvolvido com sistema construtivo leve de alto
desempenho. Esta análise será realizada pelo método simplificado previsto na NBR
15220:2005 e por simulação computacional do desempenho térmico no programa
Energy Plus, sendo que os resultados obtidos serão confrontados com o Projeto de
Norma NBR 02:136.01.001:2007 e com as horas de desconforto estabelecidas por
BARBOSA (1997).
1.5.3.1 NORMA NBR 15220:2005
Esta norma recomenda alguns limites mínimos de parâmetros
térmicos térmico que devem ser atendidos pelas paredes externas e coberturas.
Estes parâmetros são a Transmitância térmica (U), atraso térmico (φ) e o fator solar
(FSO). Os valores limites para parede ou cobertura, a ser atendido pelo projeto e/ou
edificação encontram-se apresentados na tabela 26.
Tabela 26 – Transmitância térmica, atraso térmico e fator solar
admissíveis para cada tipo de vedação.
Vedações externas Transmitância térmica – U
W/m2.k
Atraso térmico – φ
Horas
Fator solar - FS0
%
Paredes
Leve U < 3,00 φ < 4,3 FS0 < 5,0
Leve refletora U < 3,60 φ < 4,3 FS0 < 4,0
Pesada U < 2,20 φ < 6,5 FS0 < 3,5
Coberturas
Leve isolada U < 2,00 φ < 3,3 FS0 < 6,5
Leve refletora U < 2,30.FT φ < 3,3 FS0 < 6,5
Pesada U < 2,00 φ < 6,5 FS0 < 6,5
Fonte: NBR 15220-3:2005.
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
94
No entanto, antes de se verificar o atendimento aos limites prescritos
para a edificação, há a necessidade de se determinar em qual zona bioclimática esta
se encontrará inserida. Somente através desta decisão se estabelecerá qual o tipo
de parede e o tipo cobertura mais adequados à aplicação na edificação.
As diretrizes bioclimáticas estabelecidas pela norma para cada zona
climática foram sintetizadas na tabela 27.
Tabela 27 – Diretrizes bioclimáticas estabelecidas para cada zona
bioclimática.
Zonas bioclimáticas
Paredes Coberturas Leve Leve
refletora Pesada Leve
isolada Leve
refletora Pesada
Zona 1 X X
Zona 2 X X
Zona 3 X X
Zona 4 X X
Zona 5 X X
Zona 6 X X
Zona7 X X
Zona 8 X X Fonte: Sintetizada da NBR 15220-3:2005.
Esta norma ainda estabelece diretrizes construtivas referentes as
aberturas para ventilação com a intenção de adequar a edificação as condições de
climas locais. Estas diretrizes são apresentadas na tabela 28.
Tabela 28 – Diretrizes construtivas relativas a aberturas para
ventilação.
Aberturas para ventilação A (em % da área de piso)
Pequenas 10% < A < 15%
Médias 15% < A < 25%
Grandes A > 40%
Fonte: NBR 15220-3:2005.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
95
1.5.3.2. PROJETO DE NORMA NBR 02.136.01
Em sua versão atual o projeto de norma NBR 02:136.01:2007
(Desempenho de edifícios habitacionais de até cinco pavimentos) estabelece como
procedimento para avaliação do desempenho térmico apenas o procedimento
constante na norma NBR 15220, ou seja, o método o simplificado.
Como o objetivo desta pesquisa consiste também em avaliar o
desempenho térmico por simulação, optou-se por subsidiar esta parte do trabalho na
versão de 2004, quando ainda estava previsto a utilização deste procedimento.
Como critério para valores máximos de temperatura o projeto de
norma determina que o valor máximo diário da temperatura do ar interior de recintos
de permanência prolongada, como, por exemplo, salas e dormitórios, sem a
presença de fontes internas de calor (ocupantes, lâmpadas, outros equipamentos
em geral), deve ser sempre menor ou igual ao valor máximo diário da temperatura
do ar exterior (tabela 29).
Tabela 29 – Critério de avaliação de desempenho térmico para
condições de verão.
Nível de desempenho
Limites de temperatura do ar no verão
M* - Valor máximo diário da temperatura do ar interior ≤ valor máximo diário da temperatura do ar exterior (zonas 1 a 8)
I - Valor máximo diário da temperatura do ar interior ≤ 29°C (zonas 1 a 7) - Valor máximo diário da temperatura do ar interior ≤ 28°C (zona 8)
S - Valor máximo diário da temperatura do ar interior ≤ 27°C (zonas 1 a 7) - Valor máximo diário da temperatura do ar interior ≤ 26°C (zona 8)
NOTA – Zonas bioclimáticas de acordo com a ABNT NBR 15220/3. * Valor máximo de temperatura correspondente ao requisito mínimo obrigatório de conforto, conforme 11.2.1.
Fonte: NBR 02:136.01.001:2004.
Para os valores mínimos de temperatura o projeto de norma define
que para o dia típico de inverno, os valores mínimos diários da temperatura do ar
interior de recintos de permanência prolongada, como por exemplo, salas e
dormitórios, devem ser sempre maiores ou iguais a 12ºC (tabela 30).
CAPÍTULO 1.0 – Revisão bibliográfica
96
Tabela 30 – Critério de avaliação de desempenho térmico para
condições de inverno.
Nível de desempenho
Critério
Zonas bioclimáticas 1 a 51) Zonas bioclimáticas 6, 7 e 8
M* Valor mínimo diário da temperatura do ar interior ≥ 12oC Dispensa verificação I Valor mínimo diário da temperatura do ar interior ≥ 15oC S Valor mínimo diário da temperatura do ar interior ≥ 17oC
1) Nas zonas 1 e 2 o critério deve ser verificado considerando-se fonte interna de calor de 1000 W. NOTA – Zonas bioclimáticas de acordo com a ABNT NBR 15220/3. * Valor mínimo de temperatura correspondente ao requisito mínimo obrigatório de conforto, conforme 11.3.1.
Fonte: NBR 02:136.01.001:2004.
Os critérios referentes aos parâmetros de conforto térmico
recomendados pela norma NBR 15220:2005 e pelo projeto de norma NBR
02:136.01.001:2007, buscam auxiliar na elaboração de um projeto adequado, de
forma, que o resultado seja uma habitação que satisfaça o usuário. Entretanto, a
aplicação destas normas mostra-se ainda um pouco complexa por deixarem
algumas dúvidas. Estas dúvidas referem-se ao projeto de norma, pois este ainda
encontra-se em desenvolvimento.
Este projeto de norma tem passado por inúmeras modificações
desde suas primeiras versões. Inicialmente, o projeto de norma 02:136.01.001, em
sua versão de 2004, continha grande quantidade de parâmetros a serem atendidos,
como resistência, capacidade térmica, transmitância e as aberturas mínimas. Este
ainda previa a avaliação por três métodos distintos: o método simplificado, a
medição e a simulação computacional. No entanto, em sua versão atual estes
parâmetros e métodos de avaliação não se encontram mais presentes, sendo
recomendando por este apenas o atendimento aos parâmetros prescritos na NBR
15220:2005.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
97
CAPÍTULO 2.0 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE UM SISTEMA CONSTRUTIVO DE VEDAÇÃO VERTICAL DESTINADO A HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
98
O objetivo do trabalho consiste no desenvolvimento de um sistema
construtivo de vedação vertical misto, composto por ossatura em madeira de
reflorestamento e placas cimentíceas. O referido sistema destina-se as populações
de baixa renda, buscando atender aos critérios mínimos de desempenho térmico de
edificações presentes no projeto de norma da ABNT NBR 02:136.01.001:2007
(Desempenho de edifícios habitacionais de até cinco pavimentos) e na norma
técnica NBR 15220:2005 (Desempenho Térmico de Edificações). No entanto, para o
desenvolvimento do sistema também será considerando o atendimento aos outros
critérios de desempenho previstos no projeto de norma, como a durabilidade, a
estanqueidade e a resistência mecânica. Sendo que, durante a elaboração do
projeto habitacional também será incluso critérios relativos à funcionalidade e a
acessibilidade da edificação.
A fim de delimitar os critérios a serem utilizados no processo de
concepção do sistema construtivo e, conseqüentemente, do projeto habitacional,
buscou-se definir também os métodos e ferramentas que serão utilizados. A
definição dos requisitos, critérios e procedimentos foram embasadas na revisão
bibliográfica que considerou a normalização existente, os projetos de normas, outros
trabalhos de pesquisas e experiências realizadas no campo da habitação de
interesse social. Outro aspecto que também se encontra pré-determinado é o local
de implantação do protótipo, o campus da Universidade Estadual de Londrina, que
servirá de referência para os parâmetros climáticos.
Neste capítulo, inicialmente, buscou-se definir quais seriam os
requisitos utilizados na concepção do projeto. No entanto, estes requisitos também
serviram de subsídio para o desenvolvimento do sistema construtivo, sendo um
exemplo disto o sistema de coordenação modular.
Após a definição do projeto, tornou-se possível o desenvolvimento
do sistema construtivo devido à definição de itens importantes como: a área útil
mínima por habitante, a modulação (fundamentada na bibliografia e em pesquisas
de mercado) e a tipologia construtiva a ser adotada.
Com os princípios gerais do sistema construtivo definidos, foi
possível a determinação dos detalhes construtivos referentes a este, como o tipo de
fundação, a ossatura em madeira, as dimensões das placas e os tipos de ligações
ossatura/fundação, ossatura/ossatura e ossatura/placa.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
99
2.1. CONCEPÇÃO DO PROJETO HABITACIONAL DE INTERESSE SOCIAL
A partir da revisão bibliográfica constatou-se que todo projeto
habitacional encontra-se sujeito a alterações, sejam elas por necessidade de
aumento de área ou por simples impressão de um caráter pessoal. Com base nestas
constatações optou-se pela utilização da tipologia construtiva que mais se adequaria
às exigências futuras do usuário, ou seja, a possibilidade de ampliação com custos
reduzidos e sem grandes dificuldades técnicas para a execução da mesma.
Em virtude disto, a tipologia de edificação adotada foi a de cobertura
de duas águas, fortemente enraizada no conhecimento popular. A escolha de uma
tipologia tão convencional baseou-se na facilidade que o morador-usuário terá para
realizar a ampliação de sua casa.
Na concepção do projeto habitacional, a preocupação principal foi
proporcionar flexibilidade a planta, com ênfase à ampliação projeto-base. Esta
alteração no projeto-base pode ser desde uma simples ampliação de áreas a
incorporação de novos ambientes.
Durante a concepção do projeto habitacional buscou-se privilegiar
alguns requisitos básicos, que são apresentados a seguir:
a) A possibilidade de ampliação;
b) A possibilidade de execução pelo próprio morador;
c) A possibilidade de ampliação sem complicação da iluminação e
ventilação natural;
d) A facilidade de manutenção em instalações hidráulicas e elétricas.
Como o morador ao longo de sua vida deverá realizar algumas
intervenções, ora simples ora mais complexas, alterando inclusive o projeto-base,
desenvolveu-se um sistema construtivo que em conjunto com um projeto flexível
estaria apto a sofrer modificações sem a necessidade de grandes investimentos pelo
proprietário.
O sistema construtivo foi desenvolvido de uma forma que
possibilitasse a fácil transferência de conhecimento, tornando possível a sua difusão
entre as populações mais simples. Como vantagens este sistema proporciona a
possibilidade de reforma e ampliação do projeto com muita rapidez e quase sem
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
100
resíduos, ou seja, uma grande redução na geração de entulho. Nos casos em que
houver a necessidade de manutenção em redes elétricas e hidráulicas o sistema
propicia o fácil acesso a estes sem a necessidade de quebras ou perdas de material.
Desta forma, o projeto como um todo acaba se adequando as novas exigências
referentes à questão ambiental e a sustentabilidade.
E, por fim, outro requisito que o projeto como um todo busca atender
em relação à sustentabilidade, é no fim da vida útil funcional da edificação (perda de
função ao longo do tempo, mas não da vida útil real da edificação) oferecer a
possibilidade de desmonte e aproveitamento das peças ou mesmo de toda a
edificação (transferência) para outro local.
Quanto ao caráter técnico do projeto, houve algumas preocupações
quanto: a disposição da planta (divisões internas), as áreas construída e útil, a
modulação, ao conforto térmico, a cobertura e a funcionalidade.
A respeito da disposição interna da habitação buscou-se adequá-la
as necessidades constatadas através da revisão bibliográfica. Estas necessidades
sofreram grandes evoluções ao longo do tempo, alterando, conseqüentemente, a
repartição interna da edificação. Esta evolução baseada nos conceitos de
racionalidade afetou, inclusive, a área de cada ambiente, determinando uma grande
redução das mesmas. Tanto o BID como a UIOF consideram como composição
familiar um número mínimo de três pessoas, desta forma, optou-se por dois quartos
em virtude da área determinada para projeto, de maneira a não comprometer o
desenvolvimento das funções a que é destinado cada ambiente. Dentro desta
divisão buscou-se uma separação clara entre as três grandes áreas de atividades
(figura 19) que compõe o projeto: serviços, social e privativa.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
101
Figura 19 – Divisão em grandes áreas de atividade.
Com base no número de quatro ocupantes, elaborou-se um projeto
que teve como objetivo obter uma área útil por habitante superior a 10 m2. Com isto
chegou-se a uma área total construída de 48,63 m2 e uma área útil de 42,44m2
(47,51 m2 com área externa), ou seja, 10,61 m2 de área útil por habitante.
Outro fator relevante que o projeto busca atender são os requisitos
relacionados a funcionalidade e a acessibilidade previstos no projeto de norma NBR
02:136.01.001:2007. Neste projeto de norma encontram-se determinados o
mobiliário mínimo que cada ambiente deve conter e as dimensões mínimas
destinadas às áreas de circulação.
Com base na área útil mínima por habitante e nos requisitos de
funcionalidade, desenvolveu-se um projeto baseado no sistema de coordenação
modular, de modo, a adequá-lo ao princípio de que todo projeto é passível de
alteração.
Entretanto, para a aplicação desta ferramenta houve a necessidade
de se realizar uma pesquisa regional de mercado com intuito de verificar as
dimensões de alguns elementos e componentes construtivos. Devido a grande
quantidade existente dos mesmos, decidiu-se limitá-los a três itens principais: portas,
janelas e revestimentos cerâmicos.
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
102
Em relação às portas, constatou-se que as dimensões encontradas
regionalmente no mercado variam, independente do fabricante, entre 60 cm e 90 cm.
As janelas encontram-se limitadas tanto nas dimensões quanto nos
fabricantes, quando se restringe o público alvo a população de baixa renda.
Regionalmente, constatou-se que as dimensões predominantes são de
1,00 x 1,50 m, 1,20 m x 1,50 m, 1,00 x 2,00 m, e 1,20 m x 2,00 m. Sendo os
fabricantes que regionalmente tem dominando este segmento de mercado a Lukasa
e a Sasazaki.
Quanto ao revestimento cerâmico, observou-se que o mercado não
se utiliza de padrões para este segmento, ou seja, cada fabricante acaba definindo
dimensões personalizadas para seus produtos. Desta forma, torna-se quase
impossível estabelecer um sistema modular compatível com este componente.
Depois de constatado as dimensões dos elementos e componentes
regionalmente encontrados no mercado, buscou-se definir o módulo. No entanto,
para a definição deste teve-se de atentar aos seguintes requisitos:
a) Adequar a medida, comercialmente, encontrada de uma viga de
pinus de três metros;
b) Determinar a dimensão que ofereça placas, para vedação, com
peso dentro do limite de 60 kg, possibilitando o trabalho com apenas dois operários;
c) Oferecer maior compatibilidade com os elementos e componentes
encontrados regionalmente no mercado;
d) Proporcionar maior facilidade de ampliação, ou seja, um número
reduzido de famílias de placas.
Portanto constatou-se que o módulo que melhor atenderia a estes
requisitos seria o de 75 cm. Isto porque módulos maiores dificultariam possíveis
alterações, engessando ao projeto. No entanto, módulos menores significariam mais
placas, comprometendo o tempo de produção e a estética do projeto, devido ao
aumento de juntas.
Dentro da Coordenação Modular os seguintes itens serão utilizados
na concepção do projeto habitacional de interesse social e na elaboração do sistema
construtivo, conforme anexo A.
1 – Sistema de referência: Sistema de coordenadas através do qual
se podem determinar as dimensões e a posição dos elementos de construção.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
103
2 – Malha de referência ou quadrícula de referência: Sistemas de
linhas auxiliares através do qual se pode determinar num plano as dimensões e a
posição dos elementos de construção. ( Podem-se aplicar apenas algumas linhas de
referência dessa malha devidamente selecionadas).
3 – Malha modular base: Malha cujas linhas estão espaçadas da
distância de um módulo base.
4 – Malha modular ou Quadrícula modular: Malha em que os
intervalos entre as linhas são múltiplos do módulo base, iguais ou não segundo os
dois eixos coordenados.
5 – Malha de projeto: São malhas utilizadas na elaboração de
projetos. Os intervalos não são necessariamente regulares, sendo o retículo
determinado por exigências do edifício em questão, pela necessidade dos clientes e
pelo método de construção.
6 – Malha modular de projeto: Malha modular aplicada ao projeto
que serve para determinar a posição dos elementos.
7 – Módulo de projeto: Multi-módulo correspondente à distância das
linhas de uma malha modular do projeto.
8 – Módulo de estrutura: Módulo de projeto utilizado na definição da
estrutura de uma construção.
9 – Planos Principais: Planos tangentes aos elementos principais da
construção.
10 – Zona: Espaço entre os planos principais a ser ocupados total ou
parcialmente pelos elementos construtivos principais.
11 – Linha de referência ou de controle: Qualquer linha da malha de
referência que é escolhida para a origem das dimensões da coordenação.
12 – Dimensão da Coordenação Modular ou de Controle: Dimensão
que define a relação entre um elemento construtivo e outro elemento.
13 – Medida: Expressão numérica de uma grandeza linear, num
sistema de medidas qualquer.
Após a análise de todos estes requisitos pré-determinados para o
desenvolvimento do projeto, buscou-se conciliar a todos sem promover grandes
alterações na malha modular de projeto. Em relação às alterações propostas na
malha modular, estas se referem ao deslocamento das portas internas com intuito de
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
104
maximizar a utilização da área interna e a elaboração de oito placas nas seguintes
dimensões 1495 x 520 x 30 mm e, dez placas nas seguintes dimensões 290 x 1495
x 30 mm.
A figura 20 mostra o projeto-base na sua concepção final, destaca-
se que este projeto está baseado no atendimento aos requisitos mencionados
anteriormente (incluindo as alterações previstas), respeita as dimensões mínimas do
lote (10,00 x 25,00 m determinada pela Lei 6766 de 1976) e os requisitos
estabelecidos pelo Código de Obra e do Município de Londrina (afastamentos – 1,50
das divisas laterais do lote –, recuos mínimos – 5,00 m da calçada da rua e 1,50 m
da divisa de fundo – e área permeável – 25% da área do lote).
QUARTO
COZINHA
QUARTO
CIRCULAÇÃO
BWC
SALA
ÁREA EXTERNA
N
Figura 20 – Projeto-base de acordo com a implantação mais adequada em relação
à radiação solar.
Partindo-se do projeto-base a próxima etapa foi definir a melhor
orientação para implantação do protótipo, considerando que este estará localizado
no campus da Universidade Estadual de Londrina. Com base no estudo realizado
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
105
por MASCARÓ (1991) definiu-se que a orientação mais adequada para implantação
do protótipo, para região, situada entre as latitudes 23º8’47” e 23º55’45”, é a com
eixo longitudinal no sentido leste-oeste (figura 20).
Em relação às áreas de ventilação, estas foram projetadas de
acordo com o exigido pela norma NBR 15220:2005 (Desempenho Térmico de
Edificações), buscando propiciar conforto térmico, através de uma adequada
ventilação e iluminação. As janelas utilizadas serão de abrir com venezianas para os
quartos, de abrir sem venezianas para a cozinha, do tipo guilhotina para a sala e,
máximo ar para o banheiro.
Em relação aos ventos dominantes foi possível constatar, através da
média histórica apresenta pelo IAPAR, que a orientação predominante é a de Leste.
A velocidade média deste é de aproximadamente 2,4 m/s a dez metros do chão.
Com base neste dado, observou-se que a orientação em relação à radiação solar
também é considerada favorável a direção do vento predominante, figura 21.
N
Figura 21 – Ventilação pela orientação leste, direção predominante dos ventos em
Londrina.
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
106
Além dos detalhes relacionados com projeto tais como: a
implantação, a distribuição dos ambientes, dentre outros, há mais dois detalhes que
vêm a contribuir com a adequação da edificação aos parâmetros mínimos de
desempenho térmico previsto em normas técnicas. O primeiro detalhe refere-se à
câmara de ar (figura 22) criada nas paredes da edificação. Esta contribui de forma
significativa na redução da transmissão térmica, uma vez que se apresenta como um
importante instrumento utilizado no controle térmico das edificações. O segundo
detalhe refere-se ao brise (figura 23) localizado na fachada oeste. Este tem por
função reduzir a carga térmica recebida pelas placas cimentícias localizadas nesta
orientação e, conseqüentemente, propiciar uma redução na temperatura interna da
edificação.
GANG NAIL
PILAR EM MADEIRA
BRISE EM MADEIRA
VIGA EM MADEIRA
PLACA CIMENTÍCIACÂMARA DE AR
CHAPA METÁLICA
Figura 22 – Detalhe da câmara de ar proporcionada pelo sistema construtivo
desenvolvido.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
107
BRISE EM MADEIRA
FACHADA OESTE
Figura 23 – Detalhe do brise em madeira localizado na fachada oeste.
A cobertura conforme a figura 24 será realizada em duas águas, a
escolha deste sistema baseou-se na simplicidade do processo construtivo e
amplamente difundido, utilizando-se de telhas cerâmicas do tipo capa e canal, que
oferecem um desempenho térmico superior ao das telhas de fibrocimento.
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
108
N
Figura 24 – Cobertura.
A partir do momento em que os parâmetros de projeto foram
definidos e aplicados na concepção do protótipo, foi possível a realização do
desenvolvimento do sistema construtivo. Cabe destacar, que para a concepção do
projeto os itens que foram levados em consideração buscaram que a edificação
tivesse um caráter sustentável, ou seja, embasado nos princípios de desempenho
técnico, econômico e social.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
109
2.2. DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA CONSTRUTIVO BASEADO NOS CONCEITOS DE MODULAÇÃO
Com a definição do projeto e do módulo a ser adotado, partiu-se
para o desenvolvimento do sistema construtivo que teve como requisitos básicos na
sua concepção propiciar: maior facilidade de execução e maior praticidade em
processos de ampliação e manutenção.
Em virtude disto baseou-se o desenvolvimento do sistema
construtivo nos conceitos da Coordenação Modular, buscando através desta
ferramenta compatibilizar os elementos do sistema proposto com alguns
componentes oferecidos pelo mercado. Além disso, a utilização dos princípios da
coordenação modular facilita a transferência de conhecimento e o controle da
qualidade da construção. Outra vantagem propiciada pela utilização desta
ferramenta é a adequação do sistema as novas exigências impostas atualmente,
sendo uma destas a sustentabilidade. Esta ferramenta contribui nesse aspecto
porque reduz as perdas provenientes dos cortes das placas, possibilita a reutilização
destas, contribuindo, desta maneira, para a redução no consumo de matéria-prima e
de energia utilizada na transformação das mesmas.
Todos os benefícios esperados acima deverão ocorrer devido ao tipo
de sistema construtivo adotado, por constituir-se de uma ossatura em madeira,
baseado no sistema “Balloom Frame” americano, com função estrutural revestida
por camada dupla de placas cimentícias executadas em Concreto Celular Espumoso
de Alto Desempenho.
O sistema construtivo foi desenvolvido para se adaptar a qualquer
tipo de fundação. Entretanto, cabe ressaltar que a base dos pilares deverá ser
precedida por um baldrame impermeabilizado, de maneira, a minimizar o contato
destes com a umidade proveniente do solo.
A preocupação com a umidade proveniente do solo encontra-se
diretamente relacionada com a utilização da madeira na ossatura. A escolha da
madeira baseou-se principalmente no tipo de cultivo, buscando-se levantar se este
era regido pelos princípios da sustentabilidade. Com base nesta análise, acabou-se
por optar pela utilização do Pinus Taeda, fortemente cultivado no Estado do Paraná,
por se mostrar apropriada a atividade da construção civil.
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
110
Com a determinação da madeira a ser utilizada, partiu-se para a
aplicação dos princípios que definiram a concepção do protótipo. O primeiro item a
ser desenvolvido foi a ossatura, devido a sua função estrutural, ou seja, é esta que
servirá de base para o desenvolvimento de todo o protótipo.
A ossatura encontra-se embasada no meio módulo-base, ou seja,
com espaçamento entre os eixos dos pilares equivalente a 375 mm. A escolha da
utilização do meio módulo-base no desenvolvimento da ossatura foi definida em
função da placa cimentícia, pois a concepção desta partiu do módulo-base, ou seja,
750 mm. Em virtude disto, estas poderiam vir a apresentar fragilidade no meio do
vão e, buscando minimizar este efeito, optou-se por posicionar pilares nestes pontos
tornando estrutura mais resistente a impactos laterais. A amarração de toda a
ossatura será realizada por meio de uma viga (figura 25) que circunda toda a
extremidade da edificação, conferindo-lhe resistência e estabilidade.
Figura 25 – Detalhe da viga de amarração que contorna toda a edificação.
Para vedação vertical, optou-se pela utilização de placas
cimentícias,em camada dupla, executadas em CCEAD, com espessura de 30 mm.
Tanto a espessura de 30 mm quanto a densidade 1874 kg/m3 foi determinada
através da análise do comportamento térmico do protótipo (Capítulo 03) e, pelo peso
próprio de cada componente.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
111
O Concreto Celular Espumoso de Alto Desempenho (CCEAD)
possui bom desempenho em relação a resistência à compressão e
impermeabilidade quando comparado ao concreto convencional. Os resultados
obtidos na pesquisa realizada sobre o CCEAD por CORTELASSI (2005) foram
sintetizados na tabela 31.
Tabela 31 – Características do Concreto Celular Espumoso de Alto
Desempenho (CCEAD).
CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO CELULAR ESPUMOSO DE ALTO DESEMPENHO
Concretos (kg/m3)
Teor de espuma
(%)
Relação entre abatimentos
(%)
Teor de ar incorporado
(%)
Resistência à compressão média – 28 dias (MPa)
Resist. à tração média (MPa)
Absorção média
por imersão
(%) 72 horas
Absorção média por capilari-
dade (g/cm2) 72
horas
Amostra 1.874
32 16,7 22,0 25,18 1,90 2,09 0,31
Amostra 1.720
54 20,8 29,0 14,51 0,75 2,50 0,31
Amostra 2.432
0 - 3,9 70,91 6,45 1,88 0,19
Amostra 1.859
33 16,7 20,0 18,82 1,68 2,10 0,31
Amostra 2.009
21 12,0 15,0 27,52 2,34 1,93 0,28
Fonte: CORTELASSI, 2005.
As dimensões das placas podem ser constatadas na figura 26.
Figura 26 – Família de placas cimentíceas.
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
112
Para garantir a estanqueidade entre as placas, pensou-se em duas
soluções, a adoção de uma ou de outra dependerá da escolha do acabamento final
determinado pelo usuário. A primeira opção refere-se à utilização de um selante
flexível em conjunto com o mastique, quando o objetivo é deixar as placas aparente.
No entanto, se a escolha do usuário for uma pintura ou mesmo outro tipo
revestimento, este pode se utilizar de uma superfície aderente.
Segundo BARTH (2007), os selantes têm a propriedade de
deformarem-se com as variações da temperatura e umidade e ainda apresentarem
deformação induzida pelo movimento dos painéis ou placas que conformam a junta.
Estas características fazem com que a deformação do selante na placa seja
contrário ao seu movimento natural, frente às variações higro-térmicas. Assim os
materiais selantes, quando submetidos a baixas temperaturas tendem a diminuir de
tamanho, porém, os componentes vizinhos ao reduzirem a suas dimensões,
provocam uma expansão induzida pela adesão entre a placa e o selante. De modo
similar, o material selante apresenta uma diminuição de tamanho quando a
temperatura se leva. Este fenômeno pode se manifestar através de ciclos diários.
Segundo GRASSIOTTO (2004), o uso de superfície aderente é uma
técnica de construção econômica introduzida inicialmente nos Estados Unidos no
final dos anos sessenta, pelo departamento de agricultura, para o emprego nas
construções residenciais de baixo custo. Este sistema é em paredes montadas a
seco, geralmente, em blocos, em que se utiliza uma fina camada de argamassa
reforçada com fibras sintéticas, produzindo-se assim uma parede forte a despeito da
finura do material em cada face, da ordem de 3 mm. A película superficial une os
blocos de concreto entre si formando uma superfície sólida e protegida da
penetração de água.
Ainda em relação a estanqueidade ressalta-se que a disposição das
placas cimentícias com sua dimensão maior no sentido vertical visa a redução das
juntas horizontais, consideradas problemáticas (figura 27). Entretanto, na busca por
minimizar os efeitos provocados pela umidade sobre o conjunto, localizou-se sob
cada junta vertical e horizontal da face externa das paredes um elemento da
ossatura em madeira. Desta forma, a seqüência dos materiais existentes em uma
junta do exterior para o interior é: selante flexível, mastique e elemento de madeira,
figura 28.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
113
Figura 27 – Disposição das placas cimentícias com sua dimensão maior no
sentido vertical.
.
Figura 28 – Detalhe da junta entre as placas cimentícias.
As ligações entre a ossatura em madeira e o baldrame são
realizadas por meio de peças metálicas em forma de “T” invertido, figura 29, com
intuito de reduzir a deterioração da madeira por umidade proveniente do solo. Estas
peças evitam que a base dos pilares entre em contato direto com o baldrame. A
forma como as peças metálicas são dispostas, também evitam o acúmulo de água
entre estas e o pilar de madeira, contribuindo desta forma, para maior durabilidade
da ossatura.
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
114
Figura 29 – Detalhe da ligação entre a ossatura em madeira e o baldrame.
As ligações entre as peças componentes da ossatura serão
realizadas por meio de “gang nails” e pregos, com intuito de garantir maior
estabilidade e durabilidade à estrutura. A figura 30 mostra os gang nails de fixação
entre os componentes da estrutura (vigas e pilares) e entre a ossatura e as placas
cimentícias. Ainda nesta imagem, pode-se observar o vigamento duplo que servirá
de apoio a laje mista.
Figura 30 – Detalhe da ligação entre as peças componentes da ossatura em
madeira.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
115
As ligações entre a ossatura e as placas cimentícias serão
intermediadas por peças metálicas do tipo “gang nail” (fig. 30 e 31). Estas peças
compensarão todos os esforços provenientes de alterações climáticas, evitando,
assim, que as placas cimentícias venham a sofrer deformações. Estas peças serão
fixadas nos pilares e, posteriormente, as placas cimentícieas serão aparafusadas a
estas. Outro detalhe, relevante refere-se à utilização de inserts metálicos na placa
cimentícia (figura 31). Estes possuem a função evitar a fissuração e/ou quebra das
bordas durante a montagem, além de contribuir com a agilidade na execução devido
a redução da necessidade da execução de furos “in loco”.
Figura 31 – Detalhe da ligação entre a ossatura em madeira e as placas
cimentíceas.
Na busca de simplificar um pouco mais o processo construtivo,
surge como possibilidade a pigmentação das placas (figura 32 e 33), ainda no
processo de fabricação, dispensando a aplicação de acabamentos, como
revestimentos cerâmicos e pinturas. Esta alternativa proporciona também a redução
do tempo de execução e do custo final da habitação.
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
116
Figura 32 – Possibilidade de produção de placas pigmentadas.
Figura 33 – Possibilidade de produção de placas pigmentadas.
Na busca de melhora o desempenho térmico e estético da edificação
foi projetado um brise em madeira de Pinus Taeda e o telhado localizado na área
frontal da casa, como itens adicionais ao projeto. Estes foram subsidiados na
hipótese de que possam ou não estar inclusos na edificação. Com base neste
princípio elaborou-se um sistema de montagem simples e que dispensaria a quebra
de placas. Desta forma, inicialmente, o brise poderá ser instalado e, posteriormente,
em caso de ampliação do projeto-base poderá ser removido sem grandes
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
117
dificuldades, quebras e custos. Os detalhes da fixação do brise e do telhado frontal
podem ser observados nas figuras 34 e 35.
Figura 34 – Detalhe da fixação do brise.
Figura 35 – Detalhe da fixação do telhado frontal.
Uma das vantagens que o sistema desenvolvido visa proporcionar é
a facilidade em ampliações do projeto-base. Sendo um requisito básico para o
desenvolvimento deste sistema a identificação de um módulo que proporcionasse
um menor número de famílias de placas, pois, desta maneira, a transferência de
conhecimento se tornaria mais simples e rápida. Ainda com base neste princípio,
desenvolveram-se placas específicas para as extremidades da habitação que, além
de, simplificar o processo, elas têm por função garantir a estanqueidade destes
CAPÍTULO 2.0 – Desenvolvimento de um sistema construtivo de vedação vertical destinado a habitações de interesse social.
118
pontos considerados críticos em edificações executadas com este tipo de sistema
construtivo. A figura 36 demonstra de forma simplificada o processo de ampliação de
um ambiente.
Figura 36 – Facilidade em ampliações do projeto-base.
Os detalhes construtivos tanto do sistema de vedação vertical
quanto do protótipo desenvolvido encontram-se apresentados em anexo.
No capítulo 03 serão apresentados os resultados obtidos de
desempenho térmico que subsidiaram a concepção do sistema construtivo proposto
neste capítulo.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
119
CAPÍTULO 3.0
ANÁLISE DO DESEMPENHO TÉRMICO DO SISTEMA CONSTRUTIVO PROPOSTO
CAPÍTULO 3.0 – Análise do desempenho térmico do sistema construtivo proposto
120
3.0. ANÁLISE DO DESEMPENHO TÉRMICO DO SISTEMA CONSTRUTIVO PROPOSTO
A verificação do desempenho térmico do sistema construtivo
desenvolvido será realizada por dois métodos. A primeira consiste na análise pelo
método simplificado com base na norma NBR 15220:2005 e, a segunda será
realizada por meio de simulação computacional através do programa Energy Plus.
3.1. VERIFICAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO PELO MÉTODO SIMPLIFICADO
O método simplificado de verificação do desempenho térmico consiste
no cálculo da transmitância (U) e capacidade (CT) térmica, do atraso térmico (φ) e do
fator solar (FSO), e, na confrontação dos resultados com os limites recomendados
pela norma NBR 15220:2005. Os resultados obtidos destes cálculos são
apresentados nas tabelas 32, 33, 34 e 35.
Tabela 32 – Resultados obtidos para placa cimentícia com 25 mm.
CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS DA VEDAÇÃO VERTICAL
Itens relativos a desempenho térmico
COMPOSIÇÃO DAS PAREDES COM PLACAS DE 25 MM DE CCEAD
CCEAD+AR+CCEAD CCEAD+AR+ GESSO
Resitência Térmica (RT) - ((m2.K)/W) 0.5220 0.5976
Transmitância Térmica (U) - (W/(m2.K)) 1.81 1.67
Capacidade térmica ( CT) - (KJ/(m2.K)) 102 101
Atraso térmico (j) - (h) 3.1 3.2
Fator Solar (FS0) para a cor 0.5 3.6% 3.3%
Fator Solar (FS0) para a cor 0.7 5.1% 4.7%
Fator Solar (FS0) para a cor 0.3 2.2% 2.0%
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
121
Tabela 33 – Resultados obtidos para placa cimentícia com 30 mm.
CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS DA VEDAÇÃO VERTICAL
Itens relativos a desempenho térmico
COMPOSIÇÃO DAS PAREDES COM PLACAS DE 30 MM DE CCEAD
CCEAD+AR+CCEAD CCEAD+AR+ GESSO
Resitência Térmica (RT) - ((m2.K)/W) 0.5630 0.6174
Transmitância Térmica (U) - (W/(m2.K)) 1.78 1.62
Capacidade térmica ( CT) - (KJ/(m2.K)) 122 120
Atraso térmico (j) - (h) 3.4 3.6
Fator Solar (FS0) para a cor 0.5 3.6% 3.2%
Fator Solar (FS0) para a cor 0.7 5.0% 4.5%
Fator Solar (FS0) para a cor 0.3 2.1% 1.9%
Tabela 34 – Resultados obtidos para placa cimentícia com 35 mm.
CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS DA VEDAÇÃO VERTICAL
Itens relativos a desempenho térmico
COMPOSIÇÃO DAS PAREDES COM PLACAS DE 35 MM DE CCEAD
CCEAD+AR+CCEAD CCEAD+AR+GESSO
Resitência Térmica (RT) - ((m2.K)/W) 0.5738 0.6371
Transmitância Térmica (U) - (W/(m2.K)) 1.74 1.57
Capacidade térmica ( CT) - (KJ/(m2.K)) 141 139
Atraso térmico (j) - (h) 3.7 4.0
Fator Solar (FS0) para a cor 0.5 3.5% 3.1%
Fator Solar (FS0) para a cor 0.7 4.9% 4.4%
Fator Solar (FS0) para a cor 0.3 2.1% 1.9%
Tabela 35 – Resultados obtidos para cobertura com laje mista.
CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS DA COBERTURA
Itens relativos a desempenho térmico LAJE MISTA
Resitência Térmica (RT) - ((m2.K)/W) 0.7341
Transmitância Térmica (U) - (W/(m2.K)) 1.36
Capacidade térmica ( CT) - (KJ/(m2.K)) 101
Atraso térmico (j) - (h) 4.1
Fator Solar (FS0) para a cor 0.75 4.1%
Fator Solar (FS0) para a cor 0.8 4.4%
De acordo com a parte 03 da norma NBR 15220:2005, toda edificação
localizada na Zona Bioclimática 03, deverá atender duas diretrizes construtivas
básicas: a primeira refere-se as paredes e, determina que elas sejam leves e
CAPÍTULO 3.0 – Análise do desempenho térmico do sistema construtivo proposto
122
refletoras; e, a segunda refere-se a cobertura, definindo que esta seja leve e
isolada.
Pelo método descrito em norma, os resultados obtidos demonstraram
que paredes com mais massa, ou seja, maiores volumes ofereceram melhor
desempenho térmico. No entanto, para atender a todos os requisitos de norma (leve
e refletora), para espessura de 30 mm utilizada em projeto, há a necessidade de que
a superfície externa receba uma camada de pintura branca.
No caso da cobertura, apesar da norma determinam que esta seja leve
e isolada, observar-se na tabela 35, que se optou pela utilização de uma laje mista.
A adoção de uma cobertura mais pesada se justificará no próximo subitem, onde se
identificou a necessidade de maior densidade ou maior massa da cobertura, para
que a edificação apresente um bom desempenho térmico.
3.2. VERIFICAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO POR SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL
Neste subitem serão apresentados os resultados de desempenho
térmico obtidos pela simulação computacional do protótipo e, estes serão
confrontados com os requisitos determinados pela norma NBR 15220:2005 e pelo
projeto de norma NBR 02:136.01.001:2007.
Apesar de existirem atualmente diversos programas destinados a
avaliação do desempenho térmico, preferiu-se pela adoção do Energy Plus, por se
encontrar em uso em um grande número pesquisas científicas e, por ser
considerado uma ferramenta confiável segundo a ASHRAE.
3.2.1. O PROGRAMA ENERGY PLUS
O Energy Plus (E+) tem suas raízes em dois programas: DOE-2 e
BLAST (Building Loads Analysis and System Thermodynamics), que foram
desenvolvidos no final dos anos 70 e início dos anos 80, como uma ferramenta de
simulação de energia e de carga térmica. Para a realização dos cálculos o Energy
Plus utiliza o conceito de Zonas, que não corresponde necessariamente a um único
ambiente, mas a um conjunto de ambientes submetidos a uma mesma condição. As
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
123
zonas podem interagir umas com as outras através de superfícies adjacentes e
misturas de fluxos de ar.
O programa Energy Plus por ser um software de caráter científico, não
possui uma interface muito amigável (figura 37), o que dificulta a adesão deste por
novos usuários. Os dados de entrada e de saída do programa são armazenados em
arquivos de textos em formato ASCII, podendo ser visualizados em qualquer
programa de edição de texto,
Figura 37 – Interface do programa Energy Plus.
3.2.1.1. BALANÇO DE ENERGIA UTILIZADO PELO PROGRAMA E+
O método utilizado pelo programa E+ para o balanço de energia
assume as seguintes hipóteses :
- Temperaturas das superfícies uniformes;
CAPÍTULO 3.0 – Análise do desempenho térmico do sistema construtivo proposto
124
- Radiação de onda curta e longa uniforme;
- Condução não interior do elemento; e
- Uma zona térmica apresenta temperaturas diferentes.
O balanço de energia realizado é dividido em três etapas: as
superfícies externas, as superfícies internas e o ambiente interno.
3.2.1.2. RADIAÇÃO SOLAR
Para o cálculo da radiação solar que incide sobre uma superfície, o E+
leva em consideração três fatores: A distribuição isotrópica que cobre
completamente o domo espacial; a radiação solar direta e a radiação solar difusa. A
proporção das distribuições dos componentes depende das condições do céu,
caracterizadas por duas grandezas, fator de claridade e fator de brilho. O programa
E+ assume que a radiação solar direta é emitida por um ponto fonte localizado no
centro do sol, mesmo que a emissão comece na periferia do disco e decresça a
intensidade com o aumento da distância angular em relação a periferia. A radiação
horizontal é assumida como uma fonte horizontal linear independente do azimute.
Os dados de incidência de radiação solar em uma determinada região
são fornecidos pelo arquivo climático, o qual consta a medição da radiação solar
direta, difusa em base temporal ao longo de um período.
3.2.1.3. DADOS CLIMÁTICOS
Os dados climáticos fornecem informações ao longo do dia como
temperatura, velocidade dos ventos, umidade relativa, temperatura do solo dentre
outros. Essas informações são horárias e correspondem a um ano real
representativo da região, ou seja, ao ano de referência – TRY (Test Reference
Year). Essas informações são formatadas de acordo com a ASHRAE (American
Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers.), gerando arquivos
do tipo IWEC (International Weather for Energy Calculations). Também se pode
montar um arquivo buscando meses característicos ao longo dos anos de amostras
para se formar um ano que mais se assemelha as condições climáticas da região,
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
125
eliminando variações. Este método chama-se Sandia e gera um arquivo do tipo
TMY- Test Meteorological Year.
3.2.1.4. INFILTRAÇÃO E VENTILAÇÃO
A diferenciação entre a infiltração ou ventilação no E+ é dada pela
intenção de penetração de ar exterior no ambiente. Se a penetração não for
intencional, é caracterizada por infiltração, se for intencional, é ventilação. Para fim
de cálculo rege a penetração de ar exterior no ambiente independente da intenção.
A velocidade dos ventos pode ser obtida através do arquivo climático,e
se o usuário tiver dados sobre a direção dos ventos, uma análise mais detalhada da
influência dos ventos externos na infiltração pode ser feita.
3.2.3. SIMULAÇÃO TÉRMICA
Inicialmente, para a realização da simulação térmica houve a
necessidade de se estimar o volume de trocas de ar. Através do conhecimento deste
dado pode-se determinar o fluxo de ar dentro da edificação, sendo este um dos
requisitos necessários para garantir a fidelidade dos resultados obtidos numa
simulação
Tabela 36 – Resultados referentes a cálculos de ventilação necessários
para simulação no programa Energy Plus.
COEFICIENTE DE PRESSÃO DO VENTO 0,36
COEFICIENTE DE PRESSÃO DO VENTO PARA ÁREA URBANA
K 0,40
A 0,25
VELOCIDADE DO VENTO NA ALTURA DA CUMEEIRA 1,43 m/s
ÁREA DE VENTILAÇÃO - ENTRADA 5,14 m2
ÁREA DE VENTILAÇÃO SAÍDA 1,75 m2
AW 1,66 m2
FLUXO DE AR – VENTILAÇÃO CRUZADA (Q) 0,85 m3/s
FLUXO DE AR – VENTILAÇÃO UNILATERAL (Q) 0,18 m3/s
VOLUME DO AMBIENTE (ZONA 01) 141,03 m3
NÚMERO DE TROCAS DE AR POR HORA PARA VENTLAÇÃO CRUZADA 21,75 Volume/h
NÚMERO DE TROCAS DE AR POR HORA PARA VENTLAÇÃO UNILATERAL 4,68 Volume/h
CAPÍTULO 3.0 – Análise do desempenho térmico do sistema construtivo proposto
126
Outro fator relevante em relação a tabela 36, refere-se a área de
ventilação. As aberturas de ventilação equivalem a 14,09% da área de piso, que de
acordo com a norma NBR 15220:2005, estas se enquadram no nível mínimo.
No entanto, cabe ressaltar que não se utilizou de aberturas maiores
nesta edificação para não comprometer o seu desempenho térmico. Isto porque,
quanto maior fosse o volume de trocas de ar, maiores seriam os ganhos de calor no
verão e as perdas deste no inverno.
3.2.3.1. CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS DO CONCRETO CELULAR ESPUMOSO DE ALTO DESEMPENHO
Para a realização da simulação do desempenho térmico do protótipo,
houve a necessidade de se conhecer as características térmicas deste novo material
desenvolvido, o CCEAD. Sendo considerado como requisito essencial a avaliação
do desempenho térmico do sistema construtivo desenvolvido, seja pelo método
simplificado ou por simulação computacional o conhecimento da condutividade
térmica deste material.
Como a necessidade principal para a avaliação do desempenho
térmico do sistema construtivo desenvolvido consistia em conhecer a condutividade
térmica deste novo material, foram enviadas para o Laboratório de Meios Porosos e
Propriedades Termofísicas de Materiais do Departamento de Engenharia Mecânica
da Universidade Federal de Santa Catarina, aos cuidados do prof. Dr. Saulo Güths,
três amostras de 100 x 100 x 30 mm, com diferentes densidades, para a realização
de ensaios no equipamento Condutivímetro Fluxímetro. Os resultados obtidos para
as três amostras são apresentados na tabela 37.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
127
Tabela 37 – Condutividade térmica das amostras de CCEAD.
Amostra
Espessura (mm)
Diferença de
temperatura (oC)
Fluxo de Calor
(W/m2)
Condutividade
Térmica (W/mK)
Amostra 1 1874 kg/m3
30
17.9
434.3
0.94
Amostra 2 2432 kg/m3
31
17.5
480.5
1.13
Amostra 3 2580 kg/m3
31
15.8
479.5
1.32
Fonte: Relatório técnico de ensaio apresentado pelo Prof. Dr. Saulo Güths –
LMPT/UFSC 2007.
Dentre as três amostras enviadas, selecionou-se para a utilização no
protótipo a de densidade de 1874 kg/m3. Esta foi escolhida por proporcionar uma
grande redução no peso próprio de cada componente e, também, por possuir uma
condutividade térmica bem inferior ao concreto convencional que é em torno de 1,75
W/mK, o que propiciou um bom desempenho térmico do protótipo.
3.2.3.2. ENTRADA DE DADOS NO ENERGY PLUS
Para a realização da simulação do desempenho térmico do protótipo,
as características geométricas tiveram de ser inseridas na forma de coordenadas,
para que o programa reconhecesse o mesmo como um objeto tridimensional. O
Energy Plus interpreta os dados lançados durante o processo de simulação,
demonstrando se há ou não erros relacionados ao lançamento destes em seu
arquivo CSV. Caso seja constatado alguma irregularidade, o programa possibilita a
geração um arquivo no formato DXF, que pode ser visualizado em qualquer
programa Cad, facilitando, desta forma, a identificação dos erros. O esquema de
lançamento dos dados relacionados a geometria pode ser observado na figura 38, o
das aberturas na figura 39 e, a imagem resultante de todo o processo na figura 40.
CAPÍTULO 3.0 – Análise do desempenho térmico do sistema construtivo proposto
128
Figura 38 – Lançamento da geometria por meio de coordenada.
Figura 39 – Lançamento das aberturas por meio de coordenada.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
129
Figura 40 – Arquivo DXF resultante dos dados lançados.
3.2.3.3. OS RESULTADOS OBTIDOS PELO PROCESSO DE SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DO DESEMPENHO TÉRMICO DO PROTÓTIPO HABITACIONAL DESENVOLVIDO
A tabela 38 apresenta os resultados de todas as simulações realizadas
no programa Energy Plus. O grande número de simulações se deve a necessidade
de se conhecer o comportamento do sistema em relação ao desempenho térmico. O
comportamento do sistema foi se tornando mais claro com a inserção gradual de
pequenas modificações que visassem a melhoria do seu desempenho. Estas
modificações consistiam na substituição, eliminação ou acréscimo de materiais ou,
simplesmente no aumento da espessura das placas cimentícias.
Na avaliação do desempenho térmico do protótipo, adotou-se os limites
de conforto estabelecido por GIVONI para países em desenvolvimento, ou seja,
serão consideradas como adequadas as temperaturas localizadas dentro do
intervalo de 18ºC a 29ºC. Outro fator que também será considerado será o total de
horas de desconforto. Segundo BARBOSA (1997), considera-se como limite ideal
1000 horas de desconforto para a região de Londrina.
CAPÍTULO 3.0 – Análise do desempenho térmico do sistema construtivo proposto
130
Com base nestes dados constatou-se que o protótipo apresentava
como característica principal a necessidade de conservar calor no inverno, em
virtude disto, optou-se pela utilização de placas cimentícias tanto para fechamento
interno como externo e, pela adoção de laje mista por oferecer uma boa relação
custo-benefício quando relacionado a este quesito.
Tabela 38 – Resultados obtidos em simulações.
SIMULAÇÃO REALIZADA NA VERSÂO 1.3 DO ENERGY PLUS
HORAS DE DESCONFORTO NO VERÃO
HORAS DE DESCONFORTO NO INVERNO
TOTAL DE HORAS DE DESCONFORTO
TOTAL IDEAL DE HORAS DE DESCONFORTO PARA A REGIÂO DE LONDRINA/PR
- - 1000
RESISTÊNCIA DE TODAS AS CÂMARAS DE AR DA COBERTURA DESCENDENTE ASCENDENTE
0.21 0.14
HORAS DE DESCONFORTO (EXTERNA) 570 1948 2518
FINAL 01 SEM FORRO (PIOR CONDIÇÃO) 537 1680 2217
COMPOSIÇÃO DE PAREDES SEM ISOLANTE TÉRMICO
FINAL 01 COM FORRO SIMPLES EM CCEAD 355 1180 1535 FINAL 01 COM FORRO SIMPLES EM GESSO 420 1215 1635
FINAL 01 COM FORRO SIMPLES EM MADEIRA 437 1253 1690
COMPOSIÇÃO DE PAREDES COM COBERTURA COM ISOLANTE TÉRMICO
FINAL 01 COM FORRO SIMPLES EM CCEAD - COM LÃ DE ROCHA SOBRE O FORRO
326 967 1293
FINAL 01 COM FORRO SIMPLES EM GESSO - COM LÃ DE ROCHA SOBRE O FORRO
391 1042 1433
FINAL 01 COM FORRO SIMPLES EM MADEIRA - COM LÃ DE ROCHA SOBRE O FORRO
410 1082 1492
COMPOSIÇÃO DE PAREDES COM LAJE
FINAL 01 - CCEAD MAD AR MAD CCEAD 25 MM - PAREDES E LAJE 278 966 1247
FINAL 01 - CCEAD MAD AR MAD CCEAD 30 MM - PAREDES E LAJE 257 934 1191
FINAL 01 - CCEAD MAD AR MAD CCEAD 35 MM - PAREDES E LAJE 239 906 1145
FINAL 01 - CCEAD MAD AR MAD CCEAD 40 MM - PAREDES E LAJE 219 880 1099
FINAL 01 - CCEAD MAD AR MAD GESSO - CCEAD 30 MM -PAREDES E LAJE
286 968 1254
FINAL 01 - CCEAD MAD AR MAD GESSO - CCEAD 35 MM - PAREDES E LAJE
273 950 1223
A CÉLULA EM DESTAQUE REPRESENTA A OPÇÃO PARA PROJETO
Quanto a espessura das placas cimentícias, definiu-se que a mais
adequada seria a 30 mm. Isto porque, se o protótipo for realizado com ela
apresentará um bom desempenho térmico, pois segundo a simulação realizada com
a aplicação desta interna e externamente e, com a utilização de laje mista,
apresentou apenas 1191 horas de desconforto, ou seja, próximo ao ideal.
Apesar de espessuras maiores apresentarem resultados ainda
melhores, a utilização destas seria prejudicada devido ao peso próprio. As placas de
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Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
133
30 mm, interna e externamente, em conjunto com a laje mista, o que proporcionou
um bom desempenho térmico, com apenas 1191 horas de desconforto.
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
135
4.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES
Com base no elevado déficit habitacional brasileiro constatado no
ano de 2005, cerca de 7,2 milhões de unidades aproximadamente, o trabalho
desenvolvido visa a concepção de um sistema construtivo de vedação vertical que
tem por objetivo contribuir com a redução do tempo gasto para a construção de uma
edificação de interesse social. Entretanto, cabe ressaltar que durante a sua
concepção buscou-se, também, abranger aspectos referentes ao desempenho
global da edificação, de forma a garantir maior satisfação ao morador-usuário.
Outro fator relevante ao projeto do sistema foi à consideração da
habitação como um organismo vivo, que vai se modificando ao longo do tempo
devido às intervenções impostas por seus usuários.
Durante a evolução do trabalho obteve-se algumas considerações e
conclusões referentes à concepção do projeto habitacional e do sistema construtivo.
A fase de projeto - considera-se esta como a etapa mais importante
durante o processo de produção da habitação, principalmente, neste tipo de sistema
construtivo. Este sistema exige que todas as questões pertinentes a ele próprio, ao
processo e a requisitos relativos a desempenho global e aos usuários sejam
resolvidas ainda nesta etapa, de maneira, a minimizar a necessidade de alterações
durante a execução. A coordenação modular - esta se apresentou como uma importante
ferramenta para propiciar flexibilidade a planta e ao sistema construtivo, contribuindo
com a padronização dos componentes construtivos, resultando em um pequeno
número de família de placas cimentícias e, conseqüentemente, na redução na
geração de entulho.
A ossatura em madeira - a execução de uma ossatura autoportante
em madeira de reflorestamento, além de se adequar as necessidades atuais que
primam pela utilização de materiais renováveis e/ou pela minimização no uso de
outros considerados não renováveis, tem por função facilitar manutenções e
modificações do projeto-base, sem a necessidade de quebras ou cortes dos
componentes construtivos. Em casos em que for necessária a desocupação do lote
para abrigar outra atividade ou construção, o sistema construtivo desenvolvido visa
possibilitar o desmonte integral da habitação e a reutilização total ou parcial dos
CAPÍTULO 4.0 – Considerações finais e conclusões
136
componentes construtivos (telhas, madeira, peças metálicas e placas cimentícias,
etc.) na nova construção ou em outro local, atendendo, desta forma, a mais um
requisito-base da sustentabilidade.
As placas cimentícias – estas foram desenvolvidas com o intuito de
cumprirem, principalmente, a função de vedação. No entanto, com o avançar do
desenvolvimento do sistema construtivo foi se adicionando a estas outras funções,
como auxiliar a estrutura portante (como elemento de contraventamento, ou seja,
contribuindo com a estabilidade da edificação) e, contribuir com o desempenho
térmico (apresentando boas características térmicas - principalmente na capacidade
de armazenar calor) e com a estética da edificação (através da pigmentação e/ou
texturização destas durante o processo de produção).
As ligações entre os componentes construtivos – estas foram
concebidas para não serem realizadas de forma definitiva, ou seja, que
possibilitasse a agilidade no processo de montagem (produção da habitação) e o
posterior desmonte da edificação sem grandes dificuldades.
A durabilidade - em relação a este quesito ressalta-se a necessidade
de uma atenção especial a estanqueidade das vedações verticais, pois o contato da
umidade tanto com as peças metálicas (promove o início da oxidação) quanto com
os componentes em madeira (acelera o processo de degradação natural) reduzem
em muito a vida útil do sistema como um todo.
Desempenho térmico - no caso do protótipo desenvolvido na
pesquisa de mestrado, localizado na região do Município de Londrina, portanto em
Zona de clima temperado, constatou-se que as vedações compostas por camada
dupla de placas cimentícias e cobertura realizadas em telhas cerâmicas e laje mista
apresentaram bom desempenho térmico. Isto se deve ao fato que para o clima local
há a necessidade que a edificação possua maior massa tanto em suas paredes
quanto em sua cobertura. Sendo esta necessidade de massa observada tanto no
verão (maior atraso térmico) quanto no inverno (maior massa térmica).
Outro fator importante em relação ao desempenho térmico, refere-se
as áreas de aberturas destinada a ventilação natural. O dimensionamento destas
encontra-se diretamente relacionado ao comportamento térmico da habitação,
constatando-se através da análise por simulação computacional do desempenho
térmico que quanto maior forem estas áreas e o volume de trocas de ar menor será
Concepção de um sistema construtivo leve de alto desempenho para vedação vertical e análise do seu comportamento térmico
137
a qualidade do ar interior da edificação, pois ambos promovem maiores ganhos de
calor no verão e maiores perdas deste no inverno.
4.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Com base nas considerações dadas, as seguintes recomendações
podem ser apresentas para a continuidade do trabalho:
– O monitoramento do processo construtivo do protótipo buscando
avaliar, dimensionar, analisar e propor mudanças que contribuam para a melhoria
tanto do processo como do próprio sistema;
– Realização de testes necessários de verificação do sistema
construtivo segundo os padrões estabelecidos pelo projeto de norma NBR
02:136.01(Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho), partes
01 de 2007 e 04 de 2006;
– Execução de testes necessários a verificação do sistema
construtivo segundo padrões da Caixa Econômica Federal e outros órgãos
financiadores, com o objetivo de possibilitar o financiamento de futuras unidades
habitacionais.
– Avaliação térmica do protótipo pelo método da medição, com
intuito de verificar o real desempenho do mesmo, confrontando os resultados obtidos
com o projeto de norma NBR 02:136.01(Edifícios habitacionais de até cinco
pavimentos – Desempenho), parte 01 de 2007;
– Ao final do processo de avaliação, a produção de um manual de
procedimentos para elaboração de projetos, instruções de montagem e, propostas
para treinamento de mão de obra.
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____________________________________________________________________________
Florianópolis, 20 de abril de 2007.
De: Saulo Güths ([email protected])
Para: Reginaldo M. Manzano
Assunto: Medição Condutividade
Prezado Sr.
Segue anexo resultados da medição da condutividade térmica da amostra fornecida.
Atenciosamente
_____________________________
Saulo Güths, Dr Saulo Güths ([email protected]) Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofísicas (LMPT) Departamento de Engenharia Mecânica Universidade Federal de Santa Catarina 88040-900 Florianópolis - SC Fone: (48) 3331 7709 FAX: (48) 3234 1519
____________________________________________________________________________
Relatório de Medição da Condutividade Térmica
O presente documento apresenta resultados de medições da resistência térmica de amostras de isolante térmico.
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofísicas de Materiais do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina, no equipamento Condutivímetro Fluximétrico, seguindo os procedimentos da Norma Técnica ISO 8301- 1991: "Standart Test Method for Steady-State Heat Flux Measurements and Thermal Transmission Properties by Means of the Heat Flow Meter Apparatus", mostrado esquematicamente na Figura 1..
isolante térmico
aquecedor
fluxímetro superioranel de guarda
dissipadorfluxímetro inferior
diferença de temperatura
Figura 1 - Princípio do método de medição da resistência térmica
A resistência térmica é determinada a partir da lei de Fourier:
RT Tq q=−+⎛
⎝⎜
⎞⎠⎟
1 2
1 2
2
onde R é a resistência térmica (m2 K/W), q1 e q2 a densidade de fluxo de calor medido pelos fluxímetros 1 e 2 (W/m2 ) e T1 e T2 as temperaturas superficiais da amostra medidas por termopares tipo T dispostos em arranjo diferencial.
Considerando que a amostra é homogênea, é possível determinar a condutividade térmica do material (λ):
λ =LR
onde λ é a condutividade térmica (W/m K) e L é a espessura da amostra (m).
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Resultado das medições Data: 20/04/2007
Cliente: Reginaldo M. Manzano
Amostra
Espessura (mm)
Diferença de temperatura
(oC)
Fluxo de Calor
(W/m2)
Condutividade
Térmica (W/mK)
Amostra 1 1874 kg/m3
30 17.9 434.3 0.94
Amostra 2 2432 kg/m3
31 17.5 480.5 1.13
Amostra 3 2580 kg/m3
31 15.8 479.5 1.32
Dimensões superficiais amostra = 100 mm x 100 mm
Temperatura média do ensaio = 25 oC
Incerteza de Medição: 3 %
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Saulo Güths Saulo Güths ([email protected]) Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofísicas (LMPT) Departamento de Engenharia Mecânica - Universidade Federal de Santa Catarina