UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE...
Transcript of UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE...
-
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
JHONATHAN ANGEL ARAUJO FERNÁNDEZ
IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GENES ASSOCIADOS COM A SÍNDROME DE USHER
CAMPINAS
2017
-
JHONATHAN ANGEL ARAUJO FERNÁNDEZ
IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GENES ASSOCIADOS COM A SÍNDROME DE USHER
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como requisito exigidos para a obtenção do título de Mestre em Ciências Médicas, Área de Concentração Genética Médica.
ORIENTADOR: EDI LÚCIA SARTORATO
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO
FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO
ALUNO JHONATHAN ANGEL ARAUJO FERNÁNDEZ, ORIENTADO PELA
PROF. DRA. EDI LÚCIA SARTORATO.
CAMPINAS
2017
-
BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO
JHONATHAN ANGEL ARAUJO FERNÁNDEZ
ORIENTADOR: EDI LÚCIA SARTORATO
MEMBROS:
1. PROF. DRA. EDI LÚCIA SARTORATO
2. PROF. DRA. CARMEN SILVIA BERTUZZO
3. PROF. DR. NIRO KASAHARA
Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas.
A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca
examinadora encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.
Data: DATA DA DEFESA 26/07/2017
-
A mí adorada mamá Paula Elizabeth,
que día a día me demuestra su
inmenso amor y que sin ella, nada de
esto sería posible.
-
AGRADECIMENTOS
À Professora Dra. Edi Lúcia Sartorato pela oportunidade, orientação, apoio, confiança e
aprendizado que me deu desde o momento que cheguei ao Brasil.
À Dra. Sueli Matilde da Silva Costa a quem tenho muito carinho por tudo que me ajudou
e ensinou tanto profissional como pessoalmente. Muito obrigado pelo carinho e amizade.
Às Professoras Dra. Monica de Cássia Alves de Paula, Dra. Mara Sanchez Guaragna e a
Dra. Andréa Trevas Maciel Guerra pela contribuição no exame de qualificação.
Aos Professores Dra. Carmen Silvia Bertuzzo, Dr. Niro Kasahara, Dr. Marcelo Lima
Ribeiro e Dra. Mara Sanchez Guaragna por terem aceitado participar como membros da
banca examinadora da dissertação de mestrado.
Às Professora Dra. Maricilda Palandi de Mello e Dra. Mônica Barbosa de Melo por
sempre estarem prontas a ajudar com suas sugestões, contribuindo na realização da tese.
Ao Professor Dr. José Paulo Cabral de Vasconcellos, a médica oftalmologista Ana
Carolina Carneiro, a médica otorrinolaringologista Raquel Andrade Lauria, a Raissa
Franchi e Regiane que ajudaram na avaliação clínica e coleta das amostras dos pacientes.
A todos os colegas do Laboratório de Genética Molecular Humana I, II e III, do Centro
de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG), da UNICAMP que de alguma
forma contribuíram e me ajudaram na realização da dissertação: Fábio, Priscila Zonzini,
Ana Letícia, Carolina Svidnicki, Nathy Zocal, Lilian, Nathy Gavioli, Priscila Jacob,
Nadya, Carol Conti, Pamela, Helena, Paulo Miranda, Emerson, Rogério, Paulo Svidnicki,
Mirta, Gabriela, Bruno, Pedro, Alessandra Staffocker, Marcela, Débora, Taciane e Zélo.
Tem sido muito bom trabalhar com vocês.
Aos pacientes, familiares e a todos os colaboradores envolvidos, pois com certeza sem
eles este trabalho não poderia ser realizado.
Às agências financiadoras CNPq e FAPESP, pela bolsa de estudo e pelo financiamento
do projeto.
A minha avó Sadith Navarro Hidalgo, a minha família e a minha namorada Alina, pelo
apoio em todo momento.
-
A meus padrinhos Milka Velásquez e Juan de Dios por todo o apoio demostrado em todo
momento.
A todos que de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuíram para a concretização
deste trabalho.
-
RESUMO
A síndrome de Usher (USH) é a forma mais comum de surdez e cegueira hereditária,
apresentando uma prevalência de 1 para 6.000 - 25.000 pessoas e uma taxa de portadores
de 1 a cada 100 pessoas. Clinicamente podem-se distinguir três subtipos de acordo com
a gravidade da perda auditiva, presença ou ausência de disfunção vestibular e a idade do
início da retinose pigmentosa. Os mecanismos moleculares envolvendo a síndrome de
Usher ainda não são completamente conhecidos e a ausência de estudos moleculares na
população brasileira apontam para a importância da investigação dessa condição que
acomete os indivíduos com muitos prejuízos em sua qualidade de vida. Por outro lado,
considerando a alta heterogeneidade genética da doença, um estudo molecular
aprofundado pode revelar genes causais adicionais ainda não identificados. Dessa forma,
o projeto teve como objetivo buscar variantes causadoras da síndrome de Usher. Entre as
técnicas usadas para o rastreamento foram realizados o sequenciamento de exoma e painel
de captura de genes. Dessa forma, estudou-se 11 famílias com pelo menos um indivíduo
com manifestação clínica da síndrome de Usher: oito pela técnica de sequenciamento de
exoma, uma por meio de painel de captura e duas foram apenas rastreadas variantes em
alguns exons do gene USH2A. Se encontraram 13 variantes, 11 no gene USH2A
(p.Y1123H; p.C3267R; p.N405Ifs*3; p.S1369L; p.E4034*; p.N443Mfs*18; p.F1732S;
p.S2981=fs*61; p.L4406P; p.C638*; p.M3271Sfs*30) e duas no gene CDH23
(p.A2637P; p.E2520K). Entre as alterações encontradas, a p.N443Mfs*18 foi a mais
frequente. A pesquisa de alterações moleculares em uma amostra de pacientes brasileiros,
com diagnóstico clínico de Síndrome de Usher, permitiu a elucidação da causa genética
em oito das 11 famílias estudadas, contribuindo dessa forma, para um diagnóstico mais
preciso e aconselhamento genético adequado. Além disso, os resultados obtidos no
presente estudo podem indicar as mutações mais frequentes presentes na nossa população,
permitindo otimizar testes de diagnóstico molecular para a triagem da perda auditiva em
indivíduos com suspeita de Usher para melhor prognóstico, tratamento e aconselhamento
genético. O diagnóstico genético de forma precoce possibilita reabilitação no caso da
perda auditiva e o preparo para o impacto físico e emocional decorrente da perda visual.
Palavras chaves: síndrome de Usher. exoma. retinose pigmentar.
-
ABSTRACT
Usher syndrome (USH) is the most common form of deafness and hereditary blindness,
with a prevalence of 1 to 6,000 - 25,000 people and a carrier rate of 1 in 100 people.
Clinically, three subtypes can be distinguished according to severity of hearing loss,
presence or absence of vestibular dysfunction, and age of onset of retinitis pigmentosa.
The molecular mechanisms involving Usher syndrome are still not fully understood and
the absence of molecular studies in the Brazilian population points to the importance of
investigating this condition that affects individuals with many impairments in their
quality of life. Therefore, considering the high genetic heterogeneity of the disease, an in-
depth molecular study may reveal additional unidentified causal genes. Thus, the purpose
of the project was to search for variants that caused Usher syndrome. Among the
approaches used for the screening were the whole exome sequencing and the gene capture
panel. Thus, 11 families were studied with at least one individual with clinical
manifestation of Usher syndrome: eight by the whole exome sequencing, one by capture
panel and two were only screened variants in some exons of the USH2A gene. We found
13 variants, 11 in USH2A gene (p.Y1123H; p.C3267R; p.N405Ifs*3; p.S1369L;
p.E4034*; p.N443Mfs*18; p.F1732S; p.S2981=fs*61; p.L4406P; p.C638*;
p.M3271Sfs*30) and two into CDH23 gene (p.A2637P; p.E2520K). Among the
alterations found, the most frequent was p.N443Mfs*18. The investigation of molecular
alterations in a sample of Brazilian patients with a clinical diagnosis of Usher Syndrome
allowed the elucidation of the genetic cause in seven of the 11 families studied, thus
contributing to a more accurate diagnosis and adequate genetic counseling. In addition,
the results obtained in the present study may indicate the most frequent mutations present
in our population, allowing the optimization of molecular diagnostic tests for hearing loss
screening in individuals with suspected Usher for better prognosis, treatment and genetic
counseling. Early genetic diagnosis enables rehabilitation in cases of hearing loss and
preparation for physical and emotional impact resulting from visual loss.
Keywords: Usher syndrome, exome, retinitis pigmentosa
-
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Esquema do sistema auditivo, evidenciando as principais partes da orelha
(Modificado de: Oticon Medical < http://www.oticonmedical.com/portuguese/cochlear-
implants/your-treatment/how-cochlear-implants-work/how-cochlear-implants-
work.aspx>) .................................................................................................................... 18
Figura 2: Ilustração esquemática da cóclea. Destaque para o esquema detalhado do órgão
de Corti e micrografia dos estereocílios das células ciliadas (Modificado de: “The inner
ear”, capítulo “The Auditory System” do livro “Neuroscience”, editado por Purvest et al.
2001). .............................................................................................................................. 20
Figura 3:Ilustração de um corte longitudinal do olho humano evidenciando suas
principais estruturas (Espirito Santo et al. 2010). ........................................................... 23
Figura 4:Ilustração de um corte longitudinal da retina, evidenciando suas principais
estruturas (http://otcjosealves.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html) .................. 23
Figura 5: Representação esquemática da estrutura da Miosina VIIa e sua interação com
as proteínas associadas com a síndrome de Usher tipo I (Figura modificada-Ahmed et
al.,2003). ......................................................................................................................... 29
Figura 6: Representação esquemática da proteína usherina, nbc3 e gpr98. (Modificado de
Reiners et al. 2005). ........................................................................................................ 31
Figura 7: Fluxograma de investigação dos indivíduos que fizeram parte do estudo ...... 36
Figura 8: Heredograma família 1 mostrando o genótipo dos indivíduos analisado. N: alelo
normal (wild type). ......................................................................................................... 59
Figura 9: Resultados do sequenciamento do exon 17 e 62 do gene USH2A. A)
Eletroferograma da variante c.3367T>C – p.Y1123H. B) Eletroferograma da variante
c.12100G>T – p.E4034*. ............................................................................................... 60
Figura 10: Heredograma família 2 mostrando o genótipo dos indivíduos analisado. N:
alelo normal (wild type). ................................................................................................ 61
Figura 11: Resultados do sequenciamento do exon 26 e 7 do gene USH2A. A)
Eletroferograma da variante c.5195T>C – p.F1732S. B) Eletroferograma da variante
c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA – p.N443Mfs*18. ...................................... 61
Figura 12: Heredograma família 3 mostrando o genótipo dos indivíduos analisado. N:
alelo normal (wild type). ................................................................................................ 63
Figura 13: Resultado do sequenciamento do exon 7 do gene USH2A. A) Eletroferograma
da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA – p.N443Mfs*18 em
heterozigose. B) Eletroferograma da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA
– p.N443Mfs*18 em homozigose. .................................................................................. 63
-
Figura 14: Heredograma da família 4 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados. N:
alelo normal (wild type). ................................................................................................ 64
Figura 15: Resultados do sequenciamento do exon 19 e 50 do gene USH2A. A)
Eletroferograma da variante c.4106C>T – p.S1369L. B) Eletroferograma da variante
c.9811delT – p.M3271Sfs*30. ....................................................................................... 65
Figura 16: Heredograma da família 5 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados.
........................................................................................................................................ 66
Figura 17: Eletroferograma da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA –
p.N443Mfs*18 em heterozigose. .................................................................................... 66
Figura 18: Heredograma família 6 mostrando o genótipo dos indivíduos analisado. N:
alelo normal (wild type). ................................................................................................ 67
Figura 19: Resultado do sequenciamento do exon 7 do gene USH2A. A) Eletroferograma
da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA – p.N443Mfs*18 em
heterozigose. B) Eletroferograma da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA
– p.N443Mfs*18 em homozigose. .................................................................................. 68
Figura 20: Heredograma da família 7 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados. N:
alelo normal (wild type). ................................................................................................ 69
Figura 21: Resultados do sequenciamento do exon 45 e 50 do gene USH2A. A)
Eletroferograma da variante c.8943_8944delTC – p.S2981=fs*61. B) Eletroferograma da
variante c.9799T>C – p. C3276R. .................................................................................. 69
Figura 22: Heredograma da família 8 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados. N:
alelo normal (wild type). ................................................................................................ 71
Figura 23: Resultados do sequenciamento do exon 11 e 63 do gene USH2A. A)
Eletroferograma da variante c.1914delC – p. C638X. B) Eletroferograma da variante
c.1321T>C – p. L4406P. ................................................................................................ 71
Figura 24: Heredograma da família 9 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados. N:
alelo normal (wild type). ................................................................................................ 73
Figura 25: Resultados do sequenciamento da família 9 do gene USH2A. A)
Eletroferograma da variante c.1214delA – p.N405Ifs*3. B) Eletroferograma da variante
c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA – p.N443Mfs*18. ...................................... 74
Figura 26: Heredograma da família 10. .......................................................................... 74
Figura 27: Heredograma da família 11 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados.
N: alelo normal (wild type). ........................................................................................... 75
Figura 28: Resultado do sequenciamento da família 11 do gene CDH23. A:
Eletroferograma da variante c.7558G>A – p.E2520K . B: Eletroferograma da variante
c.7909G>C – p.A2637P. ................................................................................................ 76
-
Figura 29: Representação esquemática das variantes identificadas no gene USH2A, gene
responsável pela síndrome de Usher tipo 2A. .................................................................77
Figura 30: Representação esquemática das variantes localizadas no gene CDH23,
responsável pela síndrome de Usher tipo 1D. Ambas as variantes estão sendo descritas
pela primeira vez neste estudo. ....................................................................................... 77
-
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Características clínicas dos diferentes tipos de síndrome de Usher. ............. 26
Tabela 2: Principais loci e respectivos genes associados a síndrome de Usher. ........... 27
Tabela 3: Sequências dos primers das variantes encontradas no sequenciamento
massivo e no painel de captura. ...................................................................................... 48
Tabela 4: Programa para amplificação das variantes encontradas no sequenciamento de
nova geração. .................................................................................................................. 49
Tabela 5: Dados clínicos dos indivíduos estudados. ..................................................... 52
Tabela 6: Resultados obtidos no rastreamento das principais alterações moleculares
associadas à perda auditiva não sindrômica. .................................................................. 53
Tabela 7: Variantes encontradas no sequenciamento de exoma e painel de captura,
possíveis responsáveis pela síndrome de Usher. ............................................................ 55
Tabela 8: Algoritmos de predição da variante p.F1732S no gene USH2A. .................. 62
Tabela 9: Algoritmos de predição da variante p.C3267R no gene USH2A................... 70
Tabela 10: Algoritmos de predição da variante p.L4406P no gene USH2A. ................ 72
-
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
µg Micrograma
µL Microlitro
ATP Adenosina trifosfato
BAM Binary Alignment/Map
BCVA Medição de Acuidade Visual Corrigida
BERA Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico
BWA Alinhador Burrows-Wheeler
CCE Células ciliadas externas
CCI Células ciliadas internas
CSV Comma-separated values
Cx Conexina
dbSNP Banco de dados dos Polimorfismo de nucleotídeo único
DFNB23 Locus de surdez não sindrômica autossômica recessiva -23
DNA Ácido Desoxirribonucleico
dNTP Desoxinucleotídeo trifosfato
Domínio PDZ Domínio PSD95/DIgA/Z0-1
EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético
FN3 Domínio Fibronectina tipo 3
g gramas/gravidade
GATK Genome Analysis Toolkit
GRCh38 Genoma de referência 38
HC Hospital das clínicas
HCl Ácido clorídrico
HSP Hard Shell Plate, placa de PCR
kb Kilo base
LRT The likelihood ratio test
M Massa molar
mL Mililitro
mM Milimolar
Motivo IQ Motivo isoleucina-glutamina
-
ng Nanograma
NGS Sequenciamento de nova geração
oC Grau célsius
pb Par de bases
PCR Reação em cadeia da polimerase
pH Potencial de Hidrogênio
rpm Rotações por minuto
SAM Sequence Alignment/Map
SIFT Sorting Intolerant from Tolerant
SNP Polimorfismo de nucleotídeo único
Taq Thermus aquaticus (enzima polimerase)
TE Tris-EDTA
U Unidade
USH Síndrome de Usher
USH1 Síndrome de Usher tipo 1
USH2 Síndrome de Usher tipo 2
USH3 Síndrome de Usher tipo 3
VCF Variant Call Format
VEMP Potencial Evocado Miogênico Vestibular
VF Teste de campo visual
WES Sequenciamento completo do exoma
-
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18
1.1. Sistema auditivo. ................................................................................................. 18
1.1.1. Mecanismo de audição. ........................................................................................ 21
1.2. Sistema Visual. ........................................................................................................ 21
1.2.1. Mecanismo de visão. ............................................................................................ 24
1.3. Síndrome de Usher. ................................................................................................. 25
1.3.1. Classificação clínica da síndrome de Usher. ........................................................ 25
1.3.2. Aspectos genéticos da síndrome de Usher. .......................................................... 26
1.3.2.1. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo I. ................................................ 28
1.3.2.2. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo II. ............................................... 30
1.3.2.3. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo III e Usher atípico. .................... 31
1.4. Estratégias de investigação genética........................................................................ 32
2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 34
2.1. Objetivo Geral. ........................................................................................................ 34
2.2. Objetivo Específico. ................................................................................................ 34
3. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 35
3.1. Casuística. ................................................................................................................ 35
3.1.1. Critérios de inclusão. ............................................................................................ 36
3.2. Estudo Genético. ...................................................................................................... 37
3.2.1. Extração do DNA genômico de sangue periférico. .............................................. 37
3.2.2. Sequenciamento massivo. ..................................................................................... 38
3.2.2.1. Rastreamento de mutações utilizando painel de captura. .................................. 38
3.2.2.2. Rastreamento de mutações por meio de sequenciamento de exoma. ................ 38
3.2.2.2.1. Preparo das bibliotecas para o sequenciamento do exoma. ............................ 38
3.2.2.2.1.2. Protocolo para o preparo das bibliotecas de exoma. ................................... 39
3.2.2.2.2. Controle de qualidade das bibliotecas de exoma. ........................................... 45
3.2.2.2.3. Sequenciamento do exoma. ............................................................................ 45
3.2.3. Análise bioinformática. ........................................................................................ 45
3.2.4. Filtragem de variantes potencialmente patogênicas. ............................................ 47
3.2.5. Validação e segregação na família das variantes potencialmente patogênicas por
meio do sequenciamento de Sanger................................................................................ 47
3.3. Analise da frequência de novas alterações em um grupo de indivíduos controle. .. 50
4. RESULTADOS .......................................................................................................... 51
4.1. Principais alterações moleculares associadas à perda auditiva. .............................. 53
4.2. Sequenciamento de exoma e painel de captura. ...................................................... 54
4.2.1. Família 1. .............................................................................................................. 59
-
4.2.2. Família 2. .............................................................................................................. 60
4.2.3. Família 3. .............................................................................................................. 62
4.2.4. Família 4. .............................................................................................................. 64
4.2.5. Família 5. .............................................................................................................. 65
4.2.6. Família 6. .............................................................................................................. 66
4.2.7. Família 7. .............................................................................................................. 68
4.2.8. Família 8. .............................................................................................................. 70
4.2.9. Família 9. .............................................................................................................. 72
4.2.10. Família 10. .......................................................................................................... 74
4.2.11. Família 11. .......................................................................................................... 75
4.3. Rastreamento das variantes novas no banco de dados BIPMed. ............................. 76
4.4. Representação esquemática das variantes encontradas no gene USH2A e CDH23.76
5. DISCUSSÃO. ............................................................................................................. 78
6. CONCLUSÕES .......................................................................................................... 83
7. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 84
8. ANEXOS .................................................................................................................... 91
8.1. Termo de Consentimento Livre é Esclarecido. ....................................................... 91
8.2. Aprovação do comitê de ética. ................................................................................ 97
-
18
1. INTRODUÇÃO
1.1. Sistema auditivo.
O sistema auditivo é um dos mais complexos e sofisticados mecanismos de
transdução existentes na natureza. Ele é responsável por captar as diferentes ondas
sonoras e dar início ao processo de percepção e interpretação do som. Uma mistura de
ondas sonoras é constantemente gerada no ambiente e alcança nossas orelhas. Esta
coleção de sons contém um amplo espectro de tons altos e baixos em uma variedade de
intensidades. A orelha é um órgão capaz de decifrar precisamente as diferentes
frequências e intensidades, enquanto ao mesmo tempo transfere as informações coletadas
para o cérebro e nos permite categorizar cada som e identificar sua distância relativa e
direção (Dror & Avraham, 2009). O sistema auditivo é composto pela orelha externo,
médio e interno (figura 1). A orelha externa compreende o pavilhão e o canal auditivo
externo (meato acústico). O pavilhão é uma estrutura constituída por um esqueleto
fibrocartilagíneo recoberto por pele e com uma face interna e outra externa, destinadas a
recolher as ondas sonoras. O conduto auditivo externo é um canal de cerca de dois
centímetros de comprimento e é o encarregado de levar as ondas sonoras a orelha média
(Purves et al. 2001; Moussalle et al. 1997).
Figura 1: Esquema do sistema auditivo, evidenciando as principais partes da orelha
(Modificado de: Oticon Medical < http://www.oticonmedical.com/portuguese/cochlear-
implants/your-treatment/how-cochlear-implants-work/how-cochlear-implants-
work.aspx>)
-
19
Já a orelha média interior do osso temporal e composto pela membrana timpânica e três
pequenos ossos (martelo, bigorna e estribo), os quais coletam as vibrações e as transmitem
para a orelha interna, através da janela oval (Moussalle et al. 1997). A orelha interna está
localizado no interior do osso temporal e é composto pela cóclea (responsável pela
audição), vestíbulo e canais semicirculares (que controlam o equilíbrio e orientação
espacial) (Purves et al. 2001). A cóclea (figura 2) é um tubo helicoide com cerca de duas
voltas e meia. Sua base localiza-se sobre a extremidade lateral do meato acústico interno
(Moussalle et al. 1997). A cóclea é dividida em três compartimentos preenchidos por
fluídos: as escalas médias, vestibulares e timpânica. A escala média é uma cavidade cheia
de endolinfa, localizada entre a escala vestibular e timpânica, cavidades preenchidas por
perilinfa (Dror & Avraham, 2009). A perilinfa apresenta alta concentração de sódio e
baixa concentração de potássio, enquanto a composição da endolinfa se assemelha a dos
fluídos intracelulares, com baixa concentração de sódio e alta concentração de potássio.
A escala média é separada da escala vestibular pela membrana de Reissner, e da escala
timpânica pela membrana basilar (Moller, 2006). Na escala média está localizada o órgão
de Corti, ou órgão espiral, que é a principal estrutura sensível ao som, contêm as células
sensoriais do sistema auditivo, as células ciliadas, nomeado dessa forma pelo conjunto de
estereocílios que saem das suas superfícies apicais. Cada indivíduo possui cerca de 15.000
– 20.000 células ciliadas, organizadas em três linhas de células ciliadas externas (CCEs)
e uma linha de células ciliadas internas (CCIs). As células ciliadas externas recebem e
amplificam o som produzindo vibrações, enquanto as células ciliadas internas convertem
os sinais mecânicos amplificados em respostas elétricas (LeMausier e Gillespie 2005).
Tanto na cóclea como no sistema vestibular, as células ciliadas são neurônios que
possuem uma estrutura mecanossensível especializada (estereocílios), os quais
respondem ao som, ao movimento ou à gravidade movimentando-se em direção ao
estereocílio mais longo, o que induz a abertura de canais iônicos na ponta dos estereocílios
mais curtos. O fluxo de cátions leva a alterações de potencial de membrana, convertendo
dessa forma os estímulos mecânicos em respostas elétricas, processo conhecido como
transdução mecanoelétrica (LeMausier et al. 2005; Gillespie e Muller, 2009; Vollrath et
al. 2007).
-
20
Figura 2: Ilustração esquemática da cóclea. Destaque para o esquema detalhado do órgão
de Corti e micrografia dos estereocílios das células ciliadas (Modificado de: “The inner
ear”, capítulo “The Auditory System” do livro “Neuroscience”, editado por Purvest et al.
2001).
-
21
1.1.1. Mecanismo de audição.
O mecanismo da audição consiste na transformação das ondas sonoras em
impulsos nervosos. O som entra pela orelha externa, onde o pavilhão, que tem a função
de tubo coletor, capta e canaliza as ondas acústicas até a membrana timpânica. Na
membrana timpânica as ondas de compressão e descompressão alternadas do ar provocam
o deslocamento do tímpano para trás e para frente. Logo, o tímpano vibra com a mesma
frequência da onda e dessa forma transforma as vibrações sonoras em vibrações
mecânicas que são transmitidas para os ossículos (martelo, bigorna e estribo). As
vibrações passam primeiro pelo martelo, que ao entrar em vibração aciona a bigorna e
este finalmente faz o estribo vibrar. Após serem ampliadas, as vibrações alcançam a
orelha interna, onde os movimentos da janela oval são transmitidos para a rampa
timpânica e em seguida para a membrana de Reissner, sendo então traduzidos em
movimentos da endolinfa, consequentemente, da membrana tectória sobre as células
sensoriais do órgão de Corti. Simultaneamente, a vibração da membrana basilar faz com
que as células ciliares do órgão de Corti se agitem para frente e para trás; isso flexiona os
cílios nos pontos de contato com a membrana tectória. A flexão dos cílios excita as células
sensoriais e gera impulsos nas pequenas terminações nervosas filamentares da cóclea que
enlaçam essas células. Esses impulsos são então transmitidos através do nervo coclear até
os centros auditivos do tronco encefálico e córtex cerebral. (Alberts et al. 1989;
Casanova, 1997).
1.2. Sistema Visual.
O sistema visual responsável pela visão é de grande importância para a interação do
ser humano. É um sistema altamente sofisticado e de grande complexidade que graças
aos órgãos que o integram permitem a percepção das imagens e transformá-las em
impulsos elétricos que são enviados, através do nervo óptico, ao cérebro (Dantas, 1995)
O olho (figura 3), órgão responsável pela visão no ser humano é constituído de uma
série de estruturas, sendo dividido em três camadas dispostas concentricamente:
A camada externa, formada pela esclera ou esclerótica e a córnea. A esclerótica é a
camada externa do bulbo ocular (parte branco do olho) a qual tem a função de proteger
as camadas internas mais delicadas. A córnea é um tecido transparente que cobre a pupila
-
22
e a íris. A córnea em conjunto com o cristalino tem a função de focar a luz através da
pupila para a retina, como se fosse uma lente fixa (Dantas, 1995; Wasley, 2004).
A camada média ou túnica vascular (úvea) está constituída pela coroide, pela íris e
processos ciliares. A coroide situada entre a esclerótica e a retina, é uma estrutura
pigmentada e esses pigmentos absorvem a luz que chega à retina, evitando assim sua
reflexão. Também tem uma rede de vasos sanguíneos que proporcionam a retina de
oxigênio e nutrientes. A íris é um fino tecido que apresenta um orifício em seu centro,
chamado de pupila, cuja função é controlar a quantidade de luz que entra no olho. Em um
ambiente com muita luz, ocorre a miose (diminuição do diâmetro da pupila), ao passo
que, com pouca luz, ocorre a midríase (aumento do diâmetro da pupila) (Dantas, 1995)
A camada interna ou túnica nervosa, constituída pela retina, se comunica com o
cérebro pelo nervo óptico. A retina (figura 4) é uma evaginação multicamada do sistema
nervoso central que consiste em camadas alternadas de neurônios e sinapses. A luz passa
por todas as camadas da retina antes de ser absorvida por fotopigmentos localizados
dentro dos segmentos externos dos fotorreceptores. Os fotorreceptores convertem a luz
em um sinal neuroquímico que é passado para os neurônios de segunda ordem, chamados
células bipolares. As células bipolares comunicam-se, por sua vez, com as células
amácrinas e as células ganglionares. As células ganglionares definem a resolução
retiniana das imagens, as quais são percebidas pelo sistema nervoso central e
desempenham um importante papel no seu comportamento (Fletcher et al. 2011; Collin,
2008). Assim, a via retiniana constituída por fotorreceptores, células bipolares e células
ganglionares desempenha um papel importante no processamento visual dentro da retina.
Doenças da retina, estão associadas com a perda da função ou a morte de uma ou mais
classes de neurônios da via retiniana. A deficiência visual pode surgir da perda de
fotorreceptores, defeitos na transmissão sináptica entre fotorreceptores e células bipolares
ou perda de células ganglionares (Wasley, 2004).
-
23
Figura 3:Ilustração de um corte longitudinal do olho humano evidenciando suas
principais estruturas (Espirito Santo et al. 2010).
Figura 4:Ilustração de um corte longitudinal da retina, evidenciando suas principais
estruturas (http://otcjosealves.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html)
-
24
1.2.1. Mecanismo de visão.
A luz proveniente do ambiente externo, estímulo fundamental para a sensação que
compreendemos como visão, atravessa um longo trajeto com início no olho humano até
o córtex cerebral. A luz é, inicialmente, recebida pelas estruturas anteriores do olho: filme
lacrimal, córnea e humor aquoso. Todas elas apresentam-se como componentes ópticos
capazes de provocar convergência (processo de refração) de raios luminosos e em
conjunto com a íris, estas determinam proteção das estruturas oculares internas pela
capacidade de não absorverem determinados comprimentos de onda, como os raios
ultravioletas. A luz, então, segue através da pupila, estrutura capaz de ajustar a luz
penetrante por estímulo nervoso (simpático e parassimpático), até chegar ao cristalino. O
cristalino, uma lente convergente, ajusta os feixes luminosos para um ponto focal
localizado na retina, a fóvea. A retina é composta por dez camadas celulares e em sua
porção externa encontra-se mais de cem milhões de fotorreceptores (cones e bastonetes).
A luz absorvida produz mudanças estruturais em seus pigmentos, transformando o
estímulo luminoso em estímulo nervoso. Cones e bastonetes possuem funções diferentes
no sistema visual. Os bastonetes são usados para visão de baixa intensidade de luz, por
outro lado, os cones são células utilizadas em intensidade de luz mais altas e para visão
de cores e oferecem, portanto, maior acuidade visual. Elas estão distribuídas de forma
mais concentradas na retina central, espacialmente na fóvea e apresentam 3 tipos de
pigmentos com diferente sensibilidade às diferentes frequências que compõem à luz
branca. A partir daí os impulsos eletroquímicos são transmitidos para as células bipolares
e então para as células ganglionares cujos axônios, aproximadamente 1.200.000,
compõem o nervo óptico. O nervo óptico, se encarrega de levar esses impulsos ao corpo
geniculado lateral e, então córtex cerebral, na região occipital. É no córtex que ocorre o
processamento das imagens recebidas pelos olhos, de modo que a imagem antes invertida
seja processada da forma correta. O cérebro então após processar os impulsos recebidos,
os transforma em imagem com riquezas de detalhes. Portanto, embora os olhos sejam
essências para a visão, quaisquer danos aos nervos ópticos também resulta em
comprometimento da visão (Braddick & Atkinson, 2011; Wasley, 2004; Fletcher et al.
2011; Collin, 2008).
-
25
1.3. Síndrome de Usher.
Até o momento mais de 400 síndromes com a perda de audição como um dos
sintomas já foram descritas na literatura. Elas incluem um vasto conjunto de doenças
hereditárias em que a perda auditiva está associada a diversos distúrbios dos sistemas
musculoesquelético, cardiovascular, urogenital, nervoso, endócrino, digestivo ou
sistemas tegumentares. Cerca de 40 dessas síndromes incluem uma doença ocular. Uma
delas é a Síndrome de Usher (USH) (Gorlin et al. 1995).
A síndrome de Usher é uma doença autossômica recessiva caracterizada pela perda
auditiva, parcial ou total, diminuição progressiva da visão decorrente da degeneração das
células fotorreceptoras da retina, os cones e bastonetes, denominada retinose pigmentar e
ocasionalmente problemas vestibulares. Foi descrita pela primeira vez pelo
oftalmologista escocês Charles Usher, sendo a principal causa genética de surdez e
cegueira com uma prevalência entre 1 para 6.000 - 25.000 pessoas e uma taxa de
portadores de 1 a cada 100 pessoas (Kimberling et al. 2010; Denise e Xue, 2010; Bonnet
et al. 2016; Boughman et al.1983), em indivíduos entre 30 a 40 anos a frequência é de 1
a cada 10.000 (Hope et al.1997) e é responsável por aproximadamente 50% dos
indivíduos que apresentam surdez e cegueira (Vernon, 1969).
1.3.1. Classificação clínica da síndrome de Usher.
A Síndrome de Usher é clínica e geneticamente heterogênea. São conhecidas três
formas clínicas da Síndrome de Usher, baseando-se na gravidade da deficiência auditiva,
a presença ou ausência de disfunção vestibular e a idade de início da retinose pigmentosa
associada com o déficit visual (tabela 1). A síndrome de Usher tipo I (USH1) é a forma
mais grave. Caracteriza-se por uma surdez severa a profunda, presença de disfunção
vestibular e degeneração da retina a qual inicia-se na infância com a perda da visão
noturna, diminuição do campo visual e eventualmente, com perda da acuidade visual, que
rapidamente progride à cegueira. USH1 representa cerda de 35 -40% dos casos da
síndrome de Usher (Nájera et al.2005; Kremer et al. 2006; Petit, 2001). A síndrome de
Usher tipo II (USH2) é a forma mais comum da doença representando de 59 – 85% dos
casos. Os pacientes apresentam perda auditiva moderada a severa, ausência de disfunção
vestibular e o início da retinose pigmentar ocorre geralmente na puberdade ou quando
adulto (Ahmed et al.2003; Reiners e Wolfrum, 2006). A síndrome de Usher tipo III
-
26
(USH3) é a menos frequente representando apenas 3% dos casos na população mundial
(Millan et al. 2011), exceto na Finlândia onde os casos de USH3 representam cerca de
40% dos casos (Cohen et al. 2007; Ness et al. 2003; Joenssu et al. 2001). Pacientes com
USH3 possuem perda auditiva profunda e adquirida de forma progressiva, disfunção
vestibular e início da retinose pigmentar variável (Ness et al. 2003; Pakarinen et al.1995).
Tabela 1: Características clínicas dos diferentes tipos de síndrome de Usher.
Manifestação clínica Usher Tipo 1 Usher Tipo 2 Usher Tipo 3
Perda auditiva Severa -
Profunda Moderada – Severa Profunda
Função vestibular Alterada Normal Variável
Retinose pigmentar Antes da
puberdade
Durante ou depois
da puberdade Variável
1.3.2. Aspectos genéticos da síndrome de Usher.
Atualmente, dezesseis loci foram associados com a síndrome de Usher: oito
associados com o tipo 1, quatro com o tipo 2, dois com o tipo 3 e dois ainda não foram
especificados (tabela 2) (Keats e Corey, 1999; Khateb et al. 2014). Destes loci, catorze
genes foram caracterizados: seis em USH1, quatro em USH2 e dois em USH3 e dois em
tipos de Usher não especificados.
-
27
Tabela 2: Principais loci e respectivos genes associados a síndrome de Usher.
Tipo Locus Cromossomo Gene Proteína Frequência Função da proteína
USH1
USH1B 11q13.5 MYO7A miosina VIIa 29 – 82% do tipo 1 Motor celular
USH1C 11q15.1 USH1C harmonina 7 – 12.5% do tipo 1 Exerce função de suporte
USH1D 10q21-q22 CDH23 caderina 23 10- 35% do tipo 1 Adesão celular
USH1E 21q21 n/d n/d desconhecido desconhecido
USH1F 10q11.2-q21 PCDH15 protocaderina 15 11% do tipo 1 Adesão celular
USH1G 17q24-25 USH1G sans 7% do tipo 1 Exerce função de suporte
USH1H 15q22-q23 n/d n/d desconhecido desconhecido
USH1J 15q25.1 CBI2 cbi2 0 - 2 % do tipo 1 desconhecido
USH2
USH2A 1q41 USH2A usherina ≤75% do tipo 2 Matriz e adesão celular
USH2B 3p23-24.2 SLC4A7 nbc3 rara co-transporte de íons
USH2C 5q14.3-21.3 GPR98 gpr98 rara Receptor acoplado a proteína G
e adesão celular
USH2D 9q32 DFNB31 whirlin rara Exerce função de suporte
USH3 USH3A 3q21-25 CLRN1 clarin-1 40% dos casos em famílias
da Finlândia Adesão celular
USH3B 5q31.3 HARS n/d rara desconhecida
n/d 10q24.31 PDZD7 pdzd7 rara Exerce função de suporte
n/d 20q11.22 CEP250 cep250 rara desconhecida
-
28
1.3.2.1. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo I.
O gene MYO7A que codifica a proteína miosina VIIa foi o primeiro a ser
identificado, e pelo menos metade dos casos de USH1 conhecidos são devido a mutações
nesse gene (Astuto et al. 2000). As miosinas são proteínas que hidrolisam o trifosfato de
adenosina (ATP) e utilizam esta energia para movimentar-se ao longo dos filamentos da
actina. A miosina VIIa apresenta os 3 domínios típicos das miosinas: o domínio motor ou
cabeça, que possui um sítio de ligação para o ATP (atividade ATPásica) e outro para
ligação com a actina; o domínio regulador, composto por sete repetições consecutivas do
motivo IQ que liga cadeias leves ou calmodulina, e a cauda, que serve como âncora e
posiciona o domínio motor para que ele consiga interagir com a actina. A miosina VIIa
se expressa tanto na cóclea como na retina, também em outras células como dos testículos,
pulmões e rins (Weil et al. 1995).
As proteínas codificadas pelos genes USH1C, CDH23, PCDH15, USH1G são
respectivamente a harmonina, caderina 23, protocaderina 15 e sans; todas elas interagem
entre elas e com a miosina VIIa para formar uma unidade funcional necessária para o
transporte e adesão (figura 5). A harmonina contém 3 domínios PDZ implicados na
organização de proteínas complexas, sendo componentes essenciais da unidade funcional
das proteínas USH1 (Verpy et al. 2000; Bitner—lindzicz et al. 2000). Pesquisas
realizadas por Verpy et al. 2000 e Ahmed et al. 2003, sugerem que a proteína harmonina
desempenha um importante papel no desenvolvimento e manutenção dos estereocílios
(projeções celulares especializadas, ricas em actina). Os estereocílios se flexionam em
resposta a ondas sonoras. Este movimento de flexão é fundamental para converter ondas
sonoras em impulsos nervosos, um processo essencial para a audição normal. Na orelha
interna, complexos de proteínas organizadas por harmonina provavelmente agem como
conectores que ligam estereocílios em um feixe (Verpy et al. 2000; Ahmed et al. 2003).
Este complexo de proteína ajuda a regular a transmissão de ondas sonoras. A harmonina
também é encontrada em células especializadas chamadas fotorreceptoras. Estas células
detectam e transferem a energia da luz para o tecido sensível à luz na parte de trás do olho
(retina). A função do complexo da proteína harmonina na retina não é bem compreendida,
mas parece ser importante para o desenvolvimento e função de células fotorreceptoras
(Verpy et al. 2000).
-
29
Figura 5: Representação esquemática da estrutura da Miosina VIIa e sua interação com
as proteínas associadas com a síndrome de Usher tipo I (Figura modificada-Ahmed et
al.,2003).
O gene CDH23, que codifica a proteína caderina 23, se localiza nas extremidades
dos cílios das células ciliadas da cóclea, sendo um componente essencial na ligação entre
as extremidades dos estereocílios. Deleções no gene CDH23 foram encontrados em
pacientes com USH1D (Ahmed et al., 2003). No sistema ocular, a caderina 23 exerce
funções fundamentais na organização das junções sinápticas, justificando as
manifestações oculares da síndrome (Bork et al. 2001). A protocaderina 15 codificada
pelo gene PCDH15 está envolvida na morfogênese e na coesão dos feixes de
estereocílios, promovendo a manutenção, a longo prazo, das ligações laterais entre eles.
As mutações no gene PCDH15 são responsáveis por surdez não sindrômica (DFNB23) e
pela síndrome de Usher em famílias correlacionadas com USH1F (Nájera et al. 2005;
Weil et al. 1995). A proteína sans codificada pelo gene USH1G, regula o tráfego das
outras proteínas até os estereocílios, de modo que o complexo transmembrânico formado
por estas interações asseguram a integridade dos estereocílios. Na retina, sans
provavelmente desempenha um papel na formação e manutenção de células da retina
-
30
especializadas que detectam a luz e cor (células fotorreceptoras). Pelo menos cinco
mutações no gene USH1G demonstraram causar síndrome de Usher tipo 1G (Nájera et
al. 2005; Weil et al. 1995).). O gene CBI2 transcreve a proteína cbi2 (proteína2 de ligação
ao cálcio e integrina). Este gene foi associado com a síndrome de Usher 1J (USH1J), ele
foi identificado em uma família de Paquistão. CIB2 em ratos é localizado no estereocílio
mecanossensorial das células ciliadas da orelha interna, nas células fotorreceptoras da
retina e células do epitélio pigmentar. Alterações no gene CBI2 diminuem
significativamente as respostas de Ca+2 induzidas pelo ATP (Riazuddin et al. 2012), mas
até o momento não se sabe como isso afeta o funcionamento das células fotorreceptoras
assim como das células ciliadas da orelha interna.
1.3.2.2. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo II.
Na figura 6 se mostra a representação esquemática dos genes envolvidos na
síndrome de Usher tipo II. O gene USH2A codifica a proteína usherina a qual contém um
domínio laminina tipo VI, 10 domínios laminina tipo fator de crescimento epidermal e 35
domínios fibronectina tipo III (FN3). Nas células ciliadas da cóclea, usherina foi
localizada nos estereocílios e na região sináptica. Na retina a usherina foi observada nos
cílios de ligações e nos terminais sinápticos dos cones e bastonetes das células
fotorreceptoras. Nas sinapses dos dois tipos de células sensoriais, acredita-se que a
usherina participa na adesão de membranas pré e pós-sinápticas integrado na rede de
proteínas da síndrome de Usher (Huang et al. 2002; Eudy et al. 1998).
O gene SLC4A7 foi mapeado no cromossomo 3 na região p23-24.2 em uma
família consanguínea da Tunísia (Hmani et al. 1999; Hmani et al. 2002). SLC4A7 codifica
a proteína nbc3 que é um co-transportador de bicarbonato de sódio. Este gene foi sugerido
como um gene candidato para o locus USH2B, já que camundongos sem a presença da
proteína nbc3 (Slc4a7-/-), desenvolvem um fenótipo combinado de surdez-cegueira
semelhante ao observado em pacientes com Usher (Bok et al. 2003). O gene GPR98
responsável pela síndrome de Usher tipo 2C codifica os receptores acoplados à proteína
G (GPR98), que se expressa em humanos em pelo menos 3 isoformas diferentes. Até o
momento só se encontraram mulheres com mutações neste gene (Weston et al. 2004).
-
31
Figura 6: Representação esquemática da proteína usherina, nbc3 e gpr98. (Modificado
de Reiners et al. 2005).
O gene DFNB31 codifica a proteína whirlin, proteína que exerce a função de
suporte. Whirlin é expressa tanto nas células ciliadas como nas células fotorreceptoras da
retina, adicionalmente, está proteína se liga as proteínas usherina e gpr98. Atualmente só
se encontrou variantes em heterozigose composta em uma família alemã (Ebermann et
al. 2006).
1.3.2.3. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo III e Usher atípico.
A maioria dos casos de USH3 foram descritos na população Finlandesa, na qual
se encontraram mutações no gene CLRN1 (Clarin-1) e HARS (histidil-tRNA sintetase)
(Adato et al. 2002; Joenssu et al. 2001). Além disso, o gene PDZD7 foi recentemente
descoberto de maneira digênica com o gene GPR98, ou seja, mutações em heterozigose
tanto no gene PDZD7 como no GPR98 podem levar a um quadro clínico atípico de
síndrome de Usher (Ebermann et al. 2010). O gene CEP250 foi descrito como um
-
32
causador de síndrome de Usher atípico em famílias consanguíneas do Irã (Khateb et al.
2014).
1.4. Estratégias de investigação genética.
Pelo menos 14 genes estão relacionados com a síndrome de Usher. Considerando a
grande heterogeneidade genética e o fato de que, a maioria dos genes envolvidos
apresentam um grande número de exons, como por exemplo, os genes MYO7A (49
exons), CDH23 (69 exons), PCDH15 (36 exons) e USH2A (72 exons), o uso de
tecnologias de alto rendimento resultam em um melhor custo-benefício para a detecção
de mutações nesses genes. Dessa forma, a utilização e a abordagem de sequenciamento
do exoma apresenta-se como uma estratégia interessante para o diagnóstico molecular de
doenças com alta heterogeneidade genética como é o caso da síndrome de Usher. Nesse
caso, a identificação de mutações já descritas assim como mutações ainda não
identificadas poderá contribuir para um maior entendimento das causas da síndrome
assim como confirmar o diagnóstico clínico.
O sequenciamento de exoma é uma técnica que permite de maneira seletiva, capturar
e sequenciar regiões codificantes de todo o genoma. A técnica envolve a utilização de
plataformas de sequenciamento de nova geração (NGS) que permite a análise de regiões
codificantes do genoma humano com grande eficácia. Atualmente, o sequenciamento de
exoma oferece 98% de sensibilidade e 99.8% de especificidade, minimizando as chances
de perder qualquer variante (Goh e Choi, 2012).
A estratégia experimental do sequenciamento de exoma pode ser dividida em duas
partes: 1) Preparação das bibliotecas de DNA genômico e hibridização para capturas de
arrays e 2) sequenciamento dos fragmentos alvo eluídos. Quando se possui acesso a
famílias com a doença de interesse, o sequenciamento de exoma pode ser aplicado em
pelo menos dois membros da família afetada e, ao analisar os resultados, qualquer
variante compartilhada pode ser considerada potencialmente causadora da doença;
utilizando-se dados de análise de ligação com foco na região do intervalo de interesse, é
possível reduzir em grande parte o número de variantes a serem consideradas (Clark et
al.2011).
A técnica de sequenciamento de exoma tem sido muito utilizada para diagnóstico
genético e descoberta de novos genes devido a seu baixo custo quando comparado ao
sequenciamento de Sanger (Gonzaga-Jauregui et al. 2012). Suas vantagens práticas
-
33
permitem que um grande número de pacientes sejam mapeados de forma robusta, o que
é um aspecto crucial na descoberta de mutações na pesquisa em genética humana (Goh e
Choi, 2012).
Avanços significativos utilizando as plataformas de sequenciamento massivo estão
sendo feitos na identificação dos genes da síndrome de Usher. Considerando a
inviabilidade da utilização de técnicas convencionais tanto economicamente como em
termos de tempo para o rastreamento de cada gene, este projeto propôs a utilização da
plataforma Whole Exome Sequencing (Sequenciamento de Exoma) no estudo molecular
da Síndrome de Usher em um grupo de pacientes brasileiros selecionados de acordo com
dados clínicos compatíveis com a doença.
Dessa forma, neste estudo foram rastreados os genes associados à síndrome de Usher
com o intuito de elucidar geneticamente os casos que até o momento eram tratados como
doenças separadas ou que tinham etiologia desconhecida. A prevenção do surgimento da
doença consiste na identificação precoce das famílias de risco e o aconselhamento
genético adequado para a família. As famílias de risco são aqueles casais que já tem um
filho com a doença. Na maioria dos tipos da Síndrome de Usher a identificação correta
da doença não é possível até que apareça a retinose pigmentar em geral em fases tardias
do desenvolvimento. Além disso, a reabilitação da perda auditiva é sempre mais eficaz
quando identificado precocemente, assim como para a orientação ao paciente sobre as
manifestações clínicas da doença e importância do acompanhamento oftalmo-
otorrinolaringológico. Testes genéticos para crianças com perda auditiva neurossensorial,
permitem um diagnóstico preciso, tratamento e prognóstico.
-
34
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral.
Esclarecer a etiologia genética de indivíduos com diagnóstico clínico de síndrome
de Usher.
2.2. Objetivo Específico.
Rastrear variantes potencialmente patogênicas em genes associados com a
síndrome de Usher.
Estudar a segregação das variantes nas famílias.
Analisar a frequência de novas alterações em um grupo de indivíduos controle.
-
35
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Casuística.
Foram estudados um total de 44 indivíduos provenientes de 11 famílias não
relacionadas. Sendo que um indivíduo afetado de cada família que apresentavam
manifestações clínicas de síndrome de Usher foram analisados mediante a técnica de
sequenciamento de exoma e sequenciamento por meio de painel de captura.
Esses pacientes foram atendidos nos ambulatórios de Otorrinolaringologia e
Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC-
UNICAMP). Os pacientes foram submetidos a testes detalhados como Audiometria
Tonal, Bera, Vemp e exames oftalmológicos, incluindo medições da Acuidade Visual
Corrigida (BCVAs), Biomicrocopia com Lâmpada de Fenda, Fundoscopia, Retinografia
e Teste de Campo Visual (VF). Além dos exames clínicos se realizou o exame de rotina
para as principais mutações relacionadas à perda auditiva de origem genética, sendo estas:
mutações no gene GJB2 (conexina 26), deleções del(GJB6-D13S1830) e del(GBJ6-
D13S1854) no gene GJB6 (conexina 30) e a mutação mitocondrial m.1555A>G no gene
MTRNR1.
Todos os indivíduos incluídos nesta pesquisa tiveram sua participação previamente
autorizada, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo
1), após serem informados sobre os objetivos e métodos da pesquisa e esclarecimento
sobre o estudo a ser realizado, podendo ou não aceitar participar da mesma. Este projeto
foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP,
CAAE No 47823914.6.0000.5404 (anexo 2).
A figura 7 ilustra esquematicamente como foi realizado o processo de investigação
dos indivíduos que fizeram parte do estudo.
-
36
Figura 7: Fluxograma de investigação dos indivíduos que fizeram parte do estudo
3.1.1. Critérios de inclusão.
A seleção dos pacientes seguiu os seguintes critérios de inclusão:
1. Manifestações clínicas consistentes com a síndrome de Usher, tais como perda de
audição, retinose pigmentar e presença ou ausência da função vestibular.
2. Não possuir mutações nas principais causas de surdez de origem genética.
-
37
3.2. Estudo Genético.
3.2.1. Extração do DNA genômico de sangue periférico.
A extração do DNA genômico foi realizado a partir de leucócitos obtidos de 10 a
15 mL de sangue periférico coletado em tubos Vacutainer contendo EDTA (ácido
etilenodiamino tetra-acético) como anticoagulante. Foi empregado o método de fenol e
clorofórmio, o qual foi padronizado no Laboratório de Genética Molecular Humana do
Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da UNICAMP.
Inicialmente, em um tubo tipo Falcon de 50 mL, foram adicionados 35 mL de
Solução A (Triton-X 100 a 1%; MgCl2 5 mM; Sacarose 0,32 M; Tris-HCl 10 mM pH 8,0)
ao sangue coletado, para lise das hemácias. Após ser homogeneizado, o material foi
mantido em gelo por 30 min. Depois, os tubos foram centrifugados a 2.000 rpm, por 15
min, a 4°C. O sobrenadante foi descartado e o precipitado (pellet) foi ressuspendido em
35 mL de Solução A. Este último procedimento foi repetido até a obtenção de um pellet
de coloração clara, livre de hemácias.
Posteriormente, foi adicionado 1 mL da solução B 1X (EDTA 20 mM; NaCl 20
mM; Tris-HCl 20 mM pH 8,0) e 250 μL de solução C (para 1 mL de solução C: 0,5 mL
de solução B 1X, 1 mg de Proteinase K e 0,5 mL de SDS 10%). O material foi incubado
em banho-maria 37°C até o dia seguinte.
Após a incubação, foi iniciada a etapa de purificação do DNA genômico com fenol-
clorofórmio. Foram adicionados 2 mL de TE 1X (Tris-HCl 10 mM, pH 8,0; EDTA 1 mM)
e quantidade suficiente de fenol saturado com Tris-HCl 10 mM pH 8,0 até dobrar o
volume da amostra. Foi realizada a homogeneização por inversão lenta dos tubos durante
5 minutos. Para a separação e recuperação da fase aquosa (sobrenadante), os tubos foram
centrifugados a 2.500 rpm por 15 minutos à temperatura ambiente. O precipitado foi
descartado e o sobrenadante foi passado a um tubo tipo Falcon de 15 mL. O procedimento
foi repetido por duas vezes, primeiro substituindo o fenol por solução de fenol:
clorofórmio: álcool isoamílico (25:24:1) e por último com solução de clorofórmio: álcool
isoamílico (24:1). Para a precipitação do DNA, foi acrescentado 0,1 do volume da
amostra de acetato de sódio 3 M pH 5,5 e 2,5 volumes de etanol absoluto gelado. O DNA
foi capturado com auxílio de uma haste plástica esterilizada e aproximadamente 5 gotas
de etanol 70% foram adicionadas para a retirada do excesso de sal. Após 20 minutos de
secagem, as hastes foram colocadas em tubos eppendorf de 1,5 mL e as amostras foram
ressuspendidas em um volume de 200 μL de TE 1X.
-
38
3.2.2. Sequenciamento massivo.
3.2.2.1. Rastreamento de mutações utilizando painel de captura.
Em uma das famílias estudadas, foi realizado o estudo molecular mediante a
aplicação do OTO-NGS-Panel, um painel de captura de sequências dirigido a 71 genes
envolvidos com perda auditivas hereditárias e síndrome de Usher para sequenciamento
massivo, desenvolvido no Departamento de Genética do Hospital Ramón y Cajal,
Madri/Espanha.
O HaloPlex™ Target Enrichment System for Illumina Sequencing (Agilent
Technologies, Santa Clara, Estados Unidos) foi utilizado para captura e enriquecimento
das regiões genômicas de interesse, de acordo com protocolo recomendado pelo
fabricante (http://www.genomics.agilent.com>). O painel foi customizado com o
SureDesign Service (Agilent Technologies.
). Foram incluídas sondas para a captura das
regiões exônicas e 50 pb de regiões intrônicas adjacentes, para os 71 genes. O desenho
total do painel assegura uma cobertura de 98,83% da região global de interesse,
compreendendo 499,157 kb.
Após a preparação das amostras, foi realizado o sequenciamento utilizando o
MiSeq Next-Generation Sequencing System (Illumina, San Diego, Estados Unidos)
(corrida paired-end 2×150pb), seguindo o protocolo recomendado pelo fabricante.
3.2.2.2. Rastreamento de mutações por meio de sequenciamento de exoma.
3.2.2.2.1. Preparo das bibliotecas para o sequenciamento do exoma.
Para o preparo das bibliotecas de exoma foi utilizado 5 ng/µL de DNA para
cada indivíduo. As amostras de DNA foram quantificados por meio do equipamento
Qubit 2.0 (Life Technologies, Carlsbad, CA, USA), que realiza a quantificação dos ácidos
nucleicos por meio de método fluorimétrico. As bibliotecas foram preparadas utilizando
o kit Nextera rapid Exome Enrichment Kit® (Illumina, Inc., San Diego, CA, USA)
seguindo o protocolo do fabricante.
-
39
3.2.2.2.1.2. Protocolo para o preparo das bibliotecas de exoma.
1. Tagmentação:
a. Adicionar 10 µL gDNA a 5 ng/µL em uma MIDI plate.
b. Adicionar 25 µL do Tagment DNA Buffer.
c. Adicionar 15 µL do Tagment DNA Enzime 1.
d. Selar com Microseal B.
e. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.
f. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
g. Microheating a 58 oC por 10 minutos (pré-aquecido).
h. Adicionar 15 µL do Stop Tagment Buffer.
i. Selar com Microseal B.
j. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.
k. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
l. Incubar a temperatura ambiente por 4 minutos.
2. Limpeza do DNA tagmentado:
a. Adicionar 65 µL das Sample Purification Beads.
b. Selar com Microseal B.
c. Vortex a 1.800 rpm por 1minuto.
d. Incubar a temperatura ambiente por 8 minutos.
e. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
f. Colocar na estante magnética por 2 minutos.
g. Remover e descartar todo sobrenadante.
h. Manter em estante magnética durante as duas lavagens. i. Adicionar lentamente 200 µL de etanol 80% “fresco” sem perturbar as
beads e esperar 30 segundos.
j. Remover e descartar o etanol.
k. Repetir passos i e j.
l. Deixar na estante magnética a temperatura ambiente por 10 minutos.
m. Retirar da estante magnética.
n. Adicionar 22,5 µL do Resuspension Buffer (não encostar nos beads).
o. Selar com Microseal B.
p. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.
q. Incubar a temperatura ambiente por 2 minutos.
r. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
s. Colocar na estante magnética por 2 minutos.
t. Transferir 20 µL do sobrenadante limpo para placa Hard Shell Plate.
-
40
3. 1a PCR:
a. Adicionar 5 µL do Index 1.
b. Adicionar 5 µL do Index 2.
c. Adicionar 20 µL do Nextera Library Amplification Mix.
d. Selar com Microseal A.
e. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.
f. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
g. PCR (aproximadamente 21 minutos).
PONTO DE PARADA (até 2 dias a 2 – 8 oC)
4. Limpeza da primeira PCR:
a. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.
b. Transferir 50 µ para MIDI plate.
c. Adicionar 90 µL das Sample Purification Beads.
d. Selar com Microseal B.
e. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.
f. Incubar a temperatura ambiente por 10 minutos.
g. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
h. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.
i. Cuidadosamente remover e descartar sobrenadante.
j. Manter em estante magnética durante as duas lavagens. k. Adicionar lentamente 200 µL de etanol 80% “fresco” sem perturbar as beads
e esperar 30 segundos.
l. Remover e descartar o etanol.
m. Repetir passos k e l mais uma vez.
n. Deixar na estante magnética a temperatura ambiente por 10 minutos.
o. Retirar da estante magnética
p. Adicionar 27 µL do Resuspension Buffer (não encostar nos beads).
q. Selar com Microseal B.
r. Vortex a 1.800rpm por 1 minuto.
s. Incubar a temperatura ambiente por 2 minutos.
t. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
u. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.
v. Transferir 25 µL do sobrenadante limpo para placa Hard Shell Plate (HSP).
PONTO DE PARADA (até 14 dias a -15 a -25oC)
-
41
5. 1a hibridização:
1. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.
2. Fazer pool das bibliotecas: 500 ng de cada biblioteca, máximo de 40 µL.
Volume > 40 µL: concentrador a vácuo (sem aquecimento e drying rate
média – programa 3).
Volume < 40 µL: aumentar volume para 40 µL com Resuspension Buffer.
3. Adicionar em uma HSP: 40 µL do pool das bibliotecas.
4. Adicionar 50 µL de Enrichment Hybridization Buffer.
5. Adicionar 10 µL de Expanded Exome Oligos.
6. Selar com Microseal B.
7. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.
8. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
9. PCR (aproximadamente 2h a 25h30).
6. 1a captura: Ligação:
a. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.
b. Transferir o volume todo (~100 µL) para uma MIDI plate. c. Adicionar 250 µL das Streptavidin Magnetic Beads. d. Selar com Microseal B.
e. Vortex a 1.200 rpm por 5 minutos.
f. Deixar a temperatura ambiente por 25 minutos.
g. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
h. Colocar na estante magnética por 2 minutos.
i. Cuidadosamente remover e descartar sobrenadante.
j. Retirar da estante magnética.
Lavagem: a. Vortex Enrichment Wash Solution.
b. Adicionar 200 µL do Enrichment Wash Solution.
c. Selar com Microseal B.
d. Vortex a 1.800 rpm por 4 minutos.
e. Selar com Microseal B.
f. Microheating a 50 oC por 30 minutos.
g. Imediatamente colocar a placa na estante magnética por 2 minutos.
h. Remover e descartar sobrenadante
i. Repetir passos b até h mais uma vez.
Eluição: a. Fazer mix: 28,5 µL Enrichment Elution Buffer 1 + 1,5 µL 2N NaOH
(total 30 µL).
b. Vortex o mix e adicione 23 µL na placa. c. Selar com Microseal B.
d. Vortex a 1.800 rpm por 2 minutos.
e. Deixar a temperatura ambiente por 2 minutos.
-
42
f. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
g. Colocar na estante magnética por 2 minutos.
h. Transferir 21 µL para uma HSP.
i. Adicionar 4 µL do Elute Target Buffer 2.
j. Selar com Microseal B.
k. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.
l. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
PONTO DE PARADA (até 7 dias a -15 a -25oC)
7. 2a hibridização:
a. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.
b. Adicionar 15 µL do Resuspension Buffer.
c. Adicionar 50 µL de Enrichment Hybridization Buffer.
d. Adicionar 10 µL de Expanded Exome Oligos.
e. Selar com Microseal B.
f. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.
g. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
h. PCR (aproximadamente 16h a 25h30).
Não retirar reação da máquina até estar pronto para começar próximo
passo.
8. 2a captura:
Ligação: k. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.
l. Transferir o volume todo (~100 µL) para uma MIDI plate. m. Adicionar 250 µL das Streptavidin Magnetic Beads. n. Selar com Microseal B.
o. Vortex a 1.200rpm por 5 minutos.
p. Deixar a temperatura ambiente por 25 minutos.
q. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
r. Colocar na estante magnética por 2 minutos.
s. Cuidadosamente remover e descartar sobrenadante.
t. Retirar da estante magnética.
Lavagem: j. Vortex Enrichment Wash Solution.
k. Adicionar 200 µL do Enrichment Wash Solution.
l. Selar com Microseal B.
m. Vortex a 1.800 rpm por 4 minutos.
n. Selar com Microseal B.
o. Microheating a 50 oC por 30 minutos.
p. Imediatamente colocar a placa na estante magnética por 2 minutos.
-
43
q. Remover e descartar sobrenadante.
r. Repetir passos b até h mais uma vez.
Eluição: m. Fazer mix: 28,5 µL Enrichment Elution Buffer 1 + 1,5 µL 2N NaOH
(total 30 µL).
n. Vortex o mix e adicione 23 µL na placa. o. Selar com Microseal B.
p. Vortex a 1.800 rpm por 2 minutos.
q. Deixar a temperatura ambiente por 2 minutos.
r. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
s. Colocar na estante magnética por 2 minutos.
t. Transferir 21 µL para uma HSP.
u. Adicionar 4 µL do Elute Target Buffer 2.
v. Selar com Microseal B.
w. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.
x. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
9. Limpeza da captura:
a. Adicionar 45 µL das Sample Purification Beads.
b. Selar com Microseal B.
c. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.
d. Deixar a temperatura ambiente por 10 minutos.
e. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
f. Colocar na estante magnética por 2 minutos.
g. Remover e descartar todo sobrenadante.
h. Manter em estante magnética durante as duas lavagens. i. Adicionar lentamente 200 µL de etanol 80% “fresco” e esperar 30
segundos.
j. Remover e descartar o etanol.
k. Repetir passos i e j mais uma vez.
l. Deixar na estante magnética a temperatura ambiente por 10 minutos.
m. Retirar da estante magnética,
n. Adicionar 27,5 µL do Resuspension Buffer (não encostar nos beads).
o. Selar com Microseal B.
p. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.
q. Incubar a temperatura ambiente por 2 minutos.
r. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
s. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.
t. Transferir 25 µL do sobrenadante limpo para placa HSP.
PONTO DE PARADA (até 7 dias a -15 a -25oC)
-
44
10. 2a PCR:
a. Adicionar 5 µL do PCR Primer Cocktail.
b. Adicionar 20 µL do Nextera Enrichment Amplification Mix.
c. Selar com Microseal A.
d. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.
e. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
f. PCR (aproximadamente 16 minutos).
PONTO DE PARADA (até 2 dias a 2-8oC)
11. Limpeza da 2a PCR:
a. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.
b. Transferir todo conteúdo (50 µL) para MIDI plate.
c. Adicionar 90 µL das Sample Purification Beads.
d. Selar com Microseal B.
e. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.
f. Incubar a temperatura ambiente por 10 minutos.
g. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
h. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.
i. Cuidadosamente remover e descartar sobrenadante.
j. Manter em estante magnética durante as duas lavagens. k. Adicionar lentamente 200 µL de etanol 80% “fresco” e esperar 30
segundos.
l. Remover e descartar o etanol.
m. Repetir passos k e l mais uma vez.
n. Deixar na estante magnética a temperatura ambiente por 10 minutos.
o. Retirar da estante magnética.
p. Adicionar 32 µL do Resuspension Buffer (não encostar nos beads).
q. Selar com Microseal B.
r. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.
s. Incubar a temperatura ambiente por 2 minutos.
t. Centrifugar a 280g por 1 minuto.
u. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.
v. Transferir 30 uL do sobrenadante limpo para placa HSP.
w. Selar com Microseal B.
PONTO DE PARADA (até 7 dias a -15 a -25oC)
-
45
3.2.2.2.2. Controle de qualidade das bibliotecas de exoma.
Para avaliação da qualidade das bibliotecas foi realizada a quantificação total
da amostra obtida utilizando-se o equipamento Qubit 2.0 (Life Technologies, Carlsbad,
CA, USA) e também por meio de análise quantitativa e qualitativa dos fragmentos de
ácidos nucleicos das bibliotecas utilizando o Bioanalyzer 2100 (Agilent Technologies,
Santa Clara, CA USA).
3.2.2.2.3. Sequenciamento do exoma.
Para o sequenciamento foi utilizado o equipamento Illumina HiSeqTM 2500
(Illumina, Inc., San Diego, CA, USA) no Laboratório Central de Tecnologias de Alto
Desempenho em Ciências da Vida (LaCTAD). O sequenciamento foi realizado em
2x100pb (paired ends) com cobertura mínima de 100X. Cabe mencionar que somente 1
membro afetado de cada família foi sequenciado por este método.
3.2.3. Análise bioinformática.
A análise de bioinformática foi realizada de acordo com o seguinte pipeline:
1. Para atestar os níveis de qualidade das reads, foi utilizado o FastQC 0.11.2. A qualidade
das bases requerida foi maior do que Q20.
2. Foi realizado o alinhamento utilizando-se o 'BWA' versão 0.7.5a-r405 e seus
argumentos foram utilizados nos valores-padrão. O genoma de referência utilizado foi o
GRCh38. Para que o processamento via GATK fosse realizado de modo adequado, foi
determinada a tag RG (read-group information) utilizando-se a concatenação do número
de série da flowcell juntamente com a lane na qual cada amostra foi corrida (subcampo
ID).
3. O arquivo SAM resultante do alinhamento foi ordenado por coordenada genômica
utilizando a ferramenta Picard (versão 1.124), pois esta é a única ferramenta que gera
arquivos BAM válidos para a ferramenta GATK.
4. O arquivo BAM resultante do passo acima foi indexado também por meio da
ferramenta Picard.
5. A ferramenta Picard também foi utilizada para marcar fragmentos duplicados no
-
46
arquivo BAM do passo 3, o que resultou em um novo arquivo BAM.
6. O arquivo BAM contendo os fragmentos duplicados marcados foi ordenado utilizando-
se a ferramenta Picard.
7. Todos os arquivos BAM (passos 3 e 5) foram validados para compatibilidade com
GATK por meio do modo STRICT (modo estrito).
8. Foi utilizado o módulo (do GATK) Realigner Target Creator (utilizando o genoma de
referência descrito acima, juntamente com o banco de dados dbSNP (versão 142) para a
determinação de regiões que apresentam evidências a favor de realinhamento local.
9. Empregou-se o módulo Indel Realigner para a execução dos realinhamentos locais.
Para este passo, foi adotado um limiar reduzido de LOD = 0.4 para consideração do
realinhamento. Este passo resulta em um novo BAM (realinhamento).
10. O BAM realinhado foi novamente indexado pelo Picard.
11. Os níveis de qualidade foram então recalibrados utilizando-se o módulo Base
Recalibrator aplicado ao BAM realinhado. Esta recalibração utiliza também as
informações de read-group (Passo 2).
12. Criou-se um novo arquivo BAM (recalibrado) contendo os níveis de qualidade
corrigidos.
13. O BAM recalibrado foi indexado novamente, via Picard.
14. Utilizou-se o módulo Haplotype Caller para a determinação de variantes. O programa
determina regiões do genoma que apresentam evidências de variantes. Um método como
grafos De Buijn é utilizado para a reconstrução de cada uma dessas regiões, identificando
haplótipos prováveis. Cada haplótipo é realinhado à referência. Usando-se métodos
probabilísticos (cadeias de Markov oculta) determina-se qual haplótipo é mais
concordante com os dados para determinar os alelos mais prováveis. Então determinam-
se os genótipos.
15. O resultado dos passos acima é um arquivo VCF que possui SNP/indels não-filtrados.
-
47
16. Para a anotação das variantes se fez o upload do arquivo VCF no software
ANNOVAR (http://wannovar.usc.edu/) o que gerou um arquivo. CSV com as SNVs
devidamente anotadas.
3.2.4. Filtragem de variantes potencialmente patogênicas.
A filtragem foi realizada seguindo os seguintes critérios:
1. Inicialmente foram selecionados todos os genes já caracterizados como causadores da
síndrome de Usher (tabela 2).
2. Variantes comuns e sinônimas foram excluídas.
3. Variantes não sinônimas foram selecionadas de acordo com as consequências aferidas
pelos algoritmos SIFT, Polyphen-2, LRT, Mutation Taster. As predições resultantes
maioritariamente como danosas e/ou deletérias receberam maior importância na análise.
4. Validação das variantes que provavelmente sejam as causadoras da doença.
5. Análise de segregação na família.
3.2.5. Validação e segregação na família das variantes potencialmente patogênicas
por meio do sequenciamento de Sanger.
Todas as variantes candidatas identificadas, foram confirmadas pela técnica de
sequenciamento de Sanger. Nesta análise foram incluídos todos os indivíduos das 11
famílias, para observação da segregação da alteração em indivíduos afetados.
Para a realização desta análise foram construídos primers (tabela 3) específicos
para cada região no qual estas variantes estão localizadas, com base no banco de dados
Ensembl (http://www.ensembl.org/index.html). Os primers foram desenhados com a
ajuda do software Primer 3 (http://bioinfo.ut.ee/primer3-0.4.0/primer3/). As sequências
foram validadas pela ferramenta PCR in silico do UCSC genome browser
(https://genome.ucsc.edu/cgi-bin/hgPcr) e verificadas quanto a regiões semelhantes pelo
Primer Blast do NCBI (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/tools/primer-blast/).
http://www.ensembl.org/index.htmlhttp://bioinfo.ut.ee/primer3-0.4.0/primer3/http://www.ncbi.nlm.nih.gov/tools/primer-blast/
-
48
Tabela 3: Sequências dos primers das variantes encontradas no sequenciamento massivo
e no painel de captura.
PRIMERS 5’ 3’ TAMANHO
(pb)
To
anelamento
Gene
Y1123 F -
ACAGACCTGTTACCATATACCAAAT
Y1123 R - GGGAATCTCAGCCTTGGA
500 pb 57 oC USH2A
E4034 F -
GGCCATGAGGTTCAGAGAAT
E4034 R -
GGCATGTCAGGGCTCATCTA
385 pb 56 oC USH2A
F1732 F -
CTCAGTGGCAGACTGTGTCC
F1732 R -
CAAAATGTTTCACAGGACTTCAA
395 pb 59 oC USH2A
N443 F –
TTGCTTTTACCACAGGGCTA
N443 R -
TGCCAAACAATCTGAAAATCA
596 pb 52 oC USH2A
S2981 F-
AACTATCACCACCAGCACCA
S2981 R-
TCTGTCTCAATGGGACTGCTT
574 pb 67 oC USH2A
C3267 F –
AAGTTGCCATGTGTGTATCTGA
C3267 R-
TTGGGAGATTACATTGTTATGTGTT
597 pb 51 oC USH2A
C638 F –
GCACAGTTTGTAACAGGTTCATT
C638 R -
CCATACTCAAAGTTGCACACG
486 pb 51 oC USH2A
N405 F –
TTGCTTTTACCACAGGGCTA
N405 R -
TGCCAAACAATCTGAAAATCA
596 pb 52 oC USH2A
L4406 F –
CTGGATCCCACCAGAACAGT
L4406 R -
TGGCTGTTGCTGGCAGTTA
693 pb 57 oC USH2A
-
49
E2520 F -
TGCCTGTCCTTCCTCTATCCA
E2520 R -
AGCCAAGTTTCCCCACCTTTA
726 pb 63 oC CDH23
A2637 F -
GGGAGGAGAGAAGAGGGACA
A2637 R - GGGATTGGCTTGGGGAC
521 pb 64 oC CDH23
S1369 F -
GAACATGAGCAAATTCCTATGAGA
S1369 R -
GACATACAAAGAGGGAGGCTTG
599 pb 57 oC USH2A
M3271 F -
AAGTTGCCATGTGTGTATCTGA
M3271 R -
TTGGGAGATTACATTGTTATGTGTT
597 pb 59 oC USH2A
Para um volume de 25 µL de reação foram utilizados: 200 a 500 ng de DNA
genômico, 200 µM de cada desoxinucleotídeos trifosfato (dATP, dCTP, dGTP e dTTP),
20 pmol de cada primer (direto e reverso), 2,5 U de Taq DNA polimerase em tampão de
PCR 10X (Tris-HCl 10mM pH 8,8), 20 mM de MgCl2, completando com água até o
volume final. As amplificações foram realizadas em aparelho termociclador Veriti® 96-
Well Thermal Cycler (Applied Biosystems). As condições da PCR estão resumidas na
tabela 4.
Tabela 4: Programa para amplificação das variantes encontradas no sequenciamento de
nova geração.
Etapa Número de ciclos Temperatura Tempo
1 1 95°C 5 minutos
2 35
95°C 30 segundos
T° anelamento 30 segundos
72°C 45 segundos
3 1 72°C 5 minutos
4 1 12°C ∞
-
50
3.3. Analise da frequência de novas alterações em um grupo de indivíduos controle.
As variantes confirmadas pela técnica de Sanger e presentes nos indivíduos afetados
(ausentes nos indivíduos não afetados em casos familiares) foram pesquisadas no banco
de dados de exomas BIPMed (http://bipmed.iqm.unicamp.br/genes), atualmente
conformada por 106 indivíduos de origem brasileira.
http://bipmed.iqm.unicamp.br/genes
-
51
4. RESULTADOS
Foram analisados 11 indivíduos afetados provenientes de 11 famílias (1 de cada
família). Ao todo foram coletados DNA de 44 indivíduos incluindo probandos e
familiares.
Das 11 famílias estudadas, oito foram analisadas por meio do sequenciamento de
exoma; em uma família o rastreamento foi realizado utilizando painel de sequenciamento
em colaboração com o Hospital Ramón y Cajal (Madri – Espanha) e finalmente em 2
famílias (5 e 10) o rastreamento de mutações ficou restrito aos exons 7, 11, 17, 19, 26,
45, 50, 62 e 63 do gene USH2A utilizando sequenciamento de Sanger. Na família 5 o
sequenciamento massivo não foi realizado pela impossibilidade de se obter amostras dos
demais indivíduos da família, e a família 10 foi incluída na casuística na fase final do
trabalho. Para a técnica de sequenciamento massivo, em termos de custo-benefício é
adequado o sequenciamento de pelo menos 6 indivíduos em cada lane de amostras, dessa
forma nos pacientes das famílias 5 e 10 não foi realizado o sequenciamento de exoma. Os
dados clínicos dos 11 pacientes afetados provenientes das 11 famílias encontram-se na
tabela 5. Somente o probando da família 11 apresenta função vestibular alterada.
-
52
Tabela 5: Dados clínicos dos indivíduos estudados.
Família Paciente Sexo Idade Tipo e Grau de perda auditiva Início da Retinose
pigmentar
Tipo de Síndrome
de Usher
Recorrência
familiar
1 331OT Masculino 47 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A +1 indivíduo
2 01 Feminino 35 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A Sem recorrência
3 02 Masculino 45 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A +1 indivíduo
4 03 Feminino 38 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A +1 indivíduo
5 05 Feminino 58 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A Sem recorrência
6 06 Masculino 53 Perda auditiva bilateral de grau severo Depois da puberdade USH2A +2 indivíduos
7 07 Masculino 59 Perda auditiva bilateral de grau severo Depois da puberdade USH2A +1 indivíduo
8 08 Feminino 59 Perda auditiva bilateral de grau severo Depois da puberdade USH2A +3 indivíduos
9 09 Feminino 58 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A