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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FÍSICA “GLEB WATAGHIN” MARIA APARECIDA DE CARVALHO CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE BENS CULTURAIS E PERSPECTIVAS DE CONTEXTUALIZAÇÃO PARA AULAS DE QUÍMICA CAMPINAS/ SP 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE FÍSICA “GLEB WATAGHIN”

MARIA APARECIDA DE CARVALHO

CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE BENS CULTURAIS E

PERSPECTIVAS DE CONTEXTUALIZAÇÃO PARA AULAS DE

QUÍMICA

CAMPINAS/ SP

2016

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MARIA APARECIDA DE CARVALHO

CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE BENS CULTURAIS E PERSPECTIVAS DE CONTEXTUALIZAÇÃO PARA AULAS DE

QUÍMICA

Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção de título de Doutora em Ensino de Ciências e Matemática, na área de Ensino de Ciências e Matemática.

Orientador: Pedro da Cunha Pinto Neto. ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA MARIA APARECIDA DE CARVALHO, E ORIENTADA PELO PROF. DR. PEDRO DA CUNHA PINTO NETO.

CAMPINAS/ SP

2016

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MEMBROS DA COMISSÃO JULGADORA DA TESE DE DOUTORADO DE MARIA

APARECIDA DE CARVALHO – RA: 144302, APRESENTADA E APROVADA AO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIUNIDADES EM ENSINO DE CIÊNCIAS

E MATEMÁTICA, DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, EM 07/12/2016.

COMISSÃO JULGADORA:

- Prof. Dr. Pedro da Cunha Pinto Neto – (Orientador) - Faculdade de

Educação/UNICAMP

- Prof. Dr. Marcelo Pimentel da Silveira – Departamento de Química/ UEM

- Prof. Dr. Valter César Montanher – Instituto Federal de São Paulo (IFSP)

- Profª. Dra. Adriana Vitorino Rossi – Instituto de Química/UNICAMP

- Prof. Dr. Maurício Compiani – Faculdade de Educação/UNICAMP

A Ata da Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida

acadêmica do aluno.

CAMPINAS/ SP

2016

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Dedico à minha mãe, Irani Peres Pais de Carvalho,

e aos meus irmãos, Leandro e Devanil, com carinho.

Dedico a vocês esse trabalho, pois nunca me deixaram desistir,

sempre me impulsionaram e

sempre contribuíram com o silêncio necessário

ao meu ambiente de estudo e trabalho.

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AGRADECIMENTOS

A uma força maior que rege esse mundo e que recebe diversos nomes nas

diferentes culturas.

À minha mãe que nunca mediu esforços para que eu trilhasse meu caminho, por

querer estar sempre presente, ainda que muitas vezes não pudesse.

Aos meus irmãos que sempre me deram o apoio necessário.

A Israel da Conceição Júnior por todo o apoio e incentivo dado desde o início desta

etapa da minha vida. Com certeza foi um dos grandes responsáveis por eu ter

chegado até aqui. A minha eterna gratidão!

Ao professor Pedro da Cunha Pinto Neto por ter me dado esta oportunidade de estar

nesta instituição e aprender tanto!

A todos os professores do Programa de Pós- graduação Multiunidades em Ensino

de Ciências e Matemática (PECIM) da Universidade Estadual de Campinas, pelos

quais tenho grande admiração. Em especial aos professores Maurício Compiani e

Adriana Vitorino Rossi pelas contribuições na minha qualificação.

A todos os professores membros da comissão examinadora de defesa do doutorado:

Luiz Henrique Ferreira, Marcelo Pimentel da Silveira, Adriana Vitorino Rossi,

Maurício Compiani, Cristhiane Cunha Flôr, Valter César Montanher e Maria Cristina

S. Zancul; pela prontidão em participar da banca, em ler criticamente o texto da tese.

A Fernanda Dalto, Rayelli Venturini e Silvana Goldner, minhas queridas amigas, pela

amizade, pelos ensinamentos, pelo carinho e por acreditarem em mim. Diante do

questionamento de Hemingway “Quem estará nas trincheiras ao teu lado?”, sei que

sempre poderei contar com vocês.

A Sanan e toda sua família.

A Tamara Bernardes, minha querida amiga de Campinas, pelo carinho e atenção

que sempre me dedicou.

Aos amigos professores Marcia, Cristiane, Luciano, Alexandre, Bruna e Pedro.

Aos amigos que fiz durante essa caminhada: Sandra Mara, Renata Matias, Valeska

Aguiar, José Hilton (Tim), em especial a Alessandra Rodrigues e Carla Félix.

Ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Ciência e Ensino (GEPCE) da Faculdade de

Educação - Universidade Estadual de Campinas.

A todos do Núcleo de Conservação e Restauração (NCR) da Universidade Federal

do Espírito Santo, em especial ao professor Attílio Colnago.

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Ao Professor João Cura D’Ars Figueiredo Júnior por me receber no Centro de

Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (CECOR), na Escola de

Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais.

Ao Instituto Goia por ter me recebido e permitido assistir uma aula do projeto da

Escola Multidisciplinar Profissionalizante de Artes e Ofícios (EMPAO).

Ao Centro de Memória da Unicamp que, por meio de Marli Marcondes, permitiu-me

conhecer um pouco do trabalho do Arquivo Fotográfico.

Ao Cassiano Rezende Pagliarini por ter realizado minha matrícula no curso e me

atendido quando eu estava chegando a Campinas, no PECIM.

A Bárbara Longo, secretária do PECIM, e à Secretaria de Pós-graduação da

Faculdade de Educação, principalmente às funcionárias Luciana e Nadir.

A todos os funcionários da UNICAMP que, das mais diversas maneiras, viabilizaram

e participaram das atividades estudantis.

Ao Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da UNICAMP que, por meio do Programa

de Moradia Estudantil (PME), garantiu minha permanência na universidade.

A Naiara Borges da Silva e Adriana Alves por toda disposição e disponibilidade em

colaborar com a pesquisa.

A Andréa B. Ramos, pelo incentivo no início desta caminhada.

A Graziely Ameixa Siqueira e a toda a equipe da escola, da qual é gestora.

A Secretaria de Estado de Educação do Espírito Santo, através da Superintendência

Regional de Educação de Carapina, pela autorização para realização da pesquisa.

A CAPES pelo apoio financeiro concedido à minha pesquisa.

Cada etapa superada foi considerada uma vitória. Muitas foram os desafios

enfrentados. Caso eu tenha me esquecido de mencionar alguém, por favor, receba

os meus mais sinceros agradecimentos!

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Aquele que ensina está sempre a aprender, é cotidianamente agraciado com o convívio

reabastecedor dos jovens, é obrigado por dever do ofício a se atualizar, é contaminado pela

esperança, é desafiado a ter fé e jamais pode esquecer, pela natural confiabilidade da juventude, que

a boa vontade é o estado de espírito mais essencial à transformação do mundo.

Letícia T. S. Parente

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RESUMO

CARVALHO, M. A. Conservação e Restauração de bens culturais e perspectivas de contextualização para aulas de Química. 182 f. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática) – Instituto de Física “Gleb Wataghin”, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016. Este estudo partiu da constatação de que a proposta curricular do estado do Espírito Santo para o ensino de Química enquadra-se na concepção de currículo tradicional, cuja organização dá ênfase a conteúdos e aspectos microscópicos. Todavia outros estados como Minas Gerais e São Paulo têm suas propostas curriculares organizadas a partir de temas. Desde a reforma do ensino médio com a publicação de documentos curriculares nacionais, como PCNEM, DCNEM e OCNEM, a abordagem temática tem sido apontada como alternativa metodológica para uma organização curricular a partir de contextos e não exclusivamente a partir de conceitos, possibilitando estabelecer relação com outros campos do saber e proporcionar situações em que o aluno pode reconhecer uma ligação entre a química e seu cotidiano. Sendo assim, o problema central desta pesquisa foi investigar as potencialidades da abordagem temática, baseada no estudo da constituição, conservação e restauração dos bens culturais materiais, para elaboração de atividades contextualizadas para aulas de Química, partindo de uma das propostas mais tradicionais para o ensino de Química. Os objetivos foram: analisar que atividades poderiam ser propostas e realizadas a partir do tema desta pesquisa e do contexto escolar; a partir da realização destas atividades, verificar o modo como os estudantes interagiram e suas apropriações científicas e culturais; analisar as atividades realizadas a partir de perspectivas de contextualização. Para tanto, esta pesquisa apoiou-se na abordagem qualitativa, amparada em revisão bibliográfica e observações no trabalho de campo. Como instrumentos para coleta de dados utilizou-se gravações em áudio, caderno de campo para registro de experiências e questionários. As atividades escolares realizadas pelos estudantes foram utilizadas como fonte de dados. O levantamento bibliográfico baseou-se na análise de documentos curriculares do ensino médio e de livros, artigos e teses sobre a área da Ciência da Conservação e Restauração de bens culturais com o objetivo de estabelecer relações entre os conhecimentos desta área e os conteúdos escolares. A partir deste levantamento, atividades foram propostas e aplicadas a estudantes de duas escolas de ensino médio da rede estadual do Espírito Santo, no município de Serra, com participação de professores de Química, Arte e História. As atividades realizadas se constituíram de oficinas temáticas, estudo dirigido, aula de campo, além de aula expositiva e dialogada. De acordo com a realidade das escolas e atividades realizadas, a abordagem do tema ocorreu a partir de diferentes perspectivas de contextualização, descrição científica de fatos e processos e compreensão da realidade social. As atividades proporcionaram o conhecimento e o fortalecimento dos sentimentos de identidade cultural e cidadania, integração entre diferentes áreas, além de discussão de conhecimentos químicos. Palavras-chave: Contextualização, abordagem temática, Conservação e Restauração.

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ABSTRACT

CARVALHO, M. A. Conservation and Restoration of cultural goods and contextualization perspectives for Chemistry classes. Thesis (Doctorate in Science and Mathematics Teaching) – “Gleb Wataghin” Institute of Physics, UNICAMP, Campinas, 2016. This study was based on the observation that the curricular proposal of the State of Espírito Santo for the teaching of Chemistry falls within the traditional curriculum conception, whose organization emphasizes contents and microscopic aspects. However other states like Minas Gerais and São Paulo have their curricular proposals organized from themes. Since the reform of high school with the publication of national curricular documents, such as PCNEM, DCNEM and OCNEM, the thematic approach has been pointed out as a methodological alternative for a curricular organization from contexts, and not exclusively from concepts, making possible to establish relation With other fields of knowledge and provide situations in which the student can recognize a connection between chemistry and his daily life. Thus, the central problem of this research was to investigate the potential of the thematic approach, based on the study of the constitution, conservation and restoration of cultural material assets, for the elaboration of contextualized activities for Chemistry classes, starting from one of the most traditional proposals for teaching Of Chemistry. The objectives were: to analyze what activities could be proposed and carried out from the theme of this research and the school context; from the accomplishment of these activities, to verify the way in which the students interacted and their scientific and cultural appropriations; to analyze the activities carried out from contextualization perspectives. Therefore, this research was based on the qualitative approach, supported by a bibliographical review and observations in the field work. As instruments for data collection, audio recordings, field records for recording experiences and questionnaires were used. The schools activities carried out by the students were used as data sources. The bibliographical survey was based on the analysis of curricular documents of high school and of books, articles and theses on the area of Science of Conservation and Restoration of cultural goods with the purpose of establishing relations between the knowledge of this area and the school contents. From this survey, activities were proposed and applied to students from two high schools of the state of Espírito Santo, in the city of Serra, with participation of Chemistry, Art and History professors. The activities carried out consisted of thematic workshops, directed study, field lessons, and an expository and dialogic class. According to the reality of the schools and activities carried out, the approach of the theme occurred from different perspectives of contextualization, scientific description of facts and processes and understanding of social reality. The activities provided the knowledge and the strengthening of the feelings of cultural identity and citizenship, integration between different areas, as well as discussion of chemical knowledge. Keywords: Contextualization, thematic approach, Conservation and restoration.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação do objeto de estudo da Química................................................... 23

Figura 2. Laboratório de Ciências da escola A. .................................................................... 60

Figura 3. Mapa da região do Centro Histórico de Vitória dos monumentos visitados na aula

de campo. ............................................................................................................................ 80

Figura 4. Parede do altar da Capela de Nossa Senhora das Neves. ................................... 81

Figura 5. Aula de campo no Centro Histórico de Vitória- Capela de Santa Luzia. ................ 82

Figura 6. Exemplo de janela de prospecção. ..................................................................... 82

Figura 7. Ambiente de realização da oficina de fotografia. ................................................... 87

Figura 8. Porta da biblioteca da escola B ilustrada com pintura grafite. ............................... 91

Figura 9. Etapas da oficina de fotografia- técnica Cianotipia. ............................................... 93

Figura 10. Oficina de tinta: obtenção de aglutinantes e preparo de têmperas. ................... 103

Figura 11. Exposição das pinturas realizadas pelos estudantes da Escola B. ................... 108

Figura 12. Aula de discussão de textos sobre metais tóxicos. ........................................... 136

Figura 13. Cartaz sobre metais tóxicos. a) Modelo antes de ser preenchido pelos

estudantes; b) Depois de preenchido. ................................................................................ 139

Figura 14. Resultados da cromatografia de papel apresentados por alguns estudantes. ... 142

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Organização curricular da disciplina Química para a primeira série do ensino

médio. .................................................................................................................................. 29

Quadro 2. Organização dos conteúdos de Química para a primeira série do ensino médio. 31

Quadro 3. Alguns métodos espectroscópicos utilizados em Conservação/Restauração e

principais informações que podem ser obtidas destes métodos........................................... 51

Quadro 4. Fragmentos de respostas de estudantes da Escola B sobre o conceito de

patrimônio cultural................................................................................................................ 71

Quadro 5. Principais disciplinas relacionadas à Química apontadas pelos estudantes da

Escola B. ............................................................................................................................. 73

Quadro 6. Rótulo do material pigmento líquido xadrez. ...................................................... 104

Quadro 7. Fragmentos de respostas de estudantes da escola B sobre o conceito de

Conservação e restauração de bens culturais no início da pesquisa (RI= resposta inicial) e

ao final das atividades (RF). .............................................................................................. 117

Quadro 8. Fragmentos de respostas de estudantes da Escola A sobre o conceito de

patrimônio cultural.............................................................................................................. 130

Quadro 9. Organização do estudo dirigido sobre metais tóxicos. ....................................... 136

Quadro 10. Atividades realizadas nas escolas A e B. ........................................................ 149

Quadro 11. Organização das atividades realizadas na escola B em duas turmas da primeira

série de ensino médio. (* Atividades realizadas em aulas sequenciais com as duas turmas

reunidas). ........................................................................................................................... 182

Quadro 12. Organização das atividades realizadas na escola A em uma turma da primeira

série do ensino médio. ....................................................................................................... 183

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15

CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 19

A QUÍMICA NAS PROPOSTAS CURRICULARES ................................................... 19

CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 36

O ESTUDO DOS BENS CULTURAIS E SUA RELAÇÃO COM A QUÍMICA ............ 36

2.1. Processos de conservação e restauração de pintura e papel utilizados como base

para atividades escolares ................................................................................................ 42

CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 53

PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO ............................................................................ 53

3.2. Realidade da escola B .............................................................................................. 56

3.2.1. Percurso de investigação na escola B ................................................................ 57

3.2. Realidade da escola A .............................................................................................. 59

3.2.1. Percurso de investigação na escola A ................................................................ 61

CAPÍTULO 4 ............................................................................................................. 64

AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E SUAS IMPLICAÇÕES ................................. 64

4.1. Atividades desenvolvidas na escola B e seus desdobramentos ............................... 64

4.1.1. Oficina sobre patrimônio cultural ......................................................................... 65

4.1.2. Aula expositiva e dialogada sobre o tema ........................................................... 75

4.1.3. Aula de campo no Centro Histórico de Vitória ..................................................... 79

4.1.4. Oficina de fotografia ............................................................................................ 85

4.1.5. Oficina de tintas .................................................................................................. 99

4.1.6. Oficina de conservação de papel ...................................................................... 109

4.1.7. Questionário final sobre as oficinas desenvolvidas na Escola B ....................... 116

4.2. Atividades desenvolvidas na escola A e seus desdobramentos ............................. 122

4.2.1. Trabalhando o texto: O papel do químico na restauração e conservação ......... 123

4.2.2. Oficina sobre patrimônio cultural ....................................................................... 127

4.2.3. Atividade com a professora de História ............................................................. 131

4.2.4. Oficina de fotografia .......................................................................................... 134

4.2.5. Estudo dirigido sobre metais tóxicos ................................................................. 135

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4.2.6. Estudo de propriedades de substâncias utilizando a Cromatografia de papel ... 140

4.2.7. Oficina de conservação de papel ...................................................................... 144

4.3. Atividades desenvolvidas x perspectivas de contextualização ......................... 147

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 154

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 158

ANEXO 1 ................................................................................................................. 169

ANEXO 2 ................................................................................................................. 171

ANEXO 3 ................................................................................................................. 173

ANEXO 4 ................................................................................................................. 176

ANEXO 5 ................................................................................................................. 178

ANEXO 6 ................................................................................................................. 181

ANEXO 7 ................................................................................................................. 182

ANEXO 8 ................................................................................................................. 183

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INTRODUÇÃO

A proposta de trabalhar o tema “O estudo dos bens culturais materiais:

Composição, Conservação e Restauração” partiu das minhas inquietações, pois na

minha constituição como professora de Química, que se deu em diferentes escolas

da rede de ensino do estado do Espírito Santo, busquei cada dia mais um ensino de

Química articulado com questões políticas, econômicas e culturais da sociedade, e

consequentemente mais integrado com disciplinas de diferentes áreas do

conhecimento, conforme a organização dos Parâmetros Curriculares Nacionais para

o Ensino Médio (PCNEM) (BRASIL, 2000), do que somente com as da área de

Ciências da Natureza da qual faz parte a disciplina de Química. Por isso passei a

propor parcerias em trabalhos e projetos com professores de filosofia, história,

geografia, arte, etc., muitas vezes não tendo sucesso, o que não era diferente em

relação aos professores das disciplinas da área de Ciências da Natureza.

Esta minha busca por um ensino de Química contextualizado e integrado a

diferentes áreas de conhecimento justifica-se pelo fato de que, apesar de diversas

pesquisas e discussões a respeito de metodologias e de abordagens de currículo, o

ensino de Química ainda tem se resumido à transmissão de informações, definições

e leis isoladas, sem qualquer relação com a vida do estudante, exigindo deste quase

sempre a pura memorização, conforme apontam os PCNEM e diversas pesquisas.

Por isso, inúmeras vezes eu fui questionada a respeito da utilidade de estudar

Química, conforme apontado também por Zanon e Maldaner (2010). Segundo

Chassot (2014, p. 97), o “clamor a respeito da inutilidade do que se ensina é algo

antigo, porém de vibrante atualidade”.

Somadas aos fatos mencionados têm-se que as propostas de ensino da

disciplina de Química para o ensino médio geralmente apresentam uma sequência

didática em que se dá ênfase logo no início aos aspectos microscópicos e

simbólicos em detrimento dos aspectos macroscópicos. Exemplo é a proposta

curricular do estado do Espírito Santo para o ensino de Química, apresentada no

documento Currículo Básico Comum (CBC) (ESPÍRITO SANTO, 2009), lançado em

2009.

Apesar das tentativas de superação deste currículo tradicional, a exemplo das

propostas dos estados de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 2008), São Paulo (SÃO

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PAULO, 2011) e Paraná (PARANÁ, 2008), a proposta curricular do Espírito Santo é

uma das mais tradicionais para o ensino de Química, organizada a partir de

conteúdos e na sequência comumente utilizada, partindo dos aspectos

microscópicos.

Avessa a esta proposta, a partir da reforma do ensino médio, com a

publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) em 1996 e

de documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino

Médio (PCNEM) (BRASIL, 2000), Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio

(DCNEM) (BRASIL, 1998) e Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino

Médio (OCNEM) (BRASIL, 2006), a contextualização foi apresentada como recurso

por meio do qual se busca dar um novo significado ao conhecimento escolar,

possibilitando ao estudante uma aprendizagem mais significativa. A reorganização

das disciplinas por áreas de conhecimento nos PCNEM teve o objetivo de facilitar o

desenvolvimento dos conteúdos, numa perspectiva de interdisciplinaridade e

contextualização (BRASIL, 2000).

Os PCN+ (BRASIL, 2002), uma espécie de desdobramento dos PCNEM, e as

OCNEM sugeriram a contextualização de temas socialmente relevantes, levando-se

em consideração que, conforme Santos e Schnetzler (2010, p. 102) “[...] o ensino de

Química para o cidadão precisa ser centrado na inter-relação de dois componentes

básicos: a informação química e o contexto social”.

A partir destas premissas, a proposta do tema “O estudo do dos bens

culturais materiais: composição, conservação e restauração” para o ensino de

Química parte do princípio de que dele podem derivar questões conceituais e

contextuais, visto contemplar os três focos de interesse da Química - propriedades,

transformações e constituição dos materiais e substâncias; e insere-se na

concepção de Educação Patrimonial, por estar relacionado a ações voltadas à

preservação e compreensão do Patrimônio Cultural, portanto, à compreensão do

contexto sócio-histórico das referências culturais em todas as suas manifestações,

proporcionando a crianças, jovens e adultos que (re) conheçam, (re) valorizem e se

(re) apropriem de toda uma herança cultural a eles pertencente, contribuindo na (re)

construção de sua identidade1 e cidadania.

1 Segundo Castells (1999, p. 22) “entende-se por identidade a fonte de significado e experiência de

um povo”.

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O tema conservação e restauração de bens culturais já foi abordado a partir

de outras perspectivas no ensino de Química. Trindade et al (2014), a partir da

abordagem CTS, desenvolveram uma sequência didática para a disciplina de

Química Analítica do segundo ano do ensino técnico em Química do Colégio

Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (COLTEC), através de leitura de

textos, pesquisa bibliográfica, execução de testes em laboratório, apresentação dos

resultados obtidos e elaboração de relatório final. Argolo et al (2012) buscaram

articular conteúdos de Química com a Arte e, através do mapeamento conceitual,

verificar a percepção dos estudantes desta relação, partindo da consideração de que

o tema da conservação e restauração de bens culturais é motivador e

transdisciplinar para o ensino de Química.

Contudo, a questão básica desta investigação diz respeito às possibilidades

do tema na articulação de atividades contextualizadas para o ensino de Química a

partir da proposta curricular do estado do Espírito Santo. Especificamente, quais as

potencialidades deste tema na contextualização do ensino de Química. Esse

trabalho assumiu como pressuposto que, mesmo a partir de uma das propostas

oficiais mais tradicionais, é possível articular ações inovadoras para o ensino de

Química.

Cabe ressaltar que há diferentes interpretações atribuídas à contextualização.

Silva e Marcondes (2010) apresentaram quatro categorias de contextualização com

relação ao entendimento sobre o ensino de Química contextualizado: Aplicação do

conhecimento químico (AC), Descrição científica de fatos e processos (DC),

Compreensão da realidade social (CRS) e Transformação da realidade social (TRS).

Quando “a contextualização tem um único propósito, que é ensinar conteúdos de

química” (SILVA e MARCONDES, 2010, p. 109), enquadra-se na categoria AC.

Acredito que o grande desafio tem sido propor atividades que resultem na

transformação da realidade social (TRS).

Desta forma, partindo da proposta do estado do Espírito Santo para o ensino

de Química (ESPÍRITO SANTO, 2009) e da perspectiva da contextualização a partir

da abordagem do tema “O estudo dos bens culturais materiais: Composição,

Conservação e Restauração”, esta pesquisa objetivou analisar que atividades

poderiam ser propostas e realizadas considerando a realidade de escola (s) da rede

estadual de ensino; a partir da realização destas atividades, verificar o modo como

os estudantes interagiram e suas apropriações científicas e culturais; e analisar as

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atividades realizadas a partir das categorias de contextualização apresentadas por

Silva e Marcondes (2010).

A pesquisa partiu do levantamento bibliográfico dos conhecimentos químicos

necessários à Conservação e Restauração de bens culturais, com os quais se

buscou encontrar os nexos com os conhecimentos escolares da disciplina de

Química, instituídos nos documentos curriculares do Estado do Espírito Santo. A

partir destes nexos, foram elaboradas atividades escolares e estas foram realizadas

com estudantes de duas escolas públicas do estado do Espírito Santo, no município

de Serra. O levantamento dos dados foi realizado por meio de questionários abertos,

gravações em áudio, caderno de campo, recursos da pesquisa qualitativa que

possibilitaram desvelar dados significativos. As atividades se constituíram de oficinas

temáticas, estudo dirigido, aula de campo, além de aula expositiva e dialogada. Os

norteadores das atividades propostas foram alguns dos processos relacionados à

Conservação e Restauração de pintura e papel, considerando a diversidade de

materiais que constituem os bens culturais e os processos específicos destes

materiais com os quais a Ciência da Conservação e Restauração precisa lidar.

O trabalho escrito foi organizado da seguinte forma: o primeiro capítulo

discute, de forma sucinta, algumas propostas curriculares para o ensino de Química.

O segundo capítulo discute a relação entre a Conservação e Restauração de bens

culturais e a Química, apresentando alguns dos processos de conservação e

restauração de papel e pintura. Tal discussão foi embasada em Figueiredo Junior

(2012), Rosado (2011), Serrate (2011), entre outros. No terceiro capítulo foi

apresentado o percurso de investigação. No quarto capítulo são apresentadas as

propostas elaboradas para o ensino de Química, mediadas pela temática da

Conservação e Restauração de bens culturais, e a intervenção em duas escolas,

denominadas A e B, bem como as análises dos registros das atividades dos

estudantes. São relatados o modo com que interagiram e suas consequentes

apropriações científicas, políticas e educacionais. Por fim, são apresentadas as

Considerações Finais.

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CAPÍTULO 1

A QUÍMICA NAS PROPOSTAS CURRICULARES

A contextualização no ensino de ciências vem sendo defendida por

orientações oficiais, educadores e pesquisadores como um princípio norteador de

uma educação voltada para a cidadania que possibilite a aprendizagem de

conhecimentos científicos.

A ênfase à importância da contextualização no ensino se deu a partir dos

anos de 1990, caracterizados pela reforma no Ensino Médio brasileiro, com a

aprovação da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN n. 9394/96),

publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) e

dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM).

Os PCNEM (BRASIL, 2000) trouxeram, em seu discurso, a busca pelo

significado do conhecimento escolar, pela contextualização dos conteúdos e pela

interdisciplinaridade, a fim de evitar a compartimentação do conhecimento, além da

noção de competências e habilidades como figura central do novo currículo para o

Ensino Médio. Com o objetivo de facilitar o desenvolvimento dos conteúdos, numa

perspectiva de interdisciplinaridade e contextualização, apresentaram a organização

curricular por áreas de conhecimento, a saber: Ciências da Natureza, Matemática e

suas tecnologias; Ciências Humanas e suas tecnologias; Linguagens, Códigos e

suas tecnologias. A disciplina escolar Química ficou alocada com a Física, a Biologia

e a Matemática na área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias.

Conforme o documento,

[...] a integração dos diferentes conhecimentos pode criar as condições necessárias para uma aprendizagem motivadora, na medida em que ofereça maior liberdade aos professores e aos alunos para a seleção de conteúdos mais diretamente relacionados aos assuntos ou problemas que dizem respeito a vida da comunidade (BRASIL, 2000a, p.22).

No que tange ao ensino da disciplina de Química, os PCNEM (BRASIL,

2000b) já apontavam que este abordava um número muito grande de conteúdos,

com detalhamento muitas vezes exagerado, “[...] desconsiderando-se a participação

efetiva do estudante no diálogo mediador da construção do conhecimento” (BRASIL,

2000b, p. 32). Assim,

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Além de promover esse diálogo, é preciso objetivar um ensino de Química que possa contribuir para uma visão mais ampla do conhecimento, que possibilite melhor compreensão do mundo físico e para a construção da cidadania, colocando em pauta, na sala de aula, conhecimentos socialmente relevantes, que façam sentido e possam se integrar à vida do aluno (BRASIL, 2000b, p. 32).

As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCNEM), na resolução

CEB 03/98, abordaram a contextualização ao apontar a relação entre sujeito e

objeto como fator importante na apresentação dos conhecimentos escolares,

devendo evocar áreas, âmbitos ou dimensões presentes na vida pessoal, social e

cultural do indivíduo.

Os PCN+ (BRASIL, 2002), uma espécie de desdobramento dos PCNEM, na

área de Química, enfatizaram que as escolhas do que deve ser ensinado aos

estudantes, obrigatoriamente, passam pela seleção de conteúdos e temas

relevantes que favoreçam a compreensão do mundo natural, social, político e

econômico (SILVA, 2007).

Em 2006 foi publicado um novo documento curricular para o Ensino Médio,

conhecido como Orientações Curriculares Nacionais (BRASIL, 2006), fruto de um

conjunto de discussões produzidas em seminários que ocorreram durante o ano de

2004, em diferentes cidades, com especialistas e professores. Segundo Rosa

(2010), este documento produzido, em grande parte, reiterava os principais

pressupostos teórico-metodológicos presentes nos PCNEM – Química, sugerindo a

contextualização de temas socialmente relevantes para o ensino de Química,

conforme o seguinte trecho:

Defende-se uma abordagem de temas sociais (do cotidiano) e uma experimentação que, não dissociados da teoria, não sejam pretensos ou meros elementos de motivação ou de ilustração, mas efetivas possibilidades de contextualização dos conhecimentos químicos, tornando-os socialmente mais relevantes [...] (BRASIL, 2006, p. 117).

Vinculadas a estes documentos nacionais, orientações gerais para a

organização do currículo do ensino médio, estão as propostas curriculares dos

estados, em geral elaboradas com participação de professores, mas nem sempre da

sua própria rede de ensino. Pertencentes ao arcabouço documental dos estados

para a educação, estas propostas chegam às escolas, aos professores com o

objetivo de nortear o ensino das diferentes disciplinas. No que tange aos

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21

professores, podemos encontrar discursos favoráveis às ideias apregoadas por

estes documentos oficiais sem que isto signifique a adoção de práticas de ensino

condizentes com tais discursos.

A partir da observação de que, apesar dos documentos curriculares nacionais

assinalarem a contextualização para o ensino de Química por meio da abordagem

de temas sociais (do cotidiano), este ainda é organizado segundo o currículo

tradicional, as propostas curriculares dos estados do Paraná, São Paulo, Rio de

Janeiro e Minas Gerais foram analisadas em comparação à proposta curricular do

nosso contexto de pesquisa, o estado do Espírito Santo. Partimos do princípio de

que as propostas curriculares de cada estado podem fornecer uma ideia do que

acontece nas escolas públicas no ensino de Química a partir da reforma do ensino

médio, que buscou romper com o tradicionalismo que fortemente ainda se impõe

(BRASIL, 2000).

Cabe frisar, bem como Mortimer, Machado e Romanelli (2000, p. 274), que

“[...] ao nos referirmos ao “currículo tradicional de química” estamos nos referindo a

uma aproximação idealizada do que acontece realmente nas salas de aula de

química”. Segundo estes autores, os currículos tradicionais enfatizam, na maioria

das vezes, apenas aspectos conceituais da química, em número excessivo, dando a

impressão de se tratar de uma ciência totalmente desvinculada da realidade, que

requer mais memória do que o estabelecimento de relações. Por isso, não é de se

estranhar que, de acordo com Zanon e Maldaner (2010), surjam questionamentos

por parte dos estudantes sobre os motivos pelos quais estudam química, sendo

possível verificar nos seus discursos e nas suas percepções, o entendimento de que

esta não é “útil” no seu dia-a-dia e não será necessária em suas futuras profissões,

apresentando-se, desta forma, desvinculada aos interesses destes.

Segundo Mortimer, Machado e Romanelli (2000, p.275),

Os currículos tradicionais, ao abordarem apenas aspectos conceituais da Química, têm como pressuposto que a aprendizagem de estruturas conceituais antecede qualquer possibilidade de aplicação dos conhecimentos químicos. Além disso, supõe-se que a abordagem desses conceitos deva ser exaustiva. Por exemplo, o conceito de molécula só poderia ser introduzido quando se esgotasse o ensino do conceito átomo, tendo-se abordado todos os modelos atômicos, inclusive o atual. Dessa forma, há uma cadeia linear de pré-requisitos que deve ser seguida.

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22

Esta cadeia linear resulta na sequência de estudo da Química, comumente

utilizada no Ensino Médio, que dá ênfase, logo na primeira série, a aspectos

microscópicos, apresentando os modelos atômicos de Dalton, Rutherford, Bohr e o

da teoria quântica, com a distribuição eletrônica em camadas ou níveis e subníveis

energéticos, seguidos da tabela periódica e do estudo das ligações iônicas,

covalentes e metálicas.

Essa sequência didática exige que o aluno mergulhe em explicações microscópicas antes mesmo de conhecer fatos químicos, o que pode tornar a aprendizagem mecânica e pouco significativa. É exigido do aluno um alto nível de abstração, cujo alcance seria mais fácil se estivesse alicerçado na necessidade de explicar fenômenos. As explicações microscópicas e quânticas são conteúdos importantes, mas, para que os estudantes construam uma visão da estrutura da matéria, é preciso abordá-los quando necessários e de forma compreensível (SÃO PAULO, 2011, p. 127).

Segundo Talanquer (2011), os estudantes apresentam dificuldades na

elaboração de um modelo submicroscópico daquilo que estão aprendendo e de

inter-relacionar as dimensões microscópicas e macroscópicas, uma vez que os

conceitos que trazem para a sala de aula advêm principalmente de sua leitura do

mundo macroscópico.

Posto isto, a primeira proposta curricular para o ensino de Química analisada

foi a do estado do Paraná, que se organiza em torno de conteúdos estruturantes2, e

não por temas. São eles: Matéria e sua natureza; Biogeoquímica e Química

sintética. Segundo o documento “Diretrizes Curriculares da Educação Básica

Química” (PARANÁ, 2008), a seleção destes conteúdos estruturantes foi

fundamentada no estudo da história da Química e da disciplina escolar, buscando

superar abordagens e metodologias do “ensino tradicional da Química”, e baseada

na proposta de Mortimer, Machado e Romanelli (2000), que leva em consideração

para seleção e organização de conteúdos os focos de interesse da Química: as

propriedades, constituição e transformações dos materiais e substâncias. Assim,

conforme figura 1, no centro está o objeto de estudo da Química (Substâncias e

2 Entende-se por conteúdos estruturantes os conhecimentos de grande amplitude que identificam e

organizam os campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para a compreensão de seu objeto de estudo e ensino. Como constructos atrelados a uma concepção crítica de educação, os conteúdos estruturantes da Química devem considerar, em sua abordagem teórico-metodológica, as relações que estabelecem entre si e entre os conteúdos básicos tratados no dia-a-dia da sala de aula nas diferentes realidades regionais onde se localizam as escolas da rede estadual de ensino (PARANÁ, 2008, p. 58).

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Materiais) sustentado pela tríade Composição, Propriedades e Transformações,

presente nos conteúdos estruturantes.

Figura 1. Representação do objeto de estudo da Química. Fonte: PARANÁ, 2008, p. 59.

No que diz respeito à sequência de conteúdos, a única semelhança desta

proposta com propostas tradicionais é que se inicia a partir do estudo dos modelos

atômicos, ademais a sequência não é a mesma e o estudo da tabela periódica

perpassa por todos os conteúdos básicos de Química, além de não estar organizado

por série. Sobre o estudo dos modelos atômicos, o documento assinala que é

necessário “[...] abordar os contextos históricos nos quais os modelos atômicos

foram elaborados e substituídos em função de importantes descobertas, tais como a

eletricidade e a radioatividade” (PARANÁ, 2008, p. 59), evitando-se assim a ênfase

apenas nos aspectos microscópicos.

A abordagem da história da Química é necessária para a compreensão de teorias e, em especial, dos modelos atômicos. A concepção de átomo é imprescindível para que se possam entender os aspectos macroscópicos dos materiais com que o ser humano está em contato diário e perceber o que ocorre no interior dessas substâncias, ou seja, o comportamento atômico-molecular (PARANÁ, 2008, p. 59).

De acordo com a proposta, o conteúdo estruturante Matéria e sua natureza

“[...] abre o caminho para um melhor entendimento dos demais conteúdos

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estruturantes” (PARANÁ, 2008, p.59). Já o estudo da Biogeoquímica3 permite

explorar as funções químicas e descaracterizar a dicotomia entre Química Orgânica

e Inorgânica, enquanto Química sintética permite estudar a origem de novos

produtos e materiais químicos, o avanço dos aparatos tecnológicos, mudanças na

produção e aumento das possibilidades de consumo. A partir destes apontamentos,

considero que esta proposta consegue romper com o currículo tradicional da

Química.

Já no estado de São Paulo, a atual proposta para o ensino de Química (SÃO

PAULO, 2011) foi organizada por temas. Na parte final do documento (p. 132 a 151),

há o arranjo em forma de quadros de estruturas programáticas para as três séries do

Ensino Médio e habilidades relacionadas. Com exceção do programa proposto para

a terceira série, o restante é fruto de uma reorganização da sequencia de conteúdos

tradicionalmente abordados na disciplina. O tema para a primeira série do ensino

médio é Transformação química na natureza e no sistema produtivo; da segunda

série é Materiais e suas propriedades; e da terceira série é Atmosfera, hidrosfera e

biosfera como fontes de materiais para uso humano. Tais temas foram sugeridos

pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. A proposta procura trazer o estudo

sistemático da Química a partir dos aspectos macroscópicos das transformações

químicas, caminhando para as possíveis explicações em termos da natureza da

matéria e dos fenômenos estudados. Desta forma, o estudo das transformações

químicas, por exemplo, proposto para a primeira série, envolve os seguintes

conteúdos: evidências macroscópicas das transformações químicas;

reconhecimento das substâncias (reagentes e produtos) por suas propriedades

características; relações quantitativas (leis de Lavoisier e Proust); modelo atômico

de Dalton como primeira explicação para os fatos (conceito de átomo, massa

atômica e símbolos químicos); equações químicas e seu balanceamento; e primeira

leitura da tabela periódica, como forma de organização dos elementos químicos, a

qual leva em conta suas massas atômicas. Portanto, como se pode perceber, a

proposta foi organizada buscando superar a sequência tradicional de conteúdos e

conforme a abordagem temática.

3 É a parte da Geoquímica que estuda a influência dos seres vivos sobre a composição química da

Terra, caracteriza-se pelas interações existentes entre hidrosfera, litosfera e atmosfera e pode ser bem explorada a partir dos ciclos biogeoquímicos (RUSSEL, 1986, p. 2 apud PARANÁ, 2008, p. 61).

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Por outro lado, no estado do Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de

Educação elaborou em 2012 o Currículo Mínimo das disciplinas Ciências/Biologia,

Física, Química, Língua Estrangeira, Educação Física e Arte. Segundo o documento

“Currículo Mínimo de Química” (RIO DE JANEIRO, 2012),

Entre as mudanças mais significativas desta versão está a busca por estabelecer, sempre que possível, habilidades relacionadas a temas focados em questões presentes em nossa mídia e frequentemente exploradas nos exames, como é o caso dos temas ambientais (RIO DE JANEIRO, 2012, p.3).

Conforme a proposta, o objetivo do ensino de Química é

[...] formar um aluno com uma visão que privilegie a compreensão dos fenômenos envolvidos e suas relações, atenuando a necessidade de execução de cálculos por vezes desnecessários e desconectados de sua realidade (RIO DE JANEIRO, 2012, p.3).

Para isso, segundo o documento, foram recomendadas

[...] algumas simplificações, como a remoção da nomenclatura de compostos orgânicos e inorgânicos. Em seu lugar, o aluno deve nomear apenas alguns dos principais compostos e que são facilmente reconhecíveis em nosso dia a dia. Para a Química Orgânica bastará, por exemplo, o aluno reconhecer o nome e as fórmulas estruturais de algumas das principais funções. Entretanto, por vezes caminhamos em uma direção oposta à simplificação. Ousamos expandir alguns conhecimentos ainda pouco usuais aos professores (RIO DE JANEIRO, 2012, p.3).

Na proposta foram adicionados alguns conhecimentos que não são ou são

pouco tratados em propostas de outros estados ou no modelo tradicional, como a

questão do modelo quântico moderno ou a existência de subpartículas, como

quarks, léptons e bósons, ou análises, ainda que apenas qualitativas, de conceitos

como energia livre de Gibbs e acidez de Brönsted. A justificativa para tal inovação

está no fato de que o currículo “[...] foi costurado de forma que as habilidades da

Física e da Biologia venham caminhar de forma complementar em algumas partes

de seus trajetos” (RIO DE JANEIRO, 2012, p.3), de modo que os estudantes já

trarão determinado conhecimento de uma disciplina para outra ou será

complementado por ela e de que “[...] a Química (e a ciência) não parou no século

XIX”; o professor e a escola precisam estar “antenados” com esse desenvolvimento.

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Na parte final do documento (p. 5 a 10), há o arranjo em forma de quadros

para as três séries do Ensino Médio, organizados por eixos temáticos e por

bimestres com as habilidades e competências relacionadas. Para a primeira série do

ensino médio são apresentados os seguintes eixos temáticos (dois eixos por

bimestre): Química, Tecnologia, Sociedade e Ambiente; Constituição da Matéria; A

linguagem da química – Construção do modelo atômico; Visão geral da tabela

periódica; Tabela e propriedades periódicas; Ligação química; Ligações

interatômicas; Interações intermoleculares. Assim, apesar de a proposta estar

organizada por eixos temáticos, a sequência de temas está de acordo a sequência

de conteúdos de um currículo tradicional. Entretanto, o documento enfatiza que seu

diferencial se dá na articulação dos conteúdos de Física, Química e Biologia de

modo a facilitar a aprendizagem, em algumas simplificações e no acréscimo de

conteúdos não comumente tratados no ensino de química.

No estado de Minas Gerais, a proposta curricular de Química foi dividida em

Conteúdos Básicos Comuns (CBC), que são os conteúdos mínimos que devem ser

abordados no 1º ano do ensino médio para todos os estudantes das escolas da

Rede Estadual e em Conteúdos Complementares (CC), que foram pensados para

serem abordados ao longo do 2º e do 3º anos do ensino médio, organizados de

acordo com as opções da Proposta Pedagógica das escolas. As ideias e sugestões,

apresentadas ao longo das versões dos documentos,

[...] estão de acordo com a filosofia dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, PCN+ e PCN 2006) (BRASIL, Ministério da Educação, 2002 e 2006) e com os pressupostos e princípios que orientaram a formulação do Projeto de Reformulação Curricular e de Capacitação de Professores do Ensino Médio da Rede Estadual de Minas Gerais- o PROMEDIO, realizado em 1997 (MINAS GERAIS, 2008, p. 12).

As ideias básicas da proposta foram apresentadas por Mortimer, Machado e

Romanelli (2000) no contexto do Programa Piloto de Inovação Curricular e de

Capacitação Docente para o Ensino Médio da Secretaria de Estado da Educação de

Minas Gerais, realizado nos anos de 1997 e 1998, e trouxeram a abordagem dos

conceitos químicos diretamente relacionados aos contextos de aplicação. De acordo

com o documento da proposta curricular,

Os estudantes, com frequência, apresentam dificuldades em estabelecer relações entre os conteúdos da ciência escolar e situações da vida

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cotidiana. Uma das formas de enfrentar tal situação é a organização dos conteúdos em torno de temas vinculados à vivência dos estudantes ou ao universo cultural da humanidade, o que estamos chamando de contextos de significado (APEC, 2003 apud MINAS GERAIS, 2008, p. 26).

Além disso,

Para que um currículo estabeleça um maior sentido social, ele precisa considerar os contextos de vivência dos estudantes, bem como os contextos mais distantes, que têm significação para a humanidade como um todo. Além disso, para promover o desenvolvimento dos conteúdos científicos, é necessário que o currículo seja bem dimensionado em relação ao que se ensina e à quantidade e à complexidade dos conceitos que são abordados (MINAS GERAIS, 2008, p. 28).

Segundo Mortimer, Machado e Romanelli (2000), para tornar possível tal

abordagem, há a necessidade de eleger alguns grandes temas para orientar a

seleção dos conceitos mais relevantes. Os temas propostos foram: as propriedades,

a constituição e as transformações dos materiais e substâncias - os três focos de

interesse da Química, em torno dos quais os professores poderiam construir sua

proposta de ensino sem necessariamente seguir uma cadeia linear de pré-requisitos

na abordagem de conceitos ligados aos contextos de aplicação, e os conteúdos

poderiam ser abordados em diferentes momentos e níveis de profundidade.

Estes autores exemplificaram possíveis desenhos curriculares a partir dos

temas propostos, relacionando duas configurações de currículo para as primeiras e

segundas séries do ensino médio: uma delas tendo por eixo os conceitos, com os

temas contextuais que poderiam ser trabalhados a partir dos conceitos

apresentados; e a outra tendo por eixo os contextos sociais, ambientais e

tecnológicos, listando as principais ideias e conceitos relacionados aos temas

escolhidos. Para a terceira série relacionaram temas que contemplavam as

principais atividades produtivas desenvolvidas no Estado de Minas Gerais,

possibilitando uma leitura química das atividades predominantes em sua região.

Destaco que a Conservação do patrimônio histórico e cultural foi sugerida como

subtema do tema Química e turismo, provavelmente devido o estado ser referência

quanto à Conservação e Restauração de bens culturais móveis, com diversas

pesquisas realizadas através do Centro de Conservação e Restauração de Bens

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Culturais Móveis (CECOR4) da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG).

De tal modo, os Conteúdos Básicos de Química e os Conteúdos

Complementares foram organizados em torno de três eixos: materiais, modelos e

energia. Estes eixos foram organizados por temas, desdobrados em

tópicos/habilidades e detalhamento de habilidades. Segundo o documento, a

[...] opção apresentada para o ensino é a de favorecer uma abordagem interdisciplinar e contextualizada, cuidando para que a Química não perca sua especificidade, esforço que se fez ao explicitar as habilidades a serem promovidas (MINAS GERAIS, 2008, p. 15).

Desta forma, conforme o próprio documento ressalta, a proposta está “de

acordo com a filosofia dos Parâmetros Curriculares Nacionais”, tendo por base a

organização a partir de contextos e por temas.

Voltando-nos para o nosso contexto de pesquisa, o estado do Espírito Santo,

foi lançado em 2009 o Currículo Básico Comum (CBC) das escolas estaduais

(ESPÍRITO SANTO, 2009), documento que estabelece as orientações para o ensino

e os conteúdos, organizado de acordo com as competências e habilidades a serem

trabalhadas com os estudantes. Este Currículo Básico Comum, bem como os

Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2000),

apresentaram uma organização por áreas de conhecimento.

No documento as disciplinas foram organizadas num quadro em que

aparecem as Competências, as Habilidades e Tópicos/ Conteúdos de cada série. O

quadro 1 apresenta a organização da disciplina Química para a primeira série do

ensino médio.

4 Órgão complementar da Escola de Belas Artes da UFMG constituído para apoiar e desenvolver

ensino, extensão e pesquisa na área de conservação e restauração de obras artísticas e culturais. A atuação do CECOR enfatiza a recuperação de documentos, esculturas, fotografias, livros, obras em papel e pinturas; bem como, a conservação preventiva, documentação e análise técnica de obras de arte e de objetos culturais.

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Tópicos/ Conteúdos

- Introdução ao estudo da Química: a Química na sociedade. - A evolução histórica da Ciência: da Alquimia à Química. - Tabela Periódica: construção e organização. - Propriedades periódicas: raio atômico, eletronegatividade, potencial de Ionização e afinidade eletrônica. - Modelo atômico de Rutherford- Bohr. - Diagrama de Linus Pauling e configuração eletrônica. - Ligações químicas: iônica, covalente e metálica. - Propriedades das substâncias iônicas, moleculares e metálicas. - Reações químicas e suas equações. - Reações de combustão: o efeito estufa. - Fatores que afetam a velocidade de uma reação química. - Leis Ponderais: Proust e Lavoisier. - Balanceamento de equações: o método das tentativas. - Estudo teórico do rendimento de uma reação. - Óxidos: pigmentos e etnias. - Caráter ácido e básico das substâncias. - Reações de neutralização. - Agricultura e pH: calagem do solo. - Poluição atmosférica: chuva ácida. - Grandezas físicas. Habilidades - Recordar conteúdos introdutórios de Química, vistos no Ensino Fundamental: surgimento da ciência Química, modelo atômico de Dalton, substâncias e materiais (identificação e separação), propriedades específicas – químicas e físicas –, mudanças de estados. - Reconhecer e compreender transformações químicas como efervescência, fermentação, combustão, oxidação, corrosão, degradação, polimerização, acidificação, neutralização e alcalinização. - Compreender as transformações químicas como resultantes de “quebra” e formação de ligações químicas. - Compreender e representar códigos, símbolos e expressões próprios das transformações químicas. - Reconhecer as unidades de medidas utilizadas para diferentes grandezas, como massa, energia, tempo, volume, densidade, concentração de soluções. - Compreender o significado das leis ponderais e dos coeficientes estequiométricos nas equações químicas. - Compreender o significado da composição de materiais e sua representação em fórmulas. - Compreender como os químicos preveem o rendimento de uma reação. - Identificar, qualitativamente, variáveis que podem modificar a rapidez de transformações químicas (concentração, temperatura, pressão, estado de agregação, catalisador). - Compreender o processo de construção histórica e a estrutura da tabela periódica, identificando grupos, famílias, metais, não metais, gases nobres, número atômico, massa atômica. - Reconhecer a lei periódica para algumas propriedades como raio atômico e eletronegatividade, relacionando-as com as propriedades das substâncias simples e compostas. - Compreender a linguagem simbólica da Química e seu significado em termos microscópicos. - Reconhecer a natureza elétrica da matéria e compreender os modelos atômicos de Thomson e Rutherford. - Compreender a estrutura do átomo como formado por núcleo e camadas (níveis eletrônicos). - Compreender que as diferenças de estabilidade de átomos dos elementos químicos é função de sua configuração eletrônica (regra do octeto). - Compreender que as propriedades de substâncias e materiais é função das interações entre átomos, moléculas ou íons. - Compreender as ligações químicas como resultantes das interações eletrostáticas que associam átomos e moléculas para dar às moléculas resultantes maior estabilidade. - Diferenciar o caráter ácido e básico de materiais encontrados no dia a dia, utilizando indicadores químicos naturais, e o processo de chuva ácida.

Quadro 1. Organização curricular da disciplina Química para a primeira série do ensino médio.

(continua)

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Competências

- Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica. - Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, processos histórico-geográficos, produção tecnológica e manifestações artísticas. - Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema. - Relacionar informações representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente. - Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.

Quadro 1. Organização curricular da disciplina Química para a primeira série do ensino médio. (conclusão)

Fonte: Adaptado de ESPÍRITO SANTO (2009, p.69-70).

No documento não há a afirmação de que os conteúdos básicos

apresentados estão organizados na sequência em que devem ser trabalhados.

Porém, outro documento apresentado às escolas em 2014, o “Documento referência

para elaboração dos planos de ensino”, estabeleceu uma sequência dos conteúdos,

de acordo com a organização do ano letivo em três trimestres. Em sua

apresentação, o documento destacou as seguintes motivações para sua elaboração:

Considerando, em primeiro lugar, o Currículo Básico Escola Estadual (CBEE); Considerando as matrizes do PAEBES, do ENEM e da PROVA BRASIL; Considerando a reivindicação do corpo docente, pedagogos e técnicos das regionais da rede estadual, no sentido de se ter uma padronização mínima dos conteúdos a ser trabalhados em cada nível de ensino, etapas e modalidades, de forma a se ter uma referência para o trabalho pedagógico cotidiano nas unidades escolares da rede estadual; Considerando a oportunidade de alcançar uma aprendizagem significativa e de qualidade (ESPIRITO SANTO, 2014, p.3).

Neste novo documento, os conteúdos para a primeira série do ensino médio

foram apresentados conforme o quadro 2.

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1ª SÉRIE 1º TRIMESTE 1. Conhecimentos básicos e fundamentais - Introdução ao estudo da Química: a Química na sociedade. - A evolução histórica da Ciência: da Alquimia a Química. 2. A percepção da matéria: o átomo, os elementos químicos e a organização - Modelo atômico de Rutherford-Bohr. - Diagrama de Linus Pauling e configuração eletrônica. - Tabela Periódica: construção e organização. - Propriedades periódicas: raio atômico, eletronegatividade, potencial de ionização e afinidade eletrônica. 2º TRIMESTE 3. As transformações da matéria x A química no cotidiano - Ligações químicas: iônica, covalente e metálica. - Propriedades das substâncias iônicas, moleculares e metálicas. - Número de oxidação. - Reconhecimento das funções inorgânicas. - Óxidos: poluição, pigmentos, etnias. - Agricultura: calagem do solo. 3º TRIMESTE 3. (continuação) As transformações da matéria x A química no cotidiano - Caráter ácido e básico das substâncias: escala de pH. - Poluição atmosférica: chuva ácida. - Reações de neutralização e formação dos sais. - Leis Ponderais: Proust e Lavoisier. - Balanceamento de equações: o método das tentativas. - Reações químicas e suas equações e classificação. - Reações de combustão: o efeito estufa.

Quadro 2. Organização dos conteúdos de Química para a primeira série do ensino médio. Fonte: ESPIRITO SANTO, 2014, p. 25-27.

Ao compararmos os quadros 1 e 2 é possível perceber que a proposta do

estado para o ensino de Química encontra-se dentro do que chamamos de currículo

tradicional, apenas propondo uma discussão inicial sobre a evolução da Ciência e da

Química na sociedade. Entretanto, ressalto que as habilidades elencadas no

documento do quadro 1 não estão organizadas e apresentadas conforme a

sequência dos conteúdos, mas a partir dos aspectos macroscópicos, das

transformações químicas.

Dentre as propostas curriculares anteriormente discutidas esta é uma das

mais tradicionais e aproxima-se da proposta do estado do Rio de Janeiro. Contudo,

diferente desta, na proposta do estado do Espírito Santo não há acréscimo de

conteúdos incomuns no ensino de Química e não há garantia no documento de

articulação das disciplinas da mesma área de conhecimento- Biologia, Física e

Matemática, de forma que os conhecimentos de uma complementem os de outra e o

trabalho interdisciplinar seja facilitado. O documento apenas cita que

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A Biologia, a Física, a Química ou a Ciências e a Matemática integram uma mesma área do conhecimento. Tais disciplinas compõem a cultura científica humana que é resultado e instrumento da evolução social e econômica, no momento atual e ao longo da história. Possuem em comum como objeto de estudo, a investigação da natureza e dos desenvolvimentos tecnológicos e compartilham linguagens para a representação e sistematização do conhecimento de fenômenos ou processos naturais (ESPÍRITO SANTO, 2009, p.58).

Mesmo tratando-se de uma proposta, ou seja, pode ser adaptada

(reconfigurada) pelos professores, a organização dos conteúdos de Química e de

sua área de conhecimento está em desacordo com o que o próprio documento

estabelece como objetivos do atual ensino de Química:

[...] deve favorecer a “construção de uma visão de mundo mais articulada

e menos fragmentada, contribuindo para que o indivíduo se veja como

participante de um mundo em constante transformação” (BRASIL, 1999, p.

241), em contraposição à ideia de que o importante é uma grande quantidade de conteúdos, recheados de detalhes desnecessários e antiquados. Esse excesso de conteúdo induz o professor, mesmo a contragosto, a acelerar o ritmo de suas aulas sem possibilidade de cuidar para que seus estudantes realmente apreendam o que está sendo abordado (ESPÍRITO SANTO, 2009, p.64).

Na prática os conteúdos das disciplinas da área de Ciências da Natureza, da

forma como estão organizados, conversam pouco uns com os outros, dificultando

um trabalho integrado. E isto acontece não somente em relação à sequência, mas

em relação às séries em que são abordados os conteúdos numa disciplina e noutra.

Apesar disso, como já ressaltado por Mortimer, Romanelli e Machado (2000),

são numerosas as iniciativas de modo a superar este currículo tradicional, a exemplo

dos estados de Minas Gerais e São Paulo, cujas propostas curriculares para o

ensino de Química estão organizadas a partir da abordagem temática do

conhecimento que, de acordo com São Paulo (2007) e com os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN+ e PCNEM), se contrapõe à organização por tópicos

de Química, pelo fato de estabelecer uma organização curricular a partir de

contextos, e não exclusivamente a partir de conceitos.

Neste sentido,

[...] Os temas escolhidos devem permitir, assim, o estudo da realidade. É importante que o aluno reconheça a importância da temática para si próprio e para o grupo social ao que pertence. Dessa forma, irá dar uma significação ao seu aprendizado, já possuindo, certamente, conhecimentos com os quais vai analisar as situações que a temática apresenta (MARCONDES, 2008, p. 69).

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Em outras palavras, os temas devem permitir contextualização do

conhecimento científico pelo estabelecimento de relações entre a realidade do

estudante (cotidiano imediato), problemas ambientais, sociais, políticos, econômicos,

industriais (cotidiano social) e os conteúdos da Química; condizentes com a

proposta de formação de um cidadão crítico e participativo na sociedade.

A partir destas perspectivas acredito que o tema “O estudo dos bens culturais

materiais: composição, conservação e restauração” apresenta potencialidades para

a contextualização do ensino de Química, além de possibilitar o estudo do

conhecimento químico associando linguagens diferentes (arte e química), poder

contribuir para a construção de uma visão menos fragmentada do conhecimento, por

ser uma campo que se relaciona com várias áreas, como História, Geografia, Arte,

Biologia etc.; bem como possibilitar desconstruir algumas visões, construir novos

olhares, sobretudo da associação entre química e arte, que ainda “pode parecer um

pouco inusitada se considerada sob o olhar do homem contemporâneo”

(CAVICHIOLI, 2011).

É preciso ressaltar ainda que uma temática que se relaciona diretamente aos

bens culturais está inserida na concepção de Educação Patrimonial, que segundo a

Coordenação de Educação Patrimonial do IPHAN (CEDUC) consiste em:

Todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o Patrimônio Cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação (IPHAN, 2014, p. 19).

Sobre este aspecto, as iniciativas educativas são fundamentais para a

valorização da diversidade cultural e para o fortalecimento da identidade local. O

“entendimento da cultura como elo de identidade é fundamental para o

desenvolvimento da visão de sociedade pelos estudantes” (TRINDADE et al, 2014).

Além disso, segundo Londres (2012), o progresso científico e tecnológico tem

trazido grandes consequências ao ambiente e o grande poder de destruição do ser

humano tem levado a um desequilíbrio dos recursos naturais, o que provoca a

difusão de uma consciência de preservação na sociedade, a formação de uma

consciência de valorização, junto às novas gerações como fundamental para a

continuidade da preservação dos bens culturais.

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Considerando a finalidade da educação básica de assegurar ao educando a

formação indispensável ao exercício da cidadania,

[...] o ensino de Química para o cidadão precisa ser centrado na inter-relação de dois componentes básicos: a informação química e o contexto social, pois, para o cidadão participar da sociedade, ele precisa não só compreender a Química, mas a sociedade em que está inserido. É da inter-relação entre esses dois aspectos que se vai propiciar ao indivíduo condições para o desenvolvimento da capacidade de participação, que lhe confere o caráter de cidadão (SANTOS e SCHNETZLER, 2010, p. 102).

De tal modo,

Se entendermos cidadania como um direito de todos poderem participar da construção da cultura, da política, nas manifestações religiosas, entre outras, a Educação Patrimonial garante aos indivíduos o direito à memória e o legítimo exercício da cidadania (MARTINS, 2007, p. 46).

Dentro da perspectiva de ensino contextualizado e integrado com diferentes

áreas de conhecimento, na Educação Patrimonial

Os elementos e as expressões do patrimônio cultural são pontos de partida para a realização de atividades pedagógicas que visem a explorar todas as dimensões desse patrimônio, construindo conceitos e conhecimentos (SANTOS e SOUZA, 2011, p. 86).

Por fim, é preciso ressaltar que há diferentes interpretações atribuídas à

contextualização, que vão desde a simples resposta a uma curiosidade do aluno e a

exemplificação, à elaboração de projetos de ensino que informam sobre a ciência, a

tecnologia e suas aplicações (sociedade), até a perspectiva de conhecer para poder

transformar a realidade.

Silva e Marcondes (2010) investigaram, numa ação de formação continuada,

os entendimentos de um grupo de professores de Química a respeito da

contextualização antes, durante e após discussões e reflexões de outros enfoques, e

como estas se refletiriam no planejamento de seus materiais instrucionais. A partir

de referenciais teóricos e das concepções dos professores construíram quatro

categorias com relação ao entendimento sobre o ensino de Química

contextualizado, a saber:

Aplicação do conhecimento químico (AC) – contextualização como apresentação de ilustrações e exemplos de fatos do cotidiano ou aspectos tecnológicos relacionados ao conteúdo químico que está sendo tratado.

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Descrição científica de fatos e processos (DC) – os conhecimentos químicos estão postos de modo a fornecer explicações para fatos do cotidiano e de tecnologias, estabelecendo ou não relação com questões sociais. A Temática está em função dos conteúdos (SANTOS; MORTIMER, 1999).

Compreensão da realidade social (CRS) – O conhecimento químico é utilizado como ferramenta para o enfrentamento de situações problemáticas, o conhecimento científico está em função do contexto sócio-técnico (ACEVEDO DIAZ, 1996, 2003; AIKENHEAD, 1994).

Transformação da realidade social (TRS) – discussão de situações problemas de forte teor social, buscando sempre, o posicionamento e intervenção social por parte do aluno na realidade social problematizada. Os conteúdos estão em função da problemática em estudo (AULER, 2001, 2003; FREIRE, 2002; LUTFI, 1992; TEIXEIRA, 2003) (SILVA e MARCONDES, 2010, p. 107-108).

No que concerne a estas categorias, acredito que, em geral, ainda encontra-

se nas escolas o entendimento de contextualização a partir da categoria AC, em que

os professores apresentam a sequência tradicional de conteúdos químicos em

detrimento de temáticas tecnológicas e sociais, ou seja, “a contextualização tem um

único propósito, que é ensinar conteúdos de química” (SILVA e MARCONDES,

2010, p. 109). Todavia, partimos do princípio de que

Contextualizar a química não é promover uma ligação artificial entre o conhecimento e o cotidiano do aluno. Não é citar exemplos como ilustração ao final de algum conteúdo, mas que contextualizar é propor “situações problemáticas reais e buscar o conhecimento necessário para entendê-las e procurar solucioná-las.” (BRASIL, 2002, p.93).

Nesta pesquisa a abordagem temática buscou contribuir para a transformação

da realidade social através do estudo e reflexão sobre o contexto a partir dos bens

culturais.

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CAPÍTULO 2

O ESTUDO DOS BENS CULTURAIS E SUA RELAÇÃO COM A QUÍMICA

O Artigo 216 da Constituição Federal de 1988 conceitua patrimônio cultural

como sendo os bens “de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou

em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos

diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. De acordo com esta

definição, fazem parte:

I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988).

Desta definição, temos que:

- Os bens materiais dividem-se em dois grupos básicos: bens móveis – grupo que compreende a produção de obras de arte ou objetos utilitários, mobiliários de uso diário de determinada época; e bens imóveis – que não se restringem a edifícios isolados, mas compreendem, também, seus entornos, garantindo sua visibilidade e fruição. - Os bens imateriais compreendem toda a produção cultural de um povo, desde sua expressão musical, saberes, as expressões literárias, danças, as festas e celebrações, até sua memória oral, passando por elementos caracterizados pela sua civilização. - O patrimônio natural compreende áreas de importância preservacionista e histórica, beleza cênica, enfim, áreas que transmitem à população a importância do ambiente natural para que nos lembremos de quem somos,

o que fazemos, de onde viemos e, por consequência, como seremos5.

Segundo Rizzo (2008, p.4),

[...] podemos chamar de “patrimônio cultural” o conjunto de todas as manifestações de expressões tangíveis e intangíveis do ser humano. No âmbito das manifestações tangíveis temos o subconjunto representado pelo “patrimônio cultural material”. Este nada mais é do que “matéria intencionalmente trabalhada” pelo homem.

5 PATRIMÔNIO cultural. Governo ES. [s. d.]. Disponível em:

<http://www.es.gov.br/EspiritoSanto/paginas/patrimonio_cultural.aspx> Acesso em 21/06/2016.

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Sobre o patrimônio cultural material móvel, de acordo com Serrate (2011),

Os materiais que constituem os bens culturais são diversos. A escolha desses materiais irá depender do tipo de obra a ser realizada (gravura, pintura, escultura, etc.) e da técnica escolhida pelo artista. Uma escultura, por exemplo, pode ter a sua forma tridimensional confeccionada em madeira, pedra, gesso, papel machê, entre outros suportes; no caso de uma escultura policromada, o aglutinante que constitui a tinta pode ser à base de óleo, cera, ovo, cola de cartilagem, etc.; a coloração da tinta é fornecida por uma ampla variedade de pigmentos e corantes; escolhem-se diferentes vernizes para diferentes efeitos de brilho e saturação de cores; ainda podem ser utilizados na confecção de uma escultura tecidos, folhas metálicas, pedras e mais uma lista ilimitada de materiais que são escolhidos de acordo com a preferência, disponibilidade e criatividade do artista, para conferir à sua obra o aspecto final desejado (SERRATE, 2011, p.6).

O patrimônio cultural material está sujeito às degradações físicas, químicas e

biológicas, sensíveis às alterações do meio ambiente e à ação humana. Os distintos

fenômenos químicos determinam o ritmo de sua transformação, ou seja, seu

envelhecimento, suas “enfermidades” e, em muitos casos, seu desaparecimento, o

que faz com que a sua permanência no tempo dependa inevitavelmente dos

materiais que a compõem (MATTEINI e MOLES, 2008).

E como apontado por Rizzo (2008), a importância de preservar o patrimônio

cultural é evidente, pelo fato de ser, no mínimo, um documento histórico de uma

época, podendo ser, no caso de obras de arte, o representante único de uma

expressão artística.

Neste contexto de preservação do patrimônio histórico e cultural está inserida

a Ciência da Conservação e Restauração, que visa salvaguardar os bens culturais.

O status de Ciência se deve ao fato de esta se constituir num importantíssimo e

indispensável apoio para a Conservação e Restauração, seja na compreensão da

materialidade das obras, seja nos métodos de exame e análise, que são

fundamentais para a identificação e caracterização dos materiais constituintes de

cada obra. Conforme Medeiros6 (2012),

A Conservação visa interromper os processos de deterioração, conferindo estabilidade à obra. Para esse fim, atua sobre os aspectos que cercam e influenciam a conservação do objeto, controlando os agentes que podem provocar a deterioração do bem cultural, como os biológicos (cupins,

6 MEDEIROS, G. F. Por que preservar, conservar e restaurar. Ver História. [s. d].

Disponível em: <http://verhistoria.esy.es/textos34.htm> Acesso em 02/03/2012.

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fungos, etc.), atmosféricos (temperatura e umidade), luz (natural, artificial), poluentes e o ser humano (manuseio, acondicionamento e transporte inadequados, vandalismos e roubo). Ao atuar diretamente na obra, enfocará a estabilidade da peça a ser conservada, buscando resolver seus problemas estruturais e recuperando sua integridade. A Restauração atua sobre um objeto buscando não apenas conferir-lhe estabilidade, mas recuperar, o mais possível, as informações nele contidas. A ação de conservação buscará cessar as causas de deterioração e procurará dar estabilidade à obra, enquanto que a restauração irá mais além, buscando aproximar, o mais possível, a obra, estrutural e esteticamente, da “quantidade inicial de informações”.

A Química, como ferramenta de análise, torna possível investigar a fundo a

natureza dos materiais que constituem o bem cultural e seus inevitáveis processos

de alteração. Este conhecimento tem permitido deter ou, pelo menos, retardar a

deterioração dos bens culturais para prolongar a existência das obras como legado

para as gerações futuras.

O patrimônio cultural material é constituído por matéria, portanto, para preservá-lo é preciso conhecê-lo a nível atômico e molecular. É preciso conhecer a fundo as espécies com que ele foi feito e como elas se comportam – isto é: como reagem umas em relação às outras, através do tempo, com o meio ambiente, etc., em outras palavras, seus mecanismos de reação. É preciso conhecer ainda os produtos e os meios de que se dispõe para atuar interferindo nestes processos, seja prevenindo, retardando ou restaurando os processos de deterioração (RIZZO, 2008, p.8).

O estudo da degradação de materiais constitutivos de obras de arte tem

recebido muita atenção do ponto de vista científico no último século. No entanto,

nem sempre foi assim.

Segundo Maia (2014), originalmente o ofício de restaurador sempre esteve

associado ao fazer artístico. A restauração era uma atividade técnica, de caráter

artesanal. Uma aproximação progressiva da restauração e do conhecimento

científico se iniciou no transcorrer do século XIX. Esta aproximação, a apropriação

de princípios científicos contribuiu para a organização metodológica de intervenções

do conservador- restaurador.

Sobre a apropriação do conhecimento científico pelo campo da conservação e

restauração de bens culturais, Rosado (2011), em sua tese de doutorado, apresenta

uma perspectiva de como se deu a introdução da Ciência neste campo, ao realizar

uma análise das teorias clássicas das Ciências Humanas (principalmente História da

Arte) e Ciências Naturais (Física, Química e Biologia) com o propósito de investigar

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– através das contribuições dessas áreas nos processos de restauração,

autenticação e estudo das técnicas e materiais de pinturas sobre tela e madeira – os

pontos de contato na conformação da prática interdisciplinar proposta pela História

da Arte Técnica7. Segundo a autora (2011, p. 40),

[...] o emprego de critérios da ciência da conservação preventiva e das ciências naturais no estudo de obras de arte ocorreu lentamente, intensificando-se apenas a partir da segunda metade do século XX, com a expansão dos métodos de exame e análise (ROSADO, 2011, p.40).

Maia (2014) aponta que, ao longo do século XX, o ofício de restaurar adquiriu

expressiva complexidade, pois

Para além das reflexões teórico-conceituais acerca dos processos de intervenção e da definição de princípios éticos, o conhecimento científico transformou-se em base fundamental e estruturante das ações de conservadores-restauradores (MAIA, 2014, p. 38).

Neste processo de apropriação do conhecimento científico pela restauração

de bens culturais, Rosado (2011) assinala que deve ser destacado o fato de grandes

museus decidirem criar seus próprios laboratórios de pesquisa e vários laboratórios

de universidades passarem também a direcionar pesquisas sobre objetos artísticos.

Entre as últimas décadas do século XIX e inícios do século XX, são criados ateliês em museus europeus, como Staatliche Museen em Berlim, em 1888, e o Museu Britânico, em 1919. No interior da estrutura dos museus, esses laboratórios passam a ser locais privilegiados para o estudo dos objetos constituintes das coleções. Alguns deles transformaram-se em referências, no âmbito da pesquisa sobre procedimentos técnicos e materiais aplicáveis a processos de restauração. É o caso dos laboratórios de museus como os da National Gallery de Londres ou de Nova York, do Smithsonian’s Museum Conservation Institute nos Estado Unidos, para citar apenas alguns exemplos. Participam desse processo, em igual medida, as instituições de caráter internacional ligadas à preservação do patrimônio (MAIA, 2014, p. 40).

No caso do Brasil, de acordo com Rosado (2011) a abordagem sistemática

entre as ciências humanas e naturais para a análise dos bens culturais e artísticos

7 “Campo de estudo voltado para a análise do material físico das obras de arte, no entendimento de

como eles são preparados, usados e manipulados e na percepção de como os métodos e materiais empregados pelos artistas refletem nas suas intenções e estilos” (ROSADO, 2011, p.91). Reúne métodos de investigação da História da Arte, das análises físico-químicas e da Ciência da Conservação aplicados aos objetos artísticos culturais.

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começou a ser desenhada a partir da criação, em 1933, da Inspetoria de

Monumentos Nacionais (IPM), primeiro órgão voltado para a preservação do

patrimônio no Brasil com o objetivo de proteger o patrimônio edificado histórico (em

concordância com a Carta de Atenas de 1931) e combater o comércio ilícito da arte

colonial. A partir disso, o fator embrionário para o despertar do interesse das

Ciências Naturais por essa linha de conhecimento deu-se através da introdução de

disciplinas de restauração de obras de arte em instituições universitárias.

Enquanto na Europa e na América do Norte os grandes laboratórios de pesquisa em ciência e tecnologia para a conservação de bens culturais associaram-se, em sua gênese, a grandes museus, como o Museu do Louvre, na França, e a National Gallery of Art, na Inglaterra, as atividades de ciência e tecnologia para a conservação e restauração de bens culturais, no Brasil, encontram-se intimamente vinculadas à formação de pessoal no nível universitário (SOUZA, 2008, p.44).

Neste sentido, é importante ressaltar a criação, na década de 1980, do Curso

de Especialização de Bens Culturais Móveis do Centro de Conservação e

Restauração de Bens Culturais Móveis - CECOR8, da Escola de Belas Artes da

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, e do Curso de Especialização em

Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos – CECRE, da

Universidade Federal da Bahia – UFBA, com a formação de laboratórios de

pesquisa em Ciência e Tecnologia para conservação de bens artístico-culturais.

Em relação aos métodos de análise de obras de arte, de acordo com Cruz

(2015), até finais do século XIX os métodos usados foram os testes baseados em

reações químicas que se mantiveram em uso até à segunda metade do século XX.

E as investigações orientaram-se, de forma geral, para a identificação dos materiais

utilizados nas obras e não para os seus problemas de alteração e de conservação.

Um trabalho que se tornou referência devido ao estudo de uma obra segundo os

aspectos fundamentais da sua história material, do seu estado de conservação, do

seu estilo e da sua técnica foi o efetuado por Paul Coremans, em finais da década

8 Atualmente, a infraestrutura instalada no Cecor permite viabilizar o Curso de Graduação em

Conservação e Restauração da Escola de Belas Artes da UFMG que, desde a década de 1980, vem contribuindo para qualificar profissionais de nível superior para atuarem na área de conservação e restauração. Além disso, o Cecor apoia atividades avançadas de ensino, extensão e pesquisa relacionadas aos cursos de Pós-Graduação, sediados no Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes na linha de pesquisa Conservação Preventiva e Tecnologia da Obra de Arte, contemplando os campos da História da Arte Técnica e Conservação Preventiva de Bens Culturais, Historiografia da Arte e História da Conservação. Disponível em: <http://www.eba.ufmg.br/cecor/cecor.html> Acesso em 02/07/2016.

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de 1940, cujo estudo realizado contou com um conjunto de pessoas com diferentes

formações e contribuiu para o desenvolvimento dos institutos de conservação e

restauro e respectivos laboratórios.

A combinação da análise microquímica9 e estratigráfica10 com os novos

métodos surgidos e aplicados a obras de arte, exames fotográficos (microfotografia,

macrofotografia, fotografia de ultravioleta e de infravermelho) e a radiografia (CRUZ,

2015), permitiu o aparecimento de estudos integrados de pinturas.

Segundo Cruz (2015), apesar do desenvolvimento geral dos métodos

instrumentais de análise que ocorreu ao longo do século XX, o acesso pelos

profissionais da conservação e restauração a estes era limitado devido à dificuldade

de deslocamento das obras aos laboratórios onde se encontravam os equipamentos

analíticos. Além disso, os métodos instrumentais eram essencialmente métodos

destrutivos ou, não o sendo, requeriam amostras de dimensões relativamente

grandes ou envolviam equipamentos não portáteis, assim “o seu uso em obras de

arte foi pouco significativo, sobretudo nos casos em que os métodos clássicos eram

uma alternativa adequada” (CRUZ, 2015, p. 48).

Com o aparecimento de equipamentos baseados em métodos não

destrutivos, isto é, que permitem fazer a análise diretamente sobre a obra, sem

remoção de amostra e, assim, sem causar qualquer dano, a situação mudou. Isto

aconteceu cerca de 1970 quando surgiu um modelo de espectrômetro de

fluorescência de raios-X, pensado para museus, em que o objeto a analisar

simplesmente era colocado à frente do equipamento.

No entanto, devido à natureza elementar do método (que limita os materiais para os quais é adequado) e à reduzida resolução espacial do equipamento, este não substituiu os testes microquímicos na identificação dos pigmentos em pinturas, mas apenas os complementou (CRUZ, 2015, p.48).

Atualmente, há equipamentos portáteis para grande parte dos métodos de

análise relevantes, que permitem análises não invasivas in situ.

No que diz respeito à formação do cientista da conservação, o seminário

realizado em Bolonha, Itália, em novembro de 1998, resultou na publicação do 9 Os testes microquímicos por via úmida consistem em se fazer reações-testes para identificar

materiais pictóricos em micro- amostras (FIGUEIREDO JÚNIOR, 2012, p.181).

10 Os estudos estratigráficos são os estudos das formas (desenhos) das camadas (FIGUEIREDO

JUNIOR, 2012, p.173).

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Documento de Bolonha, que descreve os princípios epistemológicos desta formação

e as habilidades inerentes para o exercício de sua profissão (ROSADO, 2011).

Esse documento especificou a necessidade da formação do profissional de conservação- restauração em ciências naturais e a sua interação com outras áreas do conhecimento, como as ciências humanas. A ciência da conservação elevou, portanto, o status do cientista no terreno das artes ao demonstrar que as ciências naturais também podiam trazer uma maior consciência das sutilizas das experiências artísticas humanas e também ao estabelecer os critérios básicos para o reconhecimento do profissional como cientista da conservação (ROSADO, 2011, p.90).

No entanto, Cruz (2012) aponta que os desenvolvimentos tecnológicos

recentes resolveram alguns problemas antigos da aplicação da Química ao estudo

das obras de arte, mas criaram novos problemas. Um dos problemas está

relacionado, conforme Snow (1959 apud CRUZ, 2015, p. 49), às “dificuldades de

comunicação e colaboração que resultam de as duas áreas terem culturas muito

diferentes, por vezes quase opostas”.

Essa diferente forma de ver o mundo, a que se junta o geral desconhecimento que uma área tem da outra, levam a que ocorram dificuldades de comunicação que, por vezes, originam situações delicadas e põem em causa a colaboração e os próprios estudos. Os conservadores-restauradores estão melhor posicionados, entre as duas áreas, para liderar esse diálogo, mas, conforme o perfil de sua formação, mais marcado pelas Ciências ou mais marcado pelas Humanidades, acabam também por se confrontarem com a outra área (CRUZ, 2015, p. 49).

Deste modo, os “principais desafios que atualmente se colocam à aplicação

da Química ao estudo das obras de arte passam, portanto, pela verdadeira

conciliação dos diferentes conhecimentos, competências e interesses” (CRUZ, 2015,

p.49).

2.1. Processos de conservação e restauração de pintura e papel utilizados

como base para atividades escolares

É preciso ressaltar que há muitas pesquisas de novos métodos e materiais

para a conservação e restauração de bens culturais, como o uso de laser, para a

limpeza de pedras, e o de gases inertes, para o desenvolvimento de atmosferas

controladas, aplicáveis ao combate de microrganismos e de insetos xilófagos, a

apropriação de adesivos sintéticos e semissintéticos de tipo termoplásticos, em

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processos de restauração, viabilizando, em certa medida, o respeito aos critérios de

reversibilidade (MAIA, 2014). Mas neste trabalho foram abordados métodos

comumente empregados no Brasil, de acordo com as possibilidades de atividades

com estudantes de ensino médio.

Devido à diversidade de materiais, aos diferentes tipos de obras (gravura,

pintura, escultura, etc.), e aos processos específicos destes materiais, há

especialistas em: Conservação- Restauração de papel, Conservação- Restauração

de fotografias, Conservação- Restauração de esculturas, Conservação- Restauração

de pinturas, Conservação preventiva, etc. A escolha pela conservação e restauração

de pintura e papel foi devido às bibliografias e especialistas a que se teve acesso

nesta pesquisa.

Assim, alguns processos de deterioração, conservação e restauração de

pintura e papel foram tomados como base para estabelecer atividades escolares,

considerando os conteúdos propostos para o ensino de química para a primeira

série do ensino médio, conforme os quadros 1 e 2 apresentados no capítulo 1, e

principalmente as condições específicas disponíveis na escola para o

desenvolvimento das atividades (materiais, de tempo e espaço físico). Fatores como

ausência de laboratórios e materiais nas escolas, tempo para execução das

atividades foram importantes na definição de atividades que possibilitassem sua

realização nas próprias salas de aula, utilizando de materiais do cotidiano e de fácil

acesso. Quanto ao tempo, as atividades escolares foram elaboradas considerando

um tempo máximo de execução de duas aulas (de 55 minutos cada).

Os conhecimentos químicos pertinentes foram trabalhados a partir de

atividades envolvendo diferentes estratégias, como, por exemplo, experimentos,

demonstrações feitas pelo professor, leitura de textos científicos, aula expositiva

dialogada etc. As interpretações da problemática em estudo foram direcionadas

inicialmente pelos conhecimentos de senso comum dos estudantes, como o objetivo

de transformá-las, pelo estabelecimento de uma tensão entre suas concepções e as

da ciência.

No caso das obras em papel, seu estudo sobre causas de deterioração e

processos de tratamento permite abordar os seguintes conteúdos do Currículo

Básico Comum (CBC) (ESPÍRITO SANTO, 2009, p. 69-70): Caráter ácido e básico

das substâncias; Reações de neutralização; Poluição atmosférica: chuva ácida;

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reações químicas. Isso porque o seu processo de degradação está relacionado à

acidez e às reações de oxidação das fibras de celulose.

Os três agentes de deterioração do papel são umidade, luz e calor. O papel

fica exposto a estes agentes pela própria ação do homem, quando não toma

cuidado com o manuseio e armazenamento. A umidade contribui para aumentar a

acidez de documentos. Por sua vez, a luz e a temperatura são responsáveis por

diversos processos, entre eles a oxidação que leva ao amarelecimento. A luz

acelera a deterioração dos acervos de bibliotecas e arquivos, através da oxidação,

causando o amarelecimento ou o escurecimento do papel, esmaecimento ou

mudança de cor das tintas (FIGUEIREDO JÚNIOR, 2012). Considerando estas

causas de deterioração do papel, um dos processos para a sua conservação

consiste na diminuição da sua acidez, através da desacidificação (que corresponde

à neutralização), no qual também se protege o papel de futuras hidrólises ácidas.

Neste caso, Figueiredo Júnior (2012) aponta que a substância química a ser

utilizada para neutralizar os ácidos presentes no papel, deve propiciar ao final do

tratamento um resíduo alcalino o suficiente para neutralizar a formação posterior de

ácidos, proporcionando um pH residual não muito elevado, pois a celulose é

sensível não só aos ácidos mas também aos meios muito alcalinos. Segundo Souza

(1988), a resposta a este problema foi encontrada e proposta por W. J. Barrow,

através do emprego de hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), que se transforma em

diferentes espécies para cumprir as exigências.

Atividades escolares abordando os processos de degradação e conservação

de papel podem se relacionar ao estudo das características de ácidos e bases e de

seus indicadores, à medida de pH do papel e experimentação envolvendo reação de

neutralização, podendo ser realizadas em pouco tempo e em sala de aula.

Já o processo de clareamento utilizado na Conservação Preventiva do papel

não implica em deixá-lo "branco", mas deixá-lo limpo e pode ser aplicado a gravuras

e desenhos. Um dos agentes de alvejamento mais usado é o hipoclorito de sódio

(NaClO), que possui suas propriedades alvejantes baseadas na sua capacidade de

oxidar compostos orgânicos. Mesmo sendo um agente oxidante não prejudica o

papel, pois as novas oxidações quebram ligações dos grupos cromóforos11 tornando

11

São grupos funcionais das moléculas que conferem cor às substâncias, pois causam a absorção de luz.

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45

os compostos incolores. Além disso, ocorre a formação de espécies solúveis em

água que são removidas do papel. Também neste caso, pode-se realizar atividade

em sala de aula, discutindo a ação do hipoclorito de sódio (água sanitária) sobre

corantes. Ambos os processos citados de desacidificação e clareamento do papel

são utilizados apenas em obras cuja tinta não seja solúvel em água.

Sobre os processos de conservação e restauração de pintura, estes se

referem às ações para deter a deterioração de materiais pictóricos, que podem ser

entendidos como todos os materiais que são usados em pintura, como aglutinantes,

vernizes, pigmentos, etc.

Tais processos possibilitam discutir alguns dos seguintes conteúdos

apresentados na proposta curricular: Tabela Periódica: construção e organização,

Modelo atômico de Rutherford- Bohr, Diagrama de Linus Pauling e configuração

eletrônica, Ligações químicas, Propriedades das substâncias iônicas, moleculares e

metálicas, Reações químicas e Óxidos: pigmentos e etnias.

Ao estudar os processos de deterioração e restauração dos bens culturais é

possível aprender sobre as funções inorgânicas, ao observar como o caráter ácido e

básico influencia nestes processos, além da formação de óxidos pela poluição.

Estudar as reações químicas é importante para entender os processos de

deterioração e as formas de detê-los. A respeito disso, as “[...] mudanças das

condições dos materiais são sempre muito importantes para o conservador. São

elas que vão determinar o tipo de intervenção de estabilização das obras”

(CASSARES, 2004, p.3).

A maioria dos aglutinantes e vernizes são compostos orgânicos (óleos, ceras,

resinas naturais e sintéticas, proteínas e gomas). As reações de deterioração dos

aglutinantes orgânicos resumem-se basicamente a reações de oxidação e reações

de hidrólise. Estas reações ocorrem com gases atmosféricos e em muitos casos

com a luz, sendo desigual a deterioração dentro de uma camada pictórica

(FIGUEIREDO JÚNIOR, 2012). Quanto aos pigmentos, estes podem ser orgânicos

ou inorgânicos e alguns estão sujeitos a reações de deterioração, seja em meio

ácido ou básico, seja através de substâncias formadas pela decomposição de

matéria orgânica.

De acordo com Figueiredo Júnior (2012), as principais consequências das

reações de deterioração dos materiais pictóricos são:

- o amarelecimento, devido à oxidação;

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- mudança na solubilidade de materiais pictóricos de acordo com o grau de

deterioração, pois a formação de espécies oxigenadas torna-os mais polares, o que

facilita a penetração da água. Neste caso, a retenção de vapor de água pode levar a

formação de manchas esbranquiçadas e os gases responsáveis pela chuva ácida

podem ser absorvidos por esta umidade causando danos maiores. Além disso, os

materiais pictóricos têm suas ligações químicas alteradas e perdem suas

solubilidades nos solventes em que foram aplicados até se tornarem insolúveis.

- Craquelês12 e desprendimento de pintura.

- Gizamento, fenômeno ocasionado pela perda das camadas de tinta levando

a alterações das propriedades ópticas. Isso acontece porque as reações de

deterioração levam à quebra das moléculas do aglutinante.

Para detalhar os problemas de uma pintura, são realizados diversos exames.

O primeiro exame que se realiza em uma pintura é o exame a olho nu, com a utilização da luz natural ou artificial. Trata-se da análise da superfície e do verso da obra utilizando a lupa de cabeça (ou lupa binocular), que permite uma avaliação prévia da pintura e a elaboração de um esquema descritivo contendo dados sobre sua técnica (como medidas, tipologia de suporte, texturas e pinceladas) e sobre o seu estado de conservação (tipologias de craquelês, perdas da camada pictórica, manchas, rasgos, orifícios etc.) (ROSADO, 2011, p. 100).

Nas obras são realizados exames globais ou de superfície baseados no

emprego de técnicas fotográficas para o registro de imagens geradas com o uso de

radiações eletromagnéticas, visíveis ou invisíveis ao olho humano.

Trazendo para o contexto de sala de aula, é possível realizar atividades

escolares envolvendo a fotografia, trabalhando-a como fonte documental e histórica.

Em relação aos conteúdos químicos, tal atividade propicia discutir os aspectos

submicroscópicos, como os modelos atômicos, distribuição eletrônica, associando

ao estudo da luz e seus efeitos sobre os materiais ao desencadear processos

químicos (reações fotoquímicas), além das análises utilizadas nas obras de arte com

o uso de diferentes radiações eletromagnéticas.

A documentação científica por imagem é “caracterizada por não necessitar da

retirada de amostras e por resultar em imagens visíveis que evidenciam detalhes

12

Craquelê é o nome dado às fraturas que surgem em pinturas, sendo mais comuns em tintas a óleo.

Eles são o resultado da fragilidade das camadas de tinta devido à formação de produtos de deterioração e movimentação do suporte.

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técnicos e estruturais da obra, que permitem efetuar um diagnóstico da mesma”

(ROSADO, 2011, p.100). Todo o processo de documentação fotográfica digital deve

ser realizado seguindo parâmetros ideais de captura, manipulação, processamento e

armazenagem das imagens (MATTEINI e MOLES, 2001 apud ROSADO, 2011).

Algumas técnicas de análises dessa área, empregadas no campo das obras de arte,

conforme apresentadas por Rosado (2011, p. 100-102), estão descritas a seguir.

A Fotografia de luz visível consiste na captura da imagem do objeto,

observando todos os pré-reajustes da câmera digital, em função da tipologia da obra

e do local onde as fotografias serão realizadas.

A Fotomicrografia, além de permitir evidenciar as características do suporte

da obra, com

[...] a utilização da lupa binocular permite um estudo mais acurado da superfície pictórica, sendo possível, em determinados casos, observar e documentar (através de uma câmera fotográfica acoplada ao sistema ótico do microscópio) a estratigrafia, a morfologia dos grãos dos pigmentos usados em diferentes áreas da pintura, a existência de veladuras ou glacis, a profundidade dos craquelês e regiões onde existem intervenções (ROSADO, 2011, p. 101).

A Fotomacrografia é a fotografia ampliada de um detalhe da pintura que

permite uma leitura mais precisa das pinceladas do artista e das cores empregadas

por ele na tela (sobreposições ou misturas de tintas), com aumentos na proporção

de 1:1 até 1:10.

O exame de Luz rasante (ou tangencial) deve ser feito em uma sala escura

e consiste

[...] em incidir tangencialmente, sobre a superfície do objeto, uma fonte de iluminação visível o mais homogênea possível (formando um ângulo que varie entre 5º a 30º num plano em relação à obra). Essa técnica permite o registro da topografia de superfície da pintura, pois realça seus empastes e deformações do suporte (ROSADO, 2011, p. 101).

A técnica de Luz transmitida ou reversa consiste em projetar a fonte de luz

dispersa sobre o verso da obra, colocando em evidência áreas onde existem perdas,

abrasões na camada pictórica, orifícios no suporte ou desenhos subjacentes, como

quadriculados ou esboços (GONZALEZ, 1994 apud ROSADO, 2011).

A Fotografia de fluorescência de ultravioleta (UV) tem sido usada,

conforme Rosado (2011), tradicionalmente, no campo da conservação- restauração,

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48

[...] para observar e registrar fotograficamente a presença ou não de vernizes antigos (para verificar a espessura, se são distribuídos de forma homogênea ou irregular sobre a camada pictórica), para o reconhecimento de repinturas e intervenções, como guia no controle dos processos de restauração (remoção de verniz, por exemplo) e para identificar alguns pigmentos (ROSADO, 2011, p. 102).

Este método de diagnóstico está baseado no fato de que um objeto incidido

por radiações ultravioletas (invisíveis ao olho humano) pode refleti-las, absorvê-las

ou transmiti-las de diferentes formas em função das suas composições moleculares

(ESPINOSA e RIVAS, 2011). O fenômeno de absorção recebe o nome de

luminescência e pode apresentar-se como uma fluorescência quando sua duração é

praticamente instantânea ou como uma fosforescência quando persiste por um

tempo, após ter cessado a ação das radiações de excitação.

“No emprego da luz ultravioleta como fonte de radiação excitante, a

fluorescência se manifesta em grande parte na faixa do espectro visível ao olho

humano” (MATTEINI e MOLES, 2001, p.174 apud ROSADO, 2011, p. 102), podendo

ser registrada através da fotografia digital.

A Fotografia digital com radiação infravermelha parte do princípio de que a

radiação infravermelha tem comprimento de onda superior ao das radiações visíveis

[...] e tem a propriedade de transpor o verniz oxidado e camadas de pintura de determinada obra, podendo revelar o desenho do artista sobre a base de preparação, mas, não anula a pintura superior que interfere na interpretação das camadas subjacentes (PERUZINI, 1994 apud ROSADO, 2011, p. 106).

A Reflectografia no infravermelho pode ser considerada uma evolução

natural da fotografia infravermelha, devido ao desenvolvimento de câmeras

modernas com dispositivos sensíveis a maiores comprimentos de ondas no

infravermelho. O tipo de iluminação usado nesse processo é o mesmo da fotografia

infravermelha.

A radiação no infravermelho atravessa os estratos da camada pictórica e o suporte. As matérias que absorvem os raios infravermelhos ficam escuras e opacas e as matérias que os refletem tornam-se claras ou transparentes, evidenciando desenhos preparatórios, esboços, eventuais arrependimentos, restaurações e/ou intervenções bem como assinaturas e datas desgastadas ou ocultas por camadas de pinturas (WAINWRIGHT, 1989 apud ROSADO, 2011, p. 106- 107).

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A Radiografia “consiste em expor o objeto a um feixe de raios X e registrar a

sua imagem em um filme radiográfico, que é colocado atrás dele” (GONZALEZ,

1994; GILARDONI, 1977 apud ROSADO, 2011, p. 108). O maior ou menor grau de

absorção dos raios X ao transpassarem os diferentes materiais que compõem uma

pintura define a imagem radiografada. Na radiografia de pinturas sobre tela e/ou

madeira as áreas mais claras são aquelas pintadas geralmente com pigmentos

minerais compostos por elementos metálicos de massa atômica alta, como o branco

de chumbo (2PbCO3.Pb(OH)2) e o vermelhão (HgS), que absorvem mais os raios X,

e as áreas mais escuras são aquelas pintadas com pigmentos compostos por

elementos metálicos e não metálicos de massa atômica baixa, como alguns

materiais orgânicos, que são praticamente transparentes aos raios X.

As radiografias podem, portanto, revelar detalhes da técnica de construção da pintura (características da madeira e/ou tecido, juntas, remendos, ranhuras, desenhos ou pinturas subjacentes, arrependimentos e pinceladas) e do estado de conservação da mesma (rachaduras, fissuras, danos causados pelo ataque de insetos xilófagos, rasgos, lacunas ou craquelês) (ROSADO, 2011, p. 110).

De imediato, de acordo com Costa e Althoff (2013), os exames de

identificação química dos materiais pictóricos que podem ser realizados na obra

quando se tem contato com a mesma são os testes de solventes, para limpeza e

remoção de verniz e testes microanalíticos para identificação de aglutinantes,

quando não se consegue tal informação pelo proprietário ou pelos registros da obra.

Os testes microanalíticos para identificação de aglutinantes baseiam-se em testes

de solubilidade, testes físicos e químicos que permitem a identificação de um

determinado composto por sua solubilidade em uma substância de polaridade

conhecida. Segundo Figueiredo Junior (2012), estes testes são úteis, porém na

maioria das vezes, são ambíguos, sendo necessário um segundo ensaio analítico

para confirmá-los. Estes testes são destrutivos por requerer retirada de amostras da

obra ou utilizar uma pequena área da mesma.

A identificação de um aglutinante presente em uma pintura, na maioria das

vezes, permite escolher qual solvente será utilizado para limpeza química da obra,

bem como a escolha do tipo de tinta que será utilizado por uma possível

reintegração pictórica (COSTA e ALTHOFF, 2013).

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Em relação aos solventes, nem todos podem ser utilizados na restauração,

porque muitos deles reagem prontamente com os materiais pictóricos danificando-

os; são pouco voláteis, ficando retidos na obra, alta retenção; são penetrantes em

excesso em relação aos materiais pictóricos; e são tóxicos e, entre estes, alguns são

fortes agentes cancerígenos (FIGUEIREDO JUNIOR, 2012). Assim, é necessário o

conhecimento das propriedades dos solventes até por questões de saúde do

conservador- restaurador.

Na escola, os materiais utilizados em pinturas podem ser estudados em

relação à sua obtenção e composição, seja por meio de aula experimental,

considerando que muitos destes são de fácil acesso, ou por meio de textos ou

artigos científicos sobre os mesmos. Neste caso, um dos pontos importantes deste

estudo é a discussão da toxicidade de aglutinantes, pigmentos e solventes, materiais

do cotidiano de artistas, conservadores e restauradores, assim como o fato de

alguns destes materiais, mesmo tendo várias restrições quanto ao uso, ser fácil de

adquirir em armarinhos, papelarias, etc.

Outro tipo de análise química utilizada também na conservação e restauração

é a instrumental que leva em consideração, na maioria das vezes, as propriedades

físicas dos analitos, e da qual se obtém dados qualitativos e quantitativos. As

principais encontradas na literatura, aplicadas para identificação de materiais são

espectroscopia molecular e atômica, técnicas que utilizam raios-x, espectrometria de

massas, cromatografia etc.

No caso da cromatografia, esta é uma técnica possível de discutir em sala de

aula por meio de experimento simples de cromatografia de papel. Os conteúdos

químicos importantes nessa técnica dizem respeito às ligações químicas, que por

meio do seu estudo possibilitam entender como os materiais se associam para

formar novos materiais, bem como através das propriedades adquiridas pelo tipo de

ligação química é possível entender solubilidade das substâncias e, por

consequência, pode-se estudar o uso de determinados solventes na conservação e

restauração de bens culturais. De acordo com Cassares (2004),

Conhecer a natureza das moléculas, o tipo das ligações químicas entre os átomos, a polaridade dessas ligações, etc. são muito importantes para avaliar as intervenções cabíveis nos objetos. O conhecimento das forças intermoleculares, por exemplo, é muito importante na relação adesivos-solventes (CASSARES, 2004, p.3).

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51

Por fim, o grande desenvolvimento de métodos de análises químicas,

inclusive no que tange à análise de bens culturais, contribuiu muito para o trabalho

de Conservação e Restauração de bens culturais. Neste caso, as radiações

eletromagnéticas passaram a ser utilizadas não somente para registrar as imagens

fotográficas do bem cultural, mas também para análise de seus materiais

constituintes. Como exemplo, a fluorescência de raios X por dispersão de

energia (portátil) (EDXRF ─ Energy Dispersive X-Ray Fluorescence), é um exame

que pode ser efetuado sem retirada de micro – amostras, buscando solução de

questões, dúbias ou não resolvidas, levantadas pelos conservadores- restauradores,

cientistas da conservação e historiadores da arte, para identificação dos materiais e

causas de degradação das pinturas. Os espectrômetros de fluorescência de raios X

portáteis são pequenos e facilmente transportáveis, por isso são amplamente

aplicados na caracterização de materiais de bens culturais in situ, sem a

necessidade de retirar amostras e de estabelecer contato físico com os mesmos. A

fluorescência de raios X é a radiação eletromagnética originada pelas transições que

ocorrem entre os orbitais da estrutura atômica dos átomos. Essas transições emitem

fótons de raios X que apresentam uma energia característica dos elementos

químicos presentes na amostra, gerando um espectro característico de raios X para

cada elemento (FIGUEIREDO JUNIOR, 2012).

No quadro 3 foram apresentados alguns métodos, baseados em diferentes

tipos de radiações, utilizados na Conservação e Restauração para identificação dos

constituintes de uma obra.

Região do Espectro eletromagnético

Propriedade (s) Técnica (s) analítica (s)

Algumas informações para o conservador/ restaurador

Infravermelho Vibrações moleculares

Espectroscopia de absorção no infravermelho (IR)/ Espectroscopia Raman

Constituição dos pigmentos/ constituição de corantes/ classe de aglutinantes, vernizes, consolidantes, adesivos/ identificação de alguns substratos pétreos/ identificação de fibras de tecido e papel.

Visível Cor/ Brilho/ Habitus/ Morfologia Pleocroismo/ extinção

Microscopia de luz polarizada (microscopia ótica)/ Melalografia

Constituição dos pigmentos/ Sequência estratigráfica de amostras de pinturas/ identificação de substratos pétreos/ identificação de fibras de tecido e papel/ estrutura de ligas metálicas.

Quadro 3. Alguns métodos espectroscópicos utilizados em Conservação/Restauração e principais informações que podem ser obtidas destes métodos.

(continua)

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52

Região do Espectro eletromagnético

Propriedade (s)

Técnica (s) analítica (s)

Algumas informações para o conservador/ restaurador

Ultravioleta/ visível

Transições eletrônicas em camadas externas

Espectroscopia eletrônica (UV-VIS)

Caracterização de vernizes envelhecidos/ identificação de corantes e pigmentos orgânicos.

Raios- X Transições eletrônicas em camadas internas

Difração de raios X/ Fluorescência de raios X/ radiografia

Identificação de pigmentos/ identificação de metais/ identificação de materiais pétreos/ composição interna de esculturas em madeira, telas/ identificação de produtos de corrosão em metais.

Quadro 4. Alguns métodos espectroscópicos utilizados em Conservação/Restauração e principais informações que podem ser obtidas destes métodos. (conclusão) Fonte: FIGUEIREDO JUNIOR, 2012, p. 195.

Nesse sentido, o estudo do uso das diferentes radiações eletromagnéticas,

bem como dos processos de deterioração e de tratamento de pinturas e obras em

papel e demais tipos de análises apresentados foram utilizados como base para

elaboração de atividades para a proposta de ensino tendo como temática a

Constituição, Conservação e Restauração de bens culturais materiais no ensino de

Química. Há muitos estudos científicos em andamento, avanços nesta área de

conhecimento, mas os métodos aqui apresentados são comumente empregados no

Brasil e por isso foram utilizados para embasar a proposta de ensino.

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CAPÍTULO 3

PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO

Esta pesquisa foi submetida à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Estadual de Campinas (Número do CAAE: 32077514.0.0000.5404).

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, teórico-empírica, apoiada na revisão

bibliográfica, observações e questionários aplicados aos estudantes. Partiu da

revisão bibliográfica para propor as demais atividades e segundo Bogdan e Biklen

(1994), o trabalho de campo foi a forma utilizada para a coleta de dados. Segundo

Megid Neto (2011), as pesquisas qualitativas podem ser classificadas em pesquisas

descritivas e de intervenção. Sob este aspecto, esta pesquisa caracterizou-se como

de intervenção, visto que o pesquisador interviu na realidade e introduziu um ou

mais elementos novos.

Os dados da pesquisa foram obtidos por meio de gravações em áudio e

utilização de caderno de campo para registro de observações. A intervenção se deu

por meio do planejamento e realização de atividades voltadas para a

contextualização do ensino de Química e estudo da composição, conservação e

restauração de bens culturais em duas escolas estaduais. As atividades escolares

realizadas pelos estudantes que aceitaram colaborar com a pesquisa (mediante

assinatura do termo de consentimento) foram utilizadas como fonte de dados. As

respostas dadas pelos estudantes constituíram o material central das análises dos

sentidos13 produzidos de acordo com a atividade. Além disso, algumas falas desses

estudantes e minha observação enquanto professora e enquanto pesquisadora

durante o desenvolvimento das atividades, também embasaram minhas

considerações.

13

O sentido, “[...] na perspectiva vygotskyana, é visto “[...] como um aspecto da consciência, que pode ser o caminho pelo qual significados que são historicamente estabelecidos são interiorizados e exteriorizados por cada indivíduo” (Liberali, 2009, p.105). O sentido é construído por meio das experiências sociais individuais e das interações, portanto, são moldados pela cultura e correspondem a interesses de grupo” (SANTOS, 2014, p. 82). Todo conhecimento consiste em atribuir um significado, um sentido, aos objetos e aos acontecimentos (SMOLKA, 1993).

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Primeiramente foi realizado levantamento bibliográfico sobre a área de

conservação e restauração de bens culturais com o auxílio de especialistas, por

meio de estágios curtos em laboratórios e instituições, com o objetivo de entender

como se dava a apropriação do conhecimento químico neste campo de

conhecimento. As instituições as quais se teve acesso foram: Núcleo de

Conservação e Restauração (NCR)14 da Universidade Federal do Espírito Santo

(UFES); Escola Multidisciplinar Profissionalizante de Artes e Ofícios (EMPAO)15, um

projeto do Instituto Goia16; ao Arquivo Fotográfico do Centro de Memória da

Unicamp17 e ao Centro de Conservação e Restauração (CECOR) da Universidade

Federal de Minas Gerais.

O levantamento bibliográfico baseou-se na análise de documentos

curriculares, mais precisamente do Currículo Básico Comum (CBC) das escolas

estaduais, e do livro Química Aplicada à Ciência da Conservação e Restauração de

bens culturais uma introdução (FIGUEIREDO JUNIOR, 2012), além de outros

materiais, como a tese de Rosado (2011), identificando processos de Conservação e

Restauração de bens culturais com o objetivo de estabelecer relações entre os

conteúdos escolares, principalmente de Química, para elaboração de propostas de

ensino.

14

Órgão complementar do Centro de Artes da UFES ligado ao Departamento de Artes Visuais. Sua equipe, formada por restauradores, técnicos e estagiários trabalha principalmente no tratamento de esculturas policromadas de madeira e pinturas de cavalete. O grupo atende a demanda de prestação de serviços para o público externo, instituições federais, estaduais e municipais, bem como de comunidades religiosas e particulares, embora mantenha como prioridade o desenvolvimento de atividades de ensino e pesquisa.

15 A “Escola Multidisciplinar Profissionalizante de Artes e Ofícios” (EMPAO) é um projeto do Instituto

Goia que visa capacitar anualmente cerca de 40 jovens em situação de vulnerabilidade social na arte da restauração de bens imóveis/ patrimônio cultural, através de aulas teóricas e práticas e trabalho monitorado remunerado em obra, buscando aproximá-lo tanto da cultura local quanto do mercado de trabalho e promovendo o espírito comunitário/grupo (socialização), numa perspectiva de educação patrimonial para melhoria da qualidade de vida.

16 Associação de fins não econômicos, que possui como principal objetivo a promoção da cidadania

por meio da preservação e proteção do patrimônio cultural.

17 O Centro de Memória da Unicamp (CMU), órgão vinculado à Reitoria da Universidade Estadual de

Campinas, tem como missão captar, organizar, preservar e disponibilizar acervos documentais, sobretudo de Campinas e região, visando à produção e à disseminação de conhecimentos, assim como promover ações de caráter multidisciplinar para a pesquisa e a extensão relativas à questão da memória. O Arquivo Fotográfico do Centro de Memória-Unicamp surgiu do entendimento da especificidade do tratamento do documento fotográfico, tanto no que diz respeito ao processamento técnico, que visa a disponibilização da informação, como a sua preservação-conservação. Disponível em <http://www.cmu.unicamp.br/arq_fotografico> Acesso em 02/07/2016.

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A Ciência da Conservação e Restauração de bens culturais possui várias

especialidades (Conservação- Restauração de: pinturas, papel, fotografias, obras

sacras, esculturas, obras arquitetônicas, pintura em murais etc.), dada a diversidade

de materiais que pode constituir um bem cultural. A partir do levantamento

bibliográfico restringiu-se a pesquisa à Conservação e Restauração de PINTURA e

PAPEL.

A partir deste levantamento apresentei o projeto de pesquisa aos professores

de duas escolas de ensino médio da rede estadual do município de Serra e fiz o

convite para participação da pesquisa.

As escolas estaduais do Espírito Santo são organizadas por meio de

Superintendências Regionais de Ensino. Neste caso, a autorização para realização

da pesquisa foi obtida na Superintendência Regional de Ensino de Carapina, que

abrange as escolas dos municípios de Vitória, Serra, Santa Teresa, Aracruz, Ibiraçu,

João Neiva e Fundão. O município de Serra foi escolhido por ser residência de

minha família e por eu ter exercido atividade docente no mesmo desde 2005. Este

município possui uma população estimada (de 2015) de 485.376 habitantes, área da

unidade territorial de 551.687 quilômetros quadrados e densidade demográfica de

741,85 habitantes por quilômetro quadrado, segundo os dados do IBGE18.

A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas da rede estadual de ensino que,

nesta pesquisa, são identificadas apenas como Escola A e Escola B. Na Escola A,

eu fazia parte do corpo docente e realizei as atividades com os estudantes de uma

turma de 1ª série de ensino médio. Na Escola B atuei juntamente com o professor

de cinco das oito turmas de 1ª série formadas em 2015 e realizamos as atividades

com os estudantes de duas destas turmas, cujas aulas aconteciam no mesmo dia da

semana. A escola A atende inúmeros bairros da Serra e de outros municípios da

Região Metropolitana da Grande Vitória19, enquanto a escola B atende

principalmente dois bairros de periferia do município de Serra.

18

IBGE Cidades. Espírito Santo Serra. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=320500&search=||infogr%E1ficos:-informa%E7%F5es-completas> Acesso em 03/07/2016.

19 Composta por sete municípios: Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória

(capital).

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56

3.2. Realidade da escola B

A Escola B está situada na região central de um bairro de periferia, na praça

principal, próxima de uma Unidade de Saúde e de um Posto Policial.

O bairro é residencial e apresenta um comércio local para atender a demanda

(padaria, bares, mercadinhos, farmácia e banco). Entretanto, as condições sociais

dos moradores, em alguns casos, são precárias. Por apresentar muitos conflitos em

decorrência de problemas diversos, o bairro é considerado uma região de

vulnerabilidade socioeconômica.

A estrutura do prédio da escola possui quinze salas de aula, sendo onze salas

com capacidade para 45 estudantes cada e quatro salas que ficam em salas anexas

ao prédio com capacidade de 35 estudantes cada, possibilitando que a escola

ofereça até 635 vagas em cada turno de funcionamento. Além disso, possui: um

laboratório de informática; uma sala de educação especial (antigo laboratório de

ciências que funcionava como depósito); uma sala de vídeo e som; uma sala de

professores; uma sala de coordenação; uma sala direção; uma secretaria; uma sala

de recursos; um almoxarifado; uma cozinha/dispensa; área de circulação; um

refeitório; banheiros; um pátio interno e um grande pátio externo onde estão

localizadas quatro salas de aula e havia uma quadra poliesportiva coberta (foi

desativada devido à reforma em andamento). Os estudantes realizam atividades

físicas no ginásio poliesportivo do bairro ou nas dependências do prédio da escola.

A Escola atende as modalidades de Ensino Fundamental (8º e 9º anos),

Ensino Médio Regular e educação profissional. Os estudantes são de variadas

faixas etárias: no turno diurno os estudantes no Ensino Fundamental (8º a 9º anos)

apresentam idades entre 13 e 15 anos, no Ensino Médio Regular apresentam idades

entre 15 e 21 anos e no noturno, funcionam o Ensino Médio Regular e a Educação

Profissional e Tecnológica por meio do curso técnico de Administração, atendendo

pessoas das mais variadas idades.

A escola possuiu algumas atividades, dentre outros projetos, tais como:

Família Presente na Escola, Mostra Cultural e Científica com o intuito de aproximar a

comunidade local e de divulgar as atividades realizadas pelos estudantes, Manhã e

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Tarde Espanhola20, além de outros projetos que surgem através da iniciativa dos

professores, como literatura de cordel, fotografia etc.

3.2.1. Percurso de investigação na escola B

O contato com direção e professores desta escola foi feito no final do ano de

2014. Devido ao fato de eu conhecer parte da equipe da escola, com exceção dos

professores de Química, História e Arte, permitiu-me estar na escola algumas vezes

para conversar com estes professores e participar de algumas atividades da escola,

como da Manhã Espanhola e da palestra de um ex-prisioneiro durante o período da

ditadura militar do nosso país.

A professora de Arte, do quadro permanente da escola, aceitou de imediato

trabalhar a temática na escola e já tinha algum conhecimento sobre o tema por ter

se formado na Universidade Federal do Espírito Santo com alguns dos profissionais

do Núcleo de Conservação e Restauração.

Havia dois professores contratados na escola para a disciplina de Química,

um para as turmas de primeira série e outro para as de segunda e terceira. Nenhum

deles conhecia a temática, mas o professor das turmas de segunda e terceira séries

do ensino médio mostrou interesse em participar da pesquisa, enquanto o outro

professor ficou receoso, afirmando não saber se estaria nesta mesma escola no ano

seguinte, entre outros motivos.

O convite para participar da pesquisa também foi feito ao professor de

História das turmas de primeira série, quadro permanente, e apesar deste relatar

que não conhecia a temática, disse que poderia trabalhar “alguma coisa” com os

estudantes.

Dos demais professores de diferentes áreas de conhecimento, alguns se

mostraram dispostos a trabalhar a temática. Um deles sugeriu que as atividades

fossem construídas coletivamente, que a participação dos professores da escola não

se restringisse a execução da minha proposta, sugestão que eu já tinha colocado

anteriormente. A escola tinha alguns projetos mantidos pelo governo federal e houve

a intenção de colocar a temática dentro de um projeto, mas não se concretizou.

20

Projeto realizado pelo professor de Espanhol sobre a cultura dos países de língua espanhola.

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No início do ano de 2015, voltei à escola para planejar as atividades com os

professores, mas o cenário encontrado foi outro. Os professores de Química não

eram os mesmos do ano de 2014 e o professor de História havia saído da escola

devido à nomeação em outro concurso. Além disso, a mudança no cenário político

trouxe mudanças na escola no início do primeiro semestre, com fechamento de

turmas, cessação de contratos de professores e finalização de projetos. Além disso,

no início do segundo semestre houve um concurso de remoção de professores. Em

virtude destas mudanças na organização da escola, os professores que

anteriormente aceitaram trabalhar a temática não puderam mais, com exceção da

professora de Arte. Apresentei a proposta para o novo professor de Química, que

inicialmente ficou receoso em participar face às incertezas do novo cenário

educacional do estado, mas posteriormente aceitou mesmo as atividades não sendo

realizadas com todas as turmas de primeira série. A definição das turmas de

trabalho deu-se a partir dos dias de aula do professor nas turmas, que deveriam

coincidir com os dois dias da semana que eu podia estar na escola.

No período de reorganização da escola, reuni-me com a professora de Arte,

que me apresentou alguns dos seus projetos e de seus colegas, como o projeto de

elaboração de cordéis sobre a história do bairro proposto por ela com colaboração

dos professores de Português, além do projeto Roda de leitura, realizado durante o

recreio, baseado na literatura capixaba. Além destes, havia a proposição de

realização de concurso entre os estudantes para elaboração da bandeira da escola

com o intuito de lhe dar uma identidade. A partir destas reuniões, do contexto e

projetos da escola e do tema desta pesquisa, propomos atividades com o objetivo de

conhecer e/ou (re) construir a identidade cultural dos estudantes, da escola. Estas

consistiram de oficinas temáticas, a saber: oficina sobre patrimônio cultural com

aplicação de ficha de percepção acerca do patrimônio local; oficina de fotografia;

oficina de tintas e oficina de conservação de papel, além de aula expositiva e

dialogada sobre o tema e aula de campo no Centro Histórico de Vitória.

As atividades foram iniciadas a partir de junho de 2015 e realizadas com duas

turmas de primeira série do ensino médio (aproximadamente 60 alunos), no turno

matutino.

A primeira aula consistiu na minha apresentação como pesquisadora aos

estudantes e distribuição do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO

1) para os seus responsáveis assinarem, caso concordassem com a participação

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dos mesmos nas atividades. O professor das turmas e eu deixamos claro que: a) a

colaboração com a pesquisa era voluntária; b) não assinar o termo de

consentimento não significaria estar dispensado de realizar as atividades; c) só

utilizaria como material de pesquisa as falas e respostas daqueles estudantes cujos

responsáveis assinassem o termo; d) eles poderiam desistir da participação a

qualquer momento; e) eu me comprometia a enviar aos interessados o trabalho final.

Com o incentivo do professor, a maioria dos estudantes optou por participar.

Conforme item b, os estudantes que não quiseram participar da pesquisa não foram

dispensados das atividades, porém suas falas e respostas não foram utilizadas

como material de pesquisa.

As oficinas foram realizadas em uma das aulas semanais de Química,

conforme foi aberto espaço pelo professor e de acordo com a programação da

escola, entre eventos, semanas de provas, recuperação trimestral e feriados. Na

semana posterior à realização de cada oficina (em alguns casos, duas ou três

semanas depois), foi aplicado questionário sobre questões discutidas durante a

mesma.

3.2. Realidade da escola A

A Escola A foi construída em um Conjunto Residencial. Segundo o seu

Projeto Político Pedagógico (PPP21), foi edificada para atender uma demanda de

moradores migrantes que estavam se estabelecendo no próprio bairro, em sua

grande maioria, funcionários, principalmente, de uma antiga Companhia Siderúrgica

do estado.

Atualmente situa-se em uma sede provisória, num bairro vizinho no mesmo

município, a aproximadamente 2 quilômetros, em função das obras de reforma de

sua sede oficial, iniciada em 2012. Este espaço provisório, uma edificação alugada,

possui uma estrutura vertical com quatro andares e uma área externa ampla

compreendendo o pátio, estacionamento e área improvisada destinada à prática

desportiva.

A estrutura física interna desta sede provisória é distribuída em quatro

pavimentos, compostos por 24 salas de aula, secretaria, laboratório de informática,

21

ESCOLA A. Projeto Político Pedagógico para o período 2014/2016. Aprovado em 13/08/2014. Serra, 2014. 1 CD- ROOM.

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refeitório, cozinha, cantina, banheiros, sala de professores, biblioteca, sala de

reuniões e planejamento, sala da Educação Especial, Direção, coordenação de

turno, coordenação pedagógica, auditório (capacidade para 150 pessoas), sala de

projetos especiais, sala da coordenação dos cursos técnicos e sala de projeto.

Ainda, em anexo ao prédio encontram-se a sala do Grêmio Estudantil, a sala

do Centro de Idiomas, a quadra de esportes, o estacionamento, a sala das equipes

de segurança patrimonial e limpeza e o Laboratório de Ciências, que conforme

Figura 2 é semelhante a uma sala de aula comum.

Figura 2. Laboratório de Ciências da escola A. Fonte: ESCOLA A, 2014.

As 24 salas de aula da sede provisória estão organizadas no formato de salas

temáticas – projeto que foi implantado em maio de 2012 com o objetivo de contribuir

para melhoria do processo de ensino – aprendizagem e com a conservação do

patrimônio escolar.

A escola atende inúmeros bairros do município de Serra e de outros

municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória. A escola atendia em 2015

o/a (s): Ensino Médio regular nos turnos matutino, vespertino e noturno; Educação

de Jovens e Adultos - 1º Segmento (1ª a 4ª Série do Ensino Fundamental);

Educação de Jovens e Adultos - Ensino Médio (1ª a 3ª Etapa); Cursos

Profissionalizantes: Técnico de Nível Médio em Administração; Técnico de Nível

Médio com Habilitação em Transações Imobiliárias e Técnico de Nível Médio em

Marketing. Os Cursos Profissionalizantes e a Educação de Jovens e Adultos (EJA)

são oferecidos no turno noturno.

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3.2.1. Percurso de investigação na escola A

Eu havia feito inscrição no processo seletivo simplificado da Secretaria de

Estado de Educação para contratação de professores em designação temporária

(DT) para o ano de 2015, cujo edital foi publicado em outubro de 2014. A chamada e

contratação de candidatos classificados neste processo seletivo aconteceram em

janeiro de 2015. Na contratação, a carga horária máxima por turno atribuída a um

professor foi de 25 horas semanais, divididas em 18 horas aula e 7 horas de

planejamento docente. No caso da disciplina Química, com 2 aulas semanais,18

horas aula equivalem a ser docente de 9 turmas. De acordo com o processo, eu

escolhi o turno matutino e 3 turmas (o que equivale a trabalhar 6 horas aula

semanais) nesta escola e decidi apresentar a proposta da pesquisa aos professores.

Esta escola formou, no ano de 2015, 20 turmas de ensino médio: 8 turmas de

primeira série, 8 turmas de segunda série e 4 turmas de terceira série. No turno

matutino havia mais duas professoras de Química além de mim, uma também

contratada e uma do quadro permanente da escola. Eu possuía a menor carga

horária e fiquei responsável por uma turma de primeira série e 2 turmas de segunda

série. A outra professora contratada ficou com 7 turmas de primeira série, enquanto

a professora do quadro permanente assumiu 6 turmas de segunda série e as 4 de

terceira série.

As primeiras ações da escola foram a Jornada de Planejamento Pedagógico

(JPP), que consistiu no planejamento do trabalho pedagógico para o primeiro

trimestre do ano letivo no que diz respeito a projetos e avaliações, priorizando

inicialmente o período de avaliação diagnóstica, correspondente ao primeiro mês de

aula, definido pela Secretaria de Estado de Educação para todas as escolas da

rede. Finalizado este período, os professores foram instruídos a apresentar um

plano de ensino trimestral.

Sobre este plano de ensino, a escola enfatizou que, mesmo havendo diversos

professores de uma mesma disciplina, estes deveriam trabalhar de forma

homogênea nas séries que lhes eram comuns, no que diz respeito a conteúdo e

incentivou a elaboração de projetos ou trabalho temáticos. Alguns professores já

tinham projetos ou ideias de trabalho de acordo com sua área de conhecimento.

Decidi apresentar a proposta de trabalhar o tema desta pesquisa à professora de

Química das demais turmas de primeira série, ao professor de Arte e ao professor

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de História, que a princípio gostaram da ideia. Registrei a proposta no plano de

ensino com sugestão de algumas atividades para discutir depois com os

professores.

O que aconteceu posteriormente definiu a forma de trabalhar a temática.

Como já mencionado, a escola iniciou o ano letivo com 20 turmas e diversos

professores de uma mesma disciplina em cada série. A escola era organizada por

salas temáticas, isto é, por salas exclusivas para cada disciplina e os estudantes se

deslocavam de uma sala para outra, de acordo com o seu horário de aula. No

entanto, apesar de o prédio, sede provisória da escola, ter muitas salas, não

conseguiu comportar o número de professores de cada turno, pois não houve

número de salas suficientes para se atribuir a cada professor. Assim, alguns

professores precisaram dividir salas. Segundo esta divisão, quando um professor

estivesse em horário de aula, o outro estaria em horário de planejamento, e vice

versa. Eu dividi sala com a outra professora contratada, utilizando-a nas segundas e

parte das terças-feiras, enquanto esta professora ficava em planejamento parte da

manhã de terça, depois a ocupando neste dia e nos demais dias da semana. Esta

configuração repetiu-se nas demais áreas, de acordo com a carga horária, o que

dificultou o encontro de alguns professores de mesma área para planejamento, salvo

nos dias destinados a jornadas de planejamento pedagógico, que aconteciam a

cada trimestre de acordo com o calendário escolar. Ainda assim, fiz o convite a

professores de outras áreas de conhecimento e da minha área para trabalharmos o

tema desta pesquisa, porém, além de eu não conseguir reunir-me semanalmente

com estes professores, o fato de eu ser docente de apenas uma das turmas de

primeira série, enquanto a maioria destes lecionava para todas as demais,

influenciou para que não aceitassem, pois não concordavam/desejavam fazê-lo em

apenas uma turma.

Já que não foi possível a participação de outros professores, trabalhei a

temática apenas dentro da disciplina Química, somente com a minha turma de

primeira série, adaptando-a de acordo com o que foi estabelecido no plano de

ensino da disciplina. As atividades propostas na escola B foram adaptadas para a

realidade da escola A e uma atividade foi realizada juntamente com o professor de

História.

A turma de primeira série foi formada por 35 estudantes. Iniciei o estudo da

temática paralelamente ao conteúdo estabelecido no plano de ensino. Antes, porém,

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já com autorização da Superintendência de Educação e da escola, informei aos

estudantes sobre a pesquisa e entreguei o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (ANEXO 1) para levarem para seus responsáveis assinarem, caso

concordassem com a participação do estudante na pesquisa. Sobre o termo, deixei

claro que: a) a colaboração com a pesquisa era voluntária; b) não assinar o termo de

consentimento não significaria estar dispensado de realizar as atividades; c) só

utilizaria como material de pesquisa as respostas daqueles estudantes, cujos

responsáveis assinassem o termo; d) eles poderiam desistir da participação a

qualquer momento; e) comprometia-me a enviar aos interessados o trabalho final; e

f) durante as atividades, assim como costumava fazer em meu trabalho como

professora, os estudantes teriam sua participação avaliada no que diz respeito ao

engajamento em realizá-las. A maioria dos estudantes optou por participar.

Conforme item b, os estudantes que não quiseram participar da pesquisa não foram

dispensados das atividades, apenas suas falas e respostas não foram utilizadas

como material de pesquisa.

As atividades realizadas incluíram: oficina sobre patrimônio cultural; aula

expositiva e dialogada sobre o tema; leitura e discussão do texto O papel do químico

na conservação e restauração do patrimônio cultural; atividade dos estudantes de

visita a alguns patrimônios arquitetônicos do estado e exposição de observações à

turma; oficina de fotografia; utilização de artigos científicos para discussão sobre

metais tóxicos; análise e discussão sobre experimento de cromatografia de papel e

oficina de conservação de papel.

Estas atividades foram realizadas entre os meses de abril a novembro de

2015, de acordo com o planejamento da escola, com exceção de uma das

atividades que não foi realizada.

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CAPÍTULO 4

AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E SUAS IMPLICAÇÕES

4.1. Atividades desenvolvidas na escola B e seus desdobramentos

Nesta escola foram desenvolvidas quatro oficinas, além de aula de campo no

Centro Histórico de Vitória, capital do estado. Tais atividades contaram com

aproximadamente 60 estudantes, realizadas entre os meses de junho e novembro

de 2015, num total de 12 semanas. Na semana posterior à realização de cada

oficina, foi aplicado um questionário sobre questões desenvolvidas durante a

mesma. A aula de campo no Centro Histórico aconteceu no dia 31 de julho de 2015,

no horário de 7 ás 12h. As quatro oficinas foram: sobre patrimônio cultural, fotografia

(com a técnica cianotipia), tintas e oficina sobre conservação e restauração de

papel.

De acordo com São Paulo (2007), o trabalho em uma oficina temática inicia-

se com a explicitação das ideias prévias dos estudantes sobre o tema gerador.

Procura-se conhecer o que o aluno já sabe, aspectos de sua cultura primeira que o

tema evoca.

[...] não podemos deixar de considerar no planejamento, elementos vivenciais do aluno, os contextos sociais dos quais ele, a escola, sua comunidade fazem parte, como objetos de aprendizagem e pontos de partida para o desenvolvimento de conhecimentos que transcendem a realidade local, conhecimentos de alcance mais amplos, universais (SÃO PAULO, 2007, p.13).

Assim, a primeira atividade consistiu na oficina sobre patrimônio cultural, com

o objetivo de levantar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre a temática,

além de inferir se os estudantes conheciam a região onde vivem e o que

consideravam mais importante em sua cidade/bairro, que pode vir a ser considerado

o patrimônio local.

Dentro da perspectiva de Educação Patrimonial, o entendimento e a prática

da cidadania começam

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[...] pelo conhecimento da realidade onde o indivíduo está inserido, a memória preservada, os dados do presente, o entendimento das transformações e a busca de um novo fazer, o que não significa uma aceitação submissa e passiva dos valores do passado, mas o reconhecimento que estão ali os elementos básicos com que contamos para a conservação da nossa identidade cultural (ZANON, 1994, p. 78 apud CARVALHO e MACHADO, 2015, p. 162).

Assim, as observações sobre esta primeira atividade serviram de base para a

realização das demais.

4.1.1. Oficina sobre patrimônio cultural

Esta primeira atividade foi realizada com aplicação da ficha de percepção

acerca do patrimônio cultural (CALDARELLI, 2003 apud OLIVEIRA E WENCESLAU,

2007, p.38), em que os estudantes responderam aos seguintes itens: descrição da

região onde vive, história da região onde vive, um lugar importante, razão, onde não

se deve deixar de ir, razão, o que não se pode deixar de ver, razão, o que não se

pode deixar de participar, razão, o que não se pode deixar de comer/beber, razão, o

que você entende por patrimônio cultural. A esta ficha foram acrescentadas as

questões: “O que você entende por Conservação e Restauração de bens culturais?”,

ainda “A disciplina Química tem relação com outras disciplinas do currículo escolar?”

e, “se sim, quais”. Foi insistentemente pedido aos estudantes que respondessem a

ficha com bastante sinceridade, uma vez que era composta por questões abertas e

não se tratava de avaliar as respostas como certas ou erradas, considerando que

questão aberta é aquela que permite a possibilidade de se obter na resposta

posições/opiniões pessoais.

Como já mencionado, o objetivo da oficina foi fazer o levantamento das ideias

prévias dos estudantes a respeito do tema gerador e, por consequência deste, do

conhecimento dos estudantes do patrimônio local. Os objetivos de cada item da

ficha de percepção acerca do patrimônio cultural estão colocados a seguir:

1) Descrição da região onde vive- perceber a visão do estudante sobre o

bairro/município.

2) História da região onde vive- inferir o que o estudante conhece da

história do seu bairro ou município

3) a) Um lugar importante, razão; b) onde não se deve deixar de ir, razão;

c) o que não se pode deixar de ver, razão; d) o que não se pode deixar

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de participar, razão; e) o que não se pode deixar de comer/beber, razão;

dispostos em cinco itens- inferir o que o estudante conhece e/ou reconhece

da cultura do bairro/município.

4) O que você entende por patrimônio cultural?- Inferir se o estudante

conhece o conceito de patrimônio cultural.

5) O que você entende por Conservação e Restauração de bens

culturais?- inferir sobre a compreensão dos estudantes sobre o conceito da

temática deste trabalho.

6) A disciplina Química tem relação com outras disciplinas do currículo

escolar? Razão, “se sim, quais”- inferir sobre a visão dos estudantes sobre

a relação da disciplina Química com outras áreas.

A ficha foi respondida por 55 estudantes. Sobre as respostas dos estudantes

ao primeiro item “descrição da região onde vive”, 4 estudantes mencionaram apenas

violência e criminalidade do bairro, 24 descreveram aspectos do bairro (número de

escolas, comércio, moradores; etc.) e também mencionaram violência ou tráfico, 22

apontaram apenas aspectos positivos e 5 estudantes não responderam a este item.

O fato de boa parte dos estudantes citar violência e criminalidade no bairro

pode ser relacionado aos dados de Waiselfisz (2014, p. 60), que apontaram que, no

período de 2008- 2012, o município de Serra ocupou o 37º lugar no índice de

homicídios nos municípios do Brasil e o 15º lugar de homicídio da população Jovem

no Brasil, enquanto a nível estadual ficou em 1º. E neste caso, o bairro desta escola

já foi um dos mais citados em episódios de violência no estado. O conhecimento

deste histórico (“da fama do bairro”) e o consequente preconceito em relação ao

mesmo foram perceptíveis nas falas dos estudantes enquanto respondiam a ficha.

No entanto, a respeito de o bairro ser caracterizado pela violência e

vulnerabilidade socioeconômica, as respostas de alguns estudantes denotaram que

estes tentavam justificar esta característica, ressaltando os seus aspectos positivos.

Alguns dos fragmentos22 destas respostas foram apresentados a seguir:

Estudante B16: “Meu bairro é um local bom de se morar; tudo depende de como você é, podemos viver no meio das drogas, é só não se mecher com coisas erradas”.

Estudante B20: “[...] É um bairro “calmo” com os mesmos problemas que qualquer outro bairro tem. bem aqui tem de tudo”

22

Os fragmentos foram apresentados da forma exata como os estudantes os escreveram.

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Estudante B22: “Eu moro em um lugar bom na minha opinião. Se você não envolver-se com nada errado, viverá muito bem aqui em FR”.

Estudante B25: “Bairro grande, casas (a maioria) bem estruturadas e ruas (a maioria) asfaltadas. Aqui tem boas escolas, e moram boas pessoas, nem vou citar a violência porque todo bairro tem e aqui não seria diferente”.

Estudante B49: “O bairro onde moro, é de boa e má qualidade. Boa qualidade porque tem muitos comércios, escolas, creches, etc. E de má qualidade porque o tráfico de drogas é intenso, porém não deixa de ser um bairro ótimo”.

Os estudantes que ressaltaram apenas os aspectos positivos do bairro

detiveram- se em descrever sua vizinhança, organização do bairro e eventos.

Estudante B2: “Um bom, lugar para se morar, tem o Encontro dos Amigos na praça onde vem gente de outros bairros para ca”.

Estudante B8: “Um bairro bom e tranquilo para as pessoas de bem onde se tem quase tudo de que precisamos”.

Estudante B9: “É um bairro bem estruturado com um grande número de pessoas. E ainda tem escolas, unidades de saúde, departamento de polícia, comércios e outras propriedades que beneficiam esse bairro”.

Estudante B40: “FR é um bairro bom para viver é perto de muitas empresas, o que é bom para trabalha e muitas outras coisas”.

Com relação à história do bairro, este surgiu a partir de um Conjunto

Habitacional erguido, em meados dos anos 70, para ser a moradia dos

trabalhadores da construção de uma companhia siderúrgica na capital do estado.

Entretanto por causa da distância em relação a capital não houve interessados em

residir no local. Devido a isso o bairro ficou abandonado durante anos, havendo

saque das estruturas construídas e depredação. Segundo Saitt (2015), o bairro

começou a ser habitado no início da década de 1980 por moradores oriundos do

bairro Tabuazeiro, no município de Vitória, devido a um acidente de desabamento de

terras e pedras sobre inúmeras casas no Morro do Macaco, deixando seus

habitantes desabrigados. Para solucionar este problema de moradia, a Prefeitura de

Vitória assumiu o pagamento de casas populares neste Conjunto Habitacional. Com

o passar do tempo o bairro se tornou o mais populoso da Serra e um dos maiores do

Estado. O bairro já foi considerado muito violento e devido a esse fato o seu nome

foi alterado para Bairro das Flores, que perdurou até 1994 quando a comunidade,

através de um plebiscito, preferiu o retorno do nome original (omitido neste trabalho),

homenagem a um médico, pai de um ex-prefeito do município de Serra.

De acordo com as respostas dos estudantes neste segundo item, apenas 2

estudantes conheciam parte da história do bairro, 2 responderam que não

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conheciam e 24 estudantes não responderam a questão. Entre as respostas dos

demais estudantes: 2 mencionaram o nome (Bairro das Flores); outros 3

mencionaram o médico e político que dá nome ao bairro até os dias de hoje; 7

estudantes mencionaram que o bairro foi formado por invasão de moradores e 15

colocaram estórias, opiniões, descrições etc. sobre o mesmo.

As menções a bairro das Flores, ao médico e político e sobre invasão têm

relação com a história do bairro, porém os estudantes apresentaram informações

desconexas e/ou não comprovadas, tais como as que estão destacadas em negrito

nos fragmentos a seguir:

Estudante B3: “Antes do bairro ser chamado Dr. P. FR

23, era chamado do bairro das

flores, pela diversidade de flores e plantas que havia, tanto que no bairro todas as ruas tem o nome de flores e plantas”.

Estudante B22: “Não sei quando FR foi fundada, mas sei que tinha um homem que se chamava Doutor PFR, por isso o nome. E ele foi morto em uma emboscada depois de FR ser fundada”.

Estudante B23: “Não sei ao certo, mas acho que tem haver com o Drº PFR. Que eu creio que foi o primeiro doutor daqui”.

Estudante B55: “Eu fiquei sabendo que o bairro aonde eu moro falaram que era uma aria particula aonde foi invadida pelos moradores e depois comprada por alguns por um preço muito baixo”.

Um exemplo de estória apresentada por alguns estudantes sobre o bairro

é a do Estudante B51: “Bom, eu já ouvi que FR era um cemitério, onde

jogavam as pessoas mortas, daí depois de um tempo começou ser construído

casas e comércios”.

Os dois estudantes que conheciam parte da história do bairro apresentaram

os fragmentos:

Estudante B20: “Pelo que eu soube, a anos atrás, teve uma grande enchente que desabrigou muitas pessoas, ai para ajudar essas pessoas foi criado o bairro das Flores que anos depois teve o nome alterado para Feu Rosa”, além de

Estudante B50: “o bairro surgiu através de uma invasão que teve, quando rolo a pedra no morro do macaco em maruípe”.

Na ficha de percepção acerca do patrimônio cultural, os itens “um lugar

importante” até “o que não se pode deixar de comer/beber”, foram utilizados no

intuito de apreender o contexto dos estudantes e seus conhecimentos sobre a

23

As siglas nos fragmentos representam omissões feitas pela pesquisadora.

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cultura do bairro/ município/ estado ou patrimônio cultural, de forma geral, ao

verificar quais bens culturais seriam citados nestes itens.

Da cultura do estado, município ou do país, foram citados: a catedral de

Vitória, a cidade de Vila Velha, Pedra da Cebola24, o convento da Penha, a torta e a

moqueca capixaba, o Mestre Álvaro25, o Porto de Vitória; e do país, a caipirinha e o

feijão tropeiro. Foram mais vezes citados a moqueca (6 vezes) e a torta capixaba

(11 vezes), o Mestre Álvaro (8 vezes) e o feijão tropeiro (5 vezes). Foram

destacados os seguintes fragmentos devido às razões apontadas pelos estudantes

ao mencioná-los:

Menção à cidade de Vila Velha

Estudante B47: “É a cidade mais antiga do estado”;

Menções à torta capixaba

Estudante B28: “uma tradição, uma comida típica do Espírito Santo”,

Estudante B29: “[...] porque o Espírito Santo é conhecido pelas suas comidas típicas quem vem

aqui nunca vai embora sem comer”;

Estudante B35: “Por e uma comida tipica do estado, é muito tradicional e muito boa”.

Estudante B53: “é um marco do estado, dos capixabas”;

Estudante B54: “porque ela representa o Espírito Santo”,

Estudante B55: “além de ser muito boa uma cultura” e

Menção ao feijão tropeiro

Estudante B36: “É uma tradição”.

Destes fragmentos inferiu-se que alguns estudantes (re) conhecem alguns

elementos da cultura do estado, considerando-se aqueles conhecidos e registrados

como tal, e apontaram esta razão para citá-los. Em alguns casos, apesar de os

estudantes citarem elementos da cultura do estado/bairro/município, apontaram

outras razões para sua escolha. A maioria dos estudantes não citou nenhum bem

cultural do estado, e ficou restrita a aspectos do próprio bairro.

O estudante B23 colocou como resposta “Não temos comida típica, mas para

mim é o peixe/ Porque tem praias aqui perto onde se pesca e dá pra fazer frito ou

muqueca”. Apesar de citar “muqueca”, não o reconheceu como prato tradicional do

24

Pedra desenhada pela natureza no formato de uma grande cebola, um dos símbolos da capital capixaba.

25 Uma formação rochosa de origem vulcânica com cerca de 833 metros de altitude no Estado

do Espírito Santo.

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estado (moqueca capixaba), o que pode representar o seu desconhecimento sobre a

cultura capixaba.

As respostas a estes itens demonstraram que o ambiente sociocultural dos

estudantes estava muito restrito ao bairro da escola, sendo muito citados a escola, a

praça onde a escola está situada, o ginásio, o posto de saúde, igreja e a própria

casa. A praça principal do bairro foi citada em todos os itens, desde “lugar

importante” “onde não se pode deixar de ir”, nos eventos indicados no item “de que

não se pode deixar de participar”, além do item “o que não se pode deixar de

comer/beber”. Foram citados alimentos como kebab e eventos como “festa pvt”

(abreviatura de private, é uma espécie de rave), baile funk, encontro de amigos

(rave), festa junina, que estão presentes ou acontecem nesta praça. No caso do

kebab, muitos estudantes o citaram como se fosse algo típico do bairro (“porque

todo mundo vai na praça e come”), enquanto apenas dois estudantes especificaram

que era uma comida árabe.

Quanto às questões conceituais sobre patrimônio histórico e conservação e

restauração de bens culturais, os estudantes apresentaram dificuldades para

responder, talvez porque este conteúdo ainda não havia sido trabalhado, apesar de

estar previsto no currículo de arte e história.

O documento referência para elaboração dos planos de ensino prevê para a

primeira série do ensino médio, no primeiro trimestre, na disciplina de História, o

conteúdo: “Memória e Representações: Cultura material e imaterial; patrimônio e

diversidade cultural no Brasil e no Espírito Santo (bens móveis, bens imóveis,

patrimônio imaterial e patrimônio natural)” (ESPÍRITO SANTO, 2014, p.33); e em

Arte, no segundo trimestre: “O patrimônio artístico- cultural como imagem e

linguagem cultural, texto plural, repleto de significados históricos, sociais, políticos e

econômicos de determinada cultura, a serem desvelados pela ativação dos sentidos

e cognições” (ESPÍRITO SANTO, 2014, p.63). Posteriormente à oficina, a professora

de arte confirmou que o conteúdo ainda não havia sido abordado.

De acordo com o artigo 216 da Constituição Federal de 1988, patrimônio

cultural corresponde aos bens materiais e imateriais, abrangendo as formas de

expressão; os modos de criar, fazer e viver; obras, objetos, documentos, edificações

e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais, os conjuntos

urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,

paleontológico, ecológico e científico. Tomando-o como base para analisar as

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respostas dos estudantes a esta questão, considerou-se que as respostas de 11

estudantes aproximaram-se do conceito de patrimônio cultural, ao apresentarem

respostas como:

Estudante B17: “Entendo que é tudo aquilo que envolva a cultura de cada lugar do mundo”.

Estudante B37: “tudo aquilo que faz parte da cultura do bairro, algo que marque a história”

Estudante B55: “Entendo que é algo a ser preservado já que faz parte do município, faz parte de uma história”.

Contudo, 18 estudantes não responderam a questão ou responderam que

desconheciam o conceito de patrimônio cultural.

Nas respostas dos demais estudantes apareceram menções ao patrimônio

cultural como lugar, coisa ou patrimônio público. As menções a coisa e lugar

pareceram demonstrar que os estudantes restringiram o patrimônio cultural a algo

material e/ou a um espaço, ou seja, nas suas respostas não foram mencionados

patrimônio cultural imaterial e natural, com exceção do Estudante B12, que

respondeu a pergunta com exemplos de festas típicas, de patrimônio imaterial:

“Festa Junina, Festa de São Pedro, quadrilha”. Já a menção a patrimônio público

provavelmente tem relação com a referência mais próxima da palavra patrimônio,

presente em seu cotidiano.

No quadro 4 estão alguns dos fragmentos das respostas dos estudantes.

Patrimônio cultural como coisa e/ou lugar:

Estudante B2: “Entendo que é lugar aberto contando historia da cidade ou do bairro”.

Estudante B4: “Entendo que é uma coisa histórica, antiga, que é aberto para varias pessoas visitarem”.

Estudante B47: “Eu entendo que é um lugar muito importante para nosso Estado que deve ser preservado. Nos precisamos de lugares ou coisas para contar a historia da nossa cidade”.

Estudante B48: “São áreas que espõe coisas relacionada a cultura e a coisas antigas”.

Patrimônio cultural como patrimônio público:

Estudante B19: “O patrimônio cultural é uma propriedade que deve ser preservado, por Exemplo a escola, hospitais, porque só trazem benefícios”.

Estudante B49: “Eu entendo como patrimônio público escola, DP’s, postos de saúde, praças e até mesmo monumentos históricos”

Quadro 5. Fragmentos de respostas de estudantes da Escola B sobre o conceito de patrimônio cultural.

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O Estudante B50 respondeu: “[...] não entendo quase nada pois nem

frequento lugares desse tipo”, o que reforçou a constatação pelas respostas ao item

anterior de que o ambiente sociocultural destes estudantes estava restrito ao seu

bairro.

Sobre o conceito de Conservação e Restauração de bens culturais, a análise

das respostas foi baseada em Medeiros (2012), que destaca que

[...] a ação de conservação buscará cessar as causas de deterioração e procurará dar estabilidade à obra, enquanto que a restauração irá mais além, buscando aproximar, o mais possível, a obra, estrutural e esteticamente, da “quantidade inicial de informações”.

Entretanto esta questão não foi respondida por 21 estudantes, 12

mencionaram que restauração equivale a consertar e 5 estudantes apresentaram

ideias consideradas próximas da definição de um ou dos dois termos, tais como:

Estudante B50: “[...] conservação e você mante ou melhorar o ambiente ou lugar, e restauração é você restaurar o que já acabou”

Estudante B55: “[...] e você ver qui esta velho de uma pintura ver o que precisa ser mudado”

Estudante B34: “Conservar e usar não estragar os bens culturais. Já restaurar e os bens culturais voltarem a ser como antes, novos e conservados”.

Os demais estudantes apresentaram respostas evasivas, alheias à questão.

A menção a consertar foi destacada porque, apesar de restaurar ser um dos

seus sinônimos, no conserto nem sempre há preocupação em manter a obra o mais

possível com as suas informações originais, o que diverge do conceito de

Restauração.

Em relação ao item sobre a percepção da relação da disciplina química com

outras áreas/ disciplinas do currículo escolar, 48 estudantes responderam sim, 5 não

e 2 não responderam. Neste item os estudantes responderam também sobre a

razão pela qual acreditavam que a disciplina química tinha ou não tinha relação com

outras áreas/ disciplinas e, ainda apresentaram exemplo(s) em caso de resposta

positiva. Conforme o quadro 5, das disciplinas citadas como exemplos, destacaram-

se as disciplinas da área de conhecimento definida pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais, Ciências da Natureza, a saber: física apareceu nas respostas de 22

estudantes, matemática em 21 e biologia em 16.

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Disciplinas Nº de estudantes

Física 22

Matemática 21

Biologia 16

Geografia 18

Quadro 6. Principais disciplinas relacionadas à Química apontadas pelos estudantes da Escola B.

Os estudantes que responderam que a disciplina química não se relaciona

com outras áreas/disciplinas apresentaram os seguintes argumentos:

Estudante B51: “[...] acho que a química é uma matéria única, não tem nada que simila. Nenhuma matéria”,

Estudante B40: “[...] a química é uma matéria única”,

Estudante B31: “[...] apesar de que a química se relaciona, a química tem seus ensinamentos diferentes de outras disciplinas”,

Estudante B29: “[...] nem tudo que estudamos nas outras matérias tem alguma coisa relacionado a química como átomos, protons, elétrons e etc”;

Estudante B14: “[...] química é muito diferente de cultura”.

Nos três primeiros fragmentos, os estudantes não explicaram suas respostas.

Já a resposta do Estudante B29 nos permitiu inferir que a compreensão do

estudante é de que a disciplina química se limita ao estudo de átomos, prótons,

elétrons, etc. o que pode ter relação com o conteúdo que estudou em seu ensino

fundamental e até aquele momento no ensino médio. De fato, quando iniciei as

atividades da pesquisa, as turmas estavam estudando número atômico, de massa e

distribuição eletrônica. Sobre a resposta do Estudante B14, o fato do tema da

pesquisa referir-se a bens culturais pode tê-lo influenciado para que respondesse

que a “química é muito diferente de cultura”.

Dentre as respostas dos estudantes que responderam que a disciplina

química se relaciona com outras disciplinas, foram destacados os seguintes

fragmentos:

Estudante B7: “tudo q envolve cálculo”.

Estudante B25: “matemática (aquelas continhas que há na química”.

Estudante B23: “Acho que tem haver com outras por causa dos cálculos (matemática, física)”

Estudante B39: “matemática porque existem cálculos”.

Estudante B54: “Principalmente quando se trata de “fórmulas”, a matemática, física e biologia”.

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O que se depreende destes fragmentos apresentados é que, para estes

estudantes, o conhecimento químico até o momento tem se resumido

[...] a fórmulas matemáticas e à aplicação de “regrinhas”, que devem ser exaustivamente treinadas, supondo a mecanização e não o entendimento de uma situação-problema. Em outros momentos, o ensino atual privilegia aspectos teóricos, em níveis de abstração inadequados aos dos estudantes (BRASIL, 2000b, p. 32).

É preciso ressaltar que esta ficha de percepção acerca do patrimônio cultural

foi aplicada no mês de junho. Assim, as respostas dos estudantes demonstraram os

sentidos produzidos possivelmente a partir de seu ensino fundamental e em parte de

seu ensino médio. Se considerarmos a organização de conteúdos estabelecida na

proposta curricular do estado para o ensino de Química (ESPÍRITO SANTO, 2009),

sua sequência parte dos aspectos microscópicos e simbólicos para os

macroscópicos, o que explica as menções a cálculos, fórmulas, átomos, elétrons,

etc. Tal concepção sobre o ensino de química, muito se tem procurado superar.

Entretanto,

Entre os desafios, para superar deficiências, carências e equívocos, aponta-se a necessidade da convergência de toda a comunidade escolar em torno de um projeto pedagógico que faça a articulação não só das disciplinas de cada área, mas também de todas as áreas, tendo como objetivo central a realização dos objetivos educacionais da escola, a qualificação e promoção de todos os alunos (BRASIL, 2000b, p. 5).

Por outro lado, a resposta do Estudante B55 foi: “Sim, acho que se relaciona

bem com a geografia, a estrutura geológica quando estudada tem muitos traços da

química”. Conforme o quadro 5, a disciplina de Geografia apareceu nas respostas de

18 estudantes.

Respostas como a do Estudante B53- “Varias tudo tem quimica mesmo pouca

mais tem a pasta de dente tem a escovas de cabelo o lápis que estou escrevendo

tudo tem química”, podem ser enquadradas na discussão de Rosa e Tosta (2005)

sobre o lugar da Química. No caso deste fragmento, conforme as autoras,

[...] a química parece ser confundida com as coisas, ela se torna objeto, ser vivo, substância. Essa visão utilitarista da Química se sobrepõe à sua faceta teórica, enquanto conhecimento (ROSA e TOSTA, 2005, p. 260).

Já sobre as respostas:

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Estudante B17: “[...] um pouco de cada uma, se não existisse química, não existiria nada”

Estudante B48: “[...] quase tudo na vida é uma reação química. Antes eu achava que não mais tudo que existe no dia a dia tem uma mistura química”.

Estudante B20: “Sim, Porque a quima esta em tudo até em uma simples respiração”

De acordo com Rosa e Tosta (2005),

[...] nessas manifestações, a química é tão ampla que a palavra “tudo”, por si só, dá conta de dizer sobre a importância do seu lugar. Pensar que ela está em tudo também pode contribuir para o fortalecimento de uma visão poderosa da química, de um conjunto de conhecimentos, fenômenos e coisas que constituem o real, considerado na sua totalidade. Essa concepção está presente nos discursos de muitos educadores químicos que colocam a química em tudo para consolidar sua relevância (ROSA e TOSTA, 2005, p. 260).

Estas autoras se basearam em Lopes (2003; 2005), no entendimento de que

“[...] a disciplina escolar é: 1) uma construção sócio-histórica; 2) uma tecnologia de

organização curricular; 3) um produto da recontextualização de discursos; 4) um

híbrido de discursos curriculares” (LOPES, 2005, p. 265). Nessa perspectiva, as

autoras ressaltaram

[...] a disciplina escolar Química como um conjunto de premissas, atividades, materiais, documentos, ações pedagógicas etc., que levam, para o espaço escolar, discursos recontextualizados e hibridizados que são reconhecidos por professores, estudantes e outros atores escolares como um campo de conhecimentos relacionados com a ciência química (ROSA e TOSTA, 2005, p. 254).

Desta forma, as respostas dos estudantes reproduziram o discurso

estabelecido, reconhecido e repetido por professores, estudantes e outros atores

escolares como disciplina Química, no que diz respeito à sua visão utilitarista e

relacioná-la a tudo para consolidar sua relevância.

4.1.2. Aula expositiva e dialogada sobre o tema

A partir das respostas dos estudantes à ficha de percepção acerca do

patrimônio cultural foi organizada uma aula expositiva e dialogada sobre a temática,

trabalhando diversos conceitos, tais como: o que é patrimônio cultural- material e

imaterial- móvel e imóvel, o que é patrimônio natural, o que é conservação e

restauração de bens culturais e alguns de seus processos, a importância da ciência

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no estudo da materialidade dos bens culturais e também a relação da química com

outras áreas de conhecimento, além da história do bairro.

Esta atividade foi realizada duas semanas depois da oficina sobre patrimônio

cultural e possibilitou o compartilhamento das visões dos estudantes, utilizando-se

de suas respostas à ficha para trabalhar conceitos. Por exemplo: as menções à

Catedral de Vitória, kebab, feijão tropeiro, caipirinha, torta capixaba, festa pvt, ao

Mestre Álvaro, etc., foram utilizadas para discutir os conceitos de patrimônio

material, imaterial, natural, local, municipal ou estadual, nacional, internacional, entre

outros.

Além de conceitos, discutiu-se a importância do tema e sobre a importância

da comunidade reconhecer e lutar pela preservação do seu patrimônio histórico e

cultural, que se dá somente a partir do momento em que a comunidade o toma para

si. No Brasil, o maior risco que o patrimônio corre é o desconhecimento. Segundo

Funari e Funari (2007), o desejo pela modernidade, o roubo e a deterioração dos

monumentos devido à falta de manutenção e abrigo, revelam uma causa comum: “a

alienação da população, o divórcio entre o povo e as autoridades, a distância que

separa as preocupações corriqueiras e o ethos e políticas oficiais” (FUNARI e

FUNARI, 2007, p. 15). Ou seja, em muitos casos, o povo não se apropria dos bens

culturais, por não conhecê-los ou reconhecê-los como seus.

O distanciamento da população em relação aos bens culturais pode ser

explicado pelo fato de que, no Brasil, houve uma

[...] política de patrimônio que preservou as casas-grandes, as igrejas barrocas, os fortes militares, as câmaras e cadeias como as referências para a construção de nossa identidade histórica e cultural e que relegou ao esquecimento as senzalas, as favelas e os bairros operários (FERNANDES, 1993, p. 275 apud FUNARI e FUNARI, 2007, p.15).

Como enfatizou o sociólogo brasileiro Ianni (1988 apud FUNARI e FUNARI,

2007),

[...] o que se considera patrimônio é a arquitetura, a música, os quadros, a pintura e tudo o mais associado às famílias aristocráticas e à camada superior em geral. A catedral, frequentada pela “gente de bem”, deve ser preservada, enquanto a Igreja de São Benedito, dos “pretos da terra”, não é protegida e é, com frequência, abandonada. (IANNI, 1988, p. 83 apud FUNARI E FUNARI, 2007, p. 16).

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Segundo Chaves e Corrêa (2011, p. 2), não houve grande participação social

e popular na história da preservação, salvo alguns momentos de interesse pontual

por partes de grupos sociais específicos26, residindo nesse aspecto uma das

maiores dificuldades para o êxito de qualquer política de preservação no país. A este

respeito valeu-se do exemplo da Igreja de São José de Queimado27 (no distrito de

Queimado do município de Serra), cujas ruínas foram tombadas como patrimônio

cultural e atualmente estão abandonadas.

Também foram discutidas algumas das causas de degradação de bens

culturais: umidade, luz, calor, poluentes atmosféricos, poeiras, agentes biológicos,

microrganismos como insetos e roedores, acondicionamento, manuseio (os

estudantes citaram molhar o dedo para mudar página do livro, o que deixaria o papel

úmido e suscetível à degradação), desastre, inundações, incêndios e furtos,

vandalismo.

Sobre a caracterização dos bens culturais materiais e estudo dos processos

de degradação, foram discutidos a importância do estudo da luz, no que diz respeito

ao espectro eletromagnético e às diversas radiações – raios X, raios gama,

ultravioleta, visível, infravermelho- invisíveis ao olho humano e utilizadas para

diversos fins, como exames médicos, celulares, etc; a contribuição deste estudo

para o modelo atômico de Rutherford-Bohr; no contexto dos bens culturais, o uso

das diversas radiações para exames e registros, conforme quadro 3 do capítulo 2

26

Em “patrimônio, negociação e conflito”, Gilberto Velho (2006) relatou sua experiência enquanto

relator de um dos caos mais emblemáticos de tombamento no Brasil ocorrido no ano de 1984, o tombamento do terreiro de candomblé Casa Branca, em Salvador, Bahia, a primeira vez que a tradição afro-brasileira obtinha o reconhecimento oficial do Estado Nacional. Devido às inúmeras pressões por parte de estudiosos e setores da sociedade ligados a causa da cultura afro-brasileira, foi inscrito na lista do patrimônio nacional, abrindo caminho inclusive para que outros bens e manifestações de cunho não elitista pudessem também seguir o mesmo caminho, constituindo-se assim também patrimônio do ponto de vista institucional.

27 A igreja de São José, da vila do Queimado, um pequenino aglomerado fundado no século XIX na

margem esquerda do rio Santa Maria da Vitória, tem seu passado vinculado ao mais importante movimento insurrecional da província do Espírito Santo, protagonizado por Chico Prego, João da “Viúva Monteiro”, Elisiário e Carlos (ESPÍRITO SANTO, 2009, p. 23). A Insurreição de Queimado foi uma das primeiras revoltas de escravos no Brasil, e aconteceu em 1849, quando um grande contingente de escravos, mais de 300, exigiu carta de alforria durante a missa inaugural da Igreja no dia do padroeiro São José em 19 de março daquele ano, devido à promessa de liberdade feita aos escravos pelo pároco Gregório José Maria de Bene aos que ajudassem na construção do templo. Depois de um ano trabalhando aos domingos e feriados, os escravos, já esperando o não cumprimento da promessa, organizaram um movimento insurrecional que deveria eclodir durante a missa inaugural da Igreja. O resultado foi uma rápida e violenta repressão com a prisão e condenação a morte dos principais líderes.

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deste trabalho e apresentados exemplos de análises de bens culturais móveis (arte

sacra) do estado.

Até o momento da exemplificação de processos de restauração de alguns

bens culturais do estado, os estudantes estavam mais apáticos e silenciosos, talvez

devido ao número de informações. Porém com a apresentação de exemplos de

trabalhos de restauração, com imagens dos problemas de um bem cultural obtidas

através da documentação fotográfica com uso de diversas técnicas e diferentes

radiações eletromagnéticas, os estudantes ficaram impressionados. Alguns

exclamaram: “Como tanto problema estava escondido assim?”, “[...] que diferença

quando alguém que não sabe faz (restauração) de quando o restaurador faz!” e “[...]

quanto tempo leva para fazer a restauração?!”

No que diz respeito às perguntas sobre o bairro na ficha de percepção acerca

do patrimônio cultural, expliquei aos estudantes que o objetivo foi verificar a sua

percepção sobre o patrimônio local, sobre aquilo que os identificava culturalmente.

Algumas das respostas foram repetidas, tais como funk e hip hop nas festas pvt e

encontro de amigos na praça, frequência a igrejas, família reunida na praça, torta

capixaba, praias, além da presença de elementos culturais de outros países. Foram

feitos questionamentos aos estudantes sobre o bairro, a respeito da violência,

apontada por alguns, sobre o que o bairro tem a oferecer e da sua relação com a

história do município e estado.

Tais questionamentos visavam fazer os estudantes refletirem sobre seu

cotidiano, sem impor-lhes a homogeneização e o monoculturalismo que, conforme

Leal e Rocha (2012, p. 192) “costumam caracterizar a educação escolar” e “podem

ser percebidos como produtos e produtores de preconceito e discriminação”, e

propagados pelas próprias vítimas. Concordo que

[...] os programas escolares que não concedem reconhecimento à cultura popular e, mais concretamente, às formas de cultura da infância e da juventude (cinema, quadrinhos, músicas joviais etc) como veículo de comunicação de suas visões da realidade e, portanto, como significativo para o alunado, estão perdendo a oportunidade de aproveitar os conteúdos culturais e os interesses dessas pessoas como base para o trabalho cotidiano nas salas de aula (LEAL e ROCHA, 2012, p. 192).

Quanto aos bens culturais, estes se relacionam a

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[...] qualquer evidência material ou manifestação cultural, seja um objeto ou conjunto de bens, um monumento ou um sítio histórico ou arqueológico, uma paisagem natural, um parque ou uma área de proteção ambiental, um centro histórico urbano ou uma comunidade da área rural, uma manifestação popular de caráter folclórico ou ritual, um processo de produção industrial ou artesanal, tecnologias e saberes populares, e qualquer outra expressão resultante da relação entre indivíduos e seu meio ambiente (HORTA, GRUNBERG e MONTEIRO, 1999, p. 6).

Deste modo, o objetivo da aula foi discutir as respostas dos estudantes à ficha

de percepção do patrimônio cultural, introduzindo ou ampliando conceitos, sobre

patrimônio material, imaterial e natural, processos de degradação e conservação e

restauração de bens culturais, bem como sobre a história e elementos do bairro.

“Além desses, há objetivos muito ambiciosos mas estimulantes: tornar o aluno mais

responsável, levá-lo a fazer escolhas, propor uma reflexão crítica, apropriar-se do

território em que vive [...]” (ICHER apud LONDRES, 2008, p. 158).

4.1.3. Aula de campo no Centro Histórico de Vitória

Esta atividade foi realizada no dia 31 de julho de 2015, no horário de 7 às

12h, em parceria com a Prefeitura Municipal, por meio de o Projeto Visitar, e foi

organizada pela professora de Arte, pela pedagoga e por mim, com o suporte

financeiro da direção da escola para aluguel do ônibus e solicitação de auxílio da

Guarda Municipal. A professora de Arte, seu estagiário, o professor de Química e eu

acompanhamos os estudantes. O objetivo foi proporcionar aos estudantes contato

com alguns dos monumentos históricos do estado, através da experiência concreta

de centenas de anos, além da noção dos seus processos de restauração.

Entre os diversos monumentos localizados no Centro Histórico de Vitória,

apenas 7 estão inseridos no Projeto Visitar, que prepara monitores para receber

turistas e estudantes, no horário de 9 às 17h. Para os demais pontos de interesse

turístico e cultural, as visitas devem ser agendadas, como é o caso do Palácio

Anchieta, atual sede do governo. Um mapa da região é distribuído aos visitantes

para guiá-los no Centro de Vitória, pois o percurso de um monumento a outro é feito

a pé. No nosso caso, solicitamos auxílio da Guarda Municipal para acompanhar os

estudantes.

O nosso roteiro, representado na Figura 3, incluiu a visita a igrejas e

conventos, além do Theatro Carlos Gomes e do Palácio Anchieta, atual sede do

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governo. De acordo com o mapa, da direita para a esquerda, de acordo com os

números circulados em preto, os monumentos visitados foram: (44) a Igreja do

Rosário; (41) o Theatro Carlos Gomes; (30) o Convento do Carmo; (20 e 21)

o Convento de São Francisco e a Capela Nossa Senhora das Neves; (28) a Capela

de Santa Luzia; (31) a Catedral Metropolitana; e (12) o Palácio Anchieta. A Catedral

Metropolitana fazia parte do roteiro, mas não foi visitada, pois estava fechada para

restauração.

Figura 3. Mapa da região do Centro Histórico de Vitória dos monumentos visitados na aula de campo.

Fonte: Adaptado de Instituto Goia28

.

Conforme a programação, iniciaríamos a aula de campo na Igreja do Rosário,

porém quando chegamos ao seu local, às 9h, estava fechada e não havia monitor.

Esperamos cerca de meia hora, mas o monitor não chegou e decidimos seguir para

o Teatro Carlos Gomes, de onde passamos a seguir o roteiro.

Nos diferentes espaços foram vários os conhecimentos discutidos na

interação dos estudantes com os espaços: sobre alguns estilos arquitetônicos,

como colonial, barroco, gótico, eclético, estilo jesuíta de linhas retas; alguns

materiais utilizados nas construções dos monumentos, tais como pedra, cal de

ostra, telhas de barro, madeira com pintura de ouro; sobre o fenômeno religioso;

distinção de classes sociais, etc. Por exemplo, em 2008 durante uma reforma na

Capela Nossa Senhora das Neves, localizada nos terrenos do Convento de São

28

Disponível em: <http://www.institutogoia.org/pg/5343/enquete/> Acesso em 01/07/2016.

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Francisco, construída no século XIX e utilizada como capela mortuária até 1908,

foram encontradas ossadas humanas em nichos localizados na sua parede do

altar (Figura 4), que hoje estão protegidos por vidro e aguardam análises

arqueológicas (VALENTINA, 2014). Em nossa visita, os estudantes ficaram

intrigados com este “depósito” de ossos nas paredes e observaram os materiais

que foram utilizados na construção da capela.

Figura 4. Parede do altar da Capela de Nossa Senhora das Neves. Fonte: Acervo da pesquisadora.

Além disso, ao apreciar os monumentos os estudantes conheceram mais

sobre a resistência indígena e negra no estado, os traçados indígenas, africanos

e portugueses. A primeira pergunta dos estudantes no início da aula de campo foi

sobre os estilos arquitetônicos dos monumentos e a professora de Arte explicou

que na atualidade dificilmente se encontra um monumento com o seu estilo

arquitetônico original, devido reformas e remodelagens a que foram submetidos.

Na Capela Santa Luzia (Figura 5) os estudantes conheceram uma janela

de prospecção (Figura 6) que, no processo de preservação e restauração de

edifícios históricos, é um trecho das paredes, normalmente em formato

retangular, selecionado para avaliar, através da cuidadosa extração da camada

exposta, as características e condições das camadas de pintura mais antigas e

permitir a visualização de suas configurações originais ou anteriores à pintura

aplicada mais recentemente.

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Figura 5. Aula de campo no Centro Histórico de Vitória- Capela de Santa Luzia. Fonte: Acervo da pesquisadora

Figura 6. Exemplo de janela de prospecção. Fonte: Acervo da pesquisadora.

Esta aula de campo também permitiu discutir os efeitos da modernidade,

responsáveis por grandes transformações urbanas, transformando a paisagem,

desvalorizando os bens culturais ao modificá-los ou demoli-los para iniciar novas

construções. No caso do Convento de São Francisco, por exemplo, a fachada da

Igreja Conventual foi a única parte original que restou do conjunto, tombado como

patrimônio cultural em 1984.

Além disso, o contato que se estabeleceu entre estudantes e patrimônio

histórico‐religioso permitiu o reconhecimento por parte do estudante da rica

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contribuição histórica, ontológica e antropológica por parte da religião. Isto se deu

em relação ao costume de sepultar os principais religiosos da ordem no interior

dos conventos ou no altar das igrejas e na oportunidade dos estudantes

estabelecerem um contato direto com o fenômeno religioso na sua materialização

espacial, por meio da ocupação do solo, das construções e objetos sagrados.

Segundo Costa (2010, p. 15),

A religião pode ser percebida em sua configuração, função, processo e estrutura, como produtora de indicadores de identificação e da organização de forma especial do espaço geográfico (ROMERO JACOB et al, 2003; ROSENDAHL, 1996 apud COSTA, 2010, p.15).

E,

O Brasil por ter a religião católica implantada desde os primórdios da conquista pelos portugueses e continuamente pelas ordens religiosas, e pela ação dos colonos é um país repleto de manifestações culturais provenientes do fenômeno da religiosidade que é de elementar importância para as expressões e reprodução dos espaços geográficos brasileiros, pois cada região, cada cidade, cada vilarejo, apresentam características de formação e transformação baseada nos termos religiosos (ROMERO JACOB et al, 2003; ROSENDAHL, 1996 apud COSTA, 2010, p.14).

Quando analisamos a região dos monumentos, percebemos que a ocupação

da cidade deu-se a partir dos mesmos. Isso poderia ser mais bem explorado pelo

conteúdo de “filosofia da religião” na disciplina de filosofia e dentro da disciplina de

Geografia e História sobre a ocupação do solo brasileiro e capixaba, de acordo com

a proposta curricular do estado (ESPÍRITO SANTO, 2009).

A aula de campo finalizou no Palácio Anchieta, atual sede do governo, onde

foi apresentado aos estudantes um resumo da sua história e processo de

restauração, que manteve algumas de suas partes originais em evidência no prédio.

Além disso, os estudantes visitaram uma exposição sobre o corpo humano.

A aula de campo foi muito importante para professores e estudantes, pois

ambos não conheciam ou conheciam pouco do Centro de Vitória, e/ou não tinham

feito o percurso entre os sete monumentos inclusos no roteiro do Projeto Visitar.

Nas nossas condições da aula de campo havia somente professores de Química

e Arte e percebemos a necessidade da participação de professores de outras

áreas como Geografia e História para enriquecê-la quanto aos conhecimentos e

observações oportunizados, o que foi em parte resolvido com a presença dos

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monitores do Projeto Visitar, que possibilitaram a realização da atividade. Estes

atuaram como mediadores do conhecimento a partir da perspectiva de que

[...] o conhecimento e o entendimento, inclusive o entendimento científico, são construídos quando os indivíduos se engajam socialmente em conversações e atividades sobre problemas e tarefas comuns. Conferir significado é, portanto, um processo dialógico que envolve pessoas em conversação e a aprendizagem é vista como o processo pelo qual os indivíduos são introduzidos em uma cultura por seus membros mais experientes. À medida que isso acontece, eles ‘apropriam-se’ das ferramentas culturais por meio de seu envolvimento nas atividades dessa cultura (DRIVER et al, 1999, p.34 ).

O educador deve buscar que os estudantes aprendam em interação com o

outro, e não apenas recebam o conhecimento passivamente. De acordo com

Bruner (1985 apud DRIVER et al, 1999)

Não existe nenhuma maneira, nenhuma mesmo, através da qual o ser humano poderia ter domínio desse mundo sem a ajuda e a assistência de outras pessoas, pois, na verdade, esse mundo são os outros (BRUNER, 1985, p.32 apud DRIVER et al, 1999, p.34).

Outro ponto importante desta atividade foi o fato de que as nossas

condições da aula de campo contribuíram para que professores e estudantes

ficassem na posição de aprendizes. Ademais, os professores dialogaram e

discutiram sobre vários temas sem que a especialização de cada área

predominasse. O professor de Arte discutiu sobre estilos arquitetônicos; os

professores de Química sobre processos de restauração; mas ambos também

discutiram e refletiram sobre a história do estado, sobre as mudanças advindas

da modernidade etc. Conforme Rosa (2007, p. 59), nesta atividade ocorreu um

processo de descentramento, em que cada professor (a) se desdobrou no outro

também, enfrentando “o estilhaçamento de sua identidade acadêmica docente e

passou a transitar por campos de desestabilização” com a fragmentação de sua

própria forma disciplinar de existir na escola.

Neste ponto é importante ressaltar que o trabalho de campo possibilita

[...] enfrentar a dominante fragmentação do conhecimento, que bloqueia os mecanismos de análise de problemas reais ao não facilitar a relação de conceitos, procedimentos e de atitudes, trabalhados em diferentes disciplinas do currículo. Por meio das atividades de campo, a categoria geocientífica “lugar” é entendida como o locus de ligação com o todo, uma interação sutil da particularidade e da generalização. Assim, é possível sair do paradigma da causalidade tão enraizado no ensino de ciências e praticar

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um ensino mais contextualizado, situar espaço-temporalmente os fenômenos, ou seja: levar em conta o aspecto histórico dos fenômenos e, ao fazer isso, compreender a complexidade do contexto e causalidade de um fenômeno (COMPIANI, 2007, p.32).

Além disso, a atividade permitiu uma crítica ao espaço da sala de aula e o

rompimento com a monotonia e a posse exclusiva do discurso pelo professor.

No campo, no afloramento, naquela “bagunça saudável”, a geografia da ordem, das quatro paredes, cai por terra. As atividades de campo, numa concepção formativa, exacerbam a semelhança entre fazer e aprender ciência, não existindo quem ensina (transmite a verdade), mas, sim, os que aprendem fazendo uma ciência escolar. A propriedade do discurso por parte do professor na sala de aula tradicional é visivelmente quebrada, já que não existem o “palco” e a lousa. No campo, tudo pode prender a atenção do aluno, ser fonte de informações, de problemas e dados a serem trabalhados (COMPIANI, 2007, p. 36).

De acordo com Carvalho e Machado (2015),

[...] a aula de campo possibilita que o professor trabalhe nesses espaços com atividades que valorizam, e problematizam, temas da atualidade, quase impossíveis de virem à tona dentro da sala de aula, caso de uma igreja ou um manguezal, por exemplo, os quais se constituem em ambientes culturalmente construídos, dotados de múltiplas potencialidades temáticas (CARVALHO e MACHADO, 2015, p. 163).

Partindo do pressuposto de que a educação patrimonial pode ocorrer em

diversos contextos educacionais e espaciais,

[...] uma aula de campo pode colaborar para a formação do ser humano cidadão, visto que, pautado em pressupostos histórico-culturais, em contato com o meio, com a historicidade, de forma interativa, sob intervenção do professor, o trabalho em campo pode desenvolver nele um olhar crítico sobre a realidade e relacionar o conhecimento científico com seu cotidiano (CARVALHO e MACHADO, 2015, p. 164).

Após a realização desta aula de campo, estudantes e professores

compartilharam suas impressões, observações e descobertas em sala de aula e

estas serviram de base para discussões nas atividades seguintes.

4.1.4. Oficina de fotografia

A proposta desta oficina surgiu da discussão com a professora da Arte e

professor de Química da percepção de quão presente as imagens estão na vida dos

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jovens conforme o celular se popularizou e ganhou seu cotidiano, juntamente com

os sites de redes sociais (MANTELLATO, 2011). Levando-se em consideração que a

temática deste trabalho se refere a bens culturais, os objetivos da oficina, além de

trabalhar a fotografia como documentação científica e histórica, foram: evidenciar

através de imagens aspectos do bairro, que muitas vezes passavam despercebidos

pelos estudantes, principalmente no que diz respeito ao que pode/ poderá ser

considerado patrimônio histórico local; estimular os estudantes a terem um olhar

diferente sobre o bairro onde moram; e ao mesmo tempo, perceber através dos seus

olhares, das suas fotografias, a compreensão da temática.

No período de aproximadamente 3 semanas antecedentes à realização da

oficina, os estudantes foram orientados a fotografar objetos pessoais ou do bairro/

município/ estado que consideravam importante preservar para outras gerações.

Conforme sugestão dos estudantes, as imagens foram enviadas para um grupo

criado pelo representante de turma e pelo professor de Química, utilizando o

aplicativo whatsapp, que permite troca de mensagens e arquivos multimídia. Um ou

outro estudante relatou não ter perfil nesse aplicativo, mas nestes casos combinou-

se que outro colega enviaria a fotografia por ele.

A oficina baseou-se na realização do processo de reprodução de imagens

denominado Cianotipia, tendo como referência o vídeo do site Manual do mundo29.

Os materiais utilizados foram citrato férrico amoniacal, ferricianeto de potássio,

transparência para retroprojetor (papel poliéster), papel aquarela (gramatura a partir

de 180 g/m2) na cor branca e formato A4, placas de vidro, placas de acrílico, placas

de madeira, trincha e bandejas de plástico. As soluções de citrato férrico amoniacal

e ferricianeto de potássio foram preparadas previamente por mim.

A Cianotipia assemelha-se a alguns antigos processos de preparação de

papel fotográfico por basear-se no mesmo princípio – sais férricos unicamente

sensíveis aos raios ultravioleta (UV) e por revelar imagens na cor azul (CAMPOS,

2007). É um processo (ou técnica) artesanal de reprodução de imagens utilizado

durante o séc. XIX na produção de fotogramas, cópia de documentos e reprodução

de planos e fórmulas matemáticas. Segundo Gorri e Eichler (2012), a cianotipia

contribuiu no estudo e na caracterização morfológica no campo da botânica,

resultando na elaboração do primeiro livro fotográfico “Photographs of Britsh Algae:

29

COMO fazer tinta fotográfica. Manual do Mundo. [s. d.]. Disponível em:

<http://www.manualdomundo.com.br/2014/01/como-fazer-tinta-fotografica/> Acesso em 15/03/2014.

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Cyanotype Impressions” (1843) pela botânica e fotógrafa britânica Anna Atkins

(1799–1871). Nos dias atuais a cianotipia é encontrada em museus e expressa nas

obras de artistas contemporâneos, a exemplo da exposição no Museu Histórico de

Londrina30. É uma técnica antiga e Gorri e Eichler (2012) já a utilizaram no ensino de

química para promover a integração entre química e arte, bem como Reis e Arend

(2015).

Para realização da atividade havia a necessidade de um ambiente

inicialmente escuro (sem incidência de radiação ultravioleta), e próximo de água (de

um tanque ou mangueira). Este espaço foi improvisado no refeitório, onde também

são realizadas atividades de educação física, utilizando toldos para isolar a área

(Figura 7). O professor de Química e eu realizamos a oficina com os estudantes.

Figura 7. Ambiente de realização da oficina de fotografia. Fonte: Acervo da pesquisadora.

Durante a oficina, foi discutida a fotografia como documento histórico, de

memória, como bem cultural, pois de acordo com Soares (2008),

A fotografia permite a conservação visual do passado, garantindo a posteridade, desencadeando recordações e possibilitando diferentes interpretações e discordâncias em relação ao seu valor documental. O registro fotográfico ganha autonomia por representar instantaneamente em termos imagéticos a existência real do referente (objeto ou realidade material representada), o que nos permite afirmar que a fotografia,

30

MUSEU abre exposição com técnica de impressão fotográfica. Massa News. 19 abril 2016.

Disponível em: <http://massanews.com/entretenimento/cultura/museu-abre-exposicao-com-tecnica-

de-impressao-fotografica.html> e <https://www.youtube.com/watch?v=Us52BP3BoXQ> Acesso em 02/10/2016.

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submetida a análises, constitui uma categoria documental (SOARES, 2008, p.41).

Inicialmente foram lançadas algumas questões aos estudantes, norteadoras

para a oficina: Por que e para que fotografar? Quais eram os objetivos da obtenção

de imagens? Como a imagem era obtida nos primeiros processos fotográficos? Qual

a relação do processo fotográfico com o estudo dos bens culturais?

Sobre os objetivos da obtenção de imagens, por que e para que fotografar,

nas respostas dos estudantes apareceu a relação entre fotografia e redes sociais,

entre outras motivações, como “registrar um momento”, “ostentar”, “porque eu

gosto”. Não é de se estranhar esta relação, já que as redes sociais possuem

enquanto principais usuários a geração net (TAPSCOTT, 2010), formada por jovens

e crianças que já nasceram e estão crescendo imersos numa sociedade cada vez

mais tecnologizada, que aprendem desde a infância a acessar e utilizar as

tecnologias a serviço de seus interesses.

Fernandes e Moresco (2013) ressaltam que

Independente da classe social ou cultural, os adolescentes, enquanto “nativos digitais”, se relacionam com as tecnologias móveis digitais e com o ciberespaço de forma quase simbiótica (PRENSKY, 2001). Fotografando e compartilhando suas vivências com uma rapidez que se aproxima do tempo real, contribuindo para a expansão da Fotografia enquanto linguagem de representação, [...] (FERNANDES e MORESCO, 2013, p. 2).

Para discutir a fotografia como documentação científica e histórica foi utilizado

o capítulo Imagens do livro Tio Tungstênio- Memória de uma infância química, de

Oliver Sacks (2002). Foram lidos, juntamente com os estudantes, trechos em que o

autor descrevia a história da fotografia e a importância desta, como registro de

objetos e momentos do passado.

Neste capítulo o autor apresentou uma narrativa dos fatos históricos que

envolveram a fotografia, descrevendo experiências realizadas por cientistas como

Scheele, Humphry Davy, Fox Talbot, Daguerre, entre outros. Além disso, descreveu

a sua paixão por imagens, tentando explicá-la. Para isso chamou a atenção para o

seu contexto, a segunda guerra mundial, em que devido a destruições e mortes,

para ele a fotografia se transformava na única forma de manter viva a memória de

objetos, pessoas e lugares, conforme o trecho “[...] Em parte, o que me forçava a

essa documentação era a guerra, o modo como objetos que pareciam permanentes

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eram destruídos ou removidos por atacado” (SACKS, 2002, p. 139). De acordo com

Sacks (2002),

Se a fotografia era uma metáfora para a percepção, memória e identidade, era igualmente um modelo, um microcosmo da ciência em funcionamento- e uma ciência particularmente cativante, pois juntava química, óptica e percepção em uma unidade indivisível (SACKS, 2002, p. 139).

A respeito dos processos fotográficos, quando os estudantes foram

questionados sobre, responderam de forma unânime que não conheciam. Então

foram colocadas outras questões: Quem conhece um filme fotográfico? O que

significa a expressão “queimar o filme”? Sobre conhecer um filme fotográfico,

nenhum estudante afirmou conhecer, mas sobre a expressão “queimar o filme”

algumas respostas foram “que falaram mal de você para alguém”, “que sujaram sua

imagem com alguém”, ou “que uma foto ficou ruim”. A partir destas respostas,

apresentamos um filme fotográfico e iniciamos a realização da técnica da cianotipia

com o objetivo de utilizar o seu resultado para responder às demais questões.

Sobre a obtenção de imagens, Gorri e Eichler (2012) descrevem que

[...] A técnica envolve a escolha do papel e a sua sensibilização. Recomenda-se o papel aquarela ou filtro devido ao seu grau de porosidade. A sensibilização do papel é feita a partir da mistura das soluções A: citrato de ferro amoniacal (340 g) mais a solução B: Ferricianeto de potássio (85 g) ambas diluídas em 500 ml de água a 15° C e misturadas sob uma quantidade de luz reduzida. Após a secagem do papel, as fotografias impressas em papel transparência necessitam ser prensadas contra o papel, utilizando-se uma placa de vidro fina. Após o cianótipo ser exposto à luz é lavado em água corrente e submetido à secagem, originando assim a fotografia (GORRI e EICHLER, 2012, p.1).

As soluções foram previamente preparadas por mim e a oficina foi realizada

com os estudantes a partir da sensibilização. Os estudantes foram alertados da

toxicidade do ferricianeto de potássio e por isso, apesar de não manipularem as

substâncias e soluções, utilizaram luvas nas etapas que realizaram: sensibilização

do papel, montagem de um “sanduíche” (formado por placa de madeira + papel

sensibilizado + negativo + vidro ou placa de acrílico), exposição ao sol e banho em

água.

Das fotografias enviadas pelos estudantes para a realização da oficina, a

maioria foi de escolas, igrejas, do ginásio poliesportivo e da praça principal do bairro.

Outras fotografias enviadas foram de objetos pessoais como: cordão; mantilha de

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uma estudante, quando recém-nascida; espada, da família de um estudante etc; de

alguns dos monumentos históricos visitados no Centro Histórico de Vitória, além de

outros não visitados, como o Convento da Penha (em Vila Velha) e a Pedra da

Cebola (em Vitória).

Algumas fotografias chamaram a atenção, tais como: de árvores que os

estudantes justificaram ser “antiga no bairro e deve ser preservada”, posto de saúde,

delegacia, de uma pintura em grafite num muro do bairro, além de orelhão,

ventilador de teto e lixeiras de lixo reciclável da escola. Estas fotografias nos deram

algumas informações em relação ao tema trabalhado. A proposta da oficina consistia

em fotografar objetos relacionados à história pessoal ou do bairro. Assim as

fotografias de orelhão, ventilador, lixeiras etc. poderiam estar indicando que os

estudantes não entenderam e/ou que ainda entendiam patrimônio cultural como

patrimônio público (conjunto de bens à disposição da coletividade), conforme as

respostas dos estudantes na oficina sobre patrimônio cultural em que esta relação

apareceu. Apesar de termos discutido o conceito de patrimônio cultural na aula

sobre o tema, as fotografias mostraram que alguns estudantes ainda não haviam

compreendido. A dúvida sobre que fotografia os estudantes deveriam enviar via

whatsapp também apareceu numa discussão no grupo de uma das turmas neste

aplicativo. Eu intervi nesta discussão, explicando-os. Na outra turma, os estudantes

também tiveram dúvidas, mas o professor explicou.

Já fotografias como as do mural com grafite estavam relacionadas ao

ambiente sociocultural dos estudantes. A escola tem algumas iniciativas e projetos

que buscam valorizar diferentes linguagens e expressões culturais, considerando os

interesses dos estudantes. Um exemplo é o projeto denominado “Merenda de

Quinta”, organizado por um dos professores de Português com a professora de Arte,

em que representantes de diferentes expressões culturais são convidados a fazer

uma apresentação na escola na última quinta-feira do mês. Em uma das datas

programada para esta atividade compareceu um grupo de hip hop e um grafiteiro,

que expôs um pouco do seu trabalho na porta da biblioteca (Figura 8).

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Figura 8. Porta da biblioteca da escola B ilustrada com pintura grafite. Fonte: Acervo da pesquisadora.

Ainda sobre as fotografias enviadas, uma estudante enviou a fotografia da

avó e, quando questionada sobre, respondeu: “[...] foi porque falaram que tinha de

ser algo antigo e que eu achasse que deveria ser preservado”. Tal resposta pode ter

expressado a importância da avó para a estudante, porém demonstrou que a

estudante não entendeu a proposta da fotografia.

As fotografias dos estudantes foram recebidas pelo aplicativo whatsapp, com

o uso do software Paint eu as coloquei em escala de cinza e fiz a inversão de cores

(tornando as suas partes claras escuras e vice- versa) e imprimi em uma impressora

a laser em papel poliéster para serem utilizadas na oficina como “negativos”.

Nesta primeira parte da oficina explicamos sobre filme fotográfico, formado

por uma emulsão composta por gelatina e cristais de sais de prata sensíveis à luz.

Após fotografar, obtinha-se um negativo, nome que deriva do fato de que o filme

ficava mais escuro na área de maior exposição à luz, devido uma reação química.

Nos lugares em que não recebia luz, o negativo permanecia claro. Para tornar a

imagem positiva- reconhecível - era necessário imprimir o negativo em outro material

sensível à luz, ocorrendo novamente uma reação química.

Na realização do experimento, os estudantes foram divididos em grupo e,

num ambiente não (ou pouco) iluminado, sensibilizaram o papel aquarela (gramatura

maior que 180 g/m2) com a mistura das soluções, secaram-no e por cima colocaram

o negativo produzido em papel poliéster e, por último, uma placa de vidro ou placa

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de acrílico transparente (esta foi utilizada na maior parte dos grupos no intuito de

evitar cortes em caso de utilização de vidro), deixando os papéis totalmente em

contato, por baixo uma placa de madeira. Este “sanduíche” foi colocado numa área

da escola iluminada pelo sol. Os estudantes também experimentaram colocar

pequenos galhos de plantas por cima do papel sensibilizado e expor, além de

sensibilizar o papel já neste ambiente iluminado pelo sol.

Foi explicado aos estudantes que a luz solar possui diversos tipos de

radiações, visíveis e invisíveis, como a infravermelha e a ultravioleta. Esta atividade

foi realizada em um dia nublado e devido o experimento depender da radiação

ultravioleta do sol surgiu o questionamento se a imagem seria obtida mesmo nestas

condições, se o resultado seria o mesmo de um dia ensolarado. Discutimos a

questão através do resultado do processo, isto é, quando os grupos recolheram as

suas imagens expostas no pátio da escola e colocaram no banho, notaram que a

imagem tornou-se azul. Admirados com o resultado, explicamos que houve uma

reação fotoquímica, formando um pigmento azul, ou seja, mesmo a baixa

intensidade de luz solar fez a reação acontecer, ainda que o resultado não tenha

sido o mesmo de um dia ensolarado. Desta forma, os estudantes concluíram que a

incidência de raios ultravioleta em dias nublados se mantém praticamente a mesma

que nos dias ensolarados.

Sobre o processo químico, de acordo com Stulik e Kaplan (2013), o princípio

geral do processo da cianotipia é a redução fotoquímica de sal de ferro (III) (citrato

férrico amoniacal) para sal de ferro (II) que reage com ferricianeto de potássio,

formando um complexo azul (o pigmento conhecido como Azul da Prússia). De

acordo com Carvalho et al (2011),

Nas áreas onde a luz bate no papel (exceto naquelas bloqueadas pelas linhas no desenho original), os sais férricos presentes são reduzidos a sal ferroso. [...] Em contato com a água, o sal ferroso produzia o ferrocianeto férrico (pigmento conhecido como azul da Prússia). [...] O papel era então lavado para retirar os remanescentes de sal férrico (onde não houve exposição), deixando aparecer as linhas brancas, que formam a imagem (CARVALHO et al, 2011, p. 2791).

Após obtenção de algumas imagens por meio da técnica, retornamos a

pergunta sobre o que significava dizer que uma foto queimou. Através do resultado

do papel sensibilizado já no ambiente iluminado, alguns estudantes responderam

que “o filme tinha recebido luz antes da hora”, “quando a foto fica preta”, porque

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“houve reação química com a luz”. Com isso inferi que os estudantes entenderam o

porquê do experimento ser realizado no escuro, mas um estudante observou que no

espaço onde realizávamos o experimento, mesmo com os toldos ainda havia

iluminação, o que poderia prejudicar o resultado.

Depois de secas, algumas imagens não ficaram bem nítidas. Os estudantes

apontaram como possíveis causas para esse resultado a iluminação do local durante

a sensibilização do papel, o tempo de exposição, resíduos da solução no papel (o

que pode ter relação com o tipo de papel utilizado) e ainda que a fotografia foi obtida

num ambiente escuro, etc. Segundo Stulik e Kaplan (2013), a intensidade do azul

depende da química do processo (de acordo com os materiais utilizados) e do tipo

de papel usado. Já Carvalho et al (2011) apontam que a intensidade do azul

depende de alguns fatores como a emulsão, o tempo de exposição e a quantidade

de luz a que foi exposta na sua manufatura.

Durante a realização do experimento os estudantes mostraram-se muito

empolgados, todos querendo participar. Uma estudante perguntou como poderia

conseguir as substâncias para fazer o experimento em casa. Explicamos sobre o

controle de compra e venda de produtos químicos, mas que em alguns casos exige-

se somente a maioridade.

Das questões norteadoras da oficina, quando retomada a pergunta sobre a

relação desta atividade com os bens culturais, os estudantes responderam que “a

luz pode provocar reações químicas”, por isso “não pode usar flash em museus” e

“por causa das radiações usadas na restauração”.

Figura 9. Etapas da oficina de fotografia- técnica Cianotipia. Fonte: Acervo da pesquisadora.

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Os diversos conceitos e conhecimentos trabalhados nesta oficina foram os

estudos sobre a natureza da luz e sua relação com o processo da origem da cor

(espectro eletromagnético e transições eletrônicas, fluorescência e fosforescência),

bem como reações ativadas por luz (fotoquímica) e a química (moléculas e sais)

associada à cor. Também foi discutido como a luz afeta os bens culturais ao

desencadear reações, o porquê dos museus não permitirem a utilização de câmeras

com flash (os estudantes vivenciaram tal situação quando estiveram no Palácio

Anchieta), os danos que podem ser causados em pinturas que tenham substâncias

fotossensíveis e sobre as radiações eletromagnéticas utilizadas como métodos de

exame e análise, em diversas áreas, como na saúde e no estudo de bens culturais.

Na semana posterior à realização da oficina foi aplicado um questionário com

as seguintes questões:

1. De acordo com os estudos realizados, quais são as vantagens e desvantagens

da radiação eletromagnética para a conservação e restauração de bens culturais?

2. No experimento realizado, houve ou poderia haver algum resultado

indesejado? Se sim, aponte as causas.

3. O que você contaria sobre esta oficina?

O questionário foi respondido por 58 estudantes. Dentre as respostas da

primeira questão, 18 estudantes mencionaram a utilização das diferentes radiações

eletromagnéticas (nos fragmentos apresentados a seguir estão destacadas em

negrito) para exames e análises e a sensibilidade de alguns materiais à radiação

ultravioleta.

Estudante B19: “A desvantagem é que pode causar dano na estruturas, a vantagem ela é dividida em varios partes, e isso ajuda na analise dos bens culturais”.

Estudante B16: “Vantagens: elas podem ajudar a identificar os elementos químicos para a restalração/ Desvantagens: Pode acelerar ou fazer com que ocorra reações químicas, que podem danificar o objeto”

Estudante B28: “As vantagens da luz é que ela ajuda a poder ver coisas que talvez possa ter sido alterada. As desvantagens são que pode acabar aterando algo da imagem”.

Estudante B29: “As desvantagens são que a luz prejudicam algumas esculturas, pinturas e vantagem é que algumas luzes são usadas para analisar as obras”.

Estudante B33: “A luz é favorável quando à analise, mas pode danificar pois á luz conte radiação eletro magnética”.

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A palavra luz foi usada mesmo em referência à radiação eletromagnética,

conforme o fragmento do Estudante B29 ao mencionar “algumas luzes”. No último

fragmento, o Estudante B33 se equivocou quando colocou que a “luz conte (contém)

radiação eletro magnética”, já que a luz (visível) é uma radiação eletromagnética,

que se situa entre a radiação infravermelha e a radiação ultravioleta.

Foi mencionada a ocorrência de reações fotoquímicas como vantagem e

desvantagem por 13 estudantes, provavelmente devido ao que foi discutido

anteriormente na aula sobre a temática e na oficina sobre reação fotoquímica

prejudicar os bens culturais, mas no processo cianotipia esta se fez necessária para

obtenção da imagem em tom azul.

Estudante B2: “As desvantagens da luz pois ela pode desencadear reações Mas a vantagem da luz é que ela pode trazer reações que seja favorável, que se deseja que aconteça”.

O fato de haver materiais sensíveis à luz foi destacado por 7 estudantes, como

o Estudante B9.

Estudante B9: “Que a luz as vezes atrapalha na conservação de patrimônios culturais por que tem materiais usados que não pode conter luz e nem o flexe de cameras fotográficas”

As respostas de 10 estudantes ficaram restritas ao processo da cianotipia,

como as dos estudantes B27 e B43, enquanto 5 estudantes apresentaram respostas

evasivas, alheias à questão e 5 não responderam.

Estudante B27: “Vantagem= para revelar a fotografia no esperimento Desvantagem= se a luz bater antes, prejudica todo o experimento”

Estudante B43: “A luz influencia muito no processo da cianotipia, pois se a luz refletir no papel pode danificar todo o processo, essa é a desvantagem. A vantagem é que sem a luz não seria possível restaurar bens e revelar fotografias”.

Na questão 2, o objetivo foi avaliar se os estudantes identificaram quais

fatores poderiam prejudicar a formação de imagem pelo processo cianotipia, num

processo semelhante a de um filme fotográfico exposto à luz antes de fotografar.

Entretanto, 22 estudantes responderam que não houve resultado indesejado,

nem apontaram possibilidades, enquanto 7 estudantes apresentaram respostas

evasivas. Já 29 estudantes mencionaram a lavagem do papel, exposição

inadequada ao sol, “luz no momento errado” e “queimar foto”, cor e manchas na

imagem obtida. Neste caso, todas as menções relacionaram-se corretamente a

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resultados indesejados na obtenção da imagem, pois de acordo com Campos (2007,

p. 37) “O processo que consiste na preparação da solução, aplicação no suporte,

secagem, exposição, lavagem e secagem, tem efeitos diretos no resultado final”.

Logo, se o papel não for bem lavado, os resíduos das soluções podem continuar

reagindo na presença de luz prejudicando a imagem; se a exposição ao sol for

inadequada seja em relação ao tempo ou à sensibilização do papel na presença de

luz, isso compromete o resultado etc. Alguns dos estudantes responderam que a

foto pode “queimar e ficar preta”, em alusão ao filme fotográfico ser exposto à luz

antes de ser utilizado para fotografar. No caso da cianotipia, a exposição à luz do

papel sensibilizado antes do contato com a imagem o deixaria azul, como

constatado pelos estudantes na oficina.

Estudante B32: “Sim. Em uma folha já estava toda azul. O papel se ele já foi atingido pelo Sol os produtos Quimicos já foram ativos”.

Estudante B11: “Sim, teve algumas imagens deu errado por que a substancia reagia sobre o efeito da luz”.

Estudante B14: “sim Em ter manchas o papel não foi bem lavado”.

Estudante B15: “Sim teve algumas manchas o papel que não foi bem lavado etc...”

Estudante B16: “Não houve, mas poderia e pode a ver. Como não concentram as soluções corretamente, ou a exposição inadequada ao sol poderia causar problemas ou danificar a imagem”.

Estudante B17: “Sim. Se a luz chegar no momento errado”

Estudante B26: “Sim, pois, se o papel receber luz antes de tudo poderá sim haver algo inesperado”.

Estudante B56: “No nosso experimento não teve nenhum resultado inesperado, mas pode acontecer; a foto queimar, a folha ficar preta entre outros”

Estudante B6: “Sim. Esse resultado inesperado foi que a fotografia ficou manchada e não muito escura e com a cor branca”.

Na questão 3, o objetivo foi verificar quais aspectos e/ou conteúdos discutidos

durante a aula expositiva e dialogada sobre o tema e na oficina seriam apontados

pelos estudantes, entre estes o preparo das soluções de acordo com as

concentrações recomendadas, obtenção de imagem em azul devido formação de

um pigmento, etc.

As respostas dos estudantes apresentaram menções a substâncias

fotossensíveis, importância da concentração das soluções, mistura homogênea,

mistura adequada das substâncias, pigmento. Entretanto, 19 estudantes

responderam de forma evasiva, incorrendo em alguns equívocos, como o uso do

substantivo sais minerais para as substâncias utilizadas, o citrato férrico amoniacal e

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o ferricianeto de potássio, devido à menção destes como sais de ferro durante a

oficina.

Estudante B1: “O conhecimento das substâncias ultra sensíveis a luz e como essas substâncias atuam e agem nos experimentos dessa luz”.

Estudante B29: “As misturas das substâncias para restaurar as obras, o uso de alguns tipos de luz para enxergar danos nas obras”.

Estudante B5: “Os conhecimentos que está presente neste experimento são as substâncias presentes nas duas soluções, no tipo de papel, na utilização da luz sendo elétrica ou do sol... dentre outras”.

Estudante B4: “A mudança de cor no papel, a imagem aparecendo no papel apenas com o efeito da luz”.

Estudante B7: “Reações químicas, misturas hemogênias, uma concentração para que a fotografia fique bem lucida e bem feita”.

Estudante B28: “Primeira coisa é prepara as soluções saber a quantidade, tomar cuidado com as soluções na luz”.

Estudante B32: “A primeira coisa que tem que fazer são juntar os produtos químicos (homogeneo) não pode aplicar o produto na luz (fotoquímica)”

Estudante B39: “Um dos conteúdos inserido nesse projeto é as misturas que pode ser considerada homogênia e heterogenia”.

Estudante B48: “forma um piguimento azul com a ajuda da luz solar forma a imagem, e a mistura Omogenia.”

O Estudante B37 respondeu a pergunta da seguinte forma: “A tinta, os

remédios que usam, para tirar as impurezas”, talvez numa referência às substâncias

utilizadas na conservação e restauração como remédios.

Reunindo teoria e prática, acredito que esta oficina além de trabalhar o

conhecimento relacionado à fotografia, estimulou o olhar crítico dos jovens para uma

percepção diferente do habitual sobre o bairro, com o objetivo de promover o

protagonismo juvenil. E ao estudar e discutir a fotografia como documentação

científica e histórica, também pode ter contribuído para uma percepção diferente do

habitual da própria fotografia, presente, principalmente devido à vinculação às redes

sociais, no cotidiano dos jovens, que canalizam para as imagens que registram e

publicam na Internet características de seu mundo, de seu comportamento, de sua

forma de se comunicar. “A condição de ser jovem atualmente muitas vezes perpassa

o fato de ser fotógrafo de si e de seus pares” (MANTELLATO, 2011, p. 43).

Algumas das imagens enviadas permitiram-nos perceber o que os estudantes

estavam compreendendo da temática.

No que concerne às redes sociais, a oficina fez uso do aplicativo whatsapp

por sugestão dos estudantes para receber as imagens solicitadas do patrimônio

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cultural local. Mais do que esta utilidade para o aplicativo, este contribuiu para que

nos ambientes dos grupos criados aquilo que não foi assimilado ou ficou com

alguma pendência de entendimento em sala de aula fosse revisado e reforçado por

meio de discussões e trocas de informações de forma criativa e dinâmica. Quando

surgiram dúvidas, por exemplo, sobre o tipo de imagem a ser enviada, os estudantes

interagiram, trocaram informações, buscando esclarecê-las. O professor e eu

intervimos apenas uma vez na discussão. Ou seja, o ambiente colaborativo das

redes sociais permite ao estudante a construção do seu próprio saber em

colaboração com seus pares e professores, numa concepção do conhecimento

construído socialmente a partir das relações humanas.

As redes sociais se entrelaçam ao cotidiano da escola, interferem nas aulas e

atividades, tornando-se um elemento que pode e deve ser explorado pelos

professores. A escola, o processo educativo em si não pode ficar alheio ao papel

que estas exercem nas formas de se expressar e relacionar dos jovens. Conforme

Prensky (2001 apud BLANK, 2015, p. 7):

Os professores de hoje têm que aprender a se comunicar na língua e estilo de seus estudantes. Isto não significa mudar o significado do que é importante, ou das boas habilidades de pensamento. Mas isso significa ir mais rápido, menos passo-a-passo, mais em paralelo, com mais acesso aleatório, entre outras coisas. [...].

A respeito das respostas dos questionários de todas as atividades, meu foco

foi verificar quais os sentidos produzidos pelos estudantes a respeito do que estava

sendo discutido, ou seja, qual era o seu entendimento. Embora tenha identificado

nas respostas alguns equívocos, é importante frisar que ao menos os estudantes

produziram sentidos sobre os tópicos abordados. O rigor e correção ao trabalhar

qualquer conteúdo na escola, não garante que o estudante produz o sentido

desejado pelo professor. Os equívocos foram/ poderão ser trabalhados

posteriormente a partir de outras atividades, leituras, etc. Além disso, os estudantes

“[...] no processo de ensino-aprendizagem resistem, não abandonam imediatamente

aqueles conceitos adquiridos nas trajetórias de suas vidas [...]” (VOGEL e MIRA,

2015, p.58), mas a partir desses, selecionam informações e as reorganizam,

tentando criar vínculos com aquilo que tem sentido em seus contextos.

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99

4.1.5. Oficina de tintas

As tintas são constituídas principalmente de pigmento e aglutinante, além de

solvente e aditivo (FIGUEIREDO JÚNIOR, 2012). Esta oficina consistiu no estudo de

alguns destes materiais constituintes de tintas, a saber: aglutinante, pigmento e

solvente. O estudo consistiu na observação de rótulos de materiais comercializados,

obtenção de corantes e pigmentos, além da preparação de alguns materiais para a

técnica de pintura conhecida como têmpera, de acordo com explicações fornecidas

no ANEXO 3. Foi realizada em sala de aula por mim com participação dos

estudantes. A partir de alguns aglutinantes e pigmentos foram preparadas têmperas,

que posteriormente foram utilizadas pelos estudantes nas aulas de Arte para pintura

de quadros, preparando-as novamente, se necessárias. Os estudantes e eu

preparamos: têmpera de ovo, obtida da gema e da clara; de leite (com a preparação

da cola de caseína) (FERREIRA et al, 1997) e vinílica (da cola PVA). Sobre a tinta a

óleo, apenas expliquei a sua preparação sem, no entanto, prepará-la, devido ao uso

de solvente orgânico, terebintina ou ecosolv31, ambos tóxicos.

Foram utilizados os seguintes materiais: giz branco e colorido, pigmento

sólido e líquido xadrez, terra colorida, óxido de ferro; corantes- alizarina, índigo,

urucum (colorau), açafrão, antocianina32 (de feijão preto); aglutinantes: gema e clara

de ovo, caseína (proteína do leite), cola PVA e óleo de linhaça; solventes: água,

ecossolv, thinner e terebintina.

Primeiramente, foi feito um estudo dos rótulos de alguns materiais utilizados

em pintura, artística e doméstica, encontradas em armarinhos, supermercados ou

lojas de material de construção, para observação de composição química e

indicação de toxicidade. Os materiais estudados foram: terebintina, ecosolv, óleo de

linhaça, tinner, corante de tecido, pigmento líquido e em pó xadrez. Em relação à

identificação de perigos ou toxicidade, foi explicado sobre a Ficha de Informação de

Segurança de Produtos Químicos (FISPQ), um documento normalizado pela

31

Segundo fabricantes, trata-se de uma mistura de hidrocarbonetos, que substitui a terebintina com as mesmas propriedades sem seu odor forte característico.

32 As antocianinas são pigmentos vegetais, responsáveis por uma grande variedade de cores

observadas em flores, frutos, algumas folhas, caules e raízes de plantas, que podem variar do vermelho vivo ao violeta/azul. Quimicamente, esses pigmentos são compostos fenólicos pertencentes ao grupo dos flavonóides, grupo de pigmentos naturais amplamente distribuídos no reino vegetal. Disponível em <http://www.ufrgs.br/agronomia/materiais/userfiles/Leticia.pdf> Acesso em 27/08/2016.

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Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (NBR 14725), que fornece

informações sobre vários aspectos dos produtos químicos (substâncias e misturas)

quanto à proteção, à segurança, à saúde e ao meio ambiente.

Após esse estudo, foi discutido com os estudantes sobre a obtenção de

pigmentos e corantes naturais, além dos artificiais. De acordo com Serrate (2011),

costuma-se classificar os pigmentos de acordo com a sua composição química,

podendo ser orgânicos ou inorgânicos. Entretanto, na paleta do artista clássico,

salvo raras exceções, não se encontram verdadeiros pigmentos orgânicos, mas

corantes (MATTEINI e MOLES, 2008). Os corantes se diferem dos pigmentos por

serem solúveis enquanto os pigmentos são insolúveis no aglutinante no qual é

utilizado, permanecendo disperso ou suspenso no líquido. Para que os corantes

possam ser utilizados em pinturas, devem ser transformados em pigmentos,

deixando que pó ou gel de materiais inertes e incolores, às vezes translúcidos,

absorvam e fixem o corante e se convertam em suportes coloridos que serão

misturados ao aglutinante para a produção da tinta (SERRATE, 2011). Nesta oficina,

os corantes naturais e de tecido foram misturados com sulfato de cálcio hidratado

(giz branco triturado) para obtenção de pigmento e preparo da têmpera vinílica.

Dois dos três corantes naturais importantes desde a antiguidade foram o

índigo e a alizarina. O índigo natural, ou corante azul, conhecido também como anil,

era obtido a partir do suco da planta indigófera Isatis tinctoria. Já a alizarina é um

corante vermelho natural extraído da raiz da garança (Rubia tinctorium), uma

espécie de erva da família das rubiáceas (SERRATE, 2011). Estes dois corantes

foram utilizados na oficina, além de outros três presentes na culinária: o urucum, de

cujos grãos se extrai o corante natural bixina que é solúvel em óleos e norbixina que

é solúvel em água e emulsões; o açafrão da terra, sendo que a curcumina é um

pigmento presente em seus rizomas, contribuindo com 50 a 60% dos pigmentos

totais (ZANELLA, 2014); e a antocianina do feijão preto.

No caso do feijão preto, ao deixá-lo “de molho” em água quente, observa-se a

liberação de uma tintura escura, de tom azulado. “Ao gotejar vinagre sobre esta

tintura observa-se uma mudança de cor para vermelho. Em contato com detergente

líquido, observa-se que a tintura assume uma coloração verde” (SOARES et al,

2001, p. 408). Isso se deve à presença de antocianinas no extrato obtido da casca

do feijão preto (Phaseolus vulgaris L.), descrita por Takeoka et al, que as isolaram e

identificaram utilizando cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) (SOARES et

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101

al, 2001). Segundo Terci e Rossi (2002, p. 684-685), as diferentes cores exibidas

pelos vegetais que contêm antocianinas dependem da influência de diversos fatores,

como a presença de outros pigmentos, a presença de quelatos com cátions

metálicos, mas principalmente do pH do fluído da célula vegetal. Na oficina, o extrato

obtido da maceração do feijão foi misturado a vinagre e, com a cola branca, formou

uma tinta rosada.

Sobre os pigmentos inorgânicos, naturais (extraídos de minerais e terras) e

artificiais, foi discutido que as matérias- primas destes são sais de metais como

ferro, cobre, cromo, chumbo e cádmio, alguns poluentes e prejudiciais à saúde de

quem os manipula. Porém,

Atualmente os pigmentos à base de cromo, chumbo e cádmio não são muito utilizados, pois foram substituídos por pigmentos orgânicos que são muito menos tóxicos. Dentre os pigmentos inorgânicos coloridos, os óxidos de ferro são os mais usados, e possuem tons desde amarelo e vermelho até preto. Os óxidos apresentam ótima resistência à luz e são utilizados normalmente em plásticos, tintas, fibras e construção civil (MENDA

33, 2011).

Um exemplo de pigmento utilizado em pinturas domésticas e artísticas é o

pigmento em pó xadrez, cujas empresas fabricantes informam serem à base de

óxido de ferro. Porém no caso da cor azul informam ser uma mistura ou tendo como

base a ftalocianina34. Já o corante líquido xadrez, segundo a sua Ficha de

Informação de Segurança de Produto Químico (FISPQ)35 da empresa fabricante, sua

composição é à base d’água com bactericida e fungicida, não metálicos, cargas,

dióxido de titânio, pigmentos orgânicos e inorgânicos. Ambos são encontrados em

lojas de materiais de construção e foram estudados nesta oficina.

Outro pigmento estudado e testado foi o carbonato de cálcio (CaCO3),

pigmento branco de origem mineral, utilizado desde o século XIII (TIRELLO, 2001),

principal constituinte da casca do ovo (MILBRADT et al, 2015). Eu o obtive deixando

a casca do ovo secar ao sol por 2 dias, depois a triturando.

33

MENDA, M. Revisão de Antonio Carlos Massabni. Corantes e pigmentos. Química Viva. 22 junho 2011. Disponível em: <http://www.crq4.org.br/quimicaviva_corantespigmentos>Acesso em 20/05/2015.

34 Ftalocianinas são corantes sintéticos semelhantes às porfirinas e estruturalmente consideradas

azaporfirinas (TOMAZINI et al, 2007).

35 Disponível em:

<http://www.cec.com.br/images/ProductFiles/FISPQ%203130Corante%20L%C3%ADquido%20Xadrez.pdf> Acesso em 05/08/2015.

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102

Além destes pigmentos, giz branco e colorido, encontrados em

supermercados e armarinhos, também foram estudados. A principal composição do

giz é gesso (Sulfato de cálcio hidratado- CaSO4.2H2O), pigmento branco, de origem

mineral, “conhecido e utilizado desde a Antiguidade” (MATTEINI e MOLES, 2008, p.

53). No caso do giz colorido, além do gesso, há pigmentos (não informados) na sua

composição. Quando triturados, dissolvidos e misturados ao aglutinante, formam

tinta.

Após o estudo sobre os pigmentos, seguiu-se a preparação dos aglutinantes,

cuja principal função é proporcionar coesão às partículas do pigmento e, ao mesmo

tempo, fazer com que a fina camada formada seja aderida a superfície do suporte

(SERRATE, 2011) e, depois da aplicação, deve secar dentro de um tempo razoável.

Os aglutinantes preparados foram utilizados na técnica conhecida como

têmpera, que de acordo com a nomenclatura utilizada atualmente, engloba todos os

processos de pintura em que o aglutinante encontra-se em solução ou suspensão

aquosa, formando emulsões oleosas, gordurosas, cerosas ou resinosas (MAYER,

1999).

O mais antigo e natural tipo de emulsão utilizado como aglutinante é a gema

de ovo, sendo os triglicerídeos saturados e a albumina (proteína) os principais

componentes da película de têmpera de ovo (MAYER, 1999). A clara do ovo

também pode ser usada como aglutinante, no entanto quando desidratada contém

principalmente proteínas e possui baixo teor de óleos e graxas, o que faz com que

forme uma película muito frágil e sensível a ação da água (MATTEINI e MOLES,

2008). Na oficina, tanto a clara quanto a gema de ovo foram testadas como

aglutinantes.

A cola branca, a base de acetato de polivinila (PVA), costuma ser usada como

aglutinante para obter a têmpera vinílica, que foi utilizada pelos estudantes para a

realização das pinturas.

Na elaboração de têmperas, também é usada a caseína, que possui a

capacidade de formar soluções coloidais viscosas em água (MAYER, 1999). “A

caseína é a principal proteína presente no leite (aproximadamente 3% em massa),

sendo muito solúvel em água por se apresentar na forma de um sal de cálcio”

(FERREIRA et al, 1997, p.33). Sua solubilidade é “afetada pela adição de ácidos

que, pela diminuição do pH, reduzem a presença de cargas na molécula, fazendo

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com que a sua estrutura terciária36 seja alterada, levando-a a precipitação37”

(FERREIRA et al, 1997, p.33). Neste caso, a redução de pH provoca a perda do

cálcio, na forma de fosfato de cálcio, eliminado no soro. Com a adição de

bicarbonato de sódio ao precipitado forma-se o caseinato de sódio, que tem

propriedades adesivas, além de eliminar resíduos de ácido. A cola de caseína foi

obtida pela adição de vinagre e posterior adição de bicarbonato de sódio ao

precipitado, e foi testada pelos estudantes.

Nesta atividade, foram discutidas propriedades de materiais, indícios de

reações químicas (na formação do caseinato de sódio), métodos de separação de

misturas (no caso da obtenção de pigmentos naturais), solubilidade, reações de

neutralização. Também foi discutida a toxicidade de diversos materiais utilizados em

trabalhos artísticos, incluindo solventes, disponíveis em diversos estabelecimentos

como papelarias e lojas de materiais de construção para qualquer pessoa adquirir e

aos quais artistas e conservadores e restauradores podem ficar expostos no

exercício de sua profissão. Também se discutiu a pintura doméstica, sobre materiais

utilizados, sua toxicidade e descarte.

Figura 10. Oficina de tinta: obtenção de aglutinantes e preparo de têmperas. Fonte: Acervo da pesquisadora.

36

A estrutura terciária resulta da interação dos aminoácidos mais distais entre si ao longo de uma cadeia simples de aminoácidos. Essas interações incluem a formação de ligações iônicas e a ligação covalente de átomos de enxofre para formar pontes de dissulfeto intramoleculares. Por fim, os polipeptídios podem sofrer oligomerização, formando estruturas mais complexas, conferindo às proteínas a sua estrutura tridimensional característica (GOLAN, 2009).

37 Processo conhecido como desnaturação, que consiste na modificação das estruturas secundária,

terciária e quaternária, tem como resultado uma mudança na conformação, rompendo ligações que estabilizam essa conformação, e em consequência, as proteínas se tornam menos solúveis e quimicamente mais reativas.

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Sobre o estudo dos rótulos das substâncias, os estudantes apontaram que

apesar do rótulo apresentar informações sobre a toxicidade do material e os

cuidados necessários na manipulação, geralmente as pessoas não ficam atentas e

manipulam e descartam sem atenção, principalmente em caso de pinturas

domésticas, exemplo disso é o pigmento líquido xadrez, que apresenta as seguintes

restrições na sua embalagem:

Quadro 7. Rótulo do material pigmento líquido xadrez.

Ao ler esta informação, os estudantes ficaram admirados pelo fato deste e de

outros materiais estarem disponíveis em armarinhos, papelarias, lojas de material de

construção, apesar de apresentarem tantas restrições quanto ao uso. Outra

observação foi em relação à substância ecosolv, cujo nome (iniciando com eco)

poderia sugerir ser uma substância menos perigosa, em seu rótulo consta que

“Substitui a Terebintina com as mesmas propriedades sem seu odor forte

característico”, porém apresenta as mesmas restrições de uso apontadas para a

terebintina. Sua composição química apresenta Hidrocarboneto Alifático e Solvente

Natural. Por fim, concluíram sobre a importância de uso de equipamentos de

proteção individual para manipulação de alguns materiais em atividades domésticas

e profissionais (como no caso dos químicos, artistas, pintores e restauradores), além

do seu descarte adequado.

Transporte-o na posição vertical para não tombar. Cores com pigmentos amarelo, vermelho e laranja podem desbotar se expostas a raios U.V. Precauções de uso: leia as instruções da embalagem antes de usá-lo. Mais informações, peça Ficha técnica e/ou Ficha de Segurança do Produto (FISPQ) através do sac [...] ou do site [...]. Mantenha a embalagem fechada, fora do alcance de crianças e animais; Armazene em local coberto, fresco, seco, longe de alimentos e fontes de calor; Não reutilize a embalagem; Use este produto com equipamentos de proteção: óculos, luvas e máscara de segurança; Após uso lave as mãos com água e sabão; no caso de contato com a pele e olhos lave-os com muita água; Não limpe com solventes ou diluentes; Pessoas alérgicas devem evitar contato; Se ocorrer inalação, transfira a pessoa para ventilação natural; Se houver ingestão, não provoque vômito; procure um médico levando a embalagem. Suporte médico (24h): [...]. Segurança e meio ambiente: produto não inflamável. Em início de incêndio use extintores de gás carbônico ou pó químico seco. Águas residuais de controle de fogo podem causar poluição, tratá-las antes de descartar. Se exposta ao calor intenso a embalagem fechada pode explodir ou deformar. Se houver derramamento use material absorvente (serragem, areia, argila, etc). Embalagens vazias, restos de produtos e demais resíduos devem ser descartados conforme legislação local. Não escoar para córregos, rios ou esgotos.

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Antes de iniciar a oficina, quando questionados se conheciam a constituição

de uma tinta, somente dois estudantes disseram que sim, porém não souberam

responder a respeito. No desenvolvimento, os estudantes mostraram-se empolgados

ao experimentar, o que não se observava quando se discutia várias informações

sobre as substâncias. Uma estudante questionou: “Por que fazer tinta se posso

comprar?” e alguns reclamaram da manipulação de ovo e leite (“nojento!” disse uma

estudante). A respeito da pergunta da estudante sobre comprar tinta e não prepará-

la alertei sobre a importância do conhecimento das propriedades dos materiais,

principalmente daqueles que são comprados, pois segundo Bailão (2013),

Nem sempre os constituintes presentes numa tinta, alguns com toxicidade indefinida, são indicados na rotulagem por questões comerciais e concorrenciais por parte do fabricante (McCann e Babin, 2008: 95). Esta situação conduz a um outro problema: os diagnósticos difíceis. Embora, como acima referido, se tenha conhecimento das consequências que muitos produtos considerados tóxicos podem ter para a saúde, o desconhecimento da composição de alguns compostos químicos pode dificultar a ação médica. Também a tendência industrial para a uniformização destes compostos implica a variação apenas das quantidades relativas (Santos e Dias, 2000: 19), podendo esta modificação ter implicações mais ou menos tóxicas para o organismo. Isto pode levar a uma sintomatologia variada que dificultará o diagnóstico de um médico e, consequentemente, o tratamento do profissional em causa (BAILÃO, 2013, p.34).

Sobre o preparo dos aglutinantes, no caso do leite e do ovo, o professor de

Biologia me perguntou sobre a atividade que eu estava realizando com os

estudantes e quando expliquei, disse-me que havia estudado com os estudantes

recentemente sobre proteínas. Observei que este fato influenciou na realização da

oficina, pois os estudantes interagiram quando eu os explicava sobre a composição

do leite e do ovo que lhes possibilitavam ser utilizados como aglutinantes.

A professora de Arte tinha exemplos de pinturas com diferentes têmperas,

algumas das quais preparamos com os estudantes, e os apresentou para

observarem o resultado da pintura depois de algum tempo. Relatou que os

estudantes atentaram-se ao cheiro do ovo e do leite na pintura. Nas pinturas

realizadas pelos estudantes, somente a têmpera vinílica foi utilizada.

Posteriormente à realização da oficina, os estudantes realizaram uma

atividade respondendo as seguintes questões:

1. Qual a composição da tinta?

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2. Quais conhecimentos sobre os materiais constituintes de tintas são

importantes para o trabalho de profissionais como pintores, artistas plásticos e

restauradores?

3. Qual a relação entre o estudo e preparo de tintas e a conservação e

restauração de bens culturais?

Nas respostas da primeira questão, de um total de 50 estudantes, 30 apontaram

que a tinta é constituída de aglutinante e pigmento; 16 de pigmento, 2 de pigmento e

água e 2 de pigmento, aglutinante e água. Tais respostas podem ser explicadas pelo

fato de que na oficina, apesar de ter sido explicado que a tinta é constituída de

aglutinante, pigmento, solvente e aditivo, trabalhou-se somente com pigmentos,

aglutinante e água. Além disso, a oficina destacou o estudo de pigmentos e

aglutinantes. Ambos os fatos podem ter interferido na resposta dos estudantes.

Na segunda questão, 26 estudantes mencionaram a toxicidade de alguns dos

materiais constituintes de tintas e seus prejuízos à saúde, importância do uso de

equipamentos de proteção individual (EPI’s), como luvas, máscaras, óculos, além de

referências à alergia de substâncias. Algumas respostas foram:

Estudante B2: “Devemos ultilizar luvas aventais para proteção de roupas e até da propria pele”.

Estudante B8: “Porque algumas substâncias utilizadas podem prejudicar a saúde, pois são tóxicas”

Estudante B18: “Algumas substâncias podem ser tóxicas, usar luvas e mascaras”.

Estudante B38: “Se tiver alergia para não deixa cair na mão”

Estudante B39: “Fazer uso de EPI’s”.

Estudante B50: “Quando for prepara as tintas devemos ter cuidado para não deixar cair na pele, porque pode conter componentes tóxicos”.

Ainda sobre esta questão, 5 estudantes copiaram a frase “O chamado veículo

no qual o pigmento será disperso. O veículo terá uma grande importância no

resultado final de uma pintura”, do texto que lhes foi entregue sobre preparo de

tintas (ANEXO 3) e 3 não responderam. O Estudante B23 colocou “não deixar ter

luz”, o que pode ter relação com os aspectos discutidos na oficina de fotografia.

O preparo das tintas foi mencionado por 15 estudantes, que destacaram a

importância da quantidade, manipulação e preparação do suporte que recebe a tinta.

Estas respostas, como a dos estudantes B3 e B19, também estão relacionadas ao

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texto entregue aos estudantes, pois neste foram colocadas quantidades e

observações sobre o preparo das têmperas e misturas de pigmentos.

Estudante B3: “Devemos cuidar para que o local em qual vai ser pintada esta devidamente preparada”.

Estudante B19: “A quantidade correta dos ingredientes e cuidado com o ovo na hora de separar a gema da clara”

Nas respostas da última questão, 29 estudantes apontaram a necessidade de

tintas e materiais adequados para a conservação e restauração de bens culturais; 7

mencionaram etapas do preparo de tintas e o fato de serem caseiras e econômicas;

um estudante apontou a exposição da tinta ao sol e 11 não responderam. Percebi

que os estudantes apresentaram dificuldades nesta questão dado o número de

estudantes que não a responderam, além daqueles que ficaram restritos ao preparo

das tintas e ao fato de serem caseiras e econômicas. Isso me pareceu

compreensível dado o grande volume de informações nesta oficina. Sobre a menção

à exposição da tinta ao sol, o estudante pode ter feito uma relação entre a oficina de

fotografia e as reações fotoquímicas que podem ocorrer com pigmentos. O

Estudante B18 citou as camadas de tintas que um bem cultural pode apresentar e a

necessidade de estudá-las para realizar o trabalho de conservação e restauração.

Estudante B2: “O preparo de tintas e muito ultilizado produtos específicos para cada bem cultural cada bem precisa de uma tinta que dure e que conserve o produto usado nessa obra”.

Estudante B3: “Na restauração de bens culturais é necessário ter tintas adequada preparando com reações químicas tendo o cuidado necessario para não prejudicar os bens culturais”.

Estudante B18: “Na conservação dos bens culturais existe as camadas de tinta e tal”.

Estudante B35: “Podemos preparar as tintas de várias formas, com componentes que nós mesmos temos em casa, como cola, pigmento para dar cor a tinta e aglutinante para a tinta se fixar”.

Estudante B40: “As tintas e as conservações e restaurações bem culturais estão bem ligadas porque antes de fazer uma pintura tem que ter um preparo para a quantidade de tinta”.

Segundo Figueiredo Júnior (2012), estudar os materiais que constituem as

tintas, algumas de suas propriedades físicas e químicas são importantes porque

[...] um conhecimento melhor das propriedades físicas e químicas destes materiais auxiliam no seu uso fazendo com que certos procedimentos

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artísticos, ás vezes compreendidos apenas como crença popular, sejam sistematizados num trabalho de intervenção ou conservação. Devemos nos lembrar que o conservador- restaurador deve intervir o mínimo numa obra e, quanto mais racional for sua intervenção, através da escolha do material e método adequado, melhor o resultado para a obra (FIGUEIREDO JÚNIOR, 2012, p. 64).

As respostas dos estudantes evidenciaram que os estudantes

compreenderam a importância do conhecimento das propriedades dos materiais

constituintes de uma pintura para o trabalho de conservação e restauração. Já a

leitura de rótulos permitiu discutir a toxicidade de materiais utilizados em pintura,

prejuízos à saúde e os cuidados na sua manipulação. Neste sentido, conforme

Santos e Schnetzler (2010),

É preciso que o aluno saiba que o conhecimento da natureza das substâncias permite o controle e o uso racional dos produtos químicos. Situar tais informações no contexto social é conscientizar o cidadão da responsabilidade que tem ao usar produtos químicos para a sua higiene e para o seu conforto (SANTOS e SCHNETZLER, 2010, p. 107).

A partir desta oficina os estudantes realizaram pinturas de quadros cuja

temática foi o próprio bairro, utilizando-se da têmpera vinílica, dispondo de

pigmentos naturais (terras coloridas, óxido de ferro, carbonato de cálcio da casca de

ovo, etc.), corantes naturais e de tecido, giz branco e giz colorido. Entretanto, alguns

estudantes utilizaram tintas comerciais, com o argumento de que era menos

trabalhoso e mais rápido. Essa atividade foi realizada durante aulas de Arte.

Figura 11. Exposição das pinturas realizadas pelos estudantes da Escola B. Fonte: Acervo da pesquisadora.

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109

Conforme a figura 11, nas pinturas os estudantes representaram a praça

principal, escolas, o ginásio poliesportivo, a pista de skate da praça, etc. e algumas

das flores que dão nome às ruas do bairro, que no passado se chamou Bairro das

Flores. A partir da proposta de pintar aspectos do bairro importantes na sua

constituição histórica e cultural, foi observado que a maioria dos estudantes atendeu.

Porém, pinturas como as da agência do banco do estado e da delegacia

evidenciaram que alguns estudantes não conseguiram dissociar patrimônio público

de patrimônio cultural, demonstrando que, apesar das explicações, talvez isto não

seja trivial para os mesmos, já que patrimônio cultural é patrimônio público (ainda

que de um determinado público), mas o inverso nem sempre é verdadeiro.

A realização destas pinturas contribuiu para incentivar o olhar mais atento dos

estudantes para aspectos do bairro, (re) conhecimento da sua história, além de seus

bens que podem ser preservados para gerações futuras. Dentro da concepção de

Educação Patrimonial, a atividade constituiu-se numa ação voltada à compreensão

do Patrimônio Cultural, tornando-se um veículo de aproximação, conhecimento,

integração e aprendizagem. No que concerne à representação de elementos do

contexto cultural do estudante, pode-se dizer que esta atividade representou uma

tentativa de superação do

[...] desafio de produzir um ensino que leve em conta a diversidade cultural dos estudantes e o novo perfil dos sujeitos participantes dos processos escolares no seio da nova realidade social em permanente transformação, pelo próprio conhecimento necessário de ser veiculado (ZANON e MALDANER, 2010, p.106).

4.1.6. Oficina de conservação de papel

Nesta oficina foi utilizada uma proposta do livro didático de Fonseca (2014, p.

45), sobre indícios de reações químicas, ANEXO 4, para discutir os processos de

desacidificação do papel com uso do hidróxido de cálcio (Método Barrow) e de

clareamento com hipoclorito de sódio, em casos de obras cuja tinta não seja solúvel

em água.

Os materiais utilizados foram: óxido de cálcio, refrigerante de laranja,

hipoclorito de sódio (água sanitária), vinagre, bicarbonato de sódio, papel indicador

universal, papel de tornassol azul e vermelho, solução de fenolftaleína e de

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110

vermelho de metila, copos de vidro, filtro de papel, canudo plástico, pires, caneca de

cerâmica ou vidro, garrafa PET, colheres de sopa.

A oficina foi realizada em sala de aula, com o auxílio do professor de Química.

Os estudantes realizaram os experimentos, com exceção daquele que envolvia

manipulação de óxido de cálcio.

A primeira parte da oficina consistiu no retorno a questões discutidas sobre as

principais causas de degradação do papel, que são a oxidação e a acidez, cujos três

agentes são umidade, luz e calor. A umidade do ambiente contribui para a acidez de

documentos, ao se juntar aos óxidos, formando ácidos, o que se associa ao

fenômeno conhecido como chuva ácida. A luz e a temperatura são responsáveis por

diversos processos, entre eles a oxidação que leva ao amarelecimento.

Para limpeza e tratamento da oxidação do papel, utiliza-se hipoclorito de

sódio, NaClO, que, mesmo sendo um agente oxidante, não prejudica o papel com as

novas oxidações, pois quebra as ligações químicas responsáveis pela coloração,

tornando os compostos incolores.

Segundo a proposta de Fonseca (2014, p. 45), foi realizado um experimento

com refrigerante de laranja e hipoclorito de sódio (água sanitária), em que há

mudança de cor de laranja para incolor. Segundo Fonseca (2014),

No refrigerante está presente o corante amarelo crepúsculo (INS 110), sintetizado a partir da tinta do alcatrão de carvão e tintas azoicas (derivadas do petróleo), que tem a função de propiciar a cor amarela. Esse corante é pouco solúvel em etanol e insolúvel em azeites, estável até 130ºC e, em meio alcalino, apresenta coloração vermelha, logo a mudança de cor (de laranja para incolor, devido à adição de hipoclorito de sódio, um sal de caráter básico) não ocorreu em função da mudança de pH do meio, mas, sim, em função de um transformação química (FONSECA, 2014, p. 343).

Em relação à acidez do papel, primeiramente foi trabalhado como saber se

um papel está ácido, utilizando um livro envelhecido e amarelado. Foram estudadas

as características de ácido e base e como identificá-los, através do uso de alguns

indicadores ácido- base e da escala de pH.

O tratamento da acidez do papel é feito pelo método Barrow (SOUZA, 1988),

baseado nas seguintes equações, que foram trabalhadas na atividade com os

estudantes de acordo com a proposta do livro didático:

1) CaO(s) + H2O(l) → Ca(OH)2(aq)

2) Ca(OH)2(aq) + CO2(g) → CaCO3(s) + H2O(l)

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111

3) CaCO3(s) + H2SO4(aq) → CaSO4(s) + CO2(g) + H2O(l)

A equação 1 corresponde à formação do hidróxido de cálcio a partir da cal

(óxido de cálcio). Nesta etapa, quando se adiciona água à cal, há um elevado

aumento de temperatura, porque a reação de hidratação é exotérmica (libera

energia na forma de calor). A adição de cal ao copo de água foi realizada por mim e

o aumento de temperatura foi constatado tocando-se o lado externo do copo com as

mãos.

A equação 2 representa o processo de carbonatação do hidróxido de cálcio

pelo dióxido de carbono ou gás carbônico, originando o carbonato de cálcio, que é

um composto ligeiramente básico. A reação entre o dióxido de carbono e o hidróxido

de cálcio também é uma reação ácido-base porque o dióxido de carbono em água

forma o ácido carbônico (responsável pelo ligeiro abaixamento do pH da água de

chuva). Após o tratamento de desacidificação, o que restará no papel será o

hidróxido de cálcio, que será carbonatado pelo dióxido de carbono presente no ar,

restando, portanto, ao final do processo, sobre as fibras, carbonato de cálcio.

O hidróxido de cálcio obtido pela hidratação do óxido foi filtrado, colocado em

uma garrafa PET. Os estudantes sopraram sobre uma pequena quantidade num

copo, e observaram a formação de carbonato de cálcio, praticamente insolúvel na

água, devido à reação entre o gás carbônico, liberado na respiração, e o hidróxido

de cálcio. No processo de tratamento do papel, o hidróxido de cálcio reage com o

gás carbônico do ar, como acontece nos muros ou paredes recém – caiadas, não

prejudicando o papel com sua alcalinidade em virtude da formação de uma

substância menos básica, mas continuará protegendo-o da acidez.

A equação 3 representa a reação do carbonato de cálcio com o ácido

sulfúrico (que pode vir da poluição da combustão dos derivados de petróleo pelos

veículos automotores) porventura formado sobre o papel. O carbonato pode reagir

também com algum composto ácido proveniente do papel, da lignina, por exemplo.

Em ambos os casos ocorre a reação do carbonato de cálcio com o ácido, havendo

liberação de gás carbônico, formação do sal de cálcio correspondente (sulfato de

cálcio, no caso do ácido sulfúrico) e água. Esta última parte foi realizada com os

estudantes adicionando-se vinagre ao sólido obtido na equação 2, conforme a

proposta do livro. Também poderia ser utilizado bicarbonato de sódio e vinagre ou

calcita (um mineral de composição química de carbonato de cálcio) ou um pedaço

de mármore e um ácido forte.

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Segundo Souza (1988), o uso do hidróxido de cálcio na desacidificação do

papel não deixa resíduos ácidos nem básicos (pois ao reagir com gás carbônico,

neutraliza novos ácidos sem hidrolisar o papel), ambos prejudiciais ao papel por

causa das reações de hidrólise.

Ao iniciar a oficina, questionei aos estudantes como se podia identificar se o

papel estava ácido ou básico. Os estudantes apontaram os sabores azedo e

adstringente como diferença entre ácidos e bases, o uso de indicadores ácido- base

e a medida de pH, o que demonstrou que tinham conhecimentos prévios sobre o

conteúdo. A partir disso, os estudantes realizaram testes com alguns indicadores,

como fenolftaleína, vermelho de metila, papel de tornassol azul, papel indicador

universal e substâncias como vinagre, água sanitária, soluções de hidróxido de

sódio e bicarbonato de sódio. Ao medir o pH de uma folha de um livro envelhecido e

amarelado com o papel indicador universal, constataram pH igual a 6. Sobre o

processo de desacidificação, foi explicado sobre a reação de neutralização entre o

hidróxido de cálcio e os ácidos do papel, formando sal e água.

Na realização da primeira reação de hidratação da cal, formando hidróxido de

cálcio, questionei os estudantes se conheciam caiação de muros ou paredes, muitos

não conheciam. Chamei a atenção quanto ao fato de que essa reação libera energia

e quando um pedreiro vai preparar uma grande quantidade de cal hidratada para

caiar um muro ou uma parede, por exemplo, precisa tomar muito cuidado, pois pode

sofrer queimaduras caso esteja próximo ao sistema.

O questionário aplicado aos estudantes, para responder de forma individual,

tinha as seguintes questões:

1. Cite características de ácidos e bases. Como se pode identificá-los?

2. Quais os processos químicos e físicos prejudiciais ao papel?

3. Como se faz o tratamento do papel em processo de degradação?

4. Quais são os indícios de reações químicas?

5. Para que serve o hipoclorito de sódio no tratamento do papel?

6. Para que serve o hidróxido de cálcio no tratamento do papel?

Devido a alguns pedidos, aceitei que alguns estudantes que não conseguiram

terminar de responder ao questionário levassem o material para casa e entregassem

na aula seguinte.

Na primeira questão, dos 40 estudantes que responderam ao questionário,

somente 13 não fizeram cópia do livro didático. No dia da aplicação do questionário,

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113

observei que alguns estudantes tiraram os livros de suas mochilas, abriram no

capítulo sobre ácido e base e fizeram cópias nas suas respostas. O que se pode

inferir em relação ao fato de os estudantes realizarem cópia do livro, é que o

estudante pode ter pensado algo do tipo: “vou copiar do livro porque assim não

estarei escrevendo nada errado”. Ou talvez isto tenha relação com a sua formação

anterior, com o hábito de realizar atividades utilizando o livro didático. Conforme

Lima (1990),

Nas escolas existem inúmeras variáveis que caracterizam o estado do conhecimento do aluno, a saber: o próprio conhecimento do professor, a formação anterior que o aluno recebeu, a interação professor- aluno, a adequação das metodologias e dos materiais didáticos, dificuldades intrínsecas dos conteúdos etc. (LIMA, 1990, p. 129-130).

Nas respostas dos estudantes que não recorreram ao livro, foram apontados

sabores azedo e adstringente de ácido de acordo com o que é ensinado e repetido

nos livros didáticos, que “podem ser diferenciados pelo valor do Ph”, pelos

indicadores, e que “ácido e base tem características opostas”, referindo-se

provavelmente à reação de neutralização.

O objetivo da segunda questão foi que os estudantes apontassem o

armazenamento e manuseio do papel, pois quando contribuem para umidade, luz e

calor, levam a sua deterioração pela acidez (pela hidrólise) e oxidação. Porém, 38%

dos estudantes responderam utilizando exemplos para diferenciar entre fenômeno

físico e químico, como amassar o papel para fenômeno físico e queimá-lo para

químico. Em algumas destas respostas foram mencionados acidez, mudança de cor,

exposição à luz, poeira e umidade. A seguir estão apresentados alguns dos

fragmentos.

Estudante B2: “Fenômeno Químico: queimando o papel, ele deixa de ser papel.

Fenômeno físico: Quando rasgamos o papel o papel ele continua sendo papel mesmo

tendo mudado sua forma”.

Estudante B9: “Os processos físico do papel quando ele amassa, ou recorta e etc. E

processos químicos é quando ele é queimado, expostos a luz, à poeira, umidade e etc”.

Estudante B6: “Os processos físicos do papel são os rasgados, amassos, etc. Agora os

processos químicos são quando o papel é queimado, quando mudam de cor, etc”.

Estudante B5: “Um Processo físico, quando o papel é rasgado quando submetido a uma

força, quando o papel é queimado, um processo químico A acidez e a oxidação são

prejudiciais ao papel”

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114

As condições de armazenamento e manuseio foram apontadas por 18

estudantes, em relação à umidade (inclusive advinda do uso de saliva para folhear

páginas de um livro), poluição e luz, que contribuem para a degradação por

oxidação e acidez. Dentro dessas respostas, algumas vezes também apareceu

rasgar o papel.

Estudante B7: “As condições de como ele e guardado e à água também”.

Estudante B8: “O que pode danificar o papel, como molhar os dedos para passar uma pagina de uma folha. Se colocar, claro na água Sanitária, o papel fica branco”.

Estudante B31: “O mal armazenamento do papel e a uma forma que a pessoa e acostumada a guardar o papel ou livro. E quando fica molhando o papel com a saliva”.

Corrosão de ácidos fortes e prejuízos à pele foram mencionados por 6

estudantes, provavelmente porque não entenderam a questão ou não souberam

expressar suas ideias.

Estudante B10: “Alguns ácidos mais fortes são corrosivos enquanto estão em concentração alta ele corrói a pele se caso de acidentes”.

Sobre o tratamento do papel em processo de degradação, 26 estudantes

mencionaram o tratamento da acidez e/ ou da oxidação.

Estudante B6: “Para fazer o tratamento do papel em degradação é preciso do hipoclorito de sódio (água sanitária) para que o papel volte a cor original e o hidróxido de cálcio (cal apagada) para tirar as bases e os ácidos presentes no papel”

Estudante B7: “Quando o papel está amarelo ai se coloca água sanitária ele fica branco”.

Um texto de internet38 mencionando “fatores internos de degradação do

papel” foi utilizado por 3 estudantes.

Estudantes B2, B3 e B4: “Os fatores internos de degradação do papel estão estritamente relacionados a composição do mesmo, ou seja, todos os componentes que fazem parte dele, a degradação ao papel num maior ou menor grau, vai depender da purificação no processo de fabricação e também de controle dos factores externos de degradação”

A questão não foi respondida por um estudante, enquanto 10 estudantes

colocaram causas da degradação.

38

FACTORES Internos de Degradação do Papel. Panucarmi Preservação, Conservação e Restauro Documental. [s. d.]. Disponível em: <http://panucarmi2.wikidot.com/factores-internos-de-degradacao> Acesso em 25/08/2016.

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Estudante B28: “O processo de degradação do papel está ligado no ácido que amarela, enfraquece e degrada o papel”.

Nos casos em que os estudantes fizeram cópia de texto da internet ou

colocaram respostas alheias à questão, talvez o estudante buscou certa garantia de

correção e de agrado ao professor, não deixando a questão em branco.

Sobre os indícios de reações químicas, 33 estudantes responderam mudança

de cor, liberação de gás, formação de um precipitado, mudança de temperatura ou

liberação de luz. Porém apenas 4 destes estudantes utilizaram a palavra precipitado,

enquanto outros colocaram formação de sólido ou “separação de sólido e líquido

naturalmente”. No caso de liberação de gás, alguns estudantes responderam

“espumação” ou “formação de bolinhas”.

A mudança de cor dos indicadores ácido-base foi citada por 7 estudantes: “as

substâncias faz com que a utilização do acido e da base mude de cor caso eles se

misturam com substâncias” ou “Liquidos ou papeis que mudam de cor em reação

com o acido ou a base”. O fato de a oficina tratar de reações químicas e seus

indícios, além de acidez e basicidade por meio dos processos de tratamento do

papel, pode ter contribuído para esta resposta.

As perguntas 5 e 6 foram feitas no intuito de verificar se os estudantes

reconheciam as substâncias utilizadas no tratamento do papel.

Quanto ao hipoclorito de sódio, 36 estudantes responderam que é utilizado no

tratamento do papel para branqueamento, clareamento, para “voltar à cor original”

ou “limpar”. Os outros 4, além de citar o branqueamento, também citaram o

tratamento da acidez: “Para retirar a acidez e cor amarelada”.

No caso do hidróxido de cálcio, 24 responderam que é usado para “retirar a

acidez”, “neutralizar os ácidos”. No entanto, 6 estudantes colocaram que o hidróxido

“faz com que o papel fique fraco e mude de cor”; outros 4 que “É usado pela

indústria petroquímica em uma das etapas da fabricação do papel”, cópia de internet

referente ao hidróxido de sódio39. Dois estudantes não responderam a questão.

Os mesmos 4 estudantes que responderam anteriormente sobre o hipoclorito

retirar a acidez e a cor amarelada, colocaram que o hidróxido de cálcio é utilizado

“Para esbranquia e fazer com que o papel dure mais”. Por meio destas duas

questões pode-se inferir que estes estudantes não conseguiram assimilar as

39

FOGAÇA, J. R. V. Principais bases. Mundo Educação. [s. d.]. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/principais-bases.htm> Acesso em 23/08/2016.

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diferentes características e propriedades destas substâncias no tratamento do papel,

por isso as repetiram para ambas.

Sobre o uso de texto de internet, é preciso ressaltar que o bairro tem rede wifi

gratuita na região da praça, em frente à escola, porém até o início de 2016, era

proibido o uso de celulares40 em sala de aula, talvez porque as escolas e os

professores não conseguiam administrar este uso.

Em todos os questionários das oficinas chamou atenção a dificuldade de

compreensão de algumas perguntas, ocasionando grande número de respostas

evasivas. Isso pode ter relação com o fato de a temática ser totalmente nova para os

estudantes, além do grande volume de informações em cada oficina, o que pode ter

suscitado dificuldades de interpretação. Outra possibilidade é quanto à formulação

das perguntas.

4.1.7. Questionário final sobre as oficinas desenvolvidas na Escola B

Na finalização das atividades na escola B, foi aplicado um questionário

retomando questões acerca da percepção do patrimônio cultural e das oficinas, tais

como:

1. O que você entendeu por patrimônio cultural?

2. O que você entendeu por Conservação e Restauração de bens culturais?

3. Qual a relação da Química com a Conservação e Restauração de bens

culturais?

4. Qual a relação que se pode fazer da Química com outras áreas de

conhecimento?

5. O que você contaria sobre as oficinas realizadas? Qual o seu aprendizado?

Este questionário foi respondido por 46 estudantes. Nas respostas das

questões 1 e 2 observei mudança em relação às ideias prévias dos estudantes ou

ampliação dos conhecimentos sobre o conceito de patrimônio cultural e conservação

e restauração.

A atribuição de patrimônio cultural somente a objetos (coisas) ou lugares

quase não apareceu (houve uma junção, ou seja, objetos e lugares e manifestações

40

DEPUTADOS do ES aprovam uso de celular em sala de aula. G1 Espírito Santo, 31 março 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2016/03/deputados-do-es-aprovam-uso-de-celular-em-sala-de-aula.html> acesso em 23/08/2016.

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culturais foram reunidos na definição de patrimônio cultural). Por outro lado

apareceram as concepções de patrimônio imaterial, móvel e imóvel. Um exemplo é o

Estudante B4, que, anteriormente, na oficina sobre patrimônio cultural, respondeu:

“Entendo que é uma coisa histórica, antiga, que é aberto para varias pessoas

visitarem”, mas ao final das atividades, respondeu: “Eu entendi que patrimônio

cultural coonpreende lugares, objetos e manifestações culturais diversas que

valorizamos por serem provenientes dos nossos ancestrais”. O Estudante B12

respondeu anteriormente com exemplos: “Festa Junina, Ação global, Festa de São

Pedro, quadrilha”. Já neste questionário colocou “Patrimônio Cultural é tudo aquilo

que é considerado histórico ou importante, pode ser imovel ou movel”. O Estudante

B17 anteriormente havia respondido “Entendo que é tudo aquilo que envolva a

cultura de cada lugar do mundo”, depois: “Eu entendo por patrimônio cultural que é

um conjunto de todos os bens materiais e imateriais”. Outras respostas foram:

Estudante B1: “Entendi que é todo fazer humano que tem caráter memorial e de pertencimento para uma sociedade”.

Estudante B13: “Patrimônio cultural, pelo o que eu entendi, seria um objeto, um bem antigo ou até novo, que contribui para a cultura da cidade e/ou Estado”.

Nas respostas da questão 2 apareceu a menção à manutenção o máximo

possível das informações iniciais (originais) do bem cultural, conforme Medeiros

(2012) “[...] buscando aproximar, o mais possível, a obra, estrutural e esteticamente,

da “quantidade inicial de informações””. No quadro 7 são apresentados fragmentos

de respostas de alguns estudantes, comparando-os com as suas respostas no início

da pesquisa.

- Estudante B1:

RI: “Não entendo nada”

RF: “[...] Restauração: é consertar aquilo que está estragado mais deixado da forma original”

- Estudante B12:

RI: “É muito importante conservar para que quando venha pessoas de fora falar bem”

RF: “Conservação e restauração são métodos para deixar a obra em um bom estado chegando ao original mas deixando visível que foi restaurado”.

- Estudante B23:

RI: “Restauração- o que está estragado arrumar”

RF: “Restauração: não é exatamente reformar, mas é reparar algo que está se desfasendo, porém mantendo o original”.

Quadro 8. Fragmentos de respostas de estudantes da escola B sobre o conceito de Conservação e restauração de bens culturais no início da pesquisa (RI= resposta inicial) e ao final (RF).

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A questão 3 foi discutida em todas as atividades realizadas e os estudantes

enfatizaram em suas respostas a importância da Química para conhecer as

propriedades dos materiais utilizados no tratamento de bens culturais e seus

processos de degradação, através de exames e análises, além do estudo e escolha

dos materiais para conservação e restauração.

Estudante B1: “Pois a química estuda os materiais e a composição deles, então saberá como manter determinado material apresentavel”.

Estudante B2: “[...] com ajuda da química eles conseguem descubrir como a peça é formada, do que ela formada”.

Estudante B3: “[...] através da química eles podem descobrir com que tipo de tinta a peça foi pintada e assim ter os cuidados necessários para a restauração”.

Estudante B4: “[...] Para conservar e restaura, os objetos passam por processos químicos, por isso a química é tão importante”

Estudante B6: “A química ajuda em alguns fatores como o raio ultravioleta, infra vermelhos. São espécies de radiações que podem indicar se a problemas em alguns livros ou quadros históricos.”

Estudante B11: “A Química explica o que acontece com os materiais durante o tempo, seja curto ou longo, como por exemplo a ferrugem”.

Estudante B46: “Ela vai nos ajudar a conhecer a limpeza deles, e qual a tinta que nós podemos usar e quando eles raspam qual o tipo de tinta que podemos usar”.

Estudante B41: “A Química esta presente em muitas coisas na conservação e uma delas na hora da limpeza com produtos químicos e também quando eles vão restaurar quando eles raspam para descobrir qual a tinta e até saber a estrutura de uma escultura”.

Estudante B43: “A química influencia na restauração de bens, através da química é possível detectar problemas e causas do material que será restaurado”.

Nas respostas dos estudantes também foram mencionados pesquisa de

novos materiais para a área, efeitos positivos e negativos da radiação

eletromagnética (“luz”) e referência pelo Estudante B12 a um caso específico de

restauração, relatado na aula expositiva, em que a informação sobre a intervenção

anterior em uma obra estava dentro da mesma. Alguns estudantes se limitaram a

descrever partes de experimentos realizados em alguma oficina.

Estudante B37: “A química e fundamental, pois é através dela que se cria os materiais, para utilizar. [...] como a tinta, e os produtos que se usam, no experimento”.

Estudante B42: “A química pode ser muito usada tanto na conservação quanto na restauração de bens culturais. Os componentes químicos estão por todos os processos desde o objeto em si, até a tinta usada pra restaurar, o material que for usado pra limpar... entre outros”.

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Estudante B24: “A química é uma forma encontrada também para fazer conservamento e restauração de objetos e bens culturais. É possível ver a química presente no experimento feito pelos alunos da turma do (...)

41 da escola (...) em (...), onde foi feito a

tecnica da Cianotipia, para a revelação de fotografias. É possível ver também nesse experimento a importancia e os benefícios da luz para conservação e restauração de bens culturais”.

Estudante B44: “O efeito da luz as veses pode ser positivos e a mesmo tempo negativo, na Quimica são feitas analises. ajuda a entender os elementos que podem ajudar e danifica a obra”.

Estudante B12: “O bem cultural vai para o lugar de restauração assim ele e raspado até chegar a cor que era antes assim pintam ele denovo e colocam a carta de quando ele foi restaurado”

A questão 4 foi colocada porque, nas respostas à ficha de percepção acerca

dos patrimônios da primeira oficina, a maioria dos estudantes reconheceu a relação

da Química com outras áreas, mas principalmente com disciplinas da área de

Ciências da Natureza. Além disso, no percurso de realização das atividades foram

discutidas questões como a linguagem da química, a importância da quantidade

(expressa em concentração), o estudo de materiais em áreas como geografia, de

processos na biologia, estimativa de tempo pelos estudos arqueológicos e no caso

dos bens culturais, a necessária relação de diversas áreas, principalmente entre arte

e história.

Nas respostas apresentadas, apesar das menções ao “lugar” da Química e a

esta como “coisa”, discutidas por Rosa e Tosta (2005), observei que os estudantes

apresentaram algumas mudanças sobre a percepção da relação da Química com

outras áreas, não se restringindo somente a disciplinas da área de Ciências da

Natureza. As menções a cálculos e fórmulas pouco apareceram. Algumas das

respostas apresentadas foram:

Estudante B3: “A química esta relacionada com áreas tais como Artes, historia, Geografia e até o Portugues. É possível ver também o uso de substancias químicas em estudos, construções, obras e em nosso experimento para a revelação de fotografias”.

Estudante B5: “A química está presente em outras áreas, como no português, pelo fato de toda exerce uma linguagem, na matemática usando números nos experimentos, dentre outras”.

Estudante B9: “A química e ultilizadas em varias como na física, matemática, geografia e até mesmo em casa tem a existência da química como na ciência e nos bens culturais”.

41

(...) representa omissão de nomes da turma, da escola ou do bairro, feita pela pesquisadora.

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Estudante B10: “A química e relacionada com a ciencia a cultura aos patrimônios culturais e a restaurações de Bens Culturais”.

Estudante B27: “A Química se relaciona com artes, física, biologia e outras áreas”.

Estudante B31: “A química se relaciona com todas as outras materia, química esta relacionada em tudo do nosso dia a dia, em varías obras de artes, em alimentos e em calçados etc”.

Estudante B33: “A Química está em praticamente todas as áreas, porque ela ajuda a compreender os processos químicos, ou saber sobre substâncias”.

Estudante B40: “A química está relacionada á diversas matérias como por exemplo a matemática com os cálculos, as fórmulas, a biologia pois ela estuda os seres vivos e o nosso corpo tem diversas reações químicas e também a arte, pois através de processos químicos consegue-se restaurar bens culturais”.

Estudante B41: “A química está presente em muitas coisas e lugares, desde de uma estrutura histórica até um alimento. No hospital, em outras matérias sem ser a química (na historia quando você vai descobrir fosseis) e entre outros varios lugares”.

Estudante B42: “A quimica pode estar relacionada a outras áreas de estudo como por exemplo a Medicina, os remédios, anestesias e etc... são manipulados com ajuda da química. A história por exemplo pode usar a quimica para estudar fosseis, lugares, pessoas e até formas de política”.

Estudante B4: “A Química é uma ciência que não está limitada somente ás pesquisas de laboratório e á produção industrial. A química explica diversos fenômenos da natureza, está presente na medicina, em medicamentos e métodos de tratamento, no desenvolvimento da agricultura, na produção de combustíveis, entre outros aspectos mais importantes”.

Já nas respostas dos estudantes da questão 5, sobre o que contariam sobre

as oficinas e seu aprendizado, foram mencionados a valorização dos bens culturais,

o desenvolvimento da aula, o preparo de tintas (relacionado ao fato de ser mais

econômico), etc. Ainda apareceram menções à Química como coisa ou ao seu lugar.

Por exemplo, no fragmento “Eu aprendi que a Química está presente em tudo

Até nas nossas fotos em tudo que nos fasemos e tentamos fazer a Química tá

presente”, o Estudante B1 apresentou a Química como coisa e ao mesmo tempo fez

referência ao seu lugar ao colocar que “tá presente”. Porém chamou a atenção

quando colocou que a Química está presente “Até nas nossas fotos”, em que a

palavra “Até” foi utilizada como partícula de realce (ênfase) e pareceu indicar que

esta foi uma informação nova para ele.

As referências à Química como coisa também apareceram nos dois

fragmentos a seguir, mas nestes também houve menção a um fato aparentemente

novo para os estudantes, destacado em negrito.

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121

Estudante B10: “Todos os experimentos foram legais e participativos, e percebi que a Química não é apenas usada em laboratório, mas também no dia-a-dia”.

Estudante B16: “Na minha opinião os experimentos nos ajudaram a perceber que a química influencia em tudo na nossa vida”.

Outros estudantes apontaram a valorização dos bens culturais como

aprendizado.

Estudante B12: “Na minha opinião os experimentos realizados foi uma experiência interessante pois aprendi o valor de dos experimentos e dos bens culturais”.

Estudante B: “É um projeto muito legal que você aprende sobre a história e os antepassados da sua história quando a gente pegou pra tirar fotos de coisa que fizeram parte da familia e do bairro e do estado”

O Estudante B12 destacou também a importância dos experimentos, o que

pode indicar que os estudantes não tinham aulas experimentais. Durante as aulas os

estudantes ficavam ansiosos para realizar os experimentos e alguns testavam várias

combinações de materiais para “ver no que resultava”. Alguns estudantes

apresentavam uma concepção de experimentação como realização de um “show”,

com a presença de reações com explosões, pois sempre surgia a pergunta “alguma

coisa vai explodir?”. Por isso, além de tentar desconstruir esta concepção, o

professor de Química e eu precisávamos ficar muito atentos a estes estudantes, o

que nos levou a usar a estratégia de trazê-los para perto de nós e convidá-los a

realizar algumas demonstrações conosco. Além disso, nesta oficina os experimentos

não ofereciam riscos, pois os materiais nocivos foram utilizados apenas para estudo

dos rótulos.

No fragmento “Foi importante, pois nós ensinou a saber mais como e com o

que se pode fazer para conservar os quadros. Na química o aprendizado é

essencial, porque é atravez da química que se pode fazer os elementos necessários

para a tinta como os pigmentos, às tintas etc, e outros elementos necessários”, o

Estudante B28 destacou a importância da Química na conservação de bens culturais

e no estudo de seus materiais constituintes, inclusive obtenção de novos materiais.

Dos estudantes que destacaram o preparo de tintas, alguns dos fragmentos

foram os seguintes:

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122

Estudante B40: “Boa, é uma aula interativa com dinâmicas e curiosidades. Esse experimento, trouxe economia na composição das tintas e nos mostrou aspectos importantes para a formação da mesma”.

Estudante B44: “Minha opinião é boa, aprende um pouco como se prepara uma tinta”.

Estudante B45: “Eu gostei muito Bom aprendemos muitas coisas eu aprendi sobre as cores e etc”.

Estudante B46: “Eu achei muito legal, e posso tirar como aprendizado que muitas vezes o dinheiro que gastamos comprando tinta podemos economizar fazendo as tintas caseiras”.

De acordo com as respostas, pudemos perceber que diferentes conhecimentos

foram assimilados conforme a percepção dos estudantes e houve mudanças em

relação às suas ideias prévias.

4.2. Atividades desenvolvidas na escola A e seus desdobramentos

Conforme o percurso de investigação relatado no capítulo 3, nesta escola eu

fui a professora da turma e devido à logística da escola não foi possível estabelecer

parceria com professores de outras áreas, com exceção da professora de História

em uma das atividades.

Além disso, os gestores da escola deram a orientação de que os professores

de cada disciplina, das mesmas séries, deveriam ter um plano de ensino comum, de

acordo com o proposto no Currículo Básico Comum e no Documento referência para

elaboração de planos de ensino (ESPÍRITO SANTO, 2009; 2014).

Diante da situação encontrada na escola, busquei trabalhar a temática sem

fugir ao plano de ensino estabelecido pelos professores, considerando que

[...] na circularidade produzida entre políticas públicas expressas em documentos curriculares e práticas cotidianas, escolas planejam, concebem e vivenciam suas práticas influenciadas pelos textos oficiais, fazendo recontextualizações e oferecendo formas de resistência e produção (ROSA, CARRERI e RAMOS, 2012, p.113).

Estas autoras reconhecem a influência dos documentos oficiais, porém

destacam que estes são recontextualizados e,

As recontextualizações feitas pelos praticantes do cotidiano são mais que meras interpretações: são consumos ativos de uma maioria marginalizada, que os transforma e aplica da maneira que acredita ser a melhor, utilizando-se de táticas (ROSA, CARRERI e RAMOS, 2012, p.111).

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Desta forma, inseri as atividades à medida que seguia a proposta do plano de

ensino, adaptando algumas atividades da escola B e incluindo novas a partir dos

conteúdos propostos.

A professora de História se dispôs a realizar uma atividade conjuntamente de

acordo com que estava previsto para sua disciplina: Cultura material e imaterial;

patrimônio e diversidade cultural no Brasil e no Espírito Santo (bens móveis, bens

imóveis, patrimônio imaterial e patrimônio natural).

Todas as atividades foram realizadas em sala de aula com aproximadamente

30 estudantes que aceitaram participar da pesquisa.

4.2.1. Trabalhando o texto: O papel do químico na restauração e conservação

No documento curricular da disciplina Química está previsto o conteúdo

“Introdução ao estudo da Química: A Química na sociedade”. Assim, dentre outras

coisas que discuti com os estudantes, inseri o texto “O papel do químico na

restauração e conservação do patrimônio cultural42 (ANEXO 5). Inicialmente o texto

foi entregue aos estudantes, estes foram orientados a ler, fazer anotações de suas

dúvidas durante a leitura, além de uma síntese das ideias principais do texto.

Na aula seguinte recolhi as anotações dos estudantes e, na sequência, iniciei

a discussão perguntando se alguém já tinha ouvido falar de conservação e

restauração de bens culturais. Como a resposta foi negativa, questionei os

estudantes sobre o que haviam entendido pelo texto. Posteriormente, utilizando

equipamento multimídia (data show), mostrei registros de alguns trabalhos

realizados no estado e no Brasil e considerando os assuntos abordados pelo texto e

as dúvidas anotadas pelos estudantes, discuti os seguintes tópicos: associação

entre química e outras áreas de conhecimento, patrimônio cultural, distinção entre

conservação e restauração, relações entre a química e os bens culturais materiais. A

discussão foi realizada em duas aulas, possivelmente não suficientemente dialógica,

uma vez que como professora da turma, o tempo constituía-se num fator importante,

42

CAVICHIOLI, A. O papel do químico na área de restauração e conservação do patrimônio cultural. Química e Arte. Química Viva. 27 junho 2011. Disponível em: <http://www.crq4.org.br/quimicaviva_quimicaearte> Acesso em 28/02/2015.

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124

dadas as cobranças quanto à necessidade de trabalhar conteúdos previstos nos

documentos oficiais que norteavam o planejamento escolar.

Dos 22 estudantes que participaram desta atividade, 9 apresentaram somente

um resumo do texto copiando algumas de suas partes e 4 estudantes apresentaram,

além de cópia de partes do texto, comentários, apresentados pelos fragmentos a

seguir.

Estudante A1: “Foi uma leitura construtivel, pois me fez conhecimento de coisas que eu não sabia”.

Estudante A2: “Eu achei o texto um pouco fácil”.

Estudante A3: “Fácil, entendi como as áreas, ou os elementos necessitam um dos outro, aprendi como a tinta pode ser tóxica, para nós e a importância da Arte”.

Estudante A11: “Leitura fácil porque consegui indentificar o conceito o tema e etc”.

Apenas 10 estudantes apresentaram sínteses do texto, das quais foram

destacadas aquelas que apresentaram cópia de trechos do texto.

Estudante A7: “A contribuição da química em entender a composição dos materiais e os processos ocorrido com eles ao longo do tempo pode ajudar a desvendar aspectos culturais, religiosos e antropológicos”.

Tal resposta consistiu em cópia do seguinte trecho do texto:

Aqui, a contribuição do químico em entender a composição dos materiais e os processos ocorridos com eles ao longo do tempo pode ajudar a desvendar aspectos culturais, religiosos e antropológicos.

Outra resposta fez junção de duas partes do texto, as quais foram reproduzidas

a seguir, destacadas em negrito:

Estudante A12: “A ideia do texto é mostrar que a química pouco tem haver com a arte. O objetivo é saber se aprofundar nas propriedades da matéria e entender como controlá-las é importante até mesmo no caso das formas menos palpáveis de arte, como a música”.

Com os rumos tomados pelas ciências nos séculos XIX e XX, a química foi incorporada no conjunto das ciências exatas com a percepção de que tenha pouco ou nada a ver com a arte [...]

[...] Saber se aprofundar nas propriedades da matéria e entender como controlá-las é importante até mesmo no caso das formas menos palpáveis de arte, como a música.

Os demais estudantes apresentaram suas interpretações em relação ao texto

sem fazer cópias, mas em alguns casos não se atentaram para o assunto principal

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do texto, sobre o papel do químico na conservação e restauração do patrimônio

cultural. Alguns fragmentos foram:

Estudante A13: “Mostrar a função dos químicos na área de restauração e preservação de um patrimonio cultural. Apresentar os conceitos do que os quimicos vão estudar e o seu papel fundamental na evolução. Mostrar o que a quimica tem haver com a arte”.

Estudante A4: “O texto fala da importância da química e dos químicos para as artes no geral. O autor mostra que aquela coisa de artes e exatas não se misturam é mentira e que na verdade uma precisa da outra, o autor mostra vários elementos que provam isso como a questão da restauração de obras e a questão das tintas que se o pintor na época não soubesse misturar a tinta a pintura iria fica mal feita”.

Estudante A5: “Não consegui compreender muito bem mas consegui compreender que a química teve grande participação nos nossos estudos do passado e que devemos valorizar e preservar isso”.

Estudante A6: “Que a química tem um papel fundamental na revolução das artes plásticas. Há semelhança de arte pra química mas também há muitas diferenças.

Estudante A8: “Eu percebi que arte e química são materias muito próximas eu aprendi muito com isso”.

O fato de alguns estudantes realizarem cópias pode ser um indício de que

não leram todo o texto, porém ao copiar ou modificar um trecho do texto, o

estudante quis buscar certa garantia de correção.

Apenas 2 estudantes relataram dificuldades na leitura do texto: Estudante

A12, que não apresentou justificativa, e Estudante A5 que, ainda assim, apresentou

sua síntese do texto. Embora o texto utilizado fosse curto e informativo, a falta de

hábito de leitura deste estilo de texto pode ter sido um fator de dificuldade.

Estudante A12: “Eu achei essa matéria um pouco complicada”

O texto foi utilizado na introdução ao estudo da Química: a Química na

sociedade, cuja habilidade apontada para este tópico no documento curricular foi

“Recordar conteúdos introdutórios de Química, vistos no Ensino Fundamental:

surgimento da ciência Química, modelo atômico de Dalton, substâncias e materiais

(identificação e separação), propriedades específicas – químicas e físicas –,

mudanças de estados”.

Em uma das avaliações escritas do primeiro trimestre foi colocada a seguinte

questão retomando o texto: Qual o papel da química na conservação e restauração

do patrimônio cultural?

Do total de 35 estudantes, 10 não responderam. Dentre aqueles que

responderam, algumas das respostas foram:

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Estudante A1: “Ela estuda os componentes químicos do patrimonio, para preserva a naturalidade do patrimonio que esta sendo restaurado”.

Estudante A4: “Identificar algum elemento/ mistura que ajude na conservação de certos bens”.

Estudante A5: “Produzir produtos químicos para conservar bens antigos e manter por anos e anos”.

Estudante A7: “Os químico são os mais indicados para isso porque eles sabem da melhor maneira de restaurar um material com base nos seus componentes e nos que melhor se encaixariam na restauração daquele objeto”.

Estudante A10: “O papel da química na conservação e restauração, é basicamente estudar formas para acabar com um certo problema, como por exemplo, o ferro corroído pela ação do tempo como outras”.

Estudante A11: “A química ajuda a descobrir com qual material foi feito, assim podendo usar o mesmo quando for fazer a restauração”.

Estudante A17: “Saber qual tipo de substancia age sem causar dano ao patrimônio”

Estudante A20: “Porque com a química você pode restaurar alguns bens culturais, fazer com que eles voltem a ser originais”.

Estudante A23: “Com produtos químicos para ajudar na restauração”

Estudante A24: “O papel da química é descobrir todas as composições que foram usadas nos bens culturais”

Estudante A25: “A química ajuda a Conservação e Restauração de bens culturais por que atravez da química eles podem descobrir com que material foi usado a pessa e assim podem restaura a obra”.

Conforme estas respostas, os estudantes apontaram principalmente a

importância da química na caracterização dos materiais. O texto, porém, coloca que

o papel da ciência química na conservação e restauração de bens culturais é

estudar o efeito dos poluentes atmosféricos nas obras de arte, detectar a presença

destas substâncias no ar, como também prever e estudar seus efeitos nos diversos

tipos de materiais e ainda propor soluções para evitar a degradação das obras de

arte; caracterização dos materiais, importante para melhorar o conhecimento da

origem e da trajetória de uma determinada obra.

Outros estudantes apresentaram respostas evasivas, em alguns casos com

equívocos, como a resposta do Estudante A3- “Decantação, para reconstituir ou

conservar”, que pode ter surgido devido ao conteúdo de métodos de separação de

substâncias desenvolvido na mesma avaliação. Alguns destas respostas foram:

Estudante A14: “Porque a química e usada em diversos tipos de coisa principaumente nos bens culturais e química faz diversas coisas com os bens culturais”.

Estudante A6: “Que usam alguns metodos para proteger, ou restaurar alguns bens”.

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Estudante A21: “Conservar e Restaurar bens culturais sem danificá-los mais do que já estão.Deixar os bens culturais que já estão danificados e consertá-los de maneira correta”.

Estudante A15: “E de renova e usar os meios da Química para restaurar os bens culturais”.

Estudante A16: “A Química ajuda bastante a natureza. Ela ajuda a preserva as culturas, com isso ajuda o meio ambiente”.

Estudante A18: “Pois a química consegue restaurar (separar) substancias umas das outras, só e possível fazer isso com a ajuda da Química, só ela e capaz também de conservar certas substancias. Graça a Quimica isso e possível”

O estudante A12 mencionou em sua resposta “Que conservando, restaurando

o numero de lixos diminui”, o que me permitiu inferir que o estudante relacionou

restauração com reaproveitamento. Já o estudante A2 respondeu “A preservação,

restauração, a diminuição do uso de tintas que são tóxicas, pinturas rupestres”,

provavelmente relacionando com outra discussão de sala de aula, em que houve

menção sobre toxicidade de materiais presentes em tintas; já pinturas rupestres

foram citadas no texto utilizado.

4.2.2. Oficina sobre patrimônio cultural

No intuito de trabalhar a temática juntamente com a professora de História, os

estudantes desta escola também responderam a ficha de percepção acerca do

patrimônio cultural, de forma individual. As questões foram as mesmas colocadas

para os estudantes da escola B:

1. Descrição da região onde vive

2. História da região onde vive

3. a) Um lugar importante, razão; b) onde não se deve deixar de ir, razão; c) o

que não se pode deixar de ver, razão; d) o que não se pode deixar de

participar, razão; e) o que não se pode deixar de comer/beber, razão

4. O que você entende por patrimônio cultural?

5. O que você entende por Conservação e Restauração de bens culturais?

6. A disciplina Química tem alguma relação com outras disciplinas do

currículo escolar? Se sim, quais? Se não, por quê?

A ficha foi respondida por 29 estudantes. Entre estes, alguns não

conseguiram terminar de responder na aula, levaram para casa e entregaram na

aula seguinte.

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128

Nas respostas à questão 1, apareceram 18 bairros diferentes do município de

Serra e uma estudante mencionou o município de Vila Velha. Tais respostas são

condizentes com o público atendido pela escola, que se situa quase no limite entre

os municípios de Serra e Vitória e recebe estudantes da Região Metropolitana de

Vitória.

Nas descrições dos diferentes bairros do município de Serra, 8 estudantes

citaram violência e tráfico de drogas. Uma estudante, porém, destacou os órgãos

administrativos do município de Serra no seu bairro de residência, citou também um

espaço fundado, no ano de 2000, pela Prefeitura Municipal da Serra através da

Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer, com objetivo de divulgação do

Patrimônio Histórico e Arquitetônico da Serra. Os demais estudantes apresentaram

descrição de seus bairros quanto ao clima, movimentação e ao tipo de residências e

moradores.

A segunda questão não foi respondida por 10 estudantes. Somente três

estudantes colocaram informações sobre a história do município de Serra, porém as

informações de dois deles coincidiram com textos da internet. A estudante A1

resumiu a história do município de Vila Velha no qual residia antes de se mudar para

o município de Serra.

Estudante A1: “Quando os primeiros colonizadores portugueses chegaram à Vila Velha ela ja era habitada por três grupos índigenas. Vasco Fernandes Coutinho chegou na atual Prainha a bordo da caravela Gloria. E era a capital da Capitania porém começou a ser invadida por franceses, holandeses e indígenas e então a capital foi transferida para Vitória”.

Os demais estudantes mencionaram invasão, matos ou descrições sobre o

bairro, etc. Uma informação interessante colocada pelo estudante A11 foi “O meu

bairro foi valorizado porque a cst43 e bem perto da Avenida principal”. Se

considerarmos o que foi discutido na aula de campo com os estudantes da escola B

sobre a ocupação do solo, percebemos que a religião influenciou no município de

Vitória, enquanto no município de Serra foram as implantações de empresas,

especificamente siderúrgicas, que desencadearam a ocupação.

Nas respostas à questão 3, itens de a até e, foram apresentados os seguintes

bens culturais e razões pelas quais os estudantes os sugeriram:

43

Companhia Siderúrgica de Tubarão, atual Arcellor Mittal.

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129

Convento da Penha

Estudante A1: “É o símbolo da cidade e é um monumento histórico”.

Congo

Estudante A6: “Por que e importante para a região de Cariacica”

Panela de barro

Estudante A4: “[...] feita por indígenas”

Ilha das Caieiras

Estudante A6: “[...] por que la eles fazem as Panelas de Barro”

Moqueca capixaba

Estudante A6: “Por que e uma coisa que foi criada aqui no espirito Santo”

Estudante A27: “Por que é coisa feita por nós e e gostoso.”

Estudante A1: “Porque é a comida típica do estado”

Estudante A16: “[...] porque eu adoro”

Estudante A4: “[...] é o prato mais conhecido da culinária do Espírito Santo”

Igreja Reis Magos

Estudante A18: “[...] por que é um lugar histórico”

Estudante A17: “[...] tem grande importancia cultural”

Estudante A4: “A história do local, os objetos, os quadros a tinta óleo, os escravos

que ficavam ali”.

Torta capixaba

Estudante A17: “Porque é a tradição do estado”

Estudante A10: “Maravilhosa”

Destes bens culturais citados, materiais e imateriais, a maioria das razões

apresentada pelos estudantes demonstrou o reconhecimento destes como

elementos importantes para a cultura do estado. Apenas um ou outro estudante

apresentou outra razão (sublinhada) para citá-los. Também foi citado um patrimônio

natural, o Mestre Álvaro, que dentre várias razões apontadas, foi mencionada a sua

importância em relação à história do estado.

Mestre Álvaro

Estudante A26: “[...] pois é muito lindo, do meu bairro e quando abro minha janela estou de frente para ele” Estudante A6: “E um dos lugares mais importante da Serra” Estudante A4: “A história do Mestre alváro, a natureza, a denominação, os índios que habitavam ali”

Os estudantes A4 e A27 mencionaram “festas culturais”, sem especificar, e

apontando como razão: Estudante A4: “[...] porque contam a história da região, as

culturas e as comidas típicas”; Estudante A27: “[...] pois preserva as coisas e todos

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tem acesso a tudo”. O estudante A7 colocou “lá não tem um prato típico”,

provavelmente em referência ao seu bairro.

Por fim, o estudante A10 colocou que não se pode deixar de participar “Dos

blocos”, apontando como razão “Porque e a única coisa que todos do bairro faz

junto”. Tal argumento serviu de base para discussão sobre os bens culturais no

sentido de serem elos entre as pessoas.

Sobre a questão 4, sobre o conceito de patrimônio cultural, 3 estudantes não

responderam; 9 estudantes se referiram a patrimônio cultural como lugar; 2 como

coisa; 10 se aproximaram do conceito e 5 estudantes responderam de forma vaga,

alheia à questão.

No quadro 8 foram apresentados alguns fragmentos de respostas dos

estudantes.

Aproximações do conceito de patrimônio cultural:

Estudante A4: “São bens materiais ou imateriais, que contam a história de lugar, cultura, comida típica, religiões, danças. Através do patrimonio conhecemos a sociedade”.

Estudante A26: “É um conjunto de bens que conta a história de uma geração através de sua arquitetura, acessórios, obras de arte etc”.

Estudante A28: “E um vertigio para sabermos do passado os tipos são, materiais e imateriais”

Patrimônio cultural como lugar:

Estudante A2: “Um lugar que com o passar do tempo continua lá, com coisas com valor para deixar que pessoas conheça”.

Estudante A3: “Lugares fundados que servem para contar e mostrar a história, a cultura, o surgimento, os costumes dos nossos antepasados”.

Estudante A25: “Um lugar com grande riqueza cultural que seja importante para a comunidade”.

Patrimônio cultural como coisa:

Estudante A1: “Ajuda a mostrar para a nova geração coisas de tempos atrás, mantendo costumes ou construções”.

Estudante A6: “O Patrimonio Cultural e uma coisa que a jeite deve preserva muito bem porque tem um valor muito grande”.

Quadro 9. Fragmentos de respostas de estudantes da Escola A sobre o conceito de patrimônio

cultural.

Ao comparar estas respostas com as da escola B, percebi que na escola A

maior número de estudantes se aproximou do conceito de patrimônio cultural e

poucos estudantes deixaram de responder, talvez devido ao trabalho integrado com

a professora de História, que abordou o assunto em sua disciplina.

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Sobre o conceito de Conservação e restauração de bens culturais, assim

como na escola B, alguns estudantes mencionaram “consertar”, neste caso 3

estudantes. Outros 3 estudantes não responderam e 10 apresentaram ideias

próximas do conceito de conservação e restauração. Os demais apresentaram

respostas vagas.

Algumas das respostas foram:

Estudante A3: “Conservar os bens culturais da região e Restaurar objetos, lugares, estatuas sem fazer reforma, não tirar o seu padrão original”.

Estudante A4: “É conservar e restaurar bens culturais, matendo a estrutura, pintura e características”.

Estudante A22: “Que a conservação é não destruir os bens ou danificar, e restaurar e melhorar os bens sem altera-lo”.

Estudante A26: “Conservação: preservar o que tem grande valor cultural e histórico. Restauração: É o conserto de coisas desgastadas do uso e são corrigidas falhas e o desgaste natural mantendo o aspecto e os matérias originais”.

Estudante A27: “Preservar o que tem grande valor, para algo ficar parecido com o antigo, de não muda a materia só melhorala”.

Estas respostas foram consideradas próximas do conceito de Conservação e

Restauração em virtude da menção de que na restauração de um bem cultural suas

informações precisam ser mantidas o mais próximo do original. Em relação à escola

B, houve maior quantidade de respostas que se aproximaram do conceito. No

entanto, maior número de estudantes apresentou respostas vagas, tais como:

Estudante A6: “Conservação e voce conserva cuida de algo e a Restauração e e você contruir aquela coisa de novo com os mesmos materiais”

Estudante A14: “E uma coisa que você tem o maior cuidado que você preserva como patrimônio”

Estudante A18: “Conservação seria temos cuidado maiores com um bens, já a restauração é fazer a manutenção de um bem”.

Estudante A25: “Preservar o que tem grande valor cultural e histórico”

Na questão sobre a relação da Química com outras áreas de conhecimento

(disciplinas), a maioria dos estudantes apontou as disciplinas de física, química e

biologia e ciências apenas, idêntico ao que aconteceu na escola B.

4.2.3. Atividade com a professora de História

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132

Não foi possível realizar a aula de campo no Centro Histórico de Vitória

proposta por mim e pela professora de História, devido à falta de recursos

financeiros. Assim, foi proposto aos estudantes para que, em grupos, visitassem

diferentes monumentos históricos do município de Serra e Vitória. Os estudantes

foram orientados a conhecer a história do monumento, observar seu estado de

conservação e histórico de restauração, produzindo ao final um vídeo com estas

informações para apresentação em sala de aula.

A professora de História organizou esta atividade e incluiu minhas orientações

sobre os aspectos dos monumentos a observar: sobre o estado de conservação,

processos de restauração e materiais utilizados na construção.

Os monumentos visitados foram a Catedral Metropolitana, o Palácio Anchieta,

o Museu Solar Monjardim e a Igreja São Gonçalo, estes no município de Vitória; e a

Igreja Reis Magos, no município de Serra.

Os estudantes apresentaram os vídeos produzidos em uma aula de História,

estando eu presente. Neste dia a turma estava bastante agitada, principalmente

porque a aula foi depois do horário do recreio.

O primeiro grupo apresentou um vídeo sobre a Catedral Metropolitana. No

período da realização da atividade (primeiro semestre de 2015) a Catedral estava

fechada para restauração, porém os estudantes conseguiram permissão para visitá-

la. Em seu vídeo, além da história da Catedral, os estudantes destacaram a

importância do patrimônio cultural e da restauração. Este grupo, formado por sete

estudantes, não apresentou dificuldades na apresentação e para responder

questões sobre o vídeo, o que pode ser um indício do comprometimento dos

estudantes na realização da atividade.

O segundo grupo apresentou um vídeo sobre o Museu Solar Monjardim.

Apesar de o grupo ser formado por oito estudantes, apenas duas estudantes

visitaram o monumento e apresentaram sua história, filmaram uma janela de

prospecção pela qual era possível identificar os materiais de construção da parede,

descreveram seu estado de conservação. Em sua apresentação, demonstraram

entendimento da proposta da atividade.

O terceiro grupo, formado por seis estudantes, apresentou um vídeo sem

áudio sobre o Palácio Anchieta sem apresentar sua história. Entre outros problemas

do vídeo apresentado, os estudantes cometeram equívoco ao usar os termos

“reforma para restaurar”, que pode ter ocorrido devido ao fato de o Palácio ter

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133

enfrentado três grandes incêndios e várias reconstruções ao longo de sua história,

em 2004 a primeira obra de restauro foi iniciada e finalizada em 2009. Ou seja, o

Palácio passou por algumas reformas, além de restauração.

O quarto grupo, formado por sete estudantes, ficou responsável por uma

apresentação sobre a Igreja São Gonçalo. Porém, não atenderam as exigências da

atividade sobre o monumento e equivocaram-se em relação aos termos reforma e

restauração.

O quinto grupo, com cinco estudantes, fez uma apresentação sobre a Igreja

Reis Magos. Apenas dois estudantes visitaram a igreja e o vídeo apresentou muitos

problemas e equívocos. Filmaram toda a igreja, ressaltaram a história de um túnel

feito por baixo da igreja para fuga de prisioneiros, já que esta serviu de cadeia;

mencionaram que as paredes foram feitas de pedras, com argamassa de barro,

areia, cal de conchas e óleo de baleia. Sobre o estado de conservação, citaram a

“reforma” do retábulo entalhado em madeira encontrado no altar da igreja, porém

este passou por um processo de restauração.

Depreende-se das apresentações que os estudantes não aderiram à proposta

de trabalho em grupo, visto que vários estudantes dos grupos não conheceram os

monumentos e, mesmo aqueles que realizaram a atividade, demonstraram que

talvez não tenham se comprometido com a proposta e/ou tiveram dificuldades ao

realizá-la, pois talvez fosse a primeira vez que realizavam uma atividade com

apresentação em áudio e vídeo.

A partir desta atividade ficou nítida a necessidade da intervenção do

professor, principalmente em atividades de campo, se intervenção for entendida por

meio do tipo de pergunta que o professor faz ao aluno ao longo da orientação ao

projeto de aprendizagem, o que o possibilita compreender como o aluno está

construindo seus conhecimentos. “Como um observador privilegiado das ações do

aprendiz, o professor tem condições de avaliar o tempo todo, e é essa avaliação que

lhe dá indicadores para sustentar sua intervenção (WEISZ, 2006, p.94)”. A

intervenção durante o processo, durante as visitas ou discussões posteriores,

poderia ter contribuído para uma melhor compreensão da proposta pelos

estudantes, para a aproximação e apropriação do seu patrimônio cultural.

Na aula de campo no Centro Histórico de Vitória com os estudantes da escola

B, os monitores do Projeto Visitar contribuíram para a sua aprendizagem não

somente por ter- lhes informado vários aspectos sobre os monumentos, mas porque

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134

despertaram o interesse por outros aspectos aos quais poderiam não ter observado.

Além disso, os professores de diferentes áreas puderam intervir com base nas

informações do monitor, expandindo as discussões.

4.2.4. Oficina de fotografia

Nesta escola, a oficina de fotografia com a técnica cianotipia não foi realizada

devido a fatores como ausência de espaço apropriado, mudanças de horários de

aula, programações da escola, etc. Apesar da escola ter um laboratório de Ciências,

este é destinado a todos os professores da área de Ciências da Natureza, sendo

necessário agendar. Eu o agendei três vezes para a oficina de fotografia, mas não

pude usá-lo em todas as ocasiões devido a contratempos de horários e

programações da escola. Não foi possível realizar na minha sala de aula, pois ficava

no terceiro andar e, para a obtenção de imagem pela técnica cianotipia, era

necessária água para o banho do papel sensibilizado e exposto ao sol, além de

ambiente inicialmente escuro e depois iluminado, o que impossibilitou utilizar outros

espaços da escola.

Quanto às fotografias para a atividade, foi feita a mesma proposta para os

estudantes: fotografar bens materiais pessoais, do bairro ou do município que

consideravam importante preservar para outras gerações e enviar pelo aplicativo

whatsapp. Da mesma forma que na escola B, alguns estudantes não

compreenderam esta proposta, visto que foram enviadas fotografias de terminal de

ônibus com a justificativa de que “tem de ser preservado por que é um público que

ajuda as pessoas”; da quadra da escola ou do clube de futebol de bairro porque,

segundo o estudante, “lutamos muito para conseguir”. Tais fotografias

demonstraram o entendimento de patrimônio como conjunto de bens à disposição

da coletividade.

Uma estudante perguntou-me pelo aplicativo se poderia enviar fotografia de

“uma coisa e não um objeto”, assinalando ser a água e defendeu a sua preservação.

Expliquei que a proposta da atividade era sobre preservação, conservação e

restauração de bens culturais materiais, apesar de concordar sobre a importância da

preservação da água. Porém a estudante insistiu na questão da água e sua

preservação e não enviou nenhuma imagem.

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Alguns estudantes enviaram fotografias de bens pessoais: mesas entalhadas

em madeira que, segundo as estudantes que as enviaram, passavam de geração a

geração na família; televisão modelo antigo; relógio entalhado em madeira; panela

feita de pedra sabão; isqueiro comemorativo dos 60 anos da Segunda Guerra

Mundial; carteira de trabalho do pai de um estudante; moeda antiga- cruzeiro; cédula

de 5 dólares; livros cujos títulos eram “Mar dos Monstros”, “The walking dead”, etc.

Outra estudante enviou fotografias de dois monumentos históricos de seu

bairro: uma estátua de um líder de um importante movimento de escravos e uma

casa que, segundo a mesma, “[...] expõem objetos relacionados a história e a

identidade local”.

4.2.5. Estudo dirigido sobre metais tóxicos

No intuito de discutir propriedades de materiais constituintes de tintas, os

pigmentos, realizou-se um estudo dirigido sobre os metais tóxicos, dentro do

conteúdo sobre Tabela Periódica.

Considerando o contexto dos estudantes, seus gostos e interesses, foram

inclusos textos abordando pigmentos de tatuagens e de cosméticos, além de lixo

eletroeletrônico.

Foram utilizados textos completos de artigos e de livros didáticos ou seções

(partes), de acordo com a organização do quadro 9.

Grupo Textos Seções Objetivo (s)

1 1. Metais pesados no ensino de Química (LIMA e MERÇON, 2011, p.199-202)

Conceituando os metais pesados e Impactos

causados pelo descarte de metais pesados no

meio ambiente.

Introduzir o conceito de metal pesado e discutir sua toxicidade e os impactos ao meio ambiente e à saúde humana.

1 2. Distribuição de metais pesados em sedimentos do sistema estuarino da ilha de Vitória-ES (de JESUS et al, 2004, p.385)

Possíveis fontes antrópicas.

Conhecer as possíveis fontes antrópicas de metais da região da Grande Vitória, decorrentes de diversas atividades industriais e comerciais e ocupação habitacional.

2 3. Os riscos da arte- A toxicidade dos materiais utilizados na execução e conservação das pinturas de cavalete (CRUZ, 2002, p.27-32)

O que é e de que depende a toxicidade de um material? As formas

de exposição a uma substância tóxica e

Sobre a toxicidade dos pigmentos.

Estudar a toxicidade dos materiais constituintes de tintas e os prejuízos aos profissionais expostos.

Quadro 9. Organização do estudo dirigido sobre metais tóxicos. (continua)

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136

Grupo Textos Seções Objetivo (s)

3 4. Contaminantes em Batom: Riscos e Aspectos Regulatórios (DIAS e RAU, 2013, p. 2-5)

Introdução, seção 3.1 Batom e seção 3.2

Principais contaminantes em

batom.

Conhecer os riscos dos pigmentos utilizados em cosméticos e a importância da atenção aos órgãos fiscalizadores.

4 5. Tipos de tatuagens (USBERCO et al, 2004, p. 43)

- Conscientizar sobre o material tóxico que pode ser encontrado em tinta de tatuagem e conscientizar sobre a atenção aos órgãos fiscalizadores.

4 6. Reações aos diferentes pigmentos de tatuagens: relato de dois casos (CRUZ et al, 2010, p.708-711)

- Discutir sobre os riscos de ocorrência de reações aos diferentes pigmentos de tatuagens.

5 7. O Lixo Eletroeletrônico: Uma Abordagem para o Ensino Fundamental e Médio (OLIVEIRA, GOMES E AFONSO, 2010, p.240-242)

Introdução, A insustentabilidade

ambiental do ciclo de consumo dos EEE, A

má gestão do lixo eletrônico, Situação do

Brasil.

Refletir sobre o consumismo e sobre o descarte de materiais eletrônicos.

Quadro 10. Organização do estudo dirigido sobre metais tóxicos. (conclusão)

Na primeira aula desta atividade os estudantes reuniram-se para leitura e

discussão dos textos (Figura 14) e foram orientados a elaborar uma síntese. Na aula

seguinte, cada grupo apresentou a síntese de seu texto aos demais estudantes da

turma e aprofundamos a discussão de todos os textos.

Figura 12. Aula de discussão de textos sobre metais tóxicos. Fonte: Acervo da pesquisadora.

Além da discussão, foi proposta a confecção de um cartaz sobre metais

tóxicos conforme Figura 15 a. A partir da discussão dos textos e conforme as

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indicações do cartaz, os estudantes foram orientados a escrever numa folha A4

informações de seu texto que completassem algumas das indicações do cartaz em

branco, a saber: Metais tóxicos- onde são encontrados, problemas causados,

profissionais expostos, como evitar contaminação.

Durante a leitura, alguns estudantes questionaram-me sobre dúvidas de

vocabulário e pediram que eu explicasse alguns pontos do texto. Percebi que alguns

estudantes não leram o texto por completo. Os estudantes do grupo 2 manifestaram

dificuldades/descontentamentos sobre o seu texto: “Professora, não tô entendendo

nada!”, “Nossa! Esse texto dá sono”, “Que texto grande!”.

As sínteses dos textos apresentadas pelos estudantes foram:

Grupo 1. “Os elementos são chamados de metais pesados por apresentarem as seguintes

propriedades. - massa específica elevada; - massa atômica elevada: sendo o elemento sódio usado como referência, massa atômica

igual a 23; - número atômico elevado: sendo elemento cálcio (número atômico igual a 20), usado como

referência. São muito usados em indústrias e estão presentes em diversos, produtos. Indústria de

bebidas, fabricação de produtos têxteis, fabricação de produtos químicos, portos reciclagem. O

desenvolvimento dos efeitos tóxicos são dependentes da dose e do tipo de exposição ao agente”.

Grupo 2. “Pigmentos tóxicos (Pb, As, Cd, Hg e Cr) são agentes cancerígenos e que os pigmentos

de chumbo e mercúrio atacam o sistema nervoso central, entre outros órgãos. Por inalação, contacto com a pele, contacto com os olhos e ingestão, artistas e restauradores podem se contaminar”

Grupo 3. “O texto fala sobre toxicidade de batons, causada por pigmentos tóxicos. É muito

importante evitar comprar marcas de batons que não tenham passado pela liberação da Anvisa”. Grupo 4. “Sobre tatuagens. As reações mais encontradas são a dermatite de contato alergica e a

liquenoide, principalmente sobre o pigmento vermelho (mercurio). É preciso que as agulhas usadas sejam descartaveis, e que as pessoas saiba o que estão fazendo pois é um processo doloroso e pode trazer risco a saúde, e também a remoção das tatuagens é um processo doloroso, sendo resultado final não muito satisfatorio pois permanece cicatriz”.

Grupo 5. “Lixo eletrônico é todo resíduo material produzido pelo descarte de equipamentos

eletrônicos. Possui uma grande quantidade de substâncias prejudiciais ao ambiente e ao homem. A responsabilidade é compartilhada de fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores na logística reversa para os seguintes produtos pós-consumo: agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos

lubrificantes, lâmpadas e produtos eletroeletrônicos”.

Quanto a isso, observei que os grupos 1, 4 e 5 copiaram trechos dos textos.

Já os grupos 2 e 3 não o fizeram, porém a palavra contato foi escrita conforme o

texto 2, cuja língua era o português de Portugal.

Na discussão dos textos enfatizei alguns aspectos pouco comentados pelos

estudantes: no caso da toxicidade de batons, enfatizei a afirmação do texto “Estes

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metais podem apresentar um grave risco à saúde por terem a característica de

bioacumulação, ou seja, os organismos não são capazes de eliminá-los” (DIAS e

RAU, 2013, p. 2). E ainda discutimos sobre a atenção aos órgãos reguladores, e

neste caso

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é hoje a agência reguladora brasileira responsável por estabelecer os limites permitidos de contaminantes em produtos sujeitos à vigilância sanitária, incluindo os cosméticos. É competência da vigilância sanitária garantir a segurança dos produtos cosméticos, sejam eles fabricados no país ou produtos importados (DIAS e RAU, 2013, p. 2).

Na discussão do grupo 5 sobre lixo eletroeletrônico enfatizei sobre a questão

do sinal digital para televisores, com o fim da transmissão analógica prevista,

segundo o texto 7, para 201644, podendo gerar mais lixo devido ao abandono dos

televisores não adaptados. E sobre o descarte,

No Brasil, não há uma regulamentação específica para o lixo eletroe-letrônico em nível federal. Contudo, a Lei 12305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos), recentemente sancionada pelo Presidente da República, prevê nos artigos 30 a 36 (Capítulo III, Seção II) a responsabilidade compartilhada de fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores na logística reversa para os seguintes produtos pós-consumo: agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas e produtos eletroeletrônicos. O artigo 47 proíbe a destinação inadequada de resíduos em corpos hídricos (rios, mares etc.) e a céu aberto (como lixões) (OLIVEIRA, GOMES E AFONSO, 2010, p. 241-242).

Depois que todos os grupos apresentaram as sínteses de seus textos e de

discutirmos, expliquei a proposta de confecção de um cartaz sobre o assunto. De

acordo com o texto de cada grupo os estudantes deveriam preencher os espaços no

cartaz conforme os tópicos indicados (Figura 15 a), que tinham o objetivo de

reorganizar o conhecimento dos estudantes em torno do assunto. Assim, no tópico

“onde são encontrados”, os textos apontavam pigmentos de tintas, tatuagens e

batons, além de dispositivos eletrônicos, pilhas e baterias; o tópico “Problemas

causados” referia-se a contaminação do solo, rios e do ser humano; o tópico

“Profissionais expostos” referia-se aos profissionais que manipulam diretamente

estes materiais; e “Para evitar contaminação”, a algumas ações básicas que se deve

dar atenção em relação aos produtos que contenham metais tóxicos.

44

Segundo veiculação na TV aberta, o novo prazo para a Região Metropolitana de Vitória/ES é outubro de 2017.

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Nesta parte da atividade os estudantes reclamaram sobre dificuldade de

preencher o cartaz, principalmente em relação ao tópico “Para evitar contaminação”.

No tópico “Onde são encontrados” os grupos 4 e 5 colocaram os nomes de

elementos químicos apontados como tóxicos. Quando os questionei qual era a

pergunta, “onde são encontrados”, compreenderam que as respostas deveriam ser

“pigmentos de tatuagens” e “eletrônicos, pilhas e baterias”.

Figura 13. Cartaz sobre metais tóxicos. a) Modelo antes de ser preenchido pelos estudantes; b) Depois de preenchido. Fonte: Acervo da pesquisadora.

A atividade contribuiu para o estudo dos metais de transição, geralmente no

ensino médio o estudo dos elementos químicos e de suas propriedades restringe-se

aos elementos representativos e apenas em relação à distribuição eletrônica. Foram

discutidos a importância do conhecimento dos materiais e de suas propriedades

para sua correta utilização, bem como os prejuízos que alguns metais podem causar

ao ser humano, em que materiais podem ser encontrados, os riscos de exposição de

alguns profissionais (artistas plásticos, pintores, restauradores) ao manuseá-los,

além de seu descarte em locais inadequados, focando a situação do estado do

Espírito Santo.

Em relação às dificuldades dos estudantes na compreensão dos textos,

segundo Paraná (2008, p.68), ao trabalhar com texto é preciso selecioná-lo

a)

b)

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“considerando alguns critérios, tais como: linguagem, conteúdo, o estudante a quem

se destina o texto e, principalmente, o que pretende o professor atingir ao propor a

atividade de leitura”. Apesar de terem sido selecionadas para leitura apenas seções

da maioria dos textos, o conteúdo estava fora do nível de compreensão dos

estudantes. Este fator aliado à provável falta de hábito de leitura deste estilo de texto

contribuiu para as dificuldades relatadas pelos estudantes. “[...] as diferentes

histórias de vida dos leitores, bem como seu repertório de leituras, interferem na

possibilidade de compreensão dos textos científicos” (PARANÁ, 2008, p. 68).

Entretanto, a leitura fomentou as discussões sobre pigmentos de tintas e tatuagens,

cosméticos e eletroeletrônicos.

O texto não deve ser visto como se todo o conteúdo estivesse nele presente, mas sim, como instrumento de mediação na sala de aula, entre aluno-aluno, aluno-conteúdo e aluno-professor, para que se vislumbrem novas questões e discussões (PARANÁ, 2008, p. 68).

Ou seja, neste tipo de atividade os estudantes podem articular suas

interpretações de forma que a leitura, com mediações do professor e interações

entre os próprios estudantes, fomente a elaboração de sentidos que promovam o

ensino de noções que não estariam em pauta para reflexão em sala de aula caso a

abordagem estritamente conteudista e simbólica fossem as únicas opções.

Ademais, a insatisfação e dificuldade dos estudantes em relação à leitura dos

textos podem estar ligadas à sua postura passiva na sala de aula, que conforme

Santos e Schnetzler (2010), é uma das críticas ao ensino de Química, a qual pode

ser explicada pela maneira como eles têm sido considerados na escola. Esta

postura explica inclusive a dificuldade dos estudantes de apresentarem as suas

próprias ideias sobre os textos, pois o sistema de ensino, ao qual são submetidos,

ainda não dá margem para que eles se expressem. “Portanto, essa cultura de

sempre ter que dar a resposta certa, e de não satisfazerem suas curiosidades e

dúvidas, interfere na autonomia do aluno diante de uma pergunta subjetiva” (VOGEL

e MARI, 2014, p. 57).

4.2.6. Estudo de propriedades de substâncias utilizando a Cromatografia de

papel

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Esta atividade foi proposta para introduzir o conceito de polaridade das

ligações, posterior ao conteúdo de ligações químicas conforme o plano de ensino da

disciplina. Aliado a isso, discutir as propriedades químicas importantes para a

definição de um solvente a ser utilizado na restauração de uma obra, a saber:

polaridade, viscosidade, volatilidade, solubilidade, tensão superficial e temperaturas

de fusão e ebulição, propriedades resultantes das forças intermoleculares. Estas

propriedades são importantes para entender a capacidade de penetração do

solvente numa camada pictórica, pois este deve atingir o objetivo pretendido sem

causar dano ao material, ou seja, ao ser utilizado no material não pode ficar retido

(FIGUEIREDO JÚNIOR, 2012).

Conforme discutido no capítulo 2, nem todos os solventes podem ser

utilizados na Restauração, pois muitos deles reagem prontamente com os materiais

pictóricos danificando-os; são pouco voláteis, ficam retidos na obra; são penetrantes

em excesso em relação aos materiais pictóricos e são tóxicos e, entre estes, alguns

são fortes agentes cancerígenos (FIGUEIREDO JUNIOR, 2012). Assim, é

necessário o conhecimento das propriedades dos solventes até por questões de

saúde do conservador- restaurador.

Os estudantes foram orientados a realizar em casa, individualmente, o

experimento de cromatografia de papel de acordo com o roteiro do Anexo 6

(MATEUS, 2008, p. 56), utilizando canetinhas hidrocor coloridas (incluindo a

canetinha preta) e álcool. Os resultados foram discutidos em sala de aula e

posteriormente os estudantes responderam a um questionário com as seguintes

questões:

1. Por que se utiliza lápis grafite (e não caneta) para marcar no papel?

2. Quais os conhecimentos químicos envolvidos neste experimento?

3. Qual a relação que se pode fazer entre este experimento e o trabalho de

pintores e conservadores e restauradores de bens culturais?

Apenas 20 estudantes realizaram a atividade, apresentando os resultados

através de fotografias (Figura 14) enviadas pelo aplicativo whatsapp ou entregando

o papel utilizado no experimento.

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Figura 14. Resultados da cromatografia de papel apresentados por alguns estudantes. Fonte: Acervo da pesquisadora.

Uma Estudante enviou-me mensagem pelo aplicativo whatsapp informando

que “nem todos mudou a cor”, o que demonstrou que alguns estudantes se

anteciparam ao resultado do experimento com outros colegas e/ou pesquisando na

internet. Questionando-a mais, relatou-me que fez o experimento com acetona,

orientei que o fizesse também com álcool, conforme a atividade proposta e

comparasse os resultados para discutirmos em sala de aula com os demais

estudantes.

Na aula de discussão dos resultados, primeiramente questionei os estudantes

sobre suas observações sobre o experimento. Algumas respostas foram: “a tinta da

canetinha preta é formada por muitas cores”, “o álcool puxa as tintas” e “as cores

são separadas”. Em seguida questionei sobre a composição das tintas das

canetinhas e, com exceção de dois estudantes que responderam que “a tinta é

formada por apenas um composto químico ou pela mistura de diferentes

compostos”, os demais responderam que “a tinta é formada pela mistura de

diferentes compostos”. Os estudantes relataram que não houve separação dos

pigmentos de algumas tintas (amarela, por exemplo) e para outras, apareceram dois

ou mais pigmentos. Os estudantes não realizaram o experimento com as mesmas

tintas de canetinhas, a única orientação foi para utilizar a tinta preta. Assim

analisando o significado dos resultados das diferentes tintas, os estudantes

concluíram que algumas tintas de canetinhas eram formadas por diferentes

pigmentos, enquanto outras por apenas um. Também discutimos a diferença de

resultado na cromatografia devido ao uso de acetona, que se deu devido à diferença

de solubilidade dos componentes das tintas neste solvente.

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Foi explicado que a cromatografia pode ser utilizada na identificação de

analitos, por meio da comparação com padrões previamente existentes ou ainda,

pode servir para a purificação de compostos, separando-se as substâncias

indesejáveis. Na cromatografia em papel, o mecanismo envolvido é definido pela

diferentes interações intermoleculares do solvente orgânico (neste caso, álcool ou

acetona) e da água presente na celulose (componente do papel branco) com os

componentes de uma mistura (neste caso, as tintas de canetinhas). A separação ou

distribuição dos componentes da mistura está relacionada com as diferentes

solubilidades destes componentes no solvente orgânico e na água. Os componentes

menos solúveis em água têm uma movimentação mais rápida ao longo do papel,

enquanto que os mais solúveis serão relativamente retidos, tendo uma

movimentação mais lenta.

Assim discutimos os conceitos de interações intermoleculares, polaridade e

propriedades de materiais, conhecimentos importantes para definição de um

solvente a ser utilizado na restauração de bens culturais.

Nas respostas ao questionário, na questão 1 sobre o porquê da utilização de

um lápis grafite (e não caneta) para marcar o papel, 4 estudantes colocaram que

“Porque o grafite só tem um componente o carbono”; 10 estudantes mencionaram

“Porque em outras canetas há outras misturas”; 4 estudantes colocaram ambas as

respostas anteriores “Porque o grafite é feito apenas de um composto e a caneta

tem mais de um” e 2 estudantes “Porque álcool não distinguem “separa” o composto

do grafite”. Sobre a constituição do grafite alguns estudantes pesquisaram no livro e

outros me perguntaram, por isso provavelmente interferi nas respostas.

A segunda questão não foi respondida por 2 estudantes; 8 estudantes

apontaram que a polaridade e/ou ligações químicas são os conhecimentos

envolvidos na separação de misturas, como no caso da cromatografia.

Estudante A16: “polaridade e ligações químicas”

Estudante A1: “Sabendo quais solventes pode se apolar ou polar, e se o material também é apolar ou polar”.

Estudante A20: “A polaridade só separa as substâncias se as características forem as mesmas”

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Outros estudantes apontaram “A ultilização de misturas, de solvente e de

várias outras substâncias usadas com conhecimento da química” e “A utilização de

misturas de solventes”.

A questão 3 buscava evidenciar a importância do conhecimento das

propriedades dos materiais para o trabalho de pintores e restauradores. Os

estudantes apontaram os materiais de trabalho, o conhecimento da toxicidade de

materiais e seus riscos e o conhecimento químico como a relação entre as

profissões de pintores, conservadores e restauradores. Dois estudantes não

responderam e um estudante respondeu de forma evasiva quando apresentou a

função dos conservadores e restauradores: “Conservadores e restauradores=

conservar obras, edifícios, patrimônio cultural, etc”.

Estudante A1: “Os mesmos materiais de trabalho e o conhecimento dos riscos”.

Estudante A15: “Eles estão expostos aos riscos, e todos mexem com tinta”.

Estudante A5: “Pois eles usam o conhecimento da química para realizar suas funções separando pigmentos, misturando, produzindo conservantes etc”.

Estudante A9: “Porque eles usam o conhecimento da química”.

Estudante A18: “Os conhecimentos químicos, que podem usar sem danificar a obra ou borrar sua pintura original”.

Estudante A19: “O material ultilizado por eles para fazer suas obras ou restaurações”.

Estudante A20: “Os três utilizam tinta, porém sabem como usar”.

As análises das respostas dos estudantes ao questionário permitiram inferir

que alguns estudantes alcançaram o objetivo da atividade e entenderam a

importância do conhecimento das propriedades dos materiais para o trabalho de

pintores, conservadores e restauradores. Em algumas respostas apareceram

referências a atividades anteriores, como a questão da exposição de profissionais a

materiais tóxicos.

4.2.7. Oficina de conservação de papel

A atividade foi desenvolvida como introdução aos seguintes conteúdos:

Caráter ácido e básico das substâncias, Reações de neutralização, Agricultura e pH:

calagem do solo e Poluição atmosférica: chuva ácida, e ainda, indícios de reações

químicas.

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Inicialmente falei dos processos de degradação do papel: oxidação e acidez.

Sobre as características de ácido e de base e sobre indicadores ácido - base,

observei que alguns estudantes traziam conhecimentos da série anterior, do ensino

fundamental, já que respondiam corretamente algumas das perguntas lançadas

durante a aula.

Os procedimentos experimentais foram os mesmos desenvolvidos na escola

B. Os estudantes fizeram testes com indicadores ácido- base e substâncias como

vinagre, água sanitária, hidróxido de sódio e bicarbonato de sódio e mediram o pH

das folhas de um livro envelhecido. Foram realizadas as demais atividades previstas

no roteiro, ANEXO 4, a saber: hidratação da cal (realizada por mim), reação de

neutralização (desacidificação do papel), reação de obtenção de carbonato de cálcio

e deste com vinagre. Os estudantes foram participativos em todas as etapas à

medida que discutíamos os resultados dos experimentos.

Na aula seguinte, 25 estudantes responderam ao seguinte questionário:

1. Cite características de ácidos e bases. Como se pode identificá-los?

2. Quais os processos químicos e físicos prejudiciais ao papel?

3. Para que serve o hipoclorito de sódio no tratamento do papel?

4. Para que serve o hidróxido de cálcio no tratamento do papel?

5. Quais são os indícios de reações químicas?

6. Por que é utilizada a base hidróxido de cálcio no tratamento do papel se as

bases também prejudicam o papel?

Dentre as respostas da primeira questão, 14 estudantes fizeram referência

aos sabores azedo e adstringente de ácido e base, respectivamente, uso de

indicadores ácido- base, além da escala de pH. Os demais fizeram cópia de livro ou

de texto de internet.

Sobre os processos químicos e físicos prejudiciais ao papel, 8 estudantes

apontaram somente a acidez como prejudicial, enquanto 11 colocaram que bases e

ácidos prejudicam o papel. A oxidação foi apontada por um estudante e 5

estudantes responderam com exemplos de fenômeno físico e químico.

Na terceira questão, 7 estudantes responderam que a água sanitária é

utilizada para “neutralizar, manter o ácido/base bem equilibrado”, confundindo as

substâncias; 6 estudantes responderam clareamento ou branqueamento; um

estudante fez cópia de internet.

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146

Chamou-me a atenção as respostas de 10 estudantes que escreveram que a

água sanitária era utilizada para desoxidação. Tal palavra não foi utilizada por mim

durante as aulas, mas devido ao fato de termos discutido que a água sanitária é

utilizada para tratar a oxidação do papel, talvez os estudantes tenha feito associação

com seu antônimo. Conceitualmente há equívoco, pois o hipoclorito de sódio

provoca novas oxidações para tratar o papel, o que foi explicado para os estudantes.

Por outro lado, os estudantes podem ter considerado a palavra desoxidação como

sinônimo de limpeza.

Na quarta questão sobre a utilização do hidróxido de cálcio no tratamento do

papel, 12 estudantes apontaram “Para corrigir a acidez do papel”, entretanto 3

estudantes responderam clareamento, confundindo as substâncias utilizadas; 2

estudantes fizeram cópia de texto de internet e 8 estudantes colocaram respostas

alheias à questão, em alguns casos, relacionadas a outro contexto da aula.

Estudante A11: “Altera a substancia do papel deixando ele mais viável a ultilização”

Estudante A22: “Serve para formação de pricipteos (sodio)” (provavelmente quis escrever formação de precipitado, de sólido)

Estudante A1: “Para fazer o papel estável”

Na quinta questão sobre os indícios de reações químicas, com exceção de 2

estudantes que fizeram cópia de internet, os demais apontaram alguns dos aspectos

observados na atividade, usando as palavras Fumaça, bolhas, mudança de cor,

aquecimento, formação de precipitação (sólido). As palavras fumaça e bolhas

provavelmente referiram-se a formação de gás. O estudante A22 colocou “Quando a

cor to saindo (Desmanchando)”, o que considerei ser referência ao experimento com

o refrigerante e água sanitária, em que ocorre uma reação de oxidação deixando a

solução transparente.

A questão 6 foi acrescentada em relação ao questionário da escola B com o

objetivo de analisar se os estudantes conseguiram compreender como o hidróxido

de cálcio atua no tratamento do papel, transformando-se em carbonato de cálcio,

menos básico e menos prejudicial, mas neutralizando ácidos.

As respostas de 7 estudantes destacaram “Porque quando o papel tem uma

substância com excesso, ela corrige neutralizando” ou “Porque ela faz a

neutralização da Base ou do ácido”, sem mencionar a formação de carbonato de

cálcio pela reação do hidróxido de cálcio com gás carbônico do ar. O estudante A22

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apenas colocou “Para ajudar na reação química”. Nas respostas de 17 estudantes

apareceu a referência à formação de gás carbônico, algumas vezes com equívocos

quanto ao nome da substância, tais como:

Estudante A8: “Reage com o gás carbonico, formando outras substâncias”

Estudante A9: “Por que ele tem uma outra substância que entrando em contato com o CO2 ajuda no tratamento”

Estudante A13: “Age com o gás carbonico formando outras substâncias”.

Estudante A23: “Porque ele forma outra substância, que entra em contato com o CO2 e ajuda no tratamento”.

Estudante A24: “Pois o hidróxido de cálcio reage com o gás carbono do ar formando outras substâncias que possui base mais não tanta”.

Estudante A25: “Ele reage com o CO2 e se transforma em outra substância, que tem base mas não tanta”.

No que diz respeito à cópia de texto do livro ou da internet, talvez os

estudantes quisessem satisfazer o professor, neste caso a mim, oferecendo ao

menos uma resposta à questão (mesmo que aleatoriamente). Além disso, a escolha

por copiar um trecho do texto pode estar pautada também no fato de que isso

garante certa correção.

4.3. Atividades desenvolvidas x perspectivas de contextualização

A proposta de trabalhar o tema “O estudo dos bens culturais materiais:

composição, conservação e restauração” objetivou romper com o tradicionalismo

que ainda fortemente se impõe no ensino de Química, propondo uma abordagem do

conhecimento químico a partir de contextos, estimulando que os conhecimentos dos

estudantes ultrapassassem os limites próprios das disciplinas escolares.

Nesta pesquisa, as atividades foram definidas e planejadas a partir da

reflexão e discussão sobre a realidade da Escola B com a professora de Arte e com

o professor de Química, com o objetivo de (re) construir a identidade da escola a

partir da identidade dos estudantes. Ou seja, definimos atividades que colocassem

em evidência o contexto dos estudantes e que se relacionassem aos interesses

destes, buscando transformar a realidade, ao passo que o tema também era

discutido. A proposta da oficina de fotografia, por exemplo, partiu da observação da

presença de imagens no cotidiano dos estudantes em face das redes sociais, além

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da relação da fotografia com a conservação e restauração de bens culturais, no

intuito de promover um novo olhar sobre o bairro. A oficina de tintas foi proposta

devido à possibilidade de realizar com os estudantes pinturas retratando os bens

culturais locais, o seu ambiente sociocultural, além do estudo das propriedades e

toxicidade de materiais, alguns acessíveis em armarinhos e papelarias. Assim as

atividades foram planejadas com o objetivo de promover o (re) conhecimento do

bairro e construção de um novo olhar a seu respeito, e definidas de acordo com as

condições concretas de realização nas escolas (tempo, espaço e materiais), além

dos conhecimentos químicos e de outras áreas relativos à temática condizentes com

a primeira série do ensino médio.

Outro fator importante que influenciou na definição das atividades foi o fato de

a escola B ter projetos em andamento e/ou em planejamento que integravam

diferentes áreas de conhecimento e consideravam o contexto cultural dos

estudantes, contrastando com o currículo tradicional concebido na proposta oficial

do estado para algumas disciplinas, além de receber estudantes predominantemente

de dois bairros do município de Serra, o que possibilitou um trabalho mais

direcionado ao cotidiano dos mesmos.

Sobre ações inovadoras no currículo escolar,

[...] inúmeras têm sido as invenções cotidianas que alteram as propostas curriculares, redesenham as relações professor-aluno e enredam valores, saberes e possibilidades de intervenção, experiências e criação, potencializando aprendizagens de conteúdos, comportamentos e valores para além do previsto e do suposto oficialmente (OLIVEIRA, 2008, p. 47).

A realidade da escola A era bem diferente. Esta escola recebia estudantes de

vários bairros do município de Serra e de outros municípios o que, de acordo com o

tema desta pesquisa, inviabilizou realizar um trabalho mais centrado nos bens

culturais locais. Além disso, a sua organização por salas temáticas e a logística para

comportar o grande número de professores dificultaram a comunicação entre os

diferentes atores do contexto escolar e a realização de um trabalho integrado,

apesar de haver algumas iniciativas inovadoras de seus professores. Ainda assim,

eu tive a colaboração da professora de História em uma das atividades. Acredito que

a participação de professores das diferentes áreas de conhecimento, principalmente

do quadro permanente da escola, enriqueceria e ampliaria a análise e discussão do

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cotidiano dos estudantes, constituindo-o como fonte para construir e reconstruir

conhecimentos, como aconteceu na escola B.

Em face destas dificuldades na escola A, eu propus a abordagem do tema

paralelamente à sequência de conteúdos estabelecida no plano de ensino para a

disciplina de Química (a equipe pedagógica da escola orientou para que os

professores de mesma disciplina e mesma série trabalhassem os conteúdos na

mesma sequência). Portanto, não foi possível realizar atividades sob a mesma

perspectiva em ambas as escolas, adequando-as ao contexto dos estudantes de

acordo com o tema. Neste aspecto, é preciso ressaltar que

Cada forma nova de se ensinar, cada conteúdo trabalhado, cada experiência particular só podem ser entendidos junto ao conjunto de circunstâncias que os torna possível, o que envolve a história de vida dos sujeitos em interação, sua formação e a realidade local específica, com as experiências e saberes anteriores de todos, dentre outros elementos da vida cotidiana (OLIVEIRA, 2008, p. 46-47).

Ainda conforme Lima (1990),

A ciência e a escola sofrem processos de controle relativamente semelhantes. Ambas dependem de orçamentos e vontades que, muitas vezes, não correspondem aos interesses das comunidades específicas. A ideologia que permeia a educação escolar condiciona conteúdos, métodos, linguagens, recursos pedagógicos e da própria organização da instituição (LIMA, 1990, p. 130).

No quadro 10 estão apresentadas as atividades desenvolvidas em cada

escola. A organização das atividades nas escolas A e B, com seus objetivos e tempo

de execução encontram-se nos quadros 11 e 12, anexos 7 e 8, respectivamente.

Tema gerador Atividades desenvolvidas na Escola A Atividades desenvolvidas na Escola B

O estudo dos bens

culturais: Composição,

Conservação e Restauração.

Oficina sobre patrimônio cultural Oficina sobre patrimônio cultural Leitura e discussão sobre o Texto: O papel do químico na conservação e restauração do patrimônio cultural

Aula expositiva e dialogada sobre o tema

Visita a alguns patrimônios arquitetônicos do estado e exposição de observações à turma.

Aula de campo no Centro Histórico de Vitória

Oficina de fotografia (não foi realizada) Oficina de fotografia - Estudo dirigido: Metais tóxicos- pigmentos de tintas, cosméticos (batons), eletrônicos. - Cromatografia de papel

Oficina de tintas

Oficina de conservação de papel Oficina de conservação de papel

Quadro 11. Atividades realizadas nas escolas A e B.

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Estas diferentes realidades escolares conduziram a diferentes perspectivas

de contextualização para a abordagem do tema desta pesquisa, considerando as

quatro categorias sobre as ideias de contextualização apresentadas por Silva e

Marcondes (2010): Aplicação do conhecimento químico (AC), Descrição científica de

fatos e processos (DC), Compreensão da realidade social (CRS) e Transformação

da realidade social (TRS).

Analisando as atividades partir destas categorias, na escola A, apesar de

algumas atividades terem abordado aspectos relacionados ao contexto dos

estudantes, como tatuagens, cosméticos, consumo de eletroeletrônicos, além dos

bens culturais, a temática estava em função dos conteúdos químicos, visto que

estes forneceram “explicações para fatos do cotidiano e de tecnologias,

estabelecendo ou não relação com questões sociais” (SILVA e MARCONDES, 2010,

p.107). Já na escola B, as atividades foram organizadas em função do contexto dos

estudantes e para sua compreensão, ainda que a oficina de conservação de papel

não tenha atendido este requisito. Desta forma, as atividades realizadas na escola A

enquadram-se na perspectiva de contextualização definida pela categoria DC,

enquanto as da escola B enquadram-se na categoria CRS, conforme Silva e

Marcondes (2010).

Considerando o contexto das escolas, principalmente da escola B, e a partir

da concepção de Educação Patrimonial, as atividades contribuíram para “[...]

estimular vivências que podem servir de base para a conservação do patrimônio

histórico-cultural e do meio ambiente, resgatando as histórias de culturas que

constituíram os diversos ambientes” (CARVALHO e MACHADO, 2015, p. 161). Os

bens culturais foram consagrados como exemplo de um momento histórico e de uma

determinada classe social, eles refletem a organização social, política e econômica

dessa sociedade desde o momento em que se saiba observá-los, analisá-los e

estudá-los permitindo assim a recomposição de todos os grupos sociais que

compunham aquela cultura. Destarte, trabalhar a Educação Patrimonial pode ser

também, como Arroyo (2011) afirma ser necessário, reconhecer autorias coletivas

negadas.

[...] Aos currículos cabe incorporar a variedade de experiências e de sujeitos sociais, políticos e culturais, étnicos, raciais. Reconhecer que cada experiência tem como autores sujeitos pessoais ou coletivos reais que não

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têm uma autoria solitária, mas estão entrelaçados em relações sociais, raciais, de gênero, de cidade, periferia, campo, de orientação sexual, de opções políticas e morais (ARROYO, 2011, p. 150).

No tocante às atividades, a oficina sobre patrimônio cultural buscou identificar

o que os estudantes conheciam de seu patrimônio cultural e da temática. No caso da

escola B, que atende estudantes oriundos principalmente de dois bairros do

município de Serra, foi possível focar no patrimônio local. O mesmo não aconteceu

na escola A, em que os estudantes participantes da pesquisa eram de 18 bairros

diferentes. Nas respostas às questões da ficha de percepção acerca do patrimônio

cultural em ambas as escolas houve citação de violência na descrição de bairros do

município de Serra, além de diversos bens culturais do estado. Em relação aos

conceitos de patrimônio cultural e conservação e restauração, maior número de

estudantes da escola A se aproximou dos conceitos e poucos estudantes deixaram

de responder, talvez devido à abordagem do assunto pela professora de História em

sua disciplina. Na questão sobre a relação da disciplina Química com outras áreas

de conhecimento (disciplinas), em ambas as escolas a maioria dos estudantes

apontou as disciplinas de física, química e biologia e ciências apenas, além das

menções de uso de cálculos e fórmulas, o que nos permitiu inferir que, para estes

estudantes, o conhecimento químico até aquele momento resumia-se a fórmulas

matemáticas e a aplicação de “regrinhas” e não o entendimento de uma situação-

problema.

Uma das atividades buscou promover o contato dos estudantes com alguns

patrimônios históricos do estado. Na escola B foi possível realizar uma aula de

campo com os estudantes e a mediação dos professores e monitores do Projeto

Visitar enriqueceu as discussões e observações. Já na escola A, os estudantes

foram divididos em grupo e direcionados à visita a determinado monumento para

posteriormente relatar em sala de aula, por meio de vídeo, as suas observações. A

importância da mediação do professor tornou-se evidente diante da falta de

engajamento dos estudantes da escola A na realização desta atividade e de

discussões mais densas. Partindo do pressuposto de que a educação pode ocorrer

em diversos contextos educacionais e espaciais,

[...] a importância da aula de campo reside no fato de possibilitar o contato dos estudantes com inúmeras vivências que podem se tornar em um conhecimento significativo, corroborado pelas interações com objetos de

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aprendizagem e com as relações estabelecidas entre as pessoas e o meio (CARVALHO e MACHADO, 2015, p. 165).

A oficina de fotografia foi realizada somente na escola B. Contudo, quanto ao

envio de fotografias de bens materiais pessoais ou do bairro/município, em ambas

as escolas alguns estudantes tiveram dificuldades para entender a proposta ao

considerar patrimônio cultural como patrimônio público (escolas, delegacias, postos

de saúde, terminal de ônibus, lixeiras, ventilador, etc). No caso da escola B, os

estudantes fotografaram objetos (“bens”) de várias regiões de seu bairro, além de

pessoais. Ressalta-se neste caso a contribuição da temática para o (re)

conhecimento do bairro e da história pessoal do estudante. Acredito que o trabalho

com fotografia estimulou o olhar crítico dos estudantes para uma percepção

diferente do habitual sobre o bairro. E ao estudar e discutir a fotografia como

documentação científica e histórica também pode ter contribuído para uma

percepção diferente do habitual da própria fotografia, principalmente porque esta

[...], como documento de memória visual, constitui-se como um bem tangível de caráter universal e móvel capaz de organizar códigos de conduta e orientação por sua capacidade documental. Além de tornar o passado ‘disponível’ para a ‘visitação’ simbólica e interpretativa, o registro fotoquímico é elemento de motivação/reflexão pelo qual o sujeito passa a construir/ desconstruir sua experiência, além de passar por um filtro cultural que envolve seu produtor e espectador (SOARES, 2008, p. 43).

Nas atividades baseadas na leitura de textos realizadas na escola A, os

estudantes relataram dificuldades de interpretação e fizeram cópias de trechos dos

textos para me apresentar. Segundo Silva (1997, p. 118), a vinculação entre texto e

resposta é óbvia e implícita para os estudantes: "Para eles, parece estar

estabelecido que, quando uma questão é colocada por escrito junto com um texto, a

resposta deve estar no próprio texto, ou deve ser produzida a partir dele”. Outro

ponto a destacar é o fato de que, em geral, os estudantes apresentaram pouca

concentração, desinteresse e certa recusa pela leitura e por escrever sobre ela e em

alguns casos apresentaram muitas dificuldades na leitura do texto. Elementos como

a linguagem complexa, a grande extensão e a densidade conceitual do texto

parecem ter contribuído fortemente para esse quadro. Estes resultados apontam

para a necessidade de selecionar textos mais simples. Por outro lado, conforme

Silva (2013), a leitura sobre ciência na escola pode ser pensada, sobretudo, como

uma estratégia de ensino alternativa e não como uma maneira de facilitar o

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entendimento dos assuntos abordados. Sobre as dificuldades dos estudantes na

leitura e compreensão dos textos, uma possibilidade apresentada por Silva (2013, p.

120), seria ler junto com os mesmos, parágrafo por parágrafo, mediando a relação

entre texto e estudante já no ato da leitura. Contudo, uma abordagem como essa

provavelmente requereria maior disponibilidade de tempo, o que nem sempre é

possível, especialmente, devido às exigências normativas e curriculares.

A discussão sobre a toxicidade de materiais utilizados em pintura foi realizada

através da leitura de rótulos de alguns materiais durante a oficina de tintas na escola

B, enquanto na escola A foi realizada através da leitura de textos, incluindo estudo

da toxicidade de materiais utilizados em pigmentos de tatuagem, em cosméticos e

em eletroeletrônicos, refletindo sobre a importância de conhecer a composição dos

materiais e sobre o consumo consciente.

Em relação aos questionários aplicados após a realização das atividades,

alguns estudantes apresentaram dificuldades quando os conhecimentos se

relacionavam aos bens culturais, o que pode ter acontecido devido a temática ser

nova para os mesmos, o que culminou em alguns equívocos nas suas respostas.

Esta também pode ser a causa da pouca participação dos estudantes em

discussões mais teóricas e conceitualmente mais densas. Contudo, é preciso

ressaltar que em minhas experiências como professora, notei que os estudantes

estão acostumados a receber “tudo pronto”, a fazer exercícios de forma mecânica, a

simplesmente copiar coisas do quadro ou do livro, o que possivelmente os leva a

não querer desenvolver atividades que dão mais trabalho ou que necessitam de

maior nível de reflexão. Santos e Schnetzler (2010) denominam de postura passiva

dos estudantes, que se relaciona à forma como a escola os tem enxergado. Quadro

que se tem procurado reverter.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, objetos e expressões do patrimônio cultural foram tomados

como ponto de partida para a execução de atividades pedagógicas que

proporcionaram, além da contextualização do ensino, o conhecimento e o

fortalecimento dos sentimentos de identidade cultural e cidadania.

As diferentes realidades das escolas onde houve intervenção contribuíram

para a realização de atividades sob duas perspectivas de contextualização,

conforme Silva e Marcondes (2010): descrição científica de fatos e processos na

escola A e compreensão da realidade social na escola B. É importante ressaltar que

o objetivo maior de toda atividade de ensino deve ser a transformação da realidade

social, numa perspectiva de uma educação transformadora, defendida por Paulo

Freire, que implica no desenvolvimento de práticas pedagógicas repletas de

significado, fortemente vinculada à problematização de situações reais e

contraditórias de contextos locais. Devemos caminhar nesta direção.

No contexto da escola B, a pesquisa contribuiu para a autoestima dos

estudantes, na medida em que explorou as potencialidades do bairro em face do seu

contexto histórico. Ou seja, ao currículo foi incorporada a “variedade de experiências

e de sujeitos sociais, políticos e culturais, étnicos, raciais” conforme Arroyo (2011, p.

150). Acredito que atividades como fotografar aspectos do bairro e pintura de

quadros estimularam o olhar crítico dos estudantes para uma percepção diferente do

habitual sobre o bairro.

Acerca das atividades propostas e da temática, os registros escritos e as

manifestações verbais dos estudantes e dos docentes envolvidos destacaram

pontos importantes. Um destes pontos foi apontado pelo seguinte fragmento do

relato: “[...] eu aprendi muito, nunca tinham ouvido sobre o tema. E com o projeto,

nós pudemos fazer experimentos”. Neste caso, destaco o clamor por atividades

experimentais, notório em ambas as escolas, apesar de alguns estudantes

apresentarem uma visão distorcida da experimentação, com a presença de reações

com explosões. Neste caso, é importante frisar que concordo com alguns autores,

como Suart (2014), que uma atividade experimental dever ser de caráter

investigativo, em que os estudantes são ativos, ou seja, pesquisam, avaliam e

executam o experimento, o erro também é utilizado para a aprendizagem e o

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professor deve orientar e incentivar as ideias dos estudantes, bem como questioná-

las.

Outro ponto importante da pesquisa foi apontado pelo seguinte relato: “É um

projeto muito legal que você aprende sobre as história e os antepassados da sua

história quando a gente pegou pra tirar fotos de coisas que fizeram parte da família e

do bairro e do estado”, que denotou a contribuição da temática para compreensão e

apropriação do patrimônio cultural.

Ainda é preciso destacar que a abordagem do tema desta pesquisa ocorreu

partir da integração de diferentes áreas de conhecimento, entre Química, Arte e

História que, pelos relatos da maioria dos estudantes, não se relacionavam, ou seja,

os estudantes compreendiam a integração apenas entre as ciências mais

“aparentadas”, como Física, Química e Biologia, concepção que acredito ter sido

desconstruída, em parte, ao longo das atividades, o que pôde ser constatado

através das respostas dos estudantes da escola B, ao final das atividades, conforme

seção 4.1.7 deste trabalho. Na escola B, a participação da professora de Arte foi

importante para as discussões principalmente durante a aula de campo e no

trabalho com tintas. Na escola A, a participação da professora de História foi

fundamental para a discussão da importância da valorização e restauração de

monumentos históricos e de obras de artes. Ou seja, as disciplinas integraram-se

através de um tema, conforme a concepção de Lima (1990), considerando as

transições não só entre as ciências mais “aparentadas”. Além disso, na escola B a

participação de professores de diferentes áreas de conhecimento enriqueceu e

ampliou a análise e discussão da realidade da escola e, consequentemente,

contribuiu para a elaboração de atividades tendo o contexto dos estudantes como

fonte.

Em ambas as escolas os estudantes fizeram uso de tecnologias de

informação e comunicação (TICs), especificamente do aplicativo whatsapp para

troca de arquivos e informações. Ressalta-se que, num mundo cada vez mais

tecnológico, o professor precisa adaptar-se e apoderar-se das tecnologias,

integrando-as com efeitos positivos no processo de ensino e aprendizagem. A

mudança ocorrida no comportamento dos jovens nos últimos anos é fator a ser

considerado e a inserção de novas tecnologias deve ocorrer de modo a estimular a

concentração e integração dentro da sala de aula. Além do uso do aplicativo, o

trabalho com imagens, estas muito presentes no cotidiano dos jovens devido à

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vinculação às redes sociais, foi uma oportunidade de aproveitar os conteúdos

culturais e os interesses dessas pessoas como base para o trabalho na sala de aula,

conforme Leal e Rocha (2012).

As atividades propiciaram a discussão de conhecimentos químicos, da

história do município, do estado e do bairro, da fotografia como documento de

memória visual e documento científico, estilos arquitetônicos, técnicas de pintura,

questões de poder em relação à preservação do patrimônio cultural, sobre

identidade cultural, além da ocupação do solo espírito-santense e do fenômeno

religioso na ocupação do solo.

Os conteúdos discutidos na disciplina de Química, de acordo com a proposta

curricular do estado (ESPÍRITO SANTO, 2009), foram:

- Introdução ao estudo da Química: a Química na sociedade.

- Tabela Periódica: construção e organização.

- Modelo atômico de Rutherford- Bohr.

- Diagrama de Linus Pauling e configuração eletrônica.

- Ligações químicas: iônica, covalente e metálica.

- Reações químicas e suas equações

- Óxidos: pigmentos e etnias

- Caráter ácido e básico das substâncias.

- Reações de neutralização.

- Poluição atmosférica: chuva ácida.

Além destes, foram discutidos conteúdos não costumeiramente tratados no

ensino de Química, como metais do grupo B da Tabela Periódica, reações

fotoquímicas e de oxirredução e métodos de exames utilizando diferentes radiações

eletromagnéticas.

Dentre as competências elencadas no mesmo documento, ressalto que o

tema possibilitou “Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento

para a compreensão de fenômenos naturais, processos histórico-geográficos,

produção tecnológica e manifestações artísticas” (ESPÍRITO SANTO, 2009, p. 69).

Por fim, partindo do princípio que são muitas as abordagens que contribuem

para o processo de ensino/aprendizagem, considero que as atividades

desenvolvidas com esta temática apresentaram as principais características

pedagógicas apresentadas por Marcondes (2008, p.69), a saber:

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- Utilização da vivência dos estudantes e dos fatos do dia-a-dia para organizar o

conhecimento e promover aprendizagens.

- Abordagem de conteúdos da Química a partir de temas relevantes que permitam a

contextualização do conhecimento.

- Estabelecimento de ligações entre a Química e outros campos de conhecimento

necessários para se lidar com o tema em estudo.

- Participação ativa do estudante na elaboração de seu conhecimento.

Portanto, de acordo com as atividades realizadas e o modo como os

estudantes interagiram, a abordagem do tema “O estudo dos bens culturais

materiais: Composição, conservação e restauração” propiciou a articulação de ações

inovadoras, definidas de acordo com os contextos escolares, a partir da proposta

curricular do estado do Espírito Santo, uma das mais tradicionais para o ensino de

Química.

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ANEXO 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE BENS CULTURAIS E PERSPECTIVAS DE CONTEXTUALIZAÇÃO

PARA AULAS DE QUÍMICA Maria Aparecida de Carvalho Pedro da Cunha Pinto Neto

Número do CAAE: 32077514.0.0000.5404 O (a) estudante está sendo convidado (a) a participar como voluntário (a) de um estudo. Este documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar os direitos do (a) mesmo (a) como participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você, seu (sua) responsável legal, e outra com o pesquisador. Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o pesquisador. Se preferir, pode consultar seus familiares ou outras pessoas antes de decidir autorizar a participação do (a) estudante. Se você quiser retirar sua autorização, a qualquer momento, não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo. Entretanto, o estudante não estará dispensado de participar das atividades, somente o seu material relacionado às atividades não serão utilizadas como dados da pesquisa. Justificativa e objetivos:

A Conservação e Restauração de bens culturais foram escolhidas como tema de pesquisa

pelo fato de envolver diferentes áreas de conhecimento ao buscar entender a integridade material,

estética e histórica dos bens culturais. O fato de o tema abordar os bens culturais possibilita a

contextualização do conhecimento e pode permitir a (re) construção de uma identidade coletiva,

histórica e cultural, do sentimento de pertencimento.

O objetivo principal da pesquisa é verificar as potencialidades da Ciência da Conservação e

Restauração de bens culturais para a contextualização do ensino de Química.

Como objetivos específicos, temos:

- Analisar de que maneira os conhecimentos da Ciência da Conservação e Restauração estão

relacionados aos conhecimentos escolares.

- Elaborar propostas de ensino, juntamente com professores de diferentes áreas, buscando integrar

os conhecimentos escolares com os conhecimentos relacionados à Conservação e Restauração de

bens culturais partindo da realidade de escola (s) da rede estadual de ensino.

- Utilizar as propostas de ensino em contexto de aulas regulares da 1ª série do Ensino Médio e

investigar as potencialidades das mesmas nesses espaços de aprendizagem.

- Analisar as atividades realizadas a partir da perspectiva de contextualização do ensino de Química.

Procedimentos: Autorizando o (a) estudante a participar do estudo você está: permitindo a presença da pesquisadora em sala de aula para observação das atividades relacionadas à temática de pesquisa; e o acesso da mesma aos relatórios destas atividades. Assim, o estudo será realizado por meio da análise das respostas dos estudantes nas atividades e observação da rotina escolar. Desconfortos, riscos e benefícios:

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É importante esclarecer que não haverá prejuízos para quem não for autorizado (a) a participar, bem como não haverá benefícios para os participantes. Acompanhamento e assistência: Não Sigilo e privacidade:

Você tem a garantia de que as identidades serão mantidas em sigilo e nenhuma informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de pesquisadores. A cooperação é voluntária e sigilosa, sendo os dados utilizados exclusivamente para fins de pesquisa. Na divulgação dos resultados desse estudo, não serão citados nomes.

Ressarcimento: Não

Contato:

Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com os pesquisadores Maria Aparecida de Carvalho, no telefone (19) 99950-7597 e email [email protected] e Pedro da Cunha Pinto Neto (orientador), docente da Faculdade de Educação da Universidade de Campinas, telefone (19) 3521-5640 e email [email protected].

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do estudo, você pode entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP: Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-7187; e-mail: [email protected] Consentimento livre e esclarecido: Após ter sido esclarecimento sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, eu ________________________________________________________________________, abaixo assinado, responsável legal de ________________________________________________________________________ dou meu consentimento livre e esclarecido para que ele (a) participe como voluntário (a) do projeto de pesquisa supracitado.

Nome do (a) participante: ________________________________________________________ _______________________________________________________ Data: ____/_____/______. (Assinatura do responsável LEGAL) Responsabilidade do Pesquisador:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma cópia deste documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.

______________________________________________________ Data: ____/_____/______.

(Assinatura do pesquisador)

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ANEXO 2

OFICINA DE FOTOGRAFIA

EXPERIMENTO- Técnica Cianotipia

Reagentes

50 g de citrato férrico amoniacal (de cristais verdes);

25 g de ferricianeto de potássio.

Materiais

1 frasco graduado para a diluição das substâncias;

1 bastão de vidro ou pequena pá de plástico para mistura de químicos;

1 pincel largo e macio para aplicação da solução química sobre papel;

1 secador de cabelo para secagem;

1 chapa de vidro de pelo menos 4 mm de espessura (de dimensão igual ou um pouco maior

que a do suporte) pra fixar o contato do suporte com o negativo a ser impresso;

1 bandeja plástica para o banho final da imagem em água corrente.

Procedimentos

1. Diluir 50 g de citrato férrico amoniacal de cristais verdes em 250 mL de água, em

constante agitação. Deixar em repouso.

2. Diluir 24 g de ferricianeto de potássio em 250 mL de água, em constante agitação. Deixar

em repouso.

3. Após a permanência das soluções de 30 minutos em repouso, estas devem ser

misturadas em proporções iguais, na quantidade ideal para o trabalho que se deseja

realizar. 50 mL de solução combinada são suficientes para sensibilizar de três a quatro

folhas de papel de 20 x 20 cm de dimensão.

4. Em ambiente sombrio e com auxílio de um pincel largo e macio, aplique sobre a

superfície do papel a solução sensibilizadora em toda a área que será ocupada pelo

negativo. É aconselhável que se deixe uma margem em torno da área de trabalho.

5. Seque o papel sensibilizado com o auxílio de um secador de cabelos ou ao sol. É muito

importante que o papel esteja totalmente seco antes de sua exposição à luz.

6. Exponha à luz o “sanduíche” feito com o papel sensibilizado, o negativo e a chapa de

vidro. O tempo de exposição à luz pode ser controlado por uma tira de teste.

7. Após certo tempo de exposição à luz, a imagem deverá ser revelada em banho de água

corrente durante aproximadamente 15 minutos, a uma temperatura ambiente, para a

remoção total da solução química sensibilizadora não afetada pela luz.

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8. Seque a imagem obtida com um secador de cabelos ou sobre uma esteira ou em um

varal.

Fonte: CAMPOS, J. C. B. Cianotipia em grande formato: Processo alternativo de reprodução de imagem em câmara clara. Uma abordagem das dimensões da linguagem, cor e espaço. Campinas, SP: [s.n.], 2007. Dissertação (mestrado)- Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

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ANEXO 3

OFICINA DE TINTAS

EXPERIMENTOS- Preparando tintas

Materiais

Utensílios e vidrarias Substâncias

Palitos de sorvete

Copinho descartável (50 mL)

Copo descartável (200mL)

Conta-gotas

Bastão de vidro ou palito de picolé

Pano de algodão

Cápsula com almofariz ou socador de

alho

Proveta de 25 mL ou copo graduado

Espátula de alumínio

Giz branco e de cor

Corante em pó Xadrez Azul

Açafrão da terra

Colorau

Feijão preto

Ácido tartárico

Alúmen

Terra colorida

Óxido de ferro III

Alizarina

Índigo

Corante para tecido

Têmpera de ovo: Ovos inteiros, água.

Têmpera de leite: leite desnatado,

vinagre, bicarbonato de sódio.

Óleo: óleo de linhaça, essência de

terebintina.

Têmpera vinílica: cola vinílica (PVA).

1. Procedimento

1.1. Preparando o veículo

Chamamos de veículo o meio no qual o pigmento será disperso. O veículo terá uma grande

importância no resultado final de uma pintura.

a. Têmpera de ovo

Gema: Separe a gema da clara do ovo cuidadosamente. Você pode fazer isso

simplesmente transferindo a gema de uma metade da casca do ovo para outra, removendo

a clara aos poucos. Coloque então a gema em sua palma e transfira a gema de uma mão

para outra, cuidadosamente, até que a película em volta da gema esteja seca. Fure então

esta película e transfira apenas o líquido para um copo. Coloque um volume igual de água

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em relação ao volume de gema que você preparou e misture bem. Pode-se adicionar um

fungicida (podem ser gotas de própolis ou de óleo de cravo ou ainda vinagre).

Clara: Bata a clara e deixe decantar. Após isso, misture o pigmento.

b. Tinta a óleo

Misture um volume de óleo de linhaça com 2 volumes de terebintina em um copinho

descartável para café. Misture bem.

c. Têmpera vinílica

Em um pote de vidro tampado coloque cola vinílica (PVA) diluída em água até que fique em

consistência de xarope. Para que a têmpera não seque depressa demais, o óleo de linhaça

pode ser utilizado.

Mistura:

Na hora de utilizar, misture os pigmentos com o aglutinante e acrescente água para diluir

mais a tinta.

d. Têmpera de leite (a partir da preparação da caseína)

Coloque 100 mL de leite num copo ou béquer, adicione 30 mL de vinagre e agite bem com o

bastão de vidro ou palito de sorvete.

Coloque o pedaço de pano sobre o segundo béquer (ou copo) e coe a mistura obtida.

Adicione pequenas quantidades da mistura para coar no pano, retirando-as em seguida. As

porções retiradas (quase secas) devem ser colocadas sobre um pedaço de papel toalha ou

jornal para que a umidade da massa obtida seja reduzida. Faça isso até coar toda a mistura.

Após a separação do material, que deverá ter uma consistência semelhante a de um queijo

cremoso, adicione o bicarbonato de sódio [1 g (ponta de espátula)] e misture bem até obter

uma mistura homogênea. Acrescente 10 mL de água e agite até que toda a massa seja

dissolvida. A reação do ácido restante (do vinagre) com o bicarbonato de sódio deverá

produzir uma pequena quantidade de espuma, que em pouco tempo se desfará. Utilize

pequenos pedaços de papel para testar a sua cola. O resultado poderá ser observado em

algumas horas.

e. Preparação de pigmentos azul e vermelho a partir do feijão preto

Coloque a matéria-prima em um recipiente com água fria e fervida por no mínimo doze

horas, para impregná-la de cor. Misture a solução resultante com clara de ovo ou cola PVA.

Utilizar, como fixadores, alúmen e vinagre (ou ácido tartárico), obtendo as cores azul e

vermelha, respectivamente.

1.2. Preparando as tintas

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Em um copinho descartável (50 mL) adicione um pouco do pigmento e de 5 a 10 gotas de

um dos veículos. Mexa bem até obter uma mistura de aparência homogênea. Quanto mais

você mexer e misturar o pigmento e o veículo, melhor ficará a sua tinta.

No caso de pigmento em pó, você pode colocar o pigmento e o veículo entre duas placas de

vidro e, apertando e girando uma placa sobre a outra, triturar a mistura. Os pigmentos

devem estar bem secos e na forma de um pó fino para obter uma boa mistura com o óleo.

1.2.1. Preparação de tinta através de giz de cor

- Esmague os pedaços de giz de cor o máximo possível com o auxílio de um almofariz ou

socador de alho.

- Adicione 10 mL de água e continue a esmagar o giz até se obter uma pasta

- Meça 10 mL da pasta obtida;

- Separe, para um copo, as gemas das claras e com a ajuda de um palito de picolé, mexa as

gemas até ficarem com um tom amarelado.

- Lave o almofariz ou socador de alho.

- Adicione no almofariz ou socador de alho a gemada à pasta de giz de cor e misture muito

bem.

- Espere alguns minutos e a tinta está pronta a ser usada.

Fontes:

FERREIRA, L. H., RODRIGUES, A. M. G. D., HARTWIG, D. R., DERISSO, C. R. Qualidade do leite e cola da caseína. Química Nova na Escola, v.6, p.32, 1997. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc06/exper2.pdf> Acesso em 24 de setembro de 2013.

MATEUS, A. L. Química na cabeça. 4ª reimpressão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008,

p. 73-76; p. 104.

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ANEXO 4

OFICINA DE CONSERVAÇÃO DE PAPEL

EXPERIMENTO: Indícios de transformações químicas

Parte 1: Refrigerante de laranja e água sanitária

Material necessário 1 copo de vidro 1 colher de sopa 50 mL de refrigerante de laranja Solução aquosa de hipoclorito de sódio (água sanitária) Como fazer

Coloque 50 mL de refrigerante de laranja no copo. Adicione 2 colheres de sopa de hipoclorito e mexa bem. O que você observa?

Parte 2: Preparação da água de cal

Material necessário

200 mL de água

Cal virgem (óxido de cálcio)

Um copo de plástico de 300 mL

1 pires de vidro ou de cerâmica

3 filtros de papel (do tipo utilizado para coar café)

1 porta-filtro

1 bule de cerâmica ou de vidro

1 colher de sopa de plástico

1 garrafa PET pequena, transparente, vazia, limpa e

com tampa

Um termômetro de uso culinário (opcional)

Como fazer

Coloque 200 mL de água no copo. Adicione uma colher de sopa de cal, mexa

cuidadosamente e verifique a temperatura do copo pelo lado externo tocando-o com as

mãos ou, se tiver o termômetro, meça a temperatura da solução. O que você observa?

Tampe o copo com o pires e deixe a solução decantar até o dia seguinte. Sem agitar o copo

para que o precipitado branco depositado no fundo não se misture muito com o líquido

(sobrenadante), passe a solução pelos filtros de papel. Antes, coloque-os um dentro do

outro no porta-filtro e encaixe no bule. Guarde o líquido límpido na garrafa PET tampada,

pois voltaremos a usá-lo mais algumas vezes.

Dica de segurança

Cuidado ao manipular a água sanitária e o óxido de cálcio.

Não ingeri-los.

Descarte de rejeitos

Os filtros de papel com a cal hidratada podem ser encaminhados ao aterro sanitário (lixo

comum).

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Parte 3: Soprando a água de cal

Material necessário

100 mL de água de cal (metade do que foi obtido na parte 2 deste experimento)

1 copo de vidro

1 canudo de plástico

Como fazer

Coloque cerca de 100 mL de água de cal no copo. Coloque o canudo do copo e assopre por

um tempo. O que você observa?

Dica de segurança

A água de cal não pode ser ingerida.

Parte 4: Carbonato de cálcio e vinagre

Material necessário

1 copo de vidro

1 colher de sopa

Líquido obtido no experimento anterior

Vinagre

Como fazer

Adicione uma colher de sopa de vinagre no líquido obtido no experimento anterior. O que

você observa?

Fonte: FONSECA, M. R. M. da. Química 1. 1ª edição. São Paulo: Ática, 2013, p. 45-46.

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ANEXO 5

TEXTO: O papel do químico na área de restauração e conservação do patrimônio

cultural

A associação entre química e arte pode parecer um pouco inusitada se considerada sob o olhar do

homem contemporâneo. Com os rumos tomados pelas ciências nos séculos XIX e XX, a química foi

incorporada no conjunto das ciências exatas com a percepção de que tenha pouco ou nada a ver

com a arte, a qual seria ligada exclusivamente à imaginação e à criatividade – como se a criação

artística e o raciocínio exato fossem habilidades humanas incompatíveis entre si. Mas, pensando

bem, percebemos que esta separação estabelecida no imaginário coletivo nem sempre correspondeu

à realidade, já que no passado era normal os artistas, pensadores e filósofos transitarem com

desenvoltura tanto pelas atividades “exatas” (engenharia, alquimia, astronomia) como pelas

chamadas belas artes. Um exemplo emblemático é o do Leonardo da Vinci, a quem o simples atributo

de engenheiro ou de pintor ficaria muito limitado visto o grande número de obras artísticas e técnicas

deixadas por ele como legado, na prática ou no papel.

Pensar que o exercício da criatividade artística dispensa o conhecimento

das propriedades dos materiais e das técnicas para o seu manuseio é um

equívoco. É impensável supor que os pintores não precisem saber misturar

os pigmentos inorgânicos (alguns dos quais têm nomes bem químicos,

como amarelo de cádmio, óxido verde de cromio ou branco de chumbo) com

os ligantes, nem que possam se dar ao luxo de desconhecer e saber ajustar

o processo de secagem dos diversos óleos naturais (ou sintéticos) e das

resinas usadas como vernizes. Criar obras de arte requer matéria e a

capacidade de usá-la a serviço da criatividade. Aliás, pesquisas com

algumas das técnicas mais modernas de análise estão revelando a

habilidade singular de alguns pintores do passado no domínio da arte de fabricar e manusear as

tintas partindo dos mais diversos tipos de substratos visando criar os efeitos plásticos desejados.

Incrivelmente, até os nossos mais distantes antepassados que deixaram suas manifestações

artísticas pintadas na rocha das cavernas parece que lançaram mão de estratagemas dignos de um

químico moderno no desenho das pinturas rupestres.

Saber se aprofundar nas propriedades da matéria e entender como controlá-las é importante até

mesmo no caso das formas menos palpáveis de arte, como a música. Alguns construtores de

instrumentos musicais, como violinos ou órgãos de tubos dos séculos XVII e XVIII, foram grandes

mestres e moldaram instrumentos únicos apreciados até hoje também por terem sido grandes

conhecedores das madeiras, dos metais e dos vernizes.

Que a química tenha um papel fundamental na evolução das

artes plásticas é, em suma, algo que dificilmente pode ser

questionado: sirva ainda como último exemplo a revolução

representada pelo surgimento dos polímeros sintéticos. Não

somente essa inovação abriu as portas para a introdução de

inúmeros novos materiais plásticos e técnicas de pintura (por

exemplo, o acrílico) sem os quais não existiria boa parte da

arte contemporânea, como a química estimulou um maior

aproveitamento de polímeros naturais, proteínas e fibras

vegetais.

Um aspecto que cabe frisar sobre as relações entre a química

e os bens culturais é a contribuição desta ciência no processo de restauração e preservação de obras

de arte. Trata-se de uma nova área específica de atuação que vem crescendo, ganhando cada vez

mais reconhecimento e oferecendo oportunidades de inserção para os profissionais da química. Em

alguns países, onde a percepção da importância do patrimônio cultural se impôs mais cedo, como a

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Inglaterra, esta visão já está bem consolidada. Foi um cientista inglês, Garry Thomson, que escreveu

o primeiro livro de larga difusão que explica como gerenciar os fatores ambientais dos museus para

otimizar a conservação dos objetos neles conservados. A primeira edição, de 1978, mostra como a

National Gallery de Londres já tinha uma longa tradição de preocupação com a qualidade dos

ambientes de conservação e estratégias cientificamente fundamentadas para melhorar suas

características. Entre os anos 80 e 90 esta visão se expandiu em todo o planeta e hoje a restauração

e a preservação de obras de arte são realizadas em praticamente todos os países do mundo,

inclusive o Brasil.

Atualmente existe uma clara distinção entre restauração, quando se tenta reverter um processo de

degradação, e preservação, em que se busca evitar o dano com medidas preventivas. Nesse

contexto, é importante mencionar a nova tendência voltada para estudar o efeito dos poluentes

atmosféricos nas obras de arte. Os poluentes podem penetrar nos museus vindos do ar externo ou

ainda ser gerados diretamente dentro dos espaços de conservação, por exemplo, emitidos pelos

materiais de construção ou por produtos de limpeza. O químico não somente é o profissional mais

preparado para detectar a presença destas substâncias no ar, como também para prever e estudar

seus efeitos nos diversos tipos de materiais, como tintas, metais, papel, madeira, fibras naturais e

artificiais, e ainda propor soluções para evitar a degradação das obras de arte.

Os químicos podem atuar na caracterização dos materiais: a composição de uma liga pode ter papel

fundamental no risco de corrosão de um objeto metálico; pigmentos distintos respondem de formas

variadas aos estímulos externos; a restauração de um quadro pode requerer a identificação das tintas

originais utilizadas ou, ainda, o esclarecimento da paleta de uma pintura (conjunto dos pigmentos

originais utilizados pelo artista) que é certamente uma ferramenta importante para melhorar o

conhecimento da origem e da trajetória de uma determinada obra. As investigações podem ser

realizadas nos artefatos originais ou serem desenvolvidas em corpos de prova. Mas, de qualquer

forma, todo e qualquer estudo quase sempre depende do emprego de técnicas de análise e hoje a

disponibilidade de modernas tecnologias, como os lasers, determinou um enorme avanço nessa área.

Por exemplo, a tecnologia trouxe a possibilidade de se realizar diversos tipos de exames dos

materiais de forma não destrutiva ou não invasiva, o que é vital quando se lida com objetos únicos

como estes. Nisso, o Brasil tem mantido uma posição de destaque no contexto internacional, em

áreas como a espectroscopia Raman, a análise elementar ou ainda as relações entre ambiente,

poluentes e obras de arte.

Uma área de

pesquisa e

desenvolvimento

particularmente

forte, inclusive na

Europa e na

América Latina, são

os estudos de

arqueologia,

etnografia e arte

rupestre em que a

análise de peças

produzidas por

populações

indígenas tem um

significado

particular. Aqui, a

contribuição do

químico em entender a composição dos materiais e os processos ocorridos com eles ao longo do

tempo pode ajudar a desvendar aspectos culturais, religiosos e antropológicos.

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O profissional para este tipo de atuação precisa ter uma sólida formação e profundos conhecimentos

de química (química orgânica e inorgânica, química analítica, técnicas instrumentais, espectroscopia

e fotoquímica), mas necessita também desenvolver outras habilidades, como a capacidade de

interagir e dialogar com profissionais com outras formações para extrair elementos para a

interpretação de seus dados e o interesse em lidar com pessoas e instituições, inclusive de outros

países.

Fonte: CAVICHIOLI, A. O papel do químico na área de restauração e conservação do patrimônio cultural. Química e Arte. Química Viva. 27 junho 2011. Disponível em: <http://www.crq4.org.br/quimicaviva_quimicaearte> Acesso em 28/02/2015.

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ANEXO 6

EXPERIMENTO: CROMATOGRAFIA EM PAPEL

Objetivos

Observar o comportamento das substâncias através do método de separação denominado

cromatografia.

Parte experimental

A. Materiais e reagentes

Béquer ou copo

Canetinhas coloridas

Papel branco ou Papel-filtro (pode ser usado papel para coar café)

Grampo

Álcool

B. Procedimentos

- Utilizando uma régua, trace uma linha reta com um lápis a 1,5 cm das extremidades do

papel. Marque, em uma das extremidades, seis pontos com distâncias iguais entre si com

um lápis ao longo da reta, numerando-os de 1 a 6.

- Faça pequenos pontos com cada uma das canetas escolhidas (a canetinha de tinta preta

deve estar inclusa), de acordo com a marcação a lápis. ATENÇÃO: não coloque a parte

pintada diretamente no álcool.

- Enrole o papel na forma de um cilindro e coloque grampos para manter a forma de cilindro.

Obs.: deixe um pequeno espaço (± 1mm) entre as duas extremidades de forma a não se

tocarem.

- Coloque esse cilindro de papel no béquer ou copo contendo álcool.

- Cubra o béquer ou copo com um plástico e amarre com uma liga de borracha, para evitar a

evaporação da mistura de solventes.

- Aguarde cerca de 15 minutos enquanto o álcool sobe pelo papel. Quando a linha do

solvente atingir a marca superior no papel ou quando você perceber que o álcool deixou de

subir, remova-o do béquer.

- Remova os grampos e deixe-o secar naturalmente.

Fonte: MATEUS, A. L. Química na cabeça. 4ª reimpressão. Belo Horizonte: Editora UFMG,

2008, p.56.

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ANEXO 7

Atividades realizadas na escola B

Atividades Objetivos Questão norteadora Tempo de execução

em cada turma

Oficina sobre patrimônio

cultural

- Inferir sobre o contexto sociocultural dos estudantes e seu conhecimento do patrimônio local; - Levantar as ideias prévias dos estudantes sobre o tema.

O que os estudantes conhecem de sua história e de bens culturais?

- 1 aula de 55 minutos

Aula expositiva e dialogada sobre o

tema

- Introduzir a temática nas aulas de Química; - Discutir as respostas dos estudantes à ficha de percepção do patrimônio local.

Qual a relação da Química com o estudo, conservação e restauração de bens culturais?

- 1 aula de 55 minutos

Aula de campo no Centro Histórico

de Vitória*

- Promover o contato dos estudantes com os bens culturais locais, principalmente aqueles restaurados ou em processo de restauração.

- Preparo e percurso da escola ao Centro Histórico- 7 às 9h - Aula de campo: 9 às 12h

Oficina de fotografia*

- Discutir a fotografia como documentação científica e histórica, e sua relação com a conservação e restauração de bens culturais; - Promover o olhar do estudante para o seu contexto ao incentivá-lo a identificar objetos pessoais ou do bairro/município/estado que devem ser preservados.

Qual a relação da fotografia com bens culturais?

- Orientação para envio de fotografias - Oficina: 2 aulas sequenciais (geminadas) de 55 minutos= 110 minutos - Respondendo questionário: 1 aula de 55 minutos

Oficina de tintas - Compreender a importância do conhecimento das propriedades dos materiais; - Estudar propriedades de materiais presentes em tintas, sua toxicidade e impactos ao ambiente e à saúde humana.

Por que devemos conhecer a composição e propriedades dos materiais que utilizamos em atividades de casa ou de trabalho?

- Oficina: 1 aula de 55 minutos - Respondendo questionário: 1 aula de 55 minutos

Oficina de conservação de

papel

- Conhecer os processos de degradação e conservação de papel.

Quais são os processos de degradação e conservação do papel?

- Oficina: 1 aula de 55 minutos - Respondendo questionário: 1 aula de 55 minutos

Questionário final Avaliação das atividades - - 1 aula de 55 minutos

Quadro 12. Organização das atividades realizadas na escola B em duas turmas da primeira série de ensino médio. (* Atividades realizadas em aulas sequenciais com as duas turmas reunidas).

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ANEXO 8

Atividades realizadas na escola A

Atividades Objetivos Questão norteadora Tempo de execução

Oficina sobre patrimônio cultural

Inferir sobre o contexto sociocultural dos estudantes e seu conhecimento do patrimônio local; - Levantar as ideias prévias dos estudantes sobre o tema.

O que os estudantes conhecem de sua história e de bens culturais?

- Respondendo ficha de percepção: 1 aula de 55 minutos - Oficina: 1 aula de 55 minutos

Leitura e discussão do texto: O papel do

químico na conservação e restauração do

patrimônio cultural

- Introduzir a temática nas aulas de Química; - Discutir a Química na sociedade

Qual a relação da Química com o estudo, conservação e restauração de bens culturais?

- Leitura do texto: 1 aula de 55 minutos - Aula dialogada: 1 aula de 55 minutos

Visita a alguns patrimônios

arquitetônicos do estado e exposição

de observações.

- Promover o contato dos estudantes com os bens culturais locais, principalmente aqueles restaurados ou em processo de restauração.

- Visita: Uma tarde - Apresentação das observações: 1 aula de 55 minutos

Oficina de fotografia (não foi realizada)

- Discutir a fotografia como documentação científica e histórica, e sua relação com a conservação e restauração de bens culturais; - Promover o olhar do estudante para o seu contexto ao incentivá-lo a identificar objetos pessoais ou do bairro/município/estado que devem ser preservados.

Qual a relação da fotografia com bens culturais?

- Oficina: 2 aulas de 55 minutos - Respondendo questionário: 1 aula de 55 minutos

Estudo dirigido: Metais tóxicos-

pigmentos de tintas, cosméticos (batons),

eletrônicos.

- Estudar propriedades de materiais presentes em tintas, cosméticos e eletrônicos, sua toxicidade e impactos ao ambiente e à saúde humana.

Por que devemos conhecer a composição e propriedades dos materiais que utilizamos em atividades de casa ou de trabalho?

- Leitura dos textos: 1 aula de 55 minutos - Aula dialogada: 1 aula de 55 minutos

Cromatografia de papel

- Estudar propriedades de materiais - Discutir propriedades químicas importantes para definição de um solvente a ser utilizado na restauração de uma obra. - Introduzir o conceito de polaridade das ligações e solubilidade.

Por que devemos conhecer a composição e propriedades dos materiais que utilizamos em atividades de casa ou de trabalho?

- Realização do experimento e resposta ao questionário- atividade de casa - Aula dialogada: 1 aula de 55 minutos

Oficina de conservação de

papel

- Conhecer os processos de degradação e tratamento do papel.

Quais são os processos de degradação e conservação do papel?

- Oficina: 1 aula de 55 minutos - Respondendo questionário: 1 aula de 55 minutos

Quadro 13. Organização das atividades realizadas na escola A em uma turma da primeira série do ensino médio.