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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – BIGUAÇU
CURSO DE PSICOLOGIA
MARCELO LUIZ MARQUES
PSICODRAMA INFANTIL: O TEATRO DE FAZ DE CONTA NA TEORIA
MORENIANA
BIGUAÇU 2010
MARCELO LUIZ MARQUES
PSICODRAMA INFANTIL: O TEATRO DE FAZ DE CONTA NA TEORIA
MORENIANA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Centro de Ciências da Saúde – Biguaçu. Sob a Orientação da Profª: Ana Paula Balbueno Karkotli
BIGUAÇU
2010
MARCELO LUIZ MARQUES
PSICODRAMA INFANTIL: O TEATRO DE FAZ DE CONTA NA TEORIA
MORENIANA
Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do título de grau Bacharel em
Psicologia pela Universidade do Vale do Itajaí – Curso Psicologia.
Área de Concentração: Psicologia Clínica Biguaçu, 30 de Novembro de 2010
Banca Examinadora:
________________________________________________ Profª MsC Ana Paula Balbueno Karkotli
UNIVALI – CE Biguaçu Professora orientadora
__________________________________________________ Profº MsC. Almir Pedro Sais
UNIVALI – CE Biguaçu Membro
_____________________________________________________ Profª esp. Hebe Bastos Régis
UNIVALI – CE Biguaçu Membro
Biguaçu 2010
AGRADECIMENTOS
À Elohim, pela sua paciência e amor que me conduziram fazendo-me forte e
lúcido durante os tempos difíceis dessa jornada e pela certeza de nunca estar só em
nenhum momento de minha vida, que é entregue a ele.
À minha noiva, companheira e verdadeiro amor Luana Rejane Frutuozo, por
estar comigo em todas as tribulações sem perder sua característica doçura e afeto, por
ser minhas mãos quando as minhas estavam impossibilitadas, por ser minhas pernas
quando não pude caminhar e principalmente, por ser sempre meu coração.
Aos meus pais Selma Regina Marques e Moacyr Ferreira Marques, por todos os
abraços, conselhos e força que me fizeram sempre ter coragem de enfrentar os
problemas e seguir adiante.
Aos meus irmãos Yahudins, que em diversos momentos foram fatigados e me
inspiraram a aprender a suportar as adversidades através de seus exemplos de fé e
coragem.
Às minhas amigas e colegas Fernanda Marques, Juliana Ávila e Elizanete
Nascimento, pelas conversas e palavras de carinho. Essas pessoas iluminadas sempre
terão um lugar cativo no meu coração e nossa parceria durante a graduação, será sempre
recordada com muita saudade.
À minha professora orientadora Ana Paula Karkotli, por todo afeto e
compreensão, por suas palavras de ânimo e otimismo que nortearam toda minha
caminhada até o presente momento.
À banca examinadora profª Hebe Régis e profº Almir Sais, por terem aceitado
meu convite para participarem deste trabalho e por toda atenção e zelo dedicados a mim
durante a graduação.
Ao meu cachorro e amigão Frederico, que durante toda a elaboração desta
pesquisa esteve ao meu lado e aliviou o fardo com suas lambidas carinhosas e
brincadeiras.
E por último, mas não menos importante, à Jacob L. Moreno que através de sua
teoria e ensinamentos não deixou que a criança que existe em mim, morresse frente aos
infortúnios.
Raça de víboras; como podeis falar coisas boas, se sois
maus? Porque a boca fala daquilo de que o coração está
cheio. O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas
boas, mas o homem mau, do seu mau tesouro tira coisas
más. Eu vos digo que de toda palavra sem fundamento que
os homens disserem, darão contas no Dia do Julgamento.
Pois por tuas palavras serás justificado e por tuas
palavras serás condenado.
Mateus, Cap. 12, 34-37
RESUMO
Esta pesquisa possui como temática central a psicoterapia psicodramática com crianças,
sendo que o objetivo geral é compreender as contribuições do Psicodrama para crianças
na psicoterapia e os objetivos específicos são verificação das técnicas mais utilizadas na
terapia psicodramática com crianças e investigação das demandas, na atualidade, para a
Psicoterapia Psicodramática infantil. O tipo de pesquisa utilizada é a pesquisa
qualitativa exploratória. Os sujeitos de pesquisa foram quatro psicólogos com formação
reconhecida em Psicodrama, com atuação em Florianópolis, possuindo no mínimo três
anos de trabalho no atendimento à crianças, seguindo a abordagem psicodramática. O
instrumento de coleta de dados foi uma entrevista semi-estruturada. De forma breve, os
resultados gerados pela presente pesquisa foram: os psicólogos psicodramatistas infantis
apontam como ponto forte da teoria a possibilidade de um trabalho lúdico de cunho
psicoterápico, as teorias desenvolvimentistas psicodramáticas dão margem a um
planejamento de trabalho mais especifico para cada fase do desenvolvimento infantil,
grande parte das contribuições do Psicodrama na psicoterapia infantil residem na sua
teoria e técnica, a existência de uma urgência no que se refere a referencial bibliográfico
sobre as atividades práticas do psicoterapeuta clínico que trabalha com crianças, entre
outros.
Palavras Chave: Psicodrama infantil, Psicologia Clínica, desenvolvimento
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................8
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................10
2.1 DEFINIÇÃO DO PSICODRAMA.............................................................................8
2.2 PSICOTERAPIA PSICODRAMÁTICA..................................................................11
2.3 DESENVOLV. INFANTIL NA PERSPECTIVA PSICODRAMÁTICA...............13
2.4 PSICOTERAPIA PSICODRAMÁTICA COM CRIANÇAS..................................17
3. METODOLOGIA......................................................................................................20
3.1. TIPO DE PESQUISA...............................................................................................20
3.2. SUJEITOS DE PESQUISA......................................................................................20
3.3 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS...................................................21
3.4 PROCEDIMENTOS..................................................................................................21
3.5 ANÁLISE DE DADOS.............................................................................................22
3.6 IMPLICAÇÕES ÉTICAS..........................................................................................22
4. DISCUSSÃO DOS DADOS......................................................................................24
4.1 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA PSICODRAMÁTICA NA PSICOTERAPIA
COM CRIANÇAS...........................................................................................................24
4.2 DEMANDAS MAIS FREQUENTES NA PSICOTERAPIA PSICODRAMÁTICA
COM CRIANÇAS..........................................................................................................27
4.3 TÉCNICAS MAIS UTILIZADAS PELOS PSICOTERAPEUTAS
PSICODRAMATISTAS INFANTIS.............................................................................30
5. CONSIDERAÇÕS FINAIS......................................................................................33
REFERÊNCIAS.............................................................................................................35
APÊNDICES..................................................................................................................38
APÊNDICEA: Roteiro de Entrevista.............................................................................39
APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido......................................41
APÊNDICEC: Consentimento de Participação do Sujeito............................................43
APÊNDICE D: Termo de compromisso do pesquisador...............................................45
APÊNDICE E: Termo de Compromisso na utilização dos dados.................................47
APÊNDICE F: Carta de apresentação da pesquisa........................................................49
8
1. INTRODUÇÃO
O psicoterapeuta infantil deve orientar seu trabalho no sentido de ser um
facilitador de autoconhecimento, propiciando a criança a oportunidade de vivenciar a
experiência e liberdade do auto-conhecimento, compreendendo sua singularidade, bem
como considerando o entendimento de que a criança é um sujeito desejante.
O Psicodrama proporciona às crianças um trabalho com o que elas têm de mais
recorrente em suas vidas, ou seja, o ato de brincar. Através de elementos lúdicos como,
por exemplo, histórias e brincadeiras, a psicoterapia psicodramática – ou o teatro de faz
de conta – favorece a expressão da criança, com toda sua sensibilidade e
espontaneidade. Segundo Gonçalves (1988), a terapia psicodramática pode ser benéfica
tanto para a criança como para os indivíduos que estão a sua volta. O ambiente
psicoterápico se configura como um dos fatores primordiais nesse processo, tendo em
vista que sem uma ambientação propicia à brincadeira, auxiliará no processo de
simbolização realizado pela criança.
Para Gonçalves (1988), o Teatro de Faz de Conta:
Com o grande dinamismo do mundo atual, diferentes tipos de mídias,
globalização, entre outros, faz-se necessário uma constante reflexão e investigação de
uma série de temáticas, em especial, aquelas que tratam diretamente de Seres Humanos.
As crianças, possuidoras de lugar de destaque na sociedade contemporânea, necessitam
também acompanhar as constantes mudanças dos tempos atuais.
A concepção de infância, segundo Teixeira (2009), vai sendo modificada
conforme a sociedade passa a enxergar a mesma com um olhar mais centrado, de que
esta é um individuo que pertence à sociedade e é culturalmente inserido. Desta maneira,
a concepção de infância está intimamente ligada à realidade histórica vivida, realidade
esta criada pelos adultos.
(...) Na representação dramática, agindo “como se” ou “fazendo de conta que”, a criança expressa o que atinge sua sensibilidade, o que lhe dá prazer ou desprazer e vontade ou medo de aprender. Revela o sentido que o mundo tem para ela, ou o revê, através de papéis imaginários que é capaz de reconhecer, imitar e interpretar. pg. 11
9
Nesse sentido, a relevância psicológica da presente pesquisa, consiste em
apresentar-se como mais um meio de atualização e estudo no tocante a psicoterapia
infantil, especificamente na abordagem psicodramática.
Como relevância social da temática, segundo Costa e Dias (2005), apesar da
dificuldade de conseguir apoio dos pais na terapia com a criança, é necessário um
estudo contínuo acerca da infância, pois de alguma forma esta parcela da população será
beneficiada, no momento presente e provavelmente em seu processo de
desenvolvimento. Seguindo ainda a perspectiva das autoras citadas, o número de
profissionais que trabalham com crianças ainda é muito pequeno, dificultando assim
intercâmbio de informações e conseqüentemente, de publicações científicas específicas.
No referencial teórico, os temas eleitos como principais a serem trabalhados
foram; Psicodrama e psicoterapia infantil.
De acordo com o exposto, a presente pesquisa procurou responder a seguinte
questão: Quais as principais contribuições da psicoterapia Psicodramática no trabalho
com crianças?
Partindo da pergunta de pesquisa supracitada, foram construídos o objetivo geral
- Compreender as contribuições do Psicodrama para crianças na psicoterapia infantil – e
os objetivos específicos do estudo, sendo estes os seguintes: Verificar as técnicas mais
utilizadas na terapia psicodramática com crianças entre psicodramatistas de
Florianópolis; e investigar as demandas, na atualidade, para a Psicoterapia
Psicodramática infantil.
10
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 DEFINIÇÃO DE PSICODRAMA
O fundador do Psicodrama, Jacob Levy Moreno, em 1925, denominou como
Psicodrama a nova e moderna técnica psicoterápica por ele desenvolvida, sendo que até
os dias atuais, seus estudos e sua teoria são utilizados em outros campos do saber,
mesmo que com outra visão, visto que cada sujeito foi imprimindo um pouco de suas
concepções e entendimentos no que era estudado (MENEGAZZO, 1995).
Para Moreno e Enneis (1984), o termo Psicodrama vem do grego Psiché (alma)
e drama (ação, realização) sendo o Psicodrama uma busca pela verdade de um grupo de
pessoas que discutem seus problemas com liberdade. Experiência esta que envolve
outras pessoas assim como na vida, dessa forma a essência do psiquismo não pode ser
transmitida apenas pelo meio da linguagem, mas por um todo, em que se incluem o
gesto, toque e o “encontro”. Moreno ainda complementa ao afirmar que o Psicodrama
não é uma representação fidedigna do passado, pois este em sua concepção é sem vida.
Mas através do Psicodrama é possível vivenciar este passado, como ele se faz vivo no
presente chamado por Moreno de “passado presente” ou “futuro no presente”.
De acordo com Kellerman (1998), o Psicodrama trata-se de um método
psicoterápico no qual o cliente é incentivado a estimular ou continuar as ações pela
dramatização do role-playing¹ e auto-apresentação dramática, tanto na comunicação
verbal quanto na não verbal, sendo representadas através de cenas que retratam
lembranças de acontecimentos pontuais do passado, situações vividas de maneira
incompleta, conflitos íntimos, fantasias, sonhos, preparação para futuras situações de
risco ou expressões improvisadas de estados mentais. Dessa forma, as cenas
interpretadas se aproximam de situações reais da vida do cliente e também o auxiliam
na externalização de processos mentais interiores.
________________________________________
¹ Role-playing: Funciona como uma espécie de treinamento dos papéis a serem desempenhados.
11
Segundo Almeida (1999), o Psicodrama tem como pretensão entender o
fenômeno grupal a partir do conceito de “tele”, sendo que este em grego significa “à
distância” denotando uma relação além de fenômenos da identificação e transferência,
os englobando. Neste fenômeno télico o sujeito seria capaz de perceber a outra pessoa, a
qual se relaciona na forma mais próxima da realidade e reciprocamente, sendo assim
percebida por seu par. Esse movimento afetivo, emocional como movimento de ida e
volta é então responsável pela dinâmica funcional do grupo tomando forma de
“cimento” mantendo assim o grupo unido.
Pode-se entender a conceituação de Psicodrama como uma ciência que persegue
as verdades que os sujeitos buscam, por meio da utilização de métodos dramáticos,
trabalhando desde relações interpessoais até a relação com o próprio eu (FOX, 2002).
2.2 PSICOTERAPIA PSICODRAMÁTICA
A psicoterapia oferece ao sujeito uma visão ampliada de seu mundo, o
instrumentalizando na busca do bem-estar. Este capítulo propõe-se a trazer alguns
elementos presentes na psicoterapia baseada no Psicodrama, a fim de um melhor
entendimento do processo.
De acordo com Aguiar (1990), a prática psicodramática tem como preceito
fundamental que o grupo seja “trabalhado”, sendo esta uma pré-condição para uma
abordagem de temas referentes a qualquer um dos integrantes em particular, ou mesmo
como método para se alcançar as individualidades ou mesmo para propiciar aos
indivíduos uma experiência transformadora. O autor ressalta que a designação “grupo”,
refere-se tanto a um grande grupo, quanto um grupo de duas pessoas, chamada de diáde
composta por paciente e terapeuta, na modalidade bipessoal.
Assim, a psicoterapia trata-se de um método terapêutico e investigativo,
realizado em um grupo de pessoas ou com um único paciente, com sessões terapêuticas
contextualizadas (MENEGAZZO, 1995).
Os procedimentos dramáticos, ou seja, a psicoterapia em si, segundo Menegazzo
(1995), seguem quatro etapas de desenvolvimento: O aquecimento inespecífico – que
compreende o início ainda frio da relação grupal até a escolha do ator protagonista e da
12
platéia-, o aquecimento específico que aparece no momento que surge o protagonista -,
a terceira etapa- o Psicodrama propriamente dito – que inicia com a dramatização da
primeira cena, buscando a problemática cristalizada – e a etapa de análise e comentários
– onde ocorre o encerramento do procedimento e se inicia um momento de
compartilhamento com o grupo, agora não existindo mais os papéis definidos
anteriormente.
Os instrumentos psicodramáticos que aparecem no âmbito terapêutico, segundo
Fox (2002), são cinco: o palco, o ator, o diretor, os egos-auxiliares e a platéia. O palco
configura-se como primeiro instrumento, pois é ele que oferece ao ator um espaço
flexível e dinâmico para sua atuação. O segundo instrumento, o ator, é o sujeito
convidado a interpretar a si próprio, podendo agir livremente, com total liberdade de
expressão, escolhendo inclusive, o tema trabalhado na ação. O terceiro instrumento, o
diretor, possui funções de produtor e diretor e utiliza os elementos da vida do ator para
produzir a ação dramática. Assim, pode desempenhar o papel de conselheiro, podendo
chocar o indivíduo e atacá-lo como, por exemplo, começando a dar risadas. O quarto
instrumento são os egos-auxiliares, que possuem três funções: Ator: para representar os
sujeitos do mundo do protagonista; orientador: orientando os sujeitos em cena; e a cena
e investigador social. O quinto e último instrumento trata-se da platéia, que possui dupla
função: a de ajudar o ator na sua cena , expressando reações como surpresa ou medo, e a
de “tornar-se” ator, ou seja, a platéia vê a si própria quando uma de suas atitudes é
encenada no palco.
No tocante a psicoterapia psicodramática individual, Cuckier (1992), comenta
sobre os diversos autores que utilizam essa modalidade: para Moreno e Enneis (1984) é
chamada de Psicodrama a dois, para Bustos (2005), Psicodrama Bipessoal, para
Fonseca (1980), Psicoterapia da Relação e para os mais ortodoxos com a teoria chama-
se de psicoterapia psicodramática individual bipessoal, em suma, todas supracitadas não
fazem uso de egos auxiliares.
Dias (1987), discorre que a terapia psicodramática bipessoal é o atendimento
feito apenas contendo o terapeuta e o paciente, onde a interação ocorre na relação dois-
a-dois com as dramatizações feitas utilizando-se de almofadas, blocos de espuma no
13
lugar dos egos auxiliares e com freqüência, o terapeuta coloca sua voz ou mesmo seu
corpo no lugar desses personagens do mundo interno do cliente.
A modalidade de psicoterapia Psicodrama individual é composta pelo paciente,
terapeuta e a presença de um ou dois egos-auxiliares, preservando o psicoterapeuta na
sua direção sem precisar se envolver na cena.
A psicoterapia da relação configura-se como ação de observação e de
compreensão do fenômeno da relação, assim esta outra modalidade individual trabalha
com o EU que é o sujeito em terapia e o outro que é o terapeuta (FONSECA, 2000).
Moreno teve uma forma pouco sistematizada de transmitir sua criação
socionômica abrindo então, brechas para que cada autor entendesse a teoria e prática
psicodramática a sua maneira e conveniência. É possível observar pela literatura
específica que cada autor faz compreensões diferentes dos textos de Moreno,
escolhendo um eixo principal da teoria socionômica, podendo optar pela Matriz de
Identidade, também pela teoria dos papéis, pelo teatro espontâneo e assim por diante.
Essas interpretações plurais dos textos de Moreno praticados dia após dia, por
exercícios reflexivos, se mostram claramente como um ponto de comunhão entre
diversos teóricos sendo que todos entendem o Psicodrama, e sua metodologia
socionômica como de importante valia e preciosidade libertadora (PETRILLI, 1985).
Seguindo a concepção de Dias (1987), o autor afirma que a terapia
psicodramática grupal possibilita ao cliente lidar com sua intimidade diante do público
aproximando-se das relações que este terá em sua vida cotidiana, diminuindo assim a
distância do vivenciar terapêutico e do vivenciar real. Outra vantagem abordada pelo
autor é o fato do aquecimento ser muito mais efetivo, pois é muito mais fácil aflorarem
os afetos, os quais, no Psicodrama bipessoal e no Psicodrama individual, a evidencia
dos afetos cabe quase somente ao cliente.
2.3. DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA PERSPECTIVA PSICODRAMÁTICA
As formas de conceber o desenvolvimento Humano no Psicodrama são a Matriz
de Identidade e o Núcleo do Eu. Essas duas teorias denotam a sua importância na
constituição do sujeito, visto que esse conceito é o cerne, o passo inicial do complexo
processo de desenvolvimento ainda por vir. A partir dessa amostra de significações da
14
temática, nos capítulos a seguir será possível compreender sobre a visão psicodramática
em relação à criança e ao desenvolvimento infantil.
O conceito de Matriz de Identidade configura-se em um dos temas mais
relevantes e imprescindíveis quando se fala na teoria psicodramática, especialmente, na
fase do desenvolvimento infantil. Esse capítulo propõe-se a trazer as diferentes
concepções, acerca dessa temática, de acordo com teóricos estudiosos do Psicodrama.
Segundo Bustos (2005), Moreno afirma, que a construção do EU ocorre através
do desempenho de papéis, ou seja, na interação da mãe - ou outro cuidador que exerça
esse papel - com o bebê. O autor ainda divide o período inicial da vida da criança em
duas etapas: a primeira etapa, denominada por Moreno de 1º universo vai do início da
vida até os três anos de idade, possui duas fases: A Matriz de Identidade Total
Indiferenciada (0 até 10 meses), onde a criança não diferencia as pessoas de objetos
nem a fantasia da realidade e a Matriz de Identidade Total Diferenciada (11 meses até 3
anos), onde a criança inicia a diferenciação entre objetos e pessoas, também começa a
manter relações com certa distância – reconhecendo sua diferença e a do outro-
iniciando assim a tele-sensibilidade. Já a segunda e última etapa do desenvolvimento é
chamada de 2º Universo, que vai dos três aos sete anos de idade, é quando ocorre a
inversão de papéis entre a criança e os outros sujeitos, ou seja, ela já tem capacidade de
reconhecer o outro como diferente de si (BUSTOS, 2005).
Assim como na concepção do autor supracitado, Menegazzo (1995), também
segmenta o desenvolvimento em matrizes. Os Universos iniciais que a criança
encontrará após nascer são: Matriz de Identidade, Matriz Familiar e Matriz Social. Essas
matrizes não ocorrem de modo linear e igualmente para todos.
Ainda segundo o autor, o Conceito de Matriz é um dos principais da teoria
Moreniana, indica um Locus Nascendi, ou seja, deve ser compreendido como um lugar
de acontecimentos fundamentais. Moreno também conceitua Matriz como vínculo, no
sentido de interações e ações com o mundo exterior. A partir do vínculo o sujeito
vivenciará suas experiências, onde irão surgir os papéis, enfim, onde ele vai adquirindo
características afim de se desenvolver.
Moreno ainda teoriza acerca do desenvolvimento evolutivo Humano, afirmando
que antes de nascer, o indíviduo encontra-se na Matriz Materna e a partir do nascimento
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a criança passará por três Universos – que darão prosseguimento ao processo de
evolução buscando a constituição da sua própria Identidade (MENEGAZZO, 1995).
Seguindo ainda a perspectiva de Menegazzo (1995), quando a criança nasce, ela
passa da Matriz Materna para a Matriz de Identidade, neste momento o sujeito tece uma
nova placenta, a chamada Placenta Social, que se constitui na relação com os pais e
com outras pessoas importantes. Desde antes do nascimento, a vida na casa desta
criança mudou, mudando inclusive as relações e interações dos egos-auxiliares. Nessa
nova configuração, a mãe e o filho parecem ser indissociáveis, formando apenas um
único núcleo de Matriz de Identidade.
Menegazzo (1995), afirma que a partir do momento em que se fixa a brecha
entre fantasia e realidade, a criança passa para a segunda etapa do desenvolvimento, a
Matriz Familiar. Nesta Matriz se apresentam os papéis ditos como originários (são atos
interativos que a criança começa a representar e continua sustentando durante a fase da
Matriz Familiar) que se sustentam nos papéis psicossomáticos. Aqui os papéis
imaginários ocorrem através do vínculo de triangularidade (pai, mãe e filho). A Matriz
Familiar se configura como uma rede de vínculos que vai se formando a partir da
interação dos papéis originários. A triangularidade desses vínculos, os jogos do terceiro
incluído e o terceiro excluído, se configuram como área para o desenvolvimento
infantil.
Finalizando a visão do autor apresentado acerca do tema, tem-se a Matriz Social,
que inclui todas as relações vinculares de um grupo, que aparentemente não existem
olhando macroscopicamente, mas são descobertas através de estudos sociométricos.
Partindo do entendimento de Fonseca (2000), sobre o significado de Matriz de
Identidade, tem se que na primeira fase da Matriz de Identidade, a criança não
diferencia a proximidade e a distância. Entretanto, ao longo do tempo, a criança vai
adquirindo a noção de diferenciação. Desta forma, configura-se o primeiro reflexo
social que indica o surgimento do Fator Tele e constitui também o núcleo das forças
sociais que rodearão o sujeito ao longo da vida futura. A partir da brecha entre realidade
e fantasia surgem dois conjuntos de papéis. Enquanto esta brecha não existia, todos os
aspectos reais e fantásticos, eram fundidos nos papéis psicossomáticos ( que são
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condutas básicas que vão sustentar os outros papéis que ainda aparecerão no processo
de evolução do sujeito).
Contudo, após a brecha entre realidade e fantasia, surge aos poucos um mundo
social e um mundo de fantasias, separados do mundo psicossomático da Matriz de
Identidade.
A outra teoria de desenvolvimento presente no Psicodrama é o Núcleo do Eu.
Sevastano e Novo (1981), apontam o Núcleo do Eu como a teoria de personalidade
originalmente latino-americana. A citada teoria foi elaborada por Rojas-Bermúdez,
teórico que além de difundir as idéias de Moreno na América do Sul, realizou um
planejamento teórico-prático acerca do Núcleo do Eu.
A presente teoria possui uma correspondência com a anatomia, embriologia e
fisiologia do sujeito desde o seu nascimento até a idade de aproximadamente dois anos.
A partir dessa estrutura inicial, denominada Núcleo do Eu, o indivíduo irá agregar suas
vivências pessoais, lembranças e conhecimentos, que serão imprescindíveis para o
desempenho em seus papéis sociais – normais ou patológicos – da idade adulta
(ROJAS-BERMUDEZ, 1981).
Como aponta Soeiro (1995), de forma esquemática, o Núcleo do Eu é
representado por um circulo dividido em três partes com três raios iguais, sendo que
cada parte representa uma área – ambiente, mente, corpo – e cada raio corresponde a um
papel psicossomático – Papel de Ingeridor, Papel de Defecador e Papel de Urinador. O
Papel de Ingeridor instaura-se nos primeiros três meses de vida, delimitando as áreas do
corpo/ambiente; o Papel de Defecador estrutura-se entre o terceiro e oitavo mês de vida
e delimita as áreas ambiente/mente; o Papel de Urinador organiza-se durante o oitavo ao
vigésimo quarto mês, demarcando as áreas mente/corpo.
A respeito do desenvolvimento inicial da criança, Sevastano e Novo (1981)
apontam que:
(...) a criança ao nascer possui unicamente a "sensação de existir" o "si mesmo
fisiológico". A sensação de existir é a primeira manifestação psicológica do
organismo. Os papéis psicossomáticos estão ligados às funções fisiológicas. O
crescimento desses papéis deve-se mais ao processo de maturação orgânica.
(...) a presença de Estruturas Genéticas Programadas Internas que se encontram
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no interior do indivíduo já ao nascer, com complementos externos, a Estrutura
Genética Programada Externa. Como resultante da complementação forma-se
uma marca mnêmica. A marca mnêmica é a resultante do registro do contato
das estruturas genéticas complementares, externa e interna com descarga de
tensão correspondente (...) (pg. 35).
Seguindo ainda a perspectiva dos autores supracitados, é possível afirmar que,
segundo a teoria do Núcleo do Eu, a maturação dos papéis psicossomáticos é orgânica e
estabelece-se independentemente da vontade do indivíduo. Entretanto, o
desenvolvimento desses papéis – satisfatório ou não- depende da complementação das
estruturas internas e externas.
A estruturação dos papéis psicossomáticos está diretamente relacionada com a
relação emocional com a figura materna (ou substituta). Essa relação emocional é
primordial para essa fase do desenvolvimento do sujeito.
2.4 PSICOTERAPIA PSICODRAMÁTICA COM CRIANÇAS
Moreno, na época em que estudava e pesquisava objetivando o desenvolvimento
do Psicodrama realizou juntamente com sua esposa Zerka, a inversão de papéis com seu
filho Jonathan, de apenas três anos. Mesmo suscitando dúvidas nos psicodramicistas de
todo mundo, visto que Jonathan ainda era muito pequeno, Zerka, segundo Gonçalves
(1988), afirmou a importância do “treino” da espontaneidade e da inversão de papéis
desde a mais tenra idade.
Filipini (2005), afirma que quando se trata de psicoterapia com crianças, o
profissional que está envolvido deve ser um profundo conhecedor do universo infantil,
com recursos para sua compreensão a ponto de além de conhecer também gostar de
estar com crianças. Sendo este pressuposto básico para aqueles que desejam estar nesta
perspectiva psicodramática infantil, deve-se compreender que a formação do EU do
Homem Moreniano advém das Inter-relações.
No referente a origem do Psicodrama infantil, a autora supracitada comenta que
é impossível desvincular as brincadeiras de ser Deus que o jovem Moreno praticava,
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assim como os jogos praticados com crianças nos jardins de Viena na década de 1910.
Desta forma, Moreno desenvolveu sua metodologia vivenciando, co-participando,
observando e dirigindo diversos jogos infantis de faz-de-conta e através desta, também
sua concepção de Homem como um ser espontâneo e criativo.
Segundo Petrilli (1985), o Psicodrama é uma metodologia eficiente como
psicoterapia para crianças e pais, possuindo uma proposta singular no tratamento do
psiquismo, da relação humana e dos comportamentos se utilizando de uma técnica
simples, entretanto, de significado profícuo.
Para Gonçalves (1988), o Psicodrama auxilia crianças a superar obstáculos em
seu desenvolvimento emocional, através daquilo que ninguém pode tirar que é a sua
imaginação. A autora ainda argumenta que é através de brincadeiras e jogos criados
espontaneamente que as crianças procuram lidar com um mundo que lhe é
proporcionado, tentando assim assimilar, entender e transformar este. As psicoterapias
com crianças são sempre lúdicas, ou seja, ludoterapias nas quais o terapeuta presencia
seu “brincar” ou corrobora para que esta brincadeira transcorra. A terapia
psicodramática possui uma forma específica de brincadeira que é chamada de “Teatro
do Faz-de-Conta”, sendo que nesta há representação dramática, onde se atua “como-se”
ou “fazendo de conta que” a criança se expressa no tangente a sua sensibilidade
demonstrando o que lhe dá prazer, desprazer, vontade ou medo de aprender.
Através da psicoterapia psicodramática, as crianças também podem se enxergar
em outros papéis e relativizar situações, tornando-se possível as mesmas se colocarem
em lugares inimaginados até então. A seguir, serão comentados alguns pontos de
relevância no tocante a psicoterapia Psicodramática infantil, apresentados por
Gonçalves (1988).
O objetivo da psicoterapia com base psicodramática, tanto para adultos quanto
para crianças, consiste em proporcionar a possibilidade da criação de novos papéis pelo
indivíduo e fortalecer aqueles já existentes (GONÇALVES, 1998).
Seguindo a perspectiva da autora supracitada, o contrato psicoterápico é
realizado com a criança e seus pais. Para a criança se explica como serão as sessões e o
19
que será feito, já para os pais, fala-se sobre o método de terapia, tempo aproximado de
tratamento e as formas que os próprios pais podem viabilizar para ajudar seus filhos,
sendo as sessões realizadas semanalmente com a criança, e em alguns momentos, com
os pais (também fazendo uso do Psicodrama).
O material utilizado pelo terapeuta é lúdico, sempre pensando que além de ter
que servir a todas as crianças, também podem servir como atrativo para esse público em
terapia. Alguns exemplos desse material são: bonecos, fantoches, lápis coloridos,
retalhos de pano, entre outros (GONÇALVES, 1988).
De acordo com Gonçalves (1988), no que se refere as etapas da psicoterapia, a
autora afirma que são oito as mais utilizadas: a primeira trata-se da entrevista, onde a
criança, ou seu personagem, é submetida a perguntas pelo terapeuta; a segunda é o
diálogo, que consiste em uma conversa realizada entre os personagens da criança e do
terapeuta ; a terceira é a Intervenção Coloquial, que se configura em qualquer forma de
intervenção possuídora de diálogo, com perguntas e confirmações; a quarta é o Duplo,
que ocorre quando o terapeuta através de sua expressão, demonstra a criança o que ela
não está conseguindo externar; a quinta é a Inversão de Papéis, onde a criança inverte
seu papel de protagonista com seu ego-auxiliar (o terapeuta); a sexta é Interpolação de
Resistência, que é a modificação realizada pelo terapeuta de traços específicos do papel
que a criança lhe atribuiu ou a imposição inesperada do terapeuta de um novo
personagem; a sétima é o Solilóquio, onde a criança expressa sentimentos que não
aparecem mas lhe estão ocorrendo no momento; Já a oitava técnica, trata-se da
utilização de fantoches – através do manuseio desses objetos a criança se expressa.
Na psicoterapia infantil, têm-se algumas especificidades nas fases da sessão: O
aquecimento, de maneira geral, é curto ou nem mesmo existe, pois a criança logo se
dirige para a próxima fase; a segunda fase, Dramatização, a criança encena sonhos,
situações reais e histórias inventadas pelas mesmas; a Terceira fase, a dos comentários,
quando se trata de crianças, não ocorre necessariamente após a dramatização
(GONÇALVES, 1988).
De acordo com o exposto até então, pode-se considerar que o processo de
psicoterapia Psicodramática Infantil é composto de uma série de etapas imprescíndiveis
20
ao tratamento, utilizando assim toda espontaneidade e criatividade da criança em
benefício próprio.
3. METODOLOGIA
3.1 TIPO DE PESQUISA
Na presente pesquisa, verificaram-se as contribuições do Psicodrama para crianças
na psicoterapia infantil. Sendo assim, o modelo de pesquisa utilizado neste estudo foi o
de pesquisa qualitativa exploratória. Para Goldenberg (2001), os dados qualitativos
consistem em descrever detalhadamente as situações com o objetivo de compreender
os sujeitos em seus próprios termos. Minayo (2003), comenta que a pesquisa
qualitativa trata-se de uma atividade da ciência, objetivando a construção da realidade,
mas que se preocupa com as ciências sociais em um nível de realidade que não pode ser
quantificado, em suma, não pode ser reduzidos à operacionalidade de variáveis.
Chizzotti (2005), afirma que as pesquisas são caracterizadas pelo tipo de dados
que são coletados, e que as pesquisas qualitativas:
(...) fundamentam-se em dados coligidos nas interações
interpessoais, na co-participação das situações dos
informantes, analisadas a partir da significação que estes dão
aos seus atos. O pesquisador participa, compreende e
interpreta (...) (p.52).
Para Gil (1999), as pesquisas exploratórias propõe-se a desenvolver elucidar e
modificar conceituações e idéias, visando a formulação de problemáticas mais precisas
para futuras pesquisas. Assim as pesquisas exploratórias são elaboradas objetivando a
visão geral de tipo aproximativo, no que diz respeito a determinado fato.
3.2. SUJEITOS DE PESQUISA
Os sujeitos de pesquisa foram quatro psicólogos, com formação reconhecida em
Psicodrama, que atuam em Florianópolis, que possuam no mínimo três anos de atuação
21
no atendimento à crianças, segundo a abordagem psicodramática.
Com o intuito de delimitar o grupo de sujeitos, esta pesquisa utilizou o método
“Bola de Neve”, neste método o grupo é constituído ao longo do processo de pesquisa
por meio de indicação dos próprios sujeitos. O processo se iniciará através de entrevista-
inicial aleatória onde um informante culturalmente competente recomendará outro de
competência similar repetindo-se o processo a partir dos novos incluídos (GIL, 1999).
O tamanho da amostra (quatro sujeitos) deve-se ao fato de que a presente
pesquisa é de caráter exploratório, portanto, não se propõe a tomar os dados advindos da
entrevista generalizáveis a todos os psicólogos psicodramicistas.
3.3. INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS
Como a metodologia deste trabalho é a pesquisa qualitativa exploratória, onde é
necessário um instrumento que agrupe os dados advindos da entrevista com os quatro
psicólogos. O instrumento utilizado foi a entrevista com questões semi-estruturadas
(Apêndice A), que segundo Minayo (2003), articula questões abertas e fechadas.
3.4 PROCEDIMENTOS
O primeiro contato foi realizado pessoalmente com os quatro entrevistados. Aos
sujeitos que fizeram parte da pesquisa foram entregues o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (Apêndice B), Consentimento de Participação do Sujeito (Apêndice
C), Termo de compromisso do pesquisador (Apêndice D), Termo de Compromisso na
utilização dos dados (Apêndice E) e Carta de Apresentação da Pesquisa (Apêndice F).
Após esta etapa, foi marcado um horário para a entrevista propriamente dita, sendo
estabelecidos previamente local, data e horário, dentro das possibilidades do
pesquisador e dos entrevistados. As entrevistas foram gravadas, com consentimento dos
entrevistados.
No intuito de realizar uma devolutiva da entrevista aos sujeitos, o pesquisador se
colocou à disposição dos entrevistados - conforme a disponibilidade dos mesmos - para
fazer devolução após a análise qualitativa dos dados.
22
3.5 ANÁLISE DE DADOS
Após a coleta, foi realizada a análise e interpretação dos dados, que segundo Gil
(1999), tem como objetivo organizar e elencar os dados de forma a responder as
questões do problema proposto na investigação. As entrevistas semi-estruturadas foram
transcritas a fim de facilitar a análise dos dados e foram agrupadas em categorias
determinadas.
A categorização, para Gil (1999), torna possível uma análise adequada dos
variados elementos advindos das entrevistas, pois através da mesma, o pesquisador
agrupa respostas dentro de categorias estabelecidas. Entretanto, segundo o autor, para
que essa categorização seja eficaz, deve atender a algumas regras básicas, sendo estas as
seguintes: as categorias devem ser derivadas de um princípio único de classificação; o
conjunto de categorias deve ser exaustivo e as categorias devem ser mutuamente
excludentes.
A partir do material coletado nas entrevistas, foi realizada uma análise de
conteúdo, que segundo Chizotti (2005), consiste em um método de tratamento e análise
das informações colhidas, sendo que esta técnica se aplica à análise de textos escritos ou
de qualquer forma de comunicação.
Desta forma, as categorias possibilitam correlacionar as respostas dos
entrevistados com o referencial teórico da presente pesquisa.
3.6 IMPLICAÇÕES ÉTICAS
Os entrevistados foram informados quanto às questões éticas, destacando o sigilo
dos dados dos participantes na pesquisa. Sendo garantido que: seriam esclarecidos os
objetivos da pesquisa para os sujeitos e para a organização, bem como o uso que se fará
das informações; foi garantido o anonimato das pessoas, grupos ou organizações, salvo
interesse manifesto destes; foi garantida a participação voluntária mediante
consentimento livre e Esclarecido, salvo nas situações previstas em legislação específica
e respeitando os princípios deste Código; os sujeitos não receberam ou pagaram valores
23
para a participação na pesquisa; foi garantido o acesso das pessoas, grupos ou
organizações aos resultados da pesquisas após o seu término, sempre que assim o
desejarem.
Os sujeitos de pesquisa leram e receberam uma cópia dos seguintes documentos
referentes à entrevista: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B),
Consentimento de Participação do Sujeito (Apêndice C), Termo de compromisso do
pesquisador (Apêndice D) e Termo de Compromisso na utilização dos dados (Apêndice
E).
As garantias e esclarecimentos acima apresentados dispuseram-se a respeitar os
sujeitos da pesquisa, sua integridade física, psíquica e social, cumprindo com as normas
do exercício profissional em Psicologia.
24
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este capítulo propõe-se a discutir os relatos dos entrevistados, relativizando-os
com base teórica pertinente. Para tanto, serão utilizados o material teórico acerca do
Psicodrama, que aparece neste trabalho, e dados coletados nas entrevistas.
Para melhor entendimento, a discussão dos resultados ocorrerá partindo de
categorias pré-definidas, sendo essas as seguintes:
CATEGORIAS DE ANÁLISE
Contribuições da teoria psicodramática na psicoterapia infantil;
Demandas mais freqüente na psicoterapia psicodramática com crianças;
Técnicas mais utilizadas pelos psicoterapeutas psicodramatistas infantis. Fig. 1 – Categorias de análise
Nos capítulos subseqüentes, seguem as discussões embasadas teoricamente.
4.1 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA PSICODRAMÁTICA NA PSICOTERAPIA
COM CRIANÇAS
A presente categoria objetiva identificar as contribuições da teoria
psicodramática na psicoterapia com crianças.
Segundo Gonçalves (1988), o Psicodrama auxilia as crianças utilizando o
que elas possuem de mais presente em suas vidas: a imaginação. É através de
elementos lúdicos, brincadeiras, jogos e histórias, que o psicodramacista consegue
trabalhar no universo infantil. No Psicodrama, a brincadeira espontânea da criança é
aproveitada e lhe é acrescentada elementos que possam ter efeitos terapêuticos.
Considerando a visão da autora citada, a seguir, aparecem as falas de dois
entrevistados:
25
(...) O Psicodrama trabalha com todo esse universo do imaginário, da fantasia,
do simbólico e a criança é muito imaginativa, é fantasiosa, principalmente até
os seis anos de idade, e trabalha muito bem com a simbologia (...). Sujeito 1.
(...) o Psicodrama pode claramente tratar a criança como criança em suma
pode-se brincar com ela.... e que criança não gosta de brincar né (risos) (...)esta
abertura de poder tratar criança como criança é de fato um diferencial e uma
grande contribuição para psicoterapia infantil (...). Sujeito 2.
É possível, identificar-se nas falas dos sujeitos 1 e 2 pontos em comum
referentes a suas práticas clínicas com crianças. Os dois sujeitos discorrem sobre a
importância de o Psicodrama possibilitar o trabalho com a faceta lúdica da criança,
podendo literalmente, inserir-se em seu mundo de brincadeiras e fantasia sem, no
entanto, perder de vista o cunho psicoterápico do processo. Compreende-se que essa
forma de trabalho, avalizada pelo Psicodrama, aparece como um fator diferencial na
psicoterapia infantil, com bases psicodramáticas.
Já a psicoterapia em si, como afirma Menegazzo (1995), ocorre em três etapas:
Aquecimento Específico, Aquecimento Inespecífico e a sessão propriamente dita. Pode-
se compreender o Aquecimento, tanto específico quanto inespecífico, como a primeira
etapa de qualquer sessão psicodramática ou outro procedimento dramático.
Entretanto, como aponta Gonçalves (1988), no trabalho com crianças a
psicoterapia ocorre da seguinte maneira: O aquecimento, de maneira geral, é curto ou
nem mesmo existe, pois a criança logo se dirige para a próxima fase; A da dramatização
onde a criança encena sonhos, situações reais e histórias inventadas pela mesma; A
última fase é a dos comentários, pois quando se trata de crianças, não ocorre
necessariamente após a dramatização. A colocação da autora corrobora com as falas dos
dois entrevistados, transcritas a seguir:
(...) é muito tranqüilo trabalhar com elas (as crianças) pois
elas já vem aquecidas e representam os papéis de forma
incrível (...). Sujeito 2. (...) a criança já é naturalmente
aquecida, então a gente não precisa fazer muito esforço para
trazer ela para qualquer atividade. Ela então trás um universo
que é só dela (...). Sujeito 1.
26
Através das falas apresentadas observa-se que os dois sujeitos entrevistados
concordam com a perspectiva de Gonçalves (1988) no que se refere a criança possuir
um aquecimento natural, ou seja, um aquecimento não construído no setting terapêutico,
juntamente ao psicoterapeuta. É imprescindível, destacar a importância dada pelos
entrevistados a esse aquecimento natural das crianças, sendo que o sujeito 2 ressalta a
facilidade do trabalho com as crianças devido ao seu aquecimento, apontando inclusive,
que as representações de papéis tornam-se mais ricas. Já o sujeito 1 afirma que devido a
essa facilidade da criança realizar qualquer atividade – graças a seu aquecimento natural
– ela acaba por trazer um universo de subjetividade todo seu.
No referente às contribuições do Psicodrama a psicoterapia infantil, outro ponto
que apareceu com freqüência tanto nas literaturas técnicas, quanto nas falas dos
entrevistados, foi a relevância das teorias desenvolvimentistas do Psicodrama para a
compreensão do universo infantil. As teorias de desenvolvimento, Matriz de Identidade
e Núcleo do eu, foram exploradas nesta monografia, no capítulo intitulado
“Desenvolvimento infantil na perspectiva psicodramática”.
Acerca da importância das teorias do desenvolvimento humano, o estudo dessa
área do conhecimento mostra que a criança não é um adulto em miniatura, mas alguém
que apresenta características próprias dessa fase da vida. As teorias desenvolvimentistas
buscam a compreensão das características comuns de cada faixa etária, permitindo a
identificação de peculiaridades, tornando os profissionais que trabalham com esses
indivíduos mais capazes e preparados para sua atuação (BOCK, FURTADO E
TEIXEIRA, 2002).
A seguir, a fala de dois entrevistados acerca do exposto:
(...) Creio que (discorrendo acerca das contribuições do Psicodrama
para psicoterapia infantil) são as teorias do desenvolvimento temos até
duas delas e todas são ótimas para observarmos o desenvolvimento da
criança e assim podermos trabalhar com ela. Sujeito 2. (...) a maior
contribuição são as duas teorias do desenvolvimento (...) Matriz de
Identidade e Núcleo do Eu. Costumo usar a matriz de identidade pois
fica fácil de identificar em que período a criança se encontra e assim
poder trabalhar com ela de forma saudável(...) Sujeito 3.
27
Os sujeitos 2 e 4, através de suas falas, avalizam as afirmativas trazidas por
Bock, Furtado e Teixeira (2002) no parágrafo anterior. Os dois entrevistados apontam
como as maiores contribuições da teoria psicodramática no trabalho com crianças é
justamente as teorias do desenvolvimento. O sujeito quatro, inclusive endossa mais uma
vez a afirmativa dos autores quando afirma que através do trabalho com as teorias do
desenvolvimento é possível a identificação da fase na qual a criança se encontra e com
isso, trabalhar adequadamente com ela.
Retomando os elementos das entrevistas trazidas neste capítulo e os
compreendendo a luz da literatura científica, se estabele-se que os psicólogos
psicodramatistas, bem como alguns autores, apontam como principais contribuições do
Psicodrama na psicoterapia infantil a possibilidade de um trabalho lúdico de cunho
psicoterápico com as crianças, aproveitando sua espontaneidade e criatividade, e
também a existência de teorias de desenvolvimento próprias, capazes de delimitar a fase
na qual a criança está inserida, a fim de compreendê-la de uma maneira mais eficaz.
Tendo em vista que, segundo as entrevistas e referencial teórico, as maiores
contribuições do Psicodrama na psicoterapia infantil estão pautadas diretamente na
teoria e técnica do Psicodrama – possibilidade de um trabalho técnico com as crianças
utilizando sua espontaneidade e as teorias de desenvolvimento da abordagem – faz-se
necessário salientar a importância do psicodramatista estar sempre atualizando seu
arcabouço teórico acerca da abordagem, para que não se desvirtue da sua visão de
Homem e de mundo.
4.2 DEMANDAS MAIS FREQUENTES NA PSICOTERAPIA PSICODRAMÁTICA
COM CRIANÇAS
A psicoterapia infantil apresenta características próprias que as diferenciam da
terapia com adultos. Para o melhor entendimento dessa modalidade de psicoterapia, é
essencial o conhecimento dessas características: A queixa é raramente apresentada pela
criança, mas na maioria das vezes, é apresentada pelos pais/responsáveis, escola ou
médico pediatra. Pode-se dizer que as demandas que mais aparecem nessa psicoterapia
são o luto, separação parental e dificuldades de aprendizagem. As estratégias de
28
intervenção terapêutica devem ser pautadas em conceitos lúdicos (QUEIROZ E
GUILHARDI, 2002).
Baseado na afirmação dos autores supracitados segue abaixo as falas de dois
entrevistados:
(...) Olha aparecem situações de luto (...) vejo também
dificuldades escolares (...) no processo de separação a criança
fica dividida e acaba vindo para a psicoterapia (...) Sujeito
1.(...) outra demanda bem freqüente é a separação (...) Ah e
ainda luto com crianças que perdem pai ou mãe (...) Sujeito 3.
(...) o que tem aparecido nos últimos tempos são as
dificuldades nas relações familiares, separação entre os pais
(...) problemas de aprendizagem onde a criança chega para
uma investigação (...) Sujeito 4.
As falas trazidas pelos sujeitos 1, 3 e 4, corroboram com a visão dos autores
Queiroz e Guilhardi (2002), trazidas no início do presente capítulo, no que diz respeito
as queixas mais comuns em psicoterapia infantil. Os entrevistados apresentam como
demandas atuais quase que as mesmas situações: luto, dificuldades de aprendizagem e
separação dos pais.
A respeito da demanda separação parental, Filipini (2005) afirma que na
atualidade, as novas configurações familiares advindas tanto de separações quanto de
novos casamentos, fazem parte da rotina da demanda infantil nos consultórios dos
psicodramatistas. A autora afirma que a vulnerabilidade e exposição da criança frente a
uma situação estressora, como a separação parental, não necessariamente acarreta em
uma desadaptação, mas sim, podem originar processos de resiliência que interferem no
desenvolvimento da criança. É com base na visão moreniana de Homem – alguém
espontâneo, criativo e livre – que o Psicodrama trabalha as questões referentes à essa
demanda, não só com a criança, mas também com seus pais.
A seguir, falas que ilustram o apresentado:
(...) demanda bem freqüente é separação a criança muitas
vezes por falta de entendimento dos pais fica em meio a um
29
bombardeio. (...) Sujeito 4. (...) Na minha prática acabo tendo
que observar todo átomo social da criança. Pais, amigos,
professores é um trabalho investigativo (...) Sujeito 2.
O sujeito 4 aponta como demanda principal da sua prática clínica com crianças o
divórcio, sustentando a afirmativa trazida por Filipini (2005) anteriormente. O sujeito 2
denota a importância de um trabalho, especialmente em situações de separação,
investigativo com todos os sujeitos que fazem parte da rotina da criança, demonstrando
uma concordância com a prática clínica, trazida pela autora supracitada, nessas
situações.
Já no que diz respeito a demanda luto – apontada como freqüente pelos
entrevistados – Santos (2008), afirma que a morte é um processo difícil em qualquer
idade, entretanto, quando trata-se de criança, quanto mais jovem esta for, os efeitos
negativos tendem a ser maiores. A autora aponta ainda, que o Psicodrama tem
subsídios para auxiliar as crianças e suas famílias nessa difícil fase, pois parte da idéia
da criança como alguém criativo e espontâneo, sendo esses recursos inatos, considera-se
a idéia de realizar uma “educação para a morte”, fazendo com que através de um
diálogo aberto, a criança perceba esse evento como algo menos traumático.
Considerando o apresentado, segue abaixo algumas falas dos entrevistados:
(...)Ah e ainda Luto crianças que perdem o pai ou a mãe, uma vó um
vô (...) Sujeito 3. (...)O luto de um pai, mãe, tio ou de um animal de
estimação (...) Sujeito 2.
Acerca da outra demanda elencada como mais freqüente no atendimento
psicoterápico, os problemas de aprendizagem, compreende-se que o ato de aprender
provoca mudanças de opiniões e atitudes; também se compreende que essas
modificações podem gerar angústias, ansiedades e temores, sentimentos esses que
tendem a levar a diversos problemas de aprendizagem. O trabalho do psicodramatista
fica no limite entre o trabalho pedagógico e terapêutico, que devem ter interfaces bem
definidas, a fim de sobrepor as dificuldades do aluno perante a escola, matérias, colegas
e compreendê-lo em sua totalidade (BUSTOS, 1981).
Acerca da demanda supracitada, seguem trechos das falas dos entrevistados:
30
(...) problemas na escola seja um professor ou com alunos
(...)Sujeito2. (...) situações de fobia escolar e problemas de
aprendizagem onde a criança chega para uma investigação, até que
ponto é emocional, até que ponto é psicopedagógico, onde a criança se
mostra diferente de alguma forma na escola (...) Sujeito 4.
É fundamental salientar, a partir da leitura e interpretação desse capítulo, a
importância dos profissionais psicólogos que trabalham com psicoterapia infantil
estarem sempre atentos as demandas que mais aparecem nos atendimentos e a constante
relativização desses dados com a teoria, objetivando uma melhoria na qualidade de vida
tanto da criança, quanto de seus familiares.
4.3 TÉCNICAS MAIS UTILIZADAS PELOS PSICOTERAPEUTAS
PSICODRAMATISTAS INFANTIS
Dias (1987) afirma que a psicoterapia é uma relação entre o terapeuta e cliente
ou grupo, que sistematiza e guia um processo de busca, promovendo o desbloqueio e a
aceleração do desenvolvimento psicológico. Na psicoterapia, o psicólogo pode lançar
mão de técnicas psicológicas com o objetivo de acessar conteúdos ainda não alcançados
durante o processo.
Considerando a visão moreniana de Homem – um Homem livre e com potencial
criativo -, as técnicas empregadas na psicoterapia psicodramática infantil possuem um
estilo no qual a criança escolhe seus próprios temas, se expressa através de papéis por
ela distribuídos e assumidos, podendo dessa forma, ter uma compreensão maior do
conteúdo de cada papel (GONÇALVES, 1988).
Contudo, como aponta Petrilli (1985), a maior dificuldade do Psicodrama com
crianças encontra-se, justamente, na esfera da prática, das técnicas. A autora afirma que
muitos equívocos ocorrem quando se tenta utilizar na clínica psicodramática infantil
técnicas clássicas morenianas que se encontram assentadas e com eficácia comprovada
para o público adulto. Além disso, a maioria do material produzido acerca da prática do
Psicodrama infantil, não é publicado e nem se torna comum ao público.
Acerca do apresentado, seguem falas dos entrevistados:
31
(...) mas confesso que assim como varias psicólogas que conheço
acaboadaptando as técnicas do Psicodrama para adulto para as
crianças essa realmente é uma falta, pois o Psicodrama é muito rico
para se trabalhar e criar técnicas (...) Sujeito 3. (...) bem as técnicas do
Psicodrama são muito adaptadas para as crianças (...) Sujeito 2.
As falas trazidas pelos sujeitos 3 e 2 reafirmam a dificuldade trazida por Petrilli
(1985) no parágrafo anterior. Os dois entrevistados afirmam a existência da adaptação
de técnicas utilizadas em adultos para crianças, procedimento que na prática clínica,
pode deixar a desejar, visto que, a criança possui um universo e subjetividade próprios
dessa fase da vida.
Entretanto, Gonçalves (1988) sobre a viabilidade do Psicodrama infantil afirma
que:
(...)O psicodrama e, como outras, uma psicoterapia na qual a criança
tem oportunidade de se expressar e de se relacionar por meio da
brincadeira e do jogo. O que o caracteriza e o diferencia tecnicamente
de outras ludoterapias e o preparo do terapeuta para se prontificar,
muitas vezes, a propor cenas, jogos, procedimentos dramáticos e a
dirigi-los, algumas vezes. Teatro do psíquico tem cenários, ação
(drama), atores que desempenham papéis e direção. A psicoterapia
favorece o brincar, o desenvolvimento da fala e o surgimento da
palavra inconsciente, da qual se põe a escuta (...) p. 111
A respeito da afirmativa acima, seguem algumas falas:
(...)o Psicodrama pode claramente tratar a criança como criança em
suma pode-se brincar com ela....que criança não gosta de brincar (...)
Sujeito 2. (...) o Psicodrama utiliza a criança como um exemplo pois
nela esta a caracterização da espontaneidade tão perseguida por nós
adultos(...) Sujeito 3.
Considerando a fala dos entrevistados, compreende-se que os psicodramatistas
enxergam sim a viabilidade de um Psicodrama com crianças, embasa em uma teoria
concreta, com bases éticas e teóricas para o alcance dos objetivos terapêuticos.
32
Os dados trazidos nesse capítulo suscitam alguns questionamentos: Por qual
motivo uma abordagem psicológica que trabalha a espontaneidade utiliza-se de técnicas
trabalhadas com adultos no atendimento infantil? As técnicas psicodramáticas quando
transferidas totalmente para o público infantil, podem acarretar em algum prejuízo para
esses sujeitos? A falta de técnicas voltadas para o público infantil estaria relacionada a
falta de material teórico acerca do tema?
Considerando que as crianças estão em desenvolvimento, torna-se necessário
abordá-las de forma terapêutica através de métodos e técnicas que contemplem de forma
integral a estruturação infantil e suas relações familiares. São essas técnicas específicas
que norteiam o sucesso do trabalho terapêutico.
33
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa apresentou uma revisão teórica acerca do tema Psicodrama
infantil. Posteriormente, foram elaboradas as categorias de análise a partir das
informações obtidas nas entrevistas com os sujeitos de pesquisa - quatro psicólogos que
atendessem em Florianópolis, com formação reconhecida em Psicodrama e que
possuíssem no mínimo três anos de experiência no trabalho com crianças.
O objetivo principal desta pesquisa (que posteriormente originou a primeira
categoria de análise) foi compreender as contribuições do Psicodrama para crianças na
psicoterapia infantil. O pesquisador considera que este objetivo foi atingido, pois
através das falas trazidas pelos entrevistados foi possível a constatação de alguns pontos
em comum que denotam os benefícios do Psicodrama no trabalho com crianças. A
seguir, alguns desses pontos serão expostos.
No tocante a primeira categoria de análise, acerca das contribuições do
Psicodrama na psicoterapia infantil, a partir da visão dos entrevistados, pode-se
destacar: possibilidade de um trabalho lúdico com cunho psicoterapêutico, o fato de as
crianças terem uma maior facilidade no aquecimento anterior ao trabalho psicoterápico
em si podendo o psicoterapeuta partir rapidamente para a demanda da criança e as
teorias do desenvolvimento – Núcleo do Eu e Matriz de Identidade – que possibilitam a
identificação do momento da vida em que a criança se encontra e conseqüentemente o
planejamento de trabalho mais especifico para sua fase de desenvolvimento.
Considerando o exposto, pode-se verificar que grande parte das contribuições do
Psicodrama na psicoterapia infantil concentra-se na teoria e técnica do Psicodrama.
Já no que se refere as demandas mais freqüentes na psicoterapia psicodramática
infantil, constatou-se a recorrência de situações de luto, dificuldades de aprendizagem e
separação parental. A identificação dessas demandas, tende a facilitar a preparação
teórica dos profissionais psicólogos frente a seus pacientes.
A respeito das técnicas mais utilizadas em psicoterapia psicodramática infantil,
observou-se - tanto pelo pesquisador no levantamento da teoria para a realização da
presente pesquisa, quanto pelos entrevistados na sua prática clínica – a pequena
quantidade de material científico publicado acerca do Psicodrama infantil. Esse fator
mostrou-se como dificultador no trabalho do Psicodrama com crianças visto que tanto a
teoria quanto as técnicas se renovam, para o grande público por meio de referencial
34
teórico, com pouca freqüência. Os entrevistados ainda relatam a que na grande maioria
das vezes utilizam técnicas destinadas aos adultos, em crianças. Contudo, os
entrevistados apontam a viabilidade de um Psicodrama eficaz voltado ao público
infantil.
No levantamento dos dados e relacionando-os com a teoria, uma categoria de
análise que acabou emergindo foi a utilização de outras abordagens psicológicas no
atendimento psicoterápico à crianças. Contudo, o pesquisador não encontrou subsídios
teóricos suficientes para abrir uma discussão acerca da temática, optando então,
apresentá-la somente nas considerações finais.
Considerando as colocações supracitadas, a análise do referencial bibliográfico
bem como a leitura das entrevistas realizadas com os sujeitos de pesquisa, foi possível
depreender algumas importantes constatações: o Psicodrama possibilita no trabalho com
a criança a utilização de elementos muito caros tanto para a infância quanto para a teoria
Moreniana: a espontaneidade e criatividade; as teorias de desenvolvimento do
Psicodrama possibilitam uma compreensão bastante detalhada das fases da infância; a
necessidade de um incremento no que se refere a material bibliográfico produzido sobre
a prática clínica do Psicodrama infantil; o conhecimento e pesquisa acerca das
demandas mais freqüentes no atendimento infantil afim de um trabalho eficiente com os
pacientes; dentre outras.
O pesquisador considera que a realização desta pesquisa tende a acrescentar no
referente a produção bibliográfica sobre o trabalho clínico com crianças embasado no
Psicodrama, deixando como sugestão, a continuidade de trabalhos que complementem
e/ou abordem essa temática.
35
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37
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ROJAS-BERMUDEZ, J. C. Núcleo do eu. São Paulo: Natura, 1981
SANTOS, J. Psicodrama: Uma intervenção na elaboração do luto. (Monografia
apresentada como requisito para a especialização em Psicodrama terapêutico),
Sociedade Goiana de Psicodrama – Universidade Católica de Goiás, 2008.
SEVASTANO, H. e NOVO, P. Aspectos psicológicos da gestante sob o ponto de
vista da Teoria do Núcleo Eu. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 15, n. 1,
1981.
SOEIRO, A. Psicodrama e Psicoterapia. São Paulo: Ágora, 1995.
QUEIROZ, P. e GUILHARDI, J.. Redução da agressividade e hiperatividade de um
menino pelo manejo direto das contingências de reforçamento: um estudo de caso
conduzido de acordo com a terapia por contingências. (Vol.10, pp.249-270). São
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TEIXEIRA. C. Infância e Atualidade: A Concepção de Infância na Prática
Educativa. Disponível em: <http://www.pedagogia.com.br> Acessado em: 06/08/2010
38
APÊNDICES
39
APÊNDICE A
Roteiro de entrevista
40
APÊNDICE A
Dados de Identificação
Nome:_______________________________________
Tempo de atuação na área:______________________
Roteiro de Entrevista
1- Na sua opinião, qual ou quais as maiores contribuições do Psicodrama na
psicoterapia infantil?
2- Quais são as técnicas psicodramáticas mais usadas por você em seu consultório.
(jogos, recursos lúdicos,)?
3- Partindo da sua experiência na prática clínica com o Psicodrama infantil, você já
teve que utilizar técnicas de outras abordagens psicológicas em algum dos seus
atendimentos? E por que razão teve de utlizá-las?
4- Na sua prática clínica quais são as demandas que mais aparecem para a psicoterapia Psicodramática infantil?
5- Você considera que o arcabouço teórico existente na atualidade acerca do
Psicodrama infantil dá conta de atender a essa (s) demanda (s)?
41
APÊNDICE B
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
42
APÊNDICE B
TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado a participar voluntariamente de uma pesquisa, sendo
que a qualquer momento você poderá retirar seu consetimento e se afastar da
pesquisa, sem nenhum prejuízo ou penalização. Os dados obtidos através dessa
pesquisa serão confidenciais e o pesquisador assegura o sigilo sobre sua participação
Seguem abaixo algumas informações a respeito da pesquisa.
O objetivo geral da presente pesquisa Compreender as contribuições do teatro do
faz de conta Moreniano na psicoterapia infantil. Esta pesquisa fará parte da
monografia do acadêmico Marcelo Luiz Marques, do curso de Psicologia, da
Universidade do Vale do Itajaí (Campus Biguaçu), sob a orientação da professora
MsC Ana Paula Balbueno Karkotli. A metodologia aplicada na entrevista será
entrevista semi-estruturada, que será gravada (se assim o entrevistado concordar) e
transcrita posteriormente.
Você receberá uma cópia deste termo, onde consta o endereço eletrônico do
pesquisador, que estará disponível em caso de qualquer dúvida ou desejo de acesso a
pesquisa: [email protected] ou nos telefones: 48 32220743 e 48 88573377.
CONSETIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu,___________________________________, por meio deste documento
concordo em participar da pesquisa explicada acima. Declaro que fui devidamente
informado de todos os procedimentos da pesquisa e de minha participação na mesma.
Biguaçu,__ de _____________ de 2___
Assinatura do participante:__________________________________________
43
APÊNDICE C
Consentimento de Participação do Sujeito
44
APÊNDICE C
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu,___________________________,RG_____________,CPF________abaixo
assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente
informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim
como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me
garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a
qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento.
Local:____________________________
Data: _____________________________
Nome: ____________________________________________________
Assinatura do Sujeito ou Responsável: _____________________________
Telefone para contato: ___________________________________________
45
APÊNDICE D
Termo de compromisso do pesquisador
46
APÊNDICE D
TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR
Nós, abaixo assinado, aluno pesquisador e professora orientadora do Curso de
Psicologia da UNIVALI – Campus Biguaçu, nos comprometemos em realizar a
pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso “ Psicodrama Infantil: O Teatro de faz de
Conta na teoria Moreniana”, desenvolvendo todas as atividades relacionadas à sua
concretização.
_______________________________ ___________________________
Marcelo Luiz Marques Ana Paula B. Karkotli
Aluno Pesquisador Professora Orientadora
Florianópolis, _______ /_______ /________
47
APÊNDICE E
Termo de Compromisso na utilização dos dados
48
APÊNDICE E
TERMO DE COMPROMISSO DE UTILIZAÇÃO DE DADOS
Nós, abaixo assinado, pelo presente “Termo de Compromisso de Utilização de
Dados”, em conformidade com a Instrução Normativa no 004/2002, autora do projeto de
pesquisa intitulado Curso “ Psicodrama Infantil: O Teatro de faz de Conta na teoria
Moreniana”, a ser desenvolvido no período de ________________, na cidade de
Florianópolis, comprometo-me em utilizar os dados coletados, somente para fins deste
projeto e divulgação científica através de Artigos, Livros, Resumos, Pôsteres. Informo
também, comprometer-me a retornar os resultados da pesquisa.
______________________________ _____________________________
Marcelo Luiz Marques Ana Paula B. Karkotli
Aluno Pesquisador Professora Orientadora
Florianópolis, _______ /_______ /________.
49
APÊNDICE F
Carta de apresentação da pesquisa
50
APÊNDICE F
CARTA DE APRESENTAÇÃO DA PESQUISA
Florianópolis,________________.
Prezado Sr. ___________________________
Eu, Marcelo Luiz Marques, aluno do Curso de Psicologia da UNIVALI –
Campus Biguaçu, sob a orientação da professora Cristianne Gick Machado, venho por
meio deste, encaminhar o meu Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso para sua
análise e parecer a respeito da viabilidade de estarmos desenvolvendo esta pesquisa na
Universidade do Vale do Itajaí – Biguaçu com o Sro (a). A pesquisa tem como título
“Psicodrama infantil: O teatro de faz de conta na teoria Moreniana”, e tem como
objetivo compreender as contribuições do teatro do faz de conta Moreniano na
psicoterapia infantil
A referida pesquisa teve seu projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da UNIVALI. Conforme os preceitos éticos em pesquisa, informo que os dados
coletados durante o estudo serão utilizados exclusivamente para fins de pesquisa, sendo
mantido sigilo sobre a identidade dos profissionais participantes.
Comprometo-me também em fornecer uma cópia do relatório final do estudo.
Portanto, sua aprovação será de fundamental importância para esse estudo.
Atenciosamente,
___________________________ ________________________________
Marcelo Luiz Marques Ana Paula Balbueno Karkotli
Aluno Pesquisador Professora Orientadora