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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA CAROLINA ZUCCO PYTLOVANCIW POLICIAIS MILITARES FEMININAS: compreendendo a profissão sob a ótica do Psicodrama e das questões de gênero Itajaí (SC), 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

CAROLINA ZUCCO PYTLOVANCIW

POLICIAIS MILITARES FEMININAS: compreendendo a prof issão

sob a ótica do Psicodrama e das questões de gênero

Itajaí (SC), 2006

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CAROLINA ZUCCO PYTLOVANCIW

POLICIAIS MILITARES FEMININAS: compreendendo a prof issão

sob a ótica do Psicodrama e das questões de gênero

Projeto de pesquisa apresentado como requisito parcial para obtenção de créditos na disciplina Supervisão de Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Prof. Maria Celina Ribeiro Lenzi

Itajaí (SC), 2006

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Marcos e Alcioni, as pessoas mais especiais da minha vida. Dedico também a minha avó Lenita e meu “vodrasto” Luciano, que sempre me auxiliaram e estiveram ao meu lado. Amo todos vocês! Muito obrigada!

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................06 2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................................09 2.1 Psicodrama .. ...................................................................................................09 2.1.1 Jacob Levy Moreno ......................................................................................09 2.1.2 O Psicodrama ................................................................................................11 2.1.3 Espontaneidade e Criatividade (Visão de Homem e de Mundo) ..............12 2.1.4 Matriz de Identidade (Teoria do Desenvolvimento Huma no) ....................14 2.1.5 Teoria dos Papéis (Teoria da Personalidade) ............................................16 2.1.6 Fator Tele e Transferência (Teoria da Comunicação) ...............................17 2.1.7 Saúde e Doença na Abordagem Psicodramática ......................................18 2.2 Gênero ..............................................................................................................20 2.2.1 Conceito Geral de Gênero ............................................................................20 2.2.2 Gênero, Estereótipos e Preconceito ............................................................21 2.2.3 Gênero e Trabalho .........................................................................................22 2.3 Mulheres Policiais ............................................................................................23 3 MATERIAIS E MÉTODOS.....................................................................................25

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS......................................29

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................45

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................47

7 APÊNDICE.............................................................................................................50

8 ANEXO...................................................................................................................53

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RESUMO

As discussões sobre as relações estabelecidas entre homens e mulheres no mercado de trabalho vêm ocorrendo com muita frequência, fato este que, possivelmente, interfere no desempenho do papel profissional das mulheres. Na tentativa de aprofundar esta questão, buscou-se investigar o desempenho e adaptação de mulheres que exercem funções consideradas socialmente masculinas, norteadas pelo Psicodrama e pelas relações de gênero. Para tanto, elegeu-se um grupo feminino de policiais que atuam na área operacional, vinculado ao Batalhão da Polícia Militar do município de Itajaí – SC. Foram realizadas cinco estrevistas semi-estruturadas. Os objetivos deste trabalho foram: investigar como se dá o desempenho do papel profissional destas mulheres, investigar qual a percepção que elas possuem da profissão que exercem, verificar como elas percebem a sua inserção profissional no contexto social e analisar a adaptação ao papel profissional que desempenham. A partir deste levantamento foram criadas categorias e subcategorias para auxiliar na interpretação dos dados que foram analisados qualitativamente para alcançar os objetivos. As categorias estão relacionadas à inserção social, à percepção e à adaptação das mulheres no papel de policial militar. De uma forma genérica, apesar de algumas contradições, as policiais femininas amam a profissão que exercem, mesmo havendo preconceito profissional e/ou de gênero e dizem estar bem adaptadas ao papel profissional. Palavras - chave : Polícia Militar feminina, Psicodrama, Gênero.

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1 INTRODUÇÃO

Cada vez é maior a atuação no mercado de trabalho por mulheres. Elas vêm

exercendo profissões que até pouco tempo eram ditas exclusivamente masculinas,

como é o caso das Policiais Militares. Em Itajaí há 145 Policiais Militares, sendo que

apenas 10 são mulheres.

Muitas vezes as mulheres optam por esta profissão por necessidade, sem

tempo para refletir sobre este papel que desempenham e qual sua relevância. A

maneira que os colegas de trabalho e a sociedade reagem e qual a percepção que

eles têm são importantes para o bom desempenho profissional dessas mulheres,

visto que nesta profissão as relações de grupo são essenciais para a qualidade do

trabalho. Lane (1992 apud NEVES e BERNARDES, 1998) afirma que o grupo é

condição fundamental para o desenvolvimento da consciência, no qual um membro

se descobre no outro, espelhando-se conjuntamente.

Sendo assim, uma das funções do psicólogo é trabalhar na construção de

uma consciência crítica, e uma das possibilidades de assim trabalhar é fazendo uso

da abordagem psicodramática como referencial teórico. Segundo Neves e Bernardes

(1992 apud Lane, 1998), a metodologia psicodramática leva em conta os contextos

social, grupal e dramático, sendo que é a realidade social que impõe ao indivíduo os

papéis que ele deve desempenhar, sempre na presença de um outro (contrapapel),

que aponta as determinações ideológicas presentes na relação. Esses papéis

seriam definidos por Moreno (1997) como uma pessoa imaginária criada por um

autor dramático, como uma parte ou caráter assumido por um ator, como uma

personagem ou função assumida na realidade social e finalmente como as formas

reais e tangíveis que o eu adota.

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Para uma avaliação mais ampla em relação ao desempenho de papéis na

Polícia Militar, é importante fazer uma interface entre a abordagem psicodramática e

a questão das relações de gênero. A preocupação com as diferenças sexuais e os

estudos sobre esses temas são bastante antigos na Psicologia, porém nunca se

discutiu tanto a questão de gênero, principalmente em relação às profissões, como

nos dias atuais. O conceito de gênero “abre uma brecha no conhecimento sobre a

mulher e o homem, na qual se torna possível uma compreensão renovadora e

transformadora de suas diferenças e desigualdades” (STREY, 1998, p.184).

Com isto, a mulher tenta quebrar os preconceitos que foram construídos pela

própria sociedade e perduram até os dias de hoje. Preconceitos estes que

perpassam pelos dois pólos, ou seja, existem tanto por parte dos homens quanto por

parte das próprias mulheres. No caso das Policiais Militares, este preconceito pode

ser ainda mais acentuado, visto que esta profissão é muito nova quando exercida

por mulheres. Para Strey (1998), pessoas do sexo masculino ou feminino podem

desempenhar papéis, através dos quais o poder pode ser exercitado, mas eles

permanecem como papéis masculinos, e em virtude disto, a discriminação contra as

mulheres gerada por esses papéis recebe reforços ideológicos.

Portanto, o desempenho do papel profissional dessas mulheres está

intimamente relacionado com a questão de gênero, pois os estágios de

desenvolvimento do papel profissional das Policiais Militares dependem de como os

outros percebem-nas em sua atuação profissional.

Desta forma, esta pesquisa, tem como objetivo geral: investigar como se dá o

desempenho do papel de profissionais femininas da Polícia Militar do município de

Itajaí; e específicos: identificar qual a percepção que as Policiais Militares Femininas

têm da profissão que exercem, verificar como as Policiais Militares Femininas

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percebem a sua inserção profissional no contexto social, e analisar a adaptação das

Policiais Militares Femininas ao papel profissional que desempenham.

Para desenvolver este trabalho utilizou-se do método qualitativo, com

entrevista semi-estruturada, sendo que as participantes foram cinco mulheres que

atuam na área operacional da Polícia Militar do município de Itajaí. Os dados obtidos

foram categorizados de acordo com o referencial metodológico da análise de

conteúdo proposto por Rizzini (et al, 1999).

A escolha desta temática justifica-se pelo fato de esta profissão ser uma das

mais recentes ocupadas por mulheres (no caso de Itajaí, há sete anos), dentro da

qual as funções que homens e mulheres desempenham são as mesmas dentro de

um determinado cargo. Contudo, estudar os estágios de desenvolvimento e o

desempenho dos papéis na abordagem psicodramática, relacionando-os com a

variação de gênero na profissão de Policial Militar poderá trazer novas contribuições,

não só para a Psicologia, mas também para estes profissionais, para a instituição

em que atuam e para a própria comunidade por eles atendida; além de fornecer

dados e subsídios para compreender e identificar dificuldades e possibilidades que

são encontradas no desempenho desta profissão, auxiliando na busca de novos

recursos e melhores adequações para o exercício das funções.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Neste capítulo é apresentado o referencial teórico que viabiliza a cientificidade

desta pesquisa. Para tanto, passará pela abordagem psicodramática e seus

principais conceitos, pelas relações de gênero na atualidade e finalizará com a

atuação das mulheres na Polícia Militar brasileira.

2.1 Psicodrama

2.1.1 Jacob Levy Moreno

Para falar sobre a abordagem psicodramática faz-se necessário falar,

também, sobre a vida e obra do precursor deste método.

Jacob Levy Moreno nasceu em 1889, em Bucareste (Romênia), sendo sua

família de origem judaica. Aos cinco anos Moreno muda-se para Viena, onde mais

tarde viera estudar medicina. Moreno tornou-se mundialmente famoso ao elaborar a

ciência da sociometria, o método do psicodrama e o trabalho pioneiro em

psicoterapia de grupo.

Até 1920 Moreno é marcado por um momento religioso e filosófico, recebendo

influência do Hassidismo (movimento religioso judaico do séc. XVIII) e das idéias

filosóficas de Kierkegaard e Bergson. Neste período as atividades de Moreno são a

fé e a crença religiosa e já falava em espontaneidade e criatividade como elementos

de superação da doença. Suas atividades se direcionam às encenações de histórias

infantis nos jardins de Viena, ao trabalho com prostitutas e à assistência aos

refugiados da guerra (GONÇALVES et al, 1988)

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Quando Moreno trabalhava numa clínica psiquiátrica, em 1912, encontrou-se

com Sigmund Freud, o qual ministrava uma conferência sobre sonhos. Em 1917,

Moreno formou-se médico e passa a colaborar com a revista Daiamon, do filósofo

Martín Buber, até 1919 (GONÇALVES et al, 1988).

De 1921 à 1924 Moreno passa por um momento teatral e terapêutico, cujo

tema predominante era o teatro. Nesta época suas atividades giram em torno de

experiências teatrais, que culminou no caso Bárbara, levando ao novo entendimento

do teatro como teatro terapêutico. Em primeiro de abril de 1921 surge oficialmente o

Psicodrama.

Outro momento marcante na vida de Moreno foi o sociológico e grupal (1925 à

1941), cujo tema predominante era a preocupação com o social e com a dinâmica de

grupos. Em 1925 emigra para os Estados Unidos. Lá trabalha com delinquentes

jovens na comunidade de Hudson, constrói um teatro terapêutico em Beacon (mais

tarde transformado no Instituto Moreno) e liga-se às universidades de Columbia e

Nova York. (GONÇALVES et al, 1988).

Moreno vinha da Europa impregnada da fenomenologia e do pensamento

existencialista e chega a um país absorvido pelas idéias do behaviorismo e de um

mal digerido pragmatismo. Portanto, sentiu necessidade de medir as relações

humanas, expressando-as por dados estatísticos, métodos métricos e operacionais,

criando então, a sociometria e, um ano depois, a psicoterapia de grupo.

Em 1941 Moreno conhece Zerka Toeman. Os dois se casaram e tiveram um

filho. Zerka passa a ser uma pessoa fundamental em sua vida pessoal e profissional,

é sua ego-auxiliar, co-terapeuta e parceira de pesquisas.

Ainda de acordo com Gonçalves (et al, 1988), já, de 1942 a 1974, o que

predomina na vida de Moreno é a articulação e estruturação de suas idéias como

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método de psicoterapia válido e aceito pela comunidade científica, intensificando,

assim, seus interesses pelo trabalho psicoterápico. Passa a preocupar-se também

com a formação de um corpo de doutrina, intitulado Socionomia.

Moreno escreveu e publicou, ainda, algumas obras, dedicou-se a conferências

e congressos. Porém, em 14 de maio de 1974 morre, na cidade de Beacon, aos 85

anos, o pai do psicodrama, Jacob Levy Moreno. Em sua sepultura foram gravadas

as seguintes palavras: "Aqui jaz aquele que abriu as portas da Psiquiatria à alegria".

(GONÇALVES et al, 1988)

Moreno foi um gigante, um objeto de amor, de veneração e de ódio. Sua vida

pessoal explica, em grande parte, a elaboração de seu pensamento científico e de

suas técnicas terapêuticas. Suas raízes judias, romenas, turcas e vienenses, bem

como seu círculo familiar, os aspectos intelectuais, políticos e médicos do clima de

sua época foram fatores essenciais que influenciaram em seu desenvolvimento

(MARINEAU, 1992).

2.1.2 O Psicodrama

Para Moreno (1997), o indivíduo é concebido e estudado através de suas

relações interpessoais. O homem moreniano é um indivíduo social, pois nasce em

sociedade e necessita dos outros para sobreviver, sendo assim, toda teoria

moreniana parte da idéia do homem em relação. Para isto Moreno criou a

Socionomia, o estudo das leis que regem o comportamento social e grupal, que está

dividida em três categorias (MORENO, 1997):

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- Sociodinâmica: estuda a dinâmica das relações interpessoais e tem como

método o jogo de papéis (role-playing), que permite ao indivíduo atuar

dramaticamente diversos papéis;

- Sociometria: tem por objetivo medir as relações entre as pessoas e seu

método é o teste sociométrico, cuja aplicação possibilita quantificar as relações;

- Sociatria: constitui a terapêutica das relações sociais, tendo como métodos a

psicoterapia de grupo (tratamento das relações interpessoais inseridas na dinâmica

grupal), o psicodrama (tratamento do indivíduo e do grupo através da ação

dramática) e o sociodrama (tipo de terapia onde o protagonista é sempre o grupo e

as pessoas estão reunidas enquanto mantêm alguma tarefa comum).

Apesar dessa divisão clássica, na prática o trabalho do psicodramatista é

referido de modo genérico como foi consagrado pelo uso: Psicodrama

(GONÇALVES, 1988).

Desta forma, a teoria psicodramática desenvolve seus pressupostos teóricos

através de quatro vertentes: espontaneidade e criatividade (visão de Homem e de

Mundo), matriz de identidade (teoria do desenvolvimento humano), teoria dos papéis

(teoria da personalidade) e o fator tele e transferência (teoria da comunicação). Tudo

isso sustentado por um corpo técnico que movimenta a ação psicodramática.

2.1.3 Espontaneidade e criatividade (Visão de Homem e de Mundo)

Desde o nascimento, o ser humano traz consigo fatores favoráveis para que

possa se desenvolver plenamente, os quais são desprovidos de tendências

destrutivas, o que impede o homem de progredir em seu processo espontâneo e

criativo são os fatores sociais constrangedores (GONÇALVES, 1988).

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O homem moreniano apresenta como seus recursos inatos a espontaneidade,

a criatividade e a sensibilidade. Para Bustos (1992), o conceito da espontaneidade é

o núcleo dinâmico da teoria de Moreno. Este conceito é melhor entendido quando

buscamos a célebre frase de Moreno, que nos diz: a espontaneidade é a capacidade

de “agir de modo “adequado” diante de situações novas, criando uma resposta

inédita ou renovadora, ou, ainda, transformadora de situações preestabelecidas"

(GONÇALVES, 1988, p. 47). A criatividade é uma forma de espontaneidade

(MORENO, 1997), é um processo interno que, movido pela espontaneidade, se

externaliza; e a sensibilidade é o ato de captar algo de fora através dos sentidos.

A espontaneidade e a criatividade são indissociáveis, pois sempre que há a

presença da espontaneidade há a atualização e manifestação do potencial criativo.

A espontaneidade se dá no momento presente e é em si inesgotável, pelo fato de

criar-se no instante, para cada situação (GARRIDO, 1996).

As ações dos homens provindas de atos criativos geram as conservas

culturais, que são os comportamentos, usos, costumes, normas, objetos materiais,

obras, estereótipos que se mantêm iguais aos momentos em que foram produzidos

pela humanidade; é evidente que um processo criador espontâneo é a matriz e a

fase inicial de qualquer conserva cultural (MORENO, 1997). Segundo Fox (2002),

com o treinamento da espontaneidade o sujeito torna-se mais livre das conservas, o

que demonstra que a espontaneidade é um valor biológico e social.

As conservas culturais garantem uma certa segurança frente a situações

desconhecidas, porém se faz necessário que o homem utilize-as como base para

uma ação inovadora, como um alicerce. Para a teoria psicodramática não é saudável

o apego excessivo à conserva cultural, pois este pode bloquear a capacidade

criativa e espontânea, remetendo o ser humano a uma condição estática.

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2.1.4 Matriz de identidade (Teoria do Desenvolvimento Huma no)

A matriz de identidade é uma teoria que foi elaborada para explicar as etapas

do desenvolvimento humano. A matriz de identidade é a placenta social da criança e

proporciona segurança, orientação e guia (MORENO, 1997), pois estabelece um elo

entre a própria criança e o meio social onde esta está inserida, relacionando-se com

objetos e pessoas. Moreno (1997) divide esta teoria em dois universos.

O primeiro universo é denominado de matriz de identidade total, pois a criança

não distingue a fantasia da realidade e desempenha apenas papéis

psicossomáticos. Este primeiro universo passa por dois períodos: a matriz de

identidade total indiferenciada, na qual a criança não experimenta os indivíduos e os

objetos como unidades separadas de si, mas que se fundem em diversas

configurações à medida em que entram em sua esfera de ação; e a matriz de

identidade total diferenciada; cuja criança inicia a perceber a diferenciação das

unidades (pessoas, objetos) que atuam separadamente, porém atribuem-lhe o

mesmo grau de realidade (MORENO, 1997).

O segundo universo é designado de matriz da brecha entre fantasia e

realidade, pois a criança começa a questionar a fantasia, separando-a da realidade.

A partir deste universo a criança desempenha novos papéis, o social e o

psicodramático. Segundo Moreno (1997), formam-se dois conjuntos - um de atos de

realidade e outro de atos de fantasia.

Fonseca (1980 apud GONÇALVES, 1988), desenvolveu e esquematizou outra

maneira de apresentar as etapas da teoria do desenvolvimento da matriz de

identidade, a partir dos pressupostos morenianos, dividindo-as em dez fases:

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- indiferenciação: a criança é totalmente dependente de sua mãe (cuidador),

que representa um ego-auxiliar, possibilitando a sua sobrevivência física e

emocional. O bebê não é capaz de se diferenciar dos outros, tudo é uma coisa só,

uma extensão;

- simbiose: há uma forte ligação entre a criança e a mãe, uma relação de

dependência, porém a criança começa a construir sua identidade, distinguindo o

"outro", o "tu", o mundo;

- reconhecimento do eu: a criança é centrada em si mesma e percebe-se

separada dos demais, reconhecendo seu corpo, suas sensações e descobrindo sua

identidade;

- reconhecimento do tu: quando a criança começa a se perceber e se

diferenciar dos outros, ela também percebe que existe um "tu", que também possui

uma identidade e é um ser único e individualizado;

- relações em corredor: a criança começa a se relacionar com os outros,

porém esta relação é egoísta e exclusiva, pois se dá com um "tu"de cada vez; a

criança sente-se única e central e não reconhece as relações paralelas; há um

ensaio para inversão de papéis;

- pré-inversão: há um treinamento para inversão de papéis, no qual a criança

se apropria do universo que a circunda começando a jogar o papel do outro, sem

que haja uma reciprocidade;

- triangulação: a criança sente-se ameaçada, pois na relação do "eu" com "tu"

aparece um "ele", que se relaciona com o seu "tu", é uma relação tríade, formando-

se, assim a "crise da triangulação", a qual é superada com a aceitação da

possibilidade de relação do "ele" com o "tu", sem lesionar a relação "eu" e "tu";

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- circularização: a criança passa a se relacionar com mais pessoas, a se

socializar com os outros, surgindo os grupos, o "nós";

- inversão de papéis: é a plena capacidade que a criança tem de realizar uma

relação de reciprocidade, ou seja, o sujeito consegue se colocar no papel do outro e

permite que o outro se coloque em seu lugar, a fim de conhecer a sua realidade e a

realidade de outros mundos. Esta fase é a culminância do processo de

desenvolvimento do fator tele.

- encontro: é a plena capacidade de inversão de papéis, é um momento

especial, há uma entrega mútua entre o "eu" e o "tu" envolvendo a liberação da

espontaneidade-criatividade e possibilitando a vitalidade e o fortalecimento das

pessoas em suas próprias identidades.

2.1.5 Teoria dos Papéis (Teoria da Personalidade)

Fox (2002) define o papel como as formas tangíveis e concretas assumidas

pelo eu, ou seja, são formas funcionais que os indivíduos assumem no momento

específico em que reagem a uma situação específica, em que outras pessoas e

objetos estão envolvidos. Para o Psicodrama, o termo papel é assimilado por dois

sentidos: unidade de representação teatral e de ação e funções sociais

(GONÇALVES, 1988). Moreno (1997) ainda definiu papel como sendo a menor

unidade observável de conduta.

Segundo Gonçalves (1988), os papéis começam a surgir no interior da matriz

de identidade, que constitui a base psicológica para todos os desempenhos de

papéis. A teoria inclui três dimensões: papéis sociais, papéis psicossomáticos e

papéis psicodramáticos.

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Os papéis sociais correspondem à dimensão da interação social, na qual

opera a função da realidade, ou seja, correspondem às ações realizadas no dia a

dia; e, juntamente com os papéis psicodramáticos, marcam a superação das fases

de indiferenciação e de realidade total da matriz.

Os papéis psicossomáticos expressam a dimensão fisiológica (necessidades

básicas - comer, dormir. urinar, hábitos). Surgem na matriz indiferenciada, na qual

há uma situação de dependência.

Nos papéis psicodramáticos há um predomínio da fantasia ou função

psicodramática. Correspondem à dimensão psicológica do eu, a mais individual da

vida psíquica.

E ainda, de acordo com Gonçalves (1988), dependendo do grau de

espontaneidade, o processo de desenvolvimento passa por três fases distintas:

a) role - taking: tomada do papel, imitação do modelo disponível;

b) role - playing: jogar o papel, explorar simbolicamente suas possibilidades de

representação;

c) role - creating: desempenhar o papel de forma espontânea e criativa.

Todos os papéis são complementares, são unidades de ação realizadas em

ambiente humano na expectativa de inter - relação. O homem é um jogador de

papéis, “... todo indivíduo caracteriza-se por determinada série de papéis que

domina seu comportamento e cada cultura caracteriza-se por determinado conjunto

de papéis que ela impõe a seus membros..." (FOX, 2002, p. 117).

2.1.6 Fator Tele e Transferência (Teoria da Comunicação)

Moreno (1983) definiu Tele como a capacidade de se perceber de forma

objetiva o que ocorre nas situações e o que se passa entre as pessoas, porém, esta

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percepção não é predominantemente visual, é também a percepção interna mútua

entre dois indivíduos.

O fator Tele é o que possibilita a comunicação, pois só nos comunicamos a

partir daquilo que somos capazes de perceber. O fator Tele, inato, em condições

favoráveis a seu desenvolvimento, permite a experiência subjetiva profunda entre

pessoas e pode ser observado por um terceiro (GONÇALVES, 1988).

Tele é um fenômeno de interação, sendo viabilizado entre seres em relação e

supõe mutualidade e complementariedade (PERAZZO, 1994). O fator tele é

responsável por atrações, repúdios e indiferenças, ocorrendo de forma igualitária ao

término da relação. (BUSTOS, 1992).

Pessoas capazes de relações télicas estão em condições favoráveis para

viver relacionamentos marcantes e transformadores. E, além disso, estão

disponíveis para viver a experiência privilegiada, do momento de plena compreensão

mútua. “Trata-se de um instante muito especial, que apaga tudo o que está ao redor

e fora do puro encontro entre os dois envolvidos. O encontro é a experiência

essencial da relação télica" (GONÇALVES, 1988, p. 52).

Moreno (1983) reduziu o conceito de transferência ao sentido de fenômeno

oposto ao fenômeno Tele, portanto, a transferência equivale ao embotamento ou à

ausência do fator Tele, em outras palavras, a transferência é a patologia da Tele.

Quanto menos transferencial, mais télica é a relação.

2.1.7 Saúde e Doença na Abordagem Psicodramática

Moreno (1983), afirma que o patológico não deve ser compreendido como

estanque e absoluto e compreende o homem em conflito e não o homem doente.

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Desta forma, o adoecer e o se tornar saudável é um constante movimento. O fator

momento é fundamental para a visão psicodramática de saúde e doença, pois saúde

e doença são uma possibilidade de vir a ser do ser humano em determinado

momento de sua vida, não sendo formas de personalidade estáticas; o indivíduo não

é sadio ou doente, mas está nesta condição, podendo não estar em algum outro

momento.

Os conceitos de espontaneidade, papel e tele são conceitos sociais e são as

estruturas básicas que formulam toda a abordagem prática psicodramática, sendo

assim, é a partir destes conceitos que se descreve a saúde e a doença. Moreno

(1983) não pretende compreender o patológico intrínseco do homem e sim as

relações que se estabelecem entre o homem e o mundo num dado momento de

forma conflituosa.

Tratamos de afastar-nos de critérios estritamente médicos ou psicológicos, já que ambos limitam a compreensão de um fato (saúde/doença) que não é meramente biológico, nem meramente psicológico, nem meramente social, senão biopsicossocial (BUSTOS, 1992, p. 147).

Como já foi citado, a patologia da tele é a transferência, ou seja, o adoecer em

nível de tele é deixar que as relações transferenciais predominem, conturbando as

relações dos sujeitos.

O adoecer do papel é adquirido no decorrer da vida do sujeito. Há várias

possibilidades de adoecer em nível de papel. Uma delas é haver regressões e

fixações em certos estados de desempenho de papéis e outra é adoecer pela

imposição social de um papel que o sujeito não se satisfaria em desempenhar,

ficando frustrado (BUSTOS, 1992).

O adoecer em nível de espontaneidade é sobrepor a fantasia à realidade, ou

seja, quando o indivíduo vive num mundo que não é real, fantasiando sua vida.

Outra possibilidade é quando o sujeito deixa se dominar pelas conservas culturais,

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assim o processo criador e o aprendizado são detidos, deixando o sujeito um ser

inflexível. A espontaneidade e criatividade, quando embotadas, favorecem o adoecer

dos seres (BUSTOS, 1992).

2.2 Gênero

2.2.1 Conceito Geral de Gênero

A questão do gênero vem sendo amplamente discutida em todas as áreas de

estudo da Psicologia, principalmente na Psicologia Social, pois este tema está

intimamente relacionado com a história, com a sociedade e com a cultura. Segundo

Strey (1998), o constructo de gênero foi desenvolvido para enfatizar uma diferença

entre homens e mulheres, além dos termos biológicos definidos pelo sexo, que vão

ao encontro a fatores culturais, históricos e sociais e englobam aspectos como

comportamento, interesses, estilos de vida, papéis, sentimentos, consciência,

personalidade, responsabilidades, tendências, intelecto, afetos e emoções. “O

gênero depende de como a sociedade vê a relação que transforma um macho em

um homem e uma fêmea em uma mulher” (STREY, 1998, p.183).

Apesar de ser uma preocupação antiga, o termo gênero começou a ser

utilizado por teóricos e estudiosos de mulheres e do feminismo no final da década de

70. Como já foi mencionado, o conceito de gênero depende da construção social e

histórica, pois “falar das relações de gênero é falar das características atribuídas a

cada sexo pela sociedade e sua cultura” (SAYÃO e BOCK, 2002, s/A).

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2.2.2 Gênero, Estereótipos e Preconceito

Um assunto que pode emergir das relações de gênero é a problemática do

estereótipo de gênero, que consiste no “conjunto de crenças acerca dos atributos

pessoais adequados a homens e mulheres, sejam estas crenças individuais ou

partilhadas” (D´AMORIM, 1997, p. 122 apud ZANATTA e ABELLA, 2003, p. 239). Os

estereótipos de gênero conferem atributos que valorizam as atividades

desenvolvidas pelos homens, não somente em seus desempenhos profissionais,

mas também no que se refere à liderança, tomadas de decisões (ZANATTA e

ABELLA, 2003).

A relação de gênero formada por homens e mulheres geralmente são

transformadas em desigualdades que tornam a mulher vulnerável à exclusão social,

o que afirmam Fischer e Marques (2001) quando comentam que esta exclusão se dá

pelas vias do trabalho, da classe, da cultura, da etnia, da idade, da raça.

Todo este contexto faz surgir os preconceitos com relação às mulheres,

principalmente no que diz respeito a sua escolha profissional, visto que as mulheres

vêm a cada dia ocupando melhores posições no mercado de trabalho. Zanatta e

Abella (2003) afirmam que, apesar de ter ocorrido mudança em relação às mulheres

em nível de atitude, sendo inclusive aceita uma maior independência no modo de

agir, modos de falar e escolhas profissionais, antes não considerados, persiste o

estereótipo da mulher como alguém fraco que precisa de proteção.

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2.2.3 Gênero e Trabalho

Os preconceitos em relação às mulheres são evidentes no campo do trabalho,

pois na maioria das vezes o salário que elas recebem não condiz com os esforços

dos seus serviços; e dentro de uma determinada tarefa a qual homens e mulheres

executam, o salário que o homem recebe, geralmente, é maior. Até mesmo a sua

iniciação no trabalho remunerado, que se deveu a uma necessidade do capital de

ampliar o seu consumo, ocorreu de forma desigual, pois ela não foi colocada no

mercado apenas na condição de força de trabalho, mas também na de mulher

estigmatizada e vítima de relações desumanas na esfera privada (FISCHER e

MARQUES, 2001).

A participação da mulher no trabalho frente ao mundo globalizado é de

fundamental importância, porém os homens parecem não valorizar esta atuação,

pois, como cita Pateman (1993 apud Fischer e Marques, 2001), os preconceitos que

favorecem a reprodução de inferioridade das mulheres são apropriados pelos

colegas masculinos, que ao invés de acolhê-las como companheiras, parceiras,

indivíduos, aceitam-na na condição particular de mulher.

É importante ressaltar que todas estas relações ocorrem num contexto grupal

muito complexo, onde estão intrínsecos aspectos como as características

demonstradas pelos sujeitos e os estereótipos que lhe são atribuídos pelos demais e

que, ao mesmo tempo, também atribui aos demais. Este fato acaba formando um

espaço de relação onde diversos aspectos como gênero, cultura e sociedade estão

sempre presentes e influenciando as relações (ZANATTA e ABELLA, 2003).

23

2. 3 Mulheres Policiais

Delvan, Lenzi e Strey (2000) publicaram uma pesquisa realizada com um

grupo feminino de policiais militares vinculado a duas corporações situadas em

cidades diferentes, para investigar o desempenho e adaptação de mulheres que

exercem funções consideradas socialmente masculinas.

Neste estudo concluiu-se que fica evidente a função da família como

mediadora na construção do projeto profissional da mulher; há ambivalência nos

dados coletados, pois ao mesmo tempo em que refletem uma acomodação da

mulher quanto ao seu projeto profissional, indicam as mudanças no contexto social e

econômico que se transforma e dá oportunidade para o surgimento de uma nova

mulher, que busca espaços para a sobrevivência profissional e na conquista do

espaço público. Indica também, que os dados provavelmente foram contaminados

pela influência e a forma que a instituição em que as policiais estão inseridas

funciona, indicando um certo controle e subordinação no comportamento de seus

membros (DELVAN, LENZI e STREY, 2000).

Soares e Musumeci (2005) também publicaram uma pesquisa que aprofunda

as relações entre a instituição Polícia Militar e a atuação de policiais mulheres, na

cidade do Rio de Janeiro.

A presença feminina na Polícia Militar é recente. O Estado de São Paulo

instituiu, em 1955, um corpo feminino de guardas civis e o incorporou em 1970 aos

quadros da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nos demais Estados, o ingresso

das mulheres se deu somente a partir do final dos anos 1970 e, sobretudo do início

dos 1980, visando originalmente a cobrir certas áreas de atuação em que o

policiamento masculino, essencialmente repressivo, estaria encontrando

24

dificuldades, como o trato com crianças abandonadas ou com mulheres e

adolescentes autores de infrações (SOARES e MUSUMECI, 2005).

A entrada das mulheres para a Polícia Militar está vinculada a noção de que

elas possam humanizar e melhorar a imagem social de uma instituição autoritária.

No Brasil, em dezessete Unidades da Federação, as atividades previstas para os

efetivos femininos das polícias militares são “missões mais leves”, como o trabalho

com mulheres e crianças, policiamento de trânsito, trabalhos comunitários e serviços

internos. Ainda há uma ínfima proporção de mulheres incorporadas a Polícia Militar,

inclusive em Santa Catarina que, em 2003 contava com um percentual de 4,1% (472

policiais militares femininas) (SOARES e MUSUMECI, 2005).

25

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Participantes

Os sujeitos da pesquisa foram mulheres Policiais Militares que atuam na área

operacional do Batalhão do município de Itajaí. A escolha destes sujeitos deu-se

pela característica eminentemente “masculina” desta profissão e por este trabalho

ser relativamente recente quando ocupado por mulheres.

Como trata-se de uma pesquisa qualitativa, foram entrevistadas cinco

mulheres, num total de dez, um número suficiente até os dados começarem a se

repetir, pois “a amostragem boa é aquela que possibilita abranger a totalidade do

problema investigado em suas múltiplas dimensões” (MINAYO, 1992 in MINAYO,

1994).

Abaixo é apresentado um quadro com algumas informações pertinentes sobre

as participantes:

P-1 P-2 P-3 P-4 P-5

Idade 27 31 25 27 31

Tempo de serviço

na instituição

9 anos 9 anos 3 anos e 6

meses

1 ano 9 anos

Tempo de serviço

na PM

9 anos 9 anos 3 anos e 6

meses

8 anos 9 anos

Cargo que ocupa soldado soldado soldado soldado soldado

Escolaridade 3º grau

incompleto

2º grau

completo

3º grau

completo

2º grau

completo

2º grau

completo

Estado civil casada casada solteira solteira solteira

Familiares que

atuam na PM

marido marido não não não

26

Número de filhos 1 0 0 0 0

3.2 Instrumento

Foi aplicada uma entrevista semi-estruturada (vide apêndice A) com os

sujeitos, a fim de levantar dados para a pesquisa. A entrevista semi-estruturada é

aplicada a partir de um pequeno número de perguntas, para facilitar a

sistematização, e apenas algumas questões são pré-determinadas (RIZZINI et al,

1999). É através da entrevista que o pesquisador busca obter informações objetivas

e subjetivas na fala dos atores.

3.3 Procedimentos para a coleta dos dados

Primeiramente foi feito um contato com o responsável pela Corporação para

explicar a pesquisa e saber se eles estariam disponíveis a colaborar.

Foi confeccionada uma carta informativa (vide apêndice B) para esclarecer a

relevância da temática, incentivar a participação e explicar como se daria esta

participação dos sujeitos na pesquisa. Após este contato foram solicitados um

espaço físico e o agendamento para a aplicação das entrevistas.

A coleta de dados foi feita no próprio local de trabalho dos sujeitos, no

Batalhão da Polícia Militar de Itajaí, na sala de recursos humanos, para preservar o

sigilo e o ambiente que estão inseridos estes sujeitos, facilitando, assim, o “rapport”

da entrevista. Por solicitação do responsável pelo Batalhão, as entrevistas foram

realizadas na própria instituição, devido à viabilidade e disponibilidade dos sujeitos.

27

Após decididos o local e as datas, foi apresentado um termo de

consentimento livre e esclarecido (vide anexo A) que foi devidamente assinado pelos

sujeitos da pesquisa. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. No

momento da coleta de dados estavam presentes somente a entrevistadora e as

participantes, individualmente.

Depois de coletados e analisados os dados, foi marcada uma nova reunião

com o responsável pela Corporação e com as participantes da pesquisa com o

intuito de fazer a devolutiva desta pesquisa, tanto de forma oral, quanto escrita.

Todas as participantes mostraram-se receptivas e disponíveis a colaborar,

todavia os dados fornecidos foram escassos e como não haviam mais policiais

femininas que atuam na área operacional, a análise teve que ser feita a partir destes

dados.

3.4 Procedimentos para a análise dos dados

Após coletados os dados, foi feita análise de conteúdo. A Análise de

Conteúdo assume sua “função primordial de inferência, ou seja, a ligação de alguns

elementos do discurso através de um processo de categorização de temas a serem

investigados no texto” (RIZZINI et al, 1999, p. 91).

Como as entrevistas foram gravadas e transcritas, estabeleceram-se as

categorias definitivas de análise.

Segundo Rizzini (et al, 1999) os passos para análise de conteúdo são:

- ouvir e transcrever as entrevistas;

- escolher as categorias de análise;

- fazer uma análise de frequência destas categorias;

28

- verificar a contagem das categorias;

- analisar os resultados com direção a responder às questões postas pela

pesquisa.

3.5 Procedimentos éticos

Tendo em vista que os procedimentos éticos são de vital importância para o

sucesso da pesquisa, este trabalho foi orientado pelas resoluções CNS – 196/96 e

CFP – 016/2001, procurando respeitar os seguintes itens:

- Assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo A)

por parte de cada participante da pesquisa antes de iniciar a coleta de dados;

- Respeito aos valores sociais, morais, culturais, religiosos e éticos dos

entrevistados;

- Acesso livre dos participantes às suas informações que foram coletadas,

assim como aos resultados obtidos;

- Respeito em relação à recusa do participante para ser entrevistado;

- Manter o anonimato dos sujeitos entrevistados.

Este projeto foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI

em 18/08/2006, sob cadastro número 245/06.

29

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Com a análise das entrevistas foram obtidos resultados na tentativa responder

ao objetivo geral desta pesquisa, que consiste em: Investigar como se dá o

desempenho do papel profissional de policiais militares femininas do Batalhão do

município de Itajaí, sob a ótica do Psicodrama e das questões de gênero. Para se

chegar a esta etapa, os dados foram organizados em categorias, que foram

definidas a priori, e subcategorias, que foram definidas a posteriori, de acordo com

os objetivos da pesquisa e estão apresentadas no quadro a seguir:

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS CONCEITOS

PSICODRAMA

INSERÇÃO - COM PRECONCEITO

- SEM PRECONCEITO

MATRIZ DE IDENTIDADE

PERCEPÇÃO TELE

ADAPTAÇÃO TEORIA DOS PAPÉIS

Para melhor entender os caminhos percorridos para a apresentação e

discussão dos dados, consideramos importante, neste momento, resgatar um pouco

da teoria que norteou este trabalho.

O Psicodrama foi concebido por J. L. Moreno e desenvolvido no início de

século XX, marcado por todas as transformações características deste tempo em

seus vários âmbitos: científico, artístico, cultural, social, etc. Do ideal moreniano, que

já se fazia evidenciar, conserva-se até os dias de hoje o entusiasmo da idéia de que

somos todos espontâneos e criadores, capazes de nos transformarmos e de

30

transformarmos nossos vínculos se nossa realidade. Falar em abordagem

psicodramática, portanto, é falar de uma determinada “leitura” ou interpretação de

homem e de mundo, dos fenômenos humanos e de suas possibilidades de

transformação.

Como foi visto anteriormente, a estrutura do pensamento moreniano se

alicerça numa intuição mística do universo, a partir da noção de “espontaneidade ”

como energia que precede a tudo o que se constitui como matriz da capacidade

criadora. De acordo com Andaló (2006) tais considerações o obrigaram a

perspectivar um sujeito situado, sempre em relação com os outros homens, lançado

no campo social. Assim sendo, tornou-se impossível para Moreno, desenvolver uma

teoria sem o auxilio de uma sociologia que situasse esse ser humano-criador dentro

de mundo ordenado da cultura.

Sabe-se que o Psicodrama tem sua origem nos grupos, nos pequenos grupos,

e a partir deles desenvolveu todo um conjunto de conceito que e abrangem uma

concepção de homem e de mundo (Espontaneidade / Criatividade), uma teoria de

personalidade (Teoria dos Papéis), uma teoria de desenvolvimento (Teoria da

Matriz de Identidade) e uma teoria de comunicação (Tele / Transferência ). Estes

conceitos que formam o pano de fundo da abordagem estão diretamente

correlacionados entre si.

A matriz de identidade é o lugar preexistente, modificado pelo nascimento do

sujeito, que sustenta seu processo de definição como indivíduo. A tele é um fator

inato de percepção que vai além da captação feita pelos órgãos dos sentidos em

que se distinguem objetos e pessoas, sem distorcer seus aspectos essenciais. Papel

pode ser definido com a unidade de condutas inter-relacionais observáveis,

31

resultantes de elementos constitutivos da singularidade do agente e de sua inserção

na vida social (GONÇALVES, 1988).

A espontaneidade e a criatividade (visão de homem e de mundo) são outros

dois conceitos fundamentais para o Psicodrama que transitam em todas as

categorias, visto que estes dois fatores são recursos inatos do homem. Para Moreno

a espontaneidade/criatividade era o ingrediente central no processo do psicodrama e

do viver saudável, ele a definia como uma nova resposta a uma antiga ou nova

situação (BLATNER e BLATNER, 1996), e para possibilitar esta modificação é

necessário criar, ou seja, produzir, a partir de algo que já é dado, alguma coisa nova.

Portanto, os conceitos ora apresentados serão redimensionados com o auxílio

de uma leitura antropológica proposta por Brito (1998) em sua obra intitulada “Astros

e Ostras: uma cultural do saber psicológico”.

A questão de gênero também é envolvida em todas as categorias de análise.

O conceito de gênero inclui as características psicológicas típicas de cada sujeito,

seus comportamentos, interesses, estilos de vida, papéis sociais definidos e a

consciência de si (STREY, 1999 apud GUERRA et al, 2004). Esta interface do

Psicodrama com a questão de gênero que norteia a análise dos dados da pesquisa.

1ª Categoria: Inserção

Esta categoria compreende como as participantes relatam a sua inserção

profissional no contexto social, ou seja, como esta sociedade acolhe e possibilita a

sua inserção para o desempenho de seu papel profissional.

Relacionamos esta categoria com a teoria da Matriz de Identidade proposta

por Moreno. Para ele, o ser humano, antes mesmo de nascer, quando é esperado e

32

gestado, faz parte de um conjunto de relações sociais que lhe proporcionará as

condições para que possa sobreviver, enquanto organismo biológico, e desenvolver

de forma a progressivamente individuar-se, tornado-se um sujeito singular. A este

conjunto de relações sociais – o locus, a placenta social – no qual a criança se

insere quando nasce e no qual se desenvolve, adotando os primeiros papéis,

Moreno designou Matriz de Identidade. Portanto, a matriz de identidade é o lugar

onde o sujeito se insere desde o nascimento e relaciona-se com pessoas e objetos

num determinado clima, sendo que o desenvolvimento deste sujeito dar-se-á nesse

locus nascendi (GONÇALVES, 1988).

De acordo com Fonseca (2000), é possível observar que a teoria do

desenvolvimento da Matriz de Identidade tem um caráter relacional. É através das

relações sociais que a identidade vai se constituindo e é nessa trama dialética,

aproximando-se agora de uma perspectiva histórico-cultural, que o sujeito constitui-

se enquanto tal.

Numa visão antropológica Brito (1998), avança com o conceito de matriz de

identidade, redefinindo-a como o modo pelo qual cada sociedade produz seus

cidadãos. Sendo assim, a sociedade, neste caso, é o locus do desenvolvimento do

papel profissional da polícia militar feminina que trabalha na área operacional, pois

estas mulheres lidam diretamente com a população. E é nessa matriz originária que

elas encontrarão suas formas de sobrevivência física e emocional, bem como os

significados dos quais se apropriarão (SIQUEIRA, no prelo).

Se para moreno a matriz de identidade é o locus nascendi, o berço, o

espaço geográfico, político e emocional que determina e influencia o

desenvolvimento dos papéis do ser humano, fazemos a analogia com o contexto

33

social enquanto matriz de identidade para o desenvolvimento do papel profissional

das policiais femininas.

Nesta categoria a relação de gênero também contribui para uma compreensão

mais ampla da profissão de policial militar feminina. Encontramos na revisão

bibliográfica que “O papel de gênero é o conjunto de expectativa em relação aos

comportamentos sociais que se esperam das pessoas de determinado sexo”

(MARODIN, 1997, p. 10). Vale salientar que as mulheres vêm gradativamente

ocupando este papel profissional que até pouco tempo era ocupado exclusivamente

por homens, principalmente na área operacional da polícia militar, fazendo uma

revolução e uma nova configuração no mercado de trabalho. Desta maneira, a

percepção que a sociedade possui da atuação das policiais militares femininas pode

interferir no desempenho profissional destas mulheres, sendo que “as relações

sociais e vínculos estabelecidos são fundamentais, tendo em vista que é nesse

contexto relacional que o sujeito se constitui como tal, na sua singularidade”

(ZANATTA e ABELLA, 2003, p.237)

Diante do exposto foi possível observar através dos dados coletados que a

inserção das policiais no contexto social dependem dos fatos que ocorrem no

cotidiano, como fica evidente nesta fala: Quando a polícia atua de forma excelente

pra população a gente é vangloriado e quando acontece um incidente a polícia não

presta (P-5). Isto confirma a forma como a sociedade interage no desempenho do

papel profissional destas mulheres, como influencia com suas expectativas, suas

aprovações e reprovações.

Nas respostas, o que ficou mais evidente foi a questão do preconceito, por

isso esta categoria foi dividida em duas subcategorias: com preconceito e sem

preconceito.

34

Subcategoria: com preconceito

O conceito de matriz de identidade ainda está presente nesta subcategoria,

porém agora relacionada a questão do preconceito. De acordo com Pereira (2002, p.

77) “a noção de preconceito refere-se a uma atitude injusta e negativa em relação a

um grupo ou a uma pessoa que se supõe ser membro do grupo”.

Nesta subcategoria quatro mulheres responderam que ainda existe

preconceito por parte da sociedade devido a profissão que exercem, demonstrado

em uma das respostas: Tem, um pouco tem, agora nem tanto. No início sentia,

muitas vezes, que a gente ia atender uma ocorrência e as pessoas, sem conhecer a

gente já tinham raiva. (P-1). É importante ressaltar que quando foi questionado a

estas policiais como elas percebem a sua inserção profissional no contexto social,

todas elas responderam pensando primeiramente na sua profissão, independente de

ser mulher ou não. Somente quando foi perguntado se elas acham que o

preconceito é maior ou menor pelo fato de serem mulheres é que elas direcionaram

para esta questão.

A primeira resposta certamente é a mais válida, pois foi espontânea. Em se

tratando de espontaneidade é importante, mais do que nunca, retomar o conceito

dentro deste referencial teórico de Moreno (1997), este destaca que a

espontaneidade não é criada pela vontade consciente, mas sim por uma libertação.

Sendo assim, a questão de gênero fica subjugada neste primeiro momento, e uma

análise mais completa seria possível com um estudo sobre o preconceito em relação

à profissão de policial militar.

Duas destas entrevistadas ainda envolvem a mídia como potencial causador

de tal preconceito, como é apontado nesta frase: A mídia, ela direciona muito para

35

um lado que faz com que as pessoas pensem daquele jeito, assim, a mídia acaba

distorcendo, às vezes, muitas coisas, ocorrências que a gente passou. (P-3). Assim

como nas respostas anteriores, estas também são direcionadas a profissão de

policial militar, independente do gênero.

Num segundo momento, a questão do gênero retorna para a análise, pois,

além de afirmarem que existe preconceito por parte da sociedade, duas das

participantes ainda comentam que há preconceito por parte dos próprios colegas de

trabalho, isto pode ser representado pela fala: Também, infelizmente também tem...

claro que não é no geral, digamos que 10% ainda tem aquela coisa “trabalhar com

mulher”. (P-4). “Os estereótipos de gênero conferem atributos que valorizam as

atividades desenvolvidas pelo homem, não somente em seus desempenhos

profissionais, senão também no que se refere à liderança, etc” (ZANATTA e

ABELLA, 2003, p. 240).

Ainda de acordo com tal subcategoria, duas das policiais descrevem o fato de

haver o preconceito ainda maior por serem policiais femininas, como é destacado

nesta afirmação: Porque o povo acha que pelo fato de ser mulher a gente não vai

desempenhar a função como o homem. (P-4). Apesar da mulher ter uma postura

com mais atitude, sendo aceita uma maior independência no modo de falar, agir e

escolher sua profissão, ainda persiste o estereótipo da mulher como alguém fraco e

que precisa de proteção (ZANATTA e ABELLA, 2003).

Foi possível observar que o preconceito que se sobressai para estas

mulheres é o preconceito em relação a profissão de policial militar, independente do

gênero.

Conforme esta categoria, o preconceito existe, seja pela profissão, seja pelo

gênero. Portanto, para quatro entrevistadas, o locus do desenvolvimento desta

36

profissão não está sendo favorável para o desempenho destas profissionais, porque

o clima da relação entre as policiais e a sociedade aparentemente não é adequado

para um bom exercício profissional e esta situação pode bloquear a espontaneidade

destas mulheres, deixando-as numa posição estática e, conseqüentemente,

comprometendo o desempenho dos papéis, a ser discutido na terceira categoria.

Subcategoria: sem preconceito

Apenas uma das participantes respondeu que acha que não existe

preconceito, por parte da sociedade, em relação à profissão de policial militar

feminina, apontado nesta resposta: Preconceito não, eu não sinto isso... eu nunca fui

menosprezada por ser policial, em nenhum local que eu freqüento. (P-5). Como já foi

citado, a afirmação desta profissional também foi direcionada à profissão de policial

militar de forma genérica.

Outras duas mulheres afirmaram que apesar de existir o preconceito por parte

da sociedade, não sentem que há preconceito por parte dos homens do batalhão,

evidenciado nesta frase: Aqui dentro a gente conquistou um espaço que a gente não

é tratada como a mulher do pelotão, tanto que os homens aqui tratam a gente como

se fosse homem. (P-1). De acordo com Strey (1997), já não é possível negar que as

mulheres estão no mundo do trabalho, dispostas a conquistar seu lugar nesse que é

um dos espaços sociais mais valorizados, porém a aceitação da sociedade ainda

não é plena.

Toda a teoria das relações de gênero aponta que as mulheres ainda sofrem

com o preconceito que foi historicamente construído, porém, de acordo com as

respostas obtidas nesta subcategoria, essas policiais não percebem que há tal

37

preconceito. Contudo, para elas, esta barreira não existe, fato este que,

possivelmente, facilita o seu desempenho profissional, num locus positivo para o

desenvolvimento de ações espontâneas e criativas.

Enfim, a compreensão que fazemos nesta interface entre a matriz de

identidade e as questões de gênero, é a forma como os determinantes sociais

influenciam na constituição do sujeito e no desenvolvimento de seus papéis. Em

outras palavras, podemos falar, como este contexto social permeado pelos conceitos

e preconceitos das questões de gênero contribui o desempenho do profissional

destas policiais.

Podemos concluir que estas mulheres ainda vivenciam as relações de

trabalho permeadas por preconceitos que dificultam a sua atuação e o

desenvolvimento do seu papel profissional. Por outro lado, vislumbra uma nova

perspectiva para esta profissão e que de certa forma contradiz o que se era

esperado pelas questões de gênero, pois nos dados coletados encontramos

respostas que sugere uma sociedade menos preconceituosa e mais receptiva para a

atuação dessas profissionais.

2ª Categoria: Percepção

Esta categoria refere-se à percepção que as policiais militares femininas

possuem sobre a profissão que exercem. Como elas se reconhecem e sentem-se

desempenhando este papel profissional. Pode-se definir percepção como uma

atitude ativa, dotada de intencionalidade seletiva e integrativa que pressupõe uma

interpretação (BRITO, 1998).

38

Tal categoria está intimamente relacionada com a categoria inserção, pois a

percepção de si passa pela percepção do outro, ou seja, a percepção que as

policias militares femininas têm da sua profissão sofre influências de como a

sociedade as percebem. “Nossa auto-imagem está vinculada diretamente à imagem

consensual que nossos grupos de referência fazem a nosso respeito e indiretamente

à imagem interna cultivada por essas coletividades” (BRITO, 1988, p. 167).

O conceito da abordagem psicodramática que norteia esta categoria é o fator

tele. “Moreno definiu tele c omo a capacidade de se perceber de forma objetiva o

que ocorre nas situações e o que se passa entre as pessoas” (GONÇALVES, 1988,

p. 49). Desta maneira, a compreensão desta categoria é permeada pela relação das

profissionais com a sociedade, visto que o conceito de tele ainda pode ser

complementado como o sentimento mútuo surgido em duas ou mais pessoas (ou

objeto), provocados pelos atributos reais delas, ou ainda, uma percepção real do

outro (PAIVA, 1980). Moreno tentou situar tele como algo que existe em um dado

momento, numa dada relação, e que remete a uma noção social. (AQUIAR, 1990)

Garrido (1996), nos aponta que se o binômio espontaneidade - criatividade

define a natureza humana, para Moreno, o fator tele , seria o responsável pelo

sucesso das relações sociais/interpessoais. De difícil definição, este fator, muito

mais intuído por Moreno do que definido enquanto conceito científico estaria por

detrás das relações interpessoais claras e libertas da transferência. A transferência é

entendida por Moreno como a patologia da tele, ou seja, a incapacidade do

indivíduo perceber de forma clara e objetiva o que acontece nas relações. Sendo

assim, Kaufman (1992) afirma que quando a capacidade télica do sujeito está

abalada, pode-se dizer que a sua capacidade perceptiva está alterada, sofrendo,

portanto, de falsas e desfiguradas imagens e impressões.

39

Segundo Zanatta e Abella (2003), é no espaço da relação com o outro, ou

seja, no espaço da intersubjetividade, que a singularização torna-se possível através

do movimento do sujeito em meio às relações sociais, numa relação dialética sujeito-

grupo-sujeito.

Desta forma, nesta categoria a questão do gênero é visível, pois a profissão

de policial militar até pouco tempo era ocupada somente por homens, então a

percepção das mulheres em relação ao papel profissional que desempenham pode

sofrer interferência da relação de gênero, incluindo os estereótipos, que se

constituem na intersubjetividade e acabam atuando como mediadores nas relações,

simplificando as percepções. Pereira (2002) define estereótipos como crenças sobre

atributos típicos de um grupo, que contêm informações não apenas sobre estes

atributos, como também sobre o grau com que tais atributos são compartilhados.

Sendo assim, “cada um contará com um repertório de informações a se

organizar segundo os paradigmas pertinentes com sua posição na sociedade,

resultando numa forma particular de percepção” (BRITO, 1998, p. 249).

Todas as participantes da pesquisa responderam que adoram a profissão que

exercem, exemplificado nesta fala: Eu adoro a minha profissão, amo mesmo. (P-1).

Além de gostarem da profissão, duas das entrevistadas ainda complementam que

esta tarefa é gratificante, evidenciado nesta resposta: É gratificante pelo fato de

quando a gente faz alguma coisa de bem para o outro. (P-4).

Apesar de todas as policiais afirmarem que adoram a profissão que

desempenham, três delas apontam algum aspecto negativo da profissão, tais como

a discriminação, a incompreensão e o perigo, destacados, respectivamente nas

seguintes respostas:

- É muito discriminada pela sociedade. (P-2);

40

- Às vezes ela é muito incompreendida pela sociedade, pelas pessoas de fora.

(P-1);

- É um risco, né, uma ocorrência simples pode se transformar mais grave. (P-

3).

Analisando estas respostas foi possível observar que, provavelmente, há uma

relação télica entre as policiais e a sociedade, mesmo que seja com conteúdo

negativo, porque na categoria de inserção profissional a maioria das entrevistadas

relataram que existe preconceito por parte da sociedade, e este preconceito é

novamente citado pela maioria das participantes nesta categoria que diz respeito à

percepção do papel profissional. Para afirmar com veemência esta relação télica

seria necessário fazer uma pesquisa com a sociedade, para confirmar qual a

percepção que ela possui do papel profissional de policial militar feminina. Pois como

nos aponta Garrido (1996) para que se possa atribuir alguma especificidade ao

fenômeno batizado como tele, terá que buscá-lo no seu caráter relacional, ou seja,

tele é um fenômeno que se insere no âmbito da relação.

E assim inferimos, de acordo com a teoria e com os dados coletados, que a

capacidade télica que estas mulheres vêm desenvolvendo na percepção do seu

papel profissional indica com otimismo a capacidade de adaptação do seu papel

profissional. Segundo Gonçalves (1988), não é fácil nem possível que o fenômeno

da percepção télica predomine em todos os momentos de um relacionamento,

porém, relações télicas são saudáveis, pois à medida que as distorções diminuem e

que a comunicação flui, criam-se condições para a recuperação da criatividade e da

espontaneidade.

Como já foram mencionados os conceitos desta abordagem interrelacionam-

se entre si, portanto esta compreensão será complementada na categoria a seguir.

41

3ª Categoria: Adaptação

A teoria dos papéis é o conceito da abordagem psicodramática que

corresponde a esta categoria. Entende-se por papel a unidade de condutas

interrelacionais observáveis, resultante de elementos constitutivos da singularidade

do agente e de sua inserção na vida social (GONÇALES, 1988). Dentro desta

perspectiva teórica, Moreno (1997) descreveu três grandes categorias de papéis:

psicossomáticos (dimensão das atividades diárias), sociais (dimensão da interação

social) e psicodramáticos (dimensão psicológica do eu). Porém, para analisar esta

categoria a atenção será voltada para os papéis sócias que incluem papéis

ocupacionais, classe econômica, racial, sexual, papéis familiares.

De acordo com o Psicodrama, em sociedade, os indivíduos têm funções

determinadas por várias circunstâncias. Neste sentido, o papel de policial militar

feminina corresponde a um papel social, o qual representa a dimensão da interação

social, com diferentes unidades de ação (GONÇALVES, 1988), ou seja, o papel

social enfatiza as ações do dia a dia. Como o papel social pressupõe uma relação,

ele auxilia na constituição do sujeito, visto que “os papéis não decorrem do eu, mas

o eu pode emergir dos papéis” (MORENO, 1997, p. 210).

Para compreender esta categoria também é necessário retomar as etapas do

desenvolvimento do papel, que inicia-se pelo role-taking - uma fase em que o sujeito

tende a repetir os modelos sociais de que se apropriou; em seguida ele começa a

jogar com este desempenho, incluindo novos elementos em sua ação – role-playing;

para, progressivamente criar um estilo próprio – role-creating (SIQUEIRA, no prelo).

Nesta categoria a intenção foi saber se estas mulheres estão

desempenhando o papel profissional de forma criativa, ou seja, se elas já se

42

apropriaram de seu papel profissional e estão bem adaptadas à profissão que

exercem. Para analisar essa adaptação, os dados foram relacionados à forma que

as policiais se utilizam da autonomia para exercer a profissão, pois, essas mulheres

só estarão bem adaptadas caso possam desempenhar de forma criativa e

espontânea seu papel profissional. Sendo assim, neste contexto, a autonomia é

relacionada a terceira etapa do desenvolvimento do papel, o role-creating.

A identidade e o modo de ser do indivíduo decorre dos papéis que

complementa ao longo de sua existência e de suas experiências, com as respostas

obtidas na interação social, por papéis que complementam os seus (GONÇALVES,

1988). Sendo assim, a relação de gênero também torna-se importante nesta

categoria, pois a adaptação das profissionais ao papel que desempenham vai

passar pela percepção que elas têm de si e pela percepção que a sociedade tem

delas. Quanto mais o ambiente e a consciência de si forem favoráveis, melhor será o

desempenho e adaptação profissional das policias.

Todas as entrevistadas responderam que estão bem adaptadas ao papel

profissional que desempenham, o que implica que as policiais dizem não encontrar

dificuldades na hora de desempenhar o papel profissional. Esta adaptação

possivelmente está relacionada com o tempo de serviço na polícia militar feminina,

que varia de três anos e meio a nove anos de carreira. Outro fator relacionado a esta

adaptação seria os motivos da escolha profissional, o que foi algo sempre desejado

pelas participantes: Na verdade eu sempre quis ser policial, fazer parte das forças

armadas. (P-5).

Três delas são objetivas quando falam da autonomia no exercício da

profissão: Com certeza eu me sinto muito bem e preparada. Eu amo a minha

profissão, estou super adaptada (...) A gente pode ter iniciativa, a gente tem

43

autonomia. Eu digo que eu consigo exercer a minha profissão com bastante

autonomia, dentro das limitações que toda profissão tem. (P-1).

Sendo assim, os dados indicam que todas as entrevistadas estariam da fase

do role-creating, uma fase com alto grau de liberdade e espontaneidade em que o

desempenho do papel se dá de forma criativa e espontânea (GONÇALVES, 1988).

Desta forma, estas policiais encontrar-se-iam em equilíbrio, pois sua espontaneidade

e criatividade não estariam embotadas e elas sentir-se-iam satisfeitas com o papel

que desempenham, fatores estes que propiciam a saúde, conforme a abordagem

psicodramática (BUSTOS, 1992).

Duclós (1985) afirma que quanto mais essas mulheres se desenvolverem,

usarem suas reservas de autenticidade, expandirem sua criatividade e

produtividade, maior a possibilidade de uma identidade feminina harmoniosa, sadia.

Porém, há respostas contraditórias, porque duas das policiais responderam

que estão bem adaptadas, mas afirmam não possuir autonomia para desempenhar

a profissão: To, to, já sei os prós e os contras da profissão (...) Eu não tenho

autonomia, eu sou soldado e tenho que cumprir ordens, mesmo que as ordens

sejam absurdas. É bem limitado o nosso serviço, mas tirando isso aí o serviço é

bom. (P-2).

Nestes casos, a falta de autonomia se coloca como uma barreira para um bom

desempenho profissional, pois para haver uma boa adaptação e,

consequentemente, um bom desempenho, a liberdade para agir e criar é um fator

essencial, pois quando somos reduzidos à condição de peças de engrenagem,

impedidos de iniciativa pessoal, estamos privados de nossa espontaneidade

(GONÇALVES, 1998). E ainda, quanto mais cristalizadas as expectativas de

44

desempenho de papel, menos se incentiva a objetivação da espontaneidade e da

criatividade presentes no sujeito (SIQUEIRA, no prelo).

Neste contexto surge um outro conceito importante do Psicodrama, as

conservas culturais, que nada mais são do que tudo aquilo que é produzido pela

humanidade, desde os bens materiais até as normas, valores e costumes

(SIQUEIRA, no prelo). O apego excessivo às conservas culturais bloqueia a

capacidade espontânea e criativa dos sujeitos, pois os deixa estático e dependente

de regras. As conservas culturais seriam as normas rígidas que regem a instituição

da Polícia Militar.

Portanto, estas policiais não se encontrariam na etapa do role-creating, mas

sim na fase do role-playing, em que o papel é explorado simbolicamente em suas

possibilidades de representação. Possivelmente estas profissionais não se

encontram também na fase do role-taking, visto que este estágio consiste em

apenas imitar o papel a partir de modelos disponíveis e estas policiais já atuam há

bastante tempo na profissão para permanecerem neste processo de

desenvolvimento de papel.

Um fator importante que não podemos deixar de comentar foi a possível

interferência sofrida durante a coleta dos dados. Como já foi explanado, na

descrição da coleta de dados, as entrevistas ocorreram dentro da corporação militar

e esta variável pode ter constrangido, e por conseqüência, influenciado nas

respostas das participantes. O mesmo fato foi detectado por DELVAN e LENZI

(2000) em uma pesquisa desenvolvida em outra corporação. Porém ficamos

limitados para o controle desta variável, uma vez que não foi apresentado

disponibilidade por parte das participantes desta pesquisa em deslocarem-se do seu

local de trabalho para ceder as entrevistas.

45

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O diferencial desta pesquisa foi relacionar a abordagem psicodramática com

as questões de gênero, visto que as participantes foram apenas mulheres que

atuam na área operacional da Polícia Militar do Batalhão de Itajaí.

Foi muito difícil diferenciar as categorias com seus determinados conceitos do

Psicodrama, pois os mesmos não podem ser vistos separadamente, mas sim num

movimento teórico relacional.

Em relação à percepção que essas policiais possuem sobre a profissão que

exercem, todas afirmam que adoram o que fazem, mesmo havendo alguns

contratempos no desempenho profissional. Desta maneira, estariam desenvolvendo

uma relação télica com a própria profissão, mesmo que esta relação tenha

conteúdos negativos, como o estereótipo e o preconceito, seja de gênero, seja da

própria profissão.

Analisando a categoria inserção o que chamou atenção foi a questão do

preconceito, principalmente o preconceito em relação à profissão de policial militar,

independente do gênero. Toda a teoria das questões de gênero afirma que ainda há

muito preconceito sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho, mas este

preconceito ficou subjugado nas respostas das participantes e somente quando a

pergunta foi direcionada para a relação de gênero que a questão do preconceito

surgiu novamente. Possivelmente este preconceito de gênero estava presente nas

pesquisadoras no momento da escolha do tema.

Foi possível observar que houve contradições nas respostas das

participantes. O locus do desenvolvimento da profissão não é favorável para um bom

desempenho profissional, mas elas dizem estar bem adaptadas à profissão que

exercem. Como elas estão bem adaptadas se a sociedade não contribui para tal

46

desempenho? Possivelmente elas responderam as questões com receio, visto que

na instituição em que elas estão inseridas existem normas rígidas de

comportamento, que seriam as conservas culturais, fator este que pode embotar a

espontaneidade dessas policiais. Este dado também aparece na pesquisa com

policiais militares femininas realizada por Delvan, Lenzi e Strey (2000).

Ainda em relação à adaptação há outra contradição, pois todas as

participantes responderam que estão bem adaptadas ao papel profissional que

desempenham, mas duas delas afirmam que não possuem autonomia, sendo assim,

elas não estariam bem adaptadas, pois não têm liberdade para criar e agir,

encontrando-se, possivelmente na fase do role-playing.

Mas, de qualquer modo, a presença feminina significa a introdução da

diferença em um universo particularmente homogêneo, do ponto de vista das regras

e das relações interpessoais, o que carrega, em si mesmo e por suas implicações,

um potencial transformador (SOARES e MUSUMECI, 2005).

Esta pesquisa proporcionou uma compreensão da dinâmica da profissão de

policial militar feminina, da teoria psicodramática e das questões de gênero,

principalmente sobre o papel da mulher contemporânea no mercado de trabalho.

Ficam aqui algumas sugestões para outros trabalhos: fazer uma pesquisa com

a população, para investigar qual a percepção que a sociedade possui das policiais

militares femininas; e avaliar se há preconceito por parte da sociedade em relação à

profissão de policial militar, independente do gênero.

47

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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50

7 APÊNDICES

51

APÊNDICE A – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Nome:

Idade:

Tempo de serviço na instituição:

Tempo de serviço na Polícia Militar:

Cargo que ocupa na instituição:

Escolaridade:

Estado civil:

Possui familiares que atuam na Polícia? Quem?

Possui filhos? Quantos?

1. Como você percebe a sua profissão?

2. Como você percebe a sua inserção profissional no contexto social?

3. Como se deu a escolha de sua profissão?

4. Como você exerce o seu papel profissional?

5. Você acha que está bem adaptada ao papel profissional que desempenha?

52

APÊNDICE B –

Itajaí, 31 de agosto de 2006.

Venho através desta, apresentar meu trabalho de pesquisa de conclusão de

curso, exigido pela Universidade, que tem como tema “Policiais Militares

Femininas: compreendendo a profissão sob a ótica do Psicodrama e das

questões de gênero ”. Meu nome é Carolina Zucco Pytlovanciw e sou acadêmica do

8º período do curso de Psicologia da UNIVALI.

Minha pesquisa é norteada pelas relações de gênero e pela teoria dos papéis

segundo a abordagem psicodramática (abordagem específica da Psicologia). Com

isto, quero compreender como se dá a relação de gênero e o desempenho do papel

da mulher policial nesta profissão considerada relativamente masculina.

Para viabilização deste trabalho científico, faz-se necessário entrevistar seis

mulheres que trabalhem na área operacional do Batalhão da Polícia Militar de Itajaí,

e é por isso que as convido a participar deste projeto. A escolha das participantes

será aleatória, realizada por meio de um sorteio. Farei uma entrevista individual na

própria instituição, garantindo a privacidade e, principalmente, o sigilo das

informações coletadas. Os resultados da pesquisa serão disponibilizados, através de

um relatório, após a sua conclusão.

Contudo, creio que estudar os estágios de desenvolvimento e o desempenho

dos papéis na abordagem psicodramática, relacionando-os com a variação de

gênero na profissão de Policial Militar poderá trazer novas contribuições, não só para

a Psicologia, mas também para estes profissionais, para a instituição em que atuam

e para a própria comunidade por eles atendida; além de fornecer dados e subsídios

para compreender e identificar dificuldades e possibilidades que são encontradas no

desempenho desta profissão, auxiliando na busca de novos recursos e melhores

adequações para o exercício das funções.

Agradeço a sua participação.

Carolina Zucco Pytlovanciw Maria Celina Ribeiro Lenzi

(acadêmica) (professora orientadora)

53

8 ANEXO

54

ANEXO A –

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

APRESENTAÇÃO

Gostaria de convidá-lo (a) para

participar de uma pesquisa cujo objetivo

é investigar como se dá a tomada de

papel de profissionais femininas da

Polícia Militar do município de Itajaí.

Sua tarefa consistirá na participação

em uma entrevista semi-estruturada.

Quanto aos aspectos éticos, gostaria

de informar que:

a) seus dados pessoais serão mantidos

em sigilo, sendo garantido o seu

anonimato;

b) os resultados desta pesquisa serão

utilizados somente com finalidade

acadêmica podendo vir a ser

publicado em revistas especializadas,

porém, como explicitado no item (a)

seus dados pessoais serão mantidos

em anonimato;

c) não há respostas certas ou erradas, o

que importa é a sua opinião;

d) a aceitação não implica que você

estará obrigado a participar, podendo

interromper sua participação a

qualquer momento, mesmo que já

tenha iniciado, bastando, para tanto,

comunicar aos pesquisadores;

e) você não terá direito a remuneração

por sua participação, ela é voluntária;

f) esta pesquisa é de cunho acadêmico e

não visa uma intervenção imediata,

apenas levantar dados para

pesquisa;

g) durante a participação, se tiver

alguma reclamação, do ponto de

vista ético ou quanto ao instrumento

utilizado, você poderá contatar com o

responsável por esta pesquisa;

h) será feita uma devolutiva dos

resultados da pesquisa.

Pesquisadora responsável: Profº. Maria Celina Ribeiro Lenzi E-mail: [email protected] Telefone: (047) 3341 7884 Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – CCS R: Uruguai, 448 – bloco 25b – Sala 401.

55

IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO

Eu __________________________________________________________

__________________________________________________________________

Declaro estar ciente dos propósitos da pesquisa e da maneira como será realizada e

no que consiste minha participação. Diante dessas informações aceito participar da

pesquisa.

Assinatura:_________________________________________________________

Data de nascimento:___________________

Pesquisador: Prof. Maria Celina Ribeiro Lenzi

Assinatura:___________________________________

UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia

Rua Uruguai, 438

F. 3341-7688

E-mail: [email protected]