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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Ciências Aplicadas
KARINA PEREIRA SABEDOT
ANÁLISE DOS SERVIÇOS DESTINADOS À POPULAÇÃO DE RUA NA
MICRORREGIÃO DE LIMEIRA
Limeira 2017
KARINA PEREIRA SABEDOT
ANÁLISE DOS SERVIÇOS DESTINADOS À POPULAÇÃO DE RUA NA
MICRORREGIÃO DE LIMEIRA
Dissertação de mestrado apresentada
ao Mestrado Interdisciplinar em Ciência
Humanas e Sociais Aplicadas, da
UNICAMP, como parte dos requisitos
para a obtenção do título de mestra em
Ciência Humanas e Sociais Aplicadas.
Supervisor/Orientador: Prof. Dr. Carlos Raul Etulain
Co-supervisor/Co-orientador: Prof. Dr. Rafael Dias
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À
VERSÃO FINAL DISSERTAÇÃO PARA
A DEFESA DA ALUNA KARINA
PEREIRA SABEDOT E ORIENTADA
PELO PROF. DR. CARLOS RAUL
ETULAIN
Limeira 2017
Agência (s) de fomento e nº (s) de processo (s): Não se aplica.
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Faculdade de Ciências Aplicadas
Renata Eleuterio da Silva - CRB 8/9281
Sabedot, Karina Pereira, 1976-
Sa13a Análise dos serviços destinados à população de rua na Microrregião de
Limeira / Karina Pereira Sabedot. – Limeira, SP: [s.n.], 2017.
Orientador: Carlos Raul Etulain.
Coorientador: Rafael de Brito Dias.
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas,
Faculdade de Ciências Aplicadas.
1. Pessoas desabrigadas. 2. Políticas públicas. 3. População -
Aspectos econômicos. 4. População - Aspectos sociais. 5. Abordagem
interdisciplinar do conhecimento. I. Etulain, Carlos Raul,1960-. II. Dias,
Rafael de Brito,1982-. III. Universidade Estadual de Campinas.
Faculdade de Ciências Aplicadas. IV. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Analysis of services for homeless people in the Micro Region
of Limeira
Palavras-chave em inglês:
Homeless people Public policy
Population - Economic aspects Population - Social aspects Interdisciplinary
approach to knowledge Área de concentração: Modernidade e Políticas Públicas
Titulação: Mestra em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
Banca examinadora:
Carlos Raul Etulain [Orientador]
Ana Maria de Medeiros Fonseca
Milena Pavan Serafim
Data de defesa: 22-03-2017
Programa de Pós-Graduação: Mestrado Interdisciplinar em Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas
Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica da aluna.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a meus orientadores Professores doutores Carlos Raul
Etulain e Rafael de Brito Dias pelos esclarecimentos e estruturação da
pesquisa. Agradeço às Professoras Doutoras Ana Maria de Medeiros
Fonseca e Milena Pavan Serafim pela participação com membros da banca
examinadora e pelas significativas contribuições para o trabalho. Maria
Helena Pereira Dias, pela revisão de língua portuguesa de todo o texto da
dissertação, desde a fase pré-qualificação até a versão final e ao Professor
Pós Doutor, Hans Kurt Edmund Liesenberg, pelas imagens e dados
confeccionados até a fase da qualificação. Agradeço a meu querido irmão,
Leonardo Pereira Sabedot, pela confecção das planilhas e gráficos na fase
final da pesquisa e a Vera Liesenberg, por todo auxilio dedicado desde o
início do mestrado, em especial nos dois períodos de afastamento em
decorrência de questões de saúde.
Meus agradecimentos especiais ao amigo Dr. Rodrigo Coelho, pelas
importantes orientações no período de construção do projeto de mestrado e
outros "socorros" prestados ao longo dessa caminhada. Aos colegas da
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, SEDS, Ms. Maria Germek,
pela confiança no projeto, a qual repercutiu na aceitação da pesquisa por
parte dos municípios envolvidos; aos colegas João Dehr e Ana Paula Souza
Romeo, pelas inúmeras consultas às informações em âmbito estadual e
federal, bem como, ao acesso sempre assegurado ao sistema de dados
PMAS.
RESUMO
SABEDOT. Karina Pereira. Análise dos serviços destinados à população de rua na Microrregião de Limeira. 201p. Dissertação (Mestrado
Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) - Faculdade de Ciências Aplicadas, Universidade Estadual de Campinas, Limeira, 2017.
A condição de rua, em território nacional, tem sido tomada como fenômeno alarmante e contemporâneo, nem sempre entendido e abordado de forma complexa, conforme sua constituição. Esta pesquisa analisa a oferta de serviços públicos destinados à População em Situação de Rua na Microrregião de Limeira, refletido sobre a realidade regional dos oito municípios, tendo a Política Nacional de Atendimento à População de Rua como parâmetro, que promove a intersetorialidade e fornece elementos para a abordagem do fenômeno de forma interdisciplinar. Tomando por base os dados coletados através dos instrumentos de pesquisa, são feitas reflexões sobre a complexidade do fenômeno e críticas à gestão centrada em uma única política pública, ao partir da constatação de que um fenômeno da complexidade de Pessoas em Situação de Rua, não pode ser contemplado em sua multicausalidade, por um único campo de conhecimento. Vulnerabilidade, pobreza, exclusão e desfiliação são fenômenos que caracterizam a condição de rua, fazendo da oferta de serviços públicos intersetoriais, uma necessidade e, da interdisciplinaridade, a metodologia de análise do tema.
Palavras-chave: População de rua; Políticas Públicas; Vulnerabilidade;
Interdisciplinaridade; Microrregião de Limeira.
ABSTRACT
SABEDOT. Karina Pereira. Analysis of services for homeless people in the Micro Region of Limeira in. 201p. Dissertation (Interdisciplinary Master's
Degree in Human and Social Sciences Applied) - Applied Sciences Faculty, University of Campinas, Limeira, 2017.
The condition of street, in national territory, has been taken as an alarming and contemporary phenomenon, not always understood and approached in a complex way, according to its constitution. This research analyzes the supply of public services destined to the Population in Situation of Homeless in the micro region of Limeira, reflected on the regional reality of the eight municipalities, with the National Policy of Attendance to Homeless Population as a parameter, which promotes intersectoriality and provides elements for approaching the phenomenon in an interdisciplinary way. Based on the data collected through the research instruments, reflections are made about the complexity of the phenomenon and criticism of management centered on a solitary public policy, starting from the fact that a phenomenon of the complexity of People in Homeless Situation cannot be contemplated in its multiple causes, by a single field of knowledge. Vulnerability, poverty, exclusion and disaffiliation are phenomena that characterize the condition of homeless and make the supply of inter-sectorial public services a necessity and of interdisciplinary the methodology of analysis of the theme.
Key words: Homeless People; Public policy; Vulnerability; Interdisciplinarity;
Microregion of Limeira.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES (MAPAS, FOTOGRAFIAS E TABELAS)
Figura 1 Sexo da população de rua na municipalidade de Limeira
Figura 2 Cor autodeclarada
Figura 3 Idade predominante
Figura 4 Caracterização de escolaridade
Figura 5 Exercício de atividade laborativa
Figura 6 Tempo de permanência em condição de rua
Figura 7 Número de habitantes por município
Figura 8 Posição no ranking IDH
Figura 9 Variações de IDH 2000-2015
Figura 10 Campanha do Conselho Nacional de Direitos Humanos
Figura 11 Principais problemas sociais
Figura 12 Órgãos e Instituições x Articulações
Figura 13 Articulações x Numero de órgãos e Instituições
Figura 14 Ranking entre os municípios
Figura 15 Unidades de acolhimento e articulações efetuadas
Figura 16 Unidades de acolhimento e relação das principais
articulações
Figura 17 Rankings de articulação e relações possíveis entre os
municípios
Figura 18 Órgãos e instituições x articulações
Figura 19 Principais articulações Centro POP
Mapa 1 Estado de São Paulo, destaque para a MRL
Quadro 1 Principais motivos para ingresso na condição de rua
ÍNDICE DE SIGLAS
BPC - Benefício de Prestação Continuada
CEPROSOM - Centro de Promoção Social Municipal
CIAMP-RUA - Comitê Intersetorial de Acompanhamento e
Monitoramento de população de rua
CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social
CNDH - Comissão Nacional de Defesa dos Direitos Humanos
CNDDH - Centro Nacional de Defesa de Direitos Humanos da
População de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
DDM – Delegacia de Defesa da Mulher
DRADS – Divisões Regionais da Assistência Social
FNAS - Fundo Nacional de Assistência Social
HIV – Vírus da Imuno Deficiência Humana
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IPEA - Instituto de Pesquisa Aplicada
IPH - Índice de Pobreza Humana
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
MNCR -Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis
MNPR - Movimento Nacional de População de Rua
MP - Ministério Público
MRL - Microrregião de Limeira
NOB – Norma Operacional Básica
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostragem de Municípios
PRONACOOP - Programa Nacional de Associativismo Social
SEDS – Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social
SENAD - Secretaria Nacional de Álcool e Drogas
SENAES - Secretaria Nacional de Economia Solidária
SDH/RUA - Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos
Humanos - núcleo de população de rua
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12
CAPÍTULO I. População em situação de rua: problemas e conceitos ................................................................................................................. 17
1. População em situação de rua ............................................................................ 17
2. Microrregião de Limeira ....................................................................................... 24
3. Diferentes aspectos de um mesmo problema ...................................................... 30
Políticas Públicas ........................................................................................30 Políticas Sociais ..........................................................................................31 Pobreza ...................................................................................................... 32 Risco e Vulnerabilidade social .................................................................... 36 Desfiliação, corpos urbanos errantes e abjetos .......................................... 40 Circulação e fixação dos corpos: a manipulação do Estado ....................... 44
4. Interdisciplinaridade e o estudo da população de rua ........................................... 45
CAPITULO II. Análise de políticas públicas e política de assistência social: teorias analíticas sobre população de rua................................................ 49
1. Mendigo, migrante, desempregado e excluído .................................................... 49
2. Análise de políticas públicas ................................................................................ 56
Modelo de ciclo de políticas públicas ......................................................... 58 Microrregionalidade e políticas públicas .................................................... 63
3. A Política Nacional de Assistência Social ........................................................... 67
Proteção social básica (PSB) .....................................................................74 Proteção Social Especial (PSE) ................................................................. 77 Unidades e serviços destinados à população de rua na PNAS .................. 80
CAPITULO III. Constituição da Política Nacional para População de Rua ........ 83
1. Análise do ciclo da Política Nacional para a População em Situação de Rua - Decreto 7053/200964 ...................................................................................... 83
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República ................... 89 Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome ......................... 92 Ministério da Justiça ................................................................................... 95 Ministério da Saúde .................................................................................... 96 Ministério da Educação .............................................................................. 99 Ministério das Cidades ............................................................................... 100 Ministério do Trabalho e Emprego .............................................................. 102 Esportes e Lazer ........................................................................................ 102 Ministério da Cultura ................................................................................... 104 Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão .....................................105 Ministério Público ..................................................................................... 106
2. Análise das diretrizes, objetivos e princípios do decreto 7053/200982 .............. 107
CAPITULO IV - A Política Nacional para População de Rua na Microrregião de Limeira ....................................................................................... 113
1. A implementação da PNPR na MRL .................................................................. 113
2. Análise do eixo de execução "Política de Assistência Social" ........................... 124
Análise das unidades. ......................................................................................... 131
2.1.1 CREAS: Araras, Conchal, Cordeirópolis, Leme e Pirassununga ......136 2.1.2. Análise das unidades de acolhimento em Leme, Limeira e Pirassununga ............................................................................ 168 2.1.3 Centro Especializado de População de Rua em Limeira ..................183
2.2 CAD Único e Programa Bolsa Família (PBF) ......................................... 193
Considerações finais .................................................................................................. 199
Referências............................................................................................................209
Anexo I..........................................................................................................................218
Anexo II.........................................................................................................................230
Anexo III........................................................................................................................242
13
Introdução
A condição de rua, em território nacional, tem sido tomada como
fenômeno alarmante e contemporâneo, nem sempre entendido e abordado
de forma complexa como se caracteriza. A proposta da Política Nacional de
População de Rua (PNPR), firmada pelo Decreto Presidencial 7053/2009 é
uma construção textual consequente de anos de articulação entre sociedade
civil, representantes da população de rua e órgãos públicos afetos ao tema.
A produção de decretos, políticas públicas e ações destinadas à
questão não asseguram a abordagem do tema, enquanto fenômeno humano
caracterizado pela exclusão e pela pobreza. A primeira intenção deste
trabalho é estabelecer um terreno de reflexão sobre os aspectos
sociológicos, antropológicos e psicológicos que caracterizam a condição de
rua, no intuito de constituir uma linha de análise mais completa sobre o
fenômeno.
A segunda intenção da pesquisa é vislumbrar o modo como são
construídas alternativas para lidar com o tema, na Microrregião de Limeira
(MRL), tomando como referência, para análise, a Política Nacional para
População de Rua e o ciclo de sua construção. A Política Nacional para
População de Rua - PNPR - é escolhida como parâmetro de política
afirmativa na garantia de direitos, influenciando e sendo influenciada pelos
referenciais teóricos adotados na compreensão do fenômeno, neste trabalho.
Tomando o Decreto como alternativa mais coerente na
abordagem de um tema complexo e multicausal, a análise de políticas
públicas é utilizada como ferramenta que permite reflexões sobre a realidade
da Microrregião de Limeira, composta pelos municípios de Araras, Conchal,
Cordeirópolis, Iracemápolis, Limeira, Leme, Pirassununga, Santa Cruz da
Conceição. A análise considera elementos de organização da gestão pública,
na MRL, em relação à PNPR e a possibilidade de o modelo de execução
intersetorial ser campo de construção de atuações interdisciplinares. Para
além de propor alternativas nos territórios municipais, essa pesquisa busca a
indicação de possibilidades microrregionais para lidar com o problema,
considerando as complexas influências implicadas, a similaridade
14
microrregional e a migração de indivíduos entre os territórios das oito
cidades.
Considerando que o fenômeno de pessoas vivendo nas ruas é
essencialmente urbano, e, diretamente relacionado às grandes cidades, a
realidade microrregional deve ser pensada considerando as simetrias e
assimetrias entre os municípios, bem como, as múltiplas influências
exercidas, em especial, entre as cidades de grande porte e os menores
municípios. A distribuição regional é vigorosamente influenciada pela
presença de grandes municípios, sobretudo na região Sudeste, que abriga as
três maiores regiões metropolitanas do país e 48,89% da população em
situação de rua.
A primiera pergunta feita a respeito da MRL é se haveriam
serviços públicos destinados a essa população e, em caso afirmativo, se o
desenho de execução estaria sintonizado com a PNPR. Para a aproximação
da realidade dos municípios pensou-se em visitas de campo, na intenção de
entrevistar trabalhadores e gestores, para aplicação de um questionário
construído, tomando por base, aquele utilizado no ano de 2015, em âmbito
nacional, para a coleta do CENSO SUAS1.
Os dados foram coletados em março de 2016 e dizem respeito ao
ano de 2015. Foi realizado contato com a Divisão Regional de Assistência
Social - DRADS - Piracicaba, órgão da Secretaria Estadual do
Desenvolvimento Social (SEDS), cuja diretora encarregou-se da
apresentação do trabalho e do convite aos municípios, no intuito de que
colaborassem com a pesquisa. Seguiu-se um período de 45 dias de viagens
aos municípios, com visitas nas unidades de oferta de serviço e nos órgãos
gestores da Política de Assistência Social/Proteção Especial. Cada município
teve os dados coletados em um único dia, e todas unidades foram acessadas
pessoalmente pela pesquisadora nesta mesma data. Foram realizados
contatos por telefônicos e via email para a complementação de informações.
A partir da aplicação, os dados foram transformados em planilhas,
as quais permitiram a análise dos serviços ofertados. A aplicação também
repercutiu em interação com os trabalhadores e gestores municipais e
1 Os instrumentos de coleta de dados podem ser acessados dentre os anexos.
15
permitiu acesso a informações relevantes, também consideradas nas
análises. Através da aplicação dos instrumentos de coleta, seguiu-se a
análise em três eixos principais: considerações sobre a constituição da
PNPR, a implementação da PNPR na MRL e a análise das unidades e oferta
de serviços, no eixo da assistência Social. Cabe ressaltar que dos nove eixos
intersetoriais de atuação previstos na PNPR, as ações na MRL centram-se
basicamente no da assistência social.
A pesquisa de campo permitiu constatar que o modelo
preconizado pela PNPR não é aquele executado na MRL, porém, tal
afirmativa não implica em inexistência de atividades voltadas ao público alvo.
A aproximação da realidade permitiu constatar que, apesar da não adesão à
Política, haviam unidades, serviços e profissionais, atuando junto a essa
população.
Um elemento significativo, que emerge ao se refletir sobre a
relação mínima entre as políticas públicas, é o foco de execução sobre a
política de assistência social, centrada na busca do bom funcionamento
dentro dos parâmetros da Política Nacional de Assistência Social - PNAS,
mas distante dos elementos que possibilitam aos indivíduos a superação
desta condição. As contribuições de autores da sociologia, antropologia,
filosofia, direito, psicologia dão lastro à concepção do fenômeno, este
complexamente relacionado à vulnerabilidade e à negativa de direitos
sociais.
A insuficiência de relações entre as equipes da assistência social e
as demais políticas públicas parece gerar sobre os trabalhadores a perda do
sentido, pois por mais que desempenhem atividades de forma adequada aos
parâmetros, se comparadas aos manuais técnicos de orientação produzidos
no âmbito do Sistema Único da Assistência Social - SUAS -, não abordam
todos os aspectos das vidas das pessoas nessa condição. Aprofundar nas
raízes que constituem o fenômeno é, invariavelmente, constatar que a
complexidade é o que torna inviável ações efetivas que não sejam pensadas
na perspectiva das políticas intersetoriais. Além disso, a reflexão geral em
torno da natureza, etapas e limites do conhecimento envolvido, na política,
deve ser interdisciplinar.
16
O recorte teórico-metodológico foi composto por documentos
institucionais que emanam dos órgãos de orientação como MDS e a
Secretaria Nacional de Direitos Humanos. Esses documentos estabelecem
parâmetros de análise das políticas públicas e suas ações. A análise da
complexidade constitutiva do fenômeno foi efetuada através das
contribuições de autores das ciências humanas, os quais contemplam em
suas teorias os elementos da diversidade da condição de rua.
A amostra se constituiu da seguinte forma: os municípios de
Araras, Conchal, Cordeirópolis, Leme e Pirassununga responderam ao
questionário referente às unidades Centro de Referência Especializado em
Assistência Social - CREAS. Esses municípios não possuem unidade
especifica para o atendimento dessa população e, sendo assim, executam os
serviços nas unidades de CREAS, considerando que no âmbito da política de
assistência social a condição de rua é problema classificado como de
Proteção Social Especial - PSE, que implica em risco ou violação de direitos,
fato que justifica sua abordagem pelas equipes de CREAS, através do
Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos –
PAEFI.
Quanto ao acolhimento institucional, os municípios de Limeira,
Leme e Pirassununga foram os únicos que possuíam, à época, unidades de
acolhimento permanente ou provisórios para pessoas em situação de rua.
Posteriormente à aplicação do questionário contatou-se que Araras instalou
não só a unidade de acolhimento, mas também o Centro de Referência
Especializado em população de rua (Centro POP). Essas unidades não foram
contempladas na pesquisa, pois isso implicaria em nova aplicação em todos
os municípios, na intenção de atualizar os dados, igualmente. Apenas o
município de Limeira possuía o Centro Especializado de Atendimento à
População de Rua (Centro POP) na época.
A pesquisa apresenta, no capitulo I, a caracterização da
Microrregião de Limeira (MRL), a proposta de referencial teórico de base,
para a análise do ciclo da PNPR e a revisão de conceitos que constituem a
caracterização de pobreza adotada neste trabalho. São também
apresentados conceitos fundamentais, para o entendimento do fenômeno
17
condição de rua, como risco, vulnerabilidade, desfiliação, corpos errantes e
abjetos. Os mecanismos de circulação e de fixação dos corpos também são
esclarecidos, dando indícios das modalidades de gestão executadas na MRL.
O segundo capitulo faz uma exposição de linhas analíticas
adotadas no Brasil historicamente, para a compreensão do fenômeno.
Também neste capitulo são trazidos constructos teóricos que definem o
campo da análise de políticas públicas e a constituição da Política Nacional
de Assistência Social (PNAS). Na caracterização da PNAS são apresentadas
as unidades que atendem à demanda de população em situação de rua e as
diretrizes que as regem.
No terceiro capitulo são apresentadas as análises, iniciando com o
ciclo de constituição da Política Nacional para a População em Situação de
Rua, focando nas articulações dos atores, na intenção de trazer o tema à
agenda pública, explanando sobre os estágios do envolvimento de cada setor
e a historicidade de seu engajamento nas ações. O conteúdo do decreto é
analisado em suas diretrizes, objetivos e princípios. O quarto capitulo efetua
as análises da implementação da PNPR na MRL, do eixo Política de
Assistência Social, e das unidades que executam serviços destinados à
população de rua na MRL.
18
CAPITULO I. População em situação de rua: problemas e conceitos
1. População em situação de rua2
O termo população em situação de rua procura contemplar os
diferentes recortes conceituais adotados em pesquisas censitárias realizadas
a partir de 1995, que buscaram traçar o perfil dessa população, apontando,
no conjunto de seus resultados, a inexistência de um bloco homogêneo de
pessoas em situação de rua. O conceito abaixo está em sintonia com aquele
descrito na Tipificação Nacional de Serviços Sócio assistenciais
(RESOLUÇÃO 109/2009, CNAS) e no Decreto Presidencial 7053/09,
principais documentos institucionais utilizados, na caracterização do
fenômeno, ações e serviços destinados ao segmento.
O Decreto 70533, que institui a Política Nacional de Atendimento à
População de Rua e cria seu comitê intersetorial, traz a seguinte definição
dessa população:
"Art. 1o - Parágrafo único. Para fins deste Decreto, considera-se população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória."
A diversidade de características envolvidas no fenômeno dificulta o
uso de conceitos unidimensionais, sendo mais precisa a abordagem do
fenômeno, quando se consideram as três condições que se articulam, para a
configuração da situação de rua: pobreza extrema, vínculos familiares
interrompidos ou fragilizados e inexistência de moradia convencional. Cabe
observar que a pobreza, por sua vez, também constitui uma categoria
2 A utilização do termo "população em situação de rua", ou "população de rua", teve significativa influência dos movimentos sociais, que entendiam com cobertas de tendências discriminatórias termos como "mendigo", "louco", "vagabundo". Foi convencionada a utilização do termo, que foi absorvido pela legislação na área, bem como, incluída nos referenciais teóricos e documentos institucionais das políticas públicas.
3 Decreto 7053-2009, objetivos da PNPR, inciso III:"Instituir a contagem oficial da população em situação de rua".
19
multidimensional e, portanto, não se expressa apenas pela carência de bens
materiais, mas é, fundamentalmente, uma categoria política que se
caracteriza pela dificuldade de acesso a oportunidades e direitos.
A questão da população em situação de rua deve, portanto, ser
compreendida em suas múltiplas determinações, ou seja, há uma diversidade
de fatores envolvidos, incluindo aqueles de natureza estrutural, como
ausência de moradia e inexistência de trabalho e renda, até fatores
relacionados à ruptura de vínculos familiares e infortúnios pessoais, como
perda dos bens e o agravamento dos conflitos familiares.
Em situações transitórias, algumas pessoas ficam na rua como
consequência de uma circunstância na qual o indivíduo, destituído de
condições econômicas, possivelmente como resultado do desemprego ou
situação de ruptura familiar, pernoita alguns dias na rua, embora ainda
preserve uma rede de apoio e suporte à qual poderá recorrer. Entretanto, há
aqueles casos em que, diante de um número menor de alternativas, com o
passar do tempo e convivendo com outros que se encontram na mesma
situação, o indivíduo descobre formas de resistência e sobrevivência nas
ruas, constituindo novas redes de relações que reduzem o traço ameaçador e
vulnerabilizante das ruas. Gradativamente, a rede de vínculos construída na
rua passa a ser uma referência progressiva para aquele indivíduo, e sua
vinculação passa a ser mais forte do que outros laços construídos outrora,
em outros espaços.
Os dados apontados a seguir são referentes às características da
população de rua do município de Limeira no ano de 2015, e, sobre aqueles
coletados pela Pesquisa Nacional de População de Rua efetuada pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome em 2008. Torna-se
importante reforçar, que as pesquisas tratam de contextos socioeconômicos
distintos, e o cenário no mercado de trabalho, por exemplo, apresenta
diferenças significativas entre os dois períodos. É possível que a disparidade
entre os percentis de indivíduos envolvidos em atividades laborativas tenham
sofrido forte influência do contexto vigente em 2015.
A discrepância, entre os 78,2% de indivíduos que não
desempenham nenhuma atividade laborativa em Limeira em comparação aos
21,8% da média nacional, pode ter explicação nas adversidades inerentes ao
20
mercado de trabalho. Neste sentido, as modificações políticas, sociais e
econômicas dão indícios dos elementos que têm composto o contexto atual
das pessoas em condição de rua no Brasil e na MRL.
O Brasil não conta com dados oficiais atualizados sobre a
população em situação de rua, fator que acarreta prejuízos para a
implementação de políticas públicas voltadas para este contingente e
reproduz a invisibilidade social da população de rua no âmbito das políticas
sociais. No ano de 2016 o IPEA divulgou uma pesquisa em âmbito nacional,
apresentando uma estimativa da população em situação de rua no Brasil
apartir de dados disponibilizados por 1.924 municípios via Censo do Sistema
Único de Assistência Social (Censo Suas).
Embora o modelo teórico tenha considerado variáveis de
crescimento demográfico, centralidade e dinamismo urbano, vulnerabilidade
social e serviços voltados à população de rua, bem como o número de
pessoas em situação de rua cadastradas no Cadastro Único para Programas
Sociais do governo federal (Cadastro Único), a pesquisa não apresentou os
dados postos por características descritivas, como feito na pesquisa de 2008,
e, sim, sobre os perfis de municípios e o número de moradores de rua. Sobre
as características como cor, escolaridade, tempo de permanência nas ruas e
outras que definam os indivíduos, a base foi a pesquisa de 2008 (MDS).
Quanto às características dos municípios e da população brasileira
em condição de rua, esta pesquisa se baseará nos dados coletados pelo
IPEA (2016). Estima-se que existiam, em 2015, 101.854 pessoas em
situação de rua no Brasil, duplicando o número constatado em 2008.
Dois elementos justificam a exposição de dados comparativos
entre um dos municípios da microrregião e o censo nacional: a) a coleta de
dados regulares sobre as pessoas em condição de rua permite conhecimento
sobre os contornos do fenômeno em âmbito local, fator que permite a
construção de políticas públicas mais efetivas; b) a comparação permite
inferências, em âmbito microrregional, a respeito de características comuns
aos indivíduos nessa condição, fato que pode colaborar para a construção de
ações que repercutam em nível da MRL.O Censo de População em Situação
de Rua do primeiro semestre do ano de 2015 em Limeira-SP foi executado
pelo Centro Especializado em População de Rua, sob a coordenação da
21
autarquia pública Centro de Promoção Social Municipal (CEPROSOM),
órgão gestor da Política de Assistência Social em âmbito municipal.
Coerente com a proposta do decreto que institui a política
nacional, o município de Limeira iniciou as práticas censitárias no ano de
2014. A escolha dos dados da municipalidade de Limeira se deve ao fato
deste ser o único município da microrregião que possui a pesquisa de perfil
populacional instituída como ação sistemática4, a qual permite o
conhecimento do público, como base de informações, para a implementação
do eixo da assistência social. A coleta de dados para a pesquisa se deu no
primeiro semestre de 2015.
A pobreza é fenômeno diretamente ligado às causas, da mesma
forma que a miséria, a vulnerabilidade social e a exclusão. O entendimento
sobre direitos sociais e políticas públicas são necessários para a construção
de estratégias de abordagem do tema.
A) Dados comparativos sobre população de rua em âmbito
nacional e na municipalidade de Limeira:
Figura 1. Sexo da população de rua na municipalidade de Limeira
Fontes: Pesquisa Nacional de População de Rua - 2008; Pesquisa Municipal de
População de Rua - Municipalidade de Limeira - 2015.
A população de rua se caracteriza predominantemente por homens,
fato aparentemente comum desde os primeiros estudos que abordaram o
4 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede o nível de desenvolvimento humano dos países, utilizando como critérios indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita).
82,0%
18,0%
89,4%
10,6%
Homens Mulheres
SexoNacional Limeira
22
fenômeno, em território nacional. Note-se, que no início das pesquisas sobre o
tema, falava-se de uma "população de homens desempregados", boa parte
deles migrantes de outras regiões do pais. A migração dentro do território
nacional, especialmente a interestadual, não se traduaz mais na principal
caracterisitca migratória desse público.
Figura 2. Cor autodeclarada
Fontes: Pesquisa Nacional de População de Rua - 2008; Pesquisa Municipal de
População de Rua - Municipalidade de Limeira - 2015.
Homens pretos ou pardos constituem a predominância etnica dessa
população. Os elementos de desigualdade e vulnerabilidade estão diretamente
associados à cor da pele e aos elementos que dão causa à condição de rua,
conforme afirma Nascimento, (2000):
"O negro em situação de rua é excluído do mercado de trabalho formal e consequentemente é marginalizado socialmente. Ser negro é enfrentar uma história de quase quinhentos anos de resistência à dor, ao sofrimento físico e moral, à sensação de não existir, a prática de ainda não pertencer a uma sociedade na qual consagrou tudo o que possuía, oferecendo ainda o resto de si mesmo". (REVISTA DE CULTURA VOZES. 68(7), pp. 65-68, 2000).
29,5%
67,0%
41,0%
59,0%
Branco Preto
CorNacional Limeira
23
Figura 3. Idade predominante
Fontes: Pesquisa Nacional de População de Rua - 2008; Pesquisa Municipal de
População de Rua - Municipalidade de Limeira - 2015.
Sobre a idade predominante entre as pessoas em situação de rua,
torna-se importante compor a caracterização atrelada à questão étnica. Os
homens negros jovens são as principais vítimas da violência urbana, alvos
principais de homicídios e dos excessos policiais, os jovens negros lideram o
ranking dos que vivem em famílias consideradas pobres e dos que recebem os
salários mais baixos do mercado.
Segundo Bento e Beghin (2005), eles encabeçam, também, a lista
dos desempregados, dos analfabetos, dos que abandonam a escola antes de
tempo e dos que têm maior defasagem escolar.
Figura 4. Caracterização de escolaridade
Fontes: Pesquisa Nacional de População de Rua - 2008; Pesquisa Municipal de
População de Rua - Municipalidade de Limeira - 2015.
15,1%
48,4%36,4%
21,0%
63,9%
15,1%
Não alfabetizados Ensino FundamentalIncompleto
Ensino médio ousuperior
EscolaridadeNacional Limeira
24
Figura 5. Exercício de atividade laborativa
Fontes: Pesquisa Nacional de População de Rua - 2008; Pesquisa Municipal de População de
Rua - Municipalidade de Limeira - 2015.
O exercício de atividade laborativa é uma das características que
exemplifica a mudança no contexto econômico, principalmente naquilo que se
refere às mudanças no acesso ao mundo do trabalho. A taxa de desemprego
no Brasil, em 2008, atingiu o menor nível da série histórica, segundo a
Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad) do IBGE, ficando em 7,2
%. No ano de 2015, o desemprego figurava com índice de 8,5%, período de
realização da pesquisa em Limeira. Neste sentido, a ocupação laborativa
formal ou informal tem sua justificativa ancorada na própria diferença entre os
cenários de 2008 e 2015.
Quadro 1. Principais motivos para ingresso na condição de rua
Motivos de ingresso na condição de rua Primeiro Segundo Terceiro
Nacional Uso de drogas e
álcool Perda do emprego
Conflito familiar
Limeira Uso de drogas e
álcool Conflito familiar
Perda do emprego
Fontes: Pesquisa Nacional de População de Rua - 2008; Pesquisa Municipal de
População de Rua - Municipalidade de Limeira - 2015.
Os motivos para o ingresso na condição de rua são referidos
dentro dos mesmos parâmetros em âmbito nacional e regional. Uma questão
importante de ressaltar é a relação inversa entre uso de drogas e ingresso na
29,1%
70,9%78,2%
21,8%
Não Exercem Atividade Alguma Exercem Alguma Atividade
Trabalho
Nacional Limeira
25
condição de rua. Recentemente pesquisas como a de Souza (2016) analisam
que o crack não é a causa da exclusão, é um elemento a mais, que reforça a
exclusão social, processo que é anterior (à droga) e reversível. A mesma
lógica pode ser empregada na relação com outras drogas ilícitas e o álcool.
Segundo a pesquisa, reverter a dependência é possível por meio
de políticas públicas sociais, de saúde e de reintegração na comunidade e
nas próprias famílias. Um exemplo é o programa da prefeitura de São Paulo,
De Braços Abertos, que tirou usuários das ruas do centro, oferecendo
moradia em hotéis próximos e empregos em atividades variadas, pagando
salário e oferecendo tratamento.
Figura 6. Tempo de permanência em condição de rua
Fontes: Pesquisa Nacional de População de Rua - 2008; Pesquisa Municipal de
População de Rua - Municipalidade de Limeira - 2015.
2. Microrregião de Limeira
O estudo, e a pesquisa, voltados aos elementos sociais e
econômicos, no estado de São Paulo, apresentam significativas mudanças
em sua dinâmica, nas últimas décadas. As regiões metropolitanas, os
aglomerados urbanos e os polos regionais modificam o modelo de relação
centrado nas trocas entre metrópole- interior, vigente até a década de 70.
Essa nova configuração implica na construção de um conjunto de
conhecimentos sobre a dinâmica dos espaços regionais, na intenção da
composição de políticas públicas embasadas em realidades territoriais,
segundo Etulain (2012).
48,4%
30,0%
21,6%
30,0%
15,0%
55,0%
2 - 5 anos 5 - 10 anos Outros (< 2 e >10 anos)
Nacional Limeira
26
A Microrregião de Limeira é composta por oito municípios: Araras,
Conchal, Cordeirópolis, Iracemápolis, Leme, Limeira, Pirassununga e Santa
Cruz da Conceição. Os municípios apresentam portes territoriais e
populacionais distintos, que variam do grande ao pequeno porte. Existe
divergência entre os dados informados pelo IBGE e a Prefeitura Municipal de
Limeira quanto à composição de municípios; o Instituto de Geografia e
Estatística ilustra um cenário composto por nove municípios, incluindo Santa
Gertrudes. Na caracterização abordada por Etulain, (2012) a microrregião é
estudada com composições que incluem ou excluem o município supracitado.
Nesta pesquisa serão considerados como RML o conjunto de oito municípios
supracitados.
Mapa 1- Estado de São Paulo - Microrregião de Limeira em destaque
Fonte: Etulain et al (2012)
27
A dinâmica socioeconômica paulista, nos últimos quarenta anos,
desconstrói a polaridade interior-metrópole, criando novos polos regionais e
aglomerados urbanos, fator que implica na necessidade de se aprofundar o
conhecimento da realidade espacial, para a construção de instrumentos de
política pública que respondam à nova realidade socioeconômica estadual.
A implantação de bases industriais e o revigoramento das atividades
agrícolas no decorrer da década de 70 fomentaram a metropolização e a
construção de diversos polos econômicos com relativa integração e
especialização dos espaços locais.
Neste cenário a população passou a conviver com novas formas de
integração dos territórios decorrentes do crescimento, associadas ao
crescimento inter-regional, consequência do processo de urbanização,
implicando na reprodução local de dinâmicas sociais semelhantes. Dessa
forma, a integração das dinâmicas de determinada região desempenha
maior influência que elementos como o tamanho populacional, por
exemplo. No contexto microrregional, a cidade de maior porte populacional
deve ser analisada levando em conta as cidades do entorno que
estabelecem com ela dinâmicas que configuram a realidade da
microrregião.
A redistribuição da população das grandes metrópoles, para as
cidades do interior com menor densidade populacional, é um processo
migratório permanente da segunda metade do século XX que imprimiu
características específicas ao processo de urbanização do interior do Estado
de São Paulo, tal como é o caso da MRL. A convivência com fenômenos
microrregionais semelhantes e o conhecimento das realidades
microrregionais do interior do Estado de São Paulo é fundamental, para as
tomadas de decisões referentes às políticas públicas.
A partir do decréscimo na cultura do café nos anos 1920 na região
centro-oeste do Estado, e com a descentralização da indústria da cidade de
São Paulo para o interior, a MRL desempenhou papel importante na abertura
de novas atividades econômicas, através de novas culturas substitutivas que
redesenharam o cenário agroindustrial do final do século 20 e início do século
21. Atualmente a região tem destaque pela diversidade de seu parque
industrial e, igualmente, pelas atividades agrícolas.
28
Entretanto, conforme Etulain et. al. (2012), essa tendência se
alterou nas últimas três décadas, tendo a MRL apresentado decréscimo no
fluxo populacional, nos últimos 30 anos. Entre os anos de 1980 a 2010 o
crescimento decaiu de 126.515 pessoas para 69.770. O saldo migratório tem
decaído na Região de Governo de Limeira entre os anos 1980 e 2010,
reduzindo de 38.139 migrantes para 8.120. Essa dinâmica é indicativa de
novas realidades migratórias, no interior do Estado de São Paulo, tendo por
base trocas migratórias com outros polos regionais mais afastados.
Os dados abaixo se referem ao ano de 2015 e refletem um
panorama regional, quanto ao porte e ao IDH dos municípios na MRL. As
informações sobre os municípios podem ser comparadas aos parâmetros
nacional e estadual, na intenção de compreender melhor os elementos que
compõem o Índice, individualmente e regionalmente. Com isso, se faz
necessário esclarecer que o Estado de São Paulo ocupa a terceira posição
no âmbito nacional, o Brasil figura com IDH médio de 0,755 e ocupa a
posição de número 75 no ranking mundial (PNUD, 2015).
Figura 7. Número de habitantes por município
Fonte: Etulain.et.al (2012)
Segundo IPEA (2016) os fatores que impactam no número de
moradores de rua de uma localidade são o número de habitantes de um
município, a pobreza, grau de centralidade e dinamismo do município, a
atuação municipal na área de atendimento à população de rua e o número
de moradores de rua que a gestão municipal cadastrou no Cadastro Único
para Programas Sociais. O número de habitantes de um município é o fator
128.895
27.132 23.234 22.557 99.388
296.440
74.587 4.332
60 50.060
100.060 150.060 200.060 250.060 300.060 350.060
População - 2015(numero de habitantes)
29
explicativo mais importante sobre população de rua, estabelecendo a relação
de que quanto maior a população do município, maior a tendência de ter
moradores de rua. Sendo assim, o número de habitantes do município pode
ser entendido como uma variável significativa, pois cada habitante do
município possui determinada probabilidade de se encontrar em situação de
rua; logo, o número estimado de pessoas em situação de rua relação direta
com o número de habitantes.
Figura 8. Posição no ranking estadual IDH 2015
Fonte: Etulain.et.al (2012)
No período correspondente a 2000-2015 ocorreu a redução do
IDH5 em toda a região, embora a média de desenvolvimento microrregional
tenha se mantido acima da nacional.
5 A sigla PIA é utilizada neste trabalho sob dois significados distintos. O PIA nesta frase se refere à Produção Industrial Anual. Posteriormente, a sigla fará referência ao termo Plano Individualizado de Atendimento.
0,82
0,77
0,83 0,82
0,790,81
0,83
0,800,78
70,8
0,750,77
0,74
2740,77
0,80 0,79
62
546
177
83 90
21 350
100
200
300
400
500
60060,0
65,0
70,0
75,0
80,0
85,0
90,0
IDH
2000
30
Figura 9. Variação de IDH- 2000-2015
Fonte: Etulain.et.al (2012)
O perfil industrial da MRL, segundo Etulain et. al. (2012), tem
como base a Produção Industrial Anual6 (PIA), dando destaque a três
setores de produção: a fabricação de artigos de borracha e material
plástico, a fabricação de produtos minerais e metálicos e a fabricação de
máquinas e equipamentos. Durante o período de 1999 a 2007 há uma
tendência ao crescimento na receita liquida nesses setores, na
microrregião. As transações de exportação e importação na MRL
demonstram que, apesar do número pequeno de empresas voltadas à
exportação, essas apresentam grande atividade. A pesar da MRL ser,
predominantemente, exportadora focada no desenvolvimento industrial,
poucas empresas têm desempenho de liderança e inovação, no mercado
externo.
A cidade de Limeira tem destaque dentre as cidades que
compõem MRL pela maior contribuição na formação do PIB, geração de
empregos, número de habitantes, dentre outros quesitos. Porém, também se
observam resultados abaixo do esperado, para certos indicadores sociais da
6 Para alcançar o principal objetivo do capitalismo, a acumulação e mais acumulação de capital, não basta a extração maior de excedente, é necessário vender a mercadoria (o excedente) para poder materializar a mais-valia, fonte do lucro, da acumulação de capital. A realização da comercialização capitalista acontece em um mercado fortemente marcado pela concorrência (disputa, competição) de outros proprietários, que, também, almejam vender suas mercadorias e alcançarem maior margem de lucro.
0,82
0,77
0,83 0,820,79
0,810,83
0,800,78
0,70
0,75 0,770,74
0,770,80
0,79-5,7%
-8,1%-9,2%
-6,3% -6,5%
-4,8% -4,5%
-1,6%
-10,0%
-8,0%
-6,0%
-4,0%
-2,0%
0,0%
60,0
65,0
70,0
75,0
80,0
85,0
90,0
IDH2000 2015 Variação
31
cidade, dentre eles são evidentes as deficiências em termos de escolaridade
e distribuição de renda, indicativas da necessidade de investimentos sociais
mais significativos.
A cidade de Limeira se destaca nos quesitos de importação e
exportação, quando comparada aos demais municípios da MRL, ao estado
de São Paulo e ao âmbito nacional. Esse destaque é ainda mais significativo
ao longo dos anos, demonstrando a importância da cidade de Limeira no
longo prazo. Em relação à importação e exportação, o destaque se concentra
nas empresas fabricantes de autopeças e de produtos químicos voltados ao
setor alimentício.
Torna-se possível notar o grande potencial, tanto da cidade,
quanto da MRL em relação à economia estadual para esses setores
específicos da economia, e completa: "Para tanto, o desenvolvimento
econômico e social promissor depende do bom desenho e implementação da
política pública nacional, regional e local" (ETULAIN et. al. 2012. p.60).
3. Diferentes aspectos de um mesmo problema
Políticas Públicas
As políticas públicas são um conjunto de decisões, planos, metas e
ações governamentais, seja em nível nacional, estadual ou municipal,
voltados para a resolução de problemas de interesse público, podendo ser
específicos, ou difusos. A função que o Estado desempenha, em nossa
sociedade, sofreu inúmeras transformações ao passar do tempo. No século
XVIII e XIX, seu principal objetivo era a segurança pública e a defesa externa
em caso de ataque inimigo. Entretanto, com o aprofundamento e a expansão
da democracia, as responsabilidades do Estado se diversificaram.
A própria caracterização do Estado de Bem-Estar Social abrange
as várias esferas em que devem se implementar ações para o
desenvolvimento de uma série de áreas, das quais fazem parte a saúde, a
educação, o meio ambiente, a assistência social, dentre outras. Para atingir
resultados em diversas áreas e promover o bem-estar da sociedade, os
governos se utilizam das Políticas Públicas, que podem ser definidas da
seguinte forma. “Políticas Públicas são um conjunto de ações e decisões do
32
governo, voltadas para a solução (ou não) de problemas da sociedade”
(LOPES, 2008, p.5).
As Políticas Públicas são a totalidade de ações, metas e planos
que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o
bem-estar da sociedade e o interesse público. Assim, o interesse público – o
qual, por sua vez, reflete as demandas e expectativas da sociedade – se
forma a partir da atuação dos diversos grupos. A participação dos interesses
populares se manifesta por reivindicações, na busca de obtenção de apoio,
na tentativa de garantia de direitos, promovendo a visibilidade de demandas
a serem incorporadas pela agenda pública.
Políticas Sociais
Pastorini (1997) define as políticas sociais como ações
governamentais desenvolvidas por meio de programas que proporcionam a
garantia de direitos e condições dignas de vida ao cidadão de forma justa. As
políticas públicas são próprias das formações econômico-sociais capitalistas,
de ação e controle sobre as necessidades sociais básicas das pessoas, não
satisfeitas pelo modo capitalista de produção. É uma política de mediação
entre as necessidades de acumulação do capital e as necessidades de
manutenção da força de trabalho. Desta maneira, a política social é uma
gestão estatal da força de trabalho e do preço da força de trabalho.
A função social das políticas sociais tem por objetivo o
atendimento redistributivo dos recursos sociais, por meio de serviços sociais
e assistenciais, na intenção de minimizar os impactos da insuficiência salarial
nas populações com menos recursos de superação das adversidades.
Contudo, Pastorini (op. cit., 1997) reforça que esta dissimula as
verdadeiras funções que as políticas sociais desempenham no mundo
capitalista ao consistirem em mecanismos institucionais que compõem uma
rede de solidariedade social que objetiva diminuir as desigualdades sociais,
oferecendo mais serviços sociais àqueles que têm menos recursos.
Neste sentido, como analisa Iamamoto (2002), são ofertados aos
usuários os serviços sociais de direito: saúde, educação, política salarial,
trabalho, habitação, lazer e outros, tendo, por vezes, o foco na
benemerência, assistência, filantropia ou favor, consistindo em medidas
33
parcelares e setoriais, desempenhadas pelo Estado, em busca da
manutenção da ordem social. Do ponto de vista da classe trabalhadora, estes
serviços podem ser encarados como complementares, mas necessários à
sua sobrevivência, diante de uma política salarial que se mantém aquém das
necessidades mínimas, historicamente, estabelecidas para a produção de
condições dignas de vida.
Com as reflexões de Montaño (2007) é possível inferir que não há
política social desligada das lutas sociais. De modo geral, o Estado assumiu
algumas das reivindicações populares, ao longo de sua existência histórica.
Os direitos sociais dizem respeito, inicialmente, à consagração jurídica da
articulação dos trabalhadores.
Com base nas reflexões de Faleiros (1991, p.8), pode-se afirmar que:
"As políticas sociais ora são vistas como mecanismos de manutenção da força de trabalho, ora como conquista dos trabalhadores, ora como arranjos do bloco no poder ou bloco governante, ora como doação das elites dominantes, ora como instrumento de garantia do aumento da riqueza ou dos direitos do cidadão''.
Pobreza
Existe uma multiplicidade de conceitos sobre pobreza que vão
desde a relação com um único elemento, como a inacessibilidade ao
emprego e as implicações sobre a subsistência, até análises complexas que
estabelecem um conjunto de indicadores possíveis de relacionar a pobreza
com diversos fenômenos.
Montaño (2012) debate o fenômeno explicitando as concepções da
pobreza da “questão social” e seus enfrentamentos, em diferentes momentos
da sociedade capitalista. Disserta sobre a desigualdade social inerente ao
modo de produção capitalista, fazendo uma análise histórico-crítica da
pobreza e da “questão social”, discutindo as políticas sociais e as crises do
capital.
Nas concepções de pobreza, “questão social” e seus
enfrentamentos, o autor inicia com a origem da expressão “questão social”,
na fase do capitalismo concorrencial7, onde a sociedade era permeada pelo
7 Componentes: fecundidade, atenção e cuidados com crianças, adolescentes e jovens, atenção e cuidados especiais com idosos, dependência demográfica e a presença da mãe. Indicadores: a presença de criança ou idosos na família e a existência de criança no domicílio
34
pensamento positivista e, portanto, enxergava a pobreza como algo distante
e sem história, desvinculando este “fato social” da esfera econômica. Neste
momento, a pobreza era vista como algo de total responsabilidade dos
pobres, ou seja, desculpava o sistema de produção para culpabilizar o
indivíduo que se encontrava nessa condição
Na fase do capitalismo monopolista (Estado de Bem-Estar Social),
o Estado assume a função de mediador dos interesses da classe burguesa e
trabalhadora, na intenção de diminuir os conflitos de classes e perpetuar a
ordem capitalista a partir de uma intervenção mais ativa do Estado no
mercado capitalista e nas políticas sociais. Nesse momento, a pobreza deixa
de figurar meramente como responsabilidade do indivíduo e passa a ser
pensada como causa do subdesenvolvimento. Na concepção de Keynes,
com o desenvolvimento da força produtiva haveria um contingente da
população excluída do mercado de trabalho. Logo, esse contingente não teria
acesso a nenhuma fonte de renda, não conseguindo obter mercadorias nem
consumir serviços.
No momento em que o pensamento neoliberal é difundido na
sociedade, a pobreza é mais uma vez abordada na perspectiva da culpa
individual, justificando a necessidade de o Estado agir com menor
intervenção, na esfera produtiva e social, para que se desenvolva o
capitalismo.
Paugam (2003), quanto à abordagem multidimensional da
pobreza, ressalta a complexidade de seu conceito. Reforça que o
entendimento sobre o conceito não se configura como uma unidade
categórica, e sim, como um processo que deve ser analisado, na busca do
entendimento da exclusão social. O autor utiliza o termo "populações
reconhecidas em situação econômica e social precária", Paugam (2003,
p.56), para se referir sobre aquelas em situação de pobreza.
Segundo Barros et al. (2006), um dos índices mais conhecidos é a
linha estabelecida pelo Banco Mundial, segundo a qual são pobres os que
cuja mãe já tenha morrido ou que não viva com a mãe, entre outros. Para os pesquisadores, investigar a presença da mãe é particularmente importante, já que, caso as crianças sejam criadas por terceiros, existe uma probabilidade de desproteção maior, de exposição a trabalho em atividades extenuantes, de estarem fora da escola ou doentes, sem atendimento médico adequado.
35
vivem com menos de 1 dólar por dia. Alguns pesquisadores, no entanto,
apontam para o aspecto limitado dessa perspectiva. A principal crítica é que
o conceito não contempla todas características de um problema complexo e
multifacetado por natureza. Desde a década de 1970, emergem novas
concepções cujo objetivo consiste na construção de uma caracterização mais
precisa do cenário de privação. Vivenciado pelas pessoas em situação de
pobreza. Esta visão mais profunda inclui no cálculo aspectos essenciais do
bem-estar, como saúde, educação, saneamento básico e moradia.
Mesmo com o viés econômico de medir a pobreza apenas pelos
ganhos monetários, é possível perceber que as carências de renda se
combinam com dificuldades as mais diversas que acabam por dificultar a
realização dos projetos vitais dos cidadãos. Assim se reconhece que a
situação de pobreza adquire diversas dimensões, descritivas, de patrimônio,
de capital social e simbólico. Foi nesta perspectiva que se produziram os
avanços na conceptualização da mesma nos Objetivos do Milênio (ONU,
2000), na obra de Amartya Sen (1992) e na ótica da complexidade da CEPAL
da última década (ETULAIN, 2016).
A constituição Brasileira de 1988, na definição de direitos sociais,
elenca alguns dos aspectos de bem-estar, acima citados, como parâmetros
para a averiguação dos limites de pobreza:
"Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 90, DE 2015).
A ideia de construir um indicador que sintetizasse todas as dimensões
relevantes da pobreza humana tomou maior impulso somente após a criação
do Índice de Pobreza Humana (IPH) pelo Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD), em 1997, índice que mais tem sido utilizado em
estudos aplicados, em particular nos relatórios de desenvolvimento humano.
Com o objetivo de contribuir para esse debate, pesquisadores do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) lançaram um estudo chamado
"Pobreza multidimensional no Brasil", no qual propõem um novo cálculo do
índice de pobreza, baseado nas informações coletadas pela Pesquisa
36
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Barros et al. (2006) afirmam que a grande novidade é a
possibilidade de cálculo estimado para cada família, com base nas
informações da PNAD. Assim, passou a ser possível, não apenas avaliar o
grau de pobreza de bairros, municípios e países, mas também de grupos
demográficos específicos, como negros, crianças, idosos e analfabetos.
Outro avanço foi a possibilidade de investigar que dimensões da pobreza são
as principais responsáveis pelas diferenças existentes entre grupos sociais
considerados pobres. Com base nas informações da PNAD, os
pesquisadores elegeram as seguintes dimensões, componentes e
indicadores:
- 1. Vulnerabilidade8;
- 2. Falta de acesso ao conhecimento9;
- 3. Acesso ao trabalho (representa a oportunidade que uma
pessoa tem de usar sua capacidade produtiva)10;
- 4. Escassez de recursos (na composição do índice a renda
também tem papel fundamental, já que a grande maioria das
necessidades básicas de uma família pode ser satisfeita por meio de
bens e serviços)11;
- 5. Desenvolvimento infantil12;
8 Componentes: analfabetismo, nível de escolaridade formal e qualificação profissional. Indicadores: presença de adulto analfabeto na família, ausência de adultos com secundário completo e ausência de trabalhador com qualificação média ou alta, entre outros. 9 Componentes: disponibilidade de trabalho, qualidade e produtividade dos postos de trabalho disponíveis, entre outros. Indicadores: verificação se há ausência de uma pessoa ocupada no setor formal, ausência de trabalhador que esteja há mais de seis meses no trabalho atual e ausência de ocupado com rendimento superior a um salário mínimo. De acordo com o estudo, dotar as famílias de meios sem garantir que elas possam efetivamente utilizá-los, para a satisfação de suas necessidades não é uma política eficaz, pois tão importante quanto assegurar que elas tenham acesso aos meios de que necessitam é dar-lhes a chance de usá-los. 10 Componentes e indicadores: a Pnad traz uma série de indicadores que apontam a insuficiência de renda de uma família. Por exemplo, verificação se a renda per capita é inferior à linha de extrema pobreza, se a renda familiar per capita é inferior à linha de pobreza ou ainda se a maior parte da renda familiar vem de programas de transferências. 11 Componentes: trabalho precoce, evasão escolar, atraso escolar e mortalidade infantil. Indicadores: presença de ao menos uma criança com menos de 14 anos trabalhando, presença de ao menos uma criança entre zero e 6 anos fora da escola e presença de pelo menos uma mãe que já teve um filho nascido morto, entre outros. 12 Componentes: propriedade do imóvel, déficit habitacional, capacidade de abrigar do imóvel, acesso inadequado à iluminação e água, acesso inadequado a esgoto sanitário, falta de acesso à coleta de lixo, falta de acesso à eletricidade e falta de acesso a bens duráveis.
37
- 6. Carências habitacionais13.
A consideração de fenômenos multidimensionais envolvidos na
concepção de pobreza é essencial para que ações voltadas a seu combate
sejam direcionadas ou focadas nas dimensões ou nos problemas que as
pessoas estão enfrentando, efetivamente. Ou seja, reduz o risco de minimizar
a complexidade do fenômeno e de desprezar a heterogeneidade que o
caracteriza.
Segundo Carvalho e Franco (2006), outro indicador de pobreza
multidimensional é o IPH, que foi concebido por Amartya Sen, ganhador do
Nobel de Economia de 1998, e Sudhir Anand, economista e professor da
Universidade de Oxford, na Inglaterra. Os autores indicam a utilização do
índice somente para países em desenvolvimento. Os aspectos medidos são:
curta duração de vida (viver menos de 40 anos), falta de educação elementar
(taxa de analfabetismo de adultos) e falta de acesso a recursos públicos e
privados (verificada pela porcentagem de crianças menores de 5 anos cujo
peso é inferior ao recomendado, além da falta de acesso a uma fonte
adequada de água). Os países que alcançarem as melhores posições,
possuem menores índices de pobreza humana.
O grande diferencial proposto pelo IPH consiste na ideia de que a
pobreza não pode ser mensurada pela posse de bens nem pela sua utilidade,
mas sim pelas condições e potencialidades dos indivíduos em usar esses
bens para o alcance da satisfação pessoal. Segundo ele, a fome e a inanição
são elementos constantes na pobreza, não importando a posição relativa na
escala social, pois, onde houver fome, haverá pobreza.
A pobreza é, indubitavelmente, um fenômeno multidimensional.
Entretanto, a necessidade de ordenar países, estados, municípios, bairros,
momentos no tempo, grupos sociais e mesmo famílias, torna indispensável
uma representação escalar.
Risco e Vulnerabilidade Social
Risco e vulnerabilidade só podem ser entendidos, quando
associados a diferentes contextos histórico-sociais e a diferentes áreas
Indicadores: densidade do domicílio, se o material de construção é permanente e se a família possui fogão, geladeira, televisão, rádio ou telefone, entre outros itens. 13 A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), aprovada em 2004, apresenta as diretrizes para efetivação da assistência social, como direito de cidadania e responsabilidade do Estado.
38
científicas que desenvolveram seus conceitos, para dar conta de seus
objetos. São conceitos distintos, mas essencialmente relacionados, pois
enquanto o risco se refere às condições fragilizadas da sociedade
tecnológica contemporânea, vulnerabilidade identifica a condição dos
indivíduos nessa sociedade. A sociedade pós-industrial é uma sociedade de
risco, principalmente pelos efeitos que a tecnologia e a globalização
econômica produziram. Esta distinção entre risco e vulnerabilidade, apesar
de evoluir em muitos sentidos, não traz uma conceituação de ambos os
termos. Alguns autores tratam os dois conceitos como sinônimos, gerando
confusão no seu emprego, mesmo sendo distintos, (Brasilb, 2005).
A construção da Política Nacional de Assistência Social14 é
edificada a partir da visão da proteção social, que pressupõe conhecer os
riscos e as vulnerabilidades sociais a que estão sujeitos os destinatários da
Assistência Social. Como a própria política nacional menciona, é no cotidiano
da vida das pessoas que riscos e vulnerabilidades se constituem (Brasilb,
2005). Além disso, muitos programas e ações implantadas pela Assistência
Social, nos âmbitos federal, estadual e municipal, orientados às famílias e
aos filhos das classes populares, estão voltados para um enfoque do risco
social.
Segundo Comim e Bagolin (2002) a aplicação do conceito de
vulnerabilidade é atribuída, erroneamente, em lugar de risco, mesmo se
tratando de dois conceitos distintos. Enquanto risco, segundo os autores, foi
usado pelos epidemiologistas em associação a grupos e populações, a
vulnerabilidade é referente aos indivíduos e às suas suscetibilidades ou
predisposições às respostas ou consequências negativas. Neste caso, o
conceito de vulnerabilidade se relaciona às potencialidades ou fragilidades
dos indivíduos, mediante determinado elemento fragilizador existente. É
importante ressaltar, que para esses autores, existe uma relação entre
vulnerabilidade e risco, onde a vulnerabilidade opera apenas na presença do
risco; coerente a essa concepção, na inexistência do risco, a vulnerabilidade
não teria efeito. A palavra vulnerável tem origem no verbo latim vulnerare,
14 Aqui o problema nevrálgico sobre o qual Foucault chama a atenção é o fato de o controle dos corpos, historicamente, exercido sobre os delinquentes, que deixa de ser feito através de suplícios e sofrimento via tortura e passa a ser exercido pelo controle científico disciplinar.
39
que significa ferir, penetrar. Por essas raízes etimológicas, vulnerabilidade é
um termo geralmente usado na referência de predisposição a desordens ou
de suscetibilidade ao estresse segundo Jankzura (2012).
Oliveira (1995) aponta que os grupos sociais vulneráveis poderiam
ser definidos como aqueles conjuntos ou subconjuntos da população
brasileira situados na linha de pobreza; no entanto, ressalta que nem todos
os vulneráveis são pobres, pois entende que, além destes, muitos grupos
sociais que se encontram acima da linha da pobreza também podem
apresentar vulnerabilidades.
A definição econômica da vulnerabilidade social, segundo o autor,
é insuficiente e incompleta, porque, em primeiro lugar, não especifica as
condições pelas quais os diferentes grupos sociais ingressam, no conjunto
dos indivíduos ou grupos vulneráveis. Em segundo lugar, há indivíduos
vulneráveis entre os índios, os negros, as mulheres, os nordestinos, os
trabalhadores rurais, tanto assalariados, quanto aqueles ainda na condição
de posseiros, meeiros, as crianças em situação de rua, a maioria dos
deficientes físicos, entre outros segmentos populacionais. Além disso, o
autor entende que a resolução ou atenuação da vulnerabilidade reside,
exatamente, no econômico. Em sua opinião, os grupos sociais vulneráveis se
tornaram vulneráveis, pela ação de outros.
A ideia de Oliveira (1995) é de que a vulnerabilidade dos grupos
sociais somente poderá ser eliminada, se ocorrer a transição da
consideração das carências sociais para os direitos sociais. Direitos e
cidadania são conceitos contemporâneos que implicam promover as
habilidades do indivíduo e da coletividade em compreender, analisar, refletir e
tomar consciência sobre o mundo que os cerca, interagindo como agentes e
membros de grupo participativo e criativo, gerando desenvolvimento pessoal
e social.
Para Beck, (2011), a análise do conceito de risco e vulnerabilidade
torna possível chegar a algumas conclusões. Uma delas se refere ao fato de
que o risco não pode ser identificado como vulnerabilidade, embora se possa
estabelecer uma relação estreita entre eles. O primeiro conceito se refere à
situação de grupos, e o segundo deve ser usado para a situação fragilizada
de indivíduos. Outra conclusão do autor é o quanto a falta de clareza sobre
40
ambos dificulta a abordagem de seus limites e influências nas populações. A
terceira conclusão evidenciada é que a sociedade pós-industrial é uma
sociedade de risco, principalmente pelos efeitos que o mundo globalizado
produziu. As ações individuais podem ter efeito sobre o planeta e as
modificações em algum lugar do globo ter efeitos sobre os indivíduos do
mundo todo.
A tendência é de concordância com esta visão, no entanto é
fundamental não desconsiderar as consequências econômicas na redução
da vulnerabilidade social. Além disso, com o enfraquecimento do Estado de
Bem-Estar Social desde os anos 1980, as condições de combate ao risco e à
vulnerabilidade se tornaram mais frágeis. Assim, os conceitos de risco e de
vulnerabilidade são de fato distintos, mas, apesar de terem uma origem no
processo econômico social dos séculos XVIII e XIX, pela introdução do
capitalismo industrial e financeiro, não podem ser reduzidos a esse único
processo. A sociedade industrial se transformou, ao longo do século XX,
como enfatiza Beck (2011), em uma “sociedade de risco” devido ao
desenvolvimento altamente tecnológico.
Na discussão dos riscos e perigos, Marandola e Hogan (2006)
identificam três comunidades específicas em termos conceituais, podendo
estar centradas na "vulnerabilidade", "adaptação" ou na "resiliência" para a
compreensão desses fenômenos. Referem que a resiliência diz respeito à
capacidade de um ecossistema se recuperar de perturbações, retornando a
sua configuração original, implica equilíbrio e manutenção do status quo. A
adaptação concentra a ênfase na capacidade de indivíduos ou grupos se
transformarem mediante o que lhe causa impacto. A vulnerabilidade está
relacionada à característica social e individual de responder às adversidades
e incidentes. Reforçam haver pouca articulação entre essas tradições de
estudos, trazendo a reflexão de que se referem a fenômenos que perpassam
a dinâmica sócio espacial contemporânea, sendo fundamental para a
composição de um quadro teórico metodológico e ontológico que incorpore
as diferentes abordagens e olhares em torno de um conceito interdisciplinar.
A contribuição dos autores reforça que há fenômenos complexos
em sua constituição, cujas raízes estão firmadas em fatores variados como
desemprego, enfraquecimento das redes sociais de apoio e outros elementos
41
fragilizadores, que devem ser abordados, pela própria complexidade inerente,
de forma interdisciplinar, construindo um campo comum de atuação, sobre o
mesmo objeto, do qual emana uma nova abordagem.
Desfiliação, corpos urbanos errantes e abjetos
O conceito de desfiliação de Castel (1998) fornece elementos
reflexivos complexos sobre a exclusão. Assim, a desfiliação se configura
como sendo:
"A presença, aparentemente cada vez mais insistente, de indivíduos colocados em situação de flutuação na estrutura social e que povoam seus interstícios sem encontrar aí um lugar designado. Silhuetas incertas, a margem do trabalho e nas fronteiras das formas de troca socialmente consagradas - desempregados por períodos longos, moradores das favelas, beneficiários dos programas de transferência de renda, vítimas de readaptações industriais, jovens à procura de emprego, trabalho de ocupação provisória - quem são eles?" (CASTEL, 1998.p.14).
O autor prefere falar em desfiliação, e não em exclusão, devido a
característica estanque do processo que constitui a segunda. Através do
conceito de desfiliação descreve o vir a ser, pontuando que permite a análise
do desenvolvimento dos elementos que constituem o fato de estar/ser
excluído, podendo detectar também (ponto fundamental) os elementos que a
constituem, na intenção de perfazer o caminho de saída dessa condição. No
caso da situação de rua o conceito de desfiliação serve de norte para a
reconstrução das histórias de vida desses sujeitos, para a reconstrução de
significados e construção da ruptura com o processo que a constituiu. "Na
desfiliação seria necessário descrever os déficits de hoje em trajetórias, estar
atento aos pontos de oscilação em que geram os estados limites”
(CASTEL,1998, p. 26).
Desse modo, o conceito de exclusão social presta-se mais a uma
descrição do que a uma análise propriamente dita. Além disso, o corte de
vínculos, ao dizer respeito à relação do indivíduo (pobre, desempregado, com
relações de sociabilidade pouco sólidas) com a sociedade capitalista, dirige
àquele o seu foco. Nesse sentido, a exclusão social é a contrapartida, no
âmbito individual, da desintegração que ocorre no âmbito macrossocial.
Uma das divergências entre autores sobre o tema da exclusão é
ilustrada nas concepções de Castel (1998) e Gaulejac e Taboada-Leonetti
(1994). Para os últimos autores, a desinserção seria decorrente do
42
desemprego, da pobreza, da estigmatização social, do isolamento e da ruptura
a fragilidade na rede de suportes sociais. Isso poderia ocorrer, ao contrário do
explanado por Castel (1998), com todos os indivíduos em sociedade, não
somente com as classes desfavorecidas.
Nesse sentido, a desfiliação de Castel constitui-se por um fenômeno
radicalmente contrário ao conceito de exclusão, implícito no conceito de
desinserção social de Gaulejac e Taboada-Leonetti. Castel, então, entende que
não existem pessoas for a da sociedade, exceto em casos limites. Ao se
considerar um indivíduo com excluído, Castel afirma que na realidade, tratam-
se de situações individuais muito diferentes entre si, as quais constituem a
história específica daquele sujeito, no ingresso na condição de desfiliado.
A noção de corpos urbanos errantes é desenvolvida por Frangella
(2004) para descrever uma das principais características da população de
rua: a movimentação pelo território habitado. Assim, relacionando elementos
inerentes ao fenômeno, baseados nas condutas dos sujeitos, também traça
sólidas relações entre o uso dessa circulação como modo de controle desses
corpos. Sobre eles recaem serviços públicos, que vão desde o acesso a
diferentes unidades, fator que exige o deslocamento, até as ações articuladas
que proíbem a permanência dessa população em determinados lugares.
As reflexões da autora remetem às novas formas de exercício do
poder referidas por Foucault, as quais constituem a microfísica do poder e
suas formas de manifestação. Através das novas canalizações de poder o
mesmo subsidia o entendimento da situação de rua e dos discursos que
legitimam a submissão dos corpos aos modelos hegemônicos da higiene,
fator diretamente relacionado à abjeção. Na intenção de adestramento dos
corpos abjetos e errantes, recai a disciplina das políticas públicas como
reflexo do Estado que domina em uma microfísica do poder.
As constituições dos serviços ofertados pelas políticas públicas
envolvidas no atendimento à população de rua estruturam uma retícula de
poderes entrecruzados que visam conformar as pessoas, em condição de
rua, através da oferta de serviços que visam a adequação. Daí a importância
do entendimento do percurso que constitui a desfiliação, no intuito de
fomentar a reconstrução das histórias de vida, tomando como base os
indivíduos, não os modelos hegemônicos ditados pelo poder público através
43
de suas políticas. Ao analisar a constituição dos movimentos de contra força,
em especial aqueles liderados por moradores de rua, o que se observa é a
construção do discurso de respaldo, contrapondo o de verdade absoluta,
historicamente relacionado ao domínio e controle dos corpos urbanos
errantes, em condição de rua, construindo como naturais as necessidades
desse público sem que as mesmas emanem dos protagonistas: é quando o
Estado "sabe do que precisam sem que sejam escutados". A participação da
comunidade epistêmica é ponto de resistência na construção de informações
que se originem do contato direto com os moradores de rua e das relações
sociais que constituem o fenômeno em questão.
A dinâmica de circulação no território municipal cria novas
sociabilidades, mas em seu deslocamento errante e contínuo o itinerante
constrói o seu modo de estar nas ruas, implicando em embates constantes
com os códigos sociais urbanos preponderantes. Não têm propriedade, não
têm trabalho, e suas relações afetivas e sociais estão fragilizadas - fato que
os coloca em um lugar especifico na sociedade. São tidos como pessoas fora
do lugar, desencaixados no espaço urbano concreta e simbolicamente; o fato
de serem visíveis à população ameaça as normativas do espaço urbano.
Embora seja no corpo que sofrem as consequências da exclusão é nele que
resistem. Ele é o instrumento para continuar existindo nessa realidade,
sendo, portanto, lugar de suplícios15 e resistências.
Segundo Frangella (2004) a reação à itinerância e à circulação dos
corpos repercute na vigilância e na coerção da polícia, nos espaços urbanos.
Há, segundo a autora, uma reação de coerção física e controle pelo
monitoramento, gerando e reforçando a exclusão. Como consequência,
ocorre o que a autora denomina de "processo de estigmatização constante".
Em contrapartida, o modo de ocupar as ruas, fazendo um uso diverso do
comum, nos espaços urbanos, é entendido como uma forma de resistência.
A abjeção dos corpos é um conceito desenvolvido por Rui (2014),
tendo por base a análise de usuários de crack considerados com "nóias".
Tomando como campo de estudo as regiões de uso reconhecidas, no cenário
15 As bancas se constituem nos grupos organizados de moradores de rua em determinado território. A organização emana dos membros e pode ter variados critérios de agrupamento e de localização.
44
dos usuários, passou a analisar a maneira como estes corpos se inscreviam
nessas realidades. Os corpos abjetos de Rui se referem à experiência
limítrofe do uso crônico e degradante de crack, porém, assinalando as
nuances e a diversidade de relação dos usuários com seus corpos, com o
meio e com os diversos atores presentes, nos locais de uso, em Campinas e
na "cracolândia", em São Paulo - Capital.
Expressa de forma contundente a característica da abjeção é
tomada como o máximo da diferença perante aquele que difere do "nós", não
reconhecendo humanidade no outro. Diante da construção de uma
corporalidade abjeta, a autora mostra a importância de estudar a figura do
“nóia", para que seja possível entender as minuciosas relações com o
diferente, na contemporaneidade. A questão principal constante no conceito,
diz respeito a compreender melhor as populações consideradas excluídas,
noção extensiva à condição de rua. Ao contrário do que normalmente é
argumentado – especialmente no senso comum e em matérias da grande
mídia – o local de consumo de crack se caracteriza pela presença excessiva
do Estado.
Os locais de concentração das pessoas, em condição de rua, são
também hipervigiados, recaindo sobre eles o controle dos corpos, que são
socialmente percebidos como repugnantes e abjetos. Se forem consideradas
as reações sociais ao fenômeno - condição de rua - o que se percebe é um
padrão de reação que sugere o aniquilamento e o afastamento dos corpos
que causam, no contexto territorial, abjeção. Tomando a exclusão como
forma de classificação desses sujeitos, a autora apresenta uma outra face
dos fenômenos dos humanos abjetos: as relações sociais com esses
indivíduos (usuários de crack e pessoas em situação de rua), que não podem
ser entendidas apenas na esfera da exclusão e da invisibilidade. Entre os
grupos que estão às margens do Estado, há dinâmicas internas muito mais
complexas que as de negação de acesso a direitos.
Sendo assim, as abjeções de corpos contem, em si, conceitos
aparentemente contraditórios, mas complexamente relacionados. O corpo,
que não aparenta estar em estado de conformidade com um padrão de
higiene e cuidados de si, também desempenha um conjunto de condutas e
códigos relacionais estabelecido entre os indivíduos que difere do padrão de
45
relações sociais vigentes. Tais elementos geram no imaginário social,
sentimentos de repulsa em alguns e demanda de ação para outros.
Circulação e fixação dos corpos: a manipulação do Estado
O Estado produz seus limites de atuação rígidos e delimitados,
consistindo tal organização em mecanismo fundamental para seu
funcionamento. É preciso construir e justificar, diariamente, desde a
perspectiva estatal, a vida na rua como o lugar exclusivo do abandono e do
sofrimento, para assim induzir a práticas e aparelhos que têm em seus
objetivos oficiais o resgate dessas vidas e a inclusão social. Como partes da
mesma modalidade, está a dimensão da atuação que se relaciona com o
indivíduo como o interdito, através dos elementos de controle, sob uso da
contenção, da violência física, podendo chegar ao limite da eliminação. A
dimensão do controle dos corpos é também uma consequência da atuação
oficial, e o controle uma característica inerente à atuação estatal. "A primeira
das grandes operações da disciplina é então a constituição de quadros vivos
que transformam as multidões confusas, inúteis ou perigosas em
multiplicidades organizadas" (FOUCAULT, 2009, p.126).
Sobre os corpos vigiados das pessoas vivendo em condição de rua,
o panóptico da gestão pública tudo vê no que se refere à vida privada dos
sujeitos que, contraditoriamente, vivem a intimidade nas ruas; seus corpos
dóceis exigem “vigilância” e a abordagem de políticas públicas como a de
segurança, por exemplo, funciona como uma espécie de laboratório de
poder, pois com seus mecanismos de observação e controle ganha em
eficácia e em capacidade de domínio, sobre o comportamento dos homens.
Oliveira (2012) ressalta a gestão da circulação e da fixação como
dois dos mecanismos de atuação da administração pública no município de
São Carlos, tomando o território como base para análise dos fenômenos
ocorridos nas "bancas14". Com o uso do método da observação participante,
relata o universo de relações presentes, no território dos moradores de rua, a
convivência entre pares e a influência de ações públicas sobre a vida desses
indivíduos.
46 11
A gestão por circulação tem relação com o uso de mecanismos
que promovem a partida do indivíduo do território municipal ou em certos
casos, a construção de dispositivos que nem ao menos lhe permitam
ingressar no município. Em algumas cidades, o único serviço disponível para
esse segmento é a dispensa de passagens em unidades centrais, de fácil
acesso, quando não nas próprias, rodoviárias.
Arendt (2009) diz que a gestão por circulação é um problema
estrutural, ligado aos processos históricos que envolvem migração e
desemprego. De fato, o que se constatou em São Carlos tem sido observado
também em outros municípios, tal como confirmam a Pesquisa Nacional de
POP Rua e as pesquisas efetuadas na municipalidade de Limeira, nos anos
de 2014 e 2015. Ainda assim os desenraizados agora mostram suas raízes:
nascem, crescem e entram em condição de rua em suas cidades de origem
e, ainda assim, não encontram relações sociais e comunitárias que
reconheçam o direito à sua permanência.
A gestão por fixação de corpos se dá, aparentemente, de forma
oposta à circulação, mas se constitui, igualmente, como forma de
interferência direta na vida dos sujeitos, consistindo em prática de governo
voltada à oferta preferencial de serviços aos moradores de rua, cujas origens
estão no próprio município. Na amostra da pesquisa é perceptível que alguns
municípios, como Limeira, já apresentam mais da metade da população de
rua como oriunda de seu próprio território. Contrariando a análise histórica do
fenômeno, os anos 2000 trouxeram elementos sobre a modificação gradativa
no perfil desses indivíduos, inclusive em âmbito nacional, passando a se
configurar, substancialmente, um grupo populacional de rua que permanece
na cidade de origem. Dessa forma, o acesso aos serviços públicos tende a
estar disponível aos moradores da cidade, restando aos migrantes a
circulação, a saída dos limites municipais.
2. Interdisciplinaridade e o estudo da população de rua
A interdisciplinaridade é conceito fundamental nessa pesquisa e se
deve, sobretudo, à complexidade do fenômeno humano e social imerso na
condição de rua. O entendimento do fenômeno população em situação de rua
e suas nuances não poderia ter aprofundamento sem articulação, entre
47 11
saberes de diversas disciplinas. Evidentemente que uma política pública não
é uma disciplina, pois ao se constituir recebe a contribuição de diversas
disciplinas e conhecimentos que delimitam seu campo de atuação. Com isso,
o que se objetiva é a crítica das abordagens vigentes, sob o modelo
unisetorial do fenômeno em questão, fator que distancia, ainda mais, a
necessária concepção não fragmentada do fenômeno em construção
epistemológica interdisciplinar.
A interdisciplinaridade, como um enfoque teórico-metodológico ou
de conhecimento, como a denomina Gadotti (2004), desponta na segunda
metade do século passado como reação nos campos das ciências humanas,
na intenção de superar a fragmentação e o caráter de especialização do
conhecimento, causados por uma epistemologia positivista em cujas raízes
estão o empirismo, o naturalismo e o mecanicismo científico do início da
modernidade. Sob a influência dos trabalhos de pensadores como Galileu,
Bacon, Descartes, Newton e Darwin, as ciências foram compartimentadas e,
consequentemente, assumindo características de saber especializado. Sob a
influência das correntes de pensamento naturalista e mecanicista buscavam,
já a partir do Renascimento, a construção de uma concepção mais científica
do mundo.
A interdisciplinaridade teve seu desenvolvimento no campo das
ciências humanas e sociais, através dos trabalhos de autores como o de
Kapp (1961), Piaget (1973), Vygotsky (1986), Durand (1991), Snow (1959) e
Gusdorf (1967). Quanto à definição de conceitos, o que se apresenta é uma
constante incoerência, pois para que fosse constituída, deveria se valer de
uma disciplina. Além disso, os próprios autores reconhecem que a
interdisciplinaridade é, por essência, um conceito em construção, cujo sentido
se faz, no campo, a partir do qual se olha. "A tarefa de procurar definições
finais para a interdisciplinaridade não seria algo propriamente interdisciplinar,
senão disciplinar". (LEIS, 2005, p. 7)
Independente da definição que cada autor assuma, a
interdisciplinaridade está relacionada à resistência sobre o saber
fragmentado, independente dos conceitos construídos, na busca de sua
definição. Para Japiassu (1976) a interdisciplinaridade é caracterizada pelas
trocas intensas entre os especialistas e pelo grau de integração real das
48 11
disciplinas no interior de um mesmo projeto. O elemento humano é
recuperado, através da passagem da subjetividade para a intersubjetividade
e na intenção de reaver a ideia da formação do ser humano total. Portanto,
mais do que identificar um conceito para interdisciplinaridade, o que os
autores buscam é encontrar seu sentido epistemológico, seu papel e suas
implicações, sobre o processo de conhecimento.
Moraes (2002) ressalta que a complexidade da realidade requer
um pensamento abrangente, multidimensional, com a capacidade de
compreensão desta mesma complexidade, na busca da construção de um
conhecimento que contemple essa amplitude.
A literatura sobre o tema mostra que existe, ao menos, uma
posição consensual, quanto ao sentido e à finalidade da interdisciplinaridade:
a busca de respostas rumo a superação da fragmentação, nos processos de
produção e socialização do conhecimento. Este é um movimento que busca
novas formas de organização do conhecimento eou para um novo sistema
de sua produção, difusão e transferência, como propõem Gibbons et al.
(1997).
"A interdisciplinaridade impõe-se pela própria forma de o "homem produzir- se enquanto ser social e enquanto sujeito e objeto do conhecimento social". Ela funda-se no caráter dialético da realidade social, pautada pelo princípio dos conflitos e das contradições, movimentos complexos pelos quais a realidade pode ser percebida como una e diversa ao mesmo tempo, algo que nos impõe delimitar os objetos de estudo demarcando seus campos sem, contudo, fragmentá-los. Significa que, embora delimitado o problema a ser estudado, não podemos abandonar as múltiplas determinações e mediações históricas que o constituem." (FRIGOTTO 1995, p. 26).
Morin (2005), um dos principais teóricos do movimento
interdisciplinar, entende que só o pensamento complexo sobre uma realidade
também complexa pode fazer reformar o pensamento, em busca da
contextualização, da articulação e da interdisciplinarização do conhecimento
produzido pela humanidade. Para ele:
"[...] a reforma necessária do pensamento é aquela que gera um pensamento do contexto e do complexo. O pensamento contextual busca sempre a relação de inseparabilidade e as inter-retroações entre qualquer fenômeno e seu contexto, e deste com o contexto planetário. O complexo requer um pensamento que capte relações, inter-relações, implicações mútuas, fenômenos multidimensionais, realidades que são simultaneamente solidárias e conflitivas (como a própria democracia, que é o sistema que se nutre de antagonismos e que, simultaneamente, os regula), que respeite a diversidade, ao
49 11
mesmo tempo que a unidade, um pensamento organizador que conceba a relação recíproca entre todas as partes". (MORIN, 2005, p. 23).
A interdisciplinaridade, no âmbito das políticas públicas, tem a
possibilidade de ocorrer no âmbito das propostas intersetoriais, mas não são
sinônimas. O Decreto 7053 descreve uma política pública essencialmente
intersetorial, prova disso é que a primeira ação determinada, para a
abordagem da política destinada ao atendimento de população de rua, se
inicia com a composição do comitê intersetorial. A abordagem multipolíticas
se justifica pela complexidade do fenômeno, fator que exige das políticas
públicas a execução de diagnósticos que permitam a abordagem
interdisciplinar de totalidades complexas, além da construção de um projeto
comum a diversas políticas públicas. As políticas, especialmente aquelas que
se mostraram efetivas na atualidade, são aquelas que exigem uma prática,
também, interdisciplinar pela via da intersetorialidade. Isso se deve,
essencialmente, à necessidade de fazer e estabelecer cruzamento de ações,
práticas e olhares que aumentam a compreensão do real e a ação efetiva,
sobre os problemas sociais contemporâneos.
Marandola e Hogan (2006) ao abordarem a "Vulnerability Science"
mencionam que seu desenvolvimento tem se dado em virtude da
necessidade de um enfoque e abordagem interdisciplinar ao tema, o qual não
deve ser enfrentado de forma isolada por cada disciplina. A relação direta da
vulnerabilidade com a condição de rua pode ser, igualmente, problematizada
se a vulnerabilidade for tomada com uma das dimensões da pobreza,
característica que compõe o fenômeno.
A relação entre vulnerabilidade e pobreza é abordada por
Marandola e Hogan (2006), enquanto conceito forte, com foram,
anteriormente, a exclusão/inclusão e a marginalidade. Referem o
cerceamento dos bens de cidadania, consequência da diminuição da renda
ou outros processos que resultam na vulnerabilização das pessoas e da
própria cidadania. "[...] reconhecimento de que a vulnerabilidade envolve
uma gama de fenômenos de natureza multidimensional e multifacetada, que
torna imperativo o diálogo e um olhar mais abrangente diante do tema”
(MARANDOLA e HOGAN, 2006.p 35).
50 11
CAPITULO II - ANÁLISE DE POLITICAS PÚBLICAS E POLÍTICA DE ASSITÊNCIA SOCIAL
1. Mendigo, migrante, desempregado e excluído
O tema população em situação de rua será abordado a partir do
enfoque de autores estudiosos do assunto tendo como intenção a exposição
da história da produção analítica sobre o fenômeno social da população em
situação de rua. Em complementação à revisão do pensamento teórico sobre
o tema, a pesquisa também contempla, em capítulo específico, uma linha
histórica de políticas públicas e ações desenvolvidas em território nacional,
evidenciando a lógica evolutiva em termos de complexidade, na abordagem
do fenômeno, no que se refere ao desenvolvimento de ações e à oferta de
serviços públicos.
O crescimento econômico dos anos 60 contrastou com os
problemas sociais que gerou. O desenvolvimentismo era falho, atingindo
apenas algumas parcelas da população, desenhando uma concentração de
riquezas. É sobre este cenário que estudiosos da questão urbana brasileira
como Pereira (1978) passam a refletir, ancorados em conceitos marxistas,
promovendo o entendimento das questões decorrentes de populações
marginalizadas e impossibilitadas de acesso ao consumo. A noção de
"lupemproletariado16” coloca como fenômenos comuns a mendicância, a
indigência e a prostituição, estando também classificados nesta categoria os
moradores de rua. A exclusão do mercado de trabalho se configura, nesse
período, como consequência dos fenômenos relacionados à industrialização
e à migração populacional, para os grandes centros urbanos.
Analisar a trajetória do entendimento teórico sobre o fenômeno
população de rua, no Brasil, implica em aprofundar o estudo das relações
migratórias, em especial, sobre o estado de São Paulo. Na década de 70 os
fenômenos decorrentes da modernização e da industrialização traziam
16 Quando os moradores de rua são vistos como lumpemproletariado (Marx) significa que compõem um resto da sociedade que não tem nenhuma função no sistema. De modo que representam a exclusão absoluta, pois para Marx não é possível contar com o lumpemproletariado para fazer a revolução, portanto, não são sujeitos da história. Quando são conceituados como “mendigos” há uma visão na mesma linha, só que os estudos – como o de Neves -começam a distinguir variedades e especificidades dentro do mesmo grupo e, mais importante ainda, começam a perceber que são parte da classe social mais oprimida e até mesmo parte da classe trabalhadora (só que na forma de desempregados).
51 11
anualmente à cidade de São Paulo em média 350 mil pessoas por ano
(CUNHA, 1997). É sobre este período, que autores como Neves (1983), se
referem à existência de características que concediam maior particularidade
à categoria dos "mendigos". Nesse momento, as pesquisas realizadas pela
autora se encaminharam na direção da percepção de diferenças sutis, que
implicavam em contornos específicos no subgrupo. A vida nas ruas passou a
ser entendida de forma particularizada, atentando para as suas variações. A
homogeneidade de entendimento dessa categoria deixa de ser o foco,
concentrando a atenção sobre o particular. É em meados da década de 70
que emerge uma visão mais complexa do fenômeno, constituído, segundo a
autora, por ex-trabalhadores, seus filhos e migrantes.
Neves (1983) entendia os "mendigos" como uma variação da
classe de trabalhadores. Dessa forma, não fazer parte de um sistema de
produção e consumo, trazia sobre esses indivíduos um lugar dentro do
processo produtivo. O não pertencer, também, podia ser analisado como uma
maneira de fazer parte. Como ex-trabalhadores, esses indivíduos eram tidos
como inaptos, no cumprimento de suas funções no processo produtivo,
trazendo consequente incapacidade de prover o sustento familiar e de serem
amparados por ele. A matriz sócio familiar, base de reflexão para a
constituição das abordagens da política de Assistência Social, está, em parte,
ancorada na função de apoio estabelecida pela família, frente aos elementos
causais do fenômeno do viver nas ruas.
Os filhos de mendigos, ao crescerem na mendicância como forma
de sustento, estabeleciam uma relação precoce com a rua, incorporando o
pedido como meio de subsistência. A ruptura com o ciclo de miséria e
pobreza não ocorria, pois não haviam ações estruturadas, para lidar com o
fenômeno e com a perpetuação entre as gerações no sentido de buscar o
sustento, nas ruas, reeditando o ciclo de mendicância. No caso dos
indivíduos que haviam migrado de outras regiões do país, a distância da
família transformava a mendicância em uma alternativa acessível àqueles
que não possuíam mais o núcleo familiar como referência, nem podiam
contar com uma estrutura de políticas públicas de suporte vigentes. A
vivência de rua trazia não só a possibilidade de obtenção de sustento, mas,
também, um conjunto de relações interpessoais de seus membros que
52 11
reproduzia algumas seguranças inerentes às relações de suporte familiar.
Esta é uma característica que pode ser observada nos grupos de pessoas em
condição de rua até os tempos atuais.
Embora o Ministério da Previdência e Assistência Social tenha sido
criado, na década de 70, as ações ainda estavam distantes do modelo
articulado e descentralizado de gestão, o qual viria a ser instituído somente a
partir da Constituição de 1988. Nesse período, especialmente nos primeiros
anos da década, as ações eram desenvolvidas com foco assistencialista e
caritativo, distante, portanto, da concepção de garantia de direitos, a qual
teria sua evolução decorrente da Carta Magma de 88.
Neves (1983) aponta que o papel social de homem provedor do
sustento familiar se tornou fragilizado e o trabalhador provedor passou a
contar, somente, com os recursos oriundos da vida nas ruas. Os papéis até
então padronizados nas relações familiares (homem, provedor, esposo e pai)
se tornam fragilizados, trazendo decorrente abalo, nas organizações
familiares. Este é um elemento que pode servir como explicação para o
grande número de homens nas ruas, fato que perdura até os tempos atuais.
Ainda sobre o fenômeno da grande migração à capital paulista,
Durham (1985) acrescenta, nas primeiras pesquisas sobre o tema, a
concepção da migração não como um fenômeno urbano, mas sim como um
processo de integração de uma grande oferta de mão de obra a um sistema
capitalista industrializado. Resposta à crise, entende a migração com seus
impactos não só sobre a cidade, mas também sobre o campo. A coesão do
migrante ao ambiente urbano se deu pelo trabalho e pela família, ponto de
apoio para a adaptação (ou não) a um meio urbano desconhecido. Migrar
era, antes de tudo, um projeto familiar de mobilidade social
Considerando que a migração consistia em um projeto familiar,
aqueles trabalhadores que não conseguiram contar com a proteção de um
salário que pudesse manter a subsistência do núcleo, tinham a degradação
do papel de provedor como consequência primeira, e decorrente dela, a
desagregação do núcleo familiar. Com a falência da relação trabalho e
família, a mendicância aparece como alternativa de manutenção da vida
(DURHAM, 1985).
53 11
Priorizando uma visão sobre a metrópole, os estudos sociológicos
da década de 80 estiveram baseados na análise das relações das periferias
da cidade. O perfil de seus moradores nesse período era basicamente de
migrantes (FELTRAN, 2011). As famílias sustentavam a sua coesão na
religiosidade cristã, no projeto de melhoria de condições de vida pela via do
trabalho e do vínculo entre os membros. Cada membro tinha suas funções,
no núcleo, muito claras, principalmente no tocante às relações de gênero,
com papéis bem delimitados pela função de chefe de família provedor. A
periferia dava indícios claros da cena política vivida na década.
A contribuição dos autores delimita o surgimento de um campo de
estudo, que imprimiu características de compreensão do fenômeno que
podem ser observadas até os tempos atuais. Quando a Política de
Assistência Social coloca na família uma das bases de trabalho, para lidar
com o fenômeno, em muito se deve a pesquisas como as referidas acima.
Para tanto, foi necessário atentar para o declínio do projeto de estruturação
de vida baseado no emprego e na família. As relações com o mundo do
trabalho parecem não fornecer todos os elementos necessários para o bem-
estar social. O fenômeno trazia novas questões, mais complexas e
multifocais, dando indícios de como seria caracterizado nas décadas futuras.
No início da década de 90, o debate internacional estava voltado
para as transformações das funções do Estado. A falência do Estado de
Bem-Estar Social e o fenômeno do desemprego estrutural estabeleceram
uma relação de dependência dos cidadãos em relação aos serviços da
Assistência Social. Somado a esses elementos o aumento das populações
nos grandes centros urbanos do país, surge pela primeira vez, no território
nacional, a temática dos então chamados "homens de rua" (BARROS, 2004;
VIEIRA, 1997).
Os estudos de Neves (1983) se referem a um cenário nacional em
que a diminuição na oferta de trabalho, aliada à baixa qualificação da mão de
obra, gerou um quadro propício, para a busca de subsistência nas ruas. A
permanência desses indivíduos na situação de desemprego reserva a eles
um papel social desqualificado, bastante distante dos padrões da década de
70, como provedores da família.
54 11
Tomando como exemplo a cidade de São Paulo no período de
(1989- 1992), o que se percebia era a criação de diversos projetos sociais
que buscavam a inclusão das pessoas em condição de rua ao mercado de
trabalho. As atividades desenvolvidas tinham relação com a manutenção das
condições da cidade, como a cobertura de buracos nas vias públicas, a
limpeza das mesmas e a produção de blocos de concreto. Uma observação
interessante é que essas atividades estavam relacionadas a funções de
reparo e higiene, muito semelhantes àquelas que seriam propostas, no ano
de 2015, no programa "De braços abertos", na mesma cidade. As vagas em
unidades de acolhimento, à época reconhecidas como albergues, foram
ampliadas para contemplar com espaços de moradia as pessoas nessa
condição.
O plano Collor, no ano de 1992, trouxe uma influência imediata em
alguns setores da economia, em especial na construção civil pela redução
dos investimentos e a demissão em larga escala dos trabalhadores, na área.
Grande maioria desses trabalhadores havia migrado de regiões distantes, e
com o passar dos anos, muitos haviam rompido os vínculos com suas
famílias. No caso dos trabalhadores da construção civil, a residência era
oferecida pelas próprias empreiteiras, nos canteiros de obra, e,
consequentemente, a perda do trabalho também trazia a perda do alojamento
- domicílio. Este foi um dos fatores que ocasionou a busca das ruas como
alternativa de moradia e subsistência, para uma parcela da população
trabalhadora que se vinculava à construção civil.
Com um contingente de 3.392 pessoas em situação de rua, no
início dos anos 90, a cidade de São Paulo apresentava superlotação nos
albergues da região central. Nesse mesmo período Vieira e Rosa (1997), a
partir da análise dessa situação, passam a avaliar a população de rua como
consequência do desemprego da classe trabalhadora. A causa principal de
entendimento do fenômeno estava centrada na falta de trabalho, mas
também ampliava a análise para as histórias pessoais de vida, condições
físicas e mentais. Muito do que foi construído na Política de Atendimento à
População de Rua, hoje com uma proposta transversal em políticas públicas,
tem por base a consideração de múltiplos fatores, influenciados pelas
pesquisas desses autores. O termo "População em Situação de Rua" foi
55 11
empregado, pela primeira vez, nesse período, sendo o termo adotado em
pesquisas posteriores e pelas Políticas Públicas envolvidas.
Ao final dos anos 90, início dos anos 2000, o tom das discussões
recaia sobre a noção dos novos "excluídos". De uma relação anterior de
entendimento das pessoas em condição de rua sobre a tríade migração,
desemprego e rua, estabelecendo um discurso de entendimento baseado
nas perdas, carências e faltas, os estudos passaram a focar na produção de
exclusão.
Em revisão do processo histórico da abordagem sobre o fenômeno
de pessoas em situação de rua, Oliveria (2012) aponta para a produção de
três pesquisas de substancial importância, entre o final dos anos 90 e o início
dos anos 2000. Inicialmente, faz referências às pesquisas de Rosa (2005), na
cidade de São Paulo, Escorel (2005) na cidade do Rio de Janeiro e Bursztyn
(2000), em Brasília.
Rosa, influenciada por autores europeus como Castel e Paugam,
centra sua reflexão na relação da condição de rua com o trabalho e com o
Estado. Analisando os moradores de rua na megalópole São Paulo,
considera que as condições de crescimento do Brasil entre os anos 70 e 90
repercutiram no aumento do número de trabalhadores, com relações
informais de trabalho. A alternância entre desemprego e empregabilidade
precarizada trouxe uma movimentação peculiar quanto à moradia, havendo
dinâmicas de entradas e saídas em albergues, alternadas com períodos de
vivência nas ruas. Castel (1998) com a questão da desfiliação, oferece
fundamentos à autora para a reflexão sobre a dependência dessa população
das ações sócio assistenciais, reforçadas pela perda dos suportes de
proximidade17, como família, amigos e vizinhos.
Escorel (1999) estuda as condições de pobreza urbana nas
grandes cidades. Sua pesquisa foi de grande influência para os estudiosos
do tema, e alguns de seus conceitos ainda são amplamente utilizados. A
autora foca em processos, de forma similar a Castel (1998), quando se refere
ao conceito de desfiliação. Mais do que estudar a exclusão como um
17 As redes de suporte de proximidade dizem respeito às relações do entorno. Nela são contempladas as relações em família, com amigos e vizinhos, bem como, com entidades ou instituições não governamentais, que cumpram função de amparo nos períodos de adversidade.
56 11
fenômeno estático, analisa seus elementos constitutivos. Assim, exclusão
está diretamente relacionada aos processos de vulnerabilidade, fragilização,
precariedade e rupturas de vínculos sociais em diversas esferas. A ruptura de
vínculos sociais no âmbito "econômico-ocupacional", sócio familiar, de
cidadania, das representações sociais e da vida humana, está na base do
processo de exclusão, conforme esclarece a autora.
A exclusão, para Escorel (1999), pode ser observada em suas
manifestações, na vida das pessoas em situação de rua. Em seu cotidiano,
os moradores apresentam diversas manifestações dessa exclusão, estando
relacionadas à desvinculação da família, com tendência à reprodução ou
reedição de relações familiares no contexto de rua; desvinculação do mundo
do trabalho, como consequência das transformações do mundo
contemporâneo; a circulação pelas ruas como fenômeno que denuncia um
gerenciamento dessas vidas e a necessidade de sobrevivência diária nesse
contexto.
Com isso, a autora define a exclusão como a característica de
quem está "sem lugar no mundo", desvinculado a tal ponto, que não
consegue constituir uma unidade social à qual se sinta pertencente. A
privação material traz a desqualificação, tirando o sujeito da condição de
"sujeito de direitos", possuidor de desejos e vontades. Estar excluído do
social é não ter lugar no espaço, tendo a busca da sobrevivência travada
a cada dia, como se fosse o único. As perspectivas estão limitadas para o
excluído, as possibilidades esvaziadas e os limites intransponíveis.
A obra de Bursztyn (2000) é fruto de um conjunto de estudos
desenvolvidos pela UNB, pautados na linha de pesquisa sobre o ambiente
urbano e a exclusão. Os pesquisadores comparam a questão das pessoas
em situação de rua ao conceito de inempregáveis, tal como qualifica Castel
(1998), entendendo o fenômeno como consequência do próprio sistema
econômico globalizado. Os autores refletem que o fenômeno em questão é
uma radicalização das desigualdades sociais, pois começa na extrema
pobreza, desemboca na miséria e tem a exclusão como limite final do
processo que constrói o excluído.
Ao excluído é agregada a ideia de ser "economicamente
desnecessário", politicamente incômodo, fato perceptível nos discursos de
57 11
poder, no imaginário coletivo e institucional de higienizar, dominar e aniquilar
os corpos, como menciona Frangella (2004). A eliminação desses corpos
parece ser medida, recorrentemente, utilizada pelos mecanismos de gestão
dos espaços urbanos.
A oferta de políticas públicas direcionadas à população de rua é
resultado da concepção de que cabe ao Estado combater o processo que
produz a exclusão. Para isso, são construídas políticas inclusivas que, por
vezes, se manifestam através de programas de transferência de renda para
as famílias que preencham os critérios, ou no caso da recente inclusão da
população de rua como beneficiária do Programa Bolsa Família, ou pela
promoção da inserção no mundo do trabalho. Bursztyn (2000) constata,
ainda, o foco no trabalho de resgate e fortalecimento das relações familiares,
como elemento reorganizador das vidas desses indivíduos.
2. Análise de políticas públicas
O campo da Análise de Política (Policy Analysis) diz respeito a
uma metodologia de investigação social aplicada à análise da atividade
concreta das autoridades públicas. A importância do campo da análise de
políticas públicas (APP) reside na possibilidade de compreensão da estrutura
das políticas, nas esferas nacional, estadual e municipal, naquilo que se
refere à sua inerente complexidade. Seu foco está no comportamento dos
atores sociais e no processo de construção da agenda e da política pública.
De forma simplificada, a análise de políticas públicas está relacionada ao
porquê e para quem determinada política pública (PP) foi elaborada, e de
quais conteúdos ela se ocupa.
A análise de PP sofre influência da própria percepção de Estado
estabelecida pelo analista, sendo importante a clareza de tal conceito,
considerando que a APP, se tomada de forma isolada, é um conjunto de
ferramentas e conceitos frágeis, segundo Serafim e Dias (2012). Outro
aspecto reforçado pelos autores diz respeito ao fato de que o Estado
constituído sob determinadas características terá manifestações coerentes a
esse perfil naquilo que se refere às disputas, sendo as PP frutos das próprias
58 11
características do referido Estado. As PP permitem identificar o perfil do
Estado que as constrói, sendo elemento importante para o analista.
As relações entre Estado e sociedade são complexas e dinâmicas,
estando sempre em transformação, conforme os momentos históricos,
dependendo dos elementos que caracterizam e particularizam cada país,
estado e município. Coerente a essa ideia, o Estado pode ser entendido
como produto e produtor das relações sociais, materializando as tensões
presentes, na sociedade, em determinado momento histórico.
Para os autores, o Estado capitalista está em constante mediação
entre as tensões do capital frente ao trabalho, tendo tendência a suprir as
necessidades do capitalismo, em detrimento das demandas da sociedade. As
regras que caracterizam tal relação entre Estado e sociedade apresentam
poucas variações, as quais consistem muito mais nas estratégias, formas e
resultados de atuação de alguns atores sociais, no "jogo" político. A essência
do Estado permanece a mesma, servir ao interesse do capital, mesmo com
as mudanças na agenda Estatal.
Nas últimas décadas os estudos referentes à interação entre os
atores estatais e privados, no processo de produção de políticas públicas tem
sofrido expressivas modificações. Esses processos se tornaram mais
diversificados, podendo contar com elementos de influência como interações
não hierárquicas, baixo grau de formalização no intercâmbio de informações,
participação de novos atores, como por exemplo organizações não
governamentais de atuação internacional e as redes de especialistas.
Existem diversos modelos que se propõem a promover a análise
de políticas públicas, podendo ser adaptados à realidade a ser analisada.
Nessa pesquisa será utilizada a análise do "ciclo de políticas públicas",
embora os principais modelos centrados no conhecimento forneçam
ferramentas para pontuação de alguns fenômenos significativos, quanto à
construção da PNPR. Se o campo da análise de políticas públicas é repleto
de variáveis dependentes, a variável independente na interpretação da
produção da PP passa a ser o poder.
Dependendo do foco de análise é possível a teorização conforme
cinco subáreas de análise: A) a análise institucional; B) a análise interessada
em saber as formas de atuação e o impacto dos grupos e das redes; C) as
59 11
abordagens que dão ênfase aos condicionantes sociais e econômicos no
processo de produção de PP; D) a análise baseada na teoria da escolha
racional e E) as abordagens que destacam o papel das ideias e do
conhecimento.
Na atualidade, coexistem uma diversidade de abordagens,
teorizações e vertentes analíticas que buscam o entendimento sobre a
multiplicidade dos processos de formação e gestão das políticas públicas. Ao
refletir sobre tal caracterização é possível que se tratem das consequências
de um mundo assimétrico, repleto de incertezas na abordagem da
complexidade das questões a serem reguladas através de PPs, terreno no
qual as ideias são fatores importantes para a compreensão dos fenômenos.
Modelo de ciclo de políticas públicas
Os momentos de amadurecimento da PP percorrem cinco estágios,
os quais foram denominados de ciclo da política pública, a saber:
identificação de problemas; conformação da agenda; formulação;
implementação; avaliação da política. A presente pesquisa pretende analisar
os quatro primeiros ciclos, no que diz respeito à PNPR e à Política Nacional
de Assistência Social (PNAS), enquanto eixo constituinte da primeira.
O momento da identificação de um tema como um problema é um
dos mais importantes no ciclo de PP. Nele estão presentes interesses e
vontades subjetivas, que fazem com que os atores envolvidos, através de
suas ideias e valores considerem determinando tema pertinente o suficiente
para que seja considerado um problema a ser abordado pelo Estado.
Justamente por depender da avaliação subjetiva de cada ator sobre ser mais
ou menos importante, que o momento da definição do problema se configura
como subjetivo, e é nesse estágio que os conflitos e assimetrias de poder
podem ser evidenciados.
A escolha dos problemas a serem incorporados está, diretamente,
relacionada ao modo de pensar que os atores desenvolvem sobre
determinado tema, além da conexão estabelecida entre o poder vigente e as
articulações constituídas pelos atores. A incorporação de um tema à agenda
se dá de forma menos clara do que os teóricos propõem para seu
entendimento didático. A incorporação de um problema na agenda de
60 11
governo, e a consequente atenção dada a ele, fornece indícios de
priorização e de possível política pública a ser criada.
A definição de atores passa pelo entendimento daqueles
indivíduos que participam da conformação da agenda, trazendo influencia em
sua formulação. Teoricamente, a influência advém de atores e públicos,
estando dentre eles os membros dos poderes evolvidos, a administração
pública, os grupos de interesse, os especialistas, os partidos políticos; O
público, citado acima, se constitui de espectadores e beneficiários da
política pública a ser criada, ou daqueles que, em certa medida, serão
assistidos pela construção da PP. A simplicidade de tal classificação não
contempla as influencias dos jogos de poder existentes entre os atores
participantes do jogo decisório; o poder de influência de determinados atores
ou públicos envolvidos permite que sejam caracterizados como formuladores
de agenda, mas, ainda assim, estão sujeitos à influência dos detentores
do poder e seus valores políticos e sociais.
O fato de alguns assuntos ou problemas serem foco de
deliberações governamentais em detrimento de outros é elemento que
compõe a análise de políticas públicas, simbolizando informações
importantes sobre o governo vigente. A conformação da agenda se dá
através do entendimento e dos valores dos agendasetters³ e dos grupos de
pressão, e o reconhecimento da existência de um determinado problema,
pelo governo, desencadeia a exploração de opções disponíveis, para
enfrentar o tema em questão. É nesse estágio que os fazedores de política
iniciam o processo de formulação.
Segundo Serafim; Dias (2012), os momentos do processo de
formulação de políticas públicas se configuram da seguinte forma:
" O primeiro é o processo decisório, no qual os atores políticos, com base em variáveis diversas (valores políticos, de organização, pessoais, governamentais e ideológicos; projeção de resultados; recursos envolvidos; níveis de conflito; caráter objetivo ou subjetivo da política; intensidade de capital ou recursos humanos necessários à efetividade da política; dotação orçamentária etc.) influenciam, consideravelmente, a escolha das alternativas e o esqueleto da política pública. O segundo é o processo formal, em que a decisão do primeiro momento se configura em política pública por meio de medidas administrativas necessárias para sua existência. Os espaços que legitimam e formalizam essas decisões são: legislativo (leis); executivo (decretos, medidas provisórias e resoluções); e judiciário (interpretam leis etc.) (DIAS, 2012, p.131).
61 11
A implementação da política pública ocorre, após sua formulação,
e se desenvolve, em âmbito administrativo, através dos órgãos e seus
mecanismos de ação, por processos racionalizados de procedimentos e
rotinas. Esta forma de compreender a implementação ficou conhecida como
enfoque top-down, porque define a existência de uma organização central
que assume o controle dos fatores políticos, organizacionais e técnicos e a
divisão de responsabilidades. A crítica a essa visão trouxe como
consequência o enfoque bottom-up, o qual considera a existência de
imperfeições no âmbito da elaboração da política, e que certas decisões só
são efetivamente tomadas durante a implementação, só são definidas no
nível concreto da implementação. Ambos os modelos são questionados,
devido a complexidade das múltiplas causas, dos múltiplos atores e dos
variados interesses em questão.
A pesquisa em questão desenvolve uma análise do ciclo da PNPR,
além de concentrar esforços reflexivos sobre a implementação da mesma na
MRL. A análise se estenderá sobre o eixo da assistência social, considerando
ser aquele presente de forma mais estruturada, nos municípios, sendo que, a
partir das perspectivas de seus atores, será analisado o estabelecimento de
relações intersetoriais
Os marcos normativos fornecem à fase de implementação o
conjunto de ações, atos e efeitos que constituem a PP. As referências
textuais traçam os parâmetros de atuação que contemplam as pretensões e
os resultados que se busca observar, através daquela PP. No caso da PNPR,
o Decreto presidencial é o documento de base, onde ficam traçadas as
diretrizes, os objetivos e os princípios, além de disposições gerais da
configuração desta política intersetorial. No âmbito do eixo da assistência
social, a análise da implementação se dará através da consulta aos manuais
de orientação, normas técnicas e demais documentos institucionais que
definem a PNAS e o funcionamento das unidades e dos serviços destinados
ao público alvo.
O momento de avaliação no ciclo das PP não será objeto de
aprofundamento neste trabalho. A medição do problema em face da
implementação da PNPR demandaria foco diverso do estabelecido, na
pesquisa em questão, demandando a apreciação dos resultados da política,
62 11
tomando como base conceitos como eficiência, eficácia e efetividade dos
programas e projetos, fato que exigiria a apreciação de metas, impactos e
resultados, não se constituindo em objetivo da atual pesquisa.
Outro conceito importante é o de comunidades epistêmicas,
proposto por Haas (1992), cuja definição é de uma rede de profissionais
especializados em temas relevantes às políticas públicas, sob determinado
domínio. Uma vez que os atores estatais têm sido vistos, cada vez mais,
como maximizadores de poder e incerteza, apesar de serem
contraditoriamente também redutores da mesma incerteza, as comunidades
epistêmicas têm se destacado.
As comunidades epistêmicas singularizam-se por compartilhar:
"(a) um conjunto de crenças normativas e principled, que fornece uma racionalidade baseada em valores (value-basedrationale) para a ação social dos membros da comunidade; (b) determinadas crenças acerca de relações causa- efeito específicas, derivadas de suas análises de práticas que contribuem para a solução de um “conjunto central de problemas em sua área e que servem como base para a elucidação dos múltiplos vínculos entre políticas e ações possíveis e os resultados desejados”; (c) noções de validade, ou seja, critérios definidos internamente e de maneira intersubjetiva para a avaliação e a validação do conhecimento no domínio de sua especialidade; e (d) “um policyentreprise comum, ou seja, um conjunto de práticas compartilhadas associadas a um conjunto de problemas para os quais a sua competência profissional é dirigida, presumivelmente com base na convicção de que, como uma consequência, o bem-estar humano será promovido” (HAAS, 1992, p. 3).
Diante do exposto infere-se que as comunidades epistêmicas
desempenham, junto aos problemas complexos enfrentados pelo Estado, a
função de identificar e informar as relações de causas e efeitos. Dessa forma
auxiliam os Estados a enquadrarem as questões pertinentes ao debate
coletivo, consequentemente, contribuem para as propostas, no âmbito das
políticas públicas. No estudo do processo político é perceptível que o
conhecimento está relacionado a quem aprende o que e para benefício de
quem. As ideias podem explicar as mudanças nas políticas quando as
reflexões baseadas nos interesses na são suficientes, (GOLDSTEIN e
KEOHANE, 1993).
As influências das ideias sobre as ações políticas geradoras de
mudanças podem ser observadas através de três mecanismos: a) as ideias
podem servir como mapa de apoio para ajudar os atores a delimitar suas
63 11
preferências; b) as ideias oferecem soluções e dessa forma contribuem para os
problemas de cooperação; c) as ideias incorporadas nas instituições e práticas
sociais poderiam gerar a paralisação das evoluções e análises por estarem
cristalizadas, por serem da ordem "do costume".
O conhecimento organizado sobre a Microrregião de Limeira
poderia, então, fundamentar a ideia de enfrentamento microrregional das
questões relacionadas à problemática, e, nesse sentido, as alternativas
poderiam ser pensadas a partir das contribuições da comunidade epistêmica.
As ideias serviriam como um mapeamento de elementos comuns à região, na
intenção de que os atores municipais delimitassem suas preferências. A
percepção dos atores sobre as alternativas possíveis, ancoradas em ideias,
ofereceriam soluções, e, dessa forma, contribuiriam para a propositura de
alternativas microrregionais para lidar com o problema.
Ainda sobre a influência das ideias sobre a execução dos serviços, o
movimento reflexivo sobre os fatos municipais e regionais, ao ser incorporado,
poderia gerar, nas instituições, órgãos e sociedade, a modificação de práticas e
a adoção da cooperação como mudança paradigmática ao abordar o
fenômeno. As ideias incorporadas nas instituições e práticas sociais poderiam
gerar o fluxo reflexivo em âmbito municipal e microrregional, se opondo à
paralisação e à cristalização inerente àquilo que sempre foi "costume".
As propostas microrregionais para problemas são recorrentes, com
significativa participação das comunidades epistêmicas, em especial das
instituições de pesquisa. Considerando o potencial das reflexões sobre o perfil
microrregional em lidar com o tema, algumas reflexões se fazem necessárias:
quais os motivos implicados na não adesão à PNPR nos moldes como está
proposta, qual a atenção dispensada pelos tomadores de decisão à respeito da
problemática, ou seja, qual a importância que o tema alcança na agenda
pública dos municípios, e quais são os motivos para que deixem de ser criadas
alternativas microrregionais para a abordagem do tema.
A adesão ou não adesão a PNPR é um elemento que permite a
reflexão sobre as possíveis contribuições de representantes das comunidades
epistêmicas na Microrregião. Em contato com os municípios, pode-se observar
que os trabalhadores, os gestores e os agentes públicos com poder de decisão
aparentam ideias variadas sobre a execução da política de gestão do
64 11
fenômeno. Percebe-se que os trabalhadores que executam as ações, possuem
maior clareza sobre os elementos constitutivos do fenômeno, sobre a proposta
da PNPR e sobre a necessidade do fortalecimento de uma epistemologia
referente ao tema. Neste sentido, analisam, em diversos momentos ao longo
da pesquisa, que a falta de conhecimento sobre alternativas de gestão e sobre
a própria constituição do fenômeno, são as grandes "lacunas" dos tomadores
de decisão. Percebe-se a disparidade entre conhecimento sobre o tema e
sobre as tomadas de decisão ao lidar com a questão.
Outra ideia diz respeito à relevância social das pessoas em
condição de rua. O número de pessoas em condição de rua nas cidades da
MRL é baixo, se comparado com o número de indivíduos sob problemáticas
como a extrema pobreza. Com isso, é possível que o papel social
desempenhado pelas pessoas em condição de rua não tenha relevância,
constituindo um local de desfiliados, de inexpressivos, e, embora não haja
grande incidência enquanto fenômeno social do ponto de vista quantitativo,
há um caráter lesivo à dignidade da pessoa humana, inerente ao universo de
habitação das ruas.
As ideias contribuem para a saída da zona de conforto ou servem
como influência para a mudança. Embora o aprendizado sobre as PP altere, às
vezes, os aspectos secundários do sistema de crenças de uma coalizão, o
núcleo duro de programas governamentais requer uma perturbação em fatores
não cognitivos externos ao sistema para que haja mudanças. Estabelecendo
uma relação com o atual momento da PNPR, a mudança de governo, em
âmbito federal, traz o congelamento de ações e a insegurança sobre a
continuidade de atividades planejadas, no âmbito da política pública. É possível
inferir que a mudança governamental e a suspensão de ações demonstrem a
possibilidade de mudanças no núcleo de pensamento desta PP, podendo
implicar em mudança no policy core da PNPR.
Microrregionalidade e políticas públicas:
O conceito de território utilizado por (Carvalho, 2008) entende que
eles não são definidos pela objetividade dos fatores disponíveis, mas pela
maneira como se organizam e devem ser entendidos como “base geográfica da
existência social”. É no território que a população constrói a sua identidade e os
65 11
seus sentimentos de pertencimento onde expressa seu patrimônio cultural e
define o seu destino. Contudo, é fundamental ressaltar as dificuldades que
permeiam a descentralização das políticas de desenvolvimento e os limites
institucionais, estreitos, que lhe são impostos.
A formulação de propostas de uma política microrregional para
população de rua deve estar baseada em consultas locais, territoriais e
estaduais, tendo clareza sobre a descentralização das tomadas de decisão,
com a criação de instâncias intermediárias entre o poder municipal e o
estadual, bem como o fortalecimento da sociedade civil. A implantação de
políticas públicas dessa natureza reflete uma organização que se inicia no
governo, mas que, ao passarem pelo crivo do debate crítico com a sociedade
civil, são traduzidas em políticas públicas microrregionais.
Conforme IPEA (2016) os fatores relacionados à ocorrência de
condição de rua nos municípios apresentam cinco eixos explicativos básicos,
sendo que dois deles estão diretamente relacionados à função exercida pelo
município analisado no contexto microrregional. O número de habitantes e o
grau de centralidade e dinamismo do município em uma microrregião tem
relação, seja pela maior probabilidade de ocorrência do fenômeno em cidades
com população maior, seja pela dinâmica desempenhada pela cidade quando
analisada de forma comparativa a um conjunto maior de municípios.
A situação de rua é um fenômeno urbano, sendo importante
considerar os fluxos migratórios constantemente exercidos entre as cidades da
microrregião, mas também daquelas relativamente distantes. É de se esperar
que, de alguma forma, as cidades de médio e grande porte da MRL recebam
um número significativo de pessoas que migrem da própria região. Essa
informação é confirmada se tomarmos a pesquisa apresentada em Limeira
como exemplo, considerando que aproximadamente metade de sua população
de rua é oriunda de outras cidades.
As regiões, sejam elas estruturadas entorno das metrópoles ou pela
composição de cidades de médio, grande e pequeno porte, guardam a lógica
da semelhança entre as partes na construção de um território comum. Os
papéis desempenhados pelas cidades, em contextos não metropolitanos,
tornaram-se significativos na contemporaneidade. A cidade tem sido estudada
como uma expressão do ser humano em sociedade, fator que torna
66 11
necessário compreender os papéis e articulações da região, através da
formação de território e interações socioeconômicas.
Em regiões onde se observa significativa aplicação de tecnologias,
como no caso da MRL, ocorre a complementaridade entre os diversos "nós"
da rede urbana, que é fomentada pelo aumento da fluidez, em função desses
novos recursos e da comunicação nos territórios. Sendo assim, ao considerar
o fenômeno condição de rua na MRL, torna-se imprescindível a construção de
alternativas que levem em consideração todo o dinamismo microrregional, em
especial junto a uma população que apresenta significativa regularidade
migratória. Embora a descoberta de que aproximadamente metade dessa
população seja originária da própria cidade de Limeira, a outra metade tem
por prática a errância, e, esse fator, não pode ser negligenciado na busca de
alternativas ao tratar o fenômeno.
Nos anos de 2009 e 2010, tomando como exemplo, ocorria na
Região Metropolitana de Campinas, através da parceria entre a Secretaria de
Estado de Desenvolvimento Social - SEDS - e da Agência Metropolitana de
Campinas - sob a consultoria da UNICAMP -, a construção do "Protocolo de
Atendimento às Pessoas em Situação de Rua na RMC". O instrumento de
gestão foi construído ao longo do ano de 2009, e contou com a participação
de trabalhadores e gestores da PAS nos dezenove18 municípios, tendo como
ponto importante a assinatura do ''Pacto de Atendimento à População de Rua
dos Municípios da RMC", documento assinado pelos 19 prefeitos que
compunham o Conselho de Desenvolvimento da RMC1922.
O protocolo, ao longo dos anos subsequentes, caiu em desuso, com
os municípios deixando de cumprir suas responsabilidades, dentre elas a
contagem regular da população de rua e a alimentação do sistema comum de
gestão, centralizado na Divisão Regional de Assistência Social de Campinas.
18 O município de Morungaba passou a integrar a RMC, formalmente, em momento posterior às atividades do grupo de trabalho que elaborou o protocolo. 19 O Conselho de Desenvolvimento da RMC: A Agência Metropolitana de Campinas é uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo, criada em 2003 para integrar a organização, o planejamento e a execução das funções públicas de interesse comum na Região Metropolitana de Campinas. Entre suas atribuições estão arrecadar receitas para investimento no desenvolvimento metropolitano, estabelecer metas, planos, programas e projetos de interesse comum aos municípios da região. Integram a estrutura da Agemcamp o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Campinas e o Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (Fundocamp).
67 11
Ainda assim, essa experiência ilustra um modelo de organização
microrregional e de proposta de soluções para problemas comuns a um
conjunto de cidades. Fatores decorrentes de decisões dos detentores de
poder político acabaram por tirar a condição de rua do roll dos assuntos
geradores de atenção do poder político, refletindo o desinteresse sobre o
tema nas agendas dos prefeitos.
O protocolo previa o levantamento dos principais entraves
municipais sobre o tema, delimitando os problemas enfrentados, pelas
secretarias de assistência social. Propunha a contagem regular da população
de rua, bem como a construção de um perfil dessas pessoas em cada uma
das 19 cidades. Outro ponto desenvolvido nos grupos de trabalho, foi a
indicação de ações possíveis de serem implantadas junto às demais políticas
públicas afetas ao tema. Torna-se interessante ressaltar, que o protocolo
propunha a gestão intersetorial da política para população de rua na RMC,
iniciativa reconhecida em âmbito regional e nacional, por ser inovadora,
considerando que o Decreto 7053/2009 não havia sido publicado no período
em que a proposta foi criada.
A busca de alternativas microrregionais é uma das indicações para a
MRL, e, nesse sentido, ela pode ser pensada através da articulação das oito
cidades que a compõem, ou em âmbito da Aglomeração Urbana de
Piracicaba (AUP)20.
No segundo semestre de 2015 ocorreu na cidade de Araras a
segunda reunião da Aglomeração, tendo como temática a questão da
população de rua dentre as vinte e três cidades21 que o compõem. Das oito
cidades que compõem a MRL, seis delas fazem parte da Aglomeração
Urbana, sendo possível a adesão de outros municípios. Um elemento
importante para a busca de alternativas microrregionais é a ocorrência de
20 No ano de 2012, ocorreu a constituição da microrregião administrativa chamada "Aglomeração Urbana de Piracicaba", na intenção de abordar questões referentes à realidade dos municípios que compõem a região composta por 23 municípios. 21 Dos 23 municípios que compõem o Aglomerado, além de Piracicaba, sede da aglomeração, as cidades de Águas de São Pedro, Analândia, Araras, Capivari, Charqueada, Conchal, Cordeirópolis, Corumbataí, Elias Fausto, Ipeúna, Iracemápolis, Laranjal Paulista, Leme, Limeira, Mombuca, Rafard, Rio Claro, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra e São Pedro compõem o conglomerado até então. Se considerarmos que seis dos municípios que compõem essa pesquisa estão contemplados na divisão territorial do Aglomerado, é possível inferir que haja uma lógica para divisão microrregional de Limeira, naquilo que se refere a gestão conjunta de fenômenos pertinentes à gestão de PP.
68 11
processos migratórios estabelecidos entre as PSR nos municípios que
compõem a microrregião, fator que permitiria a análise de mais um fenômeno,
a migração microrregional.
Apesar de as alternativas regionais de gestão serem uma
modalidade de arranjo de gestão possível e coerente, inclusive na MRL, o
simples desejo de trabalhadores e gestores não é elemento que garanta a
implementação de uma política microrregional para o tema. Como já
reforçado, o ciclo de uma política pública apresenta inúmeros entraves,
mesmo que o projeto de fortalecimento de uma microrregião administrativa
seja coerente em aspectos econômicos e sociais.
No caso da Aglomeração urbana, a institucionalização de um
sistema compartilhado de gestão regional entre Estado e municípios, por meio
de lei específica, visa promover a cooperação articulada e integrada entre os
diferentes níveis de governo, objetivando a utilização racional do território, o
melhor aproveitamento dos recursos públicos, dos recursos naturais, culturais,
a proteção do meio ambiente, além da redução das desigualdades regionais.
3. A Política Nacional de Assistência Social
No campo das transformações da política de assistência social, a
Constituição de 1988 apresentou bases institucionais da cidadania para a
sociedade brasileira, concomitante ao momento em que o modelo de bem-
estar social começava a se mostrar frágil, nos países de capitalismo
avançado. Neste contexto, a Assistência Social, juntamente com a Saúde e a
Previdência passam a constituir o chamado tripé da Seguridade Social no
Brasil, consistindo em um marco, para a noção de direitos universais como
condição da cidadania.
A partir da pressão exercida pelos movimentos sociais e entidades
ligadas à questão dos direitos das crianças e dos adolescentes, na década
de 90 ocorre a instituição da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que cria o
Estatuto da Criança e do Adolescente. No mesmo período foi igualmente
criada a Lei 8.080, que dispõe sobre a Lei Orgânica da Saúde e a Lei 8.142,
que institui o Sistema Único de Saúde – SUS.
69 11
Trazendo substanciais avanços, no campo da Assistência Social,
merece destaque no ano de 1993 a Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), que iniciou o processo de descentralização das políticas sociais, sob
a ótica dos direitos. A Assistência Social, no campo da seguridade social
altera o arranjo político institucional controlado, sempre, por pequenos grupos
locais e entidades filantrópicas, buscando a ruptura com as práticas
assistencialistas vigentes até então. Historicamente não houvera interesse do
Governo Federal, sobre a questão, nas décadas de 1970 e 1980 e estados e
municípios implantavam seus próprios programas de forma independente da
União. Os programas de Assistência Social eram coordenados, em sua
maioria, pelas primeiras damas, tendo o assistencialismo como marca dessa
política (ARRETCHE, 2000).
A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) iniciou o processo de
descentralização das políticas sociais, promovendo a municipalização dos
serviços, através da construção de um conselho, um fundo e um plano
municipal, na intenção de regularizar os repasses entre o Governo Federal,
os municípios e as entidades sociais.
O momento histórico nacional dava indícios de que as primeiras
transformações no campo assistencial estavam imersas em um clima de
tensão, como ressalta Ivo (2008). A dualidade consistia nos conflitos
inerentes ao regime democrático nascente, tendendo, de um lado, a ampliar
a cidadania e incluir politicamente, e de outro o enfrentamento da realidade
de uma economia que, historicamente, produziu as maiores taxas de
desigualdades econômicas. Perante esse impasse, o Estado brasileiro
escolheu aderir às orientações dos organismos internacionais, como Fundo
Monetário Internacional e Banco Mundial, voltados para a desconcentração
do Estado, tendo como indicativo a descentralização das políticas públicas,
em especial as de natureza social, ao mesmo tempo em que privatizou e
flexibilizou grandes empresas estatais e, posteriormente, a focalização das
políticas sobre os mais pobres.
De acordo com Palotti e Costa (2011), o processo de
redemocratização não foi conduzido unicamente pelas liberdades
democráticas, considerando que se procurou romper com o Estado Unitário,
estabelecendo maior autonomia ao sistema político federalista para estados e
70 11
municípios. Na década de 1990 a política de assistência social foi conduzida
de forma diversa das demais que compõem as políticas sociais, em especial
se comparada à saúde. No governo do presidente Fernando Henrique
Cardoso foram realizadas as discussões de algumas normativas para a
assistência, como a da representação popular por meio dos conselhos, em
especial do Conselho Nacional (CNAS) e do Fundo Nacional de Assistência
Social (FNAS). No ano de 2003, com o início do governo de Lula da Silva
pelo Partido dos Trabalhadores (PT) se acentuaram as mudanças na política
de assistência social, desvinculando essa política da Previdência Social com
a criação de um ministério próprio, consolidado, posteriormente, como
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Marco na constituição do campo da assistência, no ano de 2004 foi
aprovada a Política Nacional de Assistência Social, ocorrendo em 2005 a
consolidação da Norma Operacional Básica (NOB SUAS), em que técnicos e
especialistas participaram, ativamente, de fóruns e debates de articulação da
política. Nos últimos anos, entre 1990 e 2000, segundo aponta Mauriel (2009)
é possível observar o debate aprofundado sobre o combate à pobreza e às
desigualdades, trazendo influências que direcionaram as ações da política de
assistência, na direção da redução do princípio universalista ao voltar as
atenções para os pobres e excluídos de forma localizada. Com a implantação
da Política Nacional de Assistência Social, em relação à população em
situação de rua, se destacaram apenas algumas considerações sobre o
atendimento ao público alvo, que os define como usuários da proteção social
especial.
"Quanto à população em situação de rua serão priorizados os serviços que possibilitem a organização de um novo projeto de vida, visando criar condições para adquirirem referências na sociedade
brasileira, enquanto sujeitos de direitos” (BRASIL, 2005b, p 37).
Com a expansão do debate sobre as pessoas em condição de rua,
no cenário nacional, a temática foi ganhando lugar na agenda pública, fato
que também ocorreu em relação à política de assistência social. Os debates
tiveram início, primeiramente, em âmbito municipal e posteriormente, no início
dos anos 2000, tiveram espaço no âmbito do Governo Federal (FERRO,
2012). Esse período ilustra uma modificação no perfil de gestão, passando a
71 11
priorizar o acesso isonômico a serviços e a efetivação de garantias em forma
de ações e políticas públicas, sob a lógica de garantia de direitos.
Outro elemento significativo foi a participação da comunidade
epistêmica e a consideração das construções de conhecimento em torno do
fenômeno população de rua e as questões referentes à pobreza e à miséria.
A mudança de perfil de governo asseguraria, para os anos seguintes, uma
fase de evolução em âmbito de políticas públicas compromissadas com
direitos sociais e a erradicação da pobreza e da miséria.
Uma das maiores janelas de oportunidade que surgiu, no período,
diz respeito à sensibilização do presidente Lula com a questão, a partir da
visita aos catadores de materiais recicláveis em dezembro de 2003, fazendo-
a permanecer em sua agenda anual até o último ano de seu governo,
propiciando a abertura para a participação da população em situação de rua,
no encontro. O massacre de moradores de rua22, na região central da capital
paulista, fez com que houvesse uma abertura para essa questão, assim
incluindo a discussão de políticas públicas voltadas especificamente, para
esse segmento e, em 2009, a aprovação da Política Nacional de Inclusão da
População em Situação de Rua (FERRO, 2012). No mesmo ano foi publicada
a Tipificação Nacional de Serviços Sócioassistenciais, documento que norteia
as ações da Política e inclui o segmento populacional, no conjunto de
públicos alvo dos serviços.
Os principais marcos de evolução da política de assistência social
em relação ao público alvo em condição de rua foram explanados no tópico
anterior, quando da análise da evolução dos eixos de abordagem da política
nacional de atendimento à população de rua. Descrição da composição da
Política Nacional de Assistência Social - destaque para os serviços que
atendem às demandas dessa população.
22 No dia 19 de agosto de 2004, na região da Praça da Sé em São Paulo, ocorreu o massacre onde dez moradores em situação de rua foram atacados, dois deles morreram na hora, quatro faleceram no hospital e outros quatro sobreviveram. Em 22 de agosto, um novo ataque aconteceu, dessa vez, cinco desabrigados foram agredidos da mesma maneira que os anteriores, um deles morreu na hora. Segundo as investigações, os crimes ocorreram para silenciar os moradores de rua que sabiam do envolvimento de policiais nos esquemas de tráfico de drogas da região. (Acessível em http://www.cartacapital.com.br/sociedade/invisiveis-porem- humanos-1972.html. Acessado em 03 de janeiro de 2017).
72 11
O conceito de Proteção Social é referente às formas
institucionalizadas que as sociedades constituem para proteger parte ou o
conjunto de seus membros. Tais sistemas decorrem de certas vicissitudes da
vida natural ou social, tais como a velhice, a doença, o infortúnio, as
privações. Neste conceito estão contempladas as formas seletivas de
distribuição e redistribuição de bens materiais e os bens de natureza
culturais, estes referentes aos saberes que interferem na realidade social dos
indivíduos, permitindo sobrevivência e integração. Neste sentido a
assistência social pode ser entendida como uma possibilidade de
reconhecimento público de que a demanda dos usuários de seus serviços é
legítima, sendo possível e esperada a ampliação de seu protagonismo.
Conforme a PNAS, a Tipificação de Serviços Socioassistenciais e
a NOB SUAS, a proteção social deve garantir as seguranças de
sobrevivência (de rendimento e de autonomia), de acolhida e de convivência
familiar. Cabe esclarecer que a segurança de rendimentos não é uma
compensação do valor do salário mínimo inadequado, mas a garantia de que
todos tenham uma forma monetária de garantir sua sobrevivência,
independentemente de suas limitações para o trabalho ou do desemprego.
Neste critério está incluída a população em situação de rua, além das
pessoas com deficiência, os idosos, desempregados que não estejam em
condição de rua, as famílias numerosas e aquelas que estejam desprovidas
das condições de vida com dignidade.
A segurança de acolhida consiste em uma das principais
seguranças da política em questão. Ela opera, através da provisão de
necessidades humanas que começam com os direitos à alimentação, ao
vestuário e ao abrigo, próprios à vida humana em sociedade. A conquista da
autonomia no suprimento de tais necessidades básicas é o significado desta
segurança. No entanto é possível que alguns indivíduos não conquistem por
toda a sua vida ou por um período dela, a autonomia destas provisões
básicas, por exemplo, pela idade – uma criança ou um idoso –, por alguma
deficiência ou por uma restrição momentânea ou contínua da saúde física ou
mental.
A assistência social institui como meta a promoção da segurança
da vivência familiar ou a segurança do convívio, conferindo um caráter de
73 11
não aceitação de situações de reclusão e de perda das relações. Isso se
deve ao entendimento teórico de que a vivência em sociedade possibilita
potencialidades, subjetividades coletivas, construções culturais, políticas e,
sobretudo, os processos civilizatórios.
A Política Pública de Assistência Social marca sua especificidade,
no campo das políticas sociais, pois configura responsabilidades de Estado
próprias a serem assegurados aos cidadãos brasileiros. Os direitos sociais
dão indícios do caráter de evolução civilizatória de dada sociedade, sendo
assegurados pela LOAS como segurança de cidadania a ser promovida pelo
Estado, de forma universal em sua cobertura e na garantia dos referidos
direitos, através do acesso aos programas, projetos e serviços nela previstos.
Serão apresentados a seguir um conjunto de informações
extraídas da PNAS, tomando por base aqueles utilizados como norte, na
análise da política nacional, para população de rua, usuários, princípios da
política pública, diretrizes e objetivos.
Segundo Brasil (2004b) os usuários dos serviços da Política
Nacional de Assistência Social são cidadãos e grupos que se encontram em
situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com
perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e
sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico,
cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão
pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de
substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advindas do núcleo
familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção, no mercado
de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de
sobrevivência que podem representar risco pessoal e social.
Os princípios da Política Nacional de Assistência Social foram
construídos em concordância com a LOAS, em especial naquilo que está
disposto no capítulo II, seção I, artigo 4º:
"A Política Nacional de Assistência Social rege-se pelos seguintes princípios democráticos: I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III – Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito
74 11
a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V – Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos
critérios para sua concessão" (BRASIL, 2004b.p.33)
As diretrizes da política tomaram como parâmetros a Constituição
brasileira e a LOAS, permitindo a percepção da descentralização das
responsabilidades, com atribuições estabelecidas, em âmbito federal,
estadual e municipal.
"I -Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as características sócio territoriais locais; II – Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III – Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de Assistência Social em cada esfera de governo; IV – Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos."
(BRASIL, 2004b.p33).
Quanto aos objetivos, a construção da PNAS torna evidente o
caráter de integração com as demais políticas setoriais, tendo como base
reflexiva o teor das desigualdades sociais e sócio territoriais, visando seu
enfrentamento e a garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições
para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais.
Seguem os objetivos nela elencados:
"Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem. Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural. Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência
familiar e comunitária” (BRASIL, 2004b.p. 34).
O tripé da seguridade social assistência-saúde-previdência - trouxe
importante fortalecimento no financiamento da PAS, rompendo com a ausência
histórica de fundos específicos para a área. A evolução legislativa criou o
FNAS e definiu que o financiamento de todas as ações assistenciais previstas
75 11
deve ser realizado com recursos deste Fundo. A descentralização político-
administrativa no financiamento da Assistência Social pressupõe que os entes
(Estado e Município) sejam dotados de autonomia administrativa e fiscal, com
compartilhamento de poderes nos seus respectivos territórios.
O SUAS é então definido como modelo no que se refere à
regularização e organização das ações, serviços, programas, projetos e
benefícios da Assistência Social, em todo território nacional e, tendo na família
seu foco prioritário de atenção e no território a base de organização. Para que
isto se efetive, são necessários uma gestão compartilhada e um co-
financiamento pelas três esferas de governo, com definição clara das
competências técnico-políticas de cada esfera.
Os recursos devem ser repassados de forma automática, de fundo a
fundo, tendo como objetivo apoio técnico e financeiro aos municípios e estados
nas despesas com proteção social básica e especial. A intenção é a garantia
da continuidade dos atendimentos, agilizando os fluxos e assegurando
regularidade nos repasses. Os repasses regulares e automáticos devem ser
incluídos nos respectivos orçamentos dos fundos. Além dos repasses
automáticos Fundo-a-Fundo, a PNAS prevê os repasses efetuados para apoio
financeiro aos projetos e programas não continuados, para os quais permanece
o mecanismo de convênio.
Proteção social básica (PSB)
As proteções sociais afiançadas pela PNAS se constituem nos
níveis básico e especial, sendo que este último possui a subdivisão quanto
ao grau dos problemas sociais enfrentados, podendo ser de média ou alta
complexidade. A proteção social básica tem como objetivos prevenir
situações de risco, por meio do desenvolvimento de potencialidades e
aquisições e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Tem como
população a ser contemplada aquela que vive em situação de vulnerabilidade
social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo
acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos de
natureza afetiva relacional e de pertencimento social (discriminações de
natureza etária, étnica, de gênero ou decorrentes de deficiências, dentre
outras).
76 11
Os benefícios, tanto de prestação continuada como os eventuais,
compõem a proteção social básica, considerando a natureza de sua
realização. As condicionalidades do Programa Bolsa Família devem ser
acompanhadas pelas equipes que compõem a PSB, bem como em nível
básico deve ocorrer a gestão cadastral das famílias beneficiárias através do
sistema "pró social". Os programas e projetos são executados pelas três
instâncias de governo e devem ser articulados dentro do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS).
O benefício de Prestação Continuada constitui uma garantia de
renda básica, no valor de um salário mínimo, consistindo em direito
positivado na Constituição Federal e, posteriormente, regulamentado a partir
da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), dirigido às pessoas com
deficiência e aos idosos a partir de 65 anos de idade, considerando os
critérios legais referentes à renda. Tal direito à renda representa o princípio
da certeza na assistência social, como política não contributiva de
responsabilidade do Estado, pois se trata de prestação direta de competência
do Governo Federal, presente em todos os Municípios.
Os benefícios eventuais consistem em provisões gratuitas de
natureza provisória, elencados no artigo 22 da LOAS. Podem ser em espécie
ou em pecúnia, têm a função de suprir determinadas necessidades
temporárias, em razão de contingências, decorrentes de situações de
vulnerabilidade temporárias, em geral relacionadas ao ciclo de vida, a
situações de desvantagem pessoal ou a ocorrências de incertezas que
representam perdas e danos. Os benefícios eventuais são ofertados em
todos os Municípios, em geral com recursos próprios ou da esfera estadual e
do Distrito Federal, sendo necessária sua regulamentação em lei municipal,
mediante definição de critérios e prazos, em âmbito nacional.
Os serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social
básica deverão se articular com as demais políticas públicas locais, de forma
a garantir a sustentabilidade das ações desenvolvidas e o protagonismo das
famílias e indivíduos atendidos; deverão se articular aos serviços de proteção
especial, garantindo os encaminhamentos necessários em casos, em que
direitos tenham sido violados, ou haja evidente risco de violação.
77 11
Os serviços de proteção social básica serão executados de forma
direta, nos Centros de Referência da Assistência Social – CRAS e em outras
unidades básicas e públicas de assistência social, bem como de forma
indireta, nas entidades e organizações de assistência social da área de
abrangência dos CRAS. A execução indireta ocorre quando entidades
vinculadas ao Conselho Municipal da Assistência Social executam serviços
de responsabilidade da gestão pública, sob o acompanhamento do conselho
respectivo e sob a supervisão da gestão municipal.
"Centro de Referência da Assistência Social e os Serviços de Proteção Básica o Centro de Referência da Assistência Social – CRAS é uma unidade pública estatal de base territorial, localizado em áreas de vulnerabilidade social, que abrange um total de até 1.000 famílias/ano. Executa serviços de proteção social básica, organiza e coordena a rede de serviços socioassistenciais locais da política de assistência social. CRAS atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, visando a orientação e o convívio sócio familiar e comunitário. Neste sentido é responsável pela ofertado Programa de Atenção Integral às Famílias. Na proteção básica, o trabalho com famílias deve considerar novas referências para a compreensão dos diferentes arranjos familiares, superando o reconhecimento de um modelo único baseado na família nuclear, e partindo do suposto de que são funções básicas das famílias: prover a proteção e a socialização dos seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais; de identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o Estado" (BRASIL,
2004b, p.35).
As intervenções, no grupo familiar, devem considerar a
singularidade do respectivo conjunto de indivíduos, a vulnerabilidade, no
contexto social de inserção, e os recursos simbólicos e de natureza afetiva,
além da capacidade de se transformar e cumprir sua função social. Além de
ser responsável pelo desenvolvimento do Programa de Atenção Integral às
Famílias – com referência no território, a equipe do CRAS deve prestar
informação e orientação para a população, na área territorial que abrange,
promovendo articulação com a rede de proteção de direitos e cidadania,
mantendo ativo um serviço de vigilância da exclusão social na produção,
sistematização e divulgação de indicadores da área de abrangência do
CRAS, em contato com outros territórios.
São considerados serviços de proteção básica de assistência
social aqueles que desenvolvem e fortalecem o núcleo familiar, como
unidade de referência, promovendo os vínculos internos e externos de
78 11
solidariedade. Tais funções familiares estão relacionadas ao que Castel
(1998) refere como elementos constituintes da rede de suporte social e
potencializam as capacidades protetivas dos núcleos familiares, através do
protagonismo de seus membros e da oferta de um conjunto de serviços
locais que visam a convivência, a socialização e o acolhimento, em famílias
cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos, bem como a
promoção da integração ao mercado de trabalho, tais como:
" Programa de Atenção Integral às Famílias. Programa de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza. Centros de Convivência para Idosos. Serviços para crianças de 0 a 6 anos, que visem o fortalecimento dos vínculos familiares, o direito de brincar, ações de socialização e de sensibilização para a defesa dos direitos das crianças. Serviços socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa etária de 6 a 24 anos, visando sua proteção, socialização e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Programas de incentivo ao protagonismo juvenil, e de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Centros de informação e de educação para o trabalho, voltados para jovens e
adultos. (BRASIL, 2004b, p.36).
Proteção Social Especial (PSE)
A pobreza, quando associada à desigualdade social e à
concentração de renda, resulta na exclusão social. O termo exclusão social é
facilmente confundido com desigualdade, miséria, pobreza (relativa ou
absoluta), apartação social, dentre outras. Existem diferenças e semelhanças
entre alguns desses conceitos, embora não exista consenso entre os
diversos teóricos estudiosos do tema. A exclusão é um processo que pode
levar ao agravamento da desigualdade e da pobreza, diferentemente da
pobreza, miséria, desigualdade e indigência, que se configuram como
situações.
As famílias brasileiras enfrentam situações sociais e econômicas
que ocasionam a violação de direitos de seus membros, desenvolvimento
humano, em especial, de crianças, adolescentes, jovens, idosos e pessoas
com deficiência, além de outros fenômenos como, por exemplo, as pessoas
em situação de rua, migrantes, idosos em condição de abandono não
decorrente da ausência de renda, mas por outras variáveis da exclusão
social. É perceptível que estas situações se agravam as condições de vida de
parcelas da população onde há maiores índices de desemprego e de baixa
79 11
renda dos adultos. Dessa forma, as dificuldades em cumprir as funções de
proteção básica, socialização e mediação, fragilizam, também, a identidade
do grupo familiar, tornando mais vulneráveis seus vínculos simbólicos e
afetivos.
A vida dessas famílias precisa ser compreendida no contexto da
cultura em que estão inseridas, inclusive no que diz respeito à análise das
origens e dos resultados de sua situação de risco e de suas dificuldades de
auto-organização e de participação social. Assim, as linhas de atuação com
as famílias em situação de risco devem abranger desde o provimento de seu
acesso a serviços de apoio e sobrevivência, até sua inclusão em redes
sociais de atendimento e de solidariedade.
No que se refere às violações de direitos ou situações potenciais
de violação, os serviços da PSE devem ser orientados à construção de
estratégias de atenção sócio familiar que visem a reestruturação do grupo
familiar e a elaboração de novas referências morais e afetivas, tendo como
objetivo o fortalecimento do núcleo para o exercício de suas funções de
proteção básica, ao lado de sua auto-organização e conquista de autonomia.
A ética da atenção da proteção especial pressupõe o respeito à cidadania, o
reconhecimento do grupo familiar como referência afetiva e moral e a
reestruturação das redes de reciprocidade social.
"A ênfase da proteção social especial deve priorizar a reestruturação dos serviços de abrigamento dos indivíduos que, por uma série de fatores, não contam mais com a proteção e o cuidado de suas famílias. No caso da proteção social especial, à população em situação de rua serão priorizados os serviços que possibilitem a organização de um novo projeto de vida, visando criar condições para adquirirem referências na sociedade brasileira, enquanto
sujeitos de direito" (BRASIL, 2004b, p.38).
Ainda no que se refere à proteção social especial, a PNAS afirma:
"A proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras"
(BRASIL, 2004b, p.38).
Os serviços em âmbito da PSE abarcam encaminhamentos para
serviços de outras políticas públicas, de forma monitorada, na intenção de
80 11
reforçar a capacidade protetiva e assegurar a efetividade na reinserção nos
espaços sociais onde ocorreu a exclusão. Apresentam espaço de contato
com o sistema de garantia de direitos, por vezes sendo necessárias atuações
conjuntas com o Judiciário, Ministério Público, Defensorias Públicas e outros
órgãos e ações do Executivo. Os programas pactuados e assumidos pelos
três entes federados, repercutiram em resultados claramente observáveis na
sociedade brasileira, como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil –
PETI e o Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes.
Proteção Social Especial de Média Complexidade
Os serviços de média complexidade são destinados às famílias e indivíduos
cujos direitos foram violados e os vínculos familiares e comunitários estão
rompidos, demandando atendimentos mais individualizados e
personalizados, tais como:
"Serviço de orientação e apoio sócio familiar. Plantão Social. Abordagem de Rua. Cuidado no Domicílio. Serviço de Habilitação e Reabilitação na comunidade das pessoas com deficiência. Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestação de Serviços à
Comunidade– PSC e Liberdade Assistida – LA)" (BRASIL, 2004b
p.39).
A proteção especial de média complexidade envolve, também, o
Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) e o
Centro Especializado em População de Rua (Centro POP), entre os serviços
de proteção básica e especial, reside no fato de que na PSE os direitos estão
em condição de violação.
Proteção Social Especial de Alta Complexidade
"Os serviços de proteção social especial de alta complexidade são aqueles que garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou, comunitário. Tais como: Atendimento Integral Institucional. Casa Lar. República. Casa de Passagem. Albergue. Família Substituta. Família Acolhedora. Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade, internação provisória e
sentenciada). Trabalho protegido” (BRASIL, 2004b, p.40).
81 11
Unidades e serviços destinados à população de rua, na PNAS
Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais,
constituem serviços da PSE, cuja oferta da atenção especializada é
destinada às pessoas em situação de rua:
PSE de Média Complexidade:
Serviço de proteção e atendimento especializado a famílias e
indivíduos (PAEFI).
Serviço de apoio, orientação e acompanhamento a famílias com um
ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos.
Compreende atenções e orientações direcionadas para a promoção de
direitos, a preservação e o fortalecimento de vínculos familiares, comunitários
e sociais e para o fortalecimento da função protetiva das famílias, diante do
conjunto de condições que as vulnerabilizam e/ou as submetem a situações
de risco pessoal e social. Dentre os públicos alvo deste serviço estão as
pessoas em condição de rua. A unidade de CREAS deve ser responsável
pelo atendimento desta demanda em municípios que não possuam o Centro
POP, Brasil, (2014c).
Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua
Serviço ofertado para pessoas que utilizam as ruas como espaço
de moradia e/ou sobrevivência. Tem a finalidade de assegurar atendimento e
atividades direcionadas, para o desenvolvimento de sociabilidades, na
perspectiva de fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares que
oportunizem a construção de novos projetos de vida.
Deve promover o acesso a espaços de guarda de pertences, de
higiene pessoal, de alimentação e provisão de documentação civil.
Proporciona endereço institucional para utilização, como referência do
usuário. Nesse serviço deve-se realizar a alimentação de sistema de registro
dos dados de pessoas em situação de rua, permitindo a localização da/pela
família, parentes e pessoas de referência, assim como um melhor
acompanhamento do trabalho social.
82 11
Serviço Especializado em Abordagem Social
Serviço ofertado, de forma continuada e programada, com o
objetivo de assegurar trabalho social de abordagem e busca ativa que
identifique, nos territórios, a ocorrência de trabalho infantil, exploração sexual
de crianças e adolescentes, situação de rua, dentre outras. Os espaços de
abordagem serão praças, entroncamento de estradas, fronteiras, espaços
públicos onde se realizam atividades laborais, locais de intensa circulação de
pessoas e existência de comércio, terminais de ônibus, trens, metrô e outros.
O Serviço deve buscar a resolução de necessidades imediatas e promover a
inserção, na rede de serviços socioassistenciais e demais políticas públicas,
na perspectiva da garantia dos direitos.
PSE de Alta Complexidade:
Serviço de Acolhimento Institucional - para indivíduos e famílias
em situação de rua
Acolhimento provisório, com estrutura para acolher com
privacidade pessoas do mesmo sexo ou grupo familiar. É previsto para
pessoas em situação de rua e desabrigo por abandono, migração e ausência
de residência ou pessoas em trânsito e sem condições de autossustento.
Deve estar distribuído, no espaço urbano, de forma democrática, respeitando
o direito de permanência e usufruto da cidade com segurança, igualdade de
condições e acesso aos serviços públicos.
As modalidades de acolhimento podem ser, conforme o tempo de
permanência:
- Abrigo institucional;
- Casa de Passagem.
Serviços de acolhimento em república - para pessoas em processo
de saída das ruas
Unidade destinada a pessoas adultas, com vivência de rua, em
fase de reinserção social, que estejam em processo de restabelecimento dos
vínculos sociais e construção de autonomia. Oferece tempo de permanência
83 11
limitado, podendo ser reavaliado e prorrogado em função do projeto
individual, formulado em conjunto com o profissional de referência. As
repúblicas devem ser organizadas em unidades femininas e unidades
masculinas. O atendimento deve apoiar a qualificação e inserção profissional
e a construção de projeto de vida.
84 11
CAPITULO III. Constituição da Política Nacional para
População de Rua
1. Análise do ciclo da Política Nacional para a População em Situação
de Rua - Decreto 7053/2009
A consolidação das ideias inseridas no Decreto percorrerem um
processo necessário de discussão de seu texto, nos diversos fóruns de
debates sociais, de forma a permitir a mais ampla participação de diferentes
segmentos da sociedade, evidenciando a tendência à desierarquização em
seu processo de produção. As propostas contempladas por esta Política
Nacional têm por objetivo abarcar questões essenciais concernentes à
parcela da população que faz das ruas seu espaço principal de
sobrevivência. Estas pessoas estabelecem relações no ambiente de rua
segundo parâmetros de tempo e identidade diferenciados, conforme os
vínculos familiares, comunitários ou institucionais presentes e ausentes.
As concepções estigmatizadas da sociedade civil e do Estado,
permaneceram restritas às abordagens assistencialistas, paternalistas,
autoritárias e de “higienização social”. Essas perspectivas não poderiam dar
conta do complexo processo de reinserção destas pessoas nas lógicas da
família, do trabalho, da moradia, da saúde e das tantas outras esferas de que
estão privadas.
Ao mesmo tempo, a rua não deve ser vista somente como lugar de
circulação dos corpos, mas como espaço em si, capaz de conter e produzir
realidades como outro qualquer. Estar na rua é ocupar, não como violação do
espaço limpo e vazio, e sim percebendo que a visão de tal espaço partida
entre normalidade e anormalidade não permite perceber a produção e a
reprodução de identidades sociais, dentro dos movimentos de circulação
entre espaços e papéis sociais.
O histórico dos movimentos sociais trouxe bases referenciais, para
sua construção, no cenário político brasileiro, tendo como foco os marcos
legais da assistência social, como a Lei Orgânica da Assistência Social, a
Política Nacional de Assistência Social, Sistema Único de Assistência Social
e o Decreto n° 7053/09, que institui a Política Nacional para População de
85 11
Rua, que tem como referência a intersetorialidade, a ação integrada, a
participação e os direitos humanos.
No ano de 2001 ocorreu em Brasília o Primeiro Congresso
Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, realizado nos dias 4, 5 e 6
de junho, contando com a participação de 1.600 congressistas, entre
catadores, estudiosos do tema e agentes sociais de dezessete estados
brasileiros. No dia 7 de junho, 3.000 pessoas participaram da 1ª Marcha
Nacional da População de Rua, tendo como objetivo dar visibilidade ao tema
junto à sociedade e às autoridades responsáveis pela implantação e
efetivação das políticas públicas a ele afetas. Suas reivindicações e
propostas foram elencadas na "Carta de Brasília". A carta, redigida pelos
atores sociais, com o apoio das comunidades epistêmicas, foi consequência
de um longo processo de articulação apoiado pelo Fórum Nacional de
Estudos sobre População de Rua231, que teve seu ponto alto no 1º Encontro
Nacional de Catadores de Papel, realizado em Belo Horizonte, MG, em
novembro de 1999.
Faria (2003) menciona que o conhecimento é endógeno ao
policyprocess e não um mero input, algo que o alimenta. O conhecimento não
é apenas mais um instrumento que constitui argumentos e sim uma variável
independente e, nesse sentido, o que se observa é uma tendência às esferas
de governos priorizarem os processos decisórios e não a análise das
políticas públicas pautadas no conhecimento construído sobre o tema. Mais
do que atores racionais perseguindo seus interesses é a interação de
valores, normas e diferentes formas de conhecimento que caracterizam o
processo das políticas - policyprocess. As políticas são uma disputa entre
formas de discursos baseados na luta pelo poder e na busca de significado e,
23 Faria (2003) pontua que o conhecimento é endógeno ao policyprocess e não um mero input, algo que o alimenta. O conhecimento não é apenas mais um instrumento que constitui argumentos, e sim uma variável independente, cuja carência de estudos sobre a análise da implementação de PP tem origem no fato de que o poder público nas três esferas não se utiliza dele como deveria, havendo tendência no enfoque do processo decisório. Mais do que atores racionais perseguindo seus interesses, é a interação de valores, normas e diferentes formas de conhecimento que caracteriza o processo das políticas - policyprocess. As políticas são uma disputa entre formas de discursos baseados na luta pelo poder e na busca de significado, e sendo assim, os sistemas de ideias constroem os interesses dos tomadores de decisões, John (1999).
86 11
sendo assim, os sistemas de ideias constroem os interesses dos tomadores
de decisões, (John, 1999).
Coerente com essa reflexão, é perceptível ao longo de todo o
texto, que a construção da PNPR contou com o apoio político de
organizações, intelectuais e vozes comprometidas com essa temática. Estes
atores sociais organizados trouxeram, para o discurso político, a importância
do conhecimento sobre o tema como uma das bases de mobilização para
sua inclusão na agenda estatal.
A trajetória da agenda pública, referente ao fenômeno da situação
de rua, teve influência de fatos históricos cujos reflexos foram amplamente
divulgados pela mídia, causando comoção popular, tendo como marcos a
queima do índio Galdino24 em Brasília, no ano de 2000 e a chacina da Praça
da Sé, na cidade de São Paulo, em agosto de 2004. O contexto se configurou
na continuidade dos atos de ódio semelhantes, nos anos que se seguiram.
Ainda em São Paulo, em 2004, um grupo de pessoas em situação de rua,
conscientes da necessidade de organização e luta coletiva contra a violência
e por direitos promove a realização de Fóruns, debates, manifestações,
plenárias denominadas de "Fala Rua". Nesse período, os atores sociais,
oriundos dos grupos de interesse pelo tema, promoveram intensas
manifestações nacionais, na intenção de que o problema da vida em
condição de rua fosse trazido para a agenda política.
Outro acontecimento impactante ocorreu na cidade de Belo
Horizonte, durante o "4º Festival Lixo e Cidadania", em setembro de 2005.
Apoiados pelo Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável
(MNCR), pessoas em situação de rua de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador
e Cuiabá realizaram um encontro e lançaram o Movimento Nacional da
População de Rua (MNPR). As pautas dos catadores e da população de rua
apresentavam pontos comuns que os aproximava e dava sentido à
24 O reconhecimento de que determinado tema é um problema que merece incorporação, na agenda pública, passa pela influência de diversos fatores, externos ou internos ao governo, dentre eles estão a ocorrência de crises ou escândalos, a emotividade que determinado tema gera na opinião dos atores, o tamanho da população afetada, a pressão dos grupos interessados no tema, a influência dos meios de comunicação, o momento do ciclo político que pode ter janelas de oportunidades onde determinados temas estão mais favoráveis a serem incorporados à agenda e, da mesma forma que os demais itens, a tradição e a cultura promovem, também, significativa influencia para que temas polêmicos ou tabus sejam incorporados.
87 11
articulação entre os grupos distintos. A identificação de pautas tem relação
com a própria caracterização atual de morador de rua, considerado que a
obtenção da subsistência que advém das ruas é uma das características
constitutivas do termo.
Ao mesmo tempo em que ocorria mobilização popular, o Ministério
de Desenvolvimento Social e Combate à Fome organizava o I Encontro
Nacional da população em situação de rua, em setembro de 2005. Conforme
(KINGDON, 1984) a mobilização ministerial possibilitou uma janela de
oportunidade para a discussão do tema e construção de conhecimentos que
proporcionariam o acumulo necessário para a construção de uma política
pública que, posteriormente, seria constituída por múltiplos eixos e
caracterizada pelo aspecto da intersetorialidade. Concomitante às
mobilizações promovidas pelo Ministério do Desenvolvimento Social,
ocorriam articulações e ações em outros ministérios e secretarias, dentre elas
a de Direitos Humanos, na qual seria, posteriormente, centralizado o
acompanhamento da implementação da PNPR.
O Grupo de Trabalho Interministerial, formado através do decreto
de 25/10/2006, decidiu pela realização da Pesquisa Nacional sobre a
População em Situação de Rua, entre agosto de 2007 e março de 2008, sob
o comando do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A
formulação da política pública pode ser descrita, teoricamente, através da
configuração de duas fases distintas, segundo Viana (1996). Na primeira, os
dados apontados sobre determinado problema passam a constituir o conjunto
de informações importantes, sobre as quais os valores ideias e princípios,
sobrepostos aos fatos, passam a constituir o conhecimento produzido sobre
as ações a aerem implementadas. No segundo estágio o conhecimento
empírico e das normas passa a operar mudanças, nas ações públicas, com a
materialização da PP. Neste ponto as policybeliefs governamentais se
solidificam, com perfil alinhado ao conceito de dignidade da pessoa humana
e aos direitos sociais, (SABATIER e JENKINS-SMITH, 1993).
No ano de 2009 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a
População em Situação de Rua que identificou, nas 71 cidades em que foi
realizada, 31.922 pessoas em situação de rua. Considerando as pesquisas
municipais independentes em São Paulo, Recife, Porto Alegre e Belo
88 11
Horizonte sabe-se que existiam À época da pesquisa aproximadamente
50.000 pessoas em situação de rua. Apesar do número significativo da
amostragem, as pesquisas, ainda hoje, são levantamentos parciais e não
representam a totalidade da população em situação de rua por não
abrangerem todos os municípios e serem focadas na população adulta. O
desafio foi a garantia de que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) incluísse esse segmento da população, sem domicílio fixo, em censos
regulares.
Neste momento o tema já fora consolidado como problema e os
atores sociais já haviam obtido sucesso em sua inclusão, na agenda política.
Ações que assegurassem consulta desta população nos censos já se
mostravam como reflexo da extensa base de informações sobre o tema, além
dos indícios de que o poder público estava mobilizado para considerá-lo na
agenda, ao ponto de se transformar em política pública. Isso fornece
informações sobre o perfil do Estado à época, e uma tendência a considerar
direitos sociais às populações desfiladas, deixando claros os interesses,
ideias e valores subjetivos em questão.
Em maio de 2009, ocorreu o II Encontro Nacional da população em
situação de rua com o objetivo de debater, propor e validar a proposta de
política nacional, está em estágio de Consulta Pública desde maio de 2008.
O Encontro teve como resultado a produção do relatório de sistematização
das consultoras Aldaíza Sposati e Ana Paula Motta Costa, que serviu como
base para detalhar a Política Nacional para Inclusão Social da População em
Situação de Rua, fundamental na construção do Decreto da PNPR e da
elaboração do Plano de Ações. Mais uma vez, a participação da comunidade
epistêmica na conformação da agenda, aliada à mobilização dos atores
sociais e políticos, exemplificam a complexidade da dinâmica de poderes
envolvidos na construção de uma política pública. A consultoria das
especialistas constatou que a Política Nacional para População em Situação
de Rua se fazia imprescindível e isso ocorreu em razão do impacto social da
presença de 50 mil pessoas sob a condição de aviltamento à dignidade e aos
direitos humanos, (Brasil, 2009d).
No ano de 2009, legitimando e formalizando decisões, o
presidente Lula publicou o decreto que criava a PNPR. Tinha início o
89 11
processo racionalizado de rotinas e procedimentos, os quais caracterizavam
a implementação da mesma em âmbito nacional. O marco normativo trazia
um conjunto de ações que transformava em possibilidade de resultados os
reflexos da participação de múltiplos atores, na arena de defesa de
interesses, além de evidenciar valores característicos do próprio governo
federal. Os detentores do poder aparentavam sensibilidade ao tema, tendo
havido significativa evolução entre os anos de 2005 e 2016.
A seguir serão apresentados acontecimentos que ilustram a
dinâmica de participação de cada eixo de atuação previsto na PNPR e sua
evolução concomitante ao ciclo de construção da PP. A participação dos
atores sociais, o conhecimento acumulado sobre o fenômeno, a participação
da comunidade epistêmica e os valores e tendências dos atores políticos são
fenômenos evidentes ao longo do texto.
Na explanação sobre a consolidação da temática em cada eixo é
possível observar que alguns setores têm baixa participação, carecendo de
maior interação e integração no processo de implementação da PNPR. A
Portaria n° 409, de 11 de março de 2010 segue em vigor e é aquela na qual o
Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
designa dezoito integrantes, destes, nove são membros governamentais e
nove são da sociedade civil. Na configuração atual, compõem como
convidados o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e a Secretaria
Geral da Presidência da República.
Dos órgãos representantes do poder público (governamentais),
apenas o Ministério da Cultura não apresentou representantes para o
CIAMP-Rua naquela Portaria, apesar de ter participado de forma esporádica,
nos últimos anos. Anteriormente, o Ministério do Esporte e Ministério da
Justiça não haviam sido designados para elaborar estudos e propostas no
Grupo de Trabalho Interministerial, constituído através do Decreto de 25 de
outubro de 2006, porém foram incluídos no Decreto n° 7053/09.
A participação limitada de alguns eixos envolvidos é perceptível
em âmbito municipal, porém este aspecto será abordado em detalhe mais
adiante, quando da análise dos municípios na MRL. É possível que tal fato
tenha relação com a noção de que o indivíduo tem direito de acesso a
determinadas políticas, mas não a outras. Isso diz respeito a uma concepção
90 11
de direitos limitada, disponível apenas para alguns cidadãos. Quando a
reflexão se estende à população de rua, os direitos se restringem apenas ao
acesso a dormitórios e comida.
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
A coordenação do Comitê Intersetorial da População em Situação
de Rua (CIAMP-Rua) fica sob a responsabilidade da Coordenação Geral dos
Direitos da População em Situação de Rua da Secretaria Nacional de
Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da SDH/PR. Consequentemente,
é atribuída a ela a promoção e a articulação intersetorial necessária para
planejar, monitorar e avaliar o Plano de Ações da PNPR. Coerente com
estudos relacionados à gestão de políticas públicas, é significativo destacar
que ver-se incluído nas políticas públicas governamentais como prioridade
decorre da inclusão do tema, na agenda de governo. Uma das formas de
promoção de visibilidade é o reconhecimento da trajetória de luta de pessoas
dos movimentos sociais de referência.
A criação da categoria "Garantia dos Direitos Humanos da
População em Situação de Rua" no Prêmio Direitos Humanos,
compreendendo a atuação na promoção e defesa da cidadania e dos Direitos
Humanos da população em situação de rua, é um elemento que permite
observar a mudança no cenário nacional em relação aos direitos humanos.
No ano de 2011, Anderson Lopes Miranda, líder do Movimento Nacional da
População em Situação de Rua, foi reconhecido em nome dos demais atores
engajados com as demandas da defesa de direitos para o segmento, sendo
premiado pela Presidenta Dilma Rousseff.
Em 2012, na 18ª Edição do Prêmio de Direitos Humanos, o
defensor público Carlos Weis recebeu o prêmio, na mesma categoria, pelo
trabalho desenvolvido no Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos
Humanos da Defensoria de São Paulo, das mãos da Presidenta Dilma e da
Ministra Maria do Rosário da Secretaria dos Direitos Humanos da
Presidência da República. No ano de 2013, a Presidenta da República Dilma
e a Ministra Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República
Maria do Rosário, junto com outros Ministros de Estado, entregaram para
91 11
Maria Lúcia Santos Pereira da Silva, Coordenadora Nacional do Movimento
Nacional da População em Situação de Rua, o prêmio na referida categoria.
Ainda no âmbito da SDH/PR, no ano de 2012, foi instalado o serviço Disque
Direitos Humanos (Disque 100), com atendimento específico para denúncias
de violações de direitos da população em situação de rua.
Ainda em 2012, foi inaugurado o Centro Nacional de Defesa dos
Direitos Humanos da População em Situação de Rua e dos Catadores de
Materiais Recicláveis (CNDDH) em Belo Horizonte/MG, com os objetivos
relacionados à garantia da inclusão social e a prevenção e combate aos atos
de violência. Além de produzir e divulgar dados sobre violações dos direitos
humanos deste grupo populacional, como preconizado pelo Decreto nº
7053/09, o CNDDH é mantido por meio de dois convênios celebrados em
dezembro de 2010, um com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e
outro com a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), aditados
até dezembro de 2014.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDDH) elaborou a
Campanha Eu sou morador de rua e tenho direito a ter direitos (Figura 10)
com duas peças de comunicação: um cartaz com o rosto masculino e outro
com o rosto feminino, os dois sorrindo e com a referência de texto de José
Teixeira “Estamos vivendo o nosso dia a dia na rua, mas sempre sonhando
em melhorar nossas vidas” e informação para denúncia de violação de
direitos da população em situação de rua
- Disque Direito Humanos – 100.
Figura 10. Campanha do Conselho Nacional de Direitos Humanos
.
Fonte: Acessível em:https://www.justica.gov.br/
92 11
Em novembro de 2012, a SDH/PR também assinou convênio com
a Universidade de Brasília (UnB) para a criação do Observatório sobre a
violência contra a população em situação de rua no Distrito Federal (Violes)
com a finalidade de elaborar uma pesquisa que subsidiasse o Governo
Federal na tarefa de enfrentamento dos fatores que influenciam nos casos de
violência a que esse segmento da população está sujeito e, dessa maneira,
fortalecer a criação de políticas públicas que garantam de forma efetiva os
direitos humanos dessa parcela da população.
A violência policial é tema constante, nas falas dos moradores de
rua. Coerente com as características do Estado a serviço do capital, os
órgãos de pressão policial configuram como reprodutores dessa lógica,
sendo a violência institucional um dos maiores temores desta população.
Existem diversas formas de violações pelas forças policiais, junto ao público
alvo, sendo que os mais comuns são a agressão física, a destruição de
pertences pessoais (documentos, roupas, colchões) e a imposição da
circulação dos corpos, através da prática de transporte do morador de rua,
para longe do local onde costumava ficar criando obstáculos para que este
volte a ocupar o local anterior. Devido à distância entre locais, nas grandes
cidades e ausência de recursos materiais, para retornar ao local onde se
encontravam, ocorre, dentre outros, prejuízos sob o aspecto dos meios de
sobrevivência criados na localidade anterior e a fragilização nas relações da
rede de apoio locais. O principal argumento político para compreender a
atuação do Estado, sob essa lógica, é a higienização dos locais públicos.
O ano de 2012 seguiu sendo promissor, para a defesa de direitos
da população de rua, e em dezembro foi assinado convênio com a
Defensoria Pública do Estado da Bahia com o objetivo de oferecer
atendimento de qualidade, em modalidade multidisciplinar, às pessoas em
situação de rua, na cidade de Salvador/BA. O projeto visava fomentar e
ampliar o trabalho desenvolvido pela Diretoria Especializada de Direitos
Humanos da Defensoria Pública do Estado da Bahia em sua atuação
extrajudicial25 em favor da população em situação de rua. Este trabalho
25 O sistema público de resolução de conflitos – que envolve o Poder Judiciário e outros órgãos de prevenção ou resolução de disputas (e.g. Defensoria Pública, Ministério Público, Secretarias de Justiça, entre outros) – é composto, atualmente, por vários métodos ou processos distintos.
93 11
engloba acesso à documentação, acompanhar a apuração de casos de
violência policial, coibir práticas de violação e de higienização, promover o
acesso ao direito à saúde e, também, o monitoramento do cesso às casas de
acolhimento.
Em 2013, através da contratação de consultorias foram elaborados
os Guias de Serviços para População em Situação de Rua. Os Guias foram
construídos em conjunto com os governos municipais e estaduais, sociedade
civil organizada e com a rede identificada que trabalha com esse público nos
territórios. Foram selecionadas oito capitais: Maceió, Salvador, Fortaleza, Rio
de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. A articulação
política realizada pela consultoria, nos oito municípios, junto aos órgãos
responsáveis pela rede de serviços públicos para a população em situação
de rua e também entidades privadas parceiras resultou em sete Seminários
locais realizados entre outubro e dezembro de 2013 (Fortaleza, Maceió,
Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre) na intenção
de validar os Guias.
Através dos Diálogos Setoriais União Europeia-Brasil, a SDH/PR
realizou intercâmbio de experiências entre o Brasil e a União Europeia que
culminou em dois focos de atuação: a) a publicação da obra Diálogos sobre a
população em situação de rua no Brasil e na Europa: experiências do Distrito
Federal, Paris e Londres, 2013; b) Seminário Internacional Brasil União
Europeia para Promoção e Proteção dos Direitos da População em Situação
de Rua, em junho, em Brasília/DF. A participação de órgãos internacionais é
indicio de mudanças na composição dos atores sociais, implicando, por
vezes, um controle externo ao Estado e cooperação no acompanhamento da
PP.
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Com a organização dos movimentos sociais, junto à sociedade civil,
possibilitou-se a configuração de um cenário nacional propenso à entrada da
pauta relacionada ao segmento, nas agendas públicas das políticas sociais,
já no ano de 2005. Com a alteração de um dos principais documentos do
Este grupo de processos (processo judicial, arbitragem, conciliação, mediação, entre outros) forma um sistema pluri processual. As características intrínsecas de cada processo são observadas para proporcionar a melhor solução possível para uma disputa – de acordo com as particularidades – analisada como um caso concreto.
94 11
campo da assistência social, a mudança do parágrafo único do artigo 23, da
Lei nº 11.258/05, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), estabelece a
responsabilidade de que essa área crie programas de amparo às pessoas em
situação de rua. A história da assistência social dá continuidade à tendência
de responsabilidades prioritárias relacionadas à população de rua, fator que
concedeu status de política pública central no que diz respeito ao tema26.
A aprovação do Sistema Único de Assistência Social como Lei nº
12.435/11 instituiu que, no campo da Política de Assistência Social, a
Proteção Social Especial é responsável por intervir, de forma qualificada,
especializada e continuada na abordagem social e no atendimento em
equipamentos públicos que possibilitem a construção do processo de saída
das ruas.
A demanda do Movimento Nacional da População em Situação de
Rua foi responsável pelo clamor público que culminou na construção de
possibilidades que viabilizassem o acesso ao Cadastro Único, para Programa
Sociais do Governo Federal, pelas pessoas em situação de rua nos
programas como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada. As
equipes de cadastramento são incentivadas a atuar em conjunto com a
proteção social especial, tanto dos Serviços Especializados em Abordagem
Social27, como em outros dispositivos, como Serviços de Acolhimento
Institucional.
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por
meio do Departamento de Proteção Social Especial da Secretaria Nacional
de Assistência Social, publicou no ano de 2011 duas cartilhas específicas:
Guia de cadastramento de pessoas em situação de rua, e Inclusão das
pessoas em situação de rua no Cadastro Único para Programas Sociais do
Governo Federal, (2011). Estes documentos serão utilizados, no âmbito da
política de assistência social, como referência para a análise dos parâmetros
das unidades e dos serviços ofertados na MRL. Cabe ressaltar que a
26 Este elemento é ao mesmo tempo que vanguardista, também limitador da abordagem intersetorial em políticas públicas. 27 A proteção social especial será melhor descrita no tema seguinte, onde a estrutura da política de assistência social será explanada em sua constituição, e nela serão explicitados os serviços diretamente relacionados ao atendimento das demandas dessa população. O serviço de abordagem social configura-se como especial de média complexidade, por não implicar em fenômenos cujos vínculos familiares e comunitário estejam rompidos necessariamente, o que já ocorre no âmbito do acolhimento institucional.
95 11
orientação aos municípios sobre a inclusão de modo sistemático e adequado
das pessoas em situação de rua, no Cadastro Único, foi publicada na
Instrução Operacional conjunta – SNAS e SENARC Nº 07, de 22 de
novembro de 2010.
Com a criação desses instrumentos, cartilhas e capacitações, o
cadastramento se ampliou de modo considerável, garantindo o acesso aos
programas de transferência de renda, de cidadania, ato que se configura em
direito. De dezembro de 2012 a dezembro de 2013, o número de pessoas em
situação de rua apontados no Cadastro Único subiu de 11.700 para 20.800;
destes, 17.405 são beneficiários do Programa Bolsa Família.
O Centro de Referência Especializado para População em
Situação de Rua (Centro Pop) previsto no Decreto n° 7.053/09 e na
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, é unidade de referência
da Proteção Social Especial de Média Complexidade, cuja natureza é pública
e estatal. Como subsídio destinado aos Estados, municípios e Distrito
Federal para implantar o Centro Pop foi lançada e distribuída a publicação
Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado para População
em Situação de Rua (Centro Pop) e Serviço Especializado para pessoas em
situação de rua, documento que faz parte do referencial de análise, no eixo
assistência social, na presente dissertação. Na ausência do Centro Pop, o
serviço especializado de atendimento à população de rua é desenvolvido na
unidade de CREAS (Centro Especializado da Assistência Social), sendo a
população de rua público alvo que compõe o PAEFI (Serviço de Proteção e
Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos.
Conforme o Censo SUAS 2012, foram identificados 105 Centros
Pop, representando um aumento de 15 novas unidades em relação a 2011.
Já em 2013, segundo levantamento extraído do Relatório de Informações da
Proteção Social Especial do MDS, apresenta-se o número de 291 unidades.
No II Encontro Técnico para o Fortalecimento da Inclusão da População em
Situação de Rua, no Cadastro Único para Programas Sociais e Vinculação a
Serviços Socioassistenciais1 o MDS anunciou que até abril de 2014
aumentou para o número de 305 Centros Pop, abrangendo 257 municípios.
96 11
Ministério da Justiça
Com a publicação da Portaria MJ n° 53, 21 de dezembro de 2011,
que institui o grupo de trabalho para tratar da capacitação de profissionais e
gestores de segurança pública, para atuação relacionada às pessoas em
situação de rua, temos o aprofundamento do debate sobre a relação entre
segurança pública e população em situação de rua, mudou-se a pauta para
pessoa em situação de rua com direitos violados, inclusive pelas forças
policiais do Estado. A portaria abriu espaço para a avaliação das abordagens
policiais e o status do morador de rua como um perigo social. As abordagens
policiais, não raro, lidam com as pessoas nessa condição como
potencialmente perigosas, fator que influencia nas diversas violações de
direitos humanos, junto ao grupo populacional em questão.
Em 2013, dentre outras ações de capacitação, foi elaborada a
Cartilha atuação policial na proteção dos direitos humanos de pessoas em
situação de vulnerabilidade, que possui capítulo específico sobre Abordagem
da População em Situação de Rua. A cartilha visa orientar o policial sobre
abordagem de diversos segmentos populacionais, dentre eles está
contemplada a população de rua. Da mesma forma, existem orientações
básicas no contato com usuários e dependentes de drogas, com foco na
promoção dos direitos humanos e nas garantias fundamentais de tais grupos,
na aplicação da lei.
Outra ação significativa é a inserção do atendimento adequado e
humanizado à população em situação de rua nas diretrizes da Matriz
curricular nacional para Guardas Municipais, da Secretaria Nacional de
Segurança Pública (SENASP). Essa iniciativa teve a intenção de possibilitar o
apoio a projetos de pesquisa que subsidiem a capacitação, como a parceria
entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
firmada com a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da
Justiça (SENASP), no âmbito do projeto BRA/04/029 - Segurança Cidadã,
lançado por meio do Edital de Convocação nº 01/2014 Projeto Pensando a
Segurança Pública. O Edital objetiva a construção de parcerias entre
instituições privadas e públicas no fomento de pesquisas, no campo da
segurança pública e justiça criminal, no qual dentre outros temas prioritários
está o Grupo B.2 Segurança Pública e população de rua.
97 11
O Ministério da Justiça promoveu ainda, através do Edital de
Chamada pública n° 07, de 2013, a utilização de recursos do Fundo Nacional
de Segurança Pública, na promoção da prevenção da violência e
criminalidade, pautando como um dos critérios de seleção, no item 5,
propostas que apresentassem projetos com ações de prevenção à violência,
contra a população em situação de rua.
Ministério da Saúde
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi instituído pela Constituição
Federal de 1988 e regulamentado pelas Leis federais n° 8080/90 e n°
8142/90, Leis Orgânicas da Saúde. Tem como objetivo alterar a
desigualdade, na assistência à saúde da população, tornando a gratuidade
de atendimento público direito de qualquer cidadão. O controle social, nos
conselhos de saúde, foi o dispositivo destinado a garantir a participação da
população nas deliberações relacionadas a sua gestão (regulamentado pela
Lei n° 8142/90).
O Ministério da Saúde foi o primeiro a criar um comitê específico,
para abordar as demandas do segmento. O Comitê Técnico de Saúde da
População em Situação de Rua instituído através da Portaria MS n° 3305, de
24 de dezembro de 2009, é integrado por seis representantes de órgãos e
entidades públicas e cinco da sociedade civil organizada. A portaria enfatiza
a ação articulada do Ministério com as demais instâncias do SUS, dentre elas
a capacitação continuada de seus trabalhadores. Como subsídio para o
trabalho de educação permanente nas equipes do SUS foram publicados a
Cartilha Políticas de promoção da equidade em saúde, de 2013, na qual é
possível encontrar o capítulo intitulado Saúde da população em situação de
rua e o Manual de Cuidado junto à população em situação de rua, de 2012.
As discussões e reflexões, no âmbito do Comitê Técnico de Saúde
Pop Rua, tiveram como consequência a produção da Resolução n° 2/GM/MS,
de 27 de fevereiro de 2013, que define diretrizes e estratégias de orientação,
para o processo de redução das injustiças sociais e desigualdades em saúde
com foco na população em situação de rua (PSR), no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Em meio ao relevante debate sobre as injustiças em
saúde, para populações em vulnerabilidade social, eclode o fenômeno social
98 11
conhecido como “epidemia do crack” que ilustra as influências advindas da
imprensa sobre a opinião pública e a pressão ao governo28 para proposições
relacionadas ao uso, abuso e comércio das drogas. Além disso, a
estigmatização da população em situação rua, quando associada às pessoas
usuárias de crack na Região da Luz, em São Paulo/SP, denominada
Cracolândia, tornou ainda mais enfático o clima de pandemia.
Este é o cenário de lançamento do Plano Crack, é Possível
Vencer. Formalmente denominado de Plano Integrado de Enfrentamento ao
crack e outras drogas, foi instituído pelo Decreto n° 7179, de 20 de maio de
2010. No Plano, a população em situação de rua é encarada como público
vulnerável, juntamente como as crianças e adolescentes, conforme ilustra o
recorte dos objetivos contidos no artigo 2°, dentre os quais está o seguinte
parágrafo:
“I - Estruturar, integrar, articular e ampliar as ações voltadas à prevenção do uso, tratamento e reinserção social de usuários de crack e outras drogas, contemplando a participação dos familiares e a atenção aos públicos vulneráveis, entre outros, crianças, adolescentes e população em situação de rua” (DECRETO N° 7179, 2010, artigo 2º).
O Plano institui ações voltadas para a prevenção do uso, ao
tratamento e à reinserção social de usuários e ao enfrentamento do tráfico de
crack e outras drogas ilícitas. Cabe ao Ministério da Justiça coordenar o
Comitê Gestor e dar-lhe apoio administrativo. Em relação ao cuidado para
pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, o
Plano Crack é possível vencer busca articular a Rede de Atenção
Psicossocial com a Rede Sócio assistencial no Eixo "Cuidado", inclusive
ampliando e concedendo diversidade aos dispositivos como o Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Tipo III (CAPS ad III - 24 horas),
Centro de Convivência e Unidade de Acolhimento (UA).
Coerente com a reflexão de que a demanda em saúde, oriunda
dessa população, não se restringe aos problemas decorrentes do uso de
substâncias psicoativas e álcool, o Ministério da Saúde desenvolveu um
dispositivo, na atenção básica, para o cuidado da população em situação de
rua chamado Consultório na Rua, regulamentado pela Portaria n° 122/11. Os
Consultórios na Rua foram instituídos na Política Nacional da Atenção Básica 28 Este momento ilustra uma janela de oportunidade -entrada do tema na agenda pública.
99 11
(PNAB) compõem a atenção básica da Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS) e têm por base os fundamentos e as diretrizes definidas na PNAB,
buscando atuar frente aos diferentes problemas e necessidades de saúde da
população em situação de rua, inclusive na busca ativa e cuidado aos
usuários de álcool, crack e outras drogas.
A atuação das equipes se dá de forma itinerante, ofertando ações
e cuidados de saúde para a população em situação em rua, levando em
consideração as múltiplas necessidades em saúde, sendo responsabilidade
dessa equipe, no âmbito da (RAPS), ofertar cuidados em saúde mental para
população em situação de rua em geral, pessoas com transtornos mentais,
usuários de crack, álcool e outras drogas, incluindo ações de redução de
danos, em parceria com equipes de outros pontos de atenção da rede de
saúde, como Unidades Básicas de Saúde, Centros de Atenção Psicossocial,
Prontos-socorros, entre outros. Segundo o Ministério da Saúde, até
dezembro de 2013, estavam em funcionamento 114 equipes de Consultórios
na Rua (CR) e a perspectiva era de implantação de mais 92, no ano de 2014.
O projeto Caminhos do Cuidado teve início em março de 2013,
tendo como principais apoiadores o Ministério da Saúde, o Departamento de
Gestão da Educação na Saúde, através da Fundação Osvaldo Cruz
(FIOCRUZ) e do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) com oferta de
capacitação e formação em saúde mental, crack e outras drogas para um
total de 290.197 Agentes Comunitários de Saúde (ACSs). Tendo por base a
perspectiva da redução de danos e da promoção da saúde, o projeto aborda
como temática na formação dentro do Caderno do Aluno, a Formação em
Saúde Mental (Crack, Álcool e outras drogas) no Caso n. 6, a Rede de
Cuidado para o determinado jovem em situação de rua que faz uso de crack
e cachaça. Outro material de apoio pedagógico é o Manual sobre o cuidado à
saúde junto à população em situação de rua, de 2012, utilizado para esta
formação e para outras, ofertadas pelo MS.
A qualificação dos Consultórios de Rua teve como uma de suas
principais ações de fomento à realização do I Seminário Nacional de
Consultórios na Rua e Saúde Mental na Atenção Básica: Novas Tecnologias
e Desafios para a Gestão do Cuidado, mês de julho de 2013, em Brasília/DF,
organizado pelo Ministério da Saúde, através do Departamento de Atenção
100 11
Básica (DAB), destinado a gestores e coordenadores estaduais de atenção
básica e saúde mental. O Seminário oportunizou o debate de propostas, para
produção de novas tecnologias de gestão e cuidado em saúde mental, assim
como o espaço para troca de experiências de boas práticas, na organização
do cuidado na atenção básica, ao abordar questões, especificamente,
voltadas para o atendimento da população em situação de rua, com
vinculação às Unidades Básicas de Saúde (UBS), prevendo articulação com
todos os equipamentos do território onde atua.
Por fim, outro ponto crítico que ainda é um desafio para o SUS é a
garantia de acesso da população em situação de rua à rede de atenção
básica de saúde, mesmo que a dificuldade relacionada à impossibilidade de
comprovar residência tenha sido superada, através do uso do endereço do
Centro Pop, ou pela própria previsão legal como se constata abaixo:
"Ainda que seja normatizada pela Portaria GM/MS nº 940, de 28 de abril de 2011, que estabelece em seu Art. 23 que durante o processo de cadastramento, o atendente solicitará o endereço do domicílio permanente do usuário, independentemente do Município em que esteja no momento do cadastramento ou do atendimento. § 1º Não estão incluídos na exigência disposta no caput os ciganos nômades e os moradores de rua, em geral a regra não é cumprida como prevista, impedindo o acesso". (ONU, 2014, p.24).
Ministério da Educação
A alfabetização é direito básico fundamental e de grande
importância para a construção da cidadania dos indivíduos, em especial
naquilo que se refere à inclusão social e geração de trabalho e renda. Deste
modo, a política setorial de educação tem seus reflexos diretos sobre a
efetivação dos direitos de moradores de rua, cabendo ao Ministério da
Educação construir propostas que priorizem o acesso da população em
situação de rua a programas e projetos de educação escolar, a fim de reduzir
o analfabetismo, ampliando a escolarização e ofertando o ensino
profissionalizante.
A pesquisa Nacional da População em Situação de Rua, já
apresentada acima, aponta características que indicam grandes carências no
campo da educação, em meio à população de rua. O analfabetismo é
elevado e contribui tanto para as dificuldades de superação dessa condição,
101 11
quanto para o desfecho da evasão escolar e dificuldade de inclusão social e
econômica pelas exigências do mundo do trabalho.
Quanto à educação profissional, o Decreto n° 7.053/09, no artigo
5°, parágrafo XIV tem como um de seus princípios "disponibilizar programas
de qualificação profissional para as pessoas em situação de rua com o
objetivo de proporcionar o seu acesso ao mercado de trabalho". Assim, o
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC),
criado pelo governo federal em 2011, consistindo em ação que compõe o
Plano Brasil Sem Miséria, para inclusão social dos beneficiários do Cadastro
Único, teve sua primeira versão para população em situação de rua. O
município de São Paulo em parceria com o Ministério da Educação e com
Serviço Nacional da Indústria (SENAI) ofertaram cursos para as turmas
exclusivas de população em situação de rua. No ano de 2013 foram 282
matrículas, distribuídas em 15 turmas, nos cursos de Almoxarife, Auxiliar
Administrativo, Eletricista, Manipulador de Alimentos, Mecânico de Motor a
Diesel, Padeiro, Pedreiro e Aplicador de Revestimento Cerâmico. Do total de
282 matrículas, 115 alunos foram certificados, representando 74,5%.
"Considerando que a Política Nacional para a População em Situação de Rua, instituída pelo Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, em seus objetivos prevê disponibilizar programas de qualificação profissional para as pessoas em situação de rua, com o objetivo de propiciar o seu acesso ao mercado de trabalho; Art. 5º O Pronatec Pop Rua tem como finalidade assegurar a oportunidade de qualificação profissional às pessoas em situação de rua identificadas pelos órgãos estaduais, distrital e municipais que desenvolvem políticas e ações destinadas a esse público, objetivando a sua inserção no mercado de trabalho. § 1º Podem ser unidades demandantes os órgãos estaduais, distrital e municipais que desenvolvem políticas e ações destinadas à população em situação de rua, os quais devem observar os termos do termo de adesão a ser celebrado com a SDH/PR. § 2º Os cursos do Pronatec Pop Rua devem ser adequados ao perfil da população em situação de rua, objetivando a sua inserção no mercado de trabalho, a partir do levantamento de demanda realizado pelas unidades demandantes."(PORTARIA Nº 693 de 25 de novembro de 2014).
Ministério das Cidades
A política habitacional brasileira demonstrou avanços ao
contemplar a população de rua de forma prioritária, conforme preconiza a
Portaria n° 414/10. A nova redação do subitem 4.2.2, do Anexo da Portaria
MCidades n° 140, de 5 de abril de 2010, dispõe sobre os parâmetros de
102 11
priorização e o processo de seleção dos beneficiários em condição de rua do
Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). No entanto a referida portaria
foi revogada pela Portaria MCidades nº 595, de 18 de dezembro de 2013.
Outro momento importante, para construir propostas no âmbito do
Ministério das Cidades foi a realização do Seminário de Habitação de
Interesse Social para a população em situação de rua, 24 e 25/09/2013,
Brasília/DF, que promoveu um debate aprofundado e produtivo, conforme é
possível constatar, no relatório gerado no evento. Os trabalhos dos
participantes resultaram em 22 (vinte e dois) encaminhamentos organizados
em quatro eixos: I. Inserção da população em situação de rua nas políticas
habitacionais; II. Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS);
III. Metodologia específica para a população em situação de rua no trabalho
social na habitação297; e IV. Estigmas e invisibilidade da população em
situação de rua no acesso aos programas habitacionais. O direito à habitação
não se limita à obtenção do imóvel em si e contempla, igualmente, as
relações de significado do lar, importância da privacidade da vida íntima e do
asilo inviolável30.
O encontro teve como um de seus desdobramentos a
possibilidade de priorização da Pop Rua no Programa Minha Casa, Minha
Vida, através da Portaria nº 595, de 18 de dezembro de 2013. O documento
fala sobre diversos critérios para a seleção de pessoas contempladas com as
unidades habitacionais. No tocante às PSR, a mesma mantém o grupo
populacional dentre aqueles que devem ser priorizados para o acesso,
conforme o texto abaixo:
"4.2.3 O ente público ou entidade organizadora poderão, ao estabelecer os critérios adicionais, contemplar critérios de territorialidade ou de vulnerabilidade social, priorizando candidatos: a) que habitam ou trabalham próximos à região do empreendimento, de forma a evitar deslocamentos intra-urbanos extensos; b) que se encontrem em situação de rua e recebam
29 A habitação de interesse social alia o trabalho intersetorial das secretarias de habitação e assistência social. Tem função de trabalhar, com os beneficiários das unidades, o significado simbólico individual e coletivo da moradia, trazendo grande influência nas condições subjetivas e objetivas de vida dos beneficiários. 30 8. CF 88 - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência).
103 11
acompanhamento sócio assistencial do DF, estados e municípios, bem como de instituições privadas sem fins lucrativos, que trabalhem em parceria com o poder público" (PORTARIA Nº 595 de 18 de dezembro de 2013).
Ministério do Trabalho e Emprego
Sob coordenação da Casa Civil, mais precisamente da Sub-chefia
para Assuntos Jurídicos, a lei que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos é marco na organização da força de trabalho de boa parte da
população em situação de rua, no território nacional. No ano de 2010, após
amplo debate entre governo, universidades, setor produtivo e entidades civis,
é promulgado o marco histórico da gestão ambiental no Brasil, a lei que
estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos, com constituição
vanguardista, no enfrentamento dos problemas relacionados ao lixo urbano.
Tomada como princípio a responsabilidade compartilhada entre o setor
público, a sociedade civil e as empresas, a nova legislação traz como
novidade o viés social relacionado à atividade de reciclagem. Essa lei
contempla parcela da população de rua organizada que tem como atividades
de trabalho a função de catador. Essa medida é de grande importância, pois
27,5% da população de rua tem como trabalho a atividade de catador (a).
"A força de trabalho que faz a separação dos materiais recicláveis atinge aproximadamente 1 milhão de pessoas no Brasil, incluindo aqueles que percorrem as ruas das cidades para a coleta com suas carrocinhas."(CEMPRE, 2010, p.3).
"Na base da pirâmide, situam-se os catadores autônomos e informais, sujeitos à exploração por atravessadores que revendem os materiais recicláveis para sucateiros de maior porte ou para a indústria. No final dessa cadeia, o preço pode ser quatro vezes superior ao inicialmente pago aos carroceiros"(CEMPRE, 2010, p.3).
A política setorial do trabalho e emprego é uma estratégia que
mereceu atenção por parte do CIAMP-Rua. A Secretaria Nacional de
Economia Solidária (SENAES) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) é
a principal referência para o debate sobre o tema, em relação à população
em situação de rua. A SENAES teve ações específicas pactuadas com a
população em situação de rua, sendo que no ano de 2013, disponibilizou
$7.000.000,00 (sete milhões de reais), para projetos de inclusão
104 11
socioeconômica da população em situação de rua, por meio de iniciativas
econômicas solidárias.
A manutenção dos projetos de Economia Solidária, para inclusão
socioeconômica da população em situação de rua foi tema de reunião do
ministro do Trabalho, com representantes do Conselho Nacional de Direitos
Humanos (CNDH), realizada em Brasília (DF), em 20 de julho de 2016. No
encontro foram avaliadas as ações desenvolvidas pelo Ministério do
Trabalho, por meio do Programa Nacional de Associativismo e
Cooperativismo Social (Pronacoop Social), que desde 2013, já destinou mais
de dez milhões, para atender 4,2 mil pessoas em situação de rua.
O ministro afirmou que o programa será aprimorado e terá caráter
emancipatório. O coordenador-geral dos Direitos da População em Situação
de Rua da Secretária de Direitos Humanos (SDH), sugeriu que o Pronacoop
Social seja uma política pública continuada para que, no futuro, seja
expandido para todo o Brasil. Pronacoop social – O Programa Nacional de
Associativismo e Cooperativismo Social foi instituído pelo Decreto nº
8.163/2013 para coordenar ações voltadas ao desenvolvimento das
cooperativas sociais e dos empreendimentos econômicos solidários sociais.
O atual cenário político brasileiro, após o afastamento da presidenta Dilma,
não permite que sejam conhecidas as reais ações que serão desenvolvidas
pelo Ministério do Trabalho, nem mesmo se será mantido o planejamento
referente à manutenção do investimento, na área, para o segmento.
Considerando que um dos principais elementos da condição de rua é a
relação precária com o mundo do trabalho, as incertezas denotam, no
mínimo, incoerências.
Ministério Esportes e Lazer
O ministério dos Esportes e Lazer não apresentou ações
planejadas na área, no Plano de Ações Articuladas para Promoção da
Cidadania da População em Situação de Rua de 2012, assim como nos anos
seguintes; assim, a participação do ministério configurou-se de forma
irregular, nas reuniões do CIAMP-Rua. No Planejamento do CIAMP-Rua
realizado em julho de 2013 no Objetivo 1: Incentivar e apoiar a organização
da PSR e sua participação na consolidação da PNPR estava prevista a
105 11
criação de um Grupo de Trabalho para articular e organizar apoio dos
Ministérios dos Esportes e Lazer e Cultura às demandas, na área, para a
população em situação de rua, com a reserva de financiamento especifico
para o tema, no entanto o grupo de trabalho não teve avanço na articulação.
O tema dos esportes retornou à agenda pública em decorrência da
Copa do Mundo de Futebol em 2014, trazendo novamente a população de
rua para a agenda do CIAMP-Rua. No entanto, é uma pauta negativa que
decorre da preocupação que a realização dos eventos esportivos provoque
violação de direitos, despejos forçados e higienização social para atrair mais
turistas. A partir desse debate a população em situação de rua entrou na
Agenda de Convergência Proteja Brasil: Promoção, proteção e defesa dos
direitos de crianças e adolescentes em grandes eventos, lançada em agosto
de 2012 pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República,
agregando essa população vulnerável às violações de direitos à pauta e
compondo o Comitê Nacional da Agenda de Convergência.
Ministério da Cultura
As ações referentes à cultura não estão consolidadas, fator que
exige urgência no estabelecimento de diálogo junto ao Ministério
responsável. No documento Ações Articuladas para Promoção da Cidadania
da População em Situação de Rua, elaborado em 2012, estavam previstas
duas ações para o eixo:
a) Implementação de equipamentos culturais – cineclubes Cine
Mais Cultura e/ou Pontos de Leitura – nas casas de acolhimento para
população em situação de rua. A meta para 2013 era uma casa de
acolhimento por Estado;
b) Capacitação de entidades culturais para atendimento à
população em situação de rua, em parceria com casas de acolhimento. A
meta para 2013 era selecionar e conveniar 01 (um) Ponto de Cultura, para
formação de entidades culturais (pelo menos 30 entidades, sendo uma de
cada região do país) para atendimento à população em situação de rua. Em
2014, 30 entidades culturais serão capacitadas, também em parceria com
casas de acolhimento.
106 11
Ambas as metas não foram alcançadas, mesmo com a inclusão
delas no Plano de Ações de 2012, reforçando a afirmativa da necessidade de
diálogo e busca de propostas no intuito de possibilitar a existência de
equipamentos para que essa população se aproprie dos meios de produção
cultural, protagonizando suas narrativas, estéticas e visões de mundo.
Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão
Considerando a demanda histórica do Movimento Nacional da
População de Rua e a determinação do Decreto n° 7053/09, art. 7°, parágrafo
III de “instituir a contagem oficial da população em situação de rua, ” a
Coordenação do CIAMP-RUA, através da CGDPSR/SDH/PR articulou com o
IBGE, instituto vinculado ao Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão
(MPOG), a realização da pesquisa-teste sobre a População em Situação de
Rua no município do Rio de Janeiro. Tal pesquisa-teste visou alcançar o
objetivo da PNPR da inserção deste grupo populacional no Censo Nacional
de 2020. O reconhecimento das características das pessoas em situação de
rua possibilita a construção de ações, programas e projetos coerentes com a
realidade, cooperando com elementos que fortalecem a implementação da
PP.
No ano de 2012 foi constituído o Grupo de Trabalho Pop Rua-
IBGE em 2012, composto por Instituto Brasileiro de geografia e Estatística
(IBGE), Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), SDH/PR,
Ministério das Cidades, Ministério da Educação, Ministério da Saúde,
Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério do
Trabalho e Emprego, Organização Auxílio Fraterno, Universidade Federal de
São João Del Rei, Movimento Nacional da População de Rua, Pastoral
Nacional e Fórum da Rua do Rio de Janeiro. Nestes moldes, foi realizada
articulação junto à Secretaria Geral da Presidência da República, Ministério
do Planejamento e Casa Civil. A intenção da criação do grupo foi assegurar a
participação do IBGE, no sentido de inclusão da população em situação de
rua no Censo Nacional de 2020.
Na intenção de viabilizar a inserção da PSR no Censo 2020, foram
realizadas quatro reuniões do GT Pop Rua - IBGE em 2013, nas quais foi
discutida a proposta de questionário, posteriormente validado pelo CIAMP-
107 11
Rua. Em outubro de 2013, foi pactuada a versão final do questionário, na
sede do IBGE, com a presença de representantes do GT IBGE - Pop Rua,
técnicos e dirigentes do IBGE, no Rio de Janeiro. Representantes do GT
IBGE participaram, ainda, de atividade de capacitação dos técnicos do IBGE
responsáveis pela aplicação dos questionários, em novembro de 2013, no
Rio de Janeiro.
A pesquisa prévia teve como objetivo testar o questionário e a
abordagem da temática, pelos técnicos do IBGE. Instrumento e capacidade
técnica de abordagem foram avaliados pelo grupo de trabalho, na intenção
de minimizar falhas no contato com o público alvo. Na época, foram feitas
100 entrevistas, com pessoas em situação de rua em unidades de
acolhimento especificas e nas ruas, com apoio de voluntários experientes em
abordagem de pessoas em situação de rua. Neste caso, o IBGE primou pela
preocupação de que os indivíduos estivessem solícitos e fossem respeitados
em suas características, consistindo a abordagem em elemento importante
para a coleta de dados.
Ministério Público
A articulação entre SDH/PR, CNDDH, CIAMP-Rua com o
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) resultou em ações
importantes, como o Encontro Nacional do Ministério Público em defesa da
população de rua, promovido, em abril de 2014, pela Comissão de Defesa
dos Direitos Fundamentais e pelo Fórum de Articulação das Ações do MP, na
Copa do Mundo, do CNMP.
No referido encontro foram divulgados o documento Diretrizes de
atuação do Ministério Público Brasileiro em Defesa das Pessoas em Situação
de Rua durante a Copa do Mundo de 2014, a Semana de mobilização
nacional em defesa das pessoas em situação de rua e a adesão do CNMP à
campanha Eu sou morador de rua e tenho direito a ter direitos, promovida
pela SDH/PR, através do CNDDH.
Em termos de implementação, a PNPR enfrenta um momento de
incertezas, em relação à continuidade nos moldes construídos. Com a
mudança no governo federal, e considerando que os elementos de poder são
independentes dos demais, a continuidade das reuniões do CIAMP-RUA, dos
108 11
programas e projetos nos diferentes eixos podem apresentar significativas
transformações. Os valores e ideias do atual governo ainda não foram
percebidos a ponto de mobilizar atuação dos atores sociais e epistêmicos. No
presente momento, dez municípios,31 o Distrito Federal e quatro estados
aderiram ao termo que formaliza sua participação sob os princípios e
organização do decreto 7053/2009, mas a adesão de novas cidades fica
agora a critério da nova lógica governamental federal.
2. Análise das diretrizes, objetivos e princípios do decreto 7053/2009
Os princípios estipulados pelo Decreto são:
"Princípios I - Promoção e garantia da cidadania e dos direitos humanos; II - Respeito à dignidade do ser humano, sujeito de direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais; III - Direito ao usufruto, permanência, acolhida e inserção na cidade; IV - Não-discriminação por motivo de gênero, orientação sexual, origem étnica ou social, nacionalidade, atuação profissional, religião, faixa etária e situação migratória; V - Supressão de todo e qualquer ato violento e ação vexatória, inclusive os estigmas negativos e preconceitos sociais em relação à população em situação de rua."
(BRASIL,2009e, p.2).
No texto acima é perceptível que os princípios se referem
textualmente ao direito de uso e permanência do ambiente urbano,
abarcando um dos principais pontos de discriminação sofrido por essa
população, que é a crítica ao uso/permanência dos/nos espaços coletivos
públicos como locais de vivência da intimidade. Especialmente, nos casos de
indivíduos “no trecho”, a política de circulação dos corpos é prática
recorrente, sendo efetivada através de mecanismos que impedem a
vinculação aos serviços e impedem a permanência nas cidades.
A gestão dos corpos por parte do poder público e as práticas
higienistas têm parcela de suas justificativas no clamor popular pela limpeza
desses espaços, tendo como base os padrões de asseio que emanam das
normas sociais vigentes. Dispositivos de circulação e fixação de corpos são
elementos que ilustram as consequências do impedimento ao direito humano
de uso da cidade, culminando com a exclusão do indivíduo de seu território
ou na limitação de participação apenas nos espaços designados a essa
31 Anexo Nº VIII - Relação de municípios e estados que aderiram a PNPR.
109 11
população. Os corpos são percebidos pela sociedade e poder público como
abjetos, devendo ser escondidos, esterilizados ou exterminados.
As diretrizes e os objetivos da PNPR reforçam o caráter de
promoção da dignidade da pessoa humana coerentes com o preceito de que
direitos sociais são direitos de cidadania, referidos nos princípios da PNPR,
que em seu inciso V fala da supressão de comportamentos violentos e
vexatórios:
“Diretrizes I - Implementação de políticas públicas nas esferas federal, estadual e municipal, estruturando as políticas de saúde, educação, assistência social, habitação, geração de renda e emprego, cultura e o sistema de garantia e promoção de direitos, entre outras, de forma intersetorial e transversal garantindo a estruturação de rede de proteção às pessoas em situação de rua; II - Complementaridade entre as políticas do Estado e as ações públicas não estatais de iniciativa da sociedade civil; III - Garantia do desenvolvimento democrático e de políticas públicas integradas para promoção das igualdades sociais, de gênero e de raça; IV - Incentivo à organização política da população em situação de rua e à participação em instâncias de controle social na formulação, implementação, monitoramento e avaliação das políticas públicas, assegurando sua autonomia em relação ao Estado; V - Alocação de recursos nos Planos Plurianuais, Leis de Diretrizes Orçamentárias e Leis Orçamentárias Anuais para implementação das políticas públicas para a população em situação de rua; VI - Elaboração e divulgação de indicadores sociais, econômicos e culturais, sobre a população em situação de rua; VII - Sensibilização pública sobre a importância de mudança de paradigmas culturais concernentes aos direitos humanos, econômicos, sociais e culturais da população em situação de rua; VIII - Incentivo à formação e à capacitação de profissionais para atuação na rede de proteção às pessoas em situação de rua; além da promoção de ações educativas permanentes para a sociedade; IX - Ação intersetorial para o desenvolvimento de três eixos centrais: a garantia dos direitos; o resgate da auto-estima e a
reorganização dos projetos de vida."(BRASIL, 2009e, p.2).
As diretrizes reforçam o aspecto intersetorial da PNPR, reflexo da
complexidade do fenômeno. Este elemento é retomado ao longo de todo o
texto do Decreto, evidenciando a composição complexa da política. A
colaboração entre as esferas pretende estabelecer uma relação de
solidariedade, considerando que é em âmbito local que se efetiva a
implementação, mas é da esfera federal que emanam as principais
normativas. Nesse processo, a garantia de orçamento deve ocorrer com a
previsão de reserva de recursos para as ações afetas à política para a
população de rua, entendendo que sua continuidade está condicionada a
este aspecto.
110 11
Os policymakers se encarregaram dos aspectos orçamentários por
serem, então, condição para a continuidade das ações a médio e longo
prazo, impactando sobre o planejamento e a implementação.
A participação da sociedade civil é evidenciada, ao longo da
política, em diversos momentos, estando reforçada em suas diretrizes. O
controle, monitoramento e participação da sociedade civil são tema dos
incisos IV e VII, que, além da propositura, de participação da mesma nos
ciclos da política pública, faz um apelo à sensibilização pública, sobre a
importância de mudança de paradigmas culturais concernentes aos direitos
humanos, econômicos, sociais e culturais desta população.
As diretrizes da PNPR, em seu inciso primeiro, evidenciam a
segurança de acesso aos serviços e programas que integram os setores
envolvidos, reforçando a ideia de que o elemento de dignidade terá
completude, se assegurados os eixos representantes de direitos. A contagem
regular da população de rua, nas três esferas de governo, é outro ponto
significativo, apontando para a disseminação de dados e indicadores, como
medida para aprimorar a política e consequentemente minimizar as
vulnerabilidades inerentes ao contexto de rua. A capacitação regular dos
trabalhadores e agentes públicos é coerente com o desenvolvimento de
ações educativas que fomentem a cultura do respeito, valendo, também, para
a sociedade como um todo, não apenas para os burocratas de nível de
rua32. O fomento às pesquisas referentes a esse público é objetivo
igualmente descrito, coerente com as aquisições inerentes à pesquisa e sua
repercussão, na execução das políticas públicas envolvidas.
O acesso aos benefícios previdenciários, as melhorias estruturais
e técnicas, nas unidades de atendimento, e o acesso a programas de
qualificação profissional dão indícios da preocupação dos policymakers com
a questão do acesso às oportunidades de trabalho. A relação entre a
32 Termo designado pioneiramente por Michael Lipsky para denominar uma classe específica da estrutura burocrática dos governos contemporâneos. Estas burocracias possuem características específicas que as distinguem e as fazem, assim, um grupo analiticamente coeso para os estudos sobre práticas burocráticas, governança e políticas públicas. Alguns exemplos são: policiais, professores, agentes de saúde, assistentes sociais, agentes de fiscalização, entre outros. Michael Lipsky (1976) elucida que estes profissionais são uma espécie de representantes do Estado contemporâneo perante as pessoas e, por isso, são atores considerados estratégicos para a compreensão da realidade das políticas públicas, atualmente
111 11
condição de rua e exclusão do mercado de trabalho precisa ser entendida
como um dos pontos fundamentais, para a superação da problemática
sendo, portanto, contemplada nos objetivos da PNPR.
No seu texto, a Política Nacional para a População em Situação
de Rua institui também o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e
Monitoramento da Política para a População em Situação de Rua, espaço de
debate e acompanhamento das ações relacionadas aos programas, projetos
e serviços o governo na esfera federal. A composição do CIAMP-Rua segue
o que preceitua o art. 9 do Decreto n° 7053/09, considerando, em sua
composição, representantes da sociedade civil e um representante e
respectivo suplente de cada órgão a seguir descrito:
''I- Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; II-Ministério Desenvolvimento Social e Combate à Fome; III- Ministério da Justiça; IV- Ministério da Saúde; V- Ministério da Educação; VI - Ministério do Trabalho e Emprego; VII - Ministério das Cidades; VIII- Ministério do Esporte; IX-Ministério da Cultura;''
Cabe assinalar, que no Decreto, são indicados nove Ministérios
para a composição do CIAMP-Rua e nove políticas públicas envolvidas na
composição dos eixos estratégicos. Embora haja nove ministérios, na
indicação de composição do CIAMP-Rua, a proposta de ações, conforme as
orientações da SNDH, é composta por oito eixos de base para a construção
de ações estratégicas33. As ações concretas foram balizadas por debates
realizados no âmbito do Grupo de Trabalho Interministerial sobre População
em Situação de Rua, cuja implementação constitui desafio para toda a
sociedade brasileira, tanto para os gestores governamentais, quanto para a
sociedade civil, devendo as mesmas serem detalhadas em programas,
planos e projetos dos Ministérios e órgãos, contendo estratégias e
mecanismos de operacionalização.
Cláusula segunda – das áreas de atuação e compromissos gerais:
33 A proposta de oito eixos básicos de atuação foi redigida pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, na intenção de indicar um conjunto minimo de ações para discussãoi e implantação nos municípios e estados. Tal abordagem consta em docuemnto produzido no ano de 2008, constante na bibliografia indicada neste trabalho.
112 11
"A política nacional para população em situação de rua de natureza intersetorial exige ação conjunta das seguintes políticas públicas: direitos humanos, segurança pública e justiça, trabalho e emprego, desenvolvimento urbano e habitação, assistência social, educação, segurança alimentar e nutricional, saúde, cultura, esporte e lazer. Constituem as prioridades e compromissos eleitos pelos partícipes celebrantes deste Termo: I - Consolidação e implementação da Política Nacional para a População em Situação de Rua; II - Proteção e promoção dos direitos humanos das pessoas em
Situação de Rua; e III - Combate à violência" (BRASIL, 2009e.p. 2).
O termo de convênio, referido acima, é citado pela PNPR em seu
artigo segundo e seu conteúdo dá indícios do grau de comprometimento que
os envolvidos na construção da política intencionaram ao construir o decreto.
Dessa forma, a cláusula terceira do Termo de Adesão se refere aos
compromissos a serem assumidos pela União e pelos Municípios que
efetuarem a adesão:
"Cláusula terceira – das obrigações dos partícipes: Para
consecução do objeto neste Termo comprometem-se os Partícipes:
I - União, por intermédio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República: a) assegurar o cumprimento das ações e o alcance dos objetivos estabelecidos na Política Nacional para a População em Situação de Rua; b) coordenar a implementação das ações da Política junto aos órgãos federais que integram a Política Nacional; c) elaborar, em conjunto com o MUNICÍPIO, plano de trabalho com detalhamento das ações da Política a serem implementadas e cronograma de execução; d) monitorar, juntamente com o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua e o Comitê Gestor Intersetorial, as ações da Política no MUNICÍPIO; e) dar publicidade às ações do MUNICÍPIO sobre a Política Nacional para População em Situação de Rua. II- MUNICÍPIO: a) garantir a sustentabilidade das ações; b) elaborar a Política Municipal para População em Situação de Rua em conjunto com o Comitê; e c) promover a constituição e o fortalecimento da rede de atendimento à População em Situação de Rua, em situações de violência, no âmbito municipal; d) instituir comitê gestor intersetorial, integrado por representantes das áreas relacionadas ao atendimento da população em situação de rua, com a participação de fóruns, movimentos e entidades representativas desse segmento da população, conforme o constante do Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009; e) implementar o plano de trabalho com detalhamento das ações da Política a serem
implementadas de acordo com cronograma de execução."(Brasile, 2009.p2)
O inciso 1° do art. 9 do mesmo Decreto, prevê que a composição
da sociedade civil terá nove representantes, titulares e suplentes, sendo cinco
de organizações de âmbito nacional da população em situação de rua e quatro
113 11
de entidades que tenham, em suas atividades, a finalidade de trabalho com a
população em situação de rua. A ampla e constante participação da sociedade
civil é uma das marcas dessa política pública, considerando que os elementos
que constituem o fenômeno têm suas bases nas relações sociais, na
desigualdade e nas lacunas da garantia de direitos, que ao serem subtraídos
implicam na condição de desfiliação desta população.
Quanto as funções da união e dos municípios, as bases de
referência de âmbito federal são executadas em nível municipal e, para isso,
os municípios contam com a previsão legal de suporte federal para
construção dos planos e monitoramento da implementação da política, além
da responsabilidade federal em assegurar o cumprimento das ações. No
caso da MRL, a parceria estabelecida pela adesão à política não se
formalizou em nenhum dos oito municípios, e a interpretação da norma
permite a reflexão de que as exigências estão postas para aqueles que de
fato aderirem. A adoção do modelo do decreto como parâmetro de execução
da PP, para o público em questão, mesmo que sem a formalização do
compromisso entre as esferas, seria uma alternativa de transição até que os
municípios pudessem, de fato, pactuar com o governo federal a adesão
formal à PNPR.
114 11
CAPITULO IV - A PNPR na MRL
1.1. A implementação da PNPR na MRL
A análise do ciclo de políticas públicas na Microrregião de Limeira
evidencia que política pública é tudo o que o Estado faz, mas também aquilo
que não faz. Se a PNPR, nos moldes estabelecidos pelo Decreto nº 7053 for
o parâmetro de análise, ela se funda na ausência. De fato, nenhum dos oito
municípios formalizou a adesão à PNPR, através da assinatura do termo que
estabelece os limites para a implementação da política para população de
rua, no âmbito municipal.
"O presente Termo tem por objeto manifestar a intenção dos partícipes de estabelecer um regime de colaboração mútua para execução de ações integradas visando à implementação da Política Nacional para a População em Situação de Rua, conforme o disposto no Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009. O ente federativo, partícipe deste termo de adesão, se compromete com os princípios, diretrizes e objetivos da Política Nacional para a População em Situação de Rua" (TERMO DE ADESÃO À PNPR, http://www.rcdh.es.gov.br/sites/default/files/PolitNacPopRua%20MODELO% 20 Termo%20Adesao%20MUNICIPIO.pdf).
A não adesão à PNPR não implica inexistência de atuação voltada
ao público alvo e é neste ponto em que a análise da MRL é tomada por
aquilo que o Estado faz. A não adesão não é sinônimo da falta de ações,
programas e projetos, da mesma forma que não é sinônimo de inexistência
de articulação, embora seja constatada a prioridade da execução de
atividades, através do eixo da assistência social. O que se observa, na
região, é uma abordagem centrada em uma única política pública, diferente
da proposta intersetorial federal do Decreto 7053/2009:
“Art. 3o Os entes da Federação que aderirem à Política Nacional para a População em Situação de Rua deverão instituir comitês gestores intersetoriais, integrados por representantes das áreas relacionadas ao atendimento da população em situação de rua, com a participação de fóruns, movimentos e entidades representativas desse segmento da população."
A primeira constatação analítica é que a implementação da PNPR
não ocorre, na MRL, nos moldes formalmente estipulados, apesar da
existência de unidades de atendimento especifico, com serviços distintos,
nos moldes estipulados pela PNAS, no que diz respeito aos espaços de
115 11
oferta de serviços, nos serviços efetivamente executados e nos recursos
humanos que os efetuam.
A abordagem centrada em uma única política pública pode, em
alguns casos, ser entendida como uma negativa de acesso a políticas, isto
porque os indivíduos, em condição de rua, devem ter os direitos afirmados
através das mesmas, no percurso de reconstrução de suas vidas e de laços
familiares e comunitários, como forma de retomar os elementos básicos da
dignidade humana.
Quais seriam os motivos implicados na MRL, para que essa
realidade se confirme de tal forma, mesmo que a PNPR tenha sido criada no
mesmo período em que as ações da PAS se consolidaram, quanto ao
atendimento das pessoas em condição de rua? Ao repassar a história da
recente criação do Decreto 7053/2009, a passagem da centralidade no eixo
da assistência social para o entendimento intersetorial pode ser entendida
como evolução necessária, considerando a complexidade do fenômeno. A
composição de uma política pública de dimensão intersetorial requer tal como
acontece em geral na formulação das políticas públicas, um conhecimento
sólido, pautado em informações adequadas sobre o problema. Estas
políticas, embora com objetivos e foco na realidade local e regional,
compõem uma dimensão nacional e intersetorial, embora na realidade da
MRL tenha se constituído como um conjunto de ações de tipo monopolítica e
de baixa integração intersetorial.
Com aplicação dos insrtumentos de pesquisa emerge nos
discursos dos trabalhadores das unidades pesquisadas uma mensagem
comum, cujo conteúdo se refere às dificuldades de estabelecer fluxos de
ações e encaminhamentos com os demais setores públicos. Em alguns dos
municípios esse elemento foi responsável por sérios constrangimentos das
equipes, como foi relatado em Leme, pelos profissionais que responderam à
pesquisa, por exemplo. Segundo informações coletadas, a existência de uma
profissional que desenvolvia ações destinadas à população de rua dentro do
eixo da saúde gerou nos demais profissionais da política sérios desconfortos,
justificados pelo entendimento de que "aquele público" era alvo da PAS, não
da Secretaria da Saúde.
116 11
Pode-se inferir da experiência de Leme a ideia, ainda vigente, de
que pessoas em situação de rua pertencem a algum lugar e esse é o lugar
do clientelismo e da dependência, construído no imaginário coletivo de que a
pobreza, a exclusão e a desfiliação são demandas inerentes apenas à
política de assistência social. O desfecho do caso se deu com a cedência da
profissional para a PAS, onde mais uma vez encontrou resistências. Seu
entendimento teve como base a ideia de que as pessoas não querem
trabalhar com esse tema, não querem trabalhar com essas pessoas. No
momento em que foi realizada a pesquisa de campo, a profissional era a
única trabalhadora a lidar com a temática, no entanto, sua postura era de
incluir ações de saúde, no campo da assistência social. De fato, esse era o
local de onde executava suas ações, seu campo de atuação, mas nele não
havia espaço para atender à população em situação de rua, nem para os que
trabalhassem no seu atendimento.
Pessoas em condição de rua são, historicamente, direcionadas
como clientela da assistência social. Essa abordagem da política de
população de rua evidencia um desacordo flagrante com a ideia manifesta na
PNAS, que teve suas bases históricas na caridade, mas que, na atualidade,
se constitui em política pública organizada, complexa e cuja efetividade
depende da relação necessária com outras políticas públicas. Neste sentido,
a incapacidade da política de saúde de Leme para entender sua
responsabilidade em relação às pessoas em condição de rua ilustra uma
prática que é comum a todos os municípios da MRL, com exceção do
município de Pirassununga, cuja atuação é diferenciada.
A concepção que fundamenta a PNPR e o diagnóstico do
problema social da população de rua são de natureza interdisciplinar, uma
vez que o tema em foco é complexo e requer múltiplas contribuições de
diferentes áreas de conhecimento. A implementação e a execução desta
política pública devem ser, por tanto, de tipo intersetorial. Ao contrário,
quando se aborda a população de rua como “mendigos”, emerge a ideia de
que “mendigos merecem caridade” e, sendo a caridade objeto da concepção
assistencialista ainda hoje relacionada à Política de Assistência Social, é fato
que denota uma concepção distorcida das características tanto da política,
quanto do público.
117 11
Araras, Conchal, Cordeirópolis, Leme e Limeira manifestaram as
resistências que enfrentam junto às demais políticas públicas municipais ao
demandarem serviços públicos nos demais eixos. Essas cidades informaram,
também, a existência de resistências dentro da própria PAS, no âmbito da
PSB. Nesse sentido, o que se percebe é que os lócus de pertencimento dos
direitos da população de rua são única e exclusivamente da PSE,
restringindo ainda mais a visão sobre acesso a direitos. O município de
Pirassununga, no entanto, apresenta uma realidade diferenciada, apesar de
distante dos limites propostos pela PNAS.
Articulando ações no campo da segurança alimentar, saúde,
habitação e educação, Pirassununga, dentre os oito municípios da MRL, é o
que mais se aproxima da gestão intersetorial, havendo inclusive a construção
de fluxos de encaminhamentos e reuniões regulares com outras políticas
públicas. As formalidades de adesão não foram efetuadas, nem a criação de
comitê para gestão integrada, mas as demandas da Pop Rua são atendidas,
também, em outras políticas públicas. Os atores que responderam aos
questionários relatam que ainda devem avançar no sentido de haver maior
adesão das demais políticas públicas e participação da sociedade civil em
relação a suas parcelas de responsabilidades junto a esse fenômeno social,
entendendo que é um processo em curso, que requer uma mudança de
concepção.
Percebe-se, no diálogo com os membros das equipes, que os
burocratas de nível de rua - conceito desenvolvido por Lipsky (1976) -
aqueles que estão sob a lógica bottomup, têm clareza de que a execução
através de um único eixo resulta ineficaz. Uma expressão recorrente ao tratar
desse ponto é "enxugar gelo". A intersetorialidade é um dos princípios da
PAS e os profissionais que a executam têm clareza da estagnação que a
gestão executada por uma unica política promove. Indivíduos não necessitam
somente de teto, alimento e banho, mas também precisam ter a continuidade
nas ações de resgate dos projetos de vida.
Os problemas de implementação na MRL, aparentemente, não
têm origem na falta de clareza dos trabalhadores da assistência social, nem
tampouco na incompletude da PNPR (embora tenha pontos que devam ser
revistos), mas, em grande parte, na interação da proposta do decreto com a
118 11
percepção de direitos adotada pelo Estado na esfera municipal. Aderir ou
não formalmente à PNPR é uma escolha da política municipal, mas atuar
conforme os parâmetros de acesso a direitos é um modelo de gestão sobre o
qual os municípios da MRL apresentam limitações. Isso reforça a ideia de
que a maior parte dos problemas em PP ocorrem na interface da política com
as organizações executoras.
A cooperação entre os trabalhadores deve ser objeto de reflexão,
considerando todos aqueles que fazem parte dos eixos de atuação. O
principal problema encontrado é a não adesão à política nacional e a gestão
monopolitica. Mas, como já referido, ocorre a execução de uma política para
população de rua em molde diverso, onde perduram a tendência, com base
nos dados coletados, a designar à assistência social as responsabilidades
sobre o problema, fator que demanda a mudança de percepção das demais
políticas públicas e dos seus atores. Neste sentido, se observa que para
além da escolha de gestão de cada município, o problema em questão
também tem relação direta com a frágil cooperação entre os participantes de
outros setores (fenômeno observado em seis dos oito municípios, inclusive
em Pirassununga).
Pela lógica do modelo top-down (modelo prospectivo) a
implementação é consequência da estruturação da política e os problemas
de operacionalização decorrem das lacunas na formulação da PP, (Hill,
2007). Essa linha de abordagem foca as responsabilidades nas esferas de
poder, desconsiderando a função dos burocratas de nível de rua. Nesse
modelo, mínima responsabilidade pelo sucesso da política pública é atribuída
aos atores que a executam, sendo que na verdade está relacionada àqueles
que a criaram.
D'ascenzi e Lima (2013) sistematizam quatro tipos de variáveis
que têm influência sobre o sucesso da implementação:
"O primeiro tipo refere-se à natureza do problema alvo da política: a existência de tecnologia de intervenção disponível e acessível, de uma teoria causal válida e o tamanho da população-alvo. O segundo grupo de variáveis são as normativas e referem-se ao grau em que o plano estrutura a implementação. O sucesso da implementação decorre da clareza dos objetivos, pois é imprescindível que os implementadores compreendam perfeitamente a política e saibam exatamente o que se espera deles. Essas questões vinculam-se à maior ou menor possibilidade
119 11
de resistência ao plano. Soma-se a isso a previsão e disponibilidade de recursos, financeiros principalmente. O terceiro bloco alude a variáveis contextuais. O contexto social é comumente relacionado ao apoio do público à política e muitas vezes é considerado uma variável crítica porque esse apoio mostra-se instável e não perdura. O contexto econômico influencia a disponibilidade de recursos, essencial para o sucesso da implementação. O contexto político diz respeito, fundamentalmente, a mudanças de governo e ao apoio das elites. O quarto grupo de variáveis refere-se à organização do aparato administrativo: disponibilidade e qualidade dos recursos humanos e da estrutura organizacional, basicamente" (D'ASCENZI e LIMA, 2013, p.102).
Com relação ao primeiro aspecto, o Decreto federal é a tecnologia
acessível, além da construção em termos federais, em cada setor de ações,
programas e projetos que criam parâmetros de orientação; os elementos que
dão causa ao fenômeno são bastante difundidos, na atualidade, sendo
consequência do acúmulo de conhecimento produzido sobre o tema; o
conhecimento sobre o número de pessoas em situação de rua em cada
município decorre da capacidade de acesso dos usuários aos serviços e de
pesquisas regulares junto às pessoas em condição de rua (dos oito
municípios da MRL, apenas Limeira efetua desde o ano de 2014 a pesquisa
municipal sobre essa população). A inexistência de parâmetro e orientações
não é justificativa para os problemas encontrados na região, ainda mais nos
tempos atuais onde a tecnologia de informação se encontra amplamente
difundida.
A construção de planos municipais no âmbito de PPR é outra
medida não executada pelos municípios analisados. Neste sentido, será
tomado como "plano" o PMAS, sendo necessário pontuar suas limitações.
Embora seja fonte confiável de informações sobre as ações, não as descreve
de forma aprofundada, nem tampouco se concentra no público específico,
em condição de rua. Em consequência, por melhor que possa ser o
planejamento de um município, no tocante à condição de rua no campo da
assistência, ele jamais abarcará os outros setores determinados pelo Decreto
e nesse sentido, a incompletude é característica da política municipal para
população de rua na MRL. Com relação aos recursos financeiros disponíveis
para a execução das ações, boa parte é de destinações federais, repassadas
através de aceites em PSE. Nesse grupo estão contidos aqueles cujo público
alvo é específico ou parcialmente a PR.
120 11
A adesão à política nacional, além das responsabilidades
assumidas pela gestão municipal, também confere linhas de co-
financiamento, inclusão em programas de transferência de renda (estes já
acessíveis através da PAS), acesso a unidades habitacionais, a programas e
materiais no campo de formação e capacitação profissional, dentre outros. A
adesão, neste caso, possibilita complementaridade orçamentária e
aquisições materiais que podem promover a gestão compartilhada também
dos recursos econômicos e de bens. Todavia, a execução baseada em um
único eixo de PP restringe o orçamento somente àquele disponibilizado para
essa PP, sendo, portanto, impedida a execução de ações, nos demais eixos.
De forma geral, o contexto da opinião pública, nas cidades
pesquisadas, dá indícios de que a temática não deva mobilizar ao ponto de
que sejam exigidas ações efetivas para o enfrentamento de fenômeno.
Cidades como Limeira, no ano de 2014 e 2015, caracterizaram a
problemática dentre as três principais a serem enfrentadas pela PAS. A
visibilidade deste público afeta a opinião pública de forma que as solicitações,
em especial das elites, se relacionam às ações higienistas e circulação dos
corpos. Por vezes, as ocorrências de fatos extremos podem trazer maior
interesse público sobre o assunto, mas a problemática mostra um
arrefecimento com o passar do tempo. Esta realidade fala de invisibilidade e
hipervisibilidade, dependendo do enfoque dado. Da sociedade emana o
desejo de não mais enxergar a demanda e, da parte da gestão que
administra as vidas são hipervisíveis, seja pela dinâmica de circulação e
fixação dos corpos que se lhes impõem, seja por funcionarem como alvo de
abordagens constantes pelas forças policiais.
Quanto ao aparato administrativo, a disponibilidade e qualidade
(referente à proposta de capacitação continuada presente na PNPR e na
PNAS) dos recursos humanos será analisada em detalhe no tópico
"configuração das unidades de atendimento". Algumas inferências são
possíveis de antecipar, como o fato de que a gestão monopolítica limita os
recursos humanos da política envolvida, que, no caso em questão, estão
aquém do que as equipes avaliam como necessário (a conformidade dos
mesmos às determinações ministeriais será aprofundada na abordagem das
unidades). Parece evidente que a adesão à PNPR exigiria dos municípios
121 11
uma reformulação na destinação dos recursos humanos das políticas
envolvidas, fator que direcionaria maior investimento humano, implicando em
maior dispêndio de recursos econômicos.
Os formuladores da PNPR não conseguem ter incidência sobre os
processos organizacionais de municípios que não tenham aderido a ela e
mesmo naquelas cidades em que tenha havido a adesão, esse controle é
limitado. O condicionamento da implementação ocorre no âmbito municipal.
Em nível federal há uma implementação naquilo que se refere ao país inteiro
como campo de execução da PNPR, porém é no âmbito dos municípios que
os elementos de controle são efetivamente observados.
Silva e Melo (2000) afirmam que:
“Estudos empíricos revelam um padrão muito distinto, onde prevalece a troca, a negociação e barganha, o dissenso e a contradição quanto aos objetivos. Ao invés de controle, autoridade e legitimidade verifica-se ambiguidade de objetivos, problemas de coordenação, recursos limitados e informação escassa” (SILVA e MELO, 2000, p. 9).
A ambiguidade existente entre os burocratas de nível de rua e
aqueles que detêm o poder de decisão é evidente. Nas pesquisas, com
frequência os profissionais elencavam características da gestão que
entendiam como reflexo das características do Estado em vigência, tal como
a falta de sensibilidade ao tema, associado a um perfil de gestão menos
compromissado com o acesso a direitos. Tal informação dá indícios de que,
nos municípios, em relação à multiplicidade de atores nas diversas
secretarias, ou nas mudanças regulares de chefia do executivo, residem
fatores que impactam negativamente na implementação. Leme, por exemplo,
trocou de prefeito três vezes desde o início do último mandato, fator que
influenciou na descontinuidade das ações, segundo a gestora da PSE.
A influência dos formuladores da PNPR pouco interfere em âmbito
municipal caso não haja a adesão formal. Assim, os limites da influência dos
formuladores de política em nível federal ocorrem menos na realidade das
cidades do que na discricionariedade dos atores que a implementam. As
informações que emergem da aplicação dos questionários indicam
conhecimento das situações locais, dando indícios de que a implementação
da PNPR dependeria principalmente da capacidade dos burocratas de nível
122 11
de rua para sua efetivação. Como já mencionado, há política para população
de rua, apesar de a intersetorialidade não ser sua principal característica é no
cotidiano da execução das ações que são feitas as críticas à gestão34. Tais
características remetem à autoridade informal derivada do conhecimento,
como no caso da profissional entrevistada em Leme, da coordenação da
unidade Centro Especializado em Araras, dos profissionais que responderam
os questionários em Limeira e da gestora de assistência de Cordeirópolis.
Isto demonstra conhecimento das lacunas na oferta de serviços à população
de rua sobre seus municípios.
As decisões tomadas por esses atores constituem a efetiva
implementação da política, para população de rua, nos municípios. Apesar
de não se fazer nos moldes propostos pelo Decreto, ela existe e tem seus
avanços e retrocessos. De fato, apenas o município de Pirassununga
apresentou relativa clareza nos objetivos perseguidos, entendendo a saída
da condição de rua como o resultado esperado. A relatividade diz respeito ao
fato de que a saída da condição de rua não é um objetivo claramente
perseguido pela gestão, com a construção de metas e avaliação dos
resultados, sendo uma consequência parcialmente desenhada no período da
pesquisa. Além disso, a relação entre os eixos da política existe, mas não há
o mesmo grau de compromisso com os resultados voltados à população alvo,
nas demais políticas públicas com as quais tal relação se estabelece.
As condições de trabalho nem sempre atendem à conformidade
necessária; um exemplo claro foi apresentado em Conchal, onde a equipe
que compõe o RH do CREAS não é suficiente para a execução do PAEFI. As
atuações dos profissionais esbarram em elementos de entrave que
impossibilitam a execução de qualidade no eixo da assistência e inviabilizam
a relação intersetorial, pois a mesma escassez de recursos humanos é
vivenciada pelas demais secretarias que compõem os eixos.
O eixo da assistência social segue aprisionado à grande demanda
por seus serviços, fato que desemboca na sobrecarga das equipes por
tentarem suprir lacunas que são inerentes às demais políticas públicas.
34 As análises são centradas nos atores dos níveis organizacionais responsáveis pela implementação. Considera-se que a política muda à medida que é executada, a implementação é percebida como um processo interativo de formulação, implementação e reformulação
123 11
Leme é um bom exemplo disso, pois a gestão opta pela transferência da
profissional de política pública, em vez de envolver e responsabilizar a
política de saúde com aquilo que lhe diz respeito.
Os moradores de rua, sob determinados aspectos, são um grupo
heterogêneo, que mantém relações com o ambiente urbano de rua de forma
que a própria condição se configura como resistência ao controle e
manipulação dos corpos; ao mesmo tempo que são sujeitos incontroláveis,
são alvos fáceis dos mecanismos de controle dos corpos exercido pelo
Estado.
A circulação e fixação, a errância e abjeção, constroem um
fenômeno de contornos variados. Em Limeira, por exemplo, a dificuldade de
acesso ao Centro Especializado de População de Rua faz com que muitos
indivíduos escolham não se relacionarem com outros serviços, ao mesmo
tempo que são abordados necessariamente pelo "serviço de abordagem de
rua".
No que se refere à atuação dos serviços públicos sobre os corpos
desta população, o caráter involuntário é mais evidente, incluindo os órgãos
responsáveis pelas pesquisas censitárias, as abordagens policiais de rotina e
outras atuações que se façam contra a vontade dos sujeitos.
As limitações geram como consequência as incertezas na
execução das atividades dos trabalhadores do eixo da assistência na MRL.
Para lidarem com as incertezas no trabalho são construídos mecanismos que
limitam a demanda, como no caso de Limeira que opta pela prevalência da
entrega de passagens em detrimento do acesso amplo aos serviços que
trabalham efetivamente a superação dos elementos que constituem o
fenômeno. Da mesma forma, Cordeirópolis deixa de atender as demandas de
acolhimento, pela inexistência de unidades de tal natureza; Araras, por sua
vez, executa as tomadas de decisão com base no volume de busca pelos
serviços, optando pela ampliação da oferta, no eixo da assistência. Tais
atitudes remodelam a oferta de serviço, buscando a adaptação dos objetivos
à realidade limitadora.
A discricionariedade dos atores executores nas ações no eixo da
assistência que, pela limitação inerente ao modelo monopolítico para uma
124 11
política intersetorial, acabam por modificar a proposta da PNPR,
permanecendo na execução do tipo eixo único. A modificação do modelo da
PNPR é relativa, pois a existência da gestão monopolítica nos municípios
antecede a criação da PNPR. Isso significa dizer que antes mesmo da
construção pelo Decreto 7053/2009 já havia a execução monopolítica nos
seis municípios visitados.
Quais seriam os fatores que tornam a política voltada ao segmento
da forma que se apresenta na MRL? Por mais que a PNPR tenha sido criada
no mesmo ano em que a tipificação nacional de serviços socioassistenciais
delineou as ações da assistência social destinadas a esse público foi a
escolha dos fazedores de política municipal que construiu o modelo vigente
na região. Neste sentido, burocratas de rua ou fazedores de política têm nas
ideias e valores os alicerces de como fazer.
Apesar de os trabalhadores apontarem para a necessidade da
execução intersetorial da política em questão, os tomadores de decisão, na
esfera municipal, dão indícios de que não compartilham da mesma opinião.
Mesmo em Pirassununga, a decisão pela relação com outros eixos é muito
mais uma consequência da ação e das ideias de alguns profissionais, do que
uma postura institucional.
A inexistência de planos municipais intersetoriais, para população
de rua, reflete a organização do aparato administrativo responsável pela
implementação das ideias, dos valores e das concepções de mundo dos
atores envolvidos. Os planos que existem se configuram como instrumentos
de convênio entre a esfera estadual e municipal, não representando um
plano de ação propriamente dito e dessa forma, pouco servem para a
implementação, principalmente pelo fato de serem voltados a uma única
política pública.
Os efeitos gerados pelas ações, nesse sentido, não encontram um
parâmetro concreto que as norteiem, quanto à implementação, sendo que as
melhorias na oferta ficam prejudicadas se não há clareza nos objetivos
perseguidos. Além do mais, a implementação de um único eixo e a possível
construção de um plano de atuação composto apenas pela política de
assistência social não é o modelo proposto pela PNPR, consistindo em
metodologia de execução limitada e pouco eficaz.
125 11
A PNPR traz em sua constituição intersetorial um modelo de
coalizões de defesa, onde os atores das políticas públicas envolvidas e os
representantes da sociedade civil e iniciativa privada participam de um plano
comum: ofertar serviços, programas, projetos e ações que dêem conta de
auxiliar os indivíduos nessa condição a reconstruir elementos de dignidade,
na intenção de superarem os fatores por ela implicados.
A maior lacuna na MRL diz respeito às falhas na execução de
coalizões, refletindo na execução inadequada a partir das normativas de
referência federal (PNPR) e na limitação da atuação dos atores no eixo
executado, por ser insuficiente para lidar com a complexidade do fenômeno.
A coalizão é o aspecto mais prejudicado, principalmente pelo entendimento
dos atores de que o tema é de propriedade de uma única política pública.
A participação dos atores externos às instituições públicas deixa
de ser abordada, uma vez que a própria sociedade "lava as suas mãos" em
decorrência de haver um "saber encarregado" de cuidar dessas pessoas. Em
âmbito microrregional, a participação dos grupos organizados voltados para o
problema não é mencionada nos relatos decorrentes das aplicações dos
questionários de campo, portanto, se perde a capacidade institucional e da
sociedade civil de exercer pressão e cobrar a efetivação dos direitos da
população de rua associados à PNPR.
A formulação e a implementação de políticas públicas são
elementos interdependentes. Os motivos pelos quais a MRL constrói tal
modelo de atuação em relação ao público alvo em questão é consequência
das ideias, visão de mundo e estratégias dos atores envolvidos nos
contextos locais de ação. A inexistência de um plano descritivo e analítico da
situação de rua, em cada município, é lacuna que dificulta a visibilidade do
que está sendo desenvolvido e dos serviços implementados ou não para
essa população e do caráter imprescindível da intersetorialidade, no
enfrentamento do fenômeno. A normativa federal é clara, mas a
implementação na MRL tem por escolha a execução insuficiente dos
serviços, fator que traz consequências limitadoras da atuação do próprio eixo
implementado.
126 11
2. Análise do eixo de execução "Política de Assistência Social"
O Plano Municipal de Assistência Social (PMAS35) é instrumento
de utilidade dupla: formalização do convênio de gestão compartilhada entre a
esfera Estadual e Municipal e planejamento de execução dos serviços em
suas respectivas unidades, monitoramento da oferta de serviços e
acompanhamento dos benefícios transferidos aos cidadãos, cujos critérios de
repasse tenham sido atendidos. O sistema digital PMAS é caracterizado
como um banco de dados acessível aos municípios, estados e membros de
órgãos públicos ou pesquisadores que necessitem do acesso às informações
afetas à política pública de assistência social. Anualmente, cada município
preenche o sistema com dados referentes ao planejamento de suas ações
para o próximo ano, contemplando previsões de natureza técnica e
orçamentárias.
As consultas regulares ao PMAS ocorreram durante todo o
período da pesquisa, permitindo o acompanhamento de dados referentes
não só à temática das pessoas em condição de rua, mas também em relação
a informações que permitiram elaborar reflexões sobre os fenômenos
envolvidos no âmbito da violação de direitos na PSE e sua relação com as
vulnerabilidades sociais no âmbito da PSB. Um dos pontos de partida para a
análise do eixo da assistência social é o quadro diagnóstico preenchido pelos
municípios, no qual apontam os principais problemas sociais enfrentados
pelas famílias, estabelecendo classificação numérica das demandas a serem
atendidas, com prioridade pela gestão.
No ano de 2016 os municípios classificaram os principais
problemas socioassistenciais da seguinte forma:
35 A partir de 2004, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (SEDS) desenvolveu e implantou no Estado de São Paulo o sistema PMAS, com o objetivo de possibilitar a leitura e validação dos 645 planos de assistência social dos municípios paulistas. Nos anos subsequentes, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e em parceria com a Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (PRODESP), foram agregados ao sistema avanços, tanto tecnológicos, quanto conceituais, tornando o PMAS web uma valiosa ferramenta para planejamento e gestão, utilizada para retratar a realidade de cada município e das regiões do Estado e extrapolando, assim, a condição de mero instrumento para repasse de recursos. O registro dos planos municipais no sistema é distribuído em sete blocos de informações: I – Identificação, II – Diagnóstico socioterritorial, III - Rede de proteção social, IV – Financiamento, V - Planejamento, VI – Vigilância, monitoramento e avaliação, VII – CMAS (http://pmasanoanterior.seds.sp.gov.br/Default.aspx).
127 11
Figura 11. Principais problemas sociais
Fonte: Plano Municipal da Assistência Social
Analisando os principais problemas informados pelos municípios, o
que se observa é um potencial de fenômenos relacionados à condição de rua,
inclusive e m Iracemápolis e Santa Cruz da Conceição, os quais tinham
declarado no PMAS 2015 e 2016 a inexistência de demanda referente ao
assunto. A análise de tais elementos permite inferir que, mesmo que não haja
demanda específica, estão presentes fatores que são causadores da condição
de rua, devendo ser contemplados pelas políticas públicas envolvidas, o que
aponta para o potencial de ocorrência de casos futuros, se essas ocorrências
não forem enfrentadas.
Na ordem de prevalência dos principais problemas sociais, seis
municípios apontaram para "Desemprego ou inserção precária no mercado
de trabalho", seis para a " Existência de famílias em situação de fragilidade
social e risco de ruptura dos vínculos familiares", seis indicaram "Prevalência
de fatores de risco que levem ao uso indevido ou abusivo de substâncias
psicoativas", dois informaram "Existência de famílias com insuficiente ou nulo
acesso à renda “e quatro se referiram à configuração "Pessoas em situação
de rua" entre os principais problemas, havendo, então, a consideração do
128 11
fenômeno em si como problemática municipal. Apenas um município apontou
o desemprego entressafras como problema, dentre os maiores encontrados.
Quando aos problemas como "Desemprego entressafras",
"Desemprego ou inserção precária no mercado de trabalho" e "famílias sem
acesso à renda" figurando dentre os principais, o que se evidencia é a
existência de um potencial de violação causado pela falta de acesso à renda,
relacionado às dificuldades de acesso ao trabalho, que em situação de
agravamento, pode ocasionar a condição de rua. Este fato pode estar
relacionado às fragilidades das redes de apoio social acessadas pelos
indivíduos e suas famílias. Nem todos os indivíduos em condições precárias
de acesso a trabalho e renda vivenciam a condição de rua, tendo forte
influência do conjunto de potencialidades protetivas da família nuclear, dos
familiares extensos, dos vizinhos e de movimentos sociais e comunitários de
apoio.
O modelo de gestão centrado em um eixo único de oferta de
serviços não abarca todos os elementos que constituem os fatores potenciais
de risco, pois tratam, substancialmente, de problemas complexos que
implicam na ação articulada de outras políticas públicas. A frustração de não
atender à problemática do trabalho e renda, da habitação, da saúde, e outras
contidas nas políticas públicas envolvidas pode repercutir em atuações
cristalizadas, insuficientes e desconectadas dos resultados esperados, fator
que se reflete no clientelismo e na relação de dependência dos usuários em
relação à política pública de assistência social.
O problema "existência de famílias em situação de fragilidade
social e risco de ruptura dos vínculos familiares" reflete outro elemento
constitutivo da condição de rua: a ruptura dos vínculos familiares, e
consequentemente, a perda da rede social de apoio centrada na família.
Tomando a municipalidade de Limeira como parâmetro microrregional,
observa-se os conflitos familiares como segundo principal motivo para
ingresso na condição de rua. Embora a condição de rua propriamente dita
figure dentre os principais problemas apenas em dois municípios, os fatores
constitutivos da referida condição estão presentes em todos os oito
municípios, indicando um potencial de problemas a ser trabalhado,
129 11
diretamente relacionado aos demais eixos de atuação previstos no decreto
7053/2009.
A desarticulação das políticas públicas de impacto social, que
constituem os quadros de extrema vulnerabilidade como é a condição de rua,
contribui para a manutenção de um contingente expressivo de pessoas em
condições de violação de direitos sociais, dando indícios da atuação estatal
sob a lógica da economia e dos interesses do mercado, em detrimento dos
direitos sociais.
Por vezes os conflitos decorrentes da ocupação dos espaços
públicos como territórios de vida privada ocasionam certa pressão da opinião
pública para a busca de alternativas que retirem as pessoas em situação de
rua desses locais. Tomando a ocorrência de outras problemáticas que
atingem um público numericamente maior de pessoas nos territórios
municipais, é possível que o que mais impacte no fenômeno em questão seja
a condição de desumanidade e a fratura profunda em direitos sociais
fundamentais.
A desumanidade de tal condição evidencia desigualdade e
exclusão em uma sociedade que deseja torná-los invisíveis. Coerente a essa
ideia, o clamor por ações higienistas e de controle de corpos abjetos
encontram nas medidas de errância, fixação e circulação dos corpos a
aparente solução, quando na verdade resultam em novos obstáculos ao
acesso dos direitos que a política pública pretende efetivar. Nesse tipo de
política é notável o fato de que se atacam as consequências (a presença de
corpos abjetos na rua, por exemplo) e não as causas (as condições da
pobreza, principalmente).
Dessa forma, os governos ou pelo menos vários dos governos
contemporâneos não querem governar enfrentando as causas, mas
unicamente a visibilidade das consequências dos problemas sociais. O
filósofo Giogio Agamben diz que na democracia contemporânea se invertem
os termos de análise dos problemas afetando com isso a nossa capacidade
de ativar processos de subjetivação (AGAMBEN, 1993). Se a lógica do poder
consiste em controlar apenas as consequências (que são visíveis e, portanto,
evidentes) e não as causas, há um indício de como funciona a semântica
política da política pública, a sociedade é persuadida a se convencer da
130 11
necessidade de medidas higienistas que retiram a visibilidade das
consequências dos processos de exclusão social, enquanto se esconde a
desumanização dessa política pública reduzida à exclusão dos moradores de
rua.
A posterior análise da oferta de serviços nas unidades da MRL
permitirá a percepção de tendências municipais à abordagem do tema no
eixo da assistência social. Limeira, que do ano de 2014 para o ano de 2015,
apontou significativa redução no número de casos atendidos nas unidades de
oferta de serviço, teve, em contrapartida, o aumento no número de casos de
dispensa de passagens, além da mudança de endereço do Centro
Especializado em População de Rua. A unidade cujo funcionamento ocorria
na região central, está atualmente em local afastado cuja dificuldade de
transporte público repercutiu na redução do acesso dos usuários ao serviço.
A dificuldade no acesso à unidade é fator impactante na fixação
dos corpos, repercutindo no aumento da circulação dos usuários como
mecanismo utilizado pela gestão pública. A dispensa de passagens para
outros municípios e o serviço de abordagem permaneceram na região central
da cidade, de mais fácil acesso. Este fato permite inferir que a gestão federal
pactuou a reforma de prédio público em local afastado do acesso dos
usuários e o município, por sua vez, apresentou tal unidade como alternativa
apta para a parceria. O repasse de co-financiamento federal permitiu a
reforma do prédio, mas não assegurou a continuidade do acesso aos
usuários, conduta de responsabilidade municipal não adotada. Neste
exemplo, dois níveis de gestão estão envolvidos, demonstrando que as
lacunas de implementação podem ser constatadas dentre as três esferas de
governo de forma isolada ou articulada.
A categoria "Prevalência de fatores de risco que levem ao uso
indevido ou abusivo de substâncias psicoativas" fala do principal motivo para
ingresso na condição de rua referido pelos entrevistados, nas pesquisas
nacional e municipal em Limeira. No entanto, estudos como o de (VARANDA,
200936) apontam elementos que permitem uma nova visão sobre a relação
36 Essas são as conclusões da tese de doutorado do psicólogo Walter Varanda, defendida recentemente na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Varanda explica que o uso de bebidas alcoólicas e outras drogas atinge a maioria dos moradores de rua, na
131 11
causa e efeito do uso de drogas e condição de rua. Este fato dá indícios das
lacunas existentes, no atendimento da demanda. Para a maioria dos
moradores de rua, o uso de álcool e outras drogas não serve apenas como
alívio do sofrimento físico e psíquico, é também uma forma de reviver
memórias emocionais, por meio de processos regressivos facilitados pelos
estados alterados de consciência, sendo uma forma preponderante de
mediação das relações sociais e de sobrevivência na rua.
Diferindo das impressões do senso comum, o crack não causa
exclusão social e sim se configura como consequência da precarização da
vida de seus usuários, ocasionando agravamentos em âmbito de
vulnerabilidades como a extrema pobreza, o risco de agressões graves e
morte37 (BRASIL, 2014i). Nesta lógica, o uso da substância compõe o quadro
de elementos que reforçam a exclusão social, sendo este um processo
anterior ao uso problemático da droga. A reversibilidade da condição é
possível, através de políticas públicas sociais que impliquem no trabalho dos
aspectos de saúde e de reintegração dos usuários à comunidade e o retorno
das relações familiares38 (BASTOS e BERTONI, 2014).
A pesquisa nacional de drogas, estudo solicitado pela Secretaria
Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), traçou o perfil nacional dos
usuários de crack, identificando apenas 1% da população – bem menos do
que dependentes de álcool – como usuários da substância. Esta informação
chama a atenção para o “pânico social” criado em torno do crack. A situação
gerou estigma e afastou usuários da cidadania. Ao responderem a pesquisa,
os entrevistados informaram que a falta de um local para morar, para tomar
banho, para comer, trabalho e tratamento impacta, diretamente, na
amenização das lacunas no acesso a direitos.
cidade de São Paulo e assume funções e significados inerentes à situação de rua, entendida como situação de liminaridade social. O trabalho teve uma abordagem etnográfica, revelando trajetórias individuais, dinâmicas de grupos e sua interação com as redes públicas de assistência, caracterizando o abuso dessas substâncias como uma reação, diante da situação de exclusão social, ao mesmo tempo em que reforça estigmas de culpabilidade e penalização. 37 Em 2014, o Governo Federal lançou a "Pesquisa Nacional sobre o uso de crack: quem são os usuários de crack e/ou similares do Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras?" O estudo tomou como referência as 26 capitais, o Distrito Federal e algumas cidades em regiões metropolitanas. Após três anos de entrevistas domiciliares e em locais onde há o uso do crack, os pesquisadores estimam que existam, atualmente, nas capitais do Brasil, cerca de 370 mil usuários de crack, com uma maior concentração nas regiões Nordeste e Sul. 38 Como exemplo, citou o programa da prefeitura de São Paulo, "De Braços Abertos", que tirou usuários das ruas do centro, oferecendo moradia em hotéis próximos e empregos como gari, pagando salário e oferecendo tratamento.
132 11
Os principais problemas listados no PMAS dão indícios de uma
tendência à reprodução de fenômenos que constituem a própria condição de
rua, permitindo a constatação de potenciais violações de direitos em âmbito
da PSB e PSE, que ao não serem abordados podem causar o aumento no
número de casos ou a busca de alternativas que continuam a manter o ciclo
de exclusão e vulnerabilidade. A extrema pobreza é um dos elementos que
constituem a condição de rua, que conciliada a características como ruptura
dos vínculos familiares e comunitários e ao uso problemático de substâncias,
fornecem um terreno fértil para o agravamento do fenômeno nos municípios
da MRL, incluindo aqueles que informam não apresentar demandas por
serviços afetos ao tema.
Análise das unidades
Os serviços executados em cada município, dentro do eixo da
assistência social, correspondem àqueles previstos na PNAS voltados ao
público alvo "população em situação de rua". As unidades são analisadas
tomando como parâmetros os documentos e manuais produzidos em âmbito
institucional, no campo da PNAS, levando em conta a Tipificação Nacional de
Serviços socioassistenciais como parâmetro para os serviços.
Quanto ao número de atendimentos destinados à população de
rua, o Censo SUAS traz entre o período de janeiro a dezembro de 2015 as
seguintes informações:
- Araras:
Homens entre 18-59 anos: 25 atendimentos
Mulheres entre 18-59 anos: 04
atendimentos Homem com 60 anos ou
mais: 01 atendimentos
Fonte:http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/estrutura_fisica/rel_preenchidos_creas
_agrega do.php?&p_id_creas=35033096542
- Conchal:
O município de Conchal informa que no período de janeiro a
dezembro de 2015 não houve demanda de população de rua no CREAS. O
que se observa ao analisar as demandas da unidade ao longo do ano de
referência, são conteúdos que aludem às violações variadas contra crianças
133 11
e adolescentes, idosos e mulheres. Referem que das 41 abordagens
efetuadas, sete foram de pessoas entre 19-59 anos e uma pessoa com 60
anos ou mais. Considerando que informaram não ter havido atendimento
destinado à população de rua, infere-se que as demandas das abordagens
não digam respeito a essa população, ou, estas, não foram encaminhadas ao
CREAS.
Fonte:http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/estrutura_fisica/rel_preenchidos_creas
_agrega do.php?&p_id_creas=35122097750#
- Cordeirópolis:
Dos 1.252 (mil duzentos e cinquenta e dois) casos atendidos pelo
CREAS no ano de 2015, referem não ter havido demanda de pessoas em
situação de rua. Os casos atendidos dizem respeito às violências e violações
contra as crianças e adolescentes, às mulheres e aos idosos. Informam
número significativo de casos de adolescentes em cumprimento de medidas
socioeducativas em meio aberto (prestação de serviços à comunidade e
liberdade assistida).
Fonte:http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/estrutura_fisica/rel_preenchidos_creas
_agrega do.php?&p_id_creas=35124096078
- Leme:
Homens entre 18-59 anos: 35 atendimentos
Mulheres entre 18-59 anos: 11
atendimentos Homem com 60 anos ou
mais: 04 atendimentos
Fonte:http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/estrutura_fisica/rel_preenchidos_creas
_agrega do.php?&p_id_creas=13526702135
- Pirassununga:
Homens entre 18-59 anos: 350 atendimentos
Mulheres entre 18-59 anos: 50
atendimentos Homem com 60 anos ou
mais: 09 atendimentos Mulheres com 60
anos ou mais: 05 atendimentos
Fonte:http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/estrutura_fisica/rel_preenchidos_creas
_agrega do.php?&p_id_creas=13539302056#
134 11
Ao analisar o link de referência para acesso aos dados agregados
sobre o período de janeiro a dezembro de 2015, não foram encontrados
dados sobre esta unidade. Em contato com o setor de vigilância social do
município, informou-se que de fato havia uma falha no sistema de dados,
relacionado ao município, nesta página especifica. Desta forma, os dados
referentes ao período foram coletados diretamente junto ao setor de
vigilância socioassistencial do município.
O fato de Limeira ser o único município a realizar pesquisa
municipal de mapeamento da população de rua possibilitou o acesso à
informação referente ao número e caracterização das pessoas nessa
condição.
Homens entre 18-59 anos: 155 atendimentos
Mulheres entre 18-59 anos: 32
atendimentos Homem com 60 anos ou
mais: 04 atendimentos Mulheres com 60
anos ou mais: 01 atendimentos
Limeira faz distinção entre a demanda de migrantes e moradores
de rua não migrantes e, neste sentido, o número de migrantes atendidos no
município, em 2015, foi de 726 pessoas. Distinguem os atendimentos a
migrantes entre acesso a serviços de acolhimento e/ou centro pop: 13 e 713
receberam apenas o benefício eventual de passagens de ônibus para os
destinos diversos.
- Iracemápolis:
Em Iracemápolis não ocorreu a aplicação da pesquisa, sendo
informado que não possuíam demanda de atendimento à população de rua
em seu território, diversas foram as tentativas de contato, não se obtendo
resposta. A análise das condições potenciais para a ocorrência de casos é
possível, através do acesso ao sistema PMAS, com foco nas informações
referentes ao ano de 2016, período de aplicação da pesquisa nas demais
cidades da MRL.
A análise das informações fornecidas pela gestão dá indícios de
que elementos constitutivos da condição de rua já são constatados como
135 11
problemas municipais a serem enfrentados, dentre eles o uso problemático
de substâncias psicoativas: "Em razão do uso elevado de substancias
psicoativas, o município vem buscando ações através de campanhas
educativas, busca ativa e encaminhamentos". (PMAS, 2016)
A previsão de ampliação da rede de atendimento
socioassistencial, quanto aos serviços "Proteção Social Especial de Média
Complexidade e Serviços de Proteção Social Especial de Alta
Complexidade", permite inferir o aumento da demanda dos casos de violação
de direitos e o cruzamento de informações como "principais problemas
enfrentados", permite perceber que vulnerabilidades decorrentes do uso
problemático de substâncias e do desemprego ou inserção precária no
mercado de trabalho estão presentes e estão potencialmente
relacionados à condição de rua. Não é possível afirmar que tais casos
repercutirão, necessariamente, em pessoas vivendo em situação de rua, mas
constituem fatores potencias de risco para a ocorrência.
Em pesquisa no PMAS de Iracemápolis foi contatada a existência
de serviço que pode estar relacionado a indivíduos em condição de rua ou no
limiar de ingresso na condição. O serviço analisado figura no âmbito da PSB,
não atendendo aos casos de violação de direitos, conforme orientado para
aqueles destinados à população de rua. No entanto, cabe a análise da
possível relação com indivíduos nessa condição, no território do município.
O serviço é destinado a catadores de rua, não havendo relação
direta com a condição de rua na definição do público alvo. A descrição
também permite a relação com dois temas: a gestão de resíduos sólidos e
pessoas que obtém sustento das ruas, essa última característica compõe a
definição de população de rua. Sua caracterização não está prevista na
Tipificação de Serviços Socioassistenciais, mas é coerente como o "Serviço
de Promoção da Integração ao Mercado de Trabalho - Regulamentado pela
Resolução CNAS 33/2011".
Dentre os objetivos elencados estão a geração de trabalho e renda
a partir do uso sustentável de recursos naturais renováveis, bem como a
criação de condições aos catadores de rua que promovam o incentivo e o
empreendedorismo. O público alvo é composto de beneficiários dos
programas de transferência de renda, pessoas em situação de desemprego e
136 11
famílias com renda insuficiente para subsistência, (PMAS, 2016). Com tal
descrição de serviço é possível constatar a existência de ações municipais
que impactem sobre parcela da população, cujo desemprego é fator
potencial de risco e, a organização de grupos de catadores, uma proposta
municipal para lidar com a baixa renda e a precarização do trabalho.
- Santa Cruz da Conceição: O município de Santa Cruz da Conceição informou no PMAS 2016
possuir apenas serviços em âmbito da PSB. Informou a existência de um
Termo de Ajuste de Conduta (TAC), firmado pelo Ministério Público, no
sentido de estabelecer plano de criação da unidade de CREAS. O
fundamento para a criação da unidade tem bases na execução de serviços
direcionados à criança e ao adolescente, estes executados de forma
inadequada, na unidade de CRAS. As orientações do MDS definem que
os serviços de PSE devem ser ofertados pelo órgão gestor, na inexistência
de unidade de CREAS, exigência não cumprida pela gestão.
Apesar de informar que não registram demanda de atendimento à
população de rua, é possível constatar a necessidade de implantação de
unidade no âmbito da PSE, que, através da execução do PAEFI, também
deverá atender dentre o público alvo a população em situação de rua. As
orientações constantes na Tipificação Nacional de Serviços orientam para
que o programa de atendimento especializado desenvolva ações voltadas a
diversos públicos alvos, quando na ocorrência de violações, estando dentre
esses públicos a população de rua. Neste sentido, para o ano de 2017, com
a criação da unidade, o atendimento deve estar disponível, mesmo que não
haja a ocorrência significativa de casos.
A impossibilidade de acesso à gestão possibilita reflexões sobre a
informação de inexistência de demanda específica à população de rua e às
reais condições da ocorrência do fenômeno no território municipal. Os
elementos potenciais para sua ocorrência estão presentes, conforme a
informação da gestão, mas a oferta de serviços a este público não; associada
a esta informação está o fato de o ano de 2016 ter sido ano de campanha
municipal eleitoral, fator que pode gerar condutas mais protetivas da gestão
137 11
em relação a possíveis análises e avaliações negativas sobre o poder
executivo.
Ao acessar o PMAS 2017 e a perspectiva para gestão futura, não
há previsão para a implantação da unidade de CREAS, conforme havia sido
previsto no ano de 2016, como atendimento às exigências firmadas no termo
de ajuste de conduta (TAC) junto ao Ministério Público. O município informa,
ainda, que o número reduzido de funcionários vinculados ao órgão gestor
impossibilita a ampliação de alguns serviços, tendo havido inclusive queda
na oferta de serviços em nível de PSB. É possível inferir que tenha havido
retrocesso na gestão, pois além de não ter sido implantada a unidade de
PSE - CREAS, as próprias unidades existentes em âmbito de PSB tiveram a
oferta de serviços reduzida.
CREAS: Araras, Conchal, Cordeirópolis, Leme e Pirassununga
A) Elementos de identificação, localização e estrutura física:
Conforme prevê a orientação técnica39 os critérios populacionais
para instalação de unidades de CREAS, nos territórios municipais, foram
atendidos, sendo que na MRL apenas o município de Limeira apresenta
população total municipal que justificaria, em caso da existência de
demanda, a criação de uma segunda unidade especializada em assistência
social. Neste momento, considerando que o foco da pesquisa são as
unidades que atendem à população de rua, Limeira não será analisada em
relação ao CREAS, pois possui unidade especializada para o atendimento
das violações de direito, contra população de rua.
Todas unidades estão situadas em território urbano, em
decorrência da facilidade de acesso dos usuários, atendendo ao critério de
localização40. O horário de atendimento que prevê oito horas diárias em um
39 Municípios de pequeno e médio porte devem instalar, pelo menos, uma unidade de CREAS, sendo que a partir de 200 mil habitantes as cidades devem inaugurar a segunda unidade, na existência de demanda que a justifique. Quanto aos municípios de pequeno porte I, até 20000 habitantes, a instalação da unidade é facultada à modalidade de CREAS Regional ou à criação de unidade própria no município caso haja demanda que justifique. Os municípios que se encontram nesta condição, na região pesquisada, Iracemápolis e Santa Cruz da Conceição, não apresentam unidades de CREAS. 40 A localização estratégica, no território, colabora para que o CREAS torne-se referência, para a população e/ou comunidade. Essa referência contribui para estabelecer um canal de
138 11
mínimo de cinco dias por semana também é cumprido pelos municípios, com
destaque para Pirassununga que possui funcionamento diário de dez horas.
Pirassununga justifica o aumento de duas horas diárias como sendo voltado
àqueles usuários que trabalham, possuindo dificuldades para acessar o
serviço em horário comercial. Este fato incide sobre a facilidade de acesso e
maior proximidade do serviço com a população. Outro elemento importante,
com reflexos diretos sobre a continuidade nas atividades é o fato de a
unidade ser pública, no âmbito da gestão municipal em todos os municípios,
minimizando possíveis impactos da descontinuidade na oferta de serviços,
caso não fosse mais de interesse da unidade privada a oferta do serviço.
Esse elemento está relacionado, diretamente, ao conceito de
descentralização administrativa e responsabilidades compartilhadas em
âmbito de gestão da política pública.
As unidades de Conchal, Cordeirópolis, Araras e Pirassununga
estão instaladas em imóveis alugados, fato que pode ter alguma repercussão
na oferta dos serviços, caso o imóvel tenha de ser desocupado sem
previsão, impactando sobre a continuidade na oferta de serviços. De forma
geral, os municípios informam dificuldades em localizar imóveis que
preencham os critérios estruturais para a unidade devido ao tamanho do
prédio e custo do aluguel. Leme é o único município que possui unidade
instalada em imóvel próprio. O que foi referido no preenchimento dos
instrumentos de pesquisa, principalmente pelos municípios cujos imóveis são
alugados, é que, por vezes, a locação figura como a melhor das alternativas
perante a indicação de prédios públicos em situação precária em termos de
preservação e dificuldade de acesso; neste sentido os órgãos gestores
tendem a optar por imóveis locados, porem com localização e infraestrutura
que assegurem os espaços essenciais ao serviço.
O não compartilhamento da unidade com outros órgãos ou
serviços é fator positivo, pois facilita que não haja a confusão de atribuições
entre os trabalhadores, além de fixar nos usuários a clareza sobre as
atividades ali desenvolvidas. Outro aspecto importante se refere à
preservação da intimidade dos usuários, considerando que a unidade de
comunicação e confiança com as famílias, que identificam, na Unidade, um espaço de proteção, no meio em que vivem e convivem.
139 11
CREAS atende demandas que implicam em violação de direitos, devendo ser
amplamente preservada a intimidade dos sujeitos. Todas as unidades de
CREAS da microrregião são de uso exclusivo do PAEFI.
Os espaços essenciais41 previstos no Guia CREAS II são
indicações feitas pelo MDS na intenção de que sejam assegurados os
atendimentos, nos parâmetros constantes no documento e na Tipificação de
Serviços Socioassistenciais. São construções que tomam como base estudos
e pesquisas sobre o problema e se apresentam como limite mínimo para a
garantia da qualidade do serviço. No que se refere ao número de salas,
apenas o município de Conchal não preenche o critério.
A inexistência de sala para uso da coordenação, administrativo e
dos técnicos, demanda que os atendimentos sejam por vezes efetuados sem
o devido sigilo e resguardo dos conteúdos, da mesma forma que as ações de
planejamento e coordenação ficam limitadas em suas possibilidades. Nos
demais espaços os critérios foram atendidos. Os demais municípios
apresentam o número de salas dentro dos limites previstos, incluindo os
banheiros e cozinha.
Com relação à acessibilidade dos usuários com deficiência,
elemento essencial para o sentimento de acolhida, os municípios de Conchal
e Cordeirópolis não apresentam acesso facilitado da calçada até a recepção,
nos moldes da ABNT, para pessoas com deficiência. Apesar de o acesso não
ser adaptado no contato inicial (da calçada até a recepção), Cordeirópolis
informa possuir adaptabilidade, nas demais dependências da unidade,
embora não seja possível ao usuário ingressar nela. Os demais municípios
apresentam adequação quanto a esse elemento de forma geral, sendo que,
em Pirassununga, não ocorre dentro dos moldes da ABNT42.
41 Constituem espaços essenciais que todo CREAS deve dispor: espaço para recepção, salas específicas para uso da coordenação, equipe técnica ou administração, salas de atendimento (individual, familiar e em grupo), em quantidade condizente com o (s) serviço (s) ofertado (s) e a capacidade de atendimento da unidade é recomendável: municípios de Grande Porte, Metrópole e DF: no mínimo 4 salas de atendimento, municípios de Pequeno Porte I e II e Médio Porte: no mínimo: 2 salas de atendimento, no mínimo 2 Banheiros coletivos, com adaptação para pessoas com mobilidade reduzida (pg 82 também cita a acessibilidade com reflexo na acolhida) como, por exemplo, pessoas com deficiência e idosos, copa e/ou cozinha. 42 Deve ser assegurada, nas unidades, a acessibilidade às pessoas com deficiência, idosos, gestantes e crianças, dentre outros. A adaptabilidade nos moldes da ABNT é o parâmetro adotado pelo MDS.
140 11
Outro aspecto importante, quanto à acessibilidade, é que às
pessoas com deficiência são asseguradas ações específicas nos casos de
violação e, nesse sentido, a ausência de adaptação reforça a ideia
contraditória de ter e não ter acesso ao direito subjacente. Nos banheiros,
apenas as unidades de Araras e Leme apresentam adaptação estrutural, fato
que traz a reflexão sobre a exposição desses indivíduos caso precisem fazer
uso do mesmo. Ao pensar na garantia de acesso amplo da pessoa com
deficiência às unidades de CREAS, na microrregião, é possível refletir sobre
certo nível de violação de direitos pelas próprias unidades que deveriam
assegurá-lo.
O PAEFI prevê diversos públicos alvo de suas atividades naquilo
que tange à violação de direitos ou situações com evidente risco de violação,
nesse sentido a inexistência de mobiliário específico para uso das crianças é
fator que implica em perdas para o trabalho das equipes e reforça a ideia de
contradição, no acesso aos serviços. Informam também não possuir material
para trabalho das questões pedagógicas, culturais e esportivas, havendo
evidente limitação no trabalho com tais recursos nas vidas dos usuários do
serviço. No que se refere à população de rua, os eixos intersetoriais
referentes à educação, cultura, esporte e lazer ficam prejudicados, incluindo
a relação com outras secretarias afetas aos temas.
B) Conteúdo do PAEFI: O PAEFI prevê como usuários famílias e indivíduos, descrevendo
um conjunto de situações43 que são alvo do trabalho das equipes. Tais
situações tem previsão não excludente e para os casos em que não haja
demanda de atendimento à temática, deve haver a previsão de metodologia
especifica das equipes, na abordagem do assunto. Tomando como exemplo
"tráfico de pessoas"44 é possível que em determinada cidade a demanda não
tenha chegado até à unidade, fato que não implica na inexistência de casos,
43 As situações são: violência física, psicológica e negligência, violência sexual: abuso e/ou exploração sexual, afastamento do convívio familiar devido à aplicação de medida socioeducativa ou medida de proteção, tráfico de pessoas, situação de rua e mendicância, abandono, vivência de trabalho infantil, discriminação em decorrência da orientação sexual e/ou raça/etnia, outras formas de violação de direitos decorrentes de discriminações/submissões a situações que provocam danos e agravos a sua condição de vida e os impedem de usufruir autonomia e bem estar, descumprimento de condicionalidades do PBF e do PETI em decorrência de violação de direitos. 44 Serviço de Abordagem - Perguntas e Respostas, 2013.
141 11
no território municipal. A Tipificação de Serviços Socioassistenciais prevê a
construção metodológica e a capacitação continuada, na intenção de que os
profissionais não só estejam preparados para o atendimento dos casos, mas
também, tenham clareza do fenômeno, na promoção da busca ativa dos
casos.
Alguns municípios apresentam lacunas temáticas na oferta do
PAEFI, entendendo que a inexistência de serviços voltados a determinados
públicos, historicamente violados, pode ser tomada como violação institucional.
Evidentemente que os motivos para a oferta incompleta do PAEFI podem ter
raízes em fatos concretos relacionados à gestão, não deixando, no entanto,
de configurar como negativa de direitos.
Características como recursos humanos insuficientes, diagnósticos
territoriais inexistentes ou incompletos, escassez de recursos
orçamentários na execução e inexistência de capacitação continuada, são
fatores apontados pelas equipes, nas entrevistas, como limitadores da
atividade profissional.
O tráfico de pessoas é temático de abordagem intersetorial, tendo
sido criada uma política de atendimento ao tema. É possível que o fato de
ser temática que implica em atividades específicas por parte das três esferas
de governo, traga certa dificuldade para os municípios perceberem a relação
da política de assistência social, com um problema aparentemente de
segurança e de foco interestadual e internacional. Outro elemento que deve
ser considerado é que determinados municípios são rota de tráfico de
pessoas, enquanto outros estão fora do cenário de cooptação de indivíduos.
Independente dos motivos para a inexistência dos atendimentos, caberia
pesquisa mais aprofundada sobre os motivos pelos quais somente
Cordeirópolis tem previsão de atendimentos para esta demanda.
Foco deste trabalho, a população de rua é público alvo em quase
todos os CREAS da MRL, exceto em Conchal. Isso implica em dizer que o
serviço especializado, aquele que prevê a reorganização da vida das
pessoas em situação de rua, dentre outras garantias a serem asseguradas,
não está disponível. Os serviços a este público estavam sendo
redirecionados e reavaliados e, conforme relato da gestão, o reduzido quadro
de recursos humanos era o principal fator que implicava na inexistência de
142 11
serviço. Aponta-se a baixa procura por serviços na cidade (havendo meses
sem procura de nenhum usuário) e que os casos que chegavam ao CREAS
estavam voltados à obtenção de passagens ou pernoite eventual de pessoas
em trânsito. Os demais municípios executavam o atendimento ao público em
situação de rua, nos moldes do previsto pela PNAS, cabendo ao CREAS a
abordagem do tema e a articulação com demais unidades e políticas
públicas.
No âmbito da garantia dos direitos da população LGBTT e
consequentes violações sofridas por essa população, L e m e e
P i r a s s u n u n g a não ofertam atendimento especializado. Isso implica
refletir que existam fatores inerentes às decisões da gestão em não priorizar
tal demanda. Conchal apresenta um elemento curioso sobre essa temática,
oferecendo atendimentos apenas às crianças e aos adolescentes sobre
orientação sexual, excluindo os adultos deste universo. As violações de
direitos sobre as questões étnicas não são trabalhadas nos municípios de
Leme e Conchal, o que demanda reflexão, considerando o histórico de
racismo no Brasil, e que a temática não tenha suficiente mobilização popular,
para ser trazida para a agenda pública e consequente visibilidade das
violações de diretos de matriz étnica. É possível, também, que os tomadores
de decisão não estejam sensibilizados para a abordagem do tema.
A questão da pessoa com deficiência apresenta uma ambivalência
de base: excetuando Leme, que declara somente atender idosos com
deficiência, sendo provável que tenham se referido na verdade ao segmento
idoso com violação e deficiência, os demais municípios informam
desenvolver atividades voltadas às pessoas com deficiência, apesar de boa
parte deles não possuir a adaptação dos espaços físicos para que recebam o
público em questão. A recepção efetuada na unidade, primeiro contato dos
usuários do serviço com certo "acolhimento" de suas violações, é limitada,
não considerando concretamente suas necessidades de acesso.
As famílias com pessoas adultas, privadas de liberdade, somente
tem acesso aos serviços no município de Conchal. As demais cidades não
oferecem respaldo aos familiares de homens e mulheres aprisionados. A
lógica do aprisionamento parte da premissa de que serviria para ressocializar
os sujeitos que pelo cometimento de delitos necessitam de determinado
143 11
afastamento do convívio social. A negativa de acesso a direitos no âmbito
prisional ocorre em diversas políticas públicas, se estendendo aos familiares
dos apenados. A capacitação das equipes na busca de entendimento sobre
os aspectos sociais envolvidos no aprisionamento e a repercussão sobre os
núcleos familiares é atividade essencial, para o preparo das famílias, ao
retorno de egressos do sistema prisional.
Do conjunto de 21 (vinte e uma) ações e atividades propostas no
instrumento de pesquisa emparelhadas com a previsão na Tipificação para o
serviço essencial, Leme atendeu a 15, Pirassununga a 17, Cordeirópolis
realiza apenas 06, Conchal 18 e Araras 19. Em termos objetivos é possível
inferir maior ou menor complexidade e completude, na oferta dos trabalhos,
se forem considerados os dados numéricos. No entanto é importante frisar
que quanto menor o número de trabalhos desenvolvidos pelo serviço, mais
limitada é a capacidade de redução de violações de direitos, nos territórios
dos CREAS. O trabalho social essencial ao serviço é o que o constitui e é
através dele que os conteúdos trazidos pelos usuários são atendidos.
Conchal apresenta significativa limitação na oferta de atividades, fato
reconhecido pelo gestor e atribuído a limitações impostas à gestão pela
chefia do Executivo.
A ausência de acompanhamento individual e familiar, como no
caso de Cordeirópolis, implica no atendimento pontual das demandas, em
detrimento das abordagens continuadas dos indivíduos e dos núcleos
familiares. Considerando que as violações de direitos são decorrência de
elementos fragilizadores que repercutem em exclusão e violações, sendo
construídas através da desfiliação como refere (Castel,1998), a ausência de
acompanhamento dos casos limita a abordagem ao imediatismo. Assim, a
história de vida fica restrita ao que aparece naquele recorte de tempo e
espaço diante do técnico, fato que dificulta a ruptura do ciclo de violações.
Ainda sobre Cordeirópolis, os encaminhamentos feitos à rede não
são acompanhados, nem mesmo quando direcionados às unidades da
própria política de assistência. Ações de esclarecimento sobre as violações
de direitos, bem como palestras e trabalhos de sensibilização da população
do município sobre os temas trabalhados na unidade também não são
efetuados, fator que faz com que deixem de atender à prevenção e detecção
144 11
das demandas. Os conteúdos trabalhados com os usuários não são
relatados em prontuários, fato que compromete a continuidade dos
atendimentos (essa já referida como não efetuada pela equipe).
Encaminhamentos para outras políticas públicas também não são realizados,
fator a ser analisado com maior profundidade em tópico a seguir. O fato de
não encaminharem os indivíduos e famílias atendidos ao CAD Único
promove a privação do acesso das famílias a outros serviços, programas e
benefícios inerentes à política de assistência dentre outras, fator altamente
limitante do acesso à própria política da qual o CREAS faz parte.
O cadastramento das famílias no CAD Único costuma ocorrer em
unidades da proteção básica, por orientação do próprio MDS, no entanto,
como Cordeirópolis declara não encaminhar os casos atendidos, é provável
que seus usuários não sejam cadastrados por outras unidades. A média
nacional de inclusão no CAD Único de pessoas em situação de rua é de
apenas 47%, (Natalino, 2016). É possível inferir que em Cordeirópolis
ocorram atendimentos pontuais, não havendo o acompanhamento regular
conforme indicado na atuação das unidades de CREAS, e os benefícios
eventuais sejam uma espécie de "prêmio de consolação". Assim, ao buscar
atendimento para as demandas de violação e, constatando que o
acompanhamento continuado não será assegurado pela unidade, o usuário é
encaminhado para a obtenção de cestas básicas, roupas e outros itens que
não constituem, por si sós, uma política inclusiva e asseguradora de direitos.
Outro ponto significativo sobre os trabalhos oferecidos diz respeito
à orientação jurídico-social. A atuação do advogado, no âmbito do acesso ao
direito à justiça, está prevista para as unidades de CREAS, no conjunto de
profissionais que necessariamente devem compor as equipes. Na maioria
das vezes, as demandas que chegam à unidade especializada implicam em
desdobramentos no âmbito da justiça. Violência sexual, agressões físicas e
psicológicas, abandono, são alguns dos conteúdos que chegam até essas
unidades. Nesse sentido, a presença de advogado atuando exclusivamente
na unidade tem como finalidade a garantia de direitos, no âmbito da justiça.
Os encaminhamentos para as unidades de saúde são informados
por todos os CREAS da MRL. Diversos casos possuem demandas de saúde
atreladas aos conflitos e violações constatadas nos CREAS. O uso de
145 11
substâncias psicoativas de modo problemático tem relação com demandas
como a violência de gênero, violência contra a criança e ao idoso, dentre os
moradores de rua e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas em
meio aberto. As psicopatologias como esquizofrenias e quadros depressivos
também são comuns, sendo por isso que os encaminhamentos para a saúde
versam basicamente sobre elementos de saúde mental, sendo a maior
relação das unidades com a saúde.
A ausência de capacitação para as equipes dos CREAS é
informada pelos cinco municípios. A falta de investimento na capacitação
parece ser característica das gestões na região. A capacitação continuada,
posta na PNAS como um de seus preceitos, tem repercussão direta sobre a
oferta de serviços aos usuários. Ao entenderem e refletirem sobre suas
práticas os trabalhadores promovem a contínua melhoria nas mesmas. Esse
fato pode ser entendido como reflexo das gestões, as quais tem com
premissa a não priorização da qualificação profissional.
Os CREAS da microrregião são responsáveis pelos casos de
violação de direitos em todo o território de seus municípios. A orientação
para que estejam localizados nas zonas centrais e/ou de fácil acesso aos
munícipes tem como lógica a maior aproximação de qualquer cidadão em
caso de necessidade.
Um elemento bastante valorizado pela PNAS é a participação dos
usuários dos serviços no planejamento e nas reuniões, configurando assim a
representatividade e o protagonismo. Dentre os CREAS, apenas em Leme é
referida de forma regular e sistemática a participação dos usuários nessas
atividades. A participação é coerente com a pró atividade e
representatividade dos usuários nos serviços, sendo ponto essencial á PNAS
visando a garantia de direitos.
C) Serviço de abordagem social
O Serviço de Abordagem Social não está presente em todos os
municípios da MRL, fato que pode ter justificativa na ausência de demanda.
No entanto, considerando que o serviço visa atender crianças, adolescentes,
jovens, adultos, idosos e famílias em situação de risco pessoal e social que
utilizam os espaços públicos, como forma de moradia e/ou sobrevivência, a
146 11
identificação de demanda de tal natureza contradiz essa hipótese. Um fator
importante para a ausência do serviço é o fato de as orientações técnicas
ministeriais informarem que os municípios devem constituir equipes próprias
para sua execução, não podendo ser compartilhada com o CREAS ou outra
unidade onde esteja instalado.
Leme é o único município que possui equipe específica para
abordagem de rua, enquanto Conchal e Araras efetuam o serviço, mas não
dentro dos moldes previstos nas orientações técnicas45, pois a equipe que
executa a abordagem também oferta o PAEFI. Pirassununga e Cordeirópolis
não ofertam o serviço de abordagem, apesar de demanda identificada.
Tendo em vista que as situações de risco pessoal e social podem
se apresentar, diuturnamente, nos territórios, as orientações institucionais
são de que o serviço seja ofertado ininterruptamente, ou seja, todos os dias
da semana, inclusive finais de semana e feriados, durante o dia e à noite.
Todavia, o órgão gestor local poderá planejar a sua oferta de acordo com as
especificidades de cada território. A oferta não se dá na frequência indicada
pelas orientações técnicas em nenhum dos três municípios que referem
ofertar o serviço. Mesmo em Leme, cuja equipe é especifica para
abordagem, a oferta não se enquadra nos moldes orientados, ocorrendo em
apenas um dia por semana e apenas no período diurno. A atuação em rede,
proposta pelo MDS também não é executada, sendo ofertado
exclusivamente pela equipe do CREAS.
Nos demais municípios que executam o serviço com o
compartilhamento de recursos humanos com o CREAS, a frequência de
abordagem não é sequer mencionada, ficando a critério do surgimento de
situações pontuais, para as quais os profissionais são deslocados. A atuação
dos serviços de abordagem social é descontínua na MRL, fator que
prejudicada a efetivação dos princípios da pró atividade na proteção social,
do acesso a direitos sociais e à construção de autonomia, da construção de
vínculo de confiança dos sujeitos com a rede e com o território. O trabalho
em rede também está prejudicado pela descontinuidade na oferta de serviço,
45 Na página 30, a tipificação elenca as ações essenciais ao serviço do PAEFI, parâmetro utilizado na construção do instrumental aplicado.
147 11
refletindo sobre a própria relação dos usuários com a cidade e a realidade do
território.
D) Recursos humanos Parâmetro Nacional NOB-RH:
1 coordenador
1 assistente social
1 psicólogo
1 advogado
2 profissionais de nível superior ou médio (abordagem dos
usuários) 1 auxiliar administrativo
Parâmetro municipal: Araras
1 coordenador
4 assistentes sociais
1 psicólogo (a)
1 nível médio - auxiliar administrativo
Araras apresenta coordenador em exercício de função exclusiva,
conforme orientação normativa. Conta com quatro assistentes sociais, um
profissional a mais segundo o parâmetro da NOB RH. É possível que os
quatro profissionais formados em serviço social exerçam funções na equipe
de abordage m de rua e também no reforço às atividades do PAEFI;
apresenta uma psicóloga, conforme o previsto. A unidade não possui
advogado compondo a equipe, contrariando as normas de recursos
humanos. O município atende o critério de nível médio, com um profissional
exercendo atividades administrativas. Não é raro as equipes técnicas
afirmarem que os parâmetros de recursos humanos não são mais suficientes
para o exercício das funções essenciais do serviço.
De forma geral, Araras apresenta equipe parcialmente adequada
ao exigido nos manuais de orientação, porém a ausência do profissional do
direito tem repercussão significativa considerando que a unidade lida,
basicamente, com violações ou potenciais de violação de direitos. Nesse
sentido, a função do advogado é facilitar e contribuir para o fortalecimento do
exercício da cidadania, principalmente os mais vulneráveis, através da
viabilização do acesso aos direitos sociais, direitos socioassistenciais e
148 11
outros que já estejam, constitucionalmente ou legalmente, regulamentados
e/ou que venham a ser garantidos.
Parâmetro municipal: Conchal 1 coordenador
1 psicóloga (o)
2 profissionais de nível superior
1 nível médio/auxiliar administrativo
1 serviços gerais
A coordenação da unidade não executa função exclusiva,
contrariando as orientações técnicas. Nesse sentido as ações de
planejamento e gestão do serviço ficam prejudicadas pela sobrecarga de
atividades do coordenador. Informam possuir uma assistente social,
conforme orientado, uma psicóloga, atendendo ao critério, uma profissional
de formação em pedagogia, um profissional de educação física, uma
recepcionista e uma auxiliar de serviços gerais.
O município cumpre, parcialmente, as exigências em nível de
recursos humanos, pois não apresenta advogado (a) a serviço da unidade e
informam que o Serviço de Abordagem de Rua não possui equipe específica
para suas funções. A abordagem é efetuada pelos profissionais de
pedagogia e educação física, e a função de assistente social é exercida de
forma cumulativa pela coordenadora, cuja área de formação é em serviço
social. Em nível médio atendem às exigências.
Parâmetro municipal: Cordeirópolis
1 coordenador
3 assistentes sociais
1 psicólogo(a)
2 nível médio
Os recursos humanos neste município consistem em dois
profissionais de nível médio e quatro de nível superior. Dos profissionais de
nível superior, três são assistentes sociais e um profissional de psicologia.
Atendem, ao critério de RH, naquilo que se refere ao serviço social e à
psicologia, havendo, inclusive, excedente de dois profissionais de serviço
social, no entanto, a unidade não possui advogado (a), fato que dificulta o
acesso a direitos e às informações referentes ao campo das violações de
149 11
direitos, tendo como consequência a dificuldade no contato com os órgãos do
sistema de justiça. O coordenador exerce funções cumulativas, influenciando,
negativamente, na atuação da função principal, para a qual deveria ter
dedicação exclusiva. Como não possuem o serviço de abordagem de rua, os
dois profissionais de nível médio ultrapassam o limite orientado.
Parâmetro municipal: Leme
1 coordenador de nível superior
7 psicólogos (as)
3 assistentes sociais
1 nível fundamental
5 nível médio
Este município destaca uma profissional psicóloga para trabalho
especifico com pessoas em situação de rua e um profissional de nível médio
para exercício de função de monitor de projetos para pessoas em situação de
rua. Esse formato não atende ao critério de uma dupla de técnicos de nível
superior, para trabalho com a demanda de população de rua.
A coordenação da unidade informa exercer função acumulada,
também, com a função de psicóloga, deixando de atender ao critério de
coordenação exclusiva. Apresentam uma equipe acima da média em termos
numéricos, com seis profissionais de psicologia a mais, as quais executam
funções com os diferentes públicos alvo do PAEFI. Fazem parte dos recursos
humanos três assistentes sociais para as demandas de PAEFI, excedendo
em duas profissionais. No entanto, no que se refere ao trabalho com
população de rua, não existe assistente social destacada para composição
da dupla. A gestora da proteção especial informou a existência de
resistências dentro da própria equipe em relação às atividades voltadas à
população de rua.
Quanto às exigências em grau de instrução formal, os recursos
humanos contam com cinco profissionais de nível médio, onde um exerce
funções administrativas e os demais, como monitores de projetos. A função
de monitoria de projetos não pode ser confundida com a exercida no serviço
de abordagem; embora tenham quatro profissionais de nível médio a mais do
que o previsto na NOB RH, estes não estão relacionados à abordagem
social.
150 11
Leme ilustra a realidade de municípios cujas equipes de
referência dão indícios de não serem mais suficientes perante o número de
casos. Inicialmente, as equipes são estruturadas para o atendimento de até
50 famílias/indivíduos, como no caso de municípios de pequeno porte e em
gestão inicial ou básica, como Leme. Gradativamente, as demandas
aumentam, seja pelo conhecimento da comunidade e dos demais
profissionais da rede sobre o serviço, ou, como reflexo de dificuldades no
âmbito da PSB em prevenir que as vulnerabilidades evoluam para violações.
Parâmetro municipal: Pirassununga
1 coordenador
3 assistentes sociais
2 psicólogos (as)
1 nível médio
Este município excede ao mínimo exigido, quanto à equipe técnica
de referência, com três assistentes sociais e duas psicólogas. A coordenação
da unidade exerce função técnica cumulativa, fator que contraria as
orientações. O município atende ao critério de uma profissional de nível
médio, para as funções administrativas. Embora haja o número mínimo de
trabalhadores na unidade, descumprem as orientações com a ausência de
advogado.
E) As fontes de encaminhamento de demanda
Este tópico serve como indicativo das relações intersetoriais e
também interdisciplinares, permitindo a análise das principais fontes de
encaminhamento de casos. Possibilita vislumbrar como as unidades
mantém relações com outros serviços e atores sociais no que se refere à
população de rua, mas também em relação aos outros serviços ofertados no
CREAS.
A diferença essencial ao se analisar os atendimentos à população
de rua ofertados pelo CREAS e aqueles ofertados pelo Centro POP é que,
no primeiro, são tomados os serviços como um todo, a todos segmentos
populacionais abrangidos. Assim, os encaminhamentos de outros órgãos
tendem a ser mais variados, considerando a amplitude de demandas
151 11
específicas voltadas a idosos, crianças, mulheres, adolescentes em conflito
com a lei, população de rua, pessoas com deficiência, população LGBT,
vítimas de violações de natureza étnica entre outros. Na unidade de CREAS
é possível observar casos encaminhados pelos conselhos tutelares,
delegacias, conselhos do idoso, da pessoa com deficiência, Tribunal de
Justiça, Defensoria Pública dentre outros. O que se segue, então, é uma
apreciação de quais os principais focos de encaminhamentos para os
CREAS, para que posteriormente, no eixo de articulação com a rede, sejam
caracterizados os contatos.
Leme elenca as principais fontes de encaminhamentos para
atendimento, estando em primeiro lugar as demais políticas públicas, dado
evidente no quadro a ser posteriormente apresentado, sob o título
"articulação com a rede". É importante reforçar que, embora sejam
encaminhados casos de outras políticas públicas, isso não implica
necessariamente em intersetorialidade. O poder judiciário e o Ministério
Público estão ambos ocupando a segunda posição em termos de fonte
prioritária de encaminhamentos. Destes órgãos partem demandas de casos
de múltiplas categorias de violências, sendo as principais aquelas contra a
criança, às mulheres e aos idosos. Os demais órgãos da política de
assistência social figuram em terceiro lugar, fator que pode dar indícios de
que a comunicação e a atuação entre PSB e PSE não estejam conforme
propostas na PNAS. Evidentemente que tal afirmativa careceria de pesquisa
específica, a qual analisaria comunicação, fluxos de encaminhamentos,
planejamento das ações e compartilhamento dos dados oriundos da
vigilância social. Por último, e, reforçando a hipótese acima pontuada,
aparece a unidade CRAS, responsável pelo fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários.
Pirassununga informa que o Tribunal de Justiça é a principal fonte
de casos encaminhados. No caso da relação com o Judiciário, o CREAS
desenvolve atendimentos aos casos sob demanda processual. Os municípios
informam, ao longo do preenchimento dos questionários, que os recursos
humanos disponíveis para a unidade têm de ser utilizados para a realização
de avaliações e atendimentos de responsabilidade dos Tribunais. Alega-se
que, na falta de técnicos de nível superior para realizar as avaliações
152 11
judiciais, não é raro que os juízes notifiquem os municípios para que os
psicólogos e assistentes sociais da rede municipal procedam com as
avaliações. Esse fato é claramente um desvio da função dos profissionais,
fator que restringe ainda mais o potencial de atendimento das equipes.
Em segundo lugar figura o Ministério Público, fato que dá indícios
de que o sistema de justiça demanda consideravelmente à unidade de
CREAS em Pirassununga. Esta relação varia de cidade para cidade, mas a
relação com o sistema de justiça, via de regra, é bastante frequente em
órgãos que trabalham com violações. O atendimento das necessidades
jurídicas pelo sistema de justiça, não inclui as causas e consequências das
violações, devendo ser trabalhadas em unidades especializadas que
promovam a reorganização da vida como um todo e a superação das
violações. Em terceiro estão os encaminhamentos oriundos dos demais
órgãos da PAS, seguido pela unidade de CRAS e pela busca espontânea.
Os encaminhamentos feitos por outras PP figuram em último lugar.
Cordeirópolis informa que a busca espontânea dos usuários é a
principal via de entrada de casos. No caso do CREAS em questão, é
perceptível que os números de atividades ofertadas no serviço têm relativa
limitação. Nesse sentido, é possível que não haja uma quantidade maior de
casos vindos de outros órgãos em função de a própria oferta ser limitada. Os
demais órgãos da política de assistência social constam em segundo lugar,
demonstrando uma tendência à referência e a contrareferência em âmbito
interno. Os serviços da rede de saúde pública estão em terceiro lugar e,
possivelmente, tenham relação com os casos que envolvem uso
problemático de substâncias psicoativas, quando o dado é cruzado com as
demandas atendidas e o uso de substâncias psicoativas figura dentre elas.
Conchal apresenta predominância de encaminhamentos oriundos
dos órgãos do sistema de justiça como principais fontes, consistindo no
Tribunal de Justiça e no Ministério Público. A busca espontânea dos usuários
ao serviço aparece logo após os órgãos de justiça. A diferença para as
unidades anteriores são as demandas das unidades de acolhimento. Este
fato permite refletir que a porta de entrada para os casos de população de
rua na cidade seja o acolhimento, não o CREAS. O acesso ao acolhimento
repercute no conhecimento sobre o serviço especializado, que visa a oferta
153 11
de outros trabalhos que não o abrigo. Quando os serviços de abordagem
atuam em amplo território, a tendência é que esse seja o primeiro ponto de
contato das pessoas, em condição de rua, como os serviços existentes no
município. No caso de o primeiro acesso ser o acolhimento, a cultura de rua
e a troca de informação entre os usuários é a principal via de esclarecimento
sobre os serviços existentes no município.
O município de Araras se encontrava, no momento da pesquisa, em
vias de ampliar de forma substancial a oferta de serviços destinados à
população de rua no eixo da AS, sendo necessário frisar que a realidade
existente hoje é diferente daquela do tempo da aplicação da pesquisa. A
atual configuração apresenta duas unidades especificas, o centro
especializado de população de rua e, a unidade de acolhimento. No
planejamento municipal, as unidades ficam no mesmo pátio, porem com
prédios e equipes distintas. Ao dialogar com a coordenação do serviço
especializado, a justificativa de modelo diverso ao proposto pelo MDS tem
fundamento na integração entre o morar e o reorganizar a vida.
A atualização da realidade de Araras não será prioridade, sendo
que a pesquisa considera os elementos presentes no tempo de sua
aplicação, porém tal informação oferece subsídios sobre a evolução na
perspectiva da gestão. Apesar da expansão no número de unidades e
serviços, a relação com as demais unidades, órgãos e atores da rede é
qualificada como limitada, havendo resistência das demais políticas públicas
em aceitar que as pessoas em condição de rua demandem acesso a
serviços públicos, no âmbito de outras políticas. No hall das principais
demandas de serviços estão em ordem: a demanda espontânea dos
usuários, as demais políticas públicas, os CRAS, o MP e as delegacias.
As delegacias que mais encaminham casos ao CREAS são as
especializadas, particularmente as delegacias da mulher. Essas unidades
atendem não apenas aos casos de violência de gênero, pois passaram a
funcionar com a ideia de delegacias de proteção às famílias. Nesse sentido,
os casos de violência contra o idoso e à criança também são recebidos nas
unidades especializadas. Em municípios em que as unidades especializadas
não estão presentes, essa demanda emerge das unidades comuns,
154 11
generalistas. No caso de Araras, a delegacia especializada está presente no
território municipal.
F) Articulação com a rede
A PNPR, mais do que propor articulação, apresenta uma
estruturação intersetorial, que pelas dificuldades de concepção sobre
intersetorialidade e sua relação com a interdisciplinaridade, faz com que as
políticas intersetoriais não apresentem os resultados planejados. O tópico
articulação propõe a pontuação de elementos que aludem ao tipo de relação
existente entre os serviços analisados e os das demais políticas públicas. As
relações em rede possibilitam inferências sobre o potencial de
intersetorialidade necessário na execução de uma política, permitindo
analisar o que o Estado faz em comparação com o que deveria fazer.
A incorporação da intersetorialidade nas políticas públicas trouxe a
articulação de saberes técnicos, pois os especialistas em determinada área
passaram a integrar agendas coletivas e compartilhar objetivos comuns,
Nascimento (2010). Tal afirmativa reflete a dinâmica estabelecida em âmbito
nacional, quando na construção da proposta da PNPR, a qual tratou de
articular setores não só ao longo do processo de construção, mas também na
implementação, em âmbito nacional, através de propostas como a CIAMP-
Rua. No entanto, em âmbito da MRL, não se observou uma dinâmica
semelhante, no sentido da construção e da implementação das políticas
municipais, para a população de rua, fato que pode ter relação direta com a
dificuldade em estabelecer articulações e, consequentemente, uma
abordagem intersetorial do problema, reforçando a execução sob um único
eixo dentre os previstos na PNPR.
Considerando que os serviços destinados à população de rua em
âmbito de MRL se desenvolvem, em sua grande maioria, no eixo da
assistência social, cabe ressaltar o que preconizam as Orientações técnicas
do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (2011, p.63)
quanto ao conceito de rede:
"A articulação na rede socioassistencial se traduz por meio de conexões entre as Unidades do SUAS para que, de forma complementar e continuada, possam atender às demandas dos indivíduos e famílias. Nesse sentido, recomenda- se a definição de fluxos para o relacionamento entre essas Unidades, com vista ao
155 11
atendimento integrado a fragmentação e/ou a sobreposição das ações. A adoção de fluxos deve subsidiar a prática cotidiana de encaminhamentos e relacionamento entre as Unidades do SUAS no acompanhamento a famílias e indivíduos. Para potencializar esta articulação podem ser utilizadas diversas estratégias, a exemplo de reuniões entre instituições da rede, capacitações comuns e realização de eventos para a integração entre as equipes."(BRASIL,
2011f, p. 63).
Conforme Farah (2001), existem processos de transformação em
curso nas esferas locais de governo, os quais chamam a atenção para a
ampliação dos atores envolvidos na formulação, na implementação e no
controle das políticas públicas, e para o estabelecimento de parcerias —
entre Estado e sociedade e entre organizações do próprio Estado — no
intuito de prover serviços públicos e formular e implementar políticas
públicas. Na MRL, aparentemente, esta lógica exposta pela autora, está em
processo de estagnação em nível de gestão, sendo entendida pelos
trabalhadores que executam as ações, porém, desconsideradas em âmbito
dos tomadores de decisão.
156 11
Figura 12 - Órgãos e Instituições x Articulações -
Fonte: elaboração própria a partir de dados extraídos dos instrumentos aplicados nos
municípios da MRL - Março de 2016
157 11
Figura 13- Articulações x Numero de órgãos e Instituições
Fonte: elaboração própria a partir de dados extraídos dos instrumentos aplicados nos
municípios da MRL - Março de 2016
158 11
Figura 14 - Ranking entre os municípios
Fonte: elaboração própria a partir de dados extraídos dos instrumentos aplicados nos municípios da MRL - Março de 2016
Leme54
20%
Pirassununga73
26%
Cordeirópolis30
11%
Conchal8
3%
Araras11240%
CREASRanking de Articulação
Leme; 32%
Pirassununga 43%
Cordeirópolis 18%
Conchal; 5%
Araras; 67%
CREASPercentual de Relações Possíveis
159 11
Em Leme, conforme já antecipado, os órgãos do sistema de justiça
estão representados pelas relações com o Tribunal de Justiça, Ministério
Público, Defensoria Pública e Delegacias. Coerente com as diretrizes da
PNPR, este eixo pode ser entendido como aquele relacionado à justiça, o
qual inclui também a atuação das Guardas Municipais e demais órgãos de
repressão. A população de rua é, recorrentemente, alvo de hipervisibilidade
pelas forças policiais46 e a atuação intersetorial proposta pela PNPR prevê a
participação do sistema de justiça, inclusive na intenção de que sejam
capacitados para abordagens menos higienistas e, de direitos.
Leme não possui unidade da Defensoria Pública em seu
município, fato que pode impactar na inexistência de relação com o órgão
que assegura o direito constitucional de acesso à justiça gratuita. Uma
possibilidade de trazer para o território atuação deste órgão é o acionamento
dos núcleos estaduais da Defensoria, os quais têm responsabilidades em
âmbito estadual, podendo estabelecer parcerias com o município. A
Defensoria pode exercer uma função idêntica àquela executada pelo MP, na
fiscalização e cobrança de acesso dos cidadãos aos serviços públicos, fator
que pode implicar na multiplicação do acesso aos direitos.
Informam intensos contatos com os demais órgãos
socioassistenciais, realizando as atividades de planejamento, discussão e
acompanhamento conjunto de casos. A existência de tal articulação não
implica, necessariamente, que todos os segmentos populacionais atendidos
no PAFI sejam igualmente abordados. Em entrevista, a coordenação da
unidade fala da resistência dos profissionais do próprio CREAS em abordar a
temática da população de rua, não sendo diferente a postura das demais
unidades da PAS.
A articulação com os órgãos de saúde, como dito, têm relação
ampliada, principalmente, pelas lesões de direitos decorrentes do uso
problemático de substâncias psicoativas e álcool. Casos de psicopatologias
da ordem das psicoses47 também demandam relação de proximidade. As
46 FOUCAULT, M. (1979 e 1984); OLIVEIRA (2013); FRANGELLA (2004). 47 Psicose é uma condição médica que afeta o cérebro e tem tratamento. Ocorre uma alteração na mente comprometendo a capacidade de o indivíduo pensar, perceber, sentir e comporta-se. É mais comum em homens adultos jovens, sendo comum nessa faixa etária. Os sintomas são muito diversos e podem ser percebidos através de mudanças de características pessoais como
160 11
articulações em saúde mental, no entanto, se limitam à identificação da
localização das unidades e encaminhamento e recebimento de casos, não
havendo indicação de planejamento e discussão dos casos e de rotinas nas
unidades. Nesse sentido, é possível inferir que a articulação esteja bastante
distante da proposta da PNPR, a qual prevê relações muito mais
aprofundadas visando a construção de uma atuação que transcende ao
terreno d a s políticas isoladas e das próprias formações dos profissionais
em cada secretaria: consiste em uma proposta interdisciplinar que nem ao
menos consegue ser intersetorial.
A educação é política pública que figura entre aqueles com as
quais Leme estabelece articulação, porém com o mesmo grau de integração
estabelecido com a saúde. Pensando na população de rua, não são
informados ações e fluxos, nem tampouco a construção de atuação
intersetorial voltada às necessidades desta população. As linhas de atuação
da saúde em relação ao público alvo da pesquisa nem sequer são referidas
na articulação com a educação, devendo estar restritas às demandas da
criança e do adolescente.
A inexistência de articulação com as secretarias de habitação,
trabalho e emprego bem como esporte, lazer e cultura chama a atenção e
nesse sentido diverge da proposta da Política de População de Rua. A
temática de trabalho e emprego, bem como da habitação estão diretamente
relacionadas à problemática da pessoa que vive nas ruas. Focando no
público alvo é possível inferir que a superação destes elementos nas
histórias de vida dos sujeitos nem sequer serão encaminhados,
referenciados ou articulados, no território municipal, pela PAS, demonstrando
um perfil municipal para pensar o problema, que se distancia do
entendimento da multiplicidade de fatores implicados no fenômeno.
Em Pirassununga, a articulação com as unidades de acolhimento
é complexa, havendo não só referenciamento e contrarreferenciamento de
casos, mas também a discussão e o planejamento da atuação conjunta. É
importante frisar que o público alvo das unidades de acolhimento inclui
no humor, no modo de pensar e no comportamento. O tipo, a quantidade e a intensidade dos sintomas variam entre as pessoas e com o decorrer do tempo. Os principais sintomas são os seguintes: pensamento confuso, crenças falsas ou delírios, alucinações, alterações nos sentimentos e comportamento. In: Manual Clinico dos Transtornos Psiquiátricos.
161 11
idosos, crianças, mulheres vítimas de violência e seus filhos e também
pessoas em situação de rua. A articulação entre CREAS e unidade de
acolhimento de população de rua foi referida em ambas as unidades, sendo
também perceptível relação de proximidade das mesmas com órgãos de
saúde. Com relação à saúde mental, existem projetos desenvolvidos de
forma conjunta e destinados para as populações gerais dos CREAS,
incluindo as pessoas em situação de rua.
Pirassununga foi o único município da MRL que apresentou o
dado "retorno ao núcleo familiar", como resultado da superação da condição
de rua para os indivíduos. Ao tempo da pesquisa, esse dado dizia respeito ao
mês de dezembro de 2015, quando oito indivíduos reataram laços familiares
e sociais, deixando de figurarem como em situação de rua. A superação de
outras características como a falta de acesso ao trabalho e renda não foram
pontuados, considerando-se como superação, unicamente, a saída do
espaço público com recurso de moradia. Pela caracterização da condição de
rua, os elementos de extrema pobreza, uso problemático de substâncias
psicoativas e constituição da rede social de apoio não foram pontuados pela
coordenação da unidade de acolhimento, local de onde emanou tal
informação.
Após a triagem efetuada pelo acolhimento, os usuários do serviço
são encaminhados à Unidade Básica de Saúde (UBS) da região central, local
onde efetuam os referidos exames. A realização dos exames não é
obrigatória, segundo a coordenação, ficando disponível àqueles que
desejarem e, em casos graves de debilidade, os usuários são levados à
Santa Casa. A construção de uma lógica de encaminhamentos e da troca de
informações sobre os casos demonstram articulação entre as secretarias e
uma gradação menor de rejeição, para lidar com a demanda. No entanto, é
informado que este tipo de relação entre as secretarias da assistência e da
saúde se deve muito mais as relações estabelecidas entre os indivíduos que
compõem as unidades do que consequência de planejamento e construção
articuladas de ações, nos moldes do decreto 7053/2009.
As motivações dos líderes políticos têm direta repercussão sobre a
implementação de políticas públicas. É interessante constatar que no
município em que ocorre a articulação regular entre as secretarias da saúde
162 11
e assistência, a prefeita, segundo informação da coordenação do CREAS, é
pessoa, particularmente, interessada em manter a temática da condição de
rua na agenda pública, fato atribuído à sua experiência pessoal, no trabalho
com a demanda.
Outro fator relevante em Pirassununga é a localização das
unidades de atendimento na região central, fato que, segundo os
trabalhadores das unidades de atendimento, facilita o acesso dos usuários a
outros serviços públicos. Segundo informações coletadas nas unidades de
atendimento existem parcerias estabelecidas entre a secretaria municipal de
assistência e as secretarias de saúde, esporte e lazer, cultura, habitação,
educação, segurança alimentar, bem como outros órgãos das políticas de
assistência social.
No que se refere à habitação, a coordenadora informa que quatro
usuários dos serviços foram contemplados com casas pelo programa "minha
casa minha vida", tendo sido, segundo ela, a possibilidade de inscrição foi
estendida a todos que tivessem interesse. Apresenta-se, neste caso, um
trabalho prévio junto à habitação, bem como o acompanhamento contínuo
dos serviços públicos aos quais desejem ter acesso. A mesma coordenadora
afirma que a habitação de interesse social traz os conceitos necessários para
que retomem elementos de auto estima, e neste caso específico, habitar um
espaço próprio é visto pela coordenadora do CREAS como uma conquista
dos usuários. Reforça, ainda, que o programa priorizou a inclusão do público
alvo dessa pesquisa nos critérios de sorteio, e que aqueles que se
candidataram tiveram a unidade concedida.
A unidade de CREAS concentra as ações de cadastramento e
referenciamento da população de rua, bem como, a oferta de trabalho em
grupo e individualizado, conforme o interesse dos usuários. O primeiro
contato de um morador de rua ao chegar ao município de Pirassununga pode
ser feito na unidade de acolhimento, assim como no próprio CREAS. As
informações fluem nesse grupo de indivíduos, inclusive sendo dito, pelos
usuários em outros estados do país, que Pirassununga é uma cidade que
acolhe bem os moradores de rua, (Amanda, psicóloga da unidade de
acolhimento de Pirassununga, entrevistada em março de 2016). A
estruturação da oferta de serviços às pessoas em situação de rua apresenta
163 11
a construção de fluxos de encaminhamentos entre alguns setores elencados
na PNPR, como saúde, assistência, educação, habitação e segurança
alimentar.
O cadastramento serve para diversos fins, dentre eles, é a via de
referenciamento dos indivíduos ao CAD SUAS48. Estando cadastrados na
política de assistência, procedimento padrão para inclusão nas ações,
programas e projetos, os usuários podem ter acesso aos demais serviços. O
trabalho socioassistencial é ofertado por uma dupla de profissionais, sendo
que uma delas é a assistente social que coordena a unidade. Afirma a
profissional que a participação no grupo é uma das condições para que
acessem a cozinha comunitária, programa municipal da Política de
Assistência Social, relacionado ao programa "fome zero"49. A cozinha
comunitária oferece refeições ao valor de R$1,00, tendo, então, como critério
de acesso às refeições o cadastramento prévio dos usuários nos serviços da
assistência. Quando questionada sobre criação de condições para acessar
um direito, a resposta da coordenadora é que, dessa forma, passaram a ter
uma relação mais próxima com os usuários do serviço, obtendo a
participação de boa parte daqueles referenciados no município. Entende que
assim tem sido possível trabalhar diversas seguranças previstas na
tipificação, bem como a mobilização dos indivíduos para se manterem mais
organizados.
A condição de participar do grupo, para que tenham acesso ao
almoço, é entendida pela equipe como um instrumento de aproximação e
trabalho daquilo que entendem como um perfil do grupo em questão: a
desmotivação para a busca de novas perspectivas. De fato, a coordenadora
entende que mesmo não acessando ao grupo, o CREAS e a unidade de
Acolhimento atendem às demandas igualmente, exceto pela questão
alimentar na cozinha comunitária do município. Estar sob a cobertura dos
serviços implica em participação nas atividades que propõem introspecção,
48 O CADSUAS é o sistema de cadastro do SUAS, que comporta todas as informações relativas às prefeituras, órgão gestor, fundo e conselho municipal e entidades que prestam serviços socioassistenciais. Acessado em: http://aplicacoes.mds.gov.br/cadsuas/recarregarTipoEntidade.html. 49 O Fome Zero é um programa do Governo Federal, que visa o direito de alimentação da população brasileira. É uma maneira de garantir cidadania às populações vulneráveis à fome. No Brasil, existem mais de 10 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, o que significa que nem o acesso à alimentação é saudável. (http://bolsa-familia.info/fome-zero.html)
164 11
resgate dos vínculos familiares e sociais, na medida em que cada sujeito se
sente pronto para tal. Em muitos casos o que os sujeitos conseguem
aproveitar dos serviços diz respeito, diretamente, à sua capacidade de
resiliência e retomada das perspectivas de vida.
A relação com a unidade de CRAS está constituída por
planejamento conjunto, o qual repercute em melhor efetividade das ações,
exigindo das equipes um esforço interdisciplinar, considerando que são
compostas por profissionais de variadas disciplinas dedicados à execução de
uma política pública com variados graus de complexidade, necessitando
articulações complexas e imbricadas. Isso significa dizer que nos CRAS,
além do campo especifico da PSB existe a prática de cada profissional no
terreno de sua disciplina de origem e a consequente atuação perante os
fenômenos do campo. Da mesma forma, as equipes de CREAS se compõem
por profissionais de múltiplas disciplinas tendo de construir uma metodologia
de atuação que culmine no atendimento das violações.
Ainda, no contexto do Plano Brasil sem Miséria, os serviços de
assistência social ofertados por meio dos CRAS e dos CREAS constituem
uma das principais estratégias para materialização do acompanhamento das
famílias em extrema pobreza, fator que impacta diretamente na população
alvo da pesquisa. Considerando que a pobreza extrema é característica do
fenômeno população de rua, e que a multidimensionalidade é a perspectiva
adotada, a articulação no âmbito das proteções configura como potencial,
para abrangência dos múltiplos aspectos das vidas das famílias e indivíduos.
A atuação do CREAS deve articular os serviços de média complexidade e
operar a referência e a contrareferência com a rede de serviços
socioassistenciais da proteção social básica e especial, com as demais
políticas públicas e demais instituições que compõem o Sistema de Garantia
de Direitos e movimentos sociais, no intuito de estruturar uma rede efetiva de
proteção social.
Em relação aos demais serviços da rede socioassistencial se
evidencia a complexidade de vínculo, fato que, tomado conjuntamente com
as reflexões acima, permite inferir que a PAS no território municipal é
executada de forma articulada e integrada. A rede essencial de articulação
do CREAS é composta pelas relações com os CRAS, com a Gestão dos
165 11
Programas de Transferência de Renda e Benefícios (PETI, Bolsa Família,
Benefício de Prestação Continuada - BPC), com os Serviços de Saúde, em
especial a Saúde Mental, com os Órgãos de Defesa de Direitos (Conselho
Tutelar, Ministério Público, Poder Judiciário, Defensoria Pública), com a Rede
de Educação e com Serviços de Acolhimento.
Considerando que Pirassununga informa a inclusão de pessoas
em situação de rua em ações conjuntas com a secretaria do trabalho, da
educação, da saúde e segurança alimentar, a intersetorialidade, embora não
ocorra nos moldes do Decreto 7053, se desenvolve através da discussão
conjunta de casos, do planejamento de estratégias de atuação, nos
encaminhamentos e acompanhamentos conjuntos dos indivíduos em
condição de rua. Foi em Pirassununga que pessoas em condição de rua
tiveram acesso ao PRONATEC, à contemplação por unidades habitacionais
e as questões de saúde física e mental tomadas de forma conjunta e
articulada, entre as secretarias.
O que se percebe é um discurso que se refere aos sujeitos de
forma mais integrada, que se manifesta pela construção de uma imagem
mais próxima da visão da garantia de direitos. Na unidade de acolhimento,
principal unidade a qual os indivíduos em situação de rua recorrem, é
percebida uma lógica de oferta de serviços constituída não só pelas ações
daquela unidade, mas também com a lógica de um conjunto de ações que
estão instituídas em diversas secretarias. Pirassununga nos permite inferir
como sendo o município da MRL que mais se aproxima do modelo
intersetorial proposto pelo Decreto, apesar de os requisitos formais não
terem sido atendidos.
As instituições de ensino e pesquisa se mostram ausentes na rede
de articulação, fator já referido nos demais municípios, ilustrando tendência
microrregional de distanciamento do investimento, na capacitação das
equipes. A publicação da Política Nacional de Assistência Social (2004),
seguida pela Norma Operacional Básica do SUAS (2005) e, posteriormente,
pela Norma Operacional Básica de Recursos Humanos (2007), sinalizou a
necessidade de investimento na capacitação dos trabalhadores, de forma a
imprimir qualidade ao atendimento dos usuários da política pública de
assistência social.
166 11
Cordeirópolis é um município que apresenta articulações limitadas
na execução das atividades de CREAS. A execução da própria PAS, no
território municipal, apresenta composição parcial. Não existem unidades de
acolhimento, no território para nenhum público alvo, incluindo para as
pessoas em condição de rua. A articulação com as unidades de PSE e PSB
não ocorre, e as relações com as demais unidades são referidas apenas no
âmbito do conhecimento sobre a localização, o encaminhamento e trocas de
informações, não havendo a indicação de planejamento conjunto e articulado.
Os demais eixos previstos na PNPR não são abordados, havendo
inter-relação com a saúde quanto ao encaminhamento, a localização das
unidades e a troca de informações sobre os casos. As políticas públicas de
habitação, trabalho e renda, lazer, esporte e cultura não se relacionam com
as atividades do CREAS. As dimensões da complexidade envolvida no
atendimento à população de rua se mostram distantes dos caminhos
apontados pela Política Nacional para População de Rua no município.
No município de Conchal, a articulação intersetorial se desenvolve,
basicamente, junto aos serviços de saúde mental. Aqui se abre uma janela
de reflexão sobre a relação da saúde mental com as violações de direitos,
em especial das pessoas em condição de rua.
Os problemas de saúde foram as causas autodeclaradas por 7%
dos entrevistados pela Pesquisa Nacional sobre População em Situação de
Rua. Por outro lado, a vida na rua pode ocasionar problemas de saúde
secundários, devido ao aumento da exposição, como vulnerabilidade às
violências, ingestão de alimentos e água contaminados, variações climáticas
bruscas, doenças nos pés, infestações de parasitas, tuberculose, DST´s,
doenças crônicas, álcool e drogas e demais problemas de saúde mental.
A vida na rua expõe a riscos que fazem com que essa população
necessite, sob diversos aspectos, de abordagem específica das equipes de
saúde. Literatura escassa no país e número pequeno de pesquisas sobre o
tema fazem com que a dinâmica da vida nas ruas das cidades e os
determinantes de saúde relacionados a ela sejam um campo sob muitos
ângulos, ainda, pouco explorado.
O município de Conchal ao responder a pesquisa ilustra bem a
centralidade em ações de saúde mental não só no atendimento de população
167 11
de rua, mas também em relação aos demais públicos do PAEFI. Focando em
população de rua é possível inferir que as demandas de álcool e drogas são
as principais discutidas com a secretaria municipal de saúde, ilustrando a
tendência de acesso parcial ao direito à saúde, pois como já referido, o
contexto de rua traz especificidades também em âmbito dos aspetos clínicos,
na atenção básica.
Outra questão a ser considerada é o perfil do público em condição
de rua e a dificuldade de acesso dos profissionais de saúde. Além das
dificuldades para realizar anamnese50 e exames físicos, tais profissionais
lidam com pacientes que apresentam baixa adesão ao tratamento, falta de
acesso ao serviço e acompanhamento. A vida nas ruas possui uma
psicodinâmica que começa com os fatores que levaram o indivíduo a ir para
as ruas e vai até a sua vivência. Diversas ferramentas foram pensadas para
atuar de maneira efetiva na promoção da saúde entre a população que vive
em situação de rua. Da junção entre o programa Consultório de Rua (equipe
itinerante com foco na saúde mental) e do programa Estratégia da Saúde da
Família Sem Domicílio (ESF com equipes específicas para atenção integral à
saúde da população em situação de rua) foi criado o dispositivo Consultório
na Rua, que consiste em uma equipe itinerante para atenção integral à saúde
da população em situação de rua.
O município de Araras foi o que apontou o maior número de
articulações entre a rede externa e interna. Os entrevistados se referiram à
existência de encaminhamentos, reuniões de equipes, troca de informações,
reuniões e planejamento conjunto com os seguintes setores e unidades:
Acolhimento, CRAS, saúde mental e demais serviços na área, educação,
habitação, Ministério Público, Tribunal de Justiça, órgãos emissores de
documentação, delegacias especializadas, conselho tutelar, guardas
municipais, ONG´s, trabalho e emprego.
Quando consultado sobre o atendimento específico à população
de rua, é importante informar que a relação de acolhimento informada não se
refere à modalidade de atendimento a essa população, pois no tempo da
pesquisa, como já mencionado, a unidade não havia sido implantada. Araras
50 Anamnese consiste em exame da história de, desde a infância, dos indivíduos atendidos. Termo originário da área da saúde.
168 11
apresenta relação mais aprofundada entre o número maior de secretarias e
órgãos contemplados na caracterização do Decreto 7053. A existência de
planejamento e troca de informações sobre os casos atendidos,
conjuntamente, demonstra potencial para uma possível adesão à PNPR.
Quanto à possibilidade da evolução do modelo ofertado em
Araras, para a adesão à PNPR, a mudança no cenário político no município e
no governo federal pode trazer reflexos significativos, considerando o perfil
de governo presente nas diferentes esferas ser bastante diverso do anterior.
A continuidade das relações articuladas e seu aprimoramento em direção à
criação do comitê gestor e da organização dos serviços em eixos
intersetoriais não está assegurada, tendo ampla influência dos tomadores de
decisão, no âmbito do poder executivo.
Foi possível perceber, durante a aplicação da pesquisa, a clareza
existente entre os profissionais dedicados à temática da população de rua no
município e o conhecimento considerável sobre o Decreto 7053 e demais
normativas que orientam a oferta dos serviços. Há clareza sobre a
necessidade de atuação intersetorial e sobre a dificuldade de as demais
políticas públicas entenderem que a população de rua não se constitui como
"clientela" exclusiva da PAS.
Outro aspecto a ser considerado é o distanciamento das
instituições de ensino e pesquisa da execução de serviços, no campo da
PAS. As relações com o sistema de justiça estão significativamente
presentes, nos moldes dos demais CREAS. A relação com a Defensoria
Pública não se faz presente, possivelmente em decorrência da inexistência
de unidades, podendo, no entanto, ser acessados os núcleos estaduais,
conforme já referido.
O problema da elaboração de documentação civil é importante,
para o acesso a direitos civis e possibilita o cadastramento nos programas e
ações das diversas políticas públicas. No que tange à população de rua, a
perda de documentos ocorre com frequência, tanto pelo extravio em
decorrência dos objetos pessoais ficarem em espaço público, quanto pela
própria ação de órgãos públicos.
169 11
Análise das unidades de acolhimento em Leme, Limeira e
Pirassununga
A) Gestão da unidade e composição das atividades
Os municípios de Limeira, Leme e Pirassununga apresentavam
unidades de acolhimento ao tempo da aplicação da pesquisa. Araras conta
atualmente com unidade nessa modalidade de serviço, porém, sua
implantação ocorreu poucas semanas após a pesquisa de campo, não tendo
sido incluída na relação das unidades. Leme e Pirassununga executam o
acolhimento através de entidades socioassistenciais, co-financiadas e
supervisionadas pelo poder público, tendo como território de abrangência,
apenas o próprio município onde se situam. A natureza jurídica das unidades
de Leme e Pirassununga é privada, ofertando serviço de interesse público,
devendo estar, consequentemente, sob a regência da legislação que orienta
a atuação pública. Os princípios da administração pública são válidos para
estas unidades em exercício de função pública, devendo estar sob as
diretrizes das que emanam do Conselho Municipal da Assistência Social.
No que se refere à gestão das unidades, Leme e Pirassununga se
encontravam em uma situação de inadequação entre a entidade de
acolhimento e o poder público. Por complicações nas prestações de contas,
a unidade de acolhimento de Leme teve a inscrição suspensa junto ao
CMAS, estando em vias de reordenamento para o retorno à rede
conveniada. No caso de Pirassununga não foram fornecidas informações
para a não vinculação ao CMAS e cabe ressaltar que essa situação contraria
as orientações da PNAS.
Pirassununga recebe incentivos do poder público para a execução
de suas funções como pagamento de aluguel, de contas de água, luz e
telefone, fornecimento de gêneros alimentícios, materiais de limpeza e
didáticos, além da isenção de taxas e tributos municipais. No caso de Leme o
convênio se estabelece através do repasse do fundo municipal, para a conta
da entidade que executa o acolhimento. Todas as unidades atendem a
população oriunda de seu próprio território, não havendo convênio para o
atendimento de usuários de outros municípios.
A unidade de Leme tem filosofia de trabalho pautada na
religiosidade, fato que não ocorre em Limeira e Pirassununga. Esse fator
170 11
imprime características específicas na oferta de serviços, que relaciona a
religiosidade à superação dos elementos de vulnerabilidade. Em algumas
unidades a relação da religiosidade pode ser alienadora e limitadora, ao
passo que em outras pode resultar em oferta de serviços disponível, mas
sem intenções doutrinárias.
Com relação à quantidade de pessoas acolhidas, as três unidades
se encontram dentro dos limites orientados pelo "Manual de Reordenamento
dos Serviços de Acolhimento", (BRASIL, 2013j). As unidades de Leme e
Pirassununga apresentam apenas usuários de sexo masculino, embora haja
previsão para o acolhimento de mulheres; Limeira apresentava usuários de
ambos os sexos, no momento da aplicação da pesquisa. É importante
reforçar que unidades para população de rua só podem acolher crianças se
acompanhados dos pais ou responsáveis e caso não perfaçam tal critério
devem ser encaminhadas às unidades de acolhimento de crianças e
adolescentes.
O município de Leme não acolhe núcleos de familiares, ao
contrário de Limeira e Pirassununga que têm previsão para tal
demanda. Em caso de acolhimento de mulheres vítimas de violência, outro
público alvo, os filhos podem ser acolhidos junto à genitora. Outro dado
importante é a faixa etária dos usuários, sendo esta constituída em sua
grande maioria, por homens entre os 22 e 59 anos.
O número de pessoas por quarto excede às orientações técnicas,
devendo ser de no máximo quatro pessoas. Quanto às faixas etárias dos
usuários, Leme estipula idade mínima, mas não máxima, implicando na
possibilidade de acolhimento de idosos, os quais devem ser referenciados às
unidades específicas de abrigamento a essa população. A metodologia de
trabalho com idosos é diferente daquela a ser usada com adultos não idosos
em condição de rua. Mesmo que o idoso esteja em condição de rua, o
referencial técnico e teórico sobre a oferta de serviços prioriza sua
especificidade de ciclo vital, não de condição social, ou seja, a condição de
idosa demanda primazia no atendimento, perante a condição de rua.
O perfil dos usuários atendidos em Leme inclui pessoas com
deficiência, apesar de a unidade não apresentar acesso facilitado à unidade,
nem adaptação dos banheiros. O uso de drogas e a trajetória de rua acabam
171 11
por perfazer o perfil da população acolhida em Leme. Limeira apresenta
número significativo de pessoas acolhidas com características de transtorno
mental. Esse fato demanda ainda mais articulação com a rede pública de
saúde mental. É possível que parte dessa demanda seja decorrente do
fechamento das unidades psiquiátricas, em função da reforma
antimanicomial. Em alguns municípios o fechamento destas unidades,
ocasionou, nas pessoas internadas por longos períodos, a perda dos
vínculos familiares e do restante da rede social de apoio. Caberia
aprofundamento sobre esse fato, para verificação da existência dessa
relação.
Limitações, nas redes de saúde pública, podem fazer com que
pessoas em condição de rua que apresentam necessidades de ordem da
internação de curta duração acabem por residir em unidades de acolhimento,
por falta de vagas, por rejeição das equipes em lidar com o público em
condição de rua, ou pelo entendimento de que essa população é de
responsabilidade exclusiva da PAS. Essa é uma disfunção, na oferta deste
serviço, devendo cada caso ser analisado em suas especificidades e
trajetória de vida.
O suporte da rede de apoio social, entendendo esta como família,
amigos e unidades afetas ao tema, é importante para a reconstrução da linha
constitutiva da condição de desfiliado, permitindo vislumbrar as
possibilidades de "fazer o caminho de volta". De forma geral, Limeira e
Pirassununga parecem atentar para esses fatos, registrando a existência de
vínculos comunitários, familiares e potencialidades dos indivíduos. A
importância da capacitação junto às equipes se justifica, pela abordagem aos
sujeitos, orientada a partir do conhecimento sobre o fenômeno que se
atende, ampliando as possibilidades de reflexão e fomentando discussões
em maior profundidade. Limeira e Pirassununga constroem os planos
individualizados de atendimento (PIA), metodologia voltada para a
construção/ reconstrução de projetos de vida, de vínculos familiares,
comunitários e sociais, fomentando a construção do processo de saída das
ruas de forma conjunta com o usuário, atentando para a dignidade e o
respeito à sua vontade e nível de autonomia.
172 11
B) Infraestrutura
Leme não coleta informações sobre as potencialidades profissionais
dos usuários, não estabelecendo relação com a unidade de CREAS, na
intenção de atuação conjunta sobre o planejamento de vida da população de
rua no município. Não constroem plano individualizado de atendimento aos
acolhidos, nem promovem ações no eixo do esporte, lazer e cultura. As
visitas familiares são limitadas a alguns períodos do ano, fato que dificulta a
reconstrução das relações com o núcleo.
Nem todos os indivíduos acolhidos demonstram interesse em reatar
os contatos com seus núcleos familiares, podendo ser justamente as
relações oriundas desse contexto um dos principais fatores desorganizadores
da vida dessas pessoas. No entanto, as orientações técnicas reforçam a
importância da garantia de atendimento em espaços/serviços diferenciados
aos grupos familiares que se encontram em situação de rua. A execução das
políticas municipais de assistência social, pautadas nas premissas do SUAS,
conferem à matricialidade sociofamiliar um papel central nas ações da PNAS.
Na MRL, apenas Limeira e Pirassununga permitem visitas diárias aos
acolhidos e efetuam visitas domiciliares a essas famílias.
Outro ponto fundamental não atendido pelo serviço de
acolhimento em Leme é a realização de atendimentos em grupos e
individuais com os usuários, divergindo da orientação técnica de utilização de
metodologia que possibilite o atendimento personalizado e a construção
participativa de projeto de saída das ruas. Após a saída da unidade, os
usuários não são acompanhados por nenhum serviço, fato que não contribui
para a construção/reconstrução de projetos de vida, de vínculos familiares,
comunitários e sociais. Nas demais unidades os usuários são
acompanhados, minimamente, por três meses após a saída, pela própria
equipe do acolhimento.
Tais unidades executam serviços de interesse público, devendo
necessariamente, estar sob regência dos princípios da administração pública.
A atuação de cada unidade deve ser acompanhada, no intuito de assegurar a
eficiência e prevenir a pessoalidade e, nesse sentido, existem órgãos
fiscalizadores e orientadores. Um exemplo do controle exercido de forma
paritária entre sociedade civil e poder público é o acompanhamento e a
173 11
regularização das unidades, perante o CMAS. As Secretarias Municipais de
Assistência Social desempenham o papel fiscalizatório em todas as três
unidades, na intenção de que a PNAS seja desenvolvida sob os moldes e
orientações do MDS.
Leme informa a fiscalização do CMAS, embora afirme que a
unidade de acolhimento não se encontrava, durante a pesquisa de campo,
inscrita no conselho. Esta incoerência pode dar indícios do momento que a
unidade de acolhimento está vivenciando, com reordenamento e
readequação da oferta de serviços, podendo, assim, assegurar a
continuidade na execução das ações. Ainda assim, informam que o CMAS
executa visitas de fiscalização, provavelmente na busca de adequação da
unidade. Os demais abrigos não mencionam visitas do CMAS às unidades,
possivelmente por estarem adequados, quanto à oferta de serviço e nas
prestações de conta.
A unidade de Limeira é a única que informa visitas de fiscalização
e atendimento da Defensoria Pública, órgão que pode exercer funções
análogas às do Ministério Público, no critério de adequação de serviços e
unidades. O fato de Limeira possuir unidade própria da Defensoria permitiu
que estabelecessem relação de proximidade, havendo atendimentos
efetuados na unidade, quando necessário, no sentido de assegurar direitos
aos moradores de rua que residem no abrigo, além de palestras e eventos de
promoção de direitos.
A vigilância sanitária e o corpo de bombeiros são órgãos
responsáveis pelas questões de segurança e salubridade, nos espaços
públicos, sendo significativo o fato de não haver visitas, inspeção ou
supervisão dos mesmos às unidades de Limeira e Leme. Apenas
Pirassununga informa a atuação regular do corpo de bombeiros, fato
preocupante em relação às demais. Limeira apresentou a situação mais
preocupante, não possuindo auto de vistoria do corpo de bombeiros, laudo
da vigilância sanitária e atestado de funcionamento, no período de realização
da pesquisa.
Quanto à localização das unidades, as orientações são atendidas,
parcialmente em Leme. Embora esteja situada em ambiente urbano, a
localização é em área isolada, mesmo havendo a presença de ponto de
174 11
ônibus a menos de mil metros. As demais unidades estão inseridas na
comunidade e em locais onde há maior concentração de pessoas em
situação de rua.
O manual de reordenamento dos serviços de acolhimento indica
que os locais não tenham placas de identificação e que sejam estruturas
próprias e não alugadas (BRASIL, 2013j). Este critério sobre a propriedade
do imóvel é atendido apenas por Limeira, embora esteja com importantes
adequações a serem feitas, junto aos órgãos fiscalizatórios.
Em Leme a quantidade de quartos não atende aos critérios de
número de usuários, por dormitório, havendo previsão de acomodação de 6
pessoas, quando a prescrição deve ser de no máximo 4 por dormitório. A
cozinha se encontra dentro dos parâmetros previstos, não há sala de estar
para que os usuários possam socializar, os banheiros estão adequados
quanto ao número e acessibilidade, apesar da não conformidade com a
norma da ABNT (NBR9050).
Possuem lavanderia equipada com os materiais necessários, não
possuem salas para atendimento da equipe técnica, fato muito significativo
se for considerado que o serviço deve trabalhar de forma personalizada, na
construção participativa de projeto de saída das ruas, considerando, ainda, o
respeito pela privacidade e intimidade.
Na pesquisa de campo, foi questionado sobre a existência de
enfermaria dentro das unidades de acolhimento, exigência que não se aplica,
pois é de responsabilidade da unidade a promoção da articulação
intersetorial com a política de saúde, devendo a mesma possibilitar o acesso
ao direito à saúde. Caso os usuários precisem de atendimento, devem
acessar, como os demais cidadãos, aos serviços disponíveis no SUS.
Em Limeira, a disposição de usuários, nos quartos, excede ao
limite previsto. A cozinha está adequada aos padrões materiais e estruturais,
apesar da inexistência de parecer da vigilância sanitária, fato que impede a
avaliação dos elementos de salubridade. Possuem sala de convivência para
os usuários, fator que impacta, diretamente, na sociabilidade na unidade. Os
banheiros são em número menor do que a capacidade de acolhimento,
havendo a necessidade de mais um cômodo para os usuários. Foi informado
que a lavanderia conta com aparelhos e materiais necessários; dispõem de
175 11
salas para o atendimento individualizado pela equipe técnica; apresentam
sala de reuniões nos moldes previstos.
A coordenação da unidade de acolhimento de Limeira informa que
pessoas com demanda para as unidades de "residência inclusiva" e
"residência terapêutica" são encaminhadas ao acolhimento de pessoas em
situação de rua. Isso ilustra que as demandas por acolhimento de adultos,
mesmo sendo de responsabilidade de outros serviços e outras PP, acabam
sendo encaminhados para a unidade que acolhe pessoas em condição de
rua. Mencionam o caso em que um usuário foi em busca de atendimento na
Santa Casa, mas o médico se negava a fazer uma tomografia, nessa
ocasião, informaram que a equipe precisou ser incisiva com o profissional,
fato que culminou na descoberta de um câncer, na região onde o usuário
sentia dores.
Durante a aplicação dos questionários surgiram relatos de rejeição
dos órgãos de saúde em atenderem às necessidades da população de rua,
em geral, ocorre que essas demandas de saúde dos usuários se concentram
em uso problemático de álcool e outras substâncias. O acolhimento
institucional, para moradores de rua em Limeira, possui uma média de 50%
dos casos de ordem da saúde, consistindo em casos de pessoas com
múltiplas deficiências, bem como casos crônicos de saúde mental.
Em Pirassununga, a ausência de meio de transporte de uso
exclusivo da unidade dificulta o acesso à rede para os usuários e o
deslocamento da equipe com maior celeridade, impactando, negativamente,
sobre o fazer. A disposição dos dormitórios está fora do padrão exigido,
havendo previsão de acomodação de mais pessoas por quarto. A cozinha é
referida com a infraestrutura necessária. Possuem sala de jantar/estar para
uso, na socialização dos moradores, os banheiros atendem aos critérios em
quantidade e adaptabilidade, possuem salas para atendimento técnico, bem
como também dispõem de salas para a coordenação e administração.
Nenhuma das unidades possui mobiliário adequado para o
atendimento de crianças, fato que descumpre exigências, pois há a previsão
de acolhimento de crianças, quando acompanhadas por seus responsáveis
(Limeira e Pirassununga). A ausência de acervo bibliográfico em Leme e
Limeira permite inferir que o acesso à cultura e informação sofre impactos
176 11
negativos pela ausência de material para leitura. O número de computadores
disponíveis aos usuários é zero, nos três municípios, dando indícios de que a
inclusão digital não é ponto valorizado pela gestão. Se ao computador for
atrelado à execução de ações relacionadas aos outros eixos constitutivos da
PNPR, as consequências podem incidir sobre as questões educacionais, de
sociabilidade, de trabalho dentre outras.
A acessibilidade é ponto assegurado de modo parcial nas
unidades. O acesso principal não é garantido por Leme, sendo por Limeira e
Pirassununga. O acesso aos dormitórios é assegurado em Leme e
Pirassununga, mas não em Limeira. Nenhuma das unidades possui banheiro
adaptado para pessoas com deficiência, embora atendam, entre o público
alvo, pessoas nessas condições.
C) Recursos humanos Parâmetro Nacional NOB-RH:
1 coordenador
1 cuidador para até 10 usuários, por turno.
1 auxiliar de Cuidador para até 10 usuários, por turno.
1 assistente social
1 psicólogo
Parâmetro Municipal: Leme
1 coordenador
1 assistente social
1 nível médio - auxiliar administrativo
2 cuidadores revezando por turnos
A unidade de acolhimento de Leme apresentava inadequações
que estavam sendo discutidas, junto à gestão municipal à época da pesquisa
de campo. Ainda assim, como a unidade fora citada como pertencente à rede
municipal de oferta de serviços à população de rua, a mesma foi incluída na
pesquisa, pois de fato atendia a essa demanda.
Uma das questões pontuadas pelo CMAS foi a constituição dos
recursos humanos compostos, basicamente, por voluntários, fato que
implicava na dificuldade de se estabelecer o planejamento, monitoramento e
177 11
a própria continuidade das ações. O coordenador não possui formação
superior completa (esse fato não interfere na formalidade do cargo, pois nível
médio também é permitido no exercício da coordenação), e, quando exerce
funções e atividades de trabalho com os usuários aparecem atribuições que
não lhe cabem pelas orientações legais.
Foi informado que se dispõe de dois cuidadores residentes no
abrigo, havendo a ausência de um auxiliar de cuidador. Como a capacidade
de atendimento da unidade é para 19 internos e cada cuidador só pode
atender até dez usuários, o critério, quanto aos cuidadores foi atendido,
porem há que se ressaltar que a relação trabalhista com a unidade é de
voluntariado, cuja interrupção dos serviços pode ocorrer com maior
facilidade. Quanto à equipe técnica de referência é que se estabelece a
questão de maior fragilidade na unidade. Ao invés da dupla composta por
assistente social e psicólogo, a equipe é composta, apenas, por assistente
social voluntária.
A atuação da equipe técnica é imprescindível, considerando se
tratar de unidade referenciada a uma política pública estruturada, cujo
vínculo com o município exige que se exerça funções de interesse público.
Neste sentido é que as inadequações, vigentes na época da pesquisa,
repercutiram nas exigências de adequação inerentes à própria gestão da
política municipal da assistência e da instância deliberativa e consultiva
(CMAS). De fato, a situação da unidade de acolhimento é precária diante da
lógica do SUAS, a qual prima pela profissionalização da PAS, na intenção de
oferecer aos usuários serviços de qualidade, não mais baseados na
benemerência e na caridade.
Parâmetro Municipal: Pirassununga
1 coordenador
4 profissionais de nível médio
4 cuidadores diurnos
3 cuidador noturnos
1 psicóloga
1 assistente social
178 11
Pirassununga atende ao critério da dupla de técnicos de referência
conforme orientações e também, a exigência de coordenação exclusiva. O
número de componentes da equipe supera o mínimo previsto nas
recomendações, com presença de uma cozinheira e um auxiliar. Dispõem de
um profissional de nível superior incompleto, para o exercício de funções
administrativas, superando a indicação documental.
Considerando o parâmetro de exigência de recursos humanos de
referência, cada um dos cuidadores deve se encarregar de dez usuários dos
serviços, por turno. Como o potencial de atendimento da unidade é de 40
pessoas acolhidas, os quatro educadores previstos para o turno do dia
perfazem o critério exigido. No entanto, considerando que tais unidades
funcionam em ambos os turnos, há a defasagem de um educador para o
turno da noite, caso a unidade esteja com sua capacidade máxima. A
coordenação informa ser pouco recorrente a ocorrência da lotação máxima,
mas mesmo assim, a previsão de atendimento implica em que as equipes
estejam prontas para executarem os serviços, dentro dos parâmetros
estipulados.
Parâmetro Municipal: Limeira
1 coordenador
1 psicóloga
1 assistente social
1 enfermeira - 1dia na semana
3 nível médio
1 cuidador
A unidade de acolhimento de Limeira reconhece as dificuldades
das demais políticas públicas de entenderem as demandas dos usuários de
seu serviço. Informa que a unidade recebe diversos indivíduos com demanda
para acolhimento em unidades, de saúde, mas que, por um desvio nas
funções da unidade, acabam por permanecer no local. Talvez, seja este um
dos fatores que torna necessário o atendimento por parte de uma enfermeira,
em um dia na semana.
A coordenação informa, também, que há significativa resistência
nos serviços de saúde em permitirem acesso aos mesmos como um todo,
179 11
tornando necessário a vinda dos profissionais até a unidade. O fato ilustra os
aspectos de rejeição pela demanda de população de rua, sendo ela
constatada em unidades da própria política de assistência social.
A dupla técnica de referência está presente na unidade, porém o
número de cuidadores fica abaixo do estipulado. No período noturno não
está presente nenhum dos profissionais da equipe além de um vigilante, e no
caso de incidentes a coordenadora é imediatamente acionada. Possuem
motorista e profissional de nível médio, para as funções administrativas.
De forma geral, a presença de apenas um cuidador dá indícios do
modelo de funcionamento efetivamente implementado nesta gestão pública.
Considerando que o dispêndio de passagens é a principal atividade realizada
junto a esse público, em Limeira, que a equipe de abordagem continua
situada na região de maior acesso e o centro especializado em população de
rua está em local de acesso dificultado, é provável que o trabalho das
questões que possibilitem a superação da condição de rua não seja o foco
principal da gestão.
Isso deve ser inferido não apenas pela insuficiência de recursos
humanos nas unidades, nem pela distância física de seus usuários, mas pela
lógica prioritária de negação da existência do problema nos contornos, no
fundamento e na estrutura de complexidade em que realmente é produzido e
recriado. Se a principal atividade é impulsionar os corpos para que circulem,
para longe dos limites municipais, evidentemente que o investimento na
superação das questões de vulnerabilidade não faz sentido, também, perante
as demais políticas públicas. Tais inferências são um reflexo do perfil de
atuação da gestão pública, dos detentores e fazedores da política.
D) Articulação com a rede
180 11
Figura 15 - Unidades de acolhimento e articulações efetuadas
Fonte: elaboração própria a partir de dados extraídos dos instrumentos aplicados nos
municípios da MRL - Março de 2016
181 11
Figura 16- Unidades de acolhimento e relação das principais articulações
Fonte: elaboração própria a partir de dados extraídos dos instrumentos aplicados nos
municípios da MRL - Março de 2016
182 11
Figura 17 - Ranking de articulação e relações possíveis entre os municípios
Fonte: elaboração própria a partir de dados extraídos dos instrumentos aplicados nos
municípios da MRL - Março de 2016
Leme16
17%
Limeira48
49%
Pirassununga33
34%
AcolhimentoRanking de Articulação
Leme; 11%
Limeira; 33%
Pirassununga23%
AcolhimentoPercentual de Relações Possíveis
183 11
A articulação com a rede em Leme é predominantemente focada
em encaminhamentos efetuados e recebidos. As trocas de informação se
estabelecem, exclusivamente, com a esfera municipal e estadual de gestão
da política de assistência social, ente os municípios e a DRADS Piracicaba.
Isso implica em dizer que a unidade de acolhimento articula apenas
internamente, com outras unidades da PAS, ou seja, entre a esfera municipal
e estadual. Esse é um dado que mostra o distanciamento que a unidade
apresenta do modelo da PNAS, a qual preconiza a articulação com outros
setores.
A relação com as unidades do sistema de justiça está presente
como fonte singular de encaminhamentos, bem como outras unidades da
própria PAS, como CREAS e CRAS. Existe registro de encaminhamentos
feitos e recebidos pelas unidades de saúde, em especial, mental. As
unidades de saúde mental apresentam significativas restrições no contato
externo, quando o público alvo é a população em situação de rua,
demonstrando uma lógica distante da proposta intersetorial.
Em função de ser o único município com unidade de atendimento
especializado à população de rua, apresenta relação complexa entre as
unidades. A PNAS orienta sobre a complementaridade da atuação de ambas
as unidades, quanto ao processo de saída das ruas, o qual deverá ser
pensado em conjunto: equipe técnica e usuários, considerando a
particularidade de cada usuário, a vontade e o nível de autonomia, a
dinâmica social das ruas. A construção do processo de saída das ruas se
inicia no primeiro contato com o usuário, onde nasce o processo de vínculo,
por meio do Serviço de Abordagem Social ou do Centro de Referência
Especializado para População em Situação de Rua – Centro POP.
A unidade de acolhimento desenvolve contato com as secretarias
de esporte lazer e cultura, saúde, habitação, educação, porém o contato é
bastante diverso da proposta intersetorial da PNPR. Estas relações, na
prática, se restringem, a maioria das vezes, a contatos de encaminhamento e
trocas de informações, sem contudo, caracterizar uma rede de natureza
intersetorial. Não se verificam resultados mais formais dessas relações como
a construção de metodologias, a promoção de processos intersetoriais e a
184 11
formação de um pensamento dos gestores e das equipes técnicas, na
perspectiva interdisciplinar.
Pirassununga realiza contatos regulares com o CREAS, o qual
atende às pessoas em situação de rua dentre o público alvo do PAEFI. A
relação com as secretarias do trabalho e da educação são apenas em nível
de conhecimento da localização das unidades, não procedendo
encaminhamentos, embora, durante a entrevista, tenham surgido relatos
sobre moradores de rua que foram contemplados com unidades
habitacionais e outros que, no âmbito das ações voltadas para a educação,
foram acolhidos no Pronatec. Observa-se, também, da pesquisa de campo
realizada junto às instituições públicas a ausência de metodologias de
inclusão da população de rua de forma sistemática, nos programas sociais do
governo. O que ocorreu, aparentemente, foram casos isolados e bem-
sucedidos e não uma construção articulada e intersetorial que contemple,
nessas políticas, o público que mora nas ruas como clientela dos programas.
Centro Especializado de População de Rua em Limeira
Com relação às demandas das pessoas em situação de rua, a
oferta da atenção especializada na PSE firma seu foco na construção de
novos projetos e trajetórias de vida, no intuito de possibilitar o processo de
saída das ruas e o alcance da concepção de si mesmos como sujeitos de
direitos.
No âmbito da política de assistência social, cabe à proteção social
especial a execução dos serviços destinados, exclusivamente, à população
de rua (em especial no caso dos atendimentos do Centro POP), fator que
não exclui o acesso das pessoas em situação de rua aos demais serviços,
programas e projetos da rede socioassistencial, além de lhes ser assegurado
os benefícios socioassistenciais. Na resolução das situações demandadas
pelos sujeitos nessa condição e por suas famílias é imprescindível considerar
a integração e a articulação da rede de serviços e dos benefícios
socioassistenciais e destes com as demais políticas públicas - em especial
as de Saúde, Trabalho e Renda, Habitação, Educação e Segurança
Alimentar e Nutricional - e com os órgãos de defesa de direitos, quando
necessário.
185 11
Serão analisadas as características da unidade especializada em
Limeira, com foco nas articulações realizadas, entendendo as mesmas como
indicativo mais aproximado do que preconiza a PNPR, metodologia tomada
como parâmetro para o trabalho dos elementos implicados na condição de
rua.
Cabe ressaltar que a oferta especializada de serviços, para o
segmento populacional em condição de rua na MRL se dá na maioria dos
municípios, através dos CREAS. Esta circunstância não é substitutiva da
oferta dos Centros POP, no entanto poderá ofertar acompanhamento
especializado às pessoas em situação de rua, visando prevenir
agravamentos das situações de risco pessoal e social e possibilitar a
construção do processo de saída das ruas, por meio de intervenções em
rede. O CREAS e o Centro POP são unidades distintas, devendo funcionar
em espaços separados, requisito atendido pela municipalidade de Limeira.
A unidade sofreu mudança de endereço no ano de 2016, em
decorrência de parceria fixada entre a muncipalidade e o MDS, ocorrida na
gestão anterior àquela vigente no ano de 2016. Foi informado que a equipe
de abordagem ficou "engessada" na unidade anterior de POP Rua, havendo,
na época da pesquisa, uma perda de coesão na oferta de serviços, fato que
contraria as indicações técnicas que enfatizam a relação de articulação,
atuação conjunta e complementar entre os dois serviços. É possível inferir
que a mudança de localidade da unidade e o distanciamento entre as
equipes promoveu retrocesso na PMPR. O gestor da unidade manifestou que
a equipe está concentrada na abordagem de migrantes para a distribuição de
passagens, dando indícios da política de circulação de corpos em Limeira.
Em relação ao contato entre o Serviço Especializado e o Serviço
de Acolhimento Institucional, foi informado que este último também funciona
como acolhimento provisório, na modalidade casa de passagem. Há previsão
de instalação de um centro de acolhida, onde serão atendidos casos de
migrantes, unidade sob a gestão do Centro POP. A instalação estava
prevista para o primeiro semestre de 2016, entendendo que, pela articulação
feita junto à gestão da política de assistência, havia possibilidade de que o
centro de acolhida fosse contemplado na agenda pública.
186 11
Embora seja planejada tal criação, a proposta para o
funcionamento da unidade não se dá nos moldes tipificados, sendo possível
inferir que haja significativa demanda de circulação de indivíduos em Limeira,
fato que chama a atenção da gestão, para a manutenção e ampliação das
unidades com oferta de serviços que implicam menor relação e permanência
no território municipal. Limeira apresenta uma tendência à utilização dos
mecanismos de circulação e fixação dos corpos. A entrega de passagens,
com já comentado, ocorre em número significativo dos casos, permitindo
inferir o perfil da gestão: quem é da cidade fica e indivíduos em processo de
passagem devem ser encaminhados com a maior brevidade para fora do
território. Novamente se registra a ação que torna invisível o problema,
enfrenta-se a consequência, para retirar a visibilidade dela, sem se atentar
para as condições causadoras do problema.
Limeira é o município que apresenta a maior população em
situação de rua da MRL, e, aparentemente, mostra preocupação em não
aumentar o número de indivíduos nestas condições em seu território
municipal. Interessante destacar que aproximadamente metade dessa
população é originária da própria cidade, fato negado pela chefia do Poder
Executivo, (LIMEIRA, 2015). Em visita à FCA, no ano de 2016, o então
prefeito afirmou, em palestra proferida na disciplina Laboratório de Políticas
Pública II, que as pessoas em condição de rua em Limeira eram,
essencialmente originárias de outros municípios. Este fato é
comprovadamente irreal, considerando a própria pesquisa realizada pela
municipalidade nos anos de 2015 (LIMEIRA, 2015).
A unidade especializada em população de rua mudou de
endereço, o que gerou considerável dificuldade de acesso por parte dos
usuários, pois o prédio anterior ficava no centro da cidade e a nova, embora
dentro do perímetro urbano, apresenta distâncias maiores para os usuários.
O fato da localização no território urbano não assegurar, necessariamente, o
acesso aos usuários, acaba por cumprir uma função de seletividade no
acesso. Adentrar na cidade se torna mais difícil, fomentando a circulação dos
corpos para fora dos limites municipais.
Ainda, a reforma do prédio fora pactuada entre a gestão anterior
àquela vigente, no tempo da pesquisa, trazendo repercussão na gestão
187 11
posterior e nas consequentes. Embora a reforma tenha sido pactuada junto
ao MDS, como parte de um conjunto de ações que visavam o aprimoramento
da oferta de serviços, esse pode ser visto como fator que gerou dificuldades
para o acesso dos usuários. A unidade apresenta, então, prédio próprio,
porém apartado da equipe de abordagem de rua, esta permanecendo, ainda,
na unidade onde funcionava o Centro POP.
A) Infraestrutura:
Praticamente todas as exigências relacionadas às salas para
atendimento coletivo ou individualizado foram atendidas, nos moldes do
estabelecido pela PNAS. Cabe reforçar que a aprovação da reforma do
prédio municipal pelo MDS teve, nos parâmetros estruturais, um critério para
aprovação da própria parceria. Assim, engenheiros e arquitetos da PNAS
avaliaram o projeto de parceria antes mesmo da aprovação, considerando
que tais critérios estruturais deveriam estar necessariamente presentes.
A acessibilidade, para pessoas com deficiência, no entanto, não foi
atendida nos banheiros, os quais não são adaptados nos moldes da ABNT
(9050). Os dormitórios também não apresentam adaptação nos moldes
exigidos. Outra falha na acessibilidade ocorre, quanto ao acesso principal,
que não possui rampas e rota acessível da calçada até o interior da unidade.
Além das rotas de acesso, os banheiros não são adaptados às necessidades
das pessoas com deficiência. Esses elementos demonstram que, mesmo que
a reforma da unidade tenha sido pactuada e acompanhada pelos níveis de
gestão federal e municipal, podem perdurar inadequações que limitam o
acesso dos sujeitos ao direito à oferta de serviços.
Com relação aos equipamentos e materiais, apresentam boas
condições ao acesso dos usuários, os quais permitem o desenvolvimento de
ações essenciais ao serviço. As questões pessoais são preservadas com
armários individualizados para a guarda de pertences. A higiene das roupas
é disponibilizada através do acesso a um tanque. Não existem computadores
acessíveis aos usuários, fator que impacta na relação com o mundo esterno,
em especial na busca de vagas para trabalho e nas atividades escolares. A
internet guarda um aspecto da sociabilidade que também lhes é negado,
pois, através dos contatos digitais, existe a possibilidade de fomento e
188 11
aprofundamento das relações sociais, inclusive daquelas relacionadas ao
mundo do trabalho.
No que diz respeito à alimentação, é importante que a população
em situação de rua acesse serviços e equipamentos vinculados à política de
Segurança Alimentar e Nutricional existentes no território, a exemplo dos
Restaurantes Populares e das Cozinhas Comunitárias. Para isso, a equipe
do Centro POP deverá orientar os usuários e articular meios necessários
para garantir este acesso. Limeira não apresenta tais unidades e,
consequentemente, a relação entre os eixos assistência social e segurança
alimentar é restrita. O parâmetro de alimentação estabelecido para unidades
de Centro POP consiste na oferta de lanches, quando da participação dos
usuários nas atividades ofertadas, parâmetro este atendido por Limeira.
B) Atividades essenciais do serviço
Dentre às atividades inerentes ao serviço, foi informado pelo
gestor da unidade as seguintes atividades: acolhida em grupo realizada por
profissional de nível superior, atendimento particularizado de famílias ou
indivíduos, orientação sócio jurídica, apoio para obtenção de documentação
pessoal, orientação/acompanhamento para inserção no BPC, elaboração de
Plano de Acompanhamento Individual e/ou Familiar, ações de mobilização e
participação social, mobilização de família extensa ou ampliada, mobilização
e fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio, encaminhamento
de famílias ou indivíduos para a rede de serviço socioassistencial,
encaminhamento de usuários/dependentes de substâncias psicoativas para
serviços da rede de saúde, encaminhamento para outros serviços da rede de
saúde, encaminhamento de famílias ou indivíduos para políticas de educação
(jovens e adultos, etc.), encaminhamento para órgãos de defesa de direitos
(Defensoria Pública, Poder Judiciário, Ministério Público, Conselho Tutelar
etc.), encaminhamento de famílias ou indivíduos para as demais políticas
(trabalho, habitação, etc.), acompanhamento dos usuários encaminhados
para rede, registro das informações em prontuário, elaboração de relatórios
técnicos sobre casos em atendimento, estudo de caso/discussão de casos
em equipe, avaliação para concessão de aluguel social e palestras.
189 11
A complexidade exposta no conjunto de ações essenciais à
unidade aborda aspectos inerentes à própria caracterização do fenômeno e
dos elementos que constituem a desfiliação dos indivíduos que compõem a
demanda. Informou-se, também, uma relação estabelecida para além da
unidade, implicando em contatos através de encaminhamentos às políticas
públicas que compõem os demais eixos de ação descritos na PNPR. No
entanto, a relação de encaminhamentos não é sinônimo de intersetorialidade,
essa apresentada como frágil e não claramente estabelecida.
Um dado significativo sobre a gestão da unidade especializada é o
distanciamento da equipe de abordagem de rua, descaracterizando a lógica
da inserção na rede de serviços socioassistenciais e das demais políticas
públicas, na perspectiva da garantia de direitos51.
Recursos humanos
Por se tratar de município com nível de gestão plena, o parâmetro
para a capacidade de atendimento é de 80 casos (famílias ou
indivíduos/mês):
Parâmetro Nacional NOB-RH:
1 coordenador (a)
2 assistentes sociais
02 psicólogos (as)
01 técnico de nível superior
04 profissionais de nível superior ou médio para a realização do
Serviço Especializado em Abordagem Social
02 auxiliares administrativos
Parâmetro Municipal:Limeira
1 coordenador
1 psicólogo (a)
3 assistentes sociais
51 São atividades essenciais ao serviço de abordagem social: Proteção social proativa; conhecimento do território; informação, comunicação e defesa de direitos; escuta; orientação e encaminhamentos sobre/para a rede de serviços locais com resolutividade; articulação da rede de serviços socioassistenciais; articulação com os serviços de políticas públicas setoriais; articulação interinstitucional com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos; geoprocessamento e georeferenciamento de informações; elaboração de relatórios.
190 11
1 técnico de nível superior (áreas especificas - NOB RH)
3 profissionais - equipe de abordagem
2 auxiliares administrativos
A gestão da unidade indica que os recursos humanos se
constituem em um psicólogo a menos do que o previsto nas normas técnicas;
o restante da equipe está completo52, com o excedente de um assistente
social, considerando 80 atendimentos mensais. No caso do Serviço de
Abordagem Social, a equipe está incompleta, faltando um profissional de
nível superior ou médio.
C) Articulação com a rede
Os dados apontados abaixo permitem visualizar que a maior parte
das articulações se dá no sentido de conhecer os endereços dos outros
órgãos e instituições, tendo com eles, predominantemente, a relação de troca
de informações. As reuniões periódicas, o estabelecimento de parcerias e a
realização de estudos conjuntos são as articulações menos estabelecidas,
ocorrendo, basicamente, na própria PAS ou em contato com o sistema de
justiça. Dos órgãos representantes das políticas públicas que compõem os
eixos da PNPR poucos estão no holl das articulações efetuadas. O trabalho,
a educação, a habitação, esporte, lazer, cultura, segurança alimentar,
segurança pública, dentre outros, quando articulados, tal articulação não se
dá nos moldes propostos pelo Decreto.
52 Um coordenador, dois assistentes sociais, dois profissionais de nível médio e um profissional de nível superior que seja, preferencialmente, advogado, pedagogo, sociólogo, terapeuta ocupacional, antropólogo. Caderno Centro Pop - final dez.pg.53 20- Educação - Para famílias com crianças até 15 anos: efetivar a matrícula das crianças e adolescentes de 6 a 15 anos em estabelecimentos de ensino, garantir a frequência escolar de, no mínimo, 85% da carga horária, informando a escola quando da impossibilidade de comparecimento eventual do aluno e apresentando, se for o caso, a devida justificativa, informar os gestores locais de imediato sobre eventuais mudanças de escola, para não prejudicar o processo de acompanhamento da frequência escolar. Saúde - Para gestantes e nutrizes: Inscrever-se no pré-natal e comparecer às consultas na unidade de saúde mais próxima de sua residência, portando o cartão da gestante, de acordo com o calendário mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde; Participar de atividades educativas ofertadas pelas equipes de saúde sobre aleitamento materno e promoção da alimentação saudável. Para famílias com crianças até 7 anos: Levar as crianças à unidade de saúde ou ao local de campanhas de vacinação, mantendo atualizado o calendário de imunização, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde; Levar as crianças à unidade de saúde, portando o cartão de saúde da criança, para acompanhamento do estado nutricional e de desenvolvimento (medição de peso e altura), conforme o calendário mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde.
191 11
Figura 18- Órgãos e instituições x articulações
Fonte: elaboração própria a partir de dados extraídos dos instrumentos aplicados nos municípios da MRL - Março de 2016
Serviço
Especializado
emAbordagemSocial
(quando nãoofert…
Serviços deAcolhimento(abrigo
sinstitucionais, casas
depass…
Centrode
Referência deAssistê
nciaSocial(CRAS)
Centrode
Referência
Especializado
deAssistê
nciaSocial(CRE…
Demais
serviços darede
socioassisten
cial
Serviços deSaúdeMental(CAPS,CAPSAD,etc.)
Equipes da
Saúdeque
atuemno
espaçoda rua(Consultórios
na…
Serviços desaúdevoltad
os àinternação
ComunidadesTerapêuticas
Demais
Serviços daredede
Saúde
Órgãosresponsáveispela
emissão de
documentação civilbásica
Serviços/Programa
s deSegura
nçaAlimen
tar
Serviços/Programa
s deHabita
ção
Serviços/Programa
s deGeraçã
o deTrabalho e
renda
Serviços deoutraspolític
aspúblic
as
Programas/projetos
deinclusã
odigital
Órgãosde
Defesade
Direitos
(PoderJudiciá
rio,Minist
ério…
Movimentosorganizados
dapopula
çãoem
situação derua
ONGsque
atuamcom
defesade
direitos
ONGsque
realizam
projetos
sociais
Unidades /
Serviços de
outrosmunicí
pios
Limeira 0 8 4 4 7 5 0 3 3 6 3 1 1 3 2 2 7 1 1 1 2
0
8
4 4
7
5
0
3 3
6
3
1 1
32 2
7
1 1 12
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Art
icu
ção
Qtd
Centro POPInstituições x Quantidade Articulação
192 11
Figura 19- Principais articulações Centro POP
Fonte: elaboração própria a partir de dados extraídos dos instrumentos aplicados nos municípios da MRL - Março de 2016
Possui dadosda localização
(endereço,telefone etc.)
Recebeusuáriosencami-
nhados poresta Unidade
Encaminhausuários paraesta Unidade
Acompanha osencaminhame
ntos
Realizareuniões
periódicas
TrocaInformações
Realizaestudos de
caso emconjunto
Desenvolveatividades em
parceria
Limeira 14 9 9 4 3 14 2 2
14
9 9
43
14
2 20
2
4
6
8
10
12
14
16
Inst
itu
içõ
es Q
td
Centro POPArticulação x Quantidade Instituições
193
Os dados referentes à articulação do Centro POP permitem a
visualização de um aspecto significativo que é a inexistência de articulação
com o Serviço de Abordagem. Esta informação fere, diretamente, as
orientações institucionais, considerando que em municípios com a existência
do Centro, a sugestão é de que o Serviço esteja localizado em seu próprio
espaço físico. A relação entre os serviços fica clara na Tipificação de Serviços
Socioassistenciais, através da indicação de que sua unidade de referência
seja o CREAS ou o Centro POP.
As principais fontes de articulação confirmam tendência
microrregional em se firmar entre órgãos da própria Política de Assistência,
em especial as de acolhimento e os órgãos do sistema de justiça e unidades
da saúde. É possível inferir que os serviços e relações alcançados pelos
usuários se concentram, primordialmente, nestas relações, as quais têm a ver
com as graves violações às quais são submetidos (sistema de justiça), além
dos próprios delitos em que possam se envolver, ao longo da vivência de rua,
têm relação, também, com a necessidade de abrigo (unidade de acolhimento)
e com as questões do uso problemático de substancias e demais demandas
da ordem da saúde mental.
Perdura a dúvida se haveria a busca por outros serviços e relações
institucionais, caso fosse ofertado a esses indivíduos o acesso a outros
serviços que não aqueles relacionados às demandas atendidas por tais
órgãos e instituições. Duas hipóteses podem ser pontuadas, se acessam,
basicamente, este conjunto de serviços por serem somente essas as
necessidades, ou a visão da unidade sobre a problemática deveria ser mais
rica em seus detalhes, considerando a complexidade do fenômeno. É
significativa a inexistência de relação com movimentos organizados de
pessoas em situação de rua, principalmente pela história da construção da
PNPR, cuja participação dos movimentos sociais relacionados aos moradores
de rua teve papel fundamental sobre o olhar público e social sobre o tema. As
unidades de Limeira não informam nenhum tipo de envolvimento com grupos
organizados, para garantia de direitos de moradores de rua, fator que reflete
modelo de gestão com foco na circulação dos corpos.
A inexistência de envolvimento com ONG`S de defesa de direitos
tem um reflexo semelhante ao dos movimentos sociais, porém, o fato de o
194
município possuir unidade da Defensoria Pública, com significativa
articulação e proximidade, pode dar conta de demandas como informações
sobre acesso a direitos, fornecimento de canal de comunicação para
denúncias de violações sofridas e outras modalidades relacionais que os
órgãos possam estabelecer.
CAD Único e Programa Bolsa Família (PBF)
Em consonância com a Política Nacional para a População em
Situação de Rua, instituída pelo Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de
2009, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome passou a
incluir as pessoas em condição de rua dentre os beneficiários do PBF. Essa
iniciativa teve como objetivo contribuir na formulação de políticas específicas
para essa população e a promoção do acesso aos programas sociais, nas
três esferas de governo.
O Cadastro Único tem por objetivo a promoção de acesso das
pessoas em situação de rua às políticas públicas, através da identificação via
cadastral. Isso contribui para a implementação de políticas e programas
específicos voltados à promoção da autonomia dessas pessoas. Ainda,
possibilita ao Estado acompanhar a própria efetividade de suas ações,
contribuindo para a integralidade do atendimento das pessoas em situação
de rua, pelas políticas públicas.
A inserção no CAD Único é um passo importante para a superação
da situação de rua. Implica na obtenção e regularização de toda a
documentação pessoal e, portanto, do exercício da cidadania como qualquer
outro munícipe. É por meio do CAD Único, também, que a pessoa em situação
de rua acessa o Programa de Transferência de Renda Bolsa Família e adquire
algum poder econômico. Esses benefícios e programas são complementados
pelo atendimento oferecido no Centro Pop, CREAS e Abrigo Institucional,
consistindo em uma metodologia de reorganização de vida que busca interferir
nos elementos que dão causa à condição de rua ou dificultam a superação dos
elementos que constituem a condição de extrema vulnerabilidade.
Na MRL, as unidades de CREAS de Araras, Conchal e Pirassununga
não realizam cadastramento, mas encaminham para unidades que o façam.
Essa dinâmica se mostra coerente com as orientações do MDS de que o
195
cadastramento seja feito, prioritariamente, em unidades de PSB ou através do
órgão gestor. Outra questão relevante é o fato de as pessoas em situação de
rua poderem apresentar demandas da ordem da PSB, mesmo que a
característica "condição de rua" seja aquela a partir da qual se desenvolvem
serviços, prioritariamente, da ordem da PSE. Nessas unidades existe, de parte
das equipes, o entendimento da importância da inclusão deste público alvo no
cadastro, havendo inclusive a previsão de que tal atividade seja realizada nos
logradouros públicos por eles habitados, através da abordagem de rua.
A unidade Centro POP de Limeira efetua o cadastramento, porém
sem a alimentação do sistema cadastral informatizado. Os usuários do serviço
que apresentam maior autonomia, são encaminhados para cadastramento em
unidade especifica e, no caso daqueles que apresentem menor autonomia, a
equipe do Centro POP desloca-se até as unidades cadastrais acompanhando
os usuários. Os dados referentes aos cadastros são devolvidos ao Centro POP,
pelo serviço de vigilância sócio assistencial do município. Leme realiza, no
próprio CREAS, o cadastramento das pessoas em condição de rua e
Cordeirópolis não só não cadastra, como não encaminha para que outro órgão
o faça.
Quanto ao panorama microrregional de cadastramento único, a
MRL apresenta perspectiva positiva, considerando que dos seis municípios
que informam a existência de serviços destinados à demanda, cinco deles
efetuam o cadastramento. O cadastramento tem sua importância fundada no
acesso a direitos que se efetivam através do acompanhamento efetuado
pelas políticas públicas centradas em direitos como a segurança alimentar e
a reorganização dos vínculos familiares e comunitários, deixando evidente a
complementariedade entre cadastramento e acesso aos serviços.
A ampliação do cadastramento na microrregião pode evidenciar a
necessidade de que as políticas públicas sejam efetivadas, considerando que
cadastrar produz visibilidade às necessidades. Considerando as
características dos municípios e o modelo de gestão, a efetivação do
cadastro pode ser um elemento que torna evidente as lacunas na oferta de
serviços públicos. O cadastro, isoladamente, não gera a mobilização pública
no sentido de uma oferta de serviços mais condizente com as necessidades,
196
mas pode tornar evidentes elementos sobre os quais os gestores
microrregionais deveriam concentrar ações.
A desigualdade é uma das características mais marcantes da
sociedade brasileira, não sendo diferente na MRL. A realidade das pessoas
em situação de rua, em âmbito microrregional, é resultado do contexto de
desigualdades sociais que caracterizam um sistema de violação de direitos,
presente nesse território.
A incerteza dos fatos e as formas de condicionamento social
fazem as pessoas perderem a coragem de realizarem suas próprias escolhas
a partir de seus próprios desejos. Nesse contexto, a relatividade social e
cultural das necessidades parece explicar porque alguns indivíduos se
comportam no sentido de atingir seus objetivos, enquanto outros não o
fazem, fato que reforça que o combate à desigualdade requer a redução ou
eliminação de sentimentos de vergonha e de baixa estima. A desigualdade
promove e ao mesmo tempo decorre da exclusão social que, apesar de
atualmente ser reconhecida como intensa, não é institucionalizada na maioria
das situações e se processa por mecanismos cada vez mais sutis.
A PNPR é estruturada tomando por base constitutiva o princípio da
igualdade, expresso na Constituição brasileira, o qual define a necessidade
de ações articuladas entre todas as áreas do governo, para que sejam
implementadas ações efetivas que possibilitem reconstrução da autonomia
das pessoas em situação de rua. Dentre as indicações da PNPR está a
inclusão das pessoas em situação de rua no Cadastro Único para Programas
Sociais, intencionando a implementação de políticas sociais voltadas ao
atendimento dessa população.
O acompanhamento do Estado concentra em si uma ambiguidade:
o uso das informações sobre os sujeitos como método de controle,
monitoramento, manifestação da microfísica do poder estatal na intenção do
controle de corpos, ou da utilização dos mecanismos de circulação e fixação
dos corpos, no território. Ao mesmo tempo, o mecanismo fornece elementos
para o conhecimento da população na intenção de superar as múltiplas
dimensões da pobreza.
197
Analisando o mecanismo de circulação dos corpos exercido pelo
município de Limeira, por exemplo, é possível que a partir da caracterização
deste público, devolvida como dado pela vigilância socioassistencial,
decorrente das informações cadastrais, seja escolhida pela gestão a
dinâmica de circulação, para fora dos limites municipais, da população não
oriunda do município.
Os profissionais consultados em Pirassununga referem a utilização
das informações cadastrais como parâmetro de caracterização dos
indivíduos e, também, como parâmetro para o desempenho da gestão
municipal. Referem a utilização de tais informações como fonte de dados
para as múltiplas ações desenvolvidas pela rede de políticas públicas
envolvidas na oferta de serviços à população de rua. Diferente da lógica
aparentemente exercida em Limeira, Pirassununga refere ter no
cadastramento único uma importante ferramenta de acompanhamento do
planejamento e da execução dos serviços municipais voltado à PSR.
A superação da desigualdade e da exclusão social, no Brasil, é um
desafio que extrapola a capacidade de um único nível de governo,
requerendo a adoção de políticas que incorporem a intersetorialidade e a
transversalidade e consigam atender as demandas dos segmentos excluídos.
Desde sua criação em 2003, o Programa Bolsa Família (PBF) tem obtido
excelentes resultados, na abordagem da pobreza, da exclusão social e da
desigualdade, promovendo ações que impactam em diferentes segmentos da
sociedade.
O monitoramento do cumprimento das condicionalidades de
assistência, educação e saúde, que mobiliza os ministérios do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), da Educação e da
Saúde, governos estaduais e municipais, demonstra uma tendência do
Estado em promover acesso a serviços, assim como o cuidado das famílias
em matricular as crianças nas escolas, participar dos grupos de
fortalecimento de vínculos e realizar as visitas médicas necessárias, além de
outras condicionalidades existentes.
No que diz respeito ao cumprimento das condicionalidades21 do
programa bolsa família, tal monitoramento pode ser entendido como um
exemplo de exercício de ações intersetoriais, permitindo que elementos das
198
múltiplas dimensões da pobreza sejam resgatados, através de seguranças e
direitos abordados em âmbito interdisciplinar. A pobreza é condição que se
manifesta em suas múltiplas dimensões e características, sendo,
fundamentalmente descrita pela dificuldade de acesso à oportunidades e
direitos. No caso da condição de rua a heterogeneidade do público alvo
reflete as lesões sociais nas dimensões da renda, habitação, educação,
trabalho e outras vulnerabilidades, como as de saúde mental.
A previsão dos moradores de rua como beneficiários do PBF
consiste em ação necessária no processo de reorganização da vida. A
população de rua não se constitui apenas pela dimensão econômica da
pobreza, e nesse sentido, as condicionalidades propõem o acompanhamento
dos demais aspectos implicados, na pobreza extrema, inerente ao fenômeno.
A articulação de programas e ações complementares contribui para o
desenvolvimento de capacidades, para a sua inclusão socioeconômica e sua
emancipação do programa, sob uma perspectiva de longo prazo. Para além
da emancipação econômica, o programa se constitui exemplo de gestão
intersetorial e transversal, da mesma maneira que é um programa cujos
aspectos interdisciplinares se tornam articulados, na perseguição da
superação dos elementos múltiplos da pobreza. Isto se dá através do
cumprimento das condicionalidades em cada campo: saúde, assistência e
educação, no intuito de um objetivo comum: redução dos elementos de
vulnerabilidades social.
As políticas públicas que incorporaram a filosofia do Estado de
Bem-estar Social têm se mostrado insuficientes para as demandas
heterogêneas como as de população de rua. Caracterizada pela relação
direta com a desigualdade, a pobreza e a violência, o fenômeno da condição
de rua faz emergir a exclusão como uma questão social, aparecendo como
uma problemática que exige resposta por parte do governo e da sociedade e,
portanto, como questão social, pois ameaça a organização da sociedade.
Exige, portanto, o ordenamento de instituições de modos
específicos, o posicionamento de diferentes atores da sociedade, novas
formas de sociabilidade, a definição de um campo estratégico de luta, a
construção de novos sujeitos e novas subjetividades. Como consequência,
tornar-se-iam necessárias a participação de novos saberes e tecnologias
199
organizacionais, novas estratégias de reconstrução da ordem política e de
abordagem das demandas sociais e processos de transformação das
estruturas institucionais estatais. Ao observar a estrutura da PNPR, esses
elementos são evidenciados, demandando, necessariamente, a atuação
intersetorial e interdisciplinar para lidar com as nuances peculiares, ficando
evidente, ao longo do texto do decreto, o enfoque intersetorial e articulado da
política.
200
Considerações finais
Em tempos de pessoas descartáveis como coisas, a condição de
rua é o expoente máximo de uma realidade de exclusão, desfiliação, errância
e abjeção. O componente do desconforto está presente na intimidade que se
manifesta a olhos vistos, na rua, na praça, no trecho53. Há tempos que os
estudos se aprofundam, os cenários se transformam e a dignidade segue
posta em xeque.
Falta-lhe a renda, mas também a família, a casa, o querer cuidá-
la, falta-lhe o trabalho, mas antes dele o estudo. As amarguras se colocaram
na vida e até a alegria se foi. Adoeceu de tristeza, e por isso deu de beber,
brigava com os filhos, com a mulher. A vida veio abaixo, foi demitido, bebeu
mais um pouco. Perdeu a mulher, os filhos se foram e com eles a casa. Nada
mais lhe fazia gosto, apenas a bebida. Passou a andar pela rua, dormir nos
bancos, viver nos parques, tomar banho na praça. Eis que a vida agora é só
seu carrinho e o cachorro.
Se as construções antropológicas, filosóficas, sociológicas e
psicológicas se encarregam de definir suas vidas, as políticas públicas se
encarregam de docilizar os corpos, e, na perversa microfísica do poder, é do
Estado que se esperam respostas e alternativas para a saída dessa
condição. Mas como tirar alguém de tal lugar se não se conhece a pessoa? É
na pessoa que se põem os olhos; no processo de vida é que se inferem os
elementos que construíram o estado de vulnerável, desfiliado, errante e
abjeto.
A condição de rua é a prova máxima de que, se um indivíduo
chegar ao extremo daquilo que lhe falta na constituição da condição de
sujeito de direitos, se estiver aprofundado em vulnerabilidades que lhe
afetam a existência, como surgiria a possibilidade de reconstrução do ser, se
não pelo entendimento que o que lhe falta está um pouco em cada lugar?
Dos elementos que constituem o fenômeno das pessoas vivendo
em condição de rua, a compreensão sobre as múltiplas dimensões da 53 A expressão "no trecho" refere-se à movimentação dos indivíduos em situação de rua por diferentes espaços geográficos. A denominação "trecheiro" é utilizada ainda hoje para designar tal movimentação, embora seja caracterização secundária na descrição do fenômeno na moderna análise do tema. Atualmente, os estudiosos preferem focar nos elementos de vulnerabilidade, exclusão e desfiliação, tendo na movimentação territorial aspecto não prioritário na concepção do fenômeno.
201
pobreza é fundamental para seu entendimento. A pobreza não se configura
como uma unidade categórica, e sim, como um processo que deve ser
analisado, na busca da compreensão sobre a exclusão social. O estudo da
desfiliação permite entender o processo que cada indivíduo percorreu até a
condição de rua, sendo possível vislumbrar, não só o caminho de ingresso,
mas também possibilidades de perfazê-lo no sentido contrário. A
compreensão da lógica constitutiva dessa condição, na vida de cada
sujeito, é imprescindível para a construção de alternativas em políticas
públicas.
Dentre os elementos diretamente relacionados às causas da
condição de rua é perceptível que as carências de renda se combinam com
dimensões descritivas, de patrimônio, de capital social e simbólico as quais
acabam por dificultar a realização dos projetos vitais dos cidadãos.
Vulnerabilidade, falta de acesso ao conhecimento, precarização no acesso
ao trabalho, escassez de recursos, consequências sobre o desenvolvimento
infantil, nos núcleos familiares, onde se manifesta a condição de rua e
carências habitacionais são alguns dos elementos vislumbrados, através das
pesquisas em âmbito nacional e Microrregional. Ações que se proponham a
lidar com a demanda, deverão, necessariamente, ter como premissa a
complexidade do fenômeno e suas múltiplas relações.
Em termos históricos e sociais, a condição de rua no Brasil tem se
constituído desde a década de 70, com contornos relacionados à busca de
trabalho nas grandes capitais e a um excedente de mão de obra o qual
apresentava dificuldades para a recolocação, no mercado de trabalho, e
consequente organização da vida social e familiar. A perda da condição de
arrimo, no nascimento do fenômeno, foi fator determinante para a
constituição de uma parcela de desempregados, os quais, a médio, prazo
perderam as redes sociais de apoio.
Na contemporaneidade, a condição de rua assume outros
contornos, agravados no transcurso de décadas, pela consolidação de uma
sociedade tecnológica que traz consigo riscos, que se configuraram no quadro
atual do morador de rua, sujeito que traz consigo a consolidação da
vulnerabilidade social. O elemento fragilizador é complexo e diz respeito ao
ingresso na condição de vulnerável perante esta sociedade de risco. As
202
potencialidades são negadas mediante a falta de trabalho, de moradia, dos
suportes sociais e familiares, do preparo em nível educacional, da
precarização dos elementos de saúde física e mental. A condição de rua é
complexa, multifatorial, multicausal e por isso um fenômeno a ser entendido e
trabalhado com o mesmo grau de complexidade.
A vulnerabilidade54 é expressão inerente à modernidade tardia,
caracterizando as diversas formas de estar em perigo e as potencialidades do
sujeito ou ausência delas - em enfrentar os tempos atuais. Penetrando em
todos os campos da vida social, risco e incerteza tornaram-se palavras-chave
para compreender as dinâmicas de espaço e tempo, fator que demanda
abrangência em considerar suas múltiplas dimensões.
Pensar a condição de rua exige uma lógica epistêmica
multidisciplinar, mas transforma-la requer interdisciplinaridade. Cada
indivíduo possui seu próprio conjunto de necessidades, fato que se deve a
própria complexidade humana. A construção legal e documental que lida com
o tema traz numa intenção pragmática a constituição de uma política
intersetorial que, para sua efetivação, precisa do entendimento de que o
sujeito não é fragmentado em setores, precisa de uma abordagem
genuinamente interdisciplinar. A fragmentação e o caráter de especialização
que se estabelece na execução isolada das políticas públicas tomam o
sujeito somente às vistas de seu próprio horizonte de conhecimento,
distanciando- se do entendimento de que é através do olhar sobre o sujeito
que se vê o essencial.
O projeto de uma política pública intersetorial traz em si a lógica de
que os fazeres estejam conjuntos no atendimento de uma demanda, sendo
um terreno possível para a interdisciplinaridade, mas não sinônimo desta.
São as trocas intensas entre os especialistas e o grau de integração real das
disciplinas, no interior de um mesmo projeto, que tornam possível o trabalho
na reorganização e reconstrução do sujeito. A medida que cada política
54 A vulnerabilidade é um fenômeno expressivo da modernidade tardia, característica da forma de enfrentar o perigo nas diferentes escalas. Penetrando em todos os campos da vida social, risco e incerteza tornaram-se palavras-chave para compreender as dinâmicas espaço-temporais contemporâneas, demandando um olhar abrangente da vulnerabilidade em sua multidimensionalidade inerente. O diálogo interdisciplinar é o caminho para a reflexão sobre suas dimensões", (MARANDOLA E HOGAN, 2006.p.33).
203
pública se encarrega parcialmente de suas necessidades, passa a reforçar a
fragmentação do sujeito.
A intersetorialidade é perspectiva que permite construções
múltiplas, no fazer das políticas públicas, inclusive uma construção
interdisciplinar, apesar de não assegurá-la. Programas como o "Bolsa
Família" conjugam em sua execução um convite à interdisciplinaridade.
Coerente com a lógica de que a pobreza se constitui por diversos fatores, o
PBF fomenta trocas regulares e intensas entre áreas do fazer público,
promovendo interações regulares para o atendimento de seus objetivos. O
acompanhamento das condicionalidades visa contemplar a necessidade de
educação, de saúde, de assistência, em uma só pessoa. O programa perfaz
esta lógica, mas o sucesso da proposta se efetiva em cada território, em casa
município; a construção não faz o sucesso do programa essencialmente, mas
sua correta implementação, sim.
O direito à saúde552, assistência e educação são promovidos,
através de um programa condicionado de transferência de renda e suas
estratégias, em uma proposta que considera a complexidade da realidade, a
qual requer um pensamento abrangente, multidimensional, com a
capacidade de compreensão desta complexidade, na busca da construção
de um conhecimento dos elementos que constituem a pobreza extrema. Esta
visão se faz necessária, também, na concepção do indivíduo que se encontra
na condição de rua.
A vulnerabilidade das pessoas nesta condição somente poderá ser
eliminada se ocorrer a transição das carências sociais para os direitos
sociais. Implica em promover as habilidades dos indivíduos e da coletividade,
em compreender, analisar, refletir e tomar consciência sobre o mundo que os
cerca, interagindo como ator e membro de grupo participativo e criativo,
gerando desenvolvimento pessoal e social.
55 Neste artigo as autoras Fonseca e Viana (2007) analisam o impacto das condicionalidades de saúde e seu real produto: a expansão de um novo ciclo de programas de atenção básica focalizados e de natureza provisória. Apesar de haver uniformidade na condicionalidade referente à saúde, o cumprimento das metas e objetivos está diretamente relacionado ao modo de execução dos governos, fator que pode implicar em dificuldades para a melhoria de vida das populações em condição de vulnerabilidade.
204
Voltando os olhos para a MRL, o que se percebe é a
fragmentação do sujeito, dos fazeres das unidades e das políticas públicas. A
proposta intersetorial não está efetivada como proposto no Decreto que
institui a PNPR, estando menos presentes, ainda, ações que busquem a
construção epistemológica de natureza interdisciplinar.
Foi percebida, no contato com os trabalhadores e gestores, a
consciência da complexidade dessa realidade e a necessidade da
contextualização, da articulação e da interdisciplinaridade do conhecimento
produzido por eles através de suas práticas. No entanto, a conscientização
dos atores da burocracia, não implica, necessariamente, nas respostas com
o mesmo nível de consciência de parte dos detentores do poder de decisão.
Em termos gerais, a adesão à PNPR não ocorreu em nenhum dos
oito municípios da MRL, considerando que a formalização da adesão se dá
via assinatura de termo, ato não executado. Ainda assim, a pesquisa permitiu
constar que ocorrem serviços destinados a essa população em seis dos oito
municípios, mesmo naqueles que afirmam não apresentar demanda, foram
constados fatores potenciais para a ocorrência de pessoas em condição de
rua.
Através da análise dos serviços ofertados nas unidades algumas
hipóteses foram confirmadas: a proposta intersetorial firmada pelo decreto
não foi atendida nem formal nem informalmente. O que se verifica na MRL é
uma gestão da população de rua do tipo unisetorial, basicamente centrado na
Política de Assistência Social. A proposta de setores trabalhando num
mesmo objetivo, em uma construção comum, carece, necessariamente, de
uma abordagem interdisciplinar, fato, igualmente, não observado na
execução na MRL. Isso não implica em dizer que os atores envolvidos na
oferta de serviços ignorem a proposta de PNPR, mas, possivelmente, que
não são responsáveis pelas decisões que permitiriam a implementação do
modelo do decreto. É neste sentido que se faz necessário o conhecimento
sobre a gestão de políticas públicas, pois permite, através desta ferramenta,
analisar o que se deseja: a incidência da interdisciplinaridade na execução
de serviços que lidam com um fenômeno complexo.
No eixo "articulações das unidades" buscou-se investigar a
variedade de articulações firmadas com outros órgãos e instituições, na
205
intenção de verificar a incidência de intersetorialidade, mesmo que fora dos
parâmetros da PNPR. A pesquisa permitiu constatar relações variadas com
outras secretarias e órgãos, havendo municípios como Araras e
Pirassununga, os quais informam considerável nível de articulações,
podendo significar que, no momento da pesquisa estavam mais propícios à
adesão à PNPR. No entanto, cabe retomar que as mudanças em âmbito
político, nas chefias do executivo, podem imprimir novos rumos à gestão,
transformando esta realidade.
A relação com a política de saúde é ponto indicado em muitos dos
municípios como a que traz maiores dificuldades no fazer cotidiano,
considerando que muitos indivíduos em condição de rua carecem de acesso
à saúde, negligenciado pela resistência do setor em lidar com a temática. Por
mais que a política de saúde tenha considerável previsão de serviços e
unidades destinados ao atendimento desta população, ainda impera na MRL
uma tendência ao foco assistencialista e não garantista de direitos.
Em termos de atenção básica, não foram referidas estratégias de
saúde que abarquem as especificidades da vida nas ruas. Os elementos de
saúde mental são mencionados pelas equipes como imprescindíveis de
atendimento, gerando repercussão negativa, sobre o fazer da política de
assistência, o não atendimento de questões como as psicoses e o uso
problemático de substâncias. Impera a ideia de que a saúde mental, aliada à
assistência, possam criar terreno fértil para a atuação das demais políticas
públicas, e a frustração da atuação da primeira acabe por impossibilitar a
evolução das ações, no âmbito da assistência social. A ideia seria de que a
reorganização de vida só seria possível com organização psíquica.
A relação com secretarias afetas à própria definição do fenômeno,
como a de educação, habitação e trabalho aparece apenas na
municipalidade de Pirassununga, com ações concretas intersetoriais, porém,
carecendo de continuidade e de regularização, na intenção de que seja
assegurado um embrião de atuação nos moldes da PNPR.
A municipalidade de Limeira apresenta características
preocupantes, evidenciadas na pesquisa, pois encontrava-se em regressão
dentro da lógica do Decreto, apontando para o uso significativo dos
mecanismos de circulação e fixação dos corpos. Com unidade especializada,
206
em local de acesso dificultado, os serviços mais próximos do público alvo são
aqueles encarregados da entrega de passagens para saída imediata do
território. Da mesma forma, o fato de a unidade de acolhimento funcionar em
desvio de seu perfil de funcionamento, com acolhimentos de curta duração,
demonstram a lógica de circulação em detrimento da fixação. O número de
passagens entregues supera de forma exorbitante a oferta de serviços
destinados à reconstrução dos aspectos de superação da condição de rua.
As unidades executoras do eixo da assistência social apresentam
necessidades de adequação em termos de recursos humanos, mesmo
aquelas que apresentam as equipes de referência dentro dos parâmetros
estabelecidos. Esse é mais um dos elementos que reflete a complexidade do
fenômeno, exigindo que as equipes tenham tempo para atividades reflexivas,
para o investimento nas capacitações de forma continuada, fato que permite
com que estejam em análise reflexiva sobre o fenômeno, e que incide,
diretamente, na qualidade do fazer. O investimento em capacitação das
equipes repercute na crítica da necessária intersetorialidade e imprescindível
interdisciplinaridade ao lidar com o fenômeno. As gestões públicas optam por
não capacitar suas equipes, sobrecarregando-as com o maciço agir e parco
refletir.
A forma como se dá o atendimento ao fenômeno, em termos das
políticas públicas que compõem a proposta do Decreto, é limitada,
monopolítica e desconectada da busca da superação da condição, sendo
que apenas Pirassununga confirma o número de sujeitos que superaram tal
condição. Mesmo havendo relação traçada com outras secretarias, muito se
distancia da proposta da PNPR, estando centrada prioritariamente nas
relações ente os trabalhadores e não na atuação conjunta e interdisciplinar.
A reformulação do modelo vigente se faz necessária, devendo
passar por níveis como a compreensão da gestão sobre a complexidade do
fenômeno e, consequentemente, da multiplicidade de políticas públicas
engajadas no projeto comum: a execução intersetorial, através da
construção epistemológica interdisciplinar. Sobre as gestões recai a
responsabilidade de buscar alternativas que realmente abordem o problema,
não apenas impulsionem os cidadãos nessa condição à saída de seus
territórios.
207
Outro fator imprescindível é a coleta de informações sobre os
indivíduos nessa condição, com uso real dos dados observados, na
construção de alternativas complexas para um fenômeno na mesma
condição. Faz-se necessário o entendimento, nos moldes do que se observa
na construção da PNPR, de que direitos sociais não são sinônimo de
"Política de Assistência Social", rompendo de forma derradeira com a lógica
assistencialista e paternalista.
A mudança de concepção pode ser também impulsionada pelos
movimentos sociais representativos, outra alternativa a ser assumida nos
municípios: é necessário o fortalecimento da representatividade dos usuários
na busca da reformulação na concepção das políticas públicas em lidarem
com o tema. É do poder executivo que deve nascer a organização e a
determinação formal para o proceder na lógica da PNPR, e nesse sentido, a
sociedade civil também tem seu papel de fomentadora.
Os trabalhadores do SUAS, as pessoas em condição de rua, os
gestores e os representantes da sociedade civil, em âmbito microrregional
devem buscar a promoção de encontros com foco no fortalecimento dos
direitos sociais e, no fortalecimento da microrregião, com vistas a alternativas
que auxiliem na mudança de concepção das gestões, sobre o fenômeno das
pessoas vivendo em condição de rua.
O uso das cidades é direito dos cidadãos que nela se encontram e,
nesse sentido, a proposta junto à Aglomeração Urbana de Piracicaba figura
como um projeto possível de gestão microrregional. Nesse sentido, algumas
ações são imprescindíveis, como levantamentos regulares em cada
município, com vistas à construção do perfil das pessoas em condição de rua,
considerando elementos como o número de indivíduos em tal situação, os
serviços disponíveis a essa população e as secretarias e instituições
envolvidas no atendimento da demanda. Conhecer a realidade do município e
compartilhar as informações em nível microrregional pode ser o primeiro
passo para a constatação dos reais limites do problema.
A apresentação de cada realidade quanto ao tema, de forma aberta
e conjunta, promove espaço para as percepções dos atores envolvidos sobre
o que o Estado faz e o que deixa de fazer. A partir da publicização de
208
informações, é possível que seja iniciada a construção de propostas, sendo
pensadas para a realidade como um todo, levando em conta as devidas
adaptações quanto às necessidades decorrentes de fatores, como por
exemplo, o porte municipal. É importante reforçar que o fato de a condição de
rua ser fenômeno fundamentalmente urbano, cidades de maior porte e/ou
com maior participação na região, tenham funções diferentes daquelas
exercidas pelas de pequeno porte I, por exemplo.
Fatores como o fomento da construção de conhecimentos teóricos
microrregionais sobre o tema estão diretamente relacionados às capacitações
continuadas, aludindo à importância das comunidades epistêmicas no âmbito
da gestão pública. O fomento da participação dos órgãos de ensino superior é
uma estratégia importante ao longo de todo o ciclo de construção da política
pública microrregional para população de rua na MRL.O planejamento da
proposta de gestão microrregional deve tomar como parâmetro a PNPR,
valendo-se da estrutura prevista no Decreto.
Os motivos para que nenhum dos municípios da microrregião tenha
aderido à PNPR é fator a ser analisado, entendendo que a negativa da
assinatura do termo de adesão à política concentra um dos primeiros
elementos a ser elucidado. A inexpressividade numérica dos indivíduos nessa
condição se comparados a outras demandas, ou, o desconhecimento dos
níveis de gestão municipal sobre a construção de uma política nacional para
lidar com o tema, podem ser fatores implicados na inexistência de adesão
formal na MRL. O que se pode inferir, no entanto, é que o modelo de gestão
executado na MRL reflete o perfil do poder público em lidar com o assunto.
Uma proposta articulada, pactuada e assegurada em lei, onde
municípios se propõem a executar de forma conjunta uma política pública,
demanda atenção, pois transcende ao conhecimento do tema, implicando na
capacidade de governos próximos em termos territoriais, assumirem
responsabilidades compartilhadas. Além disso, a participação do Governo do
Estado em propostas microrregionais é de grande importância, e, por vezes,
determinante para o modelo de gestão microrregional.
Tomando como exemplo a realidade dos municípios de pequeno
porte I da microrregião, a construção de um abrigo municipal para pessoas
209
em situação de rua talvez não seja uma necessidade urgente, nem mesmo
possível de ser atendida. Nesse sentido, a criação de uma unidade de
acolhimento microrregional poderia ser uma alternativa menos onerosa e mais
coerente, atendendo à demanda de forma mais racional em termos
orçamentários.
Fatores como baixa demanda e alto custo para instalação de uma
unidade que será subutilizada, abre espaço para propostas de parcerias, onde
duas ou mais cidades podem construir e gerir de forma conjunta um espaço
de uso comum aos munícipes de seus territórios. O governo estadual tem
responsabilidades junto a consórcios de municípios, e essas devem ser
esclarecidas para que sejam feitas propostas possíveis de serem atendidas
pelas esferas de governo.
Aparentemente, a Aglomeração Urbana de Piracicaba demonstra ter
a temática da população de rua como ponto principal para a construção de
uma proposta microrregional, inclusive, com clareza sobre o processo
vivenciado na Região Metropolitana de Campinas, quando na construção do
Protocolo. No entanto, a mobilização e a manutenção do tema em pauta,
depende de diversos fatores, nem sempre claros para aqueles que pensam
no espaço como lugar possível para a construção de alternativas
microrregionais.
Esse trabalho se apresenta como instrumento disponível para a
pesquisa microrregional, tomando por base referências institucionais e
teóricas, na intenção de que possam ser utilizados na construção de
alternativas baseadas no conhecimento de campo e nas contribuições da
comunidade epistêmica. O modelo proposto na PNPR é um dos caminhos a
serem tomados como base, sem deixar de considerar que a implementação é
um processo complexo e que exige constante reflexão.
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SOUZA, J. (org.). Crack e exclusão social. Brasília, Ministério da Justiça e
Cidadania, 2016. 360 p
SPOSATI, A. Horizontes da e para a política de assistência social no Brasil de 2009: elementos para a discussão. In: Políticas públicas em debate: ciclo de seminários. São Paulo: Fundap, 2009. p. 1-19. Disponível em: http://www.fundap.sp.gov.br/debatesfundap/pdf/nono_seminario/ExposiCACAodeAld a izaSposati.pdf. Acesso em 10/05/2016.
SOUZA, J. (org.). Crack e exclusão social. Brasília, Ministério da Justiça e
Cidadania, 2016. 360 p
VARANDA, W. Liminaridade, bebidas alcoólicas e outras drogas: funções
e significados entre moradores de rua. 2009. Tese (Doutorado em Saúde Materno Infantil) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
VIEIRA, M. A. C. ROSA, C. M, M. População de rua: quem é, como vive, como é vista. São Paulo: Hucitec, 1997.
VIEIRA, M.A; BEZERRA; E. M.R; ROSA, C.M.M (orgs). População de rua: quem é? Como vive? Como é vista? São Paulo: Hucitec, 1994.
219
ANEXO I
BLOCO 1 – IDENTIFICAÇÃO DO CREAS
Nome que identifica o CREAS:______________________________________________ Endereço: ________________________________________________Número:______ Complemento:___________________Bairro:__________________________________ CEP: _________________________ Município: _____________ UF: ____ Email:__________________________________________________________
________ DDD – Telefone: |__|__|- |__|__|__|__|__|__|__|__| Ramal: |__|__|__|__| Data de Implantação do CREAS: |__|__|/|__|__|/|__|__|__|__| (dd/mm/aaaa)
1. Localização: |__| Urbano central |__| Urbano periférico |__| Rural 2. Tipo de CREAS: |__| Municipal |__| Regional 3. Horário de funcionamento: |____| dias por semana |____| horas por dia
BLOCO 2 – ESTRUTURA FÍSICA DO CREAS 4. Situação do imóvel onde se localiza o CREAS: (Resposta única). |__| Próprio |__| Alugado |__| Cedido 5. O imóvel de funcionamento deste CREAS é compartilhado? |__| Sim |__| Não (Pule para a questão 8). 6. Especifique o tipo de unidade com a qual este CREAS compartilha o imóvel. (Admite múltiplasrespostas) |__| Secretaria da Assistência Social ou congênere |__| Outra unidade administrativa (Sede de Prefeitura, Administração Regional, Sub-Prefeitura etc) |__| Conselho Municipal de Assistência Social |__| CRAS – Centro de Referência de Assistência Social |__| Centro POP – Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua I__I Unidade de Acolhimento institucional (Abrigo) |__| Outra unidade pública de serviços da Assistência Social
220
|__| Unidade de Saúde |__| Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM) |__| ONG/Entidade/ Associação Comunitária |__| Conselho Tutelar I__I Delegacia Especializada |__| Outro órgão de defesa de direitos (Ministério Público, Defensoria Pública, Poder Judiciário, etc.) |__| NAI – Núcleo de Atendimento Integrado |__| Outros. Qual? ________________________________________
7. Especifique quais espaços do imóvel são compartilhados entre o CREAS e a(s) outra(s) Unidade(s)(Admite múltiplas respostas, exceto se marcar a primeira opção). |__| Apenas o endereço é o mesmo, mas todos os espaços do CREAS são independentes e de uso exclusivo, inclusive a entrada (siga para a questão 8) |__| Entrada / Porta de Acesso |__| Recepção |__| Algumas salas de atendimento individualizado |__| Todas as salas de atendimento individualizado |__| Algumas salas de atendimento coletivo |__| Todas as salas de atendimento coletivo |__| Salas administrativas |__| Banheiros |__| Copa/cozinha |__| Área Externa |__| Almoxarifado ou similar
8. Descreva o espaço físico deste CREAS: (Atenção! Cada sala deve ser contada uma única vez nadescrição do espaço) Salas utilizadas para Atendimento Quantidade de Salas Quantidade de Salas com capacidade máxima para 5 pessoas |___|___| Quantidade de Salas com capacidade para 6 a 14 pessoas |___|___| Quantidade de Salas com capacidade para 15 a 29 pessoas |___|___| Quantidade de Salas com capacidade para 30 ou mais pessoas |___|___| Salas específicas para uso da Coordenação, equipe técnica ou administração (Não são salas de atendimento!) |___|___| Quantidade Total de Banheiros |___|___| Demais Ambientes Possui? Recepção |__| Sim |__| Não Cozinha/Copa |__| Sim |__| Não Almoxarifado ou similar |__| Sim |__| Não Espaço externo no CREAS para atividades de convívio |__| Sim |__| Não
9. Assinale as condições de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida (idosos, pessoascom deficiência, etc.) que este CREAS possui: (Resposta única por linha). Condições de acessibilidade apresentadas:
SIM, De acordo com a Norma da
SIM, Mas não estão de acordo com a
Não possui
221
ABNT Norma da ABNT
Acesso principal adaptado com rampas e rota acessível desde a calçada até a recepção do CREAS
Rota acessível aos principais espaços do CREAS (recepção, sala(s) de atendimento e sala(s) de uso coletivo)
Rota acessível ao banheiro
Banheiro adaptado para pessoas com mobilidade reduzida (idosos, pessoas com deficiência, etc.)
10. Indique os equipamentos e materiais disponíveis, em perfeito funcionamento, para o desenvolvimentodos serviços deste CREAS: (Admite múltiplas respostas) |__| Telefone |__| Impressora |__| Televisão (TV) |__| Equipamento de som |__| DVD/Blu-Ray/Vídeo Cassete |__| Datashow |__| Câmera Fotográfica |__| Filmadora |__| Veículo de uso exclusivo |__| Veículo de uso compartilhado |__| Acervo bibliográfico |__| Mobiliário/materiais para atender crianças (mesa infantil, tapete emborrachado, brinquedos, etc.) |__| Materiais pedagógicos, culturais e esportivos Indique a quantidade de computadores, em perfeito funcionamento, existentes neste CREAS 11. Quantidade total de computadores no CREAS |___|___|
222
12. Quantos estão conectados à internet no CREAS |___|___| 13. Este CREAS possui placa de identificação? (Resposta única) |__| Sim, conforme o modelo padronizado pelo MDS |__| Sim, em outro modelo, mas com o nome “Centro de Referência Especializada de Assistência Social” |__| Sim, em outro modelo, sem o nome “Centro de Referência Especializada de Assistência Social” |__| Não possui
BLOCO 3 – Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI)
14. Indique, no quadro abaixo, se o CREAS oferta atendimento, pelo PAEFI, para as seguintes situações e ciclos de vida: (Admite múltiplas respostas) SITUAÇÕES Crianças e
Adolescentes Mulheres adultas
Homens adultos
Idosos Não atende este tipo de situação
Violência física
Violência psicológica
Abuso sexual/ Violência Sexual
Exploração sexual
Negligência ou abandono
Tráfico de pessoas
Situação de rua
Discriminação em decorrência da orientação sexual
Discriminação em decorrência da raça/etnia
Pessoas com deficiência vítimas de violência/violação de direitos
Família\Indivíduos com pessoas em serviços de acolhimento
Famílias com
223
adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa
Famílias com pessoas adultas em privação de liberdade
Famílias com pessoas egressas do sistema prisional
15. Indique as ações e atividades realizadas pelos profissionais deste CREAS no âmbito da População em Situação de Rua:(Admite múltiplas respostas) |__| Acolhida Particularizada realizada por técnico de nível superior |__| Acompanhamento individual/familiar |__| Acompanhamento dos encaminhamentos realizados |__| Registro do acompanhamento individual/familiar em prontuário |__| Elaboração do Plano de Acompanhamento Familiar I__I Elaboração de relatórios técnicos sobre casos em acompanhamento |__| Grupo/oficina com famílias ou indivíduos |__| Orientação jurídico-social |__| Visitas domiciliares |__| Palestras |__| Ações de mobilização e sensibilização para o enfrentamento das situações de violação de direitos |__| Apoio para obtenção de Documentação pessoal |__| Orientação/acompanhamento para inserção no BPC |__| Encaminhamento para o CRAS |__| Encaminhamento de famílias ou indivíduos para a rede de serviço socioassistencial |__| Encaminhamento para serviços da rede de saúde |__| Encaminhamento de famílias ou indivíduos para outras políticas públicas (educação, habitação,trabalho, etc.) I__I Encaminhamento para órgãos de defesa e responsabilização (Defensoria Pública, Promotoria,Ministério Público, etc.) |__| Encaminhamento para obtenção de Benefícios Eventuais |__| Encaminhamento para inserção/atualização de famílias no Cadastro Único |__| Outros. Quais?_______________________ 16. Informe o total de casos (famílias ou indivíduos) em acompanhamento no pelo PAEFI neste CREAS durante o mês de Dezembro de 2015, conforme o quadro abaixo: A. Volume de Famílias em acompanhamento pelo PAEFI
Quantidade de casos em acompanhamento
pelo PAEFI em Dezembro de 2015
224
A.1 Total de casos de famílias e indivíduos em acompanhamento peloPAEFI
|__|__|__|__| casos
A.2 Total de casos de indivíduos em situação de rua em acompanhamento peloPAEFI
|__|__|__|__| casos
17. Dentre os casos (famílias/indivíduos) em acompanhamento pelo PAEFI no mês de dezembro (verificar valor informado na questão 17) informe: 17.1 Quantos casos são referentes a pessoas em situação de rua residentes no município sede do CREAS? |__|__|__|__| 17.2 Quantos casos são referentes a pessoas em situação de rua residentes em outros municípios? |__|__|__|__| 18. Informe se este CREAS realiza atividades de atendimento ou acompanhamento com: Público SIM NÃO
Autores de agressão intrafamiliar
Egressos do Sistema Prisional
Famílias com pessoas em situação de violação de direito em decorrência do uso de álcool e outras drogas
19. Nesta Unidade há profissionais que já participaram de capacitação sobre os seguintes(s) tema(s)?(múltipla escolha) |__| Pessoa com Deficiência |__| Gênero |__| População em situação de rua |__| População LGBT |__| População e comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, dentre outros) |__| Álcool e outras drogas |__| Raça e etnia |__| Violências e violações de direitos |__| Outros. Especifique: |__| Não participou de capacitação. 20. Este CREAS acompanha famílias ou Pessoas em Situação de Rua com presença de usuários/dependentes de substâncias psicoativas, em situação de risco pessoal e social? |__| Sim |__| Não (pule para a questão 22) 21. Caso afirmativo, indique as atividades realizadas: (Admite múltiplas respostas)
225
|__| Oficinas com ações preventivas |__| Abordagem de rua em parceria com equipes da saúde |__| Encaminhamentos monitorados para a rede de saúde |__| Articulação com a rede de saúde para acompanhamento dos casos |__| Discussão de casos com a saúde |__| Apoio à reinserção social |__| Outras
BLOCO 4 – Serviço de Abordagem Social
22. Este CREAS realiza o Serviço Especializado em Abordagem Social? (Resposta única) |__| Sim, com equipe exclusiva para Abordagem |__| Sim, sem equipe exclusiva para Abordagem. |__| Não realiza com a equipe deste CREAS, mas no município existe Serviço de Abordagem referenciado a este CREAS (pule para a questão 28). |__| Não realiza, nem possui Serviço de Abordagem referenciado a este CREAS (pule para a questão 28) 23. Quais as atividades realizadas pelo Serviço Especializado em Abordagem Social? (Admitemúltiplas respostas) |__| Deslocamento da equipe de abordagem para Conhecimento do território |__| Informação, comunicação e defesa de direitos dos usuários; |__| Escuta dos usuários; |__| Orientação sobre a rede de serviços locais; |__| Encaminhamento para a rede de serviços locais |__| Articulação da rede de serviços socioassistenciais; |__| Articulação com os serviços de políticas públicas setoriais; |__| Articulação interinstitucional com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos; |__| Elaboração de relatórios. 24. Como são definidas as áreas onde serão realizadas as abordagens do Serviço Especializado emAbordagem Social? (Admite múltiplas respostas) |__| Conhecimento prévio dos técnicos do Serviço |__| A partir de diagnósticos socioterritoriais realizados pelo órgão gestor de Assistência Social |__| Demanda dos órgãos de defesa de diretos |__| Denúncias/Solicitações da população |__| Outros. Qual(is)?___________________________________________________ 25. Quantos dias por semana a abordagem social é realizada: |___| dias por semana |___|Sem frequência regular 26. Em quais períodos do dia costuma ser realizada a abordagem social: |__| Diurno |__| Noturno |__| Ambos 27. A Abordagem Social é realizada em parceria com: (Admite múltiplas respostas,
226
exceto se marcar aprimeira opção) |__| A Abordagem é realizada exclusivamente pela equipe do CREAS (siga para a questão 28) |__| equipes da saúde |__| equipes de serviços de acolhimento |__| equipes do Centro POP |__| equipes de outras unidades públicas da rede socioassistencial |__| equipes de entidades da rede socioassistencial privada |__| integrantes de movimentos sociais |__| guarda municipal |__| polícia militar |__| outros
BLOCO 5 – GESTÃO
28.O território de abrangência deste CREAS compreende (apenas para CREAS Municipal.) |__| O município inteiro |__| Apenas alguns bairros 29.Enumere as cinco principais origens de encaminhamento das famílias/indivíduos para oPAEFI/CREAS, ordenando-as de 1 a 5. (Atribua o número 1 para a mais frequente e assim sucessivamenteaté o numero 5.) |___| Poder Judiciário |___| Ministério Público |___| Delegacia |___| CRAS |___| Abordagem Social/Busca Ativa |___| Serviços de acolhimento (abrigos e outros) |___| Outros serviços da rede socioassistencial |___| Serviços da rede de saúde |___| Serviços da rede das demais políticas públicas |___| Demanda espontânea da família e/ou do indivíduo 30. Este CREAS realiza cadastramento da população em situação de rua no CadÚnico? (Respostaúnica) |__| Sim, apenas no formulário em papel |__| Sim, com lançamento das informações no sistema pelo próprio CREAS |__| Apenas encaminha o usuário para realização do cadastramento em outro local/unidade |__| Não cadastra nem encaminha usuários para o CadÚnico 31. Há participação dos usuários em Situação de Rua nas atividades de planejamento deste CREAS? (Resposta única) |__| Não (pule para a questão 33) |__| Sim, porém de maneira informal e ocasional (pule para a questão 33)
227
|__| Sim, de maneira informal, mas constante |__| Sim, de maneira formal e regular 32. Quais mecanismos de participação são utilizados nesta unidade? (Admite múltiplas respostas) |__| Convida os usuários para as reuniões de planejamento desta unidade |__| Apoio financeiro para a participação de reuniões de planejamento junto a esta unidade |__| Existência de representante de usuários junto à unidade |__| Eleição para representante de usuários junto à unidade |__| Estimula a formação de coletivo/comitê de usuários |__| Outros. Qual?____________ 33. Este CREAS utiliza o Prontuário SUAS no modelo disponibilizado pelo MDS? |__| Sim |__| Não (pule para questão 35) 34. Em 2015, quantos Prontuários SUAS foram abertos neste CREAS? |__|__|__| prontuários
BLOCO 6 – ARTICULAÇÃO
35. Indique as ações de articulação deste CREAS com os seguintes serviços, programas ou instituiçõesexistentes no município. (Admite múltiplas respostas, exceto se marcar ‘não tem nenhuma articulação’ ou ‘serviço ou instituição não existenteno Município’) Serviços, programas ou instituições com os quais mantém articulação para o atendimento da população em situação de rua
Possui dados da localização (endereço, telefone etc.)
Recebe usuários encaminhados por este CREAS
Encaminha usuários para este CREAS
Acompanha os encaminhamentos
Realiza reuniões periódicas
Troca Informações
Realiza estudos de caso em conjunto
Desenvolve atividades em parceria
Não tem nenhuma articulação
Serviço ou instituição não existente no Município
Serviços de Acolhimento (abrigos e outros)
228
Centro de Referência Especializado para população em situação de rua
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)
Demais serviços da rede socioassistencial
Centro Dia para pessoas com deficiência
Serviços de Saúde Mental (CAPSi, CAPSad, ambulatórios, etc).
Demais Serviços da rede de Saúde
Serviços de Educação
Órgãos responsáveis pela emissão de documentação civil básica
Serviços/Programas de Segurança Alimentar
229
Ministério Público
Defensoria pública
Delegacias/ Delegacias Especializada
Conselho Tutelar
Guarda Municipal
ONGs que atuam com defesa de direitos ou que realizam projetos sociais
Instituições de Ensino e Pesquisa
Unidades / Serviços de outros municípios
Esporte, Lazer e Cultura
Habitação
Trabalho e Emprego
BLOCO 7 – RECURSOS HUMANOS
36. O coordenador deste CREAS: (Resposta única) |__| exerce exclusivamente a função de coordenador |__| acumula as funções de coordenador e de técnico neste CREAS |__| acumula as funções de coordenador com outra atividade da Secretaria Municipal de Assistência Social |__| não há coordenador neste CREAS (Caso marque esta opção não pode informar a função ‘2-Coordenador(a)’ para nenhum dos trabalhadores do CREAS) 37.
230
Nome Completo
Sexo Escolaridade Profissão Vínculo Função Carga horária
Semanal
Identificação da pessoa responsável pelas informações prestadas pelo CREAS: Nome Legível:_________________________________________________________
__ CPF:___________________________________________________________________Data: ___ / ___ / _______ Assinatura:
_____________________________________________________________ Cargo/Função:
|__| Coordenador do CREAS |__| Técnico de nível superior do CREAS |__| Outros. Especifique: _________________________________________________ Telefone: (____) _________________________________________________________ E-mail:___________________________________________________________
______
231
ANEXO II
BLOCO 1 – IDENTIFICAÇÃO
Nome que identifica o Centro POP: _________________________________________ ______________________________________________________________________ Selecione/Indique o Tipo de Logradouro (Avenida, Rua, Praça, etc.): _____________ ______________________________________________________________________ Endereço:______________________________________________________________Número: _______ Complemento:______________ Bairro:_______________________ Ponto de Referência:_____________________________________________________ CEP: ______________ Município: _______________________________ UF: ________ E-mail:_________________________________________________________________ DDD – Telefone: |__|__|- |__|__|__|__|__|__|__|__| Ramal: |__|__|__|__| Data de Implantação do Centro POP: |__|__|/|__|__|/|__|__|__|__|
(dd/mm/aaaa)
1. Horário de funcionamento: 1.1 |____| dias por semana 1.2 |____| horas por dia
BLOCO 2 – ESTRUTURA FÍSICA 2. Situação do imóvel onde se localiza a Unidade: (Resposta única) |__| próprio |__| alugado |__| cedido 3. O imóvel de funcionamento desta Unidade é compartilhado? |__| Sim |__| Não (pule para a questão 6) 4. Especifique o tipo de unidade com a qual este Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua compartilha o imóvel. (Admite múltiplas respostas) |__| Secretaria de Assistência Social ou congênere |__| Outra unidade administrativa (Sede de Prefeitura, Administração Regional, Sub-Prefeitura etc.) |__| Conselho Municipal de Assistência Social |__| CRAS – Centro de Referência de Assistência Social I__I CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social I__I Unidade de Acolhimento institucional (Abrigo) |__| Outra unidade pública de serviços da Assistência Social |__| ONG/Entidade/Associação Comunitária |__| Outros. Qual? __________________________________ 5. Especifique quais espaços do imóvel são compartilhados entre o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua e a outra Unidade. (Admite múltiplas respostas, exceto se marcar a primeira opção)
232
|__| Apenas o endereço é o mesmo, mas todos os espaços do Centro de Referência para População em Situação de Rua são independentes e de uso exclusivo, inclusive a entrada (siga para a questão 6) |__| Entrada / Porta de Acesso |__| Recepção |__| Algumas salas de atendimento |__| Todas as salas de atendimento I__I Salas administrativas I__I Espaço para atividades coletivas |__| Banheiros |__| Copa/cozinha |__| Área Externa |__| Almoxarifado ou similar I__I Refeitório I__I Lavanderia I__I Espaço para guarda de pertences I__I Outros 6. Descreva o espaço físico deste Centro de Referência para População em Situação de Rua: (Atenção! Cada sala deve ser contada uma única vez na descrição do espaço. No caso de não possuir, inserir o valor “0”).
Salas utilizadas para Atendimento Individual ou Coletivo Quantidade de Salas
Quantidade de Salas com capacidade máxima de 5 pessoas |___|___|
Quantidade de Salas com capacidade para 6 a 14 pessoas |___|___|
Quantidade de Salas com capacidade de 15 a 29 pessoas |___|___|
Quantidade de Salas com capacidade para 30 ou mais pessoas |___|___|
Salas exclusivas de Coordenação, equipe técnica ou administração (não são salas de atendimento!)
|___|___|
Banheiro de uso exclusivo dos trabalhadores do Centro POP |___|___|
Banheiro para uso dos usuários do Centro POP |___|___|
Espaço para higiene pessoal (Box com chuveiros individualizados) |___|___|
Demais Ambientes Possui?
Recepção ( ) SIM ( ) NÃO
Cozinha/Copa ( ) SIM ( ) NÃO
Almoxarifado ou similar ( ) SIM ( ) NÃO
Espaço externo para atividades coletivas e/ou comunitárias ( ) SIM ( ) NÃO
Refeitório ( ) SIM ( ) NÃO
Lavanderia ( ) SIM ( ) NÃO
Espaço para guarda de pertences ( ) SIM ( ) NÃO
Espaço para animais de estimação ( ) SIM ( ) NÃO
233
7. Assinale as condições de acessibilidade para pessoas com deficiência e pessoas idosas que esta Unidade possui: (Resposta única por linha).
Condições de acessibilidade apresentadas:
SIM, De acordo com a Norma da ABNT
SIM, Mas não estão de
acordo com a Norma da ABNT
Não possui
Acesso principal adaptado com rampas e rota acessível desde a calçada até a recepção da Unidade
|__|
|__|
|__|
Rota acessível aos principais espaços da Unidade (recepção, sala de atendimentos e espaço(s) para atividades coletivas)
|__|
|__|
|__|
Rota acessível ao banheiro
|__|
|__|
|__|
Banheiro adaptado para pessoas com dificuldades de locomoção
|__|
|__|
|__|
8. Indique os equipamentos e materiais disponíveis, em perfeito funcionamento, para o desenvolvimento dos Serviços deste Centro, informando se é permitido acesso dos usuários aos mesmos.
Equipamento Equipamento ou material disponível na Unidade
Caso sim, indique se está disponível aos usuários
Telefone |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Impressora |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Máquina Copiadora |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Televisão (TV) |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Equipamento de som |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
DVD/Vídeo Cassete |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Filmadora |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Datashow |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Máquina Fotográfica |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Livros |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Materiais socioeducativos |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Armários individualizados para guarda de pertences
|__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Artigos de higiene pessoal |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
234
Geladeira |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Freezer |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Fogão |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Micro-ondas |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Máquina de lavar roupa |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Secadora de roupa |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Tanque de lavar roupas |__| Sim |__| Não |__| Sim |__| Não
Veículo de uso exclusivo |__| Sim |__| Não
Veículo de uso compartilhado |__| Sim |__| Não
9. Indique a quantidade de computadores, em perfeito funcionamento, existente neste Centro: (Atenção! Informar 0 (zero) se não tiver computador que se enquadre em alguma das respostas a seguir.)
Quantidade total de computadores na Unidade: |___|___|
Destes, quantos estão conectados à internet? |___|___|
Quantidade de computadores para utilização pelos usuários: |___|___|
Destes, quantos estão conectados à internet? |___|___|
10. Este Centro de Referência para População em Situação de Rua facilita o acesso ou oferece alimentação aos usuários? |__| Sim |__| Não (pule para a questão 12) 11. Indique abaixo as refeições que são oferecidas aos usuários deste Centro POP e o local de oferta: (admite múltiplas respostas, exceto se marcar a opção “Não”)
É ofertada a
refeição?
Em qual local? Restaurante
Popular Em outra
unidade pública ou privada
No espaço deste Centro
POP
Lanche/Café da Manhã
|__| Sim |__| Não
|__|
|__|
|__|
Almoço |__| Sim |__| Não |__| |__| |__|
Lanche/Café da Tarde
|__| Sim |__| Não
|__|
|__|
|__|
Jantar |__| Sim |__| Não |__| |__| |__|
Lanche/Café da Noite
|__| Sim |__| Não
|__|
|__|
|__|
12. Esta Unidade possui placa de identificação? (resposta única). |__| Sim, conforme modelo padronizado pelo MDS |__| Sim, com o nome “Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua” |__| Sim, sem o nome “Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua” |__| Não possui
235
BLOCO 3 – Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua 13. Indique as ações e atividades desenvolvidas pelo Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua nesta Unidade: (admite múltiplas respostas). |__| Acolhida em Grupo realizada por profissional de nível superior |__| Acolhida Particularizada realizada por técnico de nível superior |__| Atendimento particularizado de famílias ou indivíduos |__| Orientação sociojurídica |__| Apoio para obtenção de Documentação pessoal |__| Orientação/acompanhamento para inserção no BPC |__| Elaboração de Plano de Acompanhamento Individual e/ou Familiar I__I Ações de mobilização e participação social I__I Mobilização de família extensa ou ampliada I__I Mobilização e fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio |__| Encaminhamento de famílias ou indivíduos para a rede de serviço socioassistencial |__| Encaminhamento de usuários/dependentes de substâncias psicoativas para serviços da rede de saúde |__| Encaminhamento para outros serviços da rede de saúde |__| Encaminhamento de famílias ou indivíduos para políticas de educação (jovens e adultos, etc.) I__I Encaminhamento para órgãos de defesa de direitos (Defensoria Pública, Poder Judiciário, Ministério Público, Conselho Tutelar etc.) |__| Encaminhamento de famílias ou indivíduos para demais políticas (trabalho, habitação, etc) |__| Acompanhamento dos usuários encaminhados para rede |__| Registro das informações em prontuário I__I Elaboração de relatórios técnicos sobre casos em atendimento I__I Estudo de Caso/Discussão de casos em equipe I__I Avaliação para concessão de aluguel social |__| Palestras |__| Outras. Quais?_______________________ 14. Este Centro realiza oficinas/atividades em grupo com temas transversais no âmbito do Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua nesta Unidade? (resposta única). |__| Sim, com periodicidade programada |__| Sim, sem periodicidade programada |__| Não (pule para a questão 16) 15. Caso sim, indique abaixo os temas que são regularmente abordados nestas oficinas/atividades em grupo: (admite múltiplas respostas). I__I Saúde (prevenção a DST, uso abusivo de substâncias psicoativas, etc.) I__I Direitos e programas sociais I__I Segurança alimentar e nutricional I__I Promoção dos direitos das mulheres, questões de gênero I__I Orientação sexual
236
I__I Diversidade étnico-racial I__I Inclusão digital I__I Exibição/debates de filmes/documentários I__I Arte/cultura (dança, teatro, música, etc.) |__| Participação dos usuários em espaços democráticos, como conselhos e outros |__| Organização dos usuários em associações e comitês I__I Outros 16. Em relação ao acesso ao mercado de trabalho, indique abaixo as ações/iniciativas deste Centro: (admite múltiplas respostas). I__I Encaminhamento para capacitação profissional/curso profissionalizante I__I Cessão de espaço físico para realização de cursos de capacitação profissional ofertados por outras instituições I__I Cadastramento para participação em programas de qualificação profissional I__I Encaminhamento para programas de geração de trabalho e renda I__I Assessoramento para formação de cooperativas ou associações (unidades produtivas) I__I Informações atualizadas sobre vagas disponíveis no mercado de trabalho I__I Outros 17. Indique a quantidade total de pessoas em situação de rua atendidas no Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua nesta Unidade no ano de 2014:
Total de pessoas em situação de rua atendidas no Serviço no ano de 2014
Quantidade
Quantidade total de pessoas em situação de rua atendidas no Serviço no ano de 2014
|__|__|__|__| ( ) Não Sabe
18. Indique a quantidade de pessoas em situação de rua atendidas no Serviço durante o mês de referência (Dezembro/2015) A. Pessoas em situação de rua atendidas no Serviço durante o mês de referência
Total
Sexo
0 a 12 anos
13 a 17 anos
18 a 39 anos
40 a 59 anos
60 anos ou mais
A.1. Quantidade e perfil das pessoas em situação de rua atendidas no mês de referência
|__|__|__|
Masculino
|__|__|
|__|__|
|__|__|
|__|__|
|__|__|
Feminino
|__|__|
|__|__|
|__|__|
|__|__|
|__|__|
BLOCO 4 – Serviço Especializado em Abordagem Social 19. Este Centro POP realiza o Serviço Especializado em Abordagem Social? (resposta única). |__| Sim, com equipe exclusiva para Abordagem |__| Sim, sem equipe exclusiva para Abordagem. |__| Não realiza com a equipe deste Centro POP, mas no município existe Serviço de Abordagem referenciado a este Centro POP (pule para a questão 25).
237
|__| Não realiza, nem possui Serviço de Abordagem referenciado a este Centro POP (pule para a questão 25) 20. Quais as atividades realizadas pelo Serviço Especializado em Abordagem Social? (admite múltiplas respostas). |__| Conhecimento do território |__| Informação, comunicação e defesa de direitos; |__| Escuta; orientação e encaminhamentos sobre/para a rede de serviços locais com resolutividade; |__| Articulação da rede de serviços socioassistenciais; |__| Articulação com os serviços de políticas públicas setoriais; |__| Articulação interinstitucional com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos; |__| Elaboração de relatórios. 21. Como são definidas as áreas onde serão realizadas abordagens do Serviço Especializado em Abordagem Social? (Admite múltiplas respostas) |__| Conhecimento prévio dos técnicos do Serviço |__| A partir de diagnósticos socioterritoriais realizados pelo órgão gestor de Assistência Social |__| Demanda dos órgãos de defesa de diretos |__| Denúncias da população |__| Outros. Qual? __________________________________________ 22. Quantos dias por semana a abordagem social é realizada: |__| dias por semana ( ) Sem frequência regular 23. Em quais períodos do dia costuma ser realizada a abordagem social: |__| Diurno |__| Noturno |__| Ambos 24. A Abordagem Social é realizada em parceria com: (admite múltiplas respostas, exceto se marcar a primeira opção). |__| A Abordagem é realizada exclusivamente pela equipe do Centro Pop (siga para a questão 25) |__| equipes da saúde |__| equipes de serviços de acolhimento |__| equipes do CREAS |__| equipes de outras unidades públicas da rede socioassistencial |__| equipes de entidades da rede socioassistencial privada |__| integrantes de movimentos sociais |__| guarda municipal |__| polícia militar |__| outros
238
BLOCO 5 – GESTÃO 25. O território de abrangência deste Centro compreende: |__| O município inteiro ou o Distrito Federal inteiro |__| Apenas algum(ns) bairro(s) ou comunidade(s) dentro do município ou do DF 26. Para implantação e/ou para o desenvolvimento das atividades deste Centro, foi elaborado diagnóstico socioterritorial sobre a incidência e característica da população em situação de rua na localidade? |__| Sim |__| Não (pule para a questão 28) 27. Indique os dados e informações coletadas para subsidiar a elaboração do diagnóstico socioterritorial: (admite múltiplas respostas). I__I Informações sobre as áreas de concentração e trânsito da população em situação de rua no município/DF I__I Dados e informações relativas ao perfil e às especificidades da população em situação de rua no município/DF I__I Mapeamento da rede de articulação do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua I__I Outros dados e informações 28. Este Centro possui estimativa do número de pessoas em situação de rua em sua área de abrangência? |__| Sim |__| Não (pule para a questão 30) 29. Caso sim, quantas pessoas? |__|__|__|__| 30. Apresente o percentual aproximado das formas pelas quais os usuários acessam os serviços deste Centro de Referência para População em Situação de Rua. (Atenção! A soma dos itens deve ser igual a 100%.) |__|__|__| Por procura espontânea |__|__|__| Por busca ativa |__|__|__| Por encaminhamento da rede socioassistencial |__|__|__| Por encaminhamento das demais políticas públicas e/ou Sistema de garantia de direitos 31. Nesta Unidade há profissionais que já participaram de capacitação sobre os seguintes temas? (admite múltiplas respostas, exceto se marcar que “não participou de capacitação”) |__| Pessoa com Deficiência |__| Gênero |__| População em situação de rua |__| População LGBT |__| Álcool, crack e outras drogas |__| Raça e etnia |__| Violências e violações de direitos |__| Outros. Especifique:_________________________________________
239
|__| Não participou de capacitação 32. Esta Unidade desenvolve alguma atividade específica relativa ao uso de substâncias psicoativas? |__| Sim |__| Não (pule para a questão 34) 33. Caso afirmativo, indique as atividades realizadas: (admite múltiplas respostas). |__| Oficinas com ações preventivas |__| Encaminhamentos/Articulação com a rede de saúde para acompanhamento dos casos |__| Discussão de casos com a saúde |__| Outras 34. Este Centro realiza cadastramento da população em situação de rua no CadÚnico? (resposta única). |__| Sim, apenas no formulário em papel |__| Sim, com lançamento das informações no sistema pelo próprio Centro POP |__| Apenas encaminha o usuário para realização do cadastramento em outro local/unidade |__| Não cadastra nem encaminha usuários para o CadÚnico 35. Há participação dos usuários nas atividades de planejamento deste Centro POP? (Resposta única) |__| Não (pule para a questão 37) |__| Sim, porém de maneira informal e ocasional (pule para a questão 37) |__| Sim, de maneira informal, mas constante |__| Sim, de maneira formal e regular 36. Quais mecanismos de participação são utilizados nesta unidade? (Admite múltiplas respostas) |__| Convida os usuários para as reuniões de planejamento desta unidade |__| Apoio financeiro para a participação de reuniões de planejamento junto a esta unidade |__| Existência de representante de usuários junto à unidade |__| Eleição para representante de usuários junto à unidade |__| Estimula a formação de coletivo/comitê de usuários |__| Outros. Qual?______________________________________________
240
BLOCO 6 – ARTICULAÇÃO 37. Indique as ações de articulação desta Unidade com os seguintes serviços, programas ou instituições existentes no município/DF. (Admite múltiplas respostas, exceto se marcar ‘não tem nenhuma articulação’ ou ‘serviço ou instituição não existente no Município’)
Serviços,
programas ou instituições com os quais mantém
articulação
Tipo de Articulação
Não
tem
nen
hum
a ar
ticu
laçã
o
Ser
viço
ou
inst
itui
ção
não
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tel. e
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arti
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ção
Serviço Especializado em Abordagem Social (quando não ofertado pelo Centro de Referência para Pop Rua)
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
Serviços de Acolhimento (abrigos institucionais, casas de passagem, repúblicas)
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Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)
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Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS)
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Demais serviços da rede socioassistencial
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Serviços de Saúde Mental (CAPS, CAPS AD, etc.)
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Equipes da Saúde que atuem no espaço da rua (Consultórios na Rua ou outros);
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Serviços de saúde voltados à internação
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Comunidades Terapêuticas
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Demais Serviços da rede de Saúde
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Órgãos responsáveis pela emissão de documentação civil básica
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Serviços/Programas de Segurança Alimentar
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Serviços/Programas de Habitação
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|__| Serviços/Programas de Geração de Trabalho e renda
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Serviços de outras políticas públicas
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Programas/projetos de inclusão digital
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Esporte, Lazer e Cultura
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Órgãos de Defesa de Direitos (Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, etc.)
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
Movimentos organizados da população em situação de rua
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
ONGs que atuam com defesa de direitos
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
ONGs que realizam projetos sociais
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Unidades / Serviços de outros municípios
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
BLOCO 7 – RECURSOS HUMANOS
38. O coordenador desta Unidade: (resposta única). |__| exerce exclusivamente a função de coordenador |__| acumula as funções de coordenador e de técnico nesta Unidade |__| acumula as funções de coordenador com outra atividade da Secretaria Municipal de Assistência Social ou do DF |__| não há coordenador nesta Unidade
Nome Escolaridade Profissão Vínculo Função Carga Horária
242
Completo
Identificação do agente responsável, no Órgão Gestor da Assistência Social, pelas informações declaradas neste formulário:
Nome:_________________________________________________________________ CPF: ____________________________ Data: ___ / ___ / _______ Cargo/Função: __________________________________________________________ Telefone: (____) _______________ E-mail: ___________________________________
243
ANEXO III
BLOCO 1 – IDENTIFICAÇÃO DA UNIDADE DE ACOLHIMENTO
Nome da Unidade:_______________________________________________________ Endereço: ________________________________________________Número:______ Complemento:___________________Bairro:__________________________________ CEP: _________________________ Município: _____________ UF: ____ Email:__________________________________________________________
________ DDD – Telefone: |__|__|- |__|__|__|__|__|__|__|__| Ramal: |__|__|__|__| Data de Implantação da Unidade: |__|__|/|__|__|/|__|__|__|__| (dd/mm/aaaa)
BLOCO 2 – CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE 1. Dados provenientes da gestão estadual ou municipal: |__| Estadual |__| Municipal 2. Indique o tipo de Unidade:
Tipo de Unidade Definição
|__| Abrigo Institucional
Unidade Institucional que acolhe (abriga) grupos de indivíduos com vínculos familiares fragilizados ou rompidos ou famílias em situação de desabrigo, ofertando espaço de moradia, proteção integral e serviço especializado. Cada unidade destina-se ao acolhimento de um público específico (crianças e adolescentes; idosos; mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar; população em situação de rua e/ou migrantes). Cabe destacar que alguns abrigos institucionais ainda utilizam nomenclaturas, como: orfanato, asilo, albergue, dentre outros.
|__| Casa de Passagem
Unidade Institucional que acolhe (abriga) de forma imediata e emergencial, a qualquer hora do dia ou da noite, indivíduos ou famílias em situação de desabrigo, enquanto se realiza um estudo diagnóstico detalhado de cada situação para os encaminhamentos necessários. A permanência, na casa de passagem, geralmente é por período de curta duração.
|__| República
Unidade residencial, inserida em bairros
244
residenciais, onde são oferecidos apoio e moradia subsidiada a pequenos grupos de indivíduos com capacidade de autogestão, porém com vínculos familiares rompidos ou fragilizados e sem condições de moradia e auto-sustentação. Cada unidade destina-se ao acolhimento de um público específico (jovens entre 18 e 21 anos após desligamento de serviços de acolhimento para crianças e adolescentes; adultos em processo de saída das ruas; ou idosos com condições de desenvolver, de forma independente, as atividades da vida diária). A república pode ser viabilizada em sistema de autogestão ou cogestão, onde os custos da locação e tarifas públicas são subsidiados e as despesas com higiene e alimentação são cotizadas entre os moradores - com apoio/subsídio quando necessário. Os moradores também são responsáveis pela organização da moradia, preparação dos alimentos, etc.
3. Indique a Natureza desta Unidade: |__| Governamental (pule para questão 7) |__| Não Governamental. 4. Em caso de Entidade Não Governamental, indique o CNPJ: |__|__|.|__|__|__|.|__|__|__|/|__|__|__|__|-|__|__| (caso necessário, atualize no CADSUAS) 5. A entidade recebe recursos do poder público visando à manutenção do Serviço de Acolhimento? |__| Sim , municipal |__| Sim, estadual |__| Sim, municipal e estadual |__| Não 6. A entidade recebe outras formas de apoio do poder público? Caso sim, indique quais: (Atenção! Assinalar os itens apenas quando o apoio ocorrer de forma direta, não sendo decorrente do próprio recurso financeiro transferido pelo Convênio) (admite múltipla resposta) |__| Não recebe nenhuma outra forma de apoio do poder público (pule para a questão 7)
245
|__| Cessão de recursos humanos |__| Cessão imobiliária |__| Pagamento de aluguel |__| Pagamento de contas de água |__| Pagamento de contas de luz ou telefone |__| Fornecimento de gêneros alimentícios |__| Fornecimento de materiais de higiene e limpeza |__| Fornecimento de materiais didáticos |__| Isenção de taxas ou tributos municipais |__| Treinamento e capacitação de trabalhadores da entidade |__| Outros
7. Esta unidade possui termo de parceria, acordo, convênio, ou qualquer outra forma de contratualização para recebimento de usuários de outros municípios? |__| Sim |__| Não (pule para a questão 10) 8. Caso sim, com quais municípios existe acordo/parceria para acolhimento nesta unidade: (Atenção! Utilize o nome completo dos municípios abrangidos. Não utilize abreviaturas. Marque apenas 1 município para cada linha)
1) 6)
2) 7)
3) 8)
4) 9)
5) 10)
9. O que está incluído nesta parceria: (admite múltipla resposta) |__| Disponibilidade de vagas para casos encaminhados por este outro município |__| Recurso que será repassado por cada município |__| Responsabilidade de cada município para o acompanhamento da família de origem/extensa |__| Deslocamento da família de origem ou do usuário |__| Outros. Qual?_______________________________________ 10. Assinale se este município possui inscrição/registro no CMAS: |__| Sim I__I Não 11. O Serviço de Acolhimento prestado nesta unidade possui orientação religiosa? |__| Sim |__| Não 11. 1. Qual a capacidade máxima para o atendimento (número de vagas) desta unidade? |__|__|__| vagas (caso necessário, atualize no CADSUAS) 11.2. Quantas pessoas estão acolhidas na unidade neste momento (vagas ocupadas)? |__|__|__| pessoas
246
12. Informe o sexo e faixa etária das pessoas que estão acolhidas na Unidade neste momento: (Se não tiver, marcar 0) Atenção! Verifique se o Total de Pessoas acolhidas registrado neste Quadro coincide com o Total informado na questão anterior!
Sexo
Quantidade de pessoas acolhidas, segundo as Faixas Etárias (anos de idade)
18 a 21 22 a 59 60 a 79 80 ou mais Total
Masculino
Feminino
Total
13. Qual o número máximo de pessoas (usuários) dormindo em um mesmo dormitório? |__|__|__| pessoas 14. Das pessoas atualmente acolhidas nesta unidade, quantas delas vieram encaminhadas de outro município? |__|__|__| Quantidade de pessoas que vieram encaminhadas de outro município |__| Não sabe informar 15. Indique se entre os usuários acolhidos nesta unidade existem idosos ou pessoas com deficiência que sejam beneficiários do Benefício de Prestação Continuada – BPC? Caso não haja beneficiários do BPC entre as pessoas desta Unidade, informe o valor “zero”. (Se não tiver, marcar 0) |__|__| Quantidade de Idosos beneficiários do BPC |__|__| Quantidade de Pessoas com Deficiência beneficiárias do BPC 16. A unidade possui critérios de sexo para admissão dos usuários? (marcação única) |__| Sim, apenas sexo Masculino |__| Sim, apenas sexo Feminino |__| Não possui critério de sexo para admissão 17. Em relação aos critérios de Idade para admissão dos usuários, informe: Qual a Idade mínima para admissão: |_|anos |_| Não há idade mínima para admissão Qual a Idade máxima para admissão: |_|anos |_| Não há idade máxima para admissão 18. Independentemente da existência de critérios de sexo e idade, a Unidade acolhe grupo de usuários com vínculos de parentesco? (marcação única) |__| Sim, sempre que há demanda |__| Algumas vezes |__| Não acolhe
247
19. Das pessoas que estão, atualmente nesta Unidade, informe o tempo que estão acolhidas: (Se não tiver, marcar 0)
Pessoas acolhidas, segundo o tempo que estão na Unidade
Menos de 1 Mês
De 1 a 3 meses
De 4 a 6 meses
De 7 a 12 meses
De 13 a 24 meses
De 25 a 48 meses
De 49 a 72 meses
Mais de 72 meses (mais de 6 anos)
Total de Pessoas Acolhidas
Qtd de pessoas
20. Entre as pessoas que estão acolhidas hoje nesta unidade, quantas possuem alguma das características abaixo? (Se não tiver, marcar 0)
Especificidade Quantidade A Unidade aceita receber pessoas com estas características
Deficiência física |__|__| |__| Sim |__| Não
Deficiência sensorial |__|__| |__| Sim |__| Não
Deficiência intelectual (Deficiência mental) |__|__| |__| Sim |__| Não
Doença Mental (Transtorno Mental) |__|__| |__| Sim |__| Não
Deficiência múltipla |__|__| |__| Sim |__| Não
Doentes Crônicos (HIV/AIDS, Câncer, etc.) |__|__| |__| Sim |__| Não
Trajetória de rua |__|__| |__| Sim |__| Não
Idosos ou pessoas com deficiência que requeiram assistência em todas as atividades de auto-cuidado para a vida diária e/ou comprometimento cognitivo (Dependência Grau III)
|__|__|
|__| Sim |__| Não
Refugiado / Imigrante (pessoas de outro país) |__|__| |__| Sim |__| Não
Pessoas vítimas de calamidade ou situação de emergência
|__|__|
|__| Sim |__| Não
Pessoas vitimas de tráfico de seres humanos |__|__| |__| Sim |__| Não
Dependência de álcool ou outras drogas |__|__| |__| Sim |__| Não
Indígenas |__|__| |__| Sim |__| Não
Travesti, Transexual, transgênero |__|__| |__| Sim |__| Não
21. A unidade possui Projeto Político Pedagógico – PPP? |__| Sim |__| Não 22. A unidade possui Prontuário de atendimento? |__| Sim |__| Não 23. A unidade faz Plano Individual de Atendimento (PIA) de cada pessoa acolhida? |__| Sim |__| Não (pule para a questão 28)
248
24. Quais informações constam do Plano Individual de Atendimento (PIA)? (admite múltipla resposta) I__I Dados pessoais do acolhido I__I Motivo do acolhimento |__| Situação escolar I__I Informações sobre a saúde do acolhido I__I Informações sobre os acolhimentos (institucional ou familiar) anteriores |__| Encaminhamento para a rede socioassistencial e outras Políticas Públicas |__| Comunicação com o Sistema de Justiça / Órgãos de Defesa de Direito I__I Dados socioeconômicos da família de origem/ responsável |__| Acompanhamento da família de origem |__| Registro da existência de vínculos comunitários |__| Informações sobre vínculos familiares |__| Registro das potencialidades dos usuários do Serviço I__I Informações sobre a participação em curso /capacitação /profissionalização/ inserção profissional I__I Inclusão na prática de esporte, cultura e lazer I__I Plano de Ação com acolhido I__I Reavaliação do PIA 25. Com que freqüência são permitidas visitas de familiares às pessoas acolhidas na Unidade? (marcação única) |__| Não é permitido receber visitas na Unidade |__| Diariamente |__| De 3 a 6 dias na semana |__| De 1 a 2 dias na semana |__| Quinzenalmente |__| Mensalmente |__| Apenas em algumas datas específicas do ano 26. Indique quais das atividades abaixo são promovidas sistematicamente pela Unidade: (admite múltipla resposta) |__| Visitas domiciliares da equipe técnica da Unidade à família do usuário |__| Reuniões com grupos de famílias dos usuários |__| Atendimento psicossocial individualizado |__| Atendimento psicossocial em grupos |__| Atendimento psicossocial das famílias das pessoas acolhidas (orientação familiar) |__| Palestras / oficinas |__| Elaboração de relatórios técnicos sobre casos em acompanhamento |__| Discussão de casos com outros profissionais da rede |__| Encaminhamento para retirada de documentos |__| Passeios com usuários |__| Promove atividades com participação da Comunidade |__| Promove a participação das pessoas acolhidas em serviços, projetos ou atividades existentes na comunidade |__| Organização e discussão das rotinas das Unidades com os acolhidos |__| Não realiza nenhuma das atividades acima
249
|__| Promove contato e a participação da família na vida do usuário 27. Quem realiza o acompanhamento dos usuários após o seu desligamento da Unidade de Acolhimento? (admite múltipla resposta) |__| A própria unidade/serviço de acolhimento |__| O CRAS |__| O CREAS |__| Outro |__| Não sabe informar (pule para a questão 29) |__| Não é realizado acompanhamento de egressos (pule para a questão 29) 28. Por quanto tempo, em média, o usuário é acompanhado após seu desligamento? |__| menos de 3 meses |__| de 3 a 5 meses |__| 6 meses |__| de 7 a 12 meses |__| mais de 1 ano
29. Assinale quais dos órgãos abaixo realizaram visita, inspeção ou supervisão a esta Unidade nos últimos 12 meses: (admite múltipla resposta) |__| Secretaria de Assistência Social |__| Poder Judiciário |__| Ministério Público |__| Defensoria Pública |__| Conselho de Assistência Social |__| Vigilância Sanitária |__| Corpo de Bombeiros |__| Nenhum dos órgãos acima
250
30. Qual o tipo de articulação que esta unidade/instituição possui com estes órgãos: (Admite múltiplas respostas, exceto se marcar ‘não tem nenhuma articulação’ ou ‘serviço ou instituição não existente no Município’)
Órgãos, Serviços ou instituições
com os quais mantém
articulação
Tipo de Articulação
Não
tem
nen
hum
a ar
ticu
laçã
o
Ser
viço
ou
inst
itu
ição
não
e
xist
ente
no
Mu
nic
ípio
Po
ssu
i dad
os
da
loca
lizaç
ão (endere
ço,
tel. e
tc.)
Rec
ebe
usu
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Guarda Municipal/ Policias e Delegacias
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Poder Judiciário |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| Ministério Público
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Defensoria Pública
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Secretaria Municipal, Estadual ou de Assistência Social
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
CRAS |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
CREAS |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Centro Dia |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua – Centro POP
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
Outras Unidades de Acolhimento
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Serviços de Saúde
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Unidades Educacionais (creches/escolas/universidades)
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
Órgãos/Serviços/Programas relacionados a Trabalho e Emprego
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculo
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
251
Secretarias de Assistência Social de outros municípios
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
|__|
Habitação |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Esporte, Lazer e Cultura
|__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__| |__|
Restaurantes Populares/ Segurança Alimentar
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BLOCO 3 – ESTRUTURA FÍSICA E ÁREA DE LOCALIZAÇÃO DA UNIDADE 31. Indique se a Unidade esta localizada em: (marcação única) |__| Área urbana |__| Área rural 32. Considerando a “vizinhança” da Unidade, a área onde ela está localizada caracteriza-se como: (marcação única) |__| Área residencial |__| Área comercial/industrial |__| Área isolada |__| Área mista – Residencial e Comercial/Industrial 33. O local onde funciona a Unidade é servido por transporte público (ônibus/trem/metrô/barcas)? (marcação única) |__| Sim, com ponto de transporte localizado a menos de 1000 metros de distância da Unidade (ou quinze minutos de caminhada) |__| Sim, com ponto de transporte localizado entre 1000 e 2000 metros de distância da Unidade (ou até 30 minutos de caminhada) |__| Não possui ponto de transporte público nas proximidades (ou exige caminhada superior a 30 minutos) 34. Situação do imóvel onde funciona a Unidade: (marcação única) |__| Próprio |__| Alugado |__| Cedido 35. Esta unidade possui: (múltipla resposta) |__| alvará de funcionamento |__| atestado de vigilância sanitária |__| auto de vistoria do corpo de bombeiro |__| não possui nenhum dos anteriores 36. Descreva o espaço físico da Unidade utilizando os quadros abaixo. Atenção! Cada espaço/cômodo deve ser contado uma única vez! Caso o mesmo espaço/cômodo seja utilizado para mais de uma finalidade (por exemplo: Sala de Administração e Sala de Reuniões), você deve contá-lo apenas pela sua finalidade principal. (Se não tiver, marcar 0)
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Espaços/Cômodos Quantidade
Sala de Administração |__|__|
Sala para reuniões |__|__|
Sala para atendimento técnico especializado (psicólogo, assistente social, etc.)
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Sala de estar, de convivência ou de outras atividades de grupo |__|__|
Dormitórios para os Usuários acolhidos |__|__|
Banheiros para os Usuários acolhidos |__|__|
Banheiros exclusivos para Funcionários |__|__|
Espaços Possui?
SIM NÃO
Área de atividades interna |__| |__|
Área de atividades externa |__| |__|
Refeitório/Sala de Jantar |__| |__|
Cozinha para preparo de alimentos |__| |__|
Despensa |__| |__|
Lavanderia |__| |__|
Enfermaria |__| |__|
37. Indique os equipamentos e materiais disponíveis, e em perfeito funcionamento, nesta Unidade: (admite múltipla resposta) |__| Geladeira |__| Freezer |__| Fogão |__| Forno/microondas |__| Máquina de lavar |__| Veículo de uso exclusivo |__| Veículo de uso compartilhado |__| Mobiliário específico para atender crianças |__| Mobiliário/materiais adequados para pessoas com deficiência ou dependência (Tecnologias Assistivas) |__| Acervo bibliográfico (livros) |__| Materiais pedagógicos e culturais |__| Materiais esportivos |__| Jogos educativos, jogos de passatempo, brinquedos |__| Mesas para estudo |__| Mesas de Jantar |__| Camas/berços. Quantas? |__|__|__| |__| Armários para guarda individualizada de pertences. Quantos? |__|__|__| |__| Armários de uso coletivo dos usuários |__| Telefone |__| Fax |__| Impressora |__| Equipamento de som
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|__| DVD/Vídeo Cassete |__| TV a cabo |__| Televisão Quantas? |__|__| 38. Indique a quantidade de computadores, em perfeito funcionamento, existentes nesta Unidade:
Quantidade total de computadores na Unidade |___|___| Destes, quantos estão conectados à internet |___|___|
Quantidade de computadores para utilização pelos usuários |___|___| Destes, quantos estão conectados à internet |___|___|
39. Descreva as condições de acessibilidade da Unidade, conforme o quadro abaixo:
Condições de acessibilidade
SIM De acordo com a Norma da ABNT
(NBR9050)
SIM Mas não estão de
acordo com a Norma da
ABNT(NBR9050)
Não possui
Acesso principal adaptado com rampas e rota acessível desde a calçada até o interior da Unidade
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Rota acessível aos dormitórios e espaços de uso coletivo
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Rota acessível ao banheiro
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Banheiro adaptado para pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida
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BLOCO 4 – RECURSOS HUMANOS 40. Indique o nome, data de nascimento, sexo, CPF, RG, escolaridade, formação, profissão, vínculo, função, e carga horária semanal de cada membro da equipe desta Unidade, conforme quadros abaixo:
Nome Completo
Escolaridade Profissão Vínculo Função Carga Horária
254
41. Identificação da pessoa responsável pelas informações prestadas pela Unidade:
Nome:_________________________________________________________________ CPF: ____________________________ Data: ___ / ___ / _______ Cargo/Função: |__| Diretor/Coordenador da Unidade |__| Técnico de Nível Superior da Unidade |__| Outro Telefone: (____) _______________ E-mail: ___________________________________