UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS JHONATHAN ANGEL ARAUJO FERNÁNDEZ IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GENES ASSOCIADOS COM A SÍNDROME DE USHER CAMPINAS 2017

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

    JHONATHAN ANGEL ARAUJO FERNÁNDEZ

    IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GENES ASSOCIADOS COM A SÍNDROME DE USHER

    CAMPINAS

    2017

  • JHONATHAN ANGEL ARAUJO FERNÁNDEZ

    IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GENES ASSOCIADOS COM A SÍNDROME DE USHER

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como requisito exigidos para a obtenção do título de Mestre em Ciências Médicas, Área de Concentração Genética Médica.

    ORIENTADOR: EDI LÚCIA SARTORATO

    ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

    FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO

    ALUNO JHONATHAN ANGEL ARAUJO FERNÁNDEZ, ORIENTADO PELA

    PROF. DRA. EDI LÚCIA SARTORATO.

    CAMPINAS

    2017

  • BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO

    JHONATHAN ANGEL ARAUJO FERNÁNDEZ

    ORIENTADOR: EDI LÚCIA SARTORATO

    MEMBROS:

    1. PROF. DRA. EDI LÚCIA SARTORATO

    2. PROF. DRA. CARMEN SILVIA BERTUZZO

    3. PROF. DR. NIRO KASAHARA

    Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências

    Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

    A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca

    examinadora encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

    Data: DATA DA DEFESA 26/07/2017

  • A mí adorada mamá Paula Elizabeth,

    que día a día me demuestra su

    inmenso amor y que sin ella, nada de

    esto sería posible.

  • AGRADECIMENTOS

    À Professora Dra. Edi Lúcia Sartorato pela oportunidade, orientação, apoio, confiança e

    aprendizado que me deu desde o momento que cheguei ao Brasil.

    À Dra. Sueli Matilde da Silva Costa a quem tenho muito carinho por tudo que me ajudou

    e ensinou tanto profissional como pessoalmente. Muito obrigado pelo carinho e amizade.

    Às Professoras Dra. Monica de Cássia Alves de Paula, Dra. Mara Sanchez Guaragna e a

    Dra. Andréa Trevas Maciel Guerra pela contribuição no exame de qualificação.

    Aos Professores Dra. Carmen Silvia Bertuzzo, Dr. Niro Kasahara, Dr. Marcelo Lima

    Ribeiro e Dra. Mara Sanchez Guaragna por terem aceitado participar como membros da

    banca examinadora da dissertação de mestrado.

    Às Professora Dra. Maricilda Palandi de Mello e Dra. Mônica Barbosa de Melo por

    sempre estarem prontas a ajudar com suas sugestões, contribuindo na realização da tese.

    Ao Professor Dr. José Paulo Cabral de Vasconcellos, a médica oftalmologista Ana

    Carolina Carneiro, a médica otorrinolaringologista Raquel Andrade Lauria, a Raissa

    Franchi e Regiane que ajudaram na avaliação clínica e coleta das amostras dos pacientes.

    A todos os colegas do Laboratório de Genética Molecular Humana I, II e III, do Centro

    de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG), da UNICAMP que de alguma

    forma contribuíram e me ajudaram na realização da dissertação: Fábio, Priscila Zonzini,

    Ana Letícia, Carolina Svidnicki, Nathy Zocal, Lilian, Nathy Gavioli, Priscila Jacob,

    Nadya, Carol Conti, Pamela, Helena, Paulo Miranda, Emerson, Rogério, Paulo Svidnicki,

    Mirta, Gabriela, Bruno, Pedro, Alessandra Staffocker, Marcela, Débora, Taciane e Zélo.

    Tem sido muito bom trabalhar com vocês.

    Aos pacientes, familiares e a todos os colaboradores envolvidos, pois com certeza sem

    eles este trabalho não poderia ser realizado.

    Às agências financiadoras CNPq e FAPESP, pela bolsa de estudo e pelo financiamento

    do projeto.

    A minha avó Sadith Navarro Hidalgo, a minha família e a minha namorada Alina, pelo

    apoio em todo momento.

  • A meus padrinhos Milka Velásquez e Juan de Dios por todo o apoio demostrado em todo

    momento.

    A todos que de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuíram para a concretização

    deste trabalho.

  • RESUMO

    A síndrome de Usher (USH) é a forma mais comum de surdez e cegueira hereditária,

    apresentando uma prevalência de 1 para 6.000 - 25.000 pessoas e uma taxa de portadores

    de 1 a cada 100 pessoas. Clinicamente podem-se distinguir três subtipos de acordo com

    a gravidade da perda auditiva, presença ou ausência de disfunção vestibular e a idade do

    início da retinose pigmentosa. Os mecanismos moleculares envolvendo a síndrome de

    Usher ainda não são completamente conhecidos e a ausência de estudos moleculares na

    população brasileira apontam para a importância da investigação dessa condição que

    acomete os indivíduos com muitos prejuízos em sua qualidade de vida. Por outro lado,

    considerando a alta heterogeneidade genética da doença, um estudo molecular

    aprofundado pode revelar genes causais adicionais ainda não identificados. Dessa forma,

    o projeto teve como objetivo buscar variantes causadoras da síndrome de Usher. Entre as

    técnicas usadas para o rastreamento foram realizados o sequenciamento de exoma e painel

    de captura de genes. Dessa forma, estudou-se 11 famílias com pelo menos um indivíduo

    com manifestação clínica da síndrome de Usher: oito pela técnica de sequenciamento de

    exoma, uma por meio de painel de captura e duas foram apenas rastreadas variantes em

    alguns exons do gene USH2A. Se encontraram 13 variantes, 11 no gene USH2A

    (p.Y1123H; p.C3267R; p.N405Ifs*3; p.S1369L; p.E4034*; p.N443Mfs*18; p.F1732S;

    p.S2981=fs*61; p.L4406P; p.C638*; p.M3271Sfs*30) e duas no gene CDH23

    (p.A2637P; p.E2520K). Entre as alterações encontradas, a p.N443Mfs*18 foi a mais

    frequente. A pesquisa de alterações moleculares em uma amostra de pacientes brasileiros,

    com diagnóstico clínico de Síndrome de Usher, permitiu a elucidação da causa genética

    em oito das 11 famílias estudadas, contribuindo dessa forma, para um diagnóstico mais

    preciso e aconselhamento genético adequado. Além disso, os resultados obtidos no

    presente estudo podem indicar as mutações mais frequentes presentes na nossa população,

    permitindo otimizar testes de diagnóstico molecular para a triagem da perda auditiva em

    indivíduos com suspeita de Usher para melhor prognóstico, tratamento e aconselhamento

    genético. O diagnóstico genético de forma precoce possibilita reabilitação no caso da

    perda auditiva e o preparo para o impacto físico e emocional decorrente da perda visual.

    Palavras chaves: síndrome de Usher. exoma. retinose pigmentar.

  • ABSTRACT

    Usher syndrome (USH) is the most common form of deafness and hereditary blindness,

    with a prevalence of 1 to 6,000 - 25,000 people and a carrier rate of 1 in 100 people.

    Clinically, three subtypes can be distinguished according to severity of hearing loss,

    presence or absence of vestibular dysfunction, and age of onset of retinitis pigmentosa.

    The molecular mechanisms involving Usher syndrome are still not fully understood and

    the absence of molecular studies in the Brazilian population points to the importance of

    investigating this condition that affects individuals with many impairments in their

    quality of life. Therefore, considering the high genetic heterogeneity of the disease, an in-

    depth molecular study may reveal additional unidentified causal genes. Thus, the purpose

    of the project was to search for variants that caused Usher syndrome. Among the

    approaches used for the screening were the whole exome sequencing and the gene capture

    panel. Thus, 11 families were studied with at least one individual with clinical

    manifestation of Usher syndrome: eight by the whole exome sequencing, one by capture

    panel and two were only screened variants in some exons of the USH2A gene. We found

    13 variants, 11 in USH2A gene (p.Y1123H; p.C3267R; p.N405Ifs*3; p.S1369L;

    p.E4034*; p.N443Mfs*18; p.F1732S; p.S2981=fs*61; p.L4406P; p.C638*;

    p.M3271Sfs*30) and two into CDH23 gene (p.A2637P; p.E2520K). Among the

    alterations found, the most frequent was p.N443Mfs*18. The investigation of molecular

    alterations in a sample of Brazilian patients with a clinical diagnosis of Usher Syndrome

    allowed the elucidation of the genetic cause in seven of the 11 families studied, thus

    contributing to a more accurate diagnosis and adequate genetic counseling. In addition,

    the results obtained in the present study may indicate the most frequent mutations present

    in our population, allowing the optimization of molecular diagnostic tests for hearing loss

    screening in individuals with suspected Usher for better prognosis, treatment and genetic

    counseling. Early genetic diagnosis enables rehabilitation in cases of hearing loss and

    preparation for physical and emotional impact resulting from visual loss.

    Keywords: Usher syndrome, exome, retinitis pigmentosa

  • LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 1: Esquema do sistema auditivo, evidenciando as principais partes da orelha

    (Modificado de: Oticon Medical < http://www.oticonmedical.com/portuguese/cochlear-

    implants/your-treatment/how-cochlear-implants-work/how-cochlear-implants-

    work.aspx>) .................................................................................................................... 18

    Figura 2: Ilustração esquemática da cóclea. Destaque para o esquema detalhado do órgão

    de Corti e micrografia dos estereocílios das células ciliadas (Modificado de: “The inner

    ear”, capítulo “The Auditory System” do livro “Neuroscience”, editado por Purvest et al.

    2001). .............................................................................................................................. 20

    Figura 3:Ilustração de um corte longitudinal do olho humano evidenciando suas

    principais estruturas (Espirito Santo et al. 2010). ........................................................... 23

    Figura 4:Ilustração de um corte longitudinal da retina, evidenciando suas principais

    estruturas (http://otcjosealves.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html) .................. 23

    Figura 5: Representação esquemática da estrutura da Miosina VIIa e sua interação com

    as proteínas associadas com a síndrome de Usher tipo I (Figura modificada-Ahmed et

    al.,2003). ......................................................................................................................... 29

    Figura 6: Representação esquemática da proteína usherina, nbc3 e gpr98. (Modificado de

    Reiners et al. 2005). ........................................................................................................ 31

    Figura 7: Fluxograma de investigação dos indivíduos que fizeram parte do estudo ...... 36

    Figura 8: Heredograma família 1 mostrando o genótipo dos indivíduos analisado. N: alelo

    normal (wild type). ......................................................................................................... 59

    Figura 9: Resultados do sequenciamento do exon 17 e 62 do gene USH2A. A)

    Eletroferograma da variante c.3367T>C – p.Y1123H. B) Eletroferograma da variante

    c.12100G>T – p.E4034*. ............................................................................................... 60

    Figura 10: Heredograma família 2 mostrando o genótipo dos indivíduos analisado. N:

    alelo normal (wild type). ................................................................................................ 61

    Figura 11: Resultados do sequenciamento do exon 26 e 7 do gene USH2A. A)

    Eletroferograma da variante c.5195T>C – p.F1732S. B) Eletroferograma da variante

    c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA – p.N443Mfs*18. ...................................... 61

    Figura 12: Heredograma família 3 mostrando o genótipo dos indivíduos analisado. N:

    alelo normal (wild type). ................................................................................................ 63

    Figura 13: Resultado do sequenciamento do exon 7 do gene USH2A. A) Eletroferograma

    da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA – p.N443Mfs*18 em

    heterozigose. B) Eletroferograma da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA

    – p.N443Mfs*18 em homozigose. .................................................................................. 63

  • Figura 14: Heredograma da família 4 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados. N:

    alelo normal (wild type). ................................................................................................ 64

    Figura 15: Resultados do sequenciamento do exon 19 e 50 do gene USH2A. A)

    Eletroferograma da variante c.4106C>T – p.S1369L. B) Eletroferograma da variante

    c.9811delT – p.M3271Sfs*30. ....................................................................................... 65

    Figura 16: Heredograma da família 5 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados.

    ........................................................................................................................................ 66

    Figura 17: Eletroferograma da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA –

    p.N443Mfs*18 em heterozigose. .................................................................................... 66

    Figura 18: Heredograma família 6 mostrando o genótipo dos indivíduos analisado. N:

    alelo normal (wild type). ................................................................................................ 67

    Figura 19: Resultado do sequenciamento do exon 7 do gene USH2A. A) Eletroferograma

    da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA – p.N443Mfs*18 em

    heterozigose. B) Eletroferograma da variante c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA

    – p.N443Mfs*18 em homozigose. .................................................................................. 68

    Figura 20: Heredograma da família 7 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados. N:

    alelo normal (wild type). ................................................................................................ 69

    Figura 21: Resultados do sequenciamento do exon 45 e 50 do gene USH2A. A)

    Eletroferograma da variante c.8943_8944delTC – p.S2981=fs*61. B) Eletroferograma da

    variante c.9799T>C – p. C3276R. .................................................................................. 69

    Figura 22: Heredograma da família 8 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados. N:

    alelo normal (wild type). ................................................................................................ 71

    Figura 23: Resultados do sequenciamento do exon 11 e 63 do gene USH2A. A)

    Eletroferograma da variante c.1914delC – p. C638X. B) Eletroferograma da variante

    c.1321T>C – p. L4406P. ................................................................................................ 71

    Figura 24: Heredograma da família 9 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados. N:

    alelo normal (wild type). ................................................................................................ 73

    Figura 25: Resultados do sequenciamento da família 9 do gene USH2A. A)

    Eletroferograma da variante c.1214delA – p.N405Ifs*3. B) Eletroferograma da variante

    c.1312_1327dupTGTCTTCAGCTTTCCA – p.N443Mfs*18. ...................................... 74

    Figura 26: Heredograma da família 10. .......................................................................... 74

    Figura 27: Heredograma da família 11 mostrando o genótipo dos indivíduos analisados.

    N: alelo normal (wild type). ........................................................................................... 75

    Figura 28: Resultado do sequenciamento da família 11 do gene CDH23. A:

    Eletroferograma da variante c.7558G>A – p.E2520K . B: Eletroferograma da variante

    c.7909G>C – p.A2637P. ................................................................................................ 76

  • Figura 29: Representação esquemática das variantes identificadas no gene USH2A, gene

    responsável pela síndrome de Usher tipo 2A. .................................................................77

    Figura 30: Representação esquemática das variantes localizadas no gene CDH23,

    responsável pela síndrome de Usher tipo 1D. Ambas as variantes estão sendo descritas

    pela primeira vez neste estudo. ....................................................................................... 77

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Características clínicas dos diferentes tipos de síndrome de Usher. ............. 26

    Tabela 2: Principais loci e respectivos genes associados a síndrome de Usher. ........... 27

    Tabela 3: Sequências dos primers das variantes encontradas no sequenciamento

    massivo e no painel de captura. ...................................................................................... 48

    Tabela 4: Programa para amplificação das variantes encontradas no sequenciamento de

    nova geração. .................................................................................................................. 49

    Tabela 5: Dados clínicos dos indivíduos estudados. ..................................................... 52

    Tabela 6: Resultados obtidos no rastreamento das principais alterações moleculares

    associadas à perda auditiva não sindrômica. .................................................................. 53

    Tabela 7: Variantes encontradas no sequenciamento de exoma e painel de captura,

    possíveis responsáveis pela síndrome de Usher. ............................................................ 55

    Tabela 8: Algoritmos de predição da variante p.F1732S no gene USH2A. .................. 62

    Tabela 9: Algoritmos de predição da variante p.C3267R no gene USH2A................... 70

    Tabela 10: Algoritmos de predição da variante p.L4406P no gene USH2A. ................ 72

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

    µg Micrograma

    µL Microlitro

    ATP Adenosina trifosfato

    BAM Binary Alignment/Map

    BCVA Medição de Acuidade Visual Corrigida

    BERA Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico

    BWA Alinhador Burrows-Wheeler

    CCE Células ciliadas externas

    CCI Células ciliadas internas

    CSV Comma-separated values

    Cx Conexina

    dbSNP Banco de dados dos Polimorfismo de nucleotídeo único

    DFNB23 Locus de surdez não sindrômica autossômica recessiva -23

    DNA Ácido Desoxirribonucleico

    dNTP Desoxinucleotídeo trifosfato

    Domínio PDZ Domínio PSD95/DIgA/Z0-1

    EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético

    FN3 Domínio Fibronectina tipo 3

    g gramas/gravidade

    GATK Genome Analysis Toolkit

    GRCh38 Genoma de referência 38

    HC Hospital das clínicas

    HCl Ácido clorídrico

    HSP Hard Shell Plate, placa de PCR

    kb Kilo base

    LRT The likelihood ratio test

    M Massa molar

    mL Mililitro

    mM Milimolar

    Motivo IQ Motivo isoleucina-glutamina

  • ng Nanograma

    NGS Sequenciamento de nova geração

    oC Grau célsius

    pb Par de bases

    PCR Reação em cadeia da polimerase

    pH Potencial de Hidrogênio

    rpm Rotações por minuto

    SAM Sequence Alignment/Map

    SIFT Sorting Intolerant from Tolerant

    SNP Polimorfismo de nucleotídeo único

    Taq Thermus aquaticus (enzima polimerase)

    TE Tris-EDTA

    U Unidade

    USH Síndrome de Usher

    USH1 Síndrome de Usher tipo 1

    USH2 Síndrome de Usher tipo 2

    USH3 Síndrome de Usher tipo 3

    VCF Variant Call Format

    VEMP Potencial Evocado Miogênico Vestibular

    VF Teste de campo visual

    WES Sequenciamento completo do exoma

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18

    1.1. Sistema auditivo. ................................................................................................. 18

    1.1.1. Mecanismo de audição. ........................................................................................ 21

    1.2. Sistema Visual. ........................................................................................................ 21

    1.2.1. Mecanismo de visão. ............................................................................................ 24

    1.3. Síndrome de Usher. ................................................................................................. 25

    1.3.1. Classificação clínica da síndrome de Usher. ........................................................ 25

    1.3.2. Aspectos genéticos da síndrome de Usher. .......................................................... 26

    1.3.2.1. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo I. ................................................ 28

    1.3.2.2. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo II. ............................................... 30

    1.3.2.3. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo III e Usher atípico. .................... 31

    1.4. Estratégias de investigação genética........................................................................ 32

    2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 34

    2.1. Objetivo Geral. ........................................................................................................ 34

    2.2. Objetivo Específico. ................................................................................................ 34

    3. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 35

    3.1. Casuística. ................................................................................................................ 35

    3.1.1. Critérios de inclusão. ............................................................................................ 36

    3.2. Estudo Genético. ...................................................................................................... 37

    3.2.1. Extração do DNA genômico de sangue periférico. .............................................. 37

    3.2.2. Sequenciamento massivo. ..................................................................................... 38

    3.2.2.1. Rastreamento de mutações utilizando painel de captura. .................................. 38

    3.2.2.2. Rastreamento de mutações por meio de sequenciamento de exoma. ................ 38

    3.2.2.2.1. Preparo das bibliotecas para o sequenciamento do exoma. ............................ 38

    3.2.2.2.1.2. Protocolo para o preparo das bibliotecas de exoma. ................................... 39

    3.2.2.2.2. Controle de qualidade das bibliotecas de exoma. ........................................... 45

    3.2.2.2.3. Sequenciamento do exoma. ............................................................................ 45

    3.2.3. Análise bioinformática. ........................................................................................ 45

    3.2.4. Filtragem de variantes potencialmente patogênicas. ............................................ 47

    3.2.5. Validação e segregação na família das variantes potencialmente patogênicas por

    meio do sequenciamento de Sanger................................................................................ 47

    3.3. Analise da frequência de novas alterações em um grupo de indivíduos controle. .. 50

    4. RESULTADOS .......................................................................................................... 51

    4.1. Principais alterações moleculares associadas à perda auditiva. .............................. 53

    4.2. Sequenciamento de exoma e painel de captura. ...................................................... 54

    4.2.1. Família 1. .............................................................................................................. 59

  • 4.2.2. Família 2. .............................................................................................................. 60

    4.2.3. Família 3. .............................................................................................................. 62

    4.2.4. Família 4. .............................................................................................................. 64

    4.2.5. Família 5. .............................................................................................................. 65

    4.2.6. Família 6. .............................................................................................................. 66

    4.2.7. Família 7. .............................................................................................................. 68

    4.2.8. Família 8. .............................................................................................................. 70

    4.2.9. Família 9. .............................................................................................................. 72

    4.2.10. Família 10. .......................................................................................................... 74

    4.2.11. Família 11. .......................................................................................................... 75

    4.3. Rastreamento das variantes novas no banco de dados BIPMed. ............................. 76

    4.4. Representação esquemática das variantes encontradas no gene USH2A e CDH23.76

    5. DISCUSSÃO. ............................................................................................................. 78

    6. CONCLUSÕES .......................................................................................................... 83

    7. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 84

    8. ANEXOS .................................................................................................................... 91

    8.1. Termo de Consentimento Livre é Esclarecido. ....................................................... 91

    8.2. Aprovação do comitê de ética. ................................................................................ 97

  • 18

    1. INTRODUÇÃO

    1.1. Sistema auditivo.

    O sistema auditivo é um dos mais complexos e sofisticados mecanismos de

    transdução existentes na natureza. Ele é responsável por captar as diferentes ondas

    sonoras e dar início ao processo de percepção e interpretação do som. Uma mistura de

    ondas sonoras é constantemente gerada no ambiente e alcança nossas orelhas. Esta

    coleção de sons contém um amplo espectro de tons altos e baixos em uma variedade de

    intensidades. A orelha é um órgão capaz de decifrar precisamente as diferentes

    frequências e intensidades, enquanto ao mesmo tempo transfere as informações coletadas

    para o cérebro e nos permite categorizar cada som e identificar sua distância relativa e

    direção (Dror & Avraham, 2009). O sistema auditivo é composto pela orelha externo,

    médio e interno (figura 1). A orelha externa compreende o pavilhão e o canal auditivo

    externo (meato acústico). O pavilhão é uma estrutura constituída por um esqueleto

    fibrocartilagíneo recoberto por pele e com uma face interna e outra externa, destinadas a

    recolher as ondas sonoras. O conduto auditivo externo é um canal de cerca de dois

    centímetros de comprimento e é o encarregado de levar as ondas sonoras a orelha média

    (Purves et al. 2001; Moussalle et al. 1997).

    Figura 1: Esquema do sistema auditivo, evidenciando as principais partes da orelha

    (Modificado de: Oticon Medical < http://www.oticonmedical.com/portuguese/cochlear-

    implants/your-treatment/how-cochlear-implants-work/how-cochlear-implants-

    work.aspx>)

  • 19

    Já a orelha média interior do osso temporal e composto pela membrana timpânica e três

    pequenos ossos (martelo, bigorna e estribo), os quais coletam as vibrações e as transmitem

    para a orelha interna, através da janela oval (Moussalle et al. 1997). A orelha interna está

    localizado no interior do osso temporal e é composto pela cóclea (responsável pela

    audição), vestíbulo e canais semicirculares (que controlam o equilíbrio e orientação

    espacial) (Purves et al. 2001). A cóclea (figura 2) é um tubo helicoide com cerca de duas

    voltas e meia. Sua base localiza-se sobre a extremidade lateral do meato acústico interno

    (Moussalle et al. 1997). A cóclea é dividida em três compartimentos preenchidos por

    fluídos: as escalas médias, vestibulares e timpânica. A escala média é uma cavidade cheia

    de endolinfa, localizada entre a escala vestibular e timpânica, cavidades preenchidas por

    perilinfa (Dror & Avraham, 2009). A perilinfa apresenta alta concentração de sódio e

    baixa concentração de potássio, enquanto a composição da endolinfa se assemelha a dos

    fluídos intracelulares, com baixa concentração de sódio e alta concentração de potássio.

    A escala média é separada da escala vestibular pela membrana de Reissner, e da escala

    timpânica pela membrana basilar (Moller, 2006). Na escala média está localizada o órgão

    de Corti, ou órgão espiral, que é a principal estrutura sensível ao som, contêm as células

    sensoriais do sistema auditivo, as células ciliadas, nomeado dessa forma pelo conjunto de

    estereocílios que saem das suas superfícies apicais. Cada indivíduo possui cerca de 15.000

    – 20.000 células ciliadas, organizadas em três linhas de células ciliadas externas (CCEs)

    e uma linha de células ciliadas internas (CCIs). As células ciliadas externas recebem e

    amplificam o som produzindo vibrações, enquanto as células ciliadas internas convertem

    os sinais mecânicos amplificados em respostas elétricas (LeMausier e Gillespie 2005).

    Tanto na cóclea como no sistema vestibular, as células ciliadas são neurônios que

    possuem uma estrutura mecanossensível especializada (estereocílios), os quais

    respondem ao som, ao movimento ou à gravidade movimentando-se em direção ao

    estereocílio mais longo, o que induz a abertura de canais iônicos na ponta dos estereocílios

    mais curtos. O fluxo de cátions leva a alterações de potencial de membrana, convertendo

    dessa forma os estímulos mecânicos em respostas elétricas, processo conhecido como

    transdução mecanoelétrica (LeMausier et al. 2005; Gillespie e Muller, 2009; Vollrath et

    al. 2007).

  • 20

    Figura 2: Ilustração esquemática da cóclea. Destaque para o esquema detalhado do órgão

    de Corti e micrografia dos estereocílios das células ciliadas (Modificado de: “The inner

    ear”, capítulo “The Auditory System” do livro “Neuroscience”, editado por Purvest et al.

    2001).

  • 21

    1.1.1. Mecanismo de audição.

    O mecanismo da audição consiste na transformação das ondas sonoras em

    impulsos nervosos. O som entra pela orelha externa, onde o pavilhão, que tem a função

    de tubo coletor, capta e canaliza as ondas acústicas até a membrana timpânica. Na

    membrana timpânica as ondas de compressão e descompressão alternadas do ar provocam

    o deslocamento do tímpano para trás e para frente. Logo, o tímpano vibra com a mesma

    frequência da onda e dessa forma transforma as vibrações sonoras em vibrações

    mecânicas que são transmitidas para os ossículos (martelo, bigorna e estribo). As

    vibrações passam primeiro pelo martelo, que ao entrar em vibração aciona a bigorna e

    este finalmente faz o estribo vibrar. Após serem ampliadas, as vibrações alcançam a

    orelha interna, onde os movimentos da janela oval são transmitidos para a rampa

    timpânica e em seguida para a membrana de Reissner, sendo então traduzidos em

    movimentos da endolinfa, consequentemente, da membrana tectória sobre as células

    sensoriais do órgão de Corti. Simultaneamente, a vibração da membrana basilar faz com

    que as células ciliares do órgão de Corti se agitem para frente e para trás; isso flexiona os

    cílios nos pontos de contato com a membrana tectória. A flexão dos cílios excita as células

    sensoriais e gera impulsos nas pequenas terminações nervosas filamentares da cóclea que

    enlaçam essas células. Esses impulsos são então transmitidos através do nervo coclear até

    os centros auditivos do tronco encefálico e córtex cerebral. (Alberts et al. 1989;

    Casanova, 1997).

    1.2. Sistema Visual.

    O sistema visual responsável pela visão é de grande importância para a interação do

    ser humano. É um sistema altamente sofisticado e de grande complexidade que graças

    aos órgãos que o integram permitem a percepção das imagens e transformá-las em

    impulsos elétricos que são enviados, através do nervo óptico, ao cérebro (Dantas, 1995)

    O olho (figura 3), órgão responsável pela visão no ser humano é constituído de uma

    série de estruturas, sendo dividido em três camadas dispostas concentricamente:

    A camada externa, formada pela esclera ou esclerótica e a córnea. A esclerótica é a

    camada externa do bulbo ocular (parte branco do olho) a qual tem a função de proteger

    as camadas internas mais delicadas. A córnea é um tecido transparente que cobre a pupila

  • 22

    e a íris. A córnea em conjunto com o cristalino tem a função de focar a luz através da

    pupila para a retina, como se fosse uma lente fixa (Dantas, 1995; Wasley, 2004).

    A camada média ou túnica vascular (úvea) está constituída pela coroide, pela íris e

    processos ciliares. A coroide situada entre a esclerótica e a retina, é uma estrutura

    pigmentada e esses pigmentos absorvem a luz que chega à retina, evitando assim sua

    reflexão. Também tem uma rede de vasos sanguíneos que proporcionam a retina de

    oxigênio e nutrientes. A íris é um fino tecido que apresenta um orifício em seu centro,

    chamado de pupila, cuja função é controlar a quantidade de luz que entra no olho. Em um

    ambiente com muita luz, ocorre a miose (diminuição do diâmetro da pupila), ao passo

    que, com pouca luz, ocorre a midríase (aumento do diâmetro da pupila) (Dantas, 1995)

    A camada interna ou túnica nervosa, constituída pela retina, se comunica com o

    cérebro pelo nervo óptico. A retina (figura 4) é uma evaginação multicamada do sistema

    nervoso central que consiste em camadas alternadas de neurônios e sinapses. A luz passa

    por todas as camadas da retina antes de ser absorvida por fotopigmentos localizados

    dentro dos segmentos externos dos fotorreceptores. Os fotorreceptores convertem a luz

    em um sinal neuroquímico que é passado para os neurônios de segunda ordem, chamados

    células bipolares. As células bipolares comunicam-se, por sua vez, com as células

    amácrinas e as células ganglionares. As células ganglionares definem a resolução

    retiniana das imagens, as quais são percebidas pelo sistema nervoso central e

    desempenham um importante papel no seu comportamento (Fletcher et al. 2011; Collin,

    2008). Assim, a via retiniana constituída por fotorreceptores, células bipolares e células

    ganglionares desempenha um papel importante no processamento visual dentro da retina.

    Doenças da retina, estão associadas com a perda da função ou a morte de uma ou mais

    classes de neurônios da via retiniana. A deficiência visual pode surgir da perda de

    fotorreceptores, defeitos na transmissão sináptica entre fotorreceptores e células bipolares

    ou perda de células ganglionares (Wasley, 2004).

  • 23

    Figura 3:Ilustração de um corte longitudinal do olho humano evidenciando suas

    principais estruturas (Espirito Santo et al. 2010).

    Figura 4:Ilustração de um corte longitudinal da retina, evidenciando suas principais

    estruturas (http://otcjosealves.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html)

  • 24

    1.2.1. Mecanismo de visão.

    A luz proveniente do ambiente externo, estímulo fundamental para a sensação que

    compreendemos como visão, atravessa um longo trajeto com início no olho humano até

    o córtex cerebral. A luz é, inicialmente, recebida pelas estruturas anteriores do olho: filme

    lacrimal, córnea e humor aquoso. Todas elas apresentam-se como componentes ópticos

    capazes de provocar convergência (processo de refração) de raios luminosos e em

    conjunto com a íris, estas determinam proteção das estruturas oculares internas pela

    capacidade de não absorverem determinados comprimentos de onda, como os raios

    ultravioletas. A luz, então, segue através da pupila, estrutura capaz de ajustar a luz

    penetrante por estímulo nervoso (simpático e parassimpático), até chegar ao cristalino. O

    cristalino, uma lente convergente, ajusta os feixes luminosos para um ponto focal

    localizado na retina, a fóvea. A retina é composta por dez camadas celulares e em sua

    porção externa encontra-se mais de cem milhões de fotorreceptores (cones e bastonetes).

    A luz absorvida produz mudanças estruturais em seus pigmentos, transformando o

    estímulo luminoso em estímulo nervoso. Cones e bastonetes possuem funções diferentes

    no sistema visual. Os bastonetes são usados para visão de baixa intensidade de luz, por

    outro lado, os cones são células utilizadas em intensidade de luz mais altas e para visão

    de cores e oferecem, portanto, maior acuidade visual. Elas estão distribuídas de forma

    mais concentradas na retina central, espacialmente na fóvea e apresentam 3 tipos de

    pigmentos com diferente sensibilidade às diferentes frequências que compõem à luz

    branca. A partir daí os impulsos eletroquímicos são transmitidos para as células bipolares

    e então para as células ganglionares cujos axônios, aproximadamente 1.200.000,

    compõem o nervo óptico. O nervo óptico, se encarrega de levar esses impulsos ao corpo

    geniculado lateral e, então córtex cerebral, na região occipital. É no córtex que ocorre o

    processamento das imagens recebidas pelos olhos, de modo que a imagem antes invertida

    seja processada da forma correta. O cérebro então após processar os impulsos recebidos,

    os transforma em imagem com riquezas de detalhes. Portanto, embora os olhos sejam

    essências para a visão, quaisquer danos aos nervos ópticos também resulta em

    comprometimento da visão (Braddick & Atkinson, 2011; Wasley, 2004; Fletcher et al.

    2011; Collin, 2008).

  • 25

    1.3. Síndrome de Usher.

    Até o momento mais de 400 síndromes com a perda de audição como um dos

    sintomas já foram descritas na literatura. Elas incluem um vasto conjunto de doenças

    hereditárias em que a perda auditiva está associada a diversos distúrbios dos sistemas

    musculoesquelético, cardiovascular, urogenital, nervoso, endócrino, digestivo ou

    sistemas tegumentares. Cerca de 40 dessas síndromes incluem uma doença ocular. Uma

    delas é a Síndrome de Usher (USH) (Gorlin et al. 1995).

    A síndrome de Usher é uma doença autossômica recessiva caracterizada pela perda

    auditiva, parcial ou total, diminuição progressiva da visão decorrente da degeneração das

    células fotorreceptoras da retina, os cones e bastonetes, denominada retinose pigmentar e

    ocasionalmente problemas vestibulares. Foi descrita pela primeira vez pelo

    oftalmologista escocês Charles Usher, sendo a principal causa genética de surdez e

    cegueira com uma prevalência entre 1 para 6.000 - 25.000 pessoas e uma taxa de

    portadores de 1 a cada 100 pessoas (Kimberling et al. 2010; Denise e Xue, 2010; Bonnet

    et al. 2016; Boughman et al.1983), em indivíduos entre 30 a 40 anos a frequência é de 1

    a cada 10.000 (Hope et al.1997) e é responsável por aproximadamente 50% dos

    indivíduos que apresentam surdez e cegueira (Vernon, 1969).

    1.3.1. Classificação clínica da síndrome de Usher.

    A Síndrome de Usher é clínica e geneticamente heterogênea. São conhecidas três

    formas clínicas da Síndrome de Usher, baseando-se na gravidade da deficiência auditiva,

    a presença ou ausência de disfunção vestibular e a idade de início da retinose pigmentosa

    associada com o déficit visual (tabela 1). A síndrome de Usher tipo I (USH1) é a forma

    mais grave. Caracteriza-se por uma surdez severa a profunda, presença de disfunção

    vestibular e degeneração da retina a qual inicia-se na infância com a perda da visão

    noturna, diminuição do campo visual e eventualmente, com perda da acuidade visual, que

    rapidamente progride à cegueira. USH1 representa cerda de 35 -40% dos casos da

    síndrome de Usher (Nájera et al.2005; Kremer et al. 2006; Petit, 2001). A síndrome de

    Usher tipo II (USH2) é a forma mais comum da doença representando de 59 – 85% dos

    casos. Os pacientes apresentam perda auditiva moderada a severa, ausência de disfunção

    vestibular e o início da retinose pigmentar ocorre geralmente na puberdade ou quando

    adulto (Ahmed et al.2003; Reiners e Wolfrum, 2006). A síndrome de Usher tipo III

  • 26

    (USH3) é a menos frequente representando apenas 3% dos casos na população mundial

    (Millan et al. 2011), exceto na Finlândia onde os casos de USH3 representam cerca de

    40% dos casos (Cohen et al. 2007; Ness et al. 2003; Joenssu et al. 2001). Pacientes com

    USH3 possuem perda auditiva profunda e adquirida de forma progressiva, disfunção

    vestibular e início da retinose pigmentar variável (Ness et al. 2003; Pakarinen et al.1995).

    Tabela 1: Características clínicas dos diferentes tipos de síndrome de Usher.

    Manifestação clínica Usher Tipo 1 Usher Tipo 2 Usher Tipo 3

    Perda auditiva Severa -

    Profunda Moderada – Severa Profunda

    Função vestibular Alterada Normal Variável

    Retinose pigmentar Antes da

    puberdade

    Durante ou depois

    da puberdade Variável

    1.3.2. Aspectos genéticos da síndrome de Usher.

    Atualmente, dezesseis loci foram associados com a síndrome de Usher: oito

    associados com o tipo 1, quatro com o tipo 2, dois com o tipo 3 e dois ainda não foram

    especificados (tabela 2) (Keats e Corey, 1999; Khateb et al. 2014). Destes loci, catorze

    genes foram caracterizados: seis em USH1, quatro em USH2 e dois em USH3 e dois em

    tipos de Usher não especificados.

  • 27

    Tabela 2: Principais loci e respectivos genes associados a síndrome de Usher.

    Tipo Locus Cromossomo Gene Proteína Frequência Função da proteína

    USH1

    USH1B 11q13.5 MYO7A miosina VIIa 29 – 82% do tipo 1 Motor celular

    USH1C 11q15.1 USH1C harmonina 7 – 12.5% do tipo 1 Exerce função de suporte

    USH1D 10q21-q22 CDH23 caderina 23 10- 35% do tipo 1 Adesão celular

    USH1E 21q21 n/d n/d desconhecido desconhecido

    USH1F 10q11.2-q21 PCDH15 protocaderina 15 11% do tipo 1 Adesão celular

    USH1G 17q24-25 USH1G sans 7% do tipo 1 Exerce função de suporte

    USH1H 15q22-q23 n/d n/d desconhecido desconhecido

    USH1J 15q25.1 CBI2 cbi2 0 - 2 % do tipo 1 desconhecido

    USH2

    USH2A 1q41 USH2A usherina ≤75% do tipo 2 Matriz e adesão celular

    USH2B 3p23-24.2 SLC4A7 nbc3 rara co-transporte de íons

    USH2C 5q14.3-21.3 GPR98 gpr98 rara Receptor acoplado a proteína G

    e adesão celular

    USH2D 9q32 DFNB31 whirlin rara Exerce função de suporte

    USH3 USH3A 3q21-25 CLRN1 clarin-1 40% dos casos em famílias

    da Finlândia Adesão celular

    USH3B 5q31.3 HARS n/d rara desconhecida

    n/d 10q24.31 PDZD7 pdzd7 rara Exerce função de suporte

    n/d 20q11.22 CEP250 cep250 rara desconhecida

  • 28

    1.3.2.1. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo I.

    O gene MYO7A que codifica a proteína miosina VIIa foi o primeiro a ser

    identificado, e pelo menos metade dos casos de USH1 conhecidos são devido a mutações

    nesse gene (Astuto et al. 2000). As miosinas são proteínas que hidrolisam o trifosfato de

    adenosina (ATP) e utilizam esta energia para movimentar-se ao longo dos filamentos da

    actina. A miosina VIIa apresenta os 3 domínios típicos das miosinas: o domínio motor ou

    cabeça, que possui um sítio de ligação para o ATP (atividade ATPásica) e outro para

    ligação com a actina; o domínio regulador, composto por sete repetições consecutivas do

    motivo IQ que liga cadeias leves ou calmodulina, e a cauda, que serve como âncora e

    posiciona o domínio motor para que ele consiga interagir com a actina. A miosina VIIa

    se expressa tanto na cóclea como na retina, também em outras células como dos testículos,

    pulmões e rins (Weil et al. 1995).

    As proteínas codificadas pelos genes USH1C, CDH23, PCDH15, USH1G são

    respectivamente a harmonina, caderina 23, protocaderina 15 e sans; todas elas interagem

    entre elas e com a miosina VIIa para formar uma unidade funcional necessária para o

    transporte e adesão (figura 5). A harmonina contém 3 domínios PDZ implicados na

    organização de proteínas complexas, sendo componentes essenciais da unidade funcional

    das proteínas USH1 (Verpy et al. 2000; Bitner—lindzicz et al. 2000). Pesquisas

    realizadas por Verpy et al. 2000 e Ahmed et al. 2003, sugerem que a proteína harmonina

    desempenha um importante papel no desenvolvimento e manutenção dos estereocílios

    (projeções celulares especializadas, ricas em actina). Os estereocílios se flexionam em

    resposta a ondas sonoras. Este movimento de flexão é fundamental para converter ondas

    sonoras em impulsos nervosos, um processo essencial para a audição normal. Na orelha

    interna, complexos de proteínas organizadas por harmonina provavelmente agem como

    conectores que ligam estereocílios em um feixe (Verpy et al. 2000; Ahmed et al. 2003).

    Este complexo de proteína ajuda a regular a transmissão de ondas sonoras. A harmonina

    também é encontrada em células especializadas chamadas fotorreceptoras. Estas células

    detectam e transferem a energia da luz para o tecido sensível à luz na parte de trás do olho

    (retina). A função do complexo da proteína harmonina na retina não é bem compreendida,

    mas parece ser importante para o desenvolvimento e função de células fotorreceptoras

    (Verpy et al. 2000).

  • 29

    Figura 5: Representação esquemática da estrutura da Miosina VIIa e sua interação com

    as proteínas associadas com a síndrome de Usher tipo I (Figura modificada-Ahmed et

    al.,2003).

    O gene CDH23, que codifica a proteína caderina 23, se localiza nas extremidades

    dos cílios das células ciliadas da cóclea, sendo um componente essencial na ligação entre

    as extremidades dos estereocílios. Deleções no gene CDH23 foram encontrados em

    pacientes com USH1D (Ahmed et al., 2003). No sistema ocular, a caderina 23 exerce

    funções fundamentais na organização das junções sinápticas, justificando as

    manifestações oculares da síndrome (Bork et al. 2001). A protocaderina 15 codificada

    pelo gene PCDH15 está envolvida na morfogênese e na coesão dos feixes de

    estereocílios, promovendo a manutenção, a longo prazo, das ligações laterais entre eles.

    As mutações no gene PCDH15 são responsáveis por surdez não sindrômica (DFNB23) e

    pela síndrome de Usher em famílias correlacionadas com USH1F (Nájera et al. 2005;

    Weil et al. 1995). A proteína sans codificada pelo gene USH1G, regula o tráfego das

    outras proteínas até os estereocílios, de modo que o complexo transmembrânico formado

    por estas interações asseguram a integridade dos estereocílios. Na retina, sans

    provavelmente desempenha um papel na formação e manutenção de células da retina

  • 30

    especializadas que detectam a luz e cor (células fotorreceptoras). Pelo menos cinco

    mutações no gene USH1G demonstraram causar síndrome de Usher tipo 1G (Nájera et

    al. 2005; Weil et al. 1995).). O gene CBI2 transcreve a proteína cbi2 (proteína2 de ligação

    ao cálcio e integrina). Este gene foi associado com a síndrome de Usher 1J (USH1J), ele

    foi identificado em uma família de Paquistão. CIB2 em ratos é localizado no estereocílio

    mecanossensorial das células ciliadas da orelha interna, nas células fotorreceptoras da

    retina e células do epitélio pigmentar. Alterações no gene CBI2 diminuem

    significativamente as respostas de Ca+2 induzidas pelo ATP (Riazuddin et al. 2012), mas

    até o momento não se sabe como isso afeta o funcionamento das células fotorreceptoras

    assim como das células ciliadas da orelha interna.

    1.3.2.2. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo II.

    Na figura 6 se mostra a representação esquemática dos genes envolvidos na

    síndrome de Usher tipo II. O gene USH2A codifica a proteína usherina a qual contém um

    domínio laminina tipo VI, 10 domínios laminina tipo fator de crescimento epidermal e 35

    domínios fibronectina tipo III (FN3). Nas células ciliadas da cóclea, usherina foi

    localizada nos estereocílios e na região sináptica. Na retina a usherina foi observada nos

    cílios de ligações e nos terminais sinápticos dos cones e bastonetes das células

    fotorreceptoras. Nas sinapses dos dois tipos de células sensoriais, acredita-se que a

    usherina participa na adesão de membranas pré e pós-sinápticas integrado na rede de

    proteínas da síndrome de Usher (Huang et al. 2002; Eudy et al. 1998).

    O gene SLC4A7 foi mapeado no cromossomo 3 na região p23-24.2 em uma

    família consanguínea da Tunísia (Hmani et al. 1999; Hmani et al. 2002). SLC4A7 codifica

    a proteína nbc3 que é um co-transportador de bicarbonato de sódio. Este gene foi sugerido

    como um gene candidato para o locus USH2B, já que camundongos sem a presença da

    proteína nbc3 (Slc4a7-/-), desenvolvem um fenótipo combinado de surdez-cegueira

    semelhante ao observado em pacientes com Usher (Bok et al. 2003). O gene GPR98

    responsável pela síndrome de Usher tipo 2C codifica os receptores acoplados à proteína

    G (GPR98), que se expressa em humanos em pelo menos 3 isoformas diferentes. Até o

    momento só se encontraram mulheres com mutações neste gene (Weston et al. 2004).

  • 31

    Figura 6: Representação esquemática da proteína usherina, nbc3 e gpr98. (Modificado

    de Reiners et al. 2005).

    O gene DFNB31 codifica a proteína whirlin, proteína que exerce a função de

    suporte. Whirlin é expressa tanto nas células ciliadas como nas células fotorreceptoras da

    retina, adicionalmente, está proteína se liga as proteínas usherina e gpr98. Atualmente só

    se encontrou variantes em heterozigose composta em uma família alemã (Ebermann et

    al. 2006).

    1.3.2.3. Genes envolvidos na síndrome de Usher tipo III e Usher atípico.

    A maioria dos casos de USH3 foram descritos na população Finlandesa, na qual

    se encontraram mutações no gene CLRN1 (Clarin-1) e HARS (histidil-tRNA sintetase)

    (Adato et al. 2002; Joenssu et al. 2001). Além disso, o gene PDZD7 foi recentemente

    descoberto de maneira digênica com o gene GPR98, ou seja, mutações em heterozigose

    tanto no gene PDZD7 como no GPR98 podem levar a um quadro clínico atípico de

    síndrome de Usher (Ebermann et al. 2010). O gene CEP250 foi descrito como um

  • 32

    causador de síndrome de Usher atípico em famílias consanguíneas do Irã (Khateb et al.

    2014).

    1.4. Estratégias de investigação genética.

    Pelo menos 14 genes estão relacionados com a síndrome de Usher. Considerando a

    grande heterogeneidade genética e o fato de que, a maioria dos genes envolvidos

    apresentam um grande número de exons, como por exemplo, os genes MYO7A (49

    exons), CDH23 (69 exons), PCDH15 (36 exons) e USH2A (72 exons), o uso de

    tecnologias de alto rendimento resultam em um melhor custo-benefício para a detecção

    de mutações nesses genes. Dessa forma, a utilização e a abordagem de sequenciamento

    do exoma apresenta-se como uma estratégia interessante para o diagnóstico molecular de

    doenças com alta heterogeneidade genética como é o caso da síndrome de Usher. Nesse

    caso, a identificação de mutações já descritas assim como mutações ainda não

    identificadas poderá contribuir para um maior entendimento das causas da síndrome

    assim como confirmar o diagnóstico clínico.

    O sequenciamento de exoma é uma técnica que permite de maneira seletiva, capturar

    e sequenciar regiões codificantes de todo o genoma. A técnica envolve a utilização de

    plataformas de sequenciamento de nova geração (NGS) que permite a análise de regiões

    codificantes do genoma humano com grande eficácia. Atualmente, o sequenciamento de

    exoma oferece 98% de sensibilidade e 99.8% de especificidade, minimizando as chances

    de perder qualquer variante (Goh e Choi, 2012).

    A estratégia experimental do sequenciamento de exoma pode ser dividida em duas

    partes: 1) Preparação das bibliotecas de DNA genômico e hibridização para capturas de

    arrays e 2) sequenciamento dos fragmentos alvo eluídos. Quando se possui acesso a

    famílias com a doença de interesse, o sequenciamento de exoma pode ser aplicado em

    pelo menos dois membros da família afetada e, ao analisar os resultados, qualquer

    variante compartilhada pode ser considerada potencialmente causadora da doença;

    utilizando-se dados de análise de ligação com foco na região do intervalo de interesse, é

    possível reduzir em grande parte o número de variantes a serem consideradas (Clark et

    al.2011).

    A técnica de sequenciamento de exoma tem sido muito utilizada para diagnóstico

    genético e descoberta de novos genes devido a seu baixo custo quando comparado ao

    sequenciamento de Sanger (Gonzaga-Jauregui et al. 2012). Suas vantagens práticas

  • 33

    permitem que um grande número de pacientes sejam mapeados de forma robusta, o que

    é um aspecto crucial na descoberta de mutações na pesquisa em genética humana (Goh e

    Choi, 2012).

    Avanços significativos utilizando as plataformas de sequenciamento massivo estão

    sendo feitos na identificação dos genes da síndrome de Usher. Considerando a

    inviabilidade da utilização de técnicas convencionais tanto economicamente como em

    termos de tempo para o rastreamento de cada gene, este projeto propôs a utilização da

    plataforma Whole Exome Sequencing (Sequenciamento de Exoma) no estudo molecular

    da Síndrome de Usher em um grupo de pacientes brasileiros selecionados de acordo com

    dados clínicos compatíveis com a doença.

    Dessa forma, neste estudo foram rastreados os genes associados à síndrome de Usher

    com o intuito de elucidar geneticamente os casos que até o momento eram tratados como

    doenças separadas ou que tinham etiologia desconhecida. A prevenção do surgimento da

    doença consiste na identificação precoce das famílias de risco e o aconselhamento

    genético adequado para a família. As famílias de risco são aqueles casais que já tem um

    filho com a doença. Na maioria dos tipos da Síndrome de Usher a identificação correta

    da doença não é possível até que apareça a retinose pigmentar em geral em fases tardias

    do desenvolvimento. Além disso, a reabilitação da perda auditiva é sempre mais eficaz

    quando identificado precocemente, assim como para a orientação ao paciente sobre as

    manifestações clínicas da doença e importância do acompanhamento oftalmo-

    otorrinolaringológico. Testes genéticos para crianças com perda auditiva neurossensorial,

    permitem um diagnóstico preciso, tratamento e prognóstico.

  • 34

    2. OBJETIVOS

    2.1. Objetivo Geral.

    Esclarecer a etiologia genética de indivíduos com diagnóstico clínico de síndrome

    de Usher.

    2.2. Objetivo Específico.

    Rastrear variantes potencialmente patogênicas em genes associados com a

    síndrome de Usher.

    Estudar a segregação das variantes nas famílias.

    Analisar a frequência de novas alterações em um grupo de indivíduos controle.

  • 35

    3. MATERIAL E MÉTODOS

    3.1. Casuística.

    Foram estudados um total de 44 indivíduos provenientes de 11 famílias não

    relacionadas. Sendo que um indivíduo afetado de cada família que apresentavam

    manifestações clínicas de síndrome de Usher foram analisados mediante a técnica de

    sequenciamento de exoma e sequenciamento por meio de painel de captura.

    Esses pacientes foram atendidos nos ambulatórios de Otorrinolaringologia e

    Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC-

    UNICAMP). Os pacientes foram submetidos a testes detalhados como Audiometria

    Tonal, Bera, Vemp e exames oftalmológicos, incluindo medições da Acuidade Visual

    Corrigida (BCVAs), Biomicrocopia com Lâmpada de Fenda, Fundoscopia, Retinografia

    e Teste de Campo Visual (VF). Além dos exames clínicos se realizou o exame de rotina

    para as principais mutações relacionadas à perda auditiva de origem genética, sendo estas:

    mutações no gene GJB2 (conexina 26), deleções del(GJB6-D13S1830) e del(GBJ6-

    D13S1854) no gene GJB6 (conexina 30) e a mutação mitocondrial m.1555A>G no gene

    MTRNR1.

    Todos os indivíduos incluídos nesta pesquisa tiveram sua participação previamente

    autorizada, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo

    1), após serem informados sobre os objetivos e métodos da pesquisa e esclarecimento

    sobre o estudo a ser realizado, podendo ou não aceitar participar da mesma. Este projeto

    foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP,

    CAAE No 47823914.6.0000.5404 (anexo 2).

    A figura 7 ilustra esquematicamente como foi realizado o processo de investigação

    dos indivíduos que fizeram parte do estudo.

  • 36

    Figura 7: Fluxograma de investigação dos indivíduos que fizeram parte do estudo

    3.1.1. Critérios de inclusão.

    A seleção dos pacientes seguiu os seguintes critérios de inclusão:

    1. Manifestações clínicas consistentes com a síndrome de Usher, tais como perda de

    audição, retinose pigmentar e presença ou ausência da função vestibular.

    2. Não possuir mutações nas principais causas de surdez de origem genética.

  • 37

    3.2. Estudo Genético.

    3.2.1. Extração do DNA genômico de sangue periférico.

    A extração do DNA genômico foi realizado a partir de leucócitos obtidos de 10 a

    15 mL de sangue periférico coletado em tubos Vacutainer contendo EDTA (ácido

    etilenodiamino tetra-acético) como anticoagulante. Foi empregado o método de fenol e

    clorofórmio, o qual foi padronizado no Laboratório de Genética Molecular Humana do

    Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da UNICAMP.

    Inicialmente, em um tubo tipo Falcon de 50 mL, foram adicionados 35 mL de

    Solução A (Triton-X 100 a 1%; MgCl2 5 mM; Sacarose 0,32 M; Tris-HCl 10 mM pH 8,0)

    ao sangue coletado, para lise das hemácias. Após ser homogeneizado, o material foi

    mantido em gelo por 30 min. Depois, os tubos foram centrifugados a 2.000 rpm, por 15

    min, a 4°C. O sobrenadante foi descartado e o precipitado (pellet) foi ressuspendido em

    35 mL de Solução A. Este último procedimento foi repetido até a obtenção de um pellet

    de coloração clara, livre de hemácias.

    Posteriormente, foi adicionado 1 mL da solução B 1X (EDTA 20 mM; NaCl 20

    mM; Tris-HCl 20 mM pH 8,0) e 250 μL de solução C (para 1 mL de solução C: 0,5 mL

    de solução B 1X, 1 mg de Proteinase K e 0,5 mL de SDS 10%). O material foi incubado

    em banho-maria 37°C até o dia seguinte.

    Após a incubação, foi iniciada a etapa de purificação do DNA genômico com fenol-

    clorofórmio. Foram adicionados 2 mL de TE 1X (Tris-HCl 10 mM, pH 8,0; EDTA 1 mM)

    e quantidade suficiente de fenol saturado com Tris-HCl 10 mM pH 8,0 até dobrar o

    volume da amostra. Foi realizada a homogeneização por inversão lenta dos tubos durante

    5 minutos. Para a separação e recuperação da fase aquosa (sobrenadante), os tubos foram

    centrifugados a 2.500 rpm por 15 minutos à temperatura ambiente. O precipitado foi

    descartado e o sobrenadante foi passado a um tubo tipo Falcon de 15 mL. O procedimento

    foi repetido por duas vezes, primeiro substituindo o fenol por solução de fenol:

    clorofórmio: álcool isoamílico (25:24:1) e por último com solução de clorofórmio: álcool

    isoamílico (24:1). Para a precipitação do DNA, foi acrescentado 0,1 do volume da

    amostra de acetato de sódio 3 M pH 5,5 e 2,5 volumes de etanol absoluto gelado. O DNA

    foi capturado com auxílio de uma haste plástica esterilizada e aproximadamente 5 gotas

    de etanol 70% foram adicionadas para a retirada do excesso de sal. Após 20 minutos de

    secagem, as hastes foram colocadas em tubos eppendorf de 1,5 mL e as amostras foram

    ressuspendidas em um volume de 200 μL de TE 1X.

  • 38

    3.2.2. Sequenciamento massivo.

    3.2.2.1. Rastreamento de mutações utilizando painel de captura.

    Em uma das famílias estudadas, foi realizado o estudo molecular mediante a

    aplicação do OTO-NGS-Panel, um painel de captura de sequências dirigido a 71 genes

    envolvidos com perda auditivas hereditárias e síndrome de Usher para sequenciamento

    massivo, desenvolvido no Departamento de Genética do Hospital Ramón y Cajal,

    Madri/Espanha.

    O HaloPlex™ Target Enrichment System for Illumina Sequencing (Agilent

    Technologies, Santa Clara, Estados Unidos) foi utilizado para captura e enriquecimento

    das regiões genômicas de interesse, de acordo com protocolo recomendado pelo

    fabricante (http://www.genomics.agilent.com>). O painel foi customizado com o

    SureDesign Service (Agilent Technologies.

    ). Foram incluídas sondas para a captura das

    regiões exônicas e 50 pb de regiões intrônicas adjacentes, para os 71 genes. O desenho

    total do painel assegura uma cobertura de 98,83% da região global de interesse,

    compreendendo 499,157 kb.

    Após a preparação das amostras, foi realizado o sequenciamento utilizando o

    MiSeq Next-Generation Sequencing System (Illumina, San Diego, Estados Unidos)

    (corrida paired-end 2×150pb), seguindo o protocolo recomendado pelo fabricante.

    3.2.2.2. Rastreamento de mutações por meio de sequenciamento de exoma.

    3.2.2.2.1. Preparo das bibliotecas para o sequenciamento do exoma.

    Para o preparo das bibliotecas de exoma foi utilizado 5 ng/µL de DNA para

    cada indivíduo. As amostras de DNA foram quantificados por meio do equipamento

    Qubit 2.0 (Life Technologies, Carlsbad, CA, USA), que realiza a quantificação dos ácidos

    nucleicos por meio de método fluorimétrico. As bibliotecas foram preparadas utilizando

    o kit Nextera rapid Exome Enrichment Kit® (Illumina, Inc., San Diego, CA, USA)

    seguindo o protocolo do fabricante.

  • 39

    3.2.2.2.1.2. Protocolo para o preparo das bibliotecas de exoma.

    1. Tagmentação:

    a. Adicionar 10 µL gDNA a 5 ng/µL em uma MIDI plate.

    b. Adicionar 25 µL do Tagment DNA Buffer.

    c. Adicionar 15 µL do Tagment DNA Enzime 1.

    d. Selar com Microseal B.

    e. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.

    f. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    g. Microheating a 58 oC por 10 minutos (pré-aquecido).

    h. Adicionar 15 µL do Stop Tagment Buffer.

    i. Selar com Microseal B.

    j. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.

    k. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    l. Incubar a temperatura ambiente por 4 minutos.

    2. Limpeza do DNA tagmentado:

    a. Adicionar 65 µL das Sample Purification Beads.

    b. Selar com Microseal B.

    c. Vortex a 1.800 rpm por 1minuto.

    d. Incubar a temperatura ambiente por 8 minutos.

    e. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    f. Colocar na estante magnética por 2 minutos.

    g. Remover e descartar todo sobrenadante.

    h. Manter em estante magnética durante as duas lavagens. i. Adicionar lentamente 200 µL de etanol 80% “fresco” sem perturbar as

    beads e esperar 30 segundos.

    j. Remover e descartar o etanol.

    k. Repetir passos i e j.

    l. Deixar na estante magnética a temperatura ambiente por 10 minutos.

    m. Retirar da estante magnética.

    n. Adicionar 22,5 µL do Resuspension Buffer (não encostar nos beads).

    o. Selar com Microseal B.

    p. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.

    q. Incubar a temperatura ambiente por 2 minutos.

    r. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    s. Colocar na estante magnética por 2 minutos.

    t. Transferir 20 µL do sobrenadante limpo para placa Hard Shell Plate.

  • 40

    3. 1a PCR:

    a. Adicionar 5 µL do Index 1.

    b. Adicionar 5 µL do Index 2.

    c. Adicionar 20 µL do Nextera Library Amplification Mix.

    d. Selar com Microseal A.

    e. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.

    f. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    g. PCR (aproximadamente 21 minutos).

    PONTO DE PARADA (até 2 dias a 2 – 8 oC)

    4. Limpeza da primeira PCR:

    a. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.

    b. Transferir 50 µ para MIDI plate.

    c. Adicionar 90 µL das Sample Purification Beads.

    d. Selar com Microseal B.

    e. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.

    f. Incubar a temperatura ambiente por 10 minutos.

    g. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    h. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.

    i. Cuidadosamente remover e descartar sobrenadante.

    j. Manter em estante magnética durante as duas lavagens. k. Adicionar lentamente 200 µL de etanol 80% “fresco” sem perturbar as beads

    e esperar 30 segundos.

    l. Remover e descartar o etanol.

    m. Repetir passos k e l mais uma vez.

    n. Deixar na estante magnética a temperatura ambiente por 10 minutos.

    o. Retirar da estante magnética

    p. Adicionar 27 µL do Resuspension Buffer (não encostar nos beads).

    q. Selar com Microseal B.

    r. Vortex a 1.800rpm por 1 minuto.

    s. Incubar a temperatura ambiente por 2 minutos.

    t. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    u. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.

    v. Transferir 25 µL do sobrenadante limpo para placa Hard Shell Plate (HSP).

    PONTO DE PARADA (até 14 dias a -15 a -25oC)

  • 41

    5. 1a hibridização:

    1. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.

    2. Fazer pool das bibliotecas: 500 ng de cada biblioteca, máximo de 40 µL.

    Volume > 40 µL: concentrador a vácuo (sem aquecimento e drying rate

    média – programa 3).

    Volume < 40 µL: aumentar volume para 40 µL com Resuspension Buffer.

    3. Adicionar em uma HSP: 40 µL do pool das bibliotecas.

    4. Adicionar 50 µL de Enrichment Hybridization Buffer.

    5. Adicionar 10 µL de Expanded Exome Oligos.

    6. Selar com Microseal B.

    7. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.

    8. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    9. PCR (aproximadamente 2h a 25h30).

    6. 1a captura: Ligação:

    a. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.

    b. Transferir o volume todo (~100 µL) para uma MIDI plate. c. Adicionar 250 µL das Streptavidin Magnetic Beads. d. Selar com Microseal B.

    e. Vortex a 1.200 rpm por 5 minutos.

    f. Deixar a temperatura ambiente por 25 minutos.

    g. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    h. Colocar na estante magnética por 2 minutos.

    i. Cuidadosamente remover e descartar sobrenadante.

    j. Retirar da estante magnética.

    Lavagem: a. Vortex Enrichment Wash Solution.

    b. Adicionar 200 µL do Enrichment Wash Solution.

    c. Selar com Microseal B.

    d. Vortex a 1.800 rpm por 4 minutos.

    e. Selar com Microseal B.

    f. Microheating a 50 oC por 30 minutos.

    g. Imediatamente colocar a placa na estante magnética por 2 minutos.

    h. Remover e descartar sobrenadante

    i. Repetir passos b até h mais uma vez.

    Eluição: a. Fazer mix: 28,5 µL Enrichment Elution Buffer 1 + 1,5 µL 2N NaOH

    (total 30 µL).

    b. Vortex o mix e adicione 23 µL na placa. c. Selar com Microseal B.

    d. Vortex a 1.800 rpm por 2 minutos.

    e. Deixar a temperatura ambiente por 2 minutos.

  • 42

    f. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    g. Colocar na estante magnética por 2 minutos.

    h. Transferir 21 µL para uma HSP.

    i. Adicionar 4 µL do Elute Target Buffer 2.

    j. Selar com Microseal B.

    k. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.

    l. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    PONTO DE PARADA (até 7 dias a -15 a -25oC)

    7. 2a hibridização:

    a. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.

    b. Adicionar 15 µL do Resuspension Buffer.

    c. Adicionar 50 µL de Enrichment Hybridization Buffer.

    d. Adicionar 10 µL de Expanded Exome Oligos.

    e. Selar com Microseal B.

    f. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.

    g. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    h. PCR (aproximadamente 16h a 25h30).

    Não retirar reação da máquina até estar pronto para começar próximo

    passo.

    8. 2a captura:

    Ligação: k. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.

    l. Transferir o volume todo (~100 µL) para uma MIDI plate. m. Adicionar 250 µL das Streptavidin Magnetic Beads. n. Selar com Microseal B.

    o. Vortex a 1.200rpm por 5 minutos.

    p. Deixar a temperatura ambiente por 25 minutos.

    q. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    r. Colocar na estante magnética por 2 minutos.

    s. Cuidadosamente remover e descartar sobrenadante.

    t. Retirar da estante magnética.

    Lavagem: j. Vortex Enrichment Wash Solution.

    k. Adicionar 200 µL do Enrichment Wash Solution.

    l. Selar com Microseal B.

    m. Vortex a 1.800 rpm por 4 minutos.

    n. Selar com Microseal B.

    o. Microheating a 50 oC por 30 minutos.

    p. Imediatamente colocar a placa na estante magnética por 2 minutos.

  • 43

    q. Remover e descartar sobrenadante.

    r. Repetir passos b até h mais uma vez.

    Eluição: m. Fazer mix: 28,5 µL Enrichment Elution Buffer 1 + 1,5 µL 2N NaOH

    (total 30 µL).

    n. Vortex o mix e adicione 23 µL na placa. o. Selar com Microseal B.

    p. Vortex a 1.800 rpm por 2 minutos.

    q. Deixar a temperatura ambiente por 2 minutos.

    r. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    s. Colocar na estante magnética por 2 minutos.

    t. Transferir 21 µL para uma HSP.

    u. Adicionar 4 µL do Elute Target Buffer 2.

    v. Selar com Microseal B.

    w. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.

    x. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    9. Limpeza da captura:

    a. Adicionar 45 µL das Sample Purification Beads.

    b. Selar com Microseal B.

    c. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.

    d. Deixar a temperatura ambiente por 10 minutos.

    e. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    f. Colocar na estante magnética por 2 minutos.

    g. Remover e descartar todo sobrenadante.

    h. Manter em estante magnética durante as duas lavagens. i. Adicionar lentamente 200 µL de etanol 80% “fresco” e esperar 30

    segundos.

    j. Remover e descartar o etanol.

    k. Repetir passos i e j mais uma vez.

    l. Deixar na estante magnética a temperatura ambiente por 10 minutos.

    m. Retirar da estante magnética,

    n. Adicionar 27,5 µL do Resuspension Buffer (não encostar nos beads).

    o. Selar com Microseal B.

    p. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.

    q. Incubar a temperatura ambiente por 2 minutos.

    r. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    s. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.

    t. Transferir 25 µL do sobrenadante limpo para placa HSP.

    PONTO DE PARADA (até 7 dias a -15 a -25oC)

  • 44

    10. 2a PCR:

    a. Adicionar 5 µL do PCR Primer Cocktail.

    b. Adicionar 20 µL do Nextera Enrichment Amplification Mix.

    c. Selar com Microseal A.

    d. Vortex a 1.200 rpm por 1 minuto.

    e. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    f. PCR (aproximadamente 16 minutos).

    PONTO DE PARADA (até 2 dias a 2-8oC)

    11. Limpeza da 2a PCR:

    a. Centrifugar a placa a 280g por 1 minuto.

    b. Transferir todo conteúdo (50 µL) para MIDI plate.

    c. Adicionar 90 µL das Sample Purification Beads.

    d. Selar com Microseal B.

    e. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.

    f. Incubar a temperatura ambiente por 10 minutos.

    g. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    h. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.

    i. Cuidadosamente remover e descartar sobrenadante.

    j. Manter em estante magnética durante as duas lavagens. k. Adicionar lentamente 200 µL de etanol 80% “fresco” e esperar 30

    segundos.

    l. Remover e descartar o etanol.

    m. Repetir passos k e l mais uma vez.

    n. Deixar na estante magnética a temperatura ambiente por 10 minutos.

    o. Retirar da estante magnética.

    p. Adicionar 32 µL do Resuspension Buffer (não encostar nos beads).

    q. Selar com Microseal B.

    r. Vortex a 1.800 rpm por 1 minuto.

    s. Incubar a temperatura ambiente por 2 minutos.

    t. Centrifugar a 280g por 1 minuto.

    u. Retirar selo e colocar na estante magnética por 2 minutos.

    v. Transferir 30 uL do sobrenadante limpo para placa HSP.

    w. Selar com Microseal B.

    PONTO DE PARADA (até 7 dias a -15 a -25oC)

  • 45

    3.2.2.2.2. Controle de qualidade das bibliotecas de exoma.

    Para avaliação da qualidade das bibliotecas foi realizada a quantificação total

    da amostra obtida utilizando-se o equipamento Qubit 2.0 (Life Technologies, Carlsbad,

    CA, USA) e também por meio de análise quantitativa e qualitativa dos fragmentos de

    ácidos nucleicos das bibliotecas utilizando o Bioanalyzer 2100 (Agilent Technologies,

    Santa Clara, CA USA).

    3.2.2.2.3. Sequenciamento do exoma.

    Para o sequenciamento foi utilizado o equipamento Illumina HiSeqTM 2500

    (Illumina, Inc., San Diego, CA, USA) no Laboratório Central de Tecnologias de Alto

    Desempenho em Ciências da Vida (LaCTAD). O sequenciamento foi realizado em

    2x100pb (paired ends) com cobertura mínima de 100X. Cabe mencionar que somente 1

    membro afetado de cada família foi sequenciado por este método.

    3.2.3. Análise bioinformática.

    A análise de bioinformática foi realizada de acordo com o seguinte pipeline:

    1. Para atestar os níveis de qualidade das reads, foi utilizado o FastQC 0.11.2. A qualidade

    das bases requerida foi maior do que Q20.

    2. Foi realizado o alinhamento utilizando-se o 'BWA' versão 0.7.5a-r405 e seus

    argumentos foram utilizados nos valores-padrão. O genoma de referência utilizado foi o

    GRCh38. Para que o processamento via GATK fosse realizado de modo adequado, foi

    determinada a tag RG (read-group information) utilizando-se a concatenação do número

    de série da flowcell juntamente com a lane na qual cada amostra foi corrida (subcampo

    ID).

    3. O arquivo SAM resultante do alinhamento foi ordenado por coordenada genômica

    utilizando a ferramenta Picard (versão 1.124), pois esta é a única ferramenta que gera

    arquivos BAM válidos para a ferramenta GATK.

    4. O arquivo BAM resultante do passo acima foi indexado também por meio da

    ferramenta Picard.

    5. A ferramenta Picard também foi utilizada para marcar fragmentos duplicados no

  • 46

    arquivo BAM do passo 3, o que resultou em um novo arquivo BAM.

    6. O arquivo BAM contendo os fragmentos duplicados marcados foi ordenado utilizando-

    se a ferramenta Picard.

    7. Todos os arquivos BAM (passos 3 e 5) foram validados para compatibilidade com

    GATK por meio do modo STRICT (modo estrito).

    8. Foi utilizado o módulo (do GATK) Realigner Target Creator (utilizando o genoma de

    referência descrito acima, juntamente com o banco de dados dbSNP (versão 142) para a

    determinação de regiões que apresentam evidências a favor de realinhamento local.

    9. Empregou-se o módulo Indel Realigner para a execução dos realinhamentos locais.

    Para este passo, foi adotado um limiar reduzido de LOD = 0.4 para consideração do

    realinhamento. Este passo resulta em um novo BAM (realinhamento).

    10. O BAM realinhado foi novamente indexado pelo Picard.

    11. Os níveis de qualidade foram então recalibrados utilizando-se o módulo Base

    Recalibrator aplicado ao BAM realinhado. Esta recalibração utiliza também as

    informações de read-group (Passo 2).

    12. Criou-se um novo arquivo BAM (recalibrado) contendo os níveis de qualidade

    corrigidos.

    13. O BAM recalibrado foi indexado novamente, via Picard.

    14. Utilizou-se o módulo Haplotype Caller para a determinação de variantes. O programa

    determina regiões do genoma que apresentam evidências de variantes. Um método como

    grafos De Buijn é utilizado para a reconstrução de cada uma dessas regiões, identificando

    haplótipos prováveis. Cada haplótipo é realinhado à referência. Usando-se métodos

    probabilísticos (cadeias de Markov oculta) determina-se qual haplótipo é mais

    concordante com os dados para determinar os alelos mais prováveis. Então determinam-

    se os genótipos.

    15. O resultado dos passos acima é um arquivo VCF que possui SNP/indels não-filtrados.

  • 47

    16. Para a anotação das variantes se fez o upload do arquivo VCF no software

    ANNOVAR (http://wannovar.usc.edu/) o que gerou um arquivo. CSV com as SNVs

    devidamente anotadas.

    3.2.4. Filtragem de variantes potencialmente patogênicas.

    A filtragem foi realizada seguindo os seguintes critérios:

    1. Inicialmente foram selecionados todos os genes já caracterizados como causadores da

    síndrome de Usher (tabela 2).

    2. Variantes comuns e sinônimas foram excluídas.

    3. Variantes não sinônimas foram selecionadas de acordo com as consequências aferidas

    pelos algoritmos SIFT, Polyphen-2, LRT, Mutation Taster. As predições resultantes

    maioritariamente como danosas e/ou deletérias receberam maior importância na análise.

    4. Validação das variantes que provavelmente sejam as causadoras da doença.

    5. Análise de segregação na família.

    3.2.5. Validação e segregação na família das variantes potencialmente patogênicas

    por meio do sequenciamento de Sanger.

    Todas as variantes candidatas identificadas, foram confirmadas pela técnica de

    sequenciamento de Sanger. Nesta análise foram incluídos todos os indivíduos das 11

    famílias, para observação da segregação da alteração em indivíduos afetados.

    Para a realização desta análise foram construídos primers (tabela 3) específicos

    para cada região no qual estas variantes estão localizadas, com base no banco de dados

    Ensembl (http://www.ensembl.org/index.html). Os primers foram desenhados com a

    ajuda do software Primer 3 (http://bioinfo.ut.ee/primer3-0.4.0/primer3/). As sequências

    foram validadas pela ferramenta PCR in silico do UCSC genome browser

    (https://genome.ucsc.edu/cgi-bin/hgPcr) e verificadas quanto a regiões semelhantes pelo

    Primer Blast do NCBI (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/tools/primer-blast/).

    http://www.ensembl.org/index.htmlhttp://bioinfo.ut.ee/primer3-0.4.0/primer3/http://www.ncbi.nlm.nih.gov/tools/primer-blast/

  • 48

    Tabela 3: Sequências dos primers das variantes encontradas no sequenciamento massivo

    e no painel de captura.

    PRIMERS 5’ 3’ TAMANHO

    (pb)

    To

    anelamento

    Gene

    Y1123 F -

    ACAGACCTGTTACCATATACCAAAT

    Y1123 R - GGGAATCTCAGCCTTGGA

    500 pb 57 oC USH2A

    E4034 F -

    GGCCATGAGGTTCAGAGAAT

    E4034 R -

    GGCATGTCAGGGCTCATCTA

    385 pb 56 oC USH2A

    F1732 F -

    CTCAGTGGCAGACTGTGTCC

    F1732 R -

    CAAAATGTTTCACAGGACTTCAA

    395 pb 59 oC USH2A

    N443 F –

    TTGCTTTTACCACAGGGCTA

    N443 R -

    TGCCAAACAATCTGAAAATCA

    596 pb 52 oC USH2A

    S2981 F-

    AACTATCACCACCAGCACCA

    S2981 R-

    TCTGTCTCAATGGGACTGCTT

    574 pb 67 oC USH2A

    C3267 F –

    AAGTTGCCATGTGTGTATCTGA

    C3267 R-

    TTGGGAGATTACATTGTTATGTGTT

    597 pb 51 oC USH2A

    C638 F –

    GCACAGTTTGTAACAGGTTCATT

    C638 R -

    CCATACTCAAAGTTGCACACG

    486 pb 51 oC USH2A

    N405 F –

    TTGCTTTTACCACAGGGCTA

    N405 R -

    TGCCAAACAATCTGAAAATCA

    596 pb 52 oC USH2A

    L4406 F –

    CTGGATCCCACCAGAACAGT

    L4406 R -

    TGGCTGTTGCTGGCAGTTA

    693 pb 57 oC USH2A

  • 49

    E2520 F -

    TGCCTGTCCTTCCTCTATCCA

    E2520 R -

    AGCCAAGTTTCCCCACCTTTA

    726 pb 63 oC CDH23

    A2637 F -

    GGGAGGAGAGAAGAGGGACA

    A2637 R - GGGATTGGCTTGGGGAC

    521 pb 64 oC CDH23

    S1369 F -

    GAACATGAGCAAATTCCTATGAGA

    S1369 R -

    GACATACAAAGAGGGAGGCTTG

    599 pb 57 oC USH2A

    M3271 F -

    AAGTTGCCATGTGTGTATCTGA

    M3271 R -

    TTGGGAGATTACATTGTTATGTGTT

    597 pb 59 oC USH2A

    Para um volume de 25 µL de reação foram utilizados: 200 a 500 ng de DNA

    genômico, 200 µM de cada desoxinucleotídeos trifosfato (dATP, dCTP, dGTP e dTTP),

    20 pmol de cada primer (direto e reverso), 2,5 U de Taq DNA polimerase em tampão de

    PCR 10X (Tris-HCl 10mM pH 8,8), 20 mM de MgCl2, completando com água até o

    volume final. As amplificações foram realizadas em aparelho termociclador Veriti® 96-

    Well Thermal Cycler (Applied Biosystems). As condições da PCR estão resumidas na

    tabela 4.

    Tabela 4: Programa para amplificação das variantes encontradas no sequenciamento de

    nova geração.

    Etapa Número de ciclos Temperatura Tempo

    1 1 95°C 5 minutos

    2 35

    95°C 30 segundos

    T° anelamento 30 segundos

    72°C 45 segundos

    3 1 72°C 5 minutos

    4 1 12°C ∞

  • 50

    3.3. Analise da frequência de novas alterações em um grupo de indivíduos controle.

    As variantes confirmadas pela técnica de Sanger e presentes nos indivíduos afetados

    (ausentes nos indivíduos não afetados em casos familiares) foram pesquisadas no banco

    de dados de exomas BIPMed (http://bipmed.iqm.unicamp.br/genes), atualmente

    conformada por 106 indivíduos de origem brasileira.

    http://bipmed.iqm.unicamp.br/genes

  • 51

    4. RESULTADOS

    Foram analisados 11 indivíduos afetados provenientes de 11 famílias (1 de cada

    família). Ao todo foram coletados DNA de 44 indivíduos incluindo probandos e

    familiares.

    Das 11 famílias estudadas, oito foram analisadas por meio do sequenciamento de

    exoma; em uma família o rastreamento foi realizado utilizando painel de sequenciamento

    em colaboração com o Hospital Ramón y Cajal (Madri – Espanha) e finalmente em 2

    famílias (5 e 10) o rastreamento de mutações ficou restrito aos exons 7, 11, 17, 19, 26,

    45, 50, 62 e 63 do gene USH2A utilizando sequenciamento de Sanger. Na família 5 o

    sequenciamento massivo não foi realizado pela impossibilidade de se obter amostras dos

    demais indivíduos da família, e a família 10 foi incluída na casuística na fase final do

    trabalho. Para a técnica de sequenciamento massivo, em termos de custo-benefício é

    adequado o sequenciamento de pelo menos 6 indivíduos em cada lane de amostras, dessa

    forma nos pacientes das famílias 5 e 10 não foi realizado o sequenciamento de exoma. Os

    dados clínicos dos 11 pacientes afetados provenientes das 11 famílias encontram-se na

    tabela 5. Somente o probando da família 11 apresenta função vestibular alterada.

  • 52

    Tabela 5: Dados clínicos dos indivíduos estudados.

    Família Paciente Sexo Idade Tipo e Grau de perda auditiva Início da Retinose

    pigmentar

    Tipo de Síndrome

    de Usher

    Recorrência

    familiar

    1 331OT Masculino 47 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A +1 indivíduo

    2 01 Feminino 35 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A Sem recorrência

    3 02 Masculino 45 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A +1 indivíduo

    4 03 Feminino 38 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A +1 indivíduo

    5 05 Feminino 58 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A Sem recorrência

    6 06 Masculino 53 Perda auditiva bilateral de grau severo Depois da puberdade USH2A +2 indivíduos

    7 07 Masculino 59 Perda auditiva bilateral de grau severo Depois da puberdade USH2A +1 indivíduo

    8 08 Feminino 59 Perda auditiva bilateral de grau severo Depois da puberdade USH2A +3 indivíduos

    9 09 Feminino 58 Perda auditiva bilateral de grau moderado Depois da puberdade USH2A